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O “FIM DAS DISTÂNCIAS” E OS RUMOS DA GEOGRAFIA
Vitor Vieira VasconcelosDoutorando em Geologia – Universidade Federal de Ouro Preto
Consultor Legislativo de Meio Ambiente e Recursos Naturais – Assembleia Legislativa
de Minas Gerais
Setembro de 2009
RESUMO: As transformações tecnológicas e culturais pelas quais tem passado nossasociedade, nos últimos 150 anos, modificaram totalmente a relação dos seres humanoscom o espaço e com o tempo. À Geografia, interessa mais do que tudo acompanharessas mudanças. Enquanto alguns autores defendem que as novas tecnologias romperamcom as barreiras do espaço, outros contra-argumentam que a gestão do espaço ainda éuma questão desafiadora para o ser humano. Este artigo propõe-se a apresentar algumasdas várias vozes empenhadas nesse debate. Ao fim, também discorre-se sobre os novos
rumos da Geografia, dentro desta nova sociedade em que a tecnologia, o saber e oespaço estão cada vez mais imbricados, em escalas de aproximação que começam a serdesbravadas pelos geógrafos.Palavras-Chave: Geografia, Epistemologia, Distância, Tempo.
1. Distância Absoluta e Distância Relativa:
A distância absoluta é o parâmetro mais estudado pela Geografia Tradicional,
desde os seus primórdios. Por meio da comparação da distância entre coordenadas
georreferenciadas, foi possível analisar a disposição dos objetos na superfície da Terra.
Essa espacialização das distâncias absolutas serviu como base para os mais diversos
estudos.
As distâncias relativas, por sua vez, envolvem uma conjugação de outros fatores,
além da distância absoluta (CHRISTOFOLETTI, 1985, p. 78). Por exemplo, envolve o
tempo ou custo financeiro para realizar o deslocamento entre dois lugares. Trata-se de
um conceito relativamente recente, que tomou força a partir da década de 1950,sistematizado por ABLER (1980). Isso permitiu análise mais sofisticadas sobre nossa
relação com o espaço, possibilitando inclusive a elaboração de modelos teorético-
quantitativos.
As distâncias relativas variam ao longo da história, devido à evolução dos meios
de transporte e de comunicação. Justamente essa característica levará vários escritores a
propor a tese de que as distâncias relativas, ao reduzirem-se progressivamente,
reduziriam também a nossa percepção do tamanho do mundo como um todo.
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A distância relativa também pode ter a ver com a intensidade da percepção do
espaço. Exemplos disso seriam as distâncias dentro de redes de relacionamento,
inclusive as virtuais. Também seria relativa a distância psicológica, a qual envolveria o
nosso sentimento e percepção do que seria perto ou longe para os mais diversos
espaços, sejam estes reais ou simbólicos (CRHISTOFOLETTI, 1985, p. 78).
2. O Fim da Distância
2.1. Constatadores do Fim das Distâncias
Donald Janelle, ao estudar a relação entre tempo e espaço, mostra que o mundo
estaria encolhendo (JANELLE, 1973). Isso seria explicado pela fórmula deconvergência entre tempo e espaço. Para exemplificar sua teoria, mostrou que o tempo
necessário para o deslocamento entre as cidades diminuiu cada vez mais, no decorrer da
história. Conforme os meios de locomoção ficavam mais rápidos, pode-se dizer que o
mundo foi encolhendo. Esse encolhimento do mundo, terá marcantes conseqüências
econômicas, sociais e culturais.
Figura 1 – Convergência espaço-temporal, devido ao aumento da rapidez dos meios detransporte. (RODRIGUES, COMTOIS e SLACK, 2006).
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Figura 2 – Gráfico indicando o número de dias necessários para circunavegar o globoterrestre. Esse Gráfico ilustra bem o que podemos chamar de encolhimento do mundo.
Fonte: RODRIGUES, COMTOIS e SLACK (2006).
Essa sensação de encolhimento do mundo é bem exemplificada com a evolução
dos transportes, no caso do movimento de objetos tangíveis. Contudo, também participa
deste encolhimento a sensação provocada pelo aumento da qualidade, velocidade e
acessibilidade dos meios de comunicação. Afinal, quando se pode comunicar-se com
indivíduos que estão em locais muito distantes, têm-se a percepção de que a distâncianão é mais uma barreira para as atividades humanas. Portanto, seria uma forma de
encolhimento do mundo ligada à esfera do intangível, ou seja, das idéias e relações
humanas.
Enquanto Janelle demonstra o encurtamento das distâncias em virtude dos meios
de transporte, Frances Cairncross faz um percurso semelhante, mas analisando os meios
de comunicação. Em seu livro “O Fim das Distâncias”, CAIRNCROSS (1997) mostra
como a evolução dos meios de comunicação (rádio, tv, satélites, celulares, internet, e
outros) contornou os problemas relacionados às distâncias que separam as pessoas.
Cairncross vai além, e analisa quais seriam os efeitos desse fim das distâncias.
Sua principal conclusão é a do aumento da concorrência entre as empresas. Essa
concorrências seria algo bastante positivo para o mundo, pois aceleraria ainda mais a
corrida por melhorias tecnológicas, além de abaixar o preço dos produtos ao
consumidor. A sociedade, por sua vez, demanda produtos cada vez mais eficientes, e
desejam que meios de comunicação cada vez mais potentes sejam oferecidos de modo
conjunto e amigável em aparelhos pessoais.
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Contudo, a integração global pelos meios de comunicação deu-se de forma
muito acelerada, e a sociedade contemporânea ainda busca se ajustar a esse novo
contexto. Cairncross mostra como a emergência da internet, por exemplo, leva a
situações complexas sobre aplicação das legislações nacionais, bem como a conflitos
sobre propriedades de bens intelectuais.
Uma terceira voz em relação ao fim dos atritos relacionados às distâncias e
barreiras geográficas é Thomas Friedman. Em seu livro O Mundo é Plano, Thomas
Friedman pretende mostrar que as barreiras físicas, sociais e políticas do mundo sendo
derrubadas progressivamente. Ele empreende uma análise do ponto de vista econômico,
demonstrando como o mercado capitalista global tem dado oportunidades de
desenvolvimento em países que antes eram afastados dos benefícios da sociedade
contemporânea.
Para começar sua obra, Friedman divide o fenômeno da globalização em três
eras:
Tabela 1 – Eras da Globalização:
Eras Período Lideranças Fatores chave
Globalização 1.0 1450-1800 Nações Músculos e Máquinas
Globalização 2.0 1800-2000 Empresas
Multinacionais
Comunicação e
Transportes
Globalização 3.0 2000 até hoje Indivíduos - Redes Computadores e
Internet
Em seguida, o autor apresenta as dez forças principais que, a seu ver,
contribuíram para o que chama de aplainamento do mundo. Seriam elas:
1 – Queda das barreiras políticas e individuais. A queda das barreiras políticas
se deu, principalmente, pela queda dos regimes socialistas e das ditaduras em grandes
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países subdesenvolvido. A queda das barreiras individuais se deu com o acesso dos
indivíduos aos computadores pessoais, o que potencializou o poder de ação de cada um.
2 – Internet .
3 – Padronização global dos esquemas de trabalho, certificação, comércio e de
comunicação digital.
4 – Produção comunitária de informação. Esse incremento foi possível por meio
do desenvolvimento de programas de código aberto, assim como também pela
Wikipédia, You-Tube e blogs. Toda pessoa agora pode produzir e distribuir suas
próprias informações.
5 – Terceirização de serviços em outros países, que ofereçam custos mais
competitivos.
6 – Off-shoring. Mais radical que a terceirização, o off-shoring consiste em
mover uma cadeia de produção completa para outro país que ofereça menores custos
mais atrativos.
7 – Cadeias de fornecimento. A otimização das cadeias de fornecimento permite
um gerenciamento integrado que vai desde a venda do produto, passando pelo
transporte e chegando até a linha de produção. Isso permite um ganho de produtividade
surpreendente.
8 – Internalização de serviços. Certos serviços que antes só conseguiam ser
exercidos por grandes grupos multinacionais passam a ser oferecidos para qualquer
pequeno empresário, na forma de terceirização. Por exemplo, qualquer pequeno
empresário pode contratar um serviço terceirizado que o permita exportar seus produtos.
9 – Informação. Por meio de mecanismos de busca e de discussão na internet,
pode-se ter acesso a uma quantidade de informações nunca antes imaginada.
10 – Esteróides. O desenvolvimento eletrônico tem proporcionado aparelhos em
que convergem diversos usos e serviços, tais como telefones celulares, gravadores,câmeras de fotografia e vídeo, computadores, internet sem fio, compartilhamento de
informações (P2P), vídeo-conferência, operações bancárias e pagamento por cartão.
Esses aparelhos potencializam o poder das outras nove forças de aplainamento do
mundo.
O autor fala que o mundo tem passado por uma tripla convergência. A primeira
convergência seria a da nova plataforma tecnológica. A segunda, um pouco mais lenta,
é a da gradual adaptação dos processos de trabalho a essa nova plataforma tecnológica.E a terceira foi a entrada de mais três bilhões de pessoas ao mercado capitalista global,
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em virtude da queda das barreiras do socialismo e das ditaduras do segundo e do
terceiro mundo.
Contudo, essa planificação do mundo não deixa de ser um tema polêmico.
Afinal, embora seja boa principalmente para os empresários e investidores, nem sempre
os seus efeitos imediatos são bons para os trabalhadores e cidadãos de certos locais. A
situação torna-se mais complexa, uma vez que, na sociedade moderna, muitos de nós
exercem múltiplos papéis, sendo, ao mesmo tempo, investidores, empregadores,
trabalhadores, cidadãos, contribuintes e consumidores. E nem sempre os benefícios de
um desses papéis bate com o dos outros.
Por isso, vão ser encontrados defensores e críticos do aplainamento do mundo.
Os defensores usam argumentos como o dos ganhos em eficiência da produção e do
crescimento econômico global, que tende a trazer benefícios a todo o mundo. Já os
críticos estão mais ligados à defesa local de direitos humanos e das identidades
culturais, pois ambos são constantemente são ameaçados pela avassaladora lógica do
capitalismo global. O autor defende que se busque um bom senso entre o aplainamento
do mundo, que é inevitável e benéfico, com a manutenção de algumas barreiras políticas
que garantam um mínimo de direitos humanos e referências culturais.
2.2. Reações às teses do Fim das Distâncias:
A propagação de teses de “fim das distâncias” causou uma séria reação da
comunidade acadêmica de Geografia, em prol de defender o valor de sua disciplina na
sociedade contemporânea. Afinal, a Geografia sempre estudou as distâncias para medir
relações e atritos.
Uma dessas reações é a de HAUSMANN (2001), mostrando o valor que a
localização dos países possui para o seu desenvolvimento, nos dias de hoje. O autormostra que a localização de um país afeta os custos de transporte de mercadorias e,
portanto, também afeta a sua capacidade de inserir-se no mercado capitalista
globalizado 1. Como eixo de argumentação, o autor coloca três atributos espaciais que
podem dificultar o desenvolvimento econômico:
1 CATAIA, 2008. “A aceleração dos fluxos materiais, em sua forma mais veloz – a aeronáutica – , nãotransformou o mapa mundi político num espaço liso, numa “bola de bilhar”, isento da política, assim
como o império da circulação da informação em “tempo real” também não dá indí cios seguros de que váproduzir um mundo sem fronteiras. A circulação tem a propriedade de animar as relações, mas nadaindica que as relações possam ou necessitem ser efetuadas sem os compartimentos territoriais.”
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1) Países tropicais. Esses países sofrem mais problemas com doenças tropicais,
além de possuírem tecnologias de produção agrícola arcaicas. Além disso, a perspectiva
de desenvolvimento de longo prazo desses países é pior, pois a maioria das pesquisas de
saúde e de tecnologia agrícola está voltada para os contextos enfrentados pelos países
desenvolvidos de clima temperado.
2) Países longe das costas marítimas. O transporte mais barato para mercadorias
de maior volume continua sendo por barcos cargueiros oceânicos. Países mais afastados
da costa têm de arcar com despesas extras de transporte, tornando-se menos
competitivos.
3) Países contornados por outros países, sem acesso ao mar. Além da distância
ao mar, esses países “cercados” têm que pagar taxas extras de alfândega para que suas
mercadorias atravessem as barreiras político-administrativas. Apesar da globalização
em marcha, as barreiras políticas são ainda uma grande fonte de atrito para o
desenvolvimento.
Hausmann expressa que muitos geógrafos criticam teses como a sua, pois tem
dificuldade de aceitar que o mundo geográfico poderia ser injusto para algumas
sociedades. Todavia, subestimar as rugosidades geográficas e sua influência no
desenvolvimento das nações seria uma posição bastante ingênua.
Outro exemplo de valorização dos atributos geográficos é a análise
econômica que cunhou o termo BRIC (Brasil, Rússia, China, ÍNDIA). Essa análise
parte pela procura pelos países que apresentam a maior quantidade de recursos
estratégicos, a saber: área territorial, população e produto interno bruto. A análise chega
à conclusão que os países que possuem maior representação desses três atributos seriam
os que teriam as maiores oportunidades de desenvolvimento no mercado mundial
(PAULINO, 2008), como se pode ver no gráfico da figura 3. Portanto, trata-se de um
reconhecimento da importância de atributos geográficos dentro do sistema sócio-econômico contemporâneo.
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Figura 3 – Estimativas de crescimento da Economia Mundial. Fonte: PAULINO, 2008.
Dados do FMI, apud Folha de São Paulo, 10/04/2008.
Seguindo o mesmo caminho de Hausmann, KAY (2001) acrescenta que, embora a
globalização tenha diminuído o atrito que a distância e os fenômenos naturais
apresentavam ao desenvolvimento, ainda existe uma influência marcante da distribuição
do capital social nos diferentes países. A tese defendida por Kay é de que, ao longo da
história, alguns países conseguiram investir mais na educação, cultura e qualificação
profissional de sua população, tornando-os mais produtivos e competitivos para o
mundo capitalista globalizado. Sua idéia é de que os investidores internacionais
continuarão preferindo alocar seu capital em países em que a população apresenta
melhor produtividade.
3. Os Rumos da Geografia:
Este artigo coloca como proposição que os efeitos das mudanças nas distâncias
relativas, antes de por fim à Geografia, têm afetado os rumos para o desenvolvimento
desta disciplina. Três exemplos marcantes de novas áreas que despontaram, neste novo
contexto, são:
1 - Gerenciamento de transportes de recursos naturais, matérias primas e pessoas
. Nesse caso, trata-se de uma gestão das distâncias e espaços relativos, essencial para a
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manutenção da sociedade cada vez mais complexa e interligada (Brandão & Abreu,
2003; Lima, Barroso & Muzzarelli, 2003).
2 – Gestão dos impactos ambientais pelo crescimento das atividades humanas
(Mendonça, 2002, p. 121-143; Canali, 2002, p. 165, p. 165-186).
3 – Concentração de estudos em áreas de novas escalas, tanto pela Geografia
Cultural (percepção dos espaços) quanto pela Geografia Espacialista (gestão do
deslocamento cotidiano, como mostrado nos modelos têmporo-espaciais de
Hägerstrand).
A segunda parte deste artigo discorrerá sobre o terceiro tópico da enumeração
acima, com o intuito de aprofundar sobre as possibilidades dessas vertentes.
3.1. Modelo Têmporo-Espacial de Törsten Hägerstrand
A intenção do modelo é analisar como os indivíduos utilizam seu tempo e
espaço, nas rotinas cotidianas. A idéia central vem do seguinte questionamento: Como
ocorre o deslocamento de uma pessoa, em um dia comum?
Uma grande inovação de Hägerstrand foi trazer a análise espacial para a escala
do indivíduo, o que antes havia sido bastante incomum na Geografia.
Tabela 2 – Exemplo de entrada de dados para o modelo Têmporo-Espacial
Tempo Tempo na
Base
Deslocamento Estações Atividade
Hora Min BA X Y
6 30 30 min 5 min Casa 1 9 Café da manhã7 05 1h 10min 5 min Academia 1 8 Ginástica8 15 4h 45
min1 h Casa 1 9 Estudo e almoço
14 00 3h 30min 30 min PUC – CoraçãoEucarístico
2 4 Aula (mestradoem Geografia)
18 00 4h 30min 45 min UFMG 4 3 Estudo e Aula(Geografia)
23 15 30min Casa 1 9 Jantar
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Figura 4 - Representação do Modelo Têmporo-Espacial. (CARLSTEIN, 1978)
Posteriormente, Hägerstrand também analisou grupos de indivíduos, através de
seu modelo (Pred, 1973). Uma análise detalhada dos estudos consegue sintetizar
comportamentos sociais, territórios, além de mostrar interações e até restrições de
movimento. Alguns exemplos desses estudos ampliados encontram-se nas figura 5, 6 e7.
.
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Figura 5 – Modelo Têmporo-Espacial, analisando sobre a possibilidade de duas pessoas
encontrarem-se no horário de almoço. (MARK, 1997).
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Figura 6 – Diagrama analisando as possibilidades de diversas atividades em um local.
(KIM e KWAN, 2003).
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Figura 7 – Matriz analisando a distância de casa para cada período do dia, em um
conjunto de indivíduos (KWAN, 2000).
Estudos realizados segundo a metodologia do modelo têmporo-espacial
conseguem demonstrar, por exemplo, a enorme quantidade de tempo que certos
indivíduos gastam no trânsito, ao deslocarem-se entre a moradia e o local de trabalho.
Os modelos têmporo-espaciais também permitem, a cada indivíduo, analisar melhor em
que ele está ocupando sua vida. Isso permite criar estratégias de melhor produtividade
têmporo-espacial. Ademais, também serve para que a pessoa reflita se não está gastando
horas demais do seu dia com uma tarefa que considera pouco importante, ou mesmo se
está relegando alguma atividade. Por exemplo, uma pessoa pode estar trabalhando quase
todo o dia, sem tirar tempo algum para uma atividade cultural – e isso pode ser o motivo
de seu cansaço ou estresse.
O transporte torna-se um fenômeno cada vez mais importante para o
planejamento da vida urbana. Congestionamentos de tráfego, meios alternativos de
transporte, acessos para pessoas com dificuldades de locomoção (deficientes, idosos,
crianças, etc.) são questões que vêm à tona a todo momento, e que demandam soluções.
Com desenvolvimento científico e tecnológico da análise espacial, torna-sepossível fornecer serviços úteis para uma melhor organização das rotinas pessoais e
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empresariais que leve em conta o espaço. Até hoje, a organização de empresas e de
rotinas pessoais sempre privilegiou muito a organização do tempo. Agora, torna-se
possível organizar-se no espaço, abrindo campo para novos aumentos de produtividade.
Um exemplo disso é a expansão de serviços como os GPS e roteirizadores
utilizados em carros, auxiliando a deslocamento nas cidades e estradas. Também há
varias páginas de internet que oferecem serviços baseados em geovisualização. Elas
fornecem roteiros de ônibus, localização de lojas e serviços a partir da lista telefônica,
previsões climáticas, e vários outros serviços.
Contudo, as novas possibilidades de utilização das geotecnologias
freqüentemente trazem implicações éticas. Afinal, hoje é possível monitorar a
locomoção de pessoas, bem como ter acesso a informações sobre seu ambiente, em um
grau de profundidade e detalhamento nunca antes visto. Essas considerações éticas não
devem lançar-se apenas no ponta de uso das geotecnologias; na verdade, é importante
que essas considerações iniciem-se na produção de seu conhecimento, ou seja,
principalmente na Academia.
3.2. Geografia Cultural
A Geografia Cultural prima por estudar a relação entre o homem e o ambiente a
sua volta. Abarcam-se os valores, emoções, percepções sensitivas, imagens mentais,
lembranças, heranças culturais, comportamentos, processos pedagógicos, costumes,
criatividade e tudo o mais que possa influir nesse estudo (Corrêa, 1995; Claval, 2002).
Além disso, essa investigação não se restringe ao estudo de cada indivíduo sozinho, e
por isso alça-se à intersubjetividade, na qual as pessoas se relacionam umas com as
outras e também com o espaço a sua volta, construindo uma cultura comum (Gomes,1996).
A Geografia Cultural privilegia a vivência do pesquisador com a comunidade e o
ambiente estudados (Corrêa, 1995). A partir dessa vivência, o pesquisador lança mão,
para sua análise, de uma base epistemológica provinda da em grande parte da
Fenomenologia, mas também da Psicologia, Sociologia Cultural, Pedagogia,
Existencialismo, Hermenêutica e outras correntes de pensamento (Gomes, 1996).
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2.2.1. Percepção Subjetiva do Tempo e do Espaço 2
Nós sentimos o tempo a partir de nosso relógio biológico. Nascemos, vivemos e
morremos. O tempo possui uma variação em intensidade e diversidade. Por exemplo,
sentimos e nos preocupamos com o tempo mais intensamente no tempo presente. Isso é
um problema para os planejadores ambientais, porque é difícil convencer as pessoas a
preocuparem-se com o futuro de longo prazo.
Contudo, em uma análise mais distanciada, o que menos impacta em nossa vida
(como experiência, conhecimento, etc.) é o tempo presente. O passado nos dá uma
bagagem de vida, que nos torna o que somos. Nossos planos futuros, por sua vez,
também impactam bastante em nossas decisões e expectativas. A figura XX procura
demonstrar como as relações temporais de intensidade de percepção e de impactância
causal são antagônicamente referentes à relação entre o indivíduo e o espaço.
Figura 8 – Relação entre o indivíduo e sua temporalidade, no que se refere à intensidadede percepção e impactância causal.
2 Esse tópico baseou-se principalmente nas exposições e discussões ministradas pelo prof. João Franscicode Abreu, em seu curso Análise Espacial, para a pós-graduação em Tratamento da Informação Espacial,
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A distância, como sentimento do “longe” e do “perto”, também possui relação
com a intensidade de nossas experiências. Quando nos afastamos muito de nossa
localidade rotineira (de nossa “casa”), passamos a prestar mais atenção no que há em
nosso redor. Fazemos isso porque achamos que é algo novo, e que talvez não tenhamos
outra oportunidade para experienciar esse local. A figura XX procura demonstrar essa
relação entre intensidade de experiência, a distância e a freqüência de visitação de um
dado local.
Figura 9 - Relação entre a intensidade de experiência espacial, a distância e a freqüênciade visitação.
Obviamente, os padrões de comportamento destacados neste tópico são apenas
tendências gerais. Há pessoas que se preocupam mais com o passado, com o presente ou
com o futuro. Outras são exímias observadoras dos espaços cotidianos. Contudo, esses
padrões gerais são importantes para tratar com grupos sociais mais amplos.
2.2.2. Mapas Mentais
na PUC-Minas, em 2008.
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Outro tema bastante instigante é o dos mapas mentais. Afinal, é de importância
crucial para a Geografia o modo como as pessoas imaginam o ambiente a sua volta e,
com isso, tomam essa imagem como referência para suas decisões e sentimentos
(Claval, 2002). Esses mapas podem corresponder mais fielmente ou não ao espaço
empírico real, embora algumas vezes esse nem seja um ideal a ser alcançado. A título
ilustrativo, tomem-se as inúmeras geografias imaginárias construídas por poetas,
músicos e escritores.
Trabalhamos com nossos mapas mentais a todo o tempo, mesmo sem nos
apercebermos disso 3. Por exemplo, ao lermos notícias em um jornal, imaginamos a
região ou local onde se passou o fato relatado. Todavia, não existe nenhum mapa mental
cabalmente perfeito. Nosso mapa mental mais fiel seria o de nossa casa, ou mesmo de
nosso quarto; e quanto mais distante o lugar é de nossa experiência cotidiana, mais
impreciso será nosso mapa mental. Essa imprecisão progressiva chega até um limite, a
que se denomina de “Terra Incógnita” ou “Ângulos Mortos”.
Nossos mapas mentais são formados principalmente por meio de nosso contato com
mapas, mas também por meio de nossas viagens e, em parte ainda, por nossa
imaginação. As viagens, como contato com a realidade, lembram-nos da riqueza desta,
em comparação com os mapas, além de nos lembrar da dinâmica e mutabilidade do
mundo. Este último aspecto torna-se mais evidente quando realizamos a mesma viagem
mais de uma vez, depois de transcorrido certo período, e observamos quanto coisa
mudou. Também é importante ressaltar que mesmo que olhemos um mapa real, já logo
nos instantes seguintes em que desviamos nosso olhar, estamos modificando a
lembrança do mapa com nossa imaginação.
3 CHRISTOFOLETTI, 1985 - “A imagem que se possui dos lugares é diferente conforme os meios deinformação que as pessoas dispõem. Desta maneira, cada indivíduo possui um mapa mental distinto, emvirtude das imagens que caracterizam e valorizam os diferentes lugares, pois ‘construímos um mapamental e necessitamos desenvolver as estruturas espaciais do nosso pensamento para adquirir esquemasde ação para a atividade espacial. É este o mapa mental que nos coloca em posição de estabelecer,selecionar, analisar, classificar, modelar, enfim, de operar sobre as situações geográficas estudando asrelações espaciais de maior significância aos nossos propósitos’ (Oliveira, 1972, p.17). Muitas vezes, oindivíduo possui informações melhores de lugares distantes que dos próximos, ou mantém maior contatoe intercâmbio. Embora a distância absoluta seja maior, a acessibilidade e a significância de um lugar
distante tornam esse lugar mais próximo da vivencia individual. Essas imagens mentais são responsáveis pela tomada de decisões, assim como pela elaboração de numerosos planejamentos.”
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4. Reflexões Finais – As Novas Escalas
Uma oportunidade de desenvolvimento que desponte para a Geografia, nas
próximas décadas, é o avanço sobre novas escalas de observação, desde o infinitamente
grande (como a astronomia) até o infinitamente pequeno (como os átomos, genes e toda
a nanotecnologia), passando, sem dúvida, pelo espaço pessoal dos indivíduos em suas
rotinas diárias. Essa possibilidade se dá pelos desenvolvimentos exclusivos da ciência
geográfica no campo da reflexão e análise espacial. As novas abordagens e técnicas de
reflexão e análise espacial podem trazer contribuições para diversas ciências que
deparam com o estudo de fenômenos distribuídos espacialmente, independentemente da
escala de análise. Dessa maneira, criam-se novas “geografias”, de fenômenos nunca
antes analisados dessa maneira.
O desenvolvimento de técnicas sofisticadas relacionadas à análise espacial
trouxe à Geografia a possibilidade de contribuir mais para as outras ciências. A
Geografia Cultural, por sua vez, abre um campo de sensibilidade e subjetividade
enriquecedor para as demais ciências humanas. Apesar de a Geografia ser
tradicionalmente conhecida como uma ciência de síntese, que apenas utiliza de diversos
conhecimentos emprestados de outras ciências, a evolução da escola espacialista e daescola cultural trouxeram, surpreendentemente, o foco para a Geografia como uma
potencial ciência de inovação do conhecimento humano. Praticamente todo fenômeno
que demonstre um comportamento no espaço, ou alguma valoração deste, pode se
beneficiar das contribuições da Geografia. Sem dúvida, trata-se de uma nova
valorização para esta ciência.
Bibliografia:
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