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Page 1: Novas Diretrizes do Jornalismo - Manifesto

Prezados,

Nós, estudantes do curso de Comunicação Social da Universidade Federal Fluminen-se, representados pelo Diretório Acadêmico de Comunicação Social, vimos, através desse manifesto, manifestar nosso desacordo para com o Departamento do curso no que se refere à reestruturação do currículo à luz das Novas Diretrizes Curriculares Nacionais de Jornalismo (NDJ), estabelecidas pelo MEC a partir da resolução nº 1 de 27 de setembro de 2013.

O corpo discente definiu o seu posicionamento na Assembleia de Estudantes que ocor-reu no dia 04 de novembro de 2014, obedecendo o quórum mínimo estabelecido pelo estatuto dos Centros e Diretórios Acadêmicos. A negação às NDJ foi decisão unânime dentre os presentes, contabilizando vinte (20) votos. A seguir, explicitaremos os principais motivos que nortearam o posicionamento dos estudantes sobre a questão.

Nós concordamos que a reestruturação curricular do curso seja necessária, de forma a atualizá-lo às novas demandas do mercado profissional de jornalismo e às características do egresso do ensino superior. No entanto, avaliamos que as novas diretrizes homologadas pelo MEC não contemplam as múltiplas realidades acadêmico-profissionais dos estudan-tes de Comunicação Social do país.

Começando pela criação do curso de Jornalismo, medida que o retira do campo da Co-municação Social e o transforma em uma área de estudos independente. Mas como é pos-sível desconsiderar quão diretamente o Jornalismo dialoga com áreas como a Publicidade, Radialismo, Relações Públicas e tantas outras? Consideramos que a aplicação dessa lógica que segmenta cada vez mais as áreas de conhecimento, tendendo perigosamente ao tecni-cismo, em nada contribui para a formação plena do estudante. A medida não se sustenta sequer na análise da estrutura atual do mercado da comunicação, que exige profissionais multidisciplinares, capazes de articular práticas e conhecimentos e se adaptar a diferentes

MANIFESTO CONTRA AS NOVAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS DE JORNALISMO

Ao Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense

À Comissão de Currículo

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contextos. Além disso, setorizar o ensino da Comunicação é uma tentativa clara de enfra-quecer a reflexão sobre o seu caráter social, culminando na desmobilização de uma classe com amplos interesses em comum, tanto em âmbito acadêmico, quanto profissional. Por todos os motivos supracitados, somos veementemente contrários à separação do Jornalis-mo da área da Comunicação Social.

Além disso, consideramos a instituição do estágio curricular obrigatório um dos pon-tos mais críticos do documento. Primeiramente, avaliamos que a medida desconsidera a existência de estudantes que não pretendem seguir trajetórias profissionais voltadas para o mercado, como aqueles que almejam a carreira acadêmica. Muito nos preocupa, a falta de estrutura das universidades para garantir supervisão adequada da relação estagiário--empresa.

Afinal, com a obrigatoriedade do estágio, a tendência, seguindo a lógica de mercado na qual as empresas estão inseridas, é que a bolsa-auxílio paga aos estagiários seja ainda menor do que é hoje, e as condições de trabalho, ainda piores. Essa medida desconsidera, ainda, a realidade dos tantos alunos cotistas e com renda baixa que existem na universi-dade, muitos dos quais frequentemente dependem de um emprego fixo para se manter na graduação. Com a obrigatoriedade do estágio, especialmente em um provável contexto de remunerações mínimas, essas pessoas estariam ainda mais expostas à condição de vul-nerabilidade financeira, que afeta diretamente o seu desempenho no curso e até mesmo a sua possibilidade de permanecer na universidade. Por acreditarmos em um modelo de educação democrático que contemple as múltiplas realidades dos estudantes do nosso país e contribua para a vivência e permanência do estudante na universidade, somos veemen-temente contrários à obrigatoriedade do estágio curricular supervisionado.

Em terceiro lugar, pontuamos a problemática em torno do novo modelo de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Como sabemos, atualmente os estudantes de Comunica-ção Social da UFF podem elaborar o TCC de duas formas: projeto prático-experimental ou monografia de reflexão crítica sobre os fenômenos da Comunicação. Mas como con-sequência da retirada do Jornalismo do campo da Comunicação Social através da criação do novo curso, os trabalhos monográficos devem ser diretamente relacionados ao Jor-nalismo. A medida desconsidera que, em se tratando de Jornalismo, é inevitável abordar outros temas do universo da comunicação, ainda que não se relacionem diretamente com a área. E se os objetivos do TCC são ratificar as habilidades e competências adquiridas pelo estudante ao longo da graduação e garantir um legado de produção de conhecimen-to para a comunidade acadêmica, chega a ser contraditório que um curso que articula

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formação específica e humanística não culmine em trabalhos que dialoguem com outras áreas do conhecimento. Por defendermos a necessária multidisciplinaridade da formação e, consequentemente, das produções finais dos estudantes de Comunicação Social, somos veementemente contra a restrição temática do TCC.

Considerando, ainda, que o documento que implementa as NDJ tem caráter recomen-dativo, não se sobrepondo à autonomia de que disfrutam as Instituições Públicas de Ensino Superior para definir o seu próprio currículo, e que a resolução do MEC não contempla a formação na qual acreditamos, nós, estudantes de Comunicação Social da UFF, não teme-mos afirmar que somos contra as Novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Jornalismo. Reforçamos, por meio desta carta, o nosso pedido para que este departamento repense a adesão às diretrizes e vote mais uma vez, agora à luz do posicionamento crítico dos estu-dantes. Ressaltamos que a negação das diretrizes não exclui a possibilidade de reformula-ção curricular ou descarta o trabalho desempenhado até o momento pelos professores de Jornalismo, em especial aqueles que compõem o Núcleo Docente Estruturante. Deixamos claro também que a presença dos estudantes, neste e em outros fóruns deliberativos, é um direito a que pretendemos fazer jus através de posicionamentos críticos e autônomos, na defesa dos interesses do corpo discente.

Estudantes de Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense

Niterói, 10 de novembro de 2014