UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
ESCOLA DE FILOSOFIA LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE HISTÓRIA DA ARTE
Ainda é possível usar os termos: moderno, pós-moderno e contemporâneo no cinema?
Aluno: Ligia Balestra Vasconcelos
Guarulhos, janeiro de 2013
Ainda é possível usar os termos: moderno, pós-moderno e contemporâneo no cinema?
Para enquadrar o cinema nas categorias de moderno, pós-moderno e contemporâneo é
preciso traçar um paralelo aos demais movimentos artísticos ocorridos ao mesmo tempo em
que ele foi produzido. Ao julgar o cinema como moderno significa qualifica-lo como de acordo
com o desenvolvimento das pinturas modernistas? Se sim, a primeira questão a ser observada
é o significado do moderno dentro do mundo das artes. O moderno, para os impressionistas
era uma nova forma de superação da arte acadêmica tradicional. Um olhar diferenciado do
que poderia ser representado numa tela era expresso por artistas, que a princípio não tiveram
tanto prestígio e atenção o quanto tiveram com o passar dos anos. Na pintura o modernismo
surge como uma categoria de renovação das técnicas e temas artísticos, que paulatinamente
foram absorvidos na academia. Há um longo caminho percorrido pelas expressões artísticas
antes dos primeiros quadros feitos fora dos padrões acadêmicos que talvez possibilite a
categoria “arte moderna” ter se erguido através de artistas como Monet, Van Gogh, Picasso e
Dalí.
O que ocorre no cinema é que neste período que antecede a pintura moderna, os
ideais cinematográficos ainda não estavam em ascensão. Não há o que se reinventar no
cinema no século XX se este ainda estava conquistando seu espaço no mundo das artes. Por
esta linha de raciocínio não podemos julgar o cinema como sendo moderno. Jacques Aumont
diz em um de seus trabalhos: “O que distingue o cinema das outras artes – se ele for uma arte
– é que ele continua igual a si mesmo”.1 E sendo assim, apesar de todas as suas classificações, a
forma cinematográfica permanece a mesma, ao contrário da pintura, seu público alvo ainda é
o público de massa, não houve uma mudança no sistema cinematográfico do mesmo modo
1 Aumont . 2008. p. 93.
como houve nas artes plásticas, como, por exemplo o direcionamento para um público mais
elitizado das produções artísticas. Ainda assim, o moderno seria um termo que valha somente
para as produções de seu período, descartando todos os outros trabalhos feitos a posteriori,
mas com as mesmas características? O expressionismo abstrato da década de 80 não se
enquadra na mesma categoria do expressionismo abstrato produzido na década de 60? Sem
dúvida os rótulos funcionam muito bem como forma de organização de ideias e produções
ocorridas em uma mesma época, mas reduzem a complexidade das obras e suas intenções.
Dizer que o cinema é moderno, pós-moderno ou contemporâneo contribui para uma
associação imediata dele aos acontecimentos socioculturais ocorridos ao mesmo tempo em
que foi realizado parece ser coerente, porém, não transparece todas as ideias incluídas na
projeção de um filme. Fredric Jameson2, em um texto sobre pós-modernismo, conta como o
“Pastiche” é utilizado no cinema pós-moderno como meio de provocar nostalgia no público.
De maneira indireta, um filme com uma história contemporânea pode ter características que
indicam um tempo anterior, referências que estimulam o espectador a lembrar do cinema
anterior àquele assistido. Quentin Tarantino, talvez, sirva como bom exemplo de como as
produções ditas pós-modernas unem aspectos contemporâneos e nostálgicos em um filme. No
filme, Django Livre, apesar de a história ser baseada em filme de faroeste, a trilha sonora é
composta, dentre outros estilos, por Rap. A questão agora também se estende ao limite entre
pós-moderno e contemporâneo. Onde começa um e termina o outro? Tarantino produz filmes
pós-modernos em uma sociedade contemporânea? Como definir um sistema visual tão
complexo como o do cinema em apenas 3 termos? Apesar de conter particularidades que
possam ser classificadas por rótulos, a amplitude do cinema, suas produções, em diversos
lugares do mundo, feitos por diversos autores, com diversas referências, talvez inviabilize
marcações como o moderno, pós-moderno e contemporâneo. O moderno era contemporâneo
no momento em que foi produzido, e o contemporâneo pode ser moderno de acordo com as
2 Jameson.
características encontradas no filme? Talvez não haja uma maneira de organizar as produções
artísticas em padrões pré-estabelecidos, muito menos relacioná-las com as produções
marginais, seja de autores desconhecidos, ou de regiões não euro-ocidentais.
Bibliografia
Aumont, Jacques. Moderno? Por que o cinema se tornou a mais singular das artes.2008.
Curitiba. Papirus Editora.
Jameson, Frederic. “O pós-modernismo e a sociedade de consumo”. In: E. Anne Kaplan. O
mal-estar no pós-modernismo. 1993. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editor.