UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ)
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS (CCJE)
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS (FACC)
CURSO DE BIBLIOTECONOMIA E GESTÃO DE UNIDADE DE INFORMAÇÃO (CBG)
ANA LUÍSA DE OLIVEIRA COUTINHO
A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA DO BIBLIOTECÁRIO ATRAVÉS DA LINGUAGEM
CINEMATOGRÁFICA
Rio de Janeiro
2016
ANA LUÍSA DE OLIVEIRA COUTINHO
A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA DO BIBLIOTECÁRIO ATRAVÉS DA
LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Curso de Biblioteconomia e Gestão de
Unidades de Informação da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, como requisito
parcial à obtenção do título de bacharel em
Biblioteconomia.
Orientador: Prof. M.e Robson Santos Costa
Rio de Janeiro
2016
Ficha catalográfica
C871c Coutinho, Ana Luísa
A construção da memória do bibliotecário através da
linguagem cinematográfica / Ana Luísa Coutinho - Rio
de Janeiro, 2016.
59 f.
Orientador: Prof. M.e. Robson Santos Costa.
Monografia (Curso de Biblioteconomia e Gestão de
Unidade de Informação) – Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ).
1. Memória. 2. Profissional bibliotecário.
3. Estereótipos. 4. Linguagem cinematográfica. I. Título.
ANA LUÍSA DE OLIVEIRA COUTINHO
A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA DO BIBLIOTECÁRIO ATRAVÉS DA LINGUAGEM
CINEMATOGRÁFICA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Curso de Biblioteconomia e Gestão de
Unidades de Informação da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, como requisito
parcial à obtenção do título de bacharel em
Biblioteconomia.
Rio de Janeiro, 09 de Março de 2016.
__________________________________________
Prof. M.e Robson Santos Costa
Orientador
__________________________________________
Profa. Me. Maria José Veloso da Costa Santos
Membro interno
__________________________________________
Profa. Dra. Ana Maria Senna
Membro interno
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Maria Angélica e Ozenildo, pelo amor, incentivo е apoio
incondicional. Sem sua luta e garra, nada do que conquistei até hoje seria possível.
À minha irmã, Mariana, que sempre esteve presente, ouvindo e aconselhando nos
momentos de confusão e revolta.
Ao meu namorado, Leonardo. Você me deu confiança quando eu pensava em desistir,
foi forte em meus momentos de fraqueza e comemorou comigo a cada página escrita. Juntos
sempre somos melhores.
Ao meu orientador, Robson, que recebeu minha proposta um pouco crua e
desacreditada com muito carinho e ajudou a transformá-la em um trabalho que me dá orgulho
de ter escrito.
Finalmente, agradeço a todos que, direta e indiretamente, foram responsáveis por essa
conquista tão esperada.
“Num filme o que importa não é a realidade,
mas o que dela possa extrair a imaginação”
(Charles Chaplin).
RESUMO
O cinema é uma das linguagens mais relevantes do século XX e continua a exercer
considerável influência na contemporaneidade. As obras cinematográficas possuem uma
capacidade de atingir diferentes públicos, nas mais diversas esferas sociais. Partindo dessa
hipótese, utilizaremos os conceitos adotados pelo filósofo Mikhail Bakhtin acerca de gêneros
do discurso, polifonia e dialogismo. Compreendemos a linguagem cinematográfica como um
gênero discursivo contemporâneo, o que nos leva a entender o cinema como um instrumento
constituidor de memória e de representações sociais. Deste modo, este trabalho tem o objetivo
de verificar como a memória do bibliotecário é construída na diegese narrativa do cinema.
Observaremos a relação dessas representações com a memória construída acerca desse
profissional pelo cinema, focando na observação de constituição ou não de estereótipos na
profissão de bibliotecário, pois compreendemos os estereótipos como construções sociais
deturpadas, mas próximas de como o meio social e o inconsciente coletivo percebem o outro.
Para atingirmos o objetivo proposto selecionamos três obras cinematográficas, onde
utilizaremos como metodologia a análise de conteúdo proposta por Vannoye e Goliot-Lété,
que consiste em decompor elementos do filme com o intuito de observar as construções de
memória e sentidos advindas do enunciado fílmico. Os filmes selecionados foram: Baladas
em NY, Universidade Monstros e A Múmia.
Palavras-chave: Memória. Profissional bibliotecário. Linguagem cinematográfica.
Estereótipos.
ABSTRACT
Cinema is one of the most important languages of the twentieth century and continues to
exercise considerable influence in the contemporaneity. Cinematographic pieces have an
ability to reach different audiences in different social spheres. Based on this hypothesis, we
will use the concepts adopted by the philosopher Mikhail Bakhtin about discourse genres,
polyphony and dialogism. We comprehend the cinematographic language as a contemporary
discourse genre, which leads us to understand the cinema as an instrument constitutor of
memory and social representations. Thus, this study aims to verify how the memory of
librarians is built into the diegesis of the cinematographic narrative. We observe the
relationship between these representations with the memory built about this professional in
the movies, focusing on the observation of whether or not stereotypes exist in the library
profession, since we understand stereotypes as a misleading social construction, that is
simular to how the social environment and the collective unconscious notice others. To
achieve the proposed objective, three movies were selected.The methodology will consist in
the content analysis proposed by Vannoye and Goliot-lete, by decomposing film elements, in
order to observe the memory constructions and meanings arising from the filmic enunciation.
The selected films were: Party Girl, Monsters University and The Mummy.
Keywords: Memory. Library professional. Cinematographic language. Stereotypes.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1 Cartaz Baladas em NY 26
Ilustração 2 Personagem Entediada 27
Ilustração 3 Personagem Indignada 28
Ilustração 4 Personagem Decidida 29
Ilustração 5 Cartaz Universidade Monstros 31
Ilustração 6 Bibliotecária Pede Silêncio 31
Ilustração 7 Bibliotecária Irritada 32
Ilustração 8 Bibliotecária Furiosa 33
Ilustração 9 Cartaz A Múmia 35
Ilustração 10 Bibliotecária Guardando Livros 36
Ilustração 11 Bibliotecária Desastrada 37
Ilustração 12 Bibliotecária Aventureira 38
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 04
1.1 JUSTIFICATIVA .............................................................................................. 05
1.2 OBJETIVOS ...................................................................................................... 06
1.2.1 Objetivo geral ................................................................................................... 06
1.2.2 Objetivos específicos ......................................................................................... 06
2 REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................... 08
2.1 MEMÓRIA ........................................................................................................ 08
2.2 BIBLIOTECÁRIO ............................................................................................ 10
2.3 ESTEREÓTIPO ................................................................................................. 12
2.4 CINEMA ........................................................................................................... 13
2.5 GÊNEROS DISCURSIVOS ............................................................................. 15
2.6 CINEMA COMO GÊNERO DISCURSIVO .................................................... 19
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................. 22
4 ANÁLISE FÍLMICA ....................................................................................... 25
4.1 BALADAS EM NY .......................................................................................... 26
4.2 UNIVERSIDADE MONSTROS ....................................................................... 30
4.3 A MÚMIA ......................................................................................................... 35
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 40
REFERÊNCIAS ............................................................................................... 45
4
1 INTRODUÇÃO
No final do século XIX a sociedade foi surpreendida com uma maneira revolucionária
de fazer arte: o cinema. A capacidade dessa linguagem de reunir em uma tela, imagem em
movimento e posteriormente o som - incluindo músicas, diálogos, ruídos -, nas mais variadas
estéticas, lhe rendeu o título de sétima arte. Para Costa (2005, p. 17) o cinema “[...] marcou o
início de uma era de predominância da imagem”.
Segundo Oliveira (2006, p. 134) “a vivacidade das imagens e sua reprodutibilidade
facilitaram sua aceitação como pura representação da realidade”. No entanto, o cinema
também possibilitou aos seus adeptos se desvencilhar da rotina de suas realidades e conhecer
outras que, até então, só eram possíveis em seu imaginário.
A atração inicial das pessoas com os filmes estava centrada não no fato deles
serem uma cópia fiel da realidade mas exatamente no fato de não o serem.
Eles espantavam muito mais pelo seu detalhamento do que pelo realismo,
muito mais por criar um mundo mágico, um desconhecido dentro do
reconhecível, do que pela capacidade de duplicar o já visto (MENEZES,
1996, p. 94).
O conteúdo dos filmes abrange infinitas temáticas e gêneros. Nesta pesquisa
pretendemos verificar como os personagens bibliotecários são representados nessa linguagem.
Diante disso, pensamos quem são os bibliotecários e como eles são visto pela sociedade.
Partimos do pressuposto de que os sujeitos sociais constroem suas representações sociais,
incluindo de profissionais de diversas áreas, muitas vezes, por meio de linguagens em que
tenham um acesso fácil.
Televisões, filmes, livros e outros veículos de comunicação contribuem para
esse fenômeno de estereótipos, que podem ser caricatos dependendo da
intenção de potencializar as virtudes ou os defeitos, de forma a conseguir
atrair a atenção das pessoas para os aspectos que se deseja ressaltar
(WALTER; BAPTISTA, 2009, p. 30).
Esta pesquisa verificará tais construções representacionais usando um recurso que, por
conta de sua ampla capacidade de ser difundida, acaba influenciando uma quantidade maior
de opiniões ao redor do mundo, a linguagem cinematográfica. Para Franco (2012, p. 11) “é o
filme, como apropriação individual em larga escala, que viabiliza o cinema como negócio,
consumo social e mídia de massa”.
Ao analisarmos os filmes, buscamos compreender como o profissional bibliotecário é
representado através da linguagem cinematográfica, já que de acordo com Franco (2012, p.
12) “o filme favorece mecanismos psicológicos de projeção/identificação e o cinema, como
5
fenômeno social, favorece mecanismos de pertencimento”. Tal afirmação nos embasa a
verificar como esse processo se relaciona com a construção da memória de profissionais
bibliotecários e se a mesma é permeada por estereótipos, sempre se recordando que
“é essencial que parta dos próprios profissionais em atuação, e dos futuros atuantes, a
valorização da profissão e o combate à ideia errônea de que a função do bibliotecário se
restringe a organizar e emprestar livros em uma biblioteca” (RODRIGUES et al., 2013, p. 93).
Entendendo que é por meio das mais variadas linguagens e narrativas que os homens
constroem sua realidade social, nos perguntamos como o profissional bibliotecário é
representado na linguagem cinematográfica e quais memórias seriam construídas acerca desse
profissional.
O trabalho será composto por duas etapas. Na primeira, faremos uma revisão da
literatura, procurando compreender com mais clareza os conceitos abordados durante a
pesquisa, como memória, estereótipo e a linguagem cinematográfica como um gênero
discursivo. Na segunda fase do trabalho, através da análise de três filmes previamente
selecionados, teremos como objetivo entender como é construída a memória do bibliotecário
através dessa linguagem, identificando também a existência ou não de estereótipos nas
representações cinematográficas do profissional bibliotecário.
1.1 JUSTIFICATIVA
A imagem do bibliotecário é um fator intrigante dessa profissão. É importante
entender que todo profissional se adapta, evolui e muitas vezes se reinventa, adquirindo novas
características que o auxiliarão na execução do seu trabalho. O bibliotecário, por sua vez,
sofreu uma enorme transformação quando passou de um paradigma focado na ideia de
guardião da informação, para um novo paradigma onde uma das maiores preocupações é
disseminar.
No entanto, a memória acerca dessa profissão aparentemente congelou no tempo. Por
isso, é preciso compreender melhor a imagem do bibliotecário. Inclusive, Salgado e Becker
(1998) afirmam que “divulga-se a biblioteca, estuda-se o usuário, dissemina-se a informação.
Isso é fato. Mas não é tão comum [...] estudar-se o bibliotecário, disseminar-se a informação
sobre a profissão”. Uma atualização da imagem não precisa ser construída somente por
gêneros científicos, pelo contrário, pois se partimos de um pressuposto de que somos
construídas pelas mais diversas linguagens, é essencial que tal construção perpasse as mais
variadas linguagens nos mais diversos gêneros. O cinema é uma boa alternativa, já que além
6
de ser uma das linguagens mais relevantes do século XX, formadora de opiniões e valores, é
uma forma de lazer e diversão, minimizando o fator obrigação e imposição, já que as pessoas,
provavelmente, iriam absorver aos poucos a nova imagem do bibliotecário ao assistir os
filmes.
Picolotto (2015) declara que “Curiosidade, entretenimento, diversão, instrumento de
cultura e formação, meio de comunicação social, uma indústria que fatura milhões, o cinema
é, certamente, uma das forças mais poderosas da mídia mundial”. Compreendemos que os
filmes não se tratam apenas de uma forma de lazer e sim de um poderoso meio de
comunicação e, enquanto tal, com capacidade de influência entre as pessoas. Com isso,
notamos alguns filmes que retratavam a profissão e o profissional bibliotecário e como,
frequentemente, os bibliotecários são associados a uma imagem estereotipada. Devido a isso,
consideramos importante que haja estudos que procurem entender essa relação da memória do
bibliotecário com a imagem do profissional que é exibida no cinema.
A relevância desta pesquisa para a área de Biblioteconomia se pauta no fato de que ela
trabalha com uma temática pouco abordada em trabalhos acadêmicos, mas que é altamente
discutida entre os profissionais, a representação do profissional bibliotecário nas obras
cinematográficas. Assim, podemos contribuir com o enrequecimento do tema.
Idealizamos essa pesquisa com o intuito de compartilhar com os profissionais e futuros
profissionais da área, como a memória acerca de nossa profissão é construída através desse
importante e influente meio de comunicação.
1.2 OBJETIVOS
Apresentamos nesse item nossos objetivos gerais e específicos a serem alcançados ao
longo desta pesquisa.
1.2.1 Objetivo geral
Observar como a memória do profissional bibliotecário é construída na linguagem
cinematográfica e se tal construção é permeada por estereótipos.
1.2.2 Objetivos específicos
7
Teremos como objetivos específicos:
a) apresentar um breve histórico da linguagem cinematográfica;
b) conceituar cinema, bibliotecário, memória, gêneros do discurso e estereótipos;
c) compreender o cinema como um gênero discursivo contemporâneo;
d) discutir a relação entre gêneros discursivos e memória;
e) observar e analisar nos filmes Baladas em NY, Universidade Monstros e A Múmia, a
representação do bibliotecário.
8
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Nesta seção, realizaremos uma revisão dos trabalhos existentes que abordem as
temáticas apresentadas ao longo deste trabalho, procurando fundamentar nosso estudo nesse
conhecimento previamente publicado.
2.1 MEMÓRIA
A memória é um elemento imprescindível para compreendermos como representações
são construídas na mídia, uma vez que de acordo com Le Goff (1990, p. 423):
A memória, como propriedade de conservar certas informações, remete-nos
em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o
homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele
representa como passadas.
Conjuntamente a essa afirmação é importante ressaltarmos que “A construção da
memória passa pela ação das forças sociais em constante luta pelo controle e exercício do
poder, e pela determinação do que se quer passar à posteridade como verdade” (FERREIRA,
1995, p. 50). O que nos remete às constantes mudanças de paradigmas existentes na
sociedade.
Tapscott e Caston (1995, p. 22 apud BLATTMANN; RADOS, 2000, p. 46) sustentam
que “[...] a mudança de paradigma é fundamentalmente uma nova maneira de ver alguma
coisa. A mudança de paradigma é frequentemente exigida em função de novos
desenvolvimentos ocorridos em ciência, tecnologia, arte, ou outras áreas de atuação”. O
bibliotecário é uma das profissões mais antigas do mundo e é possível que a construção de
uma memória que remete à ideia do paradigma de guardião do conhecimento tenha se
conservado até os dias de hoje, onde, na verdade, o grande propósito desse profissional se
revelou através da mudança de paradigmas, sendo o novo focado no bibliotecário como
disseminador da informação.
Os valores estão rompidos e o bibliotecário hoje não é o "almoxarife" de
livros e sim o gerente da informação. Indiferente qual o suporte (formato) da
informação, se em papel, eletrônico ou digitalizado, o que importa é saber
organizar, recuperar e disseminar a informação utilizando a flexibilidade e
velocidade que as novas tecnologias da informação possibilitam. Onde o
usuário da informação receba qualidade e evitando a sobrecarrega de
informação que jamais poderá analisá-las com presteza para a tomada de
decisão (BLATTMANN; RADOS, 2000, p. 45).
9
Os estudos de Halbwachs (1990) foram responsáveis por inserir a memória no campo
das interações sociais, estabelecendo que os homens constroem suas memórias a partir das
diversas formas de interação que mantêm com outros indivíduos. Araújo e Santos (2007, p.
97) reforçam tal ideia ao fixarem que “A memória é constituída por indivíduos em interação,
por grupos sociais, sendo as lembranças individuais resultado desse processo”, ou seja,
mesmo que o indivíduo acredite que a memória é algo estritamente pessoal, por conta das
situações que só ele se envolveu ou presenciou, de fato ela é coletiva, pois essas situações
vividas e presenciadas por ele foram resultados de interações sociais.
Pollak (1992) também seguiu essa tendência e acredita que os elementos que
constituem a memória são os acontecimentos vividos pessoalmente conjuntamente aos que
são "vividos por tabela", isto é, que foram vivenciados pelo grupo em que o indivíduo sente
pertencer. “São acontecimentos dos quais a pessoa nem sempre participou mas que, no
imaginário, tomaram tamanho relevo que, no fim das contas, é quase impossível que ela
consiga saber se participou ou não” (POLLAK, 1992, p. 2).
Como apontado por Pollak (1992, p. 2), “A priori, a memória parece ser um fenômeno
individual, algo relativamente íntimo, próprio da pessoa. Mas Maurice Halbwachs [...] já
havia sublinhado que a memória deve ser entendida também, ou sobretudo, como um
fenômeno coletivo [...]”.
Conforme Gondar e Dodebei (2005, p. 7) “O conceito de memória social não pode ser
formulado em moldes clássicos, sob uma forma simples, imóvel, unívoca. [...] se trata de um
conceito complexo, inacabado, em permanente processo de construção”.
Sendo a memória um fenômeno coletivo e social, ou melhor, um fenômeno construído
coletivamente e submetido a mudanças constantes, é importante lembrar que, assim como o
profissional bibliotecário teve que se reinventar para acompanhar às demandas sociais e
tecnológicas, a sua memória também pode acompanhar essas mudanças e ser (re)construída
constantemente.
Construir uma imagem do bibliotecário por meio de linguagens específicas e
representações anteriormente construídas “[...] não é reviver, é refazer, reconstruir, repensar,
com imagens e idéias de hoje, as experiências do passado” (BOSI, 1994, p. 55), uma vez que
a construção de memória ocorre sempre no momento presente, mesmo que ela traga vozes do
passado, sua elaboração, seus sentimentos e sentidos se dão no momento atual. Porém, é
necessário enfatizar que conforme Pollak (1992, p. 2), “Se destacamos essa característica
flutuante, mutável, da memória, tanto individual quanto coletiva, devemos lembrar também
que na maioria das memórias existem marcos ou pontos relativamente invariantes, imutáveis”.
10
Outros estudos de Pollak revelam diferentes perspectivas acerca da construção da
memória, como por exemplo:
É perfeitamente possível que, por meio da socialização política, ou da
socialização histórica, ocorra um fenômeno de projeção ou de identificação
com determinado passado, tão forte que podemos falar numa memória quase
que herdada. [...] podem existir acontecimentos regionais que traumatizaram
tanto, marcaram tanto uma região ou um grupo, que sua memória pode ser
transmitida ao longo dos séculos com altíssimo grau de identificação
(POLLAK, 1992, p. 2).
Dessa forma, podemos observar a complexidade do processo de construção da
memória social, seja de uma memória nacional, política ou de grupos específicos, onde
podemos incluir categorias profissionais como a dos bibliotecários.
2.2 BIBLIOTECÁRIO
Targino (2001, p. 61) sublinha que “[...] a biblioteca é e sempre foi a instituição social
que compete exercer as funções de preservação e disseminação das informações e, por
conseguinte, o bibliotecário, o profissional encarregado da concretização de tais objetivos”.
Há tempos o homem se preocupa em registrar o conhecimento, seja em tábuas de
argila, papiros, papéis ou computadores, para uso privado, público, sendo fortemente
guardado ou altamente difundido. Por conta disso, surgiu uma das profissões mais antigas da
história: o bibliotecário. “Ao pensarmos na história das profissões, acreditamos que a
Biblioteconomia seja uma das mais antigas, na medida em que sempre houve alguém
responsável (geralmente homens) pela guarda e organização de informação” (CHARTIER;
HÉBRARD apud CASTRO, 2000, p. 5).
Ao longo dos anos, as funções do profissional da informação foram mudando,
evoluindo, aperfeiçoando e se reinventando. É possível buscar no dicionário de
Biblioteconomia o significado de bibliotecário. Lá, encontraremos as seguintes definições:
Profissional que tem a seu cargo a direção, conservação, organização e
funcionamento de bibliotecas. 2. Profissional que: a) desempenha funções
técnicas ou administrativas em bibliotecas; b) lida com documentos de todos
os tipos (p.ex.: livros, periódicos, relatórios, materiais não-impressos) com
base na especificação de seu conteúdo temático e a serviço de uma variedade
de usuários, desde crianças até cientistas e pesquisadores [...] (CUNHA;
CAVALCANTI, 2008, p. 53).
Porém, a função do bibliotecário é, ademais, de uma maior amplitude. O seu papel
social exige de sua profissão características que vão além da capacidade de gestão de uma
biblioteca. Esse papel é evidenciado por Mey, et al (2011, p. 1) ao informar que “Cabe ao
11
bibliotecário manter-se atualizado quanto à cultura, à sociedade de modo geral e à
comunidade em particular, de modo a promover a cidadania, a ética e a cultura da paz”.
Muitas competências profissionais e pessoais são necessárias para que o
profissional da informação atue com eficiência na contemporaneidade. A
criatividade, por exemplo, é um dos atributos indispensáveis ao profissional
da informação, uma vez que o mesmo deverá se alicerçar na originalidade,
criticidade, flexibilidade e sensibilidade, para buscar novas soluções para
enfrentar velhos problemas (TARGINO apud SILVA, M; SILVA, J;
ROCHA, 2013, p. 104).
Com o rápido avanço das tecnologias e, consequentemente, o surgimento de inovações
constantes, o profissional da informação percebeu a necessidade de se atualizar com a mesma
frequência. De acordo com Rodrigues et al (2013, p. 86) “[...] a exigência de profissionais
com características diferenciadas, inovadoras e dinâmicas, capacitados para executar, de
maneira rápida e eficiente, a organização e a disseminação da informação, é cada vez maior”.
Os autores afirmam que as atribuições do profissional bibliotecário são variadas e, além disso,
constantemente atualizadas, o que faz com que os bibliotecários tenham que adequar-se aos
novos tempos, substituindo o paradigma de biblioteca centrada na disponibilidade, utilizando-
se de parâmetros como o tamanho da coleção, por um novo paradigma focado na
acessibilidade em que prevalece a conexão em rede virtual.
Fonseca (1973) se aventurou a escrever uma receita de bibliotecário, tendo como um
de seus ingredientes mais importantes a cultura. O autor parafrasea Vinícius de Moraes, cuja
“Receita de Mulher” se inicia com a seguinte afirmação: "As muito feias que me perdoem,
mas beleza é fundamental". Ao associar essa afirmação com o universo do profissional
bibliotecário, a frase de Fonseca se torna: “Os bibliotecários mais ignorantes que me perdoem,
mas cultura é fundamental”. O autor acredita que a cultura é um fator essecial para exercer a
profissão e pode ser adquirido em qualquer idade, tanto nos cursos regulares como
autodidaticamente.
Finalmente, é importante que o bibliotecário esteja envolvido na realidade em que se
encontra, buscando “[...] por meio da facilitação do acesso à informação, possibilitar que os
sujeitos que buscam a informação emirjam na realidade na qual se encontram como forma de
transformar a realidade ao seu redor” (MORAES; LUCAS, 2012, p. 117). Ou seja, o
profissional que possui aptidão para atividades de cunho social, tem a capacidade de
transformar o cenário em que atua, ao identificar a necessidade de informação e conhecimento
em sua comunidade e disseminá-la, entendendo a importância da biblioteca na construção de
uma sociedade.
12
2.3 ESTEREÓTIPO
Possivelmente, podemos afirmar que os estereótipos estão inseridos nas mais diversas
sociedades desde tempos longinquos. Santos e Mannes (2009) concatenam essa afirmação
com sua pesquisa, indagando que há muito tempo a humanidade rotula e classifica os
semelhantes. O início desse modus operandi é impreciso, porém, sua existência é percebida
desde que as funções sociais surgiram. Os autores definem os estereótipos como “[...] uma
visão aparentemente deturpada da realidade, mas próxima de como o meio social e o
inconsciente coletivo percebiam o outro” (SANTOS; MANNES, 2009, p. 130), isto é, de
como uma memória sobre o “outro” é construída e permanece no coletivo.
O estereótipo é um conceito relevante para o nosso trabalho, visto que o mesmo está
diretamente relacionado à forma como os sujeitos sociais constroem representações sociais
acerca de profissões, etnias, sexualidades, gêneros, etc. Walter e Baptista (2007, p. 27)
declaram que “Os estereótipos costumam ser associados a conceitos negativos manifestados
quando é emitido julgamento acerca de algum tema, de uma determinada pessoa, de um
grupo, ou mesmo relacionado a ações”.
Sendo uma categoria profissional, o bibliotecário não foge à regra e também possui
construções estereotipadas acerca de seu trabalho e de seu modo de ser.
É muito interessante como o aspecto visual e comportamental dos
bibliotecários realmente permeia o imaginário popular, associando a
profissão a mulheres, em geral idosas e, especialmente, com dois adereços
principais, como uma espécie de marca registrada, que são os indefectíveis
óculos e o famigerado coque nos cabelos, além de uma postura geralmente
antagônica e pouco receptiva para os usuários, provavelmente em gesto que
indique um enfático pedido de silêncio (WALTER; BAPTISTA, 2009, p.
30).
Não existe dúvida de que alguns estereótipos não condizem com a realidade, porém, a
visão de Grogan (2001) nos permite obter uma nova perspectiva desse fenômeno, atribuindo
um pouco da responsabilidade sobre a existência desses julgamentos aos próprios
bibliotecários.
Se, para o público em geral, a bibliotecária é uma ‘velhota rabugenta,
assexuada, míope e reprimida’, para usar as palavras de Penny Cowell,
‘cercada por um rol de avisos que proíbem praticamente qualquer atividade
humana’, não seria insensato supor que, como acontece com muitos desses
estereótipos, essa imagem haja tido um dia um grão de verdade e devesse
sua perpetuação até hoje à memória popular (GROGAN, 2001, p. 12).
13
O estereótipo é um fenômeno que ganha força à medida que é cada vez mais
difundido, porém, não é definitivo. Nesse contexto, cabe ao bibliotecário mostrar sua
evolução, não só como profissional, se adequando às novas tecnologias e demandas, mas
também como ser humano, individual, que possui suas próprias características baseadas em
sua personalidade e não em sua profissão.
Um dos objetivos desse trabalho é identificar a existência de estereótipos acerca da
imagem do profissional bibliotecário que é difundida através das películas cinematográficas,
que por sua vez, são um veículo de informações onde “A utilização e o poder do estereótipo
são muito mais amplos do que se pode imaginar, sobretudo por sua homogeneidade com os
mitos modernos” (DINIZ, 2000, p. 139). A autora também afirma que o estereótipo é
“[...] empregado pelos diferentes meios de Comunicação de Massa, muitas vezes, numa
enunciação passional revestida por figuras que resgatam antigos valores ou impõem outros, o
estereótipo adquire status de mito e sua utilização revalida valores da cultura (ideologia)”.
2.4 CINEMA
“Pudemos assistir ao nascimento de uma arte porque ela não surgiu sobre um terreno
virgem e sem cultura: assimilou rapidamente elementos provenientes de todo o saber humano.
A grandeza do cinema consiste em ser [...] uma síntese de várias outras artes” (SADOUL,
1963, p. 7).
De fato, antes de conhecermos o cinema como atualmente, já era possível observar
diferentes formas de projetar imagens e encantar multidões.
Os filmes são uma continuação na tradição das projeções de lanterna mágica,
nas quais, já desde o século XVII, um apresentador mostrava ao público
imagens coloridas projetadas numa tela, através do foco de luz gerado pela
chama de querosene, com acompanhamento de vozes, música e efeitos
sonoros (MASCARELLO, 2006, p. 18).
O cinema tem sua criação atribuída a diferentes nomes e datas. Para Machado (2005,
p. 7) “[...] os irmãos Louis e Auguste Lumière fizeram projetar, uma coleção de imagens
fotográficas animadas e essa projeção foi considerada, por grande parte dos historiadores, a
primeira exibição pública de cinema e, por extensão, o marco de nascimento dessa arte”. No
entanto, Machado (2005, p. 7) também lembra que “os irmãos Max e Emile Skladanowsky na
Alemanha e Jean Acme Leroy nos Estados Unidos já promoviam projeções públicas de
cinema (inclusive sessões pagas) muito antes dos primeiros espectadores dos Lumière [...]”.
Sem contar o quinetoscópio de Tomas Edison, “uma espécie de cinematógrafo em versão
14
individual [...] que já existia pelo menos dois anos antes da mitológica primeira sessão
parisiense” (MACHADO, 2005, p. 7)
O cinema pode ser visto como um dispositivo de representação, com seus
mecanismos e sua organização dos espaços e dos papéis. Existem analogias
com o dispositivo de representação da pintura, por um lado, e do teatro, por
outro, mas também com suas características peculiares devidas à dinâmica
de produção da imagem (a câmera, a tela em que é projetada etc.) (COSTA,
2003, p. 26).
O cinema possui características que o torna relevante para nossa pesquisa. Para Costa
(2003, p. 27) “O cinema é uma linguagem com suas regras e suas convenções. É uma
linguagem que tem parentesco com a literatura, possuindo em comum o uso da palavra das
personagens e a finalidade de contar histórias”. Isto é, o cinema possui uma linguagem com
características próprias e também oriundas de diversas outras. Próprias quando consideramos
uma característica em especial que a distingue de qualquer outra: a imagem em movimento
geralmente contando uma narrativa. Diversa, pois tem a capacidade de unir muitas outras
formas de comunicação em uma única tela, como por exemplo, o som – ou até mesmo a falta
dele - a fotografia, a escrita, a pintura, etc. Dessa forma, o cinema é capaz de criar infinitos
diálogos e, com isso, uma comunicação, seja entre os personagens do filme, ou com seus
espectadores.
Para Oliveira e Colombo (2014), “De fato, o cinema é uma linguagem da arte, e ela
nunca aparecerá por si só, mas estará vinculada em todos os sentidos a outros sistemas de
significações, que são culturais, sociais, perceptivos, estilísticos”. Além do que, Costa (2003,
p. 29) afirma que “O cinema é aquilo que se decide que ele seja numa sociedade, num
determinado período histórico, num certo estágio de seu desenvolvimento, numa determinada
conjuntura político-cultural ou num determinado grupo social”. Para nosso estudo, o cinema é
um importante meio de comunicação, com capacidade de influenciar a formar opiniões,
inclusive participar na construção de memória.
O padrão de organização de imagens e sons criados pela linguagem
cinematográfica tem, desde então, influenciado nossas maneiras de conceber
e representar o mundo, nossa subjetividade, nosso modo de vivenciar nossas
experiências, de armazenar conhecimento, e de transmitir informações
(COSTA, 2005, p. 17).
Esse fenômeno ocorre, muito provavelmente, pois o cinema é, ainda hoje, uma arte
acessível. “O cinema impõe-se, com efeito, como a única arte popular numa época em que o
próprio teatro, arte social por excelência, não toca senão uma minoria privilegiada da cultura
ou do dinheiro” (BAZIN, 1991, p. 84).
15
O cinema possui uma importante característica que o torna único, o distinguindo dos
demais meios de expressão cultural e, mais importante que isso, mantendo-o atrativo. É o
“[...] poder excepcional que lhe advém do facto de a sua linguagem funcionar a partir da
reprodução fotográfica da realidade. Com efeito, com ele, são os próprios seres e as próprias
coisas que aparecem e falam, dirigem-se aos sentidos e falam à imaginação [...]” (MARTIN,
2005, p. 24).
Martin (2005, p. 31) também evidencia que:
O cinema é intensidade, intimidade e ubiquidade: intensidade porque a
imagem fílmica, particularmente, o grande plano, tem uma força quase
mágica porque dá uma visão absolutamente específica do real e porque a
música, pelo seu papel ao mesmo tempo sensorial e lírico, reforça o poder de
penetração da imagem, intimidade porque a imagem (ainda devido ao grande
plano) faz-nos literalmente penetrar nos seres (por intermédio dos rostos,
livros abertos das almas) e nas coisas; ubiquidade porque o cinema
transporta-nos livremente através do tempo e do espaço, porque densifica o
tempo (tudo parece mais longo na tela) e sobretudo porque recria a própria
duração, permitindo ao filme aderir, sem choque, à nossa corrente de
consciência pessoal.
Tais particularidades evidenciam como o cinema continua sendo uma linguagem
relevante, uma vez que possui tantos atributos inerentes ao ser humano e sua forma de se
comunicar, principalmente com aos avanços tecnológicos, que aproximam cada vez mais - de
uma forma quase literal às vezes - o filme e seu expectador.
2.5 GÊNEROS DISCURSIVOS
O gênero discursivo se tornou o objeto de estudo de diferentes autores. Para
Marchuschi (2002, p. 22) é “[...] uma noção propositalmente vaga para referir os textos
materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-
comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição
característica”.
O assunto também se tornou do interesse de Maingueneau (2001, p. 65) que afirma
que “Os gêneros do discurso não podem ser considerados como formas que se encontram à
disposição do locutor a fim de que este molde seu enunciado nessas formas. Trata-se, na
realidade, de atividades sociais que, por isso mesmo, são submetidas a um critério de êxito”.
Os gêneros discursivos podem ser vistos como ferramentas importantes no campo da
relação entre linguagem e sociedade, uma vez que, para estabelecer relações sociais, o ser
humano precisa se comunicar. Entendendo que “[...] o ser humano se constitui
discursivamente e para tal a linguagem é elemento fundamental” e que “[...] é pela linguagem
16
que os grupos humanos constroem os contextos sociais, estabelecendo relações afetivas,
comerciais, informacionais” (FERREIRA; ORRICO apud COSTA; ORRICO, 2009),
podemos dizer que os gêneros são imprescindíveis para tais construções.
Desde os primórdios a comunicação é uma ferramenta de grande importância para o
ser humano. As formas de se comunicar incluem diferentes modalidades que vão desde a
escrita, passando pelos sinais, até a fala, estilo predominante de interação entre os indivíduos.
Para entendermos o processo discursivo, abordaremos três conceitos importantes:
enunciado, polifonia e dialogismo. Para isso, utilizaremos essencialmente os conceitos
perpetuados pelo filósofo e pensador russo Mikhail Bakhtin.
O autor trabalha com o conceito de esferas para designar as diferentes e variadas
formas de atividade humana, que estão sempre relacionadas com a utilização da língua.
Segundo Bakhtin, compreende-se o enunciado como a unidade da comunicação verbal.
Quando falamos em gênero, podemos dizer que ele é construído através de sequências
estáveis de enunciados, com características orais, escritas e/ou imagéticas específicas. Os
enunciados são concretos, únicos e produzidos por integrantes de diferentes esferas. Bakhtin
“[...] insiste no caráter social dos fatos de linguagem, considera o enunciado como o produto
da interação social, sendo que cada palavra é definida como produto de trocas sociais, em um
dado contexto que constitui as condições de vida de uma dada comunidade linguística”
(DIAS, et al, 2011, p. 145).
Bakhtin compreende o enunciado como a unidade da comunicação verbal
que tem como uma de suas principais características demandar uma atitude
responsiva, ou seja, uma resposta, por parte do sujeito a quem o enunciado
foi dirigido e que “perceberá” seu momento de responder de acordo com o
que Bakhtin denominou de acabamento específico. Além disso, o enunciado
seria dirigido especificamente para determinado sujeito – ou grupo de
sujeitos – com um propósito pré-definido (COSTA, 2007, p. 65)
Bakhtin (1997, p. 279) afirma que “O enunciado reflete as condições específicas e as
finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo
verbal [...] mas também, e sobretudo, por sua construção composicional”.
De acordo com Dias, et al (2011) o conteúdo temático pode ser compreendido como o
objeto do discurso. Já o estilo, nos remete a questões específicas de seleção e opção:
vocabulário, estruturas frasais, preferências gramaticais. Enquanto a construção composicional
está associada à estrutura formal.
Notamos que a memória é importante para o processo de enunciação entre os sujeitos,
estando intrínseco nos diversos diálogos que são proferidos durante a comunicação, o que nos
remete aos conceitos de polifonia e dialogismo.
17
Para Bakhtin (2005, p. 86) “O pensamento humano só se torna pensamento autêntico
[...] sob as condições de um contato vivo com o pensamento dos outros [...] na consciência
dos outros expressa na palavra”. Ou seja, o enunciado produzido por um indivíduo, possui em
sua constituição o que Bakhtin compreende como “vozes”, algo como a ação da memória no
processo de construção enunciativa. Quer dizer, ao ser proferido, o enunciado estaria
composto dos diversos enunciados anteriormente emitidos, e que por sua vez, conteriam as
vozes de tantos outros produzidos nos mais diversos contextos de interação social. Com isso,
os enunciados que formam o processo discursivo, estarão “[...] repletos de palavras dos
outros, caracterizadas [...] pela alteridade ou pela assimilação, caracterizadas, também em
graus variáveis, por um emprego consciente e decalcado” (BAKHTIN, 1997, p. 314).
Essas diferentes e diversas vozes de outros serão a “base” que o sujeito
utiliza para elaboração de enunciados proferidos no presente. Essas vozes
serão retomadas e reestruturadas de acordo com o contexto do atual processo
comunicativo em consonância às intenções do sujeito enunciador. Essa “base
de vozes” do qual o sujeito dispõe ao produzir um enunciado pode ser
compreendida como sua memória discursiva, seu repositório memorialístico
de discursos proferidos por outros (COSTA, 2007, p. 63).
Bakhtin intitula as vozes presentes nos enunciados de polifonia, entendendo que “[...]
é parte essencial de toda enunciação, já que em um mesmo texto ocorrem diferentes vozes que
se expressam, e que todo discurso é formado por diversos discursos” (PIRES; TAMANINI-
ADAMES, 2010, p. 66).
No entanto, existem conflitos entre essas vozes sociais, elas não rumam a um mesmo
ponto de vista harmonioso. “[...] o objeto está mergulhado em valores, crenças, descrições e
definições, o que faz com que o falante se depare com múltiplos caminhos e vozes, que se
tecem ao redor desse [...] (SCORSOLINI-COMIN; SANTOS, 2010, p. 749). Bakhtin
denomina esse diálogo com diversos pontos de vista diferenciados entre as vozes como
dialogismo.
Esses três conceitos definidos por Bakhtin estão intimamente ligados ao conceito de
gêneros discursivos. Observamos como o enunciado é construído e sua importância na
interação social, além de como a polifonia e o dialogismo complementam a sua construção ao
retomar outros enunciados e o confronto entre as vozes que o integram, contando com o papel
importante da memória nessa construção enunciativa.
Bakhtin compreendeu que para determinado enunciado atingir de modo
eficaz o sujeito a quem ele é dirigido seria necessário que todo enunciado
seguisse determinadas “regras”, ou melhor, formatos específicos para que o
processo enunciativo acontecesse de forma satisfatória. Esses diferentes
formatos a que os enunciados pertenceriam e que seriam essenciais para uma
18
comunicação satisfatória entre os sujeitos seriam os gêneros discursivos
(COSTA, 2007, p. 65).
“A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade virtual
da atividade humana é inesgotável [...]” (BAKHTIN, 1997, p. 279). As esferas citadas pelo
autor em seus estudos são inúmeras, além de estarem sempre se desenvolvendo e mudando.
O contexto social no qual vivemos seria muito amplo no que concerne à
comunicação verbal presente em seu meio; a sociedade seria dividia por
diferentes esferas sociais que podem ser também divididas em esferas
cotidianas com os mais variados tipos de enunciado científicos, religiosos,
acadêmicos literários, jornalísticos, etc., ou seja, cada esfera demanda um
tipo específico de enunciados para a comunicação satisfatória do grupo que a
compõe (COSTA, 2007, p. 65).
Com isso, percebemos que a formação dos diferentes gêneros discursivos está
relacionada com as inúmeras ações e interações humanas que, ao se enraizarem no cotidiano,
configuram a cada gênero, uma função previamente definida, exercendo uma finalidade
discursiva singular em relação à esfera social que deseja atingir.
Bahktin (1997, p. 281) afirma a existência de diferentes esferas sociais que
proporcionam uma heterogeneidade de gêneros do discurso, o que nos leva a uma “[...]
conseqüente dificuldade quando se trata de definir o caráter genérico do enunciado”.
Culminando em níveis distintos de complexidade nos gêneros discursivos.
Por conta da existência desses diversos níveis de complexidade, Bakhtin determinou
que para uma melhor compreensão dos gêneros, se tornaria necessário seguir uma
classificação, onde cada gênero e suas caracteísticas se encaixassem melhor. Pensando nisso,
os gêneros foram divididos em primários e secundários.
Os gêneros primários são considerados os gêneros simples, que segundo Signor (2009,
p. 4) “[...] aludem a situações comunicativas cotidianas, espontâneas, não elaboradas,
informais, que sugerem uma comunicação imediata”. Podemos citar como alguns exemplos
de gêneros primários: diálogos entre indivíduos, cartas, bilhetes, ou como afirma Bakhtin
(1997, p. 281) “[...] que se constituíram em circunstâncias de uma comunicação verbal
espontânea”.
Em contrapartida, os gêneros secundários são classificados como complexos.
“[...] surgem nas condições da comunicação cultural mais “complexa”, no âmbito das
ideologias formalizadas e especializadas, que, uma vez constituídas, “medeiam” as interações
sociais: na comunicação artística, científica, religiosa, jornalística etc” (RODRIGUES, 2004,
p. 427). Bakhtin cita como exemplos de gêneros discursivos secundários os romances, o
teatro, discursos científicos e ideológicos, que por sua vez, “[...] aparecem em circunstâncias
19
de uma comunicação cultural, mais complexa e relativamente mais evoluída” (BAKHTIN,
1997, p. 281).
Para Costa (2007, p. 67) “Uma das principais características presentes nos gêneros
secundários do discurso seria o seu caráter de se constituir de gêneros primários no que tange
ao momento de sua concepção”. Unindo-se a um gênero secundário, o gênero primário se
transforma, acarretando, em conseqüência disto, na perda de “[...] sua relação imediata com a
realidade existente e com a realidade dos enunciados alheios [...]” (BAKHTIN, 1997, p. 281).
Dessa forma, o gênero primário passa fazer parte da realidade enunciativa do gênero
secundário.
Esse fenômeno é exemplificado por Signor (2009, p. 5) ao afirmar que “Um diálogo
cotidiano relatado em um romance perde seu caráter imediato e passa a incorporar em sua
forma as características do universo narrativo – complexo – que lhe deu origem”, ou seja, o
diálogo se torna um acontecimento literário, deixando de ser uma situação cotidiana.
Finalmente, é possível afirmar que os conceitos de enunciado, polifonia e dialogismo
“[...] são apresentados de uma perspectiva social de onde podemos observar a importância da
memória no processo comunicacional humano, já que, sem ela, não haveria processo de
produção discursiva, visto que falamos somente por intermédio do que já foi dito” (COSTA,
2007, p. 70).
Dessa forma, é possível avançar para a próxima etapa de nosso trabalho onde
entenderemos a linguagem cinematográfica como um gênero discurso a partir da perspectiva
Bakhtiniana.
2.6 CINEMA COMO GÊNERO DISCURSIVO
Segundo Costa (2007) é importante ao trabalharmos com um enunciado, definirmos a
que gênero discursivo e esfera social ele se vincula. Os filmes cinematográficos que serão
trabalhados nessa pesquisa podem ser entendidos como enunciados que contam com uma
atitude responsiva ativa, gerando uma resposta, além de, pela polifonia e o dialogismo,
apresentarem vozes de diversos outros enunciados.
Podemos considerar o cinema como uma arte de grande heterogeneidade expressiva,
por conta da quantidade de combinações possíveis encontradas nas produções.
[...] seja de ordem semântica - aqui levando em consideração a evolução do
cinema e de sua significação no tempo e no espaço-, ou sintática -
relacionando o cinema às suas diversas formas de comunicar, informar e
20
discutir determinado tema de acordo com a disposição de seus elementos
(GONÇALVES; ROCHA, 2011, p. 2).
Para Gonçalves e Rocha (2011) os diversos modelos cinéticos geram vários gêneros,
escrituras e narrativas que influenciam e são influenciados por um contexto, ou seja, uma
enunciação que está relacionada ao momento da produção, a conjuntura sócio-histórica da
obra, assim como todos os responsáveis por ela, seja quem a está produzindo ou o próprio
espectador. “O gênero cinematográfico, da mesma maneira como antes dele o gênero literário,
também é permeável às tensões históricas e sociais” (STAM, 2003, p. 29).
Dessa forma, a linguagem cinematográfica é considerada como uma das possibilidades
de representação da realidade, de manifestação das noções de universo, das maneiras de
enxergar o mundo e, portanto, uma forma de interação entre indivíduos, um gênero de
representação e de construção de memória.
De acordo com a teoria bakhtiniana de gênero é possível considerar o cinema como
um tipo de discurso, em que diferentes gêneros se relacionam, isto é, podemos considerá-lo
um gênero complexo ou secundário, também formado pela relação de gêneros primários “[...]
que transformam-se e adquirem uma característica particular: perdem sua relação imediata
com a realidade existente e com a realidade dos enunciados alheios” (BAKHTIN, 1997, p.
281).
Para Gonçalves e Rocha (2011, p. 2) “Os sistemas cinéticos que compõem o filme são
mistos de uma variedade de peças discursivas que se unem formando um jogo significante de
representações da realidade”. As autoras afirmam que cada uma dessas peças têm em sua
composição um significado e são produzidas de acordo com as vozes existentes no interior de
seus criadores, reafirmando o pensamento de Bakhtin (1997, p. 340) de que “[...] na obra
literária (como em todas as artes), tudo, até mesmo as coisas mais inertes (correlacionadas
com o homem), é marcado de subjetividade”.
São múltiplas vozes responsáveis por dar aos closes, planos, luzes e sombras
o significado necessário para uma compreensão fílmica. Essa polifonia
existe, nesse caso, não só com relação ao contexto de produção da obra, mas
também no contexto de vida de seu autor, que traz consigo, de forma
involuntária ou intencional, uma avalanche de conceitos, ideais, posturas,
olhares. O filme em si é um objeto produto da criação ideológica de seu
autor, tendo, portanto, subentendido, o contexto histórico, social, cultural;
ele não existe fora da sociedade, com ela e por si só dialoga. Ao se
considerar a obra cinematográfica como fruto da interação de muitas visões
de mundo, de muitos profissionais envolvidos na sua concepção e realização,
podemos entender que há diferentes maneiras dessas vozes se harmonizarem
ou se debaterem (GONÇALVEZ; ROCHA, 2011, p. 2).
21
Stam (2003) considera a linguagem cinematográfica como o agrupamento das
mensagens cujo material de expressão é composto por cinco canais: a imagem fotográfica em
movimento, os sons fonéticos, ruídos e o som musical gravado e a escrita. O autor vê o
cinema como “[...] uma linguagem, [...] um conjunto de mensagens formuladas com base em
um determinado material de expressão, e ainda como uma linguagem artística, um discurso ou
prática significante caracterizado por codificações e procedimentos ordenatórios específicos”
(STAM, 2003, p. 132).
Considerando a inesgotável variedade virtual da atividade humana citada por Bakhtin
(1997) e a consequente diversidade de gêneros do discurso, podemos considerar o cinema
como um gênero discursivo, por acreditarmos que se encaixa nos diversos requisitos
necessários para tal, como ser uma ferramenta importante na relação entre linguagem e
sociedade, através das representações do cotidiano e com isso, construção de memória social.
O cinema se afirma a cada dia como uma linguagem única, pois vem desenvolvendo, ao longo
de sua existência e evolução, códigos próprios, assim como estilos que caracterizam o
discurso cinematográfico. Também podemos afrmar que o cinema está inserido em esferas da
atividade humana, mais precisamente em uma esfera artística e de entretenimento. Como visto
anteriormente, o cinema é um enunciado estável - com suas vozes e conflitos - que apresenta
uma mistura de som, imagem em movimento, textos, etc, que geram respostas, e assim,
interação social.
Finalmente, entendemos o cinema como um gênero discursivo socialmente construído,
ligado a um processo social, com características únicas – mas não estáticas – e que funcionam
como um instrumento de construção de memória social, possibilitando nossa compreensão da
imagem do profissional bibliotecário e evidenciando a presença de fenômenos como o
estereótipo. Sem os gêneros e a memória de gênero, não poderíamos ser construídos e ao
mesmo tempo construir o mundo que nos envolve.
22
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Esta seção é dedicada à apresentação dos procedimentos metodológicos utilizados para
a execução deste estudo.
O trabalho foi construído através de uma pesquisa qualitativa. Minayo (2001, p. 21)
afirma que:
A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se
preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser
quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos,
aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais
profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser
reduzidos à operacionalização de variáveis.
Nosso estudo tem caráter qualitativo, pois investiga fenômenos sociais com
características particulares e subjetivas, excluindo a possibilidade de traduzir os resultados em
números quantificáveis. Nosso objetivo é observar como é construída a memória do
bibliotecário através da linguagem cinematográfica e descobrir se essa memória é permeada
por estereótipos.
Para iniciar o trabalho, delineamos nossa população e amostra. Para Gil (2002, p. 98)
“[...] de modo geral, população significa o número total de elementos de uma classe. Isso
significa que uma população não se refere exclusivamente a pessoas, mas a qualquer tipo de
organismos [...]” e amostra é uma parte representativa desse todo que servirá de base para os
nossos estudos. Esse estudo tem como população os filmes que retratam o profissional
bibliotecário e como amostra os três filmes escolhidos para análise.
Os três filmes selecionados, retratam o profissional bibliotecário e suas atribuições, e
são eles: Baladas em NY, Universidade Monstros e A Múmia. Os filmes foram analisados no
intuito de evidenciar a maneira como a memória do bibliotecário é construída através dessa
linguagem contemporânea, o cinema. A análise, por fim, também visa esclarecer se a
representação do bibliotecário nesses filmes foi fundamentada em estereótipos.
Utilizamos dois campos de pesquisa para desenvolver este trabalho. A bibliográfica e
a documental. Para Gil (2002), a pesquisa bibliográfica é:
[...] desenvolvida com base em material já elaborado, constituído
principalmente de livros e artigos científicos. [...] Boa parte dos estudos
exploratórios pode ser definida como pesquisas bibliográficas. As pesquisas
sobre ideologias, bem como aquelas que se propõem à análise das diversas
posições acerca de um problema, também costumam ser desenvolvidas
quase exclusivamente mediante fontes bibliográficas (GIL, 2002, p. 44).
23
Realizamos pesquisas em livros, artigos, teses, dissertações, tanto em formato físico
como virtual. Além de tudo, também fizemos pesquisas documentais. A pesquisa documental
é bastante similar à pesquisa bibliográfica, apresentando determinadas diferenças na natureza
das fontes. “A pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos
diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que
não recebem ainda um tratamento analítico” (GIL, 2002, p. 45).
No caso desse trabalho, o material que concedeu um caráter documental, foram os três
filmes que escolhemos e, posteriormente, analisamos. Tais obras foram selecionadas de
acordo com uma única e importante exigência: a presença marcante de personagens que
retratam o profissional bibliotecário.
A técnica de coleta de dados utilizada no trabalho é a de observação sistemática, onde,
conforme Cunha:
O observador conta com recursos de controle, podendo, por conseguinte, dar
estruturação ao processo de observação. Destina-se a comprovar hipóteses
causais, à manipulação de variáveis experimentais, à descrição e explicação
sistemática dos fenômenos, processos e problemas. Pressupõe delimitação
do problema a estudar, assim como a proposição de hipóteses de trabalho e
de variáveis (CUNHA, 1982, p. 13).
Considerando que o objeto de análise são filmes e, por conta disso, é necessário
observar com detalhes cada frame, utilizamos a observação sistemática, onde é possível
controlar a passagem de tempo do filme, efetuar pausas e, é claro, assistir quantas vezes for
necessário.
Já a análise dos dados foi realizada através da análise de conteúdo que, segundo
Chizzotti é:
Uma dentre as diferentes formas de interpretar o conteúdo de um texto que
se desenvolveu, adotando normas sistemáticas de extrair os significados
temáticos ou os significantes lexicais por meio dos elementos mais simples
de um texto. Consiste em relacionar a frequência da citação de alguns temas,
palavras ou ideias em um texto para medir o peso relativo atribuído a um
determinado assunto pelo seu autor (CHIZZOTTI, 2006, p. 114).
Para realizar a análise, separamos os filmes em três subseções – um filme em cada
uma – e dentro dessas subseções, foi inserido o cartaz e a sinopse do filme, seguido pelo
tempo e a imagem correspondente à sequência escolhida, a análise do filme e, por fim, a
explicação sobre a presença, ou não, de estereótipos.
De início, foi necessário definir as sequências. Após assistir o filme, três passagens
foram escolhidas para serem analisadas. Primeiro, apresentamos um panorama geral daquela
24
cena, explicando brevemente o contexto da situação. Em seguida, pontuamos com mais
detalhes a passagem escolhida para análise. Os detalhes incluem músicas, ruídos, falas, plano
de fundo, posição da câmera, efeitos, gestos, vestimentas, inclusive a própria ação dos
personagens.
Após a realização da análise do filme, concluímos através de fatores como figurino,
falas, interpretação, entre outros quesitos relacionados ao contexto do filme, que contam com
a presença de características que estereotipam a imagem do profissional bibliotecário.
25
4 ANÁLISE FÍLMICA
Nesta seção faremos a análise dos filmes, procurando entender de que forma a
memória do profissional bibliotecário é construída na linguagem cinematográfica, e sabendo
que “Analisar um filme é também situá-lo num contexto, numa história. E, se considerarmos
o cinema como arte, é situar o filme em uma história das formas fílmicas” (VANOYE;
GOLIOT-LETÉ, 1992, p. 23). O cinema possui diversas correntes e tendências que foram se
desenvolvendo ao longo dos anos e a maneira como os bibliotecários são representados em
cada uma delas, pode nos dizer muito sobre como sua imagem era percebida na sociedade da
época e que resquícios foram deixados na imagem do bibliotecário dos dias atuais. “Um filme
jamais é isolado. Participa de um movimento ou se vincula mais ou menos a uma tradição”
(VANOYE; GOLIOT-LETÉ, 1992, p. 24).
Jules Prown (1982: 3) considera que objetos (imagens) incorporam e
refletem crenças culturais. Isso significa que o processo de análise de uma
imagem orienta-se de forma a compreender como a cultura está expressa ali:
além da obviedade de consistir em uma produção humana, o que basta para
caracterizá-las como produtos culturais, as imagens refletem por si e em si,
naquilo que mostram e não mostram, as articulações sociais, políticas, de
gênero, religiosas, entre outras, da sociedade em que foram produzidas
(REIS, 2010, p. 2).
Carvalho (apud SILVEIRA, 2002) afirma que é possível analisar os filmes atráves de
duas perspectivas distintas. A primeira, na forma de crítico de cinema, produzindo trabalhos
jornalísticos no campo do jornalismo cultural, publicando em diferentes meios de
comunicação. E, segundo, como um acadêmico, “[...] que utilizam as ferramentas da análise
fílmica para estudar uma obra do cinema partindo de determinados pressupostos teórico-
metodológicos” (CARVALHO apud SILVEIRA, 2002). No entanto, é considerada por
Biscalchin, Vitorini e Gaspar (2014, p. 79) “[...] um dos trabalhos mais difíceis de ser
analisados, embora possa não parecer, pois um filme contém muitas linguagens que atuam
simultaneamente como: imagem, som, música, legenda, gestos, cores”.
Para a realização desse trabalho, utilizaremos a abordagem acadêmica a fim de
entender a construção da memória do bibliotecário. Foram escolhidos três filmes em que o
profissional fosse claramente representado. Primeiro, o filme de 1995 “Baladas em NY”,
seguida da animação de 2013 “Universidade Monstros” e por último o filme de 1999 “A
Múmia”.
Segundo Penafria (2009, p. 1) “Analisar um filme é sinônimo de decompor esse
mesmo filme”. Ou seja, ao descrever a sinopse, observar e transcrever os principais
26
acontecimentos presentes em cada filme poderemos compreender seus elementos e interpretá-
los. Nesse caso, utilizaremos sequências de filmes, pois é “[...] um momento facilmente
isolável da história contada por um fi lme: um seqüenciamento de acontecimentos, em vários
planos, cujo conjunto é fortemente unitário” (AUMONT, 2003, p. 268 apud CORDEIRO;
AMÂNCIO, 2005, p. 93)
Em nossa pesquisa, ao reconhecermos o personagem do bibliotecário e analisarmos
seu contexto, atitudes, diálogos e ações, poderemos identificar de que maneira a memória
acerca desse profissional foi construída nessas obras cinematográficas. Por fim, poderemos
apontar a presença, ou não de estereótipos caracterizando esses profissionais.
4.1 BALADAS EM NY
Figura 1: Cartaz Baladas em NY
Fonte: Google
Sinopse: Mary é uma jovem animada e inconsequente, que adora aproveitar seu
apartamento em Nova York para dar festas barulhentas e cheias de substâncias ilícitas. Por
conta desse hábito, acaba levada à delegacia. Para sair da prisão, ela conta com a ajuda da
pessoa mais próxima de um parente que ela tem: sua madrinha bibliotecária, que lhe empresta
o dinheiro da fiança e demais despesas. No entanto, precisando pagar a dívida, Mary é
obrigada a fazer algo que odeia: arranjar um emprego. Surpreendentemente, o emprego acaba
mudando sua vida.
27
Sequência 1: 00:16:43/00:17:48
Figura 2: Personagem Entediada
Fonte: Youtube
No início do filme, Mary, a personagem principal, organiza uma festa em seu
apartamento com muita bebida e substâncias ilícitas, fazendo com que ela acabasse presa.
Sem dinheiro ou algum familiar próximo, ela decide ligar para sua madrinha e pedir ajuda. A
madrinha, que é bibliotecária, a tira da cadeia e ajuda com suas despesas, mas para retribuir a
ajuda, Mary precisa trabalhar na biblioteca.
A sequência 1 acontece dentro da biblioteca, provavelmente em uma sala mais
reservada, como a de processamento técnico e se inicia com o som de batidas que representam
o trabalho repetitivo dos livros sendo carimbados e recebendo baixa.
Na imagem, é possível notar a expressão no rosto da personagem Mary, evidenciando
o tédio que esse processo causa nela. Em determinado momento, a imagem na tela aparece
borrada, e o som de fundo se torna mais sombrio, permitindo que o espectador enxergue a
situação pelos olhos de Mary: fadigados e entediados. A personagem também parece
desinteressada no assunto compartilhado entre as bibliotecárias: empréstimos entre
bibliotecas, aulas e novas tecnologias nas bibliotecas.
Em sua primeira aparição na biblioteca, quando não tinha pretensões de trabalhar,
Mary está vestida com roupas coloridas e descoladas. O que não acontece em seu primeiro dia
no emprego. A personagem parece tentar se adequar ao vestuário das bibliotecárias, utilizando
roupas sem muito glamour, coque, além de um óculos, que até então a personagem não
utilizava.
É possível notar que a nova funcionária tenta se encaixar no padrão de vestimenta de
uma bibliotecária, que na verdade, é um estereótipo. A personagem aparece com uma roupa
28
que cobre grande parte de seu corpo, coque e óculos, características que, como afirmam
Walter e Baptista (2007), são estereótipos marcantes de um bibliotecário.
Sequência 2: 00:41:45/00:43:12
Figura 3: Personagem Indignada
Fonte: Youtube
A próxima sequência ocorre no momento do filme em que a personagem, antes
insatisfeita com o trabalho na biblioteca, agora parece estar se conformando com as atividades
a serem exercidas, inclusive carimbar livros, algo que antes causava um enorme tédio em
Mary. Ela também passa a valorizar a profissão e as regras da biblioteca.
Na sequência 2, Mary aparece no setor de referência cercada de livros para carimbar,
quando nota um usuário devolvendo o livro que consultou diretamente para a estante. Ela
confronta o usuário de forma intimidante, afirmando que existe um sistema para a colocação
dos livros na estante e que não consiste em repô-los aleatoriamente. Mary se exalta e perde o
controle, deixando o usuário acuado e os demais perplexos com sua reação exagerada.
O único som que podemos ouvir é o do carimbo indo de encontro com os livros. O
momento de indignação da personagem é percebido quando esse único som cessa, o silêncio
paira por alguns segundos e então Mary passa a confrontar o usuário.
O modo da personagem se vestir mostra que ela finalmente se sente confortável de
usar as roupas de acordo com seu gosto e personalidade, mas ao mesmo tempo, deixa evidente
que ela, formalmente, não faz parte do quadro de bibliotecários. Isso porque os bibliotecários
que são representados no filme estão sempre com roupas formais ou recatadas, que não
chamam muita atenção, já a personagem Mary usa roupas e meias coloridas, além de shorts e
saias curtas. Mary também abandona os óculos no momento em que reflete sua verdadeira
personalidade.
29
O ato da personagem pode ser considerado um estereótipo. Segundo Santos, Gomes e
Farias (2014, p. 79), é atribuída ao bibliotecário a “[...] atitude agressiva e a habilidade de
criar obstáculos e impedimentos aos usuários em razão de regulamentos da biblioteca”. Na
sequência, vemos que Mary se exalta com o usuário, intimidando-o por conta de um livro
posto de volta na estante. Nesse momento, ela demonstra que sua maior preocupação é de fato
a organização da biblioteca, e não o usuário (que ela pode ter perdido após esse
acontecimento).
Sequência 3: 1:22:46/1:29:49
Figura 4: Personagem decidida
Fonte: Youtube
Após passar um tempo trabalhando na biblioteca, Mary é demitida por conta de sua
irresponsabilidade. Ela tenta trabalhar como promotora de eventos, chega a dar uma festa,
mas percebe que algo está faltando em sua vida. Finalmente, a personagem toma a decisão
final em relação a sua carreira e decide ingressar no ramo da Biblioteconomia. Com o intuito
de pedir seu emprego de volta, Mary convida a bibliotecária para uma conversa em sua casa.
No entanto, ela não imaginava que seus amigos haviam organizado uma festa surpresa de
aniversário e a bibliotecária, ao chegar, fica desapontada, pensando que era mais um ato
irresponsável de Mary.
A sequência 3 acontece no apartamento de Mary e mostra a personagem decidida a ser
uma bibliotecária. Ela chega em casa e, ao se deparar com a festa, tenta de todos os jeitos
expulsar os convidados de sua casa antes da chegada da bibliotecária. A câmera percorre toda
a casa atrás da personagem que tenta tirar as decorações e pedir às pessoas que saiam. Quando
a bibliotecária chega e vê a bagunça, exige explicações de Mary, que tenta encontrar uma
maneira de se explicar e, principalmente, pedir seu emprego de volta. A bibliotecária nega
veementemente, até que os amigos de Mary passam a contar suas experiências de favores
30
realizados por Mary, como a organização de um acervo musical, empréstimos de livros e
pesquisas. Após ouvir o que Mary e seus amigos tinham a dizer, a bibliotecária cede à
comoção e aceita a menina de volta na biblioteca.
Ao entrar em casa, o primeiro comentário que a personagem ouve de seus amigos é
sobre sua aparência. Decidida a se tornar uma bibliotecária, a personagem troca suas roupas
curtas e coloridas por roupas pretas, cobrindo a maior parte de seu corpo. Ao invés dos
cabelos soltos ou com um penteado diferente, ela aparece com um coque na cabeça e,
novamente, os óculos.
Como se trata de uma festa surpresa, todos estão em silêncio e na cena só é possível
ouvirmos o som dos passos de Mary chegando em casa e a porta rangendo ao abrir, fazendo
com que seus amigos gritem “surpresa”. A partir desse momento, a festa tem início e uma
música bem alta toma conta da sequência, fazendo com que os personagens tenham que se
esforçar para ouvirem e serem ouvidos. A música só para quando Mary decide tomar uma
atitude, pois precisa da atenção centrada nela e seu pedido para voltar a trabalhar na
biblioteca. A música só volta a tocar no final, quando Mary e sua madrinha se entendem e
todos decidem aproveitar a festa juntos.
Na sequência três, quando Mary decide ser uma bibliotecária, causa uma reação de
espanto em seus amigos por conta de sua aparência. Segundo Santos, Gomes e Farias (2014,
p. 79), “[...] em relação ao aspecto físico há a presença dos óculos, penteado rígido e o uso de
vestimentas antiquadas e formais”. O filme deixa evidente a transformação de garota
descolada, que veste roupas curtas e coloridas, para uma adulta convicta da decisão de pôr sua
vida em ordem, mas que se apropria de todas essas características citadas pelos autores
somente quando se torna uma aspirante a bibliotecária, reafirmando esse antigo estereótipo de
bibliotecário.
4.2 UNIVERSIDADE MONSTROS
31
Figura 5: Cartaz Universidade Monstros
Fonte: Google
Sinopse: Mike Wazowski e James Sullivan são amigos inseparáveis em Monstros
S.A., mas nem sempre foi assim. Na universidade, os dois jovens monstros não se entendiam,
com Mike sendo um sujeito estudioso, mas não muito assustador, e Sulley o cara popular e
arrogante, graças ao seu talento herdado para o susto. Após um incidente, os dois são
obrigados a participar da mesma equipe dos Jogos Veteranos de Susto, junto a uma equipe
formada por monstros atrapalhados.
Sequecência 1: 00:47:16/00:47:56
Figura 6: Bibliotecária Pede Silêncio
Fonte: Filme Universidade Monstros
A animação conta a história de dois monstros, Mike e Sulley, que ingressam na
universidade para se formar em “assustar”. Anualmente, os alunos participam de uma
competição chamada “Jogos veteranos de susto”, onde os integrantes das repúblicas precisam
vencer provas para ganhar o trófeu.
32
Uma das etapas da competição requer que os competidores busquem uma bandeira
dentro da biblioteca, mas com uma condição: não ser pego pela bibliotecária.
A sequência 1 mostra os integrantes da fraternidade de Mike e Sulley entrando na
biblioteca nas pontas dos pés, afim de não fazer nenhum barulho. A trilha sonora da cena nos
remete a uma situação de suspense. A câmera segue os personagens de forma bem lenta,
mostrando que o cuidado ao pisar no chão é tão grande que eles seguem quase em câmera
lenta. Além disso, eles se comunicam por gestos para evitar que as vozes acabem chamando
atenção. Os espectadores do evento demonstram bastante preocupação com a possibilidade
dos competidores serem avistados pela bibliotecária.
Em seguida, a bibliotecária aparece fazendo o famigerado sinal de silêncio, oralizando
o pedido em seguida. A profissional é caracterizada por uma senhora idosa, usando um
vestido cinza, coque e óculos, além de aparentemente ser rabugenta. Ela se encontra sentada
atrás do balcão de referência lendo um livro.
O sinal de silêncio por si só já é considerado um estereótipo, pois segundo Walter e
Baptista (2007, p. 30), os bibliotecários costumam se associados a “[...] uma postura
geralmente antagônica e pouco receptiva para os usuários, provavelmente em gesto que
indique um enfático pedido de silêncio”. Também podemos observar características como
“[...] desinteresse do profissional em atender o público, caracterizado pela morosidade, mau
humor, autoritarismo [...]” (SILVA, 2009, p. 34), que ficam evidentes na feição e voz da
personagem.
Sequência 2: 00:47:57/00:48:20
Figura 7: Bibliotecária Irritada
Fonte: Filme Universidade Monstros
Na sequência 2, enquanto a competição se desenrola, um dos personagens profere o
seguinte comentário: “O que tem de assustador em uma bibliotecária velha?”. Nesse
33
momento, um usuário da biblioteca pisa em uma tábua solta no chão, gerando um ruido que
desperta a fúria da bibliotecária. A imagem corta rapidamente para ela, onde a câmera filma
através de um ângulo de baixo para cima, criando a ilusão de que a bibliotecária é ainda
maior. Ela sai de trás do balcão se arrastando através de seus tentáculos, repete seu pedido de
silêncio e demonstra sua insatisfação expulsando o usuário da biblioteca.
Assim que a fala do personagem termina, podemos ouvir uma música de suspense que
para repentinamente no momento em que o usuário pisa na tábua solta, e o som predominante
é o do rangido que ecoa pela biblioteca. Em seguida, a câmera corta para a bibliotecária e uma
música assustadora toca no momento em que ela se irrita, fechando com força o livro que
estava em suas mãos (é possível ouvir o barulho do livro se fechando) e levanta da cadeira.
No momento em que ela joga o usuário para fora da biblioteca, podemos ouvir, além de seus
gritos, o barulho da árvore que o amortece e da água quando ele cai em um rio, provocando
risadas nos outros alunos.
Esta sequência ratifica a afirmação de Grogan (2001, p. 12), de que “[...] para o
público em geral, a bibliotecária é uma ‘velhota rabugenta, assexuada, míope e reprimida’,[...]
‘cercada por um rol de avisos que proíbem praticamente qualquer atividade humana’”. Além
de a personagem bibliotecária ser idosa, rabugenta e míope, não permite nem mesmo que os
usuários - sem querer - façam qualquer barulho.
Sequência 3: 00:48:20/00:51:08
Figura 8: Bibliotecária Furiosa
Fonte: Filme Universidade Monstros
A competição está entre a equipe de Mike e Sulley e mais uma. É evidente que a outra
equipe é mais rápida e provavelmente conseguirá pegar a bandeira primeiro. Enquanto isso,
Mike preza pela cautela e continua seguindo de maneira bem lenta. Sulley não concorda e
decide agir sozinho.
34
Vemos na sequência 3 que Sulley tenta correr o mais sorrateiramente possível, mas
acaba gerando um ruído por conta do chão de madeira. A bibliotecária, observa sem os óculos
e não enxerga nada. Nesse momento, a imagem fica embaçada, mostrando a situação ao
espectador, através dos olhos míopes da bibliotecária. Como ela não enxerga, Sulley continua
subindo a escada, até que alguns parafusos se soltam e ela se quebra. O personagem se
desequilibra e acaba caindo, fazendo muito barulho. A bibliotecária mais uma vez demonstra
estar furiosa por conta do barulho, parando o que está fazendo para perseguir de maneira
irritada os alunos, até que eles sejam expulsos da biblioteca. A imagem segue os movimentos
da bibliotecária até o fim da perseguição, quando finalmente dá um zoom na sua expressão
furiosa tentando alcançar os alunos, deixando a impressão de que ela está cada vez mais perto
dos personagens, até que eles acabam fora da biblioteca.
A cena continua com a música assustadora da sequência anterior até o momento em
que a bibliotecária se acalma e volta aos seus afazeres na biblioteca. A equipe de Mike e
Sulley solta alguns gemidos de medo, mas logo volta a caminhar calma e lentamente em
direção à bandeira, acompanhados da mesma música de suspense que tocava no início. Mike
quer que todos andem devagar e com cuidado, mas Sulley está impaciente e segue
resmungando, até que avista a outra equipe subindo as escadas correndo. Nesse momento, a
música fica mais acelerada, acompanhando os passos rápidos dos competidores. Ao ver que
estão ficando pra trás, Sulley decide tomar uma atitude e começa a correr cautelosamente até
a bandeira. A música de fundo volta a tocar acelerada, acompanhando os passos do
personagem, até que ele pisa em algumas tábuas que rangem, chamando a atenção da
bibliotecária. Quando ela tenta ver o que está acontecendo, uma música de tensão inicia e para
a partir do momento que ela não enxerga nada e volta às suas tarefas. Mike suspira aliviado
por seu amigo não ter sido pego, mas logo fica assustado ao vê-lo subindo as escadas. Então,
podemos ouvir o barulho dos parafusos se soltando – através de um som metálico –, a música
de fundo fica cada vez mais agoniante, até que Sulley se desequilibra e cai no chão, gerando
um enorme estrondo. Uma música assustadora se inicia e a bibliotecária irritada segue em
direção ao personagem. A partir desse momento, todos os outros membros da equipe passam
a fazer barulhos diversos, com o intuito de chamar a atenção da bibliotecária e tentar enganá-
la para não serem pegos. A perseguição conta uma trilha animada que só para quando eles
estão fora da biblioteca e o diálogo entre os personagens se inicia.
Essa sequência evidencia o estereótipo do bibliotecário que não se preocupa com seus
usuários. O ocorrido nesta cena demonstra a “[...] falta de comprometimento profissional e
toda sorte de situações que frustram o usuário quanto às expectativas que ele tem de ver
35
atendidas suas necessidades de informação por meio da mediação da biblioteca [...]” (SILVA,
2009, p. 34). Tal comportando afasta os usuários das bibliotecas, o que não é bom pra eles e,
muito menos, para a biblioteca. Esse estereótipo é ainda mais enfatizado pelo fato da
personagem ser representada por um dos mostros mais assustadores do filme (visto que a
grande maioria possui uma aparência agradável) e ainda, a trilha sonora assustadora que
sempre acompanha suas aparições.
4.3 A MÚMIA
Figura 9: Cartaz A Múmia
Fonte: Google
Sinopse: Há muitos anos, Imhotep, um sacerdote, se apaixona pela esposa do faraó,
Ankh-su-Namun. Ao serem descobertos, Imhotep e sua amada são condenados de forma
brutal: Ankh-su-Namun é morta e Imhotep é enterrado vivo, mas sob uma terrível maldição:
se fosse ressurgido, traria desgraça e morte à humanidade. Em 1926, anos depois, o
aventureiro Rick O'Connell, junto com a bibliotecária Evelyn, seu irmão Jonathan e outros
arqueólogos acabam acidentalmente trazendo o sacerdote à vida, que por sua vez, fará de tudo
para também ressuscitar sua amada Ankh-su-Namun, para viverem juntos pra sempre. Cabe a
esses aventureiros impedir que esta catástrofe atinja a humanidade.
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Sequência 1: 00:12:40/00:12:51
Figura 10: Bibliotecária Guardando Livros
Fonte: Filme A Múmia
Evy é uma bibliotecária que trabalha na biblioteca de um museu de antiguidades no
Cairo, Egito. Ela possui verdadeira paixão pela profissão, sendo fluente em egipcio antigo,
sabendo decifrar hieróglifos e hierático.
A sequência 1 mostra a bibliotecária organizando livros nas estantes. A biblioteca
parece mal iluminada, e até o acervo é predominantemente escuro, criando uma atmosfera
sombria. No início da cena, ouvimos a voz da bibliotecária em meio ao acervo e a câmera
percorre as estantes sorrateiramente até ir ao encontro da personagem.
Vemos aqui, novamente, que a bibliotecária utiliza óculos, o cabelo preso por um
coque e veste roupas que cobrem grande parte do seu corpo.
Tudo que podemos ouvir é o barulho dos livros sendo postos na estante e a voz da
bibliotecária conferindo os nomes dos autores.
Na sequência 1, podemos observar que o primeiro estereótipo fica evidente na
presença dos “[...] indefectíveis óculos e o famigerado coque nos cabelos [...]” (WALTER;
BAPTISTA, 2007, p. 31). Moreno e Bastos (2012) também citam essas características,
inclusive as roupas fechadas e recatadas. O segundo, notamos quando a bibliotecária exerce
“[...] uma função que normalmente não é executada pelos bibliotecários, mas sim pelos
auxiliares de bibliotecas” que consiste em repor os ítens na estante.
37
Sequência 2: 00:12:52/00:13:50
Figura 11: Bibliotecária Desastrada
Fonte: Filme A Múmia
Ao separar os livros por ordem alfabética (provavelmente para tornar a cena mais fácil
de ser compreendida por todos os públicos, já que o correto seria utilizar, por exemplo, a
Classificação Decimal de Dewey), a bibliotecária percebe que um autor com a letra T está
entre os autores de letra S. Como a estante está logo ao lado, ela tenta se equilibrar para
alcançá-la e guardar o livro sem precisar descer as escadas.
A sequência 2 mostra a bibliotecária se esticando ao máximo para tentar alcançar a
estante ao lado. A câmera filma a personagem de um ângulo em que podemos perceber que
existe uma distância considerável entre as duas estantes. Mesmo assim, ela tenta se esticar,
projetando demais o seu corpo, e movendo a escada. Consequentemente, a personagem cai,
empurrando a estante que não é fixa no chão, e fazendo com que todas as estantes caiam uma
a uma, como um efeito dominó. A imagem percorre cada uma das estantes caindo, até chegar
de volta na bibliotecária, que fica incrédula.
Na cena, podemos ouvir a bibliotecária conferindo os nomes dos livros e se
perguntando o que um livro com a letra T faz junto dos livros com letra S. Assim que ela
decide se arriscar tentando alcançar a estante ao lado, ouvimos o ranger da escada onde ela
está apoiada, seguido de um grito de desespero, que marca o momento que ela começa a se
desequilibrar. É possível ouvir a batida da escada contra o chão, evidenciando a tentativa
frustrada da personagem de se equilibrar em cima dela. Até que inicia uma música de
suspense e a bibliotecária cai. As estantes caindo fazem muito barulho, mas ainda assim é
possível ouvir uma música acelerada de fundo. Quando as estantes param de cair, a música
também chega ao seu término, voltando a tocar a trilha de suspense.
Além do que já citamos na sequência anterior, a sequência 2 traz um exemplo de
estereótipo diferente. De acordo com Moreno e Bastos (2012), se a bibliotecária retratada for
idosa, é atríbuída a característica de ranzinza, e se for jovem, de desastrada.
38
Sequência 3: 01:49:47/01:51:44
Figura 12: Bibliotecária Aventureira
Fonte: Filme A Múmia
Evy tem um irmão que sempre lhe traz artefatos para vender. Dessa vez, ele trouxe
algo que chamou sua atenção: uma espécie de caixa que continha um mapa em seu interior.
Após algumas pesquisas, ela descobre que o mapa leva até Hamunaptra, a cidade dos mortos.
Os mitos contam que a cidade guardaria riquezas protegidas pela maldição de uma múmia. A
bibliotecária acredita fortemente que suas pesquisas estão corretas e a cidade realmente existe,
o que a faz seguir em uma jornada à procura da cidade.
Acompanhada de seu irmão, um aventreiro chamado O’Connell - que já esteve na
suposta cidade - e diversas outras pessoas interessadas nas riquezas prometidas, Evy segue
rumo ao encontro da cidade, passando por diversas situações de aventura e perigo. A maior
delas foi acordar uma múmia com sede de vingança e procurar um livro que continha o
encantamento capaz de destruí-la.
Na sequência 3, vemos os sobreviventes da jornada para a cidade dos mortos tentando
ler o livro de Amon-Ra. Esse livro continha antigos feitiços e encantamentos escritos em
hieróglifos que poderia salvá-los da múmia. A única pessoa capaz de ler os hieróglifos é a
bibliotecária, que após fugir de diversas criaturas, consegue pôr as mãos no livro e ler o
encantamento, invocando uma carruagem fantasma que, ao atropelar a mumia, a torna um ser
mortal.
Evy, enquanto é vista como uma simples bibliotecária, aparece com suas roupas
longas e largas, o coque no cabelo e uma atitude frágil. Em determinado momento, a
personagem abandona suas roupas formais, o coque, o óculos e passa a ser vista como uma
aventureira, capaz de salvar o dia com seus conhecimentos e ousadia.
A música que preenche a cena é de ação e junto dela, podemos ouvir os gemidos,
batidas e socos que representam a luta entre a múmia e o aventureiro O’Connell. As imagens
se alternam entre a bibliotecária que tenta encontrar o encantamento no livro e a luta.
39
Finalmente, a imagem foca em Evy pronunciando as frases do encantamento, e logo em
seguida, é possível ouvir a chegada da carruagem, o galope e relinche dos cavalos. No
momento que a carruagem atravessa a múmia, vemos um efeito azul e a imortalidade
deixando o corpo da múmia. Além disso, ouvimos um estrondo, seguido de silêncio. Quando
O’Connell percebe que a múmia não está morta, uma música de suspense paira no ar e
ouvimos o som metálico do aventureiro apanhando sua espada. Esse mesmo som é ouvido
quando ele apunhala a múmia, fazendo com que ela caia em uma piscina escura, onde só se
ouve o burburinho das almas puxando a múmia para o fundo e de seu corpo se decompondo.
Agumas representações de bibliotecários fogem dos estereótipos usuais e concedem
novas perspectivas dos profissionais, como enciclopédias vivas. Mesmo reafirmando os
estereótipos comuns dos óculos, coque e roupas no início do filme, na medida em que a trama
se desenrola, o espectador passa a conhecer uma nova perspectiva da personagem, um
estereótipo moderno e poético, como afirma Moreno e Bastos (2012, p. 7), onde vemos “[...]
alguém dotado de grande inteligência, um ser culto e esclarecido [...]”, associado,
principalmente, às bibliotecas monásticas e seus monges eruditos. Evy ainda vai além, ao
fazer uso de seu charme e beleza para confundir seus inimigos. Ela também, definitivamente,
abandona a crença de que bibliotecários possuem “[...] perfil introvertido e que gostam de
conviver solitariamente com a leitura” (SANTOS; GOMES; FARIAS, 2014, p. 79).
40
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Inicialmente, foi proposta a revisão de alguns conceitos importantes para a realização
dessa pesquisa.
Observamos como a memória é um elemento importante na compreensão das
representações construídas acerca do profissional bibliotecário, visto que “[...] é constituída
por indivíduos em interação, por grupos sociais, sendo as lembranças individuais resultado
desse processo” (ARAÚJO; SANTOS, 2007, p. 97).
Lembramos que a profissão de bibliotecário mesmo passando, ao longo dos anos, por
processos de mudança de paradigmas, a construção da memória que remete à ideia do
paradigma de guardião do conhecimento se conservou até os dias de hoje.
No entanto, lembramos a afirmação de Gondar e Dodebei (2005, p. 7) de que a
memória social é “[...] um conceito complexo, inacabado, em permanente processo de
construção”, que nos remete à possibilidade do profissional bibliotecário de reinventar,
mesmo que lenta e gradativamente, a memória acerca de sua imagem, pensando que “[...] na
maior parte das vezes, lembrar não é reviver, é refazer, reconstruir, repensar, com imagens e
idéias de hoje, as experiências do passado” (BOSI, 1994, p. 55).
Vimos que o “Ao pensarmos na história das profissões, acreditamos que a
Biblioteconomia seja uma das mais antigas, na medida em que sempre houve alguém
responsável (geralmente homens) pela guarda e organização de informação” (CHARTIER;
HÉBRARD apud CASTRO, 2000, p. 5).
Constatamos que com o tempo e, principalmente, a partir das evoluções tecnológicas,
as funções do profissional da informação foram mudando, evoluindo, aperfeiçoando e se
reinventando. Rodrigues et al (2013, p. 86) afirma que “[...] a exigência de profissionais com
características diferenciadas, inovadoras e dinâmicas, capacitados para executar, de maneira
rápida e eficiente, a organização e a disseminação da informação, é cada vez maior”.
Além disso, o profissional que possui aptidão para atividades de cunho social, tem a
capacidade de transformar o cenário em que atua, ao identificar a necessidade de informação e
conhecimento em sua comunidade e disseminá-la, entendendo a importância da biblioteca na
construção de uma sociedade.
Notamos que os estereótipos estão inseridos nas mais diversas sociedades desde
tempos longínquos, exercendo “[...] uma visão aparentemente deturpada da realidade, mas
próxima de como o meio social e o inconsciente coletivo percebiam o outro” (SANTOS;
MANNES, 2009, p. 130). Salientamos a importância desse fenômeno em nosso trabalho,
41
entendendo que está diretamente relacionado à forma como os sujeitos sociais constroem
representações acerca de profissões, etnias, sexualidades, gêneros, etc.
É importante lembrar que o estereótipo é um fenômeno que ganha força à medida que
é cada vez mais difundido, porém, não é definitivo. Nesse sentido, cabe ao bibliotecário
mostrar sua evolução, não só como profissional, se adequando às novas tecnologias e
demandas, mas também como ser humano, individual, que possui suas próprias características
baseadas em sua personalidade e não em sua profissão.
O cinema é um conceito chave em nossa pesquisa, pois “[...] é uma linguagem com
suas regras e suas convenções. É uma linguagem que tem parentesco com a literatura,
possuindo em comum o uso da palavra das personagens e a finalidade de contar histórias”
(COSTA, 2003, p. 27).
O cinema possui características próprias e diversas. Próprias quando consideramos
uma característica em especial que a distingue de qualquer outra: a imagem em movimento.
Diversa, pois tem a capacidade de unir muitas outras formas de comunicação em uma única
tela, como por exemplo, o som – ou até mesmo a falta dele -, a fotografia, a escrita, etc,
criando infinitos diálogos e, com isso, uma comunicação, seja entre os personagens do filme,
ou com seus espectadores.
Pensando nessa capacidade de dialogar com os espectadores, consideramos o cinema
um importante meio de comunicação, com capacidade de influenciar a formar opiniões,
inclusive participar na construção de memória. As imagens em movimento e sons criados pela
linguagem cinematográfica tem “[...] influenciado nossas maneiras de conceber e representar
o mundo, nossa subjetividade, nosso modo de vivenciar nossas experiências, de armazenar
conhecimento, e de transmitir informações” (COSTA, 2005, p. 17).
Visando a boa compreensão do nosso trabalho, definimos o conceito de gêneros
discursivos a partir dos estudos de Mikhail Bakhtin. O autor cita três conceitos importantes no
entendimento dos gêneros: o enunciado, a polifonia e o dialogismo. Bakhtin afima que a
sociedade é dividida em esferas, que designam as diferentes e variadas formas de atividade
humana. Reconhecemos o enunciado como a unidade da comunicação verbal, que reflete as
“[...] condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas [...]” (BAKHTIN,
1997, p. 279), e tem como característica demandar uma atitude responsiva.
Para Bakhtin (2005, p. 86) “o pensamento humano só se torna pensamento autêntico
[...] sob as condições de um contato vivo com o pensamento dos outros [...] na consciência
dos outros expressa na palavra”, ou seja, o enunciado produzido por um indivíduo, possui em
sua constituição o que Bakhtin compreende como “vozes”, algo como a ação da memória no
42
processo de construção enunciativa. Essas vozes presentes nos enunciados, são denominadas
polifonia. No entanto, existem conflitos entre essas vozes sociais, elas não rumam a um
mesmo ponto de vista harmonioso. Bakhtin denomina esse diálogo com diversos pontos de
vista diferenciados entre as vozes como dialogismo.
Bakhtin afirma que para o enunciado alcançar com eficácia o sujeito a quem ele é
dirigido, é necessário que alguns formatos específicos sejam seguidos, culminando no sucesso
do processo enunciativo. “Esses diferentes formatos a que os enunciados pertenceriam e que
seriam essenciais para uma comunicação satisfatória entre os sujeitos seriam os gêneros
discursivos” (COSTA, 2007, p. 65).
A inesgotável variedade da atividade humana e, consequente, os diversos gêneros do
discurso, fizeram com que o autor os separasse em dois grupos: os primários (ou simples),
que nos remetem a uma situação cotidiana, uma comunicação verbal espontânea e os
secundários (ou complexos), que surgem como uma comunicação mais complexa e
relativamente mais evoluída.
A partir da compreensão de gêneros discursivos, foi possível concluir um dos nossos
objetivos específicos, que consistia em entender o cinema como um gênero discursivo.
Sublinhamos que os filmes cinematográficos são uma ferramenta importante na
relação entre linguagem e sociedade, através de suas representações do cotidiano e com isso,
construção de memória social. O cinema é linguagem única, que desenvolveu, ao longo de sua
existência e evolução, códigos próprios, assim como estilos que caracterizam o discurso
cinematográfico. Afirmamos que o cinema está inserido em esferas da atividade humana,
mais precisamente em uma esfera artística e de entretenimento. E que, principalmente, o
cinema é um enunciado estável - com suas vozes e conflitos - que apresenta uma mistura de
som, imagem em movimento, textos, etc, que geram respostas, e assim, interação social.
De acordo com a teoria bakhtiniana de gênero, consideramos o cinema como um tipo
de discurso, em que diferentes gêneros se relacionam, isto é, podemos considerá-lo um gênero
complexo ou secundário, também formado pela relação de gêneros primários “[...] que
transformam-se e adquirem uma característica particular: perdem sua relação imediata com a
realidade existente e com a realidade dos enunciados alheios” (BAKHTIN, 1997, p. 281).
Entendemos o cinema como um gênero discursivo socialmente construído, ligado a um
processo social, com características únicas – mas não estáticas – e que funcionam como um
instrumento de construção de memória social, possibilitando nossa compreensão da imagem
do profissional bibliotecário e evidenciando a presença de fenômenos como o estereótipo.
43
Sem os gêneros e a memória de gênero, não poderíamos ser construídos e ao mesmo tempo
construir o mundo que nos envolve.
Nossa pesquisa tem caráter qualitativo, pois investiga fenômenos sociais com
características particulares e subjetivas, excluindo a possibilidade de traduzir os resultados em
números quantificáveis. Após a percepção de todos os conceitos, realizamos a análise fílmica
dos filmes “Baladas em NY”, “Universidade Monstros” e “A Múmia”, e entendemos a
construção da memória do bibliotecário através da linguagem cinematográfica, além de
confirmarmos que essas representações são fundamentadas por estereótipos.
Notamos que em todos os filmes, a representação do bibliotecário é feita por uma
mulher. Moreno e Bastos (2012, p. 3) afirmam que “[...] ainda se pensa na carreira
bibliotecária como algo restritamente feminino”. Também podemos observar que:
“É muito interessante como o aspecto visual e comportamental dos
bibliotecários realmente permeia o imaginário popular, associando a profissão
a mulheres, em geral idosas [...] e, mesmo quando mostram jovens, [...]
apresenta uma função que normalmente não é executada pelos bibliotecários,
mas sim pelos auxiliares de bibliotecas, que é a de recolocação de material nas
estantes” (WALTER; BAPTISTA, 2007, p. 30).
Além da bibliotecária jovem que guarda livros em “A Múmia” e a idosa rabugenta em
“Universidade Monstros”, também observamos outro estereótipo comum dos bibliotecários,
citado por Moreno e Bastos (2012, p. 1), as “[...] mulheres solteironas, solitárias, ranzinzas
[...]”. Em “Baladas em NY”, vemos que nenhuma das bibliotecárias é vista ou comenta sobre
companheiros ou família. A própria personagem principal, que tem pretensão de ser uma
bibliotecária, é uma pessoa solitária.
Observamos, que a imagem do bibliotecário é, muitas vezes, construída através da
memória do profissional do setor de referência, como fica evidente em “Baladas em NY” e
“Universidade Monstros”, onde as personagens estão sempre atrás de uma bancada, às vezes,
até realizando atividades de processamento técnico, mas escondidas atrás do balcão de
referência. Em “A Múmia”, essa característica não é óbvia, mas o fato da personagem
trabalhar sozinha na biblioteca, nos leva a acreditar que ela também exerce essa função.
Além da predominância de mulheres representando o papel de bibliotecária, outros
estereótipos na representação desse profissional também foram unânimes, como o coque, os
óculos e as roupas recatas que cobrem grande parte do corpo, já citadas por Santos, Gomes e
Farias (2014, p. 79), “[...] em relação ao aspecto físico há a presença dos óculos, penteado
rígido e o uso de vestimentas antiquadas e formais”.
44
Encontramos em três sequências analisadas, a presença de uma representação
exagerada do profissional bibliotecário, onde fica claro o “[...] desinteresse do profissional em
atender o público, caracterizado pela morosidade, mau humor, autoritarismo [...]” (SILVA,
2009, p. 34), além da evidente “[...] habilidade de criar obstáculos e impedimentos aos
usuários em razão de regulamentos da biblioteca” (SANTOS; GOMES; FARIAS, 2014, p.
79). Tais representações constroem uma memória associada a um bibliotecário que tem como
prioridade a organização da biblioteca, e não o usuário.
Na última sequência do filme “A Múmia”, a bibliotecária inicia como qualquer outra
representação estereotipada, fazendo uso dos conhecidos óculos, o coque e seu jeito
desastrado. No entanto, na medida em que a trama se desenrola, o espectador passa a
conhecer uma nova perspectiva da personagem, um estereótipo moderno e poético, como
afirma Moreno e Bastos (2012, p. 7), onde vemos “[...] alguém dotado de grande inteligência,
um ser culto e esclarecido [...]”, associado, principalmente, às bibliotecas monásticas e seus
monges eruditos.
Em suma, podemos concluir que a memória do bibliotecário é construída nos filmes
cinematográficos através de diferentes categorias, como a da velha rabugenta, a jovem
desastrada, o sábio. No entanto, todas essas características são associadas ao profissional da
informação de forma exagerada e caricata, evidenciando a existência de estereótipos em sua
representação. O cinema, como foi visto anteriormente, é um importante meio de
comunicação, formador de opinião e constituidor de valores. Com isso, permite que essas
representações dos bibliotecários permeiem a imaginação dos espectadores, criando em cada
indivíduo uma ideia própria de quem são os bibliotecários, uma memória e os diversos
sentidos que dela podem provir.
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