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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO Área de Concentração: Interfaces Sociais da Comunicação ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas Organizações: possibilidades aos profissionais de relações públicas e comunicação organizacional São Paulo 2010

ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃ O

Área de Concentração: Interfaces Sociais da Comunic ação

ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE

Gestão da Ética nas Organizações : possibilidades aos profissionais

de relações públicas e comunicação organizacional

São Paulo

2010

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ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE

Gestão da Ética nas Organizações : possibilidades aos profissionais de

relações públicas e comunicação organizacional

Tese apresentada a Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutora em Comunicação Área de Concentração: Interfaces Sociais da Comunicação Orientadora: Profa. Dra. Sidinéia Gomes Freitas

São Paulo

2010

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Autorizo a divulgação parcial ou total deste trabalho, por qualquer meio

convencional ou eletrônico, para fins de estudo e de pesquisa, desde que

citada a fonte.

Catalogação na publicação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos

da Biblioteca Central da Universidade Estadual de L ondrina.

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação ( CIP)

A553g Andrade, Zilda Aparecida Freitas de. Gestão da ética nas organizações: possibilidades aos profissionais de relações públicas e comunicação organizacional / Zilda Aparecida Freitas de Andrade. – Londrina, 2010. 235f. : il.

Orientador: Sidinéia Gomes Freitas. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) − Universidade de São

Paulo, Escola de Comunicação e Artes, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação, 2010.

Inclui bibliografia.

1. Ética – Teses. 2. Ética empresarial – Teses. 3. Comunicação nas organizações – Teses. 4. Relações públicas – Teses. I. Freitas, Sidinéia Gomes. II. Universidade de São Paulo. Escola de Comunicação e Artes. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação. III. Título. CDU 658:174

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Nome: ANDRADE, Zilda Aparecida Freitas de Título: Gestão da ética nas organizações: possibilidades aos profissionais de relações públicas e comunicação organizacional

Tese apresentada à Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutora em Comunicação sob a orientação da Professora Doutora Sidinéia Gomes Freitas.

Aprovada em:

Banca Examinadora

Prof. Dr. ________________________________Instituição: ___________________ Julgamento: ____________________________ Assinatura: ___________________ Prof. Dr. ________________________________Instituição: ___________________ Julgamento: ____________________________ Assinatura: ___________________ Prof. Dr. ________________________________Instituição: ___________________ Julgamento: ____________________________ Assinatura: ___________________ Prof. Dr. ________________________________Instituição: ___________________ Julgamento: ____________________________ Assinatura: ___________________ Prof. Dr. ________________________________Instituição: ___________________ Julgamento: ____________________________ Assinatura: ___________________

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DEDICATÓRIA

À minha família; ao Ivoney e a todas as pessoas que sempre acreditaram na minha vitória.

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AGRADECIMENTOS A Deus, por me dar forças, para ser perseverante, para lutar e alcançar meus objetivos. Á Profa. Dra Sidinéia Gomes Freitas, minha orientadora, amiga e incentivadora, por compartilhar seu conhecimento e sua experiência, e, também, pela paciência, dedicação e entusiasmo na condução deste trabalho. Aos componentes da Banca Examinadora, por aceitar o convite e compartilhar o seu conhecimento. Às empresas e aos profissionais que colaboraram no fornecimento de dados à pesquisa, e àqueles que foram decisivos, cedendo o seu tempo para as entrevistas. À minha família: meus pais, João e Marina; às minhas irmãs, Leonilda, Isaura; aos meus cunhados, Claudemir e Lourival; aos meus sobrinhos: Mateus, Daniele, Louise, Isadora e Letícia. Aos familiares que sempre torceram pelo meu sucesso: avós, tios e tias; primos e primas. Obrigada pelas orações, pelo amor e apoio às minhas decisões. Àqueles que já partiram, agradeço pelas lições de vida. Ao Ivoney, meu amor e companheiro, pela paciência, compreensão, incentivo e dedicação. Essa vitória é, igualmente, sua. Ao carinho da família do Ivoney, principalmente àqueles que acompanharam toda a minha trajetória. Ao Prof. Dr. Waldyr Gutierrez Fortes, exemplo de profissional e professor, pelo incentivo à minha carreira docente. E, também, à área de Relações Públicas da UEL pela colaboração durante esse período. Em especial: Mariângela, Marta, Maria Amélia, Renato, Marlene e Regiane. Aos docentes e funcionários do Departamento de Comunicação da UEL, pela oportunidade em usufruir de licença em concomitância e total. Obrigada àqueles que me ajudaram; e também àqueles que posso chamá-los de meus amigos. À Universidade Estadual de Londrina – UEL - pela possibilidade de cursar o Programa de Doutorado, e aos docentes e funcionários que sempre me auxiliaram – CECA, PROPPG, PRORH, Biblioteca Central. À Universidade de São Paulo – USP – por dar condições para que eu pudesse cursar o Doutorado. Aos docentes e funcionários do Programa de Doutorado em Comunicação, do CRP e do GESTCORP pela dedicação e atenção. Aos meus amigos pelo apoio incondicional e pela compreensão em tantos momentos, principalmente nos momentos de ausência. A todas as pessoas que me auxiliaram na elaboração e finalização da tese, que, não cito os nomes, para não ser injusta. Obrigada de coração.

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RESUMO

ANDRADE, Zilda Aparecida Freitas de. Gestão da ética nas organizações: possibilidades aos profissionais de relações públicas e comunicação organizacional. 2010. 235f. Tese (Doutorado em Comunicação) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. O estudo analisa como se dá o processo de implantação e gestão da ética nas organizações e nos relacionamentos com os seus públicos, e estabelece a relação entre ética organizacional e reputação corporativa, com dados levantados por meio de entrevista em profundidade realizada com representantes de seis empresas com sede em São Paulo. Nas dimensões teóricas, são abordados os conceitos de ética, ética no âmbito das organizações, o papel do profissional de relações públicas e de comunicação organizacional na gestão da ética e os reflexos da ética na reputação corporativa. Na análise, são colocados em teste nove pressupostos e os dados da pesquisa são confrontados com os guias construídos a partir das noções de poder de Michel Foucault, e de ajustamentos do indivíduo no âmbito da organização de Erwing Goffman. Os resultados permitem afirmar, dentre outras conclusões, que, embora haja participação dos profissionais em significativos processos de gestão da ética, esta ainda é orientada em linha descendente; que são evidentes a relação ética e reputação corporativa; que a comunicação é considerada essencial no processo de gestão; que as organizações priorizam o relacionamento ético com os seus públicos, daí a possibilidade aos profissionais de relações públicas e de comunicação organizacional de atuação estratégica nesse processo. Tema que não se esgota, a ética constitui objeto permanente de pesquisa e investigação. Palavras-chave: Ética. Ética organizacional. Relações Públicas. Comunicação organizacional. Reputação. Poder. Ajustamentos. Ética nos relacionamentos.

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ABSTRACT

Andrade, Zilda Aparecida Freitas de. Ethics management in organizations : possibilities given to public-relation professionals and organizational communicators. 2010. 235p. Thesis (Doctorate in Communication) - Communication and Art School, University of São Paulo, São Paulo 2010.

This study reports on how corporations implant and manage ethic practices in their organizations and in the relationship with their public, establishing the relation between organizational ethics and corporate reputation by means of data collected thorough interviews with representatives of six corporations established in São Paulo. It has approached the concept of ethics; ethic at the organization environment; the role of public-relation professionals and of organization communicators in managing ethic and its reflection on corporate reputation. Nine presuppositions were tested and the results compared to the guide of power-knowledge by Michel Foucault, and adjustment in organization environment by Erwing Goffman. It was concluded that although the participation of the professionals in this area was relevant to the process of ethics management it is still done in a controlled way; it was evident the relation-ethics and corporate reputation; that communication is essential in this process; that organizations prioritize ethical relation with their public, outstanding the necessity of public-relation professionals and organization communicators to strategically act in this process. Being a complex subject, ethic is in permanent studying and investigation.

Key-words: Ethic. Organizational Ethic. Public Relation. Organizational Communication. Reputation. Power.Adjustment. Ethical Relationship.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Usos do “termo” moral................................................................. 45

Quadro 2 – Subdivisões da ética teleológica e da ética deontológica............ 55

Quadro 3 – Divisão das teorias éticas............................................................ 58

Quadro 4 – Sugestões de conteúdos para o código de ética......................... 85

Quadro 5 – Proposta de conteúdos para elaboração do código de ética....... 86

Quadro 6 – Os sete estilos éticos................................................................... 96

Quadro 7 – Comparação das filosofias aplicadas em decisões empresariais ............................................................................... 97

Quadro 8 – Níveis de desenvolvimento moral................................................ 99

Quadro 9 – Indicadores e medidas de clima ético........................................ 101

Quadro 10 – Profissional de relações públicas e frequência de virtudes no código de ética..................................................................... 119

Quadro 11 – Tipos de identidade ................................................................... 128

Quadro 12 – Estudos de mensuração da identidade ..................................... 130

Quadro 13 – Múltiplos pontos de vista sobre reputação corporativa.............. 134

Quadro 14 – Comparativo entre as definições de imagem e reputação......... 135

Quadro 15 – Abordagens de cultura, identidade, imagem e suas inter-relações ............................................................................ 137

Quadro 16 – Categorias selecionadas para a pesquisa................................. 152

Quadro 17 – Pressupostos............................................................................. 154

Quadro 18 – Dimensões teóricas ................................................................... 155

Quadro 19 – Guias de análise........................................................................ 156

Quadro 20 – Gestão da ética nas organizações estudadas........................... 159

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Quadro 21 – Missão, visão e valores/princípios das organizações

estudadas ................................................................................. 171

Quadro 22 – Informações sobre os códigos de ética das organizações estudadas ................................................................................. 172

Quadro 23 – Diretrizes da conduta empresarial da CPFL Energia................. 173

Quadro 24 – Comparativo entre as sugestões e os conteúdos dos códigos de ética das organizações estudadas ......................... 174

Quadro 25 – Resultado da testagem dos pressupostos................................. 211

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Modelo prático kantiano de gerenciamento de questões éticas emergentes ....................................................................... 117

Figura 2 – Modelo RepTrak.......................................................................... 146

Figura 3 – Empresas brasileiras de melhor reputação - 2009 Global

Reputation Pulse ......................................................................... 147

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S U M Á R I O

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 13

2 O CONTEXTO DAS ORGANIZAÇÕES...................... .................................... 18

2.1 AS ORGANIZAÇÕES ......................................................................................... 22

2.1.1 Poder ........................................ .......................................................................... 27

2.1.2 Ajustamentos ................................. .................................................................... 32

2.2 NOVAS DEMANDAS ORGANIZACIONAIS ............................................................. 37

3 ÉTICA: CONCEITOS E INTERFACES.................... ....................................... 40

3.1 ÉTICA ............................................................................................................. 40

3.1.1 Ética e Moral................................ ....................................................................... 44

3.1.2 A Complexidade Ética ......................... .............................................................. 50

3.2 PARA COMPREENDER A ÉTICA PROFISSIONAL E AS OUTRAS ÉTICAS .................. 54

3.3 ALGUMAS CORRENTES ÉTICAS ........................................................................ 57

3.3.1 Ética de Sócrates, Platão e Aristóteles ...... ...................................................... 58

3.3.2 Ética Estoica e Ética Epicurista ............ ........................................................... 63

3.3.3 Ética de Agostinho de Tagaste e Tomás de Aqui no........................................ 64

3.3.4 Ética de Kant ............................... ...................................................................... 65

3.3.5 Ética de Adam Smith ......................... ............................................................... 66

3.3.6 Utilitarismo................................. ........................................................................ 67

3.3.7 Ética da Convicção e Ética da Responsabilidad e – Max Weber .................... 68

3.3.8 Ética da Responsabilidade – Hans Jonas ....... ................................................. 69

3.3.9 Ética do Discurso............................ ................................................................... 70

4 ÉTICA NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL................... ............................. 73

4.1 CÓDIGO DE ÉTICA ........................................................................................ 82

4.2 ÉTICA ORGANIZACIONAL : BENEFÍCIOS E DIFICULDADES .................................. 86

4.3 ALGUMAS CORRENTES ÉTICAS APLICADAS À ÉTICA ORGANIZACIONAL ............ 95

4.4 ALGUNS ESTUDOS PRÁTICOS DA ÉTICA ORGANIZACIONAL ............................. 98

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5 ÉTICA NOS RELACIONAMENTOS: CONTRIBUIÇÕES D E

RELAÇÕES PÚBLICAS E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL..... ....... 103

5.1 CONTEXTOS DE RELAÇÕES PÚBLICAS E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL ..... 103

5.2 PAPEL DE RELAÇÕES PÚBLICAS E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL ............. 107

5.2.1 Teorias Éticas Aplicadas..................... .......................................................... 115

5.3 RELACIONAMENTOS : ALGUNS INDICATIVOS .................................................. 120

6 ÉTICA E REPUTAÇÃO CORPORATIVA ................... ............................... 127

6.1 IDENTIDADE ................................................................................................ 127

6.2 IMAGEM, IDENTIDADE E REPUTAÇÃO ............................................................ 131

6.3 CONSTRUINDO A REPUTAÇÃO CORPORATIVA ................................................ 138

6.4 REPUTAÇÃO CORPORATIVA: RECONHECIMENTO PELA CONDUTA ÉTICA .......... 142

7 MATERIAIS E MÉTODOS ............................. ............................................ 148

7.1 OBJETIVOS ................................................................................................. 149

7.2 METODOLOGIA ........................................................................................... 150

7.3 GUIAS DE ANÁLISE ..................................................................................... 155

7.4 DADOS DA PESQUISA .................................................................................. 156

7.4.1 Entrevistas com as Empresas .................. .................................................... 159

7.4.2 Entrevista com a Diretora da Agência de Comun icação............................. 166

7.4.3 Entrevista com o Consultor em Ética Empresari al...................................... 167

7.4.4 Código de Ética das Empresas................. .................................................... 170

8 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................... ....................................... 175

8.1 TESTAGEM DOS PRESSUPOSTOS.................................................................. 175

8.1.1 Análise Comparativa ........................ ............................................................ 195

8.2 DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA ........................................ 200

9 CONCLUSÕES .......................................................................................... 210

REFERÊNCIAS ............................................................................................. 218

APÊNDICES .................................................................................................. 232

Page 14: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

13

1 INTRODUÇÃO

A discussão sobre ética organizacional começou na década de

1980, tomou fôlego nos anos 1990 e continua se intensificando no início do novo

século (HUMBERG, 2008). A ênfase no comportamento ético deixou de ser um

modismo e integra a necessidade de ultrapassar o discurso e penetrar numa prática

mais sólida e realista. Qualquer postura que contemple essa demanda de modo

insuficiente será perceptível e pode ser tachada de hipócrita ou receber críticas de

várias naturezas. Mais concretamente, deve-se partir do princípio de que a

organização precisa se preocupar com todos os segmentos de públicos, tais como o

colaborador, o fornecedor, o distribuidor, o cliente, e cuidar dos relacionamentos que

com eles estabelece, dentro de uma filosofia de comunicação que tenha, como

base, princípios éticos.

Para facilitar a compreensão deste trabalho, é preciso esclarecer de

antemão alguns conceitos que serão utilizados no desenvolvimento do texto.

Adotou-se o termo ética organizacional, mas também outras expressões como ética

empresarial, ética nos negócios e ética nas organizações também serão usados. A

explicação do porquê da escolha do termo ética organizacional será apresentada

mais adiante. A palavra organização será aplicada como sinônimo de empresas, de

instituições, por abarcar todos os tipos de atividades que englobam os setores da

economia. Muitas vezes, estes termos serão utilizados de forma indiscriminada, para

evitar as repetições de palavras.

Neste contexto organizacional, tanto o profissional de Relações

Públicas como os comunicadores organizacionais desempenham papel fundamental,

como responsáveis pelo gerenciamento dos relacionamentos, com base em padrões

éticos. Dessa forma, cada um precisa compreender como as organizações se

preocupam com as questões éticas e como devem fazer para realizar uma

implantação bem-sucedida do conceito, sem os equívocos a que essa iniciativa está

sujeita. A contribuição dos profissionais da área de comunicação (e também de

outras áreas) somente poderá ser efetiva, se o assunto for tratado como objeto de

estudo sério e, sobretudo, como ciência.

No caso deste estudo, inclui-se a participação do profissional de

comunicação, em especial, na habilitação em relações públicas, por tratar-se de

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14

profissão que pode ser alvo de fiscalização pelo Ministério do Trabalho e Emprego,

em razão do cumprimento do seu Código de ética. Também, ressalta o papel dos

profissionais de comunicação organizacional.

A discussão a respeito dos campos de relações públicas e de

comunicação organizacional é bastante ampla, complexa, ora divergente, e tem sido

aprofundada recentemente por estudiosos brasileiros. Kunsch (2009, p. 55)

considera que “[...] há diferenças de propósitos e dimensões entre essas áreas,

apesar das proximidades, interconexões e interfaces no conjunto dos objetos de

estudo”.

Adota-se, neste trabalho, a concepção de que são áreas

complementares, que coexistem no ambiente organizacional, principalmente, ao se

analisar as práticas nas organizações. Daí a utilização constante do termo

profissionais de relações públicas e de comunicação organizacional, com o propósito

de abranger as atividades que são diferenciadas, mas possuem interfaces e

sobreposições. Quando forem utilizadas de forma separada, objetiva-se dar ênfase

àquela determinada atividade.

A implantação e a gestão da ética precisam estar enraizadas na

cultura, daí o conhecimento a respeito de ética, ética profissional, ética

organizacional, para que a decisão organizacional esteja baseada em princípios, a

partir de reflexões para o agir ético. O papel dos profissionais de comunicação

organizacional e de relações públicas, como relevantes nesse processo, e a

constatação que há espaço para tal atuação, com incentivo ao diálogo e à

participação dos públicos nas decisões éticas.

Cabe frisar que a intenção não é discorrer sobre a relação ética e

responsabilidade social ou abordar a ética a partir de práticas socialmente

responsáveis - vários autores como Daugherty (2001), Ashley (2002), Fontrodona

(2004), Formentini e Oliveira (2007), Ferrel, Fraedrich e Ferrel (2001) e Srour (2003)

já desenvolveram estudos sobre este assunto. Tratar-se-ão, dentro do contexto

organizacional, da responsabilidade social e da sustentabilidade englobadas em

várias ações e decisões que interferem na ética organizacional. Uma correlação

fundamental é a interface entre ética e reputação corporativa, tendo como base a

ideia de que qualquer ação fraca ou insuficiente compromete tal correlação. Não se

pode pensar neste aspecto, portanto, sem considerar a construção de

relacionamentos.

Page 16: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

15

Assim, definiu-se, como problema desta pesquisa, o seguinte

conjunto de questões: Como se dão a implantação e a gestão da ética nas

organizações? Os profissionais de comunicação organizacional e relações públicas

participam desse processo? As empresas acreditam que a ética organizacional

contribui para a construção e manutenção da reputação corporativa?

Como contribuição efetiva deste estudo, pretende-se ampliar a

pesquisa empírica, contribuindo para a posterior formação de um grupo de pesquisa

permanente na Universidade Estadual de Londrina; e contribuir para a alavancagem

de fontes bibliográficas, com maior profundidade intelectual entre os profissionais de

comunicação organizacional e relações públicas, para atender a uma necessidade

presente, face aos discursos praticados pelas organizações.

Os objetivos gerais são:

• Conhecer como se dá a aplicabilidade dos conceitos de ética nas

práticas das organizações e nos relacionamentos destas com

seus públicos;

• Estabelecer a relação entre ética organizacional e reputação

corporativa, mediante análise dos meios pelos quais as

organizações em estudo gerenciam suas práticas internas e

externas e da forma como propagam suas condutas.

Os objetivos específicos visam:

• Conhecer os motivos apresentados pelas organizações para

justificar o incentivo da ética como valor e como preocupação

organizacional;

• Conhecer a que elementos as organizações associam os

benefícios e as dificuldades para implantação/disseminação da

gestão ética nas organizações;

• Identificar os instrumentos com os quais as organizações

estudadas administram as questões éticas nos seus

relacionamentos – e que nível de interação é conseguido com os

públicos;

• Analisar o modo como se dá a participação dos públicos na

gestão da ética organizacional.

Page 17: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

16

Os pressupostos definidos para este estudo e que serão testados

são:

• A ética vem sendo adotada pelas organizações como conceito

fundamental para uma reputação corporativa favorável.

• A ética organizacional é a base das organizações porque estas a

consideram essencial nos negócios.

• A resistência dos públicos à implantação da gestão ética é a

principal dificuldade.

• Um dos meios utilizados para a propagação da ética nas

organizações é a divulgação do código internamente a todos os

públicos.

• As organizações consideram relevante a participação de toda a

empresa no processo de gestão ética e por isso criam o comitê

de ética com representatividade de todas as instâncias

organizacionais.

• Há preocupação das organizações em investir na ética, nos

relacionamentos com todos os públicos, e não somente com os

públicos estratégicos.

• Os profissionais de comunicação organizacional e relações

públicas participam de todo o processo de gestão ética nas

organizações.

• A decisão pela implantação da ética organizacional é tomada

pela alta administração.

• As organizações utilizam o diálogo, como meio para implantação

e gerenciamento da ética organizacional.

O estudo é apresentado de forma estruturada em nove capítulos.

Este primeiro capítulo introduz o assunto e apresenta uma visão geral da proposta

deste estudo. O segundo capítulo discute o contexto das organizações, nele,

situando as conceituações de Weber sobre o espírito do capitalismo, o avanço do

papel das organizações na sociedade e aspectos da gestão nos dias atuais. Engloba

um enfoque de poder na visão de Michel Foucault (1999, 2008), complementado por

uma abordagem da noção de ajustamentos, conforme definição de Erwing Goffman

(1999). Estes autores foram escolhidos, devido à aplicação e à proximidade de seus

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estudos ao contexto das organizações em geral. O conteúdo deste capítulo serviu

de base para a elaboração de guias de análise, para oferecer uma visão de conjunto

dos elementos favoráveis e desfavoráveis, dos pontos solidificados, da adequação

de processos e das condições do ambiente organizacional.

No terceiro capítulo, são apresentados os conceitos de ética, as

diferentes caracterizações terminológicas, citando as principais correntes e

respectivas contribuições. Um panorama do pensamento em ética será oferecido,

com a finalidade de mostrar como o conceito teve origem e evoluiu com o tempo até

chegar à condição de abordar as demandas das organizações contemporâneas.

O quarto capítulo é dedicado à aplicação da ética no ambiente

organizacional, discute-se a formulação dos códigos de ética, benefícios e

dificuldades da gestão da ética organizacional. São examinadas algumas aplicações

do conceito de ética organizacional.

O capítulo cinco versa sobre o papel do profissional de relações

públicas e comunicação organizacional, com a finalidade de colocar em perspectiva

a constituição dos espaços de atuação e construção de relacionamentos éticos no

âmbito dos públicos da empresa.

No capítulo seis, são efetuadas associações entre ética e reputação

corporativa, a fim de discutir o modo como a primeira interfere na construção da

segunda.

O capítulo sete é destinado a explicitar a metodologia de estudo e

análise, com descrição do modo como foram coletados os dados e a constituição do

instrumento de análise. São também caracterizadas as organizações estudadas e os

profissionais participantes da pesquisa e são fornecidos os dados coletados na

pesquisa.

O capítulo oito apresenta os resultados, efetua a testagem dos

pressupostos, compara esses resultados com as entrevistas realizadas com o

consultor de ética empresarial e com a diretora de agência de comunicação,

encaminha as discussões para análise e avaliação dos resultados da pesquisa. No

capítulo nove são enunciadas as conclusões deste estudo e acena para novas

pesquisas.

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2 O CONTEXTO DAS ORGANIZAÇÕES

A ética voltou à tona, como se a pura adoção de seus princípios

fosse uma fórmula mágica para resolver todas as mazelas da atual sociedade em

tudo o que implicam de falha moral, desonra na reputação, estigmas e injustiças. O

caminho na busca de soluções efetivas para melhoria da sociedade e, por extensão,

também do ambiente de trabalho requer mudança de pensamento, de

comportamento e alteração consciente de práticas. Uma sincera preocupação com a

ética implica em respeitar os indivíduos, suas diferenças, suas motivações

decorrentes da capacidade e liberdade para fazer escolhas. O respeito aos valores

individuais garante a cada pessoa a possibilidade de reconhecer o outro como ser

único e enseja a possibilidade de convivência harmoniosa entre pessoas que são

diferentes, pensam de modo diverso, têm formações díspares, uma vez que o

respeito ao outro terá mais valor que as questões individuais.

Essas posturas estão sendo exigidas cada vez mais, como prática,

tanto nas organizações como na sociedade como um todo, para atender às novas

demandas instituídas pela coletividade. Configura-se, portanto, um desafio que não

pode deixar de considerar a necessidade de refletir sobre as organizações, em sua

inserção na sociedade e esta no sistema capitalista que lhe molda a economia. Para

auxiliar a compreensão desse contexto, serão apresentados os conceitos baseados

no pensamento de Max Weber, considerado um dos críticos do capitalismo, de maior

influência.

O cristianismo tornou-se a religião oficial de Roma, no século IV, e

exerceu seu poder na política e na vida intelectual. O homem precisava buscar a

Deus, para conseguir a salvação divina após a morte, e, para isso, tinha que seguir

os seus mandamentos. É o cristianismo que insere a “ideia de enorme riqueza

moral: a da igualdade dos homens. Todos os homens, sem distinção – escravos e

livres, cultos e ignorantes –, são iguais diante de Deus e são chamados a alcançar a

perfeição e a justiça num mundo sobrenatural” (VÁZQUEZ, 2007, p. 276-277).

Apesar da evidente desigualdade social, o cristianismo pregava que Deus

considerava todos os homens como iguais, por isso, o homem precisava lutar aqui

na Terra, para conseguir o reino de Deus.

Page 20: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

19

Weber aborda o capitalismo no sentido de “espírito”, como forma de

manifestação da cultura capitalista, com o intuito de demonstrar o significado e a

influência do “racionalismo ascético” na estruturação, na organização e no

desenvolvimento das comunidades sociais. Não se pode atribuir à reforma

protestante, o surgimento do capitalismo como sistema econômico, porque certas

manifestações capitalistas já haviam ocorrido antes. Os reformadores não lutaram

por reformas sociais, ou pela defesa de questões humanitárias, ou pela construção

de uma sociedade mais ética. A sua preocupação sempre foi com “a salvação da

alma”, o que tornou a ética vinculada à religião (WEBER, 1999, p. 60).

A reforma protestante também contribuiu, de forma significativa, para

a solidificação do capitalismo. Se o trabalho era visto anteriormente como uma

atividade relacionada à vida material, no protestantismo, institui-se a profissão como

uma vocação: “a conduta racional, baseada na ideia da vocação, nasceu do espírito

da ascese cristã” (WEBER, 1999, p. 130). Com base nesse princípio, o indivíduo

devia trabalhar para agradar a Deus, como forma de aspirar ao reino dos céus por

meio do dever profissional, sem se preocupar com a remuneração que,

consequentemente, possibilitou aos empresários maior acumulação de renda.

O protestantismo, “rompendo os grilhões da ânsia de lucro, com o

que não apenas a legalizou, como também a considerou (no sentido aqui exposto)

como diretamente desejada por Deus” (WEBER, 1999, p. 122). Enquanto a

obtenção do lucro passa a ser a vocação do empresário, o trabalho é valorizado

como vocação profissional. Com isso, o empresário burguês podia acumular os

lucros e contar com a colaboração de trabalhadores conscientes do seu papel, como

cumpridores da sua vocação na sociedade, pois a desigualdade na distribuição dos

bens era obra do divino.

A força motriz do “espírito” do capitalismo contemporâneo é o

desenvolvimento e o aperfeiçoamento do espírito capitalista, que é efetivado por

meio das relações de mercado impostas pelo sistema. O indivíduo está inserido num

sistema que não consegue modificar e no qual, ao mesmo tempo, é obrigado a viver.

As normas são estabelecidas pelo mercado e privilegiam os aspectos econômicos.

Essa ordem econômica, que visa à acumulação de capital, não necessita do apoio

de qualquer religião porque a sua influência foi diminuída e qualquer interferência

religiosa é percebida como limitação ao capitalismo. Os indivíduos, inseridos no

“espírito capitalista”, passaram a ser indiferentes à religião porque a consideravam

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20

como uma forma de afastar as pessoas de suas atividades de trabalho (WEBER,

1999). O trabalho deixou de ser uma vocação divina, para se transformar em

realização pessoal e profissional.

A sociedade passou por diversas transformações até chegar às

dinâmicas características contemporâneas. Entre as diversas mudanças ocorridas,

Chanlat (2000, p. 15) chama a atenção para três pontos relevantes: “a hegemonia

do econômico; o culto da empresa; a influência crescente do pensamento

empresarial sobre as pessoas”.

A empresa torna-se central, por ser a responsável pelo

desenvolvimento econômico e por ser geradora de capitais. Essa dominação, que

passa a ser percebida e exercida em todas as atividades da sociedade, é

denominada de “managerialismo” (CHANLAT, 2000, p. 17). “Um sistema de

descrição, de explicação e de interpretação do mundo a partir das categorias da

gestão [...]. Ele é, diretamente, o produto de uma sociedade de gestores que busca

racionalizar todas as esferas da vida social”. O termo management é utilizado para

caracterizar “tanto práticas e processos como os atores que ocupam funções de

gestão” (CHANLAT, 2000, p. 31).

Chanlat (2000, p. 32-33) lembra que o management surgiu na

segunda metade do século XIX e divide sua trajetória em três momentos. No

momento inicial, compreendido pelo período entre o fim do século XIX até a

Segunda Guerra Mundial, a gestão de empresas pretende se transformar numa

ciência. Surgem os primeiros gestores assalariados, as primeiras instituições de

ensino em gestão e as primeiras publicações científicas sobre gestão.

O segundo momento, que vai do fim de 1940 até início de 1980, é

marcado pelo surgimento da sociedade de consumo de massa, aumento das

consultorias e de empregos em gestão. E o terceiro momento, considerado a partir

de 1980, é caracterizado pelas mudanças no discurso e no modo de gerenciamento

das pessoas, pois a busca pela eficácia, numa economia global, exige uma gestão

estratégica - que atenda ao mercado cada vez mais competitivo e flexível. Com a

globalização, surge também a preocupação com a cultura. A partir da mudança para

uma visão estratégica, passa-se a valorizar o indivíduo como capital humano, em

contraste com épocas anteriores, em que as pessoas eram utilizadas e consideradas

como mão de obra, fator de produtividade.

Page 22: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

21

Outros fatores também influenciaram as mudanças. No século XX, a

obra de Marx e de Engels e os efeitos sobre a classe operária, a criação das URSS,

a expansão do pensamento comunista, também, serviram para desencadear críticas

ao modo de funcionamento e de gestão das empresas, por meio das relações de

dominação (CHANLAT, 2000, p. 41). O autor cita ainda a influência exercida pelo

pensamento de Max Weber, pela teoria de Freud e, nos últimos anos, pelo destaque

experimentado pelas ciências da linguagem. Isto permitiu ampliar a visão dos

management, até então “mecânica”, e a considerar a comunicação como forma de

“construção do sentido”: “É pela linguagem e graças a ela que a humanidade pode

desenvolver pensamentos, sistemas de significações e relações sociais. Toda

existência social repousa, de fato, sobre comunicações que supõem uma forma de

linguagem” (CHANLAT, 2000, p. 45). A gestão também está inserida nesse contexto

e nessa sociedade.

A evolução do conceito de comunicação, a luta dos trabalhadores, o

desenvolvimento de teorias nas diversas áreas do conhecimento, entre outros

fatores, contribuíram para a valorização do ser humano, como principal componente

da organização. Passa-se assim a considerar o atendimento às necessidades dos

indivíduos e os relacionamentos como influenciadores nos resultados da

organização. A comunicação desempenha papel fundamental nesse processo. A

comunicação, livre de ruídos, é fator de sobrevivência para a organização.

O conhecimento e a análise do ambiente são necessários para que

a gestão das organizações aconteça de forma benéfica a todas as pessoas por elas

afetadas. Para Chanlat (2000, p. 67-74), a formação do management prioriza a parte

técnica. Por esse motivo, ele relaciona alguns conceitos que precisam ser

resgatados ou instituídos na gestão das organizações: o retorno do ator e do sujeito;

o retorno da afetividade; o retorno da experiência vivida; o retorno do simbólico; o

retorno da história; o retorno da ética. As indicações valorizam o indivíduo, seus

sentimentos, suas experiências como integrante e participante ativo de uma

organização. A ética ficou durante bastante tempo esquecida, mas figura nessa

relação porque desempenha papel essencial no contexto organizacional.

Page 23: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

22

Face à lógica de gestão impregnadas sobretudo por uma racionalidade instrumental e técnica e uma finalidade financeira a curto prazo, a interpelação ética lembra aos atores animados por essas lógicas que as questões fundamentais do porquê, para quem e em nome de quem não podem ser totalmente descartadas das escolhas feitas pelos gestores (CHANLAT, 2000, p. 48)

A organização não pode se isentar da reflexão a respeito do seu

papel e como as suas práticas têm contribuído para incentivar ou desvalorizar a ética

na sociedade onde está inserida. Cabe aos gestores, administrar de forma coerente

os recursos da organização; porém, seu maior desafio estará em como gerir as

pessoas, pois o ambiente de trabalho é decisivo para o sucesso do empreendimento

– e porque afeta as pessoas física e moralmente. Justifica-se, assim, a abordagem

permanente do contexto das organizações e de aspectos que permeiam ou

estruturam o seu funcionamento.

2.1 AS ORGANIZAÇÕES

A organização é formada por pessoas que desempenham funções e

papéis diferentes, com o objetivo comum de oferecer produtos e/ou serviços ao

mercado, visando atender as necessidades de todos os seus públicos. “As

organizações podem ser entendidas como coletividades especializadas na produção

de um determinado bem ou serviço. Elas combinam agentes sociais e recursos e se

convertem em instrumentos da ‘economia de esforço’” (SROUR, 1998, p. 107).

A organização pode ser definida e entendida com dois sentidos

complementares: como unidade ou entidade social e como função administrativa. A

organização, no sentido de entidade, engloba “qualquer empreendimento humano

moldado intencionalmente para atingir determinados objetivos. As empresas

constituem um exemplo de organização social”. A organização, como uma das

funções do processo administrativo, expressa “o ato de organizar, estruturar e

integrar os recursos e os órgãos incumbidos de sua administração e estabelecer

relações entre eles e atribuições de cada um deles” (CHIAVENATO,1982, p. 271-

272).

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23

A palavra organização originou-se “do grego organom que significa

uma ferramenta ou instrumento” (MORGAN, 2007, p. 24). Devido à sua origem,

Morgan afirma que “raramente as organizações são propostas como um fim em si

mesmas. São instrumentos criados para se atingirem outros fins”. O autor

desenvolveu estudos sobre as organizações e criou as metáforas para ilustrá-las: as

organizações vistas como máquinas, como cérebros, como culturas, como sistemas

políticos, como prisões psíquicas, como fluxo e transformação e como instrumento

de dominação. Para Morgan (2007, p. 328), “caso alguém deseje realmente

compreender as organizações, seria muito mais inteligente começar a partir da

premissa de que organizações são complexas, ambíguas e paradoxais”.

Dada a complexidade, é preciso compreender as características

básicas da organização como missão, visão, valores e políticas que direcionarão

todas as atividades, as ações e as estratégias da empresa. A missão é a declaração

formal dos propósitos da empresa, entendida como a finalidade, a razão de ser da

organização como resposta às questões: Por que a empresa foi criada? Para quem.

Segundo Kotler (1994, p. 74), “uma declaração de missão bem definida fornece aos

funcionários de uma empresa um senso mútuo de propósito, direção e

oportunidade”.

A visão é a afirmação do que deseja a empresa para o futuro, “deve

ser única e abrangente, de forma a permitir a integração e a cooperação de todos

que atuam na organização, nas suas atividades desenvolvidas junto ao público, com

objetivo de atingi-lo” (IANHEZ, 2006, p. 104). As políticas orientam as ações e as

decisões organizacionais, são sistematizadas a partir da diversidade de interesses

com o intuito de escolher um direcionamento. As diferenças geram conflitos que, ao

serem gerenciados, são oportunidades para discussão e definição de assuntos.

Os valores são entendidos como:

entidades ideais, de tipo relacional e hierárquico, que se tornam presentes no seio de uma vivência emocional que é o ato de valorar. A pessoa valora diante de algo que suscita o seu interesse. Os seres humanos crescem, na medida em que vão criando, ao seu redor, uma teia de ideais que lhes interessam. Esse conjunto de ideais que interessam às pessoas constitui o universo dos valores (RODRIGUEZ, 2003, p. 26).

Solomon (2000, p. 20) é enfático ao afirmar que “um valor apenas

adotado, mesmo que se acredite nele sinceramente, de pouco vale, se não se traduz

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24

em ação. Virtudes são valores transformados em ações”. Esses conceitos básicos

da organização - missão, visão, valores e políticas - precisam ser difundidos e

praticados por todos. Cabe à comunicação, criar estratégias de divulgação a todos

os públicos e também de resgate dos princípios esquecidos. Não basta

simplesmente fabricar quadros para as paredes, mas é preciso que todos os

funcionários compreendam esses conceitos e os vivenciem no seu dia a dia para

que os resultados da empresas sejam alcançados.

Ao falar em resultados, é preciso definir um conceito que foi criado

para atender e melhorar a relação entre os administradores e os “proprietários” de

empresas de capital aberto; porém, hoje, várias empresas aplicam esses princípios.

O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC (2009) - define governança

corporativa como:

o sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre proprietários, conselho de administração, diretoria e órgãos de controle. As boas práticas de governança corporativa convertem princípios em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor da organização, facilitando seu acesso ao capital e contribuindo para a sua longevidade.

A governança corporativa pode ser entendida como uma filosofia de

gestão e está vinculada aos fins pretendidos pela organização. Os princípios da

governança corporativa são equidade, transparência, prestação de contas

(accountability) e responsabilidade pelos resultados. A equidade expressa a justiça

em todos os relacionamentos da organização e exige o tratamento igual a todos os

públicos, sem concessão de privilégios, abusos, práticas discriminatórias. A

transparência pauta-se pela clareza nas informações relativas aos negócios da

organização, ou que venham interferir nas atividades da empresa. A prestação de

contas representa a obrigação dos executivos em demonstrar e assumir as suas

decisões e práticas, bem como os seus resultados. A prestação de contas

representa um feedback aos públicos a respeito do andamento da organização,

sendo a responsabilidade o dever de cada indivíduo assumir o seu papel e o seu

compromisso com o desempenho organizacional.

A governança preocupa-se em garantir a eficiência e os resultados

da organização, de acordo com os interesses de seus “proprietários”. A gestão não

fica centralizada no executivo, há a exigência de um Conselho de Administração. O

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25

sistema de gestão é responsável pela definição e utilização de instrumentos que

criem um fluxo contínuo de informações, com o intuito de reduzir os conflitos de

interesses com as partes interessadas. Todo esse processo é estruturado e avaliado

constantemente.

Os papéis desempenhados pela organização englobam as

dimensões legal, política, econômica e ética. Não se aceita mais somente a geração

de lucro; exigem-se processos e valores que vão além do econômico e que

garantirão a sobrevivência da empresa. “Apesar de suas diferenças, todas as

organizações são sistemas sociais e históricos, constituídos por recursos materiais e

imateriais, e pessoas – que se comunicam e se relacionam entre si, com os

inúmeros públicos, as redes de públicos e a sociedade” (NASSAR, 2008, p. 62).

A comunicação é estratégica para a organização porque cria e

mantém os relacionamentos com os seus públicos e assegura a sua manutenção e o

sucesso do empreendimento. Utiliza-se uma comunicação que atenda às demandas

de interação e que possibilite e incentive a participação por meio do diálogo.

Concebe-se, também, a comunicação como elemento essencial da cultura

organizacional, ao servir de disseminadora e formadora dos princípios que compõem

a identidade da empresa.

A cultura organizacional é definida por Marchiori (2006, p. 82) como:

o reflexo da essência de uma organização, ou seja, sua personalidade. Ela é essencialmente experimentada por seus membros de maneira conjunta, o que, sem sombra de dúvida, afeta a realidade organizacional e a forma com que os grupos se comportam e validam as relações internas. Assim, é preciso haver construção de significado/comunicação para que haja cultura nas organizações. O objetivo maior de uma descrição da cultura é resolver, representar e contextualmente explicar os significados que os seres humanos criam para eles próprios por meio da interação social.

Para que a ética faça parte da organização, é preciso que essa

preocupação esteja presente em sua cultura. A cultura organizacional é construída

pelos indivíduos que idealizaram a organização e também pelos seus colaboradores

que fizeram e que fazem parte da estrutura organizacional. Cada organização forma

sua própria cultura organizacional composta por valores, crenças, hábitos e símbolos

e outros elementos compartilhados pelos integrantes da organização, que são

perpetuados pelas experiências e pelos relacionamentos entre os grupos. As suas

Page 27: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

26

características determinam o modo de pensar e agir de uma organização e serão

imprescindíveis nas decisões organizacionais.

Os valores, as crenças, os pressupostos e as relações de poder

estabelecidos entre os membros compõem e interferem nessa cultura

organizacional, que é disseminada pelas experiências e pelos relacionamentos

organizacionais. Para Fleury (1996, p. 22), a cultura organizacional expressa valores

e pressupostos por meio de “elementos simbólicos que, em sua capacidade de

ordenar, atribuir significações, construir a identidade organizacional, tanto agem

como elemento de comunicação e consenso, como ocultam e instrumentalizam as

relações de dominação”.

As relações de dominação são estabelecidas pelo poder, entendido

como “a habilidade de alguém para influenciar ou induzir outra pessoa a seguir suas

diretrizes ou quaisquer normas por ele apoiadas. Uma pessoa possui poder até o

ponto em que influencia o comportamento de outros, de acordo com suas próprias

intenções.” (TORQUATO, 1991, p. 161). Para Passos (2006, p. 79), as organizações

“[...] são sistemas políticos, onde se articulam relações de poder entre os superiores

e os subordinados, entre quem define as regras e atitudes e quem as executa”.

As relações de poder sempre estarão presentes nas organizações,

sendo que, em algumas empresas, elas são evidenciadas, em outras, são

camufladas. Sem dúvida alguma, as decisões e os encaminhamentos são

determinados por essas relações e refletem no sistema de participação dos

indivíduos: “autocraticamente (“Vamos fazer desta forma”); burocraticamente

(“Espera-se que façamos desta maneira”); tecnocraticamente (“A melhor maneira de

fazer isto é desta forma”); ou, então, democraticamente (“Como vamos fazer isto?”)”

(MORGAN, 2007, p. 152-153). Dentro deste contexto, deve-se considerar a

influência do poder na cultura de cada organização, visando entender o seu

funcionamento dentro da dinâmica organizacional. Vários estudos a respeito do

poder já foram realizados. Pretende-se apresentar e discutir alguns conceitos que

serão ampliados na análise dos dados da pesquisa.

Page 28: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

27

2.1.1 Poder

Foucault (1999, p. 20-21) levanta uma série de questões sobre o

poder, mediante uma intensa reflexão, lança afirmações tais como: “o poder não se

dá, nem se troca, nem se retoma, mas ele se exerce e só existe em ato; o poder,

primeiramente, é uma relação de força; o poder é essencialmente o que reprime”.

Foucault reconhece que esta última constatação já fora feita anteriormente por

Hegel, Freud e Reich. De acordo com estas constatações, surge, assim, outro

questionamento: “a análise do poder não deve ser antes de mais nada, e

essencialmente, a análise dos mecanismos de repressão?” (FOUCAULT, 1999, p.

22).

Nessa direção, Foucault (1999, p. 23-24) sugere duas hipóteses: “o

mecanismo do poder seria a repressão; o fundamento da relação de poder é o

enfrentamento belicoso das forças”. A sua proposta de análise baseia-se em dois

esquemas: o esquema contrato-opressão e o esquema guerra-repressão. O

esquema contrato-opressão, considerado como esquema jurídico, estabelece a

relação entre legítimo e ilegítimo, ao passo que o esquema guerra-repressão, ou

dominação-repressão, expressa o antagonismo entre luta e submissão.

O indivíduo é obrigado a produzir a verdade e, ao mesmo tempo, é

forçado a seguir a verdade, daí a dualidade entre produzir a verdade e se submeter

à verdade, “[...] no sentido de que a verdade é a norma; é o discurso verdadeiro que,

ao menos em parte, decide; ele veicula, ele próprio propulsa efeitos de poder”

(FOUCAULT, 1999, p. 29). Ainda, para Foucault, apesar de o poder não ser

partilhado entre os indivíduos, ele transita pelos indivíduos, ele circula em rede. “O

poder se exerce em rede e, nessa rede, não só os indivíduos circulam, mas estão

sempre em posição de ser submetidos a esse poder e também de exercê-lo”

(FOUCAULT, 1999, p. 35).

As pesquisas sobre o poder devem estar focadas na relação entre

poder e dominação, e não de soberania, sendo a análise “a partir das técnicas e

táticas de dominação” (FOUCAULT, 1999, p. 40). É preciso ficar claro que a

soberania não irá limitar os resultados do poder disciplinar. O autor afirma que, nos

séculos XVII e XVIII, surgiu o poder disciplinar, descrito como “um tipo de poder que

se exerce continuamente por vigilância e não de forma descontínua por sistemas de

Page 29: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

28

tributos e de obrigações crônicas. [...] Esse poder não soberano, alheio portanto à

forma de soberania, é o poder ‘disciplinar’” (FOUCAULT, 1999, p. 42-43). Esse

poder faz com que os indivíduos, por meio da disciplina, estabeleçam uma relação

que não será mais de soberano/súdito e sim de dominador/dominado. Outro ponto a

ser considerado é que “as disciplinas vão trazer um discurso que será o da regra;

não o da regra jurídica derivada da soberania, mas o da regra natural, isto é, da

norma” (FOUCAULT, 1999, p. 45).

Foucault (1999, p. 59) afirma:

a lei não é pacificação, pois, sob a lei, a guerra continua a fazer estragos no interior de todos os mecanismos de poder, mesmo os mais regulares. A guerra que é o motor das instituições e da ordem: a paz, na menor de suas engrenagens, faz surdamente a guerra. [...] Não há sujeito neutro. Somos forçosamente adversários de alguém.

Ao falar do tema ética e, principalmente, ao discutir sobre os códigos

de ética, sempre vêm à tona as questões relacionadas às formas de controle de

implantação dos códigos e as penalidades aos que desrespeitam as normas

estabelecidas pela organização. A questão do controle trata primeiramente do

suplício para posteriormente chegar à vigilância. Segundo Foucault (2008, p. 12),

com o surgimento de códigos penais nos anos de 1700, o corpo deixou de ser o

“alvo principal da repressão penal”. O ritual do suplício era utilizado para demonstrar

e resgatar o poder do soberano que fora desprezado pelo criminoso, ao mesmo

tempo, servia para demonstrar como exemplo a todos que queriam ou pretendiam

praticar algum delito, as consequências de suas ações por meio da condenação.

Esta era a função jurídico-política do suplício. Esses conceitos ainda são aplicados

por algumas organizações que acreditam ser a punição em público a garantia para

que outros funcionários evitem a mesma situação, e não pensem em praticar

determinados atos. Este objetivo pode ser alcançado, mas instala-se na empresa um

clima de insegurança e temor.

O sistema de punição tem como base algumas regras consideradas

mais relevantes por Foucault (2008, p. 79-82): a regra da quantidade mínima

expressa que um crime deve apresentar mais desvantagens para que o indivíduo

não seja levado a praticá-lo; a regra da idealidade suficiente trabalha a

representação da punição no indivíduo ao provocar uma sensação de dor, que faz

com que o indivíduo se afaste da situação; a regra dos efeitos laterais demonstra

Page 30: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

29

que os efeitos precisam ser mais efetivos, em quem não praticou o crime, para

convencê-lo a não agir daquela forma; a regra da certeza perfeita mostra o crime

associado à determinada punição e suas desvantagens, de forma clara, pois nada

ressalta tanto a fragilidade da lei que a possibilidade de impunidade; a regra da

verdade comum exige a comprovação de um crime com base em critérios de

verdade; a regra da especificação ideal evidencia a necessidade da criação de um

código que abranja todas as ilegalidades e expresse de forma clara as penas

equivalentes (FOUCAULT, 2008, p. 81).

Ao analisar esses conceitos aplicados às empresas, são mais

comuns posturas contrárias às recomendações de Foucault, quanto à regra da

especificação ideal. Nesta proposta, a comunicação faz parte do processo de

implantação do código, para que essas informações sejam disseminadas para toda a

organização, evidenciando que os prejuízos são proporcionalmente maiores que os

benefícios, em caso de punições. Não se quer generalizar os exemplos descritos a

todas as organizações, mas ressaltar que as próprias empresas gastam tempo e

dinheiro na elaboração e implantação de sistemas, sem analisar todo o contexto

organizacional. Algumas situações podem ser observadas no dia a dia: criam-se

regras, com a certeza que não serão cumpridas com o único propósito de dizer que

constam no manual do funcionário, ou para alegarem que a empresa segue

determinada postura, por exemplo; a não construção e formação de um ambiente

favorável à aplicação das normas estabelecidas fazem com que estas tenham efeito

nulo; a falta de condições para aplicação de determinadas decisões obriga o seu

público interno a criar formas “alternativas”, até mesmo imorais para cumpri-las.

Os instrumentos usados para correção do indivíduo servem a dois

objetivos: “reconstruir o sujeito jurídico do pacto social”, mas, principalmente,

desenvolver um homem obediente. “É o sujeito obediente, o indivíduo sujeito a

hábitos, regras, ordens, uma autoridade que se exerce continuamente sobre ele e

em torno dele, e que ele deve deixar funcionar automaticamente nele” (FOUCAULT,

2008, p. 106). A disciplina não pode ser considerada uma “nova invenção” porque é

praticada nos colégios, no meio militar, nos hospitais, com justificativas diferenciadas

há muito tempo. A disciplina é o instrumento de controle e de dominação que “define

como se pode ter domínio sobre o corpo dos outros, não simplesmente para que

façam o que se quer, mas para que operem como se quer, com as técnicas,

segundo a rapidez e a eficácia que se determina” (FOUCAULT, 2008, p. 119).

Page 31: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

30

A disciplina é utilizada para “modelar” a pessoa de acordo com os

desejos dos punidores. Esse “modelo de pessoa” passa a ser dominado porque

demonstra fragilidade ao ceder a esse novo padrão estipulado pelo dominante. As

técnicas da disciplina para distribuição dos espaços são diversas como a clausura; a

distribuição nos espaços para poder monitorar os indivíduos; a definição de lugares

livres e para atender às outras utilidades e a distribuição dos indivíduos numa rede

de relações (FOUCAULT, 2008, p. 125).

O controle da atividade é feito de diversas formas (FOUCAULT,

2008, p. 127-131): 1) o horário: determina quando começa, termina e a duração das

atividades; além disso, potencializa o tempo por meio da qualidade e da utilidade; 2)

a elaboração temporal do ato: define todas as etapas e os procedimentos corretos

de cada ato por meio da imposição de gestos; 3) o corpo e o gesto postos em

correlação: estabelece a melhor relação entre o corpo e o gesto de determinada

forma para que alcance a eficácia e a rapidez do ato, “um corpo disciplinado é a

base de um gesto eficiente”; 4) articulação corpo-objeto: a disciplina estabelece a

relação entre o corpo e o objeto manipulado; 5) a utilização exaustiva: exploração

máxima do tempo. A busca por desenvolver as atividades em menos tempo possível

para que outras ações sejam impostas “sem perder tempo”.

A disciplina produz individualidade com as seguintes características:

“é celular (pelo jogo da repartição espacial), é orgânica (pela codificação das

atividades), é genética (pela acumulação do tempo), é combinatória (pela

composição das forças)”. Para isso, emprega as seguintes técnicas: “constrói

quadros; prescreve manobras; impõe exercícios; enfim, para realizar a combinação

das forças, organiza ‘táticas’. A tática, arte de construir, [...] é sem dúvida a forma

mais elevada da prática disciplinar” (FOUCAULT, 2008, p. 141).

A disciplina, ao mesmo tempo, estabelece regras de convivência e

de funcionamento da dinâmica organizacional, também, pode criar o “funcionário

padrão” dissociado de sua capacidade de reflexão e de crítica. Ao citar, como

exemplo, a escola dos Gabelins em 1667, Foucault (2008, p. 133) extrai as bases de

aprendizagem corporativa: a dependência em relação ao mestre; a avaliação para

cumprir o estabelecido, a partir de uma prova qualificatória; a distância entre mestre

e aprendiz; a visão que o mestre transfere o seu conhecimento como uma forma de

domesticar o aprendiz.

Page 32: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

31

Na sociedade disciplinar, a função do poder é “adestrar”, pois

considera os indivíduos como instrumento e objeto. O poder disciplinar utiliza

instrumentos como: “o olhar hierárquico, a sanção normalizadora e sua combinação

num procedimento que lhe é específico, o exame” (FOUCAULT, 2008, p. 143). O

exame combina as técnicas de vigilância e de normalização. “O exame supõe um

mecanismo que liga um certo tipo de formação de saber a uma certa forma de

exercício do poder” (FOUCAULT, 2008, p. 156). A punição no sistema disciplinar

engloba “relacionar os atos, os desempenhos, os comportamentos singulares a um

conjunto, que é, ao mesmo tempo, campo de comparação, espaço de diferenciação

e princípio de uma regra a seguir” (FOUCAULT, 2008, p. 152). Entre todas essas

funções da punição, Foucault (2008, p. 153) resume: “em uma palavra, ela

normaliza”.

Foucault (2008, p. 159) relata que antigamente o fato de haver

registros a respeito de uma pessoa era um privilégio e status de poder. Já, hoje,

“esta transcrição por escrito das existências reais não é mais um processo de

heroificação; funciona como processo de objetivação e de sujeição”. O indivíduo “é

também uma realidade fabricada por essa tecnologia específica de poder que se

chama ‘disciplina’”. Alerta também que não se deve conceber o poder somente pelos

aspectos negativos, mas que o poder também produz: “o indivíduo e o conhecimento

que dele se pode ter se originam nessa produção” (FOUCAULT, 2008, p. 161).

Foucault (2008, p. 164) descreve que, no século XVII, para o

controle das pestes, suscitam “esquemas disciplinares” com rigoroso controle e

vigilância. Para evitar a proliferação, os “pestilentos” eram isolados e obrigados a

seguir as regras dos sistemas de vigilância, mediante mecanismos de poder. As

cidades eram fechadas e somente as pessoas autorizadas faziam a checagem do

sistema de segurança e de controle. Com a evolução da sociedade, este controle e

vigilância podem ser ilustrados pela figura do “Panóptico de Bentham”, desenvolvido

de forma a manter a pessoa enclausurada para controlar e vigiar todas as suas

ações. Esse modelo arquitetônico é composto de celas distribuídas em círculos com

uma torre elevada ao centro. Desta forma, o vigia posicionado na torre controla

todos os movimentos dos enclausurados, sem que estes possam percebê-lo. O

objetivo do panóptico é “induzir no detento um estado consciente e permanente de

visibilidade que assegura o funcionamento automático do poder. Fazer com que a

Page 33: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

32

vigilância seja permanente em seus efeitos, mesmo se é descontínua em sua ação”

(FOUCAULT, 2008, p. 166).

Percebe-se que esse sistema é amplamente utilizado no dia a dia, o

que confirma a visão de Foucault (2008, p. 170), de que “cada vez que se tratar de

uma multiplicidade de indivíduos, a que se deve impor uma tarefa ou um

comportamento, o esquema panóptico poderá ser utilizado”. Assim, colocam-se dois

papéis da disciplina: a disciplina-bloco e a disciplina-mecanismo. A primeira está

relacionada aos aspectos negativos e a segunda ao panoptismo: “um dispositivo

funcional que deve melhorar o exercício do poder, tornando-o mais rápido, mais

leve, mais eficaz, um desenho das coerções sutis para uma sociedade que está por

vir” (FOUCAULT, 2008, p. 173). Para resumir, Foucault (2008, p. 178) salienta que a

sociedade disciplinar envolve o “movimento que vai das disciplinas fechadas,

espécie de ‘quarentena’ social, até o mecanismo indefinidamente generalizável do

‘panoptismo’”.

Na cultura organizacional, não estão presentes somente as relações

de poder. São estabelecidas formas e “privilégios” para manter os seus

colaboradores dentro das expectativas da empresa, daí a abordagem dos estudos

sobre os ajustamentos desenvolvidos por Goffman (1999). Os ajustamentos são

tratados como instrumentos para manutenção e ampliação das relações de poder.

Percebe-se uma proximidade relacional entre os estudos a respeito de poder de

Foucault e os ajustamentos desenvolvidos por Goffman.

2.1.2 Ajustamentos

Goffman (1999) desenvolveu estudos para analisar o “mundo social

do internado em hospital”, à luz da subjetividade dos indivíduos. A análise envolveu

o grupo dos internados e o grupo menor, responsável pela supervisão em

instituições totais. As instituições totais são definidas por Goffman (1999, p. 11)

“como um local de residência e trabalho onde um grande número de indivíduos com

situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável período

de tempo, levam uma vida fechada e formalmente administrada”.

