UNISALESIANO
Centro Universitário católico Unisalesiano Auxilium
Curso Pedagogia
Nilza Dias Klemper
A PSICOMOTRICIDADE COMO FERRAMENTA NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
LINS - SP
2013
NILZA DIAS KLEMPER
A PSICOMOTRICIDADE COMO FERRAMENTA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, curso de Pedagogia, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Fabiana Sayuri Sameshima e orientação técnica da Profª Esp. Érica Cristiane dos Santos Campaner.
LINS – SP
2013
NILZA DIAS KLEMPER
A PSICOMOTRIDADE COMO FERRAMENTA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium,
para obtenção do titulo de Licenciada em Pedagogia.
Aprovada em:__/__/__
Banca Examinadora:
Profa. Orientadora: Dra. Fabiana Sayuri Sameshima
Titulação: Doutora em Educação pela UNESP/Marília
1º Prof. (a): ______________________________________________________
_______________________________________________________________
Titulação:_______________________________________________________
_______________________________________________________________
Assinatura:__________________
2º Prof. (a): ______________________________________________________
_______________________________________________________________
Titulação:_______________________________________________________
_______________________________________________________________
Assinatura:__________________
In Memorian: Aos meus pais EDUARDO E CONCEIÇÃO,
que em todos os momentos difíceis de minha vida, têm
intercedido junto a DEUS, pelo meu sucesso e felicidade.
A pessoa mais especial deste mundo, CELSO, por todo
amor, carinho, compreensão e incentivo, pelos
momentos de angústias e preocupações causados por
mim, pelas minhas ausências durante a realização deste
trabalho, dedico-lhe essa conquista com gratidão e
amor.
Às minhas filhas CHARLLENE E GABRIELLA e neta
ISABELLA, que tanto sofreram com minha ausência.
AGRADECIMENTOS
Quero agradecer, em primeiro lugar, a Deus, pela força e
coragem durante toda esta longa caminhada.
A minha família pela fé e confiança demonstrada.
Aos meus amigos pelo apoio incondicional.
Aos professores pelo simples fato de estarem dispostos a
ensinar.
Aos orientadores pela paciência demonstrada no decorrer
do trabalho.
Enfim a todos que de alguma forma tornaram este
caminho mais fácil de ser percorrido.
RESUMO
A psicomotricidade é o psico (mente) que interage com o motor
(motricidade) permitindo ao indivíduo adaptar-se harmoniosamente ao meio que o cerca, destacando a afinidade que existe entre motricidade, mente e afetividade. Esses aspectos devem fazer parte do planejamento do professor, para que auxilie o aluno no desenvolvimento das habilidades motoras, cognitivas, sociais afetivas e de aprendizagem, ou seja, em sua formação global. Nesse sentido, o objetivo desse trabalho foi identificar na literatura, materiais de orientação aos professores a respeito da psicomotricidade, sua importância e exemplos de atividades para realização em sala de aula. Trata-se de uma pesquisa de caráter bibliográfico, sucedido do desenvolvimento de um material instrucional para educadores. A pesquisa foi dividida em três capítulos, sendo qual o primeiro e segundo capítulos foram abordadas a importância da psicomotricidade e suas etapas e fases de desenvolvimento, assim como o papel do professor na atuação adequada com os elementos que a compõem. O terceiro capítulo foi o desenvolvimento da pesquisa. A coleta de dados foi dividida em dois procedimentos; o primeiro identificou os temas para a composição do manual e o segundo abordou o desenvolvimento do manual de atividades psicomotoras. Os resultados do estudo apontaram uma escassez de materiais que orientem e auxiliem o professor, nas atividades realizadas em sala de aula, com foco na aprendizagem correlacionada às habilidades motoras, afetivas e cognitivas, além da falta de informações sobre a importância do tema exposto. Frente a essa escassez de material instrumental, foi elaborado um manual de orientação aos professores, com exemplos de atividades psicomotoras de motricidade fina, óculo-manual e orientação espacial. Este material pode ser utilizado como norteador na prática pedagógica do professor. Palavras-chaves: Psicomotricidade. Manual de orientação. Aprendizagem. Educação Infantil.
ABSTRACT
Psychomotor learning is the relationship between cognitive functions and physical movement. It allows the individual to adapt himself/herself to the environment that surrounds him/her, ensuring the affinity that exists between physical movement, cognitive functions and affection. These aspects must be part of the teacher´s programming in order to assist the student during his/her development regarding the motor, cognitive, social affective and learning skills on their general form. Therefore, the objective of this study was to identify on literature some guidance tools for teachers concerning the psychomotor learning, its importance as well as some examples of activities that may be performed in the classroom. This research has a bibliographical character and leaded the development of an instructional material for educators. The research was divided into three chapters. The first two of them pointed out the importance of the psychomotor learning and its levels and development stages, specifying the role of the teacher in an adequate performance of the elements that composes it. The third chapter was about the research development. The data collection was divided into two procedures. The first one identified the themes to compose the manual and the second one related the development of the psychomotor activities manual. The results of the study showed a scarcity of guidance tools that assist and help the teacher during the performance of the activity in the classroom that focuses on the learning related to the motor, affective and cognitive skills. Besides, there is a lack of information about the importance of the theme that was presented. Facing this scarcity of an instrumental material a manual to guide the teachers was elaborated with examples of fine psychomotor, ocular manual and special guidance activities. This material can be used as a lead to the pedagogical practice of the teacher.
Key-words: Psychomotor learning. Guidance manual. Learning. Nursery education.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - As fases do desenvolvimento ........................................................... 16
Figura 2 - Caça ao tênis (atividade 1) ............................................................... 39
Figura 3 - Boliche maluco (atividade 2) ............................................................. 40
Figura 4 - Bolas atrás (atividade 3) ................................................................... 41
Figura 5 - Massa de modelar (atividade 4) ....................................................... 42
Figura 6 - Argolas coloridas (atividade 5) ......................................................... 43
Figura 7 -Quebra-cabeça (atividade 6) ............................................................. 44
Figura 8 - Desenho de bolinha (atividade 7) ..................................................... 45
Figura 9 - Corrida de obstáculos (atividade 8) .................................................. 46
Figura 10 - Seguir as sombras (atividade 9) ..................................................... 47
Figura 11 - Pinguim maluco (atividade 10) ....................................................... 48
SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................. 11
CAPÍTULO I - PSICOMOTRICIDADE .............................................................. 13
1 CONCEITOS ......................................................................................... 13
1.1 Desenvolvimento psicomotor .................................................................. 14
1.2 Fases do desenvolvimento motor ........................................................... 16
1.2.1 Fase motora reflexiva.............................................................................. 17
1.2.2 Fase motora rudimentar .......................................................................... 18
1.2.3 Fase motora de movimento fundamentais .............................................. 19
1.2.4 Fase de movimento especializados ........................................................ 20
1.3 Elementos básicos da psicomotricidade ................................................. 21
1.3.1 Equilíbrio ................................................................................................. 22
1.3.2 Coordenação motora global .................................................................... 22
1.3.3 Coordenação motora fina........................................................................ 23
1.3.4 Coordenação óculo-manual ou viso-motora ........................................... 23
1.3.5 Esquema corporal ................................................................................... 24
1.3.6 Lateralidade ............................................................................................ 24
1.3.7 Estruturação espacial.............................................................................. 25
1.3.8 Estruturação temporal ............................................................................. 25
1.4 Educação psicomotora............................................................................ 26
CAPÍTULO II – 0 PAPEL DO PROFESSOR E O DESENVOLVIMENTO DA
PSICOMOTRICIDADE ..................................................................................... 29
2 O PROFESSOR E A PSICOMOTRICIDADE .......................................... 29
CAPÍTULO III – A PESQUISA .......................................................................... 34
3 METODOLOGIA ...................................................................................... 34
3.1 Primeiro procedimento: identificação de temas para compor o manual ... 34
3.1.1 Primeira etapa .......................................................................................... 34
3.1.2 Segunda etapa: busca em bibliotecas virtuais ...................................... 35
3.1.3 Terceira etapa: busca em base de dados ............................................. 35
3.1.4 Quarta etapa: conversas informais com terapeutas ocupacionais ........ 36
3.1.5 Quinta etapa: pesquisa em sites .......................................................... 36
3.2 Segundo procedimento: desenvolvimento do manual de atividades
psicomotoras..................................................................................................... 37
3.3 Atividades propostas no manual .......................................................... 38
3.3.1 Atividades para desenvolver a motricidade fina ................................... 39
3.3.3 Atividades para desenvolver a estruturação espacial .......................... 46
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ..................................................................... 50
CONCLUSÃO ................................................................................................... 51
REFERENCIAS ................................................................................................ 53
11
INTRODUÇÃO
O desenvolvimento psicomotor é um tema com amplo leque para estudo,
tendo várias etapas a serem consideradas, com uma sequência de mudanças
que dependem do amadurecimento do organismo (intelectual, motor e afetivo),
onde o ‘querer fazer’ está ligado às respostas dos músculos, tendo em mente
os domínios de raciocínio, sentimento e físico. Esses domínios podem interferir
de alguma forma no desenvolvimento psicomotor.
O organismo humano tem seu próprio calendário maturativo que começa
no momento da concepção. Esse calendário é uma oportunidade para a
estimulação. O feto, durante a gravidez, da sinais de vida através de
movimentos e, após o nascimento, diariamente podem-se observar mudanças
maturativas da criança, que sempre surpreendem. A relação que o movimento
tem com seu fim evolui e se aperfeiçoa permanentemente, tendo como
resultado a modificação na estrutura do ser humano.
O educador entra nesse meio como um agente importante, que favorece
o desenvolvimento psicomotor. É primordial, no entanto, que ele conheça como
e quando ocorrem as etapas do desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM)
normal, reconhecendo simples dificuldades, como postura errada, falta de
concentração, atenção, coordenação motora, preensão, entre outras. Essa
interferência, se por um lado é de suma importância no processo de
desenvolvimento, por outro pode levar o profissional a diagnosticar de forma
errônea a criança, indicando um distúrbio equivocado, por exemplo, dislexia,
déficit de atenção, entre outros.
Cabe ao professor detectar tais dificuldades, e fazer o encaminhamento
para os profissionais especialistas, que orientarão a família, os professores e o
próprio aluno, sobre a maneira adequada de intervenção e atividades que
favoreçam as habilidades necessárias para o desenvolvimento global do
mesmo.
Frente a essa realidade, os professores estão preparados para trabalhar
a psicomotricidade em sala de aula? Os guias, manuais e folhetos informativos
cumprem seu papel enquanto instrumentos de orientação?
Nesse contexto, o objetivo do trabalho foi identificar na literatura,
12
materiais de orientação aos professores a respeito da psicomotricidade, sua
importância e exemplos de atividades para sala de aula.
Para atingir os objetivos propostos, este estudo foi divido em capítulos,
que serão apresentados a seguir.
No primeiro capítulo são apresentadas as teorias e os conceitos sobre o
desenvolvimento psicomotor, conceituando cada fase e exemplificando-as.
No segundo capítulo é abordada a importância do papel do professor na
estimulação de atividades psicomotoras para o desenvolvimento global da
criança.
A proposta de intervenção é desenvolvida no terceiro capítulo, que foi
dividido em dois procedimentos, sendo: I Procedimento: identificação de temas
para compor o manual; subdivido em cinco etapas e II Procedimento:
desenvolvimento de manual de atividades psicomotoras.
Os resultados identificados neste trabalho possibilitaram a confecção de
um manual de orientação aos professores sobre as atividades psicomotoras,
que podem ser aplicadas em sala de aula. Trabalhos futuros são necessários,
para averiguar a funcionalidade desse manual pelos educadores.
13
CAPÍTULO I
PSICOMOTRICIDADE
1 CONCEITOS
Psicomotricidade envolve a ação realizada pelo indivíduo como um
todo; representa suas necessidades e da liberdade para que seja estabelecida
uma relação com os demais. É a integração psiquismo-motricidade; conexão
entre o psiquismo que pode ser descrito como o conjunto de sensações,
percepções, pensamentos, afeto, imagens entre outros e da motricidade que
pode ser considerada o resultado do comando do sistema nervoso sobre os
músculos em resposta a esse comando. (ALVES, 2008)
A psicomotricidade também pode ser analisada por meio do movimento
do corpo em relação ao meio em que está. Segundo Mello (1989) “a
psicomotricidade é a ciência que estuda o homem, através de seu corpo em
movimento relacionando-se ao mundo, tanto pelo interno quanto pelo externo”.
Existem duas leis que fundamentam o desenvolvimento motor: a do
desenvolvimento céfalo caudal, que seria a evolução psicomotora da criança,
indo da cabeça para os membros inferiores do corpo e a lei do
desenvolvimento próximo distal, descrita pela sequência evolutiva direcionada
do corpo para as extremidades dos membros. (MELLO, 1989)
A psicomotricidade permite ao homem sentir-se bem consigo mesmo,
permite que se assuma como realidade corporal, possibilitando-lhe a livre
expressão de seu ser. Ela é uma forma de ajudar a criança a superar suas
dificuldades e precaver possíveis inadaptações. (OLIVEIRA, 2002)
O movimento, assim como o exercício, é vital para o desenvolvimento
físico, intelectual e emocional da criança, permitindo que ela descubra o mundo
exterior por meio de várias experiências, as quais possibilitam a construção de
noções básicas para o desenvolvimento intelectual. É de extrema importância
que a criança viva o concreto. (ALVES, 2008)
A criança desenvolve tanto a consciência de si quanto do mundo a sua
volta por meio da exploração. Ela se desenvolve desde os primeiro dias de
14
vida, de maneira contínua (ALVES, 2008). O ser humano não é feito de uma só
vez, mas se constrói pouco a pouco, por meio da ação com o meio e de suas
próprias realizações e, nessa construção a psicomotricidade realiza um papel
fundamental. (ALVES, 2008)
Assim, a psicomotricidade permite ao indivíduo adaptar-se
harmoniosamente ao meio que o cerca, destacando a afinidade que existe
entre motricidade, mente e afetividade.
Portanto, pode-se assegurar que o desenvolvimento motor é obtido e
aperfeiçoado pela criança por meio de tentativas e erros, ou seja, ela usa,
transforma e adapta suas experiências sensório-motoras presentes, sempre na
dependência da direção e do input sensorial, provido pela visão, audição, tato,
preensão e propriocepção.
A condição da atividade motora é de grande importância no
desenvolvimento global da criança, considerando que um bom controle motor
permitirá a ela explorar seu meio, oferecendo-lhe experiências concretas sobre
as quais se formarão os conhecimentos básicos para o seu desenvolvimento
intelectual.
O desenvolvimento funcional de todo o corpo e suas partes é
englobado pelo desenvolvimento psicomotor.
A estimulação do desenvolvimento psicomotor é essencial para que
haja consciência dos movimentos corporais associados com a emoção e
expressados pelo movimento, o que proporciona ao ser uma consciência de
indivíduo integral.
1.1 Desenvolvimento psicomotor
O desenvolvimento psicomotor não deve ser considerado apenas
segundo um quadro de maturação neurológico, mas como resultado de um
processo reacional e relacional complexo. (ALVES, 2008)
O desenvolvimento psicomotor ocorre em conjunto com os aspectos
motor, intelectual, emocional e expressivo, objetivando assim a concepção de
um individuo comunicativo, criativo e operativo.
Desde o momento da concepção, o organismo humano tem
15
uma lógica biológica, uma organização, um calendário maturativo e evolutivo, uma porta aberta à interação e à estimulação. Entre o nascimento e a idade adulta se produzem, no organismo humano, profundas modificações. As possibilidades motoras da criança evoluem amplamente de acordo com sua idade e chegam a ser cada vez mais variadas, completas e complexas. (ROSA, 2002 p. 11)
Oliveira (2002) pontua que “o desenvolvimento psicomotor aparece no
nascimento e se estende gradativamente de acordo com o conhecimento que a
criança possui em explorar o que a rodeia.”
Para Payne; Isaacs (2007), desenvolvimento motor é o estudo das
alterações que ocorrem no comportamento motor humano durante as várias
fases da vida, os processos que servem de apoio para essas mudanças e os
fatores que o afetam.
Para Gallahue; Ozmun (2003), “o desenvolvimento motor é a contínua
alteração no comportamento ao longo do ciclo da vida, realizado pela interação
entre as necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo e as condições do
ambiente.”
Esse processo do desenvolvimento motor se mostra de uma forma
simples por meio de mudanças no comportamento motor.
Os humanos estão envolvidos com esse processo permanente de
aprender a movimentar-se, com controle e competência, como uma reação aos
desafios diários que surgem no mundo, em constante mutação, onde o
comportamento motor observável real de um indivíduo forma um tipo de janela
para esse processo.
Esse movimento observável se agrupa em três categorias: movimentos
estabilizadores (que seria qualquer movimento que exige algum grau especifico
de equilíbrio), movimentos locomotores (são movimento que permitem ao
individuo se movimentar relativamente a um ponto fixo no chão) e os
movimentos manipulativos (refere-se à manipulação rudimentar e à
manipulação refinada).
Gallahue; Ozmun (2003) propõe um modelo de desenvolvimento,
identificando estágios específicos observados em quatro grandes fases: fases
dos movimentos reflexos, fase dos movimentos rudimentares, fase dos
movimentos fundamentais e fase dos movimentos especializados.
À medida que as crianças vão crescendo, estas passam por diversos
16
estágios de desenvolvimento. Cada um deles dá à criança os alicerces da
inteligência, da moral, da saúde emocional e das competências escolares.
Segundo Gallahue; Ozmun (2003), o processo de desenvolvimento
motor pode ser considerado sob aspectos de fases e de estágios.
Para cada estágio são necessários determinados requisitos e
experiências, isso para que a criança consiga aprender e a se desenvolver.
Desse modo são imprescindíveis as interações que a criança estabelece ao
longo desses estágios. .
Embora a sequência de aquisições dessas fases e estágios seja igual
para todos, a velocidade com que aparecem não é. Podem ocorrer muitas
variações de uma criança para outra, pois, todas apresentam competências
diferentes. Um modelo único não deve ser embasado como norma, serve
apenas como indicativo.
Figura 1 - As fases do desenvolvimento
Fonte: GALLAHUE; OZMUN, 2003, p.100
1.2 Fases do desenvolvimento motor
17
A seguir serão explicadas cada fase e estágios do desenvolvimento
motor.
1.2.1 Fase motora reflexiva
Os reflexos são movimentos involuntários, controlados
subcorticalmante, que aperfeiçoam a base para as fases do desenvolvimento
motor.
A partir da atividade de reflexos, o bebê obtém informações sobre o ambiente imediato. As reações do bebê ao toque, à luz, a sons e alterações na pressão provocam atividade motora involuntária. Esses movimentos involuntários e a crescente sofisticação cortical nos primeiros meses de vida pós natal desenpenham importante papel para auxiliar a criança a aprender mais sobre seu corpo e o mundo exterior. (GALLAHUE; OZMUN, 2003 p. 99)
Os reflexos primitivos podem ser entendidos como juntadores de
informações, buscadores de alimentação e de reações protetoras.
São agrupadores de informações à medida que auxiliam a estimular a atividade cortical e o desenvolvimento. São caçadores de alimentação e protetores porque há consideráveis evidências filogenéticos por natureza. Os reflexos primitivos, como os reflexos de sugar e de pesquisar pelo olfato, são considerados mecanismos de sobrevivência primitivos. Sem eles, o recém-nascido seria incapaz de obter alimento. (GALLAHUE; OZMUN, 2003 p. 100)
Os reflexos posturais compõem a segunda forma de movimento
involuntário e são notavelmente iguais, na aparência, a comportamentos
voluntários posteriores, mas são absolutamente involuntários.
Esses reflexos parecem servir como equipamentos de teste neuromotores para mecanismos estabilizadores, locomotores e manipulativos que serão usados mais tarde com controle consciente (GALLAHUE; OZMUN, 2003, p.100)
O reflexo primário de pisar e o reflexo de arrastar-se, por exemplo,
recordam fortemente os comportamentos de caminhar voluntário futuro e de
engatinhar.
O reflexo palmar de agarrar é intimamente pertinente aos
comportamentos voluntários futuros de agarrar e soltar.
A fase reflexiva pode ser dividida em dois estágios, sendo o estágio de
codificação de informações e o estágio de decodificação de informações.
18
O estágio de codificação de informações é marcado por atividade
motora involuntária durante a fase fetal até aproximadamente o quarto mês
pós-natal.
Nesse estágio, os centros cerebrais inferiores são mais altamente desenvolvido que o córtex motor e estão essencialmente no comando do movimento fetal e neonatal. Esses centros cerebrais são capazes de causar reações involuntárias a inúmeros estímulos de intensidade e duração variadas. (GALLAUHE; OZMUN, 2003, p.101)
A partir desse momento os reflexos servem de meios primários, no
qual o bebê consegue reunir informações, procurar alimentos e achar proteção
em seus movimentos.
O estágio de decodificação de informações começa aproximadamente
no quarto mês de vida.
Nesse período, há gradual inibição de muitos reflexos à medida que os centros cerebrais superiores continuam a desenvolver-se. Os centros cerebrais inferiores gradualmente cedem o controle sobre os movimentos esqueletais e são substituídos por atividade motora voluntária mediada pela área motora do córtex cerebral. O estágio de decodificação substitui a atividade sensório-motora por habilidade motora perceptiva. (GALLAHUE; OZMUN, 2003, p.101)
O aumento do domínio voluntário dos movimentos do bebê abrange a
organização dos estímulos sensoriais com informações armazenadas, e não
meramente a reações aos estímulos.
1.2.2 Fase motora rudimentar
Os movimentos rudimentares são os primeiros movimentos voluntários
na criança, desde o nascimento até, aproximadamente, a idade de 2 anos.
Os movimentos rudimentares são determinados de forma maturacional e caracterizam-se por uma sequência de aparecimento altamente previsível. Esta sequência é resistente a alterações em condições normais. O nível com que essas habilidades aparecem, porém, varia de criança a criança e depende de fatores biológicos, ambientais e da tarefa. (GALLAHUE; OZMUN, 2003, p. 102)
As destrezas motoras rudimentares do bebê constituem as formas
básicas de movimentos voluntários que são imprescindíveis para a
sobrevivência. Essa fase também pode ser dividida em dois estágios.
19
O primeiro estágio é denominado de estágio de inibição de reflexos,
que se inicia no nascimento.
No nascimento, os reflexos dominam o repertório de movimento do bebê. Dali em diante, entretanto, os movimentos do bebê são crescentemente influenciados pelo córtex em desenvolvimento. O desenvolvimento do córtex e a diminuição de certas restrições ambientais fazem com que vários reflexos sejam inibidos e gradualmente desapareçam. (GALLAHUE; OZMUN, 2003, p.102)
Ou seja, os reflexos primitivos e posturais são trocados por
desempenhos motores voluntários.
Estágio de pré-controle é o segundo estágio, que ocorre por volta de 01
ano de idade, no qual as crianças começam a ter precisão e domínio sobre
seus movimentos.
O processo de diferenciação entre os sistemas sensorial e motor e a integração de informações motoras e perceptivas, em um todos mais significado e coerente, acontecem. O rápido desenvolvimento tanto de processos cognitivos superiores quanto de processos motores encoraja rápidos ganhos nas habilidades motoras rudimentares neste estágio. (GALLAHUE: OZMUN, 2003 p. 102)
Nesse estágio as crianças aprendem a alcançar e a conservar seu
equilíbrio, a manusear objetos e a locomover-se pelo ambiente com
extraordinário grau de destreza e controle, considerando-se o curto tempo que
tiveram para ampliar essas capacidades.
1.2.3 Fase motora de movimento fundamentais
As habilidades motoras fundamentais são os resultados da fase de
movimentos rudimentares do período neonatal. Essa fase do desenvolvimento
motor representa um momento no qual as crianças pequenas estão envolvidas
ativamente na exploração e na experimentação das competências motoras de
seus corpos.
É um período para descobrir como desempenhar uma variedade de movimentos estabilizadores, locomotores e manipulativos, primeiro isoladamente e, então, de modo combinado. As crianças que estão desenvolvendo padrões fundamentais de movimento estão aprendendo a reagir com controle motor e competência motora a vários estímulos. Estão obedecendo a crescente controle para desempenhar movimentos discretos, em séries e contínuos, como fica evidenciado por sua habilidade em aceitar alterações nas exigências da tarefa. (GALLAHUE; OZMUN, 2003, p.103)
20
As atividades locomotoras, como correr e pular; manipulativas, como
arremessar, apanhar e estabilizadoras, como andar com firmeza e o equilíbrio
em um pé só, são modelos de movimentos fundamentais que precisam ser
desenvolvidos nos primeiros anos da infância.
A fase de movimentos fundamentais apresenta três estágios, descritos
a seguir.
O Estágio Inicial ocorre por volta do 2 anos de idade. Representa as
primeiras tentativas da criança dirigida para o objetivo de realizar uma destreza
fundamental. O movimento é caracterizado por dados que faltam ou que são
impróprios, marcadamente seqüenciados e limitados pelo uso excessivo do
corpo.
O segundo estágio- Estágio Elementar- acontece por volta dos 3 ou 4
anos de idade. Envolve maior controle e melhor coordenação dos movimentos
fundamentais; nesse estágio os padrões de movimento são ainda geralmente
limitados ou aumentados, embora bem mais organizados.
O último estágio, denominado de estágio maduro, ocorre por volta dos
5 ou 6 anos de idade. É marcado por comportamento mecanicamente
competente, coordenado e controlado.
1.2.4 Fase de movimento especializado
A fase especializada do desenvolvimento motor é decorrente da fase
de movimentos fundamentais.
Na fase especializada, o movimento torna-se uma ferramenta que se aplica a muitas atividades motoras complexas presentes na vida diária, na recreação e nos objetivos esportivos. Esse é um período em que as habilidades estabilizadoras, locomotoras e manipulativas fundamentais são progressivamente refinadas, combinadas e elaboradas para o uso em situações crescentemente exigentes. (GALLAHUE; OZMUN, 2003, p.105)
A habilidade de saltar em um pé só e pular, por exemplo, agora podem
ser usado em brincadeiras de pular corda, amarelinha.
A fase de movimento especializado é dividida em três estágios, sendo
eles: transitório; aplicação e utilização permanente.
21
O Estágio Transitório ocorre por volta dos 7 ou 8 anos de idade. A
criança começa a ajustar e utilizar habilidades motoras fundamentais ao
realizar atividades especializadas no esporte e em ambientes recreativos. São
exemplos dessas habilidades: caminhar em ponte de cordas, pular corda e
jogar bola.
O Estágio de Aplicação acontece aproximadamente por volta dos 11
aos 13 anos. Mudanças importantes acontecem no desenvolvimento das
habilidades. No estágio de aplicação, o refinamento cognitivo crescente e
conhecimento ampliados tornam o indivíduo apto a tomar várias decisões de
aprendizado e de participação baseadas em experiências individuais e
ambientais. Por exemplo, a criança de 12 anos, que gosta de atividades em
grupo e de aplicar estratégias, pode escolher desenvolver suas habilidades
para jogar futebol, ou uma criança que não goste de jogos de equipe, pode
escolher atividades individuais como, por exemplo, a corrida.
O Estágio de Utilização Permanente começa por volta dos 14 anos de
idade e continua por toda a vida. Representa o cume do processo de
desenvolvimento motor e é marcado pelo uso dos movimentos adquiridos pelo
indivíduo. Em essência representa o ponto mais alto de todos os estágios e
fases precedentes. Ele deve, entretanto, ser considerado uma continuação do
processo permanente.
1.3 Elementos básicos da psicomotricidade
O desenvolvimento motor, o desenvolvimento intelectual e o
desenvolvimento afetivo estão fortemente ligados na criança. A
psicomotricidade quer exatamente enfatizar a relação existente entre a
motricidade, a mente e a afetividade, além de facilitar a abordagem global da
criança.
Os elementos básicos da psicomotricidade são: equilíbrio,
coordenação motora global, coordenação motora grossa, coordenação motora
fina, coordenação óculo-manual, esquema corporal, imagem corporal, conceito
corporal, lateralidade, estruturação espacial, estruturação temporal, percepção
visual e percepção auditiva, que serão conceituados a seguir.
22
1.3.1 Equilíbrio
Segundo Rosa (2002), o equilíbrio é a base fundamental de toda ação
diferenciada dos seguimentos corporais entre si e no seu todo.
Dessa forma não pode haver movimento sem atitude, como também
não pode haver coordenação de movimento sem um bom equilíbrio, pois isso
permite o ajustamento do homem ao meio. É um dos sentidos mais nobres do
corpo humano. (ALVES 2008)
Segundo Tubino (apud ALVES, 2008) equilíbrio é a colocação perfeita
do centro de ações musculares com o propósito de sustentar o corpo sobre
uma base.
Segundo Alves (2008) o equilíbrio pode ser classificado em dois tipos:
equilíbrio estático e equilíbrio dinâmico. O equilíbrio estático é definido como
movimentos não locomotores como, por exemplo, ficar em pé, apenas com as
pontas dos pés tocando o solo, com elevação dos calcanhares e os pés unidos.
Já o equilíbrio dinâmico consiste em movimentos locomotores como, por
exemplo, o andar em marcha normal sobre uma linha pré-delimitada.
1.3.2 Coordenação motora global
De acordo com Oliveira (2002) a coordenação global diz respeito à
atividade dos grandes músculos, dependendo da habilidade de equilíbrio
postural.
O indivíduo obtém seu eixo corporal por meio do movimento e das
experiências, procurando se adaptar e buscar um equilíbrio cada vez melhor,
tomando consciência de seu corpo e das posturas.
Quanto mais equilíbrio menos energia a atividade da pessoa consumirá
e suas ações serão mais coordenadas.
As diversas atividades permitem tomar consciência global do corpo,
como, por exemplo, andar, que requer equilíbrio e coordenação por ser um ato
neuromuscular; correr, que requer, além destes, resistência e força muscular; e
outras como saltar, rolar, pular.
23
O movimento motor global, seja ele mais simples, é um movimento sinestésico, tátil, labiríntico, visual, espacial, temporal, e assim por diante. Os movimentos dinâmicos corporais desempenham um importante papel na melhora dos comandos nervosos e no afinamento das sensações e das percepções. (ROSA, 2002, p.16)
Para a criança a coordenação e as experiências permitem a
dissociação de movimentos, ou seja, ela pode realizar vários movimentos no
mesmo período de tempo.
1.3.3 Coordenação motora fina
É a aptidão de movimentar os pequenos músculos para realizar
exercícios apurados. De uma forma mais simples é a realização de
movimentos precisos da mão e dos dedos, associados à manipulação de
objetos, que exige controle visual. Abrange as funções de programação,
regulação e verificação das atividades preensivas e manipulativas. Exemplos
desses exercícios é o recorte de papel, a colagem, o encaixe de peças e a
escrita.
É uma coordenação segmentar, normalmente com a utilização da mão exigindo precisão nos movimentos para a realização das tarefas complexas, utilizando também os pequenos grupos musculares (ALVES, 2008 p.58)
A condução da mão para um determinado objeto finaliza pelo ato de
segurar tal objeto, o que compreende uma das atividades mais complexas do
ser humano.
1.3.4 Coordenação óculo-manual ou viso-motora
É a capacidade de coordenar a visão com o movimento do corpo, ou
seja, visualizar o movimento antes de executar uma atividade.
A coordenação óculo-manual se efetua com precisão sobre a base de um domínio visual previamente estabelecido ligado aos gestos executados, facilitando, assim uma maior harmonia do movimento. (OLIVEIRA, 2002, p.43)
24
A coordenação viso-motora é a atividade mais frequente e mais comum
no ser humano, a qual atua para agarrar um objeto, para escrever, desenhar,
recortar e pintar, etc. Essa coordenação contém uma fase de transporte da
mão, seguida de uma fase de segurar e manipular o objeto, que resulta no
conjunto de três elementos: objeto, olho e mão.
1.3.5 Esquema corporal
É o conhecimento de cada parte do corpo, externa ou interna.
A construção do esquema corporal, isto é, a organização das sensações relativas a seu próprio corpo em associação com os dados do mundo exterior exerce um papel fundamental no desenvolvimento da criança, já que essa organização é o ponto de partida de suas diversas possibilidades de ação. Sendo assim, esquema corporal é a organização das sensações relativas a seu próprio corpo em associação com os dados do mundo exterior (ROSA, 2002, p. 20)
Imagem corporal é o conceito que cada pessoa tem sobre seu próprio
corpo e todas as suas partes; enquanto conhecimento corporal é o
conhecimento intelectual que o individuo tem sobre o próprio corpo.
1.3.6 Lateralidade
A lateralidade é a primazia do emprego de uma das partes simétricas
do corpo: mão, olho, ouvido, perna. Está em função do predomínio de um dos
dois hemisférios na iniciativa da organização do ato motor, que desembocará
na aprendizagem e na solidificação do conhecimento.
Essa atitude funcional, que é o suporte da intencionalidade, se
desenvolve de forma fundamental no momento da atividade de investigação,
onde a criança vai deparar-se com seu meio. É fundamental que a ação
educativa coloque a criança nas melhores condições para ascender a uma
lateralidade definida, respeitando fatores genéticos e ambientais, permitindo a
organização de suas atividades motoras.
A lateralidade é a propensão que o ser humano possui de utilizar preferencialmente mais um lado do corpo que o outro em três níveis: mão, olho e pé. Isto significa que existe um
25
predomínio motor, ou melhor, uma dominância de um dos lados. O lado dominante apresenta maior força muscular, mais precisão e mais rapidez. É ele que inicia e executa a ação principal. O outro lado auxilia esta ação e é igualmente importante. Na realidade os dois não funcionam isoladamente, mas de forma complementar. (OLIVEIRA, 2002, p. 63)
A lateralidade é de suma importância no desenvolvimento da criança,
pois implica a ideia que a criança tem de si mesma, na formação de seu
esquema corporal e na percepção da harmonia de seu corpo.
1.3.7 Estruturação espacial
É a noção que a criança tem do mundo exterior, começando do eu e
depois do que existe ao seu redor, como outros objetos ou pessoas em
repouso ou em movimento, ou seja, é quando a criança tem consciência da
relação existente entre o corpo e o meio. Segundo o autor:
Na vida cotidiana, utilizamos constantemente os dados sensoriais e perceptivos relativos ao espaço que nos rodeia. Esses dados sensoriais contem informações sobre as relações entre os objetos que ocupam o espaço; porém, é nessas atividades perceptiva, baseada na experiência do aprendizado, a que lhe dá um significado (ROSA, 2002, p.21)
A orientação espacial indica nossa habilidade para avaliar com
exatidão, à relação física entre nosso corpo e o ambiente, e para efetuar as
modificações no curso de nossos deslocamentos.
1.3.8 Estruturação temporal
É a aptidão de poder medir o tempo dentro de uma ação, saber
diferenciar o que é rápido e o que é lento e saber estabelecer o momento do
tempo em relação a outros. Conforme o autor:
O tempo, é antes de tudo, memória: à medida que leio, o tempo passa. Assim, aparecem os dois grandes componentes da organização temporal: a ordem e a duração que o ritmo reúne. A primeira define a sucessão que existe entre os acontecimentos que se produzem, uns sendo a continuação de outros, em uma ordem física irreversível; a segunda permite a
26
variação do intervalo que separa dois pontos, ou seja, o princípio e o fim de um acontecimento (ROSA, 2002, p.22)
A estruturação temporal garantirá ao indivíduo conhecimento de
acontecimentos passados e competência de lançar-se para o futuro,
construindo planos e decidindo sobre sua vida. A estruturação temporal
introduz o indivíduo no tempo, onde ele nasce, cresce e morre, e sua atividade
é um seguimento de transformações condicionadas pelas atividades diárias.
1.4 Educação psicomotora
Por meio da Psicomotricidade e dos órgãos dos sentidos, a criança
descobre o mundo e se autodescobre. (ALVES, 2008)
A educação psicomotora, na idade escolar, deve ser antes de tudo, uma
experiência ativa de comparação com o meio. O apoio educativo, vindo dos
pais e do meio escolar, tem a finalidade, não de ensinar a criança
procedimentos motores, mas sim de permitir-lhe exercer sua função de
adaptação, individualmente ou com outras crianças (LE BOULCH, 2001,
p.129)
A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de base na escola primária. Ela condiciona todos os aprendizados pré-escolares e escolares: leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço, há dominar o tempo, a adquiri habilmente a coordenação de seus gestos e movimentos. A educação psicomotora deve ser praticada desde a mais tenra: conduzida com perseverança, permite prevenir inadaptações, difíceis de corrigir quando já estruturadas (LE BOULCH, 2001, p.24)
A educação psicomotora pode ser entendida como preventiva, na
medida em que da condição à criança de se desenvolver melhor em seu meio.
É vista como reeducativa, quando trata de indivíduos que apresentam desde o
mais leve retardo motor até problemas mais graves. (OLIVEIRA, 2002).
A criança não nasce pronta, mas se constrói pouco a pouco, por meio
da interação como o meio e de suas próprias ações e a psicomotricidade
desempenha nesse processo um papel fundamental.
A psicomotricidade possui crescente importância nos trabalhos que se
27
relacionam com o desenvolvimento infantil.
É por meio da psicomotricidade que a criança atinge o domínio de seus
comandos motores e perceptivos motores, num conjunto de relação entre o
social afetivo, alcançando, como resultado, sentimentos de confiança em si
mesma, imprescindível à autoimagem. A psicomotricidade utiliza o movimento
como um meio e não como um fim a atingir, auxiliando a criança a adquirir
tanto percepções como conceitos e dando-lhe o conhecimento de seu corpo e
do mundo que a rodeia.
A psicomotricidade é, portanto, uma modalidade educativa global de
suma importância no desenvolvimento da criança, levando-a a tomar
consciência de si mesma, de seu espaço, de seu esquema corporal, de sua
coordenação, do domínio do tempo, de seus gestos e movimentos. (FARIA,
2004)
A educação psicomotora da à criança condições de desenvolver
habilidades básicas, aumentando seu potencial motor, utilizando o movimento
para atingir aquisições mais elaboradas.
Segundo Alves (2008), a criança, por meio do movimento e
aprendizagem, abre um espaço para:
a) desenvolver capacidades motoras que levam-na a aprender a
conhecer seu próprio corpo e a se movimentar significativamente;
b) desenvolver um saber corporal que deve incluir as dimensões do
movimento, que indiquem estados efetivos até representações de
movimentos mais elaborados de sentidos e ideias, oferecendo um
caminho para trocar afetividades;
c) promover a comunicação e a expressão das ideias;
d) possibilitar a exploração do mundo físico e o conhecimento do
espaço;
e) apropriar-se da imagem corporal;
f) desenvolver percepção rítmica, através de jogos corporais e danças;
g)desenvolver habilidades motoras finas, através de diversas
atividades que facilitem a escrita.
Na educação infantil, a prioridade deve ser ajudar a criança a ter uma
28
percepção adequada de si mesma, compreendendo suas possibilidades reais
e, ao mesmo tempo, auxiliá-la a se expressar corporalmente com maior
liberdade, conquistando novas competências motoras.
29
CAPÍTULO II
O PAPEL DO PROFESSOR E O DESENVOLVIMENTO DA
PSICOMOTRICIDADE
2 O PROFESSOR E A PSICOMOTRICIDADE
Olhando os alunos em sala de aula ou brincando no pátio, vê-se cada
um deles movimentando-se, agitando-se ou parados. São seus corpos que se
tornam visíveis. Os alunos que correm, brincam e participam de todos os
jogos, não apresentam na sala de aula problemas de postura, de atenção,
lêem e escrevem sem dificuldades, conhecem a noção de tempo e espaço.
Nota-se também que existem crianças diferentes, possuem uma inteligência
normal, no entanto, desastradas, derrubam coisas, quando andam seus
movimentos são lentos e pesados e têm dificuldades em participar de jogos.
Nas salas de aula não conseguem pegar corretamente o lápis, apresentando uma letra ilegível; às vezes escrevem com tanta força que chegam a rasgar o papel, ou então escrevem tão clarinho que não se enxerga; muitos possuem uma postura relaxada, têm dificuldade em se concentrar e entender ordens, sentem-se perdidos, por exemplo, quando se exige o conhecimento direita- esquerda; não conseguem manusear uma tesoura; pulam letras quando lêem ou escrevem, não conseguem controlar o tempo de suas tarefas. Enfim, são diversos os problemas que as crianças podem apresentar. (OLIVEIRA, 2002, p.11)
Muitas dessas dificuldades podem ser facilmente sanadas no âmbito
da sala de aula, basta que o professor esteja mais atento e mais consciente de
sua responsabilidade como educador para melhorar o potencial motor,
cognitivo e afetivo do aluno.
Alguns professores, preocupados somente com o ensino das primeiras
letras e não sabendo resolver as dificuldades apresentadas pelos alunos, os
encaminham-nos aos especialistas. Porém, existem muitos pais que não têm
condições de tratar seus filhos com esses profissionais, por razões
econômicas ou ignorância. Segundo o autor:
30
Para estas crianças, às vezes, são abertas classes especiais e elas são descriminadas como preguiçosas, sem força de vontade, e recebem o rótulo de ‘crianças-problema’. Com isto elas estão ainda mais fadadas a um fracasso escolar e à
consequentemente evasão da escola (OLIVEIRA, 2002, p. 12)
Esses professores isentam-se da responsabilidade e culpam o meio
socioeconômico cultural do aluno. Por outro lado, as crianças de maior poder
aquisitivo, geralmente são encaminhadas aos especialistas, que buscam uma
avaliação segura para descobrir qual o problema a ser sanado. Como tais
especialistas estão distantes da sala de aula e do processo ensino-
aprendizagem, procuram as falhas nas próprias crianças, catalogando-as
como possuidoras de distúrbios de aprendizagem e passam a reeducá-las
como portadoras de alguma doença. Está instalada aí a medicalização do
fracasso escolar.
Segundo Le Boulch (2001), em quase a metade das crianças as
inadaptações são diagnosticadas precocemente, mas são simples retardos
do desenvolvimento, na maioria das vezes educáveis.
È necessária uma atitude educativa apoiando-se no conhecimento dos ritmos do desenvolvimento da criança mais do que uma medicalização ou uma psiquiatrazação da escola, criando condições do progresso real no plano da prevenção das inadaptações escolares (LE BOULCH, 2001, p.130)
É necessário propiciar a cada criança a oportunidade de poder
desenvolver da melhor forma suas próprias potencialidades. Isso é possível
num ambiente que proporcione o contato com outras crianças da mesma
idade, com a possibilidade de crescer junto com elas, por meio de atividades
grupais, alternadas com tarefas individuais. (LE BOULCH, 2001)
É comum encontrar crianças com distúrbios psicomotores nas escolas.
Embora visivelmente normais, muitas vezes são incapazes de ler e escrever e
apresentando outros problemas que também interferem no processo escolar.
Seria ideal que os educadores tivessem como ferramenta para as suas
atividades diárias a psicomotricidade; isso faria com que as crianças
realizassem experiências com o corpo, que são indispensáveis para o
desenvolvimento das funções mentais e sociais.
31
Dessa forma, a criança ampliaria a confiança em si mesma e
melhoraria o conhecimento de suas possibilidades e limites, condição
necessária para uma boa afinidade com o mundo.
É importante levar a criança a expor fatos vivenciados fazendo uma
ligação entre o imaginário e o real.
Segundo Alves (2008), na escola é importante que se leve em
consideração os aspectos socioafetivo, cognitivo e psicomotor.
O Socioafetivo favorece a autoimagem positiva do aluno, valorizando
suas possibilidades de ação e crescimento.
No aspecto cognitivo, por meio das descobertas e resoluções de
situações, a criança constrói as noções e conceitos, enfrentando desafios e
trocando experiências com os colegas e adultos, desenvolvendo seu
pensamento.
O Psicomotor ocorre por meio dos movimentos e exploração do corpo
e do meio a sua volta. Podem-se realizar atividades que envolvam esquema e
imagem corporal, lateralidade, relações temporoespaciais.
Na escola a educação psicomotora vem agindo de forma a levar a
criança a adquirir melhores condições de aprendizagem e de
autoconhecimento, aperfeiçoando o alicerce para uma boa aprendizagem.
Trabalhando com a psicomotricidade o professor, que se ao invés de ensinar, de transmitir conhecimentos já estabelecidos, assumir o papel de facilitador do desenvolvimento da capacidade de aprender, dando a criança tempo para as suas próprias descobertas, oferecendo situações de estímulos cada vez mais variados, proporcionando experiências concretas e plenamente vividas com o corpo inteiro; não deixar que sejam transmitidas apenas verbalmente, para que ela própria possa construir seu desenvolvimento global. (ALVES, 2008 p.136)
O professor não pode esquecer que seu material de trabalho é o aluno.
Ele não deverá preocupar-se apenas em preparar o ambiente escolar com
cartazes e painéis, mas a si mesmo. É necessário que ele conheça seu aluno.
O professor, com visão de psicomotrista, trabalha, no aluno, cada uma
das etapas, permitindo-lhe alcançar sua consciência corporal, sua consciência
de mundo, seu relacionamento com o seu corpo e com o que está ao seu
redor.
32
Proporciona à criança a capacidade de ser, ter, aprender a fazer e a fazer, na medida em que se reconhece por inteiro, alcançando a organização e o equilíbrio das relações com os diferentes meios e a sua distinção, relacionando-se com o mundo de forma equilibrada (ALVES, 2008 p.136).
Como instrumento, a psicomotricidade serve para todas as áreas de
estudos voltadas para a organização afetiva, motora, social e intelectual da
criança acreditando que a mesma é um ser ativo capaz de se conhecer e de
se adaptar às diferentes situações e ambientes.
É inegável que o exercício físico é muito necessário para o desenvolvimento mental, corporal e emocional do ser humano e em especial da criança. O exercício físico estimula a respiração, a circulação, o aparelho excretor, além de fortalecer os ossos, músculos e aumentar a capacidade física geral, dando ao corpo um pleno desenvolvimento. Quanto à parte mental, se a criança possuir um bom controle motor, poderá explorar o mundo exterior, fazer experiências concretas, adquirir varias noções básicas para o próprio desenvolvimento da mente, o que permitirá também tomar conhecimento do mundo que a rodeia. Emocionalmente, a criança conseguira todas as possibilidades para movimentar-se e descobrir o mundo, torna-se feliz, adaptada, livre, socialmente independente. Para educar o homem, é preciso que o ensinemos a dominar sua própria consciência e corpo com senso de equilíbrio. (ALVES, 2008, p.137 -138)
Quando o professor entender que a educação é uma peça fundamental
da área pedagógica, que permite a criança resolver mais facilmente suas
dificuldades, além de prepará-la para a sua vida adulta, essa atividade não
ficará mais para segundo plano.
O professor verificará que esse material educativo não-verbal,
constituído pelo movimento é um meio insubstituível para afirmar certas
percepções, desenvolver formas de atenção, pondo em jogo certos aspectos
da inteligência.
Reconhecer, conhecer e compreender o modo de ser das crianças, e a
forma como estabelecem relações com o mundo, é o maior desafio encontrado
para os professores da educação infantil.
Desse ponto de vista, o professor é o mediador entre as crianças e os
objetos de conhecimento, propiciando e organizando lugares e situações de
aprendizagens por meio da articulação de recursos e capacidades culturais,
afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada criança com seus
33
conhecimentos prévios e com conteúdos referentes aos diferentes campos de
conhecimento humano. O professor torna-se o companheiro mais experiente,
cuja função é proporcionar e garantir um espaço rico, prazeroso e saudável,
tendo a capacidade de detectar dificuldades que possam surgir durante o
processo ensino aprendizagem, podendo saná-las no âmbito escolar, sem que
haja a necessidade de encaminhamentos a profissionais especializados.
34
CAPÍTULO III
A PESQUISA
3 METODOLOGIA
A psicomotricidade proporciona um vasto desenvolvimento das funções
motoras e afetivas das crianças.
Para o desenvolvimento deste trabalho foi realizada a pesquisa
bibliográfica, que abrange leitura, análise e interpretação de livros.
Desta forma, durante o desenvolvimento desta pesquisa vários autores
fundamentaram o trabalho. Além disso, foram realizadas pesquisas em bases
de dados, revistas científicas e artigos, assim como coleta de informações com
terapeutas ocupacionais por meio de conversas informais na busca pelo
aprofundamento dos conhecimentos a respeito do tema: a Psicomotricidade
como ferramenta na Educação Infantil.
Para a confecção do manual de orientação para professores, a respeito
de atividades psicomotoras, fez-se imprescindível a divisão em dois
procedimentos:
3.1 Primeiro procedimento: identificação de temas para compor o manual
Para atingir os objetivos propostos, foi necessário fazer um
levantamento sobre guias existentes na literatura para nortear o trabalho, além
de estabelecer temas para a elaboração das atividades. Para tanto, foi preciso
dividiu-se este procedimento em cinco etapas.
3.1.1 Primeira etapa
Foram realizadas buscas em bibliotecas universitárias (03) e pública
(01), a procura de manuais de atividades psicomotoras que orientassem os
professores em sua rotina escolar.
35
Nas visitas feitas a bibliotecas, à procura de manuais sobre atividades
psicomotoras, não foi encontrado nenhum material disponível.
3.1.2 Segunda etapa: busca em bibliotecas virtuais
Foram pesquisadas três bibliotecas virtuais de universidades
Estaduais, sendo elas: Bibliotecas da Unesp, Usp e Unicamp. Nesse
procedimento também não foram encontrados nenhum material.
3.1.3 Terceira etapa: busca em base de dados
Foram realizadas pesquisas em bases de dados da CAPES, Scielo e
Medline. Inicialmente foi utilizada a palavra-chave ‘guia’, para a busca de
artigos referentes ao tema, mas nenhum material foi identificado.
Em seguida foram utilizadas as palavras-chave: manual, folhetos, livreto,
orientações, mas também não foi encontrado nenhum material disponível.
Como não foi encontrado na literatura nenhum material que pudesse
nortear o trabalho, foi utilizada a palavra-chave ‘atividades psicomotoras’, sobre
a qual foi encontrado 30 artigos.
Foram lidos os resumos dos 30 artigos e do total de 30, apenas três
eram sobre o tema de estudo. No quadro 1, é possível identificar os três artigos
selecionados.
Quadro 1: Artigos encontrados em bases de dados (continua)
Título do artigo Ano de publicação Autores
1. Desempenho motor e
dificuldades de aprendizagem
em escolares com idade entre
7 e 10 anos de idade
2001 SILVA, J.; BELTRAME,
T. S.
2. Psicomotridade: uma
ferramenta norteadora no
processo de ensino-
2010 SANTOS, R. C. dos e
outros
36
aprendizagem de crianças
com dislexia
3. Perspectiva no estudo do
brincar: um levantamento
bibliográfico
2007 CORDAZZO; D. e
outros
Fonte: Elaborado pela autora, 2013.
3.1.4 Quarta etapa: conversas informais com terapeutas ocupacionais
Em conversas informais com três terapeutas ocupacionais sobre
manuais de atividades psicomotoras, que pudessem auxiliar o professor em
sala de aula, foi relatado que existe uma escassez do material e citado apenas
um manual.
O material é intitulado ‘Dificuldades de aprendizagem: manual de
orientação a professores quanto aos aspectos motores’.
Esse manual foi desenvolvido em 2007, pela Universidade Estadual
Paulista - Campus de Marilia – Faculdade de Filosofia e Ciências, em parceria
com a Prefeitura Municipal de Marília – Secretaria Municipal da Educação e
Núcleo de Apoio Psicopedagógico. As autoras são professoras docentes do
curso de Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da universidade, além da
participação de estagiários dos dois cursos já citados. O manual contém várias
atividades psicomotoras relacionadas aos elementos básicos da
psicomotricidade como: tonicidade, equilíbrio lateralidade, esquema corporal,
estruturação espaço-temporal, coordenação dinâmica global, coordenação
motora fina.
3.1.5 Quinta etapa: pesquisa em sites
Como foram encontrados poucos trabalhos, foi necessário ampliar a
busca de informações em sites. Dessa forma, realizou-se a busca com as
palavras-chave: guias, folhetos, manuais, livretos, orientações e não foram
encontrados materiais disponíveis.
Ampliando-se novamente a busca, com a utilização da palavra-chave:
atividades psicomotoras e foram encontrados 40 artigos.
37
Desses 40 artigos, foram selecionados 2 que englobavam o tema de
interesse desta pesquisa. Nesses artigos, foram identificados uma diversidade
de atividades, com diferentes enfoques, como demonstra o quadro 2:
Quadro 2: Artigos encontrados nos sites
Artigos Motricidade
fina
lateralidade Noção
espacial
Óculo-
manual
Psicomotricidade: O
desenvolvimento
motor na educação
infantil
04 04 05 01
A importância da
psicomotricidade no
desenvolvimento
infantil
06 04 05 05
Fonte: Elaborada pela autora, 2013.
3.2 Segundo procedimento: desenvolvimento do manual de atividades
psicomotoras
Para a confecção do manual, optou-se pelas atividades referentes à:
coordenação motricidade fina, coordenação óculo-manual e a estruturação
espacial. A escolha dessas habilidades adveio da busca do desenvolvimento
adequado dessas habilidades para um bom rendimento escolar, pois a
coordenação fina é a habilidade da destreza manual. A criança tem que possuir
condições de desenvolver várias formas de pegar todos os tipos de objetos.
Uma coordenação elaborada dos dedos da mão promove a aquisição de novos
conhecimentos. É por meio da preensão (o ato de agarrar/pegar) que a criança
descobre pouco a pouco os objetos ao seu redor (OLIVEIRA, 2002).
Segundo Oliveira (2002) a mão é um dos instrumentos mais úteis para a
descoberta do mundo: ela é um instrumento de ação a serviço do
conhecimento.
Só possuir uma coordenação fina não é suficiente. É necessário que se
38
tenha também um controle ocular, isso é, a visão seguindo os movimentos das
mãos, o que denomina-se de coordenação óculo-manual.
A coordenação óculo-manual se efetua com exatidão sobre a base de
um domínio visual previamente estabelecido unido aos gestos feitos, ou seja,
olho e mão, facilitando, assim, uma maior harmonia do movimento. Esta
coordenação é fundamental para a escrita. (OLIVEIRA, 2002)
A estruturação espacial é primordial para poder viver em sociedade. Por
meio das relações espaciais o individuo é capaz de se encontrar no meio em
que vive, estabelece relações entre os objetos e fazem observações,
comparando e vendo o que há em comum e diferente entre eles. (OLIVEIRA
2002)
Atividades realizadas dentro da sala de aula, como por exemplo, à
escrita, depende da manipulação das relações espaciais entre os objetos. As
relações espaciais, por sua vez, são mantidas por meio do desenvolvimento de
uma estrutura de espaço. Sem essa estruturação o ser humano se perde ou
distorce muitas dessas relações e nosso comportamento sofreria por receber
informações inadequadas. (OLIVEIRA 2002).
Tendo em vista a seleção desses três elementos básicos, foi necessário
identificar os materiais que relataram as atividades nesse contexto e quantificar
as atividades em cada material encontrado, como ilustra o quadro 3:
Quadro 3: Atividades identificadas nos materiais
Autores Atividades
Motricidade fina
Atividades óculo-
manual
Atividades
estruturação
espacial
Uekawa 4 1 5
Capellini e outros 8 8 5
Fátima Alves 12 3 6
Fonte: Elaborado pela autora, 2013.
3.3 Atividades propostas no manual
Após a seleção e organização das atividades encontradas, foi possível
definir quais atividades fariam parte do manual a ser elaborado.
39
A proposta de atividades psicomotoras apresentada para ser
incorporada a prática pedagógica dos professores, não é uma lei, tampouco
uma verdade única, mas uma ferramenta didática e uma alternativa para ser
usada em sala de aula. É bom enfatizar que cada sala de aula é diferente, tem
um contexto próprio, devendo, portanto, as ideias apresentadas aqui, caso
sejam utilizadas, serem adaptadas a cada ocasião e especificidade de cada
criança.
A seguir, serão identificadas as atividades que farão parte do manual.
3.3.1 Atividades para desenvolver a motricidade fina
Figura 2 - Caça ao tênis (atividade 1)
Fonte: Blog da Tuk Tuk, 2013.
Objetivos: - desenvolver habilidade manual;
- desenvolver a agilidade;
- despertar a atenção;
- aprender a calçar o tênis.
Material: os tênis das crianças
40
Organização: as crianças serão separadas em duas equipes, formando
duas colunas ou de forma aleatória, se preferir.
Procedimentos: dividir os participantes em equipes, pedir para tirarem o
tênis e juntá-los em um lugar centralizado. Caso existam tênis muito parecidos,
pode-se colocar algo para caracterizá-los.
Ao sinal de início, o primeiro de cada equipe deve procurar seu par e,
depois de calçá-lo, voltar para o último lugar da coluna, passando a vez para o
segundo e, assim, sucessivamente.
Ganha a equipe que calçar primeiro seus tênis.
Figura 3 - Boliche maluco (atividade 2)
Fonte: Mulher UOL, 2013.
Objetivos: - desenvolver a coordenação motora fina;
- despertar a concentração;
- contribuir para a coordenação viso-motora;
- auxiliar a percepção tátil e visual.
Material: sucatas, bolas de borracha ou de tênis, garrafas pet.
Organização: formar um grupo de meninos e outro de meninas e soltar
a bola nas garrafas pet. O grupo que fizer mais pontos é o vencedor.
41
Procedimentos: os educandos, com a ajuda do educador, fazem
montes de sucatas, recebe uma bola cada um e de um local determinado
tentam acertar e derrubar a pilha de sucatas rolando a bola.
Figura 4 - Bolas atrás (atividade 3)
Fonte: Brincar e ser feliz, 2010.
Objetivos: - desenvolver a atenção;
- despertar a concentração e a observação;
- desenvolver a noção de pegada de pinça;
- auxiliar o desenvolvimento e na coordenação.
Material: bola
Organização: as crianças se organizam com a ajuda do educador em
duas colunas uniformes, formando dois times.
Procedimentos: um dos participantes, de posse da bola, fica de costas
para os demais e arremessa para trás.
O companheiro que pegar a bola deve escondê-la para que possa sair
do lugar de arremesso, ou seja, apenas olhando tem que adivinhar com quem
está a bola.
42
Se isso acontecer, aquele que a pegou toma o lugar do arremessador,
caso contrário, ele permanece numa nova tentativa.
Figura 5 - Massa de modelar (atividade 4)
Fonte: Rodrigues, 2012
Objetivos: - aprimorar a motricidade fina
-criatividade
Matérial: massa de modelar
Organização: livre
Procedimento: o coordenador da atividade deverá incentivar os
participantes a modelar diferentes figuras, podendo utilizar também materiais
auxiliares.
Outras atividades propostas por Fátima Alves, 2008.
43
Quadro 4: Atividades de motricidade fina e coordenação viso manual
Motricidade fina
ou coordenação
visomanual
Exercícios gerais:
Escolher arroz ou feijão
Rasgar e amassar vários tipos
de papel
Tocar piano
Atarraxar e desatarraxar em
modelos apropriados
Exercícios específicos
Recortar com os dedos
Recortar com tesoura
Colar e pintar
Perfurar, dobrar
Modular, dobrar, traçar
Contornar
Fonte: Elaborada pela autora, 2013.
3.3.2 Atividades para desenvolver a coordenação óculo manual
Figura 6 - Argolas coloridas (atividade 5)
Fonte: Slings, 2010
Objetivos: - desenvolver a percepção visual;
44
- auxiliar na coordenação;
- desenvolver a agilidade.
Material: argolas coloridas
Organização: as crianças são espalhadas em um local e no chão são
colocadas as argolas coloridas. As crianças começam a andar e, no comando
do educador pegam as argolas. A que pegar mais argolas será a vencedora.
Procedimento: a brincadeira começa com as crianças andando ao
redor das argolas de várias cores ao ritmo de uma música. Quando a musica
parar, as crianças tentam pegar o maior número de argolas. Ganha quem
pegar mais argolas.
Outras propostas:
- Pegar somente uma cor indicada;
- Colocar as argolas em um local determinado;
- Fazer atividades por equipe.
Figura 7 -Quebra-cabeça (atividade 6)
Fonte: Brinquedo..., 2012
Objetivos: aprimorar a motricidade fina óculo-manual
Material: desenhos, lápis de cor e tesoura
45
Organização: Livre
Procedimento: o coordenador da atividade deverá distribuir desenhos a
todos os integrantes da turma. Cada participante deverá colorir sua figura e,
depois, recortá-la em vários pedaços, com o objetivo de formar um quebra-
cabeça para um colega montar.
Figura 8 - Desenho de bolinha (atividade 7)
Fonte: Bolinhas..., 2010.
Objetivos: - aprimorar a motricidade fina e óculo-manual
-criatividade.
Material: papel crepom de cores variadas, cola, desenhos em preto e
branco.
Organização: livre
Procedimento: o coordenador da atividade deverá distribuir os
desenhos variados e folhas de papel crepom a todos os integrantes da turma.
Cada um deverá confeccionar bolinhas e tiras de papel crepom de diversas
cores e tamanhos. Então, devem-se colar as bolinhas e tiras em seu desenho
para colori-lo.
46
Outras propostas:
Além do papel crepom, podem-se utilizar folhas de jornal, revistas,
botões, canudinhos, grão de milho, etc.
3.3.3 Atividades para desenvolver a estruturação espacial
Figura 9 - Corrida de obstáculos (atividade 8)
Fonte: Valor, 2010
Objetivos:-desenvolver a coordenação motora
-despertar noções de espaço
-coordenar os elementos da lateralidade, equilíbrio,
deslocamento, esquema corporal, ritmo e atenção.
Material: colchonete ou tapetes de EVA e obstáculos, como bancos,
cordas, túneis, rampas.
Organização: separe as crianças em grupos e monte vários obstáculos
no pátio, cada grupo deve fazer o obstáculo em menor tempo.
Procedimentos: organize a sala forrando o chão com os colchonetes ou
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tapetes de EVA. Espalhe pelo ambiente os obstáculos.
Proponha às crianças diferentes movimentos: ajude-as a rolar com os
braços e pernas esticadas, para frente e para trás, sugira que engatinhem por
baixo da mesa ou de uma corda amarrada a uma altura baixa, dentro de um
túnel, em rampa, em diferentes direções e em ziguezague, de uma força
também para elas andarem de frente e de costas, em cima de um banco ou
sobre materiais diversos, devagar e rápido, com passos de formiguinha e de
gigante, incentive-as a trabalhar o impulso, com pulsos, saltos para frente e
para trás, livre ou sobre os obstáculos.
Figura 10 - Seguir as sombras (atividade 9)
Fonte: Bonetti, 2007.
Objetivos: -desenvolver a localização espaço-temporal;
-despertar a noção de atrás, frente, em cima, em baixo,
direita e esquerda.
Material: crianças
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Organização: as crianças se organizam um atrás do outro em fila.
Procedimento: em fila, uma criança tenta seguir a outra pisando na
sombra do colega.
Figura 11 - Pinguim maluco (atividade 10)
Fonte: Coelho, 2009.
Objetivo: - desenvolver a noção espacial;
- desenvolver a coordenação.
Material: crianças
Organização: as crianças devem ser espalhadas na sala de aula ou em
uma quadra.
Procedimentos: todas as crianças começam a imitar um pingüim e, ao
sinal do educador, param. Então uma criança é apontada e deverá fazer um
movimento para que todos imitem. A seguir todas voltam a imitar o pingüim.
Nestas atividades todos participam ativamente.
Outras atividades propostas por Fátima Alves, (2008):
- Pedir que todos andem pelo ambiente, explorando-o, primeiro com os
olhos abertos e depois com os olhos fechados;
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- Jogar amarelinha;
- Obedecer a ordens como: colocar o lápis em cima da mesa, colocar o
lápis em baixo da cadeira;
- Arremessar bolas em espaços determinados;
- Traçar linhas entre contornos de linhas paralelas sem tocá-las.
Por meio dos estudos e atividades psicomotoras propostos nesta
pesquisa, o educador pode perceber um instrumento facilitador e enriquecedor
de suas intervenções junto aos alunos. Isso contribui para que os profissionais
possam criar e agir utilizando recursos e características próprias,
experimentando, novas abordagens.
Essas atividades permitirão à criança o seu desenvolvimento, com
desbloqueios e liberações gestuais, assim como a aquisição de novas
possibilidades motoras alcançando o bem estar de seus movimentos mais
espontâneos, o que, consequentemente, irá melhorar a sua coordenação.
Assim a criança terá menos dificuldades ao se deparar com novas tarefas
escolares.
O movimento humano é construído em função de um objetivo.
Portanto, a partir de uma intenção como a expressividade, tal movimento
transforma-se em comportamento significante. Por isso é necessário que a
criança passe por todas as etapas em seu desenvolvimento.
Dessa forma, o trabalho da educação psicomotora deve prever o
desenvolvimento motor, afetivo e psicológico, dando oportunidade para que,
por meio das atividades a criança, se conscientize sobre seu corpo.
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PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
A psicomotricidade permite ao indivíduo sentir-se bem consigo mesmo,
e assumir sua realidade corporal, possibilitando-lhe a livre expressão de seu
ser. Ela é uma forma de ajudar a criança a superar suas dificuldades e
precaver possíveis inadaptações.
Pode a psicomotricidade bem como as atividades psicomotoras auxiliar
o trabalho do professor?
Os resultados do estudo propiciaram a confecção de um manual de
atividades psicomotoras para serem usadas em escolas públicas e privadas,
dentro da sala de aula, como ferramenta de apoio para o professor.
Mediante pesquisa bibliográfica, pesquisa em sites e conversas com
terapeutas ocupacionais verificou-se que existe grande escassez desse
material.
Diante dessa realidade foi elaborado um manual para ser incorporado à
prática pedagógica, como um instrumento didático ou uma alternativa para
auxiliar o professor em sua rotina diária.
Entende-se que a proposta elaborada não deve ser usada como uma
verdade única, mas como um instrumento facilitador no ambiente escolar.
A sala de aula apresenta um contexto próprio, e, as ideias propostas
neste manual, caso sejam utilizadas, devem ser adequadas a cada situação e
a cada particularidade dos alunos envolvidos.
Frente ao exposto, pesquisas futuras são imprescindíveis para avaliar o
manual em seus aspectos de forma (tamanho, tamanho das letras e
ilustrações), conteúdo (estético e pedagógico) e funcionalidade.
Para tanto, propostas de intervenção, com a utilização do manual pelos
professores se fazem necessárias para a adequação da veracidade do material
confeccionado.
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CONCLUSÃO
Ao findar este trabalho, foi possível alcançar as metas anteriormente
estabelecidas de analisar e ampliar o conhecimento sobre o assunto abordado,
assim como a sua importância e seu apoio no desenvolvimento do processo
psicomotor das crianças. Pode-se alegar que a psicomotricidade se apresenta
como um tema altamente relevante. Isso se percebe prontamente ao
considerar que a criança se desenvolve na medida em que interage com o seu
próprio corpo, com os objetos de seu meio e socializa-se com as pessoas ao
seu redor.
Tendo como suporte os artigos e livros selecionados, foi possível
averiguar a importância da Psicomotricidade como ferramenta fundamental
para a compreensão do ser humano em sua totalidade. E também que sem
esse conhecimento os educadores podem rotular, de forma errônea, uma
criança de preguiçosa, doente ou até mesmo incapaz, sendo que pode se tratar
apenas de uma simples inadaptação psicomotora que pode ser sanada com
atividades dentro da sala de aula.
Na escola de educação infantil, a criança precisa de professores que
ofereçam um clima de segurança e confiança. Por isso, a criança deve viver
essa etapa de forma positiva, com experiências por meio das quais ela adquira
confiança em seu corpo, em seu desenvolvimento e desempenho motor.
Para isso o professor não pode esquecer de que o seu material de
trabalho é o aluno e é necessário conhecê-lo.
Acredita-se ser de imensa importância que o professor adquira o hábito
de observar as crianças em relação ao seu desenvolvimento psicomotor.
Diante disso ele poderá buscar e também aplicar atividades para sua facilitação
e desenvolvimento.
Assim, a psicomotricidade precisa ser usada como uma ferramenta em
todas as áreas de estudo com foco na organização afetiva, motora e intelectual
do individuo já que o homem é um ser ativo, que tem a capacidade de se
conhecer e adaptar-se às diversas situações e diferentes ambientes.
Na elaboração desse trabalho fora identificada grande falta de material
impresso e on-line, que permitam o acesso à informação e materiais de
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orientação ao professor sobre como trabalhar as atividades psicomotoras em
sala de aula.
Diante dessa realidade, um manual de orientação foi elaborado para
ser incorporado à prática pedagógica, como um instrumento didático ou uma
alternativa para auxiliar o professor em sua rotina diária.
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REFERENCIAS
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