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Tomás Antônio Gonzaga O mais popular dos poetas árcades mineiros é Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810). Sua obra ainda hoje é lida com interesse. Nascido no porto, em Portugal, veio ainda menino com a família para a Bahia, onde viveu e estudou até a juventude. Posteriormente, fez o curso de direito em coibra e, como Claudio Manuel da Costa, lá estabeleceu contato com as ideias iluministas e árcades tendo chegado a escrever uma obra filosófica em homenagem ao Marquês de Pombal: Tratado de Direito natural. Voltando ao Brasil, passou a viver em Vila Rica, onde exerceu a função de ouvidor. Iniciou ali sua atividade literária a sua relação amorosa com Maria Doroteia de Seixas, uma jovem de antão 16 anos ,cantada seus versos com o pseudônimo de Marilia. Em 1789, acusado de participar da inconfidência, Gonzaga foi preso e mandado ao Rio de janeiro, onde ficou encarcerado até 1792, quando foi exilado para Moçambique. Apesar dos sofrimentos passados na prisão, Gonzaga levou na África uma vida relativamente tranquila. Ali se casou, enriqueceu e ainda se envolveu com politica local.

A poesia satírica: cartas chilenas As cartas chilenas são um poema satírico,incompleto,que circulou em partes pela cidade de vila rica em 1787-1788.Depois da inconfidência mineira , essas cartas nunca mais apareceram pela cidade,o que fez supor que seus autores ou seu autor fosse um dos poetas árcades presos: Cláudio Manuel da costa, Tomás Antonio Gonzaga ou Alvarenga Peixoto.Estudos estudos estilísticos feitos no século XX pelo especialista português Rodrigues lapa atribuíram a autoria delas a Tomás Antonio Gonzaga. A omissão da autoria das cartas chilenas decorre do risco resultante de seu conteúdo:elas satirizaram os desmando administrativo e morais de Luís da cunha Meneses ,que governou a capitania de minas entre 1783 e 1788. A obra é um jogo de disfarces:fanfarrão MINÉSIO é o pseudônimo do governador;chilenas equivale a mineiras; Santiago, de onde são assinadas, equivale a vila rica.O autor das cartas é identificado como CRITILO,e seu destinatário,como DOROTEU. As cartas chilenas são a principal expressão satíricas da literatura colonial do século XVIII.trilhando os caminhos abertos por Gregório de matos, Gonzaga da continuidade a irregular tradição satírica de nossa literatura, ao mesmo tempo que oferece a historiografia um rico painel social e política daquele dois anos que procederam a inconfidência mineira.Embora a critica do poema tenha como alvo apenas o governador e seus assessores, e não o colonialismo português, fica clara a fragilidade da estrutura colonial e os abuso de pode praticado pela coroa. Apesar de se supor que o poema tenha escrito para ser distribuído por vila rica em forma de panfletos, sua qualidade apresenta certo regularidade, só raramente caindo no panfletário.E,como se constatou, o poema ainda mantém alguma atualidade, acostumados que estamos a muitos fanfarrões.

Basílio da gama e o nativismo indianista Basílio da gama (1741-1795) nasceu em minas gerais,na cidade hoje chamada Tiradentes. Estudou em colégio jesuíta,no rio de janeiro,e tinha intenção de ingressar na carreira eclesiástica.Completou seus estudos em Portugal e na Itália,no período em que os jesuítas foram expulso dos domínios portugueses.Na Itália, Basílio construiu uma carreira literária, tendo conseguido uma façanha única entre os brasileiro da época:ingressar na Arcádia romana, na qual assumiu o pseudônimo de Termindo Sipílio.

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Em 1767 voltou ao rio de janeiro,onde foi preso no ano seguinte, acusado de ter ligação com os jesuíta.De acordo com um decreto então em vigor,qualquer pessoa que mantivesse comunicação com os jesuítas,oral ou escrita, deveria ficar exilada por oito anos,em argola.Preso, Basílio da gama foi levado a Lisboa.lá livrou-se da prisão por fazer um poema em homenagem á filha do conde de OEIRAS,futuro marques de pombal.Essas amizades lhe possibilitou ter novos contatos com os árcades portugueses e lhe permitiu escrever sua obra máxima, o Uraguai.

O URAGUAI Publicado em 1769, o Uraguai é considerado a melhor realização no gênero épico no arcadismo brasileiro.Seu tema é luta de portugueses e espanhóis contra índios e jesuítas que, instalados nas missões jesuíticas do atual rio grande do sul, não queriam aceitar as decisões do tratador de Madri.

A QUEBRA DO MODELO CLÁSSICO A luta travada por portugueses e espanhóis contra índios e jesuítas é narrada por Basílio da gama deste os preparativos até sua conclusão.Os contos apresentam esta seqüência de fatos:

° Canto I:as tropas aliadas se reúnem para combater os índios e os jesuítas.°canto II:o exercito avança e há uma tentativa de negociação como os chefes indígenas cepé e Cacambo.Sem acordo,trata-se a luta,que termina com derrota e retirada dos índios. °Canto III:Cacambo a teia fogo a vegetação em volta do acampamento aliado e foge para sua aldeia.O padre balda, vilão da historia, faz prender e matar Cacambo para que seu filho sacrílego Baldeta possa cassar-se com Lindóia, esposa de Cacambo, e tomar a posição do chefe indígena morto.Lindóia, em uma visão, prevê o terremoto de Lisboa e a expulsão dos jesuítas por pombal. ° Canto IV: o mais bonito dos cinco cantos, nele são retratados os preparativos do casamento de3 Baldeta com Lindoia.Esta,chorando a morte do marido e não desejando casar-se, entra num bosque e deixa-se picar uma por uma cobra venenosa.Chegam os brancos, que cercam a aldeia.Todos fogem; antes, porem,os padres mandam queimar as casas e a igreja.° Canto V: o líder português Gomes Freire de aAndrade prende os inimigos na aldeia próxima, e há referencia ao domínio universal da companhia de Jesus e a seus crimes. Escrito em apenas cinco cantos, com a utilização de versos brancos (sem rima)e sem estrofação, o uraguai não segue a estrutura camoniana de os lusíadas.Alem disso, embora apresente as cinco partes tradicionais das epopéias-proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo-,o poema já se inicia com ação e pleno desenvolvimento: ”Fumam ainda nas desertas praias Lagos de sangue tépidos impuros Em que ondeiam cadáveres despidos, Pasto de corvos.Dura inda nos vales O rouco som da irada artilharia”.

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Fato de o autor tratar de um episódio histórico recente (na época, ocorrido havia pouco mais de vez anos)é outro aspecto que diferencia o Uraguai dos poemas épicos tradicionais QUEM É O HERÓI DA HISTÓRIA ?

Pelo fato de Uraguai ser uma obra de intenções épicas, seria de esperar que nela tivessem destaque os movimentos de guerra e os atos de heroísmo.Contudo,não e o que se verifica.Ao contrário, a própria guerra a ser questionada como meio de atuação política,o que revela uma postura tipicamente iluminista parte do autor,cujas idéias coincidem com as de seu amigo Marques de pombal.

Observe :

”Vinha logo de guardas rodeado, Fonte de crimes,militar tesouro, Por quem deixa no rego curto arado O Lavrador que não conhece a glória; E vendendo vil preço o sangue que a vida Move,e nem sabe por que move a guerra”.

O Herói português Gomes freire de Andrade, o líder das tropas luso-espanholas,também não mostra o entusiasmo dos Heróis épicos tradicionais:

“...Descontente e triste Marchava o general:não sofre peito Compadecido e generosa avista Daqueles frios e sagrados corpos,Vítimas da ambição de injusto império” Apesar da postura de critica á guerra manifestada pelo autor, o fato histórico

narrado não é alterado, e espanhóis e portugueses saem vencedores da batalha.Do lado inimigo, apenas os jesuítas são verdadeiramente tratados no poema

como vilões- outro traço da obra que satisfaz os interesses do Marques do pombal.Os índios derrotados são vistos com simpatia.Talvez até se possa dizer que o

autor enfoca os Índios como vitimas da ação jesuíticas na região e dos conflitos que ela resultaram.

Destacadas a força e a coragem Indígena ficam claro que a derrota se da apenas em virtude da desigualdade de armas. O Índio seria uma espécie de Herói moral da luta, dadas suas qualidades de caráter conforme mostram estes versos:

“Fez proezas sepé naquele dia.Conhecido de todos,no perigoMostrava descoberto o rosto e o peitoforçando seus co exemplos e Coas palavra”.

O poema não enfatiza a guerra em si, nem as ações dos vencedores, nem os vilões jesuítas- tratados caricaturalcamente.Ganham destaque, de fato, a descrição física e moral do Índio o choque de cultura e paisagem nacional.Além disso,o autor cria

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passagens de forte lirismo, como a do episódio da morte de Lindoia.Observe a valorização as paisagem brasileira nestes versos:

“Que alegre cena para os olhos!podem Daquela altura, por espaço imenso,Ver as longas campinas retalhadasDe TRÊMULOS ribeiros, claras fortes, E lagos cristalinos, onde molha As leves asas o lascivo vento.Engraçados outeiros, fundos vales,Verde teatro, onde se admira quanto Produziu a supérflua natureza”.

A valorizando do Índio e da natureza selvagem do Brasil corresponde ideal de vida primitiva e natural cultivado pelos iluministas e pelos Árcades.Por outro lado,porem,esses aspectos, que podemos chamar de nativistas, prenunciam as tendências da literatura do século XIX: o romantismo.

SANTA RITA DURÃO

O frei santa Rita dura (1722?-1784) na cidade de mariana, em minas gerais.Como Basílio da gama,estudou no colégio dos Jesuítas e completou seus estudos em Portugal.Lá ingressou na vida religiosa e tornou-se professor de teologia.

Afirmando que a razão do poema caramuru era ”o amor á Pátria”,santa Rita, embora tenham passado a maior parte de sua vida em Portugal, confirma a tendência nativista de seu poema.

CARAMURU: UM RETROCESSO?

O poema de santa Rita durão foi publicado em 1781, portanto doze anos depois de o Uraguai.É provável que santa Rita tenha sido estimulado pela publicado de Basílio da gama, porem há diferencias fundamentais entre os dois poemas.

Santa Rita, sendo religiosos, não apresentam o anti-jesuitismo de seu colega.Ao contrario valoriza a ação catequética dos jesuítas sobre os Índios dando a ela um enfoque inteiramente Cristão.

Do ponto de vista literário,as liberdades formais e líricas de que Basílio da Gama fez uso são ignoradas por santa Rita.O poema caramuru segue rigidamente o modelo camoniano:apresenta dez cantos,estrofes em oitava-rima,versos de decassílabos e estrutura convencional.E,como em cCamões, há nele a presença das mitologias cristã e pagã, esta representada por deuses indígenas, em vez de deuses greco-latinos.

Santa Rita, apesar de distante do Brasil desde os 9 anos, procura retratar a natureza brasileira, descrevendo o clima, a fertilidade da terra, as riquezas naturais.Assim, alia-se á tradição dos cronistas e viajantes que descreveram a colônia no século XVI.Interessas-se particularmente pelo indígena, descreve seus costumes e instituições e ressalta sua catequese.Contudo,percebe-se em seu poema certo artificialismo,próprio de quem leu sobre o país,mas não vivenciou o que descreve.Por isso, caramuru é considerado um poema inferior a o uraguai e, de certa forma, um retrocesso do ponto de vista temático e estilístico.

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O TEMA DE CARAMURU

O poema narra as aventuras, em partes históricas, em parte lendárias, do náufrago português Diogo Álvares correia, o caramuru.Em meio ás aventuras do protagonista, o autor aproveita para fazer uma longa descrição das qualidades da terra, como neste versos:

“Não são menos que as outras saborosas As várias frutas do Brasil campestres;Com gala de ouro e púrpura vistosas Brilha a mangaba e os mocujés silvestres”.

Ou dos costumes Indígenas, enfocados pela ótica cristã:

“Que horror da humanidade! Ver tragada Da própria espécie a carne já corruta!Quando não deve a Europa abençoada A fé do redentor, que humilde escuta!”

Caramuru, como o uraguai, apresenta, em meio á narrativa épica, momentos líricos de significava beleza, nos quais, ao lado de aspectos próprios da cultura Indígena, aparece o tema universal da morte por amor.


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