Arte e Mídia
Arlindo Machado
Que relação mídia e arte mantém entre si?De que modo se combinam, contaminam e distinguem essas instituições tão diferentes do ponto de vista das suas respectivas histórias, sujeitos e protagonistas, bem como suas inserções sociais?
media arts
media arts#1
● Designam formas de expressões
artísticas que se apropriam de
recursos tecnológicos das mídias e da
indústria do entretenimento em geral,
ou intervêm em seus canais de difusão,
para propor alternativas qualitativas.
media arts#2
● As experiências de diálogo,
colaboração e intervenção crítica nos
meios de comunicação de massa.
media arts#3
● Abrange também quaisquer
experiências artísticas que utilizem os
recursos tecnológicos recentemente
desenvolvidos, sobretudo nos campos
da eletrônica, da informática e da
engenharia biológica.
- artemídia - é algo mais que a mera utilização de câmeras, computadores e sintetizadores na produção de arte, ou a simples inserção da arte em circuitos massivos como a televisão e a internet.
World Emotional Mapping
eFrozen Feelings
(2005)
Nos últimos anos, adotou-se o vocábulo artemídia (palavra aportuguesada do inglês media arts) como uma expressão abrangente de designar produções artísticas articuladas com novas tecnologias desenvolvidas, sobretudo, pela indústria informática e eletrônica.
O termo designa obras realizadas e distribuídas através de mediação tecnológica, a exemplo de trabalhos visuais, audiovisuais, literários, musicais, além de artes performáticas, produções colaborativas baseadas em redes, instalações, vídeo, vídeoinstalações, intervenções e ambientes de realidade virtual.
Possíveis paradigmas da artemídia
De acordo com Arlindo Machado, a artemídia se estrutura na possibilidade de utilização de vários recursos tecnológicos disponíveis (hardwares, softwares, periféricos, dispositivos de telecomunicação, câmeras, sensores, sintetizadores, entre outros) para a geração de obras baseadas em interfaces áudio-tátil-moto-visuais implementadas em ambientes reais ou virtuais. Nestes ambientes, os artistas exploram novas percepções físicas, temporais e espaciais; experiências de diálogo; hibridações de meios; relações colaborativas e interativas.
A expressão artemídia engloba e extrapola expressões anteriores como: arte eletrônica, arte digital (ou numérica), arte de síntese, arte computacional, arte tecnológica, arte multimidiática, arte hipermidiática, arte-comunicação, poéticas tecnológicas, etc.
O termo mídia deriva, foneticamente, do inglês media, termo que é plural da palavra latina medium, significando aquilo que está no meio, entre dois pontos. A adoção do termo mídia na língua portuguesa é recente e, de acordo com Lucia Santaella, sua utilização é cada vez mais freqüente no singular mídia, ou no plural mídias, substituindo as variações anteriormente adaptadas do inglês media, new media e multimedia.
SANTAELLA, Lucia. Culturas e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura. São Paulo: Paulus, 2003.
mídia em sentido estrito e amplo
Em sentido amplo do termo mídia está vinculado ao surgimento da comunicação teleinformática com todos os seus desdobramentos relacionados à produção, armazenamento e transmissão de informações, notícias, entretenimento, publicidade, entre outros. Também designa aparelhos, dispositivos, programas informáticos auxiliares de produção e comunicação, além de todas as estruturas físicas onde são armazenados ou copiados dados, a exemplo do disquete, CD-ROM, fita DAT, Zip-Drive, DVD, mini DV, entre outros.
Em sentido estrito, mídia significa preponderantemente meios de comunicação em sua forma contemporânea mais abrangente, envolvendo áudio, vídeo e texto; especificamente, meios de transmissão de informações, notícias ou entretenimento, como jornal, revista, rádio e televisão. Também são consideradas mídias os meios utilizados pela publicidade, como os diversos tipos de anúncios vinculados em cartazes, placas, adesivos, telemarketing, brindes, banners, outdoors, entre outros.
1. As técnicas e tecnologias de produção de lugares
(ilusórios)
Imagens imersivas do mundo clássico
Grécia Clássica e Império Romano
Ruínas de Pompéia, Itália
Villa dei Misteri, séc I dc Pompéia, Italia
- Câmara de imersão na imagem- O artifício técnico de sugerir
Villa dei Misteri, Pompéia, Italia
2. A interação entre fatores tecnológicos e estéticos da fotografia e cinematografia
Etienne-Jules MareyBeaune, França1830-1904
Etienne-Jules Marey
Étienne-Jules Marey, Smoke Machine No.2 1901
Étienne-Jules Marey, Smoke Machine Trails
Étienne-Jules Marey, 1885
Etienne-Jules MareyAnálise do voo de um pássaro
Étienne-Jules Marey, Esculturas do voo de um pássaro, 1887
Etienne-Jules Marey, Étienne-Jules Marey, Bird Flight
Étienne-Jules Marey, Bird Flight, Pigeon, 1894
Étienne-Jules Marey, Disco de camera rotatório, 1883
Étienne-Jules Marey, Plate, Fusil Photographique
Étienne-Jules Marey, Plate (enhanced view), Fusil Photographique
Inglaterra1830 - 1904
Inventor o Zoopraxinoscópio1872O aparelho era composto de 24 máquinas fotográficas postadas em intervalos regulares ao longo de uma pista de corrida.
The Horse in Motion by Eadweard Muybridge, 1878
Muybridge
Muybridge, A set of Muybridge's photos in motion
“Buffalo” Eadweard Muybridge
László Moholy-Nagy, fotograma
László Moholy-Nagy, fotograma
1
2
3. O movimento físico mecanicista da arte
cinética
Jean Tinguely
Jean Tinguely
3
Paco Rabanne
Ned Kahn
Articulated Cloud - Pittsburgh Children’s Museum, Pittsburgh, PA. 2004
Ned Kahn
3A
Abraham Palatnik (1928-2006)
Abraham PalatnikAparelho Cinecromático (1964) 3B
Hussein Chalayan
Abraham Palatnik
Abraham Palatnik
3C
Esculturas cinéticas
Theo Jansen 3D
Hussein Chalayan
Hussein Chalayan
Hussein Chalayan
Hussein Chalayan3E
Autômatos do séc XVIII4
Video Flag, 1985videoinstalação
70 aparelhos de TV
5
Nam June Paik Piano Piece, 199313 aparehos de TVcâmeras e piano
Nam June Paik, Electronic Superhighway, 1995.
Nam June Paik, Electronic Superhighway, 1995. 6
5. A natureza participativa envolvida na produção de ambientes, objetos ou instalações, tanto de caráter ótico quanto conceitual
Allan Kaprow (happenings)[EUA]
Fluxus[Europa]
Gutai[Japão]
Hélio Oiticica e Ligia Clark[Brasil]
Lygia ClarkBichos, 1960.
Lygia ClarkMáscara Abismo, 1964.
Hélio OiticicaTropicália, Penetráveis
1965
6. O surgimento e desenvolvimento da linguagem numérica
1965 – Primeiras imagens produzidas em Computadores gráficosA. Michel Noll
Herbert W. Franke, 1965
IBM 1401 - 1965
Herbert W. FrankeRetrato de Albert EinsteinComputação gráfica, 1972
Herbert W. Franke,
Apple II, 1977
Waldemar Cordeiro / Ernesto Vita Jr.Retrato de Fabiana, 1970
Waldemar Cordeiro / Ernesto Vita Jr.Retrato de Fabiana, 1970
Waldemar CordeiroA Mulher que não é B. B.1971
Waldemar Cordeiro,Gente, 1972
Marcos Novak,
Liquid Architecture eTransarchitectures
Karl SmisGalapagos
Karl Smis
Inteligência ArtificialAlgoritmos genéticos
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Avatar
Char DaviesOsmose, 1995
Christa Sommerer e Laurent MignonneauA-Volve, 1997
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Raoul Hausmann, Colagem e fotomontagem,1919-1920,
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A artemídia e a noção de arte
Golin Levinwww.golanlevin.com
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Uma obra de arte circunscrita à atualidade não pode ser definida por um único traço conceitual. Trata-se, sobretudo de uma “noção composta”.
O domínio da arte contemporânea é o resultado de uma sedimentação histórica complexa, tendo obedecido a impulsos de diversas naturezas.
O modelo evolutivo historicista perde seu estatuto de legitimação.
As definições podem ser substituídas por noções descritivas e classificatórias. (não avaliativas)
Jean-Marie Schaeffer defende que existem 06 aspectos semânticos (principais) que intervêm todos, em proporções variáveis, nos nossos pensamentos e usos da noção de obra de arte.
1 – Um pertencimento Genérico
Decidir que um objeto é uma obra de arte por razão de pertencimento genérico não é possível a não ser que já exista uma classe de referência aceita como classe de obras de arte e cujos traços comuns, ou eventualmente as semelhanças funcionam como critério de identidade.
Surge no uso de um predicado (pinturas, esculturas, relevos, desenhos, colagens, etc)Reconhecidos os gêneros são obras “A PRIORI”.
O uso genérico não nos diz como e por que as classes são tratadas como obra de arte.
2 – Um pertencimento Genético
Uma obra de arte é sempre um produto (material ou imaterial) humano e não um objeto natural.
É matéria pensada, trabalhada, construída ou realizada.
Como distinguir a diferença entre obras de arte e outras criações humanas?A obra de arte é uma produto realizado como uma INTENÇÃO específica.Uma intenção artística (ou estética), ou seja a vontade de produzir qualquer coisa (idéia ou objeto) cuja reativação receptiva ocasiona uma experiência com resultado em relação a um ideal operatório (poiético) que se propõe.
Nada prova que todas as obras consideradas como arte por, acepção genérica do termo, resultem de uma intencionalidade especificamente artística.
Golin Levinwww.golanlevin.com
Interstitial Fragment Processor, 2007
A obra possui uma estrutura intencionalA obra esta sempre “a propósito de” alguma coisa
Comunica algo por sua formaComunica algo por seu conteúdoComunica algo porque sempre possui um “ASSUNTO”.Carrega uma IDEIA
3 – Uma perspectiva semiótica
As obras de arte como os artefatos não artísticos são de nascença objetos intencionais, enquanto os objetos naturais o são unicamente em razão de sua integração no mundo.
Neste caso os artefatos também possuem uma estrutura semiótica implícita.
As obras de arte possuem um funcionamento semiótico específico?Existe uma estrutura de significantes articulados no interior das obras?
3 – Uma perspectiva semiótica
4 – Uma função específica
Existem várias funções determinadas “A PRIORI” para os artefatos humanos.
O estatuto da obra de arte que damos a tal ou tal objeto é sempre instável.
Um artefato pode “funcionar” de diversas maneiras
A condição estética autônoma e variável e depende de outras noções de obra.
A prevalência de uma função estética determinaria a noção de obra?
“Todo objeto é funcional. Aquele que em nada serve à função de significar qualquer outra coisa que a utilidade, e aquele que serve em qualquer coisa à função de ser útil. Essas duas funções, de signo e de utilidade, caminham juntas e sua distribuição relativa é tributária de um referencial prático variáveis segundo os lugares, as circunstâncias e as épocas”
Y. Deforge Objets, oeuvres et produits
A noção de obra Depende de um componente cultural, institucional, de uma classe, de um tempo ou condição, não havendo a necessidade de aceitação simultânea.
Sendo uma atividade humana tem tendência a se cristalizar em instituições.
5 – Uma normatização
Ser obra, significa aceitação.A obra depende de uma sanção- A sanção pode criar novos gênerosA idéia de arte como PROPOSIÇÃO buscando um espaço de sanção.
“cada nova obra é em efeito, uma proposição artística, tendo o estatuto de definir e redefinir constantemente o que é arte” (Joseph Kosuth)
5 – Uma normatização
6 – Uma inclusão ou exclusão singular
Negar que uma proposição artística é um obra de arte só tem sentido pelo tanto que a proposição em questão faz genérica, genética, semiótica, específica ou normativa parte de uma classe de proposições que podem ser candidatas a uma avaliação.
Negar ou afirmar implica um pertencimento ou não de uma noção.
A prática da inclusão ou exclusão é antiga (ex: fotografia/ arte numérica)
A exclusão em virtude de uma norma está sempre em conflito com um ou vários dos outros componentes da noção de obra.
Jean-Marie Schaeffer não pretende que a utilização destes aspectos seis aspectos venham circunscrever todo o espectro semântico da noção de obra de arte.
Todavia entende que a imprecisão, a incompreensão ou falta de clareza em relação aos mesmos resulta em um espaço de indistinção e confusão pública improdutiva.