Estruturas Estruturas rítmicas -rítmicas -
Música do século XXMúsica do século XX
"Rhythm is the soul of life.
The whole universe revolves
in rhythm.
Everything and every human
action revolves in rhythm."
Babatunde Olatunji
O quê é ritmo?O quê é ritmo?
Ritmo vem do grego Rhytmos e designa aquilo que flui, que se move, movimento
regulado. O ritmo está inserido em tudo na nossa vida; mas a palavra é normalmente usada associada
à música, à dança, ou a parte da poesia, onde designa a variação (explícita ou implícita) da duração
de sons com o tempo. O estudo do ritmo, entoação e intensidade do discurso chama-se prosódia e é
um tópico pertencente à linguística. Na música, todos os instrumentistas lidam com o ritmo, mas é
freqüentemente encarado como o domínio principal dos bateristas e percussionistas.Segundo
alguns autores, os conceitos de ritmo podem variar:
• Para Berge o ritmo é uma lei universal a que tudo submete;
• Dalcroze o caracteriza como princípio vital e movimento;
• Platão sistematiza o ritmo, colocando-o como definição de movimento ordenado.
“A faculdade de criar nunca
nos é dada sozinha. Ela anda
sempre acompanhada do
dom da observação.”
Igor Stravinsky
(n. Ornienbaum 1882; n. New York 1971)
Ritmo / Música / Século XX
O ritmo musical é um acontecimento sonoro (independe de altura definida ou indefinida) que acontece numa certa regularidade
temporal. É a ordenação dos sons de acordo com padrões musicais estabelecidos. É a variação da duração e acentuação de uma
série de sons ou eventos. Na música ocidental, os ritmos estão, em geral, relacionados com uma fórmula de compasso e seu
andamento implicando numa métrica (simples ou composta). O valor do pulso subjacente, chamada batida, é o tempo.
A maior parte da música ocidental baseia-se num ritmo divisivo, ao passo que a música não-ocidental usa mais ritmos aditivos. A
música africana faz um uso intenso de polirritmos; a música indiana usa ciclos complexos, como 7 ou 13; a música balinesa usa
frequentemente ritmos entrecruzados. Comparativamente, muito da música clássica ocidental é simples no que diz respeito ao
ritmo: não sai de uma métrica simples (duplo simples, 2/4; triplo simples, 3/4; duplo composto 6/8; e triplo composto 9/8); e
usa poucas figuras sincopadas. No século XX, compositores como Igor Stravinsky, Philip Glass, e Steve Reich escreveram
música de maior complexidade rítmica, usando métricas diferentes e técnicas como o defasagem ou o ritmo aditivo. Ao mesmo
tempo, modernistas como Olivier Messiaen e os seus seguidores usaram um aumento na complexidade para quebrar a sensação
de uma batida regular, o que levou ao uso generalizado de ritmos irracionais na nova complexidade. LaMonte Young também
escreveu música na qual a sensação de uma batida regular está ausente, porque a sua música consiste apenas de longos tons
sustentados (drones).
A clave é uma expressão usada comumente na música africana, cubana e brasileira para ritmo.
E agora estou perdido!Devo parar?
- Não, se páras, estás perdido.
Goethe, in "Poemas"
Contexto erudito ocidental / Stravinsky
A mesma importância histórico-estética-musical que cabe a Debussy – desenvolvendo a música e o som como entidades
autônomas em função do seu colorido timbrístico –, cabe a Igor Stravinsky, um dos principais protagonistas da
reformulação do parâmetro musical da estruturação rítmica no século XX.
O século xx deu um passo importante ao liberar o ritmo da tirania da barra de compasso,ou seja ,da regularidade dos
conjuntos de duas ou três unidades com acentuações fortes e fracas, e onde os acentos fortes tendiam a coincidir com as
mudanças de harmonia. Stravinsky recusa muitas vezes a barra de compasso, introduzindo um esquema rítmico
irregular depois de ter estabelecido um esquema regular e regressando de tempos a tempos a esse ritmo regular
(exemplo abaixo).
Contexto erudito ocidental / Stravinsky 2O compasso regular pode manter-se numa das vozes, contrastando com o esquema irregular de outra voz (exemplo abaixo),
ou podem combinar-se dois ritmos diferentes (exemplo abaixo).
[Petruchka, I parte]
Contexto erudito ocidental / Stravinsky 3Um motivo rítmico pode mudar de sítio dentro do compasso.
[Sinfonia dos Salmos, último andamento]
O ritmo do início do último andamento do Sacre parece muito irregular quando olhamos para a partitura, mas soa regular ao
ouvido; na realidade, organiza-se de forma relativamente simétrica em torno do motivo que aparece 8 vezes.
Contexto erudito ocidental / Stravinsky 4Em quase todas as composições da fase neoclásssica de Stravinsky encontramos estruturas rítmicas tão sutis.
[Le Sacre du Printemps, danse sacrale]
É particularmente fascinante o modo como o compositor adensa e depois abre as harmonias, desarticula e recompõe os
ritmos, numa longa pulsação de tensão e abrandamento antes de uma cadência importante: ouçam-se os finais do
Octeto, o III e o IV movimentos da Sinfonia em Dó e os Sanctus da Missa.
Contexto erudito ocidental / Stravinsky 5
Ígor Fiódorovitch Stravinski — língua russa: И́Oгорь Фёдорович СтравиOнский — (Oranienbaum, 17 de junho de 1882 – Nova York, 6 de
abril de 1971) foi um compositor russo, um dos mais influentes nomes da música do século XX, considerado pela Time uma das cem
pessoas mais influentes do século.
Uma das suas mais famosas peças é A Sagração da Primavera, também comumente referida por seu título em Francês Le Sacre du
Printemps. É um balé em dois atos que conta a história da imolação de uma jovem que deve ser sacrificada como oferenda ao deus da
primavera em um ritual primitivo, a fim de trazer boas colheitas para a tribo. Sendo a música de autoria do russo Igor Stravinsky,
coreografia de Vaslav Nijinsky, e cenografia do arqueologista e pintor Nicholas Roerich, a obra teve a produção de Serge Diaghilev e
estreou em 29 de maio de 1913 no Théâtre des Champs-Élysées, em Paris.
Na Sagração da Primavera é o ritmo que conduz a música, ficando a harmonia relegada ao segundo plano. Grande parte da Dança do
Sacrifício é composta de "células" de uma a seis notas aproximadamente, em vez de frases à maneira convencional. Freqüentemente
essas células são fortemente acentuadas, e a música avança mediante a repetição, interposição e variação - procedimento que, dada a
duração desigual das células, exige constantes mudanças de andamento. A medida de tempo deixa de obedecer às barras de compasso,
passando a depender da duração individual de colcheias e semínimas.
O desenvolvimento rítmico das obras de Stravinsky irá influenciar definitivamente os compositores no decorrer do século XX, aliado à
reestruturação formal debussyniana e à nova concepção harmônica de Arnold Schoenberg.
“When I listen to music,
I am not listening for
mood or atmosphere.
I hear it in terms of
language of music
and I hear a grammar
which is totally different.”
Philip Glass
Contexto erudito ocidental / Philip GlassPhilip Glass (Baltimore, 31 de janeiro de 1937) é um compositor americano e está entre os compositores mais influentes do final do
século XX. É um compositor muito prolífico tendo produzido inúmeros trabalhos entre óperas, sinfonias, concertos, trilhas sonoras
para filmes e outros trabalhos em colaboração com outros músicos.
Entre as óperas produzidas por Glass podemos citar Satyagraha (1980) baseada na vida de Mahatma Gandhi que inclui diversos
mantras. Compôs também a ópera Itaipu (1989) referindo-se a usina de mesmo nome que possui texto em guarani. Também é dele
Days and Nights in Rocinha (1997) que foi escrita após uma visita de Glass a favela da Rocinha antes do Carnaval. Glass compôs
trilhas sonoras para diversos filmes, começando por Koyaanisqatsi (1982), dirigido por Godfrey Reggio que está entre as trilhas
sonoras mais influentes. Podemos citar também como trabalhos na área de trilha sonora para filmes Mishima (1985), Kundun
(1997)sobre o Dalai Lama, a trilha sonora dos demais documentários da trilogia Qatsi em Powaqqatsi (1988) e Naqoyqatsi (2002),
além de The Truman Show (1998) que usou partes das trilhas de Mishima e Powaqqatsi e The Hours (2002) o qual recebeu uma
indicação para o Oscar. Recentemente produziu a trilha para os filmes The Illusionist (2006) e Notes on a Scandal (2006), este
último lhe rendendo uma indicação ao Óscar de melhor trilha sonora. Além de trabalhos sinfônicos, Glass também possui fortes
ligações com rock e música eletrônica, sendo que o artista de música eletrônica Aphex Twin já colaborou com Glass. Vários
outros artistas foram influenciados por sua obra como Mike Oldfield, John Williams e bandas como a Tangerine Dream. Brian Eno
inclusive confirma a influência que teve de Glass.
