ATUALIZAÇÃO LEGISLATIVA – DIREITO DO TRABALHO
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ATUALIZAÇÃO LEGISLATIVA DIREITO DO TRABALHO
Henrique Correia
Procurador do Trabalho Professor de Direito do Trabalho do CERS on line (www.renatosaraiva.com.br)
Autor e Coordenador de diversos livros para concursos públicos pela Editora Juspodivm
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Tendo em vista as constantes mudanças na legislação trabalhista e a necessidade de manter todos os leitores sempre informados, segue atualização para seu livro:
PRINCIPAIS NOVIDADES TRAZIDAS PELA LEI Nº 13.415/2017 (JORNADA DE TRABALHO DO PROFESSOR)
• Jornada de trabalho do professor. A jornada de trabalho dos professores foi alterada pela Lei nº
13.415/2017, também denominada Lei do Ensino Médio. De acordo com a antiga redação do art. 318 da CLT, a jornada de trabalho do professor era de, no máximo, 4 aulas consecutivas ou 6 aulas intercaladas:
Art. 318 da CLT (REDAÇÃO ANTIGA): “Num mesmo estabelecimento de ensino não poderá o professor dar, por dia, mais de 4 aulas consecutivas, nem mais de 6 intercaladas”.
Assim, se a jornada excedesse a 4 aulas consecutivas ou 6 aulas intercaladas, num mesmo estabelecimento, deveria ser pago o adicional de hora extra de, no mínimo, 50% da hora normal. Ocorre que, recentemente (17/02/2017), foi promulgada a Lei nº 13.415/2017 que alterou a redação do art. 318 da CLT:
Art. 318 da CLT (REDAÇÃO ATUAL). O professor poderá lecionar em um mesmo estabelecimento por mais de um turno, desde que não ultrapasse a jornada de trabalho semanal estabelecida legalmente, assegurado e não computado o intervalo para refeição.
De acordo com o novo texto da norma, não persiste a limitação da jornada do professor pelo número de aulas prestadas, contínuas ou intercaladas, mas passa a ser permitido que o professor lecione em um mesmo estabelecimento por mais de um turno, desde que não ultrapasse a jornada de trabalho semanal estabelecida legalmente. A jornada semanal máxima permitida está prevista no art. 7º, XIII, da Constituição Federal de 1988 no total de 44 horas semanais.
• Intervalo intrajornada. Com a nova regulamentação, o professor pode, por exemplo, prestar serviços em uma mesma escola no período da manhã e da tarde até o limite semanal de 44 horas. Além disso, deve ser assegurado intervalo intrajornada de acordo com a jornada prevista:
a) Jornada de até 4 horas: não há previsão em lei de intervalo intrajornada.
b) Jornada que excede 4 horas, com limite de 6 horas: intervalo de 15 minutos. Se o empregador exigir horas extras habituais, excedendo a jornada de 6 horas diárias, deverá conceder intervalo mínimo de 1 hora.
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c) Jornada que excede 6 horas: mínimo de 1 hora e máximo de 2 horas.
• Prorrogação de jornada. Diante da imprecisão do dispositivo legal ao apenas mencionar a limitação semanal da jornada de trabalho, surgem dúvidas quanto ao limite diário de jornada que passou a ser permitida a esse trabalhador. Pode o professor prestar 8, 10 ou 12 horas de trabalho em um dia da semana, divididas nos 3 turnos de trabalho – manhã, tarde e noite?
Entendemos que a jornada de trabalho não pode ultrapassar a 8 horas diárias com possibilidade de prorrogação por mais 2 horas, nos mesmos moldes aplicados aos demais empregados em acordo de prorrogação de jornada1. Como não há normal excepcional, prevendo jornada superior ao limite de 8 horas diárias, aplica-se a regra geral do art. 7º, XIII, CF/88:
Art. 7º, XIII, CF/88: São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho
O excesso de jornada de trabalho causa diversos prejuízos à saúde física e psíquica do trabalhador. A limitação da jornada de trabalho impede que o trabalho intenso realizado pelo trabalhador cause doenças ocupacionais de ordem física e psíquica como a síndrome do esgotamento profissional, chamado de Burnout. Essa síndrome é uma das consequências do ritmo atual, com excesso de jornada e condições de trabalho desgastantes. De acordo com médico Drauzio Varella2:
A síndrome de burnout, ou síndrome do esgotamento profissional, é um distúrbio psíquico descrito em 1974 por Freudenberger, um médico americano. O transtorno está registrado no Grupo V da CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde).
Sua principal característica é o estado de tensão emocional e estresse crônicos provocado por condições de trabalho físicas, emocionais e psicológicas desgastantes. A síndrome se manifesta especialmente em pessoas cuja profissão exige envolvimento interpessoal direto e intenso.
Profissionais das áreas de educação, saúde, assistência social, recursos humanos, agentes penitenciários, bombeiros, policiais e mulheres que enfrentam dupla jornada correm risco maior de desenvolver o transtorno.
Portanto, mesmo que haja limitação na jornada semanal do trabalhador, entendemos que a previsão de jornada de duração acima de 8 horas diárias com possibilidade de prorrogação por mais 2 horas podem causar diversos prejuízos à saúde do professor.
• Jornada 12x36. Outra questão diz respeito à possibilidade de se estabelecer a jornada de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso ao professor. De acordo com a Súmula nº 444 do TST, a jornada 12x36 somente é válida em caráter excepcional quando prevista expressamente em lei ou quando ajustada por meio de negociação coletiva:
Súmula nº 444 do TST: É valida, em caráter excepcional, a jornada de doze horas de trabalho por trinta e seis de descanso, prevista em lei ou ajustada exclusivamente mediante acordo coletivo de trabalho ou convenção coletiva de trabalho, assegurada a remuneração em dobro dos feriados trabalhados. O empregado não tem direito ao pagamento de adicional referente ao labor prestado na décima primeira e décima segunda horas.
A nova redação do art. 318 da CLT, apesar de apenas garantir limite semanal de jornada, não prevê expressamente a possibilidade de se estabelecer a jornada 12x36. Diante da excepcionalidade dessa modalidade de jornada, entendemos que somente seria possível sua implementação caso prevista em instrumento coletivo de trabalho e que a atividade desenvolvida justifique a o aumento no número de
1 Art. 59, “caput”, CLT - A duração normal do trabalho poderá ser acrescida de horas suplementares, em número não excedente de 2 (duas), mediante acordo escrito entre empregador e empregado, ou mediante contrato coletivo de trabalho.
2 https://drauziovarella.com.br/doencas-e-sintomas/sindrome-de-burnout/
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horas trabalhadas.
• Salário proporcional. Além das discussões acerca da jornada de trabalho, a alteração da redação do art. 318 da CLT causará impactos também no tocante ao salário proporcional do professor. O salário proporcional à jornada de trabalho é lícito e aceito pela jurisprudência do TST na OJ nº 358 da SDI-I:
OJ nº 358 da SDI-I do TST. I - Havendo contratação para cumprimento de jornada reduzida, inferior à previsão constitucional de oito horas diárias ou quarenta e quatro semanais, é lícito o pagamento do piso salarial ou do salário mínimo proporcional ao tempo trabalhado. II – Na Administração Pública direta, autárquica e fundacional não é válida remuneração de empregado público inferior ao salário mínimo, ainda que cumpra jornada de trabalho reduzida. Precedentes do Supremo Tribunal Federal.
Assim sendo, se o empregado for contratado para trabalhar em jornada inferior à duração normal de 8 horas diárias e 44 horas semanais, ele receberá o salário-mínimo proporcional ou o piso salarial proporcional aos dias (1/30) ou às horas trabalhadas (1/220 para jornada de 8 horas ou 1/180 para jornada de 6 horas).
Em razão dos baixos salários pagos a essa categoria profissional, havia discussão sobre a possibilidade de pagamento do salário-mínimo proporcional ao professor. O TST publicou a OJ nº 393 da SDI-I no sentido de que o professor que trabalhasse a jornada máxima de 4 aulas consecutivas ou 6 aulas intercaladas, deveria ter garantido um salário-mínimo integral. Nesse caso, portanto, não poderia ser pago salário proporcional à jornada de 8 horas previstas na CF/88, porque os professores gozavam de jornada especial:
OJ nº 393 da SDI-I do TST. A contraprestação mensal devida ao professor, que trabalha no limite máximo da jornada prevista no art. 318 da CLT, é de um salário mínimo integral, não se cogitando do pagamento proporcional em relação a jornada prevista no art. 7º, XIII, da Constituição Federal.
Com a mudança no artigo 318 da CLT, prevendo apenas a limitação semanal da jornada de trabalho, é possível que os professores sejam contratados para jornada de trabalho de 8 horas diárias e 44 horas semanais. Assim, deixou de existir a previsão de jornada específica para esses trabalhadores, o que permite o pagamento de salário mínimo proporcional à jornada de trabalho, conforme previsto aos demais empregados na OJ nº 358, I, da SDI-I do TST.
Por fim, se o professor for servidor público ou empregado público prevalece a regra do item II da OJ nº 358 da SDI-I, pela qual o trabalhador receberá sempre o salário mínimo integral, ainda que cumpra jornada de trabalho reduzida.
Confira o texto legal modificado abaixo:
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ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS
LEI Nº 13.415, DE 16 DE FEVEREIRO DE 2017. Altera as Leis nºs 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e 11.494, de 20 de junho 2007, que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e o Decreto-Lei nº 236, de 28 de fevereiro de 1967; revoga a Lei nº 11.161, de 5 de agosto de 2005; e institui a Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral.
Art. 318 da CLT. O professor poderá lecionar em um mesmo estabelecimento por mais de um turno, desde que não ultrapasse a jornada de trabalho semanal estabelecida legalmente, assegurado e não computado o intervalo para refeição. (Redação dada pela lei nº 13.415, de 2017)
PRINCIPAIS NOVIDADES TRAZIDAS PELA LEI Nº 13.419/2017
(GORJETAS)
• A Lei nº 13.419/2017 trouxe diversas novidades em relação à disciplina jurídica dessa parcela remuneratória. Para facilitar a compreensão do assunto, segue breve introdução ao tema, seguida do texto integral das modificações realizadas.
• Lei das Gorjetas. Recentemente (13/03/2017), foi promulgada a Lei nº 13.419/20173, também denominada "Lei das Gorjetas". Essa legislação alterou a redação do art. 457 da CLT e trouxe a regulamentação do pagamento das gorjetas, antes omisso na CLT. Nesse sentido, ganha destaque a obrigação legal de reverter toda a gorjeta aos empregados. A nova redação do art. 457, § 3º e 4º da CLT esclarece que o valor recebido a título de gorjetas, seja como serviço ou adicional, constitui receita exclusiva dos empregados:
Art. 457, da CLT: (...)
§ 3º Considera-se gorjeta não só a importância espontaneamente dada pelo cliente ao empregado, como também o valor cobrado pela empresa, como serviço ou adicional, a qualquer título, e destinado à distribuição aos empregados.
§ 4º A gorjeta mencionada no § 3º não constitui receita própria dos empregadores, destina-se aos trabalhadores e será distribuída segundo critérios de custeio e de rateio definidos em convenção ou acordo coletivo de trabalho.
• Retenção de percentual das gorjetas. A legislação prevê ainda a retenção de percentual das gorjetas para que o empregador utilize exclusivamente para o pagamento de encargos sociais, previdenciários e trabalhistas derivados da integração das gorjetas à remuneração dos empregados. O valor pago a título de gorjetas deve ser anotado na CTPS do empregado: 3 A legislação passará a vigorar em 60 dias da sua publicação oficial.
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Art. 457, § 6o, III, CLT: As empresas que cobrarem a gorjeta de que trata o § 3o deverão: anotar na Carteira de Trabalho e Previdência Social e no contracheque de seus empregados o salário contratual fixo e o percentual percebido a título de gorjeta.
• Incorporação ao salário na hipótese de cessação da cobrança de gorjetas. A Lei nº 13.419/2017 trouxe ainda importante novidade referente à cessação da cobrança das gorjetas pelo empregador. Se cessada a cobrança que já vinha sendo realizada por mais de 12 meses, a gorjeta deve se incorporar ao salário do trabalhador tendo como base a média dos últimos 12 meses, salvo previsão em contrário de acordo ou convenção coletiva de trabalho. O legislador criou, portanto, hipótese em que uma parcela variável, devida enquanto trabalhava naquela função determinada e também somente recebida quando paga por terceiro, torna-se direito adquirido do trabalhador, pois sua supressão assegura a incorporação salário da média recebida nos últimos 12 meses. Parcela que antes era remuneratória (paga por terceiros) passa a ser responsabilidade do empregador:
Art. 457, § 9o, CLT. Cessada pela empresa a cobrança da gorjeta de que trata o § 3o deste artigo, desde que cobrada por mais de doze meses, essa se incorporará ao salário do empregado, tendo como base a média dos últimos doze meses, salvo o estabelecido em convenção ou acordo coletivo de trabalho.
FLEXIBILIZAÇÃO E NEGOCIAÇÃO COLETIVA
• Valorização do negociado nas regras de rateio e distribuição de gorjetas. Em conformidade com a tendência atual de valorização do negociado, assim como nas decisões recentes do STF acerca da quitação geral em PDV e na possibilidade de supressão de horas in itinere, a recente Lei nº 13.419/2017 (“Lei das Gorjetas”) assegura papel de destaque à negociação coletiva, pois as regras de rateio são definidas em acordo ou convenção coletiva de trabalho. Ressalta-se que, se o sindicato se recusar a negociação ou se quedar inerte, é permitido que os próprios empregados estabeleçam os percentuais de retenção e rateio em assembleia geral dos trabalhadores:
Art. 457, § 5o, CLT. Inexistindo previsão em convenção ou acordo coletivo de trabalho, os critérios de rateio e distribuição da gorjeta e os percentuais de retenção previstos nos §§ 6o e 7o deste artigo serão definidos em assembleia geral dos trabalhadores, na forma do art. 612 desta Consolidação.
ESTABILIDADE
• Estabilidade dos membros da comissão de gorjetas. Recentemente, a Lei nº 13.419/2017 (“Lei das Gorjetas”) estabeleceu a possibilidade de se instituir, mediante negociação coletiva, comissão de empregados em empresas com mais de 60 empregados para acompanhar e fiscalizar a regularidade na cobrança e distribuição das gorjetas, cujos representantes, eleitos em assembleia geral, têm direito à estabilidade provisória no emprego. Para as demais empresas, deve ser constituída comissão intersindical para exercer essas funções. Destaca-se que, novamente, assume papel de relevância o acordo e a convenção coletiva de trabalho, pois a duração do mandato desses representantes, o período de estabilidade e as condições para o exercício de suas atribuições ficarão a cargo daquilo que for previsto em instrumento coletivo.
Art. 457, § 10, CLT. Para empresas com mais de sessenta empregados, será constituída comissão de empregados, mediante previsão em convenção ou acordo coletivo de trabalho, para acompanhamento e fiscalização da regularidade da cobrança e distribuição da gorjeta de que trata o § 3o deste artigo, cujos representantes serão eleitos em assembleia geral convocada para esse fim pelo sindicato laboral e gozarão de garantia de emprego vinculada ao desempenho das funções para que foram eleitos, e, para as demais empresas, será constituída comissão intersindical para o referido fim.
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Confira o texto legal modificado abaixo:
LEI DAS GORJETAS
ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS DESTACADAS
LEI Nº 13.419, DE 13 DE MARÇO DE 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, para disciplinar o rateio, entre empregados, da cobrança adicional sobre as despesas em bares, restaurantes, hotéis, motéis e estabelecimentos similares. Art. 457, CLT - Compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que receber. (Redação dada pela Lei nº 1.999, de 1.10.1953) § 1º - Integram o salário não só a importância fixa estipulada, como também as comissões, percentagens, gratificações ajustadas, diárias para viagens e abonos pagos pelo empregador. (Redação dada pela Lei nº 1.999, de 1.10.1953) § 2º - Não se incluem nos salários as ajudas de custo, assim como as diárias para viagem que não excedam de 50% (cinqüenta por cento) do salário percebido pelo empregado. (Redação dada pela Lei nº 1.999, de 1.10.1953) § 3º Considera-se gorjeta não só a importância espontaneamente dada pelo cliente ao empregado, como também o valor cobrado pela empresa, como serviço ou adicional, a qualquer título, e destinado à distribuição aos empregados. § 4o A gorjeta mencionada no § 3o não constitui receita própria dos empregadores, destina-se aos trabalhadores e será distribuída segundo critérios de custeio e de rateio definidos em convenção ou acordo coletivo de trabalho. § 5o Inexistindo previsão em convenção ou acordo coletivo de trabalho, os critérios de rateio e distribuição da gorjeta e os percentuais de retenção previstos nos §§ 6o e 7o deste artigo serão definidos em assembleia geral dos trabalhadores, na forma do art. 612 desta Consolidação. § 6o As empresas que cobrarem a gorjeta de que trata o § 3o deverão: I - para as empresas inscritas em regime de tributação federal diferenciado, lançá-la na respectiva nota de consumo, facultada a retenção de até 20% (vinte por cento) da arrecadação correspondente, mediante previsão em convenção ou acordo coletivo de trabalho, para custear os encargos sociais, previdenciários e trabalhistas derivados da sua integração à remuneração dos empregados, devendo o valor remanescente ser revertido integralmente em favor do trabalhador; II - para as empresas não inscritas em regime de tributação federal diferenciado, lançá-la na respectiva nota de consumo, facultada a retenção de até 33% (trinta e três por cento) da arrecadação correspondente, mediante previsão em convenção ou acordo coletivo de trabalho, para custear os encargos sociais, previdenciários e trabalhistas derivados da sua integração à remuneração dos empregados, devendo o valor remanescente ser revertido integralmente em favor do trabalhador; III - anotar na Carteira de Trabalho e Previdência Social e no contracheque de seus empregados o salário contratual fixo e o percentual percebido a título de gorjeta. § 7o A gorjeta, quando entregue pelo consumidor diretamente ao empregado, terá seus critérios definidos em convenção ou acordo coletivo de trabalho, facultada a retenção nos parâmetros do § 6o deste artigo. § 8o As empresas deverão anotar na Carteira de Trabalho e Previdência Social de seus empregados o salário fixo e a média dos valores das gorjetas referente aos últimos doze meses. § 9o Cessada pela empresa a cobrança da gorjeta de que trata o § 3o deste artigo, desde que cobrada por mais de doze meses, essa se incorporará ao salário do empregado, tendo como base a média dos últimos doze meses, salvo o estabelecido em convenção ou acordo coletivo de
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trabalho. § 10. Para empresas com mais de sessenta empregados, será constituída comissão de empregados, mediante previsão em convenção ou acordo coletivo de trabalho, para acompanhamento e fiscalização da regularidade da cobrança e distribuição da gorjeta de que trata o § 3o deste artigo, cujos representantes serão eleitos em assembleia geral convocada para esse fim pelo sindicato laboral e gozarão de garantia de emprego vinculada ao desempenho das funções para que foram eleitos, e, para as demais empresas, será constituída comissão intersindical para o referido fim. § 11. Comprovado o descumprimento do disposto nos §§ 4o, 6o, 7o e 9o deste artigo, o empregador pagará ao trabalhador prejudicado, a título de multa, o valor correspondente a 1/30 (um trinta avos) da média da gorjeta por dia de atraso, limitada ao piso da categoria, assegurados em qualquer hipótese o contraditório e a ampla defesa, observadas as seguintes regras: I - a limitação prevista neste parágrafo será triplicada caso o empregador seja reincidente; II - considera-se reincidente o empregador que, durante o período de doze meses, descumpre o disposto nos §§ 4o, 6o, 7o e 9o deste artigo por mais de sessenta dias.
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PRINCIPAIS NOVIDADES TRAZIDAS PELA LEI Nº 13.420/2017 (APRENDIZAGEM)
• Salário mínimo hora. Recentemente (13/03/2017), foi promulgada a Lei nº 13.420/2017, que alterou a redação de diversos artigos da CLT sobre a aprendizagem. A antiga redação do art. 428, § 2º, CLT determinava que, ao menor aprendiz, deveria ser assegurado salário mínimo hora salvo condição mais favorável. A Lei nº 13.420/2017 estendeu essa previsão não apenas ao menor aprendiz, mas a todos os aprendizes. Lembre-se de que a aprendizagem é permitida entre 14 e 24 anos, sendo que não há limitação de idade para pessoas com deficiência. Ocorre que, desde a promulgação da CF/88, é assegurado a todos os trabalhadores, inclusive os aprendizes, o recebimento nunca inferior ao salário mínimo hora. Trata-se, portanto, de alteração apenas na redação do art. 428, § 2º, da CLT para se adequar ao texto constitucional:
Art. 428, § 2º, CLT (NOVA REDAÇÃO): Ao aprendiz, salvo condição mais favorável, será garantido o salário mínimo hora.
• Vínculo empregatício do aprendiz. O vínculo empregatício do aprendiz poderá ocorrer:
a) diretamente com a empresa para a qual ele presta serviços. Nesse caso, o estabelecimento assumirá a condição de empregador, devendo inscrever o aprendiz em programa de aprendizagem a ser ministrado pelos cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem. Se não houver vagas suficientes nesses Serviços, é possível que o curso seja ministrado por:
1) Escolas Técnicas de Educação;
2) Entidades sem fins lucrativos, que tenham por objetivo a assistência ao adolescente e à educação profissional, registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e;
3) Entidades de prática desportiva das diversas modalidades filiadas ao Sistema Nacional do Desporto e aos Sistemas de Desporto dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Essas entidades foram incluídas recentemente (13/03/2017) pela Lei nº 13.420/2017.
Art. 430, CLT. Na hipótese de os Serviços Nacionais de Aprendizagem não oferecerem cursos ou vagas suficientes para atender à demanda dos estabelecimentos, esta poderá ser suprida por outras entidades qualificadas em formação técnico-profissional metódica, a saber: (Redação dada pela Lei nº 10.097, de 2000)
I – Escolas Técnicas de Educação; (Incluído pela Lei nº 10.097, de 2000)
II – entidades sem fins lucrativos, que tenham por objetivo a assistência ao adolescente e à educação profissional, registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.(Incluído pela Lei nº 10.097, de 2000)
III - entidades de prática desportiva das diversas modalidades filiadas ao Sistema Nacional do Desporto e aos Sistemas de Desporto dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (Incluído pela Lei nº 13.420, de 2017)
b) supletivamente, com as entidades sem fins lucrativos4, simultaneamente ao desenvolvimento do programa de aprendizagem. Essas entidades atuam como intermediadoras de mão de obra, ou seja,
4. Art. 15 do Decreto nº 5.598/2005: A contratação do aprendiz deverá ser efetivada diretamente pelo estabelecimento que se obrigue ao cumprimento da cota de aprendizagem ou, supletivamente, pelas entidades sem fins lucrativos mencionadas no inciso III do art. 8º deste Decreto. Art. 8º do Decreto nº 5.598/2005: Consideram-se entidades qualificadas em formação técnico-profissional metódica: I – os Serviços Nacionais de Aprendizagem, assim identificados: a) Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Senai; b) Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – Senac; c) Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Senar; d) Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte – Senat; e e) Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo – Sescoop; II – as escolas técnicas de educação, inclusive as
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embora formalmente empregadoras, os aprendizes prestam serviços (experiência prática) nas empresas tomadoras de serviços. Nesse caso, haverá contrato entre entidade sem fins lucrativos e empresa tomadora de serviços de aprendizagem. Recentemente (13/03/2017), a Lei nº 13.420/2017 passou a prever que o contrato de aprendizagem também pode ser firmado, com as entidades de prática desportiva das diversas modalidades filiadas ao Sistema Nacional do Desporto e aos Sistemas de Desporto dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Art. 431, CLT. A contratação do aprendiz poderá ser efetivada pela empresa onde se realizará a aprendizagem ou pelas entidades mencionadas nos incisos II e III do art. 430, caso em que não gera vínculo de emprego com a empresa tomadora dos serviços. (Redação dada pela Lei nº 13.420, de 2017)
Confira o texto legal modificado abaixo:
ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS DESTACADAS
LEI Nº 13.420, DE 13 DE MARÇO DE 2017.
Altera dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, para incentivar a formação técnico-profissional de adolescentes e jovens em áreas relacionadas à gestão e prática de atividades desportivas e à prestação de serviços relacionados à infraestrutura, à organização e à promoção de eventos esportivos e dá outras providências. Art. 428, CLT. Contrato de aprendizagem é o contrato de trabalho especial, ajustado por escrito e por prazo determinado, em que o empregador se compromete a assegurar ao maior de 14 (quatorze) e menor de 24 (vinte e quatro) anos inscrito em programa de aprendizagem formação técnico-profissional metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e psicológico, e o aprendiz, a executar com zelo e diligência as tarefas necessárias a essa formação. (Redação dada pela Lei nº 11.180, de 2005) § 1o A validade do contrato de aprendizagem pressupõe anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social, matrícula e freqüência do aprendiz na escola, caso não haja concluído o ensino médio, e inscrição em programa de aprendizagem desenvolvido sob orientação de entidade qualificada em formação técnico-profissional metódica. (Redação dada pela Lei nº 11.788, de 2008) § 2o Ao aprendiz, salvo condição mais favorável, será garantido o salário mínimo hora. (Redação dada pela Lei nº 13.420, de 2017) § 3o O contrato de aprendizagem não poderá ser estipulado por mais de 2 (dois) anos, exceto quando se tratar de aprendiz portador de deficiência. (Redação dada pela Lei nº 11.788, de 2008) § 4o A formação técnico-profissional a que se refere o caput deste artigo caracteriza-se por atividades teóricas e práticas, metodicamente organizadas em tarefas de complexidade progressiva desenvolvidas no ambiente de trabalho.. (Incluído pela Lei nº 10.097, de 2000) § 5o A idade máxima prevista no caput deste artigo não se aplica a aprendizes portadores de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.180, de 2005)
agrotécnicas; e III – as entidades sem fins lucrativos, que tenham por objetivos a assistência ao adolescente e à educação profissional, registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.
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§ 6o Para os fins do contrato de aprendizagem, a comprovação da escolaridade de aprendiz com deficiência deve considerar, sobretudo, as habilidades e competências relacionadas com a profissionalização. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) § 7o Nas localidades onde não houver oferta de ensino médio para o cumprimento do disposto no § 1o deste artigo, a contratação do aprendiz poderá ocorrer sem a freqüência à escola, desde que ele já tenha concluído o ensino fundamental. (Incluído pela Lei nº 11.788, de 2008) § 8o Para o aprendiz com deficiência com 18 (dezoito) anos ou mais, a validade do contrato de aprendizagem pressupõe anotação na CTPS e matrícula e frequência em programa de aprendizagem desenvolvido sob orientação de entidade qualificada em formação técnico-profissional metódica. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) Art. 429, CLT. Os estabelecimentos de qualquer natureza são obrigados a empregar e matricular nos cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem número de aprendizes equivalente a cinco por cento, no mínimo, e quinze por cento, no máximo, dos trabalhadores existentes em cada estabelecimento, cujas funções demandem formação profissional.(Redação dada pela Lei nº 10.097, de 2000) a) revogada; (Redação dada pela Lei nº 10.097, de 2000) b) revogada. (Redação dada pela Lei nº 10.097, de 2000) § 1o-A. O limite fixado neste artigo não se aplica quando o empregador for entidade sem fins lucrativos, que tenha por objetivo a educação profissional. (Incluído pela Lei nº 10.097, de 2000) § 1o As frações de unidade, no cálculo da percentagem de que trata o caput, darão lugar à admissão de um aprendiz. (Incluído pela Lei nº 10.097, de 2000) § 2o Os estabelecimentos de que trata o caput ofertarão vagas de aprendizes a adolescentes usuários do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) nas condições a serem dispostas em instrumentos de cooperação celebrados entre os estabelecimentos e os gestores dos Sistemas de Atendimento Socioeducativo locais. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) Art. 430, CLT. Na hipótese de os Serviços Nacionais de Aprendizagem não oferecerem cursos ou vagas suficientes para atender à demanda dos estabelecimentos, esta poderá ser suprida por outras entidades qualificadas em formação técnico-profissional metódica, a saber: (Redação dada pela Lei nº 10.097, de 2000) I – Escolas Técnicas de Educação; (Incluído pela Lei nº 10.097, de 2000) II – entidades sem fins lucrativos, que tenham por objetivo a assistência ao adolescente e à educação profissional, registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.(Incluído pela Lei nº 10.097, de 2000) III - entidades de prática desportiva das diversas modalidades filiadas ao Sistema Nacional do Desporto e aos Sistemas de Desporto dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (Incluído pela Lei nº 13.420, de 2017) § 1o As entidades mencionadas neste artigo deverão contar com estrutura adequada ao desenvolvimento dos programas de aprendizagem, de forma a manter a qualidade do processo de ensino, bem como acompanhar e avaliar os resultados. (Incluído pela Lei nº 10.097, de 2000) § 2o Aos aprendizes que concluírem os cursos de aprendizagem, com aproveitamento, será concedido certificado de qualificação profissional.(Incluído pela Lei nº 10.097, de 2000) § 3o O Ministério do Trabalho fixará normas para avaliação da competência das entidades mencionadas nos incisos II e III deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.420, de 2017) § 4o As entidades mencionadas nos incisos II e III deste artigo deverão cadastrar seus cursos, turmas e aprendizes matriculados no Ministério do Trabalho. (Incluído pela Lei nº 13.420, de 2017) § 5o As entidades mencionadas neste artigo poderão firmar parcerias entre si para o desenvolvimento dos programas de aprendizagem, conforme regulamento. (Incluído pela Lei nº 13.420, de 2017) Art. 431, CLT. A contratação do aprendiz poderá ser efetivada pela empresa onde se realizará a aprendizagem ou pelas entidades mencionadas nos incisos II e III do art. 430, caso em que não gera vínculo de emprego com a empresa tomadora dos serviços. (Redação dada pela Lei nº 13.420, de 2017)
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a) revogada; Redação dada pela Lei nº 10.097, de 2000) b) revogada; Redação dada pela Lei nº 10.097, de 2000) c) revogada. Redação dada pela Lei nº 10.097, de 2000) Parágrafo único. Aos candidatos rejeitados pela seleção profissional deverá ser dada, tanto quanto possível, orientação profissional para ingresso em atividade mais adequada às qualidades e aptidões que tiverem demonstrado.
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TERCEIRIZAÇÃO E TRABALHO TEMPORÁRIO
(LEI Nº 13.429/2017)
• Lei da terceirização e do trabalho temporário. No dia 22/03/2017, foi aprovado pela Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 4.302/1998, por 231 a favor, 188 contra e 8 abstenções, que passou a disciplinar o trabalho temporário e a terceirização. Esse projeto, de autoria do Poder Executivo, já havia sido votado e aprovado pelo Senado Federal em 2002. Portanto, seu texto foi encaminhado diretamente ao Presidente da República, que o sancionou. No dia 31/03/2017, foi promulgada a Lei nº 13.429/2017, que passou a regulamentar o assunto. Além disso, as alterações promovidas pela nova lei exigirão, em breve, o cancelamento ou a revisão da Súmula nº 331 do TST que regulamenta o assunto.
• Terminologia adotada na terceirização e no trabalho temporário: A Lei nº 13.429/2017 adotou terminologia distinta para as partes envolvidas na terceirização e no trabalho temporário. É imprescindível que se memorize as expressões utilizadas para evitar a confusão entre os dois regimes, terceirização e trabalho temporário:
– Trabalho temporário: Há presença de 3 partes na relação jurídica, o trabalhador temporário, a empresa de trabalho temporário (intermediadora de mão de obra temporária) e a empresa tomadora dos serviços.
– Terceirização: Da mesma forma, existe a formação de uma relação jurídica triangular, com trabalhador terceirizado, empresa de prestação de serviços a terceiros e a empresa contratante.
Art. 1o, Lei nº 6.019/1974 (Redação dada pela Lei nº 13.429/2017). As relações de trabalho na empresa de trabalho temporário, na empresa de prestação de serviços e nas respectivas tomadoras de serviço e contratante regem-se por esta Lei.
• Diferenças entre a simples intermediação de mão de obra e a terceirização: A intermediação de mão de obra está presente no trabalho temporário. Nela, a empresa prestadora de serviços possibilita que um trabalhador temporário preste serviços em outra empresa, denominada tomadora. O temporário presta os serviços ao lado de outro empregado da tomadora. Por outro lado, a terceirização compreende a transferência de um serviço ou atividade específico de uma empresa a outra, ou seja, não se busca apenas um trabalhador para substituir outro que entrou em férias, por exemplo, mas, na terceirização, há verdadeira delegação de um setor da empresa para que outra possa atuar com seus próprios empregados terceirizados. Nesse sentido, surge a obrigação de que a empresa de prestação de serviços a terceiros preste serviços determinados e específicos.
• CLT: A Consolidação das Leis Trabalhistas, não sofreu nenhuma alteração decorrente da promulgação da Lei nº 13.429/2017.
• Alterações na Lei nº 6.019/1974: A Lei nº 13.429/2017 alterou diversos dispositivos da Lei nº 6.019/1973, que versa sobre o trabalho temporário, e também passou a dispor sobre as relações de trabalho na empresa de prestação de serviços a terceiros (terceirização). Portanto, há na mesma lei, a regulamentação do trabalho temporário e da terceirização em sentido estrito. Lembre-se de que as empresas de trabalho temporário e de terceirização permanecem obrigadas a pagar todos os direitos trabalhistas previstos na Constituição Federal e na CLT, pois são, respectivamente, as reais empregadoras dos empregados temporários e terceirizados.
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• Abrangência da terceirização: De acordo com a Lei nº 13.429/2017, não se restringe os serviços passíveis de terceirização apenas à atividade-meio da empresa, o que leva à interpretação de que se permitiu a terceirização nas atividades-fim das empresas, inclusive pelos debates que antecederam a votação do projeto. Assim, uma escola poderá ter todos seus professores terceirizados, ou seja, serão empregados de uma empresa de prestação de serviços a terceiros. Confira a redação do novo art. 4º-A, § 2º, da Lei nº 6.019/1974, que está vigente em decorrência da promulgação da lei da terceirização:
Art. 4º-A, § 2º, Lei nº 6.019/1974 (Acrescentado pela Lei nº 13.429/2017): Não se configura vínculo empregatício entre os trabalhadores, ou sócios das empresas prestadoras de serviços, qualquer que seja o seu ramo, e a empresa contratante. (grifos acrescidos)
• Abrangência do trabalho temporário: Por outro lado, a Lei nº 13.429/2017 estabelece de forma expressa que o trabalho temporário poderá ser realizado tanto nas atividades-meio como nas atividades-fim das empresas:
Art. 9º, § 3º, Lei nº 6.019/1974 (Acrescentado pela Lei nº 13.429/2017): O contrato de trabalho temporário pode versar sobre o desenvolvimento de atividades–meio e atividades—fim a serem executadas na empresa tomadora de serviços.
Atenção! • Trabalho temporário: A legislação é expressa ao permitir a contratação na atividade-fim. • Terceirização: A legislação é omissa quanto à possibilidade de terceirização da atividade-fim. Há interpretação de que é cabível, seja pelas discussões que antecederam a votação, seja pela não restrição a essa contratação. • Insegurança jurídica: a imprecisão da norma em admitir (ou não) a terceirização em atividade-fim levará a discussão por anos até a pacificação pelos tribunais. Obs.: Projeto de Lei nº 4.330/2004 (em tramitação no Congresso Nacional): Há expressa previsão de terceirização em todas as atividades da empresa.
• Principais alterações da Lei nº 13.429/2017 em relação à regulamentação anterior: É interessante destacar alguns pontos trazidos pela nova legislação que se diferem em relação ao modelo que era vigente no país:
– Nova regulamentação: De acordo com o modelo anterior, não havia legislação regulamentando a terceirização, cujos parâmetros foram traçados pela interpretação dada pelo TST na Súmula nº 331, que somente permitia a terceirização em atividades-meio ou secundárias da empresa. A ausência de lei delimitando os limites e o alcance da terceirização causava insegurança jurídica, pois as alterações na jurisprudência do tribunal poderiam gerar novo posicionamento e novas regras a serem seguidas pelas empresas sem a participação pública. Além disso, não havia parâmetros claros acerca do conceito de atividade-fim, o que gerava posicionamentos conflitantes, pois cada ramo de atividade tinha interpretação diversa sobre o que seria considerado como atividade-fim para contratação de mão de obra terceirizada. Nesse sentido, o objetivo do legislador foi trazer segurança jurídica, pois estabelece o alcance da terceirização.
– Pontos negativos da nova lei: A previsão de terceirização apenas nas atividades-meio ou secundárias da empresa constante na Súmula nº 331 do TST exercia importante função de preservar os empregos nas atividades principais das empresas, pois era vedada a terceirização na atividade-fim.
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Com a promulgação da lei de terceirização, passou a ser possível a contratação de empregados terceirizados em todas as funções da empresa5. Essa modificação poderá ocasionar a perda de empregos em empresas que desejarem contratar empresas terceirizadas ao invés da contratação direta, bilateral, clássica. Esse modelo ocasiona a precarização das relações de trabalho, pois, para se assegurar lucro às duas empresas (empresa de prestação de serviços a terceiro e contratante) será necessário reduzir os salários dos trabalhadores.
• Ampliação do prazo do trabalho temporário: Uma das principais alterações na disciplina do contrato de trabalho temporário consistiu na ampliação do prazo de 3 meses, prorrogáveis por mais 3 ou 6 meses a depender da hipótese contratada, previsto na redação anterior do art. 10 da Lei nº 6.019/1974 para 180 dias, podendo ser prorrogado por até 90 dias, consecutivos ou não. Felizmente, o Presidente da República vetou o § 3º do art. 10 da Lei nº 6.019/1974 que possibilitava que o prazo de 180 dias fosse alterado por meio de acordo ou convenção coletiva. Essa ampliação do prazo, via instrumento coletivo, seria algo prejudicial aos trabalhadores, pois uma empresa poderia contratar indefinidamente trabalhadores temporários com a prorrogação do prazo mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho.
Art. 10, Lei nº 6.019/1974. Qualquer que seja o ramo da empresa tomadora de serviços, não existe vínculo de emprego entre ela e os trabalhadores contratados pelas empresas de trabalho temporário. (Redação dada pela Lei nº 13.429, de 2017)
§ 1o O contrato de trabalho temporário, com relação ao mesmo empregador, não poderá exceder ao prazo de cento e oitenta dias, consecutivos ou não. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017)
§ 2o O contrato poderá ser prorrogado por até noventa dias, consecutivos ou não, além do prazo estabelecido no § 1o deste artigo, quando comprovada a manutenção das condições que o ensejaram. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017)
§ 3o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017)
• Proibição de contratação de trabalhador temporário em greves: A nova redação da Lei nº 6.019/1974 traz a proibição expressa da contratação de trabalhador temporário durante o movimento grevista, salvo nos casos de necessidade de manutenção do maquinário e que evite prejuízo irreparável ao empregador, conforme previsto na Lei nº 7.783/1989:
Art. 2º, § 1o, Lei nº 6.019/1974. É proibida a contratação de trabalho temporário para a substituição de trabalhadores em greve, salvo nos casos previstos em lei. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017)
Art. 9º da Lei nº 7.783/1989: Durante a greve, o sindicato ou a comissão de negociação, mediante acordo com a entidade patronal ou diretamente com o empregador, manterá em atividade equipes de empregados com o propósito de assegurar os serviços cuja paralisação resultem em prejuízo irreparável, pela deterioração irreversível de bens, máquinas e equipamentos, bem como a manutenção daqueles essenciais à retomada das atividades da empresa quando da cessação do movimento.
Parágrafo único. Não havendo acordo, é assegurado ao empregador, enquanto perdurar a greve, o direito de contratar diretamente os serviços necessários a que se refere este artigo.
• Terceirização e trabalho temporário no âmbito rural. A antiga redação da Lei nº 6.019/1974 prevê que o trabalho temporário somente pode ser realizado por empresas urbanas. Portanto, não era permitido o trabalho temporário rural. Ocorre que a nova redação da Lei nº 6.019/1974 deixou de prever essa restrição de contratação de trabalho temporário no trabalho rural. Portanto, é possível a 5 É importante ressaltar que há interpretação no sentido de que a lei não é clara a esse respeito e nada mudou com a Lei nº 13.429/2017.
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contratação de trabalhador temporário no âmbito rural. Além disso, a terceirização no âmbito rural já era possível nas atividades meio e, assim, foi ampliado para as atividades-fim com a nova redação da lei:
Art. 4o, Lei nº 6.019/1974. Empresa de trabalho temporário é a pessoa jurídica, devidamente registrada no Ministério do Trabalho, responsável pela colocação de trabalhadores à disposição de outras empresas temporariamente. (Redação dada pela Lei nº 13.429, de 2017)
• Quarteirização: A quarteirização compreende a transferência de parte da gestão dos serviços de uma empresa terceirizada para uma outra empresa. Além da relação que existe entre prestadora de serviço e tomadora (terceirização), verifica-se a transferência de um setor da empresa terceirizada para uma nova empresa (“quarteirizada”). De acordo com o posicionamento vigente antes da nova lei de terceirização, a jurisprudência trabalhista tinha o posicionamento de que essa medida constituía fraude e acarretava responsabilidade solidária das empresas envolvidas. Ocorre que a Lei nº 13.429/2017 passou a permitir, expressamente, a quarteirização:
Art. 4º-A, Lei nº 6.019/1974 (Acrescentado pela Lei nº 13.429/2017): Empresa prestadora de serviços a terceiros é a pessoa jurídica de direito privado destinada a prestar à contratante serviços determinados e específicos.
§ 1º A empresa prestadora de serviços contrata, remunera e dirige o trabalho realizado por seus trabalhadores, ou subcontrata outras empresas para realização desses serviços (grifos acrescidos).
• Requisitos mínimos para funcionamento da empresa de prestação de serviços a terceiros: A Lei nº 13.429/2017 estabelece alguns requisitos para o funcionamento da empresa de prestação de serviços a terceiros, que contrata e fornece mão de obra terceirizada, como inscrição no CNPJ, registro na Junta Comercial e capital social mínimo de acordo com o número de trabalhadores:
Art. 4º-B, Lei nº 6.019/1974 (Acrescentado pela Lei nº 13.429/2017): São requisitos para o funcionamento da empresa de prestação de serviços a terceiros:
I - prova de inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ);
II - registro na Junta Comercial;
III - capital social compatível com o número de empregados, observando-se os seguintes parâmetros:
a) empresas com até dez empregados — capital mínimo de R$ 10.000,00 (dez mil reais);
b) empresas com mais de dez e até vinte empregados — capital mínimo de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais);
c) empresas com mais de vinte e até cinquenta empregados — capital mínimo de R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais);
d) empresas com mais de cinquenta e até cem empregados — capital mínimo de R$ 100.000,00 (cem mil reais); e
e) empresas com mais de cem empregados — capital mínimo de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais).
• Especialização da Empresa de prestação de serviços a terceiros: De acordo com a recente Lei nº 13.429/2017, a contratante celebrará contrato com a empresa de prestação de serviços para que sejam fornecidos serviços determinados e específicos. Assim, é vedada à contratante a utilização dos trabalhadores em atividades distintas daquelas que foram objeto do contrato, podendo o trabalho ser prestado nas dependências da contratante ou em outro local, de comum acordo entre as partes do contrato:
Art. 4o-A, Lei nº 6.019/1974. Empresa prestadora de serviços a terceiros é a pessoa jurídica de direito privado destinada a prestar à contratante serviços determinados e específicos. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017)
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Art. 5o-A, Lei nº 6.019/1974. Contratante é a pessoa física ou jurídica que celebra contrato com empresa de prestação de serviços determinados e específicos. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017)
• Condições de trabalho: Há uma interessante alteração prevista na Lei nº 13.429/2017 em relação ao modelo anterior, pois passa a ser responsabilidade da contratante dos serviços em garantir as condições de segurança, higiene e salubridades de todos os trabalhadores terceirizados, quando o trabalho for realizado em suas dependências ou em local convencionado em contrato. Essa previsão é extremamente importante, pois o dever de garantir o meio ambiente de trabalho sadio pela contratante é ampliado, além de seus próprios empregados, também aos terceirizados.
Art. 5º-A, § 3o , Lei nº 6.019/1974. É responsabilidade da contratante garantir as condições de segurança, higiene e salubridade dos trabalhadores, quando o trabalho for realizado em suas dependências ou local previamente convencionado em contrato. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017)
Art. 9º, § 1o , Lei nº 6.019/1974 É responsabilidade da empresa contratante garantir as condições de segurança, higiene e salubridade dos trabalhadores, quando o trabalho for realizado em suas dependências ou em local por ela designado. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017)
• Atendimento médico, ambulatorial e refeição: Por outro lado, a nova regulamentação foi totalmente imprecisa e discriminatória em relação à garantia aos terceirizados do mesmo atendimento médico, ambulatorial e de refeição que as empresas contratantes fornecem aos próprios empregados. Enquanto essa garantia é estendida aos trabalhadores temporários, é dada apenas a faculdade das empresas contratantes estenderem os benefícios aos terceirizados. Entendemos que essa diferenciação no tratamento entre terceirizado e temporário é discriminatória e inconstitucional. Veja a diferença na redação para os temporários e os terceirizados:
TEMPORÁRIOS TERCEIRIZADOS Art. 9º, § 2º, Lei nº 6.019/1974: A contratante estenderá ao trabalhador da empresa de trabalho temporário o mesmo atendimento médico, ambulatorial e de refeição destinado aos seus empregados, existente nas dependências da contratante, ou local por ela designado (grifo acrescido).
Art. 5º-A, § 4º, Lei nº 6.019/1974: A contratante poderá estender ao trabalhador da empresa de prestação de serviços o mesmo atendimento médico, ambulatorial e de refeição destinado aos seus empregados, existente nas dependências da contratante, ou local por ela designado. (grifos acrescidos)
• Responsabilidade subsidiária da contratante: A empresa contratante responderá subsidiariamente pelas obrigações trabalhistas dos terceirizados referente ao período em que ocorrer a prestação de serviços. Nesse caso, é necessário obedecer a uma ordem na exigência de pagamento das obrigações trabalhistas. Primeiro, deve se tentar obter as verbas da empresa prestadora de serviços a terceiros e só depois, caso impossibilitada a satisfação do crédito trabalhista, é possível cobrar da contratante. Persiste, portanto, a previsão contida no item IV da Súmula nº 331 do TST:
Súmula nº 331, IV, do TST: O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas obrigações, desde que haja participado da relação processual e conste também do título executivo judicial.
Art. 5º-A, § 5o, Lei nº 6.019/1974. A empresa contratante é subsidiariamente responsável pelas obrigações trabalhistas referentes ao período em que ocorrer a prestação de serviços, e o recolhimento das contribuições previdenciárias observará o disposto no art. 31 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017)
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Obs.: Vale ressaltar que o Projeto de Lei nº 4.330/2004, que foi aprovado na Câmara dos Deputados em 2015, mas que aguarda votação pelo Senado Federal, previa a obrigatoriedade de fiscalização pela contratante do cumprimento das obrigações trabalhistas decorrentes do contrato e a responsabilidade solidária da contratante pelos débitos trabalhistas. Essa previsão é mais benéfica ao trabalhador, pois descumpridas as obrigações do contrato de trabalho, o trabalhador poderia exigir diretamente da empresa prestadora e da contratante.
• Requisitos do contrato de terceirização: De acordo com a nova legislação, será necessário atender a alguns requisitos para a celebração do contrato de prestação de serviços. Dessa forma, o contrato pode ser classificado como solene, pois exige uma forma estabelecida em lei para sua celebração. Os requisitos estarão previstos no art. 5º-B da Lei nº 6.019/1974:
Art. 5º-B, Lei nº 6.019/1974 (Acrescentado pela Lei nº 13.429/2017): O contrato de prestação de serviços conterá:
I - qualificação das partes;
II - especificação do serviço a ser prestado;
III - prazo para realização do serviço, quando for o caso;
IV - valor.
• Direitos dos trabalhadores terceirizados e temporários: Diante do veto parcial do Presidente da República à alteração no art. 12 da Lei nº 6.019/1974, permanecem vigentes todos os direitos dos trabalhadores temporários, com direito ao salário e jornada de trabalho equivalente ao percebido pelos empregados da tomadora que exerça a mesma função ou cargo. Ocorre que não há na legislação disposição semelhante ao terceirizado, o que deve gerar diversas discussões. Entendemos que, diante da aplicação do princípio da isonomia salarial, os trabalhadores terceirizados deverão receber a mesma remuneração daqueles que trabalhadores da empresa contratante que exerçam a mesma função, pois situação diversa criaria a possibilidade de contratação de dois trabalhadores, um terceirizado e outro não, para exercer trabalho de igual valor com remunerações distintas. Se as funções forem diversas, os direitos não serão os mesmos. Aplica-se, ainda, o entendimento previsto na OJ nº 383 da SDI-I do TST:
Art. 12, Lei nº 6.019/1974. Ficam assegurados ao trabalhador temporário os seguintes direitos:
a) remuneração equivalente à percebida pelos empregados de mesma categoria da empresa tomadora ou cliente calculados à base horária, garantida, em qualquer hipótese, a percepção do salário mínimo regional;
b) jornada de oito horas, remuneradas as horas extraordinárias não excedentes de duas, com acréscimo de 20% (vinte por cento);
c) férias proporcionais, nos termos do artigo 25 da Lei nº 5.107, de 13 de setembro de 1966;
d) repouso semanal remunerado;
e) adicional por trabalho noturno;
f) indenização por dispensa sem justa causa ou término normal do contrato, correspondente a 1/12 (um doze avos) do pagamento recebido;
g) seguro contra acidente do trabalho;
h) proteção previdenciária nos termos do disposto na Lei Orgânica da Previdência Social, com as alterações introduzidas pela Lei nº 5.890, de 8 de junho de 1973 (art. 5º, item III, letra "c" do Decreto nº 72.771, de 6 de setembro de 1973).
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Orientação Jurisprudencial nº 383 da SDI-I do TST: A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não gera vínculo de emprego com ente da Administração Pública, não afastando, contudo, pelo princípio da isonomia, o direito dos empregados terceirizados às mesmas verbas trabalhistas legais e normativas asseguradas àqueles contratados pelo tomador dos serviços, desde que presente a igualdade de funções. Aplicação analógica do art. 12, “a”, da Lei nº 6.019, de 03.01.1974.
• Inaplicabilidade da legislação às empresas de vigilância e transporte de valores: Tendo em vista as especificidades dos serviços de vigilância e transporte de valores e pela existência de legislação especial regulamentando o assunto, a Lei nº 6.019/1974 não será aplicada para essas relações de trabalho. Para os trabalhadores desse setor, permanece a aplicação da Lei nº 7.102/1983 e, subsidiariamente, da CLT:
Art. 19-B, Lei nº 6.019/1974. O disposto nesta Lei não se aplica às empresas de vigilância e transporte de valores, permanecendo as respectivas relações de trabalho reguladas por legislação especial, e subsidiariamente pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1ode maio de 1943. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017)
• Consequências das novas regras de terceirização para os órgãos de proteção ao trabalhador: A alteração na disciplina jurídica da terceirização tratará diversos reflexos na atuação dos órgãos de proteção do trabalhador:
– Poder Judiciário: Uma das consequências no Judiciário trabalhista da promulgação da Lei nº 13.429/2017 será a extinção de inúmeros processos que discutem a possibilidade de terceirização da atividade-fim da empresa. Com a nova regulamentação, será possível a terceirização na atividade-fim. No caso de processos individuais, de reconhecimento de vínculo de emprego, persiste a lei vigente à época da prestação dos serviços conforme Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB):
Art. 6º, LINDB: A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
– Auditores-Fiscais do Trabalho: Com a nova regulamentação, não será possível a autuação de empresas pela ausência de registro e anotação na CTPS do empregado que trabalha na atividade-fim da empresa, pois esses empregados poderão ser terceirizados.
– Ministério Público do Trabalho (MPT): A modificação na disciplina jurídica da terceirização, caso prevaleça a interpretação que permite a terceirização na atividade-fim6, poderá levar ao questionamento das empresas quanto aos inquéritos, TACs e ações civis públicas ajuizadas. Em relação aos inquéritos, muitos poderão ser arquivados por perda do objeto. Quanto aos TACs firmados, poderão ser ajuizadas ações anulatórias. Por fim, quanto às ações civis públicas já transitadas em julgado, poderá ocorrer o ajuizamento de ações rescisórias, ou ainda, o pedido de extinção do processo na hipótese de não ter ocorrido o trânsito em julgado.
• Consequências da disciplina legal da terceirização para os sindicatos: A ampliação da terceirização para a atividade-fim das empresas terá como consequência a pulverização de sindicatos, pois cada trabalhador estará vinculado à atividade econômica preponderante de seu empregador, que
6 É importante ressaltar que há interpretação restritiva no sentido de que a lei não é clara a esse respeito e nada mudou com a Lei nº 13.429/2017.
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corresponde à empresa de prestação de serviços a terceiros. A regra de enquadramento sindical dos empregados terceirizados é a mesma aplicada aos demais empregados, isto é, deverá seguir a atividade econômica preponderante exercida por seu empregador. Lembre-se que, nesse caso, a empresa prestadora de serviços é a empregadora dos terceirizados e será, portanto, determinada a categoria profissional de acordo com a atividade dessa empresa, e não aquela desenvolvida pela empresa contratante. Portanto, de acordo com a nova lei, em uma mesma empresa, pode haver diversas outras empresas contratadas e que compreendem categorias econômicas e profissionais distintas, o que pode gerar a perda do vínculo de solidariedade entre os trabalhadores. Os sindicatos dos empregados terceirizados assumirá papel de destaque, sendo necessário seu fortalecimento para a garantia de melhores condições de trabalho aos terceirizados.
• Consequências da Lei nº 13.429/2017 para a Administração Pública: Vale ressaltar que o Projeto de Lei nº 4.330/2004, que foi aprovado na Câmara dos Deputados em 2015, mas que aguarda votação pelo Senado Federal, excluía expressamente a Administração direta, autárquica e fundacional da lei de terceirização. Ocorre que a Lei nº 13.429/2017 foi silente quanto ao assunto, o que deve gerar diversas discussões. É importante salientar que o foco da nova disciplina jurídica da legislação é a regulamentação do trabalho temporário e da terceirização nas empresas. Portanto, a lei não foi criada para aplicação na administração direta, autarquias e fundações públicas por não se equipararem às empresas privadas. Além disso, há previsão constitucional estabelecendo a necessidade de concurso público para provimento dos cargos e empregos públicos criados:
Art. 37, da Constituição Federal: A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
(...)
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração.
• Tendo em vista que a Constituição Federal é hierarquicamente superior à legislação ordinária, seja na forma quanto no seu conteúdo, as disposições da nova legislação do trabalho temporário e terceirizado não excluirá a necessidade de concurso público para a investidura em cargo ou emprego público. Além disso, há posicionamento no sentido de que as atividades típicas e centrais do Estado não podem ser terceirizadas, como a segurança pública, cargos do Poder Judiciário, do Ministério Público, cargos de fiscalização, Tribunal de Contas e de agências reguladoras. Nesses casos, permanece, sem dúvidas, a exigência do concurso público e da relação direta com a Administração Pública.
• Em resumo, se já existe cargo ou emprego público criado por lei, não é possível a terceirização pela Administração Pública. Por outro lado, recentemente, o STF no julgamento da ADI nº 1.923/DF7, decidiu que a Lei nº 9.637/1998, que regulamenta as denominadas organizações sociais, é constitucional. Uma das formas previstas atualmente para ampliação da participação do setor privado consiste na transferência dos recursos públicos a um particular que atua em colaboração com o Poder
7. ADI nº 1.923/DF: Relator: Min. Ayres Britto. Data de julgamento: 16/04/2015.
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Público. É nesse contexto que surgem as organizações sociais, que terão sua atividade voltada ao desenvolvimento tecnológico, do ensino, pesquisa e proteção do meio ambiente, da cultura e saúde.
• Trata-se, portanto, de verdadeira possibilidade legalmente permitida da Administração Pública repassar a um terceiro a prestação de serviços públicos essenciais ao Estado, como a saúde e educação. Ocorre, na prática, a terceirização da atividade-fim do Estado, que consiste em assegurar o bem-estar social. Esses serviços públicos deveriam ser prestados diretamente pelo Poder Público sem nenhum intermediário, ou ainda mediante permissão, autorização ou concessão de serviço público. Entretanto, a prestação direta ou a concessão de serviço público não ocorrem. Com a decisão do STF, a terceirização da atividade-fim do Poder Público criada pela instituição das organizações sociais tornou-se legal.
• Conclusão (Lei nº 13.429/2017): A Lei que era para trazer segurança jurídica, não alcançou seu objetivo. É omissa e imprecisa em diversos pontos. Possibilita, em tese, a terceirização irrestrita e geral e mantém a responsabilidade subsidiária da tomadora dos serviços. Infelizmente, até que o TST e o STF se posicionem sobre o tema, causará debates doutrinários profundos e decisões judiciais conflitantes e, sobretudo, inúmeros prejuízos aos trabalhadores.
ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS DESTACADAS
LEI Nº 13.429, DE 31 DE MARÇO DE 2017 Altera dispositivos da Lei no 6.019, de 3 de janeiro de 1974, que dispõe sobre o trabalho temporário nas empresas urbanas e dá outras providências; e dispõe sobre as relações de trabalho na empresa de prestação de serviços a terceiros. Lei nº 6.019/1974 Art. 1º As relações de trabalho na empresa de trabalho temporário, na empresa de prestação de serviços e nas respectivas tomadoras de serviço e contratante regem-se por esta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.429, de 2017) Art. 2o Trabalho temporário é aquele prestado por pessoa física contratada por uma empresa de trabalho temporário que a coloca à disposição de uma empresa tomadora de serviços, para atender à necessidade de substituição transitória de pessoal permanente ou à demanda complementar de serviços. (Redação dada pela Lei nº 13.429, de 2017) § 1o É proibida a contratação de trabalho temporário para a substituição de trabalhadores em greve, salvo nos casos previstos em lei. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) § 2o Considera-se complementar a demanda de serviços que seja oriunda de fatores imprevisíveis ou, quando decorrente de fatores previsíveis, tenha natureza intermitente, periódica ou sazonal. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) Art. 3º - É reconhecida a atividade da empresa de trabalho temporário que passa a integrar o plano básico do enquadramento sindical a que se refere o art. 577, da Consolidação da Leis do Trabalho. Art. 4o Empresa de trabalho temporário é a pessoa jurídica, devidamente registrada no Ministério do Trabalho, responsável pela colocação de trabalhadores à disposição de outras empresas temporariamente. (Redação dada pela Lei nº 13.429, de 2017) Art. 4o-A. Empresa prestadora de serviços a terceiros é a pessoa jurídica de direito privado destinada a prestar à contratante serviços determinados e específicos. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) § 1o A empresa prestadora de serviços contrata, remunera e dirige o trabalho realizado por seus trabalhadores, ou subcontrata outras empresas para realização desses serviços. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) § 2o Não se configura vínculo empregatício entre os trabalhadores, ou sócios das empresas
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prestadoras de serviços, qualquer que seja o seu ramo, e a empresa contratante. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) Art. 4o-B. São requisitos para o funcionamento da empresa de prestação de serviços a terceiros: (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) I - prova de inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ); (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) II - registro na Junta Comercial; (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) III - capital social compatível com o número de empregados, observando-se os seguintes parâmetros: (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) a) empresas com até dez empregados - capital mínimo de R$ 10.000,00 (dez mil reais); (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) b) empresas com mais de dez e até vinte empregados - capital mínimo de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais); (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) c) empresas com mais de vinte e até cinquenta empregados - capital mínimo de R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais); (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) d) empresas com mais de cinquenta e até cem empregados - capital mínimo de R$ 100.000,00 (cem mil reais); e (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) e) empresas com mais de cem empregados - capital mínimo de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais). (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) Art. 5o Empresa tomadora de serviços é a pessoa jurídica ou entidade a ela equiparada que celebra contrato de prestação de trabalho temporário com a empresa definida no art. 4o desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.429, de 2017) Art. 5o-A. Contratante é a pessoa física ou jurídica que celebra contrato com empresa de prestação de serviços determinados e específicos. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) § 1o É vedada à contratante a utilização dos trabalhadores em atividades distintas daquelas que foram objeto do contrato com a empresa prestadora de serviços. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) § 2o Os serviços contratados poderão ser executados nas instalações físicas da empresa contratante ou em outro local, de comum acordo entre as partes. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) § 3o É responsabilidade da contratante garantir as condições de segurança, higiene e salubridade dos trabalhadores, quando o trabalho for realizado em suas dependências ou local previamente convencionado em contrato. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) § 4o A contratante poderá estender ao trabalhador da empresa de prestação de serviços o mesmo atendimento médico, ambulatorial e de refeição destinado aos seus empregados, existente nas dependências da contratante, ou local por ela designado. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) § 5o A empresa contratante é subsidiariamente responsável pelas obrigações trabalhistas referentes ao período em que ocorrer a prestação de serviços, e o recolhimento das contribuições previdenciárias observará o disposto no art. 31 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) Art. 5o-B. O contrato de prestação de serviços conterá: (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) I - qualificação das partes; (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) II - especificação do serviço a ser prestado; (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) III - prazo para realização do serviço, quando for o caso; IV - valor. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) Art. 6o São requisitos para funcionamento e registro da empresa de trabalho temporário no Ministério do Trabalho: (Redação dada pela Lei nº 13.429, de 2017) a) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.429, de 2017) b) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.429, de 2017) c) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.429, de 2017) d) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.429, de 2017) e) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.429, de 2017) f) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.429, de 2017) I - prova de inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), do Ministério da
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Fazenda; (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) II - prova do competente registro na Junta Comercial da localidade em que tenha sede; (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) III - prova de possuir capital social de, no mínimo, R$ 100.000,00 (cem mil reais). (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.429, de 2017) Art. 7º - A empresa de trabalho temporário que estiver funcionando na data da vigência desta Lei terá o prazo de noventa dias para o atendimento das exigências contidas no artigo anterior. Parágrafo único. A empresa infratora do presente artigo poderá ter o seu funcionamento suspenso, por ato do Diretor Geral do Departamento Nacional de Mão-de-Obra, cabendo recurso ao Ministro de Estado, no prazo de dez dias, a contar da publicação do ato no Diário Oficial da União. Art. 8º - A empresa de trabalho temporário é obrigada a fornecer ao Departamento Nacional de Mão-de-Obra, quando solicitada, os elementos de informação julgados necessários ao estudo do mercado de trabalho. Art. 9o O contrato celebrado pela empresa de trabalho temporário e a tomadora de serviços será por escrito, ficará à disposição da autoridade fiscalizadora no estabelecimento da tomadora de serviços e conterá: (Redação dada pela Lei nº 13.429, de 2017) I - qualificação das partes; (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) II - motivo justificador da demanda de trabalho temporário; (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) III - prazo da prestação de serviços; (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) IV - valor da prestação de serviços; (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) V - disposições sobre a segurança e a saúde do trabalhador, independentemente do local de realização do trabalho. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) § 1o É responsabilidade da empresa contratante garantir as condições de segurança, higiene e salubridade dos trabalhadores, quando o trabalho for realizado em suas dependências ou em local por ela designado. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) § 2o A contratante estenderá ao trabalhador da empresa de trabalho temporário o mesmo atendimento médico, ambulatorial e de refeição destinado aos seus empregados, existente nas dependências da contratante, ou local por ela designado. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) § 3o O contrato de trabalho temporário pode versar sobre o desenvolvimento de atividades-meio e atividades-fim a serem executadas na empresa tomadora de serviços. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) Art. 10. Qualquer que seja o ramo da empresa tomadora de serviços, não existe vínculo de emprego entre ela e os trabalhadores contratados pelas empresas de trabalho temporário. (Redação dada pela Lei nº 13.429, de 2017) § 1o O contrato de trabalho temporário, com relação ao mesmo empregador, não poderá exceder ao prazo de cento e oitenta dias, consecutivos ou não. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) § 2o O contrato poderá ser prorrogado por até noventa dias, consecutivos ou não, além do prazo estabelecido no § 1o deste artigo, quando comprovada a manutenção das condições que o ensejaram. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) § 3o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) § 4o Não se aplica ao trabalhador temporário, contratado pela tomadora de serviços, o contrato de experiência previsto no parágrafo único do art. 445 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) § 5o O trabalhador temporário que cumprir o período estipulado nos §§ 1o e 2o deste artigo somente poderá ser colocado à disposição da mesma tomadora de serviços em novo contrato temporário, após noventa dias do término do contrato anterior. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) § 6o A contratação anterior ao prazo previsto no § 5o deste artigo caracteriza vínculo empregatício com a tomadora. § 7o A contratante é subsidiariamente responsável pelas obrigações trabalhistas referentes ao
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período em que ocorrer o trabalho temporário, e o recolhimento das contribuições previdenciárias observará o disposto no art. 31 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) Art. 11 - O contrato de trabalho celebrado entre empresa de trabalho temporário e cada um dos assalariados colocados à disposição de uma empresa tomadora ou cliente será, obrigatoriamente, escrito e dele deverão constar, expressamente, os direitos conferidos aos trabalhadores por esta Lei. Parágrafo único. Será nula de pleno direito qualquer cláusula de reserva, proibindo a contratação do trabalhador pela empresa tomadora ou cliente ao fim do prazo em que tenha sido colocado à sua disposição pela empresa de trabalho temporário. Art. 12 - Ficam assegurados ao trabalhador temporário os seguintes direitos: a) remuneração equivalente à percebida pelos empregados de mesma categoria da empresa tomadora ou cliente calculados à base horária, garantida, em qualquer hipótese, a percepção do salário mínimo regional; b) jornada de oito horas, remuneradas as horas extraordinárias não excedentes de duas, com acréscimo de 20% (vinte por cento); c) férias proporcionais, nos termos do artigo 25 da Lei nº 5.107, de 13 de setembro de 1966; d) repouso semanal remunerado; e) adicional por trabalho noturno; f) indenização por dispensa sem justa causa ou término normal do contrato, correspondente a 1/12 (um doze avos) do pagamento recebido; g) seguro contra acidente do trabalho; h) proteção previdenciária nos termos do disposto na Lei Orgânica da Previdência Social, com as alterações introduzidas pela Lei nº 5.890, de 8 de junho de 1973 (art. 5º, item III, letra "c" do Decreto nº 72.771, de 6 de setembro de 1973). § 1º - Registrar-se-á na Carteira de Trabalho e Previdência Social do trabalhador sua condição de temporário. § 2º - A empresa tomadora ou cliente é obrigada a comunicar à empresa de trabalho temporário a ocorrência de todo acidente cuja vítima seja um assalariado posto à sua disposição, considerando-se local de trabalho, para efeito da legislação específica, tanto aquele onde se efetua a prestação do trabalho, quanto a sede da empresa de trabalho temporário. Art. 13 - Constituem justa causa para rescisão do contrato do trabalhador temporário os atos e circunstâncias mencionados nos artigos 482 e483, da Consolidação das Leis do Trabalho, ocorrentes entre o trabalhador e a empresa de trabalho temporário ou entre aquele e a empresa cliente onde estiver prestando serviço. Art. 14 - As empresas de trabalho temporário são obrigadas a fornecer às empresas tomadoras ou clientes, a seu pedido, comprovante da regularidade de sua situação com o Instituto Nacional de Previdência Social. Art. 15 - A Fiscalização do Trabalho poderá exigir da empresa tomadora ou cliente a apresentação do contrato firmado com a empresa de trabalho temporário, e, desta última o contrato firmado com o trabalhador, bem como a comprovação do respectivo recolhimento das contribuições previdenciárias. Art. 16 - No caso de falência da empresa de trabalho temporário, a empresa tomadora ou cliente é solidariamente responsável pelo recolhimento das contribuições previdenciárias, no tocante ao tempo em que o trabalhador esteve sob suas ordens, assim como em referência ao mesmo período, pela remuneração e indenização previstas nesta Lei. Art. 17 - É defeso às empresas de prestação de serviço temporário a contratação de estrangeiros com visto provisório de permanência no País. Art. 18 - É vedado à empresa do trabalho temporário cobrar do trabalhador qualquer importância, mesmo a título de mediação, podendo apenas efetuar os descontos previstos em Lei. Parágrafo único. A infração deste artigo importa no cancelamento do registro para funcionamento da empresa de trabalho temporário, sem prejuízo das sanções administrativas e penais cabíveis. Art. 19 - Competirá à Justiça do Trabalho dirimir os litígios entre as empresas de serviço
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temporário e seus trabalhadores. Art. 19-A. O descumprimento do disposto nesta Lei sujeita a empresa infratora ao pagamento de multa. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) Parágrafo único. A fiscalização, a autuação e o processo de imposição das multas reger-se-ão pelo Título VII da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1o de maio de 1943. Art. 19-B. O disposto nesta Lei não se aplica às empresas de vigilância e transporte de valores, permanecendo as respectivas relações de trabalho reguladas por legislação especial, e subsidiariamente pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1ode maio de 1943. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) Art. 19-C. Os contratos em vigência, se as partes assim acordarem, poderão ser adequados aos termos desta Lei. (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017) Art. 20 - Esta Lei entrará em vigor sessenta dias após sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
NOTA DE ATUALIZAÇÃO 7ª
EDIÇÃO
SÚMULAS E OJS COMENTADAS E ORGANIZADAS POR ASSUNTOS
7º Edição/2016
Editora Juspodivm
Atenção! Com a finalidade de facilitar a compreensão desta nota de atualização com a 6ª
edição de seu livro, optamos por inserir os comentários às súmulas e OJs do TST por inteiro
mesmo quando as modificações foram parciais.
PARTE I – DIREITO DO TRABALHO
CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO
1.2.5. Complementação de aposentadoria prevista em norma interna da empresa
1.2.5.1. Complementação dos proventos da aposentadoria
Súmula nº 288 do TST. Complementação dos proventos da aposentadoria
I - A complementação dos proventos de aposentadoria, instituída, regulamentada e paga
diretamente pelo empregador, sem vínculo com as entidades de previdência privada fechada, é
regida pelas normas em vigor na data de admissão do empregado, ressalvadas as alterações que
forem mais benéficas (art. 468 da CLT).
II - Na hipótese de coexistência de dois regulamentos de planos de previdência complementar,
instituídos pelo empregador ou por entidade de previdência privada, a opção do beneficiário
por um deles tem efeito jurídico de renúncia às regras do outro.
III – Após a entrada em vigor das Leis Complementares nºs 108 e 109, de 29/05/2001, reger-se-
á a complementação dos proventos de aposentadoria pelas normas vigentes na data da
implementação dos requisitos para obtenção do benefício, ressalvados o direito adquirido do
participante que anteriormente implementara os requisitos para o benefício e o direito
acumulado do empregado que até então não preenchera tais requisitos.
IV – O entendimento da primeira parte do item III aplica-se aos processos em curso no Tribunal
Superior do Trabalho em que, em 12/04/2016, ainda não haja sido proferida decisão de mérito
por suas Turmas e Seções.
1.2.5.1.1. Introdução
A redação da Súmula nº 288 foi alterada recentemente pelo TST (abril/2016).
Inicialmente, cabe frisar que não há previsão na CLT sobre complementação de
aposentadoria. Portanto, essa complementação deverá ter previsão em acordo, convenção
ou regulamento de empresa. A complementação de aposentadoria consiste em uma
vantagem dada pelo empregador ao empregado como forma de complementar a
aposentadoria paga pelo INSS1. Não se confunde, portanto, com benefício previdenciário da
Lei nº 8213/91.
A complementação de aposentadoria não tem natureza salarial, portanto eventual
complementação não vai refletir nas demais verbas salariais. Nesse sentido, estabelece o
texto constitucional e a CLT:
Art. 202, § 2º, da CF/88: As contribuições do empregador, os benefícios e as condições
contratuais previstas nos estatutos, regulamentos e planos de benefícios das entidades de
previdência privada não integram o contrato de trabalho dos participantes, assim como, à
exceção dos benefícios concedidos, não integram a remuneração dos participantes, nos
termos da lei.
Art. 458, § 2º, da CLT: Para os efeitos previstos neste artigo, não serão consideradas
como salário as seguintes utilidades concedidas pelo empregador:
(...)
VI – previdência privada
1.2.5.1.2. Antes da alteração da Súmula nº 288 do TST (abril/2016)
Antes da alteração promovida em abril de 2016, a jurisprudência do TST defendia o fato
de que as regras postas no ato da contratação do trabalhador somente poderiam ser
alteradas se em benefício do empregado. Lembre-se de que os direitos previstos no
regulamento de empresa, inclusive as regras de complementação de aposentadoria,
incorporam-se, de forma definitiva, ao contrato de trabalho, aplicando-se a Súmula nº 51 do
TST, comentada anteriormente.
Havia intensa discussão sobre a possibilidade de alterar as regras no tocante à
complementação de aposentadoria prevista em regulamento interno, durante o contrato de
trabalho, uma vez que haveria apenas uma expectativa de direito. Essa tese defende o fato de
que o empregado somente terá direito às regras previstas no regulamento interno, após
preencher todos os requisitos para aposentadoria (o tempo de serviço, a idade para
aquisição da aposentadoria etc.). Assim sendo, a aposentadoria seria um evento futuro e
incerto, configurando-se uma condição e, portanto, não haveria direito adquirido do
empregado (art. 125 do CC).
Nesse caso, como se trata de mera expectativa de direito, o empregador poderia alterar
todas as promessas feitas durante o contrato, sem que esse ato afrontasse o art. 468 da CLT,
que veda as alterações prejudiciais. Aliás, nesse sentido, há previsão expressa no art. 202, §
2º, da Constituição Federal:
Art. 202, § 2º, CF/88: As contribuições do empregador, os benefícios e as condições
1. “A complementação de aposentadoria é benesse pactuada durante o contrato de trabalho, entre o
empregado e o empregador ou entre empregado e empresa do grupo econômico do empregador, com a
anuência deste, para surtir efeitos após a aposentadoria do trabalhador. Tem o objetivo de garantir, a partir
da aposentadoria, vantagens financeiras e/ou patrimoniais para complementar os proventos da
aposentadoria pagos pelo INSS. Normalmente o complemento é feito por empresa de previdência privada,
criada, mantida, patrocinada ou gerida pelo empregador.” CASSAR, Vólia Bonfim. Direito do Trabalho. 4. ed.
rev. e ampl. Niterói: Impetus, 2010. p. 813
contratuais previstas nos estatutos, regulamentos e planos de benefícios das entidades de
previdência privada não integram o contrato de trabalho dos participantes, assim como, à
exceção dos benefícios concedidos, não integram a remuneração dos participantes, nos
termos da lei.
Aliás, o Supremo Tribunal Federal já decidiu que as alterações nas regras de
aposentadoria dos servidores públicos federais não ferem direito adquirido, pois se trata
apenas de expectativa de direito.
1.2.5.1.3. Após a alteração da Súmula nº 288 do TST (abril/2016)
Com a recente alteração da Súmula nº 288, o tribunal diferenciou os efeitos decorrentes
da complementação de aposentadoria concedida pelo empregador daquela decorrente de
vínculo com entidades de previdência privada fechada:
a) Complementação de aposentadoria instituída pelo empregador:
No caso de complementação de aposentadoria instituída, regulamentada e paga
diretamente pelo empregador, mantém-se o posicionamento que era previsto na antiga
redação da Súmula nº 288, I, do TST, ou seja, as regras postas no ato da contratação do
trabalhador devem prevalecer, exceto quando as alterações forem benéficas ao
empregado:
Súmula nº 288, I, do TST - A complementação dos proventos de aposentadoria, instituída,
regulamentada e paga diretamente pelo empregador, sem vínculo com as entidades de
previdência privada fechada, é regida pelas normas em vigor na data de admissão do empregado,
ressalvadas as alterações que forem mais benéficas (art. 468 da CLT).
Nesse caso, como se trata de causa decorrente da relação de trabalho (empregado x empregador), a
competência para discuti-la é da Justiça do Trabalho.
b) Complementação de aposentadoria com a participação de entidade de
previdência privada:
Se houver participação de entidade de previdência privada, as normas aplicáveis à
complementação de aposentadoria do empregado serão, em regra, definidas somente
quando o empregado preencher todos os requisitos para o recebimento do benefício
previdenciário.
Contudo, foram estabelecidas duas exceções à hipótese acima, de modo que nesses casos
a concessão do benefício observará os requisitos data de admissão do empregado.
A primeira refere-se ao limite temporal relativo à promulgação das Leis
Complementares nº 108 e 109 de 29/05/2001, que regulamentaram o regime de
previdência privada em conformidade com o art. 202 da CF/88. Portanto, somente após a
vigência dessas leis complementares, é possível a aplicação do novo posicionamento do TST.
Todos os empregados que implementaram os requisitos para a obtenção do benefício –
direito adquirido, bem como o direito acumulado dos empregados que não preencheram
todos os requisitos devem ser observados. Direito acumulado compreende o direito do
empregado ao recebimento dos recursos financeiros já alcançados pela aplicação na
aposentadoria privada conforme regras anteriores.
Quanto ao julgado que deu origem à alteração no posicionamento do TST2, extrai-se que
2 RR 162200-56.2009.5.01.0075, 7ªT - Min. Cláudio Mascarenhas Brandão . DEJT 02.10.2015/J-23.09.2015 -
Decisão unânime.
as normas que regem a complementação de aposentadoria não podem ser imutaveis, a fim
de possibilitar o cumprimento das obrigacoes assumidas. Com isso, o TST fixou que, para
que seja possível a manutencao desses benefícios complementares, se faz necessária a
adequação dos planos de complementação salarial às normas vigentes, respeitando-se o
direito adquirido e, para aqueles que ainda nao adquiriram na integralidade, seja obtida a
proporção do direito que acumulou anteriormente à alteração.
A segunda exceção consiste na aplicação do novo posicionamento somente aos processos
em curso no TST que, em 12/04/2016, ainda não tinha decisão de mérito por suas Turmas e
Seções, conforme disposto no item IV da Súmula em comentário. Trata-se de modulação dos
efeitos da decisão do TST, embasada no art. 927, § 3º, do NCPC, definindo a data da
deliberação da sessão como o marco para sua incidência3. Essa modulação é de extrema
importância dando segurança jurídica aos jurisdicionados, já que a jurisprudência
trabalhista não diferenciava os institutos, aplicando indiscriminadamente o art. 468 da CLT,
de modo que as regras postas no ato da contratação do trabalhador somente poderiam ser
alteradas se em benefício do empregado.
1.2.5.1.4. Coexistência de planos de previdência complementar
Recentemente, essa Súmula 288 já havia sido alterada. Assim sendo, na hipótese de
coexistência de dois regulamentos de planos de previdência complementar, instituídos pelo
empregador ou por entidade de previdência privada, a opção do beneficiário por um deles
tem efeito jurídico de renúncia às regras do outro. Essa alteração está no mesmo sentido da
Súmula nº 51, II, do TST: “II - Havendo a coexistência de dois regulamentos da empresa, a
opção do empregado por um deles tem efeito jurídico de renúncia às regras do sistema do
outro.”
Cabe destacar, ainda, que eventual termo de quitação assinado perante a Comissão de
Conciliação Prévia (art. 625-E, parágrafo único, da CLT) possui abrangência limitada às
verbas trabalhistas propriamente ditas, não alcançando eventuais diferenças de
complementação de aposentadoria4.
Ademais, não é possível a vinculação da complementação de aposentadoria ao piso
salarial fixado em múltiplos de salário-mínimo, ainda que exista lei estadual assegurando a
observância da norma coletiva que estipulou a base de cálculo, tendo em vista o disposto no
art. 7º, IV, da CF/88 e na Súmula Vinculante 4 do STF5.
1.2.5.1.5. Competência para solucionar conflitos relacionados à complementação de
aposentadoria.
3 TST-E-ED-RR-235-20.2010.5.20.0006, Tribunal Pleno. Rel. Min. ALOYSIO CORRÊA DA VEIGA. DJe
23.5.2016.
4. Informativo nº 33 – Confira o texto integral ao final desse capítulo
5. Informativo nº 70 do TST – Confira o texto integral ao final desse capítulo. (Súmula Vinculante nº
04 do STF – Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como
indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por
decisão judicial.)
No que tange à competência para dirimir os conflitos relacionados à complementação
de aposentadoria, inicialmente, o TST pacificou o entendimento de que era da Justiça do
Trabalho, por entender que decorria da relação de trabalho, mesmo em se tratando de viúva
ou dependentes de ex-empregado.
No entanto, o Supremo Tribunal Federal foi provocado nos recursos extraordinários
nº 586453 e 583050 a se manifestar acerca da competência da Justiça do trabalho para
julgar tais ações quando ajuizadas em face da entidade privada de previdência
complementar.
Depois de amplo debate sobre o tema, o STF decidiu que a competência para o
julgamento de tais processos é da Justiça Comum, quando se tratar de entidade privada de
previdência complementar, sob o fundamento de que a complementação de aposentadoria
deriva de uma relação previdenciária autônoma, não sendo, portanto, decorrente da relação
de trabalho a legitimar a competência da Justiça Laboral.
Argumentou o Exmo. Ministro Dias Toffoli, em seu voto, que o art. 202, § 2º, da CF,
declara expressamente que a previdência complementar não integra o contato de trabalho.
Ademais, o art. 14, II, da LC nº 109/01 permite a portabilidade do direito acumulado pelo
participante para outro plano, o que significa que o trabalhador poderá migrar de um fundo
para outro, independentemente da relação de trabalho firmada.
Decidiu, portanto, que a competência para julgar as ações de complementação de
aposentadoria é da Justiça Comum, quando se tratar de discussão com a entidade de
privada de previdência complementar.
Contudo, a Suprema Corte modulou os efeitos da decisão (eficácia prospectiva da
decisão) em prol da segurança jurídica, declinando que manterá, na Justiça do Trabalho, até
final execução, todos os processos dessa espécie em que já tenha sido proferida sentença de
mérito, até o dia 20.2.13 (data conclusão do julgamento do recurso), enquanto os processos
que não tinham sentença de mérito nessa data deverão ser remetidos à Justiça Comum6.
A decisão do E. STF, embora aparentemente tenha solucionado a controvérsia, há de ser
bem interpretada.
As ações de complementação de aposentadoria podem decorrer de: 1) plano instituído,
regulamentado e pago pelo empregador; 2) plano por entidade privada de previdência
complementar.
Na primeira hipótese, trata-se de direito inserido no contrato de trabalho, incidindo
inclusive o art. 468 da CLT, que veda a alteração lesiva ao empregado, como disposto pelo C.
TST no item I da Súmula em comentário. Nesse caso, a competência é da Justiça do
Trabalho, como se verifica pelas decisões das Cortes Superiores a seguir transcritas:
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE
INSTRUMENTO. COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA A CARGO
DO EX-EMPREGADOR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO
PARA JULGAR E APRECIAR A CAUSA. ANÁLISE DE MATÉRIA FÁTICO-
PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULAS 279 E 454 DO STF.
6. RE nº 586.453-7 RG/SE. Rel. Min. Ellen Gracie. julg. 10.9.2009. Dje 02.10.2009; RE nº 594.435-2
R G / S P . R e l . M i n . M a r c o A u r é l i o . j u l g . 1 3 . 2 . 2 0 0 9 . D j e 6 . 1 1 . 2 0 0 9 .
1. A jurisprudência do STF é no sentido de que compete à Justiça do
Trabalho o julgamento de ação de complementação de aposentadoria
a cargo do ex-empregador (RE 716.896 AgR, Relator(a): Min.
RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, DJe 29/04/2013; AI
670715 AgR-ED, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma,
julgado em 17/08/2010, DJe 03/09/2010).
2. Não há como examinar matéria fático-probatória e interpretar cláusulas
contratuais com o fim de se concluir que a relação entre as partes não
decorre do contrato de trabalho (Súmulas 279 e 454 do STF). 3. Agravo
regimental a que se nega provimento. (negritei e sublinhei)7.
PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO (NEGATIVO) DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA
ESTADUAL E JUSTIÇA DO TRABALHO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA.
COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA A CARGO DO EX-
EMPREGADOR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO.
PRECEDENTES DO STF. Conflito conhecido para declarar a competência do
juízo da 7ª vara do trabalho de santos/SP, o suscitado8.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. COMPLEMENTAÇÃO DE
APOSENTADORIA PAGA PELA RECLAMADA (COMPANHIA DE
SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO - SABESP), EX-
EMPREGADORA DO RECLAMANTE. INAPLICABILIDADE DA
MODULAÇÃO DE EFEITOS ESTABELECIDA NAS DECISÕES PROFERIDAS
NOS RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS NºS 586453 e 583050.
O Supremo Tribunal Federal, por ocasião do julgamento dos Recursos
Extraordinários nºs 586453 e 583050, interpostos pela Fundação
Petrobras de Seguridade Social (Petros) e pelo Banco Banespa S.A.,
respectivamente, processos julgados mediante o critério de repercussão
geral, em sessão realizada em 20/2/2013, fixou o entendimento de que
carece competência a esta Justiça especializada para processar e julgar as
demandas que envolvam pedido de complementação de aposentadoria
contra entidade de complementação de aposentadoria privada. Entretanto,
a hipótese sub judice não é a mesma discutida nos autos dos citados
recursos extraordinários, ou seja, a complementação de aposentadoria não
era paga por entidade privada de aposentadoria complementar, mas pela
7 STF. Segunda Turma, AgR-AI 699.063, Relator: Ministro Teori Zavascki, DJe nº 125, publicado em
01/07/2013.
8 STJ. CC 134.542; Proc. 2014/0152494-0; SP; Primeira Seção; Rel. Min. Mauro Campbell Marques
própria reclamada Sabesp (ex-empregadora do reclamante), com recursos
da Fazenda Pública do Estado de São Paulo. Impende frisar que o Supremo
Tribunal Federal, no julgamento dos Recursos Extraordinários nºs 586453
e 583050, considerou o pagamento da complementação de aposentadoria
feito por entidade de previdência privada, sem vínculo trabalhista com o
reclamante, para afastar a competência da Justiça do Trabalho. Já no caso
de aposentadoria complementar decorrente do contrato de trabalho e
paga pelo empregador, aquela Corte firmou o entendimento de que esta
Justiça especializada possui competência para apreciar e julgar o feito.
Assim, nos termos da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e desta
Corte, é inaplicável à hipótese dos autos (inexistência de pagamento por
meio de entidade privada de complementação de aposentadoria) a
modulação de efeitos estabelecida nas decisões proferidas nos citados
recursos extraordinários, sendo irrelevante a existência de decisão
anterior a 20/02/2013, ressalvado entendimento em sentido contrário do
Relator. Portanto, o Tribunal a quo, ao manter a sentença pela qual foi
declarada a incompetência da Justiça do Trabalho para apreciar e julgar a
ação em curso em que o pedido de diferenças de complementação de
aposentadoria decorre do contrato de trabalho e era pago por sua antiga
empregadora (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo -
Sabesp), afrontou o artigo 114 da Constituição Federal. Recurso de revista
conhecido e provido9.
Na segunda hipótese, é possível pelo menos duas modalidades de ações:
- uma em face do empregador requerendo o pagamento de diferenças na
complementação de aposentadoria que não foram corretamente quitadas pelo
empregador; e
- outra em face da entidade de previdência privada para discutir o próprio benefício
da aposentadoria complementar como, por exemplo, se as regras para sua
concessão são as estabelecidas no momento da contratação ou as instituídas na
época em que preenchidos todos os requisitos para a aquisição do benefício.
A ação em face do empregador continua sendo de competência da Justiça do Trabalho,
porque decorrentes da relação do trabalho (CF/ 114, I).
Já a ação em face da entidade de previdência privada é da Justiça Comum, o que significa
que a decisão do E. STF atinge tão somente essa última hipótese. Portanto, a competência da
Justiça Comum não é definida apenas pela matéria a ser julgada, mas também pela parte10,
ou seja, quando a entidade de previdência complementar estiver no polo passivo.
De qualquer modo, é importante destacar que, como anunciado acima, as ações ajuizadas
em face da entidade de previdência privada que tinham sentença de mérito no dia 20.2.13,
continuaram na Justiça do Trabalho. Quero dizer, a ação é de competência da Justiça comum,
9 TST-RR-341-36.2013.5.02.0019, Relator Ministro José Roberto Freire Pimenta, 2ª Turma, publicado no
DEJT de 20/03/2015.
10 TST-RR -107000-90.2004.5.02.0017 , Relator Ministro: Aloysio Corrêa da Veiga, Data de Julgamento: 15/04/2015, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 17.4.2015.
mas em decorrência da modulação dos efeitos da decisão do STF, se já tinha sentença de
mérito será julgada em grau recursal pela Justiça do Trabalho. Nesse caso, como se trata de
relação previdenciária e não trabalhista, o C. TST entendeu que, nessa hipótese, os
julgamentos devem ocorrer com base na sistemática previdenciária e não com regras do
direito do trabalho, afastando especialmente a aplicação do princípio da inalterabilidade
lesiva. É por isso que o C. TST alterou seu entendimento na Súmula em comentário,
inserindo o item III, observada a modulação descrita no item IV. Desse modo, o item III
somente tem relevância para esses casos residuais que ainda não foram julgados pelo
tribunais.
Por fim, no tocante à prescrição11 da complementação de aposentadoria prevista no
regulamento interno, acordo ou convenção coletiva, é necessário que se analise se houve, em
algum momento, o pagamento da complementação. Se a parcela jamais foi paga, estaremos
diante da prescrição total, isto é, prazo de 2 anos a contar da concessão da aposentadoria,
conforme previsto na Súmula nº 326 do TST. Por outro lado, se houve pagamento da
complementação e posteriormente ocorreu a redução do valor, estaremos diante da
prescrição parcial, ou seja, o prazo prescricional renova-se mês a mês, podendo pleitear os
últimos 5 anos de diferença da complementação de aposentadoria, a contar do ajuizamento
da ação, segundo posicionamento previsto na Súmula nº 327 do TST.
Sobre o tema complementação de aposentadoria, consulte a jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça:
Súmula nº 291 do STJ: A ação de cobrança de parcelas de complementação de
aposentadoria pela previdência privada prescreve em cinco anos.
CAPÍTULO II – SUJEITOS DA RELAÇÃO EMPREGATÍCIA
1. EMPREGADO
1.1. Introdução. Requisitos da relação empregatícia
....
d) Subordinação
A característica mais importante da relação empregatícia é a subordinação ou ainda, de
acordo com o texto da CLT: “empregado trabalha sob a dependência do empregador”. Se o
empregador assume todos os riscos do empreendimento, ele terá o poder de organizar e
dirigir a prestação de serviços. Dessa forma, o empregado fica subordinado às ordens do
empregador.
Note que, na subordinação, o empregado fica sujeito às orientações dadas pelo
empregador, como horário de trabalho, utilização de maquinário etc. Essa subordinação não
alcança a vida pessoal do trabalhador. Trata-se de subordinação objetiva, portanto.
Além dos requisitos da pessoa física e pessoalidade, onerosidade, não eventualidade e
subordinação, alguns autores destacam a alteridade como requisito do vínculo empregatício.
A alteridade obriga que todos os riscos do empreendimento sejam suportados
11. Para informações mais detalhadas sobre prescrição e acerca das Súmulas nº 326 e 327 do TST, ver
Capítulo X desse livro.
exclusivamente pelo empregador. Assim sendo, em momentos de crise financeira mundial,
os prejuízos da empresa serão exclusivos do empregador, não podendo dividi-los com os
trabalhadores. O salário deve ser pago, portanto, tendo a empresa lucros ou prejuízos.
Feitas essas considerações, conclui-se que uma vez presente os quatro requisitos
(pessoalidade, onerosidade, não eventualidade e subordinação), será declarado o vínculo,
independentemente da nomenclatura que seja utilizado para identificar o trabalhador
(funcionário, colaborador, ajudante etc.)12. No direito do trabalho, vigora o princípio da
primazia da realidade, prevalecendo a realidade sobre a forma. Nesse sentido, a interessante
jurisprudência dos TRTs da 1ª e 8ª Regiões:
Súmula nº 2 do TRT – 1ª Região. Corretor de seguros. Vínculo de emprego.
É empregado, e não corretor autônomo de seguros, o trabalhador que reúna os requisitos
do art. 3º da CLT.
Súmula nº 9 do TRT – 8ª Região. Vendedor de seguros e títulos de previdência
privada.
Preenchidos os requisitos do art. 3º da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, é legítimo
o reconhecimento de relação de emprego entre o intermediário e a instituição financeira
para a qual agencia a venda de Seguros e Títulos da Previdência Privada.
Aliás, o Auditor Fiscal do Trabalho – AFT - tem a prerrogativa de reconhecer o vínculo
empregatício, quando ainda não foi devidamente regularidado pelo empregador, como na
ausência de registro, nas terceirizações ilegais ou mesmo nos casos comuns de fraude, em
que se utiliza estagiários ou falsos empresários como verdadeiros empregados. Havia
discussão se esse reconhecimento do vínculo estaria invadindo a competência da Justiça do
Trabalho. O TST13 tem posicionamento pacífico no sentido de conferir essa prerrogativa
agente da fiscalização do trabalho. O AFT, portanto, não se limita apenas à análise da
regularidade da documentação apresentada pelos empregadores. Compete a ele, também,
verificar o fiel cumprimento da legislação trabalhista no tocante à regularidade na
formalização do vínculo de emprego.
Vale destacar que a doutrina apresenta outros aspectos e conceitos ligados à
subordinação. São eles: parassubordinação e subordinação estrutural ou integrativa.
....
1.3. Empregado rural
1.3.1. Introdução. Identificação do empregado rural
Inicialmente, o empregado rural não possuía os mesmos direitos dos empregados
urbanos. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, ocorreu a equiparação de
direitos entre empregados urbanos e rurais.
Empregado rural possui os mesmos requisitos dos demais para configurar o vínculo
empregatício: pessoa física, não eventualidade, onerosidade e subordinação. O ponto
essencial para identificar o trabalhador rural é prestar serviços ao empregador rural.
12 Destaca-se que, uma vez reconhecido o vínculo de emprego, não é possível a renúncia do trabalhador à
sua condição de empregado diante do princípio da irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas.
13 O auditor do trabalho não invade a competência da Justiça do Trabalho quando declara a existência de
vínculo de emprego e autua empresas por violação ao artigo 41 da Consolidação das Leis do Trabalho.”
Processo: RR-173700-35.2007.5.07.0007
Contudo, destaca-se que, recentemente (outubro/2015), o TST cancelou a Orientação
Jurisprudencial nº 419 da SDI-I 14 que estabelecia que o empregado seria rurícola
independentemente da atividade desenvolvida. O TST fundamentou o cancelamento da OJ,
pois ela não mencionava enquadramento sindical desses trabalhadores. Permanece,
portanto, a regra de que o trabalhador que prestar serviços ao empregador rural, será
empregado rural. Assim sendo, de acordo com o art. 2º da Lei nº 5889/73:
Art. 2º: Empregado rural é toda pessoa física que, em propriedade rural ou prédio rústico,
presta serviços de natureza não eventual a empregador rural, sob a dependência deste e
mediante salário.
O importante para identificar o trabalhador rural é definir quem é o empregador rural.
De acordo com a lei, é a pessoa física ou jurídica que explore a atividade agroeconômica.
Assim sendo, mesmo que o prédio esteja localizado em área urbana, se a sua destinação
envolver exploração agrícola ou pecuária, o empregado será rural. Nesse sentido, estabelece
a Súmula nº 19 do TRT da 24ª Região:
Súmula nº 19 do TRT da 24ª Região: Enquadramento sindical.
O trabalhador que presta serviço a empregador agroindustrial, seja ele
atuante no campo ou no processo industrial da empresa, é industriário, justificando
a
representatividade da categoria e legitimidade da negociação pelo sindicato dos trabalhadores n
a indústria
Recentemente (outubro/2015), o TST cancelou a OJ nº 315 da SDI-I15 que estabelecia
que o motorista de empresa que desenvolve atividade rural era empregado rural. De acordo
com o TST, essa jurisprudência entra em conflito com a Súmula nº 117 do TST16, uma vez
que o motorista de banco não é considerado como bancário por integrar categoria
profissional diferenciada17 . Assim, o motorista de empregador rural não pode ser
considerado como empregado rural, mas sim pertencente à categoria diferenciada.Deve-se
ressaltar que o empregado que prestar serviços ao empregador rural em âmbito residencial,
por exemplo, na sede da fazenda, é empregado doméstico, pois não está inserido em
atividade lucrativa.
No meio rural, é frequente a figura do aliciador de trabalhadores, chamado de “gato”, que
funciona como intermediário de mão de obra. Ele contrata e fornece transporte aos
trabalhadores rurais e os coloca à disposição do empregador. Nesse caso, a intermediação é
ilícita e o vínculo empregatício será diretamente com o empregador rural. Nesse sentido:
14. OJ nº 419 da SDI – I do TST (CANCELADA). Considera-se rurícola empregado que, a despeito da
atividade exercida, presta serviços a empregador agroindustrial (art. 3º, § 1º, da Lei nº 5.889, de
08.06.1973), visto que, neste caso, é a atividade preponderante da empresa que determina o
enquadramento.
15. Orientação Jurisprudencial nº 315 da SDI-I do TST. (CANCELADA) “É considerado trabalhador
rural o motorista que trabalha no âmbito de empresa cuja atividade é predominantemente rural,
considerando que, em modo geral, não enfrenta o trânsito das estradas e cidades.”
16. Súmula nº 117 do TST: Não se beneficiam do regime legal relativo aos bancários os empregados
de estabelecimento de crédito pertencentes a categorias profissionais diferenciadas.
17. Para maiores informações a respeito da categoria profissional diferenciada, sugiro a leitura do
tópico 2.1.1. do capítulo de Direito Coletivo do Trabalho.
Os denominados gatos ou turmeiros, os quais ficam arregimentando trabalhadores para
laborar em propriedades rurais, não são considerados empregadores, mas sim simples
intermediários, formando-se o vínculo de emprego dos empregados rurais diretamente
com a empresa rural18.
Por fim, destaca-se que, recentemente (outubro/2015), a Lei nº 5.889/1973 foi alterada
para prever que o turismo realizado de forma acessória à exploração agroeconômica
enquadra-se como atividade rural para fins de reconhecimento do empregador rural:
Art. 3º, Lei nº 5.889/1973 - Considera-se empregador, rural, para os efeitos desta Lei, a
pessoa física ou jurídica, proprietário ou não, que explore atividade agro-econômica, em
caráter permanente ou temporário, diretamente ou através de prepostos e com auxílio de
empregados.
§ 1º Inclui-se na atividade econômica referida no caput deste artigo, além da exploração
industrial em estabelecimento agrário não compreendido na Consolidação das Leis do
Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nª 5.452, de 1º de maio de 1943, a exploração
do turismo rural ancilar à exploração agroeconômica.
1.3.4. Intervalo intrajornada. Rurícola
Súmula nº 437 do TST. Intervalo intrajornada para repouso e alimentação. Aplicação do art. 71
da CLT. (conversão das Orientações Jurisprudenciais n.os 307, 342, 354, 380 e 381 da SBDI-1)
I – Após a edição da Lei nº 8.923/94, a não concessão total ou a concessão parcial do intervalo
intrajornada mínimo, para repouso e alimentação a empregados urbanos e rurais, implica o
pagamento total do período correspondente, e não apenas daquele suprimido, com acréscimo
de, no mínimo, 50% sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho (art. 71 da CLT),
sem prejuízo do cômputo da efetiva jornada de labor para efeito de remuneração.
O intervalo concedido ao empregado rural para descanso e refeição, na jornada
superior a 6 horas, será estabelecido de acordo com os usos e costumes da região. Em
razão disso, havia discussão sobre a necessidade de respeitar o intervalo mínimo de 1 hora
para descanso e refeição, quando a jornada excedesse a 6 horas.
A Lei nº 5889/73 prevê apenas “intervalo de acordo com usos e costumes da região”.
Por outro lado, há previsão no art. 5º, § 1º, do Decreto nº 73.626/74, que regulamenta o
trabalho rural:
Art. 5º, § 1º, Decreto nº 73.626/1974: Será obrigatória, em qualquer trabalho
contínuo de duração superior a 6 (seis) horas, a concessão de um intervalo mínimo de 1
(uma) hora para repouso ou alimentação, observados os usos e costumes da região.
O TST, na OJ nº 381, cancelada pela atual Súmula 437 do TST, posicionou-se a respeito
dessa discussão. Como se trata de norma de saúde do trabalhador, o intervalo deve ser de
no mínimo 1 hora para jornadas que extrapolem 6 horas diárias. Prevaleceu, portanto, a
previsão no decreto. A antiga OJ 381 era exatamente nesse mesmo sentido e previa:
Orientação Jurisprudencial nº 381 da SDI – I do TST. Intervalo intrajornada.
Rurícola. Lei n.º 5.889, de 08.06.1973. Supressão total ou parcial. Decreto n.º 73.626, de
12.2.1974. aplicação do art. 71, § 4º, da CLT.
A não concessão total ou parcial do intervalo mínimo intrajornada de uma hora ao
trabalhador rural, fixado no Decreto n.º 73.626, de 12.02.1974, que regulamentou a Lei
18. SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. Série Concurso Público. 7. ed. São Paulo: Método, 2008. p. 60.
n.º 5.889, de 08.06.1973, acarreta o pagamento do período total, acrescido do
respectivo adicional, por aplicação subsidiária do art. 71, § 4º, da CLT. (CANCELADA)
A supressão total ou parcial do intervalo, mesmo que via negociação coletiva,
acarretará duas consequências ao empregador urbano ou rural. A primeira delas, multa
administrativa imposta pela fiscalização do trabalho. Na segunda consequência, o
empregador ficará obrigado a pagar esse período suprimido ou reduzido com adicional de
50%. O TST, de acordo com a orientação em análise, aplicou o art. 71, § 4º também ao
empregador rural que desrespeita o intervalo intrajornada.
Aliás, esse adicional de 50% possui natureza salarial, isto é, terá reflexo nas demais
verbas trabalhistas. Conforme previsto na legislação e na jurisprudência do TST:
Art. 71, § 4º, da CLT. Quando o intervalo para repouso e alimentação, previsto neste
artigo, não for concedido pelo empregador, este ficará obrigado a remunerar o período
correspondente com um acréscimo de, no mínimo, cinquenta por cento sobre o valor da
remuneração da hora normal de trabalho.
