7º Encontro Anual da ANDHEP - Direitos Humanos, Democracia e Diversidade
23 a 26 de maio de 2012, UFPR, Curitiba (PR)
Grupo de Trabalho: 8 - Desenvolvimento, Meio Ambiente e Territorialidades
Título do Trabalho: Da área de risco ao conjunto habitacional: a produção social da
moradia em Fazenda Rio Grande/PR
Corina Alessandra Bezerra Carril Ribeiro – Doutoranda pelo Programa de Pós
Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento do Paraná (MADE/UFPR)
RESUMO
A implicação entre o contexto global, da esfera econômica e cultural, e o local em
andamento resulta em relações contraditórias e desiguais, ora ressaltando-se
aspectos positivos (grande disseminação cultural e comunicacional) ora aspectos
negativos (pobreza, violência, desemprego). O impacto desse processo nos países
periféricos pode ser visto na implantação de Políticas Públicas frágeis e desintegradas
no âmbito socioambiental. Na esfera local, reforça-se a segregação espacial das
populações pobres que habitam locais longínquos, periféricos e sem infra-estrutura, a
partir do modo como é pensada a moradia social para esse segmento. O exemplo
dessa realidade é o Conjunto habitacional Jd. Europa, localizado na Região
Metropolitana de Curitiba, objeto de nosso estudo, no município de Fazenda Rio
Grande, recém-ocupado por famílias advindas das áreas de riscos da cidade, não
possui infra-estrutura material adequada e de serviços básicos aos moradores,
reforçando o distanciamento e a quase invisibilidade desse segmento. Dentro deste
cenário, o conceito de território, destaca-se, como ferramenta teórica importante,
mostrando a importância da incorporação das necessidades subjetivas dos indivíduos
e dos grupos sociais nas Políticas Públicas.
PALAVRA-CHAVE: Segregação espacial; Habitação; Áreas de risco; Fazenda Rio
Grande
2
I. INTRODUÇÃO
O processo de globalização econômica é um fenômeno mundial, complexo e
multifacetado, acirrado pela concorrência dos mercados mundiais, este processo
atinge várias dimensões relacionadas do âmbito sociedade e natureza: o mercado, a
política, a cultura e os recursos naturais. Não há uma preocupação sólida com a
questão ambiental, havendo o uso indiscriminado dos recursos naturais, impactando
profundamente o meio ambiente, alterando-se o uso da terra, contaminando rios e
solos, ocorrendo a perda da diversidade biológica, a extinção de espécies e de
ecossistemas e as alterações nos processos geológicos e hidrológicos, cenário que
compõem o rol das mudanças ambientais globais.
Para MARANDOLA e HOGAN (2009, p.80) os impactos das mudanças
ambientais globais, particularmente os riscos relacionados ao clima, afetam
desproporcionalmente as populações pobres e vulneráveis, moradores de favelas e de
invasões nas encostas, em áreas mal drenadas ou baixadas litorâneas. (UNFPA,
2007).
No Brasil, assim como em âmbito mundial, ainda se convive com as grandes
desigualdades sociais, de renda, políticas, de gênero, etc. Essa situação pode ser
expressa dentro e no entorno das grandes cidades onde a riqueza e a pobreza
convivem paralelamente. Vemos cotidianamente que as populações pobres são
expulsas dos grandes centros e concentram-se na periferia das grandes cidades, que
representam bolsões de miséria. Ocupam os espaços para fins de moradia e
constroem seu cotidiano: o morar longe do trabalho, a ausência de espaços de lazer
em seus bairros, os postos de saúde lotados, a baixa escolaridade e renda familiar
insuficiente representam um perfil quase homogêneo das dificuldades encontradas
pelos moradores das inúmeras periferias brasileiras somado à falta de perspectivas de
melhores condições de vida.
Um exemplo dessa realidade contraditória acima descrita pode ser
exemplificado ao analisarmos o caso da cidade de Curitiba e sua Região
Metropolitana. Apesar de Curitiba ostentar a imagem de capital ecológica do país e
possuir a maior relação área verde por habitante, os municípios que compõem sua
Região Metropolitana, ostentam os piores níveis de qualidade de vida e convivem com
inúmeros problemas sociais e econômicos decorrentes do acesso desigual à cidade e
aos serviços públicos.
