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saindo da bolha PESSOAS QUE TEM TALENTO SAINDO DA PERIFERIA PARA O MUNDO UMA PUBLICAÇÃO DE ZEZINHOS histórias de amigosnamorados e namoradosamigos inspire-se ENTREVISTA COM NENÊ mamãe é um caso sério HISTÓRINHAS ENGRAÇADAS ABRIL/MAIO 2009 ANO 1 1 000 333 55 7

Zzine #0

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Uma revista feita por jovens do Capão Redondo, Zona Sul de São Paulo, para jovens de sua comunidade outras periferias do mundo. A edição zero foi produzida durante uma oficina de jornalismo em 2009.

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saindo da bolhaPESSOAS QUE TEM TALENTOSAINDO DA PERIFERIA PARA O MUNDO

UMA PUBLICAÇÃO DE ZEZINHOS

histórias de amigosnamoradose namoradosamigos

inspire-seENTREVISTA COM NENÊ

mamãe é umcaso sérioHISTÓRINHAS ENGRAÇADAS

ABRIL/MAIO 2009ANO 1

1 000 333 55 7

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Sobre surpresasepossibilidades

Como repórter da revista Sorria, fui pautada para entrevistar a Tia Dag, em agosto de 2008. Com 50 perguntas no caderninho, cheguei à Casa do Zezinho onde conheci o Saulo, e fui surpreendida por uma criança que me conduziu pelos corredores e contou a história daquele lugar repleto de zezinhos sorridentes, agitados e carinhosos. Depois de três horas, duas novas questões: como transformar a incrível conversa numa matéria de duas páginas e também fazer parte desta história também? Na redação, resumi o texto e UHFHEL� R� DSRLR� GH�GXDV� JUDQGHV� SDUFHLUDV� SDUD� GHVHQYROYHU� XPD�RÀFLQD�GH�jornalismo, as sonhadoras mais realistas e queridas do mundo: a repórter Nina e a produtorafotógrafa Laura, que estiveram ao meu lado desde a elaboração do projeto até o fechamento desta primeira edição do Z´zine - passando pelo processo de aprendizado coletivo e troca de experiências. Sábado de sol, 18 de janeiro de 2009. Nina, Laura e eu saímos da zona oeste de São Paulo para cruzar a ponte. Chegamos ao Capão Redondo e, para a nossa surpresa, dos ���FRQÀUPDGRV��DSHQDV�FLQFR�DOXQRV��$EULPRV�XPD�URGD�VHP�VDEHU�DR�FHUWR�R�que fazer. E logo estávamos falando sobre comunicação, jornalismo, família, amores, escola, cultura. Na volta pra casa, o silêncio foi interrompido: vai VHU�WUDQVIRUPDGRU�SUD�WRGRV�QyV��$�FDGD�ViEDGR��XPD�GHVFREHUWD��(GXFDGRUHV�da Casa querendo saber quem eram as meninas que atraíam cada vez mais alunos. Discussões acaloradas sobre pauta, apuração, edição, diagramação, IRWRJUDÀD��PLVVmR�H�QRPH�GD�UHYLVWD��0DV�D�JUDQGH�WUDQVIRUPDomR�IRL�VHQWLU�que a cada encontro nossa relação se fortalecia: as meninas foram soltando os cabelos, cada um foi contando sua história de vida e mostrando suas habilida-des. O verão terminou e o resultado mais uma vez superou as expectativas: os cinco alunos e sábados (previstos no projeto) se tornaram quinze. Uma expe-riência que contagiou outros amigos, fundamentais para que esta publicação IRVVH�SRVVtYHO��$�~QLFD�SHVVRD�TXH�QXQFD�VH�VXUSUHHQGHX�FRP�R�VXFHVVR�IRL�D�Tia Dag. “Também comecei com cinco. Hoje são 2 mil zezinhos construindo essa história”, dizia sempre que nos via na correria. Obrigada a todos que acreditarame tornaram isso possível!

por Amanda Rahra

Equipe Z’zine

NOME DE TODOS

KLEBERJUNIORFANIALESTER

FESTOMA XWELLTHIAGO

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ÍNDICE

NOME DE TODOS

BEATRIZANILHABEBETOSOUXZA

KLEBERJUNIORFANIALESTER

FESTOMA XWELLTHIAGO

INSPIRE-SE

GRACINHAS

SAINDO DA BOLHA

DIVERSÃO

TEM QUE SABER

AQUI TEM TALENTO

CAPA

histórias de pessoas incríveis

pra morrer de rir

da periferia para o mundo

todo mundo tem algo para mostrar

você pode fazer para ajudar

o que temos e queremos

amizade colorida

CONSELHO EDITORIAL TIA DAG E SAULO GARROUX

DIRETORAS DE REDAÇÃO AMANDA RAHRA, NINA WEINGRILL E LAURA SOBENES

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Voltaporcima

Após uma infância pobre e violenta, ele foi engolido pelo mundo do crime. Hoje, é professor e escritor. Conheça a história da revolução pessoal de Marcos Lopes dos Santos, o Nenê

TE XTO Deb ora Cost a F OTO Lev i Mendes J r .

INSPIRE-SE HISTÓRIAS DE PESSOAS INCRÍVEIS

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cima

Z´zine: Como foi a sua infância?1HQr��&UHVFL�QR�3DUTXH�6DQWR�$QWRQLR��$QGDYD�GH�FDU-rinho de rolimã no Horto do Ipê, jogava futebol e bo-linha de gude, soltava pipa e, aos oito anos, já pegava FDURQD� GH� {QLEXV� SUD� 6DQWR�$PDUR�� RQGH� LD� HVPRODU��Voltava na rabeira do caminhão de gás. E gastava todo R�GLQKHLUR�QR�ÁLSHUDPD��

Zz: Seus pais não brigavam com você? N: (suspiro profundo) Eu apanhava muito, mas isso, às vezes, acontecia até sem motivo – principalmente quando meu pai chegava em casa meio alterado por-que tinha bebido. Tinha dia em que eu faltava na es-cola porque estava doente, mas ele não entendia e me batia mesmo assim.

Zz: E como era na escola?N: Comecei a desbandar aos 11 anos, quando meus pais VH�VHSDUDUDP��$�SDUWLU�GH�HQWmR��ÀFDYD�PXLWR�WHPSR�QD�UXD��$RV����DQRV��FRORTXHL�IRJR�QD�ODWD�GH�OL[R��URXEHL�D�cantina e mandei uma professora tomar... Fui expulso. $SDQKHL�GR�PHX�SDL��3DUHL�GH�HVWXGDU��

Zz: Mas antes da expulsão você começou a frequen-tar a Casa do Zezinho, né?1��6LP��Mi�IUHTXHQWDYD��0HXV�DPLJRV�DSDUHFHUDP�HP�casa com um uniforme do Kichute dizendo que a Tia Dag tinha dado a roupa para que eles formassem um time de IXWHERO�� 6y� TXH� IDOWDYD� XP�JROHLUR��$t�� HOHV� SHGLUDP�pra Tia deixar eu participar dos treinos e fazer parte do time e eu fui com eles até a Casa do Zezinho. De repente, ela tirou um pirulito do bolso e arremessou na minha direção - talvez para ver se eu era mesmo um ERP�JROHLUR��$JDUUHL�R�GRFH�FRP�IRUoD��VHP�VDEHU�TXH�aquela era a melhor oportunidade da minha vida.

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Zz: O que aconteceu nesse meio tempo? 1��0HX�SDL�HVWDYD�QXPD�SLRU��(QWmR�UHXQL�DOJXQV�DPL-gos pra roubar um carro. Todos toparam sem pensar nas consequências. Também formamos uma boca no 3DUTXH�6DQWR�$QW{QLR��&RPHoDPRV�D�JDQKDU�PXLWR�GL-QKHLUR��PDV�IRL�Dt�TXH�D�JXHUUD�FRPHoRX��0XLWD�JHQWH�morreu e ainda morre.

Zz: E quando você decidiu que era a hora de mudar de vida? 1��0LQKD�PHOKRU�DPLJD�IRL�DVVDVVLQDGD�YROWDQGR�GH�XP�velório, porque estava passando por ali. No mesmo dia, ela havia me dito que se morresse não queria ser en-terrada no cemitério São Luiz (aquele com mais jovens por metro quadrado do mundo!). Vendo que o pesadelo dela se tornaria realidade, lembrei da Tia Dag. Fui até a Casa do Zezinho e ela me deu dinheiro para enterrá-la em outro lugar e disse: “Quero ver qual dos seus amigos vai fazer isso por você. Quem vai te enterrar? Pois nessa vida em que você está, logo, logo morre”. E IRL�DVVLP�TXH�FDLX�D�ÀFKD�

Zz: E depois disso? N: Fui trabalhar como faxineiro e me tornei voluntário da biblioteca da Casa do Zezinho, onde li meu primeiro livro, aos 16 anos: “Capão Pecado,” do Ferréz. Foi ali que minha paixão pela leitura e pela escrita nasceu. Na mesma época, alguns amigos passaram no vestibular. 'HFLGLGR�D�HVWXGDU��À]�D�SURYD�H�HQWUHL�QR�FXUVR�GH�/H-tras na Faculdade UNICID.

Zz: Foi fácil?N: Quando prestei o vestibular, ainda trabalhava como auxiliar de limpeza. Quase não sobrava tempo para es-tudar. Saía do trabalho às 16h, passava no shopping -DUGLP�6XO��HQWUDYD�QD�OLYUDULD�H�ÀFDYD�IROKHDQGR�DO-JXQV� OLYURV�� )RL� Oi� TXH� OL� ´&HP�$QRV� GH� 6ROLGmRµ�� GR�*DEULHO�*DUFtD�0iUTXH]�

Zz: E durante o curso, quais foram suas maiores di-ÀFXOGDGHV"N: Quase sempre faltava grana para a condução, e eu dependia da ajuda de amigos. Saía de casa às 16h para chegar na faculdade, na Zona Leste, às 19h e só volta-va pra casa à meia-noite.

Zz: O que você diria para os jovens da periferia?N: Tenho meu carro, meu apartamento, e depois de VHLV�DQRV�HVFUHYHQGR��ODQFHL�PHX�SULPHLUR�OLYUR��$SH-VDU�GH�WRGDV�DV�FRLVDV�UXLQV�TXH�Mi�À]�QD�YLGD��VRX�XP�cara feliz, porque aprendi que quando te tiram tudo, todas as pessoas que você ama, seus amigos, sua famí-OLD��D�~QLFD�FRLVD�TXH�UHVWD�p�R�FRQKHFLPHQWR�

Vaidoso, ele chega para a entrevista de boné, e a cada cinco minutos ajeita a lateral do FDEHOR�TXH�LQVLVWH�HP�ÀFDU�SUD�IRUD��$SDUHQ-temente inseguro com sua imagem, Nenê se mostra senhor da sua própria vida. Fala com PXLWD�ÀUPH]D�VREUH�DV�GLÀFXOGDGHV�TXH�Mi�HQ-IUHQWRX��$RV����DQRV��0DUFRV�/RSHV�GRV�6DQWRV�protagoniza uma história de superação: passou por problemas familiares, se envolveu com o crime e perdeu amigos queridos. Hoje é pro-fessor de Português na mesma escola em que foi expulso quando adolescente e acaba de lançar o livro “Zona de Guerra”, pela Editora Trip. Conheça a vida deste garoto que cresceu na adversidade buscou se transformar.

HISTÓRIAS DE PESSOAS INCRÍVEIS” INSPIRE-SE

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Dizem que toda mãe é igual. Só muda nome e endereço. A gente não sabe bem se isso é mesmo verdade, mas que elas são bem parecidas, são. Você não acha? Antes de responder, leia o que descobrimos abaixo.

I LU STRAÇÕE S Deb ora Cost a

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Minhamãe éumcasosério!

GRACINHAS PARA MORRER DE RIR

MÃE ENCICLOPÉDIA

MÃE BICAMA

MÃE CELURAR

MÃE FEDERALMÃE OVELHA

MÃE PAPAI NOEL

MÃE COTONETE

MÃE CEBOLA

MÃE PANELA DE PRESSÃO

É aquela que sabe tudo.

É aquela que quando a gente não tem, faz muita falta.

É aquela que enche o saco.

É aquela que não gosta de ser enganada.

É aquela que quando explode todo mundo sai de perto.

É aquela que faz gente chorar sem necessidade.

É aquela que em caso de necessidade se desdobra em duas.

É aquela que só encobre e não fala nada.

É aquela que, quando a gente mais precisa dela, não consegue falar.

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MORRENDO DE CURIOSIDADESRU�1LxD�0DOWD

Um dia, minha mãe estava lavando roupaComo fazia toda semana.Era apenas mais um dia em que eu tinha que passar a agonia 'H�ÀFDU�SUHVD�HQWUH�GRLV�VRIiV�VHP�WHU�VDtGD�

0DPmH�QmR�HUD�QDGD�EXUUD�O que você acha que eu faria se não estivesse “trancada”?+XP���$�SULPHLUD�FRLVD�VHULD�LU�SUD�UXDE fuçar nas coisas que pareciam engraçadas.

0DV��HX�SX[HL�D�HOD�Não lembro como, mas venci a muralha que me prendiaSai da sala e fui direito para o quintal(�ÀTXHL�DOL�HVFRQGLGLQKD�

Quando mamãe foi por a roupa no varalRebelei-me.. Uhuuu agora descobrirei o mundo!Olhei para os lados. Só tinham baldesE num deles mergulhei, mas foi profundo.

Quando minha mãe desceu da lajeViu minhas perninhas para cimaE minha cabeça estava dentro da balde0RUUHQGR�SRU�FDXVD�GD�FXULRVLGDGH�

- Ô bebida sem graça!

