Dança de Salão: possibilidades de intervenção pedagógica por meio da Educação Física
Aparecida Romeiro Calixto1
Debora Gomes2 Resumo: Embora faça parte dos conteúdos da Educação Física, a dança de salão geralmente é pouco explorada na escola, no entanto, quando é proposta, um grande número de alunos, em sua maioria meninos, tem dificuldade de aceitar as atividades por timidez, discriminação e/ou concepção cultural. Diante do exposto, este estudo teve por objetivo investigar as possibilidades de intervenção pedagógica em torno do conteúdo Dança de Salão nas aulas de Educação Física, valorizando a cultura local e promovendo uma reflexão acerca da apropriação da Dança pela Indústria Cultural. A proposta foi desenvolvida em dois anos, distribuídas em quatro momentos: elaboração do projeto; elaboração do caderno pedagógico; implementação da proposta descrita no caderno pedagógico realizada no primeiro semestre de 2015, formação de Grupos de Trabalho em Rede (GTR) no período de setembro a dezembro de 2015; e relato por meio da produção deste artigo. Por meio de atividades pedagógicas, além de inserir possibilidades com o trato do conteúdo dança de salão, foram realizadas vivências voltadas para a percepção do corpo, a socialização, o potencial rítmico e expressivo, a criatividade, o espírito de cooperação. Por fim, apesar de observarmos vários pontos positivos em relação à implementação do conteúdo de Dança de Salão nas aulas de Educação Física, ressaltamos a dificuldade de desenvolvermos um trabalho pedagógico sistematizado com todos os conteúdos previstos para disciplina, uma vez que duas aulas semanais se tornam insuficientes diante da diversidade de conteúdos existentes e descritos nos documentos oficiais. Palavras-Chave: Educação Física. Dança de Salão. Mídia. Gênero.
1. Introdução As primeiras práticas de atividades físicas no Brasil foram dos indígenas, os
quais praticavam nado, remo, luta, corrida, arco e flecha, dentre outras, necessárias
para sua sobrevivência. Aos negros trazidos como escravos, atribui-se a origem da
prática de capoeira. Em ambos os casos a prática de tais atividades tinham cunho
utilitário, mas também ritualístico, condição da dança realizada pelos índios e pelos
escravos por meio da capoeira (MARINHO, 2011).
Como prática sistematizada, a Educação Física começou a fazer parte das
atividades nas escolas primárias e secundárias desde o século XIX, onde era
denominada de Ginástica e tinha como objetivo difundir os ideais da sociedade do
período. Dentre os intuitos com os quais a Educação Física foi desenvolvida nas
escolas no século XIX e XX, destacam-se: higienista, militarista, esportivista e
tecnicista, todos eles, entendendo que deve ser promovido uma prática de atividade
física, a qual, irá “treinar, adestrar, disciplinar, eleger o melhor, separar os aptos dos
inaptos”.
1 Professora da Rede Estadual de Ensino do Paraná, graduada em Educação Física (FAFICLA) e especialista em Ginástica de Competição (UEL), [email protected]. 2 Professora do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), graduada em Educação Física (UEM) e mestre em Educação (UEM), [email protected].
Somente no final do século XX surgiram abordagens teórico metodológicas
propondo para as aulas de Educação Física, a superação dos modelos utilizados até
então (higienista, militarista, esportivista, tecnicista), ampliando desta forma o papel
desta disciplina na escola.
De acordo com Marinho (2011, p. 139), Educação Física
é uma prática social, como em última instância são todas as atividades humanas. O seu pano de fundo é a questão pedagógica e não a médica. Contra tudo e quase todos, trabalhamos com valores; o que temos a determinar são os que fundamentam esta prática social. [...] Social, para nós, é sinônimo de coletivo, algo que atinja a todos, e não a alguns privilegiados.
Observa-se que atualmente a Educação Física não é mais somente uma
“atividade realizada para treinar/disciplinar o corpo”, mas sim, disciplina integrante do
contexto escolar que compõem a base nacional comum, ou seja, à partir da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), nº 9.394 do ano de 1996, artigo 26,
parágrafo 3º, a Educação Física integrada à proposta pedagógica, passou a ser
componente curricular obrigatório da Educação Básica (Educação Infantil, Ensino
Fundamental e Ensino Médio).
A Educação Física é a disciplina responsável por tratar das atividades que
compõem a cultura corporal de movimento (esporte, ginástica, dança, lutas, jogos e
brincadeiras), “[...] é uma disciplina que trata, pedagogicamente, na escola, do
conhecimento de uma área denominada aqui de cultura corporal” (COLETIVO DE
AUTORES, 2009, p. 61).
Nesse sentido, partindo de seu objeto de estudo e de ensino, Cultura Corporal, a Educação Física se insere neste projeto ao garantir o acesso ao conhecimento e à reflexão crítica das inúmeras manifestações ou práticas corporais historicamente produzidas pela humanidade, na busca de contribuir com um ideal mais amplo de formação de um ser humano crítico e reflexivo, reconhecendo-se como sujeito, que é produto, mas também agente histórico, político, social e cultural (PARANÁ, 2008, p. 123).
Observa-se que dentre os conteúdos que estruturam o planejamento da
disciplina está a dança, que apresenta como um dos seus conteúdos específicos a
Dança de Salão. A opção por estudar esta temática se deu pelo fato da existência
de um projeto chamado Festival de Talentos, no qual em um dos dias ocorrem as
apresentações de dança. O que se tem observado nas apresentações é que os
meninos se apresentam em menor número, portanto a escolha pela Dança de Salão
também visa motivar os meninos se integrarem nas vivências de dança.
A escolha do curso de Meio Ambiente, decorre de ser as turmas do Ensino
Médio em que encontro-me atuando nos últimos anos. Quanto a dança de salão,
acredita-se que dançando a dois os meninos possam se interessar e participar
ativamente das aulas, além de ser um conteúdo pouco explorado nas aulas de
Educação Física, devido as limitadas oportunidades de estudo, vivência e
aprofundamento teórico metodológico em torno da dança de salão.
Dança é
[...] uma expressão representativa de diversos aspectos da vida do homem. Pode ser considerada como linguagem social que permite a transmissão de sentimentos, emoções da afetividade vivida nas esferas da religiosidade, do trabalho, dos costumes, hábitos, da saúde, da guerra, etc. (COLETIVO DE AUTORES et al, 2009, p. 81).
Diante do exposto, justifica-se este estudo que visou investigar as
possibilidades de intervenção pedagógica em torno do conteúdo Dança de Salão
nas aulas de Educação Física do curso técnico de Meio Ambiente, valorizando a
cultura local e promovendo uma reflexão acerca da apropriação da Dança pela
Indústria Cultural.
Pretendeu-se ainda, propor vivências de atividades que auxiliassem na
percepção do corpo, no despertar da sensibilidade e do espírito de cooperação,
permitindo o contato com diferentes manifestações corporais e valorizando a cultura
local, com vistas ao projeto educativo e à valorização do educando no processo de
ensino e aprendizagem.
2. Dança de Salão e Educação Física no Ensino Médio
A Diretriz Curricular da Educação Básica (DCEB) do Estado do Paraná, prevê
Dança de Salão como conteúdo específico da Educação Física no Ensino Médio.
Portanto, é de suma importância que se inclua este conteúdo no processo de ensino
e aprendizagem.
Por meio da dança de salão é possível explorar aspectos relacionados ao
desenvolvimento físico, motor, cognitivo, da criatividade, da percepção do corpo, do
espírito de cooperação e a da socialização, além de possibilitar o acesso ao
conhecimento das culturas expressas nesta manifestação, levando o aluno a tomar
consciência sobre a existência de diversas culturas, mas também da sua cultura,
integrando-se e percebendo a diversidade presente na sociedade, “[...] contribuindo
para a formação de indivíduos mais sensíveis, críticos, criativos e transformadores”
(BARRETO, 2008, p. 82).
De acordo com Barreto (2008), o trato com a dança deve ter como maior
objetivo o processo de desenvolvimento, a experiência como caminho para diversas
finalidades na formação de indivíduos críticos, criativos e de grande sensibilidade,
pois
Dançar... um dos maiores prazeres que o ser humano pode desfrutar. Uma ação que traz uma sensação de alegria, de poder, de euforia interna e, principalmente, de superação dos limites dos seus movimentos. Algumas pessoas não se importam com o passo correto ou errado e fazem do ato de dançar uma explosão de emoção e ritmo que comove quem assiste. Superam os entraves emoldurados pela vergonha e invadem as pistas de dança, mostrando numa expressão corporal todo sentimento por diferentes ritmos de música (BARRETO, 2008, p.1).
Em geral, os alunos gostam e se identificam com as aulas de Educação
Física, porém o conteúdo que buscam são os esportes coletivos. Neste contexto,
cabe a nós professores ao planejar as aulas, organizá-las de maneira que sejam
vivenciadas tanto atividades relacionadas ao esporte, quanto às relacionadas aos
demais conteúdos estruturantes previstos na DCEB (ginástica, dança, lutas, jogos e
brincadeiras).
A dança, assim como o esporte, é uma das manifestações da cultura do movimento mais importantes e relevantes em todo mundo. Ela vem se fragmentando cada vez mais em tipos e modelos diferentes e com o auxílio dos meios de comunicação e da indústria cultural, muitas vezes tem se orientado para a total desportivização. Entre as manifestações mais conhecidas da dança podemos citar a dança folclórica, a dança popular ou social, a dança carnavalesca, a dança de salão, o jazz e o ballet entre outras (KUNZ, 2004, p. 90).
O desafio que se coloca no cotidiano é ampliar as experiências corporais dos
alunos, sendo a Dança de Salão uma atividade que poderá contribuir para isto,
permitindo ao aluno a consciência do seu corpo que é importante para a vivência
não somente deste conteúdo.
A consciência corporal é, portanto, a capacidade que o indivíduo possui para reconhecer e controlar o corpo como um todo e seus componentes pelas partes segmentares e a partir daí alcançar habilidades motoras e possibilidades de explorar o inter-relacionamento com o outro, objetos e meio ambiente em geral pelos conhecimentos práticos da mecânica corporal (NANNI, 2008, p. 155-156).
A Dança de Salão colabora também na vida social de quem a vivencia, tendo
em vista que é comum em comemorações e encontros de grupos de pessoas esta
atividade, o que irá possibilitar ao aluno colocar em prática o que apreendeu, se
sentindo bem com ele mesmo, melhorando sua autoestima, trabalhando também
sua expressividade.
A dança pode contribuir para a área da Educação Física na medida em que, através da experiência artística e da apreciação, estimula nos indivíduos os exercícios da imaginação e da criação de formas expressivas, despertando a consciência estética, como um conjunto de atitudes mais equilibradas diante do mundo (BARRETO, 2008, p. 117).
Neste sentido podemos fazer com que os alunos se integrem no meio em que
vivem de forma dinâmica e atuante, conseguindo ser aceito por meio dessas
atividades sociais, sendo importante para sua autonomia, de maneira que no seu dia
a dia em outras atividades, a pessoa consiga se sentir mais segura e determinada em
suas atitudes.
3. Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica
3.1 Relato da Implementação
A implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na escola, “Dança de
Salão: possibilidades de intervenção pedagógica por meio da Educação Física”, foi
iniciada no dia 12 de março no 3º ano e no dia 13 de março de 2015, no 4º ano,
ambos do Ensino Médio, curso de Meio Ambiente Integrado. O término da
implementação ocorreu somente nos dias 10 e 13 de julho, pois no período de 25 de
abril a 10 de junho ocorreu paralização das atividades escolares.
Foi realizada uma aula inaugural, a fim de explicitar como seriam as aulas e o
Projeto de Dança de Salão. Para um diagnóstico inicial sobre o conhecimento e a
vivência dos alunos em torno da Dança de Salão, foi entregue um questionário com
perguntas sobre o tema, em seguida foi realizada uma dinâmica de dança buscando
promover socialização entre os alunos.
Quanto ao conceito de dança de salão, a maioria dos alunos afirmaram que
são as danças realizadas em festas, bailes, casamentos... e estão relacionadas à
divertimento, lazer, e vinte e dois por cento (22,44%) dos alunos reconheceram
como manifestação da cultura que faz parte da vida das pessoas (tabela 01).
A maioria dos alunos (83,67%) afirmou já ter visto dança de salão em festas,
casamentos, aniversários e formaturas e ainda, sessenta e cinco por cento em
programas de televisão e filmes, porém a maioria não dança este estilo (tabela 02 e
gráfico 01).
Tabela 01: Conceito Dança de Salão
Respostas f %
Danças realizadas em festas/bailes/casamentos/baladas/salão/ ocasiões especiais/confraternização
17 34,69
Divertimento/animação/legal/lazer/bem-estar/não deixa ficar parado 15 30,61
Forma ou manifestação da cultura/faz parte da vida/popular 11 22,44
Vários ritmos/passos/músicas/técnicas 9 18,36
Dança a dois 9 18,36
Dança artística tradicionais/bela/bonita/bom 9 18,36
Atividade física/exercício para mente e para o corpo 7 14,28
Expressão Corporal/de sentimentos 5 10,20
Estilo musical 3 6,12
Hobbie 2 4,08
Comprometimento do casal 2 4,08
Sedução/envolvente 2 4,08
Adaptação de ritmo 1 2,04
Emprego 1 2,04
Dança elegante 1 2,04
Dança complexa 1 2,04 * O percentual total ultrapassa 100%, tendo em vista que os alunos atribuíram mais de uma resposta.
Tabela 02: Locais onde viram dança salão
Respostas f %
Festas/Casamentos/Aniversários/Formatura 41 83,67
Tv/filmes 32 65,30
Bailes 21 42,85
Apresentações/Festivais/Eventos 7 14,28
Internet 6 12,24
Escola de dança 5 10,20 * O percentual total ultrapassa 100%, tendo em vista que os alunos atribuíram mais de uma resposta.
Gráfico 01: Alunos que já dançaram dança de salão
No caso dos alunos que já dançaram dança de salão, a maioria afirmou que
dançam o estilo gaúcho, dança bastante realizada na comunidade local, geralmente
em festas, casamentos aniversários e formaturas (tabela 03 e 04).
Tabela 03: No caso de quem dança, quais as danças
Respostas f %
Gaúcha/vaneirão/vaneira/sete passos 18 78,26
Forró 2 8,69
Valsa 2 8,69
Não sei 2 8,69
Tango 1 4,34
Salsa 1 4,34
Sertanejo 1 4,34 * O percentual total ultrapassa 100%, tendo em vista que os alunos atribuíram mais de uma resposta.
Tabela 04: No caso de quem dança, onde dança
Respostas f %
Festas/casamentos/aniversários/formatura 14 60,86
Bailes 9 39,13
Aula de dança 5 21,73
Apresentação na escola/festival de talentos 2 8,69
Família e em casa 2 8,69 * O percentual total ultrapassa 100%, tendo em vista que os alunos atribuíram mais de uma resposta.
Como atividade para ser realizada na comunidade, foi entregue um
questionário com questões relacionadas às experiências com dança das pessoas
que viveram sua juventude nos anos 1970, 1980 e 1990, para isto, cada aluno
deveria entrevistar uma pessoa da família ou da comunidade.
Na segunda aula, a partir dos questionários respondidos foi feito um debate
com as respostas colhidas da comunidade. Todos os alunos fizeram a entrevista,
sendo que a maioria optou por conversar com os próprios familiares (tios, pais, avós)
(gráfico 02).
Gráfico 02: Participantes da entrevista sobre dança de salão
Alguns alunos relataram que ficaram surpresos com o fato de que seus
familiares participavam assiduamente dos bailes e ainda conheciam vários tipos de
danças, inclusive alguns nem imaginavam que seus familiares sabiam dançar tantos
ritmos. As danças mais citadas foram as gaúchas (xote, vaneirão, rancheira, bugio),
mas também apareceram valsa, sertanejo, discoteca, polonesa, lambada, axé, mpb,
rock, samba, bolero. Os locais apontados como espaços onde dançavam foram:
escolas, clubes, discotecas, residências, salão de bailes, depósitos e ginásios de
esportes (tabela 05 e 06).
Tabela 05: Locais em que os familiares/conhecidos dançavam dança de salão
Respostas f %
Bailes/discoteca/clubes/salões/matinês/baladas/casarões/ casas de show/barracões/associações/depósitos
41 83,67
Festas/casamentos/aniversários 23 46,93
Escola/ginásio de esportes 12 24,48
Não dançava 2 4,08
Terreirão de café 1 2,04 * O percentual total ultrapassa 100%, tendo em vista que os alunos atribuíram mais de uma resposta.
Tabela 06: No caso de familiares/conhecidos que dançavam, quais as danças
Respostas f %
Gaúcha/rancheira/vaneirão/chote/vanera/bugio 47 100
Valsa 10 21,27
Dance/discoteca/disc musica 8 17,02
Sertaneja 7 14,89
Lambada 5 10,63
MPB 2 4,25
Lenta 1 2,12
Polonesa 1 2,12
Axé 1 2,12
Samba 1 2,12
Bolero 1 2,12
Marchinha 1 2,12
Arrasta pé 1 2,12 * O percentual total ultrapassa 100%, tendo em vista que os alunos atribuíram mais de uma resposta.
Algumas curiosidades foram abordadas, uma delas foi que nos bailes dos
anos de 1980, o cavalheiro que estava sem par ficava com um chapéu e quando
este desejava dançar com uma dama, passava o chapéu para o cavalheiro que
estava com ela e este ficava com o chapéu a procura de uma nova dama para
dançar. Outra curiosidade é que em alguns bailes do interior, quando a dama que
era convidada para dançar e não aceitava, não poderiam dançar com mais ninguém.
Apenas a moça ou mulher acompanhada poderia recusar o convite dos que não
fossem seu companheiro. Também existiam normas de comportamento, dentre elas
não era permitido dançar muito colado, sendo que eram as próprias pessoas
participantes do baile que controlavam e até mesmo expulsavam quem não
respeitava as normas.
Na terceira aula foi vivenciado a movimentação proposta pelo método “Passo”
da autoria de Lucas Civiatta, o qual visa o desenvolvimento da percepção rítmica
combinada com o movimento realizada em quatro tempos. Em seguida os alunos
foram organizados em uma roda de mãos dadas, onde realizaram o movimento de
abrir e fechar as pernas deslocando para a direita e depois para a esquerda,
diminuindo a abertura até chegar em dois para lá e dois para cá. No final da aula foi
questionado com os alunos o que acharam da técnica desenvolvida por Civiatta,
sendo que os mesmos afirmaram que gostaram.
Na quarta aula foram assistidos os vídeos “Era uma vez uma outra Maria”
parte 1 e o trecho da novela Malhação. Ao final dos dois vídeos os alunos foram
divididos em pequenos grupos para responder questões sobre diferenças entre
atividades de homens e mulheres impostas pela sociedade, levando-os a um debate
sobre gênero e diversidade levantando pontos de consenso e polêmicas.
Na quinta aula foi apresentado por meio de slides a origem, história,
peculiaridades e tipos de Dança de Salão. No final, foi realizada a atividade de
deslocamentos em duplas que exploraram possibilidades de deslocamentos em
cima de linhas desenhadas no chão.
Na sexta, sétima, oitava e nona aula foi vivenciado o Forró. Por meio de slides
foi apresentado o histórico e o passo básico do forró. Também foram assistidos
vídeos com as variações do forró. Foram vivenciadas várias atividades com o passo
básico tradicional (dois para lá e dois para cá), passo participa, passo de costas,
forró arrasta pé (passo diferente, para frente e para trás), passo onda ou ondinha e
chuveirinho, sempre primeiro sem e depois com música. Durante a vivência dos
passos, observou-se que como a maioria dos alunos precisavam compreender e
realizar o passo básico, pouco dominaram as variações dos passos.
Na décima aula foi introduzido o assunto a Influência da Mídia e a apropriação
da dança pela Indústria Cultural. Foi lido um texto sobre o assunto e assistido dois
vídeos: Manipulação da Mídia e Influência da Mídia na Sociedade. A partir de três
questões sobre o assunto foi promovido um debate, que teve como mais um recurso
para reflexão a apresentação de uma charge. Foi solicitado ainda, a produção de um
texto sobre o assunto, o qual foi realizado em casa e entregue na aula seguinte. Por
meio dos textos dos alunos foi possível perceber que os mesmos têm consciência da
influência da Mídia que acaba impondo modos de agir e consumir para todos,
reconhecendo que as vezes consomem determinados ‘produtos’ para se sentirem
parte do grupo e porque sentem-se cobrados por todos para estarem dentre dos
mesmos ‘padrões’, no entanto, afirmaram que sabem da necessidade de serem mais
críticos diante do que lhes é imposto pela indústria cultural.
Na décima primeira aula foi iniciado o vaneirão, onde passou-se o histórico
por meio de slides e logo após o vídeo sobre o passo básico desta dança. Como o
vaneirão faz parte das atividades sociais e de lazer da comunidade, vários alunos já
sabiam dançar este ritmo, permitindo que ajudassem os que não sabiam dançar.
Na décima segunda e terceira aula vivenciamos o soltinho, onde foi
apresentado o histórico e depois passado vídeo sobre o passo básico, giro simples,
caminhada e relógio do soltinho. A vivência de várias atividades ocorreu sem e
depois com música.
A décima quarta e quinta aula foi organizada para a vivência da salsa, que
ocorreu por meio do conhecimento da história e características. As aulas estiveram
organizadas para que os alunos realizassem passo básico lateral, passo básico
frente e trás, giro da dama, cross body e giro do cavalheiro, sempre primeiro sem e
depois com música.
Na décima sexta aula, os alunos responderam um questionário sobre as
vivências promovidas pelo projeto de intervenção pedagógica, no qual registraram
suas opiniões sobre o conteúdo, o processo de ensino aprendizagem e a
transposição das vivências para o cotidiano fora da escola. Em seguida vivenciamos
todas as danças aprendidas durante as aulas e no final ao serem questionados
sobre a que mais gostaram, apontaram o vaneirão, o qual dançaram mais uma vez.
Para encerrar foi feito um agradecimento pela participação de todos.
O caderno pedagógico foi organizado com um número de atividades maior do
que necessário para as aulas, pois a ideia foi deixar opções para diversificar as
aulas entre as turmas, portanto, algumas não foram vivenciadas neste momento.
Quantos aos obstáculos, alguns alunos, por nunca terem tido acesso a dança
de salão, tiveram dificuldades na aprendizagem, principalmente os meninos, mas as
meninas da sala ajudaram a sanar estas dificuldades quando estavam dançando a
dois. Quando algum aluno apresentou dificuldades maiores, foram realizadas
intervenções individuais repetindo as movimentações.
Os alunos foram receptivos e colaboraram constantemente nas atividades,
demonstrando vontade de sanar suas dificuldades sem desistirem do objetivo. O 3º
ano demonstrou-se mais motivado até o último dia, inclusive vibrando com palmas
depois do término de cada ritmo que dançaram.
Por fim, na implementação do projeto PDE foi possível promover a vivência
de todos os ritmos propostos, possibilitando que todos os alunos conseguissem
fazer o passo básico de cada ritmo, além de refletirem sobre a questão de gênero e
influência da mídia muito constante no universo da dança. Observando o resultado
do trabalho, é possível considerar que o processo de ensino e aprendizagem foi
‘rico’, sendo uma opção para que no próximo ano outra turma possa vivenciá-lo.
3.2 Contribuições dos Professores Participantes do Grupo de Trabalho em
Rede (GTR)
Quando iniciou o curso do Grupo de Trabalho em Rede (GTR) apresentando
o Projeto de Intervenção Pedagógico aos cursistas, os dezoito participantes
concordaram que a Dança é um conteúdo importante, alguns relataram preconceitos
dentro da escola por parte da equipe pedagógica que chegou afirmar que a
professora estava promovendo “festinha, bagunça e desordem”, além da falta de
apoio e cooperação entre os próprios colegas da escola, que relatam o incômodo do
som, porém, afirmaram que quando o objetivo é promover uma festa/festival/mostra,
toda a escola (professores, funcionários, alunos, equipe pedagógica), apoia o
trabalho e cobra do professor de Educação Física a responsabilidade de preparar e
ensaiar as apresentações, chegando a liberar as aulas das demais disciplinas para
os ensaios.
Também destacaram existir lacunas na formação acadêmica, bem como, as
dificuldades como falta de espaço, falta de material e as vezes alunos que não
querem fazer aula devido a timidez, questões religiosas e de gênero. Seguem
alguns relatos do GTR:
[...] ocorre no colégio onde trabalho, que quando é trabalhado a dança em sala de aula, existe um pouco de resistência por parte de alunos, mas quando tem festival de dança, os alunos se envolvem de maneira natural, onde existe uma parceria de alunos não importando em que ano está, formam grupos e ensaiam no colégio (PROFESSOR A, 2015). Acredito que a dança deveria fazer parte de todos sem preconceito de cor, raça, sexo e religião. Mas alguns pais e alunos ficam a princípio com certo receio, é necessário trabalhar os preconceitos existentes, pois algumas
vezes os alunos não querem participar das aulas de dança por terem em mente que a dança os deixa “afeminados” [...] (PROFESSOR B, 2015). Já trabalhei com dança em sala de aula e uma das maiores preocupações, na minha opinião foi que os pais não pensassem que o professor estaria fazendo bailão, até mesmo professores de outras áreas destoarem com comentários errôneos [...] (PROFESSOR A, 2015). Uma mãe veio falar que o filho não poderia fazer aula de dança por que eles são da ‘igreja x’ onde dança é proibida, e pediu para dar um trabalho em substituição (PROFESSOR C, 2015).
Em outro momento foi solicitado a opinião dos cursistas com relação ao
Caderno Pedagógico e a possibilidade de utilização do mesmo na escola.
[...] está bastante claro, com objetivos bem definidos [...], coloca o conteúdo proposto de uma forma que vem ao encontro com nossos anseios e dificuldades no âmbito escolar (PROFESSOR B, 2015). Muito importante a diversificação dos ritmos e também o aprofundamento teórico sobre cada um, mostrando aos alunos a sua importância para o Brasil (PROFESSOR G, 2015). [...] muito interessante, de grande clareza e importância [...] e também ajuda no cotidiano escolar (PROFESSOR H, 2015). [...] serve de apoio para todos que querem colocar no seu planejamento a atividade dança na escola (PROFESSOR A, 2015). [...] muito interessante e o aprofundamento teórico bastante rico (PROFESSOR I, 2015). [...] conteúdo muito bem construído e bem embasado, um verdadeiro referencial e condutor para que possamos desenvolver também em nossos colégios (PROFESSOR F, 2015). [...] bem didático (PROFESSOR C, 2015).
Diante dos relatos, foi possível perceber a importância do Caderno
Pedagógico, enquanto ferramenta necessária e motivadora para a organização
didático pedagógica no cotidiano escolar.
A última etapa o GTR teve como objetivo socializar o relato das ações
implementadas, fomentando o grupo debater sobre os pontos positivos e negativos
da ação pedagógica desenvolvida, dentre os quais destacamos os seguintes:
É importante oferecer oportunidades de exploração e criação com o corpo envolvendo a dança. Deve estar pautado num processo pedagógico e a dança vem para quebrar esse gelo, que é essa resistência de alguns alunos (PROFESSOR A, 2015). Acredito que uma aprendizagem significativa ocorre efetivamente quando o professor domina o conteúdo, planeja e usa a metodologia possível e disponível (PROFESSOR D, 2015).
Quando nós enquanto educadores mostramos aos nossos alunos a dança além dessa visão limitada, ampliamos seus ‘horizontes’, onde a dança pode ser vista como uma atividade social, prazerosa, onde se amplia também a consciência corporal, estética, a expressividade, habilidades motoras e a relação com o outros, que a dança de salão proporciona de uma forma esplêndida (PROFESSOR E, 2015). O que achei mais válido foi a proposta de nossos alunos serem levados a pensar e reorganizar seus conhecimentos através de reflexões que podemos conduzir bem! É o que precisamos fazer para uma sociedade mais ativa e questionadora (PROFESSOR F, 2015). O preconceito é o maior obstáculo que enfrentamos para colocarmos a dança no dia a dia da escola (PROFESSOR G, 2015). O projeto iniciou meio tímido, pois os alunos do nosso colégio são pessoas tímidas e ousam pouco a fazer coisas diferentes. No decorrer das aulas, por conta de pessoas mais desinibidas, eles foram se soltando. Como ponto positivo forte, vejo a pesquisa e o aprofundamento teórico de algo diferente que nunca ousaram pesquisar. O ponto negativo é que as aulas de dança foram no pátio e como sempre tem alunos com aula vaga por vários motivos, alguns ficavam envergonhados e se recusaram a fazer os passos de dança. No geral, a escola só ganha e eles também. Hoje alguns vem perguntando quando vai ter mais (PROFESSOR J, 2015). Sem dúvida o começo é muito complicado, não é fácil, não temos local adequado, eles tem muito vergonha, mas no decorrer do trabalho é muito gratificante e motivador o fato de os alunos pedir para fazer de novo mostra isso. Temos que ter paciência, nos esforçar que o trabalho acontece (PROFESSOR B, 2015). Embora sabemos, alguns problemas em relação aos alunos ou ambiente na escola, podemos sim promover essa nova situação em âmbito escolar com grande aproveitamento (PROFESSOR A, 2015). Meus alunos são bem tímidos em relação a dançar em pares e foi preciso várias atividades para se soltarem e iniciar o trabalho com a dança de salão, porém de acordo com o desenvolvimento das atividades eles foram descobrindo os passos e tentando melhorar em cada ritmo trabalhado, o debate sobre gênero foi também muito rico. E como é gratificante! Perceber o envolvimento e evolução no trabalho realizado. Nossos alunos possuem potencial muito grande que nem sempre exploramos em sua totalidade (PROFESSOR I, 2015). Todos temos as dificuldades no início deste conteúdo uma vez que nossos alunos não tem o hábito de trabalhar com o mesmo. Porém, quando o iniciamos despertamos uma grande vontade de vivenciá-lo e sempre estar praticando a dança de salão em algumas aulas (PROFESSOR E, 2015). [...] colhi os bons frutos, com a maior socialização de alunos, o gosto pela dança de salão, assim como uma abertura para discussões para as diferenças e o preconceito de gênero, dentre outros pontos positivos também importantes (PROFESSOR K, 2015). Sem dúvida, o projeto de dança de salão é viável para ser ministrado nas aulas de Educação Física, antes de tudo, uma dança social. Vários pontos positivos: material teórico de ótima qualidade, a socialização dos alunos, o crescimento do professor junto aos alunos, sair da teoria levando a dança para a prática, etc. (PROFESSOR L, 2015).
Por fim, de maneira geral observa-se que o principal ponto de dificuldade é a
timidez dos alunos e o espaço inadequado, porém, no decorrer da ação pedagógica
é possível identificar a viabilidade e contribuição das aulas com a dança para a
socialização dos alunos, o fomento à discussão de questões de diversidade e
gênero, bem como, a ampliação de possiblidades pedagógica para os professores.
4. Considerações Finais
Pode-se afirmar que o projeto de Dança de Salão foi de grande valia onde os
alunos mais tímidos participaram das atividades e tiveram vontade de aprender,
ajudando uns aos outros. As meninas que tinham mais facilidades foram
colaboradoras, o que facilitou o processo de ensino e aprendizagem.
Um conteúdo polêmico de ser desenvolvido dentro dos colégios, dado o
preconceito de nossa sociedade, muitas vezes machista e segregativa, contudo, foi
encontrado um caminho interessante a ser traçado por meio de questionários,
debates, apresentação da origem da dança de salão e utilização de recursos
interativos que os colégios oferecem. Os alunos se tornaram mais receptivos ao
trabalho, permitindo promover uma aprendizagem significativa e efetiva,
compartilhando a apropriação de conhecimentos, por meio de estratégias e ações
planejadas.
Quanto ao GTR, foi interessante compartilhar e trocar experiências por meio
dos fóruns. Os cursistas relataram a importância da fundamentação teórica
consistente, mas também, das possiblidades de sistematização de vivências,
portanto, perceberam que é viável o desenvolvimento do conteúdo Dança de Salão
na escola.
Por fim, apesar de observarmos vários pontos positivos em relação à
implementação do conteúdo de Dança de Salão nas aulas de Educação Física,
ressaltamos a dificuldade de desenvolvermos um trabalho pedagógico sistematizado
com todos os conteúdos previstos para disciplina, uma vez que duas aulas semanais
se tornam insuficientes diante da diversidade de conteúdos existentes e descritos
nos documentos oficiais.
Referências
BRASIL, Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. BARRETO, D. Dança...: ensino, sentidos e possibilidades na escola. 3.ed. Campinas-SP: Autores Associados, 2008. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino da Educação Física. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2009. KUNZ, Eleonor. Transformação didático-pedagógica do esporte. 6. ed. Ijuí-RS: Unijuí, 2004. MARINHO, Vitor. O que é Educação Física. 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 2011. NANNI, Dionísia. Dança Educação: princípios, métodos e técnicas. Rio de Janeiro: Sprint, 2008. PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Educação Física. Curitiba: Secretaria de Educação Básica, 2008.