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UNIVERSIDADE ALTO VALE DO RIO DO PEIXE – UNIARP
CURSO DE PEDAGOGIA
SIBELE BALDICERA
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS ADOTADAS
CAÇADOR/SC
2010
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SIBELE BALDICERA
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS ADOTADAS
Trabalho de conclusão de curso apresentado como
exigência para obtenção do titulo de licenciado em
pedagogia, ministrado na Universidade Alto Vale do Rio
do peixe – UNIARP, Caçador, sob orientação da
professora Msc. Sonia de Fátima Gonçalves.
CAÇADOR/SC
2010
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AGRADECIMENTO
Agradeço primeiramente a Deus. Hoje neste dia muito especial, mais uma
etapa da minha vida se encerra, fim de uma caminhada diária de quatro anos em
que tivemos a oportunidade de vivenciar alegrias e tristezas. E nesta caminhada
tivemos a presença constante de Deus a nos apoiar e nos orientar. Palavras são
incapazes de expressar a gratidão que existe em nosso coração por todo bem que
fez e ainda fará por nós. Ele que em todos os momentos de nossa vida nunca nos
abandonou. Nos momentos de alegria e tristeza, lá estava Ele a nos proteger, assim
como nos momentos de sufoco (que não foram poucos). Ele estava sempre
presente nos acompanhando, nos ajudando, nos amparando, e é graças a Ele que
hoje estamos aqui, juntamente com nossos familiares e amigos de jornada,
comemorando mais essa conquista. E com a certeza de que nunca vai nos
desamparar na caminhada futura. Agradecemos por nos proporcionar todos esses
anos de grandes lutas e vitórias, pois sem Ti, nada somos, e nada podemos. Deus
Obrigado!
Agradeço aos meus pais, Auri e Ivanete, e a minha família. Hoje, neste
momento especial, envolto em clima de encantamento e sonho, procuro seus olhos
na platéia. Os mesmos olhos que, ansiosos, acompanharam meus primeiros passos.
Olhos que me viram crescer e passaram noites velando o meu sono agitado. Olhos
preocupados ao ver que eu não era mais criança e aos poucos ganhava o mundo.
Olhos que brilharam com minhas novas conquistas. Olhos intensos, ternos, que
transmitiram a força necessária nos momentos críticos. E quando encontro seus
olhos na platéia, orgulhosos, conseguem ler no meu rosto as palavras que a emoção
me impede de dizer: Obrigada!
Agradeço ao meu namorado Sidney. Você que entendeu minha ausência,
aceitou minhas omissões, compartilhou minhas lágrimas e sorrisos, dividimos, agora,
o mérito desta conquista. As alegrias de hoje também são suas, pois seu amor e
carinho foram às armas desta vitória. Obrigada!
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A minha orientadora Sonia Gonçalves. Ser Professora é muito mais do que
transmitir o conhecimento. É aquela que ensina com dedicação e paciência, é
aquela que quebra o nosso galho, é agir com simplicidade, com companheirismo,
estar sempre disposta a te ajudar a qualquer hora, enfim toda essa característica se
resume á você, não é a toa que posso afirmar que você não é somente professora e
sim uma grande amiga. Obrigado por tudo!
As minhas queridas amigas, quero agradecer os grandes momentos de
alegria e também os de tristeza que compartilhamos. Acabamos de vencer uma
batalha, dentre muitas com as quais haveremos de nos deparar. Neste momento,
conquistamos uma vitória, por vários anos passamos por dificuldades, insegurança,
erros, acertos, vitórias e alegrias. Mas, chegamos ao final com a certeza do dever
cumprido. Muitas lutas nos esperam, e que tenhamos sempre em mãos essa força
que nos trouxe até aqui e que agora nos leva a seguir caminhos diferentes. A
saudade de todos e a esperança de um breve reencontro estarão sempre em
nossos corações. Cada um levará consigo o caminho, a saudade e o carinho de
todos aqueles que nesses anos se tornaram mais que simples colegas.
Agradeço ao Jean Carlo Ribeiro e Telmo Francisco da Silva. Impossível
esquecer! A estrada foi longa, em vocês encontrei a força e o incentivo necessário
para que continuasse a caminhada. Obrigada!
E, a todos que sempre torceram por mim, muito obrigada.
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“Antes do compromisso, há hesitação, a oportunidade de recuar;
uma ineficiência permanente. Em todo ato de iniciativa (e de criação),
há uma verdade elementar Cujo desconhecimento destrói muitas idéias
e planos esplêndidos. No momento em que nos comprometemos de
fato, a providência também age. Ocorre toda uma série de coisas para ajudar, coisas que de outro modo nunca ocorreriam.
Toda uma cadeia de eventos emana da decisão, fazendo vir em nosso favor todo tipo
de encontros, de incidentes e de apoio material imprevistos, que ninguém poderia sonhar que
surgiriam em seu caminho. Começa tudo o que possas fazer,
ou que sonhas poder fazer. A ousadia traz em si o gênio,
o poder e a magia.” (GOETHE, 1997)
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RESUMO
O presente trabalho apresenta discussões sobre dificuldades de aprendizagem em crianças que são adotadas. Numa abordagem qualitativa, enfoca a relação dos alunos que vêm apresentando dificuldades na aprendizagem objetivando compreender se crianças adotadas apresentam mais dificuldades de aprendizagens em relação aos demais, identificação do olhar do professor e da escola em relação a essa questão, o contexto familiar em que vive o aluno e o comportamento familiar frente tal problemática. A formação de uma rede, para além da família nuclear, permite ao aluno desenvolver uma identidade grupal, um sentimento de pertencimento, de validação, e ao mesmo tempo a possibilidade de diferenciação e de crescimento. Sendo assim, a dificuldade na aprendizagem se transforma em oportunidade de aprendizagem para a família, no tocante a seus processos de relacionamento interpessoais, e para os professores e a escola refletirem sobre os resultados de sua ação educacional, repensando a prática pedagógica e inscrevendo a possibilidade de novos procedimentos. Palavras-chave: Escola, Dificuldades na aprendizagem, Família.
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ABSTRACT
The present work presents quarrels on difficulties of learning in children who are
adopted. In a qualitative boarding, it focuses the relation of the pupils who come
presenting difficulties in the learning objectifying to understand if adopted children
present more difficulties of learnings in relation to excessively, identification of the
look of the professor and the school in relation to this question, the familiar context
where it lives the pupil and the familiar behavior front such problematic one. The
formation of a net, stops beyond the nuclear family, allows the pupil to develop a
group identity, a feeling of belonging, validation, and at the same time the growth and
differentiation possibility. Being thus, the difficulty in the learning if transforms into
chance of learning for the family, in regards to its interpersonal processes of
relationship, and for the professors and the school to reflect on the results of its
educational action, rethink practical the pedagogical one and inscribing the possibility
of new procedures.
Key Words:: School, Difficulties in the learning, Family.
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SUMÁRIO
RESUMO............................................................................................................ 04 ABSTRACT ....................................................................................................... 05 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 07 CAPITULO I....................................................................................................... 10 1 REVISÃO TEÓRICA...................................................................................... 10 1.1DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE DA CRIANÇA ..................... 10 1.2 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM........................................................ 21 1.3 O PAPEL DA ESCOLA ................................................................................ 25 1.4 O PAPEL DA FAMILIA ................................................................................ 27 1.5 A FAMÍLIA COMO REFERENCIA NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE .. 28 1.6 AS RELAÇÕES FAMILIARES E A APRENDIZAGEM ................................ 30 1.7 A LEI DE ADOÇÃO ..................................................................................... 31 1.8 QUESTÕES REFERENTES A ADOÇÃO, CRIANÇAS ADOTADAS........... 37 CAPITULO II ..................................................................................................... 42 2 METODOLOGIA ............................................................................................ 42 2.1 ANALISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ......................................... 42 2.1.1 Entrevista realizada com psicóloga.............................................. 42 2.1.2 Entrevista realizada com pais....................................................... 49 2.1.3 Entrevista realizada com professora ........................................... 54 2.1.4 Entrevista realizada com Direção/Orientação ............................. 56 CAPITULO III .................................................................................................... 57 3 RELAÇÃO DO TEMA COM O CURSO DE PEDAGOGIA............................. 57 CONCLUSÃO..................................................................................................... 60 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 62
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INTRODUÇÃO
Para a sociedade a adoção ainda é cercada de estigma tendo um caráter de
inferioridade. Os conflitos da família adotiva são muitas vezes naturais e vistos em
qualquer organização familiar, mas são extremamente mais pontuados e notados
nestas.
Quando se desconhece ou se tem confusa as implicações que envolvem a
decisão de adotar o filho, difícil se torna assumir a história de adoção familiar.
Posição esta que tem raízes em idéias e conceitos interiorizados, que dificultam o
compromisso e a responsabilidade de assumir para o social que se tem um filho
adotado.
As repercussões do não revelar a verdade sobre a adoção podem assumir as
mais diferentes apresentações. Uma relação mediada pela desconfiança dos filhos e
pelo medo dos pais é percebida através de desorganizações de ordem
comportamental, emocional, e em alguns casos, até desorganizações
psicossomáticas.
Uma forma particular dessa repercussão é a apresentação de dificuldades no
processo de aprendizagem. É natural que, para sinalizar os sentimentos de
instabilidade, desconfiança e desconforto a criança encontre uma saída
emocionalmente mais econômica, do que a hostilização para com os seus pais
adotivos. A criança opta portanto, de forma inconsciente, a sinalizar sua
problemática através do baixo desempenho escolar, e, particularmente na
capacidade de leitura e escrita.
A criança e o jovem adotivo apresentam, em geral, comportamentos de:
distanciamento com o objeto do conhecimento, alheamento acompanhados de
fantasias, dificuldade em enfrentar os desafios do aprender, pouco desejo para
conhecer. Através desses parecem indicar a necessidade de se assegurarem com
regularidade do vínculo com o outro, seja professor ou seus pais adotivos para
explicitar o conhecimento.
Justifica-se o tema pelo fato de que criança ou jovem com freqüência
apresenta problemas de aprendizagem, visto ser o desejo em “conhecer” ser
atravessado pelo desconhecimento da causa de seu abandono pela mãe biológica.
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Assim instala-se em seu ser uma região do “desconhecido”. Em geral o luto e a
perda de não ter sido querido abre portas para um dos mais doloridos
questionamentos do ser humano: Quem sou? Qual é o meu lugar no mundo? Fui
amado por minha mãe biológica?
A curiosidade natural para conhecer sobre si e sobre os outros, o impulso
epistemofílico da curiosidade, muitas vezes gera fantasias sobre o que conhece e,
quando reprimidas, podem até comprometer a possibilidade para o saber através da
aprendizagem. Considerando que a primeira figura parental que manteriam contato
– a mãe – que oferecer-lhe-ia o “espelho” para que iniciasse o processo de
vinculação e a conseqüente identidade, foi, por assim dizer, “quebrado”, pois foi
abandonado e desta feita sente-se não querido. Por conseguinte o seu processo de
identidade se projeta numa imagem fragmentada e, sobretudo, distorcida. Para ele
desponta um questionamento: como estabelecerei vínculo com os outros para
aprender, para saber, para conhecer?
Os problemas emocionais e escolares, apresentados por adotados e não
adotados, dependem de uma multiplicidade de fatores que interagem em conjunto e,
desta forma, é metodologicamente complicado o isolamento de cada uma das
variáveis de interesse, como por exemplo: herança genética, cuidados pré-natais,
reações à separação da mãe biológica, nível social e econômico dos pais adotivos,
cuidados maternais recebidos antes da adoção, número e qualidade dos locais de
acolhimento prévios à adoção, idade em que ocorreu a adoção, atitudes dos pais
adotivos em relação à infertilidade, preconceitos e estereótipos sociais, cultura e
país de origem da criança adotada etc;
O objetivo principal do trabalho é estudar as dificuldades de aprendizagem em
crianças que foram adotadas. E os objetivos específicos são: Descrever a
importância da família na construção da identidade, descrever a importância da
família na aprendizagem da criança, identificar as dificuldades de aprendizagem em
crianças adotadas e construir uma nova percepção do conceito de adoção.
O primeiro capítulo do trabalho apresenta referencial teórico referente as
dificuldades de aprendizagem, incluindo conceitos importantes referente ao tema,
enfatizando a questão da adoção, até chegar a temática principal que seria o
problema de aprendizagem e as crianças adotadas.
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O segundo capítulo descreve a metodologia utilizada, e os resultados obtidos
com as pesquisas realizadas, assim como também uma análise dos dados
coletados.
E para concluir o trabalho o terceiro capítulo faz uma relação do tema com o
curso de pedagogia, enfatizando a importância em discutir o tema, nas disciplinas
ministradas no decorrer do curso, que pode contribuir para a formação de um
profissional da educação cada vez mais capacitado e preparado para a realidade do
dia-a-dia.
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CAPITULO I
1 REFERENCIAL TEÓRICO
Adotar alguém é mais do que suprir necessidades físicas e materiais. É
respeitar o adotado enquanto pessoa e contribuir para sua maturação, conservando
e transmitindo sua origem.
Já dizia o poeta que adotar é gestar uma criança no coração. Vários aspectos ditos, não ditos, bem ditos e mal ditos acompanham pais adotivos, pais doadores, os filhos adotados (a priori rejeitados), e toda essa placenta social que envolve tal trama. Porém, quer seja gerado no ventre, quer seja gerado no coração, os filhos precisam ser adotados pelos pais. (SCHETTINI, 1999, p. 14)
Isto significa dizer que, ser pai/mãe implica em tornar-se responsável pelo
desenvolvimento total de um indivíduo, que por conseguinte acarreta numa série de
fatores que nem sempre são cogitados pelos pais. Entre estes se encontra o famoso
questionamento tão comum às crianças: “– De onde eu vim?”. Perante esta
pergunta, alguns pais podem apresentar dificuldades em revelarem quais suas
verdadeiras origens, revelar as particularidades de sua chegada à família, revelar,
enfim, que são adotados.
A aparência da adoção tem sido moldada de acordo com certos ideais
sociais, entre eles o de que a família composta por adoção seria de segunda
categoria e, portanto, tudo deveria ser feito para que a diferença entre a família
adotiva e a família composta por laços de consangüinidade fosse negada. A mãe
adotiva passa a viver um momento paradoxal em que ao mesmo tempo vive a
realização de ser mãe, mas deve pagar o preço do segredo. (Motta, 2001).
A escola constitui-se em espaço fundamental para trabalhar os valores
humanos que irão desenvolver o cidadão integral, e, como tal, precisa estar
preparada para assumir este papel. Precisamos estar conscientes da importância
do contexto das relações sociais que existem nas salas de aula, que serão
responsáveis, em grande parte, pelos processos de socialização de nossos
cidadãos; os valores são também transmitidos de maneira implícita (currículo oculto)
com uma linguagem simbólica e não explícita.
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Paulo Freire afirma que “ninguém educa ninguém e ninguém se educa
sozinho: as pessoas se educam na comunhão” (in Crema, 1991). Todos estão
familiarizados com a expressão: “o país precisa educar os homens”. Isto significa
educação como socialização, isto é, educação como um veículo de condicionamento
social. Um indivíduo não pode ser verdadeiramente inteiro sem uma percepção total
do mundo, um sentimento de fraternidade.
O imaginário popular mantém mitos que falam de taras genéticas, atribuem
nomenclaturas discriminatórias, tais como “ele ou ela não é pai ou mãe verdadeiros”,
o que dá margem a supor que os pais adotivos estão ocupando um lugar falso,
usurpado. Em suas considerações sobre a criança adotiva na psicoterapia
psicanalítica, Levinzon (1999) menciona que a maioria das pessoas não possui em
suas representações conscientes de família o tema da adoção. Dessa forma,
quando uma família passa a vivenciá-la, o meio social, geralmente, a percebe como
estando a exercer um papel inesperado, causador de estranheza.
Considerando que o aprender é um processo de apropriar-se ativamente do
objeto do conhecimento através da relação com o outro, Wallon (1975) assinala que
o meio mais importante para a formação da personalidade é o meio social. Então
uma outra questão surge: Como a criança ou o jovem adotivo realiza o processo de
sua identidade é algumas vezes difusa, como aprender com o outro?
O processo de adoção, segundo Levinzon (2004), envolve conteúdo de perda
ou rejeição pela mãe biológica. O luto deixa marcas que determinam a capacidade
que a criança adotiva tem de vincular-se ao outro e, portanto, no conhecer. Na
clínica psicopedagógica o luto, traduz-se muitas vezes na impossibilidade de
simbolizar o conhecer, e ao desrealizar o pensar provoca uma fratura, um sintoma
de não-aprendizagem, um problema de aprendizagem.
Fernandez (1991) ao realizar uma leitura clínica psicopedagógica do mito de
Édipo, apresenta uma reflexão que aponta caminhos. Para a autora “... Édipo 'não
sabe' quais são seus verdadeiros pais, desconhece que aqueles que se mostram
como seus pais não o são. O desconhecimento está ocupado por um falso
conhecimento” (p.39). Se instala na criança ou jovem adotivo um conhecimento não
verdadeiro, o “desconhecido” obscurece o seu conhecer.
A mesma autora assinala ainda a situação do casal que, ao não se conformar
com a sua infertilidade, transforma em segredo a origem do filho adotado. De certa
forma, impedem ao filho de desenvolver uma atitude investigadora, obstruindo a
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possibilidade de simbolizar. Nesse padrão de esconder conhecimentos não
favorecem a confiança na relação afetiva e social com o outro.
Em muitas ocasiões as crianças e jovens adotivos infringem regras de
relacionamento na tentativa de provar a perenidade dos vínculos afetivos, como se
fosse um teste para existir na relação com o outro, para provar a sua identidade.
Pode ser fundamental ter a compreensão destes testes para educadores e pais,
para entender que este é apenas um recurso que encontram para elaborar suas
angústias sobre sua identidade na relação social.
Levinzon (2004), sustentando-se em Klein (1921), indica pontos relevantes
para a questão da identidade da criança adotiva. Sustenta que, quando a
curiosidade natural e o impulso para pesquisar o desconhecido esbarram na
oposição, todas as investigações são reprimidas; assim, a criança teme defrontar-se
com aspectos proibidos ou pecaminosos. A criança adotiva desenvolverá uma certa
aversão à busca do conhecer e a curiosidade pode aparecer de maneira
extremamente superficial.
Segundo Woiler (1987) citando Gibert (1981) que as crianças adotivas:
Apresentam problemas de aprendizagem, como se, para eles incorporar conhecimentos se constitui um grave problema: investigar coisas e aprender São elementos que parecem caminhar juntos. O investigar está relacionado com o perguntar por suas origens, interrogação esta que foi proibida ao adotado, por seus pais. O aprender aparece simbolizado em uma destas três possibilidades: mete-se onde lhe é proibido; descobrir algo que os demais não querem ou permitem que se saiba; meter-se em algo que, além de não ser para eles, é mau (p.98).
Apresentam problemas de aprendizagem, como se, para eles incorporar
conhecimentos se constitui um grave problema: investigar coisas e aprender São
elementos que parecem caminhar juntos. O investigar está relacionado com o
perguntar por suas origens, interrogação esta que foi proibida ao adotado, por seus
pais. O aprender aparece simbolizado em uma destas três possibilidades: mete-se
onde lhe é proibido; descobrir algo que os demais não querem ou permitem que se
saiba; meter-se em algo que, além de não ser para eles, é mau (p.98).
Woiler (1987), após analisar e estudar vários casos de crianças adotivas com
problemas de aprendizagem, conclui que estas ao apresentarem inibição intelectual
acompanhada, algumas vezes, de comportamentos relacionados com a
hiperatividade.
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A criança ou o jovem adotivo com problemas de aprendizagem, por vezes
parece ser uma luta para ser autônoma no aprender, para ter escolhas, mas num
cenário inerente a sua condição - um universo conhecido e por outro desconhecido.
A adoção não é um trauma mas uma solução para os filhos que foram escolhidos e
amados, para os pais que obtiveram um lar, e para os psicopedagogos e
educadores uma oportunidade rica de investigações sobre o processo de
aprendizagem e seus problemas.
Certos trabalhos sobre crianças adotadas mostram que, após período de
adoção em meio favorável, essas crianças se classificam muito melhor,
intelectualmente, que seus pais verdadeiros. Nessa mesma ordem de idéias
Freeman (p. 221), mostrou que o rendimento escolar dessas crianças era tanto
melhor quanto mais cedo fossem adotadas e mais favorável fosse o meio
pedagógico.
Ao falar de dificuldade de aprendizagem como “sintoma”, faz-se interessante
evidenciar que esta seria uma dificuldade secundária. Barone (1993, p.27), fala de
dois tipos de dificuldade de aprendizagem, uma primária caracterizada como
síndrome, por estar ligada a processos instrumentais; e outra secundária, que seria
decorrente de outras dificuldades, caracterizando assim um sintoma. Tal explanação
nos leva a crer que quando a criança adotada passa por momentos de conturbação
emocional devido à falta de clareza nas suas relações parentais, ela tende a
apresentar dificuldades de aprendizagem.
Cahú (2002) observa que dificuldades relacionadas à aprendizagem,
conhecidas como desajustes escolares, quando associados ao segredo da adoção,
tem todo um simbolismo ligado ao que o filho é proibido de saber, ao que é vetado
tomar conhecimento, por ser considerada suja, indigna e vergonhosa a história de
origem do filho adotivo. Assim sendo, a problemática passa pela dificuldade de
memorizar, pensar e elaborar pensamentos e emoções. A esse pensamento pode-
se consubstanciar uma detectação feita por Piccini (op. Cit., p. 122), em que a
autora percebe dificuldades em crianças adotadas em contar ou inventar histórias e
fazer associações verbais. Isso segundo a autora seria reflexo das dúvidas e
angústias pessoais vividas no decorrer de sua própria história.
Baseando-se nisso surge o questionamento: como essas crianças podem
fazer inscrições do mundo se nem ao menos conseguem inscrever no mundo suas
histórias?
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Tal dificuldade também é apontada por Barone (1993, p.27) quando diz que a
aprendizagem da leitura e escrita coloca à criança questões muito particulares a
respeito de seu lugar no mundo. Logo, para se saber qual é este devido lugar,
precisa-se saber primeiro quem se é, para a posterioridade, saber como e quando
desempenhar os papéis que serão assumidos. Tomar conhecimento da história da
adoção possibilita o equilíbrio do desenvolvimento humano, já que não se terá
espaço para os vazios, as lacunas, que são tão comuns a quem desconhece sua
história.
Em uma leitura Psicanalítica das dificuldades de aprendizagem, Gibello
(1986) e Pain (1988), citados em Barone (1993, p.20), defendem que estas podem
ter origem na vida psíquica, sendo resultante de uma interação de processos
cognitivos e simbólicos, tendo o inconsciente grande papel nesse processo. Com
isso reflete-se que não é por acaso que as dificuldades escolares na criança que
desconhece sua condição de adotado manifestam-se com maior incidência na área
da linguagem. Isto porque a linguagem está na constituição do homem enquanto
sujeito. A forma como a criança irá aprender está diretamente ligada à organização
psíquica pela qual teve acesso à realidade.
O domínio da leitura e escrita se dá a partir da construção de um sistema de
representação da linguagem (FERREIRO, citado em BARONE, p.29), que nada
mais é do que um sistema de representação social. Ao ter sua origem camuflada,
ocultada ou transformada, a mensagem que a criança traduz é que não deve
conhecê-la ou que deve esquecê-la. Não deve saber para não transmitir algo que é
tido como ruim. E como a leitura tem relação irremediável com a subjetividade, a
repercussão será notada em situações que necessitem produções, elaborações e
demonstração de emoção, como afirma Barone (1993, p.38).
Outra consideração importante a se fazer seria em relação ao Édipo. Sabe-se
que a idade em que a criança começa seu processo de alfabetização coincide com a
época em está passando pelo Complexo de Édipo. Tanto o Édipo quanto à
alfabetização são fases marcantes e estruturantes, uma para o desenvolvimento
psicológico e outra para o desenvolvimento cognitivo, e ambas trazem consigo seus
conflitos normais e particulares.
Cahú (citado em BARONE, op. Cit., p. 21), traz a idéia de que “aprender
coisas através da visão tem raízes em pulsões voyeuristas4 e articula-se ao desejo
de explorar o corpo materno e à curiosidade relativa aos mistérios da sexualidade”.
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Para esse autor, a aprendizagem está diretamente relacionada ao acesso à cultura e
ao saber, e atrela-se com o Édipo da seguinte forma: Ao passo que a criança lê,
equipara-se ao pai do mesmo sexo e pode voltar a atenção do pai do sexo oposto
(por quem luta pelo amor) para si. Chamar a atenção pela leitura é uma forma
comum de dissimular o desejo edípico. O medo da castração contribui para finalizar
esse complexo, fazendo com que a criança assuma sua identidade sexual e ganhe
como herança o superego.
No inconsciente dos filhos biológicos, esse amor edípico é embarreirado pelo
interdito do incesto. Como os filhos adotivos que têm ciência de sua condição se
vêem com naturalidade na relação parental, esta também acontece. Isto porém não
ocorre com os filhos que apenas intuem essa condição. Nesses casos, o pai do sexo
oposto é tido pelo inconsciente, como um amante em potencial, pois “possivelmente”
não são seus pais os seus genitores, inexistindo assim a barreira do incesto. É
comum encontrar a princípio nessas crianças manifestações de raiva, mas como
esse comportamento decepciona as pessoas que a acolheu (seus pais), na maioria
das vezes, essa raiva é direcionada para outras áreas, como psicossomatizações e
dificuldades escolares (PICCINI, 1993, p. 121).
Por isso para livrar-se das ansiedades causadas por esse conflito, é mais
econômico à criança adotada continuar com atitudes infantilizadas, já que em suas
representações a capacidade de ler o aproxima de uma pessoa adulta capaz de
coabitar com o pai do sexo oposto e perder de vez o amor do possível pai do mesmo
sexo. Como disse Betelhein (em BARONE, op. Cit.); “as dificuldades e erros da
leitura, além de ser significativa para a pessoa, podem constituir-se uma espécie de
mensagem motivada pelo inconsciente e dirigida ao adulto para quem a criança lê”.
Os problemas de aprendizagem têm múltiplas causas, onde o fato de ser
adotado é apenas um dos elementos. Dessa forma educadores e pais devem estar
atentos:
A maneira como a criança chegou à família.
O conhecimento sobre a sua origem, ou, o ocultação da verdade.
A possibilidade de perguntar, ou, se lhe é vedado à pergunta, a
curiosidade, o conhecimento.
Esses aspectos fazem uma diferença significativa no que se refere a uma
análise psicológica do processo do conhecer, e de aprender.
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Videla (1999), enfatiza que o saber é inconsciente, como a história do
passado de uma criança adotada, enquanto que o conhecimento é consciente,
como as informações oferecidas pelos pais adotivos, e os dados registrados no
processo da adoção existente no Juizado.
Quando o saber de uma criança não coincide com o conhecimento que tem
da realidade, forma-se uma contradição perigosa.
Essa contradição transmite à criança a sensação de que a aprendizagem é
perigosa, podendo produzir culpa o fato de querer saber, inibindo assim, sua atitude
de conhecer. O desejo de aprender se fertiliza por meio da curiosidade autorizada,
que em alguns casos, está ausente na criança adotada.
Assim, pode-se concluir que grande parte dos problemas de aprendizagem e
comportamento, que são atribuídos ao simples fato da adoção, em geral se deve,
aos seguintes fatores:
A ocultação da origem da criança e/ou a negação em conversar sobre o
assunto.
A conduta dos primeiros professores das crianças, de seus pais, e
familiares.
As atitudes de estigmatização e marginalização dentro do sistema escolar.
A exclusividade do modelo de filiação biológica, com conseqüente negação
da filiação adotiva, nas aulas e nas representações dos livros escolares.
Refletindo em como o segredo na adoção pode levar a uma dificuldade de
aprendizagem, pode-se imaginar uma situação na qual o filho percebe que é
diferente dos pais (características físicas), e vai em busca de esclarecer as suas
dúvidas com uma figura significativa de referência para ele, os seus pais. Se nesse
momento os pais negam a adoção, a criança fica depositária de um segredo que
não pode revelar. A sua percepção do mundo a sua volta não é validada,
acarretando insegurança e dificuldades em mostrar o que sabe, já que precisa
esconder uma parte tão fundamental de sua história de vida. Aparece a culpa por
saber e a vergonha pelo segredo de sua situação familiar diferente.
Deste modo, no momento em que esta criança ingressa na alfabetização que
simboliza a entrada na sociedade letrada adulta, a ampliação de horizontes além
dos familiares e a autorização de outros ensinantes (professores), poderá ser
penosa a leitura que ela fará de sua família e do seu papel social. A escrita poderá
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ser significada como registro do que ela não deseja gravar e, também, a perda de
alianças já construídas com os pais.
A responsabilidade dos pais é como figuras de ensinantes para o filho, a
dificuldade de aprendizagem impede a maior participação social e o aparecimento
do sentimento de pertencer ao grupo, sendo que ela pode representar o fracasso e
estigmatizar o sujeito.
1.1 DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE DA CRIANÇA
Um dos maiores conhecimentos que Freud trouxe à psicologia foi quando
mencionou que a experiência da infância tem uma forte influência sobre a
personalidade adulta. “O desenvolvimento da personalidade envolve uma série de
conflitos entre o indivíduo, que quer satisfazer os seus impulsos instintivos, e o
mundo social (principalmente a família), que restringe este desejo.” (CLONINGER,
1999, p. 55).
Existem cinco fases universais do desenvolvimento que são chamadas de
fases psicossexuais. Freud acreditava que a personalidade estaria essencialmente
formada ao fim da terceira fase, por volta dos cinco anos de idade, quando o
indivíduo possivelmente já desenvolveu as estratégias fundamentais para a
expressão dos seus impulsos, estratégias essas que estabelecem o núcleo da
personalidade.
Na fase oral, o desenvolvimento ocorre desde o nascimento aos doze meses
de vida. Nesta fase a zona de erotização é a boca, as atividades prazerosas são em
torno da alimentação (sucção). Quando o bebê aprende a associar a presença da
mãe à satisfação da pulsão da fome, a mãe vem a ser um objeto à parte, ou seja, o
bebê começa a diferenciar entre si próprio e os outros. Uma fixação nessa fase
provoca o desenvolvimento de um tipo de personalidade de caráter oral, do qual os
traços fundamentais são o otimismo, a passividade e a dependência. Para Freud, os
transtornos alimentares poderiam se dar às dificuldades na fase oral.
A fase anal ocorre durante o segundo e o terceiro ano de vida, onde o prazer
está no ânus. Nessa fase a criança tem o desejo de controlar os movimentos
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esfincterianos e começa também a entrar em conflito com a exigência social de
adquirir hábitos de higiene. Uma fixação nessa fase pode causar conflitos para o
resto da vida em torno de questões de controle, de guardar para si ou entregar. O
caráter anal é caracterizado pro três traços que são: ordem, parcimônia (econômico)
e teimosia.
São fatos marcantes da fase anal.
1) O pensmento ao nível do instinto é mágico. Diferenciando-se
consciente e inconsciente, de modo que a expressão do pensamento ao nível
instintivo está mais afastado do consciente. Como manifestação instintiva, ao nível
da zona de crecimento, as fantasias se expressam como incorporação e expulsão
dos objetos pelo ânus ( e pela uretra ), assim como antes se fazia pela boca. Oa
objetos são comparados às fezes e à urina.
2) A educação esfincteriana, que teve um grande papel na passagem da
fase oral para a anal, dá à criança a sensação de poder controlar melhor os objetos,
ordenando-os, dispensado-os. O contrôle dos excrementos e a possibilidade de
postergar sua expulsão, dá à criança a sensação de poder controlar seus impulses
instintivos, Isto é, de novo, um fator de integração do Ego e de uma ainda melhor
percepção da realidade externa.
3) A deambulação que se inicia nesta fase, contribui para tornar a criança
mais independente dos pais e a ampliar seu mundo. O maior desenvolvimento do
aparelho muscular possibilita à criança o manejo de brinquedos, o que permite uma
derivação das tensões instintivas – no brincar - e conseqüentemente dá à criança
sentimentos de melhor contrôle de seu mundo de objetos. Em função disto também
se amplia e se fortalece o conhecimento da realidade externa.
4) Inicia-se a linguagem pela simbolização e a criança sente uma maior
poder de contrôle dos objetos e, portanto, da realidade.
5) Aumenta o pensamento consciente e começam a surgir com mais
clareza os elementos do pensamento lógico, embora ainda predomine o pensmento
mágico.
6) Do ponto de vista afetivo, uma característica que vem da fase oral
assume contornos mais nítidos. Os objetos – mãe e pai – são alvo de afetos de dois
tipos – amor e agressão –dependendo da satisfação e da frustração sentida.
Chama-se a isto de ambivalência afetiva . Mais tarde, os impulsos de amor e de
agressão deixam de atuar separadamente. Em face dos objetos familiares os
20
impulsos agressivos se subordinam aos do amor. Isto ocorre no final do
desenvolvimento desta fase.
7) Também nesta fase acelera-se e torna-se mais nítida a formação do
Super-Ego, instância da personalidade que representa a consciência moral e que é
formada pela introjeção das imagens parentais. O Super-Ego vai se completar e
adquirir grande importância no final da fase fálica no período de latência.
Na fase fálica que ocorre dos três aos cinco anos, a área erógena
fundamental do corpo é a zona genital. Freud sustenta que nessa fase o pênis é o
órgão mais importante para o desenvolvimento, tanto dos homens quanto das
mulheres, por isso Freud é fortemente criticado e acusado de ser falocêntrico. O
desejo de prazer sexual expressa-se por meio da masturbação, acompanhada de
importantes fantasias. Nessa fase fálica também ocorre o complexo de Édipo, que
consiste no menino desejar a própria mãe, mas por medo da castração abandona
esse desejo, igualmente ocorre com a menina mudando apenas os papéis, onde o
pai seria o seu objeto de desejo. Uma não resolução nessa fase pode ser
considerada como a causa de grande parte das neuroses.
A psicanálise certifica que a fixação na fase fálica tem como conseqüência
dificuldades na formação do superego (regras sociais), na identidade do papel
sexual e até mesmo na sexualidade, envolvendo inibição sexual, promiscuidade
sexual e homossexualismo. Dificuldades como a identificação de papéis sexuais
podem derivar de dificuldades nesta fase. Freud propôs que os homens
homossexuais tem uma forte angústia de castração, mas Freud é novamente
criticado por não levar em conta as questões sociais que mudam de uma cultura
para a outra e que influenciam o desenvolvimento das preferências sexuais. Ele
acreditava também que a tendência homossexual poderia ser de caráter hereditário.
Freud declara que em grande parte a personalidade se forma durante esses
primeiros três estágios psicossexuais, quando são estabelecidos os mecanismos
essenciais do ego para lidar com os impulsos libidinais.
A fase de latência que ocorre desde os 5 anos e vai até a puberdade é
considerado um período de relativa calma na evolução sexual, sendo que pouco é
colocado por Freud com relação a tensão libidinal.
Na fase genital que tem início na puberdade, o indivíduo desenvolve a
capacidade de obter satisfação sexual com um parceiro do sexo oposto. “O caráter
genital é o ideal freudiano do desenvolvimento pleno, que se desenvolve na
21
ausência de fixações ou depois da sua resolução por meio de uma psicanálise.”
(CLONINGER, 1999, p.63). Contudo, o indivíduo livre de conflitos pré-edípicos
significativos, aprecia uma sexualidade satisfatória preocupando-se com a satisfação
do companheiro sexual, evitando assim a manifestação de um narcisismo egoísta.
Assim sua energia psíquica sublimada fica disponível para o trabalho, que é
prazeroso.
A personalidade será resultante de um processo de relações e se constituirá
dentro de um contexto material que lhe impõe certos limites e certas possibilidades.
Assim, uma pessoa se singularizará, ou seja, constituirá sua personalidade singular,
sempre num contexto social, material, de relações concretas.
A constituição e desenvolvimento da personalidade envolve, assim, um
processo de socialização, através do qual a criança aprende as suas possibilidades
e limites sociais. Assim, aprende a se relacionar com os outros, com as coisas, com
seu próprio corpo, a como se comportar nos diversos espaços sociais, a entender
como as coisas estão organizadas e etc. Neste processo a criança vai adquirindo
uma identidade social: é filha de tal pai e mãe, mora em tal lugar, estuda em tal
escola, pertence a tal tribo, que usa tais roupas e escuta tais músicas, etc.
Este movimento de socialização pode ser ou não o caminho para o processo
de sociologização. Neste último, a criança passa a estabelecer relações de
alteridade e reciprocidade. Ou seja, passa a ser um Eu diante de outro Eu, tendo o
seu próprio espaço, e estando tecido a um sociológico no qual o seu ser está
implicado. Neste caso, por exemplo, à possibilidade de ser filho, em termos de
alteridade e reciprocidade, estão implicadas às possibilidades de sua mãe ser mãe e
seu pai ser pai. É desta forma que a criança aprende limites de ser ou limites psico-
físicos, constituindo-se numa personalidade cada vez mais estruturada, a medida
que vai demarcando seu projeto e desejo de ser.
O projeto e o desejo de ser serão resultados do movimento concreto da
pessoa num contexto material objetivo que lhe impõe possibilidades e limites.
Qualquer tentativa de vincular a constituição da personalidade ou as
complicações psicológicas a predisposições genéticas ou metafísicas, caem por
terra quando verificamos o movimento concreto da criança em meio à materialidade,
à mediação dos adultos e à apropriação que a criança faz disso tudo.
Nesta medida, o contexto escolar com sua organização e estrutura
física/material, seus sujeitos e suas correlações de força, seus tempos e espaços
22
pedagógicos, seus conteúdos e formas de ensino, oferecem às crianças
determinadas condições. Inserida na Escola para aprender o conhecimento
historicamente acumulado, onde passa boa parte de sua infância e juventude, será
mediada a um processo de socialização.
1.2 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
Os problemas de aprendizagem que podem aparecer tanto no início como
durante o período escolar surgem em situações diferentes para cada aluno, e isto
implica num amplo trabalho do professor junto à família da criança, para que se faça
uma análise das situações e levantar hipóteses, para descobrir o que impede o
aluno aprender. Por isso é necessário que se compreenda que dificuldade de
aprendizagem é o termo utilizado para designar desordens na aprendizagem de uma
forma bastante ampla, e são conseqüências de fatores que não apenas causas
orgânicas. Um aluno que apresenta dificuldade poderá necessitar de um
acompanhamento psicológico e ou atendimento pedagógico distinto.
(...) problemas neurológicos que afetam a capacidade do cérebro para
entender, recordar ou comunicar informações. Consideradas raras no
passado, as dificuldades de aprendizagem supostamente afetam, hoje em
dia pelo menos 5% da população ou mais de 12 milhões de americanos.
Muitas autoridades pensam que o número de indivíduos afetados é, na
verdade, muito maior, e os especialistas concordam que muitas crianças
não estão indo bem quanto poderiam na escola em virtude de deficiências
que não foram identificadas. Ano após ano, muitos desses jovens são
erroneamente classificados como tendo baixa inteligência, insolência ou
preguiça. Eles são constantemente isolados, por adultos ansiosos e
preocupados com seu desempenho acadêmico, a corrigirem-se ou
enforcarem-se. Quando as táticas comuns de recompensa e de punição
fracassam, pais e professores tornam-se frustrados, mas ninguém sente
maior frustração que os próprios estudantes. (SMITH, 2001,p.14).
Uma criança portadora de dificuldade de aprendizagem deve ser
encaminhada para este tipo de atendimento e para que não haja erro deve-se ter
muita cautela ao identificá-la, pois as conseqüências de uma rotulação e de um
encaminhamento indevido são lastimáveis. Para isso é preciso observar e analisar
profundamente vários fatores, entre eles:maturidade, prontidão, inteligência geral,
23
defeitos sensoriais, prejuízos motores, problemas emocionais e problemas
pedagógicos.
Embora as dificuldades de aprendizagem tenham-se tornado o foco de
pesquisa mais intensa nos últimos anos, elas ainda são pouco entendidas
pelo público em geral. As informações sobre dificuldades de aprendizagem
têm tido uma penetração tão lenta que os enganos são abundantes até
mesmo entre professor e outros profissionais da educação. (...) o termo
dificuldade de aprendizagem refere-se não a um único distúrbio, mas a uma
ampla gama de problemas que podem afetar qualquer área do
desenvolvimento acadêmico. (SMITH, 2001, p.14 )
As dificuldades de aprendizagem podem ter várias causas: os problemas
psicológicos que são complicados por seus ambientes familiar e escolar, o
funcionamento cerebral que é prejudicado por inúmeros fatores voluntários ou não
(desnutrição, rejeição, hereditariedade, influências ambientais, acidentes, etc.).
Na maioria das vezes, o verdadeiro fator incapacitante para muitas pessoas
não são suas dificuldades de aprendizagem e sim a percepção que os outros têm
delas. Inconscientemente, nosso amor, nosso carinho e nossa preocupação por
aqueles que estão próximos de nós, que nos parecem vulneráveis, podem
facilmente se tornar braços que, ao abraçá-los, inconscientemente sufocam suas
vidas e suas oportunidades. Afinal, eles dependem de nós para fortalecê-los e
capacitá-lo, para que possa tirar o maior proveito possível de suas vidas. O
problema é que nos condicionamos a ver primeiro a deficiência e depois a
capacidade. Muitas vezes, prendemo-nos em rótulos médicos antes de realmente
conhecer as pessoas em si, e de alguma forma presumimos de antemão que
sabemos o que é melhor para elas, sem nunca considerar os seus próprios desejos
e suas próprias escolhas. Pensamos que ser “especial” é ser melhor, mas isso não
pode estar muito distante da verdade. (JUPP,1998, p15 ).
Muitas crianças com dificuldades de aprendizagem lutam com
comportamentos que ampliam ainda mais as mesmas. A mais saliente é a
hiperatividade, há também outros comportamentos problemáticos que são os
seguintes:
Dificuldades para seguir instruções: A criança pede ajuda inúmeras vezes,
mesmo nas tarefas mais simples.
Imaturidade com a conversação: A criança age como se fosse mais jovem
que sua idade cronológica e pode preferir brincar com crianças menores.
24
Dificuldade com a conversação: A criança tem dificuldade em encontra a
palavra certa.
Inflexibilidade: A criança teima em continuar fazendo as coisas a sua
maneira, mesmo não dando certo.
Fraco planejamento e habilidade organizacionais: A criança não parece ter
qualquer sensação de tempo e organização em suas atividades.
Distração: A criança frequentemente perde a lição, as roupas e outros
objetos.
Falta de destreza: A criança parece desajeitada e sem coordenação.
Falta de controle dos impulsos: A criança toca tudo que prende seu
interesse, verbaliza suas observações, seu pensar, tem dificuldade para esperar
sua vez de falar.
Esses comportamentos surgem a partir das mesmas condições
neurológicas que causam problemas de aprendizagem. Infelizmente,
quando eles não são compreendidos como tais, só ajudam os pais e
professores de que a criança não está fazendo esforço para cooperar ou
não prestam a devida atenção. (SMITH, 2001, p.16)
Muitas crianças com dificuldade de aprendizagem desenvolvem emocionais.
Começam a questionar sua própria inteligência, acham que não são capazes,
tendem a viver isolados, tem a auto-estima baixa, a frustração e a insegurança
podem acompanhá-las até a idade adulta.
Por isso é muito importante que pais e professores aprendam a lidar com esta
situação. Sua tarefa mais vital é lembrar a criança que ela é esplendida e capaz na
maior parte do tempo. As crianças que sabem de sua capacidade na maior parte das
coisas e que são completamente amadas não deixam que essas deficiências as
perturbem por muito tempo.
Muitos são os fatores que interferem no aprendizado.
Orgânicas: cardiopatias, encefalopatias, deficiências visuais e auditivas,
motoras e intelectuais, disfunção cerebral e outras enfermidades de longa
duração.
Psicológicas: desajustes emocionais provocado pela dificuldade que a
criança tem de aprender, o que gera ansiedade, insegurança e auto
conceito negativo.
Pedagógico: métodos inadequados de ensino, deficiência na relação aluno
e professor, falta de domínio do conteúdo e do método por parte do
25
professor; atendimento precário às crianças devido à superlotação das
classes.
Sócio-cultural: falta de estimulação, desnutrição, privação cultural do meio,
marginalização das crianças com dificuldades de aprendizagem pelos
sistema de ensino comum.
Para poder identificar o problema e ajudar na reeducação da criança, o
professor, antes de mais nada, deve conhecer as dificuldades que ela
enfrenta, evitando rótulos e distinguindo seus comportamentos como
oriundos de vários aspectos, entre eles o emocional, o afetivo e o cognitivo.
(COELHO, 1996, p.100)
Os professores estão conscientes de que há crianças em todas as salas de
aula que apresentam desempenho inferior ao esperado. Para alguns os problemas
estão limitados à leitura e à escrita, para outros ao cálculo, para outros ainda é mais
extensa, impedindo-lhes o desempenho em várias áreas. O próprio ambiente
interfere no desempenho da criança.
Todas as perturbações do estado físico geral do indivíduo são consideradas
causas físicas. São, portanto perturbações orgânicas, que envolvem a
saúde. Podem ter as origens mais diversas e tempos de duração variáveis.
Apesar de não estarem diretamente ligadas à aprendizagem, essas
perturbações orgânicas ou somáticas (do corpo) pode causar inúmeros
problemas de saúde, tanto na criança quanto no professor, afetando o
processo de ensino-aprendizagem. (DROVET, 1990, p. 106.)
Portanto não se pode ignorar que os problemas de aprendizagem existem e
atacam, ainda que em porcentagem menor do que se tem apresentado, crianças de
todos os segmentos da população, podem apresentar problemas de aprendizagem,
pois as causas são muitas e são originárias dos mais diversos fatores.
A identificação de dificuldade de aprendizagem deve ser feita o mais
precocemente possível. Todos os estudos apontam o ensino pré-primário, na
Educação Infantil, como o lugar mais conveniente para a identificação, a fim de
garantir uma intervenção preventiva nos seguintes parâmetros de desenvolvimento:
Linguagem
Psicomotricidade
Percepção visual e auditiva
Comportamento emocional
A prevenção de dificuldades de aprendizagem é possível e necessária.
Prevenindo problemas e despesas futuras, eliminando as condições desfavoráveis
26
que podem agravar o potencial de aprendizagem e de desenvolvimento da criança.
O sistema de ensino não pode continuar pelo sucesso escolar das crianças ou
esperar por condutas desviantes ou incontroláveis.
O aluno com dificuldade de aprendizagem pode exigir um atendimento
variado, incluindo: aulas particulares, aconselhamento acadêmico especial,
desenvolvimento de habilidades básicas, assistência para organizar e desenvolver
habilidades de estudo adequadas e/ou atendimento psicopedagógico. Alguns alunos
com dificuldades de aprendizagem não exigem o uso extensivo de pessoal técnico,
fundos extras ou a ajuda de professores, mas pode precisar de modificações
apropriadas no programa e subsídios para auxiliá-los. Estes incluem leitores,
copiadores, anotadores, uma prática que lhes garanta mais tempo para realizar
trabalhos, projetos ou testes e, livros ou conferências gravadas.
Para Fonseca (1995), a criança com dificuldade de aprendizagem não deve
ser “classificada” como deficiente. Trata-se de uma criança normal que aprende de
uma forma diferente, a qual apresenta uma discrepância entre o potencial atual e o
potencial esperado. Não pertence a nenhuma categoria de deficiência, não sendo
sequer uma deficiência mental, pois possui um potencial cognitivo que não é
realizado em termos de aproveitamento educacional.
As escolas precisam fornecer às pessoas com dificuldades de aprendizagem
uma educação apropriada, incluindo bons sistemas escolares, bons profissionais
que se dediquem ao diagnóstico cuidadoso e ao atendimento remediador de
qualidade.
1.3 O PAPEL DA ESCOLA
Toda a identificação do potencial de aprendizagem pressupõe a sua
ocorrência na escola. A identificação não é um diagnóstico. Trata-se de um processo
de despistagem e de rastreio visando uma intervenção pedagógica compensatória.
Na identificação, o importante é a utilidade da informação e a sua eficácia
pedagógica e numa qualquer estigmatização ou rotulação sutis. Quando os
problemas forem identificados precocemente pelo professor, os problemas
educacionais podem ser facilmente solucionados.
27
O papel da escola no desenvolvimento infantil ampliou-se e é através da
observação constante do escolar que ela trava uma relação de ajuda mais
ampla, orientando e verificando os aspectos intelectuais, emocionais, físicos
e mentais da criança. (COELHO, 1998, p.210 ).
Esta finalidade da identificação precoce é evitar as conseqüências do
insucesso escolar, devendo-se levar em conta os seguintes aspectos:
1. Compreensão auditiva.
Compreensão do significado das palavras discriminação de pares de
palavras, discriminação de frases absurdas, compreensão de histórias lidas,
compreensão dos diálogos realizados dentro da classe, memória de curto prazo
(palavras e frases), retenção da informação e execução de instrumentos verbais.
2. Fala.
Vocabulário, organização gramatical, formulação de idéias, contar histórias,
relatar fatos, experiências e acontecimentos, descrição de figuras e ilustrações,
explicação e fundamentação de opiniões, qualidade de voz e de entonação,
reproduções de canções e rimas, etc.
3. Percepção visual
Discriminação, identificação, memória, coordenação visomotora, relação
figura fundo, constância da forma, posição e relação de espaço, etc.
4. Orientação
Orientação espacial, apreciação das relações, lateralidade em si e nos
outros, direcionalidade, ritmo, apreciação do tempo.
5. Psicomotricidade.
Equilíbrio, imagem do corpo, imitação de gestos, desenho do corpo,
agilidade, motricidade fina, manipulação de objetos, etc.
6. Criatividade
Espontaneidade, curiosidade, exploração, dramatização, modelação,pintura
de desenho, invenção, imaginação, grafismo, etc.
7. Comportamento social
Cooperação com outras crianças e com adultos, atenção, organização,
outosuficiência, atividade lúdica, responsabilidade, cumprimento de tarefas, etc.
28
A identificação precoce não pode ser vista como uma medida sofisticada ou
supérflua. Em termos de objetivos sociais a identificação precoce pode salvar tempo
e dinheiro e, por isso, em si constitui uma medida de intervenção mais econômica e
mais socializadora. Quanto mais precocemente se intervir, mais processos de
compensação adaptativa se operam, como atestam os estudos de psicologia do
desenvolvimento. Quanto mais cedo for a intervenção, maior e mais fácil será a
apropriação das aquisições motoras, lingüísticas e cognitivas, visto obedecerem com
maior precisão, à hierarquia do desenvolvimento humano.
A prevenção de dificuldades de aprendizagem é possível e necessária.
Prevenindo problemas e despesas futuras, eliminando as condições desfavoráveis
que podem agravar o potencial de aprendizagem e de desenvolvimento da criança.
O sistema de ensino não pode continuar pelo sucesso escolar das crianças ou
esperar por condutas desviantes ou incontroláveis.
1.4 O PAPEL DA FAMILIA
A função educativa da família não representa, por conseguinte, apenas um
dever e um direito da mesma. É também resultado vivo e espontâneo de sua própria
natureza psicológica e social.
Desde tempo muito remoto a influência da família sempre foi considerada
como um elemento fundamental no desenvolvimento do caráter do
indivíduo. “Carl Jung dizia que a principal importância dessa influência
reside no fato de o lar e a vida familiar proporcionarem, através de seu
ambiente físico e social, as condições necessárias ao desenvolvimento da
personalidade da criança. (DROUET,1990, p.207 ).
Entre os grupos sociais a família quando bem organizada, dispõe das
melhores condições e dos recursos mais eficazes para educar as novas gerações.
Quando unido e espiritualizado pelos laços de amor, da confiança, da compreensão,
da solidariedade, o grupo familiar é o grupo ideal para a educação da criança.
29
1.5 A FAMÍLIA COMO REFERÊNCIA NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE
Todos tem a obrigação de educar, cada segmento social tem seu papel, a
escola, o governo, a família, ma é em casa... através daqueles que nos educam e
que inicialmente nos servirão de modelo, que irão se formar nossos princípios
morais e éticos. (PINTO, 2003, p. 3)
A família, a escola e todos os segmentos sociais estão educando as crianças
e jovens para operar computadores complexos, máquinas de última geração, mas
jovens que não sabem criticar suas próprias idéias, repensar sua história e discutir
seus problemas. Os seres humanos estão destruindo sua capacidade de se
interiorizar, como diz Augusto Cury (2004, p. 116), “se o mundo nos abandona, a
solidão é suportável; se nós mesmos nos abandonamos, é insuportável”.
Adquirem-se diplomas para atuar no mundo de fora, mas somos frágeis para
liderar o mundo psíquico. Temos tendência em ser gigante no mundo profissional,
mas meninos no território das emoções e dos pensamentos. (CURY, 2004, P. 77)
O mundo precisa de pessoas mais tolerantes. Nesse sentido, Freire (1993)
revela que:
A tolerância é a virtude que nos ensina a conviver com o diferente. A aprender
com o diferente, a respeitar o diferente... O ato de tolerar implica o clima de
estabelecimento de limites, de princípios a serem respeitados. (FREIRE, 1993, p.
59)
E quando fala-se em limites, não refere-se precisamente de imposição de
limites, mas sim de limites auto-reflexivos, onde pais, educadores e sociedade
incitam nas crianças o ato de refletir a relação do que se pode e do que não se
pode, das conseqüências de nossas escolhas. No mundo onde há uma confusão
entre estabelecimento de limites e agressão moral, onde educar o filho resume-se a
dar-lhe o que é preciso, ou às vezes, desnecessário, onde as crianças estão em
depressão por terem tudo o que querem, no mundo onde o ter vale mais do que o
ser, ainda temos pessoas que acreditam que limite é imprescindível para a
educação humana de nossas crianças. Souza (2003) diz que:
Os pais podem - e devem! – não admitir certos comportamentos dos filhos,
desde muito pequenos. Podem - e devem!- punir, repreender, impor
condições, mesmo que isso signifique um certo nível de sofrimento para os
filhos. Educar dá trabalho, e nem sempre é tudo um mar de rosas. O
30
importante é punir, repreender, impor, etc., com justiça, com firmeza e com
intenção genuína de acertar. (SOUZA, 2003. p. 2)
Quando ouve-se na boca de uma singela criança a palavra “Mãe”, enche de
esperança de que este mundo de mensalinhos, mensalões, quinzenalzinho, de
rebeliões, de tiroteios, de polícia matando, de governante corrupto, de guerras,
conflitos e desrespeito, ainda pode ser um mundo melhor, onde as pessoas se
reconstruam enquanto crianças sinceras e humanas, onde todos viverão não de
forma igualitária.
A família é fundamental na formação do sujeito na medida em que é o
primeiro grupo social do qual faz parte e é nela que recebe os modelos de
comportamento que servirão de base para a construção de sua personalidade. A
família é o lugar de construção da identidade, onde ocorrem as primeiras trocas
afetivo-emocionais, lugar de reconhecer as diferenças.
A família pode se constituir também como um grupo que vive pela satisfação
de estar junto, onde acontecem mudanças e aprendizado devido à entrada e saída
de seus membros. É exatamente no seio familiar que a pessoa se constitui como
sujeito, através das relações aí ocorridas.
É na família que a criança recebe as diretrizes ético-morais que influenciarão
a formação de seu caráter. Conforme tenha assistido exemplos de honestidade,
honradez, cidadania, respeito ou desrespeito, desonestidade, falta de cidadania,
etc., poderá introjetar estes comportamentos. É função da família educar os
impulsos e os sentimentos de seus filhos e conceder as bases do caráter.
Segundo Rappaport (1981), a família é o principal agente socializador, sendo
responsabilidade dos pais fazer com que seus filhos desenvolvam características de
personalidade e de comportamento que sejam consideradas adequadas a seu sexo
e aos vários subgrupos culturais a que pertencem (religioso, classe social, etc. ). O
ambiente familiar é formado pelas práticas adotadas pelos pais nos processos de
educação dos filhos. As crianças terão maior ou menor competência para enfrentar
situações diversas dependendo de um ambiente mais ou menos democrático que
influenciará também o autoconceito dessas crianças.
Assim, as crianças mais saudáveis psicologicamente são aquelas cujos pais
adotam práticas disciplinares consideradas democráticas. Isto é, usam explicações e
reforço positivo como atitudes predominantes, evitam os castigos físicos, solicitam a
participação da criança em decisões familiares que lhe dizem respeito, procuram
31
fazer com que seus filhos se tornem competentes e independentes, levando em
consideração a idade da criança, seu sexo habilidades, etc. É o tipo de atitude
encontrado com maior freqüência em famílias de classe média com alto nível
educacional (RAPPAPORT, 1981 p.75).
Existe uma expressão popular que fala da importância dos modelos na
formação da personalidade dos filhos: “Se a palavra convence, o exemplo arrasta”.
Isso significa que as atitudes dos pais penetram o inconsciente dos filhos e, mais
tarde, quando se tornam adultos, mesmo sem querer, poderão vir a repetir
comportamentos paternos que censuravam, demonstrando a internalização dos pais
e do ambiente em que estavam inseridos. É necessária e urgente a reflexão da
sociedade sobre as atuais organizações familiares, podem ou não oferecer um lar,
um ambiente acolhedor, seguro, fraterno, que seja um referencial positivo na
construção do modelo de lar e não simplesmente uma casa, local material onde as
pessoas vivem e dormem, sem construir um convívio salutar.
Na adoção, pode-se referir a relações de identidade, que supõem a existência
de duas ou mais identidades, denominadas complementares ou combinadas:
pai/mãe; pai/filho; mãe/filho. Em geral esse tipo de identificação ocorre em qualquer
família onde é introduzida uma criança.
Como aponta Wallon (1963), é no jogo de imitação/negação do outro, que
está a base da formação identificatória, onde a palavra é o cerne, pois é a mesma
que permite o processo de conhecer-se de fora para dentro. E onde o outro - os
muitos outros - indica ao sujeito, aquilo que ele apreenderá do social, como sendo
seu. Por isso, o casal que adota pela primeira vez, passa a ser nomeado como PAI e
MÃE. Uma nova identidade é criada para todos os membros da família, e é através
da palavra que eles serão reconhecidos.
1.6 AS RELAÇÕES FAMILIARES E A APRENDIZAGEM
A criança adotiva pode, como qualquer outra, apresentar problemas pré ou
pós natais que dificultem seu aprender. Os pais que os adotam deveriam contar, tão
logo a criança pudesse compreender, de forma adequada a sua faixa etária e idade
emocional, que aquele filho foi escolhido para integrar aquela família, que por isso é
32
amado e desejado. Isso não impedirá que ele sofra por ter sido um dia abandonado
pelos pais biológicos, mas fará com que compreenda que é alguém bom e
importante para ser acolhido e amado por outra família.
A família adotiva precisa saber que fantasias e omissões da realidade
estimulam problemas em diferentes áreas (cognitiva, afetiva, social..) e que os
segredos geram desconfianças, sofrimentos e condutas inadequadas, não só na
criança, mas também nos outros membros da família.
É função dos pais adotivos auxiliar o filho escolhido a resignificar seu
abandono anterior e, com afeto, proporcionar segurança para que enfrente a
realidade, que geralmente, é dolorosa. Desta forma, a criança se apropriará de sua
história, se conhecerá melhor e poderá se vincular com o meio de forma mais
saudável. Seu vínculo com o conhecimento será normalizado e ela poderá vencer
suas dificuldades.
Porém, aquela criança, adotada ou não, que não pode conhecer, perguntar,
buscar a verdade em sua vida, terá, muito provavelmente sua lógica e sua forma de
aprender afetadas e, muitas vezes, portará sintomas de sofrimento orgânico e/ou
psicológico, além de revelar baixa auto-estima, sentimentos de inadequação e
conflitos.
Portanto, se o objetivo é criar pessoas felizes e responsáveis, pessoas que
dizem a verdade, é melhor treinar isso em casa acreditando nos laços de amor, nos
valores e nos limites propostos aos filhos, sejam eles biológicos ou não.
Compreendendo a importância do ambiente na formação do sujeito, não é
possível que o psicopedagogo considere apenas o seu paciente, mas também o
ambiente familiar e social no qual ele está inserido. Conforme cita Fernández (1991,
p. 92): “Todo ser humano acha-se transversalizado por uma rede particular de
vínculos e significações em relação ao aprender, conforme o seu grupo familiar”. A
criança apresenta, muitas vezes, um sintoma que pode aparecer no corpo, na
cognição, no afeto ou no organismo. É importante salientar que o sintoma aponta
para algo escondido , pois o que gera o sintoma é um conflito que se esconde por
detrás do sintoma, se nos detivermos no sintoma, ele pode se deslocar.
Em muitos casos, os problemas de aprendizagem estão relacionados a uma
dramática inconsciente. O sintoma apresenta-se de forma inconsciente através dos
sonhos e dos atos falhos, por exemplo. Todo o sintoma vasa, anuncia-se, mas ilude,
33
mascara, engana. Se nos concentrarmos no sintoma, ele aparece de outra forma,
para que o sujeito não entre em contato com a angústia.
Como exemplo, cita-se o caso de crianças adotadas cujos pais não lhes
revelaram este segredo. Inconscientemente, algumas crianças podem considerar
que conhecer é perigoso, pois não estão autorizadas pelos pais a saber. Neste caso,
a dificuldade de aprendizagem é uma problemática familiar, pois, enquanto a criança
não se sentir autorizada pelos pais a saber , ela pode achar, inconscientemente, que
estará traindo a família. Percebe-se, portanto, que o sintoma pode revelar coisas da
família. É possível que o comportamento da criança ofereça indícios do que pode
estar acontecendo com este grupo familiar e os indícios podem demonstrar o que
circula na estrutura inconsciente desta família.
Segundo Strauss (apud BERENSTEIN, 1988.p.43): “a estrutura familiar é
inconsciente”. O sujeito não conhece tudo conscientemente. Existem pactos e
acordos inconscientes e vigentes no grupo familiar. Por isso, não se pode apartar o
sujeito da família, mas tratá-lo como resultado da relação grupal, pois, muitas vezes,
o paciente é o “porta-voz” da família, que é basicamente uma rede de relações. Isto
demonstra a importância de estar atento às relações e aos vínculos estabelecidos
entre os membros deste grupo. Muitas vezes, o significado e o valor que a família dá
à aprendizagem são passados de forma inconsciente aos filhos. Como o exemplo
citado, na frase: “Eu não o culpo por não aprender porque eu também não gostava
de estudar.” A “modalidade ensinante” dos adultos pode perturbar o processo de
constituição subjetiva das crianças como sujeitos pensantes. Dentre elas, cita-se a
do adulto indiferente, que não se interessa por aquilo que a criança possa ter feito
na escola, pois supõe que nada de interessante será dito por ela, passando a idéia
de que as experiências escolares são pouco significativas. Como conseqüência da
atitude de indiferença em relação às experiências vividas pela criança, nega-se a ela
o direito de ser “ensinante” através do relato, o que pode causar aborrecimento na
criança, mas em nível estrutural.
Existem muitas crianças e muitos adolescentes que parecem não se alegrar
nem sofrer; não se agoniar, nem entusiasmar-se. Respondem às perguntas e
desenham quando solicitados; jogam quando jogo está ali, até que em algum
momento conseguem murmurar “não sei”!, não me lembro!, que
chato!(FERNÁNDEZ, 2001, p.172).
34
O comportamento do tipo “tanto faz”, “que me importa” reflete o que
Fernández (2.001) define por aborrecimento, ou seja, a falta de interesse, o estar
enfastiado. Este estado de aborrecimento pode ser decorrência de um problema de
aprendizagem gerado por uma modalidade “ensinante” indiferente por parte da
família.
A aprendizagem, em sentido amplo que inclui a aprendizagem sistemática e a
assistemática, pode ser conceituada como a apropriação instrumental da realidade,
através da elaboração objetivante – classificação e ordenação do objeto – e
subjetivante – experiência única e pessoal do sujeito com o objeto de conhecimento.
A modalidade de aprendizagem se constitui em um molde relacional que o
sujeito utiliza nas situações de aprendizagem, sendo a maneira pela qual a pessoa
se aproxima do conhecimento, construindo o seu saber e organizando recursos. O
processo de elaboração da modalidade de aprendizagem individual se inicia com os
primeiros ensinantes, os pais, sofrendo modificações ao longo do tempo, pela
simbolização e ressignificação. Ela é influenciada pela imagem que a pessoa tem de
si mesmo como aprendente, pelo vínculo que o sujeito constrói com o objeto de
conhecimento, pelas figuras ensinantes pai e mãe, pela história da construção de
suas aprendizagens e pela modalidade de aprendizagem familiar – com circula o
conhecimento e a informação no sistema familiar.
Jean Piaget teorizou a aprendizagem como adaptação inteligente do
indivíduo, na alternância e equilibração entre os processos de assimilação e
acomodação. No processo de assimilação, verifica-se a interpretação da realidade
externa pela incorporação do objeto de conhecimento a um sistema de significados
existente nos esquemas do sujeito, através da alteração dos elementos do
ambiente. Como exemplo podemos citar o jogo como uma atividade
predominantemente assimilativa. Já o processo de acomodação pressupõe um
enfretamento das características do objeto de conhecimento pelo atendimento das
demandas que o mundo dos objetos impõe, através da alteração do sujeito. A cópia
e o cumprimento de tarefas são exemplos de atividades predominantemente
acomodativas.
Os pais, como principais figuras de ensinantes autorizadas pelos filhos,
devem refletir sobre a sua própria modalidade de aprendizagem e de ensino, no
sentido amplo. A modalidade de ensino é caracterizada pela articulação entre
mostrar e guardar o que se conhece, prescindindo da exibição ou de esconder-se.
35
Segundo A. Fernández, podem ser caracterizadas três modalidades básicas de
ensino causadoras de dificuldades de aprendizagem. A primeira é o ensinante
adivinho que através do exibicionismo do seu saber, impede a possibilidade da
criança relatar o aprendido como experiência única e pessoal. A segunda é o
ensinante detetive que busca provas da suposta falha do outro, acarretando a
possibilidade da criança relatar o aprendido como delação. A terceira modalidade de
ensino é o ensinante indiferente, levando à desqualificação da educação
sistemática, à ausência de interesse pela experiência escolar da criança, com os
pais mostrando-se sem tempo para ouvir.
1.7 A LEI DE ADOÇÃO
A nova lei de adoção sancionada em agosto deste 2009, já entrou em vigor,
com alguns impasses.
Dentre as mudanças vale ressaltar que, o prazo para ajuizamento de ação de
destituição do poder familiar, em casos onde houver abandono ou violência, poderá
ser de até dois anos. Outro fato de grande relevância é que a mesma lei, determina
que o prazo máximo de permanência em casa de abrigo, seja de dois anos, situação
que será avaliada pela justiça a cada seis meses.
Destaque também, que o plano individual aos abrigados, contara com uma
equipe de interprofissionais, que analisaram os problemas que afetam as crianças e
buscara atender essas necessidades. A intenção é permitir que quando um
adolescente for desabrigado, aos 18 anos, ele possa ter suporte para a vida.
Em relação à adoção direta, a pessoa que pretende adotar uma criança já
conhecida, não mais será possível, ou seja, ela terá que entrar na fila da adoção.
Essa mesma lei ainda determina que, a idade mínima para ser pai ou mãe
adotiva baixou de 21 anos para 18 anos independente do estado civil. Já no caso de
adoção conjunta, exige que, os adotantes sejam casados ou tenham união estável.
Antes da referida lei, os juizes esgotavam as possibilidades de reinserir a
criança ou adolescente, no seu âmbito familiar, enquanto a família tentava se
reestruturar, e na maioria dos casos como a família não mudava, a mesma passava
anos no abrigo. Agora o juiz se utilizara desse argumento para facilitar o processo
36
de adoção, vez que se em dois anos não houver mudança, a criança ira ser
disponibilizada para adoção.
A adoção por casais com união homoafetiva permanece proibida, embora
maiores de 18 anos possam adotar, independentemente do estado civil.
As crianças acima de 12 anos passaram a serem ouvidas no processo de
adoção.
Atualmente o conselho tutelar fica proibido de levar a criança direto ao abrigo,
e o único que poderá determinar a medida é o juiz. A gestante que demonstrar
interesse em entregar seu filho a adoção, devera agora receber orientações de
assistentes sociais e psicólogos, e as pessoas na fila de espera, também deveram
passar por preparação psicológica sobre a adoção, incentivando-as a adotar
crianças mais velhas.
Devera haver por parte dos abrigos um relatório semestral, encaminhando a
justiça, condições de adoção, ou de retorno à família.
As pessoas registradas no cadastro nacional, o qual foi criado há dois anos,
terá a preferência para adoção. Crianças e adolescentes de instituições também
passaram a ser cadastradas, e não somente os aptos a serem adotados. Na visão
da Associação dos Magistrados Brasileiros, esse cadastro seria uma saída para
evitar o comercio, a intermediação indevida e a exploração, garantindo assim o
direito a convivência familiar de cada criança.
A intenção é fazer com que o processo acelere. O processo de adoção e a
aptidão para adotar uma criança levam em torno de quatro meses. Em regra a
criança que está nascendo hoje e for para adoção vai levar três anos e meio para
ser adotada. Como 80% das famílias querem crianças de zero a um ano, as mais
velhas não iram ter pretendentes e infelizmente ficaram nos abrigos à mercê da
sociedade.
1.8 QUESTÕES REFERENTES A ADOÇÃO, CRIANÇAS ADOTADAS
É do consenso geral que o ato de adotar não é prerrogativa somente
daqueles que tomam por filho uma criança que não tenha a mesma herança
genética. Neste sentido, todo pai e toda mãe terá de fazê-lo mais cedo ou mais
37
tarde, ou seja, adotar seu filho biologicamente gerado. Todos os filhos precisam ser
adotados e como bem afirma Schettini, a adoção afetiva é a verdadeira relação
parental e não existem filhos verdadeiramente filhos, que não sejam adotivos (1998).
Aqueles que não o fazem, também abandonam. As clínicas de psicologia estão
repletas de exemplos dessa natureza.
Dessa forma, o que fica em questão, não é se a família é adotiva ou biológica,
mas se ela tem ou não condições de se estruturar e de se desenvolver enquanto tal,
pois o que garante uma filiação não é somente a condição de consangüinidade.
A questão da adoção não pode ser analisada sozinha. Ela está ligada ao
abandono e à institucionalização. As crianças ficam anos internadas. Pelo Estatuto
da Criança e do Adolescente, um adolescente infrator pode ficar, no máximo, três
anos internado. Enquanto isso, crianças que nada fizeram às vezes passam dezoito
anos em uma instituição. Existe pouco empenho em criar uma rede de apoio para
famílias em situações de risco, que apresentem casos de maus tratos, violência e
negligência, entre outros. Então, tais crianças ficam em um limbo. Ou seja, não
voltam para sua família de origem e não podem ser adotadas legalmente, pois os
pais biológicos não foram destituídos do poder familiar. Existe um projeto em
tramitação, de uma Lei Nacional de Adoção. Um dos pontos desse projeto trata de
definir um prazo mínimo para resolver a situação de uma criança. Esse prazo seria
de seis meses. Para alguns é pouco tempo, mas para uma criança abandonada em
uma instituição, é um tempo enorme. Por fim, é preciso mudar a burocracia no que
tange à destituição do pátrio poder dessas crianças. Não se ajuda a família de
origem, nem se decide liberar a criança para adoção. Quando ela fica mais velha, o
sistema Judiciário e o Ministério Público afirmam que são somente os candidatos a
adotar é que são preconceituosos.
Por questões culturais, existe uma ênfase exacerbada nos famosos “laços de
sangue”, fazendo surgir no imaginário coletivo a fantasia de que a condição biológica
garante por si mesma a formação de uma relação parental. A ausência de ligação
sangüínea é vista como um problema, marcando a construção social da adoção.
Uma agência de forte influência na construção social de opiniões é a escola.
E como tal, ela precisa acompanhar as mudanças ocorridas na sociedade
contemporânea, especificamente no que se refere às configurações familiares. Para
isto, a escola deve assumir seu papel de formadora da cidadania, no sentido de
38
trabalhar, para que o aluno tenha uma leitura mais ampla e crítica de mundo,
considerando:
O contemplar as necessidades educacionais de alunos provenientes de
diferentes configurações familiares.
O fazer valer o tema “direito da criança e do adolescente de terem uma
família”.
A preocupação com as relações familiares do ponto de vista educativo-
preventivo.
A sua contribuição na construção de uma nova cultura da adoção.
A aparência da adoção tem sido moldada de acordo com certos ideais
sociais, entre eles o de que a família composta por adoção seria de segunda
categoria e, portanto, tudo deveria ser feito para que a diferença entre a família
adotiva e a família composta por laços de consangüinidade fosse negada. A mãe
adotiva passa a viver um momento paradoxal em que ao mesmo tempo vive a
realização de ser mãe, mas deve pagar o preço do segredo. (MOTTA, 2001).
O imaginário popular mantém mitos que falam de taras genéticas, atribuem
nomenclaturas discriminatórias, tais como “ele ou ela não é pai ou mãe verdadeiros”,
o que dá margem a supor que os pais adotivos estão ocupando um lugar falso,
usurpado. Em suas considerações sobre a criança adotiva na psicoterapia
psicanalítica, Levinzon (1999) menciona que a maioria das pessoas não possui em
suas representações conscientes de família o tema da adoção. Dessa forma,
quando uma família passa a vivenciá-la, o meio social, geralmente, a percebe como
estando a exercer um papel inesperado, causador de estranheza.
A escola constitui-se em espaço fundamental para trabalhar os valores
humanos que irão desenvolver o cidadão integral, e, como tal, precisa estar
preparada para assumir este papel. Precisamos estar conscientes da importância
do contexto das relações sociais que existem nas salas de aula, que serão
responsáveis, em grande parte, pelos processos de socialização de nossos
cidadãos; os valores são também transmitidos de maneira implícita (currículo oculto)
com uma linguagem simbólica e não explícita.
Paulo Freire afirma que “ninguém educa ninguém e ninguém se educa
sozinho: as pessoas se educam na comunhão” (in Crema, 1991). Todos estão
familiarizados com a expressão: “o país precisa educar os homens”. Isto significa
educação como socialização, isto é, educação como um veículo de condicionamento
39
social. Um indivíduo não pode ser verdadeiramente inteiro sem uma percepção total
do mundo, um sentimento de fraternidade.
Como a temática da adoção envolve conceitos relacionados a valores éticos,
respeito às diferenças, formação da família e preconceitos sociais, faz-se necessário
que alguns segmentos da sociedade se organizem no sentido de trabalhar de forma
educativa, buscando desmistificar os conceitos distorcidos sobre a referida temática.
Apesar da adoção ser uma prática antiga, a falta de estudos científicos sobre
o tema no Brasil fez com que a adoção permanecesse sendo tratada de forma
preconceituosa, alimentando fantasias e mitos. Esses estereótipos em relação à
adoção advêm da mídia e do boca-a-boca, que generalizam casos mal sucedidos de
adoção, e também pela generalização de casos clínicos dramáticos, que colocam a
perda inicial dos pais biológicos como irreparável para a criança adotada e
determinante de todos os problemas da adoção. Forma-se, desta maneira, uma
representação limitada e errônea em relação à adoção e, principalmente, em relação
aos filhos adotivos, vistos como crianças problemáticas, revoltadas, ingratas com
quem lhes acolheu, incapazes de superar o “trauma” do seu abandono e fadadas a
repetir comportamentos, supostamente inadequados, de seus pais biológicos (o
medo da hereditariedade desconhecida da criança).
Desta forma, a associação dos mitos, da falta de esclarecimento e a
valorização dos “laços de sangue” fazem com que, ainda no Brasil, a “adoção” tenha
o significado de um “sintoma”. Esse significado vem tanto das pessoas em geral,
quanto dos psicólogos, psiquiatras, professores e também dos pais adotivos. A
população brasileira ainda fala “baixinho” sobre adoção. Terrel e Modell (1994)
argumentam que muitas pessoas na sociedade ocidental pensam que a adoção é a
segunda melhor maneira de constituir uma família, mas devem saber que outras
pessoas, em diferentes partes do mundo, podem ver a adoção de diversas
maneiras, que não se parecem com o viés ocidental de parentesco. O tratamento da
adoção na literatura antropológica mostra que o conceito é tido como não-
problemático, no entanto, a doação de crianças pode ser analisada como um dos
aspectos de parentesco, uma forma de solidariedade social ou uma resposta a
condições demográficas.
No Brasil, o início da investigação sobre adoção é muito recente. Santos
(1988) realizou um estudo comparativo entre um grupo de pais e filhos adotivos e
40
outro de pais e filhos biológicos para avaliar aspectos como afetividade e
cooperação entre pais e filhos. Não encontrou diferenças significativas entre eles.
Realizei a primeira pesquisa com uma boa amostragem de famílias adotivas
(Weber, 1996), verificando que, sob a óptica dos pais e filhos adotivos, as relações
entre eles são plenamente satisfatórias. Levando em conta as dificuldades
escolares, elas são compatíveis com aquelas que ocorrem em famílias biológicas.
Entretanto, as pesquisas européias e, especialmente, americanas sobre os
diversos aspectos da adoção, são numerosas e, boa parte delas, indica que existe
um excesso de distúrbios de adaptação em crianças adotivas, se comparadas com a
população em geral. Em uma revisão sobre o tema, Hersov (1990) apresenta oito
fatores que poderiam explicar essa situação:
1. Fatores biológicos e sociais relacionados com a gravidez e a experiência
pré-natal de crianças vindas de lares desfavorecidos;
2. Experiências anteriores à colocação final da criança na família adotiva,
incluindo casas de passagem ou famílias de apoio, com novas perdas de figuras de
apego;
3. Interferência na formação de vínculos na primeira infância com os
posteriores efeitos na personalidade e relacionamentos;
4. Adoção realizada depois de viver a infância em instituições;
5. O estigma social que envolve a adoção;
6. Problemas de identidade na adolescência provenientes da confusão ou
desconhecimento de suas origens;
7. Riscos de fatores genéticos que predispõem à psicopatologias; e
8. Dificuldades provenientes do processo de “revelação” podem afetar relação
familiar.
Um belo estudo espanhol (Palacios e Sánchez, 1996) realizou uma extensa
investigação comparativa com 865 crianças entre 4 e 16 anos de idade, procedentes
de quatro grupos: adotadas, companheiras das adotadas, crianças das mesma
zonas de origem das adotadas e crianças institucionalizadas. As comparações foram
realizadas em três áreas: problemas de comportamento, auto-estima e rendimento
acadêmico. Os resultados mostraram uma grande semelhança entre os adotados e
seus companheiros atuais, as crianças institucionalizadas obtiveram os piores
resultados no conjunto das comparações.
41
Na verdade, as respostas até o momento não são conclusivas em relação à
adaptação geral da criança adotada, embora seja possível tirar algumas breves
conclusões:
* Os problemas emocionais e escolares, apresentados por adotados e não
adotados, dependem de uma multiplicidade de fatores que interagem em conjunto e,
desta forma, é metodologicamente complicado o isolamento de cada uma das
variáveis de interesse, como por exemplo: herança genética, cuidados pré-natais,
reações à separação da mãe biológica, nível social e econômico dos pais adotivos,
cuidados maternais recebidos antes da adoção, número e qualidade dos locais de
acolhimento prévios à adoção, idade em que ocorreu a adoção, atitudes dos pais
adotivos em relação à infertilidade, preconceitos e estereótipos sociais, cultura e
país de origem da criança adotada etc;
* A motivação para a adoção tem tido pouca importância para o sucesso da
relação, como mostram estudos realizados no Brasil (Weber, 1996, 1997), indicam
ainda que a natureza da adoção (legal ou ilegal) não tem influência sobre a dinâmica
familiar e os problemas ocorridos nela e no rendimento escolar acontecem muito
mais por causa de uma variável importante, que é a revelação tardia, inadequada ou
feita por terceiros da adoção para a criança;
* Os estudos sobre o tema revelam que ainda precisamos de muitas
pesquisas para tentar entender as condições de apego em famílias adotivas, mas a
simples condição de “adotado” não deve mais ser um sinônimo de “sintoma” ou de
“doença”, pois este não é um fator que determina o destino social, pessoal ou
acadêmico de um indivíduo; e
* Os pais adotivos mostram-se muito exigentes e pressionados socialmente
pela sua função “adotiva” e tendem a encaminhar seus filhos a profissionais
especializados com maior freqüência do que pais não adotivos. Pais adotivos, assim
como profissionais da saúde mental e da educação, estão, juntamente com o
restante da população, sob a influência dos preconceitos que ainda existem na
questão da adoção e percebem-na como um fator de risco natural.
Parece que o mais importante é uma dinâmica familiar na qual exista
compreensão, capacidade de tolerância e de doação para com o outro e isto
independe da família ser adotiva ou não. Em um ambiente escolar deve-se entender
a adoção como um outro tipo de parentalidade e filiação, tão importante e com a
mesma essência quanto a biológica, e não como um fator de risco. A questão da
42
adoção no Brasil é bastante interessante, pois nós temos uma espécie de
“laboratório natural” que mostra o quanto a construção de laços afetivos é poderosa
e repleta de variáveis ainda desconhecidas.
Enquanto os técnicos dos Serviços de Adoção do Poder Judiciário no Brasil
tentam criar condições perfeitas (encontrar candidatos perfeitos para bebês
perfeitos), a maioria das adoções em meu país é classificada como “inadequada”
pela maioria dos profissionais da área da psicologia, são adoções singulares:
baseadas em mentiras (registrar uma criança como filho biológico); a motivação
mais freqüente é egoísta, ou seja, é a satisfação de um desejo de maternidade; a
preparação dos adotantes e das crianças é praticamente inexistente; entre outros
aspectos desfavoráveis.
A família adotiva precisa saber que fantasias e omissões da realidade
estimulam problemas em diferentes áreas (cognitiva, afetiva, social..) e que os
segredos geram desconfianças, sofrimentos e condutas inadequadas, não só na
criança , mas também nos outros membros da família.
É função dos pais adotivos auxiliar o filho escolhido a resignificar seu
abandono anterior e, com afeto, proporcionar segurança para que enfrente a
realidade, que geralmente, é dolorosa. Desta forma, a criança se apropriará de sua
história, se conhecerá melhor e poderá se vincular com o meio de forma mais
saudável. Seu vínculo com o conhecimento será normalizado e ela poderá vencer
suas dificuldades.
Porém, aquela criança, adotada ou não, que não pode conhecer, perguntar,
buscar a verdade em sua vida, terá, muito provavelmente sua lógica e sua forma de
aprender afetadas e, muitas vezes, portará sintomas de sofrimento orgânico e/ou
psicológico, além de revelar baixa auto-estima, sentimentos de inadequação e
conflitos.
Portanto, o objetivo é criar pessoas felizes e responsáveis, pessoas que
dizem a verdade, é melhor treinar isso em casa acreditando nos laços de amor, nos
valores e nos limites propostos aos filhos, sejam eles biológicos ou não.
43
CAPITULO II
2 METODOLOGIA
O trabalho proposto foi realizado como pressuposto o método indutivo e a
pesquisa bibliográfica, com produção descritiva. Sendo utilizados como fontes de
pesquisa estudos recentes, livros, páginas da internet, revistas, artigos e outros que
abordam o problema objeto desta pesquisa. O questionário foi aplicado a
profissionais como psicólogo e professor que teve experiência em trabalhar com
crianças adotadas. E tem como objetivo saber se crianças adotas apresentam
problemas de aprendizagem.
2.1 ANALISE DOS RESULTADOS E DISCUSSAO
2.1.1 Questionário Aplicado a Psicólogo
No questionário aplicado ao psicólogo em relação ao tempo que atua na
profissão, a resposta foi dois anos e sete meses.
Não existe um tempo de prática clínica que seja um marco para definir se um
terapeuta é experiente ou não. Contudo, algumas pesquisas feitas nessa área, nas
quais era necessário fazer um grupo de terapeutas com experiência e outro grupo
de terapeutas sem experiência, adotou-se como marco divisório o tempo de cinco
anos - quem tivesse mais de cinco anos de prática entrava no grupo dos
experientes.
Com relação a experiência de trabalhar com crianças que foram adotadas, se
teve ou não. O profissional coloca que teve experiência.
Questinando se existe alguma diferença no desenvolvimento em relação a
crianças adotadas e crianças não adotadas, o mesmo afirma que não existe
44
diferença da criança adotiva ou biológica, na verdade o que influencia no
desenvolvimento da criança é a forma que ela é educada.
Os transtornos apontados no desenvolvimento já foram mostrados em
estudos muito antigos, como os realizados por Spitz (1945). Estudos mais atuais
corroboram esses prognósticos ruins e continuam apontando a formação e o
rompimento dos vínculos afetivos como um acontecimento responsável por muitas
consequências maléficas, algumas de caráter inalterável, quanto ao
desenvolvimento emocional e social de crianças e adolescentes privados do
convívio com a família biológica, com vivência em instituições e/ou adotadas. Há
ainda estudos, como os citados por Weber (2003) e Pereira e Santos (1999), que
destacam a privação materna como causador de importantes atrasos no
desenvolvimento biopsicossocial de crianças adotivas, e o trabalho de Wieder
(1977), que aponta a vulnerabilidade das pessoas adotivas a problemas emocionais,
citando pesquisas que revelam a incidência de 15% a 30% de indivíduos adotados
na população com sintomas psiquiátricos, o que excede os 2% indicados pelo censo
geral. Sentimento de abandono, baixa autoestima, a identidade e os processos de
identificação, o desenvolvimento do ego, as alterações na elaboração do complexo
de Édipo e, por conseguinte, na formação do superego, comportamentos impulsivos
e antissociais, hipercinesia, condutas rebeldes ou destrutivas, "dificuldades na
aprendizagem" e problemas de relacionamento são, segundo Brinich (1980) e
Garma et al. (1985), aspectos marcadamente afetados no paciente adotivo, queixas
que justificam a frequente procura de auxílio psicológico para essas crianças,
principalmente no período de latência.
A privação materna e a institucionalização têm sido consideradas, por ampla
literatura científica, o cerne e a gênese de todos os problemas que se desencadeiam
posteriormente no desenvolvimento de crianças com essas experiências.Vários
estudos realizados com crianças que viveram em orfanatos, onde a qualidade do
atendimento era precária, observaram relações entre ocorrências de apego
inseguro, apego atípico e privação institucional, com o estabelecimento de sintomas
como rebaixamento intelectual, problemas de comportamento, comportamento "pré-
autístico", desatenção, hiperatividade, comportamentos estereotipados em
proporção direta com a idade da adoção: quanto mais velhas, maior a incidência de
problemas (Chisholm, 1998). Já as pesquisas de Rutter, Kreppner e O'Connor
(2001) e de Rutter e Thomas (2004) mostram que os problemas constatados obtêm
45
intensa melhora após a inserção da criança na família adotiva, sendo que tanto a
quantidade e intensidade dos problemas observados quanto sua recuperação
depende da idade da adoção e das condições iniciais da criança. Tais resultados
indicam que as sequelas podem ser "praticamente" superadas se o novo ambiente
for de qualidade.
A pergunta posterior foi em relação a existência de acordo com a psicologia
de alguma diferença em relação a uma criança adotada no processo ensino-
aprendizagem. A psicóloga comentou que não, tanto as crianças adotivas quanto as
biológicas podem ou não apresentarem problemas de ensino-aprendizagem.
Algumas pesquisas mencionadas sobre crianças adotivas fizeram referência
direta aos problemas de aprendizagem escolar das crianças com curto ou longo
tempo de institucionalização. Além dessas referências, diversos trabalhos
apontaram sintomas apresentados por essas crianças que a literatura científica
psicopedagógica relata ter influência sobre a não aprendizagem. São alguns
exemplos: a dificuldade na estruturação egóica, a baixa autoestima, o rebaixamento
intelectual associado a problemas de comportamento, a hiperatividade, a
desatenção. Entretanto, no que tange à aprendizagem, esses problemas não são
descritos em quantidade e em profundidade, indicando a necessidade de realização
de mais estudos específicos.
Há ainda uma série de trabalhos de perspectiva psicanalítica que defendem
que a curiosidade é um outro importante aspecto afetado pelas experiências da
criança adotada que interfere intimamente na capacidade para a aprendizagem.
Pesquisadores afirmam que a curiosidade das crianças pode ser inibida diante da
dificuldade que os adotantes venham a demonstrar para revelar a verdade sobre sua
origem, por conta da dor que isso possa representar para todas as partes
envolvidas. Woiler (1987, p.56) atribui às dificuldades notadas neste campo a uma
precária constituição egóica "que carece de espaço psíquico para os processos de
pensamento e no qual devem tramitar intensas angústias e fantasias que se
traduzem mediante ação motora". A autora ressalta que é nesse sentido que os
mecanismos de defesa, como os de negação, cisão, isolamento e repressão,
favorecem um distanciamento das circunstâncias de aprendizagem na criança
adotada.
Desse modo, ao aprender, a criança, a todo o instante, é impelida a conhecer
as conjunturas dolorosas de infertilidade, repúdio e adoção que tanto ela deseja
46
negar, isolar, cindir e reprimir. Tais percepções também se ancoram em Levinzon
(1999), Piccini (1986), Costa (1984), cujas observações clínicas explanam que,
consciente ou inconscientemente, a criança sabe a verdade, que quando não
revelada pode desencadear uma série de distúrbios, como o desinteresse pelos
estudos e o uso de drogas. Pereira e Santos (1999, p.236) esclarecem ainda: "O
interdito, em vez de ter um papel estruturante, aprisiona o psiquismo no campo da
impossibilidade, já que lhe é vedado nomear determinados conteúdos ansiogênicos".
Como consequência dessas concepções, verifica-se um processo de
apagamento da ideia de que o percurso de desenvolvimento de um indivíduo não é
único e sim dinâmico, sujeito a mudanças, a constantes adaptações e rearranjos
(ROSSETTI-FERREIRA, AMORIM, SILVA, 2004). A diversidade e as
descontinuidades, postas em segundo plano na maioria das pesquisas apresentadas
até aqui, baseiam-se e reforçam a noção do caráter estável da pessoa, crença que
Rutter (1989) e Schaffer (2000) afirmam ter sido prevalente até algumas décadas
atrás, escorada, sobretudo, em referenciais teóricos que postulam a intensa
influência das primeiras relações afetivas no desenvolvimento ulterior.
Tentando alargar essa visão dominante, há pesquisas um pouco mais
otimistas (BADINTER, 1985) que indicam efeitos maleáveis porque tentam relativizar
a ideologia da consanguinidade e os efeitos negativos que teria o cuidado de
crianças realizado por outros que não os pais biológicos, desfazendo a ideia de que
o cuidado de pai e mãe é algo biologicamente natural e mostrando a ligação pais e
filhos como sendo construída social, histórica e ideologicamente. Badinter baseia
seu livro sobre o mito do amor materno em uma visão contextualista, que considera
os fatores atuais, a relação de interdependência de variáveis diversas, o homem
como sujeito de sua história, defendendo a ideia de que, "apesar do passado", a
criança adotiva tem um longo caminho pela frente.
Nessa direção existem, por exemplo, os trabalhos de Weber (2003), Dolto
(1989), Fogel (1993), Fonseca (2002) e Lewis (1999) que deslocam o foco de
atenção da criança, atitude própria de uma visão mais biologizante, para o contexto,
abandonando uma visão de causalidade e propondo um "giro" na compreensão de
desenvolvimento humano hegemônica na ciência.
Dessa forma, a visão desses autores desloca-se da concepção que atribui
excessivo valor às vivências precoces, que ancorou a ingênua ideia de que o
47
desenvolvimento normal segue um encadeamento linear de constantes avanços,
com direção certa e um alvo preciso.
A criança adotiva pode ter em seu histórico de vida um ou mais episódios de
abandono e/ou separação. Pode ainda passar por vivências estressantes, ter ou não
sofrido violência. Isso é incontestável. O que parece discutível é o fato de esses
acontecimentos serem agentes causadores de uma série infindável de catástrofes
em seu desenvolvimento, dentre eles a "dificuldade para aprender".
Continuando a pergunta seguinte foi em relação ao acompanhamento por
parte dos pais de uma criança adotada se é igual aos demais e se existe alguma
diferença que tenha percebido. Obteve-se como resposta que o acompanhamento é
igual, claro que depende muito mais da forma em que esses pais estão educando
seus filhos, sejam esses adotivos ou não.
A família é um grupo natural de pessoas que se relacionam entre si, onde
constituem uma “estrutura familiar”, determinando comportamentos e condutas que
irão definir a qualidade das relações entre os seus membros.
O homem é um ser de natureza familiar e a comunicação com os pais, irmãos
e demais membros da família tem grande importância, especialmente no seu
processo de formação e na sua capacidade de integração à sociedade.
A criança é um ser em formação, sendo assim, entra em jogo uma série de
fatores relevantes para a formação satisfatória de sua personalidade.
“Os pais podem tentar ensinar certos valores, mas as crianças
inevitavelmente absorverão aquilo que é transmitido através do comportamento, dos
sentimentos e atitudes de seus pais na vida diária.” (NOLTE e HARRIS, 2003, p.14)
É do espaço familiar que se recebem os primeiros exemplos de vida, de
atitude, hábitos, entre outros. É neste meio que a criança e o adolescente recebem,
aprendem e internalizam padrões de comportamento, normas e valores da realidade
que vive.
A família pode contribuir para a evolução de uma consciência que vai
construir um mundo melhor. Se forem as atitudes quotidianas que criam os padrões
familiares que os filhos transmitirão para suas futuras famílias, então a cultura do
divórcio leva a um círculo vicioso, que salvo raras exceções, levará os “filhos do
divórcio” a seguir o mesmo caminho na vida adulta, enquanto que filhos de união
estável e estruturada criarão seus futuros filhos de forma saudável, felizes e bem
ajustados.
48
Na perspectiva de Vygotsky:
A educação (recebida na família, na escola, e na sociedade de um modo geral) cumpre um papel primordial na constituição dos sujeitos. A atitude dos pais e suas práticas de criação e educação são aspectos que interferem no desenvolvimento individual e, consequentemente, influenciam o comportamento da criança na escola. (1984, p.87).
A influência do lar como hábitat da criança e da família, assim como a
influência do meio social mais amplo, é muito grande, principalmente na primeira
infância e na adolescência. Estas são as fases críticas do desenvolvimento do ser
humano, que sempre requerem um maior cuidado e atenção.
Vários fatores contribuem para o baixo desempenho escolar. Os pais devem
ter uma tática muito delicada, para com os filhos, o desrespeito pelos amigos da
criança, não respeito nos horários e atividades da criança de acordo com seu horário
de interesse, estimulação excessiva pode se um problema para o escolar, pois há
pais que sobrecarregam a criança com vários tipos de atividade, tais como: escola,
natação, ballet, etc.
Quando, ao contrario, o pai é muito liberal, dando ampla liberdade aos filhos,
eles podem torna-se voluntariosos, Pais autoritários além de serem pouco
comunicativos e afetuosos, são bastante rígidos, controladores e restritivos quanto
ao nível de exigência de seus filhos.Pais superprotetores não permitindo que ela
mesma busque os seus próprios mecanismos de defesa. Pais violentos costumam
espancar a criança, o que desencadeia nela a revolta e um profundo sentimento de
injustiça. Pais que usam a mão de obra da criança para o complemento das
necessidades orçamentária. Pais que por algum motivo não gostam do filho,
chegando mesmo a odiá-lo.
Desajustamento no relacionamento do casal, a separação do casal deixa
sempre os filhos com um sentimento de rejeição por parte do pai ou da mãe ou
mesmo de ambos. Os conflitos a rivalidade entre irmãos também é prejudicial,
surgindo um sentimento de intolerância que cresce à medida que as crianças
também crescem. O nascimento de irmãozinho sem nenhum prepare do escolar,
poderá gerar ansiedade e ciúmes.
Filhos adotivos principalmente se ignoram essa condição, que lhes é
revelada somente na puberdade por algum estranho, sem muita sutileza e sem um
preparo psicológico adequado. Quando a criança não compreende sobre sua
49
adoção, poderá sofrer de perturbações emocionais, e comprometer o rendimento
escolar, refletindo nas atividades da criança.
Concluindo o questionário com a profissional de psicologia foi perguntado
sobre o desenvolvimento psicológico de uma criança adotada é semelhante ao de
uma criança não adotada e se Existe alguma diferença, a psicóloga respondeu que
sim, o desenvolvimento psicológico é semelhante. O fundamental é a família desde
o inicio contar que a criança é adotada, demonstrando que a mesma é muito amada
por eles. Que ela foi escolhida para fazer parte da família e que é muito importante e
desejada.
Alguns estudos têm sugerido que as possíveis alterações no desenvolvimento
de crianças adotadas podem ser estudadas, juntamente, com as eventuais
alterações que sofre também a criança interna em orfanato. De certa forma isso é
verdadeiro em grande número de casos, partindo do pressuposto que as crianças
adotadas passaram, antes, algum tempo em instituições asilares, portanto, mesmo
adotadas elas carregam as vivências da instituição.
Há ainda quem compare as possíveis alterações observadas no
desenvolvimento das crianças de orfanato, com as possíveis alterações de outras
crianças que vivem em seus lares mas, não obstante, também são vítimas da
Negligência Precoce. São os casos onde a mãe pode até estar fisicamente presente,
mas é emocionalmente distante.
Spitz, mais tarde Robertson e Bowlby, desenvolveram estudos sobre o
abandono em fases precoces do desenvolvimento infantil. Esses autores
demonstraram claramente, prejuízos no desenvolvimento físico e psíquico das
crianças vítimas de abandono.
Um exemplo desses efeitos nocivos, é a chamada Depressão Anaclítica,
descrita por Spitz, e traduzida por um quadro de perda gradual de interesse pelo
meio, perda ponderal, comportamentos estereotipados (tais como balanceios)
eventualmente, até a morte.
Sobre o estabelecimento dos vínculos, Winnicott diz que:
Sem ter alguém dedicado especificamente às suas necessidades, o bebê não consegue estabelecer uma relação eficiente com o mundo externo. Sem alguém para dar-lhe gratificações instintivas e satisfatórias, o bebê não consegue descobrir seu próprio corpo nem desenvolver uma personalidade integrada.
50
2.1.2 Questionário Aplicado a Pais
No questionário aplicado aos pais que tem um filho adotado, os mesmos
comentaram que o mesmo é um menino e foi adotado com apenas 24 horas de vida.
A idade mais conveniente para adoção, apontada pela maioria dos autores, é
a mais precoce possível, até os 2 meses de vida, de acordo com o que postula
Bowlby (2002) de preferência antes da fase em que o objeto materno começa a ser
reconhecido na sua individualidade e como diferente das outras pessoas que se
aproximam do bebê. Esta indicação deve-se ao fato das crianças serem
especialmente sensíveis a rupturas precoces nas relações já estabelecidas.
Reduzindo o período de tempo anterior à adoção diminuem-se, em princípio,
as possibilidades da exist6encia de traumatismos que possam repercutir na sua
evolução. E sabe-se como serão importantes para o futuro os primeiros anos de
vida. Da parte dos pais, adotar uma criança em seus primeiros dias ou meses,
facilita o desenvolvimento do sentimento de verem como sua esta criança (DINIZ,
1989).
Os pais responderam que o filho sabe que é adotado e que a adoção
aconteceu através do processo judicial, onde através do fórum é preenchido uma
ficha, e aguarda na fila de espera.
A maioria das crianças adotivas tomam conhecimento do fato da adoção entre
os 2 e 4 anos, para evitar a possibilidade de ficarem sabendo de sua situação por
fontes externas à família, o que poderia deixá-las com sentimento de ter sido traídas
pelos pais adotivos e abandonadas pelos pais biológicos (KAPLAN, 2003).
O conhecimento e revelação da situação de adotados em si é um processo
traumático, pois embora a adoção tenha a intenção de curar a ferida biológica
existente na vida de cada membro da família adotiva, introduz, simultaneamente,
uma realidade especial que necessita ser enfrentada. O assunto adoção e os
eventos que o envolvem despertam emoções poderosas e defesas inconscientes,
associadas a fantasias de perda. A atitude da criança de rejeitar serve de defesa
contra o anseio de ser amado e amar (GLENN, 1996).
A difícil opção de silenciar, guardando para si segredos que acabam sendo
camuflados por piedosas inverdades, pode estar calcada em conflitos não resolvidos
do casal. Constrói-se, por vezes, um constante clima de sobressalto ligado ao temor
de que alguma pessoa revele a verdade, porém, se eventualmente a criança captar,
51
pela intuição, o não dito, ficará confusa se os pais quiserem convencê-la do
contrário. Ou percebendo que determinados conhecimentos são proibidos, poderá
reprimi-los ou, ainda, esconder dos pais informações obtidas indiscretamente por
outros, ampliando assim, de ambos os lados, áreas mudas e censuradas de diálogo.
Por essas razões, entre outras, muitos estudiosos têm salientado a importância da
revelação da adoção para o desenvolvimento sadio da criança e para o incremento
dos sentimentos de confiança e valorização entre pais e filhos.
Estudiosos do assunto afirmam que os pais que discutem abertamente com
seus filhos, que compartilhem informações sobre suas origens e, até mesmo, os
ajudam, ativamente, na busca por seus pais naturais, criam adultos mais seguros de
si e com um self mais firme e definido. Isso, também, proporcionara à família adotiva
um relacionamento mais maduro ela se tornando, assim, mais unida.
Um outro aspecto que, segundo Costa (1992) freqüentemente inquieta os pais
é a questão da época em que tal revelação deve ser efetivada. Observa o autor que
igual preocupação também tem demonstrado muitos profissionais dedicados ao
assunto. A maioria toma como referência à eclosão do conflito edípico, por volta dos
4 ou 5 anos de idade, preferindo alguns a fase pré-edípica e outros a pós-edípica.
Entretanto, na opinião do autor, não existe um momento definido para este
esclarecimento, assim como inexiste um momento para informar um filho de sua
legitimidade, porque ele poderá ter dúvidas a este respeito. A indecisão desaparece
se os pais adotivos aceitam a verdade de que não são os pais biológicos, o
problema crucial a ser enfrentado não é a época da revelação, mas a injúria
narcísica que ela representa àqueles indivíduos que sentem dificuldades em aceitar
sua infertilidade ou a do cônjuge.
A verdade só existe verdadeiramente quando a atualizamos, a incorporamos
ao acervo das nossas convicções e de nossas vivências. É a partir dessa maneira
de aceitar e de viver a verdade que se estabelece à conduta dos pais adotivos de
reconhecê-la não só como um direito do filho, como também uma necessidade para
se conquistar a saúde mental e psicológica (FILHO, 1994).
Percebe-se que existem concepções distorcidas em relação à adoção,
comumente considerada um acontecimento que envolve segredos, omissões e
mentiras. Frente a tal realidade, o autor assinala que no Brasil, o principal desafio
consiste em apoiar todas as iniciativas que permitam compreender que a adoção
deva ser vivida fundamentalmente para a criança, cabendo aos adotantes o gesto
52
maduro do amor incondicional, apoiados por movimentos sociais competentes em
todas as fases da integração familiar adotiva (FREIRE, 1991).
Steinhauer (1992) acrescenta existir uma concordância geral que o sucesso
ou fracasso na adoção depende das características dos pais adotivos, daquelas da
criança e da capacidade de cada um satisfazer as necessidades do outro, aceitando
as limitações.
Conforme Papalia e Olds (2000), não apenas as pessoas casadas, mas
também pessoas solteiras, idosas ou casais de homossexuais têm se tornado pais
adotivos. Mas ainda existem preconceitos e idéias errôneas sobre a adoção. Uma
crença seriamente errônea é a de que as crianças adotadas são destinadas a ter
problemas porque foram privadas de seus pais biológicos. Um estudo com 715
famílias com adolescentes que tinham sido adotados quando bebês constataram
que quase três a cada quatro delas achava que a adoção desempenha um papel
pouco importante na sua identidade.
A adoção no Brasil é ainda usualmente vista como um recurso para a
infertilidade, constituindo uma das causas para a procura maciça de bebês. Somente
crianças de até três anos de idade conseguem ser adotadas em famílias brasileiras.
Adotar uma criança realmente envolve riscos e desafios. Além das questões
usuais de paternidade e maternidade, os pais adotivos precisam lidar com a
aceitação de sua esterilidade (caso sejam por isso que tenham adotado), a
necessidade de explicar a adoção para a criança, e o possível desconforto em torno
do interesse da criança pelos pais biológicos.
Declararam que estava preparado para adotar uma criança. E que não
possuem filhos biológicos.
O afeto não é maior ou menor pelo fato de o filho ser biológico ou adotado. O amor ao filho independe da sua origem; é conseqüência de uma disposição interna que não leva em conta, necessariamente, características objetivas de quem se ama. (Filho, 1998, p.69).
O primeiro bebê marca uma importante transição nas vidas dos pais. Essa
nova pessoa totalmente dependente muda os indivíduos e relacionamentos. Quer a
criança seja filho biológico ou adotado, e quer os pais sejam casados ou não, ter um
filho pode ser uma experiência de desenvolvimento. À medida que as crianças se
desenvolvem, os pais também o fazem (PAPALIA & OLDS, 2000).
Segundo o mesmo autor, tanto as mulheres quanto os homens muitas vezes
sentem-se ambivalentes em relação a tornar-se pais. Juntamente com a excitação,
53
eles podem sentir a ansiedade sobre a responsabilidade de cuidar de uma criança e
o comprometimento de tempo e de energia que isso implica. Entre os casais que
não têm filhos, os maridos dão maior importância e são mais inclinados a ter filho do
que as esposas, mas depois que as crianças chegam os pais gostam menos de
cuidar delas do que as mães. Embora os pais geralmente acreditem que devem se
envolver nas vidas das crianças, a maioria não tem quase o mesmo envolvimento
que as mães.
Do ponto de vista de Ribeiro (2002), o processo de adoção pode envolver
situações muito dolorosas, tanto para as crianças, quanto para os pais. Este
processo pode ser traumático, mas uma boa relação dos filhos com seus pais
adotivos, onde a criança se sinta amada e compreendida pode minimizar este
sofrimento.
Questionando sobre o pensamento em relação a adoção hoje, os mesmos
colocam que, adotar uma criança pode evitar o sofrimento e o abandono. Ela pode
ter um futuro brilhante, depende da educação que ela recebe e o meio em que vive.
A decisão de adotar um filho constitui-se numa defesa contra a ferida
narcísica de não poder gerar um filho. O indivíduo sente-se criticado com a
impossibilidade de gerar um filho e rejeitado pelo ideal de ego (pais internalizados) e
procura resgatar a perfeição ferida sob forma de um novo ideal do ego que vai ser o
filho adotado (COSTA, 1992).
As histórias de adoções estão repletas de ingredientes comuns e via de regra
referem-se a abandonos, rejeições, expectativas e idealizações, esterilidades,
rompimentos, uniões, negações e salvamentos de vidas ou casamentos (SOUZA,
1994).
O cônjuge estéril, na maioria das vezes, é que propõe a adoção. Momento, no
qual, o cônjuge fértil exterioriza proteção e amor em relação ao cônjuge estéril. A
motivação inconsciente de uma adoção pode ser uma situação de luto não
elaborada, então o papel reservado à criança adotada será o de substituir alguém
que foi perdido, às vezes um dos pais do casal, um filho, ou um aborto (COSTA,
1992).
A necessidade de adotar, às vezes pode estar associada à auto-imagem de
fracasso pessoal. A idéia de ser um fracasso como pai ou mãe, simboliza ter filhos
com problemas, podem achar enxertados com sua auto-imagem de ser um fracasso
biologicamente também (GLENN, 1996).
54
No que se refere às motivações dos pais adotivos, constatou-se numa
pesquisa que a maioria tinha um interesse pessoal e primordial: satisfazer o desejo
de ser pai/mãe. Outras motivações evidenciaram a necessidade de preencher a
solidão, proporcionar companhia a um filho único; escolher o sexo do seu próximo
filho; substituir um filho natural falecido, entre outros. No entanto, é importante
ressaltar que, apesar dessas motivações "menos nobres" do que visar o interesse do
adotado, não houve prejuízos evidentes no que se refere ao relacionamento de pais
e filhos adotivos. Este dado traz uma nova luz sobre as chamadas "motivações
inadequadas" e suas conseqüências para a futura relação. Levanta-se a hipótese de
que, após a adoção, o vínculo afetivo, que é construído entre pais-filhos adotivos,
poderá ser tão forte a ponto de neutralizar o suposto efeito dessas motivações, tidas
como "inadequadas". Parece que o amor que permeia as relações pode explicar
essas aparentes contradições, como sabiamente já disse Pascal, em sua mais
famosa premissa: "O coração tem razões que a própria razão desconhece".
Fica muito claro, portanto, que não existe uma determinação absoluta entre
uma motivação "imprópria" para a adoção e o fracasso do relacionamento. Este
dado mostra claramente a viabilidade de trabalhar tais adoções mesmo a posteriori,
e garantir pleno desenvolvimento afetivo entre as pessoas envolvidas (WEBER,
2005).
Em relação ao desenvolvimento de filho adotado na escola, responderam que
o mesmo nunca reprovou está na 7ª serie e está acompanhando muito bem os
estudo. E também que o filho não teve nehuma dificuldade de
aprendizagem/reprovação pelo fato de ser adotado.
E concluindo os pais colocam que sempre ajudam nas tarefas escolares,
pesquisando, cobrando e elogiando.
Percebe-se que o fato dos pais sempre orientarem os filhos nas atividades
escolares, inclusive estimulando ao desenvolvimento das mesmas, e elogiando
quando efetuam os trabalhos, com responsabilidade, pode ser fator importante no
desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem, contrubuindo inclusive para
que o aluno não apresente dificuldades de aprendizagem. O apoio e o estimulo, faz
com que o aluno sinta prazer em realizar as atividades propostas pelo professor, e o
elogio vem como uma recompensa.
55
2.1.3 Questionário Aplicado a Professora
A professora entrevistada atua a 18 anos no magistério e já teve experiência
de trabalhar com crianças que foram adotadas.
Questionando a mesma se existe alguma diferença no desenvolvimento do
ensino-aprendizagem em relação a crianças adotadas e crianças não adotadas, a
mesma responde que não.
A escola tem relevada importância na formação das novas gerações
influenciando na formação de valores, socialização dos jovens preparando-os para
enfrentar a vida.
O papel da escola é trabalhar as diferenças, mas sem fazer diferença entre os
alunos. Há professores que ficam “penalizados” ao saber que o aluno é adotivo.
Raça,estrutura familiar,credos devem ser respeitados e as crianças não devem ser
super-protegidas ou rejeitadas por terem passado pela adoção.Entre os alunos,seus
colegas é difícil encontrar rejeição.
Os professores devem entender a situação histórica destes alunos, que por
vezes, se mostram desatentos ou irrequietos e como conseqüência poderão mostrar
menor rendimento escolar. Com carinho, compreensão e paciência tudo se
resolverá. Esta situação é uma oportunidade dos professores aprenderem lidar com
a diversidade.
Enquanto educadora a professora diz não perceber diferença em relação a
uma criança adotada no processo ensino-aprendizagem.
As dificuldades de aprendizagem são representadas por determinados
aspectos considerados freqüentes, como:
- Hiperatividade;
- Problemas psicomotores;
- Problemas gerais de orientação;
- Labilidade emocional;
- Desordem de atenção, memória e raciocínio;
- Impulsividade;
- Dificuldades específicas de aprendizagem: dislexia (dificuldade de leitura),
disgrafia (dificuldade de escrita), disortografia (dificuldade da formação de idéias e
sua expressão ortográfica) e discalculia (dificuldade do cálculo ou aritmética), sendo
fundamentalmente sociais.
56
- Problemas de audição e fala.
As causas orgânicas das dificuldades de aprendizagem são múltiplas e diversas o mesmo se pode dizer das sociais e econômicas. Não podemos separar a etiologia biológica da social visto subsistirem relações recíprocas se implicação, como provam vários estudos de indução sociobiológica e biossocial. (FONSECA, 1984,p.102).
Em relação ao acompanhamento por parte dos pais de uma criança adotada
em relação aos filhos biológicos a diferença que diz ter percebido é que algumas são
super protegidas.
Segundo Lyforde-Pike (2003), o excesso de firmeza ou de carinho faz com
que a tarefa educativa corra sérios riscos de fracassos. Apesar de serem elementos
essenciais para a educação, encontrar a medida certa entre firmeza e carinho é uma
árdua tarefa para os pais.
A criança é um ser em formação, sendo assim, entra em jogo uma série de
fatores relevantes para a formação satisfatória de sua personalidade. “Os pais
podem tentar ensinar certos valores, mas as crianças inevitavelmente absorverão
aquilo que é transmitido através do comportamento, dos sentimentos e atitudes de
seus pais na vida diária.” (NOLTE e HARRIS, 2003, p.14)
Ao se pensar em educação escolar, é preciso levar em consideração a
participação da família no processo ensino aprendizagem, porém, esta merece um
tratamento cuidadoso que leve em conta aspectos sociais, culturais e legais.
Todas as crianças independente de serem adotadas ou filhos naturais, têm
necessidade de saber que os membros de sua família valorizam suas tarefas de
casa. Caso elas percebam que isso é importante para sua família, sentem que há
uma boa razão para fazer da participação escolar, algo estimulante.
2.1.4 Questionário para Direção/Orientação Educacional
A pergunta inicial foi se na escola, já teve experiência de trabalhar com
crianças que foram adotadas, e a resposta obtida foi que já e que não existe alguma
diferença no desenvolvimento social em relação a crianças adotadas e crianças não
adotadas.
57
Em seguida foi questionado “Você enquanto gestor percebe diferença em
relação a uma criança adotada no ambiente escolar?” a mesma diz que não.
A criança aprende desde o nascimento em um processo contínuo no qual vão
predominar determinadas estratégias na escola e nela mesma, conforme cada
período do desenvolvimento. Também aprende por meio das interações que
estabelece com seu meio físico e social, estas interações se configuram
distintamente de acordo com as práticas culturais, modo de produção e organização
social e cultural.
E finalizando foi questionado se “o acompanhamento por parte dos pais de
uma criança adotada é igual aos demais? Existe alguma diferença que você tenha
percebido?” e a resposta foi Sim, que é igual aos demais alunos e que não existe
diferença que tenha sido percebida.
No processo de aprendizagem, a presença do outro é fundamental, quer seja
este um membro da família ou o professor.
Os pais não devem deixar de comparecer às atividades da escola tais como:
reuniões de pais e mestres, apresentações de teatro, eventos esportivos ou até
participar como voluntário quando a escola solicita a participação dos pais. As
crianças sentem que escola e família possuem um vínculo estreito e que ambas
trabalham em conjunto, buscando objetivos comuns.
Família e escola são pontos de apoio e sustentação ao ser humano; são
marcos de referência existencial. Quanto melhor for a parceria entre ambas, mais
positivos e significativos serão os resultados na formação do futuro adulto.
Assim, cabe aos pais e à escola a preciosa tarefa de orientar a criança
visando sua formação como sujeito participativo, atuante, consciente de seus
deveres e direitos, possibilidades e atribuições.
58
CAPITULO III
3 RELAÇÃO DO TEMA COM O CURSO DE PEDAGOGIA
Muitos professores não adquiriram conhecimentos sobre adoção na sua
formação acadêmica e muitos não sabem como lidar com a criança que revela sua
origem adotiva. Ficam surpresos, chocados ou encontram aí a justificativa para
alguma dificuldade escolar apresentada, seja cognitiva ou comportamental.
A organização internacional “Amici dei Bambini”, da Itália, promove cursos de
formação para professores sobre o inserimento da criança adotada. Com isso
pretende responder “as necessidades de informação e formação do magistério sobre
o tema do inserimento escolar de crianças adotadas. Trata-se de uma temática
particularmente delicada, pois escola representa um importante momento de
provação para as crianças adotadas, que na maioria das vezes - vêm de contextos
problemáticos e encontram-se na obrigação de experimentar uma nova família, uma
nova sociedade e um novo mundo”.
No decorrer do Curso de Pedagogia, pode-se elencar que disciplinas
colaboram para o desenvolvimento deste tema no dia-a-dia escolar: psicologia do
desenvolvimento e psicologia da aprendizagem, onde o profissional tem uma maior
compreensão do como ocorrer o processo de ensino de desenvolvimento e também
o de aprendizagem no ser humano, podendo inclusive fazer a relação com as
possíveis dificuldades de aprendizagem e as causas das mesmas. Porém percebe-
se que nenhuma faz uma relação mais aprofundada com a questão da adoção ou
qualquer outro fator mais relevante que possa a vir a ser gerador de uma dificuldade
de aprendizagem.
Nos Referenciais para Formação de Professores (Brasil, 1999), elaborado
pela Secretaria de Educação Fundamental, do Ministério da Educação, e nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1997), são apresentadas algumas
funções e obrigações do professor inclusive em termos legais. De acordo com o
primeiro documento, "os professores são profissionais cuja ação influi de modo
significativo na constituição da subjetividade de seus alunos como pessoas e como
59
cidadãos" (p. 55). O segundo documento descreve, ainda, que não é suficiente focar
a formação dos alunos para futuras atividades em termos das especializações
tradicionais, mas, antes, o professor deve estar atento a proporcionar ao seu aluno
oportunidades de desenvolver sua capacidade para aquisição e o desenvolvimento
de novas competências, "em função de novos saberes que se produzem e
demandam um novo tipo de profissional, preparado para poder lidar com novas
tecnologias e linguagens" (p. 28). Em ambos documentos não são encontradas
referências específicas ao papel do professor no desenvolvimento da criatividade de
seus alunos, mas são consideradas atribuições relacionadas a isto. Ao professor, é
delegada a função fundamental de contribuir para o desenvolvimento integral de
seus alunos, no contexto escolar, e capacitá-los para as "novas relações entre
conhecimento e o trabalho que exigem capacidade de iniciativa e inovação"
(BRASIL, 1997, p. 28), elementos diretamente associados à criatividade. Por isso,
especial atenção deve ser dada ao preparo destes profissionais.
No entanto, conforme afirma Donatoni (2002), o preparo que os professores
encontram nos cursos de formação, de maneira geral, não passa de teorias acerca
do processo educativo idealizado, sobre padrões comportamental e humano dos
indivíduos, esquecendo-se de que cada professor trabalhará com uma realidade
diferente e que cada padrão de comportamento tem suas variações de acordo com
cada situação e indivíduo. Em síntese, não prima por uma educação que atinja
efetivamente a criança e seu contexto. Falhas são também identificadas no que diz
respeito especificamente às práticas docentes que estimulam a criatividade em sala
de aula. Segundo Martínez (2002), este assunto é minimamente tratado nos cursos
de formação de professores e não encontra um valor real na maioria das instituições
de ensino.
Observa-se uma prática docente orientada mais pelas teorias do cotidiano do
que pelas teorias científicas. Os próprios professores reclamam da distância entre o
que aprendem em seus cursos de formação e o que realizam na prática. Além da
desvinculação entre teoria e prática, outros problemas quanto à formação dos
professores podem ser observados (FELDENS, 1998): ênfase excessiva na
modernização do ensino sem considerar o "porquê" e "para quem"; elevada ênfase
nas dimensões técnicas desvinculadas das demais dimensões inerentes ao ensino e
à escolarização; falta de articulação entre os fundamentos nas disciplinas básicas do
curso.
60
Esse mesmo autor chama a atenção para o fato de que estudos a respeito da
formação de professores evidenciam a existência de uma relação positiva entre as
dificuldades enfrentadas na educação brasileira e o fracasso das instituições
formadoras em educar e preparar professores para as "realidades" e "culturas" com
as quais deverão lidar. Essa falta de preparo em lidar com as reais características do
contexto apresentado pelas instituições formadoras pode gerar, em cadeia,
profissionais inadequados teórica e tecnicamente para um "mundo de trabalho", uma
vez que não dominam as habilidades e compreensões exigidas pelo mercado. Se os
profissionais docentes concluem seus cursos de formação despreparados, torna-se
interessante verificar o impacto da prática diária, dos anos de experiência em sala
de aula, especialmente em termos de sua criatividade.
Como ressalta Martínez (2002), para otimizar o processo de desenvolvimento
da criatividade no contexto escolar, é necessário considerar a criatividade dos
alunos, da escola como organização e dos professores. Yelós (2002) defende ser
necessário que os membros da escola, em especial os professores e suas práticas
sejam criativos, para que o processo educativo seja efetivo em termos de
desenvolvimento do potencial criador. Utilizar a criatividade como ferramenta para
gerar estratégias para um processo de ensino-aprendizagem efetivo dentro de sala
de aula torna-se então uma necessidade de cada docente (MARTÍNEZ, 2002).
61
CONCLUSAO
Adotar uma criança é um ato de amor e uma forma de filiação. É um processo
que vai além das questões biológicas em busca da realização do sonho de ser mãe
e pai. A chegada de um novo indivíduo numa família implica num amadurecimento
por parte dos pais, os quais deverão dar atenção, carinho e muito amor para auxiliar
na identidade e crescimento da criança. Desta forma, os pais passam a rever
diversas questões a respeito de suas experiências passadas, presentes e das que
possivelmente virão.
É preciso, simultaneamente a um trabalho de conscientização sobre a
importância da adoção, um esforço para desmistificar a associação genérica e
errônea entre adoção e fracasso. As dificuldades que ocorrem são muito
semelhantes com aquelas que aparecem em famílias biológicas. E de qualquer
forma, mesmo a vivência de tais dificuldades e preconceitos é muito menos dolorosa
do que a solidão, o vazio, a falta de identidade, a ausência de vínculos e o
desamparo de uma criança abandonada.
O processo de adoção é permeado por muitas emoções, tais como, medo,
ansiedade constrangimento, dúvidas e incertezas, sendo que estes sentimentos
podem ser conscientes ou não por todos os participantes deste processo.
Os problemas emocionais e escolares, apresentados por adotados e não
adotados, dependem de uma multiplicidade de fatores que interagem em conjunto.
É preciso muitas pesquisas para tentar entender as condições de apego em
famílias adotivas, mas a simples condição de “adotado” não deve mais ser um
sinônimo de “sintoma” ou de “doença”, pois não é um fator que determina o destino
social, pessoal ou acadêmico de um indivíduo, assim como os pais adotivos
mostram-se muito exigentes e pressionados socialmente pela sua função “adotiva” e
tendem a encaminhar seus filhos a profissionais especializados com maior
freqüência do que pais não adotivos.
É função dos pais adotivos auxiliar o filho escolhido a resignificar seu
abandono anterior, com afeto, proporcionar segurança para que enfrente a
realidade, que geralmente, é dolorosa. Desta forma, a criança se apropriará de sua
história, se conhecerá melhor e poderá se vincular com o meio de forma mais
62
saudável. Seu vínculo com o conhecimento será normalizado e ela poderá vencer
suas dificuldades.
Porém, aquela criança, adotada ou não, que não pode conhecer, perguntar,
buscar a verdade em sua vida, terá, muito provavelmente sua lógica e sua forma de
aprender afetadas e, muitas vezes, portará sintomas de sofrimento orgânico e/ou
psicológico, além de revelar baixa auto-estima, sentimentos de inadequação e
conflitos.
Concluiu-se até o momento que as dificuldades de aprendizagem das
crianças nas escolas, não é devido ela ser adotiva ou não. A criança irá desenvolver
seu raciocínio, ou seja, seu conhecimento em sala de aula, tendo um domínio
significativo.
Os aspectos de transformação que a criança irá ter na escola, não tragam
nenhum conflito e não passe por problemas em seu lar com sua família e que desde
o inicio saiba a sua verdadeira história.
Por meio disso, um ato de amor maior, responsabilidades e as novas
descobertas que irá ter a partir do convívio, a família são estimuladas a ampliar,
conviver e desenvolver essas possibilidades por diferentes horizontes.
Ou seja o que vai prevalecer na verdade é a real condição em que a criança é
educada em casa pelos pais, da sinceridade e da verdade revelada a criança, sem
deixar com que a mesma sinta-se enganada, ou insegura.
O diálogo e o amor existente entre os pais e as crianças podem garantir o
sucesso escolar, e acima de tudo garantir um futuro com segurança e sem maiores
problemas para ambos.
As dificuldades de aprendizagem podem acontecer tanto em crianças
adotadas como em filhos naturais, tudo vai depender de uma série de fatores
determinantes que podem contribuir para que o mesmo aconteça. Mas uma coisa é
certa o apoio dos pais, e uma família bem estruturada e que acompanhe o
desempenho escolar dos filhos, contribui muito para que o aluno tenha um bom
rendimento escolar.
63
REFERENCIAS
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