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Sumário Sumário ............................................................................................................................................................................. 2
PROGRAMA DISCIPLINAR “LETRAMENTO E COMPETÊNCIA INFORMACIONAL” - Código 309072 – 2º. SEMESTRE DE
2012 .................................................................................................................................................................................. 3
1. PLANO DE ENSINO................................................................................................................................................. 3
2. CRONOGRAMA DA DISCIPLINA ................................................................................................................................. 5
A COMPETÊNCIA INFORMACIONAL .................................................................................................................................. 6
LEITURA E LETRAMENTO ................................................................................................................................................. 10
A FORMAÇÃO DO LEITOR EM UNIDADES DE INFORMAÇÃO .......................................................................................... 14
AS NECESSIDADES DE INFORMAÇÃO .............................................................................................................................. 18
A RELAÇÃO ENTRE A INCLUSÃO SOCIAL, O LETRAMENTO E A COMPETÊNCIA INFORMACIONAL ................................. 22
OS MODELOS DE ESTUDOS DE USUÁRIOS POR UNIDADES DE INFORMAÇÃO E NECESSIDADES INFORMACIONAIS ..... 27
DECLARAÇÃO DE MACEIÓ SOBRE A COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO: 2011 .............................................................. 32
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PROGRAMA DISCIPLINAR “LETRAMENTO E COMPETÊNCIA
INFORMACIONAL” - Código 309072 – 2º. SEMESTRE DE 2012
1. PLANO DE ENSINO
CURSO: BIBLIOTECONOMIA
COMPONENTE CURRICULAR: LETRAMENTO E COMPETÊNCIA
INFORMACIONAL CÓDIGO
309072
SEMESTRE/ANO
2º/2012
CARGA HORÁRIA
SEMANAL SEMESTRAL
4 horas/aula 60 h/a
PROFESSORA: VALÉRIA APARECIDA BARI
COMPETÊNCIAS / HABILIDADES
Desenvolvimento de habilidades e competências para o estabelecimento de práticas
leitoras junto aos segmentos da comunidade de usuários servida por uma unidade de
informação.
Mediação de leitura e promoção da leitura, como prática de lazer cultural.
Preparação de usuários para as práticas da educação continuada e atualização por meio da
leitura.
Apresentação da leitura como fonte de informação, segundo seus diferentes suportes e
linguagens.
Desenvolvimento assistido da competência informacional, na situação de exclusão social.
Conhecimento das políticas nacionais e internacionais relacionadas à formação do leitor.
Aprendizagem das boas práticas bibliotecárias no contexto da formação do leitor.
Desenvolvimento do letramento e a formação de ambientes de leitura aliados às práticas
pedagógicas na educação formal.
EMENTA
Por meio do estudo do Letramento e da formação de Competência informacional como
quesito da relação bibliotecário/usuário, estabelecer a relação entre o pleno usufruto da
produção material e cultural da sociedade e o desenvolvimento de habilidades,
competências, hábitos e gostos no âmbito da leitura.
METODOLOGIA
Os conteúdos são apresentados através de aulas expositivas, ministradas pela Professora ou palestrantes especialmente convidados, assim como sínteses de leituras, estudos de campo e outras atividades extraclasse. A aprendizagem dos conteúdos pelos alunos será avaliada por meio de apresentação roteiros de observação e desempenho em prova escrita.
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RECURSOS DIDÁTICOS NECESSÁRIOS
Data-show conectado a computador com aplicativo MS Office 2000 ou 1998, programa Power
Point instalado e leitor de DVD ou porta USB funcional. Quadro negro com giz e apagador ou
lousa branca com pincéis atômicos apropriados e apagador.
COMPOSIÇÃO DAS AULAS
Aulas de cunho expositivo, complementadas por palestras e atividades de campo, como visitas
monitoradas (também de cunho expositivo) e pesquisas de campo. A carga de 60 horas/aula
está subdividida em 15 aulas expositivas, aulas de exercícios, roteiros de observação
extraclasse, 2 avaliações individuais.
PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO
A avaliação será composta por:
Provas teóricas individuais Roteiros de observação de campo e exercícios em sala de aula
REFERÊNCIAS
Básicas:
AGRASSO Neto, Manoel ; ABREU, Aline França de. Conhecimento Científico: subsídios para gestão
de serviços de referência e informação. Florianópolis: Editora da UFSC, 2009.
BARBALHO, Célia Regina Simonetti (org) et all. Espaços e ambientes para leitura e informação.
Londrina: ABECIN, 2012.
RIBEIRO, Vera Massagão. Letramento no Brasil. São Paulo: Global, 2004.
Complementares:
CAMPELLO, Bernadete Santos. Letramento informacional: função educativa do bibliotecário na
escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leituras nos oceanos da internet. Rio de Janeiro: Cortez, 2003.
REY, Germán et all. Hábitos de lectura: asistencia a bibliotecas y consumo de libros en Colombia.
Bogotá: Ministerio de Cultura, 2006.
ZILBERMAN, Regina; ROSING, Tania M. K. Escola e leitura: velha crise, novas alternativas. São Paulo:
Global, 2009.
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2. CRONOGRAMA DA DISCIPLINA
DATA NOVEMBRO 29 Apresentação da disciplina e do plano de ensino.
DEZEMBRO 6 A competência informacional
13 Leitura e letramento
20 Debate: “Conhecimento Científico”
JANEIRO 17 A formação do leitor em unidades de informação
24 A formação do leitor em unidades de informação - continuação
31 As necessidades de informação
FEVEREIRO 21 Prova teórica
28 Relação entre a inclusão social, o letramento e a competência informacional
MARÇO 7 Debate: “Espaços e ambientes para leitura e informação”
14 Os Modelos de Estudos de Usuários Por Unidades de Informação e as Necessidades
Informacionais
21 Os Modelos de Estudos de Usuários Por Unidades de Informação e as Necessidades
Informacionais -- Continuação
28 Prova teórica
ABRIL 4 Revisão disciplinar
11 Prova teórica substitutiva
18 Atividade externa: visita à BICOM
Coordenador do Curso
Profa Dra Valéria Aparecida Bari
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A COMPETÊNCIA INFORMACIONAL
A capacidade individual de acessar e produzir a informação, dentro de critérios de precisão e atualização,
assim como o desenvolvimento do senso crítico necessário para articular essa informação e transformá-la em
conhecimento são chamados, na Ciência da Informação, de Competência Informacional (Information
Literacy). O termo surgiu em 1974, no documento The information service enviroment relationships and
priorities, elaborado pelo bibliotecário norte-americano Paul Zurkowsky. Segundo ele:
[...] os recursos de informação deveriam ser utilizados no trabalho para se lidar com as lacunas ou a
resolução de problemas associados à tomada de decisões. Isso seria possível através do desenvolvimento de
técnicas e habilidades para usar as ferramentas de informação, que possibilitassem a busca de informações
no ambiente de trabalho. (ZURKOWSKY apud SILVA, 2009, p. 21)
DEMANDAS DA COMPETÊNCIA INFORMACIONAL
As técnicas e habilidades citadas por Zurkowsky, juntamente com o fenômeno da convergência das mídias
para os suportes digitais, ao longo dos anos 90, fizeram com que as necessidades atuais de comunicação, de
obtenção de conhecimento e de fruição estética se deem em nível informacional, progressivamente
utilizando interfaces tecnológicas. Para atender a essa nova demanda social, constituiu-se a Ciência da
Informação, de configuração interdisciplinar, agregando os conhecimentos da linguística, da sociologia, da
matemática e das tecnologias às aplicações das disciplinas tradicionais do campo teórico da Informação.
