UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO
MARCELI VITURI MARQUES
A CONCEPÇÃO DE PESQUISA
NO CURSO DE ENFERMAGEM
DA UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO
SÃO PAULO
2013
MARCELI VITURI MARQUES
A CONCEPÇÃO DE PESQUISA
NO CURSO DE ENFERMAGEM
DA UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Educação da Universidade Cidade de São Paulo, como requisito parcial exigido para obtenção do título de Mestre em Educação, sob a orientação do Prof° Dr° Potiguara Acácio Pereira.
SÃO PAULO 2013
MARCELI VITURI MARQUES
A CONCEPÇÃO DE PESQUISA
NO CURSO DE ENFERMAGEM
DA UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Educação da Universidade Cidade de São Paulo, como requisito parcial exigido para obtenção do título de Mestre em Educação.
Área de Concentração: Educação - Sujeito, formação e aprendizagem.
BANCA EXAMINADORA:
Prof° Dr° Potiguara Acácio Pereira _____________________________________
Universidade Cidade de São Paulo
Prof° Dr° Denis Donaire ____________________________________________
Profª Drª Margaréte May Berkenbrock Rosito _______________________________
Universidade Cidade de São Paulo
SÃO PAULO
2013
Dedico este trabalho à minha família.
Aos meus pais Ademir e Márcia, minha irmã Mariane Vituri,
meus sobrinhos Giulia e José; para minha avó Mercedes
Menon de Godoy e, especialmente, para meu filho Arthur e
meu esposo Sérgio, amores da minha vida.
AGRADECIMENTOS
São inúmeros os motivos que me levam a agradecer tantas pessoas que, de uma
forma ou de outra, contribuíram para que fosse possível concluir o Mestrado, com
todas as exigências que lhe são inerentes. Escrever uma dissertação não é algo
singular e próprio do autor; pelo contrário, é necessária a contribuição e a ajuda de
muitas pessoas que compartilham ideias e ajudam no esclarecimento de dúvidas. A
vocês, os meus sinceros agradecimentos.
Em especial, ao professor Potiguara, assim conhecido na Pós-Graduação da
Universidade Cidade de São Paulo, por me aceitar como orientanda e me conduzir
no desenvolvimento pessoal e profissional, como educadora.
Aos participantes deste estudo, pela inestimável colaboração para que este trabalho
pudesse tornar-se realidade.
À Comissão de Pós-Graduação da Universidade Cidade de São Paulo, pela
oportunidade.
A todos os Professores, pela contribuição dada no exame de qualificação e pelo
incentivo.
Às Secretárias da Pós Graduação, pela dedicação e orientação no cumprimento das
normas do Mestrado em Educação.
Ao Serviço de Biblioteca e Documentação da Universidade Cidade de São Paulo,
pelo empréstimo de bibliografia e orientação na busca das informações.
À direção da Universidade Cidade de São Paulo, por conceder bolsa e incentivar o
aprimoramento do educador que trabalha na Instituição.
Aos Professores da Graduação em Enfermagem, amigos que acreditaram em meu
potencial e me auxiliaram ao me substituírem nas aulas em campo de estágio, para
cumprimento dos créditos.
À Diretora do Curso de Graduação de Enfermagem, Professora Wana Paranhos, por
planejar meus horários de aula para que eu pudesse frequentar as disciplinas
obrigatórias do curso.
Aos meus amigos enfermeiros e ex-chefes do Hospital Villa Lobos e Hospital Cema,
por acreditarem em mim e sempre me receberem de portas abertas nas instituições.
Ao meu amigo Marcos Antônio da Eira Frias, que, com suas ideias, ajudou muito na
elaboração deste trabalho.
Aos meus colegas de classe do Mestrado, que, com certeza, me incentivaram muito
e contribuíram com suas ideias e trocas de bibliografias.
A todos os meus familiares e amigos, que torceram pelo meu sucesso.
RESUMO
Este estudo reflete a preocupação que a pesquisadora manifesta acerca da pesquisa acadêmico-científica no Curso de Enfermagem da Universidade Cidade de São Paulo. Para tanto, valeu-se da Análise documental, que serviu também como técnica de coleta de dados, complementada por questionário com questões abertas, com o objetivo de identificar a concepção de pesquisa na visão de professores e alunos do curso. Considerar estas concepções permitiu identificar a situação atual da pesquisa no curso, bem como a preparação para exercê-la e as condições e estímulos para a sua realização e desenvolvimento. Destaca-se a importância de estimular e incentivar a pesquisa na formação inicial para contribuir com a produção de trabalhos acadêmicos no Curso e ampliar o contingente de pesquisadores na área.
Palavras-chave: Pesquisa científica; Pesquisa acadêmico-científica, Curso de enfermagem.
ABSTRACT
This study reflects the researcher's concern about academic and scientific research in the Nursery College, at Universidade Cidade de São Paulo. To do so, she took advantage of Document Analysis, which also served as data collection technique, supplemented by a questionnaire with open questions, in order to identify the research design in the view of teachers and students of the course. Considering these conceptions helped to identify the status of research in the course, as well as the preparation to do it and the conditions and stimuli for their achievement and development. It highlights the importance of stimulating and encouraging research in the initial training, in order to contribute to the production of academic papers in the course and expand the number of researchers in the area. Keywords: Scientific research, Academic and scientific research, nursing program.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
a.C. Antes de Cristo
CEP Comissão de ética e Pesquisa
CEPEN Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem
CES Câmara da Educação Superior
CNE Conselho Nacional Educação
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Consepe Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão
Copesq Comitê de Apoio a Pesquisa
COREN Conselho Regional de Enfermagem
DCN Diretrizes Curriculares Nacionais
FZL Faculdades Zona Leste
IC Iniciação Científica
LATO SENSU A denominação lato sensu é aplicada a cursos de Pós-Graduação, geralmente aos de especialização.
PIBIC Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica
PIIC Programa Institucional de Iniciação Científica
PPI Projeto Pedagógico Institucional
STICTO SENSU Utilizado para se referir aos cursos de Pós-Graduação, aos cursos de mestrado, doutorado e pós-doutorado, com maior profundidade e duração que os de especialização.
TCC Trabalho de Conclusão de Curso
UNICID Universidade Cidade de São Paulo
LISTA DE TABELAS
Tabela 01: Descrição do conceito de pesquisa acadêmico-científica pelos Graduandos de Enfermagem do 8° semestre da UNICID ......................................... 63 Tabela 02: Frequência dos Graduandos de Enfermagem do 8° semestre da UNICID em disciplina para realização do TCC ....................................................................... 65 Tabela 03: Disciplinas norteadoras para realização do TCC..................................... 65 Tabela 04: Observações realizadas pelos Graduandos de Enfermagem do 8°semestre da UNICID, ao frequentar a disciplina de Metodologia da Pesquisa ...... 67 TABELA 05: Realização de outras pesquisas pelos Graduandos de Enfermagem do 8º semestre da UNICID ............................................................................................. 68 Tabela 06. Concepção de Ciência pelos Graduandos de Enfermagem do 8° semestre da UNICID ................................................................................................. 69 Tabela 07. Visão dos Graduandos de Enfermagem do 8° semestre da UNICID sobre a importância da pesquisa para o desenvolvimento profissional............................... 70 Tabela 08. Descrição do conceito de pesquisa acadêmico-científica pelos Docentes de Enfermagem do 8° semestre da UNICID ............................................................. 71 Tabela 09. Formação do Docente de Enfermagem do 8°semestre da UNICID para trabalhar com pesquisa no Curso de Enfermagem ................................................... 73 Tabela 10. Relação do conhecimento dos programas oferecidos pela Universidade para desenvolver a pesquisa..................................................................................... 74 Tabela 11. Programas conhecidos pelos Docentes de Enfermagem do 8°semestre da UNICID que auxiliam no desenvolvimento da pesquisa ....................................... 74 Tabela 12. Docentes de Enfermagem do 8° semestre da UNICID que estão desenvolvendo Pesquisa Científica ........................................................................... 76 Tabela 13. Motivos da realização da Pesquisa Científica pelos Docentes de Enfermagem do 8°semestre da UNICID ................................................................... 76 Tabela 14. Concepção de Ciência pelos Docentes de Enfermagem do
8°semestre da UNICID .............................................................................................. 77
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Diferenças entre a Ciência Moderna e a Pós-Moderna ............................ 21
Ficha Elaborada pela Biblioteca Prof. Lúcio de Souza. UNICID
M357p
Marques, Marceli Vituri.
A concepção de pesquisa no Curso de
Enfermagem da Universidade Cidade de São
Paulo. / Marceli Vituri Marques. --- São Paulo,
2013.
96 p.; anexos
Bibliografia
Dissertação (Mestrado) - Universidade Cidade
de São Paulo. Orientador Prof. Potiguara Acácio
Pereira.
1. Pesquisa científica - Enfermagem. I. Pereira,
Potiguara Acácio, orient. II. Título.
CDD 610.7
SUMÁRIO
Introdução ................................................................................................................. 12
Capítulo 1- Pesquisa Filosófica e Científica .............................................................. 17
Capítulo 2 - Criação da Universidade ........................................................................ 30
Capítulo 3 - A pesquisa como subsídio para a formação do enfermeiro ................... 43
Resultados e Discussões .......................................................................................... 61
Conclusão ................................................................................................................. 79
Referências ............................................................................................................... 82
Apêndice ................................................................................................................... 90
12
INTRODUÇÃO
Pesquisa é uma palavra que veio do espanhol. Este por sua vez herdou-se do latim. Havia em latim o verbo perquiro, que significava “procurar”, buscar com cuidado; procurar por toda a parte, informar-se, adquirir-se, inquirir, perguntar, indagar bem, aprofundar na busca”. O particípio passado desse verbo latino era perquisitum. Por alguma lei da fonética histórica, o primeiro r se transformou em s na passagem do latim para o espanhol, dando o verbo pesquisar que conhecemos hoje.
(BAGNO, 2009, p.17)
O resgate da minha trajetória profissional fez-me refletir sobre quais seriam as
minhas atribuições dentro da Universidade Cidade de São Paulo, no Curso de
Enfermagem, a partir das descobertas e esclarecimentos encontrados com os
resultados desta pesquisa.
Após três anos de prática assistencial hospitalar como enfermeira, ingressei
na carreira acadêmica, no curso de Enfermagem, em 2003. Na época, a instituição
era outra e a disciplina era a de Estágio Supervisionado em Administração
Hospitalar.
No começo, pensava que, para ser uma boa educadora, bastavam as
habilidades técnicas da profissão e, como já trabalhava na área assistencial, minhas
dificuldades seriam supridas à medida que eu desenvolvesse tais rotinas e
procedimentos da enfermagem.
A falta de vivência prática e também de formação específica em licenciatura
levaram-me a considerar como referência, para o desenvolvimento da atividade de
docente, alguns dos professores com os quais tive contato durante o período de
formação e os professores com os quais eu trabalhava.
Foi com o passar do tempo que algumas dúvidas e dificuldades de ordem
pedagógica fizeram despertar o interesse por participar dos encontros e reuniões de
professores, fóruns, colegiados, encontros científicos, entre outros, a fim de suprir e
aprimorar as atribuições do professor, na universidade e na pesquisa.
Exercer a docência em campo prático permite que ocorra a aproximação da
educação com a prática assistencial da profissão de Enfermagem, o que me traz
muita satisfação, mas também desperta inquietações por não favorecer a
13
participação em alguns projetos exercidos dentro da própria Instituição. Como o local
de ensino é outro – fora da Universidade –, o professor, muitas vezes, desconhece
algumas políticas próprias da instituição, o que promove uma distância entre as
atividades teóricas e as atividades práticas.
Diante desta situação de despreparo pedagógico, caminho em busca da
minha formação como docente. Cursei a especialização em Ensino Superior e agora
o Mestrado em Educação.
A minha formação na Graduação, se deu no ano de 2000 como enfermeira
generalista. Em 2006, cursei minha primeira especialização em Administração
Hospitalar e em 2009, aqui mesmo na UNICID, a de Docência no Ensino Superior.
De 2003 até os dias de hoje, continuo lecionando. Transitei por diferentes
disciplinas no Estágio Supervisionado: Centro Cirúrgico, Central de Material
Esterilizado, Clínica Médica e Cirúrgica, Pronto Socorro, Unidade de Terapia
Intensiva, Gestão e, atualmente, em Saúde Coletiva.
De 2001 a 2011, atuei também como enfermeira assistencial e membro de
diferentes Comissões Hospitalares - Infecção Hospitalar, Curativo e Ética. Foi com a
participação em encontros e eventos que surgiu a oportunidade de conhecer a
pesquisa científica para o ensino e para a profissão.
A experiência educacional e hospitalar mostrou-me, por meio de relatos,
discussões e reuniões com outros enfermeiros, que muitos são os profissionais e
alunos que apresentam dificuldades em pesquisar científicamente.
Em 2011, no Mestrado, depois da Graduação e das duas especializações,
entendi a real finalidade da pesquisa acadêmico-científica. Fica difícil de
compreender por que somente neste nível de ensino é que ocorre maior iniciativa
em desenvolver o comportamento científico e investigativo.
Uma das realizações conquistadas no desenvolver do curso de Mestrado é
questionar-me quanto à ideia que tenho sobre pesquisa. Pude perceber, ao
participar das aulas, que, para escrever um trabalho ou desenvolver uma pesquisa
científica, aspectos organizadores devem ser definidos pelo pesquisador.
14
Um dos primeiros passos do pesquisador é identificar qual a concepção de
ciência que ele tem. Para ter um pensamento científico, é necessário que o autor
seja capaz de examinar os problemas a partir de diferentes perspectivas, para
buscar explicações plausíveis após análises críticas e constantes. Desde então,
deverão ser definidos o tema (o ideal é que o assunto abordado tenha afinidade com
o autor e o orientador), o problema de pesquisa (proveniente de questões
norteadoras), a relevância social e pessoal e o caminho metodológico.
Até o presente momento, o conteúdo científico é o que validou e valida minha
atuação tanto como enfermeira, quanto como docente, mas quando compreendi de
fato o que era a Ciência foi que passei a discutir o meu papel na Educação.
Posso perceber, no exercício das minhas atividades diárias e junto ao grupo
de professores e alunos, que, em grande medida, a pesquisa de cunho científico é
mais “consumida” do que “produzida” dentro do curso de Enfermagem da
Universidade Cidade de São Paulo. Sua utilização ocorre por meio da leitura e das
buscas e discussões que fortalecem e fundamentam o ensino, mas, neste momento,
a atividade que mais se aproxima de sua prática e produção é a realização do
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).
Por outro lado, o método científico é imprescindível no universo da
Enfermagem. Sua aplicação é uma questão de coerência e segurança na
concretização dos objetivos da profissão. A partir do embasamento na literatura
nacional e internacional, o enfermeiro fortalece – e constroem novas – condutas.
As Diretrizes Curriculares do Curso de Enfermagem, estabelecidas pelo
Ministério da Educação, afirmam que o TCC consiste em uma pesquisa individual,
com exposição crítica e de contribuição pessoal do autor sobre um único tema
relativo à área de conhecimento da Enfermagem. É orientado por um professor e
apresentado sob a forma de pesquisa bibliográfica ou pesquisa de campo.
Contudo, uma verificação, mesmo que superficial, dos trabalhos produzidos
nestes últimos três anos, identifica deficiências de cunho conceitual do que seja
pesquisa científica, o que se deve, notadamente, à fragilidade do conhecimento, por
parte dos alunos, de seus aspectos organizadores. Outro fator contribuinte é o fato
de que muitas foram as modificações implementadas ao método científico, no
15
sentido de atender as necessidades de diferentes disciplinas e manter o rigor para
aceitação do novo conhecimento construído.
Nestes últimos dez anos, houve uma expansão na abertura de cursos de
Enfermagem no Brasil e, ainda, são poucas as publicações de artigos, dissertações
e teses realizadas nas universidades no Curso de Enfermagem.
Para melhorar a qualidade no ensino, nestes dois últimos anos, o Conselho
Regional de Enfermagem (COREN) exigiu que o enfermeiro docente cursasse a
Especialização em Licenciatura, com o intuito de desenvolver competências e
habilidades pedagógicas.
Atualmente, os enfermeiros, pouco a pouco, ingressam no cenário nacional e
internacional com suas pesquisas. Acredito que, se a pesquisa científica for iniciada,
ensinada e desenvolvida na Graduação, poderá muito contribuir para o
desenvolvimento de enfermeiros/as pesquisadores/as para o país, além de estimular
a abertura de campos destinados ao seu aprimoramento e, consequentemente, um
avanço intelectual para a profissão.
Quando iniciei este trabalho, meu objetivo foi de dar partida a um processo de
busca e transformação da minha própria prática como docente e contribuir, por meio
dos resultados obtidos, para a melhoria da Pesquisa Científica no Curso de
Enfermagem da Universidade Cidade de São Paulo.
Ao considerar as concepções de pesquisa na visão dos alunos e dos
professores, foi possível identificar a situação atual da pesquisa no Curso, bem
como a preparação para o seu exercício, as condições e os estímulos para a sua
realização e desenvolvimento e as implicações no currículo e na profissão.
A relevância desta pesquisa consiste em estimular e incentivar o contingente
de pesquisadores na área a partir da Graduação, pois nos cursos de Enfermagem,
apesar de estar inserida em seus currículos a Pesquisa, o foco está na
Profissionalização, e a pesquisa acadêmico-científica, geralmente, acaba por ser
descoberta na realização do Mestrado e do Doutorado.
Como professora no Curso de Enfermagem da Universidade Cidade de São
Paulo, ao participar como membro de banca na apresentação dos Trabalhos de
16
Conclusão de Curso, percebi que, na maioria dos trabalhos, existe uma
preocupação por parte dos alunos em descrever os assuntos escolhidos e
apresentá-los de acordo com as normas metodológicas. Dessa forma, é possível
considerar as reflexões acimas citadas, pois nas conclusões dos trabalhos é notável
o déficit dos alunos em assumirem posições de defesas, ataques ou confronto com
hipóteses e situações sociais.
Com o intuito da compreensão do que é pesquisa acadêmico-científica,
importantes considerações adicionais, com base na revisão da literatura, foram
acrescidas ao trabalho. O procedimento metodológico adotado é o de Análise
documental, com base em diferentes exemplares, os quais, após organizados e
interpretados, permitiram fundamentar e articular a investigação proposta.
Como técnica de coleta de dados, vali-me da análise documental e da
aplicação de questionários, para “ouvir” de professores e alunos o que pensavam
sobre a pesquisa.
Os questionários foram compostos por questões abertas, com distinção de
perguntas para docentes e discentes, e a coleta de dados ocorreu em maio de 2012,
quando professores e alunos encontravam-se reunidos para comemorar a Semana
de Enfermagem. Como parte do evento, os Trabalhos de Conclusão de Curso foram
apresentados oralmente e em forma de pôsteres.
Os dados dos questionários foram analisados com base nos pontos de
divergências e eventuais pontos de convergência, com elaboração de tabelas para
facilitar a redação e o entendimento.
A fim de “ouvir” dos professores o que sugeririam para melhorar a pesquisa
no curso, colhi informações em um debate no colegiado. Por serem familiares à
pesquisadora, os sujeitos participantes foram os mesmos que responderam ao
questionário.
Como conclusão, foram apresentadas algumas reflexões acerca da situação
atual da pesquisa no Curso de Enfermagem da UNICID.
17
CAPÍTULO 1
A PESQUISA FILOSÓFICA E CIENTÍFICA
Neste capítulo, abordo e reflito criticamente sobre a concepção do que é
conhecer. Para melhor entendimento, o assunto será redigido em quatro subitens,
dos quais o primeiro discute o processo de conhecer, os diferentes tipos de
conhecimentos e a História da Ciência; o segundo compara as características da
Ciência Moderna com as da Ciência Pós-Moderna; o terceiro discute as ideias de
diferentes filósofos no período conhecido como Revolução Científica para validar os
conhecimentos; o quarto é uma introdução para segundo capítulo, com a descrição
da origem da universidade e sua relação com a pesquisa científica.
Vale dizer, de início, que o homem detém vários tipos de conhecimentos,
desde o mais simples, comum a todas as pessoas, até aquele mais complexo, não
comum a todos. O conhecimento não é proveniente somente dos documentos,
bases de dados, escolas, sistemas de informação ou universidades, mas também
das experiências e práticas dos sujeitos.
Existem vários tipos de conhecimentos e, certamente, sua forma mais básica,
para os homens e também para os animais é o conhecimento popular ou senso
comum.