Nesse sentido prevê a Súmula nº 437 do TST:
Súmula nº 437 do TST. Intervalo intrajornada para repouso e alimentação.
Aplicação do art. 71 da CLT. (conversão das Orientações Jurisprudenciais n.os 307, 342,
354, 380 e 381 da SBDI-1)
I – Após a edição da Lei nº 8.923/94, a não concessão total ou a concessão parcial do
intervalo intrajornada mínimo, para repouso e alimentação a empregados urbanos e
rurais, implica o pagamento total do período correspondente, e não apenas daquele
suprimido, com acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o valor da remuneração da hora
normal de trabalho (art. 71 da CLT), sem prejuízo do cômputo da efetiva jornada de
labor para efeito de remuneração.
II - É inválida cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho contemplando a
supressão ou redução do intervalo intrajornada porque este constitui medida de
higiene, saúde e segurança do trabalho, garantida por norma de ordem pública (art. 71 da
CLT e art. 7º, XXII, da CF/1988), infenso à negociação coletiva.
III – Possui natureza salarial a parcela prevista no art. 71, § 4º, da CLT, com redação
introduzida pela Lei nº 8.923, de 27 de julho de 1994, quando não concedido ou reduzido
pelo empregador o intervalo mínimo intrajornada para repouso e alimentação,
repercutindo, assim, no cálculo de outras parcelas salariais.
IV – Ultrapassada habitualmente a jornada de seis horas de trabalho, é devido o gozo do
intervalo intrajornada mínimo de uma hora, obrigando o empregador a remunerar o
período para descanso e alimentação não usufruído como extra, acrescido do respectivo
adicional, na forma prevista no art. 71, caput e § 4º, da CLT.”
Por fim, outra particularidade diz respeito aos serviços intermitentes, em que há
possibilidade de intervalos mais longos, como dos empregados que trabalham com gado
leiteiro, que saem de madrugada para a primeira ordenha e voltam apenas no fim da tarde
para a segunda. E também aos empregados que lidam com irrigação da lavoura. O Decreto nº
73.626/1974, que regulamenta a Lei do Rural, traz o conceito para esses serviços:
Art. 10, parágrafo único, Decreto nº 73.626/1974: Considera-se serviço intermitente
aquele que, por sua natureza, seja normalmente executado em duas ou mais etapas diárias
distintas, desde que haja interrupção do trabalho de, no mínimo, 5 (cinco) horas, entre uma e
outra parte da execução da tarefa.
Esses intervalos de, no mínimo, 5 horas, não são computados na jornada de trabalho do
empregado rural, mas devem estar expressamente ressalvados na CTPS do rural19.
2. EMPREGADOR
2.1. Introdução
O conceito de empregador está previsto no art. 2º da CLT:
Art. 2º, caput, CLT: Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que,
assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal
de serviços.
O empregado não divide os riscos da atividade econômica com o empregador. Assim
sendo, momentos de crise mundial, baixa produtividade, vendas abaixo das expectativas não
autorizam o empregador a reduzir ou descontar salários de seus empregados. Não poderia
ser diferente, pois as empresas não estão obrigadas a dividir os lucros com seus
trabalhadores, logo os prejuízos também não poderão ser repartidos.
A responsabilidade exclusiva da empresa pelos prejuízos ou fracasso do
empreendimento é chamado de princípio da alteridade.
Cabe destacar que há possibilidade de flexibilização do princípio da alteridade com a
instituição da figura do “lay off”, que se refere ao afastamento temporário do empregado
mediante recebimento de licença-remunerada. O art. 476-A da CLT prevê a qualificação
profissional do trabalhador que deverá ser aprovada por instrumento coletivo. Durante o
período de até 5 meses, o empregado será afastado para frequentar curso de qualificação. O
FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador, será o responsável pela concessão de bolsa de
qualificação profissional, enquanto durar o afastamento do empregado.
Recentemente (novembro/2015), foi publicada a Lei nº 13.189/2015 prevendo nova
hipótese de “lay off”20 como resposta ao aumento no número de desempregos diante de crise
econômica. Criou-se o Programa de Proteção ao Emprego – PPE. Essa nova lei permite que a
empresa reduza a jornada de trabalho de seus empregados em até 30% com a
correspondente diminuição do salário. O valor pago pelo empregador após a redução não
pode ser inferior ao salário mínimo. Para que essa redução seja válida, é necessária a
celebração de acordo coletivo como sindicato profissional. Por fim, o prazo de duração dessa
medida é de até 6 meses, prorrogáveis até o limite de 24 meses (art. 5º, IV, Lei nº
13.189/2015).
Outro ponto importante trata do empregador não só como empresa, mas também da
contratação de empregados por profissionais liberais, associações recreativas, entidades
sem fins lucrativos etc. A CLT utiliza-se do termo empregador por equiparação, ou seja,
também são empregadores as igrejas, o advogado que contrata secretária, a cooperativa que
contrata telefonista, o condomínio de apartamentos etc. De acordo com o § 1º do art. 2º da
CLT:
19 Art. 6º da Lei nº 5889/73. “Nos serviços caracteristicamente intermitentes, não serão computados,
como de efetivo exercício, os intervalos entre uma e outra parte da execução da tarefa diária, desde que tal
hipótese seja expressamente ressalvada na Carteira de Trabalho e Previdência Social.”
20 Para se evitar a ocorrência de demissões em massa de empregados e permitir maior qualificação
profissional dos empregados, é necessário adotar medidas que garantam a manutenção dos contratos de
trabalho mesmo em momentos de crise. Uma dessas hipóteses é o denominado “lay off”. Para maiores
informações, veja o tópico 3.1. do Capítulo 1 desta obra.
Art. 2º, § 1º, CLT: Equiparam-se ao empregador, para os efeitos exclusivos da relação de
emprego, os profissionais liberais, as instituições de beneficência, as associações
recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores como
empregados.
Ao estudar a figura do empregador, é importante tratar dos seguintes institutos: grupo
econômico, sucessão trabalhista e poderes do empregador. Esses 3 pontos serão tratados a
seguir com base na jurisprudência do TST, conforme quadro de memorização a seguir:
....
2.3.6. Ausência de concurso público na administração pública indireta. Posterior
privatização. Convalidação
Súmula nº 430 do TST. Administração pública indireta. Contratação. Ausência de concurso
público. Nulidade. Ulterior privatização. Convalidação. Insubsistência do vício.
Convalidam-se os efeitos do contrato de trabalho que, considerado nulo por ausência de
concurso público, quando celebrado originalmente com ente da Administração Pública Indireta,
continua a existir após a sua privatização.
Como visto, a Constituição Federal, no art. 37, II e § 2º, veda, expressamente, a
contratação sem o prévio concurso público com base nos princípios da legalidade,
moralidade, impessoalidade e publicidade. Não há, portanto, aplicação do princípio da
primazia da realidade e tampouco a possibilidade de contrato de trabalho tácito com a
Administração Pública (art. 442 da CLT).
A consequência da contratação, sem prévio concurso público, é a nulidade do contrato de
trabalho. O servidor que estiver de forma irregular, na Administração, receberá apenas saldo
de salário e os depósitos do FGTS, conforme Súmula nº 363 do TST:
Súmula nº 363 do TST. A contratação de servidor público, após a CF/1988, sem prévia
aprovação em concurso público, encontra óbice no respectivo art. 37, II e § 2º, somente
lhe conferindo direito ao pagamento da contraprestação pactuada, em relação ao número
de horas trabalhadas, respeitado o valor da hora do salário-mínimo, e dos valores
referentes aos depósitos do FGTS.
A recente Súmula nº 430 do TST trata da privatização de empresa pública da
administração indireta. A privatização ocorre quando uma empresa pública é adquirida pelo
setor privado. Esse fenômeno também é conhecido por desestatização. Exemplos: Vale do
Rio Doce foi adquirida e se tornou a empresa Vale; o banco Banespa foi comprado pela
Santander.
Na hipótese de privatização, as antigas contratações sem o prévio concurso serão
convalidadas, pois não se exige, na iniciativa privada, o requisito do concurso. Assim
sendo, o servidor que antes estava trabalhando de forma irregular, por ausência do prévio
concurso público, após a privatização, terá todos os direitos trabalhistas garantidos.
A seguir, dois precedentes que deram origem à recente Súmula nº 430:
RECURSO DE REVISTA. CONTRATO NULO. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA.
PRIVATIZAÇÃO. Na linha dos precedentes desta Corte Uniformizadora, a privatização de
sociedade de economia mista convalida contrato de empregado admitido, anteriormente,
sem concurso público, inexistindo nulidade a ser declarada. Precedentes. Recurso de
revista de que não se conhece. (RR-1154000-87.2002.5.09.0003, 1ª Turma, Rel. Min.
Walmir Oliveira da Costa, D.J. de 24/4/2009)
RECURSO DE REVISTA. ARGUIÇÃO DE NULIDADE DO CONTRATO DE TRABALHO.
AUSÊNCIA DE CONCURSO PÚBLICO. SUCESSÃO. EMPRESA PRIVADA. Impertinente a
alegação de contrariedade à Súmula nº 363 do TST e de violação ao artigo 37, II e § 2º,
da Constituição da República, tendo em vista que a empresa sucessora da sociedade de
economia mista é empresa privada, não se lhe aplicando a vedação de contratação por
ausência de concurso público. Como bem asseverou a Corte de origem, a aceitação pela
sucedida da continuidade da prestação dos serviços pelo reclamante, não submetido
anteriormente a concurso público para ingresso na sucedida, convalidou o ato, não
podendo posteriormente arguir a nulidade da contratação se não o fez no momento
oportuno. Recurso de revista não conhecido. (E-RR-157500-70.2000.5.19.0004, 1ª
Turma, Rel. Min. Lelio Bentes Corrêa, D.J. de 28/3/2008)
Essa nova súmula também trata do fenômeno da sucessão trabalhista, pois o novo
adquirente (sucessor) assumirá todos os débitos trabalhistas do antigo proprietário
(Estado). Deverá pagar os contratos de trabalho, inclusive dos empregados admitidos sem
concurso público.
O fenômeno da estatização, entretanto, é inverso. Nesse caso, o Estado adquire uma
empresa privada, e os empregados que antes poderiam ser contratados livremente, após a
estatização, deverão ser submetidos ao prévio concurso público, conforme art. 37, II, da
CF/88. Não há, portanto, sucessão trabalhista entre o sucedido (empresa privada) e sucessor
(Estado). Caso não haja realização de concurso após a estatização, os empregados estarão
em situação irregular, tendo direito apenas ao saldo de salário e depósitos do FGTS,
conforme posicionamento do TST:
Súmula nº 363 do TST. Contrato nulo. Efeitos
A contratação de servidor público, após a CF/1988, sem prévia aprovação em concurso
público, encontra óbice no respectivo art. 37, II e § 2º, somente lhe conferindo direito ao
pagamento da contraprestação pactuada, em relação ao número de horas trabalhadas,
respeitado o valor da hora do salário-mínimo, e dos valores referentes aos depósitos do
FGTS.
Para os empregados que ingressaram com a ação judicial, antes da estatização, e se a
ação já estiver na fase de execução com penhora de bens, não será submetida ao precatório
previsto no art. 100 da CF/88, com base no princípio da segurança jurídica e do direito
adquirido. No tocante às entidades públicas que explorem atividade econômica (art. 173, §
1º, II, da CF/88), elas não se submetem ao regime diferenciado de execução (precatório),
podendo ter seus bens penhorados. Os Correios, por outro lado, não estão sujeitos à
penhora, pois o STF21 entende que é pessoa jurídica equiparada à Fazenda Pública, aplicando
a ele a impenhorabilidade de seus bens, rendas e serviços. Nesse sentido, prevê a
jurisprudência do TST:
Orientação Jurisprudencial nº 343 da SDI-I do TST. Penhora. Sucessão. Art. 100 da
CF/1988. Execução
É válida a penhora em bens de pessoa jurídica de direito privado, realizada anteriormente
à sucessão pela União ou por Estado-membro, não podendo a execução prosseguir
mediante precatório. A decisão que a mantém não viola o art. 100 da CF/1988.
Orientação Jurisprudencial nº 87 da SDI-I do TST. Entidade pública. Exploração de
21. RE 222.906. Essa decisão entendeu que o Decreto-Lei nº 509/69 foi recepcionado pela
Constituição Federal de 1988.
atividade eminentemente econômica. Execução. Art. 883 da CLT.
É direta a execução contra a APPA e MINASCAIXA (§ 1º do art. 173 da CF/88)
Ademais, é importante destacar que há divergência jurisprudencial acerca da sucessão
em cartórios extrajudiciais. Os cartórios extrajudiciais são responsáveis pelo
desenvolvimento de serviços notariais e de registro. Há expressa previsão constitucional
que determina o exercício desses serviços por meio de delegação do Poder Público. Para
exercer esse trabalho, há necessidade de se submeter a concurso público de provas e títulos,
conforme previsto da legislação:
Art. 236 da CF. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por
delegação do Poder Público.
§ 1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos notários,
dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder
Judiciário.
§ 2º Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de emolumentos relativos aos atos
praticados pelos serviços notariais e de registro.
§ 3º O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso público de provas e
títulos, não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura de concurso de
provimento ou de remoção, por mais de seis meses.
A Lei nº 8.935/1994, também denominada, Lei dos cartórios, estabelece o conceito de
serviços notariais e de registro, bem como o conceito de notário e registrador, profissionais
que podem exercer essas atividades:
Art. 1º Serviços notariais e de registro são os de organização técnica e administrativa
destinados a garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos.
Art. 3º Notário, ou tabelião, e oficial de registro, ou registrador, são profissionais do direito,
dotados de fé pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e de registro.
Os serviços notariais e de registro são exercidos por particular mediante delegação do
poder público e, portanto, desenvolvem serviço público em “caráter privado”. São
autorizados a contratar auxiliares que serão regidos pela CLT e que terão todas as proteções
atinentes ao contrato de emprego, inclusive no tocante à sucessão de empregadores22.
De acordo com Vólia Bomfim Cassar23, parte da jurisprudência entende que a
transferência de titularidade de um cartório extrajudicial impede a sucessão trabalhista,
uma vez que o notário foi aprovado em concurso público e, assim, ausente ato negocial entre
o antecessor e o novo titular e nem a transferência do patrimônio.
Por outro lado, a corrente que vem prevalecendo no âmbito do TST sustenta que a
transferência de titularidade do cartório extrajudicial ocasiona também a transferência de
todos os elementos do estabelecimento. Nesse sentido, haverá sucessão trabalhista e o
sucessor responderá por todos os débitos trabalhistas do sucedido no termo dos art. 10 e
448 da CLT. Nesse sentido:
EMENTA: Agravo de instrumento. Recurso de revista. Preliminar de nulidade por
negativa de prestação jurisdicional. Não se caracteriza a nulidade pretendida quando
22. CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Método, 2013. p. 464-465.
23. CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Método, 2013. p. 465.
o e. Tribunal regional recorrido expõe fundamentadamente as razões de decidir.
Vínculo de emprego. Cartório. Sucessão.
Não é a forma de investidura do titular do cartório extrajudicial (concurso público)
que determina a sucessão, mas os elementos caracterizadores desta, consistentes, in
casu, na alteração da titularidade do serviço notarial com a correspondente
transferência da unidade econômico-jurídica que integra o estabelecimento,
somada à continuidade na prestação dos serviços. Processa-se a sucessão, portanto,
nos mesmos moldes da sucessão empresarial, de forma que o titular do cartório,
sucessor, é o responsável pelos débitos trabalhistas. Horas extras. Controle de
jornada. O Tribunal Regional não olvidou da alegação do reclamado, objeto da
contestação, consistente na impossibilidade de apresentação dos controles de
freqüência. Ocorre que tal justificativa, no sentido de que -...nos arquivos da serventia
não se encontravam todos os documentos indispensáveis à elaboração da peça
defensiva- (decisum, fl. 97), que levou o novo titular do cartório a não receber a
documentação do tabelião anterior, conforme explicita o reclamado em sua
preliminar de nulidade, desserve ao fim pretendido, porquanto reconhecida a
sucessão, e aqui confirmada, não socorre o sucessor a incúria do sucedido. Agravo de
instrumento a que se nega provimento. (TST - AIRR: 142440-21.2003.5.01.0241,
Relator: Horácio Raymundo de Senna Pires, Data de Julgamento: 31/10/2007 – grifos
acrescidos)
....
2.4. Poderes do empregador
2.4.1. Introdução
O poder do empregador está previsto no art. 2º da CLT, pois o empregador “dirige a
prestação pessoal de serviços”. Como ele assume, exclusivamente, os riscos da atividade
econômica, há necessidade de organizar e controlar a prestação de serviços, mesmo que,
para isso, seja necessária a aplicação de penalidades aos trabalhadores. Se de um lado há
presença do poder de direção, por parte do empregado há também a presença da
subordinação.
Importante frisar que esses poderes, conferidos ao empregador, não são absolutos. Há
limites previstos na CLT e na CF/88, por exemplo, respeitar a intimidade e a dignidade do
empregado. Aliás, se transmitida ordem ilegal (comprar entorpecentes, fazer sexo com
clientes da empresa), alheia ao contrato (empregado contratado como professor de inglês,
sendo exigido que transporte os filhos do empregador para escola e que faça suas compras
de supermercado), ou desproporcional (trabalhar 18 horas por dia, ou sem equipamentos
básicos de proteção, ou impedir o empregado de utilizar o banheiro para evitar interrupção
na produção24), o empregado poderá se recusar25 a cumprir a ordem dada. Nesse caso, ao
exercer seu direito de resistência (jus resistentiae), o empregado não poderá ser punido pelo
descumprimento da ordem.
24 Informativo nº 120 do TST (confira texto integral ao final do capítulo).
25. De acordo com Délio Maranhão, o direito de resistência ou jus resistentiae: “A personalidade do
empregado não se anula com o contrato de trabalho, razão pela qual lhe é reconhecido certo jus resistentiae
no que respeita às determinações do empregador. Assim, pode ele, legitimamente, recusar-se ao
cumprimento de um ordem, por exemplo, que o coloque em grave risco, que fuja à natureza do trabalho
contratado, que o humilhe ou diminua moralmente, ou seja ilícita, ilegal ou de execução
extraordinariamente difícil”.
O poder de direção26 é dividido, pela doutrina, em 3 aspectos:
1. Poder de organização: consiste em distribuir as tarefas aos empregados, fixar o
horário de trabalho, dar comando para utilização de uniformes etc. Dentro desse poder de
organização, pode-se acrescentar a possibilidade dada ao empregador de expedir ordens
gerais, por meio do regulamento da empresa. Essa atribuição é chamada de Poder
Regulamentar que será tratado a seguir com base na jurisprudência do TST.
2. Poder de controle: por meio do controle, o empregador fiscaliza as tarefas
executadas, verifica o cumprimento da jornada de trabalho e protege seu patrimônio,
mediante o controle de estoque, produtividade etc.
Cabe frisar que há discussão sobre a possibilidade de fiscalizar o correio eletrônico (e-
mail) do empregado. Prevalece o entendimento de que se o e-mail é da empresa
(corporativo), utilizado como ferramenta de trabalho, há possibilidade de fiscalização, pois é
responsabilidade da própria empresa verificar o conteúdo dessas mensagens.
O controle, entretanto, não pode recair sobre o correio eletrônico pessoal/particular do
trabalhador, sob pena de configurar afronta à intimidade.
Outra questão interessante é a possibilidade de revistas íntimas e pessoais dos
empregados. O(a) trabalhador(a) que lida com joias ou munição de armas poderá ser
revistado? Há expressa previsão em lei vedando revistas íntimas nas mulheres, art. 373-A,
VI, da CLT. Essa proibição à revista íntima tem sido estendida também aos empregados do
sexo masculino, com fundamento no princípio da igualdade.
Recentemente (abril/2016), foi promulgada a Lei nº 13.271/2016 que estabelece a
proibição de revistas íntimas de funcionários e clientes do sexo feminino por empresas
privadas e órgãos e entidades da Administração Pública:
Art. 1o As empresas privadas, os órgãos e entidades da administração pública, direta e indireta,
ficam proibidos de adotar qualquer prática de revista íntima de suas funcionárias e de clientes
do sexo feminino.
Art. 2o Pelo não cumprimento do art. 1o, ficam os infratores sujeitos a:
I - multa de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) ao empregador, revertidos aos órgãos de proteção dos
direitos da mulher;
II - multa em dobro do valor estipulado no inciso I, em caso de reincidência, independentemente
da indenização por danos morais e materiais e sanções de ordem penal.
Com essa nova lei, acaba a discussão sobre a possibilidade de revistas íntimas em
mulheres, em quaisquer atividades, inclusive no serviço público.
Há, ainda, a discussão sobre a possibilidade de revistas íntimas das empregadas e
servidoras públicas que prestam serviços em sistemas prisionais. O art. 3º da Lei nº
13.271/2016 previa que a revista íntima em estabelecimentos prisionais seria permitida
desde que realizada por servidores femininos. Contudo, o dispositivo foi vetado pelo Chefe
do Executivo. Além disso, entendemos que essa permissão somente seria aplicada às pessoas
26. MARTINS, Sérgio Pinto. O poder de direção é a forma como o empregador define como serão
desenvolvidas as atividades do empregado decorrentes do contrato de trabalho. Direito do Trabalho, edição
24.
que fossem realizar visitas ao presídio27. Nesse caso, a medida se justifica diante da
necessidade de garantir a segurança da sociedade e dos próprios detentos, pois evitaria o
ingresso de armas, aparelhos celulares, drogas etc.
Entendemos, portanto, que a revista íntima das empregadas e servidores públicas que
trabalham nos presídios não é possível, uma vez que o art. 1º da Lei nº 13.271/2016 é claro
ao proibir essa forma de revista a todas as funcionárias da Administração Pública, o que
inclui as funcionárias públicas do sistema prisional.
Para as demais atividades e empresas, repita-se que essa conduta não é admitida nem
mesmo via instrumento coletivo. Registra-se que a alteração legislativa, acima transcrita,
deveria ter ampliado a proibição de revistas íntimas também aos homens, homossexuais e
transexuais. Não nos parece razoável a proibição restrita apenas às mulheres e permitida
aos homens.
Sobre esse assunto, interessante conferir a jurisprudência do TRT-RJ que proíbe a
revista íntima a qualquer trabalhador de qualquer sexo:
Súmula nº 16 do TRT – 1ª Região. Revista íntima. Dano moral. Limites dos poderes
de direção e fiscalização. Violação à honra e à intimidade do trabalhador. Princípio
da dignidade da pessoa humana (art 1º, inc.III, CF).
Cabe reparação por dano moral, por ferir o princípio da dignidade da pessoa humana, o
ato patronal consubstanciado em revistas íntimas de trabalhadores de qualquer sexo,
incluindo a vigilância por meio de câmeras instaladas em banheiros e vestiários.
As revistas pessoais, realizadas com razoabilidade, sem que envolvam nudez, têm sido
admitidas28, desde que a atividade exercida justifique esse controle. O TST29 tem aceito
essas revistas pessoais, de bolsas, mochilas e sacolas, desde que não submeta o trabalhador
a situação constrangedora. Aliás, a revista generalizada e impessoal desses pertences do
empregado pode, segundo a jurisprudência do TST, ser realizada por pessoa do sexo oposto30,
exemplo, segurança do sexo masculino fiscaliza a bolsa da empregada (sem que haja contato
físico com a trabalhadora). Em sentido contrário, o TRT da 19ª Região veda o estabelecimento
de revistas pessoais:
Súmula nº 7 do TRT da 19ª Região: revista visual em pertences pessoais do
trabalhador. Dano moral. Configuração.
Submeter o empregado a revistas íntimas em seus pertences pessoais, ainda que meramente
27 Destaca-se, entretanto, que a Resolução nº 5/2014 do CNPCP – Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária, recomenda que não seja realizada nenhuma forma de revista íntima nos presídios, nem
mesmo dos visitantes, sendo permitida somente a revista pessoal desde que preservada a integridade física,
moral e psicológica da pessoa revistada.
28. O tema é polêmico. Há corrente doutrinária que defende a impossibilidade, inclusive das revistas
pessoais. A fiscalização exercida pelo empregador é possível mediante outros métodos, como câmeras,
controle de estoque etc. Para as questões objetivas, que é a finalidade dessa obra, importante assinalar a
opção que traga o posicionamento majoritário: revistas íntimas são vedadas, e as revistas pessoais,
admitidas desde que com cautela e razoabilidade.
29. Informativos nº 3 e 112 do TST (confira o texto integral ao final desse capítulo)
30. Informativo nº 17 do TST (confira o texto integral ao final desse capítulo)
visuais, viola direitos da personalidade do trabalhador assegurados constitucionalmente (art. 5º,
X, CF/88), o que implica a existência de dano moral e o pagamento da correspondente
indenização.
Por fim, o fato de o empregador exigir o cumprimento de metas, por si só, não configura
assédio moral31, desde que respeitada a dignidade do empregado. Nesse sentido, a
interessante jurisprudência do TRT-RJ:
Súmula nº 42 do TRT – 1ª Região. Cobrança de metas. Dano moral. Inexis-
tência.
A cobrança de metas está inserida no poder de comando do empregador, não configurando
assédio moral, desde que respeitada a dignidade do trabalhador.
3. Poder disciplinar: conforme visto, o empregado está subordinado às ordens dadas
pelo empregador, como forma de dinamizar e organizar os trabalhos desenvolvidos na
empresa. Esse poder também será tratado a seguir com base na jurisprudência do TST. Se
verificada a desobediência às regras impostas, caberão as seguintes penalidades:
a) Advertência verbal ou escrita. Embora a advertência não esteja prevista na CLT32, é
admitida pela doutrina e jurisprudência, pois é, dentre as penalidades, a mais benéfica
ao empregado. Ressalta-se que a advertência não pode constar da CTPS – Carteira de
Trabalho e Previdência Social, porque configurará anotação desabonadora.
b) Suspensão disciplinar de, no máximo, 30 dias consecutivos (art. 474, CLT33).
Nesse caso, o empregado ficará afastado das suas atividades, e não receberá
remuneração e nem terá contado seu tempo de serviço, para adquirir férias, por
exemplo. Ademais, não há depósitos do FGTS durante esse período. Se a suspensão
ultrapassar os 30 dias, é possível a rescisão indireta do contrato de trabalho.
c) Dispensa por justa causa. Essa é a penalidade mais grave, colocando fim ao
contrato de trabalho. Se o empregado cometer alguma das condutas previstas no art.
482 da CLT (violar sigilo da empresa, agressão física, desídia etc.), será dispensado
por justa causa.
Deve-se ressaltar que não há obrigatoriedade de uma passagem gradual entre as
penalidades anteriores, ou seja, se o empregado estiver desviando dinheiro da empresa, ou
agredir fisicamente seu empregador, não há necessidade de aplicação da advertência, em
primeiro lugar. É facultado ao empregador dispensar, imediatamente, o trabalhador com
base no art. 482 da CLT. Além disso, entre a aplicação da penalidade e a falta praticada pelo
empregado não pode ocorrer longo período, sob pena de configurar o perdão tácito. E, por
fim, é vedado ao empregador aplicar duas penalidades em razão da mesma falta cometida,
31. Assédio moral é a prática de perseguição, humilhação, constrangimento, rigor excessivo, metas
inatingíveis e isolamento do empregado. Prática que atenta contra a dignidade do trabalhador. Uma vez
configurada essa conduta, cabe rescisão indireta com base no art. 483 da CLT.
32. Ressalta-se que a advertência tem previsão expressa na lei que regulamenta o exercício da
atividade de Mãe Social (Lei nº 7.644/1987): “Art. 14 - As mães sociais ficam sujeitas às seguintes
penalidades aplicáveis pela entidade empregadora: I - advertência; II - suspensão; III - demissão.” (grifos
acrescidos)
33. Art. 474 da CLT: A suspensão do empregado por mais de 30 (trinta) dias consecutivos importa na
rescisão injusta do contrato de trabalho.
por exemplo, suspende-se por 15 dias, e depois dispensa-se por justa causa.
4. SÚMULAS DOS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO
(ACRESCENTADAS AO CAPÍTULO II – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Empregado rural
Súmula nº 19 do TRT da 24ª Região: Enquadramento sindical.
O trabalhador que presta serviço a empregador agroindustrial, seja ele atuante no campo ou no processo industrial da empresa, é industriário, justificando a representatividade da categoria e legitimidade da negociação pelo sindicato dos trabalhadores na indústria
Intervalo intrajornada
Súmula nº 23 do TRT da 17ª Região. Bancário. Intervalo intrajornada. Prorrogação habitual.
Prorrogada habitualmente a jornada de 06 (seis) horas, devido o intervalo intrajornada de 01 (uma) hora, a teor do disposto no art. 71, caput e § 4º, da CLT.”
Enquadramento. Financiário
Súmula nº 33 do TRT da 1ª Região. Enquadramento como financiário de empregado de administradora de cartão de crédito ou agente financeiro.
Os empregados de agentes financeiros e administradoras de cartão de crédito, salvo os pertencentes a categoria diferenciada, são financiários (Súmula 283 do STJ), beneficiando-se, portanto, das normas coletivas da categoria e da jornada reduzida do art. 224 da CLT.
Quebra de caixa
Súmula nº 28 do TRT da 13ª Região: CEF. Gratificação de caixa; quebra de caixa. Acumulação. Possibilidade. Finalidade e natureza distintas.
Não há óbice à acumulação da gratificação de caixa com a verba denominada quebra de caixa pelos empregados que exerçam a função de caixa executivo.
Dano moral. Transporte de valores
Súmula nº 8 do TRT da 11ª Região: Indenização por dano moral. Bancário. Transporte de valores. Risco à integridade física. Cabimento.
Poderes do empregador
Súmula nº 7 do TRT da 19ª Região: revista visual em pertences pessoais do trabalhador. Dano moral. Configuração.
Submeter o empregado a revistas íntimas em seus pertences pessoais, ainda que meramente visuais, viola direitos da personalidade do trabalhador assegurados constitucionalmente (art. 5º, X, CF/88), o que implica a existência de dano moral e o pagamento da correspondente indenização.
CAPÍTULO III - TERCEIRIZAÇÃO
2. REQUISITOS PARA TERCEIRIZAÇÃO LÍCITA
Súmula nº 331 do TST. Contrato de prestação de serviços. Legalidade
I – A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o vínculo
diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019, de
3.1.1974).
II – A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não gera vínculo de
emprego com os órgãos da administração pública direta, indireta ou fundacional (art. 37, II, da
CF/1988).
III – Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de vigilância (Lei
nº 7.102, de 20.6.1983) e de conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados
ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação
direta.
IV – O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a
responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas obrigações, desde que
haja participado da relação processual e conste também do título executivo judicial.
V – Os entes integrantes da administração pública direta e indireta respondem subsidiariamente,
nas mesmas condições do item IV, caso evidenciada a sua conduta culposa no cumprimento das
obrigações da Lei n. 8.666/93, especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações
contratuais e legais da prestadora de serviço como empregadora. A aludida responsabilidade não
decorre de mero inadimplemento das obrigações trabalhistas assumidas pela empresa
regularmente contratada.
VI – A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços abrange todas as verbas
decorrentes da condenação referentes ao período da prestação laboral.
I – A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o vínculo
diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019, de
3.1.1974).
Como a terceirização se desenvolve em uma relação jurídica triangular, há necessidade
de interpretá-la de forma restritiva, pois a presença da empresa intermediadora de mão de
obra é ilegal, em regra.
Inicialmente, cabe ressaltar que trabalhador temporário não se confunde com
empregado contratado por prazo determinado, art. 443 da CLT. O trabalho temporário está
previsto na Lei nº 6.019/7434. Trata-se de modalidade de terceirização expressamente
prevista em lei. Há, nesse caso, uma relação triangular de trabalho.
O contrato de trabalho dos trabalhadores temporários possui características
próprias, como:
a) Contrato de trabalho escrito. O contrato de trabalho entre empregado e
empregador será necessariamente escrito, ou seja, solene. Ressalta-se que o vínculo
empregatício ocorre entre trabalhador temporário e empresa de trabalho
temporário. Ademais, o contrato civil entre empresa prestadora de mão de obra e
empresa tomadora de serviços também deverá ser escrito e descrever os motivos da
contratação.
De acordo com Sérgio Pinto Martins35:
É o trabalhador temporário subordinado à empresa de trabalho temporário, embora presta
serviços à empresa tomadora de serviços ou cliente, recebendo sua remuneração também da
empresa tomadora dos serviços. Não é, portanto, empregado da empresa tomadora dos
serviços.
34. O contrato de trabalho temporário somente poderá ser utilizado para os empregados urbanos,
conforme art. 4º dessa lei. 35 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. Ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 170.
No entanto, há posicionamento36 que sustenta a existência de subordinação entre a empresa
tomadora dos serviços e o trabalhador temporário. Nesse sentido, a transferência do poder de
direção à tomadora dos serviços seria permitida pela legislação diante da própria natureza do
contrato de trabalho temporário. Para essa doutrina, a empresa prestadora continua com a direção
sobre a prestação dos serviços do temporário, mas é também permitido à tomadora o exercício, em
alguns aspectos, do poder de direção, especialmente quanto ao âmbito disciplinar.
Ademais, o contrato civil entre empresa prestadora de mão de obra e empresa tomadora de
serviços também deverá ser escrito e descrever os motivos da contratação. De acordo com o art. 11
da Lei nº 6.019/74:
Art. 11, “caput”, Lei nº 6.019/1974: O contrato de trabalho celebrado entre empresa de
trabalho temporário e cada um dos assalariados colocados à disposição de uma empresa
tomadora ou cliente será, obrigatoriamente, escrito e dele deverão constar, expressamente,
os direitos conferidos aos trabalhadores por esta lei.
Destaca-se que será considerada nula qualquer cláusula de reserva que proíba a contratação
de trabalhador temporário pela empresa tomadora dos serviços quando ocorrer o fim do prazo do
contrato de trabalho temporário:
Art. 11, parágrafo único, Lei nº 6.019/1974: Será nula de pleno direito qualquer cláusula de reserva,
proibindo a contratação do trabalhador pela empresa tomadora ou cliente ao fim do prazo em que
tenha sido colocado à sua disposição pela empresa de trabalho temporário.
b) Prazo de 3 meses. Como se trata de trabalho temporário, esse contrato é firmado por
prazo certo de, no máximo, 3 meses. Deve-se ressaltar, entretanto, que há possibilidade
de prorrogação dependendo da hipótese de contratação do temporário:
c.1) Por até 9 meses no caso de Substituição transitória de pessoal regular e
permanente, desde que expressamente autorizada pelo Ministério do Trabalho e
Emprego;
c.2) Por até 6 meses no caso de acréscimo extraordinário de serviços desde que se
mantenha o motivo que justificou a contratação do temporário.
Art. 2º Na hipótese legal de substituição transitória de pessoal regular e permanente, o
contrato poderá ser pactuado por mais de três meses com relação a um mesmo empregado,
nas seguintes situações:
I - quando ocorrerem circunstâncias, já conhecidas na data da sua celebração, que
justifiquem a contratação de trabalhador temporário por período superior a três meses; ou
II - quando houver motivo que justifique a prorrogação de contrato de trabalho
temporário, que exceda o prazo total de três meses de duração.
Parágrafo único. Observadas as condições estabelecidas neste artigo, a duração do
contrato de trabalho temporário, incluídas as prorrogações, não pode ultrapassar um
período total de nove meses. (grifos acrescidos)
Art. 3º Na hipótese legal de acréscimo extraordinário de serviços, será permitida
prorrogação do contrato de trabalho temporário por até três meses além do prazo
previsto no art. 10 da Lei 6.019, de 3 de janeiro de 1974, desde que perdure o motivo
justificador da contratação.
c) Contratação nas hipóteses expressamente previstas em lei. A Lei nº 6.019/74
prevê apenas duas hipóteses para a contratação de trabalhador temporário, as quais
estão relacionadas a seguir:
36 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 232.
1. Necessidade transitória de substituição de seu pessoal regular e
permanente. Ocorre a contratação de trabalhadores temporários para substituir
empregados permanentes da empresa tomadora de serviços. Essa substituição
pode ocorrer pelos mais diversos motivos de afastamento do pessoal
permanente, como: empregada em gozo de licença-maternidade, acidente de
trabalho, férias etc.
2. Acréscimo extraordinário de serviços. Nesse caso, a empresa tomadora de
serviços contratará trabalhadores temporários para situações excepcionais, como
nos períodos festivos, em que há maior volume de trabalho. Exemplo: fábrica de
chocolates contrata trabalhadores temporários para os meses de fevereiro e março,
próximos da Páscoa; ou, ainda, loja de roupas contrata trabalhadoras temporárias
para época de Natal.
O trabalhador temporário prestará serviços tanto na atividade-fim da empresa (exemplo
dado anteriormente, da fábrica de chocolates que contrata trabalhadores temporários para
prestar serviços na confecção de ovos de Páscoa) ou, ainda, na atividade-meio, como
serviços de limpeza da tomadora de serviços.
Cumpre ressaltar que o trabalho temporário não é permitido no âmbito rural, uma vez
que a lei é expressa ao autorizar o estabelecimento de empresa de trabalho temporário
urbana:
Art. 4º, Lei nº 6.019/1973: Compreende-se como empresa de trabalho
temporário a pessoa física ou jurídica urbana, cuja atividade consiste em
colocar à disposição de outras empresas, temporariamente, trabalhadores,
devidamente qualificados, por elas remunerados e assistidos (grifo acrescido).
No tocante à responsabilidade do tomador de serviços, a Lei do Trabalho Temporário
estabelece que, em caso de falência da empresa de trabalho temporário, a tomadora dos
serviços responde solidariamente pelo recolhimento das contribuições previdenciárias,
pela remuneração do empregado e pelo recebimento de indenização. Contudo, verifica-se
que o alcance da norma é restrito quanto às parcelas devidas e somente viável na hipótese
de falência da prestadora dos serviços:
Art. 16, Lei nº 6.019/1974: No caso de falência da empresa de trabalho temporário, a
empresa tomadora ou cliente é solidariamente responsável pelo recolhimento das
contribuições previdenciárias, no tocante ao tempo em que o trabalhador esteve sob suas
ordens, assim como em referência ao mesmo período, pela remuneração e indenização
previstas nesta Lei.
Nesse sentido, prevalece a aplicação do item IV da Súmula nº 331 do TST37 ao contrato
de trabalho temporário que prevê a responsabilidade subsidiária da tomadora dos
serviços na hipótese de inadimplemento das verbas trabalhistas:
Súmula nº 331, IV, TST: O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do
empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto
àquelas obrigações, desde que haja participado da relação processual e conste também do
título executivo judicial.
Em resumo, sobre a responsabilidade do tomador de serviços, na hipótese prevista no
art. 16 da Lei nº 6.019/1974, que trata de falência, é aplicada a responsabilidade solidária
37 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 15. ed. São Paulo: LTr, 2016. p. 520.
entre as empresas e nas demais hipótese deve ser reconhecida a responsabilidade
subsidiária.
Caso seja constatada fraude no trabalho temporário, por exemplo, a contratação fora das
duas hipóteses previstas em lei ou, ainda, a extrapolação do prazo de 3 meses, será declarado
vínculo direto do trabalhador temporário com a empresa tomadora.
Quanto aos direitos dos trabalhadores temporários, há expressa previsão no art. 12 da
Lei nº 6.019/74. São direitos dos trabalhadores temporários:
a) remuneração equivalente, ou seja, esse trabalhador temporário vai receber a mesma quantia
paga ao empregado regular da tomadora de serviços;
b) jornada de 8 horas, remuneradas as horas extraordinárias não excedentes de duas, com
acréscimo de 50%;
c) férias proporcionais acrescidas de adicional 1/3;
d) repouso semanal remunerado;
e) adicional por trabalho noturno;
f) indenização por dispensa sem justa causa ou término normal do contrato
correspondente a 1/12 (um doze avos) do pagamento recebido.
g) seguro contra acidente do trabalho;
h) proteção previdenciária.
Cabe destacar que há discussão se essa indenização (1/12) ainda está em vigor.
De acordo com Vólia Bomfim Cassar38, a indenização foi substituída pelo regime de
FGTS e, portanto, não teria mais aplicação. No caso, sustenta que devem ser aplicados
os art. 479 e 480 da CLT. Por outro lado Maurício Godinho Delgado, afirma que não há
incompatibilidade entre a indenização da Lei do Trabalho Temporário e o regime do
FGTS, assim como a indenização por extinção antecipada do contrato de trabalho por
prazo determinado também continua vigente. De acordo com a jurisprudência do TST,
a indenização é compatível com o regime do FGTS:
Recurso de revista. Indenização prevista na letra -f- do artigo 12 da Lei n.º 6.019/1974.
Compatibilidade com o regime do FGTS.
1. Cinge-se a controvérsia acerca da subsistência da indenização prevista na letra f do artigo 12
da Lei n.º 6.019/1974 em face do advento do regime do FGTS.
2. A indenização de caráter especial, prevista no indigitado dispositivo da Lei n.º 6.019/1974,
mesmo com o advento da Lei n.º 8.036/1990, regulamentada pelo Decreto n.º 99.684/1990, não
retira do trabalhador temporário o direito ao FGTS.
3. Com efeito, o artigo 12, f, da Lei n.º 6.019/1974 preconiza que o trabalhador temporário terá
direito a -indenização por dispensa sem justa causa ou término normal do contrato
correspondente a 1/12 (um doze avos) do pagamento recebido-. Como se vê, a norma não
condiciona o pagamento da indenização a nenhum outro evento; aliás, estabelece a
indenização especial de forma incondicional, paga como um plus pelo fenecimento do
contrato a termo, o que conduz à ilação de que não detém a mesma natureza/finalidade
do instituto do FGTS, que se encontra vinculado ao tempo de serviço.
4. Por outro lado, normas posteriores também estipularam direitos aos trabalhadores
temporários, tendo o FGTS lhes sido conferido pelo art. 13 da Lei n.º 7.839/1989 e 15 e 20, IX, da
Lei n.º 8.036/1990.
38 CASSAR, Vólia Bonfim. Direito do Trabalho. 3. ed. Niterói: Impetus, 2009. p. 402.
5. É certo que o contrato temporário é espécie de contrato por prazo determinado, desse modo,
aplica-se-lhe a regra inserta no artigo 14 do Decreto n.º 99.684/1990, que prevê o pagamento do
FGTS acrescido da multa de 40%, sem prejuízo da indenização prevista no art. 479 da CLT.
Recurso de Revista a que se nega provimento .
(TST - RR: 336300-43.2003.5.01.0481, Relator: Maria de Assis Calsing, Data de Julgamento:
26/11/2008, 4ª Turma, Data de Publicação: DJ 12/12/2008 – grifos acrescidos)
Não consta na relação anterior o direito ao décimo terceiro salário, mas como há previsão
constitucional, a doutrina e a jurisprudência têm reconhecido esse direito ao trabalhador
temporário. E, tendo em vista que o contrato é por tempo determinado (prazo máximo de 3
meses), não há direito ao aviso-prévio, pois as partes já sabem previamente a data do término.
Além disso, de acordo com o TST39, o trabalhador temporário não terá direito ao recebimento
da indenização prevista no art. 479 da CLT40 no caso de rescisão antecipada do contrato de
trabalho por culpa do empregador, uma vez que esse empregado está submetido a legislação
especial (Lei nº 6.019/1974) e não às disposições da CLT.
Destaca-se, ainda, que a estabilidade da empregada gestante no contrato de trabalho
temporário é assegurada pela CLT e pelo entendimento sumulado do TST:
Art. 391-A, CLT. A confirmação do estado de gravidez advindo no curso do contrato de
trabalho, ainda que durante o prazo do aviso prévio trabalhado ou indenizado, garante à
empregada gestante a estabilidade provisória prevista na alínea b do inciso II do art. 10 do
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
Súmula nº 244, item III, do TST: A empregada gestante tem direito à estabilidade
provisória prevista no art. 10, inciso II, alínea “b”, do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias, mesmo na hipótese de admissão mediante contrato por tempo determinado.
É importante destacar que o trabalho temporário somente tem efeitos temporários para o
tomador de serviços. Por sua vez, há verdadeira relação de emprego entre a empresa
prestadora dos serviços e o trabalhador temporário sendo regida pela CLT, o que garante a
estabilidade da gestante com seu empregador. Nesse sentido, a jurisprudência do TST:
RECURSO DE REVISTA. ESTABILIDADE GESTANTE. CONTRATO DE TRABALHO TEMPORÁRIO.
1. O debate em torno da diferença do contrato de trabalho temporário em relação ao contrato
por prazo determinado ou indeterminado não tem lugar quando se trata do direito
constitucionalmente garantido à estabilidade provisória da gestante, que deve alcançar todas
as situações congêneres. 2. Destaque-se que o contrato temporário assim o é para a
empresa tomadora dos serviços, que tem seu regulamento na Lei nº 6.019/74, mas para
a empresa que fornece a mão de obra, firmado com seus empregados é regido pela CLT.
3. Esta Corte já caminhou firme ao indicar que, mesmo nos contratos por prazo determinado,
no qual a empregada saberia de antecipadamente a data da rescisão contratual, a estabilidade
gestante está garantida. E mais, no contrato de experiência, espécie de contrato por prazo
determinado, a estabilidade é reconhecida. Inteligência da Súmula nº 244, III, do TST. 4. Da
mesma forma, não há como se afastar tal entendimento sumular em relação à modalidade
prevista na mencionada lei, pois a garantia constitucional abrange as trabalhadoras e não faz
distinção quanto à modalidade pactuada. Precedentes. Recurso de revista de que não se
conhece. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Ressalvado meu posicionamento pessoal, verifico que,
ao condenar a reclamada ao pagamento de honorários de advogado, apesar de reconhecer que
39. Informativo nº 105 (confira texto integral ao final do capítulo)
40. Art. 479, “caput”, da CLT: “Nos contratos que tenham termo estipulado, o empregador que, sem
justa causa, despedir o empregado será obrigado a pagar-lhe, a título de indenização, e por metade, a
remuneração a que teria direito até o termo do contrato.”
a autora não está assistida pelo sindicato, a Corte Regional contrariou a Súmula nº 219 do TST.
Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento. (TST - RR:
14525820125120004, Relator: Cláudio Mascarenhas Brandão, Data de Julgamento:
04/06/2014, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT 06/06/2014 – grifos acrescidos)
Por fim, é importante ressaltar as consequências jurídicas do surgimento do fenômeno da
“quarteirização”. Trata-se da transferência de parte da gestão dos serviços de uma empresa
terceirizada para uma outra empresa. Assim, além da relação que existe entre prestadora de
serviço e tomadora (terceirização), verifica-se a transferência de um setor da empresa
terceirizada para uma nova empresa (“quarteirizada”). De acordo com a jurisprudência
trabalhista, essa medida constitui fraude e acarreta responsabilidade solidária das empresas:
Quarteirização. Fraude. Terceirização de serviços já terceirizados. O fenômeno da
“Quarteirização” ocorre quando uma empresa prestadora de serviços coloca à disposição
da empresa Tomadora de Serviços, empregados de outra empresa, em serviços ligados à
sua atividade fim. Nesse caso, a Empresa tenta esquivar-se das suas obrigações
trabalhistas, por meio da intermediação de mão de obra, o que é vedado, nos termos da
Sumula nº 331, Item I, do C. TST. Recurso da Segunda Reclamada não provido no
particular. (TRT-15 - RO: 4283320125150126 SP Relator: Helcio Dantas Lobo Junior, Data
de Publicação: 12/04/2013)
Terceirização e -Quarteirização- Ilícita. Fraude aos direitos trabalhistas.
Responsabilidade solidária por ato ilícito. Nos termos do art. 927 do CC, aquele que por
ato ilícito causar dano a outrem fica obrigado a repará-lo. Tratando-se as Rés de empresas
prestadoras de serviços que se beneficiaram da força de trabalho da Autora e contribuíram
para a prática da terceirização ilegal dos seus serviços, em prejuízo dos direitos trabalhistas
que lhe eram devidos, devem responder solidariamente pelos danos a esta causados. (TRT-1
- RO: 135002620065010017 RJ, Relator: Giselle Bondim Lopes Ribeiro, Data de Julgamento:
24/09/2012, Terceira Turma, Data de Publicação: 03-10-2012)
II – A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não gera vínculo de
emprego com os órgãos da administração pública direta, indireta ou fundacional (art. 37, II, da
CF/1988).
Assim como ocorre na iniciativa privada, há possibilidade de a Administração Pública
direta e indireta terceirizar serviços secundários, ou seja, sua atividade-meio. Exemplo:
Justiça do Trabalho terceiriza os serviços de limpeza, telefonia e vigilância.
Atividades típicas estatais não podem ser terceirizadas, como atividades ligadas à
segurança, justiça e fiscalização.
Havendo fraude na terceirização realizada pela empresa privada, a consequência será o
vínculo direto entre terceirizados e a empresa tomadora desses serviços. Se ocorrer a fraude
pela Administração Pública, alguns efeitos são diferentes da iniciativa privada. Exemplo: se
o Banco do Brasil ou a Caixa Econômica Federal terceirizarem os serviços de caixa, essa
terceirização será ilícita, pois envolve atividade-fim dessas empresas. Nesses dois casos, não
ocorrerá a formação de vínculo empregatício direto entre terceirizado e banco, pois se trata
de bancos estatais, em que há necessidade de concurso público para a investidura no cargo ou
emprego público, conforme expressamente previsto na Súmula 331, II, agora em análise.
Caso se verifique a fraude na terceirização, haverá a possibilidade de o terceirizado
requerer o mesmo salário do empregado da tomadora, se constatada a igualdade de funções
com o funcionário do ente público. Essa possibilidade de salário equitativo decorre de
construção jurisprudencial por aplicação analógica do art. 12, “a”, Lei nº 6.019/1974, que
regulamenta o trabalho temporário. Nesse sentido:
Orientação Jurisprudencial nº 383 da SDI-I do TST. A contratação irregular de
trabalhador, mediante empresa interposta, não gera vínculo de emprego com ente da
Administração Pública, não afastando, contudo, pelo princípio da isonomia, o direito dos
empregados terceirizados às mesmas verbas trabalhistas legais e normativas asseguradas
àqueles contratados pelo tomador dos serviços, desde que presente a igualdade de funções.
Aplicação analógica do art. 12, “a”, da Lei nº 6.019, de 03.01.1974.
Art. 12, “a”, Lei nº 6.019/1974: Ficam assegurados ao trabalhador temporário os
seguintes direitos: remuneração equivalente à percebida pelos empregados de mesma
categoria da empresa tomadora ou cliente calculados à base horária, garantida, em
qualquer hipótese, a percepção do salário mínimo regional.
Por fim, há tese doutrinária que defende a existência de um fenômeno chamado de
superterceirização41, que consiste na supervalorização do capital em detrimento do trabalho
humano. Há, portanto, um caráter “privatizante” do serviço público. Essa terceirização em
larga escala gera: a) a precarização das condições de trabalho; b) o enfraquecimento de
competências centrais do estado e c) discriminação entre servidores públicos e
terceirizados, criando-se uma espécie de subtrabalhadores.
....
5. EQUIPARAÇÃO SALARIAL NA TERCEIRIZAÇÃO
Orientação Jurisprudencial nº 383 da SDI – I do TST. Terceirização. Empregados da
empresa prestadora de serviços e da tomadora. Isonomia. Art. 12, “a”, da Lei n.º 6.019, de
3.1.1974
A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não gera vínculo de
emprego com ente da Administração Pública, não afastando, contudo, pelo princípio da
isonomia, o direito dos empregados terceirizados às mesmas verbas trabalhistas legais e
normativas asseguradas àqueles contratados pelo tomador dos serviços, desde que presente a
igualdade de funções. Aplicação analógica do art. 12, “a”, da Lei nº 6.019, de 3.1.1974.
Um dos requisitos básicos para conquistar a equiparação salarial é que reclamante e
paradigma trabalhem para o mesmo empregador.
Os direitos previstos aos empregados terceirizados são aqueles pertencentes à categoria
profissional da empresa prestadora de serviços. A corrente doutrinária tradicional, portanto,
defende que não há possibilidade de um terceirizado requerer equiparação salarial
indicando como parâmetro o salário do empregado da tomadora, pois trata-se de
empregadores diversos.
Ocorre que, recentemente, ganhou forma a corrente doutrinária que defende a
equiparação salarial de terceirizados e empregados da tomadora quando exercerem as
mesmas funções ligadas à atividade-fim. Nessa situação, como o trabalho desempenhado
é idêntico, haveria fraude na terceirização dos serviços. O resultado é a possibilidade de o
terceirizado requerer o mesmo salário do empregado da tomadora, conforme
expressamente previsto na OJ nº 383 do TST. Destaca-se que, da mesma forma, o piso
salarial dos terceirizados que prestam serviços ligados à atividade-fim da empresa deve ser
41. AMORIN, Helder Santos. Terceirização no Serviço Público. São Paulo: LTr, 2009
o mesmo da empresa tomadora de serviços42.
Contudo, há divergência na doutrina a respeito do alcance dessa isonomia entre
terceirizado e o trabalhador contratado pela tomadora dos serviços. Para Maurício Godinho
Delgado43, todas as parcelas de natureza salarial devem ser asseguradas aos trabalhadores
terceirizados, sendo devido além do mesmo salário, o recebimento do 13º salário, adicional
noturno, vantagens salariais normativas e, inclusive, o reconhecimento da mesma jornada de
trabalho dos trabalhadores da tomadora.
Por sua vez, Vólia Bomfim Cassar44 defende que não deve ser efetuado o pagamento exato
do mesmo salário recebido pelo trabalhador da tomadora dos serviços, uma vez que este
último pode ter incorporado benefícios a que o empregado terceirizado não tem direito.
Assim, a autora sugere o recebimento de valor proporcional ao salário do tomador ou, ainda,
de acordo com o piso salarial desses trabalhadores.
Apesar do posicionamento pertinente da autora, o posicionamento majoritário expresso
na OJ nº 383 da SDI-I do TST defende que o empregado terceirizado tem o direito ao
recebimento das mesmas verbas trabalhistas e normativas daquele que presta serviços à
tomadora. O fundamento utilizado pelo TST para conceder a equiparação consiste na
interpretação analógica dos dispositivos: art. 12 da Lei 6.019/74 em face dos arts. 5º, caput,
e 7º, XXXII, da CF.
Por fim, cabe destacar ainda que há posicionamento doutrinário que sustenta a aplicação
do salário equitativo mesmo nas hipóteses de terceirização lícita. Assim, todas as parcelas de
natureza salarial e demais vantagens asseguradas aos empregados da tomadora dos serviços
devem ser estendidas aos terceirizados. Maurício Godinho Delgado 45 sustenta esse
posicionamento sob o fundamento de que o salário equitativo é assegurado ao trabalhador
temporário mesmos nas hipóteses de contratação lícita e, portanto, referido benefício
também deve ser concedido aos terceirizados. No mesmo sentido:
Enunciado 16, II, da 1ª Jornada de Direito Material e Processual na Justiça do
Trabalho: Os empregados da empresa prestadora de serviços, em caso de terceirização
lícita ou ilícita, terão direito ao mesmo salário dos empregados vinculados à empresa
tomadora que exercerem função similar.
Aliás, os precedentes que deram origem à OJ 383 foram decisões que reconheceram a
equiparação salarial entre empregado de empresa pública e terceirizado que exerciam as
mesmas funções. Nesse caso, embora não seja possível a declaração de vínculo empregatício
entre terceirizado e empresa pública, será deferido, no pagamento das verbas rescisórias,
salário equivalente. Seguem algumas decisões do TST sobre esse tema:
EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO SOB A ÉGIDE DA LEI 11.496/2007.
ISONOMIA. TERCEIRIZAÇÃO. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA. ATIVIDADES TÍPICAS
DA CATEGORIA PROFISSIONAL DOS BANCÁRIOS. ARTIGO 12, ALÍNEA A, DA LEI
N.°6.019/74. APLICAÇÃO ANALÓGICA. Na esteira dos precedentes desta SDI – I, embora
42. Informativo nº 96 do TST (confira texto integral ao final do capítulo)
43 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 14. ed. São Paulo: LTr, 2015. p. 492.
44 CASSAR, Vólia Bonfim. Direito do Trabalho. São Paulo: Método, 2013. p. 940.
45 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 15. ed. São Paulo: LTr, 2016. p. 506.
afastada a formação de vínculo diretamente com a CEF, nos termos da Súmula 331, II, do
TST, ante a ausência do requisito do concurso público, a aplicação analógica do art. 12, alínea
a, da Lei 6.019/74 conduz ao reconhecimento do direito da terceirizada à isonomia salarial
com os empregados da empresa pública, tomadora de serviços, em razão do desempenho de
funções afetas à sua atividade-fim. Embargos conhecidos e não providos. (TST-E-RR-
698.968/2000, Rei. Min. Rosa Maria Weber, SBDI-1, DJ 8/8/2008.)
RECURSO DE EMBARGOS. ISONOMIA SALARIAL ENTRE EMPREGADO DE EMPRESA
TERCEIRIZADA E OS INTEGRANTES DA CATEGORIA PROFISSIONAL DA TOMADORA DOS
SERVIÇOS. VIGÊNCIA DA LEI N.°11.496/2007. A questão em debate já está pacificada
nesta c. SBDI−1 do TST, no sentido de que a contratação irregular de trabalhador,
mediante empresa interposta, não gera vínculo de emprego com os órgãos da
administração pública direta, indireta ou fundacional, porém, a impossibilidade de se
formar o vínculo de emprego não afasta o direito do trabalhador terceirizado às mesmas
verbas trabalhistas legais e normativas asseguradas ao trabalhador terceirizado que
cumpre função idêntica na tomadora, já que não é empregado apenas por força da
terceirização. Recurso de embargos conhecido e desprovido. (TST-E-RR-854/2005-004-
21-00, Rel. Min. Aloysio Corrêa da Veiga, SBDI-1, DJ 20/6/2008.)
TERCEIRIZAÇÃO. ISONOMIA SALARIAL. EMPREGADOS DA EMPRESA PRESTADORA DE
SERVIÇOS. EMPREGADOS DA EMPRESA DA TOMADORA. A fim de se evitar a ocorrência de
tratamento discriminatório entre os empregados da empresa prestadora de serviços e os
da tomadora, e observado o exercício das mesmas funções, esta Corte entende serem
devidos os direitos decorrentes do enquadramento como se empregado da empresa
tomadora fosse, tanto em termos de salário quanto às condições de trabalho. Recurso de
Embargos de que se conhece e a que se nega provimento. (E-RR-1403/2006-057-03-00,
Rel. Min. Brito Pereira, DJ de 2/5/2008.)
Por fim, a Súmula nº 8 do TRT da 8ª Região, da mesma forma que o TST, estabelece a
equiparação salarial entre os terceirizados e os empregados de empresa pública e sociedade
de economia mista:
Súmula nº 8 do TRT da 8ª Região: A contratação irregular de trabalhador, mediante
empresa interposta, não gera vínculo de emprego com a empresa pública ou sociedade de
economia mista, porém a impossibilidade de se formar a relação empregatícia não afasta o
direito do trabalhador terceirizado às mesmas verbas trabalhistas legais e normativas
asseguradas ao empregado que cumpre função idêntica nas tomadoras.
8. SÚMULAS DOS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO
(ACRESCENTADAS AO CAPÍTULO III – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Terceirização ilícita. Call center.
Súmula nº 49 do TRT da 3ª Região: Terceirização de serviço de "telemarketing". Instituição bancária. Ilicitude. Responsabilidade. I - O serviço de "telemarketing" prestado por empresa interposta configura terceirização ilícita, pois se insere na atividade-fim de instituição bancária (art. 17 da Lei n. 4.595/64). II - Reconhecida a nulidade do contrato de trabalho firmado com a prestadora de serviços (arts. 9º da CLT e 942 do CC), forma-se o vínculo de emprego diretamente com o tomador, pessoa jurídica de direito privado, que responde pela quitação das verbas legais e normativas asseguradas aos seus empregados, com responsabilidade solidária da empresa prestadora. III - A terceirização dos serviços de "telemarketing" não gera vínculo empregatício com instituição bancária pertencente à Administração Pública Indireta, por força do disposto no art. 37, inciso II e § 2º, da Constituição Federal, remanescendo, contudo, sua responsabilidade subsidiária pela quitação das verbas legais e normativas asseguradas aos empregados da tomadora, integrantes da categoria dos bancários, em respeito ao princípio da isonomia.
Responsabilidade trabalhista na terceirização
Súmula nº 6 do TRT da 17ª Região. Acidente de trabalho. Terceirização. Solidariedade.
Em caso de terceirização de serviços, o tomador e o prestador respondem solidariamente pelos danos causados à saúde e à integridade física e moral dos trabalhadores. Inteligência dos artigos 932, III, 933 e 942, do Código Civil e Norma Regulamentadora nº 4, da Portaria 3.214/78, do Ministério do Trabalho e Emprego.
Administração Pública
Súmula nº 19 do TRT da 8ª Região: Os entes integrantes da administração pública direta e indireta respondem subsidiariamente pelo inadimplemento das obrigações trabalhistas por parte do empregador, nos serviços contratados e conveniados, nos termos da Súmula 331 do Colendo Tribunal Superior do Trabalho.”. Belém, 13 de setembro de 2012.
Dono da obra
Súmula nº 30 do TRT da 8ª Região. Contrato de empreitada. Dono da obra de construção civil. Responsabilidade.
Diante da inexistência de previsão legal específica, o contrato de empreitada de construção civil entre o dono da obra e o empreiteiro não enseja responsabilidade solidária ou subsidiária nas obrigações trabalhistas contraídas pelo empreiteiro, salvo sendo o dono da obra uma empresa construtora ou incorporadora.
Súmula nº 40 do TRT da 17ª Região: Dono da obra. Contrato de empreitada. Responsabilidade pelos encargos trabalhistas assumidos pelo empreiteiro.
O dono da obra de construção civil não é responsável solidária ou subsidiariamente pelos débitos trabalhistas contraídos pelo empreiteiro, à exceção das hipóteses em que o dono da obra atue no ramo da construção civil ou da incorporação imobiliária ou nos contratos de empreitada de natureza não eventual, cujo objeto principal seja a prestação de serviços ligados à consecução da atividade-fim da empresa, ainda que esta última não atue no ramo da construção civil.
Multas
Súmula nº 2 do TRT da 20ª Região: Responsabilidade Subsidiária " Alcance da multa do artigo 477, § 8º, da Consolidação das Leis do Trabalho. A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços abrange a multa prevista no artigo 477, § 8º, da CLT, decorrente do atraso no pagamento das verbas rescisórias pelo devedor principal.
9. INFORMATIVOS DO TST
(ACRESCENTADAS AO CAPÍTULO III – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Terceirização ilícita
Terceirização ilícita. Vínculo empregatício reconhecido com a empresa tomadora de serviços. Isonomia salarial.
Indeferimento. Ato discriminatório. Configuração.
Configura ato discriminatório, vedado pelo inciso XXXII do art. 7º da CF, o indeferimento da pretensão de diferenças salarias entre o valor pago pela prestadora de serviços e o praticado pela empresa tomadora, em relação aos empregados contratados diretamente por ela para o exercício das mesmas funções, sobretudo no caso em que houve o reconhecimento de vínculo empregatício com a tomadora, em razão de ilicitude no contrato de terceirização. Se da Orientação Jurisprudencial nº 383 da SBDI-I é possível extrair a necessidade de tratamento isonômico entre empregados terceirizados e os integrantes do quadro próprio da tomadora de serviços que tenham as mesmas atribuições, por razão maior devem ser garantidos os mesmos salários e vantagens no caso de reconhecimento de vínculo direto com essa empresa. Sob esses fundamentos, a SBDI-I, por unanimidade, conheceu do recurso de embargos, por divergência jurisprudencial, e, no mérito, por maioria, deu-lhe provimento para condenar a tomadora de serviços ao pagamento das diferenças salariais pleiteadas, com os reflexos previstos em lei, conforme se apurar em liquidação de sentença. Vencido o Ministro Aloysio Corrêa da Veiga. TST-E-ED-RR-493800-06.2007.5.12.0004, SBDI-I, rel. Min. Lelio Bentes Corrêa, 10.12.2015 (Informativo nº 126)
Dono da obra – responsabilidade solidária
Acidente de trabalho. Indenização por danos morais e materiais. Dono da obra. Responsabilidade solidária. Inaplicabilidade da Orientação Jurisprudencial nº 191 da SBDI-I.
O dono da obra é responsável solidário pelos danos decorrentes de acidente de trabalho ocorrido em suas dependências, nas hipóteses em que concorreu para o infortúnio ao não impedir a prestação de serviços sem a observância das normas de higiene e segurança do trabalho. A diretriz consagrada na Orientação Jurisprudencial nº 191 da SBDI-I não se aplica ao caso, pois dirigida especificamente a obrigações trabalhistas em sentido estrito, não alcançando indenização de natureza civil. Na espécie, consignou-se que o de cujus, empregado da subempreiteira, contratada pela empreiteira para efetuar reparos no telhado da dona da obra, não usava cinto de segurança no momento da queda que o vitimou e nunca havia feito curso de segurança do trabalho, a revelar falha do dono da obra na
fiscalização quanto à adoção de medidas de prevenção de acidentes. Sob esse entendimento, com amparo no art. 942 do CC, e atendo-se ao limite do postulado pelos embargantes, no sentido de manter a decisão do TRT, a SBDI-I, por unanimidade, conheceu dos embargos dos reclamantes, por divergência jurisprudencial e, no mérito, por maioria, deu-lhes provimento para restabelecer a decisão do Regional quanto à declaração de responsabilidade subsidiária do dono da obra. Vencido o Ministro Antonio José de Barros Levenhagen. TST-E-RR- 240-03.2012.5.04.0011, SBDI-I, rel. Min. João Oreste Dalazen, 19.11.2015 (Informativo nº 124)
CAPÍTULO IV - CONTRATO DE TRABALHO
1.1. Do valor das anotações na CTPS
Súmula nº 12 do TST. Carteira profissional
As anotações apostas pelo empregador na carteira profissional do empregado não geram
presunção juris et de jure, mas apenas juris tantum.
O empregador deverá anotar, obrigatoriamente, na CTPS do obreiro as seguintes
informações: a data de admissão, a remuneração e as condições especiais, se houver. Exemplos
de condições especiais: salário pago em utilidades ou gorjetas, trabalhador que exerça funções
externas, contrato de experiência etc. Os acidentes de trabalho são obrigatoriamente anotados
pelo INSS na carteira do acidentado, conforme previsto no art. 30 da CLT.
Sobre as anotações na CTPS, seguem abaixo os Precedentes Normativos do TST:
Precedente Normativo nº 5 do TST. ANOTAÇÕES DE COMISSÕES (positivo)
O empregador é obrigado a anotar, na CTPS, o percentual das comissões a que faz jus o
empregado.
Precedente Normativo nº 105 do TST. ANOTAÇÃO NA CARTEIRA PROFISSIONAL
(positivo)
As empresas ficam obrigadas a anotar na carteira de trabalho a função efetivamente
exercida pelo empregado, observada a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO).
É proibido ao empregador efetuar anotações desabonadoras à conduta do empregado.
Exemplo: empregado que é dispensado por justa causa, com suspeita de furto na empresa, o
empregado que falta ao trabalho, injustificadamente ou, ainda, que determinado registro na
CTPS decorreu de decisão judicial46. O empregador, mesmo diante dessas condutas, não
poderá descrevê-las na CTPS do empregado.
Em caso de recusa do empregador em efetuar a anotação na CTPS do empregado, o
ideal é que o juiz fixe multa diária até que a obrigação de fazer seja implementada47. Nesse
sentido, estabelece a jurisprudência sumulada do TRT da 15ª Região:
Súmula nº 39 do TRT da 15ª Região: Carteira de trabalho. Anotação a cargo do
empregador. Fixação de astreintes. Possibilidade.
A determinação de anotação da CTPS diretamente pelo empregador, com fixação de
astreintes, não afronta o art. 39, § 1º, da CLT, nem constitui julgamento extra petita, diante do
46. Informativo nº 111 do TST (confira texto integral ao final do capítulo)
47 Há autores que defendem a impossibilidade da aplicação da multa: “Para o cumprimento da tutela
específica de anotação ou retificação da CTPS a multa é inaplicável, por se tartar de obrigação de fazer
fungível, possível de ser cumprida por terceiros, como determina o art. 39, § 2º da CLT.” Marcelo Moura. CLT
para Concursos. 5º Edição, 2015. p. 97.
que dispõe o art. 461, § 4º, do CPC.
No caso de o empregador não ser encontrado, o juiz poderá determinar, de ofício, que
a anotação seja realizada pelos próprios servidores da Vara do Trabalho48. Nesse sentido:
Art. 39, § 2º, CLT: Igual procedimento observar-se-á no caso de processo trabalhista de
qualquer natureza, quando fôr verificada a falta de anotações na Carteira de Trabalho e
Previdência Social, devendo o Juiz, nesta hipótese, mandar proceder, desde logo, àquelas
sobre as quais não houver controvérsia.
Contudo, essa anotação pela Vara do Trabalho, com a inserção do número do processo
judicial ou, ainda, de qualquer outra anotação que remeta à identificação do Poder
Judiciário pode trazer diversos problemas ao empregado na busca por novo emprego.
Aliás, a indicação do número do processo judicial na CPTS é tão grave quanto aquela feita
pelo empregador que menciona a determinação judicial para que a anotação fosse
realizada.
Dessa forma, interessante prática tem sido adotada por algumas Varas do Trabalho do
TRT da 17ª Região. Para se evitar que a anotação seja identificada como resultante de
decisão judicial, determina-se que a Secretaria do Juízo realize a anotação constando
apenas o nome do empregador, seguida da assinatura do servidor público sem nenhuma
marca que faça referência ao Poder Judiciário, como se tivesse sido realizada pelo próprio
empregador.
Nesses casos, de anotação feita pelo servidor, como se fosse o empregador, devem ser
emitidas 3 certidões em separado contendo as informações processuais detalhadas acerca
da anotação. Essas 3 certidões deverão ser entregues: ao empregado; ao INSS e a terceira
juntada aos autos. Com esse procedimento, evita-se a discriminação do empregado em
futuras contratações, além de assegurar a validade da anotação por meio das certidões
emitidas que poderão servir como prova se houver qualquer tipo de questionamento..
Finalmente, as anotações nas fichas de declaração e nas CTPS são feitas seguidamente
sem abreviaturas, ressalvando-se, no fim de cada assentamento, as emendas, entrelinhas e
quaisquer circunstâncias que possam ocasionar dúvidas, conforme previsto no art. 33 da
CLT.
Conquanto as anotações colocadas na CTPS devam ser verdadeiras, elas não possuem
presunção absoluta, mas, sim, relativa, podendo, por isso, ser afastadas por prova em
contrário. Isso ocorre porque, no direito do trabalho, vige o princípio da realidade, de modo
que a realidade se sobrepõe às provas documentais.
Registra-se que as anotações são formuladas pelo empregador, o que significa que a
presunção relativa inicialmente é direcionada ao empregado. Noutras palavras, sendo a
anotação da CTPS um ato unilateral do empregador, pode o empregado a qualquer tempo
questioná-la, tendo, porém, o ônus de provar suas alegações.
Dessa condição unilateral, parte da doutrina e da jurisprudência entendia que, quanto ao
empregador, a presunção das anotações era absoluta (juris et de jure), não permitindo prova
em contrário. O C. TST, entretanto, entendeu que tanto para o empregado como para o
empregador as anotações fazem prova relativa, ante o contrato-realidade vigente no direito
48 Após a anotação da CTPS pela Vara do Trabalho, será comunicado à Gerência Regional do Trabalho para
aplicação da multa administrativa cabível.
laboral. No mesmo sentido, declina a Súmula 225 do STF.49
É evidente que o peso das anotações em face do empregador é maior, porquanto
realizada por ele mesmo. Contudo, nada impede sua impugnação alegando rasuras,
equívocos ou até mesmo dolo por parte de seu preposto. Nessa hipótese, incumbe ao
empregador o ônus de provar suas alegações.
Cabe ressaltar, por fim, que anotações falsas na CTPS podem configurar o crime de falsa
anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social prevista no art. 297, §3º, II, do Código
Penal:
Art. 297 do Código Penal: Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar
documento público verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
(...)
§ 3º Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir:
(...)
II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que
deva produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que
deveria ter sido escrita;
Nesse caso, o juiz do trabalho deverá oficiar ao Ministério Público Estadual, para que
tome as medidas no âmbito de suas atribuições. Nesse sentido:
Súmula nº 62 do STJ. Compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsa
anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social, atribuído à empresa privada.
2.2. Prazo e prorrogação do contrato de experiência
Súmula nº 188 do TST. Contrato de trabalho. Experiência. Prorrogação
O contrato de experiência pode ser prorrogado, respeitado o limite máximo de 90 dias.
O contrato de experiência é outra hipótese de contrato por prazo determinado, previsto
na CLT. Esse contrato tem por finalidade uma avaliação recíproca50 entre as partes
envolvidas. De um lado, o empregador poderá verificar as qualidades pessoais do
trabalhador (eficiência, lealdade etc.). De outro, o empregado, por sua vez, terá chance de
analisar se aquele emprego corresponde às suas expectativas (meio ambiente de trabalho,
condições de pagamento etc.).
O prazo desse contrato será de 90 dias, havendo possibilidade de apenas uma
prorrogação, desde que respeitado os 90 dias. A Súmula nº 188 do TST prevê apenas o
limite máximo de 90 dias, não mencionado o número de prorrogações. Ocorre que é
49. STF Súmula nº 225: “Valor Probatório das Anotações da Carteira Profissional. Não é absoluto o
valor probatório das anotações da carteira profissional”.
50. “O contrato de experiência é modalidade de ajuste a termo, de curta duração, que propicia às
partes uma avaliação subjetiva recíproca: possibilita ao empregador verificar as aptidões técnicas e o
comportamento do empregado, e, a este último, analisar as condições de trabalho.” BARROS. Alice Monteiro.
Curso de Direito do Trabalho. 5 ed. São Paulo: Ltr, 2009. p. 484.
posicionamento dominante a possibilidade de apenas uma prorrogação, conforme previsão
no art. 451 da CLT51. Desse modo, o empregado contratado por 30 dias poderá ter seu
contrato de experiência prorrogado por até 60 dias. Note-se que não há obrigatoriedade de
prazos iguais como: 45 + 45 dias. Se extrapolado o prazo de 90 dias, ou efetuada mais de
uma prorrogação, o contrato se tornará, automaticamente, por prazo indeterminado (art.
451 da CLT).
Deve-se diferenciar contrato de experiência, art. 443, § 2º, “c”, da CLT, com prazo de até
90 dias, conforme visto anteriormente, do período de experiência previsto no art. 478, § 1º,
da CLT. Esse período de experiência era utilizado para os antigos empregados que não eram
optantes pelo FGTS, antes da Constituição Federal de 1988. Portanto, esse artigo, 478, § 1º,
não possui mais efeito prático.
Cabe destacar, ainda, que a CLT possibilita uma nova contratação por prazo
determinado, desde que tenha sido dado o intervalo de 6 meses entre um contrato e outro.
A contratação do mesmo empregado por experiência é vedada, pois o empregador já teve a
oportunidade de conhecê-lo. A CLT não prevê essa vedação, portanto há quem defenda a
possibilidade de novo contrato de experiência, desde que cumpra o interstício de 6 meses
entre os contratos. Entretanto, não nos parece que essa seja a melhor interpretação do texto
legal. Ora, se o empregador já teve a oportunidade de avaliar o trabalho e demais
características do empregado, não há motivo para recontratá-lo, novamente a título de
experiência.
Em duas situações, excepcionais, seria possível admitir um novo contrato de experiência:
a) para desempenhar atividades completamente diferentes na empresa. O primeiro
contrato foi para trabalhar como garçom. Já no segundo, o empregado desenvolveria o
trabalho de cozinheiro;
b) Caso a primeira contratação tenha sido há bastante tempo. Nesse caso, na nossa
opinião, o empregado contatado há mais 2 anos, poderia ser submetido a um novo contrato
de experiência, como forme de verificar se continua capaz de exercer as tarefas repassadas.
Recentemente, o TST52 decidiu que o empregado contratado como temporário, não pode
ser contratado de forma subsequente a título de experiência, porquanto a prestação de
serviços anterior já cumpriu a finalidade para qual instituída essa modalidade de contrato.
Ademais, de acordo com o a OJ nº 25 da SDC, o TST tem o entendimento de que é possível
o estabelecimento de salário normativo, seja ele em sentido estrito ou salário convencional,
diverso para os empregados em contrato de experiência. O art. 7º, inciso XXX, da CF/88
estabelece o princípio da isonomia salarial, que pode ser entendido como a proibição de
diferenças salariais para atividades idênticas:
Orientação Jurisprudencial nº 25 da SDC do TST. Salário normativo. Contrato de
experiência. Limitação. Tempo de serviço. Possibilidade.
Não fere o princípio da isonomia salarial (art. 7º, XXX, da CF/88) a previsão de salário
normativo tendo em vista o fator tempo de serviço.
51. Informativo nº 101 do TST (confira texto integral ao final do capítulo)
52. Informativo nº 64 do TST - confira o texto integral ao final do capítulo.
Tendo em vista que os trabalhadores em contrato de experiência ainda estão em
processo de avaliação e, por isso não apresentam as mesmas condições de produtividade e
“performance” daqueles já adaptados na empresa, o tratamento salarial diferenciado é
justificado e não viola o princípio da isonomia salarial53.
Ademais, o fator tempo de serviço não está mencionado como critério de discriminação
salarial pela Constituição Federal. Entendemos, com base nessa OJ 25, que é possível o
pagamento em valor inferior, para os empregados que estão em contrato de experiência.
Após esse período de 90 dias, entretanto, é necessário que seja aplicado o mesmo salário
normativo dos demais trabalhadores. Aliás, mesmo para esses empregados em período de
prova, deve ser garantido parcelas salariais (horas extras, adicional noturno etc) e
indenizatórias (vale-transporte, cesta básica etc) pagos aos demais empregados da empresa.
Por fim, a contratação do empregado por experiência não dá direito ao empregador em
tratá-lo de forma diversa dos demais empregados do estabelecimento. O TST54, em recente
decisão, proibiu a exclusão dos trabalhadores em contrato de experiência do pagamento de
cesta básica. Essa postura, mesmo que prevista em norma coletiva, não se coaduna com o
princípio consagrado pelo art. 3º, IV, parte final, da Constituição da República, que veda
qualquer forma de discriminação na promoção do bem de todos.
5.2. Comparecimento à Justiça do Trabalho
Súmula nº 155 do TST. Ausência ao serviço
As horas em que o empregado falta ao serviço para comparecimento necessário, como parte, à
Justiça do Trabalho não serão descontadas de seus salários (ex-Prejulgado nº 30).
Como visto, nas hipóteses de interrupção, embora não tenha prestação de serviços,
haverá pagamento de salário e contagem do tempo de serviço. Em outras palavras, apenas o
trabalhador ficará livre de suas obrigações.
Para o comparecimento em juízo, pelo período que se fizer necessário, o empregado não
trabalha e recebe normalmente. Trata-se, portanto, de uma falta justificada. Por exemplo, o
empregado que é arrolado testemunha do reclamante ou reclamado, ou, ainda, para
comparecer ao júri. Note-se que o art. 473, VIII, da CLT não prevê um dia de folga, mas apenas
pelo período que se fizer necessário. Assim sendo, se a audiência judicial está marcada para as
16h, o empregado terá dispensa das funções apenas durante esse período.
No mesmo sentido da Súmula nº 155, prevê a jurisprudência do TST:
Súmula nº 89 do TST. Se as faltas já são justificadas pela lei, consideram-se como
ausências legais e não serão descontadas para o cálculo do período de férias.
Em razão da expressa previsão na CLT, a súmula já poderia ter sido cancelada. Como
forma de facilitar a compreensão do assunto, seguem as hipóteses de suspensão e
53 PINTO, Raymundo Antonio Carneiro; BRANDÃO, Cláudio. Orientação Jurisprudenciais do TST comentadas.
2. ed. São Paulo: LTr, 2010. p. 263.
54. Informativo n. 25 do TST – confira o texto integral ao final do capítulo.
interrupção do contrato de trabalho:
Hipóteses de interrupção
(pagamento de salário)
Hipóteses de suspensão
(não há pagamento de salário)
• 2 dias falecimento
• 3 dias – casamento
• 9 dias – professor (casamento e
falecimento)
• 1 dia a cada 12 meses – doação de
sangue
• 2 dias – alistamento eleitoral
• 2 dias – acompanhamento de sua esposa
ou companheira em consultas ou exames
durante a gravidez
• 1 dia por ano – acompanhar filho de até
6 anos em consulta médica – válido para
o empregado ou empregada
• Tempo necessário:
– serviço militar
– vestibular
– comparecimento em juízo
– reunião/organismo internacional
(dirigente sindical)
• Paralisação da empresa
• Acidente nos primeiros 15 dias
• Férias
• RSR e Feriados
• Intervalos intrajornadas remunerados.
• Licença-paternidade 5 dias para todos os
empregados. E ainda, com possibilidade
de prorrogação por mais 15 dias (total
de 20 dias) se o Empregador aderir ao
Programa Empresa Cidadã
• Gestante: consultas médicas
• Participação nas comissões de
conciliação prévia
• Prontidão e sobreaviso
• Lockout
• Participação no Conselho Curador do
FGTS
• Encargo público
• Mandato Sindical
• Greve
• Suspensão disciplinar
• Benefícios previdenciários
• Diretor de S/A (não empregado – Súm.
nº 269 do TST)
• Intervalos
• Prisão (sem trânsito em julgado)
• Violência doméstica
• Inquérito para apuração de falta grave
• Qualificação profissional (art. 476-A da
CLT)
Casos controvertidos
a) Licença-maternidade (interrupção)
b) Aborto não criminoso (interrupção)
c) Serviço militar obrigatório (suspensão)
d) Acidente do trabalho após 15 primeiros dias (suspensão)
7. SÚMULAS DOS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO
(ACRESCENTADAS AO CAPÍTULO IV – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
CTPS INDIVIDUAL DE TRABALHO
Súmula nº 82 do TRT da 4ª Região - Carteira de Trabalho e Previdência Social. Retenção injustificada pelo empregador. Dano moral.
A retenção injustificada da Carteira de Trabalho e Previdência Social do trabalhador, por período superior ao previsto nos arts. 29 e 53 da CLT, é causa de dano moral in re ipsa.
Súmula nº 78 do TRT da 12ª Região: Indenização por danos morais. Retenção indevida da CTPS do empregado.
Presume-se haver dano moral indenizável quando a CTPS do empregado, com o registro da terminação do contrato, não lhe é devolvida até o prazo legal para homologação ou pagamento das verbas rescisórias.
Súmula nº 39 do TRT da 15ª Região: Carteira de trabalho. Anotação a cargo do empregador. Fixação de astreintes. Possibilidade.
A determinação de anotação da CTPS diretamente pelo empregador, com fixação de astreintes, não afronta o art. 39, § 1º, da CLT, nem constitui julgamento extra petita, diante do que dispõe o art. 461, § 4º, do CPC.
Súmula nº 14 do TRT da 23ª Região: Dano moral. Retenção da ctps. Art. 53 da clt. Dano in re ipsa. Inocorrência.
A retenção da CTPS, entendida como a manutenção desse documento pelo empregador por prazo superior a 48 horas não enseja, por si só, direito à reparação por dano moral.
9. INFORMATIVOS DO TST
(ACRESCENTADOS AO CAPÍTULO IV – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Gratificação de função
Caixa Econômica Federal - CEF. Termo de opção pela jornada de oito horas declarado inválido. Gratificação de função percebida por mais de dez anos. Incorporação. Impossibilidade.
Descaracterizado o exercício de função de confiança, a que alude o artigo 224, § 2º, da CLT, diante da ausência de fidúcia especial, inválida a opção do trabalhador, empregado da Caixa Econômica Federal, pela jornada de oito horas. Devidas, portanto, como extras, a 7ª e 8ª horas, calculadas com base no valor estabelecido para a jornada convencional de seis horas diárias, permitida a compensação desse valor com o que foi efetivamente pago a título de gratificação de função, nos termos da Orientação Jurisprudencial transitória nº 70 da SBDI-I. Tendo sido descaracterizado o recebimento de “gratificação de função”, não se aplica ao caso a Súmula nº 372 do TST, que, trata da incorporação de gratificação de função percebida em razão do cargo de confiança, mas a interpretação conferida pela OJ Transitória nº 70 da SBDI-I, inviabilizando a incorporação do valor, uma vez deferidas as sétima e oitava horas como extras. Sob esses fundamentos, a SBDI-I, por unanimidade, conheceu do recurso de embargos, apenas no tocante ao tema “termo de opção para jornada de oito horas declarado inválido – base de cálculo das horas extras”, por divergência jurisprudencial, e, no mérito, por maioria, negou-lhe provimento. Vencidos os Ministros Augusto César Leite de Carvalho e Hugo Carlos Scheuermann. TST-E-ED-ARR-1505-65.2010.5.03.0002, SBDI-I, rel. Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte, 20.8.2015. (Informativo nº 114)
Alteração do Contrato de Trabalho
Servidor público submetido ao regime da CLT. Empregado que nunca foi submetido à jornada de
trabalho inicialmente contratada. Determinação de retorno à jornada original. Alteração lícita.
Orientação Jurisprudencial nº 308 da SBDI-I.
O restabelecimento da jornada original de trabalho de servidor público, submetido ao regime da CLT, não importa alteração ilícita do contrato de trabalho, ainda que isso implique aumento da carga horária sem contrapartida salarial. Com efeito, é a lei que determina a jornada do servidor, e eventual redução, ainda que por tempo prolongado ou mesmo desde o início do contrato de trabalho, não se incorpora ao seu patrimônio jurídico. A teoria do fato consumado não é aplicável em contrariedade à lei, que resguarda o interesse público, indisponível por natureza. Incide, portanto, o entendimento consolidado pela Orientação Jurisprudencial nº 308 da SBDI-I, em obediência aos princípios constitucionais da legalidade, moralidade, impessoalidade e eficiência do serviço público (art. 37 da CF). Com esses fundamentos, a SBDI-I, por maioria, conheceu dos embargos interpostos pelo reclamado por contrariedade à Orientação Jurisprudencial nº 308 da SBDI-I, e, no mérito, deu-lhes provimento para restabelecer a sentença que
julgou lícita a alteração da jornada de trabalho da reclamante para quarenta horas semanais, pactuada à época da contratação e prevista em lei estadual. Vencidos os Ministros Renato de Lacerda Paiva, Augusto César Leite de Carvalho, José Roberto Freire Pimenta e Alexandre de Souza Agra Belmonte. TST-E-RR-368500-43.2009.5.04.0018, SBDI-I, rel. Min. Márcio Eurico Vitral Amaro, 5.2.2015 (Informativo nº 99)
CAPÍTULO V – DURAÇÃO DO TRABALHO E PERÍODOS DE
DESCANSO
1.3. Trajeto para o trabalho. Hora in itinere
Súmula nº 90 do TST. Horas in itinere. Tempo de serviço
I - O tempo despendido pelo empregado, em condução fornecida pelo empregador, até o local de
trabalho de difícil acesso, ou não servido por transporte público regular, e para o seu retorno é
computável na jornada de trabalho.
II - A incompatibilidade entre os horários de início e término da jornada do empregado e os do
transporte público regular é circunstância que também gera o direito às horas in itinere.
III - A mera insuficiência de transporte público não enseja o pagamento de horas in itinere.
IV - Se houver transporte público regular em parte do trajeto percorrido em condução da
empresa, as horas in itinere remuneradas limitam-se ao trecho não alcançado pelo transporte
público.
V - Considerando que as horas in itinere são computáveis na jornada de trabalho, o tempo que
extrapola a jornada legal é considerado como extraordinário e sobre ele deve incidir o adicional
respectivo.
I - O tempo despendido pelo empregado, em condução fornecida pelo empregador, até o local de
trabalho de difícil acesso, ou não servido por transporte público regular, e para o seu retorno é
computável na jornada de trabalho.
Em regra, o tempo despendido entre o local de trabalho e seu retorno, por qualquer meio
de transporte, não será computado na jornada de trabalho, conforme previsto no art. 58, §
2º, da CLT. Essas horas de percurso não estão inseridas no tempo “à disposição do
empregador”. Excepcionalmente, essas horas de percurso, chamadas de in itinere, estarão
inseridas na jornada, se preenchidos dois requisitos, conforme item I da súmula em análise:
a) Local de difícil acesso. A lei considera local de difícil acesso onde não houver
transporte público disponível aos trabalhadores. De acordo com a jurisprudência do
TST, para fins de reconhecimento de horas in itinere deve ser considerada apenas a
localização da empresa, ou seja, se o local em que a empresa está situada possui
transporte público disponível aos trabalhadores. O fato de o empregado residir em
local de difícil acesso ou não servido de transporte público não garante o direito ao
cômputo das horas in itinere. Nesse sentido:
Recurso de revista. Horas in itinere. Residência do empregado em local de difícil
acesso. Aldeia indígena. Empresa situada no centro da cidade, em local de fácil
acesso. Indevido o pagamento de horas in itinere. 1. Do quadro fático registrado
pelo egrégio Tribunal Regional extrai-se que “(-) No caso presente, claro está que a ré
não está situada em local de difícil acesso, pois se situa no centro da cidade de Seara,
conforme inicial. Na realidade, situada em local de difícil acesso está a aldeia indígena
na qual reside o autor, situação não contemplada na hipótese descrita no Dispositivo
Legal citado (...)” (fl. 381). 2. Quanto à existência de transporte regular, a egrégia Corte
Regional registrou que “(-) o autor não trouxe nenhum elemento capaz de demonstrá-la,
não se desincumbindo do seu encargo probatório. (-)” (fl. 381, grifei). 3. Dentro deste
contexto fático, não se vislumbra contrariedade à Súmula 90/TST, na medida em que o
acesso à empresa não oferecia dificuldades, não havendo prova de inexistência de
transporte público regular. 4. No que se refere à divergência jurisprudencial indicada ao
confronto de teses, vale dizer que os arestos formalmente válidos são inespecíficos, uma
vez que não partem da premissa de que de difícil acesso era a residência do empregado,
e não a sede da empresa. Incidência da Súmula 296/TST. Recurso de revista não
conhecido. (TST - RR: 7491820125120008, Relator: Alexandre de Souza Agra Belmonte,
Data de Julgamento: 03/06/2015, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 12/06/2015 –
grifos acrescidos)
b) Condução fornecida pelo empregador. O transporte é concedido como uma
ferramenta indispensável ao trabalho, beneficiando o próprio empreendimento,
pois, sem o fornecimento desse transporte, dificilmente o empregador iria
conseguir mão de obra para prestação dos serviços.
Nesse caso, preenchidos os requisitos anteriores, o tempo gasto será computado na
jornada de trabalho, ou seja, será considerado tempo à disposição do empregador. Exemplo:
empregado gasta 1 hora de deslocamento na ida e 1 hora na volta do trabalho. Dessa forma,
ao chegar ao local de trabalho, prestará serviços por 6 horas, o que ultrapassar esse período
será considerado horas extraordinárias.
Ademais, a jurisprudência do TST55 estabelece que o período de espera do empregado
pelo transporte fornecido pelo empregador ao final da jornada também deve ser
considerado tempo à disposição do empregador. Nesse mesmo sentido, prevê a
jurisprudência do TRT da 18ª Região:
Súmula nº 17 do TRT da 18ª Região: Tempo à disposição. Período em que o obreiro
espera pelo transporte fornecido pelo empregador.
O tempo de espera ao final da jornada é considerado à disposição, se o trabalhador
depende, exclusivamente, do transporte fornecido pelo empregador.
...
1.3.1. Tempo médio das horas in itinere
Recentemente, a CLT foi alterada para permitir que as microempresas e empresas de
pequeno porte possam fixar, via acordo ou convenção coletiva, o tempo médio das horas in
itinere, bem como a forma e a natureza da remuneração (art. 58, § 3º, da CLT). Exemplo:
empregado gasta 1 hora de ida e mais 1 hora de volta de percurso para o trabalho em local
de difícil acesso e condução fornecida pelo empregador. Nesse caso, se houver acordo ou
convenção coletiva, prefixando as horas de percurso em apenas 45 minutos de ida e 45
minutos de volta, o trabalhador não terá computado o tempo de 2 horas de efetiva jornada,
mas apenas do valor estabelecido no instrumento coletivo, ou seja, 1 horas e 30 minutos.
Note-se que a média fixada não pode ser muito diferente do tempo efetivamente gasto.
Nesse sendo, interessante jurisprudência dos TRTs da 19ª e 24ª Região estabelecem que é
necessário razoabilidade no tempo médio pré-fixado para as horas in itinere:
55. Informativo nº 80 do TST (confira o texto integral ao final do capítulo)
Súmula nº 5 do TRT da 19 ª Região: Horas in itinere. Pré-fixação em norma coletiva.
Validade.
É válida a cláusula de convenção ou acordo coletivo de trabalho que fixa previamente e com
razoabilidade a duração das horas in itinere, pois isso não implica supressão de direitos do
trabalhador, como deflui do art. 7º, inciso XXVI, da Constituição Federal, que privilegia a
negociação coletiva.
Súmula nº 10 do TRT da 24ª Região:
Horas in itinere. Negociação coletiva. Autodeterminação coletiva que encontra limites n
os princípios da razoabilidade e proporcionalidade.
Não se reconhece validade de cláusula de
instrumento normativo de natureza autônoma que estabelece o pagamento das horas
in itinere em parâmetro inferior a 50% (cinquenta por cento) do tempo de percurso.
Sobre essa fixação das horas in itinere por tempo médio, cabe destacar que o TST56 tem
decidido que todas as empresas podem fixá-las, mesmo se não forem enquadradas como
micro e pequenas empresas. Em posição contrária, a jurisprudência do TRT da 7ª Região
garante a possibilidade de fixação somente às micro e pequenas empresas:
Súmula nº 4 do TRT da 7ª Região. Norma Coletiva. Horas “in itinere”. Limitação.
Salvo em relação às microempresas e empresas de pequeno porte, nula é cláusula de
Convenção ou Acordo Coletivo de Trabalho que fixa limite ao pagamento de horas extras
pelo deslocamento do obreiro ao labor, em condução fornecida pelo empregador, por
violar disposição legal contida no art. 58, § 2º, da CLT.
Ademais, a norma coletiva não tem o poder de conferir quitação retroativa das horas in
itinere que não foram pagas antes da vigência do acordo coletivo57. E por fim, o tempo médio
fixado no instrumento coletivo deve ser próximo do tempo efetivamente gasto no trajeto.
Caso contrário, a cláusula normativa representará uma verdadeira renúncia e será nula58.
Em resumo, a norma coletiva não pode simplesmente renunciar ao recebimento das horas in
itinere, mas somente estabelecer, com razoabilidade, o tempo médio de deslocamento.
Portanto, é inválido o instrumento coletivo que exclui o direito às horas in itinere, ainda
que mediante a concessão de outras vantagens aos trabalhadores59. Nesse mesmo sentido,
de coibir renúncia a direitos trabalhistas, estabelecem as Súmulas dos TRTs da 3ª, 6ª e 18ª
Regiões:
Súmula nº 41 do TRT da 3ª Região. Horas in itinere - Norma coletiva.
I - Não é válida a supressão total do direito às horas “in itinere” pela norma coletiva.
II - A limitação desse direito é válida, desde que a fixação do tempo de transporte não seja
inferior à metade daquele despendido nos percursos de ida e volta para o trabalho.
Súmula nº 15 do TRT da 6ª Região: É inválida a cláusula de instrumento coletivo que
suprime direito à remuneração das horas de percurso (artigo 58, § 2º da CLT).
Súmula nº 8 do TRT da 18ª Região: Horas in itinere. Limites do poder negocial.
Impossibilidade de renúncia. Pactuação do Tempo de Percurso. Validade. Razoabilidade.
56. Informativo nº 2 do TST (confira texto integral ao final do capítulo)
57. Informativos nº 8 e nº 25 do TST (confira o texto integral ao final do capítulo)
58. Informativos nº 10 e nº 54 do TST (confira o texto integral ao final do capítulo)
59. Informativo nº 73 do TST (confira o texto integral ao final do capítulo)
I. Ofende o interesse público e configura desrespeito aos comandos constitucionais
mínimos a renúncia às horas in itinere, mas não a pactuação a respeito da quantidade de
horas, razão por que são válidas as normas coletivas que fixam um número ou limitam a
quantidade de horas in itinere.
II. Tem-se por desarrazoada e desproporcional a cláusula de norma coletiva que
estabelece quantitativo fixo temporal das horas in itinere inferior a 50% (cinquenta por
cento) do tempo efetivamente gasto pelo trabalhador.
Cabe ressaltar, entretanto, que há posicionamento minoritário no próprio TST60 que
possibilita a fixação de tempo médio para as horas in itinere, independentemente de existir
ou não disparidade com a realidade vivida pelos trabalhadores. No caso da recente decisão, a
norma coletiva fixou o pagamento de uma hora diária a título de horas in itinere, não
obstante o tempo gasto pelo reclamante no percurso de ida e volta ao trabalho fosse de duas
horas e vinte minutos. Esse posicionamento, valoriza a auto-regulamentação prevista no art.
7, XXVI, da CF61, ou seja, a força normativa dos acordos e das negociações coletivas, dando
ênfase na flexibilização. Com todo respeito a essa corrente do TST, não podemos concordar,
pois é notório que o Brasil não tem tradição de sindicatos de trabalhadores rurais fortes,
comprometidos e independentes. Ademais, o posicionamento acima, representa verdadeira
renúncia a direitos trabalhistas o que é vedado pelo ordenamento jurídico e por vários
princípios básicos, como princípio da proteção e da indisponibilidade e da primazia da
realidade. Nesse sentido, prevê a jurisprudência do TRT do Paraná:
Súmula nº 25 do TRT da 9ª Região. Horas in itinere. Natureza jurídica. Norma
decorrente de negociação coletiva. Indisponibilidade absoluta.
Convenção ou acordo coletivo que negocie ou suprima o caráter salarial das horas in
itinere não tem validade, pois se refere ao tempo à disposição do empregador que deve ser
retribuído com o salário equivalente, tratando-se de direito absolutamente indisponível,
salvo na hipótese do §3º do art. 58 da CLT.
1.3.2. Forma e natureza da remuneração das horas in itinere
Ademais, conforme o art. 58, § 3º, da CLT, há possibilidade de ser fixada, em acordo ou
convenção coletiva, a “forma e a natureza da remuneração” das horas in itinere. Diante
disso, utilizando-se de uma interpretação literal, o pagamento das horas que excederem à
jornada normal poderia, em tese, ser feito como indenização. Contudo, verifica-se afronta à
Constituição Federal, pois possibilita que haja trabalho por horas e horas além da jornada
normal sem que exista a contraprestação de, no mínimo, 50%. Fere a dignidade do
trabalhador (art. 1º da CF/88), descumpre o objetivo da não discriminação (art. 3º da
CF/88) e o princípio da proibição do retrocesso social. Assim sendo, como as horas de
percurso possuem a mesma natureza das horas extras, devem ser calculadas como tal62.
Ademais, TST63, recentemente, decidiu que é inválida a cláusula que retira a natureza
salarial das horas in itinere, afastando sua integração aos salários dos empregados, para
60. Informativo nº 29 do TST (confira o texto integral ao final do capítulo)
61. Art. 7º da CF/88. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social: XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;
62. Informativo nº 26 do TST (confira o texto integral ao final do capítulo)
63. Informativo nº 51 do TST (confira o texto integral ao final do capítulo)
todos os efeitos legais, em contrariedade ao disposto no art. 58, § 2º da CLT64. Portanto, de
forma acertada, o TST entendeu que a norma coletiva não pode transformar as horas in
itinere em parcela indenizatória, sem integração ao salário.
Em resumo, segundo o mais recente e majoritário posicionamento do TST, é possível,
por meio de negociação coletiva, estipular um montante de horas itinerantes a serem pagas,
não se admitindo apenas a supressão da parcela, sua fixação desproporcional ou, ainda, a
retirada do caráter salarial, do direito aos respectivos reflexos ou do adicional de horas
extras.
Cabe, entretanto, uma reflexão sobre a fixação de tempo médio dessas horas de
deslocamento. Na atualidade, com a existência de tantos meios tecnológicos para
marcação e controle de ponto, será que haveria necessidade de fixação de tempo médio via
norma coletiva? Essas fixações transformam, no futuro, em milhares de ações judiciais
individuais, porque representam, muitas vezes, em renúncia a direitos trabalhistas. Enfim,
o novo art. 58, § 2º da CLT, veio para trazer segurança jurídica às horas itinerárias, mas seu
efeito prático foi totalmente diverso do que era pretendido pelo legislador. Por fim, cabe
ressaltar que Ministério Público do Trabalho - MPT tem posicionamento majoritário
contra essa fixação por tempo médio.
Finalmente, o art. 29465 da CLT já previa horas in itinere para o empregado que laborava
em minas de subsolo, considerando horas itinerárias da boca da mina até o local de trabalho.
Nesse mesmo sentido:
Orientação Jurisprudencial Transitória nº 36 da SDI – I do TST: Hora in itinere. Tempo
gasto entre a portaria da empresa e o local do serviço. Devida. Açominas. Configura-se
como hora in itinere o tempo gasto pelo obreiro para alcançar seu local de trabalho a
partir da portaria da Açominas.
Tempo médio e natureza das horas in itinere
A) Fixação de tempo médio das horas in itinere
• Previsão na CLT: Microempresas e empresas de pequeno porte (art. 58, § 3º, da CLT):
– Possibilidade de estabelecimento do tempo médio das horas in itinere desde que haja negociação
coletiva.
• Jurisprudência majoritária do TST:
– Possibilidade de estabelecimento do tempo médio para todas as empresas.
– Tempo médio deve ser próximo ao efetivamente gasto pelo deslocamento (razoabilidade) – Inf. nº 10
do TST
– Impossibilidade de quitação retroativa das horas in itinere por meio de negociação coletiva – Inf. 8 do
TST
64. Art. 58 da CLT. A duração normal do trabalho, para os empregados em qualquer atividade
privada, não excederá de 8 (oito) horas diárias, desde que não seja fixado expressamente outro limite. § 2o O
tempo despendido pelo empregado até o local de trabalho e para o seu retorno, por qualquer meio de
transporte, não será computado na jornada de trabalho, salvo quando, tratando-se de local de difícil acesso
ou não servido por transporte público, o empregador fornecer a condução.
65. Art. 294 da CLT: “O tempo despendido pelo empregado da boca da mina ao local do trabalho e
vice-versa será computado para o efeito de pagamento do salário”.
B) Forma e natureza da remuneração:
• Previsão na CLT: permite que a norma coletiva fixe a forma e a natureza da remuneração das horas in
itinere. Possibilidade, em tese, de fixação de parcela de natureza indenizatória (art. 58, § 3º, CLT).
• Posicionamento majoritário do TST: Não se admite:
– Supressão da parcela referente às horas in itinere;
– Fixação desproporcional dos valores;
– Retirada do caráter salarial, do direito aos respectivos reflexos ou do adicional de horas extras;
....
1.6. Empregados sem limitação de jornada
1.6.1. Empregados que exercem atividade externa incompatível com a fixação de
horário de trabalho. Tacógrafo
Orientação Jurisprudencial nº 332 da SDI – I do TST. Motorista. Horas extras. Atividade
externa. Controle de jornada por tacógrafo. Resolução nº 816/1986 do Contran
O tacógrafo, por si só, sem a existência de outros elementos, não serve para controlar a jornada
de trabalho de empregado que exerce atividade externa.
A limitação da duração do trabalho em 8 horas diárias e 44 horas semanais não é
aplicada aos empregados previstos no art. 62, I, da CLT, que exercem atividade externa
incompatível com a fixação de horário de trabalho, devendo essa condição ser anotada na CTPS
e no registro de empregados.
Para esses trabalhadores que exercem atividades externas não há limite de 8 horas, logo
não terão direito às horas extras, adicional noturno e intervalos66. Essa exclusão existe diante
da impossibilidade de fiscalização da jornada. Exemplo: biólogo que se encontra em pesquisa no
meio da selva e que não há meios telemáticos disponíveis para o controle de sua jornada.
Diante da impossibilidade de fiscalização do empregador, inclusive por meios tecnológicos
como GPS, esse empregado não terá direito à limitação da jornada. Ressalta-se que, se
fiscalizado ou controlado o horário de trabalho, por qualquer meio, o trabalhador terá direito à
limitação da jornada, conforme previsto na CF/88.
O tacógrafo é o instrumento utilizado em veículos para controlar a distância percorrida e a
sua velocidade. De acordo com OJ em análise, esse instrumento sozinho, sem outros
dispositivos, não se presta ao controle da jornada do empregado que exerce atividade externa.
Logo, o trabalhador não poderá, apenas com base no tacógrafo, receber horas extras, adicional
noturno etc.
Nesse sentido, segue comentário67 sobre tacógrafo como meio de prova:
66 Nesse sentido: Súmula nº 5 do TRT da 11ª Região: Trabalho realizado externamente. Hora intervalar.
Incabível o pagamento de hora intervalar a empregado que exerce atividade externamente, sem fiscalização,
com autonomia para escolher o horário de refeição e descanso.
67. PINTO, Raymundo Antônio Carneiro, BRANDÃO, Cláudio Mascarenhas. Orientações
jurisprudenciais do TST comentadas. 2 ed. São Paulo: LTr, 2010. p. 168.
A experiência, contudo, tem demonstrado que não se trata de um meio probatório
suficientemente capaz de comprovar as reais horas suplementares laboradas. Se, por
exemplo, no meio do caminho houve a troca de motoristas, o disco não acusa essa mudança,
existindo outras hipóteses em que são incompletos ou imprestáveis os registros.
Importante destacar, por fim, que há corrente doutrinária minoritária no sentido de que
o art. 62, I e II da CLT não foi recepcionado pela Constituição Federal. Esse artigo exclui o
trabalhador exercente de função externa e o empregado ocupante de cargo de gestão da
limitação da jornada de trabalho de 8 horas diárias, impossibilitando,
consequentemente, que esses prestadores de serviço recebam horas extras, intervalos e
adicional noturno. Há fortes fundamentos para essa corrente: a) o art. 7º, XV, da CF/88
limitou a jornada de 8 horas para todo e qualquer trabalhador, independentemente da
função desempenhada; b) a limitação da jornada é norma de ordem pública, ligada à saúde e
dignidade do trabalhador (art. 1º da CF/88) e c) a ausência de limitação da jornada gera um
problema social, pois esses empregados fatalmente irão requerer, de forma prematura, os
benefícios da Previdência Social.
Nesse mesmo sentido, prevê o Enunciado nº 17 da 1ª Jornada de Direito Material e
Processual do Trabalho:
A proteção jurídica ao limite da jornada de trabalho, consagrada nos incisos XIII e XV do
art. 7º da Constituição da República, confere, respectivamente, a todos os trabalhadores,
indistintamente, os direitos ao repouso semanal remunerado e à limitação da jornada de
trabalho, tendo-se por inconstitucional o art. 62 da CLT.
O art. 62, I, da CLT que exclui o direito à limitação de jornada do trabalhador que executa
funções externas deve ser interpretado conforme o novo artigo 235-C da CLT, modificado
recentemente pela Lei n. 13.103, de 2 de março de 201568. A regulamentação da profissão de
motorista profissional já havia sido alterada pela Lei nº 12.619/2012. Contudo, diante da
greve dos motoristas ocorrida no início de 2015 por melhores condições de trabalho, foi
promulgada nova lei para regulamentar a profissão, especialmente no tocante à jornada de
trabalho.
De acordo com a nova redação da CLT, a jornada do motorista profissional será de 8
horas diárias, sendo permitida a prorrogação por até 2 horas extras. Se for celebrado acordo
ou convenção coletiva, é possível a realização de até 4 horas extras diárias.
Há posicionamento, inclusive, de que esse novo artigo revogou tacitamente o artigo
62, I, da CLT. Nesse sentido, o controle da jornada de trabalho passou a ser direito
assegurado ao motorista empregado:
Art. 2º, V, “b”, Lei nº 13.103/2015: São direitos dos motoristas profissionais de que trata esta
Lei, sem prejuízo de outros previstos em leis específicas: se empregados: ter jornada de trabalho
controlada e registrada de maneira fidedigna mediante anotação em diário de bordo, papeleta ou
ficha de trabalho externo, ou sistema e meios eletrônicos instalados nos veículos, a critério do
empregador.
Aliás, com os novos meios tecnológicos, torna-se fácil a tarefa de fiscalizar a jornada de
quem executa trabalhos externos. Nesse sentido, jurisprudência do TRT da 8ª Região
estabelece que é ônus do empregador manter o controle de ponto do motorista, que poderá
68. Sobre o intervalo do motorista profissional, ver comentários à Súmula nº 437.
ser realizado por todos meios, eletrônicos ou não:
Súmula nº 29 do TRT da 8ª Região: Motorista profissional. Atividade externa.
Obrigatoriedade de controle de ponto fidedigno.
I - É ônus do empregador manter o controle fidedigno da jornada de trabalho do motorista
profissional, que pode ser feito através de meios eletrônicos idôneos instalados no veículo,
diários de bordo, papeleta ou ficha de trabalho externo e outros passíveis de identificar a
jornada de trabalho efetivamente cumprida pelo motorista.
II - A não apresentação injustificada dos controles de frequência gera presunção relativa
de veracidade da jornada de trabalho declarada pelo reclamante, a qual pode ser elidida
por prova em contrário.
Ainda sobre essa nova Lei dos Motoristas Profissionais (Lei nº 13.103/2015) que alterou
a regulamentação da profissão, a jornada de trabalho diária prevista no referido “caput” do
art. 235-C da CLT pode ser ultrapassado em situações excepcionais e justificadas desde que
não comprometa a segurança rodoviária até que o veículo chegue a um local seguro ou ao
seu destino. Nesse sentido:
Art. 235-D, § 6º, CLT: Em situações excepcionais de inobservância justificada do limite de
jornada de que trata o art. 235-C, devidamente registradas, e desde que não se
comprometa a segurança rodoviária, a duração da jornada de trabalho do motorista
profissional empregado poderá ser elevada pelo tempo necessário até o veículo chegar a
um local seguro ou ao seu destino.
As horas extras prestadas devem ser remuneradas com adicional de, no mínimo, 50%
sobre o valor da hora normal ou compensadas por meio de banco de horas69 previsto no art.
59, § 2º da CLT:
Art. 59, § 2º, CLT: Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se, por força de acordo
ou convenção coletiva de trabalho, o excesso de horas em um dia for compensado pela
correspondente diminuição em outro dia, de maneira que não exceda, no período máximo
de um ano, à soma das jornadas semanais de trabalho previstas, nem seja ultrapassado o
limite máximo de dez horas diárias.
O motorista profissional tem direito ao recebimento de adicional noturno de, no mínimo,
20% sobre o valor da hora diurna para o trabalho executado das 22 horas de um dia até às 5
horas do dia seguinte, e hora reduzida de 52 minutos e 30 segundos, por aplicação expressa do
art. 73 da CLT (art. 235-C, § 6º, CLT).
O estabelecimento de jornada de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso é
expressamente previsto aos motoristas desde que haja instrumento coletivo autorizando essa
jornada de trabalho:
Art. 235-F, CLT. Convenção e acordo coletivo poderão prever jornada especial de 12 (doze)
horas de trabalho por 36 (trinta e seis) horas de descanso para o trabalho do motorista
profissional empregado em regime de compensação.
Além disso, o denominado “tempo de espera” que já era previsto na Lei nº 12.619/2012
foi mantido pela nova lei e corresponde ao período em que o motorista profissional ficar
aguardando carga ou descarga do veículo bem como o período gasto com a fiscalização da
mercadoria transportada. Esse período não é computado na jornada de trabalho e não será
devido como horas extraordinárias. As horas relativas ao tempo de espera serão indenizadas
na proporção de 30% (trinta por cento) do salário-hora normal. Houve, portanto,
69 Sobre a compensação e banco de horas, confira o tópico de trabalho extraordinário nesse capítulo.
flexibilização do tempo à disposição do trabalhador, pois não receberá a hora integral e,
ainda, esse período sequer é computado na sua jornada. Em razão da importância do tema,
segue a parte relativa ao tempo de espera, conforme previsto no art. 235-C da CLT:
Art. 235-C: § 8º São considerados tempo de espera as horas em que o motorista profissional
empregado ficar aguardando carga ou descarga do veículo nas dependências do embarcador
ou do destinatário e o período gasto com a fiscalização da mercadoria transportada em
barreiras fiscais ou alfandegárias, não sendo computados como jornada de trabalho e nem
como horas extraordinárias.
§ 9º As horas relativas ao tempo de espera serão indenizadas na proporção de 30% (trinta
por cento) do salário-hora normal.
§ 10. Em nenhuma hipótese, o tempo de espera do motorista empregado prejudicará o
direito ao recebimento da remuneração correspondente ao salário-base diário.
Por sua vez, o art. 235-C, § 3º prevê a necessidade de concessão de intervalo interjornada de
11 horas a cada dia de trabalho, sendo possível seu fracionamento desde que garantidos o
mínimo de 8 horas ininterruptas no primeiro período do fracionamento e o gozo do restante
dentro das 16 horas seguintes ao final do primeiro período:
Art. 235-C, § 3º, CLT: Dentro do período de 24 (vinte e quatro) horas, são asseguradas 11
(onze) horas de descanso, sendo facultados o seu fracionamento e a coincidência com os
períodos de parada obrigatória na condução do veículo estabelecida pela Lei no 9.503, de 23 de
setembro de 1997 - Código de Trânsito Brasileiro, garantidos o mínimo de 8 (oito) horas
ininterruptas no primeiro período e o gozo do remanescente dentro das 16 (dezesseis) horas
seguintes ao fim do primeiro período.
Em se tratando de viagens de longa viagem, aquelas em que o empregado permanece fora da
base da empresa ou de sua residência por período superior a 24 horas, é possível o gozo do
intervalo interjornada dentro do veículo ou alojamento fornecido pelo empregador ou
contratante do serviço.
Vale ressaltar que, no caso de viagens de longa distância, é assegurado o repouso semanal
remunerado de 24 horas, bem como o fracionamento do DSR em 2 períodos, sendo um deles de,
no mínimo, 30 horas ininterruptas a serem cumpridos na mesma semana e em continuidade a
um período de intervalo interjornada de 11 horas:
Art. 235-D. Nas viagens de longa distância com duração superior a 7 (sete) dias, o repouso
semanal será de 24 (vinte e quatro) horas por semana ou fração trabalhada, sem prejuízo do
intervalo de repouso diário de 11 (onze) horas, totalizando 35 (trinta e cinco) horas, usufruído
no retorno do motorista à base (matriz ou filial) ou ao seu domicílio, salvo se a empresa oferecer
condições adequadas para o efetivo gozo do referido repouso.
§1º: É permitido o fracionamento do repouso semanal em 2 (dois) períodos, sendo um destes de,
no mínimo, 30 (trinta) horas ininterruptas, a serem cumpridos na mesma semana e em
continuidade a um período de repouso diário, que deverão ser usufruídos no retorno da viagem.
Por fim, cumpre ressaltar que o tempo de repouso do motorista pode ser realizado com o
veículo em movimento quando o empregador adotar 2 motoristas trabalhando no mesmo
veículo, desde que assegurado o repouso mínimo de 6 horas consecutivas fora do veículo em
alojamento ou na cabine leito com o veículo estacionado a cada 72 horas (art. 235-D, § 5º, CLT).
Segue quadro que sistematiza as principais mudanças trazidas à jornada de trabalho dos
motoristas profissionais:
MOTORISTA PROFISSIONAL
(Art. 235-A a 235-G da
CLT)
DEMAIS EMPREGADOS
(CLT)
MOTORISTA PROFISSIONAL
(Art. 235-A a 235-G da
CLT)
DEMAIS EMPREGADOS
(CLT)
Jornada de
trabalho
– 8 horas diárias com
possibilidade prorrogação
em (art. 235-C, “caput”):
a) 2 horas extras; ou
b) 4 horas extras, desde que
celebrado acordo ou
convenção coletiva de
trabalho.
– 8 horas diárias e 44 horas
semanais (art. 7º, XIII, CF/88),
sendo possível a prorrogação
em, no máximo, 2 horas diárias
(art. 59, “caput”).
Flexibilização
do tempo à
disposição do
empregador
– Tempo de espera (art. 235-
C, § 9º, CLT): carga ou
descarga do veículo bem
como fiscalização da
mercadoria transportada.
Indenização do período na
proporção de 30% do
salário-hora normal. Não
computado na jornada de
trabalho.
– Sobreaviso: aguardando ordens
do em casa ou em outro local
combinado. Recebimento de 1/3
da hora normal. Duração
máxima de 24 horas.
– Prontidão: aguardando ordens
na empresa. Recebimento de 2/3
da hora normal. Duração
máxima de 12 horas.
Jornada 12x36
– Previsão expressa dessa
modalidade com o requisito
de que seja instituído
mediante acordo ou
convenção coletiva (art. 235-
F, CLT)
– Admitido pelo TST apenas
excepcionalmente, como nas
atividades de vigilância e na área
hospitalar.
– Necessária previsão em lei ou
em instrumento coletivo
(Súmula nº 444 do TST).
OBS) Doméstico: possibilidade de
instituição mediante acordo
escrito entre as partes.
Redução e
fracionamento
do Intervalo
intrajornada
– Redução e fracionamento do
intervalo intrajornada de 1
hora dos motoristas do setor
de transporte coletivo de
passageiros desde que o
intervalo seja concedido
entre o término da 1ª hora
trabalhada e o início da
última hora de trabalho (art.
71, § 5º, CLT)
– Intervalo somente pode ser
reduzido por autorização do
MTE até o limite de 30 minutos
desde que observadas as
exigências de refeitórios (art. 71,
§ 3º, CLT)
– OBS) Empregados domésticos:
possibilidade de redução do
intervalo de 1 hora para 30
minutos por acordo escrito entre
as partes (art. 13, “caput”, LC nº
150/2015).
Se o empregado doméstico residir
no local de trabalho, é possível o
fracionamento do intervalo em 2
períodos desde que cada um deles
tenha, no mínimo, 1 hora até o
MOTORISTA PROFISSIONAL
(Art. 235-A a 235-G da
CLT)
DEMAIS EMPREGADOS
(CLT)
limite de 4 horas diárias (art. 13,
§ 1º, LC nº 150/2015).
Intervalo
interjornada
– Intervalo interjornada de 11
horas, sendo possível seu
fracionamento desde que
garantidos o mínimo de 8
horas ininterruptas no
primeiro período do
fracionamento e o gozo do
restante dentro das 16 horas
seguintes ao final do
primeiro período (art. 235-C,
§ 3º, CLT)
– Intervalo interjornada de 11
horas consecutivas, sendo
vedados os fracionamento e
redução (art. 66 da CLT)
DSR
– Repouso semanal
remunerado de 24 horas
(art. 235-D, § 1º, CLT).
– Possibilidade de
fracionamento do DSR em 2
períodos, sendo um deles de,
no mínimo, 30 horas
ininterruptas cumulado com
o intervalo interjornada
diário. Além disso, é
necessário que os 2 períodos
sejam cumpridos na mesma
semana (art. 235-D, § 1º,
CLT)
- Repouso semanal remunerado de
24 horas concedido
preferencialmente aos domingos
(art. 7º, XV, CF/88).
- Impossibilidade de redução ou
fracionamento do DSR.
- Pagamento em dobro se não
concedido DSR ou se concedido
após o 7º dia (Súmula nº 146 do
TST e OJ nº 410 da SDI-I do TST)
1.9. Compensação da Jornada
Súmula nº 85 do TST. Compensação de jornada
I - A compensação de jornada de trabalho deve ser ajustada por acordo individual escrito,
acordo coletivo ou convenção coletiva.
II - O acordo individual para compensação de horas é válido, salvo se houver norma coletiva em
sentido contrário.
III - O mero não atendimento das exigências legais para a compensação de jornada, inclusive
quando encetada mediante acordo tácito, não implica a repetição do pagamento das horas
excedentes à jornada normal diária, se não dilatada a jornada máxima semanal, sendo devido
apenas o respectivo adicional.
IV - A prestação de horas extras habituais descaracteriza o acordo de compensação de jornada.
Nesta hipótese, as horas que ultrapassarem a jornada semanal normal deverão ser pagas como
horas extraordinárias e, quanto àquelas destinadas à compensação, deverá ser pago a mais
apenas o adicional por trabalho extraordinário.
V - As disposições contidas nesta súmula não se aplicam ao regime compensatório na
modalidade “banco de horas”, que somente pode ser instituído por negociação coletiva.
VI – Não é válido acordo de compensação de jornada em atividade insalubre, ainda que
estipulado em norma coletiva, sem a necessária inspeção prévia e permissão da
autoridade competente, na forma do art. 60 da CLT.
....
VI – Não é válido acordo de compensação de jornada em atividade insalubre, ainda
que estipulado em norma coletiva, sem a necessária inspeção prévia e permissão da
autoridade competente, na forma do art. 60 da CLT.
O presente item foi acrescido, recentemente (30/05/2016), à Súmula nº 85. No entanto,
ressaltamos que já defendíamos esse novo posicionamento adotado pelo TST nas edições
anteriores dessa obra.
Ao tratar de horas extras em atividades insalubres, importante ressaltar que, em maio de
2011, o TST cancelou a Súmula que admitia a compensação de jornada sem prévia
autorização do Ministério do Trabalho e Emprego. De acordo com a antiga Súmula:
Súmula nº 349 do TST (CANCELADA). A validade de acordo coletivo ou convenção
coletiva de compensação de jornada de trabalho em atividade insalubre prescinde da
inspeção prévia da autoridade competente em matéria de higiene do trabalho (art. 7º, XIII,
da CF/1988; art. 60 da CLT).
A Súmula nº 349 tratava especificamente da compensação. Nesse regime, o empregado
trabalha além da jornada normal em alguns dias, para descansar em outros (art. 59, § 2º, da
CLT). Trata-se, portanto, de uma espécie de prorrogação da jornada.
O art. 60 da CLT prevê requisito específico para autorizar a prestação de serviços
extraordinários em atividades insalubres. De acordo com a CLT, deve-se obter a prévia
autorização da autoridade competente em matéria de segurança e higiene do trabalho, no
caso, o Ministério do Trabalho e Emprego. Aliás, prevê o art. 60 da CLT que “quaisquer
prorrogações” nessas atividades insalubres somente poderão ser acordadas mediante prévia
autorização:
Art. 60, CLT: Nas atividades insalubres, assim consideradas as constantes dos quadros
mencionados no capítulo "Da Segurança e da Medicina do Trabalho", ou que neles venham a ser
incluídas por ato do Ministro do Trabalho, Industria e Comercio, quaisquer prorrogações só
poderão ser acordadas mediante licença prévia das autoridades competentes em matéria de
higiene do trabalho, as quais, para esse efeito, procederão aos necessários exames locais e à
verificação dos métodos e processos de trabalho, quer diretamente, quer por intermédio de
autoridades sanitárias federais, estaduais e municipais, com quem entrarão em entendimento
para tal fim.
Havia a discussão se o art. 60 da CLT tinha ou não sido recepcionado pela art. 7º, XIV, da
CF/88, que exige como requisito para compensação apenas a existência de acordo ou
convenção coletiva. O TST, de acordo com a antiga Súmula nº 349, entendia que a simples
existência de norma coletiva que autorizasse a compensação em atividade insalubre supria a
autorização do MTE. Com o cancelamento da súmula, passou-se a defender a necessidade de
prévia autorização do MTE.
Alias, mesmo antes do cancelamento da Súmula nº 349, já havia corrente na
Magistratura do Trabalho e no MPT que defendiam a recepção do art. 60 da CLT, conforme
abaixo transcrito:
Enunciado nº 49 da 1ª Jornada de Direito do Trabalho e Processo do Trabalho do
TST: O art. 60 da CLT não foi derrogado pelo art. 7º, XIII, da CF/88, pelo que é inválida
cláusula de Convenção ou Acordo Coletivo que não observe as condições nele
estabelecidas.
Nesse mesmo sentido, o TRT da 4ª Região já tinha editado o posicionamento abaixo, que
previa a necessidade de autorização do Ministério do Trabalho para a compensação em
atividade insalubre:
Súmula nº 67 do TRT da 4ª Região: Regime de compensação horária. Atividade
insalubre.
É inválido o regime de compensação horária em atividade insalubre quando não atendidas
as exigências do art. 60 da CLT.
Com a edição o item VI da Súmula em apreço, o TST, felizmente, pacificou o assunto ao
prever que é indispensável a realização da inspeção prévia e da autorização da autoridade
competente para que seja válido o acordo de compensação de jornada em atividade
insalubre. Assegurou-se, portanto, a constitucionalidade do art. 60 da CLT em relação ao art.
7º, XIII, CF/88.
Além disso, foi estabelecido que, mesmo mediante norma coletiva, não é possível afastar
a exigência do art. 60 da CLT. A inspeção prévia e autorização da autoridade competente têm
a finalidade de assegurar a sáude e segurança do trabalhador e, portanto, não está sujeito à
flexibilização de sua exigência por instrumento coletivo de trabalho.
Por fim, cabe frisar que, na prática, os Auditores Fiscais do Trabalho, mesmo antes dessa
alteração do posicionamento do TST, já cumpriam o disposto no art. 60 da CLT. Desse modo,
eles aplicavam multa administrativa em todas as empresas que exigiam horas
suplementares em atividades insalubres, sem a devida autorização.
....
4. SÚMULAS DOS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO
(ACRESCENTADAS AO CAPÍTULO V – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Controle da jornada de trabalho
Súmula nº 50 do TRT da 2ª Região: Horas extras. Cartões de ponto. Ausência de assinatura do empregado. Validade.
A ausência de assinatura do empregado nos cartões de ponto, por si só, não os invalida como meio de prova, pois a lei não exige tal formalidade.
Súmula nº 5 do TRT da 11ª Região: Trabalho realizado externamente. Hora intervalar.
Incabível o pagamento de hora intervalar a empregado que exerce atividade externamente, sem fiscalização, com autonomia para escolher o horário de refeição e descanso.
Horas in itinere
Súmula nº 5 do TRT da 19 ª Região: Horas in itinere. Pré-fixação em norma coletiva. Validade.
É válida a cláusula de convenção ou acordo coletivo de trabalho que fixa previamente e com razoabilidade a duração das horas in itinere, pois isso não implica supressão de direitos do trabalhador, como deflui do art. 7º, inciso XXVI, da Constituição Federal, que privilegia a negociação coletiva
Súmula nº 10 do TRT da 24ª Região: Horas in itinere. Negociação coletiva. Autodeterminação coletiva que encontra limites nos
princípios da razoabilidade e proporcionalidade.
Não se reconhece validade de cláusula de instrumento normativo de natureza autônoma que estabelece o pagamento das horas in itinere em parâmetro inferior a 50% (cinquenta por cento) do tempo de percurso.
Turnos ininterruptos de revezamento
Súmula nº 16 do TRT da 8ª Região: Turno ininterrupto de revezamento. Norma coletiva. Deve ser considerada válida a cláusula de norma coletiva que estipula jornada de 12/24 horas em turno ininterrupto de revezamento, sendo oito horas normais e quatro horas extras, sem o pagamento das 7ª e 8ª horas como suplementares.” Belém, 24 de abril de 2012.
Súmula nº 32 do TRT da 8ª Região: Turno ininterrupto de revezamento. Fixação de jornada de trabalho mediante negociação coletiva. Validade.
O estabelecimento de jornada superior a 6 horas em turnos ininterruptos de revezamento, através de negociação coletiva, não poderá exceder a 8 horas diárias, caso em que não dará direito a 7ª e 8ª horas como extras
Jornada 12x36
Súmula nº 47 do TRT da 2ª Região: Jornada de trabalho. Escala 12X36. Pagamento em dobro dos domingos e feriados trabalhados.
Os domingos trabalhados no regime de escala 12X36 não são devidos em dobro, já que se trata de dia normal de trabalho. Os feriados trabalhados, sem folga compensatória, são devidos em dobro.
Súmula nº 38 do TRT da 17ª Região. Horas extras habituais. escala 12 x 36. Invalidação. Pagamento das horas excedentes da 8ª diária e 44ª semanal como extras.
Nos termos da Súmula 444 do E. TST, a jornada de 12 horas de trabalho e 36 horas de descanso, prevista em lei, acordo ou convenção coletiva de trabalho é válida, em caráter excepcional, uma vez garantida a dobra da remuneração do labor em feriados. No entanto, a prestação de horas extraordinárias habituais invalida a escala, caso em que as horas que ultrapassarem a jornada semanal normal, consideradas como tais aquelas que ultrapassarem a 8ª hora diária e 44ª semanal, deverão ser pagas como horas extraordinárias.
Compensação de jornada. Semana espanhola
Súmula nº 48 do TRT da 2ª Região: Acordo de compensação. "Semana espanhola’’. Acordo tácito. Invalidade. Necessidade de prévia negociação por meio de norma coletiva.
É inválida a adoção do regime de compensação denominado "semana espanhola" mediante ajuste tácito, sendo imprescindível a estipulação em norma coletiva.
Intervalos
Súmula nº 53 do TRT da 1ª Região: Proteção ao trabalho da mulher. Artigo 384 da CLT.
A inobservância do intervalo previsto no art. 384 da CLT enseja os mesmos efeitos do descumprimento do intervalo interjornada.
Súmula nº 25 do TRT da 8ª Região : Intervalo intrajornada. Aplicação da Súmula nº 437, II, do C. TST (art. 896, § 6º, da CLT).
É inválida cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho contemplando a supressão ou redução do intervalo intrajornada (art. 71 da CLT e art. 7º, XXI, da CF/1988)”
Súmula nº 81 do TRT da 12ª Região. Intervalo intrajornada. Concessão parcial. Pagamento do período integral. Natureza jurídica da parcela.
O desrespeito ao intervalo intrajornada mínimo de uma hora torna devido o tempo em sua integralidade, e não somente o tempo suprimido, com acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho, possuindo natureza jurídica salarial, repercutindo, assim, no cálculo de outras parcelas salariais (Súmula nº 437, itens I e III, do TST)
Súmula nº 7 do TRT da 13ª Região. Intervalo intrajornada (para repouso e alimentação). Não concessão ou concessão parcial.
A não-concessão total ou parcial do intervalo intrajornada mínimo, para repouso e alimentação, implica o pagamento total do período correspondente, com um acréscimo de 50% sobre o valor da remuneração normal e não apenas do período efetivamente suprimido, sendo tal matéria infensa à negociação coletiva, ante a imperatividade da norma de ordem pública protetora da saúde, higiene e segurança do trabalhador. (artigo 71, § 4º, da CLT)
Súmula nº 50 do TRT da 15ª Região. Intervalo interjornadas. Inobservância.
São devidas, como extraordinárias, as horas laboradas em prejuízo ao intervalo entre duas jornadas de trabalho previsto no art. 66 da CLT. Aplicação analógica do § 4º, do art. 71 da CLT."
Súmula nº 51 do TRT da 15ª Região: Trabalho rural. Pausas previstas na NR-31 do ministério do trabalho e emprego. Aplicação analógica do art. 72 da CLT.
Face à ausência de previsão expressa na NR 31 do MTE acerca da duração das pausas previstas para os trabalhadores rurais, em atividades realizadas em pé ou que exijam sobrecarga muscular estática ou dinâmica, aplicam-se, por analogia, no que tange ao tempo a ser observado e à regularidade do descanso, as disposições contidas no art. 72 da CLT.
Férias
Súmula nº 52 do TRT da 15ª Região. Férias. Gozo na época própria. Remuneração fora do prazo previsto no art. 145 da clt. Dobra devida. Art. 137 da clt e súmula 450 do C. TST.
É devido o pagamento da dobra da remuneração de férias, incluído o terço constitucional, com base no art. 137 da CLT e Súmula 450 do C. TST, quando, ainda que gozadas na época própria, o empregador tenha descumprido o prazo previsto no art. 145 do mesmo diploma legal."
...
6. INFORMATIVOS DO TST
(ACRESCENTADOS AO CAPÍTULO V – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Bancário - Tempo despendido na realização de cursos pela internet e à distância
Bancário. Gerente-geral. Tempo despendido na realização de cursos pela internet e à distância, fora do
horário de trabalho. Horas extras. Indeferimento.
Os cursos realizados por exigência do empregador, via internet e à distância, fora do horário de trabalho,
por empregado gerente-geral de agência bancária, não ensejam o pagamento de horas extras, porquanto o
trabalhador que se enquadra no art. 62, II, da CLT não tem direito a qualquer parcela regida pelo capítulo
“Da Duração do Trabalho”. Com esse entendimento, a SBDI-I, por maioria, conheceu dos embargos, por
contrariedade à Súmula n.º 287 do TST, e, no mérito, deu-lhes provimento para excluir da condenação o
pagamento das horas extras decorrentes da realização de cursos desempenhados via internet e à distância,
fora do horário de trabalho. Vencidos os Ministros Lelio Bentes Corrêa, relator, Luiz Philippe Vieira de Mello
Filho, Augusto César Leite de Carvalho, José Roberto Freire Pimenta e Delaíde Miranda Arantes. TST-ERR-
82700-69.2006.5.04.0007, SBDI-I, rel. Min. Lelio Bentes Corrêa, red. p/ acórdão Min. João Oreste Dalazen,
20.09.2012 (Informativo nº 22)
Turnos ininterruptos de revezamento
Turnos ininterruptos de revezamento. Regime de 4X2. Norma coletiva. Fixação de jornada superior a
oito horas. Invalidade.
A extrapolação habitual da jornada de oito horas, ajustada por negociação coletiva para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento no regime de 4x2, invalida o ajuste, por frustrar a proteção constitucional prevista no art. 7º, XIV, da CF, além de ofender os princípios de proteção da dignidade da pessoa humana e dos valores sociais do trabalho. Assim, uma vez que a norma coletiva não produz efeitos jurídicos, aplica-se ao caso concreto a jornada de seis horas, devendo o período excedente à sexta hora ser pago como extra. Com esse entendimento, a SBDI-I, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental interposto pelo reclamado visando reformar decisão que denegara seguimento aos embargos por não vislumbrar divergência jurisprudencial específica, nem contrariedade à Súmula nº 423 do TST. TST-Ag-E-ED-RR-97300- 08.2011.5.17.0121, SBDI-I, rel. Min. João Oreste Dalazen, 26.2.2015 (Informativo nº 100)
Pagamento em valor fixo mensal
Horas extras. Redução. Súmula nº 291 do TST. Direito à indenização afastado por negociação coletiva.
Impossibilidade.
O art. 7º, XXVI, da CF, ao consagrar o reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho, autoriza a negociação coletiva de direitos disponíveis do empregado. A indenização pela supressão ou redução das horas extras, prevista na Súmula nº 291 do TST, no entanto, não está sujeita à negociação coletiva, pois é direito relacionado às normas que visam amparar a saúde do empregado e reprimir a prestação indiscriminada de labor extraordinário, além de preservar o equilíbrio financeiro do
trabalhador submetido a tal regime. Na hipótese, houve negociação coletiva a respeito da jornada prestada em turnos ininterruptos de revezamento que implicou em redução das horas extras de seis para duas horas diárias e o afastamento da indenização prevista na Súmula nº 291 do TST. Assim, a SBDI-I, por unanimidade, conheceu dos embargos interpostos pela reclamada, por divergência jurisprudencial, e, no mérito, por maioria, negou-lhes provimento, mantendo a condenação ao pagamento da indenização. Vencidos os Ministros Ives Gandra da Silva Martins Filho, Guilherme Augusto Caputo Bastos, Walmir Oliveira da Costa e Alexandre de Souza Agra Belmonte. TST-E-ED-ARR-406-58.2011.5.05.0038, SBDI-I, rel. Min. Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, 17.3.2016 (Informativo nº 130)
Períodos de descanso
Intervalo intrajornada
Intervalo intrajornada. Supressão parcial. Pedido que se refere ao “pagamento das horas laboradas nos
períodos para descanso e alimentação intrajornada”. Pagamento de todo o período correspondente ao
intervalo. Súmula nº 437, I, do TST. Julgamento ultra petita. Não configuração. Invocação do art. 71, § 4º, da
CLT.
Na hipótese em que a reclamante alega que gozou apenas trinta minutos de intervalo intrajornada e postula na inicial “pagamento das horas laboradas nos períodos para descanso e alimentação intrajornada (art. 71, § 4º, da CLT) com adicional de 50% e reflexos”, não configura julgamento ultra petita o deferimento do pagamento de todo o período correspondente ao intervalo, e não apenas daquele suprimido (Súmula nº 437, I, do TST). No caso, prevaleceu o entendimento de que, embora o pedido mencione o pagamento das horas laboradas, o artigo da CLT invocado refere-se à remuneração devida no caso de descumprimento do intervalo intrajornada. Assim, a SBDI-I, por unanimidade, conheceu dos embargos, por divergência jurisprudencial, e, no mérito, por maioria, negou-lhes provimento. Vencidos os Ministros Márcio Eurico Vitral Amaro, relator, João Oreste Dalazen, Brito Pereira, Aloysio Corrêa da Veiga e Guilherme Augusto Caputo Bastos. TST-E-EDRR-182400-68.2009.5.12.0046, SBDI-I, rel. Min. Márcio Eurico Vitral Amaro, red. p/ acórdão Min. Hugo Carlos Scheuermann, 10.12.2015 (Informativo nº 126)
Professor
Professor. Intervalo para recreio. Tempo à disposição do empregador.
O intervalo entre as aulas, conhecido como recreio, é considerado tempo à disposição do empregador, nos termos do art. 4º da CLT, pois o professor permanece no estabelecimento de ensino, aguardando ou executando ordens. Com esse entendimento, a SBDI-I, à unanimidade, conheceu dos embargos da reclamante, por divergência jurisprudencial, e, no mérito, deu-lhes provimento para julgar procedente o item “g” da petição inicial, respeitadas as aulas efetivamente ministradas e a prescrição quinquenal pronunciada na sentença. Ressalvou a fundamentação o Ministro Alexandre Agra Belmonte. TST-E-ED-RR-49900-47.2006.5.09.0007, SBDI-I, rel. Min. Márcio Eurico Vitral Amaro, 4.9.2014 (Informativo nº 88)
CAPÍTULO VI - REMUNERAÇÃO
...
1.9.4.10. Flexibilização do adicional de periculosidade
Súmula nº 364 do TST. Adicional de periculosidade. Exposição eventual, permanente e
intermitente.
I - Tem direito ao adicional de periculosidade o empregado exposto permanentemente ou que,
de forma intermitente, sujeita-se a condições de risco. Indevido, apenas, quando o contato dá-se
de forma eventual, assim considerado o fortuito, ou o que, sendo habitual, dá-se por tempo
extremamente reduzido.
II - Não é válida a cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho fixando o adicional de
periculosidade em percentual inferior ao estabelecido em lei e proporcional ao tempo de
exposição ao risco, pois tal parcela constitui medida de higiene, saúde e segurança do
trabalho, garantida por norma de ordem pública (arts. 7º, XXII e XXIII, da CF e art. 193, § 1º,
CLT).
I - Tem direito ao adicional de periculosidade o empregado exposto permanentemente ou que,
de forma intermitente, sujeita-se a condições de risco. Indevido, apenas, quando o contato dá-se de
forma eventual, assim considerado o fortuito, ou o que, sendo habitual, dá-se por tempo
extremamente reduzido.
Atividade perigosa é aquela em que há contato permanente com explosivos ou
inflamáveis em condições de risco acentuado. Essa atividade é comprovada mediante perícia
(art. 195 da CLT). Há cinco hipóteses de atividades perigosas previstas em lei: a) contato
com inflamáveis (art. 193, I, da CLT); b) contato com explosivos (art. 193, I, da CLT); c)
energia elétrica (art. 193, I, CLT) e, recentemente, foram inseridas outras duas atividades de
risco: d) exposição a roubos ou outras espécies de violência física (art. 193, II, CLT) e e)
atividades de trabalhador em motocicleta – “motoboy” (art. 193, § 4º, CLT).
O adicional de periculosidade é devido quando a exposição ao risco é permanente ou
intermitente. É indevido se o contato for meramente eventual ou se, mesmo que habitual,
ocorrer por tempo extremamente reduzido.
O posicionamento merece críticas, pois, se o contato é habitual, diário, mesmo que por
tempo reduzido, deveria gerar o pagamento do adicional, porque deixa o empregado em
situação de risco. Não é o tempo reduzido que deveria afastar o recebimento, mas, sim, o
risco reduzido. Ressalta-se que “tempo extremamente reduzido” será analisado caso a caso,
podendo ocasionar situações conflitantes.
Recentemente, o TST decidiu que o tratorista que ficava exposto ao risco por 15
minutos com substâncias inflamáveis durante o abastecimento de veículo, também teve
direito ao adicional70. No mesmo sentido, a Companhia de Bebidas das Américas – Ambev −
foi condenada ao pagamento de adicional de periculosidade a um empregado que trocava
cilindros de gás duas vezes ao dia, o que levava apenas cerca de 2 minutos e 30 segundos71
em cada operação de troca do gás (soma diária de aproximadamente 5 minutos em área de
risco).
II - Não é válida a cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho fixando o adicional de
periculosidade em percentual inferior ao estabelecido em lei e proporcional ao tempo de exposição
ao risco, pois tal parcela constitui medida de higiene, saúde e segurança do trabalho, garantida por
norma de ordem pública (arts. 7º, XXII e XXIII, da CF e art. 193, § 1º, CLT).
Em maio de 2011, a Súmula nº 364 do TST havia sido alterada para a retirada do item II,
que admitia a flexibilização do adicional de periculosidade, ou seja, mediante negociação
coletiva, era possível que fosse fixado adicional inferior ao percentual mínimo fixado em lei
(30%) e, ainda, fixasse o adicional proporcional ao tempo de exposição à atividade perigosa.
Esse era o posicionamento do TST. De acordo com o antigo item II:
Súmula nº 364, II (REDAÇÃO ANTIGA) - A fixação do adicional de periculosidade, em
percentual inferior ao legal e proporcional ao tempo de exposição ao risco, deve ser
respeitada, desde que pactuada em acordos ou convenções coletivos.
70. RR 468/2003-029-15-00.5
71. RR-145-2007-051-18-00-0
Esse posicionamento do TST recebia duras críticas da doutrina, pois possibilitava que a
negociação coletiva (convenção ou acordo coletivo), diminuísse o percentual mínimo de 30%
ou pagasse proporcionalmente ao tempo de exposição. Com o cancelamento do antigo item II
da súmula o tribunal já tinha se posicionado contra a flexibilização, ou seja, a redução do
percentual ou ainda sua fixação proporcional ao tempo de exposição.
Em boa hora a Súmula foi modificada e, recentemente (31/05/2016), foi acrescentado,
novamente, o item II da Súmula nº 364 que estabelece expressamente a impossibilidade de
redução do percentual de periculosidade em patamar inferior aos 30% do salário básico ou
seu pagamento proporcional ao tempo de exposição. Desse modo, o TST não deixa margem
para discussão sobre a flexibilização do adicional de periculosidade.
Importante frisar que as normas que tratam de saúde e segurança dos trabalhadores são
normas de ordem pública ou, conforme posicionamento do prof. Maurício Godinho Delgado,
são normas de indisponibilidade absoluta, não comportando transação entre as partes.
Nesse sentido, o final da nova redação do item II em apreço afirma o caráter indisponível do
adicional de periculosidade enquanto norma de ordem pública de higiene, saúde e segurança
do trabalho.
Em resumo, no caso dos percentuais mínimos dos adicionais de periculosidade,
insalubridade, noturno, fixados na CLT, ou de hora extra, fixado na CF/88, não há margem
para redução ou supressão de direitos, pois envolve direito mínimo dos trabalhadores,
intimamente ligado à sua dignidade e integridade física. A redução, conforme era prevista
anteriormente pela antiga redação do item II da súmula, representava grave retrocesso
social, num País onde há sindicatos fracos e submissos aos interesses dos empregadores.
Felizmente, a nova redação do item II da Súmula em apreço contempla o respeito à
dignidade da pessoa humana e das conquistas sociais dos trabalhadores.
A atuação dos sindicatos que realmente representam a categoria profissional (sindicato
dos trabalhadores) é importantíssima para reivindicar o pagamento do adicional de
periculosidade. Aliás, reivindicar o pagamento, tanto na esfera administrativa (negociação
coletiva) quanto na esfera judicial, como substituto processual, ou nas ações de
cumprimento, é atribuição específica dos sindicatos.
O Ministério Público do Trabalho também tem legitimidade para atuar no caso,
principalmente no tocante ao meio ambiente do trabalho. Nesse caso, o parquet atuará para
minimizar os riscos aos trabalhadores, na tentativa de adequar a conduta do ofensor, via
TAC – Termo de Ajustamento de Conduta ou por meio da ACP – Ação Civil Pública.
....
1.9.5. Adicional de insalubridade
Súmula nº 139 do TST. Adicional de insalubridade
Enquanto percebido, o adicional de insalubridade integra a remuneração para todos os efeitos
legais.
Orientação Jurisprudencial nº 47 da SDI – I do TST. Hora extra. Adicional de insalubridade.
Base de cálculo
A base de cálculo da hora extra é o resultado da soma do salário contratual mais o adicional de
insalubridade.
Atividades insalubres são aquelas que expõem o empregado a agentes nocivos à sua
saúde e que ultrapassam o seu limite de tolerância. Exemplo: agentes químicos (chumbo),
biológicos (bactérias) e físicos (ruídos). Para a obtenção do adicional de insalubridade, há
necessidade de preencher dois requisitos: a) atividade nociva constatada por perícia; b)
necessário que o agente nocivo à saúde esteja incluído na relação oficial do Ministério do
Trabalho e Emprego – MTE72.
Esse adicional, pago com habitualidade, integra as demais verbas trabalhistas. Assim
sendo, o valor recebido com habitualidade em razão desse adicional vai integrar: décimo
terceiro salário; férias + 1/3; FGTS e aviso-prévio.
De acordo com a OJ 47, para o cálculo de horas extras, soma-se primeiro a hora normal
ao adicional de insalubridade, somente depois o adicional de horas extras (hora normal +
adicional insalubridade + adicional hora extra).
Ao tratar de horas extras em atividades insalubres, importante ressaltar que, em maio de
2011, o TST cancelou a Súmula que admitia a compensação de jornada sem prévia
autorização do Ministério do Trabalho e Emprego. De acordo com a antiga Súmula:
Súmula nº 349 do TST (CANCELADA). A validade de acordo coletivo ou convenção
coletiva de compensação de jornada de trabalho em atividade insalubre prescinde da
inspeção prévia da autoridade competente em matéria de higiene do trabalho (art. 7º, XIII,
da CF/1988; art. 60 da CLT).
A Súmula nº 349 tratava especificamente da compensação. Nesse regime, o empregado
trabalha além da jornada normal em alguns dias, para descansar em outros (art. 59, § 2º, da
CLT). Trata-se, portanto, de uma espécie de prorrogação da jornada.
O art. 60 da CLT prevê requisito específico para autorizar a prestação de serviços
extraordinários em atividades insalubres. De acordo com a CLT, deve-se obter a prévia
autorização da autoridade competente em matéria de segurança e higiene do trabalho, no
caso, o Ministério do Trabalho e Emprego. Aliás, prevê o art. 60 da CLT que “quaisquer
prorrogações” nessas atividades insalubres somente poderão ser acordadas mediante prévia
autorização:
Art. 60, CLT: Nas atividades insalubres, assim consideradas as constantes dos quadros
mencionados no capítulo "Da Segurança e da Medicina do Trabalho", ou que neles venham a ser
incluídas por ato do Ministro do Trabalho, Industria e Comercio, quaisquer prorrogações só
poderão ser acordadas mediante licença prévia das autoridades competentes em matéria de
higiene do trabalho, as quais, para esse efeito, procederão aos necessários exames locais e à
verificação dos métodos e processos de trabalho, quer diretamente, quer por intermédio de
autoridades sanitárias federais, estaduais e municipais, com quem entrarão em entendimento
para tal fim.
Havia a discussão se o art. 60 da CLT tinha ou não sido recepcionado pela art. 7º, XIV, da
CF/88, que exige como requisito para compensação apenas a existência de acordo ou
convenção coletiva. O TST, de acordo com a antiga Súmula nº 349, entendia que a simples
72. A NR 15, da Portaria nº 3.214/78, descreve os agentes químicos, físicos ou biológicos prejudiciais à
saúde do trabalhador. Em relação ao empregado rural, a previsão está na NR 5 da Portaria nº 3.067/88.
existência de norma coletiva que autorizasse a compensação em atividade insalubre supria a
autorização do MTE. Com o cancelamento da súmula, passou-se a defender a necessidade de
prévia autorização do MTE.
Alias, mesmo antes do cancelamento da Súmula nº 349, já havia corrente na
Magistratura do Trabalho e no MPT que defendiam a recepção do art. 60 da CLT, conforme
abaixo transcrito:
Enunciado nº 49 da 1ª Jornada de Direito do Trabalho e Processo do Trabalho do
TST: O art. 60 da CLT não foi derrogado pelo art. 7º, XIII, da CF/88, pelo que é inválida
cláusula de Convenção ou Acordo Coletivo que não observe as condições nele
estabelecidas.
Nesse mesmo sentido, o TRT da 4ª Região já tinha editado o posicionamento abaixo, que
previa a necessidade de autorização do Ministério do Trabalho para a compensação em
atividade insalubre:
Súmula nº 67 do TRT da 4ª Região: Regime de compensação horária. Atividade
insalubre.
É inválido o regime de compensação horária em atividade insalubre quando não atendidas
as exigências do art. 60 da CLT.
Com a edição recente do item VI da Súmula nº 85, o TST, felizmente, pacificou o assunto
ao prever que é indispensável a realização da inspeção prévia e da autorização da
autoridade competente para que seja válido o acordo de compensação de jornada em
atividade insalubre. Assegurou-se, portanto, a constitucionalidade do art. 60 da CLT em
relação ao art. 7º, XIII, CF/88:
Súmula nº 85, VI, do TST – Não é válido acordo de compensação de jornada em atividade
insalubre, ainda que estipulado em norma coletiva, sem a necessária inspeção prévia e
permissão da autoridade competente, na forma do art. 60 da CLT.
Além disso, foi estabelecido que, mesmo mediante norma coletiva, não é possível afastar
a exigência do art. 60 da CLT. A inspeção prévia e autorização da autoridade competente têm
a finalidade de assegurar a sáude e segurança do trabalhador e, portanto, não está sujeito à
flexibilização de sua exigência por instrumento coletivo de trabalho.
Por fim, cabe frisar que, na prática, os Auditores Fiscais do Trabalho, mesmo antes dessa
alteração do posicionamento do TST, já cumpriam o disposto no art. 60 da CLT. Desse modo,
eles aplicavam multa administrativa em todas as empresas que exigiam horas
suplementares em atividades insalubres, sem a devida autorização.
No tocante aos reflexos, o adicional de insalubridade e periculosidade não integram o
descanso semanal remunerado, porque aqueles adicionais têm pagamento mensal, já
incluindo o valor do DSR, de acordo com o art. 7º, § 2º, da Lei nº 605/49. De acordo com a
jurisprudência do TST:
Orientação Jurisprudencial nº 103 da SDI – I do TST: O adicional de insalubridade já
remunera os dias de repouso semanal remunerado.
Importante ressaltar, ainda, que o adicional de insalubridade é uma das espécies de
salário-condição, ou seja, eliminada a atividade prejudicial à saúde, cessa o recebimento do
adicional, sem que essa alteração afronte o art. 468 da CLT.
Como a atividade insalubre é prejudicial à integridade física do trabalhador, é dever do
juiz do trabalho, ao verificar qualquer irregularidade no pagamento, ou na ausência de
equipamentos básicos de proteção, oficiar: a) ao Sindicato da categoria profissional, para
que possa pleitear o pagamento do adicional de insalubridade, via ação civil coletiva; b) ao
Ministério do Trabalho e Emprego, pois é esse o órgão responsável por verificar, no local,
as condições básicas de saúde e segurança do trabalhador e c) ao Ministério Público do
Trabalho, para que os procuradores do Trabalho possam resguardar a saúde dos
trabalhadores, enquanto estão empregados e evitar futuras ações judiciais, com adequação
da conduta do empregador, via TAC ou ACP. Nesse sentido:
Enunciado nº 50 da 1ª Jornada de Direito do Trabalho e Processo do Trabalho do
TST: Constatada a insalubridade em ação trabalhista, o juiz deve oficiar à Delegacia
Regional do Trabalho para que a autoridade administrativa faça cumprir o disposto no art.
191, parágrafo único, da CLT.
Por fim, no dia 11 de maio de 2016, foi promulgada e publicada a Lei nº 13.287/2016,
que acrescenta o art. 394-A à CLT para proibir o trabalho da gestante ou lactante em
atividades, operações ou locais insalubres. O artigo está inserido na Seção V do Capítulo de
Proteção do Trabalho da Mulher referente à proteção da maternidade. Confira a redação
do art. 394-A, CLT:
Art. 394-A, CLT. A empregada gestante ou lactante será afastada, enquanto durar a gestação e
a lactação, de quaisquer atividades, operações ou locais insalubres, devendo exercer suas
atividades em local salubre.
Parágrafo único. (VETADO).
A nova legislação entrou em vigor na data de sua publicação e, portanto, o dispositivo
que determina o afastamento da empregada gestante ou lactante dos locais e atividades
insalubres já deve ser aplicado pelos empregadores.
Destaca-se que o parágrafo único do art. 394-A da CLT foi vetado pelo Executivo e
previa que a empregada gestante ou lactante teria direito ao recebimento do salário
integral enquanto durasse seu afastamento temporário inclusive com o recebimento do
adicional de insalubridade:
Art. 394-A, parágrafo único, CLT (VETADO). Durante o afastamento temporário previsto
no caput, fica assegurado à empregada gestante ou lactante o pagamento integral do salário
que vinha percebendo, incluindo o adicional de insalubridade.
Inicialmente, a nova lei trouxe excelente proteção a todas as gestantes, pois retira
todas as mulheres grávidas de atividades e ambientes insalubres, protegendo também as
futuras gerações. Ocorre que as empresas não tiveram tempo para adequar às medidas, ou
seja, construir novas áreas administrativas ou até mesmo adequar aos afastamentos
(pagamento de licença remunerada etc). A nova regra não trouxe nenhuma norma
intertemporal, portanto em um hospital, por exemplo, a administração deverá afastar, de
imediato, todas as médicas, enfermeiras, técnicas e auxiliares de enfermagem que se
encontrem grávidas. Caso não tome esse medida, a empresa poderá ser autuada pela
fiscalização do trabalho (MTE), ser investiga no Ministério Público do Trabalho e ainda, no
futuro, ter de pagar indenização por danos morais à empregada que deveria ter sido
afastada das funções e não foi em tempo oportuno.
Em resumo, essa nova medida, sem uma regulamentação mais detalhada, e ainda sem
um prazo para adequação, pode trazer efeitos contrários ao inicialmente desejado pelo
legislador.
....
1.10.3. Vale-transporte73 aos servidores públicos celetistas
Orientação Jurisprudencial nº 216 da SDI – I do TST. Vale-transporte. Servidor público
celetista. Lei nº 7.418/85. Devido
Aos servidores públicos celetistas é devido o vale-transporte, instituído pela Lei n.º 7.418/85,
de 16 de dezembro de 1985.
O vale-transporte é pago pelo empregador de forma antecipada e tem como objetivo
cobrir as despesas de deslocamento da residência para o trabalho, por meio do sistema de
transporte coletivo público. Todos os empregados urbanos e rurais têm direito de receber
essa quantia, inclusive os empregados domésticos.
Essa parcela, por expressa previsão em lei, não possui natureza salarial, nem se
incorpora à remuneração para quaisquer efeitos. Consequentemente, não é base de
incidência de contribuição previdenciária ou de FGTS. Recentemente, o TST74 entendeu que
é possível o pagamento em dinheiro do vale-transporte, desde que haja negociação coletiva
(acordo ou convenção) nesse sentido.
Vale ressaltar que o trabalhador avulso tem direito ao recebimento do vale-transporte
pelo simples comparecimento para concorrer à escala de trabalho, uma vez que houve
necessidade de deslocamento de sua residência ao trabalho. Assim, não importa para o
recebimento da parcela se houve trabalho efetivo.75 Em sentido contrário, destaca-se a
jurisprudência consolidada do TRT 1ª Região:
Súmula nº 8 do TST da 1ª Região: Trabalhador portuário avulso. Vale-transporte. É assegurado
ao trabalhador portuário avulso o direito aos valestransporte relativos aos dias efetivamente
laborados.
Cabe ressaltar que o empregado doméstico terá direito ao recebimento do vale-
transporte previsto na Lei nº 7.418/1985 conforme estabelece o art. 19 da LC nº 150/2015.
Contudo, é permitido ao empregador substituir a aquisição dos vales-transporte, obrigação
prevista no art. 4º da Lei nº 7.418/1985, pelo pagamento em dinheiro, mediante recibo,
dos valores necessários para a aquisição das passagens utilizadas para o deslocamento da
residência ao trabalho e para seu retorno:
Art. 19, Parágrafo único. A obrigação prevista no art. 4º da Lei nº 7.418, de 16 de
dezembro de 1985, poderá ser substituída, a critério do empregador, pela concessão,
mediante recibo, dos valores para a aquisição das passagens necessárias ao custeio das
despesas decorrentes do deslocamento residência-trabalho e vice-versa.
Cabe ao empregado informar, por escrito, seu endereço residencial e os meios de
transporte mais adequados para o deslocamento. Se o trabalhador prestar informações
falsas, poderá ser dispensado por justa causa.
Havia discussão se os empregados públicos receberiam o vale-transporte, porque não há
essa previsão expressa nem na Lei 7.418/85 e nem no Decreto nº 95.247/87.
Ocorre que o art. 173, § 1º, II, da CF/88 prevê que as empresas públicas e as sociedades
73. O vale-transporte está previsto na Lei nº 7.418/85 e regulamentado pelo Decreto nº 95.247/87.
74. Informativo nº 25 do TST – Confira o texto integral ao final do capítulo.
75. Informativo nº 61 do TST (confira texto integral ao final do capítulo)
de economia mista estarão sujeitas ao regime jurídico próprio das empresas privadas,
quanto aos direitos trabalhistas. Logo, a interpretação dada pelo TST foi de que os
empregados públicos gozam também do direito ao vale-transporte, assim como os
empregados do setor privado.
Por fim, o TST, antigamente, na Orientação Jurisprudencial nº 215 da SDI-I do TST
estabelecia que era do empregado o ônus de comprovar que satisfazia os requisitos
indispensáveis à obtenção do vale-transporte.
Contudo, com o cancelamento da OJ em maio de 2011 (Res. nº 175/2011 do TST), o TST
alterou seu posicionamento e passou a entender que o ônus da prova na comprovação do
não preenchimento dos requisitos indispensáveis à concessão do vale-transporte ou que o
empregado não pretenda fazer uso do benefício é do empregador. Nesse sentido, foi editada
a Súmula nº 460 do TST:
Súmula nº 460 do TST. Vale-transporte. Ônus da prova.
É do empregador o ônus de comprovar que o empregado não satisfaz os requisitos
indispensáveis para a concessão do vale-transporte ou não pretenda fazer uso do benefício.
Assim agiu, porque só há falar em ônus da prova quando não existir presunção que
milita a favor da existência ou da veracidade do fato.
Noutras palavras, antes de chegarmos ao ônus da prova faz-se necessário verificar se há
nos autos provas produzidas, assim como analisar se os fatos são notórios, confessados,
incontroversos ou em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade.
Isso ocorre porque, existindo fatos notórios, confessados e incontroversos, não há
necessidade de provas, podendo o julgador solucionar a lide. O mesmo ocorre com os fatos
em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade, os quais independem de
prova (NCPC, art. 374).
Assim, sendo presumível que o empregado necessita de transporte coletivo para se
deslocar entre sua residência e o trabalho e vice-versa, desnecessária a comprovação do fato
constitutivo.
Por outro lado, pode acontecer de se buscar demonstrar que o empregador proporciou,
por meios próprios ou contratados em veículos adequados ao transporte coletivo, o
deslocamento, residência-trabalho e vice-versa, de seus trabalhadores (Dec. Nº 95.247/85,
art. 4º), bem como que o trabalhador não tem necessidade de transporte coletivo para esse
deslocamento, porque, p. ex, sua residência é próxima do local de trabalho. Da mesma forma,
pode-se pretender a demonstração de que o empregado não tem interesse de fazer uso de
tal benefício.
Todos esses fatos são impeditivos, pois obstam a criação do direito ao recebimento do
vale-transporte.
Portanto, sendo fatos impeditivos devem ser comprovados pelo reclamado, nos termos
do art. 818 da CLT c/c art. 373, II, do NCPC.
Dessa forma, será ônus do empregador a comprovação de que o empregado não possuía
interesse no recebimento do vale-transporte ou que não cumpria todos os requisitos para a
obtenção do benefício.
3. GARANTIAS DE PROTEÇÃO AO SALÁRIO
3.1. Introdução. Tríplice proteção ao salário
Dentre as características do salário, destaca-se sua natureza alimentar, pois ele tem a
finalidade de garantir o sustento do trabalhador e de sua família. Diante disso, o salário é
protegido contra eventuais abusos cometidos pelo empregador e, ainda, protegido em face
dos credores do empregador e dos credores do próprio empregado. Essas garantias são
chamadas de tríplice proteção.
Uma das proteções ao salário do empregado é a proibição de sua retenção dolosa pelo
empregador, conduta que, nos termos da CF/88, configura crime:
Art. 7º, X, CF/88: São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social: proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua
retenção dolosa;
Ocorre que, apesar de previsão constitucional, não há lei infraconstitucional tipificando a
conduta de retenção dolosa de salário, o que gerou intenso debate doutrinário sobre o assunto.
De acordo com o Sérgio Pinto Martins76, o crime previsto no art. 7º, X, CF/88 é regulamentada de
maneira indireta pelo Código Penal ao versar sobre a apropriação indébita.
Art. 168 do Código Penal: Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a
detenção:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Contudo, ao versar sobre o assunto, o STJ estabeleceu que a conduta de retenção dolosa do
salário é atípica e não se amolda ao tipo penal de apropriação indébita, uma vez que o valor a que
o empregado está sujeito a receber é de propriedade da empresa, não havendo a apropriação de
coisa alheia de que tem a posse exigida para a configuração do delito:
Habeas corpus. Impetraçao substitutiva de recurso ordinário. Impropriedade da via eleita.
Apropriaçao indébita. Retençao de salários pelo empregador. Atipicidade reconhecida.
Trancamento da açao penal acolhido. Nao conhecimento da impetraçao mas concessao da ordem
de ofício.
1. É imperiosa a necessidade de racionalização do emprego do habeas corpus , em prestígio ao
âmbito de cognição da garantia constitucional, e, em louvor à lógica do sistema recursal. In casu ,
foi impetrada indevidamente a ordem como substitutiva de recurso ordinário.
2. A retenção dolosa de salário, conquanto tenha sido prevista no art. 7º, X daConstituição
Federal como crime, ainda ressente-se da necessária lei, criando o tipo penal respectivo.
3. Também não há como subsumir a conduta à apropriação indébita (art. 168 do Código
Penal), porque o numerário ao qual o empregado tem direito, até que lhe seja entregue,
em espécie ou por depósito, é de propriedade da empresa (empregador), não havendo se
falar, então, em inversão da posse, necessária para a tipicidade do crime.
4. O administrador da empresa, ao assim agir, não pratica fato típico previsto no
art.168 do Código Penal. Talvez por isso tenha o legislador constituinte feito a previsão
mencionada, mas ainda sem eficácia, ante a omissão legislativa.
5. Writ não conhecido, mas concedida a ordem, ex officio , para trancar a ação penal por
atipicidade, ficando prejudicada a inépcia da denúncia e a alegação de que a paciente não seria
administradora da pessoa jurídica. (HABEAS CORPUS Nº 177.508 – PB, Relatora: Ministra Maria
Thereza de Assis Moura, Data de julgamento: 15/08/2013 – grifos acrescidos)
Mesmo após quase 3 décadas da promulgação da Constituição Federal, o legislativo mostrou-
se inerte e omisso na proteção de um direito do trabalhador. Por outro lado, há previsão expressa
76 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30 ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 324.
de apropriação indébita previdenciária, que configura como delito, a conduta de deixar de
repassar à Previdência Social as contribuições sociais recolhidas dos contribuintes no prazo
legal:
Art. 168-A, Código Penal: Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas
dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem deixar de:
I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que
tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público;
II – recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas
contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços;
III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido
reembolsados à empresa pela previdência social.
Assim, surge curiosa e indesejável situação: contanto que o empregador repasse os valores
das contribuições sociais sobre o salário de seus empregados ao Estado, é possível a retenção
dolosa desses salários sem que haja o cometimento de nenhum delito.
Por se tratar de natureza salarial, há, inclusive, proteção em face dos credores do
próprio empregado, logo, o salário do empregado é impenhorável, mesmo quando
depositado em conta-corrente. Há exceção a essa impenhorabilidade, entretanto, em razão
de pagamento de prestações alimentícias. Diante disso, os credores do trabalhador não
poderão requerer a penhora sobre o salário, em virtude de dívidas contraídas pelo
empregado. Ademais, os depósitos efetuados nas contas vinculadas do FGTS em nome dos
trabalhadores são absolutamente impenhoráveis (art. 2º, § 2º, da Lei nº 8.036/90).
Há, ainda, a proteção em face dos credores do empregador, impossibilitando que as
dívidas contraídas pela empresa possam comprometer o salário do empregado. Deve-se
ressaltar, mais uma vez, que os riscos do empreendimento são exclusivos do empregador.
Assim sendo, na falência, o salário constitui crédito privilegiado77.
A seguir será tratada a proteção em face de abusos cometidos pelo empregador, de
acordo com a jurisprudência do TST.
....
3.2.2. Pagamento na primeira audiência judicial e a multa do art. 467 da CLT
Súmula nº 69 do TST. Rescisão do contrato
A partir da Lei nº 10.272, de 5.9.2001, havendo rescisão do contrato de trabalho e sendo revel e
confesso quanto à matéria de fato, deve ser o empregador condenado ao pagamento das verbas
rescisórias, não quitadas na primeira audiência, com acréscimo de 50% (cinquenta por cento).
Outra proteção salarial consiste no caso de rescisão do contrato de trabalho. O
empregador é obrigado a pagar ao empregado, à data do comparecimento na Justiça do
Trabalho, a parte incontroversa, sob pena de pagá-la acrescida de 50%. Veja que essa
obrigatoriedade consiste apenas na parte incontroversa das verbas rescisórias. Exemplo:
77. Os créditos privilegiados são limitados a 150 salários-mínimos por trabalhador, conforme prevê o
art. 83, I, da Lei nº 11.101/2005 – Lei de Falências.
empregado ingressa com reclamação trabalhista, pleiteando o pagamento de horas extras e
férias vencidas. O empregador confessa que não pagou as férias ou, ainda, nada menciona
sobre pagamento de férias na contestação. A parcela de férias tornou-se incontroversa em
razão da confissão ou silêncio do empregador, devendo ser paga na primeira audiência na
Justiça do Trabalho, sob pena de acréscimo de 50%.
É importante destacar que há discussão quanto ao alcance do termo “verbas rescisórias”. De
acordo com Marcelo Moura78, o termo deve se referir tão somente às verbas que realmente
decorrem do ato que põe fim ao contrato de trabalho, quais sejam: saldo de salários, aviso prévio,
férias vencidas e proporcionais, 13º salário, indenização por tempo de serviço, indenização do
art. 479 da CLT (extinção antecipada do contrato por prazo determinado por iniciativa do
empregador) e multa de 20% ou 40% do FGTS. Por outro lado, há decisão do TST no sentido de
que salários vencidos de meses anteriores à rescisão devem integrar a multa do art. 467 da CLT
caso incontroversos:
Multa do artigo 467 da CLT. Salários retidos. Verbas rescisórias incontroversas . O artigo
467 da CLT determina que, - em caso de rescisão de contrato de trabalho, havendo controvérsia
sobre o montante das verbas rescisórias, o empregador é obrigado a pagar ao trabalhador, à data
do comparecimento à Justiça do Trabalho, a parte incontroversa dessas verbas, sob pena de
pagá-las acrescidas de cinqüenta por cento-. No caso , o Regional excluiu da condenação o
pagamento da multa prevista no artigo 467 da CLT sobre os salários retidos nos meses de julho,
outubro, novembro e dezembro de 2003, ao mero fundamento de que essa penalidade incide
apenas sobre -os salários do próprio mês da resilição-, e não - aos salários dos demais meses,
ainda que incontroversos -. Por outro lado, extrai-se das decisões recorridas que os salários
relativos aos meses de julho, outubro, novembro e dezembro de 2003 se revelaram
direito incontroverso nos autos e a reclamada não efetuou o correto pagamento das
verbas rescisórias na data do comparecimento à Justiça do Trabalho. Assim, afigura-se
juridicamente razoável concluir-se pela exigibilidade da multa prevista no artigo 467 da
CLT sobre o valor dos salários retidos nos meses de julho, outubro, novembro e dezembro
de 2003, conforme pleiteado na petição inicial. Recurso de revista conhecido e provido neste
tema. Diferenças de salários. Pagamento a menor. ônus da prova. É ônus da reclamada
comprovar o pagamento integral dos salários, porquanto, na forma do artigo 464 da CLT, é a
empresa que detém os recibos salariais, que demonstram o pagamento correto dos salários à
empregada. Aplica-se, nesses casos, o princípio da aptidão para a prova. Entretanto, ainda que,
na hipótese vertente, o Regional tenha indeferido o pagamento de diferenças de salários pagos a
menor, por entender que a reclamante não se desincumbiu do seu ônus de provar fato
constitutivo de seu direito, não se configura violação direta e literal dos artigos 333, inciso II, do
CPC e 818 e 464 da CLT. Isso porque, no caso concreto, a reclamada não estava obrigada do
encargo de comprovar o pagamento integral de salários genericamente pleiteados na petição
inicial a partir do final do ano de 2002. A parte autora não pode simplesmente levantar
suposições genéricas de pagamento a menor de salários, sem delimitar em quais meses são
devidas as diferenças de salários. Não há falar em violação direta e frontal dos artigos 333, inciso
II, do CPC e 464 e 818 da CLT nem divergência jurisprudencial com arestos inespecíficos, nos
termos da Súmula nº 296, item I, do TST. Recurso de revista não conhecido. (TST - RR: 34700-
24.2004.5.01.0223, Relator: José Roberto Freire Pimenta, Data de Julgamento: 24/04/2013, 2ª
Turma)
O processo do trabalho define como momento processual para apresentação de defesa a
audiência judicial. Assim, a ausência do reclamado na audiência faz surgir a revelia,
conforme previsto no art. 844 da CLT, que consiste na ausência de apresentação de
contestação. Ocorrida a revelia, decorrem seus efeitos que podem ser materiais e
78 MOURA, Marcelo. Curso de Direito do Trabalho. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 362.
processuais.
O efeito material provocado pela revelia é a presunção de veracidade dos fatos alegados
pelo reclamante (autor). Daí surgiu a dúvida acerca da aplicação da multa do art. 467 da CLT
na hipótese de revelia, o qual prevê que:
Art. 467 da CLT. Em caso de rescisão de contrato de trabalho, havendo controvérsia
sobre o montante das verbas rescisórias, o empregador é obrigado a pagar ao trabalhador,
à data do comparecimento à Justiça do Trabalho, a parte incontroversa dessas verbas, sob
pena de pagá-las acrescidas de cinquenta por cento.
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica à União, aos Estados, ao Distrito
Federal, aos Municípios e as suas autarquias e fundações públicas.
Parte da doutrina e da jurisprudência entendia que a incidência da multa do art. 467 da
CLT não poderia ser aplicada ao revel, sob pena de ter dupla penalidade: tornar os fatos
incontroversos e pagar o acréscimo de 50% das verbas rescisórias. Ademais, tal dispositivo
deveria ser interpretado restritivamente, por ser norma sancionatória.
O C. TST, no entanto, admitiu a aplicação de referida penalidade ao revel, uma vez que,
gerando a revelia o efeito material (incontroversa dos fatos), preenchido está o requisito
para a aplicação do art. 467 da CLT. Ademais, sendo a contestação um ônus processual, o réu
tem conhecimento dos efeitos prejudiciais de sua não apresentação, o que inclui aludida
multa. Dessa forma, no caso de revelia, haverá incidência da multa de 50% sobre as verbas
rescisórias.
7. SÚMULAS DOS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO
(ACRESCENTADAS AO CAPÍTULO VI – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Adicional de insalubridade
Súmula nº 34 do TRT da 9ª Região. Adicional de insalubridade. Exposição à radiação solar. Interpretação da OJ 173 da SBDI-I do TST.
É indevido o pagamento de adicional de insalubridade pela mera exposição à radiação solar, não se enquadrando a hipótese no disposto na NR 15, Anexo 7. Devido o adicional se a prova pericial indicar que o trabalho a céu aberto ocorria com exposição a calor acima dos limites de tolerância da NR 15, Anexo 3. Interpretação dos incisos I e II da OJ 173 da SBDI-I do TST.
Súmula nº 55 do TRT da 15ª Região. Fundação casa. Adicional de insalubridade. Contato habitual com doentes e materiais infectocontagiosos.
Comprovado que o trabalhador mantém contato habitual com doentes e materiais infectocontagiosos, o adicional de insalubridade é devido.
Vale-transporte
Súmula nº 8 do TST da 1ª Região: Trabalhador portuário avulso. Vale-transporte. É assegurado ao trabalhador portuário avulso o direito aos valestransporte relativos aos dias efetivamente laborados.
Salário in natura
Súmula nº 28 do TRT da 9ª Região. Auxílio alimentação. Alteração contratual quanto à forma de pagamento. Prescrição parcial. O auxílio alimentação fornecido gratuitamente pelo empregador é parcela de caráter salarial, de trato sucessivo, e a alteração contratual decorrente da adesão ao PAT ou previsão em contrário em norma coletiva, quando a cláusula mais benéfica já havia se incorporado ao contrato, não desnatura sua natureza salarial, o que atrai a incidência da prescrição parcial.
Equiparação salarial
Súmula nº 37 do TRT da 8ª Região. Equiparação salarial. Eletronorte. Violação de plano de cargos e salários. Impossibilidade de extensão.
O plano de cargos e salários impossibilita a equiparação salarial, ainda que esteja sendo descumprido, cabendo direito ao prejudicado ao seu correto enquadramento
9. INFORMATIVOS DO TST
(ACRESCENTADAS AO CAPÍTULO VI – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Salário proporcional
Jornada de quatro, seis ou oito horas. Salário mínimo da categoria profissional. Pagamento
independente das horas trabalhadas. Impossibilidade. Orientação Jurisprudencial nº 358 da SBDI-I.
Princípio da isonomia.
É lícito o pagamento de salário proporcional à jornada de trabalho, ainda que inferior ao mínimo legal e/ou convencional, posto que não podem ser remunerados de forma idêntica os trabalhadores que desempenham as mesmas atividades, mas se sujeitam a jornadas distintas. Incidência da Orientação Jurisprudencial nº 358 da SBDI-I e do princípio da isonomia insculpido no art. 5º, caput, da CF. No caso em apreço, a Turma de origem, ao julgar recurso de revista interposto pelo Ministério Público do Trabalho em ação civil pública, entendeu ilícita a adoção de jornada móvel e variável, pois os empregados não sabiam quando seriam ativados, ficando submetidos ao arbítrio da empregadora por 44 horas semanais. Assim, declarou a nulidade de todo o regime de trabalho e determinou à empresa que garantisse o pagamento do salário profissional independentemente do número de horas trabalhadas. Todavia, em virtude de acordo de abrangência nacional firmado nos autos do processo nº 1040-74.2012.5.06.0011, perante a 11ª Vara do Trabalho do Recife/PE, a jornada móvel e variável foi substituída por jornada fixa de quatro, seis ou oito horas, não mais subsistindo o argumento utilizado pela Turma para determinar o pagamento do piso da categoria de forma indistinta. Assim, a SBDI-I, por maioria, conheceu dos embargos por contrariedade à Orientação Jurisprudencial nº 358 da SBDI-I, vencidos os Ministros Augusto César Leite de Carvalho, Márcio Eurico Vitral Amaro, José Roberto Freire Pimenta, Hugo Carlos Scheuermann e Cláudio Mascarenhas Brandão. No mérito, a Subseção deu provimento ao recurso para excluir da condenação a determinação para que a reclamada garanta "o pagamento do salário mínimo da categoria profissional, de acordo com a Convenção Coletiva do Trabalho, independentemente do número de horas trabalhadas", julgando-se improcedente a presente ação no particular. TST-E-ED-RR-9891900-16.2005.5.09.0004, SBDI-I, rel. Min. Renato de Lacerda Paiva, 26.11.2015 (Informativo nº 125) 79 Adicionais salariais
Adicional de transferência
Bancário. Transporte de valores. Desvio de função. Adicional de risco indevido. Ausência de previsão
na Lei n° 7.102/83.
Consoante o artigo 3º da Lei nº 7.102/83, os serviços de transporte de valores serão executados por empresa especializada contratada ou pelo próprio estabelecimento financeiro, caso em que deverá haver a contratação de pessoal próprio, treinado para tanto. Tal norma parte do pressuposto de que a alegada atividade é de risco e, portanto, deve ser executada por funcionários aprovados em curso de formação de vigilante autorizado pelo Ministério da Justiça. A consequência do descumprimento da norma, por parte do estabelecimento bancário, é a imposição de advertência, multa ou interdição do estabelecimento. Não há qualquer previsão na Lei nº 7.102/83 de concessão de adicional de risco ao trabalhador ante o descumprimento de seus preceitos. Sob esses fundamentos, a SBDI-1, por unanimidade, conheceu do recurso de embargos, por divergência jurisprudencial, e, no mérito, por maioria, deu-lhe provimento para restabelecer o acórdão do Regional, que indeferiu o pedido de pagamento do adicional de risco com esteio na falta de previsão legal e no fato de que o autor realizou o transporte de valores de forma meramente esporádica. Vencidos os Ministros Augusto César Leite de Carvalho, Walmir Oliveira da Costa, Hugo Carlos Scheuermann e Cláudio Mascarenhas Brandão. TST-E-RR-157300-17.2008.5.12.0024, SBDI-I, rel. Min. Renato de Lacerda Paiva, 6.8.2015. (Informativo nº 113)
Adicional de insalubridade
79 Texto corrigido conforme errata do Informativo nº 126 do TST.
Adicional de insalubridade. Fundação Casa. Atendimento de adolescentes infratores isolados por
motivo de saúde. Contato com pessoas portadoras de doenças infectocontagiosas. Anexo nº 14 da NR-
15 da Portaria 3.214/78 do MTE. Adicional devido.
É devido o adicional de insalubridade em grau máximo, reconhecido por laudo pericial, a trabalhadores da Fundação Casa que tenham contato com adolescentes infratores isolados por conta de doenças infectocontagiosas, nos termos do Anexo 14 da NR 15 da Portaria 3.214/78 do Informativo TST - nº 108 Período: 19 a 25 de maio de 2015 2 Ministério do Trabalho e Emprego. Nesse contexto, não há contrariedade à Súmula nº 448, I, do TST. Sob esse fundamento, a SBDI-I, por maioria, não conheceu dos embargos, vencidos os Ministros Alexandre de Souza Agra Belmonte e Ives Gandra Martins Filho. TST-E-RR-41500- 67.2007.5.15.0031, SBDI-I, rel. Hugo Carlos Scheuermann, 21.5.2015. (Informativo nº 108)
Agente comunitário de saúde. Adicional de insalubridade. Indevido. Não enquadramento da atividade no rol previsto no Anexo 14 da NR 15 do MTE. Súmula nº 448, I, do TST. Conforme preconizado no item I da Súmula nº 448 do TST, para que o empregado tenha direito ao adicional de insalubridade é necessária a classificação da atividade insalubre na relação oficial elaborada pelo Ministério do Trabalho e Emprego - MTE, não sendo suficiente a constatação via laudo pericial. Neste sentido, é indevido o adicional de insalubridade aos agentes comunitários de saúde que efetuam atendimento domiciliar para promoção e orientação da saúde e fazem o acompanhamento de pessoas com doenças infectocontagiosas, uma vez que essas funções não se enquadram no rol taxativo do MTE (Anexo 14 da NR 15). Sob esse fundamento, a SBDI-I, por unanimidade, conheceu dos embargos interpostos pela reclamante, por divergência jurisprudencial, e, no mérito, por maioria, negou-lhes provimento. Vencidos os Ministros Augusto César Leite de Carvalho, relator, João Oreste Dalazen, Walmir Oliveira da Costa, José Roberto Freire Pimenta, Hugo Carlos Scheuermann e Cláudio Mascarenhas Brandão. TST-E-RR-207000- 08.2009.5.04.0231, SBDI-I, rel. Min. Augusto César Leite de Carvalho, red. p/ acórdão Min. Aloysio Corrêa da Veiga, 18.2.2016 (Informativo nº 129)
Adicional de periculosidade
Motorista
Adicional de periculosidade. Armazenamento de líquido inflamável em estrutura independente do local
da prestação de serviços. Inaplicabilidade da Orientação Jurisprudencial nº 385 da SBDI-I.
A Orientação Jurisprudencial nº 385 da SBDI-I, ao assegurar o direito ao adicional de periculosidade, refere-se ao armazenamento de líquido inflamável no mesmo prédio em que desenvolvidas as atividades laborais. Assim, na hipótese em que o laudo pericial constatou que o armazenamento de óleo diesel ocorria em estrutura completamente independente do local da prestação de serviços, inclusive com área de segurança devidamente protegida, não há direito ao pagamento do referido adicional, ante a ausência de labor em área de risco. Sob esse fundamento, a SBDI-I, por maioria, conheceu dos embargos da reclamada por contrariedade à Súmula nº 126 do TST e à Orientação Jurisprudencial nº 385 da SBDI-I, vencidos os Ministros Alexandre Agra Belmonte, Augusto César Leite de Carvalho, José Roberto Freire Pimenta e Cláudio Mascarenhas Brandão. Ressaltou o Ministro relator que diante das premissas fáticas registradas nos autos, não poderia a Turma ter valorado o laudo pericial a fim de, concluindo de forma diversa do TRT, conceder o adicional de periculosidade. No mérito, por unanimidade, a Subseção deu provimento ao recurso para restabelecer o acórdão do Regional, que declarou a improcedência do pedido. TST-EED-AgR-ARR-644-68.2010.5.04.0029, SBDI-I, rel. Min. João Oreste Dalazen, 12.11.2015 (Informativo nº 123)
Adicional de insalubridade e de periculosidade. Cumulação. Impossibilidade. Prevalência do art. 193, §
2º, da CLT ante as Convenções nºs 148 e 155 da OIT.
É vedada a percepção cumulativa dos adicionais de insalubridade e de periculosidade ante a expressa dicção do art. 193, § 2º, da CLT. Ademais, não obstante as Convenções nºs 148 e 155 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) tenham sido incorporadas ao ordenamento jurídico brasileiro, elas não se sobrepõem à norma interna que consagra entendimento diametralmente oposto, aplicando-se tão somente às situações ainda não reguladas por lei. Sob esse fundamento, a SBDI-I, por unanimidade, conheceu do recurso de embargos, por divergência jurisprudencial, e no mérito, por maioria, negou-lhe provimento. Vencidos os Ministros Cláudio Mascarenhas Brandão, relator, Augusto César de Carvalho, Hugo Carlos Scheuermann e Alexandre Agra Belmonte. TSTE-ARR-1081-60.2012.5.03.0064, SBDI-I, rel. Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, red. p/ acórdão Min. João Oreste Dalazen, 28.4.2016 (Informativo nº 134)
Diárias para viagem
Diárias de viagem. Depósito em conta corrente. Prestação de contas. Súmula nº 101 do TST. Não
incidência.
A Súmula nº 101 do TST, ao tratar da natureza jurídica das diárias de viagem, não abordou a premissa fática
registrada no acórdão do TRT, segundo a qual o reclamante “recebia diárias em razão dos deslocamentos, mediante depósito em conta corrente” e “prestava contas dos gastos efetivos para pagamento das diárias”. Assim, a SBDI-I, por unanimidade, conheceu dos embargos interpostos pela reclamada por contrariedade à Súmula nº 101 do TST (má aplicação), e, no mérito, deu-lhes provimento para determinar o retorno dos autos à Turma de origem a fim de que, afastado o conhecimento do recurso de revista adesivo do autor por aplicação da súmula em questão, prossiga no julgamento do recurso como entender de direito. TST-E-ED-RR-489900- 35.2003.5.09.0005, SBDI-I, rel. Min. Renato de Lacerda Paiva, 19.3.2015 (Informativo nº 102)
Equiparação salarial
Equiparação salarial em cadeia. Tempo de serviço na função. Confronto com o paradigma remoto.
Irrelevância. Comprovação necessária apenas em relação ao paradigma imediato.
O fato de haver uma diferença de tempo de serviço na função superior a dois anos entre o reclamante e os paradigmas remotos ou, ainda, de estes não terem convivido nem exercido simultaneamente essa função, não obstam o direito à equiparação salarial do autor com seus paradigmas imediatos, em relação aos quais houve comprovação das exigências estabelecidas em lei. Os requisitos firmados pelo art. 461, § 1º, da CLT apenas são plausíveis em relação ao fato constitutivo da pretensão inicial, ou seja, à equiparação com o paradigma imediato, não podendo alcançar os paradigmas remotos, sob pena de inviabilizar qualquer pedido envolvendo equiparação salarial em cadeia pela simples alegação de decurso do tempo superior a dois anos. Nesse contexto, estaria o empregador autorizado a ferir o princípio da isonomia salarial e o art. 461 da CLT em prejuízo aos demais empregados componentes da cadeia equiparatória, o que não se mostra razoável. Assim, o Tribunal Pleno, por maioria, conheceu dos embargos interpostos pela reclamante, por contrariedade à Súmula nº 6, VI, do TST, e, no mérito, deu-lhes provimento para restabelecer a decisão do Regional, que convalidou a sentença, na qual foram deferidas as diferenças salariais decorrentes da equiparação salarial e os reflexos. Vencidos, quanto à fundamentação, os Ministros João Oreste Dalazen, Ives Gandra Martins Filho e Fernando Eizo Ono. Decidiu-se, ademais, encaminhar a matéria à Comissão de Jurisprudência e de Precedentes Normativos para que formule proposta de nova redação para o item VI da Súmula nº 6 do TST com base na tese firmada no presente caso. TST-E-ED-RR-160100-88.2009.5.03.0038, Tribunal Pleno, rel. Min. José Roberto Freire Pimenta, 24.3.2015. (Informativo nº 102)
Salário-substituição. Substituição apenas de parte das atribuições do substituído. Pagamento de forma
proporcional às atividades substituídas. Apuração em liquidação de sentença.
Consoante entendimento consagrado na Súmula 159, I, do TST, o empregado substituto faz jus ao salário do substituído, enquanto perdurar a substituição que não tenha caráter meramente eventual, inclusive nas férias. Nos casos em que a substituição for parcial, ou seja, não abarcar todas as atividades e responsabilidades do substituído, o valor do salário-substituição poderá se dar proporcionalmente às tarefas desempenhadas. Na hipótese dos autos, o substituído era responsável pela segurança da empresa em toda região metropolitana de Belo Horizonte, enquanto o substituto assumiu as atribuições do supervisor apenas na cidade de Betim. Assim, adotando esse entendimento, a SBDI-I, no ponto, conheceu dos embargos da reclamada, por divergência jurisprudencial, e, no mérito, por maioria, deu-lhes provimento parcial para limitar a condenação das diferenças salariais em virtude de substituição do supervisor, em suas férias, de forma proporcional às atividades substituídas, a ser apurado em liquidação da sentença. Vencido o Ministro Aloysio Corrêa da Veiga. TST-E-ED-RR-66600-35.2008.5.03.0027, SBDI-I, rel. Min. Dora Maria da Costa , 14.5.2015 (Informativo nº 107)
CAPÍTULO VII – ESTABILIDADE E GARANTIAS PROVISÓRIAS DE
EMPREGO
1. INTRODUÇÃO
É importante destacar que o ato de terminar o contrato é um direito potestativo do
empregador80. Logo, a essa decisão de colocar fim ao contrato, o trabalhador não pode se
opor, exceto se detentor de estabilidade ou uma das garantias provisórias de emprego.
80. Direito potestativo: independe do consentimento da outra parte da relação jurídica. O empregado
possui, também, o direito de pedir demissão. Nesse caso, o empregador não poderá se opor.
Assim sendo, estabilidade é o direito do trabalhador de permanecer no emprego, mesmo
contra a vontade do empregador.
Alguns autores diferenciam os termos: estabilidade de garantia provisória de emprego.
Estabilidade refere-se ao direito conquistado pelo empregado de não perder o emprego,
exceto se a dispensa for por justa causa. Aliás, para que a dispensa ocorra, é necessário ação
judicial prévia, chamada de inquérito judicial para apuração de falta grave. Estabilidade
provisória ou especial ou, ainda, garantia provisória de emprego consiste em garantir,
provisoriamente, o emprego enquanto presente uma das situações excepcionais previstas
em lei (gestante, membro da Cipa, acidente do trabalho etc.). Na prática, entretanto, é
comum que o termo estabilidade seja utilizado para abranger também as hipóteses de
estabilidade provisória.
Para manter a coerência com a doutrina e jurisprudência atuais, será tratada como
estabilidade: decenal, dirigente sindical e a estabilidade do estatutário. As demais serão
tratadas como garantias provisórias de emprego.
Deve-se destacar que há previsão, no art. 7º, I, da CF/88, da proibição da despedida
arbitrária: “a relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa,
nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros
direitos”. Esse inciso ainda não foi regulamentado, assim sendo há entendimento majoritário
de que a garantia contra a despedida arbitrária ainda não pode ser aplicada.
Contudo, a LC nº 150/2015 trouxe uma inovação no tocante à indenização pela perda do
emprego doméstico. De acordo com o art. 22 da nova lei complementar, estabeleceu-se que a
multa de 40% (ou 20% no caso de culpa recíproca) sobre os depósitos do FGTS não é devida
para o empregado doméstico. Em vez disso, é necessário que o empregador doméstico
deposite mensalmente a quantia de 3,2% da remuneração devida ao empregado na conta
vinculado do empregado doméstico em variação distinta dos depósitos do FGTS. Essa quantia
terá a função de indenizar o empregado pela perda de seu emprego em caso de dispensa sem
justa causa ou por culpa do empregador (rescisão indireta). Assim, caso ocorra o término do
contrato de trabalho, é permitido ao empregado doméstico movimentar a conta e sacar os
valores depositados.
Por outro lado, se ocorrer dispensa por justa causa ou pedido de demissão do doméstico, a
indenização não será devida, e os valores depositados poderão ser levantados pelo próprio
empregador. Se verificada culpa recíproca no término do contrato de trabalho, metade dos
valores será movimentada pelo empregado e a outra metade pelo empregador.
A seguir serão comentadas as estabilidades e garantias provisórias de emprego,
previstas na jurisprudência do TST. Cabe frisar, ainda, que, além delas, há previsão de
estabilidade provisória para:
a) Membros representantes dos empregados na Comissão de Conciliação Prévia,
titulares e suplentes, até um ano após o fim do mandato, salvo se cometerem falta
grave, conforme art. 625-B, § 1º, da CLT.
b) Membros do Conselho Nacional da Previdência Social. Os representantes dos
trabalhadores, titulares e suplentes têm estabilidade desde a nomeação até um ano
após o mandato, somente podendo ser dispensados por motivo de falta grave.
c) Membros do Conselho Curador do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço –
FGTS. Os representantes dos trabalhadores, titulares e suplentes têm estabilidade
desde a nomeação até um ano após o mandato, somente podendo ser dispensados
por motivo de falta grave.
Por fim, ressalta-se que é obrigatória a eleição de um representante dos trabalhadores
nas empresas com mais de 200 empregados, por força de dispositivo constitucional. Não
há previsão em lei, de estabilidade para esses empregados eleitos. De acordo com o texto
constitucional:
Art. 11 da CF/88. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição
de um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento
direto com os empregadores.
Cabe frisar, ainda no tocante à estabilidade, que parte da doutrina81 sustenta que o texto
da Constituição Federal não assegura estabilidade aos representantes dos empregados.
Prevê-se tão somente a estabilidade do dirigente sindical no art. 8º, VIII, CF/88. No entanto,
afirma-se que é recomendável assegurar a estabilidade por meio de lei ordinária, uma vez
que os representantes podem sofrer represálias do empregador, o que impediria qualquer
negociação efetiva no âmbito da empresa. Ressalta-se, mais uma vez, que ainda não há tal
previsão legislativa.
Por outro lado, entendemos que é plenamente possível o reconhecimento de
estabilidade aos representantes como condição necessária à plena efetivação do dispositivo
constitucional, que apresenta eficácia imediata. Negar a proteção do emprego aos
representantes dos trabalhadores equivale a retirar a eficácia do art. 11 da CF/88, uma vez
que nenhum empregado estará disposto a sofrer punições do empregador ou mesmo ter seu
contrato de trabalho extinto. Nesse sentido, o próprio TST já decidiu que deve ser
assegurada garantia provisória do dirigente sindical aos representantes:
Precedente Normativo nº 86 do TST82: “Nas empresas com mais de 200 empregados é
assegurada a eleição direta de um representante, com as garantias do art. 543, e seus
parágrafos, da CLT.”
Ademais, tendo em vista que o TST83 já assegurou estabilidade do dirigente de central
sindical mesmo sem nenhuma previsão legal ou constitucional, como forma de garantir o
desenvolvimento do importante papel das centrais sindicais no movimento sindical
brasileiro. Dessa forma, é plenamente possível estender a estabilidade prevista aos
dirigentes sindicais aos representantes dos trabalhadores em empresas com mais de 200
empregados.
....
5. GARANTIA PROVISÓRIA DE EMPREGO DA GESTANTE
81. MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30 ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 855.
82. Importante fazer um rápido esclarecimento sobre Precedentes Normativos. Assim como as
decisões reiteradas do TST em dissídios individuais dão origem às Súmulas e OJs da SDI-I e II do TST, as
decisões reiteradas em dissídios coletivos formam as OJs da SDC e os Precedentes Normativos do TST. No
tocante à importância desses precedentes ao direito individual, destaca-se que, apesar de não vinculativas,
ou ainda, não servirem para fins de recurso de revista, as disposições previstas são importantes fontes de
interpretação.
83. Para maiores informações ver TST-RR-50000-91.2008.5.17.0012 – Rel. Min. Maurício Godinho
Delgado – Data de Julgamento: 23/10/2013
Súmula nº 244 do TST. Gestante. Estabilidade provisória
I - O desconhecimento do estado gravídico pelo empregador não afasta o direito ao pagamento
da indenização decorrente da estabilidade (art. 10, II, “b” do ADCT).
II - A garantia de emprego à gestante só autoriza a reintegração se esta se der durante o período
de estabilidade. Do contrário, a garantia restringe-se aos salários e demais direitos
correspondentes ao período de estabilidade.
III – A empregada gestante tem direito à estabilidade provisória prevista no art. 10, inciso II,
alínea b, do ADCT, mesmo na hipótese de admissão mediante contrato por tempo determinado.
I - O desconhecimento do estado gravídico pelo empregador não afasta o direito ao pagamento da
indenização decorrente da estabilidade (art. 10, II, “b” do ADCT).
Como forma de proteger o mercado de trabalho da mulher, bem como garantir uma
gestação tranquila, a empregada gestante possui estabilidade provisória desde a
confirmação da gravidez até 5 meses após o parto. Esse direito foi estendido também às
empregadas domésticas84.
Cumpre destacar que, recentemente (junho de 2014), foi promulgada a Lei
Complementar nº 146/2014 que estendeu o direito à estabilidade provisória do art. 10,
inciso, alínea “b”, do ADCT, no caso de falecimento da genitora, àquele que detiver a guarda
de seu filho (independentemente de ser o pai ou companheiro da empregada).
O desconhecimento da gravidez, pelo empregador, não afasta o direito à estabilidade.
Assim sendo, essa garantia provisória de emprego da gestante independe da notificação da
gravidez ao empregador. Aliás, mesmo que a própria empregada desconhecer sua gravidez
na data da dispensa sem justa causa, mas, após exames médicos, ficar devidamente
comprovado seu estado gravídico, terá direito à reintegração. Nesse sentido, interessante
jurisprudência do TRT da 12ª Região:
Súmula nº 59 do TRT da 12ª Região. Estabilidade de gestante.
Para fazer jus à garantia de emprego (art. 10, II, “b”, do ADCT), basta que a empregada
comprove que a concepção ocorreu durante a vigência do pacto laboral, sendo certo que o
desconhecimento do fato por ela ou pelo empregador não afasta o seu direito.
Em resumo, o que gera direito à garantia provisória de emprego é a gravidez,
independentemente de qualquer notificação ou aviso ao empregador. A empregada,
portanto, somente perderá o direito à estabilidade se cometer falta grave, prevista no art.
482 da CLT85. Conforme jurisprudência majoritária, se constatada hipótese que justifique a
dispensa por justa, não é exigida a instauração de inquérito para apuração de falta de grave:
Inquérito judicial para apuração de falta grave - Interesse de agir - Empregada gestante. 1.
Consoante o disposto no art. 853 da CLT, reputado violado pelo Agravante, para a instauração do
inquérito para apuração de falta grave contra empregado garantido com estabilidade, o
84. Informativo n. 34 do TST (confira o texto integral ao final desse capítulo).
85 Orientação Jurisprudencial nº 30 da SDC: “Nos termos do art. 10, II, "a", do ADCT, a proteção à
maternidade foi erigida à hierarquia constitucional, pois retirou do âmbito do direito potestativo do
empregador a possibilidade de despedir arbitrariamente a empregada em estado gravídico. Portanto, a teor
do artigo 9º da CLT, torna-se nula de pleno direito a cláusula que estabelece a possibilidade de renúncia ou
transação, pela gestante, das garantias referentes à manutenção do emprego e salário”.
empregador apresentará reclamação por escrito à Vara do Trabalho ou Juízo de Direito, dentro
de 30 dias, contados da data da suspensão do empregado. 2. No caso, o Regional manteve a
sentença que extinguiu o feito sem a resolução de mérito, salientando que afigura-se
desnecessário o ajuizamento de inquérito judicial para a apuração de falta grave de
empregada gestante, ou seja, portadora de garantia provisória de emprego. 3. O
entendimento adotado pelo Regional não viola o art. 853 da CLT invocado no recurso de revista e
reiterado no agravo de instrumento, o qual trata do procedimento a ser observado no inquérito a
que se refere o art. 494 da CLT, que, por sua vez dispõe apenas sobre a estabilidade decenal.
Mesmo se considerarmos que é necessário o ajuizamento de inquérito para a apuração de falta
grave cometida por outros empregados estáveis, não há como estender essa exigência para a
empregada gestante que apenas detém garantia provisória de emprego. Tampouco resta violado
o art. 4º, I, do CPC, uma vez que o Colegiado de origem interpretou de forma razoável a norma
contida nesse dispositivo, incidindo o óbice da Súmula 221, II, do TST. 4. No que tange à violação
do art. 5º, XXXV, da CF, o apelo não merece prosperar, na medida em que a ofensa ao referido
dispositivo é, em regra, reflexa, não atendendo, portanto, a exigência contida no art. 896, c, da
CLT. Agravo de instrumento desprovido. (TST - AIRR: 157740-06.2005.5.15.0001, Relator: Ives
Gandra Martins Filho, Data de Julgamento: 11/06/2008)
Sobre esse tema tão sensível na relação entre empregada e empregador, duas
observações são importantes. A primeira delas é que a empregada gestante poderá pedir
demissão a qualquer momento, pois não há restrição ao direito potestativo de demissão do
trabalhador. Dessa forma, entendemos que o pedido estará condicionado apenas à
homologação no sindicato da categoria profissional ou na gerência regional do trabalho,
mesmo nos contratos com menos de 1 ano de duração. Nesse sentido, estabelece a CLT no
tocante ao empregado estável:
Art. 500 da CLT: O pedido de demissão do empregado estável só será válido quando
feito com a assistência do respectivo Sindicato e, se não o houver, perante autoridade
local competente do Ministério do Trabalho e Previdência Social ou da Justiça do
Trabalho.
O segundo ponto importante diz respeito à extinção do estabelecimento. Nesse caso, o
empregador terá de pagar todas as verbas trabalhistas como se tivesse dispensado sem justa
causa, pois os riscos do empreendimento correm por conta do empregador (princípio da
alteridade – art. 2 da CLT). Como nas demais hipóteses de estabilidade, não cabe nenhuma
indenização à gestante pelo período restante da estabilidade.
Fato curioso pode ocorrer quando a empregada não aceita a transferência para outra
localidade, onde a empresa possui filial. Nesse caso, surgem dois posicionamentos. O
primeiro deles, defende a dispensa por justa causa, pois o empregador tem o poder de
alterar o contrato de forma unilateral (jus variandi) nesse caso, conforme art. 469 da CLT. O
TST não aceita essa primeira tese86. O segundo posicionamento, que consideramos mais
apropriado, é no sentido de que a recusa da transferência será interpretada como pedido de
demissão, pois o empregador está dando a possibilidade de continuar com o contrato de
trabalho. Caso a empregada gestante não aceite a transferência receberá as verbas
rescisórias decorrentes do pedido de demissão.
Ademais, as normas ligadas à estabilidade da gestante são de indisponibilidade absoluta,
não comportam transação para reduzir direitos. Assim sendo, é nula a cláusula da convenção
86. Informativo n. 5 do TST (confira o texto integral ao final desse capítulo)
ou acordo coletivo que estabelece requisitos, como a comunicação da gravidez em até 60
dias, como forma da obtenção da estabilidade. Nesse sentido, a jurisprudência do TST:
Orientação Jurisprudencial nº 30 da SDC do TST: Nos termos do art. 10, II, “a”, do
ADCT, a proteção à maternidade foi erigida à hierarquia constitucional, pois retirou do
âmbito do direito potestativo do empregador a possibilidade de despedir arbitrariamente
a empregada em estado gravídico. Portanto, a teor do artigo 9º da CLT, torna-se nula de
pleno direito a cláusula que estabelece a possibilidade de renúncia ou transação, pela
gestante, das garantias referentes à manutenção do emprego e salário.
Por fim, no dia 11 de maio de 2016, foi promulgada e publicada a Lei nº 13.287/2016,
que acrescenta o art. 394-A à CLT para proibir o trabalho da gestante ou lactante em
atividades, operações ou locais insalubres. O artigo está inserido na Seção V do Capítulo de
Proteção do Trabalho da Mulher referente à proteção da maternidade. Confira a redação
do art. 394-A, CLT:
Art. 394-A, CLT. A empregada gestante ou lactante será afastada, enquanto durar a gestação e
a lactação, de quaisquer atividades, operações ou locais insalubres, devendo exercer suas
atividades em local salubre.
Parágrafo único. (VETADO).
A nova legislação entrou em vigor na data de sua publicação e, portanto, o dispositivo
que determina o afastamento da empregada gestante ou lactante dos locais e atividades
insalubres já deve ser aplicado pelos empregadores.
Destaca-se que o parágrafo único do art. 394-A da CLT foi vetado pelo Executivo e
previa que a empregada gestante ou lactante teria direito ao recebimento do salário
integral enquanto durasse seu afastamento temporário inclusive com o recebimento do
adicional de insalubridade:
Art. 394-A, parágrafo único, CLT (VETADO). Durante o afastamento temporário previsto
no caput, fica assegurado à empregada gestante ou lactante o pagamento integral do salário
que vinha percebendo, incluindo o adicional de insalubridade.
...
9. ESTABILIDADE DO EMPREGADO PÚBLICO
Súmula nº 390 do TST. Estabilidade. Art. 41 da CF/1988. Celetista. Administração direta,
autárquica ou fundacional. Aplicabilidade. Empregado de empresa pública e sociedade de
economia mista. Inaplicável
I – O servidor público celetista da administração direta, autárquica ou fundacional é beneficiário
da estabilidade prevista no art. 41 da CF/88.
II – Ao empregado de empresa pública ou de sociedade de economia mista, ainda que admitido
mediante aprovação em concurso público, não é garantida a estabilidade prevista no art. 41 da
CF/88.