LETRAMENTO
O conceito de Letramento, internacionalmente conhecido como Literacy, consolida o perfil interdisciplinar
da Competência Informacional à medida que determina todo o ambiente social, as mídias e suas linguagens,
assim como os ambientes educacionais reais e virtuais como mediadores de informações e conceitos, que
necessitam de Gestão da Informação para que a difusão e a apropriação sejam democratizadas. Segundo
Britto:
A introdução do termo letramento no Brasil resulta, como se sabe, da versão do termo inglês literacy, o qual
tradicionalmente era traduzido por alfabetização. A opção por dar à palavra inglesa uma nova tradução
advém dos sentidos que ela adquiriu devido às novas compreensões do que significaria objetivamente ser
alfabetizado na sociedade contemporânea (particularmente nos países do Primeiro Mundo, onde a
universalização da educação básica já ocorrera há pelo menos meio século) e ao desenvolvimento de
pesquisas sobre escrita, compreendendo-a como algo mais que a cópia infiel da fala ou a usurpadora do lugar
original desta. Pode-se dizer, portanto, que a formulação e aplicação desse novo conceito resultaram das
necessidades teóricas e práticas várias, em função dos avanços do modo de compreender as relações inter-
humanas, dos processos de participação social e do acesso ao e construção do conhecimento. (BRITTO,
2003, p. 51).
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QUESTÕES DO LETRAMENTO NO BRASIL
Apontadas como questões vitais do Letramento, que influenciam diretamente a Competência Informacional,
estão a formação de leitores e a oferta, pelas instituições sociais, de acesso à leitura de lazer e de formação
continuada. Como ocorre exatamente o contrário, ou seja, as estruturas sociais não oferecem mínimas
condições de acesso livre à leitura; o que ocorre é que a Educação e a Ciência da Informação não atingem
seus objetivos plenamente, pois a leitura não se insere nas práticas sociais cotidianas. Percebe-se claramente
na sociedade a ausência de Bibliotecas Públicas, Bibliotecas Escolares, salas de leitura, desenvolvimento de
acervos pessoais e familiares, entre outros que tais.
FLUÊNCIA INFORMACIONAL
O conceito de Fluência Informacional também é desenvolvido por estudiosos da informação. Sínteses
teóricas como as de Suzana Muller e Jaime Robredo, muito embora sem a utilização do termo, apontam para
a vinculação entre os sistemas de informação e os próprios aspectos da psique humana, numa relação de
fluência e trânsito do conhecimento sem delimitações institucionais. Segundo Robredo:
[...] parece ficar cada dia mais evidente que é necessário – seja-me permitida a metáfora – derrubar os muros
e paredes que ainda delimitam os espaços institucionais de bibliotecas, arquivos, centros e serviços de
informação e documentação, recolocando-os num ambiente de máxima visibilidade que os integre como
componentes fundamentais de um sistema social, cuja missão é servir mais e melhor seus integrantes
individuais ou coletivos. (ROBREDO, 2003, p. 123)
CONDIÇÕES PARA A FLUÊNCIA INFORMACIONAL
Para adquirir Fluência Informacional, o leitor precisa passar a visualizar a informação contida no
conhecimento registrado em diferentes linguagens e suportes, como uma superestrutura que reúne, organiza
e direciona o conjunto dos textos pesquisados. Na pesquisa, em âmbito escolar e universitário, significa que
o “pesquisador-estudante” seja capaz de utilizar duas fontes ou mais na elaboração de um texto próprio, de
forma que essas fontes não sejam “recortadas-e-coladas”, mas interpretadas e sintetizadas em texto próprio,
com partes relevantes de conceitos e juízos citadas ao longo da redação própria.
ABRANGÊNCIA ATUAL DA COMPETÊNCIA INFORMACIONAL
A Competência Informacional, mais recentemente denominada “Competência em Informação”, então, não é
apenas compreendida como “Inclusão Digital” pela Ciência da Informação, mas abrange os aspectos da
leitura, compreensão, produção intelectual própria, habilidades e competências para ensinar o que se sabe e
aprender continuamente, apropriação de bons hábitos informacionais e gosto próprio pela leitura de lazer e
de formação intelectual continuada.
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ADVENTO DAS TIC’S
As modificações tecnológicas que transformaram o ciclo da informação e geraram a Ciência da Informação,
determinaram novos paradigmas de produção, comunicação e uso, assim como inversamente determinaram
o conjunto de competências informacionais necessárias ao pleno usufruto dos conhecimentos, saberes e
informações produzidas. Atualmente, todas as disciplinas tradicionais da Informação superaram, em sua
função social, a denominação inicial, pois a convergência das mídias assim o determinou.
NOVOS DESAFIOS DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
Se inicialmente a Ciência da Informação se preocupou com o desenvolvimento de instrumentos e técnicas de
recuperação da informação em todos os suportes de conhecimento – tarefa na qual esteve sempre coroada de
êxito –, a atualidade atribui um desafio ainda mais abrangente. É preciso também educar as pessoas, para
que cada indivíduo possa desfrutar competentemente do conhecimento construído coletivamente pela
humanidade e sistematizado pela Ciência da Informação. Neste sentido, a Gestão da Informação – área de
práticas sociais em desenvolvimento no campo da Ciência da Informação –, bem como o conceito e as
aplicações da Competência Informacional, tornam-se progressivamente interdisciplinares, à medida que
existe uma apropriação de premissas, do campo da Educação e de vários outros campos da Ciência, para o
pleno desenvolvimento das ações requeridas na Gestão da Informação.
COMPETÊNCIA INFORMACIONAL E INCLUSÃO SOCIAL
Existe uma relação cada vez mais estreita entre a Competência Informacional e a Inclusão Social. O “nó
górdio” da Inclusão Social no Brasil, dessa forma, é exatamente a inexistência de estruturas sociais que
caracterizem os ambientes de leitura desde a infância, como as bibliotecas familiares, escolares, públicas,
comunitárias e associativas, que estão disponíveis apenas para determinados grupos sociais; os mesmos que
até então ocuparam as cadeiras das melhores universidades e cursos superiores de maior status social do
país. Isso sem contar com a escassez de obras bibliográficas em suportes amigáveis aos portadores de
necessidades especiais, até o recente advento das mídias digitais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar das constatações acadêmicas e do aumento de responsabilidades “evidentes” para profissionais da
Informação e Educação, fica claro que as estruturas sociais, os equipamentos públicos e a legislação não
acompanham as necessidades da Sociedade da Informação na velocidade e abrangência desejável.
Em consequência direta, as Competências Informacionais têm sido desenvolvidas de forma heterogênea
entre os membros da sociedade, numa determinação futura de novos grupos sociais hegemônicos, em
detrimento da verdadeira Inclusão Social.
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REFERÊNCIAS
BRITTO, Luiz Percival Leme. Sociedade de cultura escrita, alfabetismo e participação. In: RIBEIRO, Vera Massagão
(Org.) Letramento no Brasil. São Paulo: Global, 2003. p. 47-63.
ROBREDO, Jaime. Da ciência da informação revisitada aos sistemas humanos de informação. Brasília:
Thesaurus, 2003.
SILVA, Lucia Vera da. Competências em informação dos estudantes de graduação para a elaboração dos
trabalhos acadêmicos: a contribuição das bibliotecas universitárias da UFBA. Dissertação (Mestrado em Ciência da
Informação). Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2009.
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LEITURA E LETRAMENTO
As primeiras pesquisas no campo da leitura e da formação do leitor se deram no campo teórico da
Psicologia, uma vez que o fenômeno do letramento foi compreendido como um processo psicológico
superior e que poderia ser objeto de investigações dessa natureza. Assim, os estudos pioneiros identificados
foram os de Wundt Von Leipzig que, no final do século XIX, vinculou a memória e o processamento da
linguagem escrita, assim como os estudos de E. B. Huey, sobre a psicologia e pedagogia da leitura. Baseado
nestes primeiros estudos, Emile Javal posteriormente desenvolveu um estudo laboratorial muito específico,
onde identificou porções de signos que poderiam ser processados, pelo movimento ocular executado na
leitura. Assim, ele foi o primeiro pesquisador a verificar que os olhos não se movem linearmente para frente
na leitura, fazem um movimento de “vai e vem”, que chamou de movimento sacádico. Entre os movimentos
sacádicos, o leitor faz a fixação de letras, signos e símbolos (em grupos cada vez maiores) nos momentos de
fixação ocular.
