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PESQUISA SOCIAL: A ANÁLISE DE CONTEÚDO
D’ÁVILA, Ana Paula F.¹; TAVARES, Larissa F². 1 Universidade Federal de Pelotas/UFPel; 2 Universidade Federal de Pelotas/UFPel,
Resumo
Este ensaio versa sobre a problematização da aplicação da técnica análise de
conteúdo. Objetiva discutir as possibilidades e desdobramentos da análise de
conteúdo a partir de alguns textos do livro “Valorize a sua carreira (2003)” o qual
está organizado com reportagens publicadas no caderno “Empregos e
Oportunidades” do jornal Zero Hora. Buscando contextualizar tal fato no Rio Grande
do Sul e, em decorrência da variabilidade de perspectivas que versam sobre o
processo de operacionalização da técnica de análise de conteúdo, foram
selecionados alguns capítulos do livro acima mencionado adotando-se uma análise
a partir de dois rumos: uma que assenta na perspectiva predominantemente
quantitativa e outra assentada na perspectiva predominantemente qualitativa, na
tentativa de desvendar os significados presentes no texto, uma vez que a análise de
conteúdo “oscila entre os dois pó los do rigor da objetividade e da subjetividade,
absolve e cauciona o investigador pela atração do escondido, latente, não aparente,
potencial de inédito (do não-dito), retido por qualquer mensagem” (B ARDIN, 2011,
p.15). Na discussão da técnica a aplicação de ambas as abordagens e
procedimentos, a saber: indutivo e qualitativo; dedutivo e quantitativo num mesmo
conteúdo propicia a compreensão não somente do conteúdo da mensagem, mas
também o significado desse conteúdo, gerando então mais pontos a serem
explorados e debatidos na pesquisa.
Palavras-Chave: análise de conteúdo; dedução; indução
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1. Introdução
A perspectiva da análise de conteúdo é interessante ao ramo das ciências
sociais, pois além de realizar a descrição do conteúdo ainda infere-se a respeito dos
efeitos da mensagem no público leitor. Desse modo, propicia um método de
pesquisa sistematizado, tornando possível produzir dados relevantes à
problematização aliada a teorias afins ao problema de pesquisa.
Contudo, este ensaio focaliza-se na aplicação e discussão da técnica, tendo
em vista a importância de analisar documentos de uma maneira que se possam
conhecer outras realidades e não somente aquela da mensagem.
Segundo Pires (2010) “as ciências sociais não podem se contentar exclusivamente com os métodos científicos usuais, visando evidenciar o que está
escondido”, daí a importância, entre outras coisas, de dispor de investigações
quantitativas e qualitativas. É neste sentido que se procurou a metodologia análise
de conteúdo: quantitativa e qualitativa.
Para Cea D’Ancona (1998) ao longo do desenvolvimento das ciências sociais
existem diferentes abordagens metodológicas que, em geral, dependem do objeto
de estudo. Numa perspectiva que busca adequar metodologia e objeto a autoracoloca que se pode assinalar a utilização de técnicas as quais estejam alinhadas
com os objetivos da pesquisa, sendo a categorização destas técnicas amplamente
debatida por diversos autores. Desse modo, levando em consideração o objeto de
pesquisa, e os objetivos do trabalho compreende-se como fio condutor da análise
metodológica a análise de conteúdo.
Nesse ensaio, não se tem como objetivo discorrer acerca dos principais tipos
de pesquisas utilizadas no campo das Ciências Sociais, mas sim fazer um recortedestacando e discutindo a aplicação da técnica de análise de conteúdo a partir do
conceito de Bardin (2011).
Segundo a autora, a análise de conteúdo
é um conjunto de técnicas de análise das comunicações visandoobter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição doconteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) quepermitam a inferência de conhecimentos relativos às condições deprodução/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens(BARDIN, 2011, p. 48)
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O objeto de aplicação da técnica tem como tema o perfil profissional exigido
no mercado de trabalho. Desse modo, o tratamento dos resultados compreende de
um lado, a análise de conteúdo quantitativa e por outro lado, análise de conteúdo
qualitativa. Contudo, o tratamento é especificado ao longo do trabalho, mas não é
estanque, no sentido de que um pode implicar no outro.
Nesse sentido, os objetivos deste estudo compreendem em analisar as
características da mensagem nos textos sobre o perfil profissional; através da
análise temática do texto; descobrir quais os efeitos que se espera obter com as
mensagens, bem como explorar os valores e crenças do autor/autores da
mensagem veiculada e problematizar a aplicação da técnica.
O presente trabalho estrutura-se da seguinte maneira: primeiramenteabordamos o referencial teórico, pontuando as questões relevantes de acordo com
os objetivos do trabalho, num segundo momento descrevemos a aplicação da
técnica propriamente dita, em terceiro lugar expomos os resultados e realizamos a
discussão, e, logo apresentamos a conclusão.
2. Desenvolvimento
2.1 Referencial teórico:
De acordo com Bardin (2011, p. 52) a análise de conteúdo tem como objetivo
a manipulação de mensagens, tanto de conteúdo como de expressão de conteúdo
“para evidenciar os indicadores que permitam inferir sobre uma outra realidade que
não a da mensagem”. Assim, a análise de conteúdo difere da análise documental a
qual tem como objetivo “a representação condensada da informação, para consulta
e armazenamento” (Bardin, 2011, p. 52).
Quando comparada à linguística a autora coloca que
a linguística estabelece o manual do jogo da língua; a análise deconteúdo leva em consideração as significações (conteúdo),eventualmente a sua forma e a distribuição desses conteúdos eformas (índices formais e análise de coocorrência) (BARDIN, 2011,p. 49)
A análise de conteúdo visa à descrição do mesmo, mas não é só isso, pois
após o tratamento dos dados pode-se compreender aquilo que ele explica no seu
contexto mais amplo. Desse modo, neste estudo, segue-se a perspectiva de Bardin
(2011) no sentido de adotar primeiramente como procedimento a descrição analítica.
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A descrição analítica seria um primeiro momento da técnica, pois “a intenção
da análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção (ou eventualmente, de recepção), inferência esta que recorre a
indicadores (quantitativos ou não)” (Bardin, 2011, p. 44). Seria o momento de
deduzir e interpretar a descrição, através então da inferência e da análise de
conteúdo qualitativa a qual visa descobrir os valores, crenças e atitudes do autor/
autores.
Entretanto “se a descrição é a primeira etapa necessária e se a interpretação
é a última fase, a inferência é o procedimento intermediário, que vem permitir a
passagem explícita e controlada de uma à outra” (Bardin, 2011, p. 45). Busca-se,
então, explicar os efeitos das mensagens contidas nos textos em questão. Nessesentido, a inferência é a dedução lógica.
A abordagem quantitativa funda-se na frequência da aparição dedeterminados elementos da mensagem a abordagem nãoquantitativa recorre a indicadores não frequenciais suscetíveis depermitir inferências [...], por exemplo, a presença (ou ausência) podeconstituir um índice tanto (ou mais) frutífero que a frequência deaparição. (BARDIN, 2011, p. 144)
Nesse sentido, é possível predizer que a análise quantitativa obtém dados
descritivos por meio de método estatístico, buscando obter significados: “esses
saberes deduzidos dos conteúdos podem ser de natureza psicológica, sociológica,
histórica” (Bardin, 2011, p. 44). A fim de ilustrar tal fato segue-se o exemplo das
caixas de sapatos:
Imagine-se certo número de caixas, por exemplo, de sapatos [...] atécnica consiste em classificar os diferentes elementos nas diversasgavetas segundo critérios suscetíveis de fazer surgir um sentidocapaz de introduzir alguma ordem na confusão inicial (Bardin, 2011,
p. 43)
Em contrapartida, a autora coloca que “a análise qualitativa seria um
procedimento mais intuitivo” (Bardin, 2011), devido ao fato de que nessa, o
pesquisador busca encontrar, por meio da análise, o contexto de produção da
mensagem – as ideias promovidas pelo autor - explorando os valores, e crenças
veiculados pelo autor que permeiam o texto, enquanto que na análise quantitativa é
necessário contar a presença das palavras/ ideias, isto é, contar e montar
categorias.
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Desse modo, o que caracteriza a análise quantitativa é o fato de se constituir
primeiramente, a contagem e organização das categorias e segundo realizar a
inferência, e esta, conforme Bardin (2011) deve ser fundada na presença do índice
(tema, palavra, personagem etc.), e não sobre a frequência da sua aparição em
cada comunicação individual, tendo em vista seu objetivo de deduzir os efeitos da
mensagem no leitor.
2.2 Descrição da aplicação da técnica:
As fases da análise de conteúdo obedecem aos critérios gerais colocados por
Bardin (2011), a saber: pré-análise, exploração do material, tratamento dosresultados, inferência e interpretação.
Dessa forma, nesse estudo, durante a pré-análise realizou-se a leitura
flutuante, a qual consiste em “estabelecer o primeiro contato com o texto” (BARDIN,
2011, p. 126). O primeiro passo realizado foi o procedimento indicado a fim de
organizar os elementos, visualizar as ideias e conceitos da mensagem. Na
sequência, escolheu-se o documento, elaboraram-se os objetivos e hipóteses. Ao
longo dos textos analisados existem testes e resultados oferecidos ao leitor com oobjetivo de verificação e atualização, entretanto, os mesmos não foram analisados
neste ensaio, uma vez que foram priorizados os textos escritos pelos autores
conforme publicados no jornal.
Num segundo momento, o material foi organizado por amostragem de forma a
constituir um corpus o qual obedece aos critérios de exaustividade;
representatividade; adequação e homogeneidade, conforme Richardson (2008).
Nesse sentido, para este estudo, consideramos a exaustividade comocompreendendo o livro em questão, pois ele está organizado a partir de reportagens
publicadas durante determinado período no jornal Zero Hora1. Já no critério de
representatividade o livro obedece à regra da homogeneidade, ou seja, as
reportagens foram produzidas tendo por base o mesmo tema, a saber, emprego e
oportunidades. Quanto ao critério de adequação, considera-se que o livro
corresponde aos objetivos do presente ensaio.
1 O jornal Zero Hora circula nos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Fundado em
maio de 1964.
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Na análise quantitativa, por exemplo, após a leitura flutuante estabeleceram-
se operações de codificação, ordenação dos elementos e categorias a serem
utilizados no estudo. Nesse sentido, a elaboração e codificação dos resultados
respondem aos critérios de objetividade, sistematização e generalização conforme
Richardson (2008). De acordo com o autor, esses critérios tangem respectivamente,
a não ambiguidade do código estabelecido; a possibilidade que os resultados sejam
sistematizados e generalizados ao conjunto do documento.
O procedimento quantitativo baseia-se nos conceitos defendidos por Bardin
(2011) e compreende a freqüência com que as palavras aparecem no texto. Assim,
as unidades de registro consideradas são às palavras; e unidade de contexto diz
respeito à frase. O critério de categorização utilizado corresponde ao semântico, por exemplo, os elementos que refletem comprometimento serão agrupados nesta
categoria temática e assim por diante.
Depois de elaboradas as categorias por meio de operações estatísticas,
realiza-se a síntese e seleção dos resultados em forma de tabela, bem como a
inferência, a qual de acordo com Richardson (2008 apud LASWELL, et al., 1952)
implica em responder às questões: “quem diz o que, a quem, como e com que
efeito?” deduzindo, assim, logicamente o efeito visado pela mensagem.Na busca pelos elementos presentes no mercado de trabalho da conjuntura
brasileira, utilizaram-se como base para análise as características elencadas por
BOLTANSKI E CHIAPELLO (2009):
Autonomia; espontaneidade; mobilidade; capacidade rizomática;polivalência; comunicabilidade; abertura para os outros e para asnovidades; disponibilidade; criatividade; intuição visionária;sensibilidade para as diferenças; capacidade de dar atenção àvivência alheia; aceitação de múltiplas experiências; atração pelo
informal; busca de contatos interpessoais (BOLTANSKI eCHIAPELLO, 2009, p. 130).
Além disso, realizou-se a análise de conteúdo qualitativa visando descobrir
valores e atitudes dos autores. Dessa forma a análise de conteúdo qualitativa,
obedece aos critérios estabelecidos por Bardin (2011) tendo como unidade de
análise os elementos não gramaticais, ou seja, analisam-se dois capítulos do livro
para determinar os valores e atitudes que são estimadas e incentivadas ao público-
alvo interessado. Como unidade de contexto compreende-se o parágrafo e oscritérios de categorização são critérios de intensidade (tempo do verbo: futuro,
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condicional, imperativo); a semântica do verbo: advérbios de modo e adjetivos
qualificativos; e critérios de qualidade: a. bom +; b. ruim -.
2.3 Exposição dos resultados e discussão
Como forma de operacionalizar o objetivo em questão, partindo das
categorias propostas por Boltanski (2009), foram organizadas categorias que
abarcassem e estivessem em consonância com os elementos em voga atualmente
no mercado de trabalho. Desse modo, sistematizaram-se esses elementos em
categorias por meio da contagem de freqüência em que os mesmos surgem ao
longo do texto:
Categorias Frequência
a. equilíbrio emocional 36
b. criatividade 7
c. flexibilidade e adaptabilidade 25
d. iniciativa/autonomia/ autodesenvolvimento 50
e. habilidade de relacionamento interpessoal 23
f. postura empreendedora 30
g. comprometimento 21
h. qualificação profissional não é suficiente 6
Para agrupar os elementos em determinadas categorias utilizamos os
seguintes critérios:
a) Equilíbrio emocional: compreende a conciliação entre coração
(sentimentos) e razão, ou seja, há relação direta entre a estabilidade nas relações
familiares e harmonia no ambiente de trabalho; cuidar da mente e do corpo, através
da alimentação, do exercício físico e se preciso terapia; ter outros valores como a fé.
b) Criatividade: pessoa que busca soluções criativas para os problemas que
surgem;
c) Flexibilidade e adaptabilidade: capacidade de aprender e desaprender o
tempo todo se adaptando as circunstâncias da melhor forma possível;
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d) Iniciativa/autonomia/autodesenvolvimento: capacidade de resolver
problemas e tomar iniciativas; capacidade de responder as exigências técnicas e
tecnológicas que surgem; estar atento às mudanças e tendências;
e) Habilidade de relacionamento interpessoal: habilidade de relacionar-se com
vários grupos de pessoas, culturas, e setores da hierarquia profissional;
f) Postura empreendedora: estar atento às tendências do mercado, ter visão
de negócio, trocar informações por meio de seminários, colegas;
g) Comprometimento: gostar do que faz e estar atento aos resultados da
empresa;
h) Qualificação profissional não é suficiente: títulos acadêmicos e histórico na
carreira não são suficientes para manter-se no emprego.
Assim, a partir da análise dos textos e através da contagem de frequência dos
elementos que estão em voga no mercado, obteve-se um quadro inicial, daquilo que
vem sendo descrito como elementos solicitados no mesmo, tendo como carro chefe
a categoria iniciativa/autonomia/autodesenvolvimento, seguido de equilíbrio
emocional, postura empreendedora, flexibilidade e adaptabilidade, habilidade de
relacionamento interpessoal, comprometimento, criatividade, e qualificaçãoprofissional.
A maioria desses elementos corresponde às características elencadas por
Boltanski e Chiapello (2009), entretanto no presente ensaio designaram-se critérios
próprios de classificação dos elementos, dispondo o que cada categoria de análise
contemplaria e desse modo, não se utilizou a mesma descrição daquilo que os
elementos de Boltanki e Chiapello (2009) abarcam.
Dessa forma, uma vez que os discursos sobre os elementos solicitados noatual mercado brasileiro não priorizam somente a qualificação profissional, mas sim
questões como iniciativa autonomia e autodesenvolvimento, isto é, há uma
preponderância de elementos subjetivos tendo como efeito no público leitor, a
valorização dos mesmos.
Assim, deduziu-se que o efeito no público leitor seria o de repensar não só
sua atualização perante a qualificação profissional, mas incentivar o envolvimento
subjetivo, psíquico e social no processo de trabalho, ou seja, “o indivíduo é instado a
apelar para técnicas próprias de sobrevivência, seja material ou psíquica”
(BENDASSOLI, 2000, p. 211). Nesse sentido, conforme o autor, seja para arrumar
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um emprego ou até mesmo um relacionamento afetivo, um novo discurso
empresarial incita agora a todos a se pautarem pela própria ação individual.
Refletindo acerca de tal fato e considerando que o mercado mudou de
fisionomia, alterando as regras do jogo de maneira muito dinâmica, é possível
considerar que, não só os níveis de escolarização subiram como também “o
refinamento dos currículos e das experiências se tornaram mais complexas”.
(BENDASSOLI, 2000, p. 205).
Tendo em vista tais mudanças no mercado, a partir da análise qualitativa dos
textos é possível perceber uma argumentação no sentido de fomentar o
autoconhecimento, um cuidado de si, ser mais altivo, a adaptabilidade às mudanças
constantes, dentre outros aspectos, isto é, um discurso em que o indivíduo “não visaa nada senão a si mesmo, não tem outra meta senão seu próprio desenvolvimento
pessoal” (BENDASSOLI, 2000 p. 215), o qual aparece estritamente relacionado ao
desenvolvimento profissional, como se o esforço por desenvolvimento pessoal
refletisse em igual medida no trabalho do indivíduo.
Verifica-se também ao longo dos textos um receituário o qual sugere tanto
exercícios físicos, como também alimentação balanceada e terapia. Dentre outros
aspectos, os valores por detrás das reportagens organizadas no livro (Oliveira, 2003)dizem respeito a um saber ser, que deveriam auxiliar na inter-relação, na adaptação
do trabalhador, no saber se relacionar com os demais e na necessidade de ser bem
humorado. Em geral, pode-se dizer que os textos objetivam tratar da importância do
equilíbrio entre mente e corpo.
Nesse sentido, as exigências estão voltadas mais no nível de atitude das
pessoas, uma vez que “os profissionais são contratados pelo seu conhecimento e
habilidades e demitidos por questões relacionadas a comportamento” (OLIVEIRA,2003, p. 23). Ademais se coloca ainda a questão da autoconfiança a qual pode ser
adquirida pela constante autoavaliação que permite o aprendizado dos próprios
limites. Nesse sentido o texto veicula que o “autoconhecimento é a capacidade de
avaliar de maneira coerente com a realidade as próprias virtudes e dificuldades,
evitando distorções em relação a si mesmos e aos outros ” (OLIVEIRA, 2003, p.35).
A questão da realização pessoal aparece no texto, sempre atrelada à realização
profissional e, desse modo, percebeu-se que a respeito da realização pessoal,
considerada única e exclusivamente, esta aparece somente uma vez no texto.
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Verifica-se ainda que o indivíduo é posto como um indivíduo autocontrolado
(controle interiorizado), pois de acordo com o texto argumenta-se que quando o
individuo não se autoconhece está à mercê de emoções e impulsos o que dificulta,
dentre outros aspectos, por exemplo, o trabalho em equipe. Tal indivíduo é remetido
também à ideia de empreendedor de sim mesmo, no sentido que Bendassoli (2000,
p. 217) destaca: “é dentro dessa nova realidade que o indivíduo é convocado a
tomar seu lugar e a fazer de si mesmo seu melhor patrimônio”.
Prevalece, ainda, a questão de relações de trabalho não verticais, onde a
importância então é colocada na rede de contatos, na horizontalidade nas relações,
cooperação, na forma de sociabilidade, dentre outros aspectos. Conforme
Bendassoli (2000 apud EHRENBERG, 1998) a percepção de uma modificação nasregras de sociabilidade é possível de ser notada em quaisquer domínios, tais como
na empresa, na escola ou na família. Tais regras,
não mais se articulam em torno de noções como obediência,disciplina ou conformidade à moral; pelo contrário, as noções agoraem uso são flexibilidade, mudança, rapidez de reação, motivação,comunicação, entre tantas outras do gênero. Domínio de si, agilidadepsíquica e afetiva, capacidade de ação, impõem a todos “a tarefa deadaptação permanente a um mundo que perde precisamente suapermanência, um mundo instável, provisório, feito de fluxos e de
trajetórias irregulares. Bendassoli (2000 apud EHRENBERG, 1998)
Nesse sentido, enfatiza-se ainda ao longo dos textos a importância do
equilíbrio nas relações familiares, por exemplo, “o ser humano é como uma hélice de
duas pás: de um lado o trabalho, e do outro, a família. Quando uma das pás está
quebrada, o avião não decola” (OLIVEIRA, 2003 p. 55). Desse modo, evidencia-se
que os valores e crenças dos autores dos textos analisados estão afinados com a
transformação do mercado de trabalho, guiando o público alvo a reorganizar-se
frente a essas transformações e não questionando as novas questões suscitadas,mas partindo delas de forma a legitimá-las.
Partindo dessa perspectiva, pode-se dizer que se presencia hoje uma fase
incerta em “que se misturam uma antiga sociedade de trabalhadores e uma
sociedade de indivíduos impulsionados à tomada do controle de sua própria vida
com os recursos que têm”. (BENDASSOLI, 2000, p. 225). Corroborando essas
questões e a fim de ilustrar tal fato, Oliveira (2003, p. 10) aponta que “a empresa tem
plano estratégico. Plano de carreira quem tem é o profissional. Portanto, o únicoresponsável pelo seu desenvolvimento pessoal e profissional é você mesmo”
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deixando claro o controle e equilíbrio entre esfera pessoal e profissional que o
indivíduo deve ter em mente para se manter no mercado de trabalho.
3 .Conclusão
Definida a unidade de análise e o argumento de pesquisa, é preciso se
pensar a técnica que melhor operacionaliza esta verificação. Ao pesquisar
documentos, o pesquisador se depara com o excesso de documentação e
informações disponíveis sobre o assunto abordado. Desse modo, ao coletar as
fontes a serem utilizadas, é importante testar a validade e fidedignidade dessas
informações para que estas não sejam inexatas ou errôneas (LAKATOS, 2010).Como toda metodologia, a metodologia análise de conteúdo tem seus prós e
contras. Nesse sentido, os aspectos positivos dizem respeito ao que o pesquisador
por meio dela pode acessar nos documentos e modos de pensar de um determinado
tempo-espaço e relacioná-los com outro contexto, problematizando-os. Entretanto a
referida metodologia de pesquisa necessita de tempo para ser realizada, e antes
disso, treino.
É preciso também dar atenção à teoria a ser utilizada na pesquisa, a fim de seter maior familiaridade com o tema para a elaboração das categorias que irão
operacionalizar a pesquisa. Para isso, é possível começar aplicando os referenciais
metodológicos em textos diversos a fim de que o pesquisador exercite e adquira
prática no procedimento, conhecendo também seu próprio tempo necessário para
cada análise.
Não obstante, o método análise de conteúdo quantitativa oferece ao
pesquisador subsídios para sistematizar, organizar e deduzir aquilo que amensagem tem como objetivo, ou seja, aquilo que ela visa causar. Outro ponto
interessante que pode ser analisado é o efeito da mensagem no leitor, uma vez que,
o método de análise de conteúdo qualitativo propicia ao pesquisador investigar os
valores, e crenças do autor do referido texto.
Desse modo, considera-se relevante ao analisar um documento, adotando a
perspectiva de análise de conteúdo, considerar ambas as análises, a saber,
quantitativa e qualitativa a fim de cercar o documento e fornecer tanto à pesquisa,
como posteriormente ao leitor, mais elementos que auxiliem a compreender, explicar
e problematizar a realidade.
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Neste estudo, a aplicação de tal técnica possibilitou o conhecimento prévio do
objeto analisado, bem como uma maior aproximação das teorias utilizadas para este
estudo. A partir disso, foi possível complementar algumas informações e resultados
obtidos durante a análise que será corroborada futuramente a partir da aplicação de
outras técnicas e quem sabe, do processo de triangulação - “combinação de
métodos de investigação (não similares) na medição de uma mesma unidade de
análise”. (CEA D`ANCONA, 1998, p. 52)
Além disso, outro aspecto relevante, além das leituras atentas ao texto objeto,
é o fato de explicitar no trabalho como se chegou a tal conclusão e que
procedimentos foram adotados. Ainda assim, deve-se realizar uma análise crítica do
texto, tentando pensar como o mesmo foi construído.Por fim, pode-se mencionar que hoje o pesquisador tem a sua disposição,
determinados softwares2 especialmente desenvolvidos como os programas de
computador destinados à análise quantitativa e qualitativa. Dessa maneira, ao
utilizar esses programas o pesquisador tem um ganho de tempo significativo, porém
é preciso praticar, a fim de conhecer o programa.
2Programa ou grupo de programas que instrui o hardware sobre a maneira como ele deve executar uma
tarefa, inclusive sistemas operacionais, processadores de texto e programas de aplicação.
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Referências:
BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.
BENDASSOLLI, Pedro Fernando. Público, privado e o indivíduo no novo
capitalismo. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo,12(2): 203-236, novembro
de 2000.
BOLTANSKI, Luc; CHIAPELLO, ÈVE. O Novo Espírito do Capitalismo. São Paulo:
Editora WMF Martins Fontes, 2009. P. 117-132.
CEA D’ANCONA, M.ª Ángeles. El análises de la realidade social: aproximaciones
metodológicas. In: Metodología cuantitativa: estratégias y técnicas de investigación
social. Madrid: Editorial Síntesis, S.A. 1998. P. 43-77.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de A. Projeto e relatório de pesquisa. In:
Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 2010.
OLIVEIRA, Deise de (Org.). Valorize sua carreira: como ter uma trajetória
profissional de sucesso. Porto Alegre: RBS Publicações, 2003. P. 9-55.
PIRES, ÁLVARO P. Sobre algumas questões epistemológicas de uma
metodologia geral para as ciências sociais. In: A pesquisa qualitativa: enfoques
epistemológicos e metodológicos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. P. 43-94.
RICHARDSON, Roberto J. Análise de Conteúdo. In: Pesquisa Social: Métodos e
Técnicas. São Paulo: Atlas, 2008. P. 220-244.