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A DINÂMICA DESIGUAL NO TERRITÓRIO BRASILEIRO NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS DE C&T E INOVAÇÃO Tatiane Thaís Lasta NPDR/FURB Ivo Marcos Theis NPDR/FURB Ana Claudia Moser NPDR/FURB Resumo: Historicamente o Brasil é um país marcado por desigualdades regionais crescentes, apesar da sensível melhora de alguns indicadores socioeconômicos no período recente a dinâmica desigual perdura no território brasileiro. Do ponto de vista espacial, o tema abarca o território brasileiro. Esse território se modifica ao longo do tempo, culminando num espaço heterogêneo, que é marcado por crescentes disparidades inter- regionais. Do ponto de vista temporal, o tema abarca o período que vai do início do governo FHC, ou seja, de meados dos anos 1990 em diante, até o início do governo Dilma. O principal objetivo desta intervenção aqui proposta é examinar a relação entre inovação e desenvolvimento socioeconômico e suas repercussões sobre o território brasileiro no período recente. O que ficou evidente aqui é que as políticas de C&T e Inovação contribuem para o agravamento das desigualdades entre as regiões brasileiras confirmando o que chamamos aqui de desenvolvimento geográfico desigual acompanhando o processo de acumulação de capital pela concentração de investimentos que se dá nas regiões especificas e já desenvolvidas do país com destaque para a região Sudeste. Dados revelam ainda que o capital privado brasileiro tem sido tímido quando se refere a realizar atividades inovativas, o que ocorre no país é a prática de importar máquinas e equipamentos de países centrais. Esta prática não tem possibilitado o desenvolvimento socioeconômico, mas sim, o contrário: um maior nível de acumulação de capital e o agravamento das disparidades inter- regionais no território que ao longo do período analisado que tem se mostrado crescente. Fica nítido, portanto, que ao contrário do que prega a tese fraca do discurso dominante não se concretiza. A inovação não leva ao desenvolvimento socioeconômico, mas sim propaga o desenvolvimento desigual pelo território brasileiro e suas regiões. De maneira que sugerimos aqui que seria sensato repensar o modelo de desenvolvimento e, por que não o de C&T e Inovação em vigor hoje no país. PALAVRAS-CHAVE: Ciência e Tecnologia. Inovação. Desigualdades regionais. Desenvolvimento desigual. Desenvolvimento socioeconômico. Brasil. 1 INTRODUÇÃO Nos últimos anos o debate acerca da “inovação” tem sido crescente no Brasil. Ouve-se com certa frequência, nos discursos oficiais, sobre os volumosos investimentos voltados a essa área especifica, apontando para o seu suposto retorno para a sociedade brasileira, que segundo o discurso dominante, experimentaria os resultados da inovação em todo território na forma de desenvolvimento econômicoe social isso se daria através da

A DINÂMICA DESIGUAL NO TERRITÓRIO BRASILEIRO NO …rea 6 Tecn... · 1 INTRODUÇÃO Nos últimos anos o debate acerca da “inovação” tem sido crescente no Brasil. Ouve-se com

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A DINÂMICA DESIGUAL NO TERRITÓRIO BRASILEIRO NO CONTEXTO

DAS POLÍTICAS DE C&T E INOVAÇÃO

Tatiane Thaís Lasta NPDR/FURB

Ivo Marcos Theis NPDR/FURB

Ana Claudia Moser NPDR/FURB

Resumo: Historicamente o Brasil é um país marcado por desigualdades regionais

crescentes, apesar da sensível melhora de alguns indicadores socioeconômicos no período

recente a dinâmica desigual perdura no território brasileiro. Do ponto de vista espacial, o

tema abarca o território brasileiro. Esse território se modifica ao longo do tempo,

culminando num espaço heterogêneo, que é marcado por crescentes disparidades inter-

regionais. Do ponto de vista temporal, o tema abarca o período que vai do início do governo

FHC, ou seja, de meados dos anos 1990 em diante, até o início do governo Dilma. O

principal objetivo desta intervenção aqui proposta é examinar a relação entre inovação e

desenvolvimento socioeconômico e suas repercussões sobre o território brasileiro no

período recente. O que ficou evidente aqui é que as políticas de C&T e Inovação

contribuem para o agravamento das desigualdades entre as regiões brasileiras confirmando

o que chamamos aqui de desenvolvimento geográfico desigual acompanhando o processo

de acumulação de capital pela concentração de investimentos que se dá nas regiões

especificas e já desenvolvidas do país com destaque para a região Sudeste. Dados revelam

ainda que o capital privado brasileiro tem sido tímido quando se refere a realizar atividades

inovativas, o que ocorre no país é a prática de importar máquinas e equipamentos de países

centrais. Esta prática não tem possibilitado o desenvolvimento socioeconômico, mas sim, o

contrário: um maior nível de acumulação de capital e o agravamento das disparidades inter-

regionais no território que ao longo do período analisado que tem se mostrado crescente.

Fica nítido, portanto, que ao contrário do que prega a tese fraca do discurso dominante não

se concretiza. A inovação não leva ao desenvolvimento socioeconômico, mas sim propaga o

desenvolvimento desigual pelo território brasileiro e suas regiões. De maneira que

sugerimos aqui que seria sensato repensar o modelo de desenvolvimento e, por que não o de

C&T e Inovação em vigor hoje no país.

PALAVRAS-CHAVE: Ciência e Tecnologia. Inovação. Desigualdades regionais.

Desenvolvimento desigual. Desenvolvimento socioeconômico. Brasil.

1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos o debate acerca da “inovação” tem sido crescente no Brasil.

Ouve-se com certa frequência, nos discursos oficiais, sobre os volumosos investimentos

voltados a essa área especifica, apontando para o seu suposto retorno para a sociedade

brasileira, que segundo o discurso dominante, experimentaria os resultados da inovação em

todo território na forma de “desenvolvimento econômico” e social isso se daria através da

chamada cadeia linear de inovação defendida pelo discurso dominante. Para o discurso

dominante a “inovação” é sinônimo de desenvolvimento, portanto esta seria a propulsora do

desenvolvimento socioeconômico, sustentados na máxima simplista de que um maior

desenvolvimento científico levaria a um maior desenvolvimento econômico e por

consequência de uma mão invisível levaria a uma maré de desenvolvimento social. Porém,

o que se discute aqui, é justamente o contrário: o modelo brasileiro de desenvolvimento e

sua Ciência e Tecnologia e Inovação acaba por agravar as desigualdades regionais, já que os

investimentos são concentrados nas regiões mais desenvolvidas e a taxa de inovação no

Brasil tem sido irrisória ao longo dos anos, além disso, as empresas brasileiras pouco

inovam. E as que o fazem concentra-se na grande região de São Paulo e seus entornos. O

discurso dominante afirma que a C&T e a inovação existentes no Sudeste podem e devem

espalhar-se para as demais regiões do Brasil. E isso gera problemas, já que cada região,

cada território, tem as suas peculiaridades.

Que fique evidente aqui, nosso interesse nesta breve intervenção não diz respeito

à motivação das empresas inovarem, mas sim e principalmente, desvendar as repercussões

pelo território que essa possível inovação gerou. Já que se ouve muito nos discursos

oficiais sobre a importância da inovação para o desenvolvimento econômico e social do

país, porém cabe perguntar aqui: onde está o impacto positivo de tais políticas? Não

obstante, a principal proposta desta intervenção: é examinar a relação entre inovação e

desenvolvimento socioeconômico e suas repercussões sobre o território brasileiro no período

recente.

Para contemplar o objeto de estudo deste artigo, dividimos o artigo em cinco

sessões: além desta sessão introdutória, segue a segunda sessão que trata da trajetória das

políticas de C&T dos primórdios até os dias atuais, noutra sessão, trazemos os dados de

investimento e C&T no período recente, bem como os dados de inovação, por fim,

apresenta-se uma sessão dedicada as conclusões.

2 AS POLITICAS DE C& T I NO BRASIL NO PERÍODO RECENTE

Nosso intento nesta sessão é compreender o surgimento da PCT brasileira,

caminhando por entre os planos adotados para o Brasil dos primórdios até o período

recente. Para fins didáticos subdividimos o capítulo da seguinte forma: neste primeiro

momento faremos breve discussão acerca dos conceitos de política cientifica, política

tecnológica e sobre C&T e Inovação. Após, trataremos do surgimento da PTC brasileira até

o fim do regime militar. Em seguida, trabalharemos o período pós- constituição de 1988 do

governo FHC a Lula e inicio do governo Dilma, período ao qual esta recortada

temporalmente este artigo.

A Política científica compreende as atividades relacionadas principalmente com a

pesquisa cientifica onde se produzem conhecimentos básicos e potencialmente utilizáveis e

que não são incorporados diretamente nas atividades produtivas. Além disso, a pesquisa

cientifica tem poucas possibilidades de retornos financeiros (SAGASTI, 1986, p. 62). De

acordo com Dias (2011) é de:

Caráter teórico-metodológico está baseado em uma ponderação levantada por

uma série de autores do campo dos Estudos Sociais da Ciência e da

Tecnologia, de acordo com a qual a ciência estaria se tornando cada vez mais

tecnológica e a tecnologia, mais científica (DIAS, 2011, 324).

Já a Política tecnológica, tem como principal objetivo a geração e aquisição de

tecnologias a serem utilizadas em processos produtivos que são capazes de gerar

excedentes. Diferentemente da política científica, na tecnológica “o uso econômico destes

conhecimentos está garantido através de um segredo tecnológico” de forma que os técnicos

guardam este segredo e está sujeito a vários graus de apropriação monopolística por quem o

desenvolve (SAGASTI, 1986, 62-63).

A Política Tecnológica segundo Dias, (2011):

Pode ser compreendido como o produto da tensão existente entre “a agenda

da ciência” – o conjunto de interesses relativamente articulados da

comunidade de pesquisa – e “as agendas da sociedade”, que envolvem uma

grande pluralidade de atores e interesses (DIAS, 2011, p. 324).

De acordo com Theis (2012) no Brasil a política que predomina é a científica, não

a tecnológica. Essa visão PCT contribui diretamente na distribuição das atividades

científicas e tecnológicas. Essa distribuição se configurou de forma desigual no território,

acompanhando a acumulação do capital. A base técnica se propagou do centro sobre outros

espaços, dinamizando e reforçando a capacitação técnico-científica do centro.

As preocupações da agenda pública como ideia de progresso nos países de terceiro

mundo e com a preocupação de modernizar a indústria interna e torná-la competitiva desde

o inicio da década de 1950. Ciência & Tecnologia e Inovação a partir daí são vistos como

motores do desenvolvimento econômico e social pelo discurso dominante. Todavia, tem-se

a impressão de que são utilizadas “expressões como “desenvolvimento nacional” ou “bem-

estar social” as quais são empregadas para qualificar processos que favorecem

exclusivamente a classe dominante ou os atores mais poderosos” (DIAS, 2011, p. 325).

2.1 AS POLÍTICAS DE C&T NO BRASIL: DOS PRIMÓRDIOS AOS ANOS

1980

No Brasil as primeiras políticas e ações deste setor de (C&T) se deram no pós-

guerra, na década de 1950 e se concretizaram com a criação do Conselho Nacional de

Pesquisas em 1951, que posteriormente passaria a chamar-se Conselho Nacional de

Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico em 1978 (CNPq). Marco importante também foi

a criação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) que se deu em 1948.

A ciência era vista como um meio favorável para se superar o subdesenvolvimento e na

busca pelo “progresso” para se igualar a países desenvolvidos. Ainda na mesma a década

constitui-se a Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal Superior (CAPES).

Nesse mesmo período foram criadas outras instituições importantes como a Associação

Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) em 1940; o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas

(CBPF) em 1949; Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) em 1954; o Instituto de

Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) em 1956. Tudo isso constituiu e formalizou a

criação da PCT brasileira, neste momento ainda o governo começou a dar maior

importância à ciência como um fator produtivo e que pudesse contribuir, além disso, para a

expansão do capital (LIMA, 2009, p. 91-92; BARROS, 1999, p. 11-12).

A formalização das políticas de C&T está diretamente ligada com o processo de

industrialização do país, justamente visando o interesse e aprimoramento das condições de

produção. É dentro deste contexto que os governos começam a enxergar as “possibilidades”

da ciência como um “duplo caráter”: de um lado, usá-las como uma fachada que lhes desse

certa aparência “progressista”, e outro lado, como uma ferramenta que lhes possibilitasse

corrigir as enfermidades do subdesenvolvimento (HERRERA, 1979, apud BAGATTOLLI,

2008, p. 8-9).

O Relatório Bush publicado em 1945 nos EUA vem influenciar as linhas das

políticas de C&T na maioria dos países que se refletiu também nos países periféricos. Neste

relatório defendia-se a importância da ciência para o progresso, além de rezar que era a

condição chave para o desenvolvimento econômico e social dos países. Por alto, a ideia

central do relatório era de que o avanço científico levaria a um avanço tecnológico e que

com isso ter-se-ia desenvolvimento econômico e naturalmente teríamos desenvolvimento

social.

Avanço Científico

Avanço Tecnológico

Desenvolvimento

Econômico

Desenvolvimento

Social

Figura 1 Cadeia linear de Inovação

Fonte: Adaptado de Bagattolli (2008).

Assim a compreensão clássica de ciência e tecnologia se daria pela simples

equação: quanto mais ciência gerar-se-ia mais tecnologia que geraria mais riqueza que, por

sua vez conduziria a um maior bem-estar social, a partir daí investir em C&T seria

sinônimo de investir em desenvolvimento (CEREZO, 2004, p. 3-4; BAGATTOLLI, 2008 p.

12-13)

Na década seguinte, com o Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG), de

1964 a 1967 estimulava a entrada de empresas multinacionais (capital estrangeiro) no país

com o intento de suprir as necessidades tecnológicas e de modernizar a indústria nacional.

A ideia desta política era aumentar a capacidade de importação, de geração de emprego e

renda. O intuito seria resolver as necessidades tecnológicas das empresas nacionais de

forma imediata por meio da introdução de tecnologias importadas, principalmente por meio

do investimento externo. Durante este plano é criado o Fundo Tecnológico (FUNTEC) pelo

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, em 1965 o FUNTEC

serviria de auxilio e apoio aos programas de pós-graduação que já existiam no país. O Plano

Estratégico de Desenvolvimento (PED) surge do PAEG a partir de 1967 e vem reforçar a

ideia de que a C&T deveria ser utilizada para o progresso e o crescimento econômico.

Dentro deste plano surge a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).

No ano de 1969 instituiu-se o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (FNDCT), com o objetivo de financiar os programas e projetos de C&T

considerados estratégicos para o desenvolvimento do país. Ainda no ano de 1969 o CNPq

lança o plano quinquenal com o intento de uma maior relação entre universidades e

empresas. Em 1970 foi onde se teve os maiores investimentos em C&T. No I Plano

Nacional de Desenvolvimento (PND), de 1972-1974 os principais objetivos seguiam a ideia

de progresso e de que o Brasil deveria ser desenvolvido a qualquer custo. Duplicar as

rendas, aumento do produto interno e expansão do emprego eram outros objetivos

(MOTOYAMA, 2004; MOREL, 1979; apud BAGATTOLLI, 2008, p. 12-14).

Durante o I PND surge o I Plano Brasileiro de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (I PBDCT) em 1973 com o mesmo intuito de fortalecer a estrutura tecnológica

e a capacidade de inovação das empresas e a proximidade de universidade e empresas,

semelhante, portanto aos planos anteriores. O II PND, no período de 1975-1979, insistia na

ideia de que a ciência era útil para o progresso e propulsora do desenvolvimento. Durante o

II PND surge o II PBDCT em 1975, que apresentava uma continuidade dos planos já

citados. Destaca-se que durante este plano foram investidos 20 vezes mais do que no

primeiro. Já no III PND, instituído em 1980 no governo Figueiredo (último do regime

militar) tem-se uma redução significativa dos investimentos em C&T (que reflete a crise do

regime) ao mesmo tempo que ganha destaque o CNPq.

Em 1985 é criado o Ministério da Ciência e da Tecnologia (MCT), que se torna o

órgão responsável pela elaboração da PCT brasileira. A criação do Ministério de Ciência e

Tecnologia (1985) consolida a institucionalização da C&T. A criação do MCT representou

grande avanço na organização político-institucional da PCT. O ministério se constituiu

como um dos principais atores da PCT através da formulação de diretrizes e programas, no

repasse de recursos e na coordenação das instituições no âmbito da CT. Contudo, até o

inicio da década de 1990 o CNPq manteve posição central na elaboração da PCT (DIAS,

2009).

Atualmente, recebeu mais um adjetivo, passando a chamar-se Ministério da

Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). De acordo com BAGATTOLLI (2008) no ano de

1989 o CNPq teve o maior montante de investimentos e ampliou nesta mesma época as

bolsas e auxílio. Na época, o governo Sarney alocou 2% do PIB para o setor de C&T. Os

últimos anos dessa década foram marcados pela instabilidade institucional, que resultou no

fim de uma concepção sistêmica da PCT no país. A Constituição de 1988 dá início a

transferência de recursos para estados e municípios e ao incentivo à maior participação do

setor privado nos investimentos de C&T (BARROS, 1999).

2.2 AS POLÍTICAS DE C&T NA DÉCADA NEOLIBERAL: GOVERNO FHC -

A ÊNFASE NA INOVAÇÃO

Após a Constituição de 1988 tem-se no Brasil uma forte onda neoliberal iniciada

pelo Governo Collor com abertura comercial, privatizações e aumento do desemprego

(meados de 1990). Pode-se afirmar ainda que “é a década da inserção subalterna do Brasil

na mundialização do capital por meio de políticas neoliberais que acentuaram a lógica

destrutiva do capital no país.” (ALVES, 2002, p. 71).

Esse período é marcado também por uma continuidade da modernização do setor

produtivo brasileiro por meio de transferências de tecnologia dos países desenvolvidos. O

governo Collor reduz os investimentos em C&T e mesmo diante desta, as atividades de

C&T continuaram no período 1990-93 com Itamar Franco na administração do país. Neste

momento o país vivia uma expansão e consolidação de programas de pós-graduação. É

neste momento que o termo inovação aparece como novidade dos discursos oficiais

(BAGATTOLLI, 2008; LIMA, 2009, p. 150-153; THEIS, 2012, p. 4).

O Plano Plurianual I -1991 à 1995 era mais voltado para a transição de um modelo

baseado na pesquisa básica (base até então) para a pesquisa aplicada, como mencionados, o

país vivia um momento difícil com instabilidade política e macroeconômica.

Entre 1996-1999 o país foi governado por Fernando Henrique Cardoso (FHC) que

lançou o II Plano Plurianual de Ciência e Tecnologia do governo federal, com a principal

preocupação de inserir o Brasil na economia mundial. Seus três principais objetivos eram:

“construção de um estado moderno e eficiente; redução das desigualdades regionais e

sociais e; modernização da economia brasileira” (BRASIL, 1996).

Ainda, segundo o plano:

A abertura econômica expõe as empresas brasileiras a dois desafios

simultâneos relacionados à qualidade, preço e especialização de bens e

serviços: no mercado interno, concorrer com os produtos importados; e no

mercado externo, conquistar novos consumidores de matérias-primas,

produtos acabados e serviços (BRASIL, 1996, 14-15).

A ideia deste plano era de que a intensificação da concorrência em escala

econômica tenderia a fortalecer e a diversificar os interesses locais, ressaltar as diferentes

condições de estados e municípios e assim, exigiria um novo enfoque na questão da

distribuição espacial do desenvolvimento sócio econômico, ou seja, voltar recursos para as

áreas mais fragilizadas.

No que diz respeito às desigualdades o plano ressalta em suas prioridades: “além

de seu caráter social, o investimento em infra-estrutura econômica e a capacitação de

recursos humanos. A alocação de recursos da União nessas duas áreas deve ser direcionada

preferencialmente para as regiões de bases econômicas mais frágeis.” (BRASIL, 1996, p.

12).

Este período marca ainda a criação do III PADCT (Programa de Apoio ao

Desenvolvimento Científico e Tecnológico), base para recursos para a implementação da

agenda de C&T (THEIS, 2012, p. 4). Os elementos centrais do PADCT III foram a

capacitação de C&T no setor produtivo e o fortalecimento da competência de C&T nas

áreas estratégicas. A partir desses elementos delinearam-se três objetivos: fomentar a

cooperação entre o Estado e o setor produtivo e capacitar recursos humanos no academia e

no setor produtivo; e ampliar o conhecimento em C&T nas áreas de relevância para o

desenvolvimento econômico e social; e melhorar o desempenho de C&T nas áreas de

planejamento, gestão, monitoramento e avaliação. Mesmo com o destaque positivo para as

inovações institucionais o Plano não teve continuidade em virtude da redução dos gastos

públicos em decorrência da crise do Real (LOPES, 2008). Em 2000 foram criados os

chamados Fundos Setoriais, cujo objetivo era o desenvolvimento científico e tecnológico de

setores específicos (PACHECO, 2007, p. 14).

Ainda no governo FHC formulou-se o Plano Plurianual 2000-2003 do MCT, como

forma de continuidade ao anterior. O Plano propõe uma crescente oferta de recursos e a

reitera a ênfase sobre a pesquisa aplicada. Pode-se destacar a mudança ocorrida durante o

segundo mandato do governo Fernando Henrique Cardoso, na transição do segundo Plano

Plurianual da C&T para o terceiro, no qual o setor produtivo ganharia centralidade. Nesse

contexto foi lançado o Livro Verde, como documento preparatório para a Conferência

Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que previa o ajustamento da sociedade

brasileira aos padrões de C&T vigentes no plano internacional (THEIS, 2009). Quanto à

questão regional a alternativa proposta vai à direção do incentivo aos sistemas locais de

inovação.

A organização e promoção de sistemas locais de inovação, visando estimular

sinergias entre os agentes locais – para superar gargalos tecnológicos que

travam o desenvolvimento de atividades produtivas com potencial relevante

de geração de renda e emprego –, apresenta nova concepção de

desenvolvimento regional e nova dimensão para a participação das micro e

pequenas empresas no contexto de desenvolvimento. Um fator muito

importante consiste na possibilidade de se incluir inovações advindas de

percepções locais ou mesmo de tecnologias desenvolvidas localmente, muitas

vezes garantindo diferencial único para o mercado (BRASIL, 2001, p. 168).

Os investimentos nessa área continuam a experimentar melhora e seus objetivos

voltam-se para a pesquisa científica e tecnológica, mas com uma novidade: com grande

ênfase na inovação. Tudo deveria orbitar por esta ótica.

Como reza o documento oficial:

Os investimentos feitos em C&T e inovação trazem retorno na forma de

uma população mais bem qualificada, de empregos, mais bem remunerados

de geração de divisas e de melhor qualidade de vida (BRASIL, 2001, p. 14,

grifo nosso).

As principais vertentes segundo este plano eram: ampliar e aprimorar a base

técnico-científica do país; expandir o volume recurso aplicados em C&T; criação de fundos

setoriais1; redução da concentração das atividades regionais de C&T; estimular o setor

privado a inovar (BRASIL, 2001, p. 39).

1 Fundos Setoriais ver mais em: http://www.finep.gov.br/pagina.asp?pag=30.10

O setor produtivo passa a ter maior centralidade e é lançado o chamado Livro

Verde, um documento preparatório para a 2 ª Conferencia Nacional de Ciência e Tecnologia

e Inovação. Este busca: “mostrar, por fim, a contribuição que podem a C&T prestar para

que o país alcance definitivamente seu lugar no cenário mundial” (BRASIL, 2001, p. 11).

Este documento traz em seu conteúdo a ideia de alinhar a sociedade brasileira aos

padrões de C&T vigentes no plano internacional. Além disso, a empresa privada passa a ser

a parte mais importante nesse processo (GONÇALVES; MOSER; THEIS, 2011, p. 7-8). Ao

findar esta conferência temos um novo documento o chamado livro Branco que procurou

“apontar caminhos para que a Ciência e Tecnologia e Inovação pudesse contribuir para a

construção de um país mais dinâmico, competitivo e socialmente mais justo” (BRASIL,

2000, p. 21).

Percebe-se que o período dos anos 90 com foi alicerçado sobre os “pilares” da

inovação e da competitividade. Dessa maneira, não é difícil deduzir que as políticas de

C&T alinhavaram-se aos princípios neoliberais buscando dar mais competitividade às

empresas privadas no cenário internacional. Colocando nela inclusive a responsabilidade

por promover desenvolvimento socioeconômico. Avanços com a maior oferta de recursos

porém, não levaram a uma expressiva melhora nos números de inovações e nem a expansão

do sistema de formação de pesquisadores tornou chave, “nem para o desenvolvimento

tecnológico, nem para o desenvolvimento econômico e social do país” como enfatiza

(THEIS, 2012, p. 7).

2.3 AS POLÍTICAS DE C&TI NO GOVERNO LULA: A RELEVÂNCIA DO

SOCIAL

Com a eleição de Lula é lançado o Plano Plurianual do MCT (2004 – 2007) que

trás consigo uma preocupação com a área social de uma forma que se difere dos demais

planos antes executados, todavia, sem perder de vista as preocupações com o setor privado

e com a inovação além de direcionar o investimento em C&T para inclusão social. Em 2005

realizou-se a 3ª Conferencia Nacional de Ciência e Tecnologia que segue com a confiança

na inovação. O principal argumento desta era justamente o de que a C&T e a Inovação

poderiam levar ao crescimento econômico e logo “à inclusão dos setores da população

socialmente até então desfavorecidos pelas PCT” (THEIS, 2012, p. 7).

O novo Plano Plurianual do MCT (2008-2011) seguiria na continuidade da

contradição: de um lado à ênfase na inovação tecnológica na atividade produtiva e de outro,

a preocupação com o social. A formulação desses planos esteve ligada a um plano maior, o

Plano de Ação de Ciência, Tecnologia e Inovação (C, T&I) para o Desenvolvimento

Nacional (2007-2010). As diretrizes centrais foram organizadas em quatro eixos descritos

no quadro abaixo:

Objetivos Metas

Expansão e Consolidação do

Sistema Nacional de C,T&I;

A meta era expandir, integrar, modernizar e consolidar o Sistema

Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação.

Promoção da Inovação

Tecnológica nas Empresas;

Intensificar as ações de fomento à inovação e de apoio tecnológico

nas empresas. Acelerar o desenvolvimento de um ambiente favorável

à inovação nas empresas.

Pesquisa, Desenvolvimento e

Inovação em Áreas Estratégicas;

Fortalecer as atividades de pesquisa e inovação em áreas estratégicas

para a soberania do País.

C,T&I para o Desenvolvimento

Social.

Promover a popularização e o aperfeiçoamento do ensino de ciências

nas escolas, bem como a produção e a difusão de tecnologias e

inovações para a inclusão e o desenvolvimento social.

Quadro 1 Eixos do Plano de Ação de Ciência, Tecnologia e Inovação

Fonte: Elaboração dos autores com base no Plano 2007-2010 (BRASIL 2007).

Durante o governo de Lula tem-se uma continuidade dos planos anteriores, porém,

com maior ênfase no social. Em 2010 aconteceu a 4ª Conferencia Nacional de Ciência e

Tecnologia e inovação “para o desenvolvimento Sustentável” que resultou no livro azul,

onde se observa a preocupação com a inclusão do desenvolvimento social e sustentável nos

documentos oficiais da PCT:

A entrada recente do desenvolvimento social na agenda da ciência e

tecnologia foi um importante passo político; possibilitou avanços, ainda que

limitados, como o crescimento das atividades de popularização da C&T, uma

maior difusão de tecnologias sociais e da economia solidária, bem como a

ampliação do uso de tecnologias assistivas (voltadas para proporcionar ou

ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência). Mas os recursos

limitados e o número reduzido de políticas para a incorporação da

C,T&I a ações ligadas às necessidades da população, particularmente da

enorme parcela ligada à informalidade – tendo como um dos objetivos sua

conversão à economia formal – são empecilhos para um desenvolvimento

econômico, social e ambientalmente justo e sustentável (BRASIL, 2010, p.

91 grifo nosso).

Se por um lado, o “desenvolvimento social” ganhou status de prioridade nos

planos do governo petista, chegando a contemplar sujeitos até então deixados de lado pelas

ações do MCT, “não se alteraram substancialmente as relações de força antes vigentes,

nem, em consequência, as dotações de recursos apropriados pelos sujeitos e instituições

hegemônicas na velha agenda” (THEIS, 2009).

Ainda durante o governo Lula, normas e legislações foram criadas em apoio às

atividades inovativas, a exemplo: a Lei nº. 10.973/2004: denominada Lei da Inovação de 2

de dezembro de 2004 com a finalidade de criar novos incentivos fiscais para o fomento da

inovação empresarial, e regulamentar a subvenção econômica; a Lei nº. 11.196/2005,

denominada Lei de Bem, cujo objetivo era dispor incentivos fiscais voltados para a

inovação; entre outras. Além de alterações em órgãos oficiais para as quais não há melhor

referência do que a modificação da pasta da área do Ministério da Ciência e Tecnologia

para Ministério da Ciência Tecnologia “e Inovação2”.

É notório que nos últimos dez anos ocorreram mudanças institucionais

significativas com vistas a favorecer o desenvolvimento científico e tecnológico no Brasil.

Surgiu nos discursos e documentos oficiais uma ênfase fortemente voltada para a questão da

inovação.

Para resumir, no governo de Lula (2003-2006 e 2007-2010) e Dilma (2011-2012)

a palavra chave seria continuidade, já que não houve mudanças significativas. Com Lula no

poder os interesses não se diferem muito dos planos anteriores: de um lado os interesses

privados e de outro a clara preocupação com a questão social, já no primeiro plano de seu

governo. Destaca-se que no segundo plano, além da questão social, os documentos trazem

em seu bojo a preocupação ambiental, com a sustentabilidade.

O balanço que fica deste capítulo é que a última década é marcada pela ênfase na

inovação. Inovação e competitividade passam a serem conceitos chave, compatíveis com a

orientação neoliberal da época (THEIS, 2012, p. 6). O que demonstram os últimos planos

no Brasil é a responsabilidade assumida pela inovação em gerar desenvolvimento

econômico e social.

3 POLÍTICAS DE C&T E INOVAÇÃO E AS DESIGUALDADES REGIONAIS

Sabe-se que historicamente o país é marcado por um desenvolvimento desigual,

disso não se tem mais dúvidas. Desenvolvimento este que agravou as disparidades em todos

os territórios e regiões, além de sempre privilegiar as minorias, então beneficiadas, a

despeito das multidões, que vivem a mercê de direitos básicos à sobrevivência. O problema

brasileiro não está na falta de riquezas e sim, na forma como elas são divididas e na

essência do próprio sistema. Apesar de alguns indicadores apresentarem tímida melhora, é

evidente o caráter concentrador de riquezas do modelo de desenvolvimento que passou a se

cristalizar no Brasil, sobretudo, após 1964 (SACHS, 2001). Basta lembrar que, em 1960, os

2 Ver a propósito: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=80112

10% mais ricos se apropriavam de uma renda 34 vezes maior que a dos 10% mais pobres, e

que, em 1991, apenas três décadas depois, os 10% mais ricos passaram a se apropriar de

uma renda 47 vezes maior que a dos 10% mais pobres (BENJAMIN et al., 1998). Dados do

IPEA mais atualizados dão conta que 5 mil famílias controlam 46% do PIB brasileiro,

enquanto o resto, ficam com os restos, literalmente. Além disso, apenas 1% das famílias

controlarem 48% das terras, enquanto que o restante, ou seja, 99% ficam com o que sobra,

literalmente.

Brandão (2010) define da seguinte forma o desenvolvimento brasileiro:

Foi marcado historicamente por decisivo e contraditório conjunto de inércias,

rupturas, conflitos, desequilíbrios e assimetrias e por ser um gigantesco e

complexo processo de desenvolvimento desigual e de seus espaços regionais e

urbanos. Qualquer análise da realidade regional e urbana brasileira deve estar

atenta aos fatores de continuidade e rigidez das desigualdades sociais e

econômicas presentes no país. Também deve empreender o exame das marcantes

persistências e recorrências de assimetrias estruturais entre as diversas regiões e

classes sociais, fruto de determinações históricas de longa duração e de outras,

mais recentes, que se sobrepõem àquelas mais remotas (BRANDÃO, 2010, p. 50-

51).

Para analisar o subdesenvolvimento brasileiro Oliveira, F. (2006) recorre a metáfora

do ornitorrinco, descrevendo o Brasil como

Altamente urbanizado, pouca força de trabalho e população urbana no

campo, dunque nenhum resíduo pré-capitalista; ao contrário um forte

agrobussiness. Um setor industrial da Segunda Revolução Industrial

completo, avançando, tatibtante, pela Terceira Revolução, a molecular-digital

ou informática. Uma estrutura de serviços muito diversificada numa ponta,

quando ligada aos estratos de altas rendas, a rigor, mas ostensivamente

perdulários que sofisticados; noutra, extremamente primitiva. Ligada

exatamente ao consumo de estratos pobres. Um sistema financeiro ainda

atrofiado, mas que, justamente pela financeirização e elevação da dívida

externa, acapara uma alta parte do PIB [...]. Como crédito financia a

circulação de mercadorias, e por essa via, indiretamente, a acumulação do

capital, é fácil perceber o significado do sistema bancário fraco. Em termos

de PEA ocupada, fraca e declinante participação da PEA rural, força de

trabalho industrial que chegou ao auge na década de 1970, mas decrescente

também, e explosão continuada do emprego nos serviços (OLIVEIRA, F.,

2006, p. 133).

São vários os dados capazes de mensurar as desigualdades: por exemplo: Em 2010

alcançamos a marca de 190,7 milhões de habitantes, porém distribuída de forma desigual

entre as cinco macrorregiões do país. No Sudeste, que ocupa somente 11% do território,

concentram-se quase a metade da população: 42% (IBGE, 2007). Destaca-se que no início

da década de 90 Sul e Sudeste concentravam cerca de 3/4 da riqueza produzida (Sudeste

58% e Sul 17%). Fato que não mudou muito já que em 2008, Norte, Nordeste e Centro-

Oeste, que juntas formam, mas de 82% de nosso território e juntam cerca de 43% da

população, representavam apenas 27,4% do PIB. O que faz concluir que a riqueza está

concentrada no Sudeste e no Sul. (THEIS; MOSER, 2012, p. 11).

Regiões como Sul e Sudeste ostentam as melhores taxas de IDH, PIB per capita e

investimentos e estímulos oficiais em diversas áreas. Vejamos os dados da tabela abaixo:

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Brasil a preços de mercado, Brasil, segundo Grandes

Regiões e Unidades da Federação, 2003 a 2009 (R$ 1. 000.000,00)

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Norte 81.200 96.012 106.442 119.993 133.578 154.703 163.208

Rondônia 9.751 11.260 12.884 13.107 15.003 17.888 20.236

Acre 3.305 3.940 4.483 4.835 5.761 6.730 7.386

Amazonas 24.977 30.314 33.352 39.157 42.023 46.823 49.614

Roraima 2.737 2.811 3.179 3.660 4.169 4.889 5.593

Pará 29.755 35.563 39.121 44.370 49.507 58.519 58.402

Amapá 3.434 3.846 4.361 5.260 6.022 6.765 7.404

Tocantins 7.241 8.278 9.061 9.605 11.094 13.090 14.571

Nordeste 217.037 247.043 280.545 311.104 347.797 397.500 437.720

Maranhão 18.483 21.605 25.335 28.620 31.606 38.486 39.855

Piauí 8.777 9.817 11.129 12.788 14.136 16.760 19.033

Ceará 32.565 36.866 40.935 46.303 50.331 60.099 65.704

RN 13.515 15.580 17.870 20.555 22.926 25.481 27.905

Paraíba 14.158 15.022 16.869 19.951 22.202 25.697 28.719

Pernambuco 39.308 44.011 49.922 55.493 62.256 70.441 78.428

Alagoas 11.210 12.891 14.139 15.748 17.793 19.477 21.235

Sergipe 10.874 12.167 13.427 15.124 16.896 19.552 19.767

Bahia 68.147 79.083 90.919 96.521 109.652 121.507 137.075

Sudeste 947.748 1.083.975 1.213.863 1.345.513 1.501.185 1.698.588 1.792.049

Minas Gerais 148.823 177.325 192.639 214.754 241.293 282.521 287.055

Espírito

Santo 31.064 40.217 47.223 52.778 60.340 69.870 66.763

RJ 188.015 222.945 247.018 275.327 296.768 343.182 353.878

São Paulo 579.847 643.487 726.984 802.655 902.784 1.003.015 1.084.353

Sul 300.859 337.657 356.211 386.588 442.820 502.040 535.662

Paraná 109.459 122.434 126.677 136.615 161.582 179.263 189.992

SC 66.849 77.393 85.316 93.147 104.623 123.282 129.806

RS 124.551 137.831 144.218 156.827 176.615 199.494 215.864

Centro-

Oeste 153.104 176.811 190.178 206.284 235.964 279.372 310.765

MS 19.274 21.105 21.651 24.341 28.121 33.143 36.368

Mato Grosso 27.889 36.961 37.466 35.258 42.687 53.386 57.294

Goiás 42.836 48.021 50.534 57.057 65.210 75.271 85.615

DF 63.105 70.724 80.527 89.629 99.946 117.572 131.487

Brasil 1.699.948 1.941.498 2.147.239 2.369.484 2.661.345 3.032.203 3.239.404

Fonte: IBGE, em parceria com os Órgãos Estaduais de Estatística, Secretarias Estaduais de Governo e

Superintendência da Zona Franca de Manaus - SUFRAMA.

Ao observarmos mais detalhadamente o período entre 2003 e 2009, percebe-se

que a tendência ao crescimento e a concentração se mantém. O PIB nacional passou de

R$ 1.699.948 em 2003 para R$ 3.239.404 em 2009, representando um crescimento de

52%. E a região Sudeste permaneceu concentrando mais da metade do PIB nacional (em

torno de 55%). A concentração pode ser verificada também no interior das

macrorregiões, observando novamente a região Sudeste, percebe-se que o estado de São

Paulo concentra 60% da riqueza produzida na região.

Diante desses dados fica explícita a distribuição espacial desigual da riqueza

produzida no país, pois mesmo com o crescimento do PIB no período em questão sua

distribuição permaneceu concentrada nas mesmas regiões. Demonstrando que apenas o

crescimento do volume dessa riqueza não representa diretamente uma melhora na

redução das desigualdades sócio-espaciais.

Aqui tentamos desvendar as desigualdades sócias espaciais através de diversos

indicadores socioeconômicos, com uma breve análise dos indicadores não é difícil chegar a

conclusão que o modelo de desenvolvimento vigente se sustenta e é pulsado pelas

desigualdades regionais e marcado pelo que se chama de desenvolvimento desigual. Este

que sustenta que as desigualdades são produzidas pelo próprio modelo de desenvolvimento

vigente, observadas na diferença escancarada das paisagens das regiões desenvolvidas e

subdesenvolvidas. E como nos recomenda (HARVEY, 2004) é a acumulação do capital,

com bases no livre mercado que produz as diferenciações geográficas em termos de riqueza

e poder (HARVEY, 2004). Resta-nos a partir de agora, analisar se o investimento em C&T

e a Inovação têm contribuído diretamente para amenizar este quadro de desigualdades. É o

que discutiremos a partir de agora:

O objetivo nesta sessão é analisar o montante dos investimentos voltados para

C&T no Brasil no período recente e sua relação com o desenvolvimento sócio econômico e

as desigualdades.

Como já visto o modelo de C&T e Inovação brasileira segue baseado no modelo

dos países centrais, de modo que podemos citar outras duas características que o compõe: a

crença/aposta na cadeia linear da inovação (já vista) e por ser, em sua estrutura, tecnologia

convencional.

Em um primeiro momento faz-se necessário uma análise dos investimentos em

C&T no Brasil. A tabela abaixo nos dá uma noção dos investimentos realizados em C&T no

Brasil no período de 2000 a 2010.

Tabela 2: Investimentos em C&T no Brasil, 2000 a 2010 (em milhões de reais)

Ano

Públicos Empresariais

Total Federais Estaduais Total

Empresas

privadas e estatais

Outras empresas

estatais federais Total

2000 5.795,4 2.854,3 8.649,7 5.455,6 1.183,2 6.638,8 15.288,5

2001 6.266,0 3.287,1 9.553,1 6.058,7 1.650,8 7.709,6 17.262,6

2002 6.522,1 3.473,3 9.995,4 6.688,7 2.593,1 9.281,8 19.277,2

2003 7.392,5 3.705,7 11.098,2 7.335,3 2.960,3 10.295,6 21.393,9

2004 8.688,2 3.900,5 12.588,6 7.941,3 3.510,2 11.451,6 24.040,2

2005 9.570,1 4.027,3 13.597,4 10.216,6 3.463,0 13.679,6 27.277,1

2006 11.476,6 4.282,1 15.758,6 11.783,9 3.076,0 14.859,9 30.618,5

2007 14.083,5 5.687,4 19.770,9 13.734,1 3.692,2 17.426,3 37.197,2

2008 15.974,5 7.138,0 23.112,5 15.827,0 5.158,6 20.985,6 44.098,1

2009 18.475,2 8.424,8 26.900,0 17.987,9 7.001,2 24.989,2 51.889,2

2010 22.577,0 10.201,8 32.778,7 20.407,7 7.713,0 28.120,7 60.899,5

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do MCTI (2012).

Ficou evidente o aumento nos investimentos em C&T no período considerado:

cerca de 298,34% (entre 2000 à 2010). O que representava 1,30% de investimentos em

C&T com relação ao total do PIB em 2000 passa a ser 1,62% em 2010. Não é claro a

distinção entre investimentos de empresas privadas e estatais, de modo a concluir que o

setor público tem maior presença no montante de investimentos do período, verificado na

presença das estatais.

Regionalmente, podemos verificar como estão apresentados os investimentos em

C&T no Brasil:

Tabela 3: Dispêndios dos governos estaduais em Pesquisa e

Desenvolvimento, segundo regiões, 2000 a 2010 (milhões)

Grandes

Regiões Norte Nordeste Sudeste Sul

Centro-

Oeste Total

2000 26,3 139,2 2.377,40 274,2 37,2 2.854,30

2001 26,3 216,6 2.703,80 308,4 32,1 3.287,10

2002 26,9 228,2 2.851,40 355 11,8 3.473,30

2003 36,3 281,3 3.014,90 351,3 21,8 3.705,70

2004 41,3 311,3 3.066,10 425,1 56,7 3.900,50

2005 68,5 393,9 3.006,80 491,7 66,5 4.027,30

2006 125 441,7 3.141,80 501,9 71,7 4.282,10

2007 152,2 515,2 4.289,80 586,6 143,7 5.687,40

2008 245,8 732,5 5.225,40 780,6 153,8 7.138,00

2009 345,12 938,8 5.871,10 1.000,50 269,3 8.424,80

2010 429,8 1.296,60 6.936,80 1.182,30 356,2 10.201,80

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do MCTI (2012).

Apesar do aumento do volume dos recursos, o Brasil segue a tendência histórica

de distribuição desigual sobre o território brasileiro. De acordo com os dados do MCT I,

fica claro que há um maior montante de investimentos concentrado nas regiões “mais

desenvolvidas”, ou seja, Sudeste e Sul. Estas, por sinal, concentram mais polos industriais.

Enquanto na região Norte foram investidos 429,8 milhões em 2010, na região

Sudeste esse investimento chega a 6.936,8 mi no mesmo período. Vale dizer que a soma de

todas as regiões (Sul, Centro-oeste, Norte e Nordeste) não se chega ao total investido na

região Sudeste (chega a mais de 60%).

Tais disparidades são fomentadas pelo próprio Estado através das políticas

distantes dos problemas sociais locais. Podemos dizer que não há uma devida atenção as

particularidades de cada região.

Segue tal desigualdade outra característica desse processo, a saber, que a base

técnica das regiões mais desenvolvidas tende a se propagar para os espaços menos

desenvolvidos, levando a estes a cópia do modelo de desenvolvimento do centro,

desconsiderando as particularidades de cada lugar. E mesmo um aumento dos dispêndios

em C&T nas regiões periféricas não seria suficiente para transformar a paisagem das

desigualdades regionais (THEIS; MOSER, 2012, p. 12).

Ainda, de acordo com Theis e Moser (2012, p. 12) isso faz com que se contribua

cada vez mais para o aumento das disparidades regionais enquanto se dinamiza e se

fortalece regiões já dinâmicas outras ficam a mercê destes investimentos contribuindo assim

para o desenvolvimento desigual.

Os documentos oficiais e planos sustentam que os investimentos em C&T

promovem o desenvolvimento regional, econômico e social. Se de fato isso se aplicasse

além dos papeis não dever-se-ia aplicar um maior volume de investimentos em regiões

como o Norte e Nordeste Brasileiro que concentram maiores índices de pobreza e

desigualdades e a menor fatia do PIB, conforme demonstrado no capítulo anterior? Ainda

mais, porque se desconsidera as especificidades/realidades que se diferem e muito em cada

uma das regiões brasileiras? Não se pode aplicar o mesmo modelo de C&T a que se aplica

no Sudeste igualmente no Nordeste.

Essas desigualdades estão coladas num processo de conformação de regiões

dinâmicas e competitivas, num contexto espacial em que predominam atividades pouco

dinâmicas e regiões estagnadas. Bacelar (2000) caracterizou-o de desintegração

competitiva. A preparação técnica do território brasileiro permite, por exemplo, uma

produção agrícola capaz de alimentar sua população, mas a fome tem se ampliado até o

início da presente década (TOZI, 2003). Assim, não restam dúvidas de que o território vem

sendo usado a partir de seus acréscimos de ciência e tecnologia, mas não para promover

desenvolvimento social (BARROS, 1999, 2000; SANTOS; SILVEIRA, 2001).

Concordando com Theis e Moser (2012), o presente cenário de Ciência e Tecnologia

vigente no país contribui para agravar as disparidades regionais. Esta concentração do

desenvolvimento científico e tecnológico nas regiões centrais do país é resultado do

desenvolvimento geográfico desigual.

Os dados disponibilizados na tabela abaixo denotam uma concentração da

atividade inovativa no território brasileiro: a maioria das empresas inovadoras concentra-se

no Sudeste, mais especificamente em São Paulo. Do total destas (100496), 54,15 %, ou seja,

54.418 localizam-se nesta região. Vale destacar que é a região com maior PIB (responsável

por 58% no início da década de 90) (PINTEC, 2008).

Tabela 4: Dispêndios realizados pelas empresas na atividade inovativa, 2006 a

2008

Grandes Regiões

Empresas

2006 a 2008

Dispêndios realizados

pelas empresas inovadoras nas

atividades inovativas

Total

TOTAL

Número de empresas Valor (1000 R$)

Brasil 100.496 30.645 43.727.462

Norte 3.463 1.130 1.784.398

Nordeste 10.699 2.717 2.081.720

Sudeste 54.418 16.068 32.020.170

Sul 26.133 8.926 6.344.441

Centro-Oeste 5.784 1.803 1.496.733

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da PINTEC (2008).

Além disso, do total dos dispêndios das empresas inovadoras (R$ 43 727 462),

73,23 % (R$ 32 020 170) corresponde à região Sudeste. Isso demonstra uma grande

concentração regional dos investimentos privados em C&T. Evidencia-se assim que o

aumentos das inovações não contribuiu para a redução das desigualdades, pelo contrário:

seguindo a lógica da cadeia linear da inovação, o efeito tem sido o contrário, ou seja, de

fomentar as desigualdades inter-regionais historicamente herdadas. Além é claro, de

seguirem a linha de acumulação de capital.

A dinâmica desigual no contexto da PCT é influenciada, por um lado, pelas

características do desenvolvimento científico e tecnológico, ou seja, pela forma como se

pensa e como se produz C&T e, por outro, em decorrência das características estruturais do

subdesenvolvimento brasileiro.

Ademais, de acordo com a PCT, C&T deveriam conduzir o desenvolvimento

econômico e social, reduzindo então as desigualdades sócio-espaciais. Porém, a realidade

analisada demonstrou que o desenvolvimento científico e tecnológico não tem contribuído

para a redução dessas desigualdades, pois devido as características estruturais do

subdesenvolvimento brasileiro a C&T tendem a concentrar o capital nas regiões mais

desenvolvidas economicamente. Essa concentração aparece na centralização dos diferentes

atores em pólos que integram pesquisa, empresas e uma localização favorável. O acesso a

essa estrutura também se dá de forma desigual concentrando forças nas regiões Sudeste e

Sul (DINIZ, 1995).

4 A DINÂMICA DA INOVAÇÃO NO BRASIL NO PERIODO RECENTE

“[...] em qualquer lugar e tempo, as

empresas e os países farão três bons

negócios com tecnologia: roubar, copiar e

comprar. Nenhum deles irá desenvolver

tecnologia se puder realizar um dos outros

negócios.” (DAGNINO, 2012).

No Brasil as atividades relacionadas a dispêndios e subsídios oficiais em C&T

começam a se sobressair a partir de meados dos anos 90 em diante, são visíveis os esforços

de FHC e depois de LULA e Dilma no que se refere à ampliação dos investimentos para

patrocinar as atividades de C&T I.

Atualmente o orçamento do MCT I de R$ 1,6 bilhões previstos para 2012 e foi

cumprido, além disso, sabe-se que há grandes investimentos para subsidiar a inovação que

vem do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Como aponta

Dagnino3 para 2012 a 2015 as atividades contarão com montante de R$ 74,6 bilhões.

Os investimentos em inovação na sua grande parte são estimulados pelo governo e

bancos de fomento público como é o caso do BNDES, fazendo que o uso do dinheiro

público sirva para financiar o capital privado4 que segundo a cadeia linear de inovação a

indústria privada tem papel protagonista em promover a inovação.

Um dado no qual se pode utilizado para mensurar o aumento das inovações em um

determinado país são os pedidos e concessões de patentes. Vejamos a tabela abaixo:

Tabela 5 Pedidos e concessões de patentes, Brasil, 1997 a 2011

Anos Brasil

Pedidos Concessões

1997 134 67

1998 165 88

1999 186 98

2000 220 113

2001 219 125

2002 243 112

2003 259 180

2004 287 161

2005 295 98

2006 341 148

2007 375 118

2008 442 133

2009 464 148

2010 568 219

2011 586 254

3 Ver a propósito: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=81573

4 São diversos os casos mira-se um deles mais atual: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,

governo-vira-socio-e-banca-fabrica-de-semicondutores-de-eike-batista-,962403,0.htm

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do MCT I / USPTO5 (2012).

De acordo com a tabela acima, houve significativo aumento do registro de patentes

brasileiras no período considerado: cerca de 256,10%. Apesar de significativo em termos

percentuais, o número ainda é irrisório. Ainda mais se comparado ao registro de outros

países, à exemplo, EUA com 82 mil apenas no ano de 2009, e como, Taiwan com 6.642

patentes em 2009. O Brasil aparece com 149 concessões no mesmo ano, o que demonstra

não ser uma economia inovadora frente ao cenário internacional.

Nesse contexto, se reforça a distância entre ciência e tecnologia, mesmo diante dos

esforços para a passagem da pesquisa básica para a pesquisa aplicada apontados na PCT

desde a década de 1990. Esse descompasso entre ciência e tecnologia pode ser explicado

pela forma como se deu a constituição do desenvolvimento científico e tecnológico em

países desenvolvidos e subdesenvolvidos. No caso dos países centrais os investimentos em

C&T permitiram que o desenvolvimento tecnológico acompanhasse o científico, enquanto,

no caso dos países periféricos o desenvolvimento científico se sobrepõe ao tecnológico.

Fica nítido que apesar do esforço do governo brasileiro em patrocinar a inovação,

o setor privado não parece muito propenso a inovar. Através de estudos sobre a Pintec,

Theis (2012) revela que do universo total das empresas em 2000, apenas 1,7% eram

inovadoras, entre 2003 a 2005 houve queda nesta taxa, para 1,6% e chegando a 2,3% em

2008. O autor avalia este crescimento a diminuição do número total de empresas, afirmando

que o crescimento das empresas inovadoras é de 17% entre 2000 a 2003, 13% entre 2003 a

2005 e apenas 12% entre 2005 a 2008.

Outro fator importante a considerar é o tipo de inovação que o empresariado

brasileiro pratica. Vejamos a tabela abaixo:

Tabela 6 Dispêndios realizados pelas empresas em atividades inovativas (valores em bilhões de

reais), 2000 a 2008

2000 2003 2005 2008

Dispêndios Totais 22,34 23,42 41,29 54,10

Atividades internas de P&D 3,74 5,10 10,39 15,23

Atividades externas de P&D 0,63 0,67 1,20 2,37

Aquisição de outros conhecimentos 1,17 0,80 1,90 1,67

Aquisição de software - - 1,57 2,31

Aquisição de maquinas e equipamentos 11,67 11,63 17,71 24,29

Treinamento 0,42 0,47 0,85 1,08

Inovações tecnológicas no mercado 1,42 1,39 3,09 3,01

5 United State Patent and Trademark Office http://www.uspto.gov/web/offices/ac/ido/oeip/taf/cst_all.htm

Projeto industrial e outras preparações técnicas 3,30 3,34 4,56 4,14

Fonte: Elaboração própria com base na PINTEC (2000, 2003, 2005 e 2008).

A tabela acima denota que a atividade inovativas considerada hoje no Brasil pela

PINTEC (cabe atentar que no Brasil para uma empresa ser considerada “inovadora” basta

que ela adquira algum novo equipamento) tendo no país forte predomínio de aquisição de

máquinas e equipamentos de outros países, ou seja, compreende fortemente certa

dependência tecnológica de países do centro. O aumento dessa atividade foi 108,14% entre

os anos 2000 e 2008. Atividades de P&D são praticamente insignificantes no país.

Este é mais um indicador que o capital privado brasileiro timidamente inova. Se

“inova”, quando o faz, na maioria dos- casos transporta C&T de países centrais. E este

processo não possibilita o desenvolvimento socioeconômico, mas sim, um maior nível de

acumulação de capital e logicamente, o agravamento das disparidades no território.

Cabe perguntar, por que o empresariado brasileiro não inova já que o governo

brasileiro tem se mostrado bastante generosos em patrocinar a “inovação”?

Dagnino e Bagatolli (2009) trazem a luz algumas reflexões que possibilitam

responder a esta questão. Contrariamente à premissa Schumpeteriana que explica a

dinâmica inovativa pela concorrência intercapitalista na corrida do “ganha–ganha” do

mercado, os empresários de países periféricos ( como é caso brasileiro) não inovam por que

no processo de produção, na relação com os trabalhadores não é necessário "progresso

tecnológico" a fim de garantir a mais valia (nos países avançados garante o que se chama

mais valia relativa). Ao longo dos anos as políticas nacionais concentradoras possibilitaram

a deterioração continuada do salário real e consequentemente "à instauração de uma forma

de extração da mais-valia (absoluta) que prescinde da inovação" (DAGNINO;

BAGATOLLI, 2009, p. 169).

Ainda ressaltando Dagnino o problema da inovação no Brasil não é a falta de

dinheiro, observamos ao longo da sessão que os investimentos em C&T tem sido generosos

por parte do setor público. E autor complementa: “em qualquer lugar e tempo, as empresas

e os países farão três bons negócios com tecnologia: roubar, copiar e comprar. Nenhum

deles irá desenvolver tecnologia se puderem realizar um dos outros negócios”. O esforço do

setor público em estimular a inovação foi verificado ao longo deste trabalho, concordando

com Dagnino dever-se-ia reorientar os amplos volumes de recursos que o setor público está

disposto a gastar com a inovação em tecnologias alternativas.

Ficam alguns questionamentos: seria uma desculpa da C&T e inovação para que se

tenha uma transferência fácil de dinheiro publico ao setor privado facilitando assim as

coisas para a acumulação de capital? Bem-estar social, desenvolvimento econômico seriam

apenas termos bonitos para enfeitar os planos e documentos oficiais e tornar eficaz o

discurso dominante?

CONCLUSÕES

O tema desta proposta foi à inovação e seus impactos sobre o desenvolvimento

sócio econômico no território brasileiro no período recente.

Considerando o objetivo proposto, poder-se-ia inferir que: a inovação não leva a

melhora da qualidade de vida das pessoas e regiões, os indicadores revelam que no período

recente houve aumento considerável dos investimentos em C&T e Inovação. Cabe lembrar

aqui, que os investimentos são concentrados em regiões específicas como Sudeste,

principalmente (representa mais da metade dos investimentos em C&T e Inovação).

A contribuição da inovação para o desenvolvimento sócio espacial tem sido

insignificante, inclusive tem contribuído para agravar as disparidades inter- regionais no

Brasil e acirrando o que Harvey (2004) chamou de desenvolvimento desigual (que se refere

às desigualdades das regiões estagnadas e as regiões centrais). Ficou evidente é que as

políticas de C&T e Inovação contribuem para o desenvolvimento geográfico desigual

acompanhando o processo de acumulação de capital pela concentração de investimentos

que se dá nas regiões desenvolvidas.

Por fim, pode-se concluir que praticamente não houve contribuição para o

desenvolvimento sócio econômico nem tampouco para o desenvolvimento social, nem para

a sua equitativa distribuição no território brasileiro no período recente.

Isto sugere que se tenha uma revisão das políticas de Ciência e Tecnologia e

Inovação vigentes no país nos últimos anos, já que a cadeia linear de inovação parece não

funcionar em países periféricos como é o caso do Brasil onde verificamos uma baixa taxa

de inovação. Além disso, as políticas estão desconectadas dos reais anseios da população e

voltadas aos interesses do capital privado.

O quadro de exclusão, concentração de renda e degradação ambiental resultante

desse modelo de desenvolvimento, se não diretamente determinado, mas, no mínimo,

condicionado pela orientação da PCT, se expressa na forma de graves disparidades inter-

regionais (FURTADO, 2001).

Ainda poder-se-ia afirmar que a melhora sensível índices socioeconômicos como

se observou ao longo deste trabalho, é fruto não de iniciativas de Política de C&T, e menos

ainda das iniciativas da inovação, mas sim, de bem-sucedidas estratégias de distribuição de

renda, e políticas sociais coordenadas por ministérios localizados do governo federal. Nesse

sentido, o aumento do volume de recursos para o desenvolvimento em C&T e inovação não

gerou desenvolvimento social.

Recomendar-se-ia por fim, que se realizem novos estudos para avançar as

hipóteses que se perseguiu neste trabalho e para aprofundar os resultados aqui apresentados,

já que nota-se certa carência de reflexão teórica sobre o tema.

De maneira que seria sensato repensar o modelo de desenvolvimento

socioeconômico e, também, o de C&T em vigor. O que se sugere é um modelo mais

democrático, em que a prioridade não seja a maximização do lucro – o “incremento da

conta corrente” do capital privado – mas, o atendimento das demandas das populações

socialmente marginalizadas que vivem em muitas regiões do país.

Um novo modelo de desenvolvimento e de C&T I a fim de vencer este modelo

excludente e desigual. Propõem-se justamente aquele que leve em consideração a melhora

da qualidade de vida dos indivíduos, que promova uma redistribuição das rendas geradas e

acumuladas durante os séculos, ou seja, um desenvolvimento que seja capaz de reduzir as

desigualdades regionais, e mais do que isso, que seja democrático. Que além de desenvolver

para as pessoas, seja democrático e participativo para desenvolver com as pessoas. E isto

requer que se respeite o ambiente físico (o meio ambiente!) e a cultura dos lugares onde tais

pessoas vivem.

Evidentemente, esse “desenvolver” não significa "levar mais modernidade", "mais

bens industrializados" para as regiões "subdesenvolvidas", mas despertar nas pessoas a

energia (que elas têm) para decidirem, elas mesmas e serem protagonistas do

"desenvolvimento" - isto é, a qualidade de vida - que querem para elas.

Aqui alguns desafios foram colocados e desmistificados. Faz-se necessário refletir a

C&T de um ponto de vista democrático, participativo, em que os atores sejam protagonistas

tanto na sua formulação quanto na sua implementação.

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