Runner
Tainted Hearts #1
AJ Summer
Dedicatória
Para todos que amavam Kyle tanto quanto eu. Espero que Runner
desarme vocês!
Para você - está ficando mais fácil.
* * *
É incrível como algumas letras podem capturar a alma e encantar a
mente. - DS
Nota do autor
Este livro tem uma ruiva mal-humorada que não tem medo de usar seus
sapatos ou sua boca suja para mostrar seu ponto. Algumas das suas palavras
favoritas são: Foda-se!
Dane-se!
Foder!
Impulso!
E ela conta exatamente como é.
A história de Runner e Talon não é um conto de fadas. É uma batalha de
vontades.
E este é apenas o começo.
Prólogo
Seis anos antes
Kyle
O impacto do meu
corpo batendo na água tira o ar dos meus pulmões. A força do salto me envia
diretamente para dentro d’água e enfrento primeiramente uma rocha enorme.
Minha mente gira, e eu aperto meus lábios firmemente. Eu nunca vou fazer esse
salto de novo! Uma mancha vermelha tinge a água ao meu redor. Espero que
não existam quaisquer tubarões ao redor. Meus batimentos cardíacos pulsam de
forma constante em meus ouvidos enquanto eu tento ficar o mais fundo possível
na água que flui para dentro da caverna escura. Eu não posso deixar que
ninguém me veja se eu pretendo desaparecer como eu preciso.
Depois de alguns minutos, meus pulmões começam a doer e meu rosto
lateja no lado onde atingiu a rocha. Eu bato o pé mais rápido, impulsionando-
me mais fundo na escuridão. Eu tento manter uma mão estendida para que eu
não bata minha cabeça contra quaisquer obstáculos subterrâneos. Isso
certamente irá enviar a minha consciência desgastada para o fundo do poço, e
eu para um túmulo aquático.
Quando eu não consigo ver mais nenhum raio de luz através da água eu
me impulsiono para a superfície, desesperado por uma respiração. Eu atravesso
a água, arfando e cuspindo. E imediatamente toco a ferida no meu rosto. Meus
dedos voltam com uma pequena quantidade de sangue diluído sobre eles.
Uma mão agarra meu ombro, me assustando pra caramba. Mas eu estou
exausto do meu mergulho. Quando eu tento encontrar um ponto de apoio para
me arrastar para terra ou para longe de quem me agarrou, meu pé escorrega e
eu sou arrastado impotente como um saco de batatas maduras em direção à
margem rochosa do chão da caverna. Eu deito lá boquiaberto como um peixinho
dourado fora d’água, cada respiração como um alívio bem-vindo. O único
pensamento em mente é que, se o meu plano não funcionou, Mia e mamãe irão
pagar o preço. Eu não posso falhar!
— Kyle, vamos, porra! — Mike sussurra em voz alta, enquanto me coloca
em uma posição vertical. A caverna é escura por dentro, e a pequena lanterna
que Mike está segurando realmente não ajuda muito. Eu tropeço enquanto ele
me puxa para frente, e é aí que eu percebo em pânico que um dos meus tênis
está faltando. Se eu perdi na caverna, as pessoas irão facilmente assumir que eu
vim por esse caminho. Nenhum corpo, nenhuma prova de que eu estou morto,
certo? Eu não quero as pessoas procurando por mim. Deixe-os pensar que eu fui
para o mar e os tubarões me comeram. Deixe-os tirarem suas próprias
conclusões.
— Mike, espere. Eu perdi meu tênis. — eu digo, ainda um pouco sem
fôlego. Eu me debruço para recuperar o ar por um segundo.
— Você saiu da água dessa forma. Apenas deixe o tênis. Pode estar no
fundo da cachoeira pelo que sabemos. Nós temos que ir agora! Você acabou de
se afogar lembra. Ninguém pode vê-lo. — Mike diz como se eu não soubesse o
que diabos está acontecendo.
Eu tiro sua mão no meu ombro e dou um tropeço para frente para o
Chevy verde que eu posso ver estacionado na entrada da caverna. O sol ainda
brilha, e por um momento eu fecho meus olhos. É só um tênis, Kyle, esqueça.
Mas não é apenas o maldito tênis que eu estou deixando pra trás. É tudo o que
eu já fui.
Run /Ren/
Verbo: correr
Mover-se a uma velocidade maior do que uma caminhada, nunca tendo
os dois pés no chão ao mesmo tempo.
Runner/’Rener/
Substantivo
Uma pessoa que contrabandeia mercadorias específicas para dentro ou
fora do país ou área.
Running/Rening/
Substantivo
Porque se você não fizer isso, eu vou te encontrar, e você vai desejar ter
feito isso um pouco mais rápido, um pouco melhor, porque não há nenhum
lugar na terra onde eu não vá te encontrar...
Escolhas
Você faz a escolha certa, você ganha.
Você faz a escolha errada, você perde.
Você deixa alguém escolher para você, porque não há realmente nenhum
outro jeito de fazer, e eles têm você.
Eu tenho trabalhado para Reno Parker por seis anos.
E a merda ficou ruim.
Eu vou para o lugar que eu pensei que nunca veria novamente.
Eu vou para casa.
Eu quero essa nova responsabilidade? Não.
Eu preciso dela? Sim.
Alguém mais escolherá por mim? Nunca mais.
E para finalizar esse acidente de trem iminente, há uma garota mexendo
com a minha cabeça.
Você está preparado para mais sete dias?
Primeiro Dia
Runner
Quatro paredes
brancas, duas janelas minúsculas, um homem de meia idade com excesso de
peso e eu. E nas sombras espreitam dois predadores perigosos, circulando e
espumando pela boca, apenas esperando o momento certo para atacar.
Dramático, certo? Sim, eu estou apenas fazendo uma pausa dessa conversa
cansativa.
— O que quer dizer com você não tem o dinheiro? — eu pergunto ao
idiota tremendo sentado na minha frente. Ninguém pega dinheiro emprestado
do Reno e pensa que ele vai simplesmente esquecer sobre isso. Sorte para Veo,
ele decidiu aparecer sem que tivéssemos que ir procurá-lo. Tanta sorte.
— Eu terei, Runner. Minha sorte está só nas mesas agora. Eu vou
recuperá-lo. — Veo explica mais convincente. Ele está tremendo como uma
prostituta drogada amarrada e ele fede a vodka velha. Mike bufa do outro lado
da sala onde ele está assistindo Jonah brincar com sua lâmina de prata. Os
predadores. Jonah está girando a pequena arma brilhante entre os dedos. Devo
admitir, meu amigo de moicano parece querer fazer no Veo sérios danos
corporais. Fodão até o osso. Uma parte disso é apenas para o show. Ninguém
gosta de ferir as pessoas desnecessariamente. Ninguém em sã consciência, pelo
menos.
— E quando você acha que a dona sorte vai voltar para o seu ombro, Veo?
O Sr. Parker não é um homem paciente. — eu falo. Eu me asseguro de que Veo
me veja olhando para Jonah. É tudo sobre a intimidação. A qualquer momento
agora, Jonah vai andar até aqui e pressionar a ponta da faca afiada sobre o
intestino cheio do pobre Veo. Ele realmente não vai esfaqueá-lo. Como eu disse,
estamos todos ainda sãos aqui. E homens mortos não podem pagar suas dívidas.
Jonah caminha bem na hora, a lâmina de prata brilhando nas luzes do
teto de nosso escritório. A perna do Veo bate com força no chão de madeira. —
Shh-Shh. — Jonah o acalma como se ele fosse uma criança pequena. Veo
começa a gaguejar, e pequenas gotas de saliva se formam nas laterais dos seus
lábios. Seu rosto gordo fica vermelho enquanto ele começa a respirar em
pequenos jorros. Dane-se isso, o Jonah reconfortante não vai funcionar para
mim também.
Jonah arrasta lentamente a ponta da faca fina sobre o estômago de Veo e
para bem em cima de onde ele presume que seu umbigo deva ser. O pobre
bastardo geme: — Por favor, Runner, mais um dia. Um... — Veo para sua súplica
patética quando Jonah solta um assobio baixo. Devo dar isso para Jonah; ele
interpreta sua parte muito bem. Às vezes, eu acho que ele gosta disso um pouco
demais. Reno não pode pedir melhores empregados; mais cruéis, talvez, mas
não mais comprometidos. Nós finalizamos o trabalho. O dinheiro pago.
— Mais um dia, Veo. Ou eu vou ter algumas aulas de arte em sua bunda
gorda. — Jonah assobia sem levantar a cabeça. Jonah vira e volta para o seu
canto do outro lado da sala. Ele gira a lâmina, sem olhar mais para Veo. Mike se
aproxima e libera os pulsos de Veo, e o pequeno homem gordo pula, com as
pernas curtas como um borrão enquanto ele se apressa pela sala. A única
evidência deixada para provar que Veo esteve alguma vez aqui, é o mau cheiro
de álcool velho. Odeio o cheiro de álcool. Faz-me lembrar dele. Eu pego algumas
respirações profundas através de minha boca e relaxo o nó no meu estômago.
Por que ainda estou pensando naquele velho pedaço de merda? Eu cuidei
disso há muito tempo. Tenho certeza de que os presos no Mount Max deram a
ele o tratamento real durante a sua estadia. É uma pena que a minha desculpa
de merda pelo padrasto era só de bater em mulheres e meninos. Caso contrário,
ele poderia ter sobrevivido o suficiente para sair. E, então, nós poderíamos ter
tido algum divertimento de verdade. Em vez disso, ele decidiu se enforcar com
seu lençol. Covarde. Balanço a cabeça e deixo meu queixo cair no meu peito com
um suspiro alto. Por que eu tenho que ir lá?
Mike fecha a porta que Veo deixou aberta quando ele correu por ela.
Jonah volta para o seu jogo de videogame e começa a jogar algum tipo de
torneio MMA. É como se o interrogatório com Veo nunca tivesse acontecido. É
apenas mais um dia para nós, nada de novo.
Eu corro minhas mãos pelo meu cabelo. Eu tenho uma maldita dor de
cabeça chegando. Nestes dias parecem vir com mais frequência. Eu massageio
os músculos na parte de trás do meu pescoço, e a pressão quase me faz perder a
consciência. Droga de tensão. Eu não tenho certeza sobre o porquê estou tenso,
mas quem sou eu para discutir com o bom doutor. O que ele vai dizer; ele salvou
nossas bundas bastantes vezes no passado para eu aceitar isso.
— Você acha que ele vai voltar? — Mike pergunta.
— Ele tem escolha? — eu respondo.
— Quantas vezes já fizemos isso? Dez, vinte, cem vezes? Eles sempre
voltam. Com ou sem o dinheiro. Hesitando e xingando. Ou por puro medo. Ou
em um saco de corpo. Eles sempre voltam. Podemos ter certeza disso. — eu
digo. O saco de corpo é sempre o último recurso. Reno Parker não exige sangue
como pagamento. Ou pelo menos não com frequência. Às vezes, exceções são
feitas.
Eu estou tão cansado dessas pessoas estúpidas. Eu gostaria que eles
pudessem apenas perceber que pedir dinheiro emprestado para sair de sua
dívida de jogo não vai resolver o problema. Pelo amor de Deus, Reno é dono do
cassino onde eles perderam o dinheiro em primeiro lugar! Reno é dono da casa
onde eles pegam o dinheiro emprestado quando eles precisam pagar. Com juros,
é claro. Nós temos que ter a nossa parte.
Às vezes, eu desejo que nós ainda fizéssemos pequenas coisas do tráfico
de drogas. Fazendo algumas coisas aqui e ali. Coletando bolsas cheias de
dinheiro. Fácil, até que alguém começa a atirar em você, ou rouba sua bolsa. Eu
ainda não sei o que aconteceu com aquela bolsa. A bolsa que assinou minha
sentença de morte. Mas, mesmo assim, era muito menos cansativo do que essa
nova merda de empréstimo de dinheiro. Mike se joga para baixo no sofá ao lado
de Jonah.
— Todas as dívidas são pagas. Em dinheiro, em favor, em sangue. Eu
paguei com minha vida, não foi? — eu digo, encerrando o meu discurso Reno -
sempre - recebe. — Eu vou para a cama. — eu só me deprimo com a mudança de
assunto. Eu não gosto de ser lembrado de como eu acabei aqui. Não me
interpretem mal, eu gosto da minha nova família. Mike e Jonah são os irmãos
que eu nunca tive. Reno cuida de nós como seus próprios filhos. É o fato de que
eu nunca posso voltar que acaba comigo.
Eu olho para os caras e, em seguida, para a direção do meu quarto. Meu
quarto ganha. Vou deixá-los jogar o seu jogo. — Claro cara. Boa noite! — Mike
grita pelo corredor atrás de mim. Jonah resmunga algo que eu não consigo
ouvir.
Acho que Jonah e Mary estão tendo alguns problemas. Ou, mais
especificamente, acho que Jonah é o problema. Um relacionamento à distância
fará isso com você. Jonah dirige duas horas até Bailey para ver Mary quase
todas as noites. Ele ainda não vai trazê-la para cá. Após a confusão com Danny
Migelli, ele tentou afastá-la, mas ela é uma dessas garotas resistentes para uma
professora de escola dominical. Ela continua dizendo a ele que ela não se
importa com o seu estilo de vida. Jonah, porém, ainda não está convencido de
que é seguro para ela ficar perto dele. Ele argumenta que ele pode protegê-la
tanto quanto se estivesse na Square, como se ela estivesse bem aqui e não a duas
horas de distância em Bailey. Se não está seguro agora, aqui na Maria’s Square,
uma cidade que, literalmente, corre por conta própria, onde vai estar? Então,
Mary fica em Bailey e espera por suas visitas noturnas, como uma boa
namorada. Eu não acho que qualquer outra mulher se submeteria a esse nível
de besteira.
Bailey. Um lugar que eu tento não pensar com muita frequência. O meu
coração se aperta toda vez que eu penso. Abro a terceira porta à direita, que leva
ao meu quarto longe de casa. Quando eu digo ‘casa’, quero dizer a minha nova
casa, uma cabana que Reno comprou para nós quando foi decidido que iríamos
movimentar o cassino e a casa de empréstimo para ele na Maria’s Square. Não
Bailey, a cidade onde eu cresci, a cidade onde o meu passado mora.
Noites como esta, quando temos de esperar o dinheiro entrar, é melhor
apenas ficar aqui do que ir todo o caminho até a cabana. Eu estou feliz que eu
fui chamado para a casa de empréstimo esta noite. Ultimamente, o barulho do
cassino chega até mim. Na maioria das noites eu saio de lá com uma dor de
cabeça, como se isso fosse um mau sinal de que algo ruim está prestes a
acontecer. E eu nem sequer acredito em todas essas coisas supersticiosas.
Eu me deito na cama e tiro meus tênis. Eu tiro meu telefone do meu bolso
e fico online. Eu faço isso todas as noites antes de dormir. Eu me sinto como um
maldito perseguidor. Mas eu abro o aplicativo de qualquer maneira e digito o
nome de Jenna. Eu vi suas fotos um milhão de vezes. Eu sei que ela está de volta
à Bailey, dividindo uma casa com Mia. Eu conheço cada maldita foto no perfil
dela de cor, mas eu ainda não consigo ficar olhando para aquelas com o cara
nelas. Ele está sempre a abraçando. Sorrindo para ela como um idiota-estúpido-
com-tesão-pela-professora. Ok, talvez eu simplesmente odeie que não seja eu,
mas essa merda ainda dói. Poderia ter sido eu a abraçando. Mas eu fiz isso por
eles. Eu desapareci por eles. Eu pulei daquele precipício por eles. Assim, eles
poderiam ser felizes, seguros.
Eu clico na nova foto que ela postou algumas horas atrás. É uma foto de
Mia e Jase. Jase não é o tipo de cara que eu teria escolhido para a minha irmã. O
que se passa com todas essas tatuagens? E o cara nunca ouviu falar de um corte
de cabelo antes? Ou ele deveria, pelo menos, encontrar um novo cabeleireiro.
Essa merda está sempre em seus olhos. Clico para a próxima foto. Outra de Mia
e Jase. Eu vou para o perfil de Mia para ver se há alguma novidade sobre o
namorado em questão. O cara está desaparecido há quase dois meses.
O último post de Mia foi ontem, e só diz o quanto ela sente falta dele,
então eu acho que ele ainda está desaparecido. Eu poderia descobrir onde o cara
foi, mas de que adiantaria? Qual a utilidade dessa informação para mim? Talvez
ele foi embora para trabalhar. Eu realmente não me importo. Enquanto ele não
estiver traindo a minha irmã.
Eu fecho o aplicativo e olho para o teto escuro. Se essa dor de cabeça
fosse embora eu poderia realmente dormir um pouco. Mas, em vez da felicidade
entorpecida do descanso, estou atormentado por visões de Jenna e Mia
morando na mesma casa que seus namorados. Não, não é namorado. Marido.
Minha mente se atrapalha em torno da palavra. Palavra suja, nojenta. Eu não
acredito que Jenna está casada. Ela é a Sra. Jenna Reese agora.
Porra! Eu pressiono o meu polegar e o indicador em meus olhos, numa
tentativa de apagar essa memória do meu cérebro. Isso me deixa com os olhos
turvos e apertando a minha cabeça. Preciso tomar alguns comprimidos para dor
de cabeça. Diabos, eu vou até tentar a eletroterapia se ela me curar desse latejar
constante. Apenas abra meu crânio e coloque essas pequenas ventosas bem aí.
Eu rio com a minha imagem, deitado em uma cama com o meu cérebro exposto
e sendo eletrocutado por pequenos cabos ligados a uma bateria de carro. Aposto
que Jonah adoraria fazer isso por mim.
— Runner! — Jonah chama da porta enquanto bate três vezes. — Sim? —
eu respondo, balançando minhas pernas para o lado da cama. Enfio meus pés
com meias de volta em meus tênis e caminho para abrir a porta. Jonah tem um
enorme sorriso de otário no rosto. Fico feliz em ver que ele está se sentindo
melhor. — Veo voltou e ele tem o dinheiro. Mike está verificando isso agora. —
diz ele, ainda sorrindo e inclinando a cabeça na direção do escritório. Eu corro
minhas mãos pelo meu cabelo e dou um suspiro de alívio. Veo tem uma família,
e ele seria um tolo em colocá-los em perigo. Fico feliz que ele veio. Eu ando atrás
de Jonah até o escritório. — Está tudo aqui. Dez mil. — Mike diz quando
entramos no cômodo.
— Qual cassino que você limpou, Veo? Ou para quem você deve dinheiro
agora?
— Ninguém, Runner. Eu ganhei esse dinheiro de forma justa no Apple. —
diz ele, apontando para a mala cheia de dinheiro.
O Apple é um bar luxuoso com uma operação suja de blackjack em suas
asas traseiras. Ele é administrado por um dos caras locais, Antonio LaVaas. Nós
não somos amigáveis. Eles devem ter tido grandes ligas jogando por lá hoje à
noite para Veo ganhar essa quantidade de dinheiro. Antonio não vai ficar feliz
quando descobrir que Veo estava limpando suas mesas contando cartas. Mas
isso não é problema meu. Eu queria matar Veo quando eu descobri que noite
após noite ele limpou as mesas de blackjack no Indigo contando cartas. Veo é
bem-vindo para jogar em qualquer uma das máquinas do Indigo, mas se eu
pegá-lo em minhas mesas, ele perderá sua capacidade de gerar novamente. Mas
Veo pagou sua dívida, e tudo o que ele precisava era um pouco de incentivo de
Jonah e sua faca. Negócios são negócios, e o nosso está feito.
— Bom, vá para casa, Veo, e pelo amor de Deus, não faça mais nenhuma
dívida. Esta casa não vai ajudá-lo novamente. E o nosso acordo está de pé. Você
pode jogar em minhas máquinas, mas se eu te pegar contando ou treinando em
minhas mesas, eu vou ter suas bolas. — eu digo, apontando para a porta da
frente. Espero que agora ele seja homem e cuide de sua família e pare de jogar
fora o futuro de seus filhos.
O rosto de Veo cai, mas ele acena com a cabeça e murmura um: — Sim,
Runner. — antes de ele sair, tão rápido quanto antes. Eu o sigo todo o caminho
até que ele entra em um táxi amarelo e vai embora. Eu tranco a porta da frente,
e minha mente entra em modo de suspensão. — Vamos encerrar a noite,
rapazes. — eu digo. Eu tranco a mala no cofre e desligo todas as luzes. Ninguém
mais é esperado hoje à noite, e eu quero a minha maldita cama, foda-se esses
beliches de merda.
Mike e Jonah pegam suas coisas, e Mike tranca a porta traseira quando
estamos todos do lado de fora. O ar da noite é frio e cheio de vários ruídos da
cidade. Eu ainda estou começando a me acostumar com todos os sons que
ocupam esse paraíso assustador assombrado.
Fico feliz que nós tenhamos a cabana um pouco fora da Maria’s Square. É
inacreditável o que dez minutos extras de carro podem fazer com o cenário.
Maria’s Square não é uma grande cidade. Com exceção das poucas luzes do
cassino e das muitas lojas ao longo das ruas, é muito monótona. É maior do que
Bailey, mas é um lugar emocionalmente frio. Bailey era casa. Bailey tinha
coração. Mas tome tempo para dirigir pela cidade, e coloque de lado toda a
estupidez, você vai encontrar nada, mas natureza... e uma tranquilidade feliz.
— Vamos ver um monte de clientes amanhã. — diz Mike sem cerimônias.
Finais de semana são sempre movimentados no cassino, e isso significa
um monte de clientes na casa de empréstimo. As pessoas vêm para o Indigo,
perdem seu dinheiro na sexta-feira e pedem emprestado o mesmo dinheiro de
volta na casa de empréstimo no sábado. Só para perder tudo de novo. Um
encantador pequeno passeio no carrossel do dinheiro, o que deixa você com sua
bunda para o lado pontudo da cabeça do unicórnio.
Vou até o lado do passageiro do Chevy e espero por Mike para abrir a
porta.
— Vocês vão na frente. Vejo vocês na cabana. — diz Jonah enquanto
destrava o lado do motorista da SUV preta com o logotipo do Indigo na frente.
Mike para no meio do caminho com a sua mão na porta e olha para
Jonah pensativo. — É meia-noite, Jonah. Ela está dormindo. Você pode fazer
um passeio até lá no domingo.
Jonah apenas ri para Mike como se fosse a coisa mais louca que ele disse
durante todo o dia. Então é por isso que ele estava tão feliz quando Veo
apareceu com o dinheiro. Ele sabia que ele estaria livre para sair. Ele deveria
apenas trazer Mary para cá logo. Ele vai ter muito mais sono, e talvez ele possa
talvez relaxar um pouco. Jonah abaixa o vidro e liga a SUV.
— Eu vou estar de volta a tempo de chutar os dois idiotas para fora da
cama. — ele diz com um sorriso. E ele estará. Jonah sempre levanta primeiro,
mesmo que ele passe a noite com a Mary. Esse cara é inquieto pra caralho. Não
gosta de ser mantido em casa também. Às vezes eu acho que ele vai ficar louco
se ele não brincar com a sua faca ou chutar alguém até a morte no Playstation.
Mike balança a cabeça e sobe no Chevy. Ele se inclina e abre minha porta.
Batidas pesadas preenchem o carro vindas do rádio enquanto eu afivelo o cinto.
Mike aumenta ainda mais o rádio e nos conduz para casa. Dez minutos mais
tarde, Mike se aproxima e abaixa a música.
— Você quer ir tomar uma cerveja? — ele pergunta quando chegamos
perto do Apple.
Eu realmente não quero. Eu só quero ir para a minha cama. — Não, eu
passo. — eu digo, olhando para fora da janela.
— Vamos lá, Runner, você é como uma ameixa seca, homem, todo seco.
Quando foi a última vez que teve um pouco de diversão? — ele pergunta
esperançoso. Eu zombo das suas palavras. Diversão? Eu nem sei o significado da
palavra. Então eu não me incomodo em respondê-lo.
— Você me obriga a fazer isso. — diz ele enquanto ele puxa o volante
duramente para a esquerda e nos leva de volta para o Apple.
— O que você está fazendo? — eu pergunto, agarrando o meu cinto de
segurança.
— Eu te desafio a se divertir um pouco, basta fazer algo louco. — diz ele
com um olhar que eu não confio. — Eu te desafio. — diz ele novamente. O que
nós somos? Adolescentes? Mas eu rio de qualquer maneira.
— Nossas vidas não são loucas o suficiente? — pergunto quando ele
estaciona ao lado do Apple.
— Louco divertido e Louco assustador são duas coisas muito diferentes.
— diz ele em uma risada.
— Então, o quê? Assistir alguma stripper velha em um fio dental em uma
noite quinta-feira é diversão louca? — eu pergunto, olhando os poucos carros no
estacionamento.
— Não, você vai encontrar algo para fazer. Eu não vou deixar este lugar
até que você faça algo. — diz ele, enfiando as chaves do Chevy no bolso dos seus
jeans. Eu lanço um olhar fulminante para ele e ele apenas bufa. O idiota sabe
que eu não vou lutar por essas chaves em seu bolso.
Eu tiro minha bunda cansada para fora do carro e entro no
estacionamento escuro. O lugar está morto. O que diabos eu devo fazer? Trazer
de volta o sutiã de uma stripper ou algo assim? — O que eu devo mesmo fazer?
— pergunto a ele pela janela. Mas Mike aperta o botão eletrônico de travamento
e a janela sobe suavemente. O bastardo presunçoso sorri para mim e me enxota
para frente.
Eu caminho lentamente em direção à porta da frente. No meio do
caminho um cara e dois de seus companheiros saem do Apple. Parece que eles
tiveram uma baita festa. O primeiro cara vai até a parede e se inclina contra ela
enquanto luta com o zíper.
— Adam, vamos lá. — seu amigo chama do lado de um carro enquanto o
outro tenta abri-lo. — Espere um segundo! — Adam grita de volta. Esse cara está
muito bêbado. Ele tropeça e amaldiçoa em voz alta. Eu não posso evitar e rio
dele quando ele tenta não urinar em seus sapatos. Mike quer diversão, certo?
Poderia muito bem dar risada enquanto estou nisso. É melhor do que o que está
dentro do Apple.
— Ei, Adam! — eu chamo a alguns metros de distância. Ele resmunga
algo que não consigo ouvir, então eu chego mais perto.
— Ei, Adam? — eu chamo de novo.
— Espere um segundo. — diz ele, tentando mexer no zíper novamente. —
Oh, ei. — diz ele, quando ele me vê. Seus olhos estão turvos e fora de foco. — Eu
te conheço? — pergunta ele, tropeçando para frente. — Não, eu só estava me
perguntando se você tinha algum batom. — eu digo, lutando para manter uma
cara séria. Adam bate de leve em seus bolsos e depois franze o rosto. — O quê?
— pergunta ele, parecendo tão confuso que começo a rir. — Você sabe, batom?
Assim, você poderia passá-lo antes de beijar minha bunda. — eu digo ainda
rindo. Ouço Mike rindo atrás de mim, e eu me viro para vê-lo rindo na sua mão.
— O que você dis-xe1? — Adam diz indistintamente. Ele dá dois passos
desleixados para frente. — Não se preocupe, cara. Você deveria ir dormir. — eu
digo rapidamente quando seus dois amigos viram na esquina. Eu só estava
brincando com o Adam, não começando uma briga. Mike queria diversão, certo?
1 No original sh-hay. Onde deveria ser say.
— Ei, Adam, esses caras estão fazendo alguma merda? — o maior dos dois
pergunta. — O cara disse algo sobre beijar sua dunda2. Bunda. — Adam diz
indistintamente. O cara grande começa a caminhar na minha direção, e Mike ri
mais. Que amigo ele é. Essa é a minha deixa para sair.
Twack - Twack - Twack. Eu reconheço o som das pequenas bombinhas
que Mike e Jonah usam para afastar as crianças que traficam erva na esquina da
casa de empréstimo, imediatamente. O pobre Adam e seus amigos, não. Eles
caem como moscas no asfalto e cobrem suas cabeças. — Merda! Merda! Merda!
— Adam choraminga alto.
— Você está louco? — eu grito com Mike enquanto eu corro para o Chevy
e pulo dentro. — Diversão, Runner. — diz ele entre risos enquanto acelera. Isso
foi engraçado. E eu não posso deixar de rir com ele.
— Sua vez. — eu digo, quando eu finalmente posso respirar. — Tudo
bem... — ele para o Chevy. — Você dirige. — Mike sai e vai para o lado do
passageiro. — Isso não vai nos matar, não é? Ou sermos presos? — nenhum dos
dois está na minha lista de coisas para fazer esta noite. E você nunca sabe com o
Mike. — Pare de ser tão covarde. Dirija para Wooky. — diz ele.
Eu não pergunto por que, porque eu não quero ser chamado de covarde
novamente. Mike pega um baseado do porta-luvas e começa a desenrolá-lo. —
Consegui de uma daquelas crianças na casa de empréstimo. — diz ele em um dar
de ombros. Ele pega uma bombinha e enrola no baseado. Oh merda. — Você é
real? — eu pergunto. O idiota vai nos matar.
— Lá está a casa dele. Encoste. — Mike diz em um sorriso. Eu paro o
Chevy e Mike caminha para o lado do motorista. — Pare de olhar para mim
desse jeito. — ele diz secamente. Eu subo por cima dos assentos e sento no lado
do passageiro.
Wooky é um traficante que nós conhecemos quando ainda fazíamos
pequenas coisas para o Pete. Ele dirige uma pequena operação de sua casa.
Principalmente erva. Eu não o vejo há meses. Ele é um cara legal, mas algumas
2 No original ash. Onde deveria ser ass.
pessoas pensam que isso significa que podem aprontar uma com ele. Uma de
suas entregas desapareceu, e nós encontramos. Mais um amigo no mundo.
Espero que a brincadeirinha de Mike não arruíne isso.
Mike estaciona em frente à casa de Wooky. Há um grupo de pessoas
sentadas no jardim da frente. Inclusive Wooky. Ele caminha até o Chevy quando
ele nos vê. Mike me dá uma cotovelada nas costelas e pisca para mim.
Eu quase começo a rir, mas Wooky enfia a cabeça na janela de Mike, e eu
mantenho minha boca fechada. — Olá, irmãos. O que vocês andam fazendo? —
pergunta ele, com um grande sorriso. Seus dreads indo para cima e para baixo
com o movimento da sua cabeça. — Wooky! Bom irmão. — diz Mike, pegando
sua mão. Wooky olha para mim e meus lábios se contorcem. — Bom. —
murmuro, abaixando a cabeça. — O que vocês meninos estão fazendo na minha
vizinhança? — Wooky pergunta, ainda sorrindo. Eu acho que baseado o mantém
feliz. — Eu achei essa aqui com uma das crianças. Você pode me dizer quem é o
traficante? — Mike pergunta, entregando para Wooky o baseado. Oh Merda!
Isso vai acabar mal.
— Claro, irmão. — diz Wooky, pegando o baseado. Ele aperta os olhos
para o baseado na luz fraca da lâmpada de rua. Então, ele o leva até o nariz e
cheira. Ele coloca a extremidade plana do baseado em sua boca e chupa. Ele faz
uma pausa. Em seguida, ele pega uma caixa de fósforos do bolso vermelho,
amarelo e verde da sua camisa. Ele acende o baseado e Mike ri em silêncio. Eu
chupo meus lábios e os mordo com dificuldade em manter o sorriso dentro
deles. Outra tragada profunda e TWACK! A bombinha explode.
Mike olha para Wooky. Wooky olha para Mike. Wooky olha para mim.
Suas sobrancelhas se foram, e seus dreads têm pequenos pedaços de erva e
Rizzla3 neles. Eu tento segurar, mas não vou resistir, e, finalmente, eu apenas
explodo. Minha risada ruge para o ar da noite e Mike bate o pé sobre o
acelerador. O Chevy sacode para frente e meu corpo sacode com força contra o
cinto de segurança, mas ainda assim eu continuo rindo. Eu estou rindo tanto
que nem estou fazendo mais som. São apenas suspiros ocos escapando dos
3 papel para enrolar maconha.
meus pulmões vazios. Porra, isso foi engraçado. O rosto de Wooky foi
impagável! Mike ainda está rindo e está tendo problemas para controlar o
Chevy, seu corpo está tremendo tanto assim.
O telefone de Mike toca e ele aperta o botão para atender pelo carro. —
Mikey garoto, você me pegou. — diz Wooky pelo rádio. Mike enxuga as lágrimas
de seus olhos. Ele tenta dizer algo, mas acaba rindo ainda mais. E então Wooky
está rindo com a gente. — Vocês, garotos, tomem cuidado agora. — diz ele antes
da linha cair. Acho que podemos esperar uma brincadeira de Wooky. Eu vou
tomar cuidado extra de fechar a minha porta quando eu for para a cama. Eu
prefiro as minhas sobrancelhas e cabelos intactos.
Nós estacionamos na cabana e percebo que a luz ainda está acesa. Isso
significa que Ana ainda está acordada, e eu não estou no clima para ela ou para
a sua besteira. Eu a trocaria pela Mary a qualquer momento. Pena que Mike não
tinha nenhum lugar para deixá-la após o pequeno tiroteio com Danny Migelli.
Eu só estou feliz por ela não ser a minha ex. Como eles ainda saem? Uma vez,
ele até ameaçou colocá-la em uma caixa e enviá-la por oito mil quilômetros para
a mãe dela.
Eu saio do Chevy e caminho até a calçada lentamente. Nós deveríamos
construir uma porta nos fundos, dessa forma eu não teria que vê-la. Ana abre a
porta da frente vestindo nada além de sua calcinha e um top branco. Mike
amaldiçoa atrás de mim.
— Ana. — eu digo com tanto controle quanto eu posso reunir agora. Ela
está bloqueando a porta. Eu não vou movê-la do caminho mas estou tentado, e
Mike apenas parece cansado da merda dela. A coisa é, ela sabe das coisas. Não
muito, apenas informações suficientes para excluí-la da maldita caixa. Ela não
sabe que eu sou Kyle, mas ela estava lá no negócio que tivemos com Danny
Migelli. O acordo que resultou na nossa morte, e que a coloca em posição
privilegiada para negociar um lugar para dormir, pois, surpresa, nós não
estamos mortos.
— Runner. — ela ronrona, correndo um dedo pelo meu peito. Ela está
fazendo isso para conseguir uma reação minha. Eu não sinto cheiro de nenhum
tipo de álcool em seu hálito, mas seus olhos estão marejados e vermelhos. Dou
um passo para trás, Mike passa por mim e a move do caminho. — Que porra é
essa, Mike. Você não tem que ser tão rude. — ela repreende com veemência.
— Você não tem que ser tão desprezível. Coloque algumas roupas.
Ninguém aqui quer ver. — ele aponta para ela e, em seguida, diz: — Isso. —
significando toda ela em sua roupa íntima de algodão surpreendentemente
virginal. Mike caminha em direção à geladeira e pega uma cerveja. Ele
aparentemente terminou com essa conversa. Ele estende uma para mim e eu a
pego.
— Foda-se! — Ana grita e joga com força uma lâmpada da mesa para ele.
A lâmpada voa entre Mike e eu e quebra contra o armário da cozinha. Pedaços
de cerâmica barata caem com um som tilintando aos meus pés. Maldita
psicopata. — Você! Limpe essa merda. — eu grito para ela, batendo a minha
cerveja forte o suficiente para fazê-la espumar e transbordar na cozinha. Eu
passo por ela no caminho para o meu quarto, e ela se esconde de mim. Isso me
faz sentir como um grande maldito idiota. Eu nunca a machucaria, mesmo que
ela me deixe louco. Eu nunca machucaria qualquer mulher.
Uma vez que a porta do meu quarto está fechada, eu cedo contra ela,
agarrando o meu cabelo, minha bunda batendo alto uma vez que atinge o chão.
Eu sou um completo idiota por ter gritado com ela daquele jeito. Mas quem
diabos atira lâmpadas no rosto das pessoas? Aparentemente aquela garota louca
que reside em nosso sofá.
Segundo Dia
Jenna está de pé à
beira da água; ela está olhando para mim. Eu estou de pé na borda de uma
cachoeira. A mesma cachoeira que eu usei para fingir minha morte. Mas em vez
do olhar inseguro em seu rosto, que ela tinha no dia em que eu pulei, ela está me
encarando. Ela parece francamente chateada. Eu sei o que acontece em seguida.
Eu tive esse pesadelo uma centena de vezes. E não importa quantas vezes eu
tentei me acordar, é inútil. Meu cérebro me submete a passar por essa tortura
até o fim.
Eu assisto, impotente, enquanto Aiden caminha até Jenna e envolve seus
braços, eu-sou-muito-bom-para-ser-verdade, muito bronzeados, em volta da
sua cintura. Ele a vira na direção oposta e Jenna nem sequer olha para trás.
Nem mesmo quando o corpo sem vida, gotejando do buraco de bala, de Danny
Migelli aparece atrás de mim e me empurra do penhasco. Eu caio gritando em
direção ao abismo azul.
Eu me levanto com um solavanco, ofegante e com a respiração cortada
quase sem ar, pouco antes de eu cair na água. Toda vez, o mesmo sonho, cada
maldita vez.
— Merda. — eu gemo, caindo de volta no meu travesseiro. Meu cabelo
está encharcado de suor e escorrendo pela minha testa. Meu coração lentamente
retorna da maratona que parece estar competindo, fecho meus olhos,
inspirando e expirando lentamente.
— Vamos lá, Mike. Leve-me com você. Eu não vou a Bailey há meses, eu
quero ver Talon. — Ana implora.
O rosto de Talon passa rapidamente diante dos meus olhos. Seus
próprios olhos fechados em êxtase, a pele corada com reflexos suaves de rosa,
absolutamente linda. Mas então, outra coisa me bate e me salva do caminho
perigoso que meus pensamentos estão me levando. A voz de Ana. Ela está
falando com a voz mais doce que eu já a ouvi usar. Deus, ela soa quase normal.
Ela deve estar realmente cansada de ficar enfiada aqui o dia todo. As vozes estão
vindo da direção da cozinha, e eu posso ouvir uma colher tinindo no interior de
um copo. Café. Eu levanto minha bunda preguiçosa da cama e puxo meus jeans.
Então eu sigo os sons para a cozinha.
— Bom dia, luz do sol. — Mike me provoca como o idiota que ele é.
— Bom dia. — saúdo de volta, e apenas para torcer seus mamilos um
pouco mais eu digo: — Você deveria levá-la com você. — eu realmente não sou
uma pessoa matinal, todos sabem disso. Mantenha a conversa baixa até que eu
tenha pelo menos metade de um copo de café na minha garganta.
Os olhos de Mike ficam muito grandes e, em seguida, diminuem a
pequenas fendas conforme a carranca aparece no seu rosto. — Yay! Obrigada,
Runner! — Ana grita alegremente enquanto corre até mim. Ela dá um beijo
grande e molhado no meu rosto, que eu limpo imediatamente com o pano de
prato que está sobre a mesa. Ana faz uma carranca para mim, mas eu
simplesmente dou de ombros. Eu não sei por onde aqueles lábios passaram.
— Tudo bem, mas se você fizer eu me arrepender disso, eu juro que vou
enviá-la para sua mãe. Em uma caixa. Quem sabe o que há de tão especial sobre
esta maldita oficina. Toda vez que eu tenho que ir a Bailey e na Oficina do Ray,
você quer ir junto. E não finja que é porque Talon está em Bailey. Isso é besteira.
Mas vou fingir que acredito em você. Ligue para Talon e diga a ela para te
encontrar no Ray. Vocês podem bater papo lá mesmo no estacionamento. Eu
não vou deixar sua bunda vagar pela cidade e, em seguida, correr atrás de você
quando eu terminar. Quanto menos tempo eu gastar em Bailey, melhor. Quanto
menos tempo qualquer um de nós passar em Bailey, é muito melhor, cacete. —
Mike resmunga antes de ele pegar as chaves.
— Que seja. — Ana bufa. Ela pega sua bolsa e o segue até a porta. Aposto
que eles vão discutir todo o caminho para Bailey. Mike esteve reclamando sobre
esta viagem desde a semana passada. Parece que Mike estava com tanta pressa
para sair de Bailey na semana passada, depois que o Chevy foi consertado, que
acabou deixando sua cartilha de serviços na Oficina do Ray. Nenhum de nós
gostaria de voltar para Bailey, de volta para a cidade que costumávamos ficar.
De volta para a cidade onde cometi um assassinato.
Eu levo meu café comigo para o chuveiro. Tenho um monte de papelada
do trabalho para fazer hoje. E como Mike foi para Bailey, Jonah vai ter que abrir
a casa de empréstimo. Só então Jonah enfia a cabeça para dentro do corredor. —
Eles se foram? — ele sussurra. Eu rio e aceno quando o motor do Chevy ronca
mais. — Obrigado, não consigo gostar daquela mulher. — diz ele, pegando as
chaves e saindo pela porta.
— Nem eu. — murmuro. Mas somente as quatro paredes podem me
ouvir.
***
Meu escritório no cassino é um pouco pretensioso. Móveis de madeira
escura contrastando com as paredes azul claro, com guarnição anil e laranja na
decoração. Ele costumava ser todo branco, mas quando vi o interior do Indigo
eu decidi que precisava de uma séria mudança. Não é uma reforma, isso é algo
que uma garota diria. Uma mudança... como a minha vida. Eu simplesmente
não conseguia ver a coisa toda branca, sem acrescentar alguma cor nas paredes
e alguns móveis para complementar. Então eu chamei Reno e disse-lhe para
mandar um decorador aqui. E é com isso que eu acabei. Eu só não tive coragem
de dizer à pobre garota que eu achava que era um pouco demais. Ela ainda era
jovem, uma amiga da família de Reno, e ele decidiu dar-lhe uma chance. Então,
ficou laranja e anil.
Vou até a grande janela, minha parte favorita do escritório. Daqui eu
posso ver toda a parte frontal e o estacionamento do cassino. Incluindo a
entrada para o hotel. Não há um monte de carros em torno de 10:00h da
manhã. A maioria daqueles que passaram a noite, foram para casa e os
funcionários estão mudando de turno ou em seu intervalo.
