UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute-UFC
PROacute-REITORIA DE PESQUISA E POacuteS-GRADUACcedilAtildeO
PROGRAMA REGIONAL DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO
EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE - PRODEMA
ISABELLE MARINHO QUINDEREacute SARAIVA
O EMPREGO DA RESERVA LEGAL NO MUNICIacutePIO DE
IRAUCcedilUBACE
FORTALEZA
2013
ISABELLE MARINHO QUINDEREacute SARAIVA
O EMPREGO DA RESERVA LEGAL NO MUNICIacutePIO DE
IRAUCcedilUBACE
Dissertaccedilatildeo submetida agrave Coordenaccedilatildeo do
Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento
e Meio Ambiente da Universidade Federal do
Cearaacute como requisito parcial para obtenccedilatildeo do
tiacutetulo de Mestre em Desenvolvimento e Meio
Ambiente
Aacuterea de Concentraccedilatildeo Organizaccedilatildeo do Espaccedilo
e Desenvolvimento Sustentaacutevel
Orientador Prof Dr Joseacute Gerardo Beserra de
Oliveira
FORTALEZA
2013
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo
Universidade Federal do Cearaacute
Biblioteca de Ciecircncias e Tecnologia
S246e Saraiva Isabelle Marinho Quindere
O Emprego da reserva legal no municiacutepio de Irauccediluba Ce Isabelle Marinho Quindere Saraiva ndash
2013
122f il color enc 30 cm
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Universidade Federal do Cearaacute Programa Regional de Poacutes Graduaccedilatildeo
em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA Mestrado em Desenvolvimento e Meio
Ambiente Fortaleza 2013
Aacuterea de Concentraccedilatildeo Organizaccedilatildeo do Espaccedilo e Desenvolvimento Sustentaacutevel
Orientaccedilatildeo Prof Dr Joseacute Gerado Beserra de Oliveira
1 Degradaccedilatildeo 2 Coacutedigo florestal 3 Reserva legal 4 Irauccediluba-Ce I Tiacutetulo
CDD 6367
ISABELLE MARINHO QUINDEREacute SARAIVA
O EMPREGO DA RESERVA LEGAL NO MUNICIacutePIO DE
IRAUCcedilUBACE
Dissertaccedilatildeo submetida agrave Coordenaccedilatildeo do
Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento
e Meio Ambiente da Universidade Federal do
Cearaacute como requisito parcial para obtenccedilatildeo do
tiacutetulo de Mestre em Desenvolvimento e Meio
Ambiente
Aacuterea de Concentraccedilatildeo Organizaccedilatildeo do Espaccedilo
e Desenvolvimento Sustentaacutevel
Orientador Prof Dr Joseacute Gerardo Beserra de
Oliveira
Aprovada em ___ ___ _____
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
Prof Dr Joseacute Gerardo Beserra de Oliveira (Orientador)
Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC
________________________________________________
Profordf Drordf Marta Celina Linhares Sales
Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC
________________________________________________
Profordf Drordf Jacqeline Pires Gonccedilalves Lustosa
Universidade Federal de Campina Grande ndash UFCG
Dedico a Deus minha forccedila Autor da minha
vida meu tudo e ao meu marido Pedro
eterno companheiro e ajudador
AGRADECIMENTOS
A Deus que eacute Quem me permitiu ser aprovada estar e concluir esse curso tatildeo importante Ele
que em mim gerou todas as forccedilas necessaacuterias para continuar e natildeo desistir dando-me a
condiccedilatildeo de chegar ateacute o fim com louvor
Ao Professor Dr Joseacute Gerardo Beserra de Oliveira pela orientaccedilatildeo pela paciecircncia pelo
carinho e apoio desprendidos para a realizaccedilatildeo deste trabalho Por seus conhecimentos na
aacuterea pois sem eles natildeo poderia ter me levado a enriquecer tanto este trabalho
Agrave CAPES que me ajudou financeiramente
Agrave minha famiacutelia em especial minha matildee que sempre procurou saber como estava a minha
pesquisa dando-me aquele apoio nato de matildee
A Pedro Saraiva meu amor grande amor que sempre me apoiou e acreditou no meu talento
na minha competecircncia e vitoacuteria
Aos servidores do INCRA muito soliacutecitos e atenciosos com a minha pesquisa dentre eles sr
Raimundo Martins da Divisatildeo de Ordenamento da Estrutura Fundiaacuteria Joseacute Jaime D‟Alencar
Juacutenior do Serviccedilo de Cartografia Odilo Neto Luna Coelho e Joseacute Salmito de Almeida Juacutenior
ambos da Divisatildeo de Obtenccedilatildeo de Terras ndash setor de Serviccedilo ao Meio Ambiente
Agrave Dra Claacuteudia Regina Nogueira titular do Cartoacuterio de Registro de Imoacuteveis de Irauccediluba por
sua disponibilidade e por permitir o acesso aos livros cartoraacuterios onde encontrei dados tatildeo
importantes para o trabalho
Ao IDACE atraveacutes dos servidores Dr Paulo Henrique Lobo diretor teacutecnico de operaccedilotildees
Dr Ricardo Durval superintendente do oacutergatildeo Linardy Barreto de Holanda Priscila Azevedo
de Aguiar ambos do Nuacutecleo de Geoprocessamento (NUGEO) Nadir Loiola Dias e Florence
Mary Cavalcante Mouratildeo Lobo ambas da Diretoria Teacutecnica e de Operaccedilotildees (DTO) Todos
eles me ajudaram de forma a tornar possiacutevel parte desta pesquisa pelo que sou imensamente
grata
Perguntei-me inuacutemeras vezes se deveria prosseguir A resposta me era
dada quando olhava para traacutes e via meu passado cheio de grandes
vitoacuterias e conquistas pela matildeo de Deus e pelo meu esforccedilo Entatildeo
decidi que natildeo seria agora que natildeo chegaria ateacute o fim mesmo que o
que me impulsionou para esse desafio jaacute natildeo tem mais a mesma
intensidade Aqui estou eu fazendo desse momento mais uma
imensuraacutevel vitoacuteria por Aquele que um dia me deu essa oportunidade
A Ele toda honra e toda gloacuteria
A autora
RESUMO
A degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio de Irauccediluba eacute alvo de vaacuterias pesquisas pois eacute um
problema onde as causas estatildeo presentes natildeo soacute ali mas em grande parte do semiaacuterido
nordestino no entanto ao se tratar deste assunto logo vem agrave tona outra questatildeo mais seacuteria o
processo de desertificaccedilatildeo O presente trabalho faz uma raacutepida abordagem do semiaacuterido
dando especial evidecircncia agravequele municiacutepio englobando a origem da degradaccedilatildeo a atual
situaccedilatildeo local e possiacuteveis formas para minimizar ou ateacute mesmo estagnar aquele problema
ambiental O objetivo geral foi levantar o nuacutemero de propriedades rurais no municiacutepio
elegendo em sua maioria os projetos de assentamento rural e verificar se possuiacuteam ou natildeo
uma aacuterea especialmente protegida denominada reserva legal A escolha desse instituto como
indicador se deu por ser ele um instrumento criado por lei e que por sua vez impele todo e
qualquer proprietaacuterio ou possuidor rural a manter uma parcela miacutenima de 20 do seu imoacutevel
preservado como aacuterea de Reserva Legal Sua efetividade como instrumento de preservaccedilatildeo
foi analisada em 6 propriedades a partir de imagens do sateacutelite LANDSAT 5 com base nos
anos de 1993 e 2007 e atraveacutes da anaacutelise do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada
(NDVI) foi realizado um estudo comparativo para verificar se houve evoluccedilatildeo ou natildeo do
quadro vegetativo dentro e fora das aacutereas de reserva legal Na identificaccedilatildeo dos imoacuteveis
estudados soacute foram encontrados seis com reserva legal oficialmente implantada ateacute o ano de
2007 data mais recente da imagem de sateacutelite empregada A anaacutelise comparativa realizada
com esses imoacuteveis que tecircm algum tipo de registro no Cartoacuterio de Imoacuteveis eou no INCRA
dentre os 713 medidos e georreferenciados pelo IDACE e que por sua vez foi conduzida com
uso do NDVI natildeo indicou diferenccedila significativa entre os iacutendices encontrados para a
cobertura vegetal dentro e fora das aacutereas de Reserva Legal
Palavras-chave Degradaccedilatildeo Ambiental Coacutedigo Florestal Reserva Legal IrauccedilubaCE
ABSTRACT
The environmental degradation in the municipality of Irauccediluba is the target of several studies
because it is an issue where the causes are present in much of the northeastern semiarid
However when dealing with this subject soon comes to attention another issue which is more
serious and that arises from the ongoing degradation the process of desertification The
present paper analyzes briefly the cearense semiarid giving special emphasis to that
municipality so that the origin of the degradation the current local situation and even
possible ways to minimize or even stagnate that environmental problem were all the target of
this research The overall goal was to enumerate the number of farms among them those that
either have a specially protected area called legal reserve or those that does not The choice
of this statistic as an indicator was due to the fact that it is a legal instrument which in turns
compels all and any owner of land or rural possessor to maintain 20 of their property
preserved as a Legal Reserve area Its effectiveness as a tool for preservation was analyzed in
6 properties with the help of satellite images from LANDSAT 5 taken between the years
1993 and 2007 and by examining the Normalized Difference Vegetation Index (NDVI) a
comparative study was conducted to determine whether there was a growth or not of the
vegetative area inside and outside the legal reserves During the identification of the
properties to be studied only six were found to have a legal reserve officially implemented by
the year 2007 the most recent date of the satellite images used A comparative analysis with
those lands that have some kind of record in the Registry of Property andor INCRA among
the 713 measured and georeferenced by IDACE and that in turn used the NDVI as a
guideline indicated no significant difference on the index either inside or outside the Legal
Reserves areas
Key-Words Environmental degradation Forest code Legal reserve IrauccedilubaCE
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 27
Figura 2 Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 (Novo Coacutedigo
Florestal)
27
Figura 3 Sistema de degradaccedilatildeo do meio ambiente 47
Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro 53
Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute 54
Figura 6 Iacutendice de aridez (UNEP) 56
Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo no Cearaacute 57
Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo 57
Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no ISSD 59
Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no IESD 60
Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios 61
Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute 79
Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba 79
Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo 81
Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras permanentes 85
Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras temporaacuterias 85
Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem
vegetal (tonano)
86
Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem
vegetal (m3ano)
86
Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011) 87
Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001 88
Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010 88
Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011 89
Figura 23 Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos 90
Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba 91
Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba 92
Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba 94
Figura 27 Grupo de solos que formam as associaccedilotildees pedoloacutegicas em
Irauccediluba
95
Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba 96
Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba 97
Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual 97
Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba 98
Figura 32 Iacutendice de umidade em Irauccediluba 98
Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba 100
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Medidas Provisoacuterias 21
Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras 48
Tabela 3 Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez (UNEP) 52
Tabela 4 Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo 55
Tabela 5 Levantamento de imoacuteveis com reserva legal (cartoacuterio de
registro de imoacuteveis)
73
Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais 76
Tabela 7 Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba 77
Tabela 8 Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de
anaacutelise
80
Tabela 9 Dados da propriedade particular estudada 80
Tabela 10 Propriedades estudadas 81
Tabela 11 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem
animal
87
Tabela 12 Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores 90
Tabela 13 Relaccedilatildeo entre solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo 93
Tabela 14 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEmbrapa 93
Tabela 15 Anaacutelise geral das propriedades estudadas 101
Tabela 16 NDVI dos imoacuteveis estudados 107
Tabela 17 Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal entre dentro e fora da aacuterea
de reserva legal pelo meacutetodo Sorensen
108
SUMAacuteRIO
Lista de Figuras vii
Lista de Tabelas ix
Resumo v
Abstract vi
INTRODUCcedilAtildeO 12
1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 14
11 O Instituto da Reserva Legal 14
111 Conceito 15
112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica 17
113 Importacircncia da Reserva Legal 30
1131 Juriacutedica 31
1132 Social 32
1133 Ambiental 33
1134 Econocircmica 35
114 Direito de Propriedade X Reserva Legal 36
1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa 41
1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal 42
2 PROCESSO DE DEGRADACcedilAtildeO 45
21 Conceito 45
22 Degradaccedilatildeo ambiental 48
221 Erosatildeo 49
222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica 49
223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica 50
23 A degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 51
231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia 52
24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental 62
25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira 65
251 Lei ambiental de Irauccediluba 69
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 71
31 Reserva Legal em Irauccediluba 71
311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental ndash Projeto de
Assentamento Agraacuterio em foco
73
32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo 78
321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba 78
3211 Das propriedades estudadas 79
3212 Aspectos histoacutericos de ocupaccedilatildeo 82
322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas 82
323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba 91
3231 Altimetria e Classes de relevo 91
3232 Solos 92
3233 Clima 95
3234 Vegetaccedilatildeo 99
3235 Recursos Hiacutedricos 100
324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo 101
33 Metodologia 104
331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite 104
4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES 107
41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 107
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 110
REFEREcircNCIAS 113
INTRODUCcedilAtildeO
A degradaccedilatildeo como um problema ambiental jaacute foi alvo de inuacutemeras pesquisas
principalmente quando se trata do semiaacuterido brasileiro Estudos nesse sentido datam da
deacutecada de 70 eacutepoca em que o professor Vasconcelos Sobrinho passou a pesquisar o processo
de desertificaccedilatildeo no nordeste do Brasil (SALES 2002) Nas investigaccedilotildees ele identificou um
nuacutecleo no Cearaacute que se localiza em Irauccediluba Em assim sendo buscou-se desenvolver um
trabalho naquele municiacutepio tomando por base um mecanismo criado por lei cujo caraacuteter eacute a
conservaccedilatildeo do meio ambiente Trata-se da reserva legal Como nessa aacuterea natildeo haacute pesquisa
envolvendo a aplicabilidade do tal instituto viu-se a oportunidade de estudaacute-la produzindo-se
o presente trabalho
A proposta principal da pesquisa eacute fazer um levantamento dos imoacuteveis existentes
no municiacutepio de Irauccediluba pontuando de forma preponderante os de propriedade federal e
estadual destinados aos assentamentos rurais e assim identificar nessas aacutereas a existecircncia ou
natildeo do instituto da reserva legal e sua devida implantaccedilatildeo Nesse sentido encontrou-se 6
propriedades que possuiacuteam a reserva legal sendo 5 puacuteblicas e 1 privada Empoacutes o segundo
intuito envolve a diferenciaccedilatildeo entre a cobertura vegetal da reserva e do restante da
propriedade a partir da utilizaccedilatildeo de imagens de sateacutelite e o uso do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por
Diferenccedila Normalizada (NDVI)
Para isso foi necessaacuterio fazer um apanhado de como esse instrumento de
conservaccedilatildeo foi e eacute abordado no Coacutedigo Florestal que eacute a lei onde haacute previsatildeo da reserva
legal bem como traccedilar um histoacuterico de como se deu sua evoluccedilatildeo dentro do quadro
legislativo no paiacutes foi igualmente essencial Da mesma maneira buscou-se contextualizar a
importacircncia da reserva legal nos aspectos econocircmico juriacutedico social e ambiental de forma
que ficou ilustrado o valor que esse mecanismo tem para a sociedade As discussotildees de cunho
juriacutedico e praacutetico sobre o assunto foram levantadas pois o proprietaacuterio do imoacutevel vecirc a reserva
legal como ocircnus e natildeo como um instrumento de conservaccedilatildeo que traraacute imensuraacuteveis
benefiacutecios ambientais dentro de sua proacutepria aacuterea Encerrando o primeiro capiacutetulo tecircm-se as
formas de cumprir o mandamento legal que envolvem a reserva muito embora isto tenha
sofrido algumas alteraccedilotildees como se veraacute a seguir
Quanto agrave reserva legal em Irauccediluba as constataccedilotildees natildeo satildeo animadoras
Infelizmente haacute um desencontro de informaccedilotildees a comeccedilar pelo controle do nuacutemero de
imoacuteveis existentes no municiacutepio Em seguida soacute foram encontrados trecircs imoacuteveis com a
obrigaccedilatildeo devidamente formalizada em cartoacuterio Isso diante de um universo de mais de 700
propriedades eacute frustrante e desencorajador Outra abordagem feita neste toacutepico aponta o
licenciamento ambiental como mais um instrumento possibilitador da instalaccedilatildeo da reserva
legal pois o oacutergatildeo ambiental tem dever de exigir o tal instituto para licenciar atividades e
empreendimentos localizados em zona rural
Igualmente desalentadora eacute a degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio Por se tratar de
uma aacuterea com caracteriacutesticas naturalmente adversas e limitantes sua ingerecircncia deveria ser
profundamente fiscalizada e regulamentada pelas autoridades competentes em todos os niacuteveis
de governo Mas isso natildeo ocorre pelo contraacuterio em Irauccediluba satildeo exercidas atividades com
meacutetodos bem rudimentares e sem qualquer preocupaccedilatildeo com a recuperaccedilatildeo dos danos e com a
capacidade de suporte do meio Assim acontece a degradaccedilatildeo das aacutereas com a praacutetica do
desmatamento das queimadas do sobrepastoreio e outros tipos de intervenccedilatildeo
ambientalmente prejudiciais Diante desse quadro o homem do campo tende a abandonar
estas e ocupar outras terras estimulando ainda mais o processo de desertificaccedilatildeo ali presente
Outro toacutepico em que se chama atenccedilatildeo no trabalho eacute a quantidade de leis
envolvendo o tema Natildeo faltam regulamentaccedilotildees muito pelo contraacuterio sobram O que se
percebe eacute a existecircncia de leis para vaacuterios assuntos em vez de uma que englobe a maioria
deles Com lei ou sem lei a situaccedilatildeo parece natildeo progredir positivamente em termos de
recuperaccedilatildeo ambiental embora haja uma estrutura poliacutetica econocircmica e juriacutedica dirigida para
tais fins Aleacutem disto existem poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o municiacutepio especificamente e
outras que natildeo mas podem ser implementadas ali Eacute o caso dos benefiacutecios dos inuacutemeros
programas de governo direcionados para a reforma agraacuteria por exemplo Outro caso satildeo os
fundos de combate agrave degradaccedilatildeo e agrave desertificaccedilatildeo Nesta orientaccedilatildeo percebe-se que natildeo
faltam leis poliacuteticas puacuteblicas ou recursos Felizmente existe todo um aparato no sentido de
melhorar as condiccedilotildees ambientais e minimizar danos mas infelizmente na praacutetica essa
estrutura natildeo voga como deveria
Todo esse cenaacuterio estaacute enquadrado na caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo
devidamente abordada no terceiro capiacutetulo Laacute satildeo mencionados os aspectos socioeconocircmicos
do municiacutepio perpassando pelos acontecimentos histoacutericos de sua ocupaccedilatildeo As
caracteriacutesticas fisiograacuteficas de Irauccediluba tambeacutem se fazem presentes de maneira que foram
abordados aspectos pedoloacutegicos climaacuteticos vegetativos e hiacutedricos Aleacutem disto a metodologia
utilizada permitiu as constataccedilotildees discorridas nos resultados e discussotildees inseridas no
capiacutetulo 4 de forma que os objetivos da pesquisa foram alcanccedilados
13
1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
11 O Instituto da Reserva Legal
A reserva legal eacute um instituto cuja importacircncia perfaz o esteio do
desenvolvimento sustentaacutevel no sentido de que harmoniza a viabilidade econocircmica com a
justiccedila social e o equiliacutebrio ecoloacutegico Eacute um notaacutevel exemplo de que eacute possiacutevel coexistirem
interesses particulares e coletivos pois a reserva legal nada mais eacute que a conservaccedilatildeo
ambiental de uma determinada porcentagem da propriedade ou posse rural passiacutevel de
intervenccedilatildeo pelo homem do campo
O presente estudo indica a reserva legal como uma forma de conservaccedilatildeo do
meio em face da extraccedilatildeo vegetal promovida pelo proprietaacuterio agriacutecola Foca ainda os
aspectos social econocircmico e ambiental dessa imposiccedilatildeo que tem seu nascedouro na legislaccedilatildeo
vigente Corrobora Silva (2001 p 59) ao afirmar que ldquoa cobertura vegetal nativa sobretudo
as florestais exerce papel de fundamental importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de
ecossistemas naturais bem como de ecossistemas criados pelo homemrdquo No mesmo sentido
Miranda (2008 p 31) diz que ldquoa reserva legal contribui para a mitigaccedilatildeo do aquecimento
global salvaguarda a biodiversidade e garante agraves presentes e futuras geraccedilotildees o direito a um
meio ambiente ecologicamente equilibradordquo
Traz-se agrave tona os aspectos que fundamentam a reserva legal como um instituto
que fora criado por lei especiacutefica para a conservaccedilatildeo do meio pois erroneamente os
proprietaacuterios rurais a veem como limitaccedilatildeo ao direito de propriedade e entendem que destinar
uma porcentagem de seus imoacuteveis para uma aacuterea que natildeo corresponde agrave afericcedilatildeo de lucro eacute
tatildeo somente um ocircnus eou uma perda e natildeo um investimento Nesse sentido explicam
Galdino e Candido (2008 p 251) que ldquoa instituiccedilatildeo da reserva legal natildeo enfraquece ou destroacutei
o direito de propriedade Ao reveacutes possibilita a existecircncia de um meio ambiente
ecologicamente equilibrado condicionando a propriedade a uma funccedilatildeo socioambientalrdquo
Conforme Bacha (2005 p 24) ldquodeve-se pensar em novas formas de estiacutemulo
econocircmico ao produtor para que ele recomponha a reserva legal pois a legislaccedilatildeo atual
apenas lhe coloca custos em contrapartida de benefiacutecios a toda sociedaderdquo Cabe ainda
mencionar a possibilidade prevista no Coacutedigo Florestal ou seja na Lei 4771 (BRASIL
1965) quanto agrave intervenccedilatildeo na aacuterea destinada agrave reserva legal de forma sustentaacutevel sem
suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo
econocircmica dessas aacutereas
Existem estudos justificando biologicamente a existecircncia da reserva legal Eacute sobre
o que discorre Metzger (2002 p 48) quando afirma que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de
propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa satildeo
fundamentais para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada
regiatildeordquo Complementa ainda Silva (2001 p 59) quando afirma sobre ldquoa importacircncia da
cobertura vegetal em reserva legal que permite uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da
aacutegua no solo e no subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos aleacutem de
promover a manutenccedilatildeo da diversidade geneacuteticardquo
Ademais o exerciacutecio de atividades econocircmicas que tem por principal insumo os
recursos naturais modifica sensivelmente a cobertura vegetal e o solo contribuindo para um
processo de degradaccedilatildeo Para tanto o respeito agrave legislaccedilatildeo ambiental vigente como o Coacutedigo
Florestal por exemplo eacute de extrema relevacircncia uma vez que eacute norma conducente agrave
conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo das formas de vegetaccedilatildeo e suas respectivas ingerecircncias Tal lei
prevecirc a reserva legal como espaccedilo especialmente protegido
Balizando tal atividade econocircmica frente agrave observacircncia da reserva legal surge a
proposiccedilatildeo elencada por Bacha (2005 p 24) que ldquopara o produtor rural honrar tal instituto
tendo-o como lucrativo eacute necessaacuterio que sua composiccedilatildeo floriacutestica seja feita em parte com
espeacutecies comerciaisrdquo Eacute o que Miranda (2008 p 45) sob o aspecto socioeconocircmico bem
pontua quando evidencia que esta legislaccedilatildeo carece de aderecircncia social pois natildeo condiz com
a realidade e que enfatiza ainda
Para que haja aderecircncia social ela deveria prever uma reestruturaccedilatildeo completa no
modelo de desenvolvimento Sem isso tanto os pequenos como os grandes
proprietaacuterios natildeo possuiratildeo condiccedilotildees para cumprir a lei e uma vez na ilegalidade
cometem outros crimes ambientais E por entenderem que a lei natildeo eacute factiacutevel natildeo a
cumprem [] Aleacutem disso as linhas de creacutedito inclusive dos bancos oficiais natildeo
financiam atividades sustentaacuteveis mas a pecuaacuteria o plantio de soja entre outras por
acreditarem possuir nelas uma seguranccedila maior para o investimento (MIRANDA
2008 p 45)
111 Conceito
A reserva legal eacute um mecanismo criado para a conservaccedilatildeo dos recursos naturais
cuja origem eacute a lei Sua essecircncia sempre esteve presente em normas de caraacuteter protecionista
que dispunham sobre florestas e demais formas de vegetaccedilatildeo muito embora tenham ocorrido
inuacutemeras alteraccedilotildees ao longo do tempo Eacute o que se pode observar pela evoluccedilatildeo legislativa
que a seguir seraacute apontada
15
A expressatildeo reserva legal pode ser simploriamente entendida como uma aacuterea a ser
conservada por um detentor de imoacutevel rural e que por sua vez varia com a localidade do
bioma em que a aacuterea estaacute inserida A lei que versa sobre esse tema eacute conhecida como Coacutedigo
Florestal e com esse nome existiu em trecircs momentos diferentes da histoacuteria do legislativo
brasileiro O primeiro foi no ano de 1934 o segundo em 1965 e por uacuteltimo em 2012 estando
presente em todos eles uma seacuterie de modificaccedilotildees que levaram ao aperfeiccediloamento do
conteuacutedo e dos objetivos da reserva legal bem como flexibilizaccedilotildees e restriccedilotildees a depender
do momento econocircmico em que o paiacutes vivia eou dos interesses da maioria de parlamentares agrave
eacutepoca
Atualmente a Lei 12651 de 25052012 ou como eacute conhecida por Novo Coacutedigo
Florestal atraveacutes de seu artigo 3ordm inciso III prevecirc o conceito de reserva legal da seguinte
forma
III ndash Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural
delimitada nos termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de
modo sustentaacutevel dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a
reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade
bem como o abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012
p 3) (BRASIL 2012)
Jaacute a previsatildeo elencada nos Coacutedigos anteriores de 1934 e 1965 dispotildee
Coacutedigo Florestal de 1934 - Decreto 23793
Art 23 - Nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas poderaacute abater mais de trecircs
quartas partes da vegetaccedilatildeo existente []
sect 1ordm O dispositivo do artigo natildeo se applica a juizo das autoridades florestaes
competentes agraves pequenas propriedades isoladas que estejam proximas de florestas
ou situadas em zona urbana
sect 2ordm Antes de iniciar a derrubada com a antecedencia minima de 30 dias o
proprietario daraacute sciencia de sua intenccedilatildeo aacute autoridade competente afim de que esta
determine a parte das mattas que seraacute conservada (BRASIL 1935 p 5)
Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771
Art 1ordm sect 2ordm inciso III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma
propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao
uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos
ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora
nativas (BRASIL 1965 p 2)
Percebe-se que na lei de 1934 se quer haacute menccedilatildeo ao termo reserva legal mas se
vecirc claramente a intenccedilatildeo conservacionista do legislador e se ressalte que eacute uma visatildeo bem
mais proacute-ambiente uma vez que proiacutebe o desmatamento acima de frac34 da propriedade
protegendo assim 25 de sua aacuterea Embora o Coacutedigo Florestal de 1934 natildeo preveja
16
explicitamente a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo em determinada aacuterea com o nome de reserva legal o
artigo 23 do diploma citado acima estaacute notoriamente revestido de um caraacuteter conservacionista
e quem natildeo o cumprisse estaria enquadrado no paraacutegrafo 4ordm do artigo 86 do Capitulo V ndash
Infracccedilotildees florestaes
Art 86 As contravenccedilotildees previstas nos arts 9ordm sect 1ordm 21 22 e sect 1ordm 23 e paragrapho
unico 24 a 30 31 a 34 37 43 a 45 49 e paragrapho unico 51 54 e paragrapho
unico 55 e 64 deste codigo quando natildeo se caracterizarem especialmente algumas
figuras delictuosas definidas no art 83 ou no art 87 sujeitas seus autores aacutes penas
seguintes
[]
sect 4ordm pelas das letras g h do art 22 e arts 23 e 44 - detenccedilatildeo ateacute 60 dias e multa ateacute
10000$000 (BRASIL 1935 p 14)
Em contrapartida um pouco mais aperfeiccediloado embora um tanto quanto tarde o
instituto da reserva legal aparece bem definido somente em 2001 quando a Medida Provisoacuteria
nordm 2166-6 (BRASIL 2001) acrescentou ao texto da Lei 4771 (BRASIL 1965) o seu conceito
da forma como eacute mais conhecido ultimamente apesar de natildeo se limitar soacute a esta modificaccedilatildeo
Como tantas outras leis o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) sofreu diversas
alteraccedilotildees ao longo de sua vigecircncia que durou ateacute 25 de maio de 2012 data em que a Lei
12651 (BRASIL 2012) entra em vigor revoga a anterior e estabelece o novo Coacutedigo
Florestal
Como a temaacutetica deste trabalho eacute discorrer sobre a existecircncia da reserva legal a
partir de um levantamento nas propriedades rurais seratildeo tratadas tatildeo somente as
modificaccedilotildees que dizem respeito a este instituto
112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica
O protecionismo florestal como ligeiramente mencionado anteriormente foi
delineado em um preceito normativo datado da deacutecada de 30 quando surgiu o primeiro
diploma legal a prever a conservaccedilatildeo relativa agrave manutenccedilatildeo das matas Eacute atraveacutes do Decreto
ndeg 23793 de 23 de janeiro de 1934 (BRASIL 1935) que a vegetaccedilatildeo recebe amparo e passa a
ser resguardada da supressatildeo indiscriminada Surge entatildeo o primeiro Coacutedigo Florestal
Brasileiro que em seu artigo 23 descreve que nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas
poderaacute abater mais de trecircs quartas partes da vegetaccedilatildeo existente
17
Eacute interessante observar que a delimitaccedilatildeo imposta pela norma corresponde a vinte
e cinco por cento da propriedade ou seja um grande desafio para a sociedade da eacutepoca que
era tradicionalmente agriacutecola e despontava para a industrializaccedilatildeo
Para melhor apreciar as preocupaccedilotildees que justificaram a ediccedilatildeo do Coacutedigo Florestal
de 1934 haacute que se entender a realidade soacutecio-econocircmica e poliacutetica da sociedade
brasileira no iniacutecio do seacuteculo XX A populaccedilatildeo estava concentrada proacuteximo agrave
Capital da Repuacuteblica cidade do Rio de Janeiro Estado da Guanabara A cafeicultura
avanccedilava pelos morros que constituem a topografia do Vale do Paraiacuteba substituindo
toda a vegetaccedilatildeo nativa A criaccedilatildeo de gado outra forma de utilizaccedilatildeo das terras
fazia-se de modo extensivo e com miacutenima teacutecnica Na silvicultura que jaacute se iniciara
tiacutemida nos primeiros anos do seacuteculo XX verificava-se o trabalho valioso e pioneiro
de Edmundo Navarro de Andrade com a introduccedilatildeo de espeacutecies de Eucalyptus mas
restrito agraves atividades da Cia Paulista de Estradas de Ferro no Estado de Satildeo Paulo
No resto do Paiacutes assim como antes no Estado de Satildeo Paulo a atividade florestal era
fundamentada no mais puro extrativismo Nos Estados do Paranaacute e Santa Catarina
os estoques de Araucaria angustifolia eram rapidamente exauridos Foi nesse cenaacuterio
que o Poder Puacuteblico decidiu interceder estabelecendo limites ao que parecia ser um
saque ou pilhagem dos recursos florestais (muito embora ateacute entatildeo tais praacuteticas
fossem liacutecitas) A mencionada ldquointervenccedilatildeordquo necessaacuteria materializou-se por meio
da ediccedilatildeo de um (primeiro) Coacutedigo Florestal o de 1934 (AHRENS 2001 p 6)
Diferentemente do Decreto de 1934 (BRASIL 1935) ao ser publicada em 15 de
setembro a Lei 4771 (BRASIL 1965) ou seja o Coacutedigo Florestal de 1965 trouxe em seu
artigo 16 a ideia do que seria a reserva legal Criou-se entatildeo um limite miacutenimo a ser
respeitado dentro de cada propriedade muito embora soacute mencione uma porcentagem definida
para aacutereas localizadas no Leste Sul e Centro-Oeste do paiacutes deixando de fora as demais
regiotildees
Art 16 As florestas de domiacutenio privado natildeo sujeitas ao regime de utilizaccedilatildeo
limitada e ressalvadas as de preservaccedilatildeo permanente previstas nos artigos 2deg e 3deg
desta lei satildeo suscetiacuteveis de exploraccedilatildeo obedecidas as seguintes restriccedilotildees
a) nas regiotildees Leste Meridional Sul e Centro-Oeste esta na parte sul as derrubadas
de florestas nativas primitivas ou regeneradas soacute seratildeo permitidas desde que seja
em qualquer caso respeitado o limite miacutenimo de 20 da aacuterea de cada
propriedade com cobertura arboacuterea localizada a criteacuterio da autoridade competente
b) nas regiotildees citadas na letra anterior nas aacutereas jaacute desbravadas e previamente
delimitadas pela autoridade competente ficam proibidas as derrubadas de florestas
primitivas quando feitas para ocupaccedilatildeo do solo com cultura e pastagens
permitindo-se nesses casos apenas a extraccedilatildeo de aacutervores para produccedilatildeo de madeira
Nas aacutereas ainda incultas sujeitas a formas de desbravamento as derrubadas de
florestas primitivas nos trabalhos de instalaccedilatildeo de novas propriedades agriacutecolas soacute
seratildeo toleradas ateacute o maacuteximo de 30 da aacuterea da propriedade
c) na regiatildeo Sul as aacutereas atualmente revestidas de formaccedilotildees florestais em que
ocorre o pinheiro brasileiro Araucaria angustifolia (Bert - O Ktze) natildeo poderatildeo
ser desflorestadas de forma a provocar a eliminaccedilatildeo permanente das florestas
tolerando-se somente a exploraccedilatildeo racional destas observadas as prescriccedilotildees
ditadas pela teacutecnica com a garantia de permanecircncia dos maciccedilos em boas condiccedilotildees
de desenvolvimento e produccedilatildeo
18
d) nas regiotildees Nordeste e Leste Setentrional inclusive nos Estados do Maranhatildeo e
Piauiacute o corte de aacutervores e a exploraccedilatildeo de florestas soacute seraacute permitida com
observacircncia de normas teacutecnicas a serem estabelecidas por ato do Poder Puacuteblico na
forma do art 15 sect 1ordm Nas propriedades rurais compreendidas na aliacutenea a deste artigo com aacuterea entre
vinte (20) a cinquumlenta (50) hectares computar-se-atildeo para efeito de fixaccedilatildeo do limite
percentual aleacutem da cobertura florestal de qualquer natureza os maciccedilos de porte
arboacutereo sejam frutiacutecolas ornamentais ou industriais (BRASIL 1965 p 6-7)
Honestamente natildeo se sabe o motivo pelo qual o legislador neste momento inicial
da lei natildeo se deteve agraves minuacutecias quanto agraves regiotildees Nordeste Oeste e Sudeste como o fez para
as outras ou porque sequer definiu percentuais de vegetaccedilatildeo a ser preservadas nelas Aleacutem
disto simplesmente deixar a cargo de ato do Poder Puacuteblico a exploraccedilatildeo de florestas e o corte
de aacutervores no Nordeste eacute no miacutenimo curioso principalmente porque nessa regiatildeo encontra-se
o bioma Caatinga que eacute iacutempar e inexiste em qualquer outra parte do mundo Corrobora com
isto o Monitoramento do Desmatamento nos Biomas Brasileiros por Sateacutelite MMA e IBAMA
ao expor que mesmo sendo a uacutenica grande regiatildeo natural brasileira cujos limites estatildeo
inteiramente restritos ao territoacuterio nacional pouca atenccedilatildeo tem sido dada agrave conservaccedilatildeo da
heterogecircnea paisagem da Caatinga (BRASIL 2010)
Aleacutem disto as colocaccedilotildees do artigo 44 surpreendem quando especializam o tipo
de corte permitido e enquadram 50 da propriedade como reserva legal para o Norte do paiacutes
e o norte da regiatildeo Centro-Oeste como se pode observar
Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste enquanto natildeo for
estabelecido o decreto de que trata o artigo 15 a exploraccedilatildeo a corte razo soacute eacute
permissiacutevel desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea pelo menos 50 da aacuterea
de cada propriedade (BRASIL 1965 p 15)
Em 1989 surge a Lei 7803 (BRASIL 1989b) que acrescenta os paraacutegrafos 2ordm e
3ordm ao artigo 16 inaugurando a expressatildeo reserva legal e ratificando o percentual miacutenimo do
que deveria ser conservado a tiacutetulo de reserva legal Ao artigo 44 foi acrescentado o
paraacutegrafo uacutenico onde os 50 da propriedade anteriormente indicados para permanecer com a
cobertura vegetal agora passam a ser reconhecidos como reserva legal Em ambos os
dispositivos estaacute presente o procedimento formal a ser adotado com fins de resguardar a
aplicaccedilatildeo daquele instituto e seus efeitos isto eacute a averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio
Art 16 []
sect 2ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) de
cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso deveraacute ser averbada agrave margem
19
da inscriccedilatildeo de matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo
vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou
de desmembramento da aacuterea
sect 3ordm Aplica-se agraves aacutereas de cerrado a reserva legal de 20 (vinte por cento) para
todos os efeitos legais (BRASIL 1989b p 1)
Art 44 [] Paraacutegrafo uacutenico A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 50
(cinquumlenta por cento) de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso
deveraacute ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de
imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de
transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de desmembramento da aacuterea (BRASIL 1989b p
2)
Nota-se que os dispositivos trazem novidades como a vedaccedilatildeo a um tipo de corte
o meacutetodo garantidor para a implantaccedilatildeo da reserva legal e a proibiccedilatildeo de mudanccedila na aacuterea
destinada a receber o benefiacutecio Ademais o bioma cerrado eacute especialmente citado afirmando
assim a instituiccedilatildeo da reserva legal nele e seu respectivo percentual
Vale destacar ainda a entidade puacuteblica que recebeu por forccedila legal a
incumbecircncia de promover os atos formais e documentais para a implantaccedilatildeo da reserva legal
Trata-se do registro ou cartoacuterio de imoacuteveis que por sua vez reuacutene em seus livros oficiais
todas as informaccedilotildees sobre as propriedades imobiliaacuterias de sua circunscriccedilatildeo ou regiatildeo
geograacutefica Enfim o registro de imoacuteveis eacute o oacutergatildeo constitutivo da propriedade e o que guarda
este direito aleacutem de vigiar se a funccedilatildeo social e ambiental do imoacutevel estaacute sendo cumprida
Por conseguinte houve a ediccedilatildeo da Medida Provisoacuteria1 1511 em 25 de julho de
1996 (BRASIL 1996) com o objetivo de dar nova redaccedilatildeo ao artigo 44 do Coacutedigo Florestal
ou seja amplia o percentual da reserva legal de 50 para 80 em casos especiacuteficos e esmiuacuteccedila o
Norte do Brasil e o norte da regiatildeo Centro-Oeste
Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste a exploraccedilatildeo a
corte raso soacute eacute permitida desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea de no
miacutenimo cinquumlenta por cento de cada propriedade
sect 1ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo cinquumlenta por cento
de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso seraacute averbada agrave margem da
inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a
alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de
desmembramento da aacuterea
1 Medidas Provisoacuterias satildeo instrumentos juriacutedico-poliacuteticos traduzidos na forma de atos normativos com forccedila de
lei praticados pelo Chefe do Executivo Federal em situaccedilotildees de urgecircncia e relevacircncia e que devem ser
submetidas de imediato agrave deliberaccedilatildeo do Congresso Nacional (FILHO 2005) A Constituiccedilatildeo Federal em seu
Art 62 prevecirc que em caso de relevacircncia e urgecircncia o Presidente da Repuacuteblica poderaacute adotar medidas
provisoacuterias com forccedila de lei devendo submetecirc-las de imediato ao Congresso Nacional
20
sect 2ordm Nas propriedades onde a cobertura arboacuterea se constitui de fitofisionomias
florestais natildeo seraacute admitido o corte raso em pelo menos oitenta por cento dessas
tipologias florestais
sect 3ordm Para efeito do disposto no caput entende-se por regiatildeo Norte e parte Norte da
regiatildeo Centro-Oeste os Estados do Acre Paraacute Amazonas Roraima Rondocircnia
Amapaacute e Mato Grosso aleacutem das regiotildees situadas ao norte do paralelo 13degS nos
Estados de Tocantins e Goiaacutes e a oeste do meridiano de 44degW no Estado do
Maranhatildeo (BRASIL 1996 p 1)
Fazendo uma retrospectiva ldquoesse ato do Poder Executivo pretendeu conter o
desmatamento na Amazocircnia num momento em que era divulgado o aumento da taxa meacutedia
anual de desflorestamento no biecircnio 1993-1994rdquo (MIRANDA 2008 p 38) Entretanto essa
natildeo foi a uacutenica iniciativa do chefe do executivo para alterar os percentuais citados acima
Inclusive eacute perturbador o levantamento do nuacutemero de medidas provisoacuterias com o fim de
modificar o Coacutedigo Florestal em especial os criteacuterios e aspectos que envolvem a reserva
legal que ora satildeo mais flexibilizados ora mais restritivos Eacute o que se pode observar pela
leitura da Tabela 1 onde se verifica a existecircncia de 68 propostas de mudanccedila em um espaccedilo de
tempo pouco maior que 5 anos
Tabela 1 Medidas Provisoacuterias (MP)Ano
MEDIDAS PROVISOacuteRIAS (MP) Nordm DE MPPERIacuteODO PERIacuteODOS
Nordm 1511 a 1511-17 18 1ordm) 25071996 a 20111997
Nordm 1605-18 a 1605-30 13 2ordm) 11121997 a 19111998
Nordm 1736-31 a 1736-37 7 3ordm) 14121998 a 02061999
Nordm 1885-38 a 1885-43 6 4ordm) 29061999 a 02111999
Nordm 1956-44 a 1956-57 14 5ordm) 09121999 a 14122000
Nordm 2080-58 a 2080-64 7 6ordm) 27122000 a 13062001
Nordm 2166-65 a 2166-67 3 7ordm) 28062001 a 24082001
A uacuteltima Medida Provisoacuteria a promover consideraacuteveis alteraccedilotildees que dizem
respeito agrave reserva legal foi a de nordm 2166-67 de 24 de agosto de 2001 (BRASIL 2001) Ela
acrescentou o inciso III ao paraacutegrafo 2ordm do artigo 1ordm do Coacutedigo Florestal estabelecendo o
conceito de reserva legal ateacute entatildeo natildeo definido no texto da lei muito embora sua acepccedilatildeo jaacute
existisse
21
Art 1ordm []
sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por
[]
III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural
excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos
recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave
conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas
(BRASIL 2001 p 1)
Vale destacar que a reserva legal soacute deveraacute existir em propriedade ou posse rural
natildeo sendo obrigatoacuteria na aacuterea urbana aleacutem do que natildeo eacute soacute o proprietaacuterio ou seja aquele que
deteacutem o domiacutenio do imoacutevel eacute quem deve implantaacute-la mas o possuidor tambeacutem estaacute sujeito a
tal imposiccedilatildeo legal Isso acontece porque o instituto estaacute vinculado ao imoacutevel e natildeo ao dono
ou quem faz as suas vezes por isso eacute considerada uma obrigaccedilatildeo propter rem isto eacute proacutepria
da coisa
Aleacutem da inclusatildeo do conceito de reserva legal ao Coacutedigo Florestal (BRASIL
1965) ocorreu a fixaccedilatildeo de outros percentuais bem como a adiccedilatildeo de mais oito paraacutegrafos
que delinearam aspectos outrora natildeo mencionados Eacute o que se lecirc pela nova redaccedilatildeo do artigo
16
Art 16 As florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo nativa ressalvadas as situadas em
aacuterea de preservaccedilatildeo permanente assim como aquelas natildeo sujeitas ao regime de
utilizaccedilatildeo limitada ou objeto de legislaccedilatildeo especiacutefica satildeo suscetiacuteveis de supressatildeo
desde que sejam mantidas a tiacutetulo de reserva legal no miacutenimo
I - oitenta por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta localizada na
Amazocircnia Legal
II - trinta e cinco por cento na propriedade rural situada em aacuterea de cerrado
localizada na Amazocircnia Legal sendo no miacutenimo vinte por cento na propriedade e
quinze por cento na forma de compensaccedilatildeo em outra aacuterea desde que esteja
localizada na mesma microbacia e seja averbada nos termos do sect 7ordm deste artigo
III - vinte por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta ou outras
formas de vegetaccedilatildeo nativa localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e
IV - vinte por cento na propriedade rural em aacuterea de campos gerais localizada em
qualquer regiatildeo do Paiacutes
sect 1o O percentual de reserva legal na propriedade situada em aacuterea de floresta e
cerrado seraacute definido considerando separadamente os iacutendices contidos nos incisos I
e II deste artigo
sect 2ordm A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser
utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel de acordo com princiacutepios e
criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos estabelecidos no regulamento ressalvadas as
hipoacuteteses previstas no sect 3o deste artigo sem prejuiacutezo das demais legislaccedilotildees
especiacuteficas
sect 3ordm Para cumprimento da manutenccedilatildeo ou compensaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal em
pequena propriedade ou posse rural familiar podem ser computados os plantios de
aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais compostos por espeacutecies exoacuteticas
cultivadas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas
sect 4ordm A localizaccedilatildeo da reserva legal deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental estadual
competente ou mediante convecircnio pelo oacutergatildeo ambiental municipal ou outra
instituiccedilatildeo devidamente habilitada devendo ser considerados no processo de
aprovaccedilatildeo a funccedilatildeo social da propriedade e os seguintes criteacuterios e instrumentos
quando houver
22
I - o plano de bacia hidrograacutefica
II - o plano diretor municipal
III - o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico
IV - outras categorias de zoneamento ambiental e
V - a proximidade com outra Reserva Legal Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente
unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida
sect 5ordm O Poder Executivo se for indicado pelo Zoneamento Ecoloacutegico Econocircmico -
ZEE e pelo Zoneamento Agriacutecola ouvidos o CONAMA o Ministeacuterio do Meio
Ambiente e o Ministeacuterio da Agricultura e do Abastecimento poderaacute
I - reduzir para fins de recomposiccedilatildeo a reserva legal na Amazocircnia Legal para ateacute
cinquumlenta por cento da propriedade excluiacutedas em qualquer caso as Aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente os ecoacutetonos os siacutetios e ecossistemas especialmente
protegidos os locais de expressiva biodiversidade e os corredores ecoloacutegicos e
II - ampliar as aacutereas de reserva legal em ateacute cinquumlenta por cento dos iacutendices
previstos neste Coacutedigo em todo o territoacuterio nacional
sect 6ordm Seraacute admitido pelo oacutergatildeo ambiental competente o cocircmputo das aacutereas relativas
agrave vegetaccedilatildeo nativa existente em aacuterea de preservaccedilatildeo permanente no caacutelculo do
percentual de reserva legal desde que natildeo implique em conversatildeo de novas aacutereas
para o uso alternativo do solo e quando a soma da vegetaccedilatildeo nativa em aacuterea de
preservaccedilatildeo permanente e reserva legal exceder a
I - oitenta por cento da propriedade rural localizada na Amazocircnia Legal
II - cinquumlenta por cento da propriedade rural localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e
III - vinte e cinco por cento da pequena propriedade definida pelas aliacuteneas b e c
do inciso I do sect 2ordm do art 1ordm
sect 7o O regime de uso da aacuterea de preservaccedilatildeo permanente natildeo se altera na hipoacutetese
prevista no sect 6o
sect 8ordm A aacuterea de reserva legal deve ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo de matriacutecula
do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua
destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou de
retificaccedilatildeo da aacuterea com as exceccedilotildees previstas neste Coacutedigo
sect 9ordm A averbaccedilatildeo da reserva legal da pequena propriedade ou posse rural familiar eacute
gratuita devendo o Poder Puacuteblico prestar apoio teacutecnico e juriacutedico quando
necessaacuterio
sect 10 Na posse a reserva legal eacute assegurada por Termo de Ajustamento de Conduta
firmado pelo possuidor com o oacutergatildeo ambiental estadual ou federal competente com
forccedila de tiacutetulo executivo e contendo no miacutenimo a localizaccedilatildeo da reserva legal as
suas caracteriacutesticas ecoloacutegicas baacutesicas e a proibiccedilatildeo de supressatildeo de sua vegetaccedilatildeo
aplicando-se no que couber as mesmas disposiccedilotildees previstas neste Coacutedigo para a
propriedade rural
sect 11 Poderaacute ser instituiacuteda reserva legal em regime de condomiacutenio entre mais de
uma propriedade respeitado o percentual legal em relaccedilatildeo a cada imoacutevel mediante a
aprovaccedilatildeo do oacutergatildeo ambiental estadual competente e as devidas averbaccedilotildees
referentes a todos os imoacuteveis envolvidos (BRASIL 2001 p 34)
Caso seja traccedilado um paralelo entre o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)
com as alteraccedilotildees aplicadas e agrave uacuteltima Medida Provisoacuteria percebe-se que o primeiro texto em
seu artigo 16 soacute mencionava as florestas particulares enquanto que em 2001 o reformulado
pela Medida Provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) generaliza a possibilidade de supressatildeo
vegetal para florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo incluindo-as no texto da lei Isto significa
que as florestas puacuteblicas embora sejam de domiacutenio coletivo tambeacutem devem respeitar a
reserva legal de acordo com o estabelecido
E ainda de 1989 ateacute 2001 o percentual para reserva legal era de 20 da
propriedade rural para todas as regiotildees com exceccedilatildeo dos imoacuteveis no norte do paiacutes e no norte
23
do centro-oeste onde deveriam ser protegidos 50 da cobertura arboacuterea Poreacutem com o
advento da Medida provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) aumentou-se essa porcentagem para
80 na Amazocircnia Legal2 para 35 no bioma cerrado localizado na Amazocircnia Legal e a
permanecircncia dos 20 para as demais regiotildees do Brasil
Enfim eacute possiacutevel concluir claramente que tal Medida Provisoacuteria ao modificar o
artigo 16 definiu o conceito de reserva legal foi mais especiacutefica quanto aos seus percentuais
alargou os tipos de florestas suscetiacuteveis ao desmatamento estabeleceu que a vegetaccedilatildeo da
reserva legal soacute poderia ser utilizada atraveacutes de um manejo florestal sustentaacutevel (sect2ordm)
determinou que sua localizaccedilatildeo deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental competente
obedecendo os 5 criteacuterios ambientais estabelecidos (sect4ordm) permitiu a sobreposiccedilatildeo de aacutereas de
preservaccedilatildeo permanente agrave de reserva legal em alguns casos (sect6ordm) reafirmou o procedimento
documental garantidor do instituto (sect8ordm) criou a possibilidade de constituir a reserva legal
em condomiacutenio (sect11ordm) dentre outros
Encerrando as mudanccedilas trazidas pela Medida Provisoacuteria 2166-672001
(BRASIL 2001) tem-se o artigo 44 que foi completamente reformulado em conteuacutedo em
nuacutemero de incisos e paraacutegrafos O teor deste dispositivo agora versa sobre a recomposiccedilatildeo a
regeneraccedilatildeo e a compensaccedilatildeo da reserva legal Tais accedilotildees devem estar em consonacircncia com o
disposto no artigo 16
Art 44 O proprietaacuterio ou possuidor de imoacutevel rural com aacuterea de floresta nativa
natural primitiva ou regenerada ou outra forma de vegetaccedilatildeo nativa em extensatildeo
inferior ao estabelecido nos incisos I II III e IV do art 16 ressalvado o disposto
nos seus sectsect 5o e 6o deve adotar as seguintes alternativas isoladas ou
conjuntamente
I - recompor a reserva legal de sua propriedade mediante o plantio a cada trecircs anos
de no miacutenimo 110 da aacuterea total necessaacuteria agrave sua complementaccedilatildeo com espeacutecies
nativas de acordo com criteacuterios estabelecidos pelo oacutergatildeo ambiental estadual
competente
II - conduzir a regeneraccedilatildeo natural da reserva legal e
III - compensar a reserva legal por outra aacuterea equivalente em importacircncia ecoloacutegica
e extensatildeo desde que pertenccedila ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma
microbacia conforme criteacuterios estabelecidos em regulamento
sect 1o Na recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I o oacutergatildeo ambiental estadual
competente deve apoiar tecnicamente a pequena propriedade ou posse rural familiar
sect 2o A recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I pode ser realizada mediante o plantio
temporaacuterio de espeacutecies exoacuteticas como pioneiras visando a restauraccedilatildeo do
ecossistema original de acordo com criteacuterios teacutecnicos gerais estabelecidos pelo
CONAMA
2 Amazocircnia Legal - eacute uma aacuterea que engloba a totalidade de oito estados o Acre o Amapaacute o Amazonas o Mato
Grosso o Paraacute Rondocircnia Roraima e Tocantins e parte do Estado do Maranhatildeo (a oeste do meridiano de 44ordmW)
O conceito da Amazocircnia Legal foi criado pela lei 1806 de 06 de janeiro de 1953 (BRASIL 2011) Disponiacutevel
em lthttpwwwipeagovbrdesafiosindexphpoption=com_contentampid=2154catid=28ampItemid=23gt
24
sect 3o A regeneraccedilatildeo de que trata o inciso II seraacute autorizada pelo oacutergatildeo ambiental
estadual competente quando sua viabilidade for comprovada por laudo teacutecnico
podendo ser exigido o isolamento da aacuterea
sect 4o Na impossibilidade de compensaccedilatildeo da reserva legal dentro da mesma micro-
bacia hidrograacutefica deve o oacutergatildeo ambiental estadual competente aplicar o criteacuterio de
maior proximidade possiacutevel entre a propriedade desprovida de reserva legal e a aacuterea
escolhida para compensaccedilatildeo desde que na mesma bacia hidrograacutefica e no mesmo
Estado atendido quando houver o respectivo Plano de Bacia Hidrograacutefica e
respeitadas as demais condicionantes estabelecidas no inciso III
sect 5o A compensaccedilatildeo de que trata o inciso III deste artigo deveraacute ser submetida agrave
aprovaccedilatildeo pelo oacutergatildeo ambiental estadual competente e pode ser implementada
mediante o arrendamento de aacuterea sob regime de servidatildeo florestal ou reserva legal
ou aquisiccedilatildeo de cotas de que trata o art 44-B
sect 6o O proprietaacuterio rural poderaacute ser desonerado pelo periacuteodo de trinta anos das
obrigaccedilotildees previstas neste artigo mediante a doaccedilatildeo ao oacutergatildeo ambiental
competente de aacuterea localizada no interior de Parque Nacional ou Estadual Floresta
Nacional Reserva Extrativista Reserva Bioloacutegica ou Estaccedilatildeo Ecoloacutegica pendente de
regularizaccedilatildeo fundiaacuteria respeitados os criteacuterios previstos no inciso III deste
artigo (NR) (BRASIL 2001 p 45)
Quanto agrave sanccedilatildeo curiosamente neste Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965) natildeo haacute
nenhuma previsatildeo com relaccedilatildeo ao descumprimento da reserva legal diferentemente do
diploma de 1934 (BRASIL 1935) como se pocircde ler anteriormente Nesse sentido existir
uma lei sem a ela estar vinculada uma sanccedilatildeo quando descumprida eacute o mesmo que um fogo
que natildeo queima uma luz que natildeo alumia (MONTEIRO 1992)
Assim finaliza-se a anaacutelise do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) e se
inicia a apreciaccedilatildeo do Novo Coacutedigo Florestal isto eacute a Lei 12651 de 25 de maio de 2012
(BRASIL 2012) que jaacute possui algumas modificaccedilotildees mesmo sendo uma norma bastante
recente Trata-se de uma lei que em seu artigo 1ordm de pronto menciona o instituto da reserva
legal elevando-a a um patamar antes natildeo reconhecido quanto agrave especialidade que lhe eacute
inerente
Art 1ordm-A Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente e as aacutereas de Reserva Legal a exploraccedilatildeo florestal o
suprimento de mateacuteria-prima florestal o controle da origem dos produtos florestais e
o controle e prevenccedilatildeo dos incecircndios florestais e prevecirc instrumentos econocircmicos e
financeiros para o alcance de seus objetivos (BRASIL 2012 p 1)
Quanto a sua definiccedilatildeo embora citada anteriormente vecirc-se a necessidade de se
enfatizar as diferenccedilas entre o novo dispositivo e o anterior ora revogado ateacute porque o
recente eacute bem mais minucioso e atual em se tratando de tendecircncias e realidades do presente
Art 3ordm []
25
III - Aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural delimitada nos
termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de modo sustentaacutevel
dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a reabilitaccedilatildeo dos
processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade bem como o
abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012 p 3)
Art 1ordm []
sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por
[]
III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural
excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos
recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave
conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas
(BRASIL 1965 p 1)
Pela leitura observa-se que a aacuterea de reserva legal desde o iniacutecio estaacute restrita ao
imoacutevel rural excluindo assim o urbano Seu objetivo tambeacutem sempre foi o mesmo
sustentabilidade Isto eacute visto quando se examina o texto do Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965)
ao citar as expressotildees conservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo biodiversidade e proteccedilatildeo colocando nesse
iacutenterim recursos naturais processos ecoloacutegicos fauna e flora nativas O foco da reserva legal
eacute claro quanto agrave conservaccedilatildeo de uma forma sistecircmica pois inclui aspectos de solo vegetaccedilatildeo
vida animal e seus respectivos ciclos Eacute o que coloca SOUZA (2002 p 2829 apud Miranda
2008 p 53)
[] justifica a existecircncia de um mecanismo juriacutedico que garanta ao homem a
manutenccedilatildeo da biodiversidade para o seu proacuteprio bem Deste ponto de vista no
Brasil a Reserva Legal ainda eacute o mecanismo existente se natildeo o uacutenico que garante
essa manutenccedilatildeo tamanha a dependecircncia dos seres humanos de energia advinda de
plantas e animais
Jaacute a lei de 2012 (BRASIL 2012) inova ao incluir e modificar algumas acepccedilotildees
O uso econocircmico eacute uma delas Antes era mencionado somente um uso sustentaacutevel dos
recursos naturais mas agora eacute um uso com base na teoria de produccedilatildeo e consumo sob o vieacutes
da sustentabilidade Aleacutem disto a nova redaccedilatildeo faz uma pequena diferenciaccedilatildeo quanto ao
auxiacutelio que a reserva legal daacute agrave conservaccedilatildeo e agrave reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos
enquanto que a anterior ditava que o tal instituto era necessaacuterio para alcanccedilar os citados
objetivos Inclui tambeacutem a promoccedilatildeo que a reserva legal faz agrave biodiversidade e por fim a
uacuteltima norma agrega a proteccedilatildeo agrave fauna silvestre3 o que outrora era soacute agrave nativa
3 ldquoEacute preciso que a fauna tenha a sua vida ou parte dela ocorrendo naturalmente dentro dos limites do territoacuterio
brasileiro e suas aacuteguas jurisdicionaisrdquo (AMADO 2012 p329) silvestre ndash satildeo animais pertencentes agraves espeacutecies
nativas migratoacuterias e quaisquer outras aquaacuteticas ou terrestres
26
Percebe-se que com o passar dos anos as leis que versam sobre florestas estatildeo
cada vez mais aperfeiccediloadas com particularidades e especificidades como se pode concluir
pela leitura da evoluccedilatildeo histoacuterica dessas normas e suas modificaccedilotildees Visualiza-se melhor
tambeacutem ao se comparar os objetivos da reserva legal nas figuras 1 e 2
Figura 1 - Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771 (BRASIL 1965)
Figura 2 - Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 - Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)
RESERVA
LEGAL
ASSEGURA AUXILIA PROMOVE
27
E em se tratando das penalidades quem natildeo respeitar a reserva legal estaraacute
enquadrado no Decreto Federal 6514 de 22 de julho de 2008 (BRASIL 2008) que dispotildee
sobre as infraccedilotildees e sanccedilotildees administrativas ao meio ambiente e prevecirc aplicaccedilatildeo de multas
como descrito nos artigos abaixo
Art 48 Impedir ou dificultar a regeneraccedilatildeo natural de florestas ou demais formas
de vegetaccedilatildeo nativa em unidades de conservaccedilatildeo ou outras aacutereas especialmente
protegidas quando couber aacuterea de preservaccedilatildeo permanente reserva legal ou
demais locais cuja regeneraccedilatildeo tenha sido indicada pela autoridade ambiental
competente
Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo
[]
Art 51 Destruir desmatar danificar ou explorar floresta ou qualquer tipo de
vegetaccedilatildeo nativa ou de espeacutecies nativas plantadas em aacuterea de reserva legal ou
servidatildeo florestal de domiacutenio puacuteblico ou privado sem autorizaccedilatildeo preacutevia do oacutergatildeo
ambiental competente ou em desacordo com a concedida
Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo
[]
Art 55 Deixar de averbar a reserva legal Multa de R$ 50000 (quinhentos reais) a R$ 10000000 (cem mil reais) (BRASIL
2008 p 12)
Ao ler o dispositivo da lei eacute possiacutevel averiguar que tanto accedilotildees como omissotildees
possiacuteveis de cometimento quanto agrave reserva legal estatildeo previstas naquele Decreto (BRASIL
2008) o que daacute poder agraves autoridades constituiacutedas de exercerem seu papel fiscalizatoacuterio e
sancionatoacuterio em desfavor daquele que descumprir tal obrigaccedilatildeo
Nesse novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012) a reserva legal estaacute muito mais
discorrida e consequentemente resguardada A lei trouxe um capiacutetulo especiacutefico com duas
seccedilotildees organizadas dispondo sobre a delimitaccedilatildeo e o regime de proteccedilatildeo do instituto aleacutem de
outra seccedilatildeo que prevecirc a transformaccedilatildeo das reservas legais em aacutereas verdes nas expansotildees
urbanas
Para comeccedilar a analisar as novidades trazidas pelo Coacutedigo Florestal (BRASIL
2012) vale mencionar a mais importante quanto ao controle e fiscalizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da
reserva legal que se daraacute pelo Cadastro Ambiental Rural ndash CAR Eacute um registro puacuteblico
eletrocircnico de acircmbito nacional obrigatoacuterio para todos os imoacuteveis rurais com a finalidade de
integrar as informaccedilotildees ambientais das propriedades e posses rurais compondo base de dados
para controle monitoramento planejamento ambiental e econocircmico e combate ao
desmatamento conforme artigo 29 daquele diploma legal Para se cadastrar no CAR o
proprietaacuterio ou possuidor rural deveraacute identificar-se comprovar a propriedade ou posse e
identificar o imoacutevel atraveacutes de planta georreferenciada e memorial descritivo informando os
28
remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente dentre outras
segundo o inciso III do paraacutegrafo primeiro do mesmo dispositivo acima
Com a criaccedilatildeo desse sistema a supressatildeo de novas aacutereas de floresta ou outras
formas de vegetaccedilatildeo nativa soacute poderaacute ser autorizada apoacutes a inserccedilatildeo do imoacutevel onde ocorreraacute
o desmatamento no Cadastro Ambiental Rural A exceccedilatildeo a essa regra eacute o imoacutevel que jaacute
possua a reserva legal averbada na sua matriacutecula com a respectiva identificaccedilatildeo e localizaccedilatildeo
Isso dispensa a inclusatildeo no CAR Eacute o que rezam o paraacutegrafo terceiro do artigo 12 e o artigo
30 do Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)
A nova lei prevecirc que a inscriccedilatildeo no CAR eacute obrigatoacuteria para todas as propriedades
e posses rurais e deve ser requerida no prazo de um ano a partir da sua implantaccedilatildeo (sect3ordm do
artigo 29) No caso do Cearaacute o Cadastro Ambiental Rural ainda natildeo foi estabelecido embora
a lei jaacute tenha completado um ano Aleacutem disto agravequele que protocolar toda documentaccedilatildeo para
anaacutelise da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal no oacutergatildeo ambiental competente natildeo poderaacute ser
imputada sanccedilatildeo administrativa nem restriccedilatildeo a direitos por qualquer oacutergatildeo ambiental
competente (sect2ordm do artigo 14) desde que a sanccedilatildeo diga respeito a natildeo formalizaccedilatildeo da aacuterea de
reserva legal
Outra novidade eacute a dispensa de reserva legal em alguns casos como nos
empreendimentos de abastecimento puacuteblico de aacutegua e tratamento de esgoto nas aacutereas
adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessatildeo permissatildeo ou autorizaccedilatildeo para
exploraccedilatildeo de potencial de energia hidraacuteulica nas quais funcionem empreendimentos de
geraccedilatildeo de energia eleacutetrica subestaccedilotildees ou seja instaladas linhas de transmissatildeo e de
distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica e nas aacutereas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de
implantaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo de capacidade de rodovias e ferrovias (sect6 ordm sect7 ordm e sect8ordm do artigo 12)
Ao passo que na Lei 477165 (BRASIL 1965) o uacutenico caso dispensaacutevel de cumprir a reserva
legal era a doaccedilatildeo pelo proprietaacuterio rural de aacuterea localizada no interior de unidade de
conservaccedilatildeo de domiacutenio puacuteblico pendente de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria ao oacutergatildeo ambiental
competente (sect6ordm do art 44)
Quanto aos percentuais de reserva legal sobre a propriedade ou posse rural nada
mudou ou seja permaneceram os mesmos embora organizados de forma diferente conforme
se segue
Art 12 Todo imoacutevel rural deve manter aacuterea com cobertura de vegetaccedilatildeo nativa a
tiacutetulo de Reserva Legal sem prejuiacutezo da aplicaccedilatildeo das normas sobre as Aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente observados os seguintes percentuais miacutenimos em relaccedilatildeo agrave
aacuterea do imoacutevel excetuados os casos previstos no art 68 desta Lei
I - localizado na Amazocircnia Legal
29
a) 80 (oitenta por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de florestas
b) 35 (trinta e cinco por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de cerrado
c) 20 (vinte por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de campos gerais
II - localizado nas demais regiotildees do Paiacutes 20 (vinte por cento) (BRASIL 2012 p
15)
Acerca da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal alguns criteacuterios a serem
observados permaneceram inalterados tais como o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento
ecoloacutegico-econocircmico4 e a proximidade com outra reserva legal aacuterea de preservaccedilatildeo
permanente unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida Por outro lado
foram acrescentados dois aspectos a serem considerados tambeacutem satildeo eles as aacutereas de maior
importacircncia para a conservaccedilatildeo da biodiversidade e as aacutereas de maior fragilidade ambiental
(Incisos IV e V do artigo 14)
Por fim haacute que se falar que a nova lei permitiu a sobreposiccedilatildeo das aacutereas de
preservaccedilatildeo permanente agrave aacuterea de reserva legal ou seja ao se calcular o percentual desta
poderatildeo ser computadas as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente existentes no imoacutevel rural desde
que atenda alguns requisitos Eacute o que prescreve o artigo 15
Art 15 Seraacute admitido o cocircmputo das Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente no caacutelculo
do percentual da Reserva Legal do imoacutevel desde que
I - o benefiacutecio previsto neste artigo natildeo implique a conversatildeo de novas aacutereas para o
uso alternativo do solo
II - a aacuterea a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperaccedilatildeo
conforme comprovaccedilatildeo do proprietaacuterio ao oacutergatildeo estadual integrante do Sisnama e
III - o proprietaacuterio ou possuidor tenha requerido inclusatildeo do imoacutevel no Cadastro
Ambiental Rural - CAR nos termos desta Lei BRASIL 2012 p 1617)
Basicamente essas foram as inovaccedilotildees mais pertinentes agrave reserva legal trazidas
pelo Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)
113 Importacircncia da reserva legal
Vaacuterios aspectos perfazem o instituto da reserva legal Satildeo fundamentos de
cunho teacutecnico e cientiacutefico que revelam sua importacircncia atraveacutes da abordagem juriacutedica social
ambiental e econocircmica A reserva legal natildeo foi simplesmente uma imposiccedilatildeo prevista em lei
4 Zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ndash eacute um zoneamento ambiental Esse instrumento estaacute previsto na Poliacutetica
Nacional do Meio Ambiente que foi instituiacuteda pela Lei 693881 Trata-se de uma modalidade de intervenccedilatildeo
estatal sobre o territoacuterio a fim de reparti-lo em zonas consoante o melhor interesse na preservaccedilatildeo ambiental e
no uso sustentaacutevel dos recursos naturais Conferir AMADO Frederico Direito Ambiental Esquematizado
2012 p111
30
mas uma mobilizaccedilatildeo da sociedade para resguardar os bens ambientais impedindo a
degradaccedilatildeo sem precedentes
ldquoA reserva legal busca a preservaccedilatildeo ambiental como um todo natildeo soacute do imoacutevel
que nesta se situardquo (AMADO 2009 p 105) Ainda salienta Moraes (2002 p 30) que ldquoa
reserva legal natildeo possui funccedilatildeo vinculada ao imoacutevel especificamente sendo limitaccedilatildeo de
niacutevel macro ou seja mais preocupada com a melhoria regional da biodiversidade do que
propriamente com o ecossistema interno da propriedaderdquo E muito bem acrescenta Milareacute
(2009 p 166)
Aleacutem de preservar belezas cecircnicas e bucoacutelicos ambientes histoacutericos para as geraccedilotildees
futuras as aacutereas protegidas assumiram objetivos como a proteccedilatildeo de recursos
hiacutedricos manejo de recursos naturais desenvolvimento de pesquisas cientiacuteficas
manutenccedilatildeo do equiliacutebrio climaacutetico e ecoloacutegico preservaccedilatildeo de recursos geneacuteticos
e atualmente constituem o eixo de estruturaccedilatildeo da preservaccedilatildeo in situ da
biodiversidade como um todo
1131 Juriacutedica
A reserva legal foi criada pela forccedila do universo juriacutedico brasileiro que lhe
pressupotildee efetividade Como jaacute fora mencionado o instituto teve sua definiccedilatildeo atraveacutes da
Medida Provisoacuteria 2166-672001 (BRASIL 2001) que por sua vez alterou o Coacutedigo
Florestal (BRASIL 1965) vigente agrave eacutepoca Embora houvesse previsatildeo legal para aacutereas
especialmente protegidas estas ateacute entatildeo natildeo haviam sido nominadas como reserva legal
A lei ndeg 477165 (BRASIL 1965) segundo Trennepohl (2009) trazia uma maior
preocupaccedilatildeo com a erosatildeo de terras e o consequente prejuiacutezo para as atividades produtivas
Denotando predominante inclinaccedilatildeo para a sustentabilidade econocircmica da mateacuteria-prima
aquele diploma tratava a utilizaccedilatildeo dos recursos florestais de forma racional com finalidade
de garantir as atividades econocircmicas para as quais servem de insumo
Jaacute no entendimento de Schaffer e Medeiros (2009) a figura da reserva legal no
Coacutedigo Florestal revela-se como uma norma de importacircncia e observacircncia necessaacuterias
essencialmente estrateacutegicas para a garantia de um desenvolvimento equilibrado e sustentaacutevel
para a naccedilatildeo brasileira Tambeacutem observam os mesmos autores que a tatildeo discutida lei florestal
estabeleceu percentuais diferenciados de Reserva Legal em funccedilatildeo da localizaccedilatildeo do tipo de
vegetaccedilatildeo e das caracteriacutesticas ambientais das diferentes regiotildees do paiacutes
A eficaacutecia para o cumprimento do instituto se baseia na imposiccedilatildeo da lei quanto agrave
obrigaccedilatildeo dos proprietaacuterios ou posseiros rurais se dirigirem ao cartoacuterio de registro do seu
31
imoacutevel com a aacuterea da reserva jaacute delimitada e procederem agrave averbaccedilatildeo agrave margem da sua
matriacutecula No entanto essa obrigatoriedade foi substituiacuteda pelo Cadastro Ambiental Rural
que deveraacute ser feito no oacutergatildeo ambiental competente conforme visto anteriormente Esse
procedimento se daacute pelos paracircmetros devidamente previstos em normas teacutecnicas que dispotildeem
como o dono da aacuterea deve conduzir tal processo Essa averbaccedilatildeo eacute irretrataacutevel ou seja jamais
pode ser desfeita e eacute isso que daacute eficiecircncia ao instituto se cumprido Tal imposiccedilatildeo garante
que o proprietaacuterio natildeo desmembre seu imoacutevel na intenccedilatildeo de burlar a lei
Quanto ao procedimento de averbaccedilatildeo da reserva legal na matriacutecula do imoacutevel
ressalta Trennepohl (2009 p11-12)
A exigecircncia da averbaccedilatildeo da reserva legal vem desde 1965 vale dizer haacute mais de
quarenta anos existe esta obrigatoriedade E muitos proprietaacuterios rurais cumpriram agrave
risca esta exigecircncia averbando e mantendo preservado o percentual estipulado pela
lei
[]
A necessidade dessa averbaccedilatildeo dispensa maiores comentaacuterios e pode ser facilmente
entendida como a uacutenica garantia eficaz para que a transferecircncia ou a partilha natildeo
afastem essa obrigaccedilatildeo propter rem [proacutepria da coisa] que vincula a propriedade
natildeo o proprietaacuterio
Para alguns proprietaacuterios de terras rurais se houver o atendimento do instituto da
reserva legal caberia uma indenizaccedilatildeo pela perda daquela porcentagem em suas propriedades
mas como bem ilustra Magnanini (2010 p 5) ldquoa funccedilatildeo protetora da floresta natildeo eacute restriccedilatildeo
indenizaacutevel mas decorrecircncia da proacutepria natureza que preparou terras mais uacuteteis e outras
menosrdquo
1132 Social
Segundo o renomado filoacutesofo Mondin (2004 p 117) ldquoo homem eacute um ser
sociaacutevel portanto incapaz de sozinho alcanccedilar seus objetivos anseios e realizaccedilotildees
consequentemente viverrdquo A partir dessa constataccedilatildeo soacute resta ao ser humano subsistir numa
sociedade inserida no mundo natural
Como indiviacuteduo pratica accedilotildees que lhe afetam direta e indiretamente promovendo
reflexos no espaccedilo em que habita Por isso o aspecto social estaacute intimamente vinculado agrave
qualidade ambiental uma vez que o ser humano gera impactos positivos e negativos em seu
entorno Como natildeo se pode separar a atuaccedilatildeo dele do meio em que foi introduzido necessaacuterio
eacute fazer o balizamento de suas atitudes Uma das formas de limitar seu comportamento eacute a
confecccedilatildeo de normas como por exemplo a lei que nada mais eacute do que a expressatildeo de uma
32
demanda social por medidas coercitivas em virtude do desrespeito a um aspecto que a
sociedade defende ou repudia
Quanto agraves accedilotildees humanas e seus reflexos a teoria de ldquometapopulaccedilotildeesrdquo define
que a raccedila humana causa imenso impacto na Terra provocando a deterioraccedilatildeo dos sistemas
ecoloacutegicos e a extinccedilatildeo de muitas espeacutecies as quais tem seu ritmo acelerado agrave medida que a
populaccedilatildeo cresce e aumentando com isso o consumo de energia e de recursos naturais
SOUZA (2002 apud Miranda 2008)
O aspecto social que envolve a reserva legal confronta-se com praacuteticas seculares
do homem campestre como bem ilustra Magnanini (2010 p 3) engenheiro agrocircnomo e um
dos autores do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)
A agricultura itinerante continua se desenvolvendo segundo os meacutetodos primitivos
dos primeiros anos do descobrimento Chega o agricultor derruba e queima as
matas sem indagar se elas satildeo necessaacuterias agrave conservaccedilatildeo da feracidade do solo ou
do regime das aacuteguas Depois de alguns anos de exploraccedilatildeo renovando anualmente a
queimada como meio de extinguir a vegetaccedilatildeo invasora o terreno esgotado eacute
entregue ao abandono e o agricultor seguindo as pegadas do madeireiro que adiante
derrubou as aacutervores para extrair as toras inicia novo ciclo devastador idecircntico ao
precedente Como efeito disto a agricultura cada vez se interioriza mais e cada vez
se distancia mais dos centros consumidores requerendo transportes sempre mais
caros [] Inundaccedilotildees cada vez mais destruidoras pela remoccedilatildeo desordenada de
florestas colocam em sobressalto as populaccedilotildees de centenas de cidades ribeirinhas
Vale mencionar outra caracteriacutestica que expressa o valor que a reserva legal
quando estaacute sendo cumprida imprime na aacuterea rural ndash eacute a funccedilatildeo social da propriedade
considerada como princiacutepio basilar para o uso da mesma Designaccedilatildeo bastante enunciada
pelas normas que estabelecem aquele instituto permeia o direito de propriedade da terra que
natildeo eacute visto unilateralmente e sim em sua universalidade uma vez que o imoacutevel natildeo estaacute para
servir soacute a seu dono mas tem que atender sua funccedilatildeo social Nesse sentido Miranda (2008)
pontua que a reserva legal eacute uma forma de assegurar a funccedilatildeo social da propriedade fazendo
com que esta contribua com a preservaccedilatildeo do meio ambiente ecologicamente equilibrado para
atuais e futuras geraccedilotildees Eacute como tambeacutem entende Trennepohl (2009 p 11) ao afirmar que
A preservaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa num percentual das propriedades rurais diminui o
lucro do proprietaacuterio mas de forma muito menos significativa que o ganho para a
coletividade com a qualidade ambiental decorrente pelo que entendemos
inquestionaacutevel que o interesse coletivo se sobrepotildee ao individual
1133 Ambiental
Considerado como um dos principais fatores que embasam a instituiccedilatildeo da reserva
legal na propriedade ou posse rural o aspecto ambiental se funda na biologia que perpassa
33
essencialmente esse vieacutes sem admitir qualquer desassociaccedilatildeo entre as unidades ambientais
como aacutegua solo vegetaccedilatildeo e ar Pode-se afirmar que o alicerce do estudo do meio eacute a ciecircncia
bioloacutegica que por sua vez analisa as reaccedilotildees as funccedilotildees fiacutesico-quiacutemicas a qualidade do
ambiente testando seus limites ou melhor sua capacidade de suporte Do mesmo modo
Miranda (2008 p 51) discorre sobre a importacircncia ecoloacutegica do instituto da reserva legal
quando afirma que ldquosua funccedilatildeo preciacutepua eacute assegurar mostras significativas de ecossistemas
conservando a biodiversidade e servindo de abrigo e proteccedilatildeo agrave fauna e agrave florardquo
Sobre isso Metzger (2002 p 48) tambeacutem atesta que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de
propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa eacute
fundamental para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada
regiatildeordquo Complementa Silva (2001 p 59) quando afirma
A cobertura vegetal nativa sobretudo as florestais exerce papel de fundamental
importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de ecossistemas naturais bem como de
ecossistemas criados pelo homem como eacute o caso dos ecossistemas agriacutecolas Aleacutem
de permitirem uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da aacutegua no solo e no
subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos regular a vazatildeo
dos rios reduzindo as intensidades dos extremos de estiagens e enchentes manterem
a diversidade geneacutetica
Logo todos os benefiacutecios apontados pelos autores acima podem ser verificados
em uma menor escala quando haacute a observacircncia da reserva legal dentro de cada propriedade
rural em determinada regiatildeo garantindo sua viabilidade ambiental posto que assume um
papel niacutetido de conservaccedilatildeo Para exemplificar a assertiva retro menciona-se o microclima
favoraacutevel mantido quando haacute vegetaccedilatildeo na aacuterea em apreccedilo que por sua vez amortiza a
incidecircncia solar sobre aquela regiatildeo Por outro lado a cobertura vegetal tambeacutem eacute favoraacutevel agrave
manutenccedilatildeo dos solos uma vez que dificulta a accedilatildeo erosiva das chuvas
Infere-se portanto que a existecircncia da reserva legal na propriedade rural soacute traz
vantagens ao meio ambiente por mais que a tradiccedilatildeo campestre natildeo as compreenda Eacute o que
demonstram Schaffer e Medeiros (2009 p 2) ensinando que
A Reserva Legal (RL) por sua vez natildeo tem apenas a funccedilatildeo de prover o uso
sustentaacutevel dos recursos naturais na propriedade ou posse rural Tem tambeacutem a
funccedilatildeo de conservar e reabilitar os processos ecoloacutegicos conservar a biodiversidade
e servir de abrigo e proteccedilatildeo da fauna e flora nativas Desta forma a norma geral de
caraacuteter nacional [Coacutedigo Florestal] concilia o necessaacuterio uso sustentaacutevel de recursos
naturais para a propriedade ou posse rural com as funccedilotildees ambientais e o
provimento de serviccedilos ambientais de retenccedilatildeo de aacutegua conservaccedilatildeo do solo
manutenccedilatildeo de grupos de polinizadores e fixaccedilatildeo de biomassa entre outros os quais
satildeo importantes e necessaacuterios ao cumprimento da funccedilatildeo socioambiental dos
imoacuteveis ou propriedades rurais
34
No mesmo sentido Mercadante (1999 p 240 apud MIRANDA 2008 p 5354)
numa interpretaccedilatildeo mais ampla sobre a importacircncia ecoloacutegica da reserva legal diz
A Reserva Legal natildeo tem por objetivo apenas a conservaccedilatildeo da natureza da flora e
da fauna pelo valor intriacutenseco dos recursos bioloacutegicos ou pela contribuiccedilatildeo dessas
aacutereas para a qualidade do ambiente em geral A Reserva Legal eacute fundamental para a
estabilidade ecoloacutegica e consequentemente a exploraccedilatildeo em bases sustentaacuteveis do
proacuteprio imoacutevel rural A Reserva Legal contribui para a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo
do solo o controle da erosatildeo o controle do assoreamento dos cursos d‟aacutegua a
conservaccedilatildeo dos corpos d‟aacutegua e dos mananciais serve de abrigo para os predadores
das pragas agriacutecolas fornece madeira e outros recursos florestais para uso na
propriedade dentre outros benefiacutecios
E por fim eacute cabiacutevel mencionar ainda que o Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL
2012) fixou criteacuterios bem mais especiacuteficos e pertinentes ao estabelecimento da reserva legal
como proceder ao cumprimento desse instituto observando se sua localizaccedilatildeo eacute condizente
com o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ou outras categorias
de zoneamento ambiental a proximidade com outras aacutereas legalmente protegidas dentre
outros
1134 Econocircmica
A reserva legal sob o aspecto econocircmico eacute muito controversa uma vez que eacute vista
pelo proprietaacuterio ou posseiro rural como um encargo Mesmo porque como exprime
Trennepohl (2009) ateacute a deacutecada de 80 quando se tinha diferentes normas com dispositivos
protecionistas mas com enfoque preponderantemente economicista os recursos naturais eram
tratados muito mais como insumos de produccedilatildeo ou bens de uso imediato da sociedade do que
como elementos integrantes de um intrincado e fraacutegil equiliacutebrio ambiental Isto condicionou
fatalmente a sociedade brasileira contemporacircnea a natildeo observar a deferecircncia aos bens
ambientais quiccedilaacute respeitar certa porcentagem de uma aacuterea que fora adquirida por um
particular com seus recursos proacuteprios e a tem como totalmente privada
Ainda eacute possiacutevel pelo Coacutedigo Florestal - Lei 126512012 (BRASIL 2012)
intervir na aacuterea destinada agrave reserva de forma sustentaacutevel sem suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo
uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo econocircmica dessas aacutereas Aleacutem do
que ldquoa recuperaccedilatildeo de aacutereas de RL pode ainda gerar produtos e subprodutos madeireiros jaacute
escassos em algumas regiotildees garantindo assim uma renda adicional ao produtor rural e
mateacuteria-prima para a induacutestriardquo conforme defendem Schaffer e Medeiros (2009 p 12)
Para Magnanini (2010) a situaccedilatildeo eacute graviacutessima quando sugere ficar a criteacuterio
do proprietaacuterio rural a iniciativa de proceder ou natildeo agrave reserva legal jaacute que a Administraccedilatildeo
35
Puacuteblica natildeo tem como combater eficientemente o descumprimento desse instituto Eacute o que
propotildee no momento em que coloca
O dilema eacute este ou impotildee-se a todos os donos de terras defenderem agrave sua custa a
produtividade do solo contra a erosatildeo terriacutevel e crescente ou cruzam-se os braccedilos
ante a incapacidade pela pobreza do Poder Puacuteblico na maioria dos Estados do
Brasil para deter a transformaccedilatildeo do Paiacutes num deserto em que as estaccedilotildees se
alternem entre inundaccedilotildees e secas devoradoras de todo o esforccedilo humano
(MAGNANINI 2010 p 5)
Ademais define-se outra vertente do aspecto econocircmico tatildeo bem colocada pela
acepccedilatildeo que tem Bacha (2005 p 9) ao afirmar que
A reserva legal eacute um mecanismo de poliacutetica de rendas pelo qual se procura
estabelecer um zoneamento do uso da terra dentro da propriedade rural A poliacutetica
de rendas constitui-se numa seacuterie de regulamentaccedilotildees que restringem a produccedilatildeo e a
comercializaccedilatildeo de produtos bem como o uso dos fatores de produccedilatildeo eou
determinam valores miacutenimos ou maacuteximos para o pagamento pelo uso desses fatores
ou por produtos elaborados numa economia
Eacute possiacutevel portanto depreender o entendimento do autor de modo que a reserva
legal vem restringir o uso indiscriminado dos recursos florestais gerando com isso a
manutenccedilatildeo do bem ambiental que seraacute resguardado por aquele instituto Isto influiraacute
diretamente na cadeia produtiva nas oscilaccedilotildees de demanda e procura do mercado de mateacuteria-
prima de origem vegetal Ou seja pode-se entender que a meacutedio eou longo prazo a reserva
legal seraacute um ponto de equiliacutebrio no fluxo da produccedilatildeo de bens e serviccedilos que careccedilam desse
recurso natural
114 Direito de Propriedade x Reserva Legal
A propriedade privada eacute uma espeacutecie baacutesica que se decompotildee em propriedade
rural ou urbana segundo se refira a moradias do campo ou moradias derivadas das
construccedilotildees ou edificaccedilotildees idocircneas para sua habitualidade ou aproveitamento diferente do
que eacute a exploraccedilatildeo agraacuteria de qualquer moradia rural (CRIADO 2010)
A propriedade no direito brasileiro foi constituiacuteda em forma e conteuacutedo a partir de
normas muito antigas e de outras naccedilotildees ou seja foi reproduzida com base no direito romano
ldquoDesde aqueles tempos o direito de propriedade era tido como absoluto isto eacute o proprietaacuterio
tinha o direito de usar ou natildeo usar gozar ou natildeo gozar e dispor ou natildeo dispor da propriedade
imobiliaacuteriardquo (MELO 2010 p22) Em contrapartida ldquoos direitos de propriedade
constitucional certamente satildeo direitos de liberdade seja a liberdade individual seja a
liberdade comunitaacuteria que satildeo complementares e indissociaacuteveis haja vista que uma natildeo
36
existe sem a outra como nos demonstram as experiecircncias totalitaacuterias do seacuteculo XXrdquo
(ANTUNES 2011 p37)
A garantia do direito de propriedade estaacute prevista constitucionalmente ou seja na
maior Lei do paiacutes uma vez que ela se sobrepotildee a todas as outras leis e normas juriacutedicas Eacute a
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil que foi promulgada em 05 de outubro de
1988 Conhecida como Carta Magna a Constituiccedilatildeo de 1988 (BRASIL 1988) em seu Tiacutetulo
II estabelece os direitos e as garantias fundamentais do e para o povo brasileiro Logo no
primeiro capiacutetulo deste tiacutetulo estatildeo dispostos os direitos e deveres individuais e coletivos que
o Estado brasileiro deve assegurar aos seus cidadatildeos Eacute no artigo 5ordm que estatildeo previstas tais
premissas inclusive o direito de propriedade (inciso XXII) e o respeito agrave sua funccedilatildeo social
(XXIII)
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade
do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos
seguintes
[]
XXII - eacute garantido o direito de propriedade
XXIII - a propriedade atenderaacute a sua funccedilatildeo social
Quanto agrave funccedilatildeo social da propriedade ldquosomente nos seacuteculos XIX e XX surgiu a
ideia em que o imoacutevel natildeo teria mais o caraacuteter absoluto e intangiacutevel de forma que o
proprietaacuterio por possuir recursos deveria cumprir a tal funccedilatildeordquo (MELO 2010 p23) Ainda
ldquodiscorrer sobre a funccedilatildeo social da propriedade significa abandonar a ideia absolutista e
inflexiacutevel desse instituto para admitir a revitalizaccedilatildeo e o condicionamento do exerciacutecio a
interesses maiores que os do proprietaacuterio individualrdquo (PETERS 2003 p 125 apud
MIRANDA 2008 p 56) Foi nesse sentido que as Constituiccedilotildees Federais brasileiras de 1934
(BRASIL 1934b) 1946 (BRASIL 1946) 1967 (BRASIL 1967c) e a de 1988 (BRASIL
1988) restringiram o direito de propriedade
Constituiccedilatildeo de 1934
Art 113 - A Constituiccedilatildeo assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade dos direitos concernentes agrave liberdade agrave subsistecircncia agrave seguranccedila
individual e agrave propriedade nos termos seguintes
[]
17) Eacute garantido o direito de propriedade que natildeo poderaacute ser exercido contra o
interesse social ou coletivo na forma que a lei determinar A desapropriaccedilatildeo por
necessidade ou utilidade puacuteblica far-se-aacute nos termos da lei mediante preacutevia e justa
indenizaccedilatildeo [] (BRASIL 1934b p 33)
Constituiccedilatildeo de 1946
Art 141 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
Paiacutes a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade a seguranccedila
individual e agrave propriedade nos termos seguintes
37
[]
sect 16 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por
necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa
indenizaccedilatildeo em dinheiro (BRASIL 1946 p 31)
Constituiccedilatildeo de 1967
Art 150 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
Pais a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
[]
sect 22 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por
necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa
indenizaccedilatildeo em dinheiro ressalvado o disposto no art 157 sect 1ordm []
[]
Art 157 - A ordem econocircmica tem por fim realizar a justiccedila social com base nos
seguintes princiacutepios
[]
III - funccedilatildeo social da propriedade
[]
sect 1ordm - Para os fins previstos neste artigo a Uniatildeo poderaacute promover a desapropriaccedilatildeo
da propriedade territorial rural mediante pagamento de justa indenizaccedilatildeo fixada
segundo os criteacuterios que a lei estabelecer em tiacutetulos especiais da diacutevida puacuteblica []
(BRASIL 1967c p 4951)
Embora os textos se assemelhem eacute faacutecil observar que em 1934 o direito de
propriedade natildeo poderia ir contra o interesse social ou coletivo enquanto que na Constituiccedilatildeo
de 1946 (BRASIL 1946) jaacute se comeccedila a falar em desapropriaccedilatildeo caso aquele interesse natildeo
seja observado Em 1967 existe uma combinaccedilatildeo entre o direito de propriedade e a justiccedila
social estando esta prevista como objetivo da ordem econocircmica que por sua vez cita
claramente a funccedilatildeo social da propriedade como um de seus princiacutepios Mais uma vez a
desapropriaccedilatildeo vem agrave tona agora com um toque mais robusto e imbuiacutedo de maior evidecircncia
jaacute que aquela Carta (BRASIL 1967c) faz menccedilatildeo no paraacutegrafo 1ordm do artigo 157 que a Uniatildeo
poderaacute desapropriar a propriedade territorial rural se natildeo atender dentre outros aspectos a
funccedilatildeo social da propriedade
Retroagindo aproximadamente trecircs anos a desapropriaccedilatildeo jaacute estava em pauta
atraveacutes da Lei 450464 (BRASIL 1964) conhecida como o Estatuto da Terra Com o
objetivo de regular os direitos e obrigaccedilotildees concernentes aos bens imoacuteveis rurais a citada lei
menciona a desapropriaccedilatildeo como uma das medidas de execuccedilatildeo da Reforma Agraacuteria e
promoccedilatildeo da Poliacutetica Agriacutecola (Art 1deg) Aleacutem disto o artigo segundo assegura a todos a
oportunidade de acesso agrave propriedade da terra condicionada pela sua funccedilatildeo social desde que
cumpra as seguintes condiccedilotildees
Art 2deg
sect 1deg A propriedade da terra desempenha integralmente a sua funccedilatildeo social quando
simultaneamente
a) favorece o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores que nela labutam
assim como de suas famiacutelias
38
b) manteacutem niacuteveis satisfatoacuterios de produtividade
c) assegura a conservaccedilatildeo dos recursos naturais
d) observa as disposiccedilotildees legais que regulam as justas relaccedilotildees de trabalho entre os
que a possuem e a cultivem (BRASIL 1964 p 1)
Encerrando o rol de Constituiccedilotildees brasileiras quanto ao direito de propriedade e
sua funccedilatildeo social a de 1988 consagra este princiacutepio no artigo 186
Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende
simultaneamente segundo criteacuterios e graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos
seguintes requisitos
I - aproveitamento racional e adequado
II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio
ambiente
[] (BRASIL 1988 p 144)
Chama atenccedilatildeo o inciso II quando dispotildee sobre a utilizaccedilatildeo adequada dos
recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio ambiente Eacute nesse iacutenterim que a reserva
legal eacute reconhecida por dar ao imoacutevel uma funccedilatildeo social ldquouma vez que atribui agrave propriedade
a exigecircncia da observacircncia de funccedilotildees econocircmica e social bem como de preservaccedilatildeo do meio
ambienterdquo (MELO 2010 p 24) Tambeacutem sobre isso bem coloca Trennepohl (2009 p 12)
A limitaccedilatildeo administrativa do exerciacutecio do direito de propriedade encontra respaldo
no art 186 da Constituiccedilatildeo Federal pois a propriedade rural somente cumpre sua
funccedilatildeo social quando obedecido o aproveitamento racional e utilizados
adequadamente os recursos naturais disponiacuteveis com vistas agrave preservaccedilatildeo do meio
ambiente
ldquoNatildeo haacute direito de propriedade para quem natildeo faz a terra cumprir sua funccedilatildeo
socialrdquo Eacute como entende o professor de direito agraacuterio Carlos Mareacutes (2003 p 134 apud
MELO 2010 p 25) Cavedon (2003 p 122 apud MIRANDA 2008 p 5859) tambeacutem
observa que
Os requisitos estipulados pelo artigo 186 devem ser atendidos simultaneamente sob
pena da propriedade natildeo atender sua funccedilatildeo social e por isso perder sua proteccedilatildeo
constitucional Como consequecircncia esta fica sujeita agrave desapropriaccedilatildeo por interesse
social para fins de reforma agraacuteria conforme o caput do artigo 184 da CF88 Eacute o que
Lenza denomina de desapropriaccedilatildeo-sanccedilatildeo Isto porque a Constituiccedilatildeo de 1988 em
seu artigo 5ordm inciso XXIV garante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiro mediante a
desapropriaccedilatildeo por necessidade utilidade puacuteblica ou interesse social A sanccedilatildeo estaacute
justamente na forma de pagamento da indenizaccedilatildeo quando a propriedade rural natildeo
atende a sua funccedilatildeo social o pagamento natildeo eacute efetuado em dinheiro mas em tiacutetulos
da diacutevida agraacuteria5 Assim o meio ambiente ganha relevacircncia como elemento
5 Tiacutetulos da diacutevida agraacuteria (TDA) - Meio de pagamento de indenizaccedilotildees devidas aos que sofreram accedilatildeo
expropriatoacuteria da Uniatildeo Federal Criado pelo Governo Federal eacute vinculado agrave desapropriaccedilatildeo de imoacuteveis rurais
por interesse social para efeito de reforma agraacuteria ou aquisiccedilotildees por compra e venda de imoacuteveis rurais destinados
agrave implantaccedilatildeo de projetos integrantes do Programa Nacional de Reforma Agraacuteria Disponiacutevel em
lthttpwwwcetipcombrtitulos-publicostdagt Acesso em 27062013
39
integrante da funccedilatildeo social da propriedade em funccedilatildeo do artigo 186 II que prevecirc a
utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio
ambiente e no artigo 170 que coloca a propriedade privada a funccedilatildeo social da
propriedade e a defesa do meio ambiente lado a lado como princiacutepios da ordem
econocircmica Com base nestes dispositivos legais Cavedon entende que a propriedade
deve atender tambeacutem a sua funccedilatildeo ambiental apesar desta natildeo constar de forma
expliacutecita no texto constitucional
Desta forma por estar limitado o proprietaacuterio rural natildeo pode dispor livremente de
seu imoacutevel pois haacute de cumprir sua funccedilatildeo social que resulta na observacircncia de requisitos que
visam vantagens para a coletividade em detrimento de restriccedilotildees individuais Assim sendo
muitos particulares entendem que a obrigaccedilatildeo de destinarem determinada porcentagem de
suas propriedades rurais para a reserva legal eacute uma espeacutecie de desapropriaccedilatildeo indireta imposta
pelo poder puacuteblico e por isso deveriam ser indenizados Da mesma forma outros segundo
Miranda (2008) concluem que eacute uma restriccedilatildeo da propriedade uma vez que inviabiliza a
utilizaccedilatildeo econocircmica do bem e por isso caberia uma recomposiccedilatildeo patrimonial Ao contraacuterio
desse entendimento Trennepohl (2009 p 11) explica
A averbaccedilatildeo da reserva legal natildeo representa uma desapropriaccedilatildeo indireta como
muita gente pensa pois sua vegetaccedilatildeo pode ser explorada na forma de manejo
florestal sustentaacutevel e a aacuterea pode ser utilizada para outras atividades rentaacuteveis
Tanto eacute assim que inuacutemeras accedilotildees judiciais propostas pleiteando indenizaccedilatildeo pela
restriccedilatildeo de uso dessas aacutereas foram fulminadas nas diferentes esferas do Poder
Judiciaacuterio
Ademais a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 (BRASIL 1988) em seu artigo 225
tambeacutem estabelece que
Art 225 Todos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de
uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder
Puacuteblico e agrave coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e
futuras geraccedilotildees
sect 1ordm - Para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Poder Puacuteblico
I - preservar e restaurar os processos ecoloacutegicos essenciais e prover o manejo
ecoloacutegico das espeacutecies e ecossistemas []
III - definir em todas as unidades da Federaccedilatildeo espaccedilos territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos sendo a alteraccedilatildeo e a supressatildeo
permitidas somente atraveacutes de lei vedada qualquer utilizaccedilatildeo que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteccedilatildeo (BRASIL 1988 p 225226)
Ressalta-se que ldquoa Carta Magna de 1988 eacute a primeira Constituiccedilatildeo brasileira em
que a expressatildeo meio ambiente eacute mencionadardquo (MELO 2010 p 20) Ademais inovou ao
adotar a terminologia ldquoespaccedilo territorial especialmente protegidordquo para designar uma aacuterea sob
regime especial de administraccedilatildeo com o objetivo de proteger os atributos ambientais
justificadores do seu reconhecimento e individualizaccedilatildeo pelo Poder Puacuteblico (MILAREacute 2009)
40
Desta forma pela simples leitura do texto constitucional observa-se que eacute uma
prerrogativa do Poder Puacuteblico promover a preservaccedilatildeo do meio ambiente bem como
estabelecer unidades especialmente protegidas para garantir a manutenccedilatildeo dos recursos
naturais A forma com que o Estado cumpriraacute este dever eacute atraveacutes da ediccedilatildeo de leis que
obriguem seus administrados a satisfazerem tais imposiccedilotildees Para tanto tem-se o Coacutedigo
Florestal (BRASIL 1965 2012) que prevecirc a reserva legal como um dos meios de viabilizar
essa proteccedilatildeo Eacute sobre o que discorre Trennepohl (2009 p 12)
A reserva legal eacute um dos instrumentos que permitem o cumprimento do art 225 da
Constituiccedilatildeo Federal o qual impotildee ao Poder Puacuteblico o dever de defender e preservar
o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras geraccedilotildees
(caput) atraveacutes de definiccedilatildeo de espaccedilos territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos (sect1deg III) bem como de proteger a flora e a fauna (sect1deg
VII)
Conclui-se portanto que a reserva legal introduzida pelo Coacutedigo de 65 (BRASIL
1965) modificou os contornos do direito de propriedade restringindo seu uso e que a funccedilatildeo
social do bem imoacutevel teve como origem forte conflito entre necessidades coletivas ou assim
interpretadas e o regime particular da propriedade individual (ANTUNES 2011)
1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa
As formas de limitaccedilotildees que recaem sobre a propriedade tornam-se um problema
importante em mateacuteria ambiental pois na grande maioria das vezes a natureza juriacutedica dos
espaccedilos territoriais especialmente protegidos se confunde com a limitaccedilatildeo administrativa
(MELO 2010) Assim questiona-se se realmente estamos diante de servidotildees limites
limitaccedilotildees ou delimitaccedilotildees A questatildeo natildeo eacute paciacutefica (CRIADO 2010)
A limitaccedilatildeo administrativa segundo Meireles (2004 p 568) eacute ldquotoda imposiccedilatildeo
geral gratuita unilateral e de ordem puacuteblica condicionadora do exerciacutecio de direitos ou de
atividades particulares agraves exigecircncias do bem-estar socialrdquo Satildeo implementadas de forma
imperativa obrigando o proprietaacuterio a fazer ou natildeo fazer algo na sua propriedade mas sem
retirar a utilizaccedilatildeo econocircmica deste bem ldquoJaacute a restriccedilatildeo ocorre quando a administraccedilatildeo impotildee
ao proprietaacuterio dever que o obrigue ou o impeccedila de fazer algo em sua propriedade retirando a
utilizaccedilatildeo econocircmica desta Havendo neste caso a necessidade de recomposiccedilatildeo patrimonialrdquo
(MIRANDA 2008 p 61)
41
Aleacutem do que hibridamente haacute os que entendem que a reserva legal eacute uma
desapropriaccedilatildeo indireta6 disfarccedilada de limitaccedilatildeo da propriedade que por sua vez inviabiliza a
utilizaccedilatildeo econocircmica do bem provocando uma busca por indenizaccedilatildeo Eacute nesse sentido que se
pronunciam os superiores tribunais do paiacutes como por exemplo se pronunciou o ministro Luiz
Pereira do Tribunal de Justiccedila do Estado de Satildeo Paulo ao decidir pela indenizabilidade da
aacuterea compreendida na reserva legal E ainda o proacuteprio Supremo Tribunal Federal tem se
manifestado de forma enfaacutetica ldquoimpedindo que a bdquolimitaccedilatildeo administrativa‟ esvazie o
conteuacutedo econocircmico do direito de propriedade determinando que em tais hipoacuteteses o Estado
indenize os prejuiacutezos de ordem patrimonial sofridos pelo particularrdquo (ANTUNES 2011
p163164)
Mesmo sendo um instrumento de conservaccedilatildeo ambiental com a possibilidade de
exploraccedilatildeo racional atraveacutes de manejo florestal sustentaacutevel eacute visivelmente perceptiacutevel o
conflito entre interesses particulares e a salvaguarda da vegetaccedilatildeo proposta por norma
juriacutedica Posto isto observa-se de um lado intenccedilotildees puramente econocircmicas que por sua vez
levam os proprietaacuterios a ignorarem a lei derrubando e queimando as matas que deveriam ser
preservadas a tiacutetulo de Reserva Legal ou ainda se eximindo de suas responsabilidades soacutecio-
ambientais Opotildeem-se portanto aos fortes instrumentos juriacutedicos de proteccedilatildeo das matas
brasileiras (MIRANDA 2008)
1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal
Na vigecircncia da lei anterior ou seja do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)
a forma de garantir documentalmente o cumprimento da reserva legal era averbaacute-la junto agrave
matriacutecula da propriedade constante em um Registro de Imoacuteveis Vale aqui esmiuccedilar o que eacute e
como era esse procedimento
ldquoO Registro de Imoacuteveis eacute uma instituiccedilatildeo nascida no seacuteculo XIX para dar
seguranccedila agrave contrataccedilatildeo imobiliaacuteria e na qual se inscreviam os direitos nascidos das relaccedilotildees
privadas ou civisrdquo (CRIADO 2010 p126) ldquoE que surgiu como necessidade do Estado de
controlar o direito de propriedade e como instrumento de seguranccedila juriacutedica para o traacutefego
imobiliaacuteriordquo (MELO 2010 p18) Regido pela Lei 601573 (BRASIL 1973) que cria a
figura da matriacutecula e que por sua vez representa a individualidade do imoacutevel sua situaccedilatildeo
6 Desapropriaccedilatildeo indireta ndash ldquotoda intervenccedilatildeo do Estado na propriedade que venha a impossibilitar o uso e gozo
desse bem retirando-lhe o conteuacutedo econocircmicordquo (TAVARES 1998 p 2 apud MIRANDA 2008 p 62)
42
geograacutefica e perfeita descriccedilatildeo sofrendo alteraccedilotildees objetivas e subjetivas por meio da
averbaccedilatildeo sempre com um mesmo nuacutemero de ordem facilitando incrivelmente as pesquisas e
expediccedilatildeo de certidotildees (MELO 2010)
Desta forma cada imoacutevel possui um registro onde pode ser descrito tudo o que
acontece com ele e nele por exemplo quem comprou vendeu se o dono hipotecou o bem a
um banco por causa de empreacutestimo etc Cada novidade que acontece no imoacutevel eacute inscrita sob
a forma e nome de averbaccedilatildeo no seu registro que por sua vez tem um nuacutemero de matriacutecula
para o identificar da mesma forma que um cidadatildeo tem um nuacutemero de Registro Geral (RG)
com seu nome completo data de nascimento e filiaccedilatildeo
No caso a averbaccedilatildeo da reserva legal era feita da seguinte forma o dono do
imoacutevel ldquointeressadordquo em cumprir sua obrigaccedilatildeo deveria submeter a localizaccedilatildeo da reserva
legal ao oacutergatildeo ambiental estadual que por sua vez aprovaria ou natildeo o local onde o proprietaacuterio
iria destinar agrave reserva legal Essa delimitaccedilatildeo deveria ser feita a partir de um
georreferenciamento que utiliza coordenadas geograacuteficas fixadas com o auxiacutelio de sateacutelites
conforme o Sistema Geodeacutesico Brasileiro (SGB) ao qual o Registro de imoacuteveis estaacute
vinculado (MELO 2010)
ldquoA representaccedilatildeo graacutefica da propriedade e sua atualizaccedilatildeo permitem um
conhecimento da evoluccedilatildeo do territoacuterio suas modificaccedilotildees e o impacto meio ambiental que
nele tenha ocasionado atuaccedilatildeo do acircmbito imobiliaacuterio com transcendecircncia nesta mateacuteriardquo
(LIBERAL 2007 p 121 apud MELO 2010 p3233)
Assim com a propriedade e sua respectiva aacuterea de reserva legal
georreferenciadas o proacuteximo passo seria a elaboraccedilatildeo de uma planta a partir dos dados
coletados e juntamente com o documento comprobatoacuterio de que o imoacutevel possuiacutea registro
submeter a localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva ao oacutergatildeo ambiental competente Se aprovada o
oacutergatildeo expediria um Termo de Averbaccedilatildeo da Reserva Legal que juntamente com a mesma
planta apresentada anteriormente deveria ser levado ao cartoacuterio de imoacuteveis para posterior
averbaccedilatildeo no registro do bem Nesta averbaccedilatildeo estariam descritas todas as informaccedilotildees da
reserva legal e sua localizaccedilatildeo geograacutefica
ldquoEsse procedimento documental tinha fundamento no princiacutepio da publicidade
que eacute a alma dos registros puacuteblicos porque eacute a oportunidade dada ao povo de conhecer tudo
que lhe interessa a respeito de determinados atosrdquo (BALBINO FILHO 1999 p 9 apud
MELO 2010 p34) Ateacute porque qualquer pessoa pode solicitar informaccedilotildees sobre os registros
junto ao cartoacuterio de imoacuteveis ldquoE natildeo poderia ser diferente pois o Registro de Imoacuteveis atua no
43
direito ambiental como ator coadjuvante reforccedilando a publicidade legal bem como
cooperando com o cumprimento e garantia das obrigaccedilotildees ambientaisrdquo (MELO 2010 p79)
Natildeo obstante malgrado existia a obrigaccedilatildeo legal de todo proprietaacuterio averbar a
aacuterea de RLF no Registro de Imoacuteveis o fato eacute que pequena porcentagem dos proprietaacuterios
procedeu agrave sua especializaccedilatildeo ldquoA razatildeo eacute simples trata-se de norma incompleta foi criada a
obrigaccedilatildeo mas propositalmente a sanccedilatildeo foi esquecidardquo (MELO 2010 p56)
Com a lei 126512012 (BRASIL 2012) ou Novo Coacutedigo Florestal esse
procedimento mudou Logo natildeo se deve mais averbar a reserva legal no registro do imoacutevel
Agora a obrigaccedilatildeo passou a ser o cadastramento da propriedade rural no Cadastro Ambiental
Rural (CAR) O atual meacutetodo consiste na inscriccedilatildeo do imoacutevel a partir da identificaccedilatildeo do
proprietaacuterio ou possuidor rural apresentaccedilatildeo de documento que comprove a propriedade ou a
posse e a identificaccedilatildeo do imoacutevel por meio de planta e memorial descritivo contendo a
indicaccedilatildeo das coordenadas geograacuteficas com pelo menos um ponto de amarraccedilatildeo do periacutemetro
do imoacutevel informando a localizaccedilatildeo dos remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa das Aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente das Aacutereas de Uso Restrito das aacutereas consolidadas e caso existente
tambeacutem da localizaccedilatildeo da Reserva Legal
No entanto o CAR ainda natildeo estaacute implantado no Cearaacute o que eacute realidade em
vaacuterios outros estados tambeacutem A obrigatoriedade de inscriccedilatildeo neste Cadastro eacute de ateacute dois
anos apoacutes sua implementaccedilatildeo que ateacute o momento natildeo aconteceu Todavia o secretaacuterio de
Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentaacutevel Sr Paulo Guilherme Cabral afirmou em
21052013 que o lanccedilamento em acircmbito nacional do Cadastro Ambiental Rural (CAR) deve
ocorrer ateacute o iniacutecio de junho e para agilizar a inscriccedilatildeo de mais de 5 milhotildees de propriedades
o Ministeacuterio do Meio Ambiente tem buscado ajuda de sindicatos cooperativas e associaccedilotildees
do setor agriacutecola aleacutem de outros oacutergatildeos puacuteblicos7 Infelizmente nada aconteceu ateacute e apoacutes
aquela previsatildeo
Contraditoriamente natildeo existe um prazo para o governo implantar o CAR mas
para o proprietaacuterio ou posseiro sim quando o cadastro dos imoacuteveis estiver disponiacutevel O
impasse eacute o que fazer o dono da terra aguarda o novo procedimento vigorar ou adota o
meacutetodo anterior
7 Conferir notiacutecia publicada em 22052013 no site lthttpsouagrocombrlancamento-nacional-do-car-deve-
sair-ate-junhogt
44
2 Processo de Degradaccedilatildeo
21 Conceito
A degradaccedilatildeo de uma forma geral eacute ldquoa ocorrecircncia de modificaccedilotildees fiacutesicas
metaboacutelicas ou quiacutemicas para uma forma menos complexa E a degradaccedilatildeo ambiental eacute a
alteraccedilatildeo das caracteriacutesticas do meio ambienterdquo (GUERRA et al 2009 p108) Jaacute o inciso II
do artigo 3ordm da Lei 693881 (BRASIL 1981) descreve a degradaccedilatildeo da qualidade ambiental
como alteraccedilatildeo adversa das caracteriacutesticas do meio ambiente
Para Arauacutejo et al (2008 p 19) ldquoa degradaccedilatildeo das terras envolve a reduccedilatildeo dos
potenciais recursos renovaacuteveis por uma combinaccedilatildeo de processos agindo sobre a terrardquo Os
autores ainda atestam que
Tal reduccedilatildeo levando ao abandono ou ldquodesertificaccedilatildeordquo da terra [] pode ser por
processos naturais como por exemplo o ressecamento do clima atmosfeacuterico
processos naturais de erosatildeo alguns outros de formaccedilatildeo do solo ou uma invasatildeo
natural de plantas ou animais nocivos Pode tambeacutem ocorrer por accedilotildees antroacutepicas
diretamente sobre o terreno ou indiretamente em razatildeo das mudanccedilas climaacuteticas
adversas induzidas pelo homem (ARAUacuteJO et al 2008 p 19)
Para a Food and Agriculture Organizations of the United Nations - FAO
(Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e Agricultura) o conceito de degradaccedilatildeo
de terras se refere ldquoagrave deterioraccedilatildeo ou perda total da capacidade dos solos para uso presente e
futurordquo (FAO 1980 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 23)
Observa-se portanto que a degradaccedilatildeo ambiental se natildeo combatida pressupotildee
um processo criacutetico e muito seacuterio o da desertificaccedilatildeo Eacute como considera Sales (2002) e ainda
afirma que o potencial natural das terras quanto agrave degradaccedilatildeo e a accedilatildeo antroacutepica
desencadeiam a desertificaccedilatildeo
O processo de degradaccedilatildeo ambiental pode ocorrer a partir de um ambiente que jaacute
possui caracteriacutesticas naturais limitantes eou extremas onde nele eacute inserido o fator antroacutepico
seja pela simples ocupaccedilatildeo de uma populaccedilatildeo naquela aacuterea seja pelo manejo inadequado dos
recursos naturais ali presentes De outra forma a degradaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel em ambientes
sem fragilidades naturalmente aparentes
A degradaccedilatildeo ambiental advinda da intervenccedilatildeo humana num cenaacuterio mundial
traduz-se em 15 das terras jaacute comprometidas pelas atividades humanas sendo que na
Ameacuterica do Sul dentro daquele percentual encontrou-se 1 de terras devastadas 11 de
terras leve ou moderadamente degradadas e 1 de terra forte ou extremamente degradada8
As estimativas apontam uma expansatildeo anual de 5 a 12 milhotildees de hectares de solo de um
total de 48 bilhotildees de hectares de aacutereas cultivaacuteveis e pastos ainda existentes e segundo a
ISRICUNEP (1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 28) isso resulta na seguinte constataccedilatildeo
A degradaccedilatildeo ambiental causa a perda de aproximadamente 14 milhotildees de
toneladas de gratildeos anualmente isto eacute metade da quantidade necessaacuteria para cobrir
as necessidades da populaccedilatildeo global adicional para o mesmo periacuteodo E no aspecto
financeiro para Blaikie e Brookfiel (1987) a produtividade do trabalho eacute atingida
desfavoravelmente pois a degradaccedilatildeo ambiental consome diretamente o produto do
trabalho e tambeacutem o aporte de capital na produccedilatildeo A qualidade de vida diminui
porque satildeo necessaacuterios mais tempo e um trabalho mais duro para se obter o mesmo
produto isso sem mencionar as medidas conservacionistas no campo fertilizaccedilatildeo
mais intensa ou a abertura de aacutereas para lavouras ou pastos cada vez mais distantes
[] Em ocasiotildees mais raras mas tambeacutem tatildeo dramaacuteticas a degradaccedilatildeo ambiental
forccedila o deslocamento da populaccedilatildeo Centenas de milhares de hectares tecircm de ser
abandonados a cada ano por estarem degradados demais para o cultivo ou ateacute
mesmo para pastagens (ARAUacuteJO et al 2008 p 31)
Em se tratando de semiaacuterido os recursos ambientais satildeo fraacutegeis e associados a
este quadro haacute uma populaccedilatildeo que por sua vez lanccedila matildeo dos bens naturais produzindo uma
deterioraccedilatildeo ambiental ldquoO Cearaacute por conseguinte apresenta extensas aacutereas com problemas
relativos agrave degradaccedilatildeo ambiental principalmente a desertificaccedilatildeordquo (IRAUCcedilUBA 2009 p 7)
Eacute o caso de Irauccediluba por causa da degradaccedilatildeo advinda do desmatamento e das
queimadas que exaurem os nutrientes do solo a agricultura de subsistecircncia colhe em gratildeos
menos de 500 kgha enquanto que a produccedilatildeo potencial seria cerca de 2000 kgha
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Isso explica a baixa participaccedilatildeo da agricultura na
produccedilatildeo agropecuaacuteria do municiacutepio E ldquoessa produccedilatildeo sequer paga os custos da lavoura de
forma que os pequenos produtores estatildeo pagando para plantar na maioria dos casosrdquo
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 18) As consequecircncias sociais disto satildeo ldquoum ciclo de
pobreza e miseacuteria tornando a regiatildeo cada vez mais vulneraacutevelrdquo (SALES 2002 p116)
Em niacutevel mais criacutetico segundo as Naccedilotildees Unidas a desertificaccedilatildeo degrada 60 mil
km2 de terras feacuterteis por ano em todo o mