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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE IPORÁ
JAQUELINE MENDES DA SILVA
DEGRADAÇÃO DA MATA CILIAR DO CÓRREGO TAPERÃO NO
MUNICÍPIO DE JAUPACI/GO
IPORÁ
2010
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JAQUELINE MENDES DA SILVA
DEGRADAÇÃO DA MATA CILIAR DO CÓRREGO TAPERÃO NO
MUNICÍPIO DE JAUPACI/GO
Monografia apresentada como exigência parcial para obtenção do
grau de licenciada no curso de Geografia da Universidade Estadual
de Goiás – Unidade Universitária de Iporá.
Sob a orientação do professor Prof. Especialista Gilmar Pereira da
Silva.
Iporá
2010
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JAQUELINE MENDES DA SILVA
DEGRADAÇÃO DA MATA CILIAR DO CÓRREGO TAPERÃO NO
MUNICÍPIO DE JAUPACI/GO
Monografia apresentada como exigência parcial para obtenção do
grau de licenciada no curso de Geografia da Universidade Estadual
de Goiás – Unidade Universitária de Iporá.
Iporá, ___de novembro de 2010
Banca examinadora
Prof. Esp. Gilmar Pereira da Silva
Nome
Prof. Ms. Giuliano Guimarães Silva
Nome
Prof. Ms. Evandro César Clemente
Nome
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Dedico esse trabalho aos proprietários rurais que residem
próximo ao córrego Taperão na cidade de Jaupaci.
Aos servidores da prefeitura de Jaupaci, Saneago e IBGE,
que nos forneceram informações para a concretização
desse trabalho.
Ao coordenador do curso de Geografia que contribuiu com
sugestões enriquecedoras nesse trabalho.
Enfim, dedico a todos que contribuíram diretamente ou
indiretamente para que eu pudesse realizar esse trabalho.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a DEUS por ter me dado a inteligência necessária para
vencer os obstáculos e alcançar os meus objetivos.
Aos meus familiares coluna de nossas vidas e sustentáculo nas horas difíceis.
Aos professores, professoras e coordenadores do Curso de geografia que
compartilharam seus conhecimentos, mostrando as ferramentas com as quais abrirei novos
horizontes, meus sinceros agradecimentos.
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Se não cuidarmos do planeta como um
todo, podemos submetê-lo a graves riscos
da destruição de partes da biosfera e, no
seu termo, inviabilizar a própria vida no
planeta.
Leonardo Boff
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Mapa do estado de Goiás, com ênfase ao município de Jaupaci - GO. ........... 21
Figura 2- Localização da Bacia do Ribeirão Taperão no município de Jaupaci-GO......... 22
Imagem 1 - Ausência de vegetação natural junto ao Córrego Taperão ............................ 24
Imagem 2- Erosão nas margens do Córrego Taperão ........................................................ 25
Imagem 3 - Erosão destruindo o pouco que resta da mata ciliar do Córrego Taperão...... 26
Imagem 4 - Erosão nas margens do Córrego Taperão...................................................... 27
Imagem 5 - Extensa Área Erodida nas Margens do Córrego Taperão ............................. 27
Imagem 6 - Mudança do leito do Córrego Taperão pelo acúmulo de sedimentos...........
Imagem 7 - Sedimentos depositados no leito do Córrego Taperão. .................................
28
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Imagem 8 - Túnel construído sobre o córrego Taperão..................................................... 30
Imagem 9 - Pastagens às Margens do Córrego Taperão................................................... 31
Imagem 10 - Local próximo ao Córrego Taperão danificado pelo efeito das pastagens .. 31
Imagem 11- Uso e cobertura do solo da bacia do córrego Taperão. ............................... 32
Imagem 12 - Barragem da Saneago no Leito do Córrego Taperão. ................................. 33
Imagem 13 - Barragem da Saneago no Leito do Córrego Taperão...................................
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Resumo
Os graves problemas ambientais da atualidade mostram que o homem tem interferido e que
provoca danos ambientais. O objetivo do trabalho foi avaliar as causas da degradação das
matas ciliares do Córrego Taperão, no município de Jaupaci - GO. O município está
localizado no Centro Oeste do Estado de Goiás, ocupa uma área de 527,20 km². Foram
estudadas as matas ciliares que margeiam o córrego Taperão, manancial de onde a
SANEAGO (Sistema de abastecimento de água de Goiás) - empresa responsável pelo
saneamento de água tratada no Estado de Goiás capta a água para fornecer às residências e
comércios no município. As áreas que se apresentam degradadas junto as matas ciliares são
decorrente do tipo de atividade que vem sendo desenvolvidas como agropecuária com criação
de rebanho bovino, principalmente gado leiteiro. Foram realisadas visitas de reconhecimento
do local degradado nas margens do córrego e interior das matas ciliares; registros fotográficos
de ações antrópicas; e entrevistas com os moradores ribeirinhos. Foi utilizada a técnica da
observação direta em campo de forma sistemática, a fim de se obter a informação na
ocorrência espontânea do fato. Verificou-se ocorrência de desmatamento para a formação de
pastagens e práticas inadequadas de cultivo agrícola. O córrego Taperão apresentou ainda
degradação pelo uso de queimadas para renovação de pastagens ou limpeza da terra e esses
problemas que são decorrentes, estão inviabilizando a fauna e a flora desse córrego, bem
como o abastecimento de água para a cidade de Jaupaci.
PALAVRAS - CHAVE: Mata ciliar, Degradação e Córrego Taperão.
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Abstract
The environmental problems of today show that the man has been interfering and causing
environmental damage. The objective was to evaluate the causes of deterioration of riparian
Taperão Stream in the municipality of Jaupaci - GO. The city is located in the Midwest state
of Goias, occupies an area of 527.20 km ². We studied the riparian vegetation bordering the
stream Taperão, where the wealth of SANEAGO System (water supply of Goias) - the
company responsible for the sanitation of drinking water in the State of Goiás captures the
water supply to homes and businesses in the county. The areas that have degraded the riparian
vegetation along are due to the type of activity that is being developed as a farming and
creation of cattle, mainly dairy cattle. Visits were realized recognition site on the banks of
degraded stream and riparian forests of the interior; photographic records of human actions,
and interviews with local people. We used the technique of direct observation in the field in a
systematic manner in order to obtain information on the spontaneous occurrence of that fact.
There was the occurrence of deforestation for pastures and inadequate practices of agriculture.
The stream degradation Taperão also presented by the use of fire for pasture renewal or
cleansing of the land and those problems that are arising are not leading the flora and fauna of
this stream and the water supply for the city of Jaupaci.
KEYWORDS: Riparian vegetion, Degradation, Stream Taperão
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................10
1 REVISÃO DE LITERATURA ..............................................................12
1.1 Erosão .....................................................................................................15
1.2 Queimadas ..............................................................................................17
2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ..................................20
2.1 Metodologia ............................................................................................22
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES.......................................................24
3.1 Identificação dos Principais Impactos Ambientais .................................24
3.1.1 Erosões ...................................................................................................25
3.1.2 Assoreamentos ........................................................................................28
3.1.3 Estradas e Pontes ....................................................................................29
3.1.4 Pastagens as margens dos Córregos .......................................................30
3.1.5 Pocilgas ..................................................................................................32
3.1.6 Barragem ................................................................................................33
CONCLUSÃO ........................................................................................35
RECOMENDAÇÃO ...............................................................................36
REFERÊNCIAS ......................................................................................37
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INTRODUÇÃO
O ser humano, durante as últimas décadas, tem assumido uma atitude destrutiva frente
ao meio natural, em sua corrida em direção ao desenvolvimento, tem criado problemas
ambientais em escala global. O ritmo acelerado do desenvolvimento industrial e a falsa idéia
de que os recursos naturais são infinitos, fizeram com que esses recursos fossem usados de
forma inconsequente, alterando as condições ambientais e comprometendo a qualidade de
vida das futuras gerações (APPEL, 2003, p. 10-11).
O consumo desenfreado pela sociedade contemporânea, a ganância e a
irresponsabilidade das pessoas, que visam tão somente o lucro e a satisfação de suas
necessidades, não se preocupando com as consequências de suas ações para o futuro da
humanidade, tem contribuído decisivamente para a depredação dos recursos naturais,
causando muitos desequilíbrios ecológicos por todas as partes do globo terrestre (NUNES,
2008).
Neste contexto, nascentes de água estão sendo poluídas, terras produtivas
contaminadas, plantas e animais estão sofrendo transformações biológicas irreversíveis, entre
outros problemas que exigem que o ser humano tome consciência de como o planeta vai se
deteriorando para tanto consumo, para tanto desperdício, e procure uma melhor utilização dos
recursos naturais.
A degradação do meio ambiente se distribui por toda parte da terra, afetando também a
região de Jaupaci, que está inserida num dos biomas mais ricos em biodiversidade de todo o
mundo. Esse bioma é o "Cerrado", que vem sendo devastado de maneira drástica, dando lugar
a extensas pastagens e muitas lavouras (NUNES, 2008).
No interior desse ecossistema, se encontra a "microbacia do córrego Taperão", objeto
desse estudo, onde praticamente toda a mata ciliar foi devastada, trazendo sérios impactos
ambientais, como a erosão do solo e o assoreamento do córrego.
A degradação ambiental e a transformação dos habitats pela ação humana é um
assunto que está sempre em pauta nos dias de hoje. Vários autores se dedicam a pesquisar e
escrever sobre o assunto, surgindo assim, inúmeras obras em muitos lugares do mundo. No
entanto, estudos sobre a degradação ambiental no município de Jaupaci são praticamente
inexistentes, e foi isso, que nos levou a realizar esta pesquisa, com o intuito de conhecer a
verdadeira situação do córrego Taperão no município de Jaupaci-GO, onde houve uma grande
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devastação da mata ciliar, trazendo prejuízos para a fauna e a flora da região, além de
contribuir seriamente para o assoreamento e a diminuição de água no local.
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1 – REVISÃO DE LITERATURA
O ser humano transforma a natureza desde a sua aparição sobre a Terra, dela retira
recursos para a sua sobrevivência rejeitando os materiais usados. Essa ação humana vem
destruindo as áreas florestais do planeta numa velocidade alarmante, trazendo prejuízos para a
conservação do solo. Segundo Duarte (2005), é importante analisar a história do homem
juntamente com a natureza para se entender a problemática ambiental existente nos dias atuais
(DUARTE, 2005).
Durante muito tempo, nossos ancestrais conviveram em harmonia com a natureza. Os
seres humanos primitivos moravam em cavernas e se alimentavam da coleta de frutos e raízes,
intervindo o mínimo possível na natureza. Porém com o passar dos anos o homem começou a
depredação do meio ambiente, tornando-se caçador e pescador, usando a pedra e o fogo para
confeccionar instrumentos destinados a caça e a pesca (MARTINS, 2001, p. 45).
Os seres humanos, ao modificar o meio ambiente em busca de meios de subsistência,
deixam de serem simples coletores e caçadores para se transformarem em pastores,
domesticando vários animais. Os seres humanos começaram a modificar mais diretamente seu
habitat, quando passaram a domesticar animais que precisavam de pastagens para se
alimentarem. Fizeram ainda o uso do fogo, provocando a regressão de várias florestas em
favor de espaços mais abertos, substituindo as árvores por plantas herbáceas que brotavam
com facilidade na época das chuvas (DORST, 1973, p. 97).
Com as grandes navegações, os seres humanos atingiram quase todos os cantos do
mundo, deixando para trás um rastro de destruição e massacres. De lá para cá os problemas
ambientais foram aumentando, pois grandes áreas florestais foram devastadas para exploração
de madeiras, produção de alimentos, extração de metais e pedras preciosas para abastecer o
velho continente europeu. Ao drenar os pântanos, ao derrubar as florestas, ao cultivar os
campos e ao inundar os vales, o homem tem inadvertidamente modificado os parâmetros
térmicos, hidrológicos e de atrito da superfície terrestre e a composição química do ar
(CHANDLER, l970 em GREGORY, 1992).
Como se percebe historicamente, em busca da sobrevivência, a humanidade vem
dilapidando rapidamente os recursos naturais, sem se preocupar com o futuro, correndo o
risco de provocar a ruína da civilização atual e até mesmo o extermínio da própria espécie
humana. O ser humano passou a transferir matéria e energia da natureza para a sua vida
cotidiana, o que tem provocado, em um processo evolutivo, ações devastadoras.
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Enriquecemos pela utilização pródiga dos nossos recursos naturais e podemos, com
razão, orgulhar-nos do nosso progresso. Chegou o momento de refletirmos
seriamente sobre o que acontecerá quando as nossas florestas tiverem desaparecido,
quando o carvão, o ferro e o petróleo se esgotarem, quando o solo estiver mais
empobrecido ainda, levado para os rios, poluindo as suas águas, desnudando os
campos e dificultando a navegação (ROOSEVELT, 1908 em DORST, 1973, p. 120).