Uma das garçonetes olha para cima e me vê em pé na janela. Ela acena
para mim. Eu sorrio e aceno de volta. Kelsey é uma loira sexy com grandes olhos
suaves da cor de jovens centáureas4. Ela tem um corpo firme e um grande
apetite para as coisas divertidas da vida. Sua atitude feliz na vida também é
contagiosa. Ela pode encher toda uma sala com essa atitude. As pessoas andam
próximas a ela sorrindo, e elas nem sequer sabem o porquê.
Nós saímos por alguns meses enquanto eu ficava no hotel, e por um
tempo, eu pensei que poderia dar certo entre nós, que ela poderia ser a garota.
Nada faz você se sentir como um homem bom do que uma garota que está
sempre olhando para você com um sorriso no rosto e pensamentos
impertinentes em sua mente. Mesmo se você é uma pessoa muito ruim, como
eu. Por um tempo ela me fez esquecer.
Mas não demorou muito tempo para começar a dar desculpas do porque
eu não podia mais vê-la. Algo em minha mente apenas estalou. Medo? Talvez.
Ninguém está seguro ao meu redor. Ou talvez eu simplesmente goste de me
torturar. Então eu fui direto e disse-lhe que não estava funcionando para mim.
Ela aceitou muito bem. Tão bem que ela se despiu e depois a mim, então com
certeza nós dissemos adeus corretamente. Melhor fim de relacionamento que já
existiu.
Desde então, eu só tive outro encontro com uma mulher. Porra, isso soa
como uma maldita invasão alienígena. Homenzinhos verdes em metal, nave em
forma de disco voador sequestrando minha bunda e me cutucando com um
marcador de gado. Eu lhe asseguro, eu não fui experimento de extraterrestres.
Esta experiência foi de explodir a mente, sim. De trancar a bunda, sim. Joelhos
tremendo como eu nunca vou ser capaz de ficar longe dessa garota, sim.
4 Tipo de azul; semelhante a cor do céu.
Um caso de uma noite, isso é o que era. Com Talon, a amiga ruiva mal-
humorada de Ana. Eu não posso nem acreditar que eu deixei isso acontecer. Ana
foi expulsa de um clube de novo e Mike se recusou a ir buscá-la. Eu senti pena
da garota estar sozinha tão tarde, peguei o carro e fui até Square para buscá-la.
Quando cheguei ao clube, Ana e Talon estavam sentadas na calçada do lado de
fora do clube. Mesmo enquanto eu me dirigia até elas eu pude ver que Ana
estava devastada. Seu cabelo estava uma bagunça e seus sapatos estavam
pendurados em seus dedos.
Os faróis do carro pairaram sobre a garota sentada ao lado dela. Talon
estava sentada com a cabeça apoiada em seus braços. Seu cabelo ruivo cobrindo
o rosto. Eu pensei que ela estava bêbada também e que eu estaria preso
transportando as duas para o carro. Mas quando eu fui até elas, Ana começou a
chorar e pronunciar sobre o quanto Mike a odiava. E ele odiava, mas isso é só
porque ela é tão malditamente difícil, especialmente quando bebe. E eu acho
que ela faz isso só para irritá-lo. E o término deles não foi exatamente civilizado.
Ela não deveria ter levado o seu maldito cachorro quando eles terminaram.
Talon falou com Ana em palavras suaves e calmantes e, oh minhas bolas
azuis e doloridas, aquela voz doce enviou uma sacudida direto para meu pau. Eu
tropecei um passo para trás e respirei fundo. Eu não tinha visto o rosto dela
ainda e eu já queria empurrá-la contra o meu carro. Isso me pegou
completamente desprevenido. Eu não tenho reações como esta com garotas a
menos que sejam... não importa, de volta a Talon. Talon colocou o braço em
volta da cintura de Ana e gentilmente a levantou e a levou para o carro. Talon
não estava nada bêbada. Ainda não de qualquer maneira. Eu abri a porta de trás
e Talon ajudou Ana a deitar-se no banco, então ela se virou para mim, tirou o pó
da bunda da sua calça jeans com as mãos e estendeu a mão para mim.
— Talon Blake. — disse ela, olhando para mim com olhos castanhos
ousados. Aqueles eram o tipo de olhos que o levam a fazer algo estúpido, algo
realmente estúpido, só assim você pode provar a essa garota que você é homem
o suficiente para respirar o mesmo ar que ela.
— Runner. — disse eu, pegando e apertando a mão dela. — Só Runner?
Isso é mesmo um nome? — ela zombou. — Eu poderia te perguntar a mesma
coisa, Talon. É um nome muito estranho. Não significa os dedos de um pássaro
ou algo assim?5 Eu não quero ter um nome por causa dos dedos de um pássaro.
— eu disse.
Ela riu, mas não disse nada sobre a minha tentativa idiota de flertar. Ela
se acomodou no banco do passageiro. — Eu acho que você seria um grande
Nail6, porque isso é o que é, uma unha do dedo7... — ela brincou. Seus olhos
castanhos estavam dançando com alegria. Uma unha, eu poderia aceitar isso.
Eu andei até o lado do motorista, sorrindo, mesmo que meu dia tenha
sido uma merda. Algumas frases faladas com Talon e eu já me sentia muito
melhor.
Enquanto eu estava cantando pra mim mesmo, Talon inclinou-se entre os
bancos da frente e tirou meia garrafa de tequila da bolsa da Ana.
— Saúde, tem sido uma noite longa e seca para mim. — ela disse e
inclinou a garrafa em sua boca. Algumas gotas do líquido derramaram de seus
lábios e escorreram pelo seu queixo. A gota clara se agarrou a sua pele enquanto
ela deslizava lentamente, uma dança sedutora só para mim. Eu assisti a gota, até
que finalmente desapareceu sob sua roupa. Essa foi a primeira vez que eu quis
provar sua pele. E eu sabia que se eu não começasse a dirigir este carro eu ia
fazer algo estúpido, como transar com ela em um estacionamento com sua
amiga desmaiada no banco de trás. Ela passou os dedos sobre o queixo e os
colocou em sua boca. Eu estava tentando arduamente não prestar atenção em
Talon e a maneira que seu jeans agarrava ao seu corpo magro que eu nem
sequer perguntei a ela onde deveria deixá-la.
No momento em que paramos na cabana eu ansiava por tequila e, cacete,
eu ansiava por ela. Eu abri minha porta, ansioso para fugir do cheiro de Talon e
bebida. Odeio o cheiro de bebida alcoólica, mas de alguma forma o cheiro
misturado com o perfume de Talon, me deixou com uma ereção no meu jeans.
5 A tradução de Talon é garra.
6 Em português unha, fazendo referência à brincadeira que Runner fez com o nome dela.
7 No original fingernail – unha do dedo.
Fiquei tentado a deixar as garotas do lado de fora e dizer a Mike para
pegá-las, mas em vez de ir para dentro, eu andei para o lado do passageiro, abri
a porta, agarrei a tequila e engoli o último terço da garrafa. E então eu enfiei a
língua na garganta de Talon. Beijei-a com força, beijei-a rapidamente. Eu puxei
sua língua na minha boca e chupei ainda mais forte. Mas ela não me afastou.
Éramos um emaranhado de corpos até chegar ao capô do meu carro. Peguei a
parte de trás das coxas e ergui sem esforço sobre o capô. Era muito fácil. A
forma como nossos corpos reagiam um ao outro. Como se ela soubesse
exatamente quando empurrar quando eu puxava. Talon era tão boa quanto ela
podia, e na hora que eu tinha o meu zíper abaixado e a saia dela em torno de
seus quadris, eu não me importava se alguém nos visse.
Eu fodi Talon no capô do meu carro em nossa garagem inundada por
luzes de segurança. Então eu a deixei, porque eu sabia que o sexo bom deixava
os homens fracos em suas cabeças. Uma conexão tão explosiva que iria
incinerar, e eu já podia sentir a queimadura. Eu me tranquei no meu quarto e,
na manhã seguinte, ela tinha ido embora. Eu não a vi desde então.
O toque estridente do telefone na minha mesa me faz voltar do meu
devaneio sobre a única noite com uma garota que só poderia significar
problema. Eu acordei e balancei a cabeça. Esses pensamentos não são bons na
minha cabeça. Eu já morri uma vez.
— Runner. — digo ao telefone.
— Runner, como você está, meu filho? — Reno pergunta por telefone.
— Bem, obrigado. O que há? — já estou desconfiado. Reno não faz
chamadas de cortesia.
— Veo pagou. — afirma.
— Sim, Veo pagou. — eu quase reviro os olhos. Ele já sabe disso, então
por que ele precisa de mim, eu não sei.
— Bom. — diz Reno.
— Sim, bom. — eu grunhi, ansioso para chegar ao fundo desta conversa.
Agora não está indo a lugar nenhum, mas o meu coração já está batendo mais
rápido.
— Ouça, Runner. Daniel Migelli está tramando algo. Eu não sei o que. —
há uma risadinha no fundo e os meus ouvidos apuram. Há uma garota com
Reno?
Ele suspira e diz: — Tome cuidado.
A linha é cortada antes que eu possa perguntar a ele sobre a garota. Estou
olhando para a esquerda da minha mesa com um beep no meu ouvido. Eu
desligo o telefone e sento na minha grande cadeira. Em vez de me preocupar
com Daniel Migelli, o cara cujo filho eu matei, estou preocupado com fato do
meu chefe ter uma garota?
Todos esses meses enfurnado no hotel no Indigo, à espera de Reno
decidir o que fazer comigo, me deixou com um monte de tempo. Eu fiz um
pouco de pesquisa sobre Reno e a família Migelli. Eu descobri algumas coisas
que eu preferiria não saber.
Reno teve um caso com a esposa de Daniel Migelli. Pai de um filho
bastardo, o que fez Daniel Migelli enlouquecer. Mas no momento em que Daniel
foi procurá-la, a mulher e o bebê estavam longe de serem encontrados. Reno
tem um talento especial para fazer as pessoas desaparecem. Tremo só de pensar
em outra cara de pizza como a de Danny Migelli andando por aí. É o suficiente
ter um me perseguindo em pesadelo. Eu não preciso de outro aparecendo na
minha porta.
Mas então eu me lembro do garoto loiro e uma mulher nas fotos na
residência Parker. É aquela a mulher e a criança? Isso tudo é tão confuso, não
admira que Daniel Migelli queira matar seu próprio irmão. Reno pode ser meio-
irmão de Daniel, mas há um vínculo de sangue, no entanto. Você não rouba a
esposa de outro homem. E Daniel Migelli está, provavelmente, apenas
esperando a criança há muito perdida e amada aparecer. Ele está planejando
matá-la? Se o cérebro de Daniel Migelli funciona como eu acho, ele
provavelmente pensa que Reno deve sofrer o mesmo destino que ele. Um filho
por um filho. Mas eu nunca ouvi Reno falar de um filho. E nunca ouvi Reno
falar de uma esposa ou uma namorada. Eu nem sabia que Reno estava saindo
com alguém. Nem acho que Reno sabe que eu sei sobre a sua história com a
família Migelli. Mas, como eu aprendi no passado, não há nada que Reno Parker
não saiba.
Eu puxo o relatório mais recente de lucro para mais perto e começo meu
trabalho do dia. Tanto os números do Indigo quanto da casa de empréstimo
precisam ir para Reno. E ele não gosta de ficar esperando, mesmo que tenha
acabado de encher a minha cabeça com uma carga de “ses”.
***
Quando meu pescoço começa a doer e meus olhos me traem com visões
de pequenos números brancos dançando na frente dos meus olhos, empurro os
papéis de volta para suas pastas e pego minhas chaves. Eu preciso deixar o
relatório de lucro pronto, mas todas as outras merdas correndo em minha
cabeça estão me enlouquecendo. Eu deixo cair as duas pastas sobre a mesa na
recepção e toco a campainha. A garota na recepção do hotel tem uma coisa com
um dos seguranças, e até agora eu deixei passar, mas se ela não estiver em sua
mesa quando preciso dela, vou ter que conversar com ela. Ela vem correndo
pelo corredor da escada de incêndio com o cara da segurança logo atrás sobre
seus calcanhares. Ela acaricia os cabelos e ajeita a saia enquanto vem até mim.
Eu a ignoro e, em vez disso, aponto para o cara. — Qual o seu nome? — o cara se
endireita e para. — Billy Douglas, senhor. — eu pego o telefone na recepção e
chamo a extensão para a sala de controle. Stephan responde imediatamente.
— Mude Billy Douglas para o turno da noite. Eu não quero ele e sua
namorada no mesmo turno. Não há trabalho nenhum sendo feito aqui, e eu não
pagarei as pessoas para ficarem se agarrando durante seu turno. — eu desligo o
telefone e olho para a garota que está com a cabeça abaixada de vergonha.
Missão cumprida, talvez ela vá começar a fazer o seu trabalho agora.
Eu envio uma mensagem para Jonah para que ele saiba que seu amigo
está bagunçando na escada de incêndio e que eu estou no meu caminho para a
casa de empréstimo. Aceno para o chefe da segurança quando os sensores
apitam loucamente quando saio. Eu esqueci de usar a saída de funcionários em
vez de utilizar a dos convidados. Eu só quero tomar um remédio para a dor de
cabeça ir embora e contar aos caras sobre o telefonema estranho que eu recebi
de Reno.
Quando eu viro a rua para a casa empréstimo, vejo que Mike já voltou de
Bailey. Estou tentado a perguntar se ele viu Mia ou se Jase está de volta ao Ray,
mas se Ana estiver com ele, terei que esperar.
Subo as escadas lentamente, mas quando chego à porta, quase perco
meus dentes da frente. A porta se abre de repente. O cheiro de canela me bate
primeiro, seguido por algo selvagem e apenas um toque de frutas cítricas que
deixa o meu corpo instantaneamente em estado de alerta. Todos os meus
sentidos se emocionam com a sua presença. Talon. Eu reconheceria esse cheiro
em qualquer lugar. Ficou preso na minha pele desde aquela noite. Só ela tem
essa reação em mim. Reivindicar, infringir, conquistar. E eu não sou nem
mesmo um sádico.
Ela me ignora completamente enquanto caminha e se senta na escada.
Não há nenhuma maneira que ela não tenha me visto. Mas ela nem sequer deu a
menor indicação de que me conhece. E, aqui o meu corpo está queimando
apenas com o seu cheiro. Ela pega um cigarro com suas unhas vermelho sangue
e o acende com um Zippo prata. Porra, ela é ainda mais bonita do que eu me
lembrava. A lua e a névoa fraca da tequila não lhe fizeram qualquer justiça. Se
ela sabe que eu estou olhando, não deixa transparecer. Meus olhos devoram a
sua bunda coberta de jeans apertado.
Que porra é essa, ela não está nem olhando para mim. Eu bato a porta
atrás de mim, frustrado que isso sequer me incomodasse, que um caso de uma
noite não me cumprimentasse. Provavelmente porque eu nunca tive um caso de
uma noite parecido com ela. Bem, para o inferno com ela!
Mike e Jonah estão jogando vídeo game, e Ana está sentada à mesa
mandando mensagens de texto em seu telefone. Ela tem um sorriso enorme no
rosto, e eu sei que ela não está falando com Talon, porque ela está sentada do
lado de fora parecendo como um maldito sonho molhado. Mais uma vez estou
pensando que Ana parece quase normal, não a usual alma penada que joga
coisas em volta e grita com todos. Meu olho percebe um vislumbre de Talon pela
janela. Ela estica as pernas e inclina a cabeça para o céu. Ágil e elegante como
um felino, provavelmente apenas perigosa. Ela não parece de todo incomodada
por eu aparecer, então qual é o meu problema com esta garota? E por que é que
não consigo parar de olhar.
Volto minha atenção aos meus dois parceiros que parecem jogar para
viver. — Mike, Jonah, eu posso vê-los no escritório? — digo calmamente
enquanto a dor de cabeça bate no meu crânio.
Três cabeças viram em minha direção, ao mesmo tempo. Ana abaixa seu
telefone e cruza as mãos sobre o colo.
— Agora. — digo novamente, porque ninguém se move.
Ainda nada. Isso me irrita pra caralho. Eu aponto para Ana, mas me
impeço de gritar com ela quando seus olhos se arregalam. E eu realmente quero
gritar com ela por trazer Talon aqui. É ruim o suficiente que ela conheça os
nossos segredos, eu não preciso de suas amigas bisbilhotando também. Não
importa o quão quente elas sejam. Talvez eu esteja apenas chateado porque
Talon me ignorou, mas, no fundo, eu também sei que ninguém é de confiança. E
tudo está apenas bem confuso agora.
Ninguém sabe o que aconteceu entre Talon e eu naquela noite, eu duvido
que eles vão pensar que é por isso que estou irritado. Jonah e Mike acham que
eu ainda estou preso a Kels quando se trata de sentimento. Talvez pudesse ir ver
Kelsey depois disso? Acabar com um pouco dessa frustração sexual reprimida.
Eu visualizo Kels espalhada nua na cama grande do cassino e nada, nem mesmo
um movimento preguiçoso. Instantaneamente, eu me sinto mal por sequer ter
um pensamento de diversão usando-a desse jeito. Ela merece mais do que isso.
Eu sou um idiota por pensar que posso substituir Talon por Kels. Talon é fogo,
ela consome.
Talon abre a porta e uma brisa leve a segue para dentro. A brisa sopra
alguns fios de cabelo ruivo contra seus lábios e tudo, tudo, só vai à merda. A
única coisa que minha mente registra é quero! Quero tanto a Talon que isso só
pode acabar mal. Eu já estive aqui antes. Eu perco. Eu sempre perco no final. A
única maneira de eu ganhar é ficar inquebrável. Eu só posso ficar inquebrável
quando não tenho nada para me quebrar. Eu não posso evitar a raiva que ferve
dentro de mim por causa de Talon. Eu sou como uma britadeira pirando em
torno dessa garota, e é apenas a terceira vez que eu a vejo. Tudo o que eu quero
fazer é foder, e foder duro. Por que ela tem que vir e mexer com a minha cabeça?
Talon
Runner. Porra, eu não sabia o quanto eu queria vê-lo novamente.
Isso foi, até poucos segundos atrás, quando eu quase bati na sua cara.
Mas vendo seu rosto e cabelo foda-me, também me lembrou de como ele me
deixou seminua no capô de seu carro. Devo admitir que não se pode culpar
totalmente a tequila pelo o que aconteceu naquela noite, mas quem faz isso?
Foder e depois simplesmente ir embora?
Eu queria um pouco de diversão, e eu queria com ele, mas não foi como
eu imaginei terminando. Eu não estava procurando por abraços depois, mas eu
não esperava o desinteresse frio de depois também. Eu ainda tinha minhas
unhas nas costas dele enquanto ele jorrava sua semente por toda a minha
maldita coxa quando ele foi para o desligamento emocional. Ele apenas se
tornou frio!
Naquela noite, eu estava tão nervosa que bebi meia garrafa de Cuervo8
antes mesmo que eu percebesse. Ana me disse sobre o amigo sexy-mas-
inatingível de Mike. Ana me diz um monte de coisas quando está bêbada.
Mesmo quando minha cabeça estava nadando em tequila, tudo o que eu queria
fazer era arrancar meu nariz, então eu não teria mais que cheirar Runner.
Arrancar meus olhos para que eu não pudesse ver seu rosto diabolicamente
sexy. Mas em vez disso eu o deixei me usar. Como a vadia mais barata que ele
provavelmente pensa que eu sou. Eu apago a bituca do cigarro no degrau com
raiva e respiro fundo. É hora de ir embora. Eu não preciso de Runner para
atrapalhar os meus pensamentos; por tudo que eu sei, eu poderia pular nele e
deixá-lo me levar em sua mesa. Sem tequila para culpar desta vez. Runner não
é, obviamente, o material de namorado, não que eu queira um, mas também é
fácil de ver que ele tem problemas sérios. Tenho coisas mais importantes para
me preocupar agora.
Abro a porta da frente, mas paro segundos mais tarde, morta no meu
rastro. Runner me lança um olhar assassino, e os seus lábios se espalham em
um sorriso de escárnio malvado. Talvez fosse para fazê-lo parecer assustador, e
faz; o torna perigoso, e eu sou uma otária por me misturar com o tipo errado de
pessoas. Talvez ele esteja apenas chateado por me ver de novo. Runner sai
enfurecido para o escritório. Bem, foda-se ele!
Mike e Jonah se levantam e seguem-no até a parte de trás do edifício. É
definitivamente o fim - ele está chateado comigo por estar aqui. — O que foi
isso? — Ana sussurra suavemente. — O que? — eu respondo em um encolher de
ombros. — Isso. — diz ela, apontando na direção em que os caras saíram e
depois para mim. — Nada. — eu digo com a minha melhor cara de poker. É
verdade na maior parte. Eu não tenho certeza do que eu fiz para conseguir
aquele olhar de Runner. Talvez ele não goste de esbarrar com as garotas que ele
fodeu antes. Ana me observa por um segundo antes de olhar para seu telefone.
— Você provavelmente está certa. Runner não gosta de pessoas ao redor a
menos que seja para os negócios.
8 Marca de tequila.
Meu coração bate um pouco mais rápido quando eu percebo o que isso
significa. Não é que Runner não goste de mim, ele só não gosta de estranhos,
mesmo que ele tenha transado há pouco tempo. Eu vi como Mike observa Ana
de perto. Acho que fazendo o trabalho que eles fazem, você tem que ser
cuidadoso. Especialmente quando você trabalha para Reno Parker. Um arrepio
percorre minha espinha quando eu penso de volta nesta manhã antes de Ana me
telefonar e encontrá-la na oficina. Foi definitivamente uma intervenção bem-
vinda. Eu não estou ansiosa pelo meu encontro de hoje à noite. — Eu
provavelmente deveria ir. — digo a Ana. Não estou impaciente para me preparar
para o que eu tenho que fazer esta noite. Mas tem que ser feito. Isso tem que
funcionar. — Hum, ok, eu vou pedir a Mike quando ele terminar lá. Runner
parecia um pouco tenso quando ele entrou. — diz ela, então ela volta a digitar
em seu telefone com um enorme sorriso no rosto. — Para quem você está
mandando mensagem? — eu pergunto.
— James, vou encontrá-lo amanhã.
Ela está tão animada. — Certo, boa sorte com isso. Mike não vai deixar
você ir. — eu digo como se não fosse óbvio o suficiente.
— Eu não sou prisioneira de Mike. Eu não sou nada de Mike. Mas isso
não importa, porque você vai pedir a ele. — ela sorri triunfante.
Eu bufo com aquilo mas paro quando Jonah e Mike saem do escritório. —
Talon, eu estou indo para Bailey, você precisa de uma carona? — Jonah me
pergunta. Bem, lá se vai o plano de Ana, mas esses caras não parecem como se
estivessem com humor para conversa de garota irritante, então eu dou um
sorriso simpático para Ana e aceno para Jonah.
— Espere, eu posso ir? — Ana pede para Mike.
— Não, você tem que vir comigo. — ele diz.
— Para onde vamos. — Ana pergunta.
— Pela primeira vez você poderia calar a boca, Ana? Só uma vez, fazer o
que é dito. — Mike disse, tentando manter a voz baixa.
Ana dá um passo para trás, em seguida, endireita os ombros. Um barulho
vem da parte de trás do prédio, mas nenhum dos rapazes vira nem mesmo a
cabeça. Estou tendo um mau pressentimento sobre isso. Algo não está certo. Ou
talvez seja apenas a minha consciência brincando. Ana parece que está prestes a
gritar com Mike, mas, em seguida, Jonah dá passos atrás dela e envolve seus
dedos ao redor de seu braço. — Vamos todos. — ele diz a ela, mas seus olhos
estão vidrados na porta em que eles passaram antes. Esse sentimento ruim que
eu estava falando bloqueia os meus joelhos, e eu não tenho certeza se isso é uma
coisa boa ou uma coisa muito ruim. Eu não consigo decidir se eu quero ficar
parada ou começar a correr.
Mike limpa a garganta e acena com a cabeça em direção à porta da frente.
— Ótimo. — eu guincho, tentando soar alegre. — Oh nossa, Talon, você está
pálida como um fantasma. Você está se sentindo bem? — eu balanço minha
cabeça e respiro fundo para tentar manter a náusea. — Consiga um copo de água
para ela ou algo assim. — diz Ana, mas Jonah só continua levando-me para a
fora da porta da frente. — Ar fresco vai ser melhor. Temos que ir. — ele diz.
Respire fundo, Talon. Runner falou para eles se livrarem de mim, eu
tenho certeza disso. Ele não queria me ver naquela casa. Ou ele sabe...? Meu
processo de pensamento é cortado quando me dobro e esvazio meu estômago
em seu canteiro de flores. A tensão finalmente tornando-se demasiada para
mim. Eu não nasci para isso. Eu nem sei como consegui sobreviver tanto tempo.
Não é nada, Talon. Ele provavelmente só não quer que você fique por aqui. Eu
não sabia que era um crime dormir com um líder de gangue e aparecer de novo
depois. Ele só tinha que dizer que nunca queria me ver de novo. Eu vou ficar
longe.
Eu não tenho nenhum negócio com ele de qualquer jeito. Eu soluço e
vomito um pouco mais. Ana está segurando meu cabelo e esfregando minhas
costas suavemente.
— É melhor eu ficar com ela esta noite, Mike. Ela não parece bem. — diz
Ana, enquanto continua acalmando minhas costas.
Ela não poderia ter feito isso melhor, mesmo que planejasse. Vamos
torcer para que funcione. Mike não vai deixar Ana ficar se eles estiverem
planejando me matar. Tudo isso poderia ser apenas minha imaginação.
— Ana. — Mike diz com firmeza, e meu estômago dá uma guinada para
cima novamente. Havia um aviso firme naquela única palavra em resposta. Eu
faço vômito e olho para cima para Ana e Mike travados em algum tipo de
encarada silenciosa. Eu já vi esse olhar em Ana muitas vezes. Mike é a primeira
vez. Ana costumava me dizer como Mike sempre foi o namorado amoroso, até
que ela o traiu e levou o seu cachorro. Ele não levou isso muito bem. — Por
favor, Mike, minha amiga está doente. — Ana tenta novamente.
— Ana, chega dessa merda, vamos só entrar na porra da van antes que
Runner volte aqui. — Jonah se intromete, parecendo frustrado. O que aconteceu
naquele escritório para deixar esses caras tão tensos?
Ana começa a me levar em direção a van do Indigo, mas meu estômago se
rebela mais uma vez, e eu tusso um pouco mais e vomito tudo sobre a calçada.
Minha cabeça está quente e úmida, e eu limpo com as costas da minha mão.
Seguro-me em Ana para apoio e olho nos olhos de Mike. Veja como estou
doente. Por que você ia querer me matar? Eu não sou ameaça para você. Eu digo
com os meus olhos, ou pelo menos eu espero que essa seja a mensagem que ele
recebe.
— Ok, ok. — Mike diz, erguendo as duas mãos. Então ele nos empurra
suavemente em direção a van. — Você pode ficar essa noite na Talon, mas é
melhor você estar de volta amanhã. — Sim! — Ana diz, jogando as mãos no ar.
Ela vai ser pega no flagra. Ninguém fica feliz por cuidar da sua amiga doente. Eu
me sinto muito melhor agora que eu tenho certeza que ninguém vai me apagar
esta noite e que o meu segredo ainda está seguro. Eu não sobrevivi até aqui só
para acabar em uma vala agora. Não agora, eu não planejo falhar, ainda não.
Runner
— O que ela está fazendo aqui? — eu exijo de Mike. O olho de Mike
contrai um pouco. Apenas um tremor rápido do músculo de seu olho antes de
ele se recompor.
— Fácil, Runner. Ela só veio com Ana. É provavelmente melhor deixar
Ana passar algum tempo com sua única amiga em um ambiente controlado,
onde podemos ficar de olho nela. Nós não queremos que ela fuja para ficar
bêbada em algum lugar. Ela sabe muito. — Mike diz, sentando-se sobre a mesa.
Parece que ele tinha que explicar-se para uma criança de quatro anos. E é claro
que ele está certo. Ana já provou inúmeras vezes que tem a língua solta quando
ela está bêbada. Caramba, o que há de errado comigo?
— Você está certo. — eu solto um suspiro pesado. Abro a gaveta da mesa e
tiro analgésicos de dentro. Eu jogo dois em minha mão e os engulo com a Coca-
Cola que eu peguei quando entrei. Pergunto-me se essas malditas dores de
cabeça são apenas coisas da minha cabeça. Eu não sou o tipo de pessoa viciada
em analgésicos, mas eu estou começando a ficar preocupado aqui.
— Essa não é a razão pela qual eu chamei vocês aqui. Reno ligou. —
ambos os rapazes sentaram-se eretos e deram-me sua total atenção. Isto não é
mais sobre eu ter um chilique. — Ele está preocupado com Daniel Migelli. Disse-
me para ter cuidado. Eu não sei o que está acontecendo com aqueles dois, além
do concurso habitual de mijo de macho, mas eu tenho um sentimento que isto
está prestes a ficar ruim. — eu digo. Deixo cair a minha cabeça em minhas mãos,
uma vez que de repente parece pesada demais para meus ombros. A paz não
dura muito tempo, quando você sempre tem que olhar por cima do ombro. É
um milagre eu não ter desenvolvido uma torção no pescoço de sempre observar
minhas costas.
— E isso é tudo o que ele disse? — Jonah pergunta. — Só isso. — eu
confirmo. Não lhes digo sobre a garota no fundo porque soa estúpido só de
pensar nisso.
— Se você está preocupado, eu estou preocupado. É o fim de semana. Eu
quero ir buscar Mary. — diz Jonah, olhando de mim para a janela, como se ele
não pudesse sair rápido o suficiente. Seus olhos são cautelosos, à procura de
alguma ameaça invisível pronta para nos atacar. Eu não estou totalmente certo
de que sua repentina histeria é infundada. Só então o meu telefone emite um
sinal sonoro de um e-mail de entrada. Eu deslizo meu dedo sobre a tela.
— Merda! LaVaas acabou de ser marcado. — eu digo alto o suficiente para
fazer os caras saltarem.
— Foda-se! Eu odeio aquele merda! Por que ele iria correr, Runner? Ele
tem um negócio aqui. — diz Jonah. — E ele não está em débito até a próxima
semana. — Mike termina.
— Sim, mas Reno quer que a gente vá hoje à noite. — eu digo.
— Ele não vai ficar feliz, e as chances de ele ter o dinheiro agora é zero.
Tínhamos um acordo para a próxima semana. — Jonah resmunga.
— Ele não vai ter o dinheiro. — diz Mike. Ele caminha até a mesa e pega a
arma dele.
— Algo está definitivamente errado. Se eu não confiasse em Reno, eu
diria que isso é uma armadilha, mas ele não nos traiu uma vez nos últimos seis
anos, por que começar agora? — eu questiono. Alguma ansiedade inquieta de
Jonah se arrasta sobre a minha carne, fazendo a pele parecer muito tensa.
Eu olho para Mike e Jonah, mas nenhum deles tem uma resposta para
mim. Eu realmente não esperava uma. O silêncio deles consome o meu coração,
e ele começa uma batida constante, adrenalina fresca nas minhas veias.
— Vamos tirar Talon daqui e acabar logo com isso. Jonah pode levá-la de
volta para Bailey e trazer Mary de volta com ele. Vou mandar Ana arrumar a
cabana para a visita de Mary. — diz Mike.
— Ok. — eu digo, então eu viro as costas para eles para abrir o cofre. Eu
odeio o que está dentro.
A mesma arma que eu usei para atirar em Danny Migelli zomba de mim
das trevas. Se Daniel Migelli sequer a encontrar, não tem escapatória para o que
eu fiz. Ele vai saber que eu atirei em seu filho. Ele vai saber que eu não estou
morto. Ele saberá que Reno o traiu.
Eu estendo a palma da minha mão para a arma e deixo a minha pele se
acostumar com o aço frio. Ela ainda parece tão estranha em minhas mãos.
Sinto-me como se eu fosse outra pessoa quando pego essa arma. Poderoso,
perigoso, mas não sou idiota. Eu sei que é o homem que faz o cara, não a arma.
Então, Daniel Migelli pode vir, LaVaas pode trazê-lo. Eu não sou o mesmo
garoto que atirou em Danny Migelli, filho do mais poderoso traficante em
Bailey. Não, eu sou um homem totalmente diferente agora. Eu cumpri a
sentença de morte proverbial na parte de trás da minha calça jeans. Não há
descanso para os maus.
De repente, o cômodo parece muito pequeno, há muitas coisas inúteis
que estão ao redor. Eu olho para o caro abajur sobre a mesa e confiro a distância
até a parede. Então, eu varro o meu braço em um arco largo e o envio pelo ar.
Quebra contra a parede com uma rachadura satisfatória, dando um banho no
chão em um arco-íris de cristais. Agora eu sei por que Ana gosta tanto disso;
essa merda é libertadora.
***
Eu não deixo o escritório até que eu tenha certeza que Talon se foi. Então
busco uma cerveja da geladeira. Eu não a abro apesar disso. Eu não sou muito fã
de álcool. Nas noites de trabalho tardias nós estocamos tudo neste lugar, de
bebida alcoólica até escovas de dente extras.
Às vezes, depois que alguém desfalecia nós voltamos para a casa de
empréstimo após a nossa visita de cortesia, apenas no caso de estarmos sendo
seguidos. Pelo menos mantém a cabana segura. Mantém a casa a salvo. Eu
retiro a tampa da cerveja e me sento no sofá mais próximo. Por que Reno está
fazendo isso de forma aleatória? Por que marcar LaVaas, que sempre paga a
dívida no prazo? Reno apenas marca os mais arriscados e LaVaas não vai correr.
Ele ama demais seu negócio escamoso, nojento. LaVaas administra um bar ao ar
livre onde eles usam para apostar em cães. É isso mesmo, lutas de cães. Pit
bulls. Odeio esse tipo de gente, e se eu pudesse começar um round com eles
naquele ringue cercado por pneus, eu os rasgaria em pedaços, em vez deles
assistindo os cães rasgando-se em partes. Eu já fui naquele lugar antes quando
LaVaas fez o primeiro empréstimo para consertar o bar que queimou. Ou pelo
menos é para isso que ele disse que precisava. Nós não sabíamos para onde
estávamos indo até que fosse tarde demais.
Jonah encontrou um filhote de cachorro ao lado do campo que ia até a
área onde a velha diversão costumava ser realizada. Ele estava sangrando muito.
Estávamos tentando descobrir como ele se machucou quando ouvimos as vaias
e gritos vindos das escadas que levavam para o que parecia ser um porão. Jonah
apertou o cinto em torno da sua boca, a pegou e pegou sua arma. Fazendo sinal
para que nós avançássemos, desceu os degraus que davam para uma caverna
cheia de fumaça com pouca iluminação. O som de pessoas torcendo e xingando
encheu o ar, mas conforme nós fazíamos nosso caminho através da multidão
suada, os sons de cães rosnando e ganindo tornou-se proeminente. Havia um
cheiro enferrujado no ar, e eu mantive a minha respiração superficial, com
muito medo de inalar o mal do lugar. Por um segundo, eu duvidava do que eu
estava prestes a fazer, e em seguida estava feito. Eu disparei minha arma três
vezes no ar, trazendo tanto relativa paz e morte ao caos simultaneamente. As
pessoas estavam se encolhendo no chão, os seguranças corriam ao redor
procurando a ameaça. Durante todo o tempo, ficamos calmamente em pé no
meio da multidão, à espera de alguém nos reconhecer.
Quando LaVaas veio na minha direção, eu apontei minha arma para ele e
exigi o seu nome. Eu queria rasgar um pedaço de carne para fora do seu rosto
presunçoso. — Nós não negociamos com escória como você. — eu disse, e nós
andamos em linha reta para fora de lá. Jonah cuidou do filhote até que ela
estivesse bem o suficiente para comer e ficar sozinha. Em seguida, ele a levou
para um abrigo em Bailey. Disse-lhes que a encontrou ao lado da estrada.
Quando ele voltou para a cabana, havia algo selvagem em seus olhos. E eu sabia
que o meu amigo estava pensando a mesma coisa que eu tinha pensado antes.
Apenas um round com o filho da puta doente e ele nunca faria isso de novo.
Reno, eventualmente, nos telefonou para perguntar por que o negócio
não foi para frente. Eu lhe disse que me recuso a fazer negócios com pessoas
assim, e se ele quisesse o acordo, ele teria que fazer isso sozinho. Se aquele
negócio avançasse, eu faria tudo ao meu alcance para sabotar o lugar. Reno me
disse que ele não sabia qual era o tipo de operação que LaVaas fazia; caso
contrário, ele não faria negócios com ele também.
Dois dias depois, LaVaas foi convenientemente invadido e fechado. E por
alguma força misteriosa, o seu bar realmente pegou fogo. Agora ele administra
um bar e um clube no mesmo local, e empresto-lhe o dinheiro para pagar o bar
que eu poderia ou não ter incendiado. Mafiosos com boas intenções não fazem
amigos com facilidade, e parece que eu estou apenas criando problemas onde
quer que eu vá. Um balde cheio de inimigos e um punhado de amigos. Mas eu
não faria de nenhuma outra maneira. Eu sou quem sou.
***
Acabou de chegar à meia-noite, e a estrada que conduz ao parque de
diversões está tragada pela escuridão. As únicas fontes de luz a essa distância da
cidade são os faróis balançando da van. Mas tudo isso está prestes a mudar,
enquanto Mike dirige a van para o espaço aberto de terra que serve como
estacionamento para os negócios de Benedict LaVaas. Os restos enferrujados da
velha roda gigante parecem com um esqueleto mal-assombrado no céu da meia-
noite.
Está lotado. Mesmo no escuro eu posso ver os contornos dos muitos
carros estacionados do lado de fora. Do outro lado da cerca, isso zumbe com a
vida.
Mike encontra uma vaga de estacionamento perto da saída com uma rota
de fuga clara, se as coisas derem errado como da última vez que estivemos aqui.
Ele estaciona e me olha com preocupação pesando em sua testa. Eu aceno com a
cabeça e abro a minha porta, indicando que estamos definitivamente fazendo
isso. Eu ajusto a arma na parte de trás da minha calça jeans e olho ao redor
procurando por guardas ou vigias. Se LaVaas ainda está na luta de cães,
certamente há pessoas atentas para os policiais. Após o ataque, ele tem que ter
muito cuidado. Eu não vejo ninguém por perto, mas eu posso ouvir música
tocando em algum lugar à distância.
Mike e Jonah saem, e andamos na direção dos muitos focos de fogo que
mostram o caminho. Barris cortados na metade cheios de fogo em fila indicam o
caminho até a velha bilheteria. Um cara está recebendo as taxas de entrada e
carimbando as mãos das pessoas. Eu pago para nós três e olho para o selo de
palhaço roxo na minha mão. Fodidamente interessante; se isto é um circo,
estamos prestes a conhecer o mestre de cerimônias. Eu quase espero que ele
jogue seus leões em cima de nós. Estou pronto para uma luta. É essa maldita
arma. Mas eu não sou estúpido e não sou imprudente. Tenho Mike e Jonah para
pensar. Eu não vou colocar meus amigos em qualquer perigo que possa ser
evitado.
Há várias tendas de camping no velho parque de diversões. Uma branca
grande onde as pessoas estão dançando com bastões luminosos e outra onde
algumas pessoas estão sentadas jogando cartas. Outra tem pessoas sentadas no
bar que LaVaas construiu com o dinheiro de Reno. Mas nenhuma luta de cães
até o momento.
Caminhamos na direção do porão subterrâneo onde encontramos o
filhote no ano passado, mas não há nada lá. Só um monte de velhas latas vazias
e entulho. Para a direita está uma grande multidão amontoada em cima um dos
outros gritando e gritando. Meu estômago gela, mas eu avanço mais rápido de
qualquer maneira. Mike e Jonah fazem o mesmo. Quando eu finalmente rompo
a multidão, eu paro abruptamente e encaro o espetáculo na minha frente. É um
poço de lama com duas mulheres lutando em uma jaula. Eu olho para Jonah e
depois para Mike e solto uma gargalhada. Jonah começa lentamente. Primeiro
uma risada, até que ele se inclina e segura o estômago de rir muito forte. Mike
realmente parece intrigado com a bagunça suja. Definitivamente não é o que eu
estava esperando encontrar quando vi o tamanho da multidão. Mas, tanto
quanto eu sei, não há nenhuma lei contra isso, e as mulheres definitivamente
não são menores de idade.
Eu empurro de volta no meio da multidão para ir encontrar LaVaas,
aliviado que eu não estava confrontando a mesma situação do ano passado. Eu
acho que não seria capaz de deixá-lo viver se ele ainda estivesse apostando em
cães. No caminho para o bar, dois dos homens de LaVaas nos flanqueia de cada
lado e nos guia para a tenda onde os caras estavam jogando mais cedo. LaVaas
está sentado em uma mesa com outros dois homens e um pequeno pit bull a
seus pés. O cachorro levanta a cabeça quando caminhamos em direção ao seu
dono, mas perde o interesse rapidamente e se enrola em cima de seu pé. Ela é
linda, a pele é de um marrom brilhante e seu nariz brilha um marrom-
avermelhado saudável na penumbra. Ela parece bem cuidada, mas essa é a
porra de toda esta configuração - alimentam bem seus cães, os prepara, treina, e
então jogam tudo fora, colocando-os em um ringue, com um cão que é
igualmente bem cuidado e bem treinado. Os cães nunca são os mesmo depois
disso. O filhote que encontramos alguns meses atrás mal tinha oito meses de
idade. Ela não tinha a menor chance. Ela estava apavorada, tímida e
absolutamente cruel. Se Jonah não tivesse colocado o cinto ao redor de seu
focinho, ele teria perdido um dedo tentando pegá-la.
LaVaas se abaixa e acaricia entre as orelhas com um sorriso maroto no
rosto. Eu me pergunto se é apenas para mostrar ou para me irritar. Estou
tentado a atirar em seus dentes amarelados manchados de fumo. Mas em vez
disso eu enrolo meus dedos em punhos apertados enquanto eu mudo meu foco
de volta para o cão. Suas orelhas ainda não estão cortadas, então eu acho que ele
não planeja lutar com ela, mas então ele pode sempre fazer depois. Eu já sei que
Benedict LaVaas e eu nunca seremos melhores amigos.
— Runner, Mike, Jonah. Por favor, sentem-se. Gostariam de uma bebida?
— LaVaas pergunta, olhando para cada um de nós por vez. Sentamos nos três
lugares vazios na frente dele. Recuso a bebida, nem mesmo um copo de água,
principalmente porque eu não tenho certeza que eles não vão tentar me drogar.
Eu custava realmente para esses caras um banheiro cheio de dinheiro. Mike e
Jonah fazem o mesmo, cuidado nunca é demais. — O que posso fazer por vocês,
cavalheiros? — LaVaas pergunta, tomando um gole do líquido âmbar em seu
copo.
— Reno quer pagamento antecipado. — eu digo. Não há necessidade de
perder tempo com conversa fiada. Ou explicações.
— Meu pagamento não é devido até a próxima semana. Eu não tenho o
dinheiro. Eu não fiz arranjos. — diz LaVaas, encolhendo os ombros, como não se
houvesse nada que ele pudesse fazer sobre isso agora.
Ele usa todas as desculpas que sabíamos que ele iria usar. Eu
provavelmente poderia esvaziar seus caixas e contar o dinheiro lá fora. Parece
que ele está fazendo um bom negócio hoje.
Um movimento do outro lado da tenda me chama a atenção, e eu vejo um
dos homens de LaVaas conversando com um homem de meia idade bem
vestido. Seu paletó parece fora do lugar entre os outros clientes do
estabelecimento de Benedict. O homem parece infeliz e aparenta estar à procura
de alguém. Quando ele se vira, minha frequência cardíaca aumenta. Reconheço
o emblema da empresa de Migelli em seu bolso do terno imediatamente, mesmo
sob a luz fraca. Tenho evitado essa marca há seis anos, mas estar tão perto de
Bailey, arriscamo-nos a encontrar com eles de vez em quando, e eu tenho
certeza que eu já vi o rosto desse cara antes. LaVaas está fazendo negócios com
Daniel Migelli? Isso poderia explicar o boom repentino no negócio. Reno sabe?
Isso explicaria a marca. Eu tenho que sair daqui. Eu não preciso de um encontro
com os homens de Migelli, e eu tenho que descobrir o que Reno sabe sobre isso,
agora.
— Pagamento parcial? — pergunto a LaVaas. Mais para que ele não possa
ver que eu só quero dar o fora daqui. Eu evito Migelli e seus homens por seis
anos, e minha mãe e irmã estão indo muito bem, muito obrigado, porra. Eu não
vou bagunçar isso agora. LaVaas estala os dedos e uma ruiva traz uma bolsa
despojada em uma bandeja. Ela oferece a bolsa para mim, eu a pego e abro.
Dentro tem pelo menos mil dólares. É um pequeno troco comparado com o que
ele deve. LaVaas tem de pagar quinze vezes isso, mas o cara do outro lado da
tenda está acompanhando nosso encontro com olhos de cobra muito
interessados. Hora de cair fora.
Eu aceno com a cabeça e levanto-me. Mike e Jonah me dão um olhar
confuso, mas eu os ignoro. Vou explicar mais tarde, quando não houver tantos
olhos sobre nós. Eu me sinto em uma maldita expedição de dinossauro. Uma em
sério risco de extinção. — Não se preocupe, Runner, eu não vou a lugar nenhum.
Diga a Reno para relaxar. Ele vai receber o seu dinheiro. — diz LaVaas com um
brilho nos olhos. Ele se recosta na cadeira e cruza as mãos atrás da cabeça. E
então ele olha diretamente para o cara que está me observando. Pego a arma na
parte de trás da minha calça jeans para me certificar de que ainda está lá. Mike
vê o que eu estou fazendo e imediatamente pega a dele e segura em sua mão.
Mike não é de sutilezas. Ele vê uma ameaça, ele elimina a ameaça. LaVaas sorri
para nós e o cara de Migelli começa a caminhar em minha direção. Eu me viro e
faço o trabalho rápido de desaparecer no meio da multidão. Eu não estou
fugindo. Eu estou escolhendo minhas batalhas, e essa é uma que não podemos
vencer. Preciso manter meus amigos a salvo primeiro.
— Quanto ele pagou? — Mike me pergunta quando chegamos a van. —
Uma parte. — eu digo, jogando a bolsa no porta-luvas da van. — Isso não é o
suficiente. — diz Mike, ligando a van. Eu verifico o estacionamento para me
certificar de que não estamos sendo seguidos. — Vá para a casa de empréstimo.
Vamos dormir lá esta noite.
— O quê? Por quê? — Jonah pergunta. Mary está na cabana; é claro que
ele vai querer ir lá.
— Braço direito de Daniel Migelli estava lá esta noite. O que quer que
esteja afundando, vai afundar em breve. — eu digo. Jonah reclama do banco de
trás, mas não diz nada. Eu inclino a cabeça para trás contra o assento. Espero
que eu possa descobrir o que é isso antes que nos atinja.
Terceiro Dia
— Kyle. —
o soluço suave seguindo o meu nome de nascimento me faz sentar na cama. De
alguma forma, eu consegui atender ao telefone ainda meio adormecido. Mas
estou bem acordado agora. Ninguém me chamou pelo meu nome verdadeiro em
mais de seis anos.
— Emily? — pergunto cuidadosamente por telefone. A velha senhora
italiana que trabalha para Reno era como uma avó para mim depois que a
minha vida foi para a merda. Se ela nunca tivesse me deixado entrar para ver
Reno naquele dia, toda a minha família, inclusive eu, poderia estar morta agora.
— Há policiais em toda parte. Dizem que ele se suicidou. Ele não faria
isso, Kyle. Venha rápido. — diz ela, quando seu sotaque não parecia ser ela
mesma.
— Foda-se! — eu grito para o telefone e ela chora mais. — Shhh, Emily.
Runner está chegando, está bem? Você fica aí. Runner vai estar aí em breve. —
eu digo. Espero que, repetindo o meu nome ela se lembre de não me chamar de
Kyle mais. Eu não sei quem mais está naquela casa agora.
Ela limpa a garganta e fala um pouco mais composta ao telefone: —
Venha logo Sr. Runner. — e depois de uma última fungada o telefone fica mudo.
— Porra, caralho, puta que pariu! — eu xingo e jogo meu telefone sobre a
cama. É verdade, Reno teve uma mão nos eventos que mudaram a minha vida.
Mas ele me ofereceu uma saída. Às vezes eu podia sentir que era um acordo
injusto, mas eu ainda tive uma escolha. Uma escolha que eu fiz e tinha que viver
com ela. Reno podia não ter feito nada; ele poderia ter voltado atrás em seu
negócio e me matado de qualquer maneira. Eu tinha um compromisso com ele.
Eu sabia demais. Mas ele me deixou trabalhar para ele. Deu-me um lugar para
ficar, porra, ele até mesmo me deu uma nova identidade. Se não fosse por ele, o
meu cadáver estaria apodrecendo em uma vala em algum lugar. Ele nos tratou
com respeito a cada passo do caminho. E no final, eu decidia como eu vivia
minha vida, enquanto trabalhava para ele. Eu não me transformei em um
assassino cruel ou um destruidor de vidas. Eu sou um homem muito razoável. E
Reno permitiu isso.
O que acontece agora? Foi Migelli que matou Reno? Como eles
conseguiram entrar na casa? Reno não mantém um monte de guardas ao redor,
apenas Stephan que vigiava o portão.
Eu ando de um lado ao outro no meu quarto tentando encontrar um
caminho a seguir. Eu não posso voltar para Bailey. Há muitas pessoas que me
conhecem. Se alguém me visse e me reconhecesse, meu disfarce como Runner
seria arruinado. Não posso arriscar trazer mamãe e Mia de volta para dentro
disso, não com a única ligação me vinculando à morte delas.
No mundo real, Kyle Andrews morreu em um acidente durante as férias.
Mas neste reino perigoso onde os homens têm mais poder do que cérebro, o
assassino de Danny Migelli ainda estava vivo e Daniel Migelli exigia retaliação.
Para manter o seu nariz limpo daquele assassinato, Reno cuidou disso, e assim
nasceu Runner. Eu não sei quem foi o cara que pagou pelos meus pecados. Nós
não deixamos testemunhas naquela biblioteca, então quem poderia provar que
Reno estava errado? Ninguém. Mas as coisas têm sido abaladas recentemente.
Reno ficou assustado, e eu não tenho certeza que aquela fraude passou
totalmente despercebida. O que aconteceu naquela casa? Por que Reno está
morto? Será que Daniel Migelli sabe?
Eu chuto a minha mesa de cabeceira por pura frustração, e pela primeira
vez, a dor física dói mais do que a dor no meu coração. Eu não posso acreditar
que Reno está morto.
Eu deixo a porta aberta e vou para baixo. Qualquer coisa para conseguir
livrar minha mente dessa merda sem sentido. Eu não sou claustrofóbico, mas
tudo aparece no meu caminho, como se as próprias paredes viessem em minha
direção. Prontas para me esmagar se eu parar de me mover.
— Whoa, onde está o fogo? — Mike pergunta quando o encontro. — O que
é isso? — ele pergunta com mais convicção quando vê meu rosto. Eu dou mais
alguns passos e, finalmente, apenas paro.
— Reno está morto. Emily acabou de telefonar. A polícia está por toda
casa. Dizem que ele se matou. — eu digo, dando um passo para trás e
encostando no balcão. Eu disse isso; as palavras saíram mais fácil do que eu
pensei. O latejar na minha cabeça começa de novo, e eu me movo rapidamente,
com medo que as paredes comecem logo a cair. Eu não tenho certeza se eu temo
pelo meu bem estar mental ou físico. Eu pego dois analgésicos e engulo com
água direto da torneira. Eu preciso me recompor. Fui criado para fazer isso.
Para assumir o comando, eu não vou falhar agora!
— O quê? Como? Foda-se! — Mike tem a mesma reação que eu. Talvez
um pouco mais lento para reagir, mas ainda a mesma.
Veja, a coisa é, se nós não trabalhamos para Reno, quem somos nós? Eu
não sou mais uma pessoa real. Mike e Jonah, trabalham para ele, porque eles
decidiram também. Eu trabalho para ele, porque eu não tinha outro lugar para
ir. Ele me acolheu. Ele me salvou; para todos os efeitos da palavra, ele era meu
pai. Ele me deu uma segunda chance na vida.
— Onde está Jonah? Vamos garantir que todos estejam seguros. Telefone
para Ana, diga-lhe para ficar na Talon. Sob nenhuma circunstância ela pode
deixar o apartamento de Talon. Você vai buscá-la quando você for para Bailey.
Traga-a de volta e leve-a para a cabana. Pelo menos Mary já está aqui, de modo
que é menos uma viagem. Um de vocês terá que verificar Mia, certifique-se de
que ela está bem, apenas uma passada pelo salão deve ser o suficiente. — eu
digo. Começo a andar de um lado ao outro de novo, enquanto Mike vai buscar
Jonah no quarto que eles dormem, na casa de empréstimo. Por que todo mundo
que conheço vive em Bailey? Reno, Talon, Daniel Migelli, ah sim, porque eu
cresci lá, PORRA!
Mike volta com Jonah, que parece tão confuso quanto eu. — Eu não posso
ir para Bailey; há muitas pessoas que me conheciam. Vocês terão que ir. Se
vocês tiverem problemas me avise. — eu digo, esperando esclarecer algumas das
confusões. Eu simplesmente não posso arriscar. Eu não me importo que não
tenha a mesma aparência daquela época. Um trabalho estético não vai enganar
as pessoas que realmente me conhecem.
— Por que nós vamos para Bailey, Runner? Talon pode trazer Ana para
casa. Podemos telefonar para o salão para verificar se Mia está lá. — Mike fala.
— Vão, pois Emily precisa de vocês. Vão, porque eu preciso de olhos
naquele lugar. Pegue Ana e traga-a de volta. Depois, eu não sei. Vou telefonar
para o advogado de Reno, para ver se ele sabe alguma coisa.
***
Sinto-me melhor depois de uma ducha e ligar a televisão. Tenho um jogo
para planejar. Tenho que pensar em alguma coisa, porque o meu telefonema
para o advogado de Reno foi um desperdício de tempo. Ele me disse a mesma
coisa que Emily. Suicídio. Merda. Eu tenho que esperar por Mike e Jonah
voltarem, pegar os detalhes com eles. Eles vão falar com Stephan e Emily. Daí
eu devo ser capaz de determinar quem fez isso e o porquê.
O noticiário está cobrindo o suicídio do empresário local Reno Parker.
Tem até mesmo uma chamada de sua casa. Eu não consigo ver nenhum sinal
dos caras, então eles devem estar dentro, acalmando, como eles deveriam. Em
seguida, o repórter diz algo sobre um herdeiro para o reino Parker, e eu
aumento o volume.
— O empresário local Reno Parker cometeu suicídio ontem à noite por
volta das 11:00 horas da noite, a governanta do Sr. Parker e seu guarda-costas
disseram que não ouviram nenhum tiro, mas o Sr. Parker foi encontrado com
um ferimento de bala na lateral da cabeça e a arma em sua mão. Seu corpo foi
encontrado por sua empregada, esta manhã. Rumores contam que o Sr. Parker
deixou seus milhões a seu filho desconhecido e a um homem conhecido apenas
como 'Runner', que se juntou às empresas do Sr. Parker alguns anos atrás.
— Porra! — como Reno pôde ser tão estúpido? Ele deveria ter
conhecimento de que a mídia teria um dia de campo com ele me deixando essa
herança. Ele deveria ter tomado melhores precauções. É só uma questão de
tempo antes que eles descubram que Runner é o outro filho de Reno. Como eles
conseguiram a informação tão rápido? Droga, ele deveria ter feito isso melhor!
Eu já sabia que a casa de empréstimo e o cassino ficariam para mim. Era a única
coisa que o advogado de Reno tinha certeza ao falar comigo esta manhã. A casa
e as ações vão todas para o filho perdido e amado. A mesma criança amada que
é, provavelmente, a razão da morte de Reno. Tenho certeza de que Daniel fez
isso. Mas eu não me importo que o filho pródigo esteja herdando uma porrada
de dinheiro. O que eu me importo realmente é com o Indigo. Eu e os rapazes
trabalhamos duro pelo cassino, e eu tenho tido vontade de me livrar da casa de
empréstimo já há algum tempo. Por que e quem diabos matou Reno? E como
faço para provar isso? O que eu faço quando eu puder provar isso?
— Runner. — eu respondo meu telefone no primeiro toque.
— Ei, Mia está segura. Jase está em casa. — Mike fala.
Eu solto um suspiro de alívio, sabendo que minha irmã está segura e que
não está sozinha.
— Ana está desaparecida. Eu não consigo encontrá-la em lugar nenhum.
Talon disse que ela saiu ontem à noite e não voltou. Eu estou pensando que ela
está desmaiada em algum lugar. Eu prefiro lidar com a questão de Reno
primeiro e procurá-la amanhã. Talon vai nos ligar assim que ela aparecer. Olha,
tem um cara aqui, Xavier. Ele diz que Reno era o seu pai. Ele está fazendo
perguntas pra caralho e eu não sei o que dizer a ele. — diz Mike. Ele parece
irritado. Eu sei que ele não gosta de estar em Bailey.
— Diga a ele para falar com o advogado do pai dele. Diga a ele que nós
somos apenas funcionários ou tecnicamente parceiros de negócios. De acordo
com a notícia, nós possuímos o cassino e a casa de empréstimo. Parabéns. —
digo, tentando soar otimista. Não estou enganando nem a mim mesmo.
— Você viu aquilo? Espero que eles não vão te procurar. — diz Mike.
— Eu espero que não. Meus segredos estão finalmente aproximando-se
de mim. — eles não vão encontrar nada que não pode ser explicado, minha
consciência sussurra. Eu sei que eu superestimo a maioria dessa merda de
qualquer maneira.
— Nós estamos com tudo sob controle. Falo com você mais tarde. — diz
Mike, e a linha cai.
Eu não posso sentar em torno disso e não fazer nada, então mesmo que
eu simplesmente tenha acabado de perder o homem que era muito mais um pai
para mim, do que o meu pai verdadeiro, eu fico pronto para o trabalho. Eu dirijo
lentamente para o cassino. Eu não estou no clima para a reunião que está
esperando por mim. A equipe toda deve saber agora se qualquer um deles
assistiu ao noticiário, mas eu provavelmente tenho que lhes dizer por mim
mesmo de qualquer maneira.
Eu vou até a mesa da Amanda antes do chefe da segurança me alcançar.
Eu ergo minha mão e falo com a Amanda. Pela primeira vez, ela está em sua
mesa quando eu preciso dela e não transando com o namorado na escada de
incêndio. Talvez seja porque o namorado dela está agora em um turno diferente.
— Convoque uma reunião, os funcionários do cassino e os funcionários do hotel.
Eu só vou fazer isso uma vez, então, se tiver de ser tarde, faça-o mais tarde. —
então, eu entro em meu escritório e fecho as portas. É sábado e hora do almoço.
O cassino vai estar cheio. Esta reunião não vai acontecer até a mudança de turno
esta noite. Mesmo assim, eu não vou ter todos os funcionários em um único
lugar. Não podemos deixar as mesas sem atendimento ou os clientes com sede.
Cinco minutos depois, meu telefone da mesa toca. — Sim?
— Sr. Runner, a reunião está marcada para 21:00 na mudança de turno
na sala de conferências. Sr. Walters sugeriu que seria melhor. — diz Amanda. —
Obrigado. — eu desligo o telefone. Vou até a janela e olho para o hotel. Tudo isto
me pertence. Eu sei que eu mereço. Eu trabalhei por ele, mas o que é que vai me
custar agora que o mundo inteiro sabe sobre mim?
Eu fico no meu escritório até que Amanda chega e bate na minha porta.
Seu turno terminou há quatro horas. Estou tentado a perguntar o que ela ainda
está fazendo aqui e mandá-la para casa, mas eu simplesmente não tenho
energia.
A sala de conferências está lotada de parede a parede com os funcionários
do Indigo. Murmúrios nervosos e ar úmido enchem a sala, fazendo minha
língua pesada na minha boca. Eu corro meu dedo dentro da gola da minha
camisa em uma tentativa de aliviar a sensação de asfixia que tem um poder
sobre mim. Eu ando até o pódio e olho para baixo para o mar de funcionários.
Não parece muito certo, eu aqui e eles lá embaixo. Eu nunca me vi como sendo
melhor do que qualquer outro. Eu deveria saber, vindo de uma casa muito
pobre. Estou tentado a descer e fazer o discurso do chão, mas eu me lembro do
que Reno disse sobre respeito. E, mesmo que eu temesse Reno, eu o respeitava.
Sim, ele era um homem duro, mas ele fazia o que era certo, sempre.
Tem um cara no meio da multidão olhando para mim, com a minha
idade. Sua camisa branca de botão está passada com cada centímetro da vida
dela. Suas calças pretas são retas e engomadas, mas eu posso ver apenas uma
sugestão de uma tatuagem saindo da manga de sua camisa. Isso significa que ele
vai roubar e assaltar o cassino sem qualquer arma? Eu sei melhor do que isso. O
cara segura meu olhar por um segundo a mais, antes de abaixar os olhos. O
restante dos funcionários todos parecem ansiosos, alguns parecem
preocupados. Algum deles conhece Reno? Acho que não. Ele nunca veio ao
cassino. Acho Kelsey no meio da multidão, e ela sorri para mim. Meus lábios
sobem um pouco e eu limpo minha garganta. Eu mantenho meus olhos em Kels.
— Obrigado a todos por terem vindo. Como vocês já devem ter ouvido,
Reno Parker, o dono do cassino, faleceu na noite passada. — há um murmúrio
coletivo e suspiros de surpresa. Suponho que o fato de eu dizer o torna mais
real. Ou eles realmente não assistiram ao noticiário.
— Para aqueles de vocês querendo saber se o cassino ou hotel vai fechar,
a resposta é não. A maioria de vocês já sabe que eles pertencem a mim, e quem
não sabia, os noticiários confirmaram esta manhã. Sim, Reno teve um filho, e eu
posso garantir-vos que não afetará as relações aqui.
Novamente, há alguns murmúrios especulativos e suspiros, e depois meu
telefone toca. Eu o tiro do bolso e vejo que é Mike me ligando.
— Vocês podem voltar a trabalhar agora, ou ir para casa, para aqueles que
já terminaram o dia. Obrigado. — eu digo e saio correndo da sala para atender
ao telefone.
— Sim? — eu falo, mas a linha está morta. Então eu ligo para Mike e
caminho de volta para o meu escritório.
— Runner. Eu vou matá-la! — Mike amaldiçoa no telefone. Parece que ele
está dirigindo.
— Mike, o que? — eu digo, fechando a minha porta do escritório atrás de
mim.
— Ana, eu vou matá-la. Você não vai acreditar onde a putinha está! —
Mike diz pisando no freio, ou pelo menos é isso que eu acho que seja o som
horrível. Eu posso ouvir Jonah no fundo, dizendo-lhe para se acalmar.
— Onde ela está, Mike? — eu pergunto. Eu não quero ficar com raiva dela
ainda.
— Ela está em uma festa na casa de Mia.
Eu deixo cair o telefone e ele faz barulho no chão. Ok, agora eu estou
muito bravo com ela. De todas as coisas estúpidas que Ana pode fazer, ela faz
isso. Ela não sabe que Mia é minha irmã, e eu aposto que a razão pela qual ela
sempre vai com Talon para a Oficina do Ray é porque ela está de olho em um
dos caras que trabalham lá. Nós não precisamos chamar esse tipo de atenção
para nós mesmos! Pergunto-me brevemente quem é o burro com herpes que vai
cair nas farsas da Ana. É Lewis? É James? Eu sei que não é Jase.
Eu finalmente pego o telefone com os dedos trêmulos. A adrenalina está
correndo solta no meu sangue. Tão alta que eu tenho medo que eu vou desmaiar
de uma ruptura da artéria.
— Runner? Você está aí, cara? — Mike pergunta freneticamente do outro
lado.
— Eu estou aqui. — digo, tentando soar calmo. Mas sinceramente, eu
pareço raivoso. Como um animal com raiva, espumando pela boca. — Eu estou
aqui. — isso soa quase normal. Eu não quero Mike correndo lá como um louco.
Eu não quero que minha irmã ou Jenna se machuquem na luta, que eu sei que
está chegando.
— Leve Stephan com você e tire-a de lá. Faça isso com calma. Estou indo
para Bailey. Estou saindo agora. — e então eu desligo o telefone. Que porra é
essa que eu disse? Eu não fui ao sul de Square desde que cheguei aqui. A coisa é,
eu odeio que esta merda esteja fora do meu controle. A última vez que aconteceu
custou a minha vida.
Talon
Ana está vestida para matar. Ou ela ou outra pessoa, porque ela já tinha
bebido muito para saltos daquela altura. Se ela não cair e matar a si mesma, ela
pode derrubar alguém mais.
Eu ando ao redor com meu carro velho e aos pedaços e abro a porta para
ela para ter certeza de que esta é a casa que devíamos estar. Eu acho que esta é a
casa, porque já existem alguns carros estacionados na frente e um caminhão
tocando música com um monte de caras. Eu fecho a porta do lado do passageiro
e ela volta balançando aberta, quase arrancando meus pés. Ana ri alto e eu fecho
a cara para ela. É realmente muito engraçado, mas este pedaço de sucata de
metal é tudo que eu posso pagar com meu salário como bartender.
Eu levanto a porta ligeiramente e empurro-a para fechar com um clique
final. Espero que ela abra mais tarde. Ana caminha à frente, mas para em uma
caminhonete preta na entrada da garagem e verifica seu batom. Ela balança um
pouco, mas eu agarro o braço dela e a mantenho em linha reta. Então eu verifico
o meu. Eu não estou procurando ficar com alguém esta noite, mas uma garota
tem que parecer bem. Eu tive o meu quinhão de desastres de namoro
recentemente. Eu não preciso de mais drama.
A noite passada foi meu ponto de ruptura. Nenhum homem vai me
quebrar de novo. Então, eu o quebrei. Eu fiz o que tinha que fazer, alimentada
pelos demônios do meu passado, eu fiz uma coisa monstruosa e agora não há
como voltar atrás. Com esperança, isto tudo vai acabar em breve, e eu posso
deixar esse pesadelo para trás. Então eu vou ter que enfrentar um tipo diferente
de horror, mas estou pronta para isso. Eu anseio tanto o encerramento quanto
preciso.
Há uma garota com mechas vermelhas em seu cabelo em pé na porta da
frente nos verificando, mas quando subimos as escadas, ela sai do caminho e
nos deixa passar. Ana murmura algo sobre vadia quando estamos fora do
alcance da voz, e eu bato meu cotovelo nas costelas dela. — Ai. — ela ri.
— Então, onde está o seu sexy? — eu digo, olhando para todas as pessoas.
Ana lança um olhar ao redor da sala e me puxa para a cozinha. Há um grupo de
pessoas sentadas à mesa bebendo tequila, e eu penso imediatamente em
Runner. Esse cara me arruinou para o meu veneno mexicano favorito.
Um cara com cabelos loiros e olhos azuis claros, sentado no canto da
mesa, se levanta e vai até Ana. Ela sorri brilhantemente e joga os braços em
volta dele. Esse deve ser James. Ele é magro, com jeans que se encaixam bem e
seu rosto de bebê é livre de qualquer pelo facial. Uau, uma reviravolta total do
seu último namorado, Mike. Eu olho para as outras pessoas na mesa. Tem um
cara que é tão perfeito que chega a machucar os meus olhos, eu olho para a
garota ao lado dele, mas ela é quase pior. Então eu acabo olhando para um
diabo, com os olhos verdes como o prado e cabelo escuro. Um calafrio
serpenteia pela minha espinha e eu olho para baixo. Uau. Esse cara é intenso; eu
podia sentir aquela encarada por todo o caminho até a alma, que eu vendi há
muito tempo. Mexo um pouco em meus joelhos temporariamente
enfraquecidos. Tudo isso só por causa de um olhar. Parece que todos os meus
segredos sujos foram queimados diretamente para a superfície da minha pele.
Sou grata quando James e Ana vão para fora, e nós nos sentamos no lado
oposto da piscina.
— Talon, este é James. James, Talon é minha melhor amiga. — Ana diz,
fazendo as apresentações. Eu aperto a mão de James. — Festa legal. — eu falo. —
Obrigado. É uma festa de boas-vindas para Jase. — explica James com um
sorriso encantador. Ele é muito bonito. Uma gracinha realmente. E é melhor
Ana se cuidar ou esse cara vai escorregar direto através de seus pequenos dedos.
— Jase? — pergunto por pura curiosidade. Eu gosto de pessoas com
nomes estranhos.
— O cara com o piercing e tatuagens sentado à mesa. — James sorri. Oh
uau, ele é realmente encantador. Não me lembro de ver alguém com tatuagens
ou piercings no interior. Apenas possessivos olhos verdes.
— Você estava encarando-o. — Ana diz, quando eu não falo nada. Eu
realmente não consigo me lembrar de ninguém com tatuagens ou piercings.
— O quê? Eu não encarei ninguém. — me defendo rapidamente. Então eu
rio porque eu realmente olhei para os olhos verdes um pouco demais.
— Ele tem olhos verdes? — pergunto a James. O que foi? Eu vi cinco
pessoas em nosso caminho até aqui. A garota na porta, o casal perfeito modelo
ardente, olhos verdes e James. Eu não sou muito observadora, foda-me. James
joga seus braços no ar e os deixa dar um tapa em suas coxas. — São sempre seus
olhos que as pegam. — ele fala, enquanto ri para mim.
— Bem, são olhos bastante surpreendentes. — eu digo, rindo com ele.
James faz uma careta séria e, em seguida, olha para a casa. — Não deixe
Mia ouvir você dizer isso. Ela é muito protetora daqueles olhos verdes. — diz ele,
estalando um sorriso bonito no final.
— Vocês senhoras gostariam de algo para beber? — James oferece. Estou
realmente começando a gostar desse cara, e eu espero que, pelo bem de Ana,
que ela possa mantê-lo juntos. Ele vai ser bom para ela.
— Claro, eu vou querer o que você tiver e Ana beberá água. — eu me
apresso em falar antes que Ana possa dizer algo. Ela começa a protestar, mas eu
dou-lhe um olhar cala-a-porra-da-sua-boca-e-pegue-a-maldita-água e ela
felizmente fecha a boca.
— Ok. — diz James, em seguida, desaparece para dentro da casa. — Ele
parece legal. — eu digo a Ana. Sua única resposta é o seu grande sorriso.
— Oh merda. — diz ela, quando seu sorriso vacila e desliza fora de seu
rosto.
— O quê? — eu me viro um momento antes de Mike ir até Ana. No
começo eu acho que ele vai bater nela, ele parece louco, mas depois ele me
surpreende e pergunta a ela da maneira mais gentil, para por favor ir embora
com ele. Mas Ana, sendo Ana, sempre tem que ser teimosa.
— Ana, por favor, eu estou pedindo gentilmente que você venha. Algo
aconteceu. Temos que ir agora. Runner já está a caminho de Bailey. — Mike
suplica com olhos grandes.
— O que aconteceu? — pergunto a Mike, mas ele nem sequer olha para
mim.
— Ana, agora. — Mike diz um pouco mais alto, mas ela continua a ignorá-
lo. Então Mike se abaixa e a joga por cima do ombro, mas Ana luta tanto que
ambos caem. E é aí que Mike perde a paciência. Eu não sei se era sua intenção
agarrá-la pelos cabelos, mas ele levanta o seu rosto para encontrar o dele e grita
no rosto dela.
— Sua menininha idiota, você não tem ideia do que você fez! — no
instante seguinte, Mike está contra a parede, e tudo que eu posso ver são
tatuagens pretas voando enquanto Jase balança os punhos no rosto de Mike
uma e outra vez. Mike solta grunhidos em cada golpe, até que tudo o que eu
posso ouvir é o sopro de ar de seus lábios e os golpes implacáveis dos punhos de
Jase.
Foda-se! Pego Ana e a puxo em direção à porta dos fundos. No nosso
caminho até lá, James agarra o braço de Ana, mas eu o empurro quando vejo
Jonah vindo em nossa direção. Precisamos sair daqui. Quando olho para trás,
Jonah está ocupado esmurrando o rosto de James. Ana vê também, e ela está
chorando histericamente agora. Ela luta contra o meu domínio sobre ela, mas eu
aperto mais a ponto de deixar contusões nela, eu a empurro pelo nosso caminho
através da casa. A garota da porta da frente está gritando com outra garota que
está pairando sobre um cara no chão com o rosto coberto de sangue e eu tenho
certeza que ele é o cara perfeito da mesa. Eu arrasto Ana atrás de mim mais
rápido até que eu finalmente a levo para fora da porta e para o meu carro.
Graças a Deus a porta teimosa funcionou. Minhas mãos estão tremendo
tanto que eu não consigo colocar a chave na ignição. Depois da segunda vez que
deixo cair as minhas chaves, eu sento e tomo uma respiração profunda. Eu tento
de novo, e desta vez, eu finalmente consigo enfiar a chave. Eu deixo o meu carro
em ponto morto enquanto pego meu telefone para ligar para a polícia. Dou-lhes
o endereço e digo-lhes sobre uma briga no bairro. Eu não quero que ninguém
naquela casa se machuque por causa da Ana e da minha estupidez. Eu deveria
ter telefonado para Mike no minuto em que ela apareceu no meu apartamento.
Eu me afasto do meio-fio e piso o máximo no acelerador assim que
viramos a esquina. Eu não posso esperar para chegar em casa com segurança e
longe dessa bagunça. Havia sangue por toda parte lá naquela casa. Eu odeio
sangue. Faz-me lembrar dele. Do meu segredo, e parece que meus demônios
estão apenas esperando para me rasgar. Eles estão uivando, assobiando e
salivando com a ideia de eu falhar. Mas eu não vou, eu já ganhei. Eu estou na
metade do caminho.
Uma vez que estamos em casa eu envio uma mensagem para Mike
dizendo-lhe para vir buscar Ana. Quanto mais eu ficar longe dessas pessoas,
melhor. O que aconteceu hoje à noite foi muito extremo para apenas um ex-
namorado superprotetor. E o que Runner tem a ver com isso?
Runner
Quando eu chego à casa de Reno, está escuro. É depois da meia-noite, o
que explica a falta de luzes. Mas mesmo quando eu ficava por aqui, sempre
havia uma luz acesa. Até a luz da fonte no meio da calçada está desligada. É
como se toda a casa estivesse de luto. O tijolo e argamassa, o alicerce da casa,
agora parece tão sombrio. Pressiono o botão do intercomunicador e Stephan
responde. — É Runner.
O grande portão de ferro começa a se abrir lentamente. O zumbido do
motor, puxando os portões devagar, me lembra do primeiro dia em que eu
cheguei aqui. O dia em que concordei em morrer, o dia em que concordei em
matar o filho de Daniel Migelli.
Um minuto ou mais depois as luzes da varanda são acessas e Emily sai
pela porta da frente. Ela ainda está vestindo seu avental branco, mesmo que
esteja muito além do horário de trabalho. Estaciono meu carro e saio. Dez
passos, uma fonte à direita. Dois cachorros latindo do lado esquerdo. Cinco
degraus e eu estou cara a cara com uma pálida Emily. Ela joga imediatamente os
braços em volta de mim. — Ele não fez isso. — ela chora. — Shhh, eu sei. — eu a
consolo e me movo através da porta para que eu possa fechá-la antes que
alguém me veja. Eu não sei se existem mais repórteres por perto.
Eu vou até a cozinha e ligo a chaleira. Não vejo qualquer um dos caras ao
redor. Eu vou ter que perguntar a Stephan como foi.
— Stephan. — eu digo para o pequeno interfone na parede da cozinha. —
Sim. — ele responde imediatamente. Eu tenho que escolher minhas palavras
com cuidado. — Como foi o encontro? — eu questiono cautelosamente. Eu sei
que ele vai entender o que quero dizer. — Acabei de voltar. Os blues9
9 Azuis - referência aos policiais.
apareceram. Nós nos separamos. — diz ele secamente. — Ok. — eu digo. Eu
realmente não posso dizer mais nada. Por que eles precisaram da polícia? Eu
vou ter que ir encontrar Stephan depois da minha conversa com Emily.
— Você deveria descansar um pouco. — digo para Emily quando ando em
direção à chaleira que agora está fervendo. Ela pega duas xícaras na prateleira.
— Eu não posso dormir sabendo que alguém entrou na casa e matou o Sr.
Parker. — ela diz. Em seguida, ela enxuga as lágrimas frescas que derramam de
seus olhos. Eu tento pegar as xícaras com ela, mas ela me empurra para longe
como sempre fazia quando eu ainda estava hospedado aqui.
— Eu vou descobrir o que aconteceu, Emily. — a velha mulher só balança
a cabeça. — Sr. Xavier está aqui. Garoto bonito, assim como seu pai. Um pouco
quieto, mas eu suponho que é uma responsabilidade muito grande. Pobre rapaz,
nem sequer conheceu o seu pai. — ela cacareja e olha para a porta com raiva,
dizendo algo que eu não entendo. — O que é isso, Emily. — eu pergunto,
tocando -lhe o braço suavemente.
— Não é problema meu. — ela fala, parecendo que se arrepende de dizer
qualquer coisa. — Você pode me dizer. Você sabe que pode confiar em mim. —
eu digo. Meu interesse é despertado, e algo me diz que Emily poderia saber algo.
— Venha. — ela diz, levando as duas xícaras para a mesa. Sento-me ao
lado dela e pego minha xícara, agradecendo-lhe. — Este rapaz, ele vem aqui,
sendo rude com seus amigos. Sr. Parker não gostaria disso. Esta é a sua casa,
tanto quanto dele. Seus amigos eram sempre convidados aqui. Os hóspedes
merecem respeito. — ela fala. Emily está certa; Reno era muito específico sobre
como as pessoas deveriam ser tratadas na casa dele. Mas talvez esse cara,
Xavier, esteja se sentindo um pouco inquieto depois de tudo o que aconteceu.
Então eu me lembro de algo. — Emily? — Hmm? — ela diz distraidamente,
encarando sua caneca de café. — Havia uma garota aqui ontem de manhã? —
pergunto tão casualmente quanto possível. Eu sei que ela não gostaria de fofocar
sobre as idas e vindas do Reno, outra coisa em que ele era muito específico. A
questão parece assustá-la, e ela levanta a velha cabeça grisalha, que ainda estava
inclinada sobre sua caneca, tão rápido que eu temo que possa se romper. —
Uma garota? Não, não, nenhuma garota aqui. Não desde a última vez que os
seus amigos estiveram aqui. — ela diz. Seus velhos olhos parecem confusos e eu
posso ver que ela está cansada.
— Está tudo bem, Emily. Vá para a cama agora. — eu digo, tocando-lhe o
braço levemente com a mão.
— Primeiro, eu vou levá-lo para o seu quarto. — diz ela, se arrastando em
seus pés.
— Eu preciso falar com Stephan. Posso me virar para ir ao meu quarto.
Ainda é o mesmo, não é?
Ela não parece feliz, mas ela sorri quando confirma que meu antigo
quarto é de fato ainda meu. Eu não tenho certeza por quanto tempo, no entanto,
com o novo Parker no comando. Eu termino o meu café quando Emily
finalmente sai da cozinha na direção de seu quarto. Eu lavo minha caneca suja e
coloco-a sobre o escorredor para secar. Nunca podem dizer que a minha mãe
não me ensinou boas maneiras.
Eu olho ao redor da sala escurecida da residência Parker quando meus
olhos varrem até a porta do quarto onde Danny Migelli atirou em Ethan, e um
monte de velhos demônios correm para a superfície. Foda-se, esta noite é tão
boa como qualquer outra noite para finalmente matar um sono estragado. Abro
a porta e aperto o interruptor de luz. Tudo no quarto ainda parece o mesmo,
exceto pelo tapete da área que cobre o local onde Ethan foi baleado. Eu estou no
mesmo lugar onde, há apenas seis anos, nós fizemos um pacto com o diabo. Não
parece tão terrível agora.
— Você sabe quem pegou a minha bolsa? — Danny Migelli perguntou a
Ethan. — Não. — Então você não tem nenhuma utilidade para mim. — Danny
Migelli murmurou em um tom chato, entediado. O tiro sai e Ethan cai para
frente. Danny Migelli se move para baixo da linha até que ele está batendo a
sua arma contra o meu maxilar.
— Foda-se, eu vou matar você. — eu digo para os fantasmas da memória
de Danny Migelli. Uma risada rasga da minha garganta e cresce mais alto a cada
vez que eu respiro. Pareço maníaco, mas eu não consigo parar. Todo esse tempo
eu tenho evitado esta casa, com medo de meus próprios pesadelos, e agora que
estou aqui, não é nada. É apenas um quarto, feito de tijolo e areia, sem
fantasmas de erros passados escondidos nos cantos. Vamos, Runner, você é
muito mais forte do que você se dá crédito. E eu sou, eu sou malditamente
inquebrável agora. Eu tenho que ser se eu vou me levantar contra o pai do
homem que eu matei. Daniel Migelli não é o FDP arrogante que seu filho era há
seis anos. Ele é experiente em quebrar a lei e não ser pego. Ele vive para matar.
Bem, eu vivo, porque eu quero continuar vivo. Eu diria que isso nos faz
adversários dignos.
Eu não acho Stephan na sala de controle, e isso poderia ser porque já são
02:00 da manhã. Então, quando chego na minha cama, durmo. Meus demônios
estão mortos por esse dia.
Quarto Dia
— Quem é
você? — minha cabeça levanta do artigo de jornal que estou lendo no escritório
do Reno diretamente para o cara que paira na porta. Uma versão mais jovem do
meu chefe me olha de volta. Olhos, nariz, a única diferença é a falta de mechas
grisalhas em seus templos. Eu me levanto lentamente de trás da mesa de Reno,
e o cara dá um passo a frente. Este deve ser Xavier Parker. Eu paro a trinta
centímetros de distância dele. Ele me observa de perto. Ele parece nervoso.
— Runner. — eu digo, estendendo minha mão para ele.
Ele endireita os ombros antes de perguntar: — O que você está fazendo
aqui? — eu suspiro e quase corro a mão pelo meu cabelo. Tenho notado que eu
faço isso quando algo me perturba. E quando fico chateado as dores de cabeça
normalmente pioram. Daí as mãos na cabeça.
— Eu trabalho para Reno. — respondo com a minha mão ainda suspensa
no ar. Esse cara não tem boas maneiras? Crianças mimadas do caramba, acham
que elas são melhores do que todos os outros.
— Ah... — ele respira profundamente, ele está se recompondo. Em
seguida, termina a frase. — Eu sou Parker. — só então ele finalmente aperta a
minha mão, com firmeza. Eu inclino minha cabeça para ele e aperto sua mão
igualmente firme. Apenas Parker então. Talvez ele não seja afeiçoado ao seu
primeiro nome.
— Eu não sei o que fazer com essa bagunça. — diz Parker, olhando para o
chão. Eu largo a mão dele e me viro para longe olhando a janela, para a fonte.
— Nesse momento, você não tem que fazer nada. — eu digo, tentando
parecer simpático, mas honestamente não sou. Em seis anos, esta é a primeira
vez que eu estou vendo esse cara. Ele parece ter a minha idade, talvez um ou
dois anos mais velho. Então, o que é que ele tinha com o pai? Suponho que isso
não importa agora, porque Parker apenas escorregou e caiu de bunda em um
oceano inteiro de manteiga. Esta casa, a porra de uma mansão na verdade, é
toda sua, o restaurante da cidade é dele. O dinheiro é dele. Ele pode vender
tudo, e ele nunca mais vai ter que olhar para este lugar de novo. E, francamente,
eu acho que é o que o Sr. Sou-muito-bom-para-esta-merda vai fazer.
Felizmente, nós desistimos do comércio de drogas quando as pessoas
começaram a fazer perguntas sobre o armazém de Pete. Nenhuma merda ilegal
está acontecendo por aqui. A casa de empréstimo e cassino são legítimos, e eles
serão meus em breve. Eu trabalhei duro naquela merda, e os caras e eu, faremos
funcionar. Eu não posso enganar as pessoas para emprestar dinheiro comigo e
para me pagar de volta depois que perdessem o seu dinheiro no Indigo.
— Então o que você faz para o meu pai, exatamente? — Parker pergunta
atrás de mim. Eu me viro, e o cara está olhando para a foto que Reno sempre
mantém em sua mesa. É semelhante a que está pendurada no corredor. Uma
mulher loira e um menino. Eu ignoro sua pergunta e faço uma. — É você? —
percebo que eu acabei de contar que seu pai nunca disse nada sobre ele, mas
não estou aqui para brincar de casinha, então eu realmente não dou a mínima.
O que me importo é com o Mike e Jonah que ainda não voltaram com Ana.
Parker levanta a moldura, olha para ela por um segundo e a coloca para
baixo rapidamente. A pequena moldura de prata oscila de bruços sobre a mesa.
— É... merda. — ele diz, e em seguida, limpa a garganta. — Então o que você faz?
— ele pergunta de forma mais clara e determinada. Considero dizer para ele se
foder, mas vendo que eu estou na casa dele agora e eu e meus amigos realmente
não temos outro lugar para ir, decido ser legal. Não posso ser visto vagando por
essas ruas e arriscar que alguém me veja. — Eu administro o Indigo e a casa de
empréstimo na cidade vizinha, a Square. Maria’s Square. — e eu os possuo
agora, acrescento na minha cabeça. — Oh, como um gerente? — Parker
pergunta. Foda-se. — Não, como o proprietário. Reno os deixou para mim. Seu
advogado telefonou-me ontem à noite. O mesmo cara que provavelmente ligou
para você.
Os olhos de Parker arregalam e, em seguida, estreitam ligeiramente.
Parecia que ele queria dizer alguma coisa. E por um minuto, eu desejo que ele
me pergunte o porquê. Por que um cara que é, obviamente, mais jovem do que
ele conseguiu um cassino de vários milhões de dólares, enquanto ele fica com
um restaurante? Eu não sei o que Reno fez com todo o seu dinheiro, mas eu
aposto que esse cara está recebendo uma herança bem gorda. Todo o dinheiro
da droga tinha que ir para algum lugar. O cassino foi comprado com parte dele,
o mesmo com o restaurante aqui em Bailey. Eu conheço o lugar. Um pequeno
bistrô italiano. Eles vendem o melhor sorvete caseiro. O favorito de Mia. A casa
de empréstimo era apenas um disfarce para as últimas negociações com drogas
que nós fizemos, para certificar de que todas as pontas soltas estavam
amarradas. Você não quer deixar esses tipos de inimigos para trás. Mas Reno
percebeu como as pessoas ficam desesperadas quando precisam de dinheiro, e
acho que ele tinha um pouco de uma luta de poder moral consigo mesmo. Ele
almeja o poder e medo, e os agiotas são assim.
Meu telefone começa a tocar, e eu o coloco em meu ouvido sem olhar. —
Runner. — eu respondo. Está calmo, do outro lado, e o silêncio envia um arrepio
gelado na espinha.
— Sr. Runner, é um prazer finalmente falar com você.
— Quem é? — eu digo, afastando-me de Parker, que não está nem mesmo
tentando não ouvir a minha conversa. Eu caminho para o outro lado da sala.
— Eu acho que você sabe. — a voz do outro lado diz secamente.
E eu realmente sei, eu só não vou admitir. Meu pulso está batendo
loucamente em meu pescoço, e eu tenho que me concentrar em cada sílaba
antes de dizer qualquer coisa, mas eu arrisco e blefo.
— Você está desperdiçando meu tempo. Não tenho tempo para jogos. —
digo.
— Eu sabia que havia uma razão para que o meu irmão mantivesse você
por perto, e eu duvido que seja, porque você seja outro filho bastardo. Você é um
filho da puta arrogante. Vamos ver se você ainda será tão arrogante depois... eu
tenho alguém que quer falar com você.
Por favor, não deixe que seja a minha irmã. O pensamento pisca na
minha mente, mas quando a voz de Mike carrega através da linha telefônica, eu
sento-me à mesa aliviado. — Runner, porra, sinto muito...
— Não! — eu ouço uma voz diferente no fundo seguido por algo que soa
como grunhidos de Mike. — Espere, Mike? — eu pergunto, esperando que eles
não os matem. Daniel Migelli telefonou por uma razão. — Escuta aqui, seu filho
da puta, se você machucar meus amigos, eu vou te encontrar. Vou rasgar sua
garganta fora, porra. — eu assobio para o telefone, ainda muito consciente de
Parker, que se moveu para perto de mim.
— Ah, Sr. Runner, tão heroico. Seu amigo esqueceu de lhe dizer, ele
matou um homem nesta manhã. Bateu o seu carro contra o de um bom
empregado da Oficina do Ray. Talvez você o conheça?
— Foda-se, seu mentiroso! — eu ouço Mike gritando novamente. Mas isso
não importa. Existem apenas três caras que trabalham para Ray, e um deles é
Jase. Eu quase desligo o telefone, pronto para ir à procura da minha irmã, mas
Daniel fala novamente. — Você pode me encontrar no Warehouse 9, se quiser
seus amigos vivos. — e então a linha cai.
Eu largo meu telefone e pressiono as palmas das mãos nos meus olhos.
Os rapazes ficaram ao meu lado através de incontáveis merdas, mas Mia é a
minha família. Ela é a razão pela qual tudo isso começou. Daniel poderia me
matar se eu entrar naquele clube, e então Mia será um alvo fácil. E nesse
momento eu nem sei se Daniel sabe sobre Mia. Eu respiro fundo e forço meu
cérebro a pensar. Daniel quer algo de mim. Ele sabia que eu estaria aqui quando
Reno morresse. Agora, a parte difícil é descobrir o que ele quer.
— Você está bem? — Parker pergunta de frente para mim. Pergunta
estúpida. Esse cara não pode sair daqui? Foda-se, não, eu não estou bem. Eu
afasto minhas mãos dos olhos e olho de soslaio para os raios matinais
espreitando através da cortina pesada. — Eu ficarei. — digo me levantando e
puxando a minha arma da gaveta do Reno. Verifico o clipe e a trava de
segurança. Então eu passo direto por Xavier Parker com o rosto fechado, e eu
sinto pena do pobre filho da puta. Duvido que ele tenha a menor ideia sobre o
tipo de empresário que seu pai realmente era.
Emily sai da cozinha e limpa as mãos no avental. Seu sorriso amigável
desaparece do rosto quando vê a arma na minha mão. Ela agarra o avental
branco na frente de seu peito com tanta força que os nós dos dedos ficam
brancos. — Não, por favor, não vá. — diz ela, arrastando para frente tão rápido
quanto seus velhos pés podem levá-la. Duvido que ela saiba para onde estou
indo, mas ela sabe que não é bom. Dou-lhe um sorriso de boca fechada e saio
para o sol acolhedor.
A viagem para o Warehouse 9 não é longa. É um clube na rua principal da
cidade, e vendo como todo mundo está indo para o trabalho, a estrada está
lotada.
Eu cavo no porta-luvas do Lexus de Reno, à procura de algo, qualquer
coisa, para esconder a minha identidade, e encontro um par de óculos de sol no
modelo aviador. Coloco-os, não me importando a quem eles pertencem. Uma
ambulância passa correndo por mim na Rua Cinco seguida por um carro da
polícia, e eu sei que não é para os meus amigos, porque se Daniel os matou,
ninguém nunca vai saber. Talvez seja o acidente que Daniel falou? O
pensamento entra em minha mente, assim que eu entro no estacionamento do
Warehouse 9. Eu não posso pensar nisso agora. Se eu quiser tirar os rapazes
desse lugar preciso me concentrar naquele pedaço de merda trancado dentro
deste edifício. Caminho até a entrada da frente e não me incomodo em bater,
eles sabem que eu estou chegando.
Torço a maçaneta e empurro a porta para abrir. Todas as luzes estão
acesas. Há garrafas de bebidas vazias e semicheias em pé sobre as mesas e
balcão. Daniel sai do lado do bar e estende a mão. Eu sigo a direção em que ele
está indicando e vejo Mike e Jonah sentados em uma das mesas do canto. Eu
ouço gemidos suaves, mas não estão vindo de um deles. Eu olho ao redor da
sala, mas eu não consigo ver ninguém mais. O medo aumenta no meu estômago
e arrasta-se lentamente para o meu coração, fazendo-o bater um pouco mais
rápido. Suor frio corre pelo meu pescoço. Eu odeio surpresas.
Olho de volta para os rapazes, e ambos estão olhando para mim. Mike
balança a cabeça, em seguida, deixa cair seus olhos. Decepção, ele não queria
que eu viesse. Eu sabia que era uma armadilha, mas o que eu podia fazer?
Deixar meus amigos morrerem? Não é uma opção. Daniel Migelli fica em
silêncio no canto me observando enquanto estou olhando todos os outros. Ele se
parece muito com seu filho, menos o buraco de bala, é claro. Mas tenho certeza
de que pode ser arranjado, se ele não nos deixar ir. Esta maldita arma está me
fazendo ficar todo corajoso de novo. Eu não sou um covarde. Eu sou realista. As
coisas nem sempre tem que terminar em derramamento de sangue.
Há outros dois caras na sala, tipos de aparência normal. Pessoas normais.
Não como os gorilas que Danny Migelli costumava andar por aí. Ainda assim,
Daniel Migelli não diz nada, enquanto eu silenciosamente verifico o que me
rodeia. Mais gemidos. Eu viro minha cabeça, procurando a origem do som.
A cabine atrás de Mike e Jonah está escondida da minha vista. Há outro
gemido, e desta vez eu sei que é uma garota. Mike cerra seus olhos, como se ele
estivesse com dor. Ou talvez seja arrependimento? Seja o que for, isso está
devorando ele. Dou um passo na direção dos gemidos, mas o som de uma arma
sendo engatilhada me para. Eu olho para o cara à minha esquerda com a arma
apontada para a minha cabeça. Eu sorrio para ele, desafiando-o a fazê-lo. Já
estou cheio de adrenalina. Fui criado para isso. Não sou o mesmo menino
assustado que Reno enviou para matar Danny Migelli. O perigo mexe com
minha cabeça, transforma o meu sangue em mercúrio, e me lembra de que eu
sou fodidamente inquebrável. Ando em direção à cabine; o homem de Daniel
Migelli é covarde ou ele teria atirado em mim quando dei o primeiro passo.
Passo por Mike e Jonah e observo como eles olham de rabo de olho.
Jonah tem uma poça de sangue ao lado de seu pé direito, e os jeans estão
embebidos em um vermelho escuro. Mike tem apenas alguns ferimentos no
rosto, e suspeito que foi por causa dos Capanga Um e Dois. Por alguma razão,
Mike sempre recebe os espancamentos.
Uma cabeleira loira é a primeira coisa que eu vejo quando eu ando até a
cabine. Eu não me sinto mal por ficar aliviado que é Ana e não Mia. Minha irmã,
no momento, tem uma cabeça preta com mechas vermelhas selvagens. Eu acho
que eu já sabia que a minha irmã não estava no prédio na hora que eu pisei nele.
Ana coloca o rosto para baixo e se enrola em uma pequena bola no sofá
da cabine. Eu ajoelho e tiro seu cabelo do rosto. Suas bochechas estão molhadas
de lágrimas, e ela se encolhe ao meu toque, mas depois ela vê que sou eu e
respira fundo. Ela diz meu nome, treme o lábio inferior e seus olhos miram o
fundo da sala. Um par de pernas cobertas com botas pretas e calças jeans está
deitado no chão. Droga! Eu sei a quem aquelas pernas pertencem. Levanto-me e
corro em direção a Talon. Seu olho está inchado, e sua camisa rasgada expõe seu
sutiã de renda preta por baixo. Ela está respirando superficialmente, e ela,
definitivamente, não está consciente. Raiva ferve dentro das minhas veias, e
alimentam a minha fúria. Aquele buraco de bala está parecendo muito
agradável agora.
Levanto Talon em meus braços. O capanga de Daniel ainda tem a arma
apontada para a minha cabeça, mas eu não dou a mínima. Os fodidos bateram
em uma garota. Uma amiga minha. Vou rasgá-los em pedações. Membro por
membro, até que todos estejam sangrando, uma massa e mortos no chão. Mas
também estou com medo. Um leve pânico faz cócegas na minha pele. Quero
saber o que eles fizeram com ela. Abaixo Talon no sofá oposto à Ana e viro a
cabeça para o lado. — Olhe-a. — digo para Ana rispidamente. Então ando em
linha reta até Daniel e encaro seu rosto.
— Você me queria, aqui estou. — digo com uma calma mortal. Vou matar
esse filho da puta. Deveria ter dizimado toda a sua linhagem de sangue na noite
em que matei Danny Migelli. Percebo agora, que enquanto qualquer um desses
idiotas viver, eu nunca vou ser livre.
— Sr. Runner, sempre tão hostil. Eu pensei que meu irmão tivesse te
transformado em um homem de negócios, mas agora parece que você não é
nada, exceto um bandido juvenil. — Daniel Migelli parece quase entediado
enquanto fala comigo. Eu aperto o meu punho e meus dentes com força. Chego
mais perto dele, minha respiração pesada abanando o cabelo dele na cabeça. Ele
tem minúsculos pelos grisalhos em suas sobrancelhas, e essas sobrancelhas se
levantam quando outra arma é apontada do meu outro lado. Eu relaxo e dou um
passo atrás. Eu ainda não sou à prova de bala.
— Sente-se, e podemos discutir sua situação. — Daniel diz.
Sigo Daniel Migelli a uma mesa no centro da sala. Tenho duas armas
prontas para me encher de balas, então eu só posso ouvir quando outra escolha
é feita por mim.
— Você e seus amigos estão livres para ir. Eu nunca quis prejudicá-los. Eu
os salvei de serem presos esta manhã. Homicídio culposo é punido com pena de
prisão. Seriam oito longos anos de visita ao Mount Max. — diz Daniel Migelli.
Olho para trás para Jonah e Mike, porque eu não sei sobre o que Daniel está
falando, e ele para de falar até que eu volte a atenção para ele.
— Quando seus amigos pegaram as senhoras esta manhã, meus rapazes
estavam esperando por eles no apartamento depois de seguir as senhoras para
casa na noite passada depois que saíram da festa. Meus homens não foram para
prejudicá-los, simplesmente acompanhá-los para mim. Mas seus amigos tinham
outras ideias. Acredito que o acidente em que eles se envolveram poucas horas
atrás matou um mecânico da Oficina do Ray. — Daniel fala.
Um tipo diferente de medo estrangula o meu coração com a menção do
acidente e da oficina. Ele continua mencionando o acidente, mas eu duvido que
ele saiba que eu conheço Jase, ou que ele esteja envolvido com a minha irmã.
Daniel também poderia estar mentindo sobre a coisa toda, mas quando eu olho
para Mike, eu sei que é verdade. Se Jase está morto, eu o matei, e então eu posso
muito bem ter matado minha própria irmã. Mia não vai sobreviver a esse tipo de
perda.
Eu não sei o que Daniel disse depois disso, mas eu sei que Talon acordou
grogue e xingando. Essa garota tem uma boquinha suja. Jonah está pálido e
fraco e tem algum tipo de costura sob seu joelho. Mike disse que ele se
machucou no acidente. Daniel Migelli estava certo, ele salvou os meus amigos, e
ele vai mantê-los fora da cadeia. Ninguém nunca vai saber que os meus homens
ou Ana e Talon estavam no carro que causou o acidente. Mas como todas as
outras coisas nesta vida fodida, tudo vem com um preço. Um favor em troca de
outro. Uma dívida que precisa ser paga. Acontece que Daniel não sabe quem eu
sou, ainda não. Ele disse que só queria perguntar aos rapazes se o filho de Reno
já estava em casa. Daniel Migelli, ou é um muito bom ator ou ele é
simplesmente um velho estúpido. De qualquer forma, eu sinto muito por Xavier
Parker; Daniel Migelli é um homem perigoso e tem interesses em seus assuntos.
Eu ligo para Emily para que ela saiba que eu estou voltando e para
mandar Stephan para me ajudar com Jonah e Talon no andar de cima. Jonah
parou de sangrar, mas a perda de sangue o deixou fraco, e mesmo que ele tente
andar por conta própria, simplesmente não pode. Ele ficará fora de ação por um
tempo. Eu só posso imaginar o quanto isso vai mexer com a sua cabeça. Jonah
precisa estar em movimento para manter a sanidade. Quando saímos do
Warehouse 9, Ana me disse que o homem de Daniel Migelli espetou uma
seringa no pescoço de Talon para sedá-la depois que ela rasgou seu rosto. Eu
senti um orgulho doentio quando vi a carne vermelha rasgada no rosto do
Capanga Um, enquanto nos escoltava para fora do Warehouse 9. Talon é uma
pequena lutadora de verdade.
Talon ainda continua alta e à deriva fora do planeta terra. Peguei a minha
camisa e coloquei sobre ela, não querendo colocá-la em mais nenhuma merda
da minha história. Acabei de colocá-la deitada na minha cama quando sou
confrontado com um Parker confuso.
— O que é isso?
Imediatamente, o tom dele me leva ao limite. — Isso. — eu digo, girando
ao redor com os braços abertos. — É a sua vida. Este é o paraíso. Acostume-se
com isso. — eu falo duro com os dentes cerrados.
Fecho a porta do meu quarto e vou procurar Mike. Não tenho certeza de
quanto tempo posso aguentar meu "novo irmão", sem colocar meu punho
através da sua boca sempre-fazendo-perguntas.
Talon
A última coisa que me lembro era de estar lutando com um dos caras que
nos arrastaram para o Warehouse 9. Ele pensou que eu apenas ia deixá-lo me
levar daquele jeito? Pense novamente, otário! O olhar em seu rosto foi
impagável, chocado e descrente enquanto eu arranhava seu rosto. Mas suponho
que eu sabia que seria inútil. Ainda tinha que tentar. Uma picada aguda no meu
pescoço e então uma calma deliciosa, seguida pela noite mais escura.
Quando meu cérebro finalmente voltou, o primeiro rosto que eu vejo é de
Runner. Ele parece tão jovem ainda, com o rosto de menino iluminado pelos
raios da manhã, com apenas um toque de barba em seu queixo. Lindo. Ele é
realmente muito bonito. Meu herói torturado com o mundo em seus ombros.
Devo ter cochilado, porque quando eu acordei novamente, minha cabeça
está levemente caída no ombro de Runner. Sua pele é quente e suave na minha
bochecha, e eu encaixo meu rosto mais fundo em seu pescoço, mais perto do
cheiro reconfortante, mas sexy dele. Cheiro de Runner tem uma vantagem -
sexy, reconfortante, perigoso e muito sedutor. Minha cabeça sonolenta nada em
vontade. Eu quero tudo isso, seu lado duro, seu conforto suave, sua posse
perigosa.
A cabeça continua doendo e a neblina finalmente desaparece o suficiente
para que eu veja onde estou. Runner está me carregando por algumas escadas
em um lugar que está levantando todas as minhas bandeiras vermelhas. Mas
minha mente ainda está muito grogue, e eu não consigo identificar por que eu
não deveria estar aqui. Runner me deita sobre a cama, e eu posso senti-lo
encarando meu rosto. Eu sei que meu lábio está rachado porque eu posso sentir
por dentro com a minha língua. Eu mantenho meus olhos fechados até que eu
posso ouvi-lo se afastar da cama. Ele para na porta e outro cara pergunta a ele.
— O que é isso?
— Esta é a sua vida. Este é o paraíso. Acostume-se com isso. — Runner
lhe responde, soando um pouco frenético. Em seguida, ele fecha a porta e todo o
som é cortado. Runner estava falando com o cara que parecia um pouco
chateado. Por que todas essas pessoas perigosas são tão bonitas? E eu nem
mesmo gosto de loiros. Eu puxo a camiseta do Runner para o meu nariz e fecho
os olhos. Cheira como ele. Bem como ele cheirava quando eu aconcheguei meu
rosto em seu pescoço mais cedo, do mesmo jeito que naquela noite, quando ele
transou comigo no carro e me deixou lá. Eu não sei qual é o problema entre ele e
esses caras, mas ele nos tirou de lá e me cobriu com sua camisa. Ele me carregou
pelas escadas, segurando-me suavemente, mas com firmeza. E a maneira como
ele estava me segurando contra o peito? Como se eu fosse algo precioso. Runner
age todo rude e indiferente, mas no fundo eu sei que ele tem um coração que
vale a pena amar.
Eu sei que eu devo estar sonhando no segundo que eu vejo seu rosto.
Pessoas como ele só existe em meus pesadelos. Só nos meus pesadelos, eu estou
impotente:
— Oi, Demitri, o que foi? — eu perguntei, sentando-me ao lado dele no
banco do jardim. Minha boca ainda estava em chamas desde que eu usei o
enxaguante bucal para limpar o gosto de Devrin da minha língua. Minha
língua parecia grossa e meu paladar estava em chamas após a lavagem cruel
que eu fiz.
Demitri apenas olhou para frente. Ele sempre ficava aqui do lado de
fora, atrasando o inevitável de finalmente retornar para dentro de casa. Eu o
cutuquei de brincadeira com meu cotovelo quando ele não me respondeu.
Ainda nada. Demitri não me respondeu, ele continuou olhando para frente. Eu
comecei a sentir uma dor no meu estômago. Alguma coisa estava errada.
— Venha comigo. — disse Demitri. Sua voz era áspera, e ele não olhou
para mim quando ele puxou a minha mão rudemente. Segui-o em silêncio, com
o coração batendo forte em meu peito. Ele deu uma última olhada em volta
antes de nos puxar para dentro do galpão.
— De joelhos. — ele latiu. — O quê? — eu perguntei. Não queria
acreditar no que estava acontecendo. — Fique de joelhos. — ele disse, soltando
o cinto e puxando o zíper para baixo. Minhas pernas começaram a fraquejar.
O medo e a descrença finalmente me atingiram. Simplesmente não podia
acreditar que aquilo estava acontecendo. Demitri não era como eles. Ele
segurava a minha mão quando eu estava triste. Prometeu-me que nós três
iríamos encontrar uma maneira de sair daqui juntos. Ele, Christina e eu. Ele
agarrou meu cabelo em suas mãos e me empurrou para baixo. Ele não podia
sequer olhar para mim.
— Abra a boca. — disse ele com um puxão no meu cabelo. Eu balancei
minha cabeça e as lágrimas surgiram nos meus olhos. — Você pode fazer isso
por ele. Droga, Talonia! Como você pode deixá-lo fazer isso com você? Eu
pensei que você me amava! — Demitri sussurrou ferozmente para o galpão
vazio. — Eu não deixei. — eu tentei explicar, mas ele não me deixou terminar.
Em vez disso, ele bateu no meu rosto, a dor fazendo as lágrimas cair sobre o
chão empoeirado em um respingo sem som.
Acordei olhando para um quarto escuro com um pulsar em meu crânio
rivalizando com a pior das ressacas. Minha respiração está ligeiramente mais
pesada do que o normal, mas é sempre o caso depois de um sonho com Demitri.
A mágoa é o pior. A dor de perder um amigo para o lado negro. Não seco a
lágrima na minha bochecha. Posso sentir o cheiro salgado na minha bochecha.
Preciso dela para me lembrar de que Demitri não é mais meu amigo. Ele é
parcialmente responsável por eu estar nesta bagunça em primeiro lugar!
Sento-me e minha cabeça flutua. Eu devo ter dormido durante todo o dia.
Mas a mãe natureza chama, e ela não está sussurrando sutilmente para eu
encontrar o banheiro, ela está gritando para eu mexer minha bunda. De
qualquer forma, eu não posso ficar aqui depois desse sonho. Preciso de pessoas
reais em torno de mim, não monstros à espreita em meus pesadelos. Olho em
volta procurando por uma porta que deve levar ao banheiro. Encontro uma do
outro lado do quarto. Ótimo. Levanto-me lentamente, testando meu cérebro,
pernas bambas, e quando tenho certeza que não estou prestes a cair e fazer mais
danos ao meu rosto já danificado, ando naquela direção.
O banheiro é todo cromado brilhante e branco. Ele grita ‘eu tenho
dinheiro e não tenho medo de mostrar isso’. Por um minuto, eu invejo a grande
banheira com pés, e considero brevemente uma imersão nela. Isso me lembra
tanto a que minha mãe tinha em casa. Maldito pesadelo, só trouxe os mortos de
volta à vida. Além disso, não acho que meu corpo sonolento está pronto para um
banho ainda. Talvez depois de eu andar um pouco e tomar um café. A cafeína
pode chutar a minha bunda sonolenta na engrenagem. Não sei de quem é a casa,
mas eles são, obviamente, ricos. Faço o meu negócio e lavo as mãos. Pego o meu
reflexo no espelho e me assusto com o cabelo ogro horrível na minha cabeça.
Parece que um orangotango bebê vermelho habita meu crânio exterior. Cavo em
torno dos meus bolsos e retiro meu laço de cabelo de emergência. Domo o meu
cabelo da melhor forma possível, correndo meus dedos por ele e prendo-o em
um rabo de cavalo alto. Eu lavo meu rosto, com cuidado para evitar meu lábio
inferior.
O quarto ainda está vazio quando eu volto do banheiro, então eu decido ir
procurar Ana ou Runner ou alguém que eu conheço. E para conseguir aquele
café. Corro meus dedos ao longo do carvalho cereja brilhante que reveste as
paredes do corredor. É suave e parece tão quente, dando uma sensação
aconchegante ao lugar por outro lado tão caro e frio. Sinto-me quase fora do
lugar com toda a opulência e esplendor com a camisa grande de Runner e meus
jeans skinny. Não estou nem mesmo usando sapatos. Mas eu devia estar
acostumada a isso. Minha mãe gostava das coisas boas da vida, e nossa casa era
muito parecida com esta, mas a nossa era quente, cheia de amor. Uma casa de
família. Este lugar parece apenas... vazio.
O longo corredor finalmente se abre para uma grande sala de estar, e está
tão quieta que me pergunto se tem mais alguém aqui, além de mim. Então me
atinge. Meus ombros começam a tremer tão forte, eu não consigo me levantar
novamente. Eu sei onde estou. Eu não posso estar aqui! Merda, esta é a casa de
Reno Parker. Eu me achato contra a parede e tomo uma respiração profunda,
enquanto fecho os meus olhos com força. Estou com muito medo, que se eu os
abrir, talvez eu veja o fantasma dele. Não. Recomponha-se, Talon. Respire
fundo, para dentro e para fora. E se alguém me encontrar surtando desse jeito?
Como vou me explicar? Balanço minha cabeça um pouco, apenas o suficiente
para sair do meu surto e voltar para a realidade. Respire fundo, lentamente,
dentro e fora. Estou bem.
Ando até um cômodo que parece ser a cozinha, e dentro eu encontro uma
pequena mulher italiana. É um alívio encontrar outro ser vivo, e tento fazer o
meu sorriso parecer amigável, mas parece rígido e errado. A velha mulher olha
para mim, e um minúsculo sorriso se forma em seus lábios, mas seus olhos são
cautelosos, e isso me faz fazer cara feia para ela. Qual é o problema dela? Antes
que eu possa perguntar onde todos estão, ouço Ana, e parece que ela está
discutindo com Mike. Sempre discutindo. Corro para eles, mas o que quer que
fosse que Mike ia gritar para Ana morre em seus lábios quando ele me vê. Ele só
fica ali sem jeito com os lábios ainda formados com o que ele ia dizer. Não posso
evitar, levanto as sobrancelhas em silêncio desafiando-o a continuar. Mas não
funciona, e ele simplesmente continua lá em seu estado congelado e irritado.
Ana joga seus braços em volta de mim e me sufoca com seus cabelos
loiros enquanto me envolve em um abraço apertado. Atrás dela, Mike
finalmente se move, só para olhar como se atirasse adagas em suas costas. De
repente eu me sinto muito desconfortável. Eu sei que eu tenho que ir. Meu
pequeno surto anterior provou isso. Eu não posso ficar aqui, mas eu também
sinto que estou deixando a minha amiga para lidar com tudo isso sozinha. A
maioria disso é culpa dela. Foi sua a ideia de ir para a festa. Mas eu poderia
facilmente ter ficado em casa. Eu acho que nós duas somos culpadas. E eu
realmente quero ir para longe de Runner, agora que eu vi esse lado dele? Eu não
quero, mas sei que tenho que ir. Talvez depois que tudo isso acabar eu possa
voltar. Limpo minha garganta e me afasto de Ana. Fico olhando para o chão, e
sei que eu sou uma covarde por não ser capaz de olhar para ela quando digo: —
Eu gostaria de ir para casa agora. — faço soar como um pedido, apenas para
apaziguar o carrancudo homem na sala.
— Não é possível. — diz alguém por trás de mim, estou atordoada ao
encontrar Runner a poucos metros de distância de mim. Sua voz é áspera e seus
olhos estão assombrados. Se eu fosse tão inteligente quanto pretendia ser, teria
percebido em que ponto o tempo marcado fez uma mudança nele. Runner
parece cansado e atormentado, me pergunto se o cara loiro de pé ao lado dele
tem alguma coisa a ver com isso. — O que você quer dizer? — eu pergunto.
Minha voz soa tranquila e pequena, e me pergunto se estou tomando uma
decisão consciente ao tratá-lo como um animal encurralado. Meus olhos
vagueiam para o cara loiro de novo. Ele é como um maldito ímã.
— Você não pode ir para casa. Você vai com Ana, e você vai ficar no
Indigo. Mary já está lá. — meus olhos saltam de volta para Runner. Como se eu
desse a mínima para quem vai estar lá. Eu quero ir para casa.
— Você está me sequestrando? Porque fique você sabendo que eu não vou
bancar a vítima voluntária. — eu digo, enquanto meu temperamento oscila. Eu
deveria saber que eu não seria capaz de ficar calma por muito tempo.
Runner ri e balança a cabeça. Ele caminha até mim e agarra meu queixo
com força. Sua agressividade repentina faz meu coração bater mais rápido, e
minha respiração vem em surtos rasos curtos. Cerro meus olhos. Posso sentir
sua respiração no meu pescoço quando ele sussurra perto do meu ouvido. — Eu
não sou aqueles caras, Talon, mas aqueles caras, eles vão te machucar. Eu vou
mantê-la segura, mas só posso fazer isso quando eu sei onde você está. —
Runner não me toca, mas sua voz é um sussurro suave e sedutor enquanto cada
sílaba envolve meu corpo e me mantém refém. Eu quero ir para onde quer que
ele me mande, mas eu não sou tão ingênua. Estou em tanto perigo com eles
quanto eu estou por conta própria. Nem sequer pensei sobre o que aqueles caras
queriam fazer com a gente. Mas não vou ficar por perto por uma segunda
oportunidade de descobrir.
— Não, eu vou para casa. — eu dou um passo para trás e me afasto do
feitiço que ele, sem saber, tecia em torno de mim. Olho em volta para ver se
alguém pensou em trazer minha bolsa. Todas as minhas coisas estão lá.
Telefone, chaves, gloss... os códigos. Eu preciso do meu gloss e eu preciso
daqueles códigos. Eu não vejo a minha bolsa em lugar nenhum, e acho que a
realidade da situação finalmente me bate porque os meus olhos começam a
encher de água. Eu esfrego as lágrimas com raiva e caminho em direção à porta
da frente. Ana começa a chamar por mim, mas para quando um grandalhão de
cabelos escuros abre a porta da frente. Eu tenho realmente que inclinar a minha
cabeça para trás só para olhar para o rosto dele. Ele joga a minha bolsa
esportiva roxa no chão ao lado da porta junto com minha bolsa de mão preta
estilo mochila. Comprei-a de um vendedor ambulante em casa antes de eu fugir.
Eu gosto dos pregos de prata em torno das bordas. Parece realmente foda, e eu
precisava de um pouco disso na época.
— É a minha bolsa? — pergunto alto. Não estou chateada, mas eu quero
soar dessa maneira. Eu acho que eu sabia que não iriam me deixar sair assim. —
Esteja pronto para sair em vinte minutos. — Runner diz a Mike.
— E quanto a Jonah? — Mike grita de volta. — Jonah vai ficar comigo. —
Runner diz enquanto sai da sala. O carregador de bolsa de cabelos escuros tinha
ido agora, eu arrisco um rápido olhar para a porta da frente, mas o cara loiro
que estava observando Runner, agora está me observando. Ele tem uma
expressão curiosa no rosto. O jeito que ele me olha me faz puxar minhas roupas,
tentando encobrir minha pele. Ele sorri e movimenta a cabeça um pouco antes
de arrastar seus olhos dos meus pés ao meu rosto. Seus olhos ardem e suas
mãos se contorcem ao seu lado, e desse jeito, ele se vira e desaparece no mesmo
corredor que Runner. Isso foi... estranho. Eu já vi esse tipo de olhar antes. A
maneira como seus olhos me despiram. Havia uma força mais profunda em seus
olhos. O tipo que exige obediência. O tipo que quebra. É exatamente o olhar do
qual estou fugindo. Definitivamente tenho a clara definição do tipo. Eu sento no
sofá, derrotada no momento. Talvez se apenas Mike estiver conosco eu possa
escapar quando chegarmos ao Indigo na Maria’s Square. Já corri de piores. Eu
sobrevivi a piores. Eu só preciso ser paciente, minha vez vai chegar.
Runner
Eu estou sentado na mesa de Reno com minhas mãos no meu cabelo,
esfregando o barulho de orquestra que começa no meu cérebro. Gostaria que
Talon não olhasse para mim como se eu tivesse acabado de salvar e arruinar a
vida dela em uma noite. Eu fiz, eu sei disso. Mas, caramba, eu tenho merda
suficiente para lidar, sem a porcaria dela no topo. O negócio é, eu sei que Talon
é o tipo de garota que me faz querer cuidar dela. Cuidar dela, protegê-la. Mesmo
que ela ache que pode fazer sozinha. Eu não acho que ela entenda o quão
perigoso é tudo isso. O fato de que ela realmente lutou com um dos homens de
Daniel é a prova disso.
Eu preciso cuidar dessa merda, então Talon pode sair da minha vida. Eu
não preciso de mais gente para morrer. Eu já dei a minha vida uma vez, e tudo
acabou por nada. Estou de volta, onde eu comecei, e eu duvido que Daniel será
tão acolhedor quanto Reno. É apenas uma questão de tempo antes dele
descobrir quem eu sou. Eu só gostaria de saber o que é que ele quer. Dinheiro,
drogas, contatos? Ele já tem tudo isso. Eu não tenho nada de novo a oferecer
para ele, e isso me coloca em uma posição muito ruim. A única maneira de eu
sair dessa vivo é fazer exatamente o que eu fiz há seis anos. Eu me desligar de
tudo. Ninguém nesta casa significa nada para mim. Eu não tenho amigos, eu
não me importo com ninguém, porque mais cedo ou mais tarde tudo o que me
interessa está em perigo. Sou só eu, e eu sou inquebrável porque não tenho nada
para me quebrar.
A porta do escritório se abre, e eu já sei que é o pequeno Parker júnior.
Estou começando a odiar esse cara. Cadela irritante é o que ele é, e minha
paciência está se esgotando, mesmo que eu seja um convidado em sua casa. Eu
estou além de pronto para bater pra caralho nele. Mas eu não levanto minha
cabeça quando eu ouço-o se aproximando. Está abaixada e pesada, pronta para
explodir e acabar com minha vida estúpida.
Uma mão aparece sobre a mesa e coloca dois analgésicos e meio copo de
água na minha frente. — Obrigado. — eu murmuro enquanto pego os
comprimidos e os engulo. Bebo um pouco de água e abaixo a cabeça de novo.
Deveria só ir para a cama. Não há nada mais que eu possa fazer esta noite. As
meninas devem ficar bem com Mike por um tempo até eu descobrir o que
Daniel quer comigo.
— Seu amigo está acordado e brigando com Emily. — Parker fala em seu
caminho até a porta.
— Merda! — Jonah é uma sintonia totalmente diferente. Mary está no
Indigo, Jonah está aqui, cortado, costurado e mal conservado. Mas o burro
teimoso não quer ouvir nada sobre ficar. Agora ele é minha responsabilidade.
Um risco que nenhum de nós está disposto a assumir.
Eles cortaram muito a sua perna na batida do Chevy. Eu ainda não sei
como Daniel vai conseguir manter os meus homens de fora dos efeitos do
acidente, mas até agora nada aconteceu. E eu quero dizer literalmente nada,
nenhuma notícia, nem polícia, nada. Nem uma palavra sobre se Jase morreu ou
não. Mas definitivamente os caras da oficina estavam envolvidos. Isso é tudo
que sabemos. Ray não abriu suas portas ontem ou hoje. Isso é má notícia para
nós. E, me sinto como um merda por fazer isso com a minha irmã; ela devia
conseguir justiça por Jase, mas eu preciso dos caras para que possamos pelo
menos ter uma chance de sobreviver. Não somos apenas nós nesta confusão
mais. Talon foi arrastada para ela, admitindo ou não. Ouço um estrondo em
algum lugar na casa e pulo da minha cadeira. Tempo de domar a fera, e
caramba, se eu não estou com disposição para isso.
Quinto Dia
Duas horas, a
quantidade de sono que eu tive. Quando eu não consegui acalmar Jonah, o
doutor teve que vir e lhe dar um sedativo. Só assim tive certeza de que ele não
iria sair e rastejar para o Indigo. Duas horas, não são suficientes para aliviar a
minha mente sobrecarregada. Assim que abro meus olhos, as rodas começam a
girar de novo, me bombardeando com “ses” e “como”.
Até agora eu sei que estou achando que estou dentro de um coma de dor
permanente, mas por minha vida, eu não sei o que Daniel quer comigo.
Vingança? Talvez ele faça um plano de me matar por ser mais um filho bastardo.
Mas eu não carrego o nome Migelli, Xavier também não, mas Xavier é filho da
ex-mulher de Daniel. Eu não tenho nenhuma ligação de sangue com Daniel que
ele saiba. Minha ligação de sangue com ele é consanguínea, mas do tipo de
sangue derramado, não do tipo de família. E a minha ignorância da minha
situação pode custar a minha vida, de novo. Desta vez, se eu tiver sorte eu vou
acabar a sete palmos abaixo da terra.
Sons de discussão me param do lado de fora da cozinha. Parker está
gritando com alguém. Eu imediatamente estremeço e considero voltar para o
meu quarto. Eu não estou com disposição para suas travessuras tão cedo na
manhã. Eu preciso de pelo menos mais duas horas de sono para esse tipo de
ataque verbal. Ou, pelo menos, a xícara mais forte de café dessa casa.
— Ninguém quer me dizer o que está acontecendo aqui. Eu mereço saber.
Esta é a minha casa. — ele grita, seguido por algo que soa como se ele
simplesmente batesse a mão sobre o balcão da cozinha, porque um copo cai e
quebra. Dou um passo para frente, mas paro imediatamente quando Emily
começa a falar. — Esta é a casa de seu pai e estes são os convidados dele. É
melhor você tratá-los com respeito. Foi sua escolha não fazer parte da vida dele.
— e então ela murmura algo em italiano.
Eu tento esconder meu sorriso para a frágil e idosa mulher repreendendo
Parker júnior como uma criança desrespeitosa, mas eu falho miseravelmente
quando Parker dá a volta parecendo furioso. — Bom dia! — saúdo-o alegremente
com uma risada. Ele olha para mim por um segundo. Eu sei que ele quer dizer
alguma coisa para mim, mas decide contra isso e sai na direção de seu quarto.
Estou muito satisfeito com o jeito que Parker levou uma palmada na mão
por mau comportamento, e por apenas um segundo, eu sinto como se nós
fôssemos realmente irmãos, mesmo que não seja verdade. Espero que eu não
esteja ficando afeiçoado pelo pequeno idiota curioso. Eu tenho vivido essa
mentira por tanto tempo, que estou começando a acreditar nisso. Xavier não é
meu irmão, não realmente. Não pelo sangue. A única pessoa que eu compartilho
essa ligação é com a minha irmã gêmea. E ela acha que eu estou morto. Eu
passo para a cozinha rapidamente, antes que meu cérebro, já sobrecarregado,
me leve para uma triste memória. É um passeio que tem que ser deixado para
muito mais tarde.
Estou um pouco chocado quando encontro Jonah sentado na ilha da
cozinha com Emily servindo-lhe um café. Eu pensei que era só Parker e Emily
aqui dentro. Eu nunca ouvi Emily levantar a voz, e é altamente fora da sua
natureza fazer isso na frente de Jonah. E Jonah não deveria estar fora da cama.
Jonah levanta seus olhos até encontrar os meus, e embora os seus ainda estejam
um pouco turvos por causa dos analgésicos que o médico injetou na noite
passada, ele parece mais consciente do ambiente. Eu esfrego meu queixo
distraidamente, e Jonah sorri quando vê o que eu estou fazendo. — Desculpe
por isso. — diz ele, sorrindo. Eu não acho que ele está arrependido de jeito
nenhum. Aposto que ele queria me bater até arrancar meu dente ontem à noite,
depois que eu disse a ele, pela segunda vez, que ele não podia ir embora. Eu dou
de ombros e sento-me na frente do meu café.
— Eu quero ir para Mary, Runner. Hoje. Eu quero sair agora mesmo.
Mike está lá protegendo três meninas, ele não é capaz nem de cuidar de si
mesmo com toda essa merda em suas mãos. Mary é minha responsabilidade.
Ela é a minha garota. Eu tenho que protegê-la. — diz ele ferozmente.
Eu olho para o meu amigo, e eu nem sequer me preocupo em explicar que
Malachi também está lá. Sim, o grande segurança mau que trabalhava para Pete
todos esses anos atrás na verdade trabalhava para Reno. Acontece que Pete e
Danny estavam dividindo os lucros do Reno, e Malachi sabia tudo sobre ele.
Estou prestes a dizer ao meu amigo que ele não pode ir quando meu
telefone toca. É Mike. — Runner. — eu respondo do meu jeito usual. Eu acho
que no começo eu fiz tanto isso para me lembrar que eu não era Kyle mais, e,
eventualmente isso ficou preso comigo. Eu escuto algo soar como uma briga de
gato por um tempo antes de Mike finalmente gritar muito alto e muito irritado
que ele já teve o suficiente. Eu afasto o telefone do meu ouvido para verificar se
ele não desligou porque a linha fica extremamente silenciosa de repente. Mas,
então, Talon murmura algo sobre besteira e uma porta bate.
— Ah, meu Deus... — Mike murmura. Eu coloquei meu telefone no alto-
falante e dou uma piscadela para Jonah. Eu juro que o cara está a uma batida de
um ataque cardíaco, uma risada poderia ser útil. Eu rio de Mike, quando ele dá
um suspiro alto ao telefone.
— Estas mulheres... — ele começa, mas depois para. — Eu liguei, como
você disse que eu deveria. — Mike murmura finalmente.
— Sim, você ligou. — eu digo, ainda rindo. — Tudo bem por esse lado? —
pergunto a ele.
— Sim, tudo fodidamente esplêndido. Mas eu aposto que essas mulheres
estão todas em seu período ou algo assim. — eu ouço Ana gritar ao fundo. — Eu
tenho que ir, e eu estou feliz que você ache que isso é engraçado. — Mike
murmura, e, em seguida, o telefone fica mudo.
— Estou telefonando para Mary. — Jonah diz enquanto ele manca saindo
da cozinha. Ele não vai admitir isso, mas aquele joelho está matando-o. Procuro
adicionar um pouco de entretenimento para sua manhã. Eu acho que a chamada
apenas elevou e muito o seu nível de ansiedade para o território histérico. Eu
giro meu celular na bancada, e só porque estou me sentindo rancoroso por não
ter ninguém para ligar, eu disco o número que me telefonou ontem de manhã.
Daniel Migelli atende após o segundo toque. Eu não lhe dou uma chance de
dizer nada.
— Estou pronto. — e com essas duas palavras, eu assino minha sentença
de morte, novamente. Eu não sei o que ele vai pedir para mim, mas esta será a
última vez que alguém me possui. E eu vou fazer do meu jeito. — Ótimo, então é
melhor estar a caminho de casa. — diz Daniel calmamente por telefone. — Para
Square? Por quê? — eu pergunto confuso. Conheço o lugar como a palma da
minha mão. É o meu trabalho conhecer aquela cidade. — Você vai descobrir em
breve. — e então o grosseiro bastardo bate o telefone na minha cara.
Eu bebo o último gole do meu café, que há muito tempo está frio. Eu giro
meu telefone de novo e de novo. Casa, por quê? O lugar é uma cidade fantasma e
um paraíso de jogadores. Exceto para um turista estranho aparecendo,
procurando por alguma oportunidade aleatória de localizar um globo flutuante,
nada acontece lá, exceto as luzes à noite, ou pelo menos a maior parte do tempo
de qualquer maneira. Às vezes, até mesmo aquelas não acendem para a ocasião.
Emily coloca outra xícara de café na minha frente, eu coloco minha mão sobre o
telefone, parando o giro constante antes que eu consiga um caso ruim de
estômago embrulhado. — Obrigado, Emily. Estaremos indo para casa hoje, mas
tenho a sensação de que voltaremos. — eu digo, levantando a caneca em sua
direção. — Cuide-se, Sr. Kyle. — diz ela, e eu tremo quando ela usa o meu nome
verdadeiro. Um nome que pesa uma tonelada, uma identidade falsa que leva
uma porrada de pecados. Estou me afogando em minha nova vida, assim como
me afoguei na minha antiga.
Levanto-me da mesa para ir procurar Jonah. Eu não trouxe nada comigo,
então não há nada para empacotar. Quando eu chego ao início do corredor,
Jonah está vindo da direção oposta. Parece que ele acabou de tomar banho, e
seu moicano loiro está emplastrado no lugar. Ele empurra o telefone no bolso e
aperta os lábios como se ele estivesse comido algo desagradável. Antes que ele
possa me alcançar e me esmurrar forte, o que parece que ele está preparado
para fazer, eu digo: — Você está pronto? — Jonah para e olha para mim confuso.
— Nós estamos indo embora? — pergunta ele. — Sim, nós estamos indo para o
Indigo. — eu digo com um aceno de cabeça. — Bom, porque eu estava prestes a
te bater pra caralho até a inconsciência para que eu pudesse ir. — ele fala com
um sorriso. Eu não estou totalmente certo de que ele está brincando, mas vou
provocá-lo de qualquer maneira. — Você é bem-vindo a tentar, mano. — eu digo
em um sorriso. — Humpf, eu posso levá-lo com uma mão amarrada nas minhas
costas. — diz ele, passando para a sala de estar.
— E com uma perna amarrada atrás das costas? Essa perna não vai
ajudá-lo. Eu vou chutar o seu traseiro em meio segundo. — eu digo em uma
risada e aponto para a perna.
— Sim, está muito fodida. Eu não posso acreditar que aquele bastardo fez
isso. Mas vai chegar a minha vez, e depois eu e Betty teremos algum
divertimento real. — diz ele sério, e a hora da brincadeira passa. Não tenho
dúvidas de que Jonah vai realmente fazer o que diz. Eu quase sinto pena do
capanga de Daniel Migelli. Jonah e sua faca, Betty, são uma dupla perigosa.
Estou quase arrependido, mas não o suficiente para ajudar o pobre coitado
quando Jonah finalmente conseguir a sua chance. Eles realmente drogaram a
Talon. Bastardos.
Depois de nos despedirmos de Emily e Stephan, eu aperto a mão de
Parker e agradeço-lhe por sua hospitalidade. Eu não digo a ele que
provavelmente estarei aqui em breve, porque eu posso sempre ficar em um
hotel, mas após o meu pequeno momento de paz com meus demônios no antigo
escritório onde Ethan foi baleado, essa casa parece minha, mais e mais. Mesmo
que isso signifique enfrentar as perguntas de Parker. E, ele ainda tem uma mala
cheia lá dentro; está escrito em todo o seu rosto de garoto bonito. De certa
forma, sinto pena do cara, que foi jogado nesse mundo, de cabeça para baixo. É
muito para acostumar. Mas você chega lá eventualmente ou você sai. E Parker
tem o luxo de escolher o seu destino. Eu me pergunto qual ele vai escolher.
***
Jonah está digitando um texto enquanto estamos dirigindo pela Rodovia
28 para o Indigo e o silêncio começa a me alcançar. Eu quero perguntar a ele
sobre o acidente de carro.
— Então o que aconteceu? — pergunto casualmente.
— Hein? — Jonah pede, não se concentrando de jeito nenhum, enquanto
ele continua seu texto.
— O acidente, o que aconteceu? — pergunto de novo.
— Oh, isso. — diz Jonah enquanto ele coloca o seu telefone em sua coxa.
— Depois que encontramos Ana naquela festa, Mike estava muito furioso. Jase
bateu nele pra caralho.
— Pra caralho?
— Sim. — diz ele, rindo baixinho.
Mike sempre recebe o espancamento. Eu posso imaginar que ele não
ficou bem com isso. Ele deve ter ficado muito irritado, só por saber que ele tinha
que ir tirar Ana da festa.
— Então eu o levei para um posto de gasolina nas proximidades, peguei
para o cara, um Monster10 e um saco de gelo para suas costelas. Então fiz
algumas piadas sobre como ele poderia realmente ter chutado a bunda de Jase
se ele não fosse pego de surpresa. Caramba, aquele cara tem alguns problemas
graves de raiva. Eu pensei que ele ia pulverizar o crânio de Mike. E Mike tem
uma cabeça muito dura. — diz Jonah, rindo novamente.
— Então, recebemos uma mensagem de Talon nos dizendo para buscar
Ana. Eu vi o carro branco, cara; eu apenas não pensei que fosse algo. Quando
chegamos ao apartamento, Ana estava lá. Ela não deixou Mike entrar. Mike
lutou, abriu a porta e começou a pegar as coisas dela. Talon estava lá, só sentada
no sofá, olhando para nós como se estivéssemos loucos, porra. De repente, os
capangas de Daniel estão na porta perguntando à Talon onde estávamos. Ela, é
10
Energético.
claro, os deixou entrar. Eles não fizeram parecer que segui-los era um pedido,
Runner. Eles ameaçaram machucar as meninas se não fôssemos com eles. Mike
e eu os dominamos na escada, conseguimos ganhar algum tempo, mas as
meninas não podiam correr rápido por causa daquelas porcarias de saltos que
elas usam.
Quando chegamos ao Chevy, Mike não conseguia encontrar as chaves,
então pegamos o carro deles. Idiotas estúpidos deixaram as chaves na ignição.
Eles acabaram nos perseguindo no Chevy, eles devem ter feito ligação direta. Ou
talvez Mike tivesse deixado as chaves caírem na nossa pressa. Inferno se eu sei.
Tudo aconteceu tão rápido. Atravessamos o semáforo enquanto estava amarelo;
mudou para vermelho sobre eles. Eles se chocaram contra a caminhonete de
Jase, não nós. É por isso que ninguém pode nos relacionar com o acidente. Uma
ambulância privada apareceu depois e levou os capangas de Daniel embora,
muito antes que quaisquer outras ambulâncias pudessem ser ouvidas. Daniel
tem Bailey trancada. Aqueles caras do Warehouse 9 apareceram e enfiaram uma
faca no meu joelho. Essa é a única razão pela qual deixei Mike atrás do volante.
E o resto você sabe, você estava lá. — diz Jonah, tomando uma respiração
profunda depois de sua história.
— Então ninguém vai reconhecê-lo? — eu pergunto.
— Ninguém estava nem perto do nosso carro. Encontramos alguns gorros
no carro, e as meninas estavam deitadas no banco de trás. A direção de Mike as
assustou. Todo mundo estava no Chevy ou na caminhonete de Jase. E sabemos
que Reno cuidou do documento do Chevy, quando começamos com ele.
Ninguém pode rastreá-lo. A única pessoa que pode nos colocar naquela cena é
Daniel Migelli. — Jonah diz olhando para frente.
Posso dizer que ele realmente está pensando sobre este negócio que
estamos prestes a fazer com Daniel. — E quem é o cara que Daniel pensa que
está morto? — eu pergunto. Eu já sei que é Jase, isso é apenas a forma como a
minha sorte é bagunçada.
— Eu não sei, Runner. Nós não ficamos tempo suficiente para descobrir,
mas eu não vejo como o motorista poderia ter sobrevivido. O carro bateu direto
na lateral. A caminhonete de Jase capotou algumas vezes. — diz Jonah,
abaixando a cabeça.
Sim, eu também acho. Droga! Por apenas uma vez a merda pode passar
direto por esse fosso bagunçado da minha vida? Eu continuo estragando tudo.
Primeiro com as drogas e, em seguida, matando Danny Migelli. E agora isso. Eu
aperto o volante mais forte e concentro-me na estrada. Mia está sozinha
novamente. Mike e Jonah podem não ter batido em Jase, mas eles estavam lá
por minha causa. Eu não acho que a minha irmã vai me perdoar algum dia,
mesmo que ela saiba que eu ainda estou vivo. Não se Jase morrer.
Talon
Se eu não conseguir um cigarro logo, eu vou bater na cabeça de alguém.
Ana tem reclamado no ouvido de Mike sobre ter seu telefone de volta nas
últimas três horas. Estou farta disso. Eu suspiro e puxo uma das grandes
almofadas azul para baixo da minha cabeça, onde eu estou deitada no sofá. Eu
ainda posso ouvi-los discutindo, mas eu nem sequer preciso de palavras para
saber o que eles estão dizendo.
— Eu quero meu telefone! — Não. — Dê-me o meu maldito telefone. —
Não. — Por que não, Mike? Por que diabos não? — Precisamos ficar fora de vista
por um tempo. — então Ana guincha e grunhe como um filhote de porco que
está sendo tirado da sua mãe e completa batendo os pés.
Mike pegou meu telefone também, graças a Deus que é protegido por
senha. Mary é a única autorizada a ter o dela por causa de Jonah.
Aparentemente, Jonah é um louco protetor, e ele pode recorrer a decisões
irracionais se ele não puder falar com ela. Gostaria de saber qual a sensação de
ter alguém que te ame tanto? Ana tentou conseguir com que Mary desse o
telefone para ela, mas Mary prontamente se trancou no quarto depois disso.
Ninguém a viu desde então. Eu me pergunto se ela ainda está até mesmo
respirando. A garota precisa usar o banheiro em algum momento, certo?
— Mike! Preciso de um cigarro. — eu grito do sofá com a almofada ainda
sobre o meu rosto. — O quê? — Mike pergunta, soando mais perto do que antes
da gritaria entre ele e Ana. Eu levanto a almofada do meu rosto e soluço com
minha quantidade de palavras. Eu não percebi que ele estava tão perto, parece
que chegou ainda mais perto. Sua proximidade me assusta um pouco e eu me
afundo ainda mais no sofá.
— O que você estava dizendo? Você está bem? — Mike pergunta
parecendo preocupado enquanto ajoelha-se próximo ao sofá.
— Sim... sim, estou bem. Preciso de um cigarro, eu estou sem. — eu digo,
batendo no bolso vazio do meu jeans e relaxando um pouco.
— Oh. Ok, eu vou pedir para Runner conseguir algum. — diz ele,
levantando-se lentamente.
— Ele está vindo para cá? — estou surpresa. Ele conseguiu arrumar a
bagunça com Daniel tão rapidamente? Isso é bom, certo? Eu posso ir para casa.
— Não fique tão aliviada. Eu não acho que ele esteja trazendo boas
notícias com ele. — Mike começa a sair da sala, mas eu não o deixo ir muito
longe. — Eu não me importo. Só consiga meus cigarros. — respondo com essa
atitude arrogante que eu vi no Pretty-Pretty Princess11. Odeio este lugar. Eu
odeio estar presa. E então eu puxo a almofada sobre meu rosto novamente,
pronta para emburrar no meu mundo privado de nicotina. É melhor do que de
onde você veio! Odeio aquela vozinha na minha cabeça. Porque está errada, isso
é exatamente o mesmo. Eu ainda sou uma prisioneira. Os guardas são apenas
muito menos dementes do que aqueles de casa.
Eu cochilo um pouco e estico as pernas. O sofá do Indigo é quase tão bom
para dormir quanto a minha própria cama. Eu ouço vozes abafadas e retiro a
almofada do meu rosto. Quando eu sento e olho sobre o encosto do sofá, Runner
11
Jogo de tabuleiro onde o objetivo final é se tornar uma princesa.
está olhando diretamente para mim. Seus olhos parecem tão assombrados,
como se os demônios que estão perseguindo-o estivessem ali na superfície, me
chamando para dar uma olhada mais de perto. Ele alcança alguma coisa em
cima da mesa e joga em mim. A conexão que eu senti em nosso olhar é quebrada
e eu fico me sentindo vazia, aliviada. O maço de cigarros cai com um baque
suave no meu colo. Eu o abro imediatamente e pego um. Levanto-me e ando até
a janela, procurando um isqueiro no meu bolso. Abro mais a janela e acendo
meu cigarro, apreciando a primeira tragada que eu tive desde a noite passada.
— Não fume nos quartos. — Runner diz quando ele para ao meu lado.
— Eu não estou autorizada a sair da sala, e não há varanda, por isso a
janela. Ou eu poderia sair e me pendurar na grade se você preferir? — pergunto
enquanto sacudo a cinza para baixo, três andares até a calçada.
— Uma viciada e uma quebradora de regras. Você me surpreende. Uma
rebelde verdadeira. Cabelo legal. — diz ele, sorrindo para mim. Eu quase me
perco nessa expressão brincalhona em seu rosto. Eu não acho que eu já vi
Runner sorrindo. Nem mesmo depois que ele esgotou seu corpo em cima de
mim. Eu sorrio de volta para ele, tentando retornar o desaforo, mas não consigo
nada. Em vez disso, eu aliso meu cabelo para baixo, a estática da almofada de
seda o faz grudar na minha mão. Doce, Talon, realmente sexy. Runner solta uma
gargalhada e minhas bochechas aquecem um pouco. Eu não estou corando, não
estou corando! Eu estreito meus olhos para ele, tentando cobrir o meu
embaraço, mas ele só ri ainda mais. É um som profundo, gutural, aquecido com
verdadeira alegria, e eu adoro cada segundo dele. Eu não quero desafiá-lo
quando ele parece estar de bom humor para variar, mas eu não gosto de pessoas
rindo de mim.
— O quê? — eu pergunto. Runner chega ao meu ombro e eu recuo. —
Relaxe. — ele diz, rindo novamente. Ele puxa algo do meu cabelo, e eu estou
pensando que ele vai jogar o truque da moeda em cima de mim, mas em vez de
uma moeda ele me entrega um cartão de visita. Eu viro o cartão, e nele está o
logotipo do show de strip do Apple que eles têm nas noites de sábado. — Para
uma boa diversão ligue 555-Mandy. — ele diz. — Oh meu Deus. — eu digo,
rindo. — Eu acho que não vou precisar disso. — empurro o cartão de volta na
sua mão. — Eu posso. — diz Runner enquanto enfia o cartão no bolso da camisa
e o acaricia de brincadeira. Eu torço o nariz e faço uma cara feia para ele. Ele
realmente assiste essas mulheres desagradáveis no Apple?
— Você está com fome?
Meu estômago dá uma reviravolta. Ele acabou de me convidar para ir
jantar?
— Eu poderia comer. — eu respondo, não tendo certeza se eu estou lendo-
o corretamente. Eu realmente gostaria de sair desta sala. Eu não me importaria
em sair com ele.
— Bem, há um panfleto de pizza sobre a mesa. Deixe-me saber o que você
quer, e eles podem entregar. Eu vou dizer para os outros. — ele fala com um
sorriso amigável.
— Claro. — a decepção é clara como a luz do dia em minha voz. Eu nem
estou com tanta fome. Eu posso tomar uma vodka, isso é certo. Eu realmente
esperava que sairia finalmente desta sala. Meu cigarro queima a ponta dos meus
dedos, e eu o deixo cair para fora da janela. Assisto-o cair em espiral até que eu
não posso mais vê-lo. Eu me pergunto se eu sobreviveria a um salto.
Runner
Como eu sou idiota por flertar com Talon? Tanto quanto Ícaro voando
muito perto do sol com suas asas de cera. Chiar e queimar. Eu não estou aqui
nem há uma hora, e eu já estou invalidando a minha nova mentalidade. Sem
amigos, ninguém que eu me importe. É assim que eu fico inquebrável. Daniel
Migelli não vai pensar duas vezes antes de ir atrás deles para me machucar, para
usá-los contra mim. Quando eu perguntei se ela estava com fome, eu estava
planejando levá-la no andar de baixo para comer. Ela parecia tão miserável
trancada nesta sala. Mas quando eu vi aquele vislumbre de esperança em seus
olhos, assim que perguntei a ela, eu sabia que não poderia fazer isso. Não vou
desapontar outra mulher.
Eu bato na porta de Ana e sou recompensado com um rude: — Cai fora. —
então eu a deixo sozinha e vou ao quarto de Mary. Faço uma pausa por um
segundo, não querendo interromper qualquer ligação especial que possa estar
acontecendo, mas depois decido bater de qualquer forma. Jonah abre a porta
vestindo apenas cueca e Mary está sentada na cama com alguns suprimentos
médicos. Olho para o joelho machucado, e eu fico muito feliz por ter ignorado o
seu pedido para não ver o médico de Reno. O charlatão que o costurou antes de
eu chegar ao Warehouse 9 fez um trabalho de porco. Meu amigo tem sorte que
ele conseguiu ficar com a sua perna. O médico de Reno teve que tirar todos os
pontos e re-costurar a ferida. E ele deu a Jonah uma injeção antitetânica, que o
fez xingar mais do que um pirata que acaba de perder a sua nova perna de pau.
— Estamos pedindo pizza. Vocês querem um pouco? — eu pergunto,
olhando entre os dois.
— Babe? — Jonah pergunta a Mary quando ela só continua a olhar para o
material na frente dela. Mary levanta os olhos brevemente e dá um pequeno
aceno de cabeça antes de voltar a olhar para baixo, para os curativos que ela está
preparando. — Nós já vamos sair. — diz Jonah. Então, ele me dá um sorriso
muito incerto, antes de fechar a porta na minha cara. Eu não acho que Mary se
encaixa tão bem nesta nova equação como ela pensava, mas por Jonah eu
espero que dê tudo certo. Eu volto para o meu quarto pronto para um banho e
uma soneca, mas o chuveiro vai ter que bastar.
Quando eu volto para a sala de jantar/sala de estar/área de descanso,
todo mundo está sentado à mesa jogando baralho. E o saque - uma pilha de
cartões Call Mandy12. Pelo visto, Mary está limpando a casa. Pego o pedaço de
papel com os pedidos de pizza de todos. Disco o número da pizzaria e faço o
pedido para a menina amigável do outro lado da linha. Quando eu li o pedido de
Talon, eu quase tropecei nas palavras. A garota gosta de coisas picantes, assim
como eu.
12
Tipo de cartas com imagens eróticas
Então Talon gosta de comida picante? Sou a única pessoa que se alimenta
de coisas realmente picantes na cabana, então quase não peço esse tipo de
comida. Eu peço a mesma pizza que Talon e adiciono pimenta esmagada do meu
lado. Desligo o telefone e vou sentar em um lugar à mesa ao lado de Talon. Eu
assisto-os terminar a rodada que estão jogando, e então estou dentro.
Talon vê suas cartas e me dá um sorriso travesso. Eu sorrio de volta e
verifico minha mão. Não é de todo ruim, mas poderia ser melhor. Precisa ser
muito melhor para vencer Mary. Eu lanço um dos meus Cartões “Call Mandy”
para o centro da mesa, juntamente com as outras apostas. Eu aprendo
rapidamente a ler a cara de poker de Mary e sua mente afiada. Mike e Jonah
caem na última rodada e Mary brinca, mostrando sua pilha de cartões “Call
Mandy” para Jonah. Ela é toda risadinhas enquanto diz que ela vai sustentá-lo
financeiramente para a vida. Ela parece genuinamente feliz, talvez ela vá lutar
depois de tudo. Jonah, por outro lado, está começando a parecer que o anjo da
morte está sentado em seu ombro, e eu estou um pouco preocupado com a
perna dele.
— Eu vou pegar uma bebida. Alguém mais quer uma? — Mike pergunta,
de pé ao virar na direção do minibar. E ele também tira a minha atenção de
Jonah.
— Eu quero uma vodka. — diz Talon. Ela pisca-lhe um rápido sorriso
antes de voltar para suas cartas.
— Vodka e o quê? — Mike pergunta.
— Só uma vodka. Eles têm esses pequenos frascos lá dentro, não é?
Apenas me traga um desses. — diz Talon com um olhar duh no rosto. Eu me
pergunto se ela tem o mesmo problema que Ana. Mas ninguém parece pensar a
mesma coisa, e Mike apenas dá de ombros e vai pegar as bebidas. Então, eu não
digo nada, mas eu definitivamente estou mantendo um olho nela. Ana se
transforma em uma Sra. Hyde13 assim que ela cheira álcool. Eu não quero que
Talon vá pelo mesmo caminho.
13
Nota de tradução: Referência ao filme o Médico e o Monstro
— Ei, e o resto de nós? — Ana grita para Mike.
— Eu vou trazer Cocas. — Mike diz, e eu vejo-o fazendo uma careta
quando ele percebe que Ana pode começar uma briga por isso. Mas ela apenas
balança a cabeça e olha para as cartas novamente. Solto um suspiro de alívio
que nada está prestes a estragar o bom humor na sala.
Mike volta com latas agarradas a ele, uma cerveja e duas mini garrafas de
vodka nas mãos. Ele passa as bebidas ao redor e toma seu lugar.
— Cara, eu estou com sede. Saúde. — ele diz, erguendo a garrafa aos
lábios. Todo mundo murmura: — Saúde. — e Talon acaba com sua garrafa
miniatura em um só gole. Mike levanta uma sobrancelha para mim, e eu olho
para a garota sentada ao meu lado. Ela me vê olhando e limpa os lábios com as
costas da mão. Em seguida, sorri, e quando ela aperta minha coxa, sorri ainda
mais brilhante. Mesmo com o grosso tecido da minha calça jeans posso sentir o
calor da palma da sua mão, mas ela levanta a mão e volta a se concentrar em
suas cartas, jogando como se nada tivesse acontecido.
Eu desisto de tentar jogar contra as meninas depois de mais duas
rodadas. Também estou feliz de deixar a mesa quando há uma batida na porta.
Estive observando Talon, e quanto mais tempo ficar sentado lá, mais eu penso
sobre ela me tocando e penso em tocá-la. Ela está em sua terceira garrafa
miniatura de vodka, e eu estou feliz em ver o entregador de pizza quando abro a
porta. Tanto álcool puro não pode ser bom para ela. Quer dizer, ela está
bebendo a maldita coisa pura! Eu pago o cara da pizza e fecho a porta.
O cheiro de comida traz todos os caras para cima de mim, e quase não
tenho a oportunidade de colocar todas as caixas para baixo antes que peguem a
deles na pilha. Eu pego a minha e a de Talon com pimenta extra e volto para a
mesa. Mary efetivamente adquiriu todas as cartas e está sentada
orgulhosamente com sua pilha de cartões “Call Mandy”. Jonah lhe entrega sua
pizza e olha sua pilha de cartões “Call Mandy”. Ele tem uma expressão curiosa
no rosto. Eu nunca percebi quantos daqueles cartões estão nos quartos do
Indigo. Há pelo menos cinquenta daqueles na frente dela. Então, ele se inclina
sobre ela e sussurra algo em seu ouvido. Ela suspira baixinho e abaixa a cabeça
com um pequeno sorriso no rosto.
Talon está observando os dois; ela ri quando vira para pegar a caixa de
pizza dela comigo. — Aqueles dois são tão fofos. — ela diz. Os olhos de Talon
estão um pouco confusos, mas ela não está enrolando a língua. Ela pode segurar
o álcool, mas acho que não consigo me sentar aqui e vê-la beber mais essas
coisas horríveis.
— Sim, eles são realmente preciosos. — eu brinco de volta secamente. —
Ah, Runner, não seja tão anti-amor. Eu sei que há um coração em algum lugar
nesse congelador. — ela diz enquanto bate na minha bunda. Eu assisto sua
caminhada em direção ao sofá com a boca aberta. Eu não posso acreditar que
ela fez isso. Ela está definitivamente embriagada. Faço uma nota mental para ter
mais precauções em torno de uma Talon embriagada, ela é muito mais afetuosa.
E ela é muito mais ousada. Imagino se essa é a única razão pela qual ficamos
juntos naquela noite.
Talon cai no sofá e dobra as pernas embaixo da bunda. Pernas, bunda.
Por que estou encarando-a? Ela coloca a caixa no colo e puxa uma fatia de
tamanho decente da pizza mexicana. Ela cheira a pizza em suas mãos, fecha os
olhos e dá uma mordida. Quando ela puxa a fatia para longe de sua boca, um fio
de queijo puxa junto com ela. Mas, em vez de pegar um guardanapo, ela enrola o
fio de queijo em torno de seu dedo e ele desaparece em sua boca. Minha boca
começa a encher d’água. Essa é a coisa mais quente que eu já vi. Eu não quero
pizza, quero provar esses lábios. Talon olha para mim e me pega encarando.
— Desculpe, eu sou uma comedora desajeitada, mas a comida está aí para
desfrutar, e é assim que eu gosto. — diz ela, dando de ombros. Ela não parece
arrependida de jeito nenhum, então eu não sei por que ela sequer se preocupou
em se desculpar. Eu não digo nada enquanto sento ao lado dela no sofá. Ela está
bebendo e minha mente está ficando nebulosa... o que está acontecendo? Sim,
essa garota pode me fazer querer cuidar dela. Mas agora, eu só quero transar
pra caralho com ela.
Estamos assistindo a um filme de vampiros quando meu celular toca.
Retiro o celular do meu bolso para olhar para a tela. Não é um número que eu
reconheço, e é quase meia-noite. Eu considero deixá-lo tocando, e estou prestes
a colocá-lo de volta no meu bolso quando Talon me pergunta se vou atender.
Mike e Jonah também estão olhando para mim com a mesma pergunta em seus
rostos.
— Runner. — eu respondo.
— No Apple, leve a sua amiga, certifique-se que ela vista algo agradável.
— diz Daniel do outro lado da linha.
— É quase meia-noite. — digo através dos meus dentes. — Eu sei. A
pessoa que eu quero que você conheça está no Apple agora. Ele gosta de
senhoras de boa aparência, por isso certifique-se de que sua amiga pareça
gostosa. — acrescenta secamente.
— Foda-se... — eu jogo meu telefone em cima da mesa. O filho da puta
desligou na minha cara de novo! Eu nem sei quem eu tenho que encontrar no
Apple. E por que o Apple? É uma noite de terça-feira, as únicas pessoas por lá
são perdedores com o vício do jogo. — Foda-se! — eu xingo novamente quando
me levanto e começo a andar pela sala. Mike para o filme e acende a luz da sala
deixando todos quase cegos com a claridade.
— O que Daniel queria? — Mike pergunta, vindo para mim. — Ele quer
que eu vá para o Apple agora. — eu respondo. Mike verifica a hora em seu
telefone e vai em direção à porta.
— Aonde você vai? — eu questiono.
— Para o Apple. Você acabou de dizer que Daniel quer você lá. Então,
vamos e ver o que ele quer. — Mike responde, olhando para mim como se eu
estive irritando-o.
— Ele disse para levar a Talon. — digo, olhando para ela. Ela me olha com
uma expressão de interrogação, mas concorda em ir. — Ok. — é tudo o que ela
diz. Ela pega sua bolsa e fica ao lado de Mike.
— Vamos lá, então. — diz ela, acenando para eu ir em frente, impaciente.
Eu me sinto como um merda fazendo isso, mas eu não acho que Daniel
queria que Talon fosse com calças jeans e tênis. Eu limpo minha garganta,
procurando as palavras certas, e quando olho para ela, ela tem uma sobrancelha
arqueada para mim. Vou ganhar um sapato na bunda por isso.
— Só cospe, Runner. Será que vamos morrer ou algo assim?
Vamos? Possivelmente. É sempre uma opção hoje em dia. Não tenho a
resposta, mas eu não acho que Daniel esteja pensando em me matar esta noite.
Eu tenho que fazer o que ele quer primeiro. Talon, por outro lado, pode querer
me matar depois que eu disser a ela para mudar de roupa.
— Não, não é isso. Você não pode ir assim. — eu digo, balançando a
cabeça. Talon olha para a sua roupa, em seguida, de volta para mim.
— Nós estamos indo para o Apple, não estamos? Eu vi pessoas sem
sapatos naquele lugar. — ela aperta os lábios astutamente. Eu me pergunto o
que Talon estava fazendo no Apple.
— Parece que estamos indo nos encontrar com um cliente importante; ele
disse para ter certeza que você vestisse algo agradável. O cliente gosta de
mulheres bem vestidas. — eu sou um babaca. Eu mereço um sapato na minha
bunda por isso.
Talon zomba então começa a andar para o quarto dela.
— Você não está vestido. E eu espero que o seu menino carregador tenha
embalado algo decente. — diz ela, antes de bater a porta.
— Ele não disse nada sobre mim. — eu murmuro baixinho. Mike ri e volta
para o sofá para assistir ao filme.
— Ei, de onde é que vieram todas essas cartas “Call Mandy”? São os
funcionários que colocam nos quartos? — eu pergunto a Mike, lembrando que
eu queria perguntar a ele mais cedo. Mike parece pensativo por um instante,
como se ele também estivesse se perguntando de onde elas vieram. Ana e Mary
explodiram em acessos de risos e Jonah olha para ela exausto. — Mary... —
Jonah começa a perguntar a ela, mas a minha atenção desvia para a porta aberta
do quarto de Talon.
Talon sai de seu quarto vestindo um vestido vermelho levante-o-meu-
pau-com-um-desfibrilador. Quer dizer, essa coisa não tem costas e nem sequer
cobre seus seios. Mas o que realmente me pega são os malditos saltos altos
vermelhos que ela usa. Eu definitivamente mudei de ideia sobre a parte do
sapato chutar a minha bunda. Vou ficar muito longe daqueles bad boys. Quer
dizer, você pode perder um olho só de olhar para eles. Ela me dá um sorriso de
saco cheio e caminha até o minibar. Ela pega três garrafas em miniatura de
vodka da geladeira e logo toma uma. Um traço de batom vermelho fica para trás
na garrafa de vodka, e meu lábio inferior começa a formigar.
— Eu já volto. — digo a ela enquanto ando para o meu quarto. Obrigado,
porra, eu tinha trazido um par de calças decente esta tarde. Você nunca sabe
quando pode precisar delas. Pego a arma da parte de trás do meu jeans tiro a
roupa o mais rápido que posso. Eu coloco uma camisa branca, calça preta de
botão e penteio o cabelo. Sapatos, foda-se, eu não tenho nenhum sapato. Eu
olho para os meus velhos all stars e curvo o meu lábio. Pelo menos eles são
pretos. Eu retiro as calças pretas e coloco meu jeans de volta com os all stars.
Pelo menos eu troquei a minha camisa. Eu recoloco a arma de volta na parte de
trás da minha calça jeans e abro a porta.
Talon está sentada à mesa, tamborilando os dedos na parte superior, as
três garrafas de vodca em miniatura vazias e tombadas sobre a mesa.
— Pronta? — eu pergunto quando chego perto dela. — Claro. Você mudou
sua camisa. Bom. — ela balança a bolsa por cima do ombro, e seu rabo de cavalo
bate no meu rosto, deixando-me com um olho marejado. Corro para frente para
abrir a porta para ela. Desta vez eu recebo um sorriso de verdade, não como o de
antes, quando eu insultei suas roupas. Eu realmente gosto que Talon aprecie
que eu faça coisas cavalheirescas para ela. Eu vou me arrepender tanto por
quebrar minhas próprias regras, mas boas maneiras são boas maneiras, e eu vou
deixar a minha mãe orgulhosa, não importa o quão confusa minha vida esteja.
— Então, o que eu devo fazer? — Talon me pergunta quando estaciono
em frente ao Apple. — Eu não tenho ideia. Mas fique ao meu lado. — eu
respondo com sinceridade.
Os olhos de Talon vagam sobre o meu rosto, e posso sentir o quanto ela
confia em mim, mesmo antes dela me dar um pequeno aceno de cabeça. Ela
moveu-se para abrir a porta, então abro a minha e corro ao redor do carro para
o seu lado para ajudá-la a sair. O Apple não tem o melhor dos estacionamentos
ao redor, e eu não quero que ela pise em uma das grandes crateras que estão em
todo o lugar. Ela coloca o braço em volta da minha cintura e se inclina perto
para sussurrar no meu ouvido. — Ao seu lado. — diz ela, dando-me um aperto.
Eu rio e coloco o braço em volta de seus ombros. Isso tudo é fingimento, eu
lembro.
Assim que passamos pelas portas do Apple, todos os olhos se concentram
em Talon. Eu não posso culpá-los, ela parece letal esta noite. Eu faço a
varredura da multidão e encontro alguns rostos familiares, antigos clientes da
casa de empréstimo, alguns do cassino. Eu dirijo-nos para o bar. A música está
alta, e eu tenho que me inclinar mais próximo para fala em seu ouvido e para
que ela possa me escutar. A pele nua de seu pescoço me chama a atenção, e eu
quase corro a minha língua sobre sua pele lisa, apenas para provar se ela está
tão boa como parece. Quando trago a minha cabeça até a orelha dela, meu nariz
se aproxima ao longo de sua pele e ela treme. Porra, isso é sexy.
— O que você quer?
— Vodka. — diz ela, olhando ao redor do bar.
— Eu não acho que você deveria tomar mais disso. — falo, ainda
inclinando-me. Ela dá um passo para trás e me empurra mais longe dela. Ela
está prestes a dizer algo para mim quando eu sinto meu celular vibrar no bolso.
Eu o retiro para ver uma mensagem de texto. O número que eu reconheço como
sendo de Daniel.
O homem que você procura está na sala de trás jogando poker. Eu
quero que você pegue o telefone celular dele e deixe-o na segurança
no Indigo. O nome dele é Antonio LaVaas.
— Merda! — eu murmuro. Como diabos eu vou conseguir pegar seu
telefone. Eu coloco minha mão na parte inferior das costas de Talon, e ela olha
pra mim, mas, em seguida, ela vê meu telefone e relaxa. Ela estende a mão para
o telefone, mas em vez disso eu entrelaço os meus dedos com os dela e a levo
para a sala dos fundos. Se o irmão de LaVaas me reconhecer, toda esta noite
será uma emboscada. Eu sei que Daniel sabe que eu fiz negócio com os irmãos
LaVaas. Seus homens devem tê-lo avisado sobre o encontro que tive com
Benedict. Talvez seja por isso que ele disse para trazer Talon. Ciente desses
saltos assassinos que ela está usando, eu navego com Talon através das quatro
mesas da sala dos fundos, todas ocupadas por quatro jogadores e um traficante.
Mas ela mantém a calma, movendo-se com graça felina.
Eu detecto imediatamente Antonio na mesa mais distante de nós. Ele
está cercado por mulheres, todas competindo por um segundo de sua atenção.
Eu dou um aperto suave na mão de Talon e aponto com a minha cabeça na
direção de Antonio. Quando eu tenho certeza que ela o viu, eu a levo de volta ao
bar.
Talon
Runner me dá seu telefone, e eu leio o texto que Daniel enviou. Eu sei que
ele quer que eu pegue o telefone, mas eu não tenho ideia de como conseguir.
Runner finalmente me deixa com a minha vodka, mas mistura com Coca-Cola.
Eu pego o copo alto e olho para ele desconfiada. Vai ter gosto de merda, um
grande desperdício de uma boa bebida. Eu começo a andar em direção à sala
dos fundos, mas paro para acender um cigarro. Olho para trás para Runner e
dou uma piscadela. Eu amo a fome em seus olhos enquanto seu olhar me
devora. Mas ele me deve por isso, e eu sei exatamente como ele pode me pagar.
Ajuda que Antonio LaVaas tenha boa aparência. Eu não acho que eu seria
capaz de deixá-lo acariciar minha bunda assim se não tivesse. Estou montada
em seu colo aqui na mesa de poker, as outras garotas e seu jogo há muito
esquecidos. Quando Talon Blake quer alguma coisa, ela consegue. Ou, pelo
menos, na maioria das vezes. Ultimamente eu pareço apenas derivar adiante,
talvez seja porque eu não tenha mais certeza do que eu quero. Eu pego outro
gole de vodka e esvazio-o em minha boca. Eu deixo gotejar dos meus lábios para
dentro da boca dele lentamente. É pelo menos a quarta vez que faço isso esta
noite, e eu consegui evitar que a língua dele se aproximasse da minha todas às
vezes. Eu posso sentir sua ereção pressionando duro na minha bunda, e quando
eu me viro para colocar o copo vazio de volta na mesa, ele me puxa para trás e o
copo quebra no chão. Antonio rosna baixo em sua garganta e puxa minha
cabeça para a sua. Eu fecho os olhos e passo minhas mãos pelo seu peito, pela
sua lateral, procurando por aquele maldito telefone. Eu finalmente o encontro
dentro do bolso do casaco ao lado direito. E eu o deixo me beijar enquanto eu
descubro uma maneira de pegar o telefone do bolso.
Antonio mói em minha bunda e fala bem alto no meu ouvido. — Você é
uma vagabunda bem impertinente por me provocar assim. Eu vou dar-lhe uma
boa palmada, bem aqui. Para que todos possam ver. — Antonio fala. Ele começa
a levantar a barra do meu vestido. Sua palma é áspera e dura quando ele
acaricia a pele nua da minha bunda. Mas eu posso fazer isso, por Runner eu vou
fazer isso. Um favor por outro favor. É assim que eles fazem negócios por aqui,
certo? Gritos vêm do bar, e eu afasto minha cabeça dos lábios famintos de
Antonio. Dois de seus homens vêm correndo para dentro da sala, e é só então
que eu observo que as pessoas estão correndo para a saída. Eu saio de seu colo
quando ele tenta se levantar, mas é óbvio que Antonio LaVaas está bêbado. Pego
minha bolsa no encosto da cadeira e deslizo seu telefone dentro.
— Espere. — ele fala quando eu começo a sair com a última das pessoas.
— Eu quero o seu número. — diz ele, apalpando seus bolsos procurando seu
telefone.
— Oh cacete! — eu murmuro. E me junto à multidão o mais rápido
possível, sem me importar que as pessoas estejam me dando olhares
desagradáveis. Acho Runner em pé calmamente bem onde eu o deixei. Há
fumaça saindo do lado esquerdo do bar na jukebox horrível que vem
envenenando meus ouvidos durante toda a noite.
— Você começou um incêndio? — pergunto quando chego perto o
suficiente dele. Ele sorri para mim e, em seguida, pega a mão que eu estendo
para ele. — Temos que nos apressar. Antonio pediu meu número, e ele não
conseguia encontrar o seu telefone. — eu digo baixinho. Eu nos puxo para frente
em uma meia corrida. Administro para não cair em todos os grandes buracos, e
quando Runner abre a porta para mim, eu gostaria que já tivéssemos ido. Posso
ouvir o som distante de sirenes de bombeiros e policiais. Assim que Runner liga
o carro, eu vejo os homens de Antonio e eles me veem. Eles apontam na nossa
direção. — Runner? — eu digo, e quando ele vê, ele gira o carro com um guincho
de pneus e um spray de seixos. Os carros na nossa frente estão todos
bloqueando o caminho, mas de alguma forma ele parece nos tirar do meio do
engarrafamento. Quando finalmente viramos numa rua tranquila, dou um
suspiro de alívio no meu assento.
— Isso não acabou ainda.
Quando me viro para ver o que ele está falando, eu vejo o SUV preto
dirigindo na mesma estrada. — São eles? — eu pergunto, um pânico crescendo
em meu peito. Runner apenas acena com a cabeça e acelera. — Vire à direita na
frente, em direção ao rio. Há um velho ponto de encontro de namorados lá em
baixo. Deve haver algumas pessoas estacionadas lá fora. Poderíamos ficar
perdidos no meio da multidão. — eu digo rapidamente enquanto ele vira o carro.
Viramos outra vez, e por um momento eu não posso ver o carro atrás de nós,
mas sei que eles estarão de volta.
Quando entramos no parque, Runner me dá uma olhada rápida antes de
voltar para os carros na nossa frente. Há pelo menos trinta carros estacionados
ao longo da margem. Todos com janelas embaçadas e alguns balançando de um
lado para o outro. Runner consegue nos espremer bem no meio de um velho
fusca e um BMW de luxo. Os outros ocupantes dos carros podem não ser
capazes de abrir a porta do meu lado, mas porque eles iriam querem sair. Eles
vieram aqui para transar. Se o carro está balançando não venha batendo.
Runner desliga a ignição e as luzes. Eu me viro em meu lugar e olho para trás no
caminho que viemos. — Você acha que estamos bem agora? — eu pergunto,
voltando-me para encará-lo. Ele está observando pelo retrovisor. — Eu acho que
não. Se eles verificarem os carros, estamos perdidos. — diz ele, não desviando o
olhar do espelho.
Eu arrisco um rápido olhar para trás e vejo o SUV estacionado na
entrada. Os dois rapazes saem e começam a checar os carros desde o mais
distante.
— O que vamos fazer agora? — pergunto com uma voz sussurrada.
Runner ri então olha para mim.
— Por que você está sussurrando? — ele sussurra de volta para mim.
Eu bato no braço dele e ele fica sério. — Nós poderíamos correr rio
abaixo, mas eu duvido que você vá conseguir nesses saltos. — diz ele apontando
para os meus sapatos.
— Ou podemos transar. — eu digo, apontando para a cabeça da menina
pressionada contra a janela de trás do carro ao nosso lado. Parece muito menos
arriscado do que correr rio abaixo. Eu tenho más experiências com os rios. Não
espero pela sua resposta e passo por cima para ficar em cima dele em seu
assento.
— Espere, Talon, o que você está fazendo? Mesmo que a gente finja
transar como o resto dessas pessoas lá fora, não há como esses caras percam
você nesse vestido vermelho. Todos no bar viram esse vestido. — ele fala,
pegando no meu vestido.
— Então, nós nos livramos do vestido. — eu digo, deslizando o fecho para
baixo e puxando-o sobre minha cabeça. Eu me inclino e enfio dentro do porta-
luvas certificando-me de que não há pedaços saindo nas laterais.
Eu observo Runner quando volto para o seu colo. Eu não coloquei um
sutiã com o vestido, e eu posso dizer que ele está se esforçando para não olhar
para os meus seios. — Vamos lá, Runner, você está duro como uma tábua. Você
gosta de garotas, certo? Ou é só comigo? — eu sussurro e começo a trilhar beijos
embaixo do seu maxilar.
Eu sei muito bem que Runner gosta de garotas, mas eu estou tentando
muito duro não ser morta aqui. Eu não estou pensando claramente. Só de estar
aqui, desse jeito, é uma morte por conta própria. Runner agarra meus quadris e
me permite sentir o quão duro ele está. Ele pega meu queixo e traz meus lábios
nos dele. E então ele me beija, ele realmente me beija. Como naquela noite
tantos meses atrás em sua garagem. Ele lambe meus lábios como se fosse o seu
tipo favorito de sorvete. Ele prova a minha língua como se ele fosse um viciado e
eu sou sua próxima dose. Ele me devora como se ele quisesse fazer isso há um
tempo. Quando vem uma batida suave na janela nenhum de nós vira ou quebra
o beijo. Eu agarro seus cabelos com minhas mãos e gemo em sua boca. Runner
me puxa para mais perto, escondendo meus seios nus entre nós. Quem está fora
dessa janela não está vendo muito.
Batem de novo, um pouco mais alto desta vez, e ele afasta sua boca da
minha. Eu aninho meu rosto em seu pescoço e provoco sua pele com os dentes.
Eu não estou pronta para que este momento acabe ainda. Meu coração está
batendo forte, e minha pele queima com a necessidade de ser tocada. Runner
aperta meu quadril tentando me fazer parar para que ele possa lidar com o cara
na janela, mas eu rio e sugo seus lábios carnudos em minha boca antes de
liberá-la com um barulho alto. Eu sei que nós devíamos apenas estar fingindo,
mas eu não pude me controlar quando ele me beijou assim.
Runner toma uma respiração profunda e envolve seu braço em volta de
mim mais apertado, espremendo o ar dos meus pulmões. Recebo o aviso alto e
claro. A diversão acabou. Runner abaixa o vidro matizado, lentamente, como se
ele não tivesse uma preocupação no mundo. — Sim. — ele responde.
— Nós estamos procurando algumas pessoas. Você viu alguém suspeito
por aqui? — o cara pergunta e uma luz de lanterna preenche o carro quando ela
brilha no pequeno espaço. Os flashes de luz oscilam sobre nós, e Runner se
endireita para envolver outro braço em volta de mim. O cara deixa sua luz sobre
nós e Runner rosna baixo em sua garganta.
— Além de você? Não. — eu respondo com uma risadinha, na esperança
de difundir um pouco da tensão.
— Talon. — ele sussurra baixinho. — Se você acabou de checar a minha
garota, você pode sair agora. — diz ele, lentamente e com raiva. O meu coração
dá um pulinho com o jeito que ele fala com tanta raiva que eu quase acredito
nele. Runner levanta sua janela antes do cara poder responder-lhe. Ele passa as
mãos pelas minhas costas, acariciando a minha pele lentamente. E então ele tira
os braços em volta de mim.
— Eles se foram.
Levanto a minha cabeça de seu pescoço e fico cara a cara com aquele
cara. Aquele cara - que me fodeu no capô de seu carro e foi embora enquanto eu
lutava para abaixar minha saia sobre as minhas coxas. Eu odeio esse cara.
Runner
Eu deixo o telefone com o segurança de plantão no Indigo. É um velho
conhecido, ele tem trabalhado aqui tanto tempo quanto eu, talvez até mais. Ele
olha para mim com confusão pura em seu rosto. Outro homem caminha até ele
e pega o telefone dele.
— Você está atrasado. — ele grita por cima do ombro enquanto
desaparece através das catracas.
O quarto do hotel está escuro e silencioso quando eu finalmente abro a
porta para Talon. Ela não olha para mim quando ela desliza para dentro. Estou
sendo um merda, e ela não disse uma palavra desde que ela saiu do meu colo no
carro. Eu só não sei se eu quero me aproximar de Talon. Obviamente, eu quero
chegar perto dela. Eu gostaria de explorar o seu delicioso corpo mais um pouco,
mas perto de perto como se fossemos somente um? De jeito nenhum. Eu não
estou pronto para essa merda. E eu fiz minhas regras. Agora eu deveria só me
prender nas malditas coisas. Por que é tão difícil, então?
São 05 horas da manhã e Talon está tirando seus saltos enquanto ela
fuma um cigarro na janela. Eu observo o vestido subir por suas coxas enquanto
ela se inclina para tirar o outro sapato. Ela me pega olhando e puxa mais uma
tragada de cigarro. Há dor em seus olhos, guerreando perigosamente com a sua
raiva, e eu sei que eu a coloquei lá, e eu também quero levar embora. Enfio
minhas mãos nos bolsos do meu jeans para que eu não faça nada estúpido, e
então eu grito com o meu pau para apenas me deixar ir para o meu quarto.
Murmuro um boa noite que eu sequer acho que ela ouve. Eu duvido que
eu vá conseguir dormir, mas eu preciso fazer alguma coisa antes de sair para o
trabalho em algumas horas. Estou de pé na porta do meu quarto, olhando para
dentro, quando ouço os passos suaves de Talon descendo o corredor. Seu quarto
é bem próximo ao meu. Eu me viro, e ela salta quando me vê na entrada. Eu
agarro sua cintura e a puxo para o meu quarto. Ela reclama, mas logo em
seguida começa a lutar em meus braços. Eu chuto a porta do quarto para fechar
e empurro-a contra ela. — Não. Eu vou melhorar isso. — eu digo. Seus punhos
caem moles para os lados, e eu sei que eu a tenho. Eu acho que finalmente perdi
a cabeça.
Sexto Dia
Runner
— Runner.
— Ana grita freneticamente enquanto entra em meu quarto batendo a porta
contra a parede. Eu começo a me sentar, mas a cabeça de Talon que está
dormindo no meu peito me para. — Oh. — diz Ana, olhando para mim. — Aí está
ela. Eu pensei que ela tinha ido embora. Vocês...
Eu levanto o lençol que cobria o corpo de Talon para revelar que ela ainda
estava usando seu vestido vermelho de ontem à noite. — Ok, eu vou deixar
vocês, mas são quase 09:00hs. Mike quer ir para o trabalho. — diz ela,
lentamente fechando a porta. Eu saio debaixo de Talon, e ela se move sonolenta
no meu travesseiro, murmurando em seu sono. Muitas vodkas para a senhora.
Fico feliz que ela ainda esteja dormindo. Eu não posso explicar o meu
comportamento anterior, e eu prefiro evitá-la por enquanto. Eu simplesmente
não podia aguentar aquele olhar ferido do rosto dela. Eu tinha que fazê-la se
sentir melhor de alguma forma. E eu fiz isso, a segurando. Todo ser humano
almeja conforto. A lembrança de que eles não estão sozinhos neste mundo
grande e fodido.
Eu pego minhas roupas para o dia e deixo Talon dormindo. Não digo
adeus, eu não vou demorar. É melhor deixá-la sem expectativas que não posso
cumprir.
Depois do banho, eu me encontro com Mike na sala de estar. Ele me diz
que Jonah vai ficar com as mulheres hoje, porque pode resultar em medidas
extremas, se ele tiver que ouvi-las reclamando sobre não poderem sair. Eu pego
as chaves do carro e tranco a porta atrás de nós, feliz que eu não sou aquele
ficando para trás. Jonah vai ter as mãos cheias, mas as meninas podem
realmente ser mais flexíveis com ele. Eu vi Jonah fazer as meninas corar, rindo
como malucas com um simples piscar de olhos. Isso vem a calhar realmente
quando uma garota não vai dar a localização do seu namorado seriamente
endividado.
Eu deixo Mike na casa de empréstimo e dirijo de volta para o Indigo. Eu
só vou estar a poucos metros de distância do hotel durante todo o dia. Eu
estaciono meu carro no meu lugar habitual e saio para o sol da manhã. Eu me
sinto melhor hoje. Leve como a porra de uma pluma. Talvez porque eu acabei de
ter as melhores quatro horas de sono desde que toda essa confusão começou. Ou
talvez seja porque a respiração pacífica de Talon embalou o meu sono.
O grandalhão com badana na cabeça quase me atropela quando saio da
calçada em frente a ele. Eu nem sequer ouvi o ronco pesado da moto, estou
perdido na minha cabeça desse jeito. O cara para a sua moto e me olha com uma
carranca pesada em seu rosto queimado de sol. Suas malas de viagem pesadas
penduradas ao lado da sua moto. Eu invejo esse tipo de liberdade. Eu passo em
torno da bela máquina preta e cromada, admirando a vista. — Desculpe. — eu
digo, quando faço um círculo completo. — Sem problema. — o cara diz olhando
para mim como se eu fosse louco. Ele não tem ideia.
Eu enfio minhas mãos em meus bolsos e continuo para o meu escritório.
Mas pensando na imagem da moto e o pensamento de liberdade que ela
representa. Em algum lugar lá dentro, os saltos de Talon de ontem à noite
entram no sonho do dia. Eu posso apenas imaginá-la com algo parecido. Talon,
de saltos, em uma motocicleta, a porra da fantasia perfeita. Talon vestindo nada
em uma motocicleta - fodida situação perfeita do caralho. Eu não deveria estar
pensando nessa merda!
Quando eu finalmente chego ao meu escritório no segundo andar, a
primeira coisa que faço é levantar os registros de empregados. Quero verificar a
segurança de plantão esta manhã. É claro que eu não acho nada. O velho
homem nunca foi atrasado em seu trabalho. Eu procuro por qualquer conexão
com Daniel Migelli ou os irmãos LaVaas, mas não encontro nada. Parece que ele
era apenas uma redução aleatória. Não é uma coisa incomum. Eu já vi isso
acontecer muitas vezes quando ainda estávamos negociando.
Eu telefono para um velho amigo meu e peço-lhe para verificar se há
negócios entre LaVaas e Daniel Migelli. Este amigo meu me deve um favor.
Depois que alguns caras o enganou com um monte de dinheiro, os rapazes
foram colocá-los em linha reta. Eles ainda conseguiram obter-lhe algum
interesse no seu lucro perdido também. Meu amigo é também o gênio por trás
do sistema de segurança e o sistema de abertura que corre nas máquinas no
cassino. Se um computador liga, então é o seu programa que está fazendo isso.
Nós realmente temos um bom relacionamento para duas pessoas que nunca se
encontraram. Ou então é o que Mark pensa. Ele não sabe que sou eu. Ele só
conhece Runner ou o nome Runner. Todos os negócios cara a cara são feitos
através de Mike e Jonah. Assim, grande parte da minha vida antiga fica intacta,
ainda é tão inacessível.
Eu abro o meu navegador de busca e procuro pelo filho de Reno, Xavier
Parker. Não há contas de mídia social, sem antecedentes criminais, nada. Eu
suspiro e passo minhas mãos pelo meu rosto. Eu não sei se Parker pode ser
confiável com o que viu durante o tempo que esteve na casa de Reno. A casa de
Xavier. Se ele vai cavar, e eu quero dizer realmente profundo, ele vai ver que a
minha ficha é tão limpa e clara como a dele. E com ele vendo o que ele viu, ele
saberá que é besteira. Nome falso, ficha falsa. Xavier vai descobrir que sou seu
irmão. Eu não estou ansioso para a pequena reunião de família, mesmo que seja
apenas uma jogada que Reno criou para me fazer parte de sua pequena família.
Eu cedo na minha cadeira e corro a mão pelo meu cabelo. Eu nem sequer
me preocupo em ajeitá-lo mais. Qual é a utilidade, ele sempre acaba caindo tudo
sobre a minha cabeça. Mike me disse uma vez que eu sempre pareço como se eu
tivesse uma garota puxando-o apenas a um segundo atrás. Eu queria. Eu não
sou o irmão de Parker, mas ele não vai saber disso. Veja, eu sou registrado como
Runner Parker, filho perdido de Reno Parker. De acordo com meus registros de
nascimento, minha mãe morreu há seis anos e a tutela foi concedida ao meu pai.
Eu não sou essa pessoa. Como Reno cozeu a história eu não sei. Tudo o que sei,
é aquilo que os meus registros dizem. Kyle Andrews, filho de John e Catherine
Andrews, gêmeo mais velho de Mia Andrews, não existe mais. Mas Xavier
Parker nunca pode saber disso.
Envio uma mensagem de texto para Jonah e pergunto-lhe como ele está
indo. Sua resposta é instantânea e direto ao ponto. — Sem problemas. — Jonah
não é um grande falador, a menos que esteja com Mary, eu suponho.
— Runner. — eu atendo o telefone fixo na minha mesa. — Eu só queria
lembrá-lo do pagamento de Deux, eles precisam dele feito hoje. — diz Amanda
na recepção. Bom, pela primeira vez ela está fazendo seu trabalho. — Ok,
obrigado. — digo e desligo o telefone. Olho através das pastas e encontro a
fatura que ela estava falando. Acesso a conta bancária. Três centenas de dólares
por um vaso sanitário quebrado. Como é que isso aconteceu mesmo? Como você
quebra um vaso sanitário? Há uma batida na porta, e eu murmuro um irritado:
— Entre. — não estou no clima para as pessoas hoje. E até agora eu não tive
retorno de Mark ou Daniel, e eu não posso nem começar a acreditar que eu
acabei com Daniel apenas fazendo Talon roubar um telefone celular.
Talon
Eu observo Jonah de perto. Eu estou tentando não ser muito óbvia, mas
minhas pernas tremem em antecipação. Se eu conseguir apenas uma pequena
brecha quando ele estiver fora desta sala, eu vou fazer uma corrida para fora.
Estou usando algumas calças jeans cortadas, uma camisa apertada e meu tênis
favorito. Roupas confortáveis no caso de tudo não sair como planejado.
Jonah vira a maçaneta da porta do quarto dele e de Mary, e meus
músculos se preparam para correr. Jonah empurra a porta aberta lentamente e
desaparece no interior; um segundo depois eu ouço o clique da tranca no lugar.
Eu enfio meu celular no bolso (eu o roubei da geladeira de manhã) e caminho
rapidamente para a porta da frente. Eu giro a tranca devagar e prendo a
respiração quando ela range, uma vez que eu abro. Por um momento, eu estou
congelada pelo pânico. Eu fecho os meus olhos e respiro pela horrível sensação
de déjà vu. Você não está mais lá mais, mexa-se!
Felizmente, Jonah ainda está em seu quarto, e eu escorrego pela porta e
suavemente a fecho atrás de mim. Quando meu pé bate no tapete de pelúcia no
corredor do Hotel Indigo, começo a correr para as escadas. Não me incomodo
com o elevador. Eu desço as escadas correndo de dois em dois degraus. Quando
chego do lado de fora, eu escorrego ao virar a esquina e respiro fundo várias
vezes. Eu retiro o meu telefone para verificar os códigos. Os códigos que
colocaram sangue em minhas mãos. Com a bagunça de Migelli, Ana e aquela
festa maldita, eu nunca tive a chance de vê-los. Eu os insiro duas vezes, e em
ambas o sistema rejeita.
— Merda! — eu xingo em voz alta, batendo a minha unha vermelha
lascada contra a tela. Eu tento mais uma vez, e desta vez eu recebo uma
mensagem de aviso computadorizado que a conta será bloqueada. Fico ainda
mais nervosa quando meus olhos começam a encher de água e eu posso sentir a
picada de lágrimas queimar na minha garganta.
O que eu faço agora? Por que ele iria me dar os códigos errados! Eles
deveriam funcionar. Eu não posso voltar para o quarto, sem uma desculpa de
onde eu estava ou por que eu tenho o meu telefone. Era para eu ir embora
agora! Olho para o céu, para baixo no asfalto, tudo ao meu redor, como se a
resposta fosse estar escrita nas paredes. Estou me agarrando em indícios,
qualquer sinal de que ainda há esperança que eu saia viva. E então aí está, todo
brilhante e preto na luz do sol. O carro de Runner. Estacionado na frente do
Indigo. Vou ver Runner. Todo mundo já sabe que dormimos na mesma cama na
noite passada, ou, pelo menos, esta manhã. Se eu puder fazê-lo acreditar que eu
queria ir vê-lo, estou fora de perigo, eu vou ter a desculpa que preciso para
provar por que eu saí. E eu vou dizer que eu peguei o meu telefone, caso eles
tentassem me ligar.
O velho segurança assusta-se em sua cadeira e começa a levantar quando
eu derrapo no chão de ladrilhos brilhantes. Meus tênis gemem e deixo uma
marca de sola preta em seu azulejo branco limpo. Só preciso chegar ao Runner
antes que Jonah o telefone e diga a ele que eu saí. Dou um grande sorriso para o
segurança, mas depois eu abaixo um pouco o tom, porque eu devo parecer um
palhaço de circo em um poderoso anúncio berrante.
— Ei, onde posso encontrar Runner? — eu pergunto, tentando com um
sorriso mais doce desta vez. — Você está bem, moça? Você quase me deu um
ataque cardíaco. — o velho diz, esfregando o ombro. — Eu estou bem, desculpe
por te assustar. Então, Runner está por aí? — peço novamente. Eu não tenho
certeza de quanto tempo vai demorar para Jonah me encontrar. — Basta ir até
Lucille na recepção, e ela vai falar para Amanda dizer a ele que você está aqui. —
diz ele, apontando para a área de recepção e uma loira com um coque tão
apertado que faz o meu couro cabeludo coçar. Eu limpo minha garganta e brinco
com os babados na borda da minha bermuda. Ele não está facilitando as coisas.
Runner ficará tão chateado se eles o chamarem para descer aqui para me ver. Eu
olho ao redor da sala, à procura de alguma coisa, qualquer coisa, para fazer com
que ele me deixe ir até o escritório de Runner. Então meus olhos pegam a
exibição comercial de fraldas em uma das TVs, e eu sorrio. — Eu quero
surpreendê-lo. Eu tenho algo para lhe dizer. — eu digo, levantando a mão para o
meu estômago e sorrindo toda suave e sonhadora. As sobrancelhas do velho
segurança se juntam, enquanto ele olha para a minha barriga e, em seguida,
volta para o meu rosto. Ele não parece convencido.
— Por favor? — eu imploro, olhando para o chão. — Oh, tudo bem. O
escritório dele fica no segundo andar, à esquerda do elevador. Não vá vagar por
aí à procura de problemas agora. Vou ficar de olho na minha tela. — diz ele,
apontando para o pequeno monitor em sua mesa. Concordo com a cabeça e
quase começo a correr novamente, mas eu não acho que as mulheres na minha
condição de mentira correriam, então eu vou até o elevador muito rápido e
pressiono o botão para o segundo andar.
Uma suave música de elevador filtra através dos alto-falantes, e eu aliso
meu cabelo com as mãos trêmulas. As portas se abrem e são apenas alguns
passos para a primeira porta à esquerda. Espero que seja a certa. Não há
nenhum nome na porta. Olho para a câmera no canto como se o segurança
velho pudesse realmente me falar que está tudo bem eu entrar. Bato meus dedos
na porta três vezes rapidamente e estremeço com o quão difícil parece. — Entre.
— sua voz soa irritada do outro lado da porta. Eu a abro lentamente e olho
dentro.
Dou um passo em direção a sua mesa, e seus olhos se arregalam e
estreitam em mim com um olhar mortal. Ele pega seu telefone, verificando
alguma coisa antes de olhar para mim. Eu sei que ele mandou uma mensagem
para Jonah antes de eu sair.
— Eu escorreguei para fora, enquanto ele foi trocar seus curativos. Sua
perna está dando alguns problemas para ele. — digo, antes que ele possa
perguntar. Ele senta-se reto e todo o meu corpo treme. Ele fica bem atrás de sua
mesa, poderoso. Mas eu sei que Runner não precisa de uma mesa para provar
do que ele é capaz. Concentro-me em colocar um pé na frente do outro, ainda
olhando-o nos olhos. Eu não sei o que eu vou dizer, qual é a minha desculpa
para aparecer aqui, mas eu luto contra o impulso de correr na outra direção,
mesmo quando meu corpo me impele para frente. Direto para a zona de perigo,
ainda assim uma estranha calma me preenche quando fico mais perto dele, e
nessa hora, eu sei o que eu vou dizer.
Eu ando em direção a sua mesa, e não paro até que eu estou sentada em
seu colo. Runner ergue as mãos como se fosse me levantar, mas eu mantenho
minhas próprias mãos para cima, esperando que ele me dê um segundo para me
explicar. — Eu não sou uma garotinha ingênua e estúpida, Runner. Eu não sou
delirante suficiente para pensar que o que aconteceu hoje de manhã significa
que você me ama. Eu não dou a mínima para o amor. Mas eu me divirto com
você, você me faz sentir melhor. Você me faz sentir segura. Quero retribuir o
favor. Eu quero fazer você se sentir melhor. Eu sei que você não quer um
relacionamento comigo, e eu estou bem com isso... — acabei de oferecer para ser
sua amiga de foda, que porra é essa? Por que eu faria isso? Ele já pensa que eu
sou uma vagabunda.
Runner se mexe desconfortavelmente sob minhas coxas. Eu corro meu
dedo indicador no peito coberto por sua camiseta. Meus olhos seguem a trilha
da minha unha vermelha lascada. Eu gosto de vermelho, a cor da paixão, a cor
do perigo. Eu olho de volta e para cima direto em seus olhos. Alguma coisa
muda, só um pouquinho; suas paredes cedem e eu tenho um vislumbre do cara
por trás de todo o caos. O verdadeiro Runner, aquele que anseia por alguém
para cuidar dele, tanto quanto eu. Ou talvez seja só eu; talvez eu já esteja fodida,
e eu só não vou admitir isso para mim mesma. Talvez eu esteja apenas
esperando que ele seja capaz de amar.
— Obrigada. — eu digo, porque meus pensamentos estão apenas ficando
deprimentes e eu preciso sair da minha própria cabeça. Eu não planejava fazer
isso quando eu vim, mas agora que eu estou aqui, eu realmente quero fazer.
Basta um pouco de conforto, eu só quero que ele relaxe.
Eu abaixo minhas mãos para o botão de sua calça lentamente. Ainda
observando-o, me observando. Sua respiração está ligeiramente mais pesada e
os seus olhos estão mais escuros. Eu sei que ele quer o que eu estou oferecendo.
Eu deslizo o botão através do buraco e abaixo o zíper. Eu sou cumprimentada
por músculos abdominais tensos e o cós branco de suas boxers. O branco contra
sua pele lindamente bronzeada enche a minha boca d’água e faz minha pele
formigar. Eu deslizo meu dedo dentro de seu cós e traço sua pele de um osso do
quadril ao outro. Sua pele é macia como seda e quente ao toque. Alcanço por
dentro para finalmente libertá-lo de sua cueca, ansiosa para tê-lo em minhas
mãos, mas duas mãos poderosas travam em torno de meus pulsos.
— Pare! — ele rosna. Sua respiração está irregular e os seus olhos
brilham. E no silêncio que se segue, eu juro que eu ouvi meu coração se libertar
do meu peito, cair no chão e quebrar a seus pés. Eu estou apaixonada por
Runner e ele não me quer.
Lágrimas nascem atrás dos meus olhos bem fechados, e eu escorrego do
seu colo. Eu sabia que ele não era do tipo de ter uma relação, mas que tipo de
cara corre quente e frio como ele. Você sabia que isso ia acontecer! Ele já fez
isso antes, lembra?
— Talon, eu sinto... — ele balança a cabeça, não pode nem mesmo dizer as
palavras. — Você devia voltar para o quarto de hotel. — ele sai por outra porta
na parte de trás, ainda vestindo suas calças. Lágrimas molhadas e quentes
deslizam pelo meu rosto, e eu me inclino para frente, apoiando-me em sua
mesa. Uma grande lágrima estatela-se sobre o teclado do seu laptop, e eu a
limpo com o dedo. Eu devo ter pressionado alguma coisa, porque, de repente,
todas as contas bancárias do Indigo estão abertas na minha frente.
Eu dou uma olhada apressada sobre o meu ombro para garantir que a
porta ainda está fechada, e depois eu puxo meu telefone e tiro uma foto das
diferentes planilhas. Então eu clico no botão voltar e dou o fora de lá. Um favor
por um favor, e esta cadela está aqui para cobrar.
Ignoro as perguntas irritantes de Ana sobre onde eu estive, e até mesmo
os olhares mortais de Jonah não me afetam. Eu bato minha porta fechada,
silenciando o esquadrão de fogo do lado de fora. Eu subo na cama e puxo as
cobertas sobre minha cabeça. Deixe Runner contar a eles que fui à procura de
algo que ele não estava disposto a dar. Eu sei que de alguma forma desenvolvi
sentimentos por ele. Eu não estava à procura de um príncipe encantado, eu não
estava nem mesmo à procura de amor, quando tudo isso começou. Em vez disso
eu consegui... algo perigoso, algo muito fora dos limites, e agora o meu coração
vai pagar o preço. Mas eu não vou embora de mãos vazias. Eu não posso nem
pensar no que vai acontecer quando ele descobrir o que eu fiz. Eu derramo as
minhas lágrimas no meu travesseiro. Eu choro por Runner, eu choro por mim
mesma. Eu choro por vingança até que o sono finalmente arrasta meus olhos,
inchados, fechados.
Runner
— O que você está fazendo? — Jonah pergunta quando ele anda atrás de
mim. Eu mostro os meus dentes para ele e me recuso a responder. Se ele me
tratar com superioridade, vou quebrar sua outra perna; ele pode rastejar de
volta para seu quarto.
Estou sentado no bar do andar do cassino, máquinas caça-níqueis soam
ao meu redor. Pela primeira vez, eu não tenho uma dor de cabeça. Estou
confortavelmente entorpecido com sucesso. Jonah deveria cuidar da vida dele.
Eu fico olhando para o turbilhão no meu copo, enquanto mexo o líquido âmbar
em círculos. Eu normalmente não bebo. Ele bebe. Ele era um fodido. Eu não
sou. Estou tentando ser um homem melhor. O tipo de homem que meu pai
ficaria orgulhoso. Eu estava indo bem, saí do jogo de drogas. Mantive meu nariz
limpo por seis anos, até agora. Agora, eu sequer sei o que eu estou fazendo.
Apaixonando-me? Caindo aos pedaços? Mulher estúpida e sua merda. Eu
deveria ir lá em cima e chutar sua bunda. Mas a verdade é que eu não sou esse
cara. O meu pai ensinou-me melhor do que isso. Eu vi minha mãe sofrer por
anos pelas mãos de um homem que não gostava dela.
Jonah puxa a cadeira ao meu lado e senta-se desconfortavelmente. Eu o
observo pelo espelho do bar. Suas sobrancelhas se contraem enquanto ele tenta
endireitar a perna para se sentar mais confortavelmente. Em seguida, ele chama
o garçom e pede o mesmo que eu.
Eu baixo os olhos para o copo em minhas mãos e cheiro o conhaque. Tem
um aroma rico, da mesma forma como a cor âmbar profunda enchendo o copo.
Eu olho de volta para o espelho e engulo o conteúdo. Ele queima a minha
garganta, mas vem uma sensação de liberdade. Eu não vou me transformar em
um monstro por causa de uma bebida, dez bebidas; um idiota caindo ou alguém
que transa com garotas aleatórias talvez... mas não um monstro. Eu balanço
minha cabeça e empurro o meu copo para o jovem barman novamente. Eu não
estou bêbado o suficiente, se ainda me lembro daquela noite com Talon. O
barman pega o meu copo, mas eu não perco o jeito que ele olha para mim, antes
de decidir ir recarregá-lo de qualquer maneira. Ele é um homem inteligente. Eu
não estou com vontade de ser fodido.
— O que você está fazendo, Runner? — Jonah pergunta novamente, desta
vez dando um gole em sua bebida. Dirijo-me a ele, e por um momento eu quero
derrubá-lo. Eu quero machucar alguém, fazê-los machucar de volta, do jeito que
eu machuquei Talon. Mas, honestamente, aquela garota absorveu muito espaço
na minha cabeça, e se eu não tomar cuidado, alguém pode se machucar ou
morrer. Eu não sou uma boa pessoa para estar por perto.
— Que porra é essa para você? — digo. Ele sorri, engole sua bebida e pede
outra, quando o barman traz a minha. O rapaz olha entre nós dois, nervoso;
talvez ele ache que nós dois vamos começar uma briga. — Pegue a bebida. — eu
digo, cuidando para não levantar a minha voz, quando tudo que eu quero fazer é
gritar. — Sim, senhor. — ele resmunga, apressando para longe.
— O que você está fazendo, Runner. — diz Jonah novamente, desta vez
cerrando os dentes no processo. Eu pego o copo e agito o álcool, inalando o
cheiro até que ele se instala em meus pulmões e me queima por dentro. Então
engulo de uma só vez, assobiando quando o último dele passa pela minha
garganta.
— Eu não sei, Jonah. Você sabe? Honestamente? Eu não acho que
qualquer um de nós sabe o que diabos ainda estamos fazendo. E esta espera por
Daniel fazer um movimento, está me deixando louco pra caralho. — eu digo,
abaixando minha cabeça em minhas mãos.
— Não foi isso que eu quis dizer. Eu estou falando de você, sentado aqui,
em um bar, bebendo e Talon em seu quarto chorando. — minha cabeça vira, e os
olhos de Jonah estreitam para mim.
— Foda-se. — eu rosno, olhando-o como se estivesse morto.
— Não, obrigado, cara, eu tenho uma ótima garota que faz isso para mim.
— diz ele sério, então balança a cabeça e olha de volta para mim. — Você tem
que parar essa merda de auto depreciação, Runner. Por que não deu certo com
Kels? Ela é uma ótima garota, mas você a afastou! Agora você está fazendo o
mesmo com Talon.
— Pare. — eu bato minha mão sobre o balcão para fazê-lo calar a boca. —
Você está dizendo que você não se preocupa até a morte todos os dias sobre o
que acontece com Mary? — eu o observo com cuidado. Eu sei que ele se
preocupa. Eu o vi andar de cima a baixo como um maldito tigre em uma gaiola
toda vez que algo ruim acontece.
Jonah sorri, então olha para o bar. — Toda dia fodido, mas aquela garota
é minha. Eu protejo o que é meu. — ele bate no peito como um maldito gorila. —
Ela tem estado ao meu lado durante sete anos, por sete anos eu a tenho mantido
a salvo. Comecei antes que toda essa merda acontecesse com Reno. Você não vai
nem mesmo tentar! — ele fala, empurrando a cadeira para trás em sua última
palavra.
— Sim, eu tentei, e eu tive que morrer pela garota que eu amava. Foi
assim que eu a mantive segura. — eu coloco para baixo a minha próxima bebida,
e não olho para Jonah enquanto ele me encara. Todos sabiam que eu estava
correndo porque eu queria manter a minha família segura; eles não sabiam
sobre Jenna. A garota que agora está casada com outro homem. Foda-se, eu
realmente a amava, talvez ainda ame.
Com Kelsey eu simplesmente não podia fazer. Sim, tivemos algumas
grandes trocas de energia de tesão entre nós, mas isso era apenas atração
normal, entre duas pessoas. Talon, ela vira a minha cabeça, escala dentro da
minha alma e infecta minhas veias com sua essência. Leva-me a fazer coisas
estúpidas. Como pensar que eu posso cuidar de alguém novamente. Eu tenho
que parar com isso. Atração leva ao amor. E essa palavrinha boba de quatro
letras não tem lugar no meu mundo. Eu não vou me permitir cuidar de Talon!
Quando estou muito tempo acima do meu limite e balançando para trás
mais do que vale a pena para os meus pés, Jonah muito longe depois que ele
percebeu que não havia raciocínio comigo, eu vou a pé para o hotel, com auxílio.
Eu poderia ter simplesmente dormido no meu escritório, mas Kelsey ficou
comigo depois que o seu turno terminou, e ela insistiu em me levar de volta ao
meu quarto. Então eu a sigo quando ela me leva para dentro do elevador e me
mantém em pé com o braço em volta da minha cintura. — Mmm, Kels, você
cheira bem pra caralho. — murmuro, correndo meu nariz ao longo da pele suave
de sua garganta. Ela suspira suavemente e, em seguida, move-se para longe de
mim, apenas um pouco, para que meu nariz não a tocasse mais. Ela puxa sua
camisa nervosamente então sorri para mim.
— Você sempre gostou de fazer isso. — ela diz ainda sorrindo. — O quê?
— dou um passo para frente quando o elevador para no terceiro andar. —
Cheirar-me antes de ter relações sexuais. — ela engole nervosamente. — Mas
não podemos fazer sexo, Runner. — diz ela, olhando para baixo, de repente. —
Você é um cara bom, você deveria saber disso. Mas você fere todos ao seu redor,
empurrando-nos para longe. Ahhh, e eu tenho um namorado agora. — Kelsey
evita meus olhos enquanto ela desliza a minha chave na porta. Eu não sei por
que ela está envergonhada, concordamos em deixar essa coisa entre nós ir a um
longo tempo atrás. — Isso é bom. — eu digo, a minha cabeça de repente
nadando. Eu não mereço você de qualquer maneira, eu adiciono em minha
cabeça.
— Encontre a felicidade, Runner. — diz ela, movendo-se para colocar um
beijo na minha bochecha, mas eu movo minha cabeça e ela congela, parecendo
magoada. Eu levanto minhas mãos para cima e volto para a porta aberta. Que
porra é essa com a missão de Runner-encontre-a-felicidade. Kelsey acena com a
cabeça para mim suavemente como se ela entendesse, mas ela não entende uma
merda. Eu bato a porta, e o barulho é ensurdecedor na noite tranquila. Eu
tropeço em cima da estúpida mesa de café ao lado do sofá, e quando meu rosto
bate no chão, não me incomodo nem mesmo de levantar.
— Runner? Runner? — o eco soa um pouco mais alto a segunda vez na
minha cabeça. Eu devo ter desmaiado no chão. Eu não abro meus olhos, eu não
me mexo. A verdade é que eu estou com vergonha pela forma como eu tratei
Talon, e eu não posso encará-la ainda. Eu mantenho o meu rosto para baixo em
direção ao chão, deixe-a pensar que eu ainda estou desmaiado. Desde o som dos
seus pés arrastando, ela acabou de sentar ao meu lado. Eu quase vacilo quando
seus dedos tocam meu cabelo suavemente, mas eu mantenho minha respiração
lenta e constante. — Eu sou uma idiota. Eu sei disso, mas... — sua voz oscila um
pouco e ela respira fundo. — Eu sei que você não pode me amar. Eu não estava
pedindo por amor. Eu só quero ser sua amiga. Você sempre parece tão perdido.
Deus, você é lindo. — ela murmura, parecendo perder a linha de pensamento.
Seus dedos trilham até o interior do meu colarinho da camisa, e ela
acaricia a pele levemente. Talon está me apalpando enquanto eu estou
desmaiado no chão. Eu quase rio disso.
— Eu estraguei tudo na noite passada. Eu queria agradecer a você, e em
vez disso, me transformei em uma puta devassa. Eu não sou assim. Mas quando
eu estou com você, tudo em mim muda. Eu só quero fazer você se sentir melhor
consigo mesmo. Você merece ser feliz.
Foda-se, não venha com essa merda de feliz novamente. Eu sou tão
miserável? Se isso for verdade, é porque ela está certa. Ela está fodendo com a
minha vida. Estou prestes a balbuciar - murmurar alguma coisa para levá-la a
pensar que eu estou acordando, mas de repente seus lábios estão no meu ouvido
e eu paro de respirar. — Eu posso te amar... eu vou te amar. Se você me deixar,
se você me deixar apenas ser sua amiga. — e então ela se levanta e vai embora.
Quando ouço a porta de Talon fechar, eu rolo em minhas costas e olho
para o teto. O que eu me tornei? Este não é o homem que eu quero ser. Bêbado e
com medo do amanhã. Daniel Migelli me tem bem onde ele me quer, à espera
de algo que pode não vir, e a espera está me deixando louco. Isso termina agora.
Sétimo Dia
Runner
O sol está apenas
começando a subir quando eu finalmente levanto do chão e vou para o chuveiro.
Estou sentado à mesa bebendo o café preto mais forte que eu já forcei na
minha garganta, quando Mike se senta ao meu lado vestindo apenas cueca.
— Há outras pessoas neste lugar, você sabe. — eu digo, segurando minha
caneca na boca.
— Outras pessoas que ainda estão dormindo às 06:00 da manhã. Onde
você está indo? — Mike pergunta, olhando-me de cima a baixo e depois para a
minha arma em cima da mesa.
Eu dou de ombros. — Eu vou falar com Daniel. Ver qual é o seu
negócio. Eu sei que não se trata apenas de um telefone celular. Eu preciso de
respostas. Eu não vou ser um jogador em um jogo quando eu não sei o que eu
estou jogando.
— Bom, eu vou com você.
— Não, você fica aqui. — eu balanço a cabeça para ele só para deixar
claro. — Muitos de nós pode deixá-lo nervoso. Eu só quero falar com ele.
— Certo, é por isso que você está levando a sua arma. — Mike diz, rindo
baixinho.
Eu não digo mais nada. Eu não vou deixá-lo ir junto. Se o plano final de
Daniel é me matar, o que deveria ser, uma vez que eu atirei no seu filho, então
eu não quero Mike e Jonah por perto.
— Eu vou com você, Runner. Eu sou tão parte disso quanto você. — ele se
levanta e começa a caminhar em direção ao seu quarto. Levanto-me e o sigo.
— Eu não preciso de uma babá. — eu digo, colocando as mãos nos
bolsos. Eu não estou ansiando por começar uma briga. — Além disso, eu preciso
que você faça algo para mim. — eu abaixo a minha voz. — Venha até aqui. —
volto para a mesa. — Eu preciso que você descubra se Jase sobreviveu ao
acidente. Eu sei que você não pode simplesmente entrar no hospital, mas faça
acontecer. Verifique seus registros, pague alguém. Apenas descubra. — não
saber se o cara está vivo ou morto está me deixando louco.
— Eu pensei que você soubesse. Mark passou aqui ontem. — diz Mike.
— O quê? Como diabos ninguém me contou?
— Jonah foi à sua procura, voltou, não disse nada sobre isso. Eu pensei
que estava resolvido. Porém, não foi possível encontrar nada sobre LaVaas. —
Mike se senta novamente e cruza as pernas na altura dos tornozelos.
— Então? Ele está vivo? — eu estou perdendo minha paciência rápido. —
Quem está vivo? — Talon pergunta, caminhando até nós. Oh, pelo amor de
Deus!
— Uh, LaVaas. — Mike murmura, olhando para mim e dando de ombros.
— Eu tenho que ir. — eu digo rapidamente, sentindo-me como se Talon
estivesse perfurando um buraco através de mim. Eu não vou conseguir tirar
mais nada de Mike agora de qualquer maneira.
— Onde? — ela não desviar o olhar quando meus olhos encontram os dela
novamente. Eu tenho certeza que ela pode ver que eu estou irritado com ela.
— Para o trabalho. — eu digo, colocando a arma na parte de trás da
minha calça jeans. — Em um domingo? — ela agarra meu braço. — Com sua
arma?
— Apenas deixe para lá, Talon. — eu digo, puxando meu braço de seu
aperto.
— Não! Eu vou com você. — ela fala, agarrando o meu braço novamente.
— Não.
— Vou.
Eu olho para Mike para tirá-la de mim para que eu possa sair. Ela me vê
olhando e lança um olhar mortal para ele. — Não se atreva. Eu vou chutar o seu
traseiro tão forte que seu irmão homem das cavernas, vai sentir por todo o
caminho de volta aos tempos pré-históricos. Eu vou, ou você vai ter que me
amarrar e amordaçar, porque eu vou trazer todo este hotel abaixo! — ela grita.
Eu balanço minha cabeça e olho para Mike novamente. Ele se move em
direção a ela rapidamente, e eu viro as costas para eles. Movimento estúpido,
porque Talon agarra a arma na parte de trás da minha calça jeans.
— Pare! — ela grita. Quando eu me viro, ela tem a minha arma apontada
para bolas de Mike. — Eu disse que eu vou com ele. — ela faz o retorno
lentamente, mantendo a arma em Mike. Quando ela se inclina para pegar seus
saltos agulha vermelhos na porta da frente, ela aponta a arma para mim. —
Vamos. — ela olha para a regata e seus shorts de pijama curtos que ela está
usando e seu rosto cai, mas ela se recupera rapidamente. — Eu disse, vamos. —
ela diz, balançando a arma para a porta.
— Você vai assim? — eu pergunto, indicando sua roupa. Suas
sobrancelhas levantam e há um desafio em seus olhos. — Sim, por que não? —
ela está séria. Esta garota é louca. Mas ela não sabe como usar uma arma; a
trava de segurança ainda está acionada, e eu provavelmente poderia tomar a
arma dela. Eu tento não olhar para Mike que está vindo por trás dela, mas ela
gira em torno e dá uma cotovelada no rosto dele. Mike abaixa com um jorro de
sangue e cobre o nariz com as duas mãos. Talon ajusta os sapatos pendurados
em seus dedos e aponta a arma para mim. — Vai! — ela fala um pouco mais
alto. — Puta estúpida! — Mike murmura onde ele está curvado e escorrendo por
todo o chão. Talon ri e abre a porta. Ela segura a arma para mim e me olha nos
olhos. — Eu vou com você.
— Mike, dê o seu casaco para ela, eu não tenho tempo para esta merda. —
eu digo.
Mike resmunga, mas tira o moletom cinza e joga para ela. Então eu saio
pelo corredor com Talon puxando o moletom e mancando atrás de mim.
Eu não posso acreditar que Talon está sentada ao meu lado com seu
pijama vestindo um moletom com capuz e saltos agulha. Ela está calmamente
olhando pela janela enquanto nos dirigimos para o Warehouse 9. Nós não
dissemos uma palavra um ao outro desde que deixamos o hotel. E isso é bom
para mim porque eu estou chateado com ela por me fazer trazê-la junto e eu
estou irritado pra cacete comigo mesmo por trazê-la, e só por causa disso eu
estou fodidamente irritado com ela por me transformar em um idiota.
Eu estaciono em uma vaga bem em frente à porta da frente. Quero que
Daniel saiba que estou aqui. — Eu acho que você não vai ficar no carro? — eu
pergunto enquanto eu dou uma olhada ao redor do local. Está muito
tranquilo. Eu nem acho que alguém esteja aqui.
— Não. — ela diz, abrindo a porta. Seus saltos trituram no cascalho, e ela
caminha em linha reta para a porta. Eu pego minha arma e sigo atrás
dela. Talon levanta a mão e bate. Alguns momentos de silêncio passam e então
ela bate novamente. — Eu não acho que alguém está aqui. — ela espia a pequena
câmera posicionada sobre a entrada. Talon começa a andar ao redor do prédio
até encontrar uma janela. — O que você está fazendo? — eu pergunto, puxando-
a de volta.
— Eu só estou dando uma olhada. — ela empurra contra o vidro. — Eu
aposto que... — ela para e se abaixa para pegar um pequeno pedaço de
metal. Em seguida, ela o desliza contra o painel. — Pare com isso. Não estamos
aqui para quebrar. Eu quero falar com Daniel. — eu digo, puxando-a para
longe. Ela é definitivamente insana. Estamos a céu aberto, e ela quer quebrar a
janela?
— E se há algo lá dentro que possamos usar. Algo que possa nos ajudar.
— ela diz. — Não. Isso não é um jogo, Talon. — eu tento argumentar com ela. —
Espere o que foi isso? — ela pergunta, ainda indo. — Eu acho que eu ouvi a
porta. — ela sussurra. Eu não ouvi nada, porque eu estava muito ocupado
ouvindo sua conversa de louca. — Vamos então. — eu digo. É para isso que nós
viemos aqui, não é? — Não, isso já parece suspeito. Você vai. — diz ela,
envolvendo os braços em torno de si mesma. Oh então agora ela está com
medo. Eu olho para ela, não confio nem um pouco nisso, mas se ela realmente
ouviu a porta, quem abriu já viu o meu carro. Ela está certa, bisbilhotar ao redor
parece suspeito.
— Fique aqui, não se mova. — eu digo. Ela acena com a cabeça, e eu volto
pela frente. Eu olho em volta, certificando-me que ninguém vai pular em mim
quando eu virar a esquina, mas o estacionamento está limpo. Quando eu chego
à porta da frente está fechada. Eu não estou surpreso. Vou levar Talon de volta
para o hotel agora mesmo. Ela é imprudente e ela vai nos matar. Mas quando eu
volto para a janela, ela não está lá. Minha raiva ferve, mas eu a seguro. Eu vou
matá-la. O pior é o meu coração disparado. Eu conheço o medo, e eu odeio
sentir. Eu não tenho medo por mim, mas se ela se machucar isso é uma tortura
totalmente diferente.
— Talon. — eu assobio por entre os dentes. O som da janela de correr
atrás de mim chicoteia minha cabeça. — Sem alarme, vamos lá. — diz ela em voz
baixa antes de desaparecer de novo. Pior erro da minha vida de merda, eu
resmungo enquanto me enfio através da pequena janela. A sala está escura e eu
não a vejo em qualquer lugar, mas ela volta para dentro da sala com os sapatos
na mão. — Eles estavam fazendo barulho. — ela diz, levantando-os. — Eu acho
que ninguém está aqui. — ela se vira lentamente, absorvendo a sala.
— Nós temos que ir, este lugar terá câmeras em todos os lugares.
— Sim. — diz ela, apontando para uma em cada canto. — Merda. —
murmuro, esquivando-me ao longo da parede.
— Já te pegou. Agora temos que encontrar algo para fazer isso valer a
pena. — ela ri ao abrir gavetas enquanto se move ao redor da sala. Ela está certa,
então eu começo a procurar. Poderia muito bem fazer o meu tempo na tela do
sistema de vigilância de Migelli valer a pena. Mas quando eu já vasculhei a sala e
tudo que eu posso encontrar são recibos e um contrato de arrendamento, fico
ansioso para sair.
Não consigo encontrar Talon, e eu estou começando a pensar que algo
aconteceu com ela. Ou ela me deixou aqui. O Warehouse 9 não tem tantas salas,
e eu já procurei em todas elas. Estou prestes a subir de volta pela janela quando
ela fala por trás de mim. — Você ia me deixar aqui? — ela parece confusa e
magoada.
— Onde você estava? Eu pensei que você tinha me deixado aqui! — eu
digo, apontando o dedo para o seu rosto empoeirado. — Desculpe, eu estava no
sótão. — ela tira o pó dos seus shorts e depois afasta o cabelo do rosto. — Nada
lá em cima, exceto poeira e ratos. — diz ela.
— Você não achou que eu iria manter qualquer coisa importante aqui,
não é?
Merda, merda, eu pego minha arma, mas não está na parte de trás da
minha calça jeans. Deve ter caído quando eu subi pela janela.
— Por que você não me diz o que você está procurando, talvez eu possa
ajudá-lo a encontrar. — diz Daniel, passeando na sala casualmente. Eu não
respondo. Meus olhos vagam entre Talon, Daniel, Capanga Um e Capanga
Dois. Não tem nenhum jeito de sair dessa.
— Vá para lá. — o Capanga Um fala para Talon e a empurra para
mim. Ela tropeça, mas se endireita e fica ao meu lado com as costas retas e seu
rosto desafiante. É melhor que ela esfrie esse temperamento dela.
— Eu recebi um telefonema de minha empresa de segurança informando-
me que eu tinha um homem desconhecido rondando minha propriedade. Achei
melhor dar uma olhada eu mesmo. Olha o que eu encontrei. — diz Daniel. Ele
aponta o dedo em direção à porta. O Capanga Dois desaparece por um
momento, e então Mike tropeça para o meio, amarrado e amordaçado. Seu nariz
parece ainda mais inchado agora, e eu não sei se é por causa de Talon ou da fita
adesiva que está esmagando o rosto dele.
— Eu vou perguntar mais uma vez o que você estava procurando. Eu
pensei que o nosso negócio estava acabado. — diz Daniel.
Ele olha para mim com os olhos mortalmente calmos. Besteira. Homens
como Daniel sempre têm negócios inacabados.
— Bem, Sr. Parker? — a cabeça de Talon vaga ao redor e seus lábios se
abrem, como se uma pergunta não formulada a congelasse no lugar.
Eu não sei se é porque ela não entende por que ele está me chamando
assim ou se é porque é a primeira vez que ela ouviu o meu sobrenome. Eu não
respondo Daniel, eu continuo olhando para a versão mais antiga do babaca que
eu matei a tiros em frente à biblioteca, há seis anos. Capanga Um bate a coronha
da arma no lado da cabeça de Mike, e ele cai como um homem
morto. Flashbacks da casa de Reno passam através do meu cérebro, e eu só sei
que um, se não todos, de nós vai morrer. E mais uma vez eu não tenho a
resposta que o homem louco quer. Eu nem sei o que estávamos procurando -
qualquer coisa, estávamos procurando qualquer coisa. Mas eu sei que a resposta
não vai ser boa o suficiente. Ele nunca vai acreditar que é por isso que entrei no
seu prédio.
— Venha me buscar quando ele ou ela falarem. Faça alguém falar. — diz
Daniel, parecendo quase entediado antes de sair da sala.
Capanga Um e Dois se aproximam de Talon, olhando para ela como se ela
fosse algo doce que eles não podem esperar para devorar. Talon fica ereta e sua
respiração presa. Eu não reajo. Eu sou inquebrável porque não me importo com
ninguém. Seria estúpido se eles soubessem que eu dou a mínima para o que
acontece com as outras pessoas nesta sala. Fraquezas são usadas contra você. É
por isso que você tem que seguir as regras.
Então eu observo tudo o que eles fazem. Seus sorrisos maliciosos, as
mãos sujas vagando, a provocando, levando-a para trás até que ela finalmente
está de costas contra a parede. Capanga Um agarra seu rosto e Talon chuta, mas
ele se esquiva da sua perna facilmente. Capanga Dois agarra suas mãos e as
prende ao seu lado. Capanga Um vira o rosto de Talon e os olhos dela caem
sobre mim. Eles me encaram com raiva, me implorando para parar com essa
loucura, mas eu ainda não faço nada.
Capanga Um coloca sua língua para fora e a lambe do queixo para o
templo. Talon luta e fecha os olhos quando as mãos dele começam a percorrer
mais para baixo, pelo seu pescoço e ombros, e eu ainda não aparento nada.
Mesmo que meu sangue comece a ferver lentamente em minhas veias. Estou
com raiva deles, mas acima de tudo eu estou com raiva de mim mesmo. Isso
aconteceu por minha causa. Menti para mim mesmo, eu sou um fodido.
— Não! Não! Não me toque! — Talon começa a gritar quando ele abaixa o
zíper do casaco com capuz. Mike geme do chão e levanta a cabeça. Quando seus
olhos caem sobre Talon, ele começa a se mover. Pequenas veias azuis aparecem
ao lado de sua cabeça, enquanto ele luta com a fita em torno de seus pulsos, e,
em seguida, ele olha para mim e pausa. Como se ele não pudesse acreditar que
eu estou apenas parado ali. Eu não gosto do olhar em seu rosto. As acusações
que vejo em seus olhos. Eu não obriguei Talon a vir aqui, e ele conhece as
regras!
Capanga Dois caminha até Mike e o chuta no estômago. Mike geme e
dobra, mas o cara só continua a chutá-lo até que seus olhos reviram. Talon
começa a chorar atrás de mim, e eu nem sequer olho para trás para ver o
porquê.
— Isso não está funcionando. — Capanga Dois ofega. — Ele não vai falar.
— Talvez ela vá. — Capanga Um diz atrás de mim antes de chutar o meu
joelho. Eu não caio, mas eu me curvo sobre os joelhos como ele pretendia, mas
ele é um covarde e não pode chutar uma merda. Ele me dá um soco no rosto, e
meu lábio divide e pinta a língua de sangue. Eu cuspo o gosto horrível
enferrujado no chão e levanto o meu rosto. Tente me quebrar, filho da
puta. Atreva-se. Eu não vou falar, porque eu não tenho a resposta que eles
precisam. Eu não vou chorar ou gritar, enquanto eles arruínam a garota atrás de
mim, eu não vou bancar o herói, quando eles finalmente atirarem no meu
amigo. Não há necessidade para isso, todos nós vamos morrer de qualquer
jeito. Eu só quero morrer primeiro. Deixe isso finalmente acabar.
— Você não vai lutar! — Talon grita atrás de mim. — Droga, Runner,
Mike é seu amigo! Onde está o grande e mau Runner que todo mundo está
sempre falando? — eu não digo nada. Eu sabia que ia decepcioná-los em um
momento ou outro. Eu disse a eles, todos ao meu redor estão em perigo. Eles
sabiam disso!
— Se você não vai fazer isso, eu vou. Eu vou lutar por você! — Talon me
empurra mais e se atira no Capanga Um, mas ele tem a sua arma apontada para
a cabeça dela antes que ela possa até mesmo tocá-lo. E nessa fração de segundo,
o meu coração começa a bater; começa lento, apenas um baque suave quando eu
percebo que ele pode matá-la na minha frente. Ele lentamente pega velocidade
até que corre tão rápido que eu tenho certeza que eu vou estourar um vaso
sanguíneo. — Tire sua arma dela. — eu digo lento e uniforme. Levanto-me para
os meus pés. Capanga Um de repente parece nervoso, como se ele não soubesse
para quem apontar a arma mais.
— Você quer conversar, vamos conversar. — eu digo, puxando a cadeira
na posição vertical que eu derrubei quando Talon me empurrou no Capanga
Um. Ele dá um passo para trás e olha para o Capanga Dois por cima do ombro.
Capanga Dois olha para ele e depois para mim e sorri. — Você ouviu, ele
quer falar. Vou buscar o chefe. — diz Capanga Dois.
Ele se vira para sair da sala, mas faz uma pausa para chutar Mike mais
uma vez. Mike geme por trás da fita adesiva.
— É melhor ir buscar Daniel antes que eu mude de ideia. — eu chuto
distraidamente a perna da cadeira.
— Você está ficando arrogante comigo, rapaz? — Capanga Dois
pergunta. Oh, ele não tem ideia do quão arrogante estou prestes a ficar. Ele
caminha até mim rapidamente e Talon embaralha em seus pés. Ambos os
homens tiram os olhos de cima de mim a olham para a garota que está provando
ser muito imprevisível.
É quando eu aproveito a minha chance. Eu balanço a perna quebrada da
cadeira que eu tenho chutado e acerto o pescoço do Capanga Um. Ele pega o
pedaço de madeira saindo de seu pescoço, enquanto seu grito recém-nascido
morre em um murmúrio quase inaudível. Ele despenca, contraindo-se, para o
chão.
Capanga Dois dispara sua arma, mas sua bala não me encontra, e eu
agarro sua mão, lutando pela arma dele. O filho da puta é muito maior do que
eu e forte como um maldito boi. Ele traz sua arma perto do meu queixo, e eu sei
que eu estou acabado. Um flash de pingos vermelhos passa pelo meu
rosto. Capanga Dois grita, deixando cair à arma e cobrindo o olho dele. Talon se
abaixa pronta para acertá-lo novamente, mas eu a impeço e tiro o sapato da mão
dela. Eu disse que essas coisas custariam o olho de alguém. Eu bato meu punho
ao lado da cabeça dele, e ele desfalece. Eu desamarro a faca de caça da sua coxa,
meu segundo alvo, se a perna da cadeira não funcionasse, felizmente funcionou.
Eu corro para Mike e corto a mordaça com a faca que tirei do Capanga
Dois. — Devemos procurar Daniel? — Mike pergunta.
Eu aponto para a câmera, no canto da sala. — Ele já sabe. Vamos ver se
ele nos permite sair.
— Não, Mike está certo, você tem que matá-lo ou isso nunca vai acabar. —
Talon diz, olhando ao redor da sala até que ela descobre o que ela está
procurando. Ela caminha, mas quando ela se inclina para pegar a arma, ela
tropeça em seus joelhos. Ela agarra seu lado e grita de dor. Minhas pernas
estúpidas não trabalham rápido o suficiente para me levar alguns metros até ela,
e eu quase caio em cima de Mike em meu pânico. Quando eu tiro o moletom
com capuz cinza do seu corpo, tudo o que vejo é sangue. Já está ensopando sua
camisa. Ela move sua mão e olha para as mãos manchadas de vermelho.
— Merda, eu acho que eu não gosto mais tanto de vermelho. — diz ela,
seguido de uma risada curta antes que ela desmaie.
Eu pego Talon e sigo para a porta. Eu não me importo se Daniel planeja
atirar em mim pelas costas enquanto eu saio com ela aninhada no meu
peito. Ela ainda está respirando, mas mal. Eu não sei o que vai acontecer comigo
se ela morrer nos meus braços. Eu não acho que minha mente vai
sobreviver. Ouço Mike divagar no telefone com o médico de Reno. Ele segura a
porta da frente aberta para mim, e logo que eu estou fora, ele se apressa para
abrir a porta do carro. Vou ter que voltar para pegar o meu mais tarde. Ou
Daniel pode colocar fogo nele. Eu realmente não me importo. Preciso tirar
Talon daqui.
Deito Talon no banco de trás e deslizo ao lado dela. Se ela sangrar, vai ser
em mim e eu vou estar aqui com ela. Mike corre para o lado do motorista e
acelera em direção à cabana.
— O médico vai encontrar-nos na cabana. Jonah e as meninas estão a
caminho. — diz Mike depois de um tempo, como se eu não pudesse ouvir toda a
conversa que teve antes de entrar no carro. Concordo com a cabeça e me
concentro em minhas mãos. Estou pressionando o mais forte que posso, sem
fazer mais danos, mas Talon não vai parar de sangrar. Ela também não acordou
desde que desmaiou. Ela parece tão pálida. Eu não acho que ela tenha algum
sangue sobrando, mas ela continua a sangrar de qualquer maneira.
— Dirija mais rápido.
Ele acelera e as árvores passam como um borrão mais rápido. Eu fui um
idiota. Se Talon morrer esta noite, a última coisa sobre ela que eu vou lembrar
são das mãos daquele idiota sobre ela. Por um momento, lá atrás, eu não ligava
para o que eles fizessem com eles, contanto que eu morresse primeiro. Eu não
queria assistir, mas quando ele colocou a arma contra sua cabeça, eu sabia que
não podia vê-la morrer. Eu não podia desistir. Ela lutou por mim, mesmo que eu
não merecesse isso. Agora ela só tem que continuar lutando para que eu possa
me redimir com ela.
— Por que você veio?
— O quê? — Mike pergunta. Ele tira os olhos da estrada brevemente para
olhar para mim.
— Para o Warehouse 9. Por que você veio? Eu lhe disse que não viesse.
— Porque é isso que nós fazemos. Nós cuidamos um do outro. E você
tinha Talon. Droga, eu sabia que ela era um problema. Não posso acreditar que
ela bateu no rosto de um cara. Com seu sapato! — Mike balança a cabeça como
se não pudesse acreditar.
Sim, ela é problema certo. Em mais de um sentido. Garota louca.
A cabana parece pacífica com o sol por trás dela enquanto aceleramos em
direção a ela. O carro do médico já está estacionado na frente. Ele sai quando
nos aproximamos e sua filha segue logo atrás dele. Mike derrapa o carro para
parar e um spray de pedras bate no carro prata brilhante ao nosso lado. Mike
me ajuda a tirar Talon. Eu reajusto a cabeça dela que está pendurada
frouxamente fora do meu braço enquanto eu espero que ele abra a porta. Eu a
levo para o quarto nos fundos. Eu quase esmago Mike na porta quando ele não
sai do caminho rápido o suficiente.
— Temos que tirar a sua camisa. — diz o médico para sua filha enquanto
ela está escorregando o moletom para fora de Talon. — Há uma grande
quantidade de sangue. — ele pega uma tesoura e começa a cortar sua camisa. Eu
giro em torno de Mike e aponto o dedo para a porta. Ele precisa sair. — Você
está falando sério? — ele pergunta, olhando para mim como se eu tivesse
perdido a cabeça. — Saia. — eu digo.
— Eu acho que ambos devem sair. Nelly e eu administramos isso. Não há
espaço suficiente aqui. — diz o médico, cortando a sua camisa no meio.
— Vai ficar tudo bem. Vai. — Nelly diz, sua voz suave conforme me leva
até a porta e me empurra.
— Nelly! — o médico grita da cama, e em seguida, a porta bate. Eu deslizo
para baixo na parede e faço algo que eu não fiz em muito tempo. Eu rezo. Eu
rezo pela ruiva mal-humorada que me deixa louco de raiva. Eu rezo pela garota
que me fez importar, assim como eu sabia que ela faria.
— Eu trouxe café para você. — Jonah diz, sentando-se desajeitadamente
ao meu lado no corredor.
Gostaria de saber se a perna dele algum dia vai voltar ao normal. Eu
duvido que ele vá ser um jogador de futebol profissional ou perseguir um
devedor barato de empréstimo por um beco em breve. Eu acho que ainda dói
muito. Sento-me reto e faço uma careta quando as minhas costas dão
câimbras. Eu estive sentado neste corredor por duas horas olhando para a porta
fechada. Tomo um confortante gole do café e quase sufoco quando a porta
finalmente se abre. O médico sai cansado e Nelly parece ainda pior, mas ela está
sorrindo e isso é tudo que eu preciso.
Eu luto com os meus pés e sigo para a porta, mas o médico me para. —
Ela precisa de descanso. — concordo com a cabeça rapidamente, mas eu ainda
vou lá. Ele pode tentar me parar se ele quiser. Eu me pergunto o quão boa Nelly
é com sutura.
— Dê um passeio comigo. — o médico diz, pegando meu braço. Ele espera
que eu ande com ele. Espio para o quarto, mas tudo o que posso ver são as
pernas de Talon cobertas com lençóis.
— Ela vai ficar bem. Nelly vai ficar se isso faz você se sentir melhor. — eu
aceno, porque isso vai me fazer sentir melhor, mas eu não consigo encontrar as
palavras através da espessura na minha garganta.
— Nós quase a perdemos, mas eu trouxe um pouco de
sangue. Experiência após o seu amigo ali. — o médico acena com a cabeça para
trás, onde Jonah está de pé na porta de Talon.
— Ok, mas ela vai ficar bem?
— Ela deve ficar bem, mas ela precisa de repouso. Nelly ficará por perto
para trocar o curativo. Mas você precisa parar de fazer o que estão fazendo. Eu
não sou um fazedor de milagres, e um dia eu vou perder essa luta.
O médico é um homem bom, um homem honesto, e eu não quero mentir
para ele. Eu sei que isso está longe de terminar. Então, em vez disso, olho para o
chão. Ele dá um aperto no meu ombro antes de ir ao banheiro para se
limpar. Eu olho para trás para o corredor onde Jonah ainda de pé na porta, e eu
gostaria que fosse assim tão simples. Que pudéssemos parar e não fazer mais
isso. E isso seria o fim de tudo. Mas fizemos alguns inimigos perigosos, e
vingança é um lobo faminto.
***
O rosto de Talon está pálido na fraca iluminação do quarto. Ela parece
tranquila, mas ela está tão pálida. Eu posso ver as pequenas artérias nas
têmporas. Eu continuo olhando para o pulso vibrando lá. Ele me garante que ela
ainda está viva. E isso me mantém calmo. Impede-me de fugir. Eu não quero
mais fugir. Eu quero ficar e lutar. Eu quero lutar por ela.
O médico me garantiu que ela não está com nenhuma dor quando ele me
deu todas as outras instruções de cuidados. Nelly estará de volta na parte da
manhã para verificar o ferimento e trocar o curativo. Ele diz que a infecção é
provavelmente sua maior ameaça, mas fora isso, ela deve ficar bem. Ele também
me disse que Talon não pode ter qualquer alimento sólido pelas próximas 24
horas.
Eu tremo quando olho para o shake verde que está ao lado de sua cama
para quando ela acordar. Eu também olho para o resto das coisas que eu
coloquei para ela. As velas, uma rosa branca. Não vermelho, mesmo que seja a
sua cor favorita. Uma cor neutra. Eu estou dando uma chance à ideia de
amizade de Talon. Me assusta pra caralho que eu me importe tanto com ela,
assim, esta é a única maneira que eu posso fazer isso. Um passo de cada
vez. Foda-se, eu vou rastejar se for preciso. Mas eu não vou saltar. Eu não posso
saltar. Ainda não.
— Oi. — Talon murmura. Ela tenta sentar, mas eu coloco minhas mãos
em seus ombros e a seguro.
— Não se sente. — eu digo baixinho.
— Ai, eu acho que não vou tentar de novo. — ela aperta os lábios.
— Como você está se sentindo?
— Como se eu tivesse levado um tiro.
Eu balanço minha cabeça e sorrio. — Daniel? — ela pergunta. E eu não
posso acreditar na raiva que eu sinto de ouvir o nome dele vindo de sua
boca. Ele não merece o privilégio de ainda estar em seus pensamentos.
— Você levou um tiro, Talon, eu não ia procurá-lo. Você estava
sangrando. — um pouco do medo que senti antes se arrasta de volta, mas desta
vez é o medo de que ela poderia me dizer para eu me foder depois de tudo isso.
— O que fazemos agora? — pergunta.
— Vamos esperar. Ele vai fazer a sua jogada. Espero que tenhamos o
assustado, ou pelo menos que você tenha. E você fique melhor. Você é muito
assassina com aqueles saltos. — os olhos do Talon arregalam e eu percebo o meu
erro; ela esfaqueou o rosto de um homem hoje. Eu não acho que ela já fez mal a
alguém assim antes. Mas esse é o único sinal de angústia que ela mostra, o que é
um pouco estranho, mas ela também está alta com os remédios para dor, talvez
seja isso. Se ela não tomar cuidado, ela vai perder todas as suas células cerebrais
para os tranquilizantes. Eu estendo a mão e toco seu rosto. Eu não gosto da sua
reação. A aceitação fria do que ela fez não está certa. Ela não deveria surtar ou
algo assim? Ela sorri e inclina seu rosto na minha mão quando eu lentamente o
acaricio com o polegar.
Eu puxo minha mão e me levanto para acender as velas sobre a
cômoda. Eu pego a rosa e entrego a ela. Ela parece tão adoravelmente
confusa. Espere até que ela veja seu jantar. Eu olho o shake, desconfiado, não
tenho certeza se vou ser capaz de ir até o fim. Eu não consigo nem olhar para o
lodo verde sem o desejo de derramar minhas tripas. Talon está sorrindo para
mim, suavemente. Ela é linda, mesmo que ela ainda esteja um pouco sem cor e
seu cabelo um grande emaranhado. Ela é uma deusa, e o próximo filho da puta
que machucá-la vai ficar seriamente familiarizado com a minha arma. Eu só
rezo para que não seja eu. Eu pego os dois shakes e entrego-lhe um. Eu levanto
o meu e olho em seus olhos.
— E nós jantamos. — eu digo, terminando a sua lista de coisas para fazer
agora.
Talon
— Por favor, não vá, Talonia. — minha irmã mais nova sussurrou com
medo em sua voz. Era tão suave e assustada. Parei abrindo a porta e virei para
ela. Eu poderia apenas distinguir a forma dela onde ela estava deitada no
colchão fino no chão. Eu engoli o acúmulo grosso de lágrimas construindo na
minha garganta.
— Eu vou voltar, Nina, eu vou voltar. — eu sussurrei, minha voz indo
embora, então não formaram mais palavras. Eu escorreguei pela porta e avancei
meu caminho pelo corredor, ficando o mais próximo da parede possível. Puxei a
trava pesada da porta de madeira grossa e o baque da trava finalmente cedendo
ecoou pelo corredor. Eu me encolhi e prendi a respiração, dando uma olhada
rápida para a prisão sombria que chamávamos de lar. Eu soltei a respiração que
eu estava segurando e corri.
O perfeito gramado bem cuidado pairava enorme na minha frente. Eu
estava tentada a cruzá-lo e deixar este lugar para trás para sempre. Nunca olhar
para trás novamente. Mas eu tenho que voltar. Eu não podia deixá-la aqui. As
luzes de segurança garantiam o lado da casa e não permitiria uma corrida pelo
gramado de jeito nenhum. Eu teria que fazer lentamente meu caminho em volta
da casa.
A textura áspera do esmalte branco na casa arranhava minhas mãos
enquanto me movia lentamente ao virar da esquina, mantendo-me perto das
sombras. Só mais alguns metros e eu estaria livre.
— Eu vou voltar, Nina... — eu sussurrei enquanto eu pisava livre da casa e
estava pronta para correr para a minha vida.
— Você! Pare! — um dos guardas gritou. Não! Pequenos tiros de
adrenalina cravaram pelas minhas veias e colocaram meu corpo em ação. Corri
em direção ao punhado de árvores na beira do jardim. Um feixe de luz
ricocheteou no chão na minha frente, e eu corri mais rápido. Eu não estava
olhando para onde eu estava indo, realmente não me importava, desde que fosse
o mais longe possível daqui.
Meu pé ficou preso em uma raiz em crescimento excessivo e eu rolei de
cabeça sobre os pés para baixo do aterro que conduz ao rio. Deitei-me de barriga
na areia e ouvi os homens à minha procura. O som deles rasgando os juncos,
soava como um sino de igreja na minha cabeça. Eu precisava me levantar. Eu
precisava correr, mas minhas costelas doíam e minha cabeça parecia que estava
localizada em algum lugar longe de meus ombros. Levante-se, Talonia! Faça isso
por Nina. Mexa-se! Eu precisava fazer isso por ela. Se não o fizesse, nós duas
ficaríamos presas aqui, e Deus sabe o que aconteceria com a gente!
Eu levantei minha cabeça debilmente sobre os meus ombros e vi a
lanterna fluir através das árvores. Não havia nenhum lugar para eu ir. Havia
juncos ao longo do rio à minha esquerda. Guardas à minha volta e o rio
bloqueava meu caminho adiante, mais gritos vieram da minha direita.
— Aqui! Há algo aqui. — Demitri gritou perto do meu lado. Demitri era
outro dos escravos de Devrin. Escravo do mestre. Meu coração saltou
dolorosamente. Demitri nem sempre foi ruim. Costumávamos ser amigos,
muito mais do que amigos. Ele era a minha luz neste buraco escuro de
existência. Eu o amava. Eu pensei que ele me amava também. Até que viu
Devrin colocar suas partes íntimas na minha boca e eu permitindo isso. Eu não
tinha escolha - quando sua irmã mais nova está à mercê de outra pessoa, você
faz o que você precisa fazer para sobreviver. E naquele dia eu estava dando a
Devrin o que ele queria.
Demitri era apenas dois anos mais velho do que eu na época. Ambos
peões, brinquedos para as pessoas que nos possuíam. Eu sabia que Devrin
estava treinando-o para fazer o trabalho sujo. Mas ainda doía como um filho da
puta, quando eu experimentei em primeira mão.
Demitri apenas olhou para as vigas de madeira do galpão, bombeando
seus quadris no meu rosto. Com cada impulso ele destruía um pouco mais do
meu amor por ele. Eu sabia que o meu melhor amigo estava morto, o bom. Tudo
o que restou foi outro peão estúpido, um jogador para os ricos.
Eu puxei minha mochila mais perto, pronta para correr quando os gritos
soaram perigosamente perto novamente. Mas eu não conseguiria, não com a dor
no meu lado. Isso não estava indo como eu planejei. Havia apenas um caminho
a percorrer e era para dentro do rio.
Eu escorreguei na água tão rápido e silenciosamente possível. O
pensamento das criaturas à espreita nas profundezas escuras fez minha pele
arrepiar, e eu quase saí, quase. Eu puxei minha mochila na água e empurrei-a
na direção oposta, deixando-a oscilar na superfície antes que eu entrasse
lentamente nos juncos. Eu não toquei em nada. Eu dei os meus passos na água o
mais leves possível com medo de tocar ou pisar em algo. Eu podia ouvir os
guardas procurarem o barranco.
— Lá, o que é aquilo? — perguntou um guarda. Eu nunca consegui saber
o nome deles direito. — É sua mochila. Vá buscá-la. — Demitri ordenou. — Você
tem certeza? — perguntou o guarda.
Afundei mais nos juncos e agachei até que só a minha cabeça estava
acima da água. Uma ave aquática estalou nervosamente de seu ninho.
— Shhh-shhh. — eu disse, como se o animal estúpido fosse me entender.
Um baque mole soou do barranco, seguido por Demitri xingando em voz
alta. — É da Talon. Tem certeza de que você a viu vindo para cá? — perguntou
Demitri. — Sim. — respondeu o guarda. — Ela vai voltar. — disse Demitri, antes
de finalmente se afastarem. Ele estava certo. Gostaria de voltar. Mas não até que
eu tivesse todo o dinheiro que eu precisava para pagar por nossa liberdade. Eu
exalei alto, e a ave aquática balançou suas penas, esticando seu longo pescoço
preto-azulado, pronta para chiar. Corri para frente e agarrei-a pelo pescoço...
Porra! Eu acordei dolorida e coberta de suor. Por um momento, eu tenho
certeza que eu ainda estou próxima ao rio. A ave aquática morta ainda agarrada
na minha mão fria e um junco na outra. Mas quando eu lentamente absorvo as
redondezas, eu me lembro de que estou na cabana de Runner e é uma rosa que
eu estou segurando. A rosa que ele me deu. Runner está dormindo
profundamente em sua cadeira ao lado da minha cama. Sua cabeleira adorável
sensualmente esmagada. Minha mão estúpida o alcança, e eu traço os fios
sedosos marrons, só para ter certeza de que ele é real. Como é que ele me faz
esquecer a minha irmã tão facilmente?
E Runner é tão teimoso, ele simplesmente não me deixaria entrar,
mesmo depois que eu percebi que tinha sentimentos por ele. Nem mesmo como
um amigo, e agora, finalmente, eu sinto que podemos ser alguma coisa. Agora,
depois de eu ter o que eu preciso para ajudar minha irmã. Como posso fazer isso
sem machucá-lo?
Ele parece tão calmo dormindo, a carranca permanente suave em seu
rosto bonito. Seus lábios entreabertos, apenas implorando para serem
beijados. Eu toco o meu dedo suavemente em seu lábio inferior mais grosso,
incapaz de resistir.
— Jenna? — ele sussurra com a voz rouca. Puxo minha mão para trás
como se tivesse acabado de ser picada por uma cobra. O pesadelo estúpido
ainda fresco em minha mente. Meu coração se contrai e bate
dolorosamente. Prefiro estar de volta a esse pesadelo, porque é muito mais fácil
do que isso. Pelo menos lá eu podia ver o inimigo que eu estava lutando. Eu
sabia de quem correr e por que eu estava correndo. Aqui, eu estou competindo
com o quê? Eu estou apenas enganando a mim mesma. Eu não significo nada
para ele. Eu posso ter começado isso com boas intenções quando me enganei ao
pensar que eu poderia chegar perto de Runner e ser sua amiga, sem me
apaixonar por ele. Ele nunca deveria fazer parte dessa traição. Mas agora eu sei,
e isso faz com que seja um pouco mais fácil.
Preciso me concentrar. Meu plano original pode ter sido um pouco
mexido, mas ainda era um bom plano, e amor nunca foi levado em conta no
projeto original.
Eu escalo para fora da cama devagar e começo a recolher minhas
coisas. Minha ferida dói e minha cabeça gira. Eu ainda não posso acreditar que
eu levei um tiro. — O que você está fazendo? Você não devia estar de pé. — diz
Runner. Ele passa a mão pelo cabelo. Ele parece tão bom, e sua voz sonolenta
envia arrepios dançando sobre a minha pele. Lágrimas se formam em meus
olhos e eu seguro, espantada com a minha angústia emocional. Ele me fez uma
pergunta simples. Mas eu sinto tanta saudade de repente. Preciso terminar isso
e ir para a minha irmã. E Runner realmente não me quer aqui. Eu consegui o
que quero. Agora eu preciso ir embora. Sentimentos estúpidos que se danem.
— Eu só quero ir para casa. Você me fez levar um tiro. Eu poderia ter
morrido. Eu não posso ficar aqui. — eu digo selando o acordo. Ele precisa ver
que eu não quero estar aqui. Com ele. Eu preciso que ele acredite que eu não
quero estar aqui. Minhas lágrimas agora fluem livremente. Sua expressão se
torna dolorosa, mas ele suaviza instantaneamente.
— Ok, eu vou chamar Mike para levá-la. — ele diz, sem um traço de
emoção. E então ele sai pela porta.
Corra
Runner
Depois que Mike
colocou Talon na van do Indigo e vai embora, eu pego um Jack do armário e me
tranco no meu quarto. Eu não posso acreditar que ela me fez crer que se
importava comigo. Acho que eu não posso culpá-la. Ela tinha levado um tiro. Eu
posso entender que ela está assustada. Talvez seja melhor que ela saia agora,
antes que as coisas fiquem piores. Como eu realmente me apaixone por ela. Eu
ainda não sei o que Daniel quer, mas eu vou mandar os rapazes para ter certeza
que ela fique fora de qualquer negócio que Daniel ainda veja como inacabado.
Talvez se Daniel não nos visse juntos, ele acreditaria que ela não significa nada
para mim. Foda-se! Quem estou enganando? Ninguém que eu conheça está
sempre seguro. Mas eu vou mantê-la a salvo. Ela vai ficar em segurança, não
importa o que.
Minha cabeça está tão confusa agora. Eu quero odiá-la por fazer com que
me importe. Eu quero mantê-la segura, porque eu me importo.
— Runner? — Jonah me chama da porta. Tem apenas algumas horas
desde que Talon se foi, e já estou ficando nervoso. A cada segundo que passa eu
fico mais irritado com ela, e comigo. Eu não consigo respirar neste quarto! No
entanto, eu não quero sair, porque eu ainda posso sentir o cheiro dela aqui.
— Sim. — levanto-me para abrir a porta.
— Você está bem?
— Eu estou bem.
— De verdade. Você está bem? — Jonah vai até minha cama e senta sua
bunda nela.
— Sinta-se em casa. — estou amargo pra caralho. Tomo um gole da
garrafa de Jack em pé ao lado da cama.
— Ela ficou assustada. Nem todo mundo é feito para o nosso mundo. A
maldita garota levou um tiro. Não foi culpa sua. — diz ele. Ele levanta a mão
quando eu vou corrigi-lo. — Mike me disse que ela pulou na sua frente. Que ela
invadiu o Warehouse. O que aconteceu não foi culpa sua.
— Que porra é essa? — talvez ele esteja tentando ajudar. Mas não está
funcionando. — Eu não preciso de um discurso não-se-sinta-culpado, Jonah.
Pelo amor de Deus. — eu tomo outro longo gole da garrafa.
— Esse é o seu problema, bem aí. Vá atrás dela, faça-a ver que ela se
encaixa. Eu sei que você se importa com ela. Foda-se, todo idiota com olhos
pode ver que você tem uma queda por ela.
Eu bufo para ele. Ele pode estar certo. Mas ela me deixou, ela pode voltar
se ela quiser. Eu não vou correr atrás dela. Meu telefone toca na mesa de
cabeceira. Eu o pego e olho para a tela brilhante. ‘Indigo’ aparece na tela. —
Runner. — eu respondo. — O quê? Isso não é possível. — eu me levanto
lentamente. Eu não acredito que essa merda está acontecendo logo hoje de
todos os dias. Jonah levanta-se rapidamente e me olha com uma mistura de
medo e interesse. — Estou indo. — digo, antes de terminar a chamada e coloco o
celular no bolso.
— Venha fale para o Mike que ele irá nos levar até o Indigo. — eu bato a
porta do meu quarto atrás de mim. Pego minhas chaves e olho para Mary e Ana
sentadas na frente da TV. Elas meio que ficaram mais quietas depois que Talon
se foi. — Vocês, meninas não se movam. Não vão a lugar nenhum. — digo.
Jonah paira na porta da frente antes de caminhar até Mary e entregar-lhe a
arma. Lunático da porra.
***
— Estamos sem dinheiro? — Mike pergunta pela terceira vez, enquanto
ele anda de um lado para outro na frente da minha mesa. Eu fico olhando para o
extrato bancário na tela do meu computador. Porra! Porra! Porra! Eu não
acreditei quando Stephan me telefonou e me disse que os salários pagos foram
devolvidos. — Ligue para Mark e o coloque nisso! — eu digo a Mike. Eu entro em
outra conta. Uma que somente eu conheço. Eu dou um suspiro de alívio quando
vejo que o dinheiro ainda está lá; não é muito, mas vai ajudar até esta merda ser
resolvida. Não ajuda muito de imediato. É uma conta de aviso prévio, e mesmo
se eu mexer os pauzinhos, ainda terei que esperar por três dias.
— Tem que ser Daniel. Quem mais poderia ter os seus códigos, Runner?
— Jonah pergunta da janela. Ele tem seu canivete de prata na mão. Balançando
para trás e para frente. Em um gesto nervoso. Eu sei que ele quer voltar e
certificar-se de que Mary está bem, mas agora temos muita merda para cuidar.
Mike terminou a sua chamada e falou comigo e Jonah. — Vai levar
algumas horas. — ele anda de um lado para o outro.
— Reno.
— O quê? — ambos respondem juntos.
— Reno, é a única outra pessoa com acesso às contas. Mas ele está morto.
— eu digo. Eu passo as minhas mãos pelos meus cabelos e aperto a minha
cabeça em uma tentativa de aliviar a enxaqueca. A sala fica em silêncio, o único
som que ouvimos é do farfalhar do canivete de Jonah.
— Nós ainda temos dinheiro, certo? — pergunto a Mike. — Da casa de
empréstimo. — eu esclareço quando ele olha para mim sem entender.
— Sim, mas isso é tudo o que temos. Se nós usarmos e algo acontecer,
estamos fodidos.
Eu entendo o que ele quer dizer. Se tivermos que correr, não temos para
onde ir. Nós sempre mantemos dinheiro no caso de ser preciso nos mover
rapidamente. E dinheiro indetectável, fácil e conveniente. — Precisamos pagar o
pessoal. Quanto? — eu pergunto.
— Mais ou menos vinte mil.
Foda-se, só vai cobrir. — Vá buscá-lo. Tenho cobertura para nós. Nós só
precisamos de alguns dias. — Mike balança a cabeça como se ele não acreditasse
em mim, mas de qualquer maneira se levanta. Telefono para Stephan e digo-lhe
para falar para o pessoal que o dinheiro vai estar disponível na parte da tarde. E
então eu telefono para Amanda e digo para ela separar os envelopes. Eu tenho
outra merda para me preocupar.
No momento em que Mike volta com o dinheiro, na minha cabeça, parece
que pequenos demônios estão patinando nos meus neurônios. Eu chamo
Amanda para o escritório, ela e Mike dividem o dinheiro entre os envelopes.
Assim que Mike enche seu segundo envelope, seu telefone toca. Ele olha para a
tela. — Mark. — diz ele, apontando para o telefone. Concordo com a cabeça e ele
o atende enquanto caminha para a próxima sala para não ser escutado.
— Nós terminamos aqui. — digo a Amanda quando Jonah olha para ela e
então para a sala que Mike está, nervosamente. — Vá. — eu explodo quando ela
olha para mim como se eu estivesse falando uma língua diferente. Ela apressa
seus passos, quase derrubando o dinheiro da mesa. Eu respiro fundo e caminho
em direção à porta mantendo-a aberta para ela. Estou prestes a perder a minha
cabeça, e ela não merece minha raiva. Quando me viro, Mike está olhando para
mim com uma expressão vazia. — O quê? — eu sei que vou odiar o que ele está
prestes a dizer.
— É melhor você se sentar. — diz ele.
— Porra, fala logo. — eu não tenho tempo para dramas femininos.
— Mark descobriu quem pegou o dinheiro, e não foi Daniel Migelli.
— Ok, então quem foi? — Jonah diz rapidamente quando percebe que
estou prestes a bater no meu melhor amigo.
— O dinheiro foi transferido para... — a garganta de Mike contrai quando
ele engole em seco. Eu aceno minha mão impacientemente para ele continuar.
— Para uma Talonia Blake.
— O quê? — ele deve estar me zoando. Ele não ia foder comigo. Eu vou
matá-lo se ele estiver brincando comigo.
— Verifique o seu e-mail. — diz ele, já caminhando para o meu
computador. Ele abre o meu e-mail e clica em um que recebi de Mark. Há um
monte de besteiras técnicas com um par de traços e nomes que eu não conheço.
Mas o resultado final, a parada final da trilha, já diz tudo. — Talonia Blake, de
22 anos, número de segurança social... — a minha visão fica escura, eu pego o
laptop e o atiro pela grande janela de vidro atrás de mim.
— Porra, aquela putinha! — minhas mãos estão tremendo, então eu as
aperto em punho. Ela me usou, porra.
— Poderia ser Daniel comandando-a. Ela tinha que saber que
descobriríamos que era ela. Como ela iria conseguir os códigos de qualquer
maneira. — diz Jonah calmamente. Eu não sei. Eu não consigo nem pensar
agora.
— Eu acho que Jonah está certo. Tudo está muito fácil; ela só desviou o
dinheiro três vezes. Mesmo um amador poderia ter rastreado isso. Por que
transferi-lo para a sua própria conta no final? — Mike pergunta.
— Bem, vamos descobrir. — eu digo, discando o número dela. Eu aperto o
meu telefone com tanta força que eu ouço o crack do plástico. A chamada vai
direto para a caixa postal. Eu largo meu telefone, pois não confio em mim
mesmo, posso quebrar outra janela. — Correio de voz. — eu sei que foi ela. Ela
jogou comigo e eu me apaixonei por ela. Ela tinha meu pau todo tecido em sua
teia de mentiras.
— Ela poderia estar dormindo. Ela está sob efeito de analgésicos. A garota
está trabalhando em um monte de merda agora. — diz Jonah, fazendo sentido
novamente. Concordo com a cabeça. Mas o que realmente sabemos sobre essa
garota? Nada, exceto que ela é amiga de Ana.
— Mike, vá ao apartamento dela. Jonah, eu sei que você quer ficar com
Mary, vá falar com Ana. Descubra tudo que ela sabe sobre Talon. Vamos
levantar algumas informações sobre esta cadela. — dois coelhos, uma cajadada.
Eu não perco o jeito que meu coração dói com essa última palavra. Se ela me
traiu, eu mesmo vou matá-la. Ninguém fode comigo.
Os rapazes saem sem dizer uma palavra, e eu chamo Amanda de volta
para o escritório para terminar os envelopes. Ela se senta na minha mesa,
levantando os olhos a cada dois minutos para me olhar. Eu a vejo olhando para
a janela e o vidro quebrado no chão. Eu a ignoro. Deixo-a pensar o que ela
quiser. Tomo outro gole da minha água. Eu preciso de uma cabeça clara. Porra,
Talon. É melhor ela estar em casa dormindo. Eu não posso acreditar que eu fui
estúpido o suficiente para deixá-la entrar em nossas vidas sem verificar seus
antecedentes. Mas onde ela conseguiu os códigos.
— Sr. Runner. — Amanda chia da minha mesa. Eu olho para a garota com
os olhos arregalados. — Eu acabei, senhor. — diz ela. Ela está na minha mesa
mexendo com sua blusa de seda branca. Concordo com a cabeça. Ela fica
congelada antes de sair correndo como um ratinho assustado. Eu sorrio.
— Traga Stephan aqui. — eu grito. Ela pula e fecha a porta atrás de si
rapidamente. Meu sorriso se abre um pouco. Ela é uma coisinha tão nervosa.
Sento-me na minha cadeira. Espero que Daniel Migelli esteja por trás disso.
Mas esta manhã foi muito estranha. Toda essa semana ela insistiu em ser minha
amiga. Conseguindo que eu me importasse com ela. Rastejando sob minha pele,
infectando meu cérebro com suas doces promessas de mais. E então, de repente,
ela sai. Algumas horas mais tarde, o meu dinheiro desaparece.
Minha porta se abre, e um Mike pálido entra no meu escritório. Sim, eu
imaginava isso, porra. Meus dedos se enrolam nos apoios de braço de couro da
minha cadeira.
— Ela se foi. Nós arrombamos a porta quando ela não respondeu. Tudo se
foi, parece que ela saiu com pressa. — diz ele, um pouco ofegante. Eu acho que
ele correu todo o caminho até aqui.
— Bem, puta que pariu. — realmente eu não estou surpreso. Ela foi uma
transa muito cara.
— Runner?
— Sim, Mike. — eu digo, colocando a mesma ênfase em seu nome que ele
usou no meu.
— Eu achei isso. — eu nem vi o jornal que estava em sua mão até que ele o
jogou na minha mesa. E lá nas notificações de aniversário havia uma imagem
minha e de Mia. Eu nem sequer percebi que era o meu aniversário. Faço vinte e
cinco anos de idade hoje. Um quarto de século. Acho que minha irmã gêmea
sentiu que era necessário celebrar. O velho eu faz vinte e cinco anos hoje.
Runner faz vinte e cinco anos no próximo mês. — Foda-se. — eu disse
fortemente.
— Você acha que ela sabe? — Mike pergunta.
— Sabe o quê? — eu não posso acreditar que esqueci o meu próprio
aniversário. Merda, eu estou ficando velho.
— A página estava aberta desse jeito na mesa de café. Não parece com
você. Quer dizer, você só pode ver metade do seu rosto. E você fez a merda da
reconstrução facial depois que você quebrou o seu rosto naquela queda. — ele
estava falando muito rápido, tentando convencer a si mesmo.
— Oh, isso. A menos que ela esteja trabalhando para Daniel, esse
pequeno pedaço de informação não significa nada para ela. — ela não vai viver o
suficiente para usá-lo de qualquer maneira. Eu realmente não fiz tanto trabalho
no meu rosto. Apenas um trabalho para corrigir o meu osso da bochecha
quebrado, mas depois eles tiveram que arrumar o outro lado também, para fazer
os dois terem a mesma aparência. E eles endireitaram o meu nariz. Nunca gostei
da coisa torta mesmo. Suponho que se você me conhecia antes e me visse agora,
você poderia fazer a conexão. É por isso que eu tento ficar longe de Bailey.
— Então, ela realmente se foi? — eu pergunto, optando por ignorar o fato
de que Talon deve ter planejado isso desde o início, e que ela provavelmente
sabia quem eu era.
— Parece que sim. O que vamos fazer agora? — Mike pergunta.
— Verifique os aeroportos, estações de ônibus. Vou verificar o aluguel de
carros. Aquele pedaço de lixo não vai chegar longe.
— Ok. — Mike vai para a porta.
— Onde diabos você está indo? — eu pergunto.
— Vou verificar o aeroporto e, em seguida, a estação de ônibus.
— Use o seu telefone. É mais rápido. — eu digo, puxando a lista de
telefone da minha gaveta e segurando-a para ele. Ele balança a cabeça e começa
a olhar para os números. Eu vou para a recepção e pego a lista de telefone da
mesa de Amanda. Ela não está lá, provavelmente está na escada de incêndio
novamente. Eu não tenho tempo para procurá-la, então eu volto para o meu
escritório para telefonar para as empresas de aluguel. Vamos torcer para que
Talon seja estúpida o suficiente para usar seus cartões para pagar suas despesas
de viagem.
Depois que telefonamos para o aeroporto, empresas de ônibus, e todos os
lugares de aluguel possíveis que eu posso encontrar, eu tenho certeza que nunca
vou ver aquela garota novamente. Mike telefonou para Mark para ver se ele
podia encontrar imagens de segurança do aeroporto e das empresas de ônibus,
quando ficou claro que ela não usou seu próprio nome. Eu nem estou vendo
mais as imagens no laptop de Amanda. Assistir hora após hora de inúmeros
rostos que eu não conheço, entrando e saindo do terminal do aeroporto me
irrita. Sinto realmente apenas uma pontinha de tristeza, que mói minhas bolas.
Estou furioso por ela ter me traído e me usado, porra!
— Bingo. — Mike grita apontando para a tela. E vemos Talon em pé no
balcão do aeroporto. O epítome de engano. Sedução doce com uma mordida
venenosa. Ela não parece nervosa de jeito nenhum. A única coisa que está lhe
entregando é a forma como ela continua olhando por cima do ombro.
— É isso mesmo, puta, estamos indo até você. — diz Mike, discando em
seu telefone novamente. Eu quase o soco quando ele a chama de puta, mas o
gosto amargo da traição dela ainda está fresco. Ela merece tudo o que vem a
caminho.
— Uh-huh, 09:15 esta manhã. Caixa 5. — Mike diz por telefone.
Eu congelo a imagem na tela e olho para Talon. Como ela conseguiu me
enganar? Talvez o amor seja cego. Eu mordo minha língua e quase cuspo em
torno da palavra. Não o amor. Luxúria. Luxúria é uma prostituta bêbada, cega,
que encontra prazer em enganar as pessoas estúpidas que pensam que alguém
mais se importa.
— Obrigado, Mark. — Mike diz, e em seguida, volta-se para mim com um
grande sorriso no rosto. — Ela reservou o voo com o nome de Christina Blake. —
ele parece satisfeito com a merda que ele mesmo descobriu.
— Onde ela está indo? — pergunto impaciente. — África. África do Sul.
Quem sabe o que está lá. — diz ele, saltando sobre seus pés. Ele está ansioso
para ir. Eu também. Vou mostrar a Talonia Blake exatamente o que acontece
com as pessoas que me traem.
— Ela deve ter uma identidade falsa. Menina inteligente, por reservar um
voo com um nome falso. Agora vamos ver o quão rápido ela pode CORRER14...
Talon
14
No original Run. Fazendo referência à Runner.
Eu mal posso esperar para sair deste país. Eu fico pensando que Runner
vai aparecer e puxar-me de volta para a cabana, provavelmente pelos meus
cabelos. Isto é, se ele não me balear aqui à vista de todos. Eu não vou julgá-lo se
ele fizer exatamente isso. Caras como ele não digerem a traição muito bem. Eu
sei que nunca mais poderei voltar aqui.
Mas a África do Sul é a minha casa, e Bailey não tem nada a me oferecer.
Maria’s Square ainda menos, a não ser ele. Não que isso importe. Ele realmente
não me quer, ele só quer ela. Eu não sei quem ela é, eu a odeio. Eu a odeio com o
meu pequeno coração partido, porque ela me fez fazer isso. Eu ia ficar. Eu
queria ficar. Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e caminho em direção ao
meu portão de embarque. É isso, espero nunca ver Runner novamente, porque
se isto acontecer, significa que ele veio para me matar e que eu falhei.
Então agora você está se perguntando o que diabos eu estou fazendo
neste avião. Será que eu roubei o dinheiro de Runner? Será que eu planejei isso
o tempo todo?
Não, claro que não. Runner não era o meu alvo. Reno Parker era, e Ana
deixou tudo muito fácil. Aquela mulher bêbada simplesmente não conseguia
manter sua boca fechada. Noite após noite, no bar, ela falava sobre seu
namorado perigoso e como ele estava ‘dentro’ da máfia. Ela se gabava do seu
dinheiro e do homem poderoso com que trabalhava.
No começo eu não prestei atenção nela. Eu pensei que ela estivesse
cantando vantagem, mas, em seguida, ela mencionou Reno, e eu reconheci o
nome através de um artigo de revista que eu li sobre o cassino Indigo. Eu sabia
que Reno tinha dinheiro, e eu precisava muito de dinheiro. Comecei a sair com
Ana, usando-a para todas as informações que eu precisava. Então, a transa-e-o-
pá-pum-não-obrigado-madame aconteceu com Runner. Apenas uma noite. Eu
nunca pude resistir a um homem perigoso. A culpa é da minha história ou meu
condicionamento, culpe a luxúria. Deus amaldiçoe o Demitri e sua merda
escura.
Acho que perdi um pedacinho do meu coração naquela noite. Eu estava
muito focada em conseguir o dinheiro para resgatar Christina para notar.
Runner era perigoso, mas ele também estava muito quebrado. Eu queria chegar
a seu peito e corrigir seu maldito coração. Eu não o vi novamente e por um
longo tempo. Mesmo depois que eu comecei a namorar Reno. Runner nunca
vinha para Bailey. Não foi tão difícil conseguir a atenção de Reno. Reno gostava
de uma mulher bela e uma jovem selvagem. Eu acho que todos esses velhos
ricos gostam. E isso foi exatamente o que eu lhe dei. Uma troca de interesses. Eu
dei a Reno o passeio de sua vida, e ele me deu o que eu queria. Ele só não sabia
disso na época.
Eu sempre consigo o que quero. Fui muito cuidadosa para manter o
nosso relacionamento em segredo, para não sermos vistos em público juntos.
Nem mesmo a governanta de Reno sabia sobre mim. Eu aderi às visitas
noturnas, muitas vezes usando a desculpa de modelagem durante o dia.
E então um dia, bam, houve Runner novamente. Eu sabia que era
arriscado colidir com ele quando fui com a Ana para a casa de empréstimo, mas
eu não podia apenas parar de sair com ela depois que consegui o que eu queria.
Seria algo suspeito. Se eu fosse realmente honesta comigo mesma, talvez, no
fundo, eu estava esperando me chocar com ele novamente. Só para provar que
ele realmente existiu e eu não apenas o criei na minha cabeça. Eu não pensei
que Runner surtaria daquele jeito quando me viu na casa empréstimo. E eu
definitivamente não achava que o meu coração iria reagir como uma
adolescente de 16 anos em sua primeira paixão. O encontro com Runner não foi
planejado. Eu estava tão perto de conseguir o que eu queria, o que eu precisava
de Reno.
Eu tive um encontro com o Reno na noite em que ele morreu. Fomos
jantar. Meus nervos estavam abalados depois do susto que tive com o Mike e
Jonah na casa de empréstimo. Eu só queria ir para casa, de volta para Christina.
Tirá-la daquele inferno. Depois do jantar, Reno nos levou para a sua mansão.
Serviu-se de um conhaque e um vinho para mim. Eu odeio vinho. Irônico para
alguém que cresceu em uma propriedade vinícola.
Estávamos sentados no sofá, conversando sobre nada importante. Eu
quase pedi o dinheiro para comprar Nina de volta. Seu telefone tocou. Reno não
estava feliz com quem quer que estivesse do outro lado da linha. Ele saiu da
sala. Ele ficou fora por um bom tempo.
Eu estava olhando para as fotos da parede quando ele voltou. Ele estava
com uma arma apontada para a minha cabeça. Ele tinha perdido a cabeça.
Acusando-me de espioná-lo. Eu não estava espionando-o. Eu estava apenas
tentando conseguir algum dinheiro. Ele ia atirar em mim. Eu podia ver isso em
seus olhos. Seus olhos negros estavam escuros, com raiva e desconfiança.
Eu disse-lhe sobre a minha história. Ele não acreditou em mim. Eu ia
morrer! Reno largou a arma e suas mãos se fecharam ao redor do meu pescoço.
Ele olhou nos meus olhos quando apertou o meu pescoço, tirando-me o ar. Eu
não cairia com tanta facilidade. Bati meu salto alto no pé dele e ele gritou de
dor. Nós dois pegamos a arma. Eu a peguei primeiro. Implorei para ele acreditar
em mim. Mas, como Runner, Reno era orgulhoso e homens orgulhosos não
confiam facilmente. Eu fiz com que ele me desse os seus códigos bancários. Ele
ameaçou enviar Runner atrás de mim e da minha irmã. Eu atirei nele. Eu matei
Reno.
Eu pensei que matar Reno fosse me incomodar, que eu hesitaria em
puxar o gatilho, mas uma vez que eu tinha os códigos e ele ameaçou Nina,
apertar o gatilho foi fácil. A consequência é o inferno; matei um homem. Isso é
algo que eu vou ter que conviver.
Eu ia deixar a cidade logo depois disso, mas, em seguida, Ana lutou para
que fôssemos à festa, e na manhã seguinte Daniel Migelli apareceu. Meu plano
só não funcionaria. Eu me pergunto se o karma estava me jogando para Runner
o tempo todo.
Quando finalmente cheguei a verificar os códigos que recebi de Reno, a
maldita coisa não funcionou. Reno mentiu para mim. Ele me deu os códigos
errados de propósito. Eu acho que ele estava tentando proteger seu filho. Quão
confuso é isso? Runner é filho de Reno? Reno não era um homem mau, mas eu
não podia arriscar que ele viesse atrás de mim depois. Ele sabia quem eu era.
Contei-lhe sobre Nina. Eu pensei que ele fosse me ajudar, porra. Eu não tive
escolha.
Depois que eu descobri que ele me deu os códigos bancários errados, eu
realmente pensei que estava tudo acabado. Então eu fui envolvida em qualquer
merda que Runner tinha com Daniel, e meu plano estava lentamente
desabando. Eu ainda roubei aquele celular para ele, mas não sem os meus
próprios motivos. LaVaas tinha muito dinheiro. Não tanto quanto Runner, mas
ele era uma opção que eu estava disposta a explorar. Eu não sou uma puta, eu
não me vendo por dinheiro. Além disso, minhas costas seriam arrastadas para o
inferno e meu corpo quebraria se eu tivesse que ir por esse caminho para a
quantidade de dinheiro que eu precisava.
Depois que os homens de LaVaas nos perseguiram desde o bar, eu sabia
que nunca iria chegar perto dele novamente. Pode ter sido apenas um telefone
celular que eu tinha roubado, mas eu já vi homens mortos por menos. Eu estava
resignada ao meu destino, eu estava desistindo. Eu estava lentamente ficando
sem opções. Mas acima de tudo, eu percebi que tinha me apaixonado. Não
foram apenas os poucos dias que passei com Runner, mas ver toda a culpa e
raiva que ele carregava em si mesmo fez com que a minha alma chegasse até ele.
Foi porque eu era tão danificada quanto ele. Ligados pelo sangue e
responsabilidade, carregamos a mesma cruz, apenas buscando o conforto
proibido, mas nunca o encontrando.
Quando eu vi os códigos em seu laptop, a responsabilidade caiu sobre
mim e eu não podia manter minha cabeça erguida. Eu sabia que os seus códigos
iriam funcionar; ele estava ocupado fazendo um pagamento on-line. Eles
tinham que estar certo. Tudo o que eu tinha a fazer era esperar para encontrar
uma saída.
É por isso que eu fui com ele para o Warehouse 9. Eu queria ajudar
Runner antes que arruinasse com a sua vida e roubasse o seu dinheiro. Ele iria
encontrar uma maneira de se recuperar. Homens como ele sempre encontram.
Eles lutam e eles ganham. Eu não sabia que Reno era o pai de Runner, e quando
ouvi Daniel usar seu sobrenome, eu quase confessei. Eu queria dizer tudo a
Runner. Toda minha fodida história, talvez ele fosse me ajudar, ser capaz de me
perdoar. Mas havia também o outro lado e me perguntei se ele reagiria da
mesma forma que Reno. O que ele faria quando eu lhe dissesse que atirei em seu
pai porque ele não iria me dar o dinheiro? Jonah e Mike já teriam cavado minha
sepultura antes que eu terminasse de explicar.
E então eu levei um tiro no Warehouse 9 e Runner ficou abalado. Eu
podia ver que Runner se importava comigo quando eu acordei depois do
tiroteio. Eu ia dizer a ele, eu só precisava das palavras certas. Eu ainda poderia
devolver o dinheiro e pedir-lhe ajuda. Mas quando ele chamou o nome da garota
em seu sono, eu sabia que tinha que sair de lá. Meu ciúme era tão denso que
ameaçou me sufocar. Eu era uma idiota por pensar que ele se importava. Para
distrair o pensamento de que eu era mais do que um caso de uma noite com ele.
E agora eu estou no meu caminho para a África do Sul para recuperar
minha responsabilidade. Para comprar a minha liberdade e pagar pela liberdade
da minha irmã. Por que eu preciso fazer isso? Porque meu pai era um péssimo
homem de negócios. Ele era um bom pai, mas ele gostava de beber o seu vinho
em vez de vendê-lo.
Sinto um leve toque no meu ombro e minha cabeça vira para o lado. Eu
nem sequer vi a aeromoça de pé ao meu lado.
— Você gostaria de algo para beber? — ela pergunta educadamente.
— Coca-Cola, por favor. — eu mataria por uma vodka agora.
Eu pego a minha Coca e olho pela janela. Eu me pergunto o que Runner
está fazendo agora? Ele sabe que eu roubei o seu dinheiro?
Então, meu pai era um péssimo homem de negócios. NaturaGold tem
sido da nossa família há anos, passando de Blake para Blake, que começou com
o meu tataravô. Mas, apesar de Christopher Blake amar suas filhas, ele odiava
estar longe de sua esposa. Nossa mãe, Katalonia Blake. Deportada apenas
alguns meses antes de meu pai perder tudo. Acho que minha mãe gostou tanto
de voltar para casa que ela nunca se preocupou em voltar à África do Sul. Ela
odiava lá. Odiava o tempo, odiava o crime, odiava que suas irmãs e os seus pais
estavam na Rússia, enquanto ela estava presa lá.
Sei que meus pais foram felizes uma vez. Eles se conheceram quando o
meu pai e sua família estavam de férias em um ano. Papai disse que sabia que
ele ia se casar com ela assim que pôs os olhos nela. Assim, ele sempre voltava
para visitá-la até que era sua vez de assumir a fazenda. Ela veio para a África do
Sul e eles se casaram. Mas mamãe estava com saudades de casa, e meu pai não
deixaria seu legado para trás para ir para a Rússia. Ele disse que não havia nada
lá para ele, que sua vida estava na fazenda.
Lembro-me de piqueniques em nosso gramado da frente, os passeios a
cavalo pelas vinhas. Eu me lembro deles sorrindo. Também me lembro de
minha mãe chorando depois de cada carta que recebia de sua família. Mamãe
foi deportada porque alguns de seus documentos eram ilegais. Meu pai gritou
com ela por dias antes que eles viessem e a levassem embora. Eu culpo mamãe
por nos deixar para trás? Sim, todos os dias. Christina chorou até dormir por
semanas. Fez com que papai se irritasse e ele atirava coisas e amaldiçoava, e em
seguida, tomava vinho até desmaiar.
Depois disso, ele não era mais sorridente, só bebia. Papai estava sempre
bêbado, e em seguida, a seca chegou e acabou com a colheita. Vendemos os
barris armazenados na adega e plantamos novamente, mas o dinheiro estava
muito apertado para ter uma colheita decente. Papai tinha que pegar um
parceiro de negócios, Devrin. Pela primeira vez em mais de cem anos,
NaturaGold não pertencia a apenas um Blake. Esse foi o seu primeiro erro.
Christina costumava dizer que ele enfureceu os antepassados e eles estavam nos
amaldiçoando do túmulo. Christina ouviu muitas das histórias de mamãe. Mas
ela estava certa, a fazenda nunca se recuperou depois disso.
Papai teve que vender a fazenda e Devrin a comprou com os dedos
ansiosos. Nós fomos autorizados a ficar e cuidar da fazenda, mas papai bebeu
mais e mais, quando se tornou evidente que mamãe não ia voltar.
Pouco antes de meu aniversário de dezoito anos, Devrin apareceu como
sempre fazia, mas desta vez eu sabia que algo estava diferente. Notei em seus
olhos. Mas eu era jovem e estúpida demais para reconhecê-lo pelo que ele era.
Oportunista. Devrin jogava com todas as oportunidades que pudesse conseguir.
Sempre observando, esperando pacientemente.
Depois do jantar, eu limpei os pratos e ele agarrou meu braço. Papai já
estava caindo em sua cadeira. — Vá arrumar suas malas e de Christina. — ele
ordenou.
— Para onde vamos? — perguntei. Eu estava confusa. Papai não
mencionou uma viagem. — Você vai ficar comigo por um tempo. — disse Devrin.
— Por quê? — eu não queria ir. Esta sempre foi a nossa casa. Devrin se levantou
e me deu um tapa no rosto. Eu não chorei, mas a picada foi realmente muito
ruim. Papai não fez nada, apenas caiu em sua cadeira e olhou para a mesa. Ele
sabia! E, no entanto, ele não fez nada. Ele nem sequer levantou um dedo para
salvar suas filhas.
Christina correu para cima para fazer suas malas, com medo de que ela
fosse sofrer o mesmo destino por desobedecer. Minha irmã só não sabia que, ao
fazer isso, ela estava se expondo há algo muito pior. Naquela noite, em vez de
papai dar a Devrin um cheque, ele coletou e nós éramos o pagamento.
Eu não me lembro muito sobre a viagem ao Devil’s Peak15, mas eu me
lembro de que a primeira vez que vi a propriedade eu sabia que o nome se
encaixava perfeitamente. A enorme mansão branca tinha centenas de luzes
colocadas nas laterais, lançando sombras perigosas entre a iminência das
árvores. O lugar era perfeito para monstros. A cerca preta era elevada, com
cabeças bifurcadas - afiadas, impedindo qualquer pessoa de entrar ou sair.
Havia guardas por toda parte, no alto do telhado e embaixo nos jardins. Papai
nos disse uma vez que Devrin negociava diamantes e que ele era muito rico.
Fomos escoltadas para um bom quarto, com uma grande cama de dossel
branca. Não era muito diferente dos nossos quartos de casa. Lembro-me da
cama, porque por muito tempo, era o único lugar que eu me sentia segura no
Devil’s Peak.
Nós não éramos pobres, nós tivemos um monte de coisas boas até que
papai começou a beber. Assim, a ostentação do Devil’s Peak não era nada que
não estávamos acostumadas, mas não estávamos em casa, e os cantos escuros
15
Pico do Diabo
sussurravam segredos incontáveis e terríveis pesadelos. Christina adormeceu
imediatamente na enorme cama branca. Eu fiz uma promessa para minha irmã
naquela noite. Eu cuidaria dela, ninguém iria machucá-la, desde que eu tivesse
fôlego em meus pulmões. Eu não sabia qual era o plano de Devrin em relação a
nós, e eu não confiava em ninguém que recolhia meninas como pagamento de
dívida.
Na manhã seguinte, Christina e eu conhecemos um cara, Demitri. Seu
rosto estava coberto de hematomas. Seu cabelo foi raspado perto de seu crânio.
Ele tinha uma longa cicatriz atrás da orelha que ia quase até a parte de trás de
sua cabeça. Demitri estava nos estábulos cuidando dos cavalos. Mais tarde
soube que ele era dois anos mais velho do que eu. Magro e em forma, com os
mais belos olhos azuis emoldurados em longos cílios negros. Com facilidade ele
era o cara mais bonito que eu já tinha visto. De início, ele não falou conosco, e
nos disse para ficar longe dele. Que ele era escravo do mestre. Eu não entendia
isso, mas eu descobriria em breve. Foda-se, desejava ter permanecido tão
inocente e ingênua.
Um cara tossiu ao meu lado no avião, e eu virei a minha cabeça na
direção oposta. Eu estou feliz que eu tenha uma janela. O avião estava descendo
lentamente, levando-me mais para perto do meu destino. Estava devaneando
por todo o voo. Acho que é melhor do que me preocupar com o que Runner está
fazendo.
A parte superior de Devil’s Peak, a montanha que Devrin nomeou seu
vinhedo depois, entra à vista à medida que o avião desliza para baixo
lentamente. Seus vinhedos seguem, espalhando verdes e vastos. Devrin terá
uma boa colheita este ano. Minha cabeça balança um pouco quando o avião
finalmente toca o chão, e eu respiro fundo para me acalmar. Eu não tenho nada
com que me preocupar ainda. Eles não sabem que eu estou chegando para
buscá-la hoje. Eles sabiam que eu estaria de volta. O tempo para a corrida
acabou, agora eu estou aqui para cobrar.
Quando o táxi finalmente para em frente ao Devil’s Peak, estou
tremendo, e um leve brilho de suor se forma no meu pescoço. Estou nervosa. Eu
não sei se a minha irmã está viva. Eu não me permiti pensar sobre essa
possibilidade nos últimos meses. Eu mantive-me dizendo que ela não teria valor
para Devrin se ela estivesse morta e que ela estava segura, até que ela tivesse
dezoito anos. Devrin pode ser um monstro, mas ele tinha regras. Regras que ele
nunca quebrava, e uma delas é que meninas menores de idade não seriam
vendidas, nunca. O tráfico humano é um grande problema na África do Sul,
crianças a partir dos dois anos de idade são arrancadas de suas pré-escolas e
vendidas nas fronteiras. Não, Devrin não fazia negócios com essas pessoas, ou
assim Demitri me disse quando ainda éramos amigos.
Devrin tem alguns dos seus próprios demônios escondidos em seu
armário, e eu sou grata, pois pelo menos isto o mantém humano. Não estou
concordando com o que ele faz; vendendo alguém contra a sua vontade, como se
fossem um pedaço da propriedade, é nojento, desumano e simplesmente
degradante. Acho que é por isso que eu fiquei na propriedade tanto tempo.
Ninguém queria comprar-me por causa do meu temperamento difícil. Enquanto
Christina estava escolhendo uvas nas vinhas, eu estava aprendendo sobre o
dinheiro. Contar dinheiro, ganhar dinheiro, transferência de dinheiro. Como ter
certeza que ninguém rouba o seu dinheiro.
Eu sou inteligente, e é por isso que mantive a minha bunda fora dos
clubes de strip e prostíbulos. E Devrin gostou da minha boca inteligente. Um
pouco demais para o meu próprio bem, porque olha onde isso me levou.
Primeiro de joelhos em seu escritório e, em seguida, no galpão chupando meu
melhor amigo.
— Senhorita, senhorita? Ei, você vai sair ou o que? — o taxista finalmente
perguntou. Eu vou? Não tenho certeza. Mas eu respiro, visto a minha calça de
gente grande, pego minha bolsa do assento ao meu lado e saio. Eu entrego-lhe
algumas notas e pressiono o botão do interfone no portão, não me dando chance
de fraquejar.
Ouço o som de uma risada gutural pelo interfone, e meu corpo fica frio -
Demitri.
— Eu pensei que fosse você. O que você fez com seu cabelo? — ele me
insulta do outro lado do pequeno alto-falante. Eu levanto o meu dedo médio
para a câmera no portão e dou um sorriso, grande e sarcástico. Dane-se ele. Eu
não vou deixá-lo mexer comigo. Eu gosto do meu cabelo. Quando vim pela
primeira vez para o vinhedo, eu o tinha cortado bem curto. Foi uma má fase que
eu estava passando depois que mamãe se foi. Uma tentativa de parecer mais
madura. Agora o meu cabelo era longo, quase no meio das minhas costas, e eu o
deixo selvagem, lembrando-me de que sou livre. Eu me pertenço.
Após aquela época no galpão, Demitri não era mais meu amigo. A merda
que ele me fez fazer teria feito uma menina mais fraca correr até o topo do
Devil’s Peak e se jogar de lá. Se Devrin soubesse, ele teria as suas bolas. A única
coisa que me impediu de contar todas as suas perversões desagradáveis ao seu
mestre era o fato de que ele era meu amigo. Ele não era sempre um doente.
Devrin o destruiu, e eu percebi há muito tempo que a pequena cena onde
Demitri me viu chupando Devrin foi criada para fazer exatamente isso. Para
destruí-lo. Não há lugar para o amor neste negócio.
Eu ando até a porta da frente com as pernas trêmulas, mas não vou
deixá-los ver o quanto estou assustada. Eu mantenho minha cabeça erguida. Eu
tenho que fazer meu plano dar certo. Eu não preciso lidar com Demitri, eu
preciso falar com Devrin. Amigos, amigos, negócios à parte. E eu estou aqui
para fazer negócios. Dinheiro fala mais alto do que uma menina com uma boca
sábia e eu tenho muito dinheiro. Dinheiro de Runner.
Demitri abre a porta da frente, parecendo perigoso em um terno preto.
Seu cabelo negro e espesso está com gel jogado para trás, e luxúria brilha em
seus olhos perversos. Ele ainda é tão bonito como sempre, mas fatal.
— Talonia, minha sereia, sentiu falta de mim tão cedo? — ele fala com sua
voz suave como mel. Sim, ele é muito perigoso e devastador em todos os
sentidos, se você não sabe com o que está lidando.
— Foda-se, Demitri. Estou aqui para ver Devrin. — eu não me atrevo a
olhar para cima novamente. Meu velho amigo se foi, não há necessidade de
esfregar isso na minha cara. O menino que uma vez espancou um guarda à
inconsciência, porque ele entrou escondido em meu quarto, não existe mais. Eu
sei o que o guarda queria fazer comigo, então eu serei sempre grata a Demitri.
Será que desculpo a maneira como ele me tratou no passado? Nem perto disso.
— Devrin está fora do país. Eu estou no comando agora. — diz ele,
claramente satisfeito consigo mesmo. A respiração que eu estava exalando
congela na minha garganta e minhas mãos começam a tremer.
— Você está mentindo. — eu digo, esperando que eu esteja certa.
— Se eu estivesse, você acha que Devrin ainda estaria em seu escritório,
sabendo que VOCÊ está aqui? — ele está certo, Devrin teria vindo até aqui.
Ninguém que eu tenha conhecido jamais fugiu deste lugar, eu sou uma espécie
de lenda agora. Uma lenda estúpida, porque eu voltei. Mas eu sabia há dois anos
quando eu caí na margem daquele rio que eu estaria aqui novamente. Mesmo
quando eu estava escondida no barco que acabou em Bailey, eu sabia que teria
que encontrar uma maneira de voltar para a África do Sul, não tinha dinheiro,
nem documento e nenhum lugar para ir. Durante muito tempo, era só eu e meu
trabalho de bartender. Mas as gorjetas eram boas. Eu poderia me dar ao luxo de
comer. Eu poderia me dar ao luxo de dormir.
O que eu não podia era ter voltado para a África do Sul. O que eu não
podia era arriscar ser encontrada por Devrin antes que eu tivesse todo o
dinheiro que precisava. E é aí que entra Reno. Ajudando uma modelo fugitiva a
resolver toda a minha merda. Ninguém pode resistir a uma pobre menina russa,
sem ninguém para cuidar dela. Todo homem quer se sentir como um grande
protetor. Eu não precisava de um herói. Eu precisava de dinheiro. Eu precisava
de alguém com ligações. Eu ainda tive que esperar um longo tempo para que o
passaporte que eu tinha feito no nome da minha irmã ficasse pronto. Mas pelo
menos ela seria capaz de viajar se ela quisesse, e este mesmo passaporte me
trouxe com segurança de volta aqui. Reno tinha algumas boas ligações malucas.
— Quando que ele vai voltar? — eu fiquei quieta por muito tempo. Eu
estou tentando soar confiante, mas minha coragem está falhando rápido. Estou
lutando para manter os ombros em linha reta. Demitri me assusta pra caralho.
— Em breve. — Demitri se vira para a escada e Christina está de pé ali,
parecendo linda como sempre em um vestido branco. Meus olhos dão uma
rápida conferida nela - orelhas e dedos, ainda estão por lá, pelo pouco que posso
ver. Não consigo ver direito de onde estou. Não há cicatrizes, contusões, isso é
bom. Eles foram cuidadosos com ela. Ela dá um passo para frente, seus olhos
arregalados. Eu sinto uma pitada aguda no meu pescoço. Merda! Filho da puta!
De novo não. E então tudo fica preto.
Quando eu acordo mais tarde, minha garganta está seca. Eu engulo seco e
sinto o pano da mordaça na minha boca. Eu sei que é uma mordaça, porque eu
já passei por essa merda algumas vezes. Abro os olhos devagar, com medo do
que vou ver. Uma vez que eu olho ao meu redor, desejo que eu ainda estivesse
drogada e desmaiada. Estou no quarto de Demitri. Eu o conheço como a palma
da minha mão. Eu sei de onde é este teto com o lustre de cristal, tanto quanto eu
sei como me chamo. Eu já tive que olhar para ele deste ângulo muitas vezes
antes.
Eu puxo as cordas que estão segurando os meus braços e levanto a
cabeça, tanto quanto eu posso, pois estou amarrada estendida na cama. Filho da
puta, eu estou nua. Eu vou matar aquele filho da puta quando eu estiver livre
dessas malditas amarras!
Uma sensação afiada começa na parte inferior do meu pé. Eu tento puxá-
lo para longe, mas meu pé só se move alguns centímetros antes das cordas
cortarem meu tornozelo. Eu não vou olhar para ele. Eu joguei este jogo sádico
muitas vezes com ele para dar-lhe esse tipo de satisfação. A picada é substituída
por calor, e aumenta lentamente para uma queimadura de corte. Eu mordo a
mordaça de pano para me impedir de gritar. Eu não vou deixá-lo vencer.
Devrin voltará para casa em breve e interromperá essa loucura. Eu só
preciso esperar até que ele chegue. A queimadura finalmente para. O cheiro
fraco de carne queimada paira no ar. Então ele começa no meu outro pé,
primeiro com a faca. Linhas finas e rasas para cima e para baixo, do calcanhar
aos dedos dos pés. Ele não corta profundo, apenas profundo o suficiente para
picar.
Em seguida, o isqueiro, até que as lágrimas formam atrás de minhas
pálpebras bem fechadas. Eu não vou ser capaz de andar por um tempo. E fugir
está fora de questão. Doente, bastardo doente! Talvez ele tenha sido abusado
quando criança, talvez seja sobre isso a cicatriz na cabeça dele. Tentei perguntar
a ele sobre isso uma vez, mas ele se fechou para mim. Eu o vi embrulhar o
pensamento em uma pequena caixa e colocá-la longe, muito longe. Ou talvez ele
seja apenas um monstro. Eu não acho que Devrin transformou Demitri neste
homem doente, deturpado, aos meus pés.
Algo molhado e quente está na minha perna. A língua dele. Eu preferiria
que ele continuasse me queimando, me machucando. Eu não quero isso. Eu
vacilo quando ele beija suavemente o interior da minha coxa. — Não, Demitri. —
eu imploro, mas a mordaça me abafa, e tudo o que sai é um gemido horrível. Eu
balanço a cabeça de um lado para o outro. Eu começo a soluçar.
— Não há necessidade de chorar, sereia. — ele começa a beijar mais para
cima. Demitri me chama de sereia porque ele afirma que eu entrei em seu
mundo fingindo ser outra coisa, apenas para atraí-lo para a sua morte. Eu não
fiz nada de propósito, e agora eu tenho que pagar por isso. Ele mudou a partir
do dia em que ele me viu com Devrin. Não foi minha culpa! Por que ele não me
ouviu? Devrin era o inimigo, não eu!
A respiração de Demitri está sobre o meu corpo nu, perigosamente perto
do lugar que eu não quero que ele toque novamente, nunca mais. Eu quase
engasgo com os soluços presos em minha garganta.
O telefone de Demitri toca, e ele amaldiçoa em voz alta antes de
responder. — O quê? — ele late, e meu coração acelera no meu peito. Por favor,
saia, só por um minuto. Por favor, deixe que eu coloque minha cabeça no
lugar. — Eu estarei lá. — diz ele. Eu cedo na cama me sentindo aliviada.
— Eu te vejo mais tarde, doce sereia. — ele agarra meu peito e aperta com
força. Ele quer que eu olhe para ele. Eu não vou. Tomo a dor, respirando através
dela com respirações rasas e curtas. É melhor do que ter a sua boca em mim. Ou
encarar aqueles olhos azuis mortos, que uma vez me prometeu o mundo, apenas
para destruir a minha vida com o seu próximo piscar.
Eu não abro meus olhos até que eu ouço a porta do quarto se fechar logo
atrás. A pesada fechadura a tranca. Como se eu pudesse sair dessas amarras.
É por isso que eu transferi todo o dinheiro para a minha conta bancária
no meu nome real.
Não porque eu sou estúpida ou porque eu não sabia o que eu estava
fazendo. Eu sabia exatamente o que ia acontecer quando Runner rastreasse o
seu dinheiro. Eu fiz isso para caso fosse preciso Runner me encontrar. Caso isso
acontecesse e eu não pudesse sair. Eu fiz isso porque eu poderia falhar. Bem, eu
falhei.
Agora tudo que eu posso fazer é esperar que ele faça jus à sua reputação e
faça exatamente isso.
ENCONTRE-ME.
Fim