O art. 41 da CF/88 foi alterado para garantir a estabilidade apenas ao detentor de cargo
público (servidores públicos estatutários). Dessa forma, para o direito administrativo, a
estabilidade não se estende aos detentores de emprego público, chamados de celetistas. A
exigência do concurso público, portanto, não é suficiente para garantir a estabilidade a esses
empregados.
De acordo com o texto da CF:
Art. 41 da CF. São estáveis após 3 anos de efetivo exercício os servidores nomeados para
cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público. (grifo acrescido)
Assim sendo, com a mudança da redação, por força de Emenda Constitucional 19/98,
passou a constar expressamente que a garantia se dirige aos que são nomeados para
cargo de provimento efetivo. Nesse sentido, é a posição do Supremo Tribunal Federal87.
De acordo com o posicionamento manifestado nas decisões da Corte Constitucional88, a
estabilidade do art. 41 só se estende aos empregados celetistas da administração direta,
autarquias e fundações públicas que ingressaram no serviço público antes da
promulgação da Emenda 19/98, que se deu em 5/6/1998. Após essa data, só se aplica aos
servidores titulares de cargo efetivo. Portanto, a Súmula n. 390 aplica-se apenas a casos
anteriores à essa modificação do art. 41.
Há quem defenda a estabilidade, inclusive após a modificação do art. 41 da CF, com
fundamento no princípio da isonomia. Interpretação contrária a essa poderia influenciar, de
forma negativa, na própria ordem classificatória do concurso público.
Para a dispensa desses empregados públicos é necessário prévio procedimento
administrativo, como forma de apurar se realmente ocorreu a falta grave. Trata-se, portanto,
de um dos pilares do Estado Democrático de Direito, pois se assegura a garantia do
contraditório e ampla defesa, conforme previsto no art. 5º, LV, da CF/88. Aliás, o empregado
não poderá ser punido duas vezes em razão da mesma falta cometida. Nesse sentido é a
jurisprudência do STF:
Súmula nº 19 do STF: É inadmissível segunda punição de servidor público, baseada no
mesmo processo em que se fundou a primeira.
Súmula nº 20 do STF: É necessário processo administrativo, com ampla defesa, para
demissão de funcionário admitido mediante concurso.
Súmula nº 21 do STF: Funcionário em estágio probatório não pode ser exonerado nem
demitido sem inquérito ou sem as formalidades legais de apuração de sua capacidade.
Por outro lado, os empregados públicos de empresas públicas (Infraero, por exemplo) ou
sociedades de economia mista (Banco do Brasil, por exemplo) não terão direito à estabilidade,
mesmo que admitidos via concurso público. Cabe destacar que os empregados de empresa
pública ou sociedade de economia mista não possuem direito à estabilidade do art. 41, nem
antes nem depois da Emenda 19/98. Aliás, o TST entende que é possível a dispensa desses
empregados sem justa causa, conforme posicionamento abaixo:
Orientação Jurisprudencial nº 247 da SDI – I do TST.
I - A despedida de empregados de empresa pública e de sociedade de economia mista,
mesmo admitidos por concurso público, independe de ato motivado para sua validade;
(grifos acrescidos)
87. Por exemplo: AI 465.780, AI 387.498, RE 242.069, RE 289.108, AI 323.246-4-Agr.
88. Nesse sentido, no AI 634.719, julgado em 26/4/2011, assentou o Min. Dias Tofolli que a
“jurisprudência da Corte é firme no sentido de se estender ao empregado público celetista, admitido em
período anterior ao advento da Emenda Constitucional nº 19/98, o direito à estabilidade prevista no
artigo 41 da Constituição Federal”. No mesmo sentido: AI 476.685, AI 628.888, AI 480.432-AgR, AI 472.685-
5-AgR. Inclusive, no TST, podem ser conferidos o RR – 3007/2003-015-02-00 e o RR-208800-
50.2003.5.02.0033, ambos relatados pela Min. Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, sendo o último de 8/7/2011.
II - A validade do ato de despedida do empregado da Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos (ECT) está condicionada à motivação, por gozar a empresa do mesmo
tratamento destinado à Fazenda Pública em relação à imunidade tributária e à execução
por precatório, além das prerrogativas de foro, prazos e custas processuais.
Cabe frisar, entretanto, que o TST em breve deve alterar, ou cancelar esse
posicionamento contido na OJ 247. A jurisprudência do STF defende a fundamentação nas
dispensas de empregados públicos, conforme posicionamento abaixo89:
Empresa brasileira de correios e telégrafos – ect. Demissão imotivada de seus
empregados. Impossibilidade. Necessidade de motivação da dispensa. Re
parcialemente provido. I - Os empregados públicos não fazem jus à estabilidade
prevista no art. 41 da CF, salvo aqueles admitidos em período anterior ao advento da
EC nº 19/1998. Precedentes. II - Em atenção, no entanto, aos princípios da
impessoalidade e isonomia, que regem a admissão por concurso publico, a dispensa
do empregado de empresas públicas e sociedades de economia mista que prestam
serviços públicos deve ser motivada, assegurando-se, assim, que tais princípios,
observados no momento daquela admissão, sejam também respeitados por ocasião
da dispensa. III – A motivação do ato de dispensa, assim, visa a resguardar o
empregado de uma possível quebra do postulado da impessoalidade por parte do
agente estatal investido do poder de demitir. IV - Recurso extraordinário
parcialmente provido para afastar a aplicação, ao caso, do art. 41 da CF, exigindo-se,
entretanto, a motivação para legitimar a rescisão unilateral do contrato de trabalho.
(RE 589998/PI, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 20.3.2013)
Nesse sentido, o próprio TST já passou a decidir em alguns julgados pela necessidade de
motivação na dispensa do empregado público em atendimento ao posicionamento do STF
sobre o assunto:
Ação rescisória. Sociedade de economia mista. Demissão imotivada. Impossibilidade.
Reintegração do empregado. Submissão aos princípios previstos no art. 37, caput, da CF.
Regulamento interno. Necessidade de motivação. Adesão ao contrato de trabalho. Súmula
nº 51 do TST.
O STF, nos autos do RE nº 589998, estabeleceu que os empregados de sociedades de economia
mista e de empresas públicas admitidos por concurso público somente poderão ser demitidos
mediante a motivação do ato de dispensa, porquanto necessária a observação dos princípios
constitucionais que regem a administração pública direta e indireta, previstos no art. 37, caput,
da CF. Ademais, verificada, no caso, a existência de dispositivo de norma interna do Banestado
prevendo a obrigatoriedade da motivação para dispensa de empregados, tal cláusula adere ao
contrato de trabalho, impossibilitando a dispensa imotivada a teor do preconizado pela
Súmula n.º 51 do TST. Com esses fundamentos, e não vislumbrando violação ao art. 173, § 1º,
da CF, a SBDI-II, à unanimidade, negou provimento ao recurso ordinário por meio do qual se
buscava reformar a decisão do TRT da 9ª Região que, ao julgar improcedente a ação rescisória,
manteve o acórdão que determinou a reintegração do empregado do Banestado demitido
imotivadamente. TST-RO-219-22.2012.5.09.0000, SBDI-II, rel. Min. Cláudio Mascarenhas
Brandão, 15.10.2013 (Informativo nº 63)
Matéria afetada ao Tribunal Pleno. Servidor público celetista. Administração pública
direta, autárquica e fundacional. Concurso público. Contrato de experiência. Dispensa
imotivada. Impossibilidade. Observância dos princípios constitucionais da
impessoalidade e da motivação.
A despedida de servidor público celetista da administração pública direta, autárquica e
89. BORTOLETO, Leandro. Direito Administrativo para Analista dos Tribunais. Ed. Juspodivm. 3. Ed.
Salvador: 2014.
fundacional, admitido por concurso público e em contrato de experiência, deve ser motivada. A
observância do princípio constitucional da motivação visa a resguardar o empregado de possível
quebra do postulado da impessoalidade por parte do agente estatal investido no poder de
dispensar. Sob esse fundamento, o Tribunal Pleno, por unanimidade, conheceu do recurso de
embargos, por divergência jurisprudencial, e, no mérito, deu-lhe provimento, para julgar
procedentes os pedidos da reclamante de restauração da relação de emprego e de pagamento
dos salários e demais vantagens do período compreendido entre a dispensa e a efetiva
reintegração. TST-E-ED-RR 64200-46.2006.5.02.0027, Tribunal Pleno, rel. Ministro Alberto Luiz
Bresciani de Fontan Pereira , 29.9.2015. (Informativo nº 119 do TST)
Por fim, destaca-se que o empregado de empresa privada não está sujeito à
motivação da dispensa diante do direito potestivo do empregador de dispensar seus
empregados. Nesse sentido:
Súmula nº 27 do TRT da 9ª Região: Reintegração. Professor universitário. Entidade
privada. Desnecessidade de motivação. Nas universidades particulares, a rescisão contratual de
professores não se submete à deliberação de colegiados de ensino superior, sendo desnecessária
motivação da despedida. O artigo 53 da Lei 9.394/96 e artigo 206 da Constituição Federal não
derrogam o direito potestativo reconhecido na CLT ao empregador para extinguir a relação
empregatícia.
12. SÚMULAS DOS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO
(ACRESCENTADAS AO CAPÍTULO VII – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Estabilidade do acidentado
Súmula nº 81 do TRT da 4ª Região: Contrato por prazo determinado. Acidente do trabalho. Garantia no emprego do artigo 118 da Lei 8213/91. Modulação dos efeitos do item III da Súmula nº 378 do TST.
A garantia no emprego de que trata o artigo 118 da Lei 8213/91, é aplicável aos contratos de trabalho por prazo determinado, mesmo em situações ocorridas antes da inserção do item III à Súmula 378 do TST, ocorrida em 27.09.2012.
Motivação da dispensa
Súmula nº 27 do TRT da 9ª Região: Reintegração. Professor universitário. Entidade privada. Desnecessidade de motivação.
Nas universidades particulares, a rescisão contratual de professores não se submete à deliberação de colegiados de ensino superior, sendo desnecessária motivação da despedida. O artigo 53 da Lei 9.394/96 e artigo 206 da Constituição Federal não derrogam o direito potestativo reconhecido na CLT ao empregador para extinguir a relação empregatícia.
14. INFORMATIVOS DO TST
(ACRESCENTADOS AO CAPÍTULO VII – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Servidor público - motivação
Ação rescisória. Sociedade de economia mista. Demissão imotivada. Impossibilidade. Reintegração do
empregado. Submissão aos princípios previstos no art. 37, caput, da CF. Regulamento interno.
Necessidade de motivação. Adesão ao contrato de trabalho. Súmula nº 51 do TST.
O STF, nos autos do RE nº 589998, estabeleceu que os empregados de sociedades de economia mista e de empresas públicas admitidos por concurso público somente poderão ser demitidos mediante a motivação do ato de dispensa, porquanto necessária a observação dos princípios constitucionais que regem a administração pública direta e indireta, previstos no art. 37, caput, da CF. Ademais, verificada, no caso, a existência de dispositivo de norma interna do Banestado prevendo a obrigatoriedade da motivação para dispensa de empregados, tal cláusula adere ao contrato de trabalho, impossibilitando a dispensa imotivada a teor do preconizado pela Súmula nº 51 do TST. Com esses fundamentos, e não vislumbrando violação ao art.
173, § 1º, da CF, a SBDI-II, à unanimidade, negou provimento ao recurso ordinário por meio do qual se buscava reformar a decisão do TRT da 9ª Região que, ao julgar improcedente a ação rescisória, manteve o acórdão que determinou a reintegração do empregado do Banestado demitido imotivadamente. TST-RO-219-22.2012.5.09.0000, SBDI-II, rel. Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, 15.10.2013 (Informativo nº 63)
CAPÍTULO VIII – FUNDO DE GARANTIA POR TEMPO DE SERVIÇO
FGTS
1. INTRODUÇÃO
O FGTS − Fundo de Garantia por Tempo de Serviço − foi instituído em razão da
resistência criada em torno da estabilidade decenal. Essa estabilidade onerava sobremaneira
as empresas, desestimulando a contratação. Diante desses argumentos, como forma de
incentivar uma política habitacional e indenizar o tempo de serviço, surgiu, em 196690, como
sistema opcional, o FGTS.
Inicialmente, o empregado poderia optar entre a estabilidade decenal e o FGTS. Com a
Constituição Federal de 1988, o FGTS passou a ser obrigatório para todos os empregados,
sendo regido pela Lei nº 8.036/9091 e pelo Decreto nº 99.684/90.
O FGTS92 é uma “poupança forçada” suportada exclusivamente pelo empregador. Todos
os meses, ao quitar o salário e demais adicionais, o empregador deverá depositar, numa
conta vinculada do trabalhador, 8% da sua remuneração. Exemplo: empregado recebe R$
1.000,00 de salário. Logo, o empregador deverá depositar R$ 80,00 na conta vinculada do
trabalhador, a título de FGTS. Veja que, para fins de FGTS, não há desconto a ser suportado
pelo trabalhador. Esses depósitos destinam-se à indenização por tempo de serviço do
empregado.
Os depósitos efetuados nas contas vinculadas serão corrigidos monetariamente, com
base nos parâmetros fixados para atualização dos saldos dos depósitos de poupança e
capitalização de juros de 3% ao ano.
A administração do FGTS é feita por normas e diretrizes elaboradas pelo Conselho
Curador. Esse Conselho é composto por representantes dos trabalhadores93, empregadores
e entidades governamentais, conforme previsto no art. 3º. As decisões do Conselho serão
90. Lei n. 5.107/1966.
91. Artigos dessa lei serão citados sem referência durante esse capítulo.
92. “O FGTS é um depósito bancário destinado a formar uma poupança para o trabalhador, que poderá
ser sacada nas hipóteses previstas na lei, principalmente quando é dispensado sem justa causa. Outrossim,
servem os depósitos como forma de financiamento para aquisição de moradia pelo Sistema de
Financiamento da Habitação.” MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p.
435.
93. Os representantes dos trabalhadores e empregadores e seus suplentes serão indicados pelas
respectivas centrais sindicais e confederações nacionais e nomeados pelo ministro do Trabalho, e terão
mandato de 2 anos, podendo ser reconduzidos uma única vez.
tomadas com presença da maioria simples de seus membros, tendo o presidente94 voto de
qualidade. E, ainda, o Conselho Curador se reunirá ordinariamente, a cada bimestre, por
convocação de seu presidente.
Destaca-se que a ausência do empregado representante dos trabalhadores para participar
das atividades desenvolvidas pelo Conselho serão abonadas pelo empregador e deverá ser
computada a jornada de trabalho para todos os fins. Assegura-se a esses representantes dos
trabalhadores, estabilidade provisória da nomeação até o período de 1 ano após o término do
mandato de 2 anos.
Ademais, compete ao Ministério da Ação Social95 a gestão da aplicação dos recursos do
FGTS, por exemplo, acompanhar a execução dos programas de habitação popular (art. 6º). E,
ainda, cabe à Caixa Econômica Federal o papel de agente operador, por exemplo, manter e
controlar as contas vinculadas (art. 7º).
Dentre as características das contas abertas para depósito do fundo, podem-se destacar:
a) são impenhoráveis, de acordo com art. 2º, § 2º, da Lei do FGTS;
b) a conta é individualizada, ou seja, se o empregado possui dois empregos, terá duas
contas diferentes para depósitos do FGTS. Nesse sentido, uma das hipóteses de saque
dos depósitos do FGTS ocorre quando o empregado permanece 3 anos ininterruptos
fora do regime do FGTS96. Tendo em vista que as contas são individualizadas, mesmo
que estiver trabalhando em outra empresa (nova contra), terá direito após o prazo
de 3 anos de sacar os valores do FGTS da conta que estiver inativa.
c) os empregadores estão obrigados a comunicar, mensalmente, aos empregados os
valores de suas contas vinculadas, conforme art. 17 da lei do FGTS.
Como dito, após a CF/88, todos os empregados urbanos e rurais passaram a ter direito
ao FGTS. Assim sendo, independentemente da duração do contrato, isto é, seja contrato por
prazo indeterminado, seja por prazo determinado (temporário, aprendiz, experiência etc.), o
empregado terá direito aos depósitos.
O trabalhador avulso, por força do art. 7º, XXXIV, da CF/88, que equiparou os direitos
aos empregados, também terá direito ao FGTS.
Importante destacar que o empregado doméstico, passou a ter direito aos depósitos do
FGTS. Destaca-se que, antes da promulgação da EC nº 72/2013, a concessão do FGTS era
facultativa aos empregados domésticos. Com o advento da emenda constitucional
mencionada, o FGTS passou a ser direito constitucional assegurado aos domésticos, mas que
somente poderia ser exigido do empregado com a edição de lei regulamentando o assunto.
94. A Presidência do Conselho Curador será exercida pelo representante do Ministério do Trabalho e
da Previdência Social.
95. Ressalta-se que, de acordo com informação obtida no site do FGTS, o Ministério das Cidades
substituiu as funções exercidas pelo Ministério da Ação Social. Fonte:
http://www.fgts.gov.br/quem_administra.asp. 96. Art. 20, VIII, Lei nº 8.036/1990: “A conta vinculada do trabalhador no FGTS poderá ser
movimentada nas seguintes situações: quando o trabalhador permanecer três anos ininterruptos, a partir
de 1º de junho de 1990, fora do regime do FGTS, podendo o saque, neste caso, ser efetuado a partir do mês
de aniversário do titular da conta.”
Nesse sentido, o art. 34, inciso IV, da LC nº 150/2015 passou a assegurar o depósito do valor
de 8% da remuneração do empregado doméstico para o recolhimento do FGTS:
Art. 34. O Simples Doméstico assegurará o recolhimento mensal, mediante documento único de
arrecadação, dos seguintes valores:
(...)
IV - 8% (oito por cento) de recolhimento para o FGTS;
A nova lei complementar condicionou a obrigação de inscrever e recolher o FGTS dos
empregados domésticos à edição de um regulamento pelo Conselho Curador e pelo agente
operador do fundo que se destine a disciplinar os aspectos técnicos dos depósitos, saques,
devolução de valores e emissão de extratos, dentre outros. Nesse sentido, foi editada a Resolução
CC/FGTS nº 780/2015 estabelecendo a obrigatoriedade na contribuição ao FGTS a partir de 1º
de outubro de 201597. Com isso, passou a ser obrigatório que o empregador doméstico realize
seu cadastro no portal eletrônico “e-social”98 para que seja possível efetuar as contribuições do
Simples Doméstico, inclusive dos depósitos de 8% do FGTS.
Atualmente, o único trabalhador que possui o FGTS facultativo é o diretor não
empregado (lembre-se de que, no caso do diretor empregado, em que há subordinação, é
obrigatório o recolhimento). Nesse caso, a empresa poderá optar ou não em depositar o FGTS.
Por fim, destaca-se que inclusive os servidores públicos ocupantes de cargo de livre
nomeação e exoneração (cargo de confiança) têm direito aos depósitos do FGTS desde que
submetidos ao regime trabalhista99.
6. PRESCRIÇÃO PARA REQUERER OS DEPÓSITOS DO FGTS E O RECENTE
POSICIONAMENTO DO STF
Súmula nº 362 do TST. FGTS. Prescrição.
I – Para os casos em que a ciência da lesão ocorreu a partir de 13.11.2014, é quinquenal a
prescrição do direito de reclamar contra o não recolhimento de contribuição para o FGTS,
observado o prazo de dois anos após o término do contrato;
II – Para os casos em que o prazo prescricional já estava em curso em 13.11.2014, aplica-se o
prazo prescricional que se consumar primeiro: trinta anos, contados do termo inicial, ou cinco
anos, a partir de 13.11.2014 (STF-ARE-709212/DF).
97 Art. 1º, Resolução CC/FGTS nº 780/2015: “O empregado doméstico, definido nos termos da Lei
Complementar nº 150, de 1º de junho de 2015, terá direito ao regime do FGTS, obrigatoriamente, a partir de
1º de outubro de 2015.”
98 Esse portal é responsável pelo cadastramento dos empregadores domésticos no simples doméstico e será
por meio dele que as informações necessárias ao depósitos das contribuições do Simples do Doméstico
devem acontecer, inclusive o depósito do montante de 8% relativos ao FGTS. Link de acesso:
http://www.esocial.gov.br/. Segundo informações do próprio site da Caixa Econômica Federal
(http://www.caixa.gov.br/empresa/fgts-empresas/FGTS-para-Empregador-
Domestico/Paginas/default.aspx): “A partir de 26/10/2015, será disponibilizado no portal eSocial
funcionalidade que permitirá a geração do DAE – Documento de Arrecadação do eSocial, guia única que
consolidará todos os recolhimentos devidos pelo empregador doméstico, conforme definido no Art. 34 da
Lei Complementar 150/2015.”
99. Informativo nº 91 do TST (confira texto integral ao final do capítulo).
Súmula nº 206 do TST. Incidência sobre parcelas prescritas
A prescrição da pretensão relativa às parcelas remuneratórias alcança o respectivo
recolhimento da contribuição para o FGTS.
A Súmula nº 362 do TST que versa sobre a prescrição do FGTS foi recentemente alterada
diante de recente julgamento do STF que alterou a disciplina do assunto. Violado o direito do
trabalhador, nasce a pretensão de exigi-lo judicialmente. Assim sendo, o empregado terá um
determinado prazo para exigir, na Justiça do Trabalho, o cumprimento da obrigação não
respeitada pelo empregador. O fundamento para a existência do prazo prescricional
encontra-se na paz social. Se não existisse a prescrição, as empresas deveriam guardar
documentos eternamente, esperando que um ex-empregado, algum dia, ajuizasse
reclamações trabalhistas. Tal fato ocasionaria insegurança nas relações jurídicas.
O prazo prescricional para ingressar na Justiça do Trabalho é de 2 anos a contar da
extinção do contrato. Após esse período, o empregado não terá o poder de exigir o pagamento
dos depósitos do FGTS.
A antiga redação da Súmula nº 362 do TST dispunha que, se observado o prazo de anos
para ingresso com a reclamação trabalhista, o trabalhador poderá pleitear os últimos trinta
anos. Era a chamada prescrição trintenária, expressamente prevista no art. 23, § 5º, da Lei nº
8.036/90100. Importante destacar que esse prazo de trinta anos estendia-se apenas aos
depósitos do FGTS, enquanto os valores das verbas trabalhistas abrangiam apenas os
últimos cinco anos.
Contudo, recentemente (novembro/2014), o STF101 ao julgar recurso especial com
repercussão geral, decidiu, por maioria de votos, pela redução do prazo de prescrição dos
depósitos do FGTS para 5 anos. Abandonou-se, portanto, a tese da prescrição trintenária há
muito consolidada na jurisprudência dos tribunais superiores.
O principal argumento utilizado para defender a redução no prazo prescricional gira
em torno da natureza jurídica do fundo. Para os ministros, os valores devidos ao FGTS
apresentam natureza jurídica trabalhista, uma vez que está previsto no rol de direitos
constitucionais assegurados aos trabalhadores (art. 7º, inciso III, CF/88). Seria, portanto,
um direito de índole social e trabalhista decorrente da relação de trabalho.
Portanto, com base nesse entendimento, o FGTS está sujeito ao prazo prescricional de
5 anos do art. 7º, inciso XXIX, CF/88 e, por isso, os art. 23, §5º, Lei nº 8.036/1990 e art. 55
do Regulamento do FGTS que determinam prazo prescricional de 30 anos foram
considerados inconstitucionais. Por fim, sustentou-se que a prescrição trintenária fere a
certeza e estabilidade nas relações jurídicas. Aliás, existe uma rede de proteção ao
trabalhador que permite a exigência do valor no prazo de 5 anos como, por exemplo, a
obrigatoriedade da comunicação dos depósitos aos trabalhadores e a possibilidade de
100. Art. 23, § 5º da Lei nº 8.036/90: “O processo de fiscalização, de autuação e de imposição de multas
reger-se-á pelo disposto no Título VII da CLT, respeitado o privilégio do FGTS à prescrição trintenária”
(grifos acrescidos).
101. Ver ARE 709.212/DF. Relator: Ministro Gilmar Mendes. Data de Julgamento: 13/11/2014.
cobrança dos valores pelos trabalhadores, sindicatos ou pela Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional.
Destaca-se ainda que não se justifica a intervenção do MPT na cobrança judicial dos
depósitos do FGTS, uma vez que existe estrutura administrativa própria para apurar e cobrar
esses débitos dos empregadores. Nesse sentido, o MTE é responsável pela fiscalização do
pagamento dos valores ao fundo e tem a prerrogativa de aplicar multa administrativa e lavrar
notificação fiscal com o valor devido, intimando o empregador para o pagamento. Por sua vez, a
Caixa Econômica Federal (CEF) é o Agente Operador do FGTS que realiza a cobrança
administrativa do valor devido, sendo autorizada a efetuar a inscrição em dívida ativa. Por fim,
caso não seja efetuado o pagamento, é atribuição da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional
efetuar a cobrança judicial do débito. Ademais, a própria Câmara de Coordenação e Revisão do
Ministério Público do Trabalho, órgão responsável pela homologação ou não dos arquivamentos
em processos administrativos realizados pelos Procuradores do Trabalho, somente legitima a
atuação do MPT em casos de grande impacto social:
Recurso Administrativo. Irregularidades nos depósitos do FGTS. A Câmara de
Coordenação e Revisão adotou o entendimento de que a CEF, o Ministério do
Trabalho e Emprego e a Procuradoria da Fazenda Nacional são legitimados
preferenciais para promover a tutela dos depósitos do FGTS. Tal entendimento não
afasta a legitimação ordinária do MPT para intervir, apenas nos casos de grande
impacto social. Recurso administrativo conhecido e não provido. Promoção de
arquivamento homologada. (Processo PGT/CCR/PP nº 16083/2013)
...
CAPÍTULO IX – AVISO PRÉVIO E TÉRMINO DO CONTRATO DE
TRABALHO
...
2.10. Incidência da multa do art. 477, § 8º, CLT no reconhecimento judicial da relação
de emprego
Súmula 462 do TST. Multa do art. 477, § 8º, da CLT. Incidência. Reconhecimento judicial da
relação de emprego.
A circunstância de a relação de emprego ter sido reconhecida apenas em juízo não tem o condão
de afastar a incidência da multa prevista no art. 477, § 8º, da CLT. A referida multa não será
devida apenas quando, comprovadamente, o empregado der causa à mora no pagamento das
verbas rescisórias.
Essa súmula foi recentemente (30/05/2016) editada pelo TST. No entanto, já
defendíamos o mesmo posicionamento adotado pela Súmula nº 462 nas edições anteriores
dessa obra.
Importante frisar, novamente, como feito nos comentários da súmula anterior, que o
pagamento das verbas rescisórias será efetuado no ato da homologação da rescisão do
contrato em dinheiro ou cheque visado. O empregado analfabeto deverá receber em
dinheiro, conforme previsto no art. 477, § 4º, da CLT. De acordo com o art. 477, § 6º, CLT, o
prazo para o pagamento das verbas rescisórias será realizado até:
a) o 1º dia útil imediato ao término do contrato nas hipóteses de aviso-prévio
trabalhado ou contrato por prazo determinado.
b) o 10º dia, contado da data em que o empregado foi informado da dispensa, nas
hipóteses de aviso-prévio indenizado102 ou no caso de dispensa por justa causa.
Se o empregador descumprir os prazos anteriores, será obrigado ao pagamento de multa
no valor equivalente ao salário do empregado, exceto se, comprovadamente, o trabalhador
foi quem deu causa ao atraso do pagamento. O pagamento dessa multa está previsto no art.
477 da CLT, aliás, na prática trabalhista, essa indenização é chamada de “multa do art. 477”:
Art. 477, § 8º, CLT: A inobservância do disposto no § 6º deste artigo sujeitará o infrator à
multa de 160 BTN, por trabalhador, bem assim ao pagamento da multa a favor do empregado,
em valor equivalente ao seu salário, devidamente corrigido pelo índice de variação do BTN, salvo
quando, comprovadamente, o trabalhador der causa à mora.
De acordo com o posicionamento do TST consubstanciado na súmula em apreço, a
multa do art. 477, § 8º, CLT é devida mesmo na hipótese de reconhecimento do
vínculo de emprego pelo Judiciário Trabalhista. O fato que enseja o pagamento da multa
do art. 477 da CLT não depende da data de reconhecimento do vínculo de emprego, seja ele
judicialmente ou não, mas tão somente o desrespeito ao prazos para pagamento das verbas
rescisórias previstos no art. 477, § 6º, CLT.
Conforme um dos julgados do TST que serviu como precedente para a edição da súmula
em análise, o provimento jurisdicional de reconhecimento do vínculo empregatício apenas
reconhece a relação jurídica de emprego já existente desde o início da prestação dos
serviços. Consequentemente, todas as verbas rescisórias já eram devidas após a extinção do
contrato de trabalho, observado o prazo legal para pagamento. Nesse sentido, confira parte
da ementa de referida jurisprudência:
3. MULTA PREVISTA NO ARTIGO 477 DA CLT. VÍNCULO DE EMPREGO RECONHECIDO
EM JUÍZO.
O provimento jurisdicional que implica o reconhecimento do vínculo de emprego tem
natureza jurídica declaratória, e não constitutiva, ou seja, reconhece a relação jurídica regida
pela CLT que havia desde o início da prestação de serviços, e, consequentemente, que as parcelas
rescisórias já eram devidas na época da quitação.
A reclamada incorreu em mora, ao não pagar as verbas no prazo, em decorrência da
controvérsia quanto ao vínculo.
Recurso de revista de que se conhece e a que se nega provimento. (...)
(RR - 938-23.2011.5.08.0014 Data de Julgamento: 24/06/2015, Relatora Ministra: Kátia
Magalhães Arruda, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 26/06/2015.)
A título de modificação histórica em sua jurisprudência, o TST cancelou em 2009 a OJ nº
351 da SDI-I103 que previa o não pagamento da multa do art. 477 da CLT quando houvesse
fundada controvérsai sobre a existência da obrigação cujo inadimplemento gerou a multa.
Com a redação da presente Súmula nº 462, o TST passou a adotar o posicionamento de que,
102. Orientação Jurisprudencial nº 14 da SDI – I do TST: “Em caso de aviso-prévio cumprido em
casa, o prazo para pagamento das verbas rescisórias é até o décimo dia da notificação de despedida”.
103 OJ nº 351 da SDI-I do TST (CANCELADA): Incabível a multa prevista no art. 477, § 8º, da CLT, quando
houver fundada controvérsia quanto à existência da obrigação cujo inadimplemento gerou a multa.
ainda que presente controvérsia acerca do vínculo de emprego, se ele for reconhecido em
juízo, não exclui, por si só, o pagamento da multa do art. 477 da CLT.
Em sentido contrário, a jurisprudência do TRT da 9ª Região afasta a aplicação da multa
do art. 477, § 8º, CLT quando o caso apresentar razoável controvérsia sobre a existência ou
não do vínculo de emprego. Nesse sentido, a recente Súmula do TRT:
Súmula nº 26 do TRT da 9ª Região. Multa do art. 477, § 8º da CLT. Vínculo de emprego
reconhecido em juízo.
Reconhecido o vínculo de emprego, de razoável controvérsia, em decisão judicial, não é
aplicável a multa do art. 477, § 8º, da CLT.
Além disso, a súmula nº 462 do TST prevê que a multa do art. 477, § 8º, CLT não será
devida se o empregado tiver dado causa à mora no pagamento das verbas rescisórias. Assim,
se a culpa do não cumprimento dos prazos para pagamento das verbas rescisórias for do
empregado, não terá direito ao recebimento da multa do art. 477 da CLT quando o vínculo
for reconhecido em juízo.
Por outro lado, há jurisprudência de Tribunais Regionais do Trabalho que estabelece o
pagamento da multa do art. 477 da CLT na hipótese da justa causa ser desconstituída ou
revertida pela Justiça:
Súmula nº 30 do TRT – 1ª Região. Sanção do artigo 477, § 8º, da CLT.
Reconhecido o vínculo de emprego ou desconstituída a justa causa, impõe-se a cominação.
Súmula nº 36 do TRT da 3ª Região: Reversão da justa causa em juízo. Multa do § 8º
do art. 477 da CLT.
A reversão da justa causa em juízo enseja, por si só, a condenação ao pagamento da multa
prevista no § 8º do art. 477 da CLT.
Súmula nº 58 do TRT – 4ª Região – Multas do art. 477, § 8º da CLT.
A circunstância de a relação de emprego ter sido reconhecida em juízo não afasta o direito
à multa prevista no art. 477, § 8º, da CLT.
Em que pese a pacificação do TST em relação ao pagamento da multa do art. 477 da CLT
na hipótese de reconhecimento do vínculo de emprego, o tema é controverso na
jurisprudência dos TRTs. De acordo com a jurisprudência do próprio TRT da 1ª Região e do
TRT da 2ª Região, não será devido o pagamento da multa quando houver o reconhecimento
judicial de diferenças nos valores das verbas rescisórias ou na hipótese de dispensa por
justa causa afastada em juízo:
Súmula nº 33 do TRT da 2ª Região: Multa do art. 477, § 8º, da CLT. Cabimento.
I. A rescisão contratual por justa causa, quando afastada em juízo, não implica condenação
na multa.
II. O reconhecimento mediante decisão judicial de diferenças de verbas rescisórias não
acarreta a aplicação da multa.
Súmula nº 54 do TRT da 1ª Região: Multa do artigo 477, § 8º, da CLT. Diferenças
rescisórias reconhecidas em juízo. Não incidência.
O reconhecimento, em juízo, de diferenças de verbas rescisórias não dá ensejo, por si só, à
aplicação da penalidade prevista no parágrafo 8º do artigo 477 da CLT.
Súmula nº 10 do TRT da 11ª Região. Multa rescisória indevida na despedida indireta.
Inaplicável a multa prevista no art. 477 , § 8º., da CLT, quando reconhecida em juízo a
rescisão indireta do contrato de trabalho.
Súmula nº 36 do TRT da 17ª Região. Multa do artigo 477, § 8°, da CLT. Diferenças de
verbas rescisórias ou vínculo empregatício reconhecidos em juízo. Cabimento.
O reconhecimento judicial de diferenças de parcelas rescisórias não implica o deferimento
da multa prevista no art. 477, § 8°, da CLT, por ausência de previsão legal. Esta sanção é
aplicável nas hipóteses em que for descumprido o prazo estabelecido no § 6° do
dispositivo celetista e nos casos de inadimplemento quando o vínculo empregatício for
reconhecido em Juízo.
Por fim, de acordo com a jurisprudência dos TRTs da 8ª e 17ª Regiões, a multa do art.
477 da CLT não é devida na hipótese de atraso na homologação das verbas rescisórias
quando o empregador não der causa ao atraso, mas tão somente no caso de atraso no seu
pagamento em pecúnia ao trabalhador:
Súmula nº 33 do TRT da 8ª Região. Multa do art. 477, § 8º, da CLT. Incidência.
A multa do art. 477, § 8º, da CLT, somente se aplica quando houver atraso no
pagamento in pecunia das verbas rescisórias, descabendo em caso de atraso na
homologação do TRCT
Súmula nº 25 do TRT da 17ª Região. Atraso na homologação do TRCT. Multa do art. 477
da CLT.
Havendo o pagamento das verbas rescisórias no prazo previsto no art. 477, § 6º, da CLT, o
atraso na homologação do TRCT não implica em pagamento da multa prevista no § 8º da
referida norma, desde que o empregador não tenha dado causa.
Por fim, cabe destacar o avanço na publicação da nova Súmula n 462 do TST, que pacifica
a discussão sobre a aplicação da multa do art. 477 quando houver o reconhecimento do
vínculo em juízo. Seria muito interessante, também, se o Tribunal Superior do Trabalho
pudesse sedimentar seu posicionamento, sobre o pagamento da multa do art. 477, nos
demais pontos acima tratados: reversão da justa causa, diferenças dos valores de verbas
rescisórias e atraso na realização da homologação do termo de rescisão do contrato.
2.13. Homologação das verbas trabalhistas e a quitação
Súmula nº 330 do TST. Quitação. Validade
A quitação passada pelo empregado, com assistência da entidade sindical de sua categoria, ao
empregador, com observância dos requisitos exigidos nos parágrafos do art. 477, da CLT, tem
eficácia liberatória em relação às parcelas expressamente consignadas no recibo, salvo se
oposta ressalva expressamente e especificada ao valor dado à parcela ou parcelas impugnadas.
I - A quitação não abrange parcelas não consignadas no recibo de quitação e,
consequentemente, seus reflexos em outras parcelas, ainda que essas constem desse recibo.
II - Quanto a direitos que deveriam ter sido satisfeitos durante a vigência do contrato de
trabalho, a quitação é válida em relação ao período expressamente consignado no recibo de
quitação.
Inicialmente, cabe esclarecer que o termo de rescisão do contrato de trabalho, firmado
por empregado com mais de 1 ano de serviço, somente será válido quando feito com a
assistência do respectivo sindicato104 ou perante a autoridade do Ministério do Trabalho e
Emprego, conforme previsto no art. 477, § 1º, da CLT. Aliás, a assistência sindical ou do MTE
104. A homologação das verbas rescisórias do empregado menor de 18 anos deverá ser assistida pelo
representante legal, conforme art. 439 da CLT.
não é mera formalidade105, pois, na ausência dessa homologação, o pedido de demissão do
empregado será convertido em dispensa sem justa causa.
No tocante aos empregados domésticos, entendemos que, diante da aplicação subsidiária
da CLT estabelecida pelo art. 19, “caput”, da LC nº 150/2015106, há compatibilidade com a
nova legislação do doméstico a obrigatoriedade de homologação das verbas rescisórias
desses empregados nos moldes previstos no art. 477 da CLT.
Se o empregado tiver até 1 ano de serviço, o recibo será feito pela própria empresa, sem
a necessidade de assistência do sindicato ao MTE. No entanto, para as empregadas gestantes,
ainda que o pedido de demissão ocorra em período inferior a 1 ano, será necessária a
assistência do sindicato na homologação das verbas rescisórias, utilizando-se do
entendimento previsto no art. 500 da CLT:
Art. 500, CLT: O pedido de demissão do empregado estável só será válido quando feito
com a assistência do respectivo Sindicato e, se não o houver, perante autoridade local
competente do Ministério do Trabalho e Previdência Social ou da Justiça do Trabalho.
Se na localidade não houver sindicato da categoria ou MTE, a assistência na
homologação será prestada pelo representante do Ministério Público ou, onde houver, pelo
defensor público e, na falta ou impedimento destes, pelo juiz de Paz. Quanto ao MP, se na
localidade houver Ministério Público do Trabalho – MPT, deve ser ele o legitimado para
homologar as verbas rescisórias. Na falta do MPT, caberá ao Ministério Público Estadual.
De acordo com a jurisprudência consolidada do TRT da 2ª Região, a ausência de
homologação não invalida o pedido de demissão que poderá ser demonstrado por outros
meios de prova:
Súmula nº 30 do TRT – 2ª Região. Pedido de demissão. Contrato de trabalho com
mais de um ano de vigência. Ausência de homologação. Efeitos.
A ausência de homologação, de que trata o artigo 477, § 1º, da CLT, não invalida o pedido
de demissão demonstrado por outros meios de prova.
De acordo com o art. 477, § 7º, CLT, o ato da assistência na rescisão contratual será sem
ônus para o trabalhador e empregador. Assim, não é permitida aos sindicatos a cobrança de
nenhum valor ao realizar a assistência na homologação das verbas rescisórias dos
empregados. Destaca-se que o órgão do Ministério do Trabalho também deverá prestar os
serviços de forma gratuita, uma vez que oferece um serviço público custeado por
impostos107.
Nesse sentido, a OJ nº 16 da SDC do TST108 estabelece que a cláusula coletiva que
105. RR - 38500-64.2008.5.04.0020
106. Art. 19, “caput”, LC nº 150/2015: “Observadas as peculiaridades do trabalho doméstico, a ele
também se aplicam as Leis nº 605, de 5 de janeiro de 1949, no 4.090, de 13 de julho de 1962, no 4.749, de
12 de agosto de 1965, e no 7.418, de 16 de dezembro de 1985, e, subsidiariamente, a Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943.” (grifos
acrescidos)
107. MOURA, Marcelo. Consolidação das Leis do Trabalho para concursos. 4. ed. Salvador: Juspodivm,
2014. p. 553.
108. É contrária ao espírito da lei (art. 477, § 7º, da CLT) e da função precípua do sindicato a cláusula
estabelece a necessidade de pagamento pela empresa de taxa de homologação ao sindicato
profissional é contrária ao disposto no referido art. 477, § 7º, CLT que prevê a gratuidade da
assistência sindical na homologação das verbas rescisórias. Ademais, cumpre ressaltar que a
defesa dos interesses da categoria profissional em âmbito administrativo e judicial é
atribuição dos sindicatos conforme art. 8º, inciso III, CF/88. A exigência de taxa de
homologação na rescisão contratual fere a própria essência do sindicato, uma vez que os
empregados vão diminuir a busca do órgão para a defesa administrativa de seus interesses.
Ressalta-se que a Súmula nº 330, agora em análise, trata da rescisão feita apenas pelo
sindicato, mas, na ausência da homologação pelo sindicato, a súmula será aplicada também
às quitações efetuadas pelos demais órgãos.
O pagamento será efetuado no ato da homologação da rescisão do contrato em dinheiro
ou cheque visado. O empregado analfabeto deverá receber em dinheiro, conforme previsto
no art. 477, § 4º, da CLT.
O prazo para o pagamento das verbas rescisórias será realizado até:
a) o 1º dia útil imediato ao término do contrato nas hipóteses de aviso-prévio
trabalhado ou contrato por prazo determinado.
b) o 10º dia, contado da data em que o empregado foi informado da dispensa, nas
hipóteses de aviso-prévio indenizado109 ou no caso de dispensa por justa causa.
Se o empregador descumprir os prazos anteriores, será obrigado ao pagamento de multa
no valor equivalente ao salário do empregado, exceto se, comprovadamente, o trabalhador
foi quem deu causa ao atraso do pagamento ou, ainda, se a demora no pagamento das verbas
ocorreu em virtude da morosidade dos órgãos responsáveis pela homologação.
Ademais, há discussão doutrinária quanto aos efeitos da ausência de assistência no ato de
homologação das verbas rescisórias. Há quem defenda a ideia de que essa ausência geraria
dispensa por justa causa do empregado que não comparece para a homologação conforme
posicionamento a seguir:
O empregador não tem como obrigar o empregado a emitir sua declaração de
vontade por escrito ou a comparecer no sindicato para homologar a quitação ou
pedido de demissão. Portanto, algumas vezes o empregador transforma o pedido de
demissão não formalizado em abandono de emprego.110
Recentemente (novembro/2015), o TST decidiu que a ausência da homologação das verbas
rescisórias pelo sindicato ou por autoridade do MTE torna inválido o pedido de demissão do
empregado, ainda que este confesse em juízo sua vontade de por fim ao contrato de trabalho.
No caso, os ministros entenderm que há presunção de demissão sem juta causa do trabalhador:
Empregado com mais de um ano de serviço. Assistência sindical e
homologação da rescisão do contrato de trabalho. Ausência. Nulidade do
pedido de demissão. Art. 477, § 1º, da CLT. Presunção de demissão sem justa
coletiva que estabelece taxa para homologação de rescisão contratual, a ser paga pela empresa a favor do
sindicato profissional.
109. Orientação Jurisprudencial nº 14 da SDI – I do TST: “Em caso de aviso-prévio cumprido em casa, o
prazo para pagamento das verbas rescisórias é até o décimo dia da notificação de despedida”.
110 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 6. ed. Niterói: Impetus, 2012. p. 1.073.
causa. Irrelevância da confissão de rescisão a pedido pelo empregado. A
rescisão de contrato de trabalho de empregado que prestou serviços por mais de
um ano deve ser homologada pelo sindicato respectivo ou por autoridade do
Ministério do Trabalho, nos termos do art. 477, § 1º, da CLT. Do contrário, é
inválido o pedido de demissão do empregado, ainda que ele confesse em juízo a sua
disposição inicial de desligamento contratual, devendo a despedida ser reconhecida
como imotivada. Com efeito, a norma é cogente e assegura a prevalência do
princípio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas, de modo que a declaração
de que o pedido de demissão se deu sem vício de vontade não supre o requisito da
assistência sindical, imposto pela lei. Sob esse entendimento, a SBDI-I, por maioria,
conheceu do recurso de embargos do reclamante, por divergência jurisprudencial,
vencidos os Ministros Hugo Carlos Scheuermann, relator, Ives Gandra da Silva
Martins Filho, Renato de Lacerda Paiva e Walmir Oliveira da Costa. No mérito, por
unanimidade, a Subseção deu provimento aos embargos para, declarada a
invalidade do pedido de demissão, determinar o retorno dos autos ao juízo de
origem para novo julgamento como entender de direito, agora sob a premissa de
que a despedida ocorreu sem justa causa. TST-E-RR- 825-12.2010.5.09.0003, SBDI-
I, rel. Min. Hugo Carlos Scheuermann, 19.11.2015 (Informativo nº 124)
Em que pese os argumentos apresentados pelo TST, discordamos dessa invalidade do
pedido de demissão diante da ausência de homologação das verbas rescisórias, uma vez que
inexistente previsão legal que autorize essa invalidação, além de haver, inclusive, confissão do
empregado quanto à realização do pedido de demissão. Além disso, é comum que a
homologação venha a ocorrer nos sindicatos após alguns meses e, em alguns casos, até em
períodos superiores a 1 ano da extinção do contrato de trabalho. Em momentos de crises
econômicas, como a atual, é compreensível que o prazo para a homologação das verbas
aumente, uma vez que se verifica o acréscimo no número de desempregados e maior demanda
da assistência sindical.
É importante destacar, também, que o prazo para o pagamento das verbas rescisórias está
previsto na CLT e que a sanção cabível no caso de atraso no pagamento é a aplicação de multa
no valor de um salário do empregado. Dessa forma, não parece razoável que a ausência do
pagamento das verbas tenha como consequência apenas a aplicação de uma multa, enquanto a
ausência de homologação, ato posterior com intuito de confirmação dos pagamentos efetuados,
tenha como efeito a conversão em dispensa sem justa causa. Na hipótese de atraso na
homologação por culpa do sindicato, entendo que é possível o ajuizamento de ação de
obrigação de fazer que determine que o sindicato realize a homologação sob pena do
pagamento de multa por atraso.
Diante de crises econômicas, surge o questionamento quanto à viabilidade do
parcelamento das verbas rescisórias. Não há, contudo, dispositivo legal que permita o
pagamento parcelado das verbas rescisórias com a assistência do sindicato ou do MTE.
Nesse sentido, é importante ressaltar o posicionamento do TST 111 que sustenta a
manutenção da multa do art. 477, §8º, da CLT por atraso no pagamento das verbas
rescisórias mesmo com acordo coletivo firmado que garanta seu parcelamento. O tribunal
argumentou no sentido de que essa multa é norma cogente e, portanto, não pode ser alvo de
negociação coletiva.
Na prática, esse parcelamento pode ser feito perante a Justiça do Trabalho, com a devida
homologação pelo juiz. Sustentamos também a possibilidade de realização do parcelamento
111. Informativo nº 91 do TST (confira texto integral ao final do capítulo)
pelo MPT por meio da celebração de TAC – Termo de Ajustamento de Conduta.
Com fundamento na transparência e lealdade contratual, o recibo de quitação deverá
especificar a natureza de cada parcela paga ao empregado e, ainda, discriminar o seu valor. A
quitação com a devida assistência dos órgãos anteriormente mencionados (contrato com
mais de 1 ano) possibilita a eficácia liberatória em relação às parcelas expressamente
previstas no recibo. No tocante a essas parcelas quitadas, não cabe, em regra112, ação
judicial para discuti-las novamente. As parcelas expressamente ressalvadas poderão ser
pleiteadas na Justiça do Trabalho.
Importante frisar que o papel do sindicato é apenas assistir o trabalhador na rescisão do
contrato de trabalho, esclarecendo quais parcelas e valores são devidos e, ainda, efetuar a
homologação. Dessa forma, não há previsão em lei que possibilite o sindicato (ou demais
órgãos incumbidos da homologação) a realizar transação de verbas rescisórias. As únicas
previsões em lei que possibilitam a transação (acordo) de verbas rescisórias refere-se à
Comissão de Conciliação Prévia, prevista no art. 625-A da CLT e ao PDV – Programa de
Demissão Voluntária.
O PDV tem por objetivo conceder uma vantagem pecuniária ao empregado que se
desligar do trabalho voluntariamente. É utilizado para reduzir os quadros da empresa e
também para colocar fim ao contrato de trabalho. Importante destacar, entretanto, que o
TST tem posicionamento no sentido de que a indenização paga no PDV não pode substituir
as verbas trabalhistas decorrentes do contrato de trabalho. Aliás, o empregado que adere
ao PDV não concede quitação geral do contrato, podendo, no futuro, discutir parcelas que
não foram devidamente quitadas. A seguir será transcrita a jurisprudência do TST:
OJ nº 270 da SDI-I do TST. A transação extrajudicial que importa rescisão do contrato de
trabalho ante a adesão do empregado a plano de demissão voluntária implica quitação
exclusivamente das parcelas e valores constantes do recibo.
OJ nº 356 da SDI-I do TST. Os créditos tipicamente trabalhistas reconhecidos em juízo
não são suscetíveis de compensação com a indenização paga em decorrência de adesão do
trabalhador a Programa de Incentivo à Demissão Voluntária (PDV).
No entanto, recentemente (abril/2015), o plenário do STF113 adotou posição contrária à
OJ nº 270 da SDI-I do TST ao decidir pela validade da cláusula de quitação geral ampla e
irrestrita das verbas trabalhistas decorrentes do contrato de trabalho desde que previstas
em acordo coletivo e nos demais instrumentos assinados pelo empregado. Sustentou-se que
a igualdade existente entre os entes coletivos (sindicato da categoria profissional e a
empresa) possibilitaria a quitação geral das verbas trabalhistas.
4. SÚMULAS DOS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO
112. Lembre-se de que nenhuma lei, decreto, e claro, muito menos uma súmula, poderá excluir da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito, conforme previsto no art. 5º, XXXV, da CF/88.
Assim sendo, caso o trabalhador se entenda prejudicado ou, ainda, tenha ocorrido qualquer vício do
consentimento – erro, dolo, coação – ele poderá discutir, novamente, os valores e parcelas já pagos.
113. RE nº 590415/SC – Relator Min. Roberto Barroso – Data de julgamento: 30/04/2015.
(ACRESCENTADAS AO CAPÍTULO IX – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Aviso-prévio
Súmula n° 35 do TRT da 17ª Região. Aviso prévio proporcional. Lei nº 12.506/2011. Princípio da proibição do retrocesso social. Direito exclusivo do trabalhador.
Em respeito ao princípio do não-retrocesso social, o aviso prévio proporcional instituído pela Constituição Federal (art. 7º, inciso XXI) e regulamentado pela Lei nº 12.506/2011 é direito exclusivo do trabalhador.
Dano moral. Atraso no pagamento de salários.
Súmula nº 33 do TRT da 9ª Região: Atraso reiterado ou não pagamento de salários ou de verbas rescisórias. Dano moral. Indenização.
I - O atraso reiterado ou o não pagamento de salários caracteriza, por si, dano moral, por se tratar de dano in re ipsa;
II - O atraso ou o não pagamento das verbas rescisórias devidas não caracteriza, por si, dano moral, sendo necessária a prova de circunstâncias objetivas ensejadoras do dano.
Sanção do art. 477, § 8º, CLT. Homologação das verbas trabalhistas
Súmula nº 54 do TRT da 1ª Região: Multa do artigo 477, § 8º, da CLT. Diferenças rescisórias reconhecidas em juízo. Não incidência.
O reconhecimento, em juízo, de diferenças de verbas rescisórias não dá ensejo, por si só, à aplicação da penalidade prevista no parágrafo 8º do artigo 477 da CLT.
Súmula nº 48 do TRT da 3ª Região: Multa do § 8º do art. 477 da CLT. Falta de pagamento das verbas rescisórias no prazo legal. Cabimento. A aplicação da multa prevista no § 8º do art. 477 da CLT está restrita à falta de pagamento das verbas rescisórias no prazo fixado pelo § 6º.
Súmula nº 10 do TRT da 11ª Região. Multa rescisória indevida na despedida indireta.
Inaplicável a multa prevista no art. 477 , § 8º., da CLT, quando reconhecida em juízo a rescisão indireta do contrato de trabalho.
Súmula nº 25 do TRT da 17ª Região. Atraso na homologação do TRCT. Multa do art. 477 da CLT.
Havendo o pagamento das verbas rescisórias no prazo previsto no art. 477, § 6º, da CLT, o atraso na homologação do TRCT não implica em pagamento da multa prevista no § 8º da referida norma, desde que o empregador não tenha dado causa.
Súmula nº 26 do TRT da 17ª Região. Empresa em recuperação judicial. Art. 477, § 8º, DA CLT.
O deferimento da recuperação judicial não desonera a empresa do pagamento das verbas trabalhistas dentro do prazo legal. O atraso na quitação das parcelas da rescisão sujeita o empregador à cominação estabelecida no art. 477, § 8º, da CLT.
Súmula nº 36 do TRT da 17ª Região. Multa do artigo 477, § 8°, da CLT. Diferenças de verbas rescisórias ou vínculo empregatício reconhecidos em juízo. Cabimento.
O reconhecimento judicial de diferenças de parcelas rescisórias não implica o deferimento da multa prevista no art. 477, § 8°, da CLT, por ausência de previsão legal. Esta sanção é aplicável nas hipóteses em que for descumprido o prazo estabelecido no § 6° do dispositivo celetista e nos casos de inadimplemento quando o vínculo empregatício for reconhecido em Juízo.
Súmula nº 16 do TRT da 24ª Região: Multa do art. 477, § 8º, da CLT – aplicabilidade.
A multa prevista no art. 477, § 8º, é devida apenas em caso de pagamento extemporâneo das verbas rescisórias, não se aplicando na hipótese de atraso na homologação da rescisão contratual.
5. INFORMATIVOS DO TST
(ACRESCENTADOS AO CAPÍTULO IX – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Dispensa discriminatória
Banco do Estado do Espírito Santo – Banestes. Plano Antecipado de Afastamento Voluntário.
Discriminação em razão da idade. Configuração.
A rescisão do contrato de trabalho com fundamento nas Resoluções nº 696/2008 e 697/2008 do Banco do Estado do Espírito Santo – Banestes é nula, pois revela discriminação fundada na idade do trabalhador, atraindo os efeitos da Lei nº 9.029/1995. Na espécie, conquanto as referidas resoluções não mencionem expressamente a idade do empregado, a política de desligamento e enquadramento no Plano Antecipado de Afastamento Voluntário adotou critérios de elegibilidade relacionados ao tempo de serviço (trinta anos ou mais) e ao direito à aposentadoria integral pela Previdência oficial, atingindo, portanto, os empregados de maior idade e que dedicaram toda a vida profissional à empresa. Ademais, a indenização prevista não teve o condão de compensar a dispensa, pois correspondeu estritamente ao pagamento de verbas trabalhistas devidas se o vínculo de emprego estivesse mantido, considerando os meses faltantes para os marcos temporários definidos nas resoluções em questão, não visando, portanto, compensar o empregado pela despedida precoce. Sob tais fundamentos, a SBDI-I, por unanimidade, conheceu dos embargos, por divergência jurisprudencial, e, no mérito, por maioria, negou-lhe provimento, mantendo a decisão turmária que reconhecera a ocorrência de dispensa discriminatória por idade. Vencidos os Ministros Aloysio Corrêa da Veiga, Renato de Lacerda Paiva e Guilherme Augusto Caputo Bastos. TST-ERR-41700-02.2010.5.17.0003, SBDI-I, rel. Min. Márcio Eurico Vitral Amaro, 17.3.2016 (Informativo nº 130)
Multa do art. 477 da CLT
Empregado com mais de um ano de serviço. Assistência sindical e homologação da rescisão do
contrato de trabalho. Ausência. Nulidade do pedido de demissão. Art. 477, § 1º, da CLT. Presunção de
demissão sem justa causa. Irrelevância da confissão de rescisão a pedido pelo empregado.
A rescisão de contrato de trabalho de empregado que prestou serviços por mais de um ano deve ser homologada pelo sindicato respectivo ou por autoridade do Ministério do Trabalho, nos termos do art. 477, § 1º, da CLT. Do contrário, é inválido o pedido de demissão do empregado, ainda que ele confesse em juízo a sua disposição inicial de desligamento contratual, devendo a despedida ser reconhecida como imotivada. Com efeito, a norma é cogente e assegura a prevalência do princípio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas, de modo que a declaração de que o pedido de demissão se deu sem vício de vontade não supre o requisito da assistência sindical, imposto pela lei. Sob esse entendimento, a SBDI-I, por maioria, conheceu do recurso de embargos do reclamante, por divergência jurisprudencial, vencidos os Ministros Hugo Carlos Scheuermann, relator, Ives Gandra da Silva Martins Filho, Renato de Lacerda Paiva e Walmir Oliveira da Costa. No mérito, por unanimidade, a Subseção deu provimento aos embargos para, declarada a invalidade do pedido de demissão, determinar o retorno dos autos ao juízo de origem para novo julgamento como entender de direito, agora sob a premissa de que a despedida ocorreu sem justa causa. TST-E-RR- 825-12.2010.5.09.0003, SBDI-I, rel. Min. Hugo Carlos Scheuermann, 19.11.2015 (Informativo nº 124)
Danos morais. Ausência ou atraso na quitação das verbas rescisórias. Indenização indevida.
A ausência ou o atraso no pagamento das verbas rescisórias não é suficiente para caracterizar a ocorrência de danos morais. No caso, embora reconhecido o atraso, pelo empregador, no adimplemento da obrigação de quitar as verbas rescisórias, não houve registro de qualquer consequência concreta (impossibilidade de saldar compromissos, constituição em mora, perda de crédito, etc) que pudesse comprometer a honra e a imagem do empregado. Sob esses fundamentos, a SBDI-I, por unanimidade, conheceu dos embargos interpostos pelo reclamante, por divergência jurisprudencial, e, no mérito, por maioria, negou-lhes provimento. Vencido o Ministro Alexandre de Souza Agra Belmonte. TST-E-RR-571-13.2012.5.01.0061, SBDI-I, rel. Min. Lelio Bentes Corrêa, 17.3.2016 (Informativo nº 130)
CAPÍTULO X – PRECRIÇÃO E DECADÊNCIA
1.6.4. Aplicação do protesto judicial ao processo do trabalho. Causa de interrupção do
prazo
Orientação Jurisprudencial nº 392 da SDI – I do TST. Prescrição. Interrupção.
Ajuizamento de protesto judicial. Marco inicial.
O protesto judicial é medida aplicável no processo do trabalho, por força do art. 769 da CLT e do
art. 15 do CPC de 2015. O ajuizamento da ação, por si só, interrompe o prazo prescricional, em
razão da inaplicabilidade do § 2º do art. 240 do CPC de 2015 (§ 2º do art. 219 do CPC de 1973),
incompatível com o disposto no art. 841 da CLT.
O protesto judicial era medida prevista no art. 867 do CPC/73, consistindo em processo
cautelar de finalidade satisfativa daquele que desejasse “prevenir responsabilidade, prover a
conservação e ressalva de seus direitos ou manifestar qualquer intenção de modo formal”.
Com o advento do Novo CPC o processo cautelar foi extinto como processo autônomo,
abolindo-se as cautelares nominadas. No entanto, passou a admitir as cautelares de forma
genérica no art. 301 ao descrever que “a tutela de urgência de natureza cautelar pode ser
efetivada mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra
alienação de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração do direito”.
A propósito, a nosso juízo, no NCPC o protesto deve seguir os procedimentos previstos
nos arts. 726 a 729, por expressa disposição do art. 726, § 2º, in verbis:
§ 2º Aplica-se o disposto nesta Seção, no que couber, ao protesto judicial.
De qualquer modo, havendo omissão e compatibilidade com o processo do trabalho, o
protesto judicial é aplicável à seara laboral.
O protesto judicial serve especialmente para ressalvar e conservar diretos, como ocorre
no protesto interruptivo da prescrição (CC/02, art. 202, II). Dúvida existia, porém, sobre
qual o momento que a prescrição seria interrompida.
Para uns, aplicava-se o CPC, que na época do CPC/73 ocorria com a citação válida,
embora retroagisse à propositura da ação (art. 219). No Novo CPC, a interrupção é operada
pelo despacho que ordena a citação, também retroagindo à data da propositura da ação (art.
240, § 1º). Tal interrupção não ocorrerá se o autor não adotar, no prazo de 10 dias, as
providências necessárias para viabilizar a citação (art. 240, § 2º).
O C. TST não adotou tal tese, declinando que o simples ajuizamento da ação já é capaz de
operar a interrupção da prescrição. Isso ocorre porque a citação, no processo do trabalho,
decorre de atuação automática da secretaria, não dependendo de despacho do juiz, como se
observa pelo art. 841 da CLT, in verbis:
Art. 841 da CLT: Recebida e protocolada a reclamação, o escrivão ou secretário, dentro de
48 horas, remeterá a segunda via da petição, ou do termo, ao reclamado, notificando-o ao
mesmo tempo, para comparecer à audiência do julgamento, que será a primeira
desimpedida, depois de 5 (cinco) dias.
Ademais, tal dispositivo atribui, exclusivamente ao Poder Judiciário, o ônus de promover
a notificação da parte contrária, não havendo que se invocar o art. 240, § 2º, do NCPC.
Portanto, no processo do trabalho, o ajuizamento, por si só, do protesto judicial já é
suficiente para interromper a prescrição.
...
1.17. Legitimidade para arguir de prescrição em favor de entidade de direito público
Orientação Jurisprudencial nº 130 da SDI – I do TST. Prescrição. Ministério Público.
Arguição. “Custos legis”. Ilegitimidade
Ao exarar o parecer na remessa de ofício, na qualidade de custos legis, o Ministério Público não
tem legitimidade para arguir a prescrição em favor de entidade de direito público, em matéria
de direito patrimonial.
...
CAPÍTULO XI – DIREITO COLETIVO DO TRABALHO
...
2. PERÍODO DE VIGÊNCIA DA SENTENÇA NORMATIVA E DAS CONVENÇÕES E ACORDOS
COLETIVOS
Súmula nº 277 do TST. Convenção coletiva de trabalho ou acordo coletivo de trabalho.
Eficácia. Ultratividade
As cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções coletivas integram os contratos
individuais de trabalho e somente poderão ser modificadas ou suprimidas mediante negociação
coletiva de trabalho.
Orientação Jurisprudencial nº 322 da SDI – I do TST. Acordo coletivo de trabalho. Cláusula
de termo aditivo prorrogando o acordo para prazo indeterminado. Inválida
Nos termos do art. 614, § 3º, da CLT, é de 2 anos o prazo máximo de vigência dos acordos e das
convenções coletivas. Assim sendo, é inválida, naquilo que ultrapassa o prazo total de 2 anos, a
cláusula de termo aditivo que prorroga a vigência do instrumento coletivo originário por prazo
indeterminado.
...
2.3. Após a alteração da Súmula nº 277 do TST
Mesmo antes da alteração promovida pelo TST, havia uma corrente doutrinária que
defendia a teoria da aderência limitada por revogação114, ou seja, enquanto não houvesse
um novo acordo ou convenção que modificasse a situação do instrumento ajustado, ele
continuava em vigor, mesmo após terminado o seu prazo de vigência.
De acordo com prof. Maurício Godinho Delgado: “os dispositivos dos diplomas 114. “A ultra-atividade segue ao menos dois modelos, que se distinguem pelo seu caráter condicionado
ou incondicionado: a ultra-atividade incondicionada dá-se em alguns países nos quais uma conquista
obreira obtida mediante negociação coletiva não pode ser jamais suprimida, incorporando-se
definitivamente ao patrimônio dos trabalhadores; noutros países, a ultra-atividade da cláusula resultante de
negociação coletiva está condicionada à inexistência de norma coletiva posterior que a revogue, ou seja, a
cláusula normativa pode ser suprimida ou quiçá ter o seu alcance reduzido mediante norma coletiva
superveniente, imunizando-se seu conteúdo somente quanto à incidência das alterações individuais do
contrato de trabalho.” GODINHO, Maurício Delgado; CARVALHO, Augusto César Leite; ARRUDA, Kátia
Magalhães. A Súmula nº 277 e a Defesa da Constituição. Artigo retirado do site do TST: www.tst.jus.br
negociados vigoram até que novo diploma negocial os revogue”. Havia, inclusive, a Lei nº
8.542/92 nesse sentido. Essa lei não está mais em vigor.
O TST já havia sinalizado a mudança do posicionamento quando modificou a Súmula nº
277, para prever essa exceção, conforme constava no item II da antiga redação: “Ressalva-se
na regra enunciada no item I o período compreendido entre 23.12.1992 e 28.7.1995, em que
vigorou a Lei nº 8.542, revogada pela MP nº 1.709, convertida em Lei nº 10.192/2001”.
Atualmente, com o novo texto da Súmula 277, agora em análise, não restam dúvidas de
que as conquistas obtidas vigorarão até que um novo instrumento coletivo as revogue ou
altere. Assim sendo, diante da inércia ou recusa de algum sindicato ou empresa em voltar à
mesa de negociação, após o término do prazo fixado no acordo ou convenção ou no fim de 2
anos (prazo legal), os trabalhadores não serão prejudicados, pois as cláusulas continuarão
tendo vigência normalmente.
De acordo com a corrente doutrinária que defende a tese agora estampada na Súmula nº
277:
“A ultra-atividade condicional, ou seja, aquela que faz a norma coletiva prevalecer até que
a cláusula de interesse seja eventualmente derrogada por norma coletiva posterior,
promove a harmonia entre os atores coletivos da relação laboral, impondo a negociação
coletiva de trabalho como um modo necessário de rever conquistas obreiras, sem o
artifício de tê-las suprimidas pela mera passagem do tempo115.”
Ademais, cumpre destacar que o TRT da 5ª Região editou a Súmula nº 2 que sustenta a
ultratividade da norma coletiva:
Súmula nº 2 do TRT da 5ª Região: As cláusulas normativas, ou seja, aquelas relativas às
condições de trabalho, constantes dos instrumentos decorrentes da autocomposição
(Acordo Coletivo de Trabalho e Convenção Coletiva de Trabalho) gozam do efeito ultra-
ativo, em face do quanto dispõe o art. 114, § 2º, da Constituição Federal de 1988,
incorporando-se aos contratos individuais de trabalho, até que venham a ser modificadas
ou excluídas por outro instrumento da mesma natureza.
Inegável que essa alteração jurisprudencial é, num primeiro momento, muito favorável
aos trabalhadores, pois permite-se que os direitos conquistados sejam mantidos mesmo
após o término de vigência dos instrumentos normativos.
Ocorre que na prática o efeito poderá ser extremamente prejudicial aos empregados.
Primeiro, porque se criou o direito adquirido das cláusulas negociais benéficas. Uma vez
conquistada determinada vantagem, esta não mais será retirada, porque o sindicato dos
trabalhadores, em regra, não irá negociar para piorar a condição dos trabalhadores e,
provavelmente, num dissídio coletivo, o Tribunal Regional do Trabalho ou próprio TST,
dificilmente julgará no sentido de retirar uma conquista obtida pela categoria.
Vólia Bomfim Cassar116 afirma que deve ser respeitada a vigência temporária das
normas coletivas, uma vez que estas têm a função de complementar a lei e garantir melhores
condições sociais ao trabalhador. As normas coletivas apresentam natureza jurídica distinta
da lei que se incorpora de forma definitiva ao contrato de trabalho. Dessa forma, após a
115. GODINHO, Maurício Delgado; CARVALHO, Augusto César Leite; ARRUDA, Kátia Magalhães. A
Súmula nº 277 e a Defesa da Constituição. Artigo retirado do site do TST: www.tst.jus.br
116. CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Método, 2013. p. 1.254.
extinção do acordo ou convenção coletiva de trabalho, não deverá permanecer as condições
de trabalho pactuadas por esses instrumentos coletivos. Excetua-se dessa regra apenas o
aumento salarial, uma vez que haverá incidência do princípio da irredutibilidade salarial.
Segundo ponto que vai ocorrer é a resistência, por parte das empresas, em dar novos
direitos aos trabalhadores. Dessa forma, limitará bastante futuros acordos e convenções.
Nesse sentido, Gustavo Filipe Barbosa Garcia117 sustenta que a incorporação das normas
coletivas ao contrato de trabalho apresenta o aspecto negativo de desestimular a negociação
coletiva. Os empregadores podem querer evitar negociar com a categoria profissional pelo
risco do direito concedido permanecer indefinidamente.
Aliás, nos últimos tempos, já estamos sentindo esses efeitos na prática, principalmente
durante as mediações realizadas no MPT em Ribeirão Preto, SP. As empresas, mesmo
aquelas que estejam passando por ótimas condições financeiras, estão muito cautelosas em
conceder novas vantagens aos empregados, com receio de que se tornem direitos
adquiridos.
Em terceiro lugar, aqueles empregados mais antigos, com vários direitos já
incorporados, fruto de normas coletivas passadas, estarão mais expostos a perder o
emprego.
Assim sendo, a inovação jurisprudencial teve o objetivo de garantir direitos básicos aos
empregados, durante o período das negociações ou diante da inércia de uma das partes, mas
o resultado desse novo posicionamento poderá ser prejudicial aos próprios empregados.
Aliás, em pouco tempo, essa Súmula nº 277 do TST deverá ser questionada no STF pelos
empresários. Segue abaixo, opiniões de dois autores contrários a nova alteração da Súmula
nº 277 do TST:
“Durante muito tempo, estivemos de acordo com a corrente que defende a ultra-atividade
das normas de todos os instrumentos coletivos, porém mudamos de opinião. Isso porque
temos verificado que, na prática, a aceitação desse princípio vem funcionando em prejuízo
dos trabalhadores. É que as empresas, por causa disso, temem oferecer certas vantagens
que não mais poderiam ser retiradas. Em épocas favoráveis e de bons lucros há condições
de conceder benefícios bem satisfatórios aos empregados. Vindo em seguida uma crise
econômica e em tempos de alto índice de desemprego provocado pela globalização, a
tendência dos empregadores é despedir quem incorporou vantagens ao contrato de
trabalho, preferindo contratar trabalhadores jovens com menor salário, o que –
reconheça-se – gera consequências negativas, em especial para aqueles de idade mais
avançada118.”
“A nova construção jurisprudencial pode até ter tido a intenção de fomentar a negociação
coletiva, mas na prática irá provocar a sua extinção, tendo em vista que o empresário
estará sempre com a “faca em seu pescoço119””.
De nossa parte, entendemos que a incorporação de direitos aos contratos de trabalho,
117. Garcia, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013. p.
1.338.
118. PINTO, Raymundo Antonio Carneiro. Súmulas do TST Comentadas. 13. ed. São Paulo: LTr, 2012. p.
242.
119. VEIGA, Maurício de Figueiredo C. Da Veiga. A Morte da Negociação Coletiva Provocada pela Nova
Redação da Súmula nº 277 do TST. Revista LTr. 76-10/1172.
até que surja novo instrumento (ultratividade relativa ou condicionada), será prejudicial aos
trabalhadores e diminuirá o ânimo dos empresários em conceder novos direitos, além de
aumentar, de forma significativa, o número de dissídios coletivos.
Por fim, ainda sobre negociação coletiva, o TST reafirmou o entendimento de que a
exigência de prévia negociação coletiva para a dispensa em massa é requisito essencial à
eficácia do ato empresarial, pois as repercussões econômicas e sociais dela advindas
extrapolam o vínculo empregatício, alcançando a coletividade dos trabalhadores, bem com a
comunidade e a economia locais120. Nesse sentido, é o entendimento manifestado pela
CONALIS. Vale ressaltar que esse órgão é uma coordenadoria temática composta
exclusivamente por membros do MPT, cujas deliberações não apresentam caráter
vinculativo, mas expressam o entendimento adotado pelo Ministério Público do Trabalho
nas questões envolvendo liberdade sindical:
Orientação nº 6 da CONALIS121. Dispensa coletiva. Dispensa coletiva.
Considerando os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III),
da democracia nas relações de trabalho e da solução pacífica das controvérsias
(preâmbulo da Constituição Federal de 1988), do direito à informação dos motivos
ensejadores da dispensa massiva e de negociação coletiva (art. 5º, XXXIII e XIV, art. 7º, I e
XXVI, e art. 8º, III, V e VI), da função social da empresa e do contrato de trabalho (art. 170,
III e Cód. Civil, art. 421), bem como os termos das Convenções ns. 98, 135, 141 e 151, e
Recomendação nº 163 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a dispensa
coletiva será nula e desprovida de qualquer eficácia se não se sujeitar ao prévio
procedimento da negociação coletiva de trabalho com a entidade sindical representativa
da categoria profissional.
Por outro lado, há posicionamento contrário à exigência da norma coletiva, pois ao
estabelecer como condição para a dispensa em massa de empregados a negociação coletiva
prévia, estaria atribuindo ao poder normativo da Justiça do Trabalho tarefa que o Texto de
1988 reserva a lei complementar, invadindo a esfera de competência do Poder Legislativo.
Ademais, essa postura do TST deixa as empresas em crise ameaçadas, ante a interferência
indevida no poder de gestão do empregador, bem como a violação aos princípios da livre
iniciativa. Em razão dessa intensa discussão, a questão encontra-se no STF, com repercussão
geral (Tema nº 638 - ARE 647651).
Por fim, é importante destacar a figura do “lay off” no Direito brasileiro, tendo em vista a
sua previsão expressa na CLT, e ainda, a recente publicação da Lei nº 13.189/2015
regulamentando o assunto. Diante de retrações no mercado e crises econômicas, é comum
que empresas reduzam o número de empregados para viabilizar a continuação da atividade
produtiva. Nesse sentido, para se evitar a ocorrência de dispensa em massa de empregados e
permitir maior qualificação profissional dos empregados, é necessário adotar medidas que
garantam a manutenção dos contratos de trabalho mesmo em momentos de crise. Uma
dessas hipóteses é o denominado “lay off”, que se refere ao afastamento temporário do
empregado mediante recebimento de licença-remunerada. Por diversas vezes, essa
licença está condicionada à participação do empregado em cursos de qualificação
profissional122.
120. Informativo n. 34 do TST – confira texto integral ao final do capítulo.
121. Aprovada na reunião de 11.04.2013.
122. MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30ª ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 388.
Nesse sentido, já era previsto o art. 476-A da CLT que estabelece hipótese de suspensão
do contrato de trabalho pelo período de 2 a 5 meses para que o empregado participe de
curso de qualificação profissional, na qual não será devido o pagamento de salários:
Art. 476-A, CLT. O contrato de trabalho poderá ser suspenso, por um período de dois a
cinco meses, para participação do empregado em curso ou programa de qualificação
profissional oferecido pelo empregador, com duração equivalente à suspensão contratual,
mediante previsão em convenção ou acordo coletivo de trabalho e aquiescência formal do
empregado, observado o disposto no art. 471 desta Consolidação.
Destaca-se que essa suspensão somente pode ser realizada por intermédio do sindicato
em negociação coletiva. É possível, ainda, que seja estabelecida no acordo ou convenção
coletiva o pagamento de ajuda compensatória mensal que não apresenta natureza salarial.
Em que pese a suspensão poder ser prorrogada por instrumento coletivo, somente é
possível conceder nova suspensão após o prazo de 16 meses da primeira.
Além disso, recentemente (novembro/2015), foi promulgada a Lei nº 13.189/2015
prevendo nova hipótese de “lay off”123 como resposta ao aumento no número de
desempregos diante de crise econômica. Nesse sentido, criou-se o Programa de Proteção
ao Emprego – PPE. Para a adesão ao programa, exige-se o cumprimento dos seguintes
requisitos pelas empresas (art. 3º, Lei nº 13.189/2015):
a) Celebrar acordo coletivo específico com o sindicato profissional;
b) Apresentar solicitação de adesão ao PPE ao Poder Executivo;
c) Apresentar a relação dos empregados abrangidos com a indicação do salário individual;
d) Ter CNPJ há pelo menos 2 anos;
e) Comprovar regularidade fiscal, previdenciária e do FGTS, que deve ser observada durante
todo o período de adesão ao PPE;
f) Comprovar situação de dificuldade econômico-financeira de acordo com indicadores
referentes à diferença entre as admissões e demissões nos últimos 12 meses anteriores à
solicitação de adesão ao PPE;
A adesão ao PPE pode ser realizada até a data de 31 de dezembro de 2016 e tem
prioridade de adesão as empresas que demonstrem a observância da cota de pessoas com
deficiência. Preenchidos os requisitos para adesão, permite-se que a empresa reduza a
jornada de trabalho e o salário de seus empregados em até 30%. O valor pago pelo
empregador após a redução não pode ser inferior ao salário mínimo.
Para compensar a redução salarial, o art. 4º da Lei nº 13.189/2015 estabelece que
haverá o pagamento de uma parcela correspondente a 50% do valor da redução salarial, que
é limitado a 65% do valor máximo da parcela recebida a título de seguro-desemprego
(R$1.542,24 x 65% = 1.002,45) que será custeada pelo FAT.
Em contraprestação à redução da jornada e salário, o empregador fica proibido de
dispensar seus empregados na vigência do PPE até o prazo de 1/3 de sua vigência após o
término da redução na jornada (art. 6º, I, Lei nº 13.189/2015). Exemplo: Se for estabelecido
PPE pelo período de 6 meses, é assegurada garantia provisória de emprego pelo período de
vigência do PPE (6 meses) acrescido de 1/3 (1/3 x 6 meses = 2 meses). Portanto, o
empregado não pode ser dispensado pelo período total de 8 meses.
123 Para maiores informações quanto ao tema “lay off”, confira o tópico 1.1. do capítulo III.
Para que essa redução seja válida, é necessária a celebração de acordo coletivo
específico com o sindicato profissional, que deve ser aprovado em assembleia dos
trabalhadores abrangidos pelo programa. Diante da especificidade do acordo coletivo, não é
permitido que aborde nenhuma outra condição de trabalho além daquelas decorrentes de
implementação do programa. O art. 5º da Lei nº 13.189/2015 traz as informações que
devem constar do acordo coletivo:
a) Número total de empregados abrangidos pela redução e sua identificação;
b) Estabelecimentos ou setores da empresa abrangidos;
c) Percentual de redução da jornada e redução proporcional ou menor do salário;
d) Período pretendido de adesão ao PPE;
e) Período de garantia no emprego que ser, no mínimo, equivalente ao período de redução de
jornada acrescido de 1/3;
f) Constituição de comissão paritária entre empregados e empregadores para acompanhar e
fiscalizar o cumprimento do acordo e do programa, exceto nas microempresas e empresas de
pequeno porte.
É importante ressaltar que, durante o cumprimento do programa, a empresa fica
proibida de contratar empregado para executar as mesmas atividades exercidas pelo
empregado abrangido pelo programa exceto na hipótese de reposição ou aproveitamente de
concluinte de curso de aprendizagem. Além disso, o empregador não poderá exigir a
prestação de horas extras dos empregados do programa.
Caso descumprido o acordo coletivo específico estabelecido ou qualquer das
disposições da Lei nº 13.189/2015, o empregador estará sujeito a restituir ao FAT os
recursos recebidos, devidamente corrigidos, e a pagar multa administrativa correspondente
a 100% desse valor, calculada em dobro no caso de fraude, que será revertida ao FAT.
Por fim, o prazo de duração do PPE é de até 6 meses, prorrogáveis por períodos de 6
meses, até o limite de 24 meses respeitada a data de extinção do programa (art. 5º, IV, Lei nº
13.189/2015), que ocorre 31 de dezembro de 2017. Assim, nenhum PPE subsistirá findo o
prazo final o programa.
...
7. SÚMULA DOS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO
(ACRESCENTADAS AO CAPÍTULO XI – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Contribuição sindical patronal. Empresa sem empregados
Súmula nº 47 do TRT da 3ª Região: Contribuição sindical patronal. Ausência de empregados. Inexigibilidade.
A empresa que não tem empregados não está obrigada ao recolhimento da contribuição sindical patronal a que alude o artigo 579 da CLT.
8. INFORMATIVOS DO TST
(ACRESCENTADAS AO CAPÍTULO XI – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Funções do sindicato
Dissídio coletivo. Comissão de sindicância. Participação obrigatória do sindicato profissional. Impossibilidade. Cláusula excluída.
A SDC, por maioria, deu provimento a recurso ordinário para excluir cláusula que previa a convocação obrigatória do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo - Sintaema para compor toda e qualquer comissão de sindicância que envolva os trabalhadores da Fundação para a Conservação e a Produção Florestal do Estado de São Paulo, ao argumento de que haveria uma quebra de imparcialidade, pois é dever do sindicato defender os integrantes da categoria profissional. Vencidos, no tópico, os Ministros Kátia Magalhães Arruda, relatora, e Maurício Godinho Delgado, que negavam provimento ao recurso ordinário para manter a cláusula, pois, além de não ter cunho econômico, está em harmonia com a atribuição dos sindicatos de que trata o inciso III do art. 8º da CF. TST-RO-6937-30.2012.5.02.0000, SDC, rel. Min. Kátia Magalhães Arruda, 9.6.2014 (Informativo nº 85)
Sindicalização de terceirizados
Dissídio coletivo. Greve. Petrobras S/A. Contrato de prestação de serviços de construção civil. Ilegitimidade do Sindipetro/ES para liderar movimento grevista na qualidade de representante dos empregados da empresa terceirizada. Art. 511, §§ 1º e 2º, da CLT.
Nos termos do art. 511, §§ 1º e 2º, da CLT, a vinculação sindical dos empregados, ainda que terceirizados, deve ser definida pela atividade preponderante da empresa prestadora de serviços, porquanto a categoria profissional a qual pertence o trabalhador deve corresponder à categoria econômica a qual se vincula o empregador. Com esse fundamento, a SDC, por maioria, deu provimento ao recurso ordinário em dissídio coletivo de greve interposto pela PROEN Projetos Engenharia Comércio e Montagens Ltda., para declarar a abusividade da greve deflagrada por seus empregados sob a liderança do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Exploração, Perfuração, Extração e Produção de Petróleo nos Municípios de São Mateus, Linhares, Conceição da Barra e Jaguaré no Estado do Espírito Santo (Sindipetro/ES), e, em consequência, excluir da decisão normativa recorrida as obrigações impostas à PROEN. Na espécie, reconheceu-se que, à época da greve em questão, a empregadora, por força de contrato de prestação de serviços com a Petrobras S/A, atuava, de forma preponderante, no ramo da construção civil e não na exploração ou extração de petróleo. Nessa perspectiva, afastou-se a legitimidade do Sindipetro/ES por ausência de paralelismo entre a categoria profissional por este representada e a categoria econômica da empresa prestadora de serviços, em observância ao princípio constitucional da unicidade sindical e tendo em vista a existência de sindicato representante dos trabalhadores da construção civil na mesma base territorial, qual seja, o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil, Terraplenagem, Estradas, Pontes e Construção de Montagem de Linhares, Rio Bananal, Jaguaré, Colatina e São Gabriel da Palha (Sintracon Linhares/ES). Vencidos os Ministros Maurício Godinho Delgado, Katia Magalhães Arruda e Maria de Assis Calsing. TST-RO-42600-28.2009.5.17.0000, SDC, rel. Min. Fernando Eizo Ono, 9.9.2013 (Informativo nº 58)
Custeiro do sindicato
Contribuição sindical patronal. Holding pura. Ausência de empregados. Não recolhimento.
O sistema sindical brasileiro é fundado na agremiação de trabalhadores em contraposição simétrica a agremiações de empregadores que se unem em razão da defesa de interesses comuns pertinentes às relações de trabalho. Quando o agente econômico não possui empregados, a possibilidade de receber uma contrapartida da entidade sindical que supostamente o representa fica comprometida, colocando um óbice lógico-jurídico à representação pela entidade de classe. Em outras palavras, o objetivo das contribuições sindicais é viabilizar o funcionamento do sistema sindical brasileiro e este, por sua vez, busca favorecer o diálogo entre a classe patronal e a de trabalhadores com vistas à fixação das condições de trabalho. Assim, no caso de uma holding pura, ou seja, agente societário dedicado à administração de bens e participação em outras sociedades, sem desempenho de atividades econômicas e sem a contratação de empregados, não se pode exigir o recolhimento da contribuição sindical patronal (interpretação sistemática dos arts. 570, 579 e 580 da CLT e 109 e 114 do CTN). Sob esses fundamentos, a SBDI-I, por unanimidade, conheceu dos embargos por divergência jurisprudencial e, no mérito, por maioria, negou-lhes provimento. vencidos os Ministros Aloysio Corrêa da Veiga, relator, Renato de Lacerda Paiva e Alexandre de Souza Agra Belmonte. TST-E-RR-2058-44.2011.5.03.0078, SBDI-I, rel. Min. Aloysio Corrêa da Veiga, red. p/ o acórdão Min. Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, 18.2.2016 (Informativo nº 129)
CAPÍTULO XII – ORIENTAÇÕES JURISPRUDENCIAIS DA SDC
...
2.2. Inconstitucionalidade na cobrança de contribuições para entidades sindicais aos
não sindicalizados
Orientação Jurisprudencial nº 17 da SDC do TST. Contribuições para entidades sindicais.
Inconstitucionalidade de sua extensão a não associados.
As cláusulas coletivas que estabeleçam contribuição em favor de entidade sindical, a qualquer
título, obrigando trabalhadores não sindicalizados, são ofensivas ao direito de livre associação e
sindicalização, constitucionalmente assegurado, e, portanto, nulas, sendo passíveis de
devolução, por via própria, os respectivos valores eventualmente descontados.
A OJ em análise aborda a inconstitucionalidade na cobrança de contribuições para o
sistema confederativo aos empregados não sindicalizados. Dessa forma, é necessário
analisar a abrangência subjetiva das fontes de custeio do sistema sindical. Há quatro
espécies de contribuição para o financiamento das entidades sindicais:
1) Contribuição sindical
Essa contribuição era chamada, antigamente, de imposto sindical. É prevista em lei e no
texto constitucional, sendo obrigatória para todos os empregados, trabalhadores avulsos,
autônomos, profissionais liberais e, ainda, obrigatória aos empregadores, conforme previsto
nos artigos 578 a 610 da CLT. Ressalta-se que o art. 47 do Estatuto da OAB (Lei nº
8.906/1994) estabelece isenção aos advogados do pagamento da contribuição sindical, uma
vez que já tem a obrigação de pagar a contribuição anual à OAB: “O pagamento da
contribuição anual à OAB isenta os inscritos nos seus quadros do pagamento obrigatório da
contribuição sindical.”
No julgamento de ação direta de inconstitucionalidade, o STF124 entendeu que referido
dispositivo não fere a constituição e que, portanto, deve ser mantida a isenção aos inscritos
na OAB. Por outro lado, é válido ponderar que outros profissionais, tais como médicos e
engenheiros, continuam obrigados a efetuar o pagamento tanto para o órgão de classe - CRM
e CREA respectivamente - quanto para o sindicato da categoria.
Essa contribuição compulsória tem natureza de tributo. Assim, essa contribuição não é a
que se refere à OJ em apreço, uma vez que abrange todos os empregados da categoria
profissional, sindicalizados ou não. O Brasil é um dos únicos países que ainda exigem a
contribuição compulsória de todos os empregados, associados ou não, via contribuição
sindical. Vale ressaltar que essa fonte de financiamento não é aceita pela OIT, uma vez que
não respeita a liberdade sindical plena125. De acordo com a CF/88:
Art. 8º, IV. A assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria
profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da
representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em
lei. (grifos acrescidos)
O valor a ser descontado dos empregados é a remuneração de 1 dia de trabalho126. Esse
124. ADIN nº 2.522/2001
125. SILVA, Homero Batista Mateus da. Curso de direito do trabalho aplicado. Rio de Janeiro: Elsevier,
2010. Vol. 7. p. 117.
126. Se a remuneração for paga por tarefa, empreitada ou comissão, será 1/30 da quantia recebida no
mês anterior. Aliás, quando o empregado receber salário-utilidade ou, ainda, gorjetas, a contribuição
sindical corresponderá a 1/30 da importância que tiver recebido no mês de janeiro, para a contribuição do
empregado à Previdência Social, conforme previsto no art. 582 da CLT.
valor será descontado no mês de março e repassado ao sindicato no mês de abril. O
empregado deve ter prova da quitação da contribuição sindical, pois será solicitada na
admissão. Se não estiver trabalhando ou não tiver prova da quitação, deverá ser descontado
no primeiro mês subsequente ao reinício do trabalho. Com relação aos sindicatos dos
trabalhadores autônomos e profissionais liberais, ressalta-se que o pagamento da
contribuição sindical será realizado no mês de fevereiro é feito com base em uma lista de
contribuintes organizada pelos respectivos sindicatos, ou na falta deles, federações ou
confederações nos termos do art. 584 da CLT.
Para os empregadores, o valor cobrado será proporcional ao capital social da
empresa, e o recolhimento ocorrerá no mês de janeiro. Ademais, é necessária a publicação
de edital relativo ao recolhimento da contribuição sindical pelo período de 3 dias em jornais de
maior circulação e com antecedência mínima de 10 dias da data fixada para o depósito. Somente
com a publicação desse edital, é possível a cobrança judicial dos valores não recolhidos. Nesse
sentido, prevê os artigos 605 e 606 da CLT:
Art. 605 - As entidades sindicais são obrigadas a promover a publicação de editais
concernentes ao recolhimento do imposto sindical, durante 3 (três) dias, nos jornais
de maior circulação local e até 10 (dez) dias da data fixada para depósito bancário.
Art. 606 - Às entidades sindicais cabe, em caso de falta de pagamento da contribuição
sindical, promover a respectiva cobrança judicial, mediante ação executiva, valendo
como título de dívida a certidão expedida pelas autoridades regionais do Ministério
do Trabalho e Previdência Social.
O rateio da contribuição sindical, cobrada dos trabalhadores e dos empregadores, é feita de
acordo com o artigo 589 CLT:
RATEIO DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL OBRIGATÓRIA
EMPREGADOS (art. 589, II, CLT) EMPREGADOR (art. 589, I, CLT)
5% para as confederações 5% para as confederações
10% para centrais sindicais127; 15% para as federações
15% para as federações; 60% para os sindicatos
60% para os sindicatos 20% para a Conta Especial Emprego e Salário
10% restantes para Conta Especial do
Emprego e Salário128
No tocante às microempresas e empresas de pequeno porte, há previsão de isenção da
contribuição sindical patronal (art. 13, § 2º, LC nº 123/2006). No entanto, essa isenção,
dirigida aos optantes pelo simples nacional, foi alvo de discussão na ADI nº 4033/DF. Por
maioria de votos, o STF entendeu que a isenção é constitucional. Nesse sentido, a ementa do
127. O sindicato de trabalhadores indicará ao Ministério do Trabalho e Emprego a central sindical a que
estiver filiado como beneficiária da respectiva contribuição sindical. Vale destacar que não existe repasse de
contribuição sindical dos empregadores às centrais sindicais, uma vez que inexiste central sindical de
empregadores. 128 Os recursos destinados à Conta Especial Emprego e Salário integram o recurso do Fundo de Amparo ao
Trabalho (FAT) e são administrados pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social. Fonte:
http://www.mtps.gov.br/sindicato-contribuicao-sindical.
acórdão:
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO.
CONTRIBUIÇÃO SINDICAL PATRONAL. ISENÇÃO CONCEDIDA ÀS MICROEMPRESAS E
EMPRESAS DE PEQUENO PORTE. SIMPLES NACIONAL (“SUPERSIMPLES”). LEI
COMPLEMENTAR 123/2006, ART. 13, § 3º. ALEGADA VIOLAÇÃO DOS ARTS. 3º, III, 5º,
CAPUT, 8º, IV, 146, III, D, E 150, § 6º DA CONSTITUIÇÃO. 1. Ação direta de
inconstitucionalidade ajuizada contra o art. 13, § 3º da LC 123/2006, que isentou as
microempresas e empresas de pequeno porte optantes pelo Regime Especial Unificado de
Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de
Pequeno Porte – Simples Nacional (“Super-simples”).
(...)
3.1. O fomento da micro e da pequena empresa foi elevado à condição de princípio
constitucional, de modo a orientar todos os entes federados a conferir tratamento
favorecido aos empreendedores que contam com menos recursos para fazer frente à
concorrência. Por tal motivo, a literalidade da complexa legislação tributária deve ceder à
interpretação mais adequada e harmônica com a finalidade de assegurar equivalência de
condições para as empresas de menor porte. 4. Risco à autonomia sindical afastado, na
medida em que o benefício em exame poderá tanto elevar o número de empresas a
patamar superior ao da faixa de isenção quanto fomentar a atividade econômica e o
consumo para as empresas de médio ou de grande porte, ao incentivar a regularização de
empreendimentos. 5. Não há violação da isonomia ou da igualdade, uma vez que não ficou
demonstrada a inexistência de diferenciação relevante entre os sindicatos patronais e os
sindicatos de representação de trabalhadores, no que se refere ao potencial das fontes de
custeio. 6. Ação direta de inconstitucionalidade conhecida, mas julgada improcedente.
Recentemente, o TST129 estabeleceu que empresas sem empregados não estão obrigadas a
pagar a contribuição sindical obrigatória. De acordo com o entendimento do tribunal, a empresa
sem empregado não se beneficia do objetivo das contribuições sindicais, que é viabilizar o
funcionamento do sistema sindical brasileiro para que os entes sindicais favoreçam o diálogo
entre os trabalhadores e empregadores. Nesse mesmo sentido, prevê a jurisprudência do TRT
da 3ª Região:
Súmula nº 47 do TRT da 3ª Região: Contribuição sindical patronal. Ausência de empregados.
Inexigibilidade.
A empresa que não tem empregados não está obrigada ao recolhimento da contribuição
sindical patronal a que alude o artigo 579 da CLT.
Importante verificar que os sindicatos, bem como seus diretores, são responsáveis pela
aplicação correta e transparente desses recursos cobrados, de forma compulsória, dos
trabalhadores. Destaca-se que a Orientação nº 5 da CONALIS determina que os atos que
importem em dilapidação do patrimônio das entidades sindicais são de interesse público e
permite a intervenção do MPT. Vale ressaltar que a CONALIS é uma coordenadoria temática
composta exclusivamente por membros do MPT, cujas deliberações não apresentam caráter
vinculativo, mas expressam o entendimento adotado pelo Ministério Público do Trabalho
nas questões envolvendo liberdade sindical:
Orientação nº 5 da CONALIS130: Malversação ou dilapidação do patrimônio das
associações ou entidades sindicais.
“Os atos que importem em malversação ou dilapidação do patrimônio das associações ou
129 Nesse sentido, veja o Informativo nº 129 do TST ao final do capítulo.
130. Aprovada na reunião de 04.04.2010.
entidades sindicais são de interesse público tutelável pelo parquet trabalhista.”
Havia divergência quanto à possibilidade de fiscalização da contribuição sindical pelo
Tribunal de Contas da União (TCU). Recentemente, o STF decidiu que é plenamente possível
a fiscalização, pois a contribuição sindical se trata de uma receita pública (tributária).
Ressalta-se que o fundamento da decisão não se aplica às demais contribuições devidas ao
sindicato, uma vez que a fiscalização representaria intervenção do poder público no
funcionamento e organização do sindicato, o que é vedado pelo art. 8º, inciso I, CF/88131.
Nesse sentido, a jurisprudência do STF:
Mandado de segurança – tribunal de contas da união – controle – entidades
sindicais – autonomia – ausência de violação.
A atividade de controle do tribunal de contas da união sobre a atuação das entidades
sindicais não representa violação à respectiva autonomia assegurada na lei maior.
Mandado de segurança – tribunal de contas da união – fiscalização – responsáveis –
contribuições sindicais – natureza tributária – receita pública. As contribuições sindicais
compulsórias possuem natureza tributária, constituindo receita pública, estando os
responsáveis sujeitos à competência fiscalizatória do tribunal de contas da união. (MS
28465/DF – Relator: Min. Marco Aurélio – Data de Julgamento: 18/03/2014)
Por fim, no caso do não recolhimento da contribuição sindical obrigatória referente aos
empregados, o empregador está sujeito ao pagamento de multa pela fiscalização do trabalho132.
Nesse caso, os empregadores devem exibir à fiscalização do trabalho os documentos que
comprovam o pagamento da contribuição sindical sob pena de aplica de multa:
Art. 603, CLT: Os empregadores são obrigados a prestar aos encarregados da fiscalização os
esclarecimentos necessários ao desempenho de sua missão e a exibir-lhes, quando exigidos, na
parte relativa ao pagamento de empregados, os seus livros, folhas de pagamento e outros
documentos comprobatórios desses pagamentos, sob pena da multa cabível.
Diante do não recolhimento da contribuição sindical, o Auditor Fiscal do Trabalho é
responsável pelo lançamento do crédito tributário referente à contribuição sindical obrigatória,
uma vez que se trata de tributo que deve ser lançado pela autoridade competente133. Além disso,
o fiscal deve emitir certidão de inscrição em dívida ativa que servirá como título para que o
sindicato efetue a cobrança judicial do montante não pago:
Art. 606, “caput”, CLT - Às entidades sindicais cabe, em caso de falta de pagamento da
contribuição sindical, promover a respectiva cobrança judicial, mediante ação executiva, valendo
como título de dívida a certidão expedida pelas autoridades regionais do Ministério do Trabalho
e Previdência Social.
...
3) Contribuição assistencial
A contribuição assistencial ou taxa de reversão é prevista no art. 513, alínea “e”, da CLT.
Essa contribuição tem como finalidade compensar os custos decorrentes da participação nas
131. Também é possível sustentar a fiscalização do TCU no tocante à contribuição sindical pela
interpretação do art. 5º, inciso V, Lei nº 8.443/1992 (Lei Orgânica do TCU): A jurisdição do Tribunal
abrange: os responsáveis por entidades dotadas de personalidade jurídica de direito privado que recebam
contribuições parafiscais e prestem serviço de interesse público ou social.
132 BARROSO, Fábio Túlio. Manual de Direito Coletivo do Trabalho. São Paulo: LTR, 2010. p. 175.
133 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. 19. ed. São Paulo: Altas, 2015. p. 689
negociações coletivas e, ainda, em razão da conquista de condições mais benéficas aos
trabalhadores. Não tem natureza de tributo, portanto será cobrada apenas dos filiados ao
sindicato. Assim, como visto na contribuição confederativa, somente será devido ao
empregado sindicalizado. Novamente é importante a menção ao Precedente Normativo nº
119 do TST:
Contribuições Sindicais – Inobservância de Preceitos Constitucionais: A Constituição da
República, em seus arts. 5º, XX e 8º, V, assegura o direito de livre associação e
sindicalização. É ofensiva a essa modalidade de liberdade cláusula constante de acordo,
convenção coletiva ou sentença normativa estabelecendo contribuição em favor de
entidade sindical a título de taxa para custeio do sistema confederativo, assistencial,
revigoramento ou fortalecimento sindical e outras da mesma espécie, obrigando
trabalhadores não sindicalizados. Sendo nulas as estipulações que inobservem tal
restrição, tornam-se passíveis de devolução os valores irregularmente descontados. (grifo
acrescido)
Assim, a contribuição assistencial ou confederativa não pode ser cobrada ou mesmo
descontada dos empregados não associados ao sindicato. Se houver desrespeito a esse
posicionamento do TST, também manifestado na Súmula Vinculante nº 40 do STF, será
devida a restituição dos valores descontados a título de manutenção do sistema
confederativo que não seja a própria contribuição sindical.
Ademais, apenas para reforçar a impossibilidade de se cobrar especificamente a
contribuição assistencial dos não sindicalizados, é válido destacar a jurisprudência
c o n s o l i d a d e d o T R T d a 6 ª R e g i ã o :
Súmula nº 9 do TRT da 6ª Região: É nula, por afrontar o princípio da liberdade sindical, a
cláusula de instrumento normativo que obriga empregados não sindicalizados ao pagamento da
t a x a a s s i s t e n c i a l .
De acordo com Homero Batista Mateus da silva134, na tentativa de cobrança dos
valores aos não sindicalizados, os sindicatos estão incluindo nas cláusulas coletivas
dispositivo que assegura que o valor não será cobrado desses empregados desde que
manifestem seu direito de oposição no prazo de 10 dias ou até mesmo, em algumas
hipóteses, em 48 horas. Muitas vezes, a manifestação exigida deve ser realizada na sede do
sindicato, o que pode obrigar o empregado a se deslocar em longas viagens. Por fim, não é
dada correta publicidade à cláusula, o que impede a manifestação de grande parte dos
empregados.
Entendemos que a cobrança de contribuição assistencial ou confederativa a todos os
trabalhadores, indistintamente, é abusiva ainda que garantido o direito de oposição. Os
empecilhos criados à oposição do empregado demonstram, na prática, que essa cláusula é
fantasiosa. Por diversas vezes, exige-se que o empregado manifeste a discordância do
pagamento das contribuições antes do término da negociação coletiva. Entretanto, é válido
lembrar que o processo negocial é dinâmico e, por isso, impede que o trabalhador tenha
conhecimento real de qual momento deverá realmente se opor à cobrança das contribuições.
Ademais, conforme já mencionado anteriormente, a cláusula de direito de oposição,
muitas vezes, não é divulgada de forma ampla a todos os empregados. No fim, a instituição
134. SILVA, Homero Batista Mateus da. Curso de direito do trabalho aplicado. Vol. 7. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2010. p. 140.
das contribuições do sindicato com direito de oposição revela-se abusiva na medida em que
se trata de cobrança compulsória a todos os empregados da categoria o que é vedada pela
Súmula vinculante nº 40 do STF e OJ nº 17 da SDC do TST.
A Orientação nº 4 da CONALIS135 sustenta que o incentivo dos empregadores no
exercício do direito de oposição configura ato antissindical: “Configura ato antissindical o
incentivo patronal ao exercício do direito de oposição à contribuição assistencial/negocial.”
Nesse sentido, em sendo verificada a abusividade da cláusula ou do meio empregado
para sua efetivação, é necessária a atuação do MPT na propositura de ação anulatória, de
referida cláusula e, na mesma ação, o MPT ingressará com pedido de obrigação de não fazer,
ou seja, para que o sindicato não volte a adotar a mesma prática abusiva no futuro. Trata-se
da tutela inibitória adotada pelos Procuradores do Trabalho. Nos termos do art. 83, inciso IV,
Lei Complementar nº 75/1993:
Compete ao Ministério Público do Trabalho o exercício das seguintes atribuições junto aos
órgãos da Justiça do Trabalho: propor as ações cabíveis para declaração de nulidade de
cláusula de contrato, acordo coletivo ou convenção coletiva que viole as liberdades
individuais ou coletivas ou os direitos individuais indisponíveis dos trabalhadores;
Nesse sentido, há julgados do TST que estabelecem que a imposição de contribuição
assistencial a todos os trabalhadores fere o princípio da liberdade de associação se não for
assegurado o direito de oposição:
Agravo de instrumento. Recurso de revista. Contribuição assistencial. Direito de oposição.
A imposição da contribuição assistencial, em favor do sindicato da categoria profissional, a todos
os trabalhadores, sem assegurar direito de oposição não condiz ao princípio da liberdade de
associação, erigido no art. 8º, inciso V, da Constituição Federal. Nesse alcance, encontra-se o
entendimento sobre a matéria consignado na Orientação jurisprudencial 17, SDC. Inexistência de
demonstração de ofensa às normas legais e constitucionais indicadas e de configuração de
dissenso pretoriano, considerados o art. 896, a da CLT e a Súmula 296, TST. Agravo de
instrumento a que se nega provimento. (TST - AIRR: 38140-07.2004.5.02.0221, Relator: Maria do
Perpétuo Socorro Wanderley de Castro, Data de Julgamento: 13/06/2007, 1ª Turma)
O tema, contudo, não é pacífico. Há decisões do próprio TST que sustentam a impossibilidade
de instituição do direito de oposição, uma vez que, de acordo com o art. 545 da CLT, os descontos
das contribuições devidas ao sindicato, com exceção da contribuição sindical, necessitam de
expressa autorização dos empregados. O direito de oposição, por sua vez, opera com a lógica
inversa, ou seja, a cobrança da contribuição deve ocorrer independentemente de autorização do
trabalhador não sindicalizado, exceto se houver manifestação contrária à cobrança, o que fere o
princípio constitucional da liberdade sindical:
Contribuições assistenciais - Cobrança de trabalhadores não associados ao sindicato -
Direito de oposição - Precedente Normativo 119 da SDC do TST. 1. Segundo o Precedente
Normativo 119 da SDC do TST, os arts. 5º, XX, e 8º, V, da CF asseguram o direito de livre
associação e sindicalização, sendo ofensiva a essa modalidade de liberdade cláusula constante de
acordo, convenção coletiva ou sentença normativa que estabeleça contribuição em favor de
entidade sindical a título de taxa para custeio do sistema confederativo, assistencial,
revigoramento ou fortalecimento sindical e outras da mesma espécie, obrigando trabalhadores
não sindicalizados, de modo que são nulas as estipulações que não observem tal restrição, e
tornam-se passíveis de devolução os valores irregularmente descontados. 2. -In casu-, quanto à
cobrança de taxa assistencial de trabalhadores não sindicalizados , o Regional entendeu que ,
quando nas convenções coletivas há cláusula prevendo a possibilidade de direito de oposição do
135. Aprovada na reunião de 04.05.2010.
empregado para com o desconto, afastava-se a ilegalidade da parcela, de modo que, existindo
cláusula instituindo a cobrança de contribuição assistencial a todos os trabalhadores, associados
ou não, desde que assegurado o direito de oposição a estes, eram válidos os descontos efetuados
a título de contribuição assistencial. 3. Contudo, a existência de cláusula coletiva prevendo o
chamado direito de oposição não tem o condão de revestir de legitimidade a cobrança de
contribuição assistencial de obreiros não sindicalizados, na medida em que a simples
instituição desse tipo de cobrança obrigando trabalhadores não filiados ao sindicato já
fere o direito constitucional à plena liberdade de sindicalização. Ressalte-se, ademais, na
esteira de precedentes da SCD desta Corte, que o art. 545 da CLT exige a expressa
autorização do empregado para que o desconto em prol do sindicato seja efetuado, e não o
contrário, isto é, que haja manifestação expressa no sentido de não haver o mencionado
desconto. 4. Dessa forma, merece reforma a decisão regional que considerou válida a norma
coletiva que instituiu a cobrança de contribuição assistencial de todos os empregados
integrantes da categoria profissional. Recurso de revista provido. (TST - RR: 1411-
48.2010.5.09.0068, Relator: Maria Doralice Novaes, Data de Julgamento: 29/06/2011, 7ª Turma,
Data de Publicação: DEJT 01/07/2011)
Além disso, há posicionamento minoritário dentro da Magistratura e do Ministério
Público do Trabalho, que defendem a cobrança de todos os empregados, filiados ou não. O
fundamento dessa corrente baseia-se no fato de que todos os trabalhadores são beneficiados
pelas novas conquistas obtidas pelas negociações do sindicato. Logo, nada mais justo que
todos os empregados, filiados e não filiados, contribuam para financiamento e custeio do
ente sindical.
Aliás, há posicionamento recente do TRT RS, sustentando a possibilidade da contribuição
assistencial para todos os empregados, filiados ou não ao sindicato:
Súmula nº 86 do TRT 4º Região: CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL. DESCONTOS. NÃO FILIADO. A contribuição assistencial prevista em acordo, convenção coletiva ou sentença normativa é devida por todos os integrantes da categoria, sejam eles associados ou não do sindicato respectivo.
Ademais, se houver cobrança indevida de contribuição confederativa ou assistencial
aos não sindicalizados, o sindicato fica obrigado a devolver as contribuições descontadas
irregularmente pelo menos dos últimos 5 anos, em razão do prazo prescricional. Vale
ressaltar que alguns juízes do trabalho determinaram que as empresas devolvam essas
contribuições, cobradas indevidamente. No entanto, as empresas apenas estavam
cumprindo aquilo que foi determinado no instrumento coletivo, sem ter o conhecimento
de quem era ou não sindicalizado. Nesse caso, a empresa não tinha legitimidade passiva e
não poderia ser condenada. O empregador que foi condenado a devolver a quantia
descontada terá direito à ação de regresso contra o sindicato, pois o sente sindical não
poderia ter cobrado o valor de todos os empregados indiscriminadamente. Nesse sentido,
a jurisprudência do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região:
Contribuição assistencial e confederativa. Embora a extensão da cobrança compulsória
para os trabalhadores não sindicalizados encontre óbice no ordenamento jurídico, o empregador
não participa da relação jurídica de base que lastreia as contribuições, não podendo, assim, ser
condenado a devolver os valores descontados por determinação normativa. (TRT-2 - RO:
00020494420125020444 SP, Relator: Rosana de Almeida Buono, Data de Julgamento:
08/04/2014, 3ª TURMA, Data de Publicação: 15/04/2014)
Por fim, o empregador não pode custear o sindicato da categoria profissional (dos
trabalhadores), porque dessa forma lhe retira a autonomia e possibilidade de pressão por
melhores condições de trabalho. Nesse sentido, estabelece a Orientação nº 1 da CONALIS136,
coordenadoria temática do MPT de promoção da liberdade sindical:
Orientação nº 1. CONALIS137. Custeio patronal a sindicato profissional.
Afronta a liberdade sindical o financiamento patronal do sindicato profissional
4) Mensalidade sindical
Mensalidade sindical ou estatutária está prevista no art. 548, alínea “b”, da CLT. É
contribuição prevista no estatuto do sindicato e cobrada apenas do trabalhador filiado.
Todos os comentários acima, sobre a impossibilidade de cobrança a não filiados e suas
consequências, servem a essa fonte de custeio também. Ela é voltada para a manutenção de
atividades recreativas e assistenciais do sindicato. Ex.: manutenção de clubes, dentista,
colônias de férias etc. Nesse sentido:
As mensalidades dos associados do sindicato, por sua vez, consistem em parcelas mensais
pagas estritamente pelos trabalhadores sindicalizados a seus associados. São modalidades
voluntárias de contribuições, comuns a qualquer tipo de associação, de qualquer natureza,
e não somente sindicatos138.
Na tentativa de resumir a matéria envolvendo as fontes de custeio do sistema
sindical, segue abaixo quadrinho explicativo:
CUSTEIO DO SINDICATO
1. Contribuição sindical:
- natureza de tributo; - obrigatória para todos os empregados, profissionais liberais, empregadores e servidores públicos; - Para os empregados: a) desconto de 1 dia de trabalho da remuneração do empregado no mês de março. O repasse ao sindicato ocorre no mês de abril; b) Prova de quitação de pagamento na admissão - Para os empregadores: a) Valor cobrado é proporcional ao capital social da empresa; b) Recolhimento ocorre no mês de janeiro. c) Microempresas e empresas de pequeno porte optante pelo simples nacional: isenção da contribuição sindical patronal. OBS) Nesse caso, permanece a obrigação de recolhimento da contribuição sindical obrigatória dos empregados das micro e pequenas empresas. - Para os profissionais liberais: a) Pagamento dos valores em fevereiro de cada ano; b) isenção: advogados (art. 47, Estatuto da OAB)
2. Contribuição confederativa:
a) custeio do sistema confederativa (art. 8º, IV, CF/88); b) somente aos sindicalizados (não tem natureza tributária) – Súmula Vinculante nº 40 do STF e OJ 17
136. As deliberações da CONALIS não apresentam caráter vinculativo, mas expressam o entendimento
adotado pelo Ministério Público do Trabalho nas questões envolvendo liberdade sindical.
137. Aprovada na reunião de 04.05.2010.
138. DELGADO, Maurício Godinho. Direito Coletivo do Trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2008. p. 93.
SDC c) abrange todos os sindicalizados, inclusive aqueles que se manifestaram contrários à sua instituição; d) direito de oposição para os não sindicalizados: Cláusula Abusiva. Atuação do MPT.
3. Contribuição assistencial: a) compensar os custos decorrentes da participação nas negociações coletivas; b) somente aos sindicalizados (não tem natureza tributária) – Súmula Vinculante nº 40 do STF e OJ 17 SDC c) direito de oposição para os não sindicalizados: Cláusula Abusiva. Atuação do MPT
4. Mensalidade sindical:
a) manutenção das atividades recreativas e assistenciais do sindicato b) somente aos sindicalizados
...
4. SÚMULAS DOS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO
(ACRESCENTADAS AO CAPÍTULO XII – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Enquadramento sindical. Matriz e filial.
Súmula nº 21 do TRT da 13ª Região. Enquadramento sindical. Empresa com matriz e filiais. Representação por sindicatos distintos. Possibilidade.
Quando uma empresa exerce atividade industrial em sua matriz, e, em sua filial, dedica-se ao comércio, o enquadramento sindical vincula-se, respectivamente, à atividade preponderante exercida em cada base territorial. Assim, os empregados da matriz são representados pelo sindicato dos trabalhadores na indústria e os empregados da filial vinculam-se ao sindicato dos trabalhadores no comércio.
Contribuição sindical patronal. Empresa sem empregados
Súmula nº 47 do TRT da 3ª Região: Contribuição sindical patronal. Ausência de empregados. Inexigibilidade.
A empresa que não tem empregados não está obrigada ao recolhimento da contribuição sindical patronal a que alude o artigo 579 da CLT.
Contribuição assistencial
Súmula nº 9 do TRT da 6ª Região: É nula, por afrontar o princípio da liberdade sindical, a cláusula de instrumento normativo que obriga empregados não sindicalizados ao pagamento da taxa assistencial.
Súmula nº 86 do TRT 4º Região: Contribuição assistencial. Descontos. Não filiado. A contribuição assistencial prevista em acordo, convenção coletiva ou sentença normativa é devida por todos os integrantes da categoria, sejam eles associados ou não do sindicato respectivo.
5. INFORMATIVOS DO TST
(ACRESCENTADOS AO CAPÍTULO XII – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Princípio do Direito Coletivo
Representação sindical. Sinthoresp x Sindifast. Princípio da especificidade. Prevalência. Art. 570 da CLT.
O critério definidor do enquadramento sindical é o da especificidade, previsto no art. 570 da CLT, de modo que o critério da agregação tem caráter subsidiário, aplicando-se apenas quando não for possível aos exercentes de quaisquer atividades ou profissões se sindicalizarem eficientemente com base na especificidade. Nesse sentido, em ação de cobrança de contribuição sindical ajuizada pelo Sinthoresp (Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Apart Hotéis, Motéis, Flats, Pensões, Hospedarias, Pousadas, Restaurantes, Churrascarias, Cantinas, Pizzarias, Bares, Lanchonetes, Sorveterias, Confeitarias, Docerias, Buffets, Fast-foods e Assemelhados de São Paulo e Região) em face da empresa Burger King do Brasil S.A. –
BGK, decidiu-se que a legitimidade para representar os empregados da empresa que atua no ramo de refeições rápidas é do Sindifast (Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Refeições Rápidas (Fast Food) de São Paulo), pois não é possível imaginar que as condições de trabalho em restaurantes à la carte possam ser identificadas com aquelas típicas de estabelecimentos fast food, em que não há sequer o sistema de gorjetas. Com esses fundamentos, a SBDI-I, por unanimidade, rejeitou a preliminar de ilegitimidade recursal arguida em impugnação, conheceu dos embargos interpostos pelo Sindifast, por divergência jurisprudencial, e, no mérito, deu-lhes provimento para julgar improcedente a ação de cobrança ajuizada pelo Sinthoresp e restabelecer a sentença. Ressalvaram entendimento os Ministros Ives Gandra Martins Filho, Luiz Philippe Vieira de Mello Filho e Augusto César Leite de Carvalho. TST-E-ED-RR-880-42.2010.5.02.0072, SBDI-I, rel. Min. Alexandre Agra Belmonte, 26.2.2015 (Informativo nº 100)
Enquadramento sindical
Matéria afetada ao Tribunal Pleno. Empregado da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT. Atuação no Banco Postal. Enquadramento como bancário. Impossibilidade.
Empregado da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT atuante no Banco Postal, conquanto exerça certas atividades peculiares de bancário, não pode ser enquadrado como tal. Logo, não tem direito às normas coletivas da aludida categoria profissional nem à jornada de trabalho reduzida de seis horas prevista no art. 224 da CLT. Na espécie, consignou-se que a atividade econômica predominante do empregador, qual seja, a prestação de serviços postais, deve prevalecer para fins de enquadramento sindical dos empregados do Banco Postal. Ademais, conforme se extrai da Resolução n.º 3.954/2011 do Conselho Monetário Nacional e da Portaria n.º 588/2000 do Ministério das Comunicações, nos bancos postais são realizadas apenas atividades acessórias e não atividades tipicamente bancárias, não havendo, portanto, identidade substancial entre as condições de trabalho específicas dos bancários, em tese, mais desgastantes, e aquelas a que submetidos os empregados do Banco Postal. De outra sorte, por ter o escopo de democratizar o acesso à atividade bancária e dar efetividade ao disposto no caput do art. 192 da CF, o Banco Postal é uma entidade de interesse público, o que atrai a aplicação do art. 8° da CLT no que tange à vedação de que o interesse particular ou de classe prevaleça. Assim, a ECT não pode ser equiparada a estabelecimento bancário ou financeiro, sendo a ela inaplicável a diretriz da Súmula n° 55 do TST e as disposições contidas na Lei n° 4.595/64. Sob esses fundamentos, o Tribunal Pleno decidiu, por maioria, conhecer do recurso de embargos, por divergência jurisprudencial, vencidos os Ministros Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, Augusto César Leite de Carvalho, José Roberto Freire Pimenta, Delaíde Miranda Arantes, Alexandre de Souza Agra Belmonte, Cláudio Mascarenhas Brandão, Douglas Alencar Rodrigues, Renato de Lacerda Paiva e Aloysio Corrêa da Veiga. No mérito, também por maioria, o Tribunal deu provimento aos embargos para afastar o enquadramento do reclamante como bancário e julgar totalmente improcedente a reclamação trabalhista, vencidos os Ministros Augusto César Leite de Carvalho, José Roberto Freire Pimenta, Delaíde Miranda Arantes, Hugo Carlos Scheuermann, Alexandre de Souza Agra Belmonte, Cláudio Mascarenhas Brandão, Douglas Alencar Rodrigues, Maria Helena Mallmann, Renato de Lacerda Paiva e Luiz Philippe Vieira de Mello Filho. TST-E-RR-210300-34.2007.5.18.0012, Tribunal Pleno, rel. Min. Dora Maria da Costa, 24.11.2015 (Informativo nº 125)
Condutas antissindicais
Dano moral coletivo. Caracterização. Conduta antissindical. Convenção coletiva de trabalho.
Financiamento do sindicato profissional com recursos provenientes do empregador.
O financiamento do sindicato profissional com recursos provenientes do empregador (taxa negocial), conforme firmado em cláusula de convenção coletiva de trabalho, configura conduta antissindical que, ao impossibilitar a autonomia da negociação coletiva, fragiliza o sistema sindical e a relação entre empregados e empregadores, ensejando, portanto, a reparação por dano moral coletivo. Na espécie, registrou-se que, embora a cláusula em questão tenha sido suspensa por força de liminar requerida pelo Ministério Público do Trabalho nos autos de ação civil pública, restou caracterizada a conduta ilícita, de modo que a inexistência de efetiva lesão não afasta a necessidade de reparação, sob pena de retirar a proteção jurídica dos direitos coletivos. Com esse entendimento, a SBDI-I, por unanimidade, conheceu dos embargos interpostos pelo MPT, por divergência jurisprudencial e, no mérito, deu-lhes provimento para restabelecer o acórdão do Regional, impondo a condenação no importe de R$ 10.000,00 a título de dano moral coletivo. TST-E-ARR-64800- 98.2008.5.15.0071, SBDI-I, rel. Min. Aloysio Corrêa da Veiga, 12.2.2015 (Informativo nº 100)
Contribuição sindical rural
Contribuição sindical patronal. Holding pura. Ausência de empregados. Não recolhimento. O sistema sindical brasileiro é fundado na agremiação de trabalhadores em contraposição simétrica a agremiações de empregadores que se unem em razão da defesa de interesses comuns pertinentes às relações de trabalho. Quando o agente econômico não possui empregados, a possibilidade de receber uma contrapartida da entidade sindical que supostamente o representa fica comprometida, colocando um óbice lógico-jurídico à representação pela entidade de classe. Em outras palavras, o objetivo das contribuições
sindicais é viabilizar o funcionamento do sistema sindical brasileiro e este, por sua vez, busca favorecer o diálogo entre a classe patronal e a de trabalhadores com vistas à fixação das condições de trabalho. Assim, no caso de uma holding pura, ou seja, agente societário dedicado à administração de bens e participação em outras sociedades, sem desempenho de atividades econômicas e sem a contratação de empregados, não se pode exigir o recolhimento da contribuição sindical patronal (interpretação sistemática dos arts. 570, 579 e 580 da CLT e 109 e 114 do CTN). Sob esses fundamentos, a SBDI-I, por unanimidade, conheceu dos embargos por divergência jurisprudencial e, no mérito, por maioria, negou-lhes provimento. vencidos os Ministros Aloysio Corrêa da Veiga, relator, Renato de Lacerda Paiva e Alexandre de Souza Agra Belmonte. TST-E-RR-2058-44.2011.5.03.0078, SBDI-I, rel. Min. Aloysio Corrêa da Veiga, red. p/ o acórdão Min. Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, 18.2.2016 (Informativo nº 129)
PARTE II – DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO
p. 816-818: Os comentários da OJ nº 26 da SDI-I do TST foram alterados:
Orientação Jurisprudencial nº 26 da SDI – I do TST. Competência da Justiça
do Trabalho. Complementação de pensão requerida por viúva de ex-
empregado
A Justiça do Trabalho é competente para apreciar pedido de complementação
de pensão postulada por viúva de ex-empregado, por se tratar de pedido que
deriva do contrato de trabalho.
Inicialmente, travou-se discussão acerca da própria competência da Justiça do
Trabalho para julgar pedidos de complementação de aposentadoria.
Isso porque os empregadores alegavam que o vínculo formado na
complementação era entre o instituto de previdência privada e o empregado, sendo o
empregador mero repassador das contribuições. No entanto, o C. TST, pacificou o
entendimento de que era da Justiça especializada a competência para dirimir tal
questão, por entender que a complementação de aposentadoria decorre da relação de
trabalho.
Passou-se, então, a questionar a competência da Justiça do Trabalho, quando a
complementação fosse requerida por viúva ou dependente de ex-empregado.
Sustentavam os empregadores que o art. 114 da CF/88, em sua redação original, previa
a competência da Justiça obreira em razão da pessoa, isto é, empregado e empregador,
de modo que não poderia ser admitida a competência para a discussão de relação entre
viúva e ex-empregador. Contudo, o Tribunal Superior do Trabalho entendeu, de forma
acertada, que a complementação de aposentadoria está conectada ao contrato de
trabalho, até mesmo porque, em regra, decorre de norma coletiva ou regulamento de
empresa, o que atrairia a competência da Justiça do Trabalho.
Com o advento da EC nº 45/04 restou pacificada ainda mais a questão, vez que
o art. 114, I, da CF/88 declina expressamente a competência em razão da matéria.
Assim, decorrendo a complementação da aposentadoria do contrato de trabalho, não
havia dúvida de que a Justiça competente para dirimir qualquer conflito dela derivado é
a Justiça do Trabalho, mesmo em se tratando de viúva ou dependentes de ex-
empregado.
Ocorre, no entanto, que, embora pacificado no âmbito do TST, o E. STF foi
provocado nos recursos extraordinários nº 586453 e 583050 a se manifestar acerca da
competência da Justiça do trabalho para julgar tais ações quando ajuizadas em face da
entidade privada de previdência complementar.
Depois de amplo debate sobre o tema, o STF decidiu que a competência para o
julgamento de tais processos é da Justiça Comum, quando se tratar de entidade privada
de previdência complementar, sob o fundamento de que a complementação de
aposentadoria deriva de uma relação previdenciária autônoma, não sendo, portanto,
decorrente da relação de trabalho a legitimar a competência da Justiça Laboral.
Argumentou o Exmo. Ministro Dias Toffoli, em seu voto, que o art. 202, § 2º, da
CF, declara expressamente que a previdência complementar não integra o contato de
trabalho. Ademais, o art. 14, II, da LC nº 109/01 permite a portabilidade do direito
acumulado pelo participante para outro plano, o que significa que o trabalhador poderá
migrar de um fundo para outro, independentemente da relação de trabalho firmada.
Decidiu, portanto, que a competência para julgar as ações de
complementação de aposentadoria é da Justiça Comum, quando se tratar de
discussão com a entidade de privada de previdência complementar.
Contudo, a Suprema Corte modulou os efeitos da decisão (eficácia prospectiva
da decisão) em prol da segurança jurídica, declinando que manterá, na Justiça do
Trabalho, até final execução, todos os processos dessa espécie em que já tenha sido
proferida sentença de mérito139, até o dia 20.2.13 (data conclusão do julgamento do
recurso), enquanto os processos que não tinham sentença de mérito nessa data deverão
ser remetidos à Justiça Comum140.
A decisão do E. STF, embora aparentemente tenha solucionada a controvérsia,
há de ser bem interpretada.
As ações de complementação de aposentadoria podem decorrer de: 1) plano
instituído, regulamentado e pago pelo empregador; 2) plano por entidade privada de
previdência complementar.
Na primeira hipótese, trata-se de direito inserido no contrato de trabalho,
incidindo inclusive o art. 468 da CLT, que veda a alteração lesiva ao empregado, como
disposto pelo C. TST no item I da Súmula nº 288. Nesse caso, a competência é da
Justiça do Trabalho, como se verifica pelas decisões das Cortes Superiores a seguir
transcritas: EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA A CARGO DO EX-EMPREGADOR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA JULGAR E APRECIAR A CAUSA. ANÁLISE DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULAS 279 E 454 DO STF. 1. A jurisprudência do STF é no sentido de que compete à Justiça do Trabalho o julgamento de ação de complementação de aposentadoria a cargo do ex-empregador (RE 716.896 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, DJe 29/04/2013; AI 670715 AgR-ED,
139. Complementação de aposentadoria. Competência. STF-RE nº 586.453. Sentença prolatada antes de
20.02.2013 que decidiu pela incompetência da Justiça do Trabalho. Ausência de decisão de mérito.
Competência da Justiça comum. O STF, nos autos do processo RE nº 586.453, decidiu que as demandas
relativas à complementação de aposentadoria são da competência da Justiça comum, mas determinou que
os efeitos dessa decisão, com repercussão geral, fossem modulados a fim de se manter a competência da
Justiça do Trabalho nas situações em que já houvesse sido proferida decisão de mérito até a data daquele
julgamento (20.2.2013). Assim, tendo em conta que a sentença, mantida pelo TRT, que declarou a
incompetência da Justiça do Trabalho para o julgamento de reclamatória relativa a diferenças de
complementação de aposentadoria não pode ser considerada decisão de mérito, a SBDI-I, por unanimidade,
conheceu dos embargos interpostos pela reclamada, por divergência jurisprudencial, e, no mérito, por
maioria, deu-lhes provimento para restabelecer a referida sentença e determinar a remessa dos autos à
Justiça comum. Vencidos os Ministros João Oreste Dalazen, Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, Delaíde
Miranda Arantes e Brito Pereira, os quais negavam provimento aos embargos por entenderem que a decisão
da Suprema Corte limitou a competência residual da Justiça do Trabalho aos casos em que houver sentença
proferida até 20.2.2013, seja ela de mérito ou não. TST-E-ED-ED-ED-RR-1011-92.2011.5.03.0059, SBDI-I,
rel. Min. Renato de Lacerda Paiva, 3.4.2014 (Informativo nº 78)
140. RE nº 586.453-7 RG/SE. Rel. Min. Ellen Gracie. julg. 10.9.2009. Dje 02.10.2009; RE nº 594.435-2 RG/SP.
Rel. Min. Marco Aurélio. julg. 13.2.2009. Dje 6.11.2009.
Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 17/08/2010, DJe 03/09/2010). 2. Não há como examinar matéria fático-probatória e interpretar cláusulas contratuais com o fim de se concluir que a relação entre as partes não decorre do contrato de trabalho (Súmulas 279 e 454 do STF). 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (negritei e sublinhei)141. PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO (NEGATIVO) DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA ESTADUAL E JUSTIÇA DO TRABALHO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA A CARGO DO EX-EMPREGADOR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. PRECEDENTES DO STF. Conflito conhecido para declarar a competência do juízo da 7ª vara do trabalho de santos/SP, o suscitado142. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA PAGA PELA RECLAMADA (COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO - SABESP), EX-EMPREGADORA DO RECLAMANTE. INAPLICABILIDADE DA MODULAÇÃO DE EFEITOS ESTABELECIDA NAS DECISÕES PROFERIDAS NOS RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS NºS 586453 e 583050. O Supremo Tribunal Federal, por ocasião do julgamento dos Recursos Extraordinários nºs 586453 e 583050, interpostos pela Fundação Petrobras de Seguridade Social (Petros) e pelo Banco Banespa S.A., respectivamente, processos julgados mediante o critério de repercussão geral, em sessão realizada em 20/2/2013, fixou o entendimento de que carece competência a esta Justiça especializada para processar e julgar as demandas que envolvam pedido de complementação de aposentadoria contra entidade de complementação de aposentadoria privada. Entretanto, a hipótese sub judice não é a mesma discutida nos autos dos citados recursos extraordinários, ou seja, a complementação de aposentadoria não era paga por entidade privada de aposentadoria complementar, mas pela própria reclamada Sabesp (ex-empregadora do reclamante), com recursos da Fazenda Pública do Estado de São Paulo. Impende frisar que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento dos Recursos Extraordinários nºs 586453 e 583050, considerou o pagamento da complementação de aposentadoria feito por entidade de previdência privada, sem vínculo trabalhista com o reclamante, para afastar a competência da Justiça do Trabalho. Já no caso de aposentadoria complementar decorrente do contrato de trabalho e paga pelo empregador, aquela Corte firmou o entendimento de que esta Justiça especializada possui competência para apreciar e julgar o feito. Assim, nos termos da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e desta Corte, é inaplicável à hipótese dos autos (inexistência de pagamento por meio de entidade privada de complementação de aposentadoria) a modulação de efeitos estabelecida nas decisões proferidas nos citados recursos extraordinários, sendo irrelevante a existência de decisão anterior a 20/02/2013, ressalvado entendimento em sentido contrário do Relator. Portanto, o Tribunal a quo, ao manter a sentença pela qual foi declarada a incompetência da Justiça do Trabalho para apreciar e julgar a ação em curso em que o pedido de diferenças de complementação de aposentadoria decorre do contrato de trabalho e era pago por sua antiga empregadora (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo - Sabesp), afrontou o artigo 114 da Constituição Federal. Recurso de revista conhecido e provido143.
Na segunda hipótese, é possível pelo menos duas modalidades de ações:
- uma em face do empregador requerendo o pagamento de
diferenças na complementação de aposentadoria que não foram corretamente
quitadas pelo empregador; e
141 STF. Segunda Turma, AgR-AI 699.063, Relator: Ministro Teori Zavascki, DJe nº 125, publicado em
01/07/2013. 142 STJ. CC 134.542; Proc. 2014/0152494-0; SP; Primeira Seção; Rel. Min. Mauro Campbell Marques 143 TST-RR-341-36.2013.5.02.0019, Relator Ministro José Roberto Freire Pimenta, 2ª Turma, publicado no
DEJT de 20/03/2015.
- outra em face da entidade de previdência privada para discutir o
próprio benefício da aposentadoria complementar como, por exemplo, se as
regras para sua concessão são as estabelecidas no momento da contratação ou
as instituídas na época em que preenchidos todos os requisitos para a aquisição
do benefício.
A ação em face do empregador continua sendo de competência da Justiça do
Trabalho, porque decorrentes da relação do trabalho (CF/ 114, I).
Já a ação em face da entidade de previdência privada é da Justiça Comum, o que
significa que a decisão do E. STF atinge tão somente essa última hipótese. Portanto, a
competência da Justiça Comum não é definida apenas pela matéria a ser julgada, mas
também pela parte144, ou seja, quando a entidade de previdência complementar estiver
no polo passivo.
De qualquer modo, é importante destacar que, como anunciado acima, as ações
ajuizadas em face da entidade de previdência privada, que tinham sentença de mérito no
dia 20.2.13, continuaram na Justiça do Trabalho. Quero dizer, a ação é de competência
da Justiça comum, mas em decorrência da modulação dos efeitos da decisão do STF, se já
tinha sentença de mérito será julgada em grau recursal pela Justiça do Trabalho. Nesse
caso, como se trata de relação previdenciária e não trabalhista, o C. TST entendeu que,
nessa hipótese, os julgamentos devem ocorrer com base na sistemática previdenciária e
não com regras do direito do trabalho, afastando especialmente a aplicação do princípio
da inalterabilidade lesiva. É por isso que o C. TST alterou seu entendimento na Súmula
nº 288, inserindo o item III, observada a modulação descrita no item IV.
Com efeito, atualmente, as ações de complementação de aposentadoria
ajuizadas pelos dependentes e viúvas em face do empregador são de competência da
Justiça do Trabalho, aplicando-se a orientação em exame. Já as ajuizadas em face da
entidade privada de previdência complementar são de competência da Justiça Comum.
P. 841: SÚMULAS DOS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO (RELACIONADOS AO
CAPÍTULO II)
(ACRESCENTADAS AO CAPÍTULO II – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Competência
Competência em razão da matéria e da pessoa
Súmula n.º 01 do TRT da 16ª Região - justiça do trabalho. Competência. Contrato nulo.
A Justiça do Trabalho é competente para apreciar e julgar as ações em que se discute a
nulidade do contrato de trabalho firmado com a Administração Pública, face a não
observância do disposto no art. 37,II, da Constituição Federal de 1988.
_____________________________________________________________________________________________________
Súmula n.º 76 do TRT da 12ª Região - Município de Tubarão. Servidor público.
Contratação pelo regime da clt. Prazo indeterminado. Competência da justiça do
trabalho.
144 TST-RR -107000-90.2004.5.02.0017, Relator Ministro: Aloysio Corrêa da Veiga, Data de Julgamento: 15/04/2015, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 17.4.2015.
A Justiça do Trabalho é competente para o julgamento de ações oriundas de contratos
de trabalho por prazo indeterminado entre o Município de Tubarão e os servidores
admitidos pelo regime da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, ainda que coexistam
no Município dois regimes jurídicos: celetista e estatutário. Aplicação do artigo 114, I, da
Constituição Federal.
_____________________________________________________________________________________________________
Súmula n.º 15 do TRT da 20ª Região - Averbação do tempo de serviço para efeitos
previdenciários. Incompetência da justiça do trabalho.
A determinação para que o INSS proceda às alterações dos registros cadastrais de
trabalhador constantes no CNIS (Cadastro Nacional de Informações Sociais) em relação
a vínculo firmado com empregador refoge da competência da Justiça do Trabalho,
mormente em se considerando que a autarquia não fez parte da relação processual,
conforme dicção do artigo 472 do CPC e entendimento sedimentado da OJ nº 57 da SDI-
2 do Colendo TST.
_____________________________________________________________________________________________________
Súmula n.º 35 do TRT da 18ª Região - COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA.
SENTENÇA QUE ACOLHE A PRESCRIÇÃO TOTAL COM DATA ANTERIOR A
20/02/2013. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO.
A sentença de mérito nos moldes do art. 269, IV, do CPC, proferida em data anterior a
20/02/2013, fixa a competência residual da Justiça do Trabalho para prosseguir no
processamento e julgamento da lide que envolve o pedido de complementação de
aposentadoria em face de entidade de previdência privada.
_____________________________________________________________________________________________________
Súmula n.º 31 do TRT da 23ª Região - Expedição de alvará para levantamento do
FGTS. Incompetência da justiça do trabalho.
A Justiça do Trabalho é incompetente para processar e julgar ação que vise a expedição
de alvará judicial para levantamento do FGTS, visto não versar controvérsia oriunda da
relação de trabalho, não se amoldando aos lindes do art. 114, I, da Constituição Federal.
_____________________________________________________________________________________________________
Competência Territorial
Súmula n.º 42 do TRT da 18ª Região - Competência territorial. Art. 651 da clt.
Flexibilização.
Excepcionalmente, admite-se a flexibilização das regras de competência territorial
fixadas no art. 651 da CLT, a fim de permitir o ajuizamento de reclamação trabalhista no
foro do domicílio do empregado, desde que não seja prejudicado o acesso do
réu/empregador a uma ordem jurídica justa e efetiva.
p. 850, 867, 1560 e 1707: A redação da Súmula nº 407 do TST foi alterada pela Res. nº
208/2016
Súmula nº 407 do TST. Ação rescisória. Ministério Público. Legitimidade "ad
causam" prevista no art. 967, III, "a", "b" e "c" do CPC de 2015. Art. 487, III, "a"
e "b", do CPC de 1973. Hipóteses meramente exemplificativas.
A legitimidade "ad causam" do Ministério Público para propor ação rescisória,
ainda que não tenha sido parte no processo que deu origem à decisão
rescindenda, não está limitada às alíneas "a", "b" e "c" do inciso III do art. 967
do CPC de 2015 (art. 487, III, "a" e "b", do CPC de 1973), uma vez que
traduzem hipóteses meramente exemplificativas.
p. 853 e 867: A redação da OJ nº 130 da SDI-I foi alterada pela Res. nº 209/2016:
Orientação Jurisprudencial nº 130 da SDI – I do TST. Prescrição. Ministério público.
Arguição. “Custos legis”. Ilegitimidade
Ao exarar o parecer na remessa de ofício, na qualidade de “custos legis”, o Ministério Público
não tem legitimidade para arguir a prescrição em favor de entidade de direito público, em
matéria de direito patrimonial.
P. 892: SÚMULAS DOS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO (RELACIONADAS AO
CAPÍTULO IV)
(ACRESCENTADAS AO CAPÍTULO IV – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Substituição Processual
Súmula nº 45 do TRT da 2ª Região - Sindicato. Substituição processual. Banco do
Brasil. Horas extras além da 6ª diária. Cargo específico. Direito individual não
homogêneo. Ilegitimidade.
O Sindicato profissional não detém legitimidade para postular, na qualidade de
substituto processual dos empregados do Banco do Brasil, ainda que ocupantes de um
determinado cargo e setor, o pagamento de horas extras além da 6ª diária, sob a
alegação de irregular enquadramento do bancário comum como exercente de cargo de
confiança, uma vez que se trata de direito individual não homogêneo.
_______________________________________________________________________________________________________________
Súmula n.º 46 do TRT da 18ª Região - litispendência. Coisa julgada. Substituição
processual. Ação coletiva e ação individual. Efeitos.
I. Não há litispendência entre a ação individual e a ação coletiva proposta em defesa de
interesses ou direitos individuais homogêneos. II. O autor da ação individual não será
beneficiado com os efeitos erga omnes e ultra partes da ação coletiva, salvo se requerer a
suspensão daquela no prazo de 30 (trinta) dias, a contar da ciência nos autos do
ajuizamento da ação coletiva.
p. 903-905, 1164-1166 e 1359-1361: Os comentários à OJ nº 286 da SDI-I do TST
foram alterados
Orientação Jurisprudencial nº 286 da SDI – I do TST. Agravo de
instrumento. Traslado. Mandato tácito. Ata de audiência. Configuração
I - A juntada da ata de audiência, em que consignada a presença do advogado,
desde que não estivesse atuando com mandato expresso, torna dispensável a
procuração deste, porque demonstrada a existência de mandato tácito.
II - Configurada a existência de mandato tácito fica suprida (sic145) a
irregularidade detectada no mandato expresso.
I - A juntada da ata de audiência, em que consignada a presença do advogado,
desde que não estivesse atuando com mandato expresso, torna dispensável a
procuração deste, porque demonstrada a existência de mandato tácito.
O agravo de instrumento, no processo do trabalho, tem cabimento dos
“despachos que denegarem a interposição de recursos” (CLT, art. 897, b). Sua
regulamentação procedimental vem descrita nos parágrafos do referido artigo, exigindo-
se, dentre outros pressupostos, a formação de instrumento, consistente na extração de
cópias das peças necessárias ao julgamento do agravo e do recurso denegado. Isso ocorre
porque, em regra, o agravo de instrumento é processado em autos separados e o
provimento do agravo possibilita o imediato julgamento do recurso trancado.
Dentre os documentos obrigatórios para a formação do instrumento, têm-se as
cópias autênticas das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do
agravado, nos termos do art. 897, § 5º, I, da CLT, tendo a finalidade de demonstrar a
capacidade postulatória. Com efeito, não sendo juntadas as procurações, o instrumento
não estará adequadamente formado, o que provocará o não conhecimento do recurso. A
propósito, não se admite na hipótese a conversão do julgamento em diligência (IN nº
16/99, X) 146.
No entanto, é sabido que a procuração é a instrumentalização do mandato, ou
seja, decorre do mandato expresso. Sabe-se também que o mandato poderá ser expresso
ou tácito, como já tivemos a oportunidade de comentar na Súmula nº 164 do TST e na OJ
nº 200 da SDI – I do TST, às quais remetemos o leitor.
No mandato tácito exige-se que a parte compareça em juízo com o
advogado, participando este de, no mínimo, uma audiência.
Assim, para formação válida do instrumento, poderá ser apresentada a
procuração, quando houver mandato expresso ou, na hipótese de mandato tácito, com
a juntada da ata de audiência em que o patrono esteve presente com a parte
patrocinada.
Entretanto, registra-se que, tendo mandato expresso válido, o patrono não
poderá tentar se valer de mandato tácito posterior, porque aquele impede a existência
deste. Em outros termos, estando o patrono devidamente constituído nos autos, seu
mandato sempre será expresso, jamais tácito, devendo nesse caso juntar a procuração.
Dessa forma, se o patrono deixa de juntar, por equívoco, a procuração para
145. Suprida decorre de suprir que significa abastecer. Ao nosso juízo, melhor seria suprimida que
deriva do verbo suprimir, o qual significa extinguir, eliminar, tirar etc.
146. “Cumpre às partes providenciar a correta formação do instrumento, não comportando a omissão
em conversão em diligência para suprir a ausência de peças, ainda que essenciais” (TST-IN n. 16/99, X).
formação do instrumento, sua presença na ata de audiência é incapaz de validar o
instrumento, porque o mandato tácito, nesse caso, não terá validade.
II – Configurada a existência de mandato tácito fica suprida a irregularidade
detectada no mandato expresso.
O item II dessa orientação, por sua vez, trata de hipótese diversa do item
anterior.
Isso porque, no caso do item I, o patrono tem procuração válida nos autos e,
deixando de juntá-la para formação do instrumento, tenta valer-se do mandato tácito.
No presente caso, o mandato expresso do procurador é inválido e, portanto, incapaz de
produzir efeitos. Assim, se o mandato não produziu efeito, é como se o patrono não
tivesse procuração expressa nos autos. Nessa hipótese, portanto, ele poderá se valer do
mandato tácito. Exemplificamos: A empresa X apresenta procuração nos autos que não contêm seu nome, bem como do signatário da procuração. Nos termos da Súmula nº 456 do TST essa procuração é inválida. Nesse caso, para formação do instrumento é permitida a juntada da ata de audiência em que o patrono esteve presente com o preposto da empresa.
Resumindo, tendo o patrono mandato expresso válido no processo, tem a
obrigação de juntar cópia autenticada da procuração para formação do instrumento, sob
pena de não conhecimento do recurso. Agora, se o mandato juntado nos autos é inválido,
porque não preenche o disposto no art. 654, § 1º, do CC/02, ele não produzirá efeito,
razão pela qual poderá o advogado juntar para a formação do instrumento a ata da
audiência em que participou como patrono da parte, configurando o mandato tácito,
sendo este, portanto, eficaz para formar o instrumento.
p. 912: A redação da OJ nº 371 da SDI-I do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016
Orientação Jurisprudencial nº 371 da SDI-I do TST. Irregularidade de representação. Substabelecimento não datado. Inaplicabilidade do art. 654, § 1º, do Código Civil. Não caracteriza a irregularidade de representação a ausência da data da outorga de poderes, pois, no mandato judicial, ao contrário do mandato civil, não é condição de validade do negócio jurídico. Assim, a data a ser considerada é aquela em que o instrumento for juntado aos autos, conforme preceitua o art. 409, IV, do CPC de 2015 (art. 370, IV, do CPC de 1973). Inaplicável o art. 654, § 1º, do Código Civil.
p. 922: A redação da OJ nº 255 da SDI-I do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016
Orientação Jurisprudencial nº 255 da SDI-I do TST. Mandato. Contrato social. Desnecessária a juntada. O art. 75, inciso VIII, do CPC de 2015 (art. 12, VI, do CPC de 1973) não determina a exibição dos estatutos da empresa em juízo como condição de validade do instrumento de mandato outorgado ao seu procurador, salvo se houver impugnação da parte contrária.
p. 930-935: A redação da Súmula nº 219 do TST foi alterada pela Res. nº 204/2016,
razão pela qual seus comentários também foram alterados
Súmula nº 219 do TST. Honorários advocatícios. Cabimento
I - Na Justiça do Trabalho, a condenação ao pagamento de honorários
advocatícios não decorre pura e simplesmente da sucumbência, devendo a
parte, concomitantemente: a) estar assistida por sindicato da categoria
profissional; b) comprovar a percepção de salário inferior ao dobro do salário
mínimo ou encontrar-se em situação econômica que não lhe permita
demandar sem prejuízo do próprio sustento ou da respectiva família.
(art.14,§1º, da Lei nº 5.584/1970).
II - É cabível a condenação ao pagamento de honorários advocatícios em ação
rescisória no processo trabalhista.
III – São devidos os honorários advocatícios nas causas em que o ente sindical
figure como substituto processual e nas lides que não derivem da relação de
emprego.
IV – Na ação rescisória e nas lides que não derivem de relação de emprego, a
responsabilidade pelo pagamento dos honorários advocatícios da
sucumbência submete-se à disciplina do Código de Processo Civil (arts. 85, 86,
87 e 90).
V – Em caso de assistência judiciária sindical, revogado o art. 11 da Lei nº
1060/50 (CPC de 2015, art. 1072, inc. III), os honorários advocatícios
assistenciais são devidos entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento
sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo
possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa (CPC de 2015, art. 85, §
2º).
VI - Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, aplicar-se-ão os
percentuais específicos de honorários advocatícios contemplados no Código
de Processo Civil.
I - Na Justiça do Trabalho, a condenação ao pagamento de honorários advocatícios
não decorre pura e simplesmente da sucumbência, devendo a parte,
concomitantemente: a) estar assistida por sindicato da categoria profissional; b)
comprovar a percepção de salário inferior ao dobro do salário mínimo ou
encontrar-se em situação econômica que não lhe permita demandar sem prejuízo
do próprio sustento ou da respectiva família. (art.14,§1º, da Lei nº 5.584/1970).
O Tribunal Superior do Trabalho não admite o pagamento de honorários
advocatícios na Justiça Laboral pela mera sucumbência147, exigindo para sua concessão a
presença cumulativa de dois requisitos:
1) estar assistido pelo sindicato da categoria;
2) ser beneficiário da justiça gratuita (comprovar a
percepção de salário igual148 ou inferior ao dobro do salário
147. No mesmo sentido a Súmula nº 633 do STF: “Cabimento – Condenação em Verba Honorária –
Recursos Extraordinários – Interposição em Processo Trabalhista – Exceção. É incabível a condenação em
verba honorária nos recursos extraordinários interpostos em processo trabalhista, exceto nas hipóteses
previstas na Lei 5.584/70”.
148. Embora a súmula não declare o salário igual ao mínimo legal, o art. 790, § 3º, da CLT é expresso
nesse sentido, ou seja, o benefício da justiça gratuita atinge os que recebem salário igual ou inferior ao
mínimo ou que se encontra em situação econômica que não lhe
permita demandar sem prejuízo do próprio sustento ou da
respectiva família).
Embasa sua restrição nos seguintes argumentos:
a) na existência do jus postulandi, pois é faculdade da parte
contratar advogado; e
b) no art. 14 da Lei nº 5.584/70, que permite tão somente a
condenação dos honorários quando o empregado estiver
assistido pelo sindicato, além de ser beneficiário da justiça
gratuita.
Noutras palavras, como no processo do trabalho a parte pode atuar sem
advogado, caso o contrate a parte contrária não poderá ficar responsável pelo pagamento
de seus honorários, ficando a cargo, exclusivamente, do contratante. Além disso, não tendo
condições de arcar com os honorários de seu advogado, deverá se valer da assistência
judiciária gratuita, prevista no art. 14 da Lei nº 5.584/70.
Portanto, a assistência judiciária gratuita consiste no direito de postular em
juízo sem ter que pagar as despesas do processo e os honorários ao seu advogado, por
estar em estado de miserabilidade. No processo do trabalho, ela é oferecida pelo sindicato
da categoria, sendo prestada ao trabalhador, ainda que não seja associado ao sindicato da
categoria (art. 18 da Lei 5.584/70).
Nesse contexto, o vínculo formado na assistência judiciária gratuita é entre o
empregado e o sindicato assistente e não diretamente com o advogado. Este é contratado
pelo sindicato e não pelo empregado. Assim, como o sindicato tem o dever de prestar
assistência judiciária gratuita aos integrantes da categoria, o ordenamento recompõe seus
gastos com a condenação da parte contrária ao pagamento dos honorários. O advogado do
sindicato, por sua vez, cobra diretamente do sindicato, conforme estipulado entre eles.
Portanto, os honorários (assistenciais) são destinados ao sindicato da categoria e
não ao advogado149.
Essa é a sistemática vigente e preconizada pela presente súmula, admitindo tão
somente a condenação aos honorários assistenciais e afastando o cabimento dos
honorários sucumbenciais150.
Pensamos, porém, que este item sumular somente tem incidência quando for o
caso de atuação do sindicato na assistência judiciária gratuita, não devendo prevalecer
quando se tratar de advogado particular.
Primeiro, porque a Lei nº 5.584/70 disciplina a atuação do ente sindical em
juízo, não fazendo nenhuma ressalva quanto à atuação do advogado privado e o
consequente pagamento de honorários advocatícios.
Segundo, porque a regra disposta no art. 791 da CLT tão somente garante o
dobro do mínimo legal. No mesmo sentido, a redação do art. 14, § 1º, da Lei 5.584/70.
149. “Os honorários do advogado, pagos pelo vencido, reverterão em favor do Sindicato assistente” (art.
16 da Lei nº 5.584/70).
150 Honorários assistenciais são aqueles derivados da assistência judiciária gratuita, sendo devidos ao
sindicato. Já os honorários de sucumbência são pagos pelo vencido, sendo fixados pelo juiz, observado os
parâmetros do art. 85 do NCPC.
exercício facultativo do jus postulandi, não vedando a utilização de advogado privado e o
pagamento dos honorários advocatícios.
Terceiro, porque o advogado particular presta serviço para o qual está
habilitado, sendo-lhe devida a respectiva remuneração, denominada honorários
sucumbenciais, que inclusive possui natureza alimentar (NCPC, art. 85, 14).
Quarto, porque na Justiça do Trabalho, assim como nos demais ramos do
Judiciário, vige o princípio da sucumbência, tanto que o art. 790-B da CLT é expresso em
direcionar a responsabilidade pelo pagamento dos honorários periciais à parte
sucumbente na pretensão objeto da perícia.
Quinto, porque o acesso à justiça não se faz com a mera abertura das portas do
judiciário para as partes, mas, sim, com a tutela efetiva de seus direitos, o que passa pela
presença do advogado, já que o direito e o processo do trabalho exigem conhecimento
específico, o que, em regra, não possui as partes que litigam em juízo. Além disso, o
dinamismo existente nessa seara exige atualização constante, o que dificulta ainda mais
a incidência do jus postulandi. Assim, “o auxílio de um advogado é essencial, senão
indispensável para decifrar leis cada vez mais complexas e procedimentos misteriosos,
necessários para ajuizar uma causa. Os métodos para proporcionar a assistência
judiciária àqueles que não a podem custear são, por isso mesmo, vitais”151.
Sexta, porque a Instrução Normativa nº 27 do TST disciplinou, em seu art. 5º,
que “exceto nas lides decorrentes da relação de emprego, os honorários advocatícios são
devidos pela mera sucumbência”. Ora, não parece lógico e nem mesmo jurídico deferir
honorários advocatícios pela mera sucumbência nos casos de relação de trabalho, e, na
hipótese de relação de emprego, em que o empregado é hipossuficiente, exigir as
formalidades da súmula em comentário. O que faz o TST é criar maior ônus para a parte
que possui menos poder aquisitivo, qual seja, o trabalhador.
Poder-se-ia argumentar que a condenação ao pagamento de honorários
advocatícios prejudicaria o empregado que tivesse seus pedidos julgados
improcedentes. Inverte-se, porém, a ordem lógica, vez que se busca tutelar o
trabalhador que não tem razão, enquanto aquele que faz jus aos direitos postulados terá
redução de seus créditos pelo pagamento dos honorários advocatícios. A propósito, o
empregado vencido, se for beneficiário da justiça gratuita, estará isento do pagamento
dos honorários advocatícios, por força do art. 98, § 1º, do Novo CPC, afastando-se assim
qualquer argumento de prejuízos ao empregado hipossuficiente.
Sétima, porque o Tribunal Superior do Trabalho, por meio da Súmula nº 425,
restringiu o jus postulandi “às Varas do Trabalho e aos Tribunais Regionais do Trabalho,
não alcançando a ação rescisória, a ação cautelar, o mandado de segurança e os recursos
de competência do Tribunal Superior do Trabalho”. Isso quer dizer que, a partir desse
entendimento, as partes são obrigadas a contratar advogados quando o processo
extrapolar o âmbito dos Tribunais Regionais. Ora, se o jus postulandi não é facultativo,
afasta-se um dos fundamentos do TST para aplicar a Súmula nº 219 do TST, exigindo-se,
151. Mauro Cappelletti e Braynt Garth in SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. Honorários advocatícios no processo
do trabalho: uma reviravolta imposta também pelo novo código civil. Revista do Tribunal Regional do
Trabalho da 15ª Região, Campinas, São Paulo, nº 21, 2002. Disponível em:
<http://trt15.gov.br/escola_da_magistratura/Rev21Art4.pdf>. Acesso em: 17 ago. 2010.
portanto, seu cancelamento. O que fez a C. Corte foi exigir a presença do advogado, sem
que tivesse direito aos honorários advocatícios, violando ainda mais as regras dispostas
nas fundamentações descritas anteriormente.
Por todos esses argumentos, pensamos que é salutar o cancelamento deste
item sumular ou pelo menos sua limitação às hipóteses de assistência judiciária gratuita.
De qualquer modo, ainda que o C. TST mantenha o entendimento da presente
súmula, não admitindo os honorários advocatícios sucumbenciais, parece-nos que
quanto aos honorários contratuais, o entendimento deverá ser diverso.
Isso porque a condenação da parte vencida ao pagamento dos honorários
advocatícios decorre da responsabilidade da parte causadora do dano de repará-lo
integralmente, sob pena de gerar prejuízos à parte vencedora. Nesse sentido, o art. 404
do CC/02 contemplou: Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão
pagas com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente
estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem
prejuízo da pena convencional. (grifo nosso)
Ademais, o art. 389 CC/02 também declinou que:
Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por
perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo
índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de
advogado. (grifo nosso)
Verifica-se por este último dispositivo que a mera inadimplência é capaz de
gerar a obrigação de pagar honorários de advogado, não havendo nenhuma exigência de
sucumbência para seu pagamento152.
Aliás, é fundamento básico da prestação jurisdicional justa a não penalização
da parte que tenha razão com qualquer custo do processo, revertendo-se este à parte
vencida.
Desse modo, seja para possibilitar a condenação aos honorários sucumbenciais,
seja para reparar os gastos com os honorários contratuais, pensamos que o
entendimento desta súmula deveria ser cancelado.
II - É cabível a condenação ao pagamento de honorários advocatícios em ação
rescisória no processo trabalhista.
O presente item foi alterado pela Resolução nº 174/2011 do TST,
modificando totalmente o posicionamento anterior da Corte Trabalhista, vez que antes
152.“REPARAÇÃO DE DANOS – HONORÁRIOS CONTRATUAIS DE ADVOGADO. Os arts. 389 e 404 do Código
Civil autorizam o Juiz do Trabalho a condenar o vencido em honorários contratuais de advogado, a fim de
assegurar ao vencedor a inteira reparação do dano.” Enunciado nº 53 da 1ª Jornada de Direito Material e
Processual do Trabalho, realizada no TST. Em sentido contrário, TST-E-RR-20000- 66.2008.5.03.0055, SDI-I,
Rel. Min. Augusto César Leite de Carvalho. DJe. 5.6.2014. Em sentido contrário, Súmula nº 52 do TRT da 1ª
Região - Perdas e danos decorrentes da contratação de advogado. Não cabimento. No processo trabalhista,
o pagamento de honorários advocatícios e contratuais deve observar os requisitos da Lei nº 5.584/70 e o
disposto nas Súmulas 219 e 329 do TST; Súmula n.º 18 do TRT da 24ª Região - Perdas e danos.
Contratação de advogado. O entendimento consubstanciado na Súmula 219 do TST impede o deferimento
de indenização por perdas e danos decorrentes da contratação de advogado.
a súmula vedava a concessão de honorários advocatícios na hipótese de ação
rescisória, salvo se o empregado estivesse assistido pelo sindicato da categoria e fosse
beneficiário da justiça gratuita.
A modificação de posicionamento, embora tímida, teve como finalidade
compatibilizar o entendimento dessa súmula com o disposto na Súmula nº 425 do TST, a
qual não permite o jus postulandi nessa modalidade de ação, obrigando as partes a
contratarem advogado na hipótese. Noutras palavras, o TST entende que, sendo a ação
rescisória uma ação de rito especial disciplinada no processo civil, a capacidade
postulatória é restrita ao advogado.
Assim, como a capacidade postulatória no caso é privativa do advogado,
afasta-se a faculdade do jus postulandi, o que significa que não seria razoável e nem
mesmo jurídico exigir a presença do advogado e negar-lhe o recebimento dos
honorários advocatícios.
Registra-se, no entanto, que o presente item dessa súmula deveria ao menos
contemplar as hipóteses da Súmula nº 425 do TST, ou seja, a ação rescisória e os
recursos de competência do TST, excetuando apenas o mandado de segurança, que tem
vedação expressa de condenação ao pagamento de honorários advocatícios no art. 25 da
Lei nº 12.016/09153.
Por fim, pensamos que melhor seria o cancelamento total dessa súmula,
admitindo os honorários advocatícios na Justiça do Trabalho pela mera sucumbência,
adequando-se assim o processo do trabalho ao ordenamento vigente, além de permitir a
reparação integral do dano e viabilizar o verdadeiro acesso à justiça.
III – São devidos os honorários advocatícios nas causas em que o ente sindical
figure como substituto processual e nas lides que não derivem da relação de
emprego.
A substituição processual no direito processual civil é vista como exceção,
admitindo-se sua aplicação tão somente quando norma expressa a permitir (NCPC, art.
18). No processo do trabalho, porém, a substituição processual ganha maior
relevância, ante a desigualdade existente entre os integrantes da relação empregatícia
que, consequentemente, espraia- se para a relação processual. A postulação, por
intermédio da entidade de classe, desonera (ainda que parcialmente) o trabalhador do
ônus de enfrentar seu empregador em juízo, individualmente, devendo a defesa
coletiva de direitos ser incentivada nessa seara, como meio de ampliar o acesso à
justiça dos cidadãos trabalhadores.
Nesse sentido, a Constituição Republicana de 1988, já em seu art. 8º, III,
conferiu ao sindicato a legitimidade, de forma ilimitada154, para tutelar os interesses
metaindividuais dos integrantes da categoria.
A coletivização das demandas rompe o período do liberalismo jurídico, quando
era exaltado o individualismo processual fundado na legitimação ordinária, caminhando
para o reconhecimento das lesões a direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos,
153. No mesmo sentido, a Súmula nº 512 do STF e Súmula nº 105 do STJ. Não fizemos referência às
ações cautelares, pois foram extintas pelo Novo CPC, exigindo mudança, nesse particular, na Súmula nº 425
do TST. 154. STF - RE 214.668-4. Rel. Min. Joaquim Barbosa. DJ. 24.8.2007.
tudo como forma de decidir, de forma mais célere, efetiva e de modo uniforme, as
demandas da sociedade.
Assim, como forma de exaltar o processo coletivo e observando decisão do STF
(RE 214.668-4), a Corte Trabalhista cancelou a Súmula nº 310 do TST admitindo a
ampla legitimidade do sindicato para representar os integrantes da categoria.
No entanto, a efetiva coletivização das demandas e o fortalecimento dos entes
sindicais passavam pela alteração do entendimento do TST acerca do pagamento dos
honorários advocatícios na hipótese de substituição processual.
Isso porque o C. TST, inicialmente, restringia a concessão dos honorários
advocatícios às hipóteses em que a parte estava assistida por sindicato da categoria
profissional e comprovasse a percepção de salário inferior ao dobro do salário-mínimo
ou se encontrasse em situação econômica que não lhe permitia demandar sem prejuízo
do próprio sustento ou da respectiva família. Noutros termos, somente admitia a
concessão de honorários no caso de representação do sindicato, vez que na hipótese de
substituição tornava-se quase que inviável a demonstração da miserabilidade dos
substituídos.
Ademais, com o cancelamento da Súmula nº 310 do TST, a exigência de
declaração de pobreza dos substituídos seria o mesmo que ressurgir o rol de
substituídos, o que é vedado na demanda coletiva, que visa, dentre outros objetivos, a
“despersonalizar” o processo, identificando os trabalhadores apenas no momento da
liquidação.
Além disso, a não concessão de honorários advocatícios na substituição
processual fomentava a atuação individual pelo sindicato, o que ia de encontro ao
moderno processo, que caminha para a coletivização das demandas.
Nesse contexto, o TST alterou seu posicionamento, passando a conceder os
honorários advocatícios, pela mera sucumbência, na hipótese de substituição
processual. Citamos trecho de precedente dessa súmula, reforçando nossa
fundamentação acerca do tema: Nada mais justo do que lhe assegurar os honorários advocatícios, tendo em vista o escopo jurídico de incentivar a promoção da defesa judicial dos direitos e interesses individuais e coletivos da categoria profissional, visando a eficácia social do dispositivo constitucional; tendo em vista o escopo político de fortalecer e tornar eficaz a ação sindical e sua afirmação no plano social no conflito entre o capital e o trabalho, despersonalizando a lide trabalhista; tendo em vista o escopo social no sentido da segurança das relações entre o capital e o trabalho, pois propicia solução uniforme dos conflitos coletivos, evitando-se a atomização das demandas e a instabilidade das relações jurídicas e das decisões judiciais e, finalmente, tendo em vista o escopo da economia, no sentido de que, na maior concentração de atores sociais e atos em menor tempo pode-se atingir a solução do conflito de interesses155.
Por fim, registra-se que o presente item também contemplou a concessão de
honorários advocatícios nas relações de trabalho pela mera sucumbência, atraindo o
disposto no art. 5º da Instrução Normativa nº 27 do TST, o qual estabelece que “exceto
nas lides decorrentes da relação de emprego, os honorários advocatícios são devidos
pela mera sucumbência”.
155. TST-RR-701011-49.2000.5.17.5555, 1ª Turma, Rel. Min Vieira de Mello Filho. DJ 1.12.2006.
IV – Na ação rescisória e nas lides que não derivem de relação de emprego, a
responsabilidade pelo pagamento dos honorários advocatícios da sucumbência
submete-se à disciplina do Código de Processo Civil (arts. 85, 86, 87 e 90).
Com o advento do Novo CPC, o C. TST, por meio da Resolução 208/2016,
incluiu este item sumular, acompanhando entendimento já trilhado pela Corte
trabalhista, antes do novel código, pois nessas hipóteses já entendia que a condenação
aos honorários advocatícios decorria da mera sucumbência, não aplicando os requisitos
da Lei nº 5.584/70156.
Portanto, nos casos de ação rescisórias e lides que não derivem de relação de
emprego a parte vencida ficará responsável pelo pagamento dos honorários
advocatícios da parte contrária.
Embora o C. TST já tivesse esse entendimento, a nosso juízo a inclusão deste
item sumular ocorreu de forma e em momento inadequados, vez que não decorre de
decisões reiteradas sobre dispositivos do Novo CPC. Tanto é assim que não existem
precedentes sobre o tema, o que afasta inclusive a sua observância obrigatória para o
futuro (NCPC, art. 927; TST-IN 39/2016, art. 15). Quero dizer, trata-se de súmula
meramente persuasiva e não obrigatória.
De qualquer modo, o Tribunal Superior do Trabalho admitiu a aplicação dos
arts. 85, 86, 87 e 90 do Novo CPC, os quais estabelecem: Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do
vencedor.
§ 1º São devidos honorários advocatícios na reconvenção, no cumprimento de
sentença, provisório ou definitivo, na execução, resistida ou não, e nos
recursos interpostos, cumulativamente.
§ 2º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte
por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não
sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, atendidos:
I - o grau de zelo do profissional;
II - o lugar de prestação do serviço;
III - a natureza e a importância da causa;
IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.
(...)
§ 6º Os limites e critérios previstos nos §§ 2º e 3º aplicam-se
independentemente de qual seja o conteúdo da decisão, inclusive aos casos de
improcedência ou de sentença sem resolução de mérito.
(...)
§ 8º Nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou,
ainda, quando o valor da causa for muito baixo, o juiz fixará o valor dos
honorários por apreciação equitativa, observando o disposto nos incisos do §
2º.
§ 9º Na ação de indenização por ato ilícito contra pessoa, o percentual de
honorários incidirá sobre a soma das prestações vencidas acrescida de 12
(doze) prestações vincendas.
§ 10. Nos casos de perda do objeto, os honorários serão devidos por quem deu
causa ao processo.
156. TST/ RO 0004077-54.2010.5.01.0000. Rel. Des. Guilherme Augusto Caputo Bastos. DEJT
13.9.2013.
§ 11. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados
anteriormente levando em conta o trabalho adicional realizado em grau
recursal, observando, conforme o caso, o disposto nos §§ 2º a 6º, sendo
vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários devidos ao
advogado do vencedor, ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos §§
2º e 3º para a fase de conhecimento.
§ 12. Os honorários referidos no § 11 são cumuláveis com multas e outras
sanções processuais, inclusive as previstas no art. 77.
§ 13. As verbas de sucumbência arbitradas em embargos à execução
rejeitados ou julgados improcedentes e em fase de cumprimento de sentença
serão acrescidas no valor do débito principal, para todos os efeitos legais.
§ 14. Os honorários constituem direito do advogado e têm natureza alimentar,
com os mesmos privilégios dos créditos oriundos da legislação do trabalho,
sendo vedada a compensação em caso de sucumbência parcial.
§ 15. O advogado pode requerer que o pagamento dos honorários que lhe
caibam seja efetuado em favor da sociedade de advogados que integra na
qualidade de sócio, aplicando-se à hipótese o disposto no § 14.
§ 16. Quando os honorários forem fixados em quantia certa, os juros
moratórios incidirão a partir da data do trânsito em julgado da decisão.
§ 17. Os honorários serão devidos quando o advogado atuar em causa
própria.
§ 18. Caso a decisão transitada em julgado seja omissa quanto ao direito aos
honorários ou ao seu valor, é cabível ação autônoma para sua definição e
cobrança.
§ 19. Os advogados públicos perceberão honorários de sucumbência, nos
termos da lei.
Art. 86. Se cada litigante for, em parte, vencedor e vencido, serão
proporcionalmente distribuídas entre eles as despesas.
Parágrafo único. Se um litigante sucumbir em parte mínima do pedido, o
outro responderá, por inteiro, pelas despesas e pelos honorários.
Art. 87. Concorrendo diversos autores ou diversos réus, os vencidos
respondem proporcionalmente pelas despesas e pelos honorários.
§ 1º A sentença deverá distribuir entre os litisconsortes, de forma expressa, a
responsabilidade proporcional pelo pagamento das verbas previstas no caput.
§ 2º Se a distribuição de que trata o § 1º não for feita, os vencidos responderão
solidariamente pelas despesas e pelos honorários.
Art. 90. Proferida sentença com fundamento em desistência, em renúncia ou
em reconhecimento do pedido, as despesas e os honorários serão pagos pela
parte que desistiu, renunciou ou reconheceu.
§ 1º Sendo parcial a desistência, a renúncia ou o reconhecimento, a
responsabilidade pelas despesas e pelos honorários será proporcional à
parcela reconhecida, à qual se renunciou ou da qual se desistiu.
§ 2º Havendo transação e nada tendo as partes disposto quanto às despesas,
estas serão divididas igualmente.
§ 3º Se a transação ocorrer antes da sentença, as partes ficam dispensadas do
pagamento das custas processuais remanescentes, se houver.
§ 4º Se o réu reconhecer a procedência do pedido e, simultaneamente, cumprir
integralmente a prestação reconhecida, os honorários serão reduzidos pela
metade.
Passamos a fazer algumas observações pertinentes sobre referidos artigos,
inclusive sobre seus impactos no processo do trabalho.
Os honorários advocatícios são fixados, em regra, com base no princípio da
sucumbência, bastando o fato objetivo da derrota para que a parte vencida tenha que
arcar com os honorários do advogado da parte contrária. Excepcionalmente, embasa-se
no princípio da causalidade, quando der causa à pretensão infundada ou resistindo
pretensão legítima, como é o caso da perda do objeto, disposta no § 10 do art. 85, ou na
fase de execução.
Os honorários de sucumbência não se confundem com os honorários
contratuais e com os honorários assistenciais. Os de sucumbência são pagos pelo
vencido, sendo fixados pelo juiz, observado os parâmetros do art. 85 do NCPC. Os
honorários contratuais decorrem de contrato firmado entre o advogado e seu cliente.
Já os honorários assistenciais são dos derivados da assistência judiciária gratuita,
sendo devidos ao sindicato. Essa observação é importante porque a Justiça do Trabalho
somente tem competência para condenar e executar os honorários sucumbenciais e os
assistenciais, sendo incompetente para os honorários contratuais157.
Aliás, o art. 85, § 18, do NCPC admite que não sendo estabelecido os
honorários sucumbenciais na decisão, quando for o caso, ela será omissa, cabendo: a)
embargos de declaração; ou b) após o trânsito em julgado o ajuizamento de ação
autônoma para a definição e cobrança. Essa ação autônoma será de competência da
Justiça do Trabalho, porque decorrente de decisão judicial trabalhista. Além disso,
conferindo-se à Justiça do Trabalho a competência para analisar os honorários na causa
principal, consequentemente, na ação autônoma que é acessória, também deverá ter
competência.
A titularidade dos honorários sucumbenciais é do advogado, sendo
considerado como crédito de natureza alimentar (art. 85, § 14). Disso resulta que,
havendo sucumbência recíproca, ambas as partes deverão pagar honorários
advocatícios, pois não se trata de crédito das partes a permitir compensação. Ademais,
esse dispositivo confere aos honorários sucumbenciais natureza remuneratória e não
reparatória. Nesse contexto, a reparação integral do dano, incluindo os honorários
contratuais (CC/22, arts. 389 e 404), é de titularidade da própria parte que teve que
custeá-los. Já nos honorários sucumbenciais a titularidade é do advogado.
Tanto é assim, que nessa última hipótese, sendo a condenação em face da
Fazenda Pública, o advogado poderá promover a execução autônoma de seus créditos,
requerendo-os, se for o caso, por meio da requisição de pequeno valor.
Outro ponto digno de nota é que o Novo CPC passou a contemplar a concessão
de honorários advocatícios sucumbenciais nas diversas fases do processo e também na
reconvenção, o que provocará bastante discussão, especialmente na execução de título
judicial.
Isso porque, no cumprimento da sentença, o art. 523 do NCPC, após
requerimento do exequente, confere ao executado o prazo de 15 dias para pagamento
voluntário, de modo que não pagando incidirá multa de 10%, acrescida de 10% de
honorários de advogado (NCPC, art. 523, § 1º). Portanto, os honorários na fase executiva
de título judicial decorrem desse dispositivo.
157 Súmula nº 363 do STJ. TST-E-RR-48900-38.2008.5.15.0051, SBDI-I, rel. Min. Lelio Bentes Corrêa,
30.8.2012 (Informativo nº 20).
Com efeito, a incidência dos honorários advocatícios na execução trabalhista
de título judicial passa por dois entraves. O primeiro deriva da própria aplicação do art.
523, § 1º, do NCPC, já que é predominante na jurisprudência a sua não incidência no
processo do trabalho, embora nosso entendimento seja pela aplicação158 e o C. TST
tenha reconhecido, nos considerando da Instrução Normativa nº 39 do TST, que o tema
ainda está sub judice. O segundo diz respeito à iniciativa. No processo civil, como o início
do cumprimento da sentença depende de requerimento da parte, ele pressupõe peça
formulada por advogado. No processo do trabalho, o início da execução é de ofício, não
dependendo de manifestação partes ou do advogado, ainda que se trate de lides que não
derivem da relação de emprego ou de ação rescisória. Diante desses dois argumentos,
parece-nos que está afastada a incidência de honorários advocatícios nessa fase
processual trabalhista.
No âmbito recursal, é possível a majoração dos honorários advocatícios, sendo
vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários devidos ao advogado do
vencedor, ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos §§ 2º e 3º do art. 85 para
a fase de conhecimento (NCPC, art. 85, § 11). Noutras palavras, os honorários de
sucumbência recursal serão somados aos concedidos no primeiro grau, observado o teto
legal159. Exemplo: a sentença condena ao pagamento dos honorários advocatícios no
montante de 10%. No recurso ordinário, poderá ser majorado 10%, alcançando o teto de
20%.
Já no caso de reexame necessário, não serão devidos honorários
advocatícios160.
Quanto ao art. 90 do NCPC, ele impõe a condenação aos honorários
advocatícios mesmo na hipótese de desistência, tal como já era previsto no art. 26 do
CPC/73. No entanto, o art. 1.040 do NCPC, ao tratar dos recursos repetitivos, descreve
em seu parágrafo § 1º que “a parte poderá desistir da ação em curso no primeiro grau de
jurisdição, antes de proferida a sentença, se a questão nela discutida for idêntica à
resolvida pelo recurso representativo da controvérsia”. Nesse caso, “se a desistência
ocorrer antes de oferecida contestação, a parte ficará isenta do pagamento de custas e
de honorários de sucumbência” (§ 2º).
Por fim, é importante destacar que o art. 90, § 3º, do NCPC não será aplicável
ao processo do trabalho, uma vez que há regra própria na CLT, descrita no art. 789, § 1º.
Ademais, o § 3º do art. 90 dispensa o pagamento remanescente das custas, porque no
processo civil há adiantamento das custas processuais, o que não ocorre no processo do
trabalho, que devem ser pagas após o trânsito em julgado, salvo na hipótese de recurso
que serão pagas e recolhidas dentro do prazo recursal.
V – Em caso de assistência judiciária sindical, revogado o art. 11 da Lei nº 1060/50
(CPC de 2015, art. 1072, inc. III), os honorários advocatícios assistenciais são
158. MIESSA, Élisson. A multa do artigo 475-J do CPC e sua aplicação no processo do trabalho. Suplemento Trabalhista. LTr, ano 42. n. 103/06. p. 435-440. 159 Nesse sentido, o Enunciado nº 241 do Encontro Permanente de Processualistas Civis. 160 CAMARGO, Luiz Henrique Volpe. Breves comentários ao Novo Código de Processo Civil. Org. WABIER,
Teresa Arruda Alvim; DIDIER Jr, Fredier; TALAMINI, Eduardo e DANTAS, Bruno. Revista dos Tribunais. 2ª
ed. 2016. p. 347.
devidos entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da
condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo,
sobre o valor atualizado da causa (CPC de 2015, art. 85, § 2º).
Antigamente, o C. TST, no item I da súmula em comentário, limitava a
condenação dos honorários assistenciais a 15% do valor líquido da condenação. Essa
limitação tinha como fundamento o art. 11, § 1º, da Lei 1.060/50 que assim estabelecia: § 1º. Os honorários do advogado serão arbitrados pelo juiz até o máximo de
15% (quinze por cento) sobre o líquido apurado na execução da sentença.
Todavia, o art. 1.072, III, do Novo CPC revogou referido artigo, atingindo,
portanto, a limitação dos honorários advocatícios a 15%. Desse modo, o C. TST, por meio
da Resolução nº 204/2016, incluiu este item sumular, passando a aplicar o montante
descrito no art. 85, § 2º, do NCPC que vaticina: § 2º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, atendidos: I - o grau de zelo do profissional; II - o lugar de prestação do serviço; III - a natureza e a importância da causa; IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.
Com efeito, o C. TST, na ausência de normas sobre o tema, aplicou
analogicamente aludido artigo, de modo que os honorários advocatícios assistenciais
são devidos entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da
condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o
valor atualizado da causa.
Nesse ponto, cumpre-nos fazer duas ponderações.
A primeira é reafirmar que os honorários de sucumbência não se confundem
com os honorários assistenciais. Os de sucumbência são pagos pelo vencido, sendo
fixados pelo juiz, observado os parâmetros do art. 85 do NCPC, sendo de titularidade do
próprio advogado. Já os honorários assistenciais são dos derivados da assistência
judiciária gratuita, sendo devidos, no processo do trabalho, ao sindicato.
A segunda consiste em diferenciar a assistência judiciária gratuita exercida na
Justiça comum da existente na Justiça do trabalho.
A Lei 1.060/50 passou a estabelecer normas para a concessão de assistência
judiciária gratuita aos necessitados, com o objetivo de garantir a primeira onda de
acesso ao judiciário. Desse modo, na Justiça comum, não tendo a pessoa condições de
arcar com o pagamento dos honorários de seu advogado, poderá se valer da Defensoria
Pública ou, na sua falta, de convênio firmado com a Ordem dos Advogados do Brasil.
Percebe-se que nesse caso a pessoa necessitada não precisará pagar os honorários de
seu advogado. Isso não impede que, ajuizada a demanda e sagrando-se vencedora, a
parte contrária seja condenada ao pagamento dos honorários sucumbenciais, que são
revertidos ao advogado.
No processo do trabalho, embora a LC nº 80/94 admita a atuação da
Defensoria Pública junto à Justiça do trabalho, a Lei 5.584/70, em seu art. 14, declina
que “na Justiça do Trabalho, a assistência judiciária a que se refere a Lei nº 1.060, de 5
de fevereiro de 1950, será prestada pelo sindicato da categoria profissional a que
pertencer o trabalhador”. Vê-se por este dispositivo que, no âmbito laboral, a assistência
judiciária gratuita será prestada pelo sindicato.
Dessa forma, na Justiça comum, quando a assistência judiciária gratuita não for
exercida pela Defensoria Pública, ou seja, quando se tratar de atuação de advogado
particular, ele receberá honorários assistenciais por meio do convênio da OAB e, se for o
caso, os honorários sucumbenciais da parte contrária.
Por sua vez, na seara trabalhista, o sindicato não receberá do trabalhador, já
que é pressuposto lógico da assistência judiciária gratuita a desnecessidade de
pagamento dos honorários ao seu advogado. No entanto, não existe convênio para
recompor os gastos do sindicato. Nesse contexto, passa-se a admitir a condenação da
parte contrária ao pagamento dos honorários advocatícios assistenciais, os quais serão
revertidos ao sindicato (Lei 5.584/70, art. 16).
Portanto, percebe-se que no âmbito trabalhista há verdadeira junção dos
honorários assistenciais com os honorários sucumbenciais, quando for o caso de
aplicação da Lei nº 5.584/70. Quero dizer, impõe-se que a parte contrária pague os
honorários assistenciais, enquanto na Justiça comum a parte contrária só é condenada
ao pagamento dos honorários sucumbenciais.
Isso nos leva a uma situação sui generis no processo do trabalho: na hipótese de
assistência judiciária gratuita (beneficiário da justiça gratuita + assistido pelo sindicato),
como a parte contrária já é obrigada a pagar os honorários assistenciais, não há
condenação ao pagamento dos honorários sucumbenciais. Além disso, os honorários
assistenciais não são de titularidade do advogado, mas sim do sindicato.
Como já visto, a Lei 1.060/50 que trata dos honorários assistenciais versava
sobre sua porcentagem no art. 11, § 1º, o qual foi revogado pelo art. 1.072, III, do NCPC.
Assim, não existindo norma expressa sobre o montante dos honorários assistenciais e
sendo certo que na Justiça do Trabalho há verdadeira cumulação dos honorários
assistenciais com os de sucumbência na assistência judiciária gratuita, é possível a
aplicação analógica do art. 85, § 2º, do Novo CPC161.
Essa afirmação, porém, não se contradiz com o que defendemos no item I dessa
súmula. É que a assistência judiciária gratuita é meramente facultativa, não impedindo
que o trabalhador posso ajuizar reclamação valendo-se de advogado particular. Nessa
última hipótese, pensamos que haverá necessidade de condenação dos honorários
advocatícios sucumbenciais, pelos argumentos já levantados no item I. Em resumo, a
nosso juízo, na assistência judiciária gratuita haverá condenação aos honorários
assistenciais a favor do sindicato, enquanto nos demais casos a condenação será de
honorários sucumbenciais em benefício do advogado da parte vencedora.
Por fim, não podemos deixar de fazer uma crítica derradeira. Tal como nos
itens IV e VI, no presente item sumular o C. TST fugiu da ideia básica de súmula, que
consiste no resumo da jurisprudência. Pressupõe, portanto, decisões reiteradas sobre o
assunto. Nesse caso, o TST simplesmente criou um novo item para a súmula sem que
existissem decisões sobre o tema.
161 Por respeito ao leitor, temos que afirmar que reformulamos parcilamente nosso entendimento
explanado na 6ª edição, quando anunciávamos que não faria “sentido utilizar o padrão de fixação do valor
dos honorários conforme o Novo CPC e continuar a não admitir o pagamento dos honorários advocatícios
pela mera sucumbência (art. 85 do NCPC). Noutras palavras, essa interpretação implicará o
aproveitamento do acessório (fixação do valor dos honorários), sem se valer do principal (honorários de
sucumbência), invertendo a ordem lógica de que o acessório deve seguir o principal”.
VI - Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, aplicar-se-ão os percentuais
específicos de honorários advocatícios contemplados no Código de Processo Civil.
O C. TST sem que existem precedentes sobre o assunto, criou o presente item
sumular, por meio da Resolução nº 204/2016.
Passou a determinar a aplicação do art. 85, §§ 3º a 7º, do NCPC, os quais
vaticinam: § 3o Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários observará os critérios estabelecidos nos incisos I a IV do § 2o e os seguintes percentuais: I - mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido até 200 (duzentos) salários-mínimos; II - mínimo de oito e máximo de dez por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido acima de 200 (duzentos) salários-mínimos até 2.000 (dois mil) salários-mínimos; III - mínimo de cinco e máximo de oito por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido acima de 2.000 (dois mil) salários-mínimos até 20.000 (vinte mil) salários-mínimos; IV - mínimo de três e máximo de cinco por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido acima de 20.000 (vinte mil) salários-mínimos até 100.000 (cem mil) salários-mínimos; V - mínimo de um e máximo de três por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido acima de 100.000 (cem mil) salários-mínimos. § 4o Em qualquer das hipóteses do § 3o: I - os percentuais previstos nos incisos I a V devem ser aplicados desde logo, quando for líquida a sentença; II - não sendo líquida a sentença, a definição do percentual, nos termos previstos nos incisos I a V, somente ocorrerá quando liquidado o julgado; III - não havendo condenação principal ou não sendo possível mensurar o proveito econômico obtido, a condenação em honorários dar-se-á sobre o valor atualizado da causa; IV - será considerado o salário-mínimo vigente quando prolatada sentença líquida ou o que estiver em vigor na data da decisão de liquidação. § 5o Quando, conforme o caso, a condenação contra a Fazenda Pública ou o benefício econômico obtido pelo vencedor ou o valor da causa for superior ao valor previsto no inciso I do § 3o, a fixação do percentual de honorários deve observar a faixa inicial e, naquilo que a exceder, a faixa subsequente, e assim sucessivamente. § 6o Os limites e critérios previstos nos §§ 2o e 3o aplicam-se independentemente de qual seja o conteúdo da decisão, inclusive aos casos de improcedência ou de sentença sem resolução de mérito. § 7o Não serão devidos honorários no cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública que enseje expedição de precatório, desde que não tenha sido impugnada. (...) § 19. Os advogados públicos perceberão honorários de sucumbência, nos termos da lei.
A nosso juízo, tais dispositivos são aplicáveis ao processo do trabalho, já que
defendemos a concessão de honorários advocatícios pela mera sucumbência.
No entanto, para que este item sumular seja coerente ao entendimento do C.
TST, ele deverá ser aplicado apenas na hipótese de honorários assistenciais, nas causas
não decorrentes da relação de emprego e na ação rescisória, ou seja, a interpretação do
item VI deve obrigatoriamente ser cumulada com os demais itens, especialmente com o
item V. Pensar de forma diversa, será admitir a condenação em honorários advocatícios
pela mera sucumbência apenas porque a Fazenda Pública é parte, fazendo discriminação
inconsistente tão somente para majorar o erário público.
p. 936: A redação da OJ nº 421 da SDI-I do TST foi alterada pelo Res. nº 208/2016
Orientação Jurisprudencial nº 421 da SDI-I do TST. Honorários advocatícios. Ação de indenização por danos morais e materiais decorrentes de acidente de trabalho ou de doença profissional. Ajuizamento perante a justiça comum antes da promulgação da emenda constitucional nº 45/2004. Posterior remessa dos autos à justiça do trabalho. Art. 85 do CPC de 2015. Art. 20 do CPC de 1973. Incidência. A condenação em honorários advocatícios nos autos de ação de indenização por danos morais e materiais decorrentes de acidente de trabalho ou de doença profissional, remetida à Justiça do Trabalho após ajuizamento na Justiça comum, antes da vigência da Emenda Constitucional nº 45/2004, decorre da mera sucumbência, nos termos do art. 85 do CPC de 2015 (art. 20 do CPC de 1973), não se sujeitando aos requisitos da Lei nº 5.584/1970.
p. 951 e 986: A redação da OJ nº 310 da SDI-I do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016
Orientação Jurisprudencial nº 310 da SDI-I do TST. Litisconsortes. Procuradores distintos. Prazo em dobro. Art. 229, caput e §§ 1º e 2º, do CPC de 2015. Art. 191 do CPC de 1973. Inaplicável ao processo do trabalho. Inaplicável ao processo do trabalho a norma contida no art. 229, caput e §§ 1º e 2º, do CPC de 2015 (art. 191 do CPC de 1973), em razão de incompatibilidade com a celeridade que lhe é inerente.
p. 963: As redações das OJs nº 371 e 255 da SDI-I do TST foram alteradas
Orientação Jurisprudencial nº 371 da SDI-I do TST. Irregularidade de representação. Substabelecimento não datado. Inaplicabilidade do art. 654, § 1º, do Código Civil. Não caracteriza a irregularidade de representação a ausência da data da outorga de poderes, pois, no mandato judicial, ao contrário do mandato civil, não é condição de validade do negócio jurídico. Assim, a data a ser considerada é aquela em que o instrumento for juntado aos autos, conforme preceitua o art. 409, IV, do CPC de 2015 (art. 370, IV, do CPC de 1973). Inaplicável o art. 654, § 1º, do Código Civil.
Orientação Jurisprudencial nº 255 da SDI-I do TST. Mandato. Contrato social. Desnecessária a juntada. O art. 75, inciso VIII, do CPC de 2015 (art. 12, VI, do CPC de 1973) não determina a exibição dos estatutos da empresa em juízo como condição de validade do instrumento de mandato outorgado ao seu procurador, salvo se houver impugnação da parte contrária.
p. 964: A redação da Súmula nº 219 do TST e da OJ nº 421 da SDI-I do TST foram
alteradas:
Súmula nº 219 do TST. Honorários advocatícios. Cabimento
I - Na Justiça do Trabalho, a condenação ao pagamento de honorários advocatícios não
decorre pura e simplesmente da sucumbência, devendo a parte, concomitantemente: a)
estar assistida por sindicato da categoria profissional; b) comprovar a percepção de
salário inferior ao dobro do salário mínimo ou encontrar-se em situação econômica que
não lhe permita demandar sem prejuízo do próprio sustento ou da respectiva família.
(art.14,§1º, da Lei nº 5.584/1970).
II - É cabível a condenação ao pagamento de honorários advocatícios em ação rescisória
no processo trabalhista.
III – São devidos os honorários advocatícios nas causas em que o ente sindical figure
como substituto processual e nas lides que não derivem da relação de emprego.
IV – Na ação rescisória e nas lides que não derivem de relação de emprego, a
responsabilidade pelo pagamento dos honorários advocatícios da sucumbência
submete-se à disciplina do Código de Processo Civil (arts. 85, 86, 87 e 90).
V – Em caso de assistência judiciária sindical, revogado o art. 11 da Lei nº 1060/50 (CPC
de 2015, art. 1072, inc. III), os honorários advocatícios assistenciais são devidos entre o
mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito
econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa
(CPC de 2015, art. 85, § 2º).
VI - Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, aplicar-se-ão os percentuais
específicos de honorários advocatícios contemplados no Código de Processo Civil.
Orientação Jurisprudencial nº 421 da SDI-I do TST. Honorários advocatícios. Ação de indenização por danos morais e materiais decorrentes de acidente de trabalho ou de doença profissional. Ajuizamento perante a justiça comum antes da promulgação da emenda constitucional nº 45/2004. Posterior remessa dos autos à justiça do trabalho. Art. 85 do CPC de 2015. Art. 20 do CPC de 1973. Incidência. A condenação em honorários advocatícios nos autos de ação de indenização por danos morais e materiais decorrentes de acidente de trabalho ou de doença profissional, remetida à Justiça do Trabalho após ajuizamento na Justiça comum, antes da vigência da Emenda Constitucional nº 45/2004, decorre da mera sucumbência, nos termos do art. 85 do CPC de 2015 (art. 20 do CPC de 1973), não se sujeitando aos requisitos da Lei nº 5.584/1970.
p. 965: A redação da OJ nº 310 da SDI-I do TST foi alterada
Orientação Jurisprudencial nº 310 da SDI-I do TST. Litisconsortes. Procuradores distintos. Prazo em dobro. Art. 229, caput e §§ 1º e 2º, do CPC de 2015. Art. 191 do CPC de 1973. Inaplicável ao processo do trabalho. Inaplicável ao processo do trabalho a norma contida no art. 229, caput e §§ 1º e 2º, do CPC de 2015 (art. 191 do CPC de 1973), em razão de incompatibilidade com a celeridade que lhe é inerente.
p.966: SÚMULAS DOS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO (RELACIONADAS AO
CAPÍTULO V)
(ACRESCENTADAS AO CAPÍTULO V – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Honorários Advocatícios
Súmula n.º 67 do TRT da 12ª Região - Honorários advocatícios. Cabimento.
Na Justiça do Trabalho, a condenação ao pagamento de honorários advocatícios, nunca superiores a 15% (quinze por cento), não decorre pura e simplesmente da sucumbência, devendo a parte, concomitantemente: a) estar assistida por sindicato da categoria profissional; b) comprovar a percepção de salário inferior ao dobro do salário mínimo ou encontrar-se em situação econômica que não lhe permita demandar sem prejuízo do próprio sustento ou da respectiva família. (art.14, § 1º, da Lei nº 5.584/1970).
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Súmula nº 52 do TRT da 1ª Região - Perdas e danos decorrentes da contratação de advogado.
Não cabimento.
No processo trabalhista, o pagamento de honorários advocatícios e contratuais deve observar os
requisitos da Lei nº 5.584/70 e o disposto nas Súmulas 219 e 329 do TST.
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Súmula n.º 18 do TRT da 24ª Região - Perdas e danos. Contratação de advogado.
O entendimento consubstanciado na Súmula 219 do TST impede o deferimento de
indenização por perdas e danos decorrentes da contratação de advogado.
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Honorários Periciais
Súmula n.º 16 do TRT da 20ª Região - Exigência de depósito prévio para realização de
perícia. Descompasso com o artigo 790-B da CLT e com a orientação jurisprudencial nº
98 da SDI-2 do colendo TST.
Em razão do que prevê o artigo 790-B da CLT, bem como a OJ nº 98 da SDI-2 do TST, a
exigência do depósito prévio de honorários periciais constitui ofensa ao direito da parte.
p. 973-975: A introdução do capítulo referente aos Atos processuais foi alterada
1. INTRODUÇÃO
É sabido que o processo, em seu aspecto externo, revela-se como um
procedimento ordenado por atos processuais. Tais atos buscam a constituição, a
conservação, o desenvolvimento, a modificação ou a extinção do processo162.
Os atos processuais ocorrem, evidentemente, dentro do processo, podendo ser
praticados pelo Estado-juiz, partes ou auxiliares da justiça.
Neste capítulo, não se buscará descrever todos os atos processuais, como, por
exemplo, a petição inicial, os despachos, a sentença etc., mas tão somente sistematizar a
comunicação e o tempo dos atos processuais.
A comunicação dos atos processuais consiste no meio de dar conhecimento a
alguém dos atos realizados no processo. Quando a comunicação ocorre entre juízos, ela
é feita por meio de cartas de ordem, precatória e rogatória. A primeira acontece
quando o tribunal se dirige a um órgão jurisdicional a ele subordinado
hierarquicamente. A carta precatória é a comunicação entre juízes brasileiros quando
não há hierarquia entre eles. A carta rogatória, por sua vez, é utilizada quando o juízo
brasileiro comunica atos processuais a juízo estrangeiro. O Novo CPC cria a carta
arbitral, quando dirigida ao Poder Judiciário, para cooperação requerida por juízo
arbitral (art. 237, IV).
Por outro lado, quando a comunicação não for realizada entre juízos, têm-se
duas formas de comunicação: a citação e a intimação.
A citação, nos termos do art. 238 do NCPC, é “o ato pelo qual são convocados o
réu, o executado ou o interessado para integrar a relação processual”. Já a intimação
consiste no “ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e dos termos do processo”,
como se depreende do art. 269 do NCPC.
No processo do trabalho, utiliza-se a expressão notificação para abranger a
162. CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. 18. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2008. v. 1, p. 231.
citação e a intimação. Noutros termos, a CLT não diferenciou citação de intimação,
utilizando indistintamente a denominação notificação.
Registra-se, nesse ponto, que a intimação do Ministério Público, seja como
parte, seja como fiscal da ordem jurídica, sempre será pessoal e nos autos, de modo que
os autos deverão ser encaminhados à procuradoria para ciência do membro. Nesse
sentido, dispõe os arts. 18, II, h, e 84, IV, ambos da LC nº 75/93, bem como o art. 19 da
Consolidação dos Provimentos da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho, de 28 de
outubro de 2008.
Quanto ao tempo dos atos processuais revela-se de suma importância o
estudo dos prazos processuais, os quais buscam delimitar o tempo de atuação dos
sujeitos processuais, a fim de não eternizar os processos.
Os prazos são, em regra, descritos na lei, aplicando-se, no caso de omissão
legislativa e não estabelecimento pelo juiz, o prazo geral de 5 dias (NCPC, art. 218, §3º).
Dividem-se os prazos processuais em: peremptórios e dilatórios. O
primeiro não admite sua alteração por vontade das partes, vedando-se inclusive sua
redução pelo juiz sem a anuência das partes (NCPC, art. 222, § 1º). Já os dilatórios
podem ser modificados por convenção das partes, desde que o requerimento seja
apresentado antes do vencimento do prazo e embasar-se em motivo legítimo, cabendo
ao juiz fixar o novo vencimento do prazo.
Classificam-se ainda os prazos em próprios e impróprios, sendo estes os
prazos que, se descumpridos, não provocam efeitos processuais, como são, por exemplo,
os prazos dirigidos aos juízes para despachar, sentenciar etc. Os prazos próprios, por
outro lado, são aqueles que, se descumpridos, levam à perda da possibilidade de praticar
o ato processual, como são todos os atos das partes.
No que tange à contagem dos prazos processuais, o art. 775 da CLT
estabelece: Art. 775 - Os prazos estabelecidos neste Título contam-se com exclusão do dia do começo e inclusão do dia do vencimento, e são contínuos e irreleváveis, podendo, entretanto, ser prorrogados pelo tempo estritamente necessário pelo juiz ou tribunal, ou em virtude de força maior, devidamente comprovada. Parágrafo único - Os prazos que se vencerem em sábado, domingo ou dia feriado, terminarão no primeiro dia útil seguinte.
Assim, na contagem dos prazos processuais exclui-se o dia do recebimento da
notificação incluindo-se o dia do vencimento. Registra-se que o parágrafo único do
artigo supramencionado disciplina tão somente o vencimento do prazo em dia sem
expediente, de modo que o início do prazo nesses dias deverá observar o disposto no
art. 224, §3º, do NCPC.
É importante consignar que o NCPC não alterou a disciplina do CPC de 1973, no
tocante ao início da contagem dos prazos processuais, mantendo a exigência de que
ocorra em dias úteis. Todavia, em seu artigo 219, determina que na contagem dos
prazos em dias, devem ser computados apenas os dias úteis163.
A disposição presente no art. 219 altera substancialmente a sistemática
prevista na contagem dos prazos processuais do CPC de 1973, que considerava que os
163. Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente
os dias úteis.
prazos eram contínuos e não interrompiam em feriados (CPC/73, art. 178).
No processo do trabalho, referida alteração do NCPC não irá provocar
modificações, uma vez que a CLT possui regra própria em seu artigo 775,
estabelecendo que os prazos são contínuos e irreleváveis. Vigora, pois, o princípio da
continuidade, de modo que, iniciada a contagem do prazo, ela segue de forma
ininterrupta até seu vencimento, a fim de alcançar de forma mais célere e efetiva o
bem da vida buscado no processo. Com efeito, a norma celetista permite o trâmite
mais rápido das causas trabalhistas, contrariando o princípio da celeridade a aplicação
do Novo CPC164. Assim, em razão de não existir omissão e, ainda, compatibilidade com
o processo do trabalho, não há que se falar em aplicação subsidiária e/ou supletiva do
art. 219 do NCPC (art. 15 do NCPC e art. 769 da CLT; TST-IN nº 39/2016, art. 2º, III).
Por fim, cumpre trazer em enfoque a Lei nº 11.419/2006, regulamentada
atualmente no âmbito da Justiça do Trabalho por meio da Resolução nº 136 do
Conselho Superior da Justiça do Trabalho, de 25 de abril de 2014, a qual instituiu o
sistema do processo judicial eletrônico da Justiça do Trabalho.
No processo eletrônico, todas as citações, intimações e notificações, inclusive
da Fazenda Pública, serão feitas por meio eletrônico (Lei nº 11.419/06, art. 9º, caput, e
CSJT-Res. nº 136/2014, art. 23, caput). A propósito, as citações, intimações, notificações
e remessas que viabilizem o acesso à íntegra do processo correspondente serão
consideradas vista pessoal do interessado para todos os efeitos legais (Lei nº 11.419/06,
art. 9º, § 1º, e CSJT-Res. nº 136/2014, art. 23, § 1º).
A referida lei estabeleceu que, nas intimações por meio eletrônico, estas serão
consideradas realizadas no dia da consulta eletrônica. Além disso, ocorrendo a consulta
em dia não útil, “a intimação será considerada como realizada no primeiro dia útil
seguinte” (Lei nº 11.419/06, art. 5º, § 2º). Assim, por exemplo, caso a consulta tenha
ocorrido no dia 10 (sábado), a intimação será considerada efetivada no dia 12 (segunda-
feira), começando o prazo a correr no dia 13 (terça-feira).
É importante observar que, não havendo consulta no prazo de 10 dias
corridos, será presumida a intimação, isto é, sendo expedida a intimação via eletrônica
e não tomando ciência dentro do prazo de 10 dias corridos, a parte será considerada
como intimada (Lei nº 11.419/06, art. 5º, § 3º), iniciando-se a contagem do prazo no dia
seguinte. Para efeito da contagem do prazo de 10 dias corridos será considerado: I – como dia inicial: o dia seguinte ao da disponibilização do ato de comunicação no sistema, independentemente de esse dia ser, ou não, de expediente no órgão comunicante; II – como dia da consumação da intimação ou comunicação: o décimo dia a partir do dia inicial, caso seja de expediente judiciário, ou o primeiro dia útil seguinte (CSJT-Res. nº 136/2014, art. 25).
164. Nesse sentido: SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho – de acordo com o novo
CPC. 9. ed. São Paulo: LTr, 2015. p. 464; SILVA, Bruno Freire e. O Novo CPC e o processo do trabalho I: Parte
Geral. São Paulo: LTr, 2015. p. 165 e LIMA, Leonardo Tibo Barbosa. Lições de Direito Processual do Trabalho:
teoria e prática. São Paulo: LTr, 2015. p. 137. Em sentido contrário, admitindo a aplicação do art. 219 do
NCPC, CASTELO, Jorge Pinheiro. Dos prazos processuais no novo CPC, inclusive sua contagem contínua em dias
úteis – da aplicação subsidiária e supletiva ao processo do trabalho – comentários iniciais. In: Revista
eletrônica: O Novo CPC e o processo do trabalho. Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região. V. 4. Nº 44.
Setembro de 2015. p. 194-203.
No entanto, havendo consulta dentro do prazo de 10 dias, considera-se
realizada a intimação no dia da ciência (consulta).
Em resumo, efetivada a consulta dentro dos 10 dias corridos, será considerado
intimado na data da consulta. Por outro lado, se não realizar a consulta, também será
considerado intimado, mas depois de ultrapassado os 10 dias corridos.
A aludida lei permite, ainda, a criação de Diário da Justiça eletrônico (art. 4º),
no qual as publicações substituirão qualquer outro meio ou publicação oficial, exceto os
casos em que a lei exigir intimação ou vista pessoal, como é o caso do Ministério Público
do Trabalho. Consigna o § 3º do art. 4 que a data da publicação será considerada o
primeiro dia útil seguinte ao da disponibilização da informação no Diário da Justiça
eletrônico, começando a correr o prazo processual “no primeiro dia útil que seguir ao
considerado como data da publicação” (art. 4º, § 4º).
Exemplifica-se: disponibilizada a decisão no Diário eletrônico no dia 20
(quarta-feira), será considerada como data de publicação o dia 21 (quinta-feira),
iniciando o prazo processual no dia 22 (sexta-feira).
Feita essa breve introdução acerca dos atos processuais, passa-se aos
comentários das súmulas e orientações jurisprudenciais relacionadas ao tema.
p. 977-978: Os comentários da Súmula nº 427 do TST foram alterados
Súmula nº 427 do TST. Intimação. Pluralidade de advogados. Publicação em
nome de advogado diverso daquele expressamente indicado. Nulidade
Havendo pedido expresso de que as intimações e publicações sejam realizadas
exclusivamente em nome de determinado advogado, a comunicação em nome
de outro profissional constituído nos autos é nula, salvo se constatada a
inexistência de prejuízo.
O art. 236, § 1º, do CPC/73 determinava: § 1º É indispensável, sob pena de nulidade, que da publicação constem os
nomes das partes e de seus advogados, suficientes para sua identificação.
Interpretando aludido dispositivo, a jurisprudência era pacífica no sentido de
que, na publicação, deveria constar o nome do advogado, com a finalidade de preservar
o direito ao contraditório. Também era pacífico o entendimento de que, havendo
pluralidade de advogados com amplos poderes nos autos, qualquer um deles poderia
ser intimado. O Novo CPC manteve a mesma ideologia, estabelecendo no art. 272, § 2º, o
que segue: § 2º Sob pena de nulidade, é indispensável que da publicação constem os
nomes das partes e de seus advogados, com o respectivo número de inscrição
na Ordem dos Advogados do Brasil, ou, se assim requerido, da sociedade de
advogados.
A dúvida persistia na seara trabalhista quando, existindo pluralidade de
advogados, havia requerimento expresso de que a intimação fosse feita exclusivamente
em nome de um determinado advogado.
O C. TST, invocando o referido art. 236, § 1º, na época do CPC/73, entendeu que
ele faculta ao advogado indicar apenas um dos advogados constituídos para receber as
publicações, sob pena de nulidade caso a intimação seja direcionada a outro advogado.
Ademais, na visão dessa Corte, a intimação do advogado não indicado fere o direito ao
contraditório disposto no art. 5º, LV, da CF/88, gerando inclusive presunção relativa de
prejuízo para a parte.
A Corte Trabalhista, com essa posição, buscou unificar seu entendimento ao já
consagrado no STF e STJ, como se verifica pelas ementas abaixo: INTIMAÇÃO – ADVOGADO ESPECÍFICO – PETIÇÃO NÃO DESPACHADA – APELAÇÃO – PAUTA – ACÓRDÃO – NULIDADE – A existência de petição da qual conste a indicação de profissional da advocacia para efeito de intimação – tendo sido a pauta de julgamento de apelação publicada com inserção do nome de outro advogado – gera, independentemente de haver sido, ou não, despachada, a nulidade do acórdão proferido165. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. ARTS. 258 E 259 DO RISTJ. RECURSO ESPECIAL. INTIMAÇÃO. PLURALIDADE DE ADVOGADOS. SUBSTABELECIMENTO COM RESERVA DE PODERES. PEDIDO EXPRESSO DE INTIMAÇÃO ESPECÍFICA EM NOME DE UM DELES. NULIDADE DO ATO. 1. Consoante entendimento sedimentado desta Corte Superior, havendo pedido expresso para que futuras intimações sejam feitas em nome de procurador específico, a não observância de tal disposição gera nulidade do ato de intimação (Precedentes: REsp 897085/SP, Rel. Ministro Aldir Passarinho Júnior, DJe de 09/02/2009; REsp 1036980/RJ, Rel. Ministro Massami Uyeda, DJe de 20/06/2008). 2. Agravo regimental a que se nega provimento166.
O NCPC adota, de forma expressa, o entendimento das Cortes Superiores.
Assim, no art. 272, § 5º, estabelece: § 5º Constando dos autos pedido expresso para que as comunicações dos atos processuais sejam feitas em nome dos advogados indicados, o seu desatendimento implicará nulidade.
Desse modo, se houver nos autos pedido expresso para que as comunicações
dos atos processuais sejam feitas em nome dos advogados indicados, o seu
descumprimento implicará em nulidade. Isso porque, se a intimação possui como
objetivo comunicar, caso não alcance o objeto da comunicação (advogado indicado), não
se pode dizer que a intimação existiu167.
Tratando-se de nulidade, aplica-se o princípio da convalidação ou preclusão
(art. 795 da CLT), de modo que deverá ser alegada na primeira oportunidade em que a
parte tiver que se manifestar nos autos, sob pena de preclusão.
A propósito, conforme determinam os §§ 8º e 9º do art. 272 do NCPC,
aplicáveis subsidiariamente ao processo do trabalho, a parte arguirá a nulidade da
intimação em capítulo preliminar do próprio ato que lhe caiba praticar, o qual será
tido por tempestivo se o vício for reconhecido. Caso não seja possível a prática
imediata do ato diante da necessidade de acesso prévio dos autos, a parte deverá
limitar-se a arguir a nulidade da intimação, caso em que o prazo será contado da
intimação da decisão que a reconheça.
Cumpre destacar que a indicação equivocada de outro advogado gera
presunção de prejuízo e de ausência de conhecimento da comunicação. Todavia, tal
presunção, por ser meramente relativa, poderá ser ilidida por prova em contrário,
afastando-se a declaração da nulidade. Isso ocorre porque, pelo princípio da
165. STF – HC 86.267-5/BA. 1ª T. Rel. Min. Carlos Britto. DJU 28.4.2006.
166. STJ – AgRg no Ag 103.6150/RJ. 3ª T. Rel. Min. Vasco Della Giustina. Desembargador convocado do
TJ/RS – DJ 5.6.2009.
167. NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil. São
Paulo: RT, 2015. p. 811 e 812.
transcendência, só há nulidade quando existir prejuízo, conforme declina o art. 794 da
CLT e a parte final da presente súmula.
Por fim, consigna-se que o C. TST atenuou o rigor do art. 272, § 5º do NCPC e
dessa súmula quando se tratar de processo judicial eletrônico. Nesse caso, a
decretação da nulidade exige que o advogado indicado esteja cadastrado no sistema de
processo judicial eletrônico. Assim, ainda que conste pedido expresso para que a
comunicação dos atos processuais seja feita em nome de outro advogado, se este não
possuir cadastro prévio no Sistema de PJE, não haverá nulidade, uma vez que impedirá a
serventia judicial de atender ao requerimento de envio da intimação direcionada (TST-
IN nº 39/2016, art. 16). O E. TST fundamenta seu posicionamento no princípio do
interesse, previsto nos arts. 796, “b”, da CLT e 276 do NCPC, ou seja, a nulidade não pode
ser arguida por aquele que lhe deu causa.
p. 994-996 e 1156-1157: Os comentários à Súmula nº 30 do TST foram alterados.
Súmula nº 30 do TST. Intimação da sentença
Quando não juntada a ata ao processo em 48 horas, contadas da audiência de
julgamento (art. 851, § 2º, da CLT), o prazo para recurso será contado da data
em que a parte receber a intimação da sentença.
Conforme declinado nos comentários da Súmula nº 197 do TST, a CLT tem
como ideal a audiência una, a qual não vem sendo adotada na praxe trabalhista, não por
falta de vontade dos magistrados, mas pelo grande volume de processos existentes na
Justiça Especializada. Assim, utiliza-se designar audiência de julgamento quando a parte
será intimada da sentença, estando ou não presente.
Ocorre, no entanto, que por vezes o juiz não profere a decisão na data
designada para a audiência de julgamento, o que gera celeuma acerca da necessidade de
intimação da parte, bem como do início do prazo recursal.
Adiantamos nosso entendimento para afirmar que, uma vez designada
audiência de julgamento, cabe ao órgão julgador proferir a decisão ou, caso contrário,
intimar posteriormente a parte da decisão, sob pena de violar a própria fidelidade que o
Poder Judiciário deve ter para com seus jurisdicionados. Isso porque não se pode
admitir que a parte e seus representantes tenham que ficar aguardando a vontade do
magistrado de juntar a decisão aos autos durante 48 horas para, em seguida, iniciar seu
prazo recursal. No mesmo sentido, Francisco Antônio de Oliveira: Todavia, e isso nos afigura muito importante, as partes devem receber a cópia da sentença em audiência. Se tal não ocorrer, deverão ser intimadas. Entendimento contrário desvirtua a lei (art. 895, a) e reduz o prazo recursal168.
Ademais, o art. 851, § 2º, da CLT169 tem como base o julgamento colegiado170,
168. OLIVEIRA, Francisco Antônio de. Comentários às Súmulas do TST. 9. ed. rev. e atual. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2008. p. 94.
169. CLT, art. 851 § 2º: “A ata será, pelo presidente ou juiz, junta ao processo, devidamente assinada, no
prazo improrrogável de 48 horas, contado da audiência de julgamento, e assinada pelos vogais presentes à
mesma audiência”. 170. CHAVES, Luciano Athayde. A emenda constitucional nº 24/99 e o processo do trabalho: mutações
excluído após o advento EC nº 24/99, de modo que as partes estariam presentes (ou
deveriam se fazer presentes) na audiência em que seria proclamada a decisão colegiada,
permitindo-se sua juntada aos autos posteriormente, no prazo máximo de 48 horas. Não
havendo, nos dias atuais, julgamento colegiado na Vara do Trabalho, não há como incidir
o entendimento consubstanciado na presente súmula.
Contudo, o TST não entende dessa forma. A Corte Trabalhista, interpretando o
art. 851, § 2º, da CLT, admite que, designada a audiência de julgamento, o juiz poderá
juntar a ata da audiência (decisão) no prazo de 48 horas, sem que haja necessidade de
nova intimação da parte. Noutras palavras, se o juiz proferir a decisão na audiência de
julgamento para a qual a parte foi intimada ou juntá-la nos autos até 48 horas, a parte será
considerada intimada da sentença. Não juntando nesse prazo, cabe ao juiz intimar a parte
da decisão.
Essa possibilidade de juntar a decisão no prazo de 48 horas ocasiona dúvida
quanto ao início do prazo recursal.
Para alguns, a data da audiência de julgamento será sempre o marco da
intimação, de modo que mesmo que a sentença seja juntada nos autos em 48 horas, o
prazo recursal terá início no dia seguinte ao da audiência. Tal entendimento reduz o
prazo recursal, violando frontalmente o princípio da utilidade dos prazos, segundo o
qual eles devem ser suficientes para a prática do ato. Exemplificamos: Data da audiência marcada para o dia 20 (segunda-feira), sendo a decisão
juntada no dia 22 (quarta-feira). Por esse entendimento o prazo recursal teria
início no dia 21 (terça-feira), embora a parte tenha tomado conhecimento da
decisão no dia 22 (quarta-feira), vencendo o prazo no dia 28 (terça-feira).
Para a outra parte da doutrina, o prazo começa a fluir depois da juntada da
decisão aos autos. Assim, se o juiz junta a ata no primeiro dia das 48 horas, o prazo para recurso
começa a correr no dia seguinte; se a ata é juntada aos autos no segundo dia, o
prazo para recurso começa a fluir no dia seguinte171.
Com efeito, no exemplo anterior, como a decisão foi juntada nos autos no dia 22
(quarta-feira), o prazo recursal terá início no dia 23 (quinta-feira).
A nosso juízo, este último posicionamento deve prevalecer. Aliás, o próprio C.
TST na Súmula nº 197 declina que a intimação conta-se da publicação da sentença e não
da data da audiência designada para proferi-la.
É importante consignar que o C. TST vem atenuando a incidência da súmula em
comentário, como se verifica pela decisão da Seção de Dissídios Individuais I, in verbis: Prazo recursal. Termo inicial. Não comparecimento à audiência de julgamento. Juntada da sentença aos autos no dia seguinte. Súmula nº 197 do TST. Não incidência. Na hipótese em que as partes não compareceram à audiência de julgamento previamente designada para o dia 6.10.2010, e a sentença foi juntada aos autos em 7.10.2010, considera-se como marco inicial da contagem do prazo recursal o dia útil seguinte à divulgação no Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho ou a partir da notificação das partes, já que elas não tiveram acesso ao conteúdo da decisão no momento em que proferida. Ao caso não se aplica o entendimento consolidado na Súmula nº 197 do TST, pois esta pressupõe a
infraconstitucionais e ajustes conforme a constituição. In: MIESSA, Élisson; CORREIA, Henrique (org.).
Estudos aprofundados magistratura do trabalho. Salvador-BA: Juspodivm, 2013. p. 507.
171. MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 900.
prolação da sentença na data designada para a audiência, e não no dia seguinte, como ocorrido. Sob esses fundamentos, a SBDI-I, por unanimidade, conheceu dos embargos interpostos pela reclamada, por divergência jurisprudencial e, no mérito, negou-lhes provimento, mantendo a decisão turmária que não conhecera do recurso de revista interposto pela reclamada quanto à alegação de intempestividade do recurso ordinário do reclamante. TST-E-ED-RR-382-05.2010.5.03.0108, SBDI-I, rel. Min. José Roberto Freire Pimenta, 17.12.2015 (Informativo nº 127)
Registra-se, por fim, que o entendimento consubstanciado nessa súmula não se
aplica ao Ministério Público do Trabalho, vez que tem prerrogativa de ser intimado
pessoalmente e nos autos da decisão judicial, nos termos do art. 18, II, h, da LC nº 75/93.
Vide comentários da Súmula nº 197 do TST.
p. 1001: A redação da Súmula nº 387 do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016
Súmula nº 387 do TST. Recurso. Fac-símile. Lei nº 9.800/1999.
I - A Lei nº 9.800, de 26.05.1999, é aplicável somente a recursos
interpostos após o início de sua vigência.
II - A contagem do quinquídio para apresentação dos originais de recurso
interposto por intermédio de fac-símile começa a fluir do dia subsequente ao
término do prazo recursal, nos termos do art. 2º da Lei nº 9.800, de
26.05.1999, e não do dia seguinte à interposição do recurso, se esta se deu
antes do termo final do prazo.
III - Não se tratando a juntada dos originais de ato que dependa de
notificação, pois a parte, ao interpor o recurso, já tem ciência de seu ônus
processual, não se aplica a regra do art. 224 do CPC de 2015 (art. 184 do CPC
de 1973) quanto ao "dies a quo", podendo coincidir com sábado, domingo ou
feriado.
IV - A autorização para utilização do fac-símile, constante do art. 1º da Lei
n.º 9.800, de 26.05.1999, somente alcança as hipóteses em que o
documento é dirigido diretamente ao órgão jurisdicional, não se aplicando à
transmissão ocorrida entre particulares.
p. 1005 e 1696: A redação da OJ nº 146 da SDI-II do TST foi alterada pela Res. nº
208/2016
Orientação Jurisprudencial nº 146 da SDI-II do TST. Ação rescisória. Início do prazo para apresentação da contestação. Art. 774 da CLT A contestação apresentada em ação rescisória obedece à regra relativa à contagem de prazo constante do art. 774 da CLT, sendo inaplicável o art. 231 do CPC de 2015 (art. 241 do CPC de 1973).
p. 1006: As redações da OJ nº 310 da SDI-I do TST, da Súmula nº 387 do TST e da OJ nº 146 da SDI-II do TST foram alteradas Orientação Jurisprudencial nº 310 da SDI-I do TST. Litisconsortes. Procuradores distintos. Prazo em dobro. Art. 229, caput e §§ 1º e 2º, do CPC de 2015. Art. 191 do CPC de 1973. Inaplicável ao processo do trabalho.
Inaplicável ao processo do trabalho a norma contida no art. 229, caput e §§ 1º e 2º, do CPC de 2015 (art. 191 do CPC de 1973), em razão de incompatibilidade com a celeridade que lhe é inerente. Súmula nº 387 do TST. Recurso. Fac-símile. Lei nº 9.800/1999. I - A Lei nº 9.800, de 26.05.1999, é aplicável somente a recursos interpostos após o início de sua vigência. II - A contagem do quinquídio para apresentação dos originais de recurso interposto por intermédio de fac-símile começa a fluir do dia subsequente ao término do prazo recursal, nos termos do art. 2º da Lei nº 9.800, de 26.05.1999, e não do dia seguinte à interposição do recurso, se esta se deu antes do termo final do prazo. III - Não se tratando a juntada dos originais de ato que dependa de notificação, pois a parte, ao interpor o recurso, já tem ciência de seu ônus processual, não se aplica a regra do art. 224 do CPC de 2015 (art. 184 do CPC de 1973) quanto ao "dies a quo”, podendo coincidir com sábado, domingo ou feriado. IV - A autorização para utilização do fac-símile, constante do art. 1º da Lei n.º 9.800, de 26.05.1999, somente alcança as hipóteses em que o documento é dirigido diretamente ao órgão jurisdicional, não se aplicando à transmissão ocorrida entre particulares. Orientação Jurisprudencial nº 146 da SDI-II do TST. Ação rescisória. Início do prazo para apresentação da contestação. Art. 774 da CLT A contestação apresentada em ação rescisória obedece à regra relativa à contagem de prazo constante do art. 774 da CLT, sendo inaplicável o art. 231 do CPC de 2015 (art. 241 do CPC de 1973).
p. 1008: SÚMULAS DOS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO (RELACIONADAS AO
CAPÍTULO VI)
(ACRESCENTADAS AO CAPÍTULO VI – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Prazos processuais
Súmula nº 51 do TRT da 2ª Região - Prazo recursal - Recesso forense – Suspensão de sua
contagem.
O período do recesso forense, de 20 de dezembro a 6 de janeiro do ano subsequente, suspende a
contagem dos prazos processuais, inclusive o recursal.
p. 1010-1012: A redação da Súmula nº 263 do TST foi alterada pela Res nº 208/2016,
razão pela qual seus comentários foram alterados
Súmula nº 263 do TST. Petição Inicial. Indeferimento. Instrução obrigatória
deficiente.
Salvo nas hipóteses do art. 330 do CPC de 2015 (art. 295 do CPC de 1973), o
indeferimento da petição inicial, por encontrar-se desacompanhada de
documento indispensável à propositura da ação ou não preencher outro
requisito legal, somente é cabível se, após intimada para suprir a
irregularidade em 15 (quinze dias), mediante indicação precisa do que deve
ser corrigido ou completado, a parte não o fizer (art. 321 do CPC de 2015).
A CLT prevê os requisitos da petição inicial em seu art. 840, § 1º, não
disciplinando os efeitos do descumprimento do referido artigo, exceto no caso do
rito sumaríssimo, em que o art. 852-B, § 1º, da CLT impõe o arquivamento da
reclamação quando ausente o pedido certo ou determinado e não indicar o valor
correspondente, assim como quando não indicar o correto nome e endereço do
reclamado.
Diante dessa lacuna no processo laboral, aplica-se subsidiariamente a
disciplina constante no Código de Processo Civil, por força do art. 769 da CLT. Dessa
forma, na época do CPC de 1973, invocava-se o art. 284 do CPC/73172.
Interpretando referido artigo, o TST editou a súmula em comentário definindo,
objetivamente, vícios sanáveis e insanáveis.
Assim, para o C. TST há vício sanável garantindo o direito de emenda da inicial
quando:
1) faltar documento indispensável à propositura da ação ou;
2) não preencher outro requisito legal.
Por outro lado, será vício insanável nas hipóteses do art. 295 do CPC/73 (NCPC,
art. 330), ensejando o imediato indeferimento da petição inicial.
Noutras palavras, ocorrendo uma das hipóteses do art. 295 do CPC/73
(NCPC, art. 330 173 ), a petição inicial deverá ser indeferida liminarmente,
admitindo sua emenda apenas quando faltar documento indispensável à
propositura da ação ou não preencher outro requisito legal.
O NCPC passa a tratar da matéria no art. 321, in verbis: Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado. Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial.
Percebe-se pelo referido dispositivo duas alterações substanciais: 1) ampliou o
prazo de emenda de 10 para 15 dias; 2) exigiu que o juiz indique com precisão o que
deve ser corrigido ou completado.
Diante de tais alterações, o C. TST modificou a presente súmula incluindo esses
dois aspectos na redação atual, mantendo o entendimento anterior sobre a natureza dos
vícios.
A primeira alteração simplesmente modifica o prazo da emenda à inicial, não
exigindo maiores esclarecimentos.
Já a alteração relacionada ao dever de o juiz indicar com precisão o que deve
ser corrigido ou contemplado, trata-se de decorrência do princípio da cooperação
insculpido no art. 6º do Novo CPC, o qual impõe que "todos os sujeitos do processo devem
172 Art. 284. Verificando o juiz que a petição inicial não preenche os requisitos exigidos nos arts. 282 e 283,
ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o
autor a emende, ou a complete, no prazo de 10 (dez) dias. Parágrafo único. Se o autor não cumprir a
diligência, o juiz indeferirá a petição inicial. 173. Art. 330. A petição inicial será indeferida quando: I – for inepta; II – a parte for manifestamente
ilegítima; III – o autor carecer de interesse processual; IV – não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321.
§ 1o Considera-se inepta a petição inicial quando: I – lhe faltar pedido ou causa de pedir; II – o pedido for
indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico; III – da narração dos
fatos não decorrer logicamente a conclusão; IV – contiver pedidos incompatíveis entre si. (...)
cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva".
Observa-se que o princípio da cooperação tem como destinatários todas as partes
envolvidas no processo: os integrantes do polo ativo, do polo passivo, seus respectivos
advogados/procuradores e o órgão jurisdicional.
Referido princípio encontra substrato no objetivo fundamental da solidariedade,
previsto no artigo 3º, I da Constituição Federal de 1988, servindo como meio na consecução
do Estado Democrático de Direito, uma vez que este possui como principal característica a
prévia participação de todos .
O dever de cooperação não se constitui apenas como faculdade das partes, mas,
conforme se observa pela própria redação do art. 6º do NCPC, configura-se como ônus e
dever, fazendo com que todos os sujeitos processuais ocupem posições simétricas durante o
processo. Destacamos que apenas no momento da decisão o juiz ocupará uma posição
assimétrica, pois o julgamento corresponde a uma função exclusiva do magistrado174.
Todavia, essa decisão será baseada nas informações obtidas durante a condução do
processo, daí a importância de o juiz, como instrumento da aplicação do direito, cooperar
com as partes para que seja alcançada a melhor solução ao litígio.
Nas outras fases do processo, porém, deverá haver a cooperação das partes entre
si, das partes com o juiz e vice-versa, com o objetivo de maior democratização na construção
do processo, sem que qualquer um dos sujeitos seja considerado como protagonista.
É nesse contexto, portanto, que se insere o dever de o juiz, ao determinar a
emenda da inicial, indicar com precisão o que deve ser corrigido ou completado.
Antes de finalizar os comentários dessa Súmula, há se fazer uma crítica acerca
do critério objetivo e topográfico criado pelo TST para definir os vícios insanáveis,
capazes de provocar indeferimento liminar da inicial. Noutras palavras, para o C. TST
nos casos do art. 330 do NCPC há vicio insanável, devendo ser indefirida a inicial.
A nosso juízo, mesmo nas hipóteses do art. 330 do NCPC, a parte deverá ser
intimada para emendar a petição inicial.
Isso porque o art. 321 do NCPC não faz nenhuma ressalva quanto à
possibilidade de intimação do autor para emendar a inicial nas hipóteses do art. 330 do
NCPC, até mesmo porque a emenda à inicial preza pelos princípios da celeridade,
efetividade processual e da instrumentalidade das formas, além de ser um direito do
autor175 e não uma faculdade do juiz.
Ademais, o art. 4º do NCPC consagra o princípio da primazia da decisão de
mérito ao dispor que “as partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução
integral do mérito, incluída a atividade satisfativa” (Grifo Nosso). Desse modo, o juízo
deve sempre ter como objetivo a decisão de mérito e estimular que ela ocorra176. Assim,
caso a petição inicial tenha um dos vícios dispostos no art. 330 do NCPC, o juiz deverá
intimar a parte para que emende a petição inicial, caso ele seja sanável.
O art. 317 do NCPC reforça essa ideia e estabelece que o juiz, antes de proferir
174 Nesse sentido: DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil: vol. 1 - Introdução ao Direito
Processual Civil, Parte Geral e Processo de Conhecimento. 17. ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2015, p. 125. 175. STJ – REsp 812.323/MG. 1ª. Turma. Rel. Min. Luiz Fux, j. 16.9.2008. 176. DIDIER JR. Fredie. Curso de Direito Processual Civil: Introdução ao Direito Processual Civil, Parte Geral e
Processo de Conhecimento, vol. 1. 17. ed. Salvador: Editora JusPODIVM. p. 136.
uma decisão sem resolução de mérito, deverá conceder à parte oportunidade para que,
se possível, corrija o vício.
Nesse sentido, o enunciado nº 292 do Fórum Permanente de Processualistas
Civis estabelece que “antes de indeferir a petição inicial, o juiz deve aplicar o disposto no
artigo 321”.
Deve-se observar ainda que o art. 321 faz referência expressa ao art. 319 do
NCPC, o qual tem identidade com o art. 840 da CLT, vez que ambos preveem os
requisitos da petição inicial. Em outros termos, o NCPC permite a intimação do autor
para emendar a inicial no caso de ausência dos requisitos essenciais da petição, não
fazendo ressalva quanto ao art. 330 do NCPC. Tanto é assim que o art. 319, bem como o
art. 330, ambos do NCPC, estabelecem a causa de pedir e o pedido, no primeiro caso
como requisito da inicial e no segundo como inépcia da inicial.
Desse modo, analisando sistematicamente esses dois últimos dispositivos, é
possível extrair que, faltando causa de pedir ou pedido, por força do art. 321 do NCPC, o
juiz deverá conceder prazo para que o autor emende a inicial, e não indeferi-la
liminarmente como impõe a súmula em comentário.
Nesse sentido, leciona o doutrinador Nelson Nery Jr.177:
Falta de pedido ou causa de pedir. A primeira hipótese de
inépcia da petição inicial é a ausência de pedido ou de causa de
pedir. (...) Estes dois elementos da ação devem estar presentes
na petição inicial para que seja considerada apta. (...) A inépcia
pelo defeito aqui apontado pode ser corrigida por emenda da
petição inicial. (grifos no original)
A propósito, o que define o indeferimento liminar da petição inicial é a
natureza do vício e não sua topografia no código, razão pela qual, sendo o vício sanável,
a ser analisado no caso concreto, o juiz deverá conceder prazo para que o autor emende
a inicial, indeferindo-a, de plano, somente na hipótese de vício insanável.
Dessa forma, por ser a possibilidade de emendar a petição inicial um direito do
autor, entendemos que, mesmo nos casos do art. 330 do NCPC, quando o vício for
sanável como, por exemplo, a ausência de causa de pedir e de pedido, o juiz deverá
oportunizar ao autor (reclamante) 15 dias para que emende a inicial e, somente após, se
não suprido o vício, indeferir a petição inicial.
p. 1012-1015, 1196-1199 e 1735-1738: Os comentários à OJ nº 88 da SDI-II do TST
foram alterados
Orientação Jurisprudencial nº 88 da SDI – II do TST. Mandado de
segurança. Valor da causa. Custas processuais. Cabimento
Incabível a impetração de mandado de segurança contra ato judicial que, de
ofício, arbitrou novo valor à causa, acarretando a majoração das custas
processuais, uma vez que cabia à parte, após recolher as custas, calculadas
177. NERY Jr., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 903.
com base no valor dado à causa na inicial, interpor recurso ordinário e,
posteriormente, agravo de instrumento no caso de o recurso ser considerado
deserto.
O valor da causa é a atribuição econômica dos pedidos formulados pelo
reclamante, sendo certo que “a toda causa será atribuído valor certo, ainda que não
tenha conteúdo econômico imediatamente aferível.” (NCPC, art. 291).
No processo do trabalho, há divergência sobre a obrigatoriedade da indicação
do valor da causa na petição inicial, entendendo alguns que não é requisito da petição
inicial, porquanto não há exigência expressa na CLT. Para outros, com os quais
pensamos estar a razão, trata-se de requisito essencial, pois define o rito procedimental
(sumário, sumaríssimo ou ordinário).
Independentemente de a tese a ser adotada, o valor da causa serve para
definição do rito, recolhimento de taxas judiciárias, fixação do valor para fins de
aplicação de ato atentatório à dignidade da jurisdição, litigância de má-fé, multa pela
interposição de embargos de declaração meramente protelatórios, assim como dos
honorários advocatícios.
Na orientação em comentário, o TST visou ao processo que já possui valor da
causa e, sem que haja impugnação pela parte contrária, o juiz o altera de ofício,
majorando o valor das custas processuais.
Tal majoração ex officio não encontrava pacificação na doutrina, na época do
CPC de 1973. Parcela da doutrina entendia que, como as custas processuais têm como
um de seus escopos o pagamento de taxas judiciárias, incumbia ao juiz zelar pelo seu
correto recolhimento para não lesar o Fisco, sendo, portanto, matéria de ordem pública
alterável de ofício. Por outro lado, interpretando literalmente o artigo 261, parágrafo
único, do CPC/73, a outra parte da doutrina entendia que apenas por meio de
impugnação ao valor da causa este poderia ser alterado.
O NCPC soluciona a controvérsia doutrinária e determina que o juiz
poderá corrigir de ofício o valor da causa, entendendo, portanto, que as custas
processuais correspondem a matéria de ordem pública178, conforme se observa no art.
292, §3º, in verbis: § 3º O juiz corrigirá, de ofício e por arbitramento, o valor da causa quando verificar que não corresponde ao conteúdo patrimonial em discussão ou ao proveito econômico perseguido pelo autor, caso em que se procederá ao recolhimento das custas correspondentes.
Referido artigo é aplicável ao processo do trabalho, como prevê o C. TST no art.
3, V, da Instrução Normativa nº 39 do TST.
Portanto, sendo atualmente permitida a alteração ex officio não há falar em
violação de direito líquido e certo, reforçando o entendimento do C. TST quanto à
inviabilidade da impugnação por meio do mandado de segurança.
No caso em análise, o TST não adentrou propriamente na possibilidade ou não
de alteração do valor da causa de ofício, uma vez que extinguiu o mandado de segurança
178. MEDINA, José Miguel Garcia. Novo Código de Processo Civil Comentado: com remissões e notas
comparativas ao CPC/1973. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 452.
sem resolução do mérito, por ser incabível na hipótese.
E assim agiu o C. TST, porque entendeu que a alteração ex officio do valor da
causa possui mecanismo próprio de impugnação, o que afasta o cabimento do mandado
de segurança. Isso porque, tratando-se de rito sumário, o art. 2º, e seus §§, da Lei
5.584/70 prevê que a impugnação ocorrerá por meio do pedido de revisão. Já no caso
dos demais ritos (sumaríssimo e ordinário), a parte deverá insurgir-se contra a
alteração do valor no momento do recurso ordinário.
Nesta última hipótese, recurso ordinário, cabe registrar que o recolhimento das
custas processuais é um pressuposto recursal. Desse modo, o TST entendeu que o
recorrente deverá recolher as custas com base no valor originário da causa e, sendo
considerado deserto, deverá interpor o recurso de agravo de instrumento para
destrancar o andamento do recurso (CLT, art. 897, b). Exemplificamos: João ajuíza reclamação trabalhista atribuindo à causa o valor de R$ 15.000,00, para efeitos meramente fiscais. Em sentença, o juiz julga improcedentes os pedidos da exordial, alterando de ofício o valor da causa para R$ 50.000,00, entendendo que este é o valor econômico dos pedidos. Nesse caso, nos termos da orientação em comentário, não sendo João beneficiário da justiça gratuita, deverá interpor recurso ordinário recolhendo as custas sobre o montante de R$ 15.000,00. Na hipótese de ser considerado deserto pelo juiz a quo, deverá interpor agravo de instrumento para destrancar o recurso.
Assim, para o TST é incabível o mandado de segurança para impugnar a
majoração ex officio do valor da causa, por existirem mecanismos aptos a impugná-la.
Consigne-se que o Novo CPC atingirá a presente orientação no que diz respeito
ao recolhimento do valor das custas processuais. Como visto, o C. TST entende que o
recorrente deverá recolher as custas com base no valor da inicial. No entanto, pode
ocorrer de o tribunal entender que a alteração ex officio foi adequada, de modo que as
custas terão sido recolhidas em valor inferior ao devido. Nesse caso, antes de se decretar
a deserção do recurso, o tribunal deverá dar à parte a oportunidade de complementação
das custas processuais, por força do princípio da primazia da decisão de mérito e do art.
1.007 do NCPC, que é aplicável subsidiariamente ao processo do trabalho (TST-IN nº
39/2016, art. 10)179.
p. 1019: A redação da Súmula nº 263 do TST foi alterada
Súmula nº 263 do TST. Petição Inicial. Indeferimento. Instrução obrigatória deficiente.
Salvo nas hipóteses do art. 330 do CPC de 2015 (art. 295 do CPC de 1973), o
indeferimento da petição inicial, por encontrar-se desacompanhada de documento
indispensável à propositura da ação ou não preencher outro requisito legal, somente é
cabível se, após intimada para suprir a irregularidade em 15 (quinze dias), mediante
indicação precisa do que deve ser corrigido ou completado, a parte não o fizer (art. 321
do CPC de 2015).
p. 1040-1043 e 1616-1618: A redação da Súmula nº 405 do TST foi alterada pela Res.
nº 208/2016, razão pela qual seus comentários foram alterados
Súmula nº 405 do TST. Ação Rescisória. Tutela Provisória.
179. Vide os comentários da OJ 140 da SDI-I do TST.
Em face do que dispõe a MP 1.984-22/2000 e o art. 969 do CPC de 2015, é
cabível o pedido de tutela provisória formulado na petição inicial de ação
rescisória ou na fase recursal, visando a suspender a execução da decisão
rescindenda.
Proferida a decisão de mérito e não havendo mais oportunidade para recurso,
temos o trânsito em julgado da decisão e, consequentemente, a formação da coisa
julgada material.
Diante do esgotamento recursal, a sentença condenatória seguirá para a
efetivação na fase executiva, momento em que haverá entrega ao exequente do bem da
vida pleiteado.
Pode ocorrer, no entanto, de o executado ajuizar ação rescisória com a
finalidade de desconstituir a decisão judicial sob o manto da coisa julgada material,
postulando a suspensão da execução.
Muito se discutia acerca desse pedido de suspensão da execução, vez que,
embora a sentença executada fosse decorrente de decisão transitada em julgado, em
determinados casos a probabilidade de êxito da ação rescisória era expressiva, o que
significava que a continuação da execução poderia causar lesão ao executado,
inviabilizando inclusive o retorno ao status quo ante.
Diante disso, passou-se a permitir, em casos excepcionais, a utilização de
medida cautelar inominada na ação rescisória com o objetivo de suspender a execução
trabalhista.
Nesse contexto, a MP 1.984-22/2000 admitia, em seu art. 15, que seria
aplicável “à ação rescisória o poder geral de cautela de que trata o art. 798 do Código de
Processo Civil”.
Ato contínuo, o legislador introduziu, no art. 273, § 7º, do CPC/73, a
fungibilidade entre a medida cautelar e a tutela antecipada, reconhecendo a natureza
instrumental do processo e que ambos os institutos se enquadravam no gênero tutela de
urgência, de modo que, estando presentes os requisitos para seu deferimento, o juiz
deveria deferi-lo independentemente do nome formulado no pedido (tutela antecipada
ou medida cautelar).
Assim, admitido o cabimento da suspensão da execução do processo originário
na ação rescisória, cumpria saber qual o meio judicial a ser utilizado para tal suspensão.
O C. TST, na redação anterior dessa súmula, entendia que a medida cabível
para a suspensão da execução do processo originário, quando ajuizada a ação rescisória,
seria a ação cautelar (OJs nº 76 e 131 da SDI – II), vez que no seu entender não cabia
tutela antecipada na rescisória.
O não cabimento da tutela antecipada nessa hipótese tinha como fundamento a
restrição imposta pela doutrina e pela jurisprudência de não se admitir a concessão de
tutela antecipada nas ações constitutivas. Melhor explicando, a ação rescisória possui
duas fases distintas: o juízo rescindendo e o juízo rescisório. Na primeira, busca-se
desconstituir o julgado anterior, tendo, portanto, natureza desconstitutiva. Na segunda
fase, caso seja necessária, julga-se novamente o mérito do processo originário, tendo
assim a mesma natureza deste processo. Sendo, portanto, a primeira fase ação
desconstitutiva, a doutrina não admitia o cabimento da tutela antecipada, sob o
argumento de que a (des) constituição somente seria admitida em juízo de certeza. A
propósito, dizia a doutrina que não será cabível a desconstituição, por meio de cognição
sumária, de uma decisão já transitada em julgado.
No entanto, a ação rescisória, além de desconstituir a decisão transitada em
julgado, também produz outros efeitos materiais e processuais, dentre eles a suspensão
da execução do processo originário, uma vez que, sendo procedente a ação rescisória,
fulminará a fase executiva do processo originário. Assim, sendo certo que a tutela
antecipada tem como finalidade antecipar os efeitos práticos da sentença, pensamos que
a suspensão da execução deverá ser postulada por meio de tutela antecipada, sem
prejuízo de se admitir a tutela cautelar em outras hipóteses, quando for o caso.
Atento a essas peculiaridades, o legislador introduziu já na época do CPC/73 o
art. 489, passando a admitir expressamente o cabimento da tutela antecipada na ação
rescisória. Do mesmo modo, o art. 969 do Novo CPC declinou que “a propositura da ação
rescisória não impede o cumprimento da decisão rescindenda, ressalvada a concessão
de tutela provisória”.
Portanto, o NCPC admite a suspensão dos efeitos da decisão rescindenda por
meio da tutela provisória, que poderá ser de evidência ou urgência. Neste último caso,
pode ter o viés de cautelar ou tutela antecipada, sendo permitida sua postulação de
modo antecedente ou incidental (art. 294 do NCPC).
Observa-se, dessa forma, que o art. 969 do NCPC não restringe a tutela
provisória à suspensão dos efeitos da decisão rescindenda, sendo admitidas as tutelas
de urgência (cautelares ou satisfativas) ou de evidência180, quando for o caso.
Assim, o C. TST, em consonância com o NCPC, alterou a presente súmula para
permitir, indistintamente, a tutela provisória em ação rescisória.
Com efeito, por força do princípio da fungibilidade (NCPC, art. 305, parágrafo
único), poderá ser concedida na ação rescisória tanto a tutela antecipada quanto a
medida cautelar, independentemente da nomenclatura do pedido, desde que estejam
presentes os requisitos para sua concessão.
Por fim, há de se consignar que a concessão de tutela de urgência, na ação
rescisória, deve ser vista como excepcional, de modo que o simples ajuizamento da ação
rescisória não impede o cumprimento da sentença ou do acordo rescindendo (NCPC, art.
969). Como bem adverte Araken de Assis: Convém ressaltar que não basta o desfalque patrimonial ou a intensidade dos efeitos desfavoráveis do julgado rescindendo na esfera jurídica do autor da rescisória. Esses efeitos têm a seu favor a autoridade da coisa julgada. E, por suposto, a rescisória represente remédio processual jungido a casos de rescindibilidade estritos e de árdua configuração, resultando em escassos juízos de procedência181.
Isso ocorre especialmente porque o deferimento da suspensão da execução
será proferido em decisão decorrente de cognição sumária (juízo de verossimilhança), o
que significa dizer que uma decisão fundada em cognição exauriente (juízo de certeza),
inclusive com o trânsito em julgado, poderá ficar sobrestada por meio de decisão de
cognição sumária a ser proferida na ação rescisória. É por isso que sua utilização, a 180. BUENO, Cássio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil Anotado. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 609.
181. ASSIS, Araken. Processo civil brasileiro, volume II: parte geral: institutos fundamentais: tomo 2. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 549
nosso juízo, somente terá cabimento em casos imprescindíveis, ainda que o Novo CPC
não tenha reproduzido essa expressão como constava do art. 489 do CPC/73182.
p. 1059: SÚMULAS DOS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO (RELACIONADAS AO
CAPÍTULO IX)
(ACRESCENTADAS AO CAPÍTULO IX – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Audiência
Súmula nº 52 do TRT da 3ª Região - Ausência de intimação pessoal da parte para depor em audiência. Intimação na pessoa do procurador. "Confissão ficta".
A intimação pessoal da parte para depor em audiência, com expressa menção à cominação legal, é requisito indispensável para a aplicação da "confissão ficta".
___________________________________________________________________________________
Conciliação
Súmula n.º 30 do TRT da 23ª Região - Acordo judicial. Prazo para denúncia esgotado.
Preclusão temporal. Direito de iniciar a execução ou prosseguir com a execução já iniciada.
O transcurso do prazo para a denúncia do inadimplemento do acordo judicial não acarreta a
extinção da obrigação por presunção de pagamento, bem como não impede o credor do direito de
dar início à fase de execução ou prosseguir com a execução já iniciada, visando o recebimento do
crédito inadimplido.
p. 1084: O C. TST editou as súmulas nº 260 e 261 na Res. nº 209/2016, razão pela qual,
devem ser inseridas no tópico de ônus da prova:
2.4. Ônus da prova. Vale-transporte
Súmula nº 460 do TST. Vale-transporte. Ônus da prova.
É do empregador o ônus de comprovar que o empregado não satisfaz os requisitos
indispensáveis para a concessão do vale-transporte ou não pretenda fazer uso do
benefício.
A CLT, ao disciplinar o ônus da prova, estabelece a máxima segundo a qual “a
prova das alegações incumbe à parte que as fizer” (art. 818). Como já sedimentado na
doutrina e jurisprudência trabalhista, referida máxima exige complementação pelo
Código de Processo Civil, de modo que incumbe ao autor provar os fatos constitutivos e
ao réu, os fatos extintivos, modificativos e impeditivos do direito do autor (NCPC, art.
373).
Na presente súmula, o C. TST trata do ônus da prova para a concessão do vale-
transporte.
182. Em sentido contrario, não exigindo a excepcionalidade para sua concessão, NERY Jr., Nelson;
NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 2015. p. 1.951.
Nos termos do art. 1º da Lei nº 7.418/85 “fica instituído o vale-transporte, que
o empregador, pessoa física ou jurídica, antecipará ao empregado para utilização efetiva
em despesas de deslocamento residência-trabalho e vice-versa, através do sistema de
transporte coletivo público, urbano ou intermunicipal e/ou interestadual com
características semelhantes aos urbanos, geridos diretamente ou mediante concessão ou
permissão de linhas regulares e com tarifas fixadas pela autoridade competente,
excluídos os serviços seletivos e os especiais”.
Portanto, para que seja concedido tal benefício impõe-se que o trabalhador
necessite de transporte coletivo para se deslocar entre a residência e o trabalho e vice-
versa. Além disso, o empregado deverá informar ao empregador, por escrito, seu
endereço e os serviços e meios de transporte mais adequados ao seu deslocamento
residência-trabalho e vice-versa (Dec nº 95.247/87.
Trata-se, pois, de fato constitutivo, porque cria o direito ao recebimento desse
benefício.
Nesse contexto, o C. TST, antigamente, na Orientação Jurisprudencial nº 215 da
SDI-I do TST estabelecia que era do empregado o ônus de comprovar que satisfazia os
requisitos indispensáveis à obtenção do vale-transporte.
Contudo, com o cancelamento da OJ em maio de 2011 (Res. nº 175/2011 do
TST), o C. TST alterou seu posicionamento e passou a entender que o ônus da prova na
comprovação do não preenchimento dos requisitos indispensáveis à concessão do vale-
transporte ou que o empregado não pretenda fazer uso do benefício é do empregador.
Assim agiu, porque só há falar em ônus da prova quando não existir presunção
que milita a favor da existência ou da veracidade do fato.
Noutras palavras, antes de chegarmos ao ônus da prova faz-se necessário
verificar se há nos autos provas produzidas, assim como analisar se os fatos são
notórios, confessados, incontroversos ou em cujo favor milita presunção legal de
existência ou de veracidade.
Isso ocorre porque, existindo fatos notórios, confessados e incontroversos, não
há necessidade de provas, podendo o julgador solucionar a lide. O mesmo ocorre com os
fatos em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade, os quais
independem de prova (NCPC, art. 374).
Assim, sendo presumível que o empregado necessita de transporte coletivo
para se deslocar entre sua residência e o trabalho e vice-versa, desnecessária a
comprovação do fato constitutivo.
Mesmo que não se admita a existência de referida presunção, não se pode
negar que o empregador, por documentar todos os dados do empregado desde o
momento da contratação e durante toda a relação de trabalho, tem melhor aptidão para
demonstrar se o trabalhador preenche os requisitos para o recebimento do vale
transporte, de modo que se transfere tal ônus ao empregador, ante a teoria dinâmica do
ônus da prova.
Neste ponto, é importante destacar que o art. 373, § 1º, do NCPC, aplicável ao
processo do trabalho (TST-IN nº 39/2016, art. 3º, VII), impõe decisão fundamentada
para que haja distribuição diversa do ônus da prova.
Conquanto sejamos adeptos de que a aplicação da teoria dinâmica pressupõe
decisão fundamentada a ser proferida antes da fase instrutória183, tal exigência tem
como fim possibilitar à parte contrária que se desincumba de seu ônus. É o que se
verifica inclusive pela parte final do § 1º do art. 373 do NCPC. No entanto, no caso em
comentário, a súmula já define antes da entrada da demanda de quem será o ônus da
prova, o que significa que o contraditório estará preservado, não havendo nenhuma
surpresa para o reclamado. Desse modo, nesse caso, pensamos ser desnecessária
decisão fundamentada em cada processo, bastando para tanto a presente súmula.
Pode acontecer ainda de se buscar demonstrar que o empregador proporciou,
por meios próprios ou contratados em veículos adequados ao transporte coletivo, o
deslocamento, residência-trabalho e vice-versa, de seus trabalhadores (Dec. Nº
95.247/85, art. 4º), bem como que o trabalhador não tem necessidade de transporte
coletivo para esse deslocamento, porque, p. ex, sua residência é próxima do local de
trabalho. Da mesma forma, pode-se pretender a demonstração de que o empregado não
tem interesse de fazer uso de tal benefício.
Todos esses fatos são impeditivos, pois obstam a criação do direito ao
recebimento do vale-transporte.
Portanto, sendo fatos impeditivos devem ser comprovados pelo reclamado, nos
termos do art. 818 da CLT c/c art. 373, II, do NCPC.
Dessa forma, será ônus do empregador a comprovação de que o empregado
não possuía interesse no recebimento do vale-transporte ou que não cumpria todos os
requisitos para a obtenção do benefício.
2.5. Ônus da prova. Diferenças no recolhimento do FGTS.
Súmula nº 461 do TST. FGTS. Diferenças. Recolhimento. Ônus da prova.
É do empregador o ônus da prova em relação à regularidade dos depósitos do FGTS, pois o
pagamento é fato extintivo do direito do autor (art. 373, II, do CPC de 2015).
A CLT, ao disciplinar o ônus da prova, estabelece a máxima segundo a qual “a
prova das alegações incumbe à parte que as fizer” (art. 818). Como já sedimentado na
doutrina e jurisprudência trabalhista, referida máxima exige complementação pelo
Código de Processo Civil, de modo que incumbe ao autor provar os fatos constitutivos e
ao réu, os fatos extintivos, modificativos e impeditivos do direito do autor (NCPC, art.
373).
A presente súmula versa sobre o ônus da prova em relação à regularidade dos
depósitos do FGTS.
Inicialmente, o C. TST entendia, na OJ nº 301 da SDI-I, que “definido pelo
reclamante o período no qual não houve depósito do FGTS, ou houve em valor inferior,
alegada pela reclamada a inexistência de diferença nos recolhimentos de FGTS, atrai
para si o ônus da prova, incumbindo-lhe, portanto, apresentar as guias respectivas, a fim
de demonstrar o fato extintivo do direito do autor (art. 818 da CLT c/c art. 333, II, do
183. DIDIER Jr., Fredie; BRAGA, Paula Sarno e OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processual civil: Teoria
da prova, direito probatório, teoria do procedente, decisão judicial, coisa julgada e antecipação dos efeitos da
tutela. 8. ed. Bahia: JusPODIVM, 2015. v. 2, p. 124.
CPC) ”. Impunha-se, portanto, que o reclamante definisse o período no qual não tinham
ocorridos os depósitos ou tinham sido realizados em valor inferior.
Referida orientação foi cancelada em maio de 2011 (Res. nº 175/2011 do TST),
passando-se a entender que, independentemente de especificação pelo empregado
do período da alegada falta ou diferença de recolhimento do FGTS, ou seja, mesmo
quando este alegar de forma genérica a falta ou a diferença de recolhimento do FGTS,
dando origem à presente súmula.
Essa modificação de entendimento decorre do dever de documentação que
o empregador possui na manutenção dos comprovantes de depósitos referentes ao
FGTS de seus empregados, já que o depósito da parcela do FGTS na conta vinculada do
empregado constitui sua obrigação legal.
Ademais, a alegação de ausência de irregularidades nada mais é do que
arguição de pagamento que é fato extintivo do direito do reclamante, impondo ao
reclamado demonstrá-lo, por força do art. 373, II, do NCPC.
Por fim, é importante destacar que, ainda que a reclamada seja condenada ao
pagamento das diferenças do FGTS, é admitida a dedução, entendida como o abatimento
das verbas que já foram pagas durante a relação de trabalho sob o mesmo título. Trata-
se de matéria de ordem pública embasada no princípio do não enriquecimento sem
causa, razão pela qual pode ser arguida em qualquer tempo e, principalmente,
manifestada ex officio.
p. 1089 e 1094: A redação da Súmula nº 74 do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016
Súmula nº 74 do TST. Confissão I - Aplica-se a confissão à parte que, expressamente intimada com aquela cominação, não comparecer à audiência em prosseguimento, na qual deveria depor. II - A prova pré-constituída nos autos pode ser levada em conta para confronto com a confissão ficta (arts. 442 e 443, do CPC de 2015 - art. 400, I, do CPC de 1973), não implicando cerceamento de defesa o indeferimento de provas posteriores. III- A vedação à produção de prova posterior pela parte confessa somente a ela se aplica, não afetando o exercício, pelo magistrado, do poder/dever de conduzir o processo.
p. 1095: SÚMULAS DOS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO (RELACIONADAS AO
CAPÍTULO XI)
(ACRESCENTADAS AO CAPÍTULO XI – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Ônus da prova
Súmula nº 17 do TRT da 5ª Região - Trabalho externo. Ônus da prova. I - Compete ao empregador o ônus de provar o exercício de trabalho externo incompatível com a fixação de horário de trabalho; II - Uma vez comprovado que o empregado desenvolve atividade externa incompatível com a fixação de horário, compete a ele o ônus de provar que o empregador, mesmo diante desta condição de trabalho, ainda assim, mantinha o controle da jornada trabalhada.
Súmula n.º 56 do TRT da 15ª Região - Depósitos de FGTS. Ônus da prova.
Em decorrência do princípio da aptidão da prova, cabe ao empregador o ônus de
comprovar a regularidade dos depósitos de FGTS, incumbindo ao empregado apontar
eventuais diferenças, ainda que por amostragem.
Prova Testemunhal
Súmula n.º 34 do TRT da 23ª Região - Testemunha que pleiteia indenização por dano
moral em face do mesmo empregador. Impossibilidade de suspeição presumida.
Necessidade de prova.
A mera interposição de ação, pela testemunha, contra o mesmo empregador, ainda que
com pedido de danos morais decorrente de assédio moral, não a torna presumivelmente
suspeita, devendo a ausência de isenção de ânimo ficar efetivamente comprovada.
Confissão
Súmula nº 52 do TRT da 3ª Região - Ausência de intimação pessoal da parte para depor em audiência. Intimação na pessoa do procurador. "Confissão ficta".
A intimação pessoal da parte para depor em audiência, com expressa menção à cominação legal, é requisito indispensável para a aplicação da "confissão ficta".
p. 1099: A redação da Súmula nº 394 do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016
Súmula nº 394 do TST. Fato superveniente. Art. 493 do CPC de 2015. Art. 462 do CPC de 1973. O art. 493 do CPC de 2015 (art. 462 do CPC de 1973), que admite a invocação de fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito, superveniente à propositura da ação, é aplicável de ofício aos processos em curso em qualquer instância trabalhista. Cumpre ao juiz ou tribunal ouvir as partes sobre o fato novo antes de decidir.
p. 1099: A redação da OJ nº 41 da SDI-II do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016
Orientação Jurisprudencial nº 41 da SDI-II do TST. Ação rescisória. Sentença “citra petita”. Cabimento. Revelando-se a sentença "citra petita", o vício processual vulnera os arts. 141 e 492 do CPC de 2015 (arts. 128 e 460 do CPC de 1973), tornando-a passível de desconstituição, ainda que não interpostos embargos de declaração.
p. 1108: As redações da Súmula nº 394 do TST e da OJ nº 41 da SDI-II do TST foram
alteradas
Súmula nº 394 do TST. Fato superveniente. Art. 493 do CPC de 2015. Art. 462 do CPC de 1973. O art. 493 do CPC de 2015 (art. 462 do CPC de 1973), que admite a invocação de fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito, superveniente à propositura da ação, é
aplicável de ofício aos processos em curso em qualquer instância trabalhista. Cumpre ao juiz ou tribunal ouvir as partes sobre o fato novo antes de decidir. Orientação Jurisprudencial nº 41 da SDI-II do TST. Ação rescisória. Sentença “citra petita”. Cabimento. Revelando-se a sentença "citra petita", o vício processual vulnera os arts. 141 e 492 do CPC de 2015 (arts. 128 e 460 do CPC de 1973), tornando-a passível de desconstituição, ainda que não interpostos embargos de declaração.
p. 1120-1124, 1248-1252 e 1374-1379: A redação da Súmula nº 421 do TST foi
alterada pela Res. nº 208/2016, razão pela qual seus comentários foram alterados
Súmula nº 421 do TST. Embargos de declaração. Cabimento. Decisão
monocrática do relator calcada no art. 932 do CPC de 2015. Art. 557 do CPC de
1973.
I – Cabem embargos da declaração de decisão monocrática do relator prevista
no art. 932 do CPC de 2015 (art. 557 do CPC de 1973), se a parte pretende tão
somente juízo integrativo retificador da decisão e, não, modificação do
julgado.
II – Se a parte postular a revisão no mérito da decisão monocrática, cumpre ao
relator converter os embargos de declaração em agravo, em face dos
princípios da fungibilidade e celeridade processual, submetendo-o ao
pronunciamento do Colegiado, após a intimação do recorrente para, no prazo
de 5 (cinco) dias, complementar as razões recursais, de modo a ajustá-la às
exigências do art. 1.021, § 1º, do CPC de 2015.
I – Cabem embargos da declaração de decisão monocrática do relator prevista no
art. 932 do CPC de 2015 (art. 557 do CPC de 1973), se a parte pretende tão
somente juízo integrativo retificador da decisão e, não, modificação do julgado.
As decisões dos tribunais são pautadas no princípio do colegiado. Noutros
termos, enquanto as sentenças são julgadas, em regra, por um único julgador, os
acórdãos são embasados em decisões colegiadas, sendo essa a lógica do sistema.
Contudo, e respaldado nos princípios da celeridade e efetividade processual, o
legislador delegou atividades dos órgãos colegiados aos relatores, como prevê o art. 932
do NCPC, que é aplicável subsidiariamente ao processo do trabalho (CLT, art. 769 e
Súmula nº 435 do TST).
De qualquer modo, a atuação do relator no caso é uma mera delegação de
poder, mantendo-se com o órgão colegiado a competência para decidir184.
O art. 932 do NCPC reproduz a sistemática do art. 557 do CPC/73, permitindo
que o relator faça juízo de admissibilidade do recurso (inciso III), assim como julgue o
próprio mérito do recurso, negando-lhe ou dando-lhe provimento (incisos III, IV e V).
No primeiro caso, admite-se a denegação do recurso (juízo de admissibilidade)
quando:
184. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. 2. ed. Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: Método, 2010. p. 643.
1) inadmissível;
2) prejudicado;
3) não tenha impugnado especificadamente os fundamentos da
decisão recorrida, observada a Súmula 422 do TST.
Por outro lado, o relator poderá analisar o mérito do recurso para:
1) negar-lhe provimento, quando o recurso for contrário a
súmula do STF, do STJ (incluímos do TST) ou do próprio
tribunal; quando for contrário a acórdão proferido pelo STF ou
pelo STJ (incluímos do TST) em julgamento de recursos
repetitivos e; quando for contrário ao entendimento firmado em
incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção
de competência;
2) dar-lhe provimento, quando a decisão recorrida estiver em
confronto com súmula do STF, do STJ (incluímos do TST) ou do
próprio tribunal; quando for contrário a acórdão proferido pelo
STF ou pelo STJ (incluímos do TST) em julgamento de recursos
repetitivos e quando for contrário ao entendimento firmado em
incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção
de competência.
Considerando que a decisão colegiada é a regra e que o relator no caso agirá
por delegação, o art. 1021 do NCPC admite que a decisão monocrática está sujeita à
interposição de agravo interno, tudo como forma de levar ao colegiado o
conhecimento do recurso.
Na época do CPC/73, o art. 557, § 1º, também previa o cabimento do agravo.
Diante dessa previsão, o Supremo Tribunal Federal passou a não admitir os embargos
de declaração para esses casos, pacificando no sentido de que, se interpostos embargos
de declaração no caso do art. 557 do CPC/73, deveriam ser admitidos como agravo, com
base no princípio da fungibilidade185.
Contudo, considerando que os embargos de declaração e o agravo possuem
objetos e objetivos distintos, não merecia acolhida o posicionamento do E. STF. Isso
porque, não havia razão lógica e jurídica para afastar o cabimento dos embargos de
declaração para o caso, uma vez que “não há nenhum sentido permitir que
pronunciamentos omissos, contraditórios e obscuros não possam ser impugnados pelas
partes que pretendem afastar tais vícios no caso concreto. Por vezes, a incompreensão
de um pronunciamento judicial pode inclusive impedi-lo de atingir sua finalidade, além
de uma decisão omissa ser óbvia denegação da atividade jurisdicional, o que em
nenhuma hipótese pode ser aceito”186.
Nesse caminho, o Tribunal Superior do Trabalho, de forma acertada, não
acompanhou o entendimento do Supremo Tribunal Federal, admitindo, por
consequência, os embargos de declaração da decisão monocrática quando se busca
185. STF, Tribunal Pleno, SS-AgR-ED 3.039/SP. Rel. Min. Ellen Gracie. j. 11.10.2007, DJ 14.11.2007.
186. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. 2. ed. Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: Método, 2010. p. 669.
suprir omissão, sem efeito modificativo. Registra-se que, embora a súmula não esteja
especificando o cabimento dos embargos nos casos de obscuridade e contradição,
entendemos plenamente aplicável, pelos mesmos fundamentos levantados
anteriormente, razão pela qual a presente súmula deve ser interpretada de forma
ampliativa.
Para elucidar ainda mais a questão, cita-se a lúcida observação do Ministro
João Oreste Dalazen, invocada na decisão dos embargos de declaração julgado pelo
Ministro Milton Moura França: (...) V. Ex.ª está queimando etapas e, em outras palavras, a meu juízo, causando aparentemente um prejuízo à parte, não lhe ensejando a oportunidade a que, da decisão que julgasse os embargos declaratórios, houvesse a possibilidade de interposição de um agravo para a Subseção. O meu raciocínio é o seguinte, Srs. Ministros: o Relator monocraticamente profere uma decisão que por ventura se ressinta de algum esclarecimento. Então, ele próprio, monocraticamente, presta os esclarecimentos ou dá provimento. Enfim, ele monocraticamente efetiva o juízo integrativo da decisão que é dele e só depois, então, é que teria ensejo ao agravo para a Seção, porque, da forma como se faz, subtrai-se da parte um recurso.187
O Novo CPC passa a admitir a interposição de embargos de declaração de
qualquer decisão judicial (NCPC, art. 1.022, caput) 188. Desse modo e acompanhando o
entendimento do C. TST, permite expressamente o cabimento dos embargos de
declaração da decisão monocrática, como se verifica pelo art. 1.024, § 2º, in verbis: § 2º Quando os embargos de declaração forem opostos contra decisão de relator ou outra decisão unipessoal proferida em tribunal, o órgão prolator da decisão embargada decidi-los-á monocraticamente.
Assim, da decisão monocrática que não conhecer, dar ou negar o provimento
do recurso são cabíveis os embargos de declaração, a fim de sanar obscuridade,
contradição e omissão, desde que não tenham efeito modificativo (infringente).
II – Se a parte postular a revisão no mérito da decisão monocrática, cumpre ao
relator converter os embargos de declaração em agravo, em face dos princípios da
fungibilidade e celeridade processual, submetendo-o ao pronunciamento do
Colegiado, após a intimação do recorrente para, no prazo de 5 (cinco) dias,
complementar as razões recursais, de modo a ajustá-la às exigências do art. 1.021,
§ 1º, do CPC de 2015.
Os embargos declaratórios com efeitos infringentes ou modificativos são
aqueles que possibilitam a alteração substancial do julgamento, sem que haja o
pronunciamento do órgão ad quem.
Nesse sentido, e considerando a possibilidade da alteração do conteúdo do
julgado, o que impõe inclusive a manifestação da parte contrária (CLT, art. 897-A, § 2º),
o Tribunal Superior do Trabalho entendeu que, havendo embargos de declaração com
187. TST – EDEAIRR nº 701161/2000. Rel. Min. Milton de Moura França. DJ 26.4.2002.
188 TST- IN nº 39/2016. Art. 9º. O cabimento dos embargos de declaração no Processo do Trabalho, para
impugnar qualquer decisão judicial, rege-se pelo art. 897-A da CLT e, supletivamente, pelo Código de
Processo Civil (arts. 1022 a 1025; §§ 2º, 3º e 4º do art. 1026), excetuada a garantia de prazo em dobro para
litisconsortes (§ 1º do art. 1023). Parágrafo único. A omissão para fins do prequestionamento ficto a que
alude o art. 1025 do CPC dá-se no caso de o Tribunal Regional do Trabalho, mesmo instado mediante
embargos de declaração, recusar-se a emitir tese sobre questão jurídica pertinente, na forma da Súmula nº
297, item III, do Tribunal Superior do Trabalho.
efeito modificativo da decisão monocrática do relator, o que pretende a parte é a
verdadeira reforma ou anulação do julgamento, de modo que os embargos deverão ser
convertidos em agravo, com base no princípio da fungibilidade e celeridade processual.
Nessa hipótese, diferentemente do que ocorre no item I, o recorrente busca
alterar a própria substância do julgamento, o que dá ensejo ao agravo.
Acolhendo a tese do C. TST, o Novo CPC passa a prever tal fungibilidade como
se verifica pelo teor do art. 1.024, §3º, in verbis: § 3º O órgão julgador conhecerá dos embargos de declaração como agravo interno se entender ser este o recurso cabível, desde que determine previamente a intimação do recorrente para, no prazo de 5 (cinco) dias, complementar as razões recursais, de modo a ajustá-las às exigências do art. 1.021, § 1º.
Portanto, a partir do NCPC, a legislação admite expressamente o conhecimento
dos embargos de declaração como agravo interno.
No entanto, na redação anterior dessa súmula, ela admite a conversão dos
embargos em agravo interno sem nenhuma condicionante. Já o Novo CPC impõe que a
parte recorrente seja intimada para complementar seu recurso, no prazo de 5
dias, antes de o tribunal julgar os embargos de declaração como agravo.
Isso ocorre porque os embargos de declaração tem fundamentação vinculada,
não ocorrendo o mesmo com o agravo interno que é de fundamentação livre, o que
significa que o recorrente poderá trazer outros fundamentos que não seriam admitidos
nos embargos189. É por isso que o novel código admite tal complementação, exigindo a
intimação prévia do recorrente.
Desse modo, o C. TST alterou a redação dessa súmula por meio da Resolução nº
208/2016, passando a impor expressamente que o recorrente seja intimado para, no
prazo de 5 dias, complementar as razões recursais, de modo a ajustá-la às exigências do
art. 1.021, § 1º, do CPC.190
Com efeito, sendo interpostos os embargos de declaração apenas com o fim de
suprir omissão, eles serão admitidos e julgados pelo relator. Por outro lado, tendo efeito
modificativo, o recorrente será intimado para complementar o recurso e será recebido
como agravo a ser julgado pelo colegiado.
p. 1125, 1379, 1384 e 1397: A OJ nº 412 da SDI-I teve sua redação alterada pela Res. nº
209/2016
Orientação jurisprudencial nº 412 da SDI – I do TST. Agravo interno ou agravo regimental.
Interposição em face de decisão colegiada. Não cabimento. Erro grosseiro. Inaplicabilidade do
princípio da fungibilidade recursal
É incabível agravo interno (art. 1.021 do CPC de 2015, art. 557, § 1º, do CPC de 1973) ou agravo
regimental (art. 235 do RITST) contra decisão proferida por Órgão colegiado. Tais recursos
destinam-se, exclusivamente, a impugnar decisão monocrática nas hipóteses previstas.
Inaplicável, no caso, o princípio da fungibilidade ante a configuração de erro grosseiro.
189. JORGE, Flávio Cheim. Teoria geral dos recursos cíveis. 7. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2015. p. 327.
190 NCPC, art. 1.021. § 1º Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os
fundamentos da decisão agravada.
p. 1134-1135: A redação do tópico Juízo de admissibilidade foi alterada
1.3. Juízo de admissibilidade
Para que os recursos possam ter seu caminhar natural, inicialmente, são
submetidos a uma análise preliminar, denominada juízo de admissibilidade, a fim de
verificar a presença dos pressupostos recursais.
O ordenamento processual adotava dois juízos de admissibilidade, seja no
processo civil (na época do CPC/73), seja no processo do trabalho. Isso porque, em
regra, os recursos eram interpostos no juízo de origem (que proferiu a decisão
impugnada), o qual fazia o primeiro juízo de admissibilidade, chamado juízo de
admissibilidade a quo. Ultrapassado esse primeiro juízo, ele era submetido a nova
análise pelo órgão recursal, nomeado de juízo de admissibilidade ad quem. Nesse último
caso, pode-se dizer que existam vários juízos de admissibilidade feitos pelo relator do
acórdão, pelo revisor e até mesmo pela Turma no momento do julgamento.
O NCPC extinguiu o duplo juízo de admissibilidade para os recursos de
natureza ordinária. Desse modo, na apelação, o juízo de admissibilidade será realizado
apenas pelo tribunal competente e não mais pelo juízo de origem (a quo), conforme se
observa do art. 1.010, §3º191. Assim, conforme estabelece o enunciado nº 99 do Fórum
Permanente de Processualistas Civis, “o órgão a quo não fará juízo de admissibilidade da
apelação”. Nesse mesmo sentido, o art. 1.028, §3º do NCPC dispõe que o recurso
ordinário é remetido ao STF ou STJ independentemente de juízo de admissibilidade.
Contudo, no processo do trabalho, o advento do Novo CPC não produzirá
impactos acerca do duplo juízo de admissibilidade, ante a existência de normas
expressas na legislação trabalhista sobre o tema, conforme se verifica a seguir:
– recurso ordinário: o art. 659, VI, da CLT impõe ao juiz da vara do
trabalho “despachar os recursos interpostos pelas partes, fundamentando a decisão
recorrida antes da remessa ao Tribunal Regional (...)”192.
– recurso de revista: assim como ocorre com os recursos de natureza
extraordinária no Novo CPC (art. 1.030), o art. 896, §1º da CLT contempla,
expressamente, que o juízo de admissibilidade no recurso de revista será realizado,
inicialmente, pelo Presidente do Tribunal Regional do Trabalho.
– agravo de petição: o art. 897, § 2º, da CLT admite a interposição de
agravo de instrumento na hipótese de não processamento do agravo de petição,
sugerindo, portanto, o duplo juízo de admissibilidade.
– recurso ordinário em processo de competência originária do TRT: a Lei
7.701/88, nos arts. 2º, II, f e 3º, III, f, ao admitir o julgamento do agravo de instrumento
também sugere o duplo juízo de admissibilidade.
191. Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau, conterá: (...) § 1º
O apelado será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias. § 2º Se o apelado
interpuser apelação adesiva, o juiz intimará o apelante para apresentar contrarrazões. § 3º Após as
formalidades previstas nos §§ 1º e 2º, os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente de
juízo de admissibilidade.
192 Por respeito ao leitor, registramos que alteramos o entendimento descrito na 6ª edição quando
indicamos que não haveria duplo juízo de admissibilidade no recurso ordinário. Melhor refletindo sobre a
matéria e por força do art. 659, VI, da CLT, passamos a entender que se mantém o duplo juízo de
admissibilidade no recurso ordinário.
– embargos de divergência: o art. 3º, III, c, expressamente admite a
denegação dos embargos pelo presidente da Turma do TST.
Em resumo, haverá duplo juízo de admissibilidade nos recursos trabalhistas
(juízo a quo e juízo ad quem), não produzindo nenhum efeito o art. 1.010, § 3º, do NCPC.
Nesse sentido, estabeleceu o C. TST no art. 2º, XI, da Instrução Normativa nº 39/2016, in
verbis: Art. 2° Sem prejuízo de outros, não se aplicam ao Processo do Trabalho, em
razão de inexistência de omissão ou por incompatibilidade, os seguintes
preceitos do Código de Processo Civil:
(...)
XI - art. 1010, § 3º(desnecessidade de o juízo a quo exercer controle de
admissibilidade na apelação)
O juízo de admissibilidade busca verificar matéria de ordem pública ligada às
preliminares do recurso. Consigna-se que as preliminares recursais não se confundem
com as preliminares do processo, pois aquelas identificam-se com os pressupostos
recursais. Com efeito, pode uma matéria ser preliminar antes da fase recursal, passando
nesta oportunidade a ser matéria de mérito. Seria, por exemplo, o caso de alegação de
ausência de legitimidade passiva do réu que na instância inferior foi alegada como
preliminar. Sendo rejeita na sentença, o recorrente levanta novamente tal matéria, mas
nessa ocasião ela passa a ser mérito do próprio recurso.
Portanto, preliminar do recurso são os pressupostos recursais, a saber:
cabimento, legitimidade para recorrer, interesse recursal, tempestividade, regularidade
formal, depósito recursal, preparo e inexistência de fato extintivo ou impeditivo do
poder de recorrer.
Nesse tópico, analisaremos as súmulas e orientações jurisprudenciais que
dizem respeito ao próprio juízo de admissibilidade, ficando para o capítulo posterior os
pressupostos recursais. Registra-se que a análise dos pressupostos recursais específicos
dos recursos extraordinários ficou reservada para capítulo próprio.
p. 1135-1137, 1281-1283 e 1363-1365: A Súmula nº 285 foi cancelada pela Res. nº
204/2016, razão pela qual seus comentários devem ser desconsiderados.
p. 1214 e 1388: A OJ nº 409 da SDI-I do TST teve sua redação alterada pela Res. nº
209/2016
Orientação Jurisprudencial nº 409 da SDI – I do TST. Multa por litigância de má-fé.
Recolhimento. Pressuposto recursal. Inexigibilidade
O recolhimento do valor da multa imposta como sanção por litigância de má-fé (art. 81 do CPC
de 2015 – art. 18 do CPC de 1973) não é pressuposto objetivo para interposição dos recursos de
natureza trabalhista.
p. 1215 e 1388: A OJ nº 389 do TST teve sua redação alterada pela Res. nº 209/2016
Orientação Jurisprudencial nº 389 da SDI – I do TST. Multa prevista no art. 1.021, §§ 4º e 5º,
do CPC de 2015. Art. 557, § 2º, do CPC de 1973. Recolhimento. Pressuposto recursal.
Beneficiário da Justiça Gratuita e Fazenda Pública. Pagamento ao final.
Constitui ônus da parte recorrente, sob pena de deserção, depositar previamente a multa
aplicada com fundamento nos §§ 4º e 5º, do art. 1.021, do CPC de 2015 (§ 2º do art. 557 do CPC
de 1973), à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário de justiça gratuita, que farão o
pagamento ao final.
p. 1220-1226: A redação da Súmula nº 393 do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016,
razão pela qual seus comentários foram alterados
Súmula nº 393 do TST. Recurso Ordinário. Efeito devolutivo em
profundidade: Art. 1.013, § 1º, do CPC de 2015. Art. 515, § 1º, do CPC de 1973.
I - O efeito devolutivo em profundidade do recurso ordinário, que se extrai do
§ 1º do art. 1.013 do CPC de 2015 (art. 515, § 1º, do CPC de 1973), transfere ao
Tribunal a apreciação dos fundamentos da inicial ou da defesa, não
examinados pela sentença, ainda que não renovados em contrarrazões, desde
que relativos ao capítulo impugnado.
II – Se o processo estiver em condições, o tribunal, ao julgar o recurso
ordinário, deverá decidir desde logo o mérito da causa, nos termos do § 3º do
art. 1.013 do CPC de 2015, inclusive quando constatar a omissão da sentença
no exame de um dos pedidos.
I - O efeito devolutivo em profundidade do recurso ordinário, que se extrai do § 1º
do art. 1.013 do CPC de 2015 (art. 515, § 1º, do CPC de 1973), transfere ao
Tribunal a apreciação dos fundamentos da inicial ou da defesa, não examinados
pela sentença, ainda que não renovados em contrarrazões, desde que relativos ao
capítulo impugnado.
Os recursos são dotados de alguns efeitos, a saber: devolutivo, suspensivo,
translativo, expansivo e substitutivo. Nos comentários dessa súmula, nos ateremos ao
efeito devolutivo, que consiste na transferência ao juízo ad quem do conhecimento das
matérias julgadas no juízo a quo, ou seja, busca-se nova manifestação do Poder
Judiciário sobre a matéria decidida. Por esse raciocínio, é possível concluir que todos
os recursos são dotados do efeito devolutivo, vez que essa transferência é inerente
aos recursos193. O que difere, porém, é o grau da extensão e da profundidade que
incidirá nos recursos.
O recurso ordinário, por ser um recurso de natureza ordinária e de
fundamentação livre, admite a rediscussão de forma ampla da matéria fática, o exame
total das provas e debate pleno da aplicação do direito, podendo fundar-se no mero
inconformismo da parte vencida194. Em decorrência disso, o efeito devolutivo tem
aplicação plena nessa modalidade de recurso, incidindo de forma supletiva no processo do
trabalho o art. 1.013 do NCPC.
O efeito devolutivo deve ser analisado sob dois enfoques: da extensão
193. No sentido do texto: JORGE, Flávio Cheim. Teoria geral dos recursos cíveis. 7. ed. rev., atual. e ampl.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 346-347. BEBBER, Júlio César. Recursos no processo do
trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 176. Em sentido contrário, entendendo que o efeito devolutivo
somente tem aplicação quando há transferência para outro órgão, o que afasta sua aplicação nos embargos
de declaração: MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao código de processo civil. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2010. v. 5, p. 260-261.
194. BEBBER, Júlio César. Recursos no processo do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 46.
(dimensão horizontal) e da profundidade (dimensão vertical).
A extensão do efeito devolutivo é a delimitação do objeto dentro da qual o
recorrente pretende que o juízo ad quem se pronuncie. Trata-se de regra derivada do
princípio dispositivo, vez que o recurso também é manifestação do poder de ação, o que
significa que o recorrente poderá escolher contra quais objetos irá se insurgir. Tem-se
aqui a aplicação do caput do art. 1.013 do NCPC, que consagra a máxima romana tantum
devolutum quantum appelatum. Dessa forma, a insurgência do recorrente poderá ser de
todos os capítulos da sentença em que foi sucumbente ou de apenas parte deles.
Exemplifique-se: A empresa é condenada ao pagamento de horas extras, vale-transporte e indenização pelo dano moral. Caso ela interponha recurso ordinário, poderá insurgir-se contra todos os capítulos da sentença (horas extras, vale-transporte e indenização pelo dano moral) sendo, portanto, de extensão total. Por outro lado, poderá recorrer tão somente do capítulo referente ao vale-transporte, de modo que os demais capítulos (horas extras e indenização pelo dano moral) serão acobertados pela coisa julgada. Tem-se nesse último caso a extensão limitada.
Assim, o efeito devolutivo, em sua extensão, nada mais é do que a quantidade
de matéria impugnada, decorrendo sempre da própria vontade do recorrente.
É imprescindível que a extensão do recurso seja feita inicialmente, passando-se
somente em seguida para a análise de sua profundidade. Tanto é assim que o art. 1.013,
§ 1º, do NCPC e o presente item sumular fazem menção expressa de que a profundidade
ficará limitada ao capítulo impugnado.
A profundidade do efeito devolutivo, também chamada de dimensão vertical,
é aquela que devolve automaticamente ao juízo ad quem todas as alegações,
fundamentos e questões dentro da quantidade impugnada (extensão),
independentemente de manifestação. Trata-se da faceta do efeito devolutivo que
decorre da própria lei195. O que se busca com a profundidade do efeito devolutivo é
colocar em idêntica situação o juízo a quo e juízo ad quem no momento do julgamento,
de modo que este poderá analisar todas as alegações, fundamentações, questões e
provas que estavam ao alcance do juízo a quo, ou seja, permite-se que o órgão julgador
possa se utilizar “de todo o material deduzido em juízo, mesmo que a decisão recorrida e
o recurso não façam qualquer referência ao mesmo” 196. Com efeito, leciona o
doutrinador Flávio Cheim Jorge ao interpretar os §§ 1º e 2º do art. 1.013 do NCPC: Consiste numa técnica processual em que se permite o tribunal, quando do julgamento dos recursos, fique em idêntica situação à que se encontrava o órgão a quo quando da prolação da decisão recorrida. Fixada a extensão da impugnação, o tribunal poderá utilizar-se de todo o material que dispunha o órgão a quo para a elaboração da decisão impugnada. Poderá avaliar todas as questões, todos os fatos, todas as provas, todos os fundamentos das partes, enfim, tudo aquilo que poderia ser objeto de cognição pelo julgador a quo. (...) O tribunal, quando do julgamento do recurso, deverá contar com todos os elementos que dispunha o juiz quando da prolação da decisão, a fim de que
195. Alguns autores preferem enquadrá-lo como efeito translativo. Por todos, LEITE, Carlos Henrique
Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p. 673. De nossa parte,
pensamos que o efeito translativo somente permite a análise ex officio pelo juízo ad quem das matérias de
ordem pública, não se confundindo com a profundidade do efeito devolutivo.
196. JORGE, Flávio Cheim. Teoria geral dos recursos cíveis. 7. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2015. p. 368.
seja permitido um amplo reexame da causa. 197
O efeito devolutivo, em sua profundidade, especificamente aos recursos
ordinários, vem disciplinado nos §§ 1º e 2º, do art. 1.013 do NCPC, in verbis: § 1º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo impugnado. § 2º Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais.
Verifica-se pelo § 1º que o órgão julgador poderá se utilizar de todas as
questões suscitadas e discutidas do processo, mesmo que a sentença tenha se omitido
quanto a algumas delas, desde que relativas ao capítulo impugnado. Exemplificamos
para elucidar o referido parágrafo. A empresa foi condenada ao pagamento do adicional de insalubridade. Na sentença, o juiz afastou a conclusão da perícia e, com base no laudo do assistente técnico do reclamante, decidiu pela existência da insalubridade. Caso a empresa apresente recurso ordinário, o tribunal poderá verificar todo o conjunto probatório (perícia, laudos dos assistentes técnicos, depoimentos, documentos etc.), concluindo pelo provimento ou não do recurso. Assim, o tribunal poderá admitir a insalubridade não pelo laudo do assistente técnico, mas por documento apresentado pela própria empresa (por exemplo, PPRA). Verifica-se que, mesmo que o juiz a quo não tivesse citado o PPRA, o juízo ad quem não ficaria limitado às provas que convenceram o juízo a quo, podendo reexaminar todo o conjunto probatório, mesmo que a sentença não tivesse feito referência a algum deles.
Com base nesse dispositivo, vislumbra-se que a mera possibilidade de exame
das questões pelo juízo a quo permite que o tribunal (juízo ad quem) possa enfrentá-las
no julgamento. É imprescindível, pois, que o juízo a quo tenha tido a oportunidade de
analisar as questões. Isso quer dizer que, no caso de revelia, não poderá o revel levantar
questões novas, suscitadas apenas no recurso ordinário, uma vez que o juízo a quo não
pode fazer nenhuma apreciação sobre elas.
Já o § 2º permite que o juízo ad quem possa analisar os diversos fundamentos
levantados na inicial e na contestação para determinado pedido. Tal efeito, portanto,
pode beneficiar ambas as partes. É o que ocorre, por exemplo, quando a reclamante
postula a reintegração no emprego com o fundamento de que era representante da CIPA
ou porque sofreu acidente de trabalho. Caso o juiz reconheça a garantia de emprego com
base na representação da CIPA, nada mencionando sobre a garantia pelo acidente do
trabalho da reclamante, na hipótese de recurso ordinário pela empresa, poderá o
tribunal negar a garantia de emprego pela representação da CIPA, mas admiti-la com
base no acidente de trabalho, mesmo que a reclamante não levante esse fundamento nas
contrarrazões de recurso. Percebe-se que, analisada a extensão do recurso (pedido de
reintegração), o tribunal estará apto, por força de lei, a analisar todos os fundamentos da
inicial, ou seja, está em idêntica situação em que o juiz de 1º grau estava na ocasião do
julgamento.
Assim, embora indicado, equivocadamente, apenas o § 1º na presente súmula,
também é aplicável ao processo do trabalho o § 2º do art. 1.013 do Novo CPC (TST-IN
197. JORGE, Flávio Cheim. Teoria geral dos recursos cíveis. 7. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2015. p. 368 e 371.
39, art. 3º, XXVIII198), de modo que o C. TST adota o efeito devolutivo amplo no recurso
ordinário.
II – Se o processo estiver em condições, o tribunal, ao julgar o recurso ordinário,
deverá decidir desde logo o mérito da causa, nos termos do § 3º do art. 1.013 do
CPC de 2015, inclusive quando constatar a omissão da sentença no exame de um
dos pedidos.
O C. TST, na redação original dessa súmula, consignava expressamente que ela
não se aplicava no caso de pedido não apreciado na sentença, salvo na hipótese do art.
515, § 3º, do CPC/73 que possibilitava o julgamento do recurso no caso de processo
extinto sem resolução de mérito, desde que a causa fosse exclusivamente de direito e/ou
estivesse em condições de julgamento. Tal exceção era evidente, uma vez que,
extinguindo o processo sem resolução do mérito, o juízo a quo não adentrava no
julgamento dos pedidos, omitindo, pois, sua análise. Portanto, nesse caso havia omissão
no julgamento quanto ao pedido, mas o ordenamento permitia sua análise pelo juízo ad
quem, com base nos princípios da economia e celeridade processual.
Sucede que o art. 1013, §§ 3º e 4º do Novo CPC, correspondente ao art. 515, §
3º do CPC/73, ampliou consideravelmente as hipóteses de supressão de instância, isto é,
ampliou os casos de julgamento de mérito pelo tribunal quando o processo já estiver em
condições de julgamento, sem que haja necessidade de retorno dos autos à origem.
Desse modo, vaticina o referido dispositivo: Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. (...) § 3º Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o mérito quando: I – reformar sentença fundada no art. 485; II – decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir; III – constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo; IV – decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação. § 4º Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal, se possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau.
Pela análise do referido § 3º, de plano, verifica-se que o legislador sepulta
discussão anterior relacionada ao requisito para sua incidência. Isso porque, no CPC/73,
dizia-se que a questão deveria ser exclusivamente de direito e estivesse em condições de
imediato julgamento, mas a melhor doutrina interpretava o conectivo “e” como
alternativo “ou”. No Novo CPC fica mais claro, exigindo-se apenas que o processo esteja
em condições imediata de julgamento. Desse modo, como já ressaltava a doutrina, “a
pedra de toque para nortear a possibilidade de supressão de um grau de jurisdição, a
meu ver, não está situada no conteúdo do mérito, mas na circunstância de o processo
estar apto para receber esse julgamento”199.
Além disso, deixa expresso que a incidência desse dispositivo é dever do 198 TST-IN nº 39/2016. Art. 3°. Sem prejuízo de outros, aplicam-se ao Processo do Trabalho, em face de
omissão e compatibilidade, os preceitos do Código de Processo Civil que regulam os seguintes temas:
(...)XXVIII- arts. 1013 a 1014 (efeito devolutivo do recurso ordinário – força maior); (...) 199. BEBBER, Júlio César. Recursos no processo do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 186.
tribunal e não mera faculdade, não dependendo de requerimento da parte para sua
aplicação.
Vislumbra-se ainda que as hipóteses julgamento pelo tribunal sem o retorno
dos autos à origem foram consideravelmente ampliadas, já que o CPC/73 tratava apenas
do inciso I do art. 1.013 do NCPC.
Assim, com o advento do NCPC, o tribunal também poderá julgar o mérito nas
hipóteses de nulidade de sentença por não observância dos limites do pedido ou da
causa de pedir (inciso II). Noutras palavras, quando não observado o princípio da
congruência (sentença extra petita e ultra petita) é possível o julgamento imediato pelo
tribunal. Esse caso é o mais simples, porque basta que o tribunal exclua da decisão o que
estiver além ou fora do que foi pedido, não havendo necessidade de retornar os autos à
origem.
Já o inciso III permite que o tribunal julgue o mérito quando constatar omissão
no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo. Está ligado, portanto, às
decisões citra petita.
Referido inciso atingiu frontalmente o entendimento anterior do TST,
provocando a alteração da súmula em comentário e a inclusão do presente item por
meio da Resolução nº 208/2016.
Portanto, com o advento do NCPC, ainda que haja omissão na decisão, o
Tribunal poderá analisar o pedido e julgá-lo imediatamente, desde que esteja em
condições de julgamento, não havendo que se falar em nulidade por supressão de
instância.
É evidente, porém, que a análise da omissão pressupõe a provocação da
parte, em decorrência do efeito devolutivo na extensão. Nas palavras dos
doutrinadores Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery o inciso III, do
parágrafo 3º do artigo 1.013 “não deve ser interpretado no sentido de que a parte não
tem a obrigação de destacar e discutir a omissão. Se a parte também não discute a
questão, ocorre a
preclusão.”200
No entanto, indaga-se: tal provocação pressupõe a interposição dos embargos
de declaração e, posteriormente, sua insurgência no recurso principal ou poderá ser
levantada diretamente no recurso principal?
A resposta a esse questionamento passa pela análise da obrigatoriedade ou
não de se interpor embargos de declaração.
O C. TST, na presente súmula, entendia ser obrigatória a interposição dos
embargos de declaração, já que, como visto, não admitia que o tribunal julgasse pedido
não apreciado na sentença. Desse modo, havendo omissão na decisão, impunha-se que,
obrigatoriamente, a parte interpusesse os embargos de declaração e somente depois
apresentasse o recurso ordinário.
No mesmo sentido, leciona o doutrinador Manoel Antônio Teixeira Filho: Pode a parte, no recurso, alegar obscuridade, contradição, ou omissão da sentença se a ela não opôs, no momento oportuno, embargos declaratórios a fim de que o órgão de primeiro grau corrigisse o seu pronunciamento? É
200. NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 2069.
evidente que, por princípio, a resposta deve ser negativa. Ora, esses embargos foram instituídos, exatamente, para expungir da sentença ou do acórdão certas falhas de expressão constatadas pelas partes; deste modo, a possibilidade de poderem ser arguidas essas imperfeições apenas perante o órgão ad quem, na oportunidade da interposição do recurso, implicaria negar a própria razão de ser do instituto, na ordem processual: por um comodismo pessoal, a parte preferiria denunciar a falha da sentença quando interpusesse o recurso, dispensando-se, assim, de oferecer embargos declaratórios àquele pronunciamento de primeiro grau. É juridicamente possível concluir-se, por esse motivo, que, em princípio, a não utilização dos embargos declaratórios, nos casos em que eram cabíveis (melhor, exigíveis), tem efeito preclusivo, de sorte a obstar a possibilidade de a parte vir a arguir a imperfeição formal do julgado em suas razões de recurso201.
No entanto, no âmbito do processo civil, a doutrina majoritária, na época do
CPC/73, já entendia que a não interposição dos embargos era incapaz de gerar
preclusão202, podendo o vício ser levantado no recurso principal, sendo, portanto, a
interposição dos embargos mera faculdade das partes203. Isso apenas não se aplicaria
aos recursos de natureza extraordinária, em decorrência do prequestionamento.
Nos parece que tenha sido essa a posição trilhada pelo Novo CPC, pois passa a
admitir, expressamente, no inciso III que a omissão possa ser reconhecida e julgada
diretamente pelo tribunal. O mesmo ocorre como o inciso IV, pois a falta de
fundamentação também é caso de omissão, por força do art. 1.022, parágrafo único II, do
NCPC.
Isso se justifica, porque a omissão na decisão provoca uma nulidade absoluta.
Desse modo, não se pode dizer que, a ausência de provocação nos embargos de
declaração, provocaria preclusão. Mas sendo nulidade absoluta, por que o tribunal não
pode conhecê-la de ofício, dependendo de provocação da parte no recurso?
Porque não havendo recurso sobre o objeto omisso, teremos o trânsito em
julgado desse capítulo, impossibilitando, assim, a manifestação pelo tribunal.
Portanto, pela interpretação do Novo CPC, é forçoso concluir que a interposição
dos embargos é mera faculdade da parte, o que deverá ser aplicado ao processo do
trabalho, por força do art. 769 da CLT.
Atente-se, porém, para o fato de que essa regra não deverá ser aplicada aos
recursos de natureza extraordinária, uma vez que o art. 1.025 exige a interposição dos
embargos de declaração para os fins de prequestionamento, ainda que sejam
inadmitidos ou rejeitados204 (TST-IN, art. 9º, parágrafo único)205.
Por fim, o § 4º do art. 1.013 permite que, acolhido o recurso ordinário
201. TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Sistema dos recursos trabalhistas. 12. ed. São Paulo: LTr, 2014. p.
368. 202. DIDIER Jr., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processual civil: Teoria
da prova, direito probatório, teoria do procedente, decisão judicial, coisa julgada e antecipação dos efeitos da
tutela. 8. ed. Salvador: JusPODIVM, 2013. v. 2. p. 353.
203. KLIPPEL, Rodrigo; BASTOS, Antônio Adonias. Manual de Direito Processual Civil volume único. 3ª
ed. Salvador: JusPODIVM, 2013. p. 814.
204. Art. 1.025. Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins
de pré-questionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o
tribunal superior considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade. 205 Art. 9º. Parágrafo único. A omissão para fins do prequestionamento ficto a que alude o art. 1025 do CPC
dá-se no caso de o Tribunal Regional do Trabalho, mesmo instado mediante embargos de declaração,
recusar-se a emitir tese sobre questão jurídica pertinente, na forma da Súmula nº 297, item III, do Tribunal
Superior do Trabalho.
interposto para reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o
tribunal avance no julgamento de mérito examinando as demais questões, quando
possível, sem que haja necessidade de determinar o retorno ao juízo de origem.
Nesse caso, assim como nas hipóteses do § 3º, pressupõe-se que a causa já esteja em
condições de julgamento206.
p. 1252-1254: A OJ nº 377 da SDI-I foi cancelada pela Res. nº 204/2016, razão pela qual
seus comentários devem ser desconsiderados
p. 1281-1283: A Súmula nº 285 foi cancelada pela Res. nº 204/2016, razão pela qual
seus comentários devem ser desconsiderados.
p. 1285-1288: Os comentários da Súmula nº 218 foram alterados
Súmula nº 218 do TST. Recurso de revista. Acórdão proferido em agravo de
instrumento
É incabível recurso de revista interposto de acórdão regional prolatado em
agravo de instrumento.
O primeiro pressuposto recursal a ser analisado no momento da interposição
de um recurso é o cabimento. Para que se verifique a presença desse pressuposto, há
necessidade de se conjugarem dois requisitos, sucessivamente: a) o ato impugnável é
recorrível; b) o recurso interposto é adequado à modalidade de decisão que se busca
impugnar.
A primeira análise, portanto, é no sentido de verificar se o ato impugnável é
recorrível. Passamos assim a ponderar se a decisão prolatada no agravo de instrumento
é recorrível.
O agravo de instrumento é uma modalidade recursal restrita no processo do
trabalho, destinado tão somente a destrancar o recurso não processado no juízo a quo.
Ele pressupõe, portanto, uma decisão do juízo a quo, que não processa o recurso. Tal
decisão tem natureza de decisão interlocutória, que, por opção legislativa, permite o
recurso de agravo de instrumento para que o juízo ad quem possa analisar o recurso
principal.
No entanto, quando o agravo de instrumento chega ao Tribunal Regional, cabe
a este analisar, inicialmente, se ele preenche os pressupostos recursais.
Em caso positivo, passa a verificar o mérito do agravo de instrumento e sendo
provido, imediatamente, adentra no julgamento do recurso trancado (por exemplo,
recurso ordinário). Aqui, ao julgar o recurso ordinário destrancado, o acórdão tem
natureza de sentença, sendo, pois, impugnável por meio de recurso de revista.
Por outro lado, pode acontecer de o Tribunal ad quem não conhecer o agravo
de instrumento, porque não preenche os pressupostos recursais, ou não lhe dar
206. OLIVEIRA, Fernanda Alvim Ribeiro de. Recursos em espécie: apelação. In: Primeiras lições sobre o
novo direito processual civil brasileiro (de acordo com o Novo Código de Processo Civil, Lei 13.105, de 16 de
março de 2015). Coord. Humberto Theodoro Júnior, Fernanda Alvim Ribeiro de Oliveira, Ester Camila
Gomes Norato Rezende. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 774.
provimento (mérito). Nesse caso, ambos os acórdãos têm natureza de decisão
interlocutória, porque apenas decidem questões incidentes do processo.
Exemplificamos: A empresa X interpõe recurso ordinário alegando que a sentença violou norma infraconstitucional, devendo ser reformada. O juízo a quo não processa o recurso por ausência de depósito recursal. A empresa interpõe agravo de instrumento para destrancar o recurso ordinário. No Tribunal (juízo ad quem), o desembargador não conhece do agravo, porque é intempestivo, proferindo acórdão com natureza interlocutória. Pode acontecer de conhecer o agravo, mas não lhe dar provimento, porque o recurso ordinário realmente estava ausente de recolhimento do depósito recursal, proferindo também acórdão com natureza de decisão interlocutória. Agora, se o desembargador desse provimento ao agravo de instrumento, já entraria no julgamento do recurso ordinário, proferindo aqui um acórdão com natureza de sentença.
Com efeito, o ato que se busca impugnar na hipótese de não conhecimento ou
não provimento do agravo de instrumento pelo TRT é um acórdão com natureza de
decisão interlocutória, razão pela qual há de se invocar o art. 893, § 1º, da CLT, o qual
declina que as decisões interlocutórias são irrecorríveis.
Agora, registra-se: em caso de provimento do agravo de instrumento, o
Tribunal Regional adentrará no julgamento do recurso ordinário, de modo que a decisão
a ser impugnada nessa hipótese será o acórdão do recurso ordinário e não a decisão
agravo de instrumento, sendo, portanto, um acórdão com natureza de sentença
suscetível de recurso de revista.
No entanto, para aqueles que entendem que o acórdão regional de não
conhecimento ou não provimento do agravo de instrumento é recorrível, faz-se
necessário analisar o segundo requisito, ou seja, se o recurso interposto é adequado
para impugná-lo.
Desse modo, o acórdão proferido pelo Tribunal Regional do Trabalho em grau
de recurso é recorrível por meio do recurso de revista a ser julgado pelo TST. Contudo, o
caput do art. 896, da CLT declina que “cabe Recurso de Revista para Turma do Tribunal
Superior do Trabalho das decisões proferidas em grau de recurso ordinário, em dissídio
individual, pelos Tribunais Regionais do Trabalho” (CLT, art. 896). Noutras palavras,
somente há cabimento do recurso de revista das decisões proferidas no recurso
ordinário, o que não inclui o agravo de instrumento. A propósito, cabe frisar que,
quando o legislador quis ampliar 207 o cabimento do recurso de revista, o fez
expressamente, como se dá com o agravo de petição, que é recorrível por meio de
recurso de revista “na hipótese de ofensa direta e literal de norma da Constituição
Federal” (CLT, art. 896, § 2º). No mesmo sentido, Homero Batista Mateus da Silva: A principal novidade deste caput reside na delimitação do recurso de revista unicamente a atacar decisões proferidas em grau de recurso ordinário em dissídio individual. Desta forma, todas as decisões oriundas de dissídio coletivo ficam fora de seu alcance, assim como aquelas proferidas em agravo de instrumento. (grifos no original)208
207. Na realidade, não se trata de verdadeira ampliação, vez que o agravo de petição nada mais é do
que o recurso ordinário na fase executiva. 208. SILVA, Homero Batista Mateus da. Curso de direito do trabalho aplicado: justiça do trabalho. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2010. v. 8, p. 264. No mesmo caminho, LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito
processual do trabalho . 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p. 781. Em sentido contrário, admitindo em casos
excepcionais o recurso de revista da decisão do agravo de instrumento: Leonardo Borges. In: ROCHA,
Andréa Pressas; ALVES NETO, João (org.). Súmulas do TST comentadas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. p. 271.
Do exposto, é possível concluir que, seja porque o ato impugnável não é
recorrível, seja porque o recurso interposto não é adequado, é incabível o recurso de
revista de acórdão proferido no TRT em julgamento do agravo de instrumento209.
Por fim, é importante consignar que a presente súmula mantém sua relevância
prática com o advento do NCPC.
Isso porque o NCPC extinguiu o duplo juízo de admissibilidade para os recursos
de natureza ordinária. Desse modo, na apelação, o juízo de admissibilidade será
realizado apenas pelo tribunal competente e não mais pelo juízo de origem (a quo),
conforme se observa do art. 1.010, §3º210. Assim, conforme estabelece o enunciado nº 99
do Fórum Permanente de Processualistas Civis, “o órgão a quo não fará juízo de
admissibilidade da apelação”. Nesse mesmo sentido, o art. 1.028, §3º do NCPC dispõe
que o recurso ordinário é remetido ao STF ou STJ independentemente de juízo de
admissibilidade.
Contudo, no processo do trabalho, o advento do Novo CPC não produzirá
impactos acerca do duplo juízo de admissibilidade, ante a existência de normas
expressas na legislação trabalhista sobre o tema, conforme se verifica a seguir:
– recurso ordinário: o art. 659, VI, da CLT impõe ao juiz da vara do
trabalho “despachar os recursos interpostos pelas partes, fundamentando a decisão
recorrida antes da remessa ao Tribunal Regional (...)”211.
– recurso de revista: assim como ocorre com os recursos de natureza
extraordinária no Novo CPC (art. 1.030), o art. 896, §1º da CLT contempla,
expressamente, que o juízo de admissibilidade no recurso de revista será realizado,
inicialmente, pelo Presidente do Tribunal Regional do Trabalho.
– agravo de petição: o art. 897, § 2º, da CLT admite a interposição de
agravo de instrumento na hipótese de não processamento do agravo de petição,
sugerindo, portanto, o duplo juízo de admissibilidade.
– recurso ordinário em processo de competência originária do TRT: a Lei
7.701/88, nos arts. 2º, II, f e 3º, III, f, ao admitir o julgamento do agravo de instrumento
também sugere o duplo juízo de admissibilidade.
– embargos de divergência: o art. 3º, III, c, expressamente admite a
denegação dos embargos pelo presidente da Turma do TST.
Em resumo, haverá duplo juízo de admissibilidade nos recursos trabalhistas
(juízo a quo e juízo ad quem), não produzindo nenhum efeito o art. 1.010, § 3º, do NCPC.
Nesse sentido, estabeleceu o C. TST no art. 2º, XI, da Instrução Normativa nº 39/2016, in
verbis:
209. Vide comentários da Súmula nº 353 do TST, acerca do cabimento do recurso de embargos para a
SDI – I de acórdão proferido em agravo de instrumento julgado pelo Tribunal Superior do Trabalho.
210. Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau, conterá: (...) § 1º
O apelado será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias. § 2º Se o apelado
interpuser apelação adesiva, o juiz intimará o apelante para apresentar contrarrazões. § 3º Após as
formalidades previstas nos §§ 1º e 2º, os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente de
juízo de admissibilidade. 211 Por respeito ao leitor, registramos que alteramos o entendimento descrito na 6ª edição quando
indicamos que não haveria duplo juízo de admissibilidade no recurso ordinário, atenuando a aplicação
prática dessa súmula. Melhor refletindo sobre a matéria e por força do art. 659, VI, da CLT, passamos a
entender que se mantém o duplo juízo de admissibilidade no recurso ordinário.
Art. 2° Sem prejuízo de outros, não se aplicam ao Processo do Trabalho, em razão de inexistência de omissão ou por incompatibilidade, os seguintes preceitos do Código de Processo Civil: (...) XI - art. 1010, § 3º(desnecessidade de o juízo a quo exercer controle de admissibilidade na apelação)
Com efeito, como a presente súmula versa sobre o agravo de instrumento
interposto contra decisão de 1º grau, ela mantém sua aplicação para os casos de recurso
ordinário e agravo de petição de decisão da Vara do Trabalho.
p. 1322-1330: A Súmula nº 353 do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016, razão pela
qual seus comentários foram alterados
Súmula nº 353 do TST. Embargos. Agravo. Cabimento Não cabem embargos para a Seção de Dissídios Individuais de decisão de Turma proferida em agravo, salvo: a) da decisão que não conhece de agravo de instrumento ou de agravo pela ausência de pressupostos extrínsecos; b) da decisão que nega provimento a agravo contra decisão monocrática do Relator, em que se proclamou a ausência de pressupostos extrínsecos de agravo de instrumento; c) para revisão dos pressupostos extrínsecos de admissibilidade do recurso de revista, cuja ausência haja sido declarada originariamente pela Turma no julgamento do agravo; d) para impugnar o conhecimento de agravo de instrumento; e) para impugnar a imposição de multas previstas nos arts. 1.021, § 4º, do CPC de 2015 ou 1.026, § 2º, do CPC de 2015 (art. 538, parágrafo único, do CPC de 1973, ou art. 557, § 2º, do CPC de 1973). f) contra decisão de Turma proferida em agravo em recurso de revista, nos termos do art. 894, II, da CLT.
Inicialmente, registra-se que a regra é o não cabimento dos embargos para
a SDI de decisão de Turma em agravo, exceto nos casos previstos nessa súmula. Assim, a
presente súmula tem como finalidade disciplinar o cabimento dos embargos para a SDI
(embargos de divergência) em face de decisão proferida em agravo de instrumento,
agravo interno ou regimental.
Antes de adentrarmos efetivamente na análise de cada item da súmula, mister
tecer pelo menos três considerações iniciais.
A súmula em comentário é aplicável no caso de decisão de Turma do TST e
não de decisão monocrática212. Isso decorre da própria interpretação literal do art.
894, II, da CLT, o qual expressamente dispõe que os embargos são cabíveis de decisões
das turmas. Ademais, da decisão monocrática o recurso cabível é o agravo interno
ou regimental e não os embargos para a SDI (OJ nº 378 da SDI – I do TST).
O segundo ponto a ser ressaltado é que somente terão cabimento os embargos
nas hipóteses elencadas nessa súmula, se demonstrada a divergência
jurisprudencial, o que significa que não basta simplesmente o recorrente, por exemplo,
indicar que a decisão da Turma do TST não conheceu o recurso por ausência de
212. Em sentido contrário, entendendo que a Súmula admite a revisão de decisão monocrática:
MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários às Súmulas do TST. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
pressupostos extrínsecos, mas, cumulativamente, também deverá apresentar um
acórdão-paradigma de outra Turma ou da SDI que confronta com a decisão que
pretende impugnar ou ainda o confronto com súmula (do TST ou vinculante do STF) ou
com orientação jurisprudencial do TST. Em outros termos, todos os itens dessa
súmula pressupõem divergência jurisprudencial para a admissão dos embargos
para a SDI (embargos de divergência).
Em suma, somente serão cabíveis os embargos de divergência em agravo
na hipótese de decisão de Turma do TST e quando demonstrada a divergência
juris-
prudencial.
A terceira observação diz respeito ao Novo CPC.
Os itens “a”, “b” e “d” da presente súmula subsitem na vigência do NCPC, vez
que se mantém o juízo de admissibilidade a quo do Recurso de Revista.
Melhor explicando. O NCPC extinguiu o duplo juízo de admissibilidade para os
recursos de natureza ordinária. Desse modo, na apelação, o juízo de admissibilidade
será realizado apenas pelo tribunal competente e não mais pelo juízo de origem (a quo),
conforme se observa do art. 1.010, §3º213. Assim, conforme estabelece o enunciado nº 99
do Fórum Permanente de Processualistas Civis, “o órgão a quo não fará juízo de
admissibilidade da apelação”. Nesse mesmo sentido, o art. 1.028, §3º do NCPC dispõe
que o recurso ordinário é remetido ao STF ou STJ independentemente de juízo de
admissibilidade.
Contudo, no processo do trabalho, o advento do Novo CPC não produzirá
impactos acerca do duplo juízo de admissibilidade, ante a existência de normas
expressas na legislação trabalhista sobre o tema, conforme se verifica a seguir:
– recurso ordinário: o art. 659, VI, da CLT impõe ao juiz da vara do
trabalho “despachar os recursos interpostos pelas partes, fundamentando a decisão
recorrida antes da remessa ao Tribunal Regional (...)”214.
– recurso de revista: assim como ocorre com os recursos de natureza
extraordinária no Novo CPC (art. 1.030), o art. 896, §1º da CLT contempla,
expressamente, que o juízo de admissibilidade no recurso de revista será realizado,
inicialmente, pelo Presidente do Tribunal Regional do Trabalho.
– agravo de petição: o art. 897, § 2º, da CLT admite a interposição de
agravo de instrumento na hipótese de não processamento do agravo de petição,
sugerindo, portanto, o duplo juízo de admissibilidade.
– recurso ordinário em processo de competência originária do TRT: a Lei
7.701/88, nos arts. 2º, II, f e 3º, III, f, ao admitir o julgamento do agravo de instrumento
também sugere o duplo juízo de admissibilidade.
213. Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau, conterá: (...) § 1º O
apelado será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias. § 2º Se o apelado
interpuser apelação adesiva, o juiz intimará o apelante para apresentar contrarrazões. § 3º Após as
formalidades previstas nos §§ 1º e 2º, os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente de
juízo de admissibilidade. 214 Por respeito ao leitor, registramos que alteramos o entendimento descrito na 6ª edição quando
indicamos que não haveria duplo juízo de admissibilidade no recurso ordinário. Melhor refletindo sobre a
matéria e por força do art. 659, VI, da CLT, passamos a entender que se mantém o duplo juízo de
admissibilidade no recurso ordinário.
– embargos de divergência: o art. 3º, III, c, expressamente admite a
denegação dos embargos pelo presidente da Turma do TST.
Em resumo, haverá duplo juízo de admissibilidade nos recursos trabalhistas
(juízo a quo e juízo ad quem), não produzindo nenhum efeito o art. 1.010, § 3º, do NCPC.
Nesse sentido, estabeleceu o C. TST no art. 2º, XI, da Instrução Normativa nº 39/2016, in
verbis: Art. 2° Sem prejuízo de outros, não se aplicam ao Processo do Trabalho, em razão de inexistência de omissão ou por incompatibilidade, os seguintes preceitos do Código de Processo Civil: (...) XI - art. 1010, § 3º (desnecessidade de o juízo a quo exercer controle de admissibilidade na apelação)
Portanto, acreditamos que a presente súmula, em especial os itens “a”, “b” e “d”
deverão ser mantidos, pois, como dito, os dispositivos do NCPC referentes à exclusão do
juízo de admissibilidade a quo não possuem aplicabilidade nos recursos trabalhistas.
Passamos, então, a analisar, detidamente, cada item da presente súmula.
a) da decisão que não conhece de agravo de instrumento ou de agravo
pela ausência de pressupostos extrínsecos;
O C. TST nesse item a previu o cabimento dos embargos em duas situações: 1)
da decisão da Turma que não conhece do agravo de instrumento por ausência de
pressupostos extrínsecos; 2) da decisão da Turma que não conhece do agravo
regimental (interno) por ausência de pressupostos extrínsecos.
Verifica-se que em ambos os casos a decisão decorre de juízo de
admissibilidade negativo por ausência de pressupostos extrínsecos do próprio
recurso interposto. Melhor explicando, a decisão da Turma do TST não conhece do
agravo de instrumento na primeira hipótese por ausência dos pressupostos do agravo
de instrumento e, no segundo caso, não conhece o agravo por ausência de pressupostos
extrínsecos do próprio agravo regimental (interno).
Seria o caso, por exemplo, da interposição intempestiva do agravo de
instrumento ou do agravo interno. Havendo, por exemplo, divergência entre as Turmas
sobre qual o prazo ou sua forma de contagem, caberiam os embargos para unificar a
jurisprudência interna do TST.
Registra-se que o C. TST somente admite os embargos de divergência quando
se tratar de análise de pressupostos extrínsecos dos recursos (tempestividade,
representação, regularidade formal, preparo, depósito recursal e inexistência de fato
impeditivo ou extintivo do poder de recorrer). Isso porque os pressupostos
extrínsecos são analisados de forma objetiva, estando ligados ao modo de exercer o
recurso, enquanto os pressupostos intrínsecos dizem respeito “à própria existência do
poder de recorrer”215, sendo definidos por alguns doutrinadores como os relacionados
“diretamente com o conteúdo e a forma da decisão”216.
Assim, entende o C. TST que os pressupostos, que são analisados de modo
215. MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao código de processo civil. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2010. v. 5, p. 263.
216. BEBBER, Júlio César. Recursos no processo do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 88.
objetivo, devem ter interpretação uniforme na Corte Trabalhista, com a finalidade de
afastar a insegurança jurídica que as decisões conflitantes trazem aos jurisdicionados.
b) da decisão que nega provimento a agravo contra decisão monocrática
do Relator, em que se proclamou a ausência de pressupostos extrínsecos de
agravo de instrumento;
Nesse caso, o agravo de instrumento não foi conhecido pelo relator de forma
monocrática. Contudo, a decisão monocrática é suscetível de agravo (interno ou
regimental), a fim de preservar o princípio do colegiado que permeia no Tribunal. Da
decisão do agravo interno ou regimental que é proferida pela Turma, o TST admite a
interposição dos embargos de divergência, desde que haja evidentemente acórdão
divergente proferido em outra Turma na SDI ou ainda confronto com súmula (do TST ou
vinculante do STF) ou com orientação jurisprudencial do TST.
Registra-se que o agravo de instrumento não foi conhecido, o que significa que
não ultrapassou o juízo de admissibilidade. No entanto, o agravo interno ou regimental
preencheu seus pressupostos, mas foi negado provimento. Noutras palavras, o agravo
de instrumento está no juízo de admissibilidade, enquanto o agravo interno ou
regimental está no campo do juízo de mérito do recurso.
Tanto é assim que, quando o agravo interno ou regimental não preenche os
pressupostos extrínsecos, o TST também permite os embargos de divergência, mas por
meio da alínea a dessa súmula.
Exemplifica-se a hipótese para melhor compreensão: O tribunal mantém a decisão de origem que condenou a empresa X a pagar horas extras e intervalo intrajornada ao reclamante Y. Diante da condenação, apresenta recurso de revista argumentando violação aos arts. 59 e 71, ambos da CLT. Contudo, sob o fundamento de que o recurso é intempestivo, o juízo a quo não dá seguimento ao recurso de revista. Assim, a empresa interpõe agravo de instrumento para destrancar seu recurso de revista. O relator, ao receber o agravo de instrumento, monocraticamente, considera-o deserto, porque a empresa não recolheu o depósito recursal previsto no art. 899, § 7º, da CLT. A empresa interpõe dessa decisão agravo interno para a Turma do TST, alegando que não recolheu o depósito recursal, pois a Lei nº 12.275/10, que criou o depósito recursal para o agravo de instrumento, entrou em vigor após a decisão judicial. A Turma conhece o agravo interno, mas nega-lhe provimento, sob o argumento de que o depósito recursal disposto no art. 899, § 7º, da CLT tem aplicação imediata, de modo que a empresa deveria recolhê-lo. A empresa poderá interpor embargos de divergência apresentando um acórdão de outra Turma entendendo que o referido artigo somente tem aplicação para as decisões publicadas após a entrada em vigor da referida lei (acórdão divergente).
c) para revisão dos pressupostos extrínsecos de admissibilidade do recurso de
revista, cuja ausência haja sido declarada originariamente pela Turma no
julgamento do agravo;
O caso em análise diz respeito ao juízo de admissibilidade do recurso de revista
verificado no julgamento do agravo interno ou regimental. Isso ocorre porque o juízo de
admissibilidade tem como finalidade verificar os pressupostos recursais que são as
preliminares do recurso, sendo, portanto, matéria de ordem pública. Dessa forma, tais
pressupostos, por constituírem matéria de ordem pública, podem ser analisados a
qualquer tempo pelo juízo ad quem.
Em outros termos, os pressupostos extrínsecos do recurso de revista, mesmo
que não analisados pelo relator, monocraticamente, poderão ser verificados ex officio
pela Turma no julgamento do agravo.
Com efeito, vislumbra-se, nesse item, que o relator monocraticamente não
verificou a ausência de determinado pressuposto extrínseco, o qual foi identificado,
originariamente, pela Turma na decisão do agravo interno. Exemplificamos: Empresa interpõe recurso de revista, sendo, monocraticamente, provido porque a decisão regional estava em confronto com Súmula do TST. O reclamante interpõe agravo interno, ocasião em que a Turma do TST verifica a ausência de pressuposto processual do recurso de revista, argumentando que a procuração apresentada não é capaz de conferir poderes recursais ao patrono da empresa. Esta poderá interpor embargos de divergência apresentando decisão de outra Turma do TST que, analisando a mesma procuração em outro processo, reconheceu os poderes do patrono da empresa.
Nesse item c é importante fazer a seguinte observação.
A doutrina, em regra, subdivide os pressupostos recursais em extrínsecos
(objetivos) e intrínsecos (subjetivos). Quando se trata de recurso de natureza
extraordinária, inclui também os pressupostos específicos, que no caso do recurso de
revista são: a) o prequestionamento; b) a divergência jurisprudencial; c) a violação de lei
federal ou da Constituição Federal. Além disso, exige-se, no recurso de revista, a
transcendência, embora ainda não regulamentada.
O C. TST, no entanto, não utiliza dessa subdivisão no julgamento do recurso de
revista. Nessa modalidade de recurso, de acordo com o TST, os pressupostos
específicos são os pressupostos intrínsecos, enquanto os pressupostos extrínsecos
são todos os demais217. Aliás, o TST entende que a fundamentação também é um
pressuposto extrínseco do recurso de revista218.
Isso quer dizer que os pressupostos intrínsecos genéricos (recorribilidade,
adequação, capacidade, legitimidade e interesse em recorrer) são considerados
pressupostos extrínsecos para o C. TST no julgamento do recurso de revista, o que
significa que estão sujeitos aos embargos de divergência, desde que comprovada a
divergência jurisprudencial.
Ficam excluídos, portanto, desse item, tão somente os pressupostos específicos,
admitindo os embargos de divergência para revisão de todos os demais pressupostos de
admissibilidade do recurso de revista, cuja ausência haja sido declarada originariamente
pela Turma no julgamento do agravo.
d) para impugnar o conhecimento de agravo de instrumento;
No item a, verificamos que o C. TST admite a interposição dos embargos da
decisão que não conhece o agravo de instrumento por ausência de pressupostos
extrínsecos. No item em comentário, trata-se de decisão da Turma que conheceu o
agravo de instrumento. Registra-se que também nessa hipótese somente serão cabíveis
os embargos para reexaminar os pressupostos extrínsecos do agravo.
217. BEBBER, Júlio César. Recursos no processo do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 289.
218. Para o doutrinador Júlio César Bebber, as razões fundamentadas exclusivamente em matéria de
direito são pressupostos especiais do recurso de revista. BEBBER, Júlio César. Recursos no processo do
trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 291.
Há de se consignar que o agravo de instrumento tem a função específica, no
processo do trabalho, de destrancar o processamento do recurso. Nesse contexto, uma
vez conhecido o agravo de instrumento e sendo provido, o seu julgamento se dará em
conjunto com o recurso denegado, ou seja, há apenas um acórdão que julga o agravo de
instrumento e também o recurso denegado como, por exemplo, o recurso de revista. É o
que se verifica do art. 228 do regimento interno do TST, in verbis: Art. 228. Em se tratando de agravo de instrumento que tramita conjuntamente com recurso de revista, se provido o agravo, publicar-se-á a certidão para efeito de intimação das partes, dela constando que o julgamento de ambos os recursos de revista dar-se-á na primeira sessão ordinária subsequente à data da publicação. § 1.º Os autos do agravo de instrumento serão apensados aos do processo principal, com a alteração dos registros relativamente às partes, permanecendo a numeração constante dos autos principais. § 2.º Julgado o recurso de revista, será lavrado um único acórdão, que consignará também os fundamentos do provimento do agravo de instrumento, fluindo a partir da data de publicação do acórdão o prazo para interposição de embargos de declaração e/ou embargos à Seção de Dissídios Individuais.
Dessa forma, quando conhecido e provido o agravo, se a parte contrária não
se conformar com o seu conhecimento, porque os pressupostos extrínsecos do agravo
de instrumento foram analisados de forma diversa por outra Turma do TST
(divergência), são admitidos os embargos de divergência para o reexame desses
pressupostos extrínsecos.
Agora é preciso ficar claro: sendo conhecido o agravo de instrumento e
desprovido, não caberão os embargos de divergência. Assim, se, por exemplo, o
recurso de revista foi trancado por ser intempestivo, sendo interposto agravo de
instrumento para destrancá-lo, mas este não for provido, mantendo-se o não
conhecimento do recurso de revista, não caberão os embargos, pois os pressupostos
extrínsecos são do recurso de revista e não do agravo.
e) para impugnar a imposição de multas previstas nos arts. 1.021, §
4º, do CPC de 2015 ou 1.026, § 2º, do CPC de 2015 (art. 538, parágrafo único, do
CPC de 1973, ou art. 557, § 2º, do CPC de 1973);
Estabeleciam os arts. 538, parágrafo único, e 557, § 2º, ambos do CPC/73: Art. 538. Os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de outros recursos, por qualquer das partes. Parágrafo único. Quando manifestamente protelatórios os embargos, o juiz ou o tribunal, declarando que o são, condenará o embargante a pagar ao embargado multa não excedente de um por cento sobre o valor da causa. Na reiteração de embargos protelatórios, a multa é elevada a até dez por cento, ficando condicionada a interposição de qualquer outro recurso ao depósito do valor respectivo. Art. 557. O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior. (...) § 2º Quando manifestamente inadmissível ou infundado o agravo, o tribunal condenará o agravante a pagar ao agravado multa entre um e dez por cento do valor corrigido da causa, ficando a interposição de qualquer outro recurso condicionada ao depósito do respectivo valor.
O Novo CPC manteve as diretrizes anteriores, alterando os valores das multas
como se observa pelos arts. 1.026, §§2º e 3º e 1.021, §§4º e 5º do NCPC, in verbis:
Art. 1.026. Os embargos de declaração não possuem efeito suspensivo e interrompem o prazo para a interposição de recurso. (...) § 2º Quando manifestamente protelatórios os embargos de declaração, o juiz ou o tribunal, em decisão fundamentada, condenará o embargante a pagar ao embargado multa não excedente a dois por cento sobre o valor atualizado da causa. § 3º Na reiteração de embargos de declaração manifestamente protelatórios, a multa será elevada a até dez por cento sobre o valor atualizado da causa, e a interposição de qualquer recurso ficará condicionada ao depósito prévio do valor da multa, à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que a recolherão ao final. (Grifo nosso) Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o respectivo órgão colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras do regimento interno do tribunal. (...) § 4º Quando o agravo interno for declarado manifestamente inadmissível ou improcedente em votação unânime, o órgão colegiado, em decisão fundamentada, condenará o agravante a pagar ao agravado multa fixada entre um e cinco por cento do valor atualizado da causa. § 5º A interposição de qualquer outro recurso está condicionada ao depósito prévio do valor da multa prevista no § 4º, à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que farão o pagamento ao final. (Grifo Nosso)
Observa-se que o NCPC apenas altera os valores referentes às multas aplicáveis
ao agravante, quando o agravo interno for declarado manifestamente inadmissível ou
improcedente e ao embargante quando os embargos de declaração forem
manifestamente protelatórios. Ademais, deixa expresso que, quando a Fazenda Pública e
o beneficiário de justiça gratuita forem condenados ao pagamento da multa, o
recolhimento deverá ocorrer ao final do processo. Em razão de o NCPC ter mantido a
disciplina de referidas multas, alterando apenas os valores aplicados, o item “e” da
súmula em comento foi alterado pela Resolução nº 208/2016 do TST apenas para
realizar adequação aos dispositivos do Novo CPC.
Portanto, é possível extrair de tais dispositivos que a condenação nasce na
própria decisão sujeita aos embargos para a SDI, ou seja, na decisão dos embargos de
declaração ou na decisão do agravo. Noutras palavras, a sucumbência tem origem na
própria decisão que será sujeita aos embargos para a SDI, uma vez que tais dispositivos
geram, nesse momento, nova condenação, nascendo assim a sucumbência a legitimar o
interesse recursal. Desse modo, as multas decorrentes, por exemplo, de imposição da
sentença ou do acórdão Regional não ensejam os referidos embargos, com fundamento
nessa alínea219.
Registra-se que, antigamente, admitiam-se, nessa hipótese, os embargos para
SDI com fundamento na violação dos aludidos dispositivos, ou seja, permitia-se o
cabimento dos embargos de nulidade. No entanto, com o advento da Lei nº
11.496/2007, os embargos de nulidade foram suprimidos do ordenamento, razão pela
qual, atualmente, somente são cabíveis os embargos de divergência.
Com efeito, havendo imposição das multas declinadas nos arts. 1.021, § 4º e
1.026, §§2º e 3º, do NCPC, atualmente serão cabíveis os embargos para a SDI desde que
o recorrente demonstre a divergência jurisprudencial.
219. TST-Ag-E-AIRR-8713-63.2010.5.01.0000. SBDI-I. rel. Min. Ives Gandra da Silva Martins Filho. julg.
31.5.2012. Informativo nº 11 do TST.
f) contra decisão de Turma proferida em agravo em recurso de revista, nos termos
do art. 894, II, da CLT.
É sabido que o tribunal tem como natureza o colegiado, de modo que todas as
decisões deveriam ser proferidas por um órgão colegiado.
No entanto, com base nos princípios da economia e celeridade processual e
com a finalidade de desburocratizar as decisões dos tribunais, o legislador passou a
atribuir poderes ao relator para julgar monocraticamente os recursos, como se
observa nos arts. 894, § 3º, da CLT e 932 do NCPC, esse último aplicável,
subsidiariamente, ao processo do trabalho, como se verifica pela Súmula nº 435 do TST.
Ocorre, porém, que o relator, nesse caso, atua por meio de mera delegação de
poder, “mantendo-se com o órgão colegiado a competência para decidir”220. Disso
resulta que sua decisão ficará sujeita à interposição de agravo interno para a Turma, por
força do art. 1.021 do NCPC, tudo como forma de preservar o princípio do colegiado.
Interposto o agravo, a Turma, na realidade, julga de forma colegiada o recurso
de revista, de modo que dessa decisão serão cabíveis os embargos de divergência.
Contudo, se a decisão da Turma, proferida no agravo, está de acordo com
súmula ou orientação jurisprudencial do TST ou ainda súmula vinculante do STF, não
caberão os embargos.
E isso se justifica, porque estando a decisão em consonância com súmula e
orientação do TST ou súmula vinculante do STF, não haverá divergência jurisprudencial,
que é pressuposto básico para o cabimento dos embargos. Exemplificamos: Decisão recorrida (TRT) julgou improcedente o pedido de condenação ao pagamento de honorários advocatícios com fundamento na mera sucumbência, o que vai ao encontro da Súmula nº 219 do TST. Interposto recurso de revista, o relator nega seguimento ao recurso, dando ensejo ao agravo. Da decisão do agravo, que confirma a decisão do relator, não cabem os embargos.
Por fim, ressalta-se que o agravo descrito nesse item não se refere qualquer
agravo, mas do agravo interno interposto de decisão monocrática, vez que os demais
casos de cabimento dos embargos em agravo estão disciplinados nos outros itens dessa
súmula.
p. 1330: A redação da OJ nº 378 da SDI-I do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016
Orientação Jurisprudencial nº 378 da SDI-I do TST. Embargos. Interposição contra decisão monocrática. Não cabimento. Não encontra amparo no art. 894 da CLT, quer na redação anterior quer na redação posterior à Lei n.º 11.496, de 22.06.2007, recurso de embargos interposto à decisão monocrática exarada nos moldes do art. 932 do CPC de 2015 (art. 557 do CPC de 1973), pois o comando legal restringe seu cabimento à pretensão de reforma de decisão colegiada proferida por Turma do Tribunal Superior do Trabalho.
220. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. 2. ed. Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: Método, 2010. p. 643.
p. 1352-1354: O tópico referente ao Agravo de Instrumento foi alterado
2.5. Agravo de instrumento
2.5.1. Introdução
O agravo de instrumento é uma modalidade recursal restrita no processo do
trabalho, destinado tão somente a destrancar o recurso não processado no juízo a quo.
Noutras palavras, é o recurso que visa a impugnar decisão negativa do primeiro juízo de
admissibilidade do recurso.
Cabe consignar que o NCPC extinguiu o duplo juízo de admissibilidade para os
recursos de natureza ordinária. Desse modo, na apelação, o juízo de admissibilidade
será realizado apenas pelo tribunal competente e não mais pelo juízo de origem (a quo),
conforme se observa do art. 1.010, §3º221. Assim, conforme estabelece o enunciado nº 99
do Fórum Permanente de Processualistas Civis, “o órgão a quo não fará juízo de
admissibilidade da apelação”. Nesse mesmo sentido, o art. 1.028, §3º do NCPC dispõe
que o recurso ordinário é remetido ao STF ou STJ independentemente de juízo de
admissibilidade.
Contudo, no processo do trabalho, o advento do Novo CPC não produzirá
impactos acerca do duplo juízo de admissibilidade, ante a existência de normas
expressas na legislação trabalhista sobre o tema, conforme se verifica a seguir:
– recurso ordinário: o art. 659, VI, da CLT impõe ao juiz da vara do
trabalho “despachar os recursos interpostos pelas partes, fundamentando a decisão
recorrida antes da remessa ao Tribunal Regional (...)”222.
– recurso de revista: assim como ocorre com os recursos de natureza
extraordinária no Novo CPC (art. 1.030), o art. 896, §1º da CLT contempla,
expressamente, que o juízo de admissibilidade no recurso de revista será realizado,
inicialmente, pelo Presidente do Tribunal Regional do Trabalho.
– agravo de petição: o art. 897, § 2º, da CLT admite a interposição de
agravo de instrumento na hipótese de não processamento do agravo de petição,
sugerindo, portanto, o duplo juízo de admissibilidade.
– recurso ordinário em processo de competência originária do TRT: a Lei
7.701/88, nos arts. 2º, II, f e 3º, III, f, ao admitir o julgamento do agravo de instrumento
também sugere o duplo juízo de admissibilidade.
– embargos de divergência: o art. 3º, III, c, expressamente admite a
denegação dos embargos pelo presidente da Turma do TST.
Em resumo, haverá duplo juízo de admissibilidade nos recursos trabalhistas
(juízo a quo e juízo ad quem), não produzindo nenhum efeito o art. 1.010, § 3º, do NCPC.
Nesse sentido, estabeleceu o C. TST no art. 2º, XI, da Instrução Normativa nº 39/2016, in
221. Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau, conterá: (...) § 1º
O apelado será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias. § 2º Se o apelado
interpuser apelação adesiva, o juiz intimará o apelante para apresentar contrarrazões. § 3º Após as
formalidades previstas nos §§ 1º e 2º, os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente de
juízo de admissibilidade.
222 Por respeito ao leitor, registramos que alteramos o entendimento descrito na 6ª edição quando
indicamos que não haveria duplo juízo de admissibilidade no recurso ordinário. Melhor refletindo sobre a
matéria e por força do art. 659, VI, da CLT, passamos a entender que se mantém o duplo juízo de
admissibilidade no recurso ordinário.
verbis: Art. 2° Sem prejuízo de outros, não se aplicam ao Processo do Trabalho, em razão de inexistência de omissão ou por incompatibilidade, os seguintes preceitos do Código de Processo Civil: (...) XI - art. 1010, § 3º(desnecessidade de o juízo a quo exercer controle de admissibilidade na apelação)
Assim, considerando que o agravo de instrumento é cabível para impugnar decisão
que não processa o recurso no juízo a quo, ele caberá quando o recurso trancado for o
recurso ordinário, recurso de revista, o agravo de petição, o próprio agravo de instrumento
ou o recurso ordinário em processo de competência originária do TRT. Nesses casos, o
agravo de instrumento será interposto no prazo de 8 dias, com a finalidade de encaminhar o
recurso trancado à análise do juízo ad quem.
Na hipótese de denegação de seguimento dos embargos de divergência, o recurso
cabível é o agravo regimental e não o agravo de instrumento, nos termos do art. 3º, III, c, da
Lei nº 7.701/88223.
O agravo de instrumento deve preencher os pressupostos intrínsecos e extrínsecos
dos recursos, inclusive o depósito recursal que, por força do art. 899, § 7º, da CLT,
“corresponderá a 50% (cinquenta por cento) do valor do depósito do recurso ao qual se
pretende destrancar”.
Atenta-se para o fato de que, quando o agravo de instrumento tiver a finalidade de
destrancar recurso de revista que se insurge contra decisão que contraria a jurisprudência
uniforme do Tribunal Superior do Trabalho, consubstanciada nas suas súmulas ou em
orientação jurisprudencial, não haverá obrigatoriedade de se efetuar o depósito recursal,
conforme dispõe o art. 899, § 8º, da CLT.
Ademais, esse recurso também possui um pressuposto especial, consistente na
formação do instrumento.
A formação do instrumento, denominada de traslado, vem disciplinada no § 5º do
art. 897 da CLT, o qual vaticina que:
§ 5º. Sob pena de não conhecimento, as partes promoverão a formação do
instrumento do agravo de modo a possibilitar, caso provido, o imediato
julgamento do recurso denegado, instruindo a petição de interposição:
I - obrigatoriamente, com cópias da decisão agravada, da certidão da
respectiva intimação, das procurações outorgadas aos advogados do
agravante e do agravado, da petição inicial, da contestação, da decisão
originária, do depósito recursal referente ao recurso que se pretende
destrancar, da comprovação do recolhimento das custas e do depósito
recursal a que se refere o § 7º do art. 899 desta Consolidação;
II - facultativamente, com outras peças que o agravante reputar úteis ao
deslinde da matéria de mérito controvertida.
A formação do instrumento se justifica, uma vez que, sendo conhecido e provido o
agravo de instrumento, o Tribunal ad quem passará imediatamente ao julgamento do
recurso trancado. Há de se consignar nesse momento que o processo eletrônico em breve
223. LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 9. ed. São Paulo: LTr,
2011. p. 869. Garcia, Gustavo Filipe Barbosa Garcia. Curso de Direito Processual do Trabalho. Rio de Janeiro:
Forense, 2012. p. 561.
afastará a necessidade do traslado, pois o processo será encaminhado na íntegra ao juízo ad
quem, por força de sua digitalização. No entanto, atualmente ainda permanece a
obrigatoriedade da formação do instrumento.
Registra-se que o agravo de instrumento admite o juízo de retratação, o que
significa que, uma vez interposto, poderá o juízo a quo, competente para o recebimento do
agravo, retratar-se, ou seja, modificar seu entendimento e dar seguimento ao recurso
trancado.
Feitos esses breves comentários a respeito do recurso de agravo de instrumento,
passamos a analisar as súmulas e orientações acerca do tema.
p. 1370: A redação da Súmula nº 435 do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016
Súmula nº 435 do TST. Decisão monocrática. Relator. Art. 932 do CPC de 2015. Art. 557 do CPC de 1973. Aplicação subsidiária ao processo do trabalho. Aplica-se subsidiariamente ao processo do trabalho o art. 932 do CPC de 2015 (art. 557 do CPC de 1973).
p. 1384, 1390 e 1396-1397: A redação da Súmula nº 421 foi alterada
Súmula nº 421 do TST. Embargos de declaração. Cabimento. Decisão monocrática do
relator calcada no art. 932 do CPC de 2015. Art. 557 do CPC de 1973.
I – Cabem embargos da declaração de decisão monocrática do relator prevista no art.
932 do CPC de 2015 (art. 557 do CPC de 1973), se a parte pretende tão somente juízo
integrativo retificador da decisão e, não, modificação do julgado.
II – Se a parte postular a revisão no mérito da decisão monocrática, cumpre ao relator
converter os embargos de declaração em agravo, em face dos princípios da fungibilidade
e celeridade processual, submetendo-o ao pronunciamento do Colegiado, após a
intimação do recorrente para, no prazo de 5 (cinco) dias, complementar as razões
recursais, de modo a ajustá-la às exigências do art. 1.021, § 1º, do CPC de 2015.
p. 1384, 1391 e 1396: A Súmula nº 285 foi cancelada pela Res. nº 204/2016
p. 1389: A Súmula nº 393 do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016
Súmula nº 393 do TST. Recurso Ordinário. Efeito devolutivo em profundidade: Art.
1.013, § 1º, do CPC de 2015. Art. 515, § 1º, do CPC de 1973.
I - O efeito devolutivo em profundidade do recurso ordinário, que se extrai do § 1º do
art. 1.013 do CPC de 2015 (art. 515, § 1º, do CPC de 1973), transfere ao Tribunal a
apreciação dos fundamentos da inicial ou da defesa, não examinados pela sentença,
ainda que não renovados em contrarrazões, desde que relativos ao capítulo impugnado.
II – Se o processo estiver em condições, o tribunal, ao julgar o recurso ordinário, deverá
decidir desde logo o mérito da causa, nos termos do § 3º do art. 1.013 do CPC de 2015,
inclusive quando constatar a omissão da sentença no exame de um dos pedidos.
p. 1393-1394: A Súmula nº 353 do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016 Súmula nº 353 do TST. Embargos. Agravo. Cabimento Não cabem embargos para a Seção de Dissídios Individuais de decisão de Turma proferida em agravo, salvo:
a) da decisão que não conhece de agravo de instrumento ou de agravo pela ausência de pressupostos extrínsecos; b) da decisão que nega provimento a agravo contra decisão monocrática do Relator, em que se proclamou a ausência de pressupostos extrínsecos de agravo de instrumento; c) para revisão dos pressupostos extrínsecos de admissibilidade do recurso de revista, cuja ausência haja sido declarada originariamente pela Turma no julgamento do agravo; d) para impugnar o conhecimento de agravo de instrumento; e) para impugnar a imposição de multas previstas nos arts. 1.021, § 4º, do CPC de 2015 ou 1.026, § 2º, do CPC de 2015 (art. 538, parágrafo único, do CPC de 1973, ou art. 557, § 2º, do CPC de 1973). f) contra decisão de Turma proferida em agravo em recurso de revista, nos termos do art. 894, II, da CLT.
p. 1394: A OJ nº 378 da SDI-I do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016 Orientação Jurisprudencial nº 378 da SDI-I do TST. Embargos. Interposição contra decisão monocrática. Não cabimento. Não encontra amparo no art. 894 da CLT, quer na redação anterior quer na redação posterior à Lei n.º 11.496, de 22.06.2007, recurso de embargos interposto à decisão monocrática exarada nos moldes do art. 932 do CPC de 2015 (art. 557 do CPC de 1973), pois o comando legal restringe seu cabimento à pretensão de reforma de decisão colegiada proferida por Turma do Tribunal Superior do Trabalho.
P. 1398: SÚMULAS DOS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO (RELACIONADAS AO
CAPÍTULO XIV)
(ACRESCENTADAS AO CAPÍTULO XIV – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Recurso
Direito interpemporal
Súmula n.º 37 do TRT da 23ª Região - Direito intertemporal. CPC de 2015.
Admissibilidade recursal.
A admissibilidade do recurso é disciplinada pela legislação em vigor à época da
publicação da decisão recorrida, de maneira que os recursos interpostos das decisões
publicadas até 17/3/2016 devem atender regularmente aos pressupostos de
admissibilidade previstos no CPC de 1973, sob pena de não conhecimento. No entanto, a
disposição objeto do inciso IV do art. 932 do CPC de 2015 não versa sobre pressuposto
de admissibilidade recursal, mas sobre técnica de julgamento de recurso, razão pela
qual tem aplicabilidade imediata em relação aos recursos em tramitação, ainda que
interpostos de decisões publicadas sob a vigência do CPC anterior.
Admissibilidade
Súmula nº 51 do TRT da 1ª Região - Recurso. Falta de dialeticidade. Não
conhecimento.
Não se conhece do recurso que não observar a congruência lógica exigível entre os
fundamentos da decisão recorrida e as razões do apelo.
Pressupostos Recursais
Súmula n.º 26 do TRT da 23ª Região - Justiça gratuita. Interesse recursal.
A parte adversa possui interesse jurídico em recorrer quanto ao deferimento dos benefícios da justiça gratuita.
Tempestividade
Súmula nº 53 do TRT da 3ª Região - Recurso. Interposição anterior à publicação oficial da decisão impugnada. Tempestividade.
É tempestivo o recurso interposto antes da publicação oficial da decisão, se dela o recorrente tomou conhecimento por outro meio.
Embargos de Declaração
Súmula nº 25 do TRT da 5ª Região - embargos de declaração infundados e protelatórios. Multa do artigo 538, parágrafo único, do CPC e indenização por litigância de má-fé, estabelecida nos artigos 17, VI e VII, e 18, caput, do CPC/73. Cumulação das penalidades. Impossibilidade. I. A oposição de embargos declaratórios tidos por infundados e protelatórios acarreta a aplicação de penalidade específica, a multa prevista no art. 538, parágrafo único, do CPC/73, não comportando a cumulação com a indenização dos arts. 17, VI e VII, e 18, "caput", do mesmo diploma legal, que se apresenta como punição mais específica e rigorosa. II. Duplicidade de Penalidades. Impossibilidade. Não pode haver aplicação, em duplicidade, de penalidades, cumulando-se a multa do art.538, parágrafo único do CPC/73, com a litigância de má-fé estabelecida nos arts.17, VI e VII, e 18, "caput", em obediência ao princípio da singularidade punitiva "non bis in idem" e ao disposto no art.5º, LV, da Constituição Federal de 1988.
Súmula nº 21 do TRT da 5ª Região - Sentença citra petita ausência de oposição de embargos de declaração na primeira instância. Inexistência de preclusão. Não se opera a preclusão em relação às matérias não analisadas na sentença e que são objeto de recurso, ainda que não impugnadas via embargos de declaração, pois revelam julgamento infra petita cuja decretação de nulidade se impõe até mesmo de ofício.
p. 1440-1442: Os comentários à Súmula nº 311 do TST foram alterados
Súmula nº 311 do TST. Benefício previdenciário a dependente de ex-
empregado. Correção monetária. Legislação aplicável
O cálculo da correção monetária incidente sobre débitos relativos a benefícios
previdenciários devidos a dependentes de ex-empregado pelo empregador, ou
por entidade de previdência privada a ele vinculada, será o previsto na Lei nº
6.899, de 08.04.1981.
Inicialmente, cabe frisar que não há previsão na CLT sobre complementação de
aposentadoria, devendo ser estabelecida em acordo coletivo, convenção ou regulamento
de empresa. A complementação de aposentadoria consiste em vantagem concedida pelo
empregador ao empregado como forma de complementar a aposentadoria paga pelo
INSS224. Não se confunde, portanto, com benefício previdenciário da Lei nº 8.213/91.
Era pacífico, na seara trabalhista, que a Justiça do Trabalho detinha
competência material para julgar dissídios decorrentes de planos de previdência
complementar privada, vez que se tratava de verba decorrente da relação de trabalho, o
que atraia a incidência do disposto no art. 114, I, da CF/88225.
Diante de tal competência, surgiu dúvida acerca de qual índice de correção
monetária a ser aplicado na hipótese de complementação de aposentadoria devida a
dependentes de ex-empregado: o do art. 39 da Lei nº 8.177/91, dirigido aos débitos
trabalhistas, ou da Lei nº 6.899/81, vinculado aos débitos decorrentes de condenação
judicial?
O C. TST posicionou-se no sentido de que tais complementações estão
submetidas ao critério de atualização da Lei nº 6.899/81, que disciplina a correção
monetária de modo geral para as condenações judiciais. Assim entendeu, porquanto a
complementação de aposentadoria possui natureza previdenciária e não
trabalhista, o que afasta a aplicação do art. 39 da Lei nº 8.177/91, que é regra específica
destinada à atualização dos débitos de natureza trabalhista. Ademais, o art. 202, § 2º, da
CF/88 afasta a natureza salarial da complementação de aposentadoria.
Assim, a Lei nº 6.899/81 será aplicada na hipótese de débitos derivados de
benefícios previdenciários devidos a dependentes de ex-empregado pelo empregador,
ou por entidade de previdência privada a ele vinculada.
Por fim, cumpre consignar, que, embora pacificado no âmbito do TST a
competência da Justiça do Trabalho para o julgamento da complementação de
aposentadoria, o E. STF foi provocado nos recursos extraordinários nº 586453 e 583050
a se manifestar acerca da competência da Justiça do trabalho para julgar tais ações
quando ajuizadas em face da entidade privada de previdência complementar.
Depois de amplo debate sobre o tema, o STF decidiu que a competência para o
julgamento de tais processos é da Justiça Comum, quando se tratar de entidade privada
de previdência complementar, sob o fundamento de que a complementação de
aposentadoria deriva de uma relação previdenciária autônoma, não sendo, portanto,
decorrente da relação de trabalho a legitimar a competência da Justiça Laboral.
Argumentou o Exmo. Ministro Dias Toffoli, em seu voto, que o art. 202, § 2º, da
CF, declara expressamente que a previdência complementar não integra o contato de
trabalho. Ademais, o art. 14, II, da LC nº 109/01 permite a portabilidade do direito
acumulado pelo participante para outro plano, o que significa que o trabalhador poderá
migrar de um fundo para outro, independentemente da relação de trabalho firmada.
224. “A complementação de aposentadoria é benesse pactuada durante o contrato de trabalho, entre o
empregado e o empregador ou entre empregado e empresa do grupo econômico do empregador, com a
anuência deste, para surtir efeitos após a aposentadoria do trabalhador. Tem o objetivo de garantir, a partir
da aposentadoria, vantagens financeiras e/ou patrimoniais para complementar os proventos da
aposentadoria pagos pelo INSS. Normalmente o complemento é feito por empresa de previdência privada,
criada, mantida, patrocinada ou gerida pelo empregador.” CASSAR, Vólia Bonfim. Direito do Trabalho. 4. ed.
rev. e ampl. Niterói: Impetus, 2010. p. 813.
225. Nesse sentido, são os seguintes precedentes: TST-AIRR-1.461/1994-014-04-40.4, Rel. Min. Vieira de
Mello Filho, 1ª Turma, DJ de 26/10/07; TST-AIRR-752/2003-003-04-41.6. Rel. Min. Simpliciano Fernandes.
2ª Turma. DJ de 26/10/07; TST-AIRR-611/2002-087-03-00.4. Rel. Min. Alberto Bresciani. 3ª Turma. DJ de
5.12.08; TST-E-ED-RR-1.169/2002-203-04-00.0. Rel. Min. Aloysio Corrêa da Veiga. SBDI-1. DJ de 8.2.08.
Decidiu, portanto, que a competência para julgar as ações de
complementação de aposentadoria é da Justiça Comum, quando se tratar de
discussão com a entidade de privada de previdência complementar.
Contudo, a Suprema Corte modulou os efeitos da decisão (eficácia prospectiva
da decisão) em prol da segurança jurídica, declinando que manterá, na Justiça do
Trabalho, até final execução, todos os processos dessa espécie em que já tenha sido
proferida sentença de mérito, até o dia 20.2.13 (data conclusão do julgamento do
recurso), enquanto os processos que não tinham sentença de mérito nessa data deverão
ser remetidos à Justiça Comum226.
A decisão do E. STF, embora aparentemente tenha solucionada a controvérsia,
há de ser bem interpretada.
As ações de complementação de aposentadoria podem decorrer de: 1) plano
instituído, regulamentado e pago pelo empregador; 2) plano por entidade privada de
previdência complementar.
Na primeira hipótese, trata-se de direito inserido no contrato de trabalho,
incidindo inclusive o art. 468 da CLT, que veda a alteração lesiva ao empregado, como
disposto pelo C. TST no item I da Súmula nº 288. Nesse caso, a competência é da
Justiça do Trabalho, como se verifica pelas decisões das Cortes Superiores a seguir
transcritas: EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA A CARGO DO EX-EMPREGADOR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA JULGAR E APRECIAR A CAUSA. ANÁLISE DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULAS 279 E 454 DO STF. 1. A jurisprudência do STF é no sentido de que compete à Justiça do Trabalho o julgamento de ação de complementação de aposentadoria a cargo do ex-empregador (RE 716.896 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, DJe 29/04/2013; AI 670715 AgR-ED, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 17/08/2010, DJe 03/09/2010). 2. Não há como examinar matéria fático-probatória e interpretar cláusulas contratuais com o fim de se concluir que a relação entre as partes não decorre do contrato de trabalho (Súmulas 279 e 454 do STF). 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (negritei e sublinhei)227. PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO (NEGATIVO) DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA ESTADUAL E JUSTIÇA DO TRABALHO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA A CARGO DO EX-EMPREGADOR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. PRECEDENTES DO STF. Conflito conhecido para declarar a competência do juízo da 7ª vara do trabalho de santos/SP, o suscitado228. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA PAGA PELA RECLAMADA (COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO - SABESP), EX-EMPREGADORA DO RECLAMANTE. INAPLICABILIDADE DA MODULAÇÃO
226. RE nº 586.453-7 RG/SE. Rel. Min. Ellen Gracie. julg. 10.9.2009. Dje 02.10.2009; RE nº 594.435-2
RG/SP. Rel. Min. Marco Aurélio. julg. 13.2.2009. Dje 6.11.2009.
227 STF. Segunda Turma, AgR-AI 699.063, Relator: Ministro Teori Zavascki, DJe nº 125, publicado em
01/07/2013. 228 STJ. CC 134.542; Proc. 2014/0152494-0; SP; Primeira Seção; Rel. Min. Mauro Campbell Marques
DE EFEITOS ESTABELECIDA NAS DECISÕES PROFERIDAS NOS RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS NºS 586453 e 583050. O Supremo Tribunal Federal, por ocasião do julgamento dos Recursos Extraordinários nºs 586453 e 583050, interpostos pela Fundação Petrobras de Seguridade Social (Petros) e pelo Banco Banespa S.A., respectivamente, processos julgados mediante o critério de repercussão geral, em sessão realizada em 20/2/2013, fixou o entendimento de que carece competência a esta Justiça especializada para processar e julgar as demandas que envolvam pedido de complementação de aposentadoria contra entidade de complementação de aposentadoria privada. Entretanto, a hipótese sub judice não é a mesma discutida nos autos dos citados recursos extraordinários, ou seja, a complementação de aposentadoria não era paga por entidade privada de aposentadoria complementar, mas pela própria reclamada Sabesp (ex-empregadora do reclamante), com recursos da Fazenda Pública do Estado de São Paulo. Impende frisar que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento dos Recursos Extraordinários nºs 586453 e 583050, considerou o pagamento da complementação de aposentadoria feito por entidade de previdência privada, sem vínculo trabalhista com o reclamante, para afastar a competência da Justiça do Trabalho. Já no caso de aposentadoria complementar decorrente do contrato de trabalho e paga pelo empregador, aquela Corte firmou o entendimento de que esta Justiça especializada possui competência para apreciar e julgar o feito. Assim, nos termos da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e desta Corte, é inaplicável à hipótese dos autos (inexistência de pagamento por meio de entidade privada de complementação de aposentadoria) a modulação de efeitos estabelecida nas decisões proferidas nos citados recursos extraordinários, sendo irrelevante a existência de decisão anterior a 20/02/2013, ressalvado entendimento em sentido contrário do Relator. Portanto, o Tribunal a quo, ao manter a sentença pela qual foi declarada a incompetência da Justiça do Trabalho para apreciar e julgar a ação em curso em que o pedido de diferenças de complementação de aposentadoria decorre do contrato de trabalho e era pago por sua antiga empregadora (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo - Sabesp), afrontou o artigo 114 da Constituição Federal. Recurso de revista conhecido e provido229.
Na segunda hipótese, é possível pelo menos duas modalidades de ações:
- uma em face do empregador requerendo o pagamento de diferenças na
complementação de aposentadoria que não foram corretamente quitadas pelo
empregador; e
- outra em face da entidade de previdência privada para discutir o próprio
benefício da aposentadoria complementar como, por exemplo, se as regras para sua
concessão são as estabelecidas no momento da contratação ou as instituídas na época
em que preenchidos todos os requisitos para a aquisição do benefício.
A ação em face do empregador continua sendo de competência da Justiça do
Trabalho, porque decorrentes da relação do trabalho (CF/ 114, I).
Já a ação em face da entidade de previdência privada é da Justiça Comum, o que
significa que a decisão do E. STF atinge tão somente essa última hipótese. Portanto, a
competência da Justiça Comum não é definida apenas pela matéria a ser julgada, mas
também pela parte230, ou seja, quando a entidade de previdência complementar estiver
no polo passivo.
De qualquer modo, é importante destacar que, como anunciado acima, as ações
ajuizadas em face da entidade de previdência privada, que tinham sentença de mérito no
dia 20.2.13, continuaram na Justiça do Trabalho. Quero dizer, a ação é de competência
229 TST-RR-341-36.2013.5.02.0019, Relator Ministro José Roberto Freire Pimenta, 2ª Turma, publicado no
DEJT de 20/03/2015. 230 TST-RR -107000-90.2004.5.02.0017 , Relator Ministro: Aloysio Corrêa da Veiga, Data de Julgamento: 15/04/2015, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 17.4.2015.
da Justiça comum, mas em decorrência da modulação dos efeitos da decisão do STF, se já
tinha sentença de mérito será julgada em grau recursal pela Justiça do Trabalho. Nesse
caso, como se trata de relação previdenciária e não trabalhista, o C. TST entendeu que,
nessa hipótese, os julgamentos devem ocorrer com base na sistemática previdenciária e
não com regras do direito do trabalho, afastando especialmente a aplicação do princípio
da inalterabilidade lesiva. É por isso que o C. TST alterou seu entendimento na Súmula
nº 288, inserindo o item III, observada a modulação descrita no item IV.
Com efeito, atualmente, as ações de complementação de aposentadoria
ajuizadas pelos dependentes em face do empregador são de competência da Justiça do
Trabalho, aplicando-se a orientação em exame. Já as ajuizadas em face da entidade
privada de previdência complementar são de competência da Justiça Comum.
p. 1466-1471 e p. 1759-1765: Os comentários à Súmula nº 417 do TST foram alterados
Súmula nº 417 do TST. Mandado de segurança. Penhora em dinheiro
I – Não fere direito líquido e certo do impetrante o ato judicial que determina
penhora em dinheiro do executado, em execução definitiva, para garantir
crédito exequendo, uma vez que obedece à gradação prevista no art. 655 do
CPC231.
II – Havendo discordância do credor, em execução definitiva, não tem o
executado direito líquido e certo a que os valores penhorados em dinheiro
fiquem depositados no próprio banco, ainda que atenda aos requisitos do art.
666, I, do CPC232.
III – Em se tratando de execução provisória, fere direito líquido e certo do
impetrante a determinação de penhora em dinheiro, quando nomeados outros
bens à penhora, pois o executado tem direito a que a execução se processe da
forma que lhe seja menos gravosa, nos termos do art. 620 do CPC233.
I – Não fere direito líquido e certo do impetrante o ato judicial que determina
penhora em dinheiro do executado, em execução definitiva, para garantir crédito
exequendo, uma vez que obedece à gradação prevista no art. 655 do CPC234.
O processo tem como finalidade a entrega do bem da vida postulado a quem de
direito. Na sentença condenatória com obrigação de pagar quantia certa, o bem
pleiteado é um crédito em dinheiro. Desse modo, caso o devedor não cumpra
voluntariamente a determinação judicial, na fase executiva, o Estado-juiz interfere no
seu patrimônio, com o fim de satisfazer o credor. Essa interferência ocorre por meio da
penhora.
A penhora busca individualizar determinados bens do devedor para no fim
satisfazer o crédito do exequente, que ocorrerá com o pagamento do débito. É por isso
que o bem penhorado deve obedecer a uma ordem de preferência que priorize sua
231 NCPC, art. 835. 232 NCPC, art. 840, I. 233 NCPC, art. 805. 234.NCPC, art. 835.
liquidez, uma vez que, quanto mais liquidez possuir o bem, mais ágil e eficaz será a
execução.
Nesse contexto, o art. 882 da CLT impõe que a nomeação do bem à penhora
deve obedecer ao disposto no art. 655 do CPC/73. Esse artigo tem como correspondente
o art. 835 do NCPC, que passará a ser adotado, por força do art. 1.046, § 4º, do NCPC.
Desse modo, o referido art. 835 consagra o “dinheiro, em espécie ou em depósito ou
aplicação em instituição financeira” (inciso I), o primeiro item na ordem de preferência
do bem a ser penhorado. Ademais, em seu § 1º declara, expressamente, que é prioritária
a penhora em dinheiro.
Com o objetivo de exaltar aludida ordem de preferência e efetivar a tutela
jurisdicional, o TST realizou convênio com o Banco Central (BACEN JUD), no sentido de
possibilitar aos magistrados o encaminhamento às instituições financeiras e demais
instituições autorizadas a funcionar pelo BACEN ofícios eletrônicos contendo
solicitações de informações sobre a existência de contas correntes e aplicações
financeiras, permitindo, em seguida, o bloqueio e transferência dos depósitos existentes.
Trata-se da chamada “penhora on-line”.
Diante de tal inovação, passou-se a questionar tal modalidade de “penhora”.
Conquanto a penhora tenha mecanismo próprio de impugnação, quais sejam,
os embargos à penhora, a jurisprudência do TST e a do próprio STF permitem a
impetração de mandado de segurança nas hipóteses em que do ato impugnado possa
advir prejuízos imediatos e irreparáveis ou de difícil reparação ao executado.
Nesse contexto, alguns executados começaram a impetrar mandado de
segurança no caso de “penhora on-line”, sob o argumento de que ela violaria direito
líquido e certo.
O C. TST, entretanto, admitiu a penhora on-line afastando, consequentemente,
qualquer violação a direito líquido e certo do executado. Isso porque, como já afirmado,
a penhora on-line nada mais faz do que preservar a preferência estabelecida no art. 835
do NCPC, penhorando, prioritariamente, dinheiro. Ademais, na época do CPC, o art. 655-
A do CPC passou a regrar expressamente tal modalidade de penhora, vaticinando em seu
caput: Art. 655-A. Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou aplicação financeira, o juiz, a requerimento do exequente, requisitará à autoridade supervisora do sistema bancário, preferencialmente por meio eletrônico, informações sobre a existência de ativos em nome do executado, podendo no mesmo ato determinar sua indisponibilidade, até o valor indicado na execução.
O mesmo caminhou trilhou o caput do art. 854 do NCPC, in verbis: Art. 854. Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou em aplicação financeira, o juiz, a requerimento do exequente, sem dar ciência prévia do ato ao executado, determinará às instituições financeiras, por meio de sistema eletrônico gerido pela autoridade supervisora do sistema financeiro nacional, que torne indisponíveis ativos financeiros existentes em nome do executado, limitando-se a indisponibilidade ao valor indicado na execução235.
Registra-se que, no processo do trabalho, é desnecessário o requerimento do
exequente para a realização da penhora on-line, vez que a execução se processa ex
235 TST-IN nº 39/2016, art. 3°. Sem prejuízo de outros, aplicam-se ao Processo do Trabalho, em face de
omissão e compatibilidade, os preceitos do Código de Processo Civil que regulam os seguintes temas: (…)
XIX -art. 854 e parágrafos (BacenJUD) (…).
officio.
Além dos casos de penhora on-line, os executados também impetravam
mandado de segurança quando a penhora recaía sobre dinheiro em espécie,
fundamentando que a execução deve ser da forma menos gravosa ao executado (CPC/73,
art. 620; NCPC, art. 805).
Contudo, o princípio da menor onerosidade não pode ser analisado de modo
absoluto, devendo ser compatibilizado com os demais princípios, especialmente com o
princípio da efetividade, bem como da dignidade da pessoa.
Nesse sentido, leciona o doutrinador Dinamarco: as generosidades em face do executado não devem mascarar um descaso em relação ao dever de oferecer tutela jurisdicional a quem tiver um direto insatisfeito, sob pena de afrouxamento do sistema executivo (...) A triste realidade da execução burocrática e condescendente, que ao longo dos tempos se apresenta um verdadeiro paraíso dos maus pagadores, impõe que o disposto no art. 620 do Código de Processo Civil236 seja interpretado à luz da garantia do acesso à justiça, sob pena de fadar o sistema à ineficiência e pôr em risco a efetividade dessa solene promessa constitucional (Const., art. 5º, inc. XXXV). (...) É imperioso, portanto, estar atento a uma indispensável linha de equilíbrio entre o direito do credor, que deve ser satisfeito mediante imposição dos meios executivos, e a possível preservação do patrimônio do devedor, que não deve ser sacrificado além do necessário237 (grifos no original).
Não se pode esquecer ainda que o Novo CPC expressamente conjuga a menor
onerosidade com a efetividade da tutela executiva, conforme declina no parágrafo único
do art. 805 do NCPC, in verbis: Parágrafo único. Ao executado que alegar ser a medida executiva mais gravosa incumbe indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos executivos já determinados.
A propósito, a menor onerosidade não prevalece em relação à penhora em
dinheiro, vez que este é o primeiro na lista de preferência disposta no art. 835 do NCPC,
sendo prioritária às demais hipóteses (NCPC, art. 835, § 1º). Noutras palavras, a penhora
em dinheiro, simplesmente, obedece ao descrito na norma processual, não provocando
nenhuma violação a direito líquido e certo do executado. “Em verdade, é o credor quem
possui direito líquido e certo à penhora em dinheiro” 238.
Assim, entende o TST que, tratando-se de execução definitiva, a penhora on-
line e, por óbvio, a penhora em dinheiro não violam direito líquido e certo do executado.
II – Havendo discordância do credor, em execução definitiva, não tem o executado
direito líquido e certo a que os valores penhorados em dinheiro fiquem
depositados no próprio banco, ainda que atenda aos requisitos do art. 666, I, do
CPC239.
Após a efetivação da penhora em dinheiro, alguns executados passaram a
impetrar mandado de segurança, sob a alegação de que os valores penhorados deveriam
ficar depositados no próprio banco do executado. Tais argumentos surgiram,
especialmente quando o executado era banco privado, “pelo simples fato de que o
236. NCPC, art. 805.
237. DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 3. ed. São Paulo: Malheiros
Editores Ltda, 2009. v. 4,. p. 63-64.
238. KLIPPEL, Bruno. Direito sumular esquematizado – TST. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 563. 239. NCPC, art. 840.
dinheiro aplicado lhe renderá dezenas de vezes mais do que a correção monetária e
juros que serão cobrados na execução trabalhista” 240.
O E. TST, entretanto, não reconheceu a existência de direito líquido e certo
nessa hipótese. Isso porque o art. 666 do CPC/73 dispunha: Art. 666. Os bens penhorados serão preferencialmente depositados: I – no Banco do Brasil, na Caixa Econômica Federal, ou em um banco, de que o Estado-membro da União possua mais de metade do capital social integralizado; ou, em falta de tais estabelecimentos de crédito, ou agências suas no lugar, em qualquer estabelecimento de crédito, designado pelo juiz, as quantias em dinheiro, as pedras e os metais preciosos, bem como os papéis de crédito; (...) § 1º Com a expressa anuência do exequente ou nos casos de difícil remoção, os bens poderão ser depositados em poder do executado.
No mesmo sentido, é o art. 840 do NCPC, aplicável subsidiariamente ao
processo do trabalho, o qual dispõe: Art. 840. Serão preferencialmente depositados: I - as quantias em dinheiro, os papéis de crédito e as pedras e os metais preciosos, no Banco do Brasil, na Caixa Econômica Federal ou em banco do qual o Estado ou o Distrito Federal possua mais da metade do capital social integralizado, ou, na falta desses estabelecimentos, em qualquer instituição de crédito designada pelo juiz; (...) § 2º Os bens poderão ser depositados em poder do executado nos casos de difícil remoção ou quando anuir o exequente.
Verifica-se, pelo aludido dispositivo, que o ordenamento prezou para que os
bens penhorados ficassem prioritariamente depositados em banco público, admitindo o
depósito em poder do executado, tão somente quando o exequente expressamente
anuir.
Ademais, um dos efeitos da penhora é o de privar o devedor da posse de seus
bens, retirando-lhe, portanto, a posse do bem penhorado241.
Desse modo, não havendo anuência do exequente, os valores penhorados
devem ser depositados, necessariamente, nos bancos descritos no art. 840, I, do NCPC.
Entretanto, pode acontecer de a discussão versar sobre a transferência dos
valores entre os bancos declinados no referido artigo como, por exemplo, transferir o
dinheiro de um Banco Estadual para o Banco do Brasil. Isso ocorrer especialmente
quando o banco público é executado e pretende deixar o dinheiro depositado em sua
instituição, porque é um dos bancos indicados no aludido artigo. Nesse caso, ainda que o
depósito tenha atendido o art. 840, I, do NCPC, entende o TST que não há violação de
direito líquido e certo do impetrante, “tendo em vista que compete ao juiz a escolha da
instituição a ser depositária do numerário penhorado” 242. Trata-se, pois, de ato
discricionário do juiz que analisará, no caso concreto, qual a melhor entidade bancária
para que os valores fiquem depositados.
240. OLIVEIRA, Francisco Antônio de. Comentários às súmulas do TST. 9. ed. rev. e atual. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2008. p. 700. 241. SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 860.
242. TST – RXOFROMS 348209/1997. Red. Min. Ronaldo Lopes Leal. DJ 03.09.1999 – Decisão por
maioria.
III – Em se tratando de execução provisória, fere direito líquido e certo do
impetrante a determinação de penhora em dinheiro, quando nomeados outros
bens à penhora, pois o executado tem direito a que a execução se processe da
forma que lhe seja menos gravosa, nos termos do art. 620 do CPC243.
A decisão judicial executável está, em regra, suscetível de recurso. Não havendo
interposição deste, haverá o trânsito em julgado da decisão, permitindo sua execução
definitiva. Por outro lado, ocorrendo a interposição de recurso, este pode ter efeito
meramente devolutivo ou também efeito suspensivo. Na hipótese de ter efeito
suspensivo, a decisão judicial não produzirá efeitos de imediato, impedindo o início da
execução. Já no caso de efeito meramente devolutivo, a decisão gerará efeitos,
possibilitando assim a execução provisória da decisão judicial (sentença ou acórdão).
No processo do trabalho é cediço que os recursos, em regra quase que absoluta,
possuem efeito meramente devolutivo, o que significa que é campo fértil para a
execução provisória, disciplinada no art. 520 do NCPC, aplicável subsidiariamente à
seara laboral244.
A execução provisória, portanto, busca agilizar a prestação jurisdicional, uma
vez que, enquanto o processo está pendente de julgamento do recurso, poderão ser
exercidos atos de execução da decisão judicial.
Por se tratar de título provisório, porquanto pendente de decisão recursal, o C.
TST entendeu que o executado tem direito líquido e certo de que a penhora não recaia
sobre dinheiro, quando nomeados outros bens à penhora, ante o princípio da menor
onerosidade ao credor. Argumenta ainda que, no processo do trabalho, a execução
provisória somente é permitida até a penhora (art. 899, caput e §1º da CLT), de modo
que a autorização judicial para o levantamento dos valores depositados, conforme
descrito nos arts. 520, IV e 521 do NCPC, é incompatível com a seara trabalhista.245
Todavia, acreditamos que esse entendimento não deve prevalecer com a
vigência do NCPC.
É que o art. 805 do NCPC, à primeira vista, conduz à conclusão de que o
entendimento do TST está em conformidade com a legislação processual civil, uma vez
que seu caput estabelece que “quando por vários meios o exequente puder promover a
execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado”.
No entanto, o parágrafo único, do art. 805 do NCPC, aplicável ao processo do
trabalho (TST-IN nº 39/2016, art. 3º XIV), e sem correspondente no CPC/73, é enfático
ao descrever que “ao executado que alegar ser a medida executiva mais gravosa
incumbe indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção
dos atos executivos já determinados”.
Vê-se que referido parágrafo respeita o princípio da menor onerosidade desde
243. NCPC, art. 805.
244 O C. TST não se manifestou na IN º 39/2016 sobre a incidência dos arts. 520 a 522 do NCPC ao processo
do trabalho, sob o argumento de que a matéria encontra-se sub judice, como se verifica nos considerando da
referida instrução normativa. 245. TST-RO-7284-66.2013.5.15.0000, SBDI-II, rel. Min. Douglas Alencar Rodrigues, 14.4.2015
(Informativo execução nº 14), embora faça referência ao antigo art. 475-O do CPC/73.
que não sacrifique o da efetividade da tutela executiva.
Desse modo, sendo a penhora em dinheiro o meio mais eficaz à execução por
quantia certa de devedor solvente, há de ser invocado o art. 805, parágrafo único, do
NCPC, obstando a substituição por outros bens. No máximo, o executado poderá
requerer a substituição da penhora em dinheiro por fiança bancária ou seguro garantia
judicial, já que equiparados legalmente ao dinheiro (NCPC, art. 835, § 2º).
É importante destacar ainda que, o art. 520 do NCPC, na mesma linha do art.
475-O do CPC/73, declina expressamente em seu caput que o “cumprimento provisório
da sentença impugnada por recurso desprovido de efeito suspensivo será realizado da
mesma forma que o cumprimento definitivo”. Isso quer dizer que a execução provisória,
embora tenha certas limitações, deverá observar as mesmas diretrizes da execução
definitiva.
Com efeito, a ordem de preferência disposta no art. 835 do NCPC deve ser
aplicada na execução provisória, até mesmo porque não existe nenhum dispositivo que
impeça sua aplicação ou discipline, de forma diversa, a ordem de preferência na
execução provisória.
Ademais, o artigo 835, § 1º do NCPC declina que “é prioritária a penhora em
dinheiro, podendo o juiz, nas demais hipóteses, alterar a ordem prevista no caput de
acordo com as circunstâncias do caso concreto” (TST-IN nº 39/2016, art. 3º XVI). Assim,
referido dispositivo é expresso em priorizar o dinheiro, permitindo a alteração da
ordem apenas nos demais casos, relativizando o princípio da menor onerosidade para o
devedor246 (art. 805 do NCPC). Melhor dizendo, o princípio da efetividade da tutela
executiva se sobrepõe ao da menor onerosidade no caso de penhora em dinheiro.
Aliás, a penhora tem como objetivo satisfazer o crédito do exequente, em regra,
na Justiça Laboral do trabalhador. Tal crédito se consubstancia em dinheiro, o que
significa que a penhora deve desaguar em bens que possuam a maior liquidez possível, a
fim de verdadeiramente efetivar a tutela jurisdicional. A penhora não pode ser vista com
um fim em si mesmo, mas com a finalidade de transformar-se em dinheiro da maneira
mais ágil.
Nesse sentido, a lúcida lição do doutrinador Jorge Luiz Souto Maior: A penhora é o ato de extrema importância para a efetividade da execução. Não se deve encarar a penhora como um mero iter do procedimento, pois que isso implica, muitas vezes, negar a própria utilidade de todos os atos subsequentes da execução. Em outras palavras, pouco adianta cumprir o preceito legal, penhorando-se um bem que não possui a mínima chance de ser convertido em dinheiro, mediante venda em hasta pública. Grande parte dos problemas vividos nas execuções trabalhistas situa-se no fato da realização de penhora de bens de baixo interesse comercial. O importante não é garantir a execução, sob o ponto de vista formal, mas estabelecer uma garantia de que o crédito em questão será satisfeito após obedecidas as formalidades legais subsequentes.247 (grifo nosso)
Além disso, a limitação imposta pelo TST vai de encontro à evolução do
246. MEDINA, José Miguel Garcia. Novo Código de Processo Civil Comentado: com remissões e notas
comparativas ao CPC/1973. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 1133.
247. SOUTO MAIOR, Jorge Luiz apud SCHIAVI, Mauro. Execução no processo do trabalho. São Paulo: LTr,
2008. p. 173.
processo civil, que admite inclusive o levantamento do depósito em dinheiro, desde que
o exequente preste caução (NCPC, art. 520, IV). Aliás, dispensa até mesmo a exigência de
caução nos créditos de natureza alimentar, independentemente de sua origem (NCPC,
art. 521, I).
Mesmo antes do NCPC, o enunciado nº 69 da 1ª Jornada de direito material e
processual do trabalho, bem como o enunciado nº 21 da Jornada Nacional da execução
trabalhista a seguir transcritos já defendiam essa posição: Enunciado nº 69. EXECUÇÃO PROVISÓRIA. APLICABILIDADE DO ART. 475-O DO CPC NO PROCESSO DO TRABALHO I – A expressão “...até a penhora...” constante da Consolidação das Leis do Trabalho, art. 899, é meramente referencial e não limita a execução provisória no âmbito do direito processual do trabalho, sendo plenamente aplicável o disposto no Código de Processo Civil, art. 475-O. II – Na execução provisória trabalhista é admissível a penhora de dinheiro, mesmo que indicados outros bens. Adequação do postulado da execução menos gravosa ao executado aos princípios da razoável duração do processo e da efetividade. III – É possível a liberação de valores em execução provisória, desde que verificada alguma das hipóteses do artigo 475-O, § 2º, do Código de Processo Civil, sempre que o recurso interposto esteja em contrariedade com Súmula ou Orientação Jurisprudencial, bem como na pendência de agravo de instrumento no TST. Enunciado nº 21. EXECUÇÃO PROVISÓRIA. PENHORA EM DINHEIRO. POSSIBILIDADE. É válida a penhora de dinheiro na execução provisória, inclusive por meio do Bacen Jud. A Súmula nº 417, item III, do Tribunal Superior do Trabalho (TST), está superada pelo art. 475-O do Código de Processo Civil (CPC).
Dessa forma, pensamos que o C. TST deverá cancelar o item III da presente
súmula, tendo em vista a alteração de sua ratio decidendi (fundamento determinante)
pelos arts. 520, 805, parágrafo único e 835, §1º do NCPC os quais deixam expressa a
prioridade da penhora em dinheiro, seja na execução definitiva, seja na execução
provisória.
p. 1471 e 1769: A redação da OJ nº 59 da SDI-II do TST foi alterada pela Res. nº
209/2016, razão pela qual seus comentários foram alterados:
Orientação Jurisprudencial nº 59 da SDI – II do TST. Mandado de segurança. Penhora. Carta
de fiança bancária. Seguro garantia judicial.
A carta de fiança bancária e o seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do
débito em execução, acrescido de trinta por cento, equivalem a dinheiro para efeito da
gradação dos bens penhoráveis, estabelecida no art. 835 do CPC de 2015 (art. 655 do CPC de
1973).
Reconhecida a dívida e não havendo pagamento, o patrimônio do devedor,
inicialmente, responde pelo seu pagamento, ficando sujeito à execução forçada.
Em regra, o patrimônio do devedor constitui a garantia para o pagamento da
dívida. No entanto, tal garantia pode ser concedida por terceiro, passando a se
responsabilizar pela dívida. Tem-se aqui uma garantia pessoal chamada de fiança.
Quando o fiador é um banco, temos a fiança bancária que consiste, portanto, em
um contrato em que o banco garante o cumprimento da obrigação de seu cliente (ex.,
devedor trabalhista).
Considerando que o banco é detentor de capital líquido, qual seja, dinheiro, o art.
9º, II, da Lei 6.830/80, aplicável subsidiariamente ao processo do trabalho por força do
art. 899 da CLT, permitiu que a fiança bancária seja oferecida como bem penhorável.
Além disso, a Lei 6.830/80 declinava expressamente que “a garantia da execução,
por meio de depósito em dinheiro ou fiança bancária, produz os mesmos efeitos da
penhora” (art. 9º, § 3º). Ademais, vaticinava o art. 15, I, da referida lei, que, a qualquer
tempo no processo, o executado poderia substituir o bem penhorado “por depósito em
dinheiro ou fiança bancária”.
Desse modo, vislumbra-se que a Lei 6.830/80 igualou os efeitos da penhora, seja
em dinheiro, seja por meio de fiança bancária, para fins de observância da gradação legal
do art. 655 do CPC/73.
O mecanismo é simples: o banco não exige o dinheiro no ato, mas se
compromete, quando requisitado pelo juiz, a efetuar o depósito
imediatamente, tal como se o banco aceitasse ser o fiador da dívida. Daí o
nome carta de fiança, no sentido de uma comunicação de ajuste entre
devedor e o banco248.
Assim, o C. TST entendeu que o executado possui direito líquido e certo de
oferecer como garantia do juízo a fiança bancária no lugar de dinheiro.
Após a edição da redação original da presente orientação jurisprudencial, a Lei nº
11.382/2006 incluiu o art. 656, §2º, ao CPC/73 e passou a permitir a substituição da
penhora pela fiança bancária ou pelo seguro garantia judicial, desde que o valor não
fosse inferior ao do débito, acrescido de 30% (trinta por cento).
O seguro garantia judicial corresponde ao contrato de seguro firmado entre o
executado e uma seguradora com a finalidade de que esta última garanta o pagamento de
depósitos judiciais em dinheiro e/ou a penhora de bens que possam ser imputadas ao
executado na pendência de execução judicial.
Depois da alteração do CPC/73, a Lei nº 13.043/2014 modificou os artigos 9º,
§3º, e 15, I, da Lei nº 6.830/80, acrescentando a possibilidade de oferecimento do seguro
garantia judicial, como meio de garantir a execução pelo executado, e a consequente
possibilidade de substituição da penhora, não somente pelo depósito em dinheiro e fiança
bancária, como também pelo seguro garantia. Todavia, não houve menção à necessidade
de que o valor da fiança bancária e do seguro garantia judicial correspondessem ao valor
do débito acrescido de 30% (trinta por cento).
Por sua vez, os artigos 835, § 2º e 848, parágrafo único, do NCPC mantiveram a
mesma sistemática do CPC/73, como se verifica pelo teor a seguir transcrito:
Art. 835, § 2º. Para fins de substituição da penhora, equiparam-se a dinheiro
a fiança bancária e o seguro garantia judicial, desde que em valor não
inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de trinta por cento.
Art. 848, parágrafo único. A penhora pode ser substituída por fiança
bancária ou por seguro garantia judicial, em valor não inferior ao do débito
constante da inicial, acrescido de trinta por cento.
Como são dispositivos que buscam completar o instituto da fiança bancária e do
seguro garantia judicial e por serem mais eficazes à prestação da tutela jurisdicional,
pensamos que devem ser aplicados supletivamente ao processo do trabalho (NCPC, art.
15; TST-IN nº 39/2016, art. 3º XVI), pois a Lei nº 6.830/80 trata apenas parcialmente da
matéria.
Isso quer dizer que o valor da fiança bancária e do seguro garantia judicial não
pode ser inferior ao do débito constante da inicial acrescido de 30% (trinta por cento).
248. SILVA, Homero Batista Mateus da. Curso de direito do trabalho aplicado. Execução trabalhista. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. v. 10. p. 155
Atento a tais alterações, o C. TST por meio da Resolução 209/2016 modificou a redação
dessa orientação estabelecendo que a carta de fiança bancária e o seguro garantia judicial,
desde que em valor não inferior ao do débito em execução, acrescido de trinta por cento,
equivalem a dinheiro para efeito da gradação dos bens penhoráveis.
Cumpre consignar que, indicado outro bem para penhora, poderá o executado
postular sua substituição por fiança bancária ou seguro garantia, desde que faça o
requerimento no prazo de 10 (dez) dias, contados da intimação da penhora (NCPC, art.
847).
Assim, o requerimento do executado poderá ser indeferido quando formulado
fora do prazo legal. Do mesmo modo, poderá ser indeferido quando a garantia não for
suficiente ao previsto na legislação, ou seja, o valor for inferior ao principal acrescido de
30% (trinta por cento).
Antes de finalizarmos os comentários da presente orientação jurisprudencial, é
necessário fazer duas observações.
A primeira relacionada ao momento da indicação da fiança bancária e do seguro
garantia judicial.
O sistema atual da execução no processo civil não admite a indicação de bens
pelo devedor, possibilitando inclusive que a impugnação seja realizada sem a garantia do
juízo. Nesse contexto, a carta de fiança bancária e o seguro garantia atuam como
verdadeira substituição.
Contudo, o tema é tratado na ordem preferencial da penhora. Além disso, no
processo do trabalho, o art. 880 da CLT mantém a possibilidade de indicação de bem pelo
executado, de modo que é permitido indicar diretamente que a penhora recaia em fiança
bancária ou seguro garantia judicial, ainda que não tenha ocorrido penhora pretérita249.
Noutras palavras, não há necessidade de que já tenha ocorrida a penhora para se admitir a
garantia, podendo ser indicada pelo executado no prazo descrito no art. 880 da CLT.
Com efeito, sendo simplesmente negada a indicação ou substituição do bem
penhorado pela fiança bancária ou seguro garantia haverá violação de direito líquido e
certo, admitindo a impetração do mandado de segurança.
A propósito, conquanto a penhora tenha mecanismo próprio de impugnação, qual
sejam, os embargos à execução, a jurisprudência do TST e a do próprio STF permitem a
impetração de mandado de segurança nas hipóteses em que do ato impugnado possa advir
prejuízos imediatos e irreparáveis ou de difícil reparação ao executado, como ocorre na
presente hipótese.
A segunda observação consiste na análise da apólice da fiança ou do seguro pelo
juízo.
Embora o executado possa indicar como penhora a fiança bancária e o seguro
garantia judicial, isso não obsta, evidentemente, que o juízo possa analisar em cada caso
concreto a idoneidade da garantia, bem como a existência de vícios a inviabilizar a
indicação ou substituição do bem. Nesse caso, a jurisprudência trabalhista tem admitido a
indicação e/ou substituição da penhora quando houver certeza na efetividade da
execução.
Desse modo, não se pode admitir cláusulas que restrinjam a responsabilidade da
seguradora a determinadas hipóteses250. Além disso, é importante que o garantidor
249. CORDEIRO, Wolney de Macedo. Execução no processo do trabalho. Salvador: JusPODIVM, 2015, p. 372. 250. Nesse sentido: TRT 20ª R.; APet 0001141-25.2010.5.20.0001; Primeira Turma; Relª Desª Rita de Cássia
(fiador) renuncie ao benefício de ordem (CC/2002, art. 827) e a exoneração de
responsabilidade em caso de fiança por prazo indeterminado (CC/2002, art. 835).
Ademais, conquanto pensamos que o prazo de validade não seja verdadeiramente um
óbice à realização dessa penhora251, é preciso ficar atento para tal prazo, uma vez que
sendo ultrapassado considera-se que o “bem pereceu e a garantia se dissipou” 252,
impedindo o conhecimento dos embargos à execução ou de agravo de petição interposto.
Nesses casos de análise da apólice da fiança ou do seguro no caso concreto,
pensamos que obsta o mandado de segurança, vez que o direito líquido e certo, nessa
hipótese, deve ser visto como prova pré-constituída para sua impetração e não,
necessariamente, deferimento da segurança, que exigirá a análise detida de sua efetiva
violação, passando-se pelo que foi verificado pelo juízo no momento do indeferimento da
indicação e/ou substituição pela fiança bancária ou seguro garantia judicial.
p. 1488 e 1499: A redação da OJ nº 54 da SDI-II foi alterada pela Res. nº 208/2016
Orientação Jurisprudencial nº 54 da SDI-II do TST. Mandado de segurança. Embargos de terceiro. Cumulação. Penhora. Incabível. Ajuizados embargos de terceiro (art. 674 do CPC de 2015 - art. 1.046 do CPC de 1973) para pleitear a desconstituição da penhora, é incabível mandado de segurança com a mesma finalidade.
p. 1498 e 1795: A redação da OJ nº 59 da SDI-II do TST foi alterada
Orientação Jurisprudencial nº 59 da SDI – II do TST. Mandado de segurança.
Penhora. Carta de fiança bancária. Seguro garantia judicial.
A carta de fiança bancária e o seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior
ao do débito em execução, acrescido de trinta por cento, equivalem a dinheiro para
efeito da gradação dos bens penhoráveis, estabelecida no art. 835 do CPC de 2015 (art.
655 do CPC de 1973).
P. 1500: SÚMULAS DOS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO (RELACIONADAS AO
CAPÍTULO XV)
(ACRESCENTADAS AO CAPÍTULO XV – NESSA 7º EDIÇÃO/2016)
Correção monetária
Súmula n.º 23 do TRT da 24ª Região. Atualização monetária. Inconstitucionalidade do art. 39 da Lei n° 8.177/1991. É inconstitucional a expressão "equivalentes à TRD acumulada" constante no art. 39, caput, da Lei n. 8.177/91. Os débitos trabalhistas deverão ser atualizados pelo IPCA-E, conforme precedente do Supremo Tribunal Federal.
Contribuições Previdenciárias
Súmula nº 5 do TRT da 7ª Região - Contribuições previdenciárias apuradas em processo trabalhista. Fato gerador. Momento de incidência de juros e multa.
Pinheiro de Oliveira; Julg. 29/07/2015; DEJTSE 13/08/2015.
251. Em sentido contrário: TST; AIRR 0001349-07.2010.5.01.0205; Sexta Turma; Rel. Des. Conv. Américo
Bedê Freire; DEJT 08/05/2015.
252. SILVA, Homero Batista Mateus da. Curso de direito do trabalho aplicado. Execução trabalhista. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2015. v. 10. p. 156.
A hipótese de incidência da contribuição prevista no artigo 195, inciso I, alínea “a”, da Constituição Federal ocorre quando há o pagamento ou a constituição do crédito decorrente do título judicial trabalhista, devendo a sua quitação ser efetuada até o 2º dia do mês seguinte ao da liquidação da sentença, conforme disciplina o art. 276 do Decreto nº 3.048/99. Somente a partir daí, em caso de inadimplência, computar-se-ão os acréscimos pertinentes a juros e multa mencionados na legislação ordinária aplicável à espécie.
Súmula n.º 80 do TRT da 12ª Região - Contribuições previdenciárias. Sentenças condenatórias. Fato gerador. Juros e multa.
Para o serviço prestado até 4-3-2009, o fato gerador é o efetivo pagamento do débito trabalhista em juízo, só havendo incidência de juros e multa caso o executado não recolha as contribuições previdenciárias até o dia 2 do mês seguinte ao desse pagamento. Para o serviço prestado de 5-3-2009 em diante, o fato gerador é a prestação dos serviços pelo trabalhador, com acréscimo de juros de mora desde então, só havendo incidência da multa caso o executado não recolha as contribuições previdenciárias no prazo de 48 horas da citação na fase executiva.
Súmula n.º 14 do TRT da 13ª Região - Contribuições previdenciárias. Juros e multa.
A prestação de serviços é o fato gerador das contribuições previdenciárias, com previsão
de juros de mora e multa na Lei 8.212/91, art. 35, e Lei 9.430/96, art. 61.
Execução Provisória
Súmula nº 39 do TRT da 8ª Região - Execução provisória. Penhora em dinheiro. Possibilidade.
É válida a penhora de dinheiro na execução provisória, inclusive por meio do Bacen Jud, sempre que não houver sido indicado bem ou, se este não estiver dentro da ordem preferencial do art. 835 do CPC, ou se for de difícil alienação.
Responsabilidade subsidiária
Súmula n.º 22 do TRT da 24ª Região - Petrobrás - Responsabilidade subsidiária - Súmula 331, IV e V, do TST. A Petrobrás é responsável subsidiária pelos créditos trabalhistas referentes ao contrato de prestação de serviços firmado com o Consórcio UFN III somente se os serviços executados pelo trabalhador se caracterizarem como força de trabalho essencial ou indispensável à consecução de sua atividade fim.
Multa do art. 475-J do CPC253
Súmula n.º 20 do TRT da 13ª Região - Multa prevista no Código de Processo Civil, art.
475-J. Inaplicabilidade ao processo do trabalho.
É inaplicável ao Processo do Trabalho a multa prevista no Código de Processo Civil, art.
475-J.254
253. NCPC, art. 523, § 1º.
Súmula nº 75 do TRT da 4ª Região - Multa do artigo 475-J do CPC.
A multa de que trata o artigo 475-J do CPC255 é compatível com o processo do trabalho, e a definição quanto à sua aplicação efetiva deve ocorrer na fase de cumprimento da sentença.
Embargos à execução
Súmula n.º 21 do TRT da 24ª Região - Grupo econômico. Embargos à execução.
Legitimidade.
Qualquer empresa, pertencente ao grupo econômico, que figure no polo passivo da
execução, tem legitimidade para embargar a execução. 2 - Somente a empresa,
pertencente ao grupo econômico, que figure no polo passivo da execução e teve seu bem
penhorado, tem legitimidade para embargar a execução com a finalidade de discutir a
referida penhora.
Prescrição Intercorrente
Súmula nº 23 do TRT da 5ª Região - Execução. Prescrição intercorrente. Inaplicabilidade. Iniciada a execução, não cabe a declaração de prescrição pela inércia da parte, pois é inaplicável, na Justiça do Trabalho, a prescrição intercorrente, conforme entendimento cristalizado no teor da Súmula n. 114 do TST.
Súmula n.º 39 do TRT da 23ª Região - Prescrição intercorrente. Execução de créditos
trabalhistas. Ações individuais ou plúrimas. Inaplicabilidade.
É inaplicável a prescrição intercorrente na execução de créditos trabalhistas.
Súmula n.º 12 do TRT da 24ª Região - Prescrição intercorrente. Execução. Súmula nº
114 do TST.
A prescrição intercorrente pode ser excepcionalmente aplicável ao processo
trabalhista, sem contrariedade à Súmula TST n. 114, se presentes os seguintes
requisitos cumulativos: a) esgotamento de todas as medidas executivas que poderiam
ser realizadas de ofício (art. 878, CLT); b) arquivamento provisório, com ciência ao
exequente, inclusive da aplicação da prescrição intercorrente após o decurso in albis
do prazo de dois anos (art. 889, CLT; Lei nº 6.830/80, 40, § 4º); c) o credor não
impulsionar a execução nem oferecer meios alternativos para satisfação do crédito
exequendo.
Precatório
Súmula n.º 17 do TRT da 13ª Região - CAGEPA. Serviço público essencial. Regime não
concorrencial. Execução por precatório. Precedentes do STF.
254
NCPC, art. 523, § 1º.
255 NCPC, art. 523, § 1º.
As atividades da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba – CAGEPA envolvem a
execução de serviço público essencial, em sentido estrito, em regime não
concorrencial. Desta forma, são aplicáveis à referida empresa as prerrogativas típicas
da Fazenda Pública, no que diz respeito à impenhorabilidade de seus bens, devendo a
execução em seu desfavor seguir o rito do art. 100 da Constituição Federal de 1988.
Execução fiscal
Súmula n.º 37 do TRT da 18ª Região - Execução fiscal. Infração à CLT. Multa de
natureza administrativa. Redirecionamento da execução contra os sócios da empresa
executada.
É inaplicável o disposto no art. 135 do CTN à execução fiscal para cobrança de multa por
infração à legislação trabalhista. A inaplicabilidade do art. 135 do CTN não obsta a
responsabilização dos sócios nas hipóteses previstas nos arts. 50 e 1.016 do Código Civil.
p. 1544-1558: Os comentários à Súmula nº 192 do TST foram alterados
Súmula nº 192 do TST. Ação rescisória. Competência e possibilidade jurídica
do pedido
I – Se não houver o conhecimento de recurso de revista ou de embargos, a
competência para julgar ação que vise a rescindir a decisão de mérito é do
Tribunal Regional do Trabalho, ressalvado o disposto no item II.
II – Acórdão rescindendo do Tribunal Superior do Trabalho que não conhece
de recurso de embargos ou de revista, analisando arguição de violação de
dispositivo de lei material ou decidindo em consonância com súmula de
direito material ou com iterativa, notória e atual jurisprudência de direito
material da Seção de Dissídios Individuais (Súmula nº 333), examina o mérito
da causa, cabendo ação rescisória da competência do Tribunal Superior do
Trabalho.
III – Em face do disposto no art. 512 do CPC75, é juridicamente impossível o
pedido explícito de desconstituição de sentença quando substituída por
acórdão de Tribunal Regional ou superveniente sentença homologatória de
acordo que puser fim ao litígio.
IV – É manifesta a impossibilidade jurídica do pedido de rescisão de julgado
proferido em agravo de instrumento que, limitando-se a aferir o eventual
desacerto do juízo negativo de admissibilidade do recurso de revista, não
substitui o acórdão regional, na forma do art. 512 do CPC76.
V – A decisão proferida pela SBDI, em sede de agravo regimental, calcada na
Súmula nº 333, substitui acórdão de Turma do TST, porque emite juízo de
mérito, comportando, em tese, o corte rescisório.
I – Se não houver o conhecimento de recurso de revista ou de embargos, a
competência para julgar ação que vise a rescindir a decisão de mérito é do
Tribunal Regional do Trabalho, ressalvado o disposto no item II.
256. NCPC, art. 1.008.
A ação rescisória é uma ação especial destinada a atacar a decisão judicial que
enseja, como regra, a coisa julgada material. Diante de sua natureza especial, o legislador
estabeleceu que terá competência para julgá-la sempre um tribunal, o que significa
que jamais a ação rescisória será ajuizada na Vara do Trabalho. Trata-se de
competência funcional e, portanto, de natureza absoluta.
A definição de qual tribunal irá processar e julgar a ação rescisória é alcançada,
em regra, pela decisão de mérito que se busca desconstituir. Noutras palavras, é a
decisão de mérito proferida no processo originário que vai, como regra, delimitar
a competência da ação rescisória.
Nesse contexto, define-se a competência dos Tribunais Regionais para o
julgamento da ação rescisória da seguinte forma:
a) competência para rescindir seus próprios julgamentos;
b) competência para rescindir as decisões de mérito proferidas pelas Varas
do Trabalho a ele vinculadas.
Nos Tribunais Superiores a diretriz fica limitada ao primeiro item, isto é, o
Tribunal Superior do Trabalho tem competência para rescindir seus próprios
julgamentos. Tratando-se de dissídios individuais, a competência no TST ficará a cargo
da Seção de Dissídios Individuais, seja para as decisões das Turmas, seja para as
decisões da própria SDI (art. 3º, I, a, da Lei nº 7.701/88). Nesse caso, a competência será
da SDI-II do TST, nos termos do art. 71, III, a, 1, do Regimento Interno do TST. Por outro
lado, sendo dissídio coletivo a competência será da SDC (art. 2º, I, c, da Lei nº 7.701/88).
Nesse momento, cabe fazer duas observações quanto à competência do TST
para o julgamento da ação rescisória:
1) tem competência para rescindir suas próprias decisões, quando
decorrentes dos processos de sua competência originária (ex., ação
rescisória de mandado de segurança de competência originária do TST ou ação
rescisória de sentença normativa de competência originária do TST);
2) tem competência para rescindir seus próprios julgamentos, quando
derivados de sua competência recursal (ex., julgamento do recurso de
revista e embargos para a SDI).
Em todos os casos, o que se deve buscar, em regra, para delimitar a
competência para a ação rescisória é a decisão de mérito, pois é esta que está sujeita
à rescindibilidade.
O item I da súmula em comento determina, portanto, que o TST somente terá
competência para a ação rescisória derivada de julgamento do recurso de revista e dos
embargos quando proferir decisão de mérito, o que não ocorrerá se não conhecer de tais
recursos.
Noutras palavras, é cediço que, interposto o recurso, ele passa, inicialmente,
pelo juízo de admissibilidade, oportunidade em que o Tribunal irá analisar a presença
dos pressupostos recursais. Ausentes tais pressupostos, o recurso não será conhecido
(admitido), não proferindo, dessa forma, decisão de mérito. Nessa hipótese, a última
decisão de mérito é a decisão impugnada no recurso (por exemplo, acórdão do TRT que
257. NCPC, art. 1.008.
foi impugnado no recurso de revista). Por outro lado, estando presentes os pressupostos
recursais, o recurso será conhecido, passando-se à análise do mérito do recurso (juízo
de mérito), o qual será provido ou não. Nesse último caso, temos decisão de mérito, que
poderá ser rescindida.
Assim, não sendo conhecido o recurso de revista por ausência de pressupostos
recursais (ex., tempestividade, depósito recursal etc.), não há decisão de mérito no TST,
razão pela qual a ação rescisória deve, como regra, atacar a última decisão de mérito,
qual seja, o acórdão regional, devendo, por isso, ser ajuizada no TRT, observada a
ressalva feita no item II dessa.
Cabe ainda registrar que, quanto aos embargos para a SDI, há de se
diferenciar a natureza da decisão impugnada.
Isso porque os embargos para a SDI são cabíveis “das decisões das Turmas que
divergirem entre si ou das decisões proferidas pela Seção de Dissídios Individuais, ou
contrárias a súmula ou orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho ou
súmula vinculante do Supremo Tribunal Federal” (CLT, art. 894, II, do TST). Assim, em
regra, os embargos para a SDI são interpostos de decisão de mérito proferida pela
Turma do TST. No entanto, por força da Súmula nº 353 do TST, são admitidos os
embargos das decisões das Turmas proferidas em agravo quando divergirem a respeito
da presença dos pressupostos extrínsecos, ou seja, neste caso são admitidos os
embargos das decisões prolatadas no juízo de admissibilidade do recurso, que não são
dotadas de mérito.
Com efeito, deve-se interpretar a presente súmula, quanto aos embargos, da
seguinte forma: a) havendo embargos para a SDI de decisão de mérito da Turma, o não
conhecimento dos embargos, torna rescindível a última decisão de mérito: a decisão da
Turma do TST, o que atrai a competência do TST para o julgamento da ação rescisória; b)
havendo embargos para SDI de decisão da Turma que não conheceu do recurso de revista
(decisão ausente de mérito), o não conhecimento dos embargos torna rescindível o
acórdão regional, pois é a última decisão de mérito, sendo competente o TRT.
Portanto, atacando-se a decisão de mérito, mantido está o posicionamento do
C. TST.
No entanto, o Novo CPC possibilita a ataque de decisão sem mérito na ação
rescisória, o que significa que, nesse aspecto, a súmula em comentário não será aplicada.
Melhor explicando.
A sistemática idealizada pelo CPC de 1973 sempre foi de que apenas a decisão
de mérito era suscetível de corte rescisório.
Conquanto essa regra tenha sido mantida, o Novo CPC passou a permitir o
ajuizamento da ação rescisória de decisão que, embora não seja de mérito, impeça: I – nova propositura da demanda; ou II – admissibilidade do recurso correspondente (art. 966, § 2º).
Em outros termos, a regra continua sendo o ataque à decisão de mérito, mas,
com o advento do Novo CPC, será possível indicar decisão destituída de mérito na ação
rescisória, nos termos do art. 966, § 2º.
Agora indaga-se: qual será o juízo competente para desconstituir tais decisões
que não são dotadas de mérito?
Na hipótese do inciso I, deve-se atacar a última decisão que impediu a
propositura da nova ação. Assim, se a última decisão é da Vara do Trabalho ou do
Tribunal Regional do Trabalho, a competência será do TRT. Por outro lado, sendo a
última decisão do Tribunal Superior do Trabalho, a competência será do TST.
Exemplificamos: João ajuíza reclamação trabalhista em face da empresa Zeca postulando horas extras e reintegração, realizando acordo judicial. Em seguida, resolve ajuizar nova reclamação, pleiteando indenização por danos morais. A nova reclamação é extinta sem resolução do mérito, na Vara do Trabalho, sob o fundamento de que o acordo judicial da plena quitação ao contrato, de modo que a segunda ação viola a coisa julgada (NCPC, art. 485, V). O empregado interpõe recurso ordinário, que é conhecido e não provido, mantendo-se a decisão de origem. Transitada em julgada a decisão do TRT, embora não seja de mérito, ela impede que o empregado possa discutir o pleito de indenização em outra ação, permitindo, assim, o ajuizamento da ação rescisória que, no caso, é de competência do TRT.
Já na hipótese do inciso II, ou seja, decisão de inadmissibilidade do recurso, a
análise da competência é um pouco mais complexa, passando inicialmente pela
verificação da manutenção do juízo a quo de admissibilidade no processo do trabalho.
É que no processo civil, o NCPC extinguiu o duplo juízo de admissibilidade para
os recursos de natureza ordinária. Desse modo, na apelação, o juízo de admissibilidade
será realizado apenas pelo tribunal competente e não mais pelo juízo de origem (a quo),
conforme se observa do art. 1.010, §3º258. Assim, conforme estabelece o enunciado nº 99
do Fórum Permanente de Processualistas Civis, “o órgão a quo não fará juízo de
admissibilidade da apelação”. Nesse mesmo sentido, o art. 1.028, §3º do NCPC dispõe
que o recurso ordinário é remetido ao STF ou STJ independentemente de juízo de
admissibilidade.
Contudo, no processo do trabalho, o advento do Novo CPC não produzirá
impactos acerca do duplo juízo de admissibilidade, ante a existência de normas
expressas na legislação trabalhista sobre o tema, conforme se verifica a seguir:
– recurso ordinário: o art. 659, VI, da CLT impõe ao juiz da vara do
trabalho “despachar os recursos interpostos pelas partes, fundamentando a decisão
recorrida antes da remessa ao Tribunal Regional (...)”259.
– recurso de revista: assim como ocorre com os recursos de natureza
extraordinária no Novo CPC (art. 1.030), o art. 896, §1º da CLT contempla,
expressamente, que o juízo de admissibilidade no recurso de revista será realizado,
inicialmente, pelo Presidente do Tribunal Regional do Trabalho.
– agravo de petição: o art. 897, § 2º, da CLT admite a interposição de
agravo de instrumento na hipótese de não processamento do agravo de petição,
sugerindo, portanto, o duplo juízo de admissibilidade.
258. Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau, conterá: (...) § 1º
O apelado será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias. § 2º Se o apelado
interpuser apelação adesiva, o juiz intimará o apelante para apresentar contrarrazões. § 3º Após as
formalidades previstas nos §§ 1º e 2º, os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente de
juízo de admissibilidade.
259 Por respeito ao leitor, registramos que alteramos o entendimento descrito na 6ª edição quando
indicamos que não haveria duplo juízo de admissibilidade no recurso ordinário. Melhor refletindo sobre a
matéria e por força do art. 659, VI, da CLT, passamos a entender que se mantém o duplo juízo de
admissibilidade no recurso ordinário.
– recurso ordinário em processo de competência originária do TRT: a Lei
7.701/88, nos arts. 2º, II, f e 3º, III, f, ao admitir o julgamento do agravo de instrumento
também sugere o duplo juízo de admissibilidade.
– embargos de divergência: o art. 3º, III, c, expressamente admite a
denegação dos embargos pelo presidente da Turma do TST.
Em resumo, haverá duplo juízo de admissibilidade nos recursos trabalhistas
(juízo a quo e juízo ad quem), não produzindo nenhum efeito o art. 1.010, § 3º, do NCPC.
Nesse sentido, estabeleceu o C. TST no art. 2º, XI, da Instrução Normativa nº 39/2016, in
verbis: Art. 2° Sem prejuízo de outros, não se aplicam ao Processo do Trabalho, em razão de inexistência de omissão ou por incompatibilidade, os seguintes preceitos do Código de Processo Civil: (...) XI - art. 1010, § 3º (desnecessidade de o juízo a quo exercer controle de admissibilidade na apelação)
Isso nos leva à conclusão de que o juízo de admissibilidade negativo nos
recursos trabalhistas continuará existindo, tanto do juízo a quo, como do juízo ad quem.
Agora voltamos ao problema central: de quem será a competência da ação rescisória
nesse caso?
A resposta poderia ser simplificada, definindo a competência pelo juízo que
proferiu a inadmissibilidade do recurso. No entanto, antes de responder esse
questionamento, temos que definir como será o julgamento da ação rescisória nessa
nova modalidade.
É sabido que a ação rescisória possui dois momentos bem distintos: o juízo
rescindendo (rescindente) e o juízo rescisório. No primeiro, busca-se a desconstituição
da decisão de mérito transitada em julgado, enquanto no segundo haverá novo
julgamento sobre a matéria objeto de análise da sentença rescindida. Como regra,
ocorrerá tanto o juízo rescindendo como o rescisório, mas em algumas hipóteses haverá
apenas o juízo rescindendo.
Dessa forma, na ação rescisória que busca atacar o juízo de admissibilidade
teremos, cumulativamente, o juízo rescindente e o juízo rescisório?
Em sendo positiva a resposta, chegaremos à conclusão de que o juízo a quo não
pode ser competente para a ação rescisória, vez que no juízo rescisório estaria
usurpando competência do órgão jurisdicional superior. Exemplificamos: Sendo interposto recurso de revista é denegado seu seguimento no TRT de origem (juízo a quo). Transitada em julgado a decisão, a parte resolve ajuizar ação rescisória para desconstituir a decisão proferida no juízo de admissibilidade. Nesse caso, a ação rescisória deverá ser ajuizada no TST, pois rescindindo a decisão (juízo rescindente), poderá no juízo rescisório julgar o recurso de revista indevidamente trancado. Isso significa que, se fosse admitida a competência do TRT, ele poderia, no juízo rescisório, julgar o recurso de revista, o que não é permitido.
Como se trata de inovação sem precedentes no CPC/73, pensamos que a
melhor opção será responder de forma negativa o questionamento anterior, limitando a
ação rescisória ao juízo rescindente.
Em outros termos, a nosso juízo, atacando-se a decisão negativa de
admissibilidade, o corte rescisório terá apenas o condão de rescindir a decisão negativa
de admissibilidade, restaurando o natural andamento do processo que havia transitado
em julgado, permitindo o processamento e/ou julgamento do recurso trancado.
Pensamos dessa forma, com o objetivo de manter a competência recursal. É
que permitindo o juízo rescisório, estaríamos alterando a competência para o
julgamento do recurso trancado. No exemplo anterior, o recurso de revista deixaria de
ser julgado pelas turmas do TST (competente para esse recurso) e passaria a ser julgado
pela SDI-II (competente para a ação rescisória), o que significa que a SDI-II se
transformaria em subseção recursal para o julgamento do recurso de revista.
Com efeito, a nosso juízo, nessa ação rescisória haverá apenas juízo
rescindente.
Adotando nossa tese, a competência da ação rescisória no processo do
trabalho, torna-se simplificada: é competente para a ação rescisória o juízo que proferiu
a decisão negativa de admissibilidade do recurso.
Desse modo, se a ação rescisória busca atacar a decisão de inadmissibilidade do
recurso de revista proferida no TST ou dos embargos para a SDI, a competência para
analisá-la é do C.TST, ainda que a decisão não seja de mérito. Do mesmo modo, na
hipótese do recurso ordinário de processo de competência originária do TRT. Por outro
lado, se a inadmissibilidade foi proferida pela Vara do Trabalho (recurso ordinário ou
agravo de petição) ou pelo Tribunal Regional do Trabalho a competência será do TRT.
II – Acórdão rescindendo do Tribunal Superior do Trabalho que não conhece de
recurso de embargos ou de revista, analisando arguição de violação de dispositivo
de lei material ou decidindo em consonância com súmula de direito material ou
com iterativa, notória e atual jurisprudência de direito material da Seção de
Dissídios Individuais (Súmula nº 333), examina o mérito da causa, cabendo ação
rescisória da competência do Tribunal Superior do Trabalho.
Conforme aludido anteriormente, o exame do recurso possui dois momentos
bem distintos: o juízo de admissibilidade e o juízo de mérito. No primeiro, o tribunal irá
analisar a presença dos pressupostos recursais. Ausentes tais pressupostos, o recurso
não será conhecido (admitido), faltando assim decisão de mérito. Presentes os
pressupostos recursais, o tribunal passa ao juízo de mérito dando ou não provimento ao
recurso, proferindo dessa forma decisão de mérito.
No entanto, a doutrina e a jurisprudência não são pacíficas quanto ao objeto do
juízo de admissibilidade nos recursos de natureza extraordinária (no caso o recurso de
revista e os embargos para a SDI). Divergem, por exemplo, quanto à análise da violação à
lei ou afronta direta e literal à CF no recurso de revista, se é juízo de mérito ou juízo de
admissibilidade. Da mesma forma, divergem quanto ao “não conhecimento do recurso”,
se é uma decisão de mérito ou decorrente de juízo de admissibilidade, na hipótese da
decisão impugnada estar em consonância com súmula e OJ do TST.
A discussão não é meramente acadêmica, uma vez que produz reflexos no juízo
competente para a ação rescisória. Isso porque, sendo decisão de mérito, o TST será o
competente, enquanto entendendo ser juízo de admissibilidade a competência será do
Tribunal Regional.
O Supremo Tribunal Federal, com o intuito de sepultar a celeuma, expediu a
Súmula nº 249, a qual estabelece: É competente o Supremo Tribunal Federal para a ação rescisória, quando, embora não tendo conhecido do recurso extraordinário, ou havendo negado provimento ao agravo, tiver apreciado a questão federal controvertida.
No mesmo sentido, seguiu o C. TST no item da súmula em comentário, ao reconhecer
que é decisão de mérito aquela que indica a ausência de violação à lei ou que está em
consonância com súmula ou orientação do TST.
Entretanto, é interessante notar que a Corte Constitucional e Corte Trabalhista
produziram certa confusão entre juízo de admissibilidade e juízo de mérito do recurso.
Isso porque somente haverá decisão de mérito se o recurso for conhecido. Na hipótese, o
que diz o STF e o TST é que, embora não conhecido o recurso, haverá decisão de mérito
a ser rescindida. O correto seria explanar que o recurso foi conhecido, mas não provido.
Esclarecendo: a nosso ver, no juízo de admissibilidade, a análise deve ser feita de
forma hipotética260, ou seja, basta que o recorrente invoque, expressamente, o
dispositivo de lei ou da Constituição tido como violado para que o recurso seja cabível
(CLT, art. 896, § 1º-A, II e Súmula nº 221 do TST).
Verificada a indicação do dispositivo violado, o recurso será conhecido e passa-se
para o segundo momento que é o juízo de mérito, oportunidade em que se irá verificar
se a decisão impugnada está violando ou não o dispositivo indicado, ou seja, a efetiva
existência de violação de tais normas será analisada no mérito do recurso de revista,
momento em que o recurso será provido ou não. O mesmo raciocínio deve ser utilizado
no confronto com súmula e orientação jurisprudencial.
Cabe registrar que, em decisão de lavra do Ministro Sepúlveda Pertence, o Supremo
Tribunal Federal reconheceu o equívoco dessa interpretação, declinando: EMENTA: (...) II. Recurso extraordinário: letra a: alteração da tradicional orientação jurisprudencial do STF, segundo a qual só se conhece do RE, a, se for para dar-lhe provimento: distinção necessária entre o juízo de admissibilidade do RE, a – para o qual é suficiente que o recorrente alegue adequadamente a contrariedade pelo acórdão recorrido de dispositivos da Constituição nele prequestionados – e o juízo de mérito, que envolve a verificação da compatibilidade ou não entre a decisão recorrida e a Constituição, ainda que sob prisma diverso daquele em que se hajam baseado o Tribunal a quo e o recurso extraordinário. (...) 261
No mesmo caminho leciona Barbosa Moreira: Logicamente, se o Supremo Tribunal Federal não conhece do recurso extraordinário, isso quer dizer que o seu acórdão não substitui a decisão recorrida, a qual, portanto, transitou em julgado: à luz desse dado é que se determina aquela competência. Entretanto, se o acórdão do Supremo Tribunal Federal, dizendo “não conhecer” do recurso, aprecia a federal question e a rejeita, a situação é outra: aí, há substituição, e esse acórdão que passa em julgado (...)
E arremata o ilustre doutrinador acerca do disposto na Súmula nº 249 do STF: A conclusão é exata, mas com facilidade percebe-se o que há de contraditório na proposição: se a Corte apreciou a federal question, fica evidente que – diga o que disser – conheceu do recurso! Superado estará o problema, se o Supremo Tribunal Federal perseverar, como se espera, na orientação correta262.
Na mesma linha Fredie Didier Jr.: Esse enunciado tem um erro técnico: onde se lê ‘não tendo conhecido’ leia-se ‘não tendo provido’, tendo em vista que, se o STF examinou a questão discutida, houve exame de
260. MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2010. vol. 5, p. 589.
261. STF – RE nº 298.694. Min. Rel. Sepúlveda Pertence. DJ 23.4.2004.
262. MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao código de processo civil. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2010. v. 5, p. 634-635.
mérito, não sendo correta a menção ao não conhecimento263.
Assim, na realidade o que ocorre na hipótese da súmula em comentário é o não
provimento do recurso de revista e dos embargos, o que atrai a competência da ação
rescisória ao Tribunal Superior do Trabalho.
De qualquer modo, se o C. TST “não conhecer do recurso” ou conhecer e não lhe der
provimento, por ausência de violação de lei ou porque a decisão está em consonância
com súmula ou orientação do TST, o efeito prático será o mesmo, qual seja, a decisão
será de mérito, ensejando a ação rescisória no Tribunal Superior do Trabalho.
Antes de finalizar os comentários desse item, necessário fazer duas observações.
A primeira diz respeito aos embargos. Antigamente, admitia-se o cabimento dos
embargos de nulidade quando as decisões de Turmas do TST violassem literalmente
preceito de lei federal ou da Constituição da República. Contudo, tais embargos foram
suprimidos do ordenamento com o advento da Lei nº 11.496/2007, de modo que
atualmente somente há embargos de divergência para a SDI – I. Isso significa que não há
falar na atualidade em embargos por violação à lei, tendo incidência a presente súmula
quanto aos embargos apenas quando a decisão estiver em consonância com súmula ou
orientação do TST ou súmula vinculante do STF (CLT, art. 894, II).
A segunda está relacionada à natureza da lei ou súmula invocada no recurso. A Corte
Trabalhista entende que apenas a arguição de violação de lei material e de súmula ou
OJ de direito material são capazes de ensejar decisão sobre o mérito da causa,
submetendo-se ao corte rescisório do TST. Isso se justifica porque, em regra, a questão
processual está relacionada ao error in procedendo, provocando a anulação da decisão
impugnada, o que significa que não haverá efeito substitutivo no caso de provimento
do recurso, pois o processo retornará ao juízo a quo para que seja proferida nova
decisão264. Além disso, as questões processuais, normalmente, dizem respeito ao juízo
de admissibilidade do recurso, tais como preparo, prazo recursal etc.
No entanto, contrariando o entendimento do TST, pensamos que poderá ser atraída
a competência do TST mesmo quando invocada violação de lei processual ou súmula e
orientação de direito processual no recurso.
Primeiro, porque, é admissível que uma questão processual possa dar origem à ação
rescisória, nos termos do art. 966, § 2º, do NCPC.
Segundo, porque quando o TST não conhece, por exemplo, o recurso de revista por
ausência de violação de lei processual, na verdade está conhecendo o recurso e
denegando-lhe provimento. Nessa hipótese, há efeito substitutivo, pois o recurso foi
conhecido. Seria o caso, por exemplo, de a parte recorrente aduzir violação do art. 18 do
NCPC, invocando a ilegitimidade do autor da demanda, e o TST “não conhecer” o recurso
263. DIDIER Jr., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de direito processual civil: Meios de
impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. 8. ed. Bahia: JusPODIVM, 2010. v. 3, p. 374-375.
264. Exceto na hipótese do art. 515, §3º, do CPC, em que o próprio tribunal julgará a causa. No sentido
do texto: DIDIER Jr., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de direito processual civil: Meios de
impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. 8. ed. Bahia: JusPODIVM, 2010. v. 3, 373 e BEBBER,
Júlio César. Recursos no processo do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 198. Em sentido contrário,
entendendo que há efeito substitutivo: NERY Jr., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de processo
civil comentado e legislação extravagante. 11. ed. São Paulo: RT, 2010. p. 851.
por ausência de violação da lei processual, admitindo a legitimidade da parte. Aqui, há
efeito substitutivo, o que significa que, havendo ação rescisória para questionar a
ilegitimidade, o TST será o órgão competente para julgá-la.
Assim, mesmo na hipótese de violação de lei processual ou súmula e OJ de direito
processual, se houver o efeito substitutivo da decisão, o acórdão que será rescindível é o
do C. TST, atraindo, portanto, sua competência.
III – Em face do disposto no art. 512 do CPC, é juridicamente impossível o pedido
explícito de desconstituição de sentença quando substituída por acórdão de
Tribunal Regional ou superveniente sentença homologatória de acordo que puser
fim ao litígio.
O art. 1.008 do NCPC, reproduzindo o mesmo entendimento do art. 512 do
CPC/73265, estabelece: Art. 1.008. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a decisão impugnada no que tiver sido objeto de recurso.
Trata-se do chamado efeito substitutivo do recurso, o qual ocorrerá quando o
recurso for conhecido e, no mérito: a) não for provido; ou b) for provido para reformar
a decisão. Na hipótese de provimento do recurso para anular a decisão impugnada
(error in procedendo), há efeito rescindente e não efeito substitutivo266.
O efeito substitutivo, portanto, pressupõe decisão meritória, ou seja,
pronunciamento de mérito do recurso. Ocorrendo tal efeito, a última decisão substituirá
a decisão originária. Assim, por exemplo, o acórdão regional substituirá a sentença
quanto aos objetos impugnados no recurso.
Diante de tal substituição, a decisão a ser rescindível é a última decisão de mérito, no
exemplo anterior, o acórdão regional.
O mesmo se diz quando há homologação posterior de acordo. Nessa hipótese, o
acordo substitui a decisão judicial (seja sentença ou acórdão), de modo que, antes do
NCPC, deveria ser ajuizada ação rescisória para atacar o acordo e não a decisão
judicial267.
É isso que disciplina o presente item da súmula em comentário, entendendo o C. TST
que, existindo ação rescisória para impugnar decisão que já foi substituída, haverá
impossibilidade jurídica do pedido, ensejando a extinção da ação rescisória sem
resolução do mérito, por força do antigo art. 267, VI, do CPC/73.
O TST já vinha atenuando o rigor dessa súmula como forma de preservar o acesso à
justiça, admitindo que em uma única ação rescisória contenha “mais de um pedido, em
ordem sucessiva, de rescisão da sentença e do acórdão” (OJ nº 78 da SDI – II do TST). O
que fez o TST nessa orientação foi afastar a impossibilidade jurídica do pedido
anunciada no item da súmula em comentário, permitindo o pedido subsidiário.
Contudo, acreditamos que o referido item sumular deverá ser cancelado, pois se
encontra dissonante do ordenamento jurídico atual, em especial com a disciplina trazida
265. Art. 512. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a sentença ou a decisão recorrida no que
tiver sido objeto de recurso. 266. DIDIER Jr., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de direito processual civil: Meios de
impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. 8. ed. Bahia: JusPODIVM, 2010. v. 3, p. 373. 267. Vide comentários da Súmula 259 do TST.
pelo NCPC.
Isso porque o Novo Código de Processo Civil não contempla a possibilidade jurídica
do pedido como condição da ação. Noutras palavras, o art. 485, VI, do NCPC não
reproduz a impossibilidade jurídica do pedido como causa da extinção do processo sem
resolução do mérito, apenas se referindo à legitimidade e ao interesse de agir.
Tal opção teve como objetivo disseminar intensa discussão doutrinária acerca da
existência ou não dessa condição da ação. É que, mesmo Liebman, criador dessas três
condições, a partir de 1970 deixou de incluir a possibilidade jurídica do pedido,
deslocando o exemplo que incluía naquela categoria (divórcio) para o interesse de agir.
Portanto, com o advento do Novo CPC não há que se falar em impossibilidade
jurídica do pedido.
Ademais, mesmo antes do NCPC, parcela da doutrina já criticava o entendimento do
TST, declinando que o que haveria na hipótese seria a falta de interesse de agir, porque,
efetivamente, não existe interesse em rescindir o que não está mais no mundo
jurídico.268
Para parte da doutrina, porém, a questão não se resolvia simplesmente pela ausência
de interesse de agir, como se depreende das lições de Cândido Rangel Dinamarco:
Insisto ainda nessa distinção: a) se proponho perante o tribunal local uma
ação rescisória tendo por objeto um acórdão do Supremo Tribunal
Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, a questão se resolve em
termos puros de competência, porque um órgão judiciário não é
competente para rescindir acórdão de outro (e muito menos de um
Superior); b) mas quem pede ao tribunal do Estado a rescisão de acórdão
dele próprio não incorre em incompetência, ainda que esse acórdão
houver sido substituído por um do Supremo Tribunal Federal ou do
Superior Tribunal de Justiça: o que falta é a condição de ação definida
como interesse de agir dada a inutilidade da pretendida decisão269.
Em síntese, essa tese doutrinária pregava as seguintes conclusões: 1) rescisória no
TRT pedindo a rescisão de decisão do TST era caso de incompetência, devendo o
tribunal encaminhar os autos ao TST. O mesmo ocorre quando a rescisória for ajuizada
no TST para rescindir acórdão do TRT, devendo os autos ser encaminhados ao TRT; 2)
rescisória no TRT postulando rescisão de acórdão regional que foi substituído pelo
acórdão do TST era caso de ausência de interesse de agir.
Existia ainda outro segmento doutrinário admitindo que o caso sempre se resolveria
pela incompetência270, exigindo o encaminhamento dos autos ao juízo competente, como
forma de privilegiar o acesso à justiça, bem como os princípios da celeridade,
instrumentalidade de forma e simplicidade. Interessante notar que o Supremo Tribunal
268. TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Curso de direito processual do trabalho. São Paulo: LTr, 2009. v.
3, p. 2791.
269. DINAMARCO, Cândido Rangel apud DIDIER Jr., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de
direito processual civil: Meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. 8. ed. Bahia:
JusPODIVM, 2010. v. 3, p. 375.
270. Por todos, KLIPPEL, Rodrigo; BASTOS, Antonio Adonias. Manual de processo civil. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2011. p. 936.
Federal já havia adotou tal posicionamento, reconhecendo como excesso de formalismo
a extinção do processo sem resolução do mérito quando a rescisória fosse direcionada à
desconstituição da sentença que já havia sido substituída pelo acórdão, pois o Tribunal
Regional é competente para rescindir tanto a sentença como seu próprio acórdão.
Vejamos a ementa do acórdão da Suprema Corte: EMENTA: Recurso extraordinário. Agravo regimental. 2. Ação rescisória. Extinção do feito, sem julgamento do mérito, por impossibilidade jurídica do pedido. 3. Entendimento no sentido de que o autor pretendia rescindir a sentença, em vez de buscar a desconstituição do acórdão que a substituiu. 3. Formalismo excessivo que afeta a prestação jurisdicional efetiva. Erro no pedido que não gera nulidade, nem causa para o não provimento. 4. Força normativa da Constituição. Jurisprudência do STF quanto à matéria que constitui objeto da ação rescisória. 5. Recurso extraordinário provido. Remessa ao TRT da 4ª Região, a fim de que aprecie a ação rescisória, como entender de direito.271
O NCPC seguiu esse último entendimento ao estabelecer, em seu artigo 968, §5º, II,
que: § 5º Reconhecida a incompetência do tribunal para julgar a ação rescisória, o autor será intimado para emendar a petição inicial, a fim de adequar o objeto da ação rescisória, quando a decisão apontada como rescindenda: (...) II – tiver sido substituída por decisão posterior.
Portanto, observa-se por tal dispositivo que, se o autor da ação rescisória postular a
rescisão de acórdão que já foi substituído, será caso de incompetência, permitindo-se
inclusive a emenda da petição inicial.
Desse modo, a ratio decidendi (fundamento determinante) do item III da súmula nº
192 do TST foi totalmente alterada pela sistemática do NCPC exigindo-se seu
cancelamento, pois, a partir de agora, os autos deverão ser encaminhados ao juízo
competente, não podendo ser extinto sem resolução do mérito como preconiza o E. TST.
IV – É manifesta a impossibilidade jurídica do pedido de rescisão de julgado
proferido em agravo de instrumento que, limitando-se a aferir o eventual
desacerto do juízo negativo de admissibilidade do recurso de revista, não
substitui o acórdão regional, na forma do art. 512 do CPC272.
Inicialmente, cumpre consignar que o NCPC extinguiu o duplo juízo de
admissibilidade para os recursos de natureza ordinária. Desse modo, na apelação, o
juízo de admissibilidade será realizado apenas pelo tribunal competente e não mais pelo
juízo de origem (a quo), conforme se observa do art. 1.010, §3º273. Assim, conforme
estabelece o enunciado nº 99 do Fórum Permanente de Processualistas Civis, “o órgão a
quo não fará juízo de admissibilidade da apelação”. Nesse mesmo sentido, o art. 1.028,
§3º do NCPC dispõe que o recurso ordinário é remetido ao STF ou STJ
independentemente de juízo de admissibilidade.
Contudo, no processo do trabalho, o advento do Novo CPC não produzirá impactos
acerca do duplo juízo de admissibilidade, ante a existência de normas expressas na
271. STF – RE-Agr 395.662/RS. 2ª Turma. Rel. Min. Gilmar Mendes. DJ 23.4.2004.
272. NCPC, art. 1.008. 273. Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau, conterá: (...) § 1º
O apelado será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias. § 2º Se o apelado
interpuser apelação adesiva, o juiz intimará o apelante para apresentar contrarrazões. § 3º Após as
formalidades previstas nos §§ 1º e 2º, os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente de
juízo de admissibilidade.
legislação trabalhista sobre o tema, conforme se verifica pelo teor do art. 2º, XI, da
Instrução Normativa nº 39/2016, in verbis: Art. 2° Sem prejuízo de outros, não se aplicam ao Processo do Trabalho, em razão de inexistência de omissão ou por incompatibilidade, os seguintes preceitos do Código de Processo Civil: (...) XI - art. 1010, § 3º(desnecessidade de o juízo a quo exercer controle de admissibilidade na apelação)
Desse modo, está mantido o juízo a quo no recurso de revista, tal como previsto
nesse item sumular. Com efeito, interposto o recurso de revista do acórdão regional, é
sabido que ele será submetido a dois juízos de admissibilidade: o juízo de
admissibilidade a quo e o juízo de admissibilidade ad quem.
O juízo de admissibilidade a quo é realizado pelo juízo de origem, ou seja, aquele que
teve sua decisão impugnada. Nesse primeiro momento, o magistrado, ao verificar a
ausência dos pressupostos recursais, profere juízo de admissibilidade negativo, razão
pela qual denega processamento ao recurso, trancando assim a via recursal. Nessa
hipótese, admite-se o recurso de agravo de instrumento, que no processo do trabalho
tem a finalidade específica de atacar a decisão do juízo a quo que denega seguimento ao
recurso (CLT, art. 897, b).
Verifica-se que o agravo de instrumento busca impugnar a decisão do juízo de
admissibilidade a quo, e não o próprio acórdão regional. Desse modo, por estar
direcionado ao juízo de admissibilidade, evidentemente, não produzirá decisão de
mérito, vez que nesse juízo apenas são analisados os pressupostos recursais. Tanto é
assim que, sendo conhecido e provido o agravo de instrumento, ele somente terá o
condão de dar seguimento ao recurso denegado.
Portanto, o que elucida a Corte Trabalhista nesta súmula é que, havendo agravo de
instrumento para destrancar o recurso de revista, a decisão do agravo não substitui o
acórdão regional proferido no recurso ordinário, mas a decisão de inadmissão do
recurso, sendo incabível, assim, a ação rescisória. Exemplo: Acórdão do TRT mantém a condenação da empresa para reintegrar o empregado dirigente sindical. Interposto o recurso de revista, por violação ao art. 543 da CLT, o presidente do TRT denega seguimento ao recurso, porque é intempestivo. A parte interpõe, dessa decisão, agravo de instrumento para discutir a intempestividade. O TST conhece e dá provimento ao agravo por entender que o recurso é tempestivo. No entanto, não conhece do recurso de revista, porque ausência de preparo. A decisão do TST, no agravo de instrumento, tem o condão de analisar apenas a tempestividade (pressuposto recursal), o que significa que não irá substituir o acórdão regional. Ela irá substituir apenas a decisão (ausente de mérito) do presidente do TRT que entendeu ser intempestivo o recurso. Na hipótese, a rescisória deverá atacar o acórdão regional, porque é a última decisão de mérito (reintegração), sendo competente o TRT.
Registra-se que o C. TST entende ser a hipótese em apreço impossibilidade jurídica
do pedido.
Todavia, pensamos que o Novo CPC impõe o cancelamento deste item sumular.
Primeiro, porque, conforme já salientamos no item anterior, o NCPC excluiu a
possibilidade jurídica do pedido da categoria das condições da ação, não podendo, pois,
mencionar tal categoria.
Segundo, porque o art. 966, §2º, II do NCPC admite expressamente a ação rescisória
contra decisão que impeça a admissibilidade do recurso correspondente, como se
verifica in verbis: Art. 966, § 2º. Nas hipóteses previstas nos incisos do caput, será rescindível a decisão transitada em julgado que, embora não seja de mérito, impeça:
(...) II – admissibilidade do recurso correspondente.
Pelo referido dispositivo, percebe-se que a decisão de inadmissibilidade do recurso
passa a ser suscetível de ação rescisória. Nas palavras do doutrinador Marinoni esse
dispositivo: Basicamente, serve para mostrar que determinadas decisões, posto que não enfrentem o mérito da causa, impedem definitivamente a discussão de determinada questão.274
Com efeito, a decisão de admissibilidade que, por exemplo, entende que o recurso é
intempestivo é suscetível de corte rescisório, com base no Novo CPC.
Contudo, é importante observar duas hipóteses distintas que levam a procedimentos
diferentes.
Primeira: se a ação rescisória busca atacar a decisão de admissibilidade porque o
vício está nela contido, por exemplo, a decisão que declara a intempestividade viola
norma jurídica, é possível a rescisão, com fundamento no art. 966, § 2º, II, do NCPC.
Segunda: se a ação rescisória pretende enfrentar o acórdão regional, mas,
equivocadamente, indica a decisão de admissibilidade como rescindível, prevalece o
entendimento que esta última decisão não substitui o acórdão regional. No entanto,
também nesse caso, a rescisória não será extinta sem resolução de mérito. É que nessa
hipótese incide o art. 968, §5º, I, do NCPC que estabelece: § 5º Reconhecida a incompetência do tribunal para julgar a ação rescisória, o autor será intimado para emendar a petição inicial, a fim de adequar o objeto da ação rescisória, quando a decisão apontada como rescindenda: I – não tiver apreciado o mérito e não se enquadrar na situação prevista no § 2º do art. 966; (...)
Noutras palavras, é necessária a abertura de prazo para que o autor da ação
rescisória adeque o objeto da rescisória, direcionando-a ao acórdão regional. O que se
procura, portanto, com o Novo CPC é exaltar a primazia da decisão de mérito na ação
rescisória, estando em consonância com o art. 4º do NCPC.
V – A decisão proferida pela SBDI, em sede de agravo regimental, calcada na
Súmula nº 333, substitui acórdão de Turma do TST, porque emite juízo de mérito,
comportando, em tese, o corte rescisório.
O objeto do item em comentário se identifica com o item II dessa súmula,
diferenciando-se apenas quanto à decisão rescindível.
A hipótese em apreço versa sobre a interposição de embargos para a SDI, o qual não
é conhecido, monocraticamente, pelo relator. Dessa decisão, a parte apresenta agravo
regimental ao colegiado da SDI, que “não o conhece” 275 por estar a decisão em
consonância com orientação do TST276 (CLT, art. 894, II).
Nesse caso, embora o C. TST explicite nos julgamentos que não conhece do agravo
regimental, o que faz na realidade é não dar provimento a tal recurso, adentrando,
portanto, no mérito. Assim, sendo a última decisão de mérito, ela é que deve ser atacada
na ação rescisória.
274. MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz, MITIDIERO, Daniel. Novo curso de processo
civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum, volume II. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2015, p. 592. 275. Na realidade, não é provido.
276. Vide comentários da Súmula nº 333 do TST.
Há de se consignar que o agravo regimental tem como objetivo impugnar decisão
monocrática do relator. Nesse contexto, não parece adequado a afirmação
indiscriminada de que a decisão do agravo regimental irá substituir a decisão da Turma
do TST. Isso porque somente haverá tal substituição se a decisão monocrática dos
embargos não tiver adentrado no mérito. Por outro lado, se houver decisão meritória
pelo relator dos embargos, é ela que substitui a decisão da Turma do TST, enquanto a
decisão do agravo regimental irá substituir a decisão do relator. Exemplificamos: Interpostos os embargos para a SDI, o relator, monocraticamente, não o conhece porque é intempestivo. Apresentado o agravo regimental, o colegiado entende que o recurso é tempestivo, mas que não merece ser “conhecido”, porque a decisão da Turma está em consonância com OJ do TST. Nesse caso, a decisão do agravo substitui a decisão da Turma. Agora, se o relator “não conhece” dos embargos porque a decisão da Turma do TST está em consonância com OJ do TST, sendo interposto o agravo, a decisão do colegiado da SDI irá substituir a decisão do relator, que já havia substituído a decisão da Turma do TST.
Pelo exemplo anterior, é possível verificar ainda que o agravo regimental, como meio
capaz de levar ao colegiado a decisão do relator, pode decorrer de decisão de mérito ou
de juízo de admissibilidade. Nesse último caso, não há decisão meritória, pois o relator
dos embargos na SDI irá denegá-los, monocraticamente, porque não preenchem os
pressupostos recursais. Nessa hipótese, se o agravo regimental interposto não
ultrapassar o juízo de admissibilidade não decidirá o mérito da causa, de modo que essa
decisão não poderá ser atacada na ação rescisória.
Dessa forma, apenas a decisão do agravo regimental, que lhe dá ou não provimento
(decisão de mérito) ou quando equivocadamente o TST não conhece do agravo por estar
em consonância com OJ ou súmula, terá efeito substitutivo, sendo atacável por ação
rescisória.
p. 1582: A redação da OJ nº 12 da SDI-II do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016
Orientação Jurisprudencial nº 12 da SDI-II do TST. Ação rescisória. Decadência. Consumação antes ou depois da edição da medida provisória nº 1.577/97. Ampliação do prazo. I - A vigência da Medida Provisória nº 1.577/97 e de suas reedições implicou o elastecimento do prazo decadencial para o ajuizamento da ação rescisória a favor dos entes de direito público, autarquias e fundações públicas. Se o biênio decadencial do art. 495 do CPC de 1973 findou após a entrada em vigor da referida medida provisória e até sua suspensão pelo STF em sede liminar de ação direta de inconstitucionalidade (ADIn 1753-2), tem-se como aplicável o prazo decadencial elastecido à rescisória. II - A regra ampliativa do prazo decadencial para a propositura de ação rescisória em favor de pessoa jurídica de direito público não se aplica se, ao tempo em que sobreveio a Medida Provisória nº 1.577/97, já se exaurira o biênio do art. 495 do CPC de 1973. Preservação do direito adquirido da parte à decadência já consumada sob a égide da lei velha.
p. 1590-1592: Os comentários à OJ nº 84 da SDI-II do TST foram alterados
Orientação Jurisprudencial nº 84 da SDI – II do TST. Ação rescisória.
Petição inicial. Ausência da decisão rescindenda e/ou da certidão de seu
trânsito em julgado devidamente autenticadas. Peças essenciais para a
constituição válida e regular do feito. Arguição de ofício. Extinção do processo
sem julgamento do mérito.
A decisão rescindenda e/ou a certidão do seu trânsito em julgado,
devidamente autenticadas, à exceção de cópias reprográficas apresentadas
por pessoa jurídica de direito público, a teor do art. 24 da Lei nº 10.522/02,
são peças essenciais para o julgamento da ação rescisória. Em fase recursal,
verificada a ausência de qualquer delas, cumpre ao Relator do recurso
ordinário arguir, de ofício, a extinção do processo, sem julgamento do mérito,
por falta de pressuposto de constituição e desenvolvimento válido do feito.
Com o trânsito em julgado da decisão, nasce o interesse processual para o
ajuizamento da ação rescisória. Diante disso, incumbe à parte demonstrar sua
ocorrência no momento da interposição da ação rescisória, tratando-se, pois, de
documento indispensável, como estabelece a Súmula nº 299 do TST.
Percebe-se, pelo declinado anteriormente, que o trânsito em julgado é condição
da ação (interesse processual), enquanto sua comprovação na ação rescisória é
pressuposto processual.
Na presente orientação, o C. TST buscou sedimentar alguns pontos: a) quais os
documentos indispensáveis para o ajuizamento da ação rescisória; b) a necessidade de
autenticação de tais documentos; c) juntada dos documentos indispensáveis na fase
recursal da ação rescisória.
Quanto aos documentos indispensáveis, o TST exige a apresentação da decisão
rescindenda. Isso se justifica porque, sendo atacada tal decisão na ação rescisória, por
óbvio, ela deve ser juntada aos autos, a fim de delimitar os contornos da ação.
Exige ainda a Corte Trabalhista que a parte apresente certidão do trânsito em
julgado, com a finalidade de comprovar a efetiva ocorrência do trânsito em julgado.
Pensamos, no entanto, que sua comprovação pode ser feita por outros meios idôneos a
demonstrar que já se formou a coisa julgada (ex., certidão de publicação da decisão que
negou seguimento ao recurso de revista e do vencimento do prazo para a interposição do
agravo de instrumento; certidão que demonstra que após a decisão do recurso de revista
não houve interposição de nenhum outro recurso etc.) 277. A propósito, a ampliação das
formas de comprovação do trânsito em julgado se justifica, uma vez que até mesmo “o
juízo rescindente não está adstrito à certidão de trânsito em julgado juntada com a ação
rescisória, podendo formar sua convicção através de outros elementos dos autos quanto à
antecipação ou postergação do dies a quo do prazo decadencial” (Súmula nº 100, item IV).
No que se refere à autenticação dos documentos, a Medida Provisória nº
1.360/96, convertida no art. 24 da Lei 10.522/02, passou a permitir que as pessoas
277. No mesmo sentido: KLIPPEL, Rodrigo; BASTOS, Antonio Adonias. Manual de processo civil. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2011. p. 946.
jurídicas de direito público fossem dispensadas da exigência de autenticar os
documentos fotocopiados exibidos em juízo, ante a fé pública inerente a esses órgãos.
Diante disso, o C. TST entendeu que tais pessoas estavam dispensadas da autenticação,
como se depreende da OJ nº 134 da SDI – I do TST.
Registra-se, entretanto, que o art. 830 da CLT, com a nova redação dada pela
Lei nº 11.925/2009, permite que a cópia apresentada possa ser declarada autêntica pelo
próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal.
Podemos concluir, portanto, que as pessoas jurídicas de direito público estão
dispensadas da autenticação, enquanto as pessoas físicas e as jurídicas de direito
privado podem ter seus documentos autenticados pelo próprio advogado sob sua
responsabilidade.
Por fim, declina o TST nessa orientação que, havendo recurso da decisão da
ação rescisória, o relator extinguirá o processo sem resolução do mérito, caso ainda
não tenham sido apresentados os documentos indispensáveis.
Nesse ponto cabe consignar que, para o C. TST, a ausência de juntada da
decisão rescindenda e/ou da comprovação do trânsito em julgado no momento do
ajuizamento da ação rescisória permite a emenda da inicial, no prazo de 10 dias, como
consubstanciado na Súmula nº 299, item II. Por outro lado, na fase recursal da ação
rescisória, o TST não admite a juntada de documentos indispensáveis, impondo, de
ofício, a extinção do processo sem resolução do mérito, ante a falta de pressuposto
processual.
Todavia, acreditamos que a parte final da presente orientação (extinção de
ofício na fase recursal) deverá ser adequada ao entendimento consubstanciado no Novo
CPC.
Isso porque o Novo CPC passou a exigir a concessão de prazo para suprimento
de vícios na fase recursal, como se verifica pelos dispositivos a seguir elencados: Art. 932. Incumbe ao relator: (...) Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível. Art. 938. § 1º Constatada a ocorrência de vício sanável, inclusive aquele que possa ser conhecido de ofício, o relator determinará a realização ou a renovação do ato processual, no próprio tribunal ou em primeiro grau de jurisdição, intimadas as partes. (...) § 4º Quando não determinadas pelo relator, as providências indicadas nos §§ 1º e 3º poderão ser determinadas pelo órgão competente para julgamento do recurso.
É possível concluir pelos referidos dispositivos que o Novo Código de Processo
Civil permite que o tribunal aprecie determinadas questões de ofício, mas, para que ele
possa levá-las em consideração, deverá conceder às partes a oportunidade de
manifestação278. De forma expressa, o art. 317 do NCPC declina que “antes de proferir
decisão sem resolução de mérito, o juiz deverá conceder à parte oportunidade para, se
possível, corrigir o vício”.
Com efeito, o Novo CPC exalta o princípio do contraditório evitando que o
278. DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil: Introdução ao Direito Processual Civil, Parte
Geral e Processo de Conhecimento, 17. ed. Salvador: Editora JusPODIVM, 2015, p. 81.
órgão julgador profira decisões-surpresas, de ofício (art. 10). Ademais, consagra o
princípio da primazia da decisão de mérito, de modo que o julgador deverá fazer o
possível para que a decisão de mérito ocorra279.
Destaca-se que o C. TST, atenuando o que vem a ser decisão-surpresa, declinou
que “não se considera ‘decisão surpresa’ a que, à luz do ordenamento jurídico nacional e
dos princípios que informam o Direito Processual do Trabalho, as partes tinham obrigação
de prever, concernente às condições da ação, aos pressupostos de admissibilidade de
recurso e aos pressupostos processuais, salvo disposição legal expressa em contrário”
(IN nº 39/2016, art. 4º, § 2º - grifo nosso). Embora não sejamos adeptos à atenuação
realizada pelo E. TST, vez que o Novo CPC foi enfático em vedar tais decisões inclusive
quando se tratar de matéria a ser conhecida de ofício (art. 10), no presente caso incide a
parte final da art. 4º, § 2º, pois há norma expressa nos arts. 932, parágrafo único, e 938, §§
1º e 4º, do NCPC, impondo ao magistrado o dever de regularizar o vício.
Aliás, a própria CLT, com o advento da Lei nº 13.015/14, ressaltou no art. 896,
§ 11, a necessidade de suprimento de vícios sanáveis na fase recursal, buscando-se
julgar o mérito do recurso.
Portanto, pensamos que a parte final desta orientação deve ser reinterpretada,
no sentido de, na fase recursal, verificada a ausência de juntada da decisão rescindenda
ou da comprovação do trânsito em julgado, o juízo deverá, inicialmente, conceder à
parte oportunidade para a juntada dos documentos indispensáveis e, não sendo
apresentada, proferir a decisão sem resolução de mérito.
p. 1598: A redação da Súmula nº 413 do TST foi alterada pela Res. nº 209/2016, razão
pela qual seus comentários foram alterados
Súmula nº 413 do TST. Ação rescisória. Sentença de mérito. Violação do art. 896, “a”, da CLT
É incabível ação rescisória, por violação do art. 896, “a”, da CLT, contra decisão transitada em
julgado sob a égide do CPC de 1973 que não conhece de recurso de revista, com base em
divergência jurisprudencial, pois não se cuidava de sentença de mérito (art. 485 do CPC de
1973).
O Tribunal Superior do Trabalho tem a função de unificar a jurisprudência nacional
em sede de matéria trabalhista. É exatamente, por isso, que é cabível o recurso de revista
por divergência jurisprudencial, assim entendida como a existência de decisões
conflitantes, ou seja, quando as decisões proferidas em grau de recurso ordinário, em
dissídio individual, pelos Tribunais Regionais do Trabalho:
a) derem ao mesmo dispositivo de lei federal interpretação diversa da que lhe
houver dado outro Tribunal Regional do Trabalho, no seu Pleno ou Turma, ou
a Seção de Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho, ou
contrariarem súmula de jurisprudência uniforme dessa Corte ou súmula
vinculante do Supremo Tribunal Federal;
b) derem ao mesmo dispositivo de lei estadual, Convenção Coletiva de
Trabalho, Acordo Coletivo, sentença normativa ou regulamento empresarial
de observância obrigatória em área territorial que exceda a jurisdição do
Tribunal Regional prolator da decisão recorrida, interpretação divergente, na
279. DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil: Introdução ao Direito Processual Civil, Parte
Geral e Processo de Conhecimento, vol. 1. 17. ed. Salvador: Editora JusPODIVM, 2015, p. 136.
forma da alínea a (...) (CLT, art. 896).
Vê-se, pelo referido dispositivo, que a divergência jurisprudencial é um
pressuposto recursal intrínseco do recurso de revista, a ser analisado no juízo de
admissibilidade, o qual não profere decisão de mérito. Melhor explicando.
O recurso passa por dois momentos bem distintos: o juízo de admissibilidade e o
juízo de mérito. No primeiro, o Tribunal irá analisar a presença dos pressupostos recursais
(extrínsecos e intrínsecos). Ausentes tais pressupostos, o recurso não será conhecido
(admitido), faltando assim decisão de mérito. Presentes os pressupostos recursais, o
Tribunal passa ao juízo de mérito dando ou não provimento ao recurso, proferindo nesse
caso decisão de mérito.
Portanto, a análise da divergência é anterior à decisão de mérito, o que significa
que, não existindo divergência jurisprudencial, o recurso de revista não será conhecido,
faltando decisão de mérito a legitimar o cabimento da ação rescisória.
Com efeito, de acordo com o TST, não havendo decisão de mérito, falta interesse
processual para o ajuizamento da ação rescisória.
Era esse o entendimento previsto no CPC/73, o qual só admitia rescisão de decisão
de mérito. Ademais, esse posicionamento deverá predominar para as decisões transitadas
em julgado sob sua égide. Noutras palavras, o C. TST na presente súmula declinou que a
regra de direito intertemporal será a data do trânsito em julgado da decisão rescindenda.
Nesse sentido, seguem as lições de Barbosa Moreira:
A possibilidade de rescindir-se a sentença rege-se pela lei em vigor na data do
seu trânsito em julgado: é nessa data, com efeito, que nasce o direito à
rescisão, e obviamente só pode nascer se o sistema jurídico vigente prevê,
como fundamento bastante, o fato invocado. Se a sentença transita em julgado
sem que certo fato esteja previsto no ordenamento como motivo de
rescindibilidade, a superveniência de lei que passe a considerá-lo tal não torna
rescindível, por esse fundamento, a sentença. E vice-versa: a lei nova que
exclua determinado fato do rol dos fundamentos de rescisão não impede que
se rescinda a senteça, se na data do trânsito em julgado o fato constituía
motivo bastante. 280
Por outro lado, para as decisões transitadas em julgado após o advento do Novo
CPC a presente súmula não terá incidência.
Isso porque, o art. 966, §2º, II do NCPC281 contempla a possibilidade de rescisão da
decisão que, embora não julgue o mérito, impeça a admissibilidade do recurso
correspondente.
Esse dispositivo deve ser interpretado de duas formas:
a) sendo negativo o juízo de admissibilidade, forma-se a coisa julgada material,
impedindo a discussão da decisão de mérito impugnada. Assim, será admitida a
rescisória para atacar a decisão do juízo negativo, com o propósito de possibilitar a
discussão da decisão de mérito;
b) sendo negativo o juízo de admissibilidade, forma-se coisa julgada formal que obsta
280 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao código de processo civil. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2010. v. 5, p. 156.
281. NCPC, art. 966, §2º, II: Nas hipóteses previstas nos incisos do caput, será rescindível a decisão
transitada em julgado que, embora não seja de mérito, impeça: (...) II – admissibilidade do recurso
correspondente.
a propositura de nova demanda (NCPC, art. 966, § 2º, I)282. Nesse caso, permite-se a
ação rescisória, já que não é possível o ajuizamento de outro demanda para
discussão do que se levantava no processo de origem.
Com efeito, o NCPC permite que a decisão que não admitiu o recurso possa ser
desconstituída quando contiver um dos vícios elencados no art. 966, uma vez que, embora
não corresponda a uma decisão de mérito, ela ocasiona uma decisão que impede que o
mérito seja rediscutido ou que possa gerar o ajuizamento de nova demanda.
Atente-se para o fato de que, mesmo nessa hipótese, os vícios de rescindibilidade
elencados nos incisos do art. 966 devem ser invocados. É só imaginarmos uma decisão de
não admissibilidade, por ausência de divergência, realizada por um relator impedido (NCPC,
art. 966, II).
Portanto, como a divergência jurisprudencial é um pressuposto intrínseco, sua
análise ocorre no juízo de admissibilidade, o qual passa a ser rescindível quando for
negativo e contiver um dos vícios elencados no art. 966, impondo assim o cancelamento
desta súmula.
Antes de finalizar é necessário tecer considerações acerca da competência da ação
rescisória que ataca o juízo de admissibilidade.
O NCPC extinguiu o duplo juízo de admissibilidade para os recursos de natureza
ordinária. Desse modo, na apelação, o juízo de admissibilidade será realizado apenas pelo
tribunal competente e não mais pelo juízo de origem (a quo), conforme se observa do art.
1.010, §3º283. Assim, conforme estabelece o enunciado nº 99 do Fórum Permanente de
Processualistas Civis, “o órgão a quo não fará juízo de admissibilidade da apelação”. Nesse
mesmo sentido, o art. 1.028, §3º do NCPC dispõe que o recurso ordinário é remetido ao STF
ou STJ independentemente de juízo de admissibilidade.
Contudo, no processo do trabalho, o advento do Novo CPC não produzirá impactos
acerca do duplo juízo de admissibilidade, ante a existência de normas expressas na
legislação trabalhista sobre o tema, conforme se verifica a seguir:
– recurso ordinário: o art. 659, VI, da CLT impõe ao juiz da vara do trabalho
“despachar os recursos interpostos pelas partes, fundamentando a decisão recorrida
antes da remessa ao Tribunal Regional (...)”284.
– recurso de revista: assim como ocorre com os recursos de natureza extraordinária
no Novo CPC (art. 1.030), o art. 896, §1º da CLT contempla, expressamente, que o
juízo de admissibilidade no recurso de revista será realizado, inicialmente, pelo
Presidente do Tribunal Regional do Trabalho.
– agravo de petição: o art. 897, § 2º, da CLT admite a interposição de agravo de
282. MEDINA, José Miguel Garcia. Novo Código de Processo Civil Comentado: com remissões e notas
comparativas ao CPC/1973. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 1296.
283. Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau, conterá: (...) § 1º
O apelado será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias. § 2º Se o apelado
interpuser apelação adesiva, o juiz intimará o apelante para apresentar contrarrazões. § 3º Após as
formalidades previstas nos §§ 1º e 2º, os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente de
juízo de admissibilidade. 284 Por respeito ao leitor, registramos que alteramos o entendimento descrito na 6ª edição quando
indicamos que não haveria duplo juízo de admissibilidade no recurso ordinário. Melhor refletindo sobre a
matéria e por força do art. 659, VI, da CLT, passamos a entender que se mantém o duplo juízo de
admissibilidade no recurso ordinário.
instrumento na hipótese de não processamento do agravo de petição, sugerindo,
portanto, o duplo juízo de admissibilidade.
– recurso ordinário em processo de competência originária do TRT: a Lei 7.701/88,
nos arts. 2º, II, f e 3º, III, f, ao admitir o julgamento do agravo de instrumento também
sugere o duplo juízo de admissibilidade.
– embargos de divergência: o art. 3º, III, c, expressamente admite a denegação dos
embargos pelo presidente da Turma do TST.
Em resumo, haverá duplo juízo de admissibilidade nos recursos trabalhistas (juízo
a quo e juízo ad quem), não produzindo nenhum efeito o art. 1.010, § 3º, do NCPC. Nesse
sentido, estabeleceu o C. TST no art. 2º, XI, da Instrução Normativa nº 39/2016, in verbis:
Art. 2° Sem prejuízo de outros, não se aplicam ao Processo do Trabalho, em
razão de inexistência de omissão ou por incompatibilidade, os seguintes
preceitos do Código de Processo Civil:
(...)
XI - art. 1010, § 3º(desnecessidade de o juízo a quo exercer controle de
admissibilidade na apelação)
Isso nos leva à conclusão de que o juízo de admissibilidade negativo dos recursos
trabalhistas continuará existindo, tanto do juízo a quo, como do juízo ad quem. Agora
voltamos ao problema central: de quem será a competência da ação rescisória nesse caso?
A resposta poderia ser simplificada, definindo a competência pelo juízo que
proferiu a inadmissibilidade do recurso. No entanto, antes de responder esse
questionamento, temos que definir como será o julgamento da ação rescisória nessa nova
modalidade.
É sabido que a ação rescisória possui dois momentos bem distintos: o juízo
rescindendo (rescindente) e o juízo rescisório. No primeiro, busca-se a desconstituição da
decisão de mérito transitada em julgado, enquanto no segundo haverá novo julgamento
sobre a matéria objeto de análise da sentença rescindida. Como regra, ocorrerá tanto o juízo
rescindendo como o rescisório, mas em algumas hipóteses haverá apenas o juízo
rescindendo.
Dessa forma, na ação rescisória que busca atacar o juízo de admissibilidade
teremos, cumulativamente, o juízo rescindente e o juízo rescisório?
Em sendo positiva a resposta, chegaremos à conclusão de que o juízo a quo não
pode ser competente para a ação rescisória, vez que no juízo rescisório estaria usurpando
competência do órgão jurisdicional superior. Exemplificamos:
Sendo interposto recurso de revista é denegado seu seguimento no TRT de
origem (juízo a quo). Transitada em julgada a decisão, a parte resolve ajuizar
ação rescisória para desconstituir a decisão proferida no juízo de
admissibilidade. Nesse caso, a ação rescisória deverá ser ajuizada no TST, pois
rescindindo a decisão (juízo rescindente), poderá no juízo rescisório julgar o
recurso de revista indevidamente trancado. Isso significa que, se fosse
admitida a competência do TRT, ele poderia, no juízo rescisório, julgar o
recurso de revista, o que não é permitido.
Como se trata de inovação sem precedentes no CPC/73, pensamos que a melhor
opção será responder de forma negativa o questionamento anterior, limitando a ação
rescisória ao juízo rescindente. Em outros termos, a nosso juízo, atacando-se a decisão
negativa de admissibilidade, o corte rescisório terá apenas o condão de rescindir a
decisão negativa de admissibilidade, restaurando o natural andamento do processo
que havia transitado em julgado, permitindo o processamento e/ou julgamento do
recurso trancado.
Pensamos dessa forma, com o objetivo de manter a competência recursal. É que
permitindo o juízo rescisório, estaríamos alterando a competência para o julgamento do
recurso trancado. No exemplo anterior, o recurso de revista deixaria de ser julgado pelas
turmas do TST (competente para esse recurso) e passaria a ser julgado pela SDI-II
(competente para a ação rescisória), o que significa que a SDI-II se transformaria em
subseção recursal para o julgamento do recurso de revista. O mesmo ocorrerá nos recursos
de competência dos tribunais regionais.
Com efeito, a nosso juízo, nessa ação rescisória haverá apenas juízo rescindente.
Adotando essa tese, a competência da ação rescisória no processo do trabalho,
torna-se simplificada: é competente para a ação rescisória o juízo que proferiu a decisão
negativa de admissibilidade do recurso.
Desse modo, se a ação rescisória busca atacar a decisão de inadmissibilidade do
recurso de revista proferida no TST ou dos embargos para a SDI, a competência para analisá-
la é do C.TST, ainda que a decisão não seja de mérito. Do mesmo modo, na hipótese do
recurso ordinário de processo de competência originária do TRT. Por outro lado, se a
inadmissibilidade foi proferida pela Vara do Trabalho ou pelo Tribunal Regional do Trabalho
a competência será do TRT.
p. 1605: A OJ nº 107 da SDI-II do TST teve sua redação alterada pela Res. nº 208/2016
Orientação Jurisprudencial nº 107 da SDI-II do TST. Ação rescisória. Decisão rescindenda de mérito. Sentença declaratória de extinção de execução. Satisfação da obrigação. Embora não haja atividade cognitiva, a decisão que declara extinta a execução, nos termos do art. 924, incisos I a IV c/c art. 925 do CPC de 2015 (art. 794 c/c 795 do CPC de 1973), extingue a relação processual e a obrigacional, sendo passível de corte rescisório.
p. 1609-1612: A redação da Súmula nº 408 do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016,
razão pela qual seus comentários foram alterados
Súmula nº 408 do TST. Ação rescisória. Petição inicial. Causa de pedir.
Ausência de capitulação ou capitulação errônea no art. 966 do CPC de 2015.
Art. 485 do CPC de 1973. Princípio "iura novit curia"
Não padece de inépcia a petição inicial de ação rescisória apenas porque omite
a subsunção do fundamento de rescindibilidade no art. 966 do CPC de 2015
(art. 485 do CPC de 1973) ou o capitula erroneamente em um de seus incisos.
Contanto que não se afaste dos fatos e fundamentos invocados como causa de
pedir, ao Tribunal é lícito emprestar-lhes a adequada qualificação jurídica
("iura novit curia"). No entanto, fundando-se a ação rescisória no art. 966,
inciso V, do CPC de 2015 (art. 485, inciso V, do CPC de 1973), é indispensável
expressa indicação, na petição inicial da ação rescisória, da norma jurídica
manifestamente violada (dispositivo legal violado sob o CPC de 1973), por se
tratar de causa de pedir da rescisória, não se aplicando, no caso, o princípio
"iura novit curia".
O art. 319, III, do NCPC, aplicável à ação rescisória (NCPC, art. 968), impõe que a
petição inicial indique os fatos e os fundamentos jurídicos do pedido. Trata-se da
denominada causa de pedir.
Narrar os fatos consiste em descrever a história, ou seja, os acontecimentos que
deram origem à pretensão. Já a fundamentação jurídica é a demonstração de que fatos
narrados se enquadram em determinada categoria jurídica, produzindo as
consequências que o demandante pretende285. Difere a fundamentação jurídica da
fundamentação legal, que é a mera indicação do dispositivo legal. A fundamentação
legal não integra a causa de pedir, sendo dispensável, não vinculando as partes ou o juiz.
É nesse contexto que surge o princípio da iura novit curia, o qual estabelece que às
partes incumbe a indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, sendo dever do
magistrado o conhecimento da norma jurídica a ser aplicável ao caso. Excepciona-se o
cabimento desse princípio quando a parte alegar direito municipal, estadual, estrangeiro
ou consuetudinário (NCPC, art. 376), sendo certo que o juiz está obrigado a conhecer o
direito vigente do local onde exerce suas funções286. Feitas essas ponderações iniciais,
adentramos propriamente nos comentários da presente súmula.
Na ação rescisória, cada uma das hipóteses do art. 966 do NCPC corresponde a uma
causa de pedir para fundamentar a rescisão do julgado287. Isso quer dizer que cabe às
partes narrar os fatos que se enquadram em cada caso do artigo art. 966 do NCPC, ou
seja, incompetência absoluta, prevaricação etc.
Não se exige, porém, que a parte capitule o inciso do art. 966 do NCPC que
fundamenta sua ação rescisória, pois o princípio da iura novit curia impõe ao magistrado
o conhecimento da norma aplicável ao caso288. Nesse contexto, se a parte narra
prevaricação, mas indica erroneamente o inciso IV do art. 966 do NCPC (ofensa à coisa
julgada), pode o magistrado aplicar o dispositivo correto, qual seja, o inciso I.
A propósito, mesmo que o autor da ação rescisória não indique nenhum dos incisos
do art. 966 do NCPC, impõe-se ao magistrado sua capitulação. Assim, se o autor alega
que a decisão foi proferida por juiz impedido, não indicando nenhum inciso do art. 966
do NCPC, deverá o julgador da ação rescisória analisar o impedimento, concluindo pela
rescisão da decisão ou sua manutenção289.
O que não é permitido é a alteração dos fatos, ou seja, o tribunal não pode decidir
por fundamento não invocado, sob pena de violação do princípio da congruência (NCPC,
art. 141 e 492) 290. Desse modo, se a parte narra ofensa à coisa julgada, mesmo que o juiz
verifique possível incompetência absoluta, não poderá julgar a rescisória com base
nesse último fundamento.
Existe, no entanto, uma especificidade quanto ao princípio da iura novit curia na
285. DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 6. ed. São Paulo: Malheiros
Editores Ltda., 2009. v. 2, p. 132-133.
286. CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. 18. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2008. v. 1, p. 376. 287. DIDIER Jr., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de direito processual civil: Meios de
impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. 8. ed. Bahia: JusPODIVM, 2010. v. 3, p. 383. 288. Em sentido contrário, exigindo o fundamento legal em que se funda a ação: LEITE, Carlos Henrique
Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 9. ed. São Paulo: LTr, 2011. p. 1259. 289. KLIPPEL, Bruno. Direito sumular esquematizado – TST. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 547.
290. DIDIER Jr., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de direito processual civil: Meios de
impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. 8. ed. Bahia: JusPODIVM, 2010. v. 3, p. 383-384.
ação rescisória que está no inciso V do art. 966 do NCPC, o qual permite a rescisão do
julgado que “violar manifestamente norma jurídica”.
Nessa hipótese, a parte não está obrigada a indicar o inciso V do art. 966 do NCPC,
mas, ao alegar violação do dispositivo “x”, deve obrigatoriamente apresentá-lo na
petição inicial. Isso porque nesse caso o dispositivo tido por violado é o próprio
fato da ação rescisória, isto é, o dispositivo “x” é a causa de pedir da ação rescisória, a
qual deve ser delimitada pelo autor. É por isso que o C. TST exige a expressa indicação
na petição inicial do dispositivo tido por violado.
Assim, tratando-se de violação de norma jurídica, não se permite o reexame da ação
rescisória com a finalidade de verificar se existem outras violações legais não aduzidas
pelo demandante, nem mesmo ao argumento de se tratar de matéria de ordem
pública291.
Registra-se, no entanto, que a doutrina mais abalizada não exige a expressa
indicação do número do artigo ou do parágrafo violado, “desde que claramente
identificável o conteúdo” 292.
Por fim, necessário observar que o Novo CPC, acompanhando o entendimento da
doutrina, altera o inciso V permitindo de forma ampla a ação rescisória quando houver
violação de norma jurídica, não falando apenas em disposição de lei como anunciava o
CPC de 1973.
Dessa forma, compreende-se em norma jurídica “a Constituição, a lei complementar,
ordinária, ou delegada, a medida provisória, o decreto legislativo, a resolução (Carta da
República, art. 59), o decreto emanado do executivo, o ato normativo baixado por órgão
do Poder Judiciário (v.g. regimento interno: Constituição Federal, art. 96, nº I, letra a)” 293, sendo irrelevante se a norma é de direito material ou de direito processual. Incluem-
se ainda nesse conceito os princípios294.
Portanto, a violação de qualquer norma jurídica possibilita o ajuizamento da ação
rescisória. Não se admite, porém, no entender do TST, ação rescisória por violação à
norma de convenção coletiva de trabalho, acordo coletivo de trabalho, portaria do Poder
Executivo, regulamento de empresa e súmula, ainda que se trate de súmula vinculante,
ou orientação jurisprudencial de tribunal (OJ nº 25 da SDI – II do TST).
Contudo, conforme os comentários da OJ nº 25 da SDI-II do TST, o novo modelo
processual preconizado pelo NCPC, aplicado subsidiariamente ao processo do trabalho,
valoriza os precedentes judiciais como normas jurídicas, aproximando o sistema
processual brasileiro do sistema do common law. Nesse contexto, passa a considerar os
precedentes como fonte de direito, tornando-os obrigatórios.
291. YARSHELL, Flávio Luiz. Ação rescisória: juízos rescindente e rescisório. São Paulo: Malheiros
Editores Ltda, 2005. p. 151. 292. MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao código de processo civil. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2010. v. 5, p. 132.
293. MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao código de processo civil. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2010. v. 5, p. 131.
294. YARSHELL, Flávio Luiz. Ação rescisória: juízos rescindente e rescisório. São Paulo: Malheiros
Editores Ltda, 2005. p. 323-324.
A ideia de precedentes como normas jurídicas vem estampada no art. 927 do NCPC,
o qual dispõe que os juízes e tribunais devem observar as decisões do STF em controle
concentrado de constitucionalidade; os enunciados de súmula vinculante; os acórdãos
em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em
julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos; os enunciados das súmulas
do STF em matéria constitucional e do STJ em matéria infraconstitucional (incluímos o
TST); a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.
Desse modo, com o novel código é forçoso interpretar que, no sentido de norma
jurídica, também há que se incluir os precedentes judiciais, abarcando as súmulas e
orientações jurisprudenciais do TST.
Aliás, o C. TST no art. 15, I, da IN 39/216, interpretando o art. 927 do NCPC, declinou
que são de observância obrigatória os seguintes precedentes: a) acórdão proferido pelo
Supremo Tribunal Federal ou pelo Tribunal Superior do Trabalho em julgamento de
recursos repetitivos (CLT, art. 896-B; CPC, art. 1046, §4º); b) entendimento firmado em
incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; c)
decisão do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;
d) tese jurídica prevalecente em Tribunal Regional do Trabalho e não conflitante com
súmula ou orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho (CLT, art. 896, §
6º); e) decisão do plenário, do órgão especial ou de seção especializada competente para
uniformizar a jurisprudência do tribunal a que o juiz estiver vinculado ou do Tribunal
Superior do Trabalho. Ademais, no inciso II do art. 15 da IN 39, também reconheceu
como obrigatórias as súmulas do Supremo Tribunal Federal, orientação jurisprudencial
e súmula do Tribunal Superior do Trabalho, súmula de Tribunal Regional do Trabalho
não conflitante com súmula ou orientação jurisprudencial do TST, que contenham
explícita referência aos fundamentos determinantes da decisão (ratio decidendi).
Não nos parece adequado impor a observância dos precedentes e, caso não aplicado, a
decisão não seja considerada como violadora da ordem jurídica. Queremos dizer, se as
súmulas e orientações devem ser obrigatoriamente aplicadas, a decisão que as contraria
viola uma norma jurídica, pois o precedente cria uma norma abstrata a ser aplicada para
os casos futuros.
A propósito, o art. 966, §§ 5º e 6º, expressamente descreve que: § 5º Cabe ação rescisória, com fundamento no inciso V do caput deste artigo, contra
decisão baseada em enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos
repetitivos que não tenha considerado a existência de distinção entre a questão discutida
no processo e o padrão decisório que lhe deu fundamento.
§ 6º Quando a ação rescisória fundar-se na hipótese do § 5º deste artigo, caberá ao autor,
sob pena de inépcia, demonstrar, fundamentadamente, tratar-se de situação
particularizada por hipótese fática distinta ou de questão jurídica não examinada, a impor
outra solução jurídica.
Com efeito, pensamos que o art. 966, V, do NCPC, ao se referir à norma jurídica, está
se referindo às leis, aos princípios e aos precedentes judiciais. Nesse último caso, tal
como nos demais, deverá indicar precisamente o precedente contrariado (p.e., número
ou conteúdo da súmula), demonstrando inclusive a identidade entre o precedente e o
caso que pretende rescindir.
p. 1612: A OJ nº 78 da SDI-II do TST teve sua redação alterada pela Res. nº
208/2016
Orientação Jurisprudencial nº 78 da SDI-II do TST. Ação rescisória. Cumulação sucessiva de pedidos. Rescisão da sentença e do acórdão. Ação única. Art. 326 do CPC de 2015. Art. 289 do CPC de 1973. É admissível o ajuizamento de uma única ação rescisória contendo mais de um pedido, em ordem sucessiva, de rescisão da sentença e do acórdão. Sendo inviável a tutela jurisdicional de um deles, o julgador está obrigado a apreciar os demais, sob pena de negativa de prestação jurisdicional.
p. 1614-1615: A Orientação Jurisprudencial nº 155 da SDI-II do TST foi cancelada pela
Res. nº 206/2016, razão pela qual seus comentários devem ser desconsiderados.
p. 1619: A redação da OJ nº 124 da SDI-II do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016
Orientação Jurisprudencial nº 124 da SDI-II do TST. Ação rescisória. Art. 966, inciso II, do CPC de 2015. Art. 485, II, do CPC de 1973. Arguição de incompetência absoluta. Prequestionamento inexigível. Na hipótese em que a ação rescisória tem como causa de rescindibilidade o inciso II do art. 966 do CPC de 2015 (inciso II do art. 485 do CPC de 1973), a arguição de incompetência absoluta prescinde de prequestionamento.
p. 1629: A redação da Súmula nº 397 do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016
Súmula nº 397 do TST. Ação rescisória. Art. 966, IV, do CPC de 2015 . Art. 485, IV, do CPC de 1973. Ação de cumprimento. Ofensa à coisa julgada emanada de sentença normativa modificada em grau de recurso. Inviabilidade. Cabimento de mandado de segurança. Não procede ação rescisória calcada em ofensa à coisa julgada perpetrada por decisão proferida em ação de cumprimento, em face de a sentença normativa, na qual se louvava, ter sido modificada em grau de recurso, porque em dissídio coletivo somente se consubstancia coisa julgada formal. Assim, os meios processuais aptos a atacarem a execução da cláusula reformada são a exceção de pré-executividade e o mandado de segurança, no caso de descumprimento do art. 514 do CPC de 2015 (art. 572 do CPC de 1973).
p. 1632: A OJ nº 157 da SDI-II do TST teve sua redação alterada pela Res. nº 208/2016
Orientação Jurisprudencial nº 157 da SDI-II do TST. Ação rescisória. Decisões proferidas em fases distintas de uma mesma ação. Coisa julgada. Não configuração. A ofensa à coisa julgada de que trata o inciso IV do art. 966 do CPC de 2015 (inciso IV do art. 485 do CPC de 1973) refere-se apenas a relações processuais distintas. A invocação de desrespeito à coisa julgada formada no processo de conhecimento, na correspondente fase de execução, somente é possível com base na violação do art. 5º, XXXVI, da Constituição da República.
p. 1635: A redação da OJ nº 101 da SDI-II do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016
Orientação Jurisprudencial nº 101 da SDI-II do TST. Ação rescisória. Inciso IV do art. 966 do CPC de 2015. Art. 485, IV, do CPC de 1973. Ofensa a coisa julgada. Necessidade de fixação de tese na decisão rescindenda. Para viabilizar a desconstituição do julgado pela causa de rescindibilidade do inciso IV, do art. 966 do CPC de 2015 (inciso IV do art. 485 do CPC de 1973), é necessário que a decisão rescindenda tenha enfrentado as questões ventiladas na ação rescisória, sob pena de inviabilizar o cotejo com o título executivo judicial tido por desrespeitado, de modo a se poder concluir pela ofensa à coisa julgada.
p. 1640-1643: Os comentários da OJ nº 25 da SDI-II do TST foram alterados
Orientação Jurisprudencial nº 25 da SDI – II do TST. Ação rescisória.
Expressão “lei” do art. 485, V, do CPC. Não inclusão do ACT, CCT, portaria,
regulamento, súmula e orientação jurisprudencial de tribunal
Não procede pedido de rescisão fundado no art. 485, V, do CPC182 quando se
aponta contrariedade à norma de convenção coletiva de trabalho, acordo
coletivo de trabalho, portaria do Poder Executivo, regulamento de empresa e
súmula ou orientação jurisprudencial de tribunal.
O art. 485, V, do CPC/73 permitia o ajuizamento da ação rescisória na hipótese de
violação literal de dispositivo de lei, como forma de preservar e respeitar a íntegra do
comando legislativo.
Era pacífico na doutrina e na jurisprudência que o conceito de lei deveria ser
interpretado de forma ampla, compreendendo “a Constituição, a lei complementar,
ordinária, ou delegada, a medida provisória, o decreto legislativo, a resolução (Carta da
República, art. 59), o decreto emanado do executivo, o ato normativo baixado por órgão
do Poder Judiciário (v.g. regimento interno: Constituição Federal, art. 96, nº I, letra a)” 295, sendo irrelevante se a norma era de direito material ou de direito processual.
Incluíam-se ainda nesse conceito os princípios296.
Assim, havendo decisão que violasse de forma literal qualquer uma das normas
indicadas anteriormente, seria cabível a ação rescisória com base no inciso V do art. 485
do CPC/73.
Entretanto, o C. TST entendeu que o conceito de lei não alcança a norma de
convenção coletiva de trabalho, acordo coletivo de trabalho, portaria do Poder
Executivo, regulamento de empresa e súmula ou orientação jurisprudencial de tribunal.
Fundamenta a Corte Trabalhista que as convenções e os acordos coletivos,
conquanto sejam fontes normativas autônomas, não se enquadram no vocábulo “lei”,
que está dirigido aos comandos abstratos e genéricos emanados da função legislativa
(típica ou atípica) dos Poderes do Estado. Não alcança, portanto, as normas criadas pelas
próprias partes, como é o caso das convenções e dos acordos coletivos. Nesse sentido, 295. MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao código de processo civil. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2010. v. 5, p. 131.
296. YARSHELL, Flávio Luiz. Ação rescisória: juízos rescindente e rescisório. São Paulo: Malheiros
Editores Ltda., 2005. p. 323-324.
citamos precedente dessa orientação: AÇÃO RESCISÓRIA. POSSIBILIDADE DE FUNDAMENTÁ-LA EM VIOLAÇÃO PREVISTA EM CONVENÇÃO COLETIVA. Lei é, por definição, o preceito oriundo do poder legislativo. E convenção coletiva nada mais é do que um acordo. Destarte, ainda que se entenda que as disposições do artigo 485 do CPC não estão voltadas para as questões do direito trabalhista, ainda assim, não seria possível fazer a ampliação pretendida, pois, daquele dispositivo não há nada que leve a concluir que nele esteja incluído o acordo, o que deveria acontecer, tendo em vista o direito civil. Ainda que se considere que tanto a lei quanto a convenção coletiva nada mais são do que normas, mesmo assim, não se concluiria pela possibilidade de admissão da rescisória por violação de norma convencional, pois uma é norma heterônoma e a outra autônoma, ou seja, uma é determinada pelo Estado, a outra pela vontade das partes, sendo, portanto, essencialmente diferentes.297
No que tange à portaria do Poder Executivo, o TST também a afasta do conceito de
lei, porque, em princípio, ela não constitui fonte formal de direito, faltando-lhe
abstração, generalidade e impessoalidade.
Ocorre, no entanto, que, no direito do trabalho, mormente quanto às normas de
segurança e medicina do trabalho, é sabido que as portarias exercem importante papel
de efetivação do art. 7º, XXII, da CF/88, o qual impõe a “redução dos riscos inerentes ao
trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança”. A propósito, quando a
própria lei determina que seu conteúdo seja preenchido pela portaria, esta alcança o
estatuto de fonte normativa. É o que acontece, por exemplo, com as atividades ou
operações consideradas perigosas, que, nos termos do art. 193 da CLT, serão
especificadas por meio de portaria ministerial. “Em tais casos, o tipo jurídico inserido na
respectiva portaria ganhará o estatuto de regra geral, abstrata, impessoal, regendo ad
futurum situações fático-jurídicas, com qualidade de lei em sentido material.”298
Portanto, ao menos quanto às portarias do Executivo, gerais e abstratas,
pensamos que o entendimento do TST deveria ser modificado.
No que se refere ao regulamento de empresa, por se tratar de diploma produzido
pela vontade privada do empregador, o TST o afasta do conceito de lei, não procedendo
o pedido de ação rescisória com fundamento no art. 485, V, do CPC/73.
Por fim, o C. TST entende que o conceito de lei também não alcança as orientações
jurisprudenciais e as súmulas, uma vez que são instrumentos de sedimentação da
jurisprudência acerca da interpretação de determinada norma, ou seja, não são fontes
normativas capazes de legitimar o ajuizamento da ação rescisória, com fulcro no inciso V
do art. 485 do CPC/73.
Com efeito, para o C. TST, se a súmula e a orientação jurisprudencial buscaram
interpretar determinado dispositivo, a decisão contrária ao entendimento sedimentado
poderá dar ensejo à ação rescisória por violação ao dispositivo da lei contido na súmula,
mas não por contrariar a própria súmula. Assim, se a parte, por exemplo, busca rescindir
julgado que considerou válida a contratação de servidor público, sem concurso público,
deverá invocar a violação ao art. 37, II e § 2º, da CF/1988 e não à Súmula nº 363 do TST.
Com o advento do Novo CPC o entendimento dessa orientação deverá se
parcialmente modificado.
297. TST-ROAR-144174/94. SBDI-II. Rel. Min. Ângelo Mário de Carvalho. DJ 1.8.97.
298. DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 10. ed. São Paulo: LTr, 2011. p. 155.
É que art. 966, V, do NCPC não mais faz menção à lei, mas sim à norma jurídica, o
que amplia, a nosso juízo, o cabimento da ação rescisória.
A alteração legislativa não atinge o entendimento do C.TST quanto às normas
coletivas, portaria do Executivo (com nossa ressalva) e o regulamento de empresa, pelos
mesmos fundamentos já apresentados. No entanto, alcança às súmulas e orientações
jurisprudenciais do TST.
Isso porque o novo modelo processual preconizado pelo NCPC, aplicado
subsidiariamente ao processo do trabalho, valoriza os precedentes judiciais como
normas jurídicas, aproximando o sistema processual brasileiro do sistema do common
law. Nesse contexto, passa a considerar os precedentes como fonte de direito,
tornando-os obrigatórios.
A ideia de precedentes como normas jurídicas vem estampada no art. 927 do
NCPC, o qual dispõe que os juízes e tribunais devem observar as decisões do STF em
controle concentrado de constitucionalidade; os enunciados de súmula vinculante; os
acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas
repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos; os
enunciados das súmulas do STF em matéria constitucional e do STJ em matéria
infraconstitucional (incluímos o TST); a orientação do plenário ou do órgão especial
aos quais estiverem vinculados.
Desse modo, com o novel código é forçoso interpretar norma jurídica, incluindo os
precedentes judiciais, o que abarca as súmulas e orientações do TST.
Aliás, o C. TST no art. 15, I, da IN 39/216, interpretando o art. 927 do NCPC, declinou
que são de observância obrigatória os seguintes precedentes: a) acórdão proferido pelo
Supremo Tribunal Federal ou pelo Tribunal Superior do Trabalho em julgamento de
recursos repetitivos (CLT, art. 896-B; CPC, art. 1046, §4º); b) entendimento firmado em
incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; c)
decisão do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;
d) tese jurídica prevalecente em Tribunal Regional do Trabalho e não conflitante com
súmula ou orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho (CLT, art. 896, §
6º); e) decisão do plenário, do órgão especial ou de seção especializada competente para
uniformizar a jurisprudência do tribunal a que o juiz estiver vinculado ou do Tribunal
Superior do Trabalho. Ademais, no inciso II do art. 15 da IN 39, também reconheceu
como obrigatórias as súmulas do Supremo Tribunal Federal, orientação jurisprudencial
e súmula do Tribunal Superior do Trabalho, súmula de Tribunal Regional do Trabalho
não conflitante com súmula ou orientação jurisprudencial do TST, que contenham
explícita referência aos fundamentos determinantes da decisão (ratio decidendi).
Não nos parece adequado impor a observância dos precedentes e, caso não aplicado,
a decisão não puder ser considerada como violadora da ordem jurídica. Queremos dizer,
se as súmulas e orientações devem ser obrigatoriamente aplicadas, a decisão que as
contraria viola uma norma jurídica, pois o precedente cria uma norma abstrata a ser
aplicada para os casos futuros.
A propósito, o art. 966, §§ 5º e 6º, expressamente descreve que: § 5º Cabe ação rescisória, com fundamento no inciso V do caput deste artigo, contra decisão baseada em enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos repetitivos que não tenha considerado a existência de distinção entre a questão discutida no processo e o padrão decisório que lhe deu fundamento.
§ 6º Quando a ação rescisória fundar-se na hipótese do § 5º deste artigo, caberá ao autor, sob pena de inépcia, demonstrar, fundamentadamente, tratar-se de situação particularizada por hipótese fática distinta ou de questão jurídica não examinada, a impor outra solução jurídica.
Com efeito, pensamos que o art. 966, V, do NCPC, ao se referir à norma jurídica,
inseriu os precedentes judiciais, incluindo, dessa forma, as súmulas e as orientações
jurisprudenciais, o que significa que tais normas passam a fundamentar o pedido da
ação rescisória, nos termos do art. 966, V, do NCPC.
Assim, ressalvado nosso entendimento quanto às portarias do Poder Executivo,
acreditamos que a presente orientação deverá ser alterada para dispor tão somente que
a invocação de violação de norma de convenção coletiva de trabalho, acordo coletivo de
trabalho, portaria do Poder Executivo e regulamento de empresa não dará ensejo à
procedência dos pedidos da ação rescisória calcada no inciso V do art. 966 do NCPC,
excluindo-se de sua redação as súmulas e as orientações jurisprudenciais.
É evidente que a alteração dessa orientação, como das demais sugeridas nessa obra,
não deve ocorrer como no processo legislativo, ou seja, simplesmente modificando sua
redação. Impõe-se a existência de decisões reiteradas. Contudo, antes da existência de
decisões reiteradas a legitimar sua alteração, o C. TST já poderá sinalizar (signaling299) a
superação de seu entendimento, cancelando, por exemplo, a Súmula nº 409 do TST.
p. 1660: A redação da OJ nº 34 da SDI-II do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016
Orientação Jurisprudencial nº 34 da SDI-II do TST. Ação rescisória. Planos econômicos. I - O acolhimento de pedido em ação rescisória de plano econômico, fundada no art. 485, inciso V, do CPC de 1973 pressupõe, necessariamente, expressa invocação na petição inicial de afronta ao art. 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal de 1988. A indicação de ofensa literal a preceito de lei ordinária atrai a incidência da Súmula nº 83 do TST e Súmula nº 343 do STF. II - Se a decisão rescindenda é posterior à Súmula nº 315 do TST (Res. 07, DJ 22.09.93), inaplicável a Súmula nº 83 do TST.
p. 1680-1681: A redação da OJ nº 41 da SDI-II do TST foi alterada pela Res. nº
208/2016, razão pela qual seus comentários foram alterados
Orientação Jurisprudencial nº 41 da SDI-II do TST. Ação rescisória. Sentença “citra petita”. Cabimento. Revelando-se a sentença "citra petita", o vício processual vulnera os arts. 141 e 492 do CPC de 2015 (arts. 128 e 460 do CPC de 1973), tornando-a passível de desconstituição, ainda que não interpostos embargos de declaração.
O princípio da inércia estabelece que o Poder Judiciário somente poderá se
manifestar acerca do que foi provocado. Em decorrência desse princípio, veda-se que o
Judiciário possa conceder pedido diverso (extra petita) ou superior (ultra petita) ao
299. A signaling consiste na técnica utilizada quando um tribunal, apesar de aplicar determinado precedente, ao
perceber sua desatualização, sinaliza sua futura superação. A técnica tem como objetivo conceder segurança
jurídica aos jurisdicionados, uma vez que evita a superação do precedente de forma repentina.
formulado.
Além disso, uma vez provocado, as partes têm direito à prestação
jurisdicional300, impondo ao Judiciário o dever de julgar o mérito do processo, quando
presentes os pressupostos processuais e as condições da ação. Com efeito, caso haja
pedido não analisado na sentença, esta fica eivada de nulidade, sendo denominada de
sentença citra petita.
Surge assim o chamado princípio da congruência ou adstrição, segundo o qual
o magistrado não pode proferir sentença além, fora ou aquém do pedido (NCPC, arts.
141 e 492).
Sendo a sentença citra petita verdadeira omissão, cabível a interposição de
embargos de declaração para supri-la, consoante dispõe o art. 897-A da CLT. Entende o
C. TST que, especialmente nos recursos de natureza extraordinária, em que se exige o
prequestionamento, a não interposição de embargos de declaração torna preclusa a
possibilidade de a parte levantar as matérias omissas no recurso de revista ou embargos
(Súmulas nº 184 e 297301 do TST).
Transitada em julgada a decisão omissa, parte da doutrina não admite o
cabimento da ação rescisória. Isso porque é cediço que a coisa julgada material forma-se
em torno do dispositivo da sentença, de modo que, havendo omissão quanto a algum
pedido, significa que ele, obrigatoriamente, não estará presente no dispositivo. Assim,
bastaria a parte ajuizar nova demanda postulando o que não foi analisado na sentença,
falecendo-lhe, dessa forma, interesse de agir para o ajuizamento da ação rescisória302.
No entanto, na presente orientação, o Tribunal Superior do Trabalho303 admite
que seja objeto de ação rescisória a sentença citra petita, com base na violação dos arts.
141 e 492 do NCPC (antigos arts. 128 e 460 do CPC/73), uma vez que é dever do Estado
prestar a tutela jurisdicional nos termos postulados.
Registra-se que o C. TST não faz nenhuma restrição ao cabimento da ação
rescisória nessa hipótese, admitindo-a inclusive no caso de decisão que analise, por
exemplo, a estabilidade na fundamentação e nada decline sobre ela no dispositivo.
A doutrina, porém, buscando interpretar o alcance da presente orientação,
estabelece que somente será admitida a ação rescisória nesse caso se a decisão houver
analisado o pedido, mas deixar de verificar um fundamento relevante, como se
depreende das lições de Fredie Didier Jr: A decisão pode ser citra petita em duas situações: a) deixou de examinar um pedido ou um contradireito afirmado pelo réu; b) deixou de examinar um fundamento relevante. Decisão que não examinou um pedido ou um contradireito é, neste aspecto, inexistente e, portanto, não pode ser objeto de ação rescisória. Não se pode rescindir o que não existe. O que não é não fica imutável pela coisa julgada e, pois, não pode ser desconstituído. (...) Decisão que não examinou um
300. Princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional.
301. No mesmo sentido a Súmula nº 356 do STF.
302. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. 2. ed. Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: Método, 2010. p. 488.
303. Com o mesmo posicionamento disciplina o STJ. AR 687/SE, 3ª Seção, rel. Min. Thereza de Assis
Moura, j. 28.03.2008.
fundamento relevante, mas examinou o pedido ou o contradireito, existe e, portanto, pode ficar imutável pela coisa julgada; mas essa decisão tem um defeito que autoriza a sua rescisão, em razão da violação aos arts. 141 e 492 do CPC. É neste sentido que se deve compreender a Orientação Jurisprudencial n. 41, da SBDI-2 do Tribunal Superior do Trabalho (...) 304
Por fim, consigna-se que a Corte Trabalhista exige o pronunciamento explícito
para o ajuizamento da ação rescisória na hipótese de violação literal de lei, no sentido de
que a matéria ou a tese debatida na ação rescisória já tenha sido levantada e analisada na
ação originária (Súmula nº 298, II, do TST). Excepciona, entretanto, a necessidade de
pronunciamento explícito quando se tratar de violação nascida no próprio
julgamento da ação originária, como é o caso das sentenças extra, ultra e citra petita
(Súmula nº 298, V, do TST).
Assim, para o TST, na hipótese de sentença (ou acórdão) citra petita, é cabível a
ação rescisória, ainda que não opostos embargos de declaração e que sobre a matéria
não tenha pronunciamento explícito.
p. 1690: A redação da Súmula nº 404 foi alterada pela Res. nº 209/2016, razão pela qual
seus comentários foram alterados:
Súmula nº 404 do TST. Ação rescisória. Fundamento para invalidar confissão. Confissão ficta.
Inadequação do enquadramento no art. 485, VIII, do CPC de 1973
O art. 485, VIII, do CPC de 1973253, ao tratar do fundamento para invalidar a confissão como
hipótese de rescindibilidade da decisão judicial, referia-se à confissão real, fruto de erro, dolo ou
coação, e não à confissão ficta resultante de revelia.
A confissão pode ser tácita (ficta) ou expressa (real).
No primeiro caso, há uma presunção criada pelo ordenamento, no sentido de que
os fatos alegados são verdadeiros quando não houver defesa do réu, não comparecerem as
partes para depor ou, ainda, quando comparecerem, mas se recusarem a depor. Tal
confissão está ligada a atos omissivos das partes.
Já a confissão real vem disciplinada no art. 389 do NCPC, ocorrendo quando a parte
expressamente admite, de forma voluntária, a verdade de um fato, contrário ao seu interesse
e favorável ao adversário. Trata-se, portanto, de ato positivo decorrente de manifestação de
vontade das partes, seus representantes ou advogados, nesse último caso quando tiver
poderes para tanto.
Percebe-se, por aludida diferenciação, que apenas a confissão real possui
manifestação de vontade que pode estar viciada. Desse modo, a invocação de erro, dolo ou
coação pressupõe uma manifestação de vontade.
Nesse contexto, o art. 352, II, do CPC/73, contemplava a possibilidade de se ajuizar
ação rescisória para “revogar” a confissão emanada de erro, dolo ou coação.
Com efeito, a confissão ficta, por ser ausente de vontade, afastava a incidência de
vícios de consentimento a legitimar o ajuizamento da ação rescisória, com fulcro no art. 485,
VIII, do CPC/73, como nos ensinava Bernardo Pimentel Souza:
304. DIDIER Jr., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de direito processual civil: Meios de
impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. 13. ed. Bahia: JusPODIVM, 2016. v. 3, p. 438.
Ao revés, a confissão ficta proveniente do artigo 319 não autoriza a
desconstituição do julgado, já que o inciso VIII do artigo 485 cuida apenas da
confissão real (...) 305.
Assim, analisando sistematicamente os arts. 352, II, e 485, VIII, ambos do CPC/73, o
C. TST entendeu que somente a confissão real era capaz de ensejar a ação rescisória.
Contudo, a presente súmula teve sua ratio decidendi (fundamento determinante)
frontalmente atingida pelo Novo CPC, o que provocou sua alteração pela Resolução nº
209/2016 para aplicá-la tão somente aos processos em que a decisão rescindenda transitou
em julgado sob a égide do CPC/73306.
Isso ocorreu porque, o art. 393 do NCPC, diferentemente do art. 352 do CPC/73,
não admite o ajuizamento de ação rescisória para atacar a confissão, permitindo que ela
possa ser discutida por meio da ação anulatória, quando decorrente de erro de fato ou de
coação.
Do mesmo modo, o inciso VIII do art. 485 do CPC/73 não possui correspondência
no Novo CPC, conforme se observa no rol do art. 966, ou seja, a confissão deixou de ser um
vício de rescindibilidade a legitimar o corte rescisório.
Portanto, os dois dispositivos que embasavam a presente súmula foram
substancialmente alterados, impedindo sua manutenção para decisões transitadas em
julgado após o advento do Novo CPC. Percebe-se que o C. TST, na Resolução nº 209/2016,
com o pretexto de atualizar a referida súmula já tratou, indiretamente, de regra de direito
intertemporal, sem que houvesse nenhum precedente para tanto.
De qualquer modo, fica a indagação: somente por ação anulatória a confissão
poderá ser atacada? E quando a confissão viciada for fundamento de sentença de mérito
transitada em julgado, a ação anulatória será eficaz para afastar a coisa julgada material?
A doutrina, já antevendo tal questionamento, passa a sustentar que, não havendo
trânsito em julgado, será cabível ação anulatória para invalidar a confissão. Por outro lado, já
existindo coisa julgada é possível o ajuizamento de ação rescisória com fundamento no
inciso VI do art. 966, que trata da prova falsa307, ou no inciso II, que diz respeito à coação ou
dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida.
Neste caso, a ação será ajuizada contra a decisão transitada em julgado, e não
contra a confissão. Uma ação anulatória ajuizada contra a confissão, quando já
há coisa julgada, é inócua: mesmo vitoriosa a parte, a coisa julgada
permaneceria intacta. É preciso desfazer a coisa julgada – e isso tem de ser
feito por ação rescisória308. (grifo no original)
Com efeito, mesmo com o advento do Novo CPC será possível discutir a confissão
incidentalmente na ação rescisória.
305. SOUZA, Bernardo Pimentel apud KLIPPEL, Bruno. Direito sumular esquematizado – TST. São Paulo:
Saraiva, 2011. p. 538. 306 Vide Súmula nº 413 do TST.
307. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil – Lei 13.015/2015. Rio de Janeiro:
Forense, São Paulo: MÉTODO, 2015, p. 494.
308. DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de Direito Processual
Civil: teoria da prova, direito probatório, decisão, precedente, coisa julgada e tutela provisória, vol. 2. 10. ed.
Salvador: Editora JusPODIVM, 2015, p. 172.
Essa conclusão não mantém viva a presente súmula para as decisões transitadas
em julgado após o Novo CPC, pois, como visto, teve seus fundamentos determinantes
alterados, podendo, no máximo, dar origem a um novo entendimento, interpretando os
incisos II e VI do art. 966 do NCPC.
Por fim, é interessante destacar que o Novo CPC não considera o dolo como vício a
legitimar a invalidação da confissão. Tal alteração contempla o entendimento majoritário da
doutrina, bem com o disposto no art. 214 do CC que excluiu a possibilidade de invalidação da
confissão por dolo, vez que, mesmo havendo dolo, a confissão somente será invalidada
quando provocar um erro de fato. Noutras palavras, o dolo só tem relevância jurídica se
provocar um erro de fato. Ademais, registra-se que a legitimidade para ajuizar essa ação é
exclusiva do confitente, podendo ser transferida a seus herdeiros se ele falecer após a
propositura da demanda (NCPC, art. 393, parágrafo único).
p. 1692: A redação da OJ nº 136 da SDI-II do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016
Orientação Jurisprudencial nº 136 da SDI-II do TST. Ação rescisória. Erro de fato. Caracterização. A caracterização do erro de fato como causa de rescindibilidade de decisão judicial transitada em julgado supõe a afirmação categórica e indiscutida de um fato, na decisão rescindenda, que não corresponde à realidade dos autos. O fato afirmado pelo julgador, que pode ensejar ação rescisória calcada no inciso VIII do art. 966 do CPC de 2015 (inciso IX do art. 485 do CPC de 1973), é apenas aquele que se coloca como premissa fática indiscutida de um silogismo argumentativo, não aquele que se apresenta ao final desse mesmo silogismo, como conclusão decorrente das premissas que especificaram as provas oferecidas, para se concluir pela existência do fato. Esta última hipótese é afastada pelo § 1º do art. 966 do CPC de 2015 (§ 2º do art. 485 do CPC de 1973), ao exigir que não tenha havido controvérsia sobre o fato e pronunciamento judicial esmiuçando as provas.
p. 1705: A redação da Súmula nº 400 do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016
Súmula nº 400 do TST. Ação rescisória de ação rescisória. Violação manifesta
de norma jurídica. Indicação da mesma norma jurídica apontada na rescisória
primitiva (mesmo dispositivo de lei sob o CPC de 1973).
Em se tratando de rescisória de rescisória, o vício apontado deve nascer na
decisão rescindenda, não se admitindo a rediscussão do acerto do julgamento
da rescisória anterior. Assim, não procede rescisória calcada no inciso V do
art. 966 do CPC de 2015 (art. 485, V, do CPC de 1973) para discussão, por má
aplicação da mesma norma jurídica, tida por violada na rescisória anterior,
bem como para arguição de questões inerentes à ação rescisória primitiva.
p. 1708: A redação da OJ nº 12 da SDI-II do TST foi alterada
Orientação Jurisprudencial nº 12 da SDI-II do TST. Ação rescisória. Decadência. Consumação antes ou depois da edição da medida provisória nº 1.577/97. Ampliação do prazo. I - A vigência da Medida Provisória nº 1.577/97 e de suas reedições implicou o elastecimento do prazo decadencial para o ajuizamento da ação rescisória a favor
dos entes de direito público, autarquias e fundações públicas. Se o biênio decadencial do art. 495 do CPC de 1973 findou após a entrada em vigor da referida medida provisória e até sua suspensão pelo STF em sede liminar de ação direta de inconstitucionalidade (ADIn 1753- 2), tem-se como aplicável o prazo decadencial elastecido à rescisória. II - A regra ampliativa do prazo decadencial para a propositura de ação rescisória em favor de pessoa jurídica de direito público não se aplica se, ao tempo em que sobreveio a Medida Provisória nº 1.577/97, já se exaurira o biênio do art. 495 do CPC de 1973. Preservação do direito adquirido da parte à decadência já consumada sob a égide da lei velha.
p. 1709: A redação da Súmula nº 413 do TST foi alterada
Súmula nº 413 do TST. Ação rescisória. Sentença de mérito. Violação do art. 896, “a”,
da CLT
É incabível ação rescisória, por violação do art. 896, “a”, da CLT, contra decisão
transitada em julgado sob a égide do CPC de 1973 que não conhece de recurso de
revista, com base em divergência jurisprudencial, pois não se cuidava de sentença de
mérito (art. 485 do CPC de 1973).
p. 1710 e 1793: A Orientação Jurisprudencial nº 155 da SDI-II do TST foi cancelada pelo
C. TST.
p. 1710: As redações das OJs nº 78 e 107 da SDI-II do TST e das Súmulas nº 405 e 408 do TST foram alteradas Orientação Jurisprudencial nº 107 da SDI-II do TST. Ação rescisória. Decisão rescindenda de mérito. Sentença declaratória de extinção de execução. Satisfação da obrigação. Embora não haja atividade cognitiva, a decisão que declara extinta a execução, nos termos do art. 924, incisos I a IV c/c art. 925 do CPC de 2015 (art. 794 c/c 795 do CPC de 1973), extingue a relação processual e a obrigacional, sendo passível de corte rescisório.
Súmula nº 408 do TST. Ação rescisória. Petição inicial. Causa de pedir. Ausência de
capitulação ou capitulação errônea no art. 966 do CPC de 2015. Art. 485 do CPC de 1973.
Princípio "iura novit curia"
Não padece de inépcia a petição inicial de ação rescisória apenas porque omite a
subsunção do fundamento de rescindibilidade no art. 966 do CPC de 2015 (art. 485 do
CPC de 1973) ou o capitula erroneamente em um de seus incisos. Contanto que não se
afaste dos fatos e fundamentos invocados como causa de pedir, ao Tribunal é lícito
emprestar-lhes a adequada qualificação jurídica ("iuranovitcuria"). No entanto,
fundando-se a ação rescisória no art. 966, inciso V, do CPC de 2015 (art. 485, inciso V, do
CPC de 1973), é indispensável expressa indicação, na petição inicial da ação rescisória,
da norma jurídica manifestamente violada (dispositivo legal violado sob o CPC de 1973),
por se tratar de causa de pedir da rescisória, não se aplicando, no caso, o princípio
"iuranovitcuria".
Orientação Jurisprudencial nº 78 da SDI-II do TST. Ação rescisória. Cumulação sucessiva de pedidos. Rescisão da sentença e do acórdão. Ação única. Art. 326 do CPC de 2015. Art. 289 do CPC de 1973. É admissível o ajuizamento de uma única ação rescisória contendo mais de um pedido, em ordem sucessiva, de rescisão da sentença e do acórdão. Sendo inviável a tutela
jurisdicional de um deles, o julgador está obrigado a apreciar os demais, sob pena de negativa de prestação jurisdicional. Súmula nº 405 do TST. Ação Rescisória. Tutela Provisória.
Em face do que dispõe a MP 1.984-22/2000 e o art. 969 do CPC de 2015, é cabível o
pedido de tutela provisória formulado na petição inicial de ação rescisória ou na fase
recursal, visando a suspender a execução da decisão rescindenda.
p. 1711: As redações das OJs nº 124 e 157 da SDI-II do TST e da Súmula nº 397 do TST foram alteradas Orientação Jurisprudencial nº 124 da SDI-II do TST. Ação rescisória. Art. 966, inciso II, do CPC de 2015. Art. 485, II, do CPC de 1973. Arguição de incompetência absoluta. Prequestionamento inexigível. Na hipótese em que a ação rescisória tem como causa de rescindibilidade o inciso II do art. 966 do CPC de 2015 (inciso II do art. 485 do CPC de 1973), a arguição de incompetência absoluta prescinde de prequestionamento.
Súmula nº 397 do TST. Ação rescisória. Art. 966, IV, do CPC de 2015. Art. 485, IV, do CPC de 1973. Ação de cumprimento. Ofensa à coisa julgada emanada de sentença normativa modificada em grau de recurso. Inviabilidade. Cabimento de mandado de segurança. Não procede ação rescisória calcada em ofensa à coisa julgada perpetrada por decisão proferida em ação de cumprimento, em face de a sentença normativa, na qual se louvava, ter sido modificada em grau de recurso, porque em dissídio coletivo somente se consubstancia coisa julgada formal. Assim, os meios processuais aptos a atacarem a execução da cláusula reformada são a exceção de pré-executividade e o mandado de segurança, no caso de descumprimento do art. 514 do CPC de 2015 (art. 572 do CPC de 1973). Orientação Jurisprudencial nº 157 da SDI-II do TST. Ação rescisória. Decisões proferidas em fases distintas de uma mesma ação. Coisa julgada. Não configuração. A ofensa à coisa julgada de que trata o inciso IV do art. 966 do CPC de 2015 (inciso IV do art. 485 do CPC de 1973) refere-se apenas a relações processuais distintas. A invocação de desrespeito à coisa julgada formada no processo de conhecimento, na correspondente fase de execução, somente é possível com base na violação do art. 5º, XXXVI, da Constituição da República. p. 1712: A redação da OJ nº 101 da SDI-II do TST foi alterada Orientação Jurisprudencial nº 101 da SDI-II do TST. Ação rescisória. Inciso IV do art. 966 do CPC de 2015. Art. 485, IV, do CPC de 1973. Ofensa a coisa julgada. Necessidade de fixação de tese na decisão rescindenda. Para viabilizar a desconstituição do julgado pela causa de rescindibilidade do inciso IV, do art. 966 do CPC de 2015 (inciso IV do art. 485 do CPC de 1973), é necessário que a decisão rescindenda tenha enfrentado as questões ventiladas na ação rescisória, sob pena de inviabilizar o cotejo com o título executivo judicial tido por desrespeitado, de modo a se poder concluir pela ofensa à coisa julgada.
p. 1713: A redação da OJ nº 34 da SDI-II foi alterada
Orientação Jurisprudencial nº 34 da SDI-II do TST. Ação rescisória. Planos econômicos.
I - O acolhimento de pedido em ação rescisória de plano econômico, fundada no art. 485, inciso V, do CPC de 1973 pressupõe, necessariamente, expressa invocação na petição inicial de afronta ao art. 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal de 1988. A indicação de ofensa literal a preceito de lei ordinária atrai a incidência da Súmula nº 83 do TST e Súmula nº 343 do STF. II - Se a decisão rescindenda é posterior à Súmula nº 315 do TST (Res. 07, DJ 22.09.93), inaplicável a Súmula nº 83 do TST.
p. 1715: A redação da OJ nº 41 da SDI-II foi alterada
Orientação Jurisprudencial nº 41 da SDI-II do TST. Ação rescisória. Sentença “citra petita”. Cabimento. Revelando-se a sentença "citra petita", o vício processual vulnera os arts. 141 e 492 do CPC de 2015 (arts. 128 e 460 do CPC de 1973), tornando-a passível de desconstituição, ainda que não interpostos embargos de declaração.
p. 1716: As redações das OJs nº 136 e 146 da SDI-II do TST e da Súmula nº 404 foram
alteradas
Súmula nº 404 do TST. Ação rescisória. Fundamento para invalidar confissão.
Confissão ficta. Inadequação do enquadramento no art. 485, VIII, do CPC de 1973
O art. 485, VIII, do CPC de 1973253, ao tratar do fundamento para invalidar a confissão
como hipótese de rescindibilidade da decisão judicial, referia-se à confissão real, fruto
de erro, dolo ou coação, e não à confissão ficta resultante de revelia.
Orientação Jurisprudencial nº 136 da SDI-II do TST. Ação rescisória. Erro de fato. Caracterização. A caracterização do erro de fato como causa de rescindibilidade de decisão judicial transitada em julgado supõe a afirmação categórica e indiscutida de um fato, na decisão rescindenda, que não corresponde à realidade dos autos. O fato afirmado pelo julgador, que pode ensejar ação rescisória calcada no inciso VIII do art. 966 do CPC de 2015 (inciso IX do art. 485 do CPC de 1973), é apenas aquele que se coloca como premissa fática indiscutida de um silogismo argumentativo, não aquele que se apresenta ao final desse mesmo silogismo, como conclusão decorrente das premissas que especificaram as provas oferecidas, para se concluir pela existência do fato. Esta última hipótese é afastada pelo § 1º do art. 966 do CPC de 2015 (§ 2º do art. 485 do CPC de 1973), ao exigir que não tenha havido controvérsia sobre o fato e pronunciamento judicial esmiuçando as provas.
Orientação Jurisprudencial nº 146 da SDI-II do TST. Ação rescisória. Início do prazo para apresentação da contestação. Art. 774 da CLT A contestação apresentada em ação rescisória obedece à regra relativa à contagem de prazo constante do art. 774 da CLT, sendo inaplicável o art. 231 do CPC de 2015 (art. 241 do CPC de 1973).
p. 1717: A redação da Súmula nº 400 do TST foi alterada
Súmula nº 400 do TST. Ação rescisória de ação rescisória. Violação manifesta de norma
jurídica. Indicação da mesma norma jurídica apontada na rescisória primitiva (mesmo
dispositivo de lei sob o CPC de 1973).
Em se tratando de rescisória de rescisória, o vício apontado deve nascer na decisão
rescindenda, não se admitindo a rediscussão do acerto do julgamento da rescisória
anterior. Assim, não procede rescisória calcada no inciso V do art. 966 do CPC de 2015
(art. 485, V, do CPC de 1973) para discussão, por má aplicação da mesma norma jurídica,
tida por violada na rescisória anterior, bem como para arguição de questões inerentes à
ação rescisória primitiva.
p. 1730: A redação da Súmula nº 415 do TST foi alterada pela Res. nº 208
Súmula nº 415 do TST. Mandado de Segurança. Petição inicial. Art. 321 do CPC de 2015. Art. 284 do CPC de 1973. Inaplicabilidade. Exigindo o mandado de segurança prova documental pré-constituída, inaplicável o art. 321 do CPC de 2015 (art. 284 do CPC de 1973) quando verificada, na petição inicial do "mandamus", a ausência de documento indispensável ou de sua autenticação.
p. 1773: A redação da OJ nº 54 da SDI-II do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016
Orientação Jurisprudencial nº 54 da SDI-II do TST. Mandado de segurança. Embargos de terceiro. Cumulação. Penhora. Incabível. Ajuizados embargos de terceiro (art. 674 do CPC de 2015 - art. 1.046 do CPC de 1973) para pleitear a desconstituição da penhora, é incabível mandado de segurança com a mesma finalidade.
p. 1789-1790: Os comentários à OJ nº 148 da SDI-II do TST foram alterados
Orientação Jurisprudencial nº 148 da SDI – II do TST. Custas. Mandado de
segurança. Recurso ordinário. Exigência do pagamento
É responsabilidade da parte, para interpor recurso ordinário em mandado de
segurança, a comprovação do recolhimento das custas processuais no prazo
recursal, sob pena de deserção.
Interpretando a lei do mandado de segurança em conjunto com o art. 895 da CLT, o
TST declinou ser cabível recurso ordinário das decisões definitivas em mandado de
segurança (Súmula nº 201 do TST).
Tratando-se, portanto, de recurso ordinário, ele está sujeito aos pressupostos
recursais destinados a esse recurso, o que inclui o pagamento das custas processuais.
Assim, deverá a parte recorrente comprovar o pagamento das custas processuais
dentro do prazo recursal. Registra-se que, interpondo o recurso antes do vencimento do
prazo recursal, o recorrente poderá comprovar o recolhimento das custas processuais
até o fim do prazo alusivo ao recurso, nos termos do art. 789, § 1º, da CLT. Dessa forma,
caso o recorrente interponha o recurso no 3º dia do prazo recursal, ele terá mais 5 dias
para comprovar o recolhimento das custas processuais nos autos.
Contudo, a parte final da presente orientação deverá ser melhor interpretada com o
advento do Novo CPC.
É que a nova ordem processual preconiza a busca pela decisão de mérito, afastando
vícios sanáveis, a fim de alcançar a tutela jurisdicional efetiva (NCPC, arts. 4º e 6º).
Nesse contexto, restringe a jurisprudência defensiva, sempre que seja possível sanar o
vício processual.
Trata-se do chamado princípio da primazia da decisão de mérito, o qual pode ser
verificado na fase recursal, dentre outros, no art. 932, parágrafo único e no art. 938, § 1º,
a seguir transcritos: Art. 932, parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá
o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a
documentação exigível.
Art. 938. § 1º Constatada a ocorrência de vício sanável, inclusive aquele que possa ser
conhecido de ofício, o relator determinará a realização ou a renovação do ato
processual, no próprio tribunal ou em primeiro grau de jurisdição, intimadas as partes.
(...)
Nesse contexto, o art. 1.007, § 2º, do NCPC309, que permite a complementação do
recolhimento do preparo, embora tenha mantido a mesma sistemática do Código
anterior, irradia seus efeitos para o processo do trabalho, devendo ser aplicado
subsidiariamente. Queremos dizer, aplica-se o Novo CPC, porque a CLT é omissa quando
à possibilidade de complementação, além do que a norma é compatível com o processo
do trabalho, pois este também preza pela tutela jurisdicional efetiva. No mesmo sentido,
o art. 10 da IN nº 39/2016, in verbis: Art. 10. Aplicam-se ao Processo do Trabalho as normas do parágrafo único do art. 932 do CPC, §§ 1º a 4º do art. 938 e §§ 2º e 7º do art. 1007. Parágrafo único. A insuficiência no valor do preparo do recurso, no Processo do Trabalho, para os efeitos do § 2º do art. 1007 do CPC, concerne unicamente às custas processuais, não ao depósito recursal.
Ademais, o art. 896, §11 da CLT, introduzido pela Lei nº 13.015/14, embasado na
mesma sistemática dos supramencionados dispositivos, permite que, quando o recurso
de revista contiver defeito formal que não se repute grave, o TST poderá desconsiderar
o vício ou mandar saná-lo, julgando o mérito. Vê-se que a CLT admite a possibilidade de
suprimento de vícios no recurso de revista que é um recurso de extraordinária, o que
significa que com maior razão deverá ser admitida no recurso ordinário.
Assim, caso o recolhimento das custas seja efetuado em valor inferior ao devido, por
corresponder a uma irregularidade forma, deverá ser oportunizada à parte a
possibilidade de complementar o valor.
Cumpre consignar ainda o que vaticinam os §§ 4º e 5º, do art. 1.007: § 4º O recorrente que não comprovar, no ato de interposição do recurso, o recolhimento
do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, será intimado, na pessoa de seu
advogado, para realizar o recolhimento em dobro, sob pena de deserção.
§ 5º É vedada a complementação se houver insuficiência parcial do preparo, inclusive
porte de remessa e de retorno, no recolhimento realizado na forma do § 4º.
Tais dispositivos ampliam consideravelmente a possibilidade de regularização
desse vício, passando a dar uma segunda chance para a parte realizar o recolhimento,
pois permite que, mesmo que não haja o recolhimento do preparo no momento da
interposição do recurso, a parte deverá ser intimada para fazê-lo, mas nesse caso em
dobro.
Portanto, a “deserção deixou de ser uma consequência automática do não
recolhimento do preparo e do porte de remessa e retorno. O sistema confere à parte
uma segunda chance para evitar a deserção”310.
309. Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação
pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção. (...) § 2º A
insuficiência no valor do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, implicará deserção se o
recorrente, intimado na pessoa de seu advogado, não vier a supri-lo no prazo de 5 (cinco) dias.
310. NERY Jr., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao código de processo civil. São Paulo:
RT, 2015. p. 2042.
Desse modo, a presente orientação, para que fique em consonância com a nova
ideologia processual, deve ser interpretada no sentido de que, somente depois de
intimado o recorrendo para recolher ou complementar as custas processuais e não o
fazendo, haverá deserção.
p. 1793: A redação da Súmula nº 415 do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016
Súmula nº 415 do TST. Mandado de Segurança. Petição inicial. Art. 321 do CPC de 2015. Art. 284 do CPC de 1973. Inaplicabilidade. Exigindo o mandado de segurança prova documental pré-constituída, inaplicável o art. 321 do CPC de 2015 (art. 284 do CPC de 1973) quando verificada, na petição inicial do "mandamus", a ausência de documento indispensável ou de sua autenticação.
p. 1795: A redação da OJ nº 54 da SDI—II do TST foi alterada pela Res. nº 208/2016
Orientação Jurisprudencial nº 54 da SDI-II do TST. Mandado de segurança. Embargos de terceiro. Cumulação. Penhora. Incabível. Ajuizados embargos de terceiro (art. 674 do CPC de 2015 - art. 1.046 do CPC de 1973) para pleitear a desconstituição da penhora, é incabível mandado de segurança com a mesma finalidade.