3
Iremos analisar o caso do município Fazenda Rio Grande1 a seguir, como
exemplo da relação centro-periferia.
II. O MUNICÍPIO DE FAZENDA RIO GRANDE
O município de Fazenda Rio Grande possui uma história de criação recente,
resultado de um desmembramento do município de Mandirituba e instalado em
01/01/1993 (IPARDES) carrega uma forte imagem de cidade-periférica e cidade-
dormitório com grande dependência econômica de Curitiba. Imagem alimentada pelas
altas taxas de crescimento demográfico, pobreza, vulnerabilidade social e econômica.
Segundo dados do IBGE (2010) o município possui 81.687 pessoas. Houve um
aumento populacional de quase 30% em relação ao Censo de 2000. Bem diferente de
Curitiba que no mesmo período teve aumento de apenas 10%. Esse dado reforça a
tese de que o crescimento populacional no Brasil concentra-se nas Regiões
Metropolitanas das capitais, em virtude do alto preço do valor da terra e da
especulação imobiliária crescente nestes grandes centros, obrigando a população
pobre a se deslocar para municípios pobres do entorno das capitais.
A atividade econômica do município caracteriza-se pelo setor industrial e de
serviços, entretanto, a cidade não consegue oferecer empregos suficientes para sua
população, o que faz com que diariamente, segundo DESCHAMPS (2004) cerca de
vinte e cinco mil pessoas desloquem-se até Curitiba para trabalhar.
A cidade apresenta problemas também em relação à gestão dos resíduos
sólidos e esgoto sanitário, pois estão localizados em seu território o aterro sanitário de
Curitiba e Região Metropolitana e a Estação de Tratamento de Esgoto da SANEPAR
(ETE Fazenda Rio Grande), localizada às margens do rio Iguaçu, empreendimentos
que ampliam os riscos e vulnerabilidades socioambientais das populações que
habitam seus entornos (BORTOLUZZI, 2011).
De acordo com o Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHI)2,
publicado pela Prefeitura em 2010, com apoio do governo federal, o município de
Fazenda Rio Grande, possui 42 ocupações irregulares com 2.529 moradias Do total
1 Este artigo sobre o município de Fazenda Rio Grande faz parte de um estudo em
desenvolvimento que resultará na minha Tese de Doutorado do Programa de Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade Federal do Paraná (MADE/UFPR)
2 “É componente do Programa Habitação de Interesse Social, responsabilidade da Secretaria
Nacional de Habitação do Mcidades, com recursos do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social – FNHIS, contrato de repasse nº. CTR 236.472-96/07 MCIDADES - FNHIS com a Caixa Econômica Federal” com objetivo de “promover o planejamento das ações do setor habitacional de forma a garantir o acesso à moradia digna, a expressão dos agentes sociais
sobre a habitação de interesse social e a integração das ações da habitação com o desenvolvimento urbano” (In PLHI, 2010, p.4).
4
de famílias das ocupações irregulares 1.820 são passíveis de regularização no próprio
local, as demais 709 estão vivendo em áreas de risco e precisam ser realocadas. Essa
realidade já se transformou visto que houve a construção do Conjunto habitacional
Jardim Europa o qual já está ocupado com 501 famílias advindas de áreas de risco e
de baixa renda. Isso será abordado a seguir.
III. Produção Social da Moradia
Segundo Maricato (2001:132) no Brasil, como na grande maioria dos países
latino-americanos, a questão da moradia social se identifica com a questão da moradia
em geral, pois se refere à maior parte da população. O acesso ao mercado privado é
tão restrito e as políticas sociais tão irrelevantes que à maioria da população sobram
apenas as alternativas ilegais ou informais.
Sobre a moradia social:
Ela é vista como algo à parte da grande arquitetura e do grande urbanismo. O mesmo acontece na elaboração dos – atualmente – desmoralizados – Planos Diretores. A moradia social, quando está presente, é um capítulo à parte. Quando muito um apêndice. (MARICATO, 2001:132).
As intervenções das Prefeituras nas áreas periféricas (passíveis de
regularização), de risco, de maneira geral, no Brasil caracterizam-se pela realização
de melhorias no próprio local ou remanejamento da população para conjuntos
habitacionais populares, a partir de programas habitacionais existentes com apoio do
Estado (BNH, CDHU, Cingapura, entre outros), de acordo com o orçamento existente
e terreno disponível, que geralmente localiza-se em bairros longínquos dos centros e
sem infra-estrutura adequada. Em Fazenda Rio Grande não é diferente, além de
intervenções de iniciativa local, a produção de moradia social têm ganhado espaço, a
partir de parcerias estabelecidas com o Governo Estadual e Federal, com destaque
para o Programa Minha Casa, Minha Vida, para a população que recebe até três
salários mínimos
A partir de visitas ao município, reuniões e entrevistas com representantes da
Secretaria Municipal de Ação Social de Fazenda Rio Grande, em 2011, verificou-se
que, atualmente, têm sido implementadas pelo município várias ações na área
habitacional, relacionada à regularização fundiária de áreas, remoção de moradores
de área de risco, construção de novas moradias populares e de recuperação
ambiental.
Uma das iniciativas em desenvolvimento pelo município para resolver (em
parte) o problema das áreas de risco foi a construção do Conjunto Habitacional Jardim
Europa. Fruto de um convênio assinado entre a Prefeitura e a Caixa Econômica
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Federal, do Programa do Governo Federal Minha Casa, Minha Vida, que possibilitou a
construção de 501 casas, com o custo de vinte e dois milhões de reais.
“As moradias serão destinadas a pessoas com deficiência, idosos e famílias com renda familiar de até três salários mínimos, que vivem em áreas perto de rios”. (...) “A Companhia de Habitação de Curitiba (COHAB) deu o terreno e o apoio técnico, a Caixa repassou recursos e, com isto, Fazenda Rio Grande está retirando famílias de áreas de risco. Só em parceria como essa será possível enfrentar os problemas sociais comuns da Região Metropolitana de Curitiba", afirmou Richa, acompanhado da presidente da Fundação de Ação Social (FAS), Fernanda Richa (Jornal Agora Paraná, setembro de 2011).
No mês de dezembro de 2011 houve a derrubada de casas dos moradores de
áreas de risco do município e a sua mudança para o conjunto habitacional Jd. Europa.
Foram removidas 275 famílias que estão morando no Conjunto Habitacional Jd.
Europa.
No Brasil, o conjunto habitacional aparece como solução tradicional para
resolver os problemas de moradia para a população de baixa renda, enquanto que
segundo DAMIANI (1993) nos EUA e na Europa implodem-se conjuntos habitacionais:
A escolha pelo conjunto habitacional deve-se ao fato de que em nosso país, os grandes conjuntos habitacionais aparecem, entre outras, como solução habitacional barata relativamente, e necessária para determinada faixa da população que, de outra forma, concentrar em favelas e cortiços. (DAMIANI, 1993:20).
Além disso, não se discute como se constrói a subjetividade e o cotidiano em
um conjunto habitacional, como são as relações dos indivíduos e dos grupos, (laços
de vizinhança e solidariedade, conflitos, etc) que habitam uma estrutura rígida que
mais separa do que integra as pessoas.
III. Os sentidos do morar: a importância do território e do lugar
Sabe-se que o sentido de morar ou habitar vai além da mera ocupação do
espaço físico. Habitar territórios implica em uma relação de vínculo e pertencimento e
da constituição de uma identidade. Segundo VITTE (2009) quando se considera o
território não podem ser desprezadas as questões relativas à subjetividade, à cultura e
à sua manifestação no território. No plano simbólico, uma comunidade ou um indivíduo
remete os seus dilemas existenciais de pertencimento a algum lugar e a uma
comunidade, possibilitando com isso desenvolver a sua sociabilidade e a constituição
de um habitus (Bourdieu, 1994, p.114).
6
A respeito disso, estudos científicos que abordem questões sobre a
subjetividade humana em relação ao sentido do morar, ou seja, como essa relação é
construída no espaço e no tempo, articulando as diversas dimensões existentes:
física, biológica e social (meio-ambiente; ambiente construído; relações humanas:
afetividade, tensão, alegria, tristeza, entre outros) de forma interdisciplinar são
necessários.
