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TAIS FERNANDES TEIXEIRA
CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA ANATOMIA DE MOLARES DECÍDUOS REVELADA POR MICROTOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA
2017
Programa de Pós-Graduação em Odontologia Av. Alfredo Baltazar da Silveira, 580, cobertura
22790-710 – Rio de Janeiro, RJ Tel. (0XX21) 2497-8988
ii
TAIS FERNANDES TEIXEIRA
CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA ANATOMIA DE MOLARES DECÍDUOS REVELADA POR MICROTOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graducação em Odontologia, da Universidade Estácio de Sá, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Mestre em Odontologia (Endodontia).
Orientador:
Prof. Dr. Dennis de Carvalho Ferreira
Co-orientadora:
Profa. Dra. Marília Fagury Videira Marceliano-Alves
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ RIO DE JANEIRO
2017
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DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Hélio e Maria José, que
dignamente me apresentaram a importância da
família, e o caminho da honestidade e persistência.
Ao meu noivo, Júnior, pelo amor, paciência,
companheirismo, e por acreditar que eu chegaria ao
final de mais essa jornada.
iv
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Prof. Dr. Dennis Carvalho, pela orientação, com
valiosas sugestões e críticas construtivas. Obrigada pela oportunidade da
realização deste trabalho, bem como a colaboração metodológica constante
em todo desenvolver do mesmo.
À querida “co-orientadora”, Profa. Dra. Marília Marceliano-Alves, que
de co-orientadora não teve nada. Sempre presente e disposta a sanar todas as
minhas dúvidas, até quando achava não ter. Obrigada pelas palavras amigas e
também as de cobrança, isso sempre nos acrescenta. Você é um exemplo a
ser seguido na carreira acadêmica, e minha admiração é enorme.
Ao Programa de Pós Graduação em Odontologia (PPGO), da
Universidade Estácio de Sá, pelo apoio concedido ao meu aperfeiçoamento
profissional. Aos Professores José Siqueira e Flávio Alves por permitirem
minha participação no curso. Obrigada pelos conhecimentos transmitidos
durante minha formação no Mestrado.
Aos professores que aceitaram compor a banca examinadora, pela
disposição e colaboração nas discussões sobre o tema.
As minhas amigas do mestrado, com quem compartilhei nesses anos,
ótimos e divertidos momentos, obrigada pelo convívio, carinho e amizade.
A minha amiga e colega de trabalho Girlene, pela paciência e
compreensão em tantos momentos que estive ausente.
Ao meu querido sogro, Gilberto, por me ter como uma filha me
acolhendo em sua casa e oferecendo tudo que há de melhor em seu coração.
À toda minha família que tanto amo, por estarem por perto quando
preciso, principalmente a minha prima Rosângela, que me recebeu com tanto
v
carinho em sua casa, na época das minhas aulas, não medindo esforços para
me agradar, e a minha prima Fabiana, que mesmo sem saber, me ajudou com
toda sua boa vontade, nos retoques finais do meu trabalho.
Um agradecimento especial a minha madrinha Luciana e minha
afilhada Luna, meu primeiro amor, pelo amor incondicional que têm por mim, e
por estarem do meu lado sobre toda e qualquer circunstância. Tenho certeza
que o caminho seria mais difícil, se vocês não estivessem ao meu lado.
Aos meus pais por proporcionarem minha formação. À minha mãe
querida, Maria José, por me dar exemplos do que é determinação,
competência e persistência. Sua força me ajudou a chegar até aqui, tudo que
eu faça será pouco pra retribuir a minha gratidão.
Ao meu futuro marido Junior Lopes por todo amor e compreensão, nos
meus momentos difíceis, na minha ausência e também em todos os momentos
de alegria.
Ter elaborado esta pesquisa e poder contar com todas essas pessoas
foi um enorme privilégio e um aprendizado inesquecível. Qualquer mérito deste
será dividido entre muitos, mas me responsabilizo pelos deslizes. Espero que o
resultado final agrade àquele que se dispuser a ler este trabalho.
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EPÍGRAFE
“Que os vossos esforços desafiem as
impossibilidades, lembrai-vos de que as grandes
coisas do homem foram conquistadas do que
parecia impossível.”
Charles Chaplin
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ÍNDICE
RESUMO .............................................................................................. viii
ABSTRACT .......................................................................................... ix
LISTA DE FIGURAS............................................................................. x
LISTA DE TABELAS ............................................................................ xi
LISTA DE ABREVIATURAS ................................................................. xii
1. INTRODUÇÃO ................................................................................. 01
2. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................ 07
3. JUSTIFICATIVA ............................................................................... 16
4. HIPÓTESE ....................................................................................... 17
5. OBJETIVOS ..................................................................................... 18
6. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................ 19
7. RESULTADOS ................................................................................. 25
8. DISCUSSÃO .................................................................................... 30
9. CONCLUSÕES ................................................................................ 42
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................... 43
11. ANEXO ........................................................................................... 52
viii
RESUMO
Objetivo. Esse estudo investigou a morfologia interna dos molares decíduos
valendo-se da microtomografia computadorizada em amostra proveniente do
Rio de Janeiro. Material e métodos. Foram escaneados molares decíduos
superiores (n = 20) e inferiores (n = 20) em 19,9 µm. Os dentes foram avaliados
quanto ao número de raízes, de canais, classificação de Vertucci, curvatura,
presença de canais laterais, espessura de dentina da furca, structure model
index (SMI), volume e a área de superfície do canal. Resultados. Os molares
superiores apresentaram três raízes e 95% possuía três canais, o canal tipo I
de Vertucci foi mais prevalente, os canais laterais foram frequentes no terço
cervical. Nos inferiores o tipo IV foi mais frequente na raiz mesial e classe I na
distal, canais laterais foram frequentes no terço médio e canal cavo-
interradicular ocorreu em um espécime. A dentina da furca mediu 1,53 mm e
1,59 mm nos superiores e inferiores, respectivamente. Todos os canais eram
curvos e em direção à furca. Os parâmetros de volume e área variaram de
acordo com o canal avaliado e o SMI demonstrou que todos os canais tinham
formato de um cone achatado, com exceção do canal distal de molares
inferiores, considerado achatado. Conclusão. A anatomia interna de molares
decíduos é complexa e que os dados do presente trabalho permitiram
compreender essas variações, de maneira a auxiliar o profissional na
elaboração de estratégias para o preparo de seu sistema de canais.
Palavras-chave: Anatomia; Dentes decíduos; Microtomografia
computadorizada.
ix
ABSTRACT
Aim. This work investigated the internal morphology of primary molars using
computerized microtomography from Rio de Janeiro’s population. Materials
and Methods. Samples of both maxillary (n=20) and mandibular (n = 20)
primary molars teeth were scanned at 19.9 μm. The measures taken were:
number of roots and canals, Vertucci’s classification, curvature, presence of
lateral canals, furcal dentine thickness, structure model index (SMI), volume
and surface areas. Results. Maxillary molars presented three roots and 95%
had three canals, Vertucci type I canal was the most prevalent, and lateral
canals were frequent in cervical third. Among mandibular molars, Vertucci’s
Type IV were more frequent in the mesial roots and type I in the distal; lateral
canals were frequent in the middle third and there was a cavo-interradicular
canal in one specimen. The furcal dentin thickness was 1.59 mm thick and 1.53
mm in maxillary and mandibular molars, respectively and all canals were curved
towards the furcation area. The volume and area parameters varied per the
canal evaluated and the SMI showed that all canals were flat-cone shaped,
except for the lower molar distal canal, which was flattened. Conclusion.
Internal anatomy of primary molars is complex; however, the results provide an
understanding of these variations, to assist professionals in the elaboration of
management strategies for the root canal treatment.
Key words: Anatomy; Primary teeth; Microcomputed tomography.
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Imagem esquemática de molar inferior decíduo para avaliação
quanto à classificação de VERTUCCI (1984) ...........................
21
Figura 2. Imagem esquemática do método de SCHINEIDER (1971)
mensurada no programa ImageJ ..............................................
22
Figura 3. Janela do programa CTAn (Bruker) ilustrando a mensuração
da espessura da furca nos molares decíduos da amostra .........
23
Figura 4. Janela do programa CTAn (Bruker) ilustrando a avaliação dos
parâmetros 3D dos molares decíduos da amostra ....................
24
Figura 5. Modelos 3D representativos dos canais radiculares de molares
inferiores decíduos. (A) Tipo I de Vertucci em distal e Tipo IV
em canais radiculares mesiais. (B) Tipo V de Vertucci no
canal mesial. (C) Canal cavo-interradicular............................... 27
Figura 6. Modelo 3D representativos dos canais radiculares de molares
superiores decíduos. (A) Tipo I de Vertucci em todos os
canais radiculares. (B) Canal mésio-palatino (Tipo VII) na raiz
mésio-vestibular.......................................................................... 27
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Morfologia dos canais radiculares dos molares decíduos
superiores e inferiores de acordo com a classificação de
Vertucci..................................................................................... 26
Tabela 2. Resultados morfométricos 3D de canais radiculares de
molares decíduos inferiores revelados por microtomografia
computadorizada..................................................................... 28
Tabela 3. Resultados morfométricos de canais radiculares de molares
decíduos superiores revelados por microtomografia
computadorizada....................................................................... 29
xii
LISTA DE ABREVIATURAS
2D
3D
CPI
EG
μA
MEV
micro-CT
NaOCl
PQM
SCR
SMI
TCCB
Bidimensional
Tridimensional
Capeamento Pulpar Indireto
Escavação Gradativa
Microampère
Microscópio Eletrônico de Varredura
Microtomografia computorizada
Hipoclorito de sódio
Preparo Químico Mecânico
Sistema de canais radiculares
Structure Model Index
Tomografia Computadorizada Cone Beam
1
1. INTRODUÇÃO
A doença cárie é a maior responsável pela perda de dentes em todas
as idades, mais do que qualquer outra doença expressa na cavidade bucal
(TOLEDO, 2012) principalmente na dentição decídua, por conta da falta de
controle do processo de progressão da lesão cariosa podendo ocorrer o
comprometimento pulpar irreversível (RANLY & GARCIA-GODOY, 2000). O
tratamento da polpa por este processo ou mesmo o resultado de um trauma e
fratura do dente, há muito representa um desafio para o clinico (MC DONALD
et al., 2011; HEDGE, 2011; STRINGHINI-JUNIOR et al., 2014).
Dentre os numerosos fatores responsáveis pelo sucesso do tratamento
endodôntico em dentes decíduos, destaca-se o conhecimento da anatomia
interna que é imperativo, pois o profissional deve estar ciente das
características comuns e das variações para ser capaz de realizar a adequada
limpeza, desinfecção e modelagem do sistema de canais radiculares (SCR)
(KARTAL & YANIKOGLU, 1992; SOARES & GOLDBERG, 2011).
A terapia pulpar em pacientes infantis é um procedimento comumente
realizado na clínica diária, e têm como objetivo a prevenção e o tratamento das
doenças perirradiculares na dentição mista, sendo assim, são de grande
importância o conhecimento dos aspectos morfológicos desses dentes, a fim
de auxiliar o clínico na realização do procedimento mais adequado, permitindo
estratégias apropriadas para o tratamento endodôntico (WATERHOUSE et al.,
2011; STRINGHINI-JUNIOR et al., 2014).
FUMES et al. (2014), avaliaram a morfologia interna de primeiros e
segundos molares decíduos inferiores e superiores por meio da
2
microtomografia computadorizada (micro-CT). Os autores observaram tanto
nos molares superiores quanto nos inferiores, que os canais apresentaram
grande diversidade anatômica e que os molares superiores possuíam a
ocorrência do segundo canal na raiz mésio-vestibular. Os autores também
avaliaram a espessura de dentina da parede interior e exterior da raiz,
observando que a primeira se mostrou menor. Ademais, relataram a ocorrência
de canais em forma de “C”.
No passado, a pulpotomia e a pulpectomia, eram sugeridos como
tratamentos utilizados em dentes decíduos e obturação com pastas
antissépticas (FUKS et al., 1982; GOERIG & CAMP, 1982; RAVN,1982)
indicados na inflamação irreversível e necrose da polpa, respectivamente.
Atualmente, o capeamento pulpar indireto (CPI) e a escavação gradativa (EG)
são os procedimentos mais apontados, salvo em caso de necrose pulpar
(HEDGE, 2011; TOLEDO, 2012; STRINGHINI-JUNIOR et al., 2014).
O objetivo desses tratamentos é evitar a perda prematura, pois pode
deixar muitas sequelas, dentre essas a perda de espaço necessário aos
permanentes substitutos (TOLEDO, 2012), além da sanificação dos dentes
infectados, pois sendo saudáveis os dentes permanecem por mais tempo na
arcada (GOERIG & CAMP, 1982; GARCIA-GODOY, 1987; STRINGHINI-
JUNIOR et al., 2014).
A cavidade oral é susceptível a uma variedade de infecções devido à
presença de microrganismos que podem proliferar, causando lesões de origem
bacteriana, fúngica e viral (CHIGURUPATI et al., 1996; NAIDOO & CHIKTE,
2004; HAAS et al., 2004). Algumas espécies bacterianas e fúngicas podem
3
estar envolvidas em lesões cariosas e podem desencadear inflamação da
polpa e/ou necrose com infecção do sistema de canais radiculares
(CHIGURUPATI et al., 1996; SIQUEIRA et al., 2002; HAAS et al., 2004;
NAIDOO & CHIKTE, 2004; TOLEDO, 2012)
As patologias pulpares que acometem o dente são de natureza
inflamatória, influenciadas por fatores físicos, químicos e microbiológicos.
Contudo, o envolvimento microbiano vem sendo indicado como principal fator
associado à etiologia das infecções endodônticas (SUNDQVIST, 1992;
SIQUEIRA & RÔÇAS, 2002; SEDGLEY et al., 2006).
Fatores microbianos, trauma ou iatrogenia podem induzir o processo
inflamatório, facilitando a invasão por microrganismos ao tecido pulpar
(SIQUEIRA & RÔÇAS, 2007). Após a morte do tecido, na ausência de
circulação sanguínea, há impossibilidade de acesso das células de defesa ao
SCR. Assim, bactérias permanecem protegidas no interior do canal, recebendo
nutrientes através do forame, induzindo no periápice, uma resposta inflamatória
do tipo crônica (SIQUEIRA & RÔÇAS, 2007; SIQUEIRA et al., 2014).
Além dessas questões, outro determinante para o sucesso do
tratamento é o conhecimento da anatomia dos canais radiculares, sobretudo
dos molares decíduos, os dentes mais comumente afetados. Os dados
disponíveis na literatura sobre os dentes decíduos afirmam que são menores
em todas as dimensões, com paredes de esmalte e dentina mais delgadas e
menos mineralizadas, cornos pulpares mais proeminentes e câmara pulpar
mais ampla (ISSÁO et al., 1974).
4
Em relação aos molares, os superiores se apresentam com três raízes
(duas vestibulares e uma palatina) e os inferiores com duas (uma mesial e uma
distal). Podem também apresentar na região de furca canalículos colaterais e
secundários (FUMES et al., 2014). Assim que o comprimento total das raízes é
completado, apenas um canal radicular, está presente em cada uma delas.
Durante esse processo, existem comunicações entre os canais, que podem
permanecer no dente decíduo completamente desenvolvido, como istmos ou
projeções, ligando os canais (VERTUCCI & HADDIX, 2011).
Outra variação na morfologia ocorre nas raízes mesiais dos molares
decíduos superiores e inferiores. Essa variação se origina na região apical
como um adelgaçamento do estreito istmo entre as extremidades vestibular e
lingual dos canais na porção apical (VERTUCCI & HADDIX, 2011).
Se essas variações anatômicas não forem localizadas e consideradas,
o sucesso do tratamento pode ser comprometido, pois micro-organismos
podem persistir nessas áreas mesmo após o preparo químico-mecânico e uso
de medicação intracanal (GUEDES-PINTO & BOZOLA, 1981; BARCELOS et
al., 2012). O material obturador deve ter propriedades que auxiliem na
eliminação desses patógenos residuais. Por isso, é importante que esses
materiais utilizados em dentes decíduos tenham atividade antimicrobiana
(SUBRAMANIAM & GILHOTRA, 2011).
Entretanto, é percepível que a qualidade da técnica endodôntica nos
dentes decíduos muitas vezes é preterida, justificada pelo desafiador controle
de comportamento das crianças e pelo não conhecimento total da anatomia
interna dos dentes decíduos. MOURA et al. (2012), consideram que seria
5
interessante resgatar e associar novos conceitos à endodontia desses dentes
para facilitar o dia-a-dia do clínico e otimizar o tratamento utilizando novas
tecnologias como uma alternativa viável para o tratamento.
A literatura descreve algumas possíveis causas para o insucesso,
como limitação da técnica, imposta pelas irregularidades morfológicas criadas
pelas reabsorções fisiológicas e inflamatórias, recomendando atenção no
preparo químico mecânico e utilizando materiais obturadores com efeitos
antimicrobianos (TANNURE et al., 2009). Isso se sustenta também na própria
complexidade anatômica ou na dificuldade em condicionar a criança (FUKS et
al., 1996; FUMES et al., 2014).
A fim de esclarecer a anatomia interna dos molares decíduos, alguns
estudos foram realizados com métodos mais variados, como: histologia
(KUTTLER, 1955; ALTMAN et al., 1970), injeção de metal fundido, com
posterior descalcificação dos dentes (COOLIDGE, 1960); diafanização com
injeção de corantes (OGAWA et al., 1969; VERTUCCI, 1984), desgastes
transversais seriados (GREEN, 1957) e radiográfico (GREEN, 1958; PINEDA &
KUTTLER, 1972).
Mais recentemente foi utilizada a abordagem não destrutiva da
microtomografia computadorizada (micro-CT), que tornou possível a avaliação
da anatomia mais precisa, a fim de superar as deficiências dos métodos
utilizados em estudos prévios (VILLAS-BÔAS et al., 2011; FILPO-PEREZ et al.,
2015; MARCELIANO-ALVES et al., 2015; SILLELIOĞLU et al., 2016). Outra
vantagem é que vários parâmetros quantitativos da anatomia interna dos
canais podem ser avaliados, sendo ainda possível a reconstrução
6
tridimensional do modelo do espécime que permite avaliação qualitativa
(PETERS et al., 2000; MARCELIANO-ALVES et al., 2016).
Inúmeros estudos têm demonstrado a complexidade do sistema
de canais radiculares e as variações anatômicas que podemos encontrar nos
diversos grupos dentais que no geral acabam trazendo uma diversificação de
dados e informações relativas à anatomia interna dos canais e suas possíveis
ramificações (GREEN, 1958; VERTUCCI, 1984; GULABIVALA et al., 2001;
MARCELIANO-ALVES et al., 2016).
Por outro lado, apesar de haver na literatura pesquisas sobre a
anatomia dos molares decíduos, há carência de estudos com métodos não
destrutivos e de alta resolução, e também avaliando outros parâmetros. Assim,
o presente trabalho objetiva a avaliação da morfologia interna de molares
decíduos, valendo-se da micro-CT como método de avaliação, a fim de
contribuir com os conhecimentos atuais quanto à caracterização da morfologia
desse grupo dentário.
7
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Insucesso do tratamento em dentes decíduos
Alguns elementos podem ser citados como causa do insucesso da
terapia endodôntica em dentes decíduos, como limitação da técnica, frente à
dificuldade de definição do limite apical do canal devido às reabsorções
fisiológicas e inflamatórias, infecções persistentes, condicionamento da criança,
bem como aspectos relacionados à anatomia. Esses fatores exigem maior
atenção no preparo químico mecânico e no uso de materiais obturadores com
efeitos antimicrobianos (FUKS et al., 1996; CUNHA et al., 2005; TANNURE et
al., 2009; FUMES et al., 2014).
Mesmo com os procedimentos atuais na prevenção de cárie, o
comprometimento endodôntico em dentes decíduos ainda é relativamente
frequente (AHAMED et al., 2013). Em dentes decíduos com pulpite irreversível
ou necrose pulpar o tratamento de escolha é a pulpectomia, uma modalidade
que objetiva sanificação a fim de manter as estruturas anexas saudáveis por
conta o clico biológico do dente para que permaneça na arcada para pelo
tempo necessário até a erupção fisiológica do permanente sucessor, para
prevenção da maloclusão, bem como para manter o comprimento do arco
dentário (PIVA et al., 2009; PINHEIRO et al., 2013; STRINGHINI-JUNIOR et
al., 2014).
Alguns avanços tecnológicos foram sugeridos para melhorar a terapia
endodôntica pediátrica, muitos destes advindos do arsenal disponível para os
dentes permanentes. O uso de localizadores foraminais, instrumentos
8
rotatórios de níquel-titânio (NiTi) e diferentes soluções e técnicas de irrigação
dos canais (ZEHNDER, 2006; AHMED, 2013; GEORGE et al., 2016).
Apesar desses avanços, o fator microbiano exerce grande influência no
sucesso. As infecções endodônticas em dentes decíduos com necrose pulpar
são, em sua maioria, de origem polimicrobiana com a predominância de
bactérias anaeróbicas, que se disseminam pelo sistema de canais através dos
túbulos dentinários (COGULU et al., 2007; YANG, 2010; PAULA et al., 2012).
Alguns estudos relatam presença de bactérias Gram-negativas e
Gram-positivas (SILVA et al., 2006, COGULU et al., 2007, RUVIÉRE et al.,
2007; TANNURE et al., 2009; YANG, 2010; BARCELOS et al., 2012). Dentre
estes patógenos estão: Enterococcus faecalis, Campylobacter rectus e
Prevotella intermédia. PAULA et al. (2012), observaram que Enterococcus
faecalis, descrito na literatura como participante da doença endodôntica em
dentes permanentes, também pode ser encontrado em dentes decíduos.
Outras espécies como Lactobacillus plantarum e Lactobacillus rhamnosus
também foram encontradas. Tais achados enfatizam a possibilidade da
semelhança da microbiota de dentes decíduos com a de permanentes.
A fim de determinar a causa de insucesso no tratamento endodôntico
em decíduos, TANNURE et al. (2009) avaliaram clinicamente 133 dentes por
48 meses. Do total de dentes, 18 foram extraídos devido ao fracasso e então
oito raízes foram avaliadas por histologia (n=4) ou microscopia eletrônica de
varredura (MEV) (n=4). Foram encontrados tecidos necróticos e células
inflamatórias crônicas em todos os espécimes submetidos à histologia e que
por MEV foi possível observar biofilme bacteriano nas paredes e nas
9
irregularidades promovidas pela reabsorção fisiológica. Os achados sugerem
que os o fracasso pode ter sido devido manutenção de micro-organismos em
área de irregularidades anatômicas.
Outro fator preponderante relacionado ao fracasso é a complexidade
da anatomia interna dos dentes decíduos, pois mesmo com o correto preparo
químico-mecânico, irrigação com hipoclorito de sódio (NaOCl) e uso de
medicação intracanal (ZEHNDER, 2006), as chances de insucesso ocorrem
devido a permanência de micro-organismos no sistema de canais radiculares
devido à tortuosa e complexa natureza desses canais e a mudança da
morfologia pela reabsorção fisiológica (BODRUMLU & SEMIZ, 2006; AAPD,
2009).
2.2. Morfologia interna dos dentes decíduos
Um conhecimento da anatomia dental, tanto da dentição permanente,
quanto da decídua, é imprescindível em todos os aspectos do tratamento.
Com frequência, o estudo da anatomia dos dentes decíduos não tem recebido
a mesma importância que os permanentes, pois estes dentes irão esfoliar
eventualmente. Ao invés de extração prematura, a delonga de dentes decíduos
por meio de intervenções endodônticas está evoluindo entre clínicos e
especialistas (CLEGHORN et al., 2008).
A dentição decídua tem inúmeras funções importantes no
desenvolvimento do sistema estomatognático da criança (RIMONDINI &
BARONI, 1995). FINN (1967), descreve a manutenção do espaço como uma
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das funções da dentição decídua, contribuindo na digestão e assimilação dos
alimentos, desenvolvimento da fala, além de proporcionar um adequado
crescimento dos maxilares, evolução da fala, mastigação e respiração correta.
A falta deles resulta em alteração no comprimento do arco dentário com desvio
mesial dos permanentes e consequente maloclusão (PINHEIRO et al., 2013).
A morfologia da dentição decídua difere em muitos aspectos da
dentição permanente, não apenas na dimensão das coroas e raízes. As
diferenças incluem o número de dentes, o tempo de desenvolvimento, a
morfologia externa e a morfologia do canal radicular (HIBBARD & IRELAND
1957; LUNT & LAW 1974; MC DONALD et al., 2011; CLEOGHORN et al.,
2012). Os dentes decíduos são menores que os permanentes. A dentina e o
esmalte são mais delgados, e os cornos pulpares são mais salientes, fazendo
que com uma restauração nesses elementos tenham mais facilidade de ter
envolvimento pulpar (CLEGHORN et al., 2012).
CLEGHORN et al. (2012), relataram que o tamanho da polpa dos
molares decíduos é relativo à coroa, e que os cornos pulpares são
proporcionalmente maiores, além de estarem localizados mais perto da junção
amelo-dentinária e à superfície externa da coroa; o corno pulpar mesial é mais
alto que o distal. Também concluíram que a câmara pulpar tem a forma
confrontada com o contorno da coroa numa vista oclusal; e a câmara pulpar
dos molares inferiores é maior que as dos molares superiores, tornando o SCR
extremamente complexo e sinuoso.
As coroas dos dentes decíduos são mais largas no sentido mésio
distal, e as raízes dos molares decíduos são relativamente mais longas e
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afiladas do que as raízes dos permanentes. Há também uma distância maior
entre as raízes decíduas do sentido médio distal, esse afastamento permite
mais espaço para o desenvolvimento para a coroa do pré-molar sucessor (MC
DONALD et al., 2011).
Existe uma grande inconstância no tamanho da câmara pulpar e nos
canais radiculares dos dentes decíduos. Imediatamente após a erupção, as
câmaras pulpares são amplas, e em geral acompanham a forma da coroa,
porém, sofrem redução de tamanho com o avanço da idade e sob influência da
função e abrasão das faces oclusais e incisais (TOLEDO, 2012).
HIBBARD & IRELAND (1957), estudaram o sistema de canais
radiculares dos dentes decíduos e notaram grandes variações dos canais no
terço apical das raízes mesiais de molares inferiores e raízes mésio-
vestibulares de molares superiores. A presença de istmo mais delgado na
região apical resulta num sistema de canais radiculares mais complexo, com
ramificações e canais laterais.
No geral, os molares inferiores decíduos possuem uma certa
semelhança. As duas raízes mesial e distal são longas, divergentes, achatadas
do sentido mésio distal e escavadas nas superfícies entre as raízes.
Normalmente são encontrados dois condutos na raiz mesial (CORRÊA, 2010;
TOLEDO, 2012). As raízes dos molares superiores decíduos são
representadas em ordem decrescente de comprimento por: palatina, mésio
vestibular e disto vestibular (CORRÊA, 2010).
12
2.3. Terapia Endodôntica em Dentes Decíduos
A terapia pulpar na dentição decídua em algumas situações é
comparada à permanente, porém com algumas diferenças importantes.
Proteção pulpar, capeamento indireto, pulpotomia e pulpectomia são opções de
tratamento em dentição decídua com suas indicações (FUKS, 1996; AAE,
2003; STRINGHINI-JUNIOR et al., 2014).
Atualmente, Capeamento Pulpar Indireto (CPI) em sessão única e
Escavação Gradativa (EG), que fazem parte da filosofia de mínima intervenção
por meio da remoção parcial do tecido cariado, são os tratamentos mais
indicados para lesões de cárie profundas (RICKETTS et al., 2013;
STRINGHINI-JUNIOR et al., 2014). Isso faz com que a pulpotomia não seja
mais uma técnica de destaque e de primeira opção (STRINGHINI-JUNIOR et
al., 2014).
De acordo com STRINGHINI-JUNIOR et al. (2014), a indicação de
pulpotomia tem sido reduzida, e os principais motivos seriam a melhora nos
índices de saúde oral da população mundial, disseminação dos princípios da
Odontologia de Mínima Intervenção, além de incertezas no diagnóstico da
condição pulpar. A praticidade, o baixo custo e os excelentes resultados do CPI
em relação à pulpotomia, também foram elucidados.
O sucesso da terapia endodôntica em dentes decíduos está
intimamente ligado ao conhecimento da morfologia interna e externa de cada
dente tratado (AMINABAD et al., 2008; CLEGHORN et al., 2012; GAURAV et
al., 2013). Como dentes decíduos apresentam diferenças morfológicas dos
13
dentes permanentes, tanto no tamanho e na morfologia externo e interno, o
conhecimento intrínseco dos sistemas de canais radiculares dos dentes
decíduos fará com que seu tratamento seja bem-sucedido (HESS, 1925;
VERTUCCI 1984; ZOREMCHHINGI et al., 2005; AMINABAD et al., 2008;
GAURAV et al., 2013).
A endodontia envolve a limpeza, modelagem e obturação do sistema
de canais radiculares (SIQUEIRA et al., 2014; STRINGHINI-JUNIOR et al.,
2014). Para melhorar o sucesso do tratamento, cada um desses passos deve
ser cuidadosamente avaliado durante sua execução a fim de determinar os
efeitos de cada fase da terapia (ZOREMCHHINGI et al., 2005; AMINABAD et
al., 2008; GAURAV et al., 2013).
As alterações patológicas perirradiculares nos dentes decíduos
decorrem da inflamação crônica após a necrose pulpar. São normalmente
localizadas na região de furca dos molares decíduos ao contrário dos molares
permanentes, nos quais se desenvolvem na região periapical (ZURCHER et al.,
1925; MOWERY et al., 2010; STRINGHINI-JUNIOR et al., 2014).
2.4. Método de Avaliação da Morfologia Interna de Dentes Decíduos
A literatura aponta alguns estudos sobre anatomia de dentes decíduos
por diferentes métodos, tais como: observação direta com o auxílio de um
microscópio (SEMPIRA & HARWELL, 2000); seções macroscópicas
(CLEGHORN et al., 2012); diafanização (ROSENTHIEL, 1957; BARKER et al.,
1974; GUPTA & GREWAL, 2005; BAGHERIAN et al., 2010), métodos
14
radiográficos (BAKER & LOCKETT, 1969; PINEDA & KUTTLER, 1972;
SARKAR & RAO, 2002), obturação de canais com elastómero (AYHAN et al.,
1996). Todos eles apresentam vantagens e limitações, como perda da
estrutura externa durante o preparo de amostra. Assim, foi introduzida a
tomografia computatorizada cone beam (TCCB) e a micro-CT, por serem
métodos nao destrutivos e permitem avaliação tridimensional do SCR
tomografia computadorizada cone beam (ZOREMCHHINGI et al., 2005; WANG
et al., 2013; FUMES et al., 2014; OZCAN et al., 2015).
TACHIBANA & MATSUMOTO (1990) avaliaram a aplicabilidade da
tomografia computadorizada para Endodontia. Eles concluíram que este
método permitiu a observação da morfologia dos canais radiculares, as raízes
e a observação do dente em todas as direções. Além disso, a imagem pode ser
avaliada e reconstruída pelo computador (RHODES et al., 1999).
A micro-CT é uma tecnologia não destrutiva bastante útil para de
avaliar parâmetros 3D e 2D do canal radicular com resolução na ordem de
micrômetros e com manutenção do espécime intacto. Outra vantagem é que
vários parâmetros quantitativos da anatomia interna dos canais podem ser
avaliados, sendo ainda possível a reconstrução tridimensional do modelo do
espécime que permite avaliação qualitativa (NIELSEN et al., 1999; RHODES et
al., 1999; PETERS et al., 2000; MARCELIANO-ALVES et al., 2015).
Na busca de evidências que mostrem a morfologia interna de dentes
decíduos por micro-CT, apenas um estudo, realizado por FUMES et al. (2014)
foi identificado. Neste, foi avaliado a anatomia interna de primeiros e segundos
molares decíduos inferiores por micro-CT. Os autores observaram que nos
15
molares superiores e também nos inferiores, os canais apresentaram grande
diversidade anatômica e que nos molares superiores houve a ocorrência do
segundo canal na raiz mésio-vestibular. Os autores também avaliaram a
espessura de dentina da parede interna e externa da raiz, observando que a
primeira se mostrou menor. Também relataram a ocorrência de canais em “C”.
16
3. JUSTIFICATIVA
A literatura aponta alguns estudos anatômicos em dentes
permanentes, porém em relação aos decíduos, há certa carência, sobretudo
com métodos que utilizam alta resolução, por este motivo o presente trabalho
visa a avaliação da morfologia interna de molares decíduos por
microtomografia computadorizada, proveniente de indivíduos do Rio de
Janeiro.
17
4. HIPÓTESE
A anatomia dos dentes decíduos deste estudo é similar aos dados
disponíveis na literatura.
18
5. OBJETIVOS
5.1. Objetivo geral:
Avaliar, por microtomografia computadorizada, a morfologia de molares
superiores e inferiores decíduos de indivíduos provenientes do Rio de Janeiro.
5.2. Objetivos específicos:
Caracterizar a anatomia interna bi e tridimensional, tais como:
morfologia dos canais, curvatura, presença de canais laterais, espessura de
dentina da furca, structure model index, volume do canal e a área de superfície.
19
6. MATERIAL E MÉTODOS
6.1. Seleção da Amostra
Este trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em pesquisa da
Universidade Estácio de Sá – Rio de Janeiro (ANEXO). Após a aprovação, a
viabilidade da metodologia se confirmou com a realização de teste-piloto com
cinco dentes.
Foram selecionados 40 molares decíduos humanos extraídos,
superiores e inferiores, coletados no Banco de Dentes da Universidade Estácio
de Sá – Rio de Janeiro. Os critérios de inclusão foram dentes com pelo menos
um terço de uma das raízes reabsorvido, dentes com destruição coronária de
cúspides de trabalho com impossibilidade de restauração. Foram excluídos
dentes com rizogênese incompleta, reabsorções de mais de um terço da raiz,
fraturas radiculares ou com tratamento endodôntico anterior.
Os dentes foram divididos em dois grupos:
G1 – 20 molares superiores;
G2 – 20 molares inferiores.
Os dentes foram estocados em coletores universais estéreis imersos
em solução salina a 0,9%, sob refrigeração à 6° C.
6.2. Escaneamento em microtomografia computadorizada
Para aquisição das imagens os dentes foram digitalizados no
microtomógrafo SkyScan 1174 (Bruker Micro-CT Kontich, Bélgica) do
20
Laboratório de Microtomografia da Universidade Estácio de Sá, com resolução
isotrópica de 19.9 µm no camera mode, com 1304x1024 pixel (small pixel size)
e fonte de radiação de 50Kv, 800 µA. Foi selecionado um filtro de alumínio de
0,5 mm de espessura.
Depois do posicionamento do espécime e o fechamento da câmara do
aparelho, a fonte de raios X foi acionada e a posição do espécime verificada
pelo uso da ferramenta Video Image do programa de controle do SkyScan
1174 v.2 (Bruker Micro-CT Kontich, Bélgica). Após a confirmação da posição,
as projeções do espécime foram iniciadas em diversas angulações, ao longo
de uma rotação de 180º, com passos de rotação de 1.0º. Com estes
parâmetros o tempo de escaneamento foi de aproximadamente, 17 minutos por
espécime.
Na sequência, a reconstrução das imagens 3D dos espécimes foi
realizada pelo programa NRecon v1.6.6.0 (Brucker MicroCT Kontich, Bélgica)
com a correção e redução de possíveis artefatos, por meio dos parâmetros do
fine-tuning: post-alignment, beam hardening correction, ring artifact reduction e
smoothing. Após esse processo as imagens reconstruídas geradas foram
salvas no formato Bitmap (bmp).
Após a reconstrução e criação dos modelos tridimensionais (3D) no
programa CTAn (Brucker MicroCT Kontich, Bélgica), as imagens obtidas
representativas dos modelos 3D no programa CTvol (Brucker MicroCT,
Kontich, Bélgica) e os arquivos gerados foram salvos em computador no
formato Bitmap (bmp).
21
6.3. Avaliação morfológica dos molares decíduos
A partir das imagens salvas em bmp, foi realizada a avaliação e
categorização dos canais radiculares segundo a classificação proposta por
VERTUCCI (1984). Além da direção de curvatura, número de canais por raiz,
presença e localização de canais laterais, e presença de canais cavo inter-
radiculares (Figura 1).
O ângulo de curvatura foi mensurado no programa ImageJ (National
Institures of Health, Bethesda, EUA) de acordo com o método de SCHNEIDER
(1971), que consiste em traçar duas retas no longo eixo do canal, e o ângulo
formado na intersecção entre as duas retas é mensurado (Figura 2).
Figura 1. Imagem esquemática de molar inferior decíduo para avaliação quanto à classificação de VERTUCCI (1984).
22
Figura 2. Imagem esquemática do método de SCHINEIDER (1971) mensurada no programa ImageJ.
No programa CTAn (Brucker MicroCT Kontich, Bélgica) foi avaliada a
espessura de dentina entre o soalho da câmara pulpar e a porção externa da
furca por meio da ferramenta de mensuração linear (Figura 3). No mesmo
programa foram avaliados os dados tridimensionais: volume, área e structure
model index (SMI) (Figura 4). Esse último parâmetro é utilizado para avaliar a
forma do canal. Logo, quando for próximo a 0 o canal radicular foi considerado
em forma plana; o valor próximo de 3 foi considerado como cilindro; e quando
próximo de 4 foi considerado uma esfera.
23
Figura 3. Janela do programa CTAn (Bruker) ilustrando a mensuração da espessura da furca nos molares decíduos da amostra.
Figura 4. Janela do programa CTAn (Bruker) ilustrando a avaliação dos parâmetros 3D dos molares decíduos da amostra.
24
Ao final do experimento os dentes avaliados retornaram ao Banco de
Dentes da Universidade Estácio de Sá.
25
7. RESULTADOS
Os modelos 3D das raízes mesiais dos molares inferiores decíduos
apresentaram a configuração tipo IV de Vertucci em 40% (8), seguidos por tipo
V (30% e n = 6), tipo I (15% e n=3), tipo VI (10% ou n=2) e finalmente III (5% e
n=1) (Tabela 1 e Figura 5). Em relação à raiz distal, a maior parte dos canais se
apresentou com a configuração tipo I (70% ou n=14), seguido pelo tipo VI (25%
ou n=5) e então o tipo II (5% ou n=1). Os canais laterais ocorreram
principalmente em terço médio com 65% (n = 13), seguido por apical (55% e n
= 11) e cervical (25% e n = 5). Dois espécimes exibiram dois canais laterais,
um no cervical e outro no terço apical. O canal cavo-interradicular foi
encontrado em apenas um espécime (5%). A espessura média da dentina da
furca foi de 1,59 mm. Com relação à curvatura, 75% (15) dos canais mesiais se
apresentaram curvos (média 38,71°) ocorrendo para direção distal. Os canais
distais também apresentaram uma curvatura moderada (média 39,52°) e em
direção mesial (55% e n = 11).
Os resultados das análises 3D dos molares inferiores variaram de
acordo com o canal avaliado. As raízes mesial e distal exibiram uma única ou
duas configurações de canais. Em relação aos canais mesiais, quando foi
encontrado somente um canal, a média de volume foi de 23,36 mm3 e área de
superfície 92,26 mm2. No entanto, quando dois canais foram encontrados, o
volume e a área de superfície foram respectivamente 3,52 mm3 e 25,14 mm2
para mésio-vestibular, e 2,86 mm3 e 20,59 mm2 para mésio-lingual. Os valores
de SMI indicaram que todos os canais exibiam uma forma semelhante a um
26
cilindro. Os dados das análises 3D dos canais radiculares são apresentados na
Tabela 2.
Entre os molares superiores, a configuração de Vertucci tipo I foi a
mais prevalente, com 95% (19) para mésio, 100% (20) para disto-vestibular e
para o palatino (Tabela 1 e Figura 6). Os canais laterais ocorreram com maior
frequência no terço cervical com 20% (4) para mésio-vestibular, 10% (2) para
os disto-vestibulares e 5% (1) para o palatino. No terço médio foram
observados 15% (3) de canais laterais no mésio e 5% (1) no disto-vestibular e
no palatino. Não foram observados canais laterais no terço apical de nenhuma
raiz tanto para os molares superiores quanto para os inferiores. O canal mesio-
lingual foi identificado em 30% (6) nas raízes mésio-vestibulares e canais cavo-
interradicular não foram encontrados.
A espessura média da dentina da furca foi de 1,53 mm. Em relação à
curvatura, todos os canais em direção à furca, sendo a angulação média do
canal mésio 32,47°, 35° para o disto-vestibular e 28,46° para o palatino.
Tabela 1. Morfologia dos canais radiculares dos molares decíduos superiores e inferiores de acordo com a classificação de Vertucci.
Classificação de Vertucci
Molares inferiores Molares superiores
Mesial % (n)
Distal % (n)
Mesio-vestibular % (n)
Disto- vestibular
% (n)
Palatina % (n)
Classe I 15 (3) 70 (14) 95 (19) 100 (20) 100 (20)
Classe II - 5 (1) - - -
Classe III - - - - -
Classe IV 40 (8) 25 (5) 5(1) - -
Classe V 30 (6) - - - -
Classe VI 10 (2) - - - -
Classe VII - - 5(1) - -
27
Figura 5. Modelos 3D representativos dos canais radiculares de molares inferiores decíduos.
(A) Tipo I de Vertucci em distal e tipo IV em canais radiculares mesiais. (B) Tipo V de Vertucci
no canal mesial. C) Canal cavo-interradicular.
Figura 6. Modelos 3D representativos dos canais radiculares de molares superiores decíduos.
(A) Tipo I de Vertucci em todos os canais radiculares. (B) Canal mesio-palatino (Tipo VII) na
raiz mésio-vestibular.
28
Tabela 2. Resultados morfométricos 3D de canais radiculares de molares decíduos inferiores revelados por microtomografia computadorizada.
Root canal Média (intervalo)
Volume (mm3) Área (mm
2) SMI
Mesial único 23,36 (25,32-21,4) 92,26 (1,79-5,18) 2,12 (1,29-2,94)
Mesio-vestibular 3,52 (1,79-4,39) 25,14 (17,21-31,11) 2,23 (1,4-2,88)
Mesio-lingual 2,86 (1,01-5,48) 20,59 (10,62-32,21) 2,10 (1,28-2,71)
Distal único 6,76 (2,55-17,64) 35,02 (3,11-53,21) 1,66 (1,00-2,71)
Disto- vestibular 3,43 (1,16-4,59) 24,88 (12,98-32,42) 2,18 (2,06-2,37)
Disto-lingual 3,58 (1,48-4,66) 27,03 (16,69-33,09) 1,92 (1,74-2,03)
Canal cavo-interradicular
0,05 (0,03-0,06) 0,90 (0,5-1,29) 2,39 (2,33-2,45)
SMI: Structure Model Index.
Em relação aos resultados das análises 3D dos molares superiores, os
dados também variaram de acordo com o canal avaliado. Os canais palatinos
exibiram canal único com média de 6,59 mm3, 35,76 mm2 e 2,91, de volume,
área e SMI, respectivamente. Os canais disto-vestibulares apresentaram média
de volume de 3,54 mm3, 28,96 mm2 de área de superfície e SMI de 2,72. O
canal mésio-vestibular apresentou maior variação, apresentando-se em 70%
(14) com canal único ou 30% (n = 6) com dois canais. Quando único, o volume,
área e SMI médios foram de 3,25 mm3, 27,09 mm2 e SMI 2,62,
respectivamente. Quando o canal mésio-lingual estava presente, apresentava a
menor média de todos os canais radiculares (0,77 mm2, 11,17 mm3 e SMI
2,71). Os valores de SMI indicaram que todos os canais exibiam uma forma
semelhante a um cilindro. Os dados das análises 3D dos canais radiculares
são apresentados na Tabela 3.
29
Tabela 3. Resultados morfométricos de canais radiculares de molares decíduos superiores revelados por microtomografia computadorizada.
Root canal Média (intervalo)
Volume (mm3) Área (mm
2) SMI
Mesio-vestibular 3,25 (1,4-6,07) 27,09 (13,87-45,11) 2,62 (1,70-4,62)
Mesio-lingual 0,77 (0,26-1,46) 11,17 (4,32-23,65) 2,71 (2,05-4,03)
Palatino 6,59 (3,43-10,94) 35,76 (18,52-67,36) 2,91 (2,03-3,98)
Disto- vestibular 3,54 (1,49-7,70) 28,96 (13,65-66,34) 2,72 (1,63-3,99)
SMI: Structure Model Index
30
8. DISCUSSÃO
O insucesso da terapia endodôntica em decíduos pode ocorrer por
diversos fatores, como, micro-organismos persistentes (NAIR et al., 1990),
nível da obturação (SJOGREN et al., 1990), iatrogenias (FORS & BERG, 1986)
e a presença e qualidade da restauração realizada (RAY & TROPE, 1995).
Porém, a literatura aponta que o fator mais preponderante é a persistência da
infecção no SCR (FUKS et al., 1996; BARCELOS, 2002; SIQUEIRA et al.,
2002; CUNHA et al., 2005; TANNURE et al., 2009; FUMES et al., 2014). Para
CANTATORE et al. (2008), a falha pode estar associada a canais não
localizados e não tratados, reentrâncias ou ramificações que, que podem
abrigar microbiota patogênica, protegidas dos procedimentos de irrigação e
modelagem, sendo assim, capazes de progredir o processo (PIVA et al., 2009;
TOUBES et al., 2012).
De maneira a comprovar a relação da microbiota no fracasso,
TANNURE et al. (2009) realizaram um estudo, valendo-se de MEV e histologia,
com dentes submetidos a tratamento endodôntico que foram indicados para
extração devido à persistência de sinais e sintomas clínicos. Os autores
comprovaram a presença de microrganismos aderidos às paredes do canal e
em áreas de recesso, concluindo que a causa da falha foi a manutenção de
bactérias protegidas em irregularidades do SCR.
ZEHNDER (2006) confirma que técnicas endodônticas em dentes
decíduos são limitadas para desinfecção e obturação, e por essa razão, o
NaOCl é indicado para irrigação por conta do largo espectro anti-bacteriano e a
propensão de dissolução de tecidos necróticos. Outro fator que pode dificultar,
31
é a reabsorção que ocorre de maneira fisiológica, levando a formação de
lacunas de perfuração na parede do canal e na furca, alterando a forma,
dimensão e posição do ápice (RIMONDINI & BARONI, 1995).
O conhecimento da anatomia do SCR e suas variações são
fundamentais para o sucesso do tratamento endodôntico (VERTUCCI, 1984;
BARCELOS et al., 2011). Assim, o clínico deve conhecer a configuração do
canal com o objetivo de escolher o protocolo de tratamento apropriado a fim de
aumentar as chances de sucesso (FUKS et al., 1996; JOU et al., 2004; CUNHA
et al., 2005; TANNURE et al., 2009; FUMES et al., 2014).
São encontrados estudos que avaliaram a morfologia de dentes
decíduos, valendo-se de diferentes métodos, que apresentam vantagens, mas
demandam a não reutilização da amostra (ROSENTHIEL, 1957; BARKER et
al., 1974; AYHAN et al., 1996; SEMPIRA & HARWELL, 2000; GUPTA &
GREWAL, 2005; BAGHERIAN et al., 2010; CLEGHORN et al., 2012;). Como
forma de contornar essa deficiência, foram sugeridas a TCCB e a micro-CT,
que permitem avaliação de diversos parametros do SCR sem destruição da
amostra (ZOREMCHHINGI et al., 2005; WANG et al., 2013; FUMES et al.,
2014; OZCAN et al., 2015).
Os avanços tecnológicos no desenvolvimento de novos métodos para
visualização mais detalhada da anatomia radicular interna, técnicas de
imaginologia foram introduzidas na odontologia, tais como Raio x digital e a
TCCB, que possibilitam uma análise mais detalhada e 3D do dente (PATEL et
al., 2009; NEELAKANTAN et al., 2010).
32
Outro método de imaginologia, que nos últimos 12 anos têm sido muito
utilizado para análise na pesquisa endodôntica avaliando a morfologia dentária
é a micro-CT. Porém, há carência de estudos em relação aos dentes decíduos,
uma vez que poucos estão disponíveis na literatura (WANG et al., 2013;
FUMES et al., 2014). Esse método permitiu a avaliação qualitativa e
quantitativa dos espécimes da amostra do presente trabalho, nestes estudos
foram utilizados 40 dentes oriundos de indivíduos do Rio de Janeiro, Brazil.
Nos demais trabalhos, os locais foram China e Turquia (WANG et al., 2013;
FUMES et al., 2014; OZCAN et al., 2015). Como a distribuição anatômica sofre
grande influência de ordem genética (CUNHA et al., 2005), justifica-se a
presente analise pois já ocorreu uma na região sudeste, no estado de São
Paulo (FUMES et al., 2014).
Quanto a analise realizada, para os dentes inferiores, os canais
mesiais foram encontrados com um ou dois canais. Quando com somente um,
a média de volume, área de superfície foram respectivamente, 23,36 mm3 e
92,26 mm2. No entanto, quando estavam presentes dois canais, as médias
foram 3,52 mm3 e 25,14 mm2 para mesio-bucal, e 2,86 mm3 e 20,59 mm2 para
mésio-lingual para volume e a área de superfície, respectivamente. Para os
superiores as médias foram 6,59 mm3 e 35,76 mm2, de volume e área,
respectivamente para os canais palatinos; volume de 3,54 mm3 e 28,96 mm2 de
área de superfície para os disto-vestibulares. O canal mésio-vestibular
apresentou maior variação, apresentando-se como canal único ou dois canais,
quando único, o volume, área e SMI médios foram de 3,25 mm3, 27,09 mm2.
33
Esses dados podem ser comparados com o estudo de FUMES et al.
(2014), que também utilizaram a micro-CT como método de avaliação. Para os
dentes inferiores, os autores encontraram valores muito diferentes que os do
presente trabalho, sobretudo por que apesar de terem relatado a presença de
dois canais nas raízes mesiais em 90% e 55% nas distais de todos os
espécimes, na quantificação de volume, área e SMI, os autores fizeram dos
dois canais em conjunto, o que pode ter mascarado o resultado. Em relação
aos superiores, os resultados dos canais mesio-vestibulares e palatinos foram
semelhantes, já o dos disto-vestibulares, foram encontrados valores menores
(1,65 mm3, 16,8 mm2).
O SMI é um parâmetro 3D que descreve a forma geométrica de um
objeto. Valores de SMI próximos zero indicam forma de placa, três um cilindro
e quatro indicam uma esfera regular (HILDEBRAND & RÜEGSEGGER, 1997;
PETERS et al., 2000). Os valores médios de SMI dos canais dos molares
inferiores do presente trabalho variaram de 1,66 a 2,39 indicando um formato
de cone achatado. Quantos aos superiores, as médias variaram de 2,62 a 2,91
indicando uma geometria cônica. Esses dados foram semelhantes aos
encontrados por FUMES et al. (2014).
A anatomia dos molares decíduos pode ser considerada complexa,
com a presença de canais acessórios, istmos e reentrâncias e que as
variações anatômicas são tão frequentes que podem ser consideradas normais
(BENDER et al., 1963; DE DEUS 1975; ZOREMCHHINGI et al., 2005; WANG
et al., 2013; FUMES et al., 2014; OZCAN et al., 2015).
34
Os resultados dos parâmetros anatômicos avaliados nesse estudo,
quanto a classificação de VERTUCCI (1984), demonstraram que as raízes
mesiais dos molares inferiores apresentaram 40% a configuração tipo IV,
seguidos por tipo V (30%), tipo I (15%), tipo VI (10%) e 5% tipo III. Dentre as
raízes distais a maior prevalência foi de classe I (70%), sendo seguida pela IV
(25%) e então, pela II (5%). Dentre os superiores a configuração mais
prevalente foi a classe I em 95% dos canais mesio-vestibular, e 100% das
raízes distais e palatinas. A raiz mesio-vestibular também apresentou a
configuração IV (5%).
Essa classificação foi proposta para dentes permanentes por
VERTUCCI (1984), mas foi aplicada por OZCAN et al. (2015) em estudo em
TCCB que avaliou dentes decíduos da população turca. Os autores
encontraram resultados similares dos do presente estudo para os canais
mésio-vestibulares, (76% classe I), mas para o canal mésio-palatino,
encontraram 2,2% (classe I), diferente do presente estudo, no qual essa raiz
apresentou somente a configuração I ou VII. Os canais distal e palatino se
apresentaram como classe I em 17,1% e nesse estudo, essa prevalência foi de
100%. Dentre os molares inferiores, os autores encontraram 93,2% da
configuração IV para a raiz mésio-vestibular, diferindo deste que encontrou
40%; e 86,5%, semelhante aos do presente trabalho (70%), do tipo I para a
distal.
Apesar de não classificarem pelo método de VERTUCCI (1984), vários
trabalhos quantificaram o número de canais por raiz. Para fins de comparação,
os dados encontrados neste trabalho demonstram que para os dentes
35
inferiores foram encontradas duas raízes e dois canais nas raízes mesial (85%)
e na distal 70% apresentaram um canal. Nos superiores foram encontradas
três raízes, e tanto para os disto-vestibulares quanto para os palatinos foram
encontrados 100% de um único canal, enquanto a raiz mésio-vestibular
apresentou 95% e os demais 5% foram de dois canais, quando estava
presente o canal mésio-palatino.
Apesar de utilizar métodos diferentes, o número de raízes pode ser
confrontado com os dados existentes na literatura e os presentes dados foram
coincidentes com os encontrados em estudos anteriores (HIBBARD &
IRELAND, 1957; ZOREMCHHINGI et al., 2005; BAGHERIAN et al., 2010;
NELSON-FILHO et al., 2011; BIANCHI et al., 2015). Em outro estudo, foram
encontrados dados diferentes do presente trabalho, sendo verificado 50% com
três ou duas raízes (WANG et al., 2013). Em relação aos inferiores foram
encontrados 100% de casos com duas raízes, uma mesial e outra distal,
coincidente com estudos prévios (HIBBARD & IRELAND, 1957;
ZOREMCHHINGI et al., 2005; BAGHERIAN et al., 2010). Quanto ao número de
canais, SALAMA et al. (1992) encontrou 80% e WANG et al. (2013) 60% de
molares inferiores com quatro canais, dois em cada raiz. Alguns autores
relataram presença de dois canais na raiz mesial em quase 100% dos
espécimes avaliados (HIBBARD & IRELAND, 1957; ZOREMCHHINGI et al.,
2005; AMINABADI et al., 2008; BAGHERIAN et al., 2010).
Os resultados encontrados sobre a raiz distal de molares inferiores
(70%) também foram coincidentes com os da literatura, que relata cerca de 68
a 77% de único canal (HIBBARD & IRELAND, 1957; AMINABADI et al., 2008;
36
BAGHERIAN et al., 2010), discordando de ZOREMCHHINGI et al. (2005), que
encontraram maior frequência para dois canais (60%).
Em relação ao número de canais por raízes nos dentes superiores, foi
encontrada prevalência distinta da literatura disponível. No estudo de HIBBARD
& IRELAND (1957) foram encontrados 48% de canal único na raiz mesio-
vestibular, dois canais 17% e três 4%. Na distal e na palatina os autores
relatam 100% de canais únicos, o que é coincidente com o estudo atual. Com
dados discordantes do trabalho de HIBBARD & IRELAND (1957), outros
autores relataram na raiz mésio-vestibular 100% de único canal, o que pode
ser considerado semelhante ao presente estudo, que encontrou 95%
(AMINABADI et al., 2008; BAGHERIAN et al., 2010).
Em relação à raiz disto-vestibular dos molares inferiores, os dados
deste trabalho foram semelhantes aos da literatura, apresentando valores por
volta de 100% (HIBBARD & IRELAND, 1957; ZOREMCHHINGI et al., 2005;
AMINABADI et al., 2008; BAGHERIAN et al., 2010), diferindo apenas de
(WANG et al., 2013) que relatou a prevalência de 50% de dois canais. Em
relação aos canais palatinos a literatura aponta valores semelhantes aos deste
estudo (HIBBARD & IRELAND, 1957; AMINABAD et al., 2008; BAGHERIAN et
al., 2010), com exceção do de ZOREMCHHINGI et al. (2005) que relataram a
frequência de 40% de dois canais.
Essas diferenças podem ser justificadas por fatores étnicos, pois o
presente trabalho avaliou indivíduos brasileiros, enquanto o outro, turcos
(OZCAN et al., 2015). Outro fator pode ser o método de avaliação, pois a
micro-CT é um método de avaliação de alta resolução, que pode permitir
37
avaliação de parâmetros mais detalhados do SCR (CLEGHORN et al., 2012;
WANG et al., 2013; FUMES et al., 2014; ACAR et al., 2015; MARCELIANO-
ALVES et al., 2016)
Em relação à curvatura das raízes do presente trabalho, foi observado
que 75% das mesiais dos molares inferiores sendo considerados curvos
(38,71°) e para direção distal. As raízes distais também se apresentaram
curvos (39,52°), mas direcionadas para mesial (55%). Dentre os molares
superiores todos os canais também exibiram curvatura em direção à furca,
sendo a angulação média do canal mésio 32,47°, 35° para o disto-vestibular e
28,46° para o palatino. Esses valores foram próximos aos de BAGHERIAN et
al. (2010) em estudo com dentes clarificados, que encontraram raízes curvas
nos inferiores, 93,2% das raízes mesiais e 47,85% das distais. Em relação ao
grau de curvatura, os presentes valores foram semelhantes ao encontrados em
estudo anterior, que relataram 35,5° para a raiz mesial e 27,15° e nos
superiores os autores relataram 39,7° para os mesio, 34,2° para os disto-
vestibulares e 41,6° para as palatinas (ZOREMCHHINGI et al., 2005). Raízes
curvas também foram relatadas em 100% da amostra em outro estudo
(CUNNINGHAM & SENIA, 1992).
Em relação aos canais laterais, nos molares superiores, os resultados
do presente trabalho demonstram maior frequência de canais laterais no terço
cervical, com 20% nos canais mésio-vestibulares, 10% nos disto-vestibulares e
5% nos palatinos. Dentre os inferiores, esses canais foram encontrados 65%
no terço médio, 55% no apical e 25% no cervical. Esses dados foram
conflitantes aos encontrados em estudos anteriores, que demonstraram maior
38
prevalência de canais acessórios no terço apical (HIBBARD & IRELAND, 1957;
SIMPSON, 1973; BARKER et al., 1974; SARKAR & RAO, 2002; GUPTA &
GREWAL, 2005).
Essa diferença pode estar relacionada à reabsorção no terço apical
que todos os dentes da amostra apresentavam, o que pode ter levado a não
observação desse terço de maneira completa. Outro fator é o método, pois a
micro-CT permite avaliação do espécime em alta resolução, o que pode ter
favorecido a observação dos aspectos anatômicos mais detalhados nos demais
terços (CLEGHORN et al., 2012; WANG et al., 2013; FUMES et al., 2014;
ACAR et al., 2015; MARCELIANO-ALVES et al., 2016).
A peculiar conformação e topografia dos canais radiculares em dentes
decíduos com curvaturas acentuadas e extensos achados de canais acessórios
dificultam o acesso e instrumentação desses dentes (HIBBARD& IRELAND,
1957; BARENIE & MYERS, 1992). HIBBARD & IRELAND (1957) relataram
grandes variações incluindo a região apical da raiz mesial dos molares
inferiores e na raiz mésio vestibular dos molares superiores, concluindo
também, que o achatamento mésio-distal da raiz na região apical tende a levar
a formação de canais laterais.
Em relação aos canais cavo-interradiculares, foram encontrados no
presente trabalho somente nos molares decíduos inferiores (5%). Esse dado foi
semelhante ao encontrado por DAMMASCHKE et al. (2004), que estudou, por
MEV, a frequência, localização e diâmetro desses canais em decíduos,
encontrando cerca de 3,5%. Outros autores também investigaram essa
ocorrência por diferentes métodos, por injeção de elastômero (ZÜRCHER,
39
1925; SIMPSON, 1973), perfusão de corante (REDDY & BABU, 1993;
RINGELSTEIN & SEOW, 1989), radiografia digital (POORNIMA & SUBBA-
REDDY, 2008), histologia (WRBAS et al., 1997; POORNIMA & SUBBA-
REDDY, 2008), MEV (PARAS et al., 1993a; PARAS et al., 1993b), encontrando
baixa prevalência.
Outro parâmetro avaliado neste trabalho relacionado à furca foi a
espessura de dentina. Os dados demonstraram que nos molares superiores a
espessura foi de 1,53 mm e para os inferiores 1,59 mm. Até o fechamento
desse trabalho, não foram encontrados estudos que avaliaram esse parâmetro,
porém, este denota grande importância clínica, uma vez que pode ocorrer a
apresentação de lesão radiolúcida na região de furca em molares decíduos em
casos de necrose indicando uma conexão com o periodonto. Logo, o
conhecimento da espessura média e da prevalência de canais nesta área é
imprescindível (RIMONDINI & BARONI, 1995; RUSCHEL & CHEVITARESE,
2003).
Frente às características dos dentes decíduos que dificultam o manejo
dos canais, o sucesso do tratamento endodôntico pertence a meios que
proporcionem a redução ou eliminação das bactérias não só nos canais, mas
nos locais que não temos acesso através do preparo químico-mecânico (PIVA
et al., 2009; STRINGUINI-JUNIOR et al., 2014). CANTATORE et al. (2009)
também afirma que a falha do tratamento endodôntico está associada a canais
não tratados (que não foram localizados). TANNURE et al. (2009), lembra que
além de instrumentar e obturar, a presença da restauração coronária ajuda a
proteger o tratamento endodôntico de infiltração e reinfecção.
40
A terapia endodôntica continua sendo um assunto bastante estudado,
especialmente em relação s técnicas utilizadas. O tratamento endodôntico tem
sido descrito como complexo devido a peculiaridades na dentição decídua,
quando concerne à anatomia, por conta de estruturas anexas, ciclo biológico
dos dentes e fatores etiológicos da doença pulpar (PIVA et al., 2009;
STRINGUINI-JUNIOR et al., 2014). Um ponto importante e também o aspecto
mais difícil da terapia pulpar é determinar a saúde da polpa ou o estágio de
inflamação para que se possa avaliar a melhor forma de tratamento –
conservador ou radical (FUKS et al., 1996).
Diferentes técnicas de tratamento endodôntico em dentes decíduos são
propostos na literatura para promover limpeza e sanificação dos canais.
FUMES et al. (2014) afirmam que a anatomia do terço apical é sinuosa, e
ressaltam que a seleção de instrumentos tem que ser cuidadosa, podendo
métodos adicionais como irrigação ultrassônica passiva e irrigação por pressão
negativa. (ALENCAR et al., 2010; STRINGUINI-JUNIOR et al., 2014).
A fim de conhecer os protocolos de tratamento entre diferentes
profissionais, um estudo avaliou técnicas de odontopediatras na região
Amazônica do Brasil (PINHEIRO et al., 2013), e eles concluíram que não
ocorreu uniformidade nas respostas dos dentistas, confirmando a necessidade
de um protocolo com evidências comprovadas para tratamento pulpar em
dentes decíduos.
CUNHA et al. (2005) já havia descrito previamente que o tratamento
endodôntico em dentes decíduos apresenta dificuldades pela anatomia peculiar
ou até mesmo pelo comportamento da criança. Ao se observar o estágio atual
41
de tratamento endodôntico em dentes permanentes que está em constante
busca por técnicas que otimizem o mesmo, deparamo-nos com a necessidade
de reavaliar o estágio atual da técnica endodôntica em dentes decíduos.
Lembrando que a terapia pulpar requer acompanhamento clínico e radiográfico
periódico do dente tratado e de estruturas de suporte no paciente (AAPD,
2013).
42
9. CONCLUIU-SE QUE:
Os molares superiores apresentaram maior frequência de três raízes,
sendo o canal tipo I de Vertucci mais prevalente. Os inferiores
apresentaram duas raízes, sendo o tipo IV mais frequente na raiz mesial e
classe I na distal;
A espessura dentina da furca mediu 1,53 mm e 1,59 mm nos superiores e
inferiores, respectivamente. Todos os canais foram curvos e em direção à
furca;
Canais laterais foram mais frequentes no terço cervical de dentes
superiores e no médio dos inferiores. A prevalência do canal cavo-
interradicular foi baixa;
Os parâmetros 3D variaram de acordo com o canal avaliado, sendo os
canais distais ou palatinos os que apresentaram maiores valores. SMI
demonstrou que todos os canais apresentaram formato de um cone
achatado, com exceção do canal distal de molares inferiores, considerado
achatado;
O presente estudo procurou contribuir auxiliar os clínicos na obtenção do
entendimento das variações morfológicas dos canais de dentes decíduos,
para superar deficiências, e assim permitir estratégias apropriadas para o
tratamento endodôntico;
Micro-CT é uma tecnologia eficiente, não destrutiva e confiável no estudo
da anatomia interna de molares decíduos.
43
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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