Do ponto de vista que constitui o foco deste trabalho, o conhecimento
discutido neste capítulo foi o intelectivo, próprio da Ciência, com valorização no rigor
no discurso.
Aires (2003, s/p) afirma que “não existe uma definição satisfatória de
conhecimento”; entretanto, quatro elementos são necessários para que ele ocorra:
a) o sujeito b) o objeto; c) a operação própria do conhecimento e; d) o resultado
obtido. Para Pereira, sujeito é aquele que quer conhecer ou investigar um objeto por
meio de uma operação própria do conhecimento – modo de agir – para se alcançar
um resultado (2004, p.23).
Pode-se dizer que "conhecer é elaborar um modelo de realidade", é "projetar
ordem onde havia caos" (CYRINO; PENHA, 1992, p.13), é incorporar um conceito
novo, ou original, sobre um fato ou fenômeno qualquer. Para os autores, o termo
18
“caos”, é utilizado de forma positiva para descrever o imprevisível; já o termo
“realidade”, originário do latim “realitas”, tem o sentido de "coisa”, de ” tudo o que
existe" ou “de tudo que nos cerca”, de que se pode concluir que, para haver
conhecimento, é necessária a relação do homem com a sua realidade.
Para Pereira (2004, p.33), “o homem, ao fazer ciência, nada mais faz do que
interpretar as suas próprias ações e realidade que o cerca". Trata-se de um desejo
de superação daquilo que lhe causa admiração.
De acordo com Severino (2007), Pereira (2004) e Gewandsznajder (1989), a
maneira espontânea por meio da qual o homem entende e atua sobre a realidade
para adquirir o conhecimento pode ser guiada por Senso Comum, Arte, Teologia,
Filosofia e Ciência.
O conhecimento obtido pelo Senso Comum é aquele adquirido
espontaneamente, por meio de opiniões, ditos populares e crenças. São as
experiências do dia a dia, que podem ser transmitidas de geração a geração, sem se
ater a estudos comprobatórios. O obtido pela Arte é aquele produzido pela
imaginação, que pode ser visualizado, sentido, ouvido ou percebido instintivamente.
O conhecimento teológico é aquele relacionado com a fé divina ou com a crença
religiosa, que não pode, por sua origem, ser confirmado ou negado. O filosófico é
proveniente da reflexão, tem uma visão crítica e busca investigar as causas e os
efeitos. O proveniente da Ciência, o mais explorado neste texto, sofreu mudanças
em sua concepção conforme sua trajetória.
A Ciência não teve sempre a mesma concepção que lhe atribuímos hoje; seu
desenvolvimento aconteceu, na cultura ocidental, em duas grandes perspectivas: a
primeira, conhecida como Ciência Moderna, é caracterizada pelo método
experimental; e a segunda, a Pós Moderna, é determinada pela superação das
dicotomias.
A Ciência Moderna, também conhecida como empírica, é conceituada como
um conjunto organizado de conhecimentos relativos a um determinado objeto,
obtidos mediante a observação e a experimentação.
19
Vale ressaltar que, no século XIX, experiências começaram a ser realizadas
em laboratório. Este dado deve ser claro para que não se confunda o termo
experiência, de empírico, relacionado com a ideia de “vivência”, com os
experimentos executados em laboratório.
A Ciência Pós-Moderna interpreta a realidade de modo racional, provisório e
capaz de ser corrigido e questionado. Não é a representação completa e perfeita de
fenômenos, diretamente observáveis, mas uma reconstrução idealizada e parcial da
realidade.
Desde a época da antiga Grécia, os indivíduos, por se sentirem perplexos
com a realidade vivida, começaram a interrogar sobre ela, em busca de uma razão
para tudo o que existia. A busca do saber e da compreensão encontrava-se nas
coisas da natureza e do homem, e os estudos eram fundamentados na análise do
pensamento, em experiências práticas e da mente, na lógica e na análise conceitual
(LAMPERT, 2010; RUIZ, 2008; CYRINO, 1992).
As respostas, a princípio, não eram de cunho científico, e sim de caráter
religioso e mítico. Estas explicações, apesar de não se sustentarem por
comprovação, tinham grande valor, pois além de responder à curiosidade dos seres
humanos, serviam como conduta moral.
Do ponto de vista teórico, pensadores da região começaram a questionar e a
apresentar diferentes teorias para afastar as concepções míticas. Talvez tenha sido
essa vontade de discutir racionalmente as ideias, em vez de limitar-se a aceitá-las,
que fez que a ciência se desenvolvesse (LAMPERT, 2010; ROSAS, 2008; CYRINO,
1992).
Com o declínio do mundo grego, o espaço cultural foi ocupado pelo Império
Romano, e a ciência medieval a partir de então, era baseada na sabedoria divina. A
doutrinação religiosa era o que influenciava a sociedade, o meio econômico,
artístico, cultural e político. A Igreja era também a responsável pela formação da
juventude em escolas e conventos cristãos.
20
Embora outras formas de conhecimento só fossem aceitas se não se
opusessem aos dogmas religiosos, certos pensadores sentiam a necessidade da
fundamentação teórica; como consequência desta iniciativa e atitude intelectual, o
modo de pensar se associou a um novo método, conhecido por indução
experimental.
Com o Renascimento, - no final da Idade Média e início da Idade Moderna –,
novos modos de vida surgiram e provocaram a contestação das velhas tradições. O
processo científico foi retomado e muitos foram os historiadores que, com o objetivo
de alcançar respostas para suas dúvidas, determinaram os critérios na produção dos
conhecimentos.
Nos séculos XVI/XVII, surge a Ciência Moderna, caracterizada pela
experiência e pela descrição do fenômeno, capaz de dissociar a ciência da religião.
Empírico foi o nome dado para descrever o estado das coisas por meio da
experiência. Conhecido também como método indutivo ou método experimental, é
definido por Aires (2003) como um “conjunto de procedimentos científicos que
incorporam sistematicamente a experimentação como forma de estabelecer a
verdade/falsidade de certa hipótese científica”. Suas etapas são: a) investigação -
observação e formulação de uma hipótese; b) experimentação e; c) generalização.
Para Matheus, Fugita e Sá (2006, p.22), a observação significa “trazer o
mundo para dentro de nós”, “percebê-lo para entendê-lo”. Cada tipo de observação
depende da situação que se quer estudar e da pessoa que observa, conforme sua
concepção de mundo, de homem, de valores e de experiências de vida.
Com a experimentação, hipóteses de um fenômeno eram verificadas e, se
confirmadas, transformavam-se em leis aplicáveis a todos os fenômenos do mesmo
tipo. O termo “fenômeno” passou a ser utilizado para designar um processo ou uma
ação cabível de esclarecimentos. As hipóteses enunciavam a solução estabelecida
de um problema e toda hipótese deveria ser enunciada em proposição ao verificável
para se tornar científica – posta à prova para serem aprovadas ou reprovadas
(AIRES, 2003).
21
Com o passar do tempo, a ciência passou a ter um aspecto mais público, as
conferências e os livros científicos tornaram-se mais populares e tinham o propósito
de mostrar às pessoas a importância do conhecimento na vida diária. Pereira
(2004, p.54) afirma que “foi no século XX que as descobertas científicas se
aceleraram, e um número maior de cientistas, passou a trabalhar em prol da
ciência”.
A comunidade científica era a responsável pela contínua evolução das teorias
científicas, com criação de testes e hipóteses para explicar certos fenômenos e
observações. Nesse contexto, foi possível identificar dúvidas e necessidades na
elaboração e na construção de respostas para se obterem os esclarecimentos
que geraram transformações nos modos de produção do conhecimento .
Quadro 01: Diferenças entre a Ciência Moderna e a Pós Moderna
CIÊNCIA MODERNA CIÊNCIA PÓS-MODERNA
Empírica Empírica / teórica
Objetiva Objetiva / subjetiva
Quantitativa Quantitativa / qualitativa
Descritiva Descritiva / interpretativa
Disciplinar Disciplinar / interdisciplinar
Previsível Previsível / probabilística
Linguagem matemática Matemática e outras
Fonte: Dados do orientador e do autor
O quadro acima apresenta as características predominantes na ciência
moderna e na pós-moderna. Pode-se perceber que as condições iniciais da ciência
moderna eram caracterizadas por certa falta de flexibilidade, impondo com rigor à
sociedade e à comunidade acadêmica as correntes dos pensamentos gerados. Já
na ciência pós-moderna, essa flexibilidade começa a surgir e o conhecimento de um
dado fenômeno abrange uma multiplicidade de enunciados, inclusive aqueles
incompatíveis entre si, que possibilitam a discussão e o questionamento entre as
práticas, instrumentos, hipóteses e teorias. A ciência pós-moderna não se limita a
descrever a experiência, mas explana e comenta os seus resultados.
A objetividade e a subjetividade consistem em reconhecer que o
conhecimento não repousa na imparcialidade de cada indivíduo, mas na disposição
dele em formular e publicar hipóteses para que essas possam ser testadas e
22
controladas por outros cientistas. Portanto, qualquer pesquisador tem atrás de si um
conjunto de teorias, fruto de pesquisa de outros estudiosos.
Na ciência moderna, as pesquisas eram quantitativas, relacionadas à
mensuração de um fenômeno, nas quais geralmente o pesquisador utilizava a
observação para fazer inferências e julgamentos. Já na ciência pós-moderna, as
pesquisas podem ser quantitativas e qualitativas; nelas, o pesquisador não se
envolve com o evento estudado, mas registra, descreve e discute seus aspectos
significativos.
Demo (2001, p.54) afirma que o “conhecimento científico transcende, produz
e explica os fatos novos criados. O trabalho de investigação se baseia no
conhecimento anterior e, em particular, nos fundamentos confirmados”. Para ele, a
investigação ocorre de acordo com regras e técnicas que se revelaram eficazes no
passado, mas que são aperfeiçoadas continuamente no presente.
Conforme Barbosa (2010, p.37), foi em 1920 que cientistas de diversas áreas
de investigação começaram a questionar as teorias científicas. A tentativa de
unificar o saber científico e elaborar um método científico comum a todas as ciências
iniciou-se na Escola de Viena nas duas primeiras décadas do século XX.
As teorias, conforme Aires (2003, s/p) são “um conjunto de proposições
estruturadas entre si que visam resolver um problema ou explicar um fenômeno”. Se
uma teoria não resolve os problemas que se propõe a resolver, ou não explica o que
se propõe a explicar, é inadequada. Qualquer teoria é permanentemente
confrontada com os fatos científicos e deve evoluir em virtude da descoberta de
novos dados.
A seguir, serão apresentadas as ideias de quatro dos principais filósofos que
formularam teorias para validar a investigação científica: Karl Popper, Thomas Khun,
Imre Lakatos e Paul Feyerabend.
Karl Popper foi o grande defensor da democracia liberal. Ficou conhecido por
explanar o falsificacionismo – critério de demarcação entre a ciência e a não ciência;
Thomas Kuhn se tornou conhecido por ter seu lado intelectual voltado para a
História e a Filosofia da Ciência, em que procurou descrever quais deveriam ser as
23
condições para validar uma teoria científica, ao apontar que os momentos da prova
de tal teoria serviriam como critério de sua qualificação; Imre Lakatos foi seguidor de
Popper durante grande parte de sua carreira filosófica, cujo ponto central foi a prova
e a refutação das ideias do pai do falsificacionismo; Paul Feyerabend tornou-se
figura influente na Filosofia da Ciência e na Sociologia do Conhecimento Científico
por defender a inexistência do método cientifico, pois não acreditava na existência
de princípios firmes e inalteráveis, uma vez que eles poderiam infringidos em
diferentes ocasiões (JOAQUIM, 2009, p.35).
Karl Popper (Áustria, 1902 – Londres, 1994) foi um dos filósofos mais
importantes do século XX. Estudou na Universidade de Viena e realizou o Doutorado
em Filosofia em 1928. No ano de 1937, por conta do nazismo, emigrou para a Nova
Zelândia, onde lecionou Filosofia no Canterbury University College. Em 1946,
mudou-se para a Inglaterra, naturalizando-se britânico. Foi assistente de ensino na
disciplina de Lógica e de Método Científico e professor (1949) na London School of
Economics (LOPES, 2001, p.56).
Sua obra de destaque foi A Lógica da Pesquisa Científica, na qual defende
que o critério de demarcação da Ciência não é a verificação – utilizada para
identificar se uma teoria possuía caráter empírico ou científico –, e sim o
falseamento.
Sua proposta para o saber científico era o critério da não refutabilidade ou
falseabilidade, de acordo com o qual o método das ciências deveria tentar achar
possíveis soluções para os problemas, em vez de somente gerar ou caracterizar o
conhecimento pela observação ou coleta de dados.
Para Santos (s/d, p.65) o que interessa na Filosofia das Ciências de Popper
“não é saber como uma teoria científica foi descoberta e sim como era avaliada, pois
quanto maior a sua resistência a provas criteriosas e severas maior seria a sua
validade e qualidade”. Se uma teoria, ao ser testada empiricamente, tivesse
resultados positivos, ela continuava a ser desenvolvida, mas, se falhasse, era
falsificada e consequentemente abandonada. Quanto maior fosse o grau de
falseabilidade, melhor seria a teoria, pois quanto mais previsões fizessem, maiores
seriam os riscos de refutação.
24
Thomas Kuhn (1922-1996) começou sua carreira acadêmica como físico
teórico e se interessou por história da ciência. Para ele, a concepção de ciência
tradicional não se ajustava ao modo pelo qual a ciência real nascia e se desenvolvia
ao longo do tempo. Foi o filósofo que se contrapôs à teoria de Karl Popper (KUHN,
2010, p.10).
Essa percepção o conduziu a desenvolver a sua própria teoria, não vista
como um processo linear e evolutivo, mas como uma sucessão de paradigmas
(modelos) que se confrontavam entre si. Nela, Kuhn define paradigma como
"'modelo ou padrão aceito"; em outras palavras, aquilo que os membros de uma
comunidade científica partilham e discutem.
Para uma melhor compreensão desta teoria, Kuhn (2010, p.77) afirma que “as
noções envolvidas na cadeia evolutiva da ciência que percorre o critério de
demarcação proposto para substituir os critérios do falsificacionismo”.
A fase pré-paradigmática, período no qual reinava uma ampla divergência
entre os pesquisadores, discute quais são os fenômenos que devem ser estudados
e explicados e se define pela utilização dos princípios teóricos, das regras, dos
métodos e dos valores para direcionar na busca, assim como a descrição,
classificação e explicação sobre as técnicas e instrumentos utilizados.
Para uma disciplina alcançar o estatuto de científica e se tornar uma “ciência
normal”, era preciso chegar a um paradigma, encerrando a fase pré-paradigmática.
A decisão de rechaçar ou de aceitar um paradigma, como um juízo que conduzia a
decisão, envolvia sempre a comparação entre paradigmas anteriores.
Sua obra de destaque foi Estrutura das Revoluções Científicas, com defesa
da ideia de que a ciência apresentava longos períodos de acumulação de
conhecimentos, chamada de "ciência normal". Os períodos de ciência normal eram
intercalados por breves períodos de ciência extraordinária, que, devido à descoberta
de sérias anomalias no paradigma dominante, faziam surgir as crises e os
questionamentos nas Revoluções Científicas.
As revoluções científicas consistiam basicamente na mudança de paradigma,
"nos quais um paradigma mais antigo é total ou parcialmente substituído por um
25
novo, incompatível com o anterior”. Um paradigma deixava de ser adequado quando
algo decorrente de sua natureza deixava de funcionar, ou quando uma comunidade
científica o repudiava ou renunciava a ele (KUHN, 2010, p.85).
A proximidade entre Popper e Kuhn está no fato de admitirem um
desenvolvimento possível para o conhecimento epistemológico da realidade. No
entanto, os princípios de superação e revolução das teorias científicas e paradigmas
existentes se diferenciam quanto ao critério de demarcação entre as ciências
empíricas e a metafísica. Para Kuhn (2010, p.89), "a ciência é o resultado de um
processo sucessivo e em constante evolução, onde neste processo convergem
diferentes fenômenos, que enfrentam os cientistas enquanto resolvem enigmas".
Outro filósofo que contribuiu para os critérios de validação dos
conhecimentos foi Imre Lakatos. Nascido na Hungria em 1922 foi graduado
em Matemática, Física e Filosofia na Universidade de Debrecen. Seu nome de
nascimento era Imre Lipschitz, alterado para Imre Molnár para evitar a perseguição
nazista. Por ser um comunista ativo durante a Segunda Guerra Mundial, mais uma
vez teve que alterar seu sobrenome para Lakatos - em honra de Géza Lakatos,
general da Hungria durante o período da guerra. Após a Segunda Guerra, fez
doutorado e retornou à Hungria para trabalhar como oficial sênior no Ministério da
Educação do país (LAKATOS, 2007, p. 60).
Esteve preso entre os anos de 1950 e 1953, por motivos políticos. Após sair
da prisão, regressou à vida acadêmica e passou a pesquisar Matemática. Por conta
da invasão russa, deixou a Hungria em novembro de 1956 e seguiu para Viena. Foi
na Inglaterra, na Universidade de Cambridge, que se doutorou em Filosofia no ano
de 1961.
Em 1960, ingressou na London School of Economics, onde trabalhou com
Filosofia da Matemática e Filosofia da Ciência. Permaneceu na London School of
Economics até morrer, em 1974.
Vale lembrar que Karl Popper foi quem mais influenciou seus pensamentos,
com a ideia de distinção entre ciência e pseudociência. Para responder este
problema, Popper dizia que as teorias científicas se distinguiam das
pseudocientíficas em virtude de serem refutáveis. Para seguir e desenvolver as
26
ideias de Popper, a fim de superar as críticas de Kuhn, Lakatos propôs a “falseação
ingênua” (LAKATOS, 2007, p. 80).
Esta teoria afirmava que nenhum teorema era perfeito ou portador da verdade
absoluta, não por ter encontrado contraexemplos ou falhas, mas porque algo em
suas premissas poderia estar equivocado. Assim, a teoria poderia ser sustentada
por uma nova hipótese auxiliar ou por uma revisão que a adequasse às suas
condições iniciais.
Sua epistemologia era baseada na Metodologia dos Programas de Pesquisa
Científica, de acordo com a qual uma teoria, para se tornar científica, deveria
apresentar progressividade e inter-relação com outras teorias.
A definição de “programa” para Lakatos é dada pela distinção de heurística
negativa e heurística positiva. A primeira é composta pela parte de uma pesquisa e
contém posicionamentos básicos e estruturais, os quais dificilmente mudam;
basicamente, é não-falseável por convenção da comunidade científica. Já a segunda
é o conteúdo da investigação do programa, composto por um rol de instruções que
permite saber como trabalhar o programa de investigação concretamente. É nesta
parte que se indica ao pesquisador como se deve desenvolver corretamente o
programa ou como mudar seu ponto de vista a respeito de uma teoria. Se um
determinado programa de pesquisa apresenta novas predições corroboradas pelos
experimentos, ele é progressivo; já aquele que não apresenta novos fatos é
degenerativo (LAKATOS, 2007, p.90).
Em síntese, para o pesquisador (2007, p.100), "as críticas racionais são
importantes para que os programas progridam e a ciência avance na sua
metodologia de programas de investigação científica". Pode-se observar que esta
teoria teve o mérito de analisar as deficiências nas tentativas anteriores de soluções
para alguns dos problemas colocados por Karl Popper e Thomas Kuhn.
Paul Karl Feyerabend também adotou estratégias próprias para conceber a
ciência. Nasceu em Viena, em 1924, e morreu em 1994, morando em diversos
países como Reino Unido, Estados Unidos, Nova Zelândia, Itália e Suíça.
27
Escreveu obras como Against Method (1975), Science in a Free
Society (1978), e Farewell to Reason. Teve, ainda, uma coleção de artigos
publicados em 1987 e tornou-se famoso por sua suposta rejeição à existência de
regras metodológicas universais e por identificar falhas em outras teorias. Para ele,
a sociedade perfeita era aquela capaz de expressar, pensar, explorar e investigar
livremente e de forma imparcial, sem influência de ideologias impostas.
Feyerabend acreditava que a verdade estava na força do argumento, não
apenas em seu aspecto racional, mediante a apresentação de resultados conferidos
em testes e experiências, mas também no modo como os resultados eram descritos
e apresentados, levando em consideração outros pontos de vista sem distinção ou
pré-julgamentos. Sua posição, na época, foi vista como radical e rejeitada por alguns
cientistas.
Defendia a tese de que não existia nenhuma metodologia eficaz para todas as
situações, já que no campo da Ciência são inúmeras as ocasiões para se explorar o
Conhecimento Científico. Afirmava que a utilização de um método único poderia,
em um determinado momento, falhar justamente pelo excesso de regras e também
pela sua grande abrangência.
Fez duas observações contrapondo as ideias anteriores: a primeira dizia que
os cientistas sempre renovavam suas formas de pesquisar sem depender da
prescrição dos filósofos e a outra se referia a uma "atitude humanitária" de acordo
com a qual os seres humanos deveriam ter o direito da liberdade de escolha, seja
ela pela Ciência, ou por outras formas de conhecimento.
O que se pode perceber após a leitura e o desenvolvimento da História da
Ciência é que uma série de problemas relativos a uma definição precisa foi e é
existente ainda, a começar pela dificuldade em estabelecer uma comparação formal
entre as teorias, no tocante à elaboração de critérios que validem se uma teoria é
melhor que a outra.
Convém dizer que as concepções e práticas de pesquisa sempre foram
condicionadas pelos interesses dos pesquisadores no contexto social da época.
Sucintamente, o que quis discutir foram as diferentes posições e implicações das
teorias na evolução da Ciência, seja por valorização do conhecimento científico
28
sobre os demais tipos de conhecimento, seja pela busca de métodos para validar as
teorias.
Para a primazia do conhecimento, ideias são discutidas por uma comunidade
de estudiosos que a ela aderem por convencimento após as argumentações. Quanto
maiores os avanços alcançados pelo conhecimento científico, maior é a ousadia em
se aproveitar as contradições existentes para descobrir ou superar conquistas para a
ciência.
Pereira (2004, p.28) atrela o vocábulo “ciência”, cunhado no século XIX, a um
conhecimento ou um saber que se adquire pela leitura e pela meditação, sendo
tomada como um conjunto organizado de conhecimentos relativos a um determinado
objeto, especialmente os obtidos mediante a observação e a experimentação. É
uma soma atual dos conhecimentos científicos, uma atividade de pesquisa, ou ainda
um método de aquisição do saber que está vinculado à escola e à universidade.
Para completar, pode-se dizer que a Ciência, ao longo de sua história,
passou a ter uma importância fundamental, como se o que não fosse científico não
correspondesse à verdade.
Para Ruiz (2008), Severino (2007) e Gewandsznajder (1989) a ciência pode
ser concebida como a) conhecimento certo do real pelas suas causas; b) conjunto
orgânico de conclusões certas e gerais metodicamente demonstradas e
relacionadas com objeto determinado; c) atividade que se propõe a demonstrar a
verdade dos fatos experimentais e suas aplicações práticas; d) conhecimento
sistemático dos fenômenos da natureza e das leis que os regem, obtido através da
investigação pelo raciocínio e pela experimentação intensiva; e) estudo de
problemas solúveis, mediante método científico.
Para Ruiz (2008, p.78) “a pesquisa científica é a realização concreta de uma
investigação planejada, desenvolvida e redigida de acordo com as normas da
metodologia consagradas pela ciência”.
Em suma, o Conhecimento Científico é o que satisfaz a curiosidade. Em uma
visão mais tradicional, seria “verdadeiro” aquilo que se pudesse comprovar por meio
29
de experiências; em uma visão mais atual, é algo em transformação, que interage
com a cultura e com a sociedade.
30
CAPÍTULO 2
CRIAÇÃO DA UNIVERSIDADE
“A universidade foi instrumento da criação do novo saber para o mundo”,
que “a partir do século VI A.C., o pensamento começou a fazer uma
transição do mítico para a racionalidade”.
Buarque (2000)
A educação sempre foi um dos meios pelos quais os grupos humanos
asseguraram a sobrevivência. Para Lampert (2010, p.13), “desde a Antiguidade,
muitos foram os esforços para contribuir com o desenvolvimento escolar”. Na
sociedade primitiva, não existiam instituições educacionais e a educação acontecia
de modo espontâneo e integral, com a realização de tarefas vitais, trabalhos, ritos,
cerimônias, ou no curso dos dias.
A educação grega foi marcada pelo ensino de música, canto, dança e
atletismo. Já a educação na idade Média ficou conhecida como Escolástica cujo
objetivo era aperfeiçoar as técnicas para aquisição do poder. Na transição da Idade
Média para a Moderna, questionamentos por parte dos estudiosos sobre o vínculo
da ciência com a religião começaram a surgir e, na Idade Contemporânea, o ensino
foi dividido em formação clássica e instrução técnica voltada para a empregabilidade
industrial (BUARQUE, 2000, p.30).
O capítulo descreve a ação dos efeitos históricos sobre a educação atual,
desde a concepção das escolas até a origem das primeiras Universidades, que
gradualmente foram assumindo o papel de centralizadoras na produção dos
conhecimentos científicos, com influência sobre o mundo acadêmico e a sociedade.
Para Le Goff (2011, p.7), “o ponto de partida para a origem das instituições
universitárias, foi o surgimento do homem intelectual”.
A palavra Intelectual é utilizada no intuito de “deslocar a atenção das instituições para os homens, das ideias para as estruturas sociais, as práticas e as mentalidades, de situar o fenômeno universitário medieval numa visão de longa duração”, e o termo que melhor exprime a realidade ideológica da cidade é o de universitas (corporação), onde a coletividade é
formada pelos habitantes.
31
A Renascença Carolíngia foi o período em que grande parte da Europa
Ocidental e Central, durante o século IX, foi comandada pelo Imperador Carlos
Magno (742-814), o qual estabeleceu seu reinado por meio da literatura e da arte.
Houve uma grande expansão das composições musicais e a base da literatura era a
poesia cortês, na qual a mulher aparecia como um ser “todo-poderoso”, servida pelo
trovador.
Vaghetti et al. (2011, p. 87), ao citar Abramson, Gurevitch, Kroletinistski
(1978) e Arruda (1981), afirma que, nessa época, “a cultura era monopolizada pela
Igreja e a produção artística acontecia nos mosteiros e nas cortes, com autoria
dos monges ou dos clérigos”. As pinturas medievais representavam a vida de
santos, quadros da Bíblia e mostravam situações apocalípticas, que provocavam
nas pessoas um profundo temor da morte e do inferno.
Entre os séculos IX e XII, os mesmos autores reconhecem que na época
medieval foram diversos os ataques e as invasões provocadas por germanos,
eslavos, tártaros e mongóis ao Império Romano. Estes movimentos provocavam
estagnação na economia, na saúde e na educação, originando na sociedade muitos
leigos e analfabetos (2011, p. 88).
Diante deste quadro, surgiu a necessidade do empreendimento de ações que
promovessem a educação, protegessem e recuperassem a saúde da população,
além de outras medidas que freassem os distúrbios que abalavam a sociedade.
Segundo Vaghetti et al. (2011, p.89) “foram os monastérios, na figura da
Igreja, os responsáveis pela manutenção de ações voltadas para religião, educação,
e saúde” . Os monastérios era o lugar onde viviam os elementos do clero regular, e
podiam assumir momentaneamente a figura de professores, eruditos ou escritores e
estudavam teologia, filosofia, literatura e os eventos naturais sob o ponto de vista da
religião.
Como as precauções sanitárias não eram conhecidas houve a necessidade
da construção de um local para abrigar e cuidar das pessoas doentes. A Igreja
ocupou-se da edificação de grandes hospitais, onde os monges-militares e
cavaleiros feudais eram os responsáveis por atender os enfermos. Vários eram os
fatores relacionados à saúde, desde soldados feridos até epidemias, doenças
32
nutricionais que ocorriam pela baixa ingesta de alimentos, calamidades naturais,
como seca, que prejudicavam a colheita e causavam morte do gado e condições de
higiene precárias.
Conforme Vaghetti et al. (2011) ao citar Fremantle (1965) e Perry (2002),
afirma que o “comércio tornou-se a força principal do desenvolvimento econômico,
fazendo surgir então as corporações”, que, organizadas por níveis hierárquicos –
mestres, oficiais e aprendizes –, tinham o propósito de regulamentar o processo
produtivo e artesanal das cidades.
A direção da Igreja Católica pertencia – como ainda pertence – ao Papa e aos
Bispos; cada Bispo era responsável pela administração de um território denominado
Diocese – esta formada por várias paróquias.
Coube também à Igreja a organização do processo educacional. No texto do
mesmo autor, as escolas Paroquiais limitavam-se à formação de eclesiásticos e o
primeiro ensino eram os salmos, as lições das Escrituras e a educação cristã,
ministrados por qualquer sacerdote encarregado de uma paróquia.
As Escolas Monásticas, a princípio, visavam à formação de futuros monges
com regime de internato e, mais tarde, a formação de leigos cultos – filhos dos Reis
e dos servidores. Seu programa de ensino incluía aprender a ler e escrever,
conhecimento da Bíblia, canto e um pouco de aritmética. Seu conteúdo foi
enriquecido com latim, gramática, retórica e dialética.
As Escolas Palatinas foram fundadas pelo Imperador da época, junto à sua
corte e no seu próprio palácio. Seus professores eram clérigos e lecionavam as sete
artes liberais: trivium, ou ensino literário – gramática, retórica e dialética – e o
quadrivium, ou ensino científico – aritmética, geometria, astronomia e música.
As Escolas Catedrais, originadas das antigas escolas monásticas, foram as
que mais evoluíram no modo de ensinar e passaram a ser mantidas pela criação de
benefícios para a remuneração dos mestres.
Professores e alunos começaram a se reunir, em corporações chamadas de
“universitas”, para discutirem seus interesses e diferentes modos de pensar. Não se
sabem ao certo as origens das corporações universitárias, mas sua organização foi
33
lenta e à custa de conquistas sucessivas. A organização dessas reuniões, bem
como a representação dos mestres perante a Igreja, fez surgir à ideia da
reestruturação do processo educacional em algumas escolas, resultando na figura
do Reitor e na ideia de Universidade.
As universidades, conhecidas por ex privilegio, fundadas por autoridades (reis
ou papas), recebiam da Igreja Católica o título de studium generale, o que indicava a
Instituição como um estabelecimento de excelência internacional; já as que evoluíam
de escolas, eram chamadas por ex consuetudine. (LE GOFF, 2011, p.35)
Os acadêmicos destes Institutos de Excelência eram encorajados a ministrar
cursos em outros Institutos para partilhar e divulgar os documentos elaborados. A
preocupação era o domínio dos saberes dispostos em livros, com textos soberanos
e de verdades absolutas.
Os magníficos manuscritos da época são obras de luxo. O tempo que se gasta para escrevê-los, com um belo traço – a caligrafia é um sinal, ainda mais expressivo que a caco grafia, de uma época inculta na qual a demanda de livros é mínima. Os livros não são feitos para serem lidos. Vão engordar os tesouros das igrejas, dos ricos particulares. Constituem um bem mais econômico do que intelectual. Alguns de seus autores, recopiando as frases dos antigos Padres da igreja, afirmam com clareza a superioridade do valor do conteúdo espiritual (LE GOFF, 2011, p.79).
A evolução destas corporações esteve associada ao surgimento do
“intelectual” do século XII, cujas características se resumiam a um profissional, na
atividade de professor ou erudito, portador de materiais e técnicas que auxiliavam
no ofício de escrever ou ensinar.
Foi no Chartres, o grande centro cientifico da época, influenciado por traços
da cultura greco-arábe, que outras características como clareza do raciocínio, o
cuidado da exatidão científica, a fé e a inteligência começaram a se desenvolver.
Houve a necessidade da utilização de uma linguagem em que as palavras
deveriam ser utilizadas para significar a realidade. Foi então que se começou a
reivindicação da aliança entre razão e fé.
Para Le Goff (2011, p.40), “o intelectual do século XII foi aquele que se
afirmou como um artesão da ciência e do conhecimento, responsável em
transformar e criar em cooperação a criação Divina e da Natureza”. Sua função
34
estava no ensino das artes liberais, o que não implicava apenas o conhecimento,
mas também uma produção que se originasse da razão.
Nessa perspectiva, o quadro escolar composto pelas sete artes liberais sofreu
alterações e novas disciplinas – Física e Ética - foram introduzidas para completar a
formação do homem.
O século XIII foi marcado pelo começo do divórcio entre a fé e a razão e uma
dupla burocracia entre leigos e eclesiásticos começou a surgir. As universidades do
século XIII continuaram a progredir conforme o contexto do século. O Reitor perdeu
o seu poder de decisão sobre a universidade, que se tornou independente do clero.
Conquistas e novos privilégios começaram a fazer parte da identidade da
universidade, dentre eles a autonomia jurisdicional, o direito de greve e de secessão
e o monopólio da atribuição dos graus universitários.
Os primeiros centros criados foram em Paris e Bolonha, de onde se
estenderam para Espanha e Polônia. Cada uma das universidades possuía seu
método organizacional de conteúdos, horários de aula, divisão de classes e níveis
de seleção dos alunos e professores, que variavam de acordo com as influências do
momento histórico, social, político, econômico e cultural.
As indicações a respeito da idade dos estudantes e da duração dos cursos,
em consulta às bibliografias, apareceram de formas imprecisas e muitas vezes
contraditórias, Para Goff (2011) e Sleutjes (2006) o ensino tinha a seguinte
organização: entre quatorze e vinte anos, era o de base composto pelas artes
liberais com formação em duas etapas, o Bacharelado (baccalauréat) e o
Doutoramento (doctorat); entre vinte e vinte e cinco anos os cursos eram de
Medicina e Direito, com duração de seis anos e um dos critérios para se conseguir a
titulação era o mestrado em artes; a Teologia, com duração de oito anos de estudo,
atendia os estudantes com faixa etária mínima de trinta e cinco anos e seu
referencial teórico era a Bíblia.
O método de ensino consistia em leituras de textos e discussão do tema
proposto pelos mestres. Para o jovem concluir sua formação e obter os graus,
precisava realizar exames criteriosos que se modificavam constantemente.
35
Para Le Goff, (2011, p.107)
Antes do exame provado o candidato era apresentado ao Reitor, ao qual jurava obedecer aos estatutos e não tentar corromper os examinadores. Na manhã do exame, depois de ouvida a missa, o candidato comparecia diante de um colegiado de doutores que lhe entregavam dois trechos de textos para comentar. Em seguida, vinha o exame público. Conduzido com pompa a Catedral, o licenciado fazia um discurso e lia uma tese sobre um assunto de Direito que defendia contra estudantes que o atacavam, representando pela primeira vez o papel de mestre numa disputa universitária. Aprovado, recebia as insígnias de sua função: um anel de ouro, um gorro simbólico etc. Parte do cerimonial deste doutoramento subsiste na Universidade até
os dias de hoje.
Outros instrumentos para apoiar o ensino foram descobertos, dentre eles
estavam à escrivaninha, a lâmpada noturna, a lanterna, a cadeira, o quadro negro, a
pena, a tinta entre outros.
O livro se tornou a base para a aprendizagem e seu formato sofreu
alterações: as consultas poderiam ser constantes e o seu transporte de um lugar a
outro agora era permitido.
Com o progresso do século, muitas foram às contradições de ideias entre os
universitários, o que gerou diversas crises dentro das universidades, onde, das
conciliações mais difíceis, estavam àquelas referentes aos salários dos mestres, as
relações entre a razão e a experiência e entre a teoria e a prática.
A fome, as pestes e as guerras ocorridas no século XIV aceleraram a
decadência do Feudalismo e o fim da Idade Média na Europa Ocidental que
refletiram no funcionamento das universidades e das escolas medievais.
Foi com o movimento intelectual entre os séculos XIV e XVI, chamado de
Humanismo Renascentista, que se conseguiu reformar a educação na Europa, com
uma educação voltada para a prática, em que o indivíduo fosse capaz de interpretar
as ideias e as ações realizadas por outras pessoas.
O século XVIII foi chamado de Século das Luzes ou do Iluminismo, pela ideia
de relação com o esclarecimento, pois até então os homens da sociedade do antigo
regime viviam submissos às ideias da Igreja.
Primon (2000, p. 40) afirma que a “universidade moderna teve seu marco
histórico com a fundação da Universidade de Berlim”, em 1810, por Wilhelm Von
36
Humboldt, com enfoque na formação pela ciência. Contrapondo Primon (2000),
Barbosa (2010, p. 69) declara que “os passos iniciais para o desenvolvimento da
ideia da formação pela ciência haviam sidos iniciados em Jena, no final do século
XVIII, e serviram de experimentos para a Universidade de Berlim”.
Conhecida também como “a universidade da pesquisa”, sua prioridade estava
na produção e fundamentação de novos conhecimentos, que dependiam do esforço
do indivíduo e do acesso à estrutura e ao financiamento. O projeto da universidade
moderna se estruturou de forma que fosse diferente de tudo o que se constituía
como universidade até aquele momento. Suas tarefas eram em prol do
desenvolvimento máximo da ciência e de produção do conteúdo responsável pela
formação intelectual.
Pereira (2009), apoiado na obra de Dréze e Debelle (1983), alega que as
características da universidade moderna vinculavam-se a duas correntes principais:
a dos idealistas – defensores de que a formação pela ciência deveria contar com um
corpo docente e discente criador e integrado para promover o desenvolvimento do
intelecto – e funcionalistas – com propósitos voltados para as necessidades sociais,
com a função de servir a nação e ser de utilidade coletiva, sociopolítica e
socioeconômica –, modelo de universidade napoleônico, inglês, norte-americano e
socialista, descrito adiante.
Apesar de ser uma forte referência, o modelo alemão não foi o único entre as
universidades; a evolução do sistema educativo foi marcada, ao longo dos anos, por
diferentes modelos, ora voltados para a pesquisa, ora para o papel do Estado, ora,
ainda, enfatizando o pluralismo, a autonomia e a cultura, os quais, por sua vez,
assumiram diferentes papéis ao longo da história.
A história das universidades nos revela que a cultura da adoção de modelos
se sustentou a partir de padrões tradicionais, os quais, agrupados, formam uma
identidade própria. O mesmo autor define “modelos” como “representações da
realidade” e a sua utilização por diferentes instâncias pode se manifestar por
diversos motivos (FELIX, 2008; PEREIRA, 2009).
A importância desta reflexão está em conhecer como a pesquisa emergiu e se
desenvolveu dentro das universidades, bem como características de outros
37
modelos, a fim de perceber como influenciaram e influenciam a universidade
brasileira. Dentre os modelos principais, Rossato (2005) cita: o napoleônico –
voltado para o monopólio estatal e a divisão de faculdades em compartimentos; o
inglês – baseado em regime de internato e com preferência para o sexo masculino,
de formação voltada para a personalidade e o caráter moral; norte-americano –
atendendo a um público diverso e com finalidade de formação técnica e
profissionalizante; e socialista – voltado aos interesses do Estado.
Nesse cenário, surgiu o Brasil, que, como colônia de Portugal, permaneceu
inexpressivo nesse desenvolvimento. A criação de universidades foi proibida pela
metrópole, sendo oferecidas, em seu lugar, bolsas de estudos em Coimbra, para
alguns dos filhos de colonos. Felix (2008) e Cunha (1989) afirmam que, foi em 1800
que D. João VI criou cátedras isoladas de ensino superior para a formação de
profissionais.
A universidade brasileira é jovem e se tornou realidade no início do século XX.
Passou por várias etapas e a cada uma delas correspondeu a um modelo: a
universidade dos anos 50 e 60, voltada para a pesquisa dentro e fora das
instituições, a dos anos 70, fruto da massificação do ensino superior e com ênfase
na formação para o mercado de trabalho; a dos anos 80, com destaque para as
parcerias entre universidades públicas e empresas privadas e a dos anos 90 em
diante, voltada para a gestão de seus recursos, para a avaliação de desempenho,
com indicadores de eficiência, eficácia e efetividade, a exemplo dos critérios
utilizados no mercado.
O primeiro Estatuto das Universidades Brasileiras surgiu em 1931 e
determinava que só fosse concedido o status universitário à instituição que reunisse
três das quatro unidades seguintes: Faculdade de Medicina; Escola de Engenharia;
Faculdade de Direito e Faculdade de Educação, Ciências e Letras (RUIZ, 2008;
ROSSATO, 2005; CUNHA, 1989).
Nos textos dos autores foi em 1937, no Estado Novo, que a universidade,
através de decreto, passou a chamar-se Universidade do Brasil, sendo os diretores
das unidades designados pelo Presidente da República.
38
As normas de organização e funcionamento do Ensino Superior têm
suas funções delineadas por meio de medidas legislativas, complementadas por
portarias, pareceres, planos e mecanismos administrativos.
Em 1968, surge a Lei 5.540, denominada Lei da Reforma Universitária, que,
embora reconhecesse a autonomia didático-científica, disciplinar, administrativa e
financeira das universidades, limitava-as, entretanto, peias intervenções
governamentais. Com esta lei, afirma Cunha, foi extinto o regime de cátedras, sendo
substituído pelo regime departamental, que propiciou o crescimento do número de
docentes e a expansão de matrículas universitárias.
A reforma universitária de 1968 foi inspirada em modelos estrangeiros, que
propunham as seguintes introduções: regime de créditos, cursos de curta duração,
regime departamental, Pós-Graduação, "taylorismo" na organização do trabalho,
campus universitário segregado da cidade e outras inovações.
O que caracteriza a universidade brasileira é a articulação entre ensino e
pesquisa, com características semelhantes às utilizadas nas universidades de
modelo alemão, e a extensão, fruto da influência do modelo universitário norte-
americano. Este tripé foi aprovado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional No 9.394/96.
Acontece que, ao longo dos últimos anos, alterações na organização
universitária desestabilizaram o modelo que acolhia os conhecimentos e os utilizava
para um bem social, sendo substituído por novos modelos que atendessem a
emergência sócio-politico-econômica.
Apesar do tripé, Pereira (2009) afirma que, “no Brasil, são poucas hoje as
instituições universitárias voltadas para ensino e pesquisa”. Essa vinculação é
defendida por universidades que não têm como finalidade o atendimento às
necessidades do mercado ou da sociedade.
Hoje, no Ensino Superior, existe uma diferenciação das funções da
universidade, que se dividem entre educação geral, educação profissionalizante e
educação de elite. A ênfase na pesquisa científica encontra-se predominantemente
39
na Pós-Graduação, e é importante distinguir o tipo de pesquisa que é realizado na
Pós-Graduação acadêmica daquele que se faz na Pós-Graduação profissional.
Como já visto, o conhecimento pode exercer influência no comportamento das
pessoas e, atualmente, o que se vê é que os conhecimentos produzidos nas
universidades são pouco difundidos e utilizados pela sociedade.
Santos (2011, p.45) faz um adendo sobre a transição do conhecimento
universitário para o conhecimento pluriversitário:
O primeiro também conhecido como conhecimento científico, geralmente era produzido nas universidades, e os investigadores eram quem determinavam os problemas científicos a resolver, sua relevância e metodologias de pesquisa. O conhecimento pluriversitário é um conhecimento contextual, à medida que o princípio organizador da sua produção é a aplicação que lhe pode ser dada, a iniciativa da formulação dos problemas que se pretende resolver e a determinação dos critérios de relevância é o resultado de uma partilha entre pesquisadores e utilizadores. Assim a sociedade deixa de ser um objeto das interpelações da ciência para ser ela própria sujeita de interpelações a ciência.
Atualmente, muito se questiona se realmente a universidade tem realizado
pesquisa científica. Nessa perspectiva, vale lembrar que o estudante universitário
não é um cientista, já formado e integrante de uma equipe de pesquisadores que
trabalham para e pela ciência, movidos no objetivo de descoberta capaz de
aumentar o conhecimento e o domínio da humanidade. Para se engajar na Ciência,
ele deve treinar seus caminhos, assumir uma mentalidade científica e aprender com
o rigor de acordo com as normas da metodologia.
A Metodologia Científica, geralmente ministrada nos primeiros semestres de
um curso, é a disciplina que esclarece a maneira mais adequada, econômica e
eficiente de condução dos estudos. Ela indica também o caminho certo na procura
do saber para desenvolver hábitos de estudo e técnicas de trabalho.
O que distingue a classe dos cientistas da classe dos estudantes é o fato de
que o primeiro grupo dispõe de recursos e condições de trabalho que favorecem a
justificativa e relevância no progresso da ciência, enquanto o segundo, ao realizar
pesquisas dentro dos princípios estabelecidos pela metodologia científica,
reconhecem as etapas do caminho percorrido pelos cientistas e suas conclusões.
Apesar do cenário, a universidade continua a ter um papel fundamental para a
emergência desse novo modo de produção do conhecimento. A universidade, para
40
retomar seu “status” e se manter viva como utilidade social, científico-tecnológica, de
produção e disseminação do conhecimento, deve manter uma estrutura
administrativa e pedagógica flexível, em que a consulta e a participação coletiva
sejam uma premissa.
Severino (2007, p. 24-25), ao conceituar “pesquisa”, define também o que
significa “produzir conhecimento”:
O conhecimento se dá como construção do objeto que se conhece, ou seja, mediante nossa capacidade de reconstituição simbólica dos dados de nossa experiência, apreendemos os nexos pelos quais os objetos manifestam sentido para nós, sujeitos cognoscentes... Trata-se, pois, de redimensionar o próprio processo cognoscitivo, até porque, em nossa tradição cultural e filosófica, estamos condicionados a entender o conhecimento como mera representação mental, mas esta não é o ponto de partida do conhecimento, e sim o ponto de chegada, o término de um complexo processo de constituição e reconstituição do sentido do objeto que foi dado à nossa experiência externa e interna.
Marques et al. (2008, p.17), fazem uma reflexão sobre o papel da pesquisa
dentro da universidade, onde, na maioria das vezes, é entendida como o domínio de
um conjunto de procedimentos e de técnicas adquiridos, geralmente na disciplina de
Metodologia da Pesquisa. Para o autor, no ambiente acadêmico, existe uma grande
preocupação em seguir as normas das academias, com ênfase na metodologia do
trabalho, e não no comportamento científico diante da produção de conhecimento
novo.
Para muitos a metodologia é apenas um conjunto de procedimentos técnicos, que visa, prescritivamente, a uniformização de padrões na execução e apresentação de produtos acadêmicos. Procedimentos que, na prática cotidiana, poderiam ser dispensados como meras formalidades em prol da “simplicidade” e do “ganho de tempo”. Pensar metodologia deste modo seria primeiro, desconsiderar um dos principais pressupostos do saber científico, o fato do conhecimento não só possuir conteúdo, mas também forma; depois, prescindir de dois pré-requisitos deste conhecimento específico: a clareza e a distinção. (MARQUES, et al. 2008, p. 17),
Diante da bibliografia dos autores, Augusto (1990), Demo (2001) e Bagno
(2009), os possíveis fatores que aumentam as dificuldades para realizar a pesquisa
científicamente são os diferentes conceitos do que seja pesquisar – a realização da
pesquisa depende do objetivo que se quer alcançar, seja para o ensino,
aprendizagem ou investigação –, a posição da Universidade para a prática da
pesquisa acadêmico-científica, a concepção de ciência e sua percepção social, as
barreiras existentes no sistema educacional – no qual a pesquisa científica deveria
ter uma abordagem em todos os níveis e as barreiras existentes no sistema de
pesquisa – impossibilidade de apoio, em nível nacional e internacional, nas
41
atividades voltadas ao conhecimento, mecanismos de atualização aos professores
engajados na educação científica e financiamentos.
Experiências importantes têm surgido no sentido de buscar caminhos para
amenizar a falta de mediações entre universidade e sociedade, com a produção de
conhecimento voltada à resolução dos problemas sociais.
Buarque (2000, p.162) enuncia que:
As universidades podem ser fundadas por príncipes, cardeais, presidentes, alunos, professores, mas elas só podem ser inventadas ao longo do tempo pela própria comunidade acadêmica, em sua convivência com o mundo inteiro e com a sociedade onde se situa.
Logo, uma universidade não é a simples inauguração de um prédio, mas sim
a influência dos atores sociais, por meio de geração de professores e alunos,
colaboração de funcionários reagindo sobre o meio onde está situada, de acordo
com as exigências de cada momento.
A universidade continuará a ser um instrumento de transição – sua história e
os avanços construídos demonstram a formulação de novos modelos. Os problemas
atuais não persistirão, novos problemas aparecerão e consequentemente novos
modelos serão construídos, de maneira inovadora, estabelecidos por meio de sua
trajetória e experiências.
Os criadores das primeiras universidades não foram gerentes, foram
pensadores, intelectuais insatisfeitos e rebeldes diante do ensino tradicional limitado
a convenções e dogmas.
A universidade brasileira, quando surgiu, teve sua organização e função
baseada nos modelos estrangeiros dos países desenvolvidos – Estados Unidos e
Europa. Sua evolução, tanto em relação à expansão quanto em relação ao modelo,
sempre atendeu a necessidades de ordem econômica, social e política.
Para Buarque (2000, p. 92):
O desafio da Universidade é situar-se, portanto, no contexto da sociedade brasileira, colaborando na criação de um pensamento capaz de ajudar na construção de uma idéia de nação que conquiste sua soberania, que organize sua sociedade de forma eficiente e que caminhe para uma integração de uma crescente igualdade entre seus habitantes.
42
Para finalizar, vale ressaltar que o processo de construção e crescimento das
universidades não se deu – e não se dá – de modo harmonioso e unilateral. O
sistema não é mantido por um “modelo único” e imutável, a importação de modelos
continua até os dias de hoje e contribui com orientações às necessidades reais de
cada país.
Assim, a universidade continua sendo um espaço que contribui, por meio das
pesquisas, para a produção de conhecimento e para a socialização do saber no
País.
43
CAPÍTULO 3
A PESQUISA COMO SUBSÍDIO PARA A FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO
A pesquisa em enfermagem, tanto para a profissão quanto para a sociedade, é de grande relevância, sendo necessária para legitimar práticas e serviços existentes e para prover evidências. Em outras palavras, consolida a enfermagem como profissão e ciência. Porém nem sempre a pesquisa em enfermagem teve impacto, por ser historicamente recente. NOGUEIRA (1982).
É na universidade que o aluno inicia sua marcha para o caminho acadêmico
superior, o que implica mudanças na forma como professores e alunos conduzirão o
processo de ensino e aprendizagem.
Sabe-se que muitos alunos chegam ao Ensino Superior com diferentes níveis
de preparação, não apenas no que diz respeito aos saberes científicos e
acadêmicos, mas também aos aspectos sociais. Alguns apresentam dificuldades de
compreensão de textos e deficiências de escrita e leitura por não haver, nos níveis
escolares anteriores, ações que garantissem os mecanismos para enfrentar e
cumprir as exigências da Graduação.
Torna-se importante identificar o perfil dos ingressantes para que suas
habilidades e competências sejam adequadamente avaliadas e para que lhes sejam
oferecidas, ao longo do curso superior, atividades preventivas e remediadoras que
possibilitem não só o necessário desenvolvimento cognitivo, como também o
desejável desenvolvimento pessoal e profissional.
Este capítulo descreve a trajetória da pesquisa em enfermagem e faz uma
análise sobre a sua importância para a formação do enfermeiro. Discute também a
perspectiva da universidade a respeito da pesquisa científica no curso de
Enfermagem e traz uma reflexão sobre o comportamento esperado para seu
desenvolvimento na Graduação.
Os primeiros parágrafos sinalizam as mudanças e dificuldades encontradas
pelo aluno, assim que ingressa na universidade. Isto implica que as atribuições da
universidade sejam aquelas inerentes às necessidades dos alunos, com ensino de
conteúdos, habilidades e atitudes, que sanem os problemas referentes à sua área
de formação.
44
A educação superior tem uma tríplice finalidade: profissionalizar, iniciar a
prática científica e formar a consciência político-social do estudante; para dar conta
desse compromisso, a universidade tem como funções atividades específicas –
ensino, pesquisa e extensão – que devem ser articuladas entre si. (SEVERINO,
2007, p.22)
A tradição cultural brasileira privilegia a condição da universidade como lugar
de ensino, que pratica e transmite o conhecimento para instrução, educação e
profissionalização. Apesar da importância dessa função, não se pode esquecer que,
além de transmitir, a universidade também deve produzir o conhecimento. Deve ser
entendida como uma instituição que articula o ensino e a pesquisa, como fonte de
transformação da sociedade, diferenciada do ensino escolar pela forma de lidar com
o conhecimento.
A pesquisa em enfermagem é um mecanismo de propulsão, um instrumento de
redirecionamento e redimensionamento do saber, sendo a investigação científica
uma prática social e um ato político, pelo qual a enfermagem obtém ferramentas
para se fortalecer como ciência e melhorar a qualidade de vida do ser humano
(KLETEMBERG et al., 2011, p.317) apud (SERVO; OLIVEIRA, 2005).
Os projetos pedagógicos instituídos nas escolas de Enfermagem atendem às
exigências das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) do Curso de Graduação em
Enfermagem, aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação – Câmara de
Educação Superior –, por meio da Resolução CNE/CES 3/2001, publicada no Diário
Oficial da União em 09 de novembro de 2001.
As DCNs trazem a perspectiva de assegurar a flexibilidade, a diversidade e a
qualidade da formação oferecida aos estudantes e visam a direcionar as instituições
de ensino superior para a formação de competências e habilidades gerais dos
profissionais de saúde na atenção à saúde, tomada de decisões, comunicação,
liderança, administração, gerenciamento e educação permanente.
O curso de enfermagem da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID), em
seu Projeto Pedagógico, propõe-se a dar ao aluno condições de desenvolver
investigação de cunho científico – empírico ou experimental –, para que ele
reconheça a construção e a sustentação do conhecimento na área.
45
Nas condições universitárias brasileiras, em que a grande maioria dos
estudantes de enfermagem não dispõe de tempo integral para o curso e se
enquadra na classe dos alunos trabalhadores, são muitos os que priorizam o
aspecto assistencial e desconhecem as normas envolvidas na Pesquisa Acadêmica
Científica, tais como desenvolvimento e estrutura do trabalho, padrões de redação,
seleção e organização da leitura das obras, construção de citações, bem como seu
propósito e importância para a profissão.
A LDB (Lei de Diretrizes e Bases) da Educação tem como proposta fazer que
os egressos tornem-se críticos, reflexivos, dinâmicos, ativos diante das demandas
do mercado de trabalho, aptos a “aprender a aprender”, a assumir os direitos de
liberdade e cidadania, a fim de compreender as tendências do mundo atual e as
necessidades de desenvolvimento do país.
A prática científica na universidade exige mediações curriculares que
articulem uma legitimação político-educacional de conhecimento. Segundo Martins
(2010),
Este fim é proposto pelas políticas de pesquisa, que visam consolidar uma cultura de
pesquisa dentro da Universidade, por meios do a) incentivo e apoio a criação ou
fortalecimento de grupos, núcleos, laboratórios e centros de pesquisas; b) estímulo à
ampliação de projetos, produções e publicações de artigos em revistas, livros
científicos e c) participações em congressos, seminários, simpósios entre outros.
São essas políticas que determinam quais devem ser as condutas
institucionais na perspectiva da indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e
Extensão. De acordo com o Projeto Pedagógico Institucional (PPI), as políticas de
pesquisa da UNICID são propostas e apoiadas pelo Comitê de Apoio à Pesquisa
(COPesq) administrado pela Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, cujas
principais atribuições foram criadas pela Resolução Consepe (Conselho Superior de
Ensino, Pesquisa e Extensão) nº 05, de 18/06/2008, e que tem por objetivos:
a) efetuar levantamento anual junto das diretorias de cursos e
coordenadorias, com o fim de identificar as linhas de pesquisa existentes,
seus respectivos responsáveis e os projetos de pesquisa que se encontra
em andamento na Universidade;
46
b) identificar e avaliar periodicamente o desempenho dos distintos grupos de
pesquisa registrados no CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico);
c) registrar, avaliar e divulgar projetos de pesquisa a serem desenvolvidos,
organizando um sistema de informações sobre os assuntos relacionados
com a pesquisa;
d) publicar normas para o desenvolvimento de trabalhos acadêmico-
científicos, visando propiciar homogeneidade na sua produção;
e) coordenar e aperfeiçoar formas de divulgação dos resultados de pesquisas
realizadas no âmbito da UNICID;
f) auxiliar o pesquisador na obtenção de recursos nas agências de fomento;
g) acompanhar as atividades de pesquisas ligadas aos programas de
Iniciação Científica – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação
Científica (PIBIC);
h) publicar relatórios periódicos com informações sobre as pesquisas
realizadas, trabalhos apresentados e produção científica publicada;
i) organizar anualmente a semana científica da UNICID, onde serão
divulgados os principais trabalhos realizados e em andamento.
Para Pádua (1998, p.35) “as funções da Universidade (ensino, pesquisa e
extensão) se articulam e se implicam mutuamente, isto é cada uma destas funções
só se legitima pela vinculação direta às outras duas, e as três são igualmente
substantivas e relevantes”. Não haveria o que ensinar, nem haveria ensino válido, se
o conhecimento a ser ensinado e socializado não fosse construído mediante a
pesquisa, mas não haveria sentido em pesquisar, em construir o conhecimento
novo, se não se tivesse em vista o beneficio social que ele poderia acarretar.
Não se trata de transformar a universidade em um instituto de pesquisa, mas
de refletir sobre o seu papel e sobre a importância da atividade de ensino ser
vinculada à atitude de investigação.
47
Uma universidade comprometida com a proposta de pesquisa não pode
deixar de investir na formação continuada de seus docentes como pesquisadores e
não poderá deixar de colocar os meios necessários – condições de infraestrutura
técnica, física e financeira – para atingir esse fim.
Pereira (2004), ao citar Fourez (1995), revela que:
A ciência possui um lado material e um lado intelectual. O primeiro inclui as bibliotecas, os laboratórios, as revistas especializadas etc.. O segundo, toda uma organização mental que pode ser consciente ou não e que serve para classificar o mundo e sua abordagem.
A aquisição do conhecimento pode se dar de maneira diversificada, por meio
de serviços bibliotecários, assinaturas de periódicos científicos, aquisição de
material bibliográfico, assinatura de bases de dados e pelo estímulo da universidade
à participação de seus alunos e professores em eventos nacionais e internacionais,
ou realização de estágio e intercâmbio, entre outros.
O ambiente científico são os locais onde estas atividades podem acontecer; é
provido de características científicas e organizacionais que influenciam e contribuem
para a formação dos valores próprios de uma instituição acadêmica.
A “comunidade científica”, “comunidade de pesquisa”, “comunidade
acadêmica”, “comunidade de conhecimento” ou “disciplinares”, integra um ambiente
restrito que, por sua vez, pode ser entendido como o agrupamento de pessoas que
compartilham de um tópico de estudo, desenvolvem pesquisas e dominam um
campo de conhecimento (SEVERINO, 2007; WANDERLEY, 2003; COSTA, 1999).
Um exemplo de comunidade científica são os grupos de pesquisa, que se
dedicam aos portais de informação científica, sítios pessoais de pesquisadores
renomados, bases de dados com referenciais e textos completos, listas de
discussões, fontes de financiamento e cooperação técnico-científica, calendários de
eventos internacionais, entre outros.
Nesse cenário, a UNICID está em busca de oferecer melhores condições para
restabelecer a tradicional pesquisa na Instituição, com o apoio na formação de seus
docentes e a criação de instâncias internas com participação em programas e
grupos.
48
Sua biblioteca oferece recursos por meio de sistema computadorizado para
que seja possível realizar buscas de fontes ou consultas interbibliotecas; conta
também com revistas de enfermagem indexadas, que podem ser consultadas no
CINAHL (Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature) e no MEDLINE
(Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), inclusos no International
Nursing Index.
Pereira (2004, p.33) relata que:
A metodologia da pesquisa tem de possibilitar aqueles que dela se valem entender o porquê de as ciências serem qualificadas de rigorosas. A questão do rigor da ciência tem consequências importantes para a metodologia da pesquisa, uma vez que por ela é que os pesquisadores terão de aprender muito bem a diferença entre a construção de uma interpretação científica em vista de uma determinada situação, e a construção de uma interpretação a partir de uma situação qualquer.
O acadêmico não deve ser aquele que vai à universidade apenas para se
fazer presente ou receber conhecimento da instituição, mas aquele que, consciente
da sua função e formação, deve assumir uma postura científica com o intuito de
conhecer e praticar os métodos de investigação para aprimorar as técnicas de
trabalho.
A pesquisa científica exige que o aluno tenha clareza e respeito às regras e
linguagens por ela exigidas. Para isso, torna-se necessário assumir um
comportamento – ético, de escrita e de leitura – de modo que, ao longo do curso, o
aluno estude, frequente a biblioteca, faça pesquisas, participe das aulas práticas
com um objetivo investigativo. Este tipo de postura não é inato em uma pessoa; ao
contrário, é forjado ao longo da vida e à custa de muito esforço e exercício.
A postura científica é uma atitude ou uma disposição subjetiva do pesquisador
que busca soluções sérias, com métodos adequados para o problema que enfrenta;
na prática, é a expressão de uma consciência crítica, objetiva e racional
(CIANCIARULLO, 2008; PÁDUA, 1998).
É crítica no sentido de impedir a aceitação do que é fácil e superficial, pois
leva o pesquisador a aperfeiçoar seu julgamento e a desenvolver discernimento
sobre uma teoria. Torna-o capaz de distinguir, discernir, analisar e avaliar os
49
elementos componentes da questão. O crítico só admite o que é suscetível de
prova. É objetiva e racional para provocar o rompimento com as posições subjetivas,
pessoais e mal fundamentadas do conhecimento vulgar. A postura científica se
traduz no senso de observação, no gosto pela precisão e pelas ideias claras, na
imaginação ousada, na necessidade da prova, na curiosidade que leva a aprofundar
o conhecimento sobre os problemas, na sagacidade e no poder de discernimento.
Barros (2002, p. 500) afirma que “não há nada que diferencia a pesquisa em
enfermagem da pesquisa em outras áreas, pois o conhecimento e as habilidades
necessárias para a pesquisa são similares”. A diferença está nos conhecimentos
específicos de cada área; para a enfermagem, é necessário conhecer a perspectiva
holística da pessoa, o processo “saúde versus doença”, teorias que servem de base
e a própria prática assistencial.
A investigação em enfermagem, tal como nos outros ramos da ciência, parte
sempre da formulação de um problema de investigação, que é definir o fenômeno
em estudo por meio de uma progressão lógica de elementos, de relações, de
argumentos e de fatos.
Os órgãos responsáveis pela profissão já discutem e descrevem, em artigos e
entrevistas, uma preocupação no sentido de preparar estudantes, professores e
enfermeiros para a realização pesquisas em enfermagem no século XXI.
Kletemberg et al. (2011, p. 317), ao citarem Alcântara (1964), anunciam que
as primeiras questões ligadas ao desenvolvimento da pesquisa em enfermagem
foram contempladas no temário oficial do XVI Congresso Brasileiro de Enfermagem,
em 1964, realizado em Salvador (BA). Neste congresso, foi ressaltada a
importância de se ter um corpo de conhecimento científico sistematizado que,
constituído de teorias, servisse de base para generalizações, a fim de prosseguir
com novas investigações, novos conhecimentos e consequentemente com a
renovação e atualização da pratica profissional.
Os mesmos autores, ao citar Angerami e Mendes (1998), atestam que foram
estas importantes reflexões que resultaram em recomendações, tanto para a
Associação Brasileira de Enfermagem, como para as professoras de escolas de
enfermagem e chefes dos serviços, no preparo para a realização de pesquisas.
50
Reside aqui a importância de a atividade de pesquisa ser iniciada nas
primeiras séries da Graduação. Para isso, torna-se necessário identificar como as
Diretrizes Curriculares Nacionais, a universidade e o corpo docente enxergam isso.
Cianciarullo (2008), ao citar Pádua (1998), reconhece que “no Ensino Superior, os
bons resultados do ensino e da aprendizagem vão depender em muito empenho
pessoal do aluno no cumprimento das atividades acadêmicas, aproveitando bem os
subsídios trazidos pela intervenção dos professores”.
Para a autora os domínios da investigação científica podem ser estimulados
no aluno por meio de atividades que o façam: a) aprender pela descoberta; b)
identificar e analisar uma situação problema; c) medir as circunstâncias em que se
desenvolve o problema; d) propor soluções pautadas na ciência e; e) analisar,
avaliar e criticar as informações provenientes de diferentes origens para “formar a
sua opinião”.
A pesquisa oportunizará ao aluno na reconstrução de suas concepções sobre
o objeto que lhe foi foco de discussão e unificarão atitudes de responsabilidade,
autonomia, ética, análise, o que motivará o futuro trabalhador a ampliar o seu olhar
sobre as situações que se apresentarem na sua vida profissional.
Seganfredo (2010), Padoin (2009) e Augusto (1990) consideram que as
qualidades necessárias para se adquirir uma postura investigativa são: a)
curiosidade; b) habilidade para questionar a situação existente; c) habilidade para
enxergar a realidade de diferentes perspectivas; d) mente aberta, flexibilidade; e)
segurança própria e no seu trabalho; f) habilidade para expressar e para escrever; g)
desejo de aprender; h) capacidade de raciocínio; i) habilidade para seguir uma linha
de raciocínio; j) tenacidade; k) capacidade para verificar o todo e o detalhe; l)
entusiasmo; m) objetividade; n) capacidade para aceitar as responsabilidades; o)
capacidade para aceitar as críticas; e p)capacidade para se autojulgar
objetivamente.
Importante ressaltar que para se tornar um pesquisador não é necessário ter
todos os requisitos, o importante é saber utilizar uma metodologia rigorosa, participar
de grupos de pesquisas e acompanhar as pesquisas que estão em andamento. Para
51
tanto, é importante que o aluno de Enfermagem adquira hábitos apropriados e
eficazes na condução da sua vida acadêmica.
A Metodologia Científica é a disciplina que geralmente abordará as principais
regras da produção científica para os alunos dos cursos de Graduação e poderá
auxiliar na melhoria da produtividade e da qualidade das suas produções
(SEVERINO, 2007, p.15).
O mesmo autor afirma que, mais do que auxiliar o aluno a elaborar projetos, a
desenvolver um trabalho monográfico ou um artigo científico como requisito final e
conclusivo de um curso acadêmico, essa disciplina visa também a ensinar ao aluno
como se comunicar de forma correta, inteligível, demonstrando um pensamento
estruturado, por meio de regras que facilitam e estimulam a criatividade na seleção
da bibliografia, na prática da leitura de forma organizada, na ousadia e no rigor na
abordagem do assunto, na análise e interpretação de textos e, consequentemente,
na formação de juízo de valor, além de ensiná-los a seguir certas normas de
redação e apresentação do texto final.
Pode-se dizer que, na Graduação, a leitura, a escrita, a linguagem, a ética e a
publicação podem ser direcionados por professores, grupos de pesquisas ou por
programas oferecidos pela universidade.
A leitura se dá por meio de consultas e seleção de fontes de informação; ela
fornece argumentos teóricos e gera um bom aproveitamento nos estudos
acadêmicos. O aluno deverá documentar e destacar as ideias principais para somá-
las a novas informações.
A escrita acadêmica deverá obedecer às orientações e normas da
Associação Brasileira de Normas Técnicas ou dos Conselhos Editoriais dos
periódicos. Nesse caso, o uso da linguagem é claro, objetivo e correto. O aluno
deverá ser estimulado a consultar dicionários bons e atuais, com uso de
nomenclatura particular para a Enfermagem.
Torna-se necessário que os alunos conheçam as normas e diretrizes das
Comissões de Ética para garantia dos direitos dos indivíduos envolvidos nas
pesquisas que envolvam experimentação.
52
A publicação científica é o meio gráfico em que se veicula e aprimora o
conhecimento da comunidade científica. É responsável também por dar
acessibilidade ao uso do conhecimento produzido. Como consequência desta
publicação, ocorrerá o enriquecimento do currículo acadêmico.
Os meios mais utilizados para divulgação dos resultados das pesquisas
científicas em Enfermagem são os Congressos, os Encontros e as Revistas de
cunho científico. Alguns Hospitais e Escolas também criaram, por meio de boletins
informativos, um espaço para expor os trabalhos que estão sendo desenvolvidos
pela equipe que trabalha ou estuda no local. Outras formas de publicação são
periódicos nacionais, capítulos de livros, manuais, compêndios, entre outros. No
meio acadêmico, as pesquisas se fazem conhecer por meio de Jornadas Científicas
e comemorações da Semana de Enfermagem.
Para Barros (2002, p. 484), a pesquisa em enfermagem é o “processo
científico que valida e define o conhecimento existente e gera novos conhecimentos
que, direta ou indiretamente, poderão influenciar na prática de enfermagem”. Seus
objetivos são responder perguntas e dúvidas oriundas de necessidades práticas ou
de simples curiosidade.
Foi com a implantação dos cursos de Pós-Graduação stricto sensu que a
pesquisa em Enfermagem começou a ser valorizada no Brasil. Santos e Gomes
(2007) observam que a Revista Brasileira de Enfermagem – criada em 1932 e, à
época, intitulada ANNAES de Enfermagem – representa o primeiro espaço no Brasil,
em que as enfermeiras tornaram visível a divulgação de seus enunciados e que,
junto com os Congressos Nacionais de Enfermagem – iniciados em 1946 –, formam
os primeiros ambientes intelectuais utilizados pelas pesquisadoras.
As mesmas autoras afirmam que o desenvolvimento da pesquisa científica
obteve maior respaldo com o Parecer 77/69 do Conselho Federal de Enfermagem, o
qual incentivou principalmente os docentes a defenderem suas teses de Doutorado
e Livre Docência.
Por meio da evolução histórica da Enfermagem, é possível perceber o avanço
na pesquisa, que deve continuar em busca por melhores espaços, com
reconhecimento pautado na ciência pelo tripé ensino-pesquisa-extensão.
53
Durante muito tempo, a prática de enfermagem foi determinada por estruturas
de conhecimento do cotidiano, ou apoiada na colaboração de pesquisas médicas ou
de bibliografias escritas e publicadas por enfermeiras americanas.
Em quase metade dos tempos medievais, os cuidados de enfermagem eram
realizados por pessoas do sexo masculino, pois era considerado impróprio o cuidado
prestado pelas mulheres a um paciente homem que não fosse seu parente próximo.
Com o passar dos tempos, homens e mulheres passaram a ter igualdade no
exercício das atividades de cuidados, mas rapidamente as mulheres se tornaram
essenciais por possuírem características maternas e habilidade no manuseio dos
remédios e cuidado nos ferimentos (VAGHETTI, et al. 2011, p.93 apud Russel,
1993).
De acordo com as referências dos mesmos autores, para a função do cuidar,
as mulheres eram escolhidas pelo clero e ordenadas pelo Bispo. Usavam trajes
normais, moravam em suas próprias casas e possuíam riquezas herdadas.
Deveriam ser virgens ou monjas, cujo principal objetivo era ajudar os pobres e os
enfermos. O cuidado realizado não estava orientado pelo conhecimento cientifico,
mas sim pela prática vivenciada no dia a dia, influenciada pela espiritualidade e por
sentimentos de caridade.
Nesses locais os cuidados eram simples, como cobrir os pacientes, dispor pedras quentes em seu abdômen, colocar sal e vinagre nos pés, aplicar panos frios com água de rosas para aclamar a febre, oferecer leite com açúcar de violetas para favorecer a digestão e usar suco de romã para refrescar a boca, entre outros procedimentos de conforto. (Molina, 1973, apud VAGHETTI, 2011).
O parto e o nascimento, por muito tempo, foram considerados procedimentos
“sujos”, realizados por parteiras, geralmente eram mulheres de meia idade que
utilizavam sua experiência nessa prática. Os médicos só atendiam casos de partos
especiais, nos quais as parturientes eram mulheres de família nobre ou amantes de
um rei.
Por todo o período medieval, as ações de cuidar e curar eram vistas pelo
Cristianismo como ato de caridade. O termo “hospital” nem sempre esteve ligado a
esta instituição, como nos dias de hoje.
54
Durante muito tempo, existiram somente os Monastérios, sob o comando dos
Bispos e Monges, para o cuidado dos doentes, sendo eles os precursores de
famosos hospitais.
Até o século XVII, os hospitais funcionavam como hospedarias, locais de
repouso para mendigos, doentes e pessoas que não tinham para onde ir. Eles
atendiam as misérias humanas, em decorrência das guerras, das epidemias e do
desemprego.
O médico não permanecia no hospital, só quando o chamado atendesse a
interesses políticos. Foi com os avanços da medicina que aconteceu uma
reorganização nos hospitais, que passaram a desenvolver o papel de empresas
produtoras de serviços de saúde.
Foi no século XIII que os hospitais, por meio das mulheres religiosas,
introduziram a enfermagem, com atividades de organização, higiene, alimentação,
conforto, entre outras. Entre os séculos XVII e XVIII, nasceu a figura da mulher
encarregada pelas enfermarias e foi a partir do século XIX que pesquisas
começaram a comprovar que a falta de técnicas assépticas, cuidados nos período
perioperatórios e curativos, levavam os casos a evoluírem com prognósticos ruins
(VAGHETTI et al., 2011 e PAIXÃO, 1979).
O diagnóstico médico deixou de ser sustentado por uma prática médica
religiosa para se assentar em resultados pautados pelo conhecimento cientifico.
Esses acontecimentos marcaram o nascimento da enfermagem moderna e de novos
modos de cuidar da saúde humana.
A enfermagem moderna surge durante a Guerra da Criméia, com a atuação
de Florence Nightingale (Florença, 1820 - Londres, 1910). Esse confronto aconteceu
entre a Turquia e a Rússia, no ano de 1854, e Nightingale foi encarregada de cuidar
do hospital militar em Scútari, com tarefas relacionadas à organização e à limpeza
do local. Florence Nightingale ficou conhecida como “A dama da lâmpada”, por
utilizar uma pequena lamparina para rondar os locais onde os enfermos se
encontravam. Junto de suas devotas, cuidavam dos soldados e escreviam cartas às
suas famílias para informar sobre o seu estado de saúde.
55
Foi na década de 1860 que Florence criou a primeira escola, denominada
Nightingale, no Hospital St. Thomas, em Londres, com a finalidade de preparar
pessoas para o serviço de enfermagem, o qual se constituiu como profissão na
última metade do século XIX, na Inglaterra, atendendo as necessidades da
sociedade, bem como a nova concepção de hospital que se criava. Nesse período, a
medicina e a enfermagem se encontravam no hospital.
A Enfermagem, na época era dividida em duas categorias: a lady nurse –
composta por pessoas para executar o ensino e a supervisão das tarefas
assistenciais – e a nurse, constituída por pessoas para realizar a assistência aos
doentes.
Nesse cenário, surgiu o Brasil, que, como colônia de Portugal, permaneceu
inexpressivo nesse desenvolvimento. Durante quase trezentos anos, as práticas de
saúde eram empíricas e desenvolvidas somente por pessoas leigas, o que
caracterizava um atraso em relação ao que já acontecia na Europa.
A enfermagem no Brasil remonta ao período colonial, com os Jesuítas
responsáveis por catequizar os índios brasileiros. Nessa época, houve epidemias e
endemias de doenças e os próprios índios foram os primeiros a cuidar dos
enfermos. Com a colonização, outras pessoas assumiram essa responsabilidade,
dentre eles jesuítas, voluntários, leigos, escravos, entre outros.
Esta enfermagem empírica perdurou por alguns anos e também foi dividida
entre duas categorias. Os escravos e voluntários eram os responsáveis na
prestação dos cuidados, enquanto os religiosos e cristãos faziam a supervisão na
enfermaria.
Amante et al. (2011, p.171), ao citar Schmidt (2005), certificam que, nas
últimas décadas do século XIX, o papel das mulheres na sociedade começou a
mudar e que alguns movimentos surgiram, reivindicando o direito ao estudo, ao voto
e ao divórcio.
Com base nas referências dos mesmos autores, foi neste contexto que
nasceu Anna Justina Ferreira (Salvador, 1814). Proveniente de uma família de nível
56
social elevado se casou em 1838, com Isidoro Antonio Néri, passando a ser
chamada de Anna Justina Ferreira Néri.
Em 1844 ficou viúva e em 1865 embarcou para os campos de batalha da Guerra do Paraguai. Recebeu suas lições de enfermagem, no Rio Grande do Sul, com as Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo. Trabalhou no hospital de Corrientes, depois se deslocou para Salto, Humaitá e Assunção. Nessa ultima cidade, ocupada pelo Exército Brasileiro, montou uma enfermaria modelo com recursos de sua herança familiar. Por serviços prestados na Guerra recebeu o titulo de ”Mães dos Brasileiros" conferido pelos soldados, foi homenageada com o diploma de sócia honorária da Sociedade dos Socorros, em Corrientes, e o de sócia instaladora da sociedade Beneficência Portuguesa, em Assunção (CARDOSO E MIRANDA,1999).
Seu nome foi escolhido para batizar a primeira Escola de Enfermagem
Moderna no Brasil, em 1922, mas foi em 1949 que a Escola de Enfermagem Anna
Neri foi incorporada à Universidade do Brasil.
Nas décadas de 60 e 90, tanto no panorama mundial como no brasileiro,
ocorreram transformações políticas, econômicas e sociais. No Brasil, as principais
foram a instauração da ditadura com o golpe militar de 1964, o auge do crescimento
econômico, seguido da crise econômica e social, e a redemocratização política. Na
saúde, a reforma sanitária e os movimentos sociais em busca de assistência com
qualidade influenciaram a Constituição Federal de 1988, que, no artigo 196, traz a
garantia à saúde como um direito de todos e um dever do Estado.
Kletemberg et al. (2011, p.290) afirmam que o avanço científico do século XIX
promoveu o desenvolvimento nas pesquisas científicas, voltadas para o tratamento
da saúde. Podem-se destacar as descobertas de a) Pasteur, referentes à anestesia,
controle das infecções em ambientes hospitalares, vacinas e o uso da Penicilina; b)
Darwin, com sua teoria da evolução das espécies e; c) Mendel, com a teoria da
Genética.
Os mesmos autores (2011, p. 299), ao citarem Porter (2001), completam que
outras descobertas importantes foram as relacionadas ao combate das epidemias –
malária, tuberculose, poliomielite e varíola –, às invenções, como os tanques de
oxigênio e as estufas, ao desenvolvimento de técnicas cirúrgicas, transplantes de
órgãos, tratamentos para o câncer, pílulas contraceptivas, laser e o primeiro bebê de
proveta.
57
Para se tornar científica, a enfermagem se aproximou do saber médico.
Assim, princípios científicos de anatomia, fisiologia, microbiologia, farmacologia e
química, entre outras áreas do conhecimento, começaram respaldar as ações e
procedimentos da enfermagem.
O entusiasmo e a confiança na ciência e nas tecnologias trouxeram vários
benefícios para a profissão de enfermagem, como a expansão no mercado de
trabalho, a atualização na legislação para o exercício profissional, o aprimoramento
na assistência ao paciente, a qualificação no ensino por meio do desenvolvimento
de cursos de Pós-Graduação e o incentivo a pesquisa científica.
Santos e Gomes (2007, p. 93) afirmam que:
Ao final da década de 60, a universidade brasileira foi submetida a uma reforma administrativa, num contexto de repressão política; foi plantado um modelo inspirado no sistema americano de institutos centralizados, de organização departamental, bem como os cursos de Pós-Graduação stricto sensu, estabelecendo os princípios de articulação obrigatória entre ensino e pesquisa e entre ensino superior e Pós-Graduação. Tais mudanças ensejaram a necessidade de implantar cursos de Pós-Graduação em enfermagem stricto sensu, mediante a busca de equilíbrio entre a obtenção do capital cultural institucionalizado, que oficializa a competência técnico científica, e o desenvolvimento da capacidade de critica social e autocrítica profissional.
Para as autoras, o investimento das enfermeiras brasileiras no aprimoramento
profissional mediante cursos de Pós-Graduação teve seu início já na década de 20,
quando cerca de dezessete enfermeiras diplomadas pela Escola de Enfermagem
Anna Nery realizaram cursos de Pós-Graduação nos Estados Unidos, com bolsas de
estudos. Também nos anos 40 e 50, o espectro das brasileiras em cursos de Pós-
Graduação no exterior foi amplo.
A escola de Enfermagem Anna Nery promoveu, a partir de 1947, o primeiro
curso denominado “post-graduado”, para a formação de professores; em 1948, o
ensino de especialidades como Obstetrícia e Saúde Pública passou a ser ministrado
com o nome de especialização.
A Pós-Graduação stricto sensu teve seu início em 1972, com a criação do
curso de Mestrado da Escola de Enfermagem Anna Nery, no qual os esforços
individuais na realização da atividade de pesquisa eram o requisito necessário para
a obtenção da titulação requerida, caracterizando assim o vínculo entre a Pós-
Graduação e o desenvolvimento da pesquisa em Enfermagem no Brasil.
58
Foi na década de 1950, com o número de profissionais formados e com os
fundos governamentais, que a pesquisa começou a florescer. Kletemberg et al.
(2011, p.317), ao citarem Sena e Gonçalves (2000), afirmam que enfermeiras
brasileiras dedicadas a pesquisa durante o século XX, foram classificadas como
“pioneiras” (década de 50); “autodidatas” (60), “geração da elaboração acadêmica
individual” (70); e “geração da produção sistemática e coletiva” (80/90) .
Com a consolidação e o fortalecimento da pesquisa, ocorreu a criação dos
cursos de Doutorado e o financiamento pelos órgãos de fomento, entre os quais a
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Foi com o aumento de publicações e periódicos que a pesquisa em
Enfermagem ganhou subsídios, com leis que aprovaram o Código de Ética para os
Profissionais e os respaldaram para a atividade.
Padoin (2009, p.913) afirma:
Que as primeiras pesquisas de enfermagem foram anteriores aos
anos de 1990 e utilizavam predominantemente, o método quantitativo
para discutir o cotidiano profissional, com destaque aos estudos
experimentais. Valorizavam-se a repetição, a observação dos fatos, a
busca de explicações e causas, as técnicas de análise baseadas em
números, a mensuração, a utilização de testes estatísticos e a
linguagem matemática.
Para a autora, foi em meados de 1990 que as pesquisas em Enfermagem
mostraram uma tendência qualitativa, nas quais a relação entre o pesquisador e o
sujeito da pesquisa permitia construir, por meio do método científico, conhecimentos
que auxiliassem na compreensão do ser humano. Atualmente, tanto a abordagem
quantitativa quanto a qualitativa têm sido empregadas na busca de respostas para a
complexidade do cotidiano assistencial.
Com o objetivo de promover e incentivar a pesquisa na área, nas décadas de
70 e 80, foi criado o Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem - CEPEN.
Houve também a expansão de bancos de dados para a divulgação das pesquisas
realizadas.
Seganfredo e Almeida (2010, p.125) afirmam que algumas questões recebem
especial atenção dos autores das pesquisas, tais como:
59
A inserção e o uso de cuidados de enfermagem no cotidiano das instituições de saúde e de ensino do país, a necessidade de desenvolvimento de conhecimento próprio para justificá-la como ciência; o uso de classificações padronizadas para mensurar as mudanças no estado de saúde do paciente, o uso da classificação de diagnósticos de enfermagem, a utilização de sistemas informatizados para dar visibilidade a enfermagem nas instituições de saúde, efetividade das intervenções do enfermeiro através da identificação de resultados, entre outros.
Como na História da Ciência, alguns questionamentos e discussões
começaram a surgir por parte dos profissionais da saúde, pacientes e familiares,
sobre as formas de se desenvolver o conhecimento específico do cuidar em
Enfermagem.
O desenvolvimento das primeiras teorias de Enfermagem não tem marco
definido na literatura, mas de acordo com as obras consultadas, sua origem se deu
entre as décadas de 50 e 60, por meio de pesquisas de enfermeiras norte-
americanas com o objetivo de construir e justificar o conhecimento na área.
Florence Nightingale, com suas escritas e publicações, foi quem serviu de
base para a maioria dos modelos conceituais e teorias de enfermagem que são
utilizadas e reconhecidas no meio científico até os dias de hoje.
A enfermagem, ao delimitar seu campo de atuação, necessita explicitar suas
formas de conhecer, produzir e validar o conhecimento, para consolidar-se como
disciplina e profissão que se organizam e se expressam socialmente, com
identidade singular, em um complexo campo de conhecimento.
É ressaltada aqui a teoria de Faye Glenn Abdellah (1960), enfermeira,
pesquisadora e professora, que defendeu que a prestação de cuidados de
enfermagem deve se basear na arte e na ciência, modelando atitudes, competência
intelectual e técnicas profissionais, com o objetivo de atender os indivíduos de modo
que se preencham suas necessidades físicas, emocionais, intelectuais, sociais e
espirituais.
Sua teoria defende que, por meio da pesquisa, é possível produzir,
desenvolver e aprofundar os conhecimentos científicos, o que, consequentemente,
acarretará melhor qualidade no desempenho do enfermeiro em prol do paciente.
A Enfermagem, enquanto campo de atividade relacionada com a Ciência,
ainda embasa sua prática em diversas fontes e aceita interferências alheias porque
sua própria produção é mais voltada para os aspectos internos da profissão, com
60
poucos estudos que retratam a Enfermagem como prática social, à luz do
dinamismo da sociedade.
A formação inicial é o que estimula a pesquisa e contribui não apenas para a
promoção da saúde e de seu aspecto preventivo, mas também influencia a formação
profissional, pois afeta profundamente a qualidade do cuidado em saúde e
representa chave fundamental para a resolução de importantes problemas da
realidade.
É valido lembrar que a Enfermagem tem sido proclamada por seus
exercedores como uma ciência e uma arte, que depende de um saber construído
cientificamente, do qual os profissionais são os próprios autores, produtores e
consumidores.
Os resultados adquiridos por meio das pesquisas são empregados em
intervenções diárias e podem estar associados ao meio acadêmico ou assistencial,
na prevenção ou na promoção da saúde, com finalidade curativa ou de reabilitação,
para proporcionar o bem-estar do ser humano.
Para finalizar, Portugal (2002) diz que "no século da produtividade há que
haver a todo o nível maiores exigências profissionais na educação para que a
formação universitária conduza a oferta para a investigação, além da
profissionalização".
61
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Como já descrito na introdução, o procedimento metodológico adotado foi o
de análise documental, que de acordo com Severino (2007, p. 122)
Tem-se como fonte documentos no sentido amplo, não só os documentos impressos, mas, sobretudo outros tipos de documentos, tais como jornais, fotos, filmes, gravações, documentos legais e questionários, a partir da qual o pesquisador vai desenvolver sua investigação e análise.
No período da coleta de dados, a instituição contava com uma única turma do
8° semestre, composta de trinta e cinco alunos e dez professores. Três alunos foram
excluídos por motivos de pendências em outras disciplinas e um docente foi
eliminado por estar ausente no dia, totalizando respectivamente a participação de
trinta e dois discentes e nove professores.
A coleta de dados, como já descrito na Introdução, foi realizada em dia e
horário pré-estabelecidos pela Diretora do Curso e pela pesquisadora, em um
evento Comemorativo para a Profissão.
Para a coleta de dados, foi solicitada autorização por escrito à Comissão de
Ética e Pesquisa (CEP) da Plataforma Brasil. De acordo com a determinação da
CEP, junto com este pedido foram encaminhadas cópias do projeto de pesquisa e
do Curriculum Lattes da pesquisadora, o termo de consentimento informado, a
análise crítica de riscos e benefícios envolvidos e o cadastro na Plataforma Brasil.
Os documentos foram preenchidos conforme orientação da CEP.
Antes da entrega do instrumento de coleta, a pesquisadora instruiu os
participantes sobre seus direitos na pesquisa (conforme determinação da CEP).
Foram também feitas orientações para o preenchimento do questionário e do termo
de consentimento informado, sendo aberto espaço para esclarecimento de dúvidas.
A instituição escolhida é a Universidade Cidade de São Paulo, criada em mil
novecentos e setenta e dois (1972) por um grupo de educadores liderados pelo
professor Remo Rinaldi. Nessa época, era conhecida como Faculdade da Zona
Leste de São Paulo (FZL). No ano de 1992, foi reconhecida como universidade e
passou a se chamar Universidade Cidade de São Paulo – UNICID.
62
A UNICID tem como missão contribuir para a formação integral do homem.
Deve torná-lo um empreendedor crítico, habilitado e credenciado para o exercício
profissional, mediante o ensino, pesquisa e extensão. Deve oferecer a comunidade
local e nacional serviços educacionais, profissionais e produtos científicos.
No ano de 2012, a Universidade Cidade de São Paulo foi integrada ao grupo
Cruzeiro do Sul Educacional, por meio de um aporte financeiro do grupo estrangeiro
ACTIS.
O curso de Enfermagem foi um dos primeiros a ser oferecidos pela
Universidade e, de acordo com a Proposta Pedagógica atual, deve preparar o aluno
com conhecimentos científicos e tecnológicos para o desempenho das atividades
profissionais, em consonância com as necessidades sociais, de caráter clínico
educativo, generalista, com visão humanística, em busca de uma postura
profissional com responsabilidade com o indivíduo e o coletivo.
O curso fornece bases para o desenvolvimento de competências e
habilidades que visam ao desenvolvimento do raciocínio crítico e clínico, o que
engloba os aspectos éticos, legais, políticos, administrativos e do relacionamento
humano. Visa também a desenvolver as competências potenciais em educação e
saúde, assistência, política, gerenciamento, avaliação, tomada de decisão e
investigação, bem como as habilidades cognitivas, motora e atitudinal. Fomenta o
desenvolvimento da criatividade, do trabalho em equipe e da liderança, além de
estimular o aluno na busca e na produção do conhecimento científico e do raciocínio
crítico para o exercício profissional.
Entre as competências e as habilidades gerais do enfermeiro estão: a)
atenção à saúde – prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto
individual quanto coletiva; b) tomada de decisões; c) comunicação; d) liderança; d)
administração e gerenciamento; e) educação permanente – aprendizado contínuo,
tanto na formação quanto na prática; f) conhecimento dos problemas de saúde e
proposição de soluções; g) educação em saúde; h) assistência de enfermagem
direta e no contexto situacional e geral; i) investigação de cunho científico - empírico
ou experimental – j) construção e sustentação do conhecimento na área de
enfermagem.
63
Os objetivos da pesquisa no curso de Enfermagem são: proporcionar ao
aluno condições para desenvolver habilidades como criatividade, atitude
investigativa e comunicação, bem como aprimorar o conhecimento científico
adquirido durante o curso e estimular a produção científica na área.
Importante salientar que nas questões 01 e 06, mais de um dos discentes
optaram por mais de uma resposta.
Tabela 01: Descrição do conceito de Pesquisa Acadêmico-Científica pelos
Graduandos de Enfermagem do 8° semestre da UNICID
TOTAL
Refere-se à pesquisa realizada na Graduação. 02
Não visa o empírico. 01
Refere-se à pesquisa com fundamentação teórica baseada em dados de outros pesquisadores ou comprovação de resultados pela experiência
13
É aquela aceita pela Comunidade Científica. 02
Cita a metodologia. 02
Atualização de conhecimento verdadeiro sobre um determinado tema. 05
Valoriza o sujeito pesquisador. Refere-se à pesquisa partindo do que sabe, coletam-se novos dados e cria um conhecimento novo.
05
Aprimora o conhecimento do pesquisador para atuar na sua área profissional.
08
A Universidade prepara e ensina o aluno a realizar a pesquisa acadêmico-científica.
02
Fonte: Dados do autor
O Trabalho de Conclusão de Curso é uma produção acadêmica realizada
pelo aluno, com orientação de um professor, e que deve ser apresentado até o
término do curso de Graduação. O TCC deve ter seu início no sétimo semestre e
conclusão até o fim do oitavo semestre.
Os temas devem abordar uma ou mais situações vivenciadas nos diferentes
cenários de ensino-aprendizagem e, preferencialmente, enquadrar-se na linha de
pesquisa do docente orientador. Os orientadores marcam encontros com seus
orientados em datas e horários possíveis para ambos, na Universidade ou fora dela,
com periodicidade mínima quinzenal.
64
Os trabalhos deverão ser entregues ao orientador 15 (quinze) dias antes do
término do ano letivo para avaliação. Cabe ao orientador e ao orientando a decisão
de enviar uma cópia encadernada para a biblioteca da Universidade.
De acordo com os dados coletados, é ampla e diferenciada a concepção dos
alunos sobre Pesquisa Acadêmico-Científica. Em uma somatória de respostas, a
definição de pesquisa pelo grupo de alunos poderia ser:
“A Pesquisa Acadêmico Científica, é aquela ensinada e realizada na
Graduação, para investigar de forma sistemática um determinado tema. Segue uma
metodologia e é aceita pela Comunidade Científica, sendo capaz de proporcionar no
pesquisador uma atualização e um aprimoramento no conhecimento para atuar na
área profissional”.
A Graduação da UNICID exige oito períodos acadêmicos e o aluno é exposto
à pesquisa desde o início do currículo, ocasião em que se apropria de conteúdos
que o irão instrumentalizar para a realização do Trabalho de Conclusão de Curso,
com emprego da metodologia científica. É neste momento que o aluno consegue
perceber e praticar que o processo de pesquisa envolve etapas previamente
definidas, as quais se iniciam com a escolha do tema a ser investigado.
Dos trinta e dois alunos, treze destacaram que uma pesquisa, para se tornar
científica, necessita da fundamentação teórica baseada em dados de outros
pesquisadores, ou comprovação de resultados pela experiência. Os achados
revelados confirmam que os alunos apresentam uma preocupação com a definição
do método de pesquisa de acordo com o objeto de estudo.
Apesar de as investigações não mencionarem tão claramente, ao
correlacionar o objeto de estudo com a prática docente, o planejamento e a
elaboração de pesquisa no Trabalho de Conclusão de Curso ainda são fatores que
geram estresse e ansiedade nos alunos.
Isso pode ser ocasionado por que a busca de evidências que comprovem as
hipóteses formuladas exige dos alunos a habilidade de investigar, ler e organizar as
obras, conhecer as normas de elaboração de um texto científico, os padrões de
redação e os procedimentos de citação diretas e indiretas.
65
Com este estudo, houve também a oportunidade de conhecer a perspectiva
da pesquisa na formação profissional. Oito dos trinta e dois alunos mencionaram a
importância da pesquisa na atuação profissional, perspectiva que consolida a
Enfermagem como ciência; na verdade, é o conhecimento produzido e criado pela
pesquisa científica que validará as ações do enfermeiro.
Entende-se que a pesquisa deva fazer parte do dia-a-dia do enfermeiro,
resultando na disseminação, aplicação, validação e incorporação dos
conhecimentos na prática da enfermagem. Entretanto, eles não devem ser utilizados
somente com instrumento de aperfeiçoamento da prática diária; devem também
servir como avanço e valorização da profissão na sociedade.
Tabela 02: Frequência dos Graduandos de Enfermagem do 8° semestre da
UNICID em disciplina para realização do TCC
TOTAL
Sim, frequentaram uma disciplina para realização do TCC. 29
Não frequentaram uma disciplina para realização do TCC. 03
Fonte: Dados do autor
Tabela 03. Disciplinas norteadoras para realização do TCC
Dos 29 alunos que responderam sim, as disciplinas foram: TOTAL
Construção do conhecimento científico. 04
Metodologia da Pesquisa. 20
Iniciação Científica não configura disciplina, mas foi citada. 02
Orientação Individual do Professor. 03
Fonte: Dados do autor
Na UNICID, os conteúdos de pesquisa para esta turma foram oferecidos no
primeiro semestre, na disciplina de Construção do Conhecimento Científico, e no
sexto semestre, na disciplina de Metodologia Científica, ministrada por docentes,
Mestres e Doutores, da área de Enfermagem.
A estrutura acadêmica e de ensino da Universidade também oferece, aos
alunos dos cursos de Graduação, possibilidades de desenvolvimento e de
66
integração aos processos acadêmicos e à vida profissional. Nessa realidade, a
inserção da pesquisa no curso de Enfermagem pode contar com o auxílio de alguns
programas.
A Iniciação Científica é um programa oferecido pela Universidade e visa a
contribuir para sistematização e institucionalização da pesquisa e a estimular os
alunos e professores ao desenvolvimento do conhecimento científico. Sua equipe é
formada por professores da Universidade, nas diferentes áreas do conhecimento,
que têm como responsabilidade o processo de seleção dos projetos de alunos, bem
como acompanhar e avaliar o programa. Os alunos participantes recebem bolsas de
estudo da própria Universidade. O acompanhamento é feito por relatórios
semestrais, que são analisados pela comissão e apresentados ao final de cada
atividade em forma de painel e de comunicação oral, com evento organizado na
própria Instituição.
Dos trinta e dois alunos respondentes, somente dois alunos relataram que
conheciam o Programa de Iniciação Científica e participaram dele, índice
considerado muito baixo, já que a participação dos alunos no Programa oferece
vantagens que aprimoram o desempenho acadêmico.
Dentre as vantagens, podem-se considerar o desenvolvimento da vocação
científica, o contato direto com a pesquisa acadêmico-científica, a possibilidade de
recebimento de bolsa de estudos e descontos, o enriquecimento do currículo para o
mercado de trabalho, o bônus na pontuação de seleções para programas de Pós-
Graduação e a dispensa de carga horária em cadeiras eletivas.
A Diretora do curso, Profª. Ms. Wana Yeda Paranhos, justificou a pouca
participação dos alunos no Programa, apontando a dificuldade de aprovação em
alguns critérios estabelecidos. Grande parte dos alunos de enfermagem da UNICID,
cerca de 80% do total de frequentadores do curso, participam de Organizações Não
Governamentais e têm vínculos empregatícios, fatores que impedem a inserção no
programa.
A importância de compreender a percepção de graduandos em enfermagem
sobre o preparo para a investigação científica está no reflexo da realidade do que
acontece e é transmitido, o que pode levantar questionamentos sobre a importância
67
da pesquisa científica na formação e no exercício da atividade do enfermeiro em
nosso meio. Por meio dela é que se pode refletir sobre o amadurecimento do que
precisa ser melhorado.
Tabela 04: Observações realizadas pelos Graduandos de Enfermagem do
8°semestre da UNICID ao frequentar a disciplina de Metodologia da Pesquisa
Dos 20 alunos que responderam Metodologia da Pesquisa 13 fizeram a seguinte observação:
TOTAL
A disciplina auxiliou na realização do TCC. 15
A disciplina não auxiliou na realização do TCC. 05
Sugerem proximidade da disciplina no semestre da realização do TCC. 02
Dos 03 alunos que responderam que não frequentaram uma disciplina que os orientasse na realização do TCC
TOTAL
Não responderam a questão. 03
Fonte: Dados do autor
Pode-se verificar que vinte e dois dos trinta e dois respondentes reconhecem
que participaram de disciplinas que os auxiliaram na elaboração do TCC e dois
alunos sugeriram uma aproximação entre o momento em que se ministra a disciplina
e a execução do Trabalho de Conclusão de Curso, a fim de facilitar o resgate dos
conteúdos já ministrados e se introduzirem os conteúdos referentes ao planejamento
da pesquisa, à produção de dados, à análise e interpretação de resultados e à
elaboração de um relatório.
Um dado relevante está na resposta de três alunos, ao não mencionarem a
relação entre as disciplinas, que são obrigatórias e fazem parte do currículo, e o
processo de desenvolvimento do TCC e da postura investigativa.
Conforme o Projeto Pedagógico do curso, a Construção do Conhecimento na
área da Enfermagem visa a desenvolver estratégias didáticas e pedagógicas para
possibilitar ao aluno o conhecimento das características do Método Científico. Tem
também como objetivos capacitar o aluno para o estudo de textos, assim como para
a reflexão sobre a importância da fundamentação científica na prática da profissão.
Seu conteúdo é composto por a) aquisição do conhecimento; b) tipos de
conhecimentos; c) características do conhecimento científico; d) diferenças entre
ciência e senso comum; e) uso do conhecimento científico na enfermagem; f)
68
consumo da ciência – como ler e estudar artigos científicos nas bases de dados na
área da saúde e como produzir um trabalho acadêmico científico.
A Metodologia de Pesquisa explicita as diferentes abordagens teórico-
metodológicas que fundamentam uma pesquisa – técnicas de coleta de dados e as
etapas do processo de investigação. Faz também uma análise crítica da pesquisa
em Enfermagem e apresenta os princípios éticos e legais em sua realização e
divulgação de resultados.
A disciplina visa a possibilitar ao discente a compreensão da importância da
pesquisa em enfermagem, bem como a reflexão sobre a amplitude do papel do
enfermeiro como pesquisador, a identificação dos passos da metodologia científica,
o desenvolvimento de projetos de investigação científica e a análise de artigos
científicos de forma crítica.
Seu conteúdo é composto por a) aspectos e tipos de pesquisa; b) elaboração
de um projeto de pesquisa; c) elementos de um projeto de pesquisa; d) diferentes
técnicas de coleta de dados; e) ética em pesquisa; f) comunicação científica; g)
pesquisa bibliográfica; h) método quantitativo e método qualitativo.
A expectativa desta análise consistiu em identificar se a metodologia de
ensino utilizada no curso é percebida pelo aluno, no sentido de torná-lo capaz de
formular e executar uma Pesquisa Acadêmico-Científica, que contribua para a sua
formação. Pode-se perceber também se as disciplinas ministradas serviram como
referência para a realização dos Trabalhos de Conclusão de Curso.
Tabela 05: Realização de outras pesquisas pelos Graduandos de Enfermagem
durante o curso
TOTAL
Realizaram pesquisas acadêmicas para realização de trabalhos, estudos de casos, busca de informações, seminários, relatórios, entre outros.
30
Realizam pesquisas acadêmicas científicas, cujo relatório foi transformado em trabalho científico escrito.
02
Fonte: Dados do autor
Ao analisar a Tabela 05, trinta dos alunos respondentes afirmaram que
praticaram e desenvolveram pesquisas acadêmicas durante o curso, com a
69
finalidade de conhecer ou explorar um assunto exigido para a realização de
trabalhos ou para obter conhecimento na área. As pesquisas de cunho científico
foram realizadas somente por dois dos alunos da Graduação, provavelmente os
participantes do Programa de Iniciação Científica da Universidade.
O que se pode perceber é que a Universidade e o currículo do curso
apresentam uma consideração pela Ciência, que devem ser mais divulgadas,
desenvolvidas e aprimoradas no ensino de Graduação.
O contato dos alunos com o conhecimento científico se dá mais na forma de
consumo do que de produção. Apesar dessa tendência, é determinado, por parte
dos professores do curso – conforme normas discutidas durante as reuniões de
colegiado – que os conteúdos utilizados nas pesquisas acadêmicas sejam de fontes
científicas.
Os objetivos para tal ação visam a estimular a adoção de uma postura que
incorpore os métodos e o rigor científico para a elaboração de conceitos, ideias,
formulação de questionamentos e crítica aplicados na prática profissional.
As atividades de pesquisa devem ser fortalecidas e vistas como procedimento
formativo – não só na Pós-Graduação, mas também na Graduação –, com o
exercício de criação do conhecimento, passíveis de utilização para o
desenvolvimento econômico, social e cultural da região e do país. Ao analisar a
trajetória da pesquisa em Enfermagem no Brasil, descrita no capítulo 3, vale
relembrar que seu impulso ocorreu a partir da criação dos cursos de Pós-Graduação
stricto sensu, e que é ainda fortemente neste nível de ensino que é promovida e
desenvolvida. No entanto, este cenário vem sofrendo modificações, que
paulatinamente preveem e oportunizam a iniciação científica do aluno de
Graduação.
Tabela 06: Concepção de Ciência pelos Graduandos de Enfermagem do
8° semestre da UNICID
TOTAL
A resposta não tem definição. Descreve a ciência como oportunidade de atualização e aumento de conhecimentos.
12
Necessita de tempo, dedicação e gosto em pesquisar. 04
70
A ciência é mutável, variável e instável. 04
Não é empírica é verdadeira. 01
Para ser verdadeira necessita de experiências práticas. 03
É a evolução de uma teoria antiga. 01
Tipo de conhecimento. 01
Não responderam. 04
Importante para a Enfermagem. 02
Fonte: Dados do autor
Tabela 07: Visão dos Graduandos de Enfermagem do 8° semestre da UNICID
sobre a importância da pesquisa para o desenvolvimento profissional
TOTAL
Desempenho Profissional baseado no conhecimento científico. 18
Desempenho profissional baseado no conhecimento de diversos temas e pontos de vista.
02
Atualização e aprimoramento. 09
Saber selecionar informações relevantes para melhor desempenho profissional.
02
Não respondeu. 01
Fonte: Dados do autor
A maneira como cada aluno percebe a ciência deve ser levada em conta. A
consciência dessa percepção favorece a formulação de estratégias e políticas de
desenvolvimento de ações dentro da Universidade e do Curso. Os acadêmicos
acreditam que haja necessidade de pesquisa para sua formação e atuação prática
na vida profissional e que a pesquisa sirva de alicerce para a ciência da
enfermagem.
Pode-se observar que aproximadamente trinta dos respondentes associam a
ciência com o empenho profissional, ou seja, quanto mais conhecimento científico se
tiver, melhor será a assistência de enfermagem prestada.
Pode-se considerar a proposição acima como assertiva; o que não se pode é
limitar a ciência como contribuinte para o aprimoramento ou aprofundamento de
conhecimentos na área. Ela deve também ser incentivadora de estudos e
descobertas que contribuam para a consolidação da enfermagem.
Apesar de a Universidade e o curso oferecem ferramentas para o
desenvolvimento da postura investigativa em prol da ciência, muitos dos alunos
71
desconhecem os subsídios oferecidos e, menos ainda, participam deles. É possível
afirmar que, para os acadêmicos, a formação deve contemplar de forma abrangente
a profissionalização.
O profissional enfermeiro, por meio da sua formação generalista, humanística,
crítica e reflexiva, deve reconhecer as diferentes vertentes que sustentam o
pensamento, a produção científica e tecnológica e a ação nos diferentes níveis e
formas de sua inserção na sociedade.
O conhecimento está em constante transformação. O que se ensina hoje,
certamente, não terá a mesma validade amanhã. Portanto, mais importante do que
aprender conteúdo é preparar o aluno para aprender a aprender, para garantir a
capacitação de profissionais com autonomia e discernimento, a fim de assegurar a
integralidade da atenção, a qualidade e a humanização no atendimento a indivíduos,
família e comunidade.
No questionário respondido pelos docentes do 8° semestre do curso de
Enfermagem, a finalidade foi identificar a relação do professor com a pesquisa
acadêmico-científica, em conexão com o seu aprimoramento para desempenhar
esta função dentro da Universidade.
Importante salientar que nas questões 01, 02 e 06, mais de um professor
optaram por mais de uma resposta.
Tabela 08: Descrição do conceito de pesquisa acadêmico-científica pelos
Docentes de Enfermagem do 8° semestre da UNICID
TOTAL
Projeto desenvolvido por um professor com ou sem a participação de alunos.
01
Investigação científica utilizando um método adequado, utilizando-se as fases do processo metodológico.
02
Forma sistematizada de construção do conhecimento e validação de conceitos novos.
03
Pesquisa realizada em Instituição de Ensino orientada por Docentes inseridos na organização, seguindo os princípios e fundamentos científicos.
03
Fonte: Dados do autor
72
O professor continua a representar um papel chave para a sociedade. Como
visto nos capítulos anteriores, desde séculos passados, o professor é visto como
aquele que expressa à verdade e a ele foi atribuída a missão para atuar na formação
e na socialização dos indivíduos.
É importante entender qual a concepção de pesquisa dos docentes, para
estimular e fundamentar a sua importância para o curso e para a profissão. Os
enfoques apontados fortalecem a constatação de que cabe ao professor formador
possuir um “corpus teórico”, que lhe permita orientar a análise e a reflexão sobre a
prática pedagógica.
Para favorecer a pesquisa, é preciso que ela esteja na proposta curricular do
curso e seja assumida como parte importante dela. Deve ser claro seu propósito,
para que o educador promova ao aluno o processo de pesquisar, para combater a
mera reprodução de modelos e fomentar a iniciativa própria do pesquisador-
discente.
A Universidade não deve ser vista como um depósito de conhecimento; antes,
deverá ser também sua produtora. À medida que os alunos são motivados pelos
professores para trabalhar com a pesquisa, ocorrem a familiarização e o
envolvimento com a atividade.
Para isso, torna-se importante existir um ambiente favorável à participação, à
interação e à comunicação fácil. O aluno não deve assumir posição passiva e
subalterna, daquele que comparece à Universidade apenas para escutar, tomar
notas, fazer provas e ser aprovado.
O papel da Universidade, por meio da atuação dos professores, é o de
facilitar, orientar, problematizar, questionar e motivar a aprendizagem, além de,
através da mediação, conduzir o aluno a perceber os motivos e as finalidades pelos
quais é importante aprender determinados conteúdos.
73
Tabela 09: Formação do Docente de Enfermagem do 8°semestre da UNICID
para trabalhar com pesquisa no Curso de Enfermagem
TOTAL
Experiência profissional. 01
Participação em grupos de pesquisa. 01
Horário coletivo. 01
Lato sensu – Especialização. 02
Mestrado e Doutorado. 07
Cursos de capacitação para orientação de Trabalho Científico. 01
Fonte: Dados do autor
Para nove dos docentes, durante a sua formação, a Universidade, em seus
cursos de Graduação e Pós-Graduação, mais as experiências acumuladas ao longo
da vida e da carreira como professor, foram apontadas como as principais instâncias
para atuar com a pesquisa. Os cursos de Mestrado e de Doutorado foram apontados
por sete dos nove respondentes como os caminhos que mais favorecem a formação
para a pesquisa.
Apesar de o dado não aparecer em formato de tabela, quatro dos docentes
que apontaram o stricto sensu como instância formadora e capacitadora para a
pesquisa, justificam que o Mestrado e o Doutorado favorecem o manejo da pesquisa
como princípio científico, ao fazerem que seus frequentadores participem de
comunidades e publicações científicas. Tais tarefas exigem do participante um
comportamento e uma postura que atendam ao rigor científico e despertam também
o lócus de formação, com qualidade formal, para a produção de conhecimento.
Outro dado comentado por quatro dos docentes foram as limitações em
termos de cursos de preparação para atuar com a pesquisa dentro das
universidades. Em um retrospecto da História da Ciência, no caso da Enfermagem,
há muitos anos o Mestrado e o Doutorado já eram as fontes incentivadoras da
pesquisa e, em cinquenta anos, apesar dos avanços, poucas ainda são as
instâncias que proporcionam este preparo.
Dos docentes participantes, sete são Mestres, quatro destes Mestres
atualmente são Doutorandos e os dois Especialistas são Mestrandos. Conforme a
discussão sobre pesquisa em uma reunião de colegiado, de um modo geral, os
professores apresentam dúvidas quanto a um modelo ideal para a formação
74
necessária para trabalhar com a pesquisa, mas acreditam que é necessária a
definição de uma metodologia investigativa comum a todos, que os familiarizem com
habilidades, para que ocorra a operacionalização durante o curso.
A formação e o desenvolvimento de habilidades investigativas deverão ser um
processo construído em múltiplas vias, com constante reflexão sobre os pontos
importantes que os professores deverão dominar para atuar na formação do futuro
enfermeiro. O melhor seria que os professores participassem mais dos grupos de
pesquisa presentes nas universidades e que reuniões para discutir a necessidade
dos alunos e dos professores frente à pesquisa científica fossem mais frequentes.
Como toda e qualquer profissão, esta tem se apresentado em fase de
construção. A prática pedagógica do professor enfermeiro encontra-se em
construção e depende de vários fatores que se relacionam entre si, como o contexto
pessoal, o da enfermagem e saúde e o das próprias instituições formadoras.
A pesquisa, aliada à formação profissional, representa um dos componentes
estratégicos para o desenvolvimento profissional do docente.
Tabela 10: Relação do conhecimento dos programas oferecidos pela Universidade para desenvolver a pesquisa
TOTAL
Sim, conhecem os programas que a Universidade oferece para o desenvolvimento da pesquisa.
08
Não conhecem os programas que a Universidade oferece para o desenvolvimento da pesquisa.
01
Fonte: Dados do autor
Tabela 11: Programas conhecidos pelos Docentes de Enfermagem do 8°semestre da UNICID que auxiliam no desenvolvimento da pesquisa
PROGRAMAS CITADOS TOTAL
PIBIC - Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica. 04
PIIC – Programa Institucional de Iniciação Científica – extinto no ano de 2012
05
Fonte: Dados do autor
75
De acordo com o Projeto Pedagógico do Curso de Enfermagem em vigor no
em 2008, os programas oferecidos pela Universidade que incentivam a participação
e o desenvolvimento na Pesquisa Acadêmico-Científica eram:
PIBIC – voltado para a iniciação à pesquisa de alunos de Graduação
universitária, tem como objetivos contribuir para a formação de recursos
humanos para a pesquisa, de forma que se reduza o tempo médio de
permanência dos alunos na Pós-Graduação.
PIIC – extinto em 2012 – compreendia todas as ações que possibilitavam
aos alunos familiarizarem-se com os processos e procedimentos de
investigação dos objetos de estudo inerentes aos campos do saber de
seus cursos, que se concretizavam em projetos de pesquisa estruturados,
conforme a especificidade e a complexidade dos níveis de abordagem,
próprios da investigação.
Fórum de Educação - responsabilidade da Pró-Reitoria Adjunta de
Ensino, é um colegiado de discussão sobre as temáticas educacionais
que envolvem o Ensino Superior, propiciando trocas de experiências e
práticas pedagógicas que visam enriquecer o trabalho docente.
Mostra de trabalhos acadêmicos – evento que tem por finalidade
divulgar o resultado dos trabalhos acadêmicos desenvolvidos no programa
de práticas investigativas.
Núcleo docente estruturante – espaço de formação do professor no
curso que atua. Trata-se de um momento coletivo (semanal ou quinzenal)
organizado pelos cursos de Graduação com vistas à reflexão, atualização,
gestão e acompanhamento dos projetos pedagógicos.
Curso de especialização em Docência no Ensino Superior e Docência
no Cenário do Ensino para Compreensão – promovido pela Pró-Reitoria
Adjunta de Ensino, é disponibilizado aos professores dos cursos de
Graduação.
76
Torna-se importante o conhecimento e a participação por partes dos
professores nestes programas, para estimular, entender e divulgar para os
estudantes da Graduação universitária o seu funcionamento.
A participação dos professores no PIBIIC, em 2012, foi escassa, pois um dos
critérios de aprovação exigia que o professor fosse Doutor e, no nosso grupo de
docentes, somente 02 tinham a titulação, embora outros estejam a caminho da
certificação. Para 2013, os requisitos, compromissos e direitos do professor-
orientador foram repensados, e a titulação mínima exigida é a de Mestre.
Tabela 12: Docentes de Enfermagem do 8° semestre da UNICID que estão
desenvolvendo Pesquisa Científica
TOTAL
Sim, estão realizando Pesquisa Científica. 08
Não estão realizando Pesquisa Científica. 01
Fonte: Dados do autor
Tabela 13: Motivos da realização da Pesquisa Científica pelos Docentes de
Enfermagem do 8°semestre da UNICID
TOTAL
Pesquisa para Mestrado ou Doutorado. 07
Trabalho Conclusão de Curso – orientação de alunos na Graduação. 02
Iniciação Científica – orientação de alunos na Graduação. 03
Fonte: Dados do autor
No que diz respeito ao componente “pesquisa”, é possível perceber, na
discussão do colegiado, a prevalência, entre os docentes enfermeiros, de uma
temática mais voltada para a área da saúde do que para a educação, com
relevância científica para a Enfermagem.
Mesmo assim, aspectos positivos são desenvolvidos com este exercício; o
docente, ao realizar a pesquisa, independente da temática e da existência de
coautores, saberá conceber e descrever a sua importância para a prática
pedagógica.
77
Severino (2007, p. 63) contribui, ao escrever que "na universidade, ensino,
pesquisa e extensão efetivamente se articulam, e é por meio da pesquisa que se
aprende, se ensina e se prestam serviços à comunidade”.
Dessa forma, o professor precisa da prática da pesquisa, para ensinar
eficazmente; o aluno precisa dela, para aprender eficaz e significativamente; a
comunidade precisa da pesquisa, para poder dispor de produtos do conhecimento; e
a universidade precisa da pesquisa, para ser mediadora da educação.
Tabela 14: Concepção de Ciência pelos Docentes de Enfermagem do
8°semestre da UNICID
TOTAL
Busca direcionada para o saber. 01
Quem faz a ciência é o próprio pesquisador. 01
Envolve todas as áreas do conhecimento. 01
Conhecimento validado por meio do rigor da metodologia científica. 08
Algo importante para a profissão 01
Fonte: Dados do autor
Sobre a imagem da ciência, diferentes concepções são descritas pelos
professores, desde aquelas que a definem como algo importante e imprescindível,
até as que a descrevem como legitimidade no alcance dos conhecimentos, que
devem ser validados pelo rigor da metodologia científica.
A questão da importância da ciência para a pesquisa vem há muito tempo
sendo discutida, e o que se pode perceber é que, no universo educacional, uma
série de concepções são apresentadas, de modo que ora antagonizam e ora se
completam.
A concepção de ciência ainda é muito ancorada ao rigor da metodologia
científica e, para a Enfermagem, ainda está muito vinculada ao desenvolvimento do
conhecimento sobre a prática, na possibilidade de o profissional realizar suas
atividades com embasamento científico.
Apesar das diferentes concepções oferecidas pelos docentes acerca da
ciência, é preciso reconhecer que palavras-chave vão ao encontro da literatura.
78
Talvez estas concepções pudessem ser mais aprimoradas, no sentido de se
reconhecer a história e a evolução da ciência, com o objetivo de contribuir para a
realização das pesquisas no curso.
79
CONCLUSÃO
O maior desafio da presente pesquisa foi responder a um questionamento
pessoal sobre a minha própria prática como docente e contribuir, por meio dos
resultados obtidos, para a melhoria da Pesquisa Científica no Curso de Enfermagem
da Universidade Cidade de São Paulo.
Ao final deste trabalho, a partir da visão de professores e alunos do curso de
Enfermagem da UNICID, é possível considerar que a Pesquisa Acadêmico-Científica
seja um princípio educativo e científico, que permeia a formação e a prática
profissional.
Para os docentes, é tida como um instrumento fundamental para a prática
pedagógica, e para os alunos, como uma ferramenta valiosa que aprimora as
qualidades desejadas em um profissional de nível superior.
O curso de Enfermagem da UNICID, em seu Projeto Pedagógico, se propõe a
desenvolver no aluno o interesse pela investigação de cunho científico – empírico ou
experimental –, para que ele reconheça a construção e a sustentação do
conhecimento na área, visto que a Enfermagem é considerada uma ciência.
A formação inicial é o que estimula a pesquisa e contribui não apenas para a
promoção da saúde e de seu aspecto preventivo, mas também influencia a formação
profissional, pois afeta profundamente a qualidade do cuidado em saúde e
representa chave fundamental para a resolução de importantes problemas da
realidade.
Atualmente, na UNICID a Pesquisa Acadêmico-Científica na Graduação em
Enfermagem é realizada nos dois últimos semestres, na execução do Trabalho de
Conclusão de Curso. Os objetivos da pesquisa no curso de Enfermagem são:
proporcionar ao aluno condições para desenvolver habilidades como criatividade,
atitude investigativa e comunicação, bem como aprimorar o conhecimento científico
adquirido durante o curso e estimular a produção científica na área.
80
É valido lembrar que a Enfermagem tem sido proclamada por seus
exercedores como uma ciência e uma arte, que depende de um saber construído
cientificamente, do qual os profissionais são os próprios autores, produtores e
consumidores, onde os resultados adquiridos são empregados em intervenções
diárias e podem estar associados ao meio acadêmico ou assistencial, na prevenção
ou na promoção da saúde, com finalidade curativa ou de reabilitação, para
proporcionar o bem-estar do ser humano.
O Curso de Enfermagem compreende a indissociabilidade entre ensino,
pesquisa e extensão como eixo fundamental da universidade e tem investido em
atividades que possibilitem a articulação destas funções para incrementar a
construção do conhecimento nos estudantes, visto que a pesquisa ainda é uma
atividade que deve ser mais praticada e desenvolvida.
Perante a retrospectiva histórica da criação das universidades e sua relação
com a Pesquisa e a Ciência, o que se pode perceber é que a tradição cultural
brasileira privilegia a condição da universidade como lugar de ensino, com uma
preocupação com o mercado de trabalho, e a realização da Pesquisa Acadêmico
Científica torna-se mais presente e praticável nos cursos de Pós-Graduação, um
fator que fica fortalecido devido à história da investigação científica em Enfermagem
no Brasil ter se originado nos cursos de Mestrado e Doutorado.
Diante destas reflexões que associadas ao perfil do aluno de Enfermagem da
UNICID e os resultados obtidos com o questionário, é possível afirmar que os
discentes tendem a se preocupar mais em adquirir conhecimentos e habilidades
para os auxiliarem na prática profissional do que com a realização de pesquisas.
Quero aqui ressaltar que este trabalho foi pensado, elaborado e redigido com
um espírito de criticismo amigável, com a preocupação de que os professores e
alunos dialoguem mais sobre o assunto, a fim de buscar a expansão, o
fortalecimento da produção intelectual e a prática para o curso.
Os resultados encontrados reforçam o conceito fundamental da iniciativa do
trabalho. Tomando como verdadeira a concepção de Pesquisa Acadêmico-Científica
como investigação de algo que ainda não foi pensado e nem dito, que nos alcança
na interrogação, que nos pede reflexão, crítica e enfrentamento com o instituído,
81
como ação civilizatória em prol da sociedade, do meio político, tecnológico e
econômico, torna-se evidente que a pesquisa no curso de enfermagem não é tão
operacional.
Como sugestão dos professores, algumas alternativas são apresentadas para
reforçar e estimular a pesquisa dentro do Curso de Enfermagem da UNICID, dentre
elas: a) oferecer ao professor e aos alunos a oportunidade de contato com
pesquisas e pesquisadores, por indicação e intermédio da própria Universidade; b)
elaboração de oficinas de pesquisa, com o objetivo de divulgar as políticas e
programas de pesquisa Acadêmico-Científica da universidade, explicar sobre a
importância social e para o currículo e possibilitar o conhecimento sobre as bases
teóricas da pesquisa e da ciência; c) reuniões com a colaboração de diretores de
curso, entidades públicas, associações privadas, organizações, professores e alunos
para discutir, aperfeiçoar e divulgar as políticas de pesquisa da Universidade; d)
organização de eventos e jornadas na Universidade; e) incentivo e patrocínio
financeiro para que as pesquisas realizadas na Universidade sejam publicadas e
apresentadas em ambientes acadêmicos; f) divulgação em murais para acesso às
produções científicas realizadas na Universidade; g) incentivo ao Mestrado e
Doutorado.
Não seria algo que nunca tenha sido pensado e também não haveria nada de
revolucionário em seu conteúdo. Tal ação serviria para reconhecer que a pesquisa
dentro na Universidade, na Graduação, tem um enorme potencial, que só será
atingido se seus desequilíbrios forem superados por meio de estratégias.
Para se adaptar às exigências do mercado, a Universidade alterou seus
currículos, programas e atividades para garantir a inserção profissional dos
estudantes no mercado de trabalho, separando cada vez mais o ensino e pesquisa.
Apesar da importância dessa função, não se pode esquecer que, além de
transmitir, a Universidade também deve produzir o conhecimento. Deve ser
entendida como uma instituição que articula o ensino e a pesquisa, como fonte de
transformação da sociedade, por meio da qual, no Curso Superior, a forma de lidar
com o conhecimento seria um diferencial do ensino escolar.
82
REFERÊNCIAS AFONSO A. J. Avaliação Educacional: regulação e emancipação. 2ed. São Paulo: Cortez, 2000. AMANTE, L. N.; et al. A organização da Enfermagem e da Saúde no contexto da Idade Contemporânea (século XIX). In: PADILHA; M. I.; BORESNSTEIN; M. S.; SANTOS I. Enfermagem – História de uma profissão. São Caetano do Sul, SP, 2011; cap.2; p. 147-180. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR10520: informação e documentação: citações em documentos: apresentação. Rio de Janeiro, 2002.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: informação e documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, 2002.
AUGUSTO, M. A importância da Pesquisa em enfermagem. Revista: ACTA Paul. Enf. V.3. Setembro de 1990.
ARRUDA, J. J. A. História antiga e medieval. 4 ed. São Paulo: Ática, 1981.
BAGNO, M. Pesquisa na escola: o que é e como se faz. 23 ed. São Paulo: Loyola, 2009.
BAILLAUQUES, S. Trabalho das representações na formação dos Professores. In: PAQUAY, L. et. al. (Orgs). Formando professores Profissionais: Quais estratégias? Quais competências? 2 ed. São Paulo: Artmed, 2008.
BARREIRA, L. A.. A pesquisa em Enfermagem no Brasil e sua posição em agência federal de Fomento. Revista Latino Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 1, n. 1, janeiro, 1993.
BARBOSA, R. A formação pela Ciência: Schelling e a ideia de Universidade. 1ed. edUERJ. Rio de Janeiro. 2010.
BARROS, J. A. O Projeto de Pesquisa em História. 7 ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
BARROS, S. M. O. Enfermagem obstétrica e ginecológica: guia para a prática assistencial. São Paulo: Roca, 2002.
BARROSO J. (org.) A regulação das políticas publica de educação: espaços, dinâmicas e actores. Universidade de Lisboa: Educa/Unidade de L&D de Ciências da Educação, 2006.
BENNER, P. From novice to expert. American Journal of Nursing, 08 de Março, 1982.
BLOCH, O.; WARTBURG, W. V,. Dictionnaire étymologique de la langue française. 2ª ed. Paris: Presses Universitaires de France, 2004.
BRASIL. Lei Nº 9394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário oficial da República Federativa do Brasil, 23 de dez 1996. Seção 1.
83
BRASIL. Ministério da Educação (BR), Conselho Nacional de Educação. Resolução n. 3, de 07 de novembro de 2001. Diretrizes curriculares nacionais do curso de Graduação em Enfermagem. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 09 Nov 2001. Seção 1. BRASIL. Decreto número 94.406, de 08 de junho de 1987 regulamenta a lei número 7.498 de 25 de junho de 1986. Diário oficial da Republica Federativa do Brasil 09.06.87 na seção I - fls. 8.853 a 8.855. BUARQUE, C. A aventura da Universidade. 2 ed. São Paulo: UNESP, 2000.
CALDERÓN, A. I. Educação Superior: Construindo a extensão universitária nas IES particulares. São Paulo: Xamã, 2007.
CALDERÓN, A. I. Educação Superior: Responsabilidade social universitária: contribuições para o fortalecimento do debate no Brasil. Revista: Estudos, Brasília, nº 36, 2006.
CATANI, A.M.; OLIVEIRA, J.F. A universidade pública no Brasil: identidade e projeto institucional em questão. In: TRINDADE, H. (Org). Universidade em Ruínas na república dos professores. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, Rio Grande do Sul: CIPEDES, 2001. CIANCIARULLO, T. I.; GUALDA, D.; MELHEIRO, M.; ANABUKI, M. Sistema de assistência de enfermagem: evolução e tendências. 4 ed. São Paulo: Ícone; 2008. CYRINO, H.; PENHA, C. Filosofia hoje. 2 ed. Campinas: Papirus, 1992. COSTA, S.M.S. (1999). The impact of computer usage on scholarly communication amongst academic social scientists. Tese de Doutoramento. Loughborough.University,1999. CUNHA, L. A. Qual universidade? São Paulo: Cortez, 1989. 87p. DEMO, P. Pesquisa: Princípio científico e educativo. 8 ed. São Paulo: Cortez 2001. DERRIDA, J. A Universidade Sem Condição. São Paulo; Editora Estação Liberdade, 2003. DESCARTES, R. Discurso do método. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Coleção Os Pensadores.). FELIX, G. T. Reconfiguração dos modelos de universidade pelos formatos de avaliação: efeitos no Brasil e Portugal. Porto Alegre. 2008. Tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Educação Faculdade de Educação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. FILHO, G. I. A Monografia na Universidade. 3 ed. Campinas: Papirus. 2000.
84
FORTIN. M. O processo de investigação: da concepção à realização. 3ed.
Loures, Lusociência. 2003 GEWANDSZNAJDER, F. O que é o método científico? 1ª ed. São Paulo: Pioneira. 1989. JAMES, J; SWAIN, H. BAKER, C. Princípios de Ciência para Enfermagem. Tradução de Maria Fernanda de Oliveira. Lisboa: Instituto Piaget, coleção medicina e saúde, 2002. JOAQUIM, L. O. C. Padrões de comunicações em diferentes comunidades científicas. Portugal: 2009. 162 f. Tese de Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação. Universidade do Minho. KLETEMBERG D.F.,, et al. O FASCÍNIO DA Ciência na área da saúde (1960-1990). In: PADILHA; M. I.; BORESNSTEIN; M. S.;SANTOS I. Enfermagem – História de uma profissão. São Caetano do Sul, SP, 2011; cap.2, p295-334. KOERICH, A. M. E.; et al. A organização da Enfermagem e da Saúde no contexto da Idade Moderna: o Cuidado e a Ciência no mundo e no Brasil. In: PADILHA; M. I.; BORESNSTEIN; M. S.;SANTOS I. Enfermagem – História de uma profissão. São Caetano do Sul, SP, 2011; cap.2, P.111-146. KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. Tradução: Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira. 10ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2010. LAMPERT, E; BAUMGARTEN, M. Universidade e Conhecimento: possibilidades e desafios na contemporaneidade. Porto Alegre: Sulina, Editora da UFRGS, 2010. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Metodologia Científica. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2007. LE GOFF, J. Os Intelectuais na Idade Média. Tradução: Marcos de Castro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Editor José Olympio. Ano: 2003. LUCKESI, Cipriano et al. Fazer universidade: uma proposta metodológica. 10ª ed. São Paulo: Cortez, 1998. Natal, v.2, n.1 p. 143 – 148, jul./dez. 2002. MARQUES, R.; ROLDÃO, M.C. Inovação, Currículo e Formação. Portugal: Porto editora. 2001. MARQUES, F.N.S.S.; SOUZA, M.F.S.; MERTENS, R.S.K. Como elaborar um projeto de pesquisa: linguagem e método. São Paulo. Ed. FGV, 2008. MARSDEN, M. A indissociabilidade entre teoria e prática: experiências de ensino na formação de profissionais de saúde nos níveis superior e médio. Rio de Janeiro: 2009. Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre em Ciências na área de Saúde Pública. Fundação Oswaldo Cruz.
85
MATHEUS, M. C. C.; FUGITA; R. M. I.; SÁ; A.C. Observação em Enfermagem. In: CIANCIARULLO, T. I. et al. Instrumentos básicos para o cuidar: um desafio para a qualidade da assistência. São Paulo: Atheneu, 2006, cap.2, p. 5-23. MENDES, J. A. C; MARZIALE, M. H. P. As novas exigências da comunicação científica na era do conhecimento. Revista Latino Americana de Enfermagem, v. 10, n. 3, maio/jun., 2002. NISKIER, A.; NATHANAEL, P. Educação, estágio e trabalho. 1 ed. São Paulo: Integrare, 2006. OGUISSO, T. Trajetória histórica e legal da enfermagem. Barueri, SP: Manole, 2007. PADOIN, S. M. M.; PAULA, C.C.; SCHAURICH, D. Pesquisa em enfermagem:
possibilidades da Filosofia de Buber. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília
2009 nov-dez, p. 912-915.
PÀDUA, E. M. M. O trabalho monográfico como iniciação à pesquisa científica. In: CARVALHO, Maria Cecília M. de. Construindo o saber. Metodologia científica: fundamentos e técnicas. 7 ed. Campinas: Papirus, 1998 PAIXÃO, W. História de Enfermagem. Rio de Janeiro: Júlio C. Reis Livraria; 1979.
PEREIRA, Ema. A universidade da modernidade nos tempos atuais. Revista da Educação Superior. Sorocaba, Vol. 14, n.1 Março 2009.
PEREIRA, P. A. O que é pesquisa em educação? São Paulo: Editora Paulus, 2008.
PEREIRA, P. A. Sobre o conceito de transdisciplinaridade à luz das vertentes epistemológicas contemporâneas. São Paulo: UNICID, 2004.
PEREIRA, P. A. Superação da Defasagem Cultural da Escola. Revista Notandum 17 jul-dez , 2008. Universidade do Porto.
PEREIRA, P. A. Considerações em torno a uma concepção do sujeito. In. MORENO, L. V. A.; ROSITO, M. M. B. (org). O sujeito na educação e na Saúde. In. Centro Universitário São Camilo, São Paulo: Loyola, 2007. PIMENTA, S. G.; ANASTASIOU, L. G. C. Docência no ensino superior. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2002.
PIMENTA, S. G.; (org.). Formação de Professores: identidade e saberes da docência. In. Saberes Pedagógicos e Atividade Docente. São Paulo: Cortez, 2002.
POPPER, K. A lógica da pesquisa científica. 6 ed. São Paulo: Cultrix, 2000.
POPPER, K. La responsabilidad de vivir. Buenos Aires. Barcelona. México: Paidos, 1995.
86
POTTER, P.A.; PERRY, A.G. Fundamentos de enfermagem: conceitos, processo e prática. 6ª ed. Rio de Janeiro. Guanabara, Koogan, 2006. REGNER, A. C .K. P. Feyerabend e o pluralismo metodológico. Departamento de Filosofia – UFRGS, Porto Alegre- RS: Cad.Cat.Ens.Fis., v.13,n3: p.231-247, dez.1996
ROSSATO, R. Universidade: nove séculos de história. Passo Fundo: UPF, 2005.
RUIZ, J. Á. Metodologia Científica: guia para eficiência nos estudos. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2008.
SANTOS, B. S. A universidade no século XXI: Para uma reforma: democrática e emancipatória da Universidade. 3ª ed. São Paulo. Cortez. 2010. SANTOS, T. C. F.; GOMES, M. L. B. Nexos entre Pós-Graduação e pesquisa em Enfermagem no Brasil. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, 2007, jan-fev pg. 91 a 95. SEGANFREDO, D. H.; ALMEIDA, M. A. A. Produção de conhecimento sobre
resultados de enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília 2010 jan-
fev, p.122-126.
SILVA, S. E. D. B.; CAMARGO, V.; PADILHA, M. I. A teoria das representações
Sociais nas pesquisas da Enfermagem Brasileira. Revista Brasileira de
Enfermagem, Brasília 2011 set-out, p. 947-951.
SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico. 23ª ed. Rev. e atual. São Paulo: Cortez, 2007.
TARDIF, M.; LESSARD, C. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. 4ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.
TARDIF, M. Saberes Docentes e Formação Profissional. 8ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
VAGHETTI, H.H, et al. A organização da Enfermagem e da Saúde no contexto da Idade Média: o Cuidado e a Ciência no mundo e no Brasil. In: PADILHA; M. I.; BORESNSTEIN; M. S.;SANTOS I. Enfermagem – História de uma profissão. São Caetano do Sul, SP, 2011; cap.2 83-110.
WALDOW, V. R. Examinando o conhecimento na enfermagem. In MEYER et al. Marcas da diversidade: saberes e fazeres da enfermagem contemporânea. Porto Alegre: Artmed. 1998.
WANDERLEY, L. E. W. O Que é Universidade? São Paulo: Brasiliense, 2003.
87
Sites Consultados:
AIRES, A., org. Aristóteles, in Dicionário Escolar de Filosofia. Lisboa: Plátano, 2003. Disponível em: <http://www.defnarede.com/>. Acesso em abril de 2012. ALMEIDA, M. C. P.; et al. A pós Graduação na escola de enfermagem de Ribeirão Preto-USP: Evolução histórica e sua contribuição para o desenvolvimento da enfermagem. Revista Latino Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 10, n. 3, maio/jun. 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010411692002000300003&lng=pt&nrm=i>. Acesso em: 14 de maio 2011.
CERULLO, J. A. S. B. Cuidar de si, cuidar do outro. Programa de aprimoramento do Raciocínio Clínico. 2009. 203f. (Doutorado em enfermagem). Escola de enfermagem da Universidade de São Paulo. Disponível em:<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/7/7139/tde-20052009-112605/pt-br.php>. Acesso em: 10 de junho de 2012. FÉLIX, J.; BARROS, S. Alunas da Licenciatura em Ensino da Biologia e Geologia no ano letivo de 2002-2003, no âmbito da cadeira de História e Filosofia da Educação. Disponível:<http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/modelos/index.htm> Acesso em: 05 de setembro 2012. FIOLHAIS C. Breve história das academias científicas. História da Ciência, 2007. Disponível em: <http://dererummundi.blogspot.com/2007/07/breve-histria-das-academiascientficas.html>. Acesso em: 14 de abril de 2011. HISTÓRIA da educação – escolas paroquiais. Pedagogia.com. br Disponível em: <http;//www.pedagogia.com.br/historia/medieval2.php> Acesso em: 05 de setembro de 2012. LEITE, J.L; MENDES, I.A.C. Pesquisa em Enfermagem e seu espaço no CNPq. Esc. Anna Nery Rev. de Enferm., n. 3. v.4, p.389-394. 2000. Disponível em:<htpp://www.gepecopen.eerp.usp.br>. Acesso em: 15 de junho 2012. LÓPEZ, C. X.. Teoría del conocimiento científico. Karl Popper. En: revista Legis del contador, Nº8, Octubre-Diciembre de 2001, pp. 107-183. Universid del Quíndio. Disponivel em: http://www.monografias.com/trabajos35/teoria-popper/teoria-popper.shtml. Acesso em 24 de março de 2012.
MARTINS, L. M. Ensino-Pesquisa-Extensão como fundamento metodológico da construção do conhecimento na Universidade. São Paulo, UNESP, 2010. Disponível em:< http://www.franca.unesp.br/oep/Eixo%202%20-%Tema%203.pdf> Acesso em 26 de julho de 2011. MARTINI, J. G. Produção científica na área de enfermagem: contribuições da REBEN. Revista Brasileira de Enfermagem, p. 693, Brasília 2010 set-out. Disponível em:
88
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S003471672010000500001&script=sci_arttext>Acesso em: 05 de novembro de 2012.
PAPEL do professor e a pesquisa escolar. Fontes – NRE. Disponível em: <http://www.nre.seed.pr.gov.br/.../pesquisa_...ppt.> Acesso em: 03 de abril de 2012. PASCUETO C.; G. A. 200 anos de Ensino Superior. Agência de Notícias do Centro de Ciências da Saúde da UFRJ. Revista de história. 26/2/2008. Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/.../200-anos-de-ensino-superior>. Acesso 09 junho 2011. PRIMON, A. L . M.; JÚNIOR, Lourival G.S.; ADAM, Silvia Maria. História da ciência: da idade média à atualidade: revista Psicólogo inFormação. São Paulo, nº4 , p. 35 a 51, jan/dez. 2000. Disponível em: <htpp://www. editora.metodista.br/Psicologo1/psi03.pdf>. Acesso em: 10 de agosto de 2012. PORTUGAL, A. V. Ciência e Tecnologia e Ensino Universitário: Enquadramento da Formação Veterinária. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias. SUPL. 120. 2002. p. 67-88. Disponível em: <http://www.fmv.utl.pt/spcv/PDF/pdf12_2002/SUP_1_RPCV544.pdf>. Acesso em 15 de julho de 2012. ROSAS, V. B. Afinal, o que é o conhecimento? São Paulo, 2008. Disponível em:<http://www.mundodosfilosofos.com.br/vanderlei22.htm> Acesso em 25 de junho de 2012. SANTOS, D.F.V. et al. Aplicação da Teoria de Abdellah no histórico de Enfermagem em pediatria: relato de experiência: revista Ciência, Cuidado e Saúde. Santos, n°2, v.10, 2011. Disponível em: <http:// eduem.uem.br/ojs/índex.php/CiencCuidSaude/article/view/15687>. Acesso em 01 de Nov.2012. SANTOS, N. B. A Aprendizagem segundo Karl Popper e Thomas Kuhn. Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca. P. 62-75 Disponível em: http://psicologos.com?Revista/...Borja.pdf. Acesso: 20 de setembro 2012. SLEUTJES, M. H. A origem e o papel das Universidades. Recanto das letras, 2006. Disponível em:<http://www.recantodasletras.com.br/artigos/169550>. Acesso em: 08 de junho de 2011. SERVO, M. L. S. OLIVEIRA, M. A. N. A pesquisa e o enfermeiro com qualidade formal e qualidade prática: caminho para a consolidação da enfermagem como ciência. Sitientibus, Feira de Santana, n. 33, jul./dez. 2005. Disponível:<http://www2.uefs.br/sitientibus/pdf/33/a_pesquisa_e_o_enfermeiro_com_qualidade_formal.pdf>. Acesso em 09 de abril de 2012.
89
STALLIVIERI, L. O Papel das Instituições de Ensino Superior na Formação de Profissionais para O Mercado Internacional. Assessoria de relações Interinstitucionais e Internacionais. Universidade de Caxias do Sul. Disponível em: <http://www.ucs.br/ucs/tplCooperacaoCapa/cooperacao/assessoria/artigos/papel_instituicos.pdf>. Acesso em: 08 de junho de 2011. TONINI, N.S; FLEMING,S.F. Historia de Enfermagem: Evolução e pesquisa. Revista Arq. Ciên.Saúde Unipar, v3, set/dez.,2002. Disponível em: < http://revistas.unipar.br/saude/article/view/1189/1050>. Acesso em: 23 de agosto 2012.