Estava prestes a morrer de curiosidadePelo menos senti que gostoso é quando a água molha meu corpoPor muito tempo tomei banho na balde... Era gostoso de verdade.0DV�IXL�FUHVFHQGR�H�DJRUD�Vy�PHX�Sp�FDEH�QR�EDOGH���

APRENDI COM MINHA MÃEpor Thaís dos Prazeres

Tudo o que sei aprendi com a mi-nha mãe. Ela me ensinou a apreciar um trabalho bem feito: “Se você e seu irmão querem se matar, vão pra fora. Eu acabei de limpar a casa!”. E também me ensinou a ter fé: “É melhor você rezar para essa mancha VDLU�GR�WDSHWH�µ�$SUHQGL�FRP�HOD�D�lógica: “Porque eu estou dizendo que p�DVVLP��DFDERX��H�SRQWR�ÀQDO�µ��$�motivação: “Continua chorando que eu vou te dar uma razão verdadeira SDUD�YRFr�FKRUDU�µ��$Wp�GH�JHQpWLFD�minha mãe sabe: “Você é igualzinho DR� WUDVWH� GR� VHX� SDL�µ��0LQKD�PmH�me ensinou sobre minhas raízes: “Tá pensando que nasceu de família rica é?”. Sobre a contradição: “Fecha a boca e come!”. Com ela, soube o que é a força de vontade: “Você vai ÀFDU� Dt� VHQWDGR� DWp� FRPHU� WXGR�µ��$� MXVWLoD�� ´8P� GLD� YRFr� WHUi� VHXV�ÀOKRV�� H� HX� HVSHUR� TXH� HOHV� VHMDP�iguais a você... aí você vai ver o que é bom.” E, principalmente, a ter re-tidão: “Eu te ajeito nem que seja na pancada!”. Obrigada, mami!

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PARA MORRER DE RIR GRACINHAS

O QUE TODA MAE DIZ!.MENINA(O): TOMA JUÍZO,

VAI PROCURAR UM

EMPREGO,TRANQUE A

PORTA ANTES DE SAIR,NÃO

VAI FICAR NA RUA ATÉ TAR-

DE, SAI DO COMPUTADOR,

ARRUMA A SUA BAGUN-

ÇA, O QUE OS VIZINHOS

VÃO FALAR, CHEGA NO

HORÁRIO, VAI ESTUDAR.

elas sempre

tem razao

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Quando uma amiga fala com muito carinho de um amigo, a gente logo des-FRQÀD��p�DPL]DGH�PHVPR�RX�SRGH�YLUDU�QDPRUR"�$V�SHVVRDV�WrP�GLYHUVDV�IRUPDV�H�PRWLYDo}HV�SDUD�VH�UHODFLRQDU��´$ÀQLGDGHV��DIHWR��UHDOL]DomR�GH�atividades em conjunto contribuem para estreitar laços de companheiris-mo. Com o tempo, isso se torna paixão, amor ou uma verdadeira amizade”, H[SOLFD�R�SVLFyORJR�7KLDJR�GH�$OPHLGD��(�TXDQGR�VDEHPRV�VH�p�DPRU�RX�DPL-]DGH"�´2�WHPSR�QRV�DMXGD�D�GHÀQLU��8PD�SDL[mR�IRUWH�FRPHoD�D�GHFUHVFHU�com o passar do tempo, então descobrimos se realmente virou amor. Ou amizade. Já a amizade verdadeira se fortalece com o tempo”, diz. Debora e Cláudio, depois da paixão, descobriram que são verdadeiros ami-gos. O casal Rosemeire e Pedro começou a construção desse amor na escola primária. Já no relacionamento de Patrícia e Carlos não existem fronteiras. E para quem acha impossível que haja amizade entre homens e mulheres, Jhonny e Natália estão aí para provar o contrário.

AMIGOS DE FÉ Natália, 15 anos, e Johnatan, 16, se aproximaram sem querer e não se desgrudaram mais. Eles estudavam na mesma escola, moravam no mes-mo bairro, mas só tiveram contato após entrarem no curso de fotogra-ÀD�QD�&DVD�GR�=H]LQKR��´$�1DW\�HUD�namorada de um amigo meu. Quan-do eu a cumprimentava ela respon-dia de forma seca, o que me fazia pensar que era chata”, brinca. “Eu achava ele tosco, mas depois que nos conhecemos melhor percebi que era legal”, diz.Nunca houve segundas intenções. “Ele é bonito, inteligente, mas eu QmR�ÀFDULD�FRP�HOH��5ROD�XPD�DPL]D-de verdadeira”, diz Natália. “Eu não WHQKR� FL~PHV�� PDV� VH� HOD� DUUXPDU�XP�QDPRUDGR�TXH�ÀTXH�URXEDQGR�R�WHPSR�GHOD��ÀFD�HVWUDQKR��7HP�TXH�pensar nos amigos”, diz ele.$RV�SRXFRV��FDGD�XP�IRL�FRQKHFHQ-do as qualidades e defeitos do ou-tro, sem julgamentos ou cobranças, e em menos de um ano se tornaram amigos inseparáveis. Hoje conver-sam sobre tudo e nunca se separam. E querem que seja sempre assim.

CAPA

amizadecolorida?Namorados que viram amigos, amigos que viram namo-rados, ou outros sem segundas intenções. Os muitos caminhos das relações entre meninos e meninasTE XTO Debora Costa, Zaira Coimbra, Camila Mariga, Beatriz Mendes e Priscila Mendes F OTOS Mic ae l Jackson e d ivu lgação

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Planejam até morar juntos e no futuro montar um coletivo de foto-JUDÀD�FRP�RXWURV�DPLJRV�

SEM FRONTEIRAS3DWUtFLD�����DQRV��PRUD�HP�$ODJRDV��Carlos, 19, na Bolívia. Os milhares de quilômetros foram vencidos gra-oDV� DR� WmR� SRSXODU� SURJUDPD� 061��´4XDQGR�YRFr�VH�LGHQWLÀFD�FRP�DO-guém, tanto faz se a relação é ao YLYR�RX�YLUWXDOµ��DÀUPD�HOD��Desde 2007 eles conversam todo dia. ´1R�LQtFLR�HOH�DJLX�GHVFRQÀDGR�H�HX�ÀTXHL�VHP�JUDoD��0DV�GHSRLV�R�DFKHL�divertido”, conta Patrícia. 0HVPR�VHP�QXQFD�WHUHP�VH�HQFRQ-trado, eles se conhecem bem. “Ela é minha melhor amiga. É divertida, criativa, inteligente e, às vezes, um pouco insegura” conta Carlos. “Ele é quem mais me faz rir. O defeito é FXUWLU�0DULDK�&DUH\µ��EULQFD�HOD��$�GLVWkQFLD�QmR�RV�LPSHGLX�GH�SDVVDU��juntos, por uma divertida situação. “Uma vez cantei pro Carlos no PC, e como ele tem um problema audi-

tivo, escuta o som exageradamente DOWR��1R�ÀP��FDQWHL�ySHUD�SUR�SUp-dio inteiro!”, relembra ela. Eles pretendem se encontrar em $ODJRDV� QR� ÀP� GH� ������ ´$Wp� Mi�imaginei como vai ser: vou correr HP�FkPHUD�OHQWD�JULWDQGR�¶3DWLQHL-de!’”, ele brinca. “Estou ansiosa. Vou levá-lo pra praia, pra lagoa e pro forró”, planeja Patrícia.

A QUÍMICA DA AMIZADE Cláudio, 16 anos, achava Debora, 15, bonita. Ela o tachava de arrogante. Eram apenas colegas, daqueles que só dizem “oi”. O primeiro contato verdadeiro foi quando dividiram um chiclete que deixava a língua – e o xixi – azul por 24h.Certo dia, uma amiga de Debora co-mentou que achava Cláudio um gato. Ela concordou e só então viu quanta coisa eles tinham em comum, como gostar de capoeira e sonhar em co-nhecer a Bahia. Cláudio passou a ver Debora com outros olhos. Um dia, ela recebeu uma mensagem dele pelo Orkut. Resultado: namoraram cerca de um mês.“Tínhamos uma química muito for-

CAPA

te, mas não era para namorar”, ele diz. “Cláudio fala que se eu fosse ga-roto, seria seu irmão!”, conta Debo-UD��$R�SHUFHEHU�TXH�R�QDPRUR�WLQKD�mesmo virado amizade, ela decidiu WHUPLQDU�� (OH�ÀFRX� WULVWH��PDV�SHU-cebeu que foi melhor assim. Hoje Debora diz que Cláudio é seu melhor amigo. E vice-versa [Oun*-*]. Eles sabem que aquilo que viveram foi muito especial para terminar junto com o namoro. “Não foi exatamen-te amor, mas também não deixou de ser”, diz Debora.

O AMOR PODE ESTAR AO LADO$�KLVWyULD�GH�5RVHPHLUH�����DQRV��H�Pedro, 27, começou na 4ª série. No início, companheirismo e admiração IDODYDP�PDLV�DOWR��0DV��VHP�SHUFH-ber, eles construíram o cenário ideal para o casamento.1D�DGROHVFrQFLD�� VH�DIDVWDUDP��$Wp�que inesperadamente se reencontra-ram e perceberam o quanto tinham crescido. “Naquele dia ela estava WRGD�DUUXPDGD��$QWHV��VHPSUH�DQGD-va bagunçada”, brinca ele. “Quan-do ele falou o meu nome, levei um susto: a voz estava muito grossa!”, lembra Rosemeire. Ela só foi perceber que gostava dele quando o viu com outra garo-ta. “Tive medo de perdê-lo”. Então Rosemeire tomou coragem e deu o primeiro passo, e juntos resolve-ram enfrentar o temor da amiza-de terminar. “O medo que a gente sentia era insegurança, porque até hoje somos amigos e é isso que nos une”, diz Pedro. Casados há um ano H�VHLV�PHVHV��DÀUPDP�TXH�À]HUDP�D�escolha certa. “Se me pedirem um conselho, direi: case com o seu me-lhor amigo, porque ele te faz bem sem exigências, te compreende, te respeita e gosta de você sem pedir nada em troca”, diz Rosemeire.

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Nascer na favela�SRGH�DWp�GLÀFXOWDU��PDV�QmR�LPSHGLU�TXH�FDGD�XP�SRVVD� UHDOL]DU� VHX� VRQKR�� VHMD�HOH�ÀFDU�famoso ou pagar as contas fazendo o que gosta. Os exemplos surgem aos montes, ainda mais em um ramo FRQFRUULGR�FRPR�R�GD�P~VLFD��*UXSRV�TXH�VH�DSUHVHQ-tam nas garagens da periferia, bandas independentes que fazem serviços em troca de divulgação e outras, que apesar da falta de grana e do preconceito, sonha-ram, romperam bolhas, e saíram do país. (VW~GLRV�GH�JUDYDomR�H�LQVWUXPHQWRV�FDURV��IDOWD�GH�SD-trocínio, de cultura e informação. Tudo isso vira tema QD�ERFD�GRV�P~VLFRV�TXH��LQTXLHWRV��WUDQVIRUPDP�R�FR-tidiano em protesto. E os problemas não param por aí. Bandas que nascem nos guetos se tornam prisioneiras até mesmo de uma estética musical imposta pela gran-GH�PtGLD��3DUD�$OHVVDQGUR�%X]R��HVFULWRU�H�DSUHVHQWD-dor do quadro “Buzão: Circular Periférico”, do Progra-PD�0DQRV� H�0LQDV� GD�79� &XOWXUD�� R� FDPLQKR� p� GXUR�e eles acabam por se enquadrar no estilo musical da

Do gueto para omundoJovens da periferia de São Paulo pulam o muro em busca do sonho: viver da música

PRGD��´2�TXH�UROD�p�GHVLQIRUPDomR��DV�SHVVRDV�ÀFDP�SUHVDV�QRV�ODQoDPHQWRVµ��GHFODUD�:DOWHU�$UDXMR��PDLV�FRQKHFLGR�FRPR�6OLP��GR�JUXSR�GH�UDS�6OLP�5LPRJUDÀD��criado em Guarapiranga e com apresentações até em Cannes, na França.2V�PHQLQRV�GR�6OLP�QmR�VmR�RV�~QLFRV��&DGD�XP�GLYXO-JD�R�VHX�WDOHQWR�GD�IRUPD�TXH�SRGH��$OJXQV�UHFRUUHP�j� WHFQRORJLD� �OLEHUDQGR�P~VLFDV� DXWRUDLV� QR�0\VSDFH�e Orkut ou em blogs), outros fazem parcerias com as rádios. “Temos que acreditar na gente antes de todo mundo, temos que sonhar alto e correr atrás, sair da LQYLVLELOLGDGH�QDWXUDOµ��DÀUPD�%X]R��´6DLU�GD�EROKD�p�PRVWUDU�TXH�QmR�VRPRV�DSHQDV�HVWDWtVWLFDV�H�Q~PHURV��mas seres humanos e por que não escritores, poetas, DWRUHV�� P~VLFRV�� DWOHWDVµ�� FRPSOHWD� R� DSUHVHQWDGRU��Por meio da arte, a periferia pula o muro e mostra que na favela também existem pontos positivos. E não são poucos. Conheça quem, de um jeito ou de outro, já começa a trilhar esse caminho.

TE XTO Pr isc i l la Mendes , Beat r iz Mendes , Fernanda A lves de Moura e Lec a Bernardo F OTO Natá l ia Barb osa

SAINDO DA BOLHA DO CAPÃO PARA O MUNDO

Slim Rimografia: estúdio caseiro e apresentações no exterior

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CONEXÃO FIGUEIRA-FRANÇA:DOWHU�$UD~MR�VHTXHU�OHYDQWDYD�D�PmR�QD�VDOD�GH�DXOD�GH�tão tímido que era. Para extravasar, escrevia letras para P~VLFDV� TXH� FULDYD� QD� FDEHoD�� 6HP� DPELo}HV�� HOH� QHP�SHQVDYD�HP�FDQWDU��0DV�DRV����DQRV��HP�XP�VKRZ�FXOWXUDO�feito pelos alunos da escola onde estudava, Walter subiu ao palco. Tímido, inspirou-se nas anotações de seu caderninho de bolso e lançou suas rimas pelo microfone. O retorno foi SRVLWLYR�H�D�SRHVLD�GR�SDSHO�YLURX�P~VLFD��1DVFLD�DOL�R�6OLP�5LPRJUDÀD��VHX�SURMHWR�SHVVRDO�GH�YLYHU�GH�P~VLFD��´1XQFD�PH�LPDJLQHL�P~VLFR��7LQKD�SRXFRV�&'V��SHQVDYD�PDLV�HP�andar de skate”, conta ele, hoje com 30 anos.7KLDJR� GH�$QGUDGH�� ��� DQRV�� Mi� WLQKD� XP�SRXFR�PDLV� GH�LQWLPLGDGH�FRP�DV�FDQo}HV��$RV�QRYH�DQRV��R�HQWmR�PRUD-dor de Jundiaí, ouvia house e eletrônica e tentava imitar o VRP�GDV�P~VLFDV�FRP�D�ERFD��7XGR�SXUD�GLYHUVmR��$Wp�TXH�aos 14, numa festa, conheceu o DJ Kurts, que por intermé-GLR�GH�XP�DPLJR�ÀFRX�VDEHQGR�GDV�KDELOLGDGHV�PXVLFDLV�GH�Thiago e pediu uma amostra grátis. Kurts ouviu, aprovou e pediu ao garoto que subisse ao palco. “Eu tava com ver-gonha, mas depois a sensação foi de satisfação, de missão cumprida”, conta Thiago. Nos anos seguintes, foi aperfei-çoando seus beats e aos 17, já conhecido como Thiago Beat Box, passou a se apresentar. “Hip-hop, baile, samba. Em qualquer lugar que tivesse microfone eu ia e pedia pra lan-çar uns beats”, diz.(P�������7KLDJR�H�6OLP��FRPR�:DOWHU�ÀFRX�FRQKHFLGR��VH�conheceram. Em pouco tempo de conversa perceberam

TXH�D�DGPLUDomR�HUD�P~WXD��´9LUDPRV�DPLJRV�H�SDUFHLURV�de som”, diz Slim. Recentemente a dupla ganhou mais um integrante: Filiph Neo, de 19 anos, cantor e multi-instru-mentista. “Convidei Filiph pra gravar com a gente. Ele to-pou, chegou atrasadão. Quase matamos ele, mas acabamos decidindo trabalhar juntos, buscar o sonho”, conta Slim.2�GLUHFLRQDPHQWR�SDUD�R�UDS�IRL�QDWXUDO��́ 1XQFD�ÁHUWHL�FRP�RXWURV�HVWLORVµ��GHFODUD��0DV�VXDV�OHWUDV�WrP�XPD�SHJDGD�diferente, são sobre sentimento. “Conheço muito crimino-so, mas nunca fui. Não sei falar disso”, diz Slim. Em 2008, essas mesmas letras o levaram para fora do país. Slim Ri-PRJUDÀD�UHFHEHX�XP�FRQYLWH�SDUD�SDUWLFLSDU�GR�IHVWLYDO�GH�P~VLFD�0LGHP��QD�)UDQoD��SHOR�3URMHWR�GH�,QFHQWLYR�GR�0L-nistério da Cultura. Pisar em solo estrangeiro rendeu mui-tas surpresas. “Eles têm mente aberta. Há também uma FXULRVLGDGH�PXVLFDO�SRU�VHUPRV�EUDVLOHLURVµ��FRQWD�6OLP��$�~QLFD�GHVYDQWDJHP��EULQFRX�7KLDJR��p�TXH�Oi�QmR�WHP�IHL-jão, nem suco natural de frutas.$R�YROWDU�SDUD�R�%UDVLO��YLUDP�TXH�D�WDUHID�HUD�DUUHJDoDU�DV�mangas e trabalhar. “Fama é bom, mas só o trabalho traz UHFRQKHFLPHQWR�H�VXFHVVRµ��DÀUPD�6OLP��6RQKDQGR�HP�XP�dia ser exemplo, a vontade que têm é sair numa turnê, tocando pelo mundo e espalhando sua poesia. “Eu quero mostrar pros moleques que não é preciso roubar pra ter as paradas, você pode correr atrás do seu sonho e fazer o que JRVWD��VREUHYLYHUµ��DÀUPD�R�FULDGRU�GR�JUXSR�TXH�WHP�PDLV�de 200 mil visitas no Youtube. O trio está se preparando para lançar ainda este ano seu terceiro CD.

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DO CAPÃO PARA O MUNDO SAINDO DA BOLHA

Da labuta ao batuque: a Usina Reagge não para

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SAINDO DA BOLHA DO CAPÃO PARA O MUNDO

6+2:�'2�%20��1$�3(5,)(5,$$�EDQGD�TXH�QDVFHX�QD�=RQD�6XO�GH�6mR�3DXOR�HQIUHQWD�DWp�KRMH�DV�PHVPDV�GLÀFXOGDGHV�TXH�R�JUXSR�GH�UDS�6OLP�5L-PRJUDÀD�WLQKD�TXDQGR�FRPHoRX��´0~VLFD�WDPEpP�p�WUDP-po, se você não tiver história e talento, não sobrevive no PHLRµ��DÀUPD�R�EDWHULVWD�0iUFLR�7HL[HLUD��$�KLVWyULD�GHOHV�começou em 2001 com a união de amigos de longa data. &RPR�HVWDYDP�VHPSUH�HQYROYLGRV�QRV�EDVWLGRUHV�GD�P~VL-ca, tiveram a idéia de se juntar sob o nome de Usina Reg-gae, palavras escolhidas para relacionar o que eram: uma fábrica de ritmos ambulante dentro de uma vida operária. $ÀQDO��QD�IDOWD�GH�JUDQD��FDQWRU�YLUD�PRWRULVWD��EDWHULVWD�vira produtor e o tecladista ajudante de palco.Há menos tempo no cenário musical, os reggaereios ainda SDVVDP�SRU� XP�ERFDGR� SDUD� WHQWDU� YLYHU� GD�P~VLFD�� ´-i�FKHJDPRV�D�ID]HU�VKRZV�FRP�LQVWUXPHQWRV�HPSUHVWDGRV�H�SUHVHQFLDPRV�LQYDV}HV�SROLFLDLV�YLROHQWDVµ��DÀUPD�R�EDWH-rista Edson Reghetti, 38 anos. O que não os desanima, pois sabem que a recompensa aparece cedo ou tarde. Usina di-vidiu o palco com grandes nomes do reggae como Grouda-tion, Cidade Negra, Tribo de Jah e Natiruts. “É muito louco você gostar e admirar o trabalho de alguém e do nada se ver ali no palco, do lado dele, cantando de igual para igual. $t�YHPRV�TXH�R�VRQKR�YDOHµ��GL]�0iUFLR�(�R�VXFHVVR"�$LQGD�p�R�GH�PHQRV��2�JUXSR�WUDEDOKD�MXQWR�para levar a cultura do reggae para sua comunidade. No ano passado, criaram uma banda de maracatu composta por jovens da ONG Serviço Social Bom Jesus e do proje-to na favela Paranapanema. “Toda primeira sexta-feira do PrV�PRQWDPRV�XP�SDOFR�QD�EHLUD�GD�DYHQLGD�0·�%RL�0LULP�e tocamos de graça. O espaço é aberto e as bandas podem GLYXOJDU�R�VHX�WUDEDOKRµ�� UHODWD�R� WHFODGLVWD�0DFDUUmR��2�reconhecimento, dizem eles, vem aos poucos. “O que rola é uma troca, as rádios divulgam o nosso trabalho e quando PRQWDP�XP� VKRZ�� WRFDPRV� SDUD� HOHV� GH� JUDoDµ�� GHFODUD�(GVRQ��3RU�IDOWD�GH�DMXGD�ÀQDQFHLUD�HVWmR�FRP�R�SUy[LPR�&'�JXDUGDGR�QD�JDYHWD��Vy�TXH�R�VRQKR�GH�YLYHU�GD�P~VLFD�apenas começou.

&20e',$�'(�*$5$*(0Leandro Álvaro, de 22 anos, sempre sonhou em ter uma guitarra. Trabalhou durante meses e economizou dinheiro para comprá-la, mesmo sem saber tocar. Fez algumas aulas quando dava, pediu ajuda e dicas para um amigo que man-MDYD�WRFDU��FRPSUDYD�UHYLVWDV�GH�P~VLFD�H�DWp�FRQYHQFHX�D�QDPRUDGD�D�PRQWDU�XPD�EDQGD��2�WLSR�GH�P~VLFD"�5RFN��claro. Ketilly Pereira, 17 anos, - a namorada - comprou a ideia e resolveu economizar também para ter sua bateria (no meio tempo foi aprendendo a tocá-la). Chamou o ir-PmR�$OH[�6DQWRV�����DQRV��TXH��SRU�FRQVHT�rQFLD��FKDPRX�o amigo Francisco Fernandes, também de 18 anos, e assim QDVFHX�D�0XQGDQRV����� QR�ÀQDO� GR� DQR�SDVVDGR�� �2� ���p�SDUD�GLIHUHQFLi�ORV�GD�EDQGD�GH�PHVPR�QRPH��(�R�Q~PHUR"�%HP��R�Q~PHUR�p�D�VRPD�GH�FiULHV�QD�ERFD�GRV�TXDWUR��2V�PRUDGRUHV�GH�6DQWD�0DUJDULGD��SHULIHULD�GH�6mR�3DXOR��

dão duro durante a semana – Leandro e Francisco no tele-PDUNHWLQJ�� .HWLOO\� QRV� HYHQWRV� H�$OH[�� FRUUHQGR� DWUiV� GH�XP�HPSUHJR�²�SDUD�GDU�GXUR�WDPEpP�QRV�ÀQDLV�GH�VHPDQD��TXDQGR�HQVDLDP�QD�VDOD�GR�JXLWDUULVWD��0HVPR�FRP�D�ED-gunça, apoio não falta. “Eles têm futuro. Querem mostrar D�P~VLFD� SDUD� RV� MRYHQV� VH� GLYHUWLUHP��$FKR� D� LQLFLDWLYD�muito boa’’, diz Dona Bia, mãe de Leandro.$V�OHWUDV�VmR�GHOHV�H�D�LQVSLUDomR�p������EUDVLOHLUD��´$�JHQ-te gosta de idiotice, quer tirar um barato das coisas, das SHVVRDV��e�FRPR�0DPRQDV�$VVDVVLQDV�H�8OWUDMH�D�5LJRU��-i�WHQWDPRV�ID]HU�OHWUDV�URPkQWLFDV��PDV�QmR�Gi��Vy�JRVWDPRV�GH�IDODU�EHVWHLUD�PHVPRµ��DÀUPD�/HDQGUR��$�EULQFDGHLUD��QR�HQWDQWR��ÀFD�VpULD�TXDQGR�R�DVVXQWR�p�IXWXUR��7RFDU�QD�periferia não é fácil, pois quase sempre o dinheiro é o maior LPSHFLOKR� SDUD� GDU� FHUWR�� ´6H� HX� IRVVH� ÀOKR� GR� &DHWDQR�Veloso, com certeza não estaria aqui. Estaria gravando dis-FRV��ID]HQGR�FLOSHV�QD�079�H�JDQKDQGR�ULRV�GH�JUDQD··��IDOD�/HDQGUR�FRP�FRQYLFomR��$SHVDU�GDV�GLÀFXOGDGHV��RV�0XQ-GDQRV����SUHWHQGHP�ODQoDU�VHX�&'�DWp�R�ÀQDO�GHVWH�DQR��“Queremos juntar uma grana, procurar uma gravadora boa e deixar nosso som com qualidade gringa. Não queremos WRFDU�QXPD�ÀWD�FDVVHWHµ��FRPSOHWD�

Mundanos-09: cáries nos dentes, inspiração na comédia, Mamonas e Ultraje. Ah, e sim, no rock clássico também.

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Garotas mostram que molecagem, maquiagem e jogo de cintura são essenciais para uma roda de capoeira TE XTO Deb ora Cost a F OTO Colet ivo Z ’Z ine

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��%DOp"�1mR��PmH��HX�TXHUR�ID]HU�&$32(,5$��Quando eu tinha quatro anos, só os meninos podiam fa-zer aula de capoeira na minha escola. Para as meninas, UHVWDYD�R�EDOp��0LQKD�PmH�TXHULD�TXH�HX�GDQoDVVH��PDV�HX�Vy�SHQVDYD�QD�FDSRHLUD��$FRPSDQKDYD�WRGDV�DV�DX-las do meu irmão da arquibancada da quadra e vivia ID]HQGR�HVWUHOLQKD�H�RXWURV�PRYLPHQWRV�HP�FDVD��$RV�VHWH�DQRV��ÀQDOPHQWH��UHDOL]HL�HVWH�VRQKR�GH�FULDQoD�H�coloquei em prática minha paixão. No meu grupo, os professores e a maioria dos alunos HUDP�KRPHQV��$OpP�GLVVR��HX�HUD�D�PDLV�QRYD��6HQWLD�falta de companhia, até porque os meninos não colabo-ravam. Ficavam zoando, dizendo que eu não sabia jogar, TXH�HUD�PXLWR�GHVHQJRQoDGD��0DO�VDELDP�HOHV�TXH�LVVR��QD�YHUGDGH��HUD�DJLOLGDGH��0DV�HVVD�FRQFOXVmR�HX�Vy�IXL�tirar muito tempo – suor e bolhas – depois. Em 2007, após cinco anos praticando capoeira, agora Mi�QD�&DVD�GR�=H]LQKR��HX�WLYH�XP�SUREOHPLQKD��0HXV�pés estavam sangrando, em “carne viva”. Cheguei até a IDOWDU�QD�HVFROD�SRU�FDXVD�GD�GRU��0LQKD�PmH�TXLV�VDEHU�o que estava acontecendo. Quando soube que era con-sequência do atrito com o chão de madeira da sala de capoeira, disse que ia me tirar do grupo. Chegou até a ir falar com o professor Gigio, para tentar convencê-lo a PH�ID]HU�VDLU��0DV�HX�QmR�GHVLVWL��3DVVHL�D�MRJDU�GH�WrQLV��para proteger meus pés, e resolvi a questão. Eu não podia abandonar a capoeira de jeito nenhum! Era eu quem “puxava” a aula, e essa sensação era tão boa que me fazia esquecer qualquer tipo de dor que vies-se me perturbar. Era como se eu saísse do meu corpo.

Naquela época, o grupo já tinha 20 meninas super ani-madas, e eu, por ser a mais velha, comecei a servir de exemplo para elas. Tanto que hoje elas me chamam de “mãe”, porque sempre defendo, protejo e ajudo. $XODV�GH�FDSRHLUD�FRP�PHQLQDV�VmR�R�PDLRU�EDUDWR��(ODV�estão sempre bem arrumadas, levam maquiagem, an-dam em grupinhos, discutem, fazem bico, jogam char-me, paqueram... O Gigio (ex-Zezinho que há seis anos se tornou educador) diz que a capoeira na Casa do Ze-]LQKR�IRL�FULDGD�SDUD�RV�JDURWRV��´0DV�DFRQWHFHX�XP�IH-nômeno raro: desde o início, a maioria dos praticantes já eram garotas”, conta.$JRUD�HOH�Mi�HVWi�EHP�DFRVWXPDGR�FRP�D�JHQWH��6HPSUH�reserva um tempo para conversar com meninas, prin-FLSDOPHQWH� TXDQGR� HODV� HVWmR� GRHQWHV� >730@�� WULVWHV�[brigaram-com-o-namorado] ou, simplesmente, quando estão com preguiça! Nós, meninas, comandamos a capoeira na Casa do Zezi-QKR�>*LJLR��QmR�ÀFD�EUDYR�@��1D�PDLRULD�GDV�YH]HV��FR-PHoDPRV�D�URGD�H�WDPEpP�GL]HPRV�´6$/9(�&$32(,5$µ�QR�ÀQDO�GD�DXOD��$K��H�DGRUDPRV� LQWLPLGDU�RV�PHQLQRV�[tadinhos!]. Não quero dizer pra nós, mulheres, invadir-mos o universo dos homens: temos que respeitá-los assim FRPR�TXHUHPRV�VHU�UHVSHLWDGDV��0DV�QmR�SRGHPRV�QRV�fragilizar muito. Temos que nos integrar, participar, mos-WUDU�TXH�WDPEpP�VRPRV�FDSD]HV�H�TXH�R�PDFKLVPR�ÀFRX�no passado. Hoje, a frase “por trás de um grande homem existe uma grande mulher” deveria ser substituída por ´DR�/$'2�GH�XP�JUDQGH�KRPHP�FDPLQKD�XPD�JUDQGH�mulher”. Digo isso por que sou uma delas também.

* Debora de Jesus Costa, 15 anos, é aluna do professor Gigio

há três anos e está há três meses afastada das aulas de ca-

poeira, para que você, leitor, possa se deliciar com as suas

matérias no nosso primeiro Z´zine. Mas ela avisa: “Gente,

logo mais eu volto, se preocupa não!” ;D

Jogomeninade

DIVERSÃO O QUE TEMOS E O QUE QUEREMOS

Sábado à tarde meninos e meninas jogam capoeira

Maquiagem e ginga: elas metem medo nos meninos

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´'L]HP�TXH�R�PHX�WDOHQWR�p�IDODU�PXLWR��$FKR�TXH�IDOR�

H�QHP�SHUFHER��0LQKD�PmH�VHPSUH�PH�GL]�TXH�TXDQGR�

eu abro a boca não paro mais. O tempo foi passando e

a minha vontade de conhecer pessoas diferentes - ou

do mesmo estilo que eu - fez com que eu me comuni-

casse mais. Percebi então que falar era meu negócio.

E acho isso um ponto forte. Ser comunicativa indepen-

dentemente do assunto: como foi seu dia hoje, o que

YRFr�IH]��R�TXH�YRFr�DQGD�ID]HQGR��$FKR�TXH�HVVH��p�

meu melhor talento.”

FERNANDA ALVES DE MOURA, 16 ANOS

“Sufocada por medos e inseguranças, a ponto de en-louquecer com o que se deve, pode e gosta de fazer. $SHJR�PH�D�SDODYUDV�ODQoDGDV�DR�YHQWR��MRJDGDV�GLUHWD�ou indiretamente em minha direção. Já há algum tem-po ouço essas palavras e me calo, me tranco em meu quarto e escrevo. Caneta em mãos, deparei-me com XPD� FRQVHTXrQFLD�� 0HX� GHVDEDIR� VH� WRUQRX� SRHPD��Não sei se isso é um talento, talvez um veículo. Porque D�FRQGLomR�p�GH�FRPXQLFDGRUD��$LQGD�QmR�WHQKR�FRQ-vicção de ser escritora, mas é isso que amo e que vou amar para o resto deste primeiro momento.”ZAIRA COIMBRA, 15 ANOS

´0LQKD�IDPtOLD�GL]�TXH�VHL�FR]LQKDU��1mR�IDoR�WXGR��

0DV�GH�WXGR�IDoR�XP�SRXFR��(�QR�PDFDUUmR�VRX�FDP-

SHm��$K��WDPEpP�WHQKR�WDOHQWR�SUD�ID]HU�PDTXLDJHP��

Nunca trabalhei em salão, mas como não saio de casa

VHP�PH�PDTXLDU��ÀTXHL�TXDVH�SURÀVVLRQDO�QR�DVVXQWR��

Todas minhas amigas me procuram antes de sair.”

BRUNA RODRIGUES, 15 ANOS

Aquinãofalta Todo mundo tem algo de bom pra mostrar. Até você. Na primeira edição, o que de melhor nossa equipe sabe fazer.

AQUI TEM TALENTO TODO MUNDO TEM ALGO PRA MOSTRAR

´0~VLFD�p�TXDOTXHU�WLSR�GH�VRP�TXH�VH�SURSDJD�HP�XP�PHLR��RX�VHMD��RQGH�QmR�WHP�DU��QmR�WHP�P~VLFD��QmR�WHP�YLGD��0~VLFD�p�DOJR�PXLWR�YDOLRVR��SRLV�WUDQVPLWH�diversos tipos de sentimentos como, amor, tristeza, rancor, raiva, saudade... Ela se torna uma arte de ex-pressão, o que as pessoas poderiam usar a seu favor, através de sons, danças, instrumentos musicais e ou-tras coisas. Ela transmite sentimento. E exatamente por conter essa vibração natural, por essa comunica-ção pelas “entrelinhas”, ela faz com que as pessoas encontrem algo em comum umas nas outras, assim for-mando tribos, assim se unindo.”CAMILA MARIGA, 16 ANOS

“Pode me chamar de Binho (ou de Ernesto, como pre-IHUH�D�$PDQGD���(X�FXUWR�MRJDU�KDQGHERO�GHVGH�RV�GH]�anos de idade. Sou melhor no esporte do que no fute-bol e não vou largar o handebol tão fácil assim. E esse é meu talento”.RUBENS SANTANA, 17 ANOS

´0XLWDV�YH]HV�FULDPRV�D�LPDJHP�GH�TXH�TXHP�WHP�WD-lento é apenas aquele que sabe tocar um instrumento RX�TXH�WHP�KDELOLGDGH�SDUD�FULDU�DOJR��0DV�WDOHQWR�p�uma expressão do que você é, ao ser comunicativo ou até mesmo quando divulga suas idéias escrevendo. Foi assim que descobri o meu. Foi através do gosto pela a HVFULWD�TXH�HVFROKL�D�PLQKD�SURÀVVmR�H�KRMH�IDOR�FRP�orgulho Sou Jornalista.”PRISCILA MENDES, 23 ANOS

POR JOHNATAN GONDIM, 16 ANOS

POR DÉBORA COSTA, 16 ANOS

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“Não chega a ser um talentoÉ apenas uma brincadeira que façoDe rimar com as letrasSem que elas se percam no espaço

$EULJR�DV�SDODYUDV�HP�PHXV�YHUVRVE elas narram meus pensamentosE quando menos esperoElas narram até meus sentimentos

Os versos moram nas estrofes$V�HVWURIHV�QR�SRHPDTenho muito sorte Conheci a arte das palavras e seus esquemas.”NIÑA MALTA, 17 ANOS

“Viola é um instrumento um pouco maior que o violino.

$V�FRUGDV�PXGDP�GH�OXJDU��PDV�D�PDQHLUD�GH�VH�WRFDU�

é a mesma.”THAIS DOS PRAZERES, 17 ANOS

´$SUHQGL� D� ID]HU� XQKDV� Vy� GH� ROKDU� DV� RXWUDV� ID]HQ-do. Hoje faço as unhas das minhas amigas e as minhas também. Gosto muito de conhecer pessoas e conversar FRP�HODV��$FKR�TXH�IDoR�EHP�DV�GXDV�FRLVDV�µ

CAROLINE PIASSA, 18 ANOS

“Como vocês podem ver na foto, quer dizer, fotomon-

tagem, adoro conhecer todas as ferramentas de um

FRPSXWDGRU��6HPSUH�ÀFR�HPSROJDGR�SDUD�FULDU�PDLVµ

MÜLLER SILVA FREITAS, 17 ANOS

TODO MUNDO TEM ALGO PRA MOSTRAR AQUI TEM TALENTO

´4XDQGR�FRQKHFL�D�RÀFLQD�GH�IRWRJUDÀD

�GD�&DVD�GR�=H-

zinho meus olhos brilharam. Fiquei doida e me apaixo-

QHL�SHOR� WUDEDOKR�GD�HGXFDGRUD�*DEULH

OD� /HLULDV��$Wp�

TXH�HP�XPD�H[SHGLomR�IRWRJUiÀFD��HOD�FRQKHFHX�

XP�

pessoal da ONG Imagemágica e me inscreveu. Hoje já

estou formada em foto, continuo na Casa do Zezinho e

SUHWHQGR�WUDEDOKDU�HP�SURGXomR�GH�IRWR��

ÀOPHV�H�DOJR�

ligado à comunicação.”

NATÁLIA BARBOSA, 15 ANOS

“Quando eu era pequena, fazia aulas de canto na igre-ja. Diziam que eu tinha a voz muito bonita. Um dia, À]HPRV�XPD�DSUHVHQWDomR�H�DV�SHVVRDV�TXH�HVWDYDP�presentes adoraram. Desde então, peguei amor pela P~VLFD�H�FRPHFHL�D�HVFXWDU�YiULRV�ULWPRV��'HVFREUL�D�03%�H�DJRUD��VHPSUH�TXH�HVWRX�FRP�D�JDOHUD�UHXQLGD��PDQLIHVWR�PHX�WDOHQWR�HP�PRPHQWRV�¶]HQ·µ�LECA BERNARDO, 16 ANOS, (QUE DE ZEN TEM BEM POUCO)

´$�KLVWyULD� FRPHoRX�HP������� FRP�GLUHLWR� DR� LQpGLWR�

WUkQVLWR�GH�6mR�3DXOR��$R�YRODQWH��PHX�SDL�IDODYD�FRP�

PLQKD�PmH��$WUiV��HX�H�PLQKD�SULPD�FRPHoDPRV�D�FRP-

SRU�MXQWDV�VREUH�R�¶LQpGLWR·�WHPD�DPRU��'HSRLV�GDTXHOD�

noite escrevíamos todo dia. Surgiu então a vontade de

montar uma banda e um pequeno problema: não sabía-

mos nenhum instrumento. Pensamos em aprender algo.

Ela determinada “Vou ser o baixo”, já eu “Quero arre-

bentar na guitarra!”. Parte chata: dinheiro! Uma guitar-

ra custava 400 reais e o baixo, idem. Quebra a cabeça,

estresse. Resultado: ambas compramos violão (pela da

metade do preço). Nossos professores eram as incríveis

revistinhas de banca. Os anos se passaram e a guitarra

foi sumindo da cabeça. Nunca gostei tanto de ter eco-

QRPL]DGR��$�EDQGD�VHTXHU�VDLX�GR�SDSHO��3HUG

HPRV�DV�

OHWUDV�H�D�GHWHUPLQDomR��PDV�QDGD�IRL�HP�YmR��0HX�YLR-

lão deixou de ser o símbolo de um sonho, virou paixão. E

PHVPR�VHP�VHU�SURÀVVLRQDO��SRVVR�GL]HU�WUDQTXLODPHQWH�

que as cordinhas são minha calma.”

BEATRIZ MENDES, 17 ANOS

“Não me interessava muito pela palavra comunicação. $Wp�TXH�FKHJRX�XP�GLD�H�WLYH�D�RSRUWXQLGDGH�GH�SDU-WLFLSDU�GH�RÀFLQDV�TXH�PH�OHYDUDP�D�HQWHQGHU�DV�Yi-rias formas de me comunicar. Hoje vivo a palavra, por meio das fotos e dos vídeos que produzo. Tudo o que IDoR�p�SURFXUDU�PH�HQYROYHU�FDGD�GLD�PDLV��$JRUD�VHL�TXH�p�LVVR�R�TXH�TXHUR�SDUD�R�PHX�IXWXUR�SURÀVVLRQDO��SRUTXH�VHL�ROKDU�GLIHUHQWH��$�TXHVWmR�QmR�p�YRFr�VHU�R�melhor, e sim fazer o melhor naquilo que você gosta. Sempre existirá alguém melhor do que você em alguma SURÀVVmR�TXH�YRFr�QmR�JRVWD��HQWmR�VHMD�FLHQWH�QD�VXD�escolha e faça de tudo para fazer a diferença...”MICAEL FREITAS, 19 ANOS

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