8/9/2019 A Inteligncia do Meio altera o fim? ABCiber 2009 - Jack Holmer
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A Inteligncia do Meio altera o Fim? 1
Jack de Castro Holmer2
Faculdade Internacional de Curitiba
Resumo
Este artigo pretende abordar os conceitos de Inteligncia e Dispositivo para problematizar oque so Dispositivos comunicacionais Inteligentes, sua conceituao e classificao.Proponho uma tabela classificatria, quanto a inteligncia do meio (dispositivocomunicacional), pontuando anteriormente o que seria inteligncia de uma ou um conjunto demdias, utilizando os robs existentes hoje como exemplos emprico dos conceitosformulados. Este estudo se baseia nas classificaes e tabelas proposta em diferentes
contextos por Pierre Levy, Juremir Machado da Silva e Jairo Ferreira.
Palavras-chave
Interao, Robtica, Inteligncia, Dispositivo Comunicacional
1 INTRODUO
A cibercultura se apropria de mdias produzidas pelas tecnologias contemporneas,que impregnam e alteram o contedo da informao, trocada de forma especfica, pois pela
primeira vez na histria das culturas, as mdias esto tendo comportamentos inteligentes:
corrigindo palavras e imagens, alterando contedos, organizando automaticamente, buscando
novas referncias, enfim, alterando a mensagem original em prol de uma maximizao da
legibilidade. Os sistemas que utilizam Inteligncia Artificial apontam para o caminho da
organizao e busca de informao mas, principalmente, apontam uma mudana no meio que
transmite a mensagem, transformando o emissor (meio) em um interlocutor sinttico. Ainteligncia do meio se torna essencial no estado da arte da comunicao.
O terico Marshall Mcluhan (2005) no presenciou a era das redes proporcionada pela
internet. Porm, sua obra guarda potencialidades que esperam por novas (ou outras) conexes
tericas que podem aplicar seus conceitos aos mais recentes fenmenos comunicacionais. Ao
1 Artigo cientfico apresentado ao eixo temtico Entretenimento, prticas socioculturais e subjetividade, do IIISimpsio Nacional da ABCiber.2 Mestre em Comunicao e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paran. Professor da FaculdadeInternacional de Curitiba. Artista Plstico atuante na rea de arte e tecnologia com nfase em robtica esoftware-art.
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postular um dos seus mais utilizados conceitos na rea da comunicao, o meio a
mensagem (MCLUHAN, 2005), Mcluhan vislumbrou o quanto a mdia utilizada na
propagao da informao pode interferir no seu contedo, transformando o modo de
compartilhar uma mensagem: Os meios como extenso dos nossos sentidos, estabelecem
novos ndices relacionais, no apenas entre os nossos sentidos particulares, como tambm
entre si, na medida em que se inter-relacionam.(MCLUHAN, 2005)
Para Mcluhan(2005) a mensagem de qualquer meio ou tecnologia a mudana de
escala, cadncia ou padro que esse meio ou tecnologia introduz nas coisas humanas
(MCLUHAN, 2005, pg 22), assim como, como defendido neste trabalho mais adiante, a
mensagem do Rob esta mudana de escala, traduzindo (traindo) o mundo digital para
uma linguagem analgica de gestos e palavras e digitalizando o mundo em zeros e uns paraa leitura das mquinas, como afirma o Autor: Todo meio so metforas ativas em seu poder
de traduzir a experincia em novas formas por que o meio que configura e controla a
proporo e a forma das aes e associaes humanas (MCLUHAN, 2005, pg 76).
Se os meios de comunicao antecedentes ao sculo XXI transmitiam a mensagem por
reproduo3, as mdias deste sculo no apenas reproduzem automaticamente, mas tambm se
tornam um novo emissor, dando mensagem um novo grau de absoro pelo receptor.
2 DA INTELIGNCIA DOS DISPOSITIVOS
Ainda no mbito da definio de inteligncia, podemos notar as inmeras
interpretaes que a palavra pode adquirir, dependendo dos objetivos de sua utilizao. A
publicidade e o comrcio utilizam o conceito como qualidade positiva para produtos que, de
certa forma, produzem efeitos ou utilizam uma tecnologia criativa que gera efeitos pontuais
ao objetivo que o produto destina. A maioria dos produtos inteligentes no so regidos porinteligncia artificial, mas apenas por executarem uma tarefa de modo simples so vistos
como inteligentes. Nesta viso, produtos inteligentes formam uma casa inteligente onde
mtodos inteligentes so utilizados sob uma viso consciente. Vejamos o trecho abaixo,
extrado de uma reportagem da Carta Capital, que se intitula A era dos produtos
inteligentes:
3 Vejamos o exemplo do telefone e da televiso: o primeiro reproduz a voz humana ou outro som na ntegra, mudando apenas
a qualidade e as propriedades fsicas da transmisso sonora, mas o contedo o mesmo. No caso da televiso, o som eimagem gerados na fonte tambm so os mesmos reproduzidos nos aparelhos, salvo efeitos especiais e as novas tecnologiasde simulao.
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O resultado que os consumidores podem no perceber, mas oseletrodomsticos ficam cada vez mais inteligentes e cumprem tarefas antesinimaginveis como esterilizar roupas, matar as bactrias presentes emalimentos e at purificar o ar.() Uma reclamao comum na chegada doano 2000 era de que o mundo no se parecia com o que havia sido prometido
por anos a fio pela televiso: carros voadores que se transformavam emmaletas, contatos com aliengenas, comunicao por hologramas e casasinteligentes.
O domnio do imaginrio salta ao olhos com clareza. Esta relao de inteligncia e
praticidade, ou automao, ronda todo circuito comercial, banalizando o conceito em prol de
um valor agregado ao produto que promete ser um resolvedor de problemas, sejam eles de
quaisquer natureza. Como na citao acima, a mquina, alm de seu trivial, transforma
pequenas tarefas extras em inimaginveis, como matar bactrias presentes em alimentos, j que nos no a vemos a olho n, somente uma mquina dotada de inteligncia, poderia
localiz-las e extermin-las. O que no verdade, j que neste caso a mquina no delimita
alvos nem os busca (procura), apenas lana aleatoriamente um determinado produto
qumico que executa uma tarefa.
Os adjetivos que frequentemente aparecem nos apelos comerciais so: inovao e
economia, temporal e financeira, e rapidez. O sublime tecnolgico (COSTA, 1995)
transmitido atravs da inovao anunciada, e a otimizao dos recursos (tempo e dinheiro),sem esforo do consumidor, representada pela economia. A velocidade, adjetivo positivo
quando vinculamos a informao ou agilidade de processos burocrticos, se apresenta como o
atual, o que acompanha o tempo do mundo, das coisas e da tecnologia. Os exemplos so
muitos, mas a problemtica a mesma.
No quadro de funes das tecnologias do imaginrio (em anexo) , proposta por
Juremir Machado da Silva (2006), destaco as caractersticas das tecnologias da inteligncia:
Propulsora; Cognitiva; Intelectual; Indutora; Racional; Abstracionista; Planetria; Eficcia;
Pesquisa. Estas caractersticas aparecem na enunciao de produtos ou tecnologias que se
nomeiam inteligentes. Como nos exemplos acima, estes valores so relacionados com a
otimizao das funes de determinada mquina.
Um conceito a ser esclarecido o de dispositivo. Encarado aqui como um sistema
mecatrnico que recebe e transmite informaes em tempo real, tendo ou no automonia
durante este processo, e pode ser, em menor ou maior grau, encarado como um objeto de
comunicao hbrido, que pode conjugar uma ou mais linguagens.
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Esta nomenclatura substitui alguma falta de abrangncia conceitual dentro dos meios
de comunicao ou mdias convencionais, sendo includo no conceito o canal de comunicao
(aparato tecnolgico), o processamento e a transmisso da informao. Michel Foucault
(1997), usa o termo dispositivo para designar uma rede de elementos distintos como poder e
relaes sociais ou sujeito e fenmeno social. O dispositivo discursivo seria um objeto (como
o Panptico) que engendra o visvel e o enuncivel. O discurso como Dispositivo. Mas
pensando o conceito de dispositivo, como um aparato tecnolgico hbrido, podemos recorrer a
Daniel Peraya que elucida:
A economia de um dispositivo - seu funcionamento - determinada pelas intenes apia-se naorganizao estruturada de meios materiais, tecnolgicos, simblicos e relacionais, naturais e
artificiais, que tipificam, a partir de suas caractersticas prprias, os comportamentos e ascondutas sociais, cognitivas, afetivas dos sujeitos (...) dispositivo tecno-semiopragmtico(DTSP) como um conjunto de interaes promovidas por toda mdia, toda mquina decomunicar, toda tecnologia da informao e da comunicao (TIC) entre os universos tcnico,semitico e ainda social ou relacional. As TIC constituem, de fato, a fronteira desses trsuniversos. (Peraya, 19884)
Assim nos aproximamos do conceito proposto neste trabalho, onde o Rob seria um
dispositivo, uma mquina hbrida, que gera atos simblicos e tem seus out e inputs de
interao com o ambiente processados de uma forma complexa. Estes dispositivos tecno-
semiopragmticos revelam a existncia de uma complexidade nas relaes entre informao,
interao e a mquina. Ainda podemos acrescentar que, conforme explica Jairo Ferreira, os
dispositivos materializam o imaginrio e o simblico, o relaxamento e as tenses, a presena e
a ausncia do outro, os centramentos e os descentramentos (FERREIRA, 2002) fazendo uma
ponte entre duas realidades, podendo elas ser o virtual e o off-line, o digital e o analgico,
como o caso dos dispositivos robticos, quando traduzem sinais eletrnicos e digitais, em
gesto, fala ou ato.
A proposta de conceituar Dispositivo tem o objetivo de definir o que seriam dispositivos
inteligentes, ou como os dispositivos revelam traos ou movimentos inteligentes ao
recodificar e transmitir, atravs dos processos de interao, uma informao. Para isso,
proponho uma classificao estrutural, que subdivide os dispositivos comunicacionais, porm
sem pretenso de fechar as possibilidades de interpretao, mas sim de agrupar tais
dispositivos para melhor compreend-los, tentando entender, pelo foco objetivo, os processos
comunicacionais pertinentes a determinado grupo.
4apudFerreira, 2002.
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2.1 Da Classificao Dos Dispositivos Quanto Sua Inteligncia
Esta classificao se baseia na anlise de estudos que subdividem os meios de
comunicao quanto suas propriedades, em vrios nveis, que so sintetizados na tabela
proposta (Tabela 4, em anexo). Pierre Levy (1999) classifica os dispositivos comunicacionais
entre os de difuso unilateral, dilogo e reciprocidade, e dilogo entre vrios participantes.
Dentro de cada caso, classifica o dispositivo quanto relao com a mensagem: mensagem
linear no altervel em tempo real, reorientao do fluxo informacional em tempo real e da
implicao do participante da mensagem.
Da tabela de Levy ( Tabela 1, em anexo) podemos compreender e diferenciar osdispositivos de comunicao que, dotados de interatividade, abrem um leque de possibilidades
ao usurio, tanto na interferncia do processo comunicacional como na reorganizao da
mensagem, buscando a otimizao de sua comunicao. Ao classificar, por exemplo, a
televiso analgica como um dispositivo de difuso unilateral de mensagem linear no
altervel em tempo real, o autor deixa claro que o processo de transmisso da mensagem
pobre, pois no possibilita a potencializao da transmisso nem pelo usurio nem pela
prpria mquina transmissora. Este seria um dispositivo Behaveriano, pois trabalha cominputs e outputs padres, em um sistema de ao e reao claro, estabelecendo por um
contrato prvio entre o aparato e o usurio. J um videogame simples, quando classificado
como um dispositivo de dilogo (reciprocidade) e de reorientao do fluxo informacional em
tempo real, mostra que o aparato tecnolgico modifica a mensagem atravs da interao do
usurio. Porm os videogames de primeira gerao5 tendem a repetir o sistema de ao e
reao, pois o usurio pode evoluir na narrativa proposta (e depende dele a velocidade e a
habilidade para esta evoluo) mas, o resultado nico para todos os casos: a ao x sempreresultara emy, e uma aox+n sempre resultara emy+n. J os RPGs de mltiplos usurios no
ciberespao (MMORPG6), Levy classifica como dispositivos de comunicao de dilogo
entre vrios usurios participantes e de implicao do participante na mensagem, ou seja, uma
maior grau de interferncia do usurio na dinmica de transmisso da mensagem. Este tipo de
dispositivo classificado, na proposta deste trabalho, como Dispositivos de Inteligncia
Simulada, pois os ambientes digitais que o usurio est inserido responde a estmulos
5Atari; Nintendo 8 bits e similares.6Massively ou Massive Multiplayer Online Role-Playing Game ou Multi massive online Role-Playing Game
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variados, deste e dos demais usurios, sendo um sistema complexo que recebe e processa
inputs dos usurios conectado e da prpria lgica de programao do aplicativo gerador. Esta
a forma mxima de classificao apresentadas por Levy em sua tabela, que corresponde ao
grau de interatividade do usurio com o dispositivo.
Podemos levar em conta outros aspectos para a classificao dos dispositivos
comunicacionais, como a proposta de Juremir Machado da Silva (2007), em uma das
classificaes das tecnologias do imaginrio (Tabela 2, em anexo). Silva ainda considera
poder existir uma coluna contendo tecnologias ps-industriais de baixo poder de interpelao
da natureza como encontrada em livros, pequenas rdios, que seriam leves, pouco poluentes e
regionais.
Esta tabela contribui para a classificao proposta neste trabalho da seguinte forma: Otelefone, por exemplo, pode ser classificado com um meio leve, pouco poluente, porm
planetrio, semi-provocativo, com o potencial comunicacional voltado a oralidade. Sendo
assim, um dispositivo de inteligncia dependente, que depende, para potencializar a
mensagem transmitida, da criatividade (inteligncia) do usurio ou algum melhoramento
mecatrnico do aparelho, visto que o mesmo no evoluiu consideravelmente em termos
tecnolgicos desde sua criao, salvo aperfeioamentos e a convergncia de outros sistemas
ao telefone. A televiso classificada, por Silva como sendo uma tecnologia industrialprovocativa, pois um dispositivo behaveriano, que depende da ao e reao do usurio para
mudar a mensagem recebida. Como ltimo exemplo da tabela de Silva, cito a Internet, como
um dispositivo ps-industrial que pode ser dotada de um sistema behaveriano ( web 1.0,
apesar de ser dotada de interatividade hipertextual) ou de uma inteligncia simulada (web 2.0
ou a web semntica), quando gera pesquisas mais direcionadas (por tags), por exemplo.
Por ltimo, irei comparar os modelos de classificao proposta por Ferreira (2002)
(Tabela 3, em anexo), baseada em Peraya e Charaudeau (que desmembra o conceito dedispositivo comunicacional) com os propsitos da tabela aqui criada. E tambm, justificar a
escolha da classificao proposta neste trabalho, que foi baseada, entre outras fontes, no
modelo de Ferreira. A tabela formulada por Ferreira, que ser aqui utilizada para a escolha
metodolgica das formas de classificao dos dispositivos quanto a sua inteligncia. O Autor,
subdivide categorias indispensveis para se analisar os dispositivos comunicacionais.7
7 As classificao de Ferreira ser analisada ao decorrer dos prximos enunciados junto com a explicao databela proposta.
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Para classificar os dispositivos quanto sua inteligncia foram considerados alguns
elementos fundamentais dos dispositivos (tal proposta por Ferreira), o grau de interao do
usurio com o dispositivo (tal Levy) e quanto as caractersticas temporais e de abrangncia
territorial (como a tabela de Silva), sendo o resultado a Tabela 4, em anexo. Este paralelo
entre as classificaes existentes e a proposta se faz necessrio para a melhor compreenso
dos objetivos propostos pela tabela desenvolvida neste trabalho.
2.1.1 Inteligncia Dependente e os Dispositivos Behaveriano ouBehavior Media
Dispositivos de inteligncia dependente so aqueles que necessitam que o usurio
saiba um cdigo cultural especfico (ou letramento), um repertrio desenvolvido comferramentas lingsticas (tipo de representao) que possa entender a mensagem, sem que o
dispositivo interfira no contedo da mensagem, tendo o canal o Som, como o Rdio e o
Telefone, ou como canal a Escrita, como jornais, dirios, revistas e os livros (includo os
RPGs), podendo ter ou no suporte para estocagem da informao, sendo uma comunicao
unidirecional e com baixo grau de interao do usurio, entendendo assim, que a recepo da
mensagem depende da inteligncia do emissor e do receptor. Como cita Machado(2007, pg
56), sobre o rdio a televiso e o cinema: (...) sempre foram interativos e sempre estiveram amerc da distoro, da apropriao, da leitura e da ressignificao dos destinatrios.
Dispositivos Behaverianos so aqueles que por intermdio de uma ao do usurio,
por meio de perifricos de interao ou de uma postura (no caso do Cinema), reagem com
respostas previstas no cdigo do aparato tecnolgico, formuladas por uma programao
prvia feita junto com a criao do dispositivo.
O Cinema exige que o usurio doe seu intelecto e sua ateno para que seja efetivada a
comunicao. A televiso, alm das caractersticas do Cinema, necessita de uma pequena aodo espectador, no momento da escolha da emissora ou ajustes na imagem. Computadores
pessoais de primeira gerao, respondem a ao do usurio nos perifricos (teclados, mouses)
em aes no display ou em outros perifricos como impressoras. O cdigo prev todas as
possibilidades de ao do usurio no sistema, tendo assim resposta para todos os estmulos
externos a mquina, e quando no o possui, tem como ao a gerao de um erro no
processamento, o que provoca o regresso da execuo do sistema operacional em seu ltimo
ato antes do erro. A web de primeira gerao e os videogames tambm esto nesta categoria,
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apesar de poderem apresentar uma lgica hipertextual, ela limitada a respostas prvias do
sistema ou de uma pequena rede.
2.1.2 Dispositivos de Inteligncia Simulada
Em um pequeno texto chamado A alavanca contra-ataca, Vilm Flusser (2005)
disserta sobre a inteligncia das mquinas e suas conseqncias scio-tcnicas. O peso da
tcnica cientfica implica diretamente no coeficiente de inteligncia da mquina. Um
exemplo que o autor da do prprio Burro de carga, pois seus usurios desconheciam suas
leis internas. Aps o Burro ser substitudo pelo Carro, os usurios conheciam todas as leis do
interior da mquina, assim dominando-a de uma forma diferente, mas abrangente e segura.Por essa complexidade Flusser, chega a concluso de que o homem relativamente
inteligentes serviam mquinas relativamente estpidas. O microprocessador transforma a
alavanca contempornea em uma mquina inteligente. Como cita Flusser (2005), na
atualidade, a maioria das mquinas construda por mquinas inteligentes, e ns apenas
observamos o processo para interagir ocasionalmente. Estas mquinas passam de simular o
corpo fsico humano para simular os processos de criao.
Lucia Santaella (1997) distingue estes meios, no caso mquinas, entre musculares(extenses fsicas) e sensoriais (de intelecto):
Enquanto as mquinas musculares foram feitas para trabalhar, os aparelhos foram feitos parasimular o funcionamento do crebro. (...) as sensrias, por serem menos rudes e mais sutis jcomearam a perder a natureza de mquinas para se converterem em aparelhos produtores designos, extensores dos rgos dos sentidos. (SANTAELLA, 1997, pg 37)
Mas este simular o funcionamento do crebro encontra resistncias em algumas
correntes tericas da comunicao. Para Baudrillard (1997)8
, os meios que ofereceminteratividade, que nos ameaam, servem apenas para o fomento da rivalidade e dominao.
Alex Primo (2007) refora a diferena entre homem e mquina para apresentar os sistemas
informticos como limitados e previsveis. Mas sabemos que possvel contar com cdigos
autopoiticos, que se alteram, aprendem, erram, reequilibram-se e so capazes de evoluir
dentro do contexto scio-cultural em que esto inseridos. O que quero apresentar neste artigo
8 apudPrimo, 2007.
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como, sim, os sistemas informticos (hard e software) aquecem relaes e aprimoram o
intelecto herdado da humanidade.
Na atualidade estamos cercados por meios de comunicao que ensaiam algum tipo de
inteligncia sinttica de processamento de dados, dotados de Mindwares (CLARK, 2001) que
interferem no modo de transmitir e decodificar as mensagens. Os programas-mentais so mais
que simples transmissores de mensagens, so catalisadores de experincias que adicionam e
reorganizam a informao atravs de interfaces biotecnolgicas. A mensagem-sensvel
produzida modifica-se ela mesma para adaptar-se ao receptor/usurio se transformando em
mensagem-dispositivo, fundindo-se a mdia que a pronuncia. A mensagem se aquece em meio
das tecnologias de afeto.
Os meios/dispositivos de comunicao podem alcanar nveis de interao face a face,utilizando estes mindwares, tornando a interao dos agentes relacionados, em espao-tempo
comum, com possibilidade de deixas simblicas (de origem no-verbal), mantendo o
dialogismo e as possibilidades de interpretao abertas. Estes processos comunicacionais se
diferem, como citado anteriormente, dos meios no interativo e pseudo interativos, pelo grau
de participao do receptor. A TV interativa, vdeo-on-demand, web 2.0, entre outras
tecnologias que se apiam na interao, deram incio abertura definitiva da to celebrada
liberao do plo de emisso.Os Dispositivos de Inteligncia Simulada so aparelhos comunicacionais que
reorganizam a mensagem conforme um cdigo (regra) previamente estipulado em parmetros
que visam a otimizao da transmisso da mensagem, e executam tarefas onerosas ao usurio
sem que este precise aciona-las.
2.1.3 Dispositivos Inteligentes Plenos
Os Dispositivos Comunicacionais Inteligentes buscam a legitimao da interatividade
proposta a tempos, tanto pelo mercado quanto por tecnologias que simulam nveis de
atividade inteligente. Estas ltimas enfatizam o grande nmero de opes de customizao,
porm finitas. Este o argumento comumente usado contra os meios que utilizam o conceito
de interatividade em sua definio mais ampla, geralmente usada na web ou em produtos
tecnolgicos para um pblico generalizado.
Os meios de comunicao, ou dispositivos comunicacionais inteligentes so
interativos plenos: permitem respostas autnomas, criativas e no-previstas da audincia
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(WILLIAMS apud PRIMO, 2007) que ocorrem por aes internas (...) em que o software
capaz de perceber, analisar e evoluir (DOMINGUES, 2007), segundo as premissas da
segunda interatividade9 (COUCHOT, TRAMUS E BRET, 2003).
Um Dispositivo Comunicacional Inteligente apresenta as seguintes caractersticas:
Reconhece usurios distintos e memoriza suas peculiaridades; reconhece as redes de conexes
do ambiente, procurando estar sempre conectado; reconhece e interage com outros
dispositivos computacionais ou comunicacionais; reconhece e se adapta a ambientes tanto on
como off-line; se comunica por inmeras formas, tanto verbalmente quanto em linguagem no
verbal; e apresenta processos autnomos em seu cdigo de programao.
Ao reconhecer cada usurio de uma forma individual e memorizar suas caractersticas
singulares, o dispositivo comunicacional inteligente simplifica tarefas se adaptando, de preferncias simples at memorizao de interaes, reconhecimento de falhas na
comunicao e orientao ao usurio. Alm de reconhecer a presena ou ausncia do mesmo.
A segunda caracterstica destes dispositivos est em sua conectividade permanente. Ao
reconhecer os tipos de conexo presentes no ambiente (Wifi, Rdio, sinais via satlite) o
dispositivo inteligente se mantm conectado a uma rede constantemente, assim suprindo a
falta de possveis informaes faltantes ou enviandofeedbackde sua atuao a uma central ou
algum usurio especfico. Com essa conexo permanente, o possibilita tambm a interaocom outros dispositivos, tanto comunicacionais quanto computacionais, por exemplo
reconhecendo sinais derivados de um aparelho de rdio, conseguir enviar dados a curtas
distncia por sinais Bluetooth ou como prover servios a outros dispositivo, e saber quando
utilizar tais ferramentas essencial para uma interao plena entre aparatos tecnolgicos,
independente de seu nvel de inteligncia.
Tendo um corpo mecatrnico (provido de sistemas de movimentao e de atuao
espacial) o dispositivo comunicacional inteligente se adapta ao ambiente off-line quando tema possibilidade de sua leitura (atravs de sistemas ticos de captura de imagem ou sistemas
ultra-snicos que mapeiam o ambiente para uma navegao) e consegue se movimentar por
este espao sem a conduo de um humano, de forma autnoma. E, para a atuao em
ambientes on-line, o dispositivo precisa dispor de um sistema de atuao digital, podendo ser
um Avatar em sistemas que possuam suporte grfico, ou em forma de software autnomo em
um sistema que no se apresente ao usurio visualmente (por exemplo quando o dispositivo
9 A segunda interatividade, segundo os autores, se interessa mais pela ao enquanto guiada pela percepo, pelacorporeidade e pelos processos sensrio-motores, pela autonomia (ou pela autopoise).
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acessa dados dentro de uma rede: ele precisa de uma identidade para entrar no sistema, esta
identidade constitui sua representao perante aquele sistema). Outra caracterstica derivada
da presena de um corpo (concreto ou virtual) a possibilidade de uma comunicao no
verbal, realizada atravs de gesto e posturas. Este tipo de comunicao uma das
peculiaridades deste tipo de dispositivo comunicacional, que somado com uma linguagem
verbal, otimiza as possibilidades de comunicao com o usurio.
Por ltimo, os Dispositivos comunicacionais inteligentes, apresentam sistemas de
inteligncia artificial em seu cdigo de programao. Estes sistemas apresentam condutas
autnomas em tomadas de decises e imprevisibilidade relativa.
3 CONSIDERAES FINAIS
Os Robs que ocupam o Imaginrio tambm ocupam fbricas e lares. Estes
funcionrios de funcionrios, mudam prticas sociais, mercadolgicas e culturais. A
classificao proposta de Dispositivos Comunicacionais Inteligentes, por si s, pode ser
desdobrada em novas pesquisas, assim como a outras reas, em um trabalho interdisciplinar,
buscando aperfeioar a cognio e atuao dos robs existentes, quebrando paradigmas de
engenharia (de hardware e software) e culturais (de convvio e aplicao). O estudo doimpacto causado pelo convvio pleno dos robs, se mostra como outra continuidade. E claro
algumas destas questes que podem ser propostas para a continuao desta pesquisa s sero
sanadas em um futuro prximo.
Por fim, o Rob (escravo) representa o trabalhador proletrio que busca uma temida
emancipao, reivindica prazeres e questiona sua existncia, repetindo os anseios do homem.
Como produto de sua cultura tecnolgica, que no poderia se distanciar de seu criador.
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8/9/2019 A Inteligncia do Meio altera o fim? ABCiber 2009 - Jack Holmer
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III Simpsio Nacional ABCiber - Dias 16, 17 e 18 de Novembro de 2009 - ESPM/SP - Campus Prof. Francisco Gracioso
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ANEXOS
TABELA 1 OS DIFERENTES TIPOS DE INTERATIVIDADE (LEVY, 1999)
TABELA 2 TECNOLOGIAS DO IMAGINRIO (SILVA, 2007)
8/9/2019 A Inteligncia do Meio altera o fim? ABCiber 2009 - Jack Holmer
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TABELA 3 ANLISE DO DISPOSITIVO (FERREIRA, 2002)
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TABELA 4 - CLASSIFICAO DOS DISPOSITIVOS QUANTO SUA INTELIGNCIA
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