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B R U N O A L E I X O À C O N V E R S A Jornal Universitário de Coimbra O e s t a d o d o e n s i n o s u p e r i o r d e v e e s t a r m a u , p o r q u e à s v e z e s r e c e b o m e n s a g e n s d o H i 5 c h e i a s d e e r r o s P 1 6 9 de Dezembro de 2008 Ano XVIII N.º 190 Quinzenal gratuito Director: João Miranda Editor-executivo: Pedro Crisóstomo S U I C Í D I O I n s u c e s s o a c a d é m i c o p o d e a u m e n t a r r i s c o n o s u n i v e r s i t á r i o s P 2 e 3 P O R T U G A L E s p e c i a l i s t a s a n a l i s a m a s o r i e n t a ç õ e s d a p o l í t i c a e x t e r n a p o r t u g u e s a P 1 2 a cabra Mais informação em acabra. net @ PUBLICIDADE Secções culturais da AAC em risco de extinção A falta de actividades, a incompa- rência nas reuniões de Conselho Cul- tural da Associação Académica de Coimbra (AAC) e a inexistência de uma direcção eleita podem conduzir à extinção da secção de Escrita e Lei- tura (SESLA) e a de Gastronomia. Por enquanto, ainda está tudo em aberto, porque o presidente da direc- ção-geral, André Oliveira, assegura que não vai ser tomada nenhuma de- cisão sem “falar com as próprias sec- ções e o Conselho Cultural”. Contudo, as secções admitem que a situação ac- tual se deve à “falta de novos elemen- tos”. Em questão está ainda a Secção de Defesa dos Direitos Humanos, que, apesar de ter uma direcção eleita, também não apresenta activi- dade. P 5 Regulamento interno para pró-secções aceite em Conselho Cultural Coimbra verde em tempo de Outono Câmara anuncia novo parque na cidade e reabilita espaços mais antigos P 9 DANIEL TIAGO Espanha Faculdades ocupadas em Barcelona Os estudantes da Universidade Au- tónoma de Barcelona ocuparam seis faculdades em protesto contra o Pro- cesso de Bolonha. Os ocupantes rei- vindicam a realização de um referendo vinculativo em que votem todos os implicados pelos efeitos da implementação de Bolonha. P 5 O cineasta mais velho do Mundo comemora 100 anos e Coimbra presta-lhe homenagem P 6 Manoel de Oliveira Tema As mudanças mundiais de 2008 O ano ainda não acabou, mas muito já aconteceu em 2008. A crise económica internacional, que come- çou nos EUA, surpreendeu o mundo. Uma inédita eleição de um presidente negro para a Casa Branca parece abrir o caminho para a “mudança”. Na Eu- ropa o Kosovo proclamou a sua inde- pendência unilateralmente e o Tratado de Lisboa esbarra na Irlanda. A Rússia invadiu a Geórgia pondo a comunidade internacional em alerta. O mundo assiste à ascensão de países emergentes. P 1 0 e 1 1

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 190

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Edição 190 do Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA

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Page 1: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 190

BRUNO ALEIXO À CONVERSA

Jornal Universitário de Coimbra

“O estado do ensino superior deve estarmau, porque às vezes recebo mensagensdo Hi5 cheias de erros”P 16

9 de Dezembro de 2008Ano XVIIIN.º 190Quinzenal gratuito

Director: João MirandaEditor-executivo: Pedro Crisóstomo

SUICÍDIOInsucesso académicopode aumentar risconos universitáriosP 2 e 3

PORTUGALEspecialistas analisam as

orientações da política externa portuguesa

P 12

a cabra

Mais informação em

acabra.net@PUBLICIDADE

Secções culturais da AACem risco de extinção

A falta de actividades, a incompa-rência nas reuniões de Conselho Cul-tural da Associação Académica deCoimbra (AAC) e a inexistência deuma direcção eleita podem conduzir àextinção da secção de Escrita e Lei-tura (SESLA) e a de Gastronomia.

Por enquanto, ainda está tudo emaberto, porque o presidente da direc-ção-geral, André Oliveira, asseguraque não vai ser tomada nenhuma de-cisão sem “falar com as próprias sec-ções e o Conselho Cultural”. Contudo,as secções admitem que a situação ac-

tual se deve à “falta de novos elemen-tos”. Em questão está ainda a Secçãode Defesa dos Direitos Humanos,que, apesar de ter uma direcçãoeleita, também não apresenta activi-dade.P 5

Regulamento internopara pró-secçõesaceite em ConselhoCultural

Coimbra verde em tempo de Outono Câmara anuncia novo parque na cidade e reabilita espaços mais antigos P 9

DANIEL TIAGO

Espanha

Faculdades ocupadasem Barcelona

Os estudantes da Universidade Au-tónoma de Barcelona ocuparam seisfaculdades em protesto contra o Pro-cesso de Bolonha. Os ocupantes rei-vindicam a realização de umreferendo vinculativo em que votemtodos os implicados pelos efeitos daimplementação de Bolonha.P 5

O cineasta maisvelho do Mundocomemora 100anos e Coimbrapresta-lhehomenagemP 6

Manoel deOliveira

Tema

As mudanças mundiais de 2008

O ano ainda não acabou, masmuito já aconteceu em 2008. A criseeconómica internacional, que come-çou nos EUA, surpreendeu o mundo.Uma inédita eleição de um presidentenegro para a Casa Branca parece abriro caminho para a “mudança”. Na Eu-ropa o Kosovo proclamou a sua inde-pendência unilateralmente e oTratado de Lisboa esbarra na Irlanda.A Rússia invadiu a Geórgia pondo acomunidade internacional em alerta.O mundo assiste à ascensão de paísesemergentes.P 10 e 11

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transição dos estudantespara a universidade, o in-sucesso escolar, a auto-exi-gência de bons resultados

escolares ou mesmo a aproximaçãoao mundo do trabalho podem acen-tuar o risco de suicídio entre os jo-vens que frequentam o ensinosuperior. Esta é a opinião de algunsespecialistas, que, perante dados de2008 que apontam o suicídio como asegunda causa de morte na juven-tude, em Portugal, defendem a apostaem campanhas de prevenção para re-duzir o risco de suicídio até aos 25anos.

Um estudo da Association of Uni-versity and College Counselors con-firma mesmo que os estudantesuniversitários têm elevados níveis de‘stress’, o que potencia o risco. Carac-terísticas tão díspares como a agres-sividade, o perfeccionismo, o medode críticas e a beleza são comporta-mentos de para-suicidas, embora en-trem em linha de conta apersonalidade do estudante e as va-riáveis sócio-demográficas.

As estatísticas (que não se referemapenas às camadas jovens) apontamigualmente para um aumento de 25por cento de tentativas de suicídio emrelação aos dados de 1996. Ou seja,em 12 anos, por cada 100 mil habi-tantes, o número cresceu de 200 para250 casos. Face aos números, a So-ciedade Portuguesa de Suicidologia(SPS) alerta que os registos não sãosignificativos relativamente a outrospaíses do Norte e do Leste da Europae que suicídio não pode nunca serconfundido com tentativa de suicídio(suicídio frustrado ou para-suicídio).

Apesar de tudo, “o suicídio consu-mado [pelos jovens, em Portugal] émuito menos frequente”, explica omédico psiquiatra Pio Abreu. O cha-mado para-suicídio é o fenómeno queacontece mais vezes e que “tem a vercom a existência de uma vulnerabili-dade especial num período crítico”,especifica.

Começando, desde logo, com aadaptação a uma nova relação peda-gógica com os professores ou a for-mas de avaliação diferentes daquelasa que os estudantes conhecem atéchegar à universidade, a frequênciado ensino superior “marca o início datransição para o mundo do trabalhoassim como a autonomia própria dojovem adulto”, sustenta a psicólogaNeuza Almeida, num artigo da SPSsobre “a ideação suicida em estudan-tes do ensino superior”.

Para quem vive em residências uni-versitárias ou em quartos arrenda-dos, a solidão, as saudades da famíliae o medo de estar sozinho aumentamo risco de comportamentos para-sui-cidas (com mais incidência em estu-dantes das Ilhas e estrangeiros).

Segundo o responsável pela Con-sulta de Prevenção do Suicídio nosHospitais da Universidade de Coim-bra (HUC), Carlos Braz Saraiva, “osjovens indiciam na sua história clí-nica comportamentos de risco quenão têm uma suposta elevada inten-ção de morte, mas que poderão sina-lizar um desfecho fatal”. Daí que “umbom processo de adaptação no pri-meiro ano do curso” constitua “umfactor protector do risco de insucessoacadémico, de desmotivação acadé-mica, ou até de abandono escolar”,considera Neuza Almeida na mesmadeclaração.

Braz Saraiva, também professor daFaculdade de Medicina da Universi-dade de Coimbra, acentua que “os as-pectos académicos poderão suscitar aentrada no processo suicida”. Isso re-porta, “muitas vezes, à frustração pe-rante as expectativas goradas” ecoexiste com outras do foro “amorosoou sentimental”. Alguns casos deri-vam de “factores clínicos que têm aver com as alterações da conduta edas emoções”. As perturbações docomportamento, explica o psiquiatra,correspondem “a actos depressivosonde a desesperança cursa persisten-temente”.

Apoio escolar comoforma de prevençãoA prevenção do suicídio é, por isso,essencial em todas as fases da vida,concordam os psiquiatras. Os jovens,lembra Pio Abreu, “chamam a aten-ção dos pais por comportamentosfora do habitual, enviando mensa-gens que têm a ver com a necessidadede serem ouvidos” pela mão de médi-cos e psicólogos clínicos. Braz Saraivarealça que “a juventude obriga a umaespecificidade diferente dos idosos”,exigindo-se que sejam conhecidos“bem os sinais de alarme, os indíciosde risco”. Para o professor, cabe tam-bém ao Estado e às universidades re-solver “políticas sociais contra aexclusão e o desemprego” e proporoutras “que tenham a ver com o apoioescolar”.

Em Coimbra, existem três bases deprevenção, sendo que apenas a con-sulta dos HUC está exclusivamentevocacionada para tal. A ajuda obe-dece a um apoio psico-terapêutico e,se necessário, a intervenção psico-farmacológica.

O objectivo principal, explica o res-ponsável, “é resolver aquilo que al-guns autores chamam de ‘crisesuicidária’”. Em 90 por cento doscasos, o problema é resolvido no es-paço de um mês, “ficando depois umgrupo residual de doentes”.

Pio Abreu corrobora que os fárma-cos “travam a passagem ao lado”, maschama a atenção: “é preciso perceberque os anti-depressivos não previnemo suicídio”. Pelo contrário, alerta,“podem activar a pessoa e fazer comque passe de um simples pensamentoao acto”.

Falando do papel que os médiaexercem sobre os jovens, Pio Abreudefende que as televisões devem evi-tar reproduzir comportamentos derisco: “os média, pioneiros na pro-cura de coisas insólitas, acabam porpromover os comportamentos suici-das, já que influenciam as pessoasmais ao nível emocional”.

DESTAQUE2 | a cabra | 9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira

O ISOLAMENTO E A INIBIÇÃO SOCIAL são características de para-suicidas

A

SuicídioPrevenção diminuicomportamentos derisco nos universitáriosA adaptação pedagógica, o insucesso escolare a aproximação ao mundo do trabalho potenciam atentativa de suicídio nos estudantes do superior. PorPedro Crisóstomo, Daniela Ferreira e Vanessa Soares

Todos os anos cercaum milhão de pessoasno mundo terminacom a própria vida, oque corresponde aquase 15 por cada 100 milpessoas. Os dados são da Orga-nização Mundial da Saúde (OMS)e colocam o suicídio na décimaterceira causa de morte mais fre-quente a nível mundial.

A organização estima que deza 20 milhões de pessoas se ten-tam suicidar todos os anos. Noentanto, presume que osnúmeros reais sejam ainda maiselevados. Nos últimos 50 anos, ataxa de suicídio aumentou 60 porcento.

A OMS não tem dados certosdo número de suicídios em todosos países, porque estes não co-municam os números reais. Osdados revelam que as taxas desuicídio são mais altas na Europade Leste, especialmente na Lituâ-nia, Estónia, Rússia e Bielorrússia.

Nestes países, onúmero de suicídiossitua-se entre os 45e 75 por cada 100

mil pessoas.Já a Europa Mediter-

rânica, a América Latina e a Ásiapossuem as taxas de suicídio maisbaixas: 6 a cada 100 mil habi-tantes. Pelo meio ficam a Américado Norte, a Europa e a Austrália,com 10 a 35 suicídios.

Apesar de a Ásia ter uma baixataxa de suicídios, é neste conti-nente que ocorre mais demetade, especialmente na China,no Japão e na Índia, devido àgrande densidade populacional.

A Organização Mundial deSaúde tem vindo a trabalhar naprevenção do suicídio através daimplementação de vários projec-tos em alguns países. O objectivoé claro: consciencializar as pes-soas de que “o suicídio é umproblema de saúde pública”.

Diana Craveiro

O SUICÍDIO NO MUNDO

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Três, dois, um… passaram ape-nas três segundos e mais umapessoa atentou contra a suaprópria vida. Os números sãoalarmantes, cerca de três mil pes-soas cometem suicídio diaria-mente em todo o mundo. Osuicídio é actualmente uma dastrês principais causas de morteentre jovens e adultos, dos 15 aos34 anos, embora a maioria doscasos aconteça entre pessoas demais de 60 anos. Em Portugal é asegunda causa de morte entrejovens e este valor cresceu 25por cento desde 1996.

Os comportamentos sui-cidários constituem um flagelo danossa sociedade contemporânea.Contudo, na maioria dos casos apessoa escolheria outra forma desolucionar os problemas se nãose encontrasse numa tal angústiaque a impossibilita de considerar

outras opções. A intenção é,geralmente, parar a dor e não portermo à vida! É na procura desteapoio, de alguém que sofre e quesente necessidade de desabafar,que surge a SOS-ESTUDANTE eoutras linhas de apoio. Sempremantendo a confidencialidade eanonimato para quem liga e paraquem escuta, tentando criar em-patia, disponibilizando espaço etempo. A partilha dos problemascom alguém desconhecido, quenão julga, mas ouve, e se sente,nesse momento, responsávelpelo outro, devolvendo-lhe aconfiança em si próprio; ou en-contrando pessoas que aceitamfalar das ideias de morte, per-mitindo eventualmente afastar aideia de suicídio - estas sãoessencialmente as bases em queassenta a nossa escuta, o nossoapoio. É urgente travar estesnúmeros, é importante desmisti-ficar conceitos… Vivemos tãoapressadamente que o outro émuitas vezes negligenciado ouesquecido. É nos momentos decrise e grande dificuldade, emque frequentemente todos pen-sam não haver qualquer soluçãoe os próprios familiares e outroselementos de apoio sentem ne-cessitar de ajuda, que a procurade apoio pode fazer a diferença,ajudando a pessoa a encontraroutras formas de viver. Três, dois,um… Vamos apoiar uma vida.

Gonçalo Moura CostaVice-coordenador de

Voluntários SOS-ESTUDANTE

DESTAQUE9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 3

OPINIÃOANA COELHO

DESEJO DE “MORRER”

Linha direccionadapara a prevenção dosuicídio recebe maioria das chamadassobre sexualidade esolidão

Para além da Consulta de Preven-ção do Suicídio dos Hospitais daUniversidade de Coimbra, a cidadetem, no seio da Associação Acadé-mica de Coimbra, uma linha deajuda especialmente direccionadaaos estudantes. A SOS-Estudante foicriada em 1997, mas ainda assim sãopoucas as chamadas que se direc-cionam para o suicídio e poucos osjovens que procuram ajuda nesteproblema.

Os assuntos principais das con-versas passam pela sexualidade, so-lidão e relacionamentos, temas quetranspõem para segundo plano ainiciativa para a qual foi criada asecção. “Temos presente uma co-

munidade estudantil e existem pro-blemas que podem chegar ao suicí-dio, embora esta ideia não sejamotivo para ligar”, explica a presi-dente da secção, Filipa Craveiro.

“A linha foi criada para estudan-tes, mas, com o passar do tempo,foram-nos ligando outras pessoas. Anossa média de idades é de 40anos”, assegura a presidente.

De acordo com as estatísticas daSOS-Estudante, no último ano lec-tivo, houve um total de 820 chama-das atendidas, em que 80 por centoforam efectuadas pelo sexo mascu-lino com idades superiores a 40anos, apesar de a faixa etária dos 22aos 25 anos também apresentar umnúmero considerável de chamadas.

A confidencialidade e o anoni-mato de quem liga e de quem escutasão as características da linha.Mesmo tendo conhecimento dastaxas de suicídio entre os jovens, Fi-lipa Craveiro acredita que desabafarsobre os problemas que atormen-tam as pessoas é ainda um assuntotabu na sociedade, uma vez que ofacto de “as pessoas estarem fecha-

das no seu mundo cria alguma difi-culdade em falar nos seus proble-mas”.

O grupo de estudantes que sepresta a ouvir quem mais necessitatem formação para responder aosdiversos tipos de chamadas, masquanto ao suicídio, quem está à pro-cura de ajuda recebe o mesmo aten-dimento como se de outro tema setratasse. “Vamos tentar saber aquiloque levou a pessoa a ligar, e, a partirdaí, a desabafar sobre o que a preo-cupa, sem dar opiniões, nem acon-selhar e nem fazer juízos de valor”,explica. Em seguida, se a pessoaassim o desejar, a secção pode reen-caminhar a pessoa para uma uni-dade hospitalar.

Como linha de apoio, a SOS-Estu-dante considera, nas palavras de Fi-lipa Craveiro, que deveria ser dadamais atenção à prevenção do suicí-dio, através de campanhas de pre-venção com o intuito de sensibilizaras pessoas da realidade.

A linha está disponível todos osdias entre as 20 horas e a uma damadrugada.

SOS sem chamadas sobre suicídio

Daniela FerreiraVanessa Soares

HISTRIÓNICOS – egocentrismo,teatralidade, sugestionabilidade,exageros

NARCISISTAS – vaidade, beleza,poder, altivez

ANTI-SOCIAIS – impulsividades, ir-ritabilidade, agressividade, irre-sponsabilidade

‘BORDERLINE’ – impulsividade, in-stabilidade, cólera, automutilações

OBSESSIVOS – perfeccionismo,rigidez, indecisão, superstição

DEPENDENTES – indecisão, nãosaber dizer não, desamparo, medode ser abandonado

EVITANTES – inibição social, medode críticas, rejeição e de correrriscos

FONTE: “ESTUDOS SOBRE O PARA-SUICÍDIO”

CATEGORIAS ECARACTERÍSTICASDE PARA-SUICIDAS

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ENSINO SUPERIOR4 | a cabra | 9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira

Jorge Serrote vence por margem reduzidaA Lista A vaiformar a novaDG/AAC. Serrotesuperou AlexandreLeal por uma diferençade 74 votos

Numa segunda volta em que foipreciso esperar quase 24 horaspara se saber o resultado das vota-ções depois de fecharem as urnas,Jorge Serrote confirmou a vitóriafrente a Alexandre Leal, com 3544votos.

Num universo de 7560 votantes,a Lista A venceu a concorrente, E,por uma margem reduzida de 74votos.

Depois de terminada a conta-gem na noite eleitoral da passadaquinta-feira, só ao final do dia se-guinte foi apurado o vencedor,uma vez que havia apenas uma di-ferença de 63 votos entre as listas.A razão da espera foi a necessi-dade de contar 194 votos por en-velope, que só poderiam serabertos após a confirmação dosnomes dos estudantes pelos servi-ços da Universidade de Coimbra(UC), e que poderiam ainda inver-ter a votação.

“A questão dos envelopes dei-xou-nos a todos na expectativa,embora já tivéssemos reiteradoconfiança nesta vitória”, reage opróximo presidente da DG/AAC.

A adesão às urnas nesta segundavolta foi superior à da primeira emquase 759 votos e em mais de trêsmil do que no ano passado.

Para Jorge Serrote, a adesão àsurnas em força já era esperada. Ofacto de haver só duas listas que“apostaram tanto na campanha” e

que conseguiram “mobilizar tantagente” chamou os estudantes àsurnas.

Já Alexandre Leal lamenta queo número de votos em branco(505) seja “mais um sinal de querealmente as coisas não estãobem”. Para o estudante de Econo-mia, estes votos poderiam ter mu-dado o rumo das eleições, porque“se as pessoas não estavam con-tentes deveriam ter optado poruma alternativa que não os votosem branco”. Apesar da derrota, ocabeça de lista do projecto E acre-dita que foi uma “grande vitória,independentemente de ter ficadoatrás”.

Adiamento da segundavolta ponderadoO presidente da Comissão Eleito-ral, Nuno Mendonça, garante queo processo decorreu dentro danormalidade e que não houvequaisquer percalços. Para o res-ponsável, o principal entrave,tanto na primeira como na se-gunda voltas, foi o número elevadode envelopes. Nuno Mendonça ex-plica que esta forma de votação sedeve “ao facto de muitas pessoasnão estarem matriculadas na UCou porque os seus pedidos de ma-trícula não foram alterados”.

Ainda foi ponderada em Comis-são Eleitoral o adiamento da se-

gunda volta, que não chegou aacontecer, uma vez que se conse-guiram “apurar os valores dos en-velopes da primeira volta naterça-feira [dia 2, um dia antes dasegunda]”.

Quanto à questão do cacique, opresidente da Comissão Eleitoralreconhece que “há sempre apeloao voto” nos dias de votação, masgarante que “foram respeitados oslocais de voto, correndo tudo den-tro da normalidade”.

Já o Conselho Fiscal da AAC(CF/AAC) ficou decidido logo naprimeira volta. Através do Métodode Hondt, a Lista A conseguiuapurar quatro elementos e a Lista

E garantiu a presença de três re-presentantes. À semelhança daseleições para a DG/AAC, tambémpara o fiscal se teve de esperar pelaabertura dos envelopes para seapurar o resultado final.

Na primeira volta as listas R, deJoão Reis, e U, de Marcos Lemos,ficaram excluídos de uma segundavolta, com 301 e 253 votos, res-pectivamente. Os brancos foram aterceira opção dos estudantes comum total de 443 votos.

Jorge Serrote confessa que “estábastante feliz com o resultado” ediz-se satisfeito pela forma comoas campanhas foram levadas acabo por todas as listas.

NA NOITE ELEITORAL, a contagem dos votos só terminou depois das cinco da madrugada

JOÃO MIRANDA

Sónia FernandesJoão Picanço

9Jorge Serrote

1. Já tens algum projecto pen-sado para quando iniciares omandato?Temos alguns projectos idealizados,que iniciámos durante a campanha.Pautaremos a nossa acção ao nívelda melhoria da qualidade do en-sino. Provavelmente, vamos come-çar pelo levantamento de tudoaquilo que são problemas pedagó-gicos e estruturais das faculdades esensibilizar a sociedade civil para acausa estudantil, porque não é umacausa sectária, é um investimentopara o país.

2.E depois do le-vantamento, o

que preten-des fazer?

Pretende-m o s

levá-loà s

entidades competentes: primeiro,na Universidade de Coimbra (UC);depois, à tutela.

3.Afirmaste na campanhaque não tinhas discutido coma lista se o reitor da UC se devedemitir, à semelhança do rei-tor da Universidade Nova deLisboa, cujo órgão que o ele-geu foi abolido. Agora quefoste eleito, qual a tua posição?Ainda não tivemos oportunidade dediscutir essa questão. Teremos ob-viamente que pensar a partir destemomento.

4.Mas como novo presidenteda DG/AAC, que postura assu-mes?Foi uma posição de força, umaforma original de luta. Não sei seme cabe a mim sugerir ao reitor sedeve ou não fazer algo idêntico.

Cabe à reitoria saber de que formatomar as suas posições junto do go-verno.

5.Não tens então opinião for-mada.Não, não tenho.

6.Vais tentar concertar es-forços ou trocar ideias comelementos dos projectos der-rotados?Sim. As listas tinham projectos epessoas diferentes, mas todos têmcomo objectivo comum o melhorpara a AAC. Julgo que é importanteeste debate de ideias e abrirmos,desde logo, a porta a quem queiracolaborar connosco.

7.Como esperas ver a AACdaqui a um ano?Espero uma Academia unida. Poroutro lado, uma Academia mais

próxima de todos os estudantes,que faça com que estejam mais pró-ximos daquilo que é o associati-vismo, o desporto e a cultura.

8.Actualmente, existe umgrande desinteresse pelo asso-ciativismo. A tua direcção-geral vai inverter estarealidade?É nesse sentido que pautaremos anossa acção, direccionando muitasdas nossas actividades com o objec-tivo último de inverter este afasta-mento.

9. Como pretendes fazerisso?Fazendo actividades que sejam deserviço directo aos estudantes: ses-sões de recrutamento, workshops ea resolução de problemas concretosdos nossos colegas.

Cláudia Teixeira

“A causa estudantil não é sectária”

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ENSINO SUPERIOR9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 5

Depois da manifestação que juntou mais de dez milestudantes no centrode Barcelona, a lutacontra o Processo deBolonha continuaatravés de ocupações

Na capital da Catalunha cresceo número de faculdades ocupadaspelos estudantes que estão contraa aplicação do Processo de Bolo-nha nas universidades espanho-las.

Na Universidade Autónoma deBarcelona (UAB) estão ocupadasseis faculdades – Faculdade deCiências Políticas e Sociologia,Faculdade de Letras, Faculdadede Ciências da Comunicação, Fa-culdade de Psicologia e Terapiada Fala, Faculdade de Educação ea Faculdade de Ciências. Já esteano foram feitas outras ocupaçõesem Espanha nas universidades de

Madrid, Sevilha e Valência.“Decidimos que faríamos [na

UAB] uma ocupação experimen-tal durante uma semana, na Fa-culdade de Ciências Políticas eSociologia, e, se corresse bem,avançaríamos para as outras fa-culdades”, refere uma estudantede Jornalismo da Faculdade deCiências da Comunicação (FCC)da UAB.

As ocupações são pacíficas enão se pressupõe a completapausa das actividades nas insti-tuições de ensino. “O objectivo ésubstituir as aulas convencionaispor aulas didácticas sobre Bolo-nha, organizamos debates e ses-sões informativas”, menciona umdos porta-vozes dos estudantesque ocupam a FCC.

Os estudantes ocupantes pre-tendem que seja feito um refe-rendo vinculativo em que sejamchamados a votar todos os impli-cados (professores, estudante efuncionários) pelos efeitos daaplicação do Processo de Bolonhae que seja reconhecido o deficit de20 milhões de euros da UAB. Exi-gem, igualmente, que se retire oprocesso de expulsão a 28 estu-

dantes que entraram forçada-mente no gabinete do reitor daUAB e que estão sujeitos a umasuspensão do ensino superior quevai de um a 11 anos.

O Conselho Inter-universitário

da Catalunha revelou, em decla-rações à comunicação social ca-talã, a intenção de proceder aoreferendo sobre o Bolonha, masnunca pondo em causa a sua im-plementação.

Na passada quinta-feira, ocor-reu uma reunião entre o reitor daUAB, Lluís Ferrer, o reitor daUniversidade Pompeu Fabra,Josep Joan Moreso, a Comissáriada Universidade e Desenvolvi-mento da Genralitat da Catalu-nha, Blanca Palmada, e aComissão de Negociação do Co-mité contra Bolonha da UAB.

Depois da negociação, os estu-dantes comprometeram-se, emcomunicado, com “um processoparcial de desocupação de modoa dar seguimento às negociaçõescom o reitorado” e “o congela-mento de ocupações futuras jáplanificadas esperando uma evo-lução das negociações”.

Até à aplicação do Processo deBolonha, uma licenciatura dequatro ou cinco anos, em Espa-nha, equivalia a dois ciclos com-pletos. Depois da implementaçãodo tratado, a licenciatura passa ater três ou quatro anos mas equi-vale apenas ao primeiro ciclo.Como 80 por cento dos mestra-dos na UAB não são reconhecidosnem subvencionados pelo estado,o acesso ao segundo ciclo é maisrestrito.

Duas secções culturais da Asso-ciação Académica de Coimbra(AAC) correm o risco de extinçãopelo facto de não apresentaremuma direcção eleita, nem activi-dade, nem marcarem presença noConselho Cultural (plenário geraldas secções culturais da AAC).

Em causa estão as secções deEscrita e Leitura (SESLA) e deGastronomia. O presidente da Di-recção-Geral da AAC (DG/AAC),André Oliveira, esclarece que “adiscussão que se levanta é devidoao facto de estas secções, nestemomento, não terem actividade ede se ter que ver se faz sentido ounão continuarem a existir”.

A questão vai ser levada a Con-selho Cultural, “local próprio paraisso”, justifica André Oliveira. Esta“é uma situação que existe háalgum tempo, mas que nuncatinha sido levantada antes”, conti-nua. “O nosso objectivo não é ex-tinguir secções, mas sim promoverpara que tenham actividades efuncionem dentro da normali-dade”, assegura.

A nível de financiamento, o diri-gente associativo explica que “assecções, para receberem as verbasda queima das fitas, têm de apre-sentar um relatório de actividades.As que estão em atraso só podemreceber essas verbas quando apre-

sentarem o seu plano de activida-des”.

Para a presidente da SESLA,Ana Coutinho, o problema reside“na falta de novos membros nasecção, já que todos acabaram ocurso e saíram da cidade”. Amesma justificação é dada pelovice-presidente da Secção de Gas-tronomia, José Carvalheiro: “nãohá actividades porque não há di-

recção. A que lá está já cessou ac-tividade há muito tempo”.

Numa situação semelhante en-contra-se a Secção de Defesa dosDireitos Humanos que, ao contrá-rio da SESLA e da Secção de Gas-tronomia, tem uma direcção desecção eleita e compareceu a umareunião Conselho Cultural, no en-tanto, não apresenta actividadesdesde então.

A presidente da Secção de De-fesa dos Direitos Humanos, Su-sana Sousa, explica que “quando aactual direcção-geral tomou possehouve muito interesse, tentaramarranjar formas de trabalhar con-nosco, fazer exposições e coló-quios, só que entretanto essamotivação caiu em esquecimento”.Ao mesmo tempo acrescenta que“se calhar se a secção mostrasse

mais disponibilidade as coisas atése tinham resolvido”.

Em relação a esta situação,André Oliveira clarifica: “isso nãofaz qualquer tipo de sentido já quea Secção de Defesa dos DireitosHumanos é uma das secções quetomou posse há menos de um anomas não comparece nas culturais”.O presidente afirma ainda que “assecções têm actividade própria. Adirecção-geral tem o dever deapoiar, mas não é o motor. Nuncanegamos apoio e mostramos sem-pre preocupação em trabalhar emconjunto com as secções cultu-rais”.Regulamento para pró-secções aprovado No último Conselho Cultural,aquando da discussão de um novoregulamento interno do órgão, foiaprovada a criação de um regula-mento para as pró-secções. A deFotografia foi a última a passarpelo processo, existindo oficial-mente desde Dezembro do anotransacto. O presidente daDG/AAC afirma que o objectivo doregulamento é “assegurar que umasecção mostre trabalho e capaci-dade para poder desenvolver assuas actividades” e para, no pe-ríodo de formação, “vermos se temviabilidade, para mais tarde pas-sar a secção”. “Neste momentonão existem pró-secções culturais,apenas a de bilhar que é despor-tiva”, remata.

Falta de actividades e de direcção eleita e não comparência no plenário geral das secções culturaislevam à discussão de uma possível extinção de secções

Estudantes de Barcelona ocupam faculdades

Patrícia Gonçalvesem Barcelona

Vanessa Quitério

ANA COELHO

PATRÍCIA GONÇALVES

ESTUDANTES DA UAB reivindicam um referendo vinculativo

Cultural discute extinção de secções

NO ÚLTIMO PLENÁRIO foi aprovada a criação de um regulamento para as pró-secções

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CULTURA6 | a cabra | 9 de Dezmbro de 2008 | Terça-feira

cápor

9DEZ

Apresentação por Rui SimõesFNAC • 21H30 • ENTRADA LIVRE

cultura

MúsicaFNAC • 22H • ENTRADA LIVRE

32º FESTIVAL INTERNACIONAL

DE CINEMA DE ANIMAÇÃO

TAGV • 21H30 • 4,5¤PREÇO ESTUDANTE: 3,5¤

PAVILHÃO MULTIDESPORTOSENTRADA LIVRE

17DEZ

Ciclo "Ao Sabor de Wong"FNAC • 21H30 • ENTRADA LIVRE

Museu da Ciência15H00 ÀS 16H00 • ENTRADA 3 ¤

PAULO VINTÉM

MúsicaFNAC • 17H • ENTRADA LIVRE

PAVILHÃO CENTRO DE PORTUGAL14H00 às 16H00

27DEZ

PRAÇA DO COMÉRCIO9H00 às 19H00ENTRADA LIVRE

MUSEU DA CIÊNCIA DA UC15H - 16H • ENTRADA LIVRE

Por Vasco Batista

CONCERTO DE NATAL

MANOEL DE OLIVEIRA

100 Anos de Memórias

15DEZ

II GALA DO DESPORTO DE

COIMBRA

20DEZ

SÁBADOS NO MUSEU:"CURTO CIRCUITO"

21DEZ

30 a 31DEZ

13DEZ

CINANIMA

"MY BLUEBERRY NIGHTS,O SABOR DO AMOR"

PERCURSO PEDONAL

COIMBRA JUDAICA

21DEZ

FEIRA DAS VELHARIAS

As imagens vasculhamum século de história.Manoel de Oliveiracomemora umcentenário de vida eCoimbra presta-lhehomenagem

A Biblioteca Municipal de Coimbrafoi o local escolhido para expor oitomomentos da vida do cineasta maisantigo do mundo. Apesar dos inúme-ros trabalhos cinematográficos reali-zados por Manoel de Oliveira,segundo um dos mentores do pro-jecto, António Fresco, “nesta mostrafoi decidido que se iria pôr de ladotoda uma vida dedicada à sétima artepara dar a conhecer outras facetas do

cineasta” e acrescenta que o objectivoé “conhecer uma faceta pessoal [dorealizador] que é desconhecida”.

O dia em que Manoel de Oliveiraoficialmente pôde pilotar um avião, omomento em que se sagrou vice-campeão de Portugal em salto à vara,uma corrida de automóveis com ami-gos ou até um passeio pela praia sãoalguns dos episódios que foram cap-tados pela objectiva de uma máquinafotográfica e que agora chegam aCoimbra na exposição “Manoel deOliveira – Imagens de juventude”.António Fresco, ainda não consegueavançar uma data precisa para aabertura da exposição, mas “umacoisa é certa: tem de estar aberta aopúblico no dia 12 deste mês”.

Depois de passar pela BibliotecaMunicipal de Coimbra, Fresco explicaque “as bibliotecas escolares vãopoder requisitar os cartazes que qui-serem para, também elas exporemnas escolas”.

“O Oliveira é o cinemaportuguês”

Actualmente Manoel de Oliveira éestudado em universidades de todo omundo. O docente da Faculdade deLetras da Universidade de Coimbra,Fausto Cruchinho, já publicou várioslivros sobre o trabalho do cineasta econfirma mesmo que “já existe aquiloa que se pode chamar Estudos Oli-veirianos”.

O Centro de Estudos Interdiscipli-nares do Século 20 (CEIS20) está adesenvolver um projecto que vai sairaté ao final de 2009. Cruchinho é umdos mentores do projecto e conta que“está previsto apenas um livro, ondesão compilados textos de diversos es-tudiosos universitários do Oliveira”.Este é um projecto multicultural por-que é fruto de colaborações que vêmdos Estados Unidos, Europa e Brasil.

Para Fausto Cruchinho, “o Oliveiraé o cinema português” e destaca ofilme “Angélica” de entre todo o seu

trabalho, por considerar que “muitodo que o filme contém está nos pro-jectos que ele fez a partir dos anos 70,onde a realização do amor e da pai-xão não se faz pela consumação físicado amor, mas pelo amor como ideiapura, ideal, a de que os corpos não sepodem tocar, pois quando o fazem,tornam-se impuros, a não ser que setoquem depois da morte”.

A partir dos anos 90, a filmografiade Oliveira conhece uma viragem e“desenvolve-se a ideia do fim dosconflitos dos sexos, unindo-se numsó e criando uma espécie de mito doandrógino que ele depois vai desen-volvendo nos seus vários filmes”,adianta o docente.

O trabalho de Manoel de Oliveiratem sido projectado ao nível da Eu-ropa e do mundo. Os 100 anos que orealizador agora comemora, aindalhe permitem estar no activo. É Ma-noel de Oliveira que ainda escreve,realiza e monta todos os seus filmes.

O festival pretenderelançar o gosto peladança tradicional,tendo a presença degrupos de todo o país

A Orquestra Típica e Rancho,grupo de dança tradicional portu-guesa da Secção de Fado da Associa-ção Académica de Coimbra(SF/AAC), apresenta no próximo dia14 de Dezembro mais um Mondego– festival académico de folclore.

O evento tem lugar no InstitutoPortuguês da Juventude (IPJ) e pre-tende “pautar-se por uma nova dinâ-mica e uma nova viragem”, adianta ovice-presidente da SF/AAC, HugoRibeiro. O Mondego conta este anocom a XII edição, tendo estado in-terrompido cerca de três anos.

Dar a conhecer o folclore que se faz

nas universidades é o principal ob-jectivo deste evento. Na opinião deRaquel Almeida, membro da direc-ção artística da Orquestra Típica eRancho, “o Mondego serve para di-vulgar este género de dança tradicio-nal feito por estudantes. Reúnevários grupos que têm em comum ofolclore e a etnografia, proporcio-nando uma agradável troca de sabe-res.”

Sobem ao palco do IPJ já no pró-ximo domingo cinco grupos do Or-feão Universitário do Porto, umgrupo de danças folclóricas e músicapopular do Minho e um grupo dedanças e cantares do Ribatejo. A Or-questra Típica e Rancho organiza oMondego com o intuito de “chamara camada mais jovem e mostrar àsoutras pessoas o que nós fazemos e oque conseguimos fazer”, afirma aresponsável pela organização do XIIMondego, Melissa Gana. Já RaquelAlmeida, organizadora também deanteriores festivais Mondego, refere

que “a nossa intenção é ter no eventopopulação que já adere a isto, comoos mais idosos, mas também atrairos jovens para que percebam o quese pode fazer ao nível das acade-mias”.

Por outro lado, as dificuldades as-sombram a organização deste ano.Hugo Ribeiro refere que “há um de-sinteresse não só por parte da maltamais nova mas também de institui-ções da cidade e do distrito, bemcomo da entidade gestora da univer-sidade. Ambos demonstram des-preocupação com o patrimóniomusical intrínseco da cidade e dosestudantes”. Na opinião do vice-pre-sidente da SF/AAC o Mondego este“tem de ser um festival que faça a Tí-pica e toda a secção se orgulhar de omostrar a Coimbra”.

Num grupo com 27 anos de exis-tência, composto maioritariamentepor estudantes universitários, a re-novação faz parte do role de preocu-pações. Contudo, o que parece

sobrepor-se à óbvia necessidade deintegrar novos elementos, segundoHugo Ribeiro, são “ os apoios relati-vamente ao Mondego”.

O aparente desinteresse dos estu-dantes pelas danças tradicionais po-pulares deve-se ao facto de quando“pensam em ranchos, associam logoao ‘não gosto’ e concluem que não épara nós”, aponta Raquel Almeida.

O festival tem entrada livre e, porser no espaço que é, é esperadagrande adesão por parte do público.O vice-presidente da SF/AACadianta que “por ser no IPJ acreditoque pode trazer mais pessoas. Se napróxima semana tudo for divulgadocomo deve de ser, as pessoas vão lásó pelo Mondego”.

Embora a Típica seja o primeirogrupo da Secção de Fado, em termoshistóricos, “o grupo está neste mo-mento a atravessar uma grande criseque é preciso recuperar. Nada me-lhor que um grande festival”, concluiHugo Ribeiro.

XII Mondego chega a Coimbra

Ana Sofia CostaSara Oliveira

PARA ALÉM destas imagens, vão estar em exposição na Biblioteca Municipal de Coimbra mais cinco momentos da vida do cineasta

Vanessa Quitério

D.R.

9 e 10DEZ

HIGH FLYING BIRD

PROPRIEDADE PRIVADA

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DESPORTO9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 7

Olivais recebe israelitas para a EurocupApós alcançar a passagem aos 16 avos-de-final da Eurocup feminina, oOlivais joga a primeiramão esta quinta-feira

A equipa feminina de basqueteboldo Olivais Coimbra retoma estaquinta-feira a sua aventura europeia,ao receber, no Pavilhão Multidespor-tos, as israelitas do Elitzur AchvaRamla. As atletas de Coimbra fizeramhistória no basquetebol femininoportuguês, ao garantirem, no passadodia 27 de Novembro, a passagem àsegunda fase da Eurocup Women.

O feito foi conseguido depois da vi-tória tangencial sobre as espanholasdo Extrugasa por 65-66, após pro-longamento. No final do tempo regu-lamentar, o placard assinalava umaigualdade a 54 pontos. Para a históriaficam também as vitórias sobre oTarbes (França) e o Pallacanestro deRibera (Itália), de ligas europeiasmais competitivas.

É a segunda vez que uma equipafeminina supera a fase de qualifica-ção de uma prova europeia. A pri-meira vez aconteceu com o CABMadeira, em 1999, na Taça LilianaRonchetti.

“O objectivo inicial do Olivais eraas jogadoras ganharem mais expe-riência, numa competição diferente,com as melhores equipas da Europa,e, se fosse possível, conseguir ganharum jogo”, conta o presidente do

clube, Carlos Almeida. No seu enten-der, o êxito passou “pelo trabalho dotreinador, pela motivação que ele e aequipa técnica conseguem dar e peloempenhamento das jogadoras”. Nascontas finais, a equipa somou novepontos, com três vitórias e outras tan-tas derrotas, ficando no segundoposto do grupo J.

No espaço de sete meses, o treina-dor José Miguel Araújo conquistouum campeonato nacional, uma su-pertaça e a passagem à fase final daEurocup. Perante a competitividadedas outras formações europeias, otécnico relata que não há segredospara o sucesso europeu. O trabalhopassou por detectar fragilidades e

“perceber o que não se podia fazercontra este tipo de equipas”. O mo-mento vivido em Vilagarcia é recor-dado por José Araújo como“gratificante”. “Na discussão de umapuramento directo, a tensão éoutra”, acrescenta. Para si, o apura-mento histórico significa que “o [bas-quetebol] feminino não está assimtão mal como se tem dito nos últimosanos, há pessoas a trabalhar comqualidade e afinco”.

O próximo adversário Nos 16 avos-de-final, o Olivais tempela frente a equipa israelita do Elit-zur Achva Ramla, que chegou àsmeias-finais da competição na época

transacta. Nesta edição, o Elitzurvenceu o grupo C, com seis vitóriasem igual número de jogos.

“É uma equipa altamente profis-sional, com muitas jogadoras estran-geiras, habituada às lides europeias eque já chegou muito longe”, analisa otécnico da equipa conimbricense.Ainda assim, José Araújo afirma que“acima de tudo, há que desfrutardeste tipo de jogos”. Quanto a cuida-dos especiais, o treinador sublinhaque a preparação deste encontro é se-melhante à das restantes partidas,tentando fazer “o melhor possível”.

O desafio está marcado para as20h30. A segunda mão em Israel estáagendada para dia 18.

A Académica está afazer um início decampeonato vitorioso.Os estudantes contamsó com triunfos nasoito partidas realizadas

A disputar a Série B da TerceiraDivisão Nacional Zona Norte, aequipa sénior de hóquei em patinsda Associação Académica de Coim-bra (AAC) é líder isolada, tendo atéagora ganho os oito jogos já dispu-tados. Neste fim-de-semana, aAcadémica venceu o Gualdim Paispor 7-1, em jogo da oitava jornadada prova.

A continuidade da equipa téc-nica e do plantel, que permanecemda época anterior, é o grande se-

gredo apontado pelo treinador,Miguel Vieira. “É a continuação dotrabalho do ano passado, já que aequipa era a mesma”, afirma.

A presidente da Secção de Pati-nagem da AAC, Maria Fátima Va-lente, partilha da mesma opinião.No seu entender, este sucesso “éapenas fruto do trabalho que temvindo a ser desenvolvido e que vemde épocas anteriores”. Contudo ad-mite que “a equipa também temtido a sorte do seu lado”.

Perante um cenário tão anima-dor, a subida de divisão pode tor-nar-se uma realidade. No entanto,o discurso é cauteloso. “Estaequipa não estabelece a subidacomo um objectivo primordial”,sublinha a presidente. Fátima Va-lente admite mesmo que “vai sermuito complicado caso a subida seconcretize”. Este receio tem comojustificação “os encargos com a fe-deração, em taxas de autorização earbitragens, que quase duplicam

em relação à terceira divisão”.Ainda assim, a responsável adverteque “não é por isso que a equipavai começar a perder jogos”.“Quem estiver na direcção destasecção, vai fazer os possíveis paraconseguir fazer face a essas despe-sas”.

Caso vença a série em que ac-tualmente se insere, a Académicavai ter de disputar uma fase finalcom os vencedores das três sériesrestantes da terceira divisão paraapurar quem sobe à segunda divi-são.

À margem dos triunfos daequipa de hóquei em patins, há odesejo de criar uma equipa de pa-tinagem artística. Contudo, a pre-sidente aponta a falta de espaçocomo o grande entrave a este pro-jecto. “Temos um espaço limitado.Desde Julho que andamos a tentarencontrar um lugar, mas nemtodos são adequados à prática dapatinagem artística”, lamenta.

Só vitórias para o hóqueiANA COELHO

JOÃO RIBEIRO

Catarina DomingosFrederico Fernandes

Tiago Teixeira

AS ATLETAS DO OLIVAIS já preparam a recepção ao Elitzur

João Ribeiro

P•R•O•LONGA•M•E•N•T•O

BASQUETEBOLDepois de

duas derro-tas frente aoBenfica eCAB Ma-deira, a

equipa sénior de basquetebolda Académica venceu oAliança por 60-72. Esta é a oi-tava vitória da AAC na prova.A equipa de Norberto Alvessoma agora 20 pontos, encon-tra-se no sexto posto, a doisdo líder Benfica, que continuasem perder. Na próxima jor-nada, a Académica joga com oBarreirense, quarto classifi-cado da liga.

FUTEBOLNa 11ª jor-

nada daSérie A daP r i m e i r aDivisão Dis-trital de

Coimbra, a equipa sénior defutebol da Académica SF ven-ceu o Clube Desportivo deArouce por 1-2. Foi o regressoàs vitórias, uma vez que aequipa já não ganhava hámais de um mês. Com este re-sultado, a AAC soma 15 pon-tos. Na próxima jornada,defronta o Eirense.

VOLEIBOLApós a eli-

minação daTaça dePortugal, aequipa sé-nior mascu-

lina de voleibol venceu oCentro Voleibol de Oeiras por3-2. Depois de ter estado avencer por 2-0, a Académicadescuidou-se e deixou levar ojogo para a negra. Com estavitória, a AAC entra num ciclode três vitórias consecutivaspara a Divisão A2. Na próximajornada, a equipa de CarlosMarques defronta o Clube Na-cional Ginástica.

ANDEBOLA equipa

sénior deandebol daAAC venceua ADC Be-navente por

27-30. A turma de RicardoSousa beneficiou da derrotada JOBRA, para se encurtar adistância para a liderança emdois pontos. Assim sendo, aAcadémica está em terceirolugar, com 29 pontos. Na pró-xima jornada, a AAC recebe oCD Feirense. A equipa séniorfeminina perdeu com o Ben-fica de Castelo Branco por 10-15.

Catarina Domingos

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA8 | a cabra | 9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira

PUBLICIDADE

À entrada os monitores esperampelos visitantes. O grupo de alunosdo secundário chega com um pe-queno atraso. Vêm de Famalicão.A cidade, que lhes é diferente, fazcom que se percam nas horasadiando a descoberta do explora-tório.

Encaminhados para a entradado Observatório situado dentro daCasa da Cultura de Coimbra, ogrupo de jovens, entre os 15 e os16 anos, segue o monitor até à pri-meira experiência. É pedido a cadaum que se deixe rodar num car-rossel com os braços levantados ecom um haltere em cada mão."Agora baixa os braços", ordena omonitor Francisco. Obedecendo àordem, os estudantes notam comoa velocidade com que rodavam nocarrossel aumenta assim que bai-xam os braços. A explicação é sim-ples: "ao baixarem os braços,aproximam-nos do eixo de rota-ção, diminuindo a inércia e au-mentando a velocidade", explica,prontamente, o guia.

Não conseguindo escapar à cu-riosidade, alguns elementos afas-tam-se do grupo e começam aexplorar por conta própria. Inte-ragir com a ciência atrai-os, ape-sar de nem tudo o que estáexposto ser direccionado para asua idade.

"Estás lindo oh Xavier!". A afir-mação parte de um dos colegasque, de volta da experiência "Tuou eu? Espelho ou vidro", observacomo um vidro, através de jogosde luzes, se pode transformar numespelho. Sentados frente a frente eseparados pelo vidro, dois alunosregulam a quantidade de luz emi-tida do seu lado do vidro, o queleva a que as imagens se sobrepo-nham. "Agora tu vais ver a caradele com o cabelo dela", explica omonitor. A reacção é imediata egera um coro de risos. Trocandode alunos e de posição, um rapazbrinca: "Ele tem os dentes no narizdela!".

Mais uma vez as atenções dis-persam. Mas agora os alunostocam numa bola com uma luzcor-de-rosa que parece ter raiosdentro dela. Reparando, o moni-tor lança-lhes um desafio: "tentem

acender a lâmpada, colocandouma mão nela e outra na bola", oque, de um modo geral, todos con-seguem realizar. O que acontece éque cada pessoa funciona comoum transmissor fazendo com queao colocar uma mão na lâmpada eoutra na "Bola de plasma", a pri-meira se ilumine até à zona ondea mão está.

Numa esquina do exploratório,os alunos olham desconfiadospara um cesto de basquete e umtubo, aparentemente pouco entu-siasmados. O monitor faz umapergunta simples: "Tenho umabola na mão. Se a largar o que éque faz com que ela caia ao chão?".A resposta, rápida mas errada,parte de um dos rapazes do grupo:"é o atrito!". Depois de explicadoque é a gravidade que atrai a bolapara o centro da Terra, e não oatrito, o guia liga o ar que sai dotubo e faz com que a bola levite.Então, vem a explicação científica:o ar envolve a bola e "mesmo quese dêem pequenos piparotes, elavolta à posição inicial". Afinal decontas, o tubo serve para encestara bola, o que gera uma grande ani-mação.

As reacções são semelhantes aolongo da visita. Sente-se a emoçãona descoberta das experiências eesta atinge o auge na "Visita às es-

trelas", no mini-planetário situadono exterior do edifício. À entrada,as recomendações do monitor dei-xam o grupo receoso, sem saber oque esperar. "Não usem telemó-veis nem nada que possa emitirluz e ao mínimo distúrbio eu des-ligo as luzes. Não pisem a partebranca do chão, que é onde se vãosentar". Já dentro do insuflável fe-chado as reacções são outras. Ob-servar a lua, o sol e as constelaçõesdeixam a maioria interessada eacima de tudo maravilhada. O mo-nitor explica, com algumas para-gens para mandar "desligar otelemóvel", o movimento solar e osigno do zodíaco a que corres-ponde determinada constelação."A ursa maior não parece nadauma ursa", afirma uma rapariga,que mudando o céu de disposiçãoconsegue assemelhar o conjuntode estrelas a uma ursa sentada.

Terminada a visita, o tempo nãodá espaço para mais descobertas eos alunos correm para o auto-carro. Os monitores sabem quechegou a hora de arrumar tudo.Desmancha-se o insuflável.Limpa-se o planetário. O Explora-tório volta ao silêncio.

Exploratório fecha as portas este mêsO centro de ciência vai mudar para a margem esquerda do Parque Verde. Antes disso, fomos experimentar a ciência que tem vindo a animar crianças e adultos

Diana CraveiroPatrícia Neves

O Exploratório vai mudar para amargem esquerda do ParqueVerde do Mondego. Uma das re-sponsáveis pela equipa, CristinaMonteiro, explica que este vai ser"um espaço diferente num edifícioconstruído de raiz e mais amplo".

O novo centro vai ter dois ed-ifícios e um espaço exteriorgrande. "Vai ter infraestruturas quenão temos aqui: um auditório eum espaço de experimentárioonde vai ser possível que alunos eprofessores façam ateliês", contaCristina Monteiro. Outra das novi-dades está no tema da exposição,que vai ser "Em boa forma com aciência". A responsável revelouainda que em exposição vão estarmódulos interactivos que associa-rão as ciências básicas à saúde.

O Exploratório vai abrir aopúblico a partir de Março.

O NOVO EXPLORATÓRIO DE COIMBRA

AS EXPERIÊNCIAS DOS EXPLORATÓRIOS dão para adaptar a todas as idades

PEDRO COELHO

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CIDADE9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 9

Afinal, Coimbra ainda é verde

“Coimbra, uma cidade verde”, éeste o lema que a Câmara Munici-pal de Coimbra (CMC) apresentapara o próximo ano. O vereadordos espaços verdes da cidade, LuísProvidência, afirma que a imagemdo município será a partir de Ja-neiro ainda mais preocupada coma dinamização de parques e jar-dins. “Há novos projectos que vãoser anunciados, um novo jardim enovas iniciativas para dinamizar osespaços já existentes”, revela o ve-reador. A zona urbana próxima doBairro Norton de Matos acolherá onovo espaço, complementandotodos os outros que se espalhampela cidade.

O verde, agora ofuscado pelostons de Outono, predomina pelasvárias zonas de Coimbra. E as bai-xas temperaturas parecem não as-sustar as dezenas de visitantes quediariamente chegam ao Jardim Bo-tânico, que se assume como um pa-trimónio dividido entre auniversidade e o município. A bio-diversidade é um dos atractivos dojardim que se encontra preservadadevido ao apoio de muitos estu-dantes universitários, com “apoioszero, é tudo em regime de volunta-riado”, esclarece a directora do Jar-dim Botânico, Helena Freitas.Desde o dia um de Dezembro queo jardim está aberto todos os dias,facto que não se verificava devidoà falta de financiamentos. “Porfalta de condições de remuneração,não tínhamos possibilidade depagar a um responsável, agora háuma empresa que vem fazer esseserviço com o qual o Botânico fezum protocolo”, explica HelenaFreitas. A privação de algumaszonas do jardim tem causado algu-mas especulações, no entanto, estaé justificada como sendo umaforma de preservar o espaço e a se-gurança dos visitantes.” Não házonas encerradas, há zonas deacesso reservado”, assegura a di-rectora do Jardim Botânico.

“O Choupal tem cada vez maisforça”, é assim que o técnico doInstituto de Conservação da Natu-reza e da Biodiversidade (ICNB),João Silva, descreve a situação ac-tual desta zona histórica. “O pul-mão de Coimbra”, como lhechamam os conimbricenses, apesarde parecer esquecido, continua acativar muitas pessoas, assumindo-se como “um grande espaço de vi-sita e de convívio”, diz o técnico,também responsável pela Mata Na-cional do Choupal. Dos 79 hectaresque constituem o Choupal, agrande maioria sofrerá uma reor-ganização com vista a adequar-seaos diferentes públicos. O projecto

do viaduto que ocupará uma zonada mata tem vindo a inquietar osambientalistas, assim o demonstrao presidente do Núcleo Regional daQuercus de Coimbra, António LuísCampos: “os espaços verdes aindasão vistos como secundários e por-tanto se for preciso sacrificar, sa-crifica-se”. João Silva reafirma, noentanto, que a passagem do via-duto não afectará o seu funciona-mento, “pois o choupal é muitomais do que a área por onde o via-duto irá passar”.

Junto ao rio, um verde semprevivo convida os cidadãos de Coim-bra a uma pausa na rotina. “O Par-que Verde é um cartão de vista dacidade”, afirma o tesoureiro dogrupo ecológico da Associação Aca-démica de Coimbra (AAC), Gon-çalo Brites. Além de ser o maisrecente, é também o espaço maisfrequentado da cidade, que na opi-nião de Luís Providência se tradu-ziu numa estrutura positiva porque“veio colmatar uma lacuna queexistia, e num só espaço passou-sea fazer um pouco de tudo, desdepassear até usufruir de algumaspráticas desportivas”. Apontadopelo vereador como o substituto doChoupal, este parque central, cominfra-estruturas e actividades queo dinamizam, é o eleito das váriasfaixas etárias da população conim-bricense. “A adesão das pessoas aoParque Verde é fantástica”, remataProvidência.

Longe no espaço e na evolução, oPenedo da Saudade destaca-sepelos aspectos negativos que porele passeiam. Apesar da importân-cia histórica que o acompanha, osprojectos para o espaço têm escas-seado e a imagem enfraquecidaestá cada vez mais associada ao Pe-nedo da Saudade. A insegurançaalojou-se para lá do miradouroprincipal e já vários casos o com-provaram. A resolução da situaçãonão está nas mãos da autarquia,pelo menos assim o declara LuísProvidência: “admito que possahaver alturas do ano em que a in-tervenção devesse ser mais aper-tada, mas isso não dependedirectamente da Câmara Munici-pal”.

Bem mais perto do centro da ci-dade, o Jardim da Sereia tem vindoa “recuperar aos poucos a má famaque ganhou durante muitos anos”,como vinca António Luís Campos.“É um espaço muito agradável quenão é muito aproveitado, tirando aparte da entrada, todas as restan-tes não são muito frequentadas”,afirma, por seu lado, o tesoureirodo Grupo Ecológico da AAC. Váriosprojectos estão lançados para o es-paço voltar a emergir nas preferên-cias dos conimbricenses, assim ovincula o vereador da CMC: “o es-paço tem várias carências. Há vá-rios elementos de atracção

pensados para este jardim, no âm-bito do centro histórico, comosendo a criação de uma casa dechá, quiosques e uma rede de equi-pamentos que leve as pessoas aquerer usufruir do espaço”, con-clui.

“Em Coimbra não há a cultura deir passear para espaços verdes”,frisa o responsável regional daQuercus. Um passeio pela cidaderessalta as diferenças que existementre espaços com um verde que sedistingue. Um novo projecto está

para chegar, remodelando a ima-gem tradicional paisagística dadapelos que já existem. Espaços ver-des abundam pelo roteiro da ci-dade, “as pessoas é que não osfrequentam”, partilha a directorado Jardim Botânico.

DANIEL TIAGO

Tiago CarvalhoMarta Pedro

Sara São Miguel

PASSEAR NOS ESPAÇOS VERDES não é hábito dos conimbricences, consideram os responsáveis

Um novo espaço traz novidade à paisagem conimbricense. A viver da história e com tonsenfraquecidos, os actuais parques verdes esperam pela concretização de vários projectos

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10 | a cabra | 9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira

TEMA

A análise de especialistas no plano político eeconómico internacional de um ano marcado pornovos conflitos e uma profunda crise financeira Por João Miranda

MUNDO EM 2008

Quando, no início do ano, o editorda revista “The Economist”, DanielFranklin, apontava um democratacomo o novo presidente dos EstadosUnidos, apenas se enganava nonome, pois viria a ser Obama e nãoClinton, o candidato eleito. DanielFranklin previa ainda que, junta-mente com os Estados Unidos, seria aChina a desempenhar um papel deci-sivo no plano internacional em 2008.Desde então, o mundo tem testemu-nhado uma série de convulsões e con-firmações de expectativas no planointernacional. A par da eleição do

novo presidente, os EUA assistem àcontinuação da guerra no Iraque eAfeganistão. A China realizou os seusprimeiros Jogos Olímpicos. As fron-teiras da Europa de Leste foram re-definidas pela emancipação de novosestados (como a Abcázia, a Ossétia doSul ou o Kosovo). E todo o mundomergulhou numa crise financeira.

Para a docente de Relações Inter-nacionais da Faculdade de Economiada Universidade de Coimbra DanielaNascimento, o ano de 2008 “ficoumarcado por vários momentos im-portantes”. Entre eles, destaca, os

UM ANO DE MUDANÇAS

ZIMBABWE

Recentemente, o actual presi-dente, Robert Mugabe, hà 28 anosno poder, e os dois líderes da oposi-ção, após eleições marcadas pelaviolência, assinaram um acordo departilha do poder, o qual ainda nãofoi implementado. Espera-se queeste acordo possa assegurar a esta-bilidade necessária ao combate àhiper-inflação e à escassez de pro-dutos básicos que ameaçam o povodo Zimbabwe.

VENEZUELAApesar da economia ter crescido

4,6 por cento no terceiro trimestre ea subida da inflação têm contribuídopara a diminuição da popularidadedo presidente. Contudo, Hugo Cha-vez volta a insistir no referendo parauma emenda constitucional, possibi-litando o mandato perpétuo. A polí-tica externa, baseada na exportaçãodos seus recursos energéticos, foi re-forçada com o aumento do preço dopetróleo.

E.U.A.Neste mesmo ano, deflagrou em

solo americano a maior crise econó-mica mundial desde 1929 e o paísconta já com uma taxa de desem-prego de 8,5 por cento da populaçãoactiva. Para além do combate à crise,o novo presidente eleito, BarackObama, afirmou já ter como priori-dade, a partir de Janeiro, a redefini-ção quer do panorama geo-político(Robert Gates), quer da diplomaciano Mundo (Hillary Clinton) .

FRANÇAO presidente francês e também,

ainda, presidente do Conselho daUnião Europeia, Nicolas Sarkozy,tem em mãos um Tratado de Lisboaquase defunto. Sarkozy destacou-sepela mediação na questão georgiana,de tal forma que ganhou o reconhe-cimento internacional e ainda recu-perou a sua imagem internamente.Apesar disso, não conseguiu reto-mar a popularidade com que foieleito em Maio do ano passado.

A análise do plano político internacional noano que está prestes a acabar. Por BrunoMonterroso e Rui Miguel Pereira

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9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 11

TEMA

Jogos Olímpicos de Pequim, a decla-ração de independência do Kosovo, aindiciação do presidente sudanês,Omar Bashir, por crimes de guerra noDarfur, a guerra russo-georgiana e aeleição de Barack Obama. SegundoDaniela Nascimento, “todos estesacontecimentos significaram altera-ções políticas e geoestratégicas no pa-norama internacional e cujasrepercussões e consequências vãofazer-se sentir nos próximos anos”.

Já na opinião da directora da edi-ção portuguesa do Le Monde Diplo-matique, Sandra Monteiro, os marcos

de 2008 estão interligados com mu-tações ocorridas em dois planos. Doponto de vista político e institucional,a mudança aparece com a emergên-cia de novas potências, como a China,a Índia ou o Brasil. “Para esta emer-gência de um mundo assente na mul-tipolaridade” contribuiu “o fim daadministração de Bush”, explica San-dra Monteiro. Num outro plano, amutação “encontra-se nas várias ma-nifestações da crise internacional aque assistimos ao longo de todo o anode 2008”, acredita a jornalista.

Também para os membros da di-

recção do Conselho Português para aPaz e Cooperação (CPPC), Vítor Silvae Rui Namorado Rosa, a crise finan-ceira foi um dos marcos de 2008: “ocrescimento económico tem limites,que se manifestaram na escassez e nopreço de matérias-primas em geral,mas mais notavelmente no petróleo.A perspectiva de crise económicagrave terá sido um factor indutor daprecipitação da crise financeira”.

O ano que aí vemSegundo Vítor Dias e Rui Namo-

rado Rosa, a carência de fontes de

matéria-prima aumentam a possibi-lidade de tensão e guerra entre as vá-rias potências: “devemos prever umpróximo ano de grandes dificuldadespara os povos, de grandes perigospara a humanidade face a uma even-tual guerra imperialista, mas tambémdo incremento de um amplo movi-mento anti-imperialista que terá ne-cessariamente um forte componentea favor da paz”.

Sandra Monteiro não aponta pre-visões para 2009. Contudo, deixa odesejo de “que acabe a guerra no Ira-que e de que os soldados não mudem

apenas para outro palco de guerra,mas regressem a casa; que seja en-cerrada a prisão de Guantanamo; quea Palestina seja finalmente um Es-tado independente e que encerrem osparaísos fiscais”.

Também Daniela Nascimento es-pera que a partir da nova administra-ção norte-americana “se abram novasperspectivas e oportunidades parapolíticas e decisões multilateraispara os grandes desafios económicos,políticos e ambientais que já existeme aos que certamente se colocarão denovo no mundo”.

SOMÁLIAEste país encontra-se dividido em

três, ainda que não reconhecidos in-ternacionalmente. Foi um dos paí-ses do mundo considerado este ano,como "Estado falhado". Com a reti-rada das forças etíopes, esta situa-ção tornou-se ainda mais caótica.Os clãs dividem-se em confrontoscivis e a comunidade internacionalapenas intervem no país para pro-teger os seus barcos, sucessiva-mente sequestrados por piratas.

RÚSSIADepois de se opôr ao reconheci-

mento da independência do Ko-sovo, a Rússia invade a Geórgiasobre o pretexto de proteger os seuscidadãos na Ossétia do Sul. A Rús-sia parece despertar para uma polí-tica externa cada vez mais "fria".Dimitri Medvedev é eleito para pre-sidente. Ainda assim, Putin man-tém a sua influência. A classe médiaem ascensão pode exigir mais plu-ralismo, tentando contrariar a ten-dência autoritária.

ÍNDIA2008 fica marcado pelos 200

mortos nos atentados terroristasde Dezembro, em Bombaim. Amaior democracia do planeta juntaassim o terrorismo à sua lista deproblemas, que inclui a disputacom o Paquistão pela região de Ca-xemira e uma enorme desigual-dade económico-social entre osseus habitantes, sendo que a suamaioria vive com menos de umdólar por dia.

CHINA

Se na China a crise não adquiriuproporções mais significativas, tal sedeve, em parte, ao surpreendentecrescimento das suas exportações,até porque o volume da sua produ-ção industrial cresceu apenas 8,2 porcento, menos de metade do ano an-terior. 2008 fica inevitavelmentemarcado pelos maiores Jogos Olím-picos de sempre, a sombra da ques-tão tibetana e a confirmação daimportância da China.

IRÃOEste país do Médio Oriente en-

frenta quezílias não só a nivel internocomo a nível internacional. O seupresidente, Mahmoud Ahmadinejad,vai ter de enfrentar uma reeleiçãocomplicada em 2009. Existe um des-contentamento crescente do povoperante as políticas económicas dolider. Este ano as sanções ao Irão,por parte da comunidade internacio-nal, devido ao seu programa nuclear,agudizaram-se, mas sem sucesso.

INFO

GRA

FIA

POR

JOÃ

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IRA

ND

A

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ano de 2008 foi agi-tado para o ministro dosNegócios Estrangeiros,Luís Amado. A teia polí-

tica das relações externas portu-guesas, contou com países como aChina, Venezuela, o recente Kosovoe foi ainda reforçada no empenhonos países da Comunidade de Paí-ses de Língua Portuguesa (CPLP).Este último foi representado atra-vés de uma cimeira que serviu paraintroduzir a presidência portuguesada CPLP, bem como a aprovação dopolémico “Acordo Ortográfico”.

As alterações que se registam nopanorama mundial, assim como asoportunidades que advêm da parti-cipação de Portugal neste género deorganizações, representam para oanalista político, José Goulão, umaoportunidade para que “sem repre-sentar ingerências” para países ter-ceiros, Portugal consiga “uma vozforte no mundo e, assim, tambémtransformar a língua portuguesa nopanorama mundial”. A centrali-dade da questão cultural, apesar deassumida como um objectivo cen-tral da CPLP, é para o director doCentro de Estudos Internacionais(CEI), Pedro Jordão, uma questãodesconsiderada, pois “a ponte cul-tural é fraca”. O especialista consi-dera ainda que a acção portuguesa,nestes países, apesar de “positiva, érelativamente ineficaz”. Ambos osperitos consideram ser importante

uma aposta efectiva de Portugal naCPLP, e não apenas, como explicaJosé Goulão “uma espécie de inter-mediário entre interesses terceirose uma comunidade lusófona”, en-carando esta relação como “umaobrigação que Portugal tem decumprir como se tivesse ficado comeste fardo do antigamente, e nãosaiba bem como tratar com ele”.

A participação portuguesa emTimor-Leste, que conta com forçasda Guarda Nacional Republicana(GNR) e da Policia de SegurançaPública (PSP), também merece re-paros na perspectiva de José Gou-lão. “Uma coisa era apoiar as forçasindependentistas quando se tratavade lutar pela independência, outracoisa é intervir em favor de facçõespolítico-militares contra outras”,considera, referindo-se ao apoio tá-cito da diplomacia portuguesa aXanana Gusmão e Ramos Horta,agora alvos da contestação do povotimorense.

Portugal no Espaço EuropeuO entusiasmo resultante da Ci-meira Europeia de Lisboa, não sealastrou ao processo de ratificaçãodo tratado homónimo. DesdeJunho que o veto irlandês constituio principal entrave à conclusão doprocesso. Este “cavalo de batalha”do governo português, que permi-tiria a Portugal imprimir a sua

marca no processo de construçãoeuropeu, apesar de constituir umprovável fracasso “não deve ser so-brevalorizado”, assegura José Gou-lão. O jornalista pensa que “osirlandeses vão ser obrigados a, su-cessivamente, fazer referendos atédizerem que sim”, ainda que o pro-cesso fique indelevelmente mar-cado pelo facto de “a Europa doscidadãos ter tido medo dos cida-dãos”. Esta opinião é partilhadapelo director do CEI, Pedro Jordão,ao considerar que “a Europa viudrasticamente reduzida a sua auto-ridade moral para ensinar demo-cracia ao Mundo”.

Outra questão sensível que mar-cou a política europeia prende-secom o reconhecimento da indepen-dência do Kosovo. Este momentotambém foi delicado para a políticaexterna nacional, pois após a decla-ração unilateral da independênciaem 17 de Fevereiro e pronto reco-nhecimento por parte de alguns es-tados europeus, Portugaltardou em reconhecer alegitimidade da acção.Para José Goulão“não há um re-conhecimentotardio do Ko-sovo”, mas sim“um reconheci-mento prema-turo”. “Portugalnão tinha que re-

conhecer o estado do Kosovo. O Ko-sovo é uma coisa artificial criadapelos Estados Unidos”, acrescenta.O jornalista considera ainda queeste é “um dos grandes erros da po-lítica externa”, sobretudo pela ex-plicação do próprio ministro dosnegócios estrangeiros, em que Por-tugal reconhece, não por conside-rar politicamente justificável aindependência do Kosovo, mas porse tratar de um facto consumado.Este critério poderia, segundo Gou-lão, ser aplicado ao caso da Abcáziae da Ossétia do Sul.

As relações com as potências emergentesA agudização da crise económicamundial fomentou o aprofunda-mento das relações com actoresemergentes. As missões diplomáti-cas realizaram operações de pro-moção nacional junto de governosde estados como a Rússia, a Índia ea China, ficando a última visita

marcada pelo in-sólito apelo doministro da eco-nomia, ManuelPinho, para as

v a n t a g e n scomparati-vas dosbaixos sa-lários pra-t i c a d o sem Portu-

gal. O especialista em política inter-

nacional, Pedro Jordão, consideraque “para o regime da Venezuela éútil mostrar recepções calorosaspor parte de um país europeu”, epara Portugal “há um sector que re-tira seguramente vantagens que é acomunidade portuguesa na Vene-zuela”, José Goulão acrescenta edefende “uma política de bilaterali-dade com varias potências”. Nestecenário, Pedro Jordão, mostra que“Portugal tem interesse, mas comum peso quantitativo marginal”para a República Popular da China,por outro lado, o acesso a pequenasquotas percentuais no mercadodesse país poderiam representar,para Portugal, “um substancial im-pulso para as empresas nacionais,que se encontram em marasmoeconómico”.

As grandes linhas orientadorasda política externa portuguesa pos-suem “algum pragmatismo, mascom limites”, comenta Pedro Jor-dão. Na opinião de José Goulão“Portugal opta por uma tendênciados parceiros da União Europeia edos próprios Estados Unidos, umatendência de pragmatismo olhandopara os interesses próprios”, poisPortugal não possui “a realpolitikque poderia e deveria ter, porque émuito parcial e muito aleatória”, epratica uma política externa de “na-vegação à vista”.

A CIMEIRA DA CPLP juntou, este ano, em Lisboa os líderes de todos os países lusófonos

Apesar de pragmática, a política externa portuguesa sofre várias críticas. O polémico reconhecimento do Kosovo e a ineficácia da CPLP são alguns dos problemas apontados pelos especialistas. Por Pedro Nunes e Rui Miguel Pereira

O

PAÍS & MUNDO12 | a cabra | 9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira

Política externa de “navegação à vista”

D.R.

Page 13: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 190

PAÍS & MUNDO9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 13

O mundo à espera da nova equipa da Casa BrancaEleito o presidente,começa a nomeação daequipa. Barack Obamadesilude aqueles que esperavam uma administração apenasde democratas

A “dream team” do novo presi-dente Estados Unidos da América,Barack Obama, começa a ganharforma. E se era de esperar queObama escolheria apenas para asua equipa membros da “casta de-mocrata” o mesmo não se temvindo a verificar. Há pelo menosum nome, ligado à anterior admi-nistração Bush e que vai integrar aequipa de Obama. O mundo tem osolhos postos em Washington, ecada nomeação pode significar al-terações não só na política interna,mas também na política externa.

As expectativas em torno deObama e da sua nova equipa esten-dem-se para lá do eleitorado norte-americano, prova disso foram osmilhares de europeus que o rece-beram em Berlim ainda antes deser eleito. Também eles esperamver uma “Mudança” na política ex-terna dos EUA. Acusado pelos seusadversários, durante a corrida àCasa Branca, de inexperiência nocampo internacional, Obama nãotem um legado fácil. Desde logo,prometeu a retirada dos tropas doIraque e o reforço do combate aoterrorismo no Afeganistão. Preci-samente o que o comentador de po-litica internacional, Luís Delgado,aponta como segunda razão daselevadas expectativas em torno de

Obama (a primeira é o facto de tersido eleito um presidente de umaminoria étnica). Luís Delgadoafirma que a política externa nãocostuma ser a área predilecta dosdemocratas, ainda assim, BarackObama herda uma guerra no Afe-ganistão, no Iraque, a ascensão nu-clear de países como o Irão,Paquistão e Coreia do Norte, factosque nenhum presidente norte-americano pode negligenciar.

A retirada do IraqueO Médio Oriente vai continuar a re-ceber grande parte da atenção danova administração, ou não fosseeste o local onde os EUA tem ac-tualmente o seu maior contingentemilitar.

Numa altura em que o Iraque co-meça a apresentar melhorias na se-gurança e o parlamento iraquianoaprova a manutenção das tropasdos EUA para além do mandato daONU, Obama veio afirmar que é fa-vorável à continuação de forças desegurança no Iraque, mesmo de-pois de retirar as tropas do territó-rio.

Para Luís Delgado, este não vaiser um factor causador de frustra-ção nas expectativas do eleitorado.Destaca o analista que o mais im-portante vai ser “quando as pessoasforem avaliar daqui a quatro anosa questão e se esta já estará resol-vida”. Além disso os “os iraquianoscomeçam de facto a assumir o con-trole do país”.

A equipa do burro e do elefanteSurpresa é a manutenção do Secre-tário de Estado para a Defesa, Ro-bert Gates. Este republicanoex-director da CIA fez, desde 2006,parte da equipa de George W. Bushexactamente na mesma posição emque vai transitar a equipa deObama. Mas um outro nome sedestaca na equipa de BarackObama.

A nomeação da sua rival nas elei-ções primária, Hilary Clinton, nãosendo um surpresa, pois aindaantes da eleição de Barack se falavanesta possibilidade, não deixa deser surpreendente. Afinal, uma das“armas” de Hillary contra Obamanas primárias, foi a divergência na

forma como a politica externa de-veria ser conduzida. Hillary, apesardestas anunciadas divergências,será a Secretária de Estado, e teráum papel fundamental nas orienta-ções políticas da administração.Grande parte dos, até agora, no-

meados pertenceram à equipa deBill Clinton ou estiveram directa-mente ligados ao seu mandato naCasa Branca.

Esta dualidade, susceptível decríticas, foi a forma que Obama en-controu para mostrar a necessi-dade de uma união entredemocratas e republicanos para aresolução dos problemas do país.Luís Delgado acredita que este con-ceito “dá um sinal aos dois partidosinternamente”. Por um lado,Obama mostra que o seu partidoestá unido e, por outro, o partidorepublicano diz “contêm con-nosco”.

Contudo, Obama já está a arra-sar as expectativas de algum eleito-rado que queria ver umaadministração “mais socialista”.Segundo o analista, “há umagrande frustração de muitos ame-ricanos que pensavam que ele iaacabar com o sistema de Washing-ton”.

Com Igor Reis

D.R.

Rui Miguel Pereira

BARACK OBAMA TEM ATÉ JANEIRO para escolher a sua equipa

Barack Obamasupreendeu o seueleitorado ao mantercomo Secretário deEstado para aDefesa, Robert Gates

2000 novos agentes para a PSP eGNR e sete novas carreiras de tiro sãodois objectivos anunciados pelo go-verno para o próximo ano. O Orça-mento de Estado para 2009 dirigeum aumento em oito por cento para oMinistério da Administração Interna.O ministro da pasta, Rui Pereira,anunciou durante a inauguração deum quartel da GNR em Joane, VilaNova de Famalicão, que este aumentovai permitir a continuação do “pro-grama de compra de 42 mil novaspistolas para as forças policiais, dezmil das quais já adquiridas, bemcomo investir na construção e recu-peração de quartéis”. A lei de pro-gramação das forças de segurançatem um prazo de 5 anos.

R.M.P.

BREVES

Portugal

A morte de um jovem grego àsmãos da polícia, no sábado, 6, prin-cipiou uma onda de violência e pro-testo no país helénico. O jovem de 15anos, Andréas Grigoropoulos, foiatingido a tiro depois de arremessaruma bomba incendiária contra umcarro de polícia. O agente da forçade polícia grega já foi detido e acu-sado de homicídio com dolo. Entre-tanto milhares de manifestantes, namesma noite em Atenas, apedreja-ram montras de lojas, incendiaramvários carros e atiraram bombas in-cendiárias contra a tropa de choquegrega. O ministro do Interior, Pro-kopis Pavlopoulos, e o secretário deEstado, Panayotis Hinofotis, já apre-sentaram a demissão ao primeiro-ministro, Costas Caramanlis. E

apesar dos protestos se terem alas-trado a várias cidades no mesmofim-de-semana, o primeiro-ministrogrego não aceitou a demissão.

A polícia de choque, munida degás lacrimogéneo, actuou desde logocontra os primeiros sinais de mani-festação. Ainda assim, os manifes-tantes montaram barricadas aolongo da grande avenida Egnatia,atearam fogueiras e atacaram as fa-chadas do Banco Nacional da Gréciae do Banco Emporiki, precisamente,dois dos edifícios mais castigadospelos manifestantes.

O polícia e o ministro Pavlopou-los já manifestaram publicamente a“profunda dor” pela morte dojovem.

R.M.P.

O presidente francês, NicolasSarkozy, recebeu no domingo, 7, olíder espiritual do Tibete e PrémioNobel da Paz, Dalai Lama. O go-verno chinês reagiu a este encontroanunciando o cancelamento da ci-meira UE-China a acontecer estasemana. Esta reacção chinesa pren-deu-se com o facto de a França pre-sidir, neste momento, ao Conselhoda União Europeia. O Dalai Lamamostrou-se agradado com a recep-ção e destacou a necessidade denão isolar a China no panoramamundial. Ainda este ano, aquandoda primeira visita do Dalai Lama àFrança, o presidente francês, assimcomo outros líderes europeus, tinharecusado receber o líder budista.

R.M.P.

D.R. França • ChinaGrécia

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ARTES FEITAS14 | a cabra | 9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira

e uma coisa ninguémtem dúvidas: Amália Ro-drigues foi uma figura in-contornável do século XX

português, tanto pelo seu talentocomo pela sua personalidade cin-zenta. Era óbvio que, mais cedo oumais tarde, alguém iria querer fazerum filme sobre a sua vida. Afinal decontas estamos perante alguém queconstruiu uma carreira ímpar quasea partir do nada. Correu meiomundo, conheceu reis e chefes de es-tado, teve vários amantes e foi, apa-rentemente, contestada pelo seupróprio público. Havia aqui matéria-prima suficiente para construir umanarrativa relativamente coerente ebem estruturada. Pelo menos à par-tida, claro. Manuel S. Fonseca (oprodutor) não teve vergonha de ad-mitir que a ideia para este filme sur-giu durante o visionamento de “LaVie en Rose”, o biopic de Edith Piaf.E a verdade é que, mesmo se o qui-sesse negar, as semelhanças são de-masiadas. Tal como no filme de

Olivier Dahan, também aqui a vidada diva é contada recorrendo a cenasdispersas estruturadas através de umflashback e há mesmo um plano es-pecífico (em que a câmara se posi-ciona atrás da protagonista) que serepete em ambos os filmes.

Mas as semelhanças ficam-se poraqui. A narrativa não tem um fiocondutor coerente (nem a vida nem aobra), resumindo a acção a poucomais de uma dúzia de episódios bio-gráficos mal contados. As persona-gens entram e saem de cena quandoconvém ao (pobre) argumento, comose estivéssemos perante um teatro defantoches (tanto em função como emprofundidade). Fica-se sem perceberaspectos tão básicos como as razõesque a levaram a cantar, ou a formacomo conseguiu alcançar fama mun-dial. A referência à carreira de Amá-lia como actriz (na época dourada docinema português) resume-se a umposter mostrado durante uma tran-sição e a um convite feito para gra-var um filme em França. Num filme

biográfico o mínimo que se espera éque alguém tente desconstruir omito que lhe dá origem. No entanto,nem mesmo isso alguém tem cora-gem de fazer. Quando o tema começaa ficar mais quente e a imagem dadiva começa a sair dos padrões divi-nos, logo vem uma cena (atente-seno momento em que Amália dá o ca-saco a uma pedinte à saída) cujaúnica função é restaurar a divindadeao personagem. O suposto clímax érepetido tantas vezes ao longo daobra que quando acontece pela ené-sima vez, já perto do final, está longede ter a carga dramática que deveriater tido. Nem a montagem lamechas,em que se recordam os elementoschave do filme, ajuda. Vistas bem ascoisas, se o filme se ficasse por essamontagem o efeito seria o mesmo e otempo desperdiçado seria bemmenor. Se a tudo isso se juntar umaslocalizações escandalosamente falsase a execrável pronúncia brasileira deRicardo Carriço, estamos peranteuma das obras mais falhadas do ano.

Amália, o filme

CIN

EM

A

Que estranha forma defazer cinema

CRÍTICA DE MILENE SANTOS

DE

CARLOS COELHO DA SILVA

COM

SANDRA BARATA

CARLA CHAMBEL

RICARDO CARRIÇO

2008

DE

ERIC DARNELL

TOM MCGRATH

COM

BEN STILLER

CHRIS ROCK

DAVID SCHWIMMER

JADA PINKETT SMITH

2008

epois de chegarem aMadagáscar no capí-tulo anterior, Alex oLeão, Marty a Zebra,

Glória o Hipopótamo e Melman aGirafa vão agora a África ondedescobrem o seu lar ancestral eantepassados não muito distantes.A guerra entre os estúdios de ani-mação tem um líder destacado e,infelizmente para Madagáscar 2,não é a Dreamworks. É verdadeque o ogre verde é uma criaçãodeste estúdio dos amigos Spiel-berg, Katzenberg e Geffen, masnão consegue ainda chegar aonível de qualidade e apelo quetanto miúdos e graúdos sentemcom uma obra dos estúdios Pixar.Pode não ser justo referir numacrítica que este filme não é aquele,mas o barómetro de qualidade é

indiscutível em todos os campos.Enquanto que a Pixar caminha nadirecção do fotorrealismo, em Ma-dagáscar 2 a opção é por uma es-tilização cartoonesca de animaisexcessivamente antropomorfiza-dos, assim como na maioria dasanimações da Dreamworks. Se emcontos de fadas com gatos debotas e princesas consegue seradequado, quando há interacçãoentre humanos e animais numuniverso que adere às convençõesdo Real, já começa a ser maiscomplicado aceitar.Voltemos ao filme. Ao chegarem aÁfrica todos os quatro protagonis-tas encontram os seus grupos na-turais onde se encaixamperfeitamente, até que a fórmulado capítulo anterior é repetida.Alex e Marty confrontam-se, colo-

cando em causa a sua amizade, atéque uma situação-limite os obrigaa reatar o relacionamento entreambos. Se a preocupação com osamigos é uma mensagem impor-tante a passar às crianças, talvezseja importante também não astratar como se fossem imbecis einvestir em narrativas inovadorase refrescantes (Wall.E). Tambéma registar o enorme tiro no pé queé manter as personagens mais ca-rismáticas, os pinguins, de fora doecrã durante a maior parte dotempo. Os melhores momentossão protagonizados por estas avesimpossibilitadas de voar, desdeuma emboscada a turistas na sa-vana a negociações sindicais comos trabalhadores manuais do seunovo projecto.

Acho que já não estamos na Pixar

Madagáscar 2”

FERNANDO OLIVEIRA

“ D

D

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ARTES FEITAS9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 15

ma mulher e trêshomens. Uma ita-liana, um argen-tino e dois

norte-americanos. Nenhumdeles é brasileiro.

O quarteto lança NewYork City, nome dado emfunção da cidade onde abanda se formou. De umabanda chamada BrazilianGirls espera-se samba, forró,bossanova ou funk de favela.Mas não. O álbum começacom St. Petersburg: da po-derosa voz de SabinaSciubba emerge um temapop, ao estilo de Architec-ture in Helsinki ou Au Re-voir Simone. Sciubba, oteclista argentino Didi Gut-man e os norte-americanosJesse Murphy (baixo) eAaron Johnston (bateria)deixam antever um discoque em nada se parece comos sons brasileiros mais co-muns.

Segue-se Loosing Myself. As teclas de Didi Gutman dãoo electrónico por que se espera. Sabina Sciubba, conju-gando o inglês com o francês, oferece-nos uma faixa queem tudo faz lembrar a cultura disco. De Nova Iorque paraBerlin, os Brazilian Girl chegam-nos agora com o cabarete o burlesco muito ao estilo dos alemães Dresden Dolls. Odisco segue por sonoridades mais calmas, como é o casode Strangeboy , L’Interprete e Mano de Dios que lembra ossons vindos da Islândia.

Com New York City, os Brazilian Girls agradam a todos,sem ganhar um público específico. Sofisticado, eclético,multilinguístico, dançável, noisy, electrizante, burlesco,energético, recomendado.

m “O homem que odiavaa chuva e outras estóriasperversas”, GuilhermeMelo recebe-nos no seu es-

tilo a lembrar a crónica de costumes.O título não podia estar mais ade-quado para avisar o leitor porventuramais incauto: nove breves contos,onde as personagens não terminama viver felizes para sempre. De facto,a felicidade não mora aqui. Aindaassim, terminamos a leitura de cadauma das histórias que Melo constróicom um sorriso nos lábios, pelaforma como o autor entrelaça as per-sonagens com um toque aceso de iro-nia.

O homem que odiava a chuva, aalma caridosa que auxiliava cegos, obom padre da pequena paróquia, nãohá personagens inocentes nestas pá-ginas, que fazem da cidade grande eanónima palco predilecto da acção.

Os contos não são, como já sedisse, felizes. Mas a sua reunião é umfeliz encontro com o estilo de Gui-lherme Melo. Nascido em Maputo,em 1931, Melo escreve de forma di-recta, mas sem perder a mão às pa-lavras. O homem é o seu temapreferido. As suas ânsias, os seusmedos, as suas angústias, o que otorna, o que nos torna tão pequeni-nos. Desconstruindo ideias do

homem puro, o autor apresenta-nosum universo de personagens carica-turas de todos nós, mas sem precisarrecorrer ao exagero, bastando-lheobservar os quadros do dia-a-dia.

As estórias perversas que nos trazsão, por isso, histórias pequenas degente pequena, mas onde consegui-mos descortinar personagens e ca-racterísticas que não nos sãototalmente desconhecidas. A mal-dade, daquela maldade que de tãoentranhada se faz escondida, o de-sespero, ou simplesmente a desis-tência estão presentes em cada umdestes contos. Mas há outra caracte-rística comum a todos eles: a liber-dade. O prazer da descoberta, docontacto com aquele interior negroque trazemos cá dentro e esconde-mos como um tesouro ruim, dá acada uma destas gentes o prazermuitas vezes negado de ser livre. E étalvez por isso mesmo uma obra in-quietante, pelo poder de GuilhermeMelo nos pôr a nu perante nós e osoutros, quase sussurrando ao ouvidoo bom que é deixar cair a máscara,perder o peso da mentira e descobrira relidade vil que a todos nos com-pleta.

zul, Branco e Vermelho, ascores que correspondem a Li-berdade, Igualdade e Frater-nidade, tema da triologia

realizada por Krzysztof Kieslowski. Ver-melho (A Fraternidade é Vermelha) é oúltimo filme do realizador polaco que es-colheu para o papel principal a sua actrizfetiche, a suíça Irène Jacob (A vida Duplade Verónica (1991), A Vida interior deMartin Frost (2007)), no papel da mo-delo Valentine, que contracena com o ex-periente Jean-Louis Trintignant (o actorque recusou o papel principal de O úl-timo Tango em Paris (O Homem quemente (1968), Z (1969))), que encarna apersonagem de um juiz reformado queocupa o seu tempo a espiar as conversastelefónicas dos vizinhos. A acção é espo-letada pelo atropelamento da cadela dojuiz por Valentine… após o encontro coma personagem de Trintignant a acçãoperde toda a linearidade, desenrolando-se em três vectores que se entrecruzam econfundem, com a relação entre a mo-delo e o juiz num plano central, com ra-mificações para a relação familiar epessoal de Valentine, a carreira passadae a vida amorosa do juiz, e as desventurassentimentais de um casal (Karin e Au-guste) alvo da indiscreta atenção do juiz.Confrontado com a imoralidade da sua

acção, o juiz acaba por confessar simbo-licamente o seu crime e precipitar o de-senlace do drama, convencendoValentine a seguir o seu destino, que secruza com Auguste, sugerindo o inicio deuma nova relação. Os seus destinos cru-zam-se num acidente de ferry-boat aolargo do Canal da Mancha, onde as per-sonagens dos outros filmes da triologiatambém se encontram, e do qual emer-gem como únicos sobreviventes.Vermelho é uma história de redenção,onde as duas personagens principais sesalvam mutuamente, o passado, repre-sentado pelo juiz, e o presente/futuro re-presentado por Valentine e Auguste.Representa também a redenção de Kies-lowski, no seu último filme, e talvez omaior filme de um cineasta genial, quefaleceu dois anos após as filmagens,tendo colhido onze prémios, e a nomea-ção para três Óscares da academia, in-cluindo a categoria de melhor realizador.A fotografia (também ela nomeada paraum Óscar) é brilhante, dominada pelacor vermelha, presente na personalidadedas personagens e também nos seus des-tinos.

OUVIR

DE

GUILHERME MELO

EDITORA

NOTÍCIAS

DE

BRAZILIAN GIRLS

EDITORA

UNIVERSAL MUSIC PORTUGAL

2008

New York City”

U

CLÁUDIA TEIXEIRA

Artigos disponíveis na:

E

O homem que odiava a chuva e outras estórias perversas”

PEDRO NUNES

SOFIA PIÇARRA

Vermelho”

A liberdade deser perverso

VER

“Históriade redenção”

GUERRA DAS CABRAS

A evitar

Fraco

Podia ser pior

Vale a pena

A Cabra aconselha

A Cabra d’Ouro

LER

O pop que(não) vemdo Brasil

A

DE

KRZYSZTOF KIESLOWSKI

EDITORA

MK2

2007

Page 16: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 190

SOLTAS16 | a cabra | 9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira

s letras brancas sobreo fundo negro da pri-meira página sur-preenderam os

leitores d’A CABRA, numa dasedições mais arrojadas do jornalaté à data. Há um ano atrás, aedição especial de vinte páginasdava destaque total à questão doconflito no Darfur, explicandopasso a passo o início da guerra eo seu arrastar ao longo dotempo, levando consigo milhares

de vidas e deixando outras total-mente na miséria. O conflito foirelatado e discutido por diversaspersonalidades, entre elas EricReeves, famoso investigador eanalista e Noé Monteiro, jorna-lista da RTP. O próprio directordo jornal na altura, Helder Al-meida, desenvolveu o editorialsob o lema “Porque o lamentonão chega…”, onde afirmou queé preciso fazer muito mais parapôr fim ao problema já conhe-cido como o holocausto do sé-culo XXI.

Outro convidado especial, oeurodeputado Miguel Portas,criticou duramente a posição dospaíses desenvolvidos face aoconflito: “se fosse uma regiãocom fortíssimas riquezas, o as-sunto teria sido tratado de outromodo”. Defendeu ainda a criaçãode uma força militar na União

Europeia para actuar no terreno.A fotoreportagem, a cargo de

Evelyn Hock, descreve atravésde imagens chocantes a maiorcrise humanitária do planeta, emque milhares de pessoas deslo-cadas tentam sobreviver emcampos de concentração, onde afome, doença e morte pairam noar.

Esta edição especial contoutambém com a colaboração doilustrador Luís Afonso, respon-sável pelos cartoons no “PÚ-BLICO”. Entre muitos outrostextos de opinião, A CABRA deua conhecer ainda outros confli-tos semelhantes, casos da Somá-lia, Bósnia-Herzegovina eRuanda.

A última página reservou umespaço de opinião a OpheeraMcDoom, enviada especial daReuters ao Sudão. Afirmava que

não é fácil separar otrabalho de jorna-lista das emoçõesque sente enquantoser humano, peranteas atrocidades come-tidas no Darfur edeixava ainda oalerta de que “háviolações até sobremembros da ajudahumanitária!”.

Ao lado, dois dese-nhos feitos porcrianças locais evi-denciam o horrívelpanorama da regiãoe, principalmente, aforma como os maisnovos encaram oproblema.

Passou apenas um ano, masesta edição d’A CABRA mereceser recordada pelo simples facto

de ainda retratar a situação ac-tual, porque pouco ou nadamudou no Darfur. Infelizmente.

Luís Simões

A CABRA sai do arquivo...

18ºANIVERSÁRIO

ENTÃO E ODARFUR?”

DEZEMBRO 2007 • EDIÇÃO N.º 175 • QUINZENAL • GRATUITO

A

BRUNO ALEIXO • APRESENTADOR DE TELEVISÃO

Entrevista por João Miranda e Cláudia Teixeiracom a colaboração dos criadores de “O Programa do Aleixo”

Leite-creme

ENSINO SUPERIOR

Possuis formação universitá-ria. Como olhas para o estadodo Ensino Superior nos diasde hoje?Sim, estive três anos em Direito.Nunca acabei o curso, mas tendotrês anos feitos, considerei-me ba-charel. Agora com Bolonha já sou li-cenciado, porque os cursos são detrês anos. O estado do ensino supe-rior deve estar mau, porque àsvezes recebo mensagens de Hi5cheias de erros. Vou a ver e é de ga-rotos que andam na faculdade.

E a praxe?Olhe, quando era garoto gostavamuito. No meu tempo de estudantetambém praxei. Fazia trupes. Rapeipara cima de duzentos caloiros, oque ainda hoje é recorde municipal.Há gente que rapou mais, mas nãonum período de dois anos. Agoragosto menos das praxes. Os desfilesestorvam muito o trânsito. Foi bomterem mudado o desfile da queimapara o domingo. Aos domingos es-torva-me pouco. Costumo ir a Ta-veiro, ver a União. Ou então à caça.

Como viste as recentes elei-ções para a Direcção-Geral daAAC?Olhe, confesso que não tenhoacompanhado muito. Havia qual-quer coisa no jornal (no calinas,acho) mas nem li, vi só as fotogra-fias dos gajos. Sei que havia trêsvestidos de estudante e um que nãoandava vestido de estudante. À se-gunda volta parece que foram doisestudantes, não foi? Por isso agoranão os distingo.

ALMOÇO SOCIAL

Frango assado

ALÉM DO CABO

Muitas pessoas comentam ofacto de teres morrido no inícioe agora apareceres com umanova cara. Como é que explicaseste paradigma? Não explico, até porque nem percebiessa pergunta, mas posso explicar aspalavras soltas que entendi. A caranova foi porque tive uns problemascom uma americanada chata. Quantoa isso do boato de ter morrido, ocor-reram aí uns problemas e tive que meausentar do país. Quando dei por ela,tinha havido um funeral meu. Maisque isto, têm que perguntar à agênciafunerária que organizou o velório. Foia "Odete & Alves", se não me engano.

Pudemos rever os teus temposde escola. Ainda manténs con-tacto com os colegas?Sim, com alguns. Um dos meus me-lhores amigos, o Ribeiro, vem dostempos da escola. Ele é médico. OAires também lá andava, mas eranoutro ano, não era no meu. Depoishavia o Vasco, o Ramiro… O Ramirovi-o no outro dia, com um garoto,devia ser o filho mais novo.

Depois de teres denunciado oAires publicamente, continuas afrequentar o estabelecimento?Sim, claro. Cada estabelecimentotenta dar um cunho pessoal ao ser-viço. Além disso, pouca gente lá vai etenho sempre mesa livre e o jornalpara ler. Uma vez o Aires fechou por-que teve um funeral e eu tive que ir aoutro café. Fiquei quarenta minutosà espera que o jornal vagasse, que es-teve um velho a ler os editais da Câ-mara todos, de alto a baixo.

Sopa de Feijão

PROGRAMA NA SIC

Como é que foi o salto do You-tube para a “SIC do Cabo”?Nem sei. Alguém meteu uns filmesmeus na internet. Depois, estava euno Brasil e os homens da SIC foramlá a casa, para falar comigo. Deixaramo recado com o porteiro, que me avi-sou por fax. Eu depois só respondiquando tive vagar, passadas umas se-manas. A SIC mandou lá um sujeitopara falar comigo, mas era brasileiro.Devia ser um advogado com uma pro-curação, ou assim. Vinha cheio deideias mas eu dei-lhe a volta. Bem-feita, para não querer tudo à modadele.

De onde é que apareceu o busto?O Busto aparecia lá no Aires, de vezem quando. Conheço-o já há muitoano. Precisava de um ajudante e eleofereceu-se. Queria muito. Ele e umoutro fulano, que era zarolho. Fiz umcasting e escolhi o Busto, que o zaro-lho só dava para filmar de um doslados. O Busto é bom, fica bem na te-levisão. Deve-me muitos favores,agora.

Que conselho darias a uma pes-soa que pretende começar umprograma?Digo já que o mercado dos talk showsestá saturadíssimo. Já não dá, façamoutra coisa. Documentários, porexemplo. Eu arranjo-lhe um contactona RTP 2, se essa pessoa quiser.Metem-nos a passar de madrugada,depois daquilo das universidades,mas a essa hora há muito padeiro eguarda-nocturno a ver. Até o porteirolá do prédio vê televisão a essa hora.

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EUAUm labrador de seisanos tornou-se bacharelem Direito. O cão rece-beu o diploma da Uni-versidade de Baylor, noestado do Texas, depoisde ter assistido, durantemais de dois anos, atodas as aulas exigidas.Skeeter frequentou asaulas como cão-guia deuma estudante. O di-ploma dá ao cão o títulode “dog tor”, um troca-dilho com as palavas“doctor”, doutor, e“dog”, cão.

ITÁLIAA paixão de um homem

de 82 anos só parou depois de apolícia ter chegado. O italianotomou uma dose de viagra e in-sistiu em ter relações sexuaiscom a esposa... com a mesmaidade. Mas a ideia não agradou àmulher, que chamou a polícia.Segundo a senhora, “aos 82anos, tanta paixão podia sermortal”.

GRÃ-BRETANHAA autarquia da cidade de Boltonarranjou uma maneria de acabarcom os desacatos à saída dosbares: vão oferecer embalagenspara fazer bolinhas de sabão. Oobjectivo é levar a que o am-biente fique mais descontraído.Já em Devon as mulheres queusarem sapatos de salto alto vãoreceber chinelos para não se ma-goarem à saída do bar, depois deterem bebido demais.

Diana Craveiro

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COM PERSONALIDADE

De momento, não tenho qualquer lema de vida, já tive. Nasci em Coimbra há 33 anos. Gosto de música, de cinema e sou um leitor incompetente,gosto da vida e de viver. Não me relaciono por aí além com a literatura. Gosto de futebol. Estou a acabar o curso de Filosofia, cheguei ao último anoe perdi-me, mas agora estou a recuperar. Coimbra já me disse muita coisa, mas hoje já não me diz tanto quanto isso. Sou do tempo em que viatodos os dias uma coisa nova, passei por esse tempo e por essa experiência. De há um tempo para cá, não me tem atraído muito, mas é a minha cidade, a cidade da minha equipa,a Académica, e é a cidade onde eu nasci, vivi e onde tenho os meus amigos, a maior parte deles. Por cá, apenas existe um circuito de locais improvisados para tocar, e é de tirar ochapéu às pessoas que promovem esse tipo de eventos. O TAGV é um sítio fantástico mas que não tem grande assiduidade por parte das pessoas, assim como o Ar D’Rato. Hápouca coisa, mas tem de se lutar por aquilo que se tem. O meu primeiro contacto com a música foi com a banda Garbage Catz em 1991/1992. Hoje, continuamos os melhores ami-gos.

A melhor experiência musical para mim foi e é os Bunnyranch. A minha família encara mal a minha carreira na música, masos meus amigos verdadeiros estão comigo. Com o público há bons e maus dias. A ligação dá-se como o público quiser. Faço o meu trabalho e divirto-me, ninguém é obrigado a gostar e, se calhar, não tenho o talento suficiente para puxar pelas pessoas. Não sou daquelas pessoas que pedem uma festa…cada um sabe de si, e um concerto é um concerto. Viajar em trabalho é o máximo, não quero outra coisa. Ir atrás procurar pelo passado é sempre bom, mas depende daquilo quese vai à procura em termos musicais, das referências, e, se for de maneira íntegra e imparcial, não se corre o risco ridículo de descobrir a pólvora e não saber manter a distânciacrítica perante as coisas.

Uma reunião dos Tédio Boys não me parece que seja possível, até porque tenho novos projectos, um álbum novo que sai em Março. Tenho muitos álbuns em casa que aindanão ouvi. O que ouço passa por tudo, desde os anos 40 até agora, mas não tenho muito um espírito aberto. Não tenho nada contra as recentes reuniões de ban-das, se lhes dá prazer, dinheiro… Cada um sabe de si. A música representa o mais importante da minha vida, é aquilo que mais quero fazere é para o que trabalho todos os dias. A minha vida é a música.

IT’S ONLY ROCK ‘N’ ROLL

Entrevista por João Afonso Ribeiro e Sara Rufo

KALÓ • 33 ANOS • VOCALISTA DOS BUNNYRANCH

SOLTAS9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 17

D.R.

cá estamos nós. Che-gámos a Dezembro etemos um novo presi-dente na Academia.

Confesso que pensei fazer umasérie de observações pertinentes(como é meu apanágio) sobre oseu apelido e a respectiva utili-

dade numa quadra que envolvepinheiros, mas infelizmente vaiter que ficar para outro dia. Vol-temos ao que realmente interessa:Dezembro. Pessoalmente, quandoolho para um calendário e vejo omês de Dezembro fico especial-mente animado. Não consigo dei-xar de pensar no Natal e em comovai ser divertido o dia 25. Tudocomeça logo no primeiro dia domês ao erguer a bela e reluzenteárvore de Natal comprada por 20euros no Jumbo. Tradição bonita,hein? Ainda seria mais bonita sea minha instalação eléctrica nãoligasse a música das luzes da ár-vore sempre que acendo a luz dacozinha. As escapadelas durantea noite para comer “qualquercoisa” (e por “qualquer coisa” en-tenda-se mesmo qualquer coisaque esteja dentro do frigorifico ouno perímetro circundante – ani-mais de estimação incluídos)ficam adiadas até Janeiro. Istoclaro, se não quiser que toda agente acorde sobressaltada a pen-sar que entrámos em guerra coma Lapónia.

À medida que o mês avança, obichinho do Natal vai ficandocada vez maior. A contagem co-meça no dia 20. Por essa alturacomeço a pensar: “Boa, faltam 5dias para o Natal”. Depois 4… De-pois 3… Depois 2… Depois 1… e …Chegou o Natal. E para quê? Parapassá-lo a ver o Sozinho em Casaou o Amor Acontece na TVI e acomer o bolo-rei que comprei há

15 dias atrás (e que começava aganhar uma peculiar textura ave-ludada no topo). Quando dou pormim já estou no dia 26 e o grandepresente de Natal, pelo qual espe-rei impacientemente nos últimosmeses, está enfiado na gaveta damesinha de cabeceira. Que frus-trante que é o dia 26 de Dezem-bro! Nesse dia sinto-me sempre acriatura viva vertebrada mais inú-til à face do globo. O suposto diamais especial do ano já só voltadaí a 364 (ou 365) dias e desper-dicei-o a comer e a ver televisão.Dali para frente tenho uns examespara fazer e uma porcaria de umaárvore de Natal para desfazer. Su-bitamente a ideia de enfeitar umpinheiro com bolas e luzes deixoude parecer tão inteligente. Mas deonde veio aquilo afinal? Quem éque teve a ideia de arrancar umpinheiro, enfeitá-lo com luzes quepiscam, colocá-lo no meio da sala,e comemorar o nascimento deCristo com aquilo? Parece umacoisa que um estudante faria de-pois de uma noite de Queima. Nodia seguinte acorda, tem as meiaspenduradas na chaminé e um pi-nheiro cheio de luzes no meio dasala (que estranhamente não selembra como foi ali parar). Valha-nos ao menos a passagem de ano.

TEM DIAS...

É NATAL, É NATAL, LÁ LÁ LÁ LÁ LÁ

Por Licenciado Arsénio Coelho

CARICATURA POR GISELA FRANCISCO E ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES

E

Todas as crónicas em

arseniocoelho.blogs.sapo.pt

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OPINIÃO18 | a cabra | 9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira

Não basta gostar e cuidar doseu amigo de quatro patas. Etodos os outros? Nem todo o ci-dadão gosta e cuida e tem umamigo. Nada fazer é ser coniventecom o cenário de total anarquia einjustiça na forma como Portugallida com os seus animais. Talvezo nosso Mundo esteja mesmo aocontrário.

Num país que se preocupa coma imagem, que tem um leque cadavez maior de subsídios à discri-ção, que fala em “choque tecnoló-gico”, também se deixa impune ocaçador que enjeita o cão que “jánão serve para a caça”(- diz ele);se considera normal o enorme nú-mero de abandonos a cada Verão,se encolhe o ombro perante situa-ções de maus tratos aos animais, eque, e que e que….

Este é o país da “não-incrição”,onde “nada acontece”, é o “jardimà beira mar plantado”, tudo tãocor-de-rosa, mas afinal é tambémaquele em que a cada semanaficam a agonizar até à morte mi-lhares de animais nos passeios,nos jardins, nas faixas das estra-das, ou junto ao lixo, como se fos-sem tal, atropelados, maltratados…

Estes hábitos hediondos pare-cem vir há muito e conservarem-se nas características de um certo“portuguesismo”. E com isto As-sociações como a AGIR travamdia a dia uma luta herculeana,uma corrida contra o temponuma passadeira rolante.

Viramos então o Mundo ao con-trário e sou eu que estou presa àcorrente num canto do terraçodos meus donos, como sempre omesmo e levo uma festa dequando em vez e porrada porqualquer coisa que ele ache incor-recto. Sou um bibelô? Ou terei co-metido algum crime? Serás tuaquela que vagueia à beira da es-trada, ao frio e à fome, de barriga

a arrastar no chão, na iminênciade uma morte horrível. “Porquê?”– pensas. “Socorro”- pensas. Erastão linda pequenina e depois cres-ceste e engravidaste, por descuidodos teus donos e passaste a estar amais. E ele, é aquele que está noCanil Municipal, depois de muitosofrimento pelas ruas, fica cho-rando toda a noite e encolhido,assustado, contra as paredes friasda cela, todo o dia, nunca sabendose amanhã continua vivo. É as-sustador pormo-nos na peledeles, não é?

A História acredita que oMundo muda a cada geração.Cabe à nossa fazer tanta coisa….Cabe à nossa o empenho, a ur-gência de mudar estes hábitos, defomentar o respeito pelos ani-mais, que nos são tão gratos, tãoamigos. Talvez criar uma Cartados Deveres do Cidadão perante oAnimal, uma vez que os últimosnão têm forma de reivindicar osseus direitos, independentementede haver Leis ou não, de se cum-prirem ou não. Eles apenas que-rem viver, não querem o mal deninguém. Porquê fazer-lhes mal?Não basta estarem leis escritas nopapel, é necessário a sua eficiên-cia e activismo.

E se somos nós o futuro desteplaneta, devíamos investir entãonão só no presente, mas já no fu-turo e implementar a conscien-cialização animal e ambiental naeducação, tanto na escola, comono seio da família. Pois é aqui quese semeia o bem ou o mal, é umaquestão de opção!

“A grandeza de uma nação e oseu progresso moral podem sermedidos pela forma como tratamos seus animais”(Mahatma Ghandy).

* Voluntária da AGIR (Asso-ciação Agir pelos Animais)

Cartas ao directorpodem ser

enviadas para

[email protected]

“SE GOSTO DE TI

SE GOSTAS DE MIM

SE ISSO NÃO CHEGA

TENS O MUNDO AO CONTRÁRIO….”

Inês Serra *

A História acreditaque o Mundo muda acada geração.Cabe à nossa fazertanta coisa...

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ANA COELHO

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OPINIÃO9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira | a cabra | 19

Secção de Jornalismo,Associação Académica de Coimbra,Rua Padre António Vieira,3000 - CoimbraTel. 239821554 Fax. 239821554e-mail: [email protected]

EDITORIAL

As eleições são um dos elemen-tos-base de um regime democrá-tico, mas só assim podem serapelidadas se respeitarem a igual-dade e se forem impedidos os abu-sos de poder, as discriminações e asexclusões. Se estas condições nãosão aceites nem conseguidas, aseleições tornam-se uma fraude, umgrave atentado à democracia e uminstrumento de monopolização dopoder, deixando de ser legítimo. Oque vemos na nossa Academia éuma democracia pobre, cada vezmais esvaziada de princípios e va-lores democráticos, cada vez maisfaz-de-conta, na qual a participaçãose resume ao acto de votar em datacerta em eleições de democratici-dade cada vez mais duvidosa. Aseleições a que temos assistido sãodisso exemplo – constituem umavergonha, uma burla e um desres-peito que causa a degradação da de-mocracia dentro da nossaacademia, pelos corruptos, carrei-ristas e oportunistas. Tudo isto temsido por demais evidente. Recor-rem à nossa casa e aos cargos pos-tos ao nosso serviço (seja paranúcleos de estudantes, órgãos degestão da universidade, assem-bleias de revisão de estatutos,DG/AAC, etc) por mera ambiçãopessoal, por sede de poder, de famae de popularidade. São abutres nasua caça ao voto, visíveis nos largossorrisos, que apenas surgem em al-tura de campanha, nos telefonemasdesesperados a implorar o voto, nocacique desmesurado e sem fron-teiras até ao limite último da urna.Cabe-nos a nós, estudantes cons-cientes que acreditam numa mu-dança de mentalidades,unirmo-nos e saber reconhecerquem realmente nos oferece ideias,quem luta por causas justas, quemse candidata não para vencer de-sesperadamente e ter assim asse-gurado um futuro políticoegocêntrico, mas quem trabalhapara passar uma mensagem dife-rente, de uma mentalidade maisjusta, honesta e coerente, traba-lhando para o futuro de uma uni-versidade melhor.

Pagamos quase 1000 euros depropinas, o preço e o tempo de es-pera das cantinas aumentou e a suaqualidade não melhorou, as bolsaschegam de forma tardia, há estu-dantes a viver em péssimas condi-

ções e a ter aulas em departamen-tos em que o tecto cai ou em quenão têm lugar para se sentar. Há es-tudantes em risco de prescrever emuitos de nós faltam às aulas paratrabalhar para pagar as propinas. Atudo isto junta-se a imposição doProcesso de Bolonha e a redução donúmero de estudantes presentesnos órgãos de gestão das universi-dades e faculdades, entre outrasconsequências do RJIES.

Perante tudo isto, as últimasDG's/AAC representam o vazio e ainércia. Enclausuram-se sobre simesmas nos gabinetes, fogem dosestudantes que os elegem, negamos problemas reais, escondem-sedas magnas que abandonamquando perdem votações. Sendoalérgicas à democracia, facilmenteobservamos que têm um défice departicipação interna: são constituí-das por páginas e páginas de rostoscuja única função é o “Pelouro doFlyer”. Estes “Flyers-for-the-boys”,alguns até sem ideias ou ideais, sãoentão ocos, porque chegadas asMagnas ou, mais genericamente, aépoca de trabalho, apresentam-nospoucos rostos e nenhuma força.Assim, a maior parte dos consti-tuintes das mais recentes DG’s nãocontribuem para a discussão e cria-ção de projectos, para a defesa dosestudantes, para que possamosacreditar numa efectiva participa-ção, para que possamos sentir umaverdadeira democracia.

As últimas DG's/AAC reflectem-nos o fim e a decomposição. Nãonos digam que não há causas mobi-lizadoras. Larguem esse egocen-trismo, essa ataraxia, essa falta devontade e de interesse em Lutar.Não nos digam que nós não o que-remos.

Somos 20 mil estudantes nestaUniversidade! Somos 20 mil forças,20 mil vontades e 20 mil causaspara nos unirmos! Somos 20 milque não adormecem! VINTE MIL!!Juntemo-nos, 20 mil vozes nãopodem nunca ser caladas! Seremos20 mil em uníssono, por um ensinosuperior Público, Gratuito e deQualidade! Seremos uma academiaunida! Não somos fortes se destavez não nos levantarmos do chão,se não nos erguermos contra todosestes ataques!

* estudantes de Engenharia Civil

pós uma primeiravolta concorrida, quese pautou por umasérie de quezílias

entre listas, num desfecho jáprevisível, visto os meios quemobilizavam, a lista A e a lista Epassaram à segunda volta daseleições para os corpos gerentesda Associação Académica deCoimbra. Sem diferenças pro-gramáticas de fundo, as assime-trias desenharam-se noessencial pelas caras que se fa-ziam representar e pelo diversomaterial propagandístico. Comoreforço de campanha comple-mentou-se o material informa-

tivo (e menos informativo). Ecom uma pequena margem ven-ceu a lista A, margem tão pe-quena que obrigou a aberturados envelopes de voto.

Contudo, não podemos es-quecer a figura já crónica deeleições para a direcção-geral. Eele esteve sempre lá, quer fi-zesse sol ou chuva, desde a aber-tura até ao encerramento dasurnas e nem a hora do almoço opoupou. Contra qualquer adver-sidade, ética ou legalidade, elerepetiu até à exaustão a sua mí-tica frase “Oh colega, já vo-taste?”. Falo do cacique, docolega sempre pronto a infor-mar que tem um projecto, e queo seu projecto tem ideias, e istotudo, durante os dias em quedecorre o plebiscito.

E embora alguns admitam ocacique como “uma situaçãocultural” intrínseca a Coimbra eà associação académica. Em-bora o cacique faça já parte deum qualquer compêndio de umjovem integrado nas lides do di-

rigismo associativismo, de talforma que alguns arautos co-nhecedores dessa razão discor-rem já sobre uma suposta éticado cacique. Embora o cacique setenha desenvolvido a níveis deprofissionalização tal que se en-gendrem tácticas pelos mesmos“profissionais” que preferemvotar no último momento, aídescansados por terem cum-prido o seu papel. Embora o ca-cique se tenha apoderado dasnovas tecnologias e viaje entretelemóveis e caixas de e-mail àvelocidade da luz. A verdade éque o cacique é coacção ao voto,e a coacção ao voto é, antes de

tudo, crime.É suposto a campanha ser o

espaço de discussão de projec-tos, de apresentação de ideias ede divulgação das listas. Se nãotem essa capacidade, então nãoé mais esclarecidos que os estu-dantes vão votar numa ou nou-tra lista. Não é em menos dedois minutos e com uma pessoapelo braço, ou com uma palma-dinha nas costas, que se explicaum projecto ou que se debatemideias.

E no meio disto, a ComissãoEleitoral deve ter um papel pre-ponderante no combate a estaprática. Não pode deambularpelos locais de voto desviando oolhar, a assobiar para o lado, oumesmo a participar na galhofada caça ao voto. É crucial quecumpra a sua função, afinal decontas, não se tratam aqui deeleições menores, por muito quealguns as entendam como o en-saio para umas “eleições maio-res”.

João Miranda

A

A verdade é que o cacique écoacção ao voto, e a coacção aovoto é, antes de tudo, crime.

A ÉTICA DO CACIQUE

“SOMOS 20 MIL ESTUDANTES

NESTA UNIVERSIDADE!”

Henrique Paranhos e Pedro Lourenço *

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759Director João Miranda Editor-Executivo Pedro Crisóstomo Editora-Executiva Multimédia: Vanessa Quitério Editores: AnaCoelho (Fotografia), Cláudia Teixeira (Ensino Superior), Sara Oliveira (Cultura), Catarina Domingos (Desporto), Marta Pedro (Cidade),Rui Miguel Pereira (País & Mundo), Diana Craveiro (Ciência & Tecnologia) Secretária de Redacção Sónia Fernandes Paginação PedroCrisóstomo, Sónia Fernandes, Tatiana Simões Redacção Adelaide Batista, André Ferreira, Andreia Silva, Carolina de Sá, Eunice Oliveira,Filipa Faria, João Picanço, João Ribeiro, Patrícia Gonçalves, Patrícia Neves, Pedro Nunes, Tiago Carvalho, Vanessa Soares FotografiaAndré Ferreira, Caroline Mitchell, Daniel Tiago, João Ribeiro, Patrícia Gonçalves, Pedro Coelho Ilustração Gisela Francisco, MarcoMoura, Rafael Antunes, Tatiana Simões Colaboradores permanentes Ana Val-do-Rio, Carla Santos, Carlo Patrão, Cláudia Morais,Dário Ribeiro, Emanuel Botelho, Fernando Oliveira, François Fernandes, Inês Rodrigues, José Afonso Biscaia, Milene Santos, PedroNunes, Sofia Piçarra, Rafael Fernandes, Rui Craveirinha Colaboraram nesta edição Ana Sofia Costa, Daniela Ferreira, FredericoFernandes, João Afonso Ribeiro, Luís Simões, Sara São Miguel, Sara Rufo, Tiago Teixeira, Vasco Batista Publicidade Sónia Fernandes- 239821554; 914926850 Impressão FIG - Fotocomposição e Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail:[email protected] Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associ-ação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Serviços de Acção Social da Universidade deCoimbra

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acabra.netRedacção:Secção de JornalismoAssociação Académica de CoimbraRua Padre António Vieira3000 CoimbraTelf: 239 82 15 54

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Concepção e Produção:Secção de Jornalismo da Associ-ação Académica de Coimbra

Mais informação disponível em

Os estudantes da Universidade Au-tónoma de Barcelona tiveram umaousadia digna de registo. As constan-tes rebelias que em Portugal apenasse ficam por panfletos, faixas e poucomais, em Espanha impulsionam mas-sas não conformadas que ocupam fa-culdades e que não arredam pé atéverem os seus problemas (deles e detodos nós) resolvidos. Perante isto, oque falta aos estudantes que estão noocidente da Península Ibérica?

S.O.

Teixeira dos Santos

Estudantesem Espanha Inov.UC

Após dois trimestres positivos, queresultaram na descida do IVA, e oanunciado controlo das contas públi-cas, o ministro viu o pior guardadopara o fim. Fortemente criticado, oOrçamento de Estado para o próximoano parece cada vez mais “irrealista”.A crise económica veio complicar,ainda mais, a vida a Teixeira dos San-tos, que foi recentemente eleito peloFinancial Times como o pior ministrodas Finanças da Europa.

R.M.P.

Os sete séculos que a UC carregatransformaram a história num pre-sente diferente porque “nem só depão vive o Homem”. O evento fez“sair do Páteo” muitas mentes e abriuas portas do imaginário de muitos.Numa tarde alternativa e dinâmica, oempreendedorismo, a inovação e oconhecimento estiveram de mãosdadas, na sexta-feira passada, numadas poucas vezes em que os quatrolados da universidade não existiram.

S.O.

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Cabelo comprido e forte, osdedos grossos. A expressão facialé enigmática. A insatisfação demulher perdida, talvez - esva-ziando-lhe o rosto e prolongando-se na sombra, a mesma que lheendurece o olhar. Uma pessoa,quatro cabeças. Quatro mulherese a mesma cena escarlate e dou-rada de mistério e criatividade.

É o princípio e o presente queLuzia Lage transporta para umamescla de obras sugestivas, ondevai à procura da procura doHomem, aqui representado nomesmo rosto feminino. De prin-cesa, talvez, e a cara triangular, li-geiramente adormecida, às vezesescarlate em meia face grácil. Sãomulheres frágeis e paradoxal-mente imponentes no semblanteaquelas que a autora veste em for-mas soltas e desproporcionadas.A profundidade da leitura con-trasta com a repulsa que assaltaem cada canto.

A pintura é larga no traço preto,

tanto quanto o é em drama e mis-tério. “Discutem-se as derradeirasalterações, o apuramento daforma, da cor, do sentido”, escrevea autora sobre as obras em mos-tra.

As figuras são tão iguais no pen-samento quanto no conflito inte-rior. E o comprimento daspersonagens habita o esforço –por cumprir – que as faz ficar es-táticas e altivas no sono perma-nente. É sonho (não banal) querompemos quando olhamos “AsCastas I”. Um título sugestivoquando um outro quadro que ocontinua, “As Castas II”, entroncacom maior agressividade e re-pulsa.

Luzia Lage expõe conjunta-mente com “As Casta I” mais 29obras, numa mostra a que cha-mou “Do Princípio ao Presente” eque se está patente no EdifícioChiado, em Coimbra, até 17 de Ja-neiro.

Por Pedro Crisóstomo

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As Castas I • Luzia Lage

Acrílico/madeira • 2007

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