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CONTRIBUIÇÃO BANTU NA CULTURA AFRO BRASILEIRA, O BATUQUE DE
UMBIGADA DO OESTE PAULISTA
Emerson Feliciano Mathias1
Resumo:
Esse artigo se propõe a recuperar/reconstruir memórias bantu, entender suas transformações,
permanências e contribuições à cultura afro brasileira, também, sua importância para a
memória e identidade dos agentes envolvidos por meio de entrevistas com líderes e
integrantes do batuque de umbigada no Oeste Paulista. O batuque de umbigada, também
denominado batuque de tambu é uma expressão cultural afro brasileira, proveniente da mesma
linhagem cultural dos povos bantu trazidos para o Brasil como escravos. É caracterizado pela
troca de umbigadas entre os casais participantes, dispostos em fila, dançando ao som do toque
de tambores, matracas e chocalhos, instrumentos que compõem a parte percussiva e definem o
ritmo das modas. As modas são as cantigas conhecidas ou improvisadas, que versam sobre o
cotidiano desde a escravidão até os dias atuais, entoadas pelos mestres cantadores.
Palavras-chave: Batuque de Umbigada, memória, identidade.
Introdução
Batuque de umbigada, quando nos deparamos com essa expressão cultural afro
brasileira não imaginávamos a complexidade e a riqueza dessa tradição. As pesquisas
realizadas nos levaram a perceber que a cultura africana está ligada com a vida social do
sujeito. A religião, o trabalho, o lazer, enfim, tudo está conectado na sua cosmogoniai.
Percebemos que esse aspecto, atravessou o Atlântico junto com as etnias africanas que aqui
foram escravizadas.
1 Graduado em Licenciatura em História pela Universidade Nove de Julho Uninove, no segundo semestre de
2013. Trabalhos publicados em anais de eventos (resumo). BAUER, C., MATHIAS, E. F. Sindicalismo
Docente na América Latina - História e Embates Políticos na Contemporaneidade: 1990-2010 In: IX Encontro de
Iniciação Científica, 2012, São Paulo. IX Encontro de Iniciação Científica e VI Simpósio de pesquisa
UNINOVE. São Paulo: , 2012. p. 227 – 228. Financiado pelo Cnpq. Projetos de Iniciação Científica: 2011 a
2013. As metáforas de Pe. Antônio Vieira, Imaginário e Mentalidade e seu uso pelas mídias
contemporâneas. Sob Orientação da Prof.ª Elenice Costa. Nas margens, marginal, marginália. Proposta de
produção de uma edição comentada das crônicas de Lima Barreto enfeixadas em Marginália para
subsidiar o trabalho dos professores de História e Literatura nos cursos de licenciatura e ensino médio.
Sob orientação do Prof.º Geraldo Alves. Escravidão, abolição e cidadania em São Paulo (1880-1900). Sob
orientação do Prof.º Juliano Sobrinho e da Prof.ª Enidelce Bertin. Atual - Histórias e representações da
escravidão negra e do pós-abolição no Ensino de História do Brasil: experiências, práticas e metodologias.
Sob orientação do Prof.º Juliano Sobrinho e da Prof.ª Enidelce Bertin.
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Outro traço fundamental da cultura africana é o valor e o respeito que dão a memória,
principalmente e exclusivamente dos mais velhos, a tradição oral manteve viva a identidade
dos africanos que foram trazidos na diáspora negra e ajudou a (re) construir uma nova no
território brasileiro. Em nossas pesquisas constatamos que o universo cultural das tradições
afro-brasileiras em diversas regiões do Brasil possuem semelhanças entre si. Para BA (1982),
o sábio de Bandiagara, Tierno Bokar, critica a preponderância da escrita na sociedade
ocidental e afirma que, a escrita é uma coisa e o saber é outra. A escrita é a fotografia do
saber, mas não o saber em si. O saber é uma luz que existe no homem, a herança, a lembrança
de todos os nossos ancestrais que se encontra latente pronta para ser transmitida. Assim como
o Baobá já existe em potencial em sua semente.
Ele é a palavra, e a palavra encerra um testemunho daquilo que ele é. A própria
coesão da sociedade repousa no valor e no respeito pela palavra. (...) a tradição
oral é a grande escola da vida, e dela recupera e relaciona todos os aspectos. Pode
parecer caótica àqueles que não lhe descortinam o segredo e desconcertar a
mentalidade cartesiana acostumada a separar tudo em categorias bem definidas.
Dentro da tradição oral, na verdade, o espiritual e o material não estão dissociados.
Ao passar ao esotérico para o exotérico, a tradição oral consegue colocar-se ao
alcance dos homens, falar-lhes de acordo com o entendimento humano, revelar-se
de acordo com as aptidões humanas. Ela é ao mesmo tempo religião, conhecimento,
ciência natural, iniciação à arte, história, divertimento e recreação, uma vez que
todo pormenor sempre nos permite remontar à Unidade Primordial. (BA apud KI-
ZERBO (coord.), 1982: pp. 182-183).
O batuque de umbigada sobreviveu durante o tempo da escravidão, enfrentou e lutou
contra preconceitos e resistiu bravamente, assim como os africanos que trouxeram sua cultura
para cá. Tiveram que readaptar sua forma de vida, estruturar sua vida em uma terra longínqua
criando novos hábitos, mas sempre mantendo a raiz de sua cultura de origem. Mesmo com
tantas transformações sofridas durante os séculos, o batuque de umbigada, assim como o
jongo e o tambor de crioula são tradições típicas de terreiros que não sofreram tanta influência
do homem branco, segundo alguns historiadores e folcloristas. Possuem nas suas modas,
cantigas e encantamentos, um lado místico e sagrado, que o aproxima da velha cosmogonia
africana. “(...) Especialmente batuque designa um jogo de destreza da Bahia, uma dança de
umbigada de São Paulo – que se filia ao batuque africano (...).” (CARNEIRO, 1982: pp. 27).
Os grupos de batuque de umbigada que pesquisamos e realizamos entrevistas são da
região do oeste paulista (Piracicaba, Tietê e Capivari). Nomes como de Domingos de Arruda
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(filho de escrava), Mestre Aggêo, Benedito Assumpção (pai), Herculano, Bomba, João
Silvano, Zequinha, Isidoro de Santana do Parnaíba, Mestre Romário de Capivari, Cassimiro,
entre outros, são lembrados como grandes mestres e autênticos guardiões da tradição do
batuque de umbigada. Alguns desses nomes ainda vivos continuam preservando a tradição
passando para seus filhos, assim como foi passado a eles por seus pais. Herculano (filho de
Zequinha) é o líder atualmente do Batalhão (como os batuqueiros se intitulam), e a sede do
grupo é a cidade de Tietê. Anualmente realizam duas festas tradicionais, uma em maio na
cidade de Piracicaba para comemorar a abolição e outra em setembro na cidade de Tietê
comemorando o dia de São Benedito. Esses personagens assim como seus antepassados
mantiveram o batuque de umbigada quase que intacto, é uma tradição afro-brasileira que fala
da vida dos negros desde a escravidão, passando pelas incertezas, pelas proibições e
perseguições a sua cultura e religiosidade, pelo isolamento e exclusão que a sociedade impôs
aos libertos.
Podemos observar a ocorrência da umbigada em diversas formas de expressões
culturais afro-brasileiras espalhadas por todo território nacional. Durante nossas pesquisas
percebemos a presença da umbigada no jongo do Rio de Janeiro e São Paulo, no tambor de
crioula no Maranhão, que são da mesma linhagem cultural do batuque de umbigada, além de
suas múltiplas subdivisões. Focaremos nosso trabalho na expressão denominada batuque de
umbigada ou tambu, existentes ainda hoje nas cidades de Barueri, Capivari, Piracicaba e Tietê
no oeste paulista. Esta região foi escolhida, pois, recebeu a migração de libertos e do tráfico
interno de escravos vindos da região do Vale do Paraíba (RJ) no último quartel do século XIX.
Edison Carneiro listou as danças de umbigada do litoral do Maranhão ao de São Paulo
e verificou que o significado da umbigada na dança tem diferenças de uma região à outra,
além do modo como é realizada a dança. O autor definiu três formas de se dançar, dança de
par, dança de roda e de fileiras. Está última é denominada batuque de umbigada, onde
mulheres e homens ficam dispostos em fileiras vis-á-vis, as colunas masculinas e femininas
vão se aproximando para dar a umbigada, o homem inclina o corpo para trás para aplicar
melhor a umbigada, três de cada vez, intercaladas por ligeiras reviravoltas sobre o corpo, e
assinaladas por palmas acima da cabeça. Alguns dançarinos mais habilidosos dão saltos, giros
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e se contorcem até o chão antes de dar a umbigada que pode ser aplicada na mulher que vem a
sua frente na fileira ou em outra na diagonal.
Esse elemento coreográfico de provável origem na região do antigo Reino do Congoii
liga o batuque à grande família das danças de umbigada proposta por Edison Carneiro (1982).
O batuque realiza-se, habitualmente, “em terreiro de lançante suave”, postando-se
as mulheres na frente na parte de cima e os homens na de baixo, ou seja, em filas
vis-avis. Os homens sobem e as mulheres descem para a umbigada, ou batida, que
(...) se dá com a aproximação muitas vezes violenta do ventre dos dançadores, que
para baterem certo devem voltar o tronco para trás. Comumente os dançadores dão
uns passos arrastados para a direita e para a esquerda ou vice-versa antes de
realizarem a umbigada. Os melhores dançadores, no momento da umbigada,
levantam o braços e batem palmas, acima da cabeça. (CARNEIRO, 1982: pp. 42).
Para BA (2000) a umbigada entre homem e mulher remete à reorganização do
universo. O umbigo é o nosso primeiro canal de alimentação. É visto como uma forma de
conexão com as energias do universo, representando nossa primeira boca, nosso primeiro
contato com o mundo externo, o ventre materno nossa primeira morada. O autor aponta outra
interpretação dada para o significado da umbigada, possivelmente também seria um ritual de
fertilidade para a mulher quando de seu casamento, para que o casal tivesse a felicidade de
gerar um filho, para dar sequência a sua ancestralidade. A umbigada vem propor esta reflexão
para rediscutirmos a cosmogonia africana, recodificá-la na contemporaneidade, por meio das
transformações culturais regionais brasileiras, especificamente no batuque de umbigada.
Os instrumentos utilizados são; os membrafônicos; tambu, quinjengue ou mulemba, e
os idiofônicos; matraca e guaiá e antigamente o cordofônico urucungo. O tambu é um tambor
medindo cerca de metro e meio de comprimento, feito de tronco de árvore, recoberto numa
extremidade de couro de boi. O quinjengue ou mulemba é o tambor menor, afunilado, feito
nos moldes do tambu. A matraca consiste em dois pedaços de madeira que percutem no corpo
do tambu. O guaiá é um chocalho duplo, em forma de cones, feitos de folha-de-flandres e
recheados com sementes ou pedaços de chumbo.
Para HERCULANO (2013)iii
os instrumentos são elementos muito importantes dentro
de qualquer festividade onde tenha batuque. Para os integrantes o tambu e o quinjengue são
como “entidades”iv
, só podem tocar neles quem ‘cuida deles, dá cachaça para eles’v, ou quem
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vai tocá-los. Mestre Herculano nos revelou que seu tambu tem mais que cem anos e foi
herança de seu pai Zequinha. Para ele, esse instrumento faz parte de sua família. Os
batuqueiros mais antigos ainda procuram manter esta tradição passando estas informações
para os batuqueiros mais novos. Mas encontram dificuldades para fazer as novas gerações
entenderem a importância do respeito ao instrumento para no batuque de umbigada.
Segundo ASSUMPÇÃO (2011)vi
, esses instrumentos não podem ser feitos por
qualquer pessoa e nem com qualquer madeira. Há todo um preparo especial na escolha da
madeira, ela tem que ser especial, ela é cavada por dentro para deixar o tronco oco. Após este
processo é colocado o couro, também tem que ser especial, antigamente se usava couro de
burro, porém isso foi proibido e hoje é utilizado couro de boi. Depois o tambu é colocado
perto de uma fogueira, aproximadamente a um metro para esquentá-lo, de preferência é
passado cachaça ou pinga no couro para deixá-lo no ponto e na afinação ideal. O quinjengue
ou mulemba é o tambor menor que fica atravessado em cima do tambu e faz o
acompanhamento deste. Os dois paus (baquetas), são as matracas que também auxiliam no
acompanhamento. Existem o tambu normal e o tambu de sete léguas, que leva este nome, pois
quando é tocado pode ser ouvido até esta distância. Alguns folcloristas afirmam que
determinada batida no tambu de sete léguas servia para orientar escravos fugidos a encontrar
o caminho do quilombo para se refugiar no meio da mata.
Batuque no Estado de São Paulo é dança de terreiro, onde estão presentes os
membrafônicos: Tambu, Quinjengue ou Mulemba, e os idiofônicos: Matraca e
Guaiá; antigamente o cordofônico Urucungo. A zona batuqueira Paulista localiza-
se no Vale do Médio Tietê, abrangendo alguns municípios como Tietê (capital da
zona batuqueira), Porto Feliz, Laranjal, Pereiras, Capivari, Botucatu, Piracicaba,
Limeira, Rio Claro, São Pedro, Itú, Tatuí. (ARAÚJO, 2004: pp. 267).
As letras no seu início versavam sobre temas do cotidiano dos escravos, como no
jongo, marcavam ‘pontos’ (onde outro batuqueiro teria que decifrar o enigma e responder com
outro), podiam ser utilizadas como forma de diversão ou para organizar fugas e sublevações.
Esse método era utilizado para ludibriar seus senhores nas festas realizadas nos terreiros das
fazendas. Na atualidade as letras falam sobre o racismo e o preconceito que todos os
descendentes sofreram e sofrem, também relatam histórias de amor e do cotidiano do
trabalhador da roça, mas o ponto forte são os problemas sociais vividos pelos escravos no
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passado e hoje o afrodescendente. Existem as modas e os elogios no batuque de umbigada. A
moda é um gênero musical, constituída por versos que aludem assuntos variados. Constituem
a parte musical propriamente dita durante o batuque. Os elogios são cantigas de desafio e
ironias ou exaltação sobre um modista oponente, entoadas com acompanhamento apenas do
guaiá, pois ocupam o tempo em que os tambores estão aquecidos e afinados ao pé do fogo. A
interação em série de oponentes durante o elogio é denominada carreira, referindo-se a
quantidade de desafiantes. Alguns batuqueiros revelam que a música caipira e sertaneja na
região do Oeste Paulista surgiu do batuque de umbigada.
Um olhar para África Ocidental
Segundo MACHADO (2004), os africanos trazidos como escravos até 1850 eram
provenientes da África Ocidental e Central (região de Angola, Congo e Benguela),
desembarcaram no Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XIX, que se caracterizava
por possuir uma escravidão urbana predominantemente composta de africanos. Muitos
escravos que chegaram ao Rio de Janeiro foram trazidos para Província de São Paulo, Vale do
Paraíba e região de Campinas para trabalhar nas fazendas de açúcar e café.
Slenes, afirma que se a escravidão era africana no Sudeste, ela era banto, pois, até
meados do XIX, os escravos trazidos para esta região do país, provinham de
diferentes grupos étnicos da África Central (Angola) e Oriental, porém, aparentados
linguisticamente (...) Slenes também sugeriu a formação de uma identidade
africana, pan-banto, construída por estes homens e mulheres escravizados que, no
contexto da escravidão, e como forma de resistência a ela, construíram uma
identidade inclusiva, que começava a tomar forma na travessia do calunga, do mar,
dando origem a uma primeira reconstituição de identidades, que forjava novos
laços de pertencimento e de família, que era de ser malungo. Aqueles que
atravessavam a grande prova do desenraizamento, eram obrigados a renascer no
novo mundo, reconstruindo laços, inventando e valorizando novos códigos de
pertencimento. (MACHADO, 2004: pp. 77).
Corroborando com Machado, foram pesquisados documentos do Arquivo Público do
Estado de São Paulo que nos indicam que aproximadamente oitenta por cento dos escravos
registrados nestes censos levavam em seu sobrenome as denominações angola, congo, mina,
benguela, que indicava sua procedência. Os documentos analisados são das Províncias no
final do século XVIII e meados do XIX que hoje compreendem as cidades do Oeste Paulista,
referente ao nosso recorte espacial (Tietê, Capivari e Piracicaba)vii
. “(...) A última fase de
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migração na qual estamos interessados foi promovida pela descoberta de terras apropriadas
para a cultura do café no Oeste Paulista, por volta do último quartel do século XIX.”
(MUKUNA, 2006:68).
Os escravos africanos trazem sempre no nome a indicação do “gentio” ou “nação”
a que pertencem. O uso concomitante desses dois termos mostra a convivência de
dois sistemas de classificação e organização da escravaria africana. A palavra
gentio está associada às gentes, indicando povos que, à diferença dos cristãos e
judeus, seguem a chamada lei natural. Já a palavra nação diz respeito à “gente de
um paiz ou região, que tem língua, leis e governo a parte”. O termo é aplicado
ainda a raça, casta e espécie. Nesse sentido diz respeito a povos que podem ser
gentios, ou não, mas cujo reconhecimento se dá pelo uso partilhado de um
território, uma tradição ou uma língua comum.viii
Para KUNUNA (2006), o tempo entre a captura dos escravos no Reino do Congo,
onde aguardavam de oito meses até dois anos, presos em barracões na praia, esperando o
navio para serem embarcados para o Brasil, contribuiu favoravelmente para o surgimento de
um estoque cultural entre os povos bantu ainda na África, antes de serem trazidos para o
Brasil. Por outras palavras há uma grande possibilidade destes os povos oriundos da mesma
região durante a diáspora africana, se não falavam a mesma língua ou dialeto, compartilhavam
de uma cultura similar e muito próxima. “(...) Em outras palavras, levando-se em
consideração a cristalização dos denominadores culturais comuns, entre tribos da bacia do
Congo, (...) membros de clãs e tribos diferentes provindos do reino e de regiões vizinhas
tiveram tempo suficiente para formar um estoque cultural do que tinham em comum (...).”
(MUKUNA, 2006:58). Segundo SLENES (1991-2) a proximidade linguística entre as etnias
bantu já colaborava para uma aproximação cultural entre as diversas etnias. O autor aponta
que viajantes que percorreram o interior da África Central, atualmente Angola e Congo no
final do século XIX e início do no século XX, observaram que seus carregadores africanos
que viviam no litoral conseguiam se adaptar pouco a pouco com a mudança de língua e
dialeto e passavam a se comunicar quase que perfeitamente com outras etnias bantu que
viviam no interior.
RIOS e MATTOS (2005) apontam em, “Memórias do Cativeiro” pesquisas realizadas
com descendentes de escravos africanos chegados ao Brasil na primeira metade do século
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XIX nas áreas cafeeiras do Centro Sul do Brasil. Registraram a memória da história familiar
dessas pessoas, sua memória genealógica e sua ancestralidade africana.
A minha bisavó, a mãe da minha avó, chamava Regina. Ela veio lá da Angola e a
gente não entendia bem quando ela falava. Chamava Vó Regina, vovó velha.Tinha
vovó moça e vovó velha. Chamava Regina, eu me lembro. Às vezes ela falava e a
gente não entendia. Ela falava o português correto, mas tudo pela metade. Coitada
não sabia. Mesmo assim, a gente conversava muito com ela. Eu me lembro que
numa ocasião, numa festa que teve em São José, ela contou que comprou a senzala.
Ela comprou a senzala por quarenta mil réis, quando acabou a escravatura. Ela era
do cativeiro. Ela era verdadeira escrava, que veio vendida, comprada aqui pro
Brasil. Naquele tempo tinha os mercadores de escravo. Eles, os portugueses,
traziam os escravos de lá para cá, entendeu? Vendiam e ainda faziam isso
escondido. O que tinha a perna mais Iná valia mais. O que tinha o pé chato valia
menos; igual meu pé assim; pé de pato, tipo prancha, cansava mais. Esses ficavam
na cozinha. Agora aqueles que não pisavam a sola do pé direito, que o pé tinha
volta, esses trabalhavam mais. Era assim a escolha. Pagavam mais por esses. Agora
aqueles outros, era só pra cozinhar, porque cansava mais. (Cornélio Canciano, RJ,
82 anos, 09/05/1995).ix
As diversas formas que encontramos da dança de umbigada no Brasil, somadas as
transformações impostas pelo período da escravidão, como exemplo, fatores culturais,
regionais, miscigenação, entre outros, podem nos revelar o imenso caldeirão étnico cultural
que se formou em todo território brasileiro. Fatores que foram fundamentais para o
surgimento das expressões afro-brasileiras. Para CARNEIRO (1982), a simples presença das
danças vindas da África no Brasil, sugere uma aclimatação, ou seja, mudança de alguns
aspectos originais pela aquisição de novos hábitos devido ao ambiente, mudança dos grupos
étnicos que a trouxeram e posteriormente assimiladas para a população em geral, criando as
diferenças em cada região do país. Na segunda metade do século XIX diversos relatos de
viajantes portugueses oitocentistas, que exploraram as regiões de Angola e Congo e
identificaram danças semelhantes com os batuques testemunhados pelo litoral e interior
brasileiro. Em sua obra CARNEIRO (1982), relata as viagens de Capelo e Ivens, Alfredo
Sarmento, Hermenegildo Roberto e Major Dias de Carvalho, pela região de Angola e Congo,
esses viajantes relataram em livros algumas expressões culturais semelhantes às danças de
umbigada afro-brasileiras. Viram danças em roda, com umbigada do par solista, como dança
em fileiras opostas.
Este tipo de dança foi observado por Alfredo de Sarmento e Capelo e Ivens na
região de Luanda, de acordo com Sarmento; o batuque consiste...Num círculo
formado pelos dançadores, indo para o meio um preto ou preta que, depois de
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executar vários passos, vai dar uma umbigada, a que chamam semba, na pessoa que
escolhe, a qual vai para o meio do círculo, substituí-lo. (CARNEIRO, 1982: pp. 29).
Dos grupos, em redor, saem alternadamente indivíduos, que no amplo espaço
exibem os seus conhecimentos coreográficos, tomando atitudes grotescas. Por via
de regra são estas representadas por mímica erótica, que as damas, sobretudo, se
esforçam por tornar obscena...Após três ou quatro volta perante os espectadores,
termina o dançarino por dar com o próprio ventre na primeira ninfa que lhe
aparece, saindo esta a repetir cenas idênticas. (CARNEIRO, 1982: pp. 29).
TINHORÃO (2008: pp. 56-57) aponta que, o viajante Alfredo de Sarmento escreveu
em sua obra Os Sertões da África, que as danças rituais africanas constituem representações
alegóricas, chamadas de lembamento ou lemba, é o nome das cerimônias de casamento entre
os negros do Congo-Angola. É uma espécie de suíte de cenas da vida dos casados, dançadas
durante a cerimônia de casamento. Existem traços semelhantes registrados pelos viajantes da
ocorrência da umbigada nestes rituais vistos no continente africano com os batuques no final
do século XVIII no Brasil. “(...) A palavra batuque na sua acepção mais lata no Brasil aplica-
se ao conjunto de sons produzidos por instrumentos de percussão (...) a toda e qualquer dança
ao som de atabaques dá-se depreciativamente, o nome de batuque.” (CARNEIRO, 1982: pp.
27).
(...) no Brasil essas danças do sertão africano passaram a integrar, a partir dos fins
do século XVIII, já com caráter de simples folguedo, as animadas rodas de negros
que os portugueses chamavam de batuques – e que incluíam outros retalhos de
antigas cerimônias rituais -, a realista quimzomba vinda das solenidades do
alembamento iria constituir apenas uma entre tantas outras danças trazidas da
África. E, entre estas, estaria a dança dos batuques da região mais ao sul de
Angola, cuja característica maior seria a peculiaridade coreográfica da vênia
chamada semba, ou umbigada. (TINHORÃO, 2008: pp. 58).
O Dossiê IPHAN número 5 (2005) Jongo do Sudestex, explica que as formas de
expressão provavelmente estão ligadas aos antigos batuques, mencionados pelos viajantes do
Brasil Colônia e Império. A palavra batuque era usada pelos observadores para denominar de
maneira equivocada toda forma de dança e canto ao som dos tambores.
Relato do viajante Freyreiss e de Henry Koster – fim do século XIX e início do XX no
Brasil:
Entre as festas merece menção a dança brasileira, o batuque, os dançadores
formam roda e ao compasso de uma guitarra (viola) move-se o dançador no centro,
avança e bate com a barriga na barriga de outro da roda, de ordinário pessoa de
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outro sexo. No começo o compasso da música é lento, porém, pouco a pouco
aumenta e o dançador do centro é substituído cada vez que dá uma umbigada; e
assim passam noites inteiras. (CASCUDO, 2003: pp. 78).
Em Memórias do Cativeiroxi, as autoras por meio de suas pesquisas, revelam a
memória dos descendentes dos escravos na região do Vale do Paraíba (RJ), está região é
conhecida como uma zona jongueira pelo IPHAN, que tombou o jongo como um bem
histórico imaterial. Podemos utilizar estas informações para contextualizar e corroborar com
nossas pesquisas na busca pela origem do batuque de umbigada, também utilizando a etnia
dos povos bantu trazidos para o Brasil, reveladas em algumas entrevistas.
A principal manifestação cultural da comunidade continuava a ser a festa do dia 13
de Maio, em que celebravam sua condição de descendentes de escravos e
comemoravam a libertação. Neste dia, todos se voltavam para a sua preparação e o
ponto alto era a dança do caxambu, com a participação maciça dos moradores. Nos
festejos, é formada uma grande roda, onde, dentro dela, um casal, a cada vez, dança
em movimentos contrários um do outro. Segundo informaram à Lídia Meirelles,
apenas as músicas que acompanham a dança eram denominadas jongo, de maneira
que eles cantavam o jongo e dançavam o caxambu. Toda a festa era realizada ao
som do tambores, único instrumento musical que acompanhava os cânticos e as
danças. (RIOS, 2005: pp. 266).
CARNEIRO (1961), em seu trabalho intitulado Samba de Umbigada, traça as
semelhanças entre as danças folclóricas brasileiras derivadas dos batuques. O lundu, o baiano,
coco, bambelô, tambor de crioula, jongo e caxambu, todas com ocorrência da umbigada. “(...)
Sabemos que batuque foi a designação genérica que os portugueses deram às danças nativas
de Angola e do Congo que, trazidas para cá pelos escravos, se apresentam em quatro tipos
gerais, dança de umbigada, dança de pares, dança em fileiras e dança de roda.” (CARNEIRO,
1982: pp. 71).
É uma dança de origem africana. Não sabemos, porém, qual foi o estoque tribal
negro que introduziu em nosso Estado a dança do batuque, possivelmente é
originário de Angola ou Congo. Se ao menos tivéssemos algumas palavras de
origem africana colhidas em seu canto, teríamos uma pista mais segura. Em geral
as danças primitivas são de roda, por exemplo, o jongo, que é de origem angolesa.
Já num estágio mais adiantado, do ponto de vista coreográfico, encontramos o
batuque, dança não de roda, mas de colunas que se defrontam, e consiste
exclusivamente em dar umbigadas. (CASCUDO, 2003: pp. 267-8).
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Para MUKUNA (2006), não seria ousadia sustentar que a cultura bantu no sudeste
brasileiro, principalmente no Vale do Paraíba, prevaleceu sobre as demais etnias africanas que
vieram para o Brasil na Diáspora. “Os angolanos ou congos são muito pouco numerosos na
Bahia, assim como os moçambiques, mas eles foram a maior massa de escravos no Rio de
Janeiro” (VERGER,1968: pp. 13 apud MUKUNA, 2006: pp. 70). O autor afirma que, existem
evidências pertinentes após pesquisas de campo a respeito de uma cultura étnica bantu no
sudeste brasileiro. A migração interna no Brasil, junto com o movimento de seus senhores em
busca de maior poder econômico, transformou e teceu seus valores culturais (vida, morte,
religião, artes, etc.) dentro das unidades comunitárias brasileiras.
A Memória dos Mestres batuqueiros do Oeste Paulista
As pessoas que participam dos grupos de batuque de umbigada que analisamos e
colhemos entrevistas, provavelmente tem descendência de escravos vindos do Vale do Paraíba
(RJ) para a região do Oeste Paulista (MUKUNA, 2006) e que cultivam e preservam a tradição
até os dias atuais. São os grupos que se denominam, batuque de umbigada de Capivari,
Piracicaba e Tietê. Esses grupos funcionam como uma associação, anualmente realizam festas
e comemorações nas cidades citadas, possuem um líder, ou seja, existe entre os integrantes
uma hierarquia e um respeito entre os membros mais jovens em relação aos idosos. Por meio
da memória dos entrevistados nos aproximamos dos fatos por trás da história oficial. A
História Oral pode nos revelar maiores contradições e discrepâncias entre a evidência escrita e
oral, ampliando nossa percepção histórica e tornando-a mais rica.
(...) a evidência oral pode conseguir algo mais penetrante e mais fundamental para
a História. Enquanto os historiadores estudam os atores da História a distância, a
caracterização que fazem de suas vidas, opiniões e ações sempre estará sujeita a ser
descrições defeituosas, projeções da experiência e da imaginação do próprio
historiador: uma forma erudita de ficção. A evidência oral, transformando os
“objetos” de estudo em “sujeitos”, contribui para uma História que não só é mais
rica, mais viva e mais comovente, mas também mais verdadeira. (THOMPSON,
1992: pp. 137).
Ao realizarmos entrevistas com integrantes do batuque de umbigada do Oeste Paulista
e ao analisarmos a historiografia sobre o tema, a pertinência do método oral para elucidarmos
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os processos que revelam as transformações e permanências dessa tradição afro-brasileira
ornou-se ainda mais clara. Os processos de transformações sociais em que os escravos e seus
descendentes foram expostos podem ser evidenciados por meio da memória dos mais velhos,
ou seja, os mestres batuqueiros. Quando verificamos em nossas conversas e entrevistas os
processos de migrações de seus antepassados, a miscigenação, a perseguição policial a suas
tradições, os aspectos multiculturais de cada região do país, o êxodo rural para as grandes
capitais do sudeste, entre outros aspectos não menos importantes. “Há um momento em que o
homem maduro deixa de ser um membro ativo da sociedade, (...) resta-lhe, no entanto, uma
função própria: a de lembrar. A de ser a memória da família, do grupo, da instituição, da
sociedade. (BOSI, 1994: pp. 63).
Existe um ditado entre os batuqueiros; “O batuque de umbigada é a única exclusão que
deu certo”.xii
Essa frase é devido à perseguição que a polícia a mando da elite cafeeira no
início do século XX até meados dos anos 50, realizou contra todos os grupos de batuque da
região do Oeste Paulista, principalmente Capivari, Piracicaba, Tietê e Rio Claro.xiii
Os
batuques só podiam ser realizados fora da cidade, ou seja, na periferia por serem considerados
lascivos e contra a ordem e a moral da sociedade. Devido a esse fator o batuque de umbigada
se manteve praticamente intacto, não sofreu muitas mudanças na sua forma original.
Buscamos além das entrevistas, participarmos das festas para podermos perceber como os
sujeitos entrevistados influenciam ou são influenciados pela sociedade em sua região,
entendermos como se dá esse processo de identidade por meio dessa expressão cultural, e suas
possíveis contribuições na formação político-cultural de seus agentes e de toda sociedade.xiv
Benedito Alves Assumpção Filho,xv
aponta o respeito e a importância que os mais
antigos sentem sobre o batuque. A preocupação de manter a tradição como foi transmitida por
seus antepassados, com suas características originais, preservando a memória e a identidade
conquistada. Percebe-se aqui, a perda de características da tradição devido o desconhecimento
popular, mas também percebemos como provavelmente se deram e se dão os processos de
transformações do batuque de umbigada.
Ser batuqueiro é uma coisa diferente porque, batuque é uma dança folclórica e ela é
uma dança que depende muito da inteligência...você não pode cantar moda assim
que nem você chegou a ver lá em Tietê, você que esteve lá conosco, cantando moda
de Michael Jackson, Roberto Carlos...isso não tem nada a ver com o batuque, o
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batuque você chega lá no instrumento, no pé do instrumento...você faz a moda ali.
Você canta a moda ali, e dentro do assunto que venha que você tem que responder
se houver uma resposta contra você, e o batuque ele tá sendo diferente, nós estamos
lá pra mais ou menos disciplinar...eu estou ajudando indiretamente, mas eu estou
orientando o pessoal porque o batuque é três umbigadas não pode dar mais que
isso. Tem gente que vai lá e bate quatro, cinco vezes tá fora do conceito de
batuque.xvi
Assumpção Filho relembra Mestre Aggêo da cidade de Barueri, que anualmente
realizava no terreiro de sua casa, na década de 1960 grandes noites de batuque. Estas festas
perduravam por toda noite, regadas de muita comida e bebida, onde os convidados eram os
“batalhões”xvii
de várias cidades do interior paulista. A qualidade e o requinte das modas
compostas por Mestre Aggêo e por seu pai Benedito Assumpção trouxeram-lhes grande
prestígio entre muitos pesquisadores e músicos importantes ligados ao samba paulista.
A memória é um cabedal infinito do qual só registramos um fragmento.
Frequentemente, as mais vivas recordações afloravam depois da entrevista, na hora
do cafezinho, na escada, no jardim, ou na despedida no portão. Muitas passagens
não foram registradas, foram contadas em confiança, como confidências.
Continuando a escutar ouviríamos outro tanto e ainda mais. Lembrança puxa
lembrança e seria preciso um escutador infinito. (BOSI, 1994: pp. 39).
Os depoimentos de Assumpção Filho corroboram com os documentos e as fontes
pesquisadas referente os processos de transformações e permanências do batuque de
umbigada, devido às perseguições policiais e da sociedade, migração interna dos descendentes
de escravos, entre outros fatores. O depoimento de Vandexviii
revela a sua preocupação em
obedecer a ordem dos mestres mais velhos, Assumpção com 76 anos e principalmente do Sr.º
Herculano com 84 anos, chefe do Batuque de Umbigada de Piracicaba, Capivari e Tietê, que é
de manter a tradição como no seu início, ou seja, na dança, só podem ser dadas três
umbigadas, depois os pares são trocados, os dançarinos e o público não podem ficar na frente
dos tambores e dos batuqueiros, e a regra do leva e trás,xix
tem que ser respeitada. Assim fala a
memória dos mais antigos.
Notas i Definimos cosmogonia como uma filosofia da vida social africana, onde todos os elementos da natureza estão
ligados à sua origem e dão sentido a seu Universo. Ou seja, para o africano seus atos políticos, econômicos,
culturais e religiosos não são dissociados.
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ii Região onde se encontram hoje Angola e Congo. Foi desta região que diversas etnias bantu foram trazidas para
o sudeste brasileiro. Para mais informações referentes ao Reino do Congo e de seu território ver MUKUNA,
Kazadi Wa. Contribuição Bantu na música popular brasileira: perspectivas etnomusicológicas. São Paulo:
Terceira Margem, 2006 e SLENES, R. W. Malungo N´goma vem! África coberta e descoberta do Brasil, Revista
da Universidade de São Paulo, nº 12, Dez/Jan/Fev. 1991-1992. iii Entrevista realizada com Sr. Herculano, 84 anos – Mestre batuqueiro e líder do Batuque de Umbigada de Tietê,
Capivari e Piracicaba. Dia 28/09/2013 – na cidade de Tietê, SP. iv Podemos definir “entidades” como os Orixás no Candomblé.
v Afirmação feita por diversos batuqueiros de Tietê: os tambores são colocados perto da fogueira para afiná-los e
também é necessário que se passe cachaça no couro para melhorar e acelerar afinação. viASSUMPÇÃO, Benedito. O Mestre do Batuque Paulista. Vídeo documentário de Edgard Santo Moretti.
Prefeitura de Barueri - SP, 2011. vii
APESP. Arquivo Público do Estado de São Paulo. Maços de População. Localização: latas C00 141 a C00 142,
Piracicaba - ano 1820 a 1866. Latas C00143 a C00147, Porto Feliz/Piracicaba - ano 1797 a 1846. viii SOARES, Mariza de Carvalho. Tempo, Vol. 3 - n° 6, Dezembro de 1998. In: Identidade étnica, religiosidade
e escravidão. Os “pretos minas” no Rio de Janeiro (século XVIII), tese de Doutorado em História, Niterói,
Universidade Federal Fluminense, 1997. s/n pp. ix Ver mais depoimentos sobre a etnia dos descendentes de escravos em: RIOS, Ana Lugão. Memórias do
cativeiro: família, trabalho e cidadania no pós-abolição. Ana Maria Lugão Rios, Hebe Maria Mattos – Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. pp. 63 a 71. Citação; pp. 63-64. x IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional). O Dossiê IPHAN número 5 Jongo no Sudeste, é
a pesquisa que levou ao processo e tombamento do jongo como Patrimônio Histórico imaterial. Neste dossiê são
apresentadas características gerais do Jongo, que são bem semelhantes ao batuque de umbigada. Segundo
pesquisas de Edison Carneiro essas expressões culturais afro-brasileiras são da mesma linhagem cultural e de
origem banto. xi RIOS, Ana Lugão. Memórias do cativeiro: família, trabalho e cidadania no pós-abolição. Ana Maria Lugão
Rios, Hebe Maria Mattos – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. xii
Entrevista com Vande Batuque de Umbigada de Piracicaba. Workshop Caixa Cultural no dia 31/08/2013, SP. xiii LEITE, Marcelo Eduardo. Fotografia e documentação no interior Paulista: o “batuque de umbigada” por
Rodolpho Copriva. In: Discursos fotográficos, Londrina, v.7, n.11, p.175-195, jul./dez. 2011. Este artigo se
dedica a analisar o processo de documentação fotográfica realizado pelo fotógrafo Rodolpho Copriva na cidade
de Rio Claro, estado de São Paulo, nos anos de 1952, 1953 e 1955. Tais imagens são raras e mostram a dança
batuque da umbigada, realizada pela comunidade negra da cidade. A ida do fotógrafo é peculiar, pois mostra
como uma fotografia feita com fins policiais acabou carregando dentro de si uma grande importância
etnográfica. xiv
Participação e entrevista na festa da Abolição na cidade de Piracicaba no dia 13/05/2013 e na festa de São
Benedito na cidade de Tietê no dia 28/09/2013.
xv Nascido em 11 de setembro de 1928 na cidade de Tietê. Benedito Assumpção, seu pai, ensinou-lhe desde cedo
a tradição do “Batuque Tambu”, cultivada por seus antepassados em Tietê e nas cidades do entorno, como
Laranjal Paulista, Capivari, Rio Claro, entre outras. xvi
ASSUMPÇÃO, Benedito. O Mestre do Batuque Paulista. Vídeo documentário de Edgard Santo Moretti.
Prefeitura de Barueri - SP, 2011.
xvii Termo utilizado para definir o coletivo de integrantes dos grupos de batuque umbigada.
xviii Entrevista com Vande Batuque de Umbigada de Piracicaba (Vanderlei Rosa). Workshop Caixa Cultural no dia
31/08/2013, SP. xix
No início do batuque quando os batuqueiros começam a tocar e cantar a primeira moda , a coluna masculina
vai lentamente dançando saudar a coluna feminina, precisamente o par que está a sua frente, posteriormente é a
vez da coluna feminina se adiantar em direção a masculina para agradecer, após esse processo a inicia-se a dança
com umbigadas.
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