Contexto erudito ocidental / Philip Glass 2Possui um estúdio freqüentado por artistas famosos como David Bowie, Lou Reed e Björk, chamado Looking Glass.
Entre as influências que recebeu de outros artistas, podemos citar Ravi Shankar que mudou sua percepção da música
indiana. O encontro deles ocorreu durante as filmagens de Chappacqua (1966), onde Glass escreveu juntamente com
Shankar a trilha sonora para este filme. Em 1990 voltariam a trabalhar juntos em Passages.
“It’s hard to imagine
pulsation being the least
bit out of the ordinary in
music.
But in the academic world
that I studied in from 1957
to 1963, the prevailing
works of that time, written
by Stockhausen, Boulez,
Berio and Cage, were
nonpulsatile – there
was no regular beat.”
Steve Reich
Contexto erudito ocidental / Steve ReichSteve Reich ou Stephen Michael Reich (Nova Iorque, 3 de outubro de 1936) é considerado um dos mais importantes
compositores da música minimalista.
Estudou percussão aos catorze anos com o timpanista da Orquestra Filarmônica de Nova Iorque; formou-se em Filosofia na
Universidade Cornell; estudou composição por dois anos com Hall Overton, de 1958 até 1961 na escola de música
Juilliard. Além disso, estudou em institutos africanos e balineses. Em 1990 ganhou o Grammy de melhor compositor
contemporâneo.
Contexto erudito ocidental / Edgar VarèseEdgar(d) Victor Achille Charles Varèse (Paris, 22 de novembro de 1883 — Nova Iorque, em 6 de novembro de 1965) foi um
compositor francês naturalizado estadunidense. Ele estudou com Vincent d'Indy na Schola Cantorum, de 1903 a 1905, e com
Charles-Marie Widor no Conservatório de Paris, de 1905 a 1907; depois, ele se deslocou a Berlim, onde encontrou Richard Strauss
e Ferruccio Busoni. Em 1913, regressou a Paris, mas em 1915, decepcionado pelos novos meios oferecidos aos compositores,
decidiu emigrar para os Estados Unidos, e estabeleceu-se em Nova Iorque. Passou seus primeiros anos nos Estados Unidos a
encontrar-se com os principais autores da música norte-americana, promovendo sua visão de novos instrumentos de música
eletrônica, dirigindo orquestras, e criando a New Symphony Orchestra. Foi cerca desse período que Varèse começou a trabalhar em
Amériques, que terminou em 1921. Nessa obra, Varèse mostra-se particularmente atento em dar corpo à matéria sonora
proteiforme, palavra criada a partir da entidade mitológica grega Proteu, divindade com o poder de se metamorfosear: ele
transforma as massas sonoras em cores de timbres, jogos de interações recíprocas, liberadas do jugo de um sistema. Necessitou,
para essa empreitada, de integrar novos conceitos de sonoridade, que transformam os parâmetros clássicos da música em categorias
mais amplas, portanto em campos, noção móvel, mas mais em consonância com as pesquisas desenvolvidas pelas ciências físicas
de hoje. Com efeito, na teoria quântica de campos, derivada dos trabalhos sobre o eletromagnetismo, os resultados exatos são raros,
e deve-se habitualmente valer-se de métodos de aproximações sucessivas (também chamada de teoria das perturbações). Notar-se-
á igualmente a concordância da composição Amériques com a publicação da teoria da relatividade geral de Albert Einstein (1915).
Contexto erudito ocidental / Procedimentos rítmicos
Valores adicionados – Adição de alguns valores de notas no tempo do compasso;
Ritmo aditivo – Passagens nas quais algumas notas curtas aparecem constantemente, porém são usadas em grupos que variam na sua
extensão. Ritmo em que os períodos longos de tempo são construídos por sequências de pequenas unidades rítmicas adicionadas
ao final da própria unidade. É diferente do ritmo divisivo (em que um período longo é dividido por pequenas unidades rítmicas);
Sem métrica – Música que não tem métrica organizacional;
Assimétrico – Métrica com 5 ou 7 como números de referência;
Aumentação
Automação – Como uma máquina; mecanicamente;
Mistura métrica (variação métrica) – Mudança de uma figura de tempo para outra;
Complexo métrico – Uma métrica como: 4 + 2 + 3 / 8;
Tempo composto
Diminuição
Métrica dupla, tripla ou quádrupla;
Compasso fracional – Métrica onde o numerador inclui ou é uma fração;
Hemíola – Mudança da métrica por outra, similar à multimetria, mas sem uma mudança de compasso;
Contexto erudito ocidental / Procedimentos rítmicos
Homorritmo – Ataques simultâneos da orquestra;
Isomelos – Mudança rítmica, mesma nota;
Isorritmo – Utilização de um padrão rítmico que se repete através de uma passagem ou da obra, originário dos motetos do
século XIV;
Modulação métrica – Método de mudança de tempo precisa, porém emprego de alguns valores de nota no primeiro tempo
iguais a alguns no segundo tempo (usado primeiro pelo compositor Elliott Carter);
Multimetria – Mudança métrica: 4 / 4 para 5 / 8 para 6 / 8 etc. Exemplo: A Sagração da Primavera, de Igor Stravinsky;
Ritmo não retrógrado – Ritmos que você não poderá distinguir sua parte original de sua parte retrógrada, pois são iguais;
Compassos não tradicionais – Métrica usando valores que não 2, 3, 4, 6, 9, 12 no numerador do compasso;
Polimetria – Uso simultâneo de dois ou mais compassos diferentes ao mesmo tempo podendo ser: compassos iguais, porém
deslocados; compassos diferentes com barro de compasso coincidindo; compassos diferentes com barras de compasso
não coincidindo;
Polirritmia – Padrões rítmicos distintos e simultâneos. Exemplo: Scherzo over The Pavements, de Charles Ives;
Ritmo serial – Música em que o aspecto rítmico é controlado pela mesma série de durações pré determinadas;
Polirritmos descontínuos – Efeito que o ritmo é deslocado por um polirritmo desconectado.
Contexto erudito / Estilos
• Minimalismo
• Eletroacústica
• Eletrônica
• Concreta
• Serialismo
• Neo-romantismo
• Impressionismo
• Neo-classicismo
• Dodecafonismo
• Microtonalismo
• Aleatória
Contexto erudito / Compositores **consagrados
• Igor Stravinsky
• Philip Glass
• Steve Reich
• Oliver Messiaen
• LaMonte Young
• Edgar Varèse
• Anton Webern
• Pierre Boulez
• John Cage
• Arnold Schoenberg
• Milton Babbitt
• Charles Ives
• Elliot Carter
• Ligeti
• Xenakis
• Bella Bartok
• Paul Hindemith
• Pierre Schaeffer
• Karlheinz Stockhausen
• Wellington Gomes
Contexto popular e contexto não-ocidental
Com o advento do rádio e de outros meios de comunicação, muito se evoluiu na sistematização e publicação de
novas obras e inovações rítmicas da música popular e erudita. Em geral, muitas das técnicas aplicadas por
compositores eruditos ocidentais já eram trabalhadas em culturas “alternativas”, tais como a cultura
africana e indiana.
Contexto popular e/ou não-ocidental / Candomblé
“O universo rítmico do candomblé se associa muito bem a essa vertente – música das décadas de 60 e 70 (música de
vanguarda) –, porque ele próprio pode ser concebido como um mosaico composto por unidades de duração elementar
de 1 e de 2 tempos. Estudando padrões rítmicos afro-baianos aparentemente independentes como o Opanijé, o Ijexá e o
Daró, vemos como podem ser facilmente concebidos tal qual variantes de um modelo básico, e como esse modelo
básico está implicado também no Alujá, no Giká e no Barravento.
Contornando toda essa disposição combinatória, o que temos é um investimento potente numa concepção de tempo que se
afasta da linearidade ocidental na direção do êxtase.”
Paulo Costa Lima
Contexto popular e/ou não-ocidental / África
Nos primeiros anos do estabelecimento da Musicologia Comparativa, estruturas de natureza predominantemente rítmica
passaram a interessar os pesquisadores de forma secundária. Só depois de analisadas prioritariamente escalas e
afinações "exóticas" de países orientais, pesquisadores da primeira metade do século XX expandiram o seu enfoque
também a estruturas rítmicas. Retomando o que se sabia até a época, o musicólogo americano Richard Waterman
(1952) resumiu as características que lhe pareciam essencias em grande parte das culturas musicais africanas,
apontando também para os seus paralelos na música afro-americana. Note-se que os cinco critérios por ele enunciados
referem-se a aspectos estruturais da música: "Metronome Sense"; "Call and response Pattern", incluindo "overlapping
call and response"; poliritmo e polimétrica; fraseados em off-beat dos acentos melódicos; predominância dos
instrumentos de percussão (idiofones e membranofones). Este último dado coincide com uma imagem generalizada que
muita gente tem até hoje da música africana. Apesar da inquestionável importância do elemento percussivo, não se pode
considerar como menos importantes os elementos polifônicos na música vocal (por exemplo dos Wagogo na Tanzânia)
e também na música instrumental (sopros e cordas).
Contexto popular e/ou não-ocidental / África 2
Música e dança: a partir de sua semântica, fica evidente que na maioria dos idiomas africanos o aspecto sonoro e o
movimento de música e dança são inseparáveis. Ao analisar-se música africana, portanto, dança e expressão corporal
devem sempre ser considerados.
Pulsação elementar: é a pulsação contínua de valores de tempo mínimos. Este timing é concretizado acusticamente ou
através de movimentos, significando a menor distância entre impactos sonoros e/ou de movimentos. Não existe início
ou final preestabelecidos, assim como tampouco uma acentuação pre-definida. Na prática esta acentuação se dá, por
exemplo, na execução de um padrão de chocalho na bateria de samba que preenche as pulsações elementares
ininterruptamente. Waterman havia se referido à pulsação elementar como "metronome sense".
Beat e off-beat: beat e off-beat representam a marcação e a batida entre as marcações. As acentuações melódicas do
repertório africano caem predominantemente fora da marcação, ou, na terminologia ocidental, fora do primeiro tempo
do compasso. Dentro do acontecimento musical a marcação representa um referencial onipresente, assim como também
a pulsação elementar. Ambos referenciais agem simultaneamente.
Ciclos formais: enquanto o referencial rítmico é realizado pela marcação e pela pulsação elementar, os motivos melódicos,
as frases, temas e fórmulas musicais expressam na sua repetição ciclos formais precisos que em geral se estendem sobre
8, 9, 12, 16, 18, 24, 27 ou 36 pulsos. O comprimento do ciclo é definido a partir do momento do primeiro impacto até o
início de sua repetição.
Contexto popular e/ou não-ocidental / África 3
Ritmos cruzados (cross-rhythm): a combinação de ritmos, frases ou motivos pode realizar-se de tal forma que sua
acentuação não coincide, resultando em novas configurações rítmicas.
Pulsos intercalados (interlocking): trata-se aqui de uma versão específica de ritmo cruzado, que se apresenta de forma
regular, quando dois ou três músicos intercalam suas marcações sonoras.
Padrão (pattern): em muitas culturas africanas os músicos pensam em padrões organizados, sejam estes rítmicos, ou de
outra natureza sonora e de movimento.
Notação oral: padrões rítmicos são muitas vezes fixados de forma não escrita. A sua manutenção fonética serve para a
transmissão de determinadas configurações musicais.
Time-line-pattern: Este é um padrão rítmico especial, de configuração assimétrica, que funciona como "cerne estrutural" da
música. Time-line-patterns são fórmulas estáveis, produzidas em um tom apenas, de timbre agudo, e servem de
orientação aos demais músicos e aos dançarinos.
Contexto popular e/ou não-ocidental / Bolero
A origem do Bolero é controversa. Alguns autores acreditam que ele nasceu em Cuba, por volta de 1880, inspirada no
dan’zon (dança parecida com um bailado medieval muito praticada nesse país no século XIX); outros acreditam que
surgiu na Inglaterra, passando pela França e Espanha com nomes variados (dança e contradança), sendo que nesse
último adquiriu características mais marcantes. Mais tarde um bailarino espanhol, Sebastian Cerezo, fez uma variação
baseadas nas Seguidillas, bailados de ciganas, cujos vestidos eram ornados com pequenas bolas (as boleras). É uma
dança romântica, dançada ao som de composições que trazem o amor como tema principal. Ritmo Binário.
Contexto popular e/ou não-ocidental / Chá Chá Chá
Surgiu em Cuba, nos anos 50, influenciada pelo Mambo. O nome foi tirado do barulho feito pelos dançarinos nas pistas de
dança. Dança alegre, atrevida e despreocupada. Popularizou-se no mundo com as formações das Big Bands, onde havia
claro predomínio de instrumentos de sopro. Se auge foi em 1954 e seu declínio em 1957.
Contexto popular e/ou não-ocidental / Charleston
Originária dos Estados Unidos, na década de 20. Tipo de Fox-Trot. Ritmo alegre e extrovertido. O dançarino executa
movimentos frenéticos e às vezes até exagerados com os braços, com as pernas executa passos onde os joelhos se
aproximam e se afastam.
Contexto popular e/ou não-ocidental / Fox Trot
Surgiu em New York, Estados Unidos da América, em 1913, quando existiam nos salões de bailes grandes festas animadas
por orquestras que encontraram neste ritmo o caminho ideal para alcançarem o sucesso. Seu auge foi na década de 30 e
40, nos musicais da Broadway, onde os dançarinos Fred Astaire e Ginger Rogers realizavam admiráveis performances.
Contexto popular e/ou não-ocidental / Habanera
Gênero de música e dança cubana, em compasso binário, que influenciou o Tango, o Maxixe e a música popular de quase
todos os países hispano-americanos. Popular no século XIX, foi utilizada por grandes compositores, como Bizet,
Albéniz e Ravel.
Contexto popular e/ou não-ocidental / Lambada
Nasceu da adaptação do Carimbó, dança folclórica do Paraná, na década de 70, em Belém do Pará. Teve influências do
merengue, salsa e zouk. Cantores mais famosos: Beto Barbosa, Márcia Ferreira, Manezinho do Sax, Grupo Kaoma.
Contexto popular e/ou não-ocidental / Mambo
Nasceu em Cuba e virou uma salada musical. Tem como antepassados os ritmos afro-cubanos derivados de cultos
religiosos no Congo. Seu nome vem da gíria usada pelos músicos negros ("Estás Mambo"- tudo bem com você?-) que
tocavam El Son nas charangas (bandas locais cubanas). Perez Prado adicionou metais nas charangas e foi de fato o
primeiro a rolular essa nova versão de El Son de Mambo. Invadiu os EUA nos anos 50. Cantores mais famosos: Prez
Prado, Xavier Cugat, Tito Puente e Beny Moré.
Contexto popular e/ou não-ocidental / Maxixe
É considerada a primeira dança nacional. Nascida por volta de 1870 e 1880, no Rio de Janeiro. Fusão da Habanera e da
Polka, com adaptação do ritmo sincopado africano. Seus movimentos caracterizam-se por requebros de quadril, voltas,
quedas, movimentos de rosca acompanhados de passos convencionais ou improvisados pelos dançarinos. Substituída
aproximadamente na década de 20 pelo Samba.
Contexto popular e/ou não-ocidental / Merengue
Ritmo veloz e malicioso, nascido na República Dominicana, trazida pelos escravos negros que dançavam com um
companheiro e ao ar livre. Seu nome derivado do jeito que os domenicanos chamavam os invasores franceses no século
XVII (merenque). Cantores mais famosos: Juan Luis Guerra e Walfrido Vargas.
Contexto popular e/ou não-ocidental / Pasodoble
Nasceu na Espanha, em meados da década de 20, inspirada nas touradas espanholas, seus movimentos são uma marcha,
onde o homem é considerado o toureador e a mulher a capa/lona vermelha do toureador.
Contexto popular e/ou não-ocidental / Rock And Roll
O termo Rock significa mexer e rodar. É o estilo musical que surgiu nos Estados Unidos em meados da década de 1950 e, por evolução e
assimilação de outros estilos, tornou-se a forma dominante de música popular em todo o mundo. Os elementos mais característicos do
estilo são as bandas compostas de um ou mais vocalistas, baixo e guitarras elétricas muito amplificadas, e bateria. Também podem ser
usados teclados elétricos e eletrônicos, sintetizadores e instrumentos de sopro e percussão diversos. Do ponto de vista musical, o Rock
surgiu da fusão da música Country, inspirada nas baladas da população branca e pobre do Kentucky e de outras regiões rurais do
centro dos Estados Unidos, de estilo épico e narrativo; e do Rhythm and Blues, por sua vez uma fusão dos primitivos cantos de
trabalho negros e do Jazz instrumental urbano. Inicialmente de música muito simples, era um estilo de forte ritmo dançante. Entre os
primeiros cantores e compositores, quase todos negros, destacaram-se Chuck Berry, Little Richards e Bill Halley, este líder de uma
banda conhecida no Brasil com o nome de Bill Haley e seus Cometas, que gravou a pioneira Rock Around the Clock. As letras das
canções da época referiam-se, de forma inculta e irreverente, a temas comuns ao universo dos jovens, como amor, sexo, crises da
adolescência e automóveis. Elvis Presley foi o primeiro grande astro do Rock e da emergente indústria fonográfica. No início da
década de 1960, no entanto, o Rock inglês explodiu com uma carga de energia equivalente à dos primeiros músicos americanos do
estilo e seu sucesso logo conquistou o público jovem americano. Destacaram-se no período The Beatles, banda inglesa cuja música foi
influenciada diretamente pelos primeiros compositores do Rock. Tipicamente agressiva era a postura dos Rolling Stones, a mais
duradoura das bandas da época, ainda em atividade na década de 1990. No Brasil, na década de 60, teve sua força e representação
com a Jovem Guarda.
Contexto popular e/ou não-ocidental / Rumba
Surgida em Cuba, popularizou-se na década de 30. O embalo sensual da Rumba nasceu como dança da fertilidade em que
os passos dos bailarinos imitavam a corte dos pássaros e animais antes do acasalamento. Durante a dança, há sempre
um elemento de insinuação e fuga.
Contexto popular e/ou não-ocidental / Salsa
Ritmo musical desenvolvido a partir da segunda metade do século XX, por volta de 1973, a palavra quer dizer molho,
tempero; e originou-se do ritmo chamado Son (nascido nas comunidades rurais do Oriente Cubano, com base de ritmos
africanos e letras de estrutura européia), o Son e a Roda de Casino (nos anos 50 em Havana, nos grandes lugares de
reuniões sociais e festas, tais como o Casino Deportivo e o Casino de La Playa, se dançava o Son e outros ritmos
cubanos. A influência que esses ritmos exerceram na forma de se dançar o Son trouxe como conseqüência um novo
estilo: o Casino, assim chamado por causa dos lugares onde nasceu. A Roda de Casino apareceu por volta dos anos 60
mas se tornou um fenômeno nacional depois que apareceu na tv em rede nacional nos anos 80.
É dançada ao som de uma Salsa, no formato de uma roda, onde os casais executam passos a partir do comando de um
líder e freqüentemente trocam de pares). A partir dos anos 80 começou a fazer um grande sucesso na juventude de
Cuba. E hoje, juntamente com o Tango, é uma das mais dançadas por todo o mundo.
Contexto popular e/ou não-ocidental / Samba Dança popular e gênero musical derivado de ritmos e melodias de raízes africanas, como o Lundu e o Batuque. A coreografia é acompanhada de
música em compasso binário e ritmo sincopado. Tradicionalmente, é tocado por cordas (cavaquinho e vários tipos de violão) e variados
instrumentos de percussão. Por influência das orquestras americanas em voga a partir da segunda guerra mundial, passaram a ser utilizados
também instrumentos como trombones e trompetes, e, por influência do Choro, flauta e clarineta. Apesar de mais conhecido atualmente como
expressão musical urbana carioca, o samba existe em todo o Brasil sob a forma de diversos ritmos e danças populares regionais que se originaram
do Batuque. Manifesta-se especialmente no Maranhão, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Como gênero musical urbano, o Samba
nasceu e desenvolveu-se no Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX. Em sua origem uma forma de dança, acompanhada de pequenas
frases melódicas e refrões de criação anônima, foi divulgado pelos negros que migraram da Bahia na segunda metade do século XIX e instalaram-
se nos bairros cariocas da Saúde e da Gamboa. A dança incorporou outros gêneros cultivados na cidade, como Polca, Maxixe, Lundu, Xote etc., e
originou o samba carioca urbano e carnavalesco. Surgiu nessa época o Partido Alto, expressão coloquial que designava alta qualidade e
conhecimento especial, cultivado apenas por antigos conhecedores das formas antigas do samba.
Em 1917 foi gravado em disco o primeiro Samba, Pelo telefone, de autoria reivindicada por Donga (Ernesto dos Santos). A propriedade musical
gerou brigas e disputas, pois habitualmente a composição se fazia por um processo coletivo e anônimo. Pelo telefone, por exemplo, teria sido
criado numa roda de partido alto, da qual participavam também Mauro de Almeida, Sinhô e outros. A comercialização fez com que um samba
passasse a pertencer a quem o registrasse primeiro. O novo ritmo firmou-se no mercado fonográfico e, a partir da inauguração do rádio em 1922,
chegou às casas da classe média.
Contexto popular e/ou não-ocidental / Samba 2Os grandes compositores do período inicial foram Sinhô (José Barbosa da Silva), Caninha (José Luís Morais), Pixinguinha (Alfredo da Rocha
Viana) e João da Baiana (João Machado Guedes). Variações surgiram no final da década de 1920 e começo da década de 1930: o Samba-
Enredo, criado sobre um tema histórico ou outro previamente escolhido pelos dirigentes da escola para servir de enredo ao desfile no
carnaval; o Samba-Choro, de maior complexidade melódica e harmônica, derivado do choro instrumental; e o Samba-Canção, de melodia
elaborada, temática sentimental e andamento lento, que teve como primeiro grande sucesso Ai, ioiô, de Henrique Vogeler, Marques Porto e
Luís Peixoto, gravado em 1929 pela cantora Araci Cortes.
Também nessa fase nasceu o samba dos blocos carnavalescos dos bairros do Estácio e Osvaldo Cruz, e dos morros da Mangueira,
Salgueiro e São Carlos, com inovações rítmicas que ainda perduram. Nessa transição, ligada ao surgimento das escolas de samba,
destacaram-se os compositores Ismael Silva, Nilton Bastos, Cartola (Angenor de Oliveira) e Heitor dos Prazeres. Em 1933, este último
lançou o samba Eu choro e o termo "breque" (do inglês break, então popularizado com referência ao freio instantâneo dos novos
automóveis), que designava uma parada brusca durante a música para que o cantor fizesse uma intervenção falada. O Samba-de-Breque
atingiu toda sua força cômica nas interpretações de Moreira da Silva, cantor ainda ativo na década de 1990, que imortalizou a figura
maliciosa do sambista malandro. O Samba-Canção, também conhecido como samba de meio do ano, conheceu o apogeu nas décadas de
1930 e 1940. Seus mais famosos compositores foram Noel Rosa, Ari Barroso, Lamartine Babo, Braguinha (João de Barro) e Ataulfo Alves.
Aquarela do Brasil, de Ari Barroso, gravada por Francisco Alves em 1939, foi o primeiro sucesso do gênero Samba-Exaltação, de melodia
extensa e versos patrióticos.
Contexto popular e/ou não-ocidental / Samba 3A partir de meados da década de 1940 e ao longo da década de 1950, o samba sofreu nova influência de ritmos latinos e americanos: surgiu o
Samba de Gafieira, mais propriamente uma forma de tocar -- geralmente instrumental, influenciada pelas orquestras americanas, adequada
para danças aos pares praticadas em salões públicos, gafieiras e cabarés -- do que um novo gênero. Em meados da década de 1950, os
músicos dessas orquestras profissionais incorporaram elementos da música americana e criaram o Sambalanço. O partido alto ressurgiu
entre os compositores das escolas de samba dos morros cariocas, já não mais ligado à dança, mas sob a forma de improvisações cantadas
feitas individualmente, alternadas com estribilhos conhecidos cantados pela assistência. Destacaram-se os compositores João de Barro,
Dorival Caymmi, Lúcio Alves, Ataulfo Alves, Herivelto Martins, Wilson Batista e Geraldo Pereira. Com a Bossa Nova, que surgiu no final
da década de 1950, o samba afastou-se ainda mais de suas raízes populares. A influência do Jazz aprofundou-se e foram incorporadas
técnicas musicais eruditas. O movimento, que nasceu na zona sul do Rio de Janeiro, modificou a acentuação rítmica original e inaugurou
um estilo diferente de cantar, intimista e suave. A partir de um festival no Carnegie Hall de Nova York, em 1962, a bossa nova alcançou
sucesso mundial. O retorno à batida tradicional do samba ocorreu no final da década de 1960 e ao longo da década de 1970 e foi
brilhantemente defendido por Chico Buarque de Holanda, Billy Blanco e Paulinho da Viola e pelos veteranos Zé Kéti, Cartola, Nelson
Cavaquinho, Candeia e Martinho da Vila. Na década de 1980, o Samba consolidou sua posição no mercado fonográfico e compositores
urbanos da nova geração ousaram novas combinações, como o paulista Itamar Assunção, que incorporou a batida do Samba ao Funk e ao
Reggae em seu trabalho de cunho experimental. O Pagode, que apresenta características do Choro e um andamento de fácil execução para
os dançarinos, encheu os salões e tornou-se um fenômeno comercial na década de 1990.
Contexto popular e/ou não-ocidental / Zouk
O zouk, que em português quer dizer festa, chegou ao Brasil logo após uma crise da música Lambada. Como os cantores
desse ritmo foram perdendo força na mídia, não conseguiram renovar seus repertórios e os dançarinos que seguiam
freneticamente o som da lambada ficaram sem musica para continuar a dançar. É contado então que os dançarinos e
amantes da lambada não deixaram o estilo morrer e encontraram um novo som para que pudessem continuar. Há quem
defina o Zouk como uma mistura de dança brasileira com música francesa. Mas há quem discorde dessa versão da
história e acredite que zouk é um estilo com dança e música trazida do Caribe. Uma coisa é ponto pacífico é que o ritmo
Zouk é proveniente das ilhas Guadalupe, Martinica, e San Francisco, todas de colonização francesa. O zouk praticado
no Brasil é bem diferente daquele que se vê no Caribe.
Padrões rítmicos
Maxixe:
Habanera:
Tresillo:
QUINTETO EM FORMA DE CHOROS, ostinato do fagote (variação da habanera):
Marcha:
Polca:
Padrões rítmicos
Siciliana:
Valsa: