20
ANO XVII Nº 172 TERÇA-FEIRA | 6 DE NOVEMBRO, 2007 ELEIÇÕES PARA A DG/AAC JÁ MEXEM ACADEMIA Até ao momento, três projectos perfi- lam–se para a corrida à Direcção–Geral da Associação Académica de Coimbra. André Oliveira é, por enquanto, o único rosto conhecido que se candidata a presi- dente. Projecto U e Frente de Acção Estu- dantil asseguram avançar para a corrida mas ainda não têm nomes para nenhum cargo. Todos os projectos garantem ser independentes e não ter qualquer tipo de apoio partidário. As eleições estão marcadas para 27 e 28 de Novembro e o início da campanha para 20. ✸❜❞❨❙◗❝✏➴✏❴❜❲◗❫❨❥◗❒➮❴✏ ❚◗✏❁◗❞◗❚◗ No rescaldo da Festa das Latas surgi- ram acusações contra os organizadores do evento. O vice–presidente da Secção de Fado da AAC diz que a organização não disponibilizou as devidas condições aos grupos da casa e tratou com “despre- zo” alguns seccionistas. Nuno Ribeiro acusa ainda a Direcção Geral da AAC de fazer ameaças com cortes de verbas para a secção. O grupo autónomo “Imperial Tertúlia In Vino Veritas” também está descontente e elaborou uma queixa no Conselho Fiscal contra a organização da festa. ENS.SUPERIOR| Pág.6 ❅❜❯❙◗❜❨❯❚◗❚❯✏❫◗ ❨❫❢❯❝❞❨❲◗❒➮❴✏❙❨❯❫❞❱❨❙◗ As bebidas alcoólicas são cada vez mais o grande atractivo das festas académicas. Só para a Festa das Latas deste ano foram vendidos 55 mil litros de cerveja. Na ressaca da maior recepção ao caloiro do País, A CABRA fa- lou com especialistas sobre os hábitos de consumo de álcool na comunidade estudantil. Os peritos alertam para um aumento do risco de dependência. Por outro lado as próprias indústrias di- reccionam várias campanhas publicitárias para os estudantes universitários. ❃❴✏❞❜❨❭❳❴✏❚❴❝✏❲❰❫❨❴❝✏❚◗✏❊✸ Na Universidade de Coimbra há alunos que terminam as suas licenciaturas com classificações de excelência. Quando as médias se situam nos 18 valores, as opções são várias. A CABRA foi conhecer as oportunidades que se abrem para aqueles que iniciam o caminho com um lugar conquistado entre os melhores. TEMA | Págs.10 e 11 O actual presidente, Paulo Fernandes, garante que não se recandidata TOCA A ASSOBIAR: “Dó-dó-si-lá-ré, ré-dó-dó- si-lá-dó” ARTES Pág.17|FEITAS QUINZENAL GRATUITO Director: Helder Almeida D.R. FMI:A QUEDA DO GIGANTE? INTERNACIONAL| Pág. 9 Atrasos no pagamento das verbas, regi- me de exclusividade, falta de actualização das quantias de financiamento, vários são os problemas que atravessam os bolseiros de investigação científica. Subsi- diários reivindicam novo es- tatuto com mais garan- tias e condições la- borais. CIÊNCIA| Pág.12 O álcool na vida académica DESTAQUE | Págs.2 e 3 ENS.SUPERIOR| Pág.6

A CABRA – 172 – 06.11.2007

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Versão integral da edição n.º 172 do jornal universitário de Coimbra “A Cabra”. Quinzenário. Portugal, 06.11.2007. Para consultar o jornal na web, visite http://www.acabra.net/ e-mail: [email protected] Não se esqueça de que pode ver o documento em ecrã inteiro, bastando para tal clicar na opção “full” que se encontra no canto inferior direito do ecrã onde visualiza os slides. Também pode descarregar o documento original. Deve clicar em “Download file”. É necessário que se registe primeiro no slideshare. O registo é gratuito. Para além de poderem ser úteis para o público em geral, estes documentos destinam-se a apoio dos alunos que frequentam as unidades curriculares de “Arte e Técnicas de Titular”, “Laboratório de Imprensa I” e “Laboratório de Imprensa II”, leccionadas por Dinis Manuel Alves no Instituto Superior Miguel Torga (www.ismt.pt). Para saber mais sobre a arte e as técnicas de titular na imprensa, assim como sobre a “Intertextualidade”, visite http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm (necessita de ter instalado o Java Runtime Environment), e www.youtube.com/discover747 Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

Citation preview

Page 1: A CABRA – 172 – 06.11.2007

ANO XVII

Nº 172 TERÇA-FEIRA | 6 DE NOVEMBRO, 2007

ELEIÇÕES PARA A DG/AACJÁ MEXEM ACADEMIA

Até ao momento, três projectos perfi-lam–se para a corrida à Direcção–Geralda Associação Académica de Coimbra.André Oliveira é, por enquanto, o únicorosto conhecido que se candidata a presi-

dente. Projecto U e Frente de Acção Estu-dantil asseguram avançar para a corridamas ainda não têm nomes para nenhumcargo. Todos os projectos garantem serindependentes e não ter qualquer tipo de

apoio partidário.As eleições estão marcadas para 27 e

28 de Novembro e o início da campanhapara 20.

�������������������������� ��������������������������������

No rescaldo da Festa das Latas surgi-ram acusações contra os organizadoresdo evento. O vice–presidente da Secçãode Fado da AAC diz que a organizaçãonão disponibilizou as devidas condiçõesaos grupos da casa e tratou com “despre-zo” alguns seccionistas. Nuno Ribeiroacusa ainda a Direcção Geral da AAC defazer ameaças com cortes de verbas paraa secção. O grupo autónomo “ImperialTertúlia In Vino Veritas” também estádescontente e elaborou uma queixa noConselho Fiscal contra a organização dafesta.

ENS.SUPERIOR| Pág.6

�������������������������� ���� �������������������������� ������������

As bebidas alcoólicas são cada vez mais o grande atractivo dasfestas académicas. Só para a Festa das Latas deste ano foramvendidos 55 mil litros de cerveja.

Na ressaca da maior recepção ao caloiro do País, A CABRA fa-lou com especialistas sobre os hábitos de consumo de álcool na

comunidade estudantil. Os peritos alertam para um aumento dorisco de dependência. Por outro lado as próprias indústrias di-reccionam várias campanhas publicitárias para os estudantesuniversitários.

������������������������������ ����������������

Na Universidade de Coimbra há alunosque terminam as suas licenciaturas comclassificações de excelência. Quando asmédias se situam nos 18 valores, asopções são várias. A CABRA foi conheceras oportunidades que se abrem paraaqueles que iniciam o caminho com umlugar conquistado entre os melhores.

TEMA | Págs.10 e 11

O actual presidente, Paulo Fernandes, garante que não se recandidata

TOCA A ASSOBIAR:

“Dó-dó-si-lá-ré,ré-dó-dó-si-lá-dó”

ARTES Pág.17|FEITAS

QUINZENAL GRATUITODirector: Helder Almeida

D.R.

FMI:AQUEDA DOGIGANTE?

INTERNACIONAL| Pág. 9

Atrasos no pagamento das verbas, regi-me de exclusividade, falta de actualizaçãodas quantias de financiamento, vários sãoos problemas que atravessam os bolseirosde investigação científica. Subsi-diários reivindicam novo es-tatuto com mais garan-tias e condições la-borais.

CIÊNCIA| Pág.12

O álcool na vida académica

DESTAQUE | Págs.2 e 3

ENS.SUPERIOR| Pág.6

Page 2: A CABRA – 172 – 06.11.2007

hegou ao fim mais uma Festadas Latas. Uma celebração dosestudantes que tem como pon-tos altos o cortejo e as noites do

parque. Ambos têm um atractivo comum:o álcool. Os caloiros bebem como formade integração, parte da população deCoimbra vê a Latada como um expoen-te de boémia e os comerciantes ten-tam fazer negócio com a sede dosestudantes. Tudo gira à volta da be-bida. O consumo de álcool é justificadoporque “se queres ser cá da malta tensque beber esse copo até ao fim”, comotantas vezes se ouve durante o ano, e emespecial, nestes dias festivos.

A tradição manda que a primeira noitedas latas comece num qualquer restau-rante da cidade, no típico jantar de curso.Para trás ficam as garrafas vazias e inicia-–se a peregrinação até ao local da Serena-ta. Ao som das guitarradas o álcool já fazefeito e dá coragem a alguns para chorar.A noite prossegue, uns decibéis mais aci-ma, nos diversos convívios ao dispor dosestudantes.

Sete noites, milhares de litros de cerve-ja consumidos, visitas involuntárias àtenda da Cruz Vermelha e barracas dosnúcleos a abarrotar são alguns dos ingre-dientes das noites do parque. O consumode álcool em excesso é uma constante norecinto. Os incentivos não faltam nos bal-cões da cerveja, desde os habituais“packs” até à oferta de um ingresso paraum jogo de futebol. “2 ‘packs’ = bilheteAcadémica – E. Amadora” podia ver–seem todos os postos de venda de senhas.

Uma passagem sóbria pelo parque tam-bém traz vantagens: “10 batidos = 1 t-–shirt”. Perdida entre o “Pão com Chouri-ço” e a “Tachadinha”, o quiosque do “Des-cobre Outros Prazeres” é o único local on-de se promove bebidas não alcoólicas.

Os concertos são outro dos motores pa-

ra o consumo excessivo. Em frente dopalco a assistência dança de copo na mãoe não é raro o artista que canta com o co-po ao lado. Ou com o garrafão, comoacontece no concerto de Leonel Nunes,

que afina as cordas vocais comuma “boa pinga”. No fim

da música do palco princi-pal, segue–se a romaria

às tendas dos dj’s on-de os núcleos fa-

zem negóciocom a

v e n -da debebidasbrancas.

Todos os ex-cessos têm assuas consequências.No parque encontra-mos zonas que servemde casa de banho impro-visada, denunciadas peloforte odor que se faz sentira poucos metros. O cheiro aurina é agravado pelo aromados vómitos, característicos dequem já atingiu o limite.

No final de cada noite, com o esva-ziar do recinto, vão ficando visíveis mi-lhares de copos de plástico que serviramde recipiente à cerveja consumida. São aúltima marca dos abusos cometidos pelosparticipantes da festa.

Da Alta até ao Mondego,de copo na mãoO ponto alto da Festa das Latas, o cor-

tejo, encheu mais uma vez a cidade decor, ruído, lixo, “doutores” e caloiros ves-tidos a rigor. Uma alegre confusão reinanas ruas que acolhem este desfile. O trân-sito é cortado, à excepção das ambulân-cias que socorrem os participantes que

perderam o controlo e viram a festa ter-minar mais cedo. O calor, causado peloálcool, é combatido através dos banhosnas fontes que existem ao longo do per-curso. Enquanto que os mais corajososterminam o cortejo com um mergulhonas águas do Mondego.

Os próprios cânticos entoados pelos ca-loiros têm muitas vezes referências ao al-coolismo. Beber muito, ou mais do quenoutros cursos, é um factor de regozijo.“Ah g’anda caloiro, já viste como ele be-be” ou “o meu caloiro é o melhor, bebemais do que o teu” são frases que expri-mem o orgulho dos “doutores” na capaci-

dade de ingestão alcoólica dosseus caloiros.

Os episódios carica-tos provocados pe-

lo consumo deálcool são

f r e q u e n -tes.

“OhMarlenenão te apa-gues”, esganiçauma estudante en-quanto esbofeteia acolega que cai inanimadajunto à ponte Santa Clara.

Uns metros atrás uma equipa deenfermagem faz testes de álcool aos estu-dantes. O objectivo é desenvolver um es-tudo, mas os testados subvertem o “sopro

no balão” a uma espécie de concurso paraver quem tem a maior taxa de alcoolémia.Sem se perceber muito bem quais as pon-tuações do “ranking” a brincadeira acabacom os ânimos exaltados entre os partici-pantes.

Termina o cortejo e um tapete de álcoolderramado cobre todo o percurso. Valemos serviços de limpeza camarária que“apagam” os vestígios da euforia estudan-til.

Depois da festaO estado de embriaguez é, para alguns

estudantes, uma constante ao longo detoda a Festa das Latas. Como quase nãoexistem tempos de descanso, durante es-tes dias, tudo acaba por se condensar nu-ma grande ressaca final.

Para trás ficam várias histórias: umasvão ser narradas com orgulho, outras pa-ra esquecer e ainda outras que o álcoolnão deixa lembrar mas que são contadaspelos amigos.

A boa disposição e a leveza, com que seencara esta semana de festa, mostram

que os estudantes encaram os abusoscom normalidade. No entanto, os

especialistas consideram que osexcessos revelam indícios de

comportamentos alcoóli-cos.

Relativamente aoconsumo de cerveja no

recinto, o concessionáriodas bebidas, InTocha, recusou

fornecer os dados. O responsá-vel, Daniel Rocha, alega que, por ra-

zões de política empresarial, nãodesvendaa os níveis de consumo. Por suavez, Basílio Dinis, assessor da SociedadeCentral de Cervejas, da qual faz parte a“Sagres”, revela que foram vendidos 55mil litros de cerveja à concessionária daFesta das Latas.

22 A CABRA DDEESSTTAAQQUUEE 3ª feira, 6 de Novembro de 2007

������������������������������������ �� ��Os estudantes e o Álcool

O álcool é cada vez mais uma imagem de marca das festas académicas em Coimbra. Participar na Latada não é apenas sinónimode tradição mas também uma oportunidade para beber até ao limite, ou para além dele…

Por Rui Antunes, Ana Bela Ferreira e João Picanço

C

FO

TO

S PO

R F

ÁB

IO T

EIX

EIR

A

Page 3: A CABRA – 172 – 06.11.2007

Os estudantes que seembriagam consecutivamentenas festas académicas correm

um perigo maior dedependência, afirmam

especialistas

Helder AlmeidaJoão Miranda

Durante as festas académicas como a La-tada e a Queima das Fitas, muitos são os es-tudantes que aproveitam o tempo de come-moração para abusar no consumo de ál-cool. Quais são as consequências a que estásujeito um estudante que se embriague to-dos os dias durante a festa? Será que corremais riscos em vir a tornar–se um potencialalcoólico?

Irma Brito é categórica: “o risco das pes-soas virem a tornar–se dependentes do ál-cool é mais elevado”. A docente da EscolaSuperior de Enfermagem de Coimbra ecoordenadora do projecto “Antes Que TeQueimes” (programa de prevenção e de es-tudo do alcoolismo nos estudantes do ensi-no superior) afirma que esta é “uma ques-tão de saúde pública, pela elevada quanti-dade que se bebe”.

Da mesma forma, Lídia Cabral, docenteda Escola Superior de Saúde de Viseu e au-tora do estudo “Alcoolismo Juvenil” nãoduvida que “um estudante que se embria-gue todas as noites [numa Latada ou Quei-ma] tem fortes probabilidades de se vir atornar um doente alcoólico”.

O psicólogo clínico Tiago Lopes não é,porém, tão peremptório a encontrar umarelação directa entre o abuso do álcool nasfestividades e a dependência. “Se quem be-be apenas o faz na altura das festas é umbocado difícil dizer que essa acção seja umfactor de risco”, afirma. “Uma embriagueznão faz a dependência. Mas se numa sema-na houver sete embriaguezes talvez haja

uma certa tendência para o vício”, acres-centa.

“Estudos não combinamcom bebida”

Actualmente, é comum encontrar nos jo-vens dois padrões de consumo: o “bingedrinking” e o consumo de fim–de–se-mana. O praticante de “bingedrinking” bebe rapidamentepara ficar bêbado. “São jo-vens que habitualmentenão bebem à refeição.Mas nas festas, be-bem para ficaremembriagados omais rápido possí-vel, tomandograndes quanti-dades de álcool,espec ia lmentebebidas brancas”,explica Irma Bri-to.

O consumo defim–de–semana ca-racteriza–se pela ingestão debebidas à sexta–feira e ao sábado.“Para estes jovens, o objectivo éficar totalmente embriagados. Odomingo é reservado para curara bebedeira para na segundapoderem ir estudar”, exempli-fica a docente da Escola Supe-rior de Enfermagem de Coim-bra. Estes padrões são cadavez mais detectados nos es-tudantes do ensino superior.

As consequências de uma bebedeira sãopor vezes subestimadas. “Estudos não com-binam com bebida. Um estudante que con-some acha que no dia seguinte estará bem.Está enganado. O cérebro leva mais de umasemana para se recuperar do efeito do ál-cool”, refere Lídia Cabral no seu estudo so-bre alcoolismo juvenil. Irma Brito reconhe-

ce que “existem alguns casos de estudantesalcoólicos que estão a ser tratados”.

Há escalas que ajudam os técnicos desaúde a avaliar rapidamente se a pessoa es-tá ou não viciada no álcool. “Quando um in-divíduo, durante um ano, teve pelo menos

um incidente social por causa da bebida,considera–se que essa pessoa tem proble-mas relacionados com o álcool”, explica adocente de Escola Superior de Enfermagemde Coimbra.

As consequências do consumo excessivode álcool podem ser graves. “As pessoasque estejam viciadas, se não beberem uma

certa quantidade pordia, não conseguemfuncionar física, psi-cológica e socialmen-te”, explica IrmaBrito.

6 de Novembro de 2007, 3ª feira DDEESSTTAAQQUUEE A CABRA 3

���������������������������������������� ��������������

Ofertas de pós–graduações emestrados, desafios a tunas epatrocínios de festas académi-cas são algumas das formas de

chegar ao público–alvo

João Miranda

O meio universitário é um pólo de apostada publicidade por parte das empresas debebidas alcoólicas.

Sérgio Gomes, gestor da marca Tagus, ad-mite que “já vem sendo hábito da Tagus es-tar associada a alguns eventos marcantespara os estudantes”.

Também Nuno Pinto Magalhães, assessorde administração da Sociedade Central deCervejas e Bebidas (empresa distribuidora

das marcas Sagres e Imperial) explica queos estudantes estão “no enfoque da empre-sa, como consumidores dos produtos”, masacrescenta que a empresa encontra no meioestudantil, “uma forma pedagógica detransmitir consciencialização para o consu-mo responsável de bebidas alcoólicas”.

As formas de investimento são várias.Sérgio Gomes refere o patrocínio da suamarca a “eventos académicos: queimas dasfitas e recepções ao caloiro”. Outras campa-nhas publicitárias são dirigidas especifica-mente para o meio académico como desa-fios a tunas ou concursos em que os prémiosatribuídos se referem à oferta de pós-gra-duações e mestrados.

Lídia Cabral, docente da Escola Superiorde Saúde de Viseu, denuncia que “os agen-

tes publicitários sabem que o melhor grupoetário para fazer chegar a publicidade são osjovens”.

“Se as próprias cervejeiras financiam asfestas, é evidente que querem que as pes-soas consumam bastante” acusa Irma Brito,docente da Escola Superior de Enfermagemde Coimbra. “Acabam por exercer algumapressão por via da publicidade para que seaumentem também os consumos”, acres-centa.

Por seu lado, Nuno Pinto Magalhães de-fende que as cervejeiras são muitas vezes in-justiçadas. Quando algo corre mal, “as cer-vejeiras ficam com o ónus do que negativoacontece, quando na maioria das situaçõesos problemas nem decorrem do consumo decerveja”. Com Helder Almeida

��������������������������������������Para avaliarem os vários estados de

embriaguez, os técnicos de saúde costu-mam utilizar uma escala a que chamamas “três fases animal”:

Papagaio – é a faseda desinibição, na quala pessoa se torna maisfaladora e excitada

Leão – a pessoa torna–se mais agres-siva, podendo agir, por ve-zes, com violência. A pas-sagem por esta fase tam-bém depende do tempe-ramento da pessoa quebebe: nem todos pas-sam por ela

Porco – é a fase da embria-guez completa, na qual apessoa já não temconsciência do quefaz, vomitando,perdendo os senti-dos, e podendo chegarao coma alcoólico

��������������������������������������������������������������������������������������������

Page 4: A CABRA – 172 – 06.11.2007

A Associação Académica de Coimbra (AAC) comemo-rou, no último sábado, 120 anos de existência. As celebra-ções, sob o lema Para além da Utopia, decorreram compompa e circunstância, esgotando a lotação do Teatro Aca-démico Gil Vicente (TAGV). Era um momento solene: a di-versa, irreverente e inovadoramente criativa Academia deCoimbra mostrava as suas múltiplas facetas num espectá-culo que, contando a História da AAC levava a palco osseus Organismos Autónomos e Secções.

Depois de um elegante buffet no Bar da Associaçãopor onde circulavam solícitos empregados de tabuleiro empunho oferecendo salgadinhos va-riados aos presentes, aqueles quepor protocolo ou simples amor à Ca-sa tinham decidido assistir à galaeram convidados a percorrer a bre-ve distância até ao TAGV por umapassadeira vermelha debruada a to-chas acesas.

O que o público que assistiuembevecido à Gala dos 120 Anos fi-cou sem saber foi que para este es-pectáculo tão brilhantemente con-cebido os intervenientes não foramtidos nem achados. A concepção e produção da comemora-ção foram entregues a uma empresa que decidiu o que sefazia e como e que o comunicou aos Organismos e Secçõesque se dispuseram a participar no evento, não sobrandoespaço (nem tempo já que o único ensaio foi na véspera)para críticas ou contributos. Resumidamente, a criativa einterventiva Academia de Coimbra fazia o que a empresadizia sem piar.

Os participantes no espectáculo, tendo nítidamentemais amor a esta Associação do que os responsáveis dosCorpos Gerentes pelas comemorações permitiram que oespectáculo decorresse dentro dos limites da normalidade,tentando que a AAC não saísse do seu 120º Aniversário en-xovalhada.

No entanto, o resultado foi (além de uma História malcontada) uma exibição que ficou muito aquém das poten-cialidades dos seus actores e, em muitos casos, não espe-lhando em nada o que é o trabalho diário das pessoas quecompõem estas partes da Academia que são, sem dúvida, oque nos faz sentir saudade quando a deixamos.

Por incrível que pareça, até a elaboração da publica-

ção que assinala os 120 Anos da AAC ficou por mãosalheias. Não questionando, naturalmente, o trabalho doautor do livro não posso deixar de me entristecer quandovejo que o livro dos 120 Anos é assinado por alguém alheioà Associação e não pela própria AAC.

Será que numa Academia tão criativa, unida e partici-pativa não se encontrava um único sócio capaz de elaborarsemelhante obra? Uma obra que realmente espelhasse,tanto quanto o pode fazer um livro, a diversidade e o po-tencial humano da AAC. Talvez desta forma os Organis-mos Autónomos citados no livro não tivessem tantas quei-

xas sobre os conteúdos intro-duzidos sobre eles e talvez nãohouvesse omissões. Quem ti-ver oportunidade de folhearesta edição (o preço afugenta-rá algumas pessoas) teráoportunidade de reparar quenão há sequer referência aoGrupo de Etnografia e Folclo-re da Academia de Coimbra(GEFAC), fundado em 1966,nas mais de 150 páginas do li-vro.

A grande pergunta é se teria sido tão difícil a AAC tertomado nas suas mãos a organização das comemoraçõesdo seu 120º Aniversário, reunindo o potencial criativo eexecutor do conjunto das Secções e Org, Autónomos que acaracterizam e lhe dão vida. Seria particularmente compli-cado encontrar um grupo de sócios que se dispusesse amostrar o que é, realmente,a Academia nas suas diversasfacetas desportivas e culturais? Precisa, a Academia, queuma empresa lhe venha dizer qual é a sua natureza e qualé o seu trabalho diário? Ou será que as comemorações do120º Aniversário apenas espelham o profundo desinteres-se dos Corpos Gerentes pelas actividades das Secções eOrg. Autónomos que inclusivamente já levou a que o edifí-cio fosse encerrado quando o CITAC apresentava um es-pectáculo?

Possivelmente é apenas a marca da passagem dostempos e a entrada declarada da AAC na sociedade de con-sumo: para quê fazer um espectáculo quando o podemoscomprar já feito? Não ficaremos, assim, um pouco Aquémda Utopia? (Cartas ao Director podem ser enviadas [email protected])

A CABRA ERROUNa última edição, nº 171, de 23 de Outubro, o artigo sobre a SOS Estudante da página 7 vinha erradamente assi-

nado com o nome de Filipa Craveiro. Filipa Craveiro foi fonte e não redactora do artigo.À visada e aos leitores, pedimos desculpa pelo lapso.

Carta ao Director

Secção de Jornalismo,Associação Académica de Coimbra,Rua Padre António Vieira,3000 - CoimbraTel. 239821554 Fax. 239821554e-mail: [email protected]

���������������������� ��A festa dos ilustres

A Festa das Latas é uma importante fonte dereceita para a Associação Académica de Coim-bra e para as suas secções. Uma boa organizaçãosó traz mais–valias para toda a casa, tanto emtermos económicos como em termos de visibili-dade.

Mas será que o lucro deve ser posto acimade tudo? Não continua a Latada a ser principal-mente uma festa de convívio entre os estudantese também uma festa das secções?

Tanto a Latada como a Queima, de festasacadémicas já têm muito pouco. A começar pe-los preços exagerados praticados pelas conces-sões e que reflectem apenas uma preocupação: olucro de quem explora o espaço.

Por outro lado, aqueles que podem fazer a di-ferença da festa, os próprios estudantes, são ca-da vez mais deixados para segundo plano.

Como se explica as críticas que foram lan-çadas pela Secção de Fado à organização da fes-ta das latas? Se não são os estudantes quem faza festa, quem é? A produtora? As concessões?Os VIP?

Falando em VIP, foi curioso ver o funcio-namento deste espaço (é de notar que a existên-cia desta área não foi um exclusivo desta Latada,tendo já existido noutras edições). Um bar aber-to, uma esplanada virada para o palco, divididacom vasos para a imprensa saber qual o lugar aocupar e não se misturar com os ilustres convi-dados da Academia. Um espaço com mais cadei-ras e mesas do que as que os media da casa ti-nham no contentor em que faziam a cobertura…

Há depois a questão das credenciais. Assecções são quase obrigadas a pedir a credencialque dá acesso ao recinto para efectuarem o seutrabalho como se de um favor se tratasse. E nãoesqueçamos que a acabra.net, a RUC e aTV/AAC, fazem a cobertura mediática do eventotodas as noites, enquanto outros, os VIP e os“amigos da Academia”, têm direito a um semfim de convites. Era bom que se repensasse estamaneira de fazer “a festa dos estudantes”.

A Latada traz ainda outra virtude: é nor-malmente aqui que a pré–campanha eleitoralpara a Direcção–Geral da AAC aquece e se ficama conhecer os primeiros candidatos. Neste caso,autocolantes e um enorme outdoor assinalavamo início da época da caça ao voto.

Helder Almeida

Editorial

*Ana Martins, Sócia da Associação Académica de Coimbra

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759Director Helder Almeida Chefe de Redacção Rui Antunes Editores: Cátia Monteiro (Fotografia), François Fernandes (Ensino Superior), Salvador Cerqueira (Cidade), RaquelCarvalho (Nacional), Rui Antunes (Internacional), João Miranda (Ciência), Patrícia Costa (Desporto), Martha Mendes (Cultura), Ângela Monteiro (Media), Carla Santos(Viagens) Secretária de Redacção Adelaide Baptista Paginação Rui Antunes, Salvador Cerqueira, Sofia Piçarra Redacção Ana Bela Ferreira, Ana Filipa Oliveira, AnaMargarida Gomes, Cláudia Teixeira, Eunice Oliveira, Filipa Faria, Joana Gante, Liliana Figueira, Marco Roque, Marta Costa, Pedro Crisóstomo, Sandra Camelo, Soraia ManuelRamos,Tânia Mateus, Wnurinham Silva Fotografia Carine Pimenta, Carolina Sá, Catarina Silva, Cláudia Teixeira, Fábio Teixeira, Filipa Faria, Liliana Lago Ilustração JoséMiguel Pereira, Rafael Antunes Colaboradores permanentes Andreia Ferreira, André Tejo, Cláudia Morais, Emanuel Botelho, Fernando Oliveira, Laura Cazaban, RafaelFernandes, Raphaël Jerónimo, Rui Craveirinha, Vitor André Mesquita Colaboraram nesta edição Alexandre Oliveira, Carine Anacleto, Carolina de Sá, Emanuela Gomes,Joana Gomes João Picanço, Pedro Martins, Rafael Pereira, Saimon Morais, Susana Ramos, Tiago Canoso, Vânia Silva Publicidade Sofia Piçarra - 239821554; 913009117Impressão CIC - CORAZE, Oliveira de Azeméis, Telefone. 256661460, Fax: 256673861, e-mail: [email protected] Tiragem 4000 exemplares Produção Secção deJornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Serviços de AcçãoSocial da Universidade de Coimbra

4 A CABRA OOPPIINNIIAAOO 3ª feira, 6 de Novembro de 2007

“Precisa, a Academia, queuma empresa lhe venha

dizer qual é a sua naturezae qual é o seu trabalho

diário? ”

Page 5: A CABRA – 172 – 06.11.2007

Até ao momento existe apenasum rosto que se candidata àpresidência da DG/AAC, o deAndré Oliveira. Projecto U e

Frente de Acção Estudantil tam-bém concorrem mas

ainda não têm candidato

Helder AlmeidaSaimon Morais

A 21 dias das eleições para a Direcção-–Geral da Associação Académica de Coim-bra (DG/AAC), existem já três projectos dis-postos a concorrer: um grupo liderado porAndré Oliveira, estudante de Economia, aFrente de Acção Estudantil (FAE) e o pro-jecto U. O presidente da DG/AAC, PauloFernandes, assegura que não se recandida-ta.

Até agora, André Oliveira é o único rostoconhecido para a presidência, os outros doisprojectos ainda não definiram candidatos.As eleições estão marcadas para terça–feira,27, e quarta–feira, 28 de Novembro. Na ter-ça–feira, 20, começa a campanha eleitoral.

Sob o slogan “Por Uma Academia de Cau-sas”, o estudante de Economia candidata-–se pois garante que reuniu “um grupo depessoas com uma visão comum para AAC”.Apesar de ter o apoio de alguns membros daactual direcção–geral, André Oliveira ga-rante que “o projecto não é de continuida-de”. O candidato adianta ainda que NunoMendonça, actual presidente do ConselhoFiscal, é o escolhido para o cargo de presi-dente da Mesa da Assembleia Magna.

O projecto U surgiu no final de 2006, co-mo forma de discutir “o estado do ensinosuperior” e o “estado da Associação Acadé-mica de Coimbra (AAC)”, refere Miguel Vio-lante, aluno de Sociologia. Quanto a candi-datos, João Nuno Silva, estudante de Socio-

logia, afirma não querer “lançar nomes paracargos, porque para já o essencial é discutiros assuntos problemáticos do ensino supe-rior e as soluções”.

Também a FAE garante que vai avançarcom uma candidatura à DG/AAC. “Acha-mos que é um acontecimento incontornávelpara quem quer ter uma palavra a dizer so-bre o que é o movimento estudantil na Uni-versidade de Coimbra e no país”, justificaManuel Afonso. Segundo o aluno, “os gru-pos que têm participado nas eleições têm

evitado as questões que são mais importan-tes [para o ensino superior] e não se têmcomprometido com a sua resolução”.

João Reis, também da FAE, explica que acandidatura surge como contraponto à ac-tual DG/AAC, uma vez que “esta acaba porocultar o papel intervencionista que deveriater na luta pelo direito dos estudantes”.

Paulo Fernandes garante que nãose recandidata

Todos os projectos garantem ser autóno-

mos e não ter apoios financeiros de partidospolíticos.

André Oliveira admite pertencer à Juven-tude Socialista mas afirma a total indepen-dência da sua candidatura ao nível partidá-rio. Quanto a apoios económicos asseguraque são apenas os membros do projecto queo mantêm.

Também Miguel Violante, do projecto U,afiança que o grupo “não é financiado nemapoiado por nenhum partido nem por ne-nhuma juventude partidária”.

Igualmente a FAE garante a independên-cia ao nível partidário e ideológico. “Reivin-dicamos aquilo que é o património ideológi-co do movimento estudantil, na luta peloensino público universal e pela democracianas escolas”, refere João Reis.

Em termos de conteúdo programático,André Oliveira afirma que o projecto estácentrado em três pontos–chave: Processode Bolonha, acção social escolar e relaciona-mento da DG/AAC com as secções e os nú-cleos.

Do projecto U vem a garantia que “a lutade rua, a luta de massas, é o único meio pa-ra podermos combater a ofensiva que o en-sino superior está a sofrer. Não vale a pena,neste momento, tentarmos sequer negociarcom um Governo que é completamente au-tista, que não ouve os estudantes”, afirmaMiguel Violante.

Também a FAE advoga que a defesa dosdireitos dos alunos deve passar pela luta derua. “Toda e qualquer política contra os es-tudantes só foi derrotada nas ruas, com lutae com manifestações”, afirma João Reis.

Quanto a uma possível recandidatura doactual presidente da DG/AAC, Paulo Fer-nandes garante que não pensa nisso. “Quan-do me candidatei o projecto era para umano”, assegura. O estudante pretende agoraterminar o curso de Ciências Farmacêuti-cas, do qual é finalista.

������������������������ ���������� ���������������� �� ���������� �������������������� ���� �� ������Vários erros processuais

atrasaram o inquérito que játinha sido instaurado há dois anos e meio

Helder Almeida

O inquérito aberto pelo Conselho Fiscal(CF) de 2005 aos comissários da Queimadas Fitas, para apurar a existência de irre-gularidades, está em vias de ser concluídoe tornado público.

“Vamos tentar que a avaliação coincidacom o parecer relativo à Queima das Fitas2007”, afirma o presidente do CF, NunoMendonça. Segundo o dirigente, “o pro-cesso tem demorado pela dificuldade emreunir todas as pessoas envolvidas”. “Jápassou muito tempo e todo o processo jásofreu vários avanços e retrocessos”, diz

Nuno Mendonça.Em 2005, a Queima das Fitas, devido a

várias irregularidades, teve prejuízo.Quando o relatório de contas da festa foiapresentado, no final de 2005, o fiscal, naaltura presidido por José Malta, decidiuinstaurar um inquérito aos comissários daqueima. Um estudante foi suspenso de só-cio da Associação Académica de Coimbra(AAC) e outros três foram advertidos, jáno mandato de Fernando Gomes, em2006.

No entanto, “vários erros processuais ede procedimento fizeram com que o in-quérito ficasse parado”, afirma NunoMendonça. Um novo processo, com omesmo nome, foi aberto em 2007.

No inquérito que vai ser apresentado,vão ser conhecidas as sanções aplicadas àComissão Fiscalizadora da queima, que já

tinha sido criticada pelo CF de 2005, pornão ter tomado “as diligências necessáriaspara evitar” o resultado final negativo.

Ministério Público continuaa investigar fraudes

José Malta, o presidente do CF de 2005,lembra que “houve negligências por parteda comissão central, nomeadamente nonão cumprimento dos prazos, e na nãorealização de contratos, o que também éculpa da fiscalizadora que tinha de rectifi-car todos os contratos”.

Relativamente aos erros processuais doinquérito, Nuno Mendonça afirma que“foram cometidos pelo CF de José Malta eque não foram colmatados pelo fiscal deFernando Gomes”.

“Na altura, para sairmos com uma res-posta e para esclarecermos os estudantes,

se calhar atropelámos alguns procedi-mentos. Mas dentro do que conhecíamosnão atropelámos nada” afirma José Mal-ta.

“Esse processo não deu para ser finali-zado, porque houve pequenas falhas pro-cessuais que poderiam pôr em cheque obom–nome da AAC”, afirma FernandoGomes. O estudante acrescenta que “hápareceres dos advogados da AAC a dizerpara esperar, e não precipitarmos um pro-cesso. E foi por isso que nunca foi termi-nado”, justifica Fernando Gomes. Contu-do, Nuno Mendonça acha que “o CF de2006 poderia ter concluído o processomais facilmente do que nós, e tinham con-dições de o fazer”.

As fraudes na Queima das Fitas de 2005continuam, no entanto, a ser investigadaspelo Ministério Público.

���������������������������������� ������ !!��6 de Novembro de 2007, 3ª feira EENNSSIINNOO SSUUPPEERRIIOORR A CABRA 5

ILUSTRAÇÃO POR JOSÉ MIGUEL PEREIRA

Page 6: A CABRA – 172 – 06.11.2007

���������������������� �������������� ������������������������������

Tiago CanosoJoana Mendes

O concurso que atribuía um novo conces-sionário ao bar do Teatro Académico GilVicente (TAGV) foi anulado na passadasexta–feira, 2, devido “a irregularidadesprocessuais”, garante o director. Depois daqueixa efectuada à reitoria da Universidadede Coimbra (UC) pelo antigo explorador doespaço, a empresa Assimetrias, o concursode Junho passado foi anulado e vai decor-rer ainda este mês. A reabertura do café es-tá prevista para Dezembro.

A concessão do café Teatro à Assimetriasacabou no passado mês de Julho. A reaber-tura estava prevista para o início do mês deSetembro já sob nova gerência, mas, atéhoje, o bar permaneceu encerrado.

O director do TAGV, Manuel Portela, ex-plica que o atraso na reabertura se deve,por um lado, a “alterações necessárias pormotivos da nova legislação relativa ao fun-cionamento dos equipamentos desta natu-reza” e, por outro, a “irregularidades for-mais” no concurso lançado em Junho.

Com o intuito de continuar a gerir o CaféTeatro do TAGV, a Assimetrias voltou acandidatar–se à concessão, mas ainda du-rante o mês de Setembro a empresa fezuma “reclamação à reitoria da UC, porquehouve irregularidades durante o concurso”,acusa o porta–voz da ‘Assimetrias’, MiguelSilva. “Todos os pontos do concurso, desdeprazos a cadernos de encargos, não esta-vam de acordo com a lei”, afirma .

Por seu turno, o director do TAGV apon-ta como irregular “alguns dos elementosconstantes do texto do concurso que nãoestavam inteiramente de acordo com aqui-lo que está estabelecido no código do pro-cesso administrativo”, aclara o director.

A vencedora do primeiro concurso foi “aempresa proprietária do bar Shmoo”, refe-re Miguel Silva da Assimetrias. O directordo TAGV, Manuel Portela, no entanto, sub-linha que “o resultado não foi homologadopois o concurso não estava concluído”. Atéao fecho desta edição, e depois de váriastentativas, não foi possível obter qualquerdeclaração da empresa proprietária do barShmoo.O director do TAVG, espera, no en-tanto, que esta situação não se arraste pormuito mais tempo, já que o bar fechado“traz prejuízos directos a todos os especta-dores da nossa programação”.

PUBLICIDADE

Latada contribui paradeterioração de relações entre

seccionistas e DG/AAC. Vice–presidente da secção de

Fado pede demissão de Paulo Fernandes

Rui Antunes

Desde a simples falha de Internet norecinto até denúncias de “falta de res-peito”, são várias as acusações quemembros de grupos da Associação Aca-démica de Coimbra (AAC) fazem à orga-nização da Festa das Latas. O descon-tentamento levou a Imperial Tertúlia InVino Veritas a elaborar uma queixa for-mal contra a organização. Por outro la-do, o vice–presidente da secção de Fadopede a demissão do presidente da Direc-ção–Geral da AAC (DG/AAC), PauloFernandes.

“Aconteceram várias coisas lamentá-veis no recinto”, aponta Nuno Ribeiro,vice–presidente da Secção de Fado daAAC (SF/AAC). O estudante diz que asecção se sente prejudicada pela formacomo foi tratada no recinto. “Meteram-–nos numa tenda toda enlameada, nãonos deram um espaço para ensaiar e osnossos instrumentos ficaram poisadosna gravilha”, recorda o também tesou-reiro da Comissão Executiva do Conse-lho Cultural. Para além disso, Nuno Ri-beiro queixa–se que quando pediam au-xílio aos “senhores responsáveis pelaFesta das Latas eles ignoravam–nos, ourespondiam–nos mal”. “Uma falta derespeito inacreditável”, acusa.

Também o grupo autónomo da AAC,In Vino Veritas, tem razões de queixa daorganização da Latada. Paulo Eiras,membro da tertúlia, garante que o seugrupo foi tratado de forma insultuosa.“Todos os anos esta situação tem vindoa piorar de uma forma cada vez mais es-túpida”, denuncia. O estudante acusa aorganização de querer colocar o grupo atocar às sete da manhã e de se resignarperante os “insultos vindos dos respon-sáveis da produção”. Paulo Eiras garan-te que a tertúlia vai tomar medidas: “Jáchega. Vamos apresentar uma queixaformal no Conselho Fiscal”.

Sem tecer acusações tão graves, a

TV/AAC faz parte das secções que sequeixam da deficiência logística. A pre-sidente da TV/AAC, Ana Mesquita, re-corda situações caricatas que se passa-ram no recinto. “Tínhamos apenas duascadeiras, num contentor que partilhava-–mos com outra secção”, conta.

A estudante fala ainda de promessasde resolução dos problemas logísticosque não foram cumpridas: “disseram-–nos que nos colocariam Internet RDISe ‘mobília nova’ e isso não aconteceu”.Neste sentido, revela que existiu “difi-culdade de comunicação” com os orga-nizadores e que sempre que tentava ob-ter esclarecimentos apenas obtinha“não–respostas”.

As ameaças e o pedido dedemissão

As situações que se passaram no re-cinto da Festa das Latas vieram deterio-rar as relações entre a Secção de Fado ea DG/AAC. Nuno Ribeiro diz que não háliberdade para críticas. “Anda aí aqueleespírito que ninguém pode dizer mal deninguém, porque os senhores da Direc-ção–Geral são intocáveis, ninguém podecriticar nada do que façam, porque

ameaçam–nos e dizem que não nos dãoverbas, discriminam–nos”, acusa o sec-cionista. O vice–presidente da SF/AAC“fala em facada no coração” e diz que foi“informado que a DG/AAC estava aponderar não apoiar o Festuna”.

O dirigente associativo não poupa crí-ticas ao presidente da DG/AAC. “Essesenhor fala para nós como um bando demiúdos que anda aqui há dois dias, masnão nos esqueçamos que quem andaaqui há dois dias é o senhor Paulo Fer-nandes”, ironiza. Nuno Ribeiro vai maislonge e exige que “depois do tratamentoque ele anda a dar a diversos seccionis-tas devia demitir–se”.

Confrontado com as acusações, o pre-sidente da DG/AAC, Paulo Fernandes li-mitou–se a dizer: “não respondo a críti-cas nem acusações. Quando há proble-mas quero falar directamente com assecções para que haja harmonia dentroda grande casa que é a AAC”. Quanto àssituações no recinto, Paulo Fernandesremeteu todas as explicações para ocoordenador da Festa das Latas. A CA-BRA tentou contactar Ricardo Duarte,mas tal não foi possível até ao fecho des-ta edição.

6 A CABRA EENNSSIINNOO SSUUPPEERRIIOORR 3ª feira, 6 de Novembro de 2007

GUILHERME PRADO

In Vino Veritas: “Já chega. Vamos apresentar uma queixa no Conselho Fiscal

��������������������������������������������������������������������

Page 7: A CABRA – 172 – 06.11.2007

Os critérios aplicados na elaboração dos rankings éuma das críticas feitas por

professores da escola secundária D. Maria

Salvador Cerqueira

A presidente da melhor escola pública dePortugal e a socióloga Ana Maria Seixas con-cordam que a publicação dos rankings tempouca utilidade e que a elaboração das listasdeveria ser feita considerando outros crité-rios para além dos exames nacionais.

De acordo com a lista publicada pelo Jor-nal de Notícias, estipulada através dos resul-tados obtidos pelos alunos internos da esco-la nos exames nacionais às oito disciplinascom maior número de inscritos, a Escola Se-cundária Infanta D. Maria (ESIDM) con-quista a oitava posição. Já a Cooperativa deEnsino de Coimbra ficou no antepenúltimoposto, entre um total de 608 escolas.

Embora a presidente do conselho executi-vo da ESIDM, Maria do Rosário Gama, ex-presse assertivamente que “não há segre-dos” para que o estabelecimento de ensinoseja a melhor escola secundária pública doPaís, a psicóloga da escola arrisca avançar oseventuais motivos. Conceição Rijo, respon-sável pelos Serviços de Psicologia e Orienta-ção da ESIDM, há 18 anos, acredita que osucesso nos exames nacionais se deve “à exi-gência dos alunos consigo próprios e àsgrandes expectativas que têm em relação aocurso superior que querem seguir”. Por sua

vez, a Cooperativa de Ensino de Coimbraoptou por não prestar declarações.

Ana Maria Seixas, docente da Faculdadede Psicologia e Ciências da Educação daUniversidade de Coimbra (FPCE), salientaque as principais causas para um resultadoglobal positivo nas provas nacionais são “aqualidade do ensino e o tipo de populaçãoque compõe a comunidade escolar”. Na es-cola Infanta D. Maria, que obteve uma mé-dia geral de 134,62 pontos, Conceição Rijoexplica que há um corpo docente estável,uma “característica do ensino em Coimbra”.A psicóloga da escola esclarece ainda que“os alunos habitam predominantemente nu-ma zona nobre da cidade [Solum] e a grandemaioria dos pais são de quadros superiores,nomeadamente professores universitários emédicos”. Deste modo, a maioria da comu-nidade estudantil da escola é originária dasclasses média e média–alta.

Há rankings e rankingsRosário Gama considera “um risco publi-

car estes rankings a bruto, uma vez que nãosão só as notas que fazem a escola”. A pro-fessora do ensino secundário entende que “ainstituição deve ser valorizada pela apostaque faz na formação para a cidadania e peloseu projecto educativo”. A anterior presi-dente do executivo da ESIDM, Ana LuísaBaptista, também critica as matrizes utiliza-das na formulação dos rankings, defenden-do que “é difícil encontrar critérios que pos-sam dar uma visão da realidade que temos”.“É impossível comparar esta escola com ou-tra com características completamente dife-rentes. É incomparável”, conclui.

A docente da FPCE concorda com a opi-nião das professoras da escola secundária:“a publicação dos rankings tem mais efeitosperversos do que benéficos”. Para além dis-so “a associação que é feita entre as escolasmelhor classificadas e uma suposta qualida-de de ensino é demasiado simplista”, refere.A socióloga acrescenta ainda que “é questio-nável a avaliação das escolas através destalistagem. Desde 2001 tem havido grande

instabilidade na posição das escolas”. Entreas causas está o grau de dificuldade dos exa-mes nacionais, que varia em cada ano. AnaLuísa Baptista exemplifica com o últimoexame nacional de matemática do 12º ano,que os docentes da disciplina consideraram“bastante mais fácil”.

Os professores queixam–se também que oresultado obtido nas provas nacionais nãoespelha somente o trabalho da escola, umavez que os alunos podem recorrer a explica-ções, o que Conceição Rijo encara como nãosendo necessárias. A psicóloga argumentaque “não deveriam existir, porque as aulasdeviam ser suficientes”.

A posição do presidente da Escola Secun-dária D. Dinis, Augusto Nogueira, é mais po-sitiva perante a elaboração de rankings.Apesar de ainda não ter analisado os núme-ros deste ano, o presidente da escola públicade Coimbra pior classificada, assume que“normalmente a listagem final supera as ex-pectativas dos professores”.

Com Adérito Esteves

ANA BELA FERREIRA

respostasde...

O que há de melhor e depior em Coimbra?

O pior é a oferta culturalque está francamente estagna-da, aliás não se consegue se-

quer vislumbrar uma política cultural porparte do executivo. O Teatro Académico deGil Vicente tem feito um trabalho incrível ea Direcção Regional de Cultura do Centrotambém tem feito o que pode, isto são coi-sas positivas. O melhor, a localização geo-gráfica que é francamente positiva, a meiocaminho entre Lisboa e o Porto, e o factode ter muitos locais engraçados para se es-tar. Tem o Jardim Botânico, tem muitasesplanadas escondidas, há muitos locaistranquilos onde é bom estar em Coimbra.

O que mais o encantana cidade?

Gosto muito da arquitectu-ra da cidade, sobretudo na

parte velha que é muito equilibrada doponto de vista arquitectónico e que, de al-gum modo, tem sido preservada. É umacidade calma, tranquila. No entanto, sintopena da grande dificuldade que há paralevar projectos para a frente na cidade.Coimbra é o local onde sempre vivi, ondetenho os meus amigos e isso acaba por seruma parte afectiva que me mantém ligadoà cidade.

O que pensa do acesso àcultura em Coimbra?

Fazem–se erros graves aonão apoiar a cultura, principal-mente para os mais jovens e emnão se ter espaços onde as pes-

soas possam criar, ensaiar, pintar. Temosmuito público para bastantes coisas e nãotemos modo de o cativar. E a universidade,se por um lado é uma coisa fundamental euma das mais interessantes em Coimbra,por outro, acaba por ser um grande proble-ma. Faz falta um plano cultural digno dessenome para a cidade, é uma grande falha e seeste panorama não se alterar, vamos pagaruma factura muito cara daqui a uns anos.

Por Ângela Monteiro

A presidente do executivo da Escola Secundária Infanta D. Maria afirma ser “um risco publicar estes rankings”

Paulo FurtadoLegendary Tiger Man

1 2 33

Ensino secundário em Coimbra

6 de Novembro de 2007, 3ª feira CCIIDDAADDEE A CABRA 7

8º - Infanta D. Maria 134,6223º - José Falcão 121,7076º - Quinta das Flores 111,4599º - Avelar Brotero 108,80248º - D. Duarte 100,57283º - Jaime Cortesão 98,84306º - D. Dinis 98,0

Escolas Públicas deCoimbra no RankingNacional

�������������������������� ��

Page 8: A CABRA – 172 – 06.11.2007

8 A CABRA NNAACCIIOONNAALL 3ª feira, 6 de Novembro de 2007

Eutanásia

A queda dos valores tradicionais e o aumento dapobreza e da exclusão social

fazem com que os idososportugueses pensem cada

vez mais na morte

Raquel CarvalhoSarah Halls

Quase 50 por cento dos idosos aprovama legalização da eutanásia e mais de 60 porcento têm pensamentos frequentes sobre amorte e o processo de morrer. Os dadossão revelados por um inquérito realizado a810 pessoas com mais de 65 anos e semdoenças crónicas ou terminais, institucio-nalizadas em lares e residências de tercei-ra idade de todo o País.

Além de 47 por cento dos idosos seremfavoráveis à legalização da eutanásia, inde-pendentemente de a desejarem para si;cerca de 40 por cento são a favor da práti-ca da eutanásia, conclui o projecto de in-vestigação desenvolvido pelo Serviço deBiomédica e Ética Médica da Faculdade deMedicina da Universidade do Porto(FMUP). “Os resultados são ainda maissurpreendentes se analisados por regiões.O Alentejo chega a 72 por cento de respon-dentes favoráveis à legalização da eutaná-sia e Lisboa e Vale do Tejo a 61 por cento”,revela o coordenador do estudo, Rui Nu-nes.

“O envelhecimento avassalador da socie-dade, a descaracterização do papel da fa-mília e a falta de apoio por parte do Estadoaos núcleos familiares fazem com que aspessoas sejam excluídas da sociedade e re-metidas para hospitais e lares”, explica RuiNunes. O presidente da Associação Portu-guesa de Bioética (APB) considera aindaque “a falta de influência da vida espiri-tual, como acontece sobretudo no sul dePortugal, contribui para um resultado per-feitamente vertiginoso, sendo que dois ter-ços da população desta região é favorável àlegalização da eutanásia”.

Para além da falta de convicções religio-sas, “o sofrimento psicológico, muito maisque a dor física, ainda que essa seja impor-tante, a exclusão, o abandono, a sensaçãode isolamento, devido à falta de família eredes sociais de apoio, são as principaiscircunstâncias que levam uma pessoa a pe-dir a eutanásia”, considera Rui Nunes.Portanto, “os pedidos genuínos de eutaná-sia são residuais”, conclui o professor daFMUP.

Também o Padre Vítor Feytor Pinto afir-mou no debate sobre “Decisões Terapêuti-cas em Fim de Vida”, realizado no dia 27de Outubro, nos Hospitais da Universida-de de Coimbra, que “as pessoas por quere-rem morrer não quer dizer que queiram aeutanásia. O que querem dizer é que lhesdêem outro tipo de vida”. Nesse sentido,

Rui Nunes defende que se deve dar “ umsalto qualitativo na sociedade, providen-ciando a essas pessoas condições para quea sua vida valha a pena ser vivida”.

Medidas para prevenir pedidosde eutanásia

“Uma responsabilização acrescida da fa-mília no que diz respeito ao cuidado daspessoas idosas e, por outro lado, o reforçodo papel do Estado no sentido de inferircondições para que os familiares tomemconta dos idosos” são algumas das medi-das apontadas pelo presidente da APB.

Além disso, considera ser necessário a“implementação genuína de condições quefaçam com que as pessoas não tenham do-res nem sofrimento no fim da vida”. Paratal, Rui Nunes defende a “implementaçãodo Plano Nacional de Luta Contra a Dor,que em Portugal ainda é uma miragem, e acriação de uma verdadeira rede de cuida-dos paliativos, que também não existe nonosso País”.

O professor da FMUP considera que es-tas medidas ainda não foram tomadas,“porque as pessoas da terceira idade nãotêm poder reivindicativo, estão segregadosnos lares e não têm quem fale por eles. E oque está escondido não interessa ao poderpolítico”.

Rui Nunes apela ao amadurecimento dasociedade e sublinha que “muitas das me-didas que defendemos não são muito dis-pendiosas, existe apenas um custo inicialde investimento”. De acordo com o presi-dente da APB, existem poucas unidades decuidados paliativos em Portugal, simples-mente porque “não houve uma visão estru-tural”, defendendo, assim, que “é necessá-

rio reverter as prioridades da política desaúde”.

Testamento vitalOutra questão importante é o “reforço

da autodeterminação das pessoas em fimde vida, pois parte dos pedidos de eutaná-sia não tem a ver com o sofrimento, mascom a perspectiva de sofrimento, sobretu-do com aquilo a que nós chamamos de dis-tanásia”, alerta Rui Nunes. “A ética e a leijá permitem que o doente recuse determi-nado tratamento”, lembra o professor daFMUP.

Contudo, “é ainda necessário reforçar aautodeterminação das pessoas e isso podeser maximizado através da legalização dotestamento vital”. Este é uma directiva an-tecipada de vontade, equivalente ao con-ceito inglês de ‘living will’, no qual umapessoa pode definir previamente se desejareceber determinados cuidados médicosnuma situação clínica em que não tenhacapacidade física ou intelectual para o fa-zer. O testamento vital ainda não é legalem Portugal, mas já está previsto na Con-venção sobre os Direitos do Homem e aBiomedicina.

A este respeito, a presidente do Conse-lho Nacional de Ética para as Ciências daVida, Paula Martinho da Silva, consideraque se deve começar “por discutir e pôr emprática o consentimento informado e issoextravasa a eutanásia”. Sublinha ainda queas pessoas devem estar devidamente infor-madas, em condições para tomar a decisãoe conscientes das consequências desse ac-to. “Só depois de estar isto em prática éque estamos preparados para uma verda-deira discussão sobre eutanásia”, afirma

Paula Martinho.Assim, a eutanásia é ainda uma questão

de contornos pouco definidos em Portugal,havendo uma confusão da sociedade emgeral em torno das problemáticas do finalda vida.

�������������������������������������� ��������

Actualmente, assiste–se a uma crescente hospitalização da morte, o que traz novos desafios à sociedade e ao serviço de saúde

FILIPA MORENO

Em Portugal, a eutanásia e o suicídio as-sistido são ilegais. Contudo, existem paíseseuropeus que já legalizaram estas práticas,nomeadamente:

Holanda- o primeiro país da Europa alegalizar a eutanásia e o suicídio assistido(2002), no caso de um paciente com doen-ça incurável, em que não haja esperança derecuperação e com o consentimento domesmo. Em Março de 2007, a eutanásia foiaprovada em crianças com menos de 12anos.

Bélgica- seguiu os passos da Holanda elegalizou também em 2002 a eutanásia e osuicídio assistido. Actualmente, discute–sea possibilidade de eutanásia em menoresde 18 anos.

Suíça- a eutanásia é ilegal, mas o suicí-dio assistido foi legalizado. O país dá aces-so a instalações privadas de suicídio assis-tido e abre as portas aos estrangeiros quedesejem efectuar esta prática, através daONG Dignitas. Além disso, a lei suíça é aúnica que permite o suicídio assistido depessoas com doenças mentais.

Reino Unido- em 1999, o governo re-jeitou o projecto de lei para o suicídio assis-tido, mas introduziu ‘living wills’ (testa-mentos vitais). O médico pode ser conde-nado se não respeitar o desejo do paciente.

Eutanásia na Europa

Page 9: A CABRA – 172 – 06.11.2007

A organização está à procurade um novo lugar na

regulamentação da economiamundial. Especialistas defendem que o Fundo necessita de mudanças

estruturais

Rui AntunesAna Bela Ferreira

O mundo está em mudança. A era da glo-balização tem vindo a pôr em causa organi-zações como o Fundo Monetário Interna-cional (FMI). Com 61 anos e a precisar dereforma, a instituição tem, desde 1 de No-vembro, um novo director–geral.

“Há uma cada vez mais clara crise deidentidade do FMI”, alerta o coordenadorcientífico do Centro de Estudos de Econo-mia Europeia e Internacional, Manuel Far-to. O especialista considera que o Fundo“perdeu o pé em relação aos seus objecti-vos iniciais e hoje não tem condições paraenfrentar novas situações e criar a sua pró-pria agenda”.

Os especialistas são unânimes ao consi-derarem que o FMI está a perder influên-cia na economia global. O subdirector doDiário Económico, Bruno Proença, apontaque a organização vive “uma crise existen-cial porque foi pensada para um mundoque já não existe, em que a Europa e osEUA eram motores da economia”.

Além disso, Manuel Farto acredita que“a perda de peso está relacionada com odescrédito da instituição, que se deixou co-notar com as políticas implementadas pe-los países desenvolvidos”. O facto do FMIser relativamente insensível aos problemassociais decorrentes das suas intervenções éoutra das falhas apontadas por Farto. Otambém docente da Universidade Técnicade Lisboa diz que a imagem do Fundo sedeteriorou em situações de crise. “É evi-dente que o FMI se comportou muitíssimomal relativamente às políticas que propôspara países como a Argentina”, acusa.

Já Francisco Sarsfield Cabral, comenta-dor de assuntos económicos, consideraque “o FMI foi criticado por razões injus-tas”, referindo–se à crise da Argentina, em2000. “O Fundo não tem feito asneiras,mas precisa de ser actualizado às novascircunstâncias”, concretiza. O director deinformação da Rádio Renascença lembraos dois casos em que o FMI emprestou di-nheiro a Portugal. “As coisas foram duras,mas correram bem, foram casos de suces-so”, recorda.

Um novo director, as reformas de sempreO futuro do Fundo Monetário Interna-

cional passa pela necessidade de se refor-mar. Com as mudanças que a economiaglobal tem vindo a sofrer, o papel do FMIestá cada vez menos claro. Segundo Ma-nuel Farto, “o desenvolvimento e crescente

importância de organizações como o G-8ou a própria União Europeia, veio reduziro espaço do Fundo”.

O especialista confessa que não acreditana reforma do organismo defendendo“uma refundação ou mesmo desmantela-mento do FMI”. Também Bruno Proençaconsidera que “o Fundo tem que encontraro seu papel na economia globalizada, essaé a maior reforma”. Mas afirma que “en-quanto o órgão estiver preocupado com aorgânica interna, não vai conseguir con-cretizá–la”.

Por outro lado, Sarsfield Cabral acreditaque a instituição tem futuro sem necessitarde uma mudança radical. Até porque, “nãoserá positivo implementar reformas muitoprofundas porque ainda não se conhece oque se passa nos mercados financeiros”,defende o jornalista.

Em Abril do próximo ano, têm que estarconcluídas as propostas de reforma. Paraesta tarefa, o Fundo conta com um novodirector–geral. Dominique Strauss–Kahntomou posse na passada quinta–feira e, se-gundo Manuel Farto, deve “continuar a ló-gica dos últimos dez anos, assente em pe-quenas reformas que não vão produzirgrandes resultados”. Mais prudente, BrunoProença ressalva que “vai ser preciso espe-rar algum tempo para perceber se vai mu-dar alguma coisa”. O subdirector do DiárioEconómico acredita que o seu “grande de-safio é resolver o problema de relevância elegitimidade do FMI na economia mun-dial”.

No entanto, para Manuel Farto, o novodirector não vai resolver os velhos proble-mas. “Não parece que seja uma desgraça odesmantelamento do FMI”, preconiza o es-pecialista. Contudo, acredita que existe es-paço para um órgão que regule a economia

mundial. “Uma nova instituição com umaoutra representatividade, uma agenda con-creta, uma clara definição de funções, umanova identidade. Há lugar para isso, maspode não ser o FMI”, conclui.

���������������������������������� ��

O Fundo Monetário Internacional foicriado em 1945, como resultado das Con-ferências de Bretton Woods. Para BrunoProença a organização divide–se em trêseixos fundamentais. Primeiro, está rela-cionado com a cooperação entre os 185membros no sentido de se encontrar es-tabilidade monetária e nas taxas de câm-bio. Segundo, procura promover o cresci-mento económico e o desenvolvimento.Terceiro – e este é o ponto que costumatrazer o FMI para as primeiras páginasdos jornais – dá assistência temporáriaaos países com graves desequilíbrios nassuas balanças externas e que já não sãocapazes de responder pelos seus compro-missos.

Ainda assim, a organização sempre foialvo de controvérsia na comunidade in-ternacional. Já três décadas antes de Hu-go Chavez animar os media com a amea-ça de retirar a Venezuela do Fundo, o mú-sico José Mário Branco usava o FMI co-mo título de uma obra. Apesar de a músi-ca não ter como objectivo principal a crí-tica à organização, o nome da música nãofoi escolhido inocentemente. Hoje, aideia que José Mário Branco tem da ins-tituição é marcadamente política e per-manece inalterada. “O FMI é um instru-mento do capital internacional para do-minar e sacar o mais que puder aos paísespobres, enterrá–los em dívidas e dar cabodas economias do hemisfério sul”, acusa.

O Fundo do mundo

6 de Novembro de 2007, 3ª feira IINNTTEERRNNAACCIIOONNAALL A CABRA 9

���������������������������������� ������������������������������������

Lisboa: A assinatura do documento es-tá agendada para13 de Dezembrodeste ano, no Mos-teiro dos Jeróni-mos.

Quinze: Vai ser o número mínimo deEstados–membros para qualquer tomadade decisão no Conselho de Ministros, sendoque devem equivaler a 65% da populaçãototal da UE.

Unanimidade: Deixa de existir em pelomenos 40 domínios, sendo ainda necessá-ria em questões relativas à soberania nacio-nal.

Co–decisão: Para se aprovar uma deci-são, Conselho e Parlamento Europeu de-vem estar em sintonia.

2009: Ano da entrada em vigor do NovoTratado.

Itália: Romano Prodiexigiu mais dois deputa-dos para os transalpi-nos, mas acabou poraceitar o novo tratadocom apenas mais ummembro no hemiciclo.

Constituição: O termo foi abolido, jun-tamente com o desejo de criar um hino ouuma bandeira, de forma a afastar o fantas-ma do federalismo.

Polónia: Lech Kaczinski aceitou ospressupostos do novo tratado com a garan-tia de que os princípios de Ioanina serãocumpridos.

Presidente do Conselho: Figura elei-ta pelos membros do Conselho Europeuque terá um mandato de dois anos e meio.

Referendo: O novo documento apenastem de ser, obrigatoriamente, aprovado porvia referendária na Irlanda, pois esta é umaexigência constitucional.

Novo cargo: Passa a existir um Alto Re-presentante da UE para a Política Externa ede Segurança que terá como função organi-zar a diplomacia dos 27 Estados–membros.

Eurodeputados: Limitação do númerode deputados no Parlamento Europeu paraum total de 751, passando Portugal dos ac-tuais 24 para 22.

Direitos Humanos: O tratado tornaobrigatório o reconhecimento da Carta dosDireitos Fundamentais.

Clima: O combate àsmudanças climáticase a criação de ummercado energéticocomum passam a serpolíticas fundamentaisda UE

Cláusula de Saída: O tratado permiteo abandono de um Estado–membro, desdeque o negoceie com os restantes países

Por Carine Anacleto

ILUSTRAÇÃO POR RAFAEL ANTUNES

Page 10: A CABRA – 172 – 06.11.2007

10 A CABRA TTEEMMAA 3ª feira, 6 de Novembro de 2007

Um futuroacima damédia

erminei o curso com umamédia interessante”. Édesta forma que DavidPalma, licenciado em En-genharia Informática pelaFaculdade de Ciência e

Tecnologia da Universidade de Coimbrabrinca com os 18 valores com que concluiua licenciatura. David recebeu–nos na suasegunda casa, às vezes primeira. Um frigo-rífico, uma tostadeira, uma cafeteira e umaárvore de natal confirmam o ambiente fa-miliar do espaço. Estamos no laboratóriode comunicações informáticas, onde o alu-no começou a trabalhar logo no primeiroano. Com apenas 21 anos,o estudante conimbricenseiniciou o doutoramentoimediatamente após aca-bar o primeiro ciclo de En-genharia Informática noano lectivo de 2006/07.

“Tive que me autopro-pôr, houve um processo denegociação e uma votação no conselhocientífico. Não foi fácil”, comenta DavidPalma, explicando que as reticências se de-veram ao facto de ter uma licenciatura doregime de Bolonha, de apenas três anos. Noentanto, reconhece que o facto de colaborarno laboratório desde o primeiro ano e asnotas não foram ignorados.

As médias elevadas permitem que seabram várias portas aos estudantes no finaldo curso. Por um lado, continuar o percur-so académico, procurando uma formaçãomais específica através do mestrado ou dodoutoramento, ou seguir a via da investiga-ção ou docência. Por outro, existe também

o apelo para ingressar no mercado de tra-balho.

Filipe Martins, 24 anos, licenciado emmedicina, optou por fazer as duas. Foi de-pois do trabalho e da hora do jantar quemarcámos encontro com o médico/estu-dante no bar do Instituto Justiça e Paz, lu-gar que frequenta habitualmente parareencontrar colegas e amigos. Mesmo como doutoramento à vista, o aluno não quissaltar o mestrado, ao mesmo tempo quetrabalha em regime de internato médico noCentro de Saúde da Lousã. O mestrado empatologia experimental “foi uma questão deoportunidade”, justifica. “Pareceu–me a

opção correcta por-que adquiri uma sé-rie de conhecimen-tos práticos e tam-bém ao nível da in-vestigação” acres-centa o aluno, queaproveitou tambémpara reforçar co-

nhecimentos teóricos do curso. Em Outubro do ano passado, Filipe con-

cluiu a licenciatura com média de 18. Ques-tionado sobre as razões para o sucesso aca-démico, o médico não encontra fórmulasmágicas. “O meu percurso foi idêntico aoda maioria das pessoas”, assegura. O mes-trando garante mesmo que nunca sentiu acompetitividade dos colegas. O grupo deamigos “para a borga e para o trabalho”ajudava a preparar apontamentos, que to-dos partilhavam, porque “desbravar as coi-sas em conjunto ajuda sempre”, afirma .Talvez por isso, arrisca que o segredo estáno trabalho em equipa e na organização. O

e s -tudan-te, quepraticava na-tação, tocava pianono Conservatório deMúsica, e foi animadorno Centro Universitário Manuel da Nó-brega, tentou sempre “conciliar a vida so-cial com um pouco de estudo e trabalho”.

Tempo para os livros, mas tambémpara o resto

Os tempos eram outros, mas Pedro Sarai-va, 43 anos, confirma a eficácia do método:“para estudar e para me divertir tive sem-pre horários equilibrados”. Desde 1972 queninguém bate os 18 valores do agora vice-–reitor da UC no curso de Engenharia Quí-mica. A procura de bons resultados não im-plica uma dedicação incondicional ao cursocomo o senso comum poderia levar a acre-ditar.

A ideia que transparece em todos os in-tervenientes é a de que a sua garra não é sóaplicada nos estudos, mas é também utili-zada para conseguir ter tempo para tudo.

Nesta questão, Pedro Saraiva é perem-ptório e é com orgulho que fala do seu per-curso: “fui um candidato, frustrado, à pre-sidência da Associação Académica, fui or-feonista durante sete anos, fiz muitas coisas

enquanto estudante”.Unânime é também a ideia de que um

bom profissional não é apenas resultado deuma elevada classificação final de licencia-tura, mas também alguém preparado paraser cidadão. O professor lamenta que “hojeem dia haja menos alunos envolvidos emactividades extra curriculares do que na dé-cada de oitenta” porque considera que estassão “um investimento compatível com umbom aproveitamento escolar”.

Luís Vale é hoje professor na instituiçãoonde se formou em Direito. Apesar de nãoter participado activamente nas secções daAssociação Académica de Coimbra enquan-to estudante, o docente reconhece que “ésalutar o envolvimento cívico que isso sig-nifica” e que tal faz parte da forma comoentende a participação na sociedade. O pro-fessor garante que, apesar do muito traba-lho que envolveu o curso, o tempo chegoupara “ver cinema, teatro, ler centenas de li-vros, ouvir as oratórias e as sinfonias paraas quais dificilmente se tem tempo ao longo

Na Universidade de Coimbra (UC), poucos sãoaqueles que se podem orgulhar de acabar as suaslicenciaturas com classificações de excelência.Com 18 valores de média, quais serão as portasque se abrem? São estes e outros percursos que ACABRA foi tentar descobrir entre aqueles que jápouco sabem sobre o significado de fasquia. Por Tânia Mateus, Rafael Pereira e Sofia Piçarra

T“

As médias ele-vadas abrem várias

portas aos estudantes no final

do curso

“”

Page 11: A CABRA – 172 – 06.11.2007

da vida”.As muitas actividades não impediram o an-tigo estudante da UC de se licenciar, em2002, com a média de 18 valores. Este foi oculminar daquele que parecia já ser um ca-minho predestinado pela tradição familiar.“Não resisti a entrar na narrativa mitifica-da que vem de antanho, e passa pelos tetra-–avôs, trisavôs, etc., até aos pais”, contaLuís Vale.

Apesar da aparente descontração comque descrevem o seu percurso académico,as notas elevadas no ensino superior nãoestão isentas de sacrifício. Pedro Gonçalvesadmite que abdicou de muitas actividadesparalelas para concluir a licenciatura emEngenharia Informática com a classifica-ção final de 18 valores. “Dediquei–me acem por cento ao curso”, confirma o enge-nheiro, que deixou de jogar futebol tantasvezes quantas desejava para poder fazer to-dos os trabalhos que lhe eram exigidos. Otom nas palavras de Pedro Gonçalves nãoevidencia qualquer arrependimento. “Aforma como me dediquei ao curso veio a

ajudar–me depois, especialmentena fase de conseguir o estágio”,

considera. Ainda durante ocurso, em 2006, Pedro

foi convidado arealizar o está-

gio na áreade enge-

nhariad e

sof -

t w a r enuma em-

presa de umprofessor, onde

acabou por ficar em-pregado após a licenciatura. Apesar da pro-posta para manter o vínculo à instituiçãode ensino nunca ter surgido, confessa:“sempre pensei que quando acabasse ocurso, um professor ou alguém ligado à fa-culdade me convidasse para continuar acarreira como investigador”. Hoje, Pedroolha para trás e afirma que ainda pensariaseriamente em aceitar o convite, no entan-to, também reconhece a importância emadquirir experiência numa empresa.

Depois do curso, um futuro deoportunidades?

Quando surge a altura de ingressar nomercado de trabalho, os estudantes comclassificações mais elevadas acabam porter uma posição privilegiada em relaçãoaos colegas. As empresas procuram captarnovos valores, e fazem recrutamento entreos melhores alunos. A situação também fa-vorece a instituição de ensino, que conse-gue assim manter uma posição destacada àentrada das bolsas de emprego.

Adriana Miranda é um desses casos. A

quase licenciada em Gestão, com uma mé-dia de 18 valores, aceitou sem hesitar oconvite que, ainda em Janeiro, recebeu pa-ra ingressar numa empresa multinacionalde consultoria e auditoria, a Deloitte. Ofacto de se ter mudado para Lisboa e de terisenção de horários não retira o ânimo comque a estudante fala da futura carreira.Adriana é nitidamente um caso de realiza-ção profissional, chegando a projectar o fu-turo ligado à Deloitte porque, como refere,a empresa tem excelentes perspectivas deprogressão na carreira. Só as palavras deAdriana podem reflectir o entusiasmo: “Es-tou a adorar o que faço”.

O engenheiro de software, Pedro Gon-çalves, partilha da vontade de evoluir na

empresa onde começou a carreira pro-fissional. Para já, a preocupação prin-

cipal é “trabalhar bem e ser bem su-cedido”, mas a estagnação podeconduzir a outras opções. “Não po-nho de parte a hipótese de vir a serprofessor ou investigador”, adian-ta Pedro.

Esta é, aliás, outra das opçõesque surge depois de concluída umalicenciatura. Com o objectivo deresgatar conhecimento, a UC convi-da alguns dos seus alunos a integra-rem as equipas de investigadores.Exemplo disso é o vice–reitor PedroSaraiva. Depois de concluído o cursode Engenharia Química, o docenterecorda que abraçou de imediato

“uma carreira académica nas suasmúltiplas vertentes: investigação, do-

cência e de contributo para a mudançada sociedade”. Nessa altura, prestou pro-

vas de aptidão científica e pedagógica comvínculo à UC, mas sempre com a condiçãode sair do País para efectuar o doutora-mento no MIT (Massachusetts Institute ofTechnology). Pedro Saraiva conta com sau-dosismo os quatro anos que esteve emigra-do nos EUA, onde nasceram as suas filhas,onde teve uma nova experiência de vida eonde se dedicou por inteiro ao trabalho.

Luís Vale viu igualmente reconhecidosos seus créditos ao ter sido convidado paramonitor da Faculdade de Direito da Uni-versidade de Coimbra imediatamente apósse ter licenciado. A aposta provou–se acer-tada e hoje é assistente de várias cadeiras,mantendo a vontade de continuar o traba-lho na faculdade.

No Departamento de Engenharia Infor-mática (DEI), David Palma integra um pro-jecto de investigação no laboratório de co-municações informáticas na área de redes,para além do doutoramento. À semelhançade Pedro Saraiva, também ele ponderoucontinuar a formação fora de Portugal.“Estive para ir para a Suécia fazer mestra-do, mas não me foi atribuída bolsa e, dessaforma, não tive hipótese”, lamenta o estu-dante. David vai continuar a investigaçãono DEI, a par do doutoramento e de outrasinúmeras actividades: “volley, ginásio, na-morada, sair à noite. Enfim, tudo normal,afinal não sou aquele marrão...”.

6 de Novembro de 2007, 3ª feira TTEEMMAA A CABRA 11

Adriana MirandaGestãoÉ analyst numa firmamultinacional de consul-toria e auditoria. Está a

concluir a licenciatura. Pensa ficar naempresa durante alguns anos aconstruir uma carreira sólida e, quemsabe, “atingir o cargo de Partner”.

David PalmaEng.Informática

Actualmente tira odoutoramento e desen-volve projectos de investi-

gação no laboratório de comunicaçõesinformáticas. No futuro, pretende estu-dar fora, “para abrir horizontes”, mascom a intenção de regressar.

Pedro GonçalvesEng.InformáticaÉ engenheiro de softwarena empresa onde esta-giou. Para já, preocupa-se

em ser bem sucedido para evoluir nacarreira. Mantém como opção contin-uar os estudos, até mesmo noutra área,ou tentar a carreira de investigador.

Filipe MartinsMedicinaTrabalha em regime deinternato médico noCentro de Saúde da Lousã

enquanto faz o mestrado em patologiaexperimental. Está a aguardar a lista devagas para escolher a especialidade quevai iniciar em Janeiro.

Pedro SaraivaEng.Química

É vice-reitor da UC e pro-fessor. Envolvido em ini-ciativas de empreendoris-

mo e criação de spin offs e empresas naárea da biotecnologia, aproveita aspausas sabáticas para aprofundar con-hecimentos na sua área de formação.

Luís ValeDireito

É docente na Faculdade deDireito da UC e, ao mesmotempo, tira o mestrado na

área de jurídico- políticas. Gostaria decontinuar a trabalhar na faculdade,mas não descarta a hipótese de realizaro estágio de advocacia.

Page 12: A CABRA – 172 – 06.11.2007

Tubo deEnsaio

No Reino daBiodiversidade

NomeMuseu Zoológico da Universidade de

Coimbra

Local Edifício Colégio de Jesus na Universi-

dade de Coimbra

Data de Criação O museu foi criado em 1775

ResponsávelProfessora Dra. Maria da Graça Pratas

do Vale

ColaboradoresDra. Maria Teresa Baptista e Dr. José

Augusto Reis

Área de TrabalhoEnsino, investigação e divulgação na

área da zoologia

Projectos Desenvolvidos Informatização da documentação asso-

ciada ao espólio do museu, para além dadivulgação de temas na área da zoologiaao público escolar e de diversos círculosdidácticos

FinanciamentoO orçamento é totalmente atribuído pe-

la Faculdade das Ciências e Tecnologiasda Universidade de Coimbra

Expectativas para o FuturoDesenvolver mais acções em parceria

com personagens ligadas à investigaçãocientífica à cultura e à sociedade em geral

ContactosTelefone: 239491650E–mail: [email protected]: http://www.uc.pt/museuzoo

Por Adelaide Baptista

Os investigadores bolseirosexigem, há muito, melhores

condições de trabalho. A solução pode estar num novo estatuto

João MirandaSofia Piçarra

“Precariedade, insegurança financeira,falta de perspectivas e possibilidade de pla-neamento de futuro”. É desta forma que opresidente da Associação de Bolseiros de In-vestigação Científica (ABIC), André Levy,caracteriza a situação que atravessam osbolseiros. As condições afectam sobretudojovens investigadores e técnicos, e desincen-tiva novos profissionais de optarem pelacarreira científica.

Entre os motivos que contribuem para aindignação da ABIC, estão as várias exigên-cias a que os bolseiros estão sujeitos ao abri-go do actual estatuto de bolseiro investiga-dor (ver caixa). O regime de dedicação ex-clusiva é alvo de críticas, uma vez que obri-ga os bolseiros a não exercerem qualqueroutra função remunerada, salvo pequenasexcepções. Para além desta impossibilidade,os investigadores que beneficiam desteapoio financeiro, são trabalhadores a reciboverde e não possuem contrato de trabalho,não sendo reconhecidos como funcionáriosda instituição onde praticam a actividade.

Paralelamente a estas questões, os investi-gadores apontam ainda falhas nos paga-mentos de bolsas. Estas podem ser atribuí-das directamente pela Fundação para aCiência e Tecnologia (FCT) aos cientistas, ouentregues a projectos que depois fazem asua distribuição. Nestes casos, encontram-–se “bolseiros que, sistematicamente, todosos anos, têm atrasos de vários meses no pa-gamento de bolsas, às vezes de três e quatromeses, cinco em algumas situações” denun-cia André Levy. No entanto, ressalva que “ospagamentos são regulares quando os inves-tigadores recebem directamente da FCT”.

Apesar disso, em ambas as situações severificam atrasos na liquidação de subsídiosde alimentação e deslocação, bem como no

desconto para a segurança social, pago peloinvestigador, que é mais tarde reembolsado.

Este é aliás, outro ponto que os bolseirosreprovam, uma vez que o desconto para asegurança social se efectua através de umseguro social voluntário. Este regime nãoobriga o trabalhador a fazer descontos, mastambém não consagra o direito a regalias so-ciais no que diz respeito a saúde, reforma,subsídio de desemprego e férias.

Um novo estatuto, antigas exigênciasNo entender do membro do núcleo da

ABIC de Coimbra, Hugo Dias, a segurançasocial dos investigadores está limitada. Obolseiro considera que “o estatuto consagraa bolsa como uma figura predominante dofinanciamento”, e que “é fundamental dimi-nuir a sua proliferação”, no sentido de inves-tir “num quadro de contratos de trabalho”.“Este é o cerne da proposta de alteração daABIC” adianta.

A associação prepara há vários meses umdocumento alternativo ao actual estatuto,para responder a uma abertura da FCT adiscutir o tema. Em Junho foi entregue um

abaixo assinado com cerca de três mil assi-naturas no Ministério da Ciência, Tecnolo-gia e Ensino Superior. No entanto, HugoDias adianta que “provavelmente não have-rá abertura para negociar esta proposta”.

O investigador bolseiro Alfredo Camposreitera a necessidade de condições mais fa-voráveis ao desenvolvimento do trabalho deinvestigação. “Não somos considerados tra-balhadores de pleno direito e não temoscontrato de trabalho nem uma série de direi-tos”, o que torna “a precariedade laboral nu-ma das questões mais graves para os bolsei-ros hoje em dia”.

O investigador denuncia ainda a falta deactualização das bolsas e de subsídio de de-semprego, que aumentam a insegurança dosbolseiros: “quando o projecto em que estouenvolvido terminar, como não tenho subsí-dio de desemprego, tenho que encontrarimediatamente outro trabalho, porque nãome posso dar ao luxo de esperar um mês oudois para que abra outro projecto”.

Contactada pel’ A CABRA, a FCT não res-pondeu até ao fecho da edição.

Com Pedro Martins

�������������������������������� ������������������������HUGO MENEZES

8 e 9 de Nov. WORKSHOP “Fire Design ofConcrete Structures” - Departamento deEngenharia Civil, FCTUCA partir de 3 De Nov. “Sábados no Museu”– Museu da Ciência 14 de Nov. Conferência “Cogumelos silves-tres: relevância ecológica e gastronómica” -Anfiteatro do Departamento de Botânica

12 A CABRA CCIIEENNCCIIAA 3ª feira, 6 de Novembro de 2007

As actividades de natureza científica,tecnológica e formativa estão abrangidaspor um regime de bolsas, atribuídas porentidades públicas ou privadas. Os in-vestigadores podem solicitar o financia-mento para projectos de desenvolvimen-to, experimentação ou transferência desaber, em qualquer área.

O estatuto do investigador bolseiro de-termina que “é proibido o recurso a bol-seiros de investigação para satisfação denecessidades permanentes dos serviços”,e que para investigações de mestrado, asbolsas não podem exceder os dois anos,

quatro quando se trata de doutoramento.O contrato de bolsa não estabelece os

investigadores como funcionários da en-tidade a que se vinculam. Apesar disso,existe uma relação de dedicação exclusi-va nas funções do bolseiro, a quem “nãoé permitido o exercício de qualquer outrafunção ou actividade remunerada”. Estaexigência prevê, no entanto, algumas ex-cepções, como a docência. Inclui ainda asajudas de custo e despesas de desloca-ção.

O estatuto de bolseiro define como di-reitos do subsidiado “receber pontual-

mente o financiamento” de que benefi-cia, bem como “obter da entidade acolhe-dora o apoio técnico e logístico necessá-rio à prossecução do plano de trabalhos”.Estão também previstos um período dedescanso e o direito de suspender a acti-vidade por motivo de doença, materni-dade, paternidade e assistência à família.No entanto, ainda que o bolseiro estejaabrangido pela lei geral aplicável aos tra-balhadores da Administração Pública, oacesso à segurança social processa–seatravés de um regime próprio, o de segu-ro social de voluntário.

Estatuto do bolseiro investigador

“As bolsas de investigação não são actualizadas há vários anos”

Page 13: A CABRA – 172 – 06.11.2007

Uma viagem com a comitivaacademista no confronto

ante a congénere Académica de Espinho

Reportagem por Patrícia Costa

saída para Espinho é às 15 ho-ras de sábado [3] no EstádioUniversitário”. Foram estasas palavras de ordem dadas

pelo vice–presidente da Secção de Voleibolda Associação Académica de Coimbra(AAC). Américo Forte marcava assim o en-contro da comitiva para mais uma partida.Quando cheguei, não estava lá ninguém, oque me deixou assustada por largos momen-tos. Mas logo apareceram elementos doplantel, que me arrastaram, não para o localcombinado, mas para o local comum de reu-nião: o café “Pinto de Ouro”, em Santa Cla-ra. Em busca da segunda vitória na A2, osnervos eram disfarçados em cada gole de be-bida. “O encontro não é no café!”, reclama otécnico academista, Carlos Marques.

As 15 horas passavam. O quarto de horaacadémico duplica. Saímos então. No auto-carro, são diversas as maneiras de passar otempo. Ao sabor de música ou da leitura derevistas, os atletas vão discutindo alguns te-mas. Entre a estreia de “Corrupção” e as noi-tes fatídicas, tidas por eles como a “haltero-copia”, cruzam–se palavras. O novo presi-dente da secção, Manuel Leal, deambula pe-lo corredor ao mesmo tempo que perguntaquem janta e antevê a noite que os espera.

O grupo de 16 pessoas “praxa” os caloiros

da equipa. O ambiente está diferente, mas os“velhos” tratam de integrar os novatos. O lí-bero da AAC, André Conde, com a sua boadisposição, fala do “joelho técnico” e afirma-–se como animador. “Tenho a mania quesou polifónico, falo as línguas todas”, brinca.

À procura da NaveSão 16h34. Estamos na entrada de Espi-

nho e a questão coloca–se: “Alguém sabe ocaminho para a Nave?”. O jogador 18, Gon-çalo Baptista, ganha o estatuto de co–piloto,prontamente perdido com o aparecimentoda indicação do gimnodesportivo em placas!O cada vez mais irreconhecível autocarro daAAC, desbotado em cor, ainda provoca pas-mo aos poucos transeuntes que vagueiampela adormecida cidade.

O complexo desportivo que habitualmen-te acolhe o Sporting de Espinho apresenta-–se bastante verdejante para a estação vi-gente. O espaço interior é ladeado por pare-des brancas e por ferro, parecendo e funcio-nando como uma ala da nave principal.

Antes da entrada no balneário, conso-mem–se bebidas gaseificadas, chocolates etodos os demais aperitivos compostos poraltas doses de açúcar.

As bancadas estão junto ao recinto. Salta àvista algumas semelhanças com Coimbra,desde os poucos patrocínios até ao reduzidonúmero de adeptos. São sete os da Académi-ca de Coimbra, dois os da Académica local.

Por momentos, o pavilhão foi nosso. FábioSimões, Yuri Teixeira, Nuno Tiago, GonçaloForte, Nuno Zuzarte, João Veríssimo, JoãoGonçalo, Carlos Marques, André Conde, Vi-tinho e Gonçalo Baptista são os briosos da

noite.

Começa o jogo…A Académica tomou a dianteira na partida

e guiou a vantagem até ao final do primeiroperíodo, vencendo por 24-21. Os gritos deincentivo, “virooou” e “ooohhpa”, estimula-vam o ritmo da partida. São poucas as pal-mas e os assobios, mas entoados em unísso-no, espalhavam animação pelo pavilhão.

Mas nem tudo corria bem. Nuno Tiago,apelidado de “caroço”, chora com dores noombro direito. Leal, que acumula a funçãode massagista com a de presidente, acalma ador com as mãos, tidas pelos jogadores co-mo “miraculosas”. O jogador enxuga as lá-grimas com o suor do esforço.

Os suplentes brincam entre eles com a bo-la. Os treinadores reclamam contra as deci-sões dos árbitros. A advogada e ex–jogadorado Clube de Voleibol de Oeiras, Joana Flo-res, concorda: “o árbitro está a sofrer pres-são por ter o público tão perto. Eles não po-dem olhar para trás”.

Principia o segundo set. Yuri espreita co-mo que um felino por cima do ombro de Vi-tinho, de forma a adivinhar a estratégia doadversário. O treinador, Carlos, masca apastilha e contorce-¯se à medida de cada jo-gada. Cerra os dentes, fricciona os lábios, fe-cha os olhos vivendo cada jogada como sefosse um interveniente directo. Com um jo-go mais equilibrado, a Académica de Espi-nho leva a melhor, vencendo por 18-25,igualando portanto a partida.

“Vá lá pessoal, vira já”, clama um adepto,seguindo–se um abraço conjunto dos acade-mistas. “AAC!”, gritam.

Na mesa de marcador, os elementos, ex-pectantes, mudam os pontos. Américo For-te, um deles, pára quando vê o filho e capi-tão da AAC, Gonçalo Forte, cair no chão.Procura manter–se imparcial roendo maisum pouco das unhas. Os jogadores com asmãos nas ancas também esperam. O spraymilagroso “salva” o capitão. Com o sinal doárbitro, em posição altiva, recomeça a parti-da.

Nos dois últimos “blocos”, a Académicafoi novamente superior e vencedora. No fimdo jogo, os sorrisos semblantes transpiram avitória. Um abraço colectivo dos jogadores eequipa técnica saúda o público que viajou 91quilómetros para ver a Briosa vencer.

O regozijo do triunfo“Finalmente” confessa Forte, respirando

fundo e apertando–me a mão. Já o técnicorecorda que “a equipa foi totalmente rees-truturada. Servimo–nos com jogadores dacasa, mas continuamos a trabalhar.” Segun-do Carlos Marques, os voos são outros. “Pa-ra já não assumimos a subida. Com a equipado ano passado era a nossa obrigação, mascom a deste ano, totalmente renovada, não”,lamenta.

A boa disposição reinou até casa. “Já nãome lembrava de duas vitórias”, diz Zuza, ojogador mais antigo da secção. No regresso,comeu–se, dormiu–se, jogou–se PES, leu-–se, mas a grande discussão encerrou–se nodesporto rei. Comentava–se o Paços de Fer-reira–Benfica, a disputar. Acabou tudo nojantar, com o som “Lonely” de Akon, no te-lemóvel do Leal. E bateram–se as últimaspalmas do dia. O próximo jogo é sábado!

�������������������������������� ����Voleibol masculino

PATRÍCIA COSTA

6 de Novembro de 2007, 3ª feira DDEESSPPOORRTTOO A CABRA 13

A boa disposição reinou até casa. “Já não me lembrava de duas vitórias”, diz Zuza

A“

Page 14: A CABRA – 172 – 06.11.2007

14 A CABRA CCUULLTTUURRAA 3ª feira, 6 de Novembro de 2007

C u l tu r apor ca

Recital de canto e PianoInterpretado pela soprano Raquel

Luís, com José Brandão ao pianoTeatro da Cerca de São Bernardo21h30; 5€

Conferência“A arquitectura como obra de arte to-tal: decoração e arquitectura”Por Domingos TavaresNo âmbito do ciclo de conferências “Acultura na arquitectura e a arquitectu-ra como cultura”Departamento de Arquitectura da UC;18H

“Uma ilha na Rua”Teatro e músicaUma peça “musicada” inte-grada no ciclo “Blake no

TAGV”, para as comemorações dos 250anos do nascimento de William Blake.TAGVDia 8 às 21h30; dia 9 às 15h e às 21h30;dia 10 às 21h30.10€ (Bilhete normal); 8€ (estudante)

Apresentação do álbum“Canções Prometidas”

UHFConcertoFNAC; 22H

“Formidável Académica”Exposição de FotografiaCasa da Cultura

Segunda a Sexta–feira das 9H às 19h30Sábado das 14H às 18h30

“Auto da Índia”Peça de teatro produzi-da pela companhia Es-cola da Noite, com tex-tos de Gil Vicente.Até dia 7 de Dezembro

os actores da Escola vestem a pele daspersonagens vicentinas, dando–lhesnovas vidas.11H e 15H ; 3€

Workshop do Ateneu deCoimbraFormação técnica de sonoplastia e

luminotécnicaTeatro da Cerca de São BernardoFormação dada pela Associação deTécnicos do Som ProfissionalDe 12 a 14

“Cogumelos silvestres e relevân-cia ecológica e gastronómica”Palestra por Maria Teresa GonçalvesA relação entre as pessoas e as plantasdocumentada num ciclo de debatesAnfiteatro do Departamento de Botâ-nica da Universidade de Coimbra18H

Por Carla Santos

7

A história é secular, mas conti-nua a correr o mundo. Mais decem anos depois da estreia, “A

Bela Adormecida” chega aCoimbra pela primeira vez

Pedro CrisóstomoCarolina de Sá

O Teatro Académico de Gil Vicente(TAGV) acolhe, quarta–feira, 21, o espectá-culo de bailado clássico “A Bela Adormeci-da”, pelo Ballet Estatal da Ópera de Bashkir.O espectáculo inicia em Coimbra a digres-são que vai correr Portugal até ao fim domês. Depois de “O Lago dos Cisnes” e “Que-bra–Nozes”, a cidade dos estudantes recebea criação artística que completa a trilogia docompositor russo Piotr Tchaikovsky.

Bailarinos de alta escola dão corpo a me-lodias clássicas e interpretam, em quatroactos, a história intemporal da Bela Ador-mecida. Na peça de Tchaikovsky, Aurora pi-ca–se num fuso de uma roca e permaneceadormecida durante um século, até que umbeijo do príncipe encantado a desperta. Oclássico de ballet alia um conto francês doséculo XVIII à composição russa do séculoXIX e conjuga os tradicionais passos de bai-lado com normas técnicas e estilísticas daescola de Bashkir.

S. Petersburgo conheceu a lendária “A Be-la Adormecida” em 1890. Desde então, assucessivas recriações da obra têm–se basea-do na coreografia original de Mario Petipa.O espectáculo que chega a Coimbra pelamão da companhia de Bashkir conserva a li-nha estrutural clássica do “Ballet Sympho-nique”, mantendo o estilo coreográfico tra-dicional.

“A Bela Adormecida” evidencia em palcoa dicotomia entre o bem e o mal, numa sim-biose entre música e linguagem de movi-mentos abstracta, que faz do ballet russo

uma forma de arte transversal. “O bailadoclássico é muito popular. É um género mui-to familiar”, explica o director do TAGV,Manuel Portela. O produtor do espectáculo,Carlos Maia, considera que os clássicos rus-sos estão “vocacionados para o grande pú-blico, pois são muito apelativos e sempreactuais”.

Segundo Manuel Portela, existe “algumaapetência natural do público para este tipode bailado”. No entanto, o director do TAGVafirma que “em Portugal ainda há muitopouca formação para a dança”, o que acabapor fazer com que o ballet desapareça “dosinteresses artísticos das pessoas”. Ainda as-sim, o País tem beneficiado do “influxo deartistas de Leste, que vão fazendo tournéesem cidades de média dimensão, comoCoimbra”, esclarece.

O próprio Ministério da Cultura confere àdança “relevância cultural”, abrindo espaço

à entrada de escolas estrangeiras e de reco-nhecimento internacional em Portugal.Neste campo, as companhias russas sãouma referência de qualidade o que torna osseus espectáculos “muito caros”, refere oprodutor de “A Bela Adormecida”. De acor-do com Manuel Portela, a vinda do BalletEstatal da Ópera de Bashkir a Coimbra tra-duz “a preocupação do TAGV em ter umaprogramação regular de dança”, quer a níveldo estilo clássico, quer a nível de produçãocontemporânea. O director do teatro acadé-mico lamenta, todavia, não poder acolherespectáculos nacionais e contemporâneosem maior número: “se a câmara fosse sensí-vel à situação e se tivéssemos um orçamen-to que nos permitisse, poderíamos ter con-dições para conseguir uma programação dedança melhor”. Manuel Portela admite que“de todas as áreas do TAGV, a dança é aque-la em que é preciso investir mais”.

���������������������������������� ��������������������������

��������������������������������������������������������������������������������������Coimbra recebe uma mostra

de escultura nacional contemporânea. As obras

marcam um período de transição na arte

escultórica portuguesa

Alexandre OliveiraVânia Silva

Serralves marca presença em Coim-bra, até ao início de 2008, com uma ex-posição no Pavilhão Centro de Portugal.Desta vez a exposição Serralves traz àcidade escultura abstracta das décadasde 1960 e 1970.

Na exposição estão representadasobras de alguns dos mais importantesnomes das artes plásticas contemporâ-neas, entre os quais se destacam “Os

Quatro Vintes” – Ângelo de Sousa, Ar-mando Alves, Jorge Pinheiro e José Ro-drigues –grupo portuense formado nadécada de 60.

O vereador da Cultura da CâmaraMunicipal de Coimbra, Mário Nunes,afirma que “esta exposição é das melho-res que já passaram pela cidade, temuma linguagem artística diferente e háuma dramática alteração do paradigmaque acontecia nos anos 60/70”.

A época de 60/70 foi marcada poruma alteração radical dos paradigmasartísticos em todo o mundo. As mudan-ças plásticas tiveram um grande impac-to em Portugal, na medida em que cor-responderam a uma emigração massivade artistas portugueses.

O adjunto do director do Museu deSerralves, Ricardo Nicolau, afirma que

“algumas das características da escultu-ra que se fazia lá fora foram assimiladaspelos artistas portugueses nesta altura”.

Na mostra grande parte das peças es-tão no chão o que é “uma revoluçãomuito importante na escultura, porquese estabelece uma relação entre o espec-tador e a obra de arte que se aproximada relação com os objectos do mundo”,explica Ricardo Nicolau. O adjunto dodirector considera a exposição “revolu-cionária na medida em que aproxima aexperiência artística da experiência doquotidiano”.

Até agora os principais visitantes damostra têm sido estudantes de arqui-tectura, arquitectos, engenheiros e pro-fessores universitários. A exposição vaiestar no pavilhão do Parque Verde doMondego até 6 de Janeiro de 2008.

ILUSTRAÇÃO POR RAFAEL ANTUNES

8

10

10

12

Até

A partir de

14Até

Page 15: A CABRA – 172 – 06.11.2007

Num mercado dominadopelos media generalistas, sobrevivem publicações

especializadas, destinadas apúblicos próprios

Ângela MonteiroVânia Silva

Numa altura em que se sente uma crise,não só no jornalismo, mas também a nívelda publicidade, continuam a existir em Por-tugal revistas destinadas a públicos especí-ficos. As temáticas que tratam são variadas,desde a arquitectura à música, passandopela informática e automóveis.

Em Novembro de 1984 nasce um jornalespecificamente ligado à música – “BLITZ”,que em Junho de 2006 muda de formatotornando–se uma revista. “Sentimos quefaltava em Portugal uma publicação destegénero”, justifica o director da “BLITZ”,Miguel Francisco Menezes. Com este novomodelo, a revista chega “a um público mui-to mais amplo e permite–nos contornar al-guns obstáculos” visto que, enquanto “jor-nal semanal sentia–se muito mais a con-corrência”, remata.

É em 1995 que é criada uma publicaçãodirigida aos amantes de computadores. A“EXAME INFORMÁTICA” é actualmente arevista da especialidade mais vendida emPortugal e “destina–se a ajudar a utilizar ocomputador, dar dicas, técnicas e explicarcomo se utiliza o software” explica o chefede redacção, Sérgio Magno. “Funciona tam-bém como um guia de compras, uma gran-de parte da revista são testes de hardware,software e conselhos”, acrescenta.

Para um público maioritariamente mas-culino, as revistas sobre automóveis apare-cem em 1989, ano em que surge a “AUTO-MOTOR”. O director, António de Sousa Pe-reira, afirma que, na altura, “o projectoapareceu mais como uma oportunidade,visto que, o mercado não estava esgotadopara fazer uma revista diferente”. Seis anosmais tarde, nasce “EXPOMOTOR”, do gru-po “Edições JPM, Lda” como uma tentativade colmatar “uma lacuna neste tipo de pu-blicações com a divulgação de automóveis eveículos usados para venda”, explica o ad-ministrador do grupo, Luís Menezes.

Uma organização particularO conteúdo especializado deste tipo de

revistas leva a que as redacções sejam cons-tituídas não só por jornalistas, mas tambémpor colaboradores da área. No entanto, odirector das revistas “PRODUÇÃO AUDIO”e “PRODUÇÂO PROFISSIONAL”, JoãoMartins, ressalva que “embora qualquerpessoa possa trabalhar numa revista espe-cializada, chega a um ponto em que se can-sa se o tema não é do seu interesse”. JoãoMartins acrescenta ainda que “se não setem gosto, não se é capaz de aprofundar ainvestigação que é preciso fazer sobre os te-mas”.

Na revista “BLITZ” a redacção é compos-ta por jornalistas de música, alguns dosquais transitaram do jornal, a publicaçãoconta ainda com a participação de colabo-radores. Também a redacção da revista“EXAME INFORMÁTICA” é constituídapor jornalistas, “não se pense que [a publi-cação] é escrita por técnicos de informática,são jornalistas que ao longo do tempo vãotendo formação na área”, explica SérgioMagno.

Tendo em conta a especificidade do pú-blico destas revistas, a publicidade foca osinteresses desses leitores e promove produ-tos com elas relacionados. Sérgio Magnodiz que “na ‘EXAME INFORMÁTICA’ pu-blicitam sobretudo fabricantes de compu-tadores, produtoras de software mas, comoé uma revista que vende bastante, há tam-bém muita publicidade generalista”. JoãoMartins explica que “ao ter uma circulaçãocontrolada (devido ao grande número deassinantes), a “PRODUÇÃO AUDIO” ga-rante à partida uma audiência ao anuncian-te”. Acrescenta ainda que “este tipo de re-vistas depende a 100 por cento da publici-dade pois, embora exista uma circulaçãoem banca os lucros dessa actividade são ir-relevantes”.

Uma crise “diferente”De acordo com um estudo realizado pela

Associação Portuguesa para o Controlo deTiragem e Circulação, na maioria das revis-tas do género, as tiragens diminuíram aolongo do ano 2006, reflectindo a crise quese sente na área. “Tem havido algumas os-cilações no último ano, mas nada que sepossa comparar com os meios de comuni-cação mais generalistas que têm sido maispenalizados” afirma, no entanto, Luís Me-nezes.

Por outro lado, João Martins, pensa que acrise não está directamente relacionadacom as vendas. Para o director das revistas“PRODUÇÃO AUDIO” e “PRODUÇÃOPROFISSIONAL”, “existem poucas pessoascom as qualificações necessárias, e com al-gum grau de experiência para ingressar nomeio”. “Às vezes é difícil ter uma carreiracoerente onde se acumule a experiência ne-cessária num meio especializado”conclui.

Humanos Virtuaise Máquinas Humanas

Vivemos numa sociedade do espectáculo.As relações sociais entre as pessoas são me-diatizadas por conjuntos mais ou menos es-truturados de imagens. Elas invadem–nosdiariamente, propulsionadas pelos mediade todos os tipos, levando–nos a (re)formaro nosso modo de ver o mundo e a condicio-nar o nosso desejo. E nos pouco momentosde lucidez que ainda ousamos ter formula-mos uma questão fundamental obrigadospela visualização da barbárie quotidiana: oque é (um) ser humano, o que nos torna(in)distinguíveis dos outros não humanoscom quem nos relacionamos?

Variadas são as respostas, da inteligênciaà cultura. Cedemos ao fascínio das nossasconstruções que nos dão, acreditamos, amedida da nossa diferença. Mas essas solu-ções, dos computadores aos telefones celu-lares, passando pelo expoente máximo daglobalização que é a Internet, mais não fize-ram do que afastarem–nos dos que estãoperto e aproximarem–nos dos que estãolonge.

Entre nós e os outros há uma barreira denada e no entanto os espaços comunicacio-nais estão cheios de silêncios, tornando es-te peso do nosso não–ser insustentável. So-mos cada vez mais seres (de)mentes, va-zio(a)s. Tornámo–nos humanos virtuais.

Para preencher este nosso vazio criamos“gadgets” sofisticados que nos permitamsentir (ainda) vivos. A procura do “iPhone”no seu primeiro dia diz tudo sobre o mitodo século XXI tecnológico, redentor. Al-guns interagem e criam uma falsa ilusãocomunicacional. Jogos de computadorescomo os Sims, são um exemplo disso: a sur-presa desaparece rapidamente e cede o lu-gar à monotonia dos comportamentos quenão surpreendem. Neste mundo de (au-to)reclusão, como tornar a nossa necessi-dade de consolo possível de satisfazer?Criando novos “gadgets” com emoções e se-dentos de as partilhar connosco. Fabrican-do máquinas humanas.

Existe hoje uma área conhecida por“Affective Computing” que se dedica a isso.Ir à Wikipedia e procurar por este termopode servir de porta de entrada para esteadmirável mundo novo das interacções en-tre humanos virtuais e máquinas humanas.“Kismet” do “MIT Media Lab” ou o “iCat”da Philips são protótipos dos “gadget” dofuturo, que muito em breve vamos poderter. Onde isto nos vai levar não sabemos.Sabemos apenas que a era dos “Tama-gotchi” terminou.

Por Ernesto Costa

Nota Editorial: A partir desta edição,o professor da FCTUC, Ernesto Costa,passa a colaborar mensalmente com apágina de Media

A especialização da imprensa é sinónimo da existência de diferentes públicos

�������������������������������� ����������������6 de Novembro de 2007, 3ª feira MMEEDDIIAA A CABRA 15

i Crónica

Também na Universidade de Coimbraexiste uma revista especializada. A “NU”foi criada em Abril de 2002 pelas mãosdos alunos do Departamento de Arqui-tectura da Faculdade de Ciências e Tec-nologia da Universidade de Coimbra (FC-TUC) com a “ambição de contribuir parao aumento da produção teórica sobre ar-quitectura que se sentia, e sente, escassaem Portugal”, explica o director da revis-ta, João Crisóstomo. Desde a sua criação,a “NU” pretendeu ser “um motor de di-vulgação de informação arquitectónica euma alavanca impulsionadora da críticados temas relacionados com a arquitectu-ra”, acrescenta.

Totalmente produzida pelos alunos doDepartamento de Arquitectura da FC-TUC, a revista conta com a participaçãode arquitectos e académicos de todo omundo e esteve já presente em eventosinternacionais, como a Bienal de Arqui-tectura de Veneza, em 2004.Para o futu-ro “o objectivo principal será sempre che-gar a um cada vez maior número de pes-soas”, afirma João Crisóstomo. O directorda “NU” compromete–se ainda a tentar“gerar maiores dinâmicas como a organi-zação de debates, conferências e exposi-ções”.

Tudo a “NU”

FRANCISCA BICHO

Page 16: A CABRA – 172 – 06.11.2007

������������������������

������������ ������������������ ��������������������

O outro planeta terror

Estávamos em 2002. Vindo do Reino Unido es-treou em todo o mundo “28 Days Later” de DannyBoyle, um filme que de certo modo veio ressuscitarum género que estava em hibernação há algumas dé-cadas: o terror zombie.

Descendente directo dos clássicos de Romero, estefilme britânico era intenso e perturbador. No mesmoano, mas vindo do outro lado do planeta, chegou–nos“Resident Evil” de Paul W. S. Anderson, a barulhentaadaptação de um videojogo de culto. Embora o con-ceito das duas películas fosse muito semelhante (umvírus que transforma as pessoas em devoradores decérebros e ameaça a humanidade), o filme de PaulAnderson era claramente direccionado para a acçãosem–cérebro, deixando a tensão e a profundidade pa-ra o parente inglês.

Cinco anos depois, e no mesmo ano em que curio-samente chega às salas a primeira sequela de “28Days Later”, chega–nos também a segunda sequelade “Resident Evil”, com o subtítulo de “Extinction”.

Vamos começar pela parte positiva: é melhor que“Resident Evil: Apocalypse”. Mas a melhoria não foiassim tanta. Basicamente ela prende–se com a subs-tituição de Alexander Witt por Russell Mulcahy (omítico realizador de “Highlander”, que não repetiu astrapalhadas à la “MTV” de Witt) e com a contrataçãode Eugenio Caballero, o criativo vencedor de um Ós-car pela direcção artística de “ O Labirinto do Fauno”.Caballero é magnífico na criação de um cenário pós-–apocalíptico credível e de encher o olho. Um verda-deiro desperdício de talento em comparação com oresto do filme.

“Resident Evil : Exticton” pode ser basicamentedescrito como um “Mad–Max” disfarçado de filme dezombies, com muita acção desmiolada, tiros, e umaMilla Jovovich de botas altas. O argumento, esse, tema espessura de uma folha de papel higiénico e a sub-tileza de um jantar de curso por altura de uma festaacadémica. Felizmente que, para bem da nossa sani-dade mental, são só 90 minutos. Caso contrário, tam-bém daríamos por nós a ter que chamar o INEM.

François Fernandes

�������� ������������������������������������������������������������������������

2|5

O coração das Trevas

Após o seu avião cair em território inimigo, emplena guerra do Vietname, o tenente Dieter olha emvolta para apenas encontrar selva. Ela rodeia-o portodos os lados: vegetação luxuriante e selvagem…bela, mas mortal. Quando ele a vê, sabe que está pe-rante o maior adversário que alguma vez o Homemenfrentou: a Natureza.

Esta imagem é uma reminiscência de “Aguirre,The Wrath of God”, um clássico que influenciou to-da uma geração de cineastas e acaba por estar na ori-gem de filmes como “Apocalypse Now”. Há doisgrandes motivos para mergulhar no negro universode Werner Herzog (um dos mais proeminentes ci-neastas alemães): o tratamento lírico das paisagensque filma e o retrato da natureza humana na sua lu-ta com o meio que a rodeia.

As imagens assombrosas da enorme selva do Laos,acompanhadas pelo som da música erudita de KlausBadelt, traduzem–se em momentos inesquecíveispara o espectador. Infelizmente, são cenas curtas,

adaptadas a um cinema mais dinâmico e moderno. Épena, pois nunca seria demais tentar recriar cenascom a beleza da “overture” de “Kaspar Hauser”.

Para completar o retrato está Carl Dieter, o avia-dor que no Laos, terá de sacrificar toda a sua huma-nidade para fugir a um campo de prisioneiros paraonde é levado, e sobreviver, sem meios, na selva.Christian Bale constrói a sua personagem de formaexemplar, conseguindo personificar todo o martíriofísico e psicológico que Dieter sofreu; Bale emagre-ceu diversos quilos, comeu lagartas e serpentes e te-ve o seu corpo coberto de sanguessugas. Tudo isso,enquanto mantinha um ar tresloucado e face de de-salento. Não admira que Herzog o tenha escolhidocomo “sucessor” de Klaus Kinski.

“Rescue Dawn” é a oportunidade perfeita para re-cuperar um dos maiores cineastas de sempre. É umapujante história sobre a sobrevivência e uma cruelviagem ao coração das trevas, com um lirismo audio-visual digno do adjectivo “poético”.

Rui Craveirinha

������������ ��!!��������""������##��$$��%%

4|5

16 A CABRA AARRTTEESS FFEEIITTAASS 3ª feira, 6 de Novembro de 2007

&&���� ��''������������

&&������������&&���� ��

(( ))���������������� ����������������

''������������������������ ��������$$(( ������������**����%%**���������� ��!!

A Cabra d’OuroA Cabra aconselha

Vale o bilheteA evitar Fraco Podia ser pior

�������+������*�������,�

CIN

EM

A

CIN

EM

A

Page 17: A CABRA – 172 – 06.11.2007

�������������

��������������������������������������������������������������������

�����������

������������������������������

�������2007

A moda do assobio veio para ficar. No Verão celebrizou-–se o de “Young Folks”, dos Peter, Bjorn and Jonh – ban-da–sonora de uma operadora de telemóveis de tons cor-–de–laranja. Agora, aos primeiros dias de Outuno, o asso-bio é outro. Único, cativante, viciante, inapagável. É o sominicial de “Superstars II”, primeiro ‘single’ do novo álbumde David Fonseca.

Explicação prévia número um: A expressão ‘aos primei-ros dias de Outuno’ é enganadora. Nem tem estado tempooutonal, nem “Dreams in Colour” é um disco castanho. Naverdade, o novo álbum de David Fonseca é – junto com “OJardim” do ex–Toranja Tiago Bettencourt – um rebuçadopop, refrescante e primaveril, que tem oferecido novas co-res aos dias soalheiros deste início de estação.

Explicação prévia número dois: O assobio de SuperstarsII não é apenas viciante, é também o perfeito antídoto pa-ra aquelas alturas em que se infiltra uma música irritantena nossa cabeça. Incomodados com a última da Beyoncé?Ora toca a assobiar: ‘dó–dó–si–lá–ré, ré–dó–dó–si–lá-–dó’.

Explicação prévia número três: Chega de explicaçõesprévias. Vamos falar de “Dreams in Colour”. Pois bem, oterceiro disco a solo do ex–vocalista dos Silence 4 é umaobra pop de uma mestria comprovada, que, sem ficar paraa história da humanidade, entretém muito bem. No novodisco, o senhor Fonseca dedica–se ao desafio de fugir àssuas baladas mais cinzentas (esqueçam “The 80’s”, que éde outro campeonato). E safa–se muito bem. Que é comoquem diz ‘prueba superada!’, já que Dreams in Colour é oálbum mais colorido, luminoso e – talvez mesmo – eufóri-co da carreira do leiriense.

Ao longo de 11 faixas e quase quarenta minutos de músi-ca, há de tudo. Assobios, palmas, coros, magia pop. Ou-vem–se influências electrónicas mais destravadas, as bala-das mais inocentes (poucas), e muita música contagiante.

Desde “4th chance” a “Dreams in colour” há mais de umpunhado de boas canções. Mas algumas destacam–se dasdemais. Começando pela tal “Superstars II”, ouçam–seainda “I see the world through you” (a balada que não can-sa), “Kiss me, oh kiss me” (deliciosa), “Silent void” (nervo-sa) e “This wind, temptation” (intensíssima).

Fechem com “This raging light” (também tem assobio).E tenham um bom Outono.

Rui Marques Simões

��������������������������������������������

“De quantas verdades se faz uma mentira?” esta é a questão que fica no ar nasprimeiras páginas do mais recente livro do escritor angolano José Eduardo Agua-lusa.. Numa solarenga manhã de Luanda um grupo de quatro pessoas deixa a ca-pital angolana em busca de uma história. Laurentina, uma das personagens prin-cipais, descobre que o seu pai biológico – Faustino Manso – morreu em África, evai procurar a verdadeira narrativa da sua vida. Sete mulheres e 18 filhos espalha-dos algures por Angola, Namíbia, África do Sul e Moçambique, é a conta feita.

As personagens perdem–se na viagem e vão deixando que as paisagens africanasse entranhem na pele de tal forma que, no virar de cada página é possível sentir umbafo quente, característico daquelas paragens.

Pela mão de Agualusa, o real deixa de fazer sentido e o oniríco parece realidade.Somos catapultados para mundos que se encadeiam dentro de um só mundo, o daÁfrica Austral. E debaixo do pó, calor e música, várias temáticas vão sendo explo-radas. Agualusa faz questão de deixar à flor da pele problemas de identidade dachamada geração crioula. Uma geração que não se identifica com o país de origemdos seus pais, mas há–de sentir–se sempre diferente na sociedade portuguesa. Nãosabem de onde são nem para onde vão. Dói fundo essa certa dose de indefinição ea recordação de situações xenófobas. Debaixo de um sol duro, duas viagens para-

lelas começam a desenhar–se. O narrador/ autor antecede as personagens no espaço, tempo, sons e sabores.Esse aspecto traz singularidade à narrativa mas também cria uma certa confusão inicial ao leitor mais despro-vido e desatento.

A África do escritor é dilacerada pela história, mas optimista, onde o progresso vai penetrando a pouco epouco. Não é um retrato habitual, antes cru e verdadeiro, onde a magia não deixa de estar presente em cadaacontecimento.

As mulheres de Faustino Manso são também elas retratos de mulheres do continente negro, que se deixa-ram seduzir pelo homem que “amava mulheres”.“As mulheres do meu pai” é uma obra assumidamente cine-matográfica, quase classificável como livro de viagens sem mapas, apenas intuição. Carla Santos

4|5

LER

��������������������������

Vamos morrer. Todos sabemos que a vida é finita e que, apesar de todos osprogressos da medicina, existem ainda doenças fatais ao ser humano. E se pu-déssemos viver eternamente? Até onde iríamos para poder ter tal privilégio?

“The Fountain” é uma história de amor, de sofrimento, que tem na morte aesperança de uma renovação.

Rachel Weisz é Izzi, esposa de Tom Creo (Hugh Jackman), vítima de umadoença terminal que rapidamente se desenvolve, sem perspectivas de cura outratamento possível. Tom é cientista e procura incessantemente uma soluçãoque permita reverter a iminência da morte da mulher, enquanto sente umaperda emocional enorme a apoderar–se de si.

Izzi é escritora e escreve uma história paralela à realidade acerca de um con-quistador espanhol que se vê tentado a procurar a vida eterna por amor à Rai-nha Isabel. Ao aperceber–se do seu estado terminal, Izzi pede a Tom que es-creva o último capítulo do seu livro. O paralelismo é por demais evidente naprocura pela eternidade, pela vida. Uma procura guiada pelo amor. É este pa-

ralelismo que nos guia e permite perceber e tirar as nossas próprias mensagens e conclusões acerca davida e da morte.

“The Fountain” é um filme bem conseguido, com efeitos visuais deliciosos e com uma fotografia lindís-sima. Ao longo da película somos bombardeados com simetrias estonteantes e contrastes luminosos ab-solutamente incríveis. Aliás, a luz e a escuridão são a chave estética do filme.

Contudo, por vezes o plano do imaginário torna–se demasiado abstracto, tornando a compreensãocomplicada e pouco concreta…

Sem conseguirem arrebatar o espectador, as interpretações de Hugh Jackman e Rachel Weisz são boas,com destaque para o visual “camaleão” de Jackman. Os extras têm uma mão–cheia de documentários in-teressantes e uma curiosa “entrevista mútua” entre Weisz e Jackman, na qual abordam a temática da pe-lícula.

Sem ser um filme extraordinário, The Fountain vale pela mensagem e sobretudo pela sua imagem, vi-sualmente arrebatadora… André Tejo

VER

4|5

4|5

������ ������� !!��������������������"##$

%��&�'������ (������ ����))������������������))����**����

����+��,����"##$

6 de Novembro de 2007, 3ª feira AARRTTEESS FFEEIITTAASS A CABRA 17

OUVIR

Page 18: A CABRA – 172 – 06.11.2007

No Alto Douro as fachadasdas casas senhoris e as janelas

enfeitadas são o espelho deuma cidade nortenha

Texto e foto por Filipa Faria

Na Serra do Marão, entre a aldeia de Bisa-lhães e o Solar de Mateus, encontra–se a pa-cata cidade de Vila Real. Numa manhã deSábado, as esplanadas do centro históricoenchem–se de pessoas que aproveitam paratomar o pequeno–almoço ou apenas o pri-meiro café do dia. Um ambiente ideal parapassear e conhecer Vila Real e os seus mo-numentos.

O ponto de partida é o posto de turismoque, só por si, merece o olhar atento do via-jante. A fachada do edifício, na principalavenida da cidade, é a da casa onde viveu afamília dos Marqueses de Vila Real. Da ori-ginal Casa dos Marqueses, hoje, só restam asameias e a janela de estilo manuelino.

Continuando pela avenida António Araújoencontramos a Sé Catedral, um dos maisprestigiados monumentos da cidade. A anti-ga igreja do convento São Domingos foi con-sagrada Sé de Vila Real em 1924.

No fim da avenida existe um espaço am-plo, o Largo da Câmara Municipal, onde seencontra a Casa Diogo Cão. Segundo a tradi-ção, ali nasceu, em data desconhecida, o na-vegador português que descobriu a costa su-doeste africana.

Perto dos paços do concelho, no Largo dos

Freitas, há mais uma casa importante para apopulação local. A habitação do antigo mari-nheiro Carvalho Araújo é composta pelastradicionais janelas com varandas, que épossível ver por toda a cidade. Vila Real nãodeixou de prestar homenagem ao homem domar no primeiro centenário da sua mortecom uma placa comemorativa nesse mesmolocal.

Chega a hora do lanche e a fome aperta.Na Rua da Misericórdia, a Casa Lapão é a es-pecialista na doçaria tradicional, as Cristas-

–de–Galo fazem as delícias dos que por lápassam. Estes doces são pastéis, em formade crista–de–galo, recheados com doce deovos misturado com amêndoas.

Ao subir as ruas estreitas do comércio en-contramos a Igreja dos Clérigos de Vila Real,de estilo barroco. A obra foi projectada pelomesmo arquitecto que desenhou a torre dosClérigos do Porto, Nicolau Nasoni.

Poucos metros acima, a Igreja de São Pe-dro foi construída no local onde já existiaoutra dedicada a São Nicolau. O espaço foi

concebido a mando de D. Pedro, abade deMouçós. Este local alberga ainda hoje a suasepultura. Também ali jaz Domingos Bote-lho da Fonseca que, em 1692, mandou re-vestir de azulejos e talha dourada o tecto dacapela, a sua principal característica.

O viajante não pode sair da cidade sempassar, mais uma vez, pela avenida AntónioAraújo. À saída despede–se dos jardins edas varandas que existem naquela rua emostram um pouco do que se pode encon-trar por toda a cidade.

�������������������������������� ����������������

No próximo fim–de–semana, a pequena aldeia do Açor, na serra da Maúnça noFundão, acolhe a sétima Festa da Castanha, também conhecida como a Festa de Ar-tes e Sabores da Maúnça.

A mostra gastronómica tem como principal atractivo cerca de duas dezenas detasquinhas que, partindo de receitas ancestrais, vão cozinhar os tradicionais mara-nho, chanfana, enchidos fumados e feijão com couves que vão deliciar os visitantes.

As sobremesas à base de castanha, o arroz–doce e os queijos de cabra e de ovelhatambém não vão faltar. Para acompanhar as iguarias da gastronomia portuguesa, aaldeia coloca à disposição uma panóplia de licores e aguardentes artesanais tais co-mo o licor de castanha, maçã e aguardente de medronho e mel. Os habitantes deAçor abrem as portas de suas casas a quem quiser provar os saborosos petiscos. Aorganização do evento assegura que quanto à sua confecção, “tudo é possível, umavez que os habitantes vão experimentando diferentes ingredientes e criam novos sa-bores”.

Além da mostra gastronómica, o fim–de–semana será preenchido com actuaçõesde grupos de bombos, por grupos de cantares locais e por um passeio pedestre. Ocertame tem vindo a conquistar a atenção e o estômago dos visitantes. A organiza-ção espera que a edição deste ano ultrapasse os três mil participantes que a mostraregistou no ano passado.

Susana Ramos

������������������������������������������ ����������������O bom tempo proporcionado pelo verão de São Martinho pode ser o mote para a progra-

mação de uma viagem. Ficam aqui sugestões que pelo mundo fora fazem jus ao exotismodescrito nos guias turísticos. Dê um salto à Tailândia onde, para além de apreciar uma pi-toresca cultura, poderá ainda assistir à cerimónia ‘Loi Krathong’, realizada a 11 de No-vembro por todo o país. Contudo, o melhor local para visualizar o evento é a cidade deSukhothai, situada na província do norte tailandês. Em plena lua cheia, milhões de peque-nos barcos feitos de flores e repletos de velas, desfilam nos rios iluminados pelo fogo de ar-tifício. Um espectáculo “sui generis” a não perder.

Se preferir algo mais excêntrico, sugerimos uma visita ao Peru. A localidade de Puno vaiacolher um festival de celebração da libertação da cidade aos Espanhóis no séc. XIX. É tam-bém feita uma homenagem aos espíritos do Lago Titicaca, apelidado ‘La Diablada’. Du-rante uma semana, visitantes e autóctones bebem e dançam junto ao lago. O ponto alto écelebrado através de uma grande parada em que todos os participantes se vestem de mons-tros e diabos, onde o vermelho predomina.

Na arenosa Tunísia realiza–se o ‘Oasis Festival’ em Tozeur. É caracterizado pelas corridasde camelos, danças tradicionais, actuações musicais e outros eventos folclóricos. Uma cons-tante do festival são os mercados onde é vendido tudo o que se possa imaginar. O ‘Oasis Fes-tival’ é a celebração das comunidades do deserto e da sua extraordinária paisagem.

Virginie Bastos e Emanuela Gomes

PUBLICIDADE

18 A CABRA VVIIAAGGEENNSS 3ª feira, 6 de Novembro de 2007

Agenda internacional

�������������������� �������� ����

Page 19: A CABRA – 172 – 06.11.2007

CONFISSÕES| MANUEL PIRES DA ROCHA* |45 anos | Director do Conservatóriode Música de Coimbra

Sou músico de formação, mas o meu destino acabou por ser um bocado mis-to. Digamos que sou um especialista em generalidades. Nasci em Coimbra e fui criado cá.A única herança que poderei ter vem da minha mãe, que quando eu era pequeno cantava notanque, como todas mães cantavam no tanque. Grande parte daquilo que sou como pessoae como profissional fundei-o no ambiente da escola de música onde aprendi os clássicos eo ambiente no GEFAC onde aprendi a música popular. Passei pela Associação como estu-dante não universitário. A Brigada foi um grupo que me apanhou quando eu tinha

catorze anos. Tinha vindo de uma campanha de alfabetização quando ainda não era do grupo. E onde pela primeira vez contacteicom aquilo que é deveras um puto de esquerda, que achava que a classe trabalhadora é qualquer coisa de poético. E só a apanhar va-gem é que eu reparei que a poesia da terra era bem mais dura e que fazia calos nas mãos. Na Brigada fiz um percurso diferente,o percurso de levar a música do povo ao povo, ao povo ele mesmo. Estive sempre ligado a movimentos políticos. Os meuspais participavam no MDP/CDE, portanto lembro–me perfeitamente de haver folhetos clandestinos na minha casa. Gostei de ter vi-vido a Revolução de Abril. Lembro–me de estar à espera da PIDE e de lhes atirar pedras. Sou músico quando tenho o violino nasmãos, sou actor quando tenho que desempenhar outros papéis e sou professor. Mas o que sou sobretudo é cidadão. Aprendi a verque o ser músico é uma função pura e simples, é muito pouco aquela fantasia do artista que é algo que está acimados homens. Não tenho a ideia de que um músico seja alguém que tenha um privilégio que qualquer um não tenha. Se pudesse serum instrumento, pedia para ser um violoncelo. Tento passar à minha filha os meus valores, mas estes não têm a ver com os sinais daminha existência. Tenho sons do meu tempo. Penso que o que é importante nisto não é a preservação, é a reinvenção. E a arte é em simesmo um exercício de reinvenção. Gostava de ser outras coisas. Gostava de ser arqueólogo, gostava de ser actor. Gostava mui-to de ser realizador de documentários. Vou continuar na música. Não é a minha vida que é interessante, o tempo em que vi-vi é que é interessante. No meu caso vou andando. Entrevista por João Miranda e Vânia Silva

* Participou recentemente no filme “Fados” de Carlos Saura

Tenho vivido dias difíceis. É tamanha atristeza, que quase não saio de casa. Há dias,a vizinha do 42 comentava com uma amiga:

- Aquele rapaz anda tão abatido! Nem pa-rece o mesmo! - Era de mim que elas fala-vam. Era eu, o tal rapaz.

A amargura é imensa. Não me conformo.A Latada chegou ao fim! A semana passoutão depressa, que não consegui aproveitarao máximo. Estou mesmo enfadado!

O que me deixa mais saudade é a movi-mentação nas ruas. Alunos mais velhos con-versam com alunos do primeiro ano e ofere-cem autênticas lições de sabedoria aos peti-zes. São frequentes os relatos sobre as maio-res bebedeiras da academia. Tudo regadocom avisados conselhos, sobre como aguen-tar quinze copos de vinho tinto de uma as-sentada, sem pingar a camisa do traje. Isto,depois dos cinco garrafões empinados du-rante o jantar. E do exemplo de civismo da-do, de vinte em vinte minutos, sob a formade urina, pelas paredes e portas da cidade.

Ao pensar no cortejo também fico nostál-gico. O percurso é conhecido e o objectivotambém. A comunidade estudantil sai dolargo D. Dinis e dirige–se, pelo trilho do cos-tume, até ao Mondego. O rio, nesse dia, fun-ciona como uma grande pia baptismal. Éque um penico, cheio de uma água enrique-cida com coliformes e estreptococos fecais,despejado pela cabeça de um estudante, va-le mais do que noitadas sucessivas de estu-

do. Este ritual iniciático faz de um estudan-te, um melhor estudante. Sublime.

Também me agrada, nesta Parade dos Pe-quenitos, o facto de todos estarem mascara-dos. Há quem se disfarce de estudante. Ou-tros há, que se mascaram não se sabe bemde quê, e depois temos as matrafonas. É ver-dade. Não há no país uma tão grande apro-ximação ao Carnaval de Torres Vedras. Ra-pazes viris, de barba farta, confundidos narua com as suas primas mais velhas… Aindapor cima, não parecem mostrar qualquerembaraço. Conhecem melhor forma de darinício à vida universitária?

E as latas? Sem elas não há Latada. Sãoimensos os alunos do primeiro ano que asarrastam pelas ruas da cidade. Já sinto falta

daquela melodia única. O Homem, quandoassim o entende, é capaz das mais admirá-veis façanhas. Uma guita, uma palete de la-tas vazias e os tornozelos virgens de um es-tudante de primeiro ano, e atingimos o céu.Os terríveis Caretos de Podence, com os seusbadalos endiabrados, ficam aquém destamanifestação sonora.

Mas nem tudo correu bem. Os coletes fe-mininos ensombraram a Latada. Estávamosprestes a passar despercebidos. Quase nemhouve críticas ao Governo. Ia ser diversãopura, como acontece há anos. As senhorasnão percebem que a pressão das lojas éenorme?

Crónica de Vítor André Mesquita

6 de Novembro de 2007, 3ª feira PPEENNUULLTTIIMMAA A CABRA 19

eLesITÁLIA Em Castelbuono, Sicília, a re-

colha do lixo é feita por seis burros. Osanimais contribuem, assim, para que omundo seja mais limpo, pois substituemos “poluentes” camiões da recolha de li-xo, justifica o presidente da câmara lo-cal. A equipa de asnos ajuda 10 mil habi-tantes a manterem a cidade limpa.

UNIÃO EUROPEIA Para todos aque-les que gostam de expressar as suas emo-ções com o característico grito de Tarzan,chegou uma boa notícia. No espaço euro-peu ele pode ser usado sem restrições.Após uma década em batalha judicial fi-cou decidido que o som símbolo do rei daselva não cumpre os requisitos para mar-ca registada. Os grandes perdedores sãoos netos do criador da personagem,Edgar Rice Burroughs.

ÁUSTRIA Viena recebeu a primeirafeira de divórcios do mundo. “Novo Co-meço” ofereceu aos visitantes conselhosespecializados para os que precisam oudesejam divorciar–se. Dicas para encon-trar um novo amor e testes de paternida-de foram outras das atracções da feira.

REINO UNIDO Com o aproximar daépoca natalícia começam a chegar às lojasos “presentes ideais”. A última moda sãoos peluches com formas de vírus e bacté-rias. Neste Natal oferecer a um amigo abactéria de salmonela, o vírus da gripe, daébola ou da raiva pode ser um motivo dealegria.

Ana Bela Ferreira

������������������������������������ ����������Eu

tUILUSTRAÇÃO POR JOSÉ MIGUEL PEREIRA

JOÃO MIRANDA

Page 20: A CABRA – 172 – 06.11.2007

Enquanto profissional assina sempre Figueiroa. Nem sequer quer dar a conheceros seus outros nomes. Nascido a 14 de Fevereiro de 1972 em Dakota do Sul (EUA),é um membro da tribo Sioux. Apesar das origens índias foi cedo para o Brasil, on-de cresceu. Com 12 anos já fazia caricaturas políticas, que vendia na escola.

Figueiroa pinta em público, para levar a arte à rua: “muitos artistas plásticos es-condem–se atrás das portas do atelier”, condena.

Gosta de todas as tintas, mas elege o óleo e o acrílico como materiais de prefe-rência. Porque “o óleo é romântico”, justifica.

Como pintores de eleição escolhe Delacroix, Miguel Ângelo e Van Gogh. Ao lon-go da sua carreira, Figueiroa tem procurado criar obras que representem “a forçae espiritualidade que existe em cada um de nós”.

A “Morte e Santo Sudário” (em cima) é uma obra recente do autor. A peça é deacrílico e tempera sobre cartão e o artista usou o próprio corpo para pintar o qua-dro.

Segundo o artista a criação representa “os crimes das pessoas”. O vermelho é osangue derramado. A figura humana é “o homem de colarinho branco que abafa apodridão”.

A obra faz parte da exposição Cross Art Away, prestes a chegar a Coimbra. O ar-tista mostra agora na cidade dos estudantes, depois de já ter exposto em galeriase museus nos EUA, Brasil, Argentina.

Figueiroa deu aulas nos seus três ateliers no Brasil (Recife), até ao dia em quedecidiu vir para a Europa atrás da sua “prioridade”: a pintura.

Mais obras do artista podem ser vistas no sítio crossartaway.zoing.pt.

Por Martha Mendes e Alexandre Oliveira

Mais informação disponível em:Redacção: Secção de Jornalismo,Associação Académica de Coimbra,Rua Padre António Vieira,3000 CoimbraTelf: 239 82 15 54 Fax: 239 82 15 54e-mail: [email protected]

Concepção/Produção:

Secção de Jornalismo da

Associação Académica de Coimbra

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA

PUBLICIDADE Cartoon por José Miguel Pereira

Força e espiritualidade| FigueiroaAcrílico, tempera ou óleo sobre cartão, 2007

Notas sobre arte...

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE