Universidade Federal de Santa Catarina
Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção
ASPECTOS DA ERGONOMIA QUE CONTRIBUEM NA PREVENÇÃO
DAS LER/DORT NUM SETOR DA INDÚSTRIA CERÂMICA: UM
ESTUDO DE CASO
Dissertação de Mestrado
Alessandra Cordeiro Rodrigues
Florianópolis 2003
Universidade Federal de Santa Catarina Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção
ASPECTOS DA ERGONOMIA QUE CONTRIBUEM NA PREVENÇÃO
DAS LER/DORT NUM SETOR DA INDÚSTRIA CERÂMICA: UM
ESTUDO DE CASO
Alessandra Cordeiro Rodrigues
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção
da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para obtenção do
título de Mestre em Engenharia de Produção com ênfase em Ergonomia.
Orientador: Prof. Dr. Eugenio Merino
Florianópolis 2003
Alessandra Cordeiro Rodrigues
ASPECTOS DA ERGONOMIA QUE CONTRIBUEM NA PREVENÇÃO DAS LER/DORT NUM SETOR DA INDÚSTRIA CERÂMICA: UM
ESTUDO DE CASO
Esta dissertação foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção, com ênfase em Ergonomia, no Programa de Pós-
Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina.
Florianópolis, 25 de Agosto de 2003.
_______________________________
Prof. Edson Pacheco Paladini, Dr.
Coordenador do Programa
BANCA EXAMINADORA:
____________________________________________________
Prof. Eugenio A. D. Merino, Dr.
Orientador
____________________________________________________
Prof. Leila Amaral Gontijo, Dra.
____________________________________________________
Prof. Francisco Pereira Fialho, Dr.
“Avança a tecnologia, esquece-se o homem
e o ergonomista está sempre lá, sinalizando,
problematizando, propondo soluções,
buscando o conforto e a segurança para o
homem no lar, no trabalho, no lazer, na
cidade”.
Moraes, A ., Soares, M..M.
Dedico este trabalho a
duas pessoas muito especiais que
sempre me apoiaram e incentivaram:
Meus pais.
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer a todas as pessoas
que compartilharam este período de minha
vida e que das mais variadas maneiras me
ajudaram, citando em especial:
- Ao Orientador Prof. Dr. Eugenio Merino pelo
acompanhamento pontual e competente.
- A banca examinadora, pelo reconhecimento
do meu trabalho.
- A minha família pelo carinho e compreensão
de minhas ausências nos finais de semana.
- Aos amigos e colegas de trabalho pelo
incentivo contínuo.
- A todos que, direta ou indiretamente,
contribuíram para a realização desta
pesquisa.
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS xi
LISTA DE FIGURAS xii
LISTA DE GRÁFICOS xiii
LISTA DE SIGLAS xiv
RESUMO xvi
ABSTRAT xvii
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO 1
1.1 APRESENTAÇÃO DA PROBLEMÁTICA ............................................................. 1
1.2 OBJETIVOS DO TRABALHO................................................................................ 3
1.2.1 Objetivo geral....................................................................................................... 3
1.2.2 Objetivos específicos........................................................................................... 3
1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TRABALHO.............................................. 4
1.4 METODOLOGIA..................................................................................................... 5
1.5 DELIMITAÇÕES DO TRABALHO ......................................................................... 6
1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO .............................................................................. 6
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 8
2.1 LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS (LER/DORT) 8
2.1.1 ASPECTOS CONCEITUAIS................................................................................ 8
2.1.2 VISÃO HISTÓRICA DAS LESÕES DE MEMBROS SUPERIORES
RELACIONADOS AO TRABALHO.................................................................... 10
2.1.2.1 LER/DORT - ENDEMIA E EPIDEMIA...................... ...................................... 16
2.1.3 VISÃO HOLÍSTICA DAS LER/DORT NO BRASIL ............................................ 18
2.1.4 ASPECTOS CLÍNICOS ..................................................................................... 22
2.1.4.1 Neuropatias compressivas ............................................................................. 23
2.1.4.2 Tendinites e tenossinovites: ........................................................................... 23
2.1.4.3 Classificação ou estadiamento das LER/DORT............................................. 26
2.1.5 FATORES CAUSAIS......................................................................................... 31
2.1.5.1 Fatores biomecânicos..................................................................................... 32
2.1.5.2 Fatores organizacionais.................................................................................. 37
2.1.5.3 Fatores psicossociais ...................................................................................... 38
2.1.6 Resultados das principais pesquisas abordando outros fatores que não os
biomecânicos..................................................................................................... 44
2.1.6.1 A Influência dos fatores físicos e pessoais..................................................... 45
2.1.6.2 A Influência dos fatores psicológicos.............................................................. 46
2.1.6.3 A Influência dos fatores sociais. ..................................................................... 46
2.1.6.4 A influência dos fatores de organização do trabalho...................................... 47
2.1.7 RELAÇÃO ENTRE LER/DORT E ORGANIZAÇÃO DE TRABALHO................ 48
2.1.8 PERFIL DO TRABALHADOR PORTADOR DE LER/DORT ............................. 54
2.1.8.1 LER/DORT - Faixa etária................................................................................ 56
2.1.8.2 LER/DORT - Tempo na função ...................................................................... 57
2.1.8.3 LER/DORT - Escolaridade.............................................................................. 57
2.1.8.4 LER/DORT - Faixa salarial ............................................................................. 59
2.1.8.5 LER/DORT - Ramos de atividade econômica ................................................ 60
2.1.8.6 LER/DORT - Ocupações ................................................................................ 63
2.1.9 REPERCUSSÕES E CUSTOS LER/DORT ...................................................... 65
2.2 ERGONOMIA 69
2.2.1 ASPECTOS CONCEITUAIS.............................................................................. 69
2.2.2 HISTÓRICO DA ERGONOMIA ......................................................................... 71
2.2.2.1 Fundação da IEA............................................................................................ 75
2.2.3 NORMATIZAÇÃO E LEGISLAÇÃO DE PROGRAMAS DE PREVENÇÃO DE
SAÚDE DOS TRABALHADORES E ERGONOMIA .......................................... 76
2.2.4 ABORDAGENS EM ERGONOMIA.................................................................... 78
2.2.5 CAMPOS DA ERGONOMIA E PRINCIPAIS MODALIDADES DE
INTERVENÇÃO................................................................................................. 80
2.2.6 O FUTURO DA ERGONOMIA........................................................................... 82
2.2.7 A IMPORTÂNCIA DA ERGONOMIA NA PREVENÇÃO DAS LER/DORT........ 83
2.2.8 METODOLOGIA DA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO - AET........... 85
2.2.8.1 Análise da demanda. ...................................................................................... 89
2.2.8.2 Análise da tarefa............................................................................................. 90
2.2.8.2.1 Descrição dos componentes do sistema homens-tarefas ........................... 91
2.2.8.2.2 Descrição dinâmica do sistema homens-tarefas ......................................... 92
2.2.8.2.3 Avaliação das exigências do trabalho ......................................................... 92
2.2.8.3 Análise da atividade........................................................................................ 95
2.2.8.3.1 Métodos de análise ergonômica da atividade ............................................. 96
2.2.8.4 Síntese ergonômica do trabalho..................................................................... 99
2.2.9 ANTROPOMETRIA ......................................................................................... 100
2.2.9.1 Aplicação dos dados antropométricos.......................................................... 102
2.2.9.2 Principais medições antropométricas estáticas............................................ 103
CAPÍTULO 3 - ESTUDO DE CASO: ANÁLISE ERGONÔMICA DO
TRABALHO EM UMA EMPRESA DE REVESTIMENTOS
CERÂMICOS 107
3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................ 107
3.2 APRESENTAÇÃO.............................................................................................. 108
3.3 ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO ...................................................... 110
3.3.1 Demanda ......................................................................................................... 110
3.4 ANÁLISE DA TAREFA ...................................................................................... 110
3.4.1 Delimitação do sistema homem-tarefa ............................................................ 111
3.4.2 Perfil do sistema .............................................................................................. 111
3.4.3 Normas ............................................................................................................ 112
3.4.4 Hierarquia do sistema...................................................................................... 113
3.4.5 Função auxiliar de produção na classificação ................................................. 113
3.4.6. Função auxiliar de produção - mesa de classificação .................................... 114
3.4.7 Os funcionários................................................................................................ 115
3.4.8 Antropometria .................................................................................................. 115
3.4.9 Sexo................................................................................................................. 116
3.4.10 Idade.............................................................................................................. 116
3.4.11 Qualificação profissional................................................................................ 117
3.4.12 Tempo de empresa........................................................................................ 118
3.4.13 Remuneração em 2001 e 2002 ..................................................................... 118
3.4.14 Absenteísmo devido distúrbios osteomusculares.......................................... 118
3.4.15 Custos com tratamento de funcionários com queixas iniciais de dor em
membros superiores e dos casos já diagnosticados de LER/DORT,
incluindo fisioterapias, acupuntura e medicamentos ..................................... 120
3.4.16 Estadiamento/Classificação das LER/DORT................................................. 122
3.4.17 Levantamento do número de comunicações de acidentes de trabalho
emitidas por doença ocupacional, devido LER/DORT ................................... 123
3.4.18 Funcionários com restrições.......................................................................... 124
3.4.19 Dados referentes ao meio ambiente.............................................................. 125
3.4.20 Entrada ......................................................................................................... 127
3.4.21 Saída ............................................................................................................. 128
3.4.22 Entrada das informações............................................................................... 128
3.4.23 Postura para a execução da tarefa................................................................ 128
3.4.24 Exigências físicas, mentais e sensoriais ....................................................... 133
3.5 RESULTADOS DO QUESTIONÁRIO - CLASSIFICAÇÃO ............................... 133
3.6 CHECK-LIST PARA AVALIAÇÃO SIMPLIFICADA DO RISCO DE TENOSSINOVITE E LESÕES POR TRAUMA CUMULATIVOS DOS MEMBROS SUPERIORES ................................................................................ 141
3.7 DIAGNÓSTICO .................................................................................................. 144
3.8 GINÁSTICA LABORAL ..................................................................................... 145
3.9 RECOMENDAÇÕES .......................................................................................... 145
3.10 RECOMENDAÇÕES PARA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ..................... 148
3.11 CONCLUSÕES DO ESTUDO DE CASO......................................................... 149
CAPÍTULO 4 - CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS
FUTUROS 154
REFERÊNCIAS 157
ANEXOS 166
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Estadiamento, sinais e conduta nas lesões por esforços repetitivos .......... 29
Tabela 2 - Evidências científicas entre os fatores biomecânicos e as lesões .............. 35
Tabela 3 - Principais fatores determinantes das LER/DORT ....................................... 38
Tabela 4 - Relação exemplificada entre o trabalho e algumas patologias ................... 39
Tabela 5 - Fatores ocupacionais associados com mão, punho, cotovelo e ombro
predisponentes LER/DORT......................................................................... 41
Tabela 6 - Fatores físicos pessoais associados às LER/DORT ................................... 45
Tabela 7 - Fatores psicológicos associados às LER/DORT......................................... 46
Tabela 8 - Fatores sociais relacionados às LER/DORT. .............................................. 46
Tabela 9 - Fatores de organização do trabalho relacionados à LER/DORT. ............... 47
Tabela 10 - Medidas antropométricas dos funcionários ............................................. 116
Tabela 11 - Idade dos funcionários. ........................................................................... 117
Tabela 12 - Tempo de empresa. ................................................................................ 118
Tabela 13 - Absenteísmo............................................................................................ 118
Tabela 14 – Custos anos 2001 e 2002....................................................................... 120
Tabela 15 – Estadiamento/Classificação.................................................................... 122
Tabela 16 – Estadiamento / Outros setores. .............................................................. 123
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Neuropatias compressivas. .......................................................................... 24
Figura 2 - Tendinites e tenossinovites .......................................................................... 26
Figura 3 - Esquema metodológico da análise ergonômica do trabalho........................ 88
Figura 4 - Fluxograma do processo de produção de revestimentos cerâmicos ......... 109
Figura 5 - Organograma do setor de classificação..................................................... 113
Figura 6 - Sugestão de modelo de caixa de classificação.......................................... 148
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Distribuição dos atendimentos de LER por faixa etária (1994,1995,1996). 56
Gráfico 2 - LER X Escolaridade (1994, 1995) .............................................................. 58
Gráfico 3 - LER X Escolaridade (1996) ........................................................................ 58
Gráfico 4 - LER X Faixa Salarial (1994, 1995, 1996) ................................................... 59
Gráfico 5 - LER X Ramos de atividade econômica (1993, 1994) ................................. 60
Gráfico 6 - LER X Ramos de atividade econômica (1995, 1996) ................................. 61
Gráfico 7 - LER X Ocupações (1993) ........................................................................... 63
Gráfico 8 - LER X Ocupações (1994, 1995, 1996) ....................................................... 64
LISTA DE SIGLAS
ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia
AET – Análise Ergonômica do Trabalho
BLS – Bureau of Labor Statistics
CAT – Comunicação de Acidente do Trabalho
CCQs – Círculos de Controle de Qualidade
CEPI – Centro de Epidemiologia do Paraná
CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
CLT – Consolidação das Leis do Trabalho
CNAM – Conservatoire National des Arts e Métier
CTD – Cumulative Trauma Disorders
DORT – Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho
D.O.U. – Diário Oficial da União
EPA – Agência Européia de Produtividade
IEA – Associação Internacional de Ergonomia
INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social
INSS – Instituto Nacional de Segurança Social
LER – Lesões por Esforços Repetitivos
LTC – Lesões por Trauma Cumulativo
MPAS – Ministério da Previdência e Assistência Social
NR – Normas Regulamentadoras
NIOSH – National Institute for Occupational Safety and Health
NUSAT – Núcleo de Referência em Doenças Ocupacionais da Previdência
Social
OCD – Occupational Cervicobrachial Disorder
OOI – Occupational Overuse Injury
PAIR – Perda Auditiva Induzida pelo Ruído
PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
RSI – Repetitive Strain Injuries
RTD – Repetitive Trauma Disorders
SESA – Secretaria de Estado da Saúde
SESMT – Serviços Especializados em Segurança e Medicina do Trabalho
RODRIGUES, Alessandra Cordeiro. Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER/DORT num setor da indústria cerâmica: um estudo de caso. Dissertação de Mestrado em Engenharia de Produção, com ênfase em Ergonomia – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. UFSC, 2003.
RESUMO
As Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), são doenças músculo-tendinosas que acometem principalmente membros superiores, ombros e pescoço, causadas pela sobrecarga de um grupo muscular em particular. Este trabalho visa demonstrar a contribuição da Ergonomia na redução das LER/DORT, visto que a Ergonomia utiliza conhecimentos de diversas áreas da ciência, engenharia e um completo entendimento das capacidades e limitações humanas. Quando estes princípios são aplicados no projeto de um posto de trabalho, na tarefa, no processo ou procedimento, além de uma melhoria das condições de trabalho, da qualidade e produtividade, pode-se esperar uma redução dos distúrbios decorrentes da falta de adaptação do trabalho ao homem e, portanto, das Lesões por Esforços Repetitivos. A metodologia utilizada neste Estudo de Caso foi a Análise Ergonômica do Trabalho aplicada em uma Indústria de Revestimentos Cerâmicos, com o objetivo de identificar as possíveis causas das LER/DORT entre os trabalhadores do setor de classificação, local que apresentava alta incidência de queixas de dor e desconforto em membros superiores relacionadas ao desempenho do trabalho. Os resultados mostram que as características das atividades no setor, e dos postos de trabalho, organização do trabalho, associado a outros fatores podem ocasionar as LER/DORT. São propostas sugestões e recomendações visando a melhoria das condições de trabalho, conforto e segurança. PALAVRAS-CHAVE: Lesões por Esforços Repetitivos (LER) / Distúrbios Osteomuculares Relacionados ao Trabalho (DORT); Ergonomia; Prevenção.
RODRIGUES, Alessandra Cordeiro. Aspects of ergonomics that contribute to prevent work-related musculoskeletal disorders (WMSDs) in a ceramic industry sector: a case study. Production Engineering Masters Degree with ergonomics emphasis. Graduation in Production Engineering Program. UFS, 2003.
ABSTRACT
Repetitive Strain Injuries (RSI) and Work-Related Musculoskeletal Disorders(WMSDS) are painful disorders of muscles, tendons and nerves found usually in hands , wrists, elbows ,neck and shoulders caused by a forceful exertion in a particular group of muscles. This study intend to show the contribution of Ergonomics to decrease Repetitive Strain Injuries and Work-Related Musculoskeletal Disorders cases, once Ergonomics uses different knowledge areas such as science, engineering and a complex understanding of human capacities and limitations. When these principles are applied in a workplace project, task, in the process or procedure, we can count on better job conditions, more quality and productivity and a decrease in these disturbances related to a bad job adaptation to the man, in this case, RSI. The methodology used in this Case Study was the Ergonomic Analysis of the job applied in a Ceramic Revetments Industry, intending to identify the possible causes for RSI/WMSDS among the classification section workers ,a place with high pain complaints incidence particularly in superior members related to job performance. The results show characteristics section activities, workstations designs, job organization plus other factors can lead to RSI/WMSDS. Suggestions and recommendations are made to improve the job conditions, comfort and security.
KEY-WORDS: Repetitive Stain Injuries (RSI) / Work Related Musculoskeletal
Disroders (WMSDS); Ergonomy/ Prevention.
RODRIGUES, Alessandra Cordeiro. Aspectos da
ergonomia que contribuem na prevenção das LER/DORT num setor da indústria cerâmica: um estudo de caso. Dissertação de Mestrado em Engenharia de Produção, com ênfase em Ergonomia – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. UFSC, 2003.
Lesões por Esforços Repetitivos (LER) / Distúrbios Osteomuculares Relacionados ao Trabalho (DORT); Ergonomia; Prevenção.
1
CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO
1.1 Apresentação da problemática
O Brasil, à semelhança de outros países, vem assistindo, nos últimos quinze
anos, a explosão epidêmica das lesões de membros superiores por sobrecarga
funcional. SOROCK e COURTNEY (1996) consideram que fatores como: excessiva
exposição a movimentos repetitivos por demanda da tarefa, posturas incorretas,
emprego de força, baixa temperatura, vibração e fatores psicossociais como o
estresse, estão intimamente relacionados a distúrbios musculoesqueléticos, que são
mais comumente denominados: lesões por esforços repetitivos (LER) ou distúrbios
osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT).
No Japão, Maeda relatou a ocorrência de lesões desde 1958 entre
perfuradores de cartão. Nakaseko, em 1982, informou alta incidência de distúrbios
entre trabalhadores de linha de montagem, quando levantou os dados de taxa de
exposição entre 1.691.000 trabalhadores japoneses expostos e constatou que 10%,
em média, tinha sintomas em membros superiores. Destes, a maior prevalência -
20,9% - ocorria entre trabalhadores de linha de montagem. Entre os trabalhadores
de escritório, a prevalência era de 9,4% (COUTO, 2000).
Na Austrália, o fenômeno evidenciou-se na década de 80. HOCKING (1987)
relatou a ocorrência de lesões dos membros superiores na Telecom, durante o
período de 1981 a 1985, somando um total de 3.976 relatos. A ocupação com maior
incidência foi a de telefonista, contribuindo com um montante de 1.886 relatos e um
índice de 343 casos por 1000 digitadores durante os 5 anos citados.
Na Finlândia, RIHIMÄKI (apud COUTO, 2000) relatou que a incidência atingiu
seu ápice em 1990, quando foram registrados 17 casos para cada 10.000
trabalhadores do sexo feminino. Metade das ocorrências tiveram o diagnóstico de
tendinites, com menor incidência das síndromes de compressão de nervos.
Nos Estados Unidos, estas lesões osteomusculares relacionadas ao trabalho
representam, atualmente, 61% dos novos casos de doenças/lesões relacionadas ao
trabalho. A taxa de casos notificados aumentou de menos de 5 por 10.000
2
trabalhadores, em 1981, para quase 30 por 10.000 trabalhadores, em 1991,
(SILVERSTEIN, 1995, p.36). Isto quer dizer que aumentou a proporção do número
de casos de LER/DORT em seis vezes para um período de dez anos.
No Brasil, os casos de LER/DORT se constituem na principal causa de
doença relacionada ao trabalho, contribuindo com mais de 65% dos casos
reconhecidos pela Previdência Social. Este distúrbio envolve várias categorias
profissionais e não somente os digitadores e trabalhadores de linha de produção,
como se acreditava no início (NUSAT, 1995).
HIGGS e MACKINNON (1995) referem que, apesar de quase duas décadas
de estudos, as LER continuam sendo o maior e o mais freqüente problema das
extremidades superiores relacionadas ao trabalho. Isso se explica pela incerteza nas
queixas e no desenvolvimento de tratamentos satisfatórios, o que tem gerado muitas
controvérsias em diversos países.
No Paraná, segundos dados da Secretaria de Estado da Saúde (SESA) e
Centro de Epidemiologia do Paraná (CEPI), baseados nos dados das Comunicações
de Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais, observou que, em 1998, as
LER/DORT representavam 563 casos, com percentual de 41,3% das comunicações.
Em sendo assim, tal percentual correspondia a segunda doença profissional mais
prevalente, perdendo somente para a perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR), que
teve 567 casos registrados, com percentual de 41,6% .
O Departamento de Estatísticas do Trabalho dos Estados Unidos (Bureau of
Labor Statistics) faz controle dos dados anuais de lesões por esforços repetitivos.
Identificou que na indústria privada há registros, em 1999, de 246.700 casos; em
2000, foram 241.800 e, em 2001, foram um total de 216.400. Portanto, existiu uma
variação pequena entre os anos com tendência à redução, mas ainda um número
muito alto de casos.
As LER/DORT são as principais doenças ocupacionais no Brasil e atingem
cerca de 10% da mão-de-obra formal, o que corresponde a quase 7 milhões de
trabalhadores numa projeção extra-oficial.
Na Itália, quase 1,5 milhão, num universo de 23 milhões de trabalhadores têm
LER/DORT. Nos Estados Unidos, o número chega a 4 milhões; na Alemanha, 3
3
milhões e na região da Escandinávia, 1 milhão de trabalhadores, segundo dados
retirados do site (<http://www.icoh2003.com.br>, pesquisado em 30/6/03)
Para se entender como e por quê as LER/DORT se instalam e se
desenvolvem de forma assustadora nas sociedades industriais capitalistas
modernas, é de fundamental importância que se faça uma análise do trabalho em si
e do seu processo de organização, uma vez que as mesmas, segundo ALMEIDA
(1998), são manifestações no corpo dos trabalhadores dos desajustes entre eles e
os seus trabalhos.
Pela dimensão que assumiu a questão das LER/DORT, o problema passou da
esfera dos trabalhadores, empresas e sindicatos para a Saúde Pública e Previdência
Social, devido a grande proporção de afastados do trabalho e aposentadorias
precoces.
1.2 Objetivos do trabalho
1.2.1 Objetivo geral
Compreender os fatores causais e predisponentes das lesões por esforços
repetitivos em trabalhadores de linha de produção, verificando sua relação com as
mudanças no processo de trabalho e introdução de novas tecnologias e estudando
como a Ergonomia pode contribuir para minimizar as LER/DORT.
1.2.2 Objetivos específicos
• Estudar e compreender as LER/DORT e aplicar a Análise Ergonômica do
Trabalho numa situação real de um posto de trabalho.
• Analisar dados da população exposta.
• Levantar casos de distúrbios osteomusculares no setor de classificação e
verificar nexo com o trabalho.
• Mostrar condições atuais nestes postos de trabalho.
• Identificar problemas ergonômicos e na organização do trabalho.
4
1.3 Justificativa e relevância do trabalho
Com todas as transformações ocorridas na tecnologia e organização do
trabalho, alguns tipos de trabalho se modificaram e, com isso, mudaram os desafios
ergonômicos.
Se, por um lado, a tecnologia solucionou muitos problemas ergonômicos do
antigo sistema de produção, por outro, trouxe muitos outros que, atualmente, são os
grandes desafios da Ergonomia.
Um dos maiores impactos da reestruturação produtiva calcada na recente
tecnologia, largamente utilizada por grandes empresas, foi a redução gradativa das
tarefas muito pesadas e em altas temperaturas. Isso porque, hoje, muitas destas
atividades são desenvolvidas por robôs, reduzindo o impacto para o ser humano.
Como exemplo, tem-se: as laminações de aço; nos processos que envolviam
atividades fisicamente pesadas, hoje são automatizadas; nos processos de solda e
pintura, altamente agressivos, hoje sob responsabilidade de robôs; nos cortes de
madeira, realizada anteriormente por motosserras e agora por haversters, cabendo
ao homem operar estas máquinas dentro de cabines.
Porém, a tecnologia trouxe para determinados ramos de atividade, o uso
excessivo dos computadores, alta repetitividade de tarefas, posturas estáticas,
trabalho de alta densidade, além de não conseguir modificar alguns processos como
a manutenção das linhas de produção tradicionais para produtos de baixo valor
agregado (indústria de vestuário, de calçados e de montagem eletrônica), o
manuseio não programável de cargas (como correios, mudanças de moradia,
movimentação de cargas dentro da indústria, em locais não cobertos por meios
informatizados e onde a variabilidade de movimentos é mais facilmente coberta pelo
homem) e problemas relacionados com a terceirização.
Quanto aos fatores ligados à organização do trabalho, pode-se observar que o
ritmo acelerado, exigência de tempo, falta de autonomia, fragmentação das tarefas,
cobrança de produtividade sob a forma de prêmios por produção, falta de conteúdo
das tarefas e dificuldade de relacionamento com chefias interferem nos
trabalhadores, gerando tanto tensão como sobrecarga osteomuscular. Ademais, a
persistência destas situações podem gerar as LER/DORT.
5
Considerando os dados da Organização Mundial da Saúde, a qual demonstra
que, anualmente, a incidência de novos casos de doenças ocupacionais LER/DORT
é de 160 milhões por ano, ou seja, 61 casos registrados a cada mil empregados, em
relação a essa população economicamente ativa de 2,6 bilhões de pessoas
(GEREMIAS, 2002).
Portanto, é necessário que se identifiquem os fatores predisponentes e
contributivos do desencadeamento das LER/DORT na incidência atual. Este
trabalho, através do Estudo de Caso num setor de classificação, onde foram
observados maior número de queixas de dor e desconforto nos membros superiores
da fábrica, pretende analisar os aspectos da Ergonomia que contribuem na
prevenção das LER/DORT.
Com estes conhecimentos e entendendo o ambiente de trabalho como um
todo, talvez, seja possível estruturar medidas preditivas, preventivas e curativas mais
eficazes para esta patologia.
1.4 Metodologia
Esta dissertação apresenta as características de pesquisa aplicada,
qualitativa, explicativa, contando com procedimentos técnicos de pesquisa
bibliográfica e estudo de caso.
Foi realizada de acordo com as seguintes etapas. Na primeira etapa foi
realizado um levantamento bibliográfico das lesões por esforços repetitivos
(LER/DORT), enfocando principalmente seu histórico, aspectos clínicos, fatores
causais, perfil da população mais atingida. Com isso almeja-se adquirir um maior
entendimento da doença, podendo dimensionar seus efeitos sobre a saúde dos
trabalhadores.
Em seguida realizou-se uma revisão bibliográfica sobre Ergonomia,
abordando também a metodologia de Análise Ergonômica do Trabalho, enfatizando
a importância de sua aplicação nas investigações das LER/DORT.
Na segunda etapa foi realizado Estudo de Caso, através da Análise
Ergonômica do Trabalho no setor de classificação de uma fábrica de pisos e
6
revestimentos cerâmicos na região metropolitana de Curitiba, a qual apresentava
alta incidência de dores e desconforto osteomusculares relacionados ao trabalho.
Na terceira etapa procedeu-se uma análise global dos dados coletados
confrontando-os com os encontrados na literatura, visando a chegar em um
diagnóstico da situação de trabalho. Feito isso, propuseram-se recomendações para
melhoria das condições de trabalho neste setor pretendendo, com isto, reduzir a
incidência das LER/DORT.
1.5 Delimitações do trabalho
O estudo foi realizado no setor de Classificação de azulejos de uma Empresa
de pisos e revestimentos cerâmicos, que conta com a mão-de-obra de 122
funcionários.
Optou-se por considerar o grupo alvo deste trabalho como sendo os
funcionários deste setor, devido ao arranjo físico inadequado do posto de trabalho e
maior número de queixas osteomusculares no ambulatório da empresa.
Outra delimitação foi concentrar mais os estudos nos fatores biomecânicos e
não se aprofundar tanto nos aspectos psicológicos e sociais dos portadores de
LER/DORT, apesar de estes serem muito relevantes na etiologia destes distúrbios.
1.6 Estrutura do trabalho
Este trabalho está dividido em quatro capítulos assim distribuídos:
• Capítulo 1 – Introdução
Composto da apresentação, dos objetivos, da justificativa e relevância, da
metodologia e da estrutura do trabalho.
• Capítulo 2 – Fundamentação Teórica, composto de dois itens: - Lesões por
Esforços Repetitivos – LER/DORT, onde são apresentados conceitos, visão
histórica, aspectos clínicos e fatores causais de LER/DORT; - Ergonomia, onde é
apresentada a definição, histórico, áreas de aplicação da Ergonomia, bem como
a relação e importância desta na prevenção e controle das LER/DORT e melhora
7
da qualidade de vida dos trabalhadores. Apresentam-se, também, comentários
sobre Norma Regulamentadora - NR 17.
• Capítulo 3 – Estudo de caso
Demonstra a metodologia e a Análise Ergonômica do Trabalho – AET e inclui
as recomendações e conclusões do Estudo de caso.
• Capítulo 4 – Conclusões e sugestões para trabalhos futuros.
Expõe as conclusões e recomendações advindas do trabalho, bem como
sugestões para trabalhos futuros.
8
CAPÍTULO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Lesões por esforços repetitivos/distúrbios osteomuculares relacionados ao trabalho - LER/DORT 2.1.1 Aspectos conceituais da terminologia
Nos últimos 20 anos, foram adotadas várias terminologias para definir as
lesões musculoligamentares relacionadas ao trabalho, aqui definidas como
LER/DORT. Entretanto, todas as conceituações têm em comum o relato do sobreuso
das extremidades dos membros superiores ocasionadas, geralmente – mas não
unicamente – por movimentos repetitivos.
Segundo COUTO (2000), a Austrália utilizou inicialmente a denominação de
Occupational Overuse Injury (OOI), ou seja, lesão ocupacional por sobre-esforço, e
em 1980, mudou para a terminologia Repetitive Strain Injuries (RSI), sendo traduzida
para o português como Lesões por Esforços Repetitivos (LER).
BROWNE et al. (1984, p. 330) as definiram como:
Doenças músculo-tendinosas dos membros superiores, ombros e pescoço,
causadas pela sobrecarga de um grupo muscular em particular, devido ao
uso repetitivo ou pela manutenção de posturas contraídas, que resultam em
dor, fadiga e declínio do desempenho profissional.
Nos Estados Unidos e demais países anglo-saxônicos, utiliza-se os termos
Cumulative Trauma Disorders (CTD) e Repetitive Trauma Disorders (RTD) que, em
português corresponde, respectivamente, a lesões por trauma cumulativo e lesões
por trauma repetitivo (COUTO, 1998).
ARMSTRONG (1986) usa o termo Lesões por Trauma Cumulativo (LTC)
referindo-se às lesões dos tecidos moles devido a movimentos e esforços repetitivos
do corpo. Embora possa ocorrer em todos os tecidos, os nervos, tendões, bainhas e
músculos da extremidade superior são os locais mais freqüentemente relatados.
9
No Japão, foi adotada a terminologia Occupational Cervicobrachial Disorder
(OCD), que vem a ser um distúrbio ocupacional funcional e/ou orgânico produzido
pela fadiga neuromuscular devido a exercícios estáticos e/ou repetitividade dos
músculos dos braços e das mãos (AOYAMA et al apud ASSUNÇÃO, 1995).
No Brasil, estas lesões receberam a denominação de Lesões por Esforços
Repetitivos (LER), a partir da Portaria 4062 do INSS (6/8/87), seguindo a tendência
australiana. Esta terminologia foi conceituada através da resolução SS 197,
publicada pela Secretaria do Estado de Saúde de São Paulo, como um conjunto de
afecções que podem acometer tendões, sinóvias, músculos, nervos, fáscias e
ligamentos, isolada ou associadamente, com ou sem degeneração de tecidos,
atingindo, principalmente – porém não somente – membros superiores, região
escapular e pescoço. Necessário se faz comentar que é de origem ocupacional e
decorrente, de forma combinada ou não, de: uso repetitivo de grupos musculares,
uso forçado de grupos musculares e manutenção de postura inadequada (SATO et
al, 1993).
A consideração de que o termo LER tende ao desaparecimento surge frente à
inadequada utilização e generalização do termo que abrange muitos tipos de
patologias. Além disso, o fato de haver outros fatores predisponentes afora a
repetitividade (como força, posturas viciosas dos membros superiores, compressão
mecânica, vibração) que podem cooperar para o desenvolvimento destas lesões e
tornando amplo o mecanismo causador da lesão, também contribui para a confusão
taxonômica, ou seja para definir a nomenclatura médica correta da doença
(PEREIRA e LECH, 1997).
OLIVEIRA (1998) ressalta, também, que o próprio termo LER foge da
taxonomia (nomenclatura) habitual médica. Nas suas definições e conceituações, ele
quase sempre se reporta ao segmento ou aparelho atingido e procura ainda definir o
tipo de alteração em curso (por exemplo: amigdalite, osteoartrite, gastrite).
Por outro lado, o termo LER pressupõe informar que dois fatores – o esforço e
a repetitividade – são os geradores das lesões. Apesar da validade desse
pensamento para grande número de casos, nem sempre esses fatores são os
únicos ou mais importantes elementos geradores de lesões.
10
Por estas e por diversas outras razões é que, em 1986, a Real Sociedade
Australiana de Medicina recomendou, oficialmente, que o termo Repetive Strain
Injuries (Lesões por Esforços Repetitivos) fosse abandonado e passasse a utilizar o
termo Síndrome Dolorosa Regional de Origem Ocupacional.
Seguindo esta tendência e orientado por várias publicações como de
HAGBERG e cols. (1995), no Brasil, a Previdência Social vem adotando o termo
Distúrbios Osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT). Essa nomenclatura
passou a ser utilizada desde a publicação no Diário Oficial da União (D.O.U.) em
11/07/97, seção 3, p.14.
Esta denominação destaca o termo “distúrbios” ao invés de lesões, pois
corresponde ao que se percebe na prática, de ocorrerem distúrbios numa fase
precoce (como fadiga, peso nos membros, dolorimento), aparecendo as lesões mais
tardiamente.
Neste trabalho será usado, preferencialmente, o termo LER/DORT, numa
menção ao termo LER, já consagrado pelo uso e DORT, a terminologia considerada
correta pela Previdência Social. Às exceções se devem a textos e artigos publicados
com a terminologia isolada de LER ou DORT, que em respeito ao autor serão
mantidas conforme o autor escreveu.
2.1.2 Visão histórica das lesões de membros superiores relacionadas
ao trabalho
Provavelmente o primeiro relato sobre distúrbios funcionais dos membros
superiores associados a sobrecarga vem da Bíblia: “Eleazar permaneceu firme e
massacrou os filisteus até que sua mão se cansou e se enrijeceu sobre a espada”
(Livro II de Samuel, 23,10).
Hipócrates, considerado o pai da Medicina, escreveu um dos primeiros relatos
de distúrbios crônicos das mãos causado por movimentos repetitivos no trabalho.
Em Epidemias, ele descreve o quadro de um trabalhador que desenvolveu paralisia
da mão após esforço prolongado de torcer varas (RAMAZZINI apud COUTO, 2000).
11
Outros manuscritos de lesões por trauma cumulativo encontrados na história
são os relatos de Ellenborg, o qual teria feito alusão a trabalhadores ourivesaria1 e
os de Paracelsus, em 1567, relatando as doenças dos mineiros (RIO et al, 1998).
Bernardino Ramazzini, médico italiano, que escreveu, em 1700, “De Morbis
Artificum Diatriba” (traduzido como As doenças dos Trabalhadores), obra que o
imortalizou e que lhe valeu o epíteto de “Pai da Medicina do Trabalho”, descreve
estas lesões em dois capítulos.
Na doença dos mineiros, ele cita:
O múltiplo e variado campo semeado de doenças para aqueles que
necessitam ganhar salário e, portanto, terão de sofrer males terríveis em
conseqüência do ofício que exercem, prolifera, segundo creio, devido a duas
causas principais: a primeira, e a mais importante, é a natureza nociva da
substância manipulada que pode produzir doenças especiais pelas exalações
danosas e poeiras irritantes que afetam o organismo humano; a segunda é a
violência que se faz à estrutura natural da máquina vital com posições
forçadas e inadequadas do corpo, o que, pouco a pouco, pode produzir grave
enfermidade (RAMAZZINI, 2000, p. 237).
Na doença dos escribas e notários ele comenta uma espécie de câimbra e
dormência que acometia aqueles que ganhavam o sustento somente com escritas e
atribui, como uma das causas, “contínuo e sempre o mesmo movimento da mão”
(RAMAZZINI, 2000, p; 237), como observado no trecho a seguir:
A necessária posição da mão para fazer correr a pena sobre o papel ocasiona
não leve dano que se comunica a todo braço, devido à constante tensão
tônica dos músculos e tendões, e com o andar do tempo diminui o vigor da
mão (RAMAZZINI, 2000, p. 237-238).
COUTO (2000) relata que Allard Dembe escreveu, em 1996, uma revisão
histórica dos diversos relatos de “epidemias” de distúrbios dos membros superiores
1 Ourivesaria: sf. 1) A Arte de ourives. 2) Oficina ou loja de ourives. Ourives: fabricante e/ou vendedor de artefatos de outro e prata (FERREIRA, 2002).
12
causados por sobrecargas funcionais na história recente do trabalho. Deste modo,
extrai-se daí alguns pontos principais, complementados por referências de autores
diversos, nominados em seus respectivos textos:
a) Em meados do século XIX, no auge da Revolução Industrial na Europa, com o
aumento gradativo da complexidade dos negócios, as organizações
necessitaram de um grande número de trabalhadores que tivessem um certo
nível de escolaridade e que fossem capazes de escrever bem, para
desempenhar funções de copiar, escrever, guardar livros, redigir instrumentos
legais e outras. Desde 1830, já se começou a registrar e descrever um grande
número deles que desenvolveram dor forte e incapacidade funcional, paralisia e
espasmos musculares das mãos, após esforço prolongado de escrever. Os
autores da época denominaram essa condição de câimbra do escrivão ou
paralisia dos escriturários. Nessa ocasião, já houve a tentativa de criar
dispositivos de conforto para facilitar a escrita.
b) Em 1830, Sir Charles Bell descreveu a câimbra dos escrivãos, que se
diferenciava das lesões por esforços repetitivos apenas pela alta incidência de
“espasmos na mão”.
c) Em 1851, foi instituída a rede telegráfica internacional e, com ela, passou a existir
a profissão de telegrafista. Trabalhando com movimentos repetidos e
sobrecarga funcional, os telegrafistas desenvolveram queixas muito
semelhantes às dos escrivãos, e que foram relatadas, em 20 de março de 1875,
na reunião da Sociedade de Biologia (Societé de Biologie), com o nome de
câimbra do telegrafista. Também nessa ocasião foram desenvolvidos tipos de
telégrafos que, na opinião de seus criadores, ocasionariam menor incidência de
queixas.
d) Segundo IRELAND (1995), em 1882 Robson descreveu a câimbra do telegrafista
e notou sua semelhança com a emergente câimbra do escrivão. Sua incidência
aumentou gradativamente, afetando 60% dos operadores após sua inclusão, em
1908, na lista de doenças cobertas pela previdência social britânica. Depois que
um comitê do Departamento dos Correios da Inglaterra e Irlanda concluiu que a
câimbra de telegrafista era um “colapso nervoso” devido a uma “instabilidade
nervosa e fadiga repetida”, a incidência do problema reduziu.
13
e) Em 1888, Gowers escreveu sobre a câimbra do escrivão, chamando-a de
“neurose ocupacional” na sua extensa monografia Doenças do Sistema
Nervoso. Ele descartou isto como problema periférico e enfatizou “a origem
primária é essencialmente do sistema nervoso, o resultado de um desarranjo
nos centros relacionados com o ato de escrever”. Notou, também, que pessoas
com câimbras do escrivão freqüentemente “são de temperamento claramente
nervoso, irritáveis, sensíveis, tolerando mal o excesso de trabalho e a
ansiedade, e que ”é uma doença facilmente aceita por aqueles que têm
testemunhado o problema” (IRELAND, 1995, p. 554).
f) Em 1891, Fritz DeQuervain descreveu a tendinite dos tendões da base do polegar
(que hoje leva o seu nome) e, na ocasião, a identificou como entorse das
lavadeiras.
g) Segundo OLIVEIRA (1998, p. 57), em 1920, Bridge correlacionou a atividade de
tecer fios de algodão ao que chamou de câimbra ocupacional.
h) Já no século 20, entre os anos 20 e 40, houve uma denúncia importante de
casos de dores nos membros superiores associados às condições de trabalho,
especialmente baseados nos relatos do médico norte-americano Harry
Filkenstein. Não é sem razão que o primeiro reconhecimento previdenciário
desse distúrbio como relacionado ao trabalho ocorreu no estado norte-
americano de Ohio, em 1938. Um estudo clássico desta época foi o de Hammer,
em 1934, o qual estudou tendinites entre empacotadores, e chegou a descrever
que aqueles que desenvolviam menos de 2.000 movimentos por hora não
tinham lesão, e que trabalhadores com número de movimentos maior do que
aquele valor eram propensos a lesões.
i) Segundo MELHORN (1998, p. 111) no Japão, em 1958, foram descritos os
primeiros casos de LER relacionados à informática. O termo “distúrbio
cervicobraquial ocupacional” foi instituído inicialmente pela Associação
Japonesa de Saúde Industrial, em 1972. Entre os anos de 1960 e 1980 uma
“epidemia” de distúrbio cervicobraquial ocupacional foi relatado no Japão . Os
relatos iniciais destas lesões ocorreram em perfuradores de cartão mas,
posteriormente, o distúrbio foi encontrado em datilógrafos, operadores de micro-
computador, operadores de caixa registradora, operadoras de máquinas
14
empacotadoras, incluindo trabalhadores de linha de produção. A freqüência
variava com 81% queixando de redução da movimentação do ombro (49%
apenas dor em ombro direito), 31% dor no pescoço, 13% sintomas no punho,
19% com mão, 13% com dedos, 82% fadiga geral, 59% cefaléia, 27% insônia, e
42% dor lombar baixa.
j) Em 1980, trabalhadores do Reino Unido tiveram uma “epidemia” de dor em
membros superiores. A dor geralmente era inespecífica e fugia dos padrões das
entidades reumatológicas bem conhecidas. A síndrome foi considerada
psicossocial e análoga à Síndrome da Fadiga Crônica. Um estudo baseado
numa amostra de mais de mil trabalhadores no Norte da Inglaterra revelou que,
em algum tempo, 9% dos homens e 12% das mulheres tiveram dor nos braços
ou pescoço, severa o suficiente para levá-los a consultar seus médicos
(MELHORN, 1998, p. 111).
k) Na década de 70 e principalmente de 80, ocorreu um aumento da incidência na
Escandinávia, especialmente na Suécia, nos setores de indústria de carne
(principalmente frango) e nos Estados Unidos da América, no setor
automobilístico.
l) Final dos anos 70, primeira metade dos anos 80 houve a “epidemia das LER” na
Austrália, com pico máximo de incidência por volta do ano 1985.
m) Segundo RIO (1998, p. 26), em 1985, o Australian Council of Hand Surgery
define as seguintes recomendações em relação às chamadas LER:
• A seriedade da “epidemia” nacional em relação aos custos para a
comunidade está reconhecida.
• A base patológica para explicar a continuação dos sintomas está
disponível apenas numa pequena proporção de casos.
• A maioria dos casos deriva de causas nervosas e pode claramente ser
caracterizada como neurose ocupacional.
• A condição é reversível.
• As LER podem ser chamadas de síndrome da fadiga reversível.
n) Também em 1987, a decisão judicial da Suprema Corte da Austrália, no caso
Cooper contra Comunidade das Nações, visando à indenização em casos
diagnosticados como LER. O empregador foi considerado não culpado,
15
prevalecendo a hipótese dos empregados não terem sofrido lesões e todos os
custos foram atribuídos aos empregados e seus representantes. Para IRELAND
(1995) essa causa pode ser considerada como um marco determinante do fim
da “epidemia” na Austrália.
o) A Organização Mundial de Saúde (1985) classifica as doenças relacionadas ao
trabalho (worked-related diseases) como multifatoriais. Os fatores relacionados
ao trabalho contribuem de maneira importante para a gênese da doença, mas
eles são apenas uma classe de fatores, dentre outros, que contribuem para
essa gênese (RIO, 1998).
p) Em 1986, inicia o declínio da incidência da LER na Austrália, que passou a ser,
predominantemente, considerada como neurose conversiva.
q) SILVERSTEIN (1995), relata que em 1990 foram registrados, no Estados Unidos,
185.400 casos de lesões por trauma cumulativo (LER/DORT), representando
56% das patologias do trabalho e correspondendo a um aumento de 8% desde
1982.
r) Segundo RIO et al. (1998, p. 26) “em 1987 as LER não existem mais de forma
estatisticamente significativa na Austrália”.
s) Nos Estados Unidos, em 1997, o Instituto Nacional de Segurança e Saúde
Ocupacional (National Institute for Occupational Safety and Health – NIOSH)
definiu Lesão por Trauma Cumulativo (CTD) como a ocorrência de um ou mais
sintomas (dor, dolorimento, rigidez, queimação, dormência, formigamento) em
uma das quatro regiões articulares (pescoço, ombro, cotovelo/antebraço e
mão/punho), com duração acima de uma semana ou que ocorre pelo menos
uma vez ao mês ao longo de um ano. Estabeleceu, também, que para esta
caracterização não poderia ter ocorrido acidente articular prévio, além de que os
sintomas deveriam ter se iniciado no trabalho atual; tendo em vista que é
quando a atividade excede repetidamente a capacidade biomecânica do
trabalhador que as atividades tornam-se indutoras de trauma. Além destes
aspectos, o NIOSH estima que 15% a 20% da força de trabalho têm risco de
desenvolver CTD.
16
t) Também em 1997, foi disponibilizado na Internet o trabalho de revisão
bibliográfica de fatores de risco para LER/DORT, pelo NIOSH. Foram avaliados
fatores de risco para cada articulação dos membros superiores e para o dorso.
Como se pode notar, as Lesões por Esforços Repetitivos são muito antigas,
muito embora tenham se acentuado com a Revolução Industrial devido ao aumento
na sobrecarga estática e dinâmica do sistema osteomuscular.
2.1.2.1 LER/DORT – Endemia e epidemia
Existem muitas evidências da correlação entre uso inadequado e/ou
excessivo de segmentos musculoesqueléticos com as LER/DORT e, quanto à sua
existência endêmica, sem maiores repercussões sociais, não há que se duvidar.
Entretanto, enquanto manifestações usuais, endêmicas, esses quadros
raramente são relatados na ciência médica da forma dramática com que se
manifestam nas chamadas “epidemias”. A palavra “epidemia” é utilizada por alguns
autores, não na sua correta acepção científica, caracterizando patologia
transmissível, mas como uma analogia para explicar aumentos repentinos em
grande escala desse tipo de problema. Em função da quantidade e da intensidade
de sentimentos que podem ser mobilizados, torna-se extremamente difícil a
compreensão das causas dessas “epidemias” e, conseqüentemente, do encontro
das soluções.
Segundo RIO et al. (1998), pode-se considerar como “epidemia” de
LER/DORT:
a) Câimbra do telegrafista na Grã-bretanha, entre 1908 e 1911;
b) A desordem ocupacional cervicobraquial no Japão, nos anos 60 e 70;
c) A LER na Austrália e Nova Zelândia, nos anos 70 e 80;
d) A LER nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte e de São Paulo, nos anos
90.
Dessas, a “epidemia” australiana foi a que obteve maior repercussão
internacional.
HOCKING (1987), alertou que não foi somente a informatização em grande
escala e o uso de teclados e terminais de computador que fizeram surgir as LER
17
neste país e apresenta alguns dados sistematizados numa das organizações mais
afetadas pelo problema: a Telecom Australia, empresa que na época, empregava
cerca de 85.000 trabalhadores:
a) Alguns operadores de computador foram muito mais afetados que outros.
b) A incidência de LER não teve correlação consistente com a intensidade do uso
de teclado. Em alguns casos, essa correlação foi inversamente proporcional à
intensidade de uso do teclado.
c) A incidência variou muito entre diferentes regiões australianas, num mesmo
grupo ocupacional (504 por 1.000 em telefonistas situadas em Perth e Western
Australia, contra 182 por 1.000 em Sidney e New South Wales).
d) A incidência de LER não esteve correlacionada com a duração do trabalho com
teclado. Telefonistas que trabalhavam em tempo parcial apresentavam
incidência maior do que as que trabalhavam em horário integral. Maior
quantidade de anos como telefonista, também, não a apresentou correlação
com incidência.
Portanto, HOCKING (1987) concluiu que não houve evidência de uma relação
linear dose-resposta entre trabalho com teclado de computador e incidência de LER.
E também menciona que, nesta época, havia um estigma no país que qualquer dor
no braço poderia conduzir a uma completa incapacidade.
Por outro lado, BAMMER (1993) referiu que, até os anos 70, a Austrália
experimentou baixo índice de desemprego e um crescimento econômico estável. É
evidente que as desordens de pescoço e membros superiores relacionados ao
trabalho (DORT) existiam, mas não eram vistas como um problema maior;
provavelmente porque era mais fácil para os trabalhadores que estavam
desenvolvendo sintomas trocar de emprego do que postular uma indenização
trabalhista. Entretanto, nos anos 70, os índices de desemprego cresceram e os
postos de trabalho foram reestruturados a fim de – dizia-se – manter a
competitividade internacional. Para muitos trabalhadores, as mudanças significaram
aumento do ritmo e carga de trabalho e menor flexibilidade para a troca de emprego.
Um outro exemplo de aumento súbito das LER/DORT são os casos de
privatizações de Bancos. Segundo a coordenadora de Departamento de Saúde do
Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, Dall’Agnol, os bancários ficam
18
estressados, com medo das demissões, atingidos pela LER, e vivem sob tensão
para o futuro. Relata, ainda, que após a privatização, intensificou-se o número de
afastamentos para tratamento de saúde, conseqüência das políticas organizacionais
que determinam o aumento da produtividade do funcionário. As “cobranças de
metas, somadas aos outros fatores, aumentaram significativamente o número de
casos de LER/DORT” (DALL’AGNOL, 2001, p. 42).
Segundo dados do Sindicato dos Trabalhadores Bancários de Porto Alegre,
antes da privatização os afastamentos por doenças ocupacionais eram relativamente
baixos, compatíveis com os demais bancos, porém, após a privatização, houve um
salto no número de casos de LER/DORT, chegando ao indicador de 10% dos
trabalhadores do banco estarem em licença saúde.
Do exposto acima, pode-se notar que, em algumas ocasiões, as LER/DORT
surgiram como verdadeiras “epidemias”. Contudo, não se pode atribuir estes efeitos
somente ao aumento do grau de risco inerente às novas tecnologias, mas também
como um reflexo do conflito entre a força de trabalho e a nova realidade do processo
produtivo, considerada desfavorável ao trabalhador, não só pelo indivíduo mas
também pela sociedade, transformando-se num fenômeno de movimentação social.
Estas “epidemias” ocorrem em períodos favoráveis aos acometidos, pois lhe
propiciam ganhos secundários como estabilidade no trabalho e abrem oportunidade
de indenizações futuras.
2.1.3 Visão holística2 das LER/DORT no Brasil
No Brasil, segundo ASSUNÇÃO e ROCHA (1994), os primeiros relatos de
casos referem-se a incidência de tenossinovite em lavadeiras, limpadoras e
engomadoras, os quais foram apresentadas por CAMPANA et al (apud MENDES,
1995) no XII Congresso Nacional de Prevenção de Acidentes do trabalho.
A partir de 1985, surgem publicações e debates sobre a associação entre
tenossinovite e o trabalho de digitação (FUNDACENTRO; MACIEL, CARVALHO e
2 Holístico – (adj.) que dá preferência ao todo ou a um sistema completo, e não à análise, à separação das respectivas partes componentes (FERREIRA, 2002).
19
cols; ROCHA e col; SILVA apud MENDES, 1995) que resultaram no primeiro passo
para a aceitação oficial da LER como doença ocupacional.
Na data de 7 de novembro de 1986, foi publicada a circular número
501.001.55 nº 10, na qual a direção geral do INAMPS (Instituto Nacional de
Assistência Médica e Previdência Social) orientava as superintendências para que
reconhecessem a tenossinovite como doença do trabalho nas atividades com
exercícios repetitivos (CODO e ALMEIDA, 1995).
Em 1986, o termo LER foi introduzido no Brasil pelo médico Mendes Ribeiro,
como tradução de Repetitive Strain Injuries e referendado no 1º Encontro Nacional
de Saúde. Em 1987, o Ministério da Previdência e Assistência Social, através da
Portaria n.º 4.062, reconhece a tenossinovite como doença do trabalho (ALMEIDA,
CARNEIRO e PEGO, 1998).
Em 1992, em um seminário realizado em São Paulo, organizado por: Centro
de Vigilância Sanitária, Centro de Vigilância Epidemiológica, Programa de Saúde
dos Trabalhadores da Zona Norte/ERSA-6 e Sindicato dos Empregados em
Estabelecimentos Bancários de São Paulo, definiu-se a terminologia LER (SETTINI
e SILVESTRE, 1995).
Em 08 de junho de 1992, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo,
publicou a primeira resolução a respeito da questão das LER, definindo-a como um
conjunto de afecções que podem acometer tendões, sinóvias, músculos, nervos,
fáscias e ligamentos, isolada ou associadamente, com ou sem degeneração de
tecidos, atingindo principalmente – porém não somente – membros superiores,
região escapular e pescoço, sendo de origem ocupacional e decorrente, de forma
combinada ou não do uso repetitivo de grupos musculares, uso forçado de grupos
musculares e manutenção de postura inadequada. Além da definição, a resolução
padroniza critérios e orienta, em linhas gerais, os profissionais de saúde sobre como
prevenir, diagnosticar, tratar e reabilitar trabalhadores acometidos pela doença, além
de estabelecer o fluxo entre o setor público da saúde, serviços médicos de empresa
e a Previdência Social. Posteriormente, o INSS (Instituto Nacional de Segurança
Social) publicou a Resolução nº 245/92 e, finalmente em março de 1993, o INSS
publicou LER/Normas Técnicas para avaliação de incapacidade, baseada nas duas
resoluções que a antecedem (SATO et al, 1993; SETTINI e SILVESTRE, 1995).
20
No dia 05 de agosto de 1998, o Ministério da Previdência e Assistência Social
(MPAS) expediu a Ordem de serviço 606 – Norma para a avaliação de Incapacidade
para Fins de Benefícios Previdenciários – a qual utiliza a sigla DORT (Distúrbios
Osteomusculares Relacionados ao Trabalho) para evitar “que na própria
denominação já se apontem causas definidas”. Essa mudança além de alterar a
sigla LER para DORT, anula todas as resoluções anteriores que tratavam do
assunto.
Segundo O’NEILL (<http://www.uol.com.br/prevler>, pesquisado em 5/2/03),
presidente do Instituto Nacional de Prevenção das LER (Prevler), a ocorrência de
LER/DORT, no Brasil, contatada no período de 1970 a 1985 era na proporção de 2
casos para cada 10 mil funcionários; e, de 1985 a 1992 a proporção se elevou para
4 casos em cada 10 mil trabalhadores. Atualmente, a incidência aumentou
consideravelmente para 14 casos para o mesmo número de funcionários.
Apresenta-se a seguir, um comparativo dos dados acima com a incidência de
doenças ocupacionais por 10 mil trabalhadores registrada em alguns países em
anos recentes: Portugal, 1980: 2,1 casos por 10 mil trabalhadores; Reino Unido,
1986: 2,7; Espanha, 1984: 2,9; Japão, 1985: 3,4; Singapura, 1987: 10,7; EUA, 1987:
17,2; Itália, 1995: 20,7; Chile, 1984: 27,7; Finlândia, 1984: 27,8. (BUSCHINELLI
apud OLIVEIRA, 1998).
O crescimento de 565% em Minas Gerais, de 1985 para 1990, reflete mais
provavelmente, os registros de casos que já existiam do que propriamente o número
de novas ocorrências. Pode-se correlacionar o crescimento dos registros à atuação
de serviços especializados em saúde do trabalhador no Estado, como o Ambulatório
de Doenças Profissionais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) criado
em 1985 e o Núcleo de Referência em Doenças Ocupacionais da Previdência Social
(NUSAT), de 1989.
O reconhecimento oficial da existência das lesões por esforço repetitivos pelo
INSS, em 1987, repercutiu no número de doenças ocupacionais e, rapidamente
colocou-as como as mais freqüentes. Tanto o trabalho dos Serviços Especializados
em Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) de algumas empresas como a
própria conscientização da comunidade também contribuíram para o aumento de
número de casos registrados no INSS.
21
Durante os dias 19, 20 e 23 de Julho de 2001, foi realizada uma pesquisa pelo
Datafolha, encomendada pelo Instituto Nacional de Prevenção às LER, conduzida
por Maria José O’NEILL e que se encontra no site <http://www.uol.com.br/prevler>
(pesquisado em 5/2/03). Ela buscou compreender a realidade vivida pelos
trabalhadores paulistanos através de entrevistas para saber sobre: sua vida no
trabalho (atividades desempenhadas, carga horária, realização de horas extras,
existência de pausas e tempo para refeição, relacionamento com chefes e colegas
de trabalho, pressões no cotidiano, existência de riscos de acidentes ou de doenças
relacionadas ao trabalho, entre outros aspectos), e fora dele (prática de atividades
físicas, tempo para o sono e para o lazer). Ainda, esses trabalhadores também
foram indagados sobre aspectos de sua saúde, tais como a presença de dores
freqüentes, dormências ou formigamentos e inchaços, e alguns outros sintomas.
O objetivo dessa investigação foi identificar condições de trabalho e sintomas
que poderiam indicar a possibilidade de existência ou riscos de desenvolvimento de
LER/DORT.
O estudo mostrou, entre outros resultados, que 14% dos trabalhadores
paulistanos dos setores comercial, industrial, de serviços e da construção civil, com
idade acima de 16 anos, costumam sentir dores freqüentes, dormência ou
formigamento e inchaço em algumas partes do corpo, além de apresentar alguns
outros sintomas como: irritabilidade, exaustão física, falta de firmeza nas mãos, entre
outros. Relatam, ainda, que procuraram orientação médica e receberam um
diagnóstico de LER/DORT.
Esse percentual, transformado em números absolutos, mostra que cerca de
310.000 trabalhadores paulistanos dos setores da economia investigados na
pesquisa têm diagnóstico de LER/DORT, o que representa 6% deste universo.
Considerando-se o total da população da cidade de São Paulo com idade superior a
16 anos, verifica-se que 4% dos paulistanos sofrem deste problema.
Dos 14% dos trabalhadores paulistanos que receberam diagnóstico de
LER/DORT, 12% afirmam que a empresa na qual trabalhavam não emitiu a
Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT), documento que informa ao INSS que
o trabalhador adquiriu doença profissional ou foi vítima de acidente do trabalho. Tal
documento assegura ao trabalhador o direito a afastar-se do emprego para
22
tratamento médico, receber benefícios previstos por lei e ter estabilidade após a alta
médica. Dentre os entrevistados, apenas 2% afirmaram que a empresa na qual
trabalhavam emitiu o documento.
Disso constata-se que o problema de subnotificação apontado nesta pesquisa
é um dos motivos que impede apresentar termos estatísticos reais e a noção
completa da gravidade desta patologia.
Segundo O’NEILL (<http://www.uol.com.br/prevler>, pesquisado em 5/2/03),
somente nos últimos cinco anos, foram abertas 532.434 CAT no Brasil devido a
LER/DORT, sem contar os trabalhadores que pleiteiam na Justiça o reconhecimento
do nexo causal, em milhares de ações movidas em todo País. Ademais, pode-se
verificar que a cada 100 trabalhadores na região Sudeste, por exemplo, um é
portador de Lesões por Esforços Repetitivos.
2.1.4 Aspectos clínicos
As manifestações clínicas das Lesões por Esforços Repetitivos (LER/DORT)
são bastante numerosas. Elas variam desde patologias bem definidas e que
proporcionam um diagnóstico rápido, até síndromes dolorosas crônicas de gênese
multifatorial, muitas vezes coincidindo com aspectos psicológicos importantes e
diversos sintomas não funcionais (parestesias, cefaléia, cansaço, sensação de
inchaço, dificuldade de concentração, etc) que podem dificultar o diagnóstico
(NICOLETT, s/d).
Devido ao conceito de LER/DORT englobar várias patologias – e para melhor
caracterizar o grupo muscular e/ou nervoso envolvidos, a fim de fornecer um
diagnóstico mais preciso da lesão – o Instituto Nacional de Seguridade Social
(INSS), através de Ordem de Serviço nº 606, de 05 de agosto de 1998, aprova a
Norma Técnica sobre Distúrbios Osteomusculares relacionados ao trabalho e na
seção 1 classifica-os da seguinte forma: Neuropatias Compressivas; Tendinites e
tenossinovites; Estadiamento das LER/DORT, que serão observados a seguir.
23
2.1.4.1 Neuropatias compressivas As neuropatias compressivas ocorrem quando as estruturas mais delicadas
do membro superior, os nervos, que trafegam por arcos estreitos, são comprimidos
(apertados), por outras estruturas. Nas neuropáticas são as parestesias (alterações
de sensibilidade) e não a dor o sintoma mais importante.
Estas podem ser:
a) Síndrome do Desfiladeiro Torácico - é a compressão do feixe vascular e
nervoso, num estreito triângulo formado pelos músculos escaleno anterior e
médio e a primeira costela.
b) Síndrome do Supinador – o músculo supinador hipertrofiado comprime o nervo
interósseo posterior que passa dentro dele.
c) Síndrome do Pronador Redondo – compressão do nervo mediano, abaixo da
prega do cotovelo, entre dois ramos musculares do pronador redondo.
d) Síndrome do Interósseo Anterior- compressão do nervo na borda de origem
dos músculos flexores superficiais dos dedos.
e) Síndrome do Interósseo Posterior – é o comprometimento do ramo profundo
do nervo radial, após sua bifurcação na extremidade proximal do antebraço.
f) Síndrome do Túnel do Carpo – é a compressão do nervo mediano ao nível do
punho.
g) Lesão do Nervo Mediano na Base da Mão – conseqüência da compressão
extrínseca do nervo, como por exemplo causado por ferramentas como chave-
de-fenda de cabo curto, vibração.
h) Síndrome do Canal Cubital – opressão do nervo ulnar ao nível do túnel cubital.
i) Síndrome do Canal de Guyon – é a compressão do nervo ulnar ao nível do
canal de Guyon no punho.
Tais neuropatias compressivas podem ser visualizadas na figura 1.
2.1.4.2 Tendinites e tenossinovites
São decorrentes de processos inflamatórios que acometem as bainhas
tendíneas e os tendões.
24
Figura 1 - Neuropatias compressivas (Fonte: Autora)
As tendinites e tenossinovites ocorrem com mais freqüência nas situações em
que se associam grande repetitividade à exigência de força. Ademais, o sintoma
mais característico em qualquer das suas formas é a dor.
As tendinites e tenossinovites podem ser:
a) Tenossinovite De Quervain – é a inflamação da bainha comum dos tendões do
abdutor longo e extensor curto do polegar no ponto onde eles passam juntos por
uma única polia: o sulco ósseo do processo estilóide do rádio. Foi descrita
originalmente em lavadeiras, mas incide em todas as atividades em que haja
fixação do polegar acompanhado de força, quer de torção, quer de desvio ulnar
do carpo.
b) Dedo em Gatilho – a inflamação dos tendões flexores dos dedos pode produzir
espessamentos e nódulos que dificultam o deslizamento dos mesmos em suas
bainhas. Ao vencer abruptamente a resistência ao movimento de extensão, o
dedo “salta”, caracterizando o diagnóstico.
c) Epicondilite Lateral – também conhecida como cotovelo de tenista, é a
inflamação da inserção dos músculos responsáveis pela extensão e supinação
do antebraço. A doença é desencadeada pelos movimentos de extensão, e
pronossupinação, como ao apertar parafusos.
25
d) Epicondilite Medial – é a inflamação dos músculos flexores do carpo na borda
medial do cotovelo. Pode ocorrer em descascadores de fios elétricos e está
associada à flexão de punho. É menos freqüente que a epicondilite lateral.
e) Tendinite Bicipital - é a inflamação da bainha sinovial do tendão da porção
longa do bíceps, no ponto em que ela muda de direção: no sulco bicipital. Ocorre
mais freqüentemente associada a outras lesões da bainha rotatória do ombro,
ocupacionalmente ocorre nas atividades que o braço é mantido em elevação por
longos períodos.
f) Tendinite do Supra-espinhoso - também conhecida como síndrome do
impacto, é ocasionada pela compressão das fibras do supra-espinhoso pelo
acrômio ao realizar a abdução do braço acima de 45 graus. São incidentes em
adultos e podem não ser ocupacionais. O sedentarismo e a falta de estrutura
muscular são fatores predisponentes.
g) Tenossinovite dos Extensores dos Dedos e Extensores do Carpo – são
mais comuns em digitadores e operadores de mouse. Decorrem mais da
contratura estática desses músculos, para fim antigravitacional sobre o carpo e
dedos, que da contração dinâmica para o movimento dos dedos.
h) Tenossinovite dos Flexores dos Dedos e dos Flexores do Carpo –acometem
os tendões na face ventral do antebraço e punho em decorrência de movimentos
repetitivos e flexão dos dedos e da mão.
i) Tenossinovite do Braquiorradial – decorre de atividades que exijam
movimentos de flexão do antebraço pronado sobre o braço.
Tais neuropatias compressivas podem ser visualizadas na figura 2.
GUIDOTTI (1992) também listou os tipos de LER/DORT mais comumente
encontrados. São eles: no pescoço refere-se à síndrome tensional do pescoço e à
síndrome cervical; nos ombros cita a síndrome do desfiladeiro torácico, a tendinite
bicipital, a tendinite do supraespinhoso, a capsulite adesiva e a síndrome acrômio-
clavicular; no cotovelo, punho e mão cita a epicondilite, a tenossinovite de De
Quervain, a síndrome do túnel do carpo e a compressão do nervo ulnar.
26
Figura 2 – Tendinites e tenossinovites (Fonte: Autora)
2.1.4.3 Classificação ou estadiamento das LER/DORT
O estadiamento da LER/DORT, ou seja, classificação do grau em que se
encontra a lesão ou distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho, ainda é um
tema controverso, pois os limites entre as fases não são bem precisos. Na literatura,
encontram-se sugestões de adotar o sintoma dor como critério de estadiamento.
Esta classificação auxilia no planejamento terapêutico, na avaliação da incapacidade
laborativa e no prognóstico.
Em 1993, o INSS através da Norma Técnica para Avaliação da Incapacidade,
classificou os estágios evolutivos da LER, objetivando o reconhecimento das fases
clínicas, bem como da orientação na conduta. Cada forma clínica da LER apresenta
quadro clínico específico, mas para melhor compreensão são considerados os
estadiamentos da LER em geral, em graus de comprometimento, conforme descrito
abaixo:
a) GRAU I: Sensação de peso e desconforto no membro afetado. Dor espontânea,
às vezes em pontadas, sem irradiação nítida, de caráter ocasional durante a
27
jornada de trabalho sem interferir na produtividade. Melhora com o repouso. É
em geral leve e fugaz. Os sinais clínicos estão ausentes. Tem bom prognóstico.
b) GRAU II: a dor é mais persistente, mais localizada, mais intensa e aparece
durante a jornada de trabalho de modo intermitente. É tolerável e permite o
desempenho da atividade profissional, mas com redução da produtividade nos
períodos de exacerbação. Pode haver distúrbios da sensibilidade e irradiação
definida. A dor pode não melhorar com o repouso e a recuperação é mais
demorada. Os sinais clínicos estão ausentes. Prognóstico favorável.
c) GRAU III: a dor é mais persistente, mais forte e tem irradiação mais definida. O
repouso em geral só atenua a intensidade da dor. Há sinais de distúrbios
sensitivos mais graves. Há sensível queda da produtividade, quando não
impossibilita de executar a função. Sinais clínicos presentes e, freqüentemente,
o retorno à atividade produtiva é problemático. Prognóstico reservado.
d) GRAU IV: a dor é forte, contínua, por vezes insuportável e é exacerbada por
movimentos podendo estender-se por todo membro. Há perda da força e do
controle dos movimentos constantemente. Podem surgir deformidades. A
capacidade de trabalho é anulada e a invalidez se caracteriza pela
impossibilidade de um trabalho produtivo regular. Os atos da vida diária são
prejudicados. Comumente ocorrem alterações psicológicas. Prognóstico
sombrio.
Com relação à classificação, DENNET e FRY (1988) classificam a doença de
acordo com a localização da dor e com os fatores que possam desencadeá-la ou
agravá-la, da seguinte maneira:
a) Grau 1 - dor localizada em uma região durante a realização da atividade
causadora da síndrome.
b) Grau 2 - dor em vários locais durante a realização da atividade causadora da
síndrome.
c)
d)
Grau 3- dor desencadeada em outras atividades da mão, e sensibilidade das
estruturas. Pode aparecer a dor em repouso ou perda da função muscular.
Grau 4 - dor presente em qualquer movimento da mão, dor após atividade com
mínimo de movimento, dor em repouso e à noite, aumento da sensibilidade,
perda da função motora (perda do controle, fraqueza).
28
e) Grau 5 - perda da capacidade de usar a mão devido a dor contínua, perda da
função muscular, particularmente fraqueza, sintomas gerais. (ASSUNÇÃO,
1995, p 192).
A classificação de BROWNE et al. (1984) também considera a dor como
critério de estadiamento e pode ser observada na seqüência:
1º Estágio: dor e cansaço nos membros superiores durante o turno de
trabalho, com melhora nos finais de semana, não apresentando alterações no
exame físico e com desempenho normal.
2º Estágio: dores recorrentes, sensação de cansaço persistente e distúrbios
do sono, com incapacidade para o trabalho repetitivo.
3º Estágio: sensação de dor, fadiga e fraqueza persistentes, mesmo com o
repouso. Distúrbios do sono e presença de sinais ao exame físico.
ASSUNÇÃO (1995) citou o quadro adotado pelo Ambulatório de Doenças
Profissionais do Hospital de Clínicas (UFMG) que correlaciona o estágio da doença
com as queixas e sinais no exame físico com a conduta.
Como se pode observar na tabela 1, a conduta no Ambulatório de Doenças
Profissionais do Hospital das Clínicas – Universidade Federal de Minas Gerais, é
que na fase 0 o principal é a orientação do trabalhador quanto à doença, relação
com ambiente de trabalho e acompanhamento, mesmo sem alterações no exame
físico. Entretanto, dificilmente o trabalhador procura assistência médica nesta etapa.
Na fase 1 ocorre a permanência dos sintomas porém de forma constante. Já
não existe alívio com o repouso e são identificadas alterações no exame físico e
sugere-se emitir a Comunicação de Acidentes do Trabalho – CAT, intervenção no
local de trabalho e repouso, contraste de temperatura para região afetada (com gelo)
se quadro localizado em punho ou mãos e repouso.
Na fase 2 ocorre a exacerbação dos sinais e sintomas, sem resposta ao
tratamento medicamentoso e fisioterápico. Existe já interferência nas atividades
laborais e no domicílio. No exame físico podem surgir sinais compatíveis com lesão
de nervos periféricos que, se comprovado a evolução, é mais lenta e pode deixar
seqüelas.
29
Tabela 1 – Estadiamento, sinais e conduta nas Lesões por esforços repetitivos. Queixas Exames Membros
Superiores Conduta
FASE 0 Sensação de desconforto ou sensação de peso que aparece nos picos da produção, piora aos finais de jornada, e melhora com repouso
Normal
Orientar o trabalhador quanto à evolução da doença. Orientar o trabalhador quanto à duração, ao ritmo e às condições do ambiente de trabalho na relação com a doença Visitar a empresa Notificar o sindicato Acompanhamento periódico
FASE1 Sensação constante de desconforto ou sensação de peso nos membros superiores relacionados com os movimentos repetitivos com mais de um mês de duração
Dor à palpação Dor à movimentação ativa
Emissão CAT Estudos e intervenção no local de trabalho Afastamento Repouso Analgésico/antiinflamatório Desvio de função
FASE 2 Dor constante nos membros superiores com pequenos períodos de remissão que agrava com a realização de esforços repetitivos Inchaço Não melhora do quadro clínico com tratamento medicamentoso /fisioterápico Interferência nas atividades do trabalho e fora do trabalho
Dor à palpação, à movimentação passiva e ativa Aumento de volume Ausência de sinais sugestivos de compressão de nervos
Idem ao anterior mais: Avaliação fisioterápica
FASE 3 Acorda à noite com a dor, deixa objetos caírem das mãos Dificuldade para realizar tarefas fora do trabalho, higiene pessoal, lida doméstica
Presença de sinais sugestivos de compressão de nervos Edema importante
Emissão de CAT Estudo de intervenção no local de trabalho Repouso Encaminhamento à clínica de dor Avaliação fisioterápica
FASE 4 Dificuldade para realizar movimentos finos Exacerbação da dor e edema Impossibilidade de realizar tarefas domésticas e de trabalho Dificuldade de dormir devido à dor
Limitação dos movimentos Força muscular diminuída Atrofia e/ou deformidades
Emissão CAT Estudo e intervenção no local de trabalho Encaminhamento à clínica de dor para avaliar indicação de bloqueio de gânglio Avaliação fisioterápica
(Fonte: Ambulatório de Doenças Profissionais apud ASSUNÇÃO, 1995, p.
196, adaptado pela autora).
30
Na fase 3 - há conseqüências das lesões neurológicas, com diminuição da
força muscular, alterações dos reflexos e da sensibilidade tátil. Pode haver edema
nos dedos, punho e antebraços, alterações emocionais – medo do futuro e atritos na
família e deve manter-se afastado do trabalho.
Na fase 4 - o paciente desenvolve quadro de distrofia simpático-reflexa: dor,
hiperestesia (aumento da sensação dolorosa), distúrbios vasomotores (alterações
nos vasos sangüíneos) e mudanças distróficas (alteração da estrutura músculos e
tendões). Pode haver deformidades, atrofias musculares e é freqüente a limitação
dos movimentos. É um quadro grave e de difícil tratamento.
A partir da construção do quadro evolutivo, a sintomatologia clínica observada
nos pacientes com LER envolve, geralmente, queixas nas extremidades superiores,
ombros e pescoço. O principal sintoma encontrado é a dor, a qual costuma se
agravar com o uso do membro, piorando com fatores como o frio, mudanças bruscas
da temperatura e o estresse emocional. Além da dor, os pacientes queixam-se de
parestesia (alteração da sensibilidade percebida como queimação ou formigamento),
edema subjetivo, rigidez matinal e alterações subjetivas da temperatura.
MILLER e TOPLISS (1988) verificaram os seguintes sintomas gerais
associados: ansiedade, irritabilidade, alteração do humor em 100% dos pacientes,
distúrbios do sono em 91%, fadiga crônica em 84% e cefaléia tensional em 61%.
O diagnóstico das LER/DORT é sugerido por dor musculoesquelética
persistente e recorrente dentro de seis semanas, sem causa traumática imediata e
influenciada por situação de trabalho (GUIDOTTI, 1992).
Segundo MELO (1998), o diagnóstico da LER/DORT costuma ser polêmico
quando o exame físico é normal e o único sintoma é a dor, a qual não é objetiva ou
mensurável. Afirma ainda que, na prática, não existe exame complementar que
comprove a existência destas lesões, todos pecam por falta de sensibilidade e/ou
especificidade. Nos estágios iniciais, os meios diagnósticos ditos “armados”
(radiografia, ultra-sonografia, eletromiografia, ressonância magnética, tomografia,
etc), ainda que utilizados e interpretados judiciosamente e com alta qualidade, são
pouco conclusivos. Quando positivos, já demonstram lesões graves, às vezes
irreversíveis. Portanto, tais exames têm indicação restrita, não se justificando seu
uso rotineiro e indiscriminado, ficando reservado para o diagnóstico diferencial e
31
para determinação topográfica das síndromes neurológicas compressivas
periféricas.
Devido à vasta sintomatologia e à tendência ao caráter subjetivo da mesma, o
diagnóstico da LER geralmente é feito por exclusão, sendo essencialmente clínico e
baseando-se na história clínico-ocupacional completa, no exame físico detalhado, na
análise das condições de trabalho responsáveis pelo aparecimento da lesão.
Exames laboratoriais, Raio-X e eletromiografia podem auxiliar no diagnóstico, porém
são de pouca eficácia, principalmente nos estágios iniciais da doença (PEREIRA e
LECH, 1997).
Em função disso, o próprio INSS, através da Ordem de Serviço Nº 606 de
05.08.98, publicado em DOU em 19.08.98, reconhece que o diagnóstico é
eminentemente clínico, muitas vezes difícil e que sua caracterização não depende
de dados laboratoriais, mas apenas da correlação entre a lesão e o exercício do
trabalho.
Em razão da primeira e principal queixa ser a dor, cuja subjetividade não
permite sua visualização através de exames, o diagnóstico costuma ser adiado em
virtude da inexistência de provas objetivas da doença, ou fica na dependência da
credibilidade no discurso do doente. Tal fato ocorre porque, em geral, tudo o que o
médico tem como instrumento de diagnóstico são os sintomas e a história
profissional do paciente. Isto geralmente atrasa o início do tratamento e pode evoluir
de uma lesão simples na fase inicial para uma crônica, recidivante ou incapacitante.
2.1.5 Fatores causais
A Organização Mundial de Saúde caracterizou as doenças relacionadas ao
trabalho LER/DORT como sendo multifatoriais, para indicar que vários fatores de
risco, tais como: físicos, de organização do trabalho, psicossociais e socioculturais,
contribuem para causar estas doenças (OMS, 1985 citado no site
<http://www.cdc.gov/niosh/ergtxt1.html> pesquisado em 21/07/2003). Portanto, não
se pode atribuir somente ao ambiente de trabalho estas lesões, mas também a
predisposição dos indivíduos e as atividades extra-ocupacionais, como lazer. Este
32
fato explica porque há algumas pessoas trabalham anos em locais desfavoráveis e
não desenvolvem distúrbios ou lesões.
COUTO e NICOLETTI (1998), seguindo a linha biomecânica, sugere que as
LER/DORT são decorrentes da interação inadequada de quatro fatores
biomecânicos principais – força, posturas incorretas de membros superiores,
repetitividade e compressão mecânica – associados a tempo insuficiente de
recuperação dos tecidos, os quais serão apresentados na seqüência.
2.1.5.1 Fatores biomecânicos
Fatores relacionados aos movimentos humanos.
• Força: como a capacidade de sustentabilidade e manejo de uma ferramenta ou
de manutenção de uma posição.
• Repetitividade: movimentos realizados por várias vezes.
• Posturas viciosas dos membros superiores: principalmente as de contração
muscular constante.
• Compressão mecânica dos nervos por posturas ou mobiliário.
• Vibração: gera microtraumas.
• Frio: pela vasoconstrição que leva a déficit circulatório.
• Sexo: maior incidência em mulheres.
• Posturas estáticas do corpo durante o trabalho: durante a contração estática o
suprimento sangüíneo para o músculo fica prejudicado, podendo favorecer a
produção de ácido lático, o qual é capaz de estimular os receptores da dor,
desencadeando-a, mantendo-a ou agravando-a.
A) Força Quanto mais força a tarefa exigir do trabalhador, tanto mais propenso estará o
mesmo a desenvolver lesões.
SILVERSTEIN (1985) propôs o critério para caracterização da força manual:
baixa (abaixo de 4 Kg) e alta (acima de 6 Kg); este valor se refere à média ajustada
ao longo do ciclo, e não a valores lineares. A média ajustada é definida como
(variância média + média). Desta forma, é possível que um esforço de 10 ou 15 Kg,
33
uma vez no ciclo, não venha a caracterizar força excessiva, se o mesmo for raro no
ciclo e de curta duração.
O único movimento das mãos capaz de fazer força é o de prensão, outros
movimentos como pinça pulpar, pinça lateral, pinça palmar, compressão palmar e
compressão digital poderão resultar em fadiga e lesão dos tecidos.
B) Posturas incorretas dos membros superiores Ocasionam desde o impacto de estruturas duras contra estruturas moles
(como no caso do ombro, impacto do tendão contra o acrômio - projeção da
estrutura óssea da escápula), fadiga por contração muscular estática (pescoço) e até
mesmo compressão de nervos (punho).
As dez posturas críticas dos membros superiores são:
• Posturas estáticas em geral – manutenção da musculatura contraída e sem se
movimentar (por exemplo, manter braço elevado, sem apoio) constitui-se na
mais importante postura crítica. Este fator é tão importante que HAGBERG e
cols. (1995) a considera como um fator biomecânico à parte.
• Pescoço excessivamente estendido (dobrado para trás);
• Pescoço excessivamente fletido (dobrado para frente);
• Braços abduzidos (braços elevados na lateral do corpo);
• Braços elevados acima do nível dos ombros (formando ângulo de no mínimo 90º
com corpo);
• Membros superiores suspensos (elevados, sem apoio) por muito tempo;
• Sustentação estática dos antebraços pelos braços (suporte do peso dos
antebraços, pelos braços e ombros).
• Flexão exagerada do punho (punho dobrado em direção da face anterior de
antebraço);
• Extensão exagerada do punho (punho dobrado em direção da face posterior de
antebraço);
• Desvio ulnar da mão (lateralização da mão para lado dedo mínimo).
O risco é caracterizado pela freqüência desse tipo de ação (repetitividade) ou
pela manutenção da mesma (esforço estático).
34
O esforço estático deve ter um tempo de duração mínimo e o limite seria
aquele compatível com a inexistência da fadiga muscular. Existem técnicas
científicas de medida da fadiga muscular, através da verificação das alterações dos
traçados eletromiográficos.
C) Repetitividade Quanto maior o número de movimentos desenvolvidos pelo trabalhador em
determinado intervalo de tempo, tanto maior será a probabilidade de o mesmo sofrer
as lesões de membros superiores.
SILVERSTEIN (1985) propôs o critério mais antigo sobre repetitividade, ao
sugerir que qualquer ciclo de trabalho de duração menor que 30 segundos seria
altamente repetitivo e que ciclos maiores de 30 segundos também seriam altamente
repetitivos caso um mesmo elemento do trabalho ocupasse mais que 50% do ciclo.
Atualmente, existe uma tendência de se avaliar o número de movimentos na
unidade de tempo.
KILBON (1987) fez uma meta-pesquisa dos estudos empíricos e científicos
existentes sobre o assunto e concluiu que, considerando todas as evidências
empíricas disponíveis e após estudos científicos feitos em animais por Obolenskaja,
o número de 25 a 33 movimentos por minuto não deveria ser excedido para se evitar
transtornos nos tendões.
D) Vibração e compressão mecânica Especialmente prejudiciais são as formas de vibração nas freqüências de 8 a
100 Hz, com alta aceleração. Também importantes são as compressões mecânicas
sobre os tecidos, como na base das mãos, no local onde termina o nervo mediano.
O peso de cada um dos fatores biomecânicos na origem das lesões de
pescoço e cintura escapular, ombro, cotovelo, punho e mão estão sintetizados na
tabela abaixo, realizada por pesquisadores da NIOSH:
35
Tabela 2 – Evidências científicas entre os fatores biomecânicos e as lesões
Fator de risco Pescoço e Cintura Ombro Cotovelo Punho/ Mão
Escapular Sd do túnel do carpo Tendinites
Repetitividade +++ ++ +/- + + + +
Força + + +/ - + + + + + +
Postura + + + + + +/ - +/ - + +
Vibração +/ - +/ - + +
Combinação + + + + + + + + +
(FONTE: NIOSH, 97)
A evidência da relação com o trabalho a partir de estudos epidemiológicos
está classificada em uma das seguintes categorias: forte evidência de relação com o
trabalho (+++), evidência de relação com o trabalho (++), evidência insuficiente de
relação com o trabalho (+/-).
Forte Evidência de relação com o trabalho (+++): Uma relação causal é
muito provável entre uma exposição intensa e/ou de longa duração a fator(es) de
risco e LER/DORT, quando se usa critérios de causalidade. Uma relação positiva foi
observada entre a exposição ao fator de risco e lesão em diversos estudos nos quais
a probabilidade, a tendência e a confusão podiam ser eliminados com razoável
confiança.
Evidência de relação com o trabalho (++): Alguma evidência epidemiológica
convincente para uma relação causal usando os critérios epidemiológicos de
causalidade para exposições intensas e/ou de longa duração a fator (es) de risco
para as lesões. Uma relação positiva foi observada entre a exposição ao fator de
risco e lesão nos estudos em que a probabilidade, a tendência e a confusão não são
as prováveis explicações.
Evidência insuficiente de relação com o trabalho (+/-): Os estudos
disponíveis são de qualidade, consistência ou controle estatístico insuficiente para
permitir uma conclusão quanto à presença ou ausência de uma associação causal.
Alguns estudos sugerem uma relação com fatores específicos de risco, mas a
probabilidade, a tendência ou a confusão podem explicar a associação.
A combinação refere-se A dois ou mais fatores de risco apresentados na
tabela 2.
36
COUTO e NICOLETTI (1998), fazem uma síntese desta tabela:
• Força excessiva, alta repetitividade de um mesmo padrão de movimento e
postura incorreta são fatores de peso aproximadamente igual;
• Existe, porém, uma predominância de alguns dos fatores sobre os outros,
dependendo da área dos membros superiores. Assim, no pescoço e na cintura
escapular, a má postura é o fator predominante, sendo também importantes o
esforço excessivo e a repetitividade. Na origem das lesões do ombro,
repetitividade e má postura são os fatores predominantes, enquanto que força
não se mostra importante; já para os cotovelos, o fator crítico é a força
excessiva. É bem conhecida a relação direta de esforço físico com epicondilites;
na origem da síndrome do túnel do carpo, repetitividade e força excessiva se
mostram como fatores causais, e a má postura mostra-se insuficiente; neste
caso, a vibração aparece como fator importante; para o desenvolvimento das
tendinites e tenossinovites de punho, os três fatores, força excessiva, alta
repetitividade e posturas incorretas mostram-se importantes.
• Estudo no NIOSH mostra a forte evidência da potencialização dos 4 fatores na
origem das lesões.
UPFAL (1994) considera que os fatores de risco para o aparecimento da
LER/DORT incluem movimentos repetitivos (repetição de tarefas por muitas horas),
movimentos fortes (como agarrar ou apertar), posturas estressantes (desvio lateral
do punho, extensão do pescoço), impacto mecânico de tecidos moles (bordos de
ferramentas que pressionam a palma da mão), vibração e ocasionalmente, baixas
temperaturas.
ATTARAN (1996) afirma, ainda, que as LER/DORT são causadas por
ambientes de trabalho pobremente projetados que não contemplam uma relação
harmônica entre homem e trabalho.
WILLIANS e WESTMORLAND (1994), a partir de um artigo de revisão sobre o
assunto, apontam os principais aspectos relacionados com o aumento das Lesões
por Esforços Repetitivos (LER/DORT). Estes incluem:
a) Força excessiva devido ao uso dos instrumentos de trabalho inadequados,
aumentando a força exigida para o trabalho manual.
37
b) Atividades repetitivas: indivíduos que realizam atividades que exigem
movimentos repetitivos e uso de força estão 15 vezes mais sujeitos a
desenvolverem a LER. Os movimentos repetitivos rápidos aumentam a
probabilidade de fadiga e diminuem a capacidade de recuperação dos tecidos.
c) Posturas inadequadas: podem ser causadas por um inadequado projeto do local
de trabalho, bem como dos equipamentos. As posturas de trabalho são
influenciadas pela interação de muitos fatores individuais e ocupacionais
incluindo projeto do posto de trabalho, característica dos equipamentos e
ferramentas de trabalho (KEYSERLING et al., 1993).
d) Stress localizado: causado pelo contato entre uma região do corpo e o
instrumento de trabalho produzindo pressão.
e) Vibração: leva ao aumento na força necessária para sustentar o instrumento de
trabalho.
f) Baixas temperaturas: pela possibilidade de reduzir a sensibilidade ao tato e,
conseqüentemente, aumentar a força aplicada.
Alguns autores como: BAMMER (1987), KILBON (1987), STONE (1983) citam
ainda a carga estática, isto é o trabalho que os músculos fazem para manter o corpo
ou partes do corpo em determinadas posições, como um fator importante no
aparecimento das lesões musculotendíneas.
ARMSTRONG (apud OLIVEIRA, 1998) relatou que os dados epidemiológicos
mostram que o risco de tendinites das mãos e punhos em pessoas que executam
tarefas altamente repetitivas e forçadas é de 29 vezes maior do que em pessoas que
executam tarefas lentas e pouco repetitivas e forçadas.
PEREIRA e LECH (1997), além de apontar os fatores biomecânicos,
observam também que fatores organizacionais e psicossociais têm participação de
destaque no aparecimento das LER/DORT. Deste modo, abaixo estão listadas as
variáveis consideradas mais importantes pelos autores:
2.1.5.2 Fatores organizacionais
São fatores ligados ao ambiente de trabalho. Podem ser:
38
• Tensão no trabalho: exigências de produtividade e de ritmo de trabalho podem
aumentar a tensão muscular, prejudicando a nutrição sangüínea dos músculos
com possibilidade de ocorrência de dor muscular, fadiga e predisposição a
LER/DORT.
• Desprazer: o sentir prazer desencadeia a liberação de endorfina (analgésico
interno). Devido a isso, pessoas insatisfeitas no trabalho podem ter maior
tendência a sentir dor do que as que trabalham prazerosamente.
• Traumatismos anteriores predispõem o indivíduo a LER/DORT e são fatores
importantes na sua incidência.
• Atividades anteriores: pelo fato da LER/DORT ser causada por traumas
cumulativos é necessária a análise da atividade exercida anteriormente.
2.1.5.3 Fatores psicossociais
São fatores relacionados à conduta mental.
• Perfil psicológico: as pessoas de personalidades tensas, as negativistas e as
que não toleram trabalho repetitivo são mais predispostas às LER/DORT.
A associação destes conjuntos de fatores biomecânicos, organizacionais e
psicossociais, pode ser os grandes responsáveis pelo aparecimento destas lesões
ou distúrbios. Segundo MACIEL (1995), de maneira geral, as funções onde as
LER/DORT aparecem com maior freqüência possuem algumas características
específicas que estão, portanto, relacionadas ao aparecimento da síndrome.
Apresentam-se os principais fatores do trabalho determinantes destas lesões:
Tabela 3 – Principais fatores determinantes das LER/DORT
Postura Movimento e Força Conteúdo do
trabalho e Fatores psicológicos
Características individuais
Posturas fixas, principalmente em trabalhos sedentários
Força e repetitividade de movimentos
Conteúdo mental das tarefas
Tipo de musculatura e características corporais
Posturas extremas (movimentações corporais envolvendo torções extremas do tronco)
Força moderada mas utilização de pequenos músculos repetidamente no tempo
Grau de flexibilidade da ação do trabalho
Estudos demonstram que as mulheres são mais sensíveis
39
Más posturas de extremidades superiores (tais como desvio de punhos, elevação de ombros, braços torcionados)
Tempo e freqüência: Movimentos repetitivos e estereotipados em pequenos ciclos de tempo
Pressão em relação à produção
Técnica de realização do trabalho
Desvios de posturas influenciados por: a) características do posto de trabalho; b) características antropométricas do trabalhador
Contato mecânico localizado (contato físico entre uma parte do corpo ou das mãos e/ou punhos com um determinado objeto, sempre no mesmo local e na mesma posição ex. tesoura)
Qualidade da comunicação entre empregados e chefia
Distribuição de tarefas por sexo
Força exercida durante a realização de movimentos (levantamento, carregamento e utilização de ferramentas pesadas)
Recomenda-se mais estudos para estabelecer a relação entre o trabalho, stress e o sistema músculo esquelético*
Carga de trabalho
Exposição das extremidades superiores à vibração e baixas temperaturas
(Fonte: WALLACE e BUCKLE apud MACIEL, 1995, adaptado pelo autor)
Na ordem de serviço INSS/DSS n° 606, de 05 de Agosto de 1998, publicado
no Diário Oficial da União em 19 de Agosto de 1998 (pág 28), aparece a relação
exemplificativa entre o trabalho e algumas patologias.
Tabela 4 – Relação exemplificada entre o trabalho e algumas patologias Lesões Causas Ocupacionais Exemplos Alguns diagnósticos
diferenciais Bursite do cotovelo (olecraniana)
Compressão do cotovelo contra superfícies duras
Apoiar o cotovelo em mesas
Gota, traumatismos e artrite reumatóide
Contratura da fáscia palmar
Compressão palmar associada à vibração
Operar compressores pneumáticos
Heredo-familiar (contratura de Dupuytren)
Dedo em gatilho Compressão palmar associada à realização de força
Apertar alicates e tesouras
Diabetes, artrite reumatóide, mixedema, amiliodose e tuberculose pulmonar
Epicondilites do cotovelo
Movimentos com esforços estáticos e preensáo prolongada de objetos, principalmente com o punho estabilizado em flexão dorsal e nas promossupinações com utilização de força
Apertar parafusos, jogar tênis, desencapar fios, tricotar, operar moto-serra
Doenças reumáticas e metabólicas, hanseníase, neuropatias periféricas, traumas e forma T de hanseníase
40
Síndrome do canal cubital
Flexão extrema do cotovelo com ombro abduzido. Vibrações
Apoiar cotovelo em mesa
Epicondilite medial, seqüela de fratura, bursite olecraniana e forma T de hanseníase
Síndrome do canal de Guyon
Compressão da borda ulnar do punho
Carimbar Cistos sinviais, tumores do nervo ulnar, tromboses da artéria ulnar, trauma, artrite reumatóide e etc.
Síndrome do interósseo anterior
Compressão da metade distal em antebraço
Carregar pesos, praticar musculação, apertar parafusos
Síndrome do pronador redondo
Esforço manual do antebraço em pronação
Carregar pesos, praticar musculação, apertar parafusos
Síndrome do túnel de carpo
Síndrome do desfiladeiro torácico
Compressão sobre o ombro, flexão lateral do pescoço, elevação do braço
Fazer trabalho manual sobre veículos, trocar lâmpadas, pintar paredes, lavar vidraças, apoiar telefones entre o ombro e a cabeça
Cérvico-braquialgia, síndrome da costela cervical, síndrome da primeira costela, metabólicas, artrite reumatóide e rotura do supra-espinhoso.
Síndrome do túnel de carpo
Movimentos repetitivos de flexão, mas também extensão com o punho, principalmente se acompanhados por realização de força
Digitar, fazer montagens industriais empacotar
Menopausas, tendinite da gravidez (particularmente se bilateral), artrite reumatóide, amiloidose, diabetes, lipomas. Neurofibromas, insuficiência renal, obesidade, lupus eritematoso, condrocalcinose do punho, trauma.
Tendinite da porção longa do bíceps
Manutenção do antebraço e fletido sobre o braço ou do membro superior em abdução
Carregar pesos Artropatias metabólicas e endócrinas, artrites, osteofitose da goteira bicipital, artrose acomio-clavicular e radiculopatias (C5-C6)
Tendinite do supra espinhoso
Elevação com abdução dos ombros associada a elevação de força
Carregar pesos sobre os ombros, jogar vôlei ou peteca
Bursite, traumatismo, artropatias diversas, doenças metabólicas
Tenossinovite de De-Quervain
Estabilização do polegar em pinça seguida de rotação ou desvio ulnar do carpo, principalmente se acompanhado de realização de força
Torcer roupas, apertar botão com o polegar
Doenças reumáticas, tendinite da gravidez (particularmente bilateral), estilóidite do rádio
41
Tenossinovite dos extensores dos dedos
Fixação antigravitacional do punho. Movimentos repetitivos de flexão
Digitar, operar mouse
Artrite reumatóide, gonocócica, osteoartrose e distrofia simpático reflexa (síndrome ombro-mão)
Obs.: considerar a relevância quantitativa das causas na avaliação de cada caso. A presença de um ou mais dos fatores listados na coluna “outras causas e diagnóstico diferencial” não impede, a priori, o estabelecimento do nexo.
(Fonte: Ordem de Serviço INSS/DSS nº 606, de 05 de Agosto de 1998)
Como se pode notar na tabela acima, existe uma forte correlação entre certos
tipos de movimentos, exigidos de forma repetida, com os distúrbios osteomusculares
relacionados ao trabalho. Observa-se, também, a complexidade do diagnóstico
diferencial a ser realizado devido a grande variedade de patologias que podem ter
sinais semelhantes, o que, certamente, dificulta ou atrasa o diagnóstico final.
SILVERSTEIN (1995), em sua tese de doutorado, cita os fatores ocupacionais
associados com distúrbios de mãos, punhos, cotovelos e ombros e os autores que
fizeram estas referências e são indicados na tabela abaixo.
Tabela 5 – Fatores ocupacionais associados com mão, punho, cotovelo e ombro
predisponentes LER/DORT Distúrbios
Fatores Ocupacionais Referências
Síndrome do Túnel do Carpo
- Manter mãos em posição fixa por períodos
prolongados - Flexão repetida de punhos e dedos - Movimentos leves muito repetitivos do
punho - Flexão ou hipertensão repetida do punho
- Traumas repetidos de baixa intensidade - Compressão na base da palma da mão ou
punho
Melville (1972) Tanzer (1959) Mather (1981) Phiilips (1967), Miller (1980) Kaplan (1983), Inglis (1972) Biberck & Beer (1975) Armstrong & Chaffin (1979) Armstrong (1981), Wherle (1976), Rothfleisch & Sherman (1978) Bora, Osteman (1982), Sandezen (1981) Cannon et al (1991), Brain et al (1947) Swajian (1981) Feldman et al (1983), Armstromg (1983, 1984) Tichauer, Gage (1977), Kendall (1960)
42
- Uso prolongado esforçado das mãos - Vibração - Compressão ou aperto - Desvio ulnar do punho e flexão em tarefas
repetitivas - Extensão do punho com forte compressão
Marin et al (1963), Kraft, Halvoroson (1983)Phalen (1972), Falck, Aarnio (1983) Cannon et al (1981), Werner (1984) Rothfleisch, Scherman (1978) Feldman et al (1983), Smith et al (1977) Tichauer (1966) Rabourn (1977), Perrott (1961)
Lesão do Nervo Ulnar (Túnel de Guyon)
- Uso da iminência hipotenar como martelo - Segurar com polegar e dedos com
pressão palma da mão - Flexão ou hipertensão (prolongado,
trabalho manual pesado) - Levantar objetos pesados com palma da
mão - Trauma repetitivo na palma da mão
Swanson et al (1983) Feldman et al (1983) Hunt (1911) Harris (1929), Lister (1984) Eckman et al (1975) Dupon et al (1965) Shea, McClain (1969) Urbaniak, Roth (1982), Overton (1967)
TenossinovitesTendinites, Doença de Quervain, Peritendinites
- Movimentos repetitivos especialmente em
combinação com desvio ulnar e polegar fixo - Uso excessivo durante movimentos
angulares - Traumas repetidos - Movimentos, repetitivos de mãos e punhos
- Flexão rápida dos dedos - Trabalho repetitivo não habitual - Trabalho repetitivo com polegar e dedo,
segurando e com desvio radial - Força persistente - Apertar, sacudir, vibração - Rotação repetitiva de punho - Carga cíclica nos tendões
Eichoff (1927), Filkelstein (1930) Lamphier et al (1965) Hochberg et al (1983) Lipscomb (1944) Hymovich, Lindholm (1966), Tichauer (1966), Welch (1972), Pozner (1942),Flowerdew, Bode (1942) Reed, Harcourt (1953) Wilson & Wilson (1957), Wells (1960) Bunnell (1964), Levine (1968) Bunnell (1944), Conn (1931), Thompson (1951), Howard (1937), Ellis (1951), Wilson & Wilson (1957) Muckart (1964) Zollinger (1927), Leao (1958) Rhodes (1947) Wood, Lincheld (1973) Goldstein (1981)
43
- Posturas extremas das mãos com extensão máxima dos dedos
- Opressão seguida por rápida pronação
Luopajarvi et al (1979) Blood (1942)
Dedo em gatilho
- Flexão e extensão excessiva dos dedos
contra resistência - Uso prolongado do indicador com pistola
de ar
Fahey, Bollinger (1954) Lipscomb (1944) Tichauer (1978)
Epicondilites (lateral - mais comuns)
- Uso constante de martelo - Supinação/pronação repetidas
- Extensão forçada repetida do punho - Supinação com a mão e agarrando (algum
objeto) e com extensão do punho, atividade repetida dos pequenos músculos inseridos no epicôndilo
- Movimentos não habituais ou repetitivos
com antebraço ou extensores dos dedos - Micro/macro rupturas sob stress
inadequado - Traumas repetidos - Supinação repetitiva com cotovelo
flexionado e carga de 10 libras.
Mills (1928) Rasch, Brubaker (1957), Sinclair (1965), Gardner (1970), Lapidus, Guidotti (1970), Ferguson(1971), Wadsworth, Williams (1973) Cyriax (1978), Roto, Kivi (1984) Steiner (1976) Goldie (1964) Kurppa et al (1979) Cooper, Hooper (1973) Boyd, McLeod (1973) Perrott (1961)
Tendinite do Manguito Rotator
- Movimento excessivo ou forçado do ombro - Atividade repetitiva com rotação ou
elevação - Sobre uso em trabalho acima da cabeça - Puxar e elevar repetitivamente - Sobreuso - Flexão ou abdução sustentada ou
repetitiva - Trauma cumulativo
Booth, Marvel (1975) Simon (1975) Matsen, Kirby (1982) Neviaser (1980), Neer (1983) Bush (1983), Boyle (1969), McLaughlin (1946) Coventry (1953) Meyer (1937)
44
- Trabalho com as mãos acima ou ao nível do acrômio.
- Tensão prolongada dos músculos
estabilizadores do ombro durante trabalho intensivo com as mãos
- Carga sobre os braços estando este com
abdução ou flexão acima de 60º - Uso excessivo de mão - Carga estática dos músculos
Bjelle et al (1979, 1981) Kvarnstrom (1983) Herberts, Kadefors (1976) Herbers et al (1981) Mason et al (1980) Luopajarvi et al (1979)
(Fonte: SILVERSTEIN, 1995, p. 10-15. Adaptado pela autora)
Nesta tabela foi demonstrada a patologia relacionada com a atividade que o
causa, citando os autores que fizeram referência desta situação em seus estudos.
Pode-se notar que, por exemplo, a Tendinite do Manguito Rotador ocorre por várias
condições biomecânicas desfavoráveis que podem ser encontradas isoladas ou até
mesmo em combinação numa jornada de trabalho. Mesmo apesar de estarem
realizando tarefas diferenciadas com padrões de movimentos diversos, como por
exemplo: trabalho com as mãos acima ou ao nível do acrômio (nível do ombro) e
após faz uso excessivo das mãos em frente ao corpo com carga estática dos
músculos, mudou o padrão de movimento, mas continuou a tensão sobre estes
músculos.
2.1.6 Resultado de pesquisas abordando outros fatores que não os
biomecânicos
Desde o início da década de 70, quando se começou a estudar com mais
profundidade as lesões de membros superiores relacionados ao trabalho, pôde-se
evidenciar a existência de fatores contributivos, seja de natureza pessoal, seja de
natureza social ou organizacional. BAMMER (apud COUTO e NICOLETTI, 1998)
transcreveu nas tabelas a síntese mostrada pelas principais pesquisas existentes no
mundo sobre o assunto, em meta-pesquisa.
45
2.1.6.1 A influência dos fatores físicos e pessoais
Os resultados dos principais estudos estão mostrados na Tabela abaixo, na
qual se pode interpretar da seguinte forma: para cada um dos fatores relacionados,
o número indicado na coluna SIM representa o número de estudos que referem ser
aquele fator significativo; o número indicado na coluna NÃO indica o número de
estudos que informam não ser aquele fator significativo na origem das lesões.
Tabela 6 – Fatores físicos pessoais associados às LER/DORT Fator Sim Não
Lesão prévia
Altura e peso
Fumar
Força física e aptidão
Atividades de lazer
Tamanho e forma do pulso
Saúde em geral
Problemas oculares
Gênero
1
-
1
2
-
2
2
1
Inúmeros
2
4
4
-
2
1
-
-
-
(Fonte: Bammer apud Couto e Nicoletti, 1998)
Esta tabela demonstra que alguns fatores como: altura e peso, hábito de
fumar, existência ou ausência de atividades de lazer, não estão relacionadas à
existência destas lesões. Também demonstra não haver qualquer dúvida que alguns
fatores físicos pessoais estão nitidamente relacionados à existência destas lesões,
especialmente a força física e aptidão (relação negativa, ou seja, quanto maior a
força física e melhor a aptidão, menor predisposição) e a existência de problemas de
saúde em geral e a questão do gênero, em que inúmeras pesquisas confirmam que,
nas mesmas condições de exposição, as mulheres são duas a três vezes mais
predispostas a lesões.
BARTON (1997) menciona que as mulheres são mais acometidas por
LER/DORT em membros superiores, pois as atividades ocupacionais que mais estão
relacionadas ao seu aparecimento são efetuadas, sobretudo, por pessoas do sexo
46
feminino. Além disso, pode-se citar a dupla jornada com os afazeres domésticos e
atividades repetitivas, não permitindo um repouso adequado.
2.1.6.2 A influência dos fatores psicológicos
Os principais resultados de pesquisa estão relacionados na tabela a seguir:
Tabela 7 – Fatores psicológicos associados às LER/DORT Fator Sim Não
Personalidade
Estilo de vida
Experiência emocional de vida
4
1
1
5
2
-
(Fonte: Bammer apud Couto e Nicoletti, 1998)
A questão da personalidade e sua propensão para as lesões permanecem
como um dos itens mais discutidos. Contudo, entre os estudiosos do assunto, não
há qualquer dúvida que algumas características de personalidade influenciam
positivamente no aparecimento de lesões (personalidade tensa, senso de ampla
responsabilidade sobre tudo, insegurança) e que outros fatores de personalidade, ao
contrário, podem contribuir para tornar a pessoa mais calma, e portanto, diminuir a
propensão para as lesões.
2.1.6.3 A influência dos fatores sociais
Pode ser observada na tabela 8.
Tabela 8: Fatores sociais relacionados às LER/DORT Fator Sim Não
Ajustamento familiar
Estilo de vida
Salário
Nível de escolaridade
Suporte social
Uso de álcool
2
1
-
-
-
-
1
1
1
2
2
3
(Fonte: Bammer apud Couto e Nicoletti, 1998)
47
Esta tabela demonstra que o uso do álcool, nível de escolaridade e salário
não tem relação com o aparecimento das lesões. Entretanto, apresenta um dado
aparentemente contraditório: a inexistência de relação entre a ocorrência das lesões
e o suporte social. Parece estar evidente a relação negativa com o ajustamento
familiar e pouca conclusão quanto ao estilo de vida.
2.1.6.4 A influência dos fatores de organização do trabalho
Os resultados de várias pesquisas no mundo podem ser vistos na tabela
abaixo:
Tabela 9: Fatores de organização do trabalho relacionados a LER/DORT Fator Sim Não
Falta de variedade da tarefa
Trabalho em teclado
Horas de uso do teclado
Ausência de pausas
Velocidade de trabalho
Carga de trabalho inapropriado
Pressão no trabalho
Falta de autonomia
Insatisfação com o trabalho
Insegurança
8
6
12
2
2
1
8
8
2
1
1
3
3
-
1
-
-
1
2
-
(Fonte: Bammer apud Couto e Nicoletti, 1998)
Interpretando os resultados, observa-se a importância da falta de variedade
das tarefas, ocasionando a alta repetitividade de um mesmo padrão de movimento; a
relação não tão nítida quanto ao trabalho em teclado em si, mas a relação muito
nítida quanto ao número de horas de trabalho em teclado durante o dia (houve um
resultado de relação negativa); a ausência de pausas e a velocidade do trabalho são
significativas. Esta tabela ainda destaca a importância dos fatores psicossociais, ao
evidenciar que não existe qualquer dúvida em relação ao fator pressão no trabalho,
o qual está diretamente relacionado à ocorrência das lesões; destaca ainda o peso
do fator falta de autonomia.
48
2.1.7 Relação entre LER/DORT e organização de trabalho
Segundo COUTO e NICOLETTI (1998, p. 35), as lesões por sobrecarga
funcional dos membros superiores são tão antigas quanto a história da humanidade.
Na evolução dos processos de trabalho, freqüentemente, há relatos de alta
incidência e surgimento de verdadeiras “epidemias”. Tais ocasiões coincidem com a
existência de mudanças no processo de trabalho (como é o caso da cãibra do
escrivão, cãibra do telegrafista, doença dos digitadores) da forma pela qual os
processos são organizados e pelas alterações nas relações de trabalho.
Frederick Winslow Taylor, considerado o “Pai da Organização Científica do
Trabalho”, é visto como uma referência primária pela Escola Clássica da
Administração no que se refere à organização e gerenciamento da produção. Em
suas teorias, encontram-se aspectos que poderiam favorecer e, alguns até reduzir
as chances de surgirem lesões por sobrecarga funcional. Seu objetivo principal era
“reduzir cada arte manual, ou ofício, a movimentos elementares que pudessem ser
exatamente cronometrados, descritos e ensinados a qualquer pessoa”. Em sendo
assim, o engenheiro, através da organização racional do trabalho, deveria
estabelecer uma única forma de realizar determinada tarefa: a mais eficiente e com
o menor tempo possível, mas que não necessariamente seria na melhor posição ou
mais confortável (TAYLOR, 1995, p. 9 e 16).
Segundo CARNEIRO (1998, p. 66), outro princípio da separação entre
concepção e execução, ou seja, o trabalho manual desvinculado do mental é aquele
em que “todo o planejamento que no antigo sistema era feito pelo trabalhador, como
resultado de sua experiência pessoal, deve necessariamente, no novo sistema, ser
feito pela gerência, de acordo com as leis da ciência”. Os trabalhadores, nesse
processo, não só perdem o controle sobre os instrumentos de produção, mas
também do seu próprio trabalho e do modo como é executado, portanto é
desapropriado do seu saber e da subjetividade o que causa tensão e insatisfação.
Outros postulados são da adaptação do homem ao trabalho através da
seleção de pessoas com compleição física, a qual é mais adequada para cada
função, e da remuneração diferenciada em que considerava os trabalhadores
49
máquinas movidas a dinheiro dispostas a trabalhar mais (independente da
sobrecarga) em troca de uma compensação monetária.
Porém, Taylor sempre demonstrou preocupação com relação à fadiga e fez
estudos dos tempos necessários para sua recuperação, como se pode perceber
neste trecho de seu livro:
A lei aplica-se somente aos trabalhos em que é atingido o limite da
capacidade do homem pela fadiga. É a lei do trabalho penoso. Praticamente
todos esses trabalhos consistem em movimentos de extensão ou de flexão do
braço do trabalhador; em outras palavras, a força do homem se exerce para
empurrar ou puxar alguma coisa que ele segura com as mãos. A lei mostra
que, para cada um desses movimentos o trabalhador só pode ficar sob o peso
durante certa parte do dia. ...Por todo o tempo em que o homem está sob o
esforço de sustentar o peso, os tecidos dos seus músculos sofrem alterações
e há necessidade de repetidos períodos de descanso para que o sangue
possa fazer voltar esses tecidos à sua situação normal (TAYLOR, 1995, p. 52-
53).
Frank B. Gilbert desenvolveu o Estudo de Tempos e Métodos, onde pesquisou
os movimentos básicos do corpo, envolvidos em qualquer tipo de trabalho concreto,
combinado ao estudo de tempo, já desenvolvido por Taylor. Com os dados obtidos,
procurou projetar e adaptar, de forma racionalizada e objetiva, o “fator humano” ao
processo de trabalho, de forma a obter o máximo de produtividade (OLIVEIRA, 1998,
p. 67)
Na década de 20, Henry Ford preconizava o fordismo que, basicamente, é a
adaptação dos princípios tayloristas à linha de montagem, visando a produção em
grande escala, estandardizada, voltada para o consumo em massa, a um custo
unitário decrescente, tendo como objetivo final a acumulação. Os três princípios
básicos da organização de trabalho fordista foram: a) esteira de produção,
eliminando a movimentação ativa do trabalhador; b) ritmo do trabalhador ditado pelo
ritmo da esteira, com o tempo para a realização da tarefa alocado pelo engenheiro
de tempos e métodos; c) super-especialização do trabalhador naquela tarefa.
50
Esta forma de organização do trabalho possui vários elementos que levam à
sobrecarga muscular como a eliminação da movimentação ativa do trabalhador,
deixando-o estático, fixo, numa determinada posição junto da esteira, sem a
possibilidade de trocar padrão de movimentos; e a super-especialização que
concentra movimentos críticos num só trabalhador, surgindo o recrutamento de
pessoas destinadas a fazer tarefas repetitivas como os datilógrafos, perfuradores de
cartão (COUTO e NICOLETTI, 1998, p. 43).
OLIVEIRA (1998) menciona que a base eletromecânica desenvolvida pela
grande indústria é utilizada para disciplinar e intensificar o trabalho, impondo-lhe o
ritmo próprio das máquinas, controlado pela gerência. A esta é reservado o controle
do conhecimento e da organização do trabalho e, ao trabalhador, o adestramento e
a adaptação às tarefas mecânicas e padronizadas, num ritmo rápido e repetitivo,
envolvendo um pequeno número de gestos pré-determinados e fixos, com margem
mínima aceitável de erros.
Uma das características do fordismo é a estrutura hierarquizada, rígida com
gerência autoritária sobre a massa trabalhadora, trazendo como conseqüência a
parcialização do trabalho, fragmentação, a alienação, o esvaziamento do conteúdo
e, principalmente, a apropriação do saber do trabalhador sobre seu trabalho.
De fato, desde a década de 50, encontra-se na literatura das Ciências da
Administração referências à fragmentação do trabalho, inerente a essa forma de
organização do processo de produção, e suas conseqüências sobre o trabalhador:
alienação, movimentos estereotipados, redução do trabalhador à condição de
autômato, de robô, fatores esses de decisiva importância na origem da tensão pela
dissociação corpo-mente, conforme preconiza a interpretação estruturalista das
causas das LER (DEJOURS, 1992).
Segundo COUTO e NICOLETTI (1998) esta forma de organização do trabalho
prevaleceu durante seis décadas nas indústrias de produção de massa, mas estava
associada ao modelo humanista de administração de recursos humanos, que
pressupunha uma série de atitudes administrativas que visavam ao bom equilíbrio
entre o trabalhador e seu trabalho evitando, portanto, a deterioração da relação do
trabalho. Havia um espaço para o funcionário se queixar e manifestar eventuais
satisfações, podendo reclamar do ritmo de trabalho e da sobrecarga e estes fatores
51
eram considerados e resultavam em menor sobrecarga. Estes fatores somados a
grande oferta de empregos das décadas de ouro do século podem ser a explicação
para a ocorrência relativamente limitada de lesões por sobrecarga funcional até o
início dos anos 70.
Na década de 80, na qual as LER se manifestaram com maior intensidade, os
países mais industrializados sentiram profundas transformações decorrentes da
crise mundial da maioria dos países capitalistas e socialistas. As contradições e
crises decorrentes de tais formas de organização do trabalho, bem como as próprias
transformações tecnológicas e científicas e a evolução dos sistemas de produção
resultaram em transformações bastante profundas e abrangentes no modo da
produção e do processo de trabalho.
Em muitos países capitalistas os padrões tayloristas-fordistas de organização
do trabalho vêm sendo substituídos por formas mais participativas, integradas,
descentralizadas e flexíveis, baseadas na adoção dos Círculos de Controle de
Qualidade (CCQs) e da experiência japonesa (toyotismo ou ohhnismo). Esse novo
modelo que se constitui como um processo moderno, ágil e lucrativo na produção de
mercadorias e serviços foi implantado, inicialmente, na indústria japonesa, mas
atinge hoje escala mundial.
Dentre suas características, algumas foram assim resumidas por ANTUNES
(1995):
a) polivalência do trabalhador, no sentido de operar simultaneamente várias
máquinas, trazendo o rompimento da relação homem-máquina do fordismo e
transformando o especialista em trabalhador multifuncional;
b) aumento da produtividade e, conseqüentemente, da produção, sem aumentar o
número de trabalhadores;
c) produção somente do necessário e no menor tempo possível (reposição de
estoques somente após a venda), seguindo o modelo Kanban ou just in time
adotados pelos supermercados, com estoque mínimo;
d) expansão do mercado para empresas subcontratadas e fornecedores;
e) capacidade para satisfazer a um mercado diferenciado e competitivo, com uma
variedade enorme de produtos (produção voltada e conduzida pela demanda);
52
f) desestruturação do sindicalismo combativo e cooptação do movimento sindical
ao ideário patronal e/ou da empresa (caso japonês).
Percebe-se, então, que o trabalho passa a ser realizado em equipe,
flexibilizando-se, assim, a sua organização. Outra conseqüência é a chamada
horizontalização da produção, estendendo-se esta a uma rede de fornecedores,
subcontratadas ou “terceiras”.
O modelo toyotista, segundo ANTUNES (1995, p. 27), acarreta a
intensificação da exploração do trabalho, na medida em que possibilita que um
operário possa operar simultaneamente várias máquinas, intensificando
enormemente o ritmo de trabalho e diminuindo a chamada “porosidade”, ou seja, os
tempos considerados improdutivos. Tal sistema supõe, para atingir completamente
as suas metas de flexibilização da produção, a possibilidade de flexibilização do
trabalho, através de direitos flexíveis, trabalho temporário, horas extras, de forma a
que as empresas se estruturem a partir de um número mínimo de trabalhadores, o
qual é ampliado precariamente em função direta das necessidades do mercado
consumidor.
As modificações importantes ocorridas com a evolução do processo de
produção, voltadas unicamente para o aumento da produtividade e da acumulação
de riquezas, aumentam consideravelmente as condições para o aparecimento de
doenças como as LER no trabalhador moderno.
Em primeiro lugar, verifica-se a diminuição da classe operária industrial
tradicional, acompanhada da ampliação do trabalho assalariado no setor de
serviços, o crescimento da mão-de-obra feminina no mercado de trabalho, a
flexibilização do trabalho formal, através da expansão do trabalho parcial, contrato
temporário, precário, da subcontratação e/ou terceirização, do crescimento da
economia informal, provocando a subproletarização da classe operária.
Outra conseqüência preocupante é o desemprego estrutural, atingindo
principalmente o terceiro mundo numa escala global, em função da automatização e
da revolução tecnológica industrial.
OFFE e BERGER (1991) destaca um crescimento em escala mundial do setor
terciário e de serviços, caracterizando as sociedades modernas como “sociedades
de serviços”. O movimento de terceirização iniciado na década de 70 tinha uma série
53
de objetivos, sendo o principal a concentração da empresa nos seus reais objetivos,
repassando para outros (terceiros) tarefas em que o terceiro (denominado parceiro)
pudesse se especializar mais, agregando valor. Por este motivo, também foi
chamado de focalização.
No entanto, para COUTO e MORAES (2001), a terceirização foi bastante
desvirtuada, e uma das formas mais evidentes foi a terceirização das atividades
penosas, perigosas e insalubres. Saindo do foco de atenção das empresas-núcleo,
esse tipo de tarefa passou a ser feito por trabalhadores sub-qualificados, com
pequeno ou nenhum cuidado na sua execução. Em sendo assim, a sobrecarga e os
problemas decorrentes dela são esperados.
Com relação à classe trabalhadora, outra conseqüência é a redução
quantitativa e a alteração qualitativa do trabalho, ou seja, em alguns ramos,
presencia-se a qualificação do trabalho, com a criação de um segmento de
“operários de alta responsabilidade” como técnico de manutenção, técnico de
pesquisa, engenheiro, programador, controle de qualidade. Por outro lado, em parte
da classe operária, verifica-se a desespecialização (trabalhadores temporários,
subcontratados) que constitui a periferia da força de trabalho. Este grupo
caracteriza-se pela alta rotatividade no trabalho e pela falta de segurança no
emprego.
BRAVERMAN (1987), cuja tese básica é de que a reestruturação produtiva
em geral reduz, em muito, a qualificação profissional, tornando os trabalhadores
cada vez mais semelhantes a simples ferramentas com mínimo uso de sua
capacidade intelectual, defende também que a desqualificação do trabalhador com a
reestruturação produtiva é uma opção do sistema capitalista, ao aplicar e ampliar
cada vez mais o princípio de se retirar intencionalmente do trabalhador o controle
sobre o processo de trabalho (princípio de Babbage). Somente em alguns pontos de
sua obra, esse autor considera a existência de uma polarização de qualificações,
entre a grande maioria de trabalhadores pouco qualificados e alguns poucos
superqualificados.
TAIULE (apud COUTO e MORAES, 2001), induz à conclusão de que a
desqualificação não é uma estratégia ligada em si ao modelo capitalista, mas uma
decorrência da necessidade de se obter vantagens competitivas, como: qualidade,
54
flexibilidade, integração vertical ou horizontal, redução de defeitos e menor custo.
Em síntese, segundo esse autor, quem não adotar as estratégias produtivas atuais
(que em grande parte resultam em significativa desqualificação da mão-de-obra)
certamente irá ser vencido pela concorrência.
Existe uma dicotomia entre o ser que produz e aquele que acumula as
riquezas decorrentes do trabalho. Isso resulta, no que Marx conceituou, como
“estranhamento” do produtor em relação a seu trabalho, tendo como conseqüência a
“desrealização” do ser social (MARX apud ANTUNES, 1995). O trabalho não é mais
voluntário, torna-se compulsório, forçado.
Segundo CARNEIRO (1998), associa-se a essa característica a
racionalização crescente da indústria moderna que, ao eliminar as propriedades
qualitativas do trabalhador, na decomposição do trabalho em operações parciais,
transforma-o em atividade mecanicamente repetitiva, empobrecendo seu conteúdo
e, conseqüentemente, o ser que produz. O trabalhador está despossuído não só do
saber, mas também do poder sobre a produção.
2.1.8 Perfil do trabalhador portador de LER/DORT
Para demonstrar o perfil do trabalhador portador de LER/DORT, serão
utilizados os dados do Núcleo de Referência em Doenças Ocupacionais da
Previdência Social – NUSAT, criado em 1989, que é considerado um dos Centros de
Referência e fonte de dados sobre a realidade das LER/DORT no Brasil.
Este serviço recebe pacientes portadores das doenças ocupacionais que dão
entrada nos postos de benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS,
com suspeita ou diagnóstico confirmado de doença relacionada ao trabalho, com a
Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT emitida, proveniente de Belo
Horizonte e Região Metropolitana, gerando controles epidemiológicos e estatísticos
com tais dados.
O Paraná, por sua vez, faz controle do número de casos de LER/DORT,
através das Comunicações de Acidentes de Trabalho – CAT, o que o faz dispor de
dados estatísticos mais sucintos. Em sendo assim, serão utilizados os dados
apresentados NUSAT.
55
Vários autores como: WALLACE e BUCKLE (1987), BAMMER (1993),
QUINTNER (1991) mencionam que há uma maior incidência de casos de LER em
mulheres. O relatório do Nusat/MG, entre os anos de 1990 e 1996, também
demonstra esta característica:
O relatório do NUSAT/MG (1994) demonstra, ainda, a predominância das
LER/DORT no sexo feminino, que é de 72,2%; no sexo masculino é 27,2% .
KILBOM (1987) coloca que a incidência de desordens em mulheres é devido a
diferenças na organização do trabalho e na carga de trabalho. Os homens têm mais
liberdade para escolher suas tarefas de trabalho e não desempenharem funções
repetitivas e trabalho monótono.
CANDIDO (1994) comenta que o número superior de mulheres acometidas de
LER se verifica pelo fato de existir uma maior presença feminina naquelas funções,
nas quais predominam movimentos repetitivos e acelerados e onde o desgaste físico
e psíquico pode ser observa com maior intensidade em relação a outros postos de
trabalho ocupados por trabalhadores do sexo masculino.
CARNEIRO (1998) explica que as mulheres estão sendo mais afetadas
negativamente pelas LER/DORT, mas elas são também as mais afetadas pelos
efeitos da desqualificação, da recessão (baixos salários e desemprego) e pelo
controle autoritário nos ambientes de trabalho. Além de ocuparem, na maior parte
das vezes, cargos ou funções mais repetitivas (com ciclos mais reduzidos), com
maior exigência de atenção, habilidade manual, destreza e controle sobre a
produtividade, a própria divisão social das tarefas relacionadas à criação dos filhos,
tarefas domésticas e alimentação da família, são geralmente atribuídas às mulheres,
sobrecarregando ainda mais a sua jornada de trabalho (dupla jornada).
Outro fator importante é a pressão das chefias e o gerenciamento autoritário
que é exercido sobre a mão-de-obra feminina com mais freqüência, devido à maior
possibilidade de obediência decorrente de condicionamento social e cultural.
As mudanças tecnológicas, freqüentemente, são acompanhadas da utilização
de mão-de-obra feminina, pelo fato de ser esta mais barata e maleável. A
participação das mulheres em trabalho não-qualificado aumenta em todos os
setores, atingindo cerca de 85% a 90% da mão-de-obra das fábricas de montagem,
sobretudo no setor eletrônico e de vestuário. Outros ramos industriais, como:
56
indústria alimentícia, têxtil, agroindústria, dentre outros, possuem também quase que
exclusivamente mão-de-obra feminina.
2.1.8.1 LER/DORT – Faixa Etária
Na revisão do NIOSH, os fatores individuais associados com as LER/DORT,
são considerados, em muitos estudos, sendo a idade um importante fator associado
às lesões (GUO et al. 1995; BIERING-SORENSEN, 1983; ENGLIH et al. 1995;
OHLSSON et al. 1994; RIIHIMAKI et al 1989; TOOMINGAS et al. 1991). Para outros
autores, como: HERBERTS et al. (1981), PUNNET et al. (1985) (site
<http://www.cdec.gov/niosh/ergtx1.html> pesquisado em 21/7/2003), isso não ocorre.
A distribuição dos trabalhadores portadores de LER atendidos no NUSAT, no
período 1994-1996, demonstra que a faixa etária predominante situa-se entre 20 a
39 anos, concentrando-se, nessa faixa, mais de 70% das ocorrências, mantendo-se
constante durante o período estudado.
Gráfico 1 – Distribuição dos atendimentos de LER por faixa etária (1994 ,1995, 1996)
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
não declarado
50 ou +
40 - 49
30 - 39
20 - 29
Faix
a et
ária
% LER/DORT
199619951994
(Fonte: NUSAT/INSS-MG, 1994-1996)
57
Essa distribuição reflete a composição da mão-de-obra trabalhadora,
concentrando nas faixas de maior produtividade e capacidade de trabalho as
ocorrências de doenças.
CARNEIRO (1998) comenta que esses dados demonstram que,
diferentemente, das outras doenças profissionais, a LER atinge o trabalhador em
pouco tempo, revelando a agressividade dos fatores geradores da patologia, que se
manifestam bastante precocemente. A alta incidência na faixa etária de 20 a 29 anos
é característica peculiar.
As conseqüências sociais desse fato são graves e impactantes em todos os
sentidos, pois uma população trabalhadora muito jovem está sendo alijada do
mercado de trabalho, muitas vezes sem condições de exercer outras atividades
laborativas. Ademais, essas pessoas passam a ser mantida precariamente pelos
órgãos de Previdência Social e, conseqüentemente por toda a sociedade, que, em
última instância, arca com todos os prejuízos que a agressividade dos processos de
trabalho e das formas de sua organização na sociedade moderna provocam no
sujeito trabalhador.
2.1.8.2 LER /DORT – Tempo na função
Segundo FORTUNATO (1992), a média de tempo na função para os
portadores de LER/DORT é de 2,7 anos para o ramo da indústria de material elétrico
e eletrônico; 8,4 anos para as entidades financeiras (bancos e caixas); 4,4 anos para
o comércio varejista (supermercados e magazines) e 8,0 anos para o serviço de
processamento de dados. Como aponta KILBON (1987), é preciso analisar porque
alguns trabalhadores desenvolvem prontamente a doença, enquanto outros podem
trabalhar por muitos anos sem desenvolver qualquer sintoma. Vê-se, então, que é
uma área de investigação importante.
2.1.8.3 LER /DORT– Escolaridade
Os dados de registro de escolaridade nos anos de 1994 e 1995 de pacientes
portadores de LER no NUSAT, estão demonstrados no gráfico abaixo:
58
Gráfico 2 – LER/DORT X Escolaridade (1994, 1995)
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
1ª a 4ª
5a. A 8a.
2º grau
superiorEs
cola
ridad
e
% LER/DORT
19951994
(Fonte: NUSAT/INSS-MG, 1994-1995)
No ano de 1994, a maioria dos casos apresentou níveis de escolaridade de 2º
grau e superior. Em 1995, manteve-se a predominância de trabalhadores com 2º
grau completo (39,66%) vindo, em seguida, aqueles com 1º grau completo (28,19%).
É bastante significativo o percentual de trabalhadores com nível superior (15%).
Gráfico 3 – LER/DORT x Escolaridade (1996)
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Não alfabetizado
1 grau
2º grau
superior
não declarado
Esco
larid
ade
% LER/DORT
(Fonte NUSAT/INSS- MG, 1996)
59
Em 1996, houve um acréscimo do percentual de trabalhadores com nível de
escolaridade de 1º grau e uma diminuição no nível superior (de 15% para 12%).
Alguns trabalhos sobre o nível de qualificação da força de trabalho brasileira
constatam que este é ainda muito precário. Contudo, observa-se, atualmente, uma
tendência de elevação dos níveis de escolaridade, devido a um aumento das
exigências para admissão de empregados.
2.1.8.4 LER/DORT- Faixa salarial
No período entre 1994 e 1996, os pacientes portadores de LER atendidos no
NUSAT, tiveram suas faixas salariais distribuídas da seguinte forma:
Gráfico 4 – LER/DORT X Faixa Salarial (1994, 1995, 1996)
0 5 10 15 20 25 30
n.d.
s.rend.
>10s.m.
5 a 10 .m.
3 a 5 s.m.
2 a 3 s.m.
1 a 2 s.m.
< 1 s.m.
Faix
a sa
laria
l
% LER/DORT
199619951994
Fonte: NUSAT/ INSS- MG (1994-1996)
CARNEIRO (1998) fez algumas observações sobre estas estatísticas. No ano
de 1994, as faixas salariais predominantes foram as de três a cinco salários mínimos
(23,65%) e a de mais de dez salários mínimos (20,03%). Já no ano de 1995, a
60
distribuição apresentou maior concentração na faixa de três a cinco salários mínimos
(27,67%), vindo em seguida a faixa de dois a três salários mínimos (20,26%).
Comparando-se as duas distribuições, constata-se uma queda acentuada na
faixa salarial com mais de dez salários mínimos, a qual representava 20% dos
salários dos trabalhadores com LER no ano de 1994, caindo para 7,59% no ano de
1995 e 6,22% em 1996. No ano de 1996, observa-se um aumento da faixa de 1 a 2
salários mínimos.
Estas observações comprovam que a maioria dos portadores de LER
concentra-se nas faixas salariais inferiores.
2.1.8.5 LER/DORT – Ramos de atividade econômica
Os dados dos trabalhadores portadores de LER atendidos no NUSAT, no
período de 1993 a 1996, são os seguintes:
Gráfico 5 – LER/DORT X Ramos de atividade econômica (1993,1994)
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Instituições financeiras
Indústria de material elétrico-eletrônico
Comercio varejista
Serviço auxiliar de diversos
Serviço de comunicação
Indústria transportadora
Serviço de administração e locação debens móveis
Serviço de saúde
Serviço de utilidade pública
outros ramos
Ram
os d
e at
ivid
ade
econ
ômic
a
% LER/DORT
19941993
(Fonte: NUSAT/INSS- MG, 1993-1994)
61
Gráfico 6 – LER/DORT X Ramos de atividade econômica (1995, 1996)
0 5 10 15 20 25 30 35
Instituições financeiras
Indústria de materiais elétrico-eletrônico
Comércio varejista
Serviço auxiliar diversos
Serviço de comunicação
Indústria de transporte
Serviço de administração e locação debens móveis
Serviço de saúde
Serviço de utilidade pública
Outros ramos
Ram
os d
e at
ivid
ade
econ
ômic
a
% LER/DORT
19961995
(Fonte: NUSAT/INSS- MG, 1995-1996)
As instituições financeiras (bancos, caixas econômicas), apresentaram-se
como o ramo de atividade com maior percentual de casos diagnosticados. Isto se
deve, principalmente, às transformações ocorridas no processo de trabalho bancário.
A rápida e acelerada informatização do setor resultou na transformação do
trabalho bancário em um grande número de funções manuais, pouco diversificadas,
esvaziadas de conteúdo e repetitivas. Além disso, a forma de organização do
trabalho no setor impõe um elevado controle sobre os trabalhadores, com pressão
na realização das tarefas, exigência de rapidez, precisão e responsabilidade,
provocando enorme tensão.
Agravando a situação, as mudanças na economia, aumentando os índices de
desemprego no setor e reduzindo drasticamente os postos de trabalho e agências
bancárias, provocam competitividade individual entre os trabalhadores, aumentando
ainda mais os riscos de lesão.
Outro importante ramo de atividade gerador de riscos no aparecimento das
LER em Minas Gerais é o da indústria de material elétrico-eletrônico e de
comunicação, responsável pela produção de componentes elétricos utilizados na
indústria automobilística. Este setor aparece, ao longo do período estudado, em
posição de destaque (entre os três primeiros).
62
Tal ramo caracteriza-se pela utilização combinada do trabalho repetitivo, às
vezes minucioso, com a exigência de esforço físico pesado, o uso de força, em
posturas inadequadas e posições incômodas. O trabalho é executado sob pressão
intensa das chefias, com cobrança e prêmios de produção de acordo com o número
de peças produzidas, vigorando os requisitos do sistema just in time adotado pelas
montadoras.
No ramo de serviços de locação de bens e serviços, onde se encontram,
predominantemente, as atividades de limpeza, cozinha, telefonia, digitação,
compensação, que em sua grande parte foram terceirizados, observa-se que as
condições de trabalho dos contratados são muito piores e mais precárias do que dos
efetivos. Deste modo, os trabalhadores desse ramo ficaram mais expostos a
adoecer, além de a rotatividade de mão-de-obra ser um mecanismo utilizado para
minimizar esses efeitos.
As mudanças tecnológicas no setor de telecomunicação, nos últimos anos,
trouxeram algumas conseqüências danosas aos trabalhadores dos ramos de
comunicação (telefonia e correio), como o aumento do ritmo de trabalho, advindo da
introdução de novos equipamentos e também o controle sobre a produção dos
trabalhadores, com maior exigência em termos de produtividade (controle do tempo
de fala e do número de chamadas atendidas). Como conseqüência, verificou-se a
intensificação do ritmo de trabalho e o aumento da tensão envolvida na atividade.
Outros fatores como falta de autonomia, relações autoritárias de chefias, o medo de
demissão e a pressa para produção, também foram apontados como determinantes.
A indústria automobilística, com sua forma de organização de trabalho, em
que se verifica a incorporação das novas tecnologias e das novas técnicas
gerenciais, juntamente com a terceirização das tarefas menos qualificadas e de
maior risco, continua a ocupar posição de destaque em relação aos fatores de risco
para o desenvolvimento das LER.
Uma característica verificada com relação à variável ramo de atividade
econômica é que a LER, hoje, se dissemina em todos os ramos, demonstrando que
as inovações tecnológicas e a informatização se generalizaram e se espalharam em
larga escala, muitas vezes sem as devidas medidas de prevenção e proteção.
63
Segundo relatórios do NUSAT/MG (1993), os setores econômicos com maior
incidência de LER/DORT apresentam algumas características em comum, como:
realização de atividades repetitivas e pouco diversificadas, um tipo de organização
do trabalho que impõe um elevado controle sobre os trabalhadores, com pressões e
exigência de rapidez, precisão e eficiência no desempenho das atividades.
2.1.8.6 LER/DORT – Ocupações
O perfil das ocupações dos trabalhadores com diagnóstico de LER/DORT
atendidos no NUSAT, durante esses anos, acompanha a trajetória da doença nos
ramos de atividade econômica, refletindo as mudanças tecnológicas e as formas de
organização do trabalho, assim como os movimentos sociais e econômicos.
Inicialmente, a maior incidência de diagnósticos verificou-se na categoria dos
digitadores, trabalhadores que, em primeiro lugar, conseguiram o reconhecimento da
LER como doença ocupacional pelos órgãos de Previdência Social, em 1987.
Gráfico 7 – LER/DORT X Ocupações (1993)
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Digitador
Auxiliar escritório
Bancário
Telefonista
Escriturário
Caixa comercial
Operador de produçâo
Montador de chicote
Outras
Ocu
paçõ
es
% LER/DORT
199119921993
(Fonte: NUSAT/INSS-MG, 1993)
64
Os dados de ocupações computados pelo NUSAT, em 1991 apresentam
como categorias com maior número de diagnósticos, os digitadores (26,06%), as
telefonistas (11,82%) e os auxiliares de produção (10,3%).
Em 1992, destacaram-se as ocupações de digitador (26,56%), auxiliar
administrativo/auxiliar de escritório (11,28%) e telefonista (9,76%), havendo uma
dispersão muito grande em relação a outras funções.
Em 1993, a ocupação com maior percentual dentre as diversas categorias
profissionais foi a de digitador e a função de auxiliar de escritório com digitação veio
em segundo lugar, com 17,45%. Em seguida, destacaram-se as atividades de
auxiliar de produção em indústria de equipamento elétrico para veículos (9,27%),
caixa bancário (7,82%), escriturário (7,27%) e caixa comerciário (5,82%).
Gráfico 8: LER/DORT X Ocupações (1994, 1995, 1996)
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Digitador
Auxiliar de escritório c/ digitação
Caixa bancário
Telefonista
Escriturário
Caixa comercial
Serviços de saúde
Montador de chicote
Auxiliar de produção da indústria
Outras
Ocu
paçõ
es
% LER/DORT
199419951996
(Fonte: NUSAT/INSS-MG, 1994-1996)
65
Em 1994, novamente as ocupações de digitador, caixa bancário, auxiliar de
escritório, escriturário de banco e telefonista foram as mais significativas, sendo
responsáveis em conjunto por quase 60% dos casos.
No ano de 1995, em primeiro lugar, destacaram-se os trabalhadores de
serviço de escritório e auxiliares administrativos, contribuindo com 10,26% dos
diagnósticos de LER. Em segundo lugar destacaram-se os caixas bancários com
9,66% dos casos, e em terceiro lugar os trabalhadores em serviços de saúde,
responsáveis por 8,19% dos diagnósticos. Logo em seguida encontram-se os
montadores de chicote da indústria de material elétrico para veículos, com 7,07%
dos casos, as telefonistas e os digitadores.
Em 1996, persistiu a liderança dos auxiliares administrativos e auxiliares de
escritório, vindo em seguida os digitadores, caixas bancários, faxineiros e auxiliares
de limpeza e dos caixas comerciários (supermercados e hipermercados). A grande
variedade de funções que apresentam diagnóstico de LER/DORT explica o número
elevado da categoria “outros”.
2.1.9 Repercussões e custos LER/DORT
Segundo o INSS (1993), a principal conseqüência da LER é a perda da
capacidade de realizar movimentos, o que interfere diretamente sobre a condição
social e psicológica do indivíduo. Isso se verifica quando a lesão impede, temporária
ou permanentemente, o homem de realizar o trabalho, já que este ato passa a ser
um elemento de degradação física e emocional.
LOWY (1993) estudou a percepção dos impactos causados pela LER nos
trabalhadores e descobriu que a doença afetou tanto a vida no trabalho como no lar.
Isso se explicou pela redução da capacidade de realizar trabalho assalariado como
os afazeres de casa. Observou, também, relatos de rompimento nas relações
familiares, ocasionando necessidades financeiras, emocionais e físicas. A
participação em esportes e atividades de lazer também foi comprometida pelas
limitações da doença e pela falta de motivação.
O custo social de uma doença que se instala precocemente durante a idade
produtiva acarreta prejuízo não apenas para o trabalhador, que além de perder a
66
saúde, corre o risco de perder o emprego e tornar-se incapacitado para o trabalho,
mas também para toda a sociedade, e neste contexto estão incluídos a família e
todas as relações sociais que envolvam um indivíduo nessa situação. COUTO e NICOLETTI (1998) citam que nos Estados Unidos, 56% dos casos
de patologia ocupacional são LER, as quais oneraram as empresas, no período de
um ano, a cifra de 7 bilhões de dólares entre a perda de produtividade, despesas
com atenção médica e ressarcimento do trabalhador, Além disso, existem nos
tribunais 2.000 processos de indenização, podendo vir a custar às empresas até 20
bilhões de dólares.
BOTTING et al (1996), em estudos na Lear Corp, uma indústria multinacional
de peças de automóveis, descobriu que a LER representa mais de 40% das
doenças ocupacionais e 70% dos custos de compensação dos trabalhadores desta
empresa.
ATTARAN (1996) afirma que os trabalhadores especializados são os que mais
correm risco de apresentar LER. Tal doença é responsável por mais de 60% de
todas as doenças do trabalho nos Estados Unidos. Cerca de 35% de todos os
custos de compensação dos trabalhadores – mais de 10 bilhões anualmente – são
resultantes da LER.
Um estudo minucioso de CARNEIRO e COUTO (1997) realizado num
estabelecimento bancário brasileiro apurou que, no ano de 1995, este apresentava
152 afastados por LER/DORT em todo Brasil e – somando-se as despesas com os
quinze primeiros dias de afastamento, adicional por tempo de serviço, auxílio creche,
adicional de função, 13º salário proporcional, gratificações, INSS, FGTS e
assistência médica – os autores concluíram que aquele banco gastou R$621.952,93
no total ou seja uma média de R$4.091,80 por empregado afastado.
Dados da Previdência Social mostram também que no Brasil se gasta por ano
mais de 4 bilhões de dólares em acidentes de trabalho e doenças profissionais
(PEREIRA e LECH, 1997)
Segundo a Organização Mundial de Saúde (apresentado no site
<http://www.uol.com.br/prevler>, pesquisado em 5/02/2003), em 1998, nos Estados
Unidos ocorreram 650 mil novos casos de LER/DORT, responsáveis por dois terços
das ausências ao trabalho, a um custo estimado de 15 a 20 bilhões de dólares.
67
Segundo COUTO (2000) os prejuízos para as organizações decorrentes das
LER atingem diversas áreas, tanto no que se refere à redução da produtividade
quanto a aumento de custos: alto absenteísmo médico, com comprometimento da
capacidade produtiva das áreas operacionais e da empresa, necessidade de
retreinamento, aumento do custo de produção, altos valores despendidos no
tratamento médico do acometido, afastamentos prolongados, custos com processos
de reintegração ao trabalho e processos indenizatórios de responsabilidade civil.
Para embasar os processos sobre responsabilidades usam-se critérios
definidos na própria Constituição Federal. No seu artigo 7º é citado que:
são direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social: XXII – Redução dos riscos inerentes ao
trabalho, por meio de normas de saúde e segurança; XXVIII – Seguro contra
acidente de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a
que está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa (MONTEIRO apud
CODO e ALMEIDA, 1995, p. 265).
As ações movidas pelos funcionários acometidos por LER/DORT contra as
empresas, normalmente, são de dois tipos: trabalhista e cível.
Nos processos de natureza trabalhista estão compreendidos pedidos de
reintegração, indenização decorrentes do afastamento proveniente da estabilidade
devido à caracterização do acidente de trabalho ou doença profissional. Essas
situações têm por fundamento legal a Lei nº. 8.213/91, art 118, que reza a garantia
de emprego por 12 meses, contados da cessação do auxílio-doença acidentário,
como também as Convenções e Acordos Coletivos de Trabalho. No Judiciário é
importante haver a presença de três aspectos a seguir relacionados: se houve
afastamento, a percepção de auxílio-doença-acidentário e alta médica. Preenchendo
estes critérios, o empregado terá direito à estabilidade prevista em lei.
Na ação cível são pleiteadas indenizações por dano material (incapacidade
laborativa), por dano moral ou por dano estético.
Alguns dos valores referentes às indenizações encontram fundamento na
faixa etária, no grau de incapacidade laborativa, no salário percebido pelo
68
reclamante/autor, além daqueles que podem ser arbitrados pelo juiz como
compensação por prejuízos morais.
Existe um diferencial entre as Justiças Trabalhista e Cível. A primeira baseia-
se nos direitos que são concedidos pela lei ao empregado; enquanto a segunda,
com maior amplitude, tem sua atenção especial no aspecto fático com necessidade
de se provar a lesão alegada e reflexos no cotidiano social e profissional.
Portanto, qualquer que seja o grau de culpa, a indenização por acidente de
trabalho ou doença ocupacional é um direito do trabalhador assegurado pela
Constituição Federal (MONTEIRO, 1997), fundamentando a responsabilidade civil do
empregador nestes casos.
No tocante aos processos de responsabilidade criminal, deve-se ressaltar a
possibilidade de duas situações: crime doloso e crime culposo.
O Código Penal define o que é crime doloso. No art.18 está: “diz-se o crime: I
– doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo (...)”
ANTONALIA (2001, p. 62) cita exemplo prático de crime doloso
A empresa que promove diversos casos de afastamento pela doença,
corroborados por relatórios Médicos e de Segurança identificando “Pontos de
Estrangulamento da Infortunística” e sugerindo medidas ergonômicas para
melhoria dos postos de trabalho, e nenhuma providência é tomada para sanar
os fatores críticos. Dessa forma, é cristalina a conduta da empresa no sentido
de assumiu os riscos dos infortúnios e poderá ser penalizada por essa
conduta, ou mesmo seus sócios/representantes que são penalmente
responsáveis em razão de crimes praticados quando da direção da pessoa
jurídica.
Com relação aos Crimes Culposos, assim preceitua o Código Penal: Art. 18.
“Diz-se o crime: (...) II- Culposo, quando o agente deu causa ao resultado por
imprudência, negligência ou imperícia (...).”
Quanto às modalidades de culpa pode-se expor: imprudência (prática de ato
perigoso), negligência (falta de precaução) e imperícia (falta de aptidão técnica,
teórica ou prática).
69
ANTONALIA (2001), cita que nos casos referentes a LER/DORT, talvez o
maior interesse resida nas modalidades de culpa – negligência e imperícia –
situação essa intimamente ligada ao Médico do Trabalho e ao Engenheiro de
Segurança do Trabalho que integrariam o pólo passivo (como réus) de uma eventual
ação no Judiciário.
Nos Estados Unidos, um estudo americano calculou em US$ 300,00 por ano o
prejuízo médio anual por funcionário que sofre da Lesão por Esforço Repetitivo e
Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT). Este estudo
leva em conta horas perdidas, treinamento de substitutos e perdas produtivas. Em
contrapartida, outro estudo – da Universidade de Cornell (NY), afirma que, se a
empresa investir US$ 150/ano por funcionário durante cinco anos, vai eliminar
qualquer risco de lesão (<http://www.appdort.org.br> pesquisado em 22/07/03).
Analisando os custos diretos e indiretos com os casos de LER/DORT, que
incluem além do tratamento médico, fisioterápico, medicamentoso, os gastos com
indenizações, custas processuais e até mesmo com inquéritos policiais, observa-se
que as empresas que investem na melhoria das condições do trabalho e prevenção
destes distúrbios não estão fazendo apenas despesas, mas sim um investimento
para o ser humano, além de defender o capital da empresa. Isto porque, com tais
investimentos, a empresa evita um passivo que pode levar à perda de grande parte
dos lucros ou até mesmo à falência da instituição.
2.2 Ergonomia 2.21 Aspectos conceituais
A palavra Ergonomia é de origem grega; ergon = trabalho e nomos = regras,
leis. Portanto, seu significado literal é estudo das leis que regem o trabalho
(MORAES e MONT’ALVÃO, 1998).
WISNER (1987, p.12) definiu Ergonomia como o “conjunto dos conhecimentos
científicos relativos ao homem e necessários para a concepção de ferramentas,
máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo conforto,
segurança e eficácia”.
70
LAVILLE (1977) conceituou Ergonomia como o conjunto de conhecimentos a
respeito do homem em atividade, afim de aplicá-los à concepção de tarefas, dos
instrumentos, das máquinas e dos sistemas de produção.
Segundo CHRISTENSEN (apud RIO e PIRES, 2001, p. 25):
Ergonomia é ramo de ciência e tecnologia que inclui o que é conhecido e
teorizado sobre o comportamento e características biológicas humanas que
podem ser validamente aplicadas à especificação, design, avaliação,
operação e manutenção de produtos e sistemas para aumentar a segurança,
o efetivo e satisfatório uso por indivíduos, grupos e organizações.
IIDA (1990, p. 1), define Ergonomia como “o estudo da adaptação do trabalho
ao homem”. O trabalho aqui tem uma acepção bastante ampla, abrangendo não
apenas as máquinas e equipamentos utilizados para transformar os materiais, mas
também toda a situação em que ocorre o relacionamento entre o homem e seu
trabalho. Isso envolve não somente o ambiente físico, mas também os aspectos
organizacionais de como esse trabalho é programado e controlado para produzir os
resultados desejados.
Seguindo o mesmo princípio, GRANDJEAN (1998, p. 7) conceitua a
Ergonomia como “a ciência da configuração de trabalho adaptado ao homem” e
complementa que, no início, considerou-se a configuração das ferramentas, das
máquinas e do ambiente de trabalho. O alvo da Ergonomia era – e ainda é – o
desenvolvimento de bases científicas para a adequação das condições de trabalho
às capacidades e realidades da pessoa que trabalha.
A Sociedade de Pesquisas de Ergonomia, da Inglaterra, (Ergonomics
Research Society) citado por IIDA (1990, p. 1) apresenta a seguinte definição:
“Ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e o seu trabalho,
equipamento e ambiente, e particularmente a aplicação dos conhecimentos de
anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos desse
relacionamento”.
COUTO (1995, p. 14) definiu Ergonomia como “um conjunto de ciências e
tecnologias que procura fazer um ajuste confortável e produtivo entre o ser humano
71
e seu trabalho, basicamente procurando adaptar as condições de trabalho às
características do ser humano”.
Em Agosto de 2000, a Associação Internacional de Ergonomia (IEA) adotou a
definição oficial mencionada abaixo, também utilizada pela Associação Brasileira de
Ergonomia (ABERGO).
A Ergonomia (ou Fatores Humanos) é a disciplina científica relacionada ao
entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou
sistemas e a aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de
otimizar o bem estar humano e o desempenho global do sistema.
Os ergonomistas contribuem para o planejamento, projeto e a avaliação de
tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e sistemas, de modo a torná-los
compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das pessoas
(http://www.iea.cc/ergonomics> pesquisado em 28/7/03).
2.22 Histórico da Ergonomia
A Ergonomia começou, provavelmente, com o primeiro homem pré-histórico
que escolheu uma pedra de formato que melhor se adaptasse à forma e movimentos
de sua mão, para usá-la como arma. A preocupação de adaptar os objetos artificiais
e o ambiente natural ao homem sempre esteve presente desde os tempos da
produção artesanal, não mecanizada, segundo informa IIDA (1990).
A otimização dos modos de produção, principalmente após a revolução
industrial, com a intensificação do trabalho e a identificação das conseqüências
físicas e sociais, torna-se crescente a necessidade do conhecimento acerca das
capacidades e limitações humanas, com a finalidade de melhorar as relações entre
trabalho e trabalhador, definindo-se assim o primeiro estágio histórico da Ergonomia
(BROWN; TAVEIRA FILHO apud SILVA, 1998).
Na Inglaterra, durante a I Guerra Mundial (1914-1917), fisiologistas e
psicólogos foram chamados para colaborarem no esforço de aumentar a produção
de armamentos, com a criação da Comissão de Saúde dos Trabalhadores na
Indústria de Munições, em 1915. Com o fim da guerra, a mesma foi transformada no
72
Instituto de Pesquisa da Fadiga Industrial, que realizou diversas pesquisas sobre o
problema da fadiga na indústria.
Esse instituto foi reformulado, em 1929, para transformar-se no Instituto de
Pesquisa sobre Saúde no Trabalho. Tendo o seu campo de atuação ampliado,
realizou pesquisas sobre posturas no trabalho, carga manual, seleção, treinamento,
iluminação, ventilação e outras. Entretanto, o maior mérito desse instituto foi o de ter
introduzido trabalhos interdisciplinares, agregando novos conhecimentos de
fisiologia e psicologia ao estudo do trabalho (IIDA, 1990).
Contudo, foi com a II Guerra Mundial que a Ergonomia mais se desenvolveu.
Neste cenário, os esforços da tecnologia (engenharias) e das ciências humanas
(psicologia, antropologia, fisiologia), são somados com o intuito de resolver os
problemas causados pela operação de equipamentos militares complexos (DUL e
WEERDMEESTEER, 1995).
Concomitantemente a guerra, e como conseqüência dela (pois grande parte
da mão-de-obra disponível teve que se engajar no serviço militar), houve um
excesso de oferta de postos de trabalho, criando-se a necessidade de postos de
trabalhos mais adequados aos homens comuns (FIALHO e SANTOS, 1997).
Em 1948, houve outro impulso da Ergonomia através do projeto da cápsula
espacial norte-americana, quando foi necessário fazer todo um replanejamento de
tempo e de meios de se fazer a viagem ao espaço, em decorrência do desconforto
pelo qual passaram os astronautas no primeiro protótipo da cápsula espacial. Deste
modo, surgia o conceito de que o fundamental não é adaptar o homem ao trabalho,
mas procurar adaptar as condições de trabalho ao ser humano. (COUTO, 1995, p.
14).
Ao contrário de muitas outras disciplinas científicas cujas origens se perdem
no tempo, a Ergonomia tem uma data “oficial” de nascimento: 12 de julho de 1949.
Neste dia, reuniram-se, pela primeira vez, na Inglaterra, um grupo de cientistas e
pesquisadores interessados em discutir e formalizar a existência desse novo ramo
de aplicação interdisciplinar da ciência. Na segunda reunião desse mesmo grupo,
ocorrida em 16 de fevereiro de 1950, foi proposto o neologismo Ergonomia.
Esse termo já tinha sido anteriormente usado pelo polonês Woitej
Yastembowsky (1857), o qual publicou um artigo intitulado “Ensaios de Ergonomia
73
ou ciência do trabalho, baseada nas leis objetivas da ciência sobre a natureza”.
Entretanto, foi só a partir da fundação, no início da década de 50, da Ergonomics
Research Society, na Inglaterra, que a Ergonomia se expandiu no mundo
industrializado.
A terminologia Ergonomia foi adotada nos principais países europeus, entre
eles: Inglaterra, França, Holanda, Alemanha e Polônia, onde se fundou a Associação
Internacional da Ergonomia, a qual realizou o seu primeiro congresso em Estocolmo,
em 1961.
Nos Estados Unidos foi criada a Human Factors Society, em 1957. Este país,
bem como o Canadá, utilizam ainda com freqüência o termo human factors (fatores
humanos), human factors engineering (engenharia de fatores humanos), man-
machine engineering (engenharia homem-máquina) com sentido similar à Ergonomia
(IIDA, 1990).
No Brasil, a Ergonomia se anunciou no início da década de 60, com a
abordagem do tópico “O produto e o homem”, na disciplina Projeto de Produto
(Engenharia Humana), na Politécnica da USP. Também nesta Universidade, o
Professor Sérgio Penna Khel encorajou Itiro Iida a desenvolver a primeira tese
brasileira em Ergonomia. Seis anos mais tarde, quase simultaneamente, houve a
introdução da disciplina Ergonomia nos cursos de Engenharia de Produção, da
COPPE/URFJ, de Desenho Industrial, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ), de Psicologia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/RJ), e na USP Ribeirão
Preto.
Além disso, Paul Stemphaneek introduziu o tema na Psicologia Industrial.
Nesta época, no Rio de Janeiro, o Professor Alberto Mibielli de Carvalho
apresentava Ergonomia aos estudantes de Medicina das duas faculdades mais
importantes do Rio, a Nacional (UFRJ) e as Ciências Médicas (UEG, depois UERJ).
Com a publicação do livro “Ergonomia: notas de aula” (IIDA, 1990) e a defesa
de tese de doutorado “A Ergonomia do manejo” (IIDA, 1990), na Politécnica da USP,
deu-se um significativo salto para a consolidação da Ergonomia no meio acadêmico
brasileiro.
Ademais, dois fatos marcaram a evolução da Ergonomia no Brasil. São eles:
- O Primeiro Congresso Brasileiro de Ergonomia, na FGV/RJ, 1974;
74
- A fundação da ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia, em 31 de
agosto de 1983, na FGV/RJ, que é uma Associação sem fins lucrativos cujo
objetivo é o estudo, a prática e a divulgação das interações das pessoas com
a tecnologia, a organização e o ambiente, considerando as suas
necessidades, habilidades e limitações.
Na Universidade Federal de Santa Catarina, já na década de 70, cadeiras de
Ergonomia eram oferecidas no curso de Engenharia. Nesta Universidade surge, em
1989, o primeiro Mestrado de Ergonomia, dentro do Programa de Pós-Graduação de
Engenharia de Produção.
Cumpre ainda salientar, na cronologia da Ergonomia brasileira, os seguintes
Congressos Brasileiros de Ergonomia: Rio de Janeiro (1984, 1989 e 2000), São
Paulo (1987 e 1991), Florianópolis (1993) e Recife (2002). Tais eventos apresentam-
se como um canal para difusão e divulgação da produção técnico-científica da
Ergonomia no Brasil, com a participação de pesquisadores nacionais e
internacionais.
Em 1995, realiza-se, no Rio de Janeiro, o Congresso Internacional de
Ergonomia, marco que sinaliza o reconhecimento, pela comunidade mundial, dos
trabalhos de pesquisadores brasileiros.
Hoje o Brasil ocupa uma posição hegemônica na Ergonomia latino-americana
e uma situação de destaque quando se consideram os países de língua portuguesa
e espanhola. Tal se deve à atuação de alguns precursores que trataram de difundir a
Ergonomia à política do CNAM (Conservatoire National des Arts e Métier – Paris) de
apoio a formação de ergonomistas e à atuação dos profissionais brasileiros que
sempre se preocuparam em produzir e publicar seus trabalhos (VOLPI, 1998, p. 84).
Com relação à evolução e aplicabilidade da Ergonomia, COUTO (2000),
considera que a Ergonomia costuma ser aplicada quando existe uma pressão
(econômica, social, sindical) para que seja realizada. Atualmente, no Brasil, muitas
medidas de Ergonomia são adotadas em decorrência da pressão da fiscalização do
trabalho, de sindicatos e do Ministério Público.
No entanto, outro grande motivo do rápido desenvolvimento da Ergonomia no
mundo foi o surgimento das lesões do sistema osteomuscular. Elas costumam ser
muito dolorosas e incapacitantes, geram absenteísmo e, quando o trabalhador sai
75
da empresa, costumam originar processos de indenização pelo dano. Assim, um dos
motivos da alta difusão da Ergonomia foi o custo da não Ergonomia, pois costuma
ser mais barato adotar a solução ergonômica do que se contrapor ao custo da
condição não ergonômica.
É importante destacar que muitas empresas adotam a Ergonomia porque
julgam ser o correto. Isto faz parte de uma filosofia gerencial e de valores
compatíveis com a empresa-cidadã, que procura o lucro, mas o quer legitimado
socialmente. Também a preocupação recente com a qualidade de vida no trabalho,
nestes tipos de empresa, tem sido um dos fatores a alavancar as ações de
Ergonomia.
2.22.1 Fundação da Associação Internacional de Ergonomia (IEA)
As raízes da Associação Internacional de Ergonomia (IEA) estão intimamente
relacionadas com um projeto iniciado pela Agência Européia de Produtividade
(EPA), a qual é uma ramificação da Organização para a Cooperação Econômica
Européia.
A EPA estabeleceu uma seção de Recursos Humanos, em 1955. Em 1956,
foram convidados nove especialistas de países europeus para visitar os EUA para
observar pesquisas em recursos humanos. A fase seguinte de projeto EPA foi um
Seminário Técnico com tema: “Adaptando o trabalho ao trabalhador” na
Universidade de Leiden, em 1957. Nesta ocasião, um conjunto de propostas foi
apresentado para a formação de uma Associação Internacional de Cientistas do
Trabalho.
Foi organizado um Comitê para desenvolver as propostas e organizar uma
Associação Internacional. Os membros do Comitê eram: Prof. G.C.E. Burger, Prof S.
Forssman, Prof. E. Grandjean, Prof. G. Lehman, Prof. B. Metz, Prof. K.U. Smith e Mr.
R.G. Stansfield. Apesar de haver alguma relutância no uso do termo Ergonomia no
título da nova associação pelo fato de cientistas ingleses terem fundado a Sociedade
de Pesquisas Ergonômica, em 1949, o Comitê decidiu adotar o nome de
“Associação Internacional de Ergonomia” até que um nome melhor fosse
encontrado.
76
No encontro de Paris, em Setembro de 1958, eles decidiram dar continuidade
na organização da Associação e preparar um Congresso Internacional em 1961. em
sendo assim, foi eleito o Comitê para a Associação Internacional de Cientistas em
Ergonomia, sendo eleito como presidente Prof. G.C.E. Burger, tesoureiro Prof.
K.U.Smith e secretário Prof. E. Grandjean.
O comitê para a Associação Internacional de Cientistas em Ergonomia
encontrou-se em Zurique em março de 1959, durante uma conferência organizada
pela EPA, quando então decidiram manter o nome IEA.
Em 6 de Abril de 1959, no encontro em Oxford, Inglaterra, o Prof Grandjean
declarou fundada a IEA. O Comitê também se encontrou, mais tarde, em Oxford,
para formalizar o estatuto escrito pelo secretário com ajuda dos membros do comitê
e participantes da EPA. Este estatuto foi posteriormente aprovado na Primeira
Assembléia Geral da Associação, no primeiro Congresso da IEA, em Estocolmo, em
1961.
Desde então a Associação Internacional de Ergonomia organiza Congressos a
cada três anos (<http://www.iea.cc/about/history>, pesquisado em 5/2/2003).
2.2.2 Normatização e legislação de programas de prevenção de saúde
dos trabalhadores e Ergonomia
Ao se observar a história, nota-se que o Estado, em muitos momentos, faz
sua intervenção na relação capital-trabalho, seja por vontade própria ou por pressão
externa. No Brasil, o primeiro passo para a normatização desta relação foi a
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo decreto-lei nº 5452 de 1°
de maio de 1930, onde, entre outros assuntos, trata de segurança e da medicina do
trabalho (PORTO, 1998).
A Lei nº.6514, de 22 de dezembro de 1977, referente à Segurança e Medicina
do Trabalho, estabelece as Normas Regulamentadoras, como as NR-5, que tratam
da organização da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA); a NR-7,
que trata do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO); a NR-
9, que aborda o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e a NR-17,
que trata sobre a Ergonomia.
77
Vê-se que esta lei estabeleceu critérios de forma a não permitir que os
trabalhadores sejam expostos aleatoriamente a situações de risco, bem como para
obter melhorias nos ambientes de trabalho, prevenindo e/ou minimizando as
doenças ocupacionais (MONTEIRO, 1997).
O Ministério do Trabalho e Previdência Social instituiu a Portaria nº 3751 em
23 de Novembro de 1990, que se refere à Norma Regulamentadora NR-17 de
Ergonomia. Esta norma visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das
condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de
modo a proporcionar o máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. As
condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e
descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais
do posto de trabalho e à própria organização do trabalho. Para avaliar a adaptação
das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores,
cabe ao empregador realizar a análise ergonômica do trabalho, devendo a mesma
abordar, no mínimo, as condições de trabalho conforme estabelecido nesta Norma
Regulamentadora.
O texto da NR-17, em suas 4 páginas, evidentemente, não consegue
estabelecer parâmetros fixos e definidos para se avaliar a adaptação das condições
de trabalho às mencionadas características. Para DINIZ (1992) tais características
fazem parte de todo conhecimento atual sobre fisiologia a psicologia humana,
particularmente aquelas relacionadas ao homem em situação de trabalho, submetido
a diversas influências ambientais simultâneas. Este autor relata, ainda, que o
objetivo da análise ergonômica do trabalho é determinar os fatores que contribuem
para a sua sub ou sobrecarga.
Portanto, a NR-17 fornece algumas orientações sobre Ergonomia, mas não
esgota o tema. Inúmeras questões que ligam o trabalhador ao seu trabalho, não
estão nela contemplados, ou o foram de forma superficial. Entretanto, sugerindo a
realização da análise ergonômica do trabalho, esta norma tende a preencher as
lacunas encontradas na escrita deste texto e desperta o interesse dos empresários
para Ergonomia, visto que existe regulamentação a este respeito. Deste modo, se
houver fiscalização nas empresas e as mesmas não cumprirem as diretrizes
básicas, estarão sujeitas a sanções e multas.
78
2.2.4 Abordagens em Ergonomia
De acordo com MONTMOLLIN (1984), existem duas correntes dentro da
Ergonomia: uma corrente com a visão mais americana e a outra com a visão mais
européia.
A visão mais antiga de Ergonomia, atualmente a corrente americana, enfoca a
Ergonomia visando, principalmente, os aspectos físicos da interface homem-
máquina (Human factors). É a Ergonomia sendo enfocada como tecnologia. Estes
ergonomistas consideram:
• Características Antropométricas: alturas, comprimentos, pesos e larguras de
diferentes partes do corpo que são medidas em algumas populações
(transformadas em tabelas pré-existentes que são divididas por sexo, idade), ou
estas medidas são realizadas no próprio ambiente de trabalho (individualizando
o trabalhador).
• Características ligadas ao esforço muscular: verificando as contrações
musculares por eletromiografia ou pelo consumo de oxigênio e ritmo cardíaco.
• Características ligadas à influência do meio ambiente: temperaturas do
ambiente, ruído, poeiras, agentes tóxicos, vibrações e acelerações bruscas.
• Características psicofisiológicas: visão e audição nas diversas condições e
também olfato, tato e os tempos de reação.
• Características dos ritmos circadianos: alternância de estado de vigília e sono e
as perturbações devido às equipes alternantes e seus efeitos sobre a saúde.
Estes ergonomistas também estudam os efeitos do envelhecimento,
principalmente fisiológicos e psicológicos. Além disso, esta corrente reuniu um
apanhado de conhecimentos bastante significativos referentes à “máquina humana”
e seus limites.
A outra corrente, considerada mais européia – particularmente francesa –
enfoca principalmente a organização do trabalho. O trabalho é observado dentro do
processo de interação operador e seu ambiente. Este enfoque é mais psicológico e
cognitivo (portanto visa mais a parte de comportamento e não somente biomecânica)
preocupando-se com a identificação de estratégias de adaptação do trabalhador,
79
particularizando cada caso, perdendo a capacidade de generalização
(MONTMOLLIN, 1984).
Na verdade, estes dois enfoques se complementam e não devem coexistir
separados. Atualmente, fazem parte de uma visão global da relação do trabalhador
com seu trabalho.
Segundo HENDRICK (apud ULBRICHT, 2000), a Ergonomia está na sua
terceira geração, pois se considera que a primeira é a corrente americana, a
segunda é a corrente francesa e a terceira – atual – resulta do aumento progressivo
da automação de sistemas em fábricas e escritórios e do surgimento da robótica.
Esta geração privilegia a macroergonomia ou organização global em nível de
máquina/sistema e se concentra no desenvolvimento para auxiliar os gerenciadores
de processo a decidir sobre a adoção de cursos de ação que atendam aos múltiplos
objetivos do mesmo.
Entretanto, FIALHO (1998) definiu como quatro as gerações ou períodos pelos
quais a Ergonomia passou. Ele enfatizou os seguintes aspectos principais:
O primeiro período da Ergonomia corresponde aos sistemas de interface
homem-máquina. A segunda geração, da década de 60, representa um momento de
mudança de foco dos aspectos físicos e perceptuais do trabalho para a sua natureza
cognitiva. Essa alteração refletiu a presença dos sistemas computacionais no meio
do trabalho. Esse segundo estágio é considerado como estágio da “tecnologia de
interface sistema-usuário”. O terceiro, por sua vez, está focalizado no nível
macroergonômico ou no nível global da “tecnologia da interface organização-
máquina”.
A visão macroergonômica evolui de um primitivo relativo a uma tecnologia
homem/máquina para um conceito mais abrangente. A ecoergonomia surge, então,
como uma quarta geração, na qual se estende a visão antropocêntrica para uma
visão biocentrada, em que soluções devem contemplar não só os aspectos sócio-
econômicos, mas também aqueles relativos ao subjetivismo humano e ao meio
ambiente que se inserem. O construtivismo, aqui, rende justiça à dimensão reflexiva
das ciências cognitivas, conduzindo a uma abordagem ergonômica dentro de uma
visão globalizante.
80
2.2.5 Campos da Ergonomia e principais modalidades de intervenção
WISNER (1987, p. 17-18) distinguiu dois campos principais na Ergonomia: a
de produto e a de produção.
a) Ergonomia do produto: voltada para a concepção de produtos adequados às
características dos usuários, levando em consideração conforto,
dimensionamento do produto e, por conseqüência, redução de custos
desnecessários na produção.
b) Ergonomia da produção: aplicada aos processos produtivos, ao estudo do
trabalho em ação.
WISNER, (1987) considera que a freqüência e a eficácia da ação do
ergonomista serão diferentes segundo as modalidades de sua ação: correção,
concepção e mudança.
c) Ergonomia de correção: visa à correção de inadequações ergonômicas
existentes nos meios e processos de trabalho. É uma situação em que a ação
do ergonomista aparecerá, claramente, com seus sucessos e seus limites, com
custo das modificações em geral elevado.
d) Ergonomia de concepção: atua na concepção de produtos e processos de
trabalho, visando sua concepção de acordo com os conhecimentos
ergonômicos. Permite agir precocemente sobre a máquina, a oficina e até sobre
a fábrica quando se trata apenas da especificação dos produtos, do primeiro
projeto. A ação costuma ser eficaz e de baixo custo, mas exige do ergonomista
uma experiência considerável, para evitar que deixe passar um inconveniente
grave ou até mesmo o crie.
e) Ergonomia de mudança: refere-se a um processo ergonômico contínuo numa
organização. Permite reunir as vantagens das outras modalidades de
intervenção sem seus inconvenientes. Na empresa tudo muda sem que o
visitante ocasional o perceba. Diminui-se ou aumenta-se o volume de produção
devido às variações de mercado, renovam-se as máquinas, reformam-se os
edifícios. Todas essas mudanças podem ser ocasião para uma mudança das
condições de trabalho. Neste caso, como também para a Ergonomia de
correção, se conhecerá bem a situação, antes e depois, mas o custo será
81
contabilizado dentro do orçamento geral destinado aos trabalhos necessários e
não exclusivamente àquele destinado às condições de trabalho.
Para COUTO (1995) a Ergonomia apresenta cinco grandes áreas aplicadas
ao trabalho que são:
a) Ergonomia na organização do trabalho pesado - planeja o sistema de
trabalho em atividades fisicamente pesadas, ou seja com alto dispêndio
energético, no sentido que não sejam tão fatigantes; a fadiga decorre do
acúmulo de ácido lático no sangue, com a possibilidade de acidose metabólica.
Também estuda o trabalho em ambientes com alta temperatura, devido sua
associação freqüente com trabalho pesado.
b) Biomecânica aplicada ao trabalho - a biomecânica pesquisa os movimentos
humanos sob a luz da mecânica. Em sendo assim, estuda a coluna vertebral
humana e prevenção das lombalgias, as diversas posturas no trabalho e
prevenção da fadiga e outras complicações; através da mecânica dos membros
superiores conclui as causas de tenossinovites e outras lesões por traumas
cumulativos e, ainda, faz alusão as principais regras para organizar um posto de
trabalho sentado.
c) Adequação geral do posto de trabalho – através, principalmente, da
antropometria, pode-se medir as dimensões humanas e seus ângulos de
conforto/desconforto. Com base nisso, é possível planejar postos de trabalho
corretos tanto para trabalho sentado, como semi-sentado ou de pé, bem como
para trabalho leve ou pesado.
d) Prevenção da fadiga no trabalho - a Ergonomia procura a prevenção da fadiga
física, objetivando propor soluções capazes de diminuir esta sobrecarga.
e) Prevenção do erro humano - promove a adoção das medidas necessárias para
que o indivíduo acerte no seu trabalho, aumentando a confiabilidade humana no
desenho de painéis e demais elementos do posto de trabalho. Sabe-se que nem
toda forma de erro humano é devida a condições ergonômicas adversas, mas
elas constituem uma causa relativamente freqüente de erro humano.
VIDAL (2000) sistematiza as formas específicas da Ergonomia de acordo com
as tendências atuais:
82
a) Quanto à Abordagem ► Ergonomia de Produto
► Ergonomia de Produção
b) Quanto à Perspectiva ► Ergonomia de Intervenção
► Ergonomia de Concepção
c) Quanto à Finalidade ► Ergonomia de Enquadramento
► Ergonomia de Remanejamento
► Ergonomia de Modernização
Independente da denominação fornecida pelos autores para os campos e
modalidades de intervenção da Ergonomia, os objetivos principais são mencionados
cada um de sua forma mas, globalmente, incluem melhoria da qualidade e
produtividade das condições dos postos de trabalho e dos produtos, visando a
atender melhor os usuários e proporcionar maior conforto e segurança na finalidade
que se destinam.
2.2.6 O futuro da Ergonomia
Segundo IIDA (1990, p. 14) a Ergonomia tem feito progressos notáveis
durante estas quatro décadas de sua existência “oficial”. Contudo, o caminho a
percorrer ainda é muito grande. Nos próximos anos, a demanda por novas
pesquisas e desenvolvimentos provavelmente terão origem nos seguintes
segmentos:
a) Sistemas complexos – Novos sistemas, como os de defesa, comunicação e
transportes, os quais não poderão basear-se mais em conhecimentos empíricos
sobre o desempenho humano e sim ser substituídos cada vez mais por
informações cientificamente comprovadas, visto que uma única falha poderá
provocar resultados bastante desastrosos.
b) Novas áreas – Ainda há muitas áreas do trabalho humano praticamente
inexploradas pela Ergonomia como na agricultura, mineração, setor de serviços
e na vida diária dos cidadão comum, que deverão surgir como áreas de
crescente interesse nos próximos anos.
c) Trabalhadores - Estes, na medida em que ficarem mais instruídos, melhor
informados e mais organizados, tendem a exigir condições melhores de
83
trabalho. Na Europa já são freqüentes as análises das condições de trabalho
solicitadas pelos sindicatos dos trabalhadores. Essa luta por melhores
condições de trabalho deverá prosseguir em todos os países do mundo.
d) Consumidores – Os consumidores estão se tornando cada vez mais exigentes e
sofisticados, exigindo produtos diversificados, adaptados às suas necessidades,
de boa qualidade e seguros. Por outro lado, a crescente atuação das entidades
de defesa dos consumidores deverá valorizar aqueles produtos que atendam
aos requisitos ergonômicos.
e) Competição industrial – O aumento da competição industrial em nível mundial
deverá estimular as empresas a oferecerem produtos de melhor qualidade,
ressaltando os requisitos ergonômicos como uma das vantagens competitivas.
Finalmente, a demanda por novos conhecimentos na área de Ergonomia
deverá ser estimulada pela maior difusão dos resultados de pesquisas e resultados
já conseguidos, principalmente através do fortalecimento das diversas associações,
de Ergonomia em níveis nacionais e internacionais.
2.2.7 A importância da Ergonomia na prevenção das LER/DORT
A prevenção das LER/DORT nas empresas depende de um conjunto de
ações, de caráter multidisciplinar nas quais os ergonomistas têm muito a colaborar
devido a sua formação e conhecimento sobre a estrutura física humana, seus pontos
frágeis e limites, aliado às informações sobre a área industrial e produção. Abaixo se
observam opiniões de diversos autores que compactuam com esta tese.
Segundo THOMPSON e PHELPS (1990), a conduta mais efetiva para evitar
as LER/DORT continua sendo a prevenção. Mudanças de natureza ergonômica,
organizacional e comportamental podem reduzir ou eliminar estas lesões; e esta
prevenção diminui mais a incidência das LER/DORT do que o tratamento médico.
KROEMER (1989), BAMMER (1993), HIGGS e MACCKINNON (1995),
enfatizam que as más condições de trabalho favorecem o surgimento dos distúrbios
osteomusculares relacionados ao trabalho e a aplicação de princípios ergonômicos é
fundamental para reduzir sua incidência.
84
WILLIAMS e WESTMORLAND (1994) mencionaram, também, a importância
atribuída por diversos autores à implantação das medidas ergonômicas no local de
trabalho para o controle destas lesões. Acreditam na importância do envolvimento e
participação dos trabalhadores em programas de treinamento, a fim de tornar o local
de trabalho mais saudável e seguro.
Estes autores ressaltam a importância da participação dos trabalhadores para
levantar as condições de trabalho desfavoráveis, pois eles são os principais
envolvidos e têm a percepção das inadequações de seus postos, podendo, assim,
contribuir muito nas intervenções ergonômicas.
STOBBE (1996) afirma que os princípios ergonômicos são baseados na
combinação de ciência, engenharia e um completo entendimento das capacidades e
limitações humanas. Quando estes princípios são aplicados no projeto de um posto
de trabalho, seja na tarefa, no processo ou procedimento, a incidência de lesões
musculoesqueléticas diminui.
MONTEIRO (1997) diz que o papel da Ergonomia no sistema de produção
visa a contribuir mais efetivamente na transformação do trabalho, participando
ativamente na implantação de projetos ergonômicos que apontem modificações para
os ambientes de trabalho, proporcionando assim, condições laborais, físicas e
psicologicamente aceitáveis.
Conforme o exposto acima, em absoluto, pretende-se restringir os campos e
possibilidades de atuação da Ergonomia – os quais são ilimitados – mas demonstrar
mais uma contribuição desta ciência a um problema que tem tomado grandes
dimensões, que são as LER/DORT, e causado prejuízo aos trabalhadores e
organizações.
ALMEIDA, CARNEIRO e PÊGO (1998) também consideram que é através da
Ergonomia que se encontrará o mais eficaz instrumento preventivo para evitá-la.
Contudo, salienta-se que a proposta da Ergonomia é muito mais ampla que apenas
a sua prevenção.
85
2.2.8 Metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho - AET
No Estudo de caso – o qual será apresentado na seqüência – será utilizada a
Análise Ergonômica do Trabalho (AET), como ferramenta para avaliar a adequação
dos postos de trabalho às características das pessoas que nele operam, observando
aspectos como segurança, conforto, desempenho e qualidade de vida.
Segundo LAVILLE (1977) a análise ergonômica apresenta uma possibilidade
de compreensão mais abrangente da situação de trabalho através do estudo de
todos os componentes envolvidos numa situação de desempenho produtivo,
relacionando-os da mesma forma que se processam no cotidiano da empresa.
Sendo assim, a análise ergonômica do trabalho tem por objetivo a análise das
exigências e condições reais da tarefa e análise das funções efetivamente utilizadas
pelos trabalhadores para realizar sua tarefa.
MONTMOLLIN (1982) afirma que a análise ergonômica do trabalho permite
não somente categorizar as atividades dos trabalhadores, como também estabelecer
a narração dessas atividades permitindo, conseqüentemente, modificar o trabalho ao
modificar a tarefa. O fato de a análise ser realizada no próprio local de trabalho, em
oposição às análises de laboratório, permite a apreensão dos fatores que
caracterizam uma situação de trabalho real, envolvendo aspectos como organização
do trabalho e relações sociais.
Para WISNER (1994) a AET é familiar aos autores de língua francesa desde o
livro de Ombredane e Faverge, publicada em 1955, no qual mostra o interesse de
estudar a atividade real de trabalho dos operadores, não raro muito diferente da
atividade prescrita pela organização. O inventário das diferenças entre atividades
reais e atividades prescritas é extremamente útil para descobrir tudo o que é difícil,
ou até impossível de realizar no trabalho prescrito ou o que foi mal compreendido.
Este inventário exige, em todo caso, formas diversas de melhoramento do trabalho.
FRANCO (1998) estabelece que a análise ergonômica do trabalho tem como
objetivo produzir dados que permitam reduzir a distância entre as concepções
formuladas do trabalho (prescrições, regras, procedimentos oficiais e explícitos) e a
atividade real do operador (aspectos informais, implícitos, imprevistos de condutas
do trabalho). Esta distância é a fonte de desequilíbrio do sistema de produção. A
86
análise ergonômica procura fazer uma análise da própria atividade, partindo do
pressuposto de que a atividade é o elo entre o trabalhador e as formas próprias de
organização.
FIALHO e SANTOS (1997, p. 24) afirmam que “só existe Ergonomia se existir
análise ergonômica do trabalho e só existe análise ergonômica do trabalho se ela for
realizada empiricamente em uma situação real de trabalho”.
BARCELOS (1997) destaca que a AET torna possível o reconhecimento da
realidade do trabalho e dos trabalhadores, considerando todos os elementos que
interagem nesta relação. Acrescenta, ainda, que a AET permite não só identificar o
trabalho, mas descrever todos os modos operatórios, os agravantes, as
comunicações, o coletivo de trabalho, as competências requeridas pela função e as
competências que os operadores já possuem.
Segundo FIALHO e SANTOS (1997) a análise ergonômica do trabalho
comporta três fases: análise da demanda, análise da tarefa e análise das atividades,
que devem ser cronologicamente abordadas de forma a permitir uma coerência
metodológica.
a) Análise da demanda é a definição do problema a ser analisado, a partir de uma
negociação com os diversos atores sociais envolvidos;
b) Análise da tarefa é o que o trabalhador deve realizar e as condições
ambientais, técnicas e organizacionais desta realização;
c) Análise das atividades é o que o trabalhador, efetivamente, realiza para
executar a tarefa. É a análise do comportamento do homem no trabalho.
Estas fases devem ser cronologicamente abordadas de forma a garantir uma
coerência metodológica e evitar percalços, os quais são comuns nas pesquisas
empíricas de campo.
Segundo FIALHO (1998) o levantamento de dados de uma determinada
situação de trabalho, do ponto de vista ergonômico, consiste na pesquisa
sistemática de variáveis pertinentes, seja para formulação de hipóteses, seja com
relação às hipóteses anteriormente formuladas. A escolha das variáveis para análise
das atividades de trabalho dependerá, normalmente, das hipóteses previamente
formuladas, quando da análise da demanda e da análise da tarefa, sobre as
87
relações condicionantes/determinantes desta situação de trabalho. Este
levantamento é baseado em três pontos chaves:
Em primeiro lugar, a análise ergonômica do trabalho baseia-se em técnicas
comparativas que permitem uma amostragem bastante aproximada da atividade de
trabalho, apesar das variabilidades intra e interindividuais. Na medida do possível,
deve-se comparar trabalhadores com diferenças significativas (qualidade, idade,
sexo, antigüidade no posto de trabalho) e variar nos momentos da observação (na
jornada de trabalho, na semana e, se possível, nas diversas estações do ano).
Em segundo lugar, técnicas de levantamento de dados, como entrevistas,
observações, enquetes e medidas serão utilizadas no sentido de evidenciar
variáveis pertinentes sobre a atividade de trabalho do indivíduo que, normalmente,
não são observáveis diretamente, porque podem ser inconscientes, automatizadas
ou, ainda, mascaradas.
Enfim, os dados levantados ao final de cada fase, conforme esquematizado na
figura 3 demonstrada na seqüência, permitem formular hipóteses de trabalho que
delineiam os rumos a serem seguidos, assim como a obtenção de um conjunto de
informações que formam uma parte dos resultados. Ao curso da realização de cada
uma das fases sucessivas, novos dados serão obtidos, novas hipóteses serão
formuladas para a progressão dos estudos e novos resultados parciais serão
definidos. Os resultados assim obtidos podem subdividir-se em duas categorias:
- Uns são específicos da fase estudada;
- Outros se relacionam à fase precedente e completam aqueles que foram já
obtidos. Deste modo obtém-se, constantemente, ao curso do estudo, um
feed-back sobre os resultados das etapas precedentes. Por exemplo, é
possível que os resultados obtidos na última fase permitam compreender e
definir os elementos que foram objeto da primeira fase.
Através das etapas anteriores, pode-se chegar à Síntese Ergonômica do
Trabalho, pois através do diagnóstico chega-se ao caderno de encargos e
recomendações ergonômicas.
88
Figura 3 – Esquema metodológico da análise ergonômica do trabalho
Quadro técnico de referência
ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO
Análise da demanda: definição do problema Análise da tarefa: análise das condições Análise das atividades:
de trabalho análise do comportamento Hipóteses do homem no trabalho Hipóteses Dados Hipóteses Dados Dados
SÍNTESE ERGONÔMICA DO TRABALHO
Caderno de encargos de Diagnóstico:
recomendações ergonômicas modelo operativo da situação de trabalho
(Fonte: FIALHO e SANTOS, 1997)
89
Ainda segundo FIALHO e SANTOS (1997), no desenvolvimento da análise e
em cada uma das fases, os seguintes aspectos devem ser considerados:
a) Apresentação do estudo, dos objetivos e dos resultados a quem apresentou a
demanda.
b) Apresentação do estudo, dos objetivos e dos resultados esperados, aos
trabalhadores cuja atividade vai ser analisada.
c) Apresentação, em particular aos trabalhadores, dos meios de análise, do tipo de
dados que serão recolhidos e do tipo de interpretação que será feita.
d) Apresentação dos resultados obtidos em curso e após análise a todas as
pessoas envolvidas pelo estudo e em particular aos trabalhadores.
As conclusões de uma análise ergonômica devem conduzir e orientar
modificações para melhorar as condições de trabalho sobre os pontos críticos que
foram evidenciados, assim como melhorar a produtividade e a qualidade dos
produtos ou serviços que serão produzidos ou realizados. Esta fase de elaboração
de recomendações é a razão de ser da análise ergonômica do trabalho.
2.2.8.1 Análise da demanda
Segundo WISNER (1987), esta é uma fase sempre importante do estudo ou
da pesquisa: deve-se analisar a representatividade do autor da demandada, a
origem da demanda (demanda real e demanda formal), os problemas (aparentes e
fundamentais), as perspectivas de ação e os meios disponíveis.
Para ABRAHÃO (1993) a demanda pode apresentar, muitas vezes, objetivos
contraditórios, sendo sua formulação inicial geralmente colocada em termos de
problemas a serem resolvidos, isolados do contexto. Portanto, a análise da demanda
permite reformular e hierarquizar os diferentes problemas colocados, articulá-lo entre
si e, algumas vezes, pode até mesmo evidenciar novos problemas.
FERREIRA et al. (1993) considera ser nesta fase que o ergonomista esclarece
os prazos, custos, condições de acesso às informações da empresa e ao local de
trabalho, forma de apresentação dos resultados, relações profissionais com as
partes envolvidas (trabalhadores e seus representantes, empregados e técnicos) e
ética profissional na condução do estudo.
90
FIALHO e SANTOS (1997) referem que análise da demanda permite
compreender a natureza e a dimensão dos problemas apresentados, assim como
elaborar um plano de intervenção para abordá-los. Normalmente, os problemas
apresentados pela demanda precisam ser evidenciados porque, em certos casos,
aqueles que são formulados são de menor importância e mascaram outros de maior
relevância do ponto de vista ergonômico. Por outro lado, a análise ergonômica da
demanda permite a definição de um contrato e a delimitação da intervenção nos
seus diversos aspectos: objetos da demanda, situação de trabalho a ser analisada,
prazos para sua realização, acesso às informações, dentre outros.
Os mesmos autores consideram a análise da demanda como a definição do
problema, a partir de uma negociação com os diversos atores sociais envolvidos. A
demanda pode ter origem nos diversos atores sociais da empresa, direta ou
indiretamente envolvidos pelos problemas ergonômicos existentes na situação de
trabalho a ser analisada. Além do mais, pode-se ter três grandes grupos de
demandas de intervenção ergonômicas. Essas demandas são formuladas com o
objetivo de:
a) Buscar recomendações ergonômicas para implantação de um novo sistema de
produção.
b) Resolver disfunções do sistema de produção já implantado, relativas aos
comportamentos do homem, da máquina, ou ainda, da organização, que se
traduzem em problemas ergonômicos (sofrimento físico e mental, doenças
profissionais, incidentes, absenteísmo, turn-over, baixa produtividade, qualidade
insuficiente e outros.).
c) Identificar as novas condicionantes de produção, numa determinada situação de
trabalho, introduzidas pela implantação de uma nova tecnologia e/ou pela
introdução de novos modos organizacionais.
2.2.8.2 Análise da tarefa
MONTMOLLIN (1984) considera a tarefa como o conjunto constituído pela
máquina e suas manifestações e reações, a performance exigida dentro da situação
91
de trabalho estudada e os procedimentos prescritos, completados pelos
conhecimentos necessários.
O autor enfatiza que estes três aspectos da tarefa não podem ser analisados
separadamente. O termo máquina refere-se à máquina propriamente dita, os
instrumentos, ferramentas, matérias-primas, informações em geral e o ambiente
físico do posto de trabalho. As performances exigidas se referem aos métodos de
trabalho, estabelecidos pelos procedimentos prescritos.
De acordo com FIALHO e SANTOS (1997) a tarefa é definida como o objetivo
a ser atingido. Neste sentido, sua análise coincide com a análise das condições
dentro das quais o trabalhador desenvolve suas atividades de trabalho.
Segundo POYET (apud SANTOS e FIALHO, 1997), pode-se considerar três
diferentes níveis de tarefa: prescrita, induzida e atualizada.
a) Tarefa prescrita: Trata-se do conjunto de objetivos, procedimentos, métodos e
meios de trabalho fixados pela organização para os trabalhadores. É o aspecto
formal e oficial do trabalho, isto é, o que deve ser feito e os meios colocados à
disposição para sua realização.
b) Tarefa induzida ou redefinida: É a representação que o trabalhador elabora da
tarefa, a partir dos conhecimentos que ele possui das diversas componentes do
sistema É o que o trabalhador pensa realizar. Pode-se falar, neste caso, em
tarefa real ou efetiva.
c) Tarefa atualizada: Em função dos imprevistos e das condições de trabalho, o
trabalhador modifica a tarefa induzida às especificidades da situação de
trabalho, atualizando, assim, a sua representação mental referente ao que
deveria ser feito.
Para analisar a tarefa ou as condições de trabalho, é conveniente separá-las
em fases distintas:
2.2.8.2.1 Descrição dos componentes do sistema homens-tarefas
Aqui ocorre a identificação das exigências do trabalho. Esta descrição tem
dois objetivos principais. Em primeiro lugar, a aquisição de um conhecimento
aprofundado a respeito da tarefa a ser analisada e, em segundo lugar, a definição
92
dos diferentes componentes do sistema (materiais, organizacionais e ambientais),
que são pertinentes às funções dos operadores do sistema.
Esta descrição engloba os seguintes itens:
▪ Dados referentes ao homem e à máquina.
▪ Dados referentes às entradas e saídas.
▪ Dados referentes às informações e ações.
▪ Dados referentes ao meio ambiente de trabalho.
▪ Dados referentes às condições organizacionais de trabalho.
2.2.8.2.2 Descrição dinâmica do sistema homens-tarefas
Após levantar os dados de base necessária à descrição estática do sistema
homens-tarefas, procede-se uma descrição dinâmica de seu funcionamento. O
objetivo é esquematizar o desenvolvimento lógico/temporal das operações, segundo
os encadeamentos e as eventuais alternativas.
2.2.8.2.3 Avaliação das exigências do trabalho Completa a descrição do sistema homens-tarefas, na medida em que procura
determinar a importância do que é solicitado dos operadores, a respeito de cada
exigência identificada.
São necessários vários tipos de avaliação, que são:
- avaliação das exigências físicas;
- avaliações referentes à tarefa;
- avaliações referentes à tarefa e à situação - compreende os esforços
dinâmicos, como deslocamentos a pé, transporte de cargas e utilização de
escadas. As avaliações englobam a enumeração destes esforços durante
uma jornada de trabalho, considerando-se sua freqüência, duração, amplitude
e a expressão de força exigida. E os esforços estáticos, que dependem da
postura requerida em determinada atividade, podem ser caracterizadas a
partir de certas medidas dos postos de trabalho, complementados por
estimativas de duração e freqüência.
93
- avaliações referentes ao organismo humano – a fisiologia do trabalho permite
avaliar as exigências físicas a partir de dados relativos ao estado do
organismo humano e suas modificações. Esta avaliação é feita a partir dos
levantamentos de estados julgados mais ou menos críticos (em função de
critérios anatomo-patológicos) e de medidas relativamente complexas,
baseadas sobre reações metabólicas ou funcionais.
Nas exigências ambientais, procede-se a análise do ambiente luminoso.
Avaliar a iluminação no posto de trabalho e geral, observando se é satisfatória, se
não causa ofuscamento e se seguem as recomendações das normas técnicas (ISO,
ABNT), bem como às exigências de normas regulamentadoras do Ministério do
Trabalho.
No ambiente térmico, observam-se as principais variáveis que afetam as
trocas térmicas do organismo humano com o meio ambiente exterior que são: a
temperatura do ar (seca ou úmida), umidade relativa do ar, velocidade do ar e
temperatura das superfícies (paredes, tetos e solos).
No ambiente sonoro, faz-se a avaliação da influência do ruído sobre o
desempenho do homem no trabalho e seu conforto.
Nas Exigências Sensoriais: faz-se Avaliações referentes às fontes de
informação, em que se procura avaliar os dados que permitam identificar as
exigências do trabalho relativas às fontes de informação, incluindo as formais e
aquelas não previstas pela organização, mas que são fundamentais para o
desempenho de suas atividades.
Nas avaliações referentes aos órgãos sensoriais, verificam-se os principais
aspectos da situação de trabalho, que dificultam a percepção dos sinais de trabalho
por parte do trabalhador, em particular em relação à percepção visual e auditiva.
Nas Exigências Sensoriais- motoras estão os dispositivos sinais-comandos.
Aqui se procura avaliar os aspectos quantitativos e qualitativos dos diversos
dispositivos de sinais e comandos, existentes na situação de trabalho, que são
utilizadas pelo trabalhador no desempenho de sua atividade no trabalho.
Nas características do operador observam-se as exigências antropométricas:
posição dos comandos em relação às zonas de alcance das mãos e pés, notar
também posturas, gestos, ações simultâneas das mãos e pés.
94
Com relação às Exigências Mentais, estão as avaliações referentes à tarefa,
em que se procura avaliar as exigências fixadas pela tarefa que solicitam o
trabalhador do ponto de vista mental, particularmente nos aspectos perceptivos e
cognitivos. Da mesma forma, deve-se procurar identificar como está estruturada a
tarefa, do ponto de vista organizacional.
Nas avaliações referentes ao operador vê-se que, nesta categoria, encontram-
se todos os métodos conhecidos de avaliação: de carga perceptiva, mnemônica, ou
mais globalmente, mental. O objetivo, aqui, é determinar um valor médio,
correspondente ao posto de trabalho e não de estimar a carga de um indivíduo.
Após, deve-se proceder uma avaliação destas exigências. As técnicas
empregadas na análise ergonômica da tarefa baseiam-se na análise de
documentos, em observações sistemáticas, entrevistas com diversas pessoas
envolvidas (direção, gerentes, supervisores e trabalhadores) e nas medidas
realizadas sobre o ambiente de trabalho.
Normalmente, utilizam-se vários procedimentos para recolher as informações
sobre a tarefa, que podem ser utilizados de forma simultânea ou consecutiva, em
função do tipo do posto a ser analisado, do tempo disponível e, também, da
experiência pessoal do analista. Os seguintes procedimentos são mais comumente
utilizados:
a) Análise de documentos - para identificar os aspectos formais do trabalho,
levanta-se a história do posto de trabalho a ser analisado, sua localização no
organograma da empresa, suas relações funcionais e hierárquicas com outros
setores, plantas de instalações, notas de serviços, regulamentos internos, relatórios
de reuniões realizadas por encarregados e órgãos envolvidos, dentre outros.
b) Entrevistas – discussões mais ou menos dirigidas são indispensáveis com
as pessoas envolvidas na situação de trabalho (trabalhadores, técnicos,
supervisores), os quais podem dar informações úteis.
c) As observações – permitem traçar uma primeira idéia do trabalho, de
levantar as principais operações a serem efetuadas pelo trabalhador: sua
freqüência, duração e como são realizadas.
95
d) Os questionários – após as entrevistas preliminares, pode-se elaborar um
questionário e solicitar aos trabalhadores preenchê-los, com dados característicos
da população, do posto, das máquinas, possíveis incidentes, dentre outros.
e) As medidas – permitem quantificar medidas do posto de trabalho e das
condições físicas: iluminação, ruído, temperatura, vibração e outros.
Como a tarefa é o objetivo principal a ser atingido, a sua análise coincide com
a análise das condições dentro das quais o trabalhador desenvolve suas atividades
de trabalho. Para analisar a tarefa, é conveniente distinguir três fases, que são a
delimitação do sistema homem-tarefa a ser analisado, em seguida realizar uma
descrição de todos os elementos que compõe este sistema, isto é, a identificação
dos componentes do sistema que condicionam as exigências do trabalho, para,
depois, proceder uma avaliação destas exigências. Com estes dados em mãos
pode-se passar para a próxima etapa que é a análise das atividades. Finalmente,
pode-se concluí-las confrontando-as com base na demanda.
2.2.8.3 Análise da atividade
MONTMOLLIN (1984) considera que a atividade é o que se faz realmente
enquanto a tarefa indica o que deve ser feito. Desse modo, a atividade sugere o
modo que o sujeito encontra para realizar as ordens fixadas.
Para GUÉRIN (1985) a atividade corresponde à maneira pela qual o homem
dispõe de seu corpo (seu sistema nervoso, órgãos sensoriais, etc.), sua
personalidade (seu caráter, sua história) e suas competências (formação,
aprendizagem, experiência) para realizar um trabalho. Também apresenta os
aspectos físicos, sensoriais, mentais e relacionais à atividade do trabalho:
a) Componentes físicos: atividade muscular estática e dinâmica, forças
exercidas.
b) Componentes sensoriais: correspondem à utilização dos órgãos visuais,
auditivos, tácteis, olfativos, que recolhem as diversas informações e as
transmitem ao sistema nervoso central.
c) Componentes mentais: correspondem às atividades ou processos (estes,
não diretamente observáveis) de tomada e processamento de informações e
96
que envolvem a identificação, análise e interpretação dos dados ambientais,
das tarefas, de problemas na situação de trabalho e dos resultados da própria
ação, pelo operador.
d) Componentes relacionais: essenciais para a realização do trabalho, embora
a organização formal do trabalho tenda a prescrever as tarefas como
independentes entre si, minimizando ou desconhecendo a utilidade das
relações sociais de trabalho.
Para FERREIRA et al. (1993) a Ergonomia se preocupa com as relações que
ocorrem entre o homem e a situação de trabalho. Sua unidade de análise só pode
ser a atividade porque a atividade é exatamente a mediação que existe entre o
homem e o que ele vai produzir ou quer modificar. A mesma autora considera a
atividade um fio condutor que se desenrola à medida que a análise progride e que
traz consigo todos os aspectos da situação de trabalho e dos próprios trabalhadores.
A análise das atividades, ao parecer de FIALHO e SANTOS (1997), é o que o
trabalhador, efetivamente, realiza para executar a tarefa. É a análise do
comportamento do homem no trabalho. Nesta fase, é realizada a análise das
atividades desenvolvidas pelos trabalhadores, face às condições e aos meios que
lhe são colocados à disposição. Trata-se da análise dos comportamentos de
trabalho: posturas, ações, gestos, comunicações, direção do olhar, movimentos,
verbalizações, raciocínios, estratégias, resoluções de problemas, modos operativos,
enfim, tudo que pode ser observado ou inferido das condutas dos indivíduos. Os
dados assim obtidos poderão ser confrontados com os das fases precedentes,
comprovando as hipóteses para a elaboração de um pré-diagnóstico da situação de
trabalho analisada.
2.2.8.3.1 Métodos de análise Ergonômica da atividade
Um método de análise das atividades de trabalho pode ser definido como o
conjunto de meios e procedimentos práticos de análise que permitem dar um
conteúdo às categorias de um modelo. De fato, um método é um procedimento de
pesquisa de solução a problemas teóricos. Com a utilização de métodos e técnicas
de análise, relativos a uma determinada situação de trabalho, é possível permitir a
97
obtenção de resultados concretos, a partir do conhecimento desta realidade do
trabalho.
FIALHO (1998) cita os seguintes métodos, abaixo relacionados:
- Análise das atividades em termos gestuais: este método é aplicado quando a
atividade motora, na execução da tarefa, é preponderante e quando as atividades
sensorial/perceptivas e cognitivas podem ser, relativamente negligenciadas. É o
caso das tarefas do tipo repetitivas, cíclicas, parcializadas, isto é, do tipo taylorista,
em que os eventos aleatórios são raros e representam uma fraca carga de trabalho,
para os quais os problemas de aquisição de informação, de diagnóstico, de
resolução de problemas e a tomada de decisão praticamente desaparecem após
período de aprendizagem.
O método de análise é simples. Trata-se de levantar os seguintes aspectos
fundamentais da atividade gestual de trabalho: os gestos, o conteúdo, o tempo,
duração e o processo de trabalho propriamente dito. Com isto, tem-se uma idéia
global do conteúdo e processo de trabalho.
- Análise das atividades em termos de informações – do ponto de vista
ergonômico, o homem pode ser considerado como um sistema de detecção e
tratamento da informação. Neste sentido, pode-se analisar as atividades
desenvolvidas por um trabalhador, em termos de informações, isto é, em termos da
percepção e do tratamento das informações e das ações correspondentes por ele
realizadas.
Na análise do trabalho, pode-se distinguir três níveis de percepção dos sinais
pelo homem: a detecção, a discriminação e a interpretação.
a) Detecção: são os mecanismos fisiológicos e psicológicos que permitem ao
homem receber um sinal, em oposição a não recebê-lo.
b) Discriminação: são os mecanismos fisiológicos e psicológicos que permitem a
distinção de sinais.
c) Interpretação: são os mecanismos fisiológicos e psicológicos que permitem dar
um significado a um determinado sinal, isto é, uma resposta adequada. A
interpretação dos sinais constitui o essencial do trabalho, em todos os postos a
serem analisados.
98
- Análise das atividades em termos de regulação – esta análise completa o
circuito de processo sinal/ação. De fato o trabalhador confronta os resultados de sua
ação com os objetivos preestabelecidos para ajustar suas novas ações. Este
esquema de realimentação, na atividade de trabalho é conhecido como regulação.
Portanto, a análise de trabalho em termos de regulação pode ser descrita como a
atividade do trabalhador na medida em que ela é dirigida no sentido de alcance e do
respeito a uma norma de produção, ou no sentido de manutenção de um equilíbrio.
Esta análise é guiada pelos objetivos, intenções e contratos do trabalhador e das
diversas células do sistema de produção.
- Análise das atividades em termos de processos cognitivos – é o método mais
contemporâneo da análise ergonômica do trabalho. A maioria das pesquisas
recentes em Ergonomia aborda o trabalho humano do ponto de vista dos processos
cognitivos de detecção da informação, de tratamento da informação, da tomada de
decisão e da ação sobre os controles e comandos do sistema de produção
(RASMUSSEN, 1986).
Dentro desse enfoque, três aspectos têm sido, geralmente, estudados: a
planificação pessoal do trabalho, as representações mentais de trabalho e os
raciocínios heurísticos do homem no trabalho.
a) A planificação pessoal do trabalho – O estudo das atividades de planificação
ocupa um lugar cada vez mais importante na análise das atividades em termos de
processos cognitivos. De fato o trabalhador deve possuir, além dos conhecimentos e
das competências a respeito das tarefas a serem executadas, capacidades para
planificar as atividades que ele irá desenvolver para atingir os objetivos de produção
estabelecidos, nas condições de trabalho existentes. A exemplo da regulação das
atividades, a planificação é variável segundo a flexibilidade de trabalho deixada para
o trabalhador.
A planificação pessoal do trabalho pode ser analisada a partir da análise das
suas diversas etapas que são a avaliação da tarefa, definição da tarefa e dos
procedimentos a serem empregados.
b) A representação mental da atividade de trabalho – as atividades de
planificação são elaboradas a partir de uma representação mental que o trabalhador
possui da estrutura do sistema de produção, de seus estados e de suas regras de
99
funcionamento. Não se pode planificar uma operação de montagem mecânica de
uma instalação se não se tem uma representação dos estados intermediários e do
estado final desta instalação.
c) Os raciocínios heurísticos do homem no trabalho – na maioria das situações
de trabalho, os comportamentos desenvolvidos pelos trabalhadores são baseados
em habilidades e regras. Entretanto, em situações de resolução de problemas, o
trabalhador deve elaborar procedimentos através de raciocínios heurísticos. Cabe
ressaltar que, com a evolução tecnológica dos sistemas de produção, esta
solicitação do raciocínio é cada vez mais freqüente.
Uma situação de trabalho é, potencialmente, um conjunto de condicionantes,
isto é, um conjunto de cargas de trabalho de diversas naturezas: econômicas,
sociais, técnicas e organizacionais. Para a realização de uma determinada tarefa,
frente a essa situação, o homem coloca em funcionamento mecanismos de
adaptação e de regulação. O analista tem necessidade de conhecer em detalhe o
que permite (e o que dificulta) ao trabalhador desenvolver seu trabalho. Neste
sentido, ele é levado a descrever o conteúdo do trabalho.
2.2.8.4 Síntese ergonômica do trabalho
A partir da análise ergonômica de uma determinada situação de trabalho,
pode-se estabelecer uma síntese dos resultados, na forma de um diagnóstico
ergonômico e elaboração de um caderno de encargos de recomendações
ergonômicas.
Segundo FIALHO e SANTOS (1997), no diagnóstico ergonômico, todos os
dados levantados na análise ergonômica da situação de trabalho considerada são
reagrupados, confrontados uns com os outros, sintetizados e interpretados na forma
de síndromes ergonômicas. Estas síndromes se constituem em um conjunto de
sintomas e sinais que caracterizam um estado patológico, do ponto de vista
ergonômico, desta situação de trabalho.
Em sendo assim, o diagnóstico diz respeito às patologias do sistema homem-
tarefa que foi delimitado, dentro do qual intervêm fatores cuja natureza, modo de
influência e as possibilidades de transformação podem ser inferidos pelos
100
conhecimentos em Ergonomia. É necessário aplicar o princípio da globalidade que
procura analisar a atividade humana tanto do ponto de vista fisiológico como do
ponto de vista psicológico.
A partir do diagnóstico estabelecido sobre as disfunções do sistema homem-
tarefa considerado, pode-se propor a redação de um caderno de encargos de
recomendações ergonômicas que permitam alcançar esta transformação. Este
caderno de encargos estabelecerá, de forma condensada, as diversas
especificações sobre a situação futura, tanto em termos ambientais como
organizacionais. Esta etapa constitui a razão de ser da Ergonomia.
A redação de um caderno de encargos em Ergonomia, segundo FIALHO e
SANTOS (1997), baseia-se em normas e especificações: as especificações são
levantadas a partir da análise ergonômica do trabalho. O diagnóstico de uma
situação de trabalho analisada permite estabelecer um conjunto de especificações
ergonômicas, relativas a:
a) decisões de base;
b) implantação geográfica dos postos de trabalho;
c) implantação geográfica dos operadores;
d) implantação e arranjo físico das zonas de intervenção;
e) documentação;
f) meio ambiente de trabalho;
Portanto, pode-se considerar o diagnóstico como o confronto da análise da
tarefa com a atividade com base na demanda.
2.2.9 Antropometria
Este item foi inserido neste capítulo para fornecer base técnico-científica sobre
Antropometria e aplicação dos dados antropométricos, os quais serão utilizados no
capítulo do Estudo de Caso. Além disso, serão utilizados nas recomendações
ergonômicas, para sugerir alterações na altura das bancadas dos postos de
trabalho, para propiciar maior conforto e segurança para seus operadores.
O termo Antropometria é de origem grega, segundo Velho Loureiro, Peres e
Pires Neto (apud PETROSKI, 1999, p. 10), sendo que Antropo identifica “Homem” e
101
Metry significa “medida”. Para estes autores, a Antropometria serve para a
determinação objetiva dos aspectos referentes ao desenvolvimento do corpo
humano, assim como para determinar as relações existentes entre físico e
performance.
Segundo FRANÇA e VÍVOLO (1984) existem indícios de que a preocupação
em mensurar o corpo é antiga, pois já os egípcios dão informes antropométricos
curiosos, relacionados à proporção entre o todo e as partes do corpo. Com as
antigas civilizações da Índia, Grécia e Egito, iniciou-se o uso das dimensões
corporais como primeiro padrão de medida, quando então se tentava estabelecer as
proporções do corpo humano
Marco Polo, o navegador italiano, entre 1273 e 1295, constatou, em suas
diversas viagens pelo mundo, que havia significativas diferenças de estrutura e
tamanho corporal entre as diversas raças, povos e culturas existentes. Pode-se,
então, considerar que estas observações são as precursoras da Antropologia Física
(PETROSKI, 1999).
O início da Antropometria Científica, contudo, se deu quando Albrecht Durer
(1471-1528) publicou a obra “Four Books of Human Proportions”. Quase um século
depois, em 1628, Gerard Thibault analisou dimensões de um esgrimista com riqueza
de pormenores, utilizando a cabeça como índice para determinar proporcionalidade
(DE ROSE, 1984).
Acredita-se que, em 1659, o termo Antropometria foi utilizado pela primeira
vez em seu sentido contemporâneo, na tese de graduação do alemão Sigismund
Elsholtz. A tese intitulada “Antropometria – da mútua proporção dos membros do
corpo humano: questões atuais de harmonia”, foi inspirada nas leituras de Pitágoras
e Platão e na filosofia médica da época (BEUNEN e BORMS, MAIA e JANEIRA
apud PETROSKI, 1999).
Lambert Adolfhe Jaques Quetelet (1786-1874) é considerado o pai da
Antropometria Científica por ter aplicado, em 1841, métodos estatísticos nos estudos
dos serem humanos, abandonando padrões subjetivos e adotando a análise
científica (PETROSKI, 1999, p. 18).
A partir da década de 40, começou a haver a necessidade de medidas
antropométricas cada vez mais detalhadas e confiáveis, devido à necessidade de
102
produção em massa. Como exemplo pode-se citar o projeto de um carro, já que um
dimensionamento de alguns centímetros a mais, sem necessidade, pode provocar
um aumento considerável nos custos de produção, se considerar a série de
centenas de milhares de carros produzidos. Um outro exemplo é o da indústria
aeroespacial, onde cada centímetro ou quilograma tem uma influência significativa
no desempenho e economia da aeronave.
Assim, segundo IIDA (1990), até a década de 40, as medidas antropométricas
visavam determinar apenas as grandezas médias da população, como pesos e
estaturas médias. Depois, passou-se a determinar as variações e os alcances dos
movimentos. Hoje, o interesse maior se concentra no estudo das diferenças entre
grupos e a influência de certas variáveis como etnias, regiões e culturas. Com o
crescente volume do comércio internacional, pensa-se hoje em determinar os
padrões mundiais de mediadas antropométricas.
Para OLIVEIRA (1998) um dos grandes desafios da ergonomia aplicada ao
trabalho é adaptar postos de trabalho e ferramentas à grande diversidade
morfológica das populações. Esse problema é mais crítico quando uma população é
composta por diferentes raças, como é o caso do Brasil.
Para a adaptação dos postos e ferramentas, a antropometria é usada para
determinar uma medição acurada dos diversos segmentos do corpo humano. Para
proporcionar uma boa postura e conforto nos postos de trabalhos, assim como
segurança e eficiência dos trabalhadores, é necessário que se tenha um
conhecimento prévio das medidas dos segmentos corporais dessa população.
2.2.9.1 Aplicação dos dados antropométricos
A melhor forma para se obter um posto de trabalho adequado é projetá-lo de
acordo com as medidas antropométricas dos trabalhadores que irão utilizá-lo.
Também muito importante nessa fase do projeto é o conhecimento detalhado das
atividades, bem como dos equipamentos que serão utilizados, pois só assim as
alturas e dimensões estarão corretas.
103
2.2.9.2 Principais medições antropométricas estáticas
De acordo com PETROSKI (1999), as principais medições antropométricas
estáticas, realizadas na posição de pé. São:
- Estatura: é a distância vertical do chão ao ponto mais alto da cabeça (vértex),
tomado com a pessoa ereta e com os olhos dirigidos para frente.
Técnica de mensuração: Posição do avaliado: em posição ortostática,
procurando pôr em contato com o instrumento de medida as superfícies posteriores
do calcanhar, cintura pélvica, cintura escapular e região occipital. A cabeça deve
estar orientada no plano de Frankfurt.
Posição do avaliador: em pé, ao lado direito do avaliado, se necessário subir
num banco para realizar a medida.
Procedimento: o cursor em ângulo de 90º em relação à escala, toca o ponto
mais alto da cabeça no final de uma inspiração. São realizadas três medidas,
considerando-se a média das mesmas como valor real da altura total. A cada
medida, pede-se para o avaliado sair e retornar à posição.
Utilidade: serve para determinar a altura mínima para portas e passagens.
- Altura do ombro: denominada também de altura acromial, é a distância vertical do
processo acromial ao chão.
Técnica de mensuração: Posição do avaliado: em posição ortostática, braços
estendidos ao lado do corpo e com as palmas das mãos voltadas para a coxa.
Posição do avaliador: agachado, no lado direito do avaliado.
Procedimento: utiliza-se a fita métrica metálica com hastes, posicionando a
haste fixa no acrômio e conduzindo a haste móvel, em linha reta, até o chão.
Utilidade: serve para determinar a altura de alcance do braço na posição em
pé.
- Altura do cotovelo: denominada de altura radial, é a distância rádio ao chão.
Técnica de mensuração: Posição do avaliado: em posição ortostática, braços
estendidos ao lado do corpo e com as palmas das mãos voltadas para a coxa.
Posição do avaliador: agachado, no lado direito do avaliado.
Procedimento: utiliza-se a fita métrica metálica com hastes, posicionando a
haste fixa no ponto proximal do rádio e conduzindo a haste móvel até o chão.
104
Utilidade: serve para determinar a altura da bancadas para trabalhos
moderados.
- Altura do punho: é a altura estiloidal, é a distância estílio ao chão.
Técnica de mensuração: Posição do avaliado: em posição ortostática, braços
estendidos ao lado do corpo e com as palmas das mãos voltadas para a coxa.
Posição do avaliador: agachado, no lado direito do avaliado.
Procedimento: utiliza-se a fita métrica metálica com hastes, posicionando a
haste fixa no ponto estiloidal e conduzindo a haste móvel até o chão.
- Altura da mão: é a altura dactiloidal, distância do dactílio ao chão. Técnica de mensuração: Posição do avaliado: em posição ortostática, braços
estendidos ao lado do corpo e com as palmas das mãos voltadas para a coxa.
Posição do avaliador: agachado, no lado direito do avaliado.
Procedimento: utiliza-se a fita métrica metálica com hastes, posicionando a
haste fixa no dactílio e conduzindo a haste móvel até o chão.
- Altura da linha mamilar: é a distância vertical do 5º espaço intercostal, junto ao
osso esterno até o chão.
Técnica de mensuração: Posição do avaliado: em posição ortostática, braços
estendidos ao lado do corpo.
Posição do avaliador: em pé, ao lado direito do avaliado.
Procedimento: utiliza-se a fita métrica metálica com hastes, posicionando a
haste fixa no 5º espaço intercostal, junto ao osso esterno e conduzindo a haste
móvel até o chão.
Utilidade: serve para determinar a altura da bancada para trabalhos leves.
- Altura do púbis: é a distância vertical do osso púbis ao chão.
Técnica de mensuração: Posição do avaliado: em posição ortostática, braços
estendidos ao lado do corpo.
Posição do avaliador: agachado, no lado direito do avaliado.
Procedimento: utiliza-se a fita métrica metálica com hastes, posicionando a
haste fixa no púbis e conduzindo a haste móvel até o chão.
Utilidade: serve para determinar a altura da bancada para trabalhos pesados.
- Tamanho do braço: denominado também de comprimento do braço, é a distância
entre os pontos acromial e proximal do rádio.
105
Técnica de mensuração: Posição do avaliado: em posição ortostática, braço
flexionado ao lado do tronco num ângulo de 90º com o antebraço, e palma da mão
voltada para dentro.
Posição do avaliador: em pé, ao lado direito do avaliado.
Procedimento: utiliza-se o paquímetro ou uma fita métrica metálica com
hastes, posicionando a haste fixa na parte superior do acrômio e conduzindo a haste
móvel até a parte proximal do rádio.
Utilidade: serve para determinar a distância de alcance máximo na superfície
do trabalho (painéis, mostradores).
- Tamanho do antebraço: é o comprimento do antebraço, considerado como a
distância entre os pontos proximal do rádio e estílio.
Técnica de mensuração: Posição do avaliado: em posição ortostática, braço
flexionado ao lado do tronco num ângulo de 90º com o antebraço, e palma da mão
voltada para dentro.
Posição do avaliador: em pé, ao lado direito do avaliado.
Procedimento: utiliza-se o paquímetro ou uma fita métrica metálica com
hastes, posicionando a haste fixa no ponto radial e conduzindo a haste móvel até o
estílio.
Utilidade: serve para determinar a distância de alcance ótimo na superfície de
trabalho.
- Tamanho da mão: é o comprimento da mão, é a distância entre os pontos do
estílio e dactílio.
Técnica de mensuração: Posição do avaliado: em posição ortostática, braço
flexionado ao lado do tronco num ângulo de 90º com o antebraço, e palma da mão
voltada para dentro.
Posição do avaliador: em pé, ao lado direito do avaliado.
Procedimento: utiliza-se o paquímetro ou uma fita métrica metálica com
hastes, posicionando a haste fixa no estílio e conduzindo a haste móvel até o
dactílio.
Utilidade: serve para dimensionar ferramentas e tamanho de luvas.
No estudo de caso do capítulo seguinte serão utilizadas as medidas acima
citadas.
106
Existem ainda outras medidas antropométricas estáticas que seriam altura dos
olhos, do mento, da mão, do joelho, do umbigo, sendo que todas estas medidas
devem ser feitas desde o ponto de referência até o chão e cada uma tem a sua
finalidade e contribuição para o dimensionamento dos postos de trabalho.
107
CAPÍTULO 3 ESTUDO DE CASO: ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO EM
UMA EMPRESA DE REVESTIMENTOS CERÂMICOS
O estudo de caso foi realizado no setor de Classificação de azulejos de uma
Indústria de Revestimentos Cerâmicos na Região Metropolitana de Curitiba.
Optou-se por este setor devido a um maior número de queixas de dor e
desconforto osteomusculares relacionadas ao trabalho apresentadas no Ambulatório
da empresa e para avaliar as reais condições de trabalho deste local.
3.1 Procedimentos metodológicos
A metodologia utilizada no estudo do setor escolhido foi a Análise Ergonômica
do Trabalho, seguindo o que preconiza FIALHO e SANTOS (1997), abordando as
distintas fases já explicitadas no capítulo 3, que são: Análise da demanda, da tarefa
e análise das atividades, seguida do diagnóstico e recomendações, visando
promover uma transformação da situação do trabalho.
Este modelo metodológico permitiu evidenciar as condições de execução do
trabalho no local estudado e suas conseqüências para a saúde dos indivíduos.
Os procedimentos adotados foram os seguintes:
a) Entrevistas com pessoas envolvidas diretamente com o setor, como
supervisores e líderes de produção, médico e enfermeiro do trabalho, técnicos
de segurança, trabalhadores, o que permitiu uma compreensão inicial dos
problemas existentes e do trabalho realizado;
b) Observações abertas e sistemáticas das atividades de trabalho e principais
dificuldades;
c) Registro das atividades de trabalho em vídeo e através de fotos, como
instrumento de consulta dos dados coletados das observações em campo;
d) Elaboração e aplicação de questionário aos trabalhadores, utilizando amostra
casual simples, definidas por sorteio, através de perguntas abertas e
fechadas, que permitiram evidenciar as dificuldades e queixas encontradas no
108
desempenho do trabalho e permitiu confrontar os problemas apontados pelos
trabalhadores com os dados obtidos através das observações sistemáticas. O
questionário aborda também fatores extra-ocupacionais como serviço em
casa, se tem filhos pequenos (esforço de carregá-los no colo),
relacionamento, tensão e satisfação. O modelo do questionário está colocado
como anexo;
e) Realização do levantamento antropométrico dos funcionários do setor e do
mobiliário, e colocado dados no Programa de Estatística Aplicada - DocEstat
da Editora Ergo, que forneceu o cálculo dos percentis desejados;
f) Avaliação das medições de Ruído do PPRA, realizadas da seguinte forma: o
medidor de nível de pressão sonora – Dosímetro Q-300 da marca Quest, foi
colocado na altura do ouvido do trabalhador (zona auditiva), no seu posto de
trabalho, e mantido por 75% da jornada de trabalho. Avaliação da aferição e
iluminamento ambiental, através do Luxímetro, Metroux 3, da Metrawatt,
colocado no campo de trabalho e repetido a leitura após 10 minutos;
g) Avaliação dos dados e elaboração do diagnóstico da situação de trabalho.
3.2 Apresentação
O estudo de caso foi realizado em Indústria de Revestimento Cerâmico no
Paraná, fundada em 1954.
O produto final principal desta empresa é o azulejo, que deriva do árabe
“azullavcha”, que significa “pequena pedra cintilante”, designando uma placa de
barro cozido, de forma regular, com uma das faces vidradas que lha dão cor e brilho.
O azulejo fabricado nesta empresa é um produto cerâmico, constituído de um
biscoito poroso, tendo em uma das faces o esmalte/vidrado, com motivos decorados
ou não. Este produto confere uma série de características, tais como:
impermeabilidade, durabilidade, resistência ao calor e a raios ultravioletas, entre
outras.
Devido à diversificação dos formatos e investimentos na qualidade do design,
a função inicial de impermeabilizar paredes foi sendo substituída pela função
decorativa dos revestimentos cerâmicos.
109
O Fluxograma da fabricação de azulejos é o seguinte:
A matéria-prima que inclui uma variedade grande de argila, xisto e feldspato
são misturados com água em um misturador (moinho) para formar uma suspensão
aquosa. Esta solução passa por uma câmara de spray, que a pulveriza em
pequenas partículas, em seguida são conformadas despejando este material em um
molde e prensando a seco, a peça passa por uma queima a 1.100ºC. Após a
queima, a parte tosca é rebarbada através de lixas de polimento, em seguida recebe
a esmaltação (decoração) e passa pelo forno a 1.000ºC para secar acabamento e
vai para classificação e expedição dos produtos.
Abaixo, verifica-se o fluxograma resumindo do processo de produção:
Matéria Prima Preparação Massa Prensagem
Secagem 1ª Queima Esmaltação
Figura 4 - Fluxograma do processo de produção de revestimentos cerâmicos.
ClassificaçãoExpedição
2ª Queima
(Fonte: Gerência Industrial)
O trabalho de análise ergonômica foi realizado de abril a junho de 2001 e
complementado com novos dados no final de 2002.
Como já mencionado, a pesquisa foi desenvolvida em uma Indústria de
Revestimentos Cerâmicos, na Região Metropolitana de Curitiba, e o foco do estudo
foi o setor de Classificação, onde basicamente os azulejos são retirados dos
vagonetes, selecionados que, após descartar as peças que estão com defeitos, as
de boa qualidade são colocados em caixas e estas depositadas sobre a esteira
rolante. Portanto, este setor localiza-se no final do processo produtivo, sendo
seguido apenas da expedição.
110
3.3 Análise ergonômica do trabalho
3.3.1 Demanda
Avaliação e readequação do posto de trabalho do Setor de Classificação. A
origem da demanda baseia-se no aumento de queixas de dores em membros
superiores e coluna, com alguns casos de doenças reconhecidas pelo INSS através
de Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT), absenteísmo e aumento da
procura por sessões de fisioterapia pelos funcionários deste setor.
A formulação da demanda partiu da direção da empresa com objetivos de
prevenção de novos casos de distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho,
fornecendo melhores condições laborais aos seus funcionários e evitando o passivo
ocupacional.
Este estudo de caso se concentrou mais nos fatores biomecânicos e não
tanto nos aspectos psicológicos e sociais dos portadores de LER/DORT, apesar de
considerá-los de grande relevância na etiologia destes distúrbios.
A metodologia utilizada foi estruturada através de visitas à empresa,
entrevistas e questionários com os funcionários, entrevistas com supervisores e
líderes de produção, realizada a mensuração do mobiliário. Realizada, ainda, a
filmagem juntamente a registros fotográficos considerando os problemas de saúde,
Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) e Programa de
Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA). Após isso, foram realizadas as análises
do material e recomendações.
3.4 Análise da tarefa
Análise das condições dentro das quais o trabalhador desenvolve suas
atividades de trabalho prescrito.
Na visão da Ergonomia, um sistema é um conjunto de componentes: homem,
tecnologia, organização e meio ambiente de trabalho, dinamicamente relacionados
em uma rede de comunicações, formando uma atividade, para atingir um objetivo,
agindo sobre sinais, energia e matérias-primas, para fornecer informação, energia ou
111
produto. Nesta análise, na entrada estão a matéria-prima, os azulejos a serem
classificados e, na saída, o produto final os azulejos já embalados e prontos para a
comercialização.
O sistema homem-tarefa visa uma abordagem sistêmica dos homens e
máquinas, ou seja, não compreende só as máquinas, mas também as condições
organizacionais e ambientais do trabalho.
3.4.1 Delimitação do sistema homem-tarefa
- Missão do Sistema - Cooperar no sucesso dos clientes no mercado de
produtos para a construção, vantagem competitiva e agregando valor em tudo o
que se faz.
- Visão - Prover produtos e serviços que vão ao encontro das necessidades dos
clientes, oferecendo oportunidades de carreira, aperfeiçoamento aos
colaboradores e cooperando nas comunidades onde atua como empresa
integrante da companhia global.
- Valores - Ética -Comprometimento - Inovação contínua - Espírito de equipe –
Dinamismo
- Política da Qualidade - Satisfazer no dia a dia as expectativas de nossos
clientes. Atender as exigências das normas internacionais sobre produtos.
Orientar todos os processos e colaboradores na construção da excelência.
- Objetivo do Setor - Dispor os produtos para os clientes de acordo com os
padrões de qualidade e tonalidade.
As fontes destas informações são das diretrizes de Gerência e Diretoria da
empresa.
3.4.2 Perfil do sistema
- Retirar azulejos dos vagonetes;
- Classificar os azulejos e descartar os com defeitos; - Colocar as peças dentro de caixas; - Identificar produto e funcionária que o classificou;
112
- Depositar as caixas nas correias transportadoras.
3.4.3 Normas
- Classificar os azulejos conforme amostra padrão e orientação do líder de
classificação;
- Usar equipamentos de proteção individual (EPI´s) determinados pelo
Departamento de Segurança do Trabalho que são: protetor auricular tipo plug de
inserção em silicone, modelo pomp plus,da 3M, com NRR 21 dB(A) – C.A. 5745,
luva de látex, calçado de segurança, uniforme;
- Existe um controle de qualidade por amostragem que abre as caixas,
identificadas com o carimbo com código individual e verifica como está a
qualidade da classificação e compara com a padronização, cuja meta é de 3%
de C, no “A” e 1% de A no comercial. Sendo tipo A – azulejos de primeira linha e
tipo C – Segunda linha ou comercial.
A cada 100 peças do produto são abertas caixas aleatoriamente das
funcionárias e verifica-se a qualidade da classificação que, até 3% de C no A, é
aceitável. Se o resultado for acima, conversa-se com a funcionária orientando-a.
Entretanto, se for acima de 5% de C no A retreina-se a mesma, colando num painel
um conjunto de 100 peças e mistura 10 tipo C no A e pede para ela classificar para
verificar se apresenta dificuldade ou errou por distração. Quando se encontra por
duas vezes acima de 5% é aberto relatório de não conformidade e é reclassificado
novamente todo o produto.
113
3.4.4 Hierarquia do sistema
Figura 5 – Organograma do Setor de Classificação
Diretoria Industrial
01 Gerente
01 Chefe de Classificação
01 Líder de Classificação
05 Ajudantes
122 Funcionários
3.4.5 Função auxiliar de produção na classificação
Foto 1 – Demonstra as atividades da Auxiliar de produção da Classificação.
Existem 02 setores de classificação em cada extremo da fábrica. No lado
direito, foco deste estudo, encontram-se 04 linhas de produção com 08 funcionárias
cada, trabalhando 32 pessoas por turno.
114
O lado esquerdo também possui 04 linhas de produção mas cada qual com
10 funcionárias, no total de 40 trabalhadoras por turno.
Portanto, na mesa de Classificação, trabalham 122 funcionárias e 22
temporários, e uma vez por semana, fazem rodízio para retirar as quebras, ou seja,
as peças com defeito de todas as mesas e levam este material para caçamba
colocada no lado de fora do galpão, ainda, levam caixas para as funcionárias das
mesas de classificação.
Existem mais 09 funcionárias que trabalham fora da mesa, realizando serviço
de montar caixas, abastecer as linhas com caixas de papelão, colar etiquetas nas
embalagens e classificar acessórios, que são peças pequenas e num ritmo de
trabalho mais lento, onde são alocadas as funcionárias com restrições.
Outros 03 funcionários recolhem as caixas prontas e empilham em pallets e,
após, deslocam os pallets com paleteiras manuais para o final da linha de produção
para serem retirados pelos operadores de empilhadeira. Uma pessoa por turno
amarra o suporte, deixando fixas as caixas já colocadas nos pallets.
3.4.6 Função auxiliar de produção – Mesa de classificação
Foto 2 – Atividades da Auxiliar de produção na mesa de Classificação
Neste setor encontram-se padrões internos que estabelecem a tarefa
prescrita e orienta as atividades da seguinte forma:
115
- Verificar a amostra recebida onde constam as informações inerentes ao produto
tais como: tipo de classificação, nome do produto e tonalidade.
- Retirar com luvas apropriadas, as peças dos vagonetes (entre 2 a 8 peças cada
vez);
- Comparar com amostra padrão identificada;
- Separar qualidade de acordo com o tipo de classificação especificado na
amostra;
- Classificar conforme painel de defeitos e orientação do Líder de classificação;
- Colocar as peças em pilhas por qualidade, podendo colocar as peças
diretamente dentro das caixas;
- Pegar embalagens etiquetadas e encaixotar o revestimento;
- Carimbar as caixas com o código individual;
- Colocar as caixas nas correias transportadoras para paletização.
3.4.7 Os funcionários
Os funcionários são registrados como Auxiliares de produção e se distribuem
nos seguintes horários:
• Primeiro turno: ⇒ 2ª à 6ª feira das 6:00 às 14:00 horas.
Sábado das 6:00 às 10:00 horas.
• Segundo turno: ⇒2ª à 6ª feira das 14:00 às 22:00 horas.
Sábado das 10:00 às 14:00 horas.
• Horário normal: ⇒2ª à 6ª feira das 7:12 às 17:00 horas.
Os mesmos têm 30 minutos para realizar as refeições conforme acordo
coletivo com o Sindicato e aprovado pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
3.4.8 Antropometria
Foram realizadas as medidas em 92 funcionários sendo 86 mulheres e 6
homens. As medidas foram: estatura, altura do ombro, cotovelo, punho, mão, linha
mamilar, púbis em relação ao chão e tamanho do braço, antebraço e mão e podem
ser mais bem observadas na tabela em questão:
116
Tabela 10 – Medidas antropométricas dos funcionários
Percentis Desejado
ALTURA
Altura Ombro
Altura Cotovelo
Altura Punho
Altura Mão
Linha Mamilar
Altura Púbis
Tamanho Braço
Tamanho Antebraço
Tamanho Mão
5 149,50 123,00 92,00 73,00 57,00 107,00 78,00 30,00 24,00 15,50
20 156,00 127,00 96,00 76,00 60,00 112,00 82,00 31,50 25,00 16,50
50 161,50 132,00 101,00 79,00 62,00 116,00 84,00 33,00 26,00 17,00
80 167,00 137,00 103,00 82,00 64,00 121,00 88,00 35,00 28,00 18,50
95 170,00 141,00 106,00 86,00 68,00 124,00 92,00 37,00 30,00 19,50
Foi realizado o levantamento antropométrico dos funcionários deste setor
para comparar com a altura da bancada e correia transportadora, isto é, para se
verificar se o posto de trabalho está adaptado às características físicas dos
empregados. Segundo Grandjean (1998), para um trabalho eficiente, é
imprescindível a adaptação do local de trabalho às medidas do corpo humano e,
para tanto, devem ser levantadas as medidas antropométricas.
3.4.9 Sexo
• Feminino – 105 pessoas equivale a 86,07%.
• Masculino – 17 pessoas equivale a 13,93%.
Segundo Carneiro (1998), como já citado no perfil do trabalhador com
LER, esta estatística ratifica seu parecer em que as mulheres são mais
acometidas por LER/DORT, pelo fato de existir maior presença feminina nas
funções que predominam movimentos repetitivos e acelerados, Ademais, é onde
o desgaste físico e psíquico pode ser observado em maior intensidade em
relação aos postos ocupados por trabalhadores do sexo masculino.
Nesta empresa as mulheres são mais acometidas que os homens, pois na
revisão das Comunicações de Acidente de Trabalho (CAT), não foi encontrada
nenhuma CAT deste setor aberta para funcionário do sexo masculino.
3.4.10 Idade
A idade varia de 20 anos e 1 mês até 51 anos e 1 mês, assim distribuídos:
117
Tabela 11 – Idade dos funcionários
Faixa etária Número de pessoa Porcentagem 20 a – 25 a
26 a - 30 a
31 a – 35 a
36 a – 40 a
41 a – 45 a
> 46 a
38
17
25
35
07
04
30,16%
13,50%
19,84%
27,78%
5,55%
3,17%
TOTAL 126 100%
A faixa etária com maior concentração de funcionários é a de 20 a 25 anos
(30,16%), seguida da faixa de 36 a 40 anos (27,78%) e, em terceiro lugar, os
funcionários de 31 a 35 anos (19,84%).
Portanto, é uma população jovem, que representa a mão-de-obra
trabalhadora neste setor, com grande capacidade produtiva, mas exposta ao
risco dos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (LER/DORT).
As estatísticas do NUSAT do período de 1994 a 1996 revelaram que entre
os 20 e 39 anos se concentram 70% dos casos de LER/DORT em Minas Gerais,
coincidindo com a maior concentração de trabalhadores nesta faixa etária.
3.4.11 Qualificação profissional
Cada novo funcionário na mesa de classificação recebe um treinamento
de vinte dias no qual é acompanhado por funcionários de maior experiência
durante toda a jornada.
Inicialmente, o funcionário novo apenas observa os movimentos de
descarregar os vagonetes e classificar, após alguns dias começa a realizar as
atividades com orientação do colega. Em geral, as novas admissões são
efetuadas pela Empresa após um período experimental em uma empresa de
terceirização de serviços que varia de três à seis meses e conforme a demanda
do produto no mercado.
O nível de escolaridade exigido é de 1º grau.
118
3.4.12 Tempo de empresa
O tempo de empresa varia de 3 meses e 25 dias a 22 anos e 2 meses.
Tabela 12 – Tempo de empresa
Tempo de empresa Número de pessoa Porcentagem 3 m – 11 meses
1 a – 5 a
6 a – 10 a
11 a – 15 a
16 a – 20 a
> 21 a
05
75
12
21
11
02
3,97%
59,52%
9,52%
16,67%
8,73%
1,59%
TOTAL 126 100%
Nota-se que este setor dispõe de 59,25% de funcionários com 1 a 5 anos de
Empresa e 85,71% está concentrado entre 1 a 15 anos de trabalho, somente
10,32% de funcionários trabalhando acima de 16 anos.
Portanto, a maioria dos funcionários é jovem e com pouco tempo de trabalho.
3.4.13 Remuneração em 2001 e 2002
A faixa salarial era de R$ 468,65, que estaria enquadrado na faixa entre 2 a 3
salários mínimos. Segundo dados do NUSAT, esta faixa comportava 20,26% dos
trabalhadores atendidos naquele centro em 1995, já em 1996 houve aumento dos
acometidos nesta faixa salarial.
3.4.14 Absenteísmo devido distúrbios osteomusculares
Tabela 13 – Absenteísmo
ANO 2001 Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho
Horas trabalhadas 137.744 141.396 147.166 134.806 144.009 141.133
Horas de Atestado Fábrica 1.076 516 885 484 907 842
% Horas de Atestados Fábrica 0,78% 0,36% 0,60% 0,36% 0,63% 0,60%
Horas trabalhadas na Classificação 23.057 23.397 24.048 21.443 22.337 21.925
119
Horas de Atestado na Classificação 203 208 270 58 66 72
% Horas de Atestados na Classificação 0,88% 0,89% 1,12% 0,27% 0,30% 0,33%
% Horas de Atestados da Classificação
X Horas Atestados Fábrica 18,9% 40,3% 30,5% 12,0% 7,3% 8,6%
Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
Horas trabalhadas 138.616 148.863 137.375 139.256 135.968 132.032
Horas de Atestado Fábrica 606 910 368 472 487 136
% Atestados Fábrica 0,44% 0,61% 0,27% 0,34% 0,36% 0,10%
Horas trabalhadas na Classificação 21.567 24.417 23.741 24.869 24.337 24.010
Horas de Atestado na Classificação 132 208 112 107 172 92
% Atestados na Classificação 0,61% 0,85% 0,47% 0,43% 0,71% 0,38%
%Atestados da Classificação X
Atestados Fábrica 21,8% 22,9% 30,4% 22,7% 35,3% 67,6%
ANO 2002 Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho
Horas trabalhadas 151.933 158.725 155.557 169.292 155.732 163.573
Horas de Atestado Fábrica 806 629 837 812 501 684
% Horas de Atestados Fábrica 0,53% 0,40% 0,54% 0,48% 0,32% 0,42%
Horas trabalhadas na Classificação 24.526 25.286 24.649 26.411 23.037 24.406
Horas de Atestado na Classificação 40 184 336 112 80 136
% Horas de Atestados na Classificação 0,16% 0,73% 1,36% 0,35% 0,56%
% Horas de Atestados da Classificação
X Horas Atestados Fábrica 5,0% 29,3% 40,1% 13,8% 16,0% 19,9%
Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
Horas trabalhadas 167.036 162.428 150.056 149.916 149.628 135.387
Horas de Atestado Fábrica 364 735 309 311 687 530
% Atestados Fábrica 0,22% 0,45% 0,21% 0,21% 0,46% 0,39%
Horas trabalhadas na Classificação 24.783 25.197 21.622 20.961 20.687 20.068
Horas de Atestado na Classificação 112 344 56 48 88 104
% Atestados na Classificação 0,45% 1,37% 0,26% 0,23% 0,43% 0,52%
%Atestados da Classificação X
Atestados Fábrica 30,8% 46,8% 18,1% 15,4% 12,8% 19,6%
0,42%
Em 2001, na Fábrica, foram trabalhados no total 1.678.364 e em 2002 foram
1.869.263 – uma diferença de 190.899 horas, que representa 10,21%.
120
Em 2001, na Classificação, foram trabalhadas 279.148 horas e em 2002, um
total de 281.633, uma diferença entre os dois anos de 2.485, que representa 0,8%.
Portanto, o aumento de número de horas trabalhadas na classificação representou
1,3% em relação às horas da fábrica.
A porcentagem de horas de atestados na classificação em relação às horas
trabalhadas variou de 0,27 a 1,12%, em 2001, e em 2002 variou de 0,16 a 1,37%
por mês.
Nota-se, também, que em 2001, a média de porcentagem de atestados da
classificação em relação aos atestados da fábrica foi alta, sendo que em dezembro
representou 67,6% dos atestados da fábrica, em fevereiro 40,3%, novembro 35,3%,
março 30,5%, setembro 30,4%.
Em 2002, estes índices também se mantiveram elevados, mas com picos
menores como 46,8% em agosto, 40,1% março, 30,8% julho e 29,3% em fevereiro.
Portanto, pode-se concluir que os atestados da classificação foram responsáveis por
grande parte do absenteísmo devido distúrbios osteomusculares na fábrica nos anos
de 2001 e 2002.
3.4.15 Custos com tratamento de funcionários com queixas iniciais de
dor em membros superiores e dos casos já diagnosticados de
LER/DORT, incluindo fisioterapias, acupuntura e medicamentos
Abaixo apresenta-se a tabela 14 para demonstrar os custos com tratamento
de funcionários, nos anos de 2001 e 2002.
Tabela 14 – Custos anos 2001 e 2002
ANO 2001
Custos/ Meses Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho
Fisioterapia 130,2 238,7 43,4
Acupuntura 75 150 180 260
Medicamentos 198,32 24,55 121,4 33,15 57,35 110,61
Exames 134,86 63,82 118,13
Total 538,38 477,07 419,53 293,15 100,75 110,61
121
Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
Fisioterapia 82,4 43,4 43,4
Acupuntura 80 180 80
Medicamentos 59,87 120,29 17,8 19,63
Exames 102,84
Total 139,87 305,53 223,4 97,8 19,63 43,4
Total = 2.769,12
ANO 2002
Custos/ Meses Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho
Fisioterapia 78,12 34,72 34,72 78,12 56,42 78,12
Acupuntura 240
Medicamentos 51,17 107,02 83,98 63,52
Exames 201,7 54
Total 570,99 34,72 34,72 239,14 140,4 141,64
Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
Fisioterapia 34,72 121,52 34,72 34,72 34,72 34,72
Acupuntura 80 180 80
Medicamentos 17,69 308,48 55,64 43,41
Exames 273,39
Total 132,41 703,39 214,72 170,36 78,13 34,72
Total: 2.495,34
No Ano de 2001, o custo de fisioterapias, acupuntura, medicamentos e
exames foi de R$ 2.769,12 e no Ano de 2002 R$ 2.495,34.
Portanto, somente em dois anos, foram gastos neste setor R$ 5.264,46. Um
valor alto, uma vez que não foi utilizado para investimentos ou melhoria das
condições de trabalho e por isso, não se pode esperar um retorno deste montante,
apenas mais prejuízo se as LER/DORT não evoluírem de forma satisfatória para a
regressão dos sintomas. Mas neste valor não estão incluídos alguns custos
indiretos, mais difíceis de calcular, como a redução da produtividade do setor,
aumento do absenteísmo médico, treinamento de substitutos na função, custos com
processos trabalhista e cível e das indenizações.
122
Esta empresa, atualmente, está com doze processos aguardando julgamento
na Justiça e, destes, cinco são de ex-funcionários do setor e quatro alegando
LER/DORT e pedindo vultuosas indenizações. Portanto, a classificação contribui
com 41,67% dos processos da fábrica.
3.4.1.6 Estadiamento/Classificação das LER/DORT
Em 2002, foi realizado uma revisão dos prontuários médicos dos funcionários
da Classificação e outros setores da Fábrica com queixas osteomusculares de
membros superiores relacionados ao trabalho, que fizeram consultas no Ambulatório
por este motivo.
Em seguida, utilizou-se a classificação da Norma Técnica do INSS de 1993 e
a Classificação de BROWNE et al. (1984), já apresentadas no capítulo 2 para
estadiamento das LER/DORT, para poder se dividir os casos em graus e estágios
respectivamente, como se pode observar abaixo:
Tabela 15 – Estadiamento/Classificação
Classificação INSS
Classificação Browne et al.
Grau I – 3 casos
Grau II – 2 casos
Grau III – 3 casos
Grau IV – não houve casos
1º Estágio – 3 casos
2º Estágio – 2 casos
3º Estágio – 3 casos
No total ocorreram 08 casos de LER/DORT no setor de classificação em
2002, divididos em graus e estágios conforme demonstrado acima.
O total em todos os outros setores da fábrica foi de 13 casos, com a seguinte
distribuição:
123
Tabela 16 – Estadiamento/Outros Setores
Classificação INSS
Classificação Browne et al.
Grau I – 4 casos
Grau II – 6 casos
Grau III – 3 casos
Grau IV – não houve casos
1º Estágio – 4 casos
2º Estágio – 6 casos
3º Estágio – 3 casos
Observa-se um número alto de casos na classificação em relação a todos os
outros setores da fábrica.
Porém, pode-se notar que houve maior gravidade nos casos dos outros
setores da fábrica, com maior número de casos nos graus II e III e no 2º estágio pela
classificação do INSS e BROWNE et al. (1984), respectivamente.
3.4.17 Levantamento do número de Comunicações de Acidentes de
Trabalho emitidas por Doença Ocupacional, devido LER/ DORT
Constata-se que nos últimos 06 anos, os números de CAT foram
assim distribuídos: - 1997 – 6 CAT (Sendo 1 reabertura e 5 CAT da Classificação)
- 1998 - 1 CAT
- 1999 – 2 CAT (Sendo 1 de reabertura e da Classificação)
- 2000 – 6 CAT (Sendo 3 da Classificação)
- 2001 – 2 CAT (Sendo 1 da Classificação)
- 2002 – 02 CAT No total, houve 19 Comunicações de Acidentes de Trabalho – CAT. Do setor
de Classificação, foram 10 o que representa 52,63% das Comunicações de Doenças
Ocupacionais devido às LER/DORT.
Este número demonstra que o setor de Classificação contribui de forma
significativa para elevar as estatísticas de Doenças Ocupacionais da Fábrica.
124
3.4.18 Funcionários com restrições
Funcionários com restrições, ou seja colocados em outra função de menor
esforço e sem repetitividade, para recuperação de dores ou distúrbios
osteomusculares relacionados ao trabalho, são funcionários que normalmente
produzem menos. Entretanto, constam na lista de setor como funcionários ativos.
- Classificação 2001 – 16 funcionários, sendo 8 acima de 20 dias.
(Representando 39% dos funcionários com restrições em 2001)
2002 – 13 funcionários, sendo 11 acima de 20 dias.
(Representando 28,9% dos funcionários com restrições em
2002, porém aumentou o tempo de afastamento acima de 20 dias se comparado
com 2001)
- Acima de 20 dias são considerados afastamentos mais longos.
- Outros setores 2001 – 25 funcionários, sendo 10 acima de 20 dias.
2002 – 32 funcionários, sendo 17 acima de 20 dias.
Portanto, observa-se um número significativo de funcionários com restrições
na classificação, em comparação com os demais setores da Fábrica.
Estrutura Geral do Setor de Classificação
Foto 3 - No primeiro plano estão as mesas de classificação e ao seu lado a
correia transportadora (que se eleva a partir da 4ª mesa) e ao fundo os vagonetes
(de onde são retirados os azulejos para classificar).
125
3.4.19 Dados referentes ao meio ambiente
Este setor está localizado dentro de um galpão industrial, com altura variando
de 08 a 10 metros, com telhas de fibrocimento.
Possui ventiladores aeólicos e ventiladores individuais em cada mesa. A
iluminação natural se faz através das telhas translúcidas, portas e janelas, porém as
últimas não estão dispostas próximo deste setor e iluminação artificial no teto e
sobre as mesas de classificação, o nível de iluminação sobre as mesas é de 600 lux.
O nível equivalente de ruído é de 83.6 dB(A), o ruído é proveniente do manuseio dos
azulejos e tem ruído de fundo de outras máquinas como a das prensas. Portanto,
está acima do nível de ação e abaixo do limite de tolerância.
Os funcionários trabalham com as mesas perpendiculares à esteira rolante e
aos vagonetes, cada linha apresenta 08 mesas, com as seguintes alturas:
Variantes/Mesas 1ª Mesa 2ª Mesa 3ª Mesa 4ª Mesa
Altura da mesa de trabalho
Altura do tablado ao chão
Altura da correia
Largura da correia
Distância da luz à superfície
de trabalho
Distância da mesa ao
vagonete
84.5 cm
54.5 cm
88 cm
31 cm
105 cm
43 cm
79 cm
55,5 cm
68,5cm
32,5 cm
110 cm
45 cm
78,5 cm
55,5 cm
65,5cm
32,5 cm
116 cm
46 cm
78,5 cm
55,5 cm
68,5 cm
31,5 cm
110 cm
40 cm
Foto 4 – Visão geral das primeiras mesas Foto 5 – Elevação da
de classificação com plataforma correia ao lado das mesas
126
Variantes/Mesas 5ª Mesa 6ª Mesa 7ª Mesa 8ª Mesa
Altura da mesa de trabalho
Altura da correia
Largura da correia
Distância da luz à superfície
de trabalho
Distância da mesa ao
vagonete
(Não apresentam tablado)
86,5 cm
103 cm
31,5 cm
105 cm
38 cm
81,5 cm
84,5 cm
31,5 cm
112 cm
38 cm
81 cm
85,5 cm
31,5 cm
120 cm
42 cm
82,2 cm
85 cm
31,5 cm
115 cm
45 cm
Foto 6 – Mesas de classificação mais baixas, sem tablado
Em dezembro de 1999, um fisioterapeuta fez avaliação do setor e sugeriu
algumas modificações, como: elevar a altura das mesas auxiliares nas quais eram
colocadas as caixas vazias, que antes eram 40-45 cm mais baixas, o que forçava as
funcionárias a fazer flexão da coluna, cada início do ciclo. Conforme sua
recomendação, as mesas de classificação foram aproximadas dos vagonetes, para
facilitar o descarregamento. Foi sugerido, também, aumentar a altura da correia de
0,67 para 0,80m em toda sua extensão (o que foi atendido em parte, conforme
medidas anteriores e criticado pelas empregadas que sentiram mais lombalgia ao ter
que elevar a caixa para depositá-la sobre a correia transportadora). E, na parte
central das mesas de classificação, colocou as funcionárias que tinham altura entre
127
1,64 e 1,70m e elevou a altura dos tablados e das mesas em 12 cm e orientou as
funcionárias a pegarem as peças da porção intermediária dos vagonetes.
Nas mesas mais altas, distribuiu as funcionárias com estatura acima de 1,70m
e elevou a altura das mesas em 16 cm e do tablado em 12cm, para alcançarem os
azulejos na parte superior dos vagonetes, sem excessiva sobrecarga de membros
superiores. Após estas modificações, fez-se um questionário (o qual será
demonstrado no final deste capítulo), demonstrando a opinião das funcionárias deste
setor a respeito das mudanças.
3.4.20 Entrada
A matéria-prima vai se transformar em azulejos que são produzidos em vários
formatos, sendo os principais 15 X 15 cm, 15 X 20 cm, 20 X 25 cm, 20 X 30 cm, 11 X
11 cm e trims que são peças de acabamento com diversos tamanhos, dentre elas
está: 3 X 10, 3 X 8, 6 X 2, que são retirados dos vagonetes e classificados pelas
funcionárias.
Durante a jornada de trabalho podem ser produzidos vários formatos,
conforme a demanda do mercado mas, normalmente, pelo menos dois tipos
diferentes são selecionados na mesma linha de produção. Cada vagonete transporta
800 unidades e cada funcionária descarrega 4 “casão” ou 4 “casão e meio”, o que
equivale a 96 a 100 peças.
Foto 7 - Diversos formatos de azulejos e acessórios
128
3.4.21 Saída
Azulejos já selecionados, conforme padrão de qualidade, são colocados em
caixas e estas depositadas sobre a esteira rolante.
3.4.22 Entrada das informações
Comparar peças com amostra padrão identificada que é distribuída para
funcionárias na mesa de classificação a cada troca de formato de peças.
Existe um critério de classificação - Tipo “A” e comercial
A- peças tipo exportação. C- peças de 2ª linha (comercial).
3.4.23 Postura para a execução da tarefa
Posição ortostática sem intercalar com a posição sentada, faz a rotação
lateral do tronco para pegar as peças dos vagonetes, retorna à posição neutra da
coluna lombar quando está classificando as peças, mas realiza a flexão da coluna
cervical.
Fotos 8 e 9 – Observa-se posição da coluna e ombros abduzidos.
Realiza a seguinte seqüência de movimentos com os membros superiores:
129
Pegar um conjunto de azulejos com preensão interdigital, com membro superior
direito fletido acima e em alguns casos abaixo do nível do ombro; o antebraço em
pronação.
Foto 10 – Notar posição dos dedos para pegar os azulejos e pronação do punho
Os azulejos são colocados sobre a palma da mão esquerda ente 8 a 12
peças.
Fotos 11 - Demonstra a posição do punho exigida na função e a sustentação da
pilha de azulejos com a mão esquerda
130
Com a mão direita, estes azulejos são retirados da pilha, um a um, verificando
defeitos e os seus bordos, com movimentos de flexo-extensão rápidos de punho
direito associado à leve desvio ulnar e pronossupinação de antebraço direito.
Pode-se notar que a mão esquerda sustenta o peso da pilha de azulejos a ser
classificados (esforço estático).
Foto 12 – Observar posição de pinça pulpar mão direita
(preensão do polegar com outros dedos)
Foto 13 – Final do movimento de pronação do antebraço direito
Gira as peças para observar se existem defeitos, com flexo-extensão de
punhos.
131
Foto 14 – Posição de girar os azulejos para verificar defeitos nas laterais
Coloca as pilhas na frente estendendo os ombros e antebraços e
repete os movimentos anteriores para realizar outro ciclo, até colocar na
mesa número suficiente de peças para completar a caixa. Deposita os azulejos com a mão direita, nas caixas, que são fechadas com a
abdução e adução dos ombros e flexão dos antebraços.
Foto 15 – Demonstra a abdução completa de ombro direito ao colocar as peças na
caixa
132
Foto 16 – Caixa completa, pronta para fechar e colocar na correia
● Coloca a caixa na esteira rolante. O peso das caixas varia de 5 Kg a 21,5 Kg, conforme o produto.
O único deslocamento exigido nesta função restringe-se a um metro, que é a
distância da extremidade lateral da mesa de classificação até a correia
transportadora.
Principais situações de sobrecarga para os membros superiores no trabalho,
identificadas na Análise da Atividade acima:
- Postura estática por manter braços acima do nível dos ombros e/ou braços e antebraços suspensos: esta posição leva a um prejuízo no fluxo de
sangue para o músculo, com a possibilidade de ocorrência de acúmulo de ácido
lático e dor.
- Pescoço excessivamente fletido (dobrado para frente) – leva à contração
muscular estática do trapézio, além de favorecer a protusão posterior dos discos
intervertebrais da coluna cervical.
- Abdução do ombro – leva à compressão do músculo supra-espinhoso
entre a cabeça do úmero e o acrômio (Tendinite de Supra-Espinhoso), e pode levar
ao desenvolvimento de bursite nesta região.
- Desvio ulnar do punho (associado à força) – leva a que dois músculos
existentes na base do polegar – tendões dos músculos extensor curto do polegar e
abdutor longo do polegar, que passam juntos através de um sulco na cabeça do
osso rádio, passem a se atritar, podendo desenvolver a inflamação local conhecida
como Tendinite de De Quervain.
133
- Flexão do punho – costuma ocasionar aumento de pressão no túnel do
punho (local onde o nervo mediano entra para a mão) e a conseqüente sobrecarga
sobre este nervo (Síndrome do Túnel do carpo), ou infamação dos tendões ao nível
do punho, devido repetidas flexões do punho - Tendinite de flexores.
- Extensão do punho – também costuma ocasionar aumento de pressão no
túnel do Carpo (ainda maior que a flexão), com a conseqüente sobrecarga sobre o
nervo e tendência à ocorrência de compressão do mesmo (Síndrome do Túnel do
carpo) ou infamação dos tendões ao nível do punho, devido a repetidas extensões
do punho - Tendinite de extensores.
MARRAS E SCHOENMARKLIN (1991), a partir de um estudo com
trabalhadores em linha de montagem, consideram que a aceleração do movimento
de punho no plano de flexão-extensão é o maior indicador do risco de desenvolver a
LER. Reconhecem que a aceleração do movimento tem um potencial para aumentar
a força, aumentando a carga dos tendões.
Podem ocorrer, também, a Epicondilite lateral pela extensão e supinação
repetida do antebraço e a Síndrome do Pronador Redondo devido a pronação
forçada e repetida para retirar as peças dos vagonetes.
3.4.24 Exigências físicas, mentais e sensoriais
Acuidade visual, percepção e concentração - para realizar a seleção visual
das peças boas das com defeitos.
Memorização dos padrões de seleção básicos.
Coordenação motora de membros superiores.
Boas condições musculares para manutenção de postura (esforço estático) e
para realização de movimentos repetitivos (esforço dinâmico).
Existe um curto espaço de tempo para realizar as tarefas e com pequena
margem de erro aceitável, o que gera uma carga psíquica.
3.4.5 Resultados do questionário - Classificação
As perguntas e respostas do questionário, foram:
134
01) O que achou da mudança de altura da mesa de trabalho, deixando-a mais alta?
Piorou11 pessoas -
35,48%
Melhorou09 pessoas -
29,04%
Indiferente11 pessoas -
35,48%
02) Você percebeu que nesta posição não precisa dobrar (fletir) tanto a coluna para
frente?
3 pessoas não responderam
9,68%
Não10 pessoas -
32,26%
Sim18 pessoas -
58,06%
03) A altura da mesa ficou boa em sua opinião?
- Sim – 19 – 61,30%
- Não – 12 – 38,70%
135
04) O que achou de subir a correia transportadora?
Piorou20 pessoas -
64,52%
Melhorou06 pessoas -
19,35%
Indiferente05 pessoas -
16,13%
05) As funcionárias foram separadas por alturas (altas, medianas e baixas), para
trabalhar nas mesas e com isto pegar as peças até o seu alcance máximo, sem
ter que forçar tanto as costas e os braços para alcançar os azulejos. O que você
achou?
Indiferente10 pessoas -
32,26%
Não responderam02 pessoas -
6,45%
Piorou06 pessoas -
19,36%
Melhorou13 pessoas -
41,93%
06) Você tem apresentado dores nos braços ou na coluna?
136
Não10 pessoas -
32,26%
Sim - Frequentes7 pessoas -
22,58%
Sim - raras14 pessoas -
45,16%
07) Em qual região do corpo predomina as dores? OBS: Pode assinalar mais de uma
região:
Braço5 pessoas -
16,13%Cotovelo
2 pessoas -6,45%
Antebraço5 pessoas -
16,13%
Punho5 pessoas -
16,13%
Coluna5 pessoas -
16,13%
Costas6 pessoas -
19,35%
Ombro14 pessoas -
45,16%
Pescoço8 pessoas -
25,80%
08) Sentiu melhora das dores após estas mudanças (mesa e correia)?
Não16 pessoas -
51,61%
Sim6 pessoas -
19,35%
Não responderam9 pessoas -
29,04%
137
09) Procurou o serviço médico para falar das dores?
Não14 pessoas -
45,16%
Não responderam10 pessoas -
32,26
Sim7 pessoas -
22,58%
10) Tem feito Ginástica Laboral diariamente?
Sim27 pessoas -
87,1%
Não responderam2 pessoas-
6,45%
Não2 pessoas -
6,45%
11) Perguntas pessoais:
11- a) Faz o serviço da casa? (lavar roupa/louça/limpeza)
Não2 pessoas -
6,45%
Não respondeu1 pessoa -
3,23%
Sim28 pessoas -
90,32%
138
11-b) Tem filhos pequenos?
Não responderam2 pessoas -
6,45%
Não12 pessoas -
38,71%
Sim17 pessoas -
54,84%
11-c) Tem se sentido mais nervosa ou irritada ultimamente?
Não responderam2 pessoas -
6,45%
Sim16 pessoas -
51,61%Não
13 pessoas -41,94%
11-d) Quando trabalha o dia parece demorar muito para terminar?
Não22 pessoas -
70,97%
Não responderam4 pessoas -
12,90%
Sim5 pessoas -
16,13%
139
11-e) Tem apresentado problemas pessoais ou na família?
Não23 pessoas -
74,19%
Sim6 pessoas -
19,36%Não
responderam2 pessoas -
6,45%
11-f) Tem apresentado problema de relacionamento com colegas de trabalho?
Não28 pessoas -
90,32%
Não responderam2 pessoas -
6,45%
Sim1 pessoa -
3,23%
11-g) Se fosse avaliar sua vida que nota daria entre 0 a 10?
não responderam2 pessoas (6,45%)
dez4 pessoas
(12,90)
nove6 pessoas (19,35%)
oito e meio1 pessoa (3,23%)
oito11 pessoas (35,49%)
cinco2 pessoas (6,45%)
seis3 pessoas (9,68%)
sete2 pessoas (6,45%)
140
A automação normalmente fica reservada para tarefas de alta repetitividade,
devido ao seu alto custo. Tem retorno considerável somente para processos de
produção previstos para muito tempo e de grande volume de peças. Seu negativo
está no social, por causar aumento do desemprego, uma vez que a máquina
substitui muitos postos de trabalho.
Em dezembro de 2001, a gerência desta empresa definiu a automatização de
uma linha de classificação para reduzir custos e fornecer melhores condições de
trabalho aos funcionários. Esses permaneceram na linha, pois o processo de
classificação ficou, através de uma máquina com esteira rolante, por onde passam
as peças a serem classificadas através de um risco com giz, sem necessidade das
auxiliares de produção pegarem as peças na mão. Deste modo, ficariam quatro
pessoas por turno para retirar todas as peças dos vagonetes e colocar sobre a
esteira rolante, as quais fazem rodízio com outros funcionários e duas funcionárias
para classificar as peças com giz.
Entretanto, a máquina, até o final de 2002 e início de 2003, ainda está
recebendo alguns ajustes e manutenção e, com freqüência, precisa de intervenções.
Em sendo assim, continuam com o quadro completo de funcionários, pois quando a
máquina passa por reparos as funcionárias a substituem nas duas linhas. Um
exemplo é que em maio de 2003, a produção classificada diariamente é de 19.000
m2, sendo que 15,79% era realizada pela máquina de classificação e 84,21% pelas
auxiliares de produção na mesa de classificação. Então, a máquina está realizando
68% do serviço proposto inicialmente, sendo um número abaixo do esperado.
Foto 17 – Visão geral da máquina Foto 18 – Atividade da auxiliar
de Classificação de produção na máquina de produção
141
3.4.6 Check-list para avaliação simplificada do risco de tenossinovite e lesões por trauma cumulativos dos membros superiores (COUTO, 1995)
As respostas sublinhadas representam a avaliação do posto de trabalho da
Classificação.
1. Sobrecarga física 1.1 O trabalho pode ser feito sem que haja contato da mão ou do punho ou dos
tecidos moles com alguma quina viva de objeto ou de ferramenta?
Não (0) Sim (1)
1.2 – O trabalho exige o uso de ferramentas vibratórias?
Sim (0) Não (1)
1.3 – A temperatura efetiva do ambiente de trabalho está entre 20 e 23 graus
centígrados?
Não (0) Sim (1)
1.4 – A tarefa pode ser feita sem a necessidade do uso de luvas?
Não (0) Sim (1)
1.5 – Entre um ciclo e outro há a possibilidade de um pequeno descanso? Ou há
pausa bem definida de cerca de 5 a 10 minutos por hora?
Não (0) Sim (1)
2. Força com as mãos
2.1- Aparentemente as mãos fazem pouca força?
Não (0) Sim (1)
2.2 – A posição de pinça (pulpar, lateral ou palmar) é utilizada para fazer força?
Sim (0) Não (1)
2.3 – Quando usamos para apertar botões, teclas ou componentes, para montar ou
inserir, ou para exercer compressão digital, a força de compressão exercida pelos
dedos ou pela mão é pequena?
Não (0) Sim (1) Não se aplica (1)
3. Postura
3.1 – O trabalho pode ser feito sem flexão ou extensão do punho?
Não (0) Sim (1)
142
3.2 – As ferramentas de trabalho ou manoplas da máquina levam a flexão ou
extensão do punho?
Não (0) Sim (1) Não se aplica (1)
3.3 – O trabalho pode ser feito sem desvio lateral do punho?
Não (0) Sim (1)
3.4 – As ferramentas de trabalho ou manoplas da máquina causam desvio lateral do
punho?
Não (0) Sim (1) Não se aplica (1)
3.5 – O trabalhador tem flexibilidade na sua postura durante a jornada?
Não (0) Sim (1)
3.6 – A tarefa pode ser desenvolvida sem elevação dos braços ou abdução dos
ombros?
Não (0) Sim (1)
3.7 – Existem outras posturas forçadas de membro superior?
Sim (0) Não (1)
4. Posto de trabalho
4.1 – O posto de trabalho permite regulagem na inclinação e na posição dos objetos
nele colocados?
Não (0) Sim (1)
Desnecessária a regulagem de inclinação e posição dos objetos (1)
4.2 – A altura do posto de trabalho é regulável?
Não (0) Sim (1)
4.3 – É possível haver flexibilidade no posicionamento das ferramentas, dispositivos
ou componentes?
Não (0) Sim (1)
Não há ferramentas, dispositivos, componentes (1)
5. Repetitividade 5.1 – O ciclo de trabalho é maior que 30 segundos?
Não (0) Sim (1) Não há ciclos (1)
5.2- No caso de ciclo maior que 30 segundos, há diferentes padrões de movimentos
(de forma que nenhum elemento ocupe mais que 50% do ciclo?)
Não (0) Sim (1) Ciclo < 30s (0) Não há ciclos (1)
143
5.3 – Há rodízio (revezamento) nas tarefas?
Não (0) Sim (1)
6. Ferramentas de trabalho (quando usada com certa freqüência).
6.1 – Para esforços em prensão:
O diâmetro da manopla da ferramenta tem entre 20 e 25 mm (mulheres) ou entre 25
e 35 mm (homens)?
Para esforços em pinça:
O cabo não é muito fino nem muito grosso, e permite boa estabilidade da pega?
Não (0) Sim (1) Não se aplica (1)
6.2 – A manopla da ferramenta é feita de outro material que não seja metal?
Não (0) Sim (1) Não se aplica (1)
6.3 – A ferramenta pesa menos de 1 Kg?
Não (0) Sim (1) Não se aplica (1)
6.4 – No caso de ferramenta pesar mais de 1 Kg, a mesma se encontra suspensa
por balancim?
Não (0) Sim (1) Não se aplica (1)
Critério de Interpretação - Acima de 22 pontos: baixíssimo risco de tenossinovites e LTC.
- Entre 19 e 22 pontos: baixo risco de tenossinovites e LTC.
- Entre 15 e 18 pontos: risco moderado de tenossinovites e LTC.
- Entre 11 e 14 pontos: alto risco de tenossinovites e LTC.
- Abaixo de 11 pontos: altíssimo risco de tenossinovites e LTC. Resultado do Check-list: Resultado do Check-list da Classificação = 12 pontos,
Vê-se, portanto, alto risco de tenossinovites e LTC (LER/DORT), o que indica
que se não for modificado o modo de trabalho e o ritmo, existe grande chance das
funcionárias deste setor desencadearem as LER/DORT.
144
3.4.7 Diagnóstico
A partir dos resultados obtidos no Estudo de Caso – o qual utilizou como
ferramenta a Análise Ergonômica do Trabalho – pode-se citar alguns pontos que
merecem ser ressaltados visando à melhoria das condições de trabalho e
conseqüentemente a preservação da saúde dos trabalhadores.
O setor de classificação impõe ao trabalhador alta carga física e mental
(necessidade de manter a atenção contínua). O ritmo de produção é intenso,
levando a movimentos repetitivos com os membros superiores e posturas
inadequadas (flexão da coluna cervical, abdução do ombro acima de 90 graus,
flexão e extensão freqüentes do punho direito e pronossupinação de antebraço
direito), além do trabalho estático da musculatura do antebraço esquerdo (ao
sustentar azulejos que estão sendo classificados).
Nos postos de trabalho não há a possibilidade de alternar as posturas de pé e
sentado. Ademais, as funcionárias não utilizam apoio para os pés.
Não existem pausas formais durante o trabalho, somente no almoço, o qual
tem horário reduzido de trinta minutos. Há, também, uma vez antes e após a
refeição uma pequena pausa, quando a funcionária é substituída por outra colega
para ir ao toalete.
A função desempenhada é monótona e repetitiva. Como o ritmo de produção
é alto e ininterrupto, a percepção de sinais fica comprometida, diminuindo a eficácia
da detecção, discriminação e interpretação dos sinais. Portanto, o trabalho exige
atenção constante, pois a distração pode acarretar erro na classificação e
comprometer a qualidade final do produto.
Não ocorrem rodízios de funções entre as funcionárias, apesar de as tarefas
serem repetitivas.
Não existe um dimensionamento adequado das bancadas de trabalho e
postos de trabalho, como a altura dos vagonetes, baseado na antropometria dos
funcionários. Dessa forma, os trabalhadores são levados a assumir continuamente
posturas inadequadas.
Como se pode observar no Estudo de Caso, existem várias funcionárias com
restrições de trabalhar nas mesas de classificação. Tal fato contribui para a carga
145
excessiva de trabalho para as funcionárias sem queixas, o que leva a um círculo
vicioso: cada vez maior número de funcionárias se afastam desta tarefa e as que
ficam se lesionam por aumentar a sobrecarga de serviço, iniciam com dor e também
precisarão ficar afastadas.
Deste modo, pode-se considerar que embora não houve uma redução do
número de funcionárias no setor nestes dois anos, existiu um número significativo de
empregadas com restrições, o que dificulta o gerenciamento da área.
3.4.8 Ginástica laboral
Um ponto positivo a ressaltar é que esta empresa possui Programa de
Ginástica Laboral desde agosto de 1999, orientado por professora de
educação física, a qual faz treinamento dos monitores que repassam os
exercícios para seus colegas de trabalho. As séries de exercícios são trocadas
a cada três meses, quando são realizadas as aulas inaugurais pela professora
em cada setor e, uma vez por mês, é realizada a supervisão para identificar os
problemas e dificuldades encontradas nos setores na realização da Ginástica
Laboral.
Antes de iniciar o programa foi realizado estudo preliminar dos principais
movimentos e esforços físicos nos postos de trabalho, para que pudesse ser
avaliada sua conseqüência nos trabalhadores. Baseada nestes dados foram
escolhidos os exercícios da ginástica de distensionamento e compensatória.
Os exercícios são realizados dez minutos ao dia, sempre no início do turno em
horários pré-determinados pelos setores.
3.4.9 Recomendações
Um dos grandes desafios da ergonomia aplicada ao trabalho é conceber
ou adaptar postos de trabalho à grande diversidade morfológica da população.
Antropometria é o estudo das medidas físicas do corpo humano, através da
medição acurada de diversos segmentos corpóreos. As medidas
antropométricas variam conforme o tipo morfológico, raça, idade, sexo, clima.
146
Utilizando a medida antropométrica do cotovelo, que é a distância
vertical do chão ao cotovelo, pode-se determinar a melhor altura da bancada
para trabalhos moderados. O ideal é que a bancada seja regulável, com
sistema rosca sem fim na mesa, para cada funcionária adaptar da altura mais
confortável. Contudo, caso não seja possível devido ao alto custo destas
modificações, é recomendado utilizar o percentil 95 e colocar estrados para os
mais baixos
Deste modo, sugere-se utilizar o valor 106cm, mas como a classificação
é a tarefa predominante em sua atividade, seria recomendado deixar 25 a
30cm abaixo deste nível devido à altura dos objetos que estão sendo
manuseados – neste estudo de caso, são os azulejos que estão são colocados
nas caixas.
Se for adotado o percentil 95 da altura do cotovelo sem este desconto
de 25–30 cm, exigiria a abdução dos ombros para encaixotar as peças.
Portanto, recomenda-se a altura de 81cm (se utilizar o desconto de 25) e 76cm
(se utilizar o de 30cm).
A altura do púbis, que é a distância vertical do chão até o púbis, pode
ser utilizada para determinar a altura da bancada para trabalhos pesados. Na
análise feita, este momento seria bem representado quando é colocada a
caixa sobre a esteira rolante, pois este movimento exige maior esforço físico
dos funcionários.
A altura da correia foi modificada há 2 anos, quando foi elevado o nível
da esteira. Várias funcionárias se queixaram da nova altura da esteira e
mencionaram que sentiram mais dores nos membros superiores e na
musculatura paravertebral lombar, pois tem que erguer a caixa em vez de
trazer na altura do púbis e colocar direto sobre a esteira.
Portanto, a recomendação da altura da correia deverá utilizar o percentil
20 que equivale à 82cm para evitar a elevação da caixa pela maioria pois,
neste caso, não se pode contar com o auxílio do estrado com altura
diferenciada somente ao lado da esteira rolante.
A altura dos vagonetes onde as funcionárias descarregam os azulejos
para classificar, segundo recomendação de COUTO (1995), deveria estar
147
entre o púbis e o ombro e, preferencialmente, entre o cotovelo e a altura do
ombro.
A colocação em níveis mais inferiores deve ser evitada pois
compromete a coluna. Em níveis mais elevados também deve ser evitada pois
compromete os ombros. Portanto, sugere-se adotar percentil 5 para altura de
ombros (123cm) e altura de cotovelo (92cm) e se for necessário utilizar a altura
do púbis (78cm).
A largura da correia está adequada pois tem largura de 31 a 32,5 cm,
dentro da área de alcance normal dos trabalhadores, se for somado o valor do
tamanho do antebraço e metade da mão. Porém, o alcance dos vagonetes se
enquadra no alcance máximo que é definido como semicírculo feito pelos
antebraços e braços na horizontal.
Ao analisar a função de classificação, observa-se um esforço grande do
antebraço esquerdo de apoiar os azulejos enquanto os mesmos são
classificados com a mão direita. Para isto, sugere-se um teste com uma caixa
com bordos laterais reguláveis (para se adaptar aos diversos formatos), nos
quais as peças seriam colocadas e classificadas através de movimentos de
flexo-extensão dos dedos, com apoio para a face ulnar das mãos em sua
lateral. Após isso, viram-se as peças para classificar defeitos no lado de baixo.
Entretanto, esta sugestão – a qual é apresentada na figura 4 – precisaria ser
avaliada pelas funcionárias e chefias para sua aprovação.
COUTO (1995), sugere colocar pequenos degraus de 10 a 15 cm de altura
para que o trabalhador que executa sua atividade de pé possa alternar o apoio sobre
as pernas.
A automação, normalmente, fica reservada para tarefas de alta repetitividade,
devido ao seu alto custo e apresenta retorno considerável somente para processos
de produção previstos para muito tempo e de grande volume de peças. Esta foi uma
das opções lançadas pela empresa em dezembro de 2001, para tentar reduzir os
problemas neste setor.
148
Figura 4 – Sugestão de modelo de caixa de classificação
Contudo, como já citado, a máquina ainda está passando por várias
intervenções para manutenção e ajustes e ainda não conseguiu superar o
desempenho das funcionárias que classificam mais rápido e com maior destreza.
Porém, com este fato, também não ocorreram as demissões inicialmente previstas,
uma vez que todo o quadro ainda é necessário para suprir a demanda que a
máquina não consegue atender. Não existe uma previsão de comprar outra máquina
desta, para suprir a outra linha, portanto, este serviço repetitivo ainda vai continuar e
necessita de uma reorganização.
3.4.10 Recomendações para organização do trabalho
Na medida do possível, deve-se enriquecer o trabalho, colocando o
trabalhador para fazer diversas etapas da operação, de forma a se ter um ciclo
completo, com início, meio e fim. Portanto, sugere-se que a função de montar as
caixas também seja realizada pelas auxiliares de produção da classificação – e não
somente separar as peças e classificá-las. Desta forma, estaríamos acrescentando
outros padrões de movimento, que exigem movimentos de outros grupos musculares
149
e envolvimento do indivíduo com seu trabalho e, portanto, melhorando sua qualidade
de vida no trabalho.
Na impossibilidade de se realizar rodízio devido às características das
operadoras que recebem treinamento e são cobradas quanto à qualidade da
classificação, as pausas são necessárias. Quando elas não ocorrem, elimina-se um
dos mecanismos de recuperação da integridade das estruturas.
A existência de uma pausa durante a realização de um esforço físico ajuda a
prevenir as lesões por 3 mecanismos:
a) durante a pausa, se estiver havendo um esforço muscular estático, com
produção de ácido lático, haverá o fluxo normal de sangue que irá “lavar” o
ácido lático do músculo, prevenindo possíveis lesões;
b) durante a pausa, se estiver havendo alta repetitividade de um mesmo
movimento, haverá o tempo suficiente para que os tendões voltem à sua
estrutura natural, uma vez que são viscoelásticos, e demoram um certo
tempo a readquirirem a conformação natural;
c) durante a pausa ocorre a lubrificação dos tendões pelo líquido sinovial
(uma espécie de óleo existente entre o tendão e sua bainha sinovial),
evitando-se assim, o atrito entre as duas estruturas.
Portanto, o resultado final da preservação da integridade ou de lesão
dos tecidos irá depender da possibilidade dos mecanismos de reparação
compensarem a velocidade dos mecanismos de lesão, e as pausas têm um
papel extremamente importante na recuperação dos tendões.
As pausas poderiam ser realizadas durante a troca dos vagonetes, ou
forma de micropausas.
3.4.11 Conclusões do Estudo de Caso
COUTO (1995, p. 150) enumera várias causas de esforço estático mais
comuns no trabalho. Entretanto, cita-se as que têm relação com estudo de
caso apresentado:
- Trabalhar com o corpo fora do eixo natural;
- Sustentar cargas pesadas com os membros superiores;
150
- Trabalhar com os braços acima do nível dos ombros;
- Trabalhar com os braços abduzidos de forma sustentada (posição de “asas
abertas”);
- Realizar esforços de manusear, levantar ou transportar cargas pesadas;
- Manter esforços estáticos de pequena intensidade, porém durante um
grande período de tempo.
- Trabalhar sem apoio para os antebraços, e tendo que sustentá-los pela
ação dos músculos dos braços;
- Trabalhar em pé, parado.
Como se pode observar, são várias causas de esforço muscular estático
além do esforço dinâmico já citado no Estudo de caso que são predisponentes
das LER/DORT.
Através da análise ergonômica do trabalho e antropometria, pode-se
sugerir medidas que evitem o esforço muscular estático e posturas
inadequadas. Tais posturas, ao longo do tempo podem causar dor,
desconforto, lombalgia e distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho.
Sendo assim, pode-se recomendar suporte para pesos no momento da
classificação e apoio para os pés para alternar o apoio sobre as pernas,
sugestão de modificações na organização do trabalho através de micro-
pausas, revezamento e práticas corretas no trabalho.
Dessa forma, concebe-se Ergonomia como uma concepção de vida,
através da qual buscam-se maneiras de melhorar o sistema humano, pois de
acordo com KROEMER (1995), o corpo usado dentro da razão é uma barreira
forte para o surgimento de LER/DORT.
CARSON (1993) acredita que o aumento na incidência das LER/DORT
e os elevados custos associados a elas, são razões suficientes para iniciar-se
um programa ergonômico. Acrescenta, ainda, que o sucesso de um programa
ergonômico inclui muitos aspectos, entre eles: as análises ergonômicas das
tarefas, treinamento em ergonomia para todos os níveis hierárquicos, além de
mudanças administrativas de engenharia. Assim, a partir de um programa de
Ergonomia, pode-se reduzir a incidência e severidade destas lesões, diminuir
151
custos com serviços médicos e com indenizações trabalhistas, bem como as
ausências e melhorar a produtividade.
Como se pode notar no estudo de caso, o setor de Classificação foi
responsável por grande parte do absenteísmo devido a distúrbios
osteomusculares na fábrica. Ademais, mantém um custo elevado de
tratamento médico, fisioterapias e acupuntura, além de considerar o sofrimento
humano que não se tem como medir, mas que são passíveis de indenização
através de processos cíveis.
Portanto, investir em Ergonomia e melhoria dos postos de trabalho, não
é simplesmente uma despesa, mas compensa com o retorno da satisfação e
na melhora na qualidade de vida do trabalho e dos produtos.
Através do questionário foi possível cruzar os dados obtidos através das
avaliações em campo, com a percepção dos funcionários deste setor e pôde-
se constatar que as modificações que ocorreram anteriormente sem a
participação dos trabalhadores, não surtiram grandes efeitos em nível de
prevenção dos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. Tal fato
ocorreu porque os mesmos se sentiram excluídos das decisões e, portanto,
embora tivessem ocorrido melhorias, não valorizaram as mesmas.
Como no exemplo da mudança da altura das mesas, antes os
funcionários ficavam com a coluna lombar mais fletida gerando maior esforço
da musculatura para-vertebral neste nível. Entretanto, como se pôde perceber
no questionário, apenas 61,3% notaram melhoria com a mudança.
Quanto à alteração da correia transportadora, não foi realizado um
estudo antropométrico dos funcionários que trabalhavam naquele setor e foi
elevada a correia, aumentando a fadiga no trabalho.
Nota-se nas perguntas sobre dor nos braços e coluna, que 67,74%
referiram dor, sendo que deste total 22,58% eram freqüentes e 14,16% raras.
O local das dores em ordem decrescente era: ombros (45,16%),
pescoço (25,80%), costas (19,35%) e braços, antebraços, punho e coluna
(16,13% cada). As queixas de ombro e pescoço já eram esperadas devido à
análise do trabalho, mas acreditava-se encontrar um valor maior para as
queixas de punho e antebraço.
152
É interessante ressaltar também, que 45,16% dos entrevistados não
procuravam o serviço médico para falar de suas queixas. Neste item, 32,26%
não responderam e somente 22,58% responderam que recorriam a
atendimento médico devido às dores. Este é um fato que causa atraso no
diagnóstico e início do tratamento e pode influir de forma negativa também na
recuperação, pois quanto antes se inicia o tratamento melhor é o prognóstico.
Este item sugere que seja montado um Programa de Educação e
Treinamento dos sintomas iniciais das LER/DORT e conscientização que se
não for tratada na fase inicial, pode trazer um prejuízo funcional ou até deixar
seqüelas nas empregadas. Portanto, as funcionárias devem procurar o serviço
médico da Empresa para serem avaliadas sempre que sentirem dor nos
membros superiores e coluna.
O programa de ginástica laboral conta com a participação de 87,1% dos
entrevistados, o que representa uma boa adesão ao programa.
As perguntas pessoais abordavam fatores multicausais das LER/DORT,
e destacam-se algumas respostas abaixo: 90,32% fazem serviço de casa
como lavar roupa, louça e limpeza, o que configura a dupla jornada de trabalho
para as mulheres nas empresas e em casa, favorecendo maior incidência das
lesões no sexo feminino.
Outro dado a considerar é que 54,84% têm filhos pequenos e, com isto,
a sobrecarga de segurá-los no colo. Além disso, mais de cinqüenta por cento
sente-se mais nervosa ou irritada ultimamente e 19,36% queixou-se de
problemas pessoais ou na família que podem gerar tensão, contratura da
musculatura, redução do fluxo sangüíneo e maior predisposição às
LER/DORT.
Na pergunta para avaliar a satisfação que tem em relação à sua vida
22,58% avaliou entre 5 e 7, dentro de uma escala de 0 a 10, o que é um
percentual relativamente alto e sugere instituir um programa de motivação e
qualidade de vida, valorizando as qualidades e conquistas que as pessoas já
dispõem, bem como auxiliá-las a ter planos e metas na vida.
Como conclusão do estudo de caso, poderíamos ressaltar a importância
da Análise Ergonômica do Trabalho que diferencia o trabalho prescrito do
153
realmente realizado. Além do mais, evidencia quais as dificuldades que as
mesmas encontram e as alternativas que adotam para atingir o objetivo, ou
seja, concluir o produto final. Portanto, esta ferramenta auxilia a detectar
muitas situações que passam desapercebidas aos olhos dos trabalhadores
que vivenciam esta situação no seu cotidiano, ou a ela se acostumam sem
questionar.
154
CAPÍTULO 4 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
Este estudo ressaltou a contribuição da Ergonomia na investigação dos
fatores causais das LER/DORT no setor de Classificação de uma Indústria de
Revestimentos Cerâmicos, tendo em vista que os fatores são multicausais, mas os
fatores biomecânicos possuem um peso especial na gênese destas lesões.
Portanto, apesar de se verificar uma diversidade de fatores apontados como
causa das LER/DORT, apenas enumerá-los não é suficiente para seu entendimento.
Torna-se necessário evidenciar o mecanismo de como cada um destes fatores
atuam e interagem entre si. Assim, a pesquisa e a discussão em torno das causas
de ocorrência destas lesões têm que ser aprofundadas, a partir de análises das
situações em que elas ocorrem, considerando-se a interação entre os fatores
importantes para seu aparecimento e sua relação com as situações de trabalho e os
indivíduos presentes.
A Análise Ergonômica do Trabalho, através da observação das tarefas e
atividades, detectou as condições nas quais os trabalhadores se encontravam
expostos, identificou os problemas de saúde que poderiam ser causados em
decorrência dos movimentos repetitivos e posturas inadequadas, e demonstrou a
relação clara entre as queixas de dor e desconforto dos funcionários com o seu
ambiente de trabalho. Mas também observou o período de transição que estava
ocorrendo com a automatização de parte do setor e as conseqüências que isto
causa nos funcionários, como ansiedade, tensão, insegurança devido medo de
perder emprego, desmotivação.
Estes fatores todos estavam envolvidos nos aumento de custos de
fisioterapias e tratamentos, embora não tenha surgido casos novos de tendinite,
ocorreu um aumento das dores musculares e contraturas. Segundo CODO e
ALMEIDA (1995), “se o trabalho propicia o surgimento de LER/DORT, o homem
também determina a seu modo”.
Como citado no capítulo 2, próximo de uma alteração do sistema de trabalho
surgem “epidemias” de LER, nesta empresa não houve um surto, porque houve
espaço para informações e orientações que a nova tecnologia não tinha finalidade
155
somente de reduzir o quadro de funcionárias, mas para facilitar o serviço e melhorar
as condições de trabalho, pois as máquinas se encarregariam dos formatos maiores
e mais pesados, justamente os que causavam mais dor nas funcionárias que os
classificavam.
Através das entrevistas e questionários realizados com os funcionários,
notamos sua percepção do que deveria ser mudado e as queixas de dor nas partes
do corpo correspondentes, conforme demonstrado no capítulo 4.
A literatura disponível sobre lesões por esforços repetitivos, recomenda que
seja dada maior atenção a estes tipos de sintomas ou queixas nos membros
superiores, associadas ao desempenho de tarefas produtivas. Tais queixas podem
muitas vezes indicar o início do aparecimento das LER/DORT ou mesmo a
manifestação de estágios evolutivos mais avançados. As queixas de dor, por
exemplo, representam a principal e, muitas vezes, única expressão clínica da
existência de doenças (ALVES, 1995).
É importante ressaltar que estes sintomas podem ser prevenidos com o
revezamento da tarefa (rodízios) e o repouso através de micropausas ou pausas de
5 a 10 minutos por hora trabalhada em atividades repetitivas, conforme orientações
dadas no capítulo anterior.
Segundo CODO e ALMEIDA (1997), a prevenção da LER baseia-se em
medidas relativas quanto ao tempo de exposição ao agente agressor, alterações no
processo e organização do trabalho, adequação de máquinas, mobiliário,
dispositivos, equipamentos e ferramentas de trabalho às características dos
trabalhadores.
Assim concluímos que a Ergonomia que estuda as relações de trabalho sobre
os vários aspectos: posturais, fatores ambientais, aspectos da tarefa, da informação
entre outros; baseando-se em conhecimentos de várias áreas científicas, como
antropometria, biomecânica, desenho industrial, eletrônica, informática e gerência
industrial, pode também utilizar todo este conhecimento para melhorar as condições
de trabalho e minimizar as LER/DORT que estão apresentando alta incidência no
Brasil e em outros países e se tornando um problema insustentável para
Trabalhadores, Empresas, Sindicatos, Saúde Pública e Previdência Social.
156
Sugestões para Trabalhos Futuros:
Algumas sugestões recomendadas para trabalhos futuros:
Realizar Análise Ergonômica do Trabalho em outros setores considerados
críticos na Empresa.
Promover pesquisas para analisar e quantificar problemas de LER/DORT em
outras empresas do ramo com atividades semelhantes, para comparar resultados e
trocar experiências.
Fazer um estudo de acompanhamento (follow-up) dos funcionários com
diagnóstico de LER/DORT e sua reintegração na Empresa em outra atividade.
Revisar a prescrição da tarefa e reescrevê-la conforme possibilidades dos
funcionários, baseada em análise ergonômica.
Desenvolver atividades para os funcionários de modo a trabalhar melhor suas
expectativas com a introdução de mudanças tecnológicas, aumentando a motivação.
Levantamento da incidência das LER/DORT nas Indústrias Cerâmicas.
157
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166
ANEXOS
NR – 17 – ERGONOMIA
Redação dada pela Portaria nº 3.751, de 23-11-1990.
17.1 Esta Norma Regulamentadora visa estabelecer parâmetros que permitam a
adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos
trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e
desempenho eficiente.
17.1.1 As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento,
transporte e às condições ambientais do posto de trabalho e à própria organização
de trabalho.
17.1.2 Para avaliar a adaptação das condições de trabalho às características
psicofisiológicas dos trabalhadores, cabe as empregador realizar a análise
ergonômica do trabalho, devendo a mesma abordar, no mínimo, as condições de
trabalho conforme estabelecido nesta Norma Regulamentadora.
17.2 Levantamento, transporte e descarga individual de materiais.
17.2.1 Para efeito desta Norma Regulamentadora:
17.2.1.1 Transporte manual de cargas designa todo transporte no qual o peso da
carga é suportado inteiramente por um só trabalhador, compreendendo o
levantamento e a deposição da carga.
17.2.1.2 Transporte manual regular de cargas designa toda atividade realizada de
maneira contínua ou que inclua, mesmo de forma descontínua, o transporte manual
de cargas.
17.2.1.3 Trabalhador jovem designa todo trabalhador com idade inferior a dezoito
anos e maior de quatorze anos.
17.2.2. Não deverá ser exigido nem admitido o transporte manual de cargas, por um
trabalhador, cujo peso seja suscetível de comprometer sua saúde ou sua segurança.
(C = 117.001-5/l =1)
167
17.2.3 Todo trabalhador designado para o transporte manual regular de cargas, que
não as leves, deve receber treinamento ou instruções satisfatórias quanto aos
métodos de trabalho que deverá utilizar com vistas a salvaguardar sua saúde e
prevenir acidentes. (C = 117.002-3/l =2)
17.2.4 Com vistas a limitar ou facilitar o transporte manual de cargas deverão ser
utilizados meios técnicos apropriados.
17.2.5 Quando mulheres e trabalhadores jovens forem designados para o transporte
manual de cargas deverá ser nitidamente inferior àquele permitido para os homens,
para não comprometer a sua saúde ou sua segurança. (C = 117.003-1/l = 1)
17.2.6 O transporte e a descarga de materiais, feitos por impulsão ou tração de
vagonetes sobre trilhos, carros de mão ou qualquer outro aparelho mecânico
deverão ser executados de forma que o esforço físico realizado pelo trabalhador
seja compatível com sua saúde ou sua segurança. (C = 117.004-0/l =1)
17.2.7 O trabalho de levantamento da material feito com equipamento mecânico de
ação manual deverá ser executado de forma que o esforço físico realizado pelo
trabalhador seja compatível com sua capacidade de força e não comprometa a sua
saúde ou sua segurança. (C = 117.005-8/l =1)
17.3 Mobiliário dos postos de trabalho.
17.3.1 Sempre que o trabalho puder ser executado na posição sentada, o posto de
trabalho deve ser planejado para esta posição. (C = 117.006-6/l =1).
17.3.2 Para o trabalho manual sentado ou que tenha de ser feito de pé, as
bancadas, mesas, escrivaninhas e os painéis devem proporcionar ao trabalhador
condições de boa postura, visualização e operação e devem atender aos seguintes
requisitos mínimos:
a) ter altura e características da superfície de trabalho compatíveis com o tipo de
atividade, com a distância requerida dos olhos ao campo de trabalho e com a
altura do assento; (C = 117.008-2/l =2)
b) Ter área de trabalho de fácil alcance e visualização pelo trabalhador; (C =
117.008-2/l = 2)
168
c) Ter características dimensionais que possibilitem posicionamento e
movimentação adequados dos segmentos corporais. (C = 117.009-0/l =2)
17.3.2.1 Para trabalho que necessite também da utilização dos pés, além dos
requisitos estabelecidos no subitem 17.3.2, os pedais e demais comandos para
acionamento dos pés devem ter posicionamento e dimensões que possibilitem fácil
alcance, bem como ângulos adequados entre as diversas partes do corpo do
trabalhador, em função das características e peculiaridades do trabalho a ser
executado. (C = 117.010-4/l =2)
17.3.3 Os assentos utilizados nos postos de trabalho devem atender aos seguintes
requisitos mínimos de conforto:
a) altura ajustável à estatura do trabalhador e à natureza da função exercida; (C =
117.011-2/l =1)
b) características de pouca ou nenhuma conformação na base do assento; (C =
117.012-0/l =1)
c) borda frontal arredondada; (C = 117.013-9/l =1)
d) encosto com forma levemente adaptada ao corpo para proteção da região lobar.
(C = 117.014-7/l =1)
17.3.4 Para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados sentados, a
partir da análise ergonômica do trabalho, poderá ser exigido suporte para os pés que
se adapte ao comprimento da perna do trabalhador. (C = 117.015-5/l =1)
17.3.5 Para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados em pé, devem
ser colocados assentos para descanso em locais em que possam ser utilizados por
todos os trabalhadores durante as pausas. (C = 117.016-3/l=2)
17.4 Equipamentos dos postos de trabalho.
17.4.1 Todos os equipamentos que compôe umposto de trabalho devem ser
adequado às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do
trabalho à ser executado.
17.4.2 Nas atividades que envolvam leitura de documentos para digitação,
datilografia ou mecanografia deve:
169
a) ser fornecido suporte adequado para documentos que possa ser ajustado
proporcionando boa postura, visualização e operação evitando movimentação
freqüente do pescoço e fadiga visual; (C= 117.017-1/l =1)
b) ser utilizado documento de fácil legibilidade, sempre que possível, sendo vedada
a utilização de papel brilhante, ou qualquer outro tipo que provoque ofuscamento.
(C= 117.018-0/l =1)
17.4.3 Os equipamentos utilizados no processamento eletrônico de dados com
terminais de vídeo devem observar o seguinte:
a) condições de mobilidade suficientes para permitir o ajuste da tela do
equipamento à iluminação do ambiente, protegendo-a contra reflexos, e
proporcionar corretos ângulos de visibilidade ao trabalhador; (C= 117.020-1/l =2)
b) o teclado deve ser independente e Ter mobilidade, permitindo ao trabalhador
ajustá-lo de acordo com as tarefas a serem executadas: (C= 117.020-1/l=2)
c) a tela, o teclado e o suporte para documentos devem ser colocados de maneira
que as distâncias olho-tela, olho-teclado e olho-documento sejam
aproximadamente iguais; (C= 117.021-0/l=2)
d) serem posicionados em superfícies de trabalho com altura ajustável. (C=
117.022-8/l =2).
17.4.3.1 Quando os equipamentos de processamento eletrônico de dados com
terminais de vídeo forem utilizados eventualmente, poderão ser dispensadas as
exigências previstas no subitem 17.4.3, observada a natureza das tarefas
executadas e levando-se em conta a análise ergonômica do trabalho.
17.5 Condições ambientais de trabalho.
17.5.1 As condições ambientais de trabalho devem estar adequadas às
características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser
executado.
17.5.2 Nos locais de trabalho onde são executadas atividades que exijam
solicitação intelectual e atenção constantes, tais como: salas de controle,
170
laboratórios, escritórios, salas de desenvolvimento ou análise de projetos, dentre
outros, são recomendados as seguintes condições de conforto:
a) níveis de ruído de acordo com o estabelecido na NBR 10152, norma brasileira
registrada no INMETRO; (C =117.023-6/l=2).
b) Índice de temperatura efetiva entre 20 e 23ºC; (C=117.024-4/l=2)
c) Umidade relativa do ar não inferior a 40% (quarenta por cento). (117.026-0/l=2)
17.5.2.1 Para as atividades que possuam as características definidas no subitem
17.5.2, mas não apresentam equivalência ou correlação com aquelas relacionadas
na NBR 10152, o nível de ruído aceitável para efeito de conforto será de até 65 dB
(A) e a curva de avaliação de ruído (NC) de valor não superior a 60 dB.
17.5.2.2 Os parâmetros previstos no subitem 17.5.2 devem ser medidos nos postos
de trabalho, sendo os níveis de ruído determinados próximo à zona auditiva e as
demais variáveis na altura do tórax do trabalhador.
17.5.3 Em todos os locais de trabalho deve haver iluminação adequada, natural ou
artificial, geral ou suplementar, apropriada à natureza da atividade.
17.5.3.1 A iluminação geral deve ser uniformemente distribuída e difusa.
17.5.3.2 A iluminação geral ou suplementar deve ser projetada e instalada de forma
a evitar ofuscamento, reflexos incômodos, sombras e contrastes excessivos.
17.5.3.3 Os níveis mínimos de iluminamento a serem observados nos locais de
trabalho são os valores de iluminâncias estabelecidas na NBR 5413, norma
brasileira registrada no INMETRO. (C= 117.027-9/l =2)
17.5.3.4 A medição dos níveis de iluminamento previstos no subitem 17.5.3.3 deve
ser feita no campo de trabalho onde se realiza a tarefa visual, utilizando-se de
luxímetro com fotocélula corrigida para a sensibilidade do olho humano e em função
do ângulo de incidência. (C=117.028-7/l=2)
17.5.3.5 Quando não puder ser definido o campo de trabalho previsto no subitem
17.5.3.4 este será um plano horizontal a 0,75m do piso.
17.6 Organização do trabalho.
171
17.6.1 A organização do trabalho deve ser adequada às características
psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado.
17.6.2 A organização do trabalho, para efeito desta NR, deve levar em
consideração, no mínimo:
a) as normas de produção;
b) o modo operatório;
c) a exigência de tempo;
d) a determinação do conteúdo de tempo;
e) o ritmo de trabalho;
f) o conteúdo das tarefas;
17.6.3 Nas atividades que exijam sobrecarga muscular estática ou dinâmica do
pescoço, ombros, dorso e membros superiores e inferiores, e a partir da análise
ergonômica do trabalho, deve ser observado o seguinte:
a) todo e qualquer sistema de avaliação de desempenho para efeito de
remuneração e vantagens de qualquer espécie deve levar em consideração as
repercussões sobre a saúde dos trabalhadores; (C=117.029-5/l=3)
b) devem ser incluídas pausas para descanso; (C=117.030-9/l=3)
c) quando do retorno ao trabalho, após qualquer tipo de afastamento igual ou
superior a 15 (quinze) dias, a exigência de produção deverá permitir um retorno
gradativo aos níveis de produção vigentes na época anterior ao afastamento.
(C=117.031-7/l=3)
17.6.4 Nas atividades de processamento eletrônico de dados deve-se, salvo o
disposto em convenções e acordos coletivos de trabalho, observar o seguinte:
a) o empregador não deve promover qualquer sistema de avaliação dos
trabalhadores envolvidos nas atividades de digitação, baseado no número
individual de toques sobre o teclado, inclusive o automatizado, para efeito de
remuneração e vantagens de qualquer espécie; (C=117.032-5/l=3)
172
b) o número máximo de toques reais exigidos pelo empregador não deve ser
superior a 8.000 por hora trabalhada, sendo considerado toque real, para efeito
desta NR, cada movimento de pressão sobre o teclado; (C=117.033-3/l=3)
c) o tempo efetivo de trabalho de entrada de dados não deve exceder o limite
máximo de 5 (cinco) horas, sendo que no período de tempo restante da jornada,
o trabalhador poderá exercer outras atividades, observando o disposto no art.
468 da Consolidação das Leis de Trabalho, desde que não exijam movimentos
repetitivos, nem esforço visual; (C = 117.034-1/l=3)
d) nas atividades de entrada de dados deve haver, no mínimo, uma pausa de 10
minutos para cada 50 minutos trabalhados, não deduzidos da jornada normal de
trabalho; (C = 117.035-0/l=3)
e) quando do retorno ao trabalho, após qualquer tipo de afastamento igual ou
superior a 15 (quinze) dias, a exigência de produção em relação ao número de
toques deverá ser iniciada em níveis inferiores ao máximo estabelecido na alínea
b a ser ampliada progressivamente. (C = 117.036-8/l=3).
173
QUESTIONÁRIO CLASSIFICAÇÃO FÁBRICA II
1- O que você achou da mudança de altura da mesa de trabalho, deixando-a mais
alta?
melhorou a posição para trabalhar não sentiu diferença piorou
Por quê?_______________________________________________________
2- Você percebeu que nesta posição, não precisa dobrar (fletir) tanto a coluna para
frente?
Sim Não
3- Na sua opinião a altura da mesa ficou boa?
Sim Não
Por quê? _______________________________________________________
4- O que você achou de subir a correia transportadora?
Melhorou a posição Não sentiu diferença piorou
Por quê?_______________________________________________________
5- As funcionárias foram separadas por alturas (altas, medianas e baixas), para
trabalhar nas mesas e com isto pegar as peças até seu alcance máximo, sem ter
que forçar tanto as costas e os braços para alcançar os azulejos. O que você
achou?
melhorou desta forma Não sentiu diferença Piorou
174
Por quê? _______________________________________________________
6- Você tem apresentado dores nos braços ou na coluna?
Sim Freqüentes Raras Não
Há quanto tempo? _______________________________________________
7- Em qual região do corpo predomina as dores?
Direito Esquerdo
Pescoço
Ombro
Braço
Cotovelo
Antebraço
Punho
Coluna
Costas
8- Você sentiu melhora das dores após estas mudanças (mesa e correia)?
Sim Não
9- Procurou o serviço médico para falar das dores?
Sim Não
175
Por quê? _______________________________________________________
10- Você tem feito ginástica laboral diariamente?
Sim Não
Por quê? _______________________________________________________
11- Perguntas pessoais:
- Você faz o serviço da casa? (lavar roupa/louça/limpeza) Sim Não
- Tem filhos pequenos? Sim Não
- Tem se sentido mais nervosa ou irritada ultimamente? Sim Não
- Quando você trabalha o dia parece demorar para terminar? Sim Não
- Tem apresentado problemas pessoais ou na família? Sim Não
- Tem apresentado problema de relacionamento com colegas? Sim Não
- Se você fosse avaliar sua vida que nota daria entre 0 e 10?
12- Deseja fazer algum comentário sobre o seu posto de trabalho?
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___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
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