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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM – FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
ECOSOFIA E GESTÃO AMBIENTAL:
UMA REFLEXÃO ÉTICA
Sandra Pereira dos Santos Mizael
ORIENTADOR: Prof. Jander Leal
Rio de Janeiro 2016
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM – FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Gestão Ambiental. Por Sandra Pereira dos Santos Mizael
ECOSOFIA E GESTÃO AMBIENTAL:
UMA REFLEXÃO ÉTICA
Rio de Janeiro 2016
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AGRADECIMENTOS
Aos meus filhos Antônio, Arthur e Isabella e meu
marido José
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DEDICATÓRIA
Aos meus alunos que sempre me estimularam a
buscar cada vez mais o conhecimento sobre o
ambiente.
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RESUMO
Esta pesquisa tem como objetivo estudar o comportamento humano
através da reflexão ética sobre o meio ambiente e a função da gestão
ambiental para que o ambiente se torne mais saudável usando as ferramentas
principais da gestão ambiental que são: auditoria, redução e disposição de
resíduos e ferramenta de qualidade. Os objetivos específicos para elaboração
desse trabalho são: (1) conceituar gestão ambiental e suas ferramentas, (2)
conceituar Ecosofia e as três ecologias e (3) conceituar ética e sua reflexão na
gestão ambiental.
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METODOLOGIA
A metodologia utilizada para esta pesquisa é a descritiva explicativa.
Foram utilizados textos encontrados na internet e livros sobre gestão e meio
ambiente além do livro de Felix Guattari “As três ecologias” .
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
Gestão Ambiental e suas Ferramentas para um Meio Ambiente Saudável 09
CAPÍTULO II
Ecosofia e as Três Ecologias de Felix Guattari 14
CAPÍTULO III
Ética e sua Relação com o Meio Ambiente 20
CONCLUSÃO 24
BIBLIOGRAFIA 25
ÍNDICE 27
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INTRODUÇÃO
Hoje em dia há muita discussão sobre as intensas transformações e
desequilíbrios ecológicos que ameaçam a vida do homem na terra. Neste
sentido a filosofia tem fundamental importância, pois é através de uma reflexão
ética que poderemos abarcar as questões sociais, políticas, humanas e
ambientais e de todas as suas transformações.
Nesta pesquisa teremos como objetivo o estudo do comportamento
humano através da reflexão ética sobre o meio ambiente e a gestão ambiental
através da ecosofia tendo como principal fonte o livro “As três ecologias” de
Felix Guattari no qual alerta para a condição humana e das ações. Sem
projeção consciente que culminam em graves equilíbrios ecológicos, além de
enfatizar um novo ser humano para nossa sociedade.
Desta maneira no primeiro capítulo trataremos de conceituar a
gestão ambiental e suas ferramentas para um meio ambiente saudável na qual
apresenta a gestão como um processo participativo das organizações
governamentais e não governamentais assim como de pessoas comuns.
No segundo capitulo apresentaremos o conceito de Ecosofia e as
três ecologias. Para Felix Guattari estamos perdendo um tempo precioso,
esforços mentais, teóricos e científicos focando sempre nas questões dos
danos industriais e perdendo a ótica sistêmica do problema, onde deveríamos,
sim, considerar a articulação entre ética e política para o que ele denomina
Ecosofia na qual tem como base as três ecologias: do meio ambiente, das
relações sociais e a da subjetividade humana.
Por fim, no terceiro capítulo conceituaremos ética e sua reflexão em
relação ao meio ambiente.
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CAPÍTULO I
GESTÃO AMBIENTAL E SUAS FERRAMENTAS PARA
UM MEIO AMBIENTE SAUDÁVEL
Gestão Ambiental é, por assim dizer, um processo participativo,
integrado e contínuo que promove a compatibilização das atividades humanas
com a qualidade e a preservação ambiental criando e aprimorando
instrumentos e ferramentas para a sua prática que ocasionalmente pode
ocorrer nas organizações governamentais e não governamentais, assim como
no dia a dia de pessoas comuns. A gestão ambiental atua com o conjunto de
princípios que aspiram ações sociais e/ou governamentais que regulamentam o
uso, controle, proteção e conservação do meio ambiente; que planejam toda
ação ambiental através de um estudo prospectivo por meio da coordenação,
compatibilização, articulação e implantação de projeto de monitoramento,
assim como gerenciar o conjunto de ações para regular, controlar, proteger e
conservar o meio ambiente de acordo com a política ambiental (SÃO PAULO,
2011 p.06).
