A DINÂMICA DESIGUAL NO TERRITÓRIO BRASILEIRO NO CONTEXTO
DAS POLÍTICAS DE C&T E INOVAÇÃO
Tatiane Thaís Lasta NPDR/FURB
Ivo Marcos Theis NPDR/FURB
Ana Claudia Moser NPDR/FURB
Resumo: Historicamente o Brasil é um país marcado por desigualdades regionais
crescentes, apesar da sensível melhora de alguns indicadores socioeconômicos no período
recente a dinâmica desigual perdura no território brasileiro. Do ponto de vista espacial, o
tema abarca o território brasileiro. Esse território se modifica ao longo do tempo,
culminando num espaço heterogêneo, que é marcado por crescentes disparidades inter-
regionais. Do ponto de vista temporal, o tema abarca o período que vai do início do governo
FHC, ou seja, de meados dos anos 1990 em diante, até o início do governo Dilma. O
principal objetivo desta intervenção aqui proposta é examinar a relação entre inovação e
desenvolvimento socioeconômico e suas repercussões sobre o território brasileiro no
período recente. O que ficou evidente aqui é que as políticas de C&T e Inovação
contribuem para o agravamento das desigualdades entre as regiões brasileiras confirmando
o que chamamos aqui de desenvolvimento geográfico desigual acompanhando o processo
de acumulação de capital pela concentração de investimentos que se dá nas regiões
especificas e já desenvolvidas do país com destaque para a região Sudeste. Dados revelam
ainda que o capital privado brasileiro tem sido tímido quando se refere a realizar atividades
inovativas, o que ocorre no país é a prática de importar máquinas e equipamentos de países
centrais. Esta prática não tem possibilitado o desenvolvimento socioeconômico, mas sim, o
contrário: um maior nível de acumulação de capital e o agravamento das disparidades inter-
regionais no território que ao longo do período analisado que tem se mostrado crescente.
Fica nítido, portanto, que ao contrário do que prega a tese fraca do discurso dominante não
se concretiza. A inovação não leva ao desenvolvimento socioeconômico, mas sim propaga o
desenvolvimento desigual pelo território brasileiro e suas regiões. De maneira que
sugerimos aqui que seria sensato repensar o modelo de desenvolvimento e, por que não o de
C&T e Inovação em vigor hoje no país.
PALAVRAS-CHAVE: Ciência e Tecnologia. Inovação. Desigualdades regionais.
Desenvolvimento desigual. Desenvolvimento socioeconômico. Brasil.
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos o debate acerca da “inovação” tem sido crescente no Brasil.
Ouve-se com certa frequência, nos discursos oficiais, sobre os volumosos investimentos
voltados a essa área especifica, apontando para o seu suposto retorno para a sociedade
brasileira, que segundo o discurso dominante, experimentaria os resultados da inovação em
todo território na forma de “desenvolvimento econômico” e social isso se daria através da
chamada cadeia linear de inovação defendida pelo discurso dominante. Para o discurso
dominante a “inovação” é sinônimo de desenvolvimento, portanto esta seria a propulsora do
desenvolvimento socioeconômico, sustentados na máxima simplista de que um maior
desenvolvimento científico levaria a um maior desenvolvimento econômico e por
consequência de uma mão invisível levaria a uma maré de desenvolvimento social. Porém,
o que se discute aqui, é justamente o contrário: o modelo brasileiro de desenvolvimento e
sua Ciência e Tecnologia e Inovação acaba por agravar as desigualdades regionais, já que os
investimentos são concentrados nas regiões mais desenvolvidas e a taxa de inovação no
Brasil tem sido irrisória ao longo dos anos, além disso, as empresas brasileiras pouco
inovam. E as que o fazem concentra-se na grande região de São Paulo e seus entornos. O
discurso dominante afirma que a C&T e a inovação existentes no Sudeste podem e devem
espalhar-se para as demais regiões do Brasil. E isso gera problemas, já que cada região,
cada território, tem as suas peculiaridades.
Que fique evidente aqui, nosso interesse nesta breve intervenção não diz respeito
à motivação das empresas inovarem, mas sim e principalmente, desvendar as repercussões
pelo território que essa possível inovação gerou. Já que se ouve muito nos discursos
oficiais sobre a importância da inovação para o desenvolvimento econômico e social do
país, porém cabe perguntar aqui: onde está o impacto positivo de tais políticas? Não
obstante, a principal proposta desta intervenção: é examinar a relação entre inovação e
desenvolvimento socioeconômico e suas repercussões sobre o território brasileiro no período
recente.
Para contemplar o objeto de estudo deste artigo, dividimos o artigo em cinco
sessões: além desta sessão introdutória, segue a segunda sessão que trata da trajetória das
políticas de C&T dos primórdios até os dias atuais, noutra sessão, trazemos os dados de
investimento e C&T no período recente, bem como os dados de inovação, por fim,
apresenta-se uma sessão dedicada as conclusões.
2 AS POLITICAS DE C& T I NO BRASIL NO PERÍODO RECENTE
Nosso intento nesta sessão é compreender o surgimento da PCT brasileira,
caminhando por entre os planos adotados para o Brasil dos primórdios até o período
recente. Para fins didáticos subdividimos o capítulo da seguinte forma: neste primeiro
momento faremos breve discussão acerca dos conceitos de política cientifica, política
tecnológica e sobre C&T e Inovação. Após, trataremos do surgimento da PTC brasileira até
o fim do regime militar. Em seguida, trabalharemos o período pós- constituição de 1988 do
governo FHC a Lula e inicio do governo Dilma, período ao qual esta recortada
temporalmente este artigo.
A Política científica compreende as atividades relacionadas principalmente com a
pesquisa cientifica onde se produzem conhecimentos básicos e potencialmente utilizáveis e
que não são incorporados diretamente nas atividades produtivas. Além disso, a pesquisa
cientifica tem poucas possibilidades de retornos financeiros (SAGASTI, 1986, p. 62). De
acordo com Dias (2011) é de:
Caráter teórico-metodológico está baseado em uma ponderação levantada por
uma série de autores do campo dos Estudos Sociais da Ciência e da
Tecnologia, de acordo com a qual a ciência estaria se tornando cada vez mais
tecnológica e a tecnologia, mais científica (DIAS, 2011, 324).
Já a Política tecnológica, tem como principal objetivo a geração e aquisição de
tecnologias a serem utilizadas em processos produtivos que são capazes de gerar
excedentes. Diferentemente da política científica, na tecnológica “o uso econômico destes
conhecimentos está garantido através de um segredo tecnológico” de forma que os técnicos
guardam este segredo e está sujeito a vários graus de apropriação monopolística por quem o
desenvolve (SAGASTI, 1986, 62-63).
A Política Tecnológica segundo Dias, (2011):
Pode ser compreendido como o produto da tensão existente entre “a agenda
da ciência” – o conjunto de interesses relativamente articulados da
comunidade de pesquisa – e “as agendas da sociedade”, que envolvem uma
grande pluralidade de atores e interesses (DIAS, 2011, p. 324).
De acordo com Theis (2012) no Brasil a política que predomina é a científica, não
a tecnológica. Essa visão PCT contribui diretamente na distribuição das atividades
científicas e tecnológicas. Essa distribuição se configurou de forma desigual no território,
acompanhando a acumulação do capital. A base técnica se propagou do centro sobre outros
espaços, dinamizando e reforçando a capacitação técnico-científica do centro.
As preocupações da agenda pública como ideia de progresso nos países de terceiro
mundo e com a preocupação de modernizar a indústria interna e torná-la competitiva desde
o inicio da década de 1950. Ciência & Tecnologia e Inovação a partir daí são vistos como
motores do desenvolvimento econômico e social pelo discurso dominante. Todavia, tem-se
a impressão de que são utilizadas “expressões como “desenvolvimento nacional” ou “bem-
estar social” as quais são empregadas para qualificar processos que favorecem
exclusivamente a classe dominante ou os atores mais poderosos” (DIAS, 2011, p. 325).
2.1 AS POLÍTICAS DE C&T NO BRASIL: DOS PRIMÓRDIOS AOS ANOS
1980
No Brasil as primeiras políticas e ações deste setor de (C&T) se deram no pós-
guerra, na década de 1950 e se concretizaram com a criação do Conselho Nacional de
Pesquisas em 1951, que posteriormente passaria a chamar-se Conselho Nacional de
Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico em 1978 (CNPq). Marco importante também foi
a criação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) que se deu em 1948.
A ciência era vista como um meio favorável para se superar o subdesenvolvimento e na
busca pelo “progresso” para se igualar a países desenvolvidos. Ainda na mesma a década
constitui-se a Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal Superior (CAPES).
Nesse mesmo período foram criadas outras instituições importantes como a Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) em 1940; o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas
(CBPF) em 1949; Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) em 1954; o Instituto de
Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) em 1956. Tudo isso constituiu e formalizou a
criação da PCT brasileira, neste momento ainda o governo começou a dar maior
importância à ciência como um fator produtivo e que pudesse contribuir, além disso, para a
expansão do capital (LIMA, 2009, p. 91-92; BARROS, 1999, p. 11-12).
A formalização das políticas de C&T está diretamente ligada com o processo de
industrialização do país, justamente visando o interesse e aprimoramento das condições de
produção. É dentro deste contexto que os governos começam a enxergar as “possibilidades”
da ciência como um “duplo caráter”: de um lado, usá-las como uma fachada que lhes desse
certa aparência “progressista”, e outro lado, como uma ferramenta que lhes possibilitasse
corrigir as enfermidades do subdesenvolvimento (HERRERA, 1979, apud BAGATTOLLI,
2008, p. 8-9).
O Relatório Bush publicado em 1945 nos EUA vem influenciar as linhas das
políticas de C&T na maioria dos países que se refletiu também nos países periféricos. Neste
relatório defendia-se a importância da ciência para o progresso, além de rezar que era a
condição chave para o desenvolvimento econômico e social dos países. Por alto, a ideia
central do relatório era de que o avanço científico levaria a um avanço tecnológico e que
com isso ter-se-ia desenvolvimento econômico e naturalmente teríamos desenvolvimento
social.
Avanço Científico
Avanço Tecnológico
Desenvolvimento
Econômico
Desenvolvimento
Social
Figura 1 Cadeia linear de Inovação
Fonte: Adaptado de Bagattolli (2008).
Assim a compreensão clássica de ciência e tecnologia se daria pela simples
equação: quanto mais ciência gerar-se-ia mais tecnologia que geraria mais riqueza que, por
sua vez conduziria a um maior bem-estar social, a partir daí investir em C&T seria
sinônimo de investir em desenvolvimento (CEREZO, 2004, p. 3-4; BAGATTOLLI, 2008 p.
12-13)
Na década seguinte, com o Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG), de
1964 a 1967 estimulava a entrada de empresas multinacionais (capital estrangeiro) no país
com o intento de suprir as necessidades tecnológicas e de modernizar a indústria nacional.
A ideia desta política era aumentar a capacidade de importação, de geração de emprego e
renda. O intuito seria resolver as necessidades tecnológicas das empresas nacionais de
forma imediata por meio da introdução de tecnologias importadas, principalmente por meio
do investimento externo. Durante este plano é criado o Fundo Tecnológico (FUNTEC) pelo
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, em 1965 o FUNTEC
serviria de auxilio e apoio aos programas de pós-graduação que já existiam no país. O Plano
Estratégico de Desenvolvimento (PED) surge do PAEG a partir de 1967 e vem reforçar a
ideia de que a C&T deveria ser utilizada para o progresso e o crescimento econômico.
Dentro deste plano surge a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).
No ano de 1969 instituiu-se o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (FNDCT), com o objetivo de financiar os programas e projetos de C&T
considerados estratégicos para o desenvolvimento do país. Ainda no ano de 1969 o CNPq
lança o plano quinquenal com o intento de uma maior relação entre universidades e
empresas. Em 1970 foi onde se teve os maiores investimentos em C&T. No I Plano
Nacional de Desenvolvimento (PND), de 1972-1974 os principais objetivos seguiam a ideia
de progresso e de que o Brasil deveria ser desenvolvido a qualquer custo. Duplicar as
rendas, aumento do produto interno e expansão do emprego eram outros objetivos
(MOTOYAMA, 2004; MOREL, 1979; apud BAGATTOLLI, 2008, p. 12-14).
Durante o I PND surge o I Plano Brasileiro de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (I PBDCT) em 1973 com o mesmo intuito de fortalecer a estrutura tecnológica
e a capacidade de inovação das empresas e a proximidade de universidade e empresas,
semelhante, portanto aos planos anteriores. O II PND, no período de 1975-1979, insistia na
ideia de que a ciência era útil para o progresso e propulsora do desenvolvimento. Durante o
II PND surge o II PBDCT em 1975, que apresentava uma continuidade dos planos já
citados. Destaca-se que durante este plano foram investidos 20 vezes mais do que no
primeiro. Já no III PND, instituído em 1980 no governo Figueiredo (último do regime
militar) tem-se uma redução significativa dos investimentos em C&T (que reflete a crise do
regime) ao mesmo tempo que ganha destaque o CNPq.
Em 1985 é criado o Ministério da Ciência e da Tecnologia (MCT), que se torna o
órgão responsável pela elaboração da PCT brasileira. A criação do Ministério de Ciência e
Tecnologia (1985) consolida a institucionalização da C&T. A criação do MCT representou
grande avanço na organização político-institucional da PCT. O ministério se constituiu
como um dos principais atores da PCT através da formulação de diretrizes e programas, no
repasse de recursos e na coordenação das instituições no âmbito da CT. Contudo, até o
inicio da década de 1990 o CNPq manteve posição central na elaboração da PCT (DIAS,
2009).
Atualmente, recebeu mais um adjetivo, passando a chamar-se Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). De acordo com BAGATTOLLI (2008) no ano de
1989 o CNPq teve o maior montante de investimentos e ampliou nesta mesma época as
bolsas e auxílio. Na época, o governo Sarney alocou 2% do PIB para o setor de C&T. Os
últimos anos dessa década foram marcados pela instabilidade institucional, que resultou no
fim de uma concepção sistêmica da PCT no país. A Constituição de 1988 dá início a
transferência de recursos para estados e municípios e ao incentivo à maior participação do
setor privado nos investimentos de C&T (BARROS, 1999).
2.2 AS POLÍTICAS DE C&T NA DÉCADA NEOLIBERAL: GOVERNO FHC -
A ÊNFASE NA INOVAÇÃO
Após a Constituição de 1988 tem-se no Brasil uma forte onda neoliberal iniciada
pelo Governo Collor com abertura comercial, privatizações e aumento do desemprego
(meados de 1990). Pode-se afirmar ainda que “é a década da inserção subalterna do Brasil
na mundialização do capital por meio de políticas neoliberais que acentuaram a lógica
destrutiva do capital no país.” (ALVES, 2002, p. 71).
Esse período é marcado também por uma continuidade da modernização do setor
produtivo brasileiro por meio de transferências de tecnologia dos países desenvolvidos. O
governo Collor reduz os investimentos em C&T e mesmo diante desta, as atividades de
C&T continuaram no período 1990-93 com Itamar Franco na administração do país. Neste
momento o país vivia uma expansão e consolidação de programas de pós-graduação. É
neste momento que o termo inovação aparece como novidade dos discursos oficiais
(BAGATTOLLI, 2008; LIMA, 2009, p. 150-153; THEIS, 2012, p. 4).
O Plano Plurianual I -1991 à 1995 era mais voltado para a transição de um modelo
baseado na pesquisa básica (base até então) para a pesquisa aplicada, como mencionados, o
país vivia um momento difícil com instabilidade política e macroeconômica.
Entre 1996-1999 o país foi governado por Fernando Henrique Cardoso (FHC) que
lançou o II Plano Plurianual de Ciência e Tecnologia do governo federal, com a principal
preocupação de inserir o Brasil na economia mundial. Seus três principais objetivos eram:
“construção de um estado moderno e eficiente; redução das desigualdades regionais e
sociais e; modernização da economia brasileira” (BRASIL, 1996).
Ainda, segundo o plano:
A abertura econômica expõe as empresas brasileiras a dois desafios
simultâneos relacionados à qualidade, preço e especialização de bens e
serviços: no mercado interno, concorrer com os produtos importados; e no
mercado externo, conquistar novos consumidores de matérias-primas,
produtos acabados e serviços (BRASIL, 1996, 14-15).
A ideia deste plano era de que a intensificação da concorrência em escala
econômica tenderia a fortalecer e a diversificar os interesses locais, ressaltar as diferentes
condições de estados e municípios e assim, exigiria um novo enfoque na questão da
distribuição espacial do desenvolvimento sócio econômico, ou seja, voltar recursos para as
áreas mais fragilizadas.
No que diz respeito às desigualdades o plano ressalta em suas prioridades: “além
de seu caráter social, o investimento em infra-estrutura econômica e a capacitação de
recursos humanos. A alocação de recursos da União nessas duas áreas deve ser direcionada
preferencialmente para as regiões de bases econômicas mais frágeis.” (BRASIL, 1996, p.
12).
Este período marca ainda a criação do III PADCT (Programa de Apoio ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico), base para recursos para a implementação da
agenda de C&T (THEIS, 2012, p. 4). Os elementos centrais do PADCT III foram a
capacitação de C&T no setor produtivo e o fortalecimento da competência de C&T nas
áreas estratégicas. A partir desses elementos delinearam-se três objetivos: fomentar a
cooperação entre o Estado e o setor produtivo e capacitar recursos humanos no academia e
no setor produtivo; e ampliar o conhecimento em C&T nas áreas de relevância para o
desenvolvimento econômico e social; e melhorar o desempenho de C&T nas áreas de
planejamento, gestão, monitoramento e avaliação. Mesmo com o destaque positivo para as
inovações institucionais o Plano não teve continuidade em virtude da redução dos gastos
públicos em decorrência da crise do Real (LOPES, 2008). Em 2000 foram criados os
chamados Fundos Setoriais, cujo objetivo era o desenvolvimento científico e tecnológico de
setores específicos (PACHECO, 2007, p. 14).
Ainda no governo FHC formulou-se o Plano Plurianual 2000-2003 do MCT, como
forma de continuidade ao anterior. O Plano propõe uma crescente oferta de recursos e a
reitera a ênfase sobre a pesquisa aplicada. Pode-se destacar a mudança ocorrida durante o
segundo mandato do governo Fernando Henrique Cardoso, na transição do segundo Plano
Plurianual da C&T para o terceiro, no qual o setor produtivo ganharia centralidade. Nesse
contexto foi lançado o Livro Verde, como documento preparatório para a Conferência
Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que previa o ajustamento da sociedade
brasileira aos padrões de C&T vigentes no plano internacional (THEIS, 2009). Quanto à
questão regional a alternativa proposta vai à direção do incentivo aos sistemas locais de
inovação.
A organização e promoção de sistemas locais de inovação, visando estimular
sinergias entre os agentes locais – para superar gargalos tecnológicos que
travam o desenvolvimento de atividades produtivas com potencial relevante
de geração de renda e emprego –, apresenta nova concepção de
desenvolvimento regional e nova dimensão para a participação das micro e
pequenas empresas no contexto de desenvolvimento. Um fator muito
importante consiste na possibilidade de se incluir inovações advindas de
percepções locais ou mesmo de tecnologias desenvolvidas localmente, muitas
vezes garantindo diferencial único para o mercado (BRASIL, 2001, p. 168).
Os investimentos nessa área continuam a experimentar melhora e seus objetivos
voltam-se para a pesquisa científica e tecnológica, mas com uma novidade: com grande
ênfase na inovação. Tudo deveria orbitar por esta ótica.
Como reza o documento oficial:
Os investimentos feitos em C&T e inovação trazem retorno na forma de
uma população mais bem qualificada, de empregos, mais bem remunerados
de geração de divisas e de melhor qualidade de vida (BRASIL, 2001, p. 14,
grifo nosso).
As principais vertentes segundo este plano eram: ampliar e aprimorar a base
técnico-científica do país; expandir o volume recurso aplicados em C&T; criação de fundos
setoriais1; redução da concentração das atividades regionais de C&T; estimular o setor
privado a inovar (BRASIL, 2001, p. 39).
1 Fundos Setoriais ver mais em: http://www.finep.gov.br/pagina.asp?pag=30.10
O setor produtivo passa a ter maior centralidade e é lançado o chamado Livro
Verde, um documento preparatório para a 2 ª Conferencia Nacional de Ciência e Tecnologia
e Inovação. Este busca: “mostrar, por fim, a contribuição que podem a C&T prestar para
que o país alcance definitivamente seu lugar no cenário mundial” (BRASIL, 2001, p. 11).
Este documento traz em seu conteúdo a ideia de alinhar a sociedade brasileira aos
padrões de C&T vigentes no plano internacional. Além disso, a empresa privada passa a ser
a parte mais importante nesse processo (GONÇALVES; MOSER; THEIS, 2011, p. 7-8). Ao
findar esta conferência temos um novo documento o chamado livro Branco que procurou
“apontar caminhos para que a Ciência e Tecnologia e Inovação pudesse contribuir para a
construção de um país mais dinâmico, competitivo e socialmente mais justo” (BRASIL,
2000, p. 21).
Percebe-se que o período dos anos 90 com foi alicerçado sobre os “pilares” da
inovação e da competitividade. Dessa maneira, não é difícil deduzir que as políticas de
C&T alinhavaram-se aos princípios neoliberais buscando dar mais competitividade às
empresas privadas no cenário internacional. Colocando nela inclusive a responsabilidade
por promover desenvolvimento socioeconômico. Avanços com a maior oferta de recursos
porém, não levaram a uma expressiva melhora nos números de inovações e nem a expansão
do sistema de formação de pesquisadores tornou chave, “nem para o desenvolvimento
tecnológico, nem para o desenvolvimento econômico e social do país” como enfatiza
(THEIS, 2012, p. 7).
2.3 AS POLÍTICAS DE C&TI NO GOVERNO LULA: A RELEVÂNCIA DO
SOCIAL
Com a eleição de Lula é lançado o Plano Plurianual do MCT (2004 – 2007) que
trás consigo uma preocupação com a área social de uma forma que se difere dos demais
planos antes executados, todavia, sem perder de vista as preocupações com o setor privado
e com a inovação além de direcionar o investimento em C&T para inclusão social. Em 2005
realizou-se a 3ª Conferencia Nacional de Ciência e Tecnologia que segue com a confiança
na inovação. O principal argumento desta era justamente o de que a C&T e a Inovação
poderiam levar ao crescimento econômico e logo “à inclusão dos setores da população
socialmente até então desfavorecidos pelas PCT” (THEIS, 2012, p. 7).
O novo Plano Plurianual do MCT (2008-2011) seguiria na continuidade da
contradição: de um lado à ênfase na inovação tecnológica na atividade produtiva e de outro,
a preocupação com o social. A formulação desses planos esteve ligada a um plano maior, o
Plano de Ação de Ciência, Tecnologia e Inovação (C, T&I) para o Desenvolvimento
Nacional (2007-2010). As diretrizes centrais foram organizadas em quatro eixos descritos
no quadro abaixo:
Objetivos Metas
Expansão e Consolidação do
Sistema Nacional de C,T&I;
A meta era expandir, integrar, modernizar e consolidar o Sistema
Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Promoção da Inovação
Tecnológica nas Empresas;
Intensificar as ações de fomento à inovação e de apoio tecnológico
nas empresas. Acelerar o desenvolvimento de um ambiente favorável
à inovação nas empresas.
Pesquisa, Desenvolvimento e
Inovação em Áreas Estratégicas;
Fortalecer as atividades de pesquisa e inovação em áreas estratégicas
para a soberania do País.
C,T&I para o Desenvolvimento
Social.
Promover a popularização e o aperfeiçoamento do ensino de ciências
nas escolas, bem como a produção e a difusão de tecnologias e
inovações para a inclusão e o desenvolvimento social.
Quadro 1 Eixos do Plano de Ação de Ciência, Tecnologia e Inovação
Fonte: Elaboração dos autores com base no Plano 2007-2010 (BRASIL 2007).
Durante o governo de Lula tem-se uma continuidade dos planos anteriores, porém,
com maior ênfase no social. Em 2010 aconteceu a 4ª Conferencia Nacional de Ciência e
Tecnologia e inovação “para o desenvolvimento Sustentável” que resultou no livro azul,
onde se observa a preocupação com a inclusão do desenvolvimento social e sustentável nos
documentos oficiais da PCT:
A entrada recente do desenvolvimento social na agenda da ciência e
tecnologia foi um importante passo político; possibilitou avanços, ainda que
limitados, como o crescimento das atividades de popularização da C&T, uma
maior difusão de tecnologias sociais e da economia solidária, bem como a
ampliação do uso de tecnologias assistivas (voltadas para proporcionar ou
ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência). Mas os recursos
limitados e o número reduzido de políticas para a incorporação da
C,T&I a ações ligadas às necessidades da população, particularmente da
enorme parcela ligada à informalidade – tendo como um dos objetivos sua
conversão à economia formal – são empecilhos para um desenvolvimento
econômico, social e ambientalmente justo e sustentável (BRASIL, 2010, p.
91 grifo nosso).
Se por um lado, o “desenvolvimento social” ganhou status de prioridade nos
planos do governo petista, chegando a contemplar sujeitos até então deixados de lado pelas
ações do MCT, “não se alteraram substancialmente as relações de força antes vigentes,
nem, em consequência, as dotações de recursos apropriados pelos sujeitos e instituições
hegemônicas na velha agenda” (THEIS, 2009).
Ainda durante o governo Lula, normas e legislações foram criadas em apoio às
atividades inovativas, a exemplo: a Lei nº. 10.973/2004: denominada Lei da Inovação de 2
de dezembro de 2004 com a finalidade de criar novos incentivos fiscais para o fomento da
inovação empresarial, e regulamentar a subvenção econômica; a Lei nº. 11.196/2005,
denominada Lei de Bem, cujo objetivo era dispor incentivos fiscais voltados para a
inovação; entre outras. Além de alterações em órgãos oficiais para as quais não há melhor
referência do que a modificação da pasta da área do Ministério da Ciência e Tecnologia
para Ministério da Ciência Tecnologia “e Inovação2”.
É notório que nos últimos dez anos ocorreram mudanças institucionais
significativas com vistas a favorecer o desenvolvimento científico e tecnológico no Brasil.
Surgiu nos discursos e documentos oficiais uma ênfase fortemente voltada para a questão da
inovação.
Para resumir, no governo de Lula (2003-2006 e 2007-2010) e Dilma (2011-2012)
a palavra chave seria continuidade, já que não houve mudanças significativas. Com Lula no
poder os interesses não se diferem muito dos planos anteriores: de um lado os interesses
privados e de outro a clara preocupação com a questão social, já no primeiro plano de seu
governo. Destaca-se que no segundo plano, além da questão social, os documentos trazem
em seu bojo a preocupação ambiental, com a sustentabilidade.
O balanço que fica deste capítulo é que a última década é marcada pela ênfase na
inovação. Inovação e competitividade passam a serem conceitos chave, compatíveis com a
orientação neoliberal da época (THEIS, 2012, p. 6). O que demonstram os últimos planos
no Brasil é a responsabilidade assumida pela inovação em gerar desenvolvimento
econômico e social.
3 POLÍTICAS DE C&T E INOVAÇÃO E AS DESIGUALDADES REGIONAIS
Sabe-se que historicamente o país é marcado por um desenvolvimento desigual,
disso não se tem mais dúvidas. Desenvolvimento este que agravou as disparidades em todos
os territórios e regiões, além de sempre privilegiar as minorias, então beneficiadas, a
despeito das multidões, que vivem a mercê de direitos básicos à sobrevivência. O problema
brasileiro não está na falta de riquezas e sim, na forma como elas são divididas e na
essência do próprio sistema. Apesar de alguns indicadores apresentarem tímida melhora, é
evidente o caráter concentrador de riquezas do modelo de desenvolvimento que passou a se
cristalizar no Brasil, sobretudo, após 1964 (SACHS, 2001). Basta lembrar que, em 1960, os
2 Ver a propósito: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=80112
10% mais ricos se apropriavam de uma renda 34 vezes maior que a dos 10% mais pobres, e
que, em 1991, apenas três décadas depois, os 10% mais ricos passaram a se apropriar de
uma renda 47 vezes maior que a dos 10% mais pobres (BENJAMIN et al., 1998). Dados do
IPEA mais atualizados dão conta que 5 mil famílias controlam 46% do PIB brasileiro,
enquanto o resto, ficam com os restos, literalmente. Além disso, apenas 1% das famílias
controlarem 48% das terras, enquanto que o restante, ou seja, 99% ficam com o que sobra,
literalmente.
Brandão (2010) define da seguinte forma o desenvolvimento brasileiro:
Foi marcado historicamente por decisivo e contraditório conjunto de inércias,
rupturas, conflitos, desequilíbrios e assimetrias e por ser um gigantesco e
complexo processo de desenvolvimento desigual e de seus espaços regionais e
urbanos. Qualquer análise da realidade regional e urbana brasileira deve estar
atenta aos fatores de continuidade e rigidez das desigualdades sociais e
econômicas presentes no país. Também deve empreender o exame das marcantes
persistências e recorrências de assimetrias estruturais entre as diversas regiões e
classes sociais, fruto de determinações históricas de longa duração e de outras,
mais recentes, que se sobrepõem àquelas mais remotas (BRANDÃO, 2010, p. 50-
51).
Para analisar o subdesenvolvimento brasileiro Oliveira, F. (2006) recorre a metáfora
do ornitorrinco, descrevendo o Brasil como
Altamente urbanizado, pouca força de trabalho e população urbana no
campo, dunque nenhum resíduo pré-capitalista; ao contrário um forte
agrobussiness. Um setor industrial da Segunda Revolução Industrial
completo, avançando, tatibtante, pela Terceira Revolução, a molecular-digital
ou informática. Uma estrutura de serviços muito diversificada numa ponta,
quando ligada aos estratos de altas rendas, a rigor, mas ostensivamente
perdulários que sofisticados; noutra, extremamente primitiva. Ligada
exatamente ao consumo de estratos pobres. Um sistema financeiro ainda
atrofiado, mas que, justamente pela financeirização e elevação da dívida
externa, acapara uma alta parte do PIB [...]. Como crédito financia a
circulação de mercadorias, e por essa via, indiretamente, a acumulação do
capital, é fácil perceber o significado do sistema bancário fraco. Em termos
de PEA ocupada, fraca e declinante participação da PEA rural, força de
trabalho industrial que chegou ao auge na década de 1970, mas decrescente
também, e explosão continuada do emprego nos serviços (OLIVEIRA, F.,
2006, p. 133).
São vários os dados capazes de mensurar as desigualdades: por exemplo: Em 2010
alcançamos a marca de 190,7 milhões de habitantes, porém distribuída de forma desigual
entre as cinco macrorregiões do país. No Sudeste, que ocupa somente 11% do território,
concentram-se quase a metade da população: 42% (IBGE, 2007). Destaca-se que no início
da década de 90 Sul e Sudeste concentravam cerca de 3/4 da riqueza produzida (Sudeste
58% e Sul 17%). Fato que não mudou muito já que em 2008, Norte, Nordeste e Centro-
Oeste, que juntas formam, mas de 82% de nosso território e juntam cerca de 43% da
população, representavam apenas 27,4% do PIB. O que faz concluir que a riqueza está
concentrada no Sudeste e no Sul. (THEIS; MOSER, 2012, p. 11).
Regiões como Sul e Sudeste ostentam as melhores taxas de IDH, PIB per capita e
investimentos e estímulos oficiais em diversas áreas. Vejamos os dados da tabela abaixo:
Tabela 1 Produto Interno Bruto do Brasil a preços de mercado, Brasil, segundo Grandes
Regiões e Unidades da Federação, 2003 a 2009 (R$ 1. 000.000,00)
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Norte 81.200 96.012 106.442 119.993 133.578 154.703 163.208
Rondônia 9.751 11.260 12.884 13.107 15.003 17.888 20.236
Acre 3.305 3.940 4.483 4.835 5.761 6.730 7.386
Amazonas 24.977 30.314 33.352 39.157 42.023 46.823 49.614
Roraima 2.737 2.811 3.179 3.660 4.169 4.889 5.593
Pará 29.755 35.563 39.121 44.370 49.507 58.519 58.402
Amapá 3.434 3.846 4.361 5.260 6.022 6.765 7.404
Tocantins 7.241 8.278 9.061 9.605 11.094 13.090 14.571
Nordeste 217.037 247.043 280.545 311.104 347.797 397.500 437.720
Maranhão 18.483 21.605 25.335 28.620 31.606 38.486 39.855
Piauí 8.777 9.817 11.129 12.788 14.136 16.760 19.033
Ceará 32.565 36.866 40.935 46.303 50.331 60.099 65.704
RN 13.515 15.580 17.870 20.555 22.926 25.481 27.905
Paraíba 14.158 15.022 16.869 19.951 22.202 25.697 28.719
Pernambuco 39.308 44.011 49.922 55.493 62.256 70.441 78.428
Alagoas 11.210 12.891 14.139 15.748 17.793 19.477 21.235
Sergipe 10.874 12.167 13.427 15.124 16.896 19.552 19.767
Bahia 68.147 79.083 90.919 96.521 109.652 121.507 137.075
Sudeste 947.748 1.083.975 1.213.863 1.345.513 1.501.185 1.698.588 1.792.049
Minas Gerais 148.823 177.325 192.639 214.754 241.293 282.521 287.055
Espírito
Santo 31.064 40.217 47.223 52.778 60.340 69.870 66.763
RJ 188.015 222.945 247.018 275.327 296.768 343.182 353.878
São Paulo 579.847 643.487 726.984 802.655 902.784 1.003.015 1.084.353
Sul 300.859 337.657 356.211 386.588 442.820 502.040 535.662
Paraná 109.459 122.434 126.677 136.615 161.582 179.263 189.992
SC 66.849 77.393 85.316 93.147 104.623 123.282 129.806
RS 124.551 137.831 144.218 156.827 176.615 199.494 215.864
Centro-
Oeste 153.104 176.811 190.178 206.284 235.964 279.372 310.765
MS 19.274 21.105 21.651 24.341 28.121 33.143 36.368
Mato Grosso 27.889 36.961 37.466 35.258 42.687 53.386 57.294
Goiás 42.836 48.021 50.534 57.057 65.210 75.271 85.615
DF 63.105 70.724 80.527 89.629 99.946 117.572 131.487
Brasil 1.699.948 1.941.498 2.147.239 2.369.484 2.661.345 3.032.203 3.239.404
Fonte: IBGE, em parceria com os Órgãos Estaduais de Estatística, Secretarias Estaduais de Governo e
Superintendência da Zona Franca de Manaus - SUFRAMA.
Ao observarmos mais detalhadamente o período entre 2003 e 2009, percebe-se
que a tendência ao crescimento e a concentração se mantém. O PIB nacional passou de
R$ 1.699.948 em 2003 para R$ 3.239.404 em 2009, representando um crescimento de
52%. E a região Sudeste permaneceu concentrando mais da metade do PIB nacional (em
torno de 55%). A concentração pode ser verificada também no interior das
macrorregiões, observando novamente a região Sudeste, percebe-se que o estado de São
Paulo concentra 60% da riqueza produzida na região.
Diante desses dados fica explícita a distribuição espacial desigual da riqueza
produzida no país, pois mesmo com o crescimento do PIB no período em questão sua
distribuição permaneceu concentrada nas mesmas regiões. Demonstrando que apenas o
crescimento do volume dessa riqueza não representa diretamente uma melhora na
redução das desigualdades sócio-espaciais.
Aqui tentamos desvendar as desigualdades sócias espaciais através de diversos
indicadores socioeconômicos, com uma breve análise dos indicadores não é difícil chegar a
conclusão que o modelo de desenvolvimento vigente se sustenta e é pulsado pelas
desigualdades regionais e marcado pelo que se chama de desenvolvimento desigual. Este
que sustenta que as desigualdades são produzidas pelo próprio modelo de desenvolvimento
vigente, observadas na diferença escancarada das paisagens das regiões desenvolvidas e
subdesenvolvidas. E como nos recomenda (HARVEY, 2004) é a acumulação do capital,
com bases no livre mercado que produz as diferenciações geográficas em termos de riqueza
e poder (HARVEY, 2004). Resta-nos a partir de agora, analisar se o investimento em C&T
e a Inovação têm contribuído diretamente para amenizar este quadro de desigualdades. É o
que discutiremos a partir de agora:
O objetivo nesta sessão é analisar o montante dos investimentos voltados para
C&T no Brasil no período recente e sua relação com o desenvolvimento sócio econômico e
as desigualdades.
Como já visto o modelo de C&T e Inovação brasileira segue baseado no modelo
dos países centrais, de modo que podemos citar outras duas características que o compõe: a
crença/aposta na cadeia linear da inovação (já vista) e por ser, em sua estrutura, tecnologia
convencional.
Em um primeiro momento faz-se necessário uma análise dos investimentos em
C&T no Brasil. A tabela abaixo nos dá uma noção dos investimentos realizados em C&T no
Brasil no período de 2000 a 2010.
Tabela 2: Investimentos em C&T no Brasil, 2000 a 2010 (em milhões de reais)
Ano
Públicos Empresariais
Total Federais Estaduais Total
Empresas
privadas e estatais
Outras empresas
estatais federais Total
2000 5.795,4 2.854,3 8.649,7 5.455,6 1.183,2 6.638,8 15.288,5
2001 6.266,0 3.287,1 9.553,1 6.058,7 1.650,8 7.709,6 17.262,6
2002 6.522,1 3.473,3 9.995,4 6.688,7 2.593,1 9.281,8 19.277,2
2003 7.392,5 3.705,7 11.098,2 7.335,3 2.960,3 10.295,6 21.393,9
2004 8.688,2 3.900,5 12.588,6 7.941,3 3.510,2 11.451,6 24.040,2
2005 9.570,1 4.027,3 13.597,4 10.216,6 3.463,0 13.679,6 27.277,1
2006 11.476,6 4.282,1 15.758,6 11.783,9 3.076,0 14.859,9 30.618,5
2007 14.083,5 5.687,4 19.770,9 13.734,1 3.692,2 17.426,3 37.197,2
2008 15.974,5 7.138,0 23.112,5 15.827,0 5.158,6 20.985,6 44.098,1
2009 18.475,2 8.424,8 26.900,0 17.987,9 7.001,2 24.989,2 51.889,2
2010 22.577,0 10.201,8 32.778,7 20.407,7 7.713,0 28.120,7 60.899,5
Fonte: Elaboração própria com base nos dados do MCTI (2012).
Ficou evidente o aumento nos investimentos em C&T no período considerado:
cerca de 298,34% (entre 2000 à 2010). O que representava 1,30% de investimentos em
C&T com relação ao total do PIB em 2000 passa a ser 1,62% em 2010. Não é claro a
distinção entre investimentos de empresas privadas e estatais, de modo a concluir que o
setor público tem maior presença no montante de investimentos do período, verificado na
presença das estatais.
Regionalmente, podemos verificar como estão apresentados os investimentos em
C&T no Brasil:
Tabela 3: Dispêndios dos governos estaduais em Pesquisa e
Desenvolvimento, segundo regiões, 2000 a 2010 (milhões)
Grandes
Regiões Norte Nordeste Sudeste Sul
Centro-
Oeste Total
2000 26,3 139,2 2.377,40 274,2 37,2 2.854,30
2001 26,3 216,6 2.703,80 308,4 32,1 3.287,10
2002 26,9 228,2 2.851,40 355 11,8 3.473,30
2003 36,3 281,3 3.014,90 351,3 21,8 3.705,70
2004 41,3 311,3 3.066,10 425,1 56,7 3.900,50
2005 68,5 393,9 3.006,80 491,7 66,5 4.027,30
2006 125 441,7 3.141,80 501,9 71,7 4.282,10
2007 152,2 515,2 4.289,80 586,6 143,7 5.687,40
2008 245,8 732,5 5.225,40 780,6 153,8 7.138,00
2009 345,12 938,8 5.871,10 1.000,50 269,3 8.424,80
2010 429,8 1.296,60 6.936,80 1.182,30 356,2 10.201,80
Fonte: Elaboração própria com base nos dados do MCTI (2012).
Apesar do aumento do volume dos recursos, o Brasil segue a tendência histórica
de distribuição desigual sobre o território brasileiro. De acordo com os dados do MCT I,
fica claro que há um maior montante de investimentos concentrado nas regiões “mais
desenvolvidas”, ou seja, Sudeste e Sul. Estas, por sinal, concentram mais polos industriais.
Enquanto na região Norte foram investidos 429,8 milhões em 2010, na região
Sudeste esse investimento chega a 6.936,8 mi no mesmo período. Vale dizer que a soma de
todas as regiões (Sul, Centro-oeste, Norte e Nordeste) não se chega ao total investido na
região Sudeste (chega a mais de 60%).
Tais disparidades são fomentadas pelo próprio Estado através das políticas
distantes dos problemas sociais locais. Podemos dizer que não há uma devida atenção as
particularidades de cada região.
Segue tal desigualdade outra característica desse processo, a saber, que a base
técnica das regiões mais desenvolvidas tende a se propagar para os espaços menos
desenvolvidos, levando a estes a cópia do modelo de desenvolvimento do centro,
desconsiderando as particularidades de cada lugar. E mesmo um aumento dos dispêndios
em C&T nas regiões periféricas não seria suficiente para transformar a paisagem das
desigualdades regionais (THEIS; MOSER, 2012, p. 12).
Ainda, de acordo com Theis e Moser (2012, p. 12) isso faz com que se contribua
cada vez mais para o aumento das disparidades regionais enquanto se dinamiza e se
fortalece regiões já dinâmicas outras ficam a mercê destes investimentos contribuindo assim
para o desenvolvimento desigual.
Os documentos oficiais e planos sustentam que os investimentos em C&T
promovem o desenvolvimento regional, econômico e social. Se de fato isso se aplicasse
além dos papeis não dever-se-ia aplicar um maior volume de investimentos em regiões
como o Norte e Nordeste Brasileiro que concentram maiores índices de pobreza e
desigualdades e a menor fatia do PIB, conforme demonstrado no capítulo anterior? Ainda
mais, porque se desconsidera as especificidades/realidades que se diferem e muito em cada
uma das regiões brasileiras? Não se pode aplicar o mesmo modelo de C&T a que se aplica
no Sudeste igualmente no Nordeste.
Essas desigualdades estão coladas num processo de conformação de regiões
dinâmicas e competitivas, num contexto espacial em que predominam atividades pouco
dinâmicas e regiões estagnadas. Bacelar (2000) caracterizou-o de desintegração
competitiva. A preparação técnica do território brasileiro permite, por exemplo, uma
produção agrícola capaz de alimentar sua população, mas a fome tem se ampliado até o
início da presente década (TOZI, 2003). Assim, não restam dúvidas de que o território vem
sendo usado a partir de seus acréscimos de ciência e tecnologia, mas não para promover
desenvolvimento social (BARROS, 1999, 2000; SANTOS; SILVEIRA, 2001).
Concordando com Theis e Moser (2012), o presente cenário de Ciência e Tecnologia
vigente no país contribui para agravar as disparidades regionais. Esta concentração do
desenvolvimento científico e tecnológico nas regiões centrais do país é resultado do
desenvolvimento geográfico desigual.
Os dados disponibilizados na tabela abaixo denotam uma concentração da
atividade inovativa no território brasileiro: a maioria das empresas inovadoras concentra-se
no Sudeste, mais especificamente em São Paulo. Do total destas (100496), 54,15 %, ou seja,
54.418 localizam-se nesta região. Vale destacar que é a região com maior PIB (responsável
por 58% no início da década de 90) (PINTEC, 2008).
Tabela 4: Dispêndios realizados pelas empresas na atividade inovativa, 2006 a
2008
Grandes Regiões
Empresas
2006 a 2008
Dispêndios realizados
pelas empresas inovadoras nas
atividades inovativas
Total
TOTAL
Número de empresas Valor (1000 R$)
Brasil 100.496 30.645 43.727.462
Norte 3.463 1.130 1.784.398
Nordeste 10.699 2.717 2.081.720
Sudeste 54.418 16.068 32.020.170
Sul 26.133 8.926 6.344.441
Centro-Oeste 5.784 1.803 1.496.733
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da PINTEC (2008).
Além disso, do total dos dispêndios das empresas inovadoras (R$ 43 727 462),
73,23 % (R$ 32 020 170) corresponde à região Sudeste. Isso demonstra uma grande
concentração regional dos investimentos privados em C&T. Evidencia-se assim que o
aumentos das inovações não contribuiu para a redução das desigualdades, pelo contrário:
seguindo a lógica da cadeia linear da inovação, o efeito tem sido o contrário, ou seja, de
fomentar as desigualdades inter-regionais historicamente herdadas. Além é claro, de
seguirem a linha de acumulação de capital.
A dinâmica desigual no contexto da PCT é influenciada, por um lado, pelas
características do desenvolvimento científico e tecnológico, ou seja, pela forma como se
pensa e como se produz C&T e, por outro, em decorrência das características estruturais do
subdesenvolvimento brasileiro.
Ademais, de acordo com a PCT, C&T deveriam conduzir o desenvolvimento
econômico e social, reduzindo então as desigualdades sócio-espaciais. Porém, a realidade
analisada demonstrou que o desenvolvimento científico e tecnológico não tem contribuído
para a redução dessas desigualdades, pois devido as características estruturais do
subdesenvolvimento brasileiro a C&T tendem a concentrar o capital nas regiões mais
desenvolvidas economicamente. Essa concentração aparece na centralização dos diferentes
atores em pólos que integram pesquisa, empresas e uma localização favorável. O acesso a
essa estrutura também se dá de forma desigual concentrando forças nas regiões Sudeste e
Sul (DINIZ, 1995).
4 A DINÂMICA DA INOVAÇÃO NO BRASIL NO PERIODO RECENTE
“[...] em qualquer lugar e tempo, as
empresas e os países farão três bons
negócios com tecnologia: roubar, copiar e
comprar. Nenhum deles irá desenvolver
tecnologia se puder realizar um dos outros
negócios.” (DAGNINO, 2012).
No Brasil as atividades relacionadas a dispêndios e subsídios oficiais em C&T
começam a se sobressair a partir de meados dos anos 90 em diante, são visíveis os esforços
de FHC e depois de LULA e Dilma no que se refere à ampliação dos investimentos para
patrocinar as atividades de C&T I.
Atualmente o orçamento do MCT I de R$ 1,6 bilhões previstos para 2012 e foi
cumprido, além disso, sabe-se que há grandes investimentos para subsidiar a inovação que
vem do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Como aponta
Dagnino3 para 2012 a 2015 as atividades contarão com montante de R$ 74,6 bilhões.
Os investimentos em inovação na sua grande parte são estimulados pelo governo e
bancos de fomento público como é o caso do BNDES, fazendo que o uso do dinheiro
público sirva para financiar o capital privado4 que segundo a cadeia linear de inovação a
indústria privada tem papel protagonista em promover a inovação.
Um dado no qual se pode utilizado para mensurar o aumento das inovações em um
determinado país são os pedidos e concessões de patentes. Vejamos a tabela abaixo:
Tabela 5 Pedidos e concessões de patentes, Brasil, 1997 a 2011
Anos Brasil
Pedidos Concessões
1997 134 67
1998 165 88
1999 186 98
2000 220 113
2001 219 125
2002 243 112
2003 259 180
2004 287 161
2005 295 98
2006 341 148
2007 375 118
2008 442 133
2009 464 148
2010 568 219
2011 586 254
3 Ver a propósito: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=81573
4 São diversos os casos mira-se um deles mais atual: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,
governo-vira-socio-e-banca-fabrica-de-semicondutores-de-eike-batista-,962403,0.htm
Fonte: Elaboração própria com base nos dados do MCT I / USPTO5 (2012).
De acordo com a tabela acima, houve significativo aumento do registro de patentes
brasileiras no período considerado: cerca de 256,10%. Apesar de significativo em termos
percentuais, o número ainda é irrisório. Ainda mais se comparado ao registro de outros
países, à exemplo, EUA com 82 mil apenas no ano de 2009, e como, Taiwan com 6.642
patentes em 2009. O Brasil aparece com 149 concessões no mesmo ano, o que demonstra
não ser uma economia inovadora frente ao cenário internacional.
Nesse contexto, se reforça a distância entre ciência e tecnologia, mesmo diante dos
esforços para a passagem da pesquisa básica para a pesquisa aplicada apontados na PCT
desde a década de 1990. Esse descompasso entre ciência e tecnologia pode ser explicado
pela forma como se deu a constituição do desenvolvimento científico e tecnológico em
países desenvolvidos e subdesenvolvidos. No caso dos países centrais os investimentos em
C&T permitiram que o desenvolvimento tecnológico acompanhasse o científico, enquanto,
no caso dos países periféricos o desenvolvimento científico se sobrepõe ao tecnológico.
Fica nítido que apesar do esforço do governo brasileiro em patrocinar a inovação,
o setor privado não parece muito propenso a inovar. Através de estudos sobre a Pintec,
Theis (2012) revela que do universo total das empresas em 2000, apenas 1,7% eram
inovadoras, entre 2003 a 2005 houve queda nesta taxa, para 1,6% e chegando a 2,3% em
2008. O autor avalia este crescimento a diminuição do número total de empresas, afirmando
que o crescimento das empresas inovadoras é de 17% entre 2000 a 2003, 13% entre 2003 a
2005 e apenas 12% entre 2005 a 2008.
Outro fator importante a considerar é o tipo de inovação que o empresariado
brasileiro pratica. Vejamos a tabela abaixo:
Tabela 6 Dispêndios realizados pelas empresas em atividades inovativas (valores em bilhões de
reais), 2000 a 2008
2000 2003 2005 2008
Dispêndios Totais 22,34 23,42 41,29 54,10
Atividades internas de P&D 3,74 5,10 10,39 15,23
Atividades externas de P&D 0,63 0,67 1,20 2,37
Aquisição de outros conhecimentos 1,17 0,80 1,90 1,67
Aquisição de software - - 1,57 2,31
Aquisição de maquinas e equipamentos 11,67 11,63 17,71 24,29
Treinamento 0,42 0,47 0,85 1,08
Inovações tecnológicas no mercado 1,42 1,39 3,09 3,01
5 United State Patent and Trademark Office http://www.uspto.gov/web/offices/ac/ido/oeip/taf/cst_all.htm
Projeto industrial e outras preparações técnicas 3,30 3,34 4,56 4,14
Fonte: Elaboração própria com base na PINTEC (2000, 2003, 2005 e 2008).
A tabela acima denota que a atividade inovativas considerada hoje no Brasil pela
PINTEC (cabe atentar que no Brasil para uma empresa ser considerada “inovadora” basta
que ela adquira algum novo equipamento) tendo no país forte predomínio de aquisição de
máquinas e equipamentos de outros países, ou seja, compreende fortemente certa
dependência tecnológica de países do centro. O aumento dessa atividade foi 108,14% entre
os anos 2000 e 2008. Atividades de P&D são praticamente insignificantes no país.
Este é mais um indicador que o capital privado brasileiro timidamente inova. Se
“inova”, quando o faz, na maioria dos- casos transporta C&T de países centrais. E este
processo não possibilita o desenvolvimento socioeconômico, mas sim, um maior nível de
acumulação de capital e logicamente, o agravamento das disparidades no território.
Cabe perguntar, por que o empresariado brasileiro não inova já que o governo
brasileiro tem se mostrado bastante generosos em patrocinar a “inovação”?
Dagnino e Bagatolli (2009) trazem a luz algumas reflexões que possibilitam
responder a esta questão. Contrariamente à premissa Schumpeteriana que explica a
dinâmica inovativa pela concorrência intercapitalista na corrida do “ganha–ganha” do
mercado, os empresários de países periféricos ( como é caso brasileiro) não inovam por que
no processo de produção, na relação com os trabalhadores não é necessário "progresso
tecnológico" a fim de garantir a mais valia (nos países avançados garante o que se chama
mais valia relativa). Ao longo dos anos as políticas nacionais concentradoras possibilitaram
a deterioração continuada do salário real e consequentemente "à instauração de uma forma
de extração da mais-valia (absoluta) que prescinde da inovação" (DAGNINO;
BAGATOLLI, 2009, p. 169).
Ainda ressaltando Dagnino o problema da inovação no Brasil não é a falta de
dinheiro, observamos ao longo da sessão que os investimentos em C&T tem sido generosos
por parte do setor público. E autor complementa: “em qualquer lugar e tempo, as empresas
e os países farão três bons negócios com tecnologia: roubar, copiar e comprar. Nenhum
deles irá desenvolver tecnologia se puderem realizar um dos outros negócios”. O esforço do
setor público em estimular a inovação foi verificado ao longo deste trabalho, concordando
com Dagnino dever-se-ia reorientar os amplos volumes de recursos que o setor público está
disposto a gastar com a inovação em tecnologias alternativas.
Ficam alguns questionamentos: seria uma desculpa da C&T e inovação para que se
tenha uma transferência fácil de dinheiro publico ao setor privado facilitando assim as
coisas para a acumulação de capital? Bem-estar social, desenvolvimento econômico seriam
apenas termos bonitos para enfeitar os planos e documentos oficiais e tornar eficaz o
discurso dominante?
CONCLUSÕES
O tema desta proposta foi à inovação e seus impactos sobre o desenvolvimento
sócio econômico no território brasileiro no período recente.
Considerando o objetivo proposto, poder-se-ia inferir que: a inovação não leva a
melhora da qualidade de vida das pessoas e regiões, os indicadores revelam que no período
recente houve aumento considerável dos investimentos em C&T e Inovação. Cabe lembrar
aqui, que os investimentos são concentrados em regiões específicas como Sudeste,
principalmente (representa mais da metade dos investimentos em C&T e Inovação).
A contribuição da inovação para o desenvolvimento sócio espacial tem sido
insignificante, inclusive tem contribuído para agravar as disparidades inter- regionais no
Brasil e acirrando o que Harvey (2004) chamou de desenvolvimento desigual (que se refere
às desigualdades das regiões estagnadas e as regiões centrais). Ficou evidente é que as
políticas de C&T e Inovação contribuem para o desenvolvimento geográfico desigual
acompanhando o processo de acumulação de capital pela concentração de investimentos
que se dá nas regiões desenvolvidas.
Por fim, pode-se concluir que praticamente não houve contribuição para o
desenvolvimento sócio econômico nem tampouco para o desenvolvimento social, nem para
a sua equitativa distribuição no território brasileiro no período recente.
Isto sugere que se tenha uma revisão das políticas de Ciência e Tecnologia e
Inovação vigentes no país nos últimos anos, já que a cadeia linear de inovação parece não
funcionar em países periféricos como é o caso do Brasil onde verificamos uma baixa taxa
de inovação. Além disso, as políticas estão desconectadas dos reais anseios da população e
voltadas aos interesses do capital privado.
O quadro de exclusão, concentração de renda e degradação ambiental resultante
desse modelo de desenvolvimento, se não diretamente determinado, mas, no mínimo,
condicionado pela orientação da PCT, se expressa na forma de graves disparidades inter-
regionais (FURTADO, 2001).
Ainda poder-se-ia afirmar que a melhora sensível índices socioeconômicos como
se observou ao longo deste trabalho, é fruto não de iniciativas de Política de C&T, e menos
ainda das iniciativas da inovação, mas sim, de bem-sucedidas estratégias de distribuição de
renda, e políticas sociais coordenadas por ministérios localizados do governo federal. Nesse
sentido, o aumento do volume de recursos para o desenvolvimento em C&T e inovação não
gerou desenvolvimento social.
Recomendar-se-ia por fim, que se realizem novos estudos para avançar as
hipóteses que se perseguiu neste trabalho e para aprofundar os resultados aqui apresentados,
já que nota-se certa carência de reflexão teórica sobre o tema.
De maneira que seria sensato repensar o modelo de desenvolvimento
socioeconômico e, também, o de C&T em vigor. O que se sugere é um modelo mais
democrático, em que a prioridade não seja a maximização do lucro – o “incremento da
conta corrente” do capital privado – mas, o atendimento das demandas das populações
socialmente marginalizadas que vivem em muitas regiões do país.
Um novo modelo de desenvolvimento e de C&T I a fim de vencer este modelo
excludente e desigual. Propõem-se justamente aquele que leve em consideração a melhora
da qualidade de vida dos indivíduos, que promova uma redistribuição das rendas geradas e
acumuladas durante os séculos, ou seja, um desenvolvimento que seja capaz de reduzir as
desigualdades regionais, e mais do que isso, que seja democrático. Que além de desenvolver
para as pessoas, seja democrático e participativo para desenvolver com as pessoas. E isto
requer que se respeite o ambiente físico (o meio ambiente!) e a cultura dos lugares onde tais
pessoas vivem.
Evidentemente, esse “desenvolver” não significa "levar mais modernidade", "mais
bens industrializados" para as regiões "subdesenvolvidas", mas despertar nas pessoas a
energia (que elas têm) para decidirem, elas mesmas e serem protagonistas do
"desenvolvimento" - isto é, a qualidade de vida - que querem para elas.
Aqui alguns desafios foram colocados e desmistificados. Faz-se necessário refletir a
C&T de um ponto de vista democrático, participativo, em que os atores sejam protagonistas
tanto na sua formulação quanto na sua implementação.
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