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Page 1: C M Y K - Raul Seixas Oficial Fã-Clube | Raul Rock Club ... 1977,Raul Seixas re-cebeu em seu aparta-mento de Copacaba-na, no Rio de Janeiro, um fã que, aos poucos, con-vertera-se

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CORREIO BRAZILIENSEBrasília, terça-feira, 13 de agosto de 2013

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Ouça e compare trechos das três versões.

» GABRIEL DE SÁ

Em 1977, Raul Seixas re-cebeu em seu aparta-mento de Copacaba-na, no Rio de Janeiro,

um fã que, aos poucos, con-vertera-se em amigo. EraLuiz Silveira, então com 17anos. No violão, o roqueiromostrou ao rapaz uma com-posição feita com o parceiroClaudio Roberto, batizada deA loucura de Eva. Contudo,apesar da associação bem-sucedida com Claudio — adupla criou clássicos, comoMaluco beleza e O dia em quea terra parou —, Raul prefe-riu não gravá-la como foraconcebida. Com outra letra erenomeada Por quem os si-nos dobram, agora coassina-da com o argentino OscarRasmussen, Raul registrou afaixa dois anos depois. A pri-meira versão foi para a gave-ta, mas inspirou o mesmoLuiz Silveira a escrever, comautorização do ídolo, suaadaptação para a canção.

O Correio teve acesso aosversos inéditos de A loucura

de Eva. Apesar de menospre-zada pelo roqueiro, ela per-maneceu intacta na memóriade Claudio Roberto e de TaniaMenna Barreto, companheirade Raul na segunda metadedos anos 1970. Foi ela quemcantou, ao telefone, a músicaoriginal. A história da compo-sição guardada havia sido ci-tada no documentário Raul— O início, o fim e o meio(2012), no qual o refrão é en-toado por Claudio. Esta é aprimeira vez, entretanto, queoutros trechos da música che-gam ao grande público.

O carioca Claudio Robertoconheceu Raul quando tinha11 anos de idade e tornou-secompositor por influênciadele. Desde 1977, vive retira-do em um sítio na zona ruralde Miguel Pereira (RJ). Aos 61anos, disse não saber, e nemse importar, com a razão pelaqual A loucura de Eva não tersido gravada.“Não faço a me-nor ideia, amigo. Isso ele le-vou para o túmulo”, comen-tou. “Na época, algumas pes-soas queriam que eu brigas-se com ele por esse ou por

aquele interesse, e eu aviseilogo que eu não era parceirodo Raul, era amigo.”

Tania Menna Barretoaprendeu os versos da can-ção feita por Raul e Claudio eos guardou com carinho.“Eucanto ela de vez em quandoao violão, inclusive em al-guns shows que fiz”, desta-cou. A ex-companheira doartista diz preferir A loucurade Eva à segunda versão, eacredita que a letra de Porquem os sinos dobram trazvários recados de Raul paraela, já que, quando foi re-criada, o casal ensaiava umacrise. “É sempre mais fácilachar que a culpa é do ou-tro”, cantarola, citando umdos versos da parceria comOscar Rasmussen, morto hádois anos na Argentina, víti-ma de câncer.

Sylvio Passos, fundador doprimeiro fã-clube oficial deRaul, também conhece asduas letras, mas discorda deTania. “O texto de Por quemos sinos dobram é muito maisimpactante e atemporal doque o de A loucura de Eva.

Acho que o Raul não curtiumuito, não. É interessante abrincadeira com Darwin e tal,mas penso que ele optou poruma coisa mais ampla”, suge-re. Segundo Passos, era co-mum o roqueiro baiano refa-zer algo de que não tinha gos-tado.“Muitas músicas do Raultêm vários textos diferentes.Ele aproveitava a melodia erescrevia, com outra ideia nolugar”, afirmou.

Bobagem/Coragem

Quando Raul cantou A lou-cura de Eva para Luiz, disse aele que gostava muito do re-frão, mas nem tanto do res-tante da poesia. “E eu, ousa-damente, pedi pra tentar mu-dar”, lembra o fã, hoje produ-tor cultural, aos 53 anos. Rauldeixou. O resultado é Emquem Eva mamou?, inspira-da na temática original e derefrão semelhante, mas commelodia diferente. A faixa foicolocada no YouTube há algu-mas semanas, com vocais deAndré 14 Voltas, e deu inícioao resgate dessa história.

Por quem os sinos dobram,mesmo título do romance doamericano Ernest Heming-way, versa sobre auto-avalia-ção e encorajamento. A ori-ginal, de viés feminista, res-salta a importância de Eva naorigem do homem. Foi poresse caminho que Luiz Sil-veira seguiu. “Fiz o que Raulme pediu: mantive o refrão emudei todo o restante, enal-tecendo a figura da mulher.Em Por quem…, ele aprovei-tou duas sequências de notasda original e, no refrão, emvez de ‘bobagem’, usou ‘cora-gem’”, detalha.

Silveira demorou muitosanos para mostrar o que ti-nha feito a Raul, mas diz tertido a aprovação dele no ca-marim de um show comMarcelo Nova, no Rio, já nofim da vida do ídolo. O últi-mo suspiro de Raul nos pal-cos, parte desta mesma tur-nê, aconteceu em Brasília,há exatos 24 anos. O roquei-ro seria encontrado mortoem seu apartamento em SãoPaulo, em 21 de agosto de1989, aos 44 anos.

Canção escrita com o amigo Claudio Roberto foideixada de lado e ganhou novos versos naparceria de Oscar Rasmussen. O Correiodivulga trecho da versão original e contasobre outra adaptação, feita por um fã

Compare os trechosA loucura de Eva(Primeira estrofe erefrão da composiçãoinédita de Raul Seixas eClaudio Roberto)

Ninguém tem certeza a respeito da origem do homemPois a vida nãocomeçou onde a história começaMil teorias, é gentefalando à beçaE tudo que meoferecem tá semprefaltando uma peça(…)Bobagem, bobagem,pensar que o homemnasceu de um macacoqualquerBobagem, bobagem, ohomem nasceu da mulher

Por quem os sinosdobram(Primeira estrofe erefrão da parceria deRaul e OscarRasmussen, gravadaem 1979, com a mesmada melodia anterior)

Nunca se vence umaguerra lutando sozinhoCê sabe que a genteprecisa entrar em contatoCom toda essa forçacontida e que viveguardadaO eco de suas palavrasnão repercutem em nada(…)Coragem, coragem, se oque você quer é aquiloque pensa e fazCoragem, coragem, eusei que você pode mais

Em quem Evamamou?(O fã Luiz Silveira seaproveitou do refrão daversão original para,com autorização deRaul, criar uma nova canção)

(…) Dão sempre a ela opapel de vilãE ele o Narciso, macaco galãSe é paraíso, pra quê sutiã?Com ou sem leite, seentregue ao deleiteAproveite o prazer da maçã(…)Bobagem, bobagem,bobagem, bobagemDizer que o homemveio de um macaco qualquerBobagem, bobagem,bobagem, bobagemO homem veio mesmofoi de uma mulher

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