Caracterização da participação desportiva de jovens jogadores
de voleibol de nível de rendimento diferenciado:
o papel da quantidade e do tipo de prática
Sergio Roberto dos Santos
Porto, 2019
Caracterização da participação desportiva de jovens jogadores
de voleibol de nível de rendimento diferenciado:
o papel da quantidade e do tipo de prática
Dissertação apresentada com vista à obtenção do 2º ciclo
em Treino Desportivo, especialização em Treino de Jovens,
da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, ao
abrigo do Decreto-Lei nº 74/2006, de 24 de março, na
redação dada pelo Decreto-Lei nº 65/2018 de 16 de agosto.
Orientadora: Professora Doutora Patricia Coutinho
Sergio Roberto dos Santos
Porto, 2019
FICHA DE CATALOGAÇÃO
Santos, S.R. (2019). Caracterização da participação desportiva de jovens
jogadores de voleibol de nível de rendimento diferenciado: o papel da quantidade
e do tipo de prática. Porto: Sergio Santos. Dissertação de Mestrado em Treino
Desportivo – Treino de Jovens, apresentada à Faculdade de Desporto da
Universidade do Porto.
Palavras-chave: DESENVOLVIMENTO DO ATLETA, TALENTO, FATORES DE
TREINO, PRÁTICA, VOLEIBOL.
IV
DEDICATÓRIA
“A teoria sem a prática vira 'verbalismo', assim como a prática sem teoria, vira ativismo.
No entanto, quando se une a prática com a teoria tem-se a práxis, a ação criadora e
modificadora da realidade.”
(Paulo Freire)
À minha família e esposa por serem minha alegria e meu refúgio.
V
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Oxalá pela vida, pelas bênçãos e pela proteção a mim
concedido. De nada adiantaria tanta dedicação se Oxalá não permitisse que as
metas traçadas, um dia fossem alcançadas.
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto - FADEUP por ter me
aceito como acadêmico e proporcionar a realização deste Mestrado.
Um especial agradecimento à minha orientadora Professora Doutora
Patrícia Coutinho pelos ensinamentos, pela competência, exemplo e dedicação;
por partilhar seu conhecimento e me mostrar o pensar crítico a partir de bases
teóricas e de evidências, e não o achar. Um exemplo de profissionalismo, caráter
e de amizade os seus ensinamentos foram importantes para a realização deste
projeto.
Em nome da Professora Doutora Isabel Mesquita, agradeço a todo o
gabinete de voleibol da Universidade do Porto, o qual me acolheu e me propiciou
toda a aprendizagem, um despertar na formação científica.
A Federação Portuguesa de Voleibol, aos clubes, em especial aos
técnicos e jogadores (seleção e clubes), que me acolheram e viabilizaram à
realização desse estudo.
Aos meus amigos do IFTO campus Palmas os quais foram importantes
para a concretização e realização deste objetivo.
A minha cunhada Maria Antonieta e ao esposo Antônio Cesar por toda
compreensão nos momentos mais difíceis, pelo carinho sempre
Aos meus irmãos (a) Luís Oswaldo, José Luís e Roberta Salgada, meus
primeiros amigos (a), pelo exemplo e incentivo na realização de mais esta etapa.
Estarão sempre presentes em minha vida. E as minhas cunhadas pelo incentivo,
o pensar positivo e acolhedor ao longo deste processo, sempre com o olhar de
bondade e por acreditarem em mim.
VII
Aos meus PAIS, Dory Salgado dos Santos e Oswaldo Luís dos Santos (in
memoriam) alicerces firmes e pilares únicos sustentadores da minha vida, meus
grandes incentivadores do conhecimento que, com o amor incondicional e apoio
eterno, não mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa de minha
vida, mesmo suportando a dor da saudade. MUITO OBRIGADO, por serem
sempre a base de minhas decisões em busca do equilíbrio e da felicidade!
Aos meus queridos filhos Sergio Capurro e Iara Capurro, que muito me
apoiam com palavras de incentivo e o olhar carinhoso na realização deste
mestrado e aos meus netos Valentina Capurro, Lívia Capurro e João Gabriel os
que me fornecem a chama e a razão para concretizar os nossos sonhos e
objetivos, estarão presentes em todos momentos de nossas vidas. E a minha
nora Aline pelas palavras de incentivo e por acreditar em mim.
A minha esposa Maria Auxiliadora Capurro da S. dos Santos, minha
grande amiga e companheira, que esteve ao meu lado durante a luta diária desta
caminhada. É, sem dúvida alguma, a melhor pessoa que conheço desde novinha
e, por isso, o porto seguro da minha vida! Meu muito obrigado por embarcar
comigo nesta jornada, e mais, pelo incentivo, compreensão, amor e abdicar de
outras prioridades. Só nós sabemos o quanto foi difícil esse período, e
conseguimos atravessar esse desafio juntos. Te amo!
VIII
ÍNDICE GERAL
AGRADECIMENTOS .......................................................................................VII
ÍNDICE GERAL .................................................................................................. X
ÍNDICE DE TABELAS.......................................................................................XII
ÍNDICE DE ANEXO..........................................................................................XVI
RESUMO .......................................................................................................XVII
ABSTRACT.....................................................................................................XIX
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS.....................................................XXI
CAPÍTULO I ........................................................................................................1
1. Introdução Geral e Estrutura da Dissertação ................................................. 3
1.1. Justificação e pertinência do estudo ....................................................... 3
1.2. Estrutura da dissertação ......................................................................... 6
CAPÍTULO II ...................................................................................................... 7
2. Revisão da Literatura .................................................................................... 9
2.1. Revisão da Literatura...............................................................................9
CAPÍTULO III ................................................................................................... 21
3. Objetivos do estudo ..................................................................................... 23
3.1. Objetivo principal .................................................................................. 23
3.1.1. Objetivos específicos ......................................................................... 23
CAPÍTULO IV .................................................................................................. 25
4. Metodologia ................................................................................................. 27
4.1. Caracterização da amostra ....................................................................27
4.2. Instrumentos utilizados e procedimentos .............................................. 28
4.3. Análise de dados ................................................................................... 29
IX
CAPÍTULO V .................................................................................................... 31
5. Resultados .................................................................................................... 33
5.1. Características individuais dos atletas (altura e data de nascimento) ....33
5.2. Idade de iniciação da prática desportiva.................................................34
5.3. Idade de iniciação da prática de voleibol................................................. 34
5.4. Idade de especialização no voleibol....................................................... 35
5.5. Número de atividades desportivas formais praticadas (caráter
organizada e federativo) ............................................................................... 35
5.6. Tipologia das atividades desportivas formais praticadas (invasiva,
não-invasiva, aquáticas e gímnicas) ............................................................. 36
5.6.1 Números de atividades..........................................................................36
5.6.2 Horas de práticas..................................................................................39
5.7. Horas de práticas específicas (voleibol)................................................. 42
5.8. Números de atividades desportivas informais praticadas........................42
5,9. Horas de atividades desportivas informais praticadas.............................43
CAPÍTULO VI ................................................................................................... 45
6. Discussão ..................................................................................................... 47
Características individuais dos atletas (altura e data de nascimento) ............... 47
Idade de iniciação da prática desportiva e idade de iniciação e
Especialização no voleibol....................................................... ......................... 49
Quantidade e tipo de atividades desportivas formais praticadas....................... 51
Quantidade de atividades desportivas informais praticadas..............................54
CAPÍTULO VII .................................................................................................. 57
7. Considerações finais ..................................................................................... 59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 63
ANEXO............................................................................................................XXI
X
Índice de Tabelas
Tabela 1- Estatística descritiva para a altura...................................................... 33
Tabela 2- Percentagem de voleibolistas que nasceram nos quatro diferentes
trimestres do ano em função do nível de rendimento......................................... 33
Tabela 3- Estatística descritiva para a idade de iniciação da prática
desportiva.......................................................................................................... 34
Tabela 4- Estatística descritiva para a idade de iniciação da prática de
voleibol.............................................................................................................. 34
Tabela 5- Estatística descritiva para a idade de especialização no
voleibol.............................................................................................................. 35
Tabela 6- Estatística descritiva para o número de atividades desportivas formais
praticadas em função do nível de rendimento e das etapas de
desenvolvimento............................................................................................... 36
Tabela 7- Estatística descritiva para o número de atividades desportivas formais
praticadas de caráter invasivo em função do nível de rendimento e das etapas
de desenvolvimento........................................................................................... 37
Tabela 8- Estatística descritiva para o número de atividades desportivas formais
praticadas de caráter não-invasivo em função do nível de rendimento e das
etapas de desenvolvimento............................................................................... 37
Tabela 9- Estatística descritiva para o número de atividades desportivas formais
praticadas de cariz aquático em função do nível de rendimento e das etapas de
desenvolvimento............................................................................................... 38
XI
Tabela 10- Estatística descritiva para o número de atividades desportivas formais
praticadas de caráter gímnico em função do nível de rendimento e das etapas
de desenvolvimento .......................................................................................... 39
Tabela 11- Estatística descritiva para o número de horas de atividades
desportivas formais praticadas de caráter invasivo em função do nível de
rendimento e das etapas de desenvolvimento....................................................39
Tabela 12- Estatística descritiva para o número de horas de atividades
desportivas formais praticadas de caráter não-invasivo em função do nível de
rendimento e das etapas de desenvolvimento....................................................40
Tabela 13 – Estatística descritiva para o número de horas de atividades
desportivas formais praticadas de cariz aquático em função do nível de
rendimento e das etapas de desenvolvimento....................................................41
Tabela 14 – Estatística descritiva para o número de horas de atividades
desportivas formais praticadas de caráter gímnico em função do nível de
rendimento e das etapas de desenvolvimento....................................................41
Tabela 15 – Estatística descritiva para o número de horas de prática específica
(voleibol) em função do nível de rendimento e das etapas de
desenvolvimento................................................................................................42
Tabela 16 – Estatística descritiva para o número de atividades desportivas
informais praticadas em função do nível de rendimento e das etapas de
desenvolvimento................................................................................................43
Tabela 17 – Estatística descritiva para o número de horas de atividades
desportivas informais praticadas em função do nível de rendimento e das etapas
de desenvolvimento...........................................................................................43
XII
ÍNDICE DE ANEXO
Anexo 1 Termo de Consentimento Informado, Livre e Esclarecido..................XXII
XIII
Resumo
O presente estudo teve como objetivo a caracterização da participação
desportiva de jovens jogadores de voleibol portugueses, do género masculino e
de nível de rendimento distinto (jogadores de seleção e jogadores de clube), no
que concerne à quantidade e ao tipo de atividades desportivas formais e
informais praticadas ao longo do seu desenvolvimento. Participaram no estudo
38 jogadores de voleibol, sendo 19 jogadores de seleção e 19 jogadores de
clube. Recorreu-se a uma entrevista semi-estruturada para obter a informação
sobre a participação desportiva dos jogadores, nomeadamente: 1) altura e data
de nascimento, 2) a idade de iniciação da prática desportiva, 3) a idade de
iniciação no voleibol, 4) a idade de especialização no voleibol, 5) o número de
atividades desportivas formais praticadas, 6) a quantidade e o tipo das atividades
desportivas formais praticadas, 7) o número de horas de prática específica
(Voleibol), 8) o número de atividades desportivas informais praticadas, e,
finalmente, 9) a quantidade de horas de prática de atividades desportivas
informais que os jogadores estiveram envolvidos. As respetivas variáveis foram
analisadas ao longo de quatro etapas de desenvolvimento dos jogadores,
nomeadamente etapa 1 (antes dos 6 anos), etapa 2 (entre os 6 e os 12 anos),
etapa 3 (entre os 13 e os 16 anos) e a etapa 4 (depois dos 16 anos). Os
resultados demonstraram que, no geral, os jovens voleibolistas portugueses não
se especializaram precocemente na respetiva modalidade, sendo a sua
participação caracterizada por uma prática desportiva inicial diversificada
composta por atividades formais e informais. Contudo, os jogadores de seleção
distinguiram-se por: 1) serem mais altos, 2) terem praticado um maior número
de atividades desportivas entre os 6 e os 16 anos, 3) terem praticado um maior
número de atividades desportivas de caráter invasivo, e 4) terem praticado um
maior número de atividades informais entre os 6 e os 12 anos. O presente estudo
oferece dados pertinentes para o incentivo e orientação de programas de
desenvolvimento desportivo a longo prazo dos voleibolistas em Portugal.
PALAVRAS-CHAVE: DESENVOLVIMENTO DO ATLETA, TALENTO,
FATORES DE TREINO, PRÁTICA, VOLEIBOL.
XV
Abstract
The purpose of this present was to characterize the sport participation history of
youth male volleyball players from different levels of performance (national team
players and club players) taking into account the quantity and type of sport
activities practised (formal and informal activities). The sample included a total of
39 volleyball players, 19 national team players and 19 club players. A semi-
structured interview was applied in order to gather information about: 1) the height
and birthday,2) the general sport starting age, 3) the volleyball starting age, 4)
the age of specialization in volleyball, 5) the number of formal sport activities
practised, 6) the quantity and type of sport activities practised, 7) the number of
hours of specific practise (i.e. hours of volleyball), 8) the number of informal
activities practised, 9) the number of hours of informal activities. The variables
were analysed throughout four different developmental stages, namely stage 1
(before 6 years of age), stage 2 (between 6 and 12 years of age), stage 3
(between 13 and 16 years of age) and stage 4 (after 16 years of age). The results
showed that, in general, these volleyball players did not specialized earlier in
volleyball, and participated in several diversified sport activities, both formal and
informal, during their childhood. However, national team players differed from
club players because they: 1) were taller, 2) participated in more diversified sport
activities between 6 and 16 years of age, 3) participated in more invasion-game
type of sport activities, and 4) participated in more informal activities between 6
and 12 years of age. The present study offers important information that could
guide long-term volleyball players developmental programs in Portugal.
KEY WORDS: ATHLETE DEVELOPMENT, TALENT, TRAINING FACTORS,
PRACTICE, VOLLEYBALL.
XVII
Lista de Abreviaturas e Símbolos
PDLP – Preparação Desportiva a Longo Prazo
MDPD – Modelo Desenvolvimental de Participação no Desporto
SPSS – Statistical Package for the Social Science
ANOVA – Análise de variância
ANOVA RM – Análise de variância para medidas repetidas
XIX
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
3
1. INTRODUÇÃO GERAL
1.1. Justificação e Pertinência do Estudo
O estudo do processo de aquisicao e manifestacao de aptidoes
desportivas, fisicas, cognitivas e psicologicas que conduzem ao alcance de
elevados patamares de rendimento no desporto tem sido alvo de atencao
acrescida nas ultimas decadas (e.g., Baker et al., 2003; Baker et al., 2005; Berry
et al., 2008; Coutinho et al, 2016; Davids & Baker, 2007; Gullich, 2018; Starkes,
2003; Ward et al., 2007; Williams, & Ford, 2008). A este nível, observa-se um
debate científico aceso sobre as razões que possam explicar o alcance da
excelência neste domínio, estando as opiniões divididas entre a importância e o
contributo das características inatas (fatores genéticos) ou o papel do
envolvimento e da prática desportiva (fatores ambientais) (Davids & Baker, 2007;
Philips et al., 2010). Assim, enquanto uns investigadores defendem o papel da
componente genética no alcance de elevados níveis de rendimento (Baharloo,
Service, & Risch, 2000; Gregerson, Kowalsky, & Kohn, 1999), outros sugerem
que este processo resulta da aprendizagem e consequente desenvolvimento
advindos das constantes interações com o contexto onde os sujeitos se
encontram inseridos (Côté, Baker, & Abernethy, 2003; Ericsson, Krampe, &
Tesch-Romër, 1993; Helsen, Starkes, & Hodges, 1998; Hodge & Deakin, 1998).
Pese embora recentemente tenha sido proclamada a necessidade de uma visão
multifatorial e integradora destes fatores (Philips et al., 2010), a verdade é que
os fatores relacionados com o envolvimento desportivo, nomeadamente, o papel
da pratica (i.e a quantidade e tipo), tem preenchido grande parte da agenda da
investigacao ( Baker et al., 2005; Berry et al., 2008; Ford et al., 2009).
As evidências empíricas têm sustentado que a quantidade e o tipo de
prática são fatores importantes e balizadores do desenvolvimento do atleta,
podendo ser um fator discriminante no alcance de elevados patamares de
rendimento desportivo (Baker et al., 2005b; Berry et al., 2008; Ford, Ward,
4
Hodges, & Williams, 2009; Helsen et al., 1998; Memmert, Baker, & Bertsch,
2010).
Por exemplo, os estudos têm demonstrado que o número de horas de
treino que os atletas acumulam ao longo da sua carreira encontra-se diretamente
relacionado com o alcance de elevados níveis de rendimento (Coutinho et al,
2015; Gullich, 2018; Baker et al., 2006; Ford et al., 2009; Law et al., 2007; Wall
& Côté, 2007). Por outro lado, o número e o tipo de desportos praticados numa
fase inicial do desenvolvimento do atleta pode igualmente influenciar o percurso
desportivo deste (e.g. Coutinho et al, 2015; Coutinho et al, 2016; Gullich, 2018).
Na atualidade sabe-se que tanto o percurso orientado para uma prática
desportiva inicial diversificada, como um percurso caracterizado por uma
especialização precoce são trajetórias possíveis que permitem o alcance da
excelência no desporto (Baker et al., 2006; Ford et al., 2009; Law et al., 2007;
Wall & Côté, 2007). Contudo, o conhecimento está ainda longe de permitir
apontar dados concretos e unânimes sobre qual o percurso mais adequado para
um atleta conseguir atingir um patamar elevado de rendimento num determinado
desporto.
Tendo em consideração a possibilidade da excelência no desporto ser
alcançada através de diversos percursos, Côté e colaboradores (Côté, 1999;
Côté et al, 2003, 2007) propõem o Modelo Desenvolvimental de Participação
Desportiva (MDPD) enquanto constructo teórico que modela e organiza as
respetivas premissas. Trata-se, portanto, da conceptualização mais proeminente
na literatura e sobre a qual mais investigação empírica tem sido desenvolvida na
última década (Bruner et al., 2010). O respetivo modelo assenta no postulado de
que a participação desportiva do atleta pode ser caracterizada não somente pela
performance, mas igualmente por uma experiência desportiva sustentada e por
um desenvolvimento pessoal e social favorável. Deste modo, o respetivo modelo
sugere a existência de três percursos possíveis na carreira de um atleta: (1) a
participação recreativa através de uma prática desportiva inicial diversificada e
do jogo deliberado; (2) alcance da expertise através da prática desportiva inicial
diversificada e do jogo deliberado; e (3) alcance da expertise com base na
especialização precoce e da prática deliberada.
5
No que diz respeito ao voleibol, em particular, poucos são os estudos
desenvolvidos até à data nesta área de investigação (Coutinho et al., 2014,
Coutinho et al, 2015, Coutinho et al, 2016), pelo que pouco se sabe sobre o
desenvolvimento desportivo a longo prazo dos voleibolistas portugueses. Mais
se acrescenta que os estudos existentes nesta área e nesta modalidade em
particular constituem-se de cariz retrospetivo e analisaram atletas já em idade
adulta (e.g. Coutinho et al., 2014, Coutinho et al, 2015, Coutinho et al, 2016).
Deste modo, carecem estudos de índole prospetiva que analisem, no momento,
qual o percurso desportivo que os jovens jogadores de voleibol estão a adotar
neste preciso momento e quais os possíveis benefícios ou consequências da
adoção de tal trajetória.
Deste modo, parece-nos pertinente colocar as seguintes questões como
problemas de estudo: (1) Será que o percurso dos jovens voleibolistas
portugueses se caracteriza por uma especialização precoce ou por uma
diversificação desportiva inicial? (2) Será que o percurso destes jogadores se
caracteriza somente pela prática de atividades formais? Ou haverá outro tipo de
atividades que poderão estar igualmente a contribuir para o desenvolvimento dos
jogadores e para o alcance de elevados patamares de rendimento? (3) O que
distingue o percurso desportivos dos jovens jogadores de voleibol que atuam na
seleção nacional daqueles que apenas são considerados jogadores de clube?
(4) Será a quantidade de prática (i.e. horas de treino) é um fator diferenciador
destes jogadores? (5) Será que os fatores de ordem individual como, por
exemplo, a altura e a data de nascimento, diferem entre os jogadores de nível
de rendimento distinto?
Considerando a informação supracitada, torna-se, assim, pertinente
caracterizar a participação desportiva de jovens jogadores de voleibol
portugueses, do género masculino e de nível de rendimento distinto (jogadores
de seleção e jogadores de clube), no que concerne à quantidade e ao tipo de
atividades desportivas formais e informais praticadas ao longo do seu
desenvolvimento.
6
1.2. Estrutura da Dissertação
A presente dissertação foi elaborada segundo as normas e orientações
de redação e apresentação da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
(FADEUP, 2009). Deste modo, o presente estudo encontra-se organizado em
sete capítulos. No primeiro capítulo encontra-se a introdução geral, na qual se
enquadra a justificação e pertinência do estudo, bem como a estrutura da
dissertação. No segundo capítulo desenvolve-se a revisão da literatura, com o
intuito de apresentar o estado da arte sobre a temática e apontar as lacunas
existentes e as novas direções ao nível da investigação neste âmbito de estudo.
No terceiro capítulo, são referidos os objetivos gerais e específicos do estudo.
No quarto capítulo são apresentados os procedimentos metodológicos para a
recolha e análise da informação dos dados deste estudo. No quinto capítulo, são
apresentados os resultados obtidos os quais são discutidos e enquadrados no
capítulo seis (discussão dos resultados). Finalmente, no sétimo capítulo
encontram-se as considerações finais, nas quais se procura efetuar uma sinopse
dos principais resultados obtidos, bem como uma reflexão sobre as limitações
do presente estudo, os potenciais caminhos a explorar em investigações futuras
e, ainda, sugerir recomendações para o domínio da prática.
7
CAPÍTULO II
REVISÃO DA LITERATURA
8
9
2. REVISÃO DA LITERATURA
Vivemos em um mundo complexo, que passa por mudanças diversas,
numa sociedade competitiva, definida pela concorrência, pela disputa entre
pessoas, entre empresas, entre instituições. A competição deixou de ser um
“resultado” para passar a ser um “processo” que determina as nossas vidas
(Nóvoa, 2004). Vivemos numa sociedade do conhecimento, que se define por
uma procura incessante de novos conhecimentos e tecnologias, por uma quase
angustiante necessidade de formação e re-formação, pela sensação de que
estamos sempre desatualizados (Nóvoa, 2004). Nesta sociedade do
conhecimento, conforme apontam Morin (2002) e Behrens (2006), o constante
processo de mudança e inúmeras inovações provocaram transformações,
alterando a forma da ciência encarar o conhecimento, enfatizando uma nova
visão de mundo, de homem e de sociedade (Santos, & Behrens 2016). Portanto,
este e “um processo que necessita de tempo. Um tempo para refazer
identidades, para acomodar inovacoes, para assimilar mudancas” (Nóvoa,
1992).
Para as Ciências do Desporto são questões importantes a competição
enquanto processo, a procura incessante de novos conhecimentos e
tecnologias, a necessidade de formação e re-formação e a forma como a ciência
encara este conhecimento provocando uma nova visão de mundo, do homem e
da sociedade. Neste contexto, o talento, a performance desportiva e o estudo da
excelência no desporto são temas de elevado interesse na agenda das Ciências
do Desporto (Coutinho, Côté, Fonseca, & Mesquita, 2014). A fim de explicar a
concretização de desempenhos superiores e o alcance da excelência no
desporto, os investigadores têm desencadeado, ao longo das últimas décadas,
um importante debate, sobre o papel do meio ambiente (Ericsson, 2006;
Ericsson, krampe, & Tesch-Roemer, 1993), da genética (Bouchard, Malina, &
Perusse, 1997; Singer & Janelle, 1999) e características psicológicas (Durand-
Bush & Salmela, 2002; Gould, Dieffenbach, e Moffatt, 2002; MacNamara, Button,
& Collins, 2010; Orlick & Partington, 1988) no desenvolvimento do atleta e do
talento no desporto.
10
Nesta temática, a investigação sobre o desempenho humano e a
excelência tem sido dominada por posições antagónicas e pelo célebre debate
Nature vs. Nurture. Neste, as posições dos investigadores relativas à justificação
para o talento no desporto encontram-se nos fatores genéticos (nature), ou seja,
nas características inatas que fazem parte do indivíduo desde o seu nascimento,
ou nos fatores do ambiente (nurture), isto é, as características que o indivíduo
não possuía ao nascer e que foram adquiridas pelo indivíduo ao longo de sua
vida fruto da sua interação com o meio.
Podemos considerar que o debate Nature vs. Nurture tenha sido originado
entre os séculos XVI e XVII, com Rene Descartes e John Locke, dentro do que
chamamos de “Empirismo vs. Racionalismo”. Descartes, defensor do
Racionalismo, postulava existirem três tipos de ideias: as adventícias, factícias,
e as inatas. As ideias adventícias seriam recolhidas diretamente do meio através
de nosso sentido. As factícias seriam uma derivação das adventícias,
coincidindo com a própria imaginação, proveniente de uma interação entre o que
foi captado pelos sentidos e o escrutínio de nossa memória. Já as ideias inatas,
as verdadeiramente polémicas, tratam-se de essências verdadeiras, imutáveis e
eternas. Seriam ideias produzidas pela nossa compreensão, mas sem relação
com a experiência. John Locke recusava-se aceitar a proposta cartesiana de
ideias inatas. Entao, dentro do empirismo, criou o termo “Tabula Rasa”, para
explicar que o homem é uma página em branco, preenchida progressivamente
pela experiência através da sensação e da reflexão. Tem-se, aqui, o início de
uma polémica que perdura por vários séculos. De fato, ainda hoje, o debate
Nature vs. Nurture suscita paixões e convicções radicais de ambas as partes na
defesa de seus pontos de vista.
O inicio do estudo científico do talento é frequentemente associado à obra
de Francis Galton (1869) intitulada “Hereditário de Genes: uma investigação
sobre suas leis e consequências”. No entanto, pode ser mais preciso dizer que
o estudo explícito sobre o talento começou com um artigo que ele publicou quatro
anos antes (Galton, 1865), no qual deixou visivel a expressao “talento
hereditario” no lugar de “Genes hereditario”, sendo considerado um estudo piloto
para o livro publicado em 1869. Os contemporâneos de Galton levantaram
11
objeções em relação a esta perspetiva extremista sobre os fatores genéticos e
hereditários. Por exemplo, Alphonse de Candolle (1873), descendente de uma
ilustre família, que foi explicitamente notado na obra de Galton (1869), sugeriu a
importância crítica dos fatores ambientais na compreensão do que é um talento.
Tendo este argumento em consideração, Galton recuou um pouco no seu
extremo determinismo biológico e procurou compreender a influência que os
fatores do ambiente poderiam ter na explicação do talento. Deste modo, Galton
tornou-se o primeiro investigador a considerar simultaneamente as influências
de cariz genético e ambiental no estudo do talento. Pese embora este esforço,
Galton nunca abandonou a crença que o talento era maioritariamente explicado
por fatores genéticos em detrimento de fatores ambientais (Simonton, 2017).
O final do século XX testemunhou uma importante mudança de paradigma
(Lidor et al., 2009) muito devido às contribuições pioneiras de Bloom (1985) e
Ericsson e colaboradores (1993), os quais acreditavam que o talento era
resultado das influências do meio ambiente no qual o sujeito estava inserido.
Bloom (1985) concretizou os primeiros estudos neste âmbito ao entrevistar
indivíduos excecionais em vários domínios (e.g. música, escultura, matemática,
ciências e desporto) e ao concluir que o talento é fundamentalmente um
processo de desenvolvimento que ocorre ao longo de três fases (que acabou por
nomeá-las por “anos iniciais”, “anos intermedios” e “anos finais”), cada uma com
características importantes e distintas. Porém, muito para além das conclusões
da sua investigação, o contributo do estudo de Bloom (1985) perpetuou-se ao
longo dos tempos e influenciou decisivamente a forma como se passou a
conceber o talento, nomeadamente por reclamar mais atenção para as variáveis
de natureza contextual (e.g. prática/treino), social (e.g. influência da família,
professores e treinadores) e psicológica (e.g. motivação intrínseca).
Fornecendo continuidade a esta perspetiva concetual e cientifica,
Ericsson e colaboradores (1993) produziram dois estudos inovadores sobre o
papel da prática e do treino no desenvolvimento do talento na música e no
xadrez. De uma forma geral, os autores procuraram compreender o que
diferenciava os especialistas/talentosos dos amadores nestes domínios e
concluíram que as diferenças encontravam-se, em grande parte, na quantidade
12
de tempo que os especialistas dedicaram a praticar deliberadamente “atividades
que foram especialmente projetadas para melhorar/potenciar o nível de
desempenho” (p. 368). Surge, entao, o conceito de pratica deliberada definido
pelos autores como “uma atividade altamente estruturada, cujo objetivo explicito
é melhorar o desempenho, requer esforço físico e cognitivo e pode não ser
inerentemente agradavel ou divertida” (Ericsson et al.,1993, p. 368). Neste
sentido, o foco principal deste tipo de prática situa-se no desenvolvimento e no
refinamento de um desempenho ou habilidade, pelo que não pode ser
considerada somente como “treino”, mas antes um envolvimento profundo numa
prática específica, na qual a concentração, o esforço, a motivação e a relevância
são ingredientes fulcrais na sua concretização (Ericsson et al.,1993; Coutinho,
Mesquita, & Fonseca 2016). No seu primeiro estudo Ericsson e colaboradores
recrutaram violinistas de uma academia de música de Berlim e pediram que eles
estimassem a quantidade de horas por semana que dedicaram à prática
deliberada do instrumento. Os “melhores” violinistas (aqueles que eram
considerados como peritos ou especialistas) acumularam em média mais de
10,000 horas de prática deliberada aos 20 anos, que era cerca de 2,500 horas a
mais do que a media dos “bons” violinistas e cerca de 5,000 horas a mais do que
a media do “professor” menos realizado no grupo. No segundo estudo, Ericsson
e colaboradores constataram que os pianistas “especialistas”, que foram
selecionados para serem semelhantes em nível de habilidade aos bons
violinistas no primeiro estudo, acumularam em média mais de 10,000 horas de
prática deliberada aos 20 anos, em comparação com apenas 2,000 horas para
os pianistas definidos como “amadores” (Ericsson, 2006). Neste sentido,
Ericsson e colaboradores (1993) concluíram que elevadas quantidades de
prática deliberada seria um requisito necessário para alcançar um patamar
elevado de rendimento nestes domínios. Destes estudos emergiu a conceituada
Teoria da Prática Deliberada que possui como pressuposto central a existência
de uma forte relação entre o número de horas de prática deliberada e o nível de
performance alcançado, sugerindo, assim, que a probabilidade de um indivíduo
alcançar a excelência num determinado domínio aumenta quanto mais cedo
iniciar o seu investimento neste tipo de prática.
13
Pese embora a Teoria da Prática Deliberada tenha sido originalmente
desenvolvida em estudos centrados na música, diversos autores têm testado e
sugerido a sua aplicabilidade no desporto (Charness et al., 2005; Ericsson et al.,
1993; Helsen et al., 2000; Helsen et al., 1998; Hodge & Deakin, 1998). Alguns
estudos têm comprovado a relação existente entre o envolvimento precoce numa
só atividade desportiva e numa prática altamente especializada e o alcance da
excelência, particularmente em desportos onde o pico de performance ocorre
precocemente na carreira do atleta, como é o caso da natação e ginástica (Ford
et al., 2009; Hodges, & Stakes, 1996; Ward et al., 2007). Para além disso, muitas
são já as evidências que demonstram a existência de uma relação entre o
envolvimento e o investimento em elevadas quantidades de horas de prática
específica e estruturada (i.e. prática deliberada) e o alcance da perícia no
contexto desportivo (e.g. Baker, & Young 2014; Baker, Côté, & Abernethy 2003;
Berry, Abernethy, & Côté 2008; Ward, Hodges, Starkes et. al 2007; Haugaasen,
Toering & Jordet 2014; Coutinho et al, 2014, 2015). Porém, os estudos
desenvolvidos no âmbito desportivo têm demonstrado que os atletas que
alcançam a perícia acumulam entre as 4,000 e as 6,000 horas de prática
específica, o que fica bastante aquém das 10,000 horas sugeridas por Ericksson
e Colaboradores (1993) como requisito para o alcance da excelência (e.g. Berry
et al., 2008; Baker et al., 2003b; Soberlack, & Côté, 2003).
As premissas supracitadas quando analisadas à luz do contexto
desportivo deram origem ao tão conhecido conceito de especialização precoce,
ou seja, um envolvimento numa só atividade desportiva e numa prática altamente
especializada desde tenra idade ou de uma idade muito jovem. Os
investigadores têm alertado para os perigos da ocorrência de uma
especialização precoce no desporto, associando este percurso a diversas
consequências negativas, tais como o abandono precoce do desporto (dropout)
(Fraser-Thomas et al., 2008a; Gould, Tuffey, Udry & Loehr, 1996; Wall & Côté,
2007), uma maior prevalência de esgotamento físico e emocional (burnout)
(Strachan et al., 2009) e de lesões de sobreuso (Law et al., 2007), o que,
consequentemente, limita a longevidade das carreiras dos atletas (Baker, 2003;
Baker et al., 2009; Law et al., 2007; Wiersma, 2000). Adicionalmente, os
14
investigadores têm sugerido que o treino altamente estruturado e a seleção
precoce colidem frequentemente com as motivações das crianças, pois, sendo
a melhoria de desempenho o principal objetivo da prática deliberada, há mais
tendência a orientá-las para razões externas (e.g., ganhar) e envolvê-las em
climas demasiado orientado com a comparação social (Côté et al., 2009). Tais
condições levaram os investigadores a questionar o beneficio e a eficiência deste
percurso desportivo e a ponderar se a especialização precoce se traduz no único
caminho para a excelência neste contexto.
Efetivamente, a investigação empírica mais atual (e.g. Coutinho et al,
2016, Coutinho et al, 2015; Gullich, 2018; Gullich, 2014; Barreiros et al., 2013)
tem demonstrado que uma prática desportiva inicial diversificada não limita o
alcance da perícia no desporto, podendo revelar-se benéfico para o
desenvolvimento desportivo a longo prazo do atleta (Baker, 2003; Baker, Cobley,
&Fraser-Thomas,2009; Côté, Lidor, & Hackfort, 2009; Côté et al.,2012).
Inclusivamente, várias são já as evidências que demonstram que os atletas que
vivenciam uma prática desportiva inicial diversificada alcançam, de igual forma,
elevados patamares de rendimento. Por exemplo, estudos que analisaram o
percurso desportivo de atletas de elite em desportos como o hóquei no gelo
(Soberlak & Côté, 2003), o hóquei em campo, o basquete e o netball (Baker et
al., 2003b), o basebol (Hill, 1993), o ténis (Carlson, 1988; Côté, 1999), o triatlo
(Baker et al., 2005), o futebol australiano (Berry et al., 2008) e o remo (Côté,
1999), o voleibol (Coutinho et al, 2014, 2015, 2016) demonstram que o
desempenho de elite é geralmente precedido por um período de experiências
desportivas diversificadas e pelo envolvimento em vários desportos. A prática
desportiva inicial diversificada é, assim, caracterizada por um envolvimento em
diversas atividades desportivas durante a infância e por investimento e
espacialização tardios na modalidade principal (Côté, 1999; Côté et al., 2003;
Côté & Hay, 2002). A participação numa variedade de modalidades desportivas
permite que as crianças experimentem uma série de diferentes situações físicas,
cognitivas, afetivas, ambientais e psicossociais, revelando-se, assim, vantajoso
para o seu desenvolvimento (Côté, Lidor, & Hackfort, 2009). A importância deste
benefício situa-se não somente a nível motor, mas igualmente a nível cognitivo,
15
psicológico e socio-afetivo, constructo fundamental para um desenvolvimento
desportivo a longo prazo sustentado e comprometido (Baker; 2003; Baker,
Cobley, & Fraser-Thomas; 2009; Côté, Baker, & Abernethy; 2007; Côté,
Erickson; 2015; Côté, Lidor, & Hackfort; 2009). Deste modo, o benefício da
experimentação de diversos desportos durante a infância tem sido reconhecido
e destacados por diversos estudos, que demonstraram o impacto positivo desta
abordagem não só no desenvolvimento do atleta, como da continuidade da sua
participação desportiva ao longo do tempo (Côté et al., 2009) e no
desenvolvimento da perícia na idade adulta (Côté & Abernethy, 2012).
A prática desportiva inicial diversificada é igualmente caracterizada pelo
envolvimento em atividades de caráter informal, lúdicas e pouco estruturadas
(Côté, Baker, & Abernethy, 2003; Côté et al., 2007; Côté, Erickson, & Abernethy,
2013). Este tipo de atividades, muitas vezes denominado por jogo deliberado
(Côté, Baker, & Abernethy, 2003, 2007), é concretizado durante as primeiras
etapas da formação desportiva e caracteriza-se por ser uma experiência de
extrema importância durante a infância. Trata-se de uma forma de atividade
desportiva que é regulada e organizada pela própria criança, em ambientes
informais (por exemplo, a rua), sem a presença de um adulto (i.e. treinador,
professor), é intrinsecamente motivadora, fornece feedback imediato e é
desenvolvida especificamente para promover o prazer e o divertimento (Côté,
Baker, & Abernethy, 2003, 2007). Por ser uma atividade regulada e monitorizada
pela própria criança, a flexibilidade na sua forma e estrutura é uma característica
importante que permite aos participantes jogar sem grandes requisitos, em
qualquer espaço e com número variável de jogadores, idades ou tamanhos (Côté
et al., 2009). A liberdade e flexibilidade inerentes à estrutura deste tipo de prática
levam à conceção de ambientes de aprendizagem implícita, ajustados às
necessidades das próprias crianças, o que promove o desenvolvimento de um
reportório motor alargado e um lugar por excelência para a criança expor a sua
criatividade (Côté, Erickson, & Abernethy, 2013; Memmert et al., 2010; Wood,
2013). A sua importância é atestada pelos investigadores quando indicam que o
envolvimento em atividades como o jogo deliberado durante a infância parece
favorecer o alcance de rendimentos superiores no desporto (Baker, Côté, &
16
Deakin, 2005b; Berry et al., 2008; Hayman et al., 2011; Memmert et al., 2010).
Neste sentido, a prática informal proporciona inúmeras vantagens para a
aprendizagem do atleta que se associam a uma participação desportiva a longo-
prazo, ao desenvolvimento pessoal e ao alcance da perícia neste domínio (Côté,
Erickson, & Abernethy, 2013).
Tendo em consideração a existência de vários percursos capazes de
encaminhar o atleta para um patamar de excelência no desporto, nas últimas
décadas tem-se observado um aumento considerável do número de modelos
teóricos dedicados a compreender e a explicar este fenómeno (e.g. Abbott &
Collins, 2004; Bailey & Morley, 2006; Bloom, 1985; Côté, 1999; Salmela, 1994;
Stambulova, 1994; Wylleman & Lavallee, 2004). No sentido de realizar uma
síntese integradora da informação existente sobre esta temática, Bruner e
Colaboradores (Bruner, Erickson, Wilson e Côté, 2010) analisaram com relativa
profundidade sete modelos teóricos sobre o desenvolvimento do atleta e do
talento (Abbott, & Collins, 2004; Bailey, & Morley, 2006; Bloom, 1985; Côté, 1999;
Salmela, 1994; Stambulova, 1994; Wylleman, & Lavalle, 2004). Desta análise,
decorre que os modelos existentes baseiam-se em duas abordagens
conceptuais distintas e com pouca conexão entre elas (Bruner et a., 2010),
nomeadamente os modelos dedicados à compreensão do desenvolvimento do
talento (Abbott, & Collins, 2004; Bailey & Morley, 2006; Bloom, 1985; Côté, 1999;
Salmela, 1994) e os modelos que procuram compreender as transições de
carreira do atleta (Stambulova, 1994; Wylleman, & Lavalle, 2004).
Os modelos centrados no desenvolvimento do talento (Abbott & Collins,
2004; Bailey & Morley, 2006; Bloom, 1985; Côté, 1999; Henriksen, Stambulova,
& Roessler, 2010; Salmela, 1994), dividem as carreiras do atleta em vários
estágios e descrevem as mudanças nos atletas e no seu ambiente social. Neste
domínio, destaca-se o trabalho desenvolvido por Bloom (1985), que se
caracteriza por ser um dos primeiros trabalhos nesta área de investigação e que
influenciou consideravelmente a construção dos modelos posteriores. O
respetivo modelo foi desenvolvido com base nos relatos retrospetivos de
indivíduos talentosos em disciplinas como a matemática, a arte, a ciência e o
desporto, onde foi observado um padrão geral de desenvolvimento e
17
caracterizado por três etapas: (1) fase de iniciação, (2) fase de desenvolvimento
e (3) fase de perfeição.
Com base no estudo de Bloom (1985), os modelos de desenvolvimento
de atletas propostos por Salmela (1994), Stambulova (1994) e Wylleman e
Lavallee (2004) fornecem maneiras complementares de explicar o caminho para
a excelência no desporto. Salmela (1994) e Wylleman e Lavallee (2004)
identificaram transições normativas que ocorrem entre as fases de iniciação,
desenvolvimento, perfeição e descontinuação. A etapa adicional ao modelo de
Salmela (1994) intitulada de descontinuação (ou seja, quando os atletas deixam
de participar de um nível elevado, mas continuam a participação esportiva para
fins recreativos) também foi considerada dada a sua pertinência na explicação
do desenvolvimento do atleta e da sua carreira a longo prazo. O modelo
apresentado por Stambulova (1994) sugere que a carreira esportiva é
caracterizada por cinco etapas: (1) etapa preparatória; (2) início de
especialização; (3) treinamento intensivo em esporte escolhido; (4) estágio de
culminação; e (5) o estágio final, seguida de descontinuação.
Mais recentemente, o modelo proposto por Abbot e Collins (2004)
reconhece que múltiplos processos interativos e compensatórios ocorrem dentro
e entre capacidades inatas, condições ambientais e comportamentos
psicológicos. Da mesma forma, Bailey e Morley (2006) sugeriu que o
desempenho atual é um indicador fraco de habilidade, já que outras influências,
como o treino, o apoio parental e os valores sociais podem desempenhar um
papel importante no desenvolvimento do talento. Os autores argumentam
igualmente que o desenvolvimento do talento precisa de ser visto como um
constructo multidimensional, uma vez que as habilidades inter e intrapessoais,
cognitivas e criativas são importantes contributos do complexo processo que é o
desenvolvimento do talento.
Por sua vez, os modelos de Stambulova (1994) e de Wylleman e Lavallee
(2004) foram construídos para representar as principais transições na carreira
de um atleta e diferem dos modelos de desenvolvimento de talentos porque
descrevem e explicam as razões e os fatores que influenciam uma transição no
18
desporto (Coutinho, Mesquita, & Fonseca, 2016). O modelo de desenvolvimento
de Wylleman e Lavallee (2004) incluiu as mesmas etapas do modelo de Salmela
(1994) (e.g., a iniciação, desenvolvimento, perfeição e interrupção), contudo
integra outros três níveis de desenvolvimento: (1) psicológico; (2) psicossocial; e
(3) académico-profissional, de modo a incentivar os investigadores a levar em
conta as demandas e transições dos atletas fora do ambiente desportivo. O
modelo sugerido por Stambulova (1994) divide a carreira do atleta em cinco
etapas: (1) estágio preparatório, (2) início da especialização, (3) treinamento
intensivo no desporto escolhido, (4) estágio de culminação e (5) estágio final
seguido de descontinuação.
Pese embora a contribuição deste modelos teóricos para explicar o
desenvolvimento do atleta e do talento no desporto, a maioria deles falha em
fornecer conceitos testáveis capazes de auxiliar a compreensão deste processo
(Côté, Murphy-Mills, & Abernethy (2012). Por exemplo, observa-se uma
dificuldade acrescida em encontrar componentes quantificáveis que
caracterizam cada fase de desenvolvimento, muito porque algumas das
variáveis em questão são difíceis de testar, como, por exemplo, os
comportamentos psicossociais (Abbott & Collins, 2004) ou o potencial de um
atleta (Bailey e Morley, 2006). Para além disso, as etapas qualitativas
consideradas em muitos dos modelos são baseados em cenários difíceis de
definir, particularmente devido à falta de clareza em relação aos indicadores que
acompanham as transições entre as diversas fases de desenvolvimento.
Um modelo que tentou resolver estas limitações foi o Modelo
Desenvolvimental de Participação Desportiva (MDPD) (Côté, 1999; Côté et al.,
2003, 2007). Considerado como o modelo mais proeminente na literatura desta
temática e sobre o qual mais investigação empírica foi desenvolvida (Bruner et
al., 2009; Bruner et al., 2010), este modelo tem sido aperfeiçoado nos últimos
dez anos, e sugere um conjunto de conceitos e variáveis capazes de serem
analisadas e testadas (Côté, Murphy-Mills e Abernethy, 2012). O respetivo
propõe três trajetórias de participação no desporto, nomeadamente (1) a
participação desportiva de âmbito recreativa através da prática desportiva inicial
diversificada e do jogo deliberado; (2) a performance de elite obtida através da
19
prática desportiva inicial diversificada e do jogo deliberado e (3) a performance
de elite alcançada através da especialização precoce e da prática deliberada
(Côté et al., 2007; Côté et al., 2012). Em contraste com outros modelos do
desenvolvimento do atleta, a principal vantagem do MDPD é a identificação de
indicadores claros para cada etapa que são consistentes com as teorias de
desenvolvimento da criança e adolescente (Côté et al., 2012). O MDPD destaca-
se, assim, por tentar compreender o fenómeno do talento desportivo, sobretudo
na interação entre atleta, tarefa e contexto, sustentando a noção de que o
sucesso desportivo é um processo complexo, longo e não linear, contribuindo,
assim, para a orientação e aprimoramento de programas de desenvolvimento
desportivo a longo prazo. Não descurando a importância desta concepção
teórica, recentemente MacNamara & Collins (2014) destacaram a necessidade
de ir além de modelos prescritivos que expliquem o desenvolvimento do atleta e
do talento no desporto e apontam para a necessidade de promover diretrizes
robustas e orientações capazes de melhor nortear as práticas no que concerne
ao desenvolvimento do atleta e do rendimento no desporto.
Nas últimas duas décadas muitos foram os estudos empíricos que foram
desenvolvidos na procura de testar estes pressupostos teóricos e na tentativa de
explicar os fatores capazes de influenciar o desenvolvimento do atleta e o acesso
a elevados patamares de rendimento (e.g. Coutinho et al, 2016; Coutinho et al,
2015; Gullich, 2014, 2018; Rothwell, Stone, Davids, & Wright, 2017). A maioria
destes estudos analisou atletas de níveis de rendimento diferenciado (i.e.
experts vs não-experts) (e.g. Baker et al., 2003a; Law et al., 2007; Leite, Baker,
& Sampaio, 2009) e de atletas proveniente de diversas modalidades (e.g. Baker
et al., 2003b; Barreiros et al., 2013; Leite et al., 2009), desconsiderando as
diferenças impostas pela especificidade de cada desporto. Apesar da
importância destas evidências para o estabelecimento de quadros teóricos
relevantes para a temática, a verdade é que se encontra uma dificuldade
acrescida em aceder às idiossincrasias do processo de desenvolvimento de
cada modalidade desportiva. Quando indagamos sobre o percurso desportivo
dos jogadores de voleibol, por exemplo, facilmente percebemos a existência de
poucos estudos na literatura dedicados somente à análise desta modalidade
20
(Coutinho et al, 2014, Coutinho et al, 2015, Coutinho et al, 2016). Para além
disso, a maioria dos estudos caracteriza-se por ser de natureza retrospetiva,
analisando atletas já em idade adulta e questionando-os sobre como foi o seu
percurso desportivo no passado (e.g. Baker et al., 2003a; Law et al., 2007; Leite,
Baker, & Sampaio, 2009). Poucos são os estudos prospetivos que procuram
analisar o percurso desportivo de atletas jovens e compreender como está a ser
o seu processo de desenvolvimento desportivo nesse preciso momento. O
presente estudo procurou dar resposta às lacunas cientificas e metodológicas
supracitadas na tentativa de contribuir para o estabelecimento de indicadores
válidos, singulares e detalhados sobre o desenvolvimento desportivo a longo
prazo dos jogadores de voleibol.
21
CAPÍTULO III
OBJETIVOS DO ESTUDO
22
23
3. OBJETIVOS DO ESTUDO
3.1 Objetivo Geral
Caracterizar a participação desportiva de jovens jogadores de voleibol
portugueses, do género masculino e de nível de rendimento distinto (jogadores
de seleção e jogadores de clube), no que concerne à quantidade e ao tipo de
atividades desportivas formais e informais praticadas ao longo do seu
desenvolvimento.
3.1.1 Objetivos Específicos
Tendo em consideração o objetivo geral deste estudo, foram definidos os
seguintes objetivos específicos:
1. Verificar se as características individuais dos jogadores (i.e. altura e o mês
de nascimento) diferem em função do nível de rendimento;
2. Averiguar se a idade de iniciação desportiva, bem como a idade de
iniciação e especialização no voleibol diferem entre os jogadores de nível
de rendimento distinto;
3. Caracterizar o número, a tipologia e as horas de prática das atividades
desportivas de carácter formal praticadas ao longo do desenvolvimento
dos jogadores e verificar se estas diferem em função do nível de
rendimento;
4. Caracterizar o número de horas de prática formal específica (i.e. voleibol)
praticadas ao longo do desenvolvimento dos jogadores e verificar se estas
diferem em função do nível de rendimento;
5. Caracterizar o número e as horas de prática das atividades desportivas
de carácter informal praticadas ao longo do desenvolvimento dos
jogadores e verificar se estas diferem em função do nível de rendimento;
24
25
CAPÍTULO IV
METODOLOGIA
26
27
4. METODOLOGIA
4.1. Caracterização da Amostra
A amostra deste estudo totaliza 38 jovens jogadores de voleibol
portugueses, do sexo masculino e de nível de rendimento distinto (jogadores de
seleção e jogadores de clube). Os respetivos participantes foram selecionados
em função dos seguintes critérios de seleção inicial: (a) terem idades
compreendidas entre os 14 e os 17 anos (patamar etário da seleção nacional em
análise e correspondente aos escalões de formação de iniciados, cadetes e
juvenis no âmbito do clube), (b) estarem inscritos como jogadores federados na
respetiva modalidade pela Federação Portuguesa de Voleibol, (c) serem
praticantes efetivos da modalidade na época 2018-2019 e participarem em
competições oficiais do seu escalão. No que concerne à diferenciação do nível
de rendimento, foram analisados a totalidade dos jogadores da seleção nacional
sub-17 masculina (N=19) e, ainda, jovens jogadores de três clubes de referência
da modalidade pertencentes à zona Norte (N=19). Relativamente a estes
últimos, para uma seleção específica e mais rigorosa dos jogadores, foram
considerados os seguintes critérios de inclusão: (a) corresponderem à faixa
etária em questão e ao escalão correspondente, (b) praticarem a modalidade há
mais de um ano, (c) nunca terem integrado os trabalhos das seleções jovens da
modalidade, (d) serem considerados pelo treinador do clube como um elemento
de valor a ser considerado no estudo tendo em consideração os objetivos
propostos. Todos os jogadores que não cumpriam os critérios acima
mencionados ou que demonstravam alguma dubiedade em relação aos
respetivos critérios, foram automaticamente excluídos da amostra integradora
deste estudo. Para a concretização da recolha de informação necessária para
esta investigação, os jogadores, os seus encarregados de educação e os seus
treinadores foram contatados pessoalmente, no qual lhes foi proporcionado uma
visão global do estudo. Todos os envolvidos assinaram os termos de
consentimento para a realização das entrevistas. A percentagem de
concordância para a realização do estudo foi de 100%.
28
4.2. Instrumento Utilizado e Procedimentos
Para a recolha de dados foi desenvolvida e aplicada uma versão adaptada
da entrevista retrospetiva desenvolvida por Côté, Ericsson e Law (2005). A
entrevista era composta por duas secções distintas de informação,
nomeadamente: a) dados demográficos do atleta e b) dados relativos ao histórico
de prática desportiva até à data. Nesta última secção procuramos obter
informação sobre: 1) a idade de iniciação da prática desportiva, 2) a idade de
iniciação no voleibol, 3) a idade de especialização no voleibol, 3) o número de
atividades desportivas formais praticadas (de caráter organizado e federativo),
4) a quantidade e o tipo das atividades desportivas formais praticadas (i.e.
atividades de caráter invasivo – por exemplo, futebol, futsal, andebol,
basquetebol; atividades de caráter não-invasivo – por exemplo, voleibol, ténis,
ténis de mesa; atividades de cariz aquático – por exemplo, natação, polo
aquático, remo, surf; e atividades de caráter gímnico – por exemplo, ginástica,
patinagem, ballet, 5) o número de horas de prática específica (Voleibol), 6) o
número de atividades desportivas informais praticadas, e, finalmente, 7) a
quantidade de horas de prática de atividades desportivas informais que os
jogadores estiveram envolvidos. A informação relativa aos padrões de treino foi
registada em diversas grelhas que foram intencionalmente construídas para
facilitar a capacidade do entrevistado para recordar devidamente da sua prática
desportiva passada.
Para a caracterização dos padrões de treino, o Modelo Desenvolvimental
da Participação Desportiva (MDPD) (Côté, 1999; Côté et al., 2003, 2007; Côté et
al., 2012) e os escalões de formação que integram o sistema competitivo da
Federação Portuguesa de Voleibol foram considerados para definir as etapas de
desenvolvimento desportivo integrantes deste estudo. Neste sentido, foram
definidas quatro etapas: antes dos 6 anos (etapa 1); 6-12 anos (etapa 2), 13-16
anos (etapa 3), e após os 16 anos (etapa 4). A segunda etapa corresponde
exatamente à primeira etapa considerada no MDPD. No voleibol, esta faixa etária
é caracterizada pela iniciação na modalidade, na qual as crianças experimentam
situações de jogos reduzidos (2x2 e 4x4), aprendem os fundamentos técnicos e
29
táticos de base, e onde o gosto e a motivação para a prática se constituem os
objetivos basilares a desenvolver. Já na terceira etapa (13-16 anos) associa-se
de acordo com a segunda etapa considerada no MDPD (13-15 anos). No
voleibol, esta faixa etária caracteriza-se pela introdução do jogo formal (6x6),
pela implementação de uma prática mais sistemática, pelo início da
especialização técnica e tática, e, também, pelo aumento da quantidade de treino
(número de treinos e número de horas). Finalmente, a quarta etapa de
desenvolvimento considerada neste estudo (i.e. após os 16 anos) corresponde
à terceira etapa considerada no MDPD (acima de 16 anos). No voleibol, esta
faixa etária à transição do escalão de juvenis para o escalão de juniores, na qual
a preparação e a implementação de elevados níveis de prática são potenciadas
a fim de maximizar o desempenho.
No que concerne à recolha dos dados, as entrevistas foram aplicadas e
conduzidas pelos investigadores envolvidos neste estudo, num ambiente calmo
e silencioso, de forma a dispor das melhores condições possíveis para a recolha
da informação desejada sobre o percurso desportivo dos atletas. Foi garantido o
anonimato aos atletas sendo-lhes explicado os objetivos do estudo. A realização
das entrevistas teve uma duração de 50 minutos a 1 hora e 30 minutos.
4.3. Análise de Dados
Para realizar a análise quantitativa dos dados, foi utilizado o programa
estatístico Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão 25 para o
Windows. Para a descrição dos dados foram utilizados os valores da média e
desvio padrão. O teste Kolmogorov-Smirnov foi utilizado para testar a
normalidade da distribuição. ANOVA One-Way foi aplicada para explorar a idade
de iniciação desportiva, idade de iniciação no voleibol e idade de especialização
no voleibol em função do nível de rendimento dos jogadores. Para efetuar a
análise dos padrões de treino (i.e. o número e o tipo de atividades desportivas
formais praticadas, o número de horas de prática específica – Voleibol, e a
quantidade de atividades desportivas informais praticadas) ao longo das
30
diferentes etapas de desenvolvimento dos jogadores foi aplicado uma ANOVA
de Medidas Repetidas com teste post-hoc (Tukey e Bonferroni). Foi considerado
o nivel de significância estabelecido em p≤0,05.
31
CAPÍTULO V
RESULTADOS
32
33
5. RESULTADOS
Neste capítulo serão apresentados os resultados referentes às
características individuais dos atletas, bem como ao padrão do tipo e da
quantidade de prática desportiva formal e informal dos jogadores de seleção e
dos jogadores de clube.
5.1. Características individuais dos atletas (altura e data de nascimento)
No que concerne à altura dos jogadores, os resultados deste estudo
apresentam diferenças estatisticamente significativas entre os grupos
(F(1,37)=20,645; p0,000). Os jogadores de seleção são mais altos quando
comparados com os jogadores de clube.
Tabela 1 – Estatística descritiva para a altura.
Nível de Rendimento
Jogadores de Seleção Jogadores de Clube Total
N 19 19 38
Média 1,87 1,77 1,82
dp 0,08 0,66 0,09
Relativamente à data de nascimento, não se observaram diferenças
estatisticamente significativas entre os grupos (p=0,835). No entanto, importa
destacar a percentagem elevada (42,10%) de jogadores de seleção nacional que
nasceram no primeiro trimestre do ano (entre janeiro e março)
Tabela 2 – Percentagem de voleibolistas que nasceram nos quatro diferentes trimestres
do ano em função do nível de rendimento
Trimestres
Nível de
Rendimento
1 2 3 4
Jogadores de
Seleção
42,1% 26,3% 21,1% 10,5%
Jogadores de
Clube
31,6% 21,1% 31,6% 13,2%
34
5.2. Idade de Iniciação da Prática Desportiva
No que concerne à idade de iniciação da prática desportiva em geral, não
se verificaram diferenças estatisticamente significativas em função do nível de
rendimento (F(1,37)=0,024; p=0,879). Contudo, importa salientar que os
voleibolistas em estudo iniciaram a sua prática desportiva de caráter organizado
e federativo aos 6 anos.
Tabela 3 – Estatística descritiva para a idade de iniciação da prática desportiva
Nível de Rendimento
Jogadores de Seleção Jogadores de Clube Total
N 19 19 38
Média 6,05 6,21 6,13
dp 3,504 2,780 3,121
5.3. Idade de Iniciação da Prática de Voleibol
Relativamente à idade de iniciação da prática de Voleibol ao nível
federativo, não se observaram diferenças estatisticamente significativas entre os
grupos (F(1,37)=0,298; p=0,588). Os resultados do estudo demonstraram que o
perfil dos voleibolistas é semelhante, uma vez que os jogadores começaram a
praticar a modalidade entre os 8 e os 9 anos.
Tabela 4 – Estatística descritiva para a idade de iniciação da prática de voleibol.
Nível de Rendimento
Jogadores de Seleção Jogadores de Clube Total
N 19 19 38
Média 9,47 8,89 9,18
dp 3,323 3,213 3,237
35
5.4. Idade de Especialização no Voleibol
No que concerne à idade de especialização no voleibol, não se verificaram
diferenças estatisticamente significativas entre os grupos (F(1,37)=3,450;
p=0,071). No geral, os jogadores especializaram-se na modalidade de voleibol
entre os 13 e os 14 anos.
Tabela 5 – Estatística descritiva para a idade de especialização no voleibol.
Nível de Rendimento
Jogadores de
Seleção
Jogadores de
Clube
Total
N 19 19 38
Média 14,8 13,3 14,1
dp 1,5 3,1 2,5
5.5. Número de Atividades Desportivas Formais Praticadas (caráter
organizado e federativo)
Relativamente ao número de atividades desportivas formais praticadas,
os resultados deste estudo apontam para a existência de diferenças
estatisticamente significativas entre os grupos (F(3,36)=4,319; p=0,041) e em
função das diferentes etapas de desenvolvimento (F(3,36)=61,449; p0,000).
Assim, no geral, os voleibolistas praticaram mais atividades desportivas nas
etapas 2 e 3 (p=0,030 e p=0,010, respetivamente) do que na etapa 1 e 4
(p=0,510 e p=0,553, respetivamente). Por outro lado, os jogadores que
enquadram a seleção nacional praticaram mais atividades desportivas ao longo
do seu desenvolvimento desportivo inicial quando comparados com aqueles que
jogam no clube (p=0,006).
36
Tabela 6 – Estatística descritiva para o número de atividades desportivas formais praticadas
em função do nível de rendimento e das etapas de desenvolvimento
Nível de Rendimento
Jogadores de
Seleção
Jogadores de
Clube
Total
N 19 19 38
Etapa 1 ( 6 anos) Média 0,84 0,58 0,71
dp 1,11 0,77 0,96
N 19 19 38
Etapa 2 (6-12 anos) Média 3,58 2,26 2,92
dp 2,06 0,81 1,68
N 19 19 38
Etapa 3 (13-16 anos) Média 2,53 1,63 2,08
dp 1,35 0,76 1,17
N 19 19 38
Etapa 4 (+16 anos) Média 0,16 0,11 0,13
dp 0,38 0,45 0,41
5.6. Tipologia das Atividades Desportivas Formais Praticadas
(invasivas, não-invasivas, aquáticas e gímnicas)
5.6.1. Número de atividades
No que concerne ao número de atividades desportivas formais praticadas
de caráter invasivo, foram observadas diferenças estatisticamente significativas
entre os grupos (F(3,36)=12,917; p=0,001) e em função das diferentes etapas de
desenvolvimento (F(3,36)= 4,559; p=0,005). Especificamente, os jogadores de
seleção praticaram mais atividades desportivas de caráter invasivo nas etapas 2
e 3 (p=0,006 e p=0,034, respetivamente) quando comparados com os jogadores
de clube.
37
Tabela 7 – Estatística descritiva para o número de atividades desportivas formais
praticadas de caráter invasivo em função do nível de rendimento e das etapas de
desenvolvimento
Nível de Rendimento
Jogadores de
Seleção
Jogadores de
Clube
Total
N 19 19 38
Etapa 1 ( 6 anos) Média 0,21 0,05 0,13
dp 0,42 0,23 0,34
N 19 19 38
Etapa 2 (6-12 anos) Média 1,32 0,47 0,89
dp 1,16 0,51 0,98
N 19 19 38
Etapa 3 (13-16 anos) Média 0,42 0,05 0,24
dp 0,69 0,23 0,54
N 19 19 38
Etapa 4 (+16 anos) Média 0,0 0,0 0,0
dp 0,0 0,0 0,0
Relativamente ao número de atividades desportivas formais praticadas de
caráter não-invasivo, não foram observadas diferenças estatisticamente
significativas entre os grupos (F(1,36)=1,412; p=0,242) e em função das diferentes
etapas de desenvolvimento (F(3,36)= 62,586; p=0,532).
Tabela 8 – Estatística descritiva para o número de atividades desportivas formais praticadas
de caráter não-invasivo em função do nível de rendimento e das etapas de desenvolvimento
Nível de Rendimento
Jogadores de
Seleção
Jogadores de
Clube
Total
N 19 19 38
Etapa 1 ( 6 anos) Média 0,16 0,16 0,16
dp 0,38 0,38 0,38
N 19 19 38
Etapa 2 (6-12 anos) Média 1,53 1,16 1,34
dp 0,96 0,69 0,85
N 19 19 38
Etapa 3 (13-16 anos) Média 1,53 1,42 1,47
dp 0,61 0,69 0,65
N 19 19 38
Etapa 4 (+16 anos) Média 0,21 0,11 0,16
dp 0,54 0,46 0,50
38
Relativamente ao número de atividades desportivas formais praticadas de
cariz aquático, não foram observadas diferenças estatisticamente significativas
entre os grupos (F(1,36)=19,349; p=0,483) e em função das diferentes etapas de
desenvolvimento (F(3,36)= 1,716; p=0,179).
Tabela 9 – Estatística descritiva para o número de atividades desportivas formais
praticadas de cariz aquático em função do nível de rendimento e das etapas de
desenvolvimento
Nível de Rendimento
Jogadores de
Seleção
Jogadores de
Clube
Total
N 19 19 38
Etapa 1 ( 6 anos) Média 0,21 0,21 0,21
dp 0,42 0,42 0,41
N 19 19 38
Etapa 2 (6-12 anos) Média 0,37 0,42 0,39
dp 0,60 0,51 0,55
N 19 19 38
Etapa 3 (13-16 anos) Média 0,37 0,10 0,21
dp 0,76 0,23 0,58
N 19 19 38
Etapa 4 (+16 anos) Média 0,0 0,0 0,0
dp 0,0 0,0 0,0
No que concerne ao número de atividades desportivas formais praticadas
de caráter gímnico, não foram observadas diferenças estatisticamente
significativas entre os grupos (F(1,36)=1,829; p=0,185) e em função das diferentes
etapas de desenvolvimento (F(3,36)= 0,490; p=0,591).
39
Tabela 10 – Estatística descritiva para o número de atividades desportivas formais
praticadas de caráter gímnico em função do nível de rendimento e das etapas de
desenvolvimento
Nível de Rendimento
Jogadores de
Seleção
Jogadores de
Clube
Total
N 19 19 38
Etapa 1 ( 6 anos) Média 0,03 0,16 0,21
dp 0,45 0,38 0,41
N 19 19 38
Etapa 2 (6-12 anos) Média 0,37 0,21 0,29
dp 0,50 0,42 0,46
N 19 19 38
Etapa 3 (13-16 anos) Média 0,21 0,10 0,13
dp 0,54 0,23 0,41
N 19 19 38
Etapa 4 (+16 anos) Média 0,0 0,0 0,0
dp 0,0 0,0 0,0
5.6.2. Horas de Prática
No que concerne ao número de horas de prática de atividades desportivas
formais de caráter invasivo, não foram observadas diferenças estatisticamente
significativas entre os grupos (F(1,36)=3,626; p=0,065) e em função das diferentes
etapas de desenvolvimento (F(3,36)= 1,488; p=0,233).
Tabela 11 – Estatística descritiva para o número de horas de atividades desportivas formais
praticadas de caráter invasivo em função do nível de rendimento e das etapas de
desenvolvimento
Nível de Rendimento
Jogadores de
Seleção
Jogadores de
Clube
Total
N 19 19 38
Etapa 1 ( 6 anos) Média 39,27 11,08 25,18
dp 86,08 48,31 70,32
N 19 19 38
Etapa 2 (6-12 anos) Média 543,54 307,69 425,62
dp 467,29 490,57 487,43
N 19 19 38
Etapa 3 (13-16 anos) Média 187,77 14,42 101,10
dp 520,83 62,87 376,30
N 19 19 38
Etapa 4 (+16 anos) Média 0,0 0,0 0,0
dp 0,0 0,0 0,0
40
Relativamente ao número de horas de prática de atividades desportivas
formais de caráter não-invasivo, não foram observadas diferenças
estatisticamente significativas entre os grupos (F(1,36)=0,133; p=0,718) e em
função das diferentes etapas de desenvolvimento (F(3,36)= 47,989; p=0,499).
Tabela 12 – Estatística descritiva para o número de horas de atividades desportivas formais
praticadas de caráter não-invasivo em função do nível de rendimento e das etapas de
desenvolvimento
Nível de Rendimento
Jogadores de
Seleção
Jogadores de
Clube
Total
N 19 19 38
Etapa 1 ( 6 anos) Média 18,78 69,16 43,97
dp 46,00 185,37 135,64
N 19 19 38
Etapa 2 (6-12 anos) Média 18,78 759,22 389,00
dp 46,00 551,34 538,22
N 19 19 38
Etapa 3 (13-16 anos) Média 658,46 991,12 824,79
dp 586,41 537,59 579,92
N 19 19 38
Etapa 4 (+16 anos) Média 1241,36 0,0 620,68
dp 626,95 0,0 766,08
Relativamente ao número de horas de prática de atividades desportivas
formais de cariz aquático, não foram observadas diferenças estatisticamente
significativas entre os grupos (F(1,36)=0,369; p=0,547) e em função das diferentes
etapas de desenvolvimento (F(3,36)= 0,197; p=0,672).
41
Tabela 13 – Estatística descritiva para o número de horas de atividades desportivas formais
praticadas de cariz aquático em função do nível de rendimento e das etapas de
desenvolvimento
Nível de Rendimento
Jogadores de
Seleção
Jogadores de
Clube
Total
N 19 19 38
Etapa 1 ( 6 anos) Média 44,05 24,16 34,11
dp 101,01 53,75 80,44
N 19 19 38
Etapa 2 (6-12 anos) Média 239,28 169,63 204,45
dp 712,69 269,12 532,52
N 19 19 38
Etapa 3 (13-16 anos) Média 85,90 17,05 51,48
dp 286,07 74,33 209,09
N 19 19 38
Etapa 4 (+16 anos) Média 0,0 0,0 0,0
dp 0,0 0,0 0,0
No que concerne ao número de horas de prática de atividades desportivas
formais de caráter gímnico, não foram observadas diferenças estatisticamente
significativas entre os grupos (F(1,36)=0,517; p=0,477) e em função das diferentes
etapas de desenvolvimento (F(3,36)= 0,605; p=0,613).
Tabela 14 – Estatística descritiva para o número de horas de atividades desportivas formais
praticadas de caráter gímnico em função do nível de rendimento e das etapas de
desenvolvimento
Nível de Rendimento
Jogadores de
Seleção
Jogadores de
Clube
Total
N 19 19 38
Etapa 1 ( 6 anos) Média 46,66 41,87 44,27
dp 95,99 109,99 101,52
N 19 19 38
Etapa 2 (6-12 anos) Média 129,24 71,74 100,49
dp 250,44 170,49 213,31
N 19 19 38
Etapa 3 (13-16 anos) Média 9,14 0,0 4,57
dp 30,73 0,0 21,93
N 19 19 38
Etapa 4 (+16 anos) Média 0,0 0,0 0,0
dp 0,0 0,0 0,0
42
5.7. Horas de Prática Específica (Voleibol)
Relativamente ao número de horas de prática específica (voleibol), não
foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre os grupos
(F(1,36)=0,008; p=0,928) e em função das diferentes etapas de desenvolvimento
(F(3,36)= 0,545; p=0,594).
Tabela 15 – Estatística descritiva para o número de horas de prática específica (voleibol)
em função do nível de rendimento e das etapas de desenvolvimento
Nível de Rendimento
Jogadores de
Seleção
Jogadores de
Clube
Total
N 19 19 38
Etapa 1 ( 6 anos) Média 18,79 44,05 31,42
dp 46,01 107,12 82,32
N 19 19 38
Etapa 2 (6-12 anos) Média 618,71 714,82 666,78
dp 452,89 506,99 476,66
N 19 19 38
Etapa 3 (13-16 anos) Média 1156,88 1036,78 1096,83
dp 662,44 646,74 648,59
N 19 19 38
Etapa 4 (+16 anos) Média 112,37 79,28 95,83
dp 267,21 241,00 251,54
5.8. Número de Atividades Desportivas Informais Praticadas
No que concerne ao número de atividades desportivas informais
praticadas, foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre os
grupos (F(1,36)=4,080; p=0,050) e em função das diferentes etapas de
desenvolvimento (F(3,36)= 3,239; p=0,043). Os jogadores de seleção praticaram
um numero superior de atividades informais entre os 6 e os 12 anos (i.e. etapa
2) quando comparados com os jogadores de clube.
43
Tabela 16 – Estatística descritiva para o número de atividades desportivas informais
praticadas em função do nível de rendimento e das etapas de desenvolvimento
Nível de Rendimento
Jogadores de
Seleção
Jogadores de
Clube
Total
N 19 19 38
Etapa 1 ( 6 anos) Média 0,37 0,32 0,34
dp 0,50 0,58 0,53
N 19 19 38
Etapa 2 (6-12 anos) Média 1,53 0,63 1,08
dp 1,07 0,90 1,08
N 19 19 38
Etapa 3 (13-16 anos) Média 1,32 0,79 1,05
dp 1,29 1,08 1,21
N 19 19 38
Etapa 4 (+16 anos) Média 0,11 0,05 0,08
dp 0,459 0,23 0,36
5.9. Horas de Atividades Desportivas Informais Praticadas
No que concerne ao número de horas de atividades desportivas informais
praticadas, foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre os
grupos (F(1,36)=7,804; p=0,008) e em função das diferentes etapas de
desenvolvimento (F(3,36)= 8,648; p=0,001).
Tabela 17 – Estatística descritiva para o número de horas de atividades desportivas
informais praticadas em função do nível de rendimento e das etapas de desenvolvimento
Nível de Rendimento
Jogadores de
Seleção
Jogadores de
Clube
Total
N 19 19 38
Etapa 1 ( 6 anos) Média 60,21 44,76 52,48
dp 95,82 117,96 106,29
N 19 19 38
Etapa 2 (6-12 anos) Média 938,90 181,37 560,14
dp 927,08 374,63 794,38
N 19 19 38
Etapa 3 (13-16 anos) Média 374,00 135,15 254,58
dp 590,23 272,37 469,27
N 19 19 38
Etapa 4 (+16 anos) Média 13,86 14,21 14,03
dp 60,39 61,94 60,34
44
45
CAPÍTULO VI
DISCUSSÃO
46
47
6. DISCUSSÃO
O estudo em questão pretendeu caracterizar a participação desportiva de
jovens jogadores de voleibol portugueses, do género masculino e de nível de
rendimento distinto. Mais concretamente, procurou-se perceber que variáveis
distinguem os jogadores de seleção dos jogadores que atuam no clube,
particularmente no que concerne às características individuais dos atletas (altura
e data de nascimento), à idade de iniciação da prática desportiva, à idade de
iniciação e especialização no voleibol, à quantidade e ao tipo de atividades
desportivas formais e informais praticadas, e, ainda, à quantidade de horas de
prática especifica da modalidade (i.e. horas de treino de voleibol).
Características individuais dos atletas (altura e data de nascimento)
Os resultados do presente estudo indicaram a altura enquanto fator
diferenciador entre os jogadores de seleção e os jogadores de clube, sendo que
os jogadores de seleção apresentaram uma altura superior. A importância das
características antropométricas e, em especial, da altura corporal no voleibol é
bem conhecida, sendo considerada um fator determinante para o bom
desempenho na modalidade (Lidor, & Ziv, 2010). Inclusivamente, a altura é
utilizada como um critério para a seleção de jovens jogadores promissores de
voleibol (Grgantov, Katić & Janković, 2006; Malousaris et al., 2008). Sabe-se que
o desempenho no desporto depende de uma combinação de fatores técnicos,
táticos, físicos, psicológicos e antropométricos (Bompa, 1999; Grosser e
Neumaier, 1986). Pese embora a altura corporal não seja o único requisito
necessário para um atleta ser bem sucedido no voleibol, a verdade é que se trata
de uma característica favorável para um bom desempenho na modalidade (Lidor
& Ziv, 2010; Poček, 2013). Por exemplo, o estudo de Vint (1994) sugere que o
alcance no salto de um jogador é o resultado de 83% das características
antropométricas e habilidades técnicas e 17% das capacidades físicas. Tendo
em consideração que as ações de ataque e bloco no voleibol são determinantes
para a obtenção do ponto e o alcance da vitória (Eom e Schutz, 1992; Palao et
48
al., 2004), a importância das características antropométricas parece ser, então,
acrescida. Contudo, o estudo de Vargas e colaboradores (2018) demonstrou que
o alcance de elevados patamares de rendimento pode ser alcançado mesmo
quando a variável altura não se constata uma vantagem perante os adversários.
Deste modo, importa que os treinadores e os responsáveis pela identificação e
seleção de talentos no voleibol compreendam que a altura é importante mas não
se trata do único fator determinante para a obtenção da performance nesta
modalidade (Pion et al., 2015).
No que concerne à data de nascimento, a literatura tem indicado que o
mês ou o trimestre em que o atleta nasceu pode ter influência no alcance de
elevados patamares de rendimento no desporto, o qual se designa de efeito da
idade relativa (para uma revisão, ver Musch & Grondin, 2001). No presente
estudo, tal efeito não foi observado uma vez que os grupos não se diferenciaram
nesta variável. O efeito da idade relativa tem sido amplamente testado nas
últimas duas décadas no contexto desportivo e está associado a elevados níveis
de rendimento neste domínio (Musch & Grondin, 2001). Por exemplo, estudos
sugerem que os desportos que são fisicamente mais exigentes são mais
influenciados pelo efeito da idade relativa (Baxter-Jones, 1995) e que os atletas
do sexo masculino são mais suscetíveis a este efeito (Vincent & Glamser, 2006).
Porém, parece que a influência do efeito da idade relativa se desvanece à
medida que os atletas amadurecem (Lames, Augste, Dreckmann, Görsdorf, &
Schimanski, 2008). A literatura sugere que a explicação mais plausível para a
presença de um efeito de idade relativa no desporto é que os processos de
identificação e seleção de jovens jogadores talentosos são muitas vezes
direcionados às suas habilidades físicas e não às suas habilidades técnicas
(Silva, Barreiros & Fonseca, 2015; Hancock, Adler & Côté, 2013). A este respeito,
os atletas mais velhos (i.e. aqueles que nasceram nos primeiros meses do ano)
podem apresentar um estado maturacional mais avançado (Malina, 2009) e,
portanto, podem ter vantagem no desempenho desportivo quando comparado
com seus pares menos desenvolvidos (Meylan, Oliver & Hughes, 2010;
Milanese, Piscitelli, Lampis & Zancanaro, 2011; Reilly, Bangsbo & Franks, 2000).
Especialmente no que se refere aos jogos desportivos coletivos, onde as
49
habilidades físicas e cognitivas são cruciais para o desempenho, se a
organização estrutural da competição juvenil é baseada exclusivamente na
vitória e não no desenvolvimento a longo prazo (Mujika et al., 2009; Musch &
Grondin, 2001), os atletas que apresentam um estado de maturação mais
avançado terão sempre vantagem em relação aqueles que se apresentam
menos desenvolvidos. Por sua vez, ao se destacarem no seu desempenho
desportivo, fruto do seu estado de maturação avançado, estes serão sempre
escolhidos para as posições-chave do jogo, nos clubes e nas seleções, e, por
sua vez, a probabilidade de serem captados para clubes com melhores
condições de treino é maior (Hancock, Adler & Côté, 2013). Isto poderá levar a
uma acumulação de mais horas de treino e de um treino com uma qualidade
acrescida, o que, por consequência, poderá contribuir para um desenvolvimento
desportivo a longo prazo melhor e mais sustentado (Hancock, Adler & Côté,
2013). Pese embora a data de nascimento não tenha sido um fator diferenciador
entre os jogadores de seleção e os jogadores de clube no presente estudo,
importa salientar que os treinadores e os responsáveis pela identificação e
seleção de jogadores no voleibol devem ser alertados para este efeito e estarem
conscientes das suas consequências, principalmente para não castrarem atletas
que não se destaquem numa determinada fase do seu desenvolvimento
desportivo, não pela falta de qualidade ou talento, mas, apenas porque ainda
não tiveram tempo de se desenvolverem e de desabrocharem as suas
competências desportivas aos mais diversos níveis.
Idade de Iniciação da Prática Desportiva e Idade de Iniciação e
Especialização no Voleibol
No que concerne à idade de iniciação da prática desportiva, bem como à
idade de iniciação e especialização no voleibol, os jovens jogadores de voleibol
em análise neste estudo apresentaram um perfil semelhante. Neste sentido, os
jogadores, no seu geral, iniciaram a sua prática desportiva de caráter organizado
e federativo aos 6 anos, o que vai ao encontro dos resultados encontrados
50
noutros estudos onde a prática da primeira modalidade desportiva ocorre entre
os 6 e os 12 anos de idade (Baker, 2003; Baker et al., 2003; Côté et al., 2005;
Coutinho et al, 2014, Coutinho et al, 2015). No que se refere à iniciação na
modalidade principal, ou seja, neste caso em específico no voleibol, os
resultados do presente estudo indicaram que os jogadores iniciaram o voleibol
entre os 8 e os 9 anos, o que sustenta os resultados obtidos nos estudos de
Coutinho e colaboradores (Coutinho et al, 2014, Coutinho et al, 2015) onde os
voleibolistas estudados (experts e não experts) iniciaram o voleibol durante a
primeira etapa de formação (6-12 anos), praticando, porém, em simultâneo
outras atividades desportivas. Finalmente, no que se refere à idade de
especialização no voleibol (i.e. a idade em que os jogadores abandonaram a
prática de outras modalidades e investiram somente no voleibol), os resultados
deste estudo evidenciaram que o perfil dos jogadores foi, mais uma vez,
semelhante., sendo que, no geral, estes se especializaram na modalidade entre
os 13 e os 14 anos. Deste modo, podemos constatar que os jogadores em
questão não se especializaram precocemente no voleibol, tendo, em
contrapartida, percorrido primeiramente um percurso apoiado em vivências
desportivas diversificadas, onde a especialização na modalidade de eleição
apenas surge mais tarde no seu desenvolvimento (Coutinho, Côté, Fonseca, &
Mesquita, 2014). Estes resultados corroboram a tendência da investigação ao
indicar que a especialização precoce não se constitui o único percurso válido
para o alcance de elevados níveis de rendimento e demonstram que uma prática
desportiva inicial diversificada pode ser uma trajetória viável no desporto tanto
no alcance de patamares elevados de rendimento, como numa participação
desportiva de caráter mais recreativo (Baker, Côté, & Abernethy, 2003a, 2003b;
Barreiros, Côté, & Fonseca, 2013; Berry, Abernethy, & Côté, 2008; Ford, Ward,
Hodges, & Williams, 2009). De facto, os estudos existentes sobre esta temática
sugerem que uma prática desportiva inicial diversificada colabora para
desenvolvimento de competências (físico, cognitivo, social, emocional e motor)
necessárias para o investimento e especialização numa modalidade nas etapas
posteriores do desenvolvimento (Baker et al., 2003b; Berry et al., 2008; Côté et
al., 2012). Diversos autores sugerem, inclusivamente, que a vivência e
51
experiência em diversos desportos numa fase inicial do desenvolvimento de um
atleta favorece o interesse e aumenta o gosto pela prática desportiva,
contribuindo, assim, para a continuidade da sua prática e para o
desenvolvimento do atleta a longo prazo (Côté et al., 2003, 2007; Côté et al.,
2012; Wiersma, 2000). Por outro lado, a especialização precoce num desporto,
embora favorável para algumas modalidades (como é o caso da ginástica ou da
patinação artística, onde o pico de performance ocorre muito cedo na carreira do
atleta), tem sido associada a diversas consequências negativas para o atleta,
como, por exemplo, um número acrescido de lesões, decréscimo do prazer
durante a prática desportiva, e, ainda, ao abandono precoce da prática
desportiva (Baker, 2003; Baker et al., 2009; Wiersma, 2000).
Quantidade e Tipo de Atividades Desportivas Formais Praticadas
Relativamente ao número de atividades desportivas formais praticadas,
os resultados deste estudo indicaram que, no geral, os jogadores praticaram
diversas atividades desportivas de caráter formal, organizado e federativo entre
os 6 e os 16 anos. Por outro lado, os jogadores que enquadram a seleção
nacional praticaram mais atividades desportivas ao longo o seu desenvolvimento
desportivo inicial quando comparados com aqueles que atuam no âmbito do
clube. Este resultado sugere, mais uma vez, que os jogadores não se
especializaram precocemente no voleibol, tendo vivenciado uma prática
desportiva diversificada numa fase inicial do seu desenvolvimento. Por outro
lado, este resultado vai ao encontro dos resultados obtidos nos estudos
desenvolvidos por Coutinho e colaboradores (Coutinho et al, 2014, Coutinho et
al, 2015) com jogadores de voleibol, os quais apresentaram a mesma tendência,
ou seja, a prática de diversas modalidades desportivas numa etapa inicial do seu
desenvolvimento (entre os 6 e os 12 anos). De facto, as investigações
desenvolvidos no contexto dos jogos desportivos coletivos têm demonstrado que
a experimentação de vários desportos numa fase inicial da carreira do atleta (e
a posteriori especialização no desporto principal) não constitui um entrave para
52
o alcance de rendimentos superiores no desporto, sendo inclusive considerado
benéfico para o desenvolvimento desportivo a longo-prazo do atleta (Baker et
al., 2006; Berry et al., 2008; Fraser-Thomas, Côté, & Deakin, 2008a). A prática
desportiva inicial diversificada parece ser benéfica não só pela otimização da
motivação intrínseca que resulta da diversão, prazer e oportunidade que as
crianças têm de experimentar diversas atividades, como também pela
possibilidade do desenvolvimento do reportório motor e cognitivo, e das
competências psicológicas e sócio-afetivas através dessas vivências (Côté,
Baker, & Abernethy 2007, Côté, Lidor, & Hackfort 2009, Côté & Hay, 2002).
No que diz respeito ao tipo de atividades formais praticadas, os resultados
deste estudo indicaram que os jogadores estiveram envolvidos em modalidades
desportivas de caráter invasivo (por exemplo, futebol, futsal, andebol,
basquetebol), não invasivo (por exemplo, voleibol, ténis, ténis de mesa);
atividades de cariz aquático (por exemplo, natação, polo aquático, remo, surf) e
gímnico (por exemplo, ginástica, patinagem, ballet). Contudo, as diferenças entre
os grupos de jogadores apenas se observaram em relação às atividades de
caráter invasivo, uma vez que os jogadores de seleção praticaram mais
atividades deste tipo entre os 6 e os 16 anos quando comparados com os
jogadores de clube. Este resultado corrobora as ideias avançadas por diversos
estudos desenvolvidos nesta área de investigação ao sugerirem que a prática de
modalidades desportivas que partilham características em comum (como é o
caso dos jogos desportivos coletivos) é benéfico para o desenvolvimento
desportivo do atleta e pode até mesmo contribuir favoravelmente para o
desenvolvimento da perícia no desporto escolhido pelo atleta como principal
(Abernethy et al., 2005; Berry et al., 2008; Coutinho et al, 2014; Coutinho et al,
2015). Especificamente no que aos jogos desportivos coletivos diz respeito, a
participação noutras atividades que partilhem características semelhantes
poderá constatar-se como um fator importante no desenvolvimento da tomada
de decisão (Baker, Côté, & Abernethy., 2003b). Apesar da investigação não ter
ainda conseguido avançar com estudos empíricos que atestem verdadeiramente
as assunções acima mencionadas, os investigadores acreditam que a
transferência de habilidades entre estas modalidades (as que possuem
53
características em comum) é possível e pode ajudar o atleta a desenvolver-se
de uma forma mais rápida e mais favorável no seu desporto de eleição
(Abernethy et al., 2005; Berry et al., 2008).
Relativamente ao número de horas de prática específica (i.e. número de
horas de treino de voleibol), os resultados do presente estudo indicaram que os
grupos não se diferenciaram entre si nesta variável. Deste modo, os jogadores
de seleção e os jogadores que atuam no clube apresentaram uma quantidade
de horas de prática de voleibol semelhante. Curiosamente, este dado não
suporta os resultados encontrados na literatura, os quais indicam que a
quantidade de prática especifica é um fator diferenciador dos atletas que
alcançam um nível de rendimento superior (e.g. Baker et al., 2003b; Baker et al.,
2005b, 2006; Berry et al., 2008). Efetivamente, vários são os estudos que
demonstram que os atletas experts acumularam mais horas de prática ao longo
da sua carreira desportiva quando comparados com os atletas não-experts (e.g.
Baker et al., 2005b, 2006; Berry et al., 2008; Gullich, 2014, Gullich, 2018). Este
resultado pode ser explicado pelo facto deste estudo ser de cariz prospetivo e
dos jogadores analisados serem jovens e terem idades compreendidas entre os
14 e os 17 anos. Tal facto pode indicar que a diferença na quantidade de horas
de prática específica pode ocorrer apenas posteriormente a estas idades.
Inclusivamente, alguns estudos indicam que os jogadores experts apenas
apresentam uma quantidade de prática específica mais elevada numa fase mais
avançada do seu desenvolvimento (Baker et al., 2005, 2006; Berry et al., 2008).
Especificamente no voleibol, os estudos desenvolvidos por Coutinho e
colaboradores (Coutinho et al, 2014; Coutinho et al, 2015; Coutinho et al, 2016)
demonstram precisamente esta tendência, ao demonstrar que os jogadores de
voleibol portugueses apresentam uma quantidade de prática específica mais
elevada a partir dos 16 anos de idade. Estes dados devem constituir-se uma
importante fonte de reflexão sobre o mito existente de que apenas com uma
especialização precoce na modalidade e com um investimento em elevadas
quantidade de prática específica se consegue alcançar elevados patamares de
rendimento no desporto. Na verdade, mais do que o número de horas de prática
efetuada, importa considerar o papel da qualidade da mesma no
54
desenvolvimento do atleta e na potenciação de níveis de rendimento superiores
no desporto.
Quantidade de Atividades Desportivas Informais Praticadas
No que concerne ao número de atividades desportivas informais
praticadas, os resultados deste estudo indicam a existência de perfis
diferenciados entre os jogadores. Assim, os jogadores de seleção praticaram um
número superior de atividades informais entre os 6 e os 12 anos (i.e. etapa 2)
quando comparados com os jogadores de clube, tendo sido observadas,
também, diferenças entre os grupos relativamente à quantidade de horas
praticadas deste tipo de atividades. Este resultado vai ao encontro dos estudos
desenvolvidos sobre a temática, que destacam a importância da prática de
atividades informais numa fase inicial do desenvolvimento dos atletas experts
(Baker et al., 2003b; Baker et al., 2006; Barreiros et al., 2012; Berry et al., 2008;
Côté et.al 2012; Coutinho, & Mesquita 2017). De igual modo, a tendência deste
resultado está, mais uma vez, em consonância com os estudos desenvolvidos
por Coutinho e colaboradores (Coutinho et al, 2014; Coutinho et al, 2015;
Coutinho et al, 2016), os quais demonstraram que os voleibolistas de nível de
rendimento superior praticaram atividades informais numa fase inicial do seu
desenvolvimento e que essa experiência foi importante para o desenvolvimento
de competências importantes para o alcance de um nível de rendimento mais
elevado. A este respeito, a literatura sugere que a estrutura deste tipo de
atividades, onde o atleta escolhe e decide o que faz e como o faz, parece
favorecer o desenvolvimento competências importantes para o desenvolvimento
do atleta, não somente em termos motores, mas igualmente em termos
cognitivos, sociais e psicológicos (Côté et al., 2003, 2007; Côté et al., 2013). A
grande relevância deste tipo de atividades reside na panóplia de contextos que
os participantes vivenciam, uma vez que a flexibilidade na sua forma e estrutura
permite que crianças de diferentes idades e níveis de habilidades possam jogar
na mesma atividade sem que se perca o sentido de competitividade e
divertimento (Côté et al., 2003, 2007; Côté et al., 2013). Deste modo, ao serem
55
controladas pelas próprias crianças, estas têm a oportunidade de inventar,
adaptar, criar e negociar regras e estruturas que sirvam as suas necessidades,
levando, assim, à conceção de ambientes de aprendizagem implícita, ajustados
às suas próprias necessidades, o que promove o desenvolvimento de um
reportório motor alargado e um lugar por excelência para a criança expor a sua
criatividade (Côté, Erickson, & Abernethy, 2013; Memmert et al., 2010; Wood,
2013). A grande riqueza deste tipo de atividades encontra-se, assim, não
somente no desenvolvimento de atributos físicos, técnicos e táticos, mas
igualmente na oportunidade para aprender e desenvolver a astúcia do jogo,
características que nem sempre se aprende em contextos formais de prática.
Apesar da importância destacada na literatura acerca deste tipo de atividade
para o desenvolvimento do atleta e da pericia no desporto (Côté et al., 2003,
2007; Côté, Erickson, & Abernethy, 2013), poucos são ainda os estudos
empíricos que atestam uma comprovação forte sobre a sua sustentabilidade. A
este respeito, existe a necessidade de futuros estudos compreenderem com
maior profundidade a influência que este tipo de atividade poderá ter no
desenvolvimento do atleta, em geral, e do voleibolista, em particular. Contudo,
importa salientar a necessidade dos sistemas desportivos e dos programas de
desenvolvimento desportivo a longo prazo reconhecerem a importância deste
tipo de atividades na formação do atleta e providenciar as condições necessárias
para que as respetivas possam ter um lugar de destaque durante os primeiros
anos de participação desportiva de crianças e jovens atletas.
56
57
CAPÍTULO VII
CONSIDERAÇÕES FINAIS
58
59
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A redação da presente dissertação decorreu do interesse em
compreender o processo de desenvolvimento desportivo realizado pelos jovens
voleibolistas portugueses, nomeadamente em perceber o seu percurso, as suas
vivências e quais os possíveis fatores que tenham contribuído para o alcance de
um patamar mais elevado de rendimento no voleibol. Neste sentido, a
caracterização da participação desportiva de jovens jogadores de voleibol
portugueses, do género masculino e de nível de rendimento distinto (jogadores
de seleção e jogadores de clube), particularmente no que concerne à quantidade
e ao tipo de atividades desportivas formais e informais praticadas ao longo do
seu desenvolvimento, constituiu o propósito geral deste estudo.
A pertinência deste estudo justificou-se pela lacuna de conhecimento
cientifico atual que nos forneça uma visão prospetiva do que está a acontecer no
âmbito do processo de desenvolvimento desportivo a longo prazo do jovem
jogador de voleibol em Portugal. Pese embora a existência de estudos empíricos
nesta área de investigação e no âmbito do voleibol português, a verdade é que
os respetivos são de natureza retrospetiva, analisando atletas em idade adulta
que já alcançaram um patamar de rendimento elevado. Deste modo, sabemos o
que foi concretizado no passado, mas desconhecemos o que está a ser efetuado
no presente. Este foi o grande motivo impulsionador deste estudo: perceber
como os jovens jogadores de voleibol se estão a desenvolver e comparar com o
que foi feito pelos jogadores de voleibol no passado. Por outro lado, no que
concerne particularmente ao voleibol português, a ausência de programas
devidamente estruturados e cientificamente fundamentados conduz-nos para a
necessidade de compreender o desenvolvimento dos jogadores neste contexto,
motivo que sustenta, ainda mais, a justificação e pertinência deste estudo.
De uma forma resumida e global, os resultados do presente estudo
indicaram que: no geral, os jovens jogadores portugueses de voleibol não se
especializaram precocemente na respetiva modalidade, sendo a sua
participação desportiva constituída por uma prática desportiva inicial
diversificada composta por atividades formais e informais. Contudo, os jogadores
60
que se encontram num patamar mais elevado de rendimento (i.e. os jogadores
de seleção) distinguiram-se por: 1) serem mais altos, 2) terem praticado um
maior número de atividades desportivas entre os 6 e os 16 anos, 3) terem
praticado um maior número de atividades desportivas de caráter invasivo, e 4)
terem praticado um maior número de atividades informais entre os 6 e os 12
anos.
No seguimento dos dados obtidos neste estudo, foi possível conquistar
informação de elevado relevo para o domínio da prática, na qual se destaca a
importância de uma prática desportiva inicial diversificada em detrimento de uma
especialização precoce na modalidade, bem como o investimento em atividades
de cariz informal para o desenvolvimento do atleta e da perícia no voleibol. Neste
sentido, face à inexistência de programas de desenvolvimento desportivo a
longo-prazo no voleibol português, o presente estudo parece contribuir para a
consciencialização da existência de diversos percursos a percorrer pelos
voleibolistas que podem promover não somente o desenvolvimento favorável do
atleta, mas, também, o alcance de elevados patamares de rendimento na
respetiva modalidade.
Concomitantemente às vicissitudes deste trabalho importa igualmente
sublinhar as limitações inerentes ao estudo desta temática, bem como
apresentar possíveis caminhos a ser explorado em futuros estudos. O estudo do
desenvolvimento do atleta e do talento no desporto, em geral, e no voleibol, em
particular, tem sido escrutinado e discutido na última década e, por isso,
podemos afirmar que se trata de uma área do conhecimento cada vez mais
sólida e com informação empírica robusta e sustentada. Porém, existem, ainda,
muitos entraves no seu estudo que limitam um esclarecimento rigoroso sobre os
processos conducentes à concretização de desempenhos superiores. A este
nível, destaca-se a diversidade de fatores que determinam o alcance da
excelência e a complexidade natural da sua interação, o que dificulta a
compreensão deste fenómeno. Adicionalmente, o recurso a metodologias de
cariz retrospetivo revela-se uma das grandes limitações desta área de estudo.
Apesar da sua validade ser reconhecida na literatura (Hayman, Polman, &
Taylor, 2012; MacDonald et al., 2009), o acesso limitado a informação relevante
61
não nos permite obter uma visão holística, multifacetada e integradora do
desenvolvimento do talento no desporto. Mais se acrescenta que este tipo de
metodologias apenas no permitem a obter perceções de sujeitos, não
informando com exatidão os percursos percorridos pelos mesmos. Neste
sentido, o desenvolvimento de estudos prospetivos e longitudinais nos quais se
possa acompanhar in loco o processo do desenvolvimento do atleta parece ser
uma solução viável para o estudo desta temática, uma vez que irá permitir a
aplicação de observações sistemáticas do processo de treino, estratégia
largamente sugerida na literatura da especialidade como caminho a explorar no
futuro (Ford, Yates, & Williams, 2010; Low, Williams, McRobert, & Ford, 2013;
Partington & Cushion, 2013). Mais se acrescenta que, para além das
metodologias de cariz quantitativo, a utilização de metodologias qualitativas
poderá ser uma opção válida, uma vez que irá permitir um estudo mais exaustivo
das análises efetuadas até então, identificando e compreendendo os processos
presentes no desenvolvimento da excelência no desporto. Deste modo, o
recurso a uma metodologia de caráter misto, ou seja, a combinação de
informação de natureza quantitativa e qualitativa, poderá ser uma estratégia
profícua para complementar e pormenorizar o conhecimento até então existente
sobre o processo de desenvolvimento desportivo a longo prazo do jogador de
voleibol.
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WV: FIT.
78
79
ANEXO
80
TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO, LIVRE E
ESCLARECIDO
Eu, _________________________________________________________, Encarregado de
Educação do atleta __________________________________________________fui informado
e convidado a participar no estudo intitulado “Caracterização da participação desportiva de
jovens jogadores de voleibol de nível de rendimento diferenciado: o papel da quantidade e do
tipo de prática”, desenvolvido pelo Centro de Investigação, Formação, Inovação e Intervenção
em Desporto (CIFI2D) da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. O grande propósito
deste estudo centra-se no conhecimento profundo do percurso desportivo dos voleibolistas
portugueses, procurando perceber como foi a sua prática desportiva ao longo da sua carreira.
A participação neste estudo concretiza-se na realização de uma entrevista gravada em formato
áudio, onde o atleta irá ser convidado a verbalizar alguns aspetos relacionados com a sua
carreira desportiva. Deste modo, a avaliação não é intrusiva da sua privacidade, não causa
qualquer dano ou risco físico ou psicológico. A entrevista será realizada por uma equipa
especializada da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Todos os procedimentos
relacionados com a entrevista serão verbalmente explicados ao atleta e todas as questões serão
presencialmente respondidas. Não há qualquer consequência negativa se o atleta demonstrar
vontade em desistir da participação no estudo.
A assinatura do consentimento informado implica que o atleta tem interesse em participar no
projeto e que o Encarregado de Educação autoriza a entrevista ao seu Educando.
________ de __________________ de 2019.
____________________________________________________________________________
(Assinatura do Encarregado de Educação)
XXI