A leitura, para Javal, se definia como uma percepção conjuntural, não apenas uma mera decodificação
dos códigos da escrita. Um aprofundamento destes estudos atestou ainda que os leitores novatos fazem
pausas maiores e mais freqüentes, que vão diminuindo durante a escolarização. Enfocando estas descobertas
no processo leitor, os discípulos de Javal verificaram que a leitura não evoluía como uma mera sonorização
do texto escrito, mas na apreensão de significados e na compreensão do texto lido. Ou seja, a interpretação e
apropriação de conteúdos foram inseridas no próprio ato de ler, priorizada sobre a aprendizagem mecânica
dos símbolos e sons, o que se aproxima muito do atual conceito de letramento.
Porém, estas constatações iniciais foram deixadas de lado, pela emergência da perspectiva condutista,
que determinava o caráter naturalista da psicologia e a cognição da leitura como um processo mecânico,
sujeita ao controle, estímulo programado e resposta previsível. Seus principais teóricos, como Pavlov,
Watson e Skinner, desvincularam a leitura das práticas culturais e da afetividade, concentrando-se na
chamada “conduta textual”. Antes do final dos anos 1950, contudo, Noam Chomsky e seus discípulos
tiveram as suas críticas reconhecidas pela Academia, retomando o caminho que vincula a formação do leitor
à cultura e à afetividade. Assim, foram retomadas estratégias que enfatizam a empatia do leitor pelo texto,
apesar do prosseguimento de algumas aproximações teóricas do chamado funcionalismo.
Desta forma, os estudos sobre a leitura ainda estavam definidos como objetos da Psicologia,
encontrando-se isolados de outras disciplinas, com exceção da Pedagogia e alguns campos restritos de
estudo das Letras. Somente nos anos 1970, outras aproximações teóricas, também iniciadas nos anos 1950,
iriam preponderar sobre as teorias condutivas e funcionalistas.
Os estudos de Jean Piaget na França e Lev Vygotsky, Luria e Leontiev, na União Soviética,
enfatizariam que a cognição humana em geral se constrói não de forma alheia aos controles, mas pela
aquisição e construção de conhecimentos. Assim, segundo esta linha teórica, a cognição ocorre pela
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experiência pessoal, pela convivência, pelas brincadeiras e os gostos particulares, enfim, pela oportunidade
de construir conhecimentos com personalidade própria e sentimentos.
No entanto, enquanto Piaget se concentra na expressão natural da mente em amadurecimento, por meio
da construção do conhecimento, Vygotsky identifica a exploração ambiental da criança, por meio da
simulação e imitação presentes nas brincadeiras e aprendizagens infantis, caracterizando a zona de
reconhecimento proximal. De forma diferenciada, ambas as aproximações teóricas enfatizam que a tanto a
aquisição quanto a atividade linguística estão inseridas na participação da criança no mundo das vivências
sociais.
A emergência da teoria construtivista e da aproximação sócio-histórica modificou a visão acadêmica
da formação do leitor, agora inserida em um universo de experiências socialmente constituídas. Em
consequência, os estudos da leitura e da formação do leitor se estenderam para os campos do conhecimento
onde a prática da leitura se constitui como área concreta de aplicação. Com isso, a teoria da Educação, a
teoria da Informação e a teoria da Comunicação encontraram uma plataforma comum: a leitura e a escrita.
Não só a evolução e superposição dos modelos teóricos oferecidos para a explicação do ato de ler
foram aprofundando a visão deste processo: também as mudanças sociais contribuíram para isso, ampliando
por si o âmbito de significações do ato de ler. Na atual sociedade do conhecimento, o ato de ler adquire uma
nova significação, já que não se restringe mais à apropriação de informações, conhecimentos e enredos que
se encontram em suportes bibliográficos, mas representa também o acesso aos diferentes tipos de suporte,
mídias e linguagens, assim como a capacidade crítica de seleção, apreciação e prospecção. Pode-se dizer que
a leitura evoluiu de um ato de decodificação para um ato de transversalização da escrita, da imagem, do som
e do movimento, na constituição de um discurso e significado, onde o processo tanto é protagonizado pelo
escritor quanto pelo leitor.
Neste sentido, a leitura de histórias em quadrinhos pode e deve ser vista como preparatória para a
apropriação de grande parte dos textos compreendidos nos diferentes suportes midiáticos, sejam eles
analógicos, como o papel, ou digitais, como a Internet. Para Aurora Cuervas Cerveró, a formação da leitura
e a promoção da leitura tornam-se objetos da Ciência da Informação. Isto ocorre devido ao fato de o fluxo de
informações relevantes à sociedade atualmente encontrar-se diretamente relacionado com a universalização
de habilidades, competências e gostos pela leitura. Esta nova abordagem retira a exclusividade das áreas de
Psicologia e Pedagogia, pois
O modelo de alfabetização necessário, segundo sustentamos ao longo desta pesquisa, é o modelo de
Alfabetização em Informação, no qual a leitura, entendida no sentido amplo e integrador, é
absolutamente imprescindível, pois é a chave de acesso à Sociedade do Conhecimento. [...] As
bibliotecas constituem a armação imprescindível no desenvolvimento de uma sociedade leitora e se
impõe como uma instituição chave de uma sociedade igualitária, ao garantir o exercício de um direito
cidadão básico. (CUERVAS CERVERÓ, 2005, p. 283)
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Esta nova conceituação e compreensão da leitura, na qual estão inseridas premissas como a
acessividade, as habilidades e competências, o prazer, a apropriação e uso livre das informações, traz o
entendimento mais claro da importância do letramento, como situação que compreende uma relação ideal
entre o leitor e as leituras. A diversificação das leituras democratiza e oportuniza a comunidade o acesso à
leitura por diferentes caminhos, que cada indivíduo vai trilhar em conformidade com a sua idiossincrasia,
seja por uma obra clássica da literatura, seja por um álbum de histórias em quadrinhos, seja por um
periódico digital, com menor direcionamento e controle do comportamento e mais ênfase nas mediações
estabelecidas no processo de leitura. No Brasil, dois termos distintos são adotados para este
redimensionamento da leitura: “letramento” e “literacia”. A palavra letramento, já existente na língua
portuguesa, comporta exatamente o conceito delimitado por Magda Soares, como
[...] o desenvolvimento para além dessa aprendizagem básica [da alfabetização], da habilidades,
conhecimentos e atitudes necessários ao uso efetivo e competente da leitura e da escrita nas práticas
sociais que envolvem a língua escrita. (SOARES, 2003, p.89) .
No entanto, para o mesmo conceito, alguns pesquisadores criaram e adotaram o neologismo literacia
(p.ex.: TRINDADE, 2002), partindo do termo inglês literacy, que não será adotado nesta tese, aparecendo
apenas em citações literais dos especialistas que o adotam, e deve sempre ser considerado pelo leitor em
sinonímia com o termo mais adequado da língua, que é letramento. A alfabetização e o letramento, embora
sejam processos interdependentes, são distintos, pois o primeiro se refere ao domínio linguístico da
semiologia das diferentes linguagens de recorrência bibliográfica, enquanto o segundo se remete à
concretização destes conhecimentos em vivências subjetivas e objetivas na vida das pessoas, como a
produção de textos relevantes, a fruição de lazer cultural, a apropriação das regras sociais descritas
bibliograficamente para uso próprio, a aprendizagem autônoma e a educação continuada, a atualização da
informação com um numero mínimo de intermediações. Por serem processos complementares, a
alfabetização e o letramento ocorrem, com diferentes ênfases, compartilhando os mesmos espaços públicos e
privados. O vínculo entre a alfabetização e letramento se dá, contudo, no processo social da escolarização,
pois
[...]para refletir sobre as relações entre letramento e escolarização, a palavra escolarização é considerada
em ambos os sentidos: por um lado, a fim de discutir as relações entre níveis de aprendizado escolar e
níveis de letramento, toma-se a palavra com o complemento “pessoa”: considera-se a escolarização da
criança, do jovem, do adulto; por outro lado, em busca das relações entre práticas sociais e práticas
escolares de leitura e de escrita, toma-se a palavra com o complemento “conteúdo”: considera-se a
escolarização da escrita como objeto de aprendizagem. [...] a concepção corrente é que a criança vai à
escola “para aprender a ler e a escrever”. (SOARES, 2003, p.93)
De certa forma, contudo, há uma diferença relevante entre o letramento pretendido pelas atividades
escolares e pelas instâncias sociais voltadas para a leitura pública. Em um conceito de letramento escolar, as
atividades de leitura e escrita são autônomas em relação às circunstâncias de produção e uso do texto,
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criando seus próprios eventos de contato com a leitura, enquanto o letramento social é exercido mediante a
apropriação de conteúdos, discursos e mensagens que se vinculam ao leitor, dadas às circunstâncias de
produção, veiculação, recepção, apropriação ou reação aos conteúdos (SOARES, 2003:97-113).
O letramento escolar é, sem sombra de dúvida, essencial para uma continuidade coerente da educação
formal e atua no âmbito da construção de conhecimentos apoiada nos registros bibliográficos. Porém, para
os demais momentos da vida, o letramento social representa a possibilidade de vincular-se ou estar
marginalizado, em uma sociedade onde a informação ganha espaço e valor em todos os momentos, seja de
atuação cidadã, seja de lazer cultural, seja de consumo de bens culturais tangíveis e intangíveis em sua
subjetividade.
O que muitos pesquisadores da leitura, em âmbito mundial, discutem sob diferentes epístemes, é que o
letramento escolar e o letramento social, embora situados em diferentes espaços e vivências pessoais, são
partes dos mesmos processos sociais mais amplos. Assim, há expectativa de que as pesquisas nos campos da
Informação, Educação e sobre os suportes bibliográficos e híbridos propiciados pelas linguagens das mídias
convergidas digitalmente sejam enfáticas nos aspectos positivos para a evolução cultural e social da
humanidade, mas não poderão omitir-se das críticas inerentes ao próprio paradigma dialético, para não
perder a criticidade, a politização e a solidez ética tão necessária às ciências sociais aplicadas.
REFERÊNCIAS
CUERVAS CERVERÓ, Aurora. La promoción a la lectura como modelo de alfabetización en información
en bibliotecas escolares. Getafe: Universidad Carlos III, 2005. (Tesis doctoral)
SOARES, Magda. Letramento e Escolarização. In: RIBEIRO, Vera Masagão (org). Letramento no Brasil.
São Paulo: Editora Global, 2003. p. 89-113.
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A FORMAÇÃO DO LEITOR EM UNIDADES DE INFORMAÇÃO
A unidade de informação, dentro de seus ideais de difusão da informação, divulga, produz e controla
os padrões de qualidade da informação disponibilizada aos seus usuários por meio da divulgação do material
adquirido ou acessível. O controle dos padrões de qualidade da informação acontece no momento da
representação da informação, proporcionando aos usuários a recuperação da informação que necessitam.
Constatou-se que, nas unidades de informação voltadas para o ensino superior, pesquisa e desenvolvimento
ou serviços especializados, as necessidades informacionais principais são voltadas à informação estratégica,
pois esta é fundamental no processo de tomada de decisão. Observa-se que para trabalhar com a informação
estratégica necessita de informações que possibilitem tomadas de decisões fundamentadas, informação
correta, em tempo hábil e o local adequado.
A esse respeito McGee e Prusak (1994), afirmam que a capacidade de adquirir, interpretar e utilizar a
informação de forma eficaz poderá garantir, na economia da informação, a diferenciação. Ou seja, a
formação do leitor oportuniza a interpretação e a difusão da informação, voltada para os objetivos de vida e
trabalho, além de proporcionar oportunidades de reflexão que levam ao progresso da sociedade e suas
instituições.
INTERPRETAÇÃO E DIFUSÃO DA INFORMAÇÃO
Ao adquirir capacidades e competências voltadas para a obtenção e interpretação da informação, usuários e
profissionais da informação se veem envolvidos em processos nos quais fica clara a interdependência de
fatores, para que haja a sua difusão. A este respeito Strong, Lee e Wang (apud LIMA, 2007) ressaltam dez
possíveis fontes de problemas que afetam diretamente a qualidade dos serviços informacionais e da própria
informação em uma unidade de informação (e na organização por ela servida) com relação às etapas de
produção, armazenamento e utilização das informações.
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Conforme quadro abaixo:
ETAPAS PROBLEMAS CONSEQUÊNCIAS
PRODUÇÃO DA
INFORMAÇÃO
Múltiplas fontes da mesma informação produzem
diferentes valores.
Problemas financeiros e legais.
A informação é produzida utilizando critérios subjetivos,
levando a inconsistência.
Problemas financeiros e legais.
Erros sistêmicos na produção da informação levam a
perdas.
Perda ou distorção da informação
ARMAZENAMENTO DA
INFORMAÇÃO
Grandes volumes de informações armazenadas tornam
difícil o acesso em tempo razoável.
Tempo excessivo para extrair e agrupar
informações.
Sistemas distribuídos heterogêneos levam a definições,
formatos e valores inconsistentes.
Informações inconsistentes, difíceis de
acessar e agrupar.
Informações não-numéricas possuem dificuldades de
indexação.
Custos de armazenamento mais elevado
com pouco retorno.
UTILIZAÇÃO DA
INFORMAÇÃO
Análise automatizada de conteúdo sobre coleções de
informações ainda não disponível.
Análise de imagem e texto em formato
eletrônico ainda limitados.
Devido às mudanças de tarefas e de ambiente da
organização, a relevância e utilidade da
informação pode variar.
Desalinhamento entre informação
disponível é a que é necessária.
Acesso fácil à informação deve conflitar com
necessidades de segurança, privacidade e
confidencialidade
Mecanismos de segurança impedem
acesso, então a informação é
classificada (censurada).
Falta de recursos computacionais suficientes limitam o
acesso.
Limitam a qualidade da informação.
Ao tratar dos fatores que interferem ou podem interferir na qualidade da informação disponibilizada aos seus
usuários. Constatou-se que os fatores que interferem na qualidade da informação são:
relevância, disponibilidade, objetividade, veracidade, acessibilidade e segurança,
além dos processos de entrevista aos usuários em relação ao problema informacional e
o processo de identificação da real necessidade informacional.
Os atributos envolvidos na produção da informação são:
exatidão (grau de liberdade do erro da informação);
alcance (integralidade da informação);
conveniência (relevância da informação);
clareza (grau que a informação está livre de ambiguidade);
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oportunidade (tempo decorrido no ciclo produtivo da informação);
acessibilidade (facilidade com que a informação pode ser obtida pelo consumidor).
Os atributos que qualificam a informação em sua unidade informacional são:
confiabilidade das fontes impressas;
confiabilidade das fontes digitais ou digitalizadas;
confiabilidade da representação descritiva e temática.
Muitas vezes, a qualidade da informação é confundida com a qualidade dos atributos que a qualificam em
determinada unidade de informação. Portanto, é necessário que os profissionais da informação se preocupem
com a metodologia aplicada na avaliação e desenvolvimento desses atributos e em sua significação em
relação ao usuário:
Desenvolvimento de Coleções: Avaliação qualitativa das fontes e equilíbrio do acervo em relação às
necessidades informacionais dos usuários;
Representação da informação: Escolha de instrumentos e padrões ou desenvolvimento de
instrumentos e padrões próprios à peculiaridade dos serviços informacionais prestados e adequados
ao perfil do usuário;
Serviço de Informação e Referência: Desenvolvimento de estratégias de busca adequadas às
necessidades informacionais e ao perfil do usuário;
Capacitação: Adequada a aproximação do perfil do usuário atual ao perfil do usuário desejável,
aumentando sua competência informacional e preparando-o para um uso mais autônomo e crítico
da informação.
Algumas características da própria informação dificultam a gestão para a produção, armazenamento e
utilização:
a informação pode surgir de várias formas (explícita, implícita);
existe escassez de informação correta;
é difícil criar informação;
é fácil reproduzi-la;
a informação não se deprecia da mesma forma que os bens de capital, seu valor pode ser eterno ou
perecível (dependendo das circunstâncias);
o valor da informação aumenta com o uso e com a precisão
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REFERÊNCIAS
DAVENPORT, T; PRUSACK, L. Ecologia da informação: por que só a tecnologia não basta para o
sucesso na era da informação. São Paulo: Futura, 2002.