Page 34: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

33

As instituições totais podem ser divididas em cinco agrupamentos: 1)

as instituições criadas para cuidar de pessoas incapazes e inofensivas; 2) os

estabelecimentos definidos para cuidar de pessoas consideradas incapazes de se

cuidarem e que, não intencionalmente, representam uma ameaça à comunidade,

como o sanatório para tuberculosos; 3) os espaços determinados para reclusão de

pessoas, com o objetivo de proteger a comunidade de perigos intencionais, como

cadeias e penitenciárias; 4) os locais criados intencionalmente para abrigar pessoas

que vão realizar de modo mais adequado algumas tarefas, como os navios, os

quartéis; 5) os locais destinados às pessoas que se refugiam do mundo exterior,

como os conventos e as abadias (GOFFMAN, 1999, p. 16-17).

As conclusões dos estudos realizados nas instituições totais podem

ser aplicadas a outros tipos de organizações. É evidente que, nas instituições totais

estudadas por Goffman (1999), as relações entre o paciente e a equipe médica são

antagônicas e demarcadas; os indivíduos estão isolados e sua relação com o

ambiente externo acontece somente por meio de terceiros. Nas outras organizações,

as características percebidas nas instituições totais não predominam, mas

encontram-se situações descritas por Goffman, que não são tão nítidas como nos

estudos realizados porque há uma distância formalmente delimitada entre pacientes

e equipe médica. O sistema de privilégios pode ser um dos exemplos.

Goffman (1999, p. 50-51) apresenta os três elementos básicos do

sistema de privilégios encontrado em suas análises: 1) “regras da casa”:

representam uma série de regras formalizadoras e explícitas que determinam como

deve ser a conduta do internado no dia a dia; 2) “pequenas premiações”: os

privilégios são concedidos quando as regras são seguidas, como benefício ao

internado pela obediência à equipe; 3) “castigos”: os castigos são aplicados, devido

à desobediência às normas estabelecidas. A aplicação do castigo pode variar de

suspensão temporária dos privilégios à exclusão permanente do direito a privilégios.

As aplicações desses conceitos às empresas podem ser ilustradas

da seguinte forma: as “regras da casa” representam o que cada colaborador pode e

não pode fazer no ambiente da organização, ou como seu representante,

estabelecem como deve ser o seu comportamento; “pequenas premiações”

significam os benefícios que o funcionário recebe porque o seu comportamento

atendeu ou superou a expectativa da empresa; então, pode ser a ascensão na

carreira, elevação de salário, ou até mesmo benefícios menores; os “castigos” são

Page 35: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

34

as punições, devido a um comportamento inadequado e à desobediência às “regras

da casa” e podem ser feitas, através de descontos salariais, suspensão de

benefícios e até de demissão.

O sistema de privilégios das instituições totais apresenta algumas

especificidades, descritas por Goffman (1999, p. 51-52) como: os privilégios e

também os castigos são característicos do modo de organização desse tipo de

instituição, sendo que os privilégios não representam ganho algum, significam

somente ausência de privações; a liberdade é utilizada como forma de controle, pois

a desobediência provoca aumento da estada, enquanto os atos adequados podem

reduzir o tempo de permanência naquele ambiente; os locais internos são utilizados

como forma de premiar ou castigar, sendo que o deslocamento faz parte do sistema

e estabelece o nível de privilégio.

As táticas representam formas de resolução do conflito entre a

realidade do mundo de origem do indivíduo e a do “novo mundo” institucionalizado.

São utilizadas diversas táticas para a adaptação, entre as identificadas em seus

estudos, Goffman (1999, p. 59-61) cita as seguintes: tática de “afastamento da

situação”: o indivíduo se isola, passa a vivenciar os acontecimentos sob a sua

perspectiva e deixa de participar das atividades, principalmente, as de interação;

tática de “intransigência”: o indivíduo se recusa a cooperar com a equipe dirigente;

tática de “colonização”: em contraposição ao ambiente externo, o indivíduo cria uma

estabilidade, transmitindo a ideia de “lar”, isto gera o desejo de continuidade na

instituição; tática de “conversão”: o indivíduo representa o internado perfeito e

demonstra disponibilidade total à equipe dirigente.

A sobrevivência da organização está relacionada à sua capacidade

de utilizar alguns meios para demonstrar, aos seus participantes, as suas

contribuições e os seus limites no desempenho das atividades (GOFFMAN, 1999, p.

151-152). Primeiramente, a organização adota “padrões de bem-estar”, para

demonstrar o valor do indivíduo como ser humano; a assimilação de “valores

comuns” favorece a cooperação do indivíduo à organização e ocasiona a

identificação dos seus interesses com os interesses da organização; a utilização de

“incentivos” pessoais pode ser adotada como forma de atrair os indivíduos pelo seu

significado; a organização também pode incentivar os participantes por meio de

“sanções negativas”, pois o medo faz com que o indivíduo deixe ou não pratique

Page 36: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

35

determinadas ações; porém, os prêmios positivos são formas de se obter o empenho

pessoal.

A organização não está restrita à utilização das atividades dos

participantes, ela também se preocupa em oferecer algumas garantias consideradas

adequadas à sua continuidade.

Tais concepções ampliam um simples contrato de participação numa definição da natureza ou do ser social do participante. Tais imagens implícitas constituem um elemento importante dos valores que toda organização mantém, independentemente do grau de sua eficiência ou impessoalidade. Portanto, nas disposições sociais de uma organização, se inclui uma concepção completa do participante – e não apenas uma concepção dele como e enquanto participante – mas, além disso, uma concepção dele como ser humano (GOFFMAN, 1999, p. 152-153).

Goffmann (1999, p. 160) diferencia ajustamentos primários e

ajustamentos secundários. O ajustamento primário é caracterizado, quando um

indivíduo torna-se “colaborador” e se integra às atividades de uma organização de

forma cooperativa. As condições determinadas e planejadas são cumpridas tanto

pelo indivíduo como pela organização. Os ajustamentos primários também

colaboram para a estabilidade institucional, por gerar segurança ao indivíduo

participante.

O ajustamento secundário representa as práticas utilizadas pelos

indivíduos, de forma ilícita ou não autorizada, que fogem às obrigações

estabelecidas pela organização, com o intuito de obter satisfações desejadas que

não sejam permitidas, ou, então, satisfações permitidas e obtidas por meio da

ilegalidade. “Os ajustamentos secundários representam formas pelas quais o

indivíduo se isola do papel e do eu que a instituição admite para ele” (GOFFMAN,

1999, p. 160).

Goffman (1999, p. 162-163) relata as dificuldades em estabelecer as

fronteiras entre ajustamentos primários e secundários porque há a necessidade,

muitas vezes, de se manter a atividade num caráter informal ou não oficial, para

manter a eficiência da organização. Dentro de uma mesma organização, o que pode

ser ajustamento secundário para uma categoria, pode caracterizar ajustamento

primário para outra.

Page 37: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

36

Neste contexto, Goffman (1999, p. 165) afirma que há uma

tendência à adaptação das empresas a esses ajustamentos secundários, não

somente por uma questão de disciplina, mas também na busca de selecionar

algumas práticas, que serão legitimizadas como forma de recuperar o controle e a

soberania, mesmo que essa atitude represente a flexibilização dos deveres dos

participantes. Os ajustamentos secundários podem ser subdivididos em

pertubadores e contidos (GOFFMAN, 1999, p. 167-168). Os pertubadores podem ser

identificados pela vontade de provocar mudanças radicais na organização, que gera

instabilidade nas atividades; enquanto os contidos ajustam-se à dinâmica

institucional, aliando-se aos ajustamentos primários.

Quanto à aplicação dos conceitos aos níveis organizacionais, há

uma tendência de os níveis hierárquicos inferiores usarem os ajustamentos

secundários, por falta de vínculo emocional com a organização. No nível superior, há

maior cuidado em utilizarem os ajustamentos secundários, por serem representantes

da organização, por zelarem pela “carreira”; porém, percebe-se que esses

ajustamentos também podem ser caracterizados pelas denominadas “despesas de

representação”. Já o nível intermediário demonstra menos ajustamentos secundários

(GOFFMAN, 1999, p. 169).

As relações descritas por Goffman são baseadas na confiança,

principalmente, do cliente em relação ao tratamento que receberá tanto da

instituição como do servidor. “Idealmente, o cliente traz para essa relação um

respeito pela competência técnica dos servidores e confiança de que a empregará

de maneira eticamente correta; traz também gratidão e um honorário” (GOFFMAN,

1999, p. 266). Por outro lado, o servidor apresenta competência e eficiência, para

atender a vontade e a necessidade de seu cliente com seriedade. Novos

relacionamentos são construídos por meio dessa interação que valoriza o

desempenho do servidor e, ao mesmo tempo, respeita a fragilidade do cliente.

Há percepção que, tanto nas relações de poder como nos

ajustamentos da organização, a comunicação está vinculada a todos os processos.

A comunicação é a essência da organização, independemente de ramo de atuação,

do porte, do setor. Ela está intrinsecamente vinculada a todos os processos

organizacionais. Para pensar a comunicação de forma estratégica no seu

planejamento, uma análise de ambiente deve ser feita, considerando principalmente

Page 38: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

37

as mudanças na sociedade. Daí a necessidade de incorporar algumas questões que

também estão ligadas à decisão de investir na ética organizacional.

2.2 NOVAS DEMANDAS ORGANIZACIONAIS

A sociedade capitalista é caracterizada por antagonismos

provocados pela preocupação em aumentar os privilégios dos já favorecidos e deixar

a maioria à margem do sistema. O investimento governamental em ações que

podem mudar essa realidade é insignificante, se comparado aos gastos para

manutenção de sua estrutura que prega o bem social, mas só reconhece como

legítimo o interesse pessoal. Entretanto, há de considerar o papel relevante que a

sociedade civil, movimentos sociais e empresas têm desempenhado para

transformar tal realidade. Os resultados são vistos por meio de projetos e ações que

incentivam o indivíduo a reconhecer o seu papel como cidadão e resgatam a

dignidade humana.

As atividades e as ações desenvolvidas pela iniciativa privada, em

favor da sociedade, também, podem ser chamadas de cidadania corporativa, ou

pelos sinônimos cidadania empresarial, ou empresa cidadã. O papel das

organizações na sociedade contemporânea vai além do comercial, pois, não basta

somente garantir o seu negócio e o seu lucro. Exige-se que as organizações

assumam alguns compromissos com as causas sociais, com a responsabilidade

social, com a sustentabilidade e, principalmente, que as decisões organizacionais

sejam éticas.

A responsabilidade social é definida como:

o comprometimento permanente dos empresários de adotar um comportamento ético e contribuir para o desenvolvimento econômico, melhorando, simultaneamente, a qualidade de vida de seus empregados e de suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo (MELO NETO; FROES, 1999, p. 90).

A responsabilidade social, entendida conforme esta definição, exige

da empresa o planejamento de ações permanentes, que contribuam para o

desenvolvimento de todos os públicos da organização e, principalmente, de seus

Page 39: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

38

colaboradores. A “empresa socialmente responsável” tem consciência do seu papel

na sociedade e cumpre as suas responsabilidades éticas, legais, econômicas.

Barbieri e Cajazeira (2009, p.61), com base na International

organization for Standization – ISO -, afirmam que a organização, ao considerar a

responsabilidade social e a sua interpenetração nas dimensões econômica,

ambiental e social, bem como a análise de seus aspectos e seus impactos, tem-se o

desenvolvimento sustentável. A sustentabilidade está baseada no princípio do

desenvolvimento sustentável, visando garantir a existência saudável de gerações

futuras.

A empresa sustentável é “a que procura incorporar os conceitos e

objetivos relacionados com o desenvolvimento sustentável, em suas políticas e

práticas de modo consistente” (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2009, p. 70). Os autores

salientam que esse conceito surge da união dos movimentos de sustentabilidade e

responsabilidade social. Explicam que o objetivo dessa empresa é investir e garantir

um desenvolvimento sustentável, sendo a responsabilidade social o meio para a

efetivação desse resultado. Alguns documentos servem como orientadores das

ações da organização, tais como: Declaração Universal dos Diretos Humanos,

Agenda 21, A Carta da Terra, Objetivos e Metas do Milênio, Pacto Global,

Convenções da Organização Internacional do Trabalho, entre outros.

Com base na tendência de valorizar essas iniciativas, a Bolsa de

Valores, Mercadorias e Futuros – BM&FBOVESPA - e outras organizações

“decidiram unir esforços para criar um índice de ações que seja um referencial para

os investimentos socialmente responsáveis, o Índice de Sustentabilidade

Empresarial – ISE”. Essas organizações instituíram o Conselho Deliberativo,

presidido pela BM&FBOVESPA, responsável pelo desenvolvimento do ISE

(BM&FBOVESPA, 2009).

As transformações ocorridas na sociedade, como o impacto das

tecnologias e os seus recursos, as consequências da globalização, o aprimoramento

da genética, a degradação do meio ambiente, também, originaram novas questões

éticas que precisam ser discutidas porque se projetam no ambiente organizacional

interno e externo e tornam a organização mais vulnerável. O posicionamento ético,

frente a essas vulnerabilidades, trará mais segurança ao empreendimento.

O desenvolvimento da organização deve primar pela ética

organizacional e pela ética de seus integrantes. Isto só será possível, se os valores

Page 40: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

39

éticos organizacionais forem incorporados à cultura da empresa e internalizados

pelos seus integrantes. Antes de iniciar esta abordagem, é preciso buscar a

fundamentação da ética, a partir de seus conceitos e suas interfaces, visando

construir uma base de conhecimento a respeito dos assuntos que permeiam o

campo da ética.

Page 41: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

40

3 ÉTICA: CONCEITOS E INTERFACES

Apesar da ética ser um termo bastante utilizado no dia a dia, quando

se refere ao seu significado, passa a chamar a atenção pela sua complexidade que

abarca uma riqueza de conceitos. Várias denominações são atribuídas e somadas

ao termo ética para designar um segmento específico de estudo. Esse exagero

provoca dificuldades no entendimento de algumas questões porque também há

divergências entre as concepções adotadas pelos estudiosos. A proposta é

conceituar ética e apresentar algumas caracterizações que ajudem uma reflexão

mais aprofundada e sirva para sustentar a necessidade de incentivo a uma postura

ética no ambiente organizacional.

Neste capítulo, primeiramente, discute-se a conceituação de ética e

faz-se a correlação entre ética e moral. Aborda-se a complexidade da ética. Busca-

se a compreensão dos conceitos, que envolvem a caracterização da ética

profissional, trazendo à discussão denominações como teleologia, deontologia, ética

aplicada, entre outros, e apresenta algumas correntes éticas.

3.1 ÉTICA

O conceito de ética, nas sociedades mais antigas, tratava do

indivíduo e a sua relação com a comunidade, que se restringia a um número

pequeno de pessoas. Nos dias de hoje, por outro lado, percebe-se que esse

conceito é muito mais abrangente. Isso se deve aos vários relacionamentos, que se

impõem tanto pelo processo de globalização como pelos avanços tecnológicos, que

permitem contatos com organizações do mundo inteiro, acesso a outras fontes de

informação, manifestação da opinião pública “em rede”, entre outras possibilidades.

As consequências das decisões organizacionais passam a ter

dimensões mais abrangentes, com necessidade de se pensar, de uma forma mais

responsável, os impactos por elas causados na sociedade. “De acordo com a nova

visão, a ética passou a ser encarada como padrão de relacionamento com o

Page 42: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

41

mercado e o ambiente de negócios, aqui incluídos, os fornecedores, funcionários,

clientes e a comunidade à qual pertencemos” (GRACIOSO, 2004, p. 2).

O aumento do interesse pelo tema ética empresarial é percebido em

várias escalas; porém, segundo Camargo (2006, p. 9), “existe uma tendência muito

imediatista, pragmatista e até mercantilista, reduzindo a ética a receitas de

comportamento, com objetivos do positivismo utilitarista para satisfazer o mercado”.

Nessa perspectiva, a preocupação com a ética passa a ter contornos nitidamente

mercadológicos, o que, por não haver uma reflexão mais profunda a respeito do seu

sentido e de toda a sua abrangência, pode provocar a perda de seu sentido original.

Ou seja, como a ética está sendo tratada, “ela perde sua característica que a

identifica, a partir de valores e princípios, para se tornar um conjunto de

mecanismos, para solucionar problemas de ordem exclusivamente prática”

(CAMARGO, 2006, p. 10).

No artigo “Contra o abuso da ética e da moral”, Romano (2001)

aborda o desgaste desses termos pelo uso indiscriminado. O autor expressa sua

preocupação com a perda de credibilidade das palavras e cita a conduta dos

governantes que utilizam, em seus discursos, citações sobre ética, fora de contexto,

para justificar atos imorais. É necessário enfatizar que somente pode-se avaliar o

comportamento ético de forma individual, pois a sociedade e as organizações não

podem ser caracterizadas como éticas ou não éticas. “Somente a ação individual é

suscetível de valoração moral” (ARRUDA; WHITAKER; RAMOS, 2003, p. 23).

Vàzquez (2007, p. 22) afirma que o estudo da ética está relacionado

ao agir humano, que é considerado pelos indivíduos como um valor, e, ao mesmo

tempo, como obrigação. “Mas nada disto altera minimamente a verdade de que a

ética deve fornecer a compreensão racional de um aspecto real, efetivo, do

comportamento dos homens”. Já Matos (2008, p. 28) define ética como “a ciência do

bem comum. Implica preservar a dignidade humana, a liberdade, a igualdade de

oportunidades, o respeito aos direitos humanos. Sem uma Ética mínima, não há

grupo sustentável”.

Para Camargo (1999, p. 31), ao contrário de Matos (2008), a ética

“transcende as ciências e procura auxiliá-las em questões que estas não conseguem

atingir”. O autor descreve os fundamentos da ética, resgatando conceitos e

relacionando-os às práticas profissionais, pois, para que a ética profissional seja

aplicada de forma adequada, “a pessoa tem que estar imbuída de certos princípios

Page 43: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

42

ou valores próprios do ser humano para vivenciá-los nas suas atividades de

trabalho” (CAMARGO, 1999, p. 32). Esta afirmação comprova a relevância do tema,

bem como a necessidade da área de relações públicas e de comunicação

organizacional em buscar os seus fundamentos na ética.

A ética fornece parâmetro para o agir ético, em todas as ocasiões,

por meio de princípios que estabelecem o direcionamento para o comportamento

adequado, respeitando e valorizando a autonomia do indivíduo. A ética é dividida por

Marcondes (2007, p. 10) em três dimensões: 1) sentido básico ou descritivo,

implicando o conjunto de costumes, hábitos e práticas de um povo; 2) sentido

prescritivo ou normativo, derivado dos preceitos que se vinculam a valores e

deveres; 3) sentido reflexivo ou filosófico, que abrange a discussão acerca da

natureza e os fundamentos das teorias éticas e das práticas adotadas, com base em

valores destinados a dar-lhes sustentação.

Para Cortina e Martinez (2005, p. 21), a ética é descrita com tripla

função:

1) esclarecer o que é a moral, quais são seus traços específicos; 2) fundamentar a moralidade, ou seja, procurar averiguar quais são

as razões que conferem sentido ao esforço dos seres humanos de viver moralmente; e

3) aplicar aos diferentes âmbitos da vida social os resultados obtidos nas duas primeiras funções, de maneira que se adote nesses âmbitos sociais uma moral crítica (ou seja, racionalmente fundamentada), em vez de um código moral dogmaticamente imposto ou da ausência de referências morais.

Além das funções descritas acima de explicar o que é moral e suas

características específicas, buscar o sentido e a fundamentação do viver moralmente

e adotar uma moral crítica, alguns fundamentos da ética geral são apresentados:

universalização que engloba consistência, reciprocidade e imparcialidade; vigência

versus validade; universalismo versus relativismo, entre outros (CENCI, 2001).

Quando se fala em universalidade, Singer (2002, p. 20) defende que é preciso

considerar que os interesses pessoais não podem ser mais valorizados que os

interesses dos outros, pois os interesses do coletivo terão prioridade.

A ética “constitui-se em um tipo de saber próprio e, por isso, ela

deve ocupar-se com a racionalidade do agir” (CENCI, 2001, p. 10). O agir humano é

discutido por Cenci (2001), de acordo com os fundamentos da ética, a partir das

Page 44: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

43

suas origens, e apresenta quatro formas do saber ético, com base na tradição ética

ocidental: o saber ou racionalidade prudencial, o saber ou racionalidade calculadora,

a racionalidade prática e a racionalidade dialógica. O autor apresenta as

especificidades da ética e o contraponto entre as normas morais, jurídicas e legais.

O significado da ética vai além das regras formais porque os procedimentos

oferecem padrões a serem seguidos, mas nem sempre éticos.

Passos (2006, p. 98) alerta para o cuidado com a redução da ética a

aspectos normativos e justifica que “as normas e os códigos devem ser

considerados apenas como meios, como orientadores, e não como um fim em si

mesmos”. Não se pode cultivar uma ética como sinônimo de cerceamento, fazendo

com que o indivíduo tenha um comportamento ético porque está sendo vigiado, ou

porque precisa seguir as normas estipuladas. A ética é muito mais complexa e

envolve a essência do agir humano em busca do entendimento das próprias atitudes

do bem para si e para os outros; nutre-se no fundamento de que a ação precisa ser

justa (justiça) e buscar o bem comum, diferenciando o simples conceito de busca do

bem que pode não resistir aos conceitos anteriores.

Para Passos (2006, p. 98):

Existe uma tendência para reduzir a ética a uma disciplina normativa, de código e prescrições recheadas de censuras, regras, interditos e ameaça de punição. Seguindo esse caminho, teríamos que abdicar da ideia de sujeito e assumir a de agente, situação que não qualificaria o agir humano, através do qual o indivíduo procura realizar-se como pessoa. Nosso entendimento diverge dessa perspectiva, pois consideramos a ética como uma forma de ser no mundo, que deve estar comprometida com a dignidade da pessoa e com a justiça social.

Conforme se observou, a ética dá um direcionamento ao agir

humano, porque dispõe de princípios que ajudam o homem a exercer sua autonomia

frente a situações que exijam posicionamentos. A ética não é um roteiro, pelo

contrário, o homem é livre para fazer suas escolhas, mediante princípios que devem

reger o seu agir. O conhecimento ético proporciona discernimento e orientação

racional para o agir. “Cabe à ética sinalizar o agir com princípios, indicar

possibilidades. Ela, no entanto, não pode prescrever o caminho a percorrer, escolha

que cabe ao indivíduo, a partir de seu livre arbítrio e autonomia” (CENCI, 2001, p.

45).

Ao discutir o significado da ética, remete-se também ao termo moral.

Page 45: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

44

Assim, faz-se necessário esclarecer qual será o entendimento a respeito dos dois

termos, segundo a visão de alguns autores trazida à reflexão, com o intuito de

aprofundar-se nas questões relativas a significações e de suas aplicações no âmbito

organizacional.

3.1.1 Ética e Moral

Romano (2001) propõe uma retomada conceitual de moral, com

base na tradução do verbete, apresentado na Enciclopédia de Diderot e D’Alembert,

sobre a ciência moral:

Moral (ciência dos costumes) é a ciência que nos prescreve uma conduta sábia e os meios de a ela conformar os nossos atos. Se é apropriado para as criaturas racionais aplicar suas faculdades às coisas a que elas se destinam, a Moral é a ciência própria dos homens; isso porque ela é um conhecimento geralmente proporcionado à sua capacidade natural e da qual depende seu maior interesse (ROMANO, 2001, p. 3).

Na linguagem informal, os termos ética e moral são utilizados como

sinônimos e abrangem as normas e princípios que ditam o comportamento humano

e são expressos por meio de valores. “A ética consiste no estudo racional e

sistemático da moral. Enquanto esta constitui a variável concreta, a ética representa

o aspecto abstrato e teórico da mesma” (RODRIGUEZ, 2003, p. 8). A moral pode ser

descrita como o comportamento validado pelos costumes e pela sociedade; e

expresso por meio de normas. A moral ou conjunto de morais é o objeto de estudo

da ética.

A respeito das definições de ética e moral, Marcondes (2007, p. 9)

afirma que a palavra ética é originária do termo ethos e significa o “conjunto de

costumes, hábitos e valores de uma determinada sociedade ou cultura. Os romanos

o traduziram para o termo latino mos, moris (que mantém o significado de ethos),

dos quais provém moralis, que deu origem à palavra moral em português”. Todavia,

é necessário resgatar o sentido originário do ethos que significa proteção, guarida e

hospitalidade. Se hoje se vislumbra uma crise do ethos é porque está desprotegido

Page 46: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

45

na condição do cidadão, como o respeito, a justiça e a dignidade. Isso se reflete no

cotidiano, principalmente, no ambiente organizacional.

Seguindo essa linha de análise da origem do termo ethos,

Tugendhat (1996, p.35) afirma que a diferenciação pela origem dos termos ficou

prejudicada, porque foram utilizados na tradição filosófica como sinônimos. A palavra

ética foi traduzida de forma equivocada: “no latim, o termo grego éthicos foi então

traduzido por moralis. Mores significa: usos e costumes”. Porém, não é este o

entendimento sobre ética ou moral porque, segundo o autor, a tradução está

incorreta, “pois, na ética aristotélica, não apenas ocorre o termo éthos (com e longo),

que significa propriedade do caráter, mas também o termo éthos (com e curto) que

significa costume, e é para este segundo termo que serve a tradução latina”

(TUGENDHAT, 1996, p. 35-36). Já o termo moralis, em latim, “veio então a ser

quase que um termo técnico, que não permite mais pensar muito em costumes, mas

que foi empregado exclusivamente em nosso sentido de ‘moral’” (TUGENDHAT,

1996, p. 36).

a) Modelo de conduta socialmente estabelecido em uma sociedade concreta (“a moral vigente”)

b) Conjunto de convicções morais pessoais (“Fulano possui uma moral muito rígida”)

c) Tratados sistemáticos sobre as questões morais (“Moral”)

Doutrinas morais concretas (“Moral católica” etc.)

Teorias éticas (“Moral aristotélica etc., embora o mais correto seria “ética aristotélica” etc.)

d) Disposição de espírito produzida pelo caráter e por atitudes adquiridas por uma pessoa ou grupo (“estar com o moral alto” etc.)

Usos de

“moral” como

substantivo

e) Dimensão da vida humana pela qual nos vemos obrigados a tomar decisões e a explicá-las (“a moral”).

a) Usos estranhos à Ética: “certeza moral” etc. Usos de

“moral” como

adjetivo

b) Usos que interessam à Ética “moral” em contraposição a “imoral”

“moral” em contraposição a “amoral”

Quadro 1 - Usos do “termo” moral

Fonte: Adaptado de Cortina e Martinez (2005, p. 16, 18).

Page 47: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

46

Cortina e Martinez (2005, p. 13-18) fazem uma abordagem das

várias utilizações do termo moral como substantivo e como adjetivo. O quadro 1

esclarece os significados e demonstra a amplitude da utilização do termo moral e a

utilização ora para nomear ora para qualificar determinadas ações.

Tugendhat (1996) refere-se ao emprego dos termos ética e moral

como “intercambiáveis”. Para ele, a distinção é desnecessária e a pergunta a

respeito da diferenciação entre ética e moral não tem sentido. “Ela soa como se a

gente quisesse perguntar sobre a diferença entre veados e cervos” (TUGENDHAT,

1996, p. 35). Entretanto, posteriormente, o autor refere-se a uma aceitável

diferenciação: “uma outra definição terminológica possível do termo ‘ético’ é,

diferenciando-o do moral, compreendê-lo como a reflexão filosófica sobre a moral”

(TUGENDHAT, 1996, p. 41).

Vázquez (2007, p. 23) apresenta similaridade com Matos (2008, p.

28), ao definir a ética como “a teoria ou ciência do comportamento moral dos

homens em sociedade. Ou seja, é ciência de uma forma específica de

comportamento humano”. Alerta também que a função da ética é desenvolver

conceitos, à luz do estudo e reflexão de uma determinada realidade. O autor

esclarece que o que se encontra em muitas doutrinas éticas do passado é uma

justificação ideológica de determinada moral, ao invés de uma investigação ou

esclarecimento do vínculo entre moral e comportamento humano efetivo. Tais

doutrinas produzem uma forma de tratamento “correspondente a determinadas

necessidades sociais, e, para isto, elevam os seus princípios e as suas normas à

categoria de princípios e normas universais, válidos para qualquer moral”

(VÁZQUEZ, 2007, p. 20).

A moral fundamenta-se na ambiguidade entre a dimensão social e

individual. “A moral, ao mesmo tempo que é o conjunto de regras que determina

como deve ser o comportamento dos indivíduos do grupo, é, também, a livre e

consciente aceitação das normas” (ARANHA, MARTINS, 1994, p. 302). Quer dizer

que o ato só é considerado como moral, se a pessoa aceitar a norma de forma

consciente.

A moral está vinculada diretamente aos valores, costumes e normas,

que, em um determinado contexto, são válidas, dizendo o que deve ser realizado e o

modo de agir em situações determinadas, de acordo com a liberdade de escolha de

cada indivíduo. A moral é “um conjunto de normas que são transmitidas de geração

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47

a geração, evoluem ao longo do tempo e possuem fortes diferenças, em relação às

normas de outra sociedade e de outra época histórica” (CLAVO, 2008, p. 120).

Essas normas direcionam o comportamento dos indivíduos dessa sociedade. A

diferença entre ética e moral, com base em Clavo (2008, p. 120), pode ser

sintetizada com as seguintes definições: “a moral é um conjunto de normas que uma

sociedade se encarrega de transmitir de geração a geração, e a ética é um conjunto

de normas que um sujeito adotou em sua própria mentalidade”.

A ética também preocupa-se com as normas, a partir da reflexão de

seu significado, sendo que as normas devem ter como base os princípios universais.

A ética proporciona as razões para determinadas escolhas, exigindo uma reflexão a

respeito dos princípios fundamentais que criticam ou legitimam o agir humano. Para

Clavo (2008, p. 120), a ética “é o fato real que se dá na mentalidade de algumas

pessoas, é um conjunto de normas, princípios e razões que um sujeito compreendeu

e estabeleceu como diretriz de sua conduta”.

A moral e a ética são discutidas por Leisinger e Schmitt (2002). Os

autores alertam para a transformação da moral em moralismo: “a atribuição de

valores pela pessoa ou pela sociedade tem que ser uma tomada de posição, em

relação a determinados bens numa determinada situação, do contrário, a moral se

transforma em ‘moralismo’” (LEISINGER; SCHMITT, 2002, p. 18), que provoca a

vulgarização de tudo quanto é moral, prejudicando e tornando a ética irrelevante.

Aranha e Martins (1998, p. 117) definem moral como “o conjunto de

regras de condutas assumidas pelos indivíduos de um grupo social, com a finalidade

de organizar as relações interpessoais, segundo os valores do bem e do mal”. As

autoras conceituam a ética como a parte da filosofia “que se ocupa com a reflexão

sobre as noções e princípios que fundamentam a vida moral”. Moraes et al. (2008, p.

123) defendem que “... o ato moral, por meio da ética, nos remete à questão da

responsabilidade, que está ligada, de forma inseparável, ao problema da

determinação, da vontade de agir”. Serão considerados atos éticos e moralmente

responsáveis aqueles que privilegiem e propiciem o bem-estar social aos indivíduos.

A moral engloba os valores presentes na sociedade e, com base

nesses valores, classifica o comportamento como certo ou errado, enquanto a ética

se preocupa em refletir sobre os fundamentos das ações, conforme é atestado por

Srour (1998, p. 270): “a ética estuda as morais e as moralidades, analisa as

escolhas que os agentes fazem em situações concretas, verifica se as opções se

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48

conformam aos padrões sociais”. Nesta definição, é preciso esclarecer que a

expressão “as moralidades” significa “as morais praticadas por organizações ou

públicos e se aplicam a problemas do cotidiano” (SROUR, 1998, p. 271).

Ao abordar a ética empresarial, Srour (2003, p. 39) utiliza os termos

ética filosófica e ética científica e apresenta as suas diferenças:

Em síntese, a ética filosófica – ou filosofia da moral – tende a ter um caráter normativo e de prescrição, ansiosa por estabelecer uma moral universal, cujos princípios eternos deveriam inspirar os homens, malgrado as contingências de lugar e de tempo. No polo oposto, a ética científica – ou ciência da moral – tende a ter um caráter descritivo e explicativo porque centra sua atenção no conhecimento de regularidades que os fenômenos morais apresentam, malgrado sua diversidade cultural, apesar da variedade de seus pressupostos normativos. Na medida do possível, procura prever a ocorrência desses mesmos fenômenos (SROUR, 2003, p. 39).

Para Srour (2003, p. 62), as diferenças entre ética e moral podem

ser descritas, de forma simplificada, nos seguintes termos: Ser ético significa “refletir

sobre as escolhas a serem feitas, importar-se com os outros, procurar fazer o bem

aos semelhantes e responder por aquilo que se faz. Ser ‘moral’ significa, em

contrapartida, agir de acordo com os costumes e observar as normas coletivas”. O

autor também faz uma abordagem a respeito das origens da dupla moral brasileira e

sobre as morais empresariais.

Vázquez (2007, p. 19) também diferencia ética e moral; porém,

ressalta que “os problemas teóricos e os problemas práticos, no terreno moral, se

diferenciam, portanto, mas não estão separados por uma barreira intransponível”. É

difícil fazer essa separação, porque as questões morais e éticas estão relacionadas:

uma sempre recorre à outra, seja por meio da prática ou da reflexão. Ética, para

Morin (2007, p. 15), define “um ponto de vista supra ou meta-individual”, a moral

relaciona-se ao “nível da decisão e da ação dos indivíduos”. E a ética, como

exigência moral, manifesta-se de três fontes interligadas: interior - ao indivíduo;

externa - representada pela cultura; anterior - definida pela genética (MORIN, 2007,

p. 19).

Alonso, Castrucci e López (2006, p.3) definem a ética como ciência

cujo estudo é voltado para a qualidade da conduta do ser humano. Referem-se à

boa e à má conduta e à correlação entre boa conduta e felicidade. Consideram a

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49

ética como uma ciência prática, por estar vinculada aos atos e às ações dos

indivíduos. Os autores acrescentam que é comum utilizar os termos ética e moral

“como adjetivos de conduta”; porém, quanto à diferença, “predomina a corrente de

utilizar o primeiro para denominar a ciência ou a filosofia da conduta humana (a

Ética) e o segundo para se referir à qualidade da conduta humana (a moralidade)”

(ALONSO; CASTRUCCI; LÓPEZ, 2006, p. 3).

Para Passos (2006, p. 22), a ética é conceituada como ciência da

moral. A autora explica que

... a moral, enquanto norma de conduta, refere-se às situações particulares e quotidianas, não chegando à superação desse nível. A ética, destituída do papel normatizador, ao menos no que diz respeito aos atos isolados, torna-se examinadora da moral. Exame que consiste em reflexão, em investigação, em teorização. Poder-se-ia dizer que a moral normatiza e direciona a prática das pessoas, e a ética teoriza sobre as condutas, estudando as concepções que dão suporte à moral. São, pois, dois caminhos diferentes que resultam em status também diferentes; o primeiro, de objeto, e o segundo, de ciência. Donde deduzimos que a Ética é a ciência da moral.

Cortina e Martínez (2005, p. 20) adotam a diferenciação entre moral

e ética, sendo a moral o “conjunto de princípios, normas e valores que cada geração

transmite à geração seguinte, na confiança de que trata-se de um bom legado de

orientações sobre o modo de se comportar para viver uma vida boa e justa”. .Já a

ética é definida como a responsável em promover a reflexão a respeito das questões

morais. Para sintetizar a diferença, os autores afirmam que a moral preocupa-se em

responder à pergunta “’O que devemos fazer?’, ao passo que a questão central da

Ética seria antes: ‘Por que devemos?’, ou seja, ‘Que argumentos corroboram e

sustentam o código moral que estamos aceitando como guia de conduta?’

(CORTINA; MARTINEZ, 2005, p. 20).

Os autores citados anteriormente definem ética e moral com

significados diferentes. Por outro lado, Arruda, Whitaker e Ramos (2003, p. 41) não

diferenciam ética e moral e abordam os termos “com um mesmo sentido,

substancialmente idêntico, como ciência prática que tende a procurar pura e

simplesmente o bem do homem”. Os autores adotam a definição de ética “como a

ciência voltada para o estudo filosófico da ação e conduta humana, considerada em

conformidade ou não com a reta razão”. O posicionamento desses autores é comum

na literatura sobre o tema, apesar de usualmente serem tratados como sinônimos,

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50

os termos possuem significados diferentes. “A moral é definida como conjunto de

valores, de princípios, de regras que norteiam o comportamento humano. [...] A ética

é a reflexão crítica sobre a moralidade. Não tem a pretensão de definir normas, mas

indicar princípios” (RIOS, 2008, p. 84).

Percebe-se as diversas utilizações do termo moral, com o emprego

de termos como “a moral”, ou o “juízo moral”, o “código moral”, entre outros. Dentro

deste contexto, Cortina e Martinez (2005, p. 20) destacam que a utilização de ética e

moral, como sinônimos, já está enraizada e que, muitas vezes, utiliza-se o termo

ética, quando, na verdade, o que se está dizendo está relacionado à moral.

Comumente, fala-se em “comportamento ético” para designar o comportamento

adequado ao padrão moral vigente, mas o correto seria o “comportamento moral”.

Esta visão também é compartilhada por Srour (2009, p. 96-99).

Segundo o autor, a utilização do termo ética no lugar de moral pode ser explicada,

além da questão da origem dos termos, como: a oferta da disciplina educação moral

e cívica, criada no regime militar; o “falso” moralismo e a ambivalência moral dos

países latinos; e o relativismo moral por causa da sua variação com o tempo. “Esses

fatores todos tornaram o termo ‘moral’ simplesmente rebarbativo! Daí o uso da

expressão ‘ética’, que ainda se mantém incólume, à margem da contaminação,

intocada pela sua pureza” (SROUR, 2009, p. 99).

As diferenças conceituais existentes entre os termos ética e moral

são evidentes; porém, de acordo com o descrito e com as justificativas

apresentadas, os termos também serão adotados neste trabalho como sinônimos,

uma vez que esta utilização já faz parte do cotidiano das organizações. Após esta

delimitação, é preciso também compreender a dinâmica da ética, a partir da

abordagem de Edgar Morin (2007).

3.1.2 A Complexidade Ética

O reconhecimento da autonomia individual dissipou a obediência

aos “bons costumes” estabelecidos pela tradição da sociedade, ao incentivar a

responsabilidade pessoal de cada indivíduo pela sua conduta. Ao valorizar o

indivíduo pela sua responsabilidade, também, criam-se sujeitos egoístas que

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51

“abandonam” o espírito de solidariedade em prol do egocentrismo (MORIN, 2007, p.

26). Este é um dos fatores que contribuíram para a crise dos fundamentos da ética.

Segundo Morin (2007, p. 136), “o problema ético contemporâneo, atualmente, vem

do fato que tudo, na civilização ocidental, tende a favorecer nosso “programa”

egocêntrico, enquanto nosso “programa” altruísta ou comunitário permanece

subdesenvolvido”.

Outros motivos são enumerados por Morin (2007, p. 27-28): a perda

do espírito comunitário e da coletividade, a valorização do dinheiro e principalmente

a crise na relação indivíduo, espécie e sociedade. Para revigorar a ética, Morin

sugere “religar” e vitalizar estas instâncias. Outra afirmação que incorpora todas

essas questões e traz à reflexão o papel de cada indivíduo na sociedade, diz que

“há também outra lição a tirar, a lição ética essencial: incorporar nossas ideias em

nossas vidas” (MORIN, 2007, p. 140). O indivíduo deve colocar em prática o que

prega em seus discursos.

Morin (2007) discute o sentido de egocentrismo e altruísmo: “todo

olhar sobre a ética deve reconhecer o aspecto vital do egocentrismo assim como a

potencialidade fundamental do desenvolvimento do altruísmo” (MORIN, 2007, p. 21).

Os dois princípios que estabelecem a autoafirmação do indivíduo são o princípio da

exclusão e o princípio da inclusão. No princípio da exclusão, o indivíduo considera o

“eu”, expresso pelo egoísmo, pela particularidade de cada indivíduo, enquanto o

princípio da inclusão revela o “eu” inserido na sociedade, em relação com o outro,

expressa pelo altruísmo. O indivíduo transita entre esses dois polos, num constante

diálogo entre o egoísmo e o altruísmo. “Ser sujeito é associar egoísmo e altruísmo”

(MORIN, 2007, p. 21).

A dissociação entre ética e política é ressaltada por Morin (2007, p.

25), pois o governante “deve obedecer à lógica da utilidade e de eficácia, e não à

moral”. Depois, o autor retoma o assunto e afirma que “não se pode separar nem

confundir ética e política. As grandes finalidades éticas exigem, com freqüência, uma

estratégia, ou seja, uma política, e a política exige um mínimo de meios e de

finalidades éticas, sem por isso se reduzir à ética”. Além disso, Morin (2007, p. 80)

esclarece essa relação, ao afirmar: “só se pode estabelecer a relação entre a ética e

a política em termos complementares, concorrentes e antagônicos”.

As demandas de ética, em várias instâncias da sociedade,

expressam “um sentimento ambiente de asfixia ética. A sociedade sente-se privada

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52

de ética por estar doente de civismo” (MORIN, 2007, p. 150). Outro ponto a ser

considerado é que a “ética do conhecimento pelo conhecimento”, separada da

realidade, desconsidera os problemas ocasionados pelo progresso. Além disso, o

acesso ao conhecimento, às informações e à comunicação não produzem a

compreensão, como a interdependência da sociedade não gera a solidariedade

(MORIN, 2007, p. 163).

Morin (2007) relaciona alguns princípios da “ecologia da ação”: 1º)

os efeitos da ação dependem do meio onde se está inserido; 2º) os efeitos podem

ser previstos a curto prazo, mas, a longo prazo, são imprevisíveis. Além disso,

enfatiza que “nenhuma ação tem a garantia de seguir o rumo da sua intenção”

(MORIN, 2007, p. 46). O exemplo da experiência de Stanley Milgram demonstra que

a submissão e a inserção a uma estrutura hierárquica fazem com que o indivíduo

passe a agir de acordo com as ordens estabelecidas (MORIN, 2007, p. 45). Esta

afirmação enfatiza e justifica as abordagens já apresentadas a respeito das relações

de poder.

A questão ética surge, segundo Morin (2007, p. 47), “quando dois

deveres antagônicos se impõem”. A contradição torna-se presente porque se tem

uma diversidade de deveres estabelecidos pelas instâncias

indivíduo/sociedade/espécie que, ao mesmo tempo, são complementares e

antagônicos. As crises envolvem tanto os aspectos positivos e negativos porque

beneficiam a reflexão, estimulam a busca por novos caminhos e fazem despertar o

indivíduo frente aos desafios; porém, também, geram pressões e perseguições no

processo de resolução.

A ética individualizada é denominada por Morin (2007, p. 100) como

autoética. “A ética para si, no sentido que comporta a lealdade, honra e

responsabilidade, conduz à ética para o outro”. A tarefa da autoética pode ser

resumida em “disciplinar o egocentrismo, desenvolver o altruísmo” (MORIN, 2007, p.

140). É fazer com que o indivíduo pense e aja, considerando o outro, e incorpore o

espírito altruísta e comunitário no seu pensamento e nas suas ações.

O pensamento complexo incentiva a autoética, ao desenvolver a

solidariedade e a responsabilidade. Morin (2007, p.142) define como “o pensamento

que abraça a diversidade e reúne o separado. O pensamento complexo estabelece

a religação cognitiva; abre uma via indo e vindo na religação cognitiva à religação

ética” (MORIN, 2007, p. 142). A globalização também é caracterizada pela

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complexidade, uma vez que é concebida como uma relação complexa entre o global

e o local. As sociedades contemporâneas são caracterizadas pelo autor como a

mesclagem de várias sociedade/comunidades. Para validade desta afirmação, é

preciso considerar a sociedade como um espaço de interações, “que podem ser

conflituais ou de rivalidade, onde a ordem é mantida pela lei e pela força”; e definir a

comunidade como um “conjunto de indivíduos ligados afetivamente por um

sentimento de pertencimento a um Nós” (MORIN, 2007, p. 147).

A sociedade complexa reduz as diferenças entre os grupos e os

indivíduos, mas o excesso de complexidade provoca desordem. A sociedade

complexa necessita de coesão para manter o seu equilíbrio, que é conseguido por

meio da autoética expressa pela solidariedade e responsabilidade presente em cada

indivíduo; e não somente pelas leis. “Quanto mais a sociedade se complexificar,

mais ela necessitará de autoética” (MORIN, 2007, p. 149).

Morin (2007, p. 195) justifica porque a ética é complexa:

A ética é complexa por ser de natureza dialógica e ter sempre de enfrentar a ambiguidade e a contradição. É complexa por estar exposta à incerteza do resultado e comportar aposta e estratégia. É complexa por não impor uma visão maniqueísta do mundo e renunciar à vingança punitiva. É complexa por ser uma ética da compreensão, sabendo-se que a compreensão reconhece a complexidade humana.

A ética remete à reflexão do agir: Por que se deve adotar

determinada postura e não fazer o que os outros estão fazendo? Por que a empresa

precisa estabelecer princípios éticos, enquanto tantas outras estão lucrando sem se

importar com essa preocupação? O ser humano é único, por ter a capacidade de

refletir para realizar as suas práticas e, a partir dos resultados, o indivíduo constrói

novas reflexões sobre o seu agir num processo dinâmico.

A ética está presente no dia a dia porque está intrinsecamente

relacionada ao entendimento dos atos, da adoção de valores, da tomada de decisão

e das consequências de atitudes. A ética não pode ser reduzida simplesmente a

uma estratégia empresarial. A ética é uma atitude da organização estabelecida pelas

ações organizacionais com a filosofia de respeito, nos relacionamentos com todos os

públicos. Define-se numa visão clarificada do que seja certo ou errado, bom ou mau,

permitido ou proibido, com respaldo em normas e valores aceitos historicamente por

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uma sociedade. Essa definição é relevante, por ser indispensável agir de acordo

com tais valores, para que uma ação possa ser considerada ética.

Se o ser humano deve agir eticamente e as organizações são

formadas por pessoas, ao buscar a credibilidade empresarial, é vital as organizações

adotarem uma postura baseada em princípios éticos, em harmonia com os

interesses dos vários públicos. À organização, cabe estabelecer alguns parâmetros,

para que toda a empresa busque o “agir ético” e evitar que cada indivíduo decida

unicamente de acordo com o seu interesse.

3.2 PARA COMPREENDER A ÉTICA PROFISSIONAL E AS OUTRAS ÉTICAS

A ética possui várias divisões, classificações, que são adotadas por

autores até mesmo de formas divergentes. A existência de inúmeros termos exige

que se delimite a abordagem aos parâmetros deste trabalho, e que, ao mesmo

tempo, esclareça o sentido que se pretende transmitir ao leitor. Desta forma, a

intenção neste tópico é apresentar algumas diferenciações terminológicas que

facilitarão a leitura, e não esgotar o assunto que poderá ser aprofundado em outras

pesquisas já existentes.

Segundo Borges, Dall’Agnol e Dutra (2002, p. 7), os campos

principais de estudo da ética são: metaética, ética normativa e ética aplicada. A ética

normativa responde à pergunta: “o que devemos fazer?”. Já a metaética “investiga a

natureza dos princípios morais, indagando se são objetivos e absolutos os preceitos

defendidos pelas diversas teorias da ética”. E a ética aplicada abrange a utilização

dos princípios da ética às questões práticas, considerando as exigências e os

valores de cada atividade. Alguns exemplos de ética aplicada: bioética, ética

econômica, ética organizacional ou ética nos negócios.

A ética normativa é dividida em ética teleológica e ética

deontológica. A ética teleológica “determina o que é correto de acordo com uma

certa finalidade (télos) que se pretende atingir”. Pode também ser chamada de ética

consequencialista. A ética deontológica define o comportamento adequado “segundo

as regras e as normas em que se fundamenta a ação” (BORGES; DALL’AGNOL;

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DUTRA, 2002, p. 8). Para ilustrar as divisões, os autores apresentam as subdivisões

da ética teleológica e da ética deontológica, conforme Quadro 2.

▪ Egoísmo ético ● Éticas Consequencialistas: ▪ Utilitarismo: de ação e de regra.

▪ Aristotéles

Éticas

Teleológicas ● Ética de Virtudes: ▪ Alasdair MacIntyre

● Intuicismo Moral

● Ética do Dever

● Ética do Discurso

Éticas

Deontológicas

● Contratualismo Moral

Quadro 2 – Subdivisões da ética teleológica e da ét ica deontológica

Fonte: Elaborado pela autora, com base em Borges, Dall’Agnol e Dutra (2002, p. 8).

Para Tugendhat (1996, p. 135), a ética teleológica é definida como

“uma ação boa ou correta exatamente, então, quando promove um determinado fim.

Isso pressupõe que o fim seja visto por seu lado como o único bem sem restrição”.

Já a ética deontológica é descrita como “uma ética que não faz depender a bondade

da vontade de uma pressuposta valorização de um fim”. Segundo Nalini (1997, p.

148), deontologia “é a teoria dos deveres. Deontologia profissional denomina o

complexo de princípios e regras que disciplinam particulares comportamentos do

integrante de uma determinada profissão”. A ética deontológica abrange os deveres

profissionais estabelecidos pelos princípios específicos da cada profissão. Para

Passos (2006, p. 108),

a deontologia ou ética profissional caracteriza-se como um conjunto de normas e princípios que têm por fim orientar as relações dos profissionais com seus pares, destes com seus clientes, com sua equipe de trabalho, com as instituições a que servem, dentre outros. Como sua margem de aplicação é limitada ao círculo profissional, faz com que essas normas sejam mais específicas e objetivas.

A deontologia está relacionada à reflexão de uma cultura específica,

segundo Martins (2006, p. 93): “tanto uma reflexão endógena, sobre como uma

categoria pensa a si própria e sobre as suas melhores condutas; quanto exógena,

como a sociedade os vê e o que deles se espera”. A ética deontológica abrange os

deveres dos profissionais no exercício competente de sua função, e também em

relação aos seus colegas de profissão, aos seus clientes e principalmente à sua

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56

contribuição para uma sociedade mais justa e humana. “Desta forma se introduz

uma das noções mais fundamentais da ética: a do dever. O ser humano pode agir

de diferentes maneiras, mas deve agir eticamente” (MARCONDES, 2007, p. 9).

A deontologia é normativa porque estabelece algumas prescrições

de como deve ser a conduta adequada no exercício da profissão; e direciona as

ações do indivíduo, com o intuito de cumprir as suas responsabilidades

estabelecidas no código de ética. Entretanto, a ética deontológica não pode ser

reduzida a uma lista de regras porque envolve tanto os seus interesses, os de sua

categoria profissional e também de toda a sociedade que espera que o seu

comportamento seja digno da profissão que exerce e da posição que ocupa na

sociedade. Espera-se também que o profissional exerça o pensamento reflexivo a

respeito dos seus deveres e direitos e que não se torne um aplicador de normas sem

tomar conhecimento das suas consequências e da relevância ou inutilidade para o

coletivo.

No entanto, para Chanlat (2000, p. 76), “a ética não pode assim ser

confundida com a deontologia. Essa última reúne essencialmente regras de conduta

práticas que podem ser questionadas justamente pela ética. Em consequência, a

ética profissional é apenas uma ética aplicada”. Esta visão do autor também é

compartilhada por Barbieri e Cajazeira (2009, p. 86), quando apresenta a divisão das

teorias éticas e define a ética aplicada, conforme já foi mencionado anteriormente.

Ao falar a respeito da prática profissional, Passos (2006, p. 110)

afirma que: “[...] a ética profissional na atualidade vem sendo tomada como normas

de administração do mercado do trabalho, de modo que não possuem um caráter

verdadeiramente ético, deontológico”. Percebe-se que a conduta de alguns

profissionais tem-se pautado na prática de outros colegas de profissão, com a

justificativa de que “se todos estão agindo assim, também farei o mesmo”, como se a

insistência em agir de determinado modo transformasse o ato inadequado em

comportamento moralmente aceito. É evidente que alguns profissionais utilizam o

próprio código de ética para justificar as suas condutas inadequadas; porém, não se

pode generalizar essa questão porque ainda há um maior número de pessoas que

aplicam os princípios éticos de sua profissão com respeito às diferenças e para

benefício dos outros.

Do ponto de vista deontológico, deve-se citar o código de ética dos

profissionais de relações públicas que define os princípios fundamentais para o seu

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agir ético. Não se pretende neste estudo restringir a abordagem ao código de ética,

mas ressaltar a sua relevância como diretriz para o comportamento do profissional.

É preciso esclarecer que este trabalho não se aterá à discussão sobre a ética

profissional. Entende-se que ela está intrinsecamente relacionada à ética

organizacional porque não se concebe, não se cria um programa de ética na

empresa sem a exigência e a utilização da ética profissional das diversas classes

profissionais presentes na organização.

3.3 ALGUMAS CORRENTES ÉTICAS

O conhecimento das várias correntes do pensamento ético, que

foram desenvolvidas ao longo da História auxiliará na reflexão sobre o

comportamento ético na organização, possibilitará discussões mais aprofundadas a

respeito do assunto e, consequentemente, influenciará a decisão dos gestores.

Cortina e Martinez (2005, p. 51) explicam o sentido da adoção e do entendimento

das teorias éticas e enfatiza que cada teoria é desenvolvida a partir dos mesmos

conceitos, mas com perspectivas diferenciadas: “não é possível falar de moral,

prescindindo de valores, bens, deveres, consciência, felicidade, finalidades da

conduta, liberdade, virtudes etc”. Os autores enfatizam que a principal diferença

constatada entre as teorias éticas não está relacionada aos conceitos utilizados, mas

à forma “como os ordenam quanto à sua prioridade e dos métodos filosóficos que

empregam”.

A apresentação das teorias éticas auxilia na compreensão da

moralidade. Cortina e Martinez (2005) dividem as teorias éticas em três grupos,

considerando as fases históricas da filosofia: éticas da era do “ser”, éticas da era da

“consciência”, éticas da era da linguagem, conforme quadro 3.

O estudo da ética, por sua profundidade e abrangência, requer um

exame em perspectiva ao longo do tempo. Facilita-se, desse modo, e também se

aprofunda a compreensão de como evoluiu historicamente essa preocupação

humana. Apresentam-se aqui, de forma resumida, algumas correntes éticas

selecionadas para este trabalho, com a motivação de percorrer as diversas fontes de

escolha de parâmetros éticos para as organizações.

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Divisão

As éticas da era do “ser”

As éticas da era da “consciência”

As éticas da era da linguagem

Descrição

As éticas que tiveram como base última de sustentação a pergunta pelo “ser”.

As éticas que nasceram da reflexão em torno da noção de “consciência” como novo ponto de partida filosófico.

As éticas que consideram a existência da linguagem e da argumentação como fenômenos que mostraram uma exigência de sentido.

Exemplos

de teorias

éticas

Sócrates, Platão e

Aristóteles.

Kant e utilitarismo. Ética do discurso.

Quadro 3 – Divisão das teorias éticas

Fonte: Elaborado pela autora, com base em Cortina e Martinez (2005, p. 52-99).

Partiu-se das teorias abordadas por Arruda, Whitaker e Ramos

(2003, p. 31): ética de Sócrates, Platão e Aristóteles; ética estoica e epicurista; ética

Kantiana; ética da simpatia de Adam Smith; utilitarismo; e acrescentaram-se outras

referências como: a ética em Agostinho e Tomás de Aquino, a discussão do livre

arbítrio; a classificação de Max Weber – ética da convicção e ética da

responsabilidade; a ética da responsabilidade de Hans Jonas e a ética do discurso.

3.3.1 Ética de Sócrates, Platão e Aristóteles

A ética teve sua origem na Grécia, tendo como representantes os

filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles. Para Sócrates (470-399 a.C.), a reflexão do

homem sobre si mesmo é a essência para o agir: é preciso conhecimento, para se

agir moralmente, por isso, toda a sua filosofia baseia-se no lema “Conhece-te a ti

mesmo”. Sócrates levanta questões para que os atenienses reflitam se as suas

atitudes são virtuosas e, ao mesmo tempo, se estão conscientes de suas ações.

Sócrates não deixou obra escrita, mas ele é considerado o iniciador da filosofia

moral, segundo Chauí (2005, p. 311). A vida e o pensamento de Sócrates são

relatados por seus discípulos, principalmente, por Platão que retrata seus

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59

ensinamentos nos “Diálogos”.

Os fundamentos da ética socrática são “a virtude é conhecimento e

ninguém age mal de forma voluntária” (CENCI, 2001, p. 18). Para Sócrates, uma

pessoa só agiria de forma inadequada por ignorância, por falta de conhecimento. A

virtude está relacionada ao saber. Para Vázquez (2007, p. 270), o pensamento de

Sócrates está baseado na relação estreita entre felicidade, conhecimento e

bondade, que pode ser resumido da seguinte forma: “O homem age retamente,

quando conhece o bem e, conhecendo-o, não pode deixar de praticá-lo; por outro

lado, aspirando ao bem, sente-se dono de si mesmo e, por conseguinte, é feliz”.

Platão é considerado o primeiro filósofo grego a abordar, em sua

obra, as principais questões éticas que servem para os nossos dias. Platão nasceu

em Atenas em 427 e morreu em 347 (a.C.). Foi discípulo de Sócrates e, por esse

motivo, em seus diálogos iniciais, chamados “socráticos”, considera-se que Platão

ainda é influenciado pelos ensinamentos de Sócrates. Posteriomente, Platão

escreveu os outros diálogos (diálogos da maturidade e diálogos da velhice) voltados

principalmente à política, à “construção” do Estado ideal. Para Platão, o homem

somente se realiza como membro da comunidade, pois a sua ética está vinculada à

política. A comunidade valoriza as chamadas atividades superiores, como a política

e a guerra, e despreza as atividades que exigem esforço físico como as dos

artesãos, considerados pertencentes à classe inferior, já os escravos eram

desconsiderados na comunidade, por não terem direitos e virtudes morais (PLATÃO,

1979).

Se fosse necessário decidir qual destas virtudes mais contribui para a perfeição do Estado – difícil seria dizer se é a concórdia dos magistrados e cidadãos; ou, nos guerreiros, a manutenção da verdadeira ideia sobre o que se deve e o que não se deve temer; ou a prudência e vigilância nos que governam; ou, enfim, a virtude pela qual todos os cidadãos, mulheres, crianças, escravos e livres, artesãos, senhores e súditos se limitem cada um à sua função, sem interferir na dor dos outros (PLATÃO, 1994, p. 155).

Platão enfatiza as diferenças entre as classes existentes na época e

relaciona uma virtude a cada classe. A sabedoria está vinculada aos legisladores,

responsáveis por comandar a cidade; a coragem é uma virtude da segunda classe,

que garante a proteção da cidade; e a temperança é atribuída à terceira classe, a

classe produtora, que é educada na moderação de seus desejos e na permanência

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60

de sua condição. A justiça está presente em todas as classes para preservação da

harmonia entre as classes.

Para Platão, as principais virtudes são: a sabedoria, a coragem, a

temperança e a justiça. São essas virtudes que fornecem condições para

manutenção do Estado ideal. Platão, ao contrário de Sócrates, que pensava a

virtude como unidade, considera que cada virtude tem suas características

particulares, que são “partes” que estabelecem relações entre si na busca pelo Bem:

“[...] frequentes vezes, já falei que a ideia do bem era o mais elevado objeto dos

conhecimentos e que desta ideia promanavam a utilidade e vantagem da justiça e

das outras virtudes” (PLATÃO, 1994, p. 251).

Para Platão, a concepção de vida tem que ser virtuosa, por ser a

única a gerar bem-estar ao indivíduo e à sua felicidade. Os valores são

hierarquizados: primeiramente, os bens ou valores divinos e depois os vinculados à

alma, considerada a parte superior do homem. Esses valores estão subordinados à

alma, e o equilíbrio entre os valores internos e externos é dado pela justa medida.

Aristóteles nasceu em Estagira, Macedônia, em 384, e morreu em

322 a.C. Foi discípulo de Platão em Atenas e fundou a sua própria escola, o Liceu.

Para Aristóteles, o fim último do homem é a busca constante pela felicidade. A

felicidade é

Procurada sempre por si mesma e nunca com vistas em outra coisa, ao passo que à honra, ao prazer, à razão e a todas as virtudes nós de fato escolhemos por si mesmos (pois, ainda que nada resultasse daí, continuaríamos a escolher cada um deles); mas também os escolhemos no interesse da felicidade, pensando que a posse deles nos tornará felizes. A felicidade, todavia, ninguém a escolhe tendo em vista algum destes, nem, em geral, qualquer coisa que não seja ela própria (ARISTÓTELES, 1973, p. 255).

Para Aristóteles, a felicidade é o maior bem humano. A ética em

Aristóteles é definida “como a filosofia das coisas humanas. A ética ocupa-se

fundamentalmente do agir humano, que se refere ao contingente, isto é, àquilo que

poderia ser de outra maneira” (CENCI, 2001, p.43). Para Aristóteles, a ética está

relacionada à política, como em Platão, pois “somente nela pode realizar-se o ideal

da vida teórica na qual se baseia a felicidade. [...] a vida moral não é um fim em si

mesmo, mas condição ou meio para uma vida verdadeiramente humana: a vida

teórica na qual consiste a felicidade” (VÁZQUEZ, 2007, p. 273).

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61

Entretanto, essa vida teórica seria possível somente à elite, para

tanto, era preciso adquirir as virtudes. Em Aristóteles, a virtude é estabelecida em

sua essência pela mediana entre o excesso e a falta do vício. A virtude está

relacionada “às paixões e ações em que o excesso é uma forma de erro, assim

como a carência, ao passo que o meio termo é uma forma de acerto digna de louvor;

e acertar e ser louvada são características da virtude” (ARISTÓTELES, 1973, p.

273).

As virtudes foram divididas em virtudes morais e intelectuais. As

virtudes morais dizem respeito ao caráter da pessoa. As virtudes intelectuais estão

vinculadas à razão e são expressas pela sabedoria filosófica, compreensão e

sabedoria prática. A virtude intelectual “gera-se e cresce graças ao ensino – por isso,

requer experiência e tempo; enquanto a virtude moral é adquirida em resultado do

hábito” (ARISTÓTELES, 1973, p. 267).

As virtudes morais relacionam-se à alma sensitiva, que se subdivide

em duas dimensões: uma irracional e outra com presença de racionalidade. A

dimensão irracional comporta os impulsos, paixões, pulsões, etc. Por sua vez, a

dimensão racional é a parte humana, esfera do domínio e contenção dos impulsos

desmedidos onde deve ser agenciada a justa medida, com a participação também

da razão. Aqui se localizam as virtudes éticas, ou seja, o ideal de mediana, de justa

medida.

Para Aristóteles, a virtude pode ser adquirida por exercício habitual:

“não é, pois, por natureza, nem contrariando a natureza que as virtudes se geram

em nós. Diga-se, antes, que somos adaptados por natureza a recebê-las e nos

tornamos perfeitos pelo hábito” (ARISTÓTELES, 1973, p. 267). Para o filósofo, o agir

virtuoso estava baseado em três aspectos que fundamentam as escolhas dos

indivíduos: a) deve ter conhecimento do que faz; b) deve escolher os atos de forma

deliberada; c) sua ação deve proceder de um caráter firme e imutável

(ARISTÓTELES, 1973, p. 270).

Aristóteles defende que o homem age mal na ignorância, mas que o

mesmo tem que ser responsabilizado pelos seus atos, contrariando o

posicionamento de Sócrates. Tugendhat (1996, p. 98) argumenta que é preciso

considerar, na visão de Platão e Aristóteles, alguns fatores como o desconhecimento

dos antigos filósofos sobre a “fundamentação dos juízos morais”; a não

caracterização da autonomia e a não abordagem de forma adequada da questão da

Page 63: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

62

motivação.

Aristóteles distinguiu o saber contemplativo e o saber prático. O

saber contemplativo “é o conhecimento de seres e fatos que existem e agem

independentemente de nós e sem nossa intervenção ou interferência, isto é, de

seres e fatos naturais e divinos”. Já o saber prático refere-se ao “conhecimento

daquilo que só existe como consequência de nossa ação e, portanto, depende de

nós” (CHAUI, 2005, p. 311-312). O saber prático pode ser dividido em práxis ou

técnica: “na práxis a ação e sua finalidade são idênticas (a virtude é a finalidade da

ação virtuosa), na técnica, a finalidade do objeto fabricado é diferente da ação

fabricadora” (CHAUI, 2005, p. 312).

O conceito de vida boa em Aristóteles está determinado pelo

cumprimento da função que cada um possui, conforme pode-se perceber em suas

palavras:

O que é bom por natureza, é, para o homem virtuoso, bom e agradável em si mesmo. A vida é definida, quanto ao homem pelo poder de percepção ou de pensamento; e um poder é definido com referência à correspondente atividade, que é a coisa essencial; logo, a vida parece ser essencialmente o ato de perceber ou de pensar (ARISTÓTELES, 1973, p. 411).

Chauí (2005, p. 313) resume a ética dos filósofos gregos em três

pontos principais: o racionalismo, o naturalismo e a inseparabilidade entre ética e

política. O racionalismo é expresso pela vida virtuosa que age segundo “a razão,

que conhece o bem, o deseja e guia nossa vontade até ele. A vida virtuosa é aquela

em que a vontade se deixa guiar pela razão”. No naturalismo, a vida virtuosa está

baseada no agir de acordo com a natureza. A inseparabilidade entre ética e política

demonstra a associação entre a conduta das pessoas e os valores presentes na

sociedade.

Aristóteles afirmava que “não se estuda ética para saber o que é a

virtude, mas para aprender a tornar-se virtuoso e bom; de outra maneira, seria um

estudo completamente inútil” (ARISTÓTELES, 1973, p. 268). Daí a denominação à

ética de Aristóteles de ética das virtudes. MacIntyre reestabelece a tradição

Aristotélica e, em sua obra After Virtue (1981), resgata a necessidade das virtudes

para uma vida ética.

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63

A ética das virtudes também será aplicada à vida organizacional por

Solomon (2000), que defende a possibilidade de aproximação entre o mundo dos

negócios e a ética, por meio das virtudes. Segundo Solomon (2000, p. 28), a

empresa que aplica a teoria de Aristóteles nos negócios fornece, além de lucros, “um

ambiente moralmente recompensador, em que as boas pessoas podem desenvolver

não apenas suas habilidades, mas também suas virtudes”.

3.3.2 Ética Estoica e Epicurista

O estoicismo e o epicurismo têm início no século IV a. C. no

processo de declínio do mundo antigo greco-romano. São considerados estóicos,

Zenão de Cítio, na Grécia, e Sêneca, Epíteto e Marco Aurélio, em Roma; e os

epicuristas são Epicuro, na Grécia, e Tito Lucrécio Caro, em Roma. Para os

estoicos, o viver moralmente refere-se ao cosmos e não à polis. É Deus quem

determina os acontecimentos e o destino do homem. Os estoicos pregam que

compete ao homem “seguir a Deus e à Razão Universal, aceitando o destino e

conservando a serenidade em qualquer circunstância, mesmo na dor e na

adversidade” (SÊNECA, 1980, XVI). Cabe ao homem, que é comandado pelo ser

superior, seguir consciente de sua predestinação. O estoicismo propagava a

máxima: nada te inquiete, nada te pertube. Segundo Arruda, Whitaker e Ramos

(2003, p. 30), “a ética estoica não é uma ética de conquista, mas de compreensão

intelectual. É também típico de cosmopolitismo estoico seu sentido da igualdade de

todos os homens, com uma forte dimensão pessoal”.

O epicurismo descarta qualquer intervenção divina na vida do

homem ou em relação aos fenômenos físicos. Para Epicuro, fundador do epicurismo,

a felicidade está mais relacionada à inexistência de dores e de preocupações, que

na procura pelo prazer, pois “o limite da magnitude dos prazeres é o afastamento de

toda a dor” (EPICURO, 1980, p. 14). Entretanto, essa busca deve acontecer de

forma tranquila com o autocontrole.

Epicuro (1980, p. 18) classifica os prazeres em três tipos: a)

prazeres naturais e necessários: são considerados indispensáveis à preservação da

vida como beber, comer, dormir; b) prazeres naturais e não necessários: são

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64

supérfluos à conservação da vida como vestir-se com elegância, comidas refinadas;

c) prazeres não naturais e não necessários: são dispensáveis porque não garantem

a vida como riqueza e poder. Para os epicuristas, existem os prazeres bons e os que

não são considerados bons. O homem deve buscar os prazeres bons que são os

espirituais, os prazeres naturais e necessários, porque estes colaboram com paz à

alma. Em termos gerais, o epicurismo sempre pregou a busca pelo prazer: “é lícito

tudo aquilo que produz prazer”. (ARRUDA; WHITAKER; RAMOS, 2003, p. 31).

3.3.3 Ética de Agostinho de Tagaste e Tomás de Aqui no

A ética na Idade Média está subordinada à teologia, caracterizando-

se pela religiosidade e pelo dogmatismo. É representada pela ética de Santo

Agostinho (354 - 430 d.C.) e de Santo Tomás de Aquino (1224 a 1274 d. C.), que

baseiam suas formulações, respectivamente, nos ensinamentos de Platão e

Aristóteles, e demonstram os seus conceitos, aplicando-os e incorporando-os ao

Cristianismo (VÁZQUEZ, 2007, p. 278).

A maior contribuição de Santo Agostinho está na defesa do livre-

arbítrio que influenciou, inclusive, a filosofia cristã. Para ele, o livre-arbítrio torna o

homem responsável pela suas escolhas. Ao elaborar essa questão, fica evidente

que “depende de nossa vontade gozarmos ou sermos privados de tão grande e

verdadeiro bem. Com efeito, haveria alguma coisa que dependa mais de nossa

vontade do que a própria vontade?” (SANTO AGOSTINHO, 1995, p. 56). É Deus

que permite que o homem faça as suas escolhas, sejam elas certas ou erradas;

porém, cada indivíduo responde pelos seus atos. O homem pode escolher entre ter

uma vida pecadora ou louvável a partir da sua vontade. Santo Agostinho (1995, p.

59) relaciona a boa vontade às virtudes: “confesso que encontramos facilmente

naquela pessoa que tanto estima e ama a sua boa vontade todas essas quatro

virtudes”. As virtudes citadas são: prudência ou sabedoria, a força ou coragem, a

temperança e a justiça.

Santo Tomás de Aquino conseguiu demonstrar a compatibilidade da

ética de Aristóteles com o cristianismo. Utiliza o conceito aristotélico de virtude,

fundamentando-se na capacidade de aperfeiçoamento do homem (MARCONDES,

Page 66: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

65

2007, p. 61). Ele introduziu as virtudes teologais: a Fé, a Esperança e a Caridade

(ou amor, no sentido de amar a Deus e ao próximo). Santo Tomás de Aquino se

contrapõe à ética de Santo Agostinho que considerava o homem imperfeito por

causa do pecado original.

Santo Tomás também discute o livre-arbítrio, inserindo a questão da

liberdade: “o livre-arbítrio é causa de seu movimento, porque o homem, pelo livre-

arbítrio, é levado a agir. Mas, contudo, não é necessário, para a liberdade, que o

livre seja a causa primeira de si mesmo; assim como não é necessário, para uma

causa ser causa de outra, que seja sua causa primeira” (TOMAS DE AQUINO, 1980,

p. 733). O ato do livre-arbítrio é uma escolha voluntária como possibilidade para o

homem escolher o bem e não o mal.

3.3.4 Ética de Kant

Immanuel Kant (1724-1804) defende a “boa vontade” como sua

primeira proposição: “nada é possível pensar que possa ser considerado como bom

sem limitação a não ser uma só coisa: uma boa vontade” (KANT, 1992, p. 21). É a

boa vontade que determina se a ação foi boa. Posteriormente, Kant substitui o termo

boa vontade pelo dever, pois é “o conceito do Dever que contém em si o de boa

vontade” (KANT, 1992, p.26, grifo do autor). Também diferencia uma ação “conforme

ao dever” e uma ação “por dever”. O agir “conforme ao dever” trata-se de um

propósito egoísta enquanto que, no agir “por dever”, a vontade está presente (KANT,

1992, p. 27).

O dever é “um conceito que deve ter um significado e conter uma

verdadeira legislação para as nossas ações, esta legislação só se pode exprimir em

imperativos categóricos” (KANT, 1992, p. 63). O imperativo categórico é entendido

como a representação de uma ação justificadamente necessária por si mesma, sem

referência à outra finalidade ou para atender qualquer objetivo (KANT, 1992, p. 50).

O princípio do imperativo categórico de Kant é “age apenas segundo

uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne uma lei

universal” (KANT, 1992, p. 59). Desse princípio, Kant elaborou outras três máximas:

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66

• Universalidade da natureza: “Age como se a máxima da tua ação

se devesse tornar, pela tua vontade, em lei universal da

natureza” (KANT, 1992, p. 59).

• Humanidade: “Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto

na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e

simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio”

(KANT, 1992, p. 69).

• Autonomia: “Age só de tal maneira que a vontade pela sua

máxima se possa considerar a si mesma ao mesmo tempo como

legisladora universal” (KANT, 1992, p. 76).

A teoria de Kant é chamada de teoria do dever ético e “propõe que o

conceito ético seja extraído do fato de que cada um deve se comportar de acordo

com os princípios universais” (MOREIRA, 1999, p. 22).

3.3.5 Ética de Adam Smith

Adam Smith (1723-1790), pai do liberalismo e criador da economia

política, afirma que a base da moral está na simpatia. Argumenta que a simpatia é

condição indispensável para fundamentar a moral, conforme sua máxima: “atue de

tal modo que o observador imparcial possa simpatizar com a sua conduta”. Parte do

princípio de que o indivíduo emite simpatia ao considerar tal atitude válida, e que a

conduta é aprovada ou não, de acordo com esse parâmetro. “Adam Smith espera

que o homem tenha sempre o bom gosto de simpatizar com aquilo que realmente

vale a pena, mas é muito duvidoso que, em sua concepção ética, haja lugar para um

valor objetivo da moral” (ARRUDA; WHITAKER; RAMOS, 2003, p. 35).

A pretensão de Smith, em relação à comunicação, era promover a

comunicação afetiva com os outros, por meio da harmonização dos afetos e não dos

interesses. Nos estudos de Smith, aparecem duas virtudes consideradas

fundamentais para o desenvolvimento de sua teoria: a sensibilidade e o

autocontrole. “Não são disposições de ação, mas virtudes, as quais são

irredutivelmente atitudes, porque são compreendidas como atitudes de abertura

Page 68: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

67

intersubjetiva [...] atitudes exigidas moral e universalmente” (TUGENDHAT, 1996, p.

319).

3.3.6 Utilitarismo

O utilitarismo foi formalizado por Jeremy Bentham (1748-1832) e o

seu propagador foi John Stuart Mill (1806-1873); porém, a base dessa teoria – a

felicidade – já era pregada por Aristóteles e Epicuro. Segundo Borges, Dall’Agnol e

Dutra (2002, p. 38-39), o utilitarismo é caracterizado por cinco elementos básicos: 1)

a consideração das consequências das ações para estabelecer se elas são corretas

ou não; 2) a função maximizadora daquilo que é considerado valioso em si; 3) a

visão igualitária dos agentes morais; 4) a tentativa de universalização na distribuição

de bens; 5) a concepção natural sobre o bem-estar.

O utilitarismo de Bentham é chamado de “hedonista” porque defende

“o maior prazer possível corresponde à própria felicidade”. Borges, Dall’Agnol e

Dutra (2002, p. 34) ressaltam que “o utilitarismo de Bentham foi uma teoria

altamente revolucionária na Inglaterra aristocrática da época, e ajudou a estabelecer

os fundamentos do igualitarismo moderno”. Mill (2000) reformula a teoria defendida

por Bentham, à luz de alguns conceitos que não eram contemplados pelo utilitarismo

“hedonista”, e cria o utilitarismo “eudaimonista”, que estabelece o prazer associado

às virtudes morais para a constituição de uma vida feliz, justa e igualitária. A ética

está baseada na busca da “maior felicidade para o maior número de pessoas”.

Moore desenvolve o chamado “utilitarismo ideal”: o prazer depende do contexto em

que foi praticada a ação.

Mill (2000, p. 187) considera, como ações corretas, aquelas que

visam à promoção da felicidade, e, erradas, as ações que geram a infelicidade. O

sentido de felicidade remete ao prazer e ausência de dor. Ao esclarecer os seus

críticos, o autor justifica o conceito de felicidade no utilitarismo como abrangente e

não restrita ao indivíduo: “a felicidade que os utilitaristas adotaram como padrão do

que é certo na conduta não é a do próprio agente, mas a de todos os envolvidos”. E

indica como o indivíduo deve agir de acordo com esse princípio: “entre a sua própria

felicidade e a dos outros, o utilitarismo exige que o indivíduo seja estritamente

Page 69: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

68

imparcial como um espectador desinteressado e benevolente” (MILL, 2000, p. 202).

Segundo Mill (2000, p. 202), o espírito da ética utilitarista está

expresso nos ensinamentos de Jesus Cristo: ame o próximo como a si mesmo; faça

aos outros o que gostaria que lhe fizessem. Para que o indivíduo consiga atingir

esse ideal no utilitarismo, ele recomenda a necessidade de harmonizar o interesse

de cada indivíduo com os interesses da coletividade, e sugere a educação como

meio para formar indivíduos que promovam o bem geral para felicidade própria e dos

outros.

O utilitarismo estabelece que a felicidade precisa ser obtida pelo

maior número de pessoas, daí a necessidade de avaliar as consequências de

determinadas decisões, para que seja escolhida a alternativa que proporcione o

maior bem comum. O enunciado do princípio da utilidade remete a convivência

social à necessidade de pensar ações que tragam benefícios à coletividade.

Baseando-se na corrente utilitarista, uma organização deveria analisar se as atitudes

e as suas consequências trarão benefícios aos outros; por esse princípio, não se

pode pensar somente nos benefícios próprios. Em muitos casos, os benefícios

coletivos serão maiores que os individuais, daí a associação ao conceito de

altruísmo.

3.3.7 Ética da Convicção e Ética da Responsabilidad e - Max Weber

Weber (1972) divide a teoria ética em ética da convicção e ética da

responsabilidade. “Isso não quer dizer que a ética da convicção equivalha à

ausência de responsabilidade e a ética da responsabilidade, à ausência da

convicção” (WEBER, 1972, p. 113). Na ética da convicção os resultados são

referentes à vontade de Deus; enquanto que, na ética da responsabilidade, o

indivíduo tem que prestar contas e responder pelos seus atos, pois ele é o único

responsável pelas suas ações. Para Weber, as duas teorias não são contraditórias,

pelo contrário, elas se complementam na formação do homem autêntico.

A ética da responsabilidade, definida por Weber, tem sentido

diferente da ética da responsabilidade disseminada, nos dias atuais, por filósofos

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69

com base em Jonas (2006). Weber referia-se ao indivíduo como ser responsável, ou

seja, “essas consequências são imputáveis à minha própria ação” (WEBER, 1972, p.

114), enquanto o sentido de responsabilidade em Jonas (2006) está voltado para a

responsabilidade do agir, em relação à garantia de sobrevivência futura da

humanidade.

Srour (2003), nos estudos sobre ética organizacional, segue a

mesma classificação de Weber, sendo “a ética da convicção, entendida como

deontologia (tratado dos deveres), e a ética da responsabilidade, conhecida como

teleologia (estudo dos fins humanos)” (SROUR, 2003, p. 107). Define a ética da

convicção como: “uma ética das certezas e dos imperativos categóricos [...] É uma

ética convencional, disciplinada, formalista e incondicional, que se inspira em

’valores eternos’ e em verdades reveladas”. Quanto à ética da responsabilidade, o

autor a conceitua como “uma ética das dúvidas ou das interrogações, uma ética que

se subordina ao exame das circunstâncias e dos fatores condicionantes; enfrenta a

vertigem das controvérsias e o desafio das soluções incertas; desemboca em

prognósticos” (SROUR, 2003, p. 140).

3.3.8 Ética da Responsabilidade – Hans Jonas

Hans Jonas (1903-1993) desenvolveu a ética da responsabilidade, a

partir de suas experiências com os acontecimentos históricos do século 20 e do

avanço da tecnologia em todos os campos, que o estimularam “a buscar alternativas

capazes de arrancar do conhecimento e do poder, gerado pelo próprio homem, um

dever em relação aos que vivem e viverão futuramente” (ZANCANARO, 1998, p. 25).

Bastante adequada para os dias de hoje, essa abordagem de ética engloba o

reconhecimento de que a tecnologia trouxe inovações e também impactos que não

eram considerados no dia a dia e no ambiente

Baseando-se no imperativo categórico de Kant, Hans Jonas (2006,

p. 47 - 48) sugere: 1) "aja de modo a que os efeitos da tua ação sejam compatíveis

com a permanência de uma autêntica vida humana sobre a Terra”; 2) “não ponha em

perigo as condições necessárias para a conservação indefinida da humanidade

sobre a Terra”. Esses enunciados se voltam ao pensamento sobre o futuro, tendo

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70

em vista que ações do homem representam alterações futuras que muitas vezes não

são dimensionadas porque o homem não se preocupa com as suas

responsabilidades e com o “amanhã”, está preocupado somente com as suas

realizações e conquistas e não mensura os impactos de suas decisões.

Jonas (2006, p. 352) define responsabilidade como “o cuidado

reconhecido como obrigação em relação a um outro ser, que se torna ‘preocupação’,

quando há uma ameaça à sua vulnerabilidade”. O conceito de responsabilidade de

Jonas não está vinculado ao passado, mas ao futuro, porque os atos de cada um

trazem consequências que precisam ser pensadas e medidas, para que o futuro não

seja prejudicado, até mesmo em termos de sobrevivência humana. A ética da

responsabilidade preocupa-se com o futuro da humanidade, que está sendo

prejudicada, devido ao desrespeito com o meio ambiente, às ameaças da energia

nuclear, aos impactos da biotecnologia e aos avanços da engenharia genética, entre

outros impactos. A responsabilidade não somente em relação à natureza, mas

também em relação ao outro porque os impactos das atitudes e das ações de hoje

determinam o meio e as relações de “amanhã”.

3.3.9 Ética do Discurso

Jurgen Habermas elaborou a ética do discurso a partir da teoria dos

atos de fala de Austin e Searle. O diálogo passa a ser o espaço para a construção

da ética e da busca pela solução de conflitos, por meio das discussões autônomas

entre as partes envolvidas ou representadas de forma autêntica. Habermas

empresta o conceito de razão prática de Kant. A razão prática é entendida como a

capacidade de pensar e raciocinar voltada para o agir e abrange os motivos para a

escolha de determinada decisão, entre diversas ações possíveis, para solução de

um problema prático.

Para entender a teoria de Habermas, é necessário fazer a distinção

entre as três possibilidades de uso da razão prática: o uso pragmático, o uso ético e

o uso moral (HABERMAS, 1989b, p. 1). O uso pragmático da razão prática

compreende o agir prático, para se obter o que se pretende, preocupando-se

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71

somente com o resultado, sem discutir o sentido de seus atos e as consequências

para os outros indivíduos.

O uso ético da razão prática está fundamentado nos valores. O

indivíduo preocupa-se em buscar o bom, tanto de forma individual como coletiva. O

uso moral da razão prática baseia-se no princípio da justiça, na escolha da ação

justa. É caracterizado pelo questionamento dos valores no contexto social, pois “ele

serve à elucidação de expectativas legítimas de comportamento, em face de

conflitos interpessoais que atrapalham o convívio regulado de interesses

antagônicos” (HABERMAS, 1989b, p. 11). As normas, tanto a aplicação como a

fundamentação, precisam considerar a reciprocidade dos deveres e dos direitos dos

indivíduos.

Para Habermas, somente será possível o uso moral da razão

prática, com o desenvolvimento de um agir comunicativo que se baseia no diálogo.

“Falo em agir comunicativo, quando os atores tratam de harmonizar internamente

seus planos de ação e de só perseguir suas respectivas metas sob a condição de

um acordo existente ou a se negociar sobre a situação e as consequências

esperadas” (HABERMAS, 1989a, p. 165).

Na ética do discurso, a regra moral será válida, por meio do diálogo

que abranja todos os envolvidos e que também satisfaça aos interesses de todos.

“Os interesses válidos são aqueles que podem ser justificados racionalmente e

universalizados” (CENCI, 2001, p.38). Segundo Tugendhat (1996, p. 175), o critério

de verdade em Habermas somente pode ser aceito pelo consenso que se

estabelece pelas condições da “situação ideal de fala” e que promove o diálogo

autêntico e legítimo.

A ética do discurso está baseada na teoria da ação comunicativa:

“em vez de o sujeito monologar consigo próprio, Habermas o descentra, fazendo-o

dialogar com os indivíduos do grupo. Essa interação, mediada pelo discurso, é mais

rica por ser processual, construída a partir da relação entre sujeitos” (ARANHA;

MARTINS, 1998, p. 128). A validade das normas é expressa pelo consenso do

grupo. Para Habermas, todos os envolvidos devem ter as mesmas chances de fala,

de discussão para busca de um consenso e definição das questões morais “que

podem ou devem ser decididas, através de um consenso que, de um lado, possui a

forma de um consenso político, mas, de outro lado, não deve representar um

Page 73: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

72

compromisso e uma decisão coletiva, mas um consenso perfeito” (TUGENDHAT,

1996, p. 183).

Mediante a abordagem resumida de algumas correntes éticas,

selecionadas especificamente para este trabalho, percebe-se que, ao falar em ética,

principalmente, em ética organizacional, não se pode defender a aplicação dessa ou

daquela teoria na organização, ou considerar uma em detrimento da outra, é preciso

construir um ambiente propício ao seu desenvolvimento e aplicação com base na

realidade e nas características próprias de cada ambiente organizacional. Indicar

uma teoria como mais adequada nunca foi a pretensão deste estudo, acredita-se na

possibilidade de diálogo entre as diversas teorias.

Este capítulo ofereceu um panorama das várias correntes de ética,

com a finalidade de avaliar as possibilidades de abordagem e de encaixar o debate

sobre a necessidade de implantar e gerenciar a ética na organização do universo

abrangente em que se insere. Tamanho desafio enfrentado pelos gestores exige

compreensão aprofundada e exame do amplo espectro que se configura, quando o

assunto é ética e seus desdobramentos.

Page 74: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

73

4 ÉTICA NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL

As páginas anteriores possibilitaram uma visão geral que mais

caracterizaram uma breve revisão de literatura acerca da ética, mas as questões de

gestão da ética nas organizações, neste início de século, é o tema deste trabalho.

Neste capítulo, caracteriza-se a ética organizacional, por meio de definições de

vários autores, mostra os benefícios para a organização e os seus públicos, quando

do investimento em ética e as dificuldades ao desconsiderar o assunto. Demonstra-

se a relevância e a utilização do código de ética, principal instrumento da

implantação e da gestão da ética organizacional, além de propor sugestões de

conteúdos. Finaliza-se, com o relato de alguns estudos práticos de ética

organizacional e com a apresentação de algumas teorias éticas aplicadas às

organizações.

A gestão da ética implica em considerar, principalmente, os

indivíduos que fazem parte dessa organização. Cada indivíduo possui múltiplas

identidades, “criadas” pela relação que estabelece nos vários ambientes pelos quais

transita, como família, escola, grupos de amigos, e que acarretam no desempenho

de papéis diversificados. E, quando este indivíduo passa a manter relacionamentos

num ambiente organizacional, os valores éticos vêm à tona com grande força,

devido à demanda diária do equilíbrio, com as exigências que fazem parte de uma

ética que se possa chamar organizacional.

A questão da definição e aplicabilidade da ética nas organizações

gera múltiplos desdobramentos, o que a torna um assunto altamente complexo.

Tanto pelo que contém de (inter) subjetividade, como pelo desafio que representa

sua plena integração no ambiente empresarial moderno, uma série de cuidados é

exigida. A necessidade de reflexão cresce na proporção das transformações da

sociedade atual, acompanhadas do crescimento do individualismo nas relações

humanas. Mas e o outro? O outro possui os mesmos direitos e os mesmos deveres,

desfruta do mesmo status de cidadão, mas isso não significa a valorização da

pessoa no universo capitalista. As relações precisam ser construídas

cotidianamente, sobretudo, porque se expande a competitividade e a sempre

crescente tendência de tornar o indivíduo menos sensível ao coletivo.

Page 75: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

74

No século XXI, com a inovação tecnológica contínua e acelerada,

acentua-se a necessidade de discutir questões éticas que permeiam a nova

complexidade da vida cotidiana. A tecnologia provoca o acesso em “tempo real” às

ações das organizações, permitindo que cada atitude das organizações seja

mapeada pelos seus públicos, que cobram ser tratados com princípios éticos. Isso

se reflete na necessidade de preparo do ambiente organizacional, no esforço de

impedir que as atividades e a reputação corporativa sejam afetadas, uma vez que a

sociedade está atenta aos atos das organizações. Essa exigência da sociedade,

entre outros fatores, fez com que as organizações mudassem suas posturas e

implantassem programas de ética.

A preocupação com a ética nas organizações, principalmente no

relacionamento com os funcionários, é antiga. O Papa Leão XIII elaborou, em 1898,

a Encíclica Rerum Novarum, com o intuito de estabelecer “princípios éticos que

deveriam ser aplicados nos relacionamentos entre empregadores e empregados,

visando à preservação da dignidade dos trabalhadores” (RODRIGUEZ, 2003, p. 20-

21).

Este documento demonstra a primeira tentativa de se exigir um

comportamento ético das organizações. Entretanto, sabe-se que somente “nos

últimos 20 anos do século XX e, principalmente, durante a última década, que a

questão da ética emergiu como importante elemento de reflexão” (CHANLAT, 2000,

p. 48). A ética ganhou destaque nas últimas décadas, devido aos impactos da

globalização, o papel da imprensa, a postura da sociedade em exigir seus direitos, o

código do consumidor, as exigências estabelecidas pela governança corporativa, as

exigências dos mercados internacionais.

O impulso, para que as empresas avançassem em suas condutas

éticas, foi gerado pelos escândalos que aconteceram no início do século, com o

envolvimento de grandes empresas como a Worldcom, a Enron, Arthur Andersen,

que atingiram não somente seus negócios, mas também a reputação das

organizações envolvidas e do próprio setor. Após esses acontecimentos, outra

medida, que contribuiu para a disseminação da ética organizacional, foi a criação

pelo Congresso norte-americano da Lei Sarbanes-Oxley (Sarbox) que implica em

transparência nos negócios de empresas de capital aberto, por meio de uma série

de exigências e com penalidades severas para o não cumprimento dos aspectos

legais. Desta forma, as organizações foram obrigadas a repensar as suas atividades.

Page 76: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

75

O termo ética empresarial foi criado para caracterizar a ética nas

empresas que visam ao lucro, daí a expressão ética nos negócios. Com a

necessidade de englobar todas práticas éticas e não somente em organizações

empresariais, adotou-se a ética organizacional (HUMBERG, 2008, p. 91). Neste

trabalho, conforme já explicitado na introdução, os termos ética empresarial e ética

nos negócios serão utilizados como sinônimos de ética organizacional ou ética nas

organizações, que são consideradas mais abrangentes e envolvem as práticas e as

condutas éticas de qualquer tipo de organização.

Pode-se afirmar que algumas organizações têm dado maior valor ao

“Marketing da ética”, ao estar preocupadas em se mostrarem éticas. Com essa

visão, implementam-se ações, criam-se códigos de conduta, inserem-se, nos sites,

os links com os programas de ética, entre outros, sem atentar-se a que a ética deve

estar vinculada à filosofia organizacional. As organizações podem considerar a ética

de duas formas: como necessária ao desenvolvimento dos seus negócios, ou,

somente, como exigência externa para continuidade do empreendimento. A primeira

forma transformará toda a empresa, enquanto a segunda fará com que a empresa

aja de forma a atender essa demanda “passageira”. Daí a relevância desta

afirmação: “um enfoque ético da empresa deve partir do fato de que a ética é

constitutiva da atividade empresarial, como demonstra sua presença na confiança e

nos fatores de credibilidade ou legitimidade social” (GARCÍA-MARZÁ, 2006, p. 151).

A ética empresarial é definida por Moreira (1999, p. 28) como “o

comportamento da empresa – entidade lucrativa – quando ela age de conformidade

com os princípios morais e as regras do bem proceder aceitas pela coletividade

(regras éticas)”. Para Ferrel, Fraedrich e Ferrel (2001, p. 7), “a ética empresarial

compreende princípios e padrões que orientam o comportamento no mundo dos

negócios”, preocupando-se em buscar e incentivar o comportamento considerado

certo, adequado, aceitável nas organizações.

Humberg (2006, p. 82), por sua vez, salienta que:

A ética empresarial (ou organizacional, num sentido mais amplo), envolve a definição clara de posturas adotadas pela empresa e por seus colaboradores, a partir dos dirigentes e, embora baseada em conceitos morais, distingue-se destes pela sua característica mais utilitária. Trata-se de estabelecer os procedimentos para o dia a dia da empresa e não conceitos filosóficos ideais.

Page 77: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

76

A ética nos negócios abrange as decisões e a postura dos gestores,

quanto à responsabilidade e o impacto das suas atividades e da organização como

um todo. Nash (1993) aponta ética nos negócios vinculada à forma pela qual normas

morais se aplicam às atividades e aos objetivos da empresa, acrescentando que

“não se trata de um padrão moral separado, mas do estudo de como o contexto dos

negócios cria seus problemas próprios e exclusivos à pessoa moral que atua como

um gerente desse sistema” (NASH, 1993, p. 6).

Quanto à ética nas organizações, Viana ressalta que “[...] a ética

vem ganhando dimensão de uma autêntica exigência da coletividade. Quer dizer,

ser ético é pensar no bem comum e partilhar os benefícios do progresso” (VIANA,

2006, p. 27). A ética envolve todas as esferas da organização, principalmente a alta

administração, na adoção de posturas éticas que atendam aos objetivos

organizacionais e também aos interesses legítimos de seus públicos na construção

de uma sociedade mais justa e humana.

Para Garcia-Marzá (2006, p. 158), uma empresa, segundo a

concepção da ética dialógica, é:

uma instituição social onde somente o acordo entre os diferentes grupos e a conjunção de seus respectivos interesses, em condições simétricas de participação, podem dar razão da legitimidade e credibilidade da empresa. Por isso, necessita-se definir quais são os grupos ‘implicados em’ e ‘afetados pelas’ decisões empresariais e quais são suas oportunidades na definição e satisfação desses interesses.

Leisinger e Schmitt (2002) definem a ética aplicada às empresas,

como voltada à visão de que a opinião pública tem do comportamento das

organizações, pois, se os funcionários não são ouvidos pela empresa, eles podem

recorrer à opinião pública para conseguir respaldo nas suas solicitações. Os autores

defendem que uma empresa ética precisa considerar os interesses de todos os seus

públicos, e que o diálogo deve ser plenamente incentivado em todos os

relacionamentos, destacando as obrigações da empresa ética com os vários

segmentos de público.

Mayordomo (2003, p. 1) define ética empresarial como os valores e

os princípios empregados em todas as ações organizacionais que se refletem tanto

interna como externamente. O autor defende a necessidade da implantação da ética

Page 78: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

77

em toda a organização, e que isto deve ser feito com o apoio e o conhecimento dos

colaboradores, por meio do diálogo que promoverá a valorização de cada indivíduo

no processo. Humberg (2008, p. 96) também defende essa iniciativa: “a implantação

de um programa de ética na empresa deve começar ouvindo todos seus

empregados sobre o que eles consideram como os valores efetivamente existentes

na empresa, quais eles veem como positivos e quais eles sugerem sejam alterados”.

A ética organizacional passa a integrar as atividades da

organização, quando os seus colaboradores se sentirem envolvidos no processo,

por meio de um ambiente que lhes proporcione condições favoráveis à manutenção

de uma conduta ética. Daí o posicionamento estratégico dos dirigentes em promover

a ética organizacional “como uma experiência positiva, que pode proporcionar

satisfação e realização por si mesma, e não como um conjunto de sanções que

limitam e ameaçam pessoas em seus cargos” (AGUILAR, 1996, p. 53). A ética não

pode ser utilizada como forma de coação; ela é oportunidade para valorização do

indivíduo, como sujeito autônomo e dotado de capacidade para fazer as suas

escolhas.

Essa mudança de postura das organizações também é constatada

por Arruda, Whitaker e Ramos (2003, p. 57), quando ressaltam que está havendo

um resgate da “abordagem aristotélica nos negócios”. Atualmente, considera-se uma

boa empresa não somente a organização lucrativa, mas também a que proporciona

condições para a criação de um ambiente adequado ao desenvolvimento do

conhecimento dos indivíduos e de suas virtudes. Gracioso (2004) também afirma

que milhares de organizações baseiam seus relacionamentos na ética e que houve

um resgate da ética nos negócios, no setor público e na área de comunicação, mas

acrescenta que “o comportamento ético não se mede apenas através da mensagem

comercial, mas, sim, através dos atos da empresa, em todos os sentidos”

(GRACIOSO, 2004, p. 3).

As organizações consideradas éticas têm adotado a ética

empresarial no cotidiano da empresa, e não somente na ocorrência de problemas

que podem causar repercussões negativas incalculáveis. O comportamento ético é

incentivado em todas as atividades organizacionais e se busca sensibilizar os

indivíduos de que qualquer ação, mesmo que seja considerada irrelevante, deve-se

pautar na ética porque tem ou pode ter implicações éticas no ambiente interno ou

externo. A participação de todos torna-se fator imprescindível nesse processo para

Page 79: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

78

discussão e aprimoramento do desempenho organizacional, principalmente, dos

administradores que precisam compreender as dimensões éticas de suas decisões e

disseminá-las aos públicos, como incentivo à adoção de condutas éticas.

Não se pode esquecer que a ética organizacional “deve seguir uma

orientação humanista, que coloca a vida humana como valor principal. Os

indivíduos, que estão envolvidos no mundo dos negócios, são seres humanos com

emoções e sentimentos e não apenas máquinas ou peças da engrenagem

produtiva” (PASSOS, 2006, p. 74). A ética organizacional, ao promover a

humanização nas organizações, estabelece esse princípio como a base para a

criação de um ambiente propício ao desenvolvimento da empresa ética e da

discussão de questões éticas.

A questão ética é descrita por Ferrel, Fraedrich e Ferrel (2001, p. 42)

como “simplesmente uma situação, um problema ou mesmo uma oportunidade que

requer ponderação, discussão ou investigação para determinar o impacto moral de

uma decisão”. Os autores classificam, de maneira geral, as questões éticas em

quatro categorias: conflitos de interesses, honestidade e equidade, comunicações e

relacionamentos dentro da organização (FERREL; FRAEDRICH; FERRELL, 2001, p.

29).

Conflito de interesse refere-se à opção entre os interesses da

empresa, interesses de outros grupos e os interesses de cada indivíduo. A

honestidade e a equidade são qualidades imprescindíveis aos indivíduos, sendo que

a honestidade está relacionada à integridade e a equidade à justiça. A comunicação

diz respeito à produção e à emissão de mensagens publicitárias que auxiliem na

decisão de compra de produtos ou serviços. Já o relacionamento nas empresas

refere-se à conduta dos funcionários nas relações dentro da organização e com os

vários segmentos de públicos. “Empregados que têm formação ética esforçam-se

por manter o sigilo nos relacionamentos, cumprir obrigações e responsabilidades e

evitar uma pressão inaceitável sobre outras pessoas, que poderiam levá-la a agir de

maneira antiética” (FERREL; FRAEDRICH; FERRELL, 2001, p. 34).

A empresa ética é caracterizada como aquela organização que, nas

suas decisões e atividades desenvolvidas, “conquistou o respeito e a confiança de

seus empregados, clientes, fornecedores, investidores e outros, estabelecendo um

equilíbrio aceitável entre seus interesses econômicos e os interesses de todas as

partes afetadas” (AGUILAR, 1996, p. 26). A definição abrange a relação de

Page 80: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

79

confiança necessária entre a organização e os seus públicos e, também, expressa a

exigência do equilíbrio dos interesses entre as partes envolvidas.

A organização ética respeita a autonomia dos indivíduos, incentiva o

diálogo e orienta suas ações com princípios que estimulem a capacidade crítica e

criadora dos seus públicos. Para tanto, a organização define políticas que

proporcionem condições necessárias à implantação da ética, visando, em

concomitância, promover os interesses e os direitos de todas as pessoas envolvidas

nas atividades da organização e adotar medidas que minimizem os riscos de

posturas inadequadas.

A cultura organizacional também é a base para promover mudanças

na organização. Matos (2008, p. 43) alerta que, “sem que haja intervenções na

cultura organizacional para descondicionar comportamentos inadequados, a partir

da mudança de atitudes, todos os esforços de reestruturação serão, afinal,

infrutíferos”. Ao identificar a necessidade de ajustes, a empresa promove as

alterações, para que a ética passe a ser priorizada em suas atividades, mas, isto só

será possível, se realizar as mudanças necessárias na própria cultura.

A incorporação da cultura fornece o status de pertencer àquela

organização, de concordar com os seus valores éticos. Mayordomo (2003, p. 1)

defende que é preciso que essa cultura também seja difundida fora do ambiente

organizacional: “La cultura empresarial, entendida como tal, tiene su máximo

exponente cuando todos sus empleados reproducen comportamientos éticos que se

externalizan al mercado” (MAYORDOMO, 2003, p. 1). Desta forma, contribuem para

o reconhecimento da empresa como ética perante seus públicos.

Para Neves (2008, p. 228), “deve-se ter consciência da importância

das estruturas exteriores na promoção do caráter ético e, ao mesmo tempo, admitir a

imponderabilidade dos elementos subjetivos”. A organização, ao promover ou alterar

o seu comportamento ético, deve levar em consideração a subjetividade de cada

indivíduo e que as suas atitudes também serão determinadas principalmente pela

sua própria consciência.

Toffler (1993) descreve a pesquisa realizada nos EUA sobre ética

gerencial. Aborda as dificuldades dos gerentes de empresas em entender qual o

problema ético, por se tratar de questões complexas, que não são restritas ao ético e

não-ético, mas que envolvem o comportamento organizacional e também individual.

O autor alerta para as consequências de algumas práticas organizacionais: “se as

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80

pessoas se esquecem da razão pela qual foram estabelecidas ou não são capazes

de antecipar resultados que não os esperados, o terreno torna-se fértil para o

surgimento de problemas éticos” (TOFFLER, 1993, p. 17).

Na mesma análise, o autor insere ainda a definição formal de ética,

sob a observação de dissenso conceitual. Avalia o papel da organização, no

enfrentamento de questões éticas, e o papel do gerente que, neste contexto, deve

“contribuir para manter suas organizações alertas e eticamente conscientes e

capazes de prover um ambiente no qual todos os empregados tenham a capacidade

de agir com integridade” (TOFFLER, 1993, p. 247). A organização é responsável em

promover condições para o agir ético e também em estabelecer procedimentos que

evitem a conduta inadequada em qualquer decisão. Não é preciso criar um clima de

“caça às bruxas”, mas é necessário que todos, na organização, saibam que o

comportamento antiético será punido porque gera problemas e consequências

negativas que refletirão em seus negócios.

O estudo da ética organizacional também é defendido por Passos

(2006, p. 104), para melhoria da atividade organizacional. Entretanto, não se pode

limitar a abordagem da ética somente aos aspectos instrumentais, à transferência de

informações, por meio de treinamento e de difusão de normas e regras de conduta.

A ética organizacional também “deve ter como finalidade levar as pessoas a pensar.

Mais do que isso, a refletir sobre seus atos, tomando por base o respeito à pessoa e

à verdade” (PASSOS, 2006, p. 104). Esta afirmação condiz com a preocupação de

Rios (2008, p. 85). A autora chama a atenção para o fato que os indivíduos cumprem

as regras, agem de determinada maneira porque tal ação faz parte da dinâmica

organizacional, “agem moralmente”; porém, muitas vezes, os atos estão desprovidos

de uma reflexão ética na busca do entendimento de determinadas ações.

A reflexão do agir, preservando o respeito aos integrantes da

organização, também, é discutida por Camargo (2006, p. 43), que ressalta a

“consciência crítica” como forma de construir “o ser social da empresa de forma

ética”. Também, aborda os dez valores que devem ser cultivados pelas pessoas na

empresa: a justiça, a honestidade, a liberdade, a responsabilidade, o respeito, a

veracidade, a confiança, a disciplina, a solidariedade e a espiritualidade.

(CAMARGO, 2006, p. 43-58).

Na medida em que o indivíduo cultiva valores ou princípios, a ética

emerge como movimentação de “dentro”, do seu interior. Desta forma, consideram-

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81

se os valores como os constituintes do núcleo da cultura organizacional e “oferecem

uma direção comum a todas as pessoas que compõem a empresa e diretrizes para

seu trabalho diário. Os ‘valores’ [...] definem o caráter fundamental da organização e

criam nela um sentido de identidade” (CLAVO, 2008, p. 146).

A empresa não faz a pessoa ética; é a pessoa que se constrói por

um conjunto de energias éticas que possui internamente e as cristaliza na forma de

comportamentos que favorecem a criação de um ambiente ético. “Assim, todos estes

valores não se impõem por leis ou códigos, mas podem e até devem ser estimulados

com reflexões constantes na empresa, especialmente a partir de situações

conflitantes” (CAMARGO, 2006, p. 43).

O conflito também pode ser o momento de repensar a organização e

os seus valores a partir de relações estabelecidas na organização. É pela condição

de ser social, que o homem vai estabelecendo relacionamentos nos vários

ambientes onde ele convive, e essa relação é diferente em cada situação, porque

são contextos e pessoas diferentes que revelam relações diferenciadas com

características que serão próprias ao grupo e servirão para identificar os seus

componentes que, no caso de uma organização, compõem a cultura organizacional.

A questão ética está em pauta; porém, surgem perguntas do tipo:

como as organizações se relacionam com seus públicos de acordo com os princípios

éticos? Como a organização se prepara internamente para atender essas

necessidades?

Uma organização ética é portanto uma organização integrada, na qual vivenciamos no mais alto grau nossos valores mais profundos e nos movemos na direção de nossos propósitos. A maioria das empresas não sabe qual é o seu verdadeiro propósito. Hoje, a maioria delas tem nas paredes belas declarações sobre missão e valores que não passam de impressos que alguma empresa de consultoria lhes vendeu (PINEDO, 2003, p. 13)

A missão, os valores, os princípios organizacionais servem para

direcionar todas as decisões da empresa, com o intuito de alcançar os seus

objetivos, daí a relevância da formalização desses propósitos, por meio da adoção

do código de ética.

Page 83: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

82

4.1. CÓDIGO DE ÉTICA

Os códigos de ética cumprem o papel de oferecer um

direcionamento às ações. Segundo Telles (2008, p. 3), “os códigos de ética

corporativos serão ferramentas gerenciais eficazes, conforme o cuidado e a atenção

que se dê à cultura organizacional e ao desenvolvimento da competência ética”.

Pergunta-se: como as organizações criam essa cultura ética e gerenciam esse

comportamento? É evidente que o controle é feito, mesmo assim, vêem-se tantos

escândalos registrados pelo desvio ético. Então, que tipo de estratégias as

organizações adotam para melhorar o seu capital humano? Pois, não basta

simplesmente “colocar um quadro” com princípios éticos, ou impor ética de “cima

para baixo”. O agir ético deve basear-se no respeito pelos direitos dos outros e

também pela defesa dos direitos da organização, tendo em vista os princípios éticos.

Para Solomon (2000, p. 90), “... o ponto principal de um código de ética não é só

informar e estimular os funcionários, mas fornecer-lhes um instrumento que os

ajudará a aderir aos valores da empresa”.

Black (2004, p. 202) argumenta que o código de conduta “é uma

guia excelente para um comportamiento correcto”. O autor defende que as intenções

e os valores presentes no código de conduta devem ser aceitos e entendidos por

toda a empresa, que isto contribuirá para a implantação de um programa de ética:

“Los códigos de conducta son unas guías excelentes para poder concluirse

correctamente pero su valor reside en una estricta observancia tanto de su letra

como de su espíritu” (BLACK, 2004, p. 203).

Para Black (2004, p. 196), por mais que os códigos de ética

estabeleçam princípios para os comportamentos, sempre existirão questões que não

estarão contempladas. De acordo com Arruda, Whitaker e Ramos (2003, p. 65), os

códigos de ética “não têm a pretensão de solucionar os dilemas éticos da

organização, mas fornecer critérios e diretrizes para que as pessoas descubram

formas éticas de se conduzir”. Moreira (1999, p. 33) enfatiza que o código de ética

tem como objetivo a padronização e a formalização do “entendimento da

organização empresarial em seus diversos relacionamentos e operações. A

existência do código de ética evita que os julgamentos subjetivos deturpem,

Page 84: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

83

impeçam ou restrinjam a aplicação plena dos princípios”. As normas servem como

guia às organizações, mas não são suficientes para assegurar que uma empresa

seja ética.

O Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios (2008, p. 23) define

código de ética como:

A declaração do conjunto de direitos, deveres e responsabilidades corporativas para com todos os stakeholders, refletindo os princípios e os valores da empresa, a gestão social e ambiental, e o conjunto das normas de conduta para dirigentes, executivos e colaboradores, como também para os integrantes da cadeia produtiva, mediante os quais atuam as premissas que enriquecem os processos decisórios da empresa e orientam o seu comportamento. Além disso, deve ser o principal instrumento de governo e da gestão estratégica das empresas.

O código de ética é um meio para informar os valores, a missão e os

princípios da organização para todos os públicos. A filosofia organizacional expressa

no código orienta as ações dos colaboradores, auxilia a alta administração na

tomada de decisão e dá as diretrizes aos relacionamentos. Para os públicos, o

código de ética pode ser utilizado para analisar as intenções da organização com

todos os seus públicos. Internamente, o código de ética não pode simplesmente ser

um instrumento de controle porque perde o seu valor, no sentido de dar condições

aos indivíduos de escolher e se responsabilizar pelas suas ações.

Uma pesquisa realizada em 2003 (FIESP/CIESP, 2003), pela

Federação e pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp/Ciesp), com

543 indústrias paulistas, verificou-se que 14,1% das organizações pesquisadas

possuíam código de ética; 15,9% estavam no processo de elaboração; 15% das

indústrias pretendiam elaborá-lo brevemente. Em 2008, o Instituto Brasileiro de Ética

nos Negócios (2008) desenvolveu a pesquisa Código de Ética Corporativo, com as

500 maiores empresas brasileiras constantes na edição de 2007 da Revista Exame,

por meio de acesso aos websites das referidas empresas.

A partir da análise dos dados apresentadas na pesquisa, extraíram-

se alguns resultados considerados relevantes: pôde-se constatar que 29,6% (148)

das empresas divulgam o Código de Ética no seu site corporativo nacional, sendo

que apenas 22,3% (33) desse total publicam na página inicial do site; 84,4% (125)

dos códigos abordam o relacionamento ético com vários públicos; 85,5% (127) dos

Page 85: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

84

códigos expõem a obrigatoriedade de comunicar aos responsáveis qualquer

comportamento contrário às exigências do código; porém, somente mais da metade

das empresas, 54,7% (81) incentivam tal atitude, ao dar garantias que o assunto

será tratado de forma confidencial.

Essa pesquisa também foi realizada em 2009 pelo Instituto Brasileiro

de Ética nos Negócios (2009), seguindo a mesma metodologia do ano anterior, com

as empresas listadas pela Revista Exame Melhores & Maiores da edição 2008. Os

resultados destacados são: das 500 empresas, 37,8% (189) disponibilizam o Código

de Ética no seu site, sendo que 25,9% (49) das empresas dão destaque ao Código

de Ética na página inicial do site; 84,6% (160) expressam o relacionamento com os

diversos stakeholders; 79,9% (151) apresentam a obrigatoriedade da denúncia e

53,9% (102) abordam a proteção da empresa ao denunciante. Houve um aumento

no número de empresas que passaram a divulgar seu código de ética no site, de

29,6% a 37,8%, ao comparar as pesquisas aplicadas em 2008 e 2009, que

utilizaram a mesma metodologia e a mesma amostra. Os outros dados destacados

seguem os mesmos índices, exceto a questão da obrigatoriedade da denúncia que

diminui em termos percentuais.

Os dados demonstram que as empresas começam a se preocupar

com o assunto, o que não as dispensa de colocar em prática imediatamente o

código de ética, conforme salienta Whitaker (2008, p. 28):

[...] o código de ética pode ser excelente aliado. Porém, não basta manter um código de ética ou exibi-lo em quadros nas salas de recepção. Impõe-se que esse documento se reflita na vida e na atuação de todos os integrantes da empresa, desde a alta administração até o chão de fábrica. A ética não está na empresa, ou no guia de conduta, mas, sim, na excelência das pessoas que a representam e vivem os princípios e valores adotados em seu código de ética.

O código de ética foi aperfeiçoado e hoje engloba os princípios

organizacionais – missão, visão, valores da empresa – e, em alguns casos, o código

de conduta, que expressa as normas de conduta dos colaboradores. O Instituto

Ethos (2000, p. 18-29) enumera alguns aspectos a serem considerados em um

código de ética de empresa socialmente responsável. Apesar da sugestão delimitar

a aplicação a estas empresas, podem-se expandir os conceitos a todas as outras

organizações, respeitando-se as especificidades de cada uma. O Instituto Brasileiro

Page 86: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

85

de Ética nos Negócios (2009, p. 54), também, sugere algumas informações que o

código de ética pode reunir em um só documento. Essas propostas estão

apresentadas no Quadro 4.

INSTITUTO BRASILEIRO DE ÉTICA NOS NEGÓCIOS

INSTITUTO ETHOS

• Missão e visão da empresa. • Princípios e valores da empresa.

• Princípios éticos gerais.

• Princípios gerais de justiça e equidade no relacionamento com os stakeholders.

• Gestão, tratamento, respeito e preservação do meio ambiente.

• Gestão de sustentabilidade. • Normas e padrões de

comportamento da empresa e de seus colaboradores.

