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GLOBALIZAÇÃO E O CIRCUITO ESPACIAL DE PRODUÇÃO PETROLÍFERO: AS CIDADES DA INFORMAÇÃO E AS CIDADES DA
EXTRAÇÃO1 SILVANA CRISTINA DA SILVA2
Resumo
O presente artigo apresenta uma discussão sobre o circuito espacial de produção do petróleo,
tendo como enfoque as especializações das cidades nas diferentes etapas do circuito. Macaé,
denominada “Capital Nacional do Petróleo”, pode ser identificada como uma “cidade da extração”.
Entretanto, a produção da informação, que comanda o circuito da valorização do petróleo, encontra-
se em outros lugares, nas “cidades da informação”, como as metrópoles e as cidades historicamente
especializadas na extração de petróleo, mas que hoje são nódulos da produção da informação que
controlam a extração. Essa divisão territorial do trabalho revela-se pelo processo de urbanização e
está presente na organização do espaço urbano das cidades, sobretudo na economia urbana. A
modernização de Macaé, decorrente a implantação das materialidades da extração do petróleo, não
significou a redução das desigualdades, mas sim o seu aprofundamento.
Palavras-chave: Globalização, Circuito espacial de produção, Petróleo, circuitos da
economia urbana.
GLOBALIZATION AND PETROLEUM SPATIAL CIRCUIT OF PRODUCTION: CITIES OF INFORMATION AND CITIES OF
EXTRACTION Abstract
This article introduces a petroleum spatial circuit of production discussion highlighting the
cities specialities in the different steps. Macaé, also known for National Petroleum Capital can be
identified with a city of extraction. However, the information production whose commands the
petroleum valorization circuit has been placed in “cities of information” like metropolis and historically
specialized cities in petroleum extraction nowadays considered points of concentration about
information production whose controls the extraction domain. This territorial division of labour is
revealed by the urbanization process and this division is inside the urban space organization in the
cities particularly in the urban economy. The Macaé modernization due to materiality implantation
caused by petroleum extraction didn’t mean inequalities reduction but their deepening.
Keywords: Globalization, spatial Circuit of production, Petroleum, Circuits of urban economy
1 Resultado da Pesquisa “O circuito inferior e superior da economia urbana no Norte Fluminense”,
financiada pela FAPERJ (Processo nº E-26/110.935/2013). 2 Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia, Departamento de Geografia –
UFF/Campos dos Goytacazes. E-mail: [email protected]
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1 – Introdução
A divisão territorial do trabalho pode gerar novas regiões, entretanto, tais
regiões estão cada vez mais articuladas com as escalas globais. Os circuitos
espaciais de produção indicam as articulações escalares e o papel dos lugares
nesta divisão territorial do trabalho. No período atual, o meio geográfico transforma-
se em função das possibilidades de comunicação e circulação. A denominada
globalização, possibilitou que os circuitos produtivos regionais sejam cada vez mais
amplos, atingindo em escala planetária. O circuito espacial de produção do petróleo,
bem como, o seu respectivo círculo de cooperação, é extremamente globalizado. As
cidades que abrigam as materialidades do circuito produtivo do petróleo são
transformadas. No Brasil, o norte do estado do Rio de Janeiro, especialmente a
cidade de Macaé viu sua economia e estrutura urbanas serem modificadas em
função da extração do petróleo na Bacia de Campos, pois a cidade tornou-se a base
de operação da Petrobrás, que passou a abrigar instalações das grandes
corporações mundiais do ramo petrolífero. Essa extração não reorganizou somente
a economia das cidades do Norte Fluminense, mas a própria cidade do Rio de
Janeiro, que vem alterando a sua centralidade intraurbana em função das
corporações e as atividades técnico-científicas e informacionais demandadas pelas
empresas e pelo Estado.
O artigo divise-se em duas partes: na primeira apontamos as definições do
circuito espacial de produção, situando Macaé no circuito espacial de produção do
petróleo; a segunda parte, foi dedicada ao debate sobre o círculo de cooperação e
as “cidades da informação” e finalizamos com alguns apontamentos que devem ser
aprofundados, sobretudo considerando o avanço do processo de globalização e a
reflexão da urbanização nos países periféricos.
2. O circuito espacial de produção petrolífero: Macaé, uma “cidade da extração”
A divisão social e territorial do trabalho criou lugares especializados, Macaé é
um desses lugares em que uma atividade produtiva tornou-se hegemônica, trata-se
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de uma “cidade da extração” de petróleo. Entretanto, juntamente com a riqueza
gerada por meio da economia do petróleo; há o aprofundamento da pobreza
daqueles que não são inseridos neste circuito ou o são de maneira precária. Os
problemas da população não integrada ao circuito superior (SANTOS, 2004) do
petróleo são agravados com a elevação do custo de vida e especulação imobiliária
decorrentes da existência uma população com altas rendas geradas na economia do
petróleo.
Os circuitos espaciais de produção (BARRIOS, 1980; SANTOS, 1986;
MOARES, 1991), são etapas em que uma matéria passa até ser transformada para
o consumo final. Barrios (1980) propõe que o sistema de acumulação gerado pela
produção –a produção, a distribuição, a troca e o consumo são parte de um mesmo
processo, de uma unidade – corresponde a um circuito espacial de produção, ou
seja, as etapas em que a matéria-prima passa até se transformar o consumo final,
mas que não se resumem a etapas técnicas. Tais etapas envolvem arranjos
territoriais para a sua realização a partir das ações sociais que o estruturam. O que
se coloca como pergunta: como ocorre a acumulação considerando os elementos
espaciais? No caso do circuito do petróleo, como os lugares são mobilizados para
participar da produção e, ao mesmo tempo condicionam essa produção, que no
limite expressam relações sociais.
Neste sentido, a diferenciação social mais elementar do modo de produção
capitalista é aquela dos grupos sociais que serão donos do meio de produção e os
que trabalham para os donos do meio de produção. Entretanto, como assinala
Barrios (1980), hoje os meios de produção constituem-se em grandes corporações
que desenvolvem aparatos sofisticados de gestão e financeirização, exigindo
lugares altamente complexos para o exercício de suas atividades como as
metrópoles e megalópoles. Ao mesmo tempo, o fenômeno da dispersão das
atividades produtivas também ocorre. A relação entre esses agentes e esses lugares
é assimétrica, bem como, a capacidade de organização do território desses agentes
sociais. O controle do conhecimento técnico-científico é outro elemento da
constituição do poder, pois o monopólio do conhecimento é que vai manter o círculo
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de cooperação3 da informação para a produção, a força de trabalho e a hegemonia
da acumulação para determinados agentes.
No caso, do ramo do petróleo, como afirma Alves (2012): a instância da
produção compõe-se pelas etapas da exploração (pesquisa), da extração, do
transporte da matéria-prima e do refino. A extração de petróleo no município de
Macaé trouxe para o seu território uma infinidade de materialidades para a
realização da produção. Dentre essas materialidades descreve-se algumas, das
quais realizam as conexões com outras cidades do país e do mundo por meio do
círculo de cooperação, onde circula a produção de informação, especialmente as
atividades abrigadas em Macaé.
A economia da cana de açúcar, a pecuária e a pesca foram elementos da
formação territorial de Macaé. O pacto transformador da economia de Macaé e
região veio com a comprovação da viabilidade da exploração de petróleo na Bacia
de Campos. A instalação da subsede administrativa da Petrobrás para o
gerenciamento das operações in loco da extração, ocorrida em 1978 instaura a
centralidade da cidade em nível nacional com relação a exploração do petróleo.
Inclusive, Macaé “ganha” de Campos dos Goytacazes no processo de escolha da
implantação dessa base produtiva, conforme aponta Crespo (2010).
Em Macaé, a infraestrutura existente para a extração de petróleo offshore é
constituída pelo Porto de Imbetiba, que existia desde antes da descoberta de
Petróleo na Bacia de Campos e era utilizado pelos pescadores e para o transporte
de passageiros. A escolha da base de operações da Petrobrás em Macaé, ocorreu
devido à existência desse Porto, pois seria possível utilizá-lo como base de
operações. Hoje o Porto de Imbetiba é a principal base de operações, especialmente
das embarcações de apoio às plataformas e há de alguma forma um esgotamento
das possibilidades de uso desse Porto frente as novas demandas do Pré-Sal, pois a
maior parte da extração ocorre na Bacia de Campos e os avanços na exploração
avançam para a Bacia de Santos e se discute o aproveitamento de portos já
existentes e as possibilidades logísticas desses novos portos como o próprio Porto
3 Os círculos de cooperação compõem os circuitos espaciais de produção e representam os fluxos
imateriais como os fluxos de informações (científica, política, técnica, econômica), financeiras e de ordens.
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do Açu localizado no município vizinho, São João da Barra, ou a construção de um
novo porto em Macaé.
Após a reforma da legislação brasileira ocorrida em 19974, houve a quebra de
monopólio da Petrobrás para atividades de extração de petróleo e gás. Outras
empresas entraram no ramo, o que reorganizou as relações de dominação dentro do
circuito produtivo, entretanto a Petrobrás continua produzindo cerca de 90% do
petróleo e 85% do gás natural no Brasil (ANP, 2014). Além disso, destacamos que
85% da extração de Petróleo e 47% de gás natural originam-se da Bacia de
Campos. Dessa forma, destaca-se que Macaé concentra parte das materialidades
para a execução da extração, configurando uma estrutura produtiva cada vez mais
especializada, como vem apontando alguns trabalhos como Terra do ponto de vista
da especialização do trabalho (2007).
A Statoil5 e a BG6 são outras empresas que atuam na Bacia de Campos,
porém com um potencial menor na extração. A concentração da extração em
empresas é outro elemento que transforma a Petrobrás no grande centro das
atividades do petróleo em Macaé e que gera uma infinidade de relações com outras
empresas e serviços que são subcontratados por ela. Os contratos ocorrem com
grandes empresas para atividades que necessitam de alta tecnologia a atividades de
menor grau de sofisticação como empresas que fornecem serviços de limpeza,
alimentação e segurança.
Muitas foram as modificações do papel da Petrobras ao longo dos anos e das
gestões governamentais. Hoje a empresa possui 49 plataformas offshore em
operação na Bacia de Campos, sendo 35 flutuantes, 13 fixas e uma
semissubmersível.
Atualmente, a Petrobrás possui duas sub-sedes administrativas na cidade de
Macaé, a mais antiga em Imbetiba, e a de Imboassica no Parque dos Turbos. Além
disso, possui uma enorme estrutura de armazenamento no Parque dos tubos e
Parque Cabiúnas. Somente no Parque dos Turbos são hoje cerca de 4.000
funcionários da empresa. A Petrobras possui cerca de 50 sondas de perfuração para
4 Lei Federal nº 9.478 de 1997.
5 Empresa norueguesa presente no Brasil desde 2001.
6 Empresa inglesa que está presente no Brasil desde 2006.
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estudos de viabilidade de projetos em Macaé. A cidade de Macaé, abriga o principal
aeroporto de embarque e desembarque de petroleiros (maior número de voos de
helicópteros da América Latina) e barcos de apoio às operações no Porto de
Imbetiba7.
Todas essas informações indicam a importância do circuito espacial produtivo
do petróleo para o município de Macaé. O que provocou na cidade um forte
dinamismo populacional e econômico. A economia urbana da cidade especializada
no petróleo trouxe uma camada de população com altas rendas; ao mesmo tempo,
trouxe uma população que não consegue se inserir no circuito produtivo de forma
estável, assim temos os desdobramentos da produção do petróleo no espaço e na
economia urbana de Macaé.
As mudanças no município não foram apenas com relação à recepção de
parte do circuito produtivo do petróleo. Com ele, veio uma população especializada e
técnica, em parte composta por estrangeiros e que ocupa cargos de gerência ou de
engenharia e que se destaca por receber elevados salários. Esse estrato da
população acabou gerando um circuito de consumo específico na cidade. Além
disso, as altas rendas interferiram, sobretudo na dinâmica da especulação
imobiliária. O surgimento de condomínios de alto padrão e a supervalorização dos
preços dos imóveis e algumas áreas da cidade, expressam parte do processo da
especialização produtiva no petróleo, que adensou um circuito superior de
consumos, com a criação de shoppings, de redes hoteleiras internacionais, bem
como, promoveu a expansão das redes de comércios e serviços destinadas a
atender o consumo produtivo e o consumo consultivo.
Contudo, se por um lado a presença de etapas da extração do circuito
espacial de produção do petróleo trouxe a produção de riqueza para Macaé; por
outro lado, atraída pelas oportunidades empregos, uma população de baixa
qualificação migrou para Macaé, essa população não se inseriu no espaço urbano
de forma a garantir as necessidades básicas e não foi integrada ao circuito superior
da economia urbana do petróleo. Parte dessa população adensou as periferias e as
favelas da cidade, sendo inserida na economia urbana por meio do circuito inferior.
7 Dados fornecidos pelo engenheiro Lincoln Weinhardt em entrevista realizada na sede da empresa
em 16 de abril de 2014.
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O circuito inferior funciona de forma contraditória, solidária, complementar e
concorrente ao circuito superior (SANTOS, 2004). O circuito produtivo do petróleo
gera também a necessidade de trabalhadores não especializados ou que exigem
maiores riscos (atividades insalubres e de alta periculosidade), assim, surge também
um circuito inferior de serviços oferecidos por empresas de menor porte para a
realização dessas tarefas da Petrobras e de grandes empresas vinculadas a ela.
Empresas de limpeza, de segurança e mesmo de comunicação social são
contratadas para serviços específicos para as grandes empresas que se instalaram
no município.
Os grupos sociais que não são inseridas em atividades específicas da
economia do petróleo, se inserem na economia do circuito inferior, como por
exemplo a enorme quantidade de salões de cabelereiros e comércios de cursos
profissionalizantes como verificado em parte da Rodovia Amaral Peixoto, que
atravessa a cidade. Essas atividades não estão conectadas com a extração do
petróleo, mas com a concentração de pessoas e pelo processo de urbanização
intensificado pela economia do petróleo.
3. Os círculos de cooperação e os lugares da produção da informação
A partir da aproximação do funcionamento do circuito espacial de produção
do petróleo, observa-se que se trata de um ramo de atividade que mobiliza capital
intensivo, mão de obra qualificada e especializada, elevados investimentos em
tecnologia, além de desenvolver parte das etapas da produção condicionadas pelos
elementos territoriais. No caso da extração offshore, constata-se que o
desenvolvimento tecnológico é fundamental para a criação das condições de
produção. Macaé, dentre as cidades do Norte Fluminense, aparece como um grande
nó da produção e vem aumentando a sua centralidade regional em função do
petróleo.
As cidades, no entanto, possuem papéis muito distintos na divisão territorial
do trabalho no circuito espacial de produção do petróleo. Ainda que possa haver
elementos que indiquem a produção da informação em Macaé, sobretudo advinda
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do conhecimento do processo produtivo, que ocorre in loco, a produção da
informação vai ocorrer nas metrópoles, nas cidades especializadas no ramo do
petróleo e em poucas cidades, que abrigam Universidades ou centros de pesquisa.
Nesse sentido, duas análises são essenciais: o funcionamento da economia urbana
dessas cidades e a economia urbana do território.
A economia urbana da cidade, conforme Santos (2009), diz respeito a forma
como se organiza a repartição do sistema produtivo em uma cidade, de maneira
simplificada, como os homens e as materialidades são distribuídos para a produção
e o consumo. Dessa forma, surge a economia urbana da cidade, que não se descola
da economia política do território, que por sua vez está cada vez mais globalizada
em função do aumento da disponibilidade de transporte e de comunicação.
As metrópoles são os lugares que condensam materialidades, fixos e fluxos.
São lugares de concentração de população, de mercados e da diversidade. As
grandes cidades, possuem a capacidade de atração de mais atividades, pelo
fenômeno que Pred (1979) denominou à tendenciosidade espacial da informação.
Pred (1979) analisa as cidades nas economias avançadas, como Estados Unidos e
Inglaterra, chegando a algumas conclusões importantes, que com algumas
ressalvas – a distinção do processo de urbanização – também são encontradas no
sistema de cidades dos países periféricos. A localização das atividades econômicas
obedece a decisões explícitas e implícitas. No primeiro caso, trata-se da localização
de órgãos de governo e disponibilidade de informações especializadas, que são
fundamentais para a difusão de inovações por outras empresas; no segundo caso,
as informações implícitas, articula-se com a forma como as empresas ou órgãos de
governo decidem adquirir bens e serviços, rotineiros ou não. Ambas corroboram
para a tendenciosidade espacial que condiciona a escolha dos lugares para a
implantação de unidades empresariais como agências de publicidade, bancos,
sedes administrativas, consultorias, etc. que exigem que parte do tempo gasto seja
com a troca de informações e relações diretas com clientes.
A metrópole do Rio de Janeiro desde cedo foi abrigo da indústria do petróleo.
Embora tenha passado por períodos de certa estagnação na atividade, este ramo
retoma o crescimento recentemente (anos 2000) e remodela o território fluminense.
Dentro da divisão territorial do trabalho, as cidades se especializaram: Macaé tonou-
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se um nó da extração; Niterói é o centro da indústria naval e a cidade do Rio de
Janeiro comanda o círculo de cooperação (escala Nacional), pois é de onde partem
as ordens para o funcionamento da produção e onde se concentram os centros de
pesquisa da do circuito espacial de produção do petróleo no Brasil como as
universidades, centros de pesquisa públicos e privados. É também na cidade do Rio
de Janeiro onde estão instalados os escritórios das empresas de construção naval,
de transporte aéreo offshore, escritórios das grandes corporações, a principal sede
da Petrobras, além das instituições públicas e privadas de financiamento.
Conforme Santos (2002), o período técnico-científico-informacional é
comandado pela variável informação. Os lugares capazes de gerar informação são
aqueles que hierarquicamente agregam poder no período atual. Assim, coloca-se no
centro do debate a importância dos lugares na economia política do território, a
variável informação.
Para Dantas (2003), a reorganização do capitalismo, após a crise fordista,
ocorre no sentido da sofisticação dos produtos, sendo a informação substrato básico
para a criação de novos produtos e novas formas de organização da produção e de
sua gestão. Ganham força as informações produtivas (novas técnicas de produção),
as informações para a circulação e as informações que possibilitam o aumento do
consumo. Assim, a produção, distribuição, comércio e consumo são orientados pela
informação, seja ela informação para dar substrato à produção em si, seja para
racionalizar a circulação ou orientar o consumo.
As cidades compõem os lugares da produção da informação, quanto mais as
cidades abrigam nós dos circuitos produtivos, mais complexas tornam-se essas
cidades, inclusive para a produção da informação.
Bernardes (2001) aponta a capacidade de produzir, organizar, distribuir e
consumir informações foi responsável pela mudança de centralidade econômica do
território brasileiro, que sai do Rio de Janeiro e vai para São Paulo e essa torna-se a
metrópole informacional do território brasileiro. Entretanto, quando se aborda o
circuito espacial do petróleo e seu respectivo círculo de cooperação, o Rio de
Janeiro é a “cidade da produção da informação” e essa conecta-se com outros nós
da produção da informação da produção petrolífera. Essa importância do Rio de
Janeiro, pode ser constatada com a reorganização das instituições técnico e
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científicas em período recente, que vem modificando a economia do centro e da
Zona Sul da cidade, como apontou Binsztok (2012), que indica a formação de “ilhas
de excelência” técnica-científica no Rio de Janeiro, em função da exploração do
petróleo, sendo a Petrobras a empresa central nesse dinamismo. O autor destaca
que essa centralidade técnico-científica é dada pela ampliação do CENPES,
localizado na Ilha do Fundão, cidade universitária da UFRJ, CoppeTEC8 localizada
na Ilha do Bom Jesus, que também vem recebendo as instalações de centros de
P&D das corporações globais como Schulumberger, General Eletric, Backer
Hughes, Siemens, General Electric, Halliburton e o Centro Global de Tecnologia do
BG Group. Acrescenta-se a essa lista a FMC, Tenaris Confab, a EMC2, a Vallorec e
a Georadar9.
Além dessas empresas, o Parque Tecnológico abriga médias e pequenas
empresas e laboratórios de pesquisa, a maioria vinculada à Coppe-UFRJ. O centro e
a Zona Sul são remodelados pela presença do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e
Biocombustível (IBP), que se articula com a FGV (Fundação Getúlio Vargas),
sobretudo pelas áreas de Engenharia e Economia. A PUC e a UFF (Universidade
Federal Fluminense) também compõem as redes de pesquisas vinculadas ao círculo
de cooperação da produção do petróleo e gás. Essa centralidade do Rio de Janeiro
torna-se mais densa com os fixos do sistema financeiro – como o BNDES –,
presentes na cidade do Rio de Janeiro, que se desdobra em fluxos de financiamento
e investimentos em capital imobiliário10.
4. Considerações finais: a produção de informação e as hierarquias do poder no período atual
Considerando o período atual, em que a informação é uma variável que
condiciona a hierarquia do poder. A especialização das cidades na divisão territorial
do trabalho ocorre a partir do abrigo de etapas dos circuitos produtivos, que são
planetários.
8 Vinculado ao Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe)
da UFRJ. 9 Informações disponíveis em < http://www.parque.ufrj.br/> Acesso em 10 de janeiro de 2015.
10 Ver Binsztok (2012).
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O circuito espacial de produção do petróleo tem na cidade do Rio de Janeiro a
sua sede de produção e coordenação da informação. A metrópole carioca torna-se
relé da produção de informação desse circuito produtivo global, que estabelece
conexões com cidades importantes da economia do petróleo como Houston (EUA),
Aberdeen (Escócia) e Stavanger (Noruega) entre outras cidades que são
especializadas no ramo.
Por outro lado, Macaé se reafirma como centro de apoio à exploração do
petróleo. Uma parte dessas atividades são vinculadas às grandes empresas, via
subcontratação; outra parte constitui-se em atividades “autônomas” ou de auxílio ao
ramo do petróleo, como por exemplo, as empresas que oferecem serviços de
limpeza ou de alimentação.
Portanto, identifica-se uma especialização das metrópoles em atividades do
circuito superior mais sofisticadas, ligadas a produção da informação, e um circuito
superior conectado à extração propriamente dita em Macaé. O circuito inferior nas
metrópoles apresenta maior diversidade e a especialização produtiva em alguns
ramos não é tão impactante, pois as metrópoles definem-se também como relés de
circuito produtivos diversos.
No caso de Macaé, o circuito inferior aparece com elevado grau de
especialização no ramo petrolífero. Mesmo não atendendo atividades de alta
tecnologia da produção, restaurantes, pousadas, pequenos comércios e
supermercados surgem para atender a população que migrou para o município e
não foi absorvida diretamente pelo circuito superior do petróleo, em função da não
adequação dessa mão de obra às atividades que exigem formação de nível superior,
ou que exigem formação técnica. Assim, a cidade cindida vai se desenhando. A
cidade pobre e a cidade rica se articulam pela economia urbana. Bem como as
hierarquias do poder são construídas com base na urbanização e na divisão
nacional e internacional do trabalho.
5. Referências bibliográficas
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Grande do Norte. Dissertação de mestrado em Geografia do Centro de Ciências
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