UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU
CURSO DE DIREITO
FABIANO HENRIQUE DOS ANJOS
SOCIEDADE LIMITADA: A RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS POR ATOS PRATICADOS PELA SOCIEDADE
BIGUAÇU 2008
FABIANO HENRIQUE DOS ANJOS
SOCIEDADE LIMITADA: A RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS POR ATOS PRATICADOS PELA SOCIEDADE
Monografia apresentada à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI , como requisito parcial a obtenção do grau em Bacharel em Direito. Orientador: Prof. MSc. Moacir José Serpa
BIGUAÇU 2008
SOCIEDADE LIMITADA: A RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS POR ATOS PRATICADOS PELA SOCIEDADE
Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel e
aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de
Ciências Sociais e Jurídicas.
Biguaçu, 13 de novembro de 2008.
Prof. MSc. Moacir José Serpa UNIVALI – Campus de Biguaçu
Orientador
Prof. MSc. Renato Heusi de Almeida UNIVALI – Campus de Biguaçu
Membro
Prof. Esp. Gabriel Paschoal Pítsica UNIVALI – Campus de Biguaçu
Membro
AGRADECIMENTO
Primeiramente, agradeço a Deus, por ter me dado a oportunidade de estar no mundo, e por estar sempre junto, guiando meus passos.
A toda minha família, em especial aos meus pais Dagoberto e Zurilda e minha irmã Danielle, agradeço todo o amor, carinho, compreensão e respeito com que sempre me trataram.
A minha esposa Kelly, por ser uma pessoa companheira, compreensiva e solidária, com amor e gratidão.
A todos os professores que me auxiliaram nesta etapa e principalmente meu orientador, Professor Moacir José Serpa, pela dedicação, conselhos, e pelo tempo dedicado ao desenvolvimento deste trabalho, como também pela sua amizade e sinceridades demonstrados.
A todos que colaboraram direta ou indiretamente para a concretização desta etapa, sem a necessidade de citação de nomes para não ser injusto.
Para todas essas pessoas presto meus agradecimentos e ofereço esta página.
Que Deus possa guiá-los todos os dias de suas vidas.
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade
pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do
Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o
Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Biguaçu, novembro de 2008
Fabiano Henrique dos Anjos Graduando
RESUMO
O objetivo deste trabalho é evidenciar a Sociedade Limitada, em acordo com o
Código Civil de 2002. Assim sendo, tratou-se de mostrar, sucintamente, o histórico
de empresário no Brasil, seus impedimentos legais para o exercício da atividade
empresarial, bem como a capacidade e incapacidade para tal desempenho. Fala-se,
ainda, da sociedade empresária no Direito brasileiro, os efeitos de sua
personificação e suas respectivas classificações em relação às pessoas dos sócios,
as obrigações sociais, ao seu regime de constituição e dissolução. Descreve-se,
também, em especificidade da Sociedade Limitada no Direito brasileiro, salientando
histórico e conceito, características, natureza jurídica, destaques sobre o capital
social deste tipo societário, com a sua forma de integralização, alteração, divisão em
quotas, e, também, a administração desta. Trata-se, finalmente, do tema principal
que é a responsabilidade dos sócios pelos atos praticados pela Sociedade Limitada,
ressaltando o que o Código Civil legislou para este tipo societário. Para o
desenvolvimento da pesquisa utilizou-se o método dedutivo, tendo como base às
técnicas de pesquisa bibliográfica, doutrinária, artigos em revista, internet, leis, etc.
O presente trabalho se encerra com as Considerações Finais, nas quais são
apresentados os pontos conclusivos.
RESUMEN
El objetivo de este trabajo es destacar la Sociedad Limitada de acuerdo con el
Código Civil de 2002. Así, se deben mostrar, brevemente, la historia del empresario
en Brasil, sus impedimentos legales para el ejercicio de la actividad empresarial, así
como la capacidad y la incapcidad de tales resultados. Hablando, todavía, de la
sociedad empresaria en lo Derecho Brasileño, los efectos de su personificación y su
respectiva classificación en relación con las personas de los socios, sus
obrigaciones sociales, a su sistema de constitución y la disolución. Describe,
también, en especificidad de la Sociedad Limitada en el Derecho Brasileño,
destacando histórico y el concepto, características, naturaleza jurídica, destaques
acerca del patrimonio social de esta sociedad, con su forma de integralización,
alteracíon, división en cuotas, y, también, la administración de esta. Tratando,
finalmente, del tema principal que es la responsabilidad de los socios por actos
praticados por la Sociedad Limitada, destacando lo que lo Código Civil legislou para
esta Sociedad. Para el desarrollo de la investigación utilizou el método deductivo,
tomando como base las técnicas de investigación bibliográfica, artículos en la
revista, internet, leyes, etc. El presente trabajo se concluye con las Consideraciones
Finales, en las cuáles se presentan los puntos concluyentes.
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CF Constituição Federal
CC/2002 Código Civil Brasileiro de 2002
CTN Código Tributário Nacional
CPC Código de Processo Civil
CDC Código do Consumidor
ROL DE CATEGORIAS
Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à
compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.
Sociedade Empresária
São as organizações econômicas, dotadas de personalidade jurídica e patrimônio
próprio, constituídas ordinariamente por mais de ma pessoa, que tem como objetivo
a produção ou troca de bens ou serviços com fins lucrativos. 1
Sociedade Limitada
Sociedades limitadas são aquelas formadas por duas ou mais pessoas, cuja
responsabilidade é identificada pelo valor de suas quotas, porém todos se obrigam
solidariamente em razão da integralização do capital social. 2
Sócios
Do latim socius (companheiro, associado, sócio) designa, em sentido amplo, a
pessoa que faz parte, que participa ou é membro de uma sociedade. 3
Responsabilidade
Responsabilidade exprime a obrigação de responder por alguma coisa. Quer
significar assim, a obrigação de satisfazer a prestação ou cumprir o fato atribuído ou
imputado à peoa por determinação legal. 4
Responsabilidade Limitada
É a limitação d sua obrigação perante a sociedade, que se cinge a meta contribuição
da parte do capital com que se obrigou nas sociedades limitadas. Estende-se a
responsabilidade dos cotistas até o limite do capital instituído pela sociedade. 5
1 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial / Marcelo M. Bertoldi, Márcia Carla Pereira Ribeiro – 3. ed.reform.,atual. e ampl. – São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2006. p.140. 2 MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial: empresa comercial, empresários individuais, microempresas, sociedades comerciais, fundo de comércio. Ed.rev. e atul. Rio de Janeiro, Forense, 2005l. p. 251. 3 SILVA, De Plácido e, Vocabulário Jurídico. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001 p. 769. 4 SILVA, De Plácido e, Vocabulário Jurídico. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 713. 5 SILVA, De Plácido e, Vocabulário Jurídico. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p.714.
Responsabilidade Ilimitada
Todos os sócios obrigam-se, por cinco anos, contados a partir do registro da
sociedade, solidariamente, pela totalidade do capital social em sua exata estimação,
designada no contrato social. Haverá nesse caso, a solidariedade entre os sócios
perante os credores da sociedade somente pelo que faltar para a integralização real
de todo o capital social. 6
Responsabilidade Solidária
Responsabilidade solidária é definida por lei. Diz que uma pessoa deve responder
pelos atos de outra em igual intensidade. Sócios de responsabilidade solidária: a
solidariedade passiva, aqui, consiste na possibilidade de se exigir o total da dívida
de um, ou de todos os integrantes da sociedade pelas dívidas sociais. 7
Responsabilidade Subsidiária
Por subsidiária entende-se a responsabilidade daquele que é obrigado a completar o
que o causador do dano ou débito não foi capaz de arcar sozinho. Na
Responsabilidade subsidiária os sócios são obrigados completar com seu
patrimônio, com os bens pessoais tudo aquilo que a sociedade não cumpriu
sozinha. 8
6 PAZZAGLINI FILHO, Marino, CATANESE Andréa Di Fuccio, Direito de Empresa no Novo Código Civil : Empresário Individual e Sociedades : Sociedade Limitada. 7 _____________________, A Responsabilidade dos dirigentes, http://www.peyon.com.br/artigos/ outubro01.htm - acesso em 19.10.2008. 8 _____________________, A Responsabilidade dos dirigentes, http://www.peyon.com.br/artigos/ outubro01.htm - acesso em 19.10.2008.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................................1
1. SOCIEDADE EMPRESÁRIA NO DIREITO BRASILEIRO ..............3
1.1. O EMPRESÁRIO NO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO....................................... 3
1.1.1. BREVES NOÇÕES HISTÓRICAS .......................................................................... 3
1.1.2. CAPACIDADE E INCAPACIDADE ......................................................................... 8
1.1.3. PROIBIDOS DE EXERCER ATIVIDADE EMPRESARIAL........................................... 10
1.2. A SOCIEDADE EMPRESÁRIA NO DIREITO BRASILEIRO ......................... 12
1.3. A PERSONALIZAÇÃO DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA............................. 14
1.4. CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS ............................. 15
1.4.1. CLASSIFICAÇÃO QUANTO A PESSOA DOS SÓCIOS.............................................. 16
1.4.2. CLASSIFICAÇÃO QUANTO ÀS OBRIGAÇÕES SOCIAIS ........................................... 18
1.4.3. CLASSIFICAÇÃO QUANTO A O REGIME DE CONSTITUIÇÃO E DISSOLUÇÃO ............. 19
2. SOCIEDADE LIMITADA NO DIREITO BRASILEIRO...................22
2.1. SOCIEDADE LIMITADA NO DIREITO BRASILEIRO................22
2.1.1. HISTÓRICO E CONCEITO ................................................................................. 22
2.1.2. CARACTERÍSITICAS........................................................................................ 24
2.1.2.1. DO CONTRATO SOCIAL ................................................................................ 25
2.1.2.2. DA RESPONSABILIDADE LIMITADA ................................................................. 27
2.2. A NATUREZA JURÍDICA DA SOCIEDADE LIMITADA................................ 29
2.2.1. OBJETO SOCIAL ............................................................................................ 28
2.2.2. DENOMINAÇÃO.............................................................................................. 29
2.3. O CAPITAL SOCIAL DA SOCIEDADE LIMITADA ....................................... 31
2.3.1. ALTERAÇÃO DO CAPITAL SOCIAL ..................................................................... 32
2.2.2. A QUOTA SOCIAL ........................................................................................... 35
2.4. ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE ............................................................ 38
3. SOCIEDADE LIMITADA: RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS
POR ATOS PRATICADOS PELA SOCIEDADE...............................41
3.1. DAS RESPONSABILIDADES LEGAIS DOS SÓCIOS NA SOCIEDADE
LIMITADA ............................................................................................................ 41
3.1.1. RESPONSABILIDADE LIMITADA......................................................................... 41
3.1.2. RESPONSABILIDADE ILIMITADA........................................................................ 44
3.1.3. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA ...................................................................... 46
3.1.4. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA.................................................................... 47
3.2. DAS RESPONSABILIDADES DOS SÓCIOS PELOS ATOS PRATICADOS
PELA SOCIEDADE.............................................................................................. 48
CONCLUSÃO ...................................................................................57
REFERÊNCIAS.................................................................................60
INTRODUÇÃO
A presente Monografia visa apresentar um estudo sobre a
Sociedade Limitada, tendo como objetivo identificar e destacar os efeitos estendidos
aos sócios decorrentes dos atos praticados pela Sociedade Limitada, obedecendo
ao ordenamento do Código Civil brasileiro de 2002, bem como, se pretende apontar,
as ramificações dos atos nas variadas esferas do direito brasileiro, e evidenciar a
cerca da responsabilização dos sócios perante a sociedade como: A
responsabilidade do sócio fica limitada à sua participação societária? O sócio
responde solidariamente pela falta de outro sócio? Há casos em que a
responsabilidade dos sócios passa a ser ilimitada? Os sócios respondem pelos atos
praticados pela sociedade de forma limitada e ilimitada?
Este trabalho está dividido em três capítulos, a saber:
No primeiro capítulo será abordado o empresário brasileiro em conformidade
com o Código Civil, sua evolução histórica e conceituação. Será apresentada uma
análise das pessoas capazes, incapazes e os proibidos de exercerem a atividade
empresária no Brasil. Em seguida, se passará para o conceito de sociedade
empresária no direito brasileiro, bem como sua personalização, seus tipos de
classificação, detalhando em função à pessoa dos sócios, quanto às obrigações
sociais e quanto ao seu regime de constituição e dissolução.
No capítulo seguinte discorre-se acerca da Sociedade Limitada no Direito
brasileiro a partir de seu histórico e conceito. Nesse capítulo se falará das suas
características, sendo a limitação da responsabilidade dos sócios e a
contratualidade. Passará a ser descrito sobre a natureza jurídica da sociedade
limitada, seu objeto social e denominação. E por fim se falará do capital social da
sociedade limitada, sua forma de integralização, alteração, sua representação por
meio de quotas sociais e da administração da sociedade.
O capítulo terceiro tratará sobre o tema principal do trabalho. Inicia-se
discorrendo sobre as responsabilidades legais dos sócios na Sociedade Limitada,
especificadas em responsabilidade limitada, Ilimitada, solidária e subsidiária.
2
Finalmente, desenvolve-se o tópico que levou a ensejar à realização desta
monografia como tema principal do trabalho, Sociedade Limitada: a
responsabilidade dos sócios pelos atos praticados na sociedade e em nome dela,
responsabilidades estas em acordo com a legislação de direito tributário, trabalhista,
comercial, do direito do meio ambiente e do consumidor.
Para o desenvolvimento da pesquisa será utilizado o método dedutivo, tendo
como base às técnicas de pesquisa bibliográfica, doutrinária, artigos em revista,
internet, leis, etc.
O encerramento do presente Relatório de Pesquisa se dá com as
conclusões, nas quais são apresentados pontos conclusivos relevantes, seguidos do
estímulo à continuidade dos estudos sobre o tema em relação aos variados ramos
do direito.
CAPÍTULO 1
1. A SOCIEDADE EMPRESÁRIA NO DIREITO BRASILEIRO
Este capítulo tratará sobre a sociedade empresária no direito brasileiro, para
tanto, passa-se a examinar sua transformação, seu surgimento no Brasil,
descrevendo sobre os capazes, incapazes e impedidos de exercer atividade
empresarial, suas características e, por derradeiro, abordará a personalização da
sociedade.
1.1.O EMPRESÁRIO NO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO
1.1.1 Breves Noções Históricas
Com o intuito de facilitar a compreensão das Sociedades Empresárias no
Direito Brasileiro, torna-se necessário analisar, sinteticamente, seu surgimento e
desenvolvimento no Brasil e no mundo.
Surgindo como uma profissão nos tempos mais recuados, o comércio
começou a se desenvolver, na Idade Média, com o florescimento das cidades
italianas, onde os comerciantes formavam uma classe especial, possuindo, inclusive,
jurisdição própria, tribunais que se formavam com a finalidade de tomar
conhecimento e julgar todos os casos em que fossem artes aqueles que exercitavam
o comércio. 9
Segundo Marcelo Bertoldi:
No entanto, foi na pujança mercantilista na Idade Média, especialmente nas cidades italianas, que surgiu o modelo mais próximo do que hoje se entende por sociedade empresária, desenvolvendo-se a idéia e separação dos patrimônios dos sócios em relação ao patrimônio da sociedade. Nessa época, as sociedades eram eminentemente intuitu personae, ou seja, o que aproximava os sócios eram suas características pessoais e seus objetivos em comum. É o que se denomina de affectio societatis, característica
9 MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercia: empresa comercial, empresários individuais, microempresas, sociedades comerciais, fundo de comércio. Ed.rev. e atul. Rio de Janeiro, Forense, 2005. p. 85.
4
existente até os dias de hoje nas chamadas sociedades de pessoas. 10
Com a Revolução Francesa, consequentemente o fim das às corporações,
ampliou-se a liberdade para todos os que quisessem praticar o comércio. Porém,
mesmo com essa liberdade ampla, só seria comerciante aquele que faz o exercício
das atividades comerciais uma profissão. Para que uma atividade possa constituir
uma profissão, praticando de maneira permanente, repetindo habitualmente os
mesmos atos. É nessa permanência na prática de atos, com a sujeição a princípios
legais reguladores da atividade, que se caracteriza a profissão comercial. 11
Não se torna evidentemente necessário que a pessoa inscreva como comerciante para que seja considerada como tal, já que são reconhecidos os comerciantes de fato. Se contudo não exercer o comércio com habitualidade, se não se organizar para a prática desses atos, se apenas esporadicamente realizar uma compra para revenda com o intuito de lucro, não se poderá, seguramente, dizer que essa pessoa está exercendo uma profissão, e tal caso, a qualidade de comerciante não lhe pode ser outorgada12
O Código Francês define, no art. 1°os comerciantes como "as pessoas que
exercem atos do comércio e deles fazem profissão habitual" Nestas condições, são
necessários dois requisitos pra que alguém possa ser considerado como
comerciante, segundo a lei francesa. Esses requisitos são: a prática de atos de
comércio e a profissionalidade habitual. 13
Segundo Fran Martins, “O Código Espanhol primitivo, de 1829, divergiu do
sistema francês na caracterização do comerciante”. 14
Assim, no art. 1°, estatuía aquele diploma legal: "Reputam-se comerciantes as pessoas que, tendo capacidade legal para exercer o comércio, se hajam inscrito na matrícula dos comerciantes e tenham por ocupação habitual e ordinária o tráfico mercantil, fundado nele o seu estado político”. O art. 11 do referido Código acrescentava que “toda pessoa que se dedique ao comércio está obrigada a inscrever-se na matrícula dos comerciantes da província”. Nestas condições, verifica-se que o Código Comercial Espanhol de 1829 requeria, além da prática habitual de atos do comércio, que as pessoas estivessem
10 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial / Marcelo M. Bertoldi, Márcia Carla Pereira Ribeiro – 3. ed.reform.,atual. E ampl. – São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2006. p. 139. 11 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. p. 87. 12 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. p. 86. 13 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. p. 87. 14 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. p. 87.
5
matriculadas como comerciantes para serem consideradas como tais. 15
Menciona Fran Martins que “o Código Espanhol de 1885 adotou sistema
semelhante ao francês, ao declarar que são comerciantes "os que, tendo
capacidade legal para exercer o comércio, a ele se dedicam habitualmente" (art. 1°,
n° I)”. 16
O Código Italiano de 1887 seguiu a orientação francesa, reputando comerciante (art.8°) "os que exercitam atos de comércio, por profissão habitual, e as sociedades comerciais", e enumerando, no art. 3", os atos que a lei considera como comerciais. Substituído o Código Comercial de 1887 pelo Código Civil de 1942, no qual foi feita a unificação formal do Direito Civil com o Comercial, baseou esse Código o exercício do comércio na empresa, e, nessas condições, em vez de caracterizar o comerciante, definiu o empresário somo sendo "aquele que exercita profissionalmente uma atividade econômica organizada com o fim da produção ou da torça de bens ou de serviços"(art. 2.082).17
Segundo Rubens Requião18, “não há dúvida de que o empresário, na
linguagem do direito moderno, é o antigo comerciante. Nesse aspecto, portanto, as
expressões são sinônimas”.
É necessário que haja a compreensão que a figura do comerciante,
impregnou um sistema de regras capitalistas de compreensão, fruto do
individualismo e egocentrismo. 19
Hoje o conceito social de empresa, como o exercício de uma atividade organizada, destinada à produção ou circulação de bens ou de serviços, na qual se refletem expressivos interesses coletivos, faz com que o empresário comercial não continue sendo empreendedor egoísta, divorciado daqueles interesses geras, porém um produtor impulsionado pela persecução de lucro, é verdade, consciente de que constitui uma peça importante no mecanismo da sociedade humana. Não é ele, enfim, um homem isolado, divorciado dos anseios gerais da coletividade em que vive. 20
O Código Comercial Brasileiro, com influências do Código português de
1833, e pelo espanhol de 1829, não definiu o comerciante, mas declarou, no at. 4°,
15 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. p. 87 16 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. p. 87 17 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. p. 88. 18 REQUIÂO, Rubens. Curso de direito comercial. 1º volume – 27. ed. Ver. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2007. p. 76. 19 REQUIÂO, Rubens. Curso de Direito comercial. p. 76 20 REQUIÂO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 76.
6
que somente os que estivessem matriculados no Tribunal do Comércio e fizessem
da mercantia profissão habitual poderiam gozar dos favores da lei comercial.21
Baseado no sistema francês o sistema brasileiro qualificou objetivamente o
comerciante, como aquele que exerce atos de comércio e dele faz profissão
habitual, nos termos do art. 1° do Código Comercial francês de 1807, ou seja, é pelo
simples exercício do comércio que se determina se alguém é o u não comerciante. 22
Marcelo M. Bertoldi destaca:
Com a edição do atual Código Civil, o sistema de qualificação do agora denominado empresário não muda, ou seja, basta que alguém exerça profissionalmente atividade econômica para a produção ou a circulação de bens ou serviços, independentemente de qualquer registro, que será considerado empresário para todos os efeitos. No entanto, além dele existem outros sistemas legislativos para a qualificação do comerciante, entre os quais vale destacar o antigo sistema espanhol, o suíço e o alemão. 23
Assim sendo, pelo sistema do Código Brasileiro, para ser considerado
comerciante, seria necessário que a pessoa estivesse matriculada em algum dos
Tribunais de Comércio e fizesse da prática de atos de comércio sua profissão
habitual.24
Conforme Fran Martins:
Assim, a Matrícula obrigatória dos comerciantes foi abolida pela Lei n°2.622, de 9 de setembro de 1875, que suprimiu os Tribunais do Comércio, determinando, em sua substituição,que fossem criadas as Juntas Comerciais, sem conservar, contudo , aquela obrigatoriedade de matrícula estatuída pelo art. 4° do Código Comercial. Nestas condições, segundo a lei brasileira em vigor, são comerciantes os que exercitam atos do comércio, de modo profissional, ou seja, repetidamente, com o intuito de lucro, sendo também regidos pela lei mercantil outros atos reputados como comerciais, ainda que não sejam praticados profissionalmente pelos comerciantes.25
21 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. p. 88 – 89. 22 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial. p. 53-54. 23 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial. p. 53-54. 24 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. p. 89. 25 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. p. 89.
7
Segundo o Código Civil26 em seu artigo 966, “considera-se empresário quem
exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a
circulação de bens ou de serviços”.
A doutrina associa a noção de exercício profissional sob três ordens A
primeira diz respeito à habitualidade. Não se considera profissional quem realiza
tarefas de modo esporádico. O aspecto da habitualidade. O segundo aspecto do
profissionalismo é a pessoalidade. O empresário, no exercício da atividade
empresarial, deve contratar empregados. São estes que, materialmente falando,
produzem ou fazem circular bens ou serviços. O requisito da pessoalidade explica
por que não é o empregado considerado empresário. Por fim a decorrência mais
relevante da noção está no monopólio das informações que o empresário detém
sobre o produto ou serviço objeto de sua empresa. 27
Fábio Ulhoa Coelho salienta:
Não será empresário, por conseguinte, aquele que organizar episodicamente a produção de certa mercadoria, mesmo destinando-a a venda no mercado. Se está apenas fazendo um teste, com o objetivo de verificar se tem apreço ou desapreço pela vida empresarial ou para socorrer situação emergencial em suas finanças, e não se torna habitual o exercício da atividade, então ele não é empresário. 28
Fábio Ulhoa29 conceitua “o complexo de bens reunidos pelo empresário para
o desenvolvimento de sua atividade econômica é o estabelecimento empresarial”.
O Código Civil Brasileiro30 em seu artigo 1.142 descreve: “considera-se
estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por
empresário, ou por sociedade empresária”.
Pelo fato de o comerciante reunir bens de naturezas variadas, como as
mercadorias, máquinas, instalações, tecnologia, em função do exercício de sua
atividade, tem por conseqüência agregada a esse conjunto de bens uma
26 BRASIL, Código civil e legislação civil em vigor / organização, seleção e notas Theotônio Negra, com a colaboração de José Roberto Ferreira Gouvêa. – 21. ed. Atual. Até 16 de janeiro de 2002. – São Paulo: Saraiva, 2002. p. 1479. 27 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. – 14. ed.rev. e atual. – São Paulo: Saraiva 2003. p. 11. 28 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. p. 11. 29 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. p. 57. 30 BRASIL, Código civil e legislação civil em vigor. p. 1507.
8
organização racional que importará no aumento do seu valor enquanto continuarem
reunidos. 31
Fábio Ulhoa Afirma:
O estabelecimento empresarial, como um bem do patrimônio do empresário, não se confunde, assim, com o s bens que o compõem. Desta forma, admite-se, até certos limites, que os seus elementos componentes sejam desagregados do estabelecimento empresarial, sem que este tenha seque o seu valor diminuído. Claro está que a desarticulação de todos os bens, a desorganização daquilo que se encontrava organizado, importará desativação do estabelecimento empresarial, em sua destruição, perdendo-se o valo agregado pelo empresário ao dos elementos que o compunham. 32
Em seguida passa a tratar da questão dos legalmente capazes, incapazes e
os proibidos de exercerem atividade empresarial.
1.1.2. Capacidade e Incapacidade
Todo homem é capaz de direitos e obrigações, sendo que, segundo o
Código Civil de 2002 em seu artigo 5º, para que adquira plena capacidade,
estabelece o limite mínimo de 18 anos de idade. Assim, toda pessoa maior de 18
anos, portanto, seja homem ou mulher, nacional ou estrangeira, pode exercer a
profissão mercantil no Brasil. 33
Há casos onde o legislador limitou o exercício pessoal de direitos, em função
da idade, saúde ou cognição mental de determinadas pessoas, levando em
consideração a necessidade de sua proteção, onde os incapazes estão classificados
em absolutamente incapazes e relativamente incapazes. 34
Rubens Requião destaca que:
O regime de capacidade do menor, segundo o novo Código Civil, distingue o menor absolutamente incapaz e o relativamente incapaz. Na primeira categoria formam os menores de 16 anos e, na segundo os maiores de 16 e menores de 18 anos. Aos 18 anos, portanto, cessa a menoridade, ficando habilitado o indivíduo para todos os
31 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. p. 57 - 58 32 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. p. 58- 59. 33 REQUIÂO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 86. 34 BERTOLDI, Marcelo M. Curso Avançado de direito comercial. p.59
9
atos da vida civil e, consequentemente, também para a atividade empresarial. 35
Conforme Rubens Requião36, “o menor relativamente incapaz pode adquirir
a capacidade antes de completar 18 anos o Artigo 5º, parágrafo único, do Código
Civil, enumera essas hipóteses”.
Cessa a incapacidade pela concessão do pai, ou, se for morto, da mãe, e por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver 16 anos cumpridos. Cessa também, a incapacidade pelo casamento, pelo exercício de emprego público efetivo, pela colação de grau científico em curso de ensino superior e pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor de 16 anos completos tenha economia própria. 37
Menciona Rubens Requião38, que “o menor entre 16 e 18 anos pode ser
sócio de sociedade, desde que emancipado, ou com 16 anos quando se emancipar
pelo seu estabelecimento com economia própria”.
O Código Civil em seu artigo 972 estabelece que “podem exercer a atividade
de empresário os que tiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem
legalmente impedidos”. 39
Está estabelecido no art. 974, no entanto, o atual Código Civil que o incapaz
poderá, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa
antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor da herança.
Para tanto precede-se autorização judicial, após exame das circunstancias e dos
riscos da empresa, bem como da conveniência de continuá-la, podendo a
autorização ser revogada pelo juiz, ouvidos pais, tutores ou representantes legais do
menor ou do interdito, sem prejuízo dos direitos de terceiros.40
As hipóteses do Código Civil são substancialmente diferentes da antiga autorização para comerciar prevista no Código Comercial. Primeiro, porque o art. 974 prevê o caso do comerciante que e interditado, ou do menor que recebe, em herança, empresa. Não se trata aqui do esforço do menor para se estabelecer com economia própria no comércio. Examina o artigo citado a continuidade de um
35 REQUIÂO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 91. 36 REQUIÂO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 92. 37 REQUIÂO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 92. 38 REQUIÂO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 95 - 96. 39 BRASIL, Código civil e legislação civil em vigor. p. 1480. 40 REQUIÂO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 94.
10
negócio já estabelecido,seja pelo interditado, seja pelo autor da sucessão. Em segundo lugar, quem concede a autorização, ou pode revogá-la, é o juiz, que examinará os riscos da empresa e a conveniência de continuá-la. 41
Bertoldi destaca que “os estrangeiros podem desempenhar atividade
empresarial, desde que regularmente respeitadas as normas atinentes à sua
permanência no território nacional, no termos do Estatuto do Estrangeiro, Lei
6.815/80”. 42
Salienta, ainda, o autor que por questões de política econômica ou
segurança nacional, em algumas hipóteses ocorrem restrições aos estrangeiros,
como a exploração de jazidas e potenciais hidroelétricos. 43
1.1.3. Proibidos de Exercer a Atividade Empresarial
O Direito brasileiro apresenta algumas hipóteses proibitivas de acesso de
pessoas ao exercício da atividade empresarial.
A esse respeito Rubens Requião enumera:
Os interditos – os que, por enfermidades ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil, ou aqueles que, por causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade, os deficientes mentais, os viciados tóxicos, os excepcionais sem completo desenvolvimento mental, os pródigos – estão, por serem declarados incapazes, submetidos a regime especial sob a responsabilidade de um curador, que lhes administra os bens. Os pródigos quando interditados, estão privados de, sem assistência de curador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar,em geral, os atos que não sejam de mera administração (art. 1782 do Código Civil). Nestas condições, segundo o atual Código Civil, aqueles que, por “enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil”, ou os surdos-mudos, que, por esta “causa duradoura”, não puderem exprimir sua vontade, e por isso absolutamente incapazes, nem os pródigos, que são relativamente incapazes, podem se estabelecer no comércio. O curador não pode fazê-lo em seu nome. 44
Deve-se ressaltar que os proibidos de exercer atividade empresarial
possuem plena capacidade para a prática dos atos e negócios jurídicos, todavia oo
41 REQUIÂO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 94 - 95. 42 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial. p. 63. 43 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial. p. 63. 44 REQUIÂO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 97.
11
ordenamento jurídico brasileiro em vigor vedou prudentemente o exercício dessa
atividade profissional. A atual Constituição da República Federativa do Brasil de
1988, estabelece que o exercício de profissão estará sujeito ao atendimento dos
requisitos previstos em lei ordinária (CF, Art.5º, XIII), que fundamenta a validade das
proibições ao exercício da empresa. 45
Para o direito comercial o principal caso de proibição para o exercício da
atividade empresarial é o do falido não-reabilitado. O empresário que teve sua
quebra judicialmente decretada, só poderá retomar a atividade empresarial após sua
reabilitação decretada judicialmente. 46
Para Fábio Ulhoa Coelho:
Se a falência não foi fraudulenta, ou seja, não incorreu o falido em crime falimentar, basta a declaração de extinção das obrigações para considerar-se reabilitado. Se, no entanto, foi o falido condenado por crime falimentar, deverá, após o decurso do prazo legal, obter, além da declaração de extinção das obrigações, a sua reabilitação penal. 47
Estão ainda proibidos pelo direito comercial de exercer atividade empresarial
àqueles que foram condenados pela prática de crime cuja pena vede o acesso à
atividade empresarial. Assim, sendo aplicada, pelo juízo criminal a pena de vedação
do exercício do comércio a determinada pessoa, a Junta Comercial não poderá
arquivar ato constitutivo de empresa, individual ou societária, em que o nome dessa
pessoa figure como titular ou administrador. A proibição se encerra com a concessão
judicial da reabilitação penal. 48
Lembra Marcelo Bertoldi:
Estão proibidos de exercer o comércio os militares, integrantes das forças armadas – marinha, exército ou aeronáutica -, além dos integrantes dos efetivos militares sob a responsabilidade dos Estados e Distrito Federal. Evidentemente que esta restrição não tem cabimento em se tratando de militares reformados. Os auxiliares do empresário (entre eles os leiloeiros, corretores, despachantes aduaneiros) não podem exercer atividade empresarial por absoluta incompatibilidade com as funções que desempenham, tendo em vista
45 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. p.32. 46 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. p.32. 47 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. p.32. 48 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. p.32.
12
a importância de seus cargos, que são inclusive considerados de interesse público. 49
A pessoa que exerce atividade empresarial, estando proibida de exercê-la,
estará desenvolvendo uma atividade irregular e sujeito a uma série de penalizações
estabelecidas em leis próprias. É o caso da Lei. 8.112/90, que dispõe sobre o regime
jurídico dos servidores públicos civis da União, que impõe a perda do cargo àquele
funcionário que participar da gerência ou administração de empresa privada (arts.
117 e 132). Trata-se de pena de natureza administrativa. 50
A seguir passa-se a falar da Sociedade empresária no Direito brasileiro.
1.2. A SOCIEDADE EMPRESÁRIA NO DIREITO BRASILEIRO
Para conceituar a sociedade empresária, serve-se de alicerce a pessoa
jurídica e a atividade empresarial. Preliminarmente, aproximando-se ao conteúdo
deste conceito, tem-se a idéia de que a pessoa jurídica empresária exerce atividade
econômica sob a forma de empresa. 51
Para Fábio Ulhoa, o direito brasileiro divide as pessoas jurídicas em dois
grupos. De um lado, as pessoas jurídicas de direito público, tais a União, os Estados,
os Municípios, o distrito Federal, os Territórios e as autarquias; de outro, as de
direito privado, compreendendo todas as demais. 52
Segundo o autor:
O que diferencia um de outro grupo é o regime jurídico a que se encontram submetidos. As pessoas jurídicas de direito público gozam de uma posição jurídica diferenciada em razão da supremacia dos interesses que o direito encarregou-as de tutelar; já as de direito privado estão sujeitas a um regime jurídico caracterizado pela isonomia, inexistindo valoração diferenciada dos interesses definidos por elas. Uma pessoa jurídica de direito público se relaciona com uma pessoa de direito privado em posição privilegiada, ao passo que as de direito privado se relacionam entre si em pé de igualdade. 53
Fran Martins afirma que a sociedade empresária é denominada de
organização proveniente de acordo de duas ou mais pessoas, pactuadas pela
49 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial. p. 63. 50 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial. p. 64. 51 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. p.109. 52 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. p.109. 53 COELHO, Fábio Ulhoa.Manual de direito comercial.p.109-110.
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reunião de capitais e trabalho, objetivando o fim lucrativo, podendo advir de contrato,
ou ato correspondente, criando sua personalidade jurídica, separando-se das
pessoas que a constituíram. 54
Menciona ainda, o auto que:
O Código civil descortina o mesmo espírito, conforme o artigo 982 do diploma normativo, porém só reconhece o caráter empresarial por meio de registro; sem a respectiva feitura ditas sociedades são consideradas em comum a teor dos artigos 986 e seguintes do citado Códex. Diante da natureza do contrato plurilateral, típico das companhias, o Código intitula as sociedades anônimas empresárias, e as simples, ao lado das cooperativas, frente à natureza e sem a perspectiva específica do lucro, conquanto possam revestir forma comercial. 55
Para Fábio Ulhoa Coelho56 as sociedades, por sua vez, se distinguem da
associação e da fundação em virtude de seu escopo negocial, e se subdividem em
sociedades simples e empresárias.
A esse respeito afirma que:
A distinção entre sociedades simples e empresária não reside, como poderia pensar, no intuito lucrativo. Embora seja a essência de qualquer sociedade empresária a persecução de lucros – inexiste pessoa jurídica dessa categoria com fins filantrópicos ou pios –, este é um critério insuficiente para destacá-la da sociedade simples. Isto porque também há sociedades não empresárias com escopo lucrativo, tais as sociedades de advogados, as rurais em registro na Junta etc. O que irá caracterizar a pessoa jurídica de direito privado não estatal como sociedade simples ou empresária será o modo de explorar seu objeto. O objeto social explorado sem empresarialidade confere à sociedade o caráter de simples, enquanto a exploração empresarial do objeto social caracterizará a sociedade como empresária. 57
Fabio Ulhoa58 define sociedade empresária “como a pessoa jurídica de
direito privado não estatal, que explora empresarialmente seu objeto social ou a
forma de sociedade por ações”.
54 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. p. 169. 55 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial, volume 2 – 8. ed. – São Paulo: Saraiva, 2005. p. 169. 56 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. p.110. 57 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. p.110 -111. 58 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. p.111.
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O Código Civil59 de 2002, em seu art. 982, descreve: “salvo as exceções
expressas, considera empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de
atividade própria de empresário sujeito a registro; e, simples as demais”.
A seguir passa-se a apresentar a personalização da sociedade empresária,
bem como seus efeitos.
1.3. A PERSONALIZAÇÃO DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA
É de se salientar que a pessoa jurídica não deve ser confundida com as
pessoas que as compõem. Ambas possuem personalidades distintas, o qual
juridicamente deve ser respeitado.
Sobre personalidade jurídica Fábio Ulhoa comenta:
A pessoa jurídica não se confunde com as pessoas que a compõem. Este princípio, de suma importância para o regime dos entes morais, também se aplica à sociedade empresária. Tem ela personalidade jurídica distinta da de seus sócios; são pessoas inconfundíveis, independentes entre si. Pessoa jurídica é um expediente do direito destinado a simplificar a disciplina de determinadas relações entre os homens e a sociedade. Ela não tem existência fora dos conceitos tecnológicos partilhados pelos integrantes da comunidade jurídica. Tal expediente tem o sentido, bastante preciso, de autorizar determinados sujeitos de direito à prática de atos jurídicos em geral. 60
A distinção entre o sujeito personalizado do despersonalizado é verificada
quanto ao regime jurídico a que ele encontra-se submetido, em termos de
autorização genérica para a prática dos atos jurídicos. Enquanto as pessoas estão
autorizadas a praticar todos os atos jurídicos a que não estejam expressamente
proibidas, os sujeitos de direito despersonalizados só poderão praticar os atos a
que estejam , explicitamente, autorizados pelo direito. 61
Desta forma, a sociedade empresária sendo uma pessoa jurídica, é sujeito
de direito personalizado, podendo, portanto, praticar atos ou negócios jurídicos em
relação ao qual inexista proibição expressa. 62
59 BRASIL, Código civil e legislação civil em vigor. p. 1483. 60 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial.p.112. 61 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. p.112. 62 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. p.113.
15
Para José Edwaldo Tavares Borba a personalização requer instrumento
público ou particular, devidamente registrado em órgão específico, como segue:
Procede-se à constituição da sociedade através de um instrumento público ou particular, firmado por todos os sócios, no qual se declaram as condições básicas da entidade, inclusive nome, domicílio, capital social, cotas de cada sócio, objeto social, forma de administração, prazo de existência e processo de liquidação. Este ato constitutivo deverá ser arquivado, conforme o caso, no registro de empresas ou no registro civil das pessoas jurídicas. Tratando-se de um ato jurídico, aplica-se o disposto no art. 104 do novo Código Civil, onde se exige, para essa prática, agente capaz, objeto lícito, e forma prescrita ou não defesa em lei.63
Sergio Campinho64 descreve que “a sociedade empresária passa a desfrutar
da personalidade jurídica com o arquivamento de seus atos constitutivos na Junta
Comercial; a simples, com a inscrição do contrato social no Registro Civil das
Pessoas Jurídicas”.
Detentora de personalidade jurídica, a sociedade adquire capacidade de
direitos e obrigações, com existência distinta de seus membros, adquirindo como
conseqüência: autonomia patrimonial, titular de nome próprio diverso do nome dos
sócios; nacionalidade própria, independente da nacionalidade de seus membros;
domicílio próprio, distinto do domicílio dos seus sócios. (CAMPINHO, 2005)
A seguir passa-se a relatar a classificação das sociedades empresárias, em
relação à pessoa dos sócios, às obrigações sócias e sua forma de constituição.
1.4. CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS
As sociedades empresárias são classificadas segundo diversos critérios,
podendo ser destacado alguns de maior relevância e importância.
O Direito brasileiro destaca quatro modalidades empresárias reguladas pelo
Código Civil e duas pela Lei de Sociedade por Ações. Pelo Código Civil são as
sociedades em nome coletivo, a sociedade em comandita simples, sociedade em
63 BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito societário. – 9 ed. Ver., aum. E atual. – Rio de Janeiro: Renovar, 2004. p. 29. 64 CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa à luz do novo código civil. – 6. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. p.63.
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conta de participação, sociedade limitada. Vem regulada por lei especial a sociedade
anônima, e a sociedade em comandita por ações, Lei n° 6.404/76. 65
Os sistemas de classificação das sociedades fundam-se na influência das
pessoas dos sócios na sociedade ou na responsabilidade assumida quanto às
obrigações sociais. 66
1.4.1. Classificação Quanto à Pessoa dos Sócios
As sociedades podem ser classificadas como sociedades de capitais e
sociedades de pessoas, levando-se em consideração a influência exercida pela
pessoa dos sócios.
Existem sociedades em que os atributos individuais do sócio influenciam na
realização do objeto social, como honestidade, inteligência, competência, e
sociedades que tais características subjetivas decididamente não influenciam o
desenvolvimento do objeto social. 67
No primeiro caso, quando as particularidades individuais dos sócios podem comprometer o desenvolvimento da empresa a que se dedica a sociedade, os integrantes desta devem ter garantias acerca do perfil de quem pretenda fazer parte do quadro associativo. No segundo caso, o direito pode – e, até certo ponto, deve – descuidar-se disto, posto que o perfil do eventual novo sócio não repercutirá no sucesso do empreendimento. 68
Não há sociedade composta exclusivamente por pessoas ou por capital.
Toda sociedade requer a junção desses dois elementos, definidos como
imprescindíveis. O que torna uma sociedade ser de pessoas ou de capital é o direito
de o sócio impedir o ingresso de terceiro não-sócio no quadro associativo existente
nas de perfil personalístico e ausente nas de perfil capitalístico. Em função disto, é
que as cotas sociais relativas a uma sociedade de pessoas são impenhoráveis por
dívidas particulares do seu titular. 69
65 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. p. 197. 66 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. p. 198. 67 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. p.121 68 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. p.121. 69 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. p.122.
17
Salienta ainda o autor:
Claro está que o direito de veto ao ingresso de terceiros não-sócios é incompatível com a penhorabilidade das cotas sociais. O arrematante da cota na execução judicial contra o seu titula ingressaria no quadro associativo independentemente da vontade dos demais sócios. Outra conseqüência da sociedade de pessoas é a dissolução parcial por morte de sócio, quando um dos sobreviventes não concorda com o ingresso do sucessor do sócio falecido no quadro social. Quando a sociedade é de capital, os sócios sobreviventes não podem opor-se a tal ingresso e a sociedade não se dissolve. 70
Existem sociedades que sua razão de existência concentra-se na confiança
recíproca depositada por cada sócio e nas suas características pessoais. A sua
constituição se dá por razões de ordem pessoal que fazem determinadas pessoas
se reunir para a criação da sociedade. Por isso, nessas sociedades, existem sérias
restrições quanto à transferência de quotas sociais, justamente para evitar o
ingresso de sócios que não contem com a aprovação dos demais. 71
Destaca ainda o autor:
Ao contrário, as sociedades de capital são aquelas em que não existe nenhuma restrição quanto ao ingresso de novos sócios, sendo vedada qualquer limitação à comercialização das quotas ou ações representativas no capital social. Neste tipo de sociedade o que importa é a contribuição financeira do sócio, não tendo nenhum significado suas características e aptidões pessoais. 72
A sociedade de pessoas é aquela onde a pessoa do sócio exerce papel
preponderante na sua constituição e por toda a existência da pessoa jurídica,
refletindo em permanente subordinação. As sociedades de capitais, a pessoa dos
sócios não é levada em consideração, não sofrendo qualquer influência, ou
alteração na capacidade jurídica com a incapacidade dos sócios, possuindo como
principal importância à contribuição do sócio para o capital social. 73
Como sociedade de pessoas temos, no Direito pátrio, as sociedade em nome coletivo, comandita simples, e a sociedade limitada, Faz-se abstração da sociedade em conta de participação por ser este tipo especial que existe apenas entre os sócios, aparecendo, diante de terceiro, somente um, que age como se fosse um empresário
70 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. p.122 – 123. 71 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial. p. 169. 72 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial. p. 169. 73 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. p. 199 – 200.
18
individual ou sociedade empresária. Como sociedade de capitais temos as sociedades anônimas e as em comandita por ações. 74
1.4.2. Classificação Quanto às Obrigações Sociais
Fábio Ulhoa75 esclarece que “em razão da autonomia patrimonial, ou seja,
da personalização da sociedade empresária, os sócios não respondem em regra,
pelas obrigações desta”.
Se a pessoa jurídica é solvente, quer dizer, possui bens em seu patrimônio suficientes para o integral cumprimento de todas as suas obrigações, o patrimônio particular de cada sócio é, absoltamente, inatingível por dívida social. Mesmo em caso de falência, somente após o completo exaurimento do capital social é que se poderá cogitar de alguma responsabilidade por parte dos sócios, ainda assim condicionada a uma série de fatores. 76
Destaca o Doutrinador Fran Martins:
Deve-se considerar, entretanto, que qualquer que seja a espécie de sociedade comercial, o sócio tem como obrigação precípua responder, para com a mesma, pela importância prometida para a formação do capital. Essa é uma obrigação principal do sócio e quando se fala em classificação das sociedades, tendo em consideração a responsabilidade assumida pelos sócios, deve-se compreender que essa responsabilidade subsidiária, isto é, uma responsabilidade perante terceiros, pelos compromissos sociais, caso o patrimônio da sociedade seja insuficiente para satisfazer os compromissos assumidos por esta. 77
Para Fábio Ulhoa, a classificação segundo o critério de responsabilidade dos
sócios pelas obrigações sociais divide-se em:
a) Sociedade ilimitada – em que todos os sócios respondem ilimitadamente pelas obrigações sociais. O direito contempla um só tipo de sociedade desta categoria, que é a sociedade em nome coletivo (N/C). b) Sociedade mista – em que uma parte dos sócios tem responsabilidade ilimitada e outra parte tem responsabilidade limitada. São desta categoria as seguintes sociedades: em comandita simples (C/S), cujo sócio comanditado responde ilimitadamente pelas obrigações sociais, enquanto o sócio comanditário responde limitadamente; e a sociedade em comandita por ações (C/A), em que os sócios diretores têm responsabilidade ilimitada pelas obrigações sociais e os demais acionistas respondem limitadamente.
74 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. p. 200. 75 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. p. 116. 76 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial.p.117. 77 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. p. 200 - 201.
19
c) Sociedade Limitada – em que todos os sócios respondem de forma limitada pelas obrigações sociais. São desta categoria a sociedade limitada (Ltda.) e a anônima (S/A). 78
Deve-se deixar esclarecido que toda sociedade empresária responde
ilimitadamente pela suas dívidas, não existindo nenhuma regra que permita que ela
deixe de honrar seus compromissos se ultrapassado algum limite. Em se tratando de
responsabilidade limitada, o limite está relacionado com o investimento ou com a
promessa de investimento feito na própria sociedade. Se a responsabilidade for
ilimitada, a responsabilidade do sócio não encontra referido limite. 79
Menciona ainda Marcelo Bertoldi:
Além das sociedades em comum, cujos sócios, conforme determina o art. 990 do CC, respondem solidária e ilimitadamente pelas dívidas da sociedade, as em nome coletivo também se incluem no rol das sociedades de responsabilidade ilimitada, por força do at. 1.039 do CC. São de responsabilidade limitada, e, portanto, seus sócios respondem somente até determinado limite pelas dívidas da sociedade, as sociedades anônimas e as sociedades por quotas de responsabilidade limitada. 80
Sociedade mista é o tipo societário que possui duas classes de sócios, os
que respondem com seus próprios bens pelas dívidas da sociedade e aqueles que
respondem de forma limitada por referidas dívidas. Neste grupo vigoram as
sociedades simples, as sociedades em comandita por ações. 81
1.4.3. Classificação Quanto ao Regime de Constituição e Dissolução
As sociedades empresárias, classificadas levando-se em consideração a
pessoa dos sócios, mostra que alguns tipos sociais, a pessoa jurídica torna-se
dependente deles, como é o caso da dissolução por morte de um dos sócios. Outros
tipos, a retirada, morte, ou a incapacidade dos sócios não afeta a pessoa jurídica, o
qual continua a existir. 82
78 ULHOA, Fábio. Manual de direito comercial. p.117 – 118. 79 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial. p. 170. 80 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial. p. 170. 81 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial. p. 170 82 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. p. 202.
20
Destaca Fran Martins:
E como a vida da sociedade está subordinada ao prazo estabelecido neste contrato, a pessoa jurídica tem sempre vida menor do que as pessoas que a organizam, podendo, a qualquer momento, ter encurtada a sua existência se a um dos sócios sobrevier a incapacidade ou a morte. Por esta razão essas sociedades podem ser chamadas de contratuais, muito embora saibamos que o conceito clássico do contrato não se ajusta perfeitamente a elas. 83
Pelo entendimento de Marcelo M. Bertoldi84, “conforme a natureza do ato
que vincula os sócios, as sociedades empresárias podem ser classificadas em
contratuais e institucionais”.
Serão contratuais aquelas sociedades cujo ato de constituição tem esta natureza (natureza contratual). Será o contrato social construído no interesse e conforme a vontade dos sócios, regulando as relações entre eles no transcorrer da vida social, a elas se aplicando normas de direito contratual, especialmente no que se refere à autonomia da vontade. As sociedades institucionais, também conhecidas como estatutárias, ao contrário das contratuais, não tem como característica a presença plena da autonomia da vontade, ou seja, aos sócios, normalmente, não cabe a ampla discussão a respeito das regras que regem a sociedade, razão pela qual o ato que as rege não tem natureza contratual, mas sim institucional ou estatutária. 85
Marcelo M. Bertoldi86 esclarece, “as sociedades em nome coletivo,
comandita simples e limitada são contratuais e as sociedades anônimas e em
comandita por ações são institucionais”.
Fábio Ulhoa classifica:
Sociedades contratuais – cujo ato constitutivo e regulamente é o contrato social. Para a dissolução deste tipo de sociedade não basta a vontade majoritária dos sócios, reconhecendo a jurisprudência o direito de os sócios, mesmo minoritários, manterem a sociedade, contra a vontade da maioria; além disto, há causas específicas de dissolução desta categoria de sociedades, como a morte o a expulsão do sócio. São sociedades contratuais: em nome coletivo (N/C), em comandita simples (C/S) e limitada (Ltda.). Sociedades institucionais – cujo ato regulamentar é o estatuto social. Estas sociedades podem ser dissolvidas por vontade da maioria societária e há causas dissolutórias que lhes são exclusivas como a
83 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. p. 202. 84 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial. p. 170 . 85 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial. p. 170 – 171. 86 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial. p. 171.
21
intervenção e liquidação extrajudicial. São institucionais a sociedade anônima (S/A) e a sociedade em comandita por ações (C/A). 87
Examinada a Sociedade no âmbito do Direito brasileiro, seu histórico, suas
características principais, sua classificação, bem como dos capazes, incapazes e
proibidos do exercício empresarial, a seguir passa-se a estudar a Sociedade
Limitada no Direito brasileiro.
87 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial.p.120.
CAPÍTULO 2
2. SOCIEDADE LIMITADA NO DIREITO BRASILEIRO
Este capítulo tratará sobre a Sociedade Limitada no Direito brasileiro. Para
tanto, será examinada sua evolução histórica e, posteriormente o seu surgimento e
desenvolvimento no Brasil, descrevendo sobre seu conceito, sua característica
contratualista e suas responsabilidades, bem como sua natureza jurídica, e demais
aspectos inerentes a este tipo societário de grande relevância na economia
brasileira.
2.1. SOCIEDADE LIMITADA NO DIREITO BRASILEIRO
2.1.1. Histórico e Conceito
A Sociedade Limitada surgiu da necessidade de criação de um tipo
societário que permitisse a uma pequena parcela da burguesia européia, em
especial a germânica e a inglesa, escapar da responsabilidade ilimitada e solidária
das sociedades em nome coletivo, como também da estruturação complexa das
sociedades por ações. O que se pretendia era compor uma sociedade de
responsabilidade mitigada, restrita a quota de participação, minimizando riscos
decorrentes do exercício da empresa, em relação ao patrimônio particular dos
sócios. 88
O estudo histórico das sociedades revela que as primeiras manifestações
que resultaram na combinação de esforços e de bens com o objetivo de alcançar um
fim tiveram como suporte um relacionamento indispensável de pessoas. Estas
sociedades de pessoas constituídas em torno das qualidades pessoais dos
respectivos sócios, com absoluta preponderância dos elementos subjetivos. 89
88 FAZZIO, Waldo Júnior. Sociedades limitadas: de acordo com o código civil de 2002 – 2. ed. – São Paulo: Atlas, 2007. p.11 89 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das sociedades comerciais: (direito de empresa) – 15. ed.rev. atual. e ampl. – São Paulo: Saraiva. 2005. p. 123.
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Sobre o assunto destaca Amador Paes de Almeida:
O progresso contínuo dos negócios, como resultado lógico da evolução econômica, todavia, viria impor, mais tarde, por volta do século XV, a necessidade de aglutinação de maiores capitais para a formação de empresas, surgindo, em conseqüência, as sociedades de capital, em que se atende exclusivamente às entradas de cada sócio. São as sociedades anônimas, de complexa constituição, impessoais e destinadas a vultosos empreendimentos. Em meio aos inconvenientes da solidariedade, traço marcante das sociedades de pessoas, e à complexidade das sociedades por ações, surgiria na Alemanha, e, 20 de abril de 1892, a Gesellschaft mit Beschrankter Haftung – a sociedade por quotas de responsabilidade limitada, ou simplesmente sociedade por quotas. 90
Surgindo na Alemanha em 1892, com a criação da chamada Sociedade de
Responsabilidade Limitada, serviu de inspiração para que outros países adotassem
este formato de sociedade, que tinha como vantagem a simplicidade na constituição,
se comparada com as sociedades anônimas, além do fato de seus sócios não
responderem de forma ilimitada pelas dívidas da sociedade como ocorria nos
demais tipos de sociedades existentes. 91
Passou a ser adotada em Portugal em 1901, e, em pouco tempo difundia-se
esta espécie de sociedade, e veio a ser adotada em igualdade a Polônia em 1919, a
Rússia em 1922, a França em 1925, a Itália em 1942 e a Espanha em 1952. Foi
acolhida pela legislação brasileira em 1919, por meio do Decreto n. 3.708, de 10 de
janeiro de 1919. 92
Com o projeto do novo Código Comercial, elaborado em 1911, por Inglês de
Souza, identifica-se a primeira tentativa de trazer para o Direito brasileiro este
modelo de sociedade que tanto interessava aos pequenos e médios empresários. O
Deputado Joaquim Luiz Osório, baseando-se na proposição de Inglês de Souza,
apresentou à Câmara dos Deputados projeto de criação das sociedades por quotas
de responsabilidade limitada, sedo aprovado, dando surgimento ao Dec. 3.708, de
10.01.1919, que vigorou até o surgimento do Código Civil de 2002. 93
90 ALMEIDA, Amador Paes de. Sociedades Comerciais. P. 123. 91 BERTOLDI, Marcelo M.. Curso avançado de direito comercial. p. 182 92 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das sociedades comerciais. P. 124. 93 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial. p. 182
24
Conforme menciona Marcelo M. Bertoldi:
O referido Dec. 3.708/19 contava apenas com dezoito artigos, fato esse que acabou lhe valendo severas críticas de parcela significativa da doutrina, que o considerava lacônico e imperfeito. Outros, porém, acabaram por ressaltar a forma aberta com que referida norma foi construída, possibilitando aos sócios, mediante a criação de cláusulas contratuais, o delineamento de uma sociedade que melhor atendesse a seus interesses e necessidades. 94
Enuncia Sergio Campinho:
O novo Código Civil, no Capítulo IV, do Subtítulo II, do Título II, do Livro II, nos artigos 1.052 a 1.057, disciplina por inteiro a sociedade limitada, nova nominação deste tipo societário, sobre a qual podem ser reiteradas as críticas doutrinárias acima relatadas, restando, pois, revogado o Decreto n° 3.708/19. Prevaleceu, portanto, no Código Civil de 2002, a mesma nomenclatura do Projeto de Inglês de Souza. 95
Para Fran Martins96, Sociedades Limitadas são aquelas formadas por duas
ou mais pessoas, cuja responsabilidade é identificada pelo valor de suas quotas,
porém todos se obrigam solidariamente em razão da integralização do capital
social”.
Posterior ao relato da evolução histórica, bem como o conceito da Sociedade
Limitada no direito brasileiro, será comentado a questão das suas características.
2.1.2. Características
Considerado o tipo de sociedade mais constituído na economia brasileira,
representa hoje mais de 90% das sociedades empresárias registradas nas Juntas
Comerciais. Tal sucesso deve-se a duas de suas características: a limitação da
responsabilidade dos sócios e a contratualidade. 97
Segundo Fran Martins98 os aspectos determinantes na formação da limitada,
residem na facilidade, no custo menos elevado, e a perspectiva de serem tomadas
às deliberações, inclusive para efeito de retirada de sócio inconveniente ou que
pretende sua retirada.
94 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial. p. 182. 95 CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa a luz do no código civil. p. 130 96 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. p.250. 97 COELHO, Fábio Ulhoa, Manual de direito comercial. p.153. 98 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. p.254.
25
2.1.2.1. Do contrato social
Sérgio Campinho99 ensina que “constitui-se a Sociedade Limitada por meio
de um contrato escrito, que se estabelece por instrumento público ou particular”.
Enuncia o artigo 1.054 e o artigo 997 do Código Civil:
Artigo 1.054. O contrato mencionará no que couber, as indicações do art. 997, e se for o caso, a firma social.100 Artigo 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará: I – nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas; II – denominação, objeto, sede e prazo da sociedade; III – capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária; IV – a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la; V – as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços; VI – as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições: VII – a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas; VIII – se os sócios respondem, ou não, solidariamente, pelas obrigações sociais; Parágrafo único. È ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto separado, contrário ao disposto no instrumento do contrato. 101
Menciona Waldo Fazzio Júnior102 que “a constituição da Sociedade Limitada
segue um procedimento composto de pelo menos duas fases: a celebração do
contrato social; e a inscrição do contrato social no registro competente”.
Por se tratar de contrato, o seu ato constitutivo requer a obediência dos
elementos comuns a todos os contratos, pressupondo o livre consentimento, a
capacidade das partes, a idoneidade o objeto, a legitimação das partes para realizá-
lo e a forma legal. 103
Sendo um contrato de constituição de sociedade, reunirá, também, elementos específicos: a pluralidade de sócios, a contribuição de
99 CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa a luz do no código civil. p. 139. 100 BRASIL, Código civil e legislação civil em vigor. p. 1492. 101 BRASIL, Código civil e legislação civil em vigor. p. 1484. 102 FAZZIO, Waldo Júnior. Sociedades limitadas. P.44 103 CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa a luz do no código civil. p. 139
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todos os sócios para a formação do capital social, a participação nos lucros, e a affectio societatis. Para ostentar a sociedade a condição de regular, mister se faz proceder ao registro do seu instrumento contratual no Registro Público de Empresas Mercantis, a cargo das Juntas Comerciais.104
Pelo ensinamento de Gladston Mamede:
Ainda que adote a regência supletiva da Lei das Sociedades por Ações – Lei 6.404/76 -, a sociedade limitada é contratual. Seu contrato Social, portanto deverá atender aos requisitos do artigo 997, no que couber: qualificação dos sócios, que poderão ser pessoas naturais ou jurídicas; nome social, que pode ter a estrutura da firma (razão) social ou denominação; objeto social; sede; prazo (ou termo) determinado de duração; sendo lícito estipular-se prazo indeterminado; capital social, dividido em quotas, bem como seus respectivos titulares; modo e tempo de realização do capital social por cada um dos sócios; investidura do administrador ou administradores, que deverão ser, obrigatoriamente, pessoas naturais, com a especificação de seus poderes e de suas aplicações; a participação de cada sócio nos lucros e perdas sociais; e,finalmente, a previsão de que os sócios não responde subsidiariamente pelas obrigações sociais.105
Constituída por meio de contrato escrito lavrado por instrumento público ou
privado, na Sociedade Limitada o contrato social é o instrumento que irá regular o
funcionamento da sociedade, impondo, em conjunto com o ordenamento jurídico,
quais as regras que se submeterão a sociedade empresária e seus sócios. 106
O contrato da sociedade empresária é inortodoxo e trata-se de um pacto
diferenciado das demais modalidades contratuais, pois está dirigido à
implementação de uma pessoa jurídica com características específicas. Difere dos
outros contratos societários porque a pessoa jurídica que o concebe é destinada à
exploração da atividade produtiva ou circulatória de bens e/ou serviços. 107
De fato, o contrato da sociedade empresária não se identifica como os demais modelos contratuais bilaterais, à medida que estes embutem conflitos de interesses representados pelas partes. Se, normalmente, nos contratos bilaterais, há convergência de pretensões antagônicas, no conselho plurilateral, que se contém no instrumento de contrato social, há paralelismo de intenções. Subjetivamente, nos primeiros, os contraentes concordam, com base
104 CAMPINHO, Sérgio. O direito da empresa à luz do novo código civil. p. 139 – 140. 105 MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: direito societário: sociedades simples e empresárias, volume 2 – São Paulo: Atlas, 2004. p. 317. 106 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial. p. 186. 107 FAZZIO, Waldo Júnior. Sociedades limitadas. p. 48.
27
em objetivos diferentes, no segundo, o objetivo é comum a todos. Aqueles envolvem partes, este reúne sócios. 108
2.1.2.2. Da responsabilidade limitada
Em conformidade com a legislação brasileira, na esteira do Código Civil, a
Sociedade Limitada dispõe caber aos sócios, obrigação total pelo total do capital
social, diferentemente do que acontece na Sociedade Anônima, na qual cada
acionista responde apenas com o que contribui para ingressar na sociedade. 109
Salienta Marcelo M. Bertoldi:
Na sociedade a responsabilidade do sócio é maior que na sociedade anônima, em que o acionista responde tão somente pela integralização de suas próprias ações, não tendo qualquer tipo de responsabilidade solidária em relação aos demais acionistas. 110
Questão que merece destaque, diz respeito se, uma vez integralizado o
capital social da Sociedade Limitada, continuam os sócios a responder pelo mesmo,
em caso de sofrer desfalque durante a vida societária. Doutrinadores e
jurisprudência sinalizam, que, uma vez integralizado o capital social, não ficam mais
os sócios sujeitos ao complemento, se ele vier a diminuir em virtude de operações
de insucesso societário. 111
Está evidenciado que, pelo artigo 1.052 do Código Civil Brasileiro, enquanto
não alterada a norma, a responsabilidade dos sócios, na Sociedade Limitada, é
sempre pelo total do capital social, e mesmo assim, se integralizado, se for
desfalcado, não poderão os sócios ser compelidos solidariamente a compô-lo. Resta
clara a solidariedade, no qual os sócios respondem pela integralização do capital
social. 112
Como descreve Sergio Campinho113, “o perfil característico da Sociedade
Limitada repousa na responsabilidade do sócio perante terceiro, credores da pessoa
jurídica”.
108 FAZZIO, Waldo Júnior. Sociedades limitadas. p.48. 109 FRAN, Martins. Curso de direito comercial. p. 255 110 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial. p. 184. 111 FRAN, Martins. Curso de direito comercial. p. 256 112 FRAN, Martins. Curso de direito comercial. p. 256 113 CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa à luz do novo código civil, p. 130.