LIMA, L. F. R. Qualidade da informação na indústria bancária: o caso dos bancos públicos. Dissertação
(Mestrado) Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul/Escola de Administração, 2007. 107f.
Disponível em: <http//:www.lume.ufrg.br>. Acesso em 15 de novembro de 2011.
McGEE, J.; PRUSAK, L. Gerenciamento estratégico da informação: aumente a competitividade e a
eficiência de sua empresa utilizando a informação como ferramenta estratégica. Rio de Janeiro: Campus,
1994.
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AS NECESSIDADES DE INFORMAÇÃO
PROBLEMATIZAÇÃO
A unidade de informação deve conhecer o comportamento e as necessidades informacionais dos
usuários, para que possa atender competente e satisfatoriamente seu público alvo.
As bibliotecas priorizam adequar/adaptar coleções as necessidades de seus usuários, ordenando a
demanda no uso do serviço para satisfação destes.
As equipes bibliotecárias não tem se detido no estudo dos usuários e do uso que os mesmos fazem
das coleções.
IMAGEM INSTITUCIONAL
O estudo de usuário possibilita, além do planejamento de serviços, produtos e o desenvolvimento de
coleções, um enfoque mercadológico , no qual serão utilizados instrumentos sistematizados e
fundamentados em noções de pesquisa e segmentação de mercado, além da análise do consumidor.
Ao conhecer a imagem que a unidade de informação tem para os usuários, é possível trabalhar com a
construção de um relacionamento de melhor qualidade entre público usuário, público interno e
equipe bibliotecária, assim como melhorar o status da unidade de informação na instituição ou
segmento administrativo.
PERFIL DO USUÁRIO MEDIANTE A NI
A determinação das necessidades de informação necessita de pesquisas quantitativas e qualitativas,
estabelecendo médias que definam os indicadores como coletivos.
Pode-se perceber que a necessidade de informação de cada usuário é influenciada pela formação do
usuário, treinamento que possui na utilização das fontes, acesso aos serviços de informação, grau de
instrução,
conhecimento de línguas, tempo disponível para buscar informação, grupo social, imagem que cada
um tem da informação e experiências anteriores (difundida informalmente entre os iguais).
DIAGNÓSTICO INICIAL
Verifica-se que a equipe bibliotecária, a partir do diagnóstico inicial, pode fazer intervenções no
sentido de alterar o quadro inicial, que serão tanto eficientes quanto caírem no gosto do usuário.
São os requisitos de sua necessidade que ditam os valores à ser agregados durante o julgamento da
interface biblioteca/usuário.
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DADO E INFORMAÇÃO
DADO: Informação indicativa (um índice ou indicador) que está solta, única, isolada, bruta, não
trabalhada, sem nenhum valor agregado a ela.
INFORMAÇÃO: É o produto resultante da análise de uma somatória de dados, elaborada para
determinada finalidade), isto é, a informação normalmente é acrescida de um valor agregado. A
informação é, portanto, a formatação de diversos dados para um determinado fim.
NECESSIDADE INFORMACIONAL
A Necessidade Informacional se compõe da demanda de um indivíduo ou grupo social por informação, que
deverá estar organizada em nível adequado para sua decodificação, compreensão, apropriação e aplicação,
nos quesitos: Adequação de língua, linguagem e suporte; Adequação técnico-científica; Adequação gestora;
Adequação social e política.
LIGAÇÃO ENTRE AS NECESSIDADES E COMPETÊNCIAS INFORMACIONAIS
COMPETÊNCIAS INFORMACIONAIS
As Competências Informacionais se referem a capacidade individual ou coletiva de um grupo social
na obtenção, decodificação, compreensão, apropriação e aplicação de informação, nos quesitos:
Comunicação e Expressão;
Técnico-Científico;
Gestor;
Político e social.
COMPETÊNCIAS DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
As Competências de Comunicação e Expressão se referem ao domínio da fala e escrita na exposição
de ideias complexas:
Letramento pleno ou parcial, ou seja, escrever, ler, expressar oralmente e difundir por escrito,
possuir gostos, preferências, hábitos e aplicações para informações em suporte bibliográfico.
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COMPETÊNCIAS TÉCNICO-CIENTÍFICAS
As Competências Técnico-Científicas se referem ao domínio de linguagens, suportes e conteúdos
complexos:
Domínio de suportes tradicionais e digitais, assim como dos artefatos necessários a sua
leitura;
Domínio da língua predominante ou da linguagem especializada nas fontes onde se
encontram as informações necessárias.
COMPETÊNCIAS GESTORAS
AS Competências Gestoras se referem a capacidade individual ou coletiva de aplicar as informações
contidas nas fontes disponibilizadas, uma vez compreendidas:
Administração de situações de produção ou de serviços especializados;
Solução de problemas reais;
Planejamento de ações em nível estratégico, tático e operacional.
COMPETÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS
As Competências Sociais e Políticas se referem ao posicionamento individual ou coletivo mediante
circunstâncias de convívio em sociedade:
Colocação adequada no mercado de trabalho;
Contribuição social contratada ou voluntária;
Obediência às leis e regras de convívio, busca e reivindicação adequada de direitos;
Atitude crítica mediante os problemas sociais e a gestão pública dos mesmos.
INSTRUMENTOS DE PESQUISA DE PERFIL DE USUÁRIOS
Questionário estruturado aplicável (Survey);
Roteiro de observação;
Apuração de demandas referenciais;
Estudo de uso da coleção;
Estudos de perfil sócio-histórico de associados;
Pesquisa sobre o perfil da comunidade servida (em fontes oficiais).
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PRINCIPAIS TEORIAS
ABORDAGEM AUTORES TEORIA
Valor Adicionado Taylor, McMullin, Hall, Ford, Garvey, Mohr,
Paisley, Farradane, Figueiredo.
Foco na utilidade que o usuário
traz para o sistema. Ênfase na
solução de problemas.
Construção de Sentido
Ferreira (1997) desdobrou
em: processo e sense-
making.
Dervin, Fraser, Edelstein, Grunig, Stamm, Atwood,
Palmour, Carter, Warner, Chen, Burger, Hernon,
Ferreira.
Foco no uso da informação pelo
usuário. Ênfase no
preenchimento de lacunas
cognitivas na formação de
sentido.
Anomalia Cognitiva Belkin, Oddy, Ofori-Dwumfuo, Le Coadic, Choo,
Wilson, Auster.
Foco na visão incompleta de
situações problemáticas. Ênfase
nas estratégias de busca da
informação lacunar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ênfase nas necessidades informacionais, que veio até mesmo a conceituar a “Unidade de
Informação”, apresenta um novo regime de trabalho, no qual a sociedade busca ao mesmo tempo
facilitar o acesso a todo tipo de informação, assim como preparar as pessoas para apropriar-se deste
recurso.
Na Academia, isto representa também uma nova postura com referência à divulgação dos progressos
científicos, pois a compreensão da população leva à crítica e influencia as opções metodológicas,
seja do ponto de vista científico ou político.
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A RELAÇÃO ENTRE A INCLUSÃO SOCIAL, O LETRAMENTO E A
COMPETÊNCIA INFORMACIONAL
O conceito de Competência Informacional, oriundo da Ciência da Informação, está atraindo para si a
centralidade da gestão da informação em todos os espaços da sociedade, como conseqüência do uso dos
princípios do letramento como novo escopo da escolarização fundamental. Em favor de um futuro para a
educação formal e a academia, é necessário que as práticas pedagógicas e andragógicas sejam acrescidas das
mídias, suas linguagens, artefatos, assim como sua geografia digital e as vias de informação que por ela
transitam. Isso, em âmbito acadêmico, se reflete para além da instituição de espaços laboratoriais, para uma
modificação nas práticas de ensino superior, acrescidas de formas de avaliação de aprendizagem de novas
habilidades e competências nas vivências digitalizadas.
Na situação universitária brasileira atual, a inclusão social emerge como um dos tópicos de grande
destaque e controvérsia, implicando na apropriação de bens culturais e níveis informacionais antes
inexpugnáveis a maioria da população, situação na qual se insere a função bibliotecária e docente na
implementação da Competência Informacional nos ambientes presenciais e virtuais do ensino superior.
Programas como o REUNI, PROUNI e a política de cotas sócio-econômicas e etnicas1 de ingresso no ensino
superior, transformam as universidades públicas federais em espaços de inclusão social representativos de
um novo tempo para o Brasil, mas devem garantir a homogeneidade de formação dos egressos, mediante a
heterogeneidade dos discentes ingressantes. As questões relacionadas com os diferentes níveis de letramento
e familiaridade com linguagens e suportes midiáticos são enfatizadas nos contextos de ensino superior, nos
quais as formas de mediação dos docentes não correspondem à bagagem cultural discente.
Não há correspondência clara, inclusive em relação à disponibilidade de tempo e à retaguarda
financeira dos protagonistas, indicando a reflexão de que a referida inclusão requer tratamento e
disponibilidade de recursos diferenciados, para que os efeitos da educação superior resultem em turmas
egressas mais homogêneas, no desenvolvimento de habilidades de competências. No contexto atual da
Globalização, as formas de produção de bens estão sofrendo profundas mudanças.
Os cientistas sociais falam em Sociedade Informacional, simbolizando o fim da Sociedade Industrial,
com as profundas modificações no modo de vida que isso pode acarretar. Tem-se, por exemplo, a
modificação do conceito de emprego, de consumo, de comunicação, tudo determinado pelo advento das
tecnologias digitais. Os novos desafios da sociedade, em um âmbito global, referem-se ao aprofundamento
das diferenças sociais. Em algumas partes do mundo as pessoas morrem de fome e verminose, vivendo pior
do que os ancestrais rupestres. Em outros lugares as pessoas ficam doentes pelo excesso de comida e fartura,
mas não sentem segurança social para sair às ruas. O advento das tecnologias digitais de comunicação
1 Internacionalmente, as cotas de ingresso no ensino superior representam um favorecimento que visa a inclusão de um grupo
social desfavorecido. No Brasil, as principais políticas de cotas são: Étnicas (também chamadas Raciais) e Socioeconômicas.
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trouxe à vista de todos os cidadãos do mundo esse profundo desequilíbrio e exclusão, construindo um
conhecimento novo, que vem para despertar em cada um a busca pela igualdade de condições e qualidade de
vida. Muito embora existam ainda grandes potências políticas internacionais agindo de forma egoísta, há a
possibilidade de modificar a realidade de exclusão para todos os seres humanos.
Quem vai garantir a energia necessária para a implementação dessas modificações e um futuro mais
generoso e feliz para as futuras gerações será a Educação, em seus diferentes níveis e modalidades. O
mundo tem chance de se modificar, sob a égide de valores edificantes, que superem os preconceitos, aceitem
as identidades e diferenças individuais e proporcionem a todos a chance da participação social, por efeito de
uma educação libertadora, que desenvolva habilidades, competências, aplicabilidades éticas, amor ágape e
solidariedade em todos os âmbitos da vida pública.
A distribuição equânime dos recursos materiais do mundo, assim como o seu consumo responsável,
virá como consequência natural de uma sociedade bem educada e de mentalidade evoluída, que adotará a
inclusão social como ideal buscado mundialmente. As implicações dessas novas demandas sociais,
sobretudo no ambiente universitário, enfatizam a importância do desenvolvimento da Competência
Informacional como foco de discussão no campo teórico da Ciência da Informação, assim como uma
preocupação inerente às práticas de seus agentes sociais, nos ambientes consagrados ao ensino e pesquisa
superior no Brasil, sobretudo nas práticas profissionais ambientadas na Biblioteca Universitária.
SITUAÇÃO CONTROVERSA
Na situação universitária brasileira atual, a inclusão social emerge como um dos tópicos de grande destaque
e controvérsia, implicando na apropriação de bens culturais e níveis informacionais antes inexpugnáveis a
maioria da população, situação na qual se insere a função bibliotecária e docente na implementação da
Competência Informacional nos ambientes presenciais e virtuais do ensino superior.
MEDIAÇÕES PEDAGÓGICAS E INFORMACIONAIS NA UNIVERSIDADE
Diferentes níveis de letramento e familiaridade com as mídias e linguagens:
Cotistas e egressos do ensino público, ou de regiões onde não se popularizou o uso de mídias
digitais, como as cidades do interior ou o campo;
Egressos de escolar da rede privada ou de famílias com médio e alto poder aquisitivo, residentes em
grandes capitais.
As questões relacionadas com os diferentes níveis de letramento e familiaridade com linguagens e suportes
midiáticos são enfatizadas nos contextos de ensino superior, nos quais as formas de mediação dos docentes
não correspondem à bagagem cultural discente.
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COMPETÊNCIA INFORMACIONAL
O conceito de Competência Informacional, oriundo da Ciência da Informação, está atraindo para si a
centralidade da gestão da informação em todos os espaços da sociedade, como consequência do uso dos
princípios do letramento como novo escopo da escolarização fundamental. Incluir grupos sociais na
capacitação para o trabalho em nível superior, mas também incluir no pensamento, na reflexão, na fruição
cultural superior, são novos objetivos desejáveis para a formação universitária, buscando a conceituação
correta e as premissas básicas que diferenciam o paternalismo e o clientelismo da verdadeira inclusão social,
por meio da apropriação e da produção autônoma de informação e conhecimento. Nesse sentido, cabe a
instituição universitária desenvolver um conjunto de ações no sentido de implementar a competência
informacional nos ingressantes heterogêneos, no sentido de cuidar da homogeneidade dos egressos.
CONCEITO DE LETRAMENTO
O conceito de Letramento, internacionalmente conhecido como Literacy, consolida o perfil interdisciplinar
da Competência Informacional à medida que determina todo o ambiente social, as mídias e suas linguagens,
assim como os ambientes educacionais reais e virtuais como mediadores de informações e conceitos, que
necessitam de Gestão da Informação para que a difusão e a apropriação sejam democratizadas.
ASPECTOS ATUAIS DA COMPETÊNCIA INFORMACIONAL
A Competência Informacional, então, não é apenas compreendida como “Inclusão Digital” pela Ciência da
Informação, mas abrange os aspectos da leitura, compreensão, produção intelectual própria, habilidades e
competências para ensinar o que se sabe e aprender continuamente, apropriação de bons hábitos
informacionais e gosto próprio pela leitura de lazer e de formação intelectual continuada. Um conjunto
emergente de fontes de informação determina a necessidade da competência informacional para o ensino e a
pesquisa universitária.
OS REPOSITÓRIOS DIGITAIS
Os alunos das universidades medievais de diferentes níveis depositavam seus cadernos de anotações e seus
apontamentos de pesquisa na biblioteca universitária, como forma de gerar um repositório próprio do
conhecimento ali produzido. Perdida na Idade Moderna, a função do repositório foi recuperada por meio das
novas tecnologias, contemplando as necessidades de compartilhamento e atualização de milhões de
estudantes.
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A VIA VERDE E A VIA DOURADA
A partir do conjunto de condições proporcionadas pelo advento das mídias digitais e do novo modo de
produção da ciência, a comunicação científica progressivamente deixa de ocorrer efetivamente de forma
presencial, síncrona e periódica, para se tornar distancial, contínua e assíncrona. Dessa forma, se constituem
duas vias informacionais que criam um ambiente de inteligência conectiva e globalizada:
A Via Verde - Também chamada de Green Road, a Via Verde constitui um conjunto de instituições e
publicações que integram o Movimento Internacional do “Acesso Aberto”.
Também chamada de Gold Road, a Via Dourada constitui um conjunto de publicações, geralmente
caracterizadas como revistas, totalmente de acesso aberto, tanto do ponto de vista da publicação
quanto do ponto de vista da consulta.
VIAS ÁGEIS DE COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL
A Blogosfera promove uma aproximação não hierarquizada, descontínua e motivada por relações
interpessoais que podem passar ao largo das grandes instituições de amparo, fomento, ensino e pesquisa
científica.
Em março de 2010, a Biblioteca do Congresso Norte Americano (Library of Congress) adquiriu para seu
acervo todos os arquivos já veiculados pelo Twitter, que supera os 50 milhões de mensagens diárias na
atualidade, representando um acervo de bilhões de comunicações interpessoais.
A RENOVAÇÃO DA BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA
As pesquisas preditivas da Ciência da Informação indicam mudança profunda nos produtos e serviços
informacionais das Bibliotecas Universitárias, pois são elas que podem representar o espaço coletivo
dinâmico de apropriação cultural, diminuição do desnível inicial na situação de ingresso por cotas ou
programas; facilitadora da conversão de materiais de estudo para portadores de limitação sensorial,
apresentadora das diferentes fontes de informação, conhecimento, e fruição e lazer cultural.
DOIS NOVOS MODELOS DE BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA
Existem dois novos modelos de Biblioteca Universitária em implantação internacional, superando o modelo
atual e que, na década que se iniciará em 2010, determinarão as novas formas de trabalhar e avaliar os
produtos e serviços: a Library Without Walls – LWW (modelo desenvolvido no Reino Unido) e o Centro de
Recursos para el Aprendizaje y Investigación – CRAI (modelo desenvolvido na Espanha).
QUALIDADE NA BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA
A atual situação universitária e as implicações de novos modelos de educação superior em âmbito mundial,
mais voltados para a profissionalização do que para o “pensamento superior”, indicam duas tendências para
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conceituar a qualidade em Bibliotecas Universitárias e renovar os instrumentos internacionais de avaliação:
a qualidade pode ser determinada pela acessividade distancial das necessidades informacionais (informações
propriamente ditas, documentos, textos integrais); a qualidade pode ser, pelo contrário, determinada pelos
produtos e serviços possibilitados pela frequência e vivência em um espaço voltado para a leitura e para o
desenvolvimento de Competência Informacional, que supere o utilitarismo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Biblioteca Universitária, nessa nova situação de inclusão, agrega para si a responsabilidade atual do
desenvolvimento da Competência Informacional, sem que lhe fosse anteriormente garantida à condição
material e as qualidades inerentes ao acervo, que deve incorporar as funções de lazer cultural além da
formação continuada, além das práticas de pesquisa e aprendizagem superior. Promover a inclusão
universitária não é uma situação de paternalismo, é uma oportunidade de crescimento real da
intelectualidade brasileira e da formação de discursos sociais transversos e diferenciados, por meio da
prospecção de potenciais intelectuais antes desperdiçados.
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OS MODELOS DE ESTUDOS DE USUÁRIOS POR UNIDADES DE
INFORMAÇÃO E NECESSIDADES INFORMACIONAIS
EVOLUÇÃO DA TERMINOLOGIA
Os estudos iniciais, desenvolvidos na Índia e nos Estados Unidos, apontavam para a figura do
consulente, pois as necessidades eram analisadas de forma individual. O termo consulente se tornou obsoleto
e foi substituído nas tradicionais bibliotecas e nos estudos de comunidade por “Leitor”. O termo
“Consumidor”, utilizado por Taube (1958, apud Pinheiro, 1982) e por Allen (1977, apud Pinheiro, 1982),
trata dos padrões de consumo de informação na biblioteca.
O termo mais utilizado na literatura é Usuário, verbete que no dicionário Buonacore (1976) registra
como “pessoa que faz um aproveitamento intensivo, ativo e assíduo, não apenas do serviço leitura, mas
também de outros serviços proporcionados pela biblioteca”. Para Sanz Casado (1994, p. 19), “Usuário da
Informação é aquele indivíduo que necessita informação para desenvolver suas atividades”. Para Cunha;
Cavalcanti (2008) é a pessoa que utiliza os serviços da biblioteca, utente, cliente, leitor etc. No enfoque de
gestão empresarial de acordo com Sheith (2001), o termo designa pessoa ou unidade organizacional que
desempenha um papel na consumação, e se aplica tanto para o mercado industrial, empresas de serviços
básicos, empresas financeiras, profissionais autônomos e outras, quanto para o mercado de bens de
consumo; portanto, consumidor. Esporadicamente se utiliza o termo cliente como consumidor de
informação.
MODIFICAÇÃO NO OBJETO DE ESTUDO
Estudo de Comunidade se constitui em uma análise das características de determinado grupo de
indivíduos observando seus aspectos econômicos, sociais, educacionais, culturais etc., com vista a
identificar suas necessidades e comportamento individual e do grupo, a fim de que a biblioteca possa suprir
as carências informacionais dos indivíduos e da comunidade como um todo.
Conforme Figueiredo (1979, p. 45), “Os padrões mínimos estabelecidos para as bibliotecas públicas
em 1976 dão ênfase à necessidade do estudo da comunidade” e para torná-las parte integrante da
comunidade. Segundo Figueiredo (1979, p. 49), os dois primeiros estudos empíricos sobre comunidade
datam de 1908 e 1919, no entanto, os estudos pioneiros, clássicos, de caráter científico, foram os de Gray e
Monroe (1929): “Interesse de leitura e hábitos de adultos e de Waples e Taylor (1931) “Sobre o que as
pessoas querem ler”. Esses estudos se multiplicam nos anos 1930 como instrumento de administração de
bibliotecas, porém mais como tarefa acadêmica dos peritos da Escola de Chicago do que como uma
atividade dos bibliotecários.
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A partir daí surgiram outros estudos enfocando o “não-usuário” da biblioteca, assim como as
características sociais e a leitura dos indivíduos. Para Martin (1944, apud Figueiredo, 1979) o nível
econômico numa comunidade é útil para a seleção de livros. Com ênfase no hábito da leitura e no uso da
biblioteca ainda constantes nos anos 40, esses estudos continuam a ser aplicados nos anos 50 e subsequentes.
Nos anos 60 se destacam os trabalhos publicados pela American Library Association (ALA), em especial
um manual para estudo das necessidades e da educação de adultos.
METODOLOGIAS DE COLETA DE DADOS
São muitos os métodos e técnicas de coletas de dados que podem ser utilizados e todos apresentam
vantagens e desvantagens; portanto, nenhum é melhor que o outro, mas há métodos que melhor se aplicam a
determinado problema ou população, e a junção de mais de um método garante maior confiabilidade aos
resultados.
Na atualidade, também se utilizam metodologias provenientes de outros campos do conhecimento,
como história, antropologia e ciências humanas em geral. Embora siga sendo repetido e publicado o modelo
dos trabalhos pioneiros sobre usuário, marcados pela ênfase na abordagem quantitativa, centrados mais na
informação e no material do que no indivíduo, algumas vezes confundidos com estudo de avaliação de
coleção, em geral com foco no usuário da informação científica e tecnológica, em usuários de bibliotecas
especializadas ou universitárias, e em menor escala de bibliotecas públicas, a literatura corrente tem
difundido estudos com novos paradigmas, abordagens alternativas focalizando tendências atuais.
Portanto, o usuário está voltando a ser o objeto em evidência e reiterando Costa; Silva; e Ramalho
(2009):
Nunca um termo foi tão utilizado nos diversos campos disciplinares dedicados aos
estudos de informação, seja pelas Ciências da Computação, Ciências da Informação,
Biblioteconomia, Arquivologia, Museologia, Comunicação Social, Administração, Ciências
Contábeis, entre outras.
A partir dos anos 90, com a proliferação do uso das tecnologias da informação surge novo foco, nova
abordagem para os estudos de usuário de bibliotecas digitalizadas, de sistemas de informação ou web sites,
que diferem dos estudos de uso de coleção; versam sobre usabilidade de softwares, usabilidade de sistemas
de informação, usuários da informação para tomadas de decisões enquanto gestores no âmbito empresarial,
etc.
Por conseguinte, surgem novas tipologias de usuários além da clássica divisão em Usuários Reais e
Potenciais ou não-usuários: são os usuários da informação no ambiente organizacional, usuários presenciais,
remotos ou à distância, e, de acordo com Silva (2008), há o grupo dos considerados principiantes e o grupo
dos instruídos na busca de informação por meio da tecnologia, ou seja, aqueles que superam os bloqueios na
usabilidade do sistema. De acordo com Ferreira (2003, apud Silva, 2008), usabilidade é a característica que
determina se o manuseio de um produto é fácil e rapidamente aprendido, com baixa incidência de erros
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operacionais e alto grau de satisfação, atingindo seus objetivos. O fato de ser eficaz, eficiente e de fácil
utilização, um sistema amigável (user-friedly) garante usabilidade e pode garantir a satisfação do usuário ao
executar tarefas impostas pelo sistema e também o acesso à informação, mas não garantem o acesso ao
conteúdo da informação nem a satisfação da real necessidade de informação do usuário, pois esses fatores
estão diretamente relacionados ao background do usuário e à pertinência do conteúdo para a demanda. .
Vários modelos têm sido usados para estudar o usuário em maior amplitude, como, entre outros, o
modelo de Elli, que criou seis categorias, acrescidas posteriormente de mais duas por Elli, Cox e Hall (1993,
apud Barros; Saorim; Ramalho, 2008): Iniciar, Encadear, Navegar, Diferenciar, Monitorar, Extrair, Verificar
e Finalizar. O Modelo de Kuhlthau (1994, apud Lira et al., 2008) se baseou numa teoria construtivista nas
áreas de filosofia, psicologia e educação sobre as fases de aquisição do conhecimento e no foco da
necessidade de informação no conceito de “estados anômalos do conhecimento” de Belkin, Oddy e Brooks
(1982, apud Lira et al., 2008) e na teoria do “focus continuum” de Taylor (1968, apud Lira et al., 2008),
segundo a qual a necessidade de informação muda numa perspectiva crescente e contínua.
A abordagem psicológica e metodológica do modelo ISP – Information Search Process, de Kuhlthau,
sobre busca e uso da informação, é caracterizada por mudanças nos estados físicos (ações), cognitivos
(pensamentos) e afetivos (sentimentos). O modelo ISP de Kulthau aplicado aos estudantes universitários e
usuários de biblioteca detectou padrões comuns na experiência dos usuários e se distingue dos modelos
tradicionais de pesquisa em bibliotecas por certos princípios que envolvem o papel ativo do bibliotecário em
parceria com o professor, no sentido de motivar o uso da coleção e o desenvolvimento de pesquisa que
resultem publicação (Lira 2008).
Choo (2003) aborda três propriedades que interferem na busca e no uso da informação: o significado
que o indivíduo dá com base em suas estruturas emocionais e cognitivas; a situação do meio profissional ou
situacional do indivíduo, portanto o uso da informação é situacional e também dinâmico na medida em que
os elementos cognitivos, emocionais e situacionais do ambiente interagem e impulsionam o processo de
busca da informação. Choo (2003, p. 66) faz um mapeamento da pesquisa sobre necessidade e uso da
informação e afirma que “O estudo de como as pessoas se comportam quando buscam e usam a informação
tem uma longa história, que remota ao ano de 1948”.
A abordagem cognitiva do sense-making (dar sentido) de Brenda Dervin (1986, apud Venâncio;
Nassif, 2008) evidencia uma realidade que não é completa nem constante, mas permeada de
descontinuidades difusas e vazios (gap) e se constituem de premissas conceituais e métodos de avaliação
que procuram compreender como as pessoas constroem sentido em suas realidades. O foco dessa abordagem
é compreender como se processa a atividade humana de observação e interpretação do mundo exterior. A
abordagem do sense-making (visto como um esquema pessoal e de referências ) enfatiza o indivíduo e seu
mundo interno, não atentando para as dimensões coletivas do processo de construção de sentido. Porém, de
acordo com Venâncio; Nassif (2008), para superar tal visão individualista, Dervin (1993) realça a
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importância da ação descritiva pelo verbo, construída na linguagem e em uma construção coletiva e social,
substituindo a antiga ênfase dada ao substantivo e passa a dar ênfase às ações e movimentos realizados pelos
indivíduos que revelam na linguagem as motivações cognitivas e emocionais no processo de busca de
informação para solucionar um problema. As abordagens cognitivistas que pressupõem a existência de um
mundo anterior à experiência do indivíduo (passivo) a uma realidade externa capaz de modificar as suas
estruturas cognitivas já estão sendo consideradas tradicionais e inadequadas em relação às tendências
contemporâneas da cognição situada.
Na abordagem da cognição situada a informação é construída pelos sujeitos a partir das realidades
sócio-históricas vivenciadas e de suas interações com o mundo. Portanto, de acordo com Venâncio; Nassif
(2008), “o usuário é um ser ativo que vive uma série de experiências pessoais e intransferíveis, determinadas
por sua estrutura biológica e histórica particular, mas que ao mesmo tempo permanece em contínua
interação com outros sujeitos em diversos domínios de ação, operando emocionalmente e na linguagem”.
Para Venâncio (2008), a cognição situada em oposição à abordagem cognitivista refere-se a um
conjunto de teorias que abordam a cognição sob um ponto de vista contemporâneo e integrado que integra e
redefine as relações entre a biologia humana, a cognição, a linguagem e a emoção. Esse novo paradigma,
também conhecido como “mente incorporada”, ou “ecologia da mente”, segundo Nassif (2008) vem sendo
crescentemente utilizado na construção de sistemas inteligentes.
Embora haja críticas à falta de teorias e modelos que deem base aos estudos de usuários, a literatura
nacional nos contempla com abordagens provenientes de estudos estrangeiros perfeitamente adaptáveis e
aplicáveis a qualquer país, e por isso tais paradigmas devem ser estudados e sua eficácia avaliada para a
realidade nacional. Obviamente a universidade é o local mais apropriado tanto para o estudo quanto para a
aplicação desses modelos em projetos de pesquisa.
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32
DECLARAÇÃO DE MACEIÓ SOBRE A COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO:
2011
Vivemos em uma sociedade mediada pela informação, porém, os recursos para seu acesso, uso, avaliação e
comunicação são insuficientes para atender às demandas da cidadania. Em decorrência, é necessária a
formação para o desenvolvimento da Competência em Informação que atenda a essas demandas.
Os Grupos de Trabalho do Seminário Competência em Informação: cenários e tendências, realizado no
XXIV Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação, consideram
importante transmitir à sociedade as suas principais reflexões:
1. As bibliotecas e outras instituições relacionadas com a informação estão conclamando a fomentar
a melhoria dos níveis educacionais de toda a população, mediante formação para o
desenvolvimento humano e profissional, atividades de promoção da leitura, para o exercício da
cidadania e o aprendizado ao longo da vida.
2. As bibliotecas e outras instituições relacionadas com a informação devem estabelecer parcerias
para ações estratégicas e políticas públicas envolvendo o sistema de educação obrigatória.
Destaca-se a base inicial para a capacitação no uso da informação, o papel social da biblioteca
escolar como centro de recursos para a aprendizagem e o desenvolvimento de Competência em
Informação.
3. As escolas de formação em Biblioteconomia e Ciência da Informação deverão integrar conteúdos
relativos à Competência em Informação nos seus projetos político-pedagógicos.
4. As associações profissionais deverão dar prioridade a oferta de atividades de formação contínua,
incluindo desafios decorrentes da necessidade da competência em Informação, a fim de propiciar
atualização de acordo com as tendências contemporâneas.
5. As bibliotecas, instituições, organismos e profissionais interessados no fomento e promoção da
Competência em Informação deverão estabelecer relações locais, regionais, nacionais e
internacionais, para a coordenação e desenvolvimento de ações conjuntas.
Os participantes do Seminário sobre Competência em Informação: cenários e tendências se comprometem a
envidar esforços junto às instituições, organismos e associações de sua abrangência profissional e
geográfica, para conquistar o apoio público no reconhecimento das considerações deste documento.
Maceió, Alagoas, Brasil, 09 de agosto de 2011.
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