Para que seja feita todas essas ações é preciso que tenha um
estudo do meio ambiente, mas que este não pode ser feito de forma isolada:
Meio Ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e
interações de ordem física, química e biológica, que permite,
abriga e rege a vida em todas as suas formas (Lei de Política
Nacional do meio ambiente art. 3º Inciso I)
Verificamos que a gestão do meio ambiente e dos recursos naturais
não pode ser tratada de forma isolada e sua atuação depende de todos os
aspectos que de forma indireta influenciam o meio ambiente na sua totalidade
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como degradação do solo, desmatamento, interações físicas, químicas e
biológicas. Gestão Ambiental tem como principio promover a capitalização das
atividades humanas com a qualidade e a preservação ambiental de modo a
garantir um meio ambiente saudável (Idem, pp. 84-85).
Para termos um ambiente saudável é preciso que a gestão
ambiental trate de alguns temas em suas variadas abordagens: ecologia1 que
visa as diferentes espécies e como elas interagem com o meio fisico e com as
espécies ao seu redor; ecossistema que se refere a comunidade de seres
vivos e do ambiente tratados como um sistema funcional de relações
interativas. Área que estuda a interação dos organismos e seus ambientes;
biodiversidade, espécies e comunidades criado na década de 80 para se
referir ao número de espécies de seres vivos existentes no planeta (vegetais,
animais e micro-organismos). A espécie e o conjunto de indivíduos com
características genéticas, fisionômicas e taxonômicas semelhantes que podem
se reproduzir entre si e seus descendentes férteis. Comunidade é
caracterizada com base na riqueza e na densidade ou abundância de espécies.
A interação entre os indivíduos em uma comunidade determinam o ciclo de
energia e matéria dentro do sistema e interferem nos processos populacionais;
bioma é considerado uma unidade do ecossistema caracterizado pelo
conjunto da flora e da fauna característico de uma região (Idem, p. 85-162).
No Brasil são biomas: Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado, Amazônia
e o Pantanal; Mudanças Climáticas e gases do efeito estufa referem-se à
alteração no clima observada ao longo dos períodos comparáveis. Gases
estufas trata-se dos constituintes gasosos da atmosfera, naturais ou resultantes
de processos antrópicos capazes de absorver e emitir a radiação
infravermelha; sustentabilidade sua definição mais utilizada é
desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes sem comprometer a
1 Termo originado do alemão oecologie criado pelo naturalista Ernest Heinrich Hæckel. Do grego olkoslogia que significa “conhecimento da casa”.
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habilidade das futuras gerações de satisfazer suas próprias necessidades2;
direito ambiental na qual a gestão ambiental é regida. Há outros temas de
igual importância para a gestão ambiental como caatinga, áreas contaminadas,
gestão de resíduos, resíduos sólidos, poluição atmosférica, desastre naturais,
solo, tratamento de esgoto, saneamento ambiental, qualidade e poluição das
águas (Ibdem).
Para que a gestão ambiental trabalhe de forma eficaz nesses temas
importantes para nosso meio ambiente é preciso formular perguntas que sejam
direcionadas e orientadas de forma correta para que sejam solucionadas de
forma efetiva os problemas. Neste sentido é preciso utilizar ferramentas
apropriadas para identificar e diagnosticar os problemas e alcançar as
melhorias necessárias para um meio ambiente saudável (GUSMÃO, A; DE
MARTINI, L.C. 2009. p. 159)
Uma ferramenta para auxiliar uma empresa a conhecer sua função
e desempenho para poder se adequar na área ambiental é auditoria ambiental.
Esta ferramenta começou a ser difundida de forma efetiva após alguns
eventos negativos cujo maior destaque foi um acidente de vazamento de metil
isocianato em Bhopal quando empresas transnacionais intensificaram as
auditorias em suas plantas instaladas em diversos países do mundo. É preciso
realizar uma realizar uma avaliação sistemática das atividades empresariais
para reconhecer riscos existentes e trabalhar para melhoria em conformidade
com as normas legais (Idem, pp. 160-166).
A auditoria ambiental deve acontecer da seguinte forma: 1- definição
do escopo da auditoria para verificarem em todos os locais que estão em
atividade ou desativados e podem provocar algum tipo de impacto ambiental;
2- a equipe definida realiza reuniões para analise das informações, discussões
do plano de trabalho, estabelecimento de métodos e técnicas e divisão das
2 (WCED, 8 )
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áreas auditadas em função das habilidades e envolvimento profissional; 3-
planejamento das datas de auditoria em harmonia com a produção para que
seja realizada de forma consistente com as atividades e potencialmente
poluidoras desenvolvidas pelas unidades produtivas, evitando interpretações
errôneas, como uma descontinuidade da planta industrial; 4- Em reunião
devem ser confirmados e esclarecidas as duvidas existentes; 5- coleta de
informações durante as visitas, observações de atividades e condições na área
sob exame. Entrevistas com funcionários da organização e análise crítica da
documentação; 6-na reunião de encerramento devem ser apresentados os
fatos apurados que serão consolidados em um relatório de auditoria (Ibdem).
Para dar continuidade a um meio ambiente saudável através da
gestão ambiental é preciso uma implantação de um programa de redução de
resíduo como estratégia na qual é exigido pelo ISO 14.001 através da
Prevenção de Poluição. Este programa apresenta os seguintes benefícios:
auxilio a operacionalizar o conceito teórico de “Desenvolvimento Sustentável”
através da minimização de danos ao meio ambiente; cumpre princípio diretivo
estabelecido pelo Programa Atuação Responsável, no caso de indústrias
químicas; Aumento da produtividade em função da melhoria do desempenho
do sistema; Redução dos riscos ambientais; Redução dos custos de controle e
tratamento de resíduos; Atender às exigências da lei estadual (Rio de Janeiro,
lei 2011/92 – Obrigatoriedade de implantação de Programa de Redução de
Resíduos). A hierarquia de gestão de resíduos estabelece a seguinte ordem
decrescente de ações: Eliminação, Redução, Reciclagem ou Reuso,
Tratamento, Disposição final (Idem, pp. 166-167).
Um outro grande instrumento de apoio de fundamental importância
para assegurar o comprometimento com a melhoria contínua do desempenho
ambiental é a ferramenta de qualidade conforme estabelece a ISO 14001.
Algumas etapas: Identificando o problema; Definir prioridade; Analisar os
sintomas; Estudar prováveis causas; Testar hipóteses; Planejar e Implantar
soluções, Avaliar o Desempenho (Idem, pp. 174-180).
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É preciso entender que as falhas nos grandes acidentes ambientais
foram de caráter organizacional e não por deficiência tecnológica que deve ter
como base as ações de organização e nas ciências de comportamento. As
empresas que prezam por um desempenho ambiental equilibrado buscam
técnicas de gestão ambiental para possibilitar o controle de impactos
ambientais e de su atividades, produtos e serviços, mas tais técnicas não são
suficientes para garantir que o desempenho ambiental atenda ou mantenha os
requisitos legais e internos da organização. É preciso participar de um sistema
de gestão estruturado e que seja parte do sistema de gestão global de
organização. A Norma NBR ISO 14001:2004 (Sistemas de Gestão Ambiental –
Requisitos com orientações para uso) (Idem, p. 181).
Assim, a gestão ambiental, com base na ISO 1400, utiliza um ciclo
PDCA espiralado (Planejar, implementar, verificar e analisar) com o objetivo de
introduzir a melhoria contínua para um meio ambiente sadio. A ISO 14001 é
formada por cinco elementos chave, que são as etapas da implementação do
Sistema de Gestão Ambiental (SGA): Política Ambiental – definir e assegurar o
comprometimento com o seu Sistema de Gestão Ambiental; Planejamento –
implementar, cumprir e manter a Política Ambiental. Nesta etapa defini-se qual
a situação de desempenho ambiental em que se encontra a organização e
quais as ações necessárias para a melhoria deste desempenho;
Implementação e Operação - desenvolver a capacitação e os mecanismos de
apoio necessários para atender sua política, seus objetivos e suas metas
ambientais; Verificação- realizar a medição dos processos executados na etapa
de Implementação e Operação e os desvios, por ventura encontrados ou
antevistos, são corrigidos por ações corretivas e preventivas, respectivamente;
Análise pela Administração – realizada a analise das informações da
Verificação para avaliar se a etapa de Implementação e Operação foi realizada
conforme estabelecida no Planejamento para implementar e manter a Política
Ambiental (Idem, pp. 181, 182).
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CAPÍTULO II
ECOSOFIA E AS TRÊS ECOLOGIAS DE FELIX
GUATTARI
Para trabalhar a gestão ambiental é preciso considerar a ética como
principal base para ter um ambiente saudável, pois é na articulação entre ética
e política ambiental que Guattari denomina a Ecosofia como alicerce para as
três ecologias: do meio ambiente, das relações sociais e a da subjetividade
humana que interagem entre si.
Para Guattari, cada vez mais a prática humana será dependente do
equilíbrio ambiental e o comportamento humano individual e coletivo estaria
indo ao encontro de uma deterioração do meio ambiente sendo necessária, de
forma emergencial, uma ética ecosófica. Neste contexto, o desenvolvimento de
uma ecosofia social deveria tender para uma reinvenção do modo de ser do
indivíduo no meio social, a ecosofia subjetiva ou mental possibilitaria a
renovação da relação do sujeito com o corpo, em suas instâncias psíquicas
individuais e coletivas sobre o planeta (GUATTARI, 1990). * Ecologia subjetiva
ou mental deve ser aprendida, pensada e repensada para reformar a
concepção do ser humano sobre si mesmo, perante a coletividade e sobre o
mundo que vive; * Ecologia social; deve trabalhar as relações humanas,
reconstruindo-as em todos os níveis do socius; * Ecologia do meio ambiente,
onde tudo é possível de acontecer, quanto às evoluções flexíveis e quanto às
piores catástrofes ambientais; “cada vez mais, os desequilíbrios naturais
dependerão das intervenções humanas” (CÓDULA, 2013).
O planeta terra vive um período de intensas transformações técnico-
científicas das quais engendram-se fenômenos de desequilíbrios ecológicos
que ameaçam a implantação da vida em sua superfície. os modos de vida
humanos individuais e coletivos evoluem no sentido de uma deteriorização. A
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vida doméstica vem sendo gangrenada pelo consumo da mídia frequentemente
"ossificada " por uma padronização dos comportamentos reduzindo a sua mais
pobre expressão (GUATARRI, 1990, p. 7).
É a relação de subjetividade com sua exterioridade (social, animal, vegetal,
cósmica) que se encontra comprometida com um movimento de implosão e
infantilização regressiva. as formações políticas e executivas parecem
incapazes de apreender essa problemática no conjunto de suas implicações.
Apesar de estarem tomando consciência parcial dos perigos mais evidentes
que ameaçam o meio ambiente. Elas se contentam em abordar o campo dos
danos industriais numa perspectiva tecnocrática, ao passo que só uma
articulação ético-política é que poderia esclarecer convenientemente tais
questões. Gatarri chama de ECOSOFIA que está entre os três registros
ecológicos: meio ambiente, relações sociais e o da subjetividade humana
(idem, p. 8).
O que está em questão é a maneira de viver daqui em diante no nosso
planeta no contexto das mutações técnico-científicas e do crescimento
demográfico. Em função do trabalho maquínico redobrado pela revolução
informática as forças produtivas vão tornar disponível uma quantidade cada
vez maior do tempo da atividade humana. mas com que finalidade? A do
desemprego, da marginalidade opressiva, solidão, da ociosidade, da angústia
ou da cultura, da criação, da reinvenção do meio ambiente, do enriquecimento
dos modos de vida e da sensibilidade? São blocos inteiros da subjetividade
coletiva que se afundam em arcaísmos. Não haverá resposta à crise ecológica
a não ser em escala planetária e com a condição de que se opere uma
autentica revolução política, social e cultural reorientando os objetivos da
produção de bens materiais e imateriais. Esta revolução deverá concernir os
domínios da sensibilidade, inteligência e de desejo. uma finalidade do trabalho
social regulada de maneira unívoca por uma economia de lucro e por relações
de poder que só levam a dramáticos impasses.
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No absurdo que pesam sobre o Terceiro Mundo e conduzem alguma de
suas regiões a uma pauperização absoluta e irreversível. A saber os modos
dominantes de valorização das atividades humanas:
1- um mercado mundial que lamina os sistemas particulares de valor, numa
equivalência de bens materiais, culturais áreas naturais etc.
2- o conjunto das relações sociais e internacionais sob a direção das
maquinas políticas e militares (idem, p. 9, 10).
A ecosofia social consistirá em desenvolver práticas específicas que
tendam a modificar e a reinventar maneiras de ser no seio do casal, que tem
familiaridade no contexto urbano, do trabalho etc. a questão será reconstruir o
conjunto das modalidades do ser-em-grupo. faríamos funcionar práticas
efetivas de experimentação nos níveis micro-sociais e em instituições maiores
(Idem, pp. 15, 16).
A ecosofia mental será levada a reinventar a relação do sujeito com o
corpo, com o fantasma (inconsciente), com o tempo, mistérios da vida e da
morte. Ela será levada a procurar antídotos para a uniformização midiática e
telemática, o conformismo com a moda, manipulação da opinião pela
publicidade, pelas sondagens etc. aproximar-se mais do artista do que a dos
profissionais assombrados por um ideal de cientificidade (idem, p. 16).
As relações da humanidade com o socius, com a psique e com a
“natureza” tendem a se deteriorar cada vez mais em razão de nocividades,
poluições, pelo desconhecimento e de uma passividade fatalista dos indivíduos
e dos poderes com relação a essas questões consideradas em seu conjunto.
Acostumamos a uma visão a uma visão de mundo que elimina a pertinência
das intervenções humanas que se encarnam em políticas e micropolíticas
concretas. Explicar este perecimento das práxis sociais pela morte das
ideologias e pelo retorno dos valores universais parece pouco satisfatório. O
que convém incriminar é a inadaptação das práxis sociais e psicológicas e
também a cegueira quanto ao caráter falacioso da compartimentação de alguns
18
domínios do real. Não é justo separar a ação sobre a psique daquela sobre o
socius e o ambiente. A recusa a olhar de frente as degradações desses três
domínios, tal como isso é alimentado pela mídia, confina num empreendimento
de infantilização da opinião da opinião e da neutralização da democracia.
Conviria daqui pra frente, apreender o mundo através dos três vasos
comunicantes que constituem nossos três pontos de vista ecológicos (ecosofia
ambiental, social e mental) (Idem, pp 23,24).
É evidente que uma responsabilidade e uma gestão mais coletiva se
impõem para orientar as ciências e as técnicas em direção a finalidades mais
humanas. Não podemos nos deixar guiar cegamente pelos tecnocratas dos
aparelhos do Estado para controlar as evoluções e conjurar os riscos nesses
domínios, regidos no essencial pelos princípios da economia de lucro.
Certamente seria absurdo querer voltar atras para tentar reconstituir as antigas
maneiras de viver. Jamais o trabalho humano ou o habitat voltarão a ser o que
eram há poucas décadas, depois das revoluções informáticas e robóticas.
Menos do que nunca a natureza pode ser separada da cultura e precisamos
aprender a pensar “transversalmente” as interações entre ecossistemas,
mecanosfera e Universos de de referência sociais e individuais (idem pp. 24,
25).
A ecologia ambiental, tal qual existe hoje, não fez senão iniciar e
prefigurar a e ecologia generalizada que aqui preconizo e que terá como
finalidade descentrar radicalmente as lutas sociais e as maneiras de assumir a
própria psique. A questão ecosófica global é importante demais para ser
deixada a algumas de suas correntes arcaizantes e folclorizantes que optam
por recusar todo e qualquer engajamento político em grande escala. A
conotação da ecologia deveria deixar de ser vinculada à imagem de uma
pequena minoria de amantes da natureza ou de especialistas diplomados
(idem pp. 36, 37).
O principio comum às três ecologias consiste, pois, em que territórios
existenciais com os quais elas nos põem em confronto não se dão como um
19
em-si, fechado sobre si mesmo, mas como um para-si precário, finito, finitizado,
singular, singularizado, capaz de bifurcar em reiterações estratificadas e
mortíferas ou em abertura processual a partir de práxis que permitam torná-lo
“habitável” por um projeto humano. É essa abertura práxica que constitui a
essência dessa arte da “eco” subsumindo todas as maneiras de domesticar os
territórios existenciais, sejam eles concernentes a maneiras intimas de ser, ao
corpo, ao meio ambiente ou a grandes conjuntos contextuais relativos à etnia, à
nação ou mesmo aos direitos gerais da humanidade (idem, pp. 37, 38).
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CAPÍTULO III
ÉTICA E SUA RELAÇÃO COM O MEIO AMBIENTE
Para discutir a relação do homem com o meio ambiente é necessário
que haja um mínimo de conhecimento ético, pois é a partir dele que verificamos
quais nossas ações são virtuosas ou não.
A ética é uma disciplina filosófica cujo objetivo de investigação é a
procura de princípios regulativos das condutas corretas e incorretas envolvidas
com valores éticos. A definição de “valores éticos” está relacionado a qualquer
conduta em que estão em jogo a honestidade, a lealdade, a honra, o respeito
pelo outro entre outros valores. Estes valores éticos positivos, ao passo que a
deslealdade, a desonra, o desrespeito pelo outro etc são valores éticos
negativos. Negativo neste caso tem o sentido de não recomendável, ruim
(GUERREIRO, 1995, pp. 26, 27).
Devemos a Aristóteles a definição do campo das ações éticas. Este não
é só definido pela virtude, pelo bem e pela obrigação, mas também pertencem
àquela esfera da realidade na qual cabem a deliberação e a decisão ou
escolha. Não deliberamos sobre as estações do ano, o movimento dos astros,
não decidimos sobre aquilo que é regido pela natureza. Mas decidimos sobre
tudo aquilo que, para acontecer, depende da nossa vontade e de nossa ação.
Decidimos sobre o possível, isto é, sobre aquilo que pode ser ou deixar de ser,
porque, para ser e acontecer, depende de nós, de nossa vontade e da nossa
ação (CHAUÍ, 2004).
A ética é o exercício da responsabilidade ligada à concepção do ser e da
natureza. Isto é, está intrínseco no ser humano esta relação da conformidade
ou não, com a razão que nos torna bons ou maus, de modo incondicional.
Neste aspecto, o mais importante é deixar clara a necessidade da ética na
vida do homem. Ela surge quando sentimos necessidade de responsabilidade
pelo nosso destino e pelo do outro. Ser ético é assumir para si mesmo os
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interesses do outro até quando não coincidem com os nossos. Para ser ético é
preciso ser livre, respeitando o outro e impondo limites ao próprio poder. Sem
ética nada tem valor. O ser humano é um ser criativo; e, se não consegue
pensar, ele levanta e protesta. É sua essência que lhe dá essa liberdade
criativa. E quando a opressão lhe pesa, ele protesta e se opõe. Pode até ser
torturado, mas nada lhe tira a capacidade de se opor. Tanto na escola, na
educação quanto, com a família e religiões. Sempre mantendo sua capacidade
de desejar. (BOFF, 2003).
Precisamos transformar nossa consciência num projeto pessoal e
cultural. É fazer com que a sociedade, a cultura e a educação reservem
espaços para a integração com a natureza, numa eterna interação com o outro
e construir o novo a partir do seu lugar de origem; é pegar o que já existe e
transformar em algo para novas mudanças, sonhar com as potencialidades e
apostar nelas. A ética está aberta às mudanças, às mentalidades e às
sensibilidades e transformações sociais, a fim de tornar a moradia humana
mais honesta e saudável. É um conjunto de atividades sempre abertas à vida
e suas possibilidades. Dá-nos coragem de expulsar elementos obsoletos e
confere-nos a ousadia de assumir com responsabilidades e projetar novos
valores. Como respeito, dignidade, compaixão. Valores que nos tornam
sensíveis, com responsabilidades e seriedades. BOFF (1997)
O filósofo Jean-Paul Sartre dizia que, quando elejo a mim mesmo, estou
escolhendo toda humanidade. Escolho todos os outros que são tão humanos
quanto eu, o que faz com que eu deva aceitar que a singularidade seja possível
para todos, e a sociedade torna-se uma multiplicidade de diferentes indivíduos
criativos. Afirmando que compreender a ética não deve ser vista como uma
atitude solitária, particular, mas, sim, como um empreendimento coletivo,
solidário: buscar o meu prazer, minha realização, mas também o prazer e a
realização do “outro” (GALLO, 2003).
Muitas pessoas confundem ética e moral, e é a partir das perguntas “o
que é ética? O que é moral?”, tentaremos um pequeno esclarecimento: Na
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linguagem comum, ética e moral são sinônimos; porém, se nos aprofundarmos
na questão, perceberemos que ética e moral não os são. Partiremos pela
definição de ética feita por BOFF (2004)
Ética é parte da filosofia. Considera concepções de fundo
acerca da vida, do universo, do ser humano e de seu destino,
estatui princípios e valores que orientam pessoas e
sociedades. Uma pessoa é ética quando se orienta por
princípios e convicções. Dizemos então que tem caráter e boa
índole. (p.37)
O termo ethos vem do grego de onde se deriva ética, que significa
morada humana e também caráter, jeito de ser, modo de ser. Para que a
morada seja morada, é necessário porém organizar o espaço físico e o espaço
humano (relações entre os moradores entre si e os vizinhos), ou seja, o
conjunto organizado dos princípios, valores, das práticas humanas, pessoais e
sociais (BOFF, 2004). Moral, vem de mores do latim que significa costumes,
tradições, hábitos, maneiras e usos de organizar as refeições, os
encontros, as festas, estilos de relacionamento e os comportamentos
concreto das pessoas.
A moral é parte da vida concreta. Trata da prática real das
pessoas que se expressa por costumes, hábitos e valores
culturalmente estabelecidos. (Boff, 2004 p.37)
Porém, estes valores culturalmente estabelecidos podem ser
questionados pela ética, porque uma pessoa pode seguir os costumes até por
conveniência, mas não são éticos. Imaginemos como seriam uma casa e uma
sociedade (ethos) que tivessem tais costumes e produzissem caracteres
humanos (mores) e a partir desta compreensão, poderemos ajuizar as várias
éticas e morais existentes nas culturas mundiais. BOFF mostra em Ética e
Moral 2004. Com a globalização as pessoas interagem de uma forma intensa e
assim o sistema capitalista desenvolve sua própria ética para que continue
lucrando mais:
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A ética capitalista diz: bom é o que permite acumular mais com
menos investimento e em menos tempo possível. A moral
capitalista concreta reza: empregar menos gente possível,
pagar menos salários e impostos e explorar melhor a natureza
para acumular mais meios de vida e riqueza (BOFF, p.41)
E essa é uma das razões da grave crise atual, de valores, crise de uma
visão mais humanitária e generosa da vida, crise de ótica que, como diz
Leonardo Boff, gera uma crise de ética: Ser ou não responsável pelo outro? A
responsabilidade revela o caráter ético das pessoas. Se assumirmos nossa
responsabilidade, tudo que vem de encontro com as nossos questionamentos
pode servir de estímulo para novos e melhores caminhos.
BOFF finaliza: Talvez não saibamos teoricamente o que é bom ou ruim,
nem tenhamos o mapa da viagem da vida. Mas identificamos nessas pessoas,
verdadeiros caracteres, um dos sentidos originais de ethos. Neles a ética e a
moral emergem como praticas vivas e convincentes, ou também como sua
fragorosa negação, como aquilo que não deve ser. Elas mostram a
possibilidade com a qual todo ser humano sonha, a de se realizar como
pessoa. Essa realização vale mais que a pura e simples busca da felicidade.
Em nossas reflexões, tentamos refazer a experiência da qual se constrói
a ética e moral. Mas não basta compreendermos. Temos que nos transformar
em pessoas éticas como dizia Aristóteles “ não filosofamos para saber o que
seja virtude, mas para nos tornamos pessoas virtuosas”( BOFF, 2004).
O surgimento de uma reflexão e consciência ambiental não foi simples,
mas foi fruto de um movimento social combativo e combatido, que mostrou de
forma predatória, como os seres humanos viam se relacionando com a
natureza, seu espaço vital. Muitos estudiosos dessa questão vem denunciando
essa relação de degradação ambiental e o modelo do sistema capitalista na
qual a sociedade urbano-industrial passou a predominar a partir do século XIX,
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alertando para a necessidade de se buscar novas formas de relação com a
natureza (VIANA; HÖEFFEL, 1998, p 68).
No século XX, com o crescimento populacional e com grande
desenvolvimento industrial o homem passou a usar muito mais recursos da
natureza do que era capaz de fornecer sem debilitar. O homem passou a usar
os elementos naturais também como combustível e matéria prima, o que
comprometia o equilíbrio normal desses elementos. Neste sentido surgiu uma
preocupação com a sobrevivência, a segurança e o destino do homem tendo
em vista a degradação dos ecossistemas dos quais ele depende (BRANCO,
1997, p. 26).
A ética entra na questão ambiental quando decidimos nos
responsabilizar pelo nosso destino e pelo do outro, pois cada cidadão tem o
dever e a necessidade de fazer o que estiver ao seu alcance para proteger e
garantir a sobrevivência e o bem estar da sociedade. A ética é um
compromisso recíproco com a sociedade com leis e regras de defesa do meio
ambiente, pois com sua destruição conduz à da própria espécie humana. A
destruição da natureza leva à destruição do homem e assim temos um dever
ético para com ele. Eticamente a natureza deve ser explorada, pois disso
depende a sobrevivência da humanidade, mas não deve ser feita de forma que
a velocidade de reposição seja menor que a de exploração dos recursos
(idem,pp. 27, 28).
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CONCLUSÃO
A gestão ambiental, como vimos, é um processo participativo,
integrado e contínuo que é compatível com atividades humanas e a
preservação ambiental atuando com os princípios e ações sociais e
governamentais assim como a participação efetiva de todos os indivíduos de
uma sociedade para proteção ao meio ambiente. Neste sentido e diante da
reflexão que o problema ambiental vem provocando, são muitas as exigências
para transformação do homem com o planeta. É preciso uma reflexão ética
para toda ação humana.
A ética ē um exercício de responsabilidade pelo nosso destino e do
outro assumindo para nós mesmos os interesses do outro. A ética está aberta
às mudanças e às transformações sociais e tecnológicas, a justa medida entre
todas as transformações e o meio ambiente. É neste processo entre a relação
da gestão ambiental e a ética, encontrada nas três ecologias de Felix Guattari,
que a prática humana será dependente do equilíbrio do comportamento
humano individual e coletivo e ambiental.
É preciso vontade política e de todos da sociedade de alterar a crise
ambiental e ética na qual vivemos para encontrar a justa medida na gestão
ambiental onde não precisamos travar as transformações tecnológicas, mas
sim, encontrar o meio termo, que a ética de Aristóteles considera uma ação
virtuosa para que essas transformações não destrua o meio ambiente.
26
27
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– Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
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Cidadania e Meio Ambiente. Volume 02. Série Temas Transversais. Arnold
José de Hoyos Guevara. São Paulo: Petrópolis, 1998.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTOS 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 06
SUMÁRIO 07
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
Gestão Ambiental e suas Ferramentas para um Meio Ambiente Saudável 09
CAPÍTULO II
Ecosofia e as Três Ecologias de Felix Guattari. 14
CAPÍTULO III
Ética e sua Relação com o Meio Ambiente. 20
CONCLUSÃO 24
BIBLIOGRAFIA 25
ÍNDICE 27
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