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Entrevista

A luta

das instituições

contra a pobrezaem Coimbra

ANDRÉ FERREIRA

Rodrigo Leão faladas inspirações por trás do novo trabalho

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Mais informação em

acabra.net@

a cabraJornal Universitário de Coimbra

20 de Outubro de 2009Ano XIXN.º 203Quinzenal gratuito

DirectorJoão Ribeiro

Editores-executivosVasco BatistaCatarina Domingos

John Woo volta a filmar na China, o seu país natal,num recuo às batalhas do século III entre senhores e o exército imperial

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A BATALHA DE RED CLIFFO REGRESSO A CASA

Miguel Duarte fala do diaem que os estudantes ten-taram invadir o Senado

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OPINIÃO20 DE OUTUBRO

Joaquin Martinez recordaos três anos passados nocorredor da morte

A fibra óptica é um meio detransmissão de informação que foiinventado há várias décadas. Ac-tualmente, é a resposta a uma ne-cessidade da sociedade que precisade cada vez mais, em menos tempo.Para alguns investigadores, omundo será “mais luminoso” e ascomunicações mais eficazes. Em-presas de telecomunicações apos-tam fortemente neste meio.

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Lenine Cunha

Nomeado ao lado dosmelhores do desporto

Com dois recordes mundiais em2009 nas provas combinadas, LenineCunha, da secção de atletismo daAcadémica, está nomeado para atletado ano pela Confederação de Des-porto de Portugal, ao lado do futebo-lista Cristiano Ronaldo e do campeãoolímpico Nélson Évora. O resultado éconhecido dia 29 de Outubro.

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Dia do Poeta

Muitas críticas, poucas iniciativas

Há muita gente a escrever, masmuito poucos conseguem vingar: umpoeta, uma professora e uma editoraapontam as dificuldades de ser ar-quitetos de versos em Coimbra. Li-vrarias não apostam na edição delivros de poesia e crítica literáriaconcentra-se em Lisboa e Porto

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Fibra Óptica

Ligar o mundo por “luzes”

Dois anos depois de ser imple-mentado o Regime Jurídico dasInstituições do Ensino Superior(RJIES) há ainda três faculdadesque não têm director. Os problemasna Faculdade de Farmácia da Uni-versidade de Coimbra (FFUC)ditam que esta seja, provavelmente,a última a eleger a nova figura doRJIES. A demora das eleiçõesafecta a funcionalidade plena da UCe deverá ser discutida na próximareunião do Conselho Geral.

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Fundo de apoio da UBI

Coimbra não prevêmedida semelhante

A Associação Académica da Universi-dade da Beira Interior vai ter umfundo para apoiar os estudantes comdificuldades económicas. O presi-dente da Direcção-Geral da acadé-mica de Coimbra, Jorge Serrote,descarta a responsabilidade de criareste tipo de fundos para o governo,apesar de admitir que há alunos daUC que não conseguem pagar as pro-pinas

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Eleições nas faculdades

Atrasos colocamproblemas à UC

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DESTAQUE2 | a cabra | 20 de Outubro de 2009 | Terça-feira

que fará um filósofo noséculo XXI? E um ar-queólogo? As áreas clás-sicas das letras sofreram

grandes mudanças nos últimosanos, numa altura em que a per-cepção generalizada é a de que per-deram importância. Esta ideiareflecte-se, por exemplo, na médiade ingresso destes cursos. Em2009, o último colocado no cursode Filosofia da Faculdade de Letrasda Universidade de Coimbra(FLUC) obteve a média mais baixapossível, 9,5 valores.

Na verdade, as notas de entradanos cursos da FLUC não vão alémdos 15 valores e muitas ficam pertodos dez (ver infografia). Para o do-

cente de História na FLUC e autordo estudo “Humanidades e SaídasProfissionais”, Joaquim Ramos deCarvalho, esta situação não reflecteuma perda de prestígio da facul-dade. “O valor da média do últimocolocado é sobretudo fruto do de-sajuste entre o número de candi-datos e o número de vagas,tendendo a subir quando há mui-tos candidatos em relação ao nú-mero de vagas”, explica.

Já a docente da Faculdade dePsicologia e Ciências da Educaçãoda UC (FPCEUC), Helena DamiãoSilva, assume que “os cursos de le-tras e de humanidades são, no pre-sente, menos requeridos do que osde ciências físicas e naturais e de

tecnologias”. Para Helena Damião,há uma “desvalorização social”destas áreas do saber. “Nós quere-mos resolver problemas concretos

do nosso quotidiano e entendemosque as humanidades não nos aju-dam de forma imediata”, argu-menta. Também a baixaempregabilidade para os diploma-dos na área das letras motiva o re-

duzido interesse, “não se enten-dendo como uma mais-valia emtermos de enriquecimento pessoal”e acabando por se considerar como“um investimento sem retorno”.

Mudanças nas perspectivas deempregoAs oportunidades de empregopesam sempre na escolha de umcurso superior e, na área das letras,tem-se assistido, nos últimos anos,a uma crise na oferta de trabalho.Longe vai o tempo em que um di-ploma era sinónimo de empregoqualificado. Impôs-se, por isso,uma mudança na própria estrutu-ração dos cursos.

A docência foi, desde sempre,

uma saída óbvia para os licencia-dos nas humanidades, algo que, se-gundo o director da FLUC, CarlosAscenso André, teve que mudar.“Não temos a menor intenção defazer como núcleo central da nossaactividade a formação de professo-res”, concretiza, e adianta mesmoque “os alunos da FLUC de cursosdestinados ao ensino representammenos de 15 por cento do total”.

O número de vagas que todos osanos abrem para novos estudantesé um dos assuntos mais criticadosem termos de gestão universitária,uma vez que acabam por se tradu-zir numa saturação de procura nomercado de trabalho. Licenciaturasem Línguas Modernas (75 vagas),

O rumo das letrasEstudar áreas do saber clássico, como a História e a Filosofia, já foi garantia de um futuroestável. Hoje, as perspectivas são outras e a Faculdade de Letras da Universidade de Coim-bra tenta adaptar-se. Por Vasco Batista e João Ribeiro

O“Os cursos de humanidades sãomenos requeridos doque os das ciências”

* Antes de Bolonha, Geografia dividia-se em três variantes (Ensino, Ordenamento do Território e Desenvolvimento, e Ambiente e Desenvolvimento).

As médias de acesso, em 2006, foram, respectivamente, 10,1; 11,4 e 11,0

INFOGRAFIA POR LEANDRO ROLIM

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DESTAQUE20 de Outubro de 2009 | Terça-feira | a cabra | 3

Geografia (74) e História (60) sãodas mais criticadas por abrirem umnúmero de vagas considerado ex-cessivo. O director da FLUC realçaa possibilidade de o ciclo negativono emprego poder terminar, justi-ficando-se assim a manutenção donúmero de vagas em alguns cursos.

Carlos André defende igual-mente uma mudança de atitudedos próprios estudantes, que passapela aposta numa formação maistransversal. “As pessoas hoje fazemum primeiro ciclo numa determi-nada área e podem seguir outra nosegundo ciclo, o que não as impedede serem competitivas no mer-cado”, esclarece. As próprias saídasprofissionais dos licenciados em le-tras já não são as mesmas. “Não éinédito ver um gestor formado emHistória com um MBA (Master ofBusiness Administration)”, exem-plifica Carlos André.

No mesmo sentido, JoaquimCarvalho revela que “há poucas se-

manas um grupo de alunos daFLUC criou uma empresa na áreada produção de conteúdos de his-tória e património para as novastecnologias”. O docente lamentaque “quando se fala de humanida-des não se pensa, por inércia men-tal, em Indústrias Criativas eCulturais (ICC)”.

Num mundo cada vez mais do-minado pelo conhecimento técnicoe científico, Carlos André encontraespaço para conjugar o saber dashumanidades. Apelida as pessoasde letras de “profissionais da co-municação”, que, mais cedo oumais tarde, serão essenciais a qual-quer empresa.

Perante as mudanças que se im-põem no estudo das humanidades,o Estado e a União Europeia têmum papel importante para o reco-nhecimento do valor dessas licen-ciaturas. Joaquim Carvalhodestaca “uma multiplicidade deiniciativas e apoios no contexto do

ano Europeu de Criatividade e Ino-vação”. Neste âmbito, no início deOutubro foi disponibilizado umfundo de apoio para as ICC novalor de 22,5 milhões de euros, que

visa o incentivo de diversas verten-tes culturais. Outra área em grandeexpansão é o turismo cultural, “queconsome enormes quantidades deinformação ligada à História daArte, e é uma das maiores indús-trias europeias”, ressalva.

O renome da FLUCTeolinda Gersão, Eduardo Lou-renço e Vergílio Ferreira são nomesde reconhecido mérito no pano-

rama cultural português. Emcomum têm o facto de se terem li-cenciado na FLUC, o que confereprestígio à própria instituição. Ac-tualmente, questiona-se se essacondição se mantém, face à proli-feração de instituições que ofere-cem licenciaturas congéneres e àconsequente colocação dos cursosda FLUC em segundas opções. “Háuma certa pressão para as univer-sidades fora de Lisboa e Portoserem universidades regionais”,afiança Carlos Ascenso André, peloque é natural que atraiam sobre-tudo estudantes da sua área de re-sidência.

No entanto, Joaquim Carvalhorecusa a ideia de que os cursos daFLUC sejam encarados como alter-nativas. “Cerca de metade dos cur-sos da faculdade de letras têmtaxas de colocação em primeira es-colha superiores a 50 por cento” edá o exemplo de Arqueologia e His-tória, “em que 88 por cento dos

alunos o colocaram em primeiraopção”.

Recentemente foi publicado pelosuplemento do jornal britânico TheTimes, “Times Higher EducationSupplement”, um ranking mundialde universidades onde a UC surgecomo a melhor classificada deentre as portuguesas, mas é na áreade Artes e Humanidades queobtém os melhores resultados, fi-gurando no 143.º lugar. JoaquimCarvalho justifica a boa classifica-ção pela “tradição de excelência daUC nas humanidades, que pesa nosfactores do ranking porque se tratade um campo em que a produçãocientífica não se desactualiza rapi-damente”. Contudo, entende queeste é “um desafio para o futuro”,na medida em que “estão em cursotransformações radicais nas socie-dades contemporâneas que geramnovos problemas, novas aborda-gens e novos objectos para as ciên-cias humanas”.

“Diz-me lá para que serve o teu curso”

Em Outubro foramdisponibilizados 22,5milhões de euros paraindústrias criativas

Perante a propalada crise nashumanidades, importa sabercomo é que os alunos encaram assaídas profissionais, a preparaçãodada para o mercado de trabalho ea qualidade pedagógica dessescursos.

“As perspectivas de empregabi-lidade são uma incógnita”, revelaIsabel Borges, estudante do se-gundo ano de Filosofia na FLUC.Não obstante, a aluna mostra-sesatisfeita com os conteúdos pro-gramáticos da licenciatura e re-lembra a importância da Filosofiano conjunto dos campos de saber.“É um curso que faz com queaprendamos a pensar e, pelo con-fronto das nossas visões com a deoutros autores, acabamos por nosdefinir a nós próprios e por apro-fundar o nosso espírito crítico”.

Por sua vez, a aluna da licencia-tura em Línguas Modernas da

mesma faculdade, Carolina Ro-drigues, assume que as expectati-vas estão a ir ao encontro do queprevia e considera que “por serum curso de línguas, há mais faci-lidade em arranjar emprego doque em outros cursos”.

O facto de a nota de ingresso doúltimo colocado ser particular-mente reduzida nas licenciaturasministradas na FLUC não se coa-duna, segundo Isabel Borges, como grau de exigência a que as mes-mas obrigam. Assim, no entenderda aluna, os estudantes “nãofazem a menor ideia do que seaprende em Filosofia” e, dessemodo, “desvalorizam e menospre-zam” determinados cursos, o quese acaba por reflectir na média deingresso. Por outro lado, RicardoJustino, mestrando em Ensino deFilosofia, considera que os alunoscom as médias de ingresso maisbaixas “não têm tanta preparaçãopara um curso que requer muitotrabalho”. Já Carolina Rodrigues

aponta como razão para as baixasmédias de ingresso, o facto dehaver alunos que escolhem os cur-sos em função de “terem umamédia baixa e depois nem sempreé aquilo que realmente querem”.De facto, Vítor Carvalho que está afrequentar o primeiro ano de His-tória admite que o que “importavaera entrar em Coimbra”. “Colo-quei aquilo em que eu sabia queentrava e em que podia ter umbom aproveitamento”, acrescenta.

Confrontados com as escassassaídas profissionais que os seuscursos podem conduzir, os estu-dantes da FLUC não se mostramdesalentados e equacionam a hi-pótese de no 2º ciclo enveredarempor outros caminhos, em virtudeda vasta abrangência intrínseca àsciências sociais e humanas. Nestesentido, e no que diz respeito a Fi-losofia, Isabel Borges argumentaque “é uma área em que facil-mente se pode trespassar para ou-tros campos do conhecimento”, na

medida em que “não é um cursoprofissionalizante” e, desse modo,“não se faculta uma técnica espe-cífica ao estudante”. A aluna con-fessa que depois de se licenciarpretende seguir “uma pós-gra-duação em gestão escolar paraconcorrer à direcção de uma es-cola”. O seu colega Ricardo Jus-tino, apesar de admitir que ocurso está “essencialmente voca-cionado para o ensino”, vem cor-roborar o argumento anterior,declarando que “está a trabalharnuma área que não é bem filoso-fia, mas que as áreas abrangidasestão interligadas”. Apesar disso,numa ida ao centro de empregoprocurando a hipótese de ingres-sar na administração pública, oestudante deparou-se com a per-gunta: “e agora diz-me lá para oque é que o teu curso serve”.

A qualidade pedagógica e curri-cular destas licenciaturas é umfactor a ter em conta na avaliaçãodo grau de satisfação dos alunos.

Aliás, prova disso é o inquéritoelaborado pela Universidade deCoimbra aos estudantes no finaldo ano lectivo transacto e que pre-tendia aferir o contentamento dosalunos, no que toca, a título deexemplo, ao modo como os do-centes exponham as matérias nasdiferentes unidades curriculares.O aluno do segundo ano de Lín-guas Modernas, Tiago Henriques,diz “não ter razões de queixa”,considerando que “os métodos deensino na FLUC são atractivos”,uma vez que propiciam à interac-ção. Adversamente, Ricardo Jus-tino aponta algumas falhas emanifesta algum descontenta-mento. “Esperava um pouco maisde organização dentro do curso,em termos de exposição dos con-teúdos”. “Os professores queremdar tudo muito depressa e entãoacaba-se por se perder o fio con-dutor e não acompanhar muitacoisa”, lamenta.

Com Camilo Soldado

LEANDRO ROLIM

VASCO BATISTA

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ENSINO SUPERIOR4 | a cabra | 20 de Outubro de 2009 | Terça-feira

A Universidade de Coimbra(UC) recebe estudantes de maisde 60 países. Com um universo decerca de 20 mil alunos, 775 são daComunidade dos Países de Lín-gua Portuguesa (CPLP) e encon-tram-se na universidade a fazerum ciclo de estudos.

A chefe da Divisão de RelaçõesInternacionais, Imagem e Comu-nicação (DRIIC) da UC, FilomenaCarvalho, considera que este tipode relação é uma mais valia tantopara a universidade como para acomunidade. “Temos a língua quenos une, temos uma parte da his-tória em comum e isso dá-nosuma grande vantagem relativa-mente a outros países”, explica. Opresidente do Conselho Directivoe Científico da Faculdade de Ciên-cias e Tecnologia da UC (FCTUC),João Gabriel Silva, acredita que arelação entre a universidade e aCPLP é importante, porque “hácada vez mais estudantes que vãoestudar para o estrangeiro paraconhecer novas realidades e ou-tras culturas”. Por isso, o docentedefende a fomentação desta ten-dência.

Há alturas em que nem o factode falarmos a mesma língua leva auma boa integração. O presidenteda Associação de EstudantesCabo Verdianos em Coimbra,Samir Silva, explica que “as pes-soas chegam sozinhas e não co-nhecem ninguém, mas acabampor se adaptar”. Apesar dessaadaptação, Samir Silva defendeque “devia haver mais diálogoentre as associações de estudan-tes e a Universidade de Coimbra”,para um maior apoio.

Além dos problemas iniciais,Filomena Carvalho aponta uma

situação que pode levar ao insu-cesso escolar dos estudantes daCPLP. “Neste momento, os estu-dantes que vêm para o primeiroano [do curso] ainda não chega-ram”, revela. O problema nãopassa pela UC mas sim pelos paí-ses de origem que têm programasque não fazem um acompanha-mento directo com o estudante.Para atenuar esta situação, Filo-mena Carvalho diz que “tenta in-fluenciar as autoridades” eexplicar-lhes que este tipo de si-tuações não pode acontecer. Car-valho conta que os alunos

“chegam à universidade comple-tamente desenraizados, de umamaneira que funciona mal”.

Outro dos problemas que afectaos estudantes de língua de origemportuguesa, no entender de Filo-mena Carvalho, é o facto de virempara a UC fazer um ciclo com-pleto. Ou seja, ao contrário damobilidade Erasmus, que implicaque o aluno faça um intercâmbiode, no máximo, um ano, a maiorparte dos alunos que ingressa naUC vem tirar o curso completo.Samir Silva explica que esta opçãoé a mais escolhida “porque, parajá, não há nenhum programa deintercâmbio do género da mobili-dade Erasmus com países daCPLP”. Também a membro daDRIIC diz que é preciso colmatara lacuna, porque fazer um inter-câmbio de apenas seis meses ouum ano “é mais benéfico” e os alu-

nos vêm “com outra maturidade”.Esta opção iria ainda eliminar osproblemas de atraso na chegadados alunos, porque “já não seriaao abrigo de programas de coope-ração com entidades em que sesabe muito em cima do aconteci-mento onde os estudantes ficam”.

Provedoria CPLP ajuda alunos da FCTUCPara contrariar várias situaçõesadversas que os alunos enfrentamquando chegam à UC, a FCTUCcriou a Provedoria CPLP. JoãoGabriel Silva explica que a prove-doria “ajuda nos processos buro-cráticos de obtenção dos vistos deestadia”, porque, por vezes,“havia situações de estadias clan-destinas”. A FCTUC organizatambém vários cursos de matériasbásicas “para ajudar os estudan-tes a resolver algumas falhas deformação”.

Apesar de o Brasil fazer parteda Comunidade dos Países deLíngua Portuguesa, os estudantesbrasileiros são os que encontrammenos problemas na chegada àUC. Isto porque, segundo Filo-mena Carvalho, “os alunos quevêm do Brasil sabem lutar pelosseus direitos e são muito reivindi-cativos”. Pelo contrário, os estu-dantes dos Países Africanos deLíngua Oficial Portuguesa(PALOP) “têm características di-ferentes”. “São mais reservados,fecham-se nas próprias comuni-dades e têm a questão de entrarmais facilmente em insucesso es-colar”, conta.

A CABRA tentou contactar aProvedoria CPLP da FCTUC masnão se mostraram disponíveispara falar, reencaminhando-nospara o presidente do Conselho Di-rectivo e Científico da faculdade.

OPINIÃO - Miguel Duarte*

20 DE OUTUBRO - IDENTIDADE

“Colegas, A atitude miserável do nosso Re-

itor, franqueando as portas da Uni-versidade de Coimbra à ralé dasbaionetas para que nós fôssemos co-bardemente esfaqueados de forma aque a nossa razão, atemorizando-se,cedesse ao argumento arma é in-qualificável. (...)” - Manifesto da Ac-ademia em Maio de 1928denunciando a atitude do ReitorFezas Vital in “ A Academia de Coim-bra (1537 – 1990)”

Falar do momento de tensão quea Academia de Coimbra viveu no dia20 de Outubro de 2004 é indisso-ciável do legado histórico que osseus corpos carregam. Não se trataapenas da responsabilidade históricae geracional que a AssociaçãoAcadémica de Coimbra assume naluta pelos valores progressistas, masprincipalmente da forma sistémicacomo, através do conflito das suasforças endógenas, o modelo políticoe social do nosso País evoluiu nos úl-timos séculos.

A Academia de Coimbra con-

tribuiu decisivamente para a con-strução e revisão deste modelo. Sepor um lado foi a produção e a trans-missão de conhecimento que susten-tou a criação das infra-estruturas donosso sistema, por outro foramforças como a consciência crítica, oconflito geracional, a capacidadecontestatária e a irreverência dos seuscorpos que criaram novos enquadra-mentos para a produção desse con-hecimento e permitiram questionar ostatus quo das instituições. Como sepode facilmente comprovar pelopapel que esta Academia assumiu naimplantação dos ideais Republicanosou na luta anti-fascista, estas últimasforças foram definitivas para os saltosquânticos de progresso social que onosso País conheceu.

O 20 de Outubro de 2004 nãopode ser interpretado apenas na cir-cunstância do momento. Este acon-tecimento materializou a força daconsciência crítica da comunidadeestudantil e a sua vontade em garan-tir a luta pelo progresso do nosso sis-tema educativo. Os estudantes daUniversidade de Coimbra, reunidosem Assembleia Magna alguns diasantes, assumiram uma dura posiçãode luta contra uma política radical dedestruição da universidade pública –a 20 de Outubro de 2004 algumascentenas de estudantes mobilizaram-se no Pólo II para bloquear a votação

do valor das propinas que ocorrerianesse mesmo dia no Senado Univer-sitário. Numa altura em que já se es-gotavam as formas mais moderadasde contestação para travar a con-cretização da política do Governo,largos meses de diálogo e algumasposições concertadas entre a AAC ea Reitoria, as duas instituições encon-travam-se num momento de di-vergência absoluta – a Reitoria queriagarantir a aprovação das propinas, in-dependentemente da opinião queafirmava ter sobre a política educa-tiva, e a AAC queria garantir que oprincipal bloqueio à política do Gov-erno (a não votação das propinas noSenado Universitário) permanecia.

A Associação Académica de Coim-bra reivindicava a defesa absoluta doModelo Social Europeu, lutandopela universalidade e qualidade dauniversidade pública. A necessidadede travar a dita votação era o assumirda responsabilidade histórica que aprópria instituição em si encerra. Rad-icais diziam uns, irresponsáveisdiziam outros, a verdade é que no

olhar de quem interpreta o 20 deOutubro no relativismo da históriadesta instituição, sinto-me tranquiloem dizer que cumprimos a nossa mis-são histórica – os estudantes que, nodia 20 de Outubro em frente aocordão policial que ocupava a frentedo edifício onde foi realizado oSenado do Pólo II, afirmaram “nãosomos nós que devemos parar, elesque tentem travar a força das nossasconvicções”, alinhavam ao lado deAntero na Sociedade de Raio, dosseus colegas que fizeram a Greve dosIntransigentes em 1907, dos que fiz-eram a Tomada da Bastilha em 1920,dos que combateram Fezas Vital em1928 e dos que não baixaram osbraços na luta contra o Estado Novoem 1962 ou em 1969.

No dia 20 de Outubro de 2004 aAssociação Académica de Coimbrafoi igual a si mesma, lutando deforma irreverente, desagradando aoestabelecido, incumprindo as con-venções, “irresponsavelmente” rev-olucionária e afirmando bem alto“viva a igualdade, viva a liberdade,viva o progresso”.

Por tudo isto, envergonhe-se quemse envergonhou, lamente-se quemnão cumpriu a sua missão e “viva aAcadémica”

*Presidente da Direcção Geral daAAC em 2004

Cinco anos do 20 de OutubroAlunos da CPLP perante obstáculos

Desde a chegada tardia a Coimbra até algumas falhas no ensino, os estu-dantes enfrentam problemas de integração pedagógica

DIANA CRAVEIRO

INFOGRAFIA POR LEANDRO ROLIM

A maior parte dosalunos vem para a UCfazer fazer um ciclocompleto de estudos

NÚMEROS DE ALUNOS que estão a fazer um ciclo de estudos na UC

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ENSINO SUPERIOR20 de Outubro de 2009 | Terça-feira | a cabra | 5

A UBI criou um fundopara auxiliar estudantesem dificuldades financeiras. Em Coimbra, para já, amedida não é aplicável

A Associação Académica da Uni-versidade da Beira Interior (UBI) vailançar, ainda este ano, um fundo deapoio aos estudantes com dificulda-des no pagamento de propinas, bemcomo na manutenção das refeiçõesdiárias. De acordo com a dirigente daassociação, Fausta Parracho, há,neste momento, cerca de 50 casosidentificados, dos quais três envol-vem estudantes que “não têm di-nheiro sequer para comer.” “Estaideia surgiu como resposta às solici-tações que nos foram chegando”, re-vela. Fausta Parracho explica que

“cada caso é avaliado individual-mente” e que “o fundo é aplicadoquando há um desequilíbrio ao nívelfinanceiro do agregado familiar doaluno”.

Em Coimbra, Jorge Serrote con-fessa que não tem um número exactode casos de alunos em dificuldade,mas acredita que haja um contin-gente maior de pessoas que não con-seguem pagar as propinas. Opresidente da Direcção-Geral da As-sociação Académica de Coimbra(DG/AAC) revelou ainda que a preo-cupação com a acção social tem sidouma das bandeiras da sua adminis-tração, mas ressaltou que o apoio aosestudantes sem recursos deve seruma responsabilidade governamen-tal. “Quem tem que fazer acção socialé o Estado. O nosso dever é fazer oacompanhamento destes casos e, aomesmo tempo, pressão junto do go-verno para que a situação se resolva”,reiterou.

Quando questionada sobre a pos-

sibilidade da existência de um fundosemelhante em Coimbra, a coordena-dora geral da Acção Social daDG/AAC, Carmo Páscoa, afirmouque “de momento não era possívelpor falta de meios técnicos”. No en-

tanto, a coordenadora espera que “nofuturo a AAC consiga fazer o mesmo”.

Tal como Jorge Serrote, CarmoPáscoa, acredita que as “competên-cias de criar mecanismos sociais, des-tinados a estudantes carenciadosdeverá ser sempre do Estado”.Porém, caracterizou o projecto comouma “louvável e positiva ideia”, ad-mitindo ser uma proposta ousada,tendo em conta a actual crise finan-

ceira ao nível internacional e os pou-cos recursos da associação da UBI.

Fausta Parracho assegura que esteprojecto é único a nível nacional, masalerta que o fundo “não se trata deum modo de vida, mas de uma redepara que ninguém, uma vez concor-rido à universidade, a possa deixarpara trás”. A iniciativa não funcionacomo uma doação, mas como umempréstimo que deve ser devida-mente pago, dentro dos limites esta-belecidos. Para isso, “o aluno podedevolver o dinheiro ou pagar emhoras de trabalho na própria institui-ção”, destaca. A reitoria e empresaslocais da Covilhã são algumas dasparceiras do projecto, que tambémdesenvolve eventos com o objectivode viabilizar recursos.

Carmo Páscoa discorda da opiniãode Fausta Parracho, que considera aUBI a única académica a apostar naacção social. O fundo “é uma ideiaousada mas não os torna exclusivosna prestação de apoio”, comenta.

Para que a universidade funcione em completo, é preciso quetodas as unidadesorgânicas estejam compostas

Quase cinco meses depois das pri-meiras eleições para a Assembleia deFaculdade em Direito, há ainda trêsfaculdades sem director. O ConselhoGeral (CG) da Universidade de Coim-bra (UC) vai reunir esta sexta-feira e,embora este tema não faça parte daconvocatória, o estudante do CG LuísRodrigues acredita que as eleiçõesvão também ser debatidas na reu-nião, “pelo menos informalmente”.Rodrigues explica que “há planos deactividade e orçamentos em curso e éimportante ter um funcionamento re-gular nas unidades orgânicas”. O es-tudante aponta ainda algumas falhasconsequentes da falta de directores.“Estamos a ver um plano de activida-des para o próximo ano, no entantohá directores que ainda estão a apre-sentar candidaturas com um planoque, mais tarde, pode sofrer altera-ções”. Luís Rodrigues alerta para ofacto de o Conselho Geral da UC “pre-cisar urgentemente que todo o pro-cesso eleitoral seja organizado emtodas as faculdades para que a uni-versidade possa funcionar como umtodo”.

Apesar de o ano lectivo já ter co-meçado, a Faculdade de Farmácia daUC (FFUC), a Faculdade de Ciênciase Tecnologia da UC (FCTUC) e a Fa-

culdade de Economia da UC aindanão têm director. No último caso, atomada de posse está marcada paraesta quinta-feira, 22. A nova figura,criada pelo Regime Jurídico das Ins-tituições do Ensino Superior (RJIES),vai substituir o presidente do Conse-lho Directivo e do Conselho Cientí-fico.

Irregularidades em FarmáciaO membro do CG critica o atraso daseleições. “O processo já devia estarconcluído e não está. O facto de terhavido irregularidades e demoraspode condicionar o funcionamento

das unidades orgânicas”, explica. Oestudante destaca os problemas quehouve na FFUC em que as eleiçõespara os órgãos da faculdade nãoforam homologadas pelo reitor daUC. O problema estava no cadernoeleitoral que foi emitido e que incluíaum estudante que, na altura, não es-tava oficialmente matriculado no ter-ceiro ciclo na Faculdade de Farmácia.Luís Rodrigues diz que esta situação“faz com que os estudantes fiquemdesprotegidos porque, neste mo-mento, não existe Conselho Pedagó-gico”. Apesar de todos os problemas, aseleições para o representante dos es-

tudantes da Assembleia de Faculdadee do Conselho Pedagógico são na pró-xima segunda-feira, 26.

Quanto à FCTUC, falta apenas ahomologação do reitor. Até ao mo-mento, só o actual presidente do Con-selho Directivo e Científico, JoãoGabriel Silva, avançou com uma pro-posta de candidatura.

Mesmo com todos os problemas,Luís Rodrigues acredita que assimque “as unidades orgânicas ficaremcompostas, a UC vai ter condiçõespara trabalhar no máximo”.

A FFUC recusou-se a fazer qual-quer declaração, remetendo qualquerinformação para o site da faculdade.

NOVAS MEDIDAS vão permitir clarificação quanto ao número de efectivos nas instituições

AAC afasta criação de fundo de apoio

LEANDRO ROLIM

BRUNO ARAÚJO

Falta de directores nas faculdades gera atrasos na UC

DIANA CRAVEIRO

Serrote defende que a criação de umfundo é um dever do Estado

AssembleiaMagna reúne a 4 de Novembro

Depois da Assembleia Magna (AM)de 15 de Outubro, os estudantes vol-tam a reunir-se dia 4 de Novembropara debater os problemas do ensinosuperior, o regulamento para as elei-ções dos corpos gerentes da Associa-ção Académica de Coimbra (AAC) e oregulamento das eleições para a cons-tituição de uma Assembleia de Revi-são dos Estatutos (ARE).

Este último ponto esteve no centrodo debate na última magna. A nãoapresentação de listas conjuntas deestudantes para a constituição deuma ARE levou à aprovação de umnovo processo de revisão extraordi-nário e à rejeição da manutenção dosactuais estatutos. Além disso, por pa-recer jurídico, a deliberação de 15 deOutubro de 2008, que aprovava aapresentação de listas para a ARE, foiconsiderada inválida por definir queo mandato dessa assembleia era deseis meses e não de um ano, comonos estatutos.

Na AM de quarta-feira, Jorge Ser-rote, propôs a actual situação políticacomo ponto de discussão, mas pou-cos estudantes se mostraram prepa-rados para falar.

CATARINA DOMINGOS

FLUC aprovaRegulamentode Avaliação

O Conselho Pedagógico da Fa-culdade de Letras da Universi-dade de Coimbra (FLUC) aprovouna passada quinta-feira, 15, o Re-gulamento de Avaliação do pri-meiro ciclo. As novidades estão naexistência de três regimes de ava-liação: contínua, mista e final.Como explica o presidente do Nú-cleo de Estudantes da FLUC (NE-FLUC), Tiago Martins, a avaliaçãomista “acaba por ser uma regula-mentação de algo que já era feitoà margem”. Por isso, quem estiverinscrito nesta avaliação tem queassistir a metade das aulas e fazero exame final.

Já a avaliação contínua passa ater a obrigatoriedade de umexame escrito, que pode ser, ounão, o exame final. Quanto ao li-mite de alunos por cada turma, oregulamento estabelece que “nãoé aconselhado o funcionamentode turmas com mais de 25 alu-nos”, e é obrigatória a presençaem 75 por cento das aulas. TiagoMartins aponta ainda como umavitória o facto de não ter passadoa ser obrigatório fazer um exameoral quando o aluno esteja ins-crito em avaliação final.

DIANA CRAVEIRO

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CULTURA6 | a cabra | 20 de Outubro de 2009 | Terça-feira

epois de “Cinema”, Ro-drigo Leão edita “A Mãe”,registo que conta com co-laborações especiais como

a da Orquestra Sinfonieta de Lisboa,Stuart Staples e Neil Hannon, e que,segundo o autor, foi precisamentecomposto para a voz de Ana Vieira.Entre fado, tango e orquestra, “AMãe” desenvolve-se pelas viagensque foram seu ponto de criação, pelamelancolia e o embalar das melo-dias de Cinema Ensemble. Enérgicoe empenhado, Rodrigo Leão é cadavez mais uma figura de relevo namúsica nacional e é crescentementeaplaudido pela crítica internacional.Horas antes do espectáculo no Cen-tro de Artes e Espectáculos (CAE)da Figueira da Foz de dia 17, o ar-tista fala de si, da obra e da família.

Desde 1985 tem vindo a afas-tar-se da sonoridade rock quetinham os Sétima Legião. Pri-meiro com os Madredeus quetrocaram as guitarras eléctri-cas pelas acústicas e depois asolo, trocando guitarras porviolinos e violoncelos. Porquêesta fuga? É evidente que quando comecei,quando fiz o meu primeiro disco asolo, de alguma maneira não queriaestar a repetir o que já tinha tentadofazer, o que já fiz com os Sétima Le-gião e com os Madredeus, onde alíngua portuguesa predominava nascanções e o tipo de instrumentostambém era ligeiramente diferente.Por outro lado, também o meu gostomusical por algum tipo de músicaclássica justifica a escolha de ins-trumentos como o violino e o vio-loncelo. Portanto, claro que queriade alguma forma afastar-me umpouco do universo que tínhamoscriado, quer nos Sétima Legião,quer nos Madredeus. De qualquerdas formas, não seria, nem é umuniverso assim tão diferente quantoisso, apesar da utilização de instru-mentos diferentes. E há, de facto,coisas que se mantêm nestes pro-jectos todos. Não é por mudarmosum instrumento ou outro que ascoisas sejam assim tão diferentes,sou a mesma pessoa.

Em relação ao último disco“Mãe”, o que é que os distinguedos outros?Para mim é um disco filosófico e umpouco mais melancólico, que nos fazpensar na vida e na morte e noutrostemas. E sem dúvida que é eclético.Pela primeira vez há a participaçãoda Orquestra Sinfonieta de Lisboa,que era um sonho antigo e é tam-bém a primeira vez da participação

de cantores masculinos, que é tam-bém uma experiência na qual eutinha pensado há mais tempo.

Como se processou a colabora-ção com Neil Hannon (DivineComedy) Stuart Staples (Thun-dersticks) e Melingo? Foi opróprio álbum que carecia dassuas colaborações ou foi algoque se proporcionou? As colaborações em que pensamos,com o Tiago Lopes e o Pedro Oli-veira, que me ajudam a produzirestes discos, normalmente são pen-sadas depois de as músicas estaremprontas e para nós foi um prazermuito grande trabalhar com pessoasque eu admiro, que já conhecia otrabalho que faziam, os Tinders-ticks, os Divine Comedy e o DanielMelingo. Foi um envio por e-mail,como sempre, duma maqueta gra-vada em casa, e tivemos a sorte detê-los no estúdio em Lisboa, ondenós começamos gravar as músicas.

Como é trabalhar com Ci-nema Ensemble? Compõe osarranjos a pensar nesses músi-cos?Obviamente que alguns temas são

compostos a pensar em determina-dos instrumentos, e nos própriosmúsicos, porque de certa maneira jásei como tocam certa melodia.

Este álbum foi composto emviagem, nas suas visitas a Es-panha, Itália, Goa e Nova Ior-que. Até que ponto estes locaisserviram de inspiração? As viagens são um elemento muitoimportante da inspiração para ten-tar fazer música. Nestes momentostenho a sorte de ter um teclado pe-quenino, um computador, uns aus-cultadores. E foi, de facto, nosquartos de hotel que estes temasforam compostos.

Dá grande relevo à família,como o nome deste álbum evi-dencia… São uma das grandes inspirações,são das pessoas que estão maisperto de mim, sem dúvida que con-tribuem para a minha tentativa detentar fazer música e encontrar todoeste universo.

Quanto à produção musicalportuguesa, considera que au-

mentou?Acho que há muitas coisas boas queinfelizmente, não temos na rádio ena televisão.Sinto que temos conseguido levar amúsica às pessoas através de con-certos, através dos discos. Mas hámuita gente que não tem essa sorte,que não consegue divulgar a músicaque faz. Nesse sentido é precisoapoiar as pessoas que estão a come-çar e que querem mostrar aquiloque estão a fazer.

Como tem sido a reacção dopúblico e das críticas? As pessoas têm reagido bem, já éplatina. Para nós, é uma grande sur-presa ter vendido o que vendeu. Játemos concertos marcados na Espa-nha e na Grécia. Agora é um períodogrande de divulgação do disco, masestou contente com a reacção do pú-blico, das pessoas, das críticas, achoque tem corrido bem.

Como se vê no futuro? Estou sempre a tentar compor, es-pero dentro de pouco tempo poderjá apresentar temas novos nestesconcertos que estamos a fazer.

cápor

24OUT

cultura

“LA TRAVIATA”

29OUT

GALERIAS ÍCONE21H • 6€

SECÇÃO DE FADO DA AACCAFÉ SANTA CRUZ

23H • ENTRADA LIVRE

29OUT

PAVILHÃO CENTRO DE PORTUGAL21H30

24OUT

FNAC • 22HENTRADA GRATUITA

Por Jonathan Costa

23OUT

TABACARIA DA OFICINA DO TEATRO21H • 4€

DOMINGO

ESTUDANTINA

21OUT

22OUT

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“MISS EASY”DE O TEATRÃO

“BENNY HALL”

TEATRO DA CERCA DE S. BERNARDO19H• 3€ A 5€

TAVG • 21H30NORMAL 8€ • ESTUDANTE 6€

“O PROFESSOR DE DARWIN”

THE RISING SUN EXPERIENCE

30OUT

22 e 23OUT

FNAC • 22HENTRADA GRATUITA

TAVG • 21H3025€ A 30€

TAGV • 22HENTRADA GRATUITA

ORQUESTRA METROPOLITANA

DE LISBOA

CAZINO

CONCERTO PRESTÍGIO

“FERNANDO ROVIRA”

Rodrigo Leão apresenta o disco “A Mãe”, pensado sobretudo em quartos de hotel. O novo trabalho já é platina e a reacção do público temagradado. Entrevista por Filipa Magalhães

“PARA MIM é um disco filosófico e um pouco mais melancólico, que nos faz pensar na vida e na morte”

RAFAELA CARVALHO

D

Um teclado pequenino, umcomputador, uns auscultadores

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CULTURA20 de Outubro de 2009 |Terça-feira | a cabra |7

Com três ciclos deOutubro a Dezembro,o festival da músicachega à quinta ediçãocom um programa diversificado e descentralizado

A quinta edição do Festival deMúsica de Coimbra (FESMUC) ar-ranca esta quinta-feira, 22, com ociclo “Noites da Biblioteca Joa-nina”. Este é apenas um dos três ci-clos que integram o programa dofestival para a cidade.

Para o vereador da cultura da Câ-

mara Municipal de Coimbra (CMC)e consultor do festival, MárioNunes, este evento surgiu com o in-tuito de “afirmar Coimbra a nívelnacional na área da cultura” e tam-bém como uma aposta da câmara“em fazer algo concreto, importantee diferente”.

A história das quatro edições an-teriores conta já com a participaçãode ilustres nomes da música comoMário Laginha, Bernardo Sassetti,Pedro Burmester, David Binney ouOleg Marshev. Desta feita, o FES-MUC terá a actuação de mais detrês dezenas de artistas, orquestrase grupos musicais. Entre eles estáJean-Yves Fourmeau, músico mun-dialmente reconhecido e já um re-petente neste festival, desta vez a

cargo de uma Master Class de Sa-xofone.

O ciclo “Grandes Concertos” vaidecorrer em locais como o TeatroAcadémico de Gil Vicente, a Capelade S. Miguel e a Igreja do Mosteirode Santa Clara-a-nova, enquantoque o ciclo “As Quintas do Festival”inclui um conjunto de seis concer-tos que decorrem invariavelmenteà quinta-feira na Casa Municipal daCultura. Quanto ao ciclo “Noites daBiblioteca Joanina”, decorre nessemesmo espaço e nele estão agenda-dos cinco concertos. Mário Nunesrealça ainda a “parte patrimonial”do evento e defende que “há umadiversidade de espaços que permi-tem as pessoas associar a música aopatrimónio”.

Este festival, sob a direcção artís-tica de Augusto Mesquita e produ-zido pela Associação para oDesenvolvimento Musical de Coim-bra (ADARTE), tem a duração dedois meses e é organizado pelaCMC, em parceria com a Universi-dade de Coimbra e com a FundaçãoINATEL. Para além da organização,a autarquia celebrou protocoloscom sete concelhos da região, pro-tocolos estes que fizeram com queo FESMUC se expandisse a umaárea mais vasta revelando a conti-nuidade do carácter descentraliza-dor do festival. O destaque vai parao município de Torres Novas queparticipa pela primeira vez noevento.

Com a presença do público a au-

mentar de ano para ano, o vereadorda cultura da câmara municipaljustifica esta adesão afirmando queo “programa é diversificado e vaidesde o clássico ao contemporâneoe com este circuito também à voltade Coimbra, o público sobe gra-dualmente”.

O FESMUC conhece o seu últimodia desta quinta edição a 13 de De-zembro e há a destacar ainda a ce-lebração com concertos de algumasefemérides como os 250 anos donascimento do G. F. Haendel ou os200 anos da morte de JosephHaydn, ambos compositores.

Embora contactado, não foi pos-sível até ao fecho desta edição obteruma reacção do director artísticodo festival, Augusto Mesquita.

Hoje, dia 20, celebra-se o Dia doPoeta, e não fosse emCoimbra, era-lhe dado menordestaque. Poetas nãofaltam, mas ascondições não são asmelhores para quedêem a conhecer a suaarte

Da lufada poética que Coimbraexpira todas os dias, correndo orisco de não saber se ainda vive, en-contram-se os vetustos nomes doscá nascidos como Camilo Pessanha,Al Berto, Fernando Assis Pachecoou Sá de Miranda, e dos que cá pas-saram como Antero de Quental,Adriano Correia de Oliveira, Jorgede Sena, José Afonso, José Régioou Miguel Torga, confluentes dofado, do descontentamento, das re-voluções e, substancialmente, dafundação da mística coimbrã.

O certo é que Coimbra é actual-mente uma cidade hostil para osfundadores de verso, como eviden-cia o poeta conimbricense JoãoRasteiro: “acho que a poesia e ospoetas em Coimbra não têm a pro-jecção a nível nacional, que já tive-ram em determinadas épocas”. Oautor de “Pedro e Inês ou as Ma-

drugadas Esculpidas” fundamenta,não só pelo reduzido número actualde poetas, mas também pela con-centração da crítica literária nospólos de Lisboa e Porto. SegundoJoão Rasteiro, “ou se é um poetadaqueles, que aparentemente évisto pelos críticos como um se-gundo Fernando Pessoa, ou se éprofessor universitário, ou se es-creve para o Expresso ou para o Pú-blico, só assim se abre o caminhopara algumas editoras”.

À editora coimbrã Alma Azul,pouco produto tem chegado de au-tores da cidade. A fundadora, ElsaLigeira, lamenta que Coimbra“tenha tendência para o cliché, paratudo o que é rima fácil, para o que éa saudade”, apesar de ser “uma ci-dade que estimula o acto poéticoporque tem espaços maravilhosos,tem muita gente, muitos jovens”.

O que se faz em Coimbra A Oficina da Poesia da Faculdadede Letras da Universidade de Coim-bra (FLUC) é um local de discussãoe chega mesmo a funcionar comorampa de lançamento de vários au-tores. A responsável do projecto,Graça Capinha, aprofunda os cons-trangimentos que são impostos àprodução poética, como “o sistemaeducativo que, infelizmente, fazcom que tanto a poesia como asartes em geral, sejam pura e sim-plesmente eliminadas”. Culpabilizatambém a posição tomada por cer-tas livrarias que “se recusam a com-prar ou a encomendar às editoras

livros de poesia”. Um dos grandes acontecimentos

a nível cultural de Coimbra, são osEncontros Internacionais de Poe-tas, que vão sendo realizados desde1992, e por onde passam cerca de50 poetas de todo o mundo por edi-ção. Também a este evento são le-vantadas críticas, tanto da parte deJoão Rasteiro como de Graça Capi-nha, como a ausente participaçãoda Câmara Municipal de Coimbra

(CMC), bem como a escassa divul-gação por parte da comunicação so-cial.

O optimismo chega pelo vereadorda cultura da CMC, Mário Nunes.“Há poetas e muitos em Coimbra,que às vezes não são conhecidos, eprocuramos sempre um envolvi-mento”. O vereador destaca o Tea-tro Bonifrates e a Oficina da Poesia,como “parceiros ideais para a di-vulgação ao público de livros de

poesia”. A oficina, que João Ras-teiro classifica como “intervençãocomunitária permanente” é já res-ponsável, segundo Graça Capinha,pela edição de 30 livros de autoresassociados.

A CMC tem preparado para a ce-lebração do dia de hoje, leituras depoesia na Biblioteca Municipal,onde se irão recitar poemas de Mi-guel Torga, Ary dos Santos e tam-bém de Eugénio de Andrade.

COIMBRA É ACTUALMENTE uma cidade hostil para os fundadores de verso

Festival da Música de Coimbra regressa

SÉRGIO SANTOS

CAMILO SOLDADO

Coimbra com poetasMas sem versos

FILIPA MAGALHÃES

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Page 8: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 203

8 | a cabra | 20 de Outubro de 2009 | Terça-feira

DESPORTOANDEBOLAAC vs NA Samora Correia18h • Pavilhão 3 do EstádioUniversitário

VOLEIBOLClube Voleibol Espinho vs AAC18h • Pavilhão Nave DesportivaEspinho

HÓQUEI EM PATINSAAC vs APDG Penafiel18h • Pavilhão 1 do EstádioUniversitário

FUTEBOLAcadémica SF vs AD Poiares15h • Estádio Universitário24

OUT

24OUT

24OUT

25OUT

A G E N D A D E S P O R T I V A

Elite do rugbyeuropeu emsub-19 compassagem porCoimbra

No próximo domingo, dia 25,Portugal é o primeiro a entrar emcampo e a dar o pontapé de saídapara o Campeonato da Europa emRugby sub-19, que vai passar pelaRegião Centro.

Coimbra, Anadia e Lousã são ospalcos para as oito selecções (Itália,Geórgia, Rússia, Bélgica, Espanha,Polónia, Alemanha e Portugal) quediscutem o título. Em Coimbra, osterrenos de jogo escolhidos foramo Estádio Sérgio Conceição, o Está-dio Universitário e o campo da Es-cola Superior Agrária.

Portugal era candidato à organi-zação do Europeu de 2010. No en-tanto, devido à desistência daRoménia e depois de descartada ahipótese da competição ser na Bél-gica, Portugal recebe o evento, quese estende até dia 1 de Novembro.

O jogo de abertura põe frente afrente a selecção nacional e a Itália,no Estádio Sérgio Conceição. Atreinar desde dia 1 de Setembro,Portugal já fez todos os jogos depreparação e vai agora “limar ares-tas”, como conta um dos seleccio-nadores nacionais, João Luís Pinto.O objectivo estabelecido pelo téc-nico é ficar entre os quatro primei-ros. “Trabalhámos bem e temosequipa para estar no europeu”, ga-rante.

Em 2008, Portugal alcançou asmeias-finais da prova. Nesse jogo,empatou com a Roménia 20-20,mas a formação romena é que se-guiu em frente por ter mais ensaiosmarcados. Este ano, a Roménia nãoestá presente, tendo sido substi-tuída pela Itália, considerada porJoão Luís Pinto, “uma das potên-cias do rugby europeu”. “A Itáliatem jogadores mais fortes e maisaltos. Vamos tentar contrariar essamais-valia, jogando mais rápido”,acrescenta.

A pré-convocatória para o cam-peonato da Europa conta com 31jogadores. A lista final, reduzidapara 26 jogadores, é conhecidaquinta-feira. No lote final de con-vocados deve constar o nome dedois atletas da Secção de Rugby daAssociação Académica de Coimbra(AAC): João Mateus, atleta daequipa sénior dos estudantes, eJosé Miguel Almeida, que já jogounuma equipa sénior da Austráliadurante um mês e meio. “São expe-rientes e duas mais-valias fortes fi-sicamente”, sublinha João LuísPinto, que também orienta a for-mação academista de sub-21.

CATARINA DOMINGOS

Dois recordes mundiais em 2009colocam LenineCunha na calha paramelhor atleta do anoao lado de Ronaldo eNelson Évora

Iniciou-se no heptatlo com 21anos e, tal como o próprio refere,tem “bastante força de pernas ebraços”, motivo pelo qual apostounesta modalidade.

Treina diariamente ao mais altonível, na Faculdade de Desportoda Universidade do Porto (FA-DEUP), chegando mesmo a tertreinos bidiários em alguns mo-mentos da época. Sendo um atletaque pratica várias categorias den-tro do atletismo, tem de trabalharpara os saltos e velocidade, reali-zando treinos de corrida, resistên-cia, velocidade e ginásio.

“Em termos de estruturas, oPorto dá maior resposta para o Le-nine treinar”, afirma o presidenteda Secção de Atletismo da Asso-ciação Académica de Coimbra(AAC), Mário Rui. “O apoio da as-sociação académica é importante”,salienta. No entanto, “para des-porto de alta competição Coimbraé pobre. A pista do Estádio Cidadede Coimbra, que é a única pista deatletismo a sério que existe no dis-trito, tem imensos problemas deutilização por causa do futebol”,explica Mário Rui.

Já há vários anos que LenineCunha é treinado por António Oli-veira, com o qual tem uma “rela-ção de treinador, mas também deamigo”, como descreve LenineCunha. “Se eu precisar de algumacoisa ele está sempre lá para aju-

dar e disponível”, acrescenta.Além de recordista da Europa na

área de deficiência intelectual detriplo salto, é vice-campeão da Eu-ropa e do mundo de salto em com-primento, campeão e recordista domundo de pentatlo e esta épocabateu dois recordes mundiais.

Daí a nomeação para atleta doano pela Confederação do Des-porto de Portugal (CDP), numgrupo com nomes como CristianoRonaldo (futebol), Nélson Évora(triplo salto) e João Rodrigues(vela). “É o ponto alto na carreirade qualquer treinador, atleta, fi-sioterapeuta, massagista. É sem-pre bom ser alguém nomeado que

nós conhecemos muito bem”,afirma António Oliveira.

O atleta academista mostra-sefeliz, considerando que “já é umagrande vitória estar entre os cincofinalistas, com nomes como Cris-tiano Ronaldo e Nelson Évora”.

Entrega de prémios é dia 29 À margem da nomeação, MárioRui deixa a crítica de actualmentenão existir qualquer tipo de apoiomonetário para dar formação aatletas com deficiência. Contudo,mostra-se esperançado que osatletas sejam apoiados directa-mente ainda no final deste ano ouno início de 2010, devido a uma

possível participação nos JogosOlímpicos de 2012, em Londres.“Só olham para o atletismoquando um atleta ganha uma me-dalha, nos Jogos Olímpicos ou noscampeonatos do mundo”, critica opresidente.

Lenine Cunha também se queixada falta de apoio. “Quando chegá-mos este ano das competições nãohavia ninguém no aeroporto ànossa espera. A comitiva trouxemuitas medalhas e ninguém es-tava lá”, lamenta o atleta de VilaNova de Gaia.

A 14.ª Gala do Desporto da CDPestá marcada para dia 29 de Outu-bro, em Lisboa.

D.R.

SARA COIMBRASARA LOPES

Luís Caseiro tenta no próxima fim-de-semanasagrar-se bicampeãonacional de crosscar

O Campeonato de Portugal deCrosscar tem no próximo fim-de-semana, 24 e 25, a última corridano circuito de Murça. Em jogoestá o título nacional, que podeser revalidado pelo piloto da Sec-ção de Desportos Motorizados daAssociação Académica de Coim-bra (SDM/AAC).

Para que o título nacional sejaganho pelo atleta da AAC é neces-sária uma conjugação de resulta-dos favorável ao piloto. LuísCaseiro está em segundo lugarcom 436 pontos atrás de LudgeroSantos, da 4Pets, com 448 pon-tos.

Cada prova de crosscar é cons-tituída por três corridas, em quea pontuação de cada partidachega aos 20 pontos, e por umacorrida final na qual a pontuaçãomáxima para o vencedor é 40pontos.

Este ano a não participação depilotos suficientes nas corridas nocampeonato nacional afectaram a

época do campeão nacional.Assim sendo, os pontos não são

contabilizados na sua totalidade,mas sim em dois terços. Luís Ca-seiro sentiu-se “prejudicado por-que numa das vitórias que teveem pleno, a pontuação só contoudois terços”.

O campeonato está muito com-petitivo, e na última corrida sãocinco os candidatos a chegar aolugar mais desejado. O piloto daAAC afirma que “acredita até aofim” na vitória, mas sabe que paraisso o piloto da 4Pets terá de cairna classificação. “Só se lhe acon-tecer algo extraordinário durantea corrida, nunca se sabe”, espe-

cula o piloto da Académica.Este ano o carro de Luís Caseiro

sofreu uma mudança. O motor docarro de corrida do piloto foi alte-rado para um “mais recente e evo-luído” e as dificuldades foramsentidas nas primeiras provas de-vido “à competitividade e desco-nhecimento do motor”.

O circuito de Murça não é des-conhecido para os pilotos e LuísCaseiro refere que este não é dostroços que mais gosta “devido àsua monotonia”, apesar de oachar “um circuito competitivo”.

O atleta espera estar “ao melhornível no próximo fim-de-semanae trazer o título para Coimbra”.

Caseiro tenta revalidação do título

SÓNIA FERNANDES

LENINE CUNHA detém dois recordes mundiais em 2009 nas provas combinadas

Lenine Cunha entre os melhores

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DESPORTO20 de Outubro de 2009| Terça-feira | a cabra | 9

PROLONGAMENTO

ANDEBOLEm jogo da

sexta jor-

nada da

Zona Centro

do Campe-

onato Na-

cional de 3.ª Divisão, a equipa

sénior de andebol da Académica

venceu o Lousanense fora por

20-25. Esta é a terceira vitória da

temporada para a equipa de Ri-

cardo Sousa. Os estudantes

somam agora 13 pontos. Na

próxima ronda, a AAC recebe o

NA Samora Correia, que esta

jornada bateu o Tondela AC por

29-26.

VOLEIBOLNo jogo da

segunda jor-

nada da Di-

visão A2

masculina, a

equipa de

voleibol da AAC perdeu com os

açorianos do Clube K por 1-3. A

turma de Miguel Margalho soma

assim a segunda derrota consec-

utiva, depois de ter perdido com

o Centro de Voleibol de Lisboa

na primeira jornada. A

Académica tem dois pontos e o

Clube K quatro. Na próxima jor-

nada, a AAC mede forças com o

Clube Voleibol de Espinho.

HÓQUEI EM PATINSAo fim de

três jor-

nadas, a

e q u i p a

sénior de

hóquei em

patins da Académica soma três

derrotas. A formação de Miguel

Vieira perdeu este fim-de-

semana com o Riba D’Ave

Hóquei Clube por 11-5, em jogo

referente à Zona Norte do

Campeonato Nacional de 2.ª Di-

visão. Na próxima ronda, a AAC

regressa ao Pavilhão 1 do Está-

dio Universitário, depois das

obras de requalificação, re-

cebendo o APDG Penafiel.

RUGBYNa deslo-

cação a Mon-

santo, a

A c a d é m i c a

perdeu com

os actuais

campeões nacionais do Grupo

Desportivo do Direito, em jogo

da segunda jornada do Campe-

onato Nacional da Divisão de

Honra. Frente aos advogados, a

AAC foi superada por 37-10.

Esta é a segunda derrota consec-

utiva da turma de Sérgio Franco.

No próximo fim-de-semana, a

Académica recebe a Agronomia.

Catarina Domingos

AAC em busca da manutenção

A equipa sénior da Secção de Fu-tebol da Associação Académica deCoimbra (AAC) terminou em alta aépoca passada com a subida à Divi-são de Honra da Associação de Fu-tebol de Coimbra e para o presidenteda secção, Rui Pita, “o ano passadofoi um ano excelente, foram alcan-çados grande parte dos objectivos dasecção, entre os principais, a subidade divisão”.

Este fim-de-semana, a Académicavenceu o Lousanense por 1-3, emjogo da terceira jornada da Divisãode Honra da Associação de Futebolde Coimbra (AFC). A turma deBruno Fonseca está em oitavo lugar,com três pontos.

Este ano, num desafio diferente, otreinador da equipa fixa “os objecti-vos unicamente na manutenção”,afirmando que “a uma equipa quesubiu o ano passado e que não ganhadinheiro, não se pode pedir mais doque isso”.

A Divisão de Honra é um cam-peonato mais rigoroso, onde as des-locações são mais longas e aexigência é maior, mas o treinadorgarante que os jogadores estão pre-parados. Segundo Bruno Fonseca, “oplantel este ano não tem tantos jo-gadores que desequilibram como noano passado, mas está um plantelmais equilibrado e com melhores so-luções”, revelando ainda que “a sec-ção realizou no início da época oshabituais treinos de captação, nosquais foram escolhidos alguns joga-dores para integrarem o grupo jun-

tamente com os que continuam doano anterior”.

Rui Pita alerta para “a expectativaque se está a criar em volta daequipa, devido ao reforço da equipacom jogadores de qualidade”, subli-nhando “que é preciso ter os pés as-sentes na terra e primeiro asseguraro objectivo principal que passa pelamanutenção”. O presidente lembraque “o orçamento é exactamente omesmo que o ano passado e que nasecção ninguém ganha nada”, ob-serva.

“A secção cresceu imenso”A escola de futebol, iniciada no anopassado, conta esta época com novasequipas. Segundo Rui Pita, “ a sec-ção cresceu imenso e já ultrapassoueste ano a barreira dos 100 atletas”.O dirigente refere que “a secçãopassa a ter uma equipa de escolas,uma de infantis, duas equipas de ini-ciados e as equipas seniores mascu-lina e feminina”.

Quanto à equipa sénior feminina,o presidente revela que “este ano jácontava que a equipa estivesse a

competir”, culpando a “falta deapoios financeiros” como o principalentrave à competição. Contudo, RuiPita mostra-se esperançado no fu-turo revelando que “o projecto estáa ganhar força e que as raparigas quepraticavam futebol o ano passadoestão-se a envolver mais com a sec-ção”, afirmando que “é preciso quehaja alguém que se interesse pelaequipa e que esteja disposto a traba-lhar para aumentar as condições deno futuro elas poderem vir a compe-tir”.

MIGUEL CUSTÓDIO

DIVISÃO DE HONRA

Ao cabo de três jornadas, a Académica soma três pontos. A meta traçada para este ano é a per-manência na Divisão de Honra

ESTE DOMINGO a Académica venceu o Lousanense por 1-3

SARA SÃO MIGUEL

A AAC venceu os cincojogos da fasede apuramento doprimeiro troféu daépoca e asseguroua presençana final-four

A fase de apuramento do TroféuAntónio Pratas chegou ao fim. NoGrupo B – Zona Centro/Sul, aequipa sénior de basquetebol da As-sociação Académica de Coimbra(AAC) classificou-se em primeirolugar, com um registo cem por centovitorioso de cinco vitórias em cincojogos.

No próximo fim-de-semana, aAcadémica disputa, juntamente como Benfica, Vitória de Guimarães eOvarense, a vitória final do troféu.

Nos primeiros jogos oficiais da

temporada, os estudantes supera-ram, no seu grupo, o Terceira Bas-ket, Angrabasket, GinásioFigueirense, Sampaense e EléctricoFC. “Foram jogos que tiveram o ob-jectivo de preparar os nossos pontosmais débeis”, avalia o treinador daequipa, Norberto Alves.

Em relação aos reforços, o técnicoestudantil considera que “à partidatêm qualidades semelhantes aos jo-gadores do ano passado, naquilo queé a forma como estão em equipa,como trabalham e como se dão comos outros”. Nos primeiros três en-contros do troféu, foi AJ Jacksonquem mais se destacou pelo seu con-tributo pontual. “Ele tem sobres-saído, mas a nossa forma de abordaro jogo não é de privilegiar apenas umjogador. As equipas ainda não o co-nhecem bem e nós temos tirado par-tido desse desconhecimento”,reconhece Norberto Alves.

No passado sábado, diante doSampaense, Manuel Johnson, que

cumpre a segunda temporada noclube, somou 28 pontos na vitóriafinal da Académica por 94-75.Quanto aos jogadores que transita-ram da época passada, o treinadoracredita que vão continuar a ser“uma mais-valia” e chama-lhes “onúcleo duro” da equipa. “Agoravamos ver como é que se enquadramuns com os outros, temos de fazerpequenos ajustes em relação àequipa da época passada, que já es-tava mecanizada e eficaz”, sublinha.

“As pessoas querem muitodesta equipa”A Académica garantiu a presença nafase final do Troféu António Pratasno sábado, depois da vitória sobre aequipa de S.Paio de Gramaços, be-neficiando ainda da derrota do Eléc-trico com o Angrabasket e davantagem que tinha sobre o GinásioFigueirense.

O encontro de domingo com oEléctrico serviu apenas para cumprir

calendário. A AAC venceu a turmade Ponte de Sôr por 74-78, após pro-longamento.

Apesar deste ciclo vitorioso e daboa prestação na edição passada daLiga Portuguesa de Basquetebol,Norberto Alves afirma que o grupovai trabalhar “com as expectativasadequadas, procurando manter-sena primeira divisão”. “Depois aolongo da época vemos o que pode-mos fazer, as pessoas querem muitodesta equipa, mas isso não nos des-via da nossa realidade”, sublinha.

Este ano, o técnico antevê um“campeonato mais forte” e, por isso,estabelece a necessidade de “melho-rar aspectos na equipa, que têm a vercom a forma mais inteligente deabordar o jogo e com a componentetáctica”.

O primeiro jogo da final a quatrotem lugar no próximo fim-de-semana diante do Benfica, no Pavi-lhão dos Pousos de Leiria, pelas 17horas.

Académica na final-four após cinco vitórias

CATARINA DOMINGOS

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CIDADE10 | a cabra | 20 de Outubro de 2009 | Terça-feira

Plano contempla medidas para impedirinjustiças na contratação pública eurbanismo

A Associação Nacional de Muni-cípios Portugueses (ANMP) desen-volveu um plano-tipo de gestão deriscos, que tem como um dos objec-tivos prevenir a corrupção nos mu-nicípios. O ainda vereador dopelouro da Habitação da CâmaraMunicipal de Coimbra (CMC) JorgeGouveia Monteiro acredita que esteplano é positivo pois vai permitir

“desfazer o mito de que são os mu-nicípios que geram os problemas decorrupção do país”. Também o pre-sidente da ANMP, Fernando Ruas,afirma que o plano de gestão de ris-cos “pode fazer alguma prevenção”ao nível da corrupção “que é trans-versal quer ao país quer também aosestados de uma forma generali-zada”. No entanto, este plano “nãoé apenas para os municípios”, naspalavras de Fernando Ruas. “Osmunicípios são, de facto, uma áreaque é mais apetecível, mas há mui-tos interesses”, conclui.

As principais áreas de risco iden-tificadas pela ANMP incluem a con-tratação pública, a gestãofinanceira, concessão de benefíciospúblicos, recursos humanos e a área

do urbanismo e edificação. JorgeGouveia Monteiro considera queesta última é de todas a mais deli-cada na câmara e afirma que “houvesituações preocupantes” de corrup-ção. Refere a propósito, “dificulda-des de fiscalização, nos casos queenvolveram dirigentes ou ex-diri-gentes da autarquia”, mas acres-centa que são casos “conhecidos eestão a ser investigados”. No en-tanto, o vereador também acreditaque “muitas vezes é a extrema mo-rosidade dos processos camarários”que dá origem a tentações “da pes-soa mal formada em termos de ca-rácter para tentar acelerar as coisasatravés de suborno ou de outras ac-tuações ilegais”.

O plano-tipo foi desenvolvido

pela ANMP e pelo Tribunal de Con-tas no âmbito de uma Recomenda-ção do Conselho de Prevenção daCorrupção. De acordo com JorgeGouveia Monteiro, a implementa-ção do plano vai “permitir seleccio-nar as boas práticas e identificaraquelas que não são suficiente-mente balizadas” e conclui que “seganha em transparência e em con-fiança dos cidadãos nas institui-ções”.

Apesar de a adopção do planoestar prevista para este ano, o pre-sidente da ANMP, Fernando Ruasacredita ser vantajoso “deixar pas-sar esta tomada de posse dos autar-cas, que têm também de se pôr a pardesta situação”.

Com Carla Maia

Crise económica altera o perfil dos mais pobres. Instituições deCoimbra trabalhampara combater a pobreza

No sábado assinalou-se o Dia In-ternacional da Erradicação da Po-breza e em Portugal o número depessoas com carências sócio-eco-nómicas continua a aumentar. Ac-tualmente, o país ultrapassa amédia europeia com 1,8 milhões depessoas que vivem abaixo do limiarda pobreza.

No concelho de Coimbra nãoexistem dados que traduzam a ver-dadeira situação da população. Noentanto sabe-se que há cada vezmais pobres de todas as idades eambos os sexos e provenientes dediversos estratos sociais. O presi-dente do Conselho Local de AcçãoSocial de Coimbra, Oliveira Alves,revela que existem “novos pobresque nunca pensaram vir a estarnuma situação de pobreza”. Alguns“foram pequenos ou médios co-merciantes ou industriais que já ti-veram bons e até, por vezes,elevados padrões de vida”, mas quese encontram agora “em situaçõesde ausência de rendimentos”, ava-lia. Também a técnica de ServiçoSocial da Câmara Municipal deCoimbra (CMC) e coordenadora doProjecto de Intervenção para osSem-abrigo do Concelho de Coim-bra (PISACC), Elsa Branquinho,afirma que “o perfil [das pessoascarenciadas] tem vindo a alargarcada vez mais”. A técnica de serviçosocial adianta que “por conta da es-trutura económica que se vive ac-

tualmente, vão aparecendo [nasinstituições de solidariedade so-cial] famílias que perdem o em-prego” e “vítimas de violênciadoméstica”, em vez “do simplessem-abrigo, pessoa isolada,homem que está na rua ou que estáem centro de acolhimento”.

A coordenadora do Núcleo Dis-trital da Rede Europeia Anti-Po-breza/Portugal (REAPN), AnaPaula Bastos, revela que “os índi-ces [de pobreza] não se encontrama baixar, pelo contrário”. Contudo,2010 vai ser o ano europeu de Lutacontra a Pobreza e a Exclusão So-cial, pelo que a responsável consi-dera necessário “o empenho detodos, não só instituições, não sóestado, mas toda a sociedade civil,todos nós envolvidos no sentido deminimizar o fardo que é cada vezmaior de pobreza ao nível nacio-nal”.

Instituições articulam-se con-tra a pobrezaA pobreza tem várias faces e umadas mais visíveis revela-se nos semabrigo. Oliveira Alves considera-os “um fenómeno muito com-plexo”. Mesmo antes da crise osnúmeros de pessoas a viver na ruaou em centros de acolhimentoabrangiam 20 por cento da popu-lação portuguesa.

O PISACC é um esforço articu-lado de várias instituições da ci-dade, como a Associação Integrar,a CMC e a Associação de CozinhasEconómicas, para reinserir a pes-soa sem abrigo na sociedade, semrepetição de apoios. Cada “utentetem um gestor de caso que é o res-ponsável por reunir toda a infor-mação que lhe diga respeito àquelapessoa”, tendo em consideração aespecificidade e problemática da-quela pessoa, realça Elsa Branqui-nho.

O projecto existe desde 2004 e

serviu de base para a delineação daEstratégia Nacional para a Reinte-gração das Pessoas Sem Abrigo. Aassistente social da Associação deCozinhas Económicas, Ana Cristó-vão, acredita que o objectivo da ar-ticulação das diversas entidades “éoferecer à pessoa [sem abrigo] umleque de respostas e ajudá-lo aidentificar as que lhe interessam”para o ajudar a atingir “o seu ob-

jectivo de vida”.Contudo, a intervenção em

campo das instituições coordena-das pelo PISACC encontra algumasdificuldades. A técnica de ServiçoSocial da Associação Integrar, Su-sana Marçal, afirma que há semabrigo que “estão na rua há algumtempo, fizeram da rua a sua pró-pria casa, têm os seus hábitos, têmas suas regras e muitas vezes é

complicado ultrapassar isso”. Con-clui que não é possível retirar umapessoa da rua e reintegrá-la “de umdia para o outro”. Também ElsaBranquinho assinala a problemá-tica da doença mental entre os semabrigo como um dos maiores obs-táculos. “São pessoas com patolo-gias muitas vezes nãodiagnosticadas e com quem émuito difícil trabalhar, porque elaspróprias não reconhecem a suacondição” e além disso, “trazer otécnico de saúde mental ao terreno,para fazer um diagnóstico não éfácil”, conclui.

Voluntariado em CoimbraMuitas das instituições que lutamcontra a pobreza contam com oapoio de voluntários. Na perspec-tiva de Elsa Branquinho, “Coimbraé uma cidade com uma especifici-dade particular”, no que diz res-peito ao voluntariado, tendo emconta que “é uma cidade universi-tária”. Revela ainda que “esse é operfil do voluntário” de Coimbra eque, com cinco anos de funciona-mento, o Banco de Voluntariado deCoimbra conta já com “mais de800 pessoas”.

A coordenadora da Legião daBoa Vontade, Maria José Pereira,afirma que “o voluntariado ensina-nos a ajudar o nosso semelhante”.Também a secretária da Associa-ção Integrar, Carla Lopes consideraque as instituições têm “sempremuito a ganhar porque cada volun-tário tem em si um manancial deconhecimento e experiência”. Noentanto, a representante da Asso-ciação Integrar reconhece que hádificuldades no recrutamento devoluntários com o perfil adequado.“As pessoas não podem começarhoje uma actividade para amanhãdesistir; o voluntariado não podeser uma forma de preencher umcurrículo”, conclui.

O ESTEREÓTIPO do homem sem-abrigo e isolado está a mudar

Municípios adoptam estratégia de combate à corrupção LEANDRO ROLIM

LUÍS GOMES

MARIA EDUARDA ELOY

Pobreza atinge diversos estratosda população de Coimbra

JONATHAN COSTAMARIA EDUARDA ELOY

INÊS SILVA

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Por que soudaltónico?

COLUNA DOSPORQUÊS

Cerca de cinco a dez por centodos homens e menos de um porcento das mulheres têm problemasde percepção das cores. Aqui tam-bém falamos de casos em que aprópria pessoa nem sempre tem anoção de ter a deficiência. Oshomens têm um risco acrescido,porque só têm um cromossoma X,enquanto as mulheres, por teremdois, só sofrerão consequências setiverem mutações nesses cromos-somas, o que é muito raro.

A história dos genes envolvidosna visão das cores diz muito a este

respeito. No tempo dos dinos-sauros, os mamíferos eram criaturasda noite. Não teriam visão dascores, ao contrário dos primeiros.Provavelmente os ancestrais dessesmamíferos eram seres reptilianosque discriminavam cores a três di-mensões. Assim este dom ganhou-se e perdeu-se ao longo daevolução, consoante as espéciestinham visão predominantementediurna ou nocturna. Quando os nos-sos ancestrais regressaram à visãodiurna, muitos recuperaram a visãodas cores, mas não necessaria-

mente a três dimensões. Muitas dasespécies de mamíferos ainda hoje sóvêem a duas dimensões (o equiva-lente aos daltónicos humanos, quediscriminam o azul do amarelo, masnão o vermelho do verde). Os ver-tebrados são dos seres com visãodas cores mais paupérrima.

O facto de répteis, peixes, an-fíbios e aves possuírem até cincotipos de pigmentos mostra que re-gredimos em muitos aspectos. Osmamíferos apenas retiveram dois,uma na região dos amarelos e outrocorrespondente ao intervalo 440-

460 nanómetros de comprimentode onda - azul. Tinham o potencialpara distinguir o azul do amarelo,mas não o vermelho do verde. Osdaltónicos verdadeiros estão tam-bém limitados a esta faculdade. Paraa maioria de nós ganhar a terceiradimensão das cores, foi um longocaminho de recuperação evolutiva,e mesmo assim ficamos aquém dasaves, anfíbios, peixes e répteis.

MIGUEL CASTELO BRANCO, DOCENTEDA FACULDADE DE MEDICINA

DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Aqueles que julgam que a fibraóptica surgiu pouco antes dos pri-meiros anúncios televisivos estãoenganados, uma vez que estemeio de transmissão já existe hálargos anos. A fibra óptica foi in-ventada em 1952 pelo físico in-diano Narider Singh Kapany, maso conceito actual parte dos estu-dos, em 1961, de Charles Kao, umdos “mestres da luz” vencedor doprémio Nobel da Física de 2009.

As características mais vanta-josas, como a rapidez, são reco-nhecidas pela população que jáusufruiu deste meio de transmis-são de informação, mas poucossabem a que se deve essa rapideze, na realidade, o que é a fibra óp-tica. Para muitos é um simplesfeixe de luz, mas o investigador doInstituto de Telecomunicações,Paulo André, explica que é algomais complicado que isso: “as fi-bras utilizadas em comunicaçõessão constituídas por uma regiãocentral de sílica dopada com ger-mânio, com dez micrómetros dediâmetro (núcleo) e por uma ca-mada externa de sílica pura com125 micrómetros de diâmetro(bainha)”.

É a rapidez de transmissão quemais atrai os utilizadores. Quempassava horas à espera que aca-basse o download de um filme,agora espera minutos. “A suabaixa atenuação aliada ao facto deterem uma largura de banda ele-vada, permite a transmissão si-multânea de vastas quantidadesde informação”, elucida o docenteda Faculdade de Engenharia daUniversidade do Porto (FEUP),Henrique Salgado.

Além desta característica, afibra óptica possui outras vanta-gens. Por se tratarem de filamen-tos feitos de vidro e por setransmitir a informação emforma de luz, a fibra óptica éimune à interferência electro-magnética. Um caso práticoexemplificado pelo investigadordo Instituto de Engenharia de Sis-

temas e Computadores de Coim-bra (INESC), Paulo Melo, é o doshospitais, onde “numa sala commáquinas de raio X ou outras deradiação se produz uma enormequantidade de ruído electromag-nético”, sendo por isso “necessá-rio utilizar os cabos de fibraóptica”.

As desvantagens contam-sepelos dedos. Apesar de diminuiro custo das matérias-primas dosilício que constitui a fibra óptica,em contraste com o aumento dopreço das matérias-primas docobre dos cabos eléctricos, o custodos componentes ópticos dos re-ceptores e emissores é elevado. Asegunda desvantagem refere-seao facto de que “para juntar doiscabos eléctricos e a electricidadepassar basta juntá-los relativa-

mente bem, mas para juntar doiscabos de fibra óptica temos quealinhá-los muito bem e tê-los po-lidos”, afirma Paulo Melo.

Fibra óptica aplicável em vá-rias áreasOs serviços de telecomunicaçõesportugueses apostam fortementena fibra óptica para satisfazer asnecessidades de consumo e de in-formação da sociedade actual. Asaplicações são várias e, como ex-plica Henrique Salgado, “não selimitam às telecomunicações”. Amedicina e o sector industrial sãooutras das muitas áreas que tiramproveito deste meio. O docente daFEUP confirma que, actualmente,“a fibra óptica é usada em 80 porcento das transmissões de longadistância, propagando simulta-

neamente serviços de telefone,vídeo e Internet ao longo de mi-lhares de quilómetros”. “Até àdata foram instalados 25 milhõesde cabos de fibra óptica em todo omundo”, acrescenta.

Pode-se afirmar que o mundose está a tornar mais “luminoso” esão muitos os projectos para o fu-turo que prevêem a utilização dafibra óptica para continuar a tra-balhar para esse fim. Paulo Melorefere que um dos objectivos éaproveitar todos os feixes de fibraque os utilizadores possuem, masque “não está a ser utilizada ime-diatamente para transmissão deinformação”.

Henrique Salgado tambémperspectiva que “no futuro a inte-gração de serviços de comunica-ção fixos baseados em fibra e sem

fios será sem dúvida uma reali-dade”. A investigação desta formade transmissão de informação éinerente ao futuro da sociedade e,segundo o professor da FEUP,“estão em trabalhos de investiga-ção em redes de comunicação quepossibilitarão, num futuro pró-ximo, o acesso à informação, tele-visão e vídeo de alta-definiçãoatravés de ligações com débitossuperiores a um gigabyte por se-gundo”.

Face a uma sociedade na qual ainformação é uma necessidadeprioritária e a comunicação é es-sencial para o seu desenvolvi-mento, a fibra ópticaapresentou-se como um recursoeficaz. Para Paulo André, não hádúvida que “estamos perante umfuturo cheio de ‘luz’”.

A construção de um mundo “luminoso”A fibra óptica apresenta-se como um meio de transmissão de informação do futuro. Aslargas vantagens que oferece justificam a grande aposta das empresas de telecomunicações

SARA SÃO MIGUEL

20 de Outubro de 2009| Terça-feira | a cabra | 11

CIÊNCIA & TECNOLOGIA

ESTÃO INSTALADOS 25 milhões de cabos de fibra óptica em todo o mundo

FOTOMONTAGEM POR LEANDRO ROLIM

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som do carimbo de en-trada no passaporte foi,para mim, igual ao domartelo de um juiz”. Gi-

zelly Santos, como brasileira, nãoprecisava de visto para entrar naUnião Europeia (UE). No entanto,quando fez escala em Lisboa, deonde seguiria para Frankfurt, depa-rou-se com o primeiro de muitosobstáculos: a Polícia de Imigração.Disse ao oficial que era turista, “queia passear durante 20 dias e encon-trar uma amiga na Alemanha”. Apósresponder a uma série de perguntas,Gizelly viu a sua entrada autorizada.Seguiu cheia de incertezas e expecta-tivas para uma viagem que seriamuito mais longa do que dissera àsautoridades.

Com critérios mais ou menos rigo-rosos, os países têm vindo a fechar asportas aos imigrantes. Muitas vezesassociados a estereótipos negativos,não costumam ser bem vindos. Con-tudo, o relatório da Organização dasNações Unidas (ONU) “UltrapassarBarreiras: Mobilidade e Desenvolvi-mento Humanos”, recentemente di-vulgado, alerta para a necessidade demudança nas políticas de migração,de modo a ultrapassar as barreirasculturais. Nesse mesmo documento,Portugal é apontado como o paísque, no mundo, melhor integra osimigrantes na sociedade.

Gizelly é um dos casos que ajudama construir esta avaliação. Quandodesembarcou, em Fevereiro de 2007,deu os seus primeiros passos com oapoio de uma amiga que vivia emFrankfurt. Além de hospedar arecém chegada, ajudou-a a comuni-car na língua local e a conseguir em-

prego. “Fui ama e trabalhei na lim-peza de casas, únicas alternativasquando estamos apenas como turis-tas e sem visto de trabalho”, conta. Alei permite aos turistas brasileirospermanecer no máximo três mesesna UE. Antes de completar o último,Gizelly atravessou a fronteira para aSuíça, o que permitiu, ao regressar àAlemanha, um novo carimbo de en-trada na UE e mais um trimestre deestadia. Porém, logo se viu obrigadaa deixar o país, pois a fiscalização eragrande e não havia possibilidade dese legalizar. Portugal apareceu entãocomo próximo destino.

Legislação favorável à imigra-çãoAtraída pela notícia do “AcordoLula” (como ficou conhecido oAcordo de Contratação Recíproca deNacionais), que concedia residênciaportuguesa aos brasileiros com con-trato de trabalho válido, Gizellymudou-se para o país. Enquanto nãose enquadrava nas exigências, viveuoito meses “escondida” em Barcelos.“Eu evitava lugares públicos, quasenão ligava para a minha mãe e nãoconversava muito. Tudo isso paranão correr o risco de ser detida numaronda policial e acabar deportada”.Finalmente, conseguiu preencher osrequisitos e conquistar a sua resi-dência. Como ela, outros 20 milcompatriotas beneficiaram doacordo para se regularizarem entre2005 e 2008.

Actualmente, a comunidade brasi-leira é a mais numerosa em Portugal.Segundo o relatório anual do Serviçode Estrangeiros e Fronteiras (SEF),de 2008, constituem um quarto dos

440 mil estrangeiros que vivem emsituação legal. O pesquisador do Nú-cleo de Migração do Centro de Estu-dos Sociais (CES) e docente deSociologia na Faculdade de Econo-mia da Universidade de Coimbra,Pedro Góis, conta que desde 2004 osbrasileiros assumiram a primeira po-sição. “Nos anos 90 o primeiro fluxomigratório foi oriundo dos paísesluso-africanos, principalmente deCabo Verde, Angola e Guiné. Na vi-ragem do século, Portugal recebeuuma enorme quantidade de imigran-tes do Leste Europeu, sobretudoucranianos e romenos, foram cercade 150 mil num ano”, esclarece.

Os números do SEF demonstramque até ao fim dos anos 90 Portugalnão recebia grandes fluxos de imi-grações, apesar do aumento gradual.No entanto, entre 2000 e 2001, as-sistiu-se a uma escalada de 70% dapopulação estrangeira, tendo prati-camente duplicado nos anos seguin-tes. “De repente, o país viu-se pelaprimeira vez com um problema deimigração. Muitos deles chegavamsem saber falar português. Todas aslivrarias esgotaram os seus ‘stocks’de dicionários bilingues”, contaPedro Góis. A partir desse momento,o governo implementou políticaspara facilitar a recepção dos imi-grantes. “Foi criado um órgão pú-blico especial para trabalhar naintegração dos estrangeiros, o AltoComissariado para Imigração e Diá-logo Internacional; passaram a seroferecidos cursos de língua portu-guesa; ocorreram campanhas de le-galização em massa e ainda foramdisponibilizados postos de atendi-mento do SEF nas Lojas do Cida-

dão”, enumera o investigador.Medidas como estes facilitam a

entrada e regularização de estran-geiros, mas nem sempre garantemigualdade de oportunidades e a inte-gração na sociedade. O guineensePaulino Nancabú tem 35 anos e vivehá sete em Portugal. Formado emEngenharia Industrial pela Univer-sidade de Cuba e actual mestrandoem Engenharia e Gestão Industrialna Universidade de Coimbra, admiteque a integração legal é um pontopositivo. Porém, as dificuldades en-frentadas pelos imigrantes ainda sãomuitas.

Mundo profissional de difícilacessoO reconhecimento de diplomas es-trangeiros pelas universidades por-tuguesas é um dos entravescolocados aos profissionais qualifi-cados. Contudo, para Paulino não foiesse o principal obstáculo. “Pediequivalência do curso na Universi-dade de Aveiro e a coordenadoraficou impressionada com o pro-grama de estudos que apresentei ereconheceu o diploma”, conta. Noentanto, a realidade do mercado detrabalho foi outra. Mesmo com umaformação especializada, Paulino nãoconseguiu actuar na sua área e viu-se obrigado a trabalhar na constru-ção civil e em limpezas. Hoje tem umcargo administrativo numa pequenaempresa de construção gerida porum conterrâneo.

David Pires deixou a Guiné-Bissaucom apenas 12 anos através de umprograma de bolsas de estudos dogoverno cubano. Viveu a maior parteda sua vida na ilha, onde se formou

em Medicina e se especializou em ci-rurgia geral. Hoje, com 31 anos, con-fessa que a sua vontade era regressarao seu país, mas encara esse cenáriocomo uma realidade distante. “A ins-tabilidade política na Guiné restringeas oportunidades de se voltar paratrabalhar. Mesmo com sub-empre-gos, o dinheiro que ganhamos aquiainda dá para ajudar a família”, jus-tifica.

David chegou a Portugal há doismeses e ainda tenta transpor as bar-reiras da equivalência do diploma.“Estou à espera do exame que me vaihabilitar a começar a trabalhar. En-quanto espero, concorri a um está-gio.” Pedro Góis afirma que casoscomo o de Paulino e David não sãoexcepções. “Chamamos a isso ‘brainwaste’, quando os países deixam deaproveitar as potencialidades dosseus imigrantes. Eu próprio conhecium bom exemplo: um russo comdois doutoramentos que em Portu-gal trabalhava nas obras.”

Descobrir como integrar quemprocura novos países, de modo acriar uma sociedade verdadeira-mente multicultural, é o desafio.Para já, a melhor solução, afirma odocente da FEUC, é o tempo. “Só apartir da terceira geração é que po-demos falar em integração total.Hoje não há melhor resposta: inte-gração é tempo.” No entanto, o rela-tório da ONU sugere as directrizespara promover a integração: “baixaras barreiras que se interpõem às des-locações e melhorar o tratamento de-dicado àqueles que se deslocam”.

Após contactar responsáveis doSEF, não foi possível obter declara-ções até ao fecho da edição.

Um relatório da ONU afirma que Portugal é o país que melhor acolhe os seus imigrantes.As vitórias e as derrotas de quem procura aqui um futuro melhor. Por Maria Lastres eArtur Romeu

Quando um país se torna um larPAÍS & MUNDO12 | a cabra | 20 de Outubro de 2009 | Terça-feira

O“

ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES

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PAÍS & MUNDO20 de Outubro de 2009| Terça-feira | a cabra | 13

O antigo líder sérvioRadovan Karadziccomeça a ser julgado a26 de Outubro, emHaia, mas resultadopode causar revoltas

Radovan Karadzic foi detido emBelgrado a 21 de Julho de 2008, após13 anos em fuga, e transferido parao Tribunal Penal Internacional (TPI)para a ex-Jugoslávia nove dias de-pois. Na próxima segunda-feira, 26de Outubro, enfrenta a primeira ses-são de julgamento, vendo negado oseu pedido para dez meses de adia-mento.

Segundo a docente de Relações In-ternacionais da Universidade daBeira Interior, Teresa Cierco, “a datado julgamento terá de ser cumprida.O tribunal perde vigência em 2010 e,se os casos não forem resolvidos até àdata, corre o risco de ficar mal visto”.No entanto, o TPI prevê que o julga-mento se prolongue por dois anos,em parte pela falta de colaboração depaíses como a Croácia e a Sérvia.Estas nações têm vindo, ao longo dosanos, a impedir o acesso a registosbiográficos e documentos relaciona-dos com as actividades militares doréu.

Os primeiros dias serão dedicadosà declaração preliminar da acusação edurante um ano, Serge Brammertz,procurador do TPI, revelará acusa-ções e testemunhos de vítimas e pe-ritos.

Vilão ou herói?O conflito teve início em 1992 quandoos sérvios nacionalistas tentaram evi-tar a separação entre a Bósnia-Her-zegovina e a Jugoslávia. AtéNovembro de 1995, morreram maisde 250 mil pessoas e 1,8 milhõesforam obrigadas a refugiar-se. Rado-van Karadzic, à época presidente daBósnia e comandante supremo doexército sérvio, coordenou muitas dasoperações militares.

É agora acusado de 11 crimes, entreos quais o genocídio na guerra civil daBósnia, o cerco e bombardeamentode Sarajevo, no qual morreram maisde 10 mil pessoas, e pelo massacre deSrebrenica, onde foram executados7500 homens muçulmanos.

Todavia, Karadzic continua a serconsiderado um herói de guerra paraos nacionalistas sérvios e é apoiado

pela opinião pública e por frequentesmanifestações. Teresa Cierco acreditaque o antigo líder sérvio utilizará ar-gumentos como “era apenas um ge-neral a cumprir ordens”. Temetambém que caso Karadzic seja con-denado “se crie algum tipo de insta-bilidade na Sérvia e os gruposnacionalistas se revoltem, ressusci-tando a guerra civil”.

Estes movimentos radicais são,como afirma a investigadora, “contraa União Europeia (UE) e a favor deuma aliança entre a Sérvia e a Rús-sia”. Tais contradições têm provo-cado desequilíbrios sociais, políticose económicos, o que resultará emmais um atraso na entrada da Sérviapara a UE. No entanto, o governo sér-vio não se poupa a esforços para in-verter a situação, no sentido decooperar com o tribunal.

Era um domingo, dia de SuperBowl – o jogo mais importante daépoca de futebol americano – e Joa-quin José Martinez saía de casa, emBrandon, Florida, para visitar as fi-lhas, que na altura moravam com asua ex-mulher. Ao cruzar uma es-quina é subitamente cercado porquatro carros da polícia e helicópte-ros. Incrédulo, é detido para respon-der pelo homicídio de um casal,ocorrido três meses antes. Uma in-vestigação mal conduzida, apoiadaem provas manipuladas, atiraram-no para o temido corredor da morte.Na passada quinta-feira, JoaquinMartinez contou na primeira pessoao suplício a que esteve submetido du-rante três longos anos, numa confe-rência promovida pela delegaçãoportuguesa da Amnistia Internacio-nal (AI).

“Cheguei a duvidar da minha exis-tência”, confessa um homem renas-cido, mas que não consegue escondera emoção despertada pelas recorda-ções. É impossível ficar indiferente àhistória que partilha.

Após a detenção, assiste-se a umdesfilar de injustiças e decisões maljustificadas. Começando logo pela re-lação entre Joaquin Martinez e as ví-timas. A única casualidade que os ligaé o facto de Martinez ter trabalhadona mesma empresa de uma das víti-mas, mas nunca contactaram direc-tamente.

Em relação às provas, os exames deADN em nada apontam que Joaquinestivesse no local do crime, situaçãodesvalorizada pelas autoridades. Aacusação utiliza gravações áudio nasquais alegadamente, o crime é con-

fessado. No entanto, a qualidade épéssima não sendo possível descorti-nar o que de facto é dito.

Este crime tinha que ter um cul-pado, fosse quem fosse. O pai de umadas vítimas era o chefe da polícialocal e a pressão para se apuraremresponsabilidades era grande.

Joaquin José Martinez foi conde-nado à morte pelo assassinato deuma das vítimas e a prisão perpétuapela outra, em 1997, mais de um anodepois do fatídico domingo do SuperBowl.

O mundo de olhos postos nocorredor“Quando entras no corredor da mortee vês como outros companheirosestão a sofrer uma injustiça, muda-sea percepção do que é a vida e amorte”. Em três anos sofreu um in-ferno que a maioria conhece apenasde filmes. A lâmpada que acendia trêsvezes durante uma execução perse-gue-o até hoje. Viu os seus amigosabandonarem-no (“Quem quer seramigo de um condenado à morte?”,questiona). Deixou de ver as filhas,suportou abusos e maus tratos. Mas aúltima frase que os seus pais lhe diri-giram deu-lhe uma força imensa.“Lutaremos até tirar-te daqui”. E lu-taram.

Fora do corredor, ergueu-se umamobilização que atingiu uma dimen-são planetária. Uniram-se esforçospara resgatar Joaquin Martinez dodestino a que estava condenado.Desde o Papa João Paulo II aos reisde Espanha, passando por diversasorganizações defensoras dos direitoshumanos, muitos vieram a público

colocar-se do seu lado. Na prisão, ascartas de apoio enchiam a cela deJoaquin. Eram tantas que, segundoconta, “tinha um agente encarreguede verificar só o meu correio”. A vidano corredor foi melhorando e todosse apercebiam que havia algo de di-ferente em Joaquin José. “Ao iníciochamavam-me assassino, batiam-me e maltratavam-me. No final, asmulheres dos guardas faziam comidaa mais para mim”.

A esperança reacendeu-se quandofoi marcado um segundo julgamento.Desta vez, o mundo tinha os olhospostos nos acontecimentos. As pro-vas que outrora tinham servido paraincriminar Joaquin Martinez forampostas de lado, pelas incongruênciasevidentes. A acusação chegou mesmoa propor um acordo em que, se Joa-quin assinasse uma confissão, sairiaem liberdade no próprio dia, uma vezque já tinha cumprido cinco anos emeio. “De pena de morte passaram acinco anos e meio, pelo mesmocrime. Isto é justiça?”, pergunta. Re-jeita a proposta e, em 5 de Junho2001, é ilibado de todas as acusações.A última noite no corredor foi pas-sada em claro. “Estava constante-mente a acordar, porque queria ter acerteza que não era um sonho”.

A luta contra a penal capital“Eu confiava no sistema de justiçaamericano e acreditava na pena demorte”, assume Joaquin Martinez.Hoje, é um activista pela abolição dapena capital, causa a que se dedica,“não para ganhar dinheiro”, mas “decoração”. É neste sentido que se di-vide em conferências por todo o

mundo. “Consciencializar os estu-dantes para a importância do movi-mento e das campanhas com vista àabolição da pena de morte a nível in-ternacional” foi o objectivo destacadopela docente de Relações Internacio-nais e co-organizadora da conferên-cia na faculdade de Economia,Daniela Nascimento.

O que justifica então a existênciada pena de morte? O director-execu-tivo da AI, Pedro Krupenski, sublinha

“as tradições religiosas e culturais”como razões para que assim seja. “Hápaíses que a utilizam como umaforma de controlo da população”, re-fere. Os factores económicos tambémpesam: “os sistemas de segurança doscorredores da morte e as injecções le-tais, que são produtos químicos rela-tivamente caros, dão dinheiro aganhar a muita gente”. Há ainda umlongo caminho a percorrer para queos direitos humanos falem mais alto.

JOAQUIN MARTINEZ tem vindo a divulgar a sua história por todo o mundo

Karadzic julgado por genocídio

LEANDRO ROLIM

A lâmpada ao fim do corredor

GUERRA NOS BALCÃS

RAFAELA CARVALHODANIELA QUEIRÓS

D.R.

A morte como castigo ainda é aplicada em mais de 50 países. Joaquin Martinez esteve nofamoso corredor durante quatro anos e regressou vivo para contar a história. Por VascoBatista e João Ribeiro

Page 18: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 203

ARTES FEITAS14 | a cabra | 20 de Outubro de 2009 | Terça-feira

onto Prévio: o preço dosbilhetes de cinema voltoua aumentar. Alguém nãoestá a levar a sério o tão

propalado combate aos down-loads ilegais...

Mas deixemos essas questõespara outros espaços e outros tem-pos. “A Batalha de Red Cliff”marca o regresso de John Woo aoseu país natal. Desde 1992 queWoo não filmava na China, tendorespondido ao canto da sereia deHollywood, que o tem ocupadodesde então.

O regresso do filho pródigo (éele o responsável por muitos doselogios feitos ao cinema de acçãoasiático dos anos oitenta a estaparte) é, assim, feito com umfilme que nos leva ao século III, aofinal da Dinastia Han, e conta aestória da guerra travada pelossenhores das terras do Sul, SunQuan e Liu Bei, contra o exércitoimperial do primeiro-ministroCao Cao. A estória desta batalha éum episódio do “Romance dos

Três Reis”, um dos pilares da lite-ratura clássica chinesa. Con-cluindo a contextualização danarrativa, será um equivalentepara a cultura chinesa do que épara a mitologia greco-romana aGuerra de Tróia incluída naIlíada.

Originalmente com cerca decinco horas de duração, e exibidona China em duas partes, “A Ba-talha de Red Cliff” é mostrado aopúblico ocidental numa versão re-montada e resumida de 150 mi-nutos, com direito a introduçãoem voice-over inglês. A conse-quência mais surpreendente detamanho corte que não costumabeneficiar qualquer narrativa éque a mesma não se ressente. Defacto, a estória flui e não aparentafalhas ou inconsistências. Comuma carreira ancorada no géneroAcção, John Woo não deixa crédi-tos por mãos alheias. O recurso aoslow-motion para abrandar oritmo do combate é frequente,assim como as explosões são usa-

das no confronto final sem pou-pança.

Outras marcas de autor: o con-fronto entre a honra e a lealdadedos protagonistas e a ambiçãodesmedida do vilão de serviço. Aamizade entre o herói e o compa-nheiro, que aqui assume uma di-mensão mística. Mesmo a pombabranca, presença regular na cine-matografia de Woo, não deixa demarcar presença.

A verdade é que o recurso à mi-tologia chinesa e a sua mutaçãoem cinema de acção não trans-forma este filme em algo mais queum conjunto de clichés cansadose repetidos já até à exaustão. Sim,o herói de serviço tem um inte-resse amoroso partilhado pelovilão e que quase se sacrifica pelobem maior. O rumo da estória émais do que previsível e até abanda sonora está omnipresente,nunca deixando o filme respirar.

Já vimos este filme antes. Mastinha outro título. E foi há cercade dez anos.

A Batalhade Red Cliff

CIN

EM

A

"O FILHO PRÓDIGOREGRESSA A CASA"

CRÍTICA DE FERNANDO OLIVEIRA

DE

JOHN WOO

COM

TAKESHI KANESHIRO

FENGYI ZHANG

CHEN CHANG

2009

PLATAFORMA

XBOX360, PS3, PC-WINDOWS

EDITORA

ELECTRONIC ARTS

2009

eed For Speed (NFS)sofreu uma revitaliza-ção. Mudou de rumotornando-se agora uma

mistura entre simulação e arcada.Estamos perante o melhor NFS

feito em anos. O design foi focadona experiencia de condução, queé fenomenal e de nos deixar agar-rados às cadeiras. É provavel-mente o melhor no campo emfazer sentir como é realmenteconduzir um dos numerosos car-ros disponíveis. O aspecto dosmesmos é preciso no exteriormas também no interior dandoao jogador a sensação, mesmoque momentânea, de como éestar a conduzir o carro dos seussonhos.

Existe uma grande sensação de

velocidade que aumenta a nossaadrenalina e o som do chiar dospneus demonstra como é fazermanobras a grande velocidade.Dentro do habitáculo a ambiên-cia ainda é maior, com o ecrã dejogo a sofrer alterações conformea velocidade ou quando se dãocolisões.

Existe de facto um bom equilí-brio na jogabilidade entre os gé-neros para agradar não só aos fãsdos anteriores NFS, como aos fãsde simuladores automóveis.

Os nossos adversários apresen-tam uma inteligência artificialhumana sendo bastante imprevi-síveis e extremamente agressivos.

No modo carreira, deixamospara trás as corridas fora-da-leipara nos dedicarmos a ser pilotos

de renome percorrendo diversaspistas reais e imaginárias. Aindaé possível alterar os carros de di-versas maneiras, mas agora existeuma componente muito maismecânica, na qual as personaliza-ções afectam o modo como ocarro reage e não só visualmente.

Existem diversos modos dejogo para agradar a todos e issotambém se observa nos modosonline, onde a competição émaior.

As mudanças na série podemnão agradar a alguns, mas defacto estamos perante um jogo decondução exigente e de qualidadesuperior.

"Empacotadocom adrenalina"

Need For Speed: Shift”

MÁRIO SANTOS

“ P

N

JO

GA

R

Artigo disponível na:

Page 19: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 203

ARTES FEITAS20 de Outubro de 2009 | Terça-feira | a cabra | 15

nunciado em Março de2009 no site oficial, saiuno segundo dia de Verão oquinto álbum de estúdio

dos já aclamados Mars Volta. Ape-nas um ano depois do bem suce-dido “Bedlam in the Goliath”, estestexanos de El Paso estão de volta.Um fã mais tradicional e mais in-cauto de Mars Volta pode desenga-nar-se: este é diferente. A banda deOmar Rodriguez-Lopez e de CedricBixler Zavala apresenta-nos destavez um trabalho que parece sermais ponderado e mais maduromostrando assim que são capazesnão apenas de explosões de energiae guitarras, mas também de conce-ber um álbum mais calmo e melo-dioso, sem perder a identidade doseu já tão peculiar rock progressivocom influências latinas. Álbum esteque, segundo Bixler-Zavala, estavapara ser acústico.Nota-se uma evolução na sonori-dade da banda e apesar da saída demembros tão preponderantes nos

álbuns anteriores, a essência do grupo, pautada pelos dois líderes,mantém-se. Paul Hinojos (que fez parte da totalidade do projecto Atthe Drive-In) e Adrián Terrazas-González (membro do grupo nos úl-timos três trabalhos) foram convidados a sair por Rodriguez-Lopezainda em 2008 (ano em que visitaram Portugal), devido à viragem derumo do som dos Mars Volta para este novo álbum.O primeiro single de “Octahedron” foi escolhido de maneira diferentepara a Europa e para os Estados Unidos. “Since We’ve Been Wrong”foi o tema seleccionado para single nos EUA enquanto “Cotopaxi”fez as honras por cá. As duas merecem uma breve análise: a primeiraé novidade por se traduzir num oceano de tranquilidade melodioso,invulgar nas músicas de uns Mars Volta que habituaram o seu pú-blico a paragens mais revoltosas. Quanto ao segundo, já se identificamais com o som que deles nos acostumámos a ouvir. “Cotopaxi” étalvez a faixa mais eléctrica do sucessor de “Bedlam in the Goliath”,o que nos faz vir à memória algumas músicas bem sucedidas de ál-buns anteriores. A destacar ainda neste LP, para além dos singles, há ainda a agradá-vel surpresa que é “Halo Of Nembutals”, e o seu refrão sonoro que lheconfere particular força, assim com “Teflon”, “Desperate Graves” ou“Luciforms”, que segue o caminho delineado para o single do álbumpara os EUA.Este trabalho não pode ser tido em conta faixa a faixa, ele vale comoum todo e pode não ser o melhor que estes texanos já conseguiramfazer até agora. Não é um “De-Loused in the Comatorium”, é certo,mas pode ser considerado como uma boa adição a uma discografia dequalidade.

ouco há quem não conheça ainfeliz história queirosianad' O Crime do padre Amaro.A obra dá conhecer os desti-

nos de Amaro Vieira e Amélia Cami-nha, duas almas caridosas e cristãs. Aprimeira, jovem e padre, hospeda-sena casa da segunda, também jovem edevota. Amélia, que Eça de Queiroznão pinta com as cores que o cinemamais tarde lhe deu, é, aliás, roliça,gorda, até, e com “um bucozinho quelhe punha aos cantos da boca umasombra subtil e doce”, e não resiste aosencantos do padre garboso. Na casa,sob o olhar desatento da mãe de Amé-lia, desenvolve-se a afeição dos doisque, apesar dos votos de castidade epureza do padre e da virgem, terminaabandonada na cama de uma entreva-dinha de quem Amélia caridosamentecuidava. Caída em desgraça perante osolhos divinos, Amélia há-de engravidare a mando do amante, abortar acriança para que a intriga humana nãodescubra os enlevos dos dois, proibi-dos perante as leis da igreja e dos ho-mens. Mas a operação acaba por ditartambém a morte de Amélia, e Amaro,que ainda há pouco tínhamos vistochegar a Leiria, parte pouco depois,sem grandes remorsos e com umanova visão das suas funções de pastor,incutidas pelos costumes dos seuscompanheiros de fé, já gastos pela ero-são dos anos e dos vícios.

O crime do padre Amaro não é nadadisto, e é isto tudo. É o jovem fraco devontade que se deixa empurrar para oseminário e fazer-se padre sem voca-ção. É o padre que se apaixona e aban-dona os seus votos, arrastando consigooutra alma pela qual devia zelar espiri-tualmente em vez de tentar com os pe-cados da carne. É o homem da igrejaque fecha os olhos aos pobres do seurebanho e vencido se lhes junta. Ensi-nado pelo cónego Dias, o padre mes-tre, imagem bafiento da Igreja e quealimenta há anos uma relação poucoprivada e nada católica com a mãe deAmélia, Amaro, o aluno, depressa ul-trapassa o mestre em despudores.Feito filme, em mais do que uma oca-sião, teve o mérito de levar milharesde portugueses ao cinema, número di-ficilmente ultrapassado em leitores.

Encontramos n’ O Crime do PadreAmaro o desfilar de figuras que Eçatanto gosta de trazer ate nós e os víciosque lhes encontra. Desta vez, o alvo dacrítica social é a Igreja, com uma ima-gem corrupta, vencida e impura, massobretudo hipócrita. O traço forte, aironia e o humor com que retrata aspersonagens dão a escrita de Eça umestilo inconfundível. E as fraquezas hu-manas, intemporais e persistentesfazem da sua obra leitura incontorná-vel em qualquer século, década ou ano.Tudo bons motivos para aconselhar:não veja só o filme, leia o livro.

m romano vê-se obrigado apassar o Ferragosto – fe-riado tradicional italiano,que marca o início das fé-

rias de Verão – enclausurado no seuapartamento, com o encargo da mãee mais três idosas. Resignado ao seubairro, completamente despojado dehabitantes, o decrépito protagonistacontempla a sua paciência posta àprova pelas exigências e pelas trope-lias das suas protegidas.

“Almoço de 15 de Agosto” é tão sóe simplesmente isto. É escusado es-perar mais de um argumento, queentre a gestão de conflitos e a mesade uma cozinha tipicamente italiana,encontra na simplicidade narrativa asua natureza.

Mas a mais recente obra e primeirarealização de Gianni Di Gregorio émais do que um filme em si. É umaresenha da história do grande ci-nema italiano, onde facilmente en-contramos pastiches do realismo deRossellinni e toda aquela representa-ção autêntica de Fellinni, e onde as“Romas” de ambos se cruzam com otoque de tragicomédia e autobiogra-fia empregado pelo autor. Mas a in-cursão na imagética do cinemaitaliano vai mais longe e desvenda-mos laivos de Garrone e Moretti, es-

pecialmente numa viagem de scooterpelas ruas e margens de Roma.

Depois de uma curta, mas gloriosa,passagem pelas salas de cinema por-tuguesas, chega-nos finalmente aedição DVD, tutelada pela óbviaAtlanta Filmes, em que somos brin-dados com uma vasta gama de ex-tras, para uma edição que só contacom um disco.

A cerimónia de antestreia do filmeem Portugal, que encerrou “8 1/2 –Festa do Cinema Italiano” teria inva-riavelmente que constar do cardápioe aqui conta com uma entrevista aorealizador, bem como uma a sessãode apresentação da película. Mas orol de extras continua e somos aindapremiados com uma entrevista deLara Marques Pereira, para o pro-grama “Cinemax” da “Antena 1”.

O restante grupo de complementosao DVD – que passam por uma gale-ria de imagens do filme e um secçãoDVD-ROM com fotos de rodagem eum dossier de imprensa – poderiapassar-nos ao lado, não fosse a genialreceita de culinária do almoço de 15de Agosto.

OUVIR

DE

EÇA DE QUEIRÓS

EDITORA

LIVROS DO BRASIL

1999

DE

THE MARS VOLTA

EDITORA

MERCURY RECORDS

2009

Octahedron”

A

CAMILO SOLDADO

Artigos disponíveis na:

P

O Crime do Padre Amaro”

JOÃO MIRANDA

SOFIA PIÇARRA

Almoço de 15 de Agosto”

VER

Almoço de frete

GUERRA DAS CABRAS

A evitar

Fraco

Podia ser pior

Vale a pena

A Cabra aconselha

A Cabra d’Ouro

LER

Octahedron, o quinto

U

O crime de não ler Eça

FILME

EXTRAS

DE

GIANNI DI GREGORIO

EDITORA

ATALANTA FILMES

2009

ARTES FEITAS

Page 20: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 203

Feira do Espantalhorealizou-se pelo sextoano consecutivo naPraça Velha, como ho-

menagem ao trabalho agrícola.Além das dezenas de coloridosespantalhos apresentou tam-bém aos conimbricenses umvelho amigo que antigamenteera usual vê-lo a subir e desceras ruas, a transportar cargas epessoas sem se negar. Com a in-dustrialização do país e da Eu-ropa, é cada vez mais raro o usorural do burro. O tractor e o au-tomóvel substituíram esta dócile humilde criatura nas nossascidades e nos nossos campos. Écom um misto de nostalgia etristeza que vejo estes belos ani-mais em Coimbra e relembroque estão em vias de extinção.Se deixarmos extinguir um ani-mal que nos serviu incansavel-mente tanto tempo, que diráisso de nós?

200 X 100BURROS HÁ MUITOS? • POR LEANDRO ROLIM

A

SOLTAS16| a cabra |20 de Outubro de 2009 |Terça-feira

EU ESTUDO LÁ

Estudar em Itália temas suas diferenças.Valentina Cassani,aluna de Comunicação eJornalismo em Milão,aponta os principaistraços

Em Itália não há festas académi-cas, como a Queima e a Latada. Emvez disso, os estudantes organizamsaídas em conjunto, agrupados pelosdiferentes cursos. Cada estabeleci-mento de diversão nocturna fun-

ciona, por regra, apenas um dia porsemana, mas todos os dias há anima-ção nocturna.

O dia-a-dia também é diferente:“passa-se muito mais tempo emcasa”, observa. “Em Itália, depois dasaulas da manhã, os alunos vão estu-dar para a biblioteca da faculdade,saem para beber algo antes do jantar,depois jantam e saem à noite, en-quanto que em Coimbra as tardes sãonormalmente passadas em casa, e sódepois do jantar é que se organizamoutras actividades”, conta a estu-dante de Jornalismo.

Quanto à qualidade e preço do alo-

jamento “a Itália é muito mais cara”(em média, um quarto tem o preço dequatrocentos euros), “mas a quali-dade é muito maior”. Afirma aindaque “os quartos em Coimbra não têmconforto algum, sendo muito antigose tendo más condições”.

Ainda em termos de preços, as pro-pinas são também muito diferentes:na sua universidade, a propina mí-nima é de dois mil euros e a máximapode chegar aos seis mil.

A sua universidade tem sensivel-mente o mesmo número de alunosque a UC, mas a representatividadede alunos Erasmus é muito mais

baixa, “talvez pelo facto de todas asaulas serem dadas exclusivamenteem italiano”, reflecte.

Valentina diz que a universidade é“um espaço antigo e pouco cuidado,por culpa das pessoas não se preocu-parem em preservá-lo”, ao invés dosespaços da sua universidade: “bemtratada, com muitos espaços de es-tudo, antiga mas restaurada, e comoutra preocupação com as condiçõesfísicas da mesma”.

Em Itália não há praxe, “por culpada idade com que se entra para a uni-versidade - cerca de 20 anos - e, comonunca houve tradição, seria agora en-

carada como humilhação”. A únicaintegração que é feita dos caloirospassa por uma pequena reunião in-formal em que são apresentados. Aúnica festividade académica é a dagraduação em que todos os amigos doestudante lhe dão uma coroa de lou-ros e flores vermelhas. Depois, o es-tudante tem de correr pelo jardiminterno da faculdade em roupa inte-rior.

A avaliação em Itália é feita atravésde exames finais. Para a estudante "éum método que funciona, e é mais or-ganizado que o português".

Por Pedro Leitão

EM MILÃO os edifícios são antigos mas preservados

ACABAR O

CURSO COM

UMA COROA DE

LOUROS

UNIVERSITÁ CATTOLICA DEL SACRO CUORE • MILÃO

D.R.

Page 21: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 203

SOLTAS20 de Outubro de 2009 | Terça-feira | a cabra | 17

INGLATERRA Depoisdo nascimento do filho,uma mulher de 28 anosdescobriu que era alér-gica ao bebé. Devido auma doença rara de pele,Joanne Mackie nãopodia tocar no filho sobpena de ficar com ocorpo coberto de bolhas.Entretanto um trata-mento à base de esterói-des possibilitou a curaquase um mês depois.

BRASIL Há estranhoscasos de boas ideias.Para poupar água, umaorganização não gover-namental brasileira estáa promover o “Chichi no

Duche”. A SOS Mata Atlânticaacredita que a medida ia ajudarcada pessoa a poupar cerca de4000 litros de água por ano. Só emSão Paulo seriam 1500 litros porsegundo. Para os mais cépticosquanto à higiene, a organizaçãolembra que a urina é composta em95 por cento de água e em cincopor cento de substâncias tão sim-ples como a ureia e o sal.

MALÁSIA O Governo está a fi-nanciar uma segunda lua-de-melpara os casais que estejam à beirado divórcio. O objectivo é salvar oscasamentos para criar exemplosde boas famílias. Os casais têm di-reito a duas noites com tudo pagonuma ilha paradisíaca. Depoisdisso fazem uma terapia. A me-dida já terá funcionado em 25 ca-sais.

Cristiana Pereira

O M

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O A

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TRÁR

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COM PERSONALIDADE

Sou licenciado em História Económica e Filosófica e em Línguas Clássicas. Passei 40 anos dentro do Banco de Portugal e esse foi o meu grande martírio, um martírio que passeitoda a vida, porque eu tinha três filhos e tinha de me socorrer do emprego para os alimentar. Foi só por isso que me mantive lá tanto tempo. Eu tinha estudado, tinha uma atracção muito grandepelas letras e pela cultura. Trabalhei nos Açores e dava aulas à noite no antigo liceu. E as aulas teriam certamente sido a minha vida se pudesse ter escolhido.

Costumo afirmar aos meus estudantes que em História não há dados pequenos. Qualquer dado, por pequeno que nos pareça, às vezes ajuda a transformar uma sociedade.Por isso é que esta maneira de ensinar a História, que a seguir a um rei vem outro e depois outro, está um bocadinho mal organizada. As revoluções não se fazem só com armas, mas tam-bém com ideias.

A Liga dos Amigos da Taberna Antiga é uma sociedade que não existe em mais parte nenhuma do mundo porque somos todos presidentes enquanto estamos na taberna a comer. O queme seduziu neste espaço foi o facto de ser uma estrutura muito portuguesa, embora tenha sido alterada ao longo dos séculos. A imagem da taberna degradou-se porque as pessoas não ti-nham muitas formas de rendimento e entravam num certo desespero que levava os pais para a taberna, com um sentimento de tristeza, e era aí que afogavam as mágoas. E ficavam nacasa da corda, que era uma espécie de local de repouso para os mais embriagados, porque não queriam levar uma má imagem para casa, não queriam mostrar o desespero à mulher e aosfilhos.

A nossa gastronomia é uma riqueza muito grande. Temos uma habilidade extraordinária que é superior a todas as outras, mas precisa de ser cuidadosamente tratada. Por vezes não temos tempopara nos dedicarmos à cozinha. Somos o país da Europa com mais variedade de sopas porque somos um povo relativamente pobre e tivemos de aproveitar todas as ervinhas. Asmulheres tinham uma criatividade muito grande para a cozinha. Os portugueses têm a tendência para ser um bocadinho descuidados porque se tivéssemos a preocupação de aplicaras nossas criatividades com grande firmeza e sabedoria, seríamos um povo dos primeiros a nível europeu. Como disse Camões, Portugal era a “cabeça da Europa” e podia voltar a ser.

A cultura portuguesa está na corda bamba porque os políticos vivem muito entre eles, passam a vida a discutir lugares entre si. [Os políticos] só vêm para a rua por causa dosvotos. A população fica no esquecimento. E Portugal tem pessoas muito inteligentes, às vezes sem saber ler nem escrever, mas que sabem contar histórias fabulosas, sabem de corpoemas. São uma riqueza fantástica.

A HISTÓRIA NA CORDA BAMBA

Entrevista por Cristiana Pereira

PAULINO MOTA TAVARES • 71 ANOS • HISTORIADOR

CRISTIANA PEREIRA

screver quase três mil ca-racteres de duas em duassemanas sobre o tudo

(ainda que ocasionalmente, de vezem quando, quase sempre, esperemo nada) não é exactamente assentartijolo mas também não é como re-solver um sudoku para catraios.Tudo porque (e peço desde já des-

culpa a todos os que não estão pre-parados para esta notícia) na ver-dade não se passa nada de especialneste nosso Portugal. Daí que denovo me veja obrigada a pegar natemática sempre bonita e profícuados sufrágios.

Quer dizer, e daí se calhar não.Parece que o capitão ao leme deste

barco que é Coimbra (sempre fuipéssima com metáforas, a sério) éo mesmo. Sim, mais quatro anos aser regidos por um homem com ca-ligrafia de pré-adolescente, vitória,vitória, acabou-se a história, ama-nhã há mais, portanto. E de repentenão tenho assunto para escrever. Jáviu, caro leitor? Mas nada de preo-cupações, é a oportunidade queprecisava para finalmente exportoda a minha teoria acerca da vidaamorosa dos esquentadores. Entãoora bem, na sua vida solitária, es-carrapachado numa parede de casade banho, o esquentador não des-denha os restantes elementos dodito espaço, olhando com especialgulosidade para o autoclismo. A re-ciprocidade é evidente apesar docaso mal resolvido entre a descargae o piaçaba.

(Ah, é verdade, então a Latadacomeça amanhã. Com mil diabos!Isto de já andar cá há uns anos pro-picia o entorpecimento do calendá-rio académico mental. Os deuses datradição académica me perdoem,peço a vossa clemência admitindo,humildemente, o meu pecado).

Parte boa disto tudo, já tenhonovamente assunto. E é dos bons!Escrever sobre a Latada é mais oumenos como escrever sobre o Ben-fica. O povo gosta, comenta e dizque este ano é que é. Sucesso ga-rantido. Até podia dizer que a La-tada treinou à parte a contas comuma pubalgia mas está pronta paraentrar em campo na Quinta à meia-

noite. Vocês iam gostar, eu sei.Além disso, caramba, a Latada temtudo a ver com as eleições. As noi-tes no parque o que são? Comíciosautênticos: gente feliz não exacta-mente a abanar bandeiras mas aatirar capas ao ar (no fundo nãodeixa de ser uma bandeira) e nofinal está tudo embriagado. O cor-tejo é o equivalente à popular ar-ruada e o peddy-tascas confunde-secom a ida dos candidatos - às au-tarquias entre os políticos, a umacirrose entre os estudantes - às fei-ras. Até a tradição das famílias, dospadrinhos e das madrinhas, tudoisso foi beber à mais encantadoracaracterística da política portu-guesa: o compadrio. Assim en-quanto o mariola estudante diz“caloiro meu não se põe de quatro”,na política vamos para outro nívelde favores, um “o meu colega decarteira da 4º classe ganhou esteconcurso público”, um “oh Martins,constrói praí essa marquise que eudou um toque ao arquitecto da Câ-mara”. Magnífico.

Rematando, aproveitem a festa.Às vezes pode ser de lata mas aindaé melhor que não haver nenhumada Junta de Freguesia.

MAU TEMPO NO CHOUPAL

FESTA DE LATAS

Por Mestranda Maria Armanda

E

ILUSTRAÇÃO POR LÍDIA DINIZ

Todas as crónicas em

cabra net@

Page 22: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 203

OPINIÃO18 | a cabra | 20 de Outubro de 2009 | Terça-feira

Muitas sociedades têm vindo aaperfeiçoar os seus recursos le-gais com o objectivo de ganhareficácia no combate ao crime detráfico de seres humanos (TSH).As preocupações nos domínios daprevenção deste fenómeno crimi-nal e do apoio às suas vítimastêm-se materializado num con-junto de respostas públicas,acompanhadas pela iniciativa ecolaboração de variadíssimasONG’s. Portugal não é, neste do-mínio, excepção.

A aprovação pela Assembleia daRepública (Resolução nº. 1/2008,de 14 de Janeiro), da Convençãodo Conselho da Europa Relativa àLuta contra o TSH, ilustra que oPaís entende as transformaçõesque se vêm observando nalgumasdas modalidades de ilicitude maisdesumana.

Por hábito, o (errado) entendi-mento de que Portugal, pelas suascaracterísticas, é muito poucopropenso a certo tipo de crimes,em particular crimes graves, porforça da sua situação geografica-mente periférica e das suas bene-volentes tradições, inibe umarejeição cultural e formal firmedas condutas de que essa ilicitude

se alimenta. A luta contra o TSH,imperativo civilizacional, não secompadece com cálculos de pro-babilidade, nem a sua particulardanosidade sugere quaisquermargens de erro.

A alteração ao Código Penal(Lei n.º 59/2007, de 4 de Setem-bro), permitiu a consagraçãopenal do tráfico de pessoas (Artº160º do CP), referido a activida-des de exploração sexual, explo-ração do trabalho ou extracção deórgãos. O crime compreende aoferta, a entrega, o aliciamento, aaceitação, o transporte, o aloja-mento ou o acolhimento de pes-soas através de certos meios.Tratando-se de menores, admite-se que seja cometido através dequalquer meio, havendo lugar àqualificação se forem utilizadosmeios graves. Além disso, sãocriadas novas incriminações co-nexionadas com o tráfico (adop-ção de menores mediantecontrapartida, utilização de servi-ços ou órgãos de pessoas vítimasde TSH e à retenção, ocultação,danificação ou destruição dos res-pectivos documentos de identifi-cação ou de viagem).

Independentemente do fim a

que se destina e dos meios em-pregues, o TSH é um crime queviola princípios fundamentais dassociedades que prezam a digni-dade da pessoa humana. Poroutro lado, o TSH violenta muitoparticularmente as vítimas, e comfrequência está associado a umagama de outros ilícitos.

O que parece bastante parado-xal é a sua natureza bífida –apoiado em redes que agem auma escala transnacional e reve-lando-se, na fase da exploraçãodirecta das vítimas, a uma escalalocal.

Ou seja, há uma cumplicidadelocal directa, alimentada pela co-nivência do empresário sem es-crúpulos (no caso do tráfico parafins de exploração laboral), doproxeneta e (quantas vezes) dopróprio “cliente” (quando se tratade pessoas traficadas para fins deexploração sexual). Essa cumpli-cidade não é apenas material, po-dendo expressar-se no sentido deum deficit moral comunitário,sempre que a existência de fun-dadas suspeitas sobre locais de di-versão ou contextos laborais nãocorresponde, na prática, à exigên-cia de um controlo social formal e

à denúncia pública dos ilícitos.O TSH, que como qualquer

outro crime é o resultado de umcomportamento humano a umaescala individual ou grupal, po-derá ser mais bem entendido (e,logo, prevenido) se e quandoforem identificados os factoressociais que nele prevalecem, e quese revelam a uma escala maisagregada. Em rigor, esse entendi-mento vive dos nexos que possa-mos estabelecer entre osindivíduos (perpetradores, cúm-plices, vítimas, testemunhas) e oseu ambiente. E este procedi-mento não é apenas um caso depolícia. Ele deve decorrer, tam-bém, do nosso grau de empenha-mento nas questões que secolocam à comunidade.

*Chefe de Equipa do Observa-tório do Tráfico de Seres Huma-nos

Cartas ao directorpodem ser

enviadas para

[email protected]

O tráfico de sereshumanos é um crimeque viola princípiosfundamentais dassociedades queprezam a dignidadeda pessoa humana

PUBLICIDADE

D.R.

SABER PARA AGIR

PAULO MACHADO*

Page 23: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 203

OPINIÃO20 de Outubro de 2009 | Terça-feira | a cabra | 19

É quase indiscutível que a expe-riência universitária é marcante navida de um estudante. No entanto,quanto mais vivo este projecto daRede UC mais acredito que ser An-tigo Estudante da Universidade deCoimbra é diferente e especial.

Mas o que é a Rede UC? Nofundo, pretende ser um ponto deencontro entre todos os que passa-ram pela Universidade de Coim-bra. Criada em 2006 pela Reitoria,congrega já quase 20 mil AntigosEstudantes, englobando pessoasprovenientes de todas as Faculda-des e gerações. Com toda esta di-versidade e riqueza, asoportunidades multiplicam-separa quem estiver em Rede. Aliás,muito do que fazemos no nossoquotidiano inclui as seguintes ac-tividades:

- divulgação de eventos de for-mação pós graduada, como mestra-dos, doutoramentos, congressos,seminários, palestras, entre outros;

- divulgação de dezenas de ofer-tas de recrutamento por mês, paraas mais diversas entidades nacio-nais e multinacionais, em estreitacolaboração com o COEL

– Gabinete de Saídas Profissio-nais;

- intermediação entre Universi-dade, Antigos Estudantes e entida-des externas;

- disponibilização de uma ‘onestop shop’ de apoio aos Antigos Es-tudantes, intermediando todo otipo de questões como, por exem-plo, no que diz respeito ao processode transição pré-pós Bolonha.

Assim, se no final do dia um(a)Antigo(a) Estudante marcar umaentrevista devido a uma oferta pornós divulgada, se tomou conheci-mento de uma pós-graduação queno futuro vai determinar a sua es-pecialização, ou se contribuímospara a divulgação dos conhecimen-tos científicos de um docente ou

ilustre da UC, ou ajudamos a escla-recer qualquer dúvida que um An-tigo Estudante nos coloque – nofundo, contribuir positivamentepara o seu percurso de vida – essasim, é a importância suprema destaRede e a nossa principal motivação.Porque o futuro da Universidadedepende do futuro que proporcio-namos a todos os que por ela pas-saram.

Os descontos exclusivos para acomunidade de Antigos Estudantessão também uma das áreas de ac-tuação da Rede UC. Dois dos maisaguardados foram implementadosem 2008, que pela primeira vezprevêem condições especiais no

acesso dos Antigos Estudantes às‘Noites do Parque’ da Latada e daQueima das Fitas. Tal deveu-se emlarga medida ao bom acolhimentoque os Antigos Estudantes e a RedeUC têm merecido por parte da Aca-demia e das suas mais recentes di-recções.

Quando vejo um estudante ves-tindo o traje académico, não deixode achar interessante que tal aindaaconteça no ano de 2009, passadostantos anos de história e tradição.Independentemente de se tratar deum símbolo da praxe académica,não deixa de ser curioso que, aofalar com Antigos Estudantes dos22 aos 90 anos, as vivências te-nham tanto em comum, mesmocom o passar dos tempos e com apermanente renovação da Univer-sidade e de tudo o que a envolve.Quem sabe se não é esse o factorcomum que torna Coimbra tão di-ferente e especial…

* Coordenadora da Rede de Antigos Estudantes da UC

Secção de Jornalismo,Associação Académica de Coimbra,Rua Padre António Vieira,3000 - CoimbraTel. 239821554 Fax. 239821554e-mail: [email protected]

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759Director João Ribeiro Editores-Executivos Vasco Batista, Catarina Domingos Editora-Executiva Multimédia: MariaJoão Fernandes Editores: Leandro Rolim (Fotografia), Diana Craveiro (Ensino Superior), Filipa Magalhães (Cultura), André Fer-reira (Desporto), Maria Eduarda Eloy (Cidade), Bruno Monterroso (País & Mundo), Sara São Miguel (Ciência & Tecnologia) Se-cretário de Redacção Camilo Soldado Paginação Sara São Miguel, Sónia Fernandes Redacção Alice Alves, Ana MariaCoelho, Ana Rita Santos, Cláudia Teixeira, Filipa Faria, João Miranda, Miguel Custódio, Pedro Nunes, Rafaela Carvalho, RuiMiguel Pereira, Sónia Fernandes, Tiago Carvalho Fotografia Cristiana Pereira, Luís Gomes, Rafaela Carvalho, Sérgio SantosIlustração Lídia Dinis, Tatiana Simões Colaboraram nesta edição Artur Romeu, Bruno Araújo, Carla Maia, Cristiana Pereira,Daniela Queirós, Inês Silva, Jonathan Costa, Maria Lastres, Pedro Leitão, Sara Coimbra, Sara Lopes Colaboradores perma-nentes André Costa, Camilo Soldado, Emanuel Botelho, Fernando Oliveira, João Gaspar, José Santiago, Mário Santos, SofiaPiçarra, Rui Craveirinha, Rui Miguel Pereira, Tânia Cardoso Publicidade Sónia Fernandes - 239821554; 914926850 ImpressãoFIG - Fotocomposição e Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: [email protected] Tiragem 4000exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica deCoimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra

O EFEITO REDE NA

UC

ISABEL GOMES*

EDITORIAL

DO INCONFORMISMO À FALTA DE PREPARAÇÃO

Assinalam-se hoje cinco anos deum dos dias mais negros da histó-ria da academia de Coimbra. Em2004, o reitor Seabra Santos anun-ciou que iria aprovar a propina má-xima (852 euros), meses depois deter fixado o valor mínimo (463,58).Perante aquele que foi consideradoum acto de traição, a 20 de Outu-bro, os estudantes tentaram invadiro Senado Universitário, que reuniano Pólo II, e que se preparava paraaprovar o aumento da prestação. Apolícia de choque foi chamada eficou para a história um triste es-pectáculo, que poucos pensavamser possível num Estado democrá-tico.

É certo que a atitude dos estu-

dantes foi um último recurso, comona altura assumiu o próprio presi-dente da Direcção-Geral da Asso-ciação Académica de Coimbra,Miguel Duarte. No entanto, não sepode deixar de louvar aquele que foium acto de coragem e inconfor-mismo, que sempre caracterizou osestudantes de Coimbra, e que é es-sencial não se perder. A AAC defen-deu uma posição forte e inabalável,sem ceder a medos ou pressões; osseus associados bateram-se poruma causa, pondo a própria integri-dade física em perigo, porque sa-biam que o seu direito,constitucionalmente protegido, aum ensino público gratuito e dequalidade estava em xeque.

Cinco anos depois, o diálogo como reitor foi retomado e as relaçõesinstitucionais reatadas. O paga-mento das propinas foi aceite e assubidas sucedem-se. Este ano atin-giu-se a barreira psicológica dos mileuros e a gratuidade do ensino su-

perior é cada vez mais uma simplespromessa vazia, que apenas orna-menta a Constituição.

Enquanto isso, os estudantes per-dem-se em pequenas questões, semqualquer resultado prático. A úl-tima Assembleia Magna foi dissoexemplo. Com tantos problemas emcima da mesa, com tantas dificul-dades que se colocam todos os diasaos estudantes, com tanto que dis-cutir, é intolerável que o órgão má-ximo de debate da AAC, após sedeterminar a discussão da acção po-lítica, não se pronuncie, por “faltade preparação”.

É preciso preparação para ver oque está mal no ensino superior?Não. Basta olhar à volta e preocu-

par-se com as pessoas. Não é pre-ciso preparação para notar que háestudantes em dificuldades, quenão conseguem pagar propinas, quedesistem de estudar por falta demeios.

Nunca será assim que as Assem-bleias Magnas voltarão a ser parti-cipadas. É preciso que osestudantes sintam que elas existempara que os seus problemas sejamdiscutidos, com medidas concretaspara a sua resolução. Enquanto ser-virem a alguns e não a todos, asmagnas não passarão de confrontosde egos, que em nada ajudarãoquem de facto precisa.

Cinco anos passaram, mas os pro-blemas mantêm-se. E os estudantesjá nem podem contar sequer comaqueles que deveriam estar na linhada frente da contestação e na defesados seus direitos. Pelo menos en-quanto não estiverem preparados.

João Ribeiro

A gratuidade do ensino superior é cada vez mais uma simples promessa vazia “

Quanto mais vivo esteprojecto da Rede UCmais acredito que serAntigo Estudante édiferente e especial

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Com uma duração “relâmpago”, aAssembleia Magna da passadaquarta-feira estava destinada a discu-tir os Estatutos da AAC. Ao pedido dedebate da actual situação política porJorge Serrote, poucos foram os estu-dantes dispostos a falar e apresentarideias. A passagem ao ponto de dis-cussão dos estatutos também não foifeliz. Depois de aprovada a delibera-ção de um novo processo de revisãoextraordinário, o debate encalhou nasdatas do processo eleitoral para a As-sembleia de Revisão dos Estatutos.No final, sem grande entendimento,toda a discussão fica adiada para 4 deNovembro, data da nova assembleia.

C.D.

Fundação Cultural da UC

AssembleiaMagna

AyatollahKhamenei

A fundação, que gere o EstádioUniversitário de Coimbra, demoroua dar uma resposta à necessidadede intervenção no piso do pavilhão1. Os buracos junto às balizas e amadeira estragada levaram a que aAssociação de Patinagem de Coim-bra impedisse a realização de qual-quer jogo no local.

A novela que se arrastou algumassemanas e que obrigou as equipasda secção de patinagem a andar de“casa às costas” parece ter chegadoao fim, com a conclusão dos arran-jos, que duraram pouco mais deuma semana. Resta saber se essesarranjos foram feitos para durar.

C.D.

O clima de insegurança que se viveno Irão levou outra volta para pior.Os guardas da revolução, alvo doatentado do passado domingo, nãoperderam tempo em acusar os Esta-dos Unidos e o Reino Unido deterem orquestrado o ataque bom-bista com o grupo sunita rebeldeJundollah. Com um número de mor-tos que superou as duas dezenas, foiconsiderado o pior atentado contraos apoiantes mais fiéis de Khamenei.No entanto, é lamentável que os so-breviventes se sirvam da tragédia,poucas horas depois de ter aconte-cido, e a transformem num golpe depropaganda para o ayatollah.

M.E.E.

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A visão primeira que se temdesta tela de grandes dimen-sões, desta grande dinâmica vi-sual que se nos apresenta, é a deum gigante e imparável apoca-lipse, dando ao apreciador daobra a sensação de impotênciaperante o desfazer do Mundo.Após uma primeira visão desteapocalipse – que choca, paralisae, simultaneamente, maravilha– vamos distinguindo os porme-nores que nos levam a mergu-lhar mais fundo na escuridãodesta tela – uma escuridão nãosó cromática, mas também te-mática. Vários esqueletos: umde cão, esqueletos humanos quefalam: “yeah”, “money” – de-certo falas da modernidade. Nãoestará esta estranha e efémeramodernidade a condenar àmorte toda a Natureza? Estará odinheiro a monopolizar os inte-resses da Humanidade e, conse-quentemente, a destruí-la?

Uma vaca morta, em grandeplano. Um animal – mas nou-

tras culturas que não a Ociden-tal, um símbolo do sagrado. Àdireita, uma representação docampo de concentração de Aus-chiwtz – um dos locais em que,na História, o Ser Humano per-deu mais da sua dignidade, aochacinar a sua própria espécie.Estaremos nós, Humanidade, aperder o que de mais sagradotemos – os nossos valores? Noentanto, no meio de todo estevaticínio apocalíptico, uma pe-quena lâmpada surge, rodeadade uma aura branca. Ainda quepequena, a sua luz contrastacom a escuridão envolvente...

Numa “ironia macabra”acerca do poder – político, ideo-lógico ou económico – e domundo dos nossos dias, DamienDeroubaix mergulha nas coresda “World Downfall”, tornando,numa admirável proeza, esta“ironia macabra” num deliciosoobjecto da arte moderna.

Por Inês Silva

Notassobrearte...

WORLD DOWNFALL • DAMIEN DEROUBAIX

AQUARELA, ACRÍLICO, TINTA E COLAGEM • 2007

TIRA MISSO :: Por André Costa

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