CADERNO TEMÁTICO
O CURRÍCULO DISCILPINAR E O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO COMO
ARTICULADORES DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DO CEEBJA
LONDRINA2011
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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOSuperintendência da Educação
Diretoria de Políticas e Programas EducacionaisPrograma de Desenvolvimento Educacional
PROFESSORAS : ELENIR APARECIDA COSTA SILVA TÂNIA HELENA TORRES GUIMARÃES
Autoras: Profª Elenir Aparecida Costa Silva
Profª Tânia Helena Torres Guimarães
Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos – Professora Linda Eiko Akadi Miyadi
Orientadora: Professora Doutora Adriana Medeiros Farias
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Universidade Estadual de Londrina
O CURRÍCULO DISCIPLINAR E O PROJETO PEDAGÓGICO COMO
ARTICULADORES DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DO CEEBJA
“..não existe prática sem teoria, como também não existe teoria que não tenha nascido de uma prática, porque o importante é que a reflexão seja um instrumento dinamizador entre prática e teoria. Porém, não basta pensar, refletir, o crucial é fazer com que a reflexão nos conduza à ação transformadora, que nos comprometa com nossos desejos, nossas opções, nossa história”
(FREIRE, 1996, p.39)
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 5Tema I – As Políticas Públicas para a Educação de Jovens e Adultos no
Estado do Paraná a partir dos Anos 80 e a Trajetória da História do
CEEBJA
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Tema II - A Ação do pedagogo no CEEBJA 12Tema III - O Curriculo do CEEBJA 15Tema IV - Análise da Proposta Pedagógica do CEEBJA 19Tema V - Reflexões para (re) Construção do Projeto Politico Pedagógico do
CEEBJA23
REFERÊNCIAS 29
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INTRODUÇÃO
O presente Caderno Temático foi idealizado e construído no
segundo semestre de participação do Programa de Desenvolvimento Educacional-
(PDE) da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, sob a orientação da
Professora Doutora Adriana Medeiros Farias, da Universidade Estadual de Londrina-
(UEL). O trabalho realizado tem como espaço de pesquisa o Centro Estadual de
Educação Básica para Jovens e Adultos Professora Linda Eiko Akadi Miyadi-
(CEEBJA) que oferta a escolarização para jovens, adultos e idosos que buscam dar
continuidade a seus estudos no Ensino Fundamental e Médio.
A Instituição tem por objetivo assegurar oportunidades apropriadas
de estudo, consideradas suas características, interesses, condições de vida e de
trabalho, mediante ações didático-pedagógicas coletivas e/ou individuais.
Este Caderno Temático tem como Tema principal “ O Currículo e o
Projeto Político Pedagógico como Articuladores da Prática Pedagógica do Centro
Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos Professora Linda Eiko Akadi
Miyadi -Ensino Fundamental e Ensino Médio do Município de Apucarana-Paraná”. O
material está organizado em cinco temas, quais sejam:
• Tema I Políticas Públicas para Educação de Jovens e Adultos do Estado do
Paraná e a Trajetória da História do CEEBJA
• Tema II A Ação do pedagogo do CEEBJA
• Tema III O Currículo Discilpinar do CEEBJA
• Tema IV Análise da Proposta Pedagógica do CEEBJA
• Tema V Reflexão para a (re) Construção do Projeto Político Pedagógico do
CEEBJA
Os temas propostos buscam elucidar os fatos relevantes da história
da Educação de Jovens e Adultos do Paraná e do CEEBJA no sentido de
compreender a história e analisar a Proposta Pedagógica Curricular com o intuito de
(re) construir o Projeto Político Pedagógico, compreendido como elemento
orientador das ações educativas da Escola.
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Esse material será usado na implementação pedagógica no
CEEBJA, ação prevista pelo Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), com
os professores das Ações Pedagógicas Descentralizadas (APEDs), com encontros
previstos qinzenalmente tendo como foco fundamental, a dinamização da prática
pedagógica voltada para os educandos jovens e adultos da Instituição.
Diante disso torna-se imprescindível nesse estudo permitir que todos
os envolvidos questionem e busquem novas possibilidades para contribuir com a
revisão das ações realizadas para os educandos Jovens e Adultos do CEEBJA.
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TEMA I
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DO
ESTADO DO PARANÁ E A TRAJETÓRIA DA HISTÓRIA DO CENTRO ESTADUAL
DE EDUCAÇÃO BÁSICA PARA JOVENS E ADULTOS PROFESSORA LINDA
EIKO AKADI MIYADI
A Educação de Jovens e Adultos no Paraná a partir da década de 1980 e o
CEEBJA - Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos
Professora Linda Eiko A. Miyadi.
Na década de 1980, no Estado do Paraná, foram criados os Centros
de Estudos Supletivos (CES), passando a Centros de Educação Aberta Continuada
à Distância (CEAD) em 1998 e logo após em 1999, passaram a ser denominados
Centros Estaduais de Educação Básica para Jovens e Adultos (CEEBJAS). Nessa
época foram criados também os Termos de Cooperação Técnica (ICIS) - Convênios
entre Secretaria de Estado da Educação e empresas, entidades públicas e privadas
que desejassem escolarizar seus funcionários.
Com a Lei de Diretrizes e Bases de 1996 a Educação de Adultos
evidencia que o Ensino Supletivo passa a denominar Educação de Jovens e Adultos.
Com a LDB 9394/96, a nomenclatura Ensino Supletivo passa para EJA. Com o
Parecer CEB/CNE 11/2000 que respaldou a Resolução do CNE de Diretrizes
Curriculares para a EJA, são enfatizadas as mudanças da nomenclatura de ensino
supletivo para EJA, o direito público subjetivo dos cidadãos à educação, as funções:
reparadora; equalizadora e qualificadora, assim como distingue a EJA da aceleração
de estudos, concebe a necessidade de contextualização do currículo e dos
procedimentos pedagógicos e aconselha a formação específica dos educadores.
(PAIVA,1987)
7
Vamos conhecer as políticas públicas da Educação de Jovens e Adultos do Estado do Paraná e a trajetória da história do Centro Estadual de Educação Básica para
Jovens e Adultos?
Um avanço para a EJA foi a promulgação das Diretrizes Nacionais
para a Educação de Jovens e Adultos em 1999, elaborada pelo Conselho Nacional
de Educação que supera a visão preconceituosa do analfabeto ou iletrado como
inculto ou apto apenas para as tarefas desqualificadas no mundo do trabalho. Elas
passam a valorizar as especificidades de tempos e espaço para seus educandos,
tratamento presencial dos conteúdos curriculares, o respeito a faixa etária bem
como, a formulação de projetos pedagógicos próprios e específicos para a
modalidade de ensino (Brasil,2000).
Em 1996 foi fundado pela Resolução N° 4.807/96, o CEEBJA -
Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos Professora Linda Eiko
A. Miyadi, no Município de Apucarana.
A Instituição é uma Escola Pública mantida pelo Governo do Estado
do Paraná e supervisionada pela Secretaria de Estado da Educação e denominado
Centro de Estudos Supletivos (CES). A escola foi reconhecida através da Resolução
N° 4033/97 de 17/12/1997 e de acordo com a Resolução nº 3120/98 passou a
denominar-se Centro de Educação Aberta, Continuada a Distância (CEAD). Ainda
em 1998, a instituição passou a ofertar e executar os Exames de Suplência,
atendendo ao disposto na Lei n° 9394/96, autorizado e credenciado pela Secretaria
de Estado da Educação, por meio de Edital próprio, emitido pelo Departamento de
Educação e Trabalho.
A Resolução 4561/99 de 15/12/99 determinou que o CEAD
passasse a denominar-se Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e
Adultos (CEEBJA), em função da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) 9394/96, que
redefiniu o Ensino Supletivo como uma modalidade de Educação Básica para
Jovens e Adultos, com uma sistemática de Ensino Presencial, com autonomia para
funcionar em diferentes locais por meio das Ações Pedagógicas Descentralizadas
(APEDs) do CEEBJA.
Ainda nessa mesma década no Estado do Paraná, iniciaram os
projetos de escolarização aos educandos em privação de liberdade nas unidades
penitenciárias e nas unidades sócio-educativas nessa modalidade de ensino. A
Secretaria de Estado da Educação estabelece convênios com organizações não
governamentais, visando a oferta de alfabetização de jovens e adultos no meio
urbano, rural e indígena.
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A Resolução Nº 2.618 de 01 de novembro de 2001 proíbe as
matrículas no Ensino Fundamental regular noturno, obrigando os estudantes a
migrarem para a EJA. Isso intensificou as matrículas no CEEBJA de Apucarana.
Nesse mesmo ano a escola passou a denominar-se Centro Estadual
de Educação Básica para Jovens e Adultos Professora Linda Eiko A. Miyadi, em
homenagem à grande educadora do Município de Apucarana (Res. 423/01).
Em 2002, o Estado Paraná constituiu um Fórum Paranaense de EJA
para discutir as políticas públicas, intensificando a articulação das instituições
governamentais, não governamentais, empresariais, acadêmicas e movimentos
sociais por meio de reuniões e dos Encontros Paranaenses de EJA (EPEJAs). Esses
movimentos paranaenses buscavam a ampliação do atendimento a escolarização da
população jovem e adulta referendada pela Constituição Federal.
Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Estado
do Paraná em 2001 contava com 649.705 pessoas não alfabetizadas o que
representava 9,5% da população.
No período de 1993, a 2003 a Secretaria de Educação do Paraná
financiou ações de alfabetização realizada em parceria com organizações não
governamentais. A partir de 2004, implantou o Paraná Alfabetizado, integrado às
políticas públicas de EJA da rede estadual de educação e articulado com a
continuidade de escolarização.
Os Cursos de EJA no Estado do Paraná até 2005 se organizavam
nas formas presenciais e semipresenciais. Coube então, ao CEEBJA Professora
Linda Eiko Akadi Miyadi ofertar a escolarização do ensino fundamental e médio com
matrícula por disciplina organizada em momentos presenciais 70% e não
presenciais 30%. Essa forma de organização curricular foi cessada em 2006,
quando a Proposta Pedagógica Curricular da EJA do Estado do Paraná contempla
100% da carga horária total na forma presencial.
Nesse mesmo ano, o Estado do Paraná conta com as Diretrizes
Curriculares da Educação de Jovens e Adultos com o desafio de apresentar
propostas viáveis para o acesso, permanência e sucesso do educando dessa
modalidade de ensino.
Em 2008 a escola passou a receber adolescentes excluídos do
ensino regular respaldado pelo Parecer 626/08, aprovado em 16/09/2008 o que
gerou alguns conflitos marcados pela diversidade relativas a idade.. Em 2009,
9
aconteceu uma grande descentralização da oferta de EJA no Estado do Paraná,
sendo transferidos do CEEBJA mais de 1.000 educandos para as escolas regulares
que passaram a ofertar essa modalidade de ensino.
Segundo a Agência Brasil (2009) o Estado do Paraná alfabetizou
291 mil adultos entre 2004 a 2008 e Conforme (Elogie Aki 2009) mais de 120 mil
educandos paranaenses foram matriculadas na EJA.
Em 2010, o Programa Paraná Alfabetizado já contava com 5(cinco)
Municípios considerados Território Livre do Analfabetismo.
O governo atual do Estado do Paraná Beto Richa evidencia metas
em seu plano de governo para a educação de jovens e adultos sendo elas: o
fortalecimento e a reorganização dessa modalidade de ensino adequando-as às
reais necessidades do trabalhador e a erradicação do analfabetismo. (PLANOS E
METAS – SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DO PARANÁ, 2011)
Diante do exposto acima, conclui-se que, ao longo do tempo, pode
se observar avanços na educação de jovens e adultos, pois conforme o Censo 2010,
há 3.624.513 matrículas na EJA no Brasil, mas ainda é preciso investir muito nessa
modalidade, pois o analfabetismo no País ainda gira em torno de 14 milhões de
pessoas.
A meta oficial para a erradicação do analfabetismo termina em 2011,
mas, para o Secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do
MEC a redução prevista para a taxa de analfabetismo é de 10% para 6,7% em 2015,
segundo o compromisso assumido em 2000 na Conferência Mundial de Educação
(Folha de São Paulo, 14 de junho 2009).
Percebe-se que a Educação de Jovens e Adultos possui uma
trajetória que expressa às contradições da sociedade brasileira. Ao longo do tempo
pode constatar muitas falácias sobre “erradicação do analfabetismo”, entretanto as
ações demonstram a descontinuidade e fragilidade dos projetos apresentados.
Segundo ZANETTI (2004) A Educação de Jovens e Adultos nasceu
no cenário da sociedade civil, das “lacunas” do Sistema Educacional Brasileiro. As
principais características das ações governamentais em Educação de Jovens e
Adultos foram de políticas assistencialistas, populistas e compensatórias.
Após análise da trajetória da Educação de Jovens e Adultos no
Paraná e no CEEBJA, constata-se ao longo da história que houve avanços, mas é
preciso ainda políticas públicas que tenham continuidade.Entede-se que é preciso
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contribuir enquanto Escola, com essa modalidade de ensino,por meio de ações que
ofereçam suporte quanto à socialização dos sujeitos, agregando elementos e
valores que levem os educandos à emancipação e afirmação de suas identidades
culturais. A articulação do papel do pedagogo por meio da Proposta Pedagógica
Curricular e do Projeto Político Pedagógico de forma coletiva pode dinamizar a
prática pedagógica na ampliação de conhecimentos dos educandos Jovens e
Adultos de forma crítica e efetiva. O trabalho construído e reconstruído
democraticamente no CEEBJA deve considerar a heterogeneidade de seus
educandos, seus interesses, suas identidades, suas preocupações, necessidades,
expectativas em relação à escola.
TEMA II
A AÇÃO DO PEDAGOGO NO CEEBJA
A Ação do Pedagogo na Educação de Jovens e Adultos no Centro Estadual de
Educação Básica para Jovens e Adultos Professora Linda Eiko Akadi Miyadi
11
Se você quiser saber mais sobre o Centro Estadual de Educação Básica para
Jovens e Adultos Professora Linda Eiko Akadi Miyadi consulte o site:
www.ceebjaproflindaeikoakadimiadi.seed.pr.gov.br
Reconhecemos o Pedagogo como articulador na dinamização da Prática Pedagógica do CEEBJA?
Diante do exposto acima o que você acrescentaria sobre as Políticas
Públicas voltadas para a Educação de Jovens e Adultos no Estado do
Paraná?
Partindo do princípio que a Educação de Jovens e Adultos, como modalidade
educacional que atende na grande maioria educando trabalhador, tendo
como finalidade o compromisso com a formação humana e com o acesso à
cultura, as Políticas Públicas tem cumprido o seu papel?
A atuação do pedagogo, numa perspectiva dialética e crítica, orienta
a atuação do professor, construindo possibilidades de transformação da prática
educativa. Para tanto, cabe ao professor pedagogo viabilizar os caminhos,
disponibilizar meios, recursos, levando através do suporte técnico pedagógico à
concretização das ações pedagógicas propostas.
Nesse sentido Libâneo discorre que:
A atuação do pedagogo escolar é imprescindível na ajuda aos professores no aprimoramento do seu desempenho na sala de aula (conteúdos, métodos, técnicas, formas de organização da classe), na análise e compreensão das situações de ensino com base nos conhecimentos teóricos, ou seja, na vinculação entre as áreas do conhecimento pedagógico e o trabalho de sala de aula (2005,p.61).
Para oportunizar a sincronia do trabalho em equipe, o pedagogo
deve subsidiar as ações práticas do fazer educativo, fundamentado em teorias
buscando articular as Diretrizes Curriculares Estaduais, ao processo de ensino e
aprendizagem dos sujeitos do CEEBJA.
Deste modo, a atuação do Pedagogo, na perspectiva do trabalho
coletivo consiste na organização escolar, identificando os limites e as possibilidades
de exercer esse papel. De acordo com Saviani:
O Pedagogo é aquele que possibilita o acesso à cultura organizada e organiza o processo de formação cultural. É, pois, aquele que domina as formas, os procedimentos, os métodos através dos quais se chega ao domínio do patrimônio cultural acumulado pela humanidade. E como o homem só se constitui como tal na medida em que se destaca da natureza e ingressa no mundo da cultura, eis como a formação cultural vem a coincidir com a formação humana, convertendo-se o pedagogo, por sua vez, em formador de homens (SAVIANI, 1985, p. 27).
Para complementar, Pimenta (2002) salienta que a escola é uma
organização complexa e está a exigir profissionais, que a partir de suas
especializações, contribuam para a democratização do saber e que nessa
12
organização complexa não é suficiente a presença dos professores. A autora aponta
que:
Os pedagogos são profissionais necessários na escola: seja na tarefa de administração (entendida como organização racional do processo de ensino e garantia de perpetuação desse processo no sistema de ensino, de forma a consolidar um projeto pedagógico político de emancipação das camadas populares), seja nas tarefas que ajudem o(s) professor(es) no ato de ensinar, pelo conhecimento não apenas dos processos específicos, mas também na articulação entre os diversos conteúdos e a busca de um projeto pedagógico-político coerente (PIMENTA, 2002 p.151).
Neste contexto, acentua-se a importância do pedagogo na escola
resgatando sua especificidade, na definição de suas funções na prática cotidiana da
escola.
O pedagogo como articulador do trabalho coletivo da escola, articula
a concepção de educação da escola às relações e determinações políticas, sociais,
culturais e históricas.
O pedagogo terá um papel essencial na formação da equipe de
profissionais da escola, pois é o agente articulador do processo educacional.
Enquanto mediador, ele deverá estimular o professor a refletir sobre a sua prática,
partilhando com o grupo suas experiências de sala de aula, e permitindo a
atualização de conhecimentos através de constantes estudos e reflexões.
Para Libâneo:
[...] pedagogo é o profissional que atua em várias instâncias da prática educativa direta ou indiretamente ligadas à organização e aos processos de transmissão e assimilação dos saberes e modos de ação, tendo em vista objetivos de formação humana previamente definidos em sua contextualização histórica (LIBÂNEO, 2007, p.33).
Assim sendo, o pedagogo, à luz de uma concepção progressista de
educação, tem sua função de mediador do trabalho pedagógico, agindo em todos os
espaços de contradição para a transformação da prática escolar.
Porém, a partir dessa concepção, sua atuação se faz para a
garantia de uma educação pública e de qualidade visando a emancipação das
classes populares.
O papel do pedagogo legitima-se não tão somente na mediação do
conhecimento, mas no movimento de organização do currículo, juntamente com o
13
coletivo escolar, possibilitando uma postura crítica sobre sua prática e sobre as
concepções que orientam suas escolhas.
Portanto, toda reflexão deve ser realizada com a participação do
coletivo escolar ou seja professores,educandos, agentes educacionais I e II, pais e
conselho escolar.
Nota-se com clareza o papel que o Pedagogo desempenha como
elemento participante da organização pedagógica:
O pedagogo entra naquelas situações em que a atividade docente extrapola o âmbito específico da matéria de ensino: na definição de objetivos educativos, nas implicações psicológicas, sociais, culturais no ensino, nas peculiaridades do processo de ensino e aprendizagem, na detecção de problemas de aprendizagem entre os educandos, na avaliação, no uso de técnicas e recursos de ensino [...], na coordenação do plano pedagógico e planos de ensino, da articulação horizontal e vertical dos conteúdos, da composição de turmas, das reuniões de estudo, conselho de classe [...] (PIMENTA, 1996. p. 128).
Entender então a ação do pedagogo, é dinamizar as práticas
pedagógicas do currículo no contexto escolar requerendo atenção que se expressa
no seu desenvolvimento para sucessivos passos de transformação, uma vez que as
idéias significativas vão se configurando.
TEMA III
O CURRÍCULO DISCIPLINAR NO CEEBJA
A Opção pelo Currículo Disciplinar
O conceito de currículo é multifacetado e modificou-se
historicamente atendendo a realidades sociais distintas, há tempos e espaços
14
Como promover e efetivar o trabalho do professor pedagogo especificamente
junto aos professores das áreas do conhecimento e/ou disciplinas, numa
perspectiva de condução do processo ensino e aprendizagem, transmissão e
assimilação propostas pelas DCEs?
Por que a opção pelo Currículo Disciplinar?
específicos e, em conseqüência disso, precisa ser compreendido no contexto social
em que está inserido.
Uma retrospectiva histórica na perspectiva de compreensão da
origem e significado de currículo no que se refere a sua etimologia e epistemologia
nos aponta que,
O conceito de currículo como sequência estruturada ou disciplina provém, em grande parte, da ascendência política do Calvinismo. Ou seja, desde esses primórdios, houve uma relação homóloga entre currículo e disciplina, aliando o currículo a uma nova ordem social, onde alguns recebiam uma escolarização avançada e outros um currículo mais conservador (Goodson,1995,p.43).
Interpretar o currículo, na sua dimensão histórica, permite entender
os fatores determinantes e processos de pensamento, pois as Propostas
Pedagógicas Curriculares nas escolas desempenham um processo social,
verbalizado em contradições e buscas, concepções e tendências que em
determinado contexto histórico cumpriram o seu conceito e processo curricular.
Compreender o processo do currículo é averiguar que não se pode
“acreditar que o currículo é produto puro de conhecimentos” (Silva,1988,p.8).
Segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (DCEs)
(2006) , um sujeito é fruto de seu tempo histórico, das relações sociais em que está
inserido, mas é também, um ser singular, que atua no mundo a partir do modo como
o compreende e como dele lhe é possível participar. Assim alguns autores
conceituam currículo como um artefato social, concebido para realizar determinados
objetivos específicos. Goodson (1995). O autor conceitua currículo como construção
social e compreende o processo de emergência e evolução das matérias escolares.
Goodson complementa:
A batalha para definir um currículo envolve prioridades sociopolíticas e discurso de ordem intelectual. A história dos conflitos do passado em relação ao currículo precisa, portanto, ser recuperada. Caso contrário, os nossos estudos sobre escolarização deixarão sem questionamento e sem análise uma série de prioridades e hipóteses que foram herdadas e deveriam estar no centro do nosso esforço para entender teoricamente e operacionalizar na prática a escolarização (1995, p.113).
15
O currículo deve ser visto como a expressão ou a representação ou
o reflexo de interesses sociais determinados, mas também como produtor de
subjetividades sociais determinadas (SILVA, 1998, p.10).
Segundo Gimeno Sacristán:
o currículo é a forma de ter acesso ao conhecimento,não podendo esgotar seu significado em algo estático, mas através das condições em que se realiza e se converte numa forma particular de entrar em contato com a cultura (2000, p.15).
Cabe então à escola cumprir sua função social que é o acesso aos
conhecimentos, à cultura, aos valores, à etica, à moral e principalmente o acesso
aos saberes historicamente elaborados e sistematizados, para formar educandos
conhecedores e transformadores.
Esta função da escola está sendo proposta por meio das DCEs da
SEED/PR, pois, propõe um currículo disciplinar pautado na socialização do
conhecimento, na escolha e tratamento dos conteúdos, estabelecendo assim
relações interdisciplinares, orientada por práticas pedagógicas diferenciadas e com
tendência e concepção de educação fundamentada na pedagogia crítico social dos
conteúdos, ou seja, a pedagogia histórico crítica.
O Currículo concebido na perspectiva da Pedagogia Histórico-Crítica
(Saviani, 2006) valoriza e ressignifica o papel da escola e do conhecimento, os
conteúdos curriculares são definidos a partir das demandas da prática social e os
instrumentos teóricos e práticos são necessários ao entendimento e às intervenções
da e na prática social.
É nesse sentido que Saviani (1985) valoriza e conceitua a educação
como "uma atividade mediadora no seio da prática social global" (1985, p.77).
Mediação que deve servir de critério para se aferir o grau de democratização no
interior das escolas, considerando que a natureza da prática pedagógica supõe uma
desigualdade real e uma igualdade possível. Nessa ótica, há que se perceber que
Saviani vislumbra no professor um agente social ativo, comprometido politicamente
com as transformações da sociedade.
Para Arroyo:
duas são as questões a que devemos nos propor resolver em primeiro lugar: “como a organização curricular condiciona a organização da escola e por consequência do nosso trabalho?”. E “que organização dos currículos e
16
da escola tornará nosso trabalho mais humano?”. E depois: “que lógicas, concepções, valores regem, legitimam essa organização?” “São igualitárias, democráticas, inspiradas no referente político da garantia do direito de todos ao conhecimento, à cultura, à formação como humanos?” “São lógicas que permitem a humanização do trabalho dos profissionais das escolas?” “que igualam ou hierarquizam os docentes?”(2008, p. 38).
Propor no coletivo escolar como repensar e como orientar os
currículos, podem ser as novas sensibilidades para as identidades docentes, as
mudanças em nossa consciência profissional de trabalhadores em educação.
Primeiro precisa-se reagir à condição de aulistas e avançar na autoria da prática,
reivindicando horários de estudos, planejamento, tempos de atividades programadas
e tempos coletivos que implicam em sujeitos mais qualificados e com maior tempo
para a qualificação e controle de seu trabalho, amenizando dessa forma o mal-estar
nas escolas na relação educando/educador: indisciplinas, desinteresse e problemas
de aprendizagem.
A Educação de Jovens e Adultos do Estado do Paraná é uma
modalidade de ensino da Educação Básica cuja concepção de currículo compreende
a escola como espaço sócio-cultural que propicia a valorização dos diversos grupos
que a compõem, ou seja ela considera os educandos como sujeitos de
conhecimento e aprendizagem.
Segundo as Diretrizes Curriculares Estaduais:
esse currículo entendido, ainda, como um processo de construção coletiva do conhecimento escolar articulado à cultura, em seu sentido antropológico, constitui-se no elemento principal de mediação entre educadores e educandos e deve ser organizado de tal forma que possibilite aos educandos transitarem pela estrutura curricular e, de forma dialógica entre educando e educador tornar os conhecimentos significativos às suas práticas diárias. Nesta ótica o conhecimento se constitui em núcleo estruturador do conteúdo do ensino.
Nesse enfoque, a organização do trabalho pedagógico na Educação
de Jovens e Adultos, prevendo a inclusão de diferentes sujeitos, necessita ser
pensada em razão dos critérios de uma seleção de conteúdos que lhes assegure o
acesso aos conhecimentos historicamente construídos e o respeito às suas
especificidades.
No entanto, cabe ressaltar que a organização metodológica das
práticas pedagógicas, dessa modalidade deve considerar os três eixos articuladores
propostos nas Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos: Trabalho,
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Cultura e Tempo, os quais devem se articular, tendo em vista a apropriação do
conhecimento que não deve se restringir à transmissão/assimilação de fatos,
conceitos, idéias, princípios, informações etc., mas sim compreender a aquisição
cognoscitiva e estar intrinsecamente ligados à abordagem dos conteúdos
curriculares propostos para a Educação Básica. (DCEs 2006).
TEMA IV
ANÁLISE DA PROPOSTA PEDAGÓGICA CURRICULAR DO CEEBJA
A Proposta Pedagógica Curricular do CEEBJA
Segundo a Proposta Pedagógica Curricular para o CEEBJA - Centro
Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos – Professora Linda Eiko A.
Miyadi – Apucarana-PR tem como processo educativo, o papel fundamental de
socialização dos sujeitos, agregando elementos e valores que levem os educandos
à emancipação de sua identidade cultural.
Este trabalho, construído coletivamente para a oferta da
escolarização de jovens e adultos, neste Centro de Educação, privilegia os eixos:
cultura, trabalho e tempo. Estes itens citados devem, assim, ter articulação com toda
ação pedagógico-curricular desta instituição.
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Como o professor pedagogo pode ter competência para adentrar em outras
áreas do conhecimento, e como orientar os professores do CEEBJA
Apucarana na mediação, compreensão e aprofundamento dos
conhecimentos do Currículo Escolar mediante as DCEs?
Vamos analisar a Proposta Pedagógica Curricular do CEEBJA?
É imprescindível que toda a ação educativa esteja voltada para a
diversidade do perfil do educando que procura este CEEBJA. O trabalho pedagógico
se realiza a partir de conhecimentos construídos por meio do senso comum,
adquirido no cotidiano, em suas relações com o outro e com o meio, levando o
jovem, adulto e o idoso a adquirirem os conhecimentos elaborados. Portanto, a
Proposta Pedagógica tem como desafio a busca permanente pelo conhecimento que
dialogue concomitantemente com o singular e o universal, de forma dinâmica e
histórica.
A Proposta Pedagógica Curricular do Centro de Educação de Jovens
e Adultos deve estar calcada em criar situações de ensino-aprendizagem adequadas
às necessidades educacionais dos educandos, (re)construindo o conhecimento
entre esses sujeitos, tendo como referência a realidade na qual estão inseridos.
A Educação de Jovens e Adultos – EJA, enquanto modalidade
educacional que atende a educandos excluídos do processo educacional do ensino
regular tem como finalidade e objetivos o compromisso com a formação humana e
com o acesso à cultura geral, de modo que os mesmos venham a participar política
e produtivamente das relações sociais, com comportamento ético e compromisso
político, através do desenvolvimento da autonomia intelectual e moral.
Tendo em vista este papel, a educação deve voltar-se para uma
formação na qual os educandos possam: aprender permanentemente, refletir
criticamente; agir com responsabilidade individual e coletiva; participar do trabalho e
da vida coletiva; comportar-se de forma solidária; acompanhar a dinamicidade das
mudanças sociais; enfrentar problemas novos construindo soluções originais com
agilidade e rapidez, a partir da utilização metodologicamente adequada de
conhecimentos científicos, tecnológicos e sócio-históricos.
Segundo as Diretrizes Curriculares Estaduais de EJA, as relações
entre cultura, conhecimento e currículo, oportunizam uma Proposta Pedagógica
Curricular pensada e estabelecida a partir de reflexões sobre a diversidade cultural,
tornando-a mais próxima da realidade e garantindo sua função socializadora –
promotora do acesso ao conhecimento capaz de ampliar o universo cultural do
educando – e, sua função antropológica - que considera e valoriza a produção
humana ao longo da história.
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A compreensão de que o educando da EJA relaciona-se com o
mundo do trabalho, que busca melhorar a sua qualidade de vida e ter acesso aos
bens produzidos pelo homem, significa contemplar, na organização curricular, as
reflexões sobre a função do trabalho na vida humana.
É inerente à organização pedagógico curricular da EJA, a
valorização dos diferentes tempos necessários à aprendizagem dos educandos,
considerando os saberes adquiridos na informalidade das suas vivências e do
mundo do trabalho, face à diversidade de suas características.
Conforme as Diretrizes Curriculares Estaduais de Educação de
Jovens e Adultos no Estado do Paraná(2006), a EJA deve constituir-se de uma
estrutura flexível, pois há um tempo diferenciado de aprendizagem e não um tempo
único para todos os educandos, bem como os mesmos possuem diferentes
possibilidades e condições de reinserção nos processos educativos formais, pois o
tempo que o educando jovem, adulto e idoso permanecerá no processo educativo
tem valor próprio e significativo, assim sendo à escola cabe superar um ensino de
caráter enciclopédico, centrado mais na quantidade de informações do que na
relação qualitativa com o conhecimento.
Em relação aos conteúdos específicos de cada disciplina, deverão
estar articulados à realidade, considerando sua dimensão sócio-histórica, vinculada
ao mundo do trabalho, à ciência, às novas tecnologias, dentre outros, pois, a escola
é um dos espaços em que os educandos desenvolvem a capacidade de pensar, ler,
interpretar e reinventar o seu mundo, por meio da atividade reflexiva. A ação da
escola será de mediação entre o educando e os saberes, de forma a que o mesmo
assimile estes conhecimentos como instrumentos de transformação de sua realidade
social . O currículo na EJA não deve ser conhecimento de hierarquização nas
matérias escolares, mas sim, uma forma de organização abrangente, na qual os
conteúdos culturais relevantes, estão articulados à realidade na qual o educando se
encontra, viabilizando um processo integrador dos diferentes saberes, a partir da
contribuição das diferentes áreas/disciplinas do conhecimento.
Por isso, a Proposta Pedagógica Curricular e o currículo dela
constante, incluirão o desenvolvimento de conteúdos e formas de tratamento
metodológico que busquem chegar às finalidades da Educação de Jovens e Adultos,
que traduzirá na compreensão de que jovens e adultos não são atrasados em seu
processo de formação, mas são sujeitos sócio-histórico-culturais.Eles tem
20
conhecimentos e experiências acumuladas, e um tempo próprio de formação e
aprendizagem. Assim o processo educativo por meio da prática pedagógica, deve
trabalhar no sentido de ser síntese entre a objetividade das relações sociais e a
subjetividade, de modo que as diferentes linguagens desenvolvam o raciocínio
lógico e a capacidade de utilizar conhecimentos científicos, tecnológicos e sócio-
históricos. Faz-se necessário então, possibilitar trajetórias de aprendizado
individuais com base na referência, nos interesses do educando e nos conteúdos
necessários ao exercício da cidadania e do trabalho para que os educandos tornem-
se ativos, criativos, críticos e democráticos.
O atendimento a escolarização de adolescentes, jovens, adultos e
idosos, não se refere exclusivamente a uma característica etária, mas a articulação
desta modalidade com a diversidade sócio-cultural de seu público, composta, dentre
outros, por populações do campo, em privação de liberdade, com necessidades
educativas especiais, indígenas, que demandam uma Proposta Pedagógica
Curricular que considere o tempo/espaço e a cultura desses grupos.
21
Como fazer para que a escola, por meio do currículo disciplinar, busque
meios e mecanismos de práticas escolares, que diminuam a disseminação de
ideologias que contribuam para o fortalecimento social e reprodução
capitalista, propostos nos conteúdos escolares?
TEMA V
REFLEXÃO PARA A( RE) RECONSTRUÇÃO DO PROJETO POLÍTICO
PEDAGÓGICO DO CEEBJA
O Projeto Político Pedagógico como uma Ferramenta de Contribuição das
Práticas Pedagógicas
De acordo com Santos:
A educação de adultos exige uma inclusão que tome por base o reconhecimento do jovem adulto como sujeito. Coloca-nos o desafio de pautar o processo educativo pela compreensão e pelo respeito do diferente e da diversidade: ter o direito a ser igual quando a diferença nos inferioriza e o de ser diferente quando a igualdade nos descaracteriza. Ao pensar no desafio de construirmos princípios que regem a educação de adultos, há de buscar-se uma educação qualitativamente diferente, que tem como perspectiva uma sociedade tolerante e igualitária, que a reconhece ao longo da vida como direito inalienável de todos (2004, p. 46).
Pensar o papel político e pedagógico que a escola cumpre no
interior de uma sociedade historicamente situada, dividida em classes sociais, dentro
de um modo de produção capitalista, implica em reconhecer a educação como um
ato político, que possui uma intencionalidade. FREIRE (2001).
Segundo Álvaro Vieira Pinto (1982) contraditoriamente esse papel
vem contribuindo ou para reforçar o modelo de sociedade, sua ideologia, a cultura e
22
Como (re)elaborar um Projeto Político Pedagógico que atenda as especifidades da EJA?
os saberes que são considerados relevantes para os grupos que possuem maior
poder ou para desvelar a própria forma como a escola se articula com a sociedade e
seu Projeto Político Pedagógico, constituindo-se num espaço emancipatório, de
construção de uma contra-ideologia, onde a cultura e os saberes dos grupos sociais
que historicamente tem sua história negada silenciada, distorcida, esteja em diálogo,
permanente como os saberes historicamente acumulados e sistematizados na
história da humanidade.
Conforme o autor:
uma das instâncias educativas no seio da sociedade e o trabalho pedagógico que nela se desenvolve, como uma prática social de educação. Para compreender esta prática social da qual se insere o trabalho pedagógico escolar é importante perceber que a educação evolui sobre o fundamento do processo econômico da sociedade, porque ela que determina as possibilidades e as condições de cada fase cultural e determina as probabilidades educacionais na sociedade. (PINTO, 1982, p. 107).
Nessa concepção o próprio processo da educação é um espaço
por excelência para a aquisição do conhecimento, em específico, a escola, é um
dado cultural, é uma elaboração histórica dos homens. Esta idéia vai permear a
organização do trabalho pedagógico escolar e nele a construção e efetivação do
Projeto Político Pedagógico. É sempre a sociedade que dita a concepção que cada
educador tem do seu papel, do modo de executá-lo, das finalidades de sua ação,
tudo isso de acordo com a posição que o próprio educador ocupa na sociedade. A
noção de posição está tomada no sentido histórico-dialético amplo e indica por isso
não só os fundamentos materiais da realidade social do educador, mas igualmente o
conjunto de suas idéias em todos os terrenos, e muito particularmente no da própria
educação. Se a sociedade é o verdadeiro educador do educador, sua ação se
exerce sempre concretamente, isto é, tempo histórico, no momento pelo qual está
passando seu processo, de desenvolvimento. “Por isso, em cada desenvolvimento
social, o conteúdo e a forma da educação que a sociedade dá aos seus membros
vão mudando de acordo com os interesses gerais de tal momento” (PINTO, 1982, p.
108 -110).
Para VALLE (1997 p. 90) a escola, “fazendo parte do movimento
histórico-social, deve ser vista como palco de uma dimensão de luta de classes. E
23
nesse processo de engajamento e de luta no interior da própria escola burguesa que
o educador se educa”.
Assim, pode-se afirmar que a escola é uma instituição histórica e
cultural que incorpora interesses ideológicos e políticos, constituindo-se num espaço
onde experiências humanas são produzidas, contestadas e legitimadas.
Nesta direção é necessário pensar o projeto educacional da escola,
pois é este que lhe confere identidade. Projeto este que permeia e se traduz em
todos os tempos e espaços escolares, pois é no todo de sua organização que a
escola assume e revela a sua função social na sociedade. Ela assume sua função
não só através dos conhecimentos sistematizados que socializa, mas pela
experiência social, cultural e intelectual que oportuniza ao educando, ao educador e
ao gestor.
Compreender o papel político da escola, a forma como ela
contraditoriamente se vincula a um determinado projeto de sociedade é fundamental
para discutir a importância e o significado que o Projeto Político Pedagógico assume
na organização do trabalho pedagógico escolar.
Reforçando o pensamento dos autores citados, VEIGA (1995)
confirma que o Projeto Político Pedagógico pode revelar a escola, para além de
suas intenções e concepções, sendo esse documento como uma forma de
organização do trabalho pedagógico da escola.
Para VEIGA (2003) a materialização do Projeto Político Pedagógico
pode se apresentar de natureza distinta e atender a interesses divergentes, podendo
ser de natureza regulatória ou de natureza emancipatória.
Segundo a autora a orientação do Projeto Político Pedagógico na
direção da dimensão regulatória está associada à lógica da padronização e do
controle burocrático. Sua elaboração refere-se ao cumprimento de normas e
prescrições, com data para término e apresentação do produto final. Não prevê a
implicação dos atores da comunidade educativa e por isso mesmo, define as
demandas , anseios, necessidades e ações da escola alheias aos seus próprios
sujeitos.Nesse sentido VEIGA (2003. p.272), afirma que o Projeto Político
Pedagógico nos moldes regulatórios “é uma ferrramenta ligada à justificação do
desenvolvimento institucional orientada por princípios da racionalidade técnica, que
acabam servindo à regulação e à manutenção do instituído sob diferentes formas”.
24
A autora diz que o Projeto Político Pedagógico de natureza
emancipatória se fundamenta na lógica da produção humana a partir da
comunicação e do diálogo entre os sujeitos no interior da situação concreta de
existência, social e ética.Nessa perspectiva o Projeto Político Pedagógico se
concretiza como produto que enfatiza o processo de produção coletiva e
participativa de educandos, professores, equipe técnica administrativa, colegiados e
comunidade, no sentido de buscar a partir da realidade existente as alternativas para
a solução dos problemas e necessidades identificadas.
Nesse processo, todos são co-responsáveis pelas transformações
aspiradas e por isso mesmo torna-se possível desenvolver nos sujeitos os
sentimentos de pertencimento, solidariedade, cooperação e coerência.Assim o
alcance do sentido do Projeto Político Pedagógico emancipatório avança em relação
às questões técnicas, sem desconsiderá-las, e se assenta na construção de uma
prática comprometida com a singularidade, a autonomia, a participação coletiva e a
vivência democrática.
Diante dos apontamentos alinhavados constata-se que o Projeto
Político Pedagógico deve ser uma construção coletiva da identidade da escola,
focado em uma política de ação com propósitos de coordenar efetivamente o
processo educativo e o cumprimento da função social e política da educação
escolar.
Diante dessa situação educacional, o CEEBJA tem como objetivo
principal na (re)construção do seu Projeto Político Pedagógico ofertar a educação
de jovens, adultos e idosos de forma diversificada e universalizada aos seus
educandos, contemplar metodologias que levem o respeito à diversidade do perfil
dos sujeitos envolvidos no processo ensino-aprendizagem, propor caminhos de
superação a todas as formas de discriminação, preconceitos e processos de
exclusão, possibilitando o envolvimento dos educandos jovens, adultos e idosos nas
práticas escolares. É evidenciado no PPP a oportunidade do acesso aos saberes,
em suas diferentes linguagens, intimamente articulados com as necessidades dos
jovens, adultos e idosos, bem como suas expectativas e trajetórias de vida,
despertar o interesse pela continuidade de escolarização a todos que, pela
Instituição, passarem.
Os educandos adolescentes, jovens, adultos e idosos do CEEBJA
são portadores de um saber adquirido em sua participação na sociedade como
25
trabalhadores e membros atuantes em seu meio social. Eles possuem uma leitura
de mundo e tem capacidade de adquirir conhecimentos de forma semelhante a
outras pessoas de sua idade que tiveram melhores oportunidades de escolarização
e se encontram em melhores condições de vida.
Segundo o que está posto no Projeto Político Pedagógico do
CEEBJA, as dificuldades desses educandos, na aprendizagem da leitura escrita,
cálculos e demais elementos do conhecimento científico, não devem constituir-se
em barreiras ao ensino . Entre esses educandos mais velhos, elas podem
manifestar-se de forma peculiar, por bloqueios, medo, vergonha autocensura e
outros fatores ligados às condições de vida dos trabalhadores como cansaço,
preocupação e opressão nas relações de trabalho. Esses elementos não impedem o
trabalho educativo com adultos cuja experiência de vida e vontade de aprender faz
que assimilem os novos conhecimentos.
A partir desses conceitos, entende-se que o papel da oferta da
educação de adultos é ampliar este universo de saber para que o educando possa
mudar a qualidade de sua intervenção na sua própria realidade.
A construção desse novo saber exige um trabalho cuidadoso por
parte da equipe pedagógica e corpo docente que devem respeitar os conhecimentos
empíricos do educando, considerados significativos para incrementar o currículo da
EJA.
O Centro de Educação se pauta pela concepção de que é preciso
não reproduzir, na intimidade da sala de aula, a submissão da relação autoritária,
que reduz o educando à condição de objeto manipulável, de mero receptáculo de
postulados, regras, receituário, ameaças, recepções, repressões e punições. Sendo
assim, é tarefa da Instituição, colocar em prática uma relação pedagógica
democrática, aliada a um trabalho sério e rigoroso com uma didática capaz de
resgatar a condição do educando como sujeito do processo do conhecimento.
O CEEBJA tem como visão de formação, um sujeito ativo com
capacidade de desvelar as contradições da realidade, de se colocar numa postura
inquiridora diante do mundo e, com os outros, atuar como agente histórico de
mudança. Um sujeito capaz de aprender pensando, formar hipóteses e,
considerando as possíveis contradições das hipóteses formuladas, superar os
"conflitos cognitivos" e avançar no sentido de novas reestruturações.
26
Entende-se assim que o Projeto Político Pedagógico articulado a
prática pedagógica é um dos instrumentos mais significativos para o CEEBJA
trabalhar a modalidade de Educação de Jovens e Adultos. O Projeto Político
Pedagógico enquanto política institucional da Instituição deve estar comprometido
com a realidade voltado para atender todos os sujeitos em geral e em particular
aqueles que estão em situação de desvantagem por vários motivos em relação aos
demais membros da sociedade.
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Em que medida o Projeto Político Pedagógico do Centro Estadual de
Educação Básica para Jovens e Adultos - Profª Linda Eiko Akadi Miyadi está
articulado com as ações pedagógicas, sob as especificidades que a Educação
de Jovens e Adultos requer?
Para análise do Projeto Político Pedagógico consulte o site
www.ceebjaproflindaeikoakadimiyadi.seed.pr.gov.br
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