Damiani (1993, p.13) em sua pesquisa intitulada “A Cidade (des)ordenada
concepção e cotidiano do conjunto habitacional Itaquera I” vai nos dizer que uma das
conseqüências da expansão do capitalismo, é a perda da cidade, que reaparece
como tema, mas não necessariamente atrelada à pobreza material, à pobreza
absoluta, na figura da ausência de serviços e equipamentos urbanos. Aparece como
perda de fluidez da vida urbana, como perda da vida urbana propriamente, e de suas
possibilidades e questiona: Apesar do crescimento das cidades, a cidade como tal,
não seria um atalho, mais ainda, um esconderijo, dos verdadeiros problemas sociais,
que a sociedade coloca?.
Nessa ótica, a autora afirma que é preciso localizar historicamente o cotidiano
como tema, definir quando ele passa a contribuir para o desvendamento do social.
Dessa forma, nortearemos nossa discussão a partir de uma questão central:
Os conjuntos habitacionais construídos para a população de baixa renda têm
representado inclusão social das famílias e o sentimento de pertencimento à cidade?
O sentido do morar e/ou do viver, que se dá no âmbito do território, em nível
local, pode ser entendido pela forma como a sociedade se apropria e utiliza os
espaços e os recursos naturais, balizada pelas relações sociais que são estabelecidas
entre sociedade-natureza, dentro de determinado contexto histórico, e na atribuição de
significados/símbolos a essas práticas ou ações que são reproduzidas no espaço e no
tempo. Esse sentido é, portanto cultural e político e representado por ações e
representações (símbolos).
Segundo Koga3 (2003) é a partir do exame do lugar que se poderá tomar
consciência da complexidade das condições de vida dos indivíduos, sendo os lugares
questão essencial para a formulação das políticas públicas. Concepção que rompe
3 In VITTE, Claudete de Castro Silva. KEINERT, Tânia Margarete Mezzomo (orgs). Qualidade
de vida, planejamento e gestão urbana: discussões teórico-metodológicas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. P(111).
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com o planejamento urbano tradicional feito por arquitetos e urbanistas que planejam
os espaços para seres humanos abstratos e idealizados.
Verificar e compreender a forma de apropriação e uso dos espaços públicos
(quadras, ruas, campos, etc) e privados (casa, muro, quintal, jardim) dos moradores do
Conjunto habitacional e o sentido produzido em cada ação representacional simbólica
é um dado muito relevante que nos ajudará a enxergar como as relações se
estabelecem no território e sua territorialidade (apropriação) a partir do senso comum.
Neste ponto a Teoria das Representações Sociais é um instrumento teórico e
metodológico interessante de apreensão e análise do pensamento simbólico (ou das
representações sociais de grupos) pois rompe com a visão hegemônica de razão e de
ciência sobre as outras esferas da vida, resgatando outros aspectos como o senso
comum; as ideologias; a linguagem, entre outros, em objetos de conhecimento, antes
descartados e banalizados.
Além disso, apresenta a relação entre sujeito (pesquisador) e objeto (fenômeno
a ser estudado) na construção do conhecimento de forma dinâmica, pois o “objeto”
também é sujeito produtor de idéias e é por elas influenciado. Há uma relação dialética
entre sujeito-objeto.
Com a teoria das Representações Sociais o social torna-se uma dimensão que
pode ser estudada a partir da expressão dos grupos na esfera pública:
O social geralmente tem sido as condições concretas da vida, que envolvem desde relações sociais de produção até mecanismos institucionais de várias ordens. Significados que a vida social assume na sua dimensão pública, no espaço em que uns se encontram com outros, seja de forma direta, como nas ruas, nas praças, nos rituais
coletivos, etc. seja através de mediações institucionais. (GUARESCHI, 1995: 66)
Relacionado ao campo cultural e da esfera pública, Jodelet propõe que os
processos que engendram representações sociais estão embebidos na comunicação e
nas práticas sociais: diálogo, discurso, rituais, padrões de trabalho e produção, arte,
em suma, cultura. (In GUARESCHI, 1995: 79)
IV. O sentido de viver em um conjunto habitacional
No Brasil, o conjunto habitacional aparece como solução tradicional para
resolver os problemas de moradia para a população de baixa renda, enquanto que
segundo DAMIANI (1993) nos EUA e na Europa implodem-se conjuntos habitacionais:
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A escolha pelo conjunto habitacional deve-se ao fato de que em nosso país, os grandes conjuntos habitacionais aparecem, entre outras, como solução habitacional barata relativamente, e necessária para determinada faixa da população que, de outra forma, concentrar em favelas e cortiços. (DAMIANI, 1993:20).
Não se discute o cotidiano em um conjunto habitacional, como são as relações
de vizinhança e solidariedade, enfim, como são construídas as relações de
pertencimento em uma estrutura rígida e que mais separa do que integra as pessoas.
Em nosso estudo de caso, a partir da mudança dos moradores das áreas de
risco para o Conjunto habitacional Jardim Europa, e do uso dos espaços há mais de
três meses, foram observadas as seguintes questões:
1. Distanciamento do edifício do centro da cidade que incentiva o sentimento de
isolamento dos moradores, o não reconhecimento do lugar como pertencente
ao bairro próximo, por ser uma ocupação recente, e à cidade. Contribui para
esta situação a existência de apenas uma linha de ônibus que circula nas
imediações do conjunto.
2. Desvalorização das áreas verdes. A instalação das casas foi realizada no
entorno de áreas de proteção ambiental (APP) sendo que estas não receberam
nenhum projeto paisagístico ou urbanístico;
3. Inadequação do porte dos espaços internos da casa que ignoraram o tamanho
das famílias. Uso inadequado dos quintais com varais de roupas que não
comportam a quantidade de roupas a serem lavadas e secas, além do que faz
com que a imagem da área dos fundos se torne feia e degradada (quintal-
varal);
4. Falta de melhorias nas áreas de calçada e de talude. Não há calçamento para
pedestre, e os taludes (áreas de morros) não receberam tratamento urbanístico
ou paisagístico adequado, transformando-se em áreas de terra a céu aberto e
propensas à erosão do solo, tornando a paisagem degradada e descuidada
5. Ausência de áreas de lazer (playgrounds, quadras, jardins, praças) e de
recreação para as crianças. O que faz com que se utilize para esses fins, áreas
de servidão da companhia de energia elétrica do Paraná (Copel), e nem de
espaços comuns (salas, barracões ou centro comunitário) para a realização de
reuniões, eventos, cursos, etc) que estimule a organização comunitária. Dessa
forma, torna-se difícil o encontro dos moradores seja para conversar, trocar
informações ou mesmo para reivindicar melhorias para o local;
6. Ausência de equipamentos para a coleta e recolhimento dos resíduos sólidos,
o que faz com que as pessoas joguem entulho nas quadras e áreas verdes;
9
7. Equipamentos públicos distantes (escolas públicas e posto de saúde), de
serviços próximos (lavanderias, cafeterias, lanchonetes, culturais, cinemas,
teatros, dentistas, psicólogos, etc) e comércio (lojas, supermercados, vendas);
8. Precariedade dos espaços externos (muros, telhados e portões) do conjunto e
falta de identidade do empreendimento. Estas áreas são de responsabilidade
do morador e sua instalação depende da capacidade de cada família. O que
torna o conjunto com aparência disforme, pois a maioria dos moradores ainda
não teve recursos para realizar estas melhorias, e aqueles que o fizeram
utilizaram materiais precários, tornando a paisagem desigual;
9. Inexistência de espaços comuns (salas, barracões ou centro comunitário) para
a realização de reuniões, eventos, cursos, etc) que estimule a organização
comunitária. Dessa forma, torna-se difícil o encontro dos moradores seja para
conversar, trocar informações ou mesmo para reivindicar melhorias para o
local.
10. Falta de segurança pública no entorno. Como medida paliativa foi instalada
uma guarita com serviço de vigilância de empresa particular que presta serviço
24 horas à Prefeitura. O vigia anota em um caderno as ocorrências que surgem
tais como brigas entre vizinhos, reclamações por excesso de barulho, e em
casos de maior violência chama a Polícia Militar para atuar no local.
11. Ausência de serviço de assistência social municipal. Por ser um
empreendimento financiado pela Caixa Econômica Federal, e do Programa
habitacional MINHA CASA, MINHA VIDA, desde o mês de fevereiro tem sido
realizadas ações sociais, por assistentes sociais terceirizadas, para as famílias
do conjunto. Este trabalho tem a duração de seis meses e prevê o
desenvolvimento de campanhas educativas e a organização de lideranças
locais. Não viu-se envolvimento da Prefeitura nesse trabalho
Em nossa ótica, de maneira geral, o que foi entregue ou financiado para as
famílias de baixa renda foi apenas o edifício, ou seja, (a casa térrea ou sobrado) do
Conjunto habitacional Jd. Popular, desconectado de bairros, infra-estrutura e da
cidade. De que forma isso representa acesso à moradia e pertencimento à cidade?
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Fotos de cenas do cotidiano do Conjunto Habitacional Jardim Europa em Fazenda Rio
Grande
(a) crianças do conjunto (b) lixo espalhado nas áreas verdes
(c) (d)
(c) quintais-varais (d) portão recém-instalado
(e) Serviço de vigilância terceirizado contratado pela
Prefeitura
f) Faixa divulgando o início do trabalho social pela CEF
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Pela distância do Conjunto em relação ao centro da cidade de Fazenda Rio
Grande, e, por conseguinte, acesso a comércio (supermercado, farmácia, lojas de
roupas, etc) e serviços (cabeleireiro, estética, cultural, lazer), algumas famílias estão
oferecendo produtos e serviços no local. Foram identificadas várias iniciativas (venda
de geladinho, serviços de manicure e pedicure, produtos da Avon, padaria, algodão
doce, etc.). Além de representarem uma alternativa de serviço/produto para quem não
pode se deslocar de ônibus ou a pé até o centro da cidade, representa uma alternativa
de geração de renda aos moradores autônomos ou desempregados. Essa iniciativa
pode(ria) ter sido apoiada pelas instâncias de poder, na organização das atividades e
de um local propício à sua realização.
(g) venda de geladinho (h) oferecimento de serviço
VI. Considerações finais:
A conformação da cidade e a ocupação dos espaços valorizados pelo capital
retratam a forma como o poder econômico se manifesta e se reproduz em nossa
sociedade. As áreas centrais são voltadas para as camadas sociais privilegiadas e a
periferia da cidade é destino daquela maioria desprovida de renda e do direito à
cidade.
Além disso, quando se pensa em Política Pública habitacional para a
população pobre, a saída mais comum é a remoção das famílias e a sua transferência
para bairros distantes onde são construídos enormes conjuntos populares, onde há
grande disponibilidade de terra, com preço mais barato.
A vida no Conjunto habitacional se reflete pela sua praticidade e funcionalidade
espacial, segundo DAMIANI (1993), retrato do urbanismo moderno, que separa e isola
as pessoas no ambiente. A sala pequena, o tamanho dos quartos, o tanque lá fora,
tudo é pensado para comportar famílias pequenas que realizam ações rápidas e
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alcançam rapidamente qualquer lugar do recinto. O sentido do espaço já está dado e
só resta a ser seguido. Como pensar em espaços mais humanos que sejam plurais,
incentive o encontro, a reunião e a convivência entre as pessoas?
O sentimento de pertencimento é um processo individual e social que é
construído por relações sociais permeadas por práticas e significados/sentidos
(alegria, tristeza, dor, prazer), que ocorre nos diversos espaços sociais (do trabalho,
da moradia, do lazer, em espaços públicos e privados).
O estudo de caso apresentado (ainda em fase preliminar) mostra que ainda é
necessário que haja melhorias (intervenções) físicas e sociais no Conjunto Jd. Europa
em Fazenda Rio Grande, para propiciar qualidade de vida aos moradores e o
sentimento de pertencimento em relação a sua moradia e à cidade: uso dos espaços
públicos pelos moradores; espaço adequado de lazer para as crianças; local para o
centro comunitário; melhoria na infra-estrutura do bairro que propicie a acessibilidade;
a mobilidade urbana; acesso a bens materiais e imateriais (culturais).
Esse processo depende em grande parte da participação dos moradores em
todo o processo como sujeitos conscientes de seus direitos e deveres. Disso resultará
na construção de uma organização comunitária; integração entre as famílias e luta por
melhorias que são urgentes e dependem em grande parte desta pressão social.
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