ZORZO, A. P. (2015) Estudo Sobre Os Condicionantes de Alagamentos Na Av. Fernando Corrêa Da Costa, Cuiabá-MT

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A urbanização da capital mato-grossense tem impactado de maneira significativa a população e o ambiente. Entre seus efeitos, estão os problemas relacionados à drenagem de águas pluviais, decorrentes da modificação dos processos do ciclo hidrológico natural. O desenvolvimento urbano gera, por exemplo, o aumento dos volumes do escoamento superficial, trazendo entre outras consequências o aumento da frequência e do nível de alagamentos em regiões importantes da cidade como o trecho da Av. Fernando Corrêa da Costa, localizado próximo a Universidade Federal de Mato Grosso. Diante deste cenário, este trabalho estudou o escoamento superficial sobre a bacia de contribuição na qual a área atingida pelos alagamentos está inserida, com intuito de descobrir quais fatores condicionam a frequente ocorrência dos problemas de drenagem na avenida. Para analisar a interferência da urbanização em relação ao escoamento superficial foi considerado um período de dez anos, segundo o qual foram elaborados diagramas de áreas permeáveis e impermeáveis da bacia para o início e o final desse intervalo. Simultaneamente, foi consultada a legislação municipal em vigor como meio de identificar o zoneamento previsto para a bacia, bem como seus respectivos coeficien-tes urbanísticos. Paralelamente, foram analisadas as características topográficas da bacia, com foco na Av. Fernando Corrêa da Costa e nas vias diretamente interligadas àquela. E, finalmen-te, foi elaborado o mapeamento e o registro das condições de manutenção e limpeza da maio-ria das bocas de lobo (BL) da bacia. Os resultados encontrados com os diagramas de áreas permeáveis mostraram que, de 2004 para 2014, houve um crescimento de 13,7% das áreas impermeabilizadas na bacia. Com o mapeamento foi verificado que 43,6% das BL identifica-das na bacia apresentaram algum tipo de dano estrutural e que, 57,6% do total de BL, apresentaram algum tipo de obstrução ao escoamento. Também foi verificado que a declividade das vias interligadas com a Av. Fernando Corrêa da Costa contribui para o direcionamento das águas para a avenida e que a falha na execução dos dispositivos de microdrenagem na bacia, bem como a canalização do Córrego do Barbado influenciam no comportamento do escoamento superficial sobre a bacia. Diante dos resultados ficou comprovado que a topografia e a falha na execução dos dispositivos de microdrenagem podem contribuir para a ocorrência dos alagamentos e que a impermeabilização do solo e a deficiência nas operações de manutenção e limpeza do sistema de microdrenagem podem condicionar, com maior intensidade, a ocorrência dos alagamentos na Av. Fernando Corrêa da Costa.

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  • 0

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

    FACULDADE DE ARQUITETURA ENGENHARIA E TECNOLOGIA

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

    TRABALHO DE GRADUAO

    ESTUDO SOBRE OS CONDICIONANTES DE ALAGAMENTOS NA

    AVENIDA FERNANDO CORRA DA COSTA, CUIAB/MT

    ABSSA PRADO ZORZO

    CUIAB/MT

    04 DE FEVEREIRO DE 2015

  • 1

    ABSSA PRADO ZORZO

    ESTUDO SOBRE OS CONDICIONANTES DE ALAGAMENTOS NA

    AVENIDA FERNANDO CORRA DA COSTA, CUIAB/MT

    Trabalho de Graduao submetido ao Corpo

    Docente da Faculdade de Arquitetura, Enge-

    nharia e Tecnologia da Universidade Federal

    de Mato Grosso como requisito parcial para a

    obteno do ttulo de Bacharel em Engenharia

    Civil.

    PROF. M.Sc. RAFAEL PEDROLLO DE PAES

    ORIENTADOR

    CUIAB/MT

    04 DE FEVEREIRO DE 2015

  • 2

  • 3

    DEDICATRIA

    Aos gestores pblicos e corpo tcnico da Pre-

    feitura Municipal de Cuiab, para os quais

    espero ter contribudo de maneira produtiva

    com as informaes presentes neste trabalho.

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    Ao Senhor Deus, que em Sua infinita bondade, iluminou meus caminhos e agraciou

    minha vida com a maravilhosa oportunidade de estudar.

    Aos meus pais, Ademir e Zildete, por seu amor e carinho incondicionais, por no me-

    direm esforos em proporcionar as melhores condies para que eu pudesse concluir a facul-

    dade e por serem exemplos de dedicao, honestidade, persistncia e muito trabalho.

    Ao meu irmo, Kau, por apoiar minhas decises, vibrar com minhas conquistas e me

    consolar quando estive angustiada.

    s irms de corao, Gabriela, Janana, Luana, Marianna e Tassiane, por se tornarem

    minha famlia durante os anos que estive longe do meu lar.

    Ao meu namorado Diogo, por compreender minha ausncia nos perodos de provas e

    trabalhos, por me alegrar quando estive em momentos difceis e por me ajudar, de longe ou de

    perto, a resolver diferentes questes relacionadas faculdade.

    Aos amigos e amigas de faculdade, pelo companheirismo, troca de conhecimentos e

    pacincia durante os anos de estudo que passaram, especialmente, minha querida amiga Js-

    sica, por ser minha grande parceira na elaborao de trabalhos e jornadas de estudo.

    Presto minha gratido tambm, a todos os professores que contriburam de alguma

    maneira para meu crescimento pessoal e profissional, em especial, ao professor Rafael Pedrol-

    lo, pela orientao, ensino e disposio para a realizao deste trabalho.

  • 5

    RESUMO

    A urbanizao da capital mato-grossense tem impactado de maneira significativa a

    populao e o ambiente. Entre seus efeitos, esto os problemas relacionados drenagem de

    guas pluviais, decorrentes da modificao dos processos do ciclo hidrolgico natural. O de-

    senvolvimento urbano gera, por exemplo, o aumento dos volumes do escoamento superficial,

    trazendo entre outras consequncias o aumento da frequncia e do nvel de alagamentos em

    regies importantes da cidade como o trecho da Av. Fernando Corra da Costa, localizado

    prximo a Universidade Federal de Mato Grosso. Diante deste cenrio, este trabalho estudou

    o escoamento superficial sobre a bacia de contribuio na qual a rea atingida pelos alaga-

    mentos est inserida, com intuito de descobrir quais fatores condicionam a frequente ocorrn-

    cia dos problemas de drenagem na avenida. Para analisar a interferncia da urbanizao em

    relao ao escoamento superficial foi considerado um perodo de dez anos, segundo o qual

    foram elaborados diagramas de reas permeveis e impermeveis da bacia para o incio e o

    final desse intervalo. Simultaneamente, foi consultada a legislao municipal em vigor como

    meio de identificar o zoneamento previsto para a bacia, bem como seus respectivos coeficien-

    tes urbansticos. Paralelamente, foram analisadas as caractersticas topogrficas da bacia, com

    foco na Av. Fernando Corra da Costa e nas vias diretamente interligadas quela. E, finalmen-

    te, foi elaborado o mapeamento e o registro das condies de manuteno e limpeza da maio-

    ria das bocas de lobo (BL) da bacia. Os resultados encontrados com os diagramas de reas

    permeveis mostraram que, de 2004 para 2014, houve um crescimento de 13,7% das reas

    impermeabilizadas na bacia. Com o mapeamento foi verificado que 43,6% das BL identifica-

    das na bacia apresentaram algum tipo de dano estrutural e que, 57,6% do total de BL, apresen-

    taram algum tipo de obstruo ao escoamento. Tambm foi verificado que a declividade das

    vias interligadas com a Av. Fernando Corra da Costa contribui para o direcionamento das

    guas para a avenida e que a falha na execuo dos dispositivos de microdrenagem na bacia,

    bem como a canalizao do Crrego do Barbado influenciam no comportamento do escoa-

    mento superficial sobre a bacia. Diante dos resultados ficou comprovado que a topografia e a

    falha na execuo dos dispositivos de microdrenagem podem contribuir para a ocorrncia dos

    alagamentos e que a impermeabilizao do solo e a deficincia nas operaes de manuteno

    e limpeza do sistema de microdrenagem podem condicionar, com maior intensidade, a ocor-

    rncia dos alagamentos na Av. Fernando Corra da Costa.

    Palavras-chave: Drenagem urbana. Escoamento superficial. Impermeabilizao do solo. Boca

    de lobo. Execuo de obras.

  • 6

    ABSTRACT

    The urbanization of the capital of Mato Grosso has impacted significantly the popula-

    tion and the environment. Among its effects, are problems related to drainage of rainwater,

    resulting from the modification of the processes of the natural water cycle. Urban deve-

    lopment generates, for example, the increase in volumes of runoff, bringing among other con-

    sequences the increased frequency and overflow level in important areas of the city as the

    stretch of Av. Fernando Corra da Costa, located near the Federal University Mato Grosso.

    Before this scenario, this paper studied the runoff on the contribution basin in which the area

    affected by flooding is inserted, with the aim of find out which factors influence the frequent

    occurrence of drainage problems on the avenue. To evaluate the effect of urbanization in rela-

    tion to runoff was considered a period of ten years, according to which they were drawn dia-

    grams of permeable and impermeable areas of the basin to the beginning and end of that ran-

    ge. At the same time, was consulted to municipal legislation as means of identifying the plan-

    ned zoning for the basin, as well as their urban coefficients. At the same time, we analyzed

    the topographical features of the basin, focusing on Av. Fernando Correa da Costa and the

    roads directly linked to that. And finally, were done the mapping and recording the state of

    maintenance and cleaning of most of the sluice gates of the basin. The results with the per-

    meable areas diagrams showed that, from 2004 to 2014 there was an increase of 13.7% im-

    permeable areas in the basin. By mapping was found that 43.6% of sluice gates identified in

    the basin had some type of structural damage and that 57.6% of sluice gates, had some type of

    obstruction to the flow. There were also found that the slope of roads connected with Av. Fer-

    nando Corra da Costa contributes to direct water to the avenue and the failure in the executi-

    on of micro drainage devices in the basin as well as the channeling of Barbados Stream have

    influence on behavior runoff in the basin. With the results it was proved that the topography

    and the failure in execution the microdrainage devices can contribute to the occurrence of

    overflow and soil sealing and disability in the maintenance and cleaning of the microdrainage

    system can condition, with greater intensity, the occurrence of overflow at Av. Fernando Cor-

    rea da Costa.

    Keywords: Urban drainage. Runoff. Soil sealing. Culverts. Execution of works.

  • 7

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Perfil esquemtico dos eventos de enchente e inundao. ...................................... 15

    Figura 2 Boca de lobo obstruda por resduos slidos. .......................................................... 15

    Figura 3 Escoamento concentrado das guas pluviais........................................................... 16

    Figura 4 Balano hdrico numa bacia urbana. ....................................................................... 18

    Figura 5 Modificaes no hidrograma pela urbanizao da bacia. ....................................... 18

    Figura 6 Efeitos da urbanizao na ocorrncia de alagamentos e problemas de poluio. ... 19

    Figura 7 Disposio dos elementos de uma rede de microdrenagem pluvial urbana. ........... 22

    Figura 8 Esquema clssico da microdrenagem urbana. ......................................................... 23

    Figura 9 Ilustrao esquemtica dos conceitos de reservao x canalizao. ....................... 24

    Figura 10 Obstruo e presena de resduos na drenagem urbana. ....................................... 25

    Figura 11 Corte esquemtico da sarjeta e demais elementos da via. ..................................... 33

    Figura 12 Disposio das bocas de lobo nas vias. ................................................................. 34

    Figura 13 Altura mnima e mxima da abertura das bocas de lobo. ..................................... 35

    Figura 14 Av. Fernando Corra da Costa vista do entroncamento com a Av. Miguel Sutil em

    maio de 2014.......................................................................................................... 38

    Figura 15 Congestionamento na Av. Fernando Corra da Costa devido ao alagamento do dia

    12/12/2014. ............................................................................................................ 39

    Figura 16 Alagamento na regio do Viaduto Jornalista Clvis Roberto, na Av. Fernando

    Corra da Costa, no dia 12/12/2014. ..................................................................... 39

    Figura 17 Alagamento na Av. Fernando Corra da Costa no dia 12/12/2014 dificultou a

    circulao de veculos e pedestres. ........................................................................ 40

    Figura 18 Veculo guinchado em razo de problemas mecnicos causados por alagamento

    na Av. Fernando Corra da Costa no dia 12/12/2014. ........................................... 40

    Figura 19 Alagamento na Av. Fernando Corra da Costa no dia 14/01/2014....................... 41

    Figura 20 Alagamento na Av. Fernando Corra no dia 18/03/2013. .................................... 42

    Figura 21 Vista do Crrego do Barbado no entroncamento da Av. Fernando Corra da Costa

    com Av. Tancredo Neves durante a chuva do dia 27/10/2013. ............................. 42

    Figura 22 Vista da Av. Fernando Corra da Costa aps ocorrncia da chuva no dia

    27/10/2013. ............................................................................................................ 43

    Figura 23 Bacia de contribuio do trecho da Av. Fernando Corra da Costa atingido por

    alagamentos. .......................................................................................................... 48

  • 8

    Figura 24 Perfil longitudinal do trecho da Av. Miguel Sutil que contribui no escoamento na

    bacia. ...................................................................................................................... 49

    Figura 25 Perfil longitudinal do trecho da Rua Paragua que contribui no escoamento na

    bacia. ...................................................................................................................... 50

    Figura 26 Perfil longitudinal do trecho da Rua Capito Ipor que contribui no escoamento

    na bacia. ................................................................................................................. 50

    Figura 27 Perfil longitudinal do trecho da Av. So Miguel que contribui no escoamento na

    bacia. ...................................................................................................................... 51

    Figura 28 Perfil longitudinal do trecho da Rua La Paz que contribui no escoamento na bacia.

    ............................................................................................................................... 51

    Figura 29 Perfil longitudinal do trecho da Rua Garcia Neto que contribui no escoamento na

    bacia. ...................................................................................................................... 52

    Figura 30 Perfil longitudinal do trecho da Av. Tancredo Neves que contribui no escoamento

    na bacia. ................................................................................................................. 52

    Figura 31 Perfil longitudinal do trecho da Rua Sem Identificao que contribui no

    escoamento na bacia. ............................................................................................. 53

    Figura 32 Perfil longitudinal do trecho da Av. Cidade do Mxico que contribui no

    escoamento na bacia. ............................................................................................. 53

    Figura 33 Perfil longitudinal do trecho da Av. Haiti que contribui no escoamento na bacia.

    ............................................................................................................................... 54

    Figura 34 Perfil longitudinal do trecho da Av. Braslia que contribui no escoamento na

    bacia. ...................................................................................................................... 54

    Figura 35 Perfil longitudinal do trecho da Av. Parque Barbado que contribui no escoamento

    na bacia. ................................................................................................................. 55

    Figura 36 Perfil longitudinal do trecho da via de acesso UFMT que contribui no

    escoamento na bacia. ............................................................................................. 55

    Figura 37 Perfil longitudinal do trecho da Rua Um que contribui no escoamento na bacia. 56

    Figura 38 Perfil longitudinal do trecho da Av. Fernando Corra da Costa que contribui no

    escoamento da bacia. ............................................................................................. 57

    Figura 39 reas permeveis e impermeveis da bacia de contribuio, 09/05/2004. ........... 58

    Figura 40 reas permeveis e impermeveis da bacia de contribuio, 04/07/2014. ........... 58

    Figura 41 Zoneamento da bacia de contribuio. .................................................................. 60

    Figura 42 ndices urbansticos do municpio de Cuiab/MT. ............................................... 60

    Figura 43 Av. Parque Barbado. ............................................................................................. 61

  • 9

    Figura 44 Transbordamento do Crrego do Barbado em regio jusante da canalizao. .. 62

    Figura 45 reas permeveis em regio montante da bacia de contribuio em 09/05/2004.

    ............................................................................................................................... 63

    Figura 46 reas permeveis em regio montante da bacia de contribuio em 04/07/2014.

    ............................................................................................................................... 63

    Figura 47 Boca de lobo n 14 Rua Garcia Neto. ................................................................ 66

    Figura 48 Boca de lobo n 15 Rua Garcia Neto. ................................................................ 66

    Figura 49 Boca de lobo n 16 Rua Garcia Neto. ................................................................ 66

    Figura 50 Boca de lobo n 94 Av. Fernando Corra da Costa. ........................................... 66

    Figura 51 Boca de lobo n 94 Av. Fernando Corra da Costa. ........................................... 66

    Figura 52 Boca de lobo n 97 Av. Fernando Corra da Costa. ........................................... 66

    Figura 53 Boca de lobo n 95 Av. Fernando Corra da Costa. ........................................... 67

    Figura 54 Boca de lobo n 96 Av. Fernando Corra da Costa. ........................................... 67

    Figura 55 Deposio de sedimentos, lixo e entulho prximo ao conjunto de bueiros que

    direcionam o Crrego do Barbado sob a Av. Fernando Corra da Costa em

    05/12/2014. ............................................................................................................ 67

    Figura 56 Presena de resduos obstruindo os bueiros do Crrego do Barbado sob a Av.

    Fernando Corra da Costa em 20/03/2013. ........................................................... 68

    Figura 57 Incio das obras de implantao da Av. Parque Barbado: desmatamento e limpeza

    das margens do crrego. ........................................................................................ 69

    Figura 58 Trabalhos de movimentao de terras e assentamento do canal de concreto no

    Crrego do Barbado. .............................................................................................. 69

    Figura 59 Vista do Viaduto Clvis Roberto. ......................................................................... 69

    Figura 60 Sarjeta e boca de lobo instalada no entorno do Viaduto UFMT. .......................... 71

    Figura 61 Falha na execuo da sarjeta dificulta o engolimento das guas pela boca de lobo.

    ............................................................................................................................... 71

    Figura 62 Vista da boca de lobo n 159 disposta no vrtice da esquina. ............................... 71

    Figura 63 Vista da boca de lobo n 153. ................................................................................ 72

    Figura 64 Boca de lobo n 90 com altura da abertura aparentemente menor que a

    recomendada por Watanabe (2014) em 05/12/2014. ............................................. 72

  • 10

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 reas permeveis e impermeveis na bacia de contribuio, em percentual, nos

    anos de 2004 e 2014. ............................................................................................. 59

    Grfico 2 Estado de manuteno das bocas de lobo verificadas na bacia de contribuio. .. 64

    Grfico 3 Estado de limpeza das bocas de lobo verificadas na bacia de contribuio. ......... 64

    Grfico 4 Estado de manuteno e limpeza das bocas de lobo verificadas na bacia de

    contribuio. .......................................................................................................... 64

  • 11

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Procedimentos de inspeo para os dispositivos de microdrenagem. ................... 26

    Quadro 2 Procedimentos de limpeza para os dispositivos de microdrenagem...................... 27

    Quadro 3 Procedimentos de manuteno para os dispositivos de microdrenagem. .............. 27

  • 12

    SUMRIO

    1 INTRODUO ................................................................................................................... 13

    2 REVISO DE LITERATURA ........................................................................................... 14

    2.1 EVENTOS HIDROLGICOS .................................................................................................................... 14

    2.1.1 Enchente, inundao, alagamento e enxurrada .................................................................................. 14

    2.2 SISTEMA DE DRENAGEM URBANA .................................................................................................... 16

    2.2.1 Efeitos da urbanizao no ciclo hidrolgico das bacias .................................................................... 17

    2.2.2 Controle das guas decorrentes do escoamento superficial ............................................................... 20

    2.2.2.1 Medidas estruturais de controle da drenagem urbana .................................................................... 21

    2.2.2.2 Medidas no estruturais de controle da drenagem urbana .............................................................. 24

    2.2.3 Manuteno e limpeza do sistema de drenagem urbana .................................................................... 25

    2.3 PLANEJAMENTO EM DRENAGEM URBANA ..................................................................................... 27

    2.3.1 Formulao dos planos de drenagem ................................................................................................. 28

    2.4 DIRETRIZES PARA EXECUO DE OBRAS DE MICRODRENAGEM ............................................. 31

    2.4.1 Critrios para o traado da rede de drenagem................................................................................... 32

    2.4.2 Critrios para disposio e execuo de sarjetas ............................................................................... 32

    2.4.3 Critrios para disposio de bocas de lobo ........................................................................................ 33

    2.4.4 Critrios de projeto para canalizao de curso dgua ..................................................................... 35

    2.5 CUIAB, A AV. FERNANDO CORRA DA COSTA E AS GUAS PLUVIAIS ................................... 37

    3 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 44

    3.1 GERAL ....................................................................................................................................................... 44

    3.2 ESPECFICOS ............................................................................................................................................ 44

    4 MATERIAIS E MTODOS ............................................................................................... 45

    5 RESULTADOS E DISCUSSES ...................................................................................... 48

    5.1 DELIMITAO DA BACIA DE CONTRIBUIO ................................................................................ 48

    5.2 COMPORTAMENTO DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL NA BACIA ................................................ 49

    5.3 IMPERMEABILIZAO DA BACIA ...................................................................................................... 58

    5.4 SITUAO DAS BOCAS DE LOBO DA BACIA .................................................................................... 63

    5.5 DIRETRIZES PARA EXECUO DE OBRAS DE DRENAGEM NA BACIA ....................................... 68

    5.5.1 Av. Parque Barbado............................................................................................................................ 68

    5.5.2 Viaduto Jornalista Clvis Roberto (Viaduto UFMT) .......................................................................... 69

    5.5.3 Consideraes sobre a execuo de elementos do sistema de microdrenagem .................................. 70

    6 CONCLUSES.................................................................................................................... 73

    7 SUGESTES ....................................................................................................................... 75

    REFERNCIAS ..................................................................................................................... 77

    APNDICE A ......................................................................................................................... 80

    ANEXO A ................................................................................................................................ 81

  • 13

    1 INTRODUO

    O crescimento acelerado das cidades tem impactado de maneira significativa a popula-

    o e o ambiente. Entre os efeitos causados pela urbanizao esto os problemas relacionados

    drenagem de guas pluviais, que ocasiona, entre outros impactos, o aumento da frequncia e

    do nvel de alagamentos no meio urbano (BRASIL, 2006).

    Os alagamentos ocorrem em razo de problemas no sistema de drenagem pluvial, po-

    dendo ser entendidos como o acmulo temporrio de guas de chuva, ou de outras origens,

    em uma dada regio (BRASIL, 2007). Essas falhas podem gerar o risco de perder vidas hu-

    manas, a paralizao de atividades econmicas e de servios pblicos nas regies atingidas, a

    reduo do tempo de servio dos trabalhadores presentes na rea atingida, em complicaes

    no trnsito, prejuzos aos cofres pblicos, poluio das guas, entre outros.

    Do mesmo modo que em outras cidades, Cuiab tem passado por um processo de ur-

    banizao que tem sobrecarregado o sistema de drenagem e causado alagamentos em regies

    importantes da cidade como o trecho da Avenida Fernando Corra da Costa, localizado pr-

    ximo a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

    Diante dos frequentes impactos que a Av. Fernando Corra da Costa est suscetvel e

    da magnitude que os alagamentos tm alcanado, este Trabalho de Graduao estudou o esco-

    amento superficial da bacia de contribuio, dentro da qual a regio atingida est inserida.

    O estudo teve como principal objetivo a identificao dos fatores que podem condici-

    onar a ocorrncia dos problemas de drenagem na avenida. Para tanto, sups-se que a topogra-

    fia, a impermeabilizao do solo, a falha na manuteno e limpeza do sistema de microdrena-

    gem e a falha na execuo de projetos de mobilidade urbana e dos dispositivos de microdre-

    nagem da bacia podem condicionar a ocorrncia dos alagamentos.

    A identificao dos fatores condicionantes abrangeu desde a anlise do comportamen-

    to da urbanizao sobre a bacia, considerando um perodo de dez anos, at a verificao do

    estado de manuteno e limpeza das bocas de lobo da rea de drenagem.

    Conhecer os fatores condicionantes de alagamentos na bacia contribuir para o estabe-

    lecimento de planos de manuteno e limpeza dos dispositivos de drenagem da bacia, para a

    implantao de tcnicas compensatrias sobre a rea de drenagem e, se possvel, com a revi-

    so dos ndices urbansticos que regulam as reas permeveis sobre os lotes da cidade.

    Essas trs aes, aliadas ao conhecimento das caractersticas naturais da bacia e.do

    comportamento das guas pluviais sobre a mesma, possibilitaro prevenir, ou ao menos limi-

    tar, os impactos negativos associados aos problemas de drenagem urbana em Cuiab.

  • 14

    2 REVISO DE LITERATURA

    2.1 EVENTOS HIDROLGICOS

    As cheias e inundaes so eventos hidrometeorolgicos que fazem parte da dinmica

    natural da Terra, ocorrendo em razo de chuvas fortes e rpidas, de chuvas intensas de longa

    durao, degelo nas montanhas e pela ocorrncia de eventos climticos (BRASIL, 2007). A

    ocorrncia e a magnitude desses fenmenos, acrescentando-se ainda a existncia de pontos de

    alagamento e casos de enxurradas, so intensificadas por modificaes no ambiente e por in-

    tervenes produzidas pelo homem (BRASIL, 2006).

    Entre as diversas alteraes citam-se a impermeabilizao do solo, a retificao de

    cursos dgua, a reduo da cobertura vegetal e das calhas de drenagem dos corpos hdricos,

    este ltimo em virtude da realizao de obras ou por assoreamento, o destino irregular dos

    resduos slidos e as obstrues passagem do escoamento nos dispositivos de drenagem.

    Todas essas intervenes tm causado desequilbrios ao ciclo natural das guas, gerando

    transtornos s comunidades urbanas (BRASIL; RIO DE JANEIRO, 2005, 2001).

    Diante da intensidade e da frequncia que os problemas tm ocorrido, o significado

    dos fenmenos de cheia, inundao, alagamento e enxurrada acaba sendo confundido pelos

    diversos veculos de comunicao. At mesmo entre tcnicos e cientistas no h consenso

    sobre os termos, existindo vrias interpretaes. Assim, esse trabalho no pretende criar con-

    ceitos, mas apresentar definies comumente utilizadas para caracterizar esses eventos e con-

    tribuir para a correta denominao dos fenmenos que ocorrem nas cidades.

    2.1.1 Enchente, inundao, alagamento e enxurrada

    Os corpos hdricos se desenvolvem de maneira natural. As guas so pressionadas pela

    fora gravitacional e escoam gradualmente pelos pontos mais baixos da superfcie terrestre.

    Com o passar do tempo, forma-se uma calha principal de escoamento, a qual assume diferen-

    tes perfis geomtricos ao longo das estaes, modificando-se segundo o regime de vazes

    decorrente da variao dos ndices pluviomtricos, das caractersticas topogrficas e do solo

    da regio, entre outros fatores (RIO DE JANEIRO, 2001).

    O Ministrio das Cidades, em conjunto com o Instituto de Pesquisas Tecnolgicas

    (IPT), define enchente como a elevao temporria do nvel dgua em um canal de drena-

    gem devida ao aumento da vazo ou descarga (BRASIL, 2007), ou seja, quando a precipita-

  • 15

    o se intensifica e o solo perde a capacidade de infiltrao, os fluxos escoam para o sistema

    de drenagem principal, ocasionando acrscimos vazo dos corpos hdricos por um perodo

    de tempo (Figura 1).

    Figura 1 Perfil esquemtico dos eventos de enchente e inundao.

    Fonte: BRASIL, 2007.

    No perodo de cheia, em razo da persistncia de chuvas intensas e de outros fatores

    agravantes, sejam eles naturais ou criados pela ao antrpica, as vazes atingem propores

    que podem ultrapassar a capacidade de descarga da calha principal do corpo hdrico, extrava-

    sando para reas que geralmente no so atingidas pelas guas. A este transbordamento d-se

    o nome de inundao (BRASIL, 2007).

    Os casos de alagamento, por outro lado, podem no ter relao direta com os proces-

    sos naturais de cheia e inundao. De acordo com o Ministrio das Cidades e o IPT (BRASIL,

    2007), as situaes de alagamento caracterizam-se pelo acmulo momentneo de guas em

    uma dada rea decorrente de deficincia do sistema de drenagem (Figura 2).

    Figura 2 Boca de lobo obstruda por resduos slidos.

    Fonte: disponvel em . Acesso

    em 13/12/2014.

    As enxurradas, por sua vez, podem estar relacionadas, ou no, s regies envolvidas

    com os processos fluviais e so definidas como o escoamento superficial concentrado e com

    alta energia de transporte (BRASIL, 2007). Vias executadas sobre antigos canais dgua, em

  • 16

    regies ngremes e com alto gradiente hidrulico, tendem a ser atingidas com mais frequncia

    por esse fenmeno (Figura 3).

    Figura 3 Escoamento concentrado das guas pluviais.

    Fonte: BRASIL, 2007.

    2.2 SISTEMA DE DRENAGEM URBANA

    O sistema de drenagem uma das infraestruturas inseridas no meio urbano, se sobres-

    saindo como um dos servios pblicos mais sensveis aos problemas decorrentes do desen-

    volvimento acelerado das cidades, tanto em razo de sua interferncia com as demais infraes-

    truturas, como pelos danos que pode causar ao ambiente e populao. Esta sensibilidade

    diante da urbanizao rapidamente comprovada com a existncia de pontos de alagamentos,

    ocorrncia de enxurradas e casos de inundaes, mesmo que as precipitaes no sejam con-

    sideradas intensas (SO PAULO, 1999).

    Em relao aos outros servios pblicos, o sistema de drenagem possui duas peculiari-

    dades: a primeira a de que o escoamento pluvial sempre ocorrer, independente do servio

    existir, ou no, de maneira adequada na cidade (SO PAULO, 2012a), e a segunda est rela-

    cionada com a solicitao espordica do sistema, isto , a infraestrutura s utilizada durante

    e aps as precipitaes e no de maneira contnua como os demais servios pblicos (SO

    PAULO, 1999), ou ainda, quando do despejo de guas de lavagem nas sarjetas; isto, conside-

    rando que no haja ligaes clandestinas de esgoto sanitrio nas galerias de guas pluviais.

    De uma maneira geral, a drenagem urbana consiste na coleta das guas superficiais

    que se originam das chuvas, no seu transporte e no seu retorno aos corpos hdricos, podendo

    ser entendido ainda como um sistema preventivo contra alagamentos, enxurradas e inunda-

    es, principalmente em regies baixas, que so mais suscetveis ocorrncia desses fenme-

    nos (PINTO; PINHEIRO, 2006).

  • 17

    O controle da drenagem pluvial envolve tambm o planejamento e gesto integrados

    do espao urbano, uma vez que esse sistema interfere nas demais infraestruturas e vice-versa

    (CANHOLI, 2005). Alm disso, a impermeabilizao e o uso inadequado do solo, decorrentes

    do processo desordenado de urbanizao, e a ocupao das vrzeas de crregos e rios, esto

    intimamente relacionadas ao funcionamento eficiente do sistema, uma vez que dificultam e

    modificam o comportamento do ciclo hidrolgico sobre a bacia.

    2.2.1 Efeitos da urbanizao no ciclo hidrolgico das bacias

    O desenvolvimento urbano altera a cobertura vegetal, provocando vrios efeitos, que

    alteram os componentes do ciclo hidrolgico natural (BRASIL, 2006). As guas que antes

    escoavam lentamente sobre a bacia, infiltravam no solo, percolavam para os reservatrios

    subterrneos, ficavam retidas nas depresses do terreno, evaporavam ou eram interceptadas

    pela vegetao, agora escoam pelas superfcies impermeveis (telhados, ruas, caladas, entre

    outros), condutos e canais da cidade, sobrecarregando o sistema de drenagem (BRASIL; RIO

    DE JANEIRO, 2006, 1991).

    O comportamento hidrolgico de uma bacia urbanizada difere significativamente do

    comportamento das bacias ainda em situao prxima das condies naturais (SO PAULO,

    2012b). Na Figura 4 apresentada a distribuio da precipitao em cada parcela do ciclo

    hidrolgico. No cenrio a, no existem interferncias decorrentes do processo de urbaniza-

    o, ou seja, a superfcie no sofreu qualquer tipo de impermeabilizao ou alterao da co-

    bertura vegetal que dificultem o ciclo das guas. Assim, 50% da precipitao infiltra no solo e

    percola para o lenol fretico, 40% atende ao processo de evapotranspirao e apenas 10%

    das chuvas escoa pela superfcie.

    No cenrio urbanizado b, a distribuio se altera. Com a reduo da cobertura vege-

    tal em lugar s construes, a evapotranspirao reduzida aos 25% e com o aumento da ve-

    locidade dos escoamentos, decorrente da pavimentao das vias, canalizaes e condutos, as

    guas no tem tempo suficiente para saturar o solo, infiltrar, percolar e recarregar os aqufe-

    ros, havendo uma reduo de 50% para 30% da parcela de chuva que se encaminha para os

    reservatrios subterrneos.

    E se a gua no infiltra, no percola para os aquferos, no interceptada pelos vege-

    tais, no fica retida nas depresses do terreno e no evapora, ela passa a incrementar a parcela

    do escoamento superficial, conduzindo 45% das precipitaes (Figura 4).

  • 18

    Figura 4 Balano hdrico numa bacia urbana.

    Fonte: Brasil, 2006.

    Sob a perspectiva hidrolgica, os fatores diretamente afetados pelo desenvolvimento

    urbano so o volume e os parmetros de tempo do escoamento superficial e a vazo de pico.

    Os hidrogramas tpicos de uma bacia no urbanizada e de uma bacia modificada pelo desen-

    volvimento urbano esto representados na Figura 5. As alteraes na superfcie terrestre e no

    ciclo hidrolgico contribuem para o aumento da vazo mxima (Qmx.1), para a antecipao do

    pico de vazo (t1) e para o aumento do volume do escoamento superficial (BRASIL, 2006).

    Figura 5 Modificaes no hidrograma pela urbanizao da bacia.

    Fonte: disponvel em .

    Acesso em 19/12/2014.

    Essa sobrecarga na parcela do escoamento superficial, somada ineficincia ou inexis-

    tncia de um sistema de drenagem adequado, pode gerar uma srie de complicaes popula-

    o e aos gestores pblicos.

    O volume excedente que escoa sobre a malha urbana, alm de contribuir para a ocor-

    rncia de alagamentos gera outros efeitos. Com o aumento da velocidade das vazes h o au-

    mento das eroses no solo, do transporte de sedimentos e da poluio difusa, situaes que se

    agravam ainda mais com a execuo indevida de servios de movimentao de terra e obras

  • 19

    em geral, desgaste da pavimentao, lixo e partculas de solo como areia e argila, leo lubrifi-

    cante, entre outros (SO PAULO, 2012b).

    Segundo o mesmo autor, todos esses processos diminuem a qualidade da gua pluvial

    coletada, alteram a recarga subterrnea, pioram a qualidade das guas dos caldais, arriscam a

    estabilidade dos solos, reduzem a capacidade das obras de drenagem executadas, entre outros

    efeitos. Na Figura 6 so apresentados estes e outros efeitos da urbanizao que resultam na

    ocorrncia de problemas de alagamento e de poluio.

    Figura 6 Efeitos da urbanizao na ocorrncia de alagamentos e problemas de poluio.

    Fonte: So Paulo, 2012b, editado pela autora.

    Por essas razes, a hidrologia urbana preocupa-se em conhecer as caractersticas das

    chuvas que atingem as reas urbanizadas, obtendo informaes sobre sua magnitude, risco de

    ocorrncia e sua distribuio no tempo e no espao, uma vez que a bacia hidrogrfica pode

    responder de maneira prejudicial s sobrecargas no escoamento superficial.

    Esta cincia preocupa-se ainda com as caractersticas de ocupao da rea de drena-

    gem, pois elas tm influncia direta sobre as taxas de infiltrao, as vazes mximas, os picos

    de vazo e sobre o aumento do volume escoado superficialmente (SO PAULO, 2012b).

    Segundo o mesmo autor, as caractersticas fisiogrficas da bacia (forma, rea drenada,

    declividade, entre outros) e o grau de intervenes antrpicas dispostas no sistema de drena-

    gem natural (existncia de canais, galerias, reservatrios de deteno, entre outros) tambm

    influem, significativamente, na resposta das bacias frente ao escoamento superficial. Bacias

  • 20

    com altas declividades ou um rio que sofreu retificao de seu curso, por exemplo, tendem a

    aumentar a velocidade e o volume do escoamento, pois a chance de infiltrao menor.

    2.2.2 Controle das guas decorrentes do escoamento superficial

    Durante muitos anos, engenheiros e profissionais da rea de recursos hdricos, respon-

    sveis por criar solues e estratgias de controle das guas pluviais, tentaram corrigir os pro-

    blemas de drenagem urbana por meio de obras que coletassem o escoamento excedente de

    uma determinada rea, encaminhando-o, o mais rpido possvel, para um ponto distante de

    seu local de origem (SO PAULO; CANHOLI, 1999, 2005).

    Segundo Canholi (2005), esse tipo de controle da drenagem urbana provoca, alm da

    acelerao do escoamento, a reduo do tempo de concentrao jusante. Essa estratgia po-

    de contribuir para a reduo de prejuzos nas regies afetadas, no entanto, ela gera apenas a

    transferncia das vazes, ou seja, do problema, para reas jusante. Esse tipo de soluo

    apropriado a um trecho da bacia, sem previso das consequncias para o restante dela, e sem

    considerar diferentes horizontes de ocupao urbana (BRASIL, 2006).

    A partir da dcada de 70 comearam a surgir conceitos que envolviam a aplicao de

    fundamentos de hidrologia e de estudos relativos s caractersticas da bacia e no somente o

    uso de conceitos hidrulicos e execuo de obras que afastassem as guas o mais rpido pos-

    svel de sua fonte (COSTA; SIQUEIRA; MENEZES, 2007).

    Essas solues passaram a promover o retardamento dos escoamentos, o que propicia

    o aumento dos tempos de concentrao e, consequentemente, a reduo das vazes mximas.

    Embora haja bons exemplos do uso dessas ideias em pases desenvolvidos, no Brasil esses

    princpios ainda no esto fortemente difundidos entre os profissionais e gestores (CA-

    NHOLI, 2005).

    Segundo o mesmo autor, as estratgias para o controle do escoamento superficial e,

    consequentemente, para a reduo da exposio da populao aos riscos de alagamento, ainda

    remetem em sua maioria, adoo de medidas estruturais intensivas, ou seja, continuam re-

    correndo largamente s obras de engenharia como forma de prevenir ou corrigir os problemas

    de drenagem, ignorando a aplicao dos conceitos que surgiram nos anos 70. Isto se deve s

    dificuldades polticas, decorrentes da presso pela urbanizao, e s dificuldades econmicas

    em razo da falta de recursos.

    Por outro lado, esse quadro vem sofrendo modificaes nos ltimos anos. Com a regu-

    lamentao do Estatuto das Cidades pela lei n 10.257/01, a promoo de medidas no estru-

  • 21

    turais de controle do sistema de drenagem vem sendo cada vez mais difundida, uma vez que a

    lei exige dos municpios com mais de 20 mil habitantes a elaborao do Plano Diretor, ins-

    trumento bsico da poltica municipal de desenvolvimento e expanso urbana, por meio do

    qual deriva a criao dos Planos Diretores de Drenagem Urbana (SO PAULO, 2012a).

    2.2.2.1 Medidas estruturais de controle da drenagem urbana

    As medidas estruturais de controle da drenagem urbana so aquelas que envolvem

    obras de engenharia que se destinam a desviar, deter, reduzir ou escoar de maneira mais rpi-

    da as guas do escoamento superficial. Muitas dessas medidas envolvem a execuo de proje-

    tos hidrulicos que resultam em construes dispendiosas e, por vezes, inviveis economica-

    mente (CANHOLI; SO PAULO, 2005, 1999).

    Em razo do alto custo de implantao, as obras no so projetadas para proporcionar

    proteo absoluta populao, no entanto, essas construes acabam criando a falsa sensao

    de segurana tanto que podem encorajar a ocupao de reas alagveis ou que tenham risco de

    inundao (CANHOLI, 2005).

    Entre as medidas de controle do escoamento superficial est a implantao do sistema

    de drenagem inicial da bacia, mais conhecido como sistema de microdrenagem urbana.

    A microdrenagem trata do sistema de drenagem pluvial em nvel de loteamento ou de

    rede primria urbana (BRASIL, 2004), devendo ser dimensionada para as chuvas que ocor-

    ram, em mdia, a cada 10 anos. Na ocorrncia de chuvas mais crticas a microdrenagem

    quem deve comportar parte do escoamento superficial, de maneira a reduzir, ou eliminar, os

    riscos de alagamento na malha viria urbana.

    Quando bem projetado e devidamente conservado, esse sistema praticamente elimina

    os alagamentos no meio urbano, evitando assim os efeitos danosos sobre a populao e seus

    bens. No entanto, em razo das obras hidrulicas no serem dimensionadas para garantir total

    proteo, o alagamento de vias e caladas pode ser admissvel, desde que isto no ocorra com

    frequncia. Os nveis dgua que resultem na inundao de vias de intenso fluxo de veculos

    e pedestres, de residncias e de estabelecimentos comerciais ou industriais, devem ser ainda

    mais raros (SO PAULO, 2012a).

    Fundamentalmente, a microdrenagem composta por elementos artificiais associados

    aos pavimentos, tendo por objetivo garantir as caractersticas de trfego e conforto dos usu-

    rios destas estruturas. Seus dispositivos captam e conduzem as guas, provenientes de chuvas

    e de captaes existentes nas edificaes e lotes, que chegam aos elementos virios como cal-

  • 22

    adas, ruas e praas. Os principais elementos que compem o sistema so (SO PAULO,

    2012c):

    a) meio-fio: elemento feito em pedra ou em concreto. instalado de forma que fique pa-

    ralelo ao eixo da rua, localizando-se entre o passeio e a via. Sua face superior fica no

    mesmo nvel do passeio;

    b) sarjetas: elemento de drenagem das vias pblicas que fica numa posio paralela e vi-

    zinha ao meio-fio. A calha formada recebe as guas superficiais que incidem sobre a

    via e as direciona para as bocas de lobo;

    c) bocas de lobo: elemento edificado em pontos convenientes das vias pblicas junto s

    sarjetas. So responsveis pela captao das guas superficiais;

    d) tubos de ligao: so tubulaes que conduzem as guas superficiais captadas nas bo-

    cas de lobo para as galerias ou poos de visita;

    e) galerias: canalizaes pblicas que conduzem as guas superficiais provenientes das

    bocas de lobo e das ligaes privadas; e,

    f) poos de visita: permitem a inspeo e limpeza das galerias. So posicionados em pon-

    tos onde h mudanas de direo, de declividade e/ou de dimetro das tubulaes, ou

    ainda, em trechos longos, a cada 100 m em mdia, para facilitar a manuteno.

    Na Figura 7 est esquematiza a disposio dos elementos de uma rede de microdrena-

    gem pluvial na planta baixa de uma rea urbana. Foram representadas as bocas de lobo junto

    s caladas, os tubos de ligao, a galeria e os poos de visita.

    Figura 7 Disposio dos elementos de uma rede de microdrenagem pluvial urbana.

    Fonte: COSTA; SIQUEIRA; MENEZES, 2007.

  • 23

    Na Figura 8 est esquematiza a seo transversal clssica de uma via e a disposio de

    alguns dos dispositivos de drenagem.

    Figura 8 Esquema clssico da microdrenagem urbana.

    Fonte: disponvel em . Acesso em 08/01/2015. Editado pela autora.

    As medidas estruturais abrangem ainda solues de controle mais sustentveis que

    buscam, por exemplo, recuperar e incrementar o processo de infiltrao das guas no solo,

    reter os escoamentos em reservatrios como forma de amortecer os picos de vazo, deter o

    escoamento adicional gerado pela impermeabilizao da bacia, retardar o fluxo nas calhas dos

    corpos hdricos, entre outras estratgias (CANHOLI; RECESA, 2005, 2007).

    Segundo Tucci e Genz (1995 apud RECESA, 2007) as tcnicas compensatrias de

    controle do escoamento, tambm conhecidas como medidas no convencionais de controle da

    drenagem urbana (CANHOLI, 2005), se fundamentam no princpio de que qualquer novo

    empreendimento deve manter as condies naturais pr-existentes de vazo para um determi-

    nado risco.

    De acordo com Canholi (2005) as obras e dispositivos que contribuem para a reduo

    dos picos de vazes so as medidas mais significativas e abrangentes em termos de medidas

    no convencionais. Segundo o autor, a deteno dos escoamentos feita por meio do amorte-

    cimento conveniente das guas pluviais, obtida pelo armazenamento de parte do volume esco-

    ado.

    Braga (1994 apud CANHOLI, 2005) apresentou uma ilustrao com os principais dis-

    positivos utilizados segundo os conceitos sustentveis de reservao e os tradicionais de cana-

    lizao, mostrando os efeitos de cada uma dessas vises no comportamento do hidrograma de

    vazes (Figura 9).

  • 24

    Figura 9 Ilustrao esquemtica dos conceitos de reservao x canalizao.

    Fonte: Braga (1994) apud Canholi (2005).

    Alm de ampliar a capacidade do sistema de drenagem da bacia, a utilizao dessas

    medidas vem sendo associada tambm a outros usos, como recreao, lazer, paisagismo e

    melhoria da qualidade das guas (CANHOLI, 2005).

    2.2.2.2 Medidas no estruturais de controle da drenagem urbana

    Entre as medidas de controle do escoamento superficial existem ainda quelas que no

    se utilizam de obras hidrulicas para prevenir, ou reduzir, os impactos da ocorrncia de ala-

    gamentos nas cidades, so as chamadas medidas no estruturais. Elas se destinam a introduzir

    leis, normas e planos que visam desde a regulamentao do uso e ocupao do solo, ao desen-

    volvimento de campanhas de conscientizao da populao quanto importncia da conser-

    vao dos dispositivos de drenagem para o funcionamento eficiente do sistema (CANHOLI;

    SO PAULO, 2005, 1999).

    Canholi (2005) afirma que as aes no estruturais podem ser mais eficazes que as

    medidas estruturais de controle, isto porque demandam menores custos para sua implantao

    e, ainda, possibilitam horizontes mais prolongados de atuao no sistema urbano. As medidas

    de regulamentao do uso e ocupao do solo estabelecem, por exemplo, um zoneamento do

    permetro urbano, cada qual contendo ndices urbansticos especficos que, entre outros obje-

    tivos, limitam a impermeabilizao de lotes e terrenos.

  • 25

    Em geral, as aes no estruturais esto relacionadas s legislaes urbansticas, sendo

    mais comum a aplicao do plano diretor, instrumento obrigatrio para cidades com mais de

    20 mil habitantes conforme prev o Estatuto das Cidades, da lei de uso e ocupao do solo e

    do cdigo de obras do municpio.

    Juntas, estas leis contribuem para o controle do escoamento superficial do municpio,

    uma vez que estabelecem diretrizes que disciplinam a ocupao do solo e ordenam a urbani-

    zao. Por outro lado, mesmo que exista regulamentao, se no houver o monitoramento da

    aplicao dessas legislaes e, mais ainda, se no houver envolvimento mtuo entre os gesto-

    res, engenheiros e a comunidade, no ser possvel obter os resultados que se esperam com a

    aplicao das medidas no estruturais, isto porque, essas aes geralmente envolvem aspectos

    culturais, o que pode dificultar sua implantao em curto prazo (SO PAULO, 1999).

    2.2.3 Manuteno e limpeza do sistema de drenagem urbana

    Com a urbanizao vrios elementos produzidos pelo homem so introduzidos na ba-

    cia e passam a atuar sobre o ambiente. Entre os efeitos da ao antrpica esto o aumento de

    sedimentos e de resduos slidos e as obstrues ao escoamento. O primeiro diz respeito

    eroso do solo, ao assoreamento das sees de drenagem e poluio difusa e o segundo com

    as construes que dificultam a passagem do escoamento, como pontes e aterros, ao destino

    irregular do lixo urbano e ineficincia ou falta das aes de manuteno (BRASIL, 2006).

    Na Figura 10 so apresentados diferentes exemplos de obstruo passagem do esco-

    amento e de interferncias de outras obras no sistema de drenagem.

    Figura 10 Obstruo e presena de resduos na drenagem urbana.

    Fonte: Brasil, 2006.

  • 26

    Esses efeitos dificultam a passagem do escoamento e comprometem o funcionamento

    adequado dos dispositivos de drenagem, aumentando os riscos de ocorrncia de alagamentos e

    inundaes e tambm da poluio das guas. Nesse sentido, os servios peridicos de inspe-

    o, limpeza e manuteno, bem como a observncia das interferncias de diferentes obras

    nos sistemas de drenagem, tornam-se imprescindveis para manter a rede de guas pluviais em

    condies de receber, conduzir, armazenar e tratar o escoamento, garantindo-se assim, as

    condies previstas nos projetos (SO PAULO, 2012a).

    Segundo o mesmo autor, as prefeituras devem contratar servios de limpeza urbana

    que executem, periodicamente, a varrio de guias e sarjetas, a pintura das guias, a limpeza e

    manuteno da estrutura das bocas de lobo, a lavagem dos espaos pblicos, a remoo de

    vegetais arbustivos dos dispositivos de drenagem, entre outros. Alm disso, o executivo mu-

    nicipal deve encontrar meios de fiscalizar a execuo e qualidade desses servios e de punir as

    prestadoras de servios quando for necessrio.

    O Manual de Drenagem e Manejo de guas Pluviais da cidade de So Paulo (2012a)

    recomenda, por exemplo, que a limpeza e desobstruo de bueiros e bocas de lobo sejam exe-

    cutadas com periodicidade diferenciada nos perodos de seca e de chuvas, atentando que os

    dispositivos do sistema de microdrenagem urbana devem estar completamente livres de obs-

    trues e interferncias antes de comear as estaes chuvosas.

    O mesmo manual prope algumas recomendaes quanto rotina e frequncia mnima

    de execuo de servios de inspeo, limpeza e manuteno dos dispositivos dos sistemas de

    drenagem urbana.

    Na Quadro 1 esto descritas as rotinas de inspeo de algumas das estruturas do siste-

    ma de guas pluviais.

    Quadro 1 Procedimentos de inspeo para os dispositivos de microdrenagem.

    Fonte: So Paulo, 2012a.

  • 27

    Na Quadro 2 esto descritas as rotinas de limpeza de algumas das estruturas do siste-

    ma de guas pluviais.

    Quadro 2 Procedimentos de limpeza para os dispositivos de microdrenagem.

    Fonte: So Paulo, 2012a.

    Na Quadro 3 esto descritas as rotinas de manuteno de algumas das estruturas do

    sistema de guas pluviais.

    Quadro 3 Procedimentos de manuteno para os dispositivos de microdrenagem.

    Fonte: So Paulo, 2012a.

    2.3 PLANEJAMENTO EM DRENAGEM URBANA

    Com a acelerada expanso das cidades e a ineficincia dos poderes pblicos no contro-

    le desse crescimento, ocorre a implantao de loteamentos sem o devido planejamento, au-

    mentando a ocupao de reas imprprias para as construes (margem de corpos hdricos,

    regies de alta declividade, reas de solos instveis, entre outros). Esse adensamento dificulta

    a elaborao de planos urbanos consistentes, resultando na execuo de projetos de drenagem

    inadequados e na eliminao de possveis reas de armazenamento das vazes pluviais

    (COSTA; SIQUEIRA; MENEZES FILHO, 2007).

    Segundo os mesmos autores, esse cenrio acaba criando a necessidade de ampliao

    da capacidade das redes de drenagem existentes e da execuo de novos projetos, que mais

    uma vez, podero no atender eficientemente a populao, uma vez que no foram previstas

    adaptaes e/ou correes nas diretrizes de projeto propostas por quele plano urbano incoe-

    rente. O quadro piora ainda mais pela falta de recursos para elaborao e aperfeioamento dos

  • 28

    planos urbanos de drenagem e para a execuo de projetos pblicos apropriados (CANHOLI,

    2005).

    Desse modo, o par demanda de ampliao e correo dos sistemas versus escassez de

    recursos resulta na impossibilidade de realizao de novas obras ou na execuo de projetos

    que no consideram os fundamentos interdisciplinares bsicos que essa infraestrutura exige

    para o seu funcionamento eficiente (CANHOLI, 2005).

    2.3.1 Formulao dos planos de drenagem

    O Plano Diretor de Drenagem Urbana (PDDU) um dos instrumentos de gesto do

    sistema de drenagem (BRASIL, 2006). Para o desenvolvimento de planos urbanos que asse-

    gurem o controle do escoamento superficial de maneira sustentvel, ou seja, incorporando,

    despoluindo, preservando e reestabelecendo, o quanto possvel, o sistema de drenagem ao

    ambiente, priorizando assim os mecanismos naturais do escoamento (PINTO; PINHEIRO,

    2006), gestores, engenheiros e demais profissionais envolvidos devem basear-se nos seguintes

    princpios bsicos:

    a) o sistema de drenagem pluvial faz parte do meio urbano

    Sabendo que o sistema de drenagem uma das infraestruturas da cidade e que interfe-

    re diretamente em outros servios pblicos, seu planejamento deve ser pensado de maneira

    integrada s demais infraestruturas, e vice-versa. Deve-se levar em conta, que o sistema de

    drenagem no funciona isoladamente e deve ser organizado de maneira articulada com as de-

    mais infraestruturas urbanas (SO PAULO, 1999).

    Alm disso, deve-se analisar a influncia da urbanizao de novas reas sobre a bacia

    hidrogrfica como um todo, pois o desenvolvimento urbano progressivo gera sobrecargas no

    escoamento superficial, aumentando seu volume e suas vazes. Desse modo, as medidas esta-

    belecidas nos planos no podem reduzir os impactos em uma dada regio em detrimento das

    reas jusante (BRASIL, 2006).

    Este princpio possibilitar a melhoria do meio urbano de maneira mais ampla e har-

    mnica com o ambiente.

  • 29

    b) as vrzeas so reas de armazenamento natural

    Em geral, as reas prximas aos crregos e rios so planas e, aparentemente, muito

    propcias ocupao humana, seja para habitao, transporte ou consumo das guas. Embora

    as vrzeas estejam com menor frequncia em contato com o escoamento, elas esto suscept-

    veis aos processos climticos naturais e s aes antrpicas e, por vezes, so atingidas por

    maiores volumes e vazes (BRASIL, 2006).

    Com o aumento do nvel dos corpos hdricos e a ocupao irregular das vrzeas sur-

    gem os problemas relacionados ocorrncia de alagamentos e inundaes, isto porque, essas

    reas marginais so naturalmente destinadas a receber os excessos de gua que extravasam do

    leito dos caudais (BRASIL, 2007).

    Segundo as Diretrizes Bsicas para Projetos de Drenagem Urbana no Municpio de

    So Paulo (SO PAULO, 1999, p. 12):

    As funes primrias de um curso d'gua e de sua vrzea associada so a coleta, ar-

    mazenamento e veiculao das vazes de cheias. Essas funes no podem ser rele-

    gadas a um plano secundrio em favor de outros usos que se possa imaginar para as

    vrzeas, sem a adoo de medidas compensatrias normalmente onerosas. Respeita-

    da essa restrio, as vrzeas tm a potencialidade de contribuir para a melhoria da

    qualidade da gua e do ar, a manuteno de espaos abertos, a preservao de ecos-

    sistemas importantes e acomodao de redes de sistemas urbanos adequadamente

    planejados.

    c) drenagem um problema de destinao de espao

    O volume de gua que escoa sobre a bacia no pode ser comprimido ou reduzido, por-

    tanto, o planejamento da drenagem urbana deve envolver a administrao do problema de

    alocao dessas guas no espao (CANHOLI, 2005).

    Com a urbanizao desordenada e o uso inadequado do solo h uma reduo da capa-

    cidade de armazenamento natural dos deflvios, situao que se agrava quando no so pre-

    vistas medidas compensatrias adequadas para o controle do escoamento superficial. Dessa

    forma, as guas das chuvas ocuparo, inevitavelmente, espaos muitas vezes indesejveis

    populao (SO PAULO, 1999).

    Conforme visto no item 2.2.2.1, as tcnicas compensatrias promovem o armazena-

    mento e amortecimento dos deflvios e se apresentam como instrumentos de controle do es-

    coamento superficial, podendo ser regulamentadas pelas legislaes municipais e inseridas

    aos planos urbanos.

  • 30

    Alm de contriburem para o controle do escoamento, em geral essas medidas esto

    associadas a outros usos, como recreao e paisagismo, ou seja, a utilidade pblica que os

    planos podem incorporar no incentivo utilizao dessas solues vai alm do controle de

    alagamentos e inundaes. Diante de determinadas circunstncias, h, ainda, a possibilidade

    das guas armazenadas serem utilizadas para irrigao, recarga do lenol fretico, abasteci-

    mento industrial, entre outros (SO PAULO, 1999).

    d) as medidas de controle de poluio so parte essencial em um plano de drenagem

    Os procedimentos de inspeo e limpeza dos dispositivos de drenagem e da malha vi-

    ria, a coleta e o tratamento de esgoto, a presena de ligaes clandestinas de esgoto na rede de

    drenagem e a regulamentao dos servios de movimento de terras devem ter ateno especial

    nos planos, uma vez que o controle da poluio das guas essencial para que sejam alcan-

    ados os benefcios potenciais que podem oferecer os cursos d'gua urbanos e suas vrzeas

    (SO PAULO, 1999).

    Segundo o mesmo autor, o planejamento em drenagem urbana deve ser realizado se-

    gundo critrios bem estabelecidos para que atenda de maneira benfica s particularidades

    fsicas, econmicas, sociais e institucionais do municpio. Para tanto, a municipalidade deve

    estar sempre pautada em regulamentos adequados de forma a produzir projetos de drenagem

    factveis, tcnica e economicamente eficientes, coerentes com as demais infraestruturas da

    cidade e condizentes com as necessidades da populao.

    Alm dos princpios enunciados, Wanielista e Yousef (1993 apud CANHOLI, 2005, p.

    27) afirmam que um plano de drenagem abrangente envolve:

    O levantamento das caractersticas fsicas da bacia de drenagem, notadamente da-

    quelas que influenciam os deflvios (run-off); a formulao de planos alternativos

    de controle ou correo de sistemas de drenagem, explicitando os respectivos objeti-

    vos; a anlise da viabilidade tcnica e econmica das alternativas, considerando

    tambm os aspectos sociopolticos (aceitao pela comunidade) e ambientais; e uma

    metodologia consistente para seleo da alternativa tima.

    De um modo geral, os estudos necessrios para a formulao dos planos de drenagem

    envolvem o diagnstico dos problemas existentes e a previso de problemas futuros, alm da

    determinao, hierarquizao e redimensionamento de solues mais adequadas aos sistemas

    levando-se em conta fatores tcnicos, econmicos e ambientais (CANHOLI, 2005).

  • 31

    2.4 DIRETRIZES PARA EXECUO DE OBRAS DE MICRODRENAGEM

    A execuo de obras de drenagem em geral requer, antes de qualquer ao, o planeja-

    mento minucioso de todas as atividades que sero desenvolvidas para a concretizao dos

    projetos a implantar, uma vez que vrios dos servios envolvidos exigem rigorosos procedi-

    mentos de segurana em algumas fases de projeto e a utilizao de metodologias especficas a

    cada local (RECIFE, 2002).

    Para tanto, dever haver a participao de uma equipe multidisciplinar que far dife-

    rentes anlises quanto viabilidade de execuo de cada fase. Sero feitas avaliaes geotc-

    nicas, dos materiais e equipamentos a serem utilizados, de possveis interferncias e de aspec-

    tos legais do municpio ou regio (MANGIERI, 2012).

    Os resultados dessas avaliaes e a utilizao dos mtodos adequados possibilitaro a

    execuo de obras mais eficientes, econmicas e como o mnimo de interferncias ao entorno

    do canteiro.

    No planejamento das obras de drenagem tambm sero definidas: as frentes de execu-

    o das obras, os desvios das guas pluviais durante a fase de obras, possibilitando a sua exe-

    cuo, o remanejamento provisrio ou definitivo de outras infraestruturas pblicas que interfi-

    ram nas obras, a localizao de reas de emprstimo e bota-fora, a localizao dos canteiros

    de servio, os espaos necessrios para a livre movimentao de pessoal, de equipamentos e

    de materiais dentro da rea de trabalho, o esquema de desvio de trnsito no entorno da obra, o

    acesso dos moradores aos domiclios adjacentes obra, o esquema de medicina e segurana

    do trabalho e os esquemas emergenciais no caso de chuvas intensas e/ou enchentes durante as

    obras (RECIFE, 2002).

    Segundo Mangieri (2012), as etapas de execuo de uma obra de microdrenagem ur-

    bana so: (1) locao; (2) sinalizao; (3) rompimento ou remoo da pavimentao (caso

    exista); (4) escavao; (5) escoramento (se necessrio); (6) esgotamento da vala (se necess-

    rio); (7) preparo do fundo da vala; (8) assentamento da rede; (9) reaterro da vala; (10) recom-

    posio do pavimento ou pavimentao; e, (11) cadastro da rede (as built).

    Em geral, as obras de drenagem urbana so construdas de jusante para montante, pois

    assim h a facilidade de criar esquemas de desvio das guas de chuva e a possibilidade do

    esgotamento das guas afluentes pelo trecho de obra j construdo. H casos em que essa or-

    dem pode ser invertida, desde que sejam tomadas providncias especiais para evitar o alaga-

    mento do canteiro de obras (RECIFE, 2002).

  • 32

    As obras de microdrenagem so necessrias para criar condies razoveis de mobili-

    dade urbana diante da ocorrncia de chuvas com perodos de retorno de at 10 anos (SO

    PAULO, 2012a) e conforme exposto no item 2.3.2.1, a microdrenagem constituda de dis-

    positivos que controlam o escoamento superficial em nvel de loteamento.

    Alm da manuteno permanente, com a limpeza e desobstruo de seus dispositivos,

    a execuo de projetos em microdrenagem exige a observao cuidadosa aos detalhes cons-

    trutivos desses elementos, que se no forem respeitados, podero comprometer o funciona-

    mento eficiente do sistema e contribuir para a ocorrncia de alagamentos no meio urbano

    (SO PAULO, 2012a).

    Neste trabalho sero abordados apenas os aspectos construtivos relativos ao traado da

    rede, execuo de sarjetas e bocas de lobo, alm de algumas consideraes a respeito da

    ordem de execuo de obras de porte, como a canalizao de caudal e obra de arte especial

    inseridas no meio urbano.

    2.4.1 Critrios para o traado da rede de drenagem

    Com base nos dados topogrficos disponveis, no pr-dimensionamento hidrolgico e

    hidrulico e na delimitao da bacia de contribuio pode-se realizar o traado da rede coleto-

    ra de guas pluviais.

    Diversas configuraes de rede so analisadas, isto porque a definio da concepo

    inicial mais importante para a economia global do sistema e para o melhor aproveitamento

    do mesmo, do que os estudos posteriores que sero necessrios durante as fases executivas do

    projeto (PORTO ALEGRE, 2002).

    A anlise do traado deve ainda, ser desenvolvida levando-se em conta os planos ur-

    bansticos do municpio e suas consideraes em relao s vias e quadras da malha urbana.

    2.4.2 Critrios para disposio e execuo de sarjetas

    O escoamento superficial na malha urbana se d pelos terrenos, ruas e sarjetas. As vi-

    as, entre outros motivos, possuem uma determinada declividade transversal e inclinao lon-

    gitudinal para facilitar que as guas sejam direcionadas para as sarjetas.

    Deve ser prevista uma inclinao transversal nas sarjetas para que a gua da chuva seja

    acomodada sobre esse dispositivo durante o escoamento. Quanto maior a inclinao e a largu-

    ra da sarjeta maior ser a capacidade de transporte de gua. A inclinao mais usada de

  • 33

    20%, no sendo recomendado que se ultrapasse os 25%, pois grandes inclinaes oferecem

    riscos populao (WATANABE, 2014).

    Segundo o mesmo autor, no h limitao para a largura da sarjeta. Em geral, utiliza-

    se uma largura de 40 cm. Sarjetas com maiores larguras oferecem maior capacidade conduo

    do escoamento, no entanto, isto pode dificultar a passagem de crianas e idosos por cima da

    sarjeta nos dias de chuva.

    De acordo com o Manual de Drenagem de So Paulo (2012a), o transbordamento das

    guas para fora das sarjetas, ou seja, o alagamento do leito carrovel e at mesmo das cala-

    das so permissveis, desde que essa situao no seja frequente.

    Na Figura 11 esto representadas as dimenses usuais de um conjunto guia-sarjeta.

    Figura 11 Corte esquemtico da sarjeta e demais elementos da via.

    Fonte: Watanabe, 2014.

    Quando a vazo maior que a capacidade de escoamento da sarjeta pode ocorrer ala-

    gamentos, inundao das caladas e eroso do pavimento devido velocidade excessiva das

    guas. Em razo disto, e do peso decorrente dos veculos estacionados sobre sua estrutura,

    esses dispositivos devem ser construdos com material resistente e seu acabamento deve ser o

    mais liso possvel, para facilitar o escoamento (GEMAQUE; NEGRO, 2010).

    2.4.3 Critrios para disposio de bocas de lobo

    As bocas de lobo (BLs) tm por finalidade a captao do escoamento direcionado pe-

    las sarjetas, conduzindo as vazes superficiais para a rede de condutos subterrneos. Elas so

    dispostas nos pontos mais baixos da malha viria com vistas a evitar a criao de zonas de

    alagamentos e de guas paradas, alm claro, de serem instaladas para evitar o transborda-

    mento das guas na pista de rolamento.

  • 34

    Os principais critrios utilizados para a determinao do local onde esses dispositivos

    sero instalados so (PORTO ALEGRE, 2005):

    a) instalao em ambos os lados da rua;

    b) instalao nos pontos mais baixos das vias;

    c) quando suas capacidades de engolimento forem atingidas;

    d) quando a capacidade de conduo da sarjeta for superada;

    e) instalao em pontos localizados montante em relao s faixas de pedestres e cru-

    zamentos de vias.

    O mesmo autor faz outra recomendao a respeito da disposio desses dispositivos na

    malha viria, a de que no conveniente a instalao de BLs junto ao vrtice de ngulo de

    interseo das sarjetas de duas ruas convergentes, primeiro porque os pedestres teriam que

    saltar a torrente num trecho de mxima vazo superficial para cruzarem uma rua e, segundo,

    porque as torrentes convergentes pelas diferentes sarjetas resultariam no escoamento em sen-

    tido contrrio ao da afluncia para o interior da BL.

    Na Figura 12 est esquematizada a disposio recomendada e a no recomendada das

    bocas de lobo nas guias.

    Figura 12 Disposio das bocas de lobo nas vias.

    Fonte: Porto Alegre, 2005.

    Em ruas ngremes o escoamento pode atingir altas velocidades e, em razo disto, h a

    possibilidade das guas passarem direto pela boca de lobo. A soluo proposta para esses ca-

    sos a execuo de rebaixo na sarjeta, o que facilitaria o engolimento do fluxo pelo dispositi-

    vo (WATANABE, 2014).

    Tambm existem recomendaes quando s dimenses mnimas e mximas das aber-

    turas das bocas de lobo e das grelhas, que no devem ultrapassar certos limites, pois podem

    oferecer riscos s pessoas, como permitir a passagem de crianas por aberturas muito grandes

    das bocas de lobo.

  • 35

    H ainda os problemas decorrentes de uma abertura muito pequena. Quando o escoa-

    mento percorre a bacia, traz junto consigo vrios tipos de resduo, dependendo do tamanho

    desses detritos, pode ocorrer o entupimento das bocas de lobo, obstruindo a passagem do es-

    coamento.

    Em razo dessas situaes, foram estabelecidas as dimenses mnima e mxima para a

    altura da abertura das bocas de lobo, sendo, respectivamente, 8,5 cm e 15 cm (Figura 13).

    Figura 13 Altura mnima e mxima da abertura das bocas de lobo.

    Fonte: Watanabe, 2014.

    Quando instaladas de maneira estratgica, as bocas de lobo promovero o rpido esco-

    amento das guas e minimizaro os riscos de ocorrncia de alagamentos no meio urbano.

    2.4.4 Critrios de projeto para canalizao de curso dgua

    Segundo Barros (1995, apud GEMAQUE; NEGRO, 2010, p. 50), no Brasil as inter-

    venes no fundo de vale privilegiam, com certa predominncia, obras de canalizao dos

    corpos hdricos em estruturas de concreto, muitas vezes constitudas de canais fechados. Em

    geral, esses canais so executados por baixo das vias com o intuito de melhorar a mobilidade

    no trnsito. O grande problema desse tipo de obra a descaracterizao completa do ambiente

    natural.

    Em razo de sua localizao, no fundo do vale, normalmente, os trabalhos de execuo

    dos canais so realizados na presena de gua, seja ela proveniente do lenol fretico ou de-

    corrente do corpo hdrico existente (RECIFE, 2003). Assim, a principal caracterstica desse

    tipo de obra, que a diferencia de outras construes, a exigncia de tcnicas construtivas

    especiais que possibilite a convivncia da obra com a presena da gua.

    Assim como em toda obra, antes do incio da canalizao, as empreiteiras devem

    aprovar juntos aos rgos fiscalizadores, o planejamento da construo, no qual ser descrito

  • 36

    o esquema de manejo e desvio do caudal durante a obra (RECIFE, 2003). No planejamento

    devero ser consideradas:

    a) o perodo do ano em que sero executadas as obras;

    b) as vazes mnimas e mximas previstas durante o perodo de execuo da obra;

    c) a proteo dos servios em execuo contra inundaes; e,

    d) o no agravamento das cheias usuais no entorno das obras, durante sua execuo.

    J na fase de projeto das obras de canalizao dos cursos d'gua, inseridos no meio ur-

    bano, a alocao dos espaos destinados para o canal, para as vias de trfego marginais e para

    o alinhamento de edificaes, essencial levar em considerao os seguintes fatores bsicos

    (SO PAULO, 1999):

    a) apesar dos projetos serem elaborados para cheias com perodos de retorno mdios,

    cheias de maior amplitude podero acontecer e causaro graves impactos;

    b) geralmente os projetos so concebidos para certo quadro de ocupao da bacia a mon-

    tante, sem considerar a possibilidade de aumento significativo desse quadro no futuro,

    o que resulta em vazes mais elevadas do que as inicialmente previstas no projeto;

    c) frequentemente, as margens dos cursos dgua apresentam intensa ocupao, com o

    passar o passar do tempo o leito, que j era estreito em razo da ocupao das mar-

    gens, torna-se insuficiente para veicular as vazes de pico de cheia atuais e, ainda,

    acabam recebendo acrscimos de volume pelo efeito da urbanizao a montante; e,

    d) a ausncia de planos diretores, voltados para as reas de recursos hdricos, aumenta as

    incertezas nas avaliaes das caractersticas hidrolgicas que do suporte para a con-

    cepo dos projetos de drenagem urbana.

    De acordo com o mesmo autor, a alocao de espaos ao longo das canalizaes no

    meio urbano, deveriam ter seus projetos baseados nas seguintes diretrizes (SO PAULO,

    1999, p. 25):

    1) sempre que o espao disponvel para implantao do leito do canal permitir, pre-

    ver faixas laterais, eventualmente inundveis que permitam futuras ampliaes

    do canal, caso necessrio;

    2) como decorrncia do item anterior, as pistas marginais de vias de trfego deveri-

    am, tanto quanto possvel, serem afastadas das margens do canal e, evidentemen-

    te, limitadas por outro lado pelo alinhamento das edificaes. Neste sentido

    oportuno lembrar que tal medida contribui para valorizar as reas marginais;

    3) as faixas destinadas s edificaes em cada margem, tanto quanto possvel, de-

    vem estar fora da faixa de inundao correspondente cheia de 100 anos de pe-

    rodo de retorno;

    4) nos casos em que as medidas acima no sejam possveis em virtude da ocupao

    existente, conveniente caracterizar as reas inundveis como reas de risco que

    podero no futuro ser reurbanizadas ou, eventualmente beneficiadas com obras

    de deteno na bacia, a montante, que venham reduzir a incidncia de inunda-

    es.

  • 37

    2.5 CUIAB, A AV. FERNANDO CORRA DA COSTA E AS GUAS PLUVIAIS

    A capital mato-grossense nasceu por volta dos anos de 1720, em razo da expanso

    bandeirante que vinha em busca de indgenas, riquezas e domnio de novos territrios. A par-

    tir de ento, Cuiab foi palco de vrios conflitos que desencadearam em fases de fluxo e re-

    fluxo populacional, ocasionando o desenvolvimento descontnuo do espao urbano (CUIA-

    B, 2012).

    Segundo o mesmo autor, o crescimento da cidade ocorreu de maneira mais intensa a

    partir dos anos 60, em razo de incentivos fiscais e de crditos concedidos pela Superinten-

    dncia de Desenvolvimento da Amaznia (Sudam). Os estmulos federais deram oportunida-

    des para que grandes empresas agropecurias se estabelecessem no norte de Mato Grosso,

    intensificando a ocupao do Estado e posicionando a capital como centro de apoio ocupa-

    o e aos fluxos migratrios.

    Cuiab, na dcada de 70, foi um dos municpios brasileiros com as mais altas taxas

    de crescimento populacional, devido s frentes migratrias oriundas dos mais diversos Esta-

    dos brasileiros. (CUIAB, 2007a). Segundo dados apresentados no Plano Diretor de Desen-

    volvimento Estratgico de Cuiab (CUIAB, 2007b), a populao da cidade se manteve com

    aproximadamente 50 mil habitantes at 1960 e, em 1970, eram mais de 100 mil habitantes na

    cidade. Em 1980, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE registrou mais de

    200 mil habitantes e, em 1991, a populao duplicou, ultrapassando a marca dos 400 mil habi-

    tantes.

    De acordo com o censo demogrfico do IBGE realizado em 2010, Cuiab abrigava

    mais de 550 mil habitantes naquele ano e a populao estimada para julho de 2014 ultrapassa-

    va os 575 mil habitantes (IBGE, 2014).

    Esse incremento populacional demandava a ocupao de novos espaos e a implanta-

    o de equipamentos urbanos, no entanto, os poderes pblicos no conseguiram oferecer os

    servios com a mesma velocidade (CUIAB, 2012). Do mesmo modo que em outras grandes

    cidades, o processo de urbanizao verificado em Cuiab favoreceu a ocupao desordenada

    do solo, reduzindo drasticamente o controle dos gestores sobre o planejamento, implantao e

    manuteno das infraestruturas pblicas, entre elas, o sistema de drenagem pluvial.

    A Av. Fernando Corra da Costa uma via de grande importncia para a economia e

    mobilidade urbana. Segundo a Lei Complementar (LC) n 232 de 2011, que dispe sobre a

    hierarquizao viria do municpio, a referida avenida, em toda sua extenso, classificada

  • 38

    como via estrutural, ou seja, formada por vias de atravessamento com alta capacidade de

    trfego, fazendo parte do eixo estrutural transversal da cidade (CUIAB, 2011).

    Alm de atender ao fluxo de veculos vindos de diversas partes da cidade, a Av. Fer-

    nando Corra da Costa d acesso ao trecho urbano da rodovia BR 364/163/070, ligando o

    municpio a outros estados e regies de Mato Grosso (CUIAB, 2011). Isto significa que,

    parte da via, recebe o trfego de veculos de cargas e de passeio que esto em trnsito por

    Cuiab. Em funo disso, vrias indstrias e empresas de bens e servios, como concession-

    rias automotivas, postos de combustveis, restaurantes, oficinas mecnicas, hotis, supermer-

    cados, entre outras, se instalaram s margens da avenida.

    O desenvolvimento urbano ao longo desta via tambm foi impulsionado em decorrn-

    cia de seu asfaltamento, o que reforou a ligao do Centro com a regio do Coxip, e insta-

    lao das dependncias da UFMT na avenida (CUIAB, 2012). O desenvolvimento do muni-

    cpio, como um todo, foi ainda maior em decorrncia do anncio de que Cuiab seria uma das

    cidades-sede da Copa do Mundo FIFA 2014.

    Com o passar do tempo, edificaes comerciais, loteamentos residenciais, empresas do

    gnero alimentcio, supermercados, shopping center, redes hoteleiras, instituies educacio-

    nais, financeiras e religiosas, entre vrios outros segmentos comerciais, se instalaram ao longo

    da via. Portanto, notria a importncia da Av. Fernando Corra da Costa ao desenvolvimen-

    to urbano e socioeconmico de Cuiab.

    Na Figura 14, que mostra parte da avenida na regio dos bairros Jardim das Amricas

    e Pico do Amor, possvel verificar o adensamento no entorno da via.

    Figura 14 Av. Fernando Corra da Costa vista do entroncamento com a Av. Miguel Sutil em maio de 2014.

    Fonte: GOOGLE, 2013.

    Com a crescente ocupao no entorno da avenida e, em razo de sua importncia ao

    sistema virio da cidade, os alagamentos tm causado impactos cada vez mais abrangentes.

    Entre os danos esto os prejuzos de natureza social, como a impossibilidade de ir e vir em

  • 39

    funo do acmulo e correnteza das guas, estresse, ansiedade, entre outros, os prejuzos de

    natureza econmica, com a manuteno de veculos, limpeza de ptios e estacionamentos dos

    comrcios atingidos, com adaptaes na estrutura das edificaes susceptveis invaso das

    guas, a fim de minimizar os efeitos de outros possveis alagamentos, e os transtornos ao trn-

    sito, causando congestionamentos e acidentes (Figura 15).

    Figura 15 Congestionamento na Av. Fernando Corra da Costa devido ao alagamento do dia 12/12/2014.

    Fonte: imagem gentilmente concedida por Raphael Loureno Dias Guerra.

    Outra consequncia de natureza mais importante o risco de se perder vidas humanas

    por afogamentos e por complicaes mais graves no trnsito, por exemplo. Alm disso, os

    alagamentos registrados tm alcanado propores alarmantes.

    De acordo com as publicaes de vrios grupos e canais jornalsticos da cidade, com a

    breve chuva do dia 12 de dezembro de 2014, a gua acumulada ultrapassou a altura dos pneus

    de carros utilitrios, invadindo os veculos (Figura 16) e impossibilitando o trnsito de pedes-

    tres (Figura 17).

    Figura 16 Alagamento na regio do Viaduto Jornalista Clvis Roberto, na Av. Fernando Corra da Costa, no

    dia 12/12/2014.

    Fonte: disponvel em . Acesso em 12/12/2014.

    http://www.gazetadigital.com.br/conteudo/show/secao/9/materia/437409/t/chuva-alaga-fernando-correa-http://www.gazetadigital.com.br/conteudo/show/secao/9/materia/437409/t/chuva-alaga-fernando-correa-

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    Figura 17 Alagamento na Av. Fernando Corra da Costa no dia 12/12/2014 dificultou a circulao de veculos

    e pedestres.

    Fonte: imagem gentilmente concedida por Igor Rossini Smerecki.

    Na mesma ocasio houve at a necessidade de guinchar um veculo que sofreu pro-

    blemas no motor pelo acmulo de gua em seu interior (Figura 18).

    Figura 18 Veculo guinchado em razo de problemas mecnicos causados por alagamento na Av. Fernando

    Corra da Costa no dia 12/12/2014.

    Fonte: disponvel em . Acesso em 12/12/2014.

    Outros alagamentos j tinham ocorrido na Av. Fernando Corra da Costa naquele

    mesmo ano. Em 14 de janeiro de 2014, por exemplo, pedestres, motoristas e os comerciantes

  • 41

    sofreram com os transtornos causados pela ineficincia do sistema de drenagem da regio

    (MENDES, 2014).

    Na Figura 19 possvel perceber que as duas pistas da avenida foram encobertas por

    uma lmina dgua que ultrapassava a altura dos pneus dos veculos de passeio, alcanando

    at mesmo as portas do nibus pblico e invadindo parte do viaduto Clvis Roberto e do esta-

    cionamento de um supermercado da regio.

    Figura 19 Alagamento na Av. Fernando Corra da Costa no dia 14/01/2014.

    Fonte: MENDES, 2014.

    Os mesmos problemas eram verificados muito antes da implantao de obras de mobi-

    lidade para a Copa do Mundo. Em abril de 2001, um temporal, aliado destruio de um re-

    servatrio particular, o que pode ter contribudo para a sobrecarga no escoamento do Crrego

    do Barbado, causaram srios problemas a vrios bairros da capital.

    Entre os danos materiais, houve a queda de um veculo no Crrego do Barbado, na re-

    gio do entroncamento da Av. Fernando Corra da Costa com a Av. Tancredo Neves, que foi

    arrastado pela correnteza (VARGAS, 2001). As pessoas que estavam dentro daquele carro

    foram salvas, o mesmo no acontecendo com pelo menos 15 pessoas de outros bairros, que

    perderam suas vidas devido a essa mesma eventualidade (PINTO, 2001).

    Tambm h notcias de que, em 2004, as bocas de lobo no suportavam o fluxo e as

    guas j ocupavam as pistas e caladas da avenida (LANNES, 2004) e de acordo com Amaral

    e Filho (2014), em 28/05/2009 tambm foi registrada a ocorrncia de alagamento na Av. Fer-

    nando Corra da Costa, no havendo informaes sobre o nmero de pessoas atingidas.

    Ocorrncias mais significativas voltaram a ser registradas a partir de 2013. Segundo

    matria publicada por Diz e Maia (2013), a Defesa Civil registrou que a lmina dgua al-

    canou cerca de 50 cm de altura durante o perodo mais intenso da chuva (Figura 20).

  • 42

    Figura 20 Alagamento na Av. Fernando Corra no dia 18/03/2013.

    Fonte: disponvel em . Acesso em 04/09/2014.

    No mesmo ano, com a chuva do dia 27 de outubro, mais uma vez a mesma regio da

    Av. Fernando Corra da Costa e outras vias prximas foram alagadas, dificultando o trnsito

    de pedestres e veculos de pequeno porte, alm de provocar transtornos aos estabelecimentos

    comerciais do entorno.

    Em outubro de 2013, as obras do viaduto Clvis Roberto no entroncamento da Av.

    Fernando Corra da Costa com as avenidas Braslia e Tancredo Neves, destinada implanta-

    o do modal Veculo Leve sobre Trilhos (VLT), j tinham iniciado. Com a chuva do dia 27,

    as guas invadiram o canteiro de obras, gerando mais complicaes na regio, seja pelas inter-

    ferncias ao trnsito, seja pela deposio ainda maior de partculas e outros resduos nas guas

    acumuladas (Figuras 21 e 22).

    Figura 21 Vista do Crrego do Barbado no entroncamento da Av. Fernando Corra da Costa com Av. Tancre-

    do Neves durante a chuva do dia 27/10/2013.

    Fonte: TEIXEIRA, 2013.

  • 43

    Figura 22 Vista da Av. Fernando Corra da Costa aps ocorrncia da chuva no dia 27/10/2013.

    Fonte: TEIXEIRA, 2013.

    De acordo com Arantes (2013), um estudo sobre o impacto econmico dos alagamen-

    tos na cidade de So Paulo, realizado por Eduardo Amaral Haddad, professor titular do De-

    partamento de Economia da Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade da Uni-

    versidade de So Paulo (FEA-USP), e por Eliane Teixeira dos Santos, mestranda em Teoria

    Econmica e orientanda de Haddad, revela que:

    cada ponto de alagamento formado na cidade de So Paulo aps uma chuva forte

    provoca um prejuzo dirio de mais de R$ 1 milho ao pas. Com 749 pontos de ala-

    gamento identificados na cidade, as perdas anuais no mbito do municpio chegam a

    quase R$ 336 milhes. E, com o espraiamento dos efeitos pelas longas cadeias de

    produo e renda, o prejuzo vai a mais de R$ 762 milhes em escala nacional.

    Mesmo no se tratando da cidade de Cuiab, o estudo se adapta a realidade de qual-

    quer municpio que sofra com problemas relacionados s guas pluviais: a de que a ocorrncia

    de alagamentos, e outros eventos de natureza hidrometeorolgica, trazem, alm dos impactos

    j mencionados, prejuzos aos cofres pblicos.

    http://bv.fapesp.br/pt/pesquisador/8068/eduardo-amaral-haddad/

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    3 OBJETIVOS

    3.1 GERAL

    Este Trabalho de Graduao teve como objetivo identificar os fatores que podem con-

    dicionar a ocorrncia de alagamentos na Av. Fernando Corra da Costa considerando o com-

    portamento do escoamento superficial segundo s caractersticas topogrficas da bacia, ao uso

    e ocupao do solo no perodo de dez anos, vinculando estas discusses aos ndices urbansti-

    cos municipais, e aos aspectos relativos sua captao, abordando a execuo e, principal-

    mente, a manuteno e limpeza dos dispositivos de microdrenagem existentes na bacia.

    3.2 ESPECFICOS

    Os seguintes objetivos especficos contriburam para a verificao das hipteses pro-

    postas:

    a) compreender a influncia da topografia no comportamento do escoamento pluvial

    sobre a bacia de contribuio;

    b) compreender a influncia da impermeabilizao do solo no comportamento do es-

    coamento pluvial sobre a bacia de contribuio;

    c) fornecer subsdio aos gestores pblicos para o direcionamento de aes de manu-

    teno e limpeza dos dispositivos de drenagem da bacia de contribuio;

    d) verificar o uso dos critrios de execuo das bocas de lobo e sarjetas dispostos no

    sistema de microdrenagem da bacia de contribuio;

    e) compreender a influncia da execuo de projetos de mobilidade urbana no compor-

    tamento do escoamento pluvial sobre a bacia de contribuio.

  • 45

    4 MATERIAIS E MTODOS

    Com vistas a alcanar os objetivos estabelecidos, o estudo do escoamento pluvial no

    trecho da Avenida Fernando Corra da Costa envolveu o levantamento de informaes relati-

    vas:

    a) topografia das vias que integra