28
Destaca o autor:
Em face da sociedade, cada sócio-cotista é obrigado a entrar apenas com o valor de sua cota. Integralizado este valor, nada mais deve à sociedade. Perante terceiros, todavia, todos os sócios responderão solidariamente pela parte que faltar para preencher o pagamento das cotas não inteiramente liberadas, isto é, não inteiramente integralizadas. Destarte, nessas sociedades, o limite da responsabilidade do cotista perante os credores sociais é o valor do capital social. Os sócios respondem, pois, solidariamente pela integralização do capital social declarado da sociedade. Obrigam-se solidariamente pelo total do capital social, e não apenas por suas cotas, na projeção externa de suas responsabilidades. 114
Após o relato das características da Sociedade Limitada no Direito brasileiro,
passa-se a explanar sobre sua natureza jurídica.
2.2. A NATUREZA JURÍDICA DA SOCIEDADE LIMITADA
Nas Sociedades Limitadas, os sócios podem ser pessoas físicas ou
jurídicas, mantendo o hibridismo de uma sociedade mista, tanto de capital como de
pessoas. Constituída por escrito particular ou público, fazem uso da denominação
social, espelhando o nome empresarial, mas é essencial conter a palavra limitada,
por extenso ou abreviadamente. 115
A Sociedade Limitada poderá optar em seu contrato social, expressa ou
tacitamente, por ser constituída em função de pessoas (intuitu personae) ou em
função do capital (intuitu pecuniae). No primeiro caso está obrigatória a aplicação
das normas da sociedade simples. Porém, no segundo caso, poderá a sociedade
adotar, expressa ou tacitamente, o regime da sociedade simples, como também o
regime da sociedade por ações. 116
2.2.1. Objeto Social
A Sociedade Limitada possui como razão de sua constituição seu objeto, o
que basicamente a individualiza. Tratando-se de uma sociedade empresária, seu
114 CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa à luz do novo código civil, p. 131. 115 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. p..253 116 MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro. p. 316
29
objeto é a empresa, acolhida pelo direito brasileiro como a organização da atividade
econômica voltada para a produção e/ou circulação de bens ou serviços. 117
A adjetivação empresarial não enseja dúvidas: pode ser objeto da sociedade limitada, qualquer atividade de fim lucrativo. Mas não qualquer empresa. Somente a atividade que não afronte a lei, não contrarie a ordem pública ou os bons costumes. Em outros termos, o objeto de lucro deve ser buscado mediante empresa juridicamente lícita e moralmente adequada. A lei não se contenta com a simples legalidade do objeto, reclama sua conformação ética. 118
Para Waldo Fazzio Júnior119, “a liceidade objetiva não é suficiente. A ela
deve somar-se a possibilidade. É que se o objeto social for de absoluta
impossibilidade de consecução, isso significa dizer irrealizável”.
A indicação do objeto social da sociedade deve ser corretamente redigida em língua portuguesa, apontando no contrato as atividades que os sócios propõem que a pessoa jurídica venha a exercer. Realmente, compete aos sócios deliberar sobre as atividades compreendidas no objeto contratual que a sociedade realmente exercerá, bem como, depois, durante o desenvolvimento de sãs atividades, sobre a suspensão ou cessação de uma atividade eu venha sendo exercida. 120
Mediante o conjunto de normas que integram o contrato social, o objeto social deve
ser definido com precisão. A lei não pretende que se desça às minúcias, mas que a
definição possua transparência suficiente para individualizar a empresa que se pretende
praticar, mediante a criação da sociedade limitada. 121
2.2.2. Denominação
Para Amador Paes de Almeida122, “as sociedades empresárias projetam-se e
distinguem-se no mundo das atividades econômicas por meio de um nome. É o
nome empresarial”.
Nos termos do artigo 1.155 do Código Civil Brasileiro123, “Considera-se
nome empresarial a firma ou a denominação adotada de conformidade com este
capítulo, para o exercício da empresa.
117 FAZZIO, Waldo Júnior. Sociedades limitadas, p. 68 118 FAZZIO, Waldo Júnior. Sociedades limitadas, p. 69 119 FAZZIO, Waldo Júnior. Sociedades limitadas, p. 69 120 FAZZIO, Waldo Júnior. Sociedades limitadas, p. 70 121 FAZZIO, Waldo Júnior. Sociedades limitadas, p. 69 122 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das sociedades comerciais. p.137
30
Amador Paes de Almeida124 destaca que “duas são, pois, as espécies de
nome empresarial: a) firma; b) denominação. A firma é utilizada pelo empresário
individual ou pelas sociedades em que há sócios solidários”.
Nos termos do artigo 1.156 do Código Civil Brasileiro125, “o empresário opera
sob firma constituída por seu nome, completo ou abreviado, aditando-lhe, se quiser
designação mais precisa de sua pessoa ou do gênero de atividade.
Em se tratando de pessoa, a Sociedade Limitada deverá explicitar no
contrato social o nome empresarial que a identifica, cláusula esta essencial até
porque decorre o direito ao uso exclusivo, independente de outra espécie de
registro. 126
Para Fábio Ulhoa Coelho:
A sociedade limitada está autorizada, por lei, a girar sob firma ou denominação. Se optar por firma, poderá incluir nela o nome civil de um, alguns ou todos os sócios que a compõem, por extenso ou abreviadamente, valendo-se da partícula “e companhia” ou “& Cia”., sempre que omitir o nome de pelo menos um deles. Mas adotando firma ou denominação, não poderá o nome empresarial deixar de contemplar a identificação do tipo societário por meio da expressão “limitada”, por extenso ou abreviada (“ltda.”) sob pena de responsabilização ilimitada dos administradores que fizerem uso do nome empresarial. Podem, também, os sócios decidir pela explicitação, ou não, do ramo de atividade no nome empresarial. 127
Nos termos do artigo 1.158 do Código Civil Brasileiro, a Sociedade Limitada
pode adotar:
Artigo 1.158 Pode a sociedade limitada adotar firma ou denominação, integradas pela palavra final “limitada” ou a sua abreviatura. § 1° A firma será composta com o nome de um ou mais sócios, desde que pessoas físicas, de modo indicativo da relação social. § 2° A denominação deve designar o objeto da sociedade, sendo permitido nela figurar o nome de um ou mais sócios. § 3° A omissão da palavra “limitada” determina a responsabilidade solidária e ilimitada dos administradores que assim empregarem a firma ou a denominação da sociedade. 128
123 BRASIL, Código civil e legislação civil em vigor. p. 1508. 124 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das sociedades comerciais. p.137 125 BRASIL, Código civil e legislação civil em vigor. p. 1509. 126 FAZZIO, Waldo Júnior. Sociedades limitadas. P. 75. 127 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial, p. 78. 128 BRASIL, Código civil e legislação civil em vigor. p. 1509.
31
O nome empresarial é insuscetível de alienação, possui proteção legal,
assegurado à lei o seu uso em todo o Estado e em todo o território nacional, sendo o
uso da firma ou denominação social privativo aos administradores que tenham os
poderes necessários para tal. 129
Depois de examinada a natureza jurídica da Sociedade Limitada, passa-se a
tratar do capital social e suas peculiaridades.
2.3. O CAPITAL SOCIAL DA SOCIEDADE LIMITADA
Pelo enunciado do artigo 1.055 do Código Civil130, “o capital social divide-se
em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a cada sócio.”
Para Marcelo M. Bertoldi:
Com a constituição da sociedade limitada, seus sócios devem obrigatoriamente destacar do patrimônio particular parcela que irá compor o capital social. Essa destinação pode se dar de forma imediata, com o sócio subscrevendo e integralizando suas quotas no momento da constituição da sociedade, ou então o sócio pode subscrever parte do capital social e integralizá-lo posteriormente em uma única ou em várias prestações, conforme constar do contrato social. Registre-se que o capital social deve obrigatoriamente ser estipulado no contrato social e expresso em moeda nacional. 131
Em conformidade com a Lei, as quotas, na Sociedade Limitada, serão de
igual ou diferente valor, cabendo ao contrato dividir o capital em quotas de valores
desiguais, cabendo a cada sócio, parcelas distintas e identificadas do capital social,
ou distribuir todo o capital por quotas de idêntico valor unitário, hipótese em que
cada sócio subscreverá e possuirá um número determinado e quotas de igual
extensão. No caso de cotas de valores desiguais, deve ser considerado o montante
de capital detido por cada sócio. 132
Menciona Gladston Mamede:
Note-se que o legislador não criou qualquer limite para o capital e para a participação societária. Assim, não há capital social mínimo,
129 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das sociedades comerciais. p.139. 130 BRASIL, Código civil e legislação civil em vigor. p. 1492. 131 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial, p. 197. 132 BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito societário. p. 113 - 114.
32
nem capital social máximo para a sociedade limitada. Esse capital pode estar dividido em qualquer número de quotas, desde que igual ou superior a duas. 133
Não ocorrendo alteração contratual com repactuação do número e valor das
quotas sociais, estas não poderão ser divididas. Compreende-se, assim, o artigo
1.056 do Código Civil, que trata ser a quota indivisível em relação à sociedade,
excluindo por tal forma, a validade de qualquer ajuste estranho ao contrato social por
meio do qual um, alguns, ou mesmo todos os sócios estabelecem uma divisão de
quota social. 134
Descreve ainda José E. T. Borba:
O cotista deverá integralizar as suas cotas nos prazos e condições convencionados, podendo a sociedade, se houver impontualidade, promover a competente ação de execução. O sócio remisso, semelhantemente aos das demais sociedades, responderá por perdas e danos, podendo a maioria dos demais sócios preferir a sua exclusão, com redução do capital; ou a redução de sua participação. Além disso, na sociedade limitada, faculta-se aos demais sócios, ao excluir o sócio remisso, tomar para si as cotas do sócio excluído, observadas naturalmente as respectivas preferências, ou transferi-las a terceiros. 135
O contrato social poderá atribuir determinadas vantagens aos titulares de
quotas preferenciais, tais como o direito a uma participação superior aos lucros a
serem distribuídos, ou até mesmo o reembolso do capital no caso de dissolução de
sociedade. Deve-se, ao criar tais preferências, obedecer ao princípio da
razoabilidade, evitando a conotação de exclusão ou lesão em face aos interesses
dos demais quotistas, especialmente dos minoritários. 136
2.3.1. Alteração do Capital Social
Inexistindo objeção legal e desde que a totalidade do capital social encontra-
se integralizada, é lícita aos sócios, mediante a aprovação de votos que
133 MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro. p.319. 134 MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro. p.322. 135 BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito societário. p. 114. 136 BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito societário. p. 115
33
correspondam a 75% do capital social, alterar o contrato social para aumento de
capital registrado da pessoa jurídica. 137
Para Gladston Mamede:
O aumento de capital pode concretizar-se por formas diversas, sendo a mais comum o aporte de valores novos para o patrimônio societário, ou seja, desembolso por parte dos sócios ou de terceiros, seguindo as regras estipuladas nos parágrafos do artigo 1.081 do Código Civil. Mas também se faz o aumento do patrimônio social pela utilização de superávit econômico verificado ao longo do exercício; esse valor poderia ser usado para a formação de fundos ou reservas, assim como poderia ser distribuído, a título de lucro, aos sócios. Mas é lícito optar pelo aumento do capital social, utilizando o superávit para a integralização do acréscimo deliberado. 138
O capital social pode somente ser aumentado após sua total integralização,
demonstra a alteração da legislação atual em face de norma anterior, que entendia
possível a elevação do capital independentemente de sua integralização. Para o
aumento do capital, que resulta na alteração do contrato social, demanda a nova lei
a manifestação favorável de três quartos do capital social, denotando uma grave
restrição aos interesses da maioria que, por oposição de pouco mais de um quarto
do capital, poderá ver bloqueada a sua pretensão de aumentar o capital e expandir a
empresa. 139
Pelo ensinamento de Sergio Campinho:
Portanto, sempre que os sócios sentirem a necessidade de capitalizar a sociedade, com a realização de maiores investimentos, a fim de melhor capacitá-la a desenvolver seu objeto, poderão fazer os recursos ingressar na sociedade mediante a elevação do seu capital. Mas para que não ocorra uma diluição da participação dos sócios no capital, assegurou o Código o direito de preferência dos antigos consórcios para subscreverem, na proporção de seus quinhões sociais, o respectivo aumento. Desse modo, até trinta dias subseqüentes à deliberação da elevação do capital, terão os sócios preferência para participar do aumento, na exata proporção das quotas de que sejam titulares.140
O aumento do capital social poderá ser efetuado por meio de atribuição de
novo valor às quotas já existente ou por meio de divisão em novas quotas, do
137 MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro, p. 334 138 MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro, p. 334 139 BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito societário. p. 126 - 127 140 CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa à luz do novo código civil, p. 161 – 162.
34
montante representativo da elevação. Tem-se como preferência esta última
hipótese, o qual facilita o ingresso de terceiros na sociedade, caso os sócios
originários não exerçam o direito de preferência ou resolvem cedê-lo. 141
O capital social é definido por um ajuste plurilateral firmado pelos sócios que
têm o poder de especificar o total necessário para a execução e realização dos fins
sociais, ou seja, as atividades negociais, e, conseqüentemente, a obtenção de
lucros. Devido a este fato, é juridicamente possível estipular-se um montante menor
como suficiente, ou seja, descapitalizar a sociedade, passando o valor
correspondente para outras rubricas de sua escrituração, inclusive os lucros a serem
distribuídos entre os sócios. 142
Disciplina o artigo 1.082 do Código Civil Brasileiro143: “pode a sociedade
reduzir o capital, mediante a correspondente modificação do contrato: I – depois de
integralizado, se houver perdas irreparáveis; II – se excessivo em relação ao objeto
da sociedade”.
Pelo ensinamento de José E. T. Borba:
A redução do capital, por fazer-se mediante modificação contratual, também depende do quorum especial de três quartos, podendo ocorrer quando houver perda patrimonial irreparável ou quando o capital mostrar-se excessivo. Apenas na segunda hipótese haverá restituição de parcelas patrimoniais aos sócios e, por essa razão, cuidou o legislador (art. 1.084) de estender aos credores da sociedade limitada a proteção existente no âmbito da sociedade anônima, que condiciona a efetividade da redução do capital à não impugnação de credores quirografários anteriores à decisão. 144
Para redução do capital, a deliberação concernente à redução do capital
deverá ser publicada, e somente após o decurso do prazo de noventa dias, sem
impugnação, ou se houver, com o pagamento ou depósito do valor devido, é que
será averbada, no Registro de Empresas, a ata ou a alteração contratual respectiva,
tornando eficaz sua redução. 145
141 CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa à luz do novo código civil, p. 162. 142 MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro. p.337. 143 BRASIL, Código civil e legislação civil em vigor. p. 1497. 144 BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito societário p. 127. 145 BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito societário p. 127.
35
Pelo entendimento de Sergio Campinho:
A redução do capital, quando pelos sócios julgado excessivo em relação ao objeto da sociedade, não poderá fazer-se em prejuízo do direito de terceiros, notadamente dos credores quirografários, que não desfrutam de garantias e privilégios. Atento ao fato, o Código garante ao credor quirografário, por título líquido anterior à data da publicação da ata da assembléia que aprovar a redução, o direito de, no prazo de noventa dias, computado a data dessa publicação, opor-se ao deliberado. A publicação da ata na qual se materializa a deliberação, impõe-se como medida de publicidade do ato e garantia de interesse de terceiros. Deverá fazer-se em órgão oficial da União ou do Estado, conforme o local da sede da sociedade, e em jornal de grande circulação. 146
Como evidencia a Lei, tanto o aumento como a redução do capital, o qual
implicam na alteração contratual, depende de deliberação dos sócios, com
aprovação de no mínimo de ¾ do capital social. A decisão será tomada em
assembléia ou reunião, conforme o previsto no contrato social. A convocação é
efetuada por anúncio publicado três vezes, ao menos, no órgão oficial e em jornal de
grande circulação, com uma média entre a data da primeira publicação e a
realização da assembléia ou reunião de oito dias para a primeira convocação e cinco
dias para as posteriores. 147
2.3.2. A Quota Social
Waldo Fazzio Júnior define a quota social como “o quinhão em dinheiro ou
bens com que cada sócio contribui para a cosntituição do capital social. É a entrada
ou contigente de bens, coisas ou valores com o qual cada um dos sócios conribui ou
se obriga a contribuir para a formação do capital social’. 148
Marcelo M. Bertoldi149 ensina que “o capital social é fracionado em quotas,
iguais ou desiguais. Cabe aos sócios determinar quantas quotas representarão o
total do capital social e qual o seu valor unitário”.