• Organismos internos para reportar alguma desconformidade ao código.

• Procedimentos e padrões de atuação e controle (órgãos internos).

• Relações com os acionistas: ▪ O respeito aos acionistas minoritários.

• Relações com os funcionários:

▪ Recrutamento e seleção – valorização da diversidade;

▪ Relações hierárquicas;

▪ Privacidade: Da empresa em relação ao funcionário; Do funcionário em relação à empresa.

▪ Avaliação e promoção;

▪ Demissão.

• Relações com os clientes. • Relações com os fornecedores.

• Relações com os concorrentes.

• Relações com a esfera pública: ▪ Órgãos arrecadadores e de fiscalização;

▪ Agentes públicos e políticos.

• Relacionamento com o meio ambiente.

• Relacionamento com a comunidade – ações filantrópicas.

Quadro 4 – Sugestões de conteúdos para o código de ética

Fonte : Elaborado pela autora, com base em Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios (2009, p. 54) e Instituto Ethos (2000, p. 18-29).

Com base nas duas abordagens, elaborou-se um quadro com

proposta de conteúdo para elaboração do código de ética – Quadro 5. Esse quadro

será utilizado para fazer a comparação entre a proposta de conteúdo e o conteúdo

presente nos códigos de ética das organizações estudadas, que será demonstrado

no Capítulo 7.

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86

PROPOSTA DE CONTEÚDOS PARA A ELABORAÇÃO DO CÓDIGO DE ÉTICA

• Missão e visão da organização.

• Princípios e valores da organização

• Políticas

• Princípios éticos nos relacionamentos:

• Relações com os colaboradores.

• Relações com os acionistas • Relações com os clientes.

• Relações com os fornecedores.

• Relações com o setor público • Relações com a concorrência.

• Relações com a comunidade

• Relações com a mídia. • Relações com os prestadores de serviços.

• Gestão de sustentabilidade.

• Normas e padrões de comportamento da empresa e de seus colaboradores.

• Canais específicos para informar alguma desconformidade ao código (Consta endereço eletrônico, telefone etc.).

• Procedimentos e padrões de atuação e controle (órgãos internos).

Quadro 5 – Proposta de conteúdos para o código de é tica

Fonte : Elaborado pela autora

O código de ética é de extrema relevância, como instrumento de

gestão da ética organizacional, e deve ser elaborado com a participação dos

membros da empresa, como estratégia de envolvimento, incentivando uma postura

participativa e dialógica para o cumprimento dos princípios organizacionais éticos.

Assim, são apresentados os benefícios da ética organizacional e também as

dificuldades para a implantação.

4.2 ÉTICA ORGANIZACIONAL : BENEFÍCIOS E DIFICULDADES

As vantagens de uma postura ética são apresentadas por Leisinger

e Schmitt (2002, p. 184-197) como: estabilidade, motivação dos funcionários,

redução dos custos de interação, preservação da liberdade da empresa, vantagens

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na concorrência internacional, dentre outros aspectos. Já Ferrel, Fraedrich e Ferrel

(2001, p. 213) descrevem como vantagens “aumento da eficiência nas operações

diárias, dedicação dos empregados, melhoramentos na qualidade dos produtos,

processo de tomada de decisão mais eficiente e eficaz, fidelidade do cliente e

melhor desempenho financeiro”.

Leisinger e Schmitt (2002) chamam a atenção a respeito das normas

empresariais, que podem provocar a ilusão que todos os problemas organizacionais

estariam abrangidos por essas regras. As normas empresariais não são vistas como

“guia padronizado para o agir ético” com o qual situações limítrofes ou dilemas éticos

teriam garantia de uma solução definitiva. Tais normas “nunca podem apresentar

mais do que um ‘corredor’ entre o ‘certo’ e o ‘errado’. Na melhor das hipóteses, elas

possuem uma ‘função de bússola’, isto é, podem indicar a orientação, mas não são

capazes de nos fazer encontrar o caminho” (LEISINGER; SCHMITT, 2002, p. 127-

128).

A organização deve estar consciente dos limites dessas normas e

não restringir o programa de ética ao cumprimento das regras. É preciso priorizar o

ser humano como sujeitos possuidores de valores. Para Aguilar (1996, p. 113),

“nenhum programa ético, por mais bem elaborado que seja, pode ter sucesso, se os

indivíduos que dele participam não dão nenhum valor a preceitos éticos básicos”.

Por isso, mais uma vez, o espaço do diálogo na organização é relevante para a

criação de um ambiente favorável ao desenvolvimento organizacional, com base em

preceitos éticos.

Ressalta-se que o diálogo também é imprescindível, como

oportunidade para discussão das deficiências da organização. Desta forma, não se

pode aceitar que as organizações ajam em conformidade com a afirmação de Telles

(2008, p. 3): “as culturas organizacionais não estimulam o diálogo em torno dos

dilemas éticos. As pessoas receiam falar a respeito”. A empresa que já desenvolve

um programa de ética, ou a que pretende desenvolver, precisa estar aberta a essas

questões e ser proativa ao promover amplos debates abordando os diversos

assuntos de interesse da organização, mesmo aqueles “escondidos no tapete”. Tal

atitude demonstrará aos públicos a seriedade da empresa na implantação e gestão

da ética organizacional.

Considerar a ética como um compromisso da organização com

todos os seus públicos, independentemente de avaliar se esse comportamento vai

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gerar lucro ou prejuízo, significa evitar uma atitude isolada e conveniente de cada

indivíduo da organização - o que faz resultar um comportamento ético em toda a

organização e em todos os níveis. A empresa busca a sua legitimidade, ao promover

a convergência entre os objetivos pessoais e os objetivos organizacionais com a

conciliação de seus interesses.

Esta preocupação é necessária porque “as organizações são

sistemas políticos, perpassadas por relações de poder, quase sempre colocando em

lados opostos quem faz as regras e quem as segue” (PASSOS, 2006, p. 77). Essa

relação de poder, que caracteriza a organização, exige que seja feito o alinhamento

dos interesses para sua sobrevivência. Para isso, é preciso promover mudanças,

pois, nas organizações, as decisões são tomadas no nível estratégico, por meio de

análise do ambiente, mas as práticas, por sua vez, são determinadas para os

colaboradores.

Srour (2003, p. 295) alerta que as ordens e as regras “acabam

sendo exigidas do pessoal subalterno, ainda que não constituam necessariamente a

matéria-prima das decisões estratégicas ou que sirvam obrigatoriamente de quadro

de referência para as cúpulas organizacionais” (SROUR, 2003, p. 295). Esta

realidade precisa ser revista no ambiente organizacional, para que toda a

organização possa adotar uma postura ética válida em todos os seus

relacionamentos, que deve começar no nível estratégico.

A sociedade está atenta às atividades organizacionais, e a

credibilidade da organização é ameaçada, quando o discurso ético mostra-se

diferente da prática. Esta visão é compartilhada também por Baumhart (1971, p. 42),

que já alertava a respeito desse assunto.

É útil ter presente a distinção entre o que uma pessoa sabe ou acredita ser ético, isto é, os seus padrões, ideais ou código; e o que uma pessoa faz, isto é, as suas ações. Há frequentemente uma disparidade entre os padrões de uma pessoa e o seu comportamento; usualmente, os primeiros são superiores.

Segundo Srour (2003, p. 305), “as práticas cotidianas e empresarias

não correspondem aos ensinamentos divulgados, por isso mesmo, criam

dissonância cognitiva, à semelhança do velho hiato entre o país formal e o país real,

a norma e o ato, o verbo e o fato”. Para evitar essa discrepância, que afeta a

sobrevivência da organização, é preciso definir formas de implementar o agir ético e

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89

dele não se afastar, sob pena de não ser consolidado o reconhecimento de seus

públicos. Trata-se de definição sincera com fonte no reconhecimento ou nas ações

que servem de destaque para a organização, e não em “ilusórias” estratégias de

marketing que só aparentam, mas não traduzem a realidade de uma postura ética

organizacional.

A organização consegue assegurar a continuidade de um programa

de ética, ao promover periodicamente espaços para as discussões com todos os

colaboradores a respeito do assunto e dos procedimentos adotados pela empresa.

As oportunidades de reflexão possibilitam a incorporação dos valores na cultura

organizacional, tendo em vista a solidificação de uma cultura ética. Para Whitaker

(2009, p. 1), “é a ética dos empresários, dos homens e mulheres de negócios que

imprimirá uma cultura ética à empresa. O dia a dia das empresas refletirá essa

cultura que advém de seus fundadores e das pessoas que eles nomearam para geri-

las”.

A ética organizacional, ao ser tratada com seriedade, envolve

principalmente a valorização do ser humano, ao promover a reflexão ética e crítica

do seu agir, com respeito às suas opiniões e diversidades. A ética envolve questões

sobre o bem e o mal, os códigos de conduta, as políticas e os procedimentos para

direcionar as atividades organizacionais, a formação dos comitês de ética, os

programas de treinamento, que serão implantados para auxiliar a disseminação da

cultura ética em toda a organização, as estratégias de comunicação, sendo que

essas decisões devem ser discutidas com toda a organização.

Todas as ações para implementação da ética organizacional são

válidas, ao contribuir para o desenvolvimento crítico do indivíduo por meio de

espaços que privilegie a sua participação. São impostos limites às metas primárias

de uma empresa, do mesmo modo como ocorre na esfera individual, sempre que a

garantia da existência e a liberdade de ação do outro estejam ameaçadas. “A

empresa também está obrigada à cooperação ou à solidariedade para com as

pessoas, isto é, além do seu próprio interesse, ela deve buscar também o bem

comum” (LEISINGER; SCHMITT, 2002, p. 22).

A empresa precisa cumprir os seus compromissos também com a

sociedade na qual está inserida. É seu dever preservar e contribuir para a saúde e a

segurança de todos os seus públicos, além de assegurar a qualidade do meio onde

vive, pois “não é o lucro como tal, nem o seu valor, o que importa para a análise

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ética, mas sim a maneira de obtê-lo, bem como a justa aplicação situacional do

princípio do lucro” (LEISINGER; SCHMITT, 2002, p. 23). O lucro é a garantia da

sobrevivência e de novos investimentos para a organização; porém, a forma de se

obter esse lucro é que deve estar amparada em parâmetros éticos.

Sobre esse assunto, Morin (2007, p. 25) afirma: “a economia

comporta, claro, uma ética dos negócios, exigência de respeito aos contratos, mas

obedece aos imperativos do lucro, o que leva à instrumentalização e à exploração

de outros seres humanos”. O autor expressa que pode haver ética nos negócios,

mas deixa claro que a prioridade será o lucro e que, para a sua obtenção, costuma-

se esquecer o valor do ser humano, tendo em vista que “a concepção

racionalizadora da natureza humana considerava o homo sapiens como homo faber,

definido pelo instrumental e pela técnica, e um homo economicus, definido pelo

interesse e pelo lucro” (MORIN, 2007, p. 136). A crítica da desvalorização do ser

humano também engloba o Estado, pois Morin (2007, p. 83) afirma que também há

antagonismos na relação entre Estado e os direitos humanos, que estes são

deixados em segundo lugar.

Algumas organizações priorizam o lucro acima de tudo e

acontecimentos atuais como o “escândalo do leite”, os recalls de produtos trazem à

reflexão alguns pontos: o limite que uma organização pode chegar para manter o

seu lucro e colocar em risco a saúde de seus consumidores; se não há outras

organizações que também exercem essas práticas e se apresentam como

“boazinhas”. A postura de organizações que agem de forma antiética também afeta

a credibilidade de outras organizações e de outros produtos. Não se pode aceitar

que práticas antiéticas possam ser consideradas normais porque são habituais ou

constantes, ou porque o brasileiro sempre “dá um jeitinho” para se justificar.

Para Solomon (2000, p. 53), “colocar o lucro antes das pessoas (e

até no lugar delas) é a forma mais comum de desumanização dos negócios”. Daí a

necessidade em esclarecer a alta administração que é possível conciliar um

programa de ética com a atividade lucrativa da empresa. A ética não é sinônimo de

prejuízo, de modo que a organização não pode tratar o assunto ética dissociado do

lucro, com o aparente equívoco de que a existência de um diminui a ocorrência do

outro. Para Passos (2006, p. 273), a ética empresarial é uma opção pelo lucro ético

e virtuoso.

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A organização deve defender seus interesses econômicos, mas a

sua postura torna-se diferenciada, quando também as suas decisões objetivam

valorizar e incentivar os direitos dos cidadãos, contemplar a preservação do meio

ambiente, atender aos projetos que envolvem benefícios sociais e às necessidades

da comunidade, não se esquecendo de considerar as demandas de seus

colaboradores, como forma de reconhecimento por sua dedicação. É preciso um

interesse sincero em primar pelo respeito à pessoa e pela transparência nas ações

da organização. “As organizações devem dedicar à ética o mesmo cuidado

dispensado às questões ditas organizacionais, não só porque ela é condição de

sobrevivência das mesmas, mas porque o ser humano deve ser seu valor maior”

(PASSOS, 2006, p. 73). Desta forma, ao valorizar o ser humano, com respeito às

suas diferenças e às suas necessidades, atribuindo-lhe o papel de sujeito

participante desse processo, a empresa contribui para a dignidade humana.

Quanto à preocupação com o comportamento ético, Alonso,

Castrucci e López (2006, p. 143) referem-se a duas ordens em que se apresenta:

uma de fundo e outra de conveniência. As razões de fundo são, na opinião dos

autores, sem dúvida, as principais. É como se a ética funcionasse como um elixir

que tudo melhora: produzir aprimoramento às pessoas, prepará-las para galgar mais

degraus do seu auto-aperfeiçoamento, melhorar o próprio trabalho, desenvolver

qualidades pessoais e de relacionamento com os colegas. “Não existe

comportamento ético sem qualidade no trabalho. A Ética torna o ser humano íntegro,

coerente e feliz” (ALONSO; CASTRUCCI; LÓPEZ, 2006, p.144). Já as razões de

conveniência são vinculadas à ideia de adotar a ênfase ética, atitude que vem sendo

cada vez mais posta em evidência para a empresa moderna. Assim:

A empresa ética, que atua pelos princípios éticos sociais (respeito à dignidade pessoal, direito de propriedade, primazia do trabalho, solidariedade, princípio da subsidiariedade e primazia do bem comum), recebe o reconhecimento não só de quantos nela trabalham, mas principalmente dos clientes ou consumidores. Recentemente, tem sido comprovado que ela obtém valorização adicional, devido a esse ativo intangível (goodwill), a uma certa tendência ao sucesso e a uma geral diminuição de riscos (ALONSO; CASTRUCCI; LÓPEZ, 2006, p.144).

A organização, ao investir em ética, obtém resultados positivos

porque as suas ações estão voltadas para atingir não somente os objetivos da

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92

empresa, mas também para conciliar os interesses de seus públicos e promover um

ambiente com condições para o agir humano ético. Para Solomon (2000, p. 19), a

ética organizacional “não é uma limitação e sim a precondição de qualquer iniciativa

próspera”. No entanto, não são todas as empresas que estão abertas à implantação

de um programa de ética com a definição de políticas e diretrizes que estimulem

esse comportamento. Desse modo, os prejuízos tornam-se evidentes, afetam o lucro

e até mesmo a sobrevivência da empresa.

A organização, que não se preocupa com o comportamento ético,

terá vantagens momentâneas, porque, ao se envolver em algum escândalo, os

prejuízos são maiores. A divulgação aos seus públicos seja pela mídia, ou por outros

meios, de ações antiéticas provoca o afastamento de seus públicos. É comum

empresas se envolverem em negócios fraudulentos e, após as denúncias, negarem

o conhecimento de tais atitudes, mesmo que isso tenha sido feito por ordem da

própria organização. Outras empresas, com estruturas físicas inadequadas ao

desenvolvimento do trabalho reduzem os seus colaboradores à condição de

semiescravidão. Ainda tem aquelas que exploram o trabalho infantil, que não pagam

preços justos a seus fornecedores, para que ele possa manter as suas atividades

com dignidade, entre tantos outros exemplos. Essas atitudes demonstram que a

organização também não tem respeito pelos seus públicos, independentemente dele

ser ou não afetado pelas ações da organização.

Pfannemüller (2006) reforça a lista de alguns prejuízos à

organização, que tem um comportamento antiético, incluindo a perda da

credibilidade de todos os seus públicos, comprometimento da qualidade dos

produtos e serviços, funcionários desestimulados, perda da confiança de clientes e,

consequentemente, migração de investidores, falta de apoio dos órgãos

governamentais e da comunidade às atividades da organização.

Os efeitos negativos, provocados pela ausência de ética, também,

são expostos por Srour (2003), lembrando que a quebra da confiança coletiva

resulta da perda de reputação empresarial, numa condição sem retorno e

irreversível, que se compara a um acontecimento trágico “que pode assemelhar-se à

trinca que um objeto de cristal sofre, à perda da inocência de uma criança ou à

traição de uma longa amizade” (SROUR, 2003, p. 348). Nos negócios, os impactos

são arrasadores: “vão do estigma ao boicote e à falência”.

Page 94: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

93

Mayordomo (2003) enumera uma série de problemas que podem ser

gerados pelo descaso com uma postura ética na empresa e que provocam a

“desestruturação empresarial”; porém, uma gestão ética gera confiança nos

empregados para com a organização e, consequentemente, com todos os seus

públicos. Defende a formalização de um código de conduta e segue a linha de

raciocínio já exposta pelos autores Leisinger e Schmitt (2002, p. 23) e Passos (2006,

p. 73), quando afirma que “[...] la rentabilidad empresarial no debe de ser nunca

sinónimo de oposición a la ética” (MAYORDOMO, 2003, p. 3),

Os fatores negativos apontados também são utilizados como

justificativa para promover a ética nas empresas, conforme argumenta Formentini e

Oliveira (2007, p. 2): “entre as razões que têm promovido a ética no ambiente

empresarial, destacam-se os altos custos de escândalos nas empresas, acarretando

perda de confiança na reputação da organização, multas elevadas, desmotivação

dos empregados entre outros”. As organizações, no entanto, não podem restringir o

interesse na prática ética somente ao objetivo financeiro, a prática ética precisa estar

alicerçada no compromisso da organização com a prática da ética.

As empresas que investem na gestão ética com diversos objetivos,

inclusive para a obtenção de lucros, pautam suas atitudes em ações que também

visam aos interesses de seus públicos. Isto é comprovado por Ashley (2002, p. 50),

quando salienta: “parece lícito afirmar que, hoje em dia, as organizações precisam

estar atentas não só às suas responsabilidades econômicas e legais, mas também

às suas responsabilidades éticas, morais e sociais”. A sociedade tem cobrado esse

comportamento das organizações, exigindo um compromisso além das suas

responsabilidades em manter o negócio, gerar emprego, investir na comunidade.

A principal justificativa apontada por Sung (1995, p. 67), para o

investimento de ética, é a questão de sobrevivência. As organizações perceberam e

principalmente seus administradores “que a ausência de ética e a simples defesa do

interesse próprio põem em perigo a sobrevivência das empresas, e, portanto, dos

seus próprios empregos; é o instinto de sobrevivência falando mais alto que teorias

aprendidas nas escolas”. Neste caso, todos os integrantes da empresa serão

beneficiados, ao adotar a ética nas práticas cotidianas e na tomada de decisões

para orientar o seu agir.

É preciso ressaltar, mais uma vez, a característica humana da

organização ética, em relação a empresas que utilizam os seus colaboradores como

Page 95: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

94

instrumentos para geração de seus benefícios econômicos. Desta forma, há

concordância com a afirmação de Passos (2006, p.95):

não é ético o modelo de empresa que apenas usa os seres humanos como recursos, um tipo de objeto sem vontade nem direito de participar. A empresa, sem dúvida, precisa ser sólida, produtiva e lucrativa, precisa desenvolver-se desde que promova ao mesmo tempo o desenvolvimento dos seres humanos.

A empresa que prioriza o comportamento ético verifica o retorno de

suas ações no relacionamento com os seus públicos, que contribui para a

manutenção do seu funcionamento e pela conquista da reputação corporativa. Para

Arruda, Whitaker e Ramos (2003, p. 60), “a conduta ética gera uma visão de

perspectiva que provoca um natural desejo de antecipar-se, de ter iniciativas para

atender às necessidades da empresa e das pessoas que nela convivem, como fruto

de sua sensibilidade ética”. Com isto, a empresa ganha idoneidade, fortalece a

marca corporativa, seus produtos e seus serviços, contribui para um ambiente de

satisfação aos funcionários, mantém os clientes fiéis, proporciona novas parcerias,

estimula novos investimentos e garante a sobrevivência e a lucratividade da

organização.

Camargo (2006, p. 89) reforça que, se as pessoas forem éticas, a

sociedade será “permeada de ética no mercado, no comércio, nas relações de

trabalho, na política econômica, no meio ambiente, no marketing e propaganda, nas

vendas, na relação com o consumidor, nas finanças, na informação, no crédito, etc.”

Percebem-se as inúmeras vantagens de que a organização passa a desfrutar, ao

inserir a ética nos seus relacionamentos.

Seguindo a mesma linha de raciocínio, Aguilar (1996, p. 22) ressalta

que a empresa ética irá se beneficiar, ao fortalecer os relacionamentos com os seus

colaboradores, com os seus clientes, com os seus acionistas e demais públicos, por

meio da adoção de condutas adequadas, sendo o maior benefício estimular e gerar

relações de confiança e de respeito mútuo entre a organização e os seus públicos.

Diante do exposto, percebe-se as inúmeras vantagens em

desenvolver e aplicar a ética nas organizações. Para tanto, busca-se a base nas

teorias éticas já descritas anteriormente, como forma de conhecimento a respeito da

aplicação das correntes éticas nos programas de gestão da ética organizacional.

Page 96: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

95

4.3 ALGUMAS CORRENTES ÉTICAS APLICADAS À ÉTICA ORGANIZACIONAL

No capítulo anterior, foram descritas diversas correntes éticas, com

base na teoria de alguns filósofos selecionados, sem abordar especificamente as

aplicações dessas teorias nas organizações. Pretende-se aqui, apresentar a visão

de alguns autores da área de ética organizacional a respeito do emprego de

algumas correntes éticas no contexto organizacional.

Srour (2003) adota a mesma classificação de Weber: a ética da

convicção e a ética da responsabilidade. Leisinger e Schmitt (2002, p. 166) também

seguem a mesma linha de pensamento de Weber e diferenciam a ética dos

princípios e a ética da responsabilidade com a aplicação no contexto empresarial.

Entendem que a ética dos princípios é governada exclusivamente pela pureza da

própria intenção, independentemente das possíveis consequências. Já a ética da

responsabilidade leva em conta todas as consequências práticas e as incorpora na

decisão.

No ambiente empresarial, a ética da responsabilidade preocupa-se,

portanto, com todos os efeitos causados pelas ações da organização, enquanto que

a ética dos princípios está focada na aplicação dos seus conceitos que “pode ser

equiparada a uma ética de resultados comerciais de curto prazo, que ‘santifica’ todos

os meios que contribuem para o apurado” (LEISINGER; SCHMITT, 2002, p. 166).

Já Srour (2003, p. 140) defende a utilização da ética da

responsabilidade, por considerá-la uma “ética situacional, aberta, cética e

condicional, em busca do ’horizonte possível’ de cada época, moldada pelas

análises de risco e precariamente estribada em certezas provisórias, sujeita à

dinâmica dos costumes e do conhecimento”. É preciso ficar claro que a ética da

responsabilidade, por possibilitar essa “abertura”, pode servir a interesses obscuros

que serão justificados pela sua flexibilidade e pelas circunstâncias.

Morin (2007, p. 82), que também aborda a contradição entre as duas

teorias éticas, alerta para tal fato: “[...] com efeito, uma responsabilidade desprovida

de convicção seria puro oportunismo e se tornaria irresponsável; uma convicção sem

responsabilidade conduz à impotência ou aos fracassos que indicamos na ecologia

da ação”. Ao se analisar a aplicação da teoria da convicção ou da responsabilidade,

defende-se a coexistência das duas teorias, proposta também confirmada por Morin

Page 97: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

96

(2007, p. 82), ao citar que há possibilidade de diálogo entre a ética da

responsabilidade e da convicção, “a partir do momento em que há convicção para

assumir a responsabilidade e responsabilidade para salvaguardar sua convicção”

(MORIN, 2007, p. 85).

Solomon (2000, p. 20), defensor da ética das virtudes, afirma que

“as virtudes fornecem os fundamentos da vida ética e do sucesso nos negócios”.

Enfatiza que, na maioria das vezes, é construída uma ideia errônea do mundo dos

negócios, e afirma que os valores não estão desvinculados dos negócios, que se

manifestam como virtudes pessoais. Solomon (2000, p. 113-164) construiu o

catálogo das virtudes com base em Aristóteles, tendo em vista que o mundo dos

negócios incorporou determinadas virtudes, por uma questão de sobrevivência e

manutenção no mercado.

As virtudes consideradas as mais relevantes no mundo empresarial

são a honestidade, a justiça e a credibilidade. “São essas as virtudes que conferem

poder, que tornam o negócio possível. Nenhum negócio, nenhuma sociedade pode

prescindir disso” (SOLOMON, 2000, p. 111). O autor explica que a integridade é

formada pela união das três virtudes, que “... não é uma característica isolada nem

uma virtude única, e sim a união das virtudes. E, entre elas, devemos destacar a

honestidade, a justiça e a credibilidade”.

Estilo ético Descrição

Limitado pela regra Baseado em regras e princípios.

Utilitário Baseado nas consequências.

Profissional Baseado na profissão, na instituição e na sua reputação.

Leal Baseado na lealdade à empresa.

Virtuoso Baseado no reflexo da ação sobre o caráter da pessoa.

Intuitivo Baseado na consciência, mesmo sem deliberação, argumento ou

razões.

Empático Baseado no outro. Seria o “colocar-se no lugar do outro”.

Quadro 6 – Os sete estilos éticos

Fonte: Adaptado de Solomon (2000, p. 167).

Page 98: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

97

Solomon (2000, p. 167) apresenta algumas diferentes formas de ser

ético. Cada um de seus sete estilos éticos levará em consideração aspectos

diferentes, conforme Quadro 6. A razão de haver tantos conflitos pode ser explicada

pelas diferenças existentes em cada estilo. Percebe-se, pela descrição de Solomon

(2000), que cada indivíduo seguirá um estilo; porém, a definição de determinado

estilo será influenciada de maneiras diversas como a cultura organizacional, a

liderança, as pressões exercidas pela organização entre outros fatores.

Ferrel, Fraedrich e Ferrel (2001, p. 52), na abordagem sobre ética

empresarial, apresentam a descrição de algumas teorias aplicadas nas decisões

empresariais, conforme Quadro 7.

Teoria

Descrição

Teleologia Afirma que os atos são moralmente certos ou aceitáveis, se

produzirem um resultado desejado, como a realização de interesse

próprio ou utilidade.

Egoísmo Define como ações certas ou aceitáveis aquelas que maximizam o

interesse particular do indivíduo, da maneira por ele definida.

Utilitarismo Define ações certas ou aceitáveis como aquelas que maximizam a

utilidade total ou o maior bem para o maior número de pessoas.

Deontologia Concentra-se na preservação dos direitos do indivíduo e nas

intenções associadas a um comportamento particular, e não em suas

consequências.

Relativismo Avalia subjetivamente a natureza ética, com base nas experiências

do indivíduo e do grupo.

Ética da virtude Pressupõe que o que é moral, em uma dada situação, não é apenas

o que a moralidade convencional exige, mas também o que a pessoa

amadurecida, de “bom” caráter moral, consideraria apropriado.

Justiça Avalia a natureza ética com base na equidade: distributiva,

processual e no que interessa a inter-relações.

Quadro 7 - Comparação das filosofias aplicadas em d ecisões empresariais.

Fonte : Ferrel; Fraedrich e Ferrell (2001, p. 52).

Como já foi enfatizado, não se pretende recomendar a adoção de

determinada teoria em detrimento da outra. Neste contexto, apresenta-se a

descrição de alguns estudos a respeito da aplicação prática da ética organizacional

nas organizações, com o intuito de ilustrar as várias realidades organizacionais.

Page 99: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

98

4.4 ALGUNS ESTUDOS PRÁTICOS DA ÉTICA ORGANIZACIONAL

O estudo realizado por Pfanemüller (2006) aborda conceitos de ética

empresarial e a inserção da ética na gestão das organizações. A autora considera

que o investimento em gestão ética gera confiança e credibilidade à organização e

conclui que o “papel social representado pelas organizações empresariais está além

de suas responsabilidades econômicas e financeiras” (PFANEMÜLLER, 2006, p.

81). Ao relatar o estudo de caso aplicado no BankBoston, destaca a necessidade do

comprometimento e do envolvimento das lideranças na implantação da gestão ética.

Defende que a cultura ética precisa ser incorporada à cultura organizacional.

No artigo “Gestión Integral de la RSE: El caso de Novartis en

España”, Fontrodona (2004) relata o processo de implantação da ética e da

responsabilidade social empresarial na Novartis. O autor apresenta algumas lições

práticas dessa experiência que devem ser consideradas: para uma gestão ética, é

necessário o envolvimento da alta direção, por causa das mudanças que a

implantação poderá exigir, com o objetivo de evitar a dicotomia entre a prática do

cotidiano e o discurso institucional. São de vários tipos, as razões que motivam uma

empresa a implantar políticas éticas e de responsabilidade social; no entanto, é

imperativo valorizar os princípios de tais ações e não somente as vantagens

competitivas provocadas por tais práticas. A primeira responsabilidade da empresa é

cumprir o seu papel de oferecer produtos e serviços úteis à sociedade e que

beneficiem todos os envolvidos na organização; a implantação de uma gestão ética

deve se dar de forma gradual, com a formalização em documentos da postura da

empresa, em relação ao assunto, e incentivo dado a outras iniciativas, como

promoção de treinamentos, programas de comunicação até se chegar a auditorias e

certificações; é relevante que a ética seja percebida e vivida no dia a dia das

pessoas que pertencem à organização.

O estudo desenvolvido por Licht (1996) tem a intenção de medir a

ética nas organizações. O autor apresenta a aplicação do modelo conceitual sobre o

nível de desenvolvimento moral organizacional proposto por Petrick & Wagley, para

criar um instrumento que possibilite obter o nível ético da organização, também,

chamado de “nível moral modal” praticado pela organização. Essa pesquisa empírica

Page 100: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

99

demonstra como a conduta ética é praticada, utilizando-se a avaliação dos

comportamentos da organização, a partir dos níveis morais (LICHT, 1996, p. 12).

NÍVEIS DESCRIÇÃO 1º Darwinismo Social O receio da extinção e a urgência de sobreviver

financeiramente ditam a conduta moral. O emprego direto da força é a norma aceita.

2º Maquiavelismo Os ganhos da organização guiam suas ações. Atingir sempre os objetivos justifica o emprego de qualquer meio eficaz, inclusive da manipulação de pessoas.

3º Lealdade com a Autoridade Direções de uma autoridade legítima determinam os padrões morais da organização. O certo e o errado estão baseados nas decisões daqueles que possuem poder hierárquico.

4º Conformidade Há uma tradição de procedimentos operacionais padronizados. A pressão dos pares, para aderir às normas sociais, dita o que é comportamento certo ou errado.

5º Participação Democrática A participação na tomada das decisões e a confiança nas regras da maioria tornam-se padrões morais da organização.

Integridade baseada em princípios

Justiça e direitos individuais são os ideais morais. Julgamento equilibrado entre interesses conflitivos forma o caráter da organização, o que, por seu turno, determina os comportamentos corretos e incorretos.

Quadro 8 - Níveis de desenvolvimento moral

Fonte : Elaborado pela autora, com base em Licht (1996, p. 74-75).

Licht (1996, p. 74-75) resume os seis níveis de desenvolvimento

moral do modelo conceitual de Petrick & Wagley, conforme Quadro 8. Percebe-se,

pela descrição do quadro, que, ao assumir uma postura de participante ativo e

exercer a sua autonomia de sujeito na organização, o indivíduo passa a ocupar os

níveis mais elevados de desenvolvimento moral. Neste patamar, suas decisões são

baseadas na reflexão crítica, considerando as consequências das ações e sua

relevância no contexto organizacional. Entretanto, ao observar as organizações,

percebe-se que algumas concentram seus esforços não no desenvolvimento do

nível moral dos seus colaboradores, mas na manutenção dos menores índices, por

ser mais fácil gerenciar pessoas que são contratadas somente para executar as

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100

tarefas e não para pensar, inclusive, esta expressão é bastante utilizada no meio

organizacional. Outra constatação que precisa ser verificada é que o

desenvolvimento moral varia de setor para setor, ou seja, alguns setores terão na

média baixos níveis.

Os procedimentos adotados para a construção do instrumento de

avaliação de comportamentos morais são descritos, por Licht (1996), a partir de

indicadores definidos por meio de análise e classificação feitas por especialistas,

tomando como base o modelo conceitual de Petrick e Wagley. O estudo não

apresenta a aplicação do instrumento para avaliação de sua viabilidade. Entretanto,

percebe-se que quanto maior for o desenvolvimento do nível ético da organização,

maior deverá ser o envolvimento e a participação dos seus integrantes na definição

do comportamento ético da empresa, conforme já foi justificado anteriormente.

O estudo de Arruda e Navran (2000) foi aplicado em empresas

brasileiras do setor industrial com base no modelo de Navran, cujo princípio básico é

o de congruência ou consistência. Ou seja, há maior eficácia nas pessoas e nas

organizações, quando se verifica congruência entre ambas, do ponto de vista de

valores e crenças sobre como o trabalho deve ser executado. A mesma congruência

também deve ocorrer, quanto à percepção de expectativas e exigências da

organização em obter sucesso. Arruda e Navran (2000, p. 28) chamam esse

conjunto de expectativas requeridas e percebidas de clima ético. Para Ferrel,

Fraedrich e Ferrel (2001, p. 99), o clima ético abrange “fatores como os códigos de

ética da organização, as medidas tomadas pela alta administração, quando surgem

questões ligadas à ética, as diretrizes éticas, a influência de colegas e a

oportunidade de praticar conduta condenável”.

O instrumento de mensuração proposto por Navran (ARRUDA;

NAVRAN, 2000, p. 28-33) apresenta os seguintes indicadores, conforme Quadro 9:

1) sistemas formais; 2) mensuração; 3) liderança; 4) negociação; 5) expectativas; 6)

consistência; 7) chaves para o sucesso; 8) serviço ao cliente; 9) comunicação; 10)

influência dos pares; e 11) consistência ética. Este último indicador foi acrescentado

para realização dos estudos no Brasil.

A aplicação dos indicadores de clima ético no Brasil foi realizada em

20 indústrias manufatureiras, sendo que cinquenta funcionários de cada organização

foram avaliados por meio do questionário do Modelo de Navran, no qual, foram

atribuídos pontos de zero a sete. Os resultados demonstraram que, na média dos

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101

valores apresentados pelos respondentes, nenhuma empresa atingiu o índice de

excelência de clima ético (6,0 a 7,0 pontos); a grande maioria atingiu o nível médio

(4,0 a 5,0 pontos) e uma empresa ficou no patamar do inaceitável (1,0 a 3,0 pontos).

Os indicadores que atingiram níveis acima da média geral de 5,0 pontos foram,

nesta ordem: indicador 8: serviço ao cliente – 5,5 pontos; indicador 4: negociação,

indicador 6: consistência e indicador 9: comunicação – 5,2 pontos; indicador 7:

chaves para o sucesso – 5,1 pontos; indicador 5: expectativas e indicador 11:

consistência ética – 5,0 pontos.

INDICADORES MEDIDAS 1. Sistemas formais Regras e manuais?

Sistemas de controle? 2. Mensuração Sistemas de avaliação? 3. Liderança Políticas escritas e mensagens? 4. Negociação Acordos? 5. Expectativas Sistemas de seleção, promoção e correção? 6. Consistência Palavras e ações da organização? 7. Chaves para o sucesso Lançamento de produto?

Auxílio a um mentor? Experiência em posições-chave?

8. Serviço ao cliente Contato com clientes? Manifestação de cortesia? Treinamentos?

9. Comunicação Comunicação de regras? Informação, orientação e reforço? Esclarecimento de dúvidas? Rapidez, precisão e punição em relação ao cumprimento das normas?

10. Influência dos pares Sistema informal de comunicação e educação? Apoio dado aos colegas? Apoio recebido dos colegas?

11. Consistência ética Relações pessoais? Assédio sexual? Uso dos ativos da empresa? Pagamentos facilitadores?

Quadro 9 – Indicadores e medidas de clima ético

Fonte : Arruda e Navran (2000, p. 33).

Apesar de o indicador comunicação apresentar-se acima da média,

pode não ser suficiente esse reconhecimento de sua importância: é relevante

Page 103: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

102

repensar o seu papel na implantação ou manutenção de uma gestão ética, uma vez

que a comunicação, além da tarefa de realizar a troca de informações e produzir o

relacionamento interpessoal, tem a função de disseminar as ações e os valores

éticos a todos os públicos da organização. Esta visão coincide com a proposta de

Aguilar (1996), que relaciona, no processo de implantação da ética, como

indispensáveis, a decisão e participação da alta administração, a definição dos

objetivos, o ajuste dos procedimentos organizacionais e também a comunicação e

participação de todos os envolvidos.

Arruda (2002, p. 7) enfatiza que, mesmo os funcionários envolvidos

e motivados “para viver o exposto no Código de Ética e para manter o clima ético da

organização, na realidade, parece fazer falta um programa de comunicação ética

que os ajude a lembrar a importância da conduta ética”. A empresa precisa

comunicar de forma eficaz as suas regras a todos os integrantes da organização,

para evitar interpretações errôneas a respeito de assuntos éticos e, ao mesmo

tempo, incentivar a comunicação, como possibilidade de discussão de assuntos que

ficam “à margem” da empresa. A comunicação, como estratégia para reforçar os

padrões éticos da organização, gera um clima estável de relacionamento, ao

esclarecer aos funcionários qual deve ser o seu comportamento, como

representante e integrante da organização, e mostrar aos outros segmentos de

públicos a relevância da ética.

Os profissionais de comunicação organizacional e relações públicas

desenvolvem papel estratégico, ao administrar esses relacionamentos, em busca da

conciliação dos interesses das organizações e também de seus públicos. Cabe a

esses profissionais, a missão de sensibilizar a organização de que a ética influirá

nos lucros a longo prazo, que a ética interfere na reputação corporativa e que a

adoção de políticas que privilegiem e incentivem a ética organizacional torna-se um

negócio vantajoso à organização e aos seus relacionamentos.

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103

5 ÉTICA NOS RELACIONAMENTOS: CONTRIBUIÇÕES DE RELAÇ ÕES

PÚBLICAS E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL

Postula-se a ética estabelecida numa relação interdisciplinar com as

relações públicas e com a comunicação organizacional. O papel do profissional da

comunicação está em saber o que comunicar e como comunicar o relevante aos

indivíduos que possuem relacionamentos com a organização. A ética se dá e se

constrói nos relacionamentos da organização com seus públicos e nos processos

comunicacionais e organizacionais, razão precípua da atuação de relações públicas

e, também, de comunicadores organizacionais.

Aborda-se, neste capítulo, o papel dos profissionais de comunicação

organizacional e relações públicas no contexto organizacional que incentiva a gestão

da ética organizacional. Discute a necessidade da ética nos relacionamentos e,

também, da postura ética dos profissionais envolvidos nesse processo e finaliza com

alguns estudos da ética organizacional, que demonstram os benefícios de uma

parceria da organização com as áreas de comunicação e de relações públicas, no

processo de gestão estratégica da ética organizacional.

5.1 CONTEXTOS DE RELAÇÕES PÚBLICAS E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL

A definição de Kunsch (2009, p. 55) esclarece, ao mesmo tempo, a

interface e a diferença entre comunicação organizacional e relações públicas.

Enquanto a comunicação organizacional pode ser definida “como um fenômeno que

ocorre nas organizações com toda uma complexidade de processos”. As Relações

Públicas desempenham a função mediadora entre organização e públicos, utilizando

a comunicação na gestão de todos os processos. A comunicação organizacional no

Brasil tem enfoque diferente de outros países, surge como alternativa à abordagem

das relações públicas (REIS, 2009; KUNSCH; NASSAR, 2009; PUTNAM; CASALI,

2009). As atividades de relações públicas e de comunicação organizacional são

consideradas complementares neste trabalho, tendo em vista que, mesmo com

conceituação diversificada, elas coexistem no espaço organizacional num processo

Page 105: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

104

constante de diálogo entre as duas áreas (KUNSCH, 2009, p. 55). Há intenção de

esclarecer alguns conceitos sem uma discussão aprofundada das diferenças, das

interfaces, entende-se que a prática das duas atividades traz contribuições às

organizações, sem se preocupar em defender a relevância de uma em detrimento da

outra.

O papel das relações públicas está envolvido em construir políticas

de comunicação com responsabilidade social e que esta ação, juntamente com a de

promover abertura de canais efetivos de diálogo, comporão as condições

indispensáveis para viabilizar o processo interativo e as mediações entre as

organizações e seus públicos, a opinião pública e a sociedade em geral (KUNSCH,

1999, p. 181). Neste sentido, “a negociação é o instrumento básico para o

relacionamento harmônico e eficaz. Seu exercício contínuo, em todos os níveis, é

que vai dar consistência e caráter à gestão participativa e à democracia na empresa”

(MATOS, 2008, p. 109).

Simões (2001) defende, como objetivo de relações públicas,

colaborar para o cumprimento da missão da organização, e entende que “a

consecução da missão implica decisões, de acordo com premissas técnico-político-

econômicas, que levem a ações eficazes” (SIMÕES, 2001, p. 50). A função política é

descrita como “a filosofia, as políticas e as ações inter-relacionadas que, sob o

enfoque de relações de poder/comunicação, visam à consecução da missão

organizacional” (SIMÕES, 2001, p. 51). O autor acrescenta esta função ao

subsistema organizacional e proclama como atividade de relações públicas “a

gestão da função organizacional política a fim de obter a cooperação dos públicos,

para a consecução da missão organizacional” (SIMÕES, 2001, p. 63).

Nassar (2007, p. 34-35) destaca o novo papel das relações públicas

como “protagonistas importantes da estruturação das políticas das empresas e

instituições” e não como uma das áreas da comunicação. França e Freitas (1997, p.

85) compactuam com essa visão ao descrever as atribuições do profissional, no

contexto global e específico da atuação de cada empresa, como: “[...] o

intermediador, o administrador dos relacionamentos institucionais e de negócios da

empresa, com seus públicos internos e externos, segundo princípios operacionais,

mercadológicos e éticos”. Os relacionamentos serão a preocupação constante dos

profissionais de relações públicas e de comunicação organizacional.

Page 106: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

105

O relacionamento é entendido, conforme França (2009, p. 214),

como “o ato ou efeito de relacionar – (se); capacidade em maior ou menor grau de

manter relacionamentos, de conviver bem com os outros, de estabelecer vínculos

oficiais, permanentes ou não, com objetivos bem definidos”. A empresa implanta um

serviço de relações públicas e de comunicação estratégica porque está preocupada

em melhorar o relacionamento com todos os seus públicos e alcançar resultados

favoráveis em seus negócios. A atuação, apoiada por essa estrutura, será bem

sucedida, se houver a identificação dos públicos da organização de forma coerente,

se o planejamento das relações com esses públicos abranger todas as suas

demandas e as suas necessidades comunicacionais, visando alcançar os objetivos

pretendidos pela organização e a cooperação dos públicos.

Segundo França (2009, p. 222), “para configurar os relacionamentos

corporativos, é necessário lembrar que eles provêm das e se ligam diretamente a

diretrizes organizacionais, tais como visão, missão, objetivos, valores, cultura e

estratégias de curto, médio e longo prazos”. Grunig (2009, p. 95) apresenta quatro

indicadores da qualidade de relacionamentos organização-público: reciprocidade de

controle, confiança, satisfação, compromisso e acrescenta o quinto elemento –

relacionamento de troca versus compartilhado - que estabelece o tipo de

relacionamento a ser alcançado. O relacionamento de troca também ocorre, mas o

mais indicado é o relacionamento compartilhado porque estabelece uma relação de

benefícios mútuos, além da possibilidade de contribuir para o aumento dos outros

indicadores de relacionamento.

Para Ferrari (2008, p. 85), “relações públicas deve estar centrada na

sua função de legítima interlocutora e gestora das políticas corporativas de

relacionamentos simétricos, que têm por alvo contribuir de maneira efetiva para o

sucesso dos negócios”. Neste contexto, as relações públicas devem desempenhar

papel estratégico na tomada de decisão das organizações, ao definirem políticas

organizacionais que priorizam o comportamento ético nos seus relacionamentos.

Para Marchiori e Oliveira (2009, p. 673), como as organizações

estão cada vez mais focadas em garantir a credibilidade de suas ações e a

legitimidade de seus negócios, a ética passa a ser a base na tomada de decisão.

Esta preocupação demonstra uma oportunidade nos estudos da comunicação

organizacional. Almeida e Nunes (2007, p. 262) ressaltam também o papel

estratégico da comunicação no contexto organizacional e a necessidade de

Page 107: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

106

participação dos profissionais no processo decisório. “[...] A Comunicação

Organizacional só é eficaz, se for reconhecida e sustentada pela alta administração,

como uma área estratégica para a gestão da organização, alinhada aos objetivos e

metas organizacionais”. A postura estratégica do profissional contribui para o

reconhecimento tanto da profissão como da atividade de comunicar e se relacionar

com os públicos.

O papel dessa atividade, como articuladora da comunicação, só será

desempenhado de forma plena, se conseguir conquistar a confiança de todos os

públicos da organização, em benefício dos interesses coletivos. É evidente que os

profissionais jamais poderão colocar como prioridade os seus interesses pessoais

em detrimento dos interesses dos públicos com que lida. Para Kunsch (2003, p. 14):

As organizações devem ter entre os objetivos de comunicação o de buscar o equilíbrio entre os seus interesses e os dos públicos a elas vinculados. Esses objetivos só serão alcançados, se a comunicação for planejada de forma estratégica, utilizando técnicas de relacionamentos e meios específicos, devidamente selecionados, e integrando todas as atividades comunicacionais, dentro de uma filosofia de comunicação organizacional integrada.

A comunicação organizacional proporciona interações com outras

atividades, para viabilizar os negócios da organização. É evidente que o profissional

de relações públicas está inserido nesse contexto, como gestor dos

relacionamentos, com o intuito de “concretizar ações que visam promover

oportunidades de encontro, diálogo e negociação entre atores sociais” (OLIVEIRA;

PAULA, 2005, p. 7). A forma de estabelecer ou manter os relacionamentos entre a

organização e os seus públicos passa a ser o desafio dos profissionais de relações

públicas, “na busca de condições favoráveis para conseguir compreensão e apoio

da opinião pública e para manter um permanente clima de ‘negócios’ na interação da

empresa com seus diferentes públicos” (FRANÇA; FREITAS, 1997, p. 85).

Ao dispor da função de estimular e ampliar o diálogo, para permitir

que os anseios de seus públicos sejam ouvidos e sejam atendidos, as atividades de

relações públicas e de comunicação organizacional possibilitam a construção de

relacionamentos efetivos e duradouros que criam o vínculo com a organização. A

atuação junto à alta administração envolve desde a disponibilização de canais de

comunicação com todos os públicos, num processo de compartilhar contínuo, até o

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107

gerenciamento de todo o relacionamento que a organização precisa estabelecer

para se manter atuante no mercado. O objetivo de relações públicas é conduzir a

comunicação organizacional “tanto no nível do entendimento, como na persuasão

nos negócios. O ponto de partida é a criação de uma filosofia global, corporativa e

integrada de comunicação, para orientar e dar sentido a todos os relacionamentos

organizacionais” (FRANÇA; FREITAS, 1997, p. 85).

Os públicos devem ser priorizados, em qualquer ação da

organização, razão pela qual a postura ética deve estar presente na gestão da

organização. É impossível pensar num planejamento de comunicação e estratégico,

sem se preocupar com assuntos da ética. Porém, o retorno do investimento será

muito maior, porque a empresa não precisará, no futuro, arcar com uma série de

prejuízos que podem ser gerados, ou ter que “corrigir” algo que está feito, por uma

atitude mal pensada no momento anterior. Toda a empresa precisa se preocupar em

implantar mudanças reais na sua postura e não simplesmente “camuflar” os

problemas apontados pelos seus públicos com soluções artificiais, como forma de

conquistar a confiança ou como estratégia para “vender” o produto ou o serviço.

Sob o ponto de vista de Freitas (1997, p.37), o tratamento da

comunicação, em âmbito interno, produz reflexo no relacionamento da organização

no âmbito externo. A comunicação, desse modo, é item estratégico e necessita da

ajuda de relações públicas, “fazendo com que as organizações conheçam primeiro a

si próprias, para, a seguir, melhor se comunicarem com seus públicos externos”

(FREITAS, 1997, p.37). Esse conhecimento interno também será necessário, no

processo de implantação e gestão da ética organizacional.

5.2 PAPEL DE RELAÇÕES PÚBLICAS E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL

“O Brasil chegou ao nível mais baixo da história, em termos de nível

ético” (HUMBERG, 1993, p. 3). Esta afirmação de 1993 continua a inquietar no

momento atual. Para sustentá-la, Humberg apresentava, em seu texto, uma reflexão

sobre a ética organizacional e relatava alguns episódios repletos de problemas

éticos, tais como suborno e corrupção. Alguns anos se passaram e os problemas

mencionados ainda continuam ganhando cobertura da mídia. Em sua conclusão, no

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108

entanto, Humberg não deixa de apontar que isto pode ser mudado: “podemos

inverter a atual crise brasileira, adotando normas éticas pessoais e profissionais, e

colaborando para que as organizações, para as quais trabalhamos, tenham códigos

de ética organizacional que sejam efetivamente cumpridos” (HUMBERG, 1993, p. 3).

Neste contexto, defende-se que os profissionais de relações

públicas e de comunicação organizacional podem desempenhar função decisiva na

promoção dessas mudanças organizacionais, por meio da sensibilização da

organização e de seus dirigentes a respeito da inserção de ética organizacional nas

atividades empresariais. Cabe a eles, com a utilização da comunicação e de seus

processos, demonstrar que a ética organizacional favorece a criação e a

manutenção da reputação da organização que a representa e a auxilia no

cumprimento de todas as suas responsabilidades quanto aos relacionamentos com

os públicos da organização.

É preciso estudar, analisar e avaliar o ambiente estratégico, no qual

a empresa está inserida, com o objetivo de conhecer os diversos interesses

presentes, visando à conciliação dos interesses para interação com os públicos

(FORTES, 2003, p. 21). Não basta simplesmente definir de forma adequada a

abordagem dos públicos, a mensagem que será transmitida e os canais de

comunicação. A empresa precisa buscar “uma interação com seus públicos,

medindo o entendimento e a aceitação de suas atitudes passo a passo. Para isto e

por isto, esta postura moderna de abertura de canais facilitadores e dinamizadores

do feedback” (GIANGRANDE, 1997, p. 190), que possibilita uma aproximação maior

da organização com os seus públicos, para atender aos seus interesses e às suas

demandas, principalmente, na construção de relacionamentos éticos.

Com essa preocupação, fez-se um levantamento a respeito das

discussões que envolvem o tema ética e os profissionais de relações públicas e de

comunicação organizacional. Na pesquisa bibliográfica realizada para este estudo,

constatou-se que há reduzida bibliografia nacional que aborde especificamente a

relação entre ética e o papel de relações públicas, na função de promotora e

incentivadora dessa prática junto às organizações. Barros Filho (2007) confirma essa

“lacuna” em relações públicas e, também, em publicidade e salienta que muitos

estudos estão voltados ao jornalismo.

Os autores Day, Dong e Robins (2001), apesar de estarem

avaliando a realidade americana, afirmam que é dada pouca atenção às questões

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109

de ética em relações públicas. Esta carência não se aplica somente às relações

públicas, mas também aos estudos de ética e comunicação organizacional.

Ressalte-se que não se está aqui afirmando a inexistência de trabalhos, que levam

em conta posturas éticas. O que se busca, neste estudo, são abordagens que falem

especificamente do apoio à empresa, na adoção de posturas éticas, realizado pelos

profissionais de comunicação organizacional e Relações Públicas. Os autores

existentes, nestas áreas, apresentam estudos significativos que serão descritos a

seguir.

Meucci e Barros Filho (2007) abordam a investigação realizada com

cento e trinta e três CO - comunicadores organizacionais (relações públicas,

administradores, jornalistas e publicitários), a fim de verificar as questões éticas que

envolvem o discurso da neutralidade e da transparência. Constataram que “ética e

transparência são comentadas exaustivamente pelos profissionais de CO, quando

falam sobre sua práxis, seu discurso de autodefinição” (MEUCCI; BARROS FILHO,

2007, p. 120). Os autores enfatizam a impossibilidade de sustentar o discurso da

transparência, pois ela “pressuporia não só revelar tudo, mas também revelar para

todos. Livre acesso”. Além disso, questionam o termo verdade que, inicialmente, no

discurso dos comunicadores organizacionais, aparece no sentido de realidade, e

constatam que “os discursos sobre a transparência, ou de imparcialidade, são

inseparáveis dos espaços sociais onde são concebidos, assim, como o conceito de

verdade” (MEUCCI; BARROS FILHO, 2007, p. 126).

Humberg (2006) aborda a relação ética organizacional e relações

públicas. Primeiro, contextualiza o termo ética no ambiente empresarial, depois,

justifica o trabalho de relações públicas nesse contexto: “seu primeiro passo é

desenvolver programas que tornem viável a implantação da ética organizacional, de

forma coerente e consistente” (HUMBERG, 2006, p. 84). Conforme o autor, a ética

organizacional será uma nova área de atuação dos profissionais de relações

públicas: “a criação, o desenvolvimento, a implantação e o gerenciamento de

programas de ética são um desafio fascinante [...], particularmente, para os relações

públicas, porque envolvem praticamente todas as técnicas e ferramentas do setor”

(HUMBERG, 2006, p. 87).

Em outro artigo, Humberg (2008, p. 97), ao relatar a respeito das

diferentes formações dos responsáveis pelo processo de implantação e gestão da

ética organizacional, afirma que “[…] nas organizações em que tive a oportunidade

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110

de trabalhar, os profissionais de Comunicação Organizacional e Relações Públicas

não faziam parte das Comissões de Ética”. O autor justifica tal fato pela maneira

como os administradores veem esses profissionais, pois “a maior parte dos

dirigentes empresariais ainda encara esses assessores, como capazes de encobrir

problemas, enfeitar situações ou manipular informações” (HUMBERG, 2008, p. 98).

Esta afirmação traz à tona a possibilidade de duas versões sobre o assunto: a visão

deturpada da profissão pelos contratantes e a prática antiética de alguns

profissionais. Na primeira versão, tem-se como solução o esclarecimento e a

demonstração da função de relações públicas aos dirigentes e, na segunda, a

mudança de conduta dos profissionais que se submetem as práticas inadequadas,

por qualquer motivo.

Sempre houve uma preocupação em estabelecer que a atividade de

relações públicas deve primar pelo comportamento ético em todas as suas

atividades. Segundo Simões (2001, p. 97), relações públicas é ética: quem

eventualmente burla o código de ética de uma área ou profissão é a pessoa, de

modo que isso “não significa que à atividade [de relações públicas] em si

corresponda isso. Ela, em sua essência, é ética. Os pecados, a corrupção da ação

ética estão nos profissionais e isso ocorre, em qualquer atividade, por mais que

esteja institucionalizada” (SIMÕES, 2001, p. 97).

Com relação à postura ética, Simões (1995, p. 221) declara que os

“desvios éticos” podem ser de duas naturezas: 1) decisões conscientes e

intencionais – localizam-se no nível da função organizacional e produzem ações e

resultantes prejudiciais aos direitos dos públicos, e com isso o bem comum é

solapado e a legitimidade não é considerada. 2) situações em que o profissional

manipula os públicos, fazendo uso dos instrumentos de comunicação, suprime e

altera fatos ou parte deles e também quando alicia esses públicos para posições

futuras desfavoráveis.

Para Simões (1995, p. 221), “o pilar da moralidade de Relações

Públicas encontra-se na legitimidade das decisões organizacionais. Ao sair dessa

esfera, desmoronam todos os seus argumentos e conteúdo moral”. Simões (2001, p.

41) considera a base ética em dois níveis, sendo o primeiro a legitimidade das ações

organizacionais e o segundo, os discursos e os instrumentos de comunicação livres

de manipulação. Defende que a manutenção desses níveis é também da

responsabilidade de relações públicas. Ao discutir a relação entre ética e estética,

Page 112: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

111

Simões (1995) argumenta que ambas devem fazer parte da atividade de Relações

Públicas, tanto o que é realizado pela organização, quanto o que está ligado ao

profissional de Relações Públicas. Tudo o que é feito “deve sê-lo segundo os

princípios da arte de bem viver (ética) que, em si própria, contém os princípios da

filosofia da harmonia do comportamento (estética)” (SIMÕES, 1995, p. 222).

Simões (1995) ressalta que muito se fala sobre ética em relações

públicas, mas pouco se fala em estética; porém, percebe-se que, mesmo sobre

ética, poucas publicações discutiram o assunto e que “somente se pode justificar a

existência das organizações e das Relações Públicas, quando estas estiverem

impregnadas das funções ética e estética” (SIMÕES, 1995, p. 224). O autor enfatiza

que não é possível dissociar ética e estética, porque uma se nutre da outra. A

organização deve estar a serviço da comunidade e não para simplesmente explorá-

la. A mentalidade de servir promove unidade, resolve contradições, harmoniza

comportamentos e confere distinção ao sistema social. As organizações que

evoluem nesse conceito desfrutam de destaque entre as congêneres e atrai sobre si

a atenção que resulta de sua própria franqueza, o que dispensa sensacionalismo. “A

ideia proclamada é verdadeira e real por excelência. Os fenômenos se justificam e

se validam por si mesmos, não se constituindo em meros instrumentos para a

publicidade, como os pseudoeventos” (SIMÕES, 1995, p. 223).

Para Grunig (2009, p. 105), “ a atividade de relações públicas é a

função que introduz os valores e os problemas dos stakeholders nas decisões

estratégicas, e que introduz o elemento moral nessas decisões”, acrescenta-se a

essa afirmação também as contribuições dos comunicadores organizacionais.

Grunig e Hunt (1984) desenvolveram estudos sobre os modelos de relações públicas

e os classificaram em quatro: modelo de imprensa/propaganda, modelo de

informação pública, modelo assimétrico de duas vias e modelo simétrico de duas

vias. Para Grunig e Grunig (1992, p. 21), “o modelo simétrico de duas vias é a

maneira mais ética de enfocar as Relações Públicas e que a ética desta profissão é

o modelo mais efetivo para se alcançar os objetivos organizacionais”.

O modelo simétrico das duas vias define a ética como um processo

de relações públicas e, com isso, impede o chamado relativismo ético. Quando

simétricas, as relações públicas proporcionam um foco para a discussão e o debate

em que pessoas de valores diversos chegam a conclusões distintas. “Sempre que o

diálogo esteja estruturado, segundo as regras éticas, o resultado deveria ser ético –

Page 113: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

112

ainda que nunca será a combinação perfeita no sistema de valores de nenhuma das

partes implicadas” (GRUNIG; GRUNIG, 1992, p. 22).

De acordo com Grunig e Grunig (1992, p. 308), somente quando as

relações públicas são classificadas no modelo simétrico de duas vias que se pode

considerá-la como ética. Grunig (2003, p. 88) justifica essa visão:

O modelo simétrico de duas mãos esclarece como tornar as relações públicas éticas, pelo fato de definir a ética como um processo de relações públicas e não como um acordo a respeito de uma decisão específica. Como processo, as relações públicas simétricas propiciam um foro para o diálogo e a discussão de questões que levarão a resultados divergentes, em razão de participarem pessoas com diferentes valores e pontos de vista. Os resultados devem ser éticos, mesmo não se ajustando ao sistema de valores de forças rivais, quando o diálogo está estruturado na base de regras éticas.

A simetria demonstra que os valores da organização e dos públicos

estão no mesmo nível de relevância e que “o diálogo de duas mãos faz com que as

relações públicas sejam inerentemente éticas e faz com que a organização seja

mais responsável para com a sociedade” (GRUNIG, 2003, p. 88). Day, Dong e

Robins (2001) concordam com a proposta, que a base da prática em relações

públicas deve ser a comunicação dialógica e que esse princípio fundamenta as

atividades, neste século, e apostam que o diálogo é a solução para administrar as

questões éticas.

Simões (2006, p. 213) contesta a visão apresentada por Grunig

(2003) de que apenas “o nível simétrico de duas vias contém um posicionamento

ético da atividade e da organização. Para nós, a informação de um dado correto que

possibilite decisões corretas, em uma estrutura de via de mão única, também é

ética”. Grunig (2003) apresenta o ideal para as relações públicas que, por meio do

diálogo, consegue estabelecer uma comunicação dialógica para desenvolver as

suas atividades; porém, é preciso concordar que Simões (2006) está correto ao

afirmar que a simetria de mão única também pode ser ética.

Daugherty (2001) aborda o papel das relações públicas no

desenvolvimento da responsabilidade social e o comportamento ético como

essencial à prática profissional. Defende a necessidade de investimento em

responsabilidade social. Para que uma organização tenha um relacionamento

saudável com os públicos, precisa ser responsável e se preocupar também com as

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113

consequências de suas atividades econômicas. O comportamento ético, por sua vez,

deve ser priorizado, para servir aos interesses da organização e também de seus

públicos, tendo em vista a construção de relações benéficas. Daugherty (2001)

enfatiza que a sociedade espera outras atitudes das organizações: que façam mais

pela sociedade e ressalta que o distanciamento da empresa, em relação às

necessidades e expectativas da sociedade, acarreta a perda de legitimidade e

ameaça a sobrevivência da organização.

Um destaque na abordagem de Curtin e Boynton está na noção de

responsabilidade corporativa. Numa corporação, considera-se que obter bons

resultados, do ponto de vista de boas práticas e ser visto como cidadão responsável,

beneficia as bases. Os movimentos de direitos dos consumidores têm forçado as

empresas a se responsabilizarem mais pela sociedade. A filantropia corporativa

pressupõe que a boa ação da companhia traz reflexos no sentido de ela ser vista

como exercendo boa vontade. Por outro lado, a ação ética é determinada pela

análise de custo benefício que estabelece as metas da companhia e aponta para a

crença de que o benefício à organização se projeta num benefício à sociedade

(CURTIN; BOYNTON, 2001).

Essa visão, no entanto, está sendo substituída pelas noções de

responsabilidade social e de sustentabilidade, conceitos que ultrapassam os

próprios limites da organização. A ação ética envolve, neste caso, respeitar os

direitos alheios e ter compromisso com a fidelidade a princípios. É impossível atingir

essa dimensão, sem adotar a ideia de responsabilidade social e de sustentabilidade.

Esses princípios, todavia, não são fáceis de realizar, e aí reside um grande desafio

no sentido de produzir motivação para cumpri-los.

De acordo com Black (2004, p. 195), o profissional de relações

públicas prioriza o interesse público, uma vez que sua preocupação é obter o apoio

e a aceitação dos públicos para com a organização. Black (2004, p. 196) aborda a

ética nos negócios e salienta que a publicidade de escândalos, envolvendo os

círculos financeiros dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Japão, tem colocado em

cheque a credibilidade dos negócios. Em contrapartida, muitas empresas

preocupam-se em cuidar de sua reputação e exigem posturas adequadas de seus

empregados e definem políticas éticas para evitar prejuízos à sua reputação.

Humberg (2006) descreve, de forma resumida, cinco etapas

principais da implantação de um programa de ética: a) identificação da cultura e dos

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114

valores da organização; b) definição e discussão com os envolvidos sobre o código

de ética; c) orientação dos relacionamentos com os segmentos envolvidos; d)

treinamento e reciclagem; e) criação de sistemáticas de acompanhamento. Em todas

as etapas, está incluída uma série de procedimentos que determinarão o sucesso do

programa de ética, mas é evidente que o diálogo é imprescindível, para que o

programa seja baseado em necessidades da empresa e represente a sua

individualidade.

Bowen (2005) também enfatiza a necessidade do treinamento, pois

“a maioria dos gestores tem pouco treinamento em análise ética ou tomada de

decisão. [...] O componente de uma decisão racional dos dilemas éticos é

frequentemente perdido, quando se usam parâmetros éticos individuais” (BOWEN,

2005, p. 61). O treinamento vai possibilitar a disseminação dos valores da

organização a todos os seus públicos na construção de relacionamentos sólidos e

éticos, pois o profissional de relações públicas “tem campo de ação na política de

relacionamento da empresa, estabelecendo as formas dos relacionamentos

institucionais e mercadológicos à luz de princípios de comunicação de aplicação

universal a todas as atividades da organização” (FRANÇA; FREITAS, 1997, p. 85).

Para Leeper (2001, p. 435), foi Ivy Lee que ressaltou a relevância de

questões éticas ao criar a “Declaração de Princípios”. Leeper (2001, p. 435), a partir

de um levantamento bibliográfico realizado, aborda os instrumentos disponíveis e

aplicados na quantificação da ética. A autora comenta os oito diferentes

instrumentos e argumenta que é preciso o desenvolvimento de um instrumento

específico para aplicação em relações públicas (LEEPER, 2001, p. 440).

Guth e Marsh (2003, p. 168) sustentam que os códigos de ética

funcionam como guias para o agir ético e citam os diversos códigos de ética que

servem como direção aos profissionais de relações públicas. Entretanto, os autores

alertam que somente o código de ética não tem efeito e que é preciso cultivar os

valores éticos e inseri-los na cultura organizacional. Questionam a verdade, em

oposição aos interesses da organização, e relacionam alguns conflitos que podem

ocorrer ao profissional. Enfatizam que a prioridade deve ser a construção de

relacionamentos éticos entre a organização e seus públicos (GUTH; MARSH, 2003,

p. 176).

Essa postura também é enfatizada por Kunsch (1997, p. 145), ao

descrever o papel de relações públicas como mediadora: “as relações públicas

Page 116: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

115

devem zelar para que os valores éticos sejam considerados como norteadores na

busca do diálogo e da negociação, usando a transparência e a verdade como

princípio balizador”. Salienta também que as atividades de relações públicas

precisam ser direcionadas por uma postura íntegra: “o discurso por elas produzido

tem de ser regido pela integridade, isto é, pela coerência entre o que se diz e o que

se faz no dia a dia das organizações” (KUNSCH, 1997, p. 145).

Guth e Marsh (2003, p. 180) propõem a integração da ética no

processo de relações públicas que comporta as quatro fases: pesquisa,

planejamento, comunicação e avaliação. Na fase de pesquisa, descobrem-se

questões que podem afetar a organização, além de levantar os valores mais

importantes para os públicos. Na fase do planejamento, propõem-se ações de

acordo com os valores da organização e dos seus públicos. Na fase de

comunicação, a preocupação é de como envolver os públicos na implementação

desses valores. Na fase de avaliação, consideram-se o impacto dessa implantação e

se os métodos são adequados aos valores da organização e dos públicos.

A discussão sobre as teorias éticas do capítulo anterior contribui

com conceitos que serão aplicados às atividades profissionais.

5.2.1 Teorias Éticas Aplicadas

A preocupação com a ética em relações públicas torna-se

fundamental para garantir o profissionalismo da atividade. Day, Dong e Robins

(2001, p. 409) diferenciam ética deontológica e teleológica. Salientam que as

decisões éticas dependem de cada situação específica e muitas vezes será preciso

recorrer tanto à ética deontológica como à teleológica para resolver os impasses

éticos. Os autores defendem que Habermas deva estabelecer, em sua teoria, as

condições ideais ao discurso ético; que a comunicação dialógica exige envolvimento

dos participantes e uma postura da empresa que possibilite mudanças e abertura

para interação com os indivíduos de visões diferentes das expressas pela

organização.

Curtin e Boynton (2001) relacionam os modelos de relações públicas

aos princípios da ética. Dividem a ética em princípios teológicos e deontológicos e

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116

citam o utilitarismo como exemplo da ética teleológica. Descrevem os estágios de

desenvolvimento moral, baseando-se em Kohlberg e relaciona-os às atividades de

relações públicas.

Haas (2001) aborda os desafios do profissional de relações públicas

como o responsável pelo gerenciamento dos relacionamentos da empresa com seus

públicos, visto que, muitas vezes, os interesses e os valores dos públicos e das

organizações são conflitantes. Haas (2001, p. 424) argumenta que, apesar de vários

estudiosos adotarem a teoria de Habermas como ideal para relações públicas,

considera que esta é somente adequada às sociedades homogêneas e que não se

aplica a sociedades heterogêneas. Segundo Haas (2001, p. 430), Habermas não

reconhece as diferenças individuais existentes entre os participantes. O autor

considera que a teoria de Habermas tem contribuições relevantes à prática de

relações públicas, mas que a mesma apresenta algumas deficiências como a

viabilidade somente em sociedades homogêneas onde é possível estabelecer o

consenso; e a questão da representação dos interesses de todos os indivíduos.

Como alternativa de abordagem, Haas (2001, p. 424) sugere o

trabalho desenvolvido por Benhabib, que se baseia na teoria do discurso de

Habermas e propõe duas mudanças para a aplicação em relações públicas: é

preciso considerar que todos os participantes têm o mesmo direito; e a necessidade

de reconhecer isto, para que todos tenham as mesmas condições de participação

(HAAS, 2001, p. 429). Assim, é possível assegurar que a interação da organização

com todos os seus públicos garante a representação dos interesses e reivindicações

no processo de tomada de decisão; e que as diferenças de valores entre os públicos

serão respeitadas. Para Haas (2001, p. 433), somente por meio do diálogo, a

organização consegue compreender a complexidade dos públicos.

Leeper (1996) discute o emprego da teoria de Habermas às relações

públicas e demonstra a relação com o modelo simétrico de duas vias proposto por

Grunig e Hunt (1984). Defende que há uma proximidade de terminologia entre a

teoria de Habermas e a proposta de Grunig e Hunt. Segundo o autor, a teoria do

discurso funciona como base de sustentação filosófica para os modelos de Grunig.

Discute os prós e contras do uso do código de conduta. Explora os pontos principais

da Teoria de Habermas, como a universalização e a situação ideal do discurso, e

alerta que esta proposta pode não ser alcançada de forma empírica.

Bowen (2005) aborda a pesquisa empírica, realizada com duas

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117

indústrias farmacêuticas consideradas exemplos em ética, e apresenta um modelo

para auxiliar a tomada de decisões éticas (Figura 1 – Modelo prático kantiano de

gerenciamento de questões emergentes), a partir de estudo já desenvolvido pela

autora (BOWEN, 2005, p. 42), com base na “teoria deontológica de Immanuel Kant”.

Figura 1 – Modelo prático Kantiano de gerenciamento de questões éticas emergentes

Fonte: Bowen (2005, p. 46).

Intenção? Estou agindo

com moralidade e boa vontade?

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118

Bowen (2005, p. 49) elaborou três perguntas para realizar o teste de

seu modelo que caracteriza o “fluxo geral do processo de gerenciamento de

questões emergentes nas organizações participantes” (BOWEN, 2005, p. 58). São

elas: 1) Qual a estrutura do gerenciamento de questões emergentes e a tomada de

decisão na organização, inclusive o acesso à coalizão dominante ou ao presidente

(por exemplo, autonomia)? 2) Com que grau de importância, os gestores de

questões emergentes consideram a ética, em sua tomada de decisões sobre

questões emergentes? 3) A organização confia primariamente numa conceituação

da ética baseada no utilitarismo ou na deontologia?

A autora constatou que a ética “ajuda a manter confiança e constrói

relacionamentos com os públicos; e o estudo empírico confirmou que ambas as

organizações eram deontológicas por natureza” (BOWEN, 2005, p. 59). Bowen

defende que é função estratégica do profissional de relações públicas gerenciar

questões emergentes, “que tratam de solução de problemas de política

organizacional, planejamento de longo prazo e estratégia de administração, bem

como a comunicação dessa estratégia interna e externamente” (BOWEN, 2005, p.

42).

Uma análise rigorosa e metódica de decisões éticas assegura que

se chegue a um posicionamento mais sólido, qualquer que seja o paradigma

adotado. Esse procedimento é preferível, a adotar abordagens informais de ética.

Talvez, a questão maior seja se uma organização tem na prática um programa

formal de ética – completo, com um modelo de tomada de decisão e treinamento de

ética para gestores (BOWEN, 2005).

Gonçalves, (2006) pesquisadora integrante do grupo de trabalho

“ética de la comunicacion”, apresentou o estudo comparativo dos códigos

deontológicos de associações como Global Protocol on Ethics on Public Relation

(Global Alliance), Code of Ethics for Professional Communicators (IABC), PRSA

Member Code of Ethics 2000 (PRSA), Código de Lisboa (CERP) e Código de

Estocolmo (ICCO) e ressalta as principais conclusões: não se referem à obrigação

dos profissionais de priorizar o interesse público; não falam que o posicionamento do

profissional deve ser contrário ao cliente, quando este tem o seu interesse em

conflito com o interesse público; nunca citam o profissional de relações públicas

como responsável pela conduta do cliente (GONÇALVES, 2006, p. 8).

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119

Arruda (2005) apresenta a análise de 13 códigos de ética, com base

na ética das virtudes, incluindo o código de ética de relações públicas. Aponta a

relevância dos códigos de ética profissional, pois eles estabelecem padrões de

conduta, como meio de disciplinar a atuação nas organizações. “A empresa

necessita desenvolver-se de tal maneira que a ética, entendida como a conduta

ética de seus empregados e os valores e crenças primordiais da organização, torne-

se parte de sua cultura” (ARRUDA, 2005, p. 36).

Na análise do código de ética de relações públicas, registrou-se a

frequência das virtudes apresentadas no Quadro 10, que foram baseadas nas 47

virtudes sugeridas por Solomon (2000). Percebe-se que o código profissional de

relações públicas dá ênfase às seguintes virtudes: prudência, integridade,

responsabilidade, honestidade, cooperação. É necessário que as virtudes exigidas

sejam também aplicadas nas relações com todos os públicos da organização, para

que a ética seja uma preocupação constante na construção e na manutenção de

relacionamentos sólidos.

Virtudes Relações Públicas Aceitação 1 Amabilidade 1 Carisma 1 Cooperação 7 Credibilidade 2 Dedicação 6 Determinação 2 Eloquência 5 Estilo 1 Honestidade 8 Honradez 4 Imparcialidade 1 Integridade 12 Justiça 3 Lealdade 3 Prudência 17 Responsabilidade 10

Quadro 10 – Profissional de relações públicas e fre quência de virtudes no código de ética

Fonte: Arruda (2005, p. 41).

Ao analisar a relação entre as relações públicas e as teorias éticas

existentes, percebe-se predominância na abordagem do emprego da teoria de

Habermas, apesar de existirem outros estudiosos que apresentam a visão de Kant.

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120

Nota-se, também, que há uma coincidência entre relações públicas e a teoria de

Habermas porque os dois defendem o diálogo como forma de resolver os conflitos

existentes.

Pode-se afirmar que vários estudos, apresentados aqui,

demonstraram o papel essencial de relações públicas e da comunicação

organizacional na promoção de ética nas organizações e nos seus relacionamentos.

Segundo França (2009, p. 224), “os relacionamentos prendem-se às diretrizes da

organização, a seu planejamento estratégico, e têm por objetivo garantir as parcerias

relacionais ligadas à produtividade, à lucratividade e ao sucesso da organização”.

5.3 RELACIONAMENTOS : ALGUNS INDICATIVOS

O diálogo pressupõe uma abertura, pois os interesses dos outros

precisam ser respeitados, para que os interesses individuais também sejam

considerados. Além disso, é possível buscar a compatibilidade entre o interesse

individual e o interesse coletivo na construção de uma sociedade mais humanizada.

Tratar as pessoas de forma humanizada é considerar o outro como seu semelhante,

é “colocar-se em seu lugar”. É dessa forma, que se deve pensar os relacionamentos

com base na ética.

É possível pensar a ética num ambiente que gera e busca lucros.

Nos dias atuais, o mercado exige que as empresas não cumpram somente o que é

legal, mas que contribuam para o desenvolvimento social sustentável. Não é

suficiente ater-se à implantação de um Comitê de Ética, pois isto está em descrédito

no Brasil, em razão dos escândalos envolvendo o Senado Federal e outras

instituições públicas. Chanlat (1992, p. 68) propõe “uma renovação ética das

relações nas organizações, fundamentada sobre o desenvolvimento do que se

denomina ética individual articularmente com a ética coletiva”. A conduta ética

proporciona o aumento no grau de confiança das ações da organização e qualifica o

relacionamento da organização com os seus públicos. “Essa relação garante

investimentos, clientes fidelizados e uma marca valiosa diante da comunidade, entre

outros benefícios” (PFANNEMÜLLER, 2006, p. 55).

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121

É imperioso que a organização aceite adotar uma conduta ética em

todos os seus relacionamentos, e não simplesmente porque trará vantagens

comerciais. Srour (2003, p. 176) faz referência a Max Weber, para sustentar o

argumento de que “a ética ‘não é uma carruagem que se pode parar a seu bel

prazer para nela subir ou para dela descer, segundo o caso’”. A empresa necessita

ser coerente nos seus relacionamentos e adotar a mesma postura com todos os

seus públicos.

Ramalho e Alves Filho (2003) apresentam o estudo de caso

realizado numa grande Companhia do Rio Grande do Norte, com o objetivo de saber

como os funcionários avaliam a ética, a partir da análise da ética nos

relacionamentos com clientes, empregados, fornecedores, acionistas e sociedade.

Foi utilizada uma amostra não-probabilística de 50 funcionários, que mostrou um

nível de concordância, de 80 a 90%, entre os entrevistados que confirmam os

princípios éticos nos relacionamentos citados. Porém, na análise do relacionamento

ético com os funcionários, o índice caiu para 52%, demonstrando que a empresa

pesquisada precisava priorizar e investir internamente.

Reforça-se, por esse conjunto de ideias, a convicção de que a

empresa deve se preocupar com a ética em todos os seus relacionamentos. Não

pode ser uma empresa ética com seus investidores e agir de forma inadequada com

os fornecedores, ou ainda “encantar o cliente” e esquecer que os seus

colaboradores também precisam ser encantados. Além disso, as organizações

tendem a classificar seus relacionamentos éticos a partir da listagem dos públicos

estratégicos para a empresa e que devem ser tratados com idoneidade, enquanto

que os outros podem ser “driblados”. Alonso, Castrucci e López (2006, p.203)

alertam para uma nova postura: “às vezes, a Ética é considerada como um enfeite,

algo que ‘fica bem’. Faz-se mister ultrapassar esta visão, colocando a ética no

âmago da empresa”.

A comunicação organizacional e as relações públicas priorizam o

comportamento ético, para que as ações da empresa estejam em conformidade com

suas políticas éticas. Alonso, Castrucci e López (2006, p.203) destacam três

características passíveis de serem observadas em qualquer decisão ética: 1) não há

decisões “neutras” – todas as decisões têm que ser éticas. 2) a decisão é pessoal –

é um ato humano livre e responsável de quem decide. 3) uma decisão sempre afeta

outras pessoas, que, no caso da empresa, são empregados, clientes, sócios,

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122

consumidores, cidadãos. Esses indivíduos são detentores de direitos e tendem a

possuir um conhecimento natural de princípios éticos.

Torna-se evidente que qualquer decisão afeta a organização como

um todo. Exemplo de que a empresa não pode determinar um padrão ético aos seus

funcionários e agir de forma diferenciada com os seus clientes, é encontrado em

atitudes como não respeitar garantias dos serviços, vender produtos de que

decorrem riscos à segurança, entre outras práticas. Então, a empresa necessita

estar alinhada, em todos os seus setores, para que a ética seja uma realidade e não

somente um discurso. A ética organizacional “deve ser uma construção contínua

realizada pelas pessoas que a formam; ela aponta horizontes, rumos, ideais, metas,

para que o ser humano seja cada vez mais humano, mais gente, mais desenvolvido

em todas as suas dimensões” (CAMARGO, 2006, p. 89).

Quanto à avaliação da ética, as estatísticas sobre acidentes do

trabalho são também uma forma de medir o padrão ético de uma empresa. O

mesmo ocorre com a incidência de greves e reclamações judiciais derivadas de não

cumprimento de contrato. Tal processo é igualmente aplicável, em relação à

prestação de contas aos acionistas ou o enfoque de qualidade nos relacionamentos

com setores da sociedade civil. “Trata-se, pois, de realizar ‘lucro com ética’, que

consagra o princípio da justiça com a geração de benefícios financeiros” (SROUR,

2003, p. 315).

Na construção de um padrão ético, é necessário que a vivência

também parta da alta direção: “o comportamento da direção, no bom como no mau

sentido, marca o comportamento dos funcionários” (LEISINGER; SCHMITT, 2002, p.

124). As empresas devem buscar e implantar estratégias capazes de criar um

ambiente igualitário e que promova cada ser humano, dando-lhe autonomia para

desenvolver não somente a sua criatividade, mas também atividades que possam

aperfeiçoar a postura ética em suas ações.

A organização precisa ter uma postura adequada, para incentivar o

mesmo comportamento aos seus públicos. “Não se pode exigir conduta ética dos

funcionários, se a empresa está viciada em procedimentos condenáveis. Os padrões

éticos da companhia são a base do comportamento dos funcionários”

(FORMENTINI; OLIVEIRA, 2007, p. 3). Esta preocupação é compartilhada por

Solomon (2000, p. 92): “o exemplo mais importante é dado pelos executivos do alto

escalão. Se eles não agem de acordo com os princípios e as regras do código da

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123

empresa, não há nenhuma chance de que qualquer outro funcionário o leve a sério”.

A organização precisa avaliar o seu comportamento, redimensionar os

procedimentos, as atividades, as condutas para assim promover a mudança

necessária à implantação de uma gestão ética.

Na formulação de um código de ética, é comum os autores

recomendarem a participação dos funcionários, a fim de que essa sensibilização

aconteça gradativamente e que seja produto de discussões mais aprofundadas. “Os

códigos, quando elaborados de forma participativa, podem ser instrumentos

preciosos para ajudar os líderes e outros membros da organização a refletir sobre

suas estratégias de gestão, em suas relações internas e externas, à luz da ética”

(TELLES, 2008, p. 2). A participação nesse processo facilita a implantação do código

de ética, pois promove e incentiva a colaboração entre os indivíduos. Para Matos

(2008, p. 109), “a gestão participativa dá expressão à administração ética, ao

valorizar o diálogo e o alinhamento na maneira de buscar o essencial, o bem

comum”.

A empresa não pode restringir a sua avaliação de pessoal em

termos financeiros, pois, ao gerar tal pressão, a empresa pode “obrigar” o

funcionário a cumprir suas metas e, para tanto, ele irá adotar atitudes inadequadas à

organização. Segundo Humberg (2006, p. 85), outro ponto a ser considerado é a

clareza das normas adotadas pela empresa, motivo pelo qual alerta que tanto a

empresa como os seus colaboradores podem conhecer o “procedimento ético, em

relação aos aspectos legais, mas muitas vezes ficam em dúvida sobre como

proceder em determinadas situações que não têm um quadro referencial explícito”.

Isto pode ocorrer por vários motivos: a linguagem utilizada na redação das regras, o

desconhecimento da realidade, mudanças ocorridas que geram novas situações não

explicitadas no documento, entre outros. Percebe-se, então, a necessidade do

acompanhamento e avaliação constante do código de conduta, para que as

alterações necessárias possam ser propostas no momento de revisão do código de

ética.

A implantação de um programa de ética, conforme Humberg (2006),

começa pelo envolvimento de toda a organização, mas principalmente do

comprometimento da cúpula administrativa, no levantamento dos valores da

empresa, na criação de espaços para discussão e definição dos valores da empresa

por todas as pessoas envolvidas. “Sem esses passos, a definição de uma série de

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124

princípios ou itens acaba sendo apenas uma ação promocional, que não ganha a

necessária credibilidade externa e muito menos interna” (HUMBERG, 2006, p. 83).

Pode-se, contudo, perceber que algumas empresas amanhecem

éticas, ou seja, alguém descobriu que a ética poderia ser usada como vantagem

competitiva e, desse modo, implantou em seu discurso esse termo tão antigo, mas

que gera muitas discussões em torno de sua compreensão. Se o direcionamento

ético é claro, já a partir dos sistemas formais, os funcionários não têm dúvida quanto

às expectativas e exigências. Na ausência dessa clareza ou quando não há

estabilidade na definição, os funcionários tentam encontrar outro ponto de referência

em que se orientar; e terão, nesse caso, necessidade de uma dimensão tipicamente

de liderança.

Arruda e Navram (2000, p. 29) alertam para a necessidade de

clareza e formalização da ética organizacional, pois esse conhecimento influenciará

as ações dos indivíduos. “Quando os sistemas não se referem à questão ética, a

mensagem é que não existe um padrão ético. Isso deixa os funcionários totalmente

dependentes de seus valores pessoais e do comportamento observável dos outros”.

Além de servir como guia para o agir de toda a organização, a adoção do código de

ética apresenta outros benefícios, segundo Humberg (2005, p. 2): “atração e

retenção dos melhores profissionais; redução de fraudes; maior confiabilidade junto

aos públicos; mais facilidade de acesso a recursos e melhor aceitação social”.

Gellerman (1986) realizou uma pesquisa junto aos administradores

que causaram grandes prejuízos às suas organizações, para responder à questão:

“por que ‘bons’ administradores tomam decisões eticamente ‘más’”? Os resultados

foram agrupados em quatro percepções da realidade que explicam o desvirtuamento

da conduta dos administradores:

1. a convicção de “na realidade” `a respectiva atividade não ser antiética, mas encontrar-se ainda dentro dos limites éticos e jurídicos;

2. a convicção de a respectiva atividade se encontrar dentro dos melhores interesses dos indivíduos ou da empresa, noutras palavras, de alguma maneira ‘se’ espera que se aja assim;

3. a convicção de a respectiva atividade ‘ ser segura’, porque não poderia ser descoberta, e muito menos publicada por ninguém;

4. a convicção de a respectiva atividade ser útil à firma, e que, por isso, tacitamente esta haveria de fechar os olhos, ou que, no caso de ser descoberta, ela haveria de proteger a pessoa que age imoralmente (GELLERMAN, 1986, p. 85-90).

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125

Esta conduta da organização não pode ser seguida, pois há

prejuízo, uma vez que a prática da ética não foi incorporada em sua cultura

organizacional. “Temos de enraizar a cultura ética nos processos básicos da

empresa e nos tornar responsáveis pelo crescimento e amadurecimento de todos

em nossas empresas” (PINEDO, 2003, p. 14). Os gestores da organização têm um

papel fundamental, para assegurar que o padrão ético seja mantido. Pinedo (2003,

p. 14) confirma esta preocupação: “você está diante de uma escolha: assegurar

lucratividade, sustentabilidade e uma empresa mais ética, numa sociedade mais

ética, ou manter os sistemas a que estamos tão acostumados e sofrer outra

revolução”.

O profissional de relações públicas tem a função de mediador dos

relacionamentos, por meio da construção do diálogo entre os envolvidos e abertura

de novas oportunidades para participação. Santos (2007, p. 167) justifica o trabalho

de relações públicas: “gerenciando conflitos, estimulando mudanças na percepção

desses grupos, ampliando o compartilhamento de experiências – que faz da

comunicação um processo transformador e das relações públicas, particularmente,

um processo com potencial de resistência”.

Grunig (2009, p. 105) propõe a atuação de relações públicas como

conselheiro de ética:

Para os profissionais de relações públicas atuarem como conselheiros de ética nas organizações, é necessário tratar a ética como parte integrante da profissão de Relações Públicas e incorporar a ética e a responsabilidade social às nossas teorias normativas de como as relações públicas deveriam contribuir para os processos decisórios estratégicos das organizações.

Para Matos (2006, p. 227), o profissional de relações públicas

“assume a função de coordenação estratégica de todas as mensagens que refletem

a organização, atividades de gerenciamento da identidade e imagem corporativa, de

produção de mensagens institucionais e de relações com os meios de

comunicação”. Esta visão é complementada por Torquato (2002, p. 73), “as

Relações Públicas trabalham com valores, conceitos e princípios voltados para a

construção da identidade e da imagem organizacional”. Torna-se evidente que

relações públicas e o profissional de comunicação organizacional trabalharão no

gerenciamento da imagem e da identidade da organização, e que, portanto, é

Page 127: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

126

preciso definir os dois termos. Apesar de serem utilizados, muitas vezes de forma

indistinta, os seus significados são diferentes.

Neste contexto, surge a relevância de instrumentalizar a

comunicação, para contribuir com a disseminação de um padrão ético

organizacional, com a utilização de canais adequados com o objetivo de obter a

compreensão dos valores e dos procedimentos adotados para um comportamento

ético, e de como isto se dá no relacionamento da organização, com todos os seus

públicos, na construção da reputação.

Page 128: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

127

6 ÉTICA E REPUTAÇÃO CORPORATIVA

Num mundo tecnológico, em que a vigilância tornou-se constante

pelos circuitos internos, câmeras escondidas em todos os ambientes, celulares

equipados com vários recursos, é preciso que a empresa fique cada vez mais atenta

às suas ações e de seus membros porque qualquer ato inadequado do pessoal

interno ou reação inesperada de seus públicos pode se transformar em uma crise.

Não se trata de “esconder” as ações impróprias da empresa, mas em orientar e dar

condições aos colaboradores para cumprirem as suas atividades com uma formação

técnica e também moral. O modo como uma organização constrói de maneira

endógena seus valores reflete na forma como é vista e percebida por seus públicos.

O ideal de toda organização, quando o tema é ética, implica na exata concepção dos

conceitos de imagem, identidade e reputação.

Neste capítulo, abordam-se as definições e as diferenças de

imagem, identidade e reputação, que também podem ser designadas de

corporativas ou organizacionais, trazendo a visão de vários pesquisadores.

Esclarece que a reputação corporativa gera segurança para a empresa e fortalece

as relações com os seus públicos e, também, justifica a relação de dependência

entre ética e reputação corporativa: os princípios éticos são a base para a

construção e manutenção da reputação corporativa.

6.1 IDENTIDADE

A identidade caracteriza a personalidade da empresa. É constituída

a partir de valores, histórico de atuação, desempenho no mercado, forma de

atendimento, características e qualidades dos produtos e/ou serviços, assimilados

pela própria organização. A identidade é formada por “um conjunto de símbolos,

comportamentos e narrativas que a tornam única diante de seus públicos, redes de

relacionamento e sociedade” (NASSAR, 2008, p. 63). Em termos mercadológicos,

identidade também “define os limites, os contornos e as possibilidades do

posicionamento de uma marca”, segundo Torquato (2002, p. 104), que também

Page 129: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

128

salienta que, nesse processo de construção, incluem-se critérios como essência,

foco; capacidade de permanência; singularidade que mantém a especificidade e a

unicidade, que assegura coerência.

A identidade é construída e preservada pelos membros da

organização que “compartilham, discutem e determinam os caminhos que a empresa

deseja seguir. Ou seja, a construção do conceito ‘quem somos’ é uma visão real,

praticada pelas pessoas que fazem a organização” (MARCHIORI, 2006, p. 37). A

identidade corresponde ao conjunto de características e atributos exclusivos àquela

organização, define o que a empresa é.

Almeida (2009, p. 264) alerta que “[...] a identidade de uma

organização não pode ser entendida ou analisada como algo homogêneo e de

consenso dos membros da organização”. Mesmo não sendo comum a todos os

integrantes, a identidade é reconhecida por subgrupos, que são responsáveis pela

sua manutenção, por meio da definição de normas, políticas, procedimentos e

princípios, formais ou não (ALMEIDA, 2006, p. 34). A identidade é considerada

única, por estar vinculada a uma organização somente; porém, os seus significados

vão variar de acordo com as percepções distintas dos seus públicos. Cada

organização possui sua identidade, que é influenciada e também influencia a cultura,

criando, assim, uma relação de interdependência.

Tipos de Identidade Descrição Identidade atual É constituída pelos atributos presentes, moldada pelo estilo de

liderança, estrutura organizacional, tipo de negócios, tipo de mercado, qualidade dos produtos e serviços e desempenho organizacional.

Identidade comunicada É revelada por meio do processo de comunicação e, num certo sentido, controlada pela empresa, por meio de sua propaganda, patrocínio e ações de Relações Públicas.

Identidade concebida Refere-se aos conceitos de percepção de imagem, reputação e marca corporativa, sustentados pelos grupos de relacionamentos.

Identidade ideal Refere-se ao melhor posicionamento da empresa, nos seus mercados, num determinado tempo. Fundamenta-se no planejamento estratégico e nas competências da organização.

Identidade desejada É aquela que mora nos corações e mentes dos líderes da organização.

Quadro 11 - Tipos de identidade

Fonte: Almeida e Nunes (2007, p. 264-265, baseado em Balmer e Greyser, 2003).

Page 130: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

129

Almeida e Nunes (2007, p. 264), apresentam cinco categorizações

de identidade: atual, comunicada, concebida, ideal e desejada, conforme descrição

apresentada no Quadro 11. Ao realizar a análise da identidade organizacional com

essas perspectivas diferentes, percebe-se a coexistência dessas identidades de

forma harmoniosa, mesmo com algumas diferenças evidenciadas. O alinhamento

das identidades fortalecerá os relacionamentos da organização com as partes

interessadas.

A discussão em torno da identidade é ampliada, quando se tem em

pauta as definições de identidade organizacional e identidade corporativa. Alguns

autores apresentam as diferenças entre identidade organizacional e identidade

corporativa; outros consideram as diferenças, mas afirmam que fazem parte de um

mesmo fenômeno. Quanto à diferença, a explicação seria que a identidade

organizacional está vinculada à projeção interna da organização, enquanto a

corporativa é a percepção dos públicos externos (HATCH; SCHULTZ, 2000, p. 22).

Outra justificativa é que a maioria das pesquisas a respeito de identidade

organizacional tem sido abordada com base na Teoria das Organizações, ao passo

que a identidade corporativa, tem sido vinculada aos estudos no campo do

Marketing.

Almeida (2009) aborda a análise de Van Rekom e Van Riel (2000)

que criam uma revisão cronológica dos estudos de identidade organizacional,

analisam os conceitos e apresentam propostas para mensuração. No mesmo artigo,

traz à discussão os autores Berens e Van Riel (2004) que abrangem as pesquisas

de identidade organizacional e, também, de reputação corporativa. A autora

apresenta um quadro (Quadro 12), que sintetiza as propostas de estudos por autor,

relaciona como é feita a operacionalização, os seus custos e as características

levantadas em cada tipo de estudo. O quadro revela as abordagens sobre o tema

mensuração da identidade, sob a visão de Berens e Van Riel (2004).

As análises desses estudos, de acordo com vários pesquisadores,

mostram que o custo com aplicação da pesquisa de mensuração de identidade é

variado de moderado a alto; há maior participação dos funcionários da organização

como respondentes das pesquisas; há uma predominância na utilização de

perguntas de resposta aberta e, em sua maioria, a operacionalização é feita pelos

membros da organização.

Page 131: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

130

Estudo

Operacionalização Tipos de características incluída s na mensuração (independentemente da análise da identidade como ela “é”)

Custo da mensuração

As características são acessadas

por

Questionário com perguntas

de resposta aberta

Respondentes Elementos idiossincráticos da organização

Como a identidade

deveria “ser”

Atitude para

mudança

Atamer e Calori (1993)

Membros da organização

Survey com algumas perguntas de resposta aberta

Gerentes v

Baixo

Balmer (1996) Pesquisador Perguntas de resposta aberta

Recortes transversais entre todos os empregados

v v V Alto

Bernstein (1986)

Membros da organização

Perguntas de resposta aberta

Gerentes v v v Baixo

Dutton & Dukerich (1991)

Membros da organização

Perguntas de resposta aberta

Recortes transversais entre todos os empregados

v v Moderado

Elsbach e Kramer (1996)

Membros da organização

Perguntas de resposta aberta

Recortes transversais entre todos os empregados

v v Moderado

Foreman e Whetten (1994)

Membros da organização

Perguntas de resposta aberta, posteriormente survey

Recortes transversais entre todos os empregados

v v Moderado

Gioia Thomas (1996)

Membros da organização

Survey Gerentes v Moderado

Gustafson e Reger (1999)

Membros da organização

Perguntas de resposta aberta

Recortes transversais entre todos os empregados

v Moderado

Lux (1995) Pesquisador Perguntas de resposta aberta

Recortes transversais entre todos os empregados

v Moderado

Moingeon e Ramanantsoa (1997)

Pesquisador Perguntas de resposta aberta

Recortes transversais entre todos os empregados

v v Alto

Van Rekom (1998)

Pesquisador Perguntas de resposta aberta e survey

Recortes transversais entre todos os empregados

v Alto

Van Riel (1995) Membros da organização

Survey contendo dimensões fixas

Gerentes v v Alto

Weber (1985) Pesquisador Perguntas de resposta aberta

Recortes transversais entre todos os empregados

V Alto

Quadro 12 - Estudos de mensuração da identidade

Fonte: Almeida (2009, p. 273, adaptado de BERENS; VAN RIEL, 2004).

De acordo com as várias definições apresentadas, a identidade

expressa “o que a organização é”, com base exclusivamente em seus atributos

específicos que a identificam. A diferença entre identidade e imagem, imagem e

reputação, identidade e reputação está apresentada no próximo tópico.

Page 132: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

131

6.2 IMAGEM, IDENTIDADE E REPUTAÇÃO

Na busca por uma definição de imagem, constata-se que, na maioria

dos estudos, o termo aparece em contraposição à identidade ou reputação. A

imagem é formada no nível inconsciente e está relacionada a um conjunto de

simbolismos e conotações. Segundo Baumhart (1971, p. 44), “as pessoas são

propensas a pensar em função de imagens. Quando o nome de uma companhia ou

de um grupo ocupacional é mencionado, a mente realiza uma síntese instantânea de

todas as impressões da pessoa sobre a companhia ou grupo”.

A imagem representa “aquilo que a empresa deseja projetar.

Diferencia-se, portanto, da identidade. A identidade é o caráter, o conceito básico, a

personalidade da organização. A imagem é a extensão (a sombra) dessa identidade”

(TORQUATO, 1991, p. 163). Em relação a um produto, Torquato (2002, p. 104)

define a identidade como “a soma das características físicas fundamentais do

produto, da amálgama de ingredientes que formam sua personalidade e sua

composição manufaturada. A imagem, por sua vez, é a projeção pública (o eco) da

identidade do produto”. Para ele, a identidade é projetada na imagem, quando se

desenvolve uma marca para o produto ou serviço, e, por meio de ferramentas do

marketing e da comunicação, posicionam esse produto ou serviço na mente do

consumidor.

Para Andrade (2006, p. 140), identidade “significa aquilo que uma

organização é e como deseja ser percebida – nos limites do que ela é e tem -,

enquanto imagem é como tal organização é percebida por todos os públicos de

interesse”. Viana (2006, p. 21) define imagem como “o ponto de vista da companhia

sobre si mesma, expresso na sua comunicação”. Para que haja uma relação entre

imagem e identidade, é imprescindível que haja consistência na parte visual e nos

relacionamentos da organização. “Se a companhia concentra atenções na harmonia

entre a imagem e a identidade, caminhará no rumo de uma reputação forte” (VIANA,

2006, p. 21).

A identidade corporativa e a imagem corporativa são caracterizadas

por Bueno (2005, p. 18) como:

Page 133: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

132

A identidade corporativa é a “personalidade” da organização e está umbilicalmente associada à sua cultura e ao seu processo global de gestão. [...] Como reflexo desta “personalidade”, emergem a sua imagem (ou imagens) e a sua reputação. [...] A imagem corporativa acumula aspectos cognitivos, afetivos e valorativos, e expressa a “leitura”, ainda que muitas vezes superficial, incompleta ou equivocada, da identidade corporativa de uma organização.

Outra diferença apontada por Bueno (2005, p. 19) é que a identidade

“flui da empresa para o mercado e para a sociedade [...] a imagem e a reputação

são exterioridades, ou seja, "representam percepções de pessoas, públicos ou da

sociedade (ou mercado) como um todo”. Neste mesmo sentido, Gaio (2006, p. 213)

esclarece a aplicação do conceito emissor e do conceito receptor, “[...] enquanto a

identidade é um conceito emissor, porque se vincula ao que a empresa é, a imagem

é um conceito receptor, pois reflete a forma como é percebida pelos públicos”. Ao

traçar um paralelo entre os conceitos, tem-se que é a identidade que diz como a

empresa é - emissor, ao passo que a imagem será formada a partir das percepções

– receptor.

Argenti (2006, p. 60) segue esta mesma linha e acrescenta a

caracterização de unicidade e diversidade: “imagem é a empresa vista pelos olhos

de seu público. Uma organização pode ter diferentes imagens junto a diferentes

públicos”. A identidade é única: ”não varia de um público a outro. Consiste nos

atributos que definem a empresa, como seu pessoal, produtos e serviços”

(ARGENTI, 2006, p. 60). Hatch e Schultz (2000, p. 23) resumem as diferenças:

identidade basicamente remete a "quem somos", enquanto imagem à preocupação

de “como percebemos os outros", ou, "como somos percebidos pelos outros”

A imagem é construída a partir de percepções que o indivíduo

adquire com o decorrer do tempo, embora muitas vezes se construa uma imagem

que não corresponde à realidade. Já a identidade representa o que a empresa é,

“enquanto a imagem pode variar para diferentes públicos, a identidade precisa ser

consistente” (ARGENTI, 2006, p. 81). É necessário identificar a imagem e a

identidade, para que a organização possa fazer as correções. O ideal seria que a

imagem e a identidade fossem coincidentes.

Santos (2007, p. 141) ressalta o papel da mídia como disseminadora

da imagem e que essa proliferação não ajuda a construir um conceito, por se tratar

de uma imagem frágil, que muitas vezes não tem sustentação nas ações da

Page 134: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

133

empresa. A autora aborda a necessidade de mudança para as relações públicas,

que devem se preocupar mais em construir credibilidade às organizações, pois a

imagem é volátil.

A autora justifica também que a imagem está inserida na “sociedade

do espetáculo” e que novas estratégias são utilizadas, a fim de atrair o indivíduo

para seus produtos e serviços e ressalta que, “na sociedade de consumo e na

contramão das tendências, novos parâmetros exigem que a imagem ceda lugar, aos

poucos, a uma economia da reputação” (SANTOS, 2007, p. 148-149). Daí a

oportunidade, para a comunicação organizacional e as relações públicas, de

atenderem esta necessidade, ao priorizarem ações que construam a reputação

corporativa, tendo em vista que as organizações já perceberam a fragilidade das

imagens.

Srour (2003) descreve reputação corporativa como um bem

intangível, formado pelas percepções que os indivíduos têm da organização. Para

Rosa (2007, p. 66), a “[...] reputação é um ativo, um patrimônio” e explica a sua

origem: “[...] o termo vem do latim ‘putus’, que significava pureza”. A partir do

conceito de pureza, Rosa expressa a sua definição, relacionando reputação e

pureza: “Reputação, assim, significa manter a coerência de uma imagem, entre seus

valores professados e praticados. Significa zelar para que essa pureza e essa

coerência sejam percebidas como tal” (ROSA, 2007, p. 66).

Fombrun e Van Riel (1998) analisam o panorama dos estudos da

reputação corporativa, sob a visão de várias áreas, e propõem esta definição:

A reputação corporativa é uma representação coletiva de ações passadas de uma empresa e dos resultados apresentados de sua habilidade em produzir um desempenho valioso a múltiplos stakeholders. Afere a posição relativa da empresa internamente com os empregados e, externamente com seus stakeholders, tanto no ambiente competitivo como no institucional (FOMBRUN; VAN RIEL, 1998, p. 10, tradução nossa).

A reputação é uma representação madura e sólida de uma

organização construída ao longo dos anos por meio das múltiplas interações, por

isso possibilita uma análise mais aprofundada. “Simplificadamente, quando tenho

uma imagem de uma organização, eu acho que ela, eu sinto que ela é ou representa

Page 135: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

134

alguma coisa; quando compartilho a reputação de uma empresa eu sei, eu tenho

certeza sobre o que ela é ou representa” (BUENO, 2005, p. 20).

Barnett, Jermier e Lafferty (2006) apresentam um levantamento com

as várias definições de reputação, esclarecem que há diferentes significados,

agrupados em três divisões conceituais: reputação como percepção – como as

pessoas “percebem” a organização; reputação como avaliação – como as pessoas

avaliam a organização; reputação como ativo – a reputação como recurso intangível

(BARNETT; JERMIER; LAFFERTY, 2006, p. 32-33).

Marketing

Reputação é uma associação cognitiva em relação às empresas a qual prediz simpatia e comportamento de aprovação por parte dos stakeholders

Teoria organizacional

Reputação são interpretações cognitivas utilizadas pelos observadores, para construção de sentidos, e usadas pela alta gerência para atribuir sentidos.

Administração

Gerenciamento estratégico

Reputação são ativos que atuam como barreira de entrada.

Sociologia

Reputação são construções sociais usadas correta ou incorretamente pela empresa, para realização do gerenciamento de impressões.

Economia

Reputação são sinais usados pelas empresas para comunicar suas principais forças e construir vantagem competitiva.

Contabilidade

Reputação é um ativo intangível que mede a diferença entre o valor contábil e o valor de mercado de uma empresa.

Quadro 13 – Múltiplos pontos de vista sobre reputaç ão corporativa

Fonte : Almeida e Nunes (2007, p. 269, adaptado de Riel e Fombrun, 2007, p. 50).

As definições do termo reputação são diversificadas e os enfoques

variam de acordo com as abordagens de áreas específicas, conforme Quadro 13. O

quadro é ilustrativo e demonstra a interdisciplinaridade da reputação, e, a partir de

sua análise, destacam-se os conceitos-chave que a definem em cada área:

associação cognitiva, interpretações cognitivas, ativo, construções sociais, sinais,

ativo intangível. Ao delimitar as definições de acordo com os objetivos, constata-se,

também, a variação em cada área: obter simpatia e aprovação dos stakeholders,

construir e atribuir sentidos, atuar como barreira, gerenciar impressões, comunicar

suas forças e construir vantagem competitiva, medir a diferença entre o valor

Page 136: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

135

contábil e o valor de mercado. Na organização, cada área pode apresentar o seu

objetivo, mas é necessário que haja uma linguagem única para toda a organização e

adequada à sua missão, políticas e diretrizes.

As discussões em torno de imagem e reputação, segundo a visão de

Almeida e Nunes (2007, p. 267), estão expressas no Quadro 14.

REPUTAÇÃO IMAGEM

É construída ao longo dos anos e tem como base as ações e comportamento da organização.

É definida como o reflexo da identidade, se traduz em como os outros veem a organização, respondendo à indagação de como somos vistos.

É relativamente estável. A sua construção é demorada e requer consistência de atitudes, no tempo e nas diversas situações em que a organização se insere.

As imagens são momentâneas, mutáveis e se adaptam às representações de uma organização.

Quadro 14 – Comparativo entre as definições de imag em e reputação

Fonte : Elaborado pela autora com base em Almeida e Nunes (2007, p. 267).

Argenti (2006, p. 97) apresenta a diferenciação entre reputação,

imagem e identidade. A reputação é diferente da imagem corporativa porque ela é

“construída ao longo do tempo e por não ser simplesmente uma percepção em um

determinado período”. A reputação é distinta da identidade porque “é um produto

tanto de públicos internos quanto externos, enquanto a identidade é construída por

elementos internos (a própria empresa), a reputação está baseada na percepção de

todos os públicos” (ARGENTI, 2006, p. 97).

Para Barnett, Jermier e Lafferty (2006, p. 33-34), identidade

corporativa expressa “o que a empresa é”, a imagem corporativa é formada pelas

impressões causadas pela organização junto a seus públicos, e a reputação

corporativa representa os julgamentos sobre a empresa, com base na sua atuação

em todas as áreas – social, econômica e ambiental – no decorrer do tempo.

Para Villafañe (2003, p. 165-166), há três tipos de problemas, em

relação à definição de reputação corporativa: responder a pergunta “o que é

reputação”; a diferença entre reputação e imagem; como administrar e avaliar a

imagem. Quanto à diferença entre imagem e reputação, os limites são estabelecidos

pelas diferenças na origem dos dois termos; pelo caráter estrutural e perene da

Page 137: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

136

reputação, enquanto a imagem é mais conjuntural; e pela possibilidade de

mensuração da reputação, sendo mais difícil a avaliação da imagem.

A origem dos termos evidencia que “a reputação é a expressão da

identidade da organização; a imagem o é de sua personalidade pública ou

corporativa” (VILLAFAÑE, 2003, p. 168). A característica estrutural da reputação faz

com que ela seja duradoura, pois é a solidificação da imagem corporativa da

organização como “o resultado de um comportamento corporativo excelente,

mantido ao longo do tempo, que lhe confere um caráter estrutural diante de seus

stakeholders” (VILLAFAÑE, 2003, p. 170). A avaliação da imagem apresenta

dificuldade porque a análise precisa envolver as várias imagens da organização. Já

a reputação pode ser mensurada, avaliada e comparada às outras empresas, com

base em dados concretos.

A respeito da relação identidade e reputação, Almeida (2009, p. 264)

afirma que há interferência recíproca: “a identidade interfere na reputação e, por sua

vez, a reputação interfere na construção e manutenção da identidade. Esse é um

processo contínuo e cíclico em que a organização deve buscar um alinhamento

entre as percepções internas e externas”. Há de se considerar a dinâmica

organizacional e a velocidade com que as mudanças afetam a organização, assim, a

resposta da empresa a essas demandas pode comprometer a sua identidade e a

sua reputação.

Destacam-se, também, a relevância e a necessidade de avaliação

constante, tanto da identidade como da reputação, para que sejam feitos os ajustes

devidos e evitar possíveis crises. Esse conhecimento dá condições para “alinhar a

identidade da organização (quem somos) com suas imagens (como somos vistos) e

com sua visão (como queremos ser percebidos). Quanto maior o alinhamento entre

identidade, imagens e visão, maior será a força da reputação da organização”

(ALMEIDA; NUNES, 2007, p. 268).

Almeida (2006, p. 42) apresenta as dimensões entre cultura,

identidade, imagem e reputação adaptadas de Hatch e Schultz (2000); Rindova e

Fombrun, conforme o Quadro 15. A partir de três definições de cultura, relaciona-as

aos conceitos de identidade, imagem e reputação e faz as correlações.

Page 138: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

137

Cultura Identidade Imagem Reputação Entendendo as inter-relações

Fornece universo simbólico sobre o qual ocorre a construção de sentidos

Formada pela percepção da maioria dos empregados do que é central, distintivo e permanente

Formada pelos públicos externos

Reputação empresarial é um mecanismo, através do qual observadores externalizam suas expectativas sobre a organização

Identidade formada pelo público interno, mas sofre interferência das imagens e da reputação

Cultura como padrão de crenças e pressupostos mais ou menos compartilhados entre membros e não-membros da organização

Identidade como autoapresentação de si mesma

Imagem como percepção e interpretação de outros

Organizações que conseguem deixar sua identidade mais clara, geralmente, têm melhor reputação

“Quem somos” não pode ser separado da percepção de “como os outros nos veem” e de nossa percepção sobre o “olhar dos outros”

Cultura como produto da construção de sentido das atividades do dia a dia

Identidade corporativa envolve uso de símbolos em sua comunicação, artefatos como logotipo, nome, slogan, estilo, histórias

Imagens múltiplas. A representação de uma realidade ou de um simulacro da organização. Não importa quão “real” seja, o valor está na percepção

Reputação se cria ao longo do tempo, como resultado de repetidas interações e experiências acumuladas

Múltiplas imagens referem-se a uma mesma organização. As imagens cumulativas dos diversos stakeholders, ao longo do tempo, determinam a reputação

Quadro 15 – Abordagens de cultura, identidade, imag em e suas inter-relações

Fonte: Almeida (2006, p. 42, adaptado de HATCH; SCHULTZ, 2000; RINDOVA; FOMBRUN, 1998).

A reputação é construída no dia a dia e engloba as estratégias

utilizadas pela empresa, as mensagens emitidas, os programas desenvolvidos e as

demais ações da organização e dela para com todos os públicos tornam-se

essenciais na formação da reputação. O comportamento da empresa, em relação

aos seus públicos, “é a forma mais convincente de comunicação – e a única que

confere credibilidade às ferramentas adotadas no papel de informar o que está

sendo feito” (SANTOS, 2007, p. 160).

Page 139: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

138

6.3 CONSTRUINDO A REPUTAÇÃO CORPORATIVA

Rosa (2006) discute a reputação na sociedade transformada a partir

da utilização das novas tecnologias e afirma que “novas tecnologias determinam

novos comportamentos, nova ética, nova moral” (ROSA, 2006, p. 84). Segundo o

autor, a vigilância tecnológica está por todos os lados, seja pelas câmeras ocultas de

qualquer estabelecimento, pelos recursos do celular, pelos extratos de cartão de

crédito que denunciam os produtos que estão sendo adquiridos. Rosa alerta que

todas essas informações ”têm o poder de formar uma imagem, têm a força de

produzir uma percepção favorável ou desfavorável, dependendo de quando e de

como esse tipo de informação venha a ser exposto (se vier a ser)” (ROSA, 2006, p.

102-103).

Constata-se que as novas tecnologias reduziram ao mínimo a

diferença entre público e privado, conforme afirma Rosa (2006, p. 102): “nunca

nossa vida privada foi tão pública como nos tempos atuais [...] nunca tanta gente

desconhecida teve acesso à nossa privacidade”. Rosa ainda enfatiza a necessidade

de se planejar a vida privada: “a realidade vem demonstrando que a vida privada de

uma pessoa pública deve ser tratada com o mesmo zelo com que são planejadas

suas aparições ou da organização em que atua” (ROSA, 2006, p. 108).

As organizações têm exagerado em suas estratégias de divulgação.

Pode-se perceber que, muitas vezes, as organizações estão preocupadas em

somente divulgar o que estão fazendo, sem se preocupar com a mudança de

postura frente aos problemas organizacionais (SANTOS, 2007). A empresa se diz

socialmente responsável, mas é incapaz de dar melhores condições de trabalho aos

seus colaboradores. Pesquisas demonstram que essas organizações esquecem que

seus funcionários também precisam ser inseridos nas demandas organizacionais e

serem atendidos. O discurso da “boa empresa” precisa ser acompanhado de

práticas condizentes com a realidade. “Apesar de as organizações divulgarem, a

todo o momento, por meio das estruturas de comunicação corporativa, suas

preocupações com a responsabilidade social, o dia a dia das empresas nem sempre

evidencia coerência entre discurso e prática” (SANTOS, 2007, p. 160).

Santos (2007, p. 169) constata que algumas organizações estão

começando a mudar sua postura, paulatinamente, e que as relações públicas têm

Page 140: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

139

contribuído para tais mudanças, quando constroem relacionamentos duradouros

com todos os seus públicos, e não simplesmente “uma imagem que se desmancha

no ar”. Ainda, para Santos (2007), a reputação resulta do histórico de

relacionamento com os diversos atores sociais, estejam os interesses dos mesmos

convergentes ou não. “À medida que as posturas cotidianas de uma empresa

comunicam coerência com os valores e políticas, consolida-se a confiança em torno

de produtos, marcas e parcerias” (SANTOS, 2007, p. 145).

A confiança também é mencionada por Viana (2006, p. 19). Ao

definir a reputação como um bem intangível, o autor acrescenta: “Reputação é

confiança. E, sem confiança, não existe mercado, não existe relacionamento

possível com o cliente, com o cidadão, com o consumidor”. Almeida (2005, p. 120)

também incorpora o termo: “a reputação pode ser entendida como um crédito de

confiança adquirido pela organização, estando esse crédito associado a um bom

nome, familiaridade, boa vontade, credibilidade e reconhecimento”.

A confiança gera segurança nos relacionamentos e dá estabilidade

aos negócios. Segundo García-Marzá (2008, p. 46), “a confiança não constitui

apenas um ‘facilitador’ para o bom exercício da cooperação e da negociação, mas é

a base primeira para instituir qualquer tipo de interação”. Ao adquirir um produto ou

serviço, ao firmar e estabelecer uma parceria, em qualquer negociação, busca-se a

confiança. Compra-se e vende-se confiança no relacionamento com o cliente, com o

fornecedor, com o colega de trabalho, com os parceiros. A reputação expressa o que

os públicos pensam da organização, mediante experiências concretas e de relações

de confiança.

A preocupação com a reputação das organizações é reforçada por

Villafañe (2003, p. 178):

a reputação corporativa é uma consequência direta da sociedade da informação, uma vez que nunca como agora se dispôs de tanta informação sobre as empresas, o que tem como consequência direta que seus responsáveis devam proteger não sua imagem, mas esse ativo mais estrutural que é sua reputação corporativa – pois estão constantemente expostos a uma comunicação em tempo real de qualquer incidência que os afete, à qual, também em tempo real, a totalidade da comunidade internacional terá acesso.

A disponibilidade dos recursos tecnológicos determinam um controle

maior sobre todos os atos de todas as pessoas. Qualquer fato, qualquer deslize da

Page 141: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

140

organização será prejudicial à sua reputação, por isso, a necessidade de prestar

maior atenção nas ações da organização e de seus representantes. Como o

indivíduo é responsável por suas escolhas, o ideal seria que tivesse conhecimento

para saber fazer as suas escolhas e que optasse pela atitude “correta”, por acreditar

que essa é a mais adequada, de acordo com os interesses coletivos. Desta forma,

busca-se, no contexto contemporâneo, novos parâmetros para atender as

exigências de reflexão e de postura ética tanto da empresa como do indivíduo.

Para Villafañe (2003, p. 168), a reputação está enraizada na história

da empresa, na sua cultura organizacional e no seu projeto empresarial. A história

da empresa expressa os fatos mais marcantes na sua trajetória, sejam estes

positivos ou negativos, também representa o seu comportamento com todos os seus

públicos dentro de uma dinâmica organizacional. É comum a empresa considerar na

sua história as conquistas e esquecer os acontecimentos prejudiciais, até mesmo as

crises. Com as tecnologias disponíveis, é quase impossível esconder algum aspecto

negativo na trajetória ou nos relacionamentos da empresa, assim, a postura de

“ocultar” determinadas informações acaba por prejudicar a sua reputação. O projeto

empresarial está relacionado à definição das estratégias e à forma de administrar os

riscos dos negócios para continuidade no mercado. As decisões erradas ou com

base em análises equivocadas geram a perda de credibilidade. A cultura

organizacional também afeta a reputação. Os membros da organização vivem,

convivem, externalizam a cultura organizacional e as subculturas, principalmente,

pelos seus comportamentos.

A construção e a manutenção de uma reputação requerem o

cumprimento de três condições: sensibilidade organizacional, gestão proativa da

reputação e um comportamento comprometido da organização (VILLAFAÑE, 2001,

p. 5). A sensibilidade organizacional expressa a postura da empresa em não

restringir suas ações às obrigações legais com os seus públicos, é oferecer além. A

gestão proativa está ligada à adoção de uma gestão estratégica integrada aos vários

níveis da organização. O comportamento comprometido da organização revela que

os padrões da empresa precisam estar acima dos apresentados pelo setor.

O esforço para cumprir essas condições e usufruir de uma reputação

traz benefícios à organização, pois “produz um efeito poderoso sobre suas relações

com clientes, empregados, fornecedores e investidores” (FERREL; FRAEDRICH;

FERRELL, 2001, p. 213). A reputação favorável pode servir de critério nas decisões,

Page 142: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

141

enquanto que a inexistência da reputação é o primeiro fator de exclusão. O

comportamento ético constrói caráter e reputação, já o comportamento antiético os

destrói (GUTH; MARSH, 2003, p. 168). Justifica-se, assim, a necessidade de cuidar

e preservar a reputação, avaliar constantemente o impacto que as ações adotadas

terão sobre ela.

Srour (2003, p. 352), também, elenca alguns benefícios que a

reputação proporciona à organização:

1. operar como barreira contra os concorrentes, constituindo uma vantagem competitiva;

2. criar um escudo contra as crises, graças ao apoio que muitos stakeholders se dispõem a oferecer à empresa em dificuldade;

3. reduzir as resistências por parte de quem diverge da empresa; 4. aumentar o valor de mercado da empresa e facilitar o acesso ao

mercado de capitais; 5. contribuir para obter créditos junto a órgãos de financiamento; 6. captar e conservar talentos – muitos profissionais preferem

ganhar menos em empresas, de que possam se orgulhar, a trabalhar em empresas cuja fama é comprometedora;

7. facilitar os relacionamentos com fornecedores, investidores, concorrentes, prestadores de serviços, comunidades locais e autoridades.

Villafañe (2003, p.178 - 180) indica algumas implicações da

informação e da comunicação na reputação como: os atuais canais de informação

que possibilitam a multiplicação das mensagens sobre as organizações, afetando os

seus negócios; as mais diversas fontes de informação que ampliam o poder da

opinião pública; a “transparência” permite o acesso às informações, que são usadas

para comparação com os concorrentes e até mesmo como forma de fiscalização do

seu comportamento; a concentração da mídia em poder de grupos que controlam

diversos veículos, contribuindo para que a mesma informação seja divulgada por

todos os integrantes do grupo; a realização e a divulgação de rankings de reputação.

Berens e Van Riel (2004) resgatam diversas visões a respeito de

reputação presentes nas pesquisas existentes. Neste artigo, os autores dividem, em

três, as perspectivas que os indivíduos têm das organizações: as expectativas

sociais, a personalidade corporativa e a confiança. Estas características são

aplicadas às abordagens de reputação. Os estudos, baseados nas expectativas

sociais, analisam as expectativas das pessoas, em relação ao comportamento das

organizações. As avaliações de personalidade corporativa focalizam os aspectos

Page 143: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

142

que englobam a personalidade das organizações como o estilo, a formalidade ou

informalidade, entre outros. As pesquisas de confiança identificam as percepções de

honestidade, confiabilidade e benevolência das organizações.

Há diferença na análise da reputação, de acordo com a perspectiva

escolhida para os estudos, e que grande parte das pesquisas tem avaliado somente

sob a perspectiva das expectativas sociais (ALMEIDA, 2009). Também, alerta que a

academia tem focado o desenvolvimento de pesquisa sobre identidade e reputação;

“no entanto, ainda não se estabeleceu a definição de um único conceito e construto,

tanto em relação à identidade quanto à reputação” (ALMEIDA, 2009, p. 281). Isto faz

com que os pesquisadores adotem metodologias diferenciadas, tanto para a

mensuração da identidade como da reputação.

O entendimento e a análise dos relacionamentos, entre a

organização e os seus stakeholders, são necessários à compreensão da reputação,

como diferencial organizacional e como ativo intangível, mas, principalmente, porque

a organização pode utilizar essas informações para atender tanto as demandas

como as expectativas de seus públicos, por meio da implementação de políticas e

ações organizacionais (ALMEIDA, 2009). Esta proposta coincide com a visão de

França (2009, p. 220): “[...] o conceito da reputação exige argumentação persuasiva,

para que a organização, mediante a sua ação, seja percebida de maneira constante

como verdadeira e confiável pela opinião pública”.

6.4 REPUTAÇÃO CORPORATIVA: RECONHECIMENTO PELA CONDUTA ÉTICA

A reputação corporativa é uma vantagem competitiva, que é

construída pela utilização da comunicação em parceria com as outras áreas. “A

empresa tem um componente visível chamado de identidade que gera percepções

nos seus diferentes públicos. Essas percepções geram imagens positivas ou

negativas, que se acumulam para moldar a reputação da companhia” (SILVA NETO,

2010, p.7). Esta visão enfatiza somente a comunicação e desconsidera a

necessidade de comportamentos adequados, de condutas éticas, compatíveis à

reputação que se deseja. É evidente que, sem a comunicação, a organização não

conseguirá construir uma reputação, ou melhor, nem mesmo uma imagem, mas, há

Page 144: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

143

de se considerar que as práticas são fundamentais, para que o seu objetivo seja

atingido. Para reforçar, é oportuna a comparação proposta por Villafañe (2003, p.

170) entre as condições necessárias ao desenvolvimento das plantas e a construção

da reputação: “é necessário o tempo, mas também uma estrutura de comportamento

empresarial que faça cristalizar suas virtudes na relação com investidores, clientes,

empregados e com a sociedade em geral”.

Andrade (2006, p. 144) argumenta que a comunicação tem papel

relevante na administração de percepções dos seus públicos, pois deve “ajudar a

fazer com que consumidores, cidadãos e demais públicos se interessem e associem

à marca de uma empresa ou corporação [...] os valores e atributos justos”. A

comunicação organizacional não se preocupa somente com a visibilidade da

empresa e das suas atividades, “mas constrói sentido e significados que levam a um

maior ou menor grau de admiração, respeito, simpatia e confiança por parte dos

públicos” (ALMEIDA, NUNES, 2007, p. 261). Para a construção de relacionamentos

éticos e sobrevivência das empresas, é preciso buscar constantemente as opiniões

e as expectativas dos públicos a respeito da organização, de seus produtos e de

suas atividades.

Almeida e Nunes (2007, p. 261) descrevem o modelo elaborado por

Fombrun e Riel em 2004, denominado “expressividade corporativa”, que engloba as

dimensões que implicam na reputação: visibilidade, distintividade, autenticidade,

transparência, consistência e responsividade. Segundo os autores, a partir desse

modelo, outros estudiosos como Halderen e Riel aprofundaram o assunto e

definiram as três características da comunicação, para expressar a sua identidade:

sinceridade, transparência e consistência. Com base nesse estudo, foi aplicada uma

pesquisa na Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG – para verificar o

impacto das mensagens corporativas sinceras, transparentes e consistentes na

reputação da organização.

A pesquisa revelou que, quando a organização transmite

mensagens com as características descritas acima, causam impressão positiva nos

stakeholders, “indicando que a comunicação organizacional é um dos precedentes

na construção e sustentação da reputação” (ALMEIDA; NUNES, 2007, p. 261). A

comunicação tem papel essencial na constituição e fortalecimento da reputação. A

organização, “que tem diretrizes e políticas claras e bem definidas de comunicação

com cada um de seus stakeholders e que consiga implementar seus processos e

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144

ações de forma integrada, tem obtido resultados melhores em sua reputação”

(ALMEIDA; NUNES, 2007, p. 261).

Para comprovar a teoria que “reputações são moldadas pelo

comportamento organizacional e apenas as mensagens não podem mudar a forma

como o público encara esses comportamentos”, Grunig (2009, p. 102) desenvolveu,

junto com Hung, a teoria cognitiva da reputação para mensurar as “estruturas

cognitivas que os públicos têm das organizações”. Um dos resultados da pesquisa

demonstra que “a lembrança do bom ou do mau comportamento teve o mais

significativo efeito na forma como os participantes de nosso estudo enxergavam o

tipo e a qualidade de relacionamentos com uma organização” (GRUNIG, 2009, p.

103). Esta constatação reforça a teoria que, no caso dos públicos mais envolvidos,

“os comportamentos gerenciais influenciam relacionamentos, e que o tipo e a

qualidade de um relacionamento levam esses públicos a associar atributos ora

positivos, ora negativos, a uma organização (“imagens” positivas ou “negativas”)”

(GRUNIG, 2009, p. 103). Essa pesquisa ainda sugere que os profissionais de

relações públicas utilizem também os relacionamentos como indicadores de

avaliação da organização. Para que se tenha qualidade no relacionamento, é

preciso que a empresa tenha uma gestão ética em todos os seus processos e

relacionamentos.

Grunig (2009, p. 100-101) defende que “a atenção dada aos

relacionamentos resultará, fundamentalmente, na melhoria da reputação da

organização. A reputação, entretanto, não pode ser administrada diretamente, e só

ocorre quando se cultivam os relacionamentos”. Como é intangível, só é possível

construir e manter a reputação, por meio das relações estabelecidas entre a

organização e os seus públicos. Ressalta-se a responsabilidade de cada integrante

da organização e a valorização do seu papel, para a prática de um comportamento

ético que contribuirá para a credibilidade do profissional e da organização na qual

está vinculado e na construção da reputação.

Dentro desse contexto, França (2009, p. 219-220) observa que as

relações públicas são construtores da imagem e da reputação da organização;

porém, “pouca preocupação há sobre a necessidade de se concentrar em um

suporte conceitual capaz de revelar a organização e seus valores, sustentar e

persuadir a opinião pública do por que acreditar nela, na sua marca, nos seus

produtos” (FRANÇA, 2009, p. 219-220). A afirmação é conveniente porque as

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145

relações públicas preocupam-se em defender a reputação e esquecem que é

preciso “mostrar” a organização aos seus públicos, pois o conhecimento a respeito

da empresa dá credibilidade e aumenta a confiança.

Srour (2003), ao discutir a responsabilidade social empresarial, suas

vantagens e como essas atitudes contribuem para a construção da “empresa

cidadã”, sustenta que o comportamento ético influencia diretamente a formação da

reputação e o aumento do grau de confiança na empresa. A responsabilidade social

exige empenho das organizações e envolvimento dos seus gestores, para obter os

objetivos pretendidos.

Para Srour (2003, p. 348),

As empresas que se preocupam com a imagem corporativa, com a valorização de suas marcas ou com a reputação de que desfrutam, acabam também compondo uma agenda em que a reflexão ética ganha estatuto de estratégia relevante; afinal, a reputação é uma das facetas mais vulneráveis que as empresas apresentam.

Quando uma organização define, como sua política, a conduta ética,

ela também poderá cobrar tal posicionamento dos seus gestores e dos seus

colaboradores e, dessa forma, obterá mais comprometimento de seu público interno,

que perceberá que toda a organização está alinhada a esse propósito. Desta forma,

os outros públicos também perceberão as mudanças que, se forem consistentes e

duradouras, contribuirão e influenciarão a reputação corporativa.

Percebe-se que a reputação traz inúmeros benefícios à organização.

Nesse contexto, o Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios justifica o investimento

em ética porque gera reputação:

A ideia inspiradora e motivadora da gestão responsável de uma empresa deve ser a sua “reputação” , ou seja, ser publicamente reconhecida, por todos os seus stakeholders, como uma empresa ética e socialmente responsável, empenhada em salvaguardar os direitos humanos e atenta às questões sociais e ambientais, pois a reputação é o recurso mais importante para o sucesso da empresa e representa um ativo intangível que agrega valor e é a base sustentável para o crescimento da empresa ao longo do tempo (INSTITUTO BRASILEIRO DE ÉTICA NOS NEGÓCIOS, 2008, p. 3).

O modelo RepTrak, conforme Figura 2, é uma metodologia de

avaliação e mensuração da reputação corporativa desenvolvido por Riel e Fombrun

Page 147: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

146

e utilizado pelo Reputation Institute a partir das expectativas das pessoas

(REPUTATION INSTITUTE, 2009). Ele está dividido em sete indicadores: produtos,

inovação, ambiente de trabalho, governança, cidadania, liderança e desempenho.

Figura 2 – Modelo RepTrak

Fonte: Reputation Institute (2009).

Sob a apreciação deste modelo, fica evidenciado que a ética

interfere e contribui para a formação da reputação. O instrumento utilizado para

avaliação da reputação prevê a análise da ética, que aparece inserida na dimensão

da governança corporativa, que abrange os atributos abertura e transparência,

comportamento ético e justiça na condução dos negócios e, em outras dimensões,

também, constam características relacionadas à ética.

A pesquisa realizada pelo Reputation Institute, 2009 Global

Reputation Pulse, analisou seiscentas empresas com maior receita bruta de trinta e

dois países, quanto aos critérios estima, simpatia, admiração e confiança, e nos sete

indicadores de desempenho já citados, considerados as bases da reputação. A

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147

pesquisa foi feita por meio de um questionário on line com o objetivo de mapear a

reputação das empresas mediante a avaliação do ponto de vista do público geral. As

empresas brasileiras de melhor reputação estão demonstradas na Figura 3.

Figura 3 – Empresas brasileiras de melhor reputação - 2009 Global Reputation Pulse

Fonte: Reputation Institute, 2010, p. 7.

De acordo com a pesquisa, o peso da dimensão governança

corporativa (que engloba o comportamento ético), no Brasil, representa uma

porcentagem de 16,2% na formação da reputação, enquanto na avaliação mundial a

porcentagem é de 15,1 %. A pesquisa também concluiu que, “aumentou a

importância dada pelo público a aspectos éticos, de transparência e cidadania”

(REPUTATION INSTITUTE, 2010, p. 4). Estas constatações vêm ao encontro deste

estudo que defende o investimento em ética organizacional e, também, comprova-se

a relação entre ética e reputação corporativa. É possível, portanto, inferir que o

comportamento ético influencia diretamente a construção e a manutenção da

reputação de uma organização.

A relação ética e reputação também será descrita nos próximos

capítulos, ao tratar a respeito na pesquisa junto às empresas selecionadas.

Defende-se que a ética contribui de forma relevante e significativa, para a

construção da reputação, e que é a ética que sustenta uma reputação corporativa

duradoura.

Page 149: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

148

7 MATERIAIS E MÉTODOS

Neste capítulo, demonstram-se os objetivos da pesquisa, a

metodologia empregada, os pressupostos. Caracteriza-se a amostra da pesquisa,

apresenta as organizações pesquisadas e os seus entrevistados e demonstra os

dados da pesquisa com as empresas selecionadas, com a diretora de comunicação

e e com o consultor em ética empresarial. Efetua-se a análise dos códigos de ética

das empresas pesquisadas, primeiramente, a respeito da sua divulgação no site

institucional, depois sobre os princípios que constam no guia, relacionando-os à

proposta de conteúdo sugerida pela pesquisadora. Discute-se sobre os guias de

análise da pesquisa que nortearão a discussão dos resultados.

O interesse pelo tema ética teve origem, dentre outros aspectos,

pelo fato de a pesquisadora ter sido responsável pela disciplina “ética e legislação

em relações públicas” por alguns anos, oportunidade em que constatou a limitação

de bibliografia específica. Além dos conteúdos obrigatórios estabelecidos na ementa

da disciplina, as discussões eram geradas a partir de assuntos ou acontecimentos

do dia a dia, como possibilidade para maior aprofundamento das questões em torno

da tomada de decisão. Gerava-se um ambiente de reflexão, de intercâmbio com

outras áreas profissionais, além de oportunidade de diálogo para a construção de

um comportamento mais ético dos futuros profissionais.

O que contribuiu também para a decisão de abordar o tema ética

nas organizações foi a atual demanda por conhecer o discurso ético e sua influência

nos indivíduos, em sua vivência com elementos de verdade ou de simples

aparência. O discurso de empresas, políticos, representantes de classes coloca a

ética no primeiro escalão de prioridades, entretanto, fala-se muito e pouco se pratica.

Isso é evidente, pela quantidade de escândalos que ocorreram e ocorrem no país,

sem que comitês ou comissões concluam os “seus trabalhos” e consigam provar o

envolvimento desse ou daquele indivíduo. E essa prática não está restrita ao poder

público.

Na área de relações públicas, a ética é bastante discutida, mas

poucos autores como Humberg (2006), Simões (1995, 2001), Grunig e Grunig

(1992), Bowen (2005), Gonçalves (2006), Kunsch (1997), entre outros, trataram,

especificamente, deste assunto de modo mais direcionado em suas obras.

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149

Recentemente, o tema ética e comunicação organizacional é apresentado em obra

organizada por Barros Filho (2008), e a Revista Organicom (2008) teve um número

especial sobre ética e comunicação nas organizações.

Pode-se afirmar um espaço para expansão das referências e novos

estudos. Entre as abordagens encontradas nas publicações, o foco na maioria dos

estudos tem sido a ética profissional, o que pode ser justificado por causa da

vinculação com o ensino de graduação e pelo fato desse conteúdo estar presente na

grade curricular desses cursos. Justifica-se, assim, a necessidade de estudar o

assunto com novos enfoques.

7.1 OBJETIVOS

Os objetivos gerais deste trabalho eram:

• Conhecer como se dá a aplicabilidade dos conceitos de ética nas

práticas das organizações e nos relacionamentos destas com

seus públicos;

• Estabelecer a relação entre ética organizacional e reputação

corporativa, mediante análise dos meios pelos quais as

organizações, em estudo, gerenciam suas práticas internas e

externas e da forma como propagam suas condutas.

Os objetivos específicos eram:

• Conhecer os motivos apresentados pelas organizações para

justificar o incentivo da ética como valor e como preocupação

organizacional;

• Conhecer a que elementos as organizações associam os

benefícios e as dificuldades para implantação/disseminação da

gestão ética nas organizações;

Page 151: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

150

• Identificar os instrumentos com os quais as organizações

estudadas administram as questões éticas nos seus

relacionamentos – e que nível de interação é conseguido com os

públicos;

• Analisar o modo como se dá a participação dos públicos na

gestão da ética organizacional.

7.2 METODOLOGIA

A escolha da metodologia é fator determinante, na realização da

pesquisa, porque representa “o caminho do pensamento e a prática exercida na

abordagem da realidade” (MINAYO, 2002, p. 16). Dencker e Da Viá (2001, p. 27)

defendem que “a metodologia não é, senão, uma reflexão sobre a atividade

científica que está sendo desenvolvida para obter, em determinado momento, um

retrato dessa atividade – retrato esse que diferirá de acordo com a ciência sobre a

qual estamos refletindo”. A definição de metodologia adequada garante credibilidade

ao estudo e às informações sobre os procedimentos que contribuem para isto.

Primeiramente, realizou-se um levantamento do estado da arte,

agrupando a produção bibliográfica, que vem sendo realizada tanto no ambiente

acadêmico quanto no âmbito das próprias organizações. Esta metodologia permite o

levantamento de informações escritas acerca do assunto escolhido, com o objetivo

de buscar outros enfoques a respeito do mesmo tema ou de selecionar trabalhos já

realizados, que podem contribuir com a abordagem do problema de pesquisa. Desta

forma, a organização da fundamentação teórico-metodológica será destinada a

fornecer ferramentas para levantar dados e esclarecer as questões relacionadas ao

objeto de pesquisa e também para construir quadros de referência sobre ética nas

organizações. Esse referencial teórico servirá de base para a aplicação da pesquisa

de campo.

A pesquisa de campo adotada, neste trabalho, constitui um estudo

exploratório, de acordo com a proposta de Aaker et al. (1990, p. 61), para quem “a

pesquisa exploratória é utilizada, quando se busca uma compreensão da natureza

geral de um problema, das possíveis decisões alternativas e das variáveis relevantes

Page 152: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

151

que devem ser consideradas” Neste caso, lembram os autores que “os métodos de

pesquisa são altamente flexíveis, desestruturados e qualitativos, já que o

pesquisador inicia sem pré-concepções peremptórias, quanto ao que será

encontrado” (AAKER et al, 1990, p.61).

Para Gil (2008, p. 41), a pesquisa exploratória visa “proporcionar

maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a

constituir hipóteses”. Este direcionamento serviu, no caso do presente estudo, para

sustentar os procedimentos e cumprir os objetivos propostos. A pesquisa foi

realizada por meio de entrevistas em profundidade.

A definição da entrevista, como técnica de pesquisa, deu-se,

principalmente, pela flexibilidade proporcionada ao pesquisador, permitindo maior

liberdade na coleta de dados, com o aprofundamento de questões levantadas,

interpelação de questões que surgem no decorrer da abordagem e possibilidade de

reelaboração dos conceitos de fundamental importância na análise dos dados

coletados.

A entrevista foi do tipo semiestruturada (FLICK, 2004, p. 106) com a

utilização de um roteiro com os pontos relevantes ao estudo e aberto ao acréscimo

de outras questões que podem ser levantadas, de acordo com o desenvolvimento da

pesquisa. A escolha das empresas vencedoras do Prêmio Aberje Brasil deu-se por

tratar-se de uma entidade de grande credibilidade e que promove a discussão da

comunicação organizacional e engloba empresas associadas de diversos ramos de

atividade organizacional. Outro fator em favor da decisão é porque essa instituição

prega a valorização da ética, como sustentáculo das organizações, e isto pode ser

comprovado no documento em comemoração aos 40 anos da Aberje, em que consta

a ética como um dos valores da Aberje (NASSAR; RIBEIRO; WITZIG, 2007, p. 12).

Para estabelecer o universo da pesquisa, delimitou-se o período de

2004 a 2008 e escolheu-se, intencionalmente, as categorias que apresentam relação

com o tema, segundo a visão da pesquisadora. Como as categorias foram alteradas

nesse período, instituiu-se como parâmetro as categorias de 2008 e selecionou-se

as que estão vinculadas às iniciativas de relacionamentos com os diversos públicos,

conforme Quadro 16.

.

Page 153: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

152

Categoria Período de realização

Comunicação de Ações de Sustentabilidade 2008

Comunicação e Relacionamento com a Comunidade 2004 a 2008

Comunicação e Relacionamento com a Imprensa 2007 e 2008

Relacionamento com a Imprensa 2004 a 2006

Comunicação e Relacionamento com Fornecedores 2007 e 2008

Comunicação e Relacionamento com Investidores 2007 e 2008

Relacionamento com Investidores ou Cooperados 2006

Relacionamento com o Investidor 2004 e 2005

Comunicação e Relacionamento com o Público Interno 2007 e 2008

Relacionamento com o Público Interno 2004 a 2006

Comunicação nas Crises Empresariais 2007 e 2008 (dois vencedores 2008)

Empresa do Ano em Comunicação Empresarial 2004 a 2008

Quadro 16 – Categorias selecionadas para pesquisa

Fonte : Aberje, 2009

Após a definição das categorias, foi feita a relação das organizações

vinculadas a essas categorias, excluiu-se a repetição de empresas que apareciam

mais de uma vez, por terem sido premiadas em categorias ou em anos diferentes.

Para delimitação final do universo de pesquisa, foram selecionadas as empresas

com sede no estado de São Paulo a serem entrevistadas. Justifica-se a escolha do

estado de São Paulo, por concentrar o maior número de empresas premiadas e,

assim, possibilitar a pesquisa com uma diversidade de organizações. Dessa forma,

dez empresas formaram a amostra. Todas foram contatadas por telefone e e-mail e

houve dificuldade em conseguir as informações a respeito dos responsáveis pelo

comitê de ética ou pelo departamento de comunicação.

Após o primeiro contato, via e-mail ou telefone, a orientadora enviou

um e-mail com uma carta de apresentação da pesquisa para cada representante da

empresa selecionada. Posteriormente, a pesquisadora fez os contatos via telefone

para agendamento das entrevistas. Somente seis organizações concordaram em

participar da pesquisa. São elas: Banco Itaú Unibanco, Carrefour Comércio e

Indústria Ltda, CPFL Energia, Gol Transportes Aéreos S.A., Holcim S.A., Produtos

Roche Químicos e Farmacêuticos S.A.

Page 154: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

153

A pesquisa foi aplicada em junho de 2009, por meio de entrevista em

profundidade, com a utilização de um roteiro semiestruturado – Apêndice A. As

entrevistas foram realizadas com os responsáveis pelo programa de ética da

organização e, nos casos de inexistência de um setor específico de gestão da ética,

entrevistou-se o representante do departamento de comunicação das empresas

selecionadas.

Após as entrevistas com os representantes da empresas, percebeu-

se a necessidade de realização de mais três entrevistas, para checagem dos dados

coletados na pesquisa com as empresas, visando obter opiniões externas ao

ambiente organizacional a respeito da contratação de atividades relacionadas à

implantação e gestão da ética nas organizações e, também, sobre o posicionamento

do profissional de relações públicas e de comunicação organizacional, nesse

processo. A entrevista com um roteiro semiestruturado – Apêndices B e C - foi feita

em junho e agosto de 2009, somente com dois profissionais, porque não foi possível

o agendamento com a terceira pessoa. Os participantes dessa fase foram a diretora

executiva da Agência de Comunicação LVBA e profissional de relações públicas,

Giselle Lorenzetti, e o consultor de ética empresarial e autor de vários artigos com o

tema ética, Mario Ernesto Humberg.

Os resultados obtidos junto a esses profissionais indicam possíveis

caminhos para a absorção de profissionais de relações públicas e de comunicação

organizacional e também para a gestão da ética organizacional e não se constituem

em dados de maior relevância na testagem de pressupostos. As informações

coletadas servirão como comparativo com os resultados dos pressupostos para

verificar a concordância ou divergência entre as visões das empresas e dos

prestadores de serviços.

Os dados coletados na pesquisa foram utilizados na testagem dos

pressupostos. Primeiramente, foi feita a verificação com as informações dos

representantes das empresas selecionadas, depois com o Consultor e com a

Diretora da Agência de comunicação. Em linha com os objetivos da pesquisa, o

conjunto de nove pressupostos levantados foram testados, quando do

encaminhamento dos dados para análise, caracterizando-se um método hipotético-

dedutivo. Conforme Lakatos e Marconi (1991), esse método de extração popperiana

consiste em identificar um problema, que tem origem em geral de conflitos entre

expectativas e teorias existentes, levantar hipóteses (no caso deste estudo, foram

Page 155: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

154

lançados pressupostos) e efetuar testes (chamados de falseamento). Os

pressupostos estão dispostos no Quadro 17.

Pressuposto 1 A ética vem sendo adotada pelas organizações, como conceito

fundamental para uma reputação corporativa favorável.

Pressuposto 2 A ética organizacional é a base das organizações porque estas a

consideram essencial nos negócios.

Pressuposto 3 A resistência dos públicos à implantação da gestão ética, é a

principal dificuldade.

Pressuposto 4 Um dos meios utilizados para a propagação da ética nas

organizações é a divulgação do código internamente e a todos

os públicos.

Pressuposto 5 As organizações consideram relevante a participação de toda a

empresa no processo de gestão ética e por isso criam o comitê

de ética com representatividade de todas as instâncias

organizacionais.

Pressuposto 6 Há preocupação das organizações em investir na ética, nos

relacionamentos com todos os públicos, e não somente com os

públicos estratégicos.

Pressuposto 7 Os profissionais de comunicação organizacional e relações

públicas participam de todo o processo de gestão ética nas

organizações.

Pressuposto 8 A decisão pela implantação da ética organizacional é tomada

pela alta administração.

Pressuposto 9 As organizações utilizam o diálogo, como meio para implantação

e gerenciamento da ética organizacional.

Quadro 17: Pressupostos

Fonte: Dados da pesquisa

As informações coletadas foram analisadas qualitativamente a partir

de um guia de percurso extraído da fundamentação teórica e em total coerência com

os objetivos específicos propostos, baseando-se nos estudos sobre ajustamentos de

Goffman (1999) e de poder de Foucault (1999). Os guias de análise são

apresentados no próximo tópico e os resultados dessa análise no próximo capítulo.

Page 156: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

155

7.3 GUIAS DE ANÁLISE

A fundamentação teórico-metodológica explanada nos capítulos

anteriores desdobra-se numa multiplicidade de elementos possíveis para análise –

Quadro 18.

Ambiente organizacional:

• a organização como responsável em promover condições para o agir ético e também em

estabelecer procedimentos que evitem a conduta inadequada em qualquer decisão;

• os valores organizacionais incorporados à cultura da empresa e internalizados pelos

integrantes da organização;

• incentivo à comunicação eficaz e a comunicação como possibilidade de discussão de

assuntos que ficam “à margem” da empresa;

• a participação como facilitadora da implantação do código de ética;

• o nível de participação da alta administração;

Relações públicas e comunicação organizacional:

• o papel estratégico do profissional de relações públicas e comunicação organizacional, na

tomada de decisão das organizações;

• o profissional como promotor da ética em todos os relacionamentos da organização.

Reputação corporativa:

• formas de manifestação da reputação e esta avaliada como ativo.

• o comportamento ético influencia diretamente na formação da reputação e no aumento do

grau de confiança na empresa.

Quadro 18: Dimensões teóricas

Fonte: Dados da pesquisa

A fim de levantar os resultados da pesquisa e conduzir a discussão

de seu significado, um guia – Quadro 19 - foi estabelecido a partir das noções

implicadas no pensamento dos autores e pensadores convocados. As análises

serão projetadas, com base na aplicação dessas guias às dimensões teóricas

presentes neste estudo.

Page 157: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

156

Princípios e possibilidades:

A ética e sua capacidade de sinalizar o agir com princípios e indicar possibilidades. A ética

vista como ação de estabelecer os procedimentos para o dia a dia da empresa e não

conceitos filosóficos ideais.

Poder:

Presença de elementos como disciplina, norma, controle, técnicas e táticas de dominação,

ponto panóptico e o funcionamento automático do poder. Vigilância permanente em seus

efeitos, mesmo sendo descontínua em sua ação.

Ajustamentos:

Ajustamento primário e ajustamento secundário. Os três elementos básicos do sistema de

privilégios: 1) “regras da casa”; 2) “pequenas premiações”; 3) “castigos”.

Quadro 19: Guias de análise

Fonte: Dados da pesquisa

7.4 DADOS DA PESQUISA

Apresenta-se neste tópico a caracterização das empresas e dos

entrevistados participantes da pesquisa, bem como a tabulação das entrevistas. As

empresas são: Banco Itaú Unibanco, Carrefour Comércio e Indústria Ltda, CPFL

Energia, Gol Transportes Aéreos S.A., Holcim S.A., Produtos Roche Químicos e

Farmacêuticos S.A. Todas as empresas participantes da pesquisa se enquadram na

categoria grande empresa. São pertencentes a setores distintos: Banco Itaú

Unibanco – Sistema financeiro, Carrefour Comércio e Indústria Ltda – Varejo; CPFL

Energia - Distribuição, geração e comercialização de energia; Gol Transportes

Aéreos S.A. - Aviação comercial; Holcim S.A. - Cimentos, concretos e agregados e

coprocessamento na área de Materiais de Construção; Roche S.A. Brasil – Saúde.

O Carrefour é pioneiro no mercado varejista do país, com a

inauguração de hipermercados, em 1975. Hoje, o Grupo Carrefour no Brasil conta

com cento e noventa unidades em 13 estados e o Distrito Federal, com diversos

formatos de lojas e serviços, como postos de combustíveis, drogarias, agências de

turismo, serviços digitais, entre outros. O grupo Carrefour é líder de mercado no

setor supermercadista, com cinquenta e cinco mil funcionários. No mundo, o Grupo é

Page 158: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

157

o segundo maior varejista do mercado, presente em vinte e nove países

(CARREFOUR, 2009).

A Holcim é líder mundial em cimento, concreto e agregados. Está no

Brasil desde 1951 e opera na região Sudeste e no Distrito Federal, empregando,

diretamente, cerca de duas mil e duzentas pessoas. A gestão da Holcim está

baseada nos princípios do Desenvolvimento Sustentável (HOLCIM, 2009).

A CPFL Energia é uma holding que atua no setor elétrico brasileiro,

nos segmentos de distribuição, geração e comercialização de energia elétrica, nos

mercados livre e regulado. É a maior companhia privada do setor elétrico brasileiro.

Conta com cerca de sete mil funcionários (CPFL ENERGIA, 2009).

O Itaú Unibanco é um banco de capital nacional, que está entre as

vinte maiores instituições financeiras do mundo, de acordo com o seu valor de

mercado. Em 30 de junho de 2009, o Itaú Unibanco compreendia três mil,

setecentas e oito agências de serviços completos em todo o Brasil, operava

novecentos e quarenta e nove postos de atendimento bancário - PABs e vinte e

nove mil, setecentos e três caixas eletrônicos. Conta com cento e oito mil

funcionários Itaú Unibanco (ITAÚ, 2009).

A Gol é uma companhia aérea que presta serviço de baixo custo -

low cost / low fare. Iniciou suas atividades no dia 15 de janeiro de 2001. Conta com

dezessete mil colaboradores. Com uma frota de cento e seis aeronaves, oferece

quase oitocentos voos diários, que atendem cinqüenta e nove destinos em nove

países. A Gol é responsável pelo controle das marcas Gol, Smiles, Varig, Gollog e

Voe Fácil (GOL, 2009).

A Roche Brasil é uma das maiores empresas da indústria

farmacêutica. Produz e/ou comercializa medicamentos para o tratamento de câncer,

transplante, virologia (hepatites e AIDS), doenças autoimunes, doenças

inflamatórias, obesidade, osteoporose e sistema nervoso central. Segundo dados de

janeiro de 2009, totalizam um mil, trezentos e setenta e cinco funcionários no Brasil,

sendo um mil, trezentos e três funcionários e setenta e dois estagiários (ROCHE

BRASIL, 2009).

Todas as entrevistas para a realização da pesquisa foram marcadas

com antecedência. A Gol teve uma participação de forma diferenciada. A entrevista

foi desmarcada, devido a questões urgentes. Após as várias tentativas em

reagendar a entrevista, o representante da empresa encaminhou as respostas do

Page 159: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

158

questionário por e-mail. Este instrumento também será considerado, apesar do

método de aplicação ter sido diferente.

Os representantes das empresas participantes da pesquisa foram:

George Barcat - Especialista em ética empresarial do Banco Itaú Unibanco1, Albert

Assunção Alves - Gerente de Riscos Corporativos do Carrefour Comércio e Indústria

Ltda, Roseli Cordeiro Silveira - Analista de sustentabilidade e Coordenadora do

programa de gestão de ética da CPFL Energia, Marco Antonio Piller - Diretor de

Gestão de Pessoas e Aeroportos da Gol Transportes Aéreos S.A., Ana Claudia Pais

- Gerente de Comunicação da Holcim S.A., Nira Broner Worcman - Gerente de

Comunicação Corporativa da Roche S.A. Brasil.

Em relação ao perfil, a graduação dos entrevistados é diferenciada:

três participantes concluíram um curso de graduação, sendo direito, jornalismo e

sociologia; e os outros três fizeram duas graduações: direito e administração,

jornalismo e administração pública, engenharia e filosofia. Quanto à pós-graduação,

um entrevistado não possui o título; três fizeram um curso de pós-graduação –

especialização em Marketing, especialização em Gestão Empresarial e mestrado em

Jornalismo Científico; um concluiu dois cursos - especialização em Qualidade e MBA

em Sistema de Gestão em Sustentabilidade; e um fez três cursos de pós-graduação

– especialização em Inteligência, especialização em Inteligência da Informação e

especialização em Varejo. Quanto ao tempo que trabalham na empresa, três

participantes estão há menos de cinco anos; dois participantes atuam na

organização, entre seis e dez anos, e uma funcionária está há mais de quinze anos,

considerando o tempo de serviço como consultora.

No Banco Itaú Unibanco e na CPFL Energia, foram criados

departamentos ou áreas específicas para o desenvolvimento e gestão de programas

de ética. Nas outras empresas, não há programas de ética. No Carrefour, apesar de

não existir um programa de ética, há um departamento específico que cuida da

aplicação e gerenciamento do código de ética, o setor de riscos corporativos. Na

Gol, o código de ética está vinculado ao setor de Gestão de Pessoas e Aeroportos.

Na Roche, cada departamento é responsável pela aplicação e gerenciamento do

guia de ética. Já na Holcim, a responsabilidade é do board da empresa. O comitê de

1 Segundo o informante, o Banco Itaú passou a ser denominado Banco Itaú Unibanco, devido à fusão com o Banco Unibanco.

Page 160: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

159

ética está implantado no Carrefour, CPFL, Gol e Itaú Unibanco. O Quadro 20 ilustra

estas informações.

Organizações Programa de

Ética

Código de

Ética

Departamento

Específico

Comitê de

Ética

Carrefour -- XX XX XX

CPFL Energia XX XX XX XX

Gol -- XX -- XX

Holcim -- XX -- --

Itaú Unibanco XX XX XX XX

Roche -- XX -- --

Quadro 20 –Gestão da ética nas organizações estudad as

Fonte: Dados da pesquisa

Para uma gestão ética, é preciso que os princípios organizacionais

estejam em consonância com esse objetivo e que todos os seus públicos tenham

conhecimento a respeito. O Quadro 21 apresenta os princípios organizacionais –

missão, visão e valores/princípios – disponíveis no site das empresas pesquisadas.

No site do Itaú Unibanco, não consta a missão da empresa e, no da Roche, não se

tem a visão da empresa.

7.4.1 Entrevistas com as Empresas

Das empresas estudadas, duas possuem um programa de ética

estruturado, uma está em processo de desenvolvimento e outras três não possuem

programa específico de ética. Cada organização estudada passou por um processo

diferenciado, no que se refere ao desenvolvimento da ética organizacional. O

primeiro instrumento para a gestão da ética foi a elaboração e implantação de um

código de ética. Mesmo as empresas que não possuem um programa de ética,

disponibilizam o código de ética, como pode ser percebido no quadro a seguir.

Page 161: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

160

No Carrefour, decidiu-se pela implantação do código de ética, ao se

constatar que a empresa era “consuetudinária2” e também devido a problemas

comportamentais detectados. Na CPFL, a decisão partiu da diretoria motivada por

um episódio ocorrido, quando os eletricistas da CPFL podaram exageradamente

alguns flamboyants centenários de uma avenida em Campinas. Matéria negativa foi

gerada na primeira página do principal jornal da cidade, e a situação fez com que a

empresa precisasse rever os seus valores para propagar uma mudança de postura

junto aos colaboradores.

No Itaú Unibanco, apesar de ser considerada uma das primeiras

instituições a elaborar um código de ética, foi a partir de uma solicitação do

presidente da empresa que se desencadeou um estudo para discussão em torno da

ética organizacional e a construção de um código de ética corporativo que

atendesse a holding. Na Roche e na Holcim, não há um programa de ética

estruturado, sendo que a Roche trabalha com a departamentalização do código de

ética. A Holcim prega a transversalidade em todas as suas ações. Na Gol, devido à

coleta de dados ter sido processada por envio de questionário, não foi possível

identificar como surgiu o código de ética. A implantação de programas de ética e até

mesmo do código de ética estão vinculadas à decisão da alta administração. A

organização só terá esta preocupação, se houver o entendimento do primeiro

escalão de que se trata uma necessidade vital para a empresa.

Quanto à preocupação da organização com a ética, todos os

entrevistados relataram que suas empresas se preocupam com a ética. Alguns

citaram, como maior desafio, a incorporação dos conceitos éticos na cultura

organizacional, para que todas na organização considerem a ética em suas decisões

e ações. A preocupação é demonstrada a partir do momento em que a maioria

dessas empresas considera a ética no planejamento estratégico.

Das empresas entrevistadas, três passaram por processo de

aquisição e incorporação de novas empresas: o Carrefour com a aquisição do

Atacadão; a CPFL com a incorporação da RGE; o Itaú com a aquisição do Unibanco.

Nos três casos, houve ou está havendo a incorporação também do processo de

gestão ética. Na CPFL, o processo está bem adiantado, no Itaú Unibanco, o estudo

dos dois códigos de ética ainda está acontecendo e no caso do Carrefour, a gestão

2 As normas do Carrefour eram fundamentadas nos usos e nos costumes da empresa, não estavam escritas.

Page 162: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

161

ainda não está unificada. As três organizações apontam a questão da cultura

organizacional como fator de resistência. O trabalho tem sido desenvolvido para

abordagem das diferenças, e os representantes das empresas estão em busca da

construção ou adaptação dos programas já existentes, a partir de estudos

comparativos da realidade das organizações envolvidas. Essas empresas salientam

que não há imposição do programa ou do código de ética da empresa majoritária,

mas que têm investido no processo de construção e de discussão dessas questões

de forma igualitária.

A gestão da ética organizacional, na maioria das empresas, fica sob

a responsabilidade do Comitê de ética. A composição desse Comitê varia de

empresa para empresa, mas está evidente que a participação dos funcionários é

mínima, em algumas vezes, costuma se dar por meio de um representante. As

empresas ressaltam que o incentivo à participação dos públicos é feita por meio dos

canais de comunicação disponíveis e também pelos canais específicos dos

programas de ética. Na metade das empresas estudadas, há um “gerente”,

geralmente subordinado ao Comitê de ética, que trata da aplicação, condução e

monitoramento do código de ética, e também desenvolve as ações de divulgação e

disseminação, além de receber e encaminhar as questões do dia a dia relacionadas

à conduta ética de todos os públicos.

Na Holcim, as áreas jurídica e comercial são responsáveis em

fornecer o treinamento aos novos funcionários e promover as atualizações desse

treinamento, que podem ser feitas em periodicidade anual ou a cada dois anos. Já

na Roche, é o departamento legal que trata de relacionamentos com vários públicos

e com esclarecimento de dúvidas. Todavia, caso esse departamento não consiga

resolver a questão, o assunto é encaminhado à sede da empresa. Em termos de

operacionalização, nas duas empresas, a cada departamento, cabe-lhe preocupar-

se com a aplicação da ética em suas atividades. Na Gol, essa questão não fica

explícita.

A participação na elaboração do código de ética depende do perfil

da administração da empresa. No Carrefour, houve uma parcela de participação dos

colaboradores e dos gestores. Na CPFL, houve participação de um grupo

representante de vários segmentos e, na evolução do processo, percebeu-se a

necessidade de contratação de filósofos, especialistas renomados, para o

desenvolvimento de programas de educação e de disseminação. A esse propósito,

Page 163: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

162

criaram-se várias formas de envolvimento dos públicos nas questões em torno do

assunto ética. As ações também envolveram os colaboradores de outras

localidades.

No Itaú Unibanco, também, houve a participação dos funcionários, e

foram criadas várias formas de participação e engajamento na gestão da ética como

o programa de educação continuada. Houve, ainda, a avaliação de consultoria

externa para promover o direcionamento dos trabalhos desenvolvidos. Na Holcim e

na Roche, ficou evidente que a definição tem origem na alta administração. No caso

específico da Holcim, há espaço para participação dos públicos em todos os

assuntos da organização, em razão de existirem diversas comissões com moradores

vizinhos das fábricas, ONG’s, dentre outro. No entanto, como já foi falado, a ética é

tratada de forma transversal, ou seja, permeia todos os assuntos da organização.

Todas as organizações utilizam as pesquisas como forma de

mensurar as questões que envolvem a ética organizacional, para avaliar problemas

que possam surgir nesse âmbito, cujos reflexos, para a imagem e reputação da

organização, serão objeto de preocupação. Para acompanhar e incentivar atitudes

éticas, as empresas incentivam a discussão e adoção de diversas alternativas. Na

CPFL, os destaques são para o espaço cultural por meio da oferta de módulos sobre

ética com a participação de especialistas no assunto; a rede ética; os fóruns

internacionais; os espaços para participação de formadores de opinião dos quatro

segmentos (universidade, empresa, sociedade civil e comunidade); o “ciclo de

seminários para áreas específicas” definidas a partir de estudos de vulnerabilidade

dos setores internos da organização; a Rede de Valor, canal de diálogo com os

fornecedores por meio de seminários e treinamentos.

No Carrefour, os meios de disseminação são o portal corporativo

interno para os colaboradores que têm acesso aos computadores, painéis, reuniões

de bom dia, revista trimestral, encontros corporativos e premiações. Na Holcim,

utilizam-se os treinamentos, os códigos de conduta e as ferramentas de

comunicação disponíveis na empresa como as publicações, a intranet, e as próprias

auditorias. Na CPFL, o programa de ética está vinculado à área de comunicação,

sendo o plano de comunicação um dos itens do sistema de gestão da ética. No Itaú

Unibanco, também, há o plano de comunicação, que engloba todos os veículos de

comunicação disponíveis na empresa como revistas corporativas, informes, intranet,

sites entre outros – incluindo o programa de educação continuada em ética com a

Page 164: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

163

oferta de cursos, workshops, palestras, e-learnings. Na Roche, o meio utilizado para

disseminar a ética é o código de conduta, que consta no site e também está

disponível na versão impressa. Na Gol, utilizam-se o portal corporativo para divulgar

o código de ética aos colaboradores, o e-learning sobre ética e os canais específicos

para denúncias ou esclarecimentos sobre ética, além da promoção de palestras e

eventos de conscientização que envolvam toda a empresa.

Todos consideram a comunicação como fundamental no processo

de gestão e implantação da ética organizacional. Quanto ao papel, a maioria

entende que deva ser de educação para disseminar os princípios éticos na cultura

organizacional. Alguns ressaltam que a comunicação precisa ser estratégica para

não estar limitada à execução de determinadas atividades. Além disso, destacam a

relevância da comunicação, ao enfatizar que, na disseminação da ética, é preciso

observar a linguagem utilizada, tendo em vista que se objetiva atingir variados

públicos.

As políticas adotadas para a gestão da ética incluem a

transparência, a parceria com os fornecedores, o respeito aos clientes e o menor

preço, como no caso do Carrefour. Na CPFL, o processo está estruturado num

sistema de gestão de ética e engloba as políticas e os procedimentos constantes no

Código de ética. Na Holcim, o código de ética apresenta os princípios de

relacionamento no dia a dia com os clientes, os consumidores e a comunidade. O

Itaú Unibanco divide em duas suas políticas: política corporativa de sustentabilidade

e política corporativa de ética. Na Roche, as políticas adotadas para a gestão ética

nos relacionamentos envolvem o código da administração farmacêutica; as parcerias

com as ONG’s nas campanhas de conscientização; as diretrizes de grupo de

pacientes. No caso da necessidade de novas políticas, elas são incorporadas ao

Código. A Gol descreve as políticas de relacionamento com os vários públicos.

Em relação à prioridade dos públicos, todas as organizações

consideram que não há prioridade entre os públicos. O Itaú Unibanco segue essa

mesma visão, mas deixa claro que, no caso de conflitos de interesses,

primeiramente, têm preferência, os clientes e os consumidores, depois acionistas e

investidores.

Todas as empresas consideram a ética como valor e o que

demonstram essa definição, são as atitudes e as ações da organização. A CPFL

reforça que essa conquista é um trabalho de educação de longo prazo. A Holcim

Page 165: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

164

destaca que a liderança no setor só pode ser mantida, se houver essa preocupação.

No Itaú Unibanco, a ética é descrita como um dos valores da organização. A Roche

considera a ética como sustentação dos seus negócios. A Gol ressalta a ética como

fator de confiança e credibilidade na organização. O Carrefour afirma que a ética é

um valor devido ao contexto da sociedade que busca o resgate da ética nas suas

ações.

As empresas implantam várias formas de avaliação do

comportamento ético. No Carrefour, utiliza-se o disque ética para denúncias e o e-

mail específico, que geralmente serve para consultas e esclarecimentos, antes da

tomada de decisão, ou para verificar que tipos de prejuízos podem acarretar

determinados casos. A CPFL desenvolveu vários dispositivos inseridos no sistema

de gestão da ética, que engloba o acompanhamento, o controle por meio de

mapeamento de risco, pesquisas com os clientes, com o público interno, pesquisa

de clima da empresa, o levantamento das denúncias e as providências,

mapeamento da mídia com metodologia específica - para verificar os pontos

vulneráveis e os relatórios apresentados à diretoria. Além disso, há a possibilidade

de incorporação dos riscos éticos no processamento da área de risco da empresa,

criada recentemente.

No Itaú Unibanco, o monitoramento é feito por meio de pesquisa de

clima ético com o público interno, realizadas bianualmente; diálogo com os

stakeholders; análise e tratamento de desvios de conduta via canais de

comunicação. Também, no portal de produtos, são feitas gestão de indicadores de

ética e auditoria ética. São vários canais de comunicação utilizados em denúncias de

desvios de conduta. Todos esses órgãos recebem as denúncias e tratam essas

informações com métodos estruturados a partir dos mesmos critérios. Na Holcim, o

destaque é para os fóruns externos, por meio das discussões de comitês, e com a

comunidade. A Roche utiliza a auditoria da matriz. A Gol indica como

responsabilidade do Comitê de ética.

Na maioria das organizações, os conflitos éticos são resolvidos a

partir do código de ética. Na Roche, se o setor não consegue resolver, a situação é

encaminhada ao departamento jurídico. Na Gol, a responsabilidade pela resolução e

orientação é do comitê de ética. A Holcim procura as soluções por meio das

discussões com os comitês e comunidade. No Carrefour, algumas situações são

resolvidas diretamente pelo gestor, com acompanhamento da gerência de riscos

Page 166: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

165

corporativos e, em outras situações, resolve-se no comitê de ética. No Itaú

Unibanco, o processo para solução dos conflitos éticos está baseado em três

doutrinas éticas: o utilitarismo, o consequencialismo e a deontologia.

Todas as empresas afirmam que há relação entre ética e reputação

corporativa. No Carrefour, há esse cuidado em estimular a reflexão a respeito das

decisões e que as ações causam impacto na empresa. O reposicionamento da

marca CPFL foi um trabalho em conjunto entre a área de sustentabilidade e o

marketing, que teve como referência os estudos realizados no programa de ética

organizacional, em relação à missão e valores da empresa. As empresas realizam

pesquisas para verificar a sua reputação, periodicamente. A maioria das

organizações salienta que é preciso o comprometimento das pessoas, para que haja

um clima de confiança e construção da reputação, sendo que metade das empresas

considera que as ações das pessoas estendem à organização a sua imagem e a

sua reputação.

Nos benefícios da implantação e gestão da ética, foram

enumerados: reputação corporativa; melhora do ambiente organizacional;

valorização da marca; preocupação com uma postura exemplar, por parte dos

diretores; abertura para o diálogo e transparência na conduta; fortalecimento da

empresa frente às crises; aumento da tolerância dos públicos, em casos de

problemas; ganho social e demonstração da seriedade da organização.

As dificuldades apresentadas na implantação e gestão da ética são:

os diferentes valores dos colaboradores; os resultados são a longo prazo; o grande

número de colaboradores para divulgar e cobrar posturas adequadas, trata-se de um

processo educativo; alto custo para implantação de um programa de ética; a

necessidade de formar os colaboradores, proporcionando-lhe conhecimentos para

que eles possam aderir ao código de ética e tomar as decisões a partir de

parâmetros éticos; convencer a alta direção da empresa para que possam

compreender todo o processo; a necessidade de liderança comprometida na

implantação do programa de ética; cultura organizacional e cultura da sociedade e

dificuldade em estimular a participação de todos.

Page 167: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

166

7.4.2 Entrevista com a Diretora da Agência de Comun icação

Segundo a informante, as agências não têm sido contratadas para

desenvolvimento de programas de ética, mas em programas que envolvem esta

questão como responsabilidade social e sustentabilidade. No gerenciamento de

crise, está inserida a questão da ética e da reputação. Nas crises, é preciso

disseminar fatos verdadeiros e com clareza para zelar pela reputação da

organização, pois hoje, devido ao aparato tecnológico disponível, fica mais difícil

inventar uma mentira porque ela pode ser questionada no mesmo minuto.

A Diretora afirma que é crescente a preocupação das empresas com

a ética, devido a pressões externas que obrigam as organizações a reverem

procedimentos e políticas para atender as exigências da governança corporativa, de

ampliar os relacionamentos com os stakeholders. Considera este panorama como

oportunidade do desenvolvimento de um trabalho de relações públicas, pois as

empresas precisam cada vez mais de se relacionarem com os stakeholders.

O papel da comunicação é vital, seja na implantação da

responsabilidade social, da sustentabilidade ou da governança corporativa. Há a

necessidade de um programa estruturado de comunicação, que vai disseminar o que

existe na organização e colaborar efetivamente para o posicionamento desejado

pela empresa. A Diretora salienta que as agências desempenham somente o papel

de influenciadora no processo de gestão da ética organizacional. Segundo a mesma,

as agências de comunicação participam da disseminação da ética, da

sustentabilidade, da responsabilidade social, mas não na definição desses

processos. Ressalta que vários consultores são chamados para auxiliar na

conceituação da ética organizacional, devido aos seus conhecimentos filosóficos.

Para a informante, a implantação da ética começa na comunicação

interna, pela disseminação de missão, visão e valores, e, por meio do diálogo,

divulga o posicionamento da empresa e o que a organização espera do colaborador.

Ressalta que o papel da comunicação é ter a visão de que comunicação interna é

disseminação para motivar e influenciar.

Segundo a informante, não existe implantação de um programa de

ética porque ética é um valor. A alta direção define a ética como valor e cabe à

comunicação, disseminar tanto o valor como a postura da empresa. Quanto à

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167

participação e envolvimento dos públicos, salienta que há pressão para que isso

ocorra, mas é uma decisão da empresa influenciada por fatores externos. Para a

entrevistada, há uma relação entre ética e reputação corporativa. Se a empresa

considera a ética como valor e age de tal forma, ao longo do tempo, vai conseguir

construir uma reputação que também estará baseada na ética.

7.4.3 Entrevista com o Consultor em Ética Empresari al

A entrevista com o Consultor foi realizada em agosto de 2009.

Segundo o consultor, o trabalho em ética empresarial envolve o seguinte processo:

• Definição dos valores da organização em um processo

descendente, primeiramente, a alta direção, depois os níveis

intermediários e por último os demais funcionários;

• Definição de quais valores serão preservados, sendo uma

decisão da alta administração;

• Discussão, difusão e divulgação desses valores para toda

organização;

• Formalização desses valores por meio de um código escrito;

• Criação de um comitê de ética;

• Criação de mecanismos confiáveis de acesso aos responsáveis,

para esclarecimentos ou para denúncias como o e-mail, o

telefone direto, o consultor de ética.

• Realização de uma auditoria ética para avaliar o funcionamento

do programa de ética e o desenvolvimento de todo o processo.

Para o consultor, no processo de integração, os colaboradores

devem assinar um termo de conhecimento. Sugere que o candidato deve fazer a

leitura do código de ética, para aplicação de um teste com o objetivo de avaliar se há

compatibilidade entre os valores do candidato e os da empresa.

O trabalho de consultoria em ética empresarial pode-se dar a partir

do desenvolvimento e acompanhamento de todo o processo de implantação, ou em

Page 169: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

168

determinadas etapas. A maioria das solicitações, para tratar do código de ética ou de

programa de ética, é feita pelo setor de recursos humanos. Normalmente, alguns

setores são envolvidos no processo de implantação e gestão da ética como o

departamento jurídico, especialmente, se tem um jurídico trabalhista, o pessoal de

RH, o pessoal de relações públicas e o pessoal de auditoria, e, em algumas

empresas, o diretor de “compliance”.

O consultor afirma que, geralmente, o comitê de ética não tem a

participação dos profissionais de comunicação e relações públicas. As empresas

têm uma visão de que o trabalho de relações públicas está voltado para o público

externo, ou, então, que serve somente para facilitar alguns caminhos. Ainda,

defende que há espaço para um trabalho de relações públicas, apesar de indicar

que o código de ética deve ser uma preocupação de recursos humanos.

O entrevistado defende a utilização de deontologia e não de ética

profissional. E que o trabalho de consultoria de comunicação deve se preocupar em

convencer o assessorado a respeito da mudança de postura em eliminar os

aspectos negativos da conduta e ressaltar as atitudes positivas. A administração de

crises começa pela admissão de que algo está errado, mesmo que seja involuntário,

e que é preciso corrigir o procedimento, mas jamais justificar a crise.

Os motivos para implantação de códigos e de programas de ética

são a “moda”; o cumprimento de uma obrigação legal para as empresas com capital

aberto, pois o código de ética torna-se obrigatório, quando a empresa tem acionistas

estrangeiros; e uma pequena parcela que investe em ética por uma questão de

consciência. Salienta que a questão ética é difícil no Brasil.

Para o entrevistado, o papel do consultor é coordenar o processo de

implantação, treinar e preparar as pessoas para assumirem o processo. Após a

implantação do processo, a coordenação passa a ser interna sob a responsabilidade

do comitê de ética. Justifica que esse trabalho deva ser feito por um consultor

externo porque fica mais fácil, por tratar-se de mudanças de paradigmas. Sugere

uma avaliação anual do programa, mas isso raramente acontece.

A partir da sua experiência como consultor, menciona que a

solicitação de implantação de um código ou de um programa de ética é feita pelos

recursos humanos, mas a iniciativa, geralmente, é do conselho de administração ou

da presidência da empresa. Poucas vezes, teve pedidos que surgiram de recursos

humanos, ou de outro setor da organização. Há participação efetiva dos membros do

Page 170: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

169

comitê de ética, que é formado pelo nível de gerência e de direção da empresa e

não há uma representação dos funcionários. O consultor também define o perfil dos

participantes do comitê, que geralmente inclui os gestores das diversas áreas da

empresa. Devido à linguagem, raramente, se indica um funcionário para composição

do comitê de ética. Também, procura envolver, além dos colaboradores, os

fornecedores, os clientes e a comunidade próxima, geralmente, em comunidades

menores. Esta abertura depende da empresa; em caso positivo, elabora-se o

mapeamento dos stakeholders e criam-se estratégias.

Geralmente, os meios e as formas utilizados para implantação e

disseminação são os próprios veículos de comunicação da empresa: jornal, jornal

mural, podcast, televisão interna, entre outros. O consultor considera, como meio

mais eficaz, a discussão em grupos. Quando há um número grande de funcionários

na empresa, esse trabalho é feito por monitores, treinados a partir de levantamentos

de possíveis questões e respostas.

O consultor considera o código de ética como a parte final do

processo, e sugere que a entrega seja feita em solenidade especial. A comunicação

é importante, tanto no ambiente interno como no externo, porque desempenha o

papel de promover e fomentar as discussões com a utilização dos veículos de

comunicação disponíveis, desta forma, mantém-se o assunto sempre em pauta. Há

espaço para os profissionais de comunicação organizacional e relações públicas no

desenvolvimento dessas atividades, mas é preciso ampliar a formação com

conteúdos de sociologia, filosofia e dar mais ênfase às questões conceituais e não

se envolver somente no operacional.

No processo de implantação e gestão da ética, o consultor

apresenta à organização as diferentes linhas da discussão ética. Defende que todo o

processo de transmissão da informação é um processo educativo, um processo de

treinamento. A ética deve fazer parte do treinamento, com a promoção de discussão

de casos reais, o que pode e o que não pode ser feito, e por que não pode. Os

instrumentos para avaliação da ética são os canais de comunicação; as reuniões,

como processo de treinamento e de discussão de casos reais que podem ser

aplicados à organização; as auditorias internas e externas. A administração dos

conflitos éticos se dá por meio do diálogo, caso não haja solução, a demissão deve

ser feita à luz da ética.

Page 171: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

170

O consultor acredita que há relação entre ética e reputação, que a

gestão da reputação deve ser feita pelo gerenciamento dos relacionamentos, dos

comportamentos. Defende a reputação como consequência, como “sombra

provocada pelo seu comportamento”. Os benefícios na implantação e gestão da

ética são: envolvimento das pessoas em uma mesma direção; a facilidade em

trabalhar, quando há um alinhamento de cultura, comportamento; as pessoas têm

preferência pelo trabalho em empresas éticas; o reconhecimento do mercado e dos

fornecedores; quando ocorrem as crises, há um grau de confiabilidade por parte dos

fornecedores. As dificuldades são: cultural; a tradição de flexibilidade ética dos

brasileiros; é um processo de educação com resultados a longo prazo; o excesso de

leis cria oportunidades para a fiscalização ser burlada; a má formação do pessoal do

setor público; as áreas política e de governo.

7.4.4 Código de Ética das Empresas

O código de ética serve como guia para o agir ético. Ele foi apontado

como um dos principais instrumentos de gestão da ética organizacional, como

consta na análise do próximo capítulo. Desta forma, foi feito um levantamento nos

sites das organizações a respeito da denominação utilizada, a data de elaboração e

a localização do código de ética no site institucional, além dos tópicos abordados no

seu conteúdo. Esses dados são visualizados no Quadro 22. Chama a atenção, o

Código de Ética e de Conduta Empresarial da CPFL Energia, que desenvolve um

tópico exclusivo para tratar das diretrizes de conduta empresarial, conforme Quadro

23.

Page 172: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

171 Empresas Missão Visão Princípios/Valores CPFL ENERGIA

Prover soluções energéticas sustentáveis, com excelência e competitividade, atuando de forma integrada à comunidade.

Energia é essencial ao bem-estar das pessoas e ao desenvolvimento da sociedade. Nós acreditamos que produzir e utilizar energia de forma sustentável é vital para o futuro da humanidade.

Criação de Valor, Compromisso, Segurança e Qualidade de Vida, Austeridade, Sustentabilidade, Confiança e Respeito, Superação, Empreendedorismo.

CARREFOUR Todos os nossos esforços convergem para a satisfação das expectativas dos nossos clientes.

Nossa vontade é de ser internacional. Liberdade, Responsabilidade, Compartilhamento, Respeito, Integridade, Solidariedade e Progresso.

GOL Prover transporte seguro de pessoas e cargas, sustentado pelo trinômio baixo custo, baixo preço e de excelência na qualidade, através de soluções inovadoras, buscando maximizar os resultados para nossos clientes, acionistas, colaboradores e sociedade.

Superar-se e ser reconhecida, até 2010, como a empresa que popularizou o transporte aéreo com qualidade e preço baixo na América Latina.

Desenvolver os negócios da empresa, com base em ações originais, criativas, éticas e justas, focadas em resultados sustentados e duradouros, que se traduzam para os clientes em serviços de alta qualidade com preços baixos. Para os colaboradores, respeito, crescimento, reconhecimento profissional, incentivo ao exercício da solidariedade e cumprimento da responsabilidade social e ambiental.

HOLCIM Ser a empresa mais respeitada e bem sucedida em nosso setor, gerando valor para todos os nossos parceiros de negócios.

É prover os fundamentos para o futuro da sociedade.

Força, Desempenho e Paixão.

ITAÚ UNIBANCO

Ser o Banco líder em performance e perene, reconhecidamente, sólido e ético, destacando-se por equipes motivadas, comprometidas com a satisfação dos clientes, com a comunidade e com a criação de diferenciais competitivos.

O respeito ao ser humano, o comportamento ético, o estrito cumprimento das leis e a vocação para o desenvolvimento são os princípios que fundamentam a cultura e direcionam a atuação do Banco.

ROCHE Criar, produzir e comercializar soluções inovadoras de alta qualidade, que atendam às necessidades médicas. Seus produtos e serviços auxiliam na prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças, melhorando, assim, a saúde e a qualidade de vida das pessoas. A Roche atua com responsabilidade e ética, comprometendo-se com o desenvolvimento sustentável e o respeito às necessidades do indivíduo, da sociedade e do meio ambiente.

Respeito ao Indivíduo, Compromisso com a Responsabilidade, Compromisso com a Performance, Compromisso com a Sociedade, Compromisso com o Meio Ambiente, Compromisso com a Inovação e Melhoria Contínua.

Quadro 21 – Missão, visão e valores/princípios das organizações estudadas.

Fonte : Elaborado pela autora, com base nas informações disponíveis nos sites das organizações estudadas - Carrefour (2009); CPFL Energia (2009); Gol (2009); Holcim (2009); Itaú (2009); Roche (2009).

Page 173: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

172 Empresas CARREFOUR CPFL GOL HOLCIM ITAÚ ROCHE

Data Sem data 2006 2005 2006 2005 2005 Localização

do Código de ética no site da empresa

Na página Institucional no link Missão e Valores

Na primeira página, no link Ética em Rede ou por meio do link Quem Somos.

Na página Relações com os Investidores no link Código de Ética

Na página inicial Empresa no link Código de Conduta

Na página principal no link Conheça o Itaú ou no menu Relações com Investidores no link Governança Corporativa.

Na página inicial Empresa no link Guia de Ética

Denominação Código de Ética Código de Ética e de Conduta Empresarial

Código de Ética Código de Conduta Código de Ética Guia de Ética

TÓPICOS

ABORDADOS

Carta do Superintendente. Finalidade do Código de Ética. Nossos Valores. Nossa Missão. As políticas. Cliente. Ativos. Pessoas. Mercadorias. Dinheiro. Responsabilidades: - Comitê Executivo. - Gestores. - Colaboradores. - Departamento de Prevenção de Riscos e Recursos Humanos. - Comitê Permanente de ética. Encerramento.

Apresentação Direcionadores da Ação Empresarial na CPFL Energia: Visão, Missão, Princípios, Políticas de Gestão, Compromissos Institucionais da CPFL Energia. Princípios Éticos Diretrizes de Conduta Empresarial Canais de Acesso para Críticas, Sugestões, Denúncias e Reclamações: Canal de Conduta Ética, Canal para Denúncias de Fraudes de Natureza Contábil e Fiscal, Canal “Fale com o Presidente” Anexos - Compromissos Institucionais da CPFL Energia - Termo de Compromisso Vigência

Mensagem do Presidente Relacionamento com os Acionistas Relacionamento com os Clientes Relacionamento com Colaboradores Relacionamento com Fornecedores. Relacionamento com Concorrentes Da liderança Responsabilidade Social Conflitos de Interesses Recursos Corporativos Informações Confidenciais e Privilegiadas Segurança da Informação Administração Financeira Disposições Finais Anexo - Termo de Conhecimento

Governança Corporativa Responsabilidade Social Corporativa Desempenho Ambiental Sustentável Atendimento - Boas práticas da Concorrência. - Suborno e Corrupção. - Negociação com Informações Privilegiadas. - Uso e Proteção de Ativos e Informações. Conflitos de Interesse. - Presentes e Doações. - Registros e Contabilidade. - Comunicação. - Responsabilidade. Assinatura do Presidente do Conselho de Administração e do CEO. Termo de Compromisso do Colaborador.

Palavra do Presidente Por que um Código de Ética Os Valores Corporativos O Público Interno e seu Ambiente - o Relacionamento Interno - os Conflitos de Interesse; - a Preservação das Informações; - os Favores e os Presentes; - a Segurança Financeira Pessoal; - a Responsabilidade dos Gestores; As Relações Externas - com os Clientes; - com os Acionistas; - com os Fornecedores; - com o Setor Público; - com os Concorrentes; - com a Mídia; - com a Comunidade. A Gestão do Código de Ética Corporativo do Itaú.

Carta do Presidente Ética nos negócios - Comportamento nos Negócios - Guia de Integridade - Uso de Ferramentas Eletrônicas - Proteção de Dados Pessoais - Política de Emprego - Informações Internas - Genética em Descoberta e Desenvolvimento - Gerenciamento de Documentos - Políticas e Procedimentos - Congressos Médicos Conclusões Bibliografia Termo de confirmação e aceitação aos Princípios éticos da Roche

Quadro 22 – Informações sobre o código de ética das organizações estudadas.

Fonte: Elaborado pela autora, com base nas informações disponíveis nos sites das organizações estudadas - Carrefour (2009); CPFL Energia (2009); Gol (2009); Holcim (2009); Itaú (2009); Roche (2009)

Page 174: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

173

Diretrizes de Conduta Empresarial • Responsabilidade dos Dirigentes.

• Valorização da Responsabilidade • Governança Corporativa: Compromisso com

a Criação de Valor, Compromisso com a Excelência, Compromisso com a Divulgação de Informações, Segurança das Informações e Conflitos de Interesse.

• Uso de Recursos de Propriedade da Empresa

• Uso de Mídias Eletrônicas • Propriedade Intelectual e Direito Autoral • Relacionamento com o Setor Público e

Atividades Políticas • Corrupção e Favorecimento • Publicidade, Propaganda e Concessão de

Patrocínios • Preconceito, Discriminação e Assédio • Saúde, Segurança e Qualidade de Vida

• Desenvolvimento e Valorização Profissional

• Valorização da Diversidade e da Inclusão Social

• Direito à Livre Associação e à Negociação Coletiva

• Brindes e Presentes • Uso de Álcool e Drogas • Respeito à Privacidade e à Confidencialidade • Energia e Sustentabilidade • Participação Comunitária e Apoio à Ação

Voluntária • Sistema de Gestão e Desenvolvimento da

Ética • Disseminação dos Princípios e Diretrizes. • Fiscalização e Ações de Controle dos Livros e

Registros Contábeis • Fiscalização e Ações de Controle do Poder

Público

Quadro 23 - Diretrizes de conduta empresarial da CPFL Energia

Fonte: Elaborado pela autora, com base em CPFL Energia (2009).

Com base no Quadro 5 - Proposta de conteúdo para elaboração do

código de ética – apresentado no capítulo 4, desenvolveu-se o quadro analítico

entre a proposta de conteúdo, sugerido pela pesquisadora, e o conteúdo presente

nos códigos de ética das organizações estudadas – Quadro 24.

A análise foi feita somente com referência ao texto do código

publicado no site institucional da empresa, desconsiderou-se a carta do presidente,

mensagem do presidente. Também foi feita a apreciação do código de ética da

Holcim, que não está estruturado no formato comum a outros códigos, sendo que as

orientações estão expressas em princípios gerais. No item a respeito dos

relacionamentos, foram avaliadas as indicações de como deve ser o relacionamento

com os segmentos de públicos.

Page 175: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

174

ITENS PRESENTES NOS CÓDIGOS

SUGESTÃO DE CONTEÚDO DO

CÓDIGO

CARREFOUR

CPFL

GOL

HOLCIM

ITAÚ

ROCHE

• Missão e visão da empresa. XX XX XX

• Princípios e valores da empresa. XX XX XX

• Políticas XX XX XX

Colaboradores. XX XX XX XX XX XX

Acionistas XX XX XX XX XX XX

Clientes. XX XX XX XX XX XX

Fornecedores. XX XX XX XX XX XX

Setor público XX XX XX XX

Concorrência. XX XX XX XX XX XX

Comunidade XX XX XX XX

Mídia. XX XX XX

● Princípios

éticos

nos

relacionamentos Prestadores de

serviços.

XX XX XX XX XX

• Gestão de sustentabilidade. XX XX XX

• Normas e padrões de

comportamento da empresa e de

seus colaboradores.

XX XX XX XX XX XX

• Canais específicos para informar

alguma desconformidade ao código

(Constam endereço eletrônico,

telefone etc.).

XX XX XX

• Procedimentos e padrões de

atuação e controle (órgãos

internos).

XX XX XX XX

Quadro 24 – Comparativo entre as sugestões e os con teúdos dos códigos de ética das organizações estudadas.

Fonte: Elaborado pela autora

Nesta análise, percebe-se que há uma preocupação com a ética

expressa nos códigos. A aplicação dessas diretrizes são avaliadas nas entrevistas

com os representantes das empresas selecionadas, a partir do “olhar” dos

profissionais sobre o seu próprio fazer e o fazer da organização que ele representa.

Page 176: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

175

8 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este capítulo apresenta a testagem dos pressupostos e, a partir

destes resultados, demonstra o comparativo com as informações fornecidas pelo

consultor em ética e pela diretora da agência de comunicação. Analisa o ambiente

organizacional caracterizado pelas entrevistas sob a ótica das relações de poder de

Foucault (1999) e pelos conceitos de ajustamentos de Goffman (1999), utilizando-os

como guias de análise. Algumas retomadas nas falas dos entrevistados foram

necessárias para reforçar as análises propostas.

8.1 TESTAGEM DOS PRESSUPOSTOS

Pressuposto 1. A ética vem sendo adotada pelas organizações, como conceito

fundamental para uma reputação corporativa favorável.

Para o informante da Holcim, não há possibilidade de desenvolver

relacionamento, adotar um discurso, caminhar em “via de mão dupla”, sem

compromisso com a “transparência”. Ele acrescenta expressões como “verdade”,

“confiabilidade”. Como a informação foi passada em ambiente de oralidade que, por

sua característica, é reiterativo, o termo confiabilidade foi reiterado com a expressão

“criar confiança” e reforçado com o termo credibilidade: - credibilidade do que você

é, se você não faz isso no dia a dia.

Há, para esse informante, a necessidade de uma nítida distinção

entre discurso e prática, aí se encaixando a obrigação de fundamentar o primeiro na

realidade: - se esse discurso não tem uma base real, ele acaba sendo muito frágil e

se perde. Insiste na noção de coerência e associa à ação de assumir um papel ético:

- Ou você assume um papel ético e coerente na sua linha de conduta de negócios

ou você está fadado a não ter uma vida longa. Não dá para chegar a quase 100

anos [em referência ao tempo de existência da empresa], se você não tem isso ao

longo de sua história. O profissional menciona um estudo realizado (pela primeira

vez) com uma pesquisa de reputação, com metodologia do Reputation Institute.

Page 177: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

176

Acrescentou o comentário de que - O problema não é ter passivos, é assumir seus

passivos e dizer o que você vem fazendo para minimizar.

O informante do Banco Itaú Unibanco mencionou um estudo interno

realizado com a finalidade de investigar o que seria necessário, para que o Itaú

viesse a tornar-se um banco reconhecidamente ético. A ideia passou também a

constar da própria formulação de “visão” do banco, em documento de 2005. O

informante revela a relação entre ética e reputação, quando cita como um dos

benefícios da gestão ética: - a reputação e fortalecimento da resiliência da

corporação a essas crises.

Já na Roche, assegura o informante, os públicos da empresa a

reconhecem no campo ético e lhe conferem destaque. Segundo suas palavras: - a

Roche é a primeira em termos éticos, em termos de ativos intangíveis, em termos da

empresa que mais respeita o consumidor. Do setor farmacêutico, a Roche está

sempre em evidência. Na CPFL, há a participação de um consultor de ética que, nas

palavras do profissional entrevistado nesta pesquisa, - esteve, junto com nossa

equipe, em contato com a equipe de marketing para redefinir a missão, os valores,

tomando como referência todo o trabalho feito anteriormente sobre ética da

empresa.

O informante lembra que sua empresa está em franco crescimento,

adquirindo outras empresas, o que também impõe a necessidade de efetuar um

alinhamento cultural, e ressalta: - o desafio de novo é como preservar a imagem,

preservar a reputação. Outra fala que expressa a relação ética e reputação: - Há

muitos anos que a gente não tem nenhum escândalo na mídia, nenhum escândalo

corporativo. A gente está muito preocupada a todo o tempo, os diretores estão muito

preocupados em ter uma conduta exemplar. A CPFL também investe em pesquisa

de reputação e imagem que são analisadas pela diretoria da empresa.

A ética, apontada pelo informante da Gol, implica em “trabalhar de

forma virtuosa, honesta e íntegra, valorizando uma relação de transparência e

confiança entre as pessoas, em que todos possam alcançar plenamente os seus

objetivos”. O mesmo informante adiciona: - Acreditamos que o sucesso de uma

empresa depende, primordialmente, da imagem positiva que ela mantém junto ao

mercado. E confiança e credibilidade só são atingidas por meio de uma postura

profissional séria e idônea. A integridade e honestidade dos funcionários reportam-

Page 178: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

177

se à empresa: “a imagem da seriedade e postura ética que almejamos”. Neste caso,

a empresa se beneficia da atitude pessoal dos que nela trabalham.

O entendimento a respeito da reputação é expresso pelo informante

do Itaú Unibanco: - Imagem é o que você projeta, reputação é a leitura dessa

projeção. Não adianta nada você projetar uma coisa e as pessoas não verem isso

acontecendo. Para o informante da Roche, “a reputação é uma coisa natural, se

você for se comportando”. Alguns informantes usaram somente o termo imagem,

então, há de se considerar a possibilidade de a empresa estar focada somente na

imagem, ou que, na oralidade, os termos imagem e reputação foram tratados como

sinônimos pelos entrevistados.

A análise deste pressuposto permite afirmar que há reconhecimento

de um vínculo entre reputação e ética, na forma de um ativo de que a empresa

dispõe. Há também, neste pressuposto, evidências de um intenso sentido pessoal

tido como extensão do pensamento da empresa. Os profissionais identificam e

valorizam o papel da ética como elemento contributivo na formação de uma

reputação favorável. Não dissociam regras a cumprir e sensibilidade a desenvolver,

dos cuidados a tomar com relação à comunicação.

Pressuposto 2. A ética organizacional é a base das organizações porque estas a

consideram essencial nos negócios.

Nas respostas convergentes a este pressuposto, os profissionais

abandonaram, em certa medida, seu direcionamento para um enfoque pessoal e

passaram a falar da organização, predominando o emprego da frase em terceira

pessoa. A ética é considerada base, é ilustrativa na seguinte fala: - A ética está na

base do Itaú Unibanco. Os dois pilares são: a ética e a sustentabilidade. É em cima

desses dois pilares que todas as demais políticas da organização devem se orientar.

O informante da Gol assim se expressa: - A Gol é uma empresa que exige princípios

éticos em suas relações de trabalho e na condução de seu negócio. Outra fala

confirma: - A Companhia busca desenvolver seus negócios com base em ações

originais, criativas, éticas e justas, focadas em resultados sustentados e duradouros.

As seguintes falas do profissional da Holcim também traduzem a ética como

Page 179: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

178

essencial: - Ou você assume um papel ético e coerente na sua linha de conduta de

negócios ou você está fadado a não ter uma vida longa.

As seguintes manifestações são associadas aos negócios: O

profissional da Roche menciona que os novos funcionários, no momento de seu

ingresso na empresa, recebem o manual de ética e devem passar por um e-learning

do código de conduta (o curso é feito na Internet) e este é um espaço para se

verificar “se leu, entendeu e está de acordo”. Acrescenta o informante: - A Roche

assumiu o compromisso de desenvolver princípios corporativos para garantir o alto

padrão ético que sempre anunciou em todos seus negócios. O informante do Itaú

reforça que é preciso uma “avaliação dos negócios sobre as operações, produtos e

serviços da organização do ponto de vista das diretrizes de ética”. O informante da

Holcim menciona: - Ter um posicionamento justo de processos, de preço, de

distribuição, de tornar o produto disponível, essas são as estratégias que a gente

emprega.

Ainda na Holcim, o dado levantado sugere uma associação entre

ética e negócios: - Nós não temos nenhum programa, nem o comitê de ética. A

gente não tem uma área de sustentabilidade. A gente entende que ética e

desenvolvimento sustentável está no dia a dia da nossa estratégia. Então, ele

permeia, ele é transversal a toda a nossa atividade. O informante acrescenta que o

processo é mais do que a realização de um procedimento; na realidade, é

reconhecido como parte da cultura da empresa. O informante da CPFL menciona um

dado particular para que a ética passasse a fazer parte do planejamento estratégico

da empresa: - A gente precisou de quase 10 anos de história para chegar nisso, e

para querer que cada um tome decisão à luz da ética. É um processo de educação

de longo prazo. Os elementos de oralidade foram preservados, neste caso, para

manter o sentido espontâneo dado à definição.

O informante do Carrefour reforça essa visão, ao tratar da

implantação da ética na empresa: - Nós estamos falando da dificuldade de uma

organização com 55 mil funcionários [...] é difícil você fazer com que todos tenham a

mesma visão e a mesma conduta. Então, nós temos que ser bastante transparentes

e falar assim: “Olha, nós queremos isso na nossa empresa”. Mas, agora, nós

estamos participando ao colaborador que não é só na empresa. Nós queremos que

ele seja assim, em casa, na família e na sociedade em que ele convive. O mesmo

informante justifica a preocupação com a ética: - Não basta somente corrigirmos

Page 180: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

179

isso. Nós temos que tratar na essência. E, também, em outro trecho, ao falar dos

benefícios: - você tem um ambiente cada vez mais íntegro, sadio. Se eu tenho isso

na empresa, eu vou ter uma empresa harmoniosa. Acredito que isso traga resultado,

que todo mundo vá trabalhar feliz e eu vou mudar uma sociedade e nós vamos

mudar um país.

O complemento oferecido pelo informante da CPFL, fazendo

referência ao fato de decisões serem facultadas aos funcionários, garante a ética

como base: - O desafio é que todos os colaboradores utilizem critérios de natureza

ética para as suas decisões no dia a dia. É como criar condições de que todos usem

critérios de natureza ética nas suas decisões. O profissional volta a fazer referência

à ética organizacional, associando-a, desta vez, aos valores da empresa. Aponta,

como desafio, a inclusão e o respeito a esses valores na cultura organizacional. -

Todo o sistema de gestão é para prevenir riscos éticos. Começou com o código de

ética, hoje é um sistema com vários dispositivos, passou a ser processo, não é

simplesmente um código. Mas tem processos, tem controle, tem acompanhamento,

indicadores, tem tudo. É um sistema de gestão.

Este aspecto também é encontrado nesta observação do informante

do Itaú Unibanco: - a ética aqui para nós é um know-how de gestão, que tem a

função de enraizar o hábito de tomar decisões, também, baseadas no código de

ética, não só nas questões de negócio. E destaca a base para as decisões da

empresa: - Escolhemos três doutrinas de tomada de decisão ética. O utilitarismo,

cujo lema é o maior bem possível, para o maior número possível de pessoa, essa é

a ideia básica; o consequencialismo, o utilitarismo é um tipo do consequencialismo,

onde a gente avalia aquilo antes, e o consequencialismo é depois, que vai avaliar as

consequências; e usamos também a Deontologia, quando o foco são as regras,

quando o foco são as normas, as leis e não as ações. Então, a gente tem esses três

critérios, eles estão estruturados e a gente toma decisões por meio deles; os comitês

estão também aprendendo a usar isso.

Em outro registro, não foi falado explicitamente a respeito da

utilização das teorias éticas como referência, mas o relato do informante deixa

evidente: - Como é que a gente iria “inculturar” isso em todos os colaboradores, que

na época estavam totalmente desorientados, devido à privatização [...] Nós optamos

por contratar dois filósofos e educadores, para nos ajudar e para nos acompanhar,

ao invés de um consultor empresarial.

Page 181: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

180

A análise deste pressuposto permite afirmar que as organizações

consideram a ética como base e essencial aos negócios. O que ressalta é que não

falta às empresas consciência de como proceder. Não fica claro, porém, que partes

do direcionamento adotado têm eficácia comprovada e duradoura. Chama a

atenção, o fato de somente uma organização citar que a base para o

desenvolvimento da ética na organização está alicerçada às teorias éticas; e outro

informante deixar implícito tal atitude, ao falar da contratação dos filósofos e

educadores para orientar a implantação do programa de ética.

Pressuposto 3. A resistência dos públicos na implantação da gestão ética é a

principal dificuldade.

Neste pressuposto, o eixo temático se desloca da organização para

o público, quando se examina a capacidade da empresa em incorporar à cultura

organizacional o agir com princípios, ganha relevo a fala do informante da Gol: -

Todos os colaboradores da Companhia devem estar familiarizados com os princípios

básicos estabelecidos em seu Código de Ética, utilizando-os no dia a dia como

instrumento de orientação em sua conduta ética e profissional e procurando discutir

dúvidas e preocupações com o superior hierárquico. Não se evidencia nessa fala,

propriamente, resistência, mas insinua-se a necessidade de um grupo de

responsáveis estar preparado para enfrentá-la.

A fala do informante da CPFL deixa bem clara essa percepção: -

Toda a responsabilidade de inculturação da ética é da área de comunicação. O

cuidado que a gente tem é para não ser uma comunicação autoritária, para ser a

mais participativa possível, nem sempre é possível, porque a gente tem uma

estrutura muito hierarquizada e muito autoritária. Com base no princípio de que um

indivíduo apoia o que ajuda a criar, essa postura tende a ser adequada ao trabalho

com as resistências à implantação. Isto pode ser comprovado, quando menciona o

processo de “inculturação” na RGE, empresa do Rio Grande do Sul, incorporada

pela CPFL. O informante relata que houve uma preocupação com a cultura

organizacional e na forma de fazer a transição O seguinte trecho é significativo:

Mantivemos o código, incluímos esses pontos na carta do presidente e nos

comprometemos, na próxima revisão, analisá-los e integrá-los no próximo código.

Page 182: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

181

O informante do Carrefour traz para exame uma observação curiosa:

- A carta de ética vinha junto no contrato e hoje eu pergunto: “Quem é que lê o

contrato de trabalho? O profissional da Holcim informa que os dispositivos de ética

são passados aos funcionários, principalmente, pelos profissionais de treinamento.

Novamente, com referência a limitações que podem gerar resistências ou trabalhar

de modo incompleto com as já existentes, o profissional do Carrefour menciona que,

por ser uma organização que abrange o país inteiro, numa vasta base territorial,

torna-se difícil reunir todas as pessoas num só espaço para debater uma visão

comum. Começa a haver diferenças de intensidade; os que estão mais próximos da

sede tendem a receber a mensagem com maior qualidade. O profissional relata as

dificuldades para criar uma cultura ética, demonstra a resistência dos públicos e

aceita a distância como justificativa para adesão.

O informante da CPFL menciona: - O segundo desafio é como cada

colaborador toma suas decisões à luz dos princípios éticos. Para isso, ele tem que

ter uma formação, adesão ao código, ele tem que conhecer, saber, ter um repertório,

enfim, toda uma educação para isso. Esse dado mostra uma possível fonte de

resistência na falta do processo educativo referido. O representante da Holcim

ressalta: - você só implementa uma gestão de ética, se você tem uma liderança

comprometida, senão, não adianta. Acho que o discurso diário, que não passa da

estratégia de ação daquela área, não tem valor.

Outra menção de forte impacto foi a apresentada pelo profissional do

Itaú Unibanco que alertou para as consequências de o hábito de considerar o outro

nas decisões ser raro. O profissional da Roche acrescenta: - Por estar lidando com

pessoas que têm valores diferentes, e por saber que não é de um dia para o outro

que essas pessoas vão possuir os valores da empresa, tem que saber lidar com

isso. Para o informante da Gol, o desafio é familiarizar dezessete mil colaboradores

com o conceito de ética na empresa, com a maneira de dar corpo a uma postura de

transparência, bom clima organizacional, além de “estimular a participação de todos,

independentemente de nível hierárquico, preservando as pessoas.”

No teste deste pressuposto, comprova-se o temor da resistência e

há o reconhecimento de que se ela não é explícita num primeiro momento, ela tem o

potencial de ocorrer em razão dos fatores apontados. Parece existir a ansiedade de

acelerar a absorção, por parte das pessoas, de um conjunto de normas, de regras e

de uma disciplina. Pode ocorrer o equívoco de deixar de utilizá-las, em seu caráter

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182

organizador, e torná-las uma ação autoritária. Os informantes demonstram bom grau

de consciência desse aspecto. O gerenciamento da cultura organizacional aparece

implícita em algumas respostas, em outras, já se utiliza o termo “inculturação”, o que

demonstra que é decisiva para o processo de implantação de um programa de ética.

O pressuposto mostrou-se válido, em relação aos funcionários ou

colaboradores. Não aparece a resistência, em relação a outro segmento de público.

Pressuposto 4. Um dos meios utilizados para a propagação da ética nas

organizações é a divulgação do código internamente e para todos os públicos.

Todas as empresas entrevistadas possuem o código de ética e

divulgam a todos os seus públicos. As empresas também utilizam outras formas de

disseminação da ética. O Carrefour utiliza o portal corporativo, painéis, reuniões de

“bom dia”, revista bimestral, encontros com os colaboradores e campanhas de

premiação. A CPFL desenvolveu um sistema de gestão da ética, divulga o seu

programa de ética com a publicação do case durante conferência do Instituto Ethos,

seminários, materiais elaborados sobre a Declaração dos Direitos Humanos .Tem o

programa de inculturação, o espaço cultural, a rede ética e o plano de comunicação.

No Itaú Unibanco, também, há o plano de comunicação, que engloba todos os

veículos de comunicação disponíveis na empresa, como revistas corporativas,

informes, intranet, sites, entre outros, e o programa de educação continuada em

ética, com a oferta de cursos, workshops, palestras, e-learnings. A Holcim faz uso de

toda a parte de ferramentas de comunicação disponível: publicações, intranet, as

próprias auditorias e treinamentos. A Roche utiliza o site, a intranet e o “Canal

Aberto”. A Gol disponibiliza no site um e-learning sobre o assunto que todos os

colaboradores devem completar. Além disso, a Companhia mantém no portal canais

específicos para o envio de denúncias e dúvidas de natureza ética.

Este pressuposto está direcionado às condições para o agir ético e

aos procedimentos que evitem condutas inadequadas em qualquer decisão. Isto é

evidenciado na seguinte fala do profissional do Carrefour: - Quando o Carrefour

iniciou suas atividades no Brasil, nós tínhamos uma carta ética. Em 2002, 2003, nós

resolvemos fazer o código de ética. O código é um pouco mais normativo (não pode,

não deve, não queremos). No mesmo direcionamento, apresenta-se a informação do

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183

profissional da CPFL: - A gente definiu os valores para a empresa contemporânea

daquela época, do ano de 2000, e construímos um código de ética. Assim, nasceu a

área de responsabilidade social corporativa, na época; hoje, chamam de

sustentabilidade, nasceu o nosso primeiro código de ética, com todos os valores que

nós estávamos resgatando naquele momento, e nasceu o programa de ética.

O profissional da CPFL traz a expressão “prevenir riscos éticos”,

como função do sistema de gestão que descreveu. Lembra que o código de ética,

hoje, é um sistema com vários dispositivos e não simplesmente um código, um

“cosmético”. Ressalta que é um sistema que “tem processos, tem controle, tem

acompanhamento, indicadores, tem tudo. É um sistema de gestão”.

A utilização de outros meios pode ser identificado na observação

desse mesmo profissional, ao lembrar a tarefa de “inculturar” esse programa de ética

em todos os colaboradores. Reporta o informante que a decisão foi de contratar dois

filósofos e educadores, ao invés de um consultor empresarial. Com a ajuda recebida,

montaram o programa de ética: - Em 2001, fizemos o primeiro Código de Ética e, em

2004, fizemos a revisão com os insumos coletados dos colaboradores, durante o

ciclo de seminários e com todas as contribuições da alta direção e da sociedade.

Reunimos isso em um novo texto do Código em 2004.

A utilização de vários instrumentos para gestão da ética, também,

aparece no Itaú Unibanco. Segundo o profissional, o primeiro código de ética foi

editado nos anos 1970. - Tinha uma diretoria de auditoria. Em 2000, nasceu o

primeiro código de ética coorporativo do Itaú. Ele veio, teve uma pequena

atualização em 2003 e, em 2005, nasceu uma nova proposta do Itaú, que hoje vale

para o Unibanco. Com o advento da fusão com o Unibanco, estão sendo revisados o

código de ética corporativa e vários códigos setoriais de conduta. O informante

reporta que está em desenvolvimento um sistema em web pelo qual “todo produto

novo vai ter que passar por um check-list de ética” que - passa por nós, eles fazem

autoavaliação, a gente checa e, se tiver dúvidas, um dos colegiados vai decidir.

Estamos criando um portal de produtos (produtos, serviços, grandes negócios) que

vai passar por lá, vai ter uma avaliação legal. Passou pela legal, tem ética, não

passou pela legal, nem segue adiante.

Segundo o profissional da Roche, o código de conduta na empresa

já existe há muito tempo: - A gente uniu em um só código vários documentos:

relacionamento com médicos, relacionamento com fornecedores, que poderiam

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184

estar separados, a gente juntou tudo em um só. O informante da CPFL menciona

que o código de ética é o primeiro dispositivo do chamado SDGE - Sistema de

Gestão e Desenvolvimento da Ética: - O dispositivo mais importante do SGDE é o

nosso Comitê de Ética e de Conduta Empresarial. O Comitê de Ética foi fundado em

2002 e aprovado na diretoria e no Conselho de Administração. O profissional do

Carrefour informa que agora - nós estamos indo mais por uma reflexão, porque não

adianta só falar “não pode, não pode”, eu acho que a pessoa tem que refletir a

conduta dela, repensar aquilo que ela está fazendo. A organização explicita que

pretende substituir a imposição pela abertura à reflexão, com todo o tempo que se

faz necessário por esse caminho.

O profissional da CPFL informou que a empresa publicou o código

de ética em formato de caderno. Desse documento, consta uma carta do presidente,

falando aos colaboradores; consta também uma carta para parceiros e uma carta

específica para RGE (empresa que foi incorporada pela CPFL). - A gente tem um

termo de compromisso, que é uma exigência da SOX dos dirigentes, e um termo de

compromisso dos colaboradores. Claro que o dos dirigentes é muito mais exigente.

Então, eles assinam esse compromisso que é controlado e atende a SOX. O

profissional da Roche expressa que o código de conduta, na designação interna, é

um guia de ética. O profissional da Gol informa que - a empresa disponibiliza a todos

os colaboradores, por meio de portal corporativo desenvolvido e mantido pela

Diretoria de Comunicação Corporativa, um Código de Ética, que busca tornar claro e

público o que a Companhia entende por conduta ética e auxiliar na definição de

parâmetros de atuação.

Comprova-se este pressuposto, com a confirmação de que as

organizações participantes reservam para o código de ética uma função primordial.

É notável que os textos, segundo reportado pelos informantes, vieram de uma

evolução e contaram com contribuições. Não se trata, portanto, de algo surgido de

um momento para outro. Outro aspecto relevante é o fato de que é profunda, entre

os profissionais, a consciência de que há necessidade de um processo educativo

para absorção do código, o que tende a amenizar atitudes impositivas. E que,

também, algumas organizações já investem na educação em ética.

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185

Pressuposto 5. As organizações consideram relevante a participação de toda a

empresa no processo de gestão ética e, por isso, criam o comitê de ética com

representatividade de todas as instâncias organizacionais.

Aqui se analisa a valorização da decisão colegiada em questões de

ética. Como a participação pode envolver os funcionários na adoção de princípios

éticos e se o comitê de ética garante a representatividade.

A fala do profissional da Holcim revela que não há um programa de

ética na empresa e, também, a inexistência do Comitê: - Nós não temos nenhum

programa, nem o comitê de ética. A gente não tem uma área de sustentabilidade. A

gente entende que ética e desenvolvimento sustentável estão no dia a dia da nossa

estratégia. Então ela permeia, ela é transversal a toda a nossa atividade. A realidade

na CPFL é diferente. Há um comitê formalizado e um “grupo informal de

colaboradores” designado GIC com potencial para se transformar num subcomitê. O

informante da CPFL diz: - Isso ainda não está na estrutura, não está evidenciado, a

gente diz que é um grupo de prevenção de risco ético nas áreas. Informa, também,

que quando da formação do código: - A revisão passava no Comitê e todos

opinavam, as contribuições eram incorporadas, não estava bom, refazia, voltava,

passava no Comitê. O Código nasceu amplo e foi sendo ajustado (as regras

precisam estar claramente definidas).

O surgimento dessa prática participativa se confunde com a própria

evolução do texto do código de ética na CPFL. Diz o informante: - Nós chamamos

representantes de várias áreas e fizemos um grupo multidisciplinar com os

representantes de vários escalões hierárquicos. Nós não queríamos apenas

distribuir o código, como a gente fez. Como é que a gente iria “inculturar” isso em

todos os colaboradores, a gente precisava fazer um trabalho de conscientização.

Quanto ao comitê de ética, a fala da informante da CPFL é bastante esclarecedora: -

O que é diferente no Comitê? É que tem um representante dos empregados na sua

composição, o qual também tem assento no Conselho de Administração e foi eleito

pelos empregados. Tem também um membro representante da Sociedade Civil.

O informante da Holcim menciona que a gestão da ética está no

board da empresa, a alta gestão envolve o presidente e a diretoria: - Não tem uma

pessoa, não tem uma área abaixo de uma diretoria porque a gente acredita na

transversalidade da estratégia mesmo, do tema como um todo. O profissional da

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186

Roche, por seu turno, pondera: - Se você for pensar, a ética abrange várias áreas. O

comitê de ética não existe. Existe o departamento legal, que vê todos os contratos

com fornecedores e as dúvidas, também, vão para o departamento legal. Cada um é

responsável pela sua área.

O profissional do Carrefour lembra que, quando foi criado o código

de ética na empresa, houve disseminação aos 45 a 50 mil colaboradores.

Demonstra a valorização dada por sua empresa à participação, quando informa: -

Criamos o comitê de ética. Na realização do código, foram envolvidos todos os

níveis. Acrescenta que o comitê de ética toma decisões, tira dúvidas e mostra a

visão da empresa a respeito do comportamento e do conflito. Por outro lado,

segundo suas palavras, - quem faz tudo no dia a dia é a gerência de inteligência

preventiva. O informante menciona que a participação dos colaboradores, no grupo

de trabalho, é feita por meio dos gestores.

O profissional da CPFL refere-se ao comitê de ética como: “guardião

do nosso programa.” Esclarece que o presidente do comitê de ética é o diretor de

comunicação, quanto as atividades do comitê: - Basicamente, faz essas duas coisas,

o acompanhamento do desenvolvimento, implantação do programa e o

processamento das denúncias. Todas as denúncias de caráter ético, recebidas pelo

canal de acesso, são analisadas e processadas no Comitê. Menciona que a

empresa tem hoje por volta de 7.000 empregados e que se consegue envolver

metade dessa população, diretamente. Relata que o sistema de seminários começa

primeiro com os presidentes e vice-presidentes, a partir de um material mais

aprofundado, depois, esse seminário é trazido para a diretoria. Lembra que, com os

gestores e líderes, o seminário é mais compacto. Os gestores disseminam o

conteúdo aos membros de suas equipes, percebidos como liderança espontânea,

para que sirvam de multiplicadores.

O profissional da CPFL informou que, externamente, a empresa

participa de movimentos de fronteiras, e que nele promove discussões avançadas.

Outra forma de participação é o espaço cultural, aberto ao público. - A gente tem os

fóruns internacionais, já fizemos três rodadas de fórum. Temos um grupo chamado

Rede de Valor, formado por fornecedores. Levamos o Código de Ética, fizemos um

seminário de sensibilização e disseminação, conversamos com esse grupo. O

profissional da Holcim mencionou que a participação dos públicos se dá por meio de

Page 188: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

187

treinamento e atualização interna. O novo funcionário passa por um treinamento

introdutório e recebe atualização a cada dois anos.

No Itaú Unibanco, os públicos dispõem de canais de comunicação,

em que podem participar de modo amplo e variado, desde apresentar denúncias ou

queixas e reclamações, elogios, esclarecimento de dúvidas, propostas e sugestões.

O informante do Carrefour faz referência à estrutura do comitê de ética em sua

empresa. - O comitê é bem diverso, tem o presidente, a área de RH, a área de

operações, que está no dia a dia até para dar visão das dificuldades de operações, a

parte jurídica, a parte de assuntos corporativos. Tem um representante de cada um.

A maior parte pertence à diretoria. Todos os níveis da empresa são envolvidos na

realização do código. - Eles entram na definição da conduta, também, para a gente

entender o ponto de vista deles, mas, na decisão de transgressão, somente os

gestores.

O profissional da Roche menciona a origem suíça do código de

conduta da empresa - Não é uma coisa que a gente teve participação ativa para

elaborar esse código de conduta. Geralmente, é feito na Basiléia. Você tem os

princípios básicos, mas cada afiliada tem que se adequar às leis locais. As

definições provenientes da sede englobam os valores e o informante menciona a

realização de um encontro de representantes de comunicação na Basiléia e que a

decisão foi responsabilizar os setores de comunicação corporativa, R.H e negócios

pela gestão da cultura organizacional, nela inseridas, as questões de ética e de

valores.

Este pressuposto se comprova apenas em parte. Por um lado, há

uma insistente referência à participação em clima informal e espontâneo. Há,

também, menções ao valor do envolvimento amplo, principalmente, do pessoal

interno. A participação garantida pela representatividade das instâncias nos comitês

não é assegurada. Há evidências que o incentivo à participação acontece em

momentos específicos, exceto numa das organizações em que a participação efetiva

dos funcionários é assegurada por meio da representatividade e pelo processo de

educação em ética.

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188

Pressuposto 6. Há preocupação das organizações em investir na ética, nos

relacionamentos com todos os públicos e não somente com os públicos estratégicos.

Este pressuposto implica que a ética precisa ser considerada pelos

dirigentes, na tomada de decisão, como necessária para criar e manter os

relacionamentos com todos os seus públicos.

O informante do Itaú Unibanco assim se expressa: - Aqui nós

definimos a ética como uma postura perante os stakeholders, de abertura para os

interesses deles. O código de ética é um contrato unilateral de forma voluntária. A

gente aceita, pelo menos, no primeiro momento, que os interesses dos stakeholders,

contrários aos nossos são legítimos. O profissional do Carrefour fala a respeito do

que denomina definição das “políticas de transparência”, de “negociação sadia”,

culminando no “ganha-ganha”. Acrescenta: - Os fornecedores são considerados

parceiros nossos. O respeito com os clientes, o melhor preço para os clientes,

qualidade nos alimentos, o tratamento com eles, é isso que nós visamos. O mesmo

informante faz referência ao equívoco de privilegiar um público e deixar outro de

lado: - Todos são tratados da mesma forma. Nós nos pautamos pelo relacionamento

sadio, duradouro, desejando que ele perdure, mas para perdurar tem que ser

transparente e confiável.

Na frase do informante da Holcim: - Todos os públicos podem

participar. A gente tem mapeamento de stakeholder. Todo o novo gestor, quando ele

assume, a gente faz mapeamento de stakeholders para a sua unidade, para o seu

negócio. São públicos que a gente identifica e depois a gente classifica como

prioritários e secundários. O mesmo informante expressa: Nós temos o código de

conduta de negócios com os nossos clientes e com o mercado. [...] é todo um

princípio de como a gente age no dia a dia com a comunidade, com clientes, com

consumidor. A gente tem pesquisas de satisfação anuais na empresa, com vários

públicos e, atualmente, estamos finalizando a pesquisa de reputação, que é uma

forma de medida, também. Faz referência ao fato de que, em sua empresa, a

preocupação ética abrange todos os públicos: - É todo cuidado de lidar com ética de

lidar com os públicos. A informante da Holcim salienta que, no caso da ética, todos

os públicos são considerados porque ela é tratada de maneira transversal. “A ética

se dá no nível do negócio, no nível do cliente, do consumidor”.

O informante buscou identificar outros públicos que são

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189

considerados na gestão da ética: - Temos um grupo chamado Rede de Valor,

formado por fornecedores. Levamos o Código de Ética, fizemos um seminário de

sensibilização e disseminação, conversamos com esse grupo. No contrato de

fornecedores, tem uma cláusula de compromisso com o Código de Ética da CPFL,

então, temos uma preocupação com eles.

Na mesma direção, encontra-se o relato do informante do Itaú

Unibanco: - Agora, com os fornecedores, também, nós estamos iniciando um

trabalho intenso, eles já têm um site para eles, onde podem se manifestar. E, na

sequência, estamos estendendo o nosso programa de educação e sustentabilidade.

Todas as empresas terceirizadas, a gente tenta fazer um e-learning sobre

sustentabilidade; trava o crachá do funcionário que não fez num tempo hábil, então,

não pode entrar.

Do informante do Itaú Unibanco, parte uma abordagem que

menciona: - O conjunto todo, mas é claro que, se tiver um público prioritário, são os

clientes e os consumidores, depois, acionistas e investidores, e aí seguimos com

todos os demais. O informante da Roche menciona a política de relacionamento da

empresa com seus vários públicos e, quando surgem novos públicos, eles são

incorporados: - Os princípios corporativos têm que estar claros. E tem que ver a

linguagem. Inserindo a definição mais direta de ética, encontra-se, na fala do

profissional do Itaú Unibanco, um notável complemento: - A ética organizacional

resolve conflitos de interesses internos, conflito de interesses da empresa com seus

stakeholders, seus públicos todos de interesse, resolve dilemas éticos e questões de

justiça do ponto de vista da ética e não do ponto de vista jurídico.

Este pressuposto se confirma na íntegra, quando se considera a

manifestação dos informantes. As observações parecem atestar que não falta

clareza na formulação das condutas, por parte da organização, e que todos os

públicos estão considerados.

Pressuposto 7. Os profissionais de comunicação organizacional e relações públicas

participam de todo o processo de gestão ética nas organizações.

A seguinte fala do profissional do Carrefour mostra a relevância da

comunicação na implantação e gestão da ética organizacional: - O papel da

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190

comunicação é fundamental. A área de comunicação nos auxilia muito no que fazer,

de que forma fazer. Nós apresentamos uma ideia que temos, uma necessidade de

atingir tal situação ou tal público. Ela vem, dá forma, o como devemos fazer, e fazer

essa comunicação, através dos canais que a empresa possui. O mesmo acontece

com relação às ideias expressas pelo profissional da CPFL, que são novamente

mostradas: - A parte de comunicação é essencial. O cuidado que a gente tem (uma

grande preocupação) é para não ser uma comunicação autoritária, para ser a mais

participativa possível, nem sempre é possível, porque a gente tem uma estrutura

muito hierarquizada e muito autoritária. Em sua manifestação, o profissional do Itaú

Unibanco agrega os seguintes pontos: - O plano de comunicação ética é

fundamental. E aponta no organograma em suas mãos: Aqui é uma rede clara de

educação e cultura, aqui é a área de comunicação, auditoria, compliance, é uma

rede grande de interfaces, de consultoria de ética. A área de comunicação seria uma

parceira em todas as ações de ética. A própria divulgação das diretrizes, ideias,

formatação de códigos, desde leiaute até a linguagem, são passadas por eles.

A seguinte fala do profissional da CPFL é expressiva: - O papel da

comunicação é educação. Todo o processo de educação cultural é feito nessa área.

O espaço cultural é parte da nossa área e o programa de ética está aqui também.

Então, toda a responsabilidade de inculturação da ética é da área de comunicação.

A fala do profissional da Holcim refere-se ao aspecto estratégico: - A comunicação,

em grande parte das empresas, é uma área de apoio, mas é uma área de apoio

cada vez mais estratégica, hoje em dia. Você tem alinhamentos de mensagens,

alinhamentos de posicionamentos, de posturas. Isso se dá pela comunicação, de

disseminar a informação e educar também. O comunicador, hoje na Holcim, eu acho

que em outras empresas também, vem ocupando dois principais papéis: o de

discussão e o de educação.

A afirmação do informante da Roche indica uma condição de

participação efetiva nas questões da empresa: - A gente participa diretamente da

reunião dos diretores. Aqui, na Roche, eu tenho totalmente esse espaço para

discordar, eu falo o que está errado, se você cria o seu espaço, os outros respeitam.

Por outro lado, o mesmo profissional indica certas preocupações: - Se você for

pensar, comunicação é uma área de risco. Eu acho que comunicação ainda não é

visto por muitas empresas como área crucial.

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Embora este pressuposto se confirme, quando a base considerada é

a convicção do gestor informante a respeito do papel e da relevância da

comunicação, não há menção de envolvimento de profissionais de relações públicas

e comunicação organizacional na gestão da ética.

Ao avaliar o processo de implantação, o pressuposto não se

confirma. A participação dos profissionais de relações públicas e comunicação

organizacional está limitado ao apoio, quando necessário, no desenvolvimento de

algumas ações voltadas à divulgação do código de ética. Indica-se uma

particularidade em uma das organizações, que a gestão da ética está

hierarquicamente vinculada ao departamento de comunicação, o que dá condições

para participação no nível decisório e demonstra a possibilidade de espaço para

atuação juntamente com outros profissionais.

Pressuposto 8. A decisão pela implantação da ética organizacional é tomada pela

alta administração.

A informação do profissional do Itaú Unibanco revela uma trajetória

que tem como ponto de partida a decisão nas esferas superiores da organização: -

O primeiro código de ética, aqui no Itaú, foi nos anos 70. Tinha uma diretoria de

auditoria. Em 2000, nasceu o primeiro código de ética coorporativo do Itaú. Ele veio,

teve uma pequena atualização em 2003 e, em 2005, nasceu uma nova proposta do

Itaú, que hoje vale para o Unibanco. Em 2004, o Roberto Setúbal pediu que se

fizesse um trabalho que levasse o Itaú a ser reconhecidamente ético. Então, fez-se

uma investigação sobre o que era necessário fazer para que o Itaú viesse a ser um

banco reconhecidamente ético.

O profissional da CPFL menciona que o envolvimento da alta

administração tem que ser intenso – “ela precisa querer isso” – e, também, é

necessário que se disponha a fazer os investimentos.- Precisa ter o convencimento

e a necessidade detectada na alta direção. Lembra que, pelo fato de a ética estar no

planejamento estratégico da empresa, trata-se de um movimento que não é simples:

- A gente precisou de quase 10 anos de história, para a gente chegar nisso e para

gente querer que cada um tome decisão à luz da ética.

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O profissional da Holcim descreve a implantação da ética em sua

organização com suas palavras reiteradas: - É o board da empresa, alta gestão: o

presidente e a diretoria. Não tem uma pessoa, não tem uma área abaixo de uma

diretoria porque a gente acredita na transversalidade da estratégia mesmo, do tema

como um todo. A área que faz o treinamento para os novos funcionários e

atualizações no treinamento é o jurídico e o comercial juntos.

A seguinte informação do profissional do Itaú Unibanco confirma a

participação da alta administração: - O conselho de administração é que tem a

função de aprovar os códigos morais e avaliar o cumprimento das políticas

associadas aos códigos morais. O informante descreve como estruturas vinculadas:

- Os colegiados de ética: comissão superior de ética; comitês de ética: empresas

coligadas; comitês setoriais de ética das áreas de negócios do Banco ITUB.

Gerenciamento é feito pela Área de Pessoas e Unidades Externas e Consultoria de

Ética Corporativa.

A participação da alta administração é evidenciada na referência à

implantação do código de ética, como foi encontrado na resposta do informante da

CPFL - Nesse primeiro momento, o código de ética foi construído ainda como um

pequeno grupo da empresa. Nós chamamos representantes de várias áreas e

fizemos um grupo multidisciplinar com os representantes de vários escalões

hierárquicos. A participação da alta administração foi também demonstrada na

resposta neste outro comentário do mesmo informante: - Cada executivo está muito

preocupado que o seu processo de gestão seja revisto à base de critérios éticos. A

gente pode ter um discurso maravilhoso, um comitê de ética atuante. Se o processo

não é revisto à luz da ética, não incorporou a ética.

Este pressuposto é confirmado. As informações dão a entender que

a decisão de fato parte da alta administração. A ética é vista como adoção

compulsória, compromisso intransferível. O processo de decisão pode ser inicial (a

direção elabora definições que devem ser acatadas e executadas), ou final,

(ratificando propostas vindas de uma estrutura de grupos e comitês). Os informantes

não deixam de insinuar que, mesmo havendo abertura para que as definições sejam

acrescidas ou modificadas em outras instâncias, trata-se de um processo decisório,

que é ratificado pela instância mais alta.

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193

Pressuposto 9. As organizações utilizam o diálogo, como meio para implantação e

gerenciamento da ética organizacional.

O informante da CPFL mostra uma trajetória ilustrativa do processo

de participação: - Nós conseguimos finalizar em 2006 (última versão). A revisão

passava no Comitê e todos opinavam, as contribuições eram incorporadas, não

estava bom, refazia, voltava, passava no Comitê. O Código nasceu amplo e foi

sendo ajustado (as regras precisam estar claramente definidas). Ele é híbrido,

porque tem essa proposta de fundo de ser alguma coisa na linha mais educativa e

abrangente e, também, atende à necessidade de conter algumas coisas bem

regradas.

Refere-se à realização do seminário, que começa com os

presidentes e vice-presidentes. Nesse nível, o material é mais aprofundado,

tornando-se mais compacto, na medida em que se estende ao grupo de gestores e

líderes. O informante da CPFL acrescenta que, no passo seguinte, - esse material é

todo validado, a gente põe todos os inputs e vai para todos os colaboradores. Com

os colaboradores, nas regionais, a gente adequa à necessidade daquela cidade,

daquela cultura. As evidências de exemplares de diálogo podem ser encontradas

nessas observações, quando fala do espaço cultural da CPFL: - A maior

preocupação do espaço é fomentar a discussão na sociedade e desenvolver o

conhecimento, formação de opinião.

O diálogo também é percebido, quando esse informante dá

sequência ao seu relato: - Vai começar um outro ciclo de Seminários para áreas

específicas. No mapeamento de vulnerabilidades éticas, identificamos quais são as

áreas de risco ético, as mais vulneráveis. O primeiro vai ser para área de

suprimentos, relacionado a fornecedores. De forma mais profunda, vamos levar

conceitos, adensar o conhecimento de ética para os colaboradores, ligados a

processos de suprimentos. Da mesma forma, para a área de atendimento, de

comunicação e R.H. Então, há vários pontos identificados no mapeamento de ética,

que vamos agora aprofundar.

São mencionadas, no conjunto de relatos, as formas de tratamento

ao retorno recebido de todo esse esforço – ou seja, a condução de um esquema de

comunicação em mão dupla. Observem-se as seguintes explanações do informante

da CPFL: - Quando a gente faz um seminário, levamos todo esse material,

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194

divulgamos, conversamos e relembramos que temos todos esses compromissos.

Quando faz referência ao site da empresa, o profissional assim se expressa: - No

site, você tem informação do que é, como é composta e quais são os membros que

participam dessa rede. No site, eles têm um espaço de acesso restrito, que a própria

rede interage, dentro desse espaço, com um material específico para a formação

deles. A conclusão permite inferir as pretensões de tratamento do que é recebido: -

Então, é um processo permanente, sempre aparecendo coisas que precisam ser

mais elucidadas, mais discutidas. Se não tem esclarecimento suficiente, a gente

passa o assunto de decisões do comitê a essa súmula, é publicada no site,

primeiramente, e publicada internamente para todo mundo. A prática de fóruns é

também comum na Holcim.

Essa visão de comunicação de mão dupla, também, é expressa nas

palavras do informante do Itaú Unibanco: - os públicos participam pelos canais de

comunicação; esses canais de comunicação são de toda ordem, desde denúncias a

queixas e reclamações, elogios, esclarecimento de dúvidas, propostas e sugestões.

Nas pesquisas de clima, nós temos aqui os indicadores [no momento da entrevista,

o informante apontava num diagrama estendido sobre sua mesa]. Nós temos aqui

também o engajamento com todo público interno e os programas de educação.

O mesmo se pode inferir do relato do profissional da Holcim: - Ele [o

diálogo] se dá muito em níveis de discussões de comitês; comitês com a

comunidade, comitês na área técnica externa e acaba sendo levado a todos os

níveis, e a gente publica o relatório com todos os nossos riscos e impactos. Há uma

grande confiança nos efeitos do processo de diálogo definido nas organizações,

como se pode perceber pelo seguinte relato do representante da Holcim: - Uma

abertura interna para diálogo, transparência na sua conduta, ser uma empresa

reconhecida e admirada. Foi o que eu te disse: acertos e erros todos nós temos e,

principalmente, ajuste de conduta, acho que, no final, há ganho.

É expressivo o complemento que se pode verificar nas falas do

informante da CPFL: - Todo nosso trabalho é no sentido de ouvir a opinião de todos,

principalmente, dos colaboradores e dos eletricistas. O nosso programa começa a

ganhar força e legitimidade, por conta desse espaço que a gente abre de escuta. [...]

Os seminários são importantes porque é um fórum onde eles podem dialogar com

liberdade. O que suporta todo esse programa de ética é o último item do sistema de

gestão: um plano de comunicação. Nada disso é possível, sem ampla comunicação.

Page 196: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

195

Ainda, com relação a diálogo e contato com diferentes públicos, o

profissional do Itaú Unibanco enumera uma série de ferramentas e ações para a

gestão da ética. É significativa a seguinte fala oferecida pelo profissional do Itaú

Unibanco: - A gente aceita, pelo menos no primeiro momento, que os interesses dos

stakeholders, contrários aos nossos, são legítimos. Essa é a primeira postura. E ao

longo do diálogo, da conversação, a gente vai vendo se confirma, se não se

confirma e por que.

O pressuposto aqui analisado se comprova, quando se considera a

confiança explicitada, como inferência a partir das falas oferecidas. As organizações

demonstram um esforço em oferecer possibilidades de diálogo nesse processo de

gestão da ética. São destacados, inúmeros meios e formas de comunicação

dialógica.

8.1.1 Análise Comparativa

Colocam-se em discussão os dados das entrevistas com o consultor

e com a representante da agência e os resultados obtidos no teste de cada

pressuposto. A intenção é avaliar se a opinião dos participantes do processo de

gestão ética das empresas selecionadas é compartilhada com a visão externa às

empresas fornecida pelo consultor e pela informante da agência. Segue a análise

comparativa:

O pressuposto 1 foi validado pelas empresas. Algumas contribuições

confirmam esse pressuposto nas falas a respeito da relação ética e reputação. O

consultor é enfático: - Sim. Reputação é a sombra provocada pelo seu

comportamento, é uma consequência. Não se deve gerenciar reputação, deve-se

gerenciar comportamentos, relacionamentos. Você pode tentar criar reputação. O

informante da Agência faz as ressalvas e diferencia imagem, identidade e reputação:

- Não tem como ela [reputação] nascer, se a imagem não for consistente ao longo do

tempo. Se a empresa diz que o valor dela é ética, ela se diz ética, então, aqui está

na identidade dela. Quer dizer ela é. É um valor, ela conseguiu disseminar e criar

essa imagem e, ao longo do tempo, ela cria essa reputação que é calcada nessa

questão da ética. Outra contribuição do consultor reforça esse pressuposto: - As

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196

pesquisas mostram que as pessoas preferem trabalhar em empresas éticas, então,

você acaba tendo um nível de funcionários melhor; o mercado reconhece; o

consumidor; os fornecedores reconhecem.

O pressuposto 2 foi comprovado pelas empresas. As falas

confirmam o pressuposto, conforme a expressão da informante da agência: - a

questão da ética acaba muitas vezes permeando outras ações de responsabilidade

corporativa, de sustentabilidade, quando tem empresas que levam isso de verdade a

sério [...], a ação ética está dentro. Segundo a mesma informante, o investimento em

ética é uma tendência, devido a “pressões externas”: - é uma pressão que obriga as

empresas a reverem procedimentos e políticas. Então, há uma tendência sim, de

fora para dentro, mas vem e é crescente.

As palavras do consultor seguem esta mesma linha, ao esclarecer

por que as empresas investem em ética: - São duas razões principais: a primeira

“vamos seguir a moda”; e a segunda é a Lei Sarbanes Oxley para as empresas que

tenham capital aberto. Tem uma minoria, não sei se são 10, talvez sejam 20%, por

uma questão de consciência, que você precisa ter procedimentos socialmente

compatíveis. Outra fala relacionada a esse pressuposto trata da discussão das

teorias éticas: - Eu apresento algumas coisas de diferentes linhas da discussão da

ética e coloco isso em questão. Por exemplo, a ética de convicções, da ética de

responsabilidade, uma questão muito comum do ponto de vista prático. Deixa claro

que não há discussão mais aprofundada a respeito da base teórica. Outra

observação que chama a atenção, os dois entrevistados mencionam que as

empresas decidem pelo programa de ética para atender às demandas do mercado,

ou devido à legislação.

O pressuposto 3 mostrou-se válido na testagem com as empresas,

mesmo de forma não tão enfática, em relação à resistência dos funcionários, e não

houve ocorrência com outros públicos. O mesmo resultado foi comprovado na

avaliação do consultor e da informante da agência. As seguintes falas do consultor

são representativas: - É muito mais fácil você trabalhar com gente que pensa de

maneira muito próxima, sobre cultura, sobre comportamento, modos de agir, que

com pessoas que cada um tem uma direção. E ainda: - é preciso que as pessoas

acreditem, senão, na primeira esquina, eles desviam. Na enumeração das

dificuldades, o mesmo informante afirma: - No Brasil, a primeira dificuldade é

cultural. A gente tem uma tradição de flexibilidade ética [...]. Fazer as pessoas se

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197

comportarem de outra maneira não é fácil, é uma questão de educação, não é uma

coisa imediata. Na entrevista com o representante da Agência, algumas frases

permitem essa associação: “Quem vai criar é a organização, que vai ter que

realmente passar por uma série de transformações”; “você mostra os

posicionamentos éticos e você dissemina o que você espera desse teu colaborador”.

O pressuposto 4 foi comprovado na pesquisa com as empresas. Na

análise com o consultor e com a diretora da agência, é validado, parcialmente. O

informante da Agência fala do trabalho de comunicação interna, como meio de

propagação da ética nas organizações, e não há nenhuma referência ao código de

ética. As palavras do consultor expressam outras formas de divulgação: - Primeiro

meio, veículos de comunicação. Algumas empresas têm jornal, jornal mural,

podcast, televisão interna, então, você pode usar esses diferentes meios. O meio

mais eficaz é a discussão em grupos, é a que funciona mesmo. A respeito do

código, diz: - O código de ética é a parte final. Você informou todo mundo do

processo, você discutiu o processo, você entrega o código de ética. A própria

entrega do código de ética deve ter algo solene, para mostrar que aquilo é realmente

importante.

O pressuposto 5 foi comprovado, parcialmente, em relação às

empresas. O incentivo à participação é enfatizado pelos informantes, mas, quando

se fala em representatividade e em participação nos comitês de ética, isto não é

evidenciado. A análise com o consultor e com a informante da agência demonstra

que a comprovação também é parcial. Nas falas da representante da Agência, as

palavras “responsabilidade da organização”, “toda a organização decide”, “a própria

organização” são usadas em um sentido genérico que subentende-se a participação

dos colaboradores da empresa; não se fala em comitê de ética. As palavras do

consultor demonstram a participação em alguns momentos e trata dos comitês de

ética como privilégio dos “escolhidos”: - Os escolhidos para formar o grupo,

chamado comitê de ética, participam efetivamente. E, em outro relato: - geralmente,

a participação é do gestor da área. Às vezes, você inclui um funcionário, mas não é

comum, até pela linguagem, porque muitas vezes há um desnível. Quanto à

participação em outros momentos: - O meio mais eficaz é a discussão em grupos, é

a que funciona mesmo. Dependendo da dimensão da empresa, não dá para o

consultor fazer isso total, mas aí você forma monitores. Esses monitores vão

Page 199: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

198

levando às outras unidades e a outros setores. O que funciona mesmo é essa

discussão.

O pressuposto 6 foi confirmado no relato das empresas e, também,

pelo consultor e pela representante da agência. A informante da Agência relaciona a

ética à definição de “triple bottom line”: - é um conceito corretíssimo e ele é

absolutamente calcado na ética, que é ética nas relações, em todas as relações. E

ainda: - a pressão de fora para dentro só tem obrigado as empresas a relacionarem

cada vez mais com os stakeholders. As palavras do consultor revelam a tentativa de

oferecer uma participação mais efetiva a outros públicos: - A gente procura, não digo

que aconteça sempre, envolver a comunidade próxima, particularmente,

comunidades menores. E procura envolver, ainda, os fornecedores e clientes,

quanto a isso depende muito da empresa. Quando a gente consegue, fazemos o

mapeamento dos stakeholders.

O pressuposto 7 não foi confirmado pelas empresas. Na análise com

a visão do consultor e da representante da agência, não houve a validação. As falas

da informante da Agência, em vários momentos, menciona o papel da comunicação:

- Informar é um dos passos, mas o objetivo do trabalho consistente de comunicação

interna é a disseminação de missão, visão e valores; - o papel da comunicação é

esse, ter a visão de que comunicação interna é disseminação; - Você vai realmente

disseminar para contaminar, para motivar, influenciar; - a comunicação participa da

disseminação, mas não na definição.

O consultor justifica: - Na maior parte das empresas, o pessoal de

comunicação e relações públicas não faz parte dos comitês de ética. Porque veem

relações públicas como forma de evitar o crescimento dos problemas, dar um jeito

no problema que derivou de um comportamento inadequado. O pessoal vê muito o

relações públicas como uma pessoa voltada para o ambiente externo, hoje, a

principal função do relações públicas e do gestor de comunicação corporativa é

relações com a mídia, fazer a empresa “sair bem na foto”, conquistar espaço na

mídia. Como tem essa visão, relações públicas não é uma pessoa procurada para

uma questão como a ética de modo geral, em função dele divulgar. Acrescenta a

sua opinião: - Acho que deveria ser o contrário, que o relações públicas deveria ter

uma formação forte e uma presença forte. E destaca o papel da comunicação nesse

processo: - O papel da comunicação é muito importante porque você tem que

disseminar internamente e, depois, externamente, o que você colocou no seu código

Page 200: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

199

de ética, para não ser apenas mais um papel pregado na parede, ou um folheto

entregue que você põe na gaveta.

O pressuposto 7 não foi confirmado na análise com os prestadores

de serviços, mas aparece, na fala do consultor, como oportunidade para atuação em

um novo campo. As seguintes palavras comprovam a sua opinião: - Há um grande

espaço e um espaço que não está ocupado. Os profissionais têm que entrar mais

nesse assunto. A formação falha nesse sentido porque precisa ter um pouco mais de

conteúdo sociológico, filosófico. [...]. A maior parte do pessoal acaba tão envolvido

com o operacional que não se preocupa com as questões conceituais, que são a

base.

O pressuposto 8 é comprovado pelas empresas e pela opinião do

consultor e da diretora da agência. As falas da informante da Agência são

significativas: - É a alta direção quem realmente define que ética é valor. Em outro

momento: Primeiro, há uma decisão da empresa. Reitera-se o pressuposto, ao

esclarecer a opção da empresa: - se a empresa vai ou não aderir isso como deve, é

uma decisão interna e é de cima para baixo. Eu acho que não é diferente, ela sofre

pressões, mas ela pode decidir por camuflar tudo isso. As falas do consultor

expressam a validação, ao se referir à decisão de contratá-lo para implantação de

um programa de ética: - a maior parte das vezes é iniciativa do conselho ou da

presidência, que pede aos recursos humanos para ver isso. O canal tem sido

recursos humanos.

O pressuposto 9 é comprovado pelas empresas selecionadas.

Indica-se o mesmo resultado, com a entrevista com o consultor e com a diretora da

agência. A informante da Agência expressa: - Então, você mostra os

posicionamentos éticos, dissemina o que espera desse teu colaborador e cria um

canal de diálogo para eles. O consultor dá condições para o diálogo: - Na minha

forma de administrar, é com a conversa. Outra observação está relacionada à

utilização do termo disseminar nas falas da Agência. Então, fica a dúvida: há diálogo

ou disseminação?

Page 201: ZILDA APARECIDA FREITAS DE ANDRADE Gestão da Ética nas

200

8.2 DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA

Constata-se que o processo de inculturação é fundamental no

processo de gestão e implantação da ética, mediante esta primeira constatação, a

análise será feita a partir de Goffman (1999) e Foucault (1999), para avaliar que

outros elementos contribuem no processo. A análise aqui apresentada utiliza os

cruzamentos delimitados nos guias. As dimensões teóricas definidas serão

discutidas pelos guias de análise: princípios e possibilidades, poder e ajustamentos.

Guia de Análise – Princípios e Possibilidades

O guia princípios e possibilidades estabelece os parâmetros que

ressaltam a organização como responsável em promover condições para o agir ético

e também em estabelecer procedimentos que evitem a conduta inadequada em

qualquer decisão. Inclui-se a participação como facilitadora da implantação do

código de ética; o nível de participação da alta administração; a convergência entre

os objetivos da organização e de seus públicos.

Na dimensão ética do ambiente organizacional, os dados sugerem

um razoável montante de estimulação, por parte da organização, ao agir ético e a

evitar a conduta inadequada em qualquer decisão. O informante do Carrefour assim

expressa esse aspecto: - Eu defino ética como a essência do ser. O que tento pregar

na empresa é que nós não podemos tratar somente ética na empresa, ética na

minha casa, ética no grupo social a qual eu vivo, no regramento, mas eu acredito

que a ética tem que ser de dentro. É um bem comum. Nestas afirmações, estão

também implicados os valores organizacionais incorporados à cultura da empresa e

internalizados pelos integrantes da organização.

Com relação a princípios e possibilidades oferecidas pelo conceito

de ética, as falas mencionadas dão destaque à ação de estabelecer procedimentos

para o cotidiano. Há, por outro lado, uma tendência a pensar num “ambiente ideal”

inspirado em elementos de reflexão, sem necessariamente avaliar o grau em que o

funcionário de fato absorve os conceitos expostos. A ambiguidade é enfrentada no

reconhecimento de que se pode adotar “um discurso maravilhoso”, sem que se

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201

tenha incorporado a ética. Percebe-se na fala do representante do Carrefour essa

ambiguidade e, ao mesmo tempo, a busca pela fundamentação dos princípios

éticos, quando o mesmo questiona a forma como a ética é considerada como valor: -

A ética é vista como um valor porque hoje nós estamos em um mundo carente, onde

a sociedade cobra do ser humano atitudes éticas. E ainda: - Deveria ser tratada

como um valor? Não. Isso deveria ser normal. Não deveria agregar [...] porque

deveria ser uma conduta normal das pessoas.

É significativa a fala do profissional da Roche, quando menciona a

necessidade de uma empresa, independentemente do segmento em que atua,

“guiar-se por princípios éticos”: - O comportamento ético é a base de sustentação,

desenvolvimento e solidificação das organizações [...] É a essência da empresa.

Para dar continuidade ao negócio, tem que ser ético. O informante acrescenta que,

por definição, ética significa um comportamento da empresa que segue a moral e as

leis da sociedade em que está inserida. Outra fala que ressalta a ética, como

princípios e possibilidades, é a citação do informante do Itaú Unibanco sobre as

teorias éticas como base para o desenvolvimento de ações na organização, já

mencionada na testagem do pressuposto.

A seguinte afirmação do profissional da CPFL, apesar de já ter sido

citada anteriormente, merece exame, com referência ao tratamento da ambiguidade

e da contradição: - É um processo de educação de longo prazo sempre. A gente

revê constantemente os processos de gestão. Cada executivo está muito

preocupado que o seu processo de gestão seja revisto à luz de critérios éticos. A

gente pode ter um discurso maravilhoso, um comitê de ética atuante. Se o processo

não é revisto à luz da ética, não incorporou a ética.

A fala do informante da CPFL ilustra os princípios e as

possibilidades para a implantação e gestão da ética ao definir ética organizacional: -

você tem os valores da empresa, o respeito a esses valores e a inculturação desses

valores na cultura organizacional. Na fala do informante da Gol, é possível separar

que os princípios da empresa são “ações originais, criativas, éticas e justas” focadas

nos resultados para os clientes e funcionários.

Há evidências de que se acredita que a ética influencia diretamente

na formação da reputação e do aumento do grau de confiança na empresa. Ao se

considerar os princípios e possibilidades, a fala do informante da Holcim implica

numa associação entre ações determinadas no interior da empresa, no sentido de

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202

projetar uma imagem com capacidade de ser reconhecida: - E temos auditorias,

também, internas e externas, e os comitês. E aí estou falando de governança da

empresa. Outro aspecto ressaltado pelo informante da Holcim, de acordo com os

princípios, implica na relação ética e reputação: não dá para você fazer

relacionamentos, ter um discurso, uma via de mão dupla, sem ter a questão da

verdade, da confiança, da credibilidade no dia a dia.

No ambiente organizacional, ao tratar da ética e relações públicas e

comunicação organizacional, essas informações sugerem um profundo grau de

consciência do papel estratégico da comunicação, e o modo enfático de fazer

referência à presença da ética em todos os relacionamentos da organização. A essa

perspectiva, conjuga-se o papel estratégico do gestor da ética organizacional na

tomada de decisão, e se aborda o profissional como promotor da ética em todos os

relacionamentos da organização.

Ao tratar a ética como base da organização e essencial aos

negócios, um elemento que também ressalta é o montante de associações aos

fatores de poder e ajustamento, chamando atenção para a necessidade de registrar

códigos, influir nas condutas, disseminar práticas. Por ser uma tênue fronteira entre

autonomia e restrição, a base crítica tem que estar muito presente.

Guia de Análise - Poder

O tópico analítico do poder identifica a presença de elementos como

disciplina, norma, controle, técnicas e táticas de dominação, ponto panóptico e o

funcionamento automático do poder. Focaliza as formas de vigilância permanente

em seus efeitos, mesmo sendo descontínua em sua ação. Nesta análise, estará

associado à dimensão ética no ambiente organizacional.

A adoção do código de ética é um meio para incentivar a

observância, ao demonstrar as regras do sistema de punição para aqueles que não

o seguirem. O efeito gerado pelo sistema de punição precisa compensar a prática do

código de ética, um comportamento adequado às regras estabelecidas pela

organização.

A disciplina, como um dos elementos do poder, tem como uma das

funções “desenvolver o sujeito obediente”, que vai agir da forma como se quer que

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203

ele aja. As técnicas utilizadas, para se conseguir modelar, vão do monitoramento ao

controle dos indivíduos e, também, aos meios para avaliação de sua capacidade,

como o “olhar hierárquico” e as punições, por exemplo. Já o ponto panóptico visa

vigiar e também controlar as ações dos indivíduos, mesmo quando não há alguém

na vigilância. Ao falar do agir, a partir de critérios éticos, pode estar implícito este

conceito.

Em poder, na dimensão ética do ambiente organizacional, um forte

registro pode ser apontado na fala do profissional da CPFL, quando fez referência à

aplicação da pesquisa de vulnerabilidades éticas: - No primeiro escalão, presidente

e vice-presidente não teve problema e, quando chegou na diretoria e na gerência,

teve uma imensa reação, ficaram muito bravos. Nós não conseguimos concluir o

trabalho. Essa reação pode ser efeito do abalo provocado nos esquemas de

disciplina, norma e controle, além do exercício das técnicas e táticas de dominação.

Outra fala, igualmente, significativa nesta análise, faz a seguinte

menção: - A Gol é uma empresa que exige princípios éticos em suas relações de

trabalho e na condução de seu negócio. O profissional acrescenta que isso - implica

trabalhar de forma virtuosa, honesta e íntegra, valorizando uma relação de

transparência e confiança entre as pessoas, em que todos possam alcançar

plenamente os seus objetivos. Um conjunto de expressões (embora possam ter

ocorrido de maneira involuntária) é expressivo neste campo: O verbo exigir na

citação anterior é complementado pelo verbo implicar, na menção seguinte, esta

finalizada com os termos alcançar, plenamente, os objetivos. Uma associação é,

portanto, possível com os elementos de disciplina, norma, controle, ponto panóptico

e funcionamento automático do poder.

O monitoramento, como técnica de poder, pode ser percebido na

fala do informante do Itaú Unibanco. A instituição desenvolveu um programa de

educação continuada em ética, compreendendo cursos, workshops e palestras

presenciais; e-learnings, MBAs internos. Há um processo de prestação de contas, os

relatórios de sustentabilidade, o processo AA1000, o processo SA 8000 e o

formulário 20 F, um formulário para investidores internacionais. Nas palavras do

informante: - a gente escreve o que a gente faz, disponibiliza na internet e os

investidores consultam esse relatório e lá tem as questões de ética também. E tem

um plano de comunicação, nas revistas coorporativas, informes que são mandados

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204

por e-mail para as pessoas, banners, murais, enfim, quando tem coisas importantes

para comunicar, lembretes.

Em poder, cabe voltar a fazer referência à informação do profissional

da Roche, quando mencionou o fato de o funcionário que inicia na empresa receber

o manual de ética e ter que participar de um e-learning, para assegurar que

compreende e aceita. Na Holcim, funciona da seguinte forma: - o código de conduta

é dado ao novo funcionário. Quando entra, ele passa por um treinamento e assina o

“de acordo” com os princípios da empresa, da lei de concorrência.

Na Gol, a expressão já citada anteriormente na análise dos

pressupostos, “todos os colaboradores da Companhia devem estar familiarizados

com os princípios básicos estabelecidos em seu Código de Ética [...]” expressa a

relação com o poder e sua vinculação hierárquica. Em outras falas, o informante da

Gol, ao expressar a dificuldade em implantar a gestão ética, ressalta o poder como

forma de disciplinar, modelar: o desafio é familiarizar, entre os dezessete mil

colaboradores, o conceito de ética na empresa, transparência, bom clima

organizacional. Além disso, estimular a participação de todos, independentemente

de nível hierárquico, preservando as pessoas.

Aqui se levanta o tópico poder no aspecto vigilância expresso pelo

informante do Itaú Unibanco: - Estamos criando um portal de produtos (produtos,

serviços, grandes negócios) que vai passar por lá, vai ter uma avaliação legal.

Passou pela legal tem ética, não passou pela legal, nem segue adiante.

A fala do profissional da Roche indica uma condição de participação

efetiva nas questões da empresa: - A gente participa diretamente da reunião dos

diretores. Aqui, na Roche, eu tenho totalmente esse espaço para discordar, eu falo o

que está errado, se você cria o seu espaço, os outros respeitam. Por outro lado, o

mesmo profissional indica certas preocupações: - Se você for pensar, comunicação

é uma área de risco. Eu acho que comunicação ainda não é visto por muitas

empresas como área crucial.

Nas palavras da informante da Roche, pode-se perceber o

funcionamento do poder disciplinar. Esclarece que a avaliação da ética é feita pelo

compliance e pelo departamento legal: - Se a gente verifica que tem alguém que não

está seguindo as regras, o compliance vê e comunica o presidente. O informante da

Gol também cita o sistema de punição: Compete ao Comitê de Auditoria, à

Presidência e às Vice-Presidências, decidir sobre as ações cabíveis aos casos

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205

submetidos pelo Comitê de Ética. A CPFL menciona o funcionamento do comitê:

analisam todas as denúncias que vêm pelo canal de ética, que a ouvidoria recebe,

sistematiza, apresenta no comitê, uma por uma, é analisada pelo comitê, depois,

devolve e tem todo o fluxo para as tratativas das denúncias, sugestões,

questionamentos.

Na abordagem de poder, é significativo que, ao se mencionar a

adoção do código de ética, insinua-se nele um aspecto disciplinador, um

posicionamento como ponto panóptico e uma implicação ao funcionamento

automático do poder. O tópico poder direciona a reflexão para exame do seguinte

conteúdo da fala do profissional do Carrefour: - Em 2002, 2003, nós resolvemos

fazer o código de ética. O código é um pouco mais normativo (não pode, não deve,

não queremos). Nas próximas revistas do código, nós vamos mudar um pouco a

linguagem. Observa-se a presença de elementos como disciplina, norma, controle.

Na observação do informante, há consciência da necessidade de rever o texto do

código, o que pode equilibrá-lo nesses aspectos. Já o profissional da CPFL

menciona que o código de ética é o primeiro dispositivo do chamado Sistema de

Gestão e Desenvolvimento da Ética - SGDE. Outro componente do SGDE é o

Comitê de Ética e de Conduta Empresarial, fundado em 2002 e aprovado na

diretoria e no Conselho de Administração.

Na sequência dessa descrição do Itaú Unibanco, é possível

perceber traços do que é definido como normas e vigilância do guia de análise: -

Todas essas práticas de disseminação por meio, basicamente, dessas ferramentas.

Programa de Educação Continuada em ética: cursos, workshops e palestras

presenciais; e-learnings, MBAs internos. Esse processo de prestação de contas, os

relatórios de sustentabilidade, o processo AA1000, o processo SA 8000 e o

formulário 20 F, um formulário para investidores internacionais; a gente escreve o

que a gente faz, disponibiliza na internet e os investidores consultam esse relatório e

lá tem as questões de ética também. E tem um plano de comunicação, nas revistas

corporativas, informes que são mandados por e-mail para as pessoas, banners,

murais, enfim, quando tem coisas importantes para comunicar, lembretes.

Com relação a diálogo e contato com diferentes públicos, a seguinte

enumeração, oferecida pelo profissional do Itaú Unibanco, é altamente reveladora da

rede de contatos e ações implicadas: - Monitoramento por meio de pesquisas de

clima ético; gestão de indicadores, compliance (PVC e QA); auditoria interna;

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206

avaliação externa da política corporativa (benchmarks). As práticas envolvem a

avaliação dos negócios, operações, produtos e serviços sob a óptica das diretrizes

da Política de ética (Portal de Produtos); engajamento e diálogo com stakeholders;

análise e tratamento de desvios de conduta via canais de comunicação. A ouvidoria

cuida dos stakeholders externos, o ombudsman, que cuida do público interno (uma

ouvidoria interna), a auditoria, tem a diretoria de segurança corporativa, onde tem a

inspetoria, tem o próprio comitê de vistoria; são canais que recebem essas coisas e

tem métodos estruturados e organiza tudo isso, por que eles não têm critérios

diferentes. Aí, nós temos monitoramento, bianualmente, a gente faz pesquisas de

clima ético. Antes do conhecimento sobre formas de tratamento das informações

recebidas, enseja-se a noção de vigilância no tópico “poder” do guia de análise.

Na continuidade da análise do Itaú Unibanco, percebe-se mais uma

manifestação de poder relacionada a controle, ao definir as etapas e os

procedimentos corretos. A informação do profissional do Itaú Unibanco menciona

essa estruturação: - os programas de engajamento e diálogo com os stakeholders

são feitos basicamente pela AA1000 e pela SA 8000, como diretivas.

A descrição, a seguir, também, comprova a relação com o poder,

como forma de disciplinar todos os envolvidos no processo de gestão da ética: -

Então, a gente sempre está levando módulos sobre ética. A gente tem os fóruns

internacionais, já fizemos três rodadas de fóruns. Convidamos representantes dos

segmentos universidade, empresa, sociedade civil e comunidade e fazemos uma

ampla discussão.

Guia de Análise - Ajustamentos

Os ajustamentos são mecanismos utilizados pelos indivíduos para

adaptação a um novo ambiente. O sistema de privilégios está baseado em três itens:

“regras da casa”, ditam como deve ser a conduta; as pequenas premiações, incluem

os benefícios pela obediência; os castigos pela desobediência às normas indicam a

suspensão ou a exclusão dos privilégios. Os ajustamentos primários remetem à

cooperação e ao cumprimento das condições estabelecidas, enquanto os

ajustamentos secundários são formas dos indivíduos buscarem sua satisfação, seja

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ela não consentida ou obtida de forma ilegal. Há dificuldade em delimitar a fronteira

entre os dois tipos de ajustamentos.

Ao analisar as palavras a seguir, há uma forte presença dos

ajustamentos primários, que estabelecem o cumprimento de condições

determinadas e planejadas pela empresa. - A gente tem o compromisso com o Pacto

Global, recentemente, fizemos a adesão ao Caring for Climate, que está relacionado

aos princípios de meio ambiente do Pacto Global; porém, mais focado na questão

das mudanças climáticas [...]. A gente faz parte também do GT (Grupo de Trabalho)

do Pacto pela Integridade e Contra a Corrupção, que está sendo liderado pelo

Ethos. Temos uma participação muito ativa lá.

Na fala do profissional do Carrefour, há implicações que podem ser

aferidas nos ajustamentos primário (relacionamento no nível formal na organização)

e secundário (absorção da norma de modo individualizado pelo funcionário): -

Criamos o código e fizemos a disseminação desse código em nível de Brasil com

informação, na época, quarenta e cinco a cinquenta mil colaboradores. Fizemos

formadores com campanha de comunicação e conseguimos multiplicar isso.

A estruturação de grupos com finalidades demarcadas por suas

denominações predispõe a formas de ajustamento primário. A seguinte informação

do profissional do Itaú confirma a participação da alta administração: - O conselho de

administração tem a função de aprovar os códigos morais e avaliar o cumprimento

das políticas associadas aos códigos morais. O informante descreve como

estruturas vinculadas: - Os colegiados de ética: comissão superior de ética; comitês

de ética: empresas coligadas; comitês setoriais de ética das áreas de negócios do

Banco ITUB. Gerenciamento é feito pela Área de Pessoas e Unidades Externas e

Consultoria de Ética Corporativa.

Pode-se aqui ver uma espécie de reconhecimento tácito do

ajustamento secundário. É curioso que as palavras do informante da CPFL fornecem

um complemento “esperançoso” para esse ajustamento secundário: - O desafio é

que todos os colaboradores utilizem critérios de natureza ética para as suas

decisões no dia a dia. As palavras do informante da Holcim leva a refletir a respeito

da importância de uma relação que minimize o ajustamento secundário em seu lado

de burla: - Você só implementa uma gestão de ética, se você tem uma liderança

comprometida. Acho que o discurso diário, que não passa da estratégia de ação

daquela área, não tem valor.

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O conteúdo do código de ética pode conter elementos que

neutralizariam o ajustamento secundário, mas, pelo fato de ser um documento,

acaba por funcionar como ajustamento primário (as regras da casa). É significativo

que o informante, ao definir sua própria maneira de pensar, projetando-a para a

empresa, expressa uma forma de ajustamento secundário. Como já mencionado, os

códigos, também, expressam as relações de poder.

As seguintes falas do profissional da Holcim traduzem a presença de

disciplina, norma, controle e sugerem ajustamentos: - Ou você assume um papel

ético e coerente, na sua linha de conduta de negócios, ou você está fadado a não ter

uma vida longa. A informante da Roche faz ressalva em relação a um pequeno

trecho do código: “eu não sabia que era ilegal não exclui a minha responsabilidade.

Portanto, em casos de dúvidas, devem sempre consultar o departamento jurídico”.

Como já foi dito, a Holcim não possui um programa de ética.

Segundo a informante da Holcim, “o código de conduta na verdade é o board da

empresa, ele é validado pela alta gestão da empresa, pelo presidente, diretores da

empresa”. O gerenciamento do código de conduta não é feito por uma área

específica, porque a empresa acredita na “transversalidade da estratégia”. A área

jurídica e comercial são responsáveis em fornecer o treinamento aos novos

funcionários e as atualizações do treinamento, que podem ser feitas anualmente ou

a cada dois anos. “O código de conduta é dado a todo novo funcionário, quando

entra. Ele passa por um treinamento introdutório, eles assinam o “de acordo” com os

princípios da empresa e da lei de concorrência”.

Ao analisar o ambiente sob o guia ajustamentos, a informante da

CPFL contribuiu, ao reatar a postura dos não participantes na pesquisa sobre

vulnerabilidades: - Porém, hoje, a gente já está trabalhando com eles, a gente não

tem essa sistematização, mas hoje eles estão super à vontade de identificar, não

têm medo de falar, apontam, sabem que precisa ser cuidado. Haverá inegáveis

reflexos (positivos ou não) na dimensão ética e reputação corporativa.

Em ajustamentos, é significativo um registro para a dimensão

profissional, trazido pelo informante do Carrefour: - Quanto mais nós crescemos na

empresa, menos nos é permitido errar e mais nós carregamos o nome da empresa.

Você pode fazer tudo, mas nem tudo lhe convém, porque não vai te trazer coisas

boas lá na frente. Essa manifestação tem a natureza do ajustamento secundário.

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As informações aqui registradas utilizam, por vezes, a primeira

pessoa do plural, o que dá um sentido de inclusão, quando se trata, por exemplo, da

formulação do código de ética e sua disseminação. Considerando-se que a inserção

da ética, como elemento da cultura organizacional, requer um processo educativo,

há uma confortável expressão, por parte dos profissionais, de que lhes é

efetivamente dado participar desse processo. Isto é a expressão dos ajustamentos.

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9 CONCLUSÕES DO ESTUDO

Para realizar o estudo contido neste trabalho, com a finalidade de

avaliar o emprego da ética nas organizações, foram consideradas três dimensões

teóricas: ética nas organizações, seus conceitos e desdobramentos, e ética e seus

reflexos na reputação corporativa, ética e os profissionais de relações públicas e de

comunicação organizacional. Foram definidos nove pressupostos, posteriormente,

levados à análise e testagem, pelos dados coletados nas entrevistas com os

representantes das empresas e comparados com as informações do consultor em

ética e com a representante da agência de comunicação. O quadro 25 representa os

resultados da testagem.

A análise dos dados das entrevistas foi feita a partir de uma

ferramenta desenvolvida com base, dentre outras fontes teóricas, na noção de poder

(Michel Foucault) e de ajustamentos (Erwing Goffman). A implantação e

implementação de qualquer iniciativa, em termos de ética organizacional, é

assentada num ato de poder. Trata-se de uma condição que merece ser estudada

com grande cuidado, uma vez que projeta situações contraditórias: por um lado,

pode haver benefícios à organização e a seus públicos (reflexos positivos na

reputação) e, por outro, criar um ambiente que tiraniza os membros da organização.

As relações de poder são utilizadas para criar um ambiente propício

à implantação e gestão da ética organizacional. O equilíbrio nessas relações

possibilitará um processo “harmonioso”; o autoritarismo trará somente resistência e

“boicote” a essas ações. Há sempre de se buscar a conciliação entre os interesses

dos envolvidos. Nota-se uma preocupação das empresas, apesar das relações de

poder e dos ajustamentos estarem instituídos, em incentivarem o diálogo e a

reflexão, por meio de várias canais colocados à disposição dos públicos para uma

comunicação mais efetiva. Quanto à participação, percebe-se uma ambiguidade.

A participação é considerada como viável ao processo de integração

e de “inculturação” do programa de ética; porém, na análise dos pressupostos feita

anteriormente, havia também referência a suprimir formas de autoritarismo; porém,

são recorrentes alguns elementos que mostram o desejo de tornar menor a

participação nas altas esferas da organização, no que essa participação produz de

interferência, e confiná-la aos momentos em que ela funciona de modo estruturante.

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211

RESULTADOS DA TESTAGEM

PRESSUPOSTOS EMPRESAS COMPARATIVO

1. A ética vem sendo adotada pelas organizações,

como conceito fundamental para uma reputação

corporativa favorável.

Confirmado Confirmado

2. A ética organizacional é a base das organizações

porque estas a consideram essencial nos

negócios.

Confirmado Confirmado

3. A resistência dos públicos à implantação da

gestão ética é a principal dificuldade.

Confirmado Confirmado

4. Um dos meios utilizados para a propagação da

ética nas organizações é a divulgação do código

internamente e a todos os públicos.

Confirmado Confirmado

parcialmente

5. As organizações consideram relevante a

participação de toda a empresa no processo de

gestão ética e por isso criam o comitê de ética

com representatividade de todas as instâncias

organizacionais.

Confirmado

parcialmente

Confirmado

parcialmente

6. Há preocupação das organizações em investir na

ética, nos relacionamentos com todos os

públicos, e não somente com os públicos

estratégicos.

Confirmado Confirmado

7. Os profissionais de comunicação organizacional e

relações públicas participam de todo o processo

de gestão ética nas organizações.

Não confirmado Não confirmado

8. A decisão pela implantação da ética

organizacional é tomada pela alta administração.

Confirmado Confirmado

9. As organizações utilizam o diálogo, como meio

para implantação e gerenciamento da ética

organizacional.

Confirmado Confirmado

Quadro 25 – Resultado da testagem dos pressupostos.

Fonte: Dados da pesquisa

Já a participação da alta administração demonstra ser efetiva, sendo

responsável pela decisão de implantação da ética organizacional. Nesse processo,

participa juntamente com os colaboradores de treinamentos sobre ética, de formas

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de “inculturação” da ética, de educação para uma cultura ética, e geralmente, é

responsável pelo comitê de ética. Há um envolvimento necessário e a exigência de

ações condizentes com os princípios éticos, para que o processo de gestão seja

positivo.

Falou-se do papel das empresas em desenvolver ambiente propício

ao desenvolvimento da ética organizacional, falou-se do papel decisivo da alta

administração na promoção e garantia dos direitos pessoais e organizacionais, além

da conciliação dos interesses; falou-se do papel das instituições que promovem

essas melhorias, visando ao bem social (desde que esses sejam legítimos) e que a

instituição não esteja camuflando o seu papel, disseminando posturas ideais, mas

praticando posturas inadequadas. Em todas essas conclusões, faltou o papel do

profissional de comunicação organizacional e relações públicas.

Não há nas empresas estudadas a participação direta do profissional

de relações públicas e de comunicação organizacional no desenvolvimento de um

programa de ética. Mesmo as organizações não dispondo de um profissional de

comunicação no papel de gestor da ética, os informantes reconheceram de modo

amplo que a comunicação é essencial. Apenas o caso da CPFL atestou que a

gestão da ética está vinculada a uma diretoria de comunicação. É papel da

comunicação promover a participação e a interação dos indivíduos dando condições

para que eles percebam a realidade e busquem as soluções das questões inseridas

no seu cotidiano. Neste estudo, a comunicação é utilizada para criar espaços para

discussão, promover diálogo, elaborar, desenvolver, implantar estratégias de

divulgação do código de ética e de decisões éticas.

Não se percebe o papel do profissional de comunicação ou desta

área como relevante na tomada de decisão acerca da ética organizacional, exceto

quando o departamento é responsável pela gestão da ética. Nota-se o destaque

para sua relevância, demonstrada em várias entrevistas, quando a empresa tem

como instrumento somente o código de ética, e na estruturação de um programa de

ética, em um segundo momento, quando a sua atividade faz-se necessária para

atingir o objetivo de disseminar.

O profissional encarregado pela gestão da ética, independente de

sua formação, promove e incentiva a ética em todos os relacionamentos. Isto é

comprovado pela formalização desses relacionamentos, na análise dos códigos de

ética das empresas selecionadas. Além disso, a alta administração preocupa-se com

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esses relacionamentos porque estes contribuem para a formação da reputação. A

reputação é o benefício a ser conquistado a longo prazo, é a garantia de retorno da

aplicação de princípios organizacionais éticos às ações, aos relacionamentos, a

todas as atividades desenvolvidas pela empresa.

Ficou evidente que há espaço para o trabalho desses profissionais e

que a comunicação é fundamental ao desenvolvimento da ética organizacional. Não

seria possível pensar em programa de ética, sem falar das estratégias da

comunicação para o envolvimento, disseminação das questões éticas. Então, e o

papel do profissional? Será que o profissional de comunicação e relações públicas,

com o intuito de criar e disseminar um programa de ética, não está adotando

posturas que vão contra o seu papel de comunicador? Com o discurso de que “a

minha organização é perfeita”, escondem-se ações que vão contra os interesses dos

públicos, ou ainda criam, implementam programas para promover somente a

empresa, sem ter uma base de práticas legítimas. Utilizam todas as estratégias para

garantir a reputação da empresa, sem ações concretas.

Não há mais espaço para profissionais que tenham essa postura,

que servem a todos os interesses da empresa, sem lutar para que as mudanças

sejam verdadeiras. A contribuição dos profissionais de comunicação organizacional

e relações públicas tem que ser na educação dos dirigentes e de todos os membros

da organização e que somente haverá uma empresa melhor, uma sociedade melhor,

se as mudanças acontecerem de forma real e verdadeira e não somente para

“ocultar” os verdadeiros interesses da empresa. Assim, a ética organizacional pode

contribuir para mudanças. Caso contrário, somente servirá para estabelecer, manter

e “escravizar” as pessoas, por meio das relações de poder instituídas na

organização.

Nas empresas que possuem programas específicos de ética ou que

possuem departamentos específicos, demonstra-se uma clara divisão entre ética e

ética organizacional. Já nas outras organizações, percebe-se a preocupação

somente com a ética organizacional de maneira mais genérica.

Na análise do ambiente organizacional, há a percepção que as

empresas, principalmente, as que já sistematizaram, ou as que estão em processo

de implantação de um programa de ética, preocupam-se em dar condições, para que

os seus públicos, em especial os colaboradores, possam ter um comportamento

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adequado aos princípios instituídos pela empresa. Os funcionários são os principais

parceiros na construção de uma gestão ética.

Os valores são divulgados e há, nas falas dos informantes, uma

preocupação em que os valores dos indivíduos sejam condizentes aos valores

organizacionais, para não causar dissonância e para atender às exigências da

empresa, ao considerar o funcionário como representante, suas atitudes serão

associadas à organização, e o comportamento inadequado pode influenciar e

comprometer a reputação da empresa.

A partir da análise de propostas de autores e pelas entrevistas das

empresas e do consultor, pode-se visualizar um possível roteiro para implantação da

ética nas empresas. É preciso lembrar que não se pode conceber esse processo

como algo linear, há necessidade de se pensar nos seus desdobramentos, que

costumam mostrar situações diferentes, para cada tipo de empresas, devido à sua

cultura organizacional.

A pesquisa foi realizada em grandes empresas, isto não quer dizer

que não é possível a gestão ética em médias e pequenas empresas. Ao contrário,

acredita-se nesta possibilidade porque a cultura organizacional está muito próxima e

até se confunde com os dirigentes. Da mesma forma, a decisão por tal implantação

será da alta administração, tal como nas grandes empresas.

Outro fato que chamou a atenção é o receio que as empresas têm

em falar sobre o assunto ética; porém, deve-se registrar que as empresas

entrevistadas, que aceitaram o convite e agendaram uma entrevista, tratam do

assunto de forma natural porque o compromisso e o comprometimento ético estão

expressos em sua filosofia empresarial e em suas atividades. A questão da falta de

conhecimento, levantada pela informante da Agência de comunicação, é

evidenciada, ao analisar que, das seis empresas entrevistadas, somente uma

empresa citou as linhas éticas que a organização segue, e outra falou do programa

de educação ética que desenvolvem.

O código de ética, além de ser utilizado como meio de divulgação,

também, é um instrumento para julgar e punir. Apesar das empresas afirmarem que

seus códigos de ética servem para proteger os seus relacionamentos com os

públicos, muitos conteúdos incluídos servem para proteção da própria empresa.

Para o consultor, o código de ética finaliza a implantação do

programa de ética, já as empresas expressam que é quando começa o processo. A

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divergência temporal é justificada pelo fato de a entrega do código à empresa, pelo

consultor, representa, geralmente, a finalização do seu trabalho e o início do ponto

de vista da empresa porque é quando começam a surgir as questões de

comportamento.

Quanto às dificuldades na realização da pesquisa, percebe-se que

as empresas cometem erros primários, em relação à comunicação, por colocar

diversas barreiras que impedem o interessado de obter a informação desejada. O

canal de comunicação aberto e a comunicação dialógica, que aparecem nos

discursos, estão sempre fechados às informações que seus públicos desejam. As

empresas disponibilizam somente as informações que elas querem que os públicos

tenham acesso.

Para concluir, uma afirmação de Rios (2008, p.81) chama a atenção

e amplia as contribuições deste trabalho: “a reflexão pode não nos trazer um

conhecimento novo, mas nos auxilia a ver um jeito novo o já conhecido, a retomar o

caminho para seguir adiante com um olhar alargado”. Este trabalho permitiu novos

conhecimentos à pesquisadora e, a cada nova reflexão, novo repensar, abrem-se as

possibilidades de novas buscas, novas pesquisas e desafia um começar de novo.

Esta insaciável busca pelo saber serve de incentivo àqueles que querem percorrer o

imenso caminho da ética organizacional.

A proposta deste estudo foi alcançada pelo fato de ter sido possível

constatar, a partir dos objetivos gerais definidos, como se dá a aplicabilidade da

ética nas práticas das organizações e nos seus relacionamentos, por meio da

descrição dos representantes das empresas a respeito do processo de gestão da

ética no dia a dia da empresa e como os relacionamentos são tratados com base em

princípios éticos. Esse processo é mais evidente nas empresas que possuem um

departamento específico para gestão da ética, que já possuem ou estão em

processo de implantação de um programa de ética.

Foi possível estabelecer a relação entre ética organizacional e

reputação corporativa. As empresas deixaram evidente essa preocupação em

investir em ética para a construção e a solidificação de uma reputação. As ações de

todos os colaboradores estão vinculadas à organização, formam e deformam a

reputação, por isso, o investimento em criar uma cultura ética na empresa, para que

todos possam refletir sobre os seus atos e decidir com base em princípios éticos.

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Os objetivos específicos também foram contemplados. O

conhecimento a respeito dos motivos que levam a organização a incentivar a ética,

como valor e como preocupação organizacional, são vários, entre eles, estão a

relação com a reputação corporativa, a necessidade de atender às exigências do

mercado e às pressões externas, estes apontados pelo consultor em ética

empresarial e pela representante da agência de comunicação, como principal fator.

A preocupação, de forma natural, como “vocação” da empresa é tida pelo consultor

de ética como caso raro.

O conhecimento a respeito dos benefícios e das dificuldades no

processo de implantação e gestão da ética organizacional demonstra, como

benefícios, a reputação, o envolvimento dos públicos, a criação de um ambiente

organizacional mais favorável ao desenvolvimento pessoal e profissional com

abertura para diálogo, aumento da confiabilidade na empresa e seu consequente

fortalecimento, em casos de crises, entre outros. As dificuldades confirmam as

diferenças de valores dos indivíduos, as características diferenciadas dos

colaboradores de cada região, a formação reflexiva dos colaboradores por meio da

educação, do conhecimento do código de ética para a tomada de decisão, o alto

investimento no desenvolvimento de um programa de ética, que é um processo

contínuo, com resultados a longo prazo entre outras dificuldades relatadas.

Foi possível a identificação dos meios utilizados pelas organizações

no gerenciamento das questões éticas no dia a dia e nos relacionamentos. O código

de ética aparece como principal instrumento, é utilizado como guia. As empresas,

que já implantaram o programa de ética, possuem sistemas específicos de gestão,

de controle e de avaliação da ética organizacional que incluem desde pesquisas até

softwares que fazem o acompanhamento entre tantas outras formas. Há, no

organograma, um setor específico para esse gerenciamento, além do comitê de

ética formado pela alta administração e com os representantes das várias instâncias.

A formação do comitê é variável de empresa para empresa.

A análise da participação dos públicos no processo de gestão é

percebida, nos discursos, como a principal forma de conseguir a adesão dos

colaboradores, principalmente; porém, percebe que, em alguns momentos, ela é

limitada à aprovação do código. Constata-se que algumas organizações não

priorizam a participação dos funcionários, fato também comprovado pela fala do

consultor que diz que raramente o funcionário compõe o comitê de ética. Há,

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também, organizações com iniciativas que dão total abertura à participação e à

formação para a participação de forma efetiva, reflexiva.

A pesquisa sempre esteve baseada na opinião dos entrevistados, a

respeito da descrição do seu fazer. O “confronto” entre o discurso e a prática,

também citados pelos representantes das empresas, não foi possível porque exigiria

outras técnicas para realização e a imersão do pesquisador nos ambientes descritos.

Entretanto, ao estabelecer e concluir a relação existente entre ética e reputação, e

ao considerar que, nas relações com os públicos, o relacionamento mais evidente,

muitas vezes o mais exigente, é com os clientes e com os consumidores. Pode-se

afirmar, por meio de informações disponíveis no mundo virtual, que as empresas

ainda precisam investir em atitudes mais adequadas com esse público. No site

Reclame Aqui3 (2010,) existe uma área específica com gráficos de reclamações e de

soluções apresentadas pelas empresas no período de 2008 a 2010. Desta forma,

pode-se afirmar que, no relacionamento entre organização, consumidor e clientes, é

preciso pensar e implantar um comportamento baseado nos princípios pregados

pelas empresas em sua missão, visão e em seus valores.

Novas possibilidades de estudo surgem e podem ser enumeradas

como possíveis abordagens: a gestão da ética em organizações que possuem um

processo estruturado por meio do acompanhamento do dia a dia da empresa e por

meio de avaliação de todos os públicos a respeito das mudanças provocadas ou não

pela implantação; como os cursos de relações públicas e de comunicação

organizacional das universidades e faculdades brasileiras estão preparados para

atender às exigências desse novo mercado, que tipo de conhecimento está inserido

em seus projetos pedagógicos, para dar condições a uma atuação voltada à ética

organizacional; por que os profissionais não ocupam esse espaço criado pela

implantação e gestão da ética organizacional? Devido à falta de conhecimento, de

uma visão mais estratégica, ou por se preocupar somente com a atuação

operacional? E tantas outras possibilidades de novos estudos – e, evidentemente de

aperfeiçoamento das ferramentas de coleta e análise de dados.

3 Solicitou-se autorização para divulgação das informações e fornecimento dos dados das empresas pesquisadas. Até o fechamento deste trabalho, as informações não foram repassadas à pesquisadora.

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APÊNDICES

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Apêndice A – Roteiro de Entrevista com as Empresas

Identificação:

Nome:

Cargo:

Graduação: Pós-graduação:

Setor de atuação da empresa: Tempo de empresa:

Porte da empresa: Nº de funcionários:

Roteiro:

Como você define ética? E ética organizacional?

Qual a preocupação da sua organização com a ética?

Como se dá o processo de implantação e gestão da ética na sua organização?

Quem é o responsável por essa gestão da ética? Quais são as instâncias que

participam? Como se dá o processo de participação dos públicos?

Quais são os meios e as formas utilizados na implantação/disseminação da ética na

organização? Qual o papel da área de comunicação nesse processo?

Quais são as políticas adotadas para a gestão da conduta ética nos relacionamentos

com os públicos? Os públicos estratégicos são priorizados?

A sua organização considera a ética como valor. Que motivos a levaram a essa

definição?

Que instrumentos são utilizados para avaliação do comportamento ético na

organização? Como são administrados os conflitos éticos?

A sua organização acredita que há uma relação entre ética e reputação corporativa?

Quais são os benefícios e as dificuldades para implantação e gestão ética nas

organizações?

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Apêndice B – Roteiro de Entrevista com a Agência de Comunicação - Representante

Identificação:

Nome:

Cargo:

Graduação: Pós-graduação:

Roteiro:

As agências têm sido contratadas para o desenvolvimento de um programa de ética

nas organizações-clientes? Por quê?

Qual a preocupação das organizações com a ética?

Como se dá o processo de implantação e gestão da ética nas organizações, via

agência de comunicação?

Qual o papel das agências de comunicação?

Quais são os meios e as formas utilizados na implantação/disseminação da ética na

organização?

Quais são os benefícios e as dificuldades para implantação e gestão ética nas

organizações?

Você acredita que há uma relação entre ética e reputação corporativa?

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Apêndice C – Roteiro de Entrevista com o Consultor em Ética

Identificação:

Nome:

Cargo:

Graduação: Pós-graduação:

Roteiro:

Como você define ética? E ética organizacional?

Como é o seu trabalho de consultor em ética empresarial?

Qual a preocupação da empresa que implanta um programa de ética?

Qual o seu papel no processo de implantação de um programa de ética?

E a gestão do programa de ética? Há um acompanhamento?

Quais são as instâncias que participam desse processo? Há participação dos

colaboradores?

Quais são os meios e as formas utilizados na implantação/disseminação da ética na

organização?

Qual o papel da comunicação nesse processo? Há espaço para os profissionais de

comunicação organizacional e relações públicas?

Que instrumentos são utilizados para avaliação do comportamento ético na

organização? Como são administrados os conflitos éticos?

Você acredita que há uma relação entre ética e reputação corporativa?

Quais são os benefícios e as dificuldades para implantação e gestão ética nas

organizações?