O ser humano cada vez mais, vem usando sua própria energia e seus próprios recursos
para se proteger dos efeitos causados pelas suas ações contra a natureza, tornando a vida cada
dia mais difícil e penosa, gastando vultosos recursos para tentar amenizar os problemas
causados pelo desequilíbrio do meio ambiente.
(...) o homem modificou a face do globo a ponto de destruir a harmonia do meio em
que estava destinado a viver. Em vez de paisagens equilibradas, em uma escala
humana, criamos por vezes meios hediondos, monstruosos, de onde desapareceram
quaisquer elementos de dimensão humana. A atmosfera física e moral dos habitats
modernos está tão transformada, tão insalubre, que se encontra em contradição
flagrante com as exigências materiais e espirituais da nossa espécie (DORST, 1973,
p. 33).
O ser humano instalou sua história através do imutável processo de ocupação e
transformação do espaço natural. Durante esse processo, construiu-se, o entendimento de que
o desenvolvimento social dependia da capacidade da sociedade em conter a natureza às suas
necessidades e interesses.
Para Casseti (1995, p. 55), "a relação homem-natureza é um processo de produção de
mercadorias ou de produção de natureza. Portanto, o homem não é apenas um habitante da
natureza; ele se apropria e transforma as riquezas da natureza em meios de civilização
histórica para a sociedade."
Evidente ponderar que, mais que explorar e transformar, o homem parece não ter
considerado as necessidades básicas desse “substrato natural” com o qual interage
diariamente. Fato é que solos empobreceram por absoluta inexistência de matéria orgânica e
pela monocultura, espécies animais e vegetais foram extintas, rios secaram ou foram
destruídos pela retirada da vegetação ribeirinha (GONÇALVES, 1989, p. 66).
Conforme Biolat (1977), citado por Casseti (1995, p. 89), "a sociedade está numa
relação direta com a natureza por todo um processo de produção de bens materiais e de
desenvolvimento cultural dos homens, destinado a satisfazer as suas necessidades."
A relação desequilibrada e danosa entre natureza e sociedade também transformou em
intensidade e gravidade, uma vez que a exploração predatória dos recursos naturais sempre
trouxe direta proporcionalidade com a capacidade de intervenção do homem no meio.
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As conseqüências dessa exploração desorganizada já se tornam bastante conhecidas:
enchentes, assoreamento dos cursos de água devido ao desmatamento e ocupação das
margens, desaparecimento de áreas verdes, desmoronamento de encostas, comprometimento
dos cursos de água que viraram depósitos de lixo e canais de esgoto. O que mostra que o ser
humano tem se mostrado incapaz de conviver em harmonia com as demais criaturas. O que
torna mais aguçada a consciência deste problema é a constatação de que o equilíbrio natural
parece definitivamente rompido.
A consciência ecológica não nasce no vazio, antes de tudo de uma dura realidade,
que ameaça derrubar todo um sonho acalentado durante séculos, mas sobretudo nos
últimos decênios: o sonho de o homem enfim tornar-se de fato o senhor de toda a
criação (GONÇALVES, 1989, p. 55).
O modo como os seres humanos se relacionam com a natureza depende do modo
como os homens relacionam entre si, tendo a consciência de não destruir a natureza, pois os
recursos naturais são necessários para a sobrevivência.
As alterações ambientais em suas mais variadas escalas, tem se tornado objeto de
investigação por diversas áreas do conhecimento, considerando, ser um tema que desperta
interesse e preocupação por parte de pesquisadores e também pela sociedade. Tais
preocupações emergem da urgência em serem pensadas e empreendidas ações corretivas aos
problemas que foram desencadeados em função da (ir) racionalidade de utilização dos
recursos naturais existentes (NUNES, 2008).
Mesmo considerando que a degradação ambiental no Brasil remonta ainda ao período
do descobrimento e apropriação do território, e para isto, basta lembrar os ciclos econômicos
que deram sustentação à dinamização econômica do país, tornou-se necessário elaborar
estudos mais sistematizados sobre a ocorrência dos mesmos, bem como pensar, alternativas
para solucioná-los, haja vista, a urgência em resolvê-los.
O uso desordenado do solo também faz parte da pauta de preocupações daqueles que
se envolvem com a questão, pois, à medida que foi se expandindo a necessidade de abrir
estradas, edificar cidades, ampliar as áreas destinadas à agricultura e a pecuária, novas, áreas
foram sendo incorporadas ao processo produtivo. A falta de planejamento, ou a não
observação do mesmo, para racionalizar a utilização dos recursos naturais existentes,
provocou alterações drásticas sobre ambientes naturais, algumas das quais, irreversíveis.
Contudo, os custos ambientais derivados, do processo de modernização da agricultura
brasileira, ocorrido a partir da década 1950, têm contribuído significativamente para os
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índices de dilapidação dos recursos naturais, seja através da retirada e substituição da
cobertura vegetal, do uso intensivo dos solos e também da degradação de mananciais
desencadeando uma série de outros problemas em função da interdependência dos elementos
que o formam (DUARTE, 2005, p. 45-48).
O processo de modernização da agricultura, notadamente a partir da década de 1970,
contribuiu enormemente para ampliar e agravar os desequilíbrios ambientais, naquelas regiões
onde as especificidades próprias do ambiente, limitavam as intervenções humanas, como é o
caso do Cerrado brasileiro.
As matas ciliares1 não escaparam da destruição do meio ambiente causado pela
humanidade provocando todo tipo de degradação para a construção de cidades. Sabe-se que
muitas cidades foram formadas às margens dos rios, como por exemplo a cidade de Jaupaci,
eliminando todo o tipo de mata ciliar, e muitas sofrem hoje com constantes inundações,
poluição, doenças e modificações da paisagem, efeitos negativos dessas ações devastadoras
(CONTI, 1991, p. 68).
As cidades brasileiras, apresentam um verdadeiro “desmonte e degradação”,
promovendo destruição indiscriminada de áreas verdes, canalização de rios e
córregos,compactação exagerado do solo: comprometendo assim a qualidade de vida
da população (CARLOS, 2005 p.33).
1.1 Erosão
A retirada da cobertura vegetal provoca uma erosão acelerada dos solos e com isso, a
cada ano que passa a superfície dos solos cultiváveis vem diminuindo, pois milhões de
toneladas de materiais desagregados são carreados pelas águas das chuvas e pelos ventos para
os locais mais baixos e para o leito dos rios, lagos e oceanos (BERTONI e NETO, 1999, p.
392).
Os materiais arrancados pelas águas vão acumular-se, em quantidades excessivas,
nos fundos dos vales baixos ou nos canais com correntes lentas ou nulas, saturando-
os rapidamente; a erosão acelerada modifica o regime das águas, ocasionando
diminuição da infiltração, baixa dos lençóis freáticos, instauração de um regime
torrencial com enchentes brutais dos rios, o que acentua os processos de degradação
1 Sobre as matas ciliares, Martins (2001, p. 143) considera que é uma das formações vegetais mais importantes
para a preservação da vida e da natureza. Funciona como um filtro ambiental, retendo poluentes e sedimentos
que chegariam aos cursos d´água. Funciona também como um obstáculo contra o assoreamento dos rios, retendo
a terra das margens para que ela não caia dentro deles.
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das terras, que variam infinitamente em função de fatores diversos, especialmente do
relevo, da natureza dos solos, do regime climático e do estado de conservação da
cobertura vegetal (DORST, 1973, p. 95).
Com o solo desnudado, a erosão vai retirando primeiramente a camada superficial rica
em humus, provocando o seu rápido empobrecimento, em seguida vai descamando as outras
camadas, diminuido a infiltração da água no solo. Com isso, o volume de escoamento e a
velocidade das águas aumentam consideravelmente e escorrem segundo as linhas de declive
do solo, provocando pequenos sulcos no terreno, que vão aumentando, até se transformarem
em ravinas profundas, chegando às vezes a formarem imensas crateras, onde a cada chuva os
efeitos são ainda mais desastrosos, causando enchentes e o assoreamento dos rios por causa
do acúmulo acelerado de sedimentos depositados em seus leitos (MEDEIROS, 2002, p. 79-
80).
Perante o exposto, além dos fenômenos naturais, o homem tem provocado mudanças
significativas no meio, que dinamizam os mais variados tipos de processos erosivos.
Pode se dizer que as áreas de matas ciliares cooperam na regulação de escoamento das
águas pluviais, e que funcionam como filtro para diminuição de agrotóxicos nas águas, sem
contar que enfraquecem as perdas de solos e restos de cultura.
No entanto, segundo Guerra (1994), parece ser a intensidade da chuva a maior causa
natural dos processos erosivos, especialmente quando as gotas d'água impactam a superfície
do solo desprotegida. O autor ainda acrescenta que, dentre os fatores que influenciam os
processos erosivos, estão a cobertura vegetal, pela sua maior ou menor proteção do solo e as
práticas de conservação e o manejo do solo.
Como a formação e dinâmica de processos erosivos abrangem fenômenos naturais e
antrópicos, cabe recordar a necessidade de se utilizar a “bacia hidrográfica” como integração
de estudos voltados à abrangência dos processos erosivos.
Os cuidados com o solo em relação à erosão, também devem ser direcionados para
áreas de proteção ambiental, como as áreas de mata ciliar, que têm principal valor, tanto para
a dinâmica das bacias hidrográficas como para a permanência da biodiversidade dos
ecossistemas (NUNES, 2008).
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1.2 Queimadas
Uma prática comum em todo o mundo, desde há muito tempo, são as queimadas
provocadas voluntariamente ou involuntariamente por agricultores e criadores de gado,
ocasionando transformações profundas na natureza (SOARES, 1985, p.213).
Todos os anos os agricultores e criadores usam o fogo para limpar imensas glebas de
terras destinadas a plantações e a formação de pastagens, principalmente porque esse processo
é extremamente barato, e também porque a maioria dos camponenes não dispõe de recursos
para limpar a terra de outra forma.
As queimadas, empregadas como técnicas agropecuárias para renovação de pastagens
ou limpeza da terra também passam a existir como agentes de degradação (ARIAS, 1963, p.
45), induzindo ao empobrecimento progressivo do solo (ARAÚJO, 1985, p. 85).
A primeira vista as queimadas parecem ser benéficas, principalmente para os
criadores, pois provocam a substituição de uma vegetação mais densa, por outra mais
uniforme geralmente graminosa, altamente favorável aos bovinos, além de eliminar parasitas
como os carrapatos e outros mais.
Queimam-se centenas e centenas de alqueires de pastagens todos os anos. O final do
inverno e começo do verão (agosto-setembro) é o período preferido. Em qualquer
região do Brasil, há sempre alguma coisa a queimar; parece que o brasileiro tem o
espírito de "queimador". (GALETI, 1973, p. 187).
As queimadas têm sido altamente prejudiciais ao equilíbrio dos ecossistemas. Regiões
submetidas a fogos correntes durante vários anos apresentam uma vegetação em mau estado,
com árvores esparsas, geralmente retorcidas, algumas moitas definhadas e frequentemente
gramíneas grosseiras. Só sobrevivem ao fogo as plantas mais resistentes, que possuem
vigorosos sistemas radiculares, brotando com facilidade logo que começam as chuvas,
sobressaindo-se neste caso as gramíneas que invade o habitat das outras espécies vegetais
(MEDEIROS, 2002, p.80-85).
O fogo afasta toda e qualquer possibilidade de regeneração das florestas,
principalmente nas florestas mais secas, onde a camada de húmus também é altamente
prejudicada pelo fogo que se propaga, tanto por cima como por baixo do solo, queimando
tudo que encontra pela frente (SOARES, 1979, p. 33-40).
Quando se queima a camada de húmus, a microfauna e a microflora são destruídas,
afetando profundamente a composição dos solos, deixando-os bastante empobrecidos,
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tornando a terra inteiramente esterilizada, dificultando à infiltração das águas das chuvas,
ficando os solos entregues a erosão e ao escoamento das águas devido a ausência da cobertura
vegetal.
A matéria orgânica é fundamental a vida do solo; ela atua na estrutura, granulando
as partículas, tornando o solo poroso, permeável, arejado; solo rico em matéria
orgânica é solto, úmido, cheiroso; a água infiltra-se rapidamente e quase não escorre
pela superfície; é a matéria orgânica que enriquece o solo de nitrogênio, que ativa a
vida microbiana tão importante a um solo." (GALETI, 1973, p. 99).
A ação frequente do fogo que ataca pouco a pouco as árvores leva o desaparecimento
de muitas florestas, causando uma sensível perda de água, surgindo cada vez mais vegetações
do tipo xerofíticas, que aliadas a práticas culturais perniciosas e a um pastoreio excessivo,
acarreta uma aceleração da erosão, podendo desencadear a desertificação progressiva de
regiões inteiras. A destruição das comunidades vegetais no estágio-climax foi muitas vezes o
prelúdio da aridificação, seguida da desertificação total de muitos territórios cedidos a
agricultura e a criação de gado. (TRICART, 1978, p. 45).
O ser humano é o grande responsável pelo agravamento do desequilíbrio planetário e a
sua instabilidade, pois os fenômenos dos quais ele participa e se desenvolve com uma
velocidade impressionante, sempre causa danos a natureza, ocasionando muitas vezes
problemas de difíceis soluções e até mesmo irreversíveis. Segundo DORST, (1973, p. 67) "O
homem, imprudentemente brincou de aprendiz de feiticeiro e desencadeou processos que não
consegue controlar."
Goiás abriga em seu território importantes bacias hidrográficas, sendo também área de
recarga do Aqüífero Guarani. Segundo Galinkin (2003, p. 76):
As condições climáticas, a topografia e a localização central das bacias hidrográficas
dos rios Tocantins, Araguaia, São Francisco e Paranaíba favorecem a implantação de
grandes projetos agropecuários e agroindustriais, instalação de industrialização de
minérios, resultando em atração de populações.
Os recursos hídricos têm merecido foco especial de atenção, por parte de todos os
agentes sociais acima citados. Isto se deve ao risco de escasseamento destes recursos em
quantidade e qualidade, considerando ainda a importância dos mesmos para a manutenção da
vida.
O descomprometimento e a falta de uma conscientização ambiental, bem como a
negligência, em situações que se tornam oportuna têm contribuído sobremaneira para agravar
o problema. Parece ser consenso que, se algumas preocupações não forem tomadas no sentido
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de planejar o uso racional deste recurso, não tardará muito, os conflitos que poderão surgir em
torno do domínio por tais reservas, quando já se fala em “guerras pela água” (MORESCO,
2007).
Somam-se aos problemas já levantados, o estado crítico em que se encontram
enormes áreas anteriormente cobertas pelas matas ciliares, vegetação estas consideradas por
força da Lei 4777/65 Áreas de Preservação Permanente.
Em Goiás, o histórico de dilapidação dos recursos disponibilizados pela natureza
se repete. A degradação da vegetação ciliar provoca efeitos em cadeia, pois ao retirar a
vegetação ciliar que protege as margens dos rios, desestabiliza-se o solo destas áreas,
ocasionando a sedimentação e assoreamento dos cursos d’água, diminuição da água em
quantidade, dada á quantidade de sedimentos que são carreados para dentro dos cursos
fluviais, provocando prejuízos para a fauna e a flora ao eliminar habitats naturais
(MARTINS, 2001, p. 77).
As matas ciliares funcionam como filtros protetores para os cursos d’água, retendo
defensivos agrícolas, poluentes e sedimentos, que são carreados para dentro, provocando a
diminuição da água em quantidade e em qualidade, comprometendo a fauna aquática e
prejuízos para populações humanas. Este tipo de vegetação desempenha ainda a função de
corredores ecológicos, ligando fragmentos florestais, e possibilitando o deslocamento de
fauna entre populações e espécies de animais e vegetais. Em regiões que apresentam
topografia acidentada, a presença da vegetação protege o solo contra a instalação de processos
erosivos (FERREIRA & DIAS, 2004).
As matas ciliares, sendo resguardadas por Lei, como APPs, estando às mesmas em
terras públicas ou particulares, não podem ser utilizadas para fins econômicos, a saber,
constituem áreas de interesse público.
Segundo salientam Ferreira & Dias (2004), as interferências humanas em áreas
cobertas pela vegetação ciliar, além de serem proibidas por legislação específica, causam uma
série de danos ambientais.
20
2 – CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
O município de Jaupaci, também chamado de mato grosso goiano, ocupa uma área de
527,20 km², com clima tipicamente tropical, apresenta um período de seca bem definido e
outro de chuvas regulares. A sede do município está ligada a capital do estado por rodovia
asfaltada a uma distância de 204 km. Sua população perfaz um total de 2.998 habitantes,
sendo que destes, 2376 ficam sediados na área urbana e 622 na área rural.
O Município de Jaupaci é banhado pelo rio Claro, tendo como principais afluentes seis
córrego: Guarda-mor, Mutum, Capivara, Poções, Capim Branco e Taperão, responsável pelo
abastecimento de água para a cidade e foco desta pesquisa.
De acordo com a classificação de Köppen2 o clima regional é o tropical de altitude,
mesotérmico, caracterizado por verões chuvosos e brandos, com precipitação média anual de
1200 mm. As temperaturas médias mensais são sempre superiores a 17°C e inferiores a 24°C,
e a temperatura média anual é de 20,9°C. O período mais frio corresponde aos meses de maio,
junho, julho e agosto, sendo considerados estes dois últimos os meses mais secos do ano
(PREFEITURA DE JAUPACI, 2010).
Em termos pedológicos3, ocorre nesta microbacia a predominância de Latossolos
Vermelho-Escuro e Podzólico vermelho, amarelo. Fazem-se ainda presentes, os Latossolos
Cambissólicos, os Hidromórficos e os Cambissolos (RESENDE & RESENDE, 1988).
Ao abordar sobre a hidrografia do município de Jaupaci, vale salientar que as áreas
destinadas a mata ciliar junto ao córrego Taperão tem uma faixa estreita ou a sua ausência e,
em alguns casos, apenas a presença de capoeira ciliar. A distribuição fundiária deste distrito é
de pequenas e médias propriedades. O uso do solo evidencia uma paisagem recortada, com
áreas de pasto e culturas temporárias (milho, trigo, soja, mandioca) e em algumas
propriedades, há criação de suínos e gado leiteiro, principal atividade econômica do
município.
O trabalho foi desenvolvido no município de Jaupaci localizado na região oeste de
Goiás, no centro do Brasil (figura 1).
2 Classificação climática de Köppen-Geiger, mais conhecida por classificação climática de Köppen, é o sistema
de classificação global dos tipos climáticos mais utilizada em geografia, climatologia e ecologia. 3 O termo Pedologia, tem origem no grego pedon (solo, terra), sendo portanto, o nome que se dá à ciência
que estuda o solo, corpo dinâmico resultante dos processos de alteração e modificação (física, química,
biológica ou antrópica) da rocha ou sedimento à superfície terrestre (RESENDE & RESENDE, 1988).
21
Figura 1- Mapa do estado de Goiás, com ênfase ao município de Jaupaci – GO Fonte: IBGE (2010)
O local de estudo deste trabalho foram as Fazenda Diamantina, o município de
Jaupaci, onde se encontra localizada a nascente do Córrego Taperão e a fazenda Taperão,
onde tem se a foz desse córrego com uma extensão de aproximadamente 7,5 km.
22
Figura 2: Localização da Bacia do Ribeirão Taperão no município de Jaupaci-GO Fonte: Prefeitura Municipal de Jaupaci – GO (2010)
2.1 Metodologia
A metodologia utilizada para execução desse trabalho foi descritiva, envolvendo uma
abordagem quantitativa, qualitativa e um contato direto e prolongado do pesquisador com o
ambiente. Para desenvolver essa investigação, optou-se pela pesquisa exploratória, pois
envolve um levantamento bibliográfico e a busca de informações do tema pesquisado.
Segundo Vergara (1998) a pesquisa exploratória/descritiva. Não tem como compromisso
explicar os fenômenos que descreve, mas sim proporcionar maior familiaridade com o tema.
A pesquisa bibliográfica ocorreu a partir da leitura de livros, artigos em periódicos,
artigos de jornais e da Internet.
Os procedimentos usados para a coleta de dados foram através de visitas, observações
in loco, questionários abertos e entrevistas semi-estruturadas, diagnóstico participativo com a
comunidade e fotografias.
23
Os sujeitos alvos investigados para obtenção de dados e informações precisas para a
realização desta pesquisa, foram representantes da Secretaria de Meio Ambiente do município
mencionado, proprietários de fazendas, moradores da região ribeirinha e outros indivíduos da
comunidade urbana e rural.
O levantamento de dados secundários como passo inicial envolvendo o IBGE,
SANEAGO e prefeitura, configurou-se na exploração de mapas referentes à área pesquisada e
a estudos nas bibliotecas específicas da região.
Foi utilizado como objeto de estudo as matas ciliares que margeiam o córrego Taperão
e seus afluentes, localizado na zona rural do município de Jaupaci.
A partir da análise do material obtido com o levantamento fotográfico da área, foi
possível descrever de uma maneira geral a real situação encontrada na área próxima a
nascente do córrego Taperão, podendo assim indicar alguns métodos para melhor utilização,
prevenção e recuperação desse manancial.
Como o ambiente da microbacia está sendo violentamente alterado, objetiva-se neste
estudo verificar as causas da degradação da mata ciliar que margeia o córrego Taperão no
município de Jaupaci-GO. A seguir no capitulo III apresentaremos algumas discussões e
resultados.
24
3 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
Nas margens do córrego Taperão, nota-se que o impacto ambiental foi de tal monta,
que a vegetação natural encontra-se praticamente extinta. Vê-se que a ação do homem
provocou mudanças consideráveis, alterando profundamente o aspecto natural no local.
Imagem 1 – Ausência de vegetação natural junto ao Córrego Taperão Fonte: MENDES, Jaqueline. (2010)
O emprego de práticas impróprias e degradantes, nas áreas das matas ciliares causou
sérios danos ao meio ambiente e principalmente aos cursos d’água. Estes ficaram vulneráveis
pelos efeitos prejudiciais da erosão, dentre os quais o assoreamento, construção de pontes e
estradas, pocilgas e barragens (MORESCO, 2007).
3.1 Identificação dos Principais Impactos Ambientais
3.1.1 Erosões:
As erosões estão presentes em quase todas as margens dos córregos. Esse fato pode ser
observado na microbacia do córrego Taperão, trecho pesquisado, onde mostra esse fenômeno
intenso que se torna hoje o maior inimigo dos fazendeiros dessa região.
25
Imagem 2 - Erosão nas margens do Córrego Taperão Fonte: MENDES, Jaqueline. (2010)
Todo ano muitos hectares de lavouras e pastagens são destruídos pelas erosões e os
sedimentos desagregados do solo são carreados pelas enxurradas, acumulando nos locais mais
baixos e nos leitos dos córregos, saturandos-os rapidamente e produzindo sérios impactos nos
mananciais.
Segundo BERTONI & LOMBARDI (1990, p. 56):
Erosão é o processo de desprendimento e arraste acelerado das partículas do solo
causado pela água e pelo vento. A erosão do solo constitui sem dúvida, a principal
causa do depauperamento acelerado das terras. As enxurradas, provenientes das
águas das chuvas que não ficaram retidas sobre a superfície, ou não se infiltraram,
transportam partículas de solo em suspensão e elementos nutritivos essenciais em
dissolução (BERTONI &, LOMBARDI 1990, p. 56).
O processo erosivo está em estágio avançado, formando imensas voçorocas nas
margens do córregos da região, como podemos observar nas imagens 3 e 4 na pagina 27 e 5
na pagina 28. A falta da cobertura vegetal do solo favorece sua degradação em relação aos
processos erosivos e contaminação por resíduos químicos dos esgotos ou lavouras.
A presença de uma boa cobertura florestal é uma grande importância para o controle
do processo de erosão, que pode resultar em grandes acúmulos de sedimentos nos
cursos d’água assoreando os mesmos e até mesmo causando a eutrofização de
reservatório. (Schumacher; Hoppe, 1998, p. 44).
26
A cobertura protege o solo das águas das chuvas e impede o surgimento das
voçorocas, ou o seu assoreamento, que ocasionam as enchentes.
Na porção mais central da microbacia do córrego Taperão, formada a partir da
concentração dos elementos humanos no espaço estudado, através da ocupação mais densa,
observou-se maior degradação ambiental do espaço, com várias situações de impacto
ambiental, através da poluição do solo e da água, desmatamento, e sinais de erosão (NUNES,
2008).
Observa-se uma redução da cobertura vegetal, arbórea ou herbácea, através da
expansão da ocupação humana, que se caracteriza como acelerada, sem projeto e sem
acompanhamento de infra-estrutura urbana compatível.
Imagem 3 - Erosão destruindo o pouco que resta da mata ciliar do Córrego Taperão Fonte: MENDES, Jaqueline. (2010)
27
Imagem 4 - Erosão nas margens do Córrego Taperão Fonte: MENDES, Jaqueline (2010)
Imagem 5 - Extensa Área Erodida nas Margens do Córrego Taperão Fonte: MENDES (2010)
O desmatamento da vegetação original em parte considerável desta região deu lugar a
pastagens naturais de capim.
O principal fator que deu origem ao procedimento erosivo foi em grande parte, a
remoção da vegetação natural para criação de pastagens, que deixa o solo à mostra. Para
Moreira e Sousa (1987) a destruição das matas ciliares admite a passagem da erosão
progressiva que seguindo até o barranco, este vai sendo arrastado para o leito dos rios
provocando assoreamento.
28
3.1.2 Assoreamentos
Em virtude das grandes erosões provocadas pelas águas das chuvas, a intensidade dos
assoreamentos dos leitos dos córregos na região é bastante frequente, pois como já foi dito, os
sedimentos desprendidos do solo são carreados pelas enxurradas e depositados em seus leitos,
prejudicando imensamente os mananciais do município de Jaupaci.
Conforme BERTONI & LOMBARDI (1990, p. 66), "a sedimentação é ocasionada
pela erosão: assim, para seu controle e redução de seus efeitos, a solução mais simples é
prevenir e controlar a erosão".
Vê-se que na microbacia do córrego Taperão, os sedimentos transportados pelas
enxurradas podem estar poluindo as águas, pois em seu percurso, transportam fertilizantes
químicos e pesticidas usados na agricultura, como também resíduos de plantas e dejetos de
animais, algumas vezes com bactérias patológicas, que podem interferir na qualidade da água
na microbacia.
Os assoreamentos têm causado muitos problemas na área pesquisada, contribuindo
para o agravamento do balanço hídrico na região. Em alguns casos a deposição de
sedimentos é tanta que chega a mudar o curso das águas, desviando o leito do córrego, como
podemos observar abaixo na imagem 6 e na imagem 7 na pagina 30.
Imagem 6 - Mudança do leito do Córrego Taperão pelo acúmulo de sedimentos Fonte: MENDES, Jaqueline (2010)
29
Imagem 7 - Sedimentos depositados no leito do Córrego Taperão Fonte: MENDES, Jaqueline (2010)
3.1.3 Estradas e Pontes
A abertura de estradas e a construção de pontes são extremamente necessárias para
impulsionar o progresso e integrar as regiões, pois facilitam a circulação de pessoas e
mercadorias indispensáveis ao desenvolvimento de um país. Entretanto, quando são
construídas sem planejamento, podem causar sérios prejuízos ao ecossistema4 de uma
microbacia, pois, para construí-las, a vegetação natural tem de ser removida, facilitando a
ação da erosão e o aparecimento de voçorocas que impede o crescimento da vegetação
(GUERRA, 1994, p. 458).
Dependendo do tipo de solo do lugar, os estragos podem ser irreparáveis, além disso,
as estradas constituem o primeiro indício de depredação de uma reserva florestal, pois
facilitam o trânsito de pessoas em seu interior, que podem contribuir para a destruição da
natureza.
Nas estradas da região do município de Jaupaci, pode-se notar que os impactos
ambientais negativos também ocorrem, pois elas são constantemente atacadas pela erosão,
contribuindo para a destruição da vegetação que está próxima as suas margens.
4 Para DANSEREAU (1999) ecossistema é um espaço limitado onde a ciclagem dos recursos através de um ou
vários níveis tróficos é efetuada por agentes mais ou menos determinados e numerosos, utilizando
simultaneamente processos mutuamente compatíveis que engendram produtos utilizáveis a curto ou longo
prazos.
30
Na imagem 8 pode-se observar uma das estradas que cortam a microbacia do córrego
Taperão.
Imagem 8 – Túnel construído sobre o córrego Taperão Fonte: MENDES, Jaqueline (2010)
3.1.4 Pastagens às Margens dos Córregos
A área da microbacia do córrego Taperão é praticamente ocupada por pastagens para a
criação de gado bovino. Estima-se que a área de pastagem no mundo é de 24% do seu total,
enquanto a área cultivada é de 10%. As pastagens, quando bem planejadas ajudam a controlar
o processo erosivo, pois as gramíneas que as formam, diminuem a intensidade das enxurradas
e ajudam a reter as partículas no solo, impedindo que elas sejam removidas e transportadas
para os fundos de vales ou para os leitos dos rios (APPEL, 2003).
Conforme BERTONI & LOMBARDI (1990, p. 99):
As gramíneas, com sua densidade de hastes e sistema radicular, são bem adaptadas
no controle da erosão, pela sua capacidade de diminuir a intensidade de enxurrada e
prender as partículas no solo contra a pressão da água, formando pequenas
rugosidades no terreno que, agindo como minúsculas barragens, retardam o
movimento da água (BERTONI & LOMBARDI, 1990, p. 99)
31
Na área da microbacia do córrego Taperão, muitas pastagens foram implantadas de
forma desordenada, contribuindo para o processo erosivo. Em muitos casos a mata ciliar foi
toda devastada para a implantação de pastagens, e em muitos locais, não se sabe onde termina
a pastagem e onde começa o leito do córrego, é como se tudo fosse pasto, como podemos
observar nas imagens 9, 10 na pagina 33 e imagem 11 na pagina 34.
As pastagens são as fundamentais razões da destruição das matas ciliares. A maior
umidade das várzeas e margens dos córregos e rios permite melhor desenvolvimento de
pastagens na estação da seca (MARTINS, 2001, p. 45).
Imagem 9 - Pastagens às Margens do Córrego Taperão Fonte: MENDES, Jaqueline. (2010)
Imagem 10 – Local próximo ao Córrego Taperão danificado pelo efeito das pastagens Fonte: MENDES, Jaqueline (2010)
32
Como pode ser observado ainda pela imagem 10, o uso e cobertura do solo da bacia do
córrego Taperão utilizado por pastagem aparece também uma mata e uma expressiva faixa em
capoeira, sendo que esta se origina pela falta de quebra dos arbustos nos pastos.
Na imagem 11 percebe-se o acentuado processo de degradação das matas ciliares em
alguns pontos do córrego Taperão para a formação de pastagens, visando a criação de
rebanhos, principalmente bovinos, onde foi eliminando boa parte da vegetação ciliar.
Imagem 11 – Uso e cobertura do solo da bacia do córrego Taperão Fonte: MENDES, Jaqueline (2010)
Nas áreas de pastagens, com o passar do tempo e também devido ao pisoteio dos
animais as camadas superiores dos solos vão ficando expostas, o que contribui para o aumento
das erosões nestas áreas.
3.1.5 Pocilgas
Uma prática bastante antiga usada pelos proprietários rurais é a construção de pocilgas
nas margens dos ribeirões. Essa prática é bastante prejudicial, podendo causar sérios danos
ambientais, pois os dejetos dos animais contribuem para a poluição das águas e o movimento
constante dos suínos, revolvendo a terra, danificam as margens dos ribeirões, destruindo a
vegetação natural e contribuindo para o processo erosivo (FERREIRA, 2004).
Em muitas propriedades rurais, também é comum os fazendeiros colocarem cochos
próximos as margens dos ribeirões para a alimentação do gado, provocando danos ao meio
ambiente, principalmente porque o gado ao se acumular em volta dos cochos para se
33
alimentarem, provoca um pisoteio excessivo que destrói a vegetação das margens, deixando o
terreno propício para a erosão (GALINKIN, 2003, p. 272).
No trecho pesquisado, a incidência de pocilgas e cochos nas margens dos córregos é
pequena, mas não deixam de acontecer em alguns locais.
3.1.6 Barragem
A construção de uma barragem, embora necessária em muitos casos, como é o caso
específico da barragem da Saneago, construída no leito do córrego Taperão, com o intuito de
captar água para o abastecimento da cidade de Jaupaci, também provoca danos ao meio
ambiente. Na sua construção, como podemos observar nas imagens 12 e 13 na pagina 36, a
vegetação em volta da área foi destruída, e nem sempre consegue se recuperar depois de
concluída a obra, pois o constante movimento de máquinas e pessoas durante a construção
provoca uma compactação do solo, ficando difícil para as sementes germinarem.
Imagem 12 - Barragem da Saneago no Leito do Córrego Taperão Fonte: MENDES, Jaqueline. (2010)
34
Imagem 13 - Barragem da Saneago no Leito do Córrego Taperão
Fonte: MENDES, Jaqueline. (2010)
O extermínio da mata ciliar nas margens do córrego Taperão, comportou o aumento da
sua largura, avançando contra os barrancos, devido o solo ser arenoso, o que promove a
progressão da erosão.
Diante das ações provocadas pelo homem, que alterou o aspecto natural na microbacia
do córrego Taperão, vê-se a necessidade de medidas que possam minimizar esse quadro de
degradação em que se encontra.
35
CONCLUSÃO
O ser humano sempre viveu procurando progredir, mas às vezes em nome do
progresso, ele atropela as leis naturais, destruindo a harmonia do meio ambiente e
prejudicando seu habitat. Percebe-se isso durante a execução deste trabalho, onde foi
identificado constantes casos de agressão à natureza, desencadeados pela ação humana que
consciente ou inconscientemente provocou mudanças no meio natural, prejudicando o
equilíbrio na região.
Considerando a importância de preservar o meio ambiente, vê-se a necessidade de
desenvolver potencialidades para o surgimento de defensores do meio ambiente e da saúde da
população, para recuperação das áreas degradadas e lutando pela conservação das áreas ainda
preservadas.
Através dos dados levantados, pode-se conhecer com mais amplitude as formas
antrópicas dos impactos na microbacia, onde constatamos que tais impactos foram
provocados pelo desmatamento indiscriminado da mata ciliar e pelo uso incorreto do solo.
Esses impactos, pelo que podemos constatar, aconteceram ao longo das últimas cinco
décadas, e principalmente no trecho estudado, os problemas são graves.
Os fazendeiros da região por falta de orientação e planejamento na ocupação e uso
correto do solo, desmataram praticamente quase toda a área, inclusive grande parte das matas
de galeria, para formação de pastagens para o gado, alterando profundamente o aspecto
natural da microbacia, contribuindo dessa forma para o surgimento de erosões, assoreamento
e diminuição no volume de água na região.
Embora a sociedade esteja numa relação direta com a natureza por um processo
produtivo, destinado a satisfazer as necessidades humanas, o homem não pode pensar que os
recursos naturais são inesgotáveis, ao ponto de durante anos e anos usá-los
indiscriminadamente e sem controle.
Os graves impactos ambientais na microbacia do córrego Taperão, aconteceram em
virtude da falta de planejamento dos proprietários rurais, que tentando aproveitar ao máximo
suas terras, devastaram áreas que deveriam ser de preservação permanente, prejudicando os
mananciais e deixando-os entregues a erosão e ao assoreamento.
36
RECOMENDAÇÃO
A primeira vista parece que está sendo recomendado aqui a não utilização das margens
na microbacia para se evitar os variados impactos ambientais, mas a intenção não é essa, ao
contrário, as margens podem ser ocupadas, mas de maneira planejada e controlada, deixando
o mínimo possível da vegetação natural exigida pelas leis ambientais, para a proteção e
conservação dos mananciais.
Para que aconteça novamente o equilíbrio ambiental na microbacia do córrego
Taperão, algumas medidas precisam ser adotadas com vistas a recuperar, principalmente as
partes mais degradadas.
As nascentes e as margens que foram desmatadas, precisam ser reflorestadas o mais
rápido possível, pois são áreas de preservação permanente e de fundamental importância para
manter o balanço hídrico na região.
A instalação de lavouras não devem ser tão próximas as margens e as encostas, pois
isso permite que as águas das chuvas carreguem grandes quantidades de sedimentos, insumos
e agrotóxicos, poluindo e assoreando os leitos dos córregos. Deve-se deixar uma faixa de
vegetação natural em cada margem, pois essas matas têm o papel protetor contra o transporte
de sedimentos e evitam a erosão das margens.
As pastagens também não podem ser instaladas ao longo das margens, indo até quase
dentro dos leitos dos córregos, pelo mesmo fato de que os mananciais e suas margens ficam
sem proteção natural, que podem provocar uma maior evaporação das águas e também
facilitar a poluição, a erosão e o assoreamento.
A construção de estradas, pontes, aterros e barragens na área da microbacia do córrego
Taperão deve ser planejada e bem estruturadas, sem destruir as matas que servem de proteção,
uma vez que as modificações podem prejudicar o equilíbrio na região.
As pocilgas e os currais não podem ser construídos nas margens dos córregos, pois
contribuem para a poluição, além disso, o pisoteio excessivo dos animais danificam grandes
áreas próximas a essas construções.
37
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