Como a quota é um direito sobre a sociedade, cuja titularidade é transferível,
intervivos, por meio de cessão, esta pode ser cedida a outro sócio ou a um terceiro,
146 CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa à luz do novo código civil, p. 163 147 CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa à luz do novo código civil, p. 164 148 FAZZIO, Waldo Júnior. Sociedades limitadas, p. 119 149 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial, p. 197
36
estranho à sociedade. Sendo o cessionário um dos sócios, suas cotas poderão ser
cedidas total ou parcialmente, independentes da audiência dos outros. 150
Destaca Marcelo M. Bertoldi:
Quanto à transferência das quotas entre os sócios, não existe qualquer dificuldade, na medida em que não estará sendo modificada a composição original da sociedade, mas tão somente o montante da participação dos seus sócios no capital social. Dessa forma, poderá qualquer dos sócios transferir suas quotas a outro sócio sem que para tanto seja necessária a concordância dos demais, salvo se houver algum impedimento ou providência a ser implementada constante do contrato social. Para evitar futuros transtornos, com a possibilidade de terceiros ingressarem na sociedade sem que os demais sócios queiram , é comum que no contrato social conste norma a esse respeito. 151
Pelo entendimento de José E. T. Borba:
A matéria deverá ser disciplinada no contrato social, no qual se especificará se as cotas são intrasnferíveis ou transferíveis e, nesse último caso, se a transferibilidade é livre ou condicionada. A intransferibilidade, desde que adotada, acarretará para a sociedade a obrigação de, sempre que um sócio solicitar, promover a apuração de seus haveres, pois, se assim não fora, estaria o cotista obrigado a permanecer indefinidamente na sociedade. Dessarte ou se permite a alienação da cota a terceiro ou se processa a sua liquidação. 152
Cedida a totalidade das quotas sociais, o cotista retira-se da sociedade,
cessando suas responsabilidades, desde que as cotas transferidas estejam
integralizadas na sua totalidade. Caso contrário, o cedente responderá
solidariamente com o cessionário pela respectiva integralização. 153
Para Waldo F. Junior:
Os sócios podem adotar a alternativa que lês parecer adequada, fazendo inserir no contrato social cláusula restritiva (incessibilidade), cláusula permissiva ampla (livre cessibilidade) ou cláusula que, permitindo, estabeleça condição restritiva (decisão por maioria absoluta ou outro quórum). Por outro lado, se a sociedade não pactuar a respeito, submeterá a transmissão para terceiro ao consentimento prévio da maioria significativa de sócios. Libera a
150 MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro. p 325 151 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial, p. 198 152 BORBA, José Edwaldo BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito societário. p. 116 153 BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito societário. P. 117
37
transferibilidade infra-societária e restringe, mediante a estipulação de quórum qualificado, a negociabilidade extra-societária. 154
Possuindo a quota parcela representativa no capital social, em conseqüência
expressão econômica e valorização diretamente ligada ao desempenho da
sociedade, pode ser de interesse dos credores utilizá-la como garantia para o
pagamento de dívidas por eles assumidas, ou indicadas para garantir o juízo da
execução, mediante penhora. 155
Destaca Marcelo M. Bertoldi:
Mesmo em se tratando de sociedade cujo contrato social estabeleça a intransferibilidade das quotas sem o consentimento dos demais sócios, a caução e a penhora têm cabimento, pois não será obrigatória a admissão do credor como sócio. Proceder-se-á, isso sim, à liquidação das quotas pertencentes ao devedor com base na situação patrimonial da sociedade, verificada em balanço especialmente levantado. 156
Não há dificuldade quanto à transferência das quotas entre os sócios, desde
que não seja modificada a composição original da sociedade, mas tão-somente a
participação dos seus sócios no capital social, o que torna necessário para tal, a
concordância dos demais, salvo se houver algum impedimento ou providência a ser
implementada constante do contrato social. 157
A transferência das quotas à própria sociedade, o qual era anteriormente
prevista no Dec. 3.708/19, não foi reproduzida pelo Código Civil, fato esse que, no
entanto, não impede que sejam as quotas, transferidas à própria sociedade, na
medida em que em nenhum momento o legislador impede tal operação. Porem é
possível mediante os seguintes requisitos: a) as quotas adquiridas devem estar
integralizadas; b) a aquisição deverá ser feita mediante o uso de reservas e lucros
acumulados; c) deverá haver a concordância entre os sócios que representam a
maioria do capital social. 158
Em se tratando da cessão das quotas para pessoa estranha à sociedade, a
doutrina firmou entendimento no sentido de que, a exemplo do que ocorre com a
154 FAZZIO, Waldo Júnior. Sociedades limitadas, p. 122 155 BERTOLDI, Marcelo M.. Curso Avançado de direito comercial, p. 199 156 BERTOLDI, Marcelo M.. Curso Avançado de direito comercial, p. 199 157 BERTOLDI, Marcelo M.. Curso Avançado de direito comercial, p. 198 158 BERTOLDI, Marcelo M.. Curso Avançado de direito comercial, p. 198.
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Sociedade Anônima, as quotas seriam livremente transferíveis, salvo se houvesse
disposição em contrário constante do contrato social. 159
Condomínio, vem ser a propriedade de comum por duas ou mais pessoas
simultaneamente, ocorrendo no âmbito do direito societário, quando vários sócios
são titulares de uma mesma ação ou quota social. Na ocorrência deste fato, a quota
social é considerada indivisível perante a sociedade. 160
Para José E. T. Borba161, “contanto que indivisíveis, as quotas poderão ser
divididas, para efeito de transferência, (arts. 1056 e 1.057), hipótese que poderá
acarretar se não houver vedação contratual, a quebra da igualdade entre as quotas”.
Artigo 1.056 do Código Civil Brasileiro de 2002:
Art. 1.056. A quota é indivisível em relação à sociedade. Salvo para efeito de transferência, caso em que se observará o disposto no artigo seguinte. § 1° No caso de condomínio de quotas, os direito a ele inerentes somente podem ser exercidos pelo condômino representante, u pelo inventariante do espólio de sócio falecido. § 2° Sem prejuízo do disposto no art. 1.052, os condôminos de quota indivisa respondem solidariamente pelas prestações necessárias à sua integralização. 162
Artigo 1.057 do Código Civil Brasileiro de 2002:
Art.1.057. Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de um quarto do capital.163
Examinada a questão do capital social, bem como sua formação, aumento e
redução, passa-se, a seguir, a relatar sobre a administração da sociedade.
2.4. ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE
A sociedade poderá ser administrada por uma ou mais pessoas, sócias ou
não, designadas no contrato social ou em ato separado. Elas serão escolhidas e
159 BERTOLDI, Marcelo M.. Curso Avançado de direito comercial, p. 198. 160 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das sociedades comerciais. p.136. 161 BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito societário. p.114. 162 BRASIL, Código civil e legislação civil em vigor. p. 1492. 163 BRASIL, Código civil e legislação civil em vigor. p. 1492.
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destituídas pelos sócios, observando-se, em cada caso, a maioria qualificada exigida
por lei para a hipótese. Quando for administrada por não-sócio, será necessário
autorização no contrato social. 164
Reza o Artigo 1.060 do Código Civil Brasileiro de 2002:
Art. 1.060. A sociedade limitada é administrada por uma ou mais pessoas designadas em contrato social ou em separado. Parágrafo único. A administração atribuída no contrato a todos os sócios não se estende de pleno direito aos que posteriormente adquiram essa qualidade.165
A administração da Sociedade Limitada poderá se exercida por qualquer
pessoa, sócia ou não. O contrato social poderá admitir administradores não sócios
e, neste caso, sua designação depende da unanimidade dos sócios, enquanto o
capital social ainda não estiver inegralizado, e de dois terços, no mínimo, após a
integralzação do total do capital social. 166
Descreve os Artigos 1.061 e 1062 do Código Civil Brasileiro de 2002:
Art. 1.061. Se o contrato permitir administradores não sócios, a designação deles dependerá de aprovação da unanimidade dos sócios, enquanto o capital não estiver integralizado, e de dois terços, no mínimo, após a integralização. Art. 1.062. O administrador designado em ato em separado investir-se-á no cargo mediante termo de posse no livro de atas da administração.167
Saleinta Fábio U. Coelho:
O mandato do administrador pode ser por prazo indeterminado ou determinado. O contrato social ou ato de nomeação em separado definem, para cada administrador ou em termos gerais, se há termo ou não para o exercício do cargo. Na Junta Comercial devem ser arquivados os atos de condução, recondução e cessação do exerc´cio do cargo de administrador. Em caso de renúncia, que deve ser feita por escrito, o ato só produz efeitos em relação a terceiros, após arquivamento na Junta Comercial e publicação, mas, para a sociedade, é eficaz desde o momento em qe dele tomou conhecimento.168
164 Coelho, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. p.162. 165 BRASIL, Código civil e legislação civil em vigor. p. 1493. 166 BERTOLDI, Marcelo M.. Curso Avançado de direito comercial, p. 178. 167 BRASIL, Código civil e legislação civil em vigor. p. 1493. 168 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial, p. 162.
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Os atos praticados pelo administrador da Sociedade Limitada são atos da
sociedade, como se fossem praticados por ela mesma, emanados de sua vontade e
executados por suas próprias mãos. O administrador desfruta de todas as
atribuições não proibidas expressamente em lei ou de qualquer forma vinculada pelo
contrato social. O poder de agir é a regra, afim de que os atos de gestão sejam
necessários para a materialização do objeto da sociedade.169
Após o breve relato da administração da sociedade limitada, será descrito no
capítulo seguinte, sobre as responsabilidades dos sócios em relação à Sociedade
Limitada, como também as responsabilidades destes quando no exercício da
administração da sociedade.
169 FAZZIO, Waldo Júnior. Sociedades limitadas, p. 173.
CAPÍTULO 3
3. SOCIEDADE LIMITADA: A RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS PELOS ATOS PRATICADOS NA SOCIEDADE
Este capítulo tratará sobre as responsabilidades legais dos sócios na
sociedade limitada, bem como por seus atos praticados nesta, descrevendo sobre
seus tipos, conseqüências, obrigatoriedades, e demais aspectos inerentes à
responsabilização societária.
3.1. DAS RESPONSABILIDADES LEGAIS DOS SÓCIOS NA SOCIEDADE
3.1.1. Responsabilidade Limitada
A responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais da sociedade
limitadas, conforme menciona o nome do tipo societário, fica sujeita a limites. Se seu
patrimônio social é insuficiente para responder pelo valor total de dívidas que a
sociedade contraiu no decorrer de sua atividade, os credores só poderão
responsabilizar os sócios, executando bens de seus patrimônios, até certo montante.
Alcançando este limite, a perda é do credor. 170
Pelo entendimento de Fábio Ulhoa Coelho:
O limite da responsabilidade dos sócios, na sociedade limitada, é o total do capital social subscrito e não integralizado. Capital subscrito é o montante de recursos que os sócios se comprometem a entregar para a formação da sociedade; integralizado é a parte do capital social que eles efetivamente entregam. 171
Em suma, estabelecido pelo contrato social que o capital está
completamente integralizado, os sócios não possuem responsabilidade pelas
obrigações sociais. Falindo a sociedade, e sendo insuficiente seu patrimônio social
170 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direto comercial. p.156 171 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direto comercial. p.156
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para a liquidação do passivo, a perda será suportada pelos credores. 172
Para Mamede173, “na sociedade limitada, os sócios são responsáveis apenas
pelo valor da quota ou quotas sociais que subscreveram e, assim, devem adimplir
como se afere do artigo 1.052 do Código Civil”.
Salienta, ainda, Mamede174, “que uma vez que todo o capital subscrito tenha
sido integralizado, realizado, não se fazem necessários novos desembolsos, não
havendo responsabilidade subsidiária pelas obrigações sociais”.
No dizer de Campinho175, “em face da sociedade, cada sócio-cotista é
obrigado a entrar apenas com o valor de sua cota. Integralizado este valor, nada mais
deve à sociedade”.
Afirma, ainda, o autor que:
Portanto, o perfil característico desse tipo societário traduz-se na regra, segundo a qual, uma vez integralizado o capital social subscrito pelos sócios, ficam eles liberados de qualquer responsabilidade, nada mais devendo cada qual individualmente à sociedade, nem solidariamente aos credores da pessoa jurídica. Se o capital já houver sido integralizado, nenhum sócio poderá ser compelido a realizar qualquer prestação. 176
Com a personalização da sociedade limitada, tem-se a separação
patrimonial entre a pessoa jurídica e seus quotistas. Ficam distintos os sócios e
sociedade, com seus próprios direitos e deveres, não imputando as obrigações de
um com as do outro. Neste caso, a regra é a da irresponsabilidade dos sócios da
sociedade limitada pelas dividas sociais, ou seja, os sócios respondem, apenas, pelo
valor das cotas o qual se comprometeram no contrato social, estabelecendo se limite
de responsabilidade. 177
Destaca Coelho:
A limitação da responsabilidade dos sócios, na limitada, corresponde à regra jurídica de estímulo das atividades econômicas. Seu
172 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direto comercial. p.157 173 MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro. p.315 174 MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro. p.315 175 CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa à luz do novo código civil. p.131 176 CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa à luz do novo código civil. p.131. 177 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 400
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beneficiário indireto e último é o próprio consumidor. De fato, poucas pessoas - ou nenhuma - dedicar-se-iam a organizar novas empresas se o insucesso da iniciativa pudesse redundar a perda de todo o patrimônio, amealhado ao longo de anos de trabalho e investimento, de uma ou mais gerações. 178
O limite de responsabilidade dos sócios pode ser visto como um mecanismo
de socialização entre os agentes econômico, do risco de insucesso presente em
qualquer empresa. Trata-se de uma condição fundamental para o desenvolvimento
das atividades empresariais, no regime capitalista, pois a responsabilidade ilimitada
pode vir a desencorajar investimentos em empresas menos conservadores. Por fim,
visto como direito-custo, a responsabilidade limitada possibilita a redução do preço
de bens e serviços oferecidos no mercado. 179
Pelo entendimento de Almeida:
Situação bem diversa é a do sócio de responsabilidade limitada. Integralizada sua quota-parte, constituído o capital social, nenhuma responsabilidade do sócio subsiste, quer para com a sociedade, quer para com terceiros. E que a sociedade, desde que regular, tem patrimônio distinto do patrimônio de seus respectivos sócios, devendo ela, a sociedade, responder pelas próprias obrigações sociais. 180
Conforme Martins:
Questão que tem sido alvo de preocupação, em tema de sociedade limitada, diz respeito se, uma vez integralizado o capital social continuam os sócios a responder pelo mesmo, em caso de ser ele desfalcado, durante a vida societária. Doutrinadores sinalizam na maior parte, e também a jurisprudência, que uma vez integralizado o capital social, não ficam os sócios sujeitos ao complemento se ele vier a diminuir em virtude de operações ou fatos de insucesso para a sociedade. 181
A limitação da responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais pode se
apresentar como uma regra injusta, embora não seja. Sendo o risco do insucesso
inerente a qualquer atividade empresarial, o direito estabeleceu mecanismos de
limitação de perdas, para estimular empreendedores e investidores à exploração
empresarial dos negócios. Caso o insucesso de certa empresa pudesse requerer
parte ou totalidade do patrimônio dos empreendedores e investidores, certamente
178 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 400 179 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 401 180 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das sociedades comerciais. p. 34. 181 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. p.256
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estes se mostrariam mais reticentes em participarem dela. 182
3.1.2. Responsabilidade Ilimitada
Os Sócios cotistas possuem responsabilidades limitadas à importância total
do capital social, possuindo como exceção a prevista no artigo 13 da Lei n°
8.620/93. Porém esta prerrogativa da limitação da responsabilidade não se traduz na
irresponsabilidade dos sócios, os quais devem moldar suas condutas com
legalidade, abstendo-se de praticar atos contrários à lei, bem como ao contrato
social, além de absterem-se de fazer uso fraudulento ou abusivo da pessoa jurídica. 183
Menciona Campinho:
Assim não procedendo, passarão a responder pessoal e ilimitadamente pelas dívidas sociais, decorrentes do ato ilícito para cuja prática concorreram, ou resultantes do abuso da personalidade jurídica, o que, neste último caso, autorizaria a sua desconsideração. Nessas hipóteses de conduta irregular dos sócios, a responsabilidade, por não guardar relação direta co a situação patrimonial da sociedade, independe da exaustão do patrimônio social. Não há neste ponto, o benefício de ordem em favor dos infratores. 184
Conforme o artigo 1.080 do Código Civil185, "as deliberações infringentes do
contrato ou da lei tomam ilimitada a responsabilidade dos que expressamente as
aprovaram”.
Descreve Almeida:
Assim, na ocorrência de violação à lei (transgressão às disposições legais, gestão fraudulenta, dissolução irregular da sociedade, etc.), o sócio, ainda que de responsabilidade limitada e com o capital inteiramente integralizado, tomar-se-á solidária e ilimitadamente responsável pelas obrigações sociais. 186
A limitação da responsabilidade do sócio não é equivalente à declaração de
sua irresponsabilidade em relação aos negócios sociais e de terceiros, devendo ater-
se ao estado de direito das normas legais traçadas, em relação ao respectivo tipo 182 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. p. 157 183 CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa a luz do novo código civil. p.189; 184 CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa a luz do novo código civil. p.189; 185 BRASIL, Código civil e legislação civil em vigor. p. 1497. 186 ALMEIDA, Amador Paes de. Sociedades comerciais. p.126.
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societário. Ultrapassado os preceitos legais, por atos praticados como sócios, e
contrários à lei ou ao contrato social, tornam-se pessoal e ilimitadamente
responsáveis pelas conseqüências de tais atos. 187
A regra da limitação da responsabilidade dos Sócios da sociedade limitada
comporta exceções, como destaca Coelho:
Os sócios que adotarem deliberação contrária à lei ou ao contrato social responderão ilimitadamente pelas obrigações sociais relacionadas à deliberação ilícita. A justiça do trabalho tem protegido o empregado deixando de aplicar as regras de limitação da responsabilidade dos sócios. Tal orientação, de base legal questionável, deriva, na verdade, da intenção de proteger o hipossuficiente, na relação de emprego. Se o sócio fraudar credores valendo-se do expediente da separação patrimonial, poderá ser responsabilizado ilimitadamente pó obrigação da sociedade, em decorrência da teoria da desconsideração da pessoa jurídica. Débitos junto à Seguridade Social (INSS), em razão do disposto no art. 13 da Lei n. 8.620/93, podem ser cobrados de qualquer sócio da sociedade limitada. Nestes casos, apenas, é que não vigora a limitação da responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais. 188
Ressalta Campinho:
A regra, porém, é a da responsabilidade limitada, competindo àquele que desejar a vinculação da responsabilidade pessoal dos sócios provar a prática do ato violador da lei ou do contrato social. Sendo ela provada em qualquer processo de conhecimento, de execução ou falimentar, extrai-se o efeito da responsabilidade ilimitada. Há, portanto, que se repelir pretensões abusivas de alguns credores sociais, quando não ficar evidenciada a prática do ato ilícito - o que renderia ensejo à responsabilização direta e pessoal do sócio infrator da lei ou do contrato social -, ou patenteado o mau uso da pessoa jurídica - o que resultaria na possibilidade da desconsideração de sua personalidade para vincular a responsabilidade do sócio ou administrador.189
Menciona Almeida que “a responsabilidade pela integralização do capital
social, em princípio, libera os sócios de qualquer responsabilidade, quer para com
terceiros, quer para com a sociedade. Isso, todavia, não equivale à responsabilidade
pela conduta sadia dos negócios”. 190
187 REQUIÃO, Rubens, Curso de direito comercial. p. 519. 188 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. p.159 189 CAMPINHO, Sérgio. O direito da empresa a luz do novo código civil. p.190-191. 190 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das sociedades comerciais. p.126 – 127.
46
3.1.3. Responsabilidade Solidária
Com o capital social não completamente integralizado, todos os demais
sócios respondem solidariamente pela parte complementar para preencher o
pagamento das quotas não inteiramente integralizadas. A solidariedade entre os
sócios, para integralização do capital social é uma garantia estabelecida por lei para
favorecimento dos credores sociais. 191
Conforme o artigo. 1.052 do Código Civil192, “Na sociedade limitada, a
responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos
respondem solidariamente pela integralização do capital social”.
Pelo ensinamento de Mamede:
Esteja atento, no entanto, para a parte final do artigo 1.052: não obstante cada sócio esteja obrigado apenas à integralização do valor de sua quota ou quotas, enquanto todo o capital social não seja realizado, todos os sócios respondem pelos valores ainda pendentes e, solidariamente entre si, pela obrigação daquele ou daqueles que não adimpliram sua contribuição social. 193
Nas sociedades limitadas, o limite da responsabilidade do cotista para com
credores sociais é o valor do capital social. Os sócios respondem, pois,
solidariamente pela integralização do capital social constitutivo da sociedade.
Obrigam-se solidariamente pelo capital social na sua totalidade, e não apenas por
suas cotas, na projeção externa de suas responsabilidades. 194
Sobre o assunto, destaca Almeida:
Na sociedade mencionada, em princípio, cada sócio assume para com a sociedade a obrigação fundamental de contribuir com o valor de sua quota-parte, para a constituição do capital social. Contudo, todos os sócios têm responsabilidade solidária pelo total do capital social, como enfatiza o artigo 1.052 do N. Código Civil: "Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social”. 195
O legislador brasileiro poderia ter sido mais rigoroso, mas, ao dispor sobre o
191 CAMPINHO, Sérgio. O direito da empresa a luz do novo código civil. p.186-187 192 BRASIL, Código civil e legislação civil em vigor. p. 1492. 193 MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro. p. 315. 194 CAMPINHO, Sérgio. O direito da empresa a luz do novo código civil. p.186-187. 195 ALMEIDA, Amador Paes de. Sociedades comerciais. P. 126.
47
assunto, concedeu aos sócios a responsabilidade pelo total do capital social. A
solidariedade resta clara no Código Civil, no qual responde os sócios pela
integralização do capital social. Este princípio ganha força perante terceiros, na
medida em que assegura uma transparência e a falta de integralização do capital
deve ser repartida no risco entre todos, de modo solidário. 196
3.1.4. Responsabilidade Subsidiária
Destaca Almeida197, que “a responsabilidade do sócio, na ocorrência dos
fatos de violação à lei, é subsidiária, como deixam claro no artigo 1.024 do Código
Civil e o artigo 596 do Código de Processo Civil”.
Segundo enunciado do artigo 1.024 do Código Civil198, “Os bens particulares
dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de
executados os bens sociais”.
Conforme o artigo 596 do Código de Processo Civil, os bens dos sócios não
respondem pelas dívidas da sociedade senão nos casos previstos em lei. O sócio
demandado pelo pagamento da dívida, tem direito a exigir que sejam primeiro
executados os bens da sociedade. 199
Pelas palavras de Coelho:
Há uma significativa diferença ente as hipóteses de exceção à limitação da responsabilidade dos sócios relacionadas, de um lado, à falta de integralização do capital social e, do outro, à repressão de atos irregulares: enquanto nesta última o sócio responde diretamente, na primeira ele tem responsabilidade subsidiária. Na sanção às irregularidades praticadas na sociedade limitada, a responsabilização do sócio não depende do prévio exaurimento do patrimônio social. 200
Relacionado ao cumprimento do dever de integralizar o capital social da
sociedade limitada, é vigente a regra da subsidiariedade na responsabilização do
sócio: enquanto houver patrimônio social, o patrimônio do sócio não pode ser
196 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. p. 256 - 257. 197 ALMEIDA, Amador Paes de. Sociedades comerciais. P. 128. 198 BRASIL, Código civil e legislação civil em vigor. p. 1488. 199 BRASIL, Código de processo civil / Vade Mecun Saraiva / obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antônio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspede – São Paulo: Saraiva 2006. p. 439. 200 COELHO, Fábio Ulhoa, Curso de direito comercial. p. 408 - 409.
48
alcançado, na satisfação dos direitos dos credores. O benefício de ordem é sempre
oponível aos credores negociais da sociedade. 201
Após a análise dos tipos de responsabilidade dos sócios na sociedade
limitada, passa-se a examinar a responsabilidade destes pelos atos praticados pela
sociedade limitada.
3.2. DAS RESPONSABILIDADES DOS SÓCIOS POR ATOS PRATICADOS PELA SOCIEDADE
Pelos estudos feitos sobre a matéria que, em que pese à responsabilidade
dos sócios, na Sociedade Limitada, é limitada ao valor de suas quotas, desde que o
capital social esteja totalmente integralizado, denota-se que, na pratica, em vários
ramos do direito tem se configurado a presença da responsabilidade desses sócios
em decorrência de atos praticados pele própria sociedade.
No Direito Comercial, constata-se esta situação no caso específico do
processo falimentar – Lei nº 11.101, de 09.02.2005.
A contribuição do sócio para a formação do capital social, busca a
capacitação da sociedade para a realização de sua atividade econômica,
constituindo, segundo a doutrina majoritária, a principal obrigação decorrente da
condição de sócio na contribuição para a formação do capital social. Além de o
capital social tornar a sociedade apta a desenvolver seu objeto, serve ainda com
garantia para os credores sociais. 202
Destaca Campinho:
Sendo, portanto, um elemento do ativo social, que será arrecadado e liquidado para o pagamento dos credores, não vemos como não se chegar à conclusão outra, senão a de que, com a falência, ficam os sócios obrigados a integralizar as suas participações subscritas, para que os valores ingressem na massa falida e sirvam ao pagamento dos credores. Constituindo-se a falência uma forma de dissolução judicial da sociedade, todos os créditos sociais devem ser apurados. 203
201 COELHO, Fábio Ulhoa, Curso de direito comercial. p. 409. 202 CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa a luz do no código civil. p. 188 203 CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa a luz do no código civil. p. 188
49
Segundo o artigo 82 da Lei n° 11.101/2005 a responsabilidade pessoal dos
sócios de responsabilidade limitada:
Art. 82. A responsabilidade pessoal dos sócios de responsabilidade limitada, dos controladores e dos administradores da sociedade falida, estabelecida nas respectivas leis, será apurada no próprio juízo da falência, independentemente da realização do ativo e da prova da sua insuficiência para cobrir o passivo, observado o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil. § 1º Prescreverá em 2 (dois) anos, contado do trânsito em julgado da sentença de encerramento da falência, a ação de responsabilização prevista no caput deste artigo. § 2º O juiz poderá, de ofício ou mediante requerimento das partes interessadas, ordenar a indisponibilidade de bens particulares dos réus, em quantidade compatível com o dano provocado, ate o julgamento da ação de responsabilização. 204
Desse modo, verifica-se no artigo da Lei nº 11.101/2005 a base sobre as
considerações descrita, onde estabelece como regra geral e irrestrita, a
responsabilidade pessoal dos sócios de responsabilidade limitada apurada no
próprio juízo da falência, independentemente da realização do ativo e da prova de
sua insuficiência para cobrir o passivo.205
Destaca Campinho:
A responsabilidade traduzida no texto legal não se limita àquelas decorrentes de ato ilícito propriamente dito. É ampla e geral, como se afirmou, abrangendo todas as resultantes do status de sócio, na qual se destaca como a principal, a de integralizar o capital social. Se a sociedade se mostrou insolvável foi porque os sócios não a capacitaram devidamente para explorar a atividade econômica objetivada. 206
A integralização de forma parcelada se mostrou como um cálculo de risco
empresarial equivocado, pela constatação do fato, de que não há como se amparar,
dentro de uma lógica societária, outra possibilidade, a não ser de sustentar a
obrigatoriedade dos sócios pela integralização de suas cotas de capital, perante a
decretação de falência social, não obstante quaisquer restrições ou condições
estabelecidas no ato constitutivo. 207
204 BRASIL, Lei nº. 11.101 de 09 de Fevereiro de 2005 - DOU de 09/02/2005 - Lei de Recuperação de Empresa – LRE / Vade Mecun Saraiva – São Paulo: Saraiva 2006. p. 1549. 205 CAMPINHO, Sérgio. ° direito de empresa a luz do no código civil. p. 188. 206 CAMPINHO, Sérgio. ° direito de empresa a luz do no código civil. p. 188. 207 CAMPINHO, Sérgio. ° direito de empresa a luz do no código civil. p. 188.
50
No âmbito do Direito Tributário, constata-se que, em conformidade com o
disposto nos artigos134, VII e 135 I e III do Código Tributário Nacional:
Art. 134. Nos casos de impossibilidade do cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte, respondem solidariamente com este nos atos em que intervierem ou pelas omissões de que forem responsáveis: VII - os sócios, no caso de liquidação da sociedade de pessoas. Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos: I - as pessoas referidas no artigo anterior; 111 - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado. 208
Destaca Almeida:
A dissolução, liquidação e extinção da sociedade, sem prévia solução dos seus débitos fiscais, configurando violação à lei, tornam os sócios-gerentes, os que emprestam os nomes à firma, os diretores, responsáveis pessoais pelas obrigações tributárias. 209
A pessoa jurídica é o instrumento criado por lei para satisfação das
necessidades humanas, não possuindo vida natural, é dirigida por pessoas físicas
de seus respectivos sócios, os quais devem praticar em sua administração, as
cautelas necessárias. Porém, na utilização desta com desvio de sua legítima
finalidade, fraude para com terceiros ou violação à lei, devem responder
pessoalmente pelos prejuízos a que deram surgimento. 210
Conforme entendimento jurisprudencial do Tribunal de Justiça do Estado de
Santa Catarina:
Acórdão: Agravo de Instrumento 2006.023285-6 - Relator: Sônia Maria Schmitz Data da Decisão: 31/10/2006 EMENTA: Agravo de instrumento. Dissolução irregular da sociedade. Redirecionamento da ação de execução fiscal. Comprovada a dissolução irregular de sociedade inadimplente perante a Fazenda Pública, é possível a constrição de bens do patrimônio pessoal do sócio que, à época da ocorrência dos fatos geradores, exercia poderes típicos de gerência. 211
208 BRASIL, Código tributário Nacional / Vade Mecun Saraiva – São Paulo: Saraiva 2006. p. 731. 209 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das sociedades comerciais: direito de empresa. p.39 210 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das sociedades comerciais: direito de empresa. p.39. 211 http://tjsc6.tj.sc.gov.br/jurisprudencia/PesquisaAvancada.do - acesso em 19.10.2008.
51
Fica evidenciado pela normativa do artigo 135 do CTN, onde o legislador se
refere à responsabilidade pessoal dos administradores quando o crédito tributário
decorra de um ato contrário à lei. Ou seja, a responsabilidade será estendida à
pessoa do sócio quando este praticar um ato de infração à lei, o qual gere uma
obrigação tributária.
No campo do Direito Trabalhista, mas especificamente nas relações de
trabalho, também se tem registrado situações semelhantes.
Pelo entendimento de Campinho:
Por derradeiro, cumpre registrar a única exceção à regra da limitação da responsabilidade dos sócios ao total do capital social. Está ela prevista no artigo 13 da Lei n° 8.620/93, o qual estabelece os sócios da limitada responderem solidariamente, com seus bens pessoais, pelos débitos junto a Seguridade Social. 212
Pela redação do artigo 13 da Lei nº. 8.620/93:
Art. 13 da lei 8.620/93. O titular da firma individual e os sócios das empresas por cotas de responsabilidade limitada respondem solidariamente, com seus bens pessoais, pelos débitos junto à Seguridade Social. Parágrafo único. Os acionistas controladores, os administradores, os gerentes e os diretores respondem solidariamente e subsidiariamente, com seus bens pessoais, quanto ao inadimplemento das obrigações para com a Seguridade Social, por dolo ou culpa. 213
Conforme entendimento jurisprudencial do Tribunal Regional do Trabalho do
Estado de Santa Catarina:
Acórdão / - Juiz Gracio R. B. Petrone - Publicado no TRTSC/DOE em 14-12-2007Processo: Nº: 01929-2005-046-12-00-0 Ementa: EXECUÇÃO. RESPONSABILIDADE DO SÓCIO MINORITÁRIO. Não deve ser limitada a responsabilidade do sócio, ainda que minoritário, à sua participação societária quando verificada a insuficiência do patrimônio da sociedade e aplicada a teoria da desconsideração da personalidade jurídica da empresa executada. 214
No Processo do Trabalho, não havendo mais bens na sociedade, a
execução se volta contra os sócios, fundamentado em jurisprudência sedimentada, o
212 CAMPINHO, Sérgio. ° direito de empresa a luz do no código civil. p. 188. 213BRASIL, Lei 8.620/93 5 de janeiro de 93. http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1993/86 20.htm - acesso em 19.10.2008 214 http://www3.trt12.gov.br/juris/scripts/form-juris.asp. acesso em 25.10.2008.
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qual pressupõe a responsabilidade destes pelos débitos trabalhistas na ausência de
bens da pessoa jurídica. 215
Destaca Almeida:
Em nenhuma circunstância poderá o empregador transferir ao empregado os prejuízos que a atividade econômica lhe possa fazer. A vinculação do empregado à empresa não altera o princípio. Empresa é a atividade econômica organizada. Assim, conquanto vinculado à empresa, em razão do fenômeno da despersonalização do empregador, o responsável pelo pagamento dos salários é o empresário, o titular da empresa individual ou coletiva. Em se tratando de sociedade limitada, a exaustão dos seus recursos patrimoniais, por má administração ou decorrente dos riscos dos negócios, autoriza a execução dos bens particulares dos administradores. 216
Em síntese pode ser dito que, não existindo patrimônio capaz de suportar os
débitos trabalhistas, os sócios responderão com seus bens patrimoniais. Desta
forma, nas relações da sociedade com seus colaboradores, os débitos originados
nas relações de trabalho devem procurar satisfação através da execução dos bens
particulares dos sócios.
Na esfera do Direito Ambiental, Conforme enunciado do artigo 225, § 3º as
Constituição Federal:
CF Artigo 225, § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, as sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. 217
A lei não deixou impune a pessoa física autora, co-autora ou partícipe.
Embora sejam apuradas num mesmo processo penal, as responsabilidades são
diferentes e poderão acontecer a absolvição ou a condenação separadamente ou
em conjunto. 218
Conforme enunciado do artigo 3º e 4º da Lei nº. 9.605/98:
Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que
215 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das sociedades comerciais: direito de empresa. p. 37. 216 ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das sociedades comerciais. p.144-145 217 BRASIL, Constituição Federal / Vade Mecun Saraiva – São Paulo: Saraiva 2006. p. 67. 218 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro – 15º edição, revista, atualizada e ampliada – São Paulo: Malheiros Editores 2007. p.708.-
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a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato. Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente. 219
É fato que a pessoa jurídica age e reage mediante seus órgãos e
representantes, cujas ações e omissões são consideradas da própria pessoa
jurídica, cuja atuação é distinta da vontade daqueles. Porém, isto não significa a
exclusão da responsabilidade daqueles, conforme menciona o parágrafo único do
artigo 3º da lei 9.605/98. 220
Conforme entendimento jurisprudencial do Tribunal de Justiça do Estado de
Santa Catarina:
Acórdão: Recurso criminal 2006.022946-4 Relator: Irineu João da Silva Data da Decisão: 08/08/2006 EMENTA: CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE - DENÚNCIA OFERTADA CONTRA PESSOA JURÍDICA - ENTE QUE NÃO PODE SER RESPONSABILIZADO PELA PRÁTICA DE CRIME - AUSÊNCIA DE VONTADE PRÓPRIA - RECURSO MINISTERIAL NÃO PROVIDO. "A pessoa jurídica, porque desprovida de vontade própria, sendo mero instrumento de seus sócios ou prepostos, não pode figurar como sujeito ativo de crime, pois a responsabilidade objetiva não está prevista na legislação penal vigente" (RCR n. 03.003801-9, de Curitibanos, rel. Maurílio Moreira Leite, j. 01.04.2003). 221
Junto ao Direito do Consumidor, a legislação tratou de responsabilizar o
sócio adotando a teoria da desconsideração da personalidade jurídica.
Conforme enunciado do artigo 75 do Código do Consumidor:
Art. 75. Quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes referidos neste código, incide as penas a esses cominadas na medida de sua culpabilidade, bem como o diretor, administrador ou gerente da pessoa jurídica que promover, permitir ou por qualquer modo aprovar o fornecimento, oferta, exposição à venda ou manutenção em
219 BRASIL, Lei 9.605 de 12 de fevereiro de 1998. Vade Mecun Saraiva – São Paulo: Saraiva 2006. p. 1474. 220 MUKAI, Toshio, Revista jurídica consulex, ano VII nº. 163 – 31 de outubro de 2003. 221 http://tjsc6.tj.sc.gov.br/jurisprudencia/PesquisaAvancada.do - acesso em 19.10.2008.
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depósito de produtos ou a oferta e prestação de serviços nas condições por ele proibidas. 222
Conforme ensinamento de Carvalho:
O Código de Proteção e Defesa do Consumidor garante ao Juiz o poder de desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade em determinados casos tais como, entre outros: quando houver abuso de direito, excesso de poder e infração da lei. Isto implica dizer, por exemplo, que se uma empresa fechar suas portas, se falir (fraudulentamente ou não), se ficar inativa, ou ainda, e quaisquer outros casos provocados por má administração ou infrações legais, causando prejuízo ao consumidor, o Juiz poderá não levar em consideração a personalidade jurídica da empresa, responsabilizando, consequentemente, sócio-gerente, administradores, acionistas controladores, etc. 223
É evidente que o legislador do art. 75 pretendeu criar aos administradores da
pessoa jurídica um dever de zelo ou cuidado acessório com o produto ou serviço,
onde há um dever inerente ao sistema de defesa do consumidor, por trás a
responsabilidade civil objetiva. 224
Pelo entendimento de Almeida:
À constatação de que, muitas vezes, o consumidor se vê prejudicado por não conseguir alcançar patrimonialmente o verdadeiro devedor, encoberto sob o manto de empresas as mais diversas, o Código do Consumidor optou por adotar integralmente a teoria da desconsideração da personalidade jurídica, ampliando-a (art. 28, § § 2º a 5º).225
Tendo sua origem nos Estados Unidos, esta teoria denominada de
disregard of legal entity, tem por objetivo o desvendamento da pessoa jurídica,
possibilitando ingressar nela para alcançar a responsabilidade do sócio por suas
obrigações particulares, nos casos de desvio de finalidade, fraude à lei ou abuso de
direito, que injustificam a manutenção da ficção legal de autonomia de que gozam as
pessoas jurídicas em relação a seus sócios.226
222 BRASIL, Código do Consumidor / Vade Mecun Saraiva – São Paulo: Saraiva 2006. p. 812. 223 CARVALHO, Silvio Vicente de. O direito do consumidor: código de proteção e defesa do consumidor – Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1997. 224 FONSECA, Antôno Cezar Lima da, Direito penal do consumidor: Código de defesa do consumidor e Lei nº 8.137/90 – 2. ed.rev.atual. – Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999. 225 ALMEIDA, João Batista de. A proteção jurídica do consumidor – 5 ed. Ver. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2006. p. 103. 226 ALMEIDA, João Batista de. A proteção jurídica do consumidor – 5 ed. Ver. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2006. p. 103.
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Pelo ensinamento de Rizzatto:
Na realidade, o fato é que, com o nascimento do mercado empresarial, ficou cada vez mais evidente que a facilidade que se dava para a formação de pessoas jurídicas – especialmente empresas – tinha o preço da permissibilidade para que seus sócios delas se servissem par todo tipo de fraude. De maneira que a legislação passou a prever expressamente a responsabilidade dos sócios, e caminhou-se para o regramento do art. 28 do CDC, que, como se verá, permite a desconsideração não só em caso de fraude, mas até na hipótese de simples má administração. 227
Pelo enunciado do Art. 28 do Código do Consumidor:
Art. 28 - O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração. § 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. 228
Conforme entendimento jurisprudencial do Tribunal de Justiça do Estado do
Paraná:
Ag Instr 0462684-0 Relator(a)Rel.Paulo Cezar Bellio DJ: 7639 20/06/2008 Tipo:Acórdão. EMENTA: PROCESSUAL CIVIL, CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR. DESCONSIDERAÇÃO. FRAUDAR CREDORES. RELAÇÃO CONSUMERISTA. TEORIA MENOR DA DESCONSIDERAÇÃO. EXEGESE DO ART.28, §5º DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. APLICAÇÃO GERAL DA DESCONSIDERAÇÃO. Recurso provido. 1. Desconsideração da personalidade jurídica. Encerramento irregular da atividade comercial. Já amplamente cristalizado na jurisprudência atual o posicionamento de que, por desconsideração da personalidade jurídica, mesmo sendo a sociedade e responsabilidade limitada e tendo seus sócios integralizado o capital social, respondem os bens destes pelas dívidas da empresa, se esta cessou sua atividade de forma irregular, sem satisfazer, antes, o que devia ou exibir bens próprios bastantes a assegurar seu pagamento, frustrando o recebimento pelos credores de seus créditos.
Essa teoria tem seu efeito prático, na ocorrência dos pressupostos do art. 28
– abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação do
227 RIZZATTO, Nunes Luiz Antônio. Curso de direito de consumidor – 2 ed. Ver., modif. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2005. 228 BRASIL, Código do Consumidor / Vade Mecun Saraiva – São Paulo: Saraiva 2006. p. 808. 228 CARVALHO, Silvio Vicente de. O direito do consumidor: código de proteção e defesa do consumidor – Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1997.
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estatuto ou contrato social, em detrimento ao consumidor -, o juiz pode
desconsiderar a pessoa jurídica e responsabilizar civilmente o sócio-gerente, o
administrador, o sócio majoritário, o acionista controlador etc., alcançando-lhes os
respectivos patrimônios, adotando o mesmo procedimento em caso de falência,
estado de insolvência, encerramento ou inatividade de pessoa jurídica provocados
por má administração e até genericamente quando a personalidade jurídica for de
algum impedimento ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. 229
229 ALMEIDA, João Batista de. A proteção jurídica do consumidor – 5 ed. Ver. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2006. p. 104.
CONCLUSÃO
Procurou-se, neste trabalho, destacar e relatar as responsabilidades
assumidas pelos sócios da Sociedade Limitada em virtude dos atos praticados por
esta, em conformidade com a legislação vigente.
Destacou-se no primeiro capítulo, a evolução do empresário no Brasil e no
mundo, evidenciando seu surgimento como profissão nos tempos mais recuados da
idade média, em específico nas cidades italianas, o qual possuiu modelo mais
próximo aos dias atuais, com a idéia de separação patrimonial dos sócios da
sociedade. Constatou-se que com a Revolução Francesa, ampliou-se a liberdade
para a prática da atividade empresarial, com a existência de princípios legal
reguladores, como a prática habitual dos atos do comércio, a fim de caracterizar a
profissão de empresário.
Constatou-se a adoção como base do sistema francês pelo Brasil, definindo
comerciante aquele que praticava de forma profissional e com habitualidade os atos
de comércio. Posteriormente obrigou-se a inscrição em Tribunais de Comércio, o
qual foi substituído na seqüência pelas Juntas Comerciais.
Depois de evidenciada a plena capacidade de direito para o exercício da
atividade empresária, tratou-se de relatar sobre a personalização da sociedade
empresária com o intuito da distinção da personalidade dos sócios, podendo praticar
atos ou negócios jurídicos em seu próprio nome.
Quanto à classificação das sociedades empresárias, destacaram-se as
sociedades de capitais, caracterizada pela negociação de suas cotas ou ações, e, as
sociedades de pessoas, caracterizada pela particularidade do sócio em relação à
sociedade e a rara negociação de suas cotas. Classificadas em relação a sua
responsabilidade social, as sociedades podem ser de responsabilidade ilimitada,
limitada ou mista, na relação dos sócios para com terceiros. Ainda são classificadas
as sociedades pelo modelo de constituição, podendo ser institucionais ou
contratuais.
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Em seguida, tratou-se da Sociedade Limitada no Direito brasileiro onde
procurou-se destacar seu histórico e conceito, características contratuais e de sua
responsabilidade, a natureza jurídica, bem como aspectos relativos ao capital social
e administração da sociedade.
A Sociedade Limitada surgiu na Alemanha em 1892, onde era denominada
de sociedade de responsabilidade limitada, inspirou outros países a adotarem este
tipo societário pela sua simplicidade constitutiva e responsabilização limitada dos
sócios. Foi introduzida no Brasil pelo Decreto n. 3.708, de 10 de janeiro de 1919.
Atualmente, é ordenada pelo Código Civil de 2002, e representa mais de 90% da
economia nacional.
Este tipo societário é constituído mediante a confecção do contrato social,
obedecidos todos os requisitos pertinentes, e seu respectivo registro na Junta
Comercial. Deve ser constituída de no mínimo por dois sócios, sendo estes pessoas
físicas ou jurídicas.
Os sócios da Sociedade Limitada destacam do seu patrimônio pessoal a
parcela que irá compor o capital da sociedade, o qual será dividido em quotas
sociais proporcionais à sua participação. Pode ocorrer a qualquer momento a
alteração do valor do capital social, desde que obedecidos seus os requisitos para
elevação ou diminuição. A quota social representa a parte em dinheiro ou bens que
cada sócio contribuiu para a constituição da sociedade.
Ficou constatado que a administração da sociedade pode ser efetuada por
uma ou mais pessoas, sendo estas sócias ou não, o qual deve estar designado no
contrato social ou em ato em separado, desde que previsto no contrato social e
aprovada por unanimidade dos sócios.
O trabalho em questão objetivou priorizar a responsabilidade dos sócios
pelos atos praticados pela sociedade nas diversas esferas do direito. Em princípio
tratou-se de destacar os tipos de responsabilidades assumidos pelos sócios em
função da constituição da sociedade limitada.
Na falta de cobertura patrimonial da Sociedade Limitada, os sócios
respondem pelas obrigações da sociedade até o limite do seu capital social
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integralizado. Pela falta de integralização do capital social, todos os sócios
respondem solidariamente pela integralização como garantia aos credores sociais
instituída por lei. Na prática de atos contrários à lei, ao contrato social, bem como o
uso fraudulento e abusivo da pessoa jurídica, a limitação da sociedade é partida,
passando para a responsabilidade ilimitada dos sócios, servindo como cobertura seu
patrimônio pessoal. A subsidiariedade está caracterizada na falta de patrimônio
social, onde o patrimônio pessoal dos sócios será alcançado como subsídio.
A responsabilização dos sócios por atos praticados pela sociedade encontra
resposta nas variadas vertentes do direito. No caso de falência da sociedade, os
sócios são obrigados a integralizarem suas cotas de capital subscritas, a fim de
ingressarem na massa falida e dar respaldo aos credores. São pessoalmente
responsáveis os sócios pelo cumprimento das obrigações tributárias, nas sociedades
limitadas, que por ventura agirem de forma fraudulenta para com terceiros, desvio de
finalidade ou violação a lei. Em virtude das relações de trabalho, os sócios
respondem solidariamente e subsidiariamente com seus bens patrimoniais. O
suporte pelo patrimônio do sócio em virtude da falta do patrimônio da sociedade se
dá por meio de execução dos bens pessoais.
Por atos lesivos praticados ao meio ambiente, implicará na
responsabilização penal, administrativa e civil da sociedade. Contudo tal
responsabilidade não exclui a responsabilidade dos sócios da sociedade, o que será
alcançada com a despersonalização da sociedade em conseqüência do obstáculo
para o ressarcimento dos prejuízos ao meio ambiente. No campo do direito do
consumidor, a desconsideração da personalidade jurídica é alcançada no
surgimento de obstáculos ao ressarcimento de prejuízos causados aos
consumidores, o que evidencia a responsabilização dos sócios por atos da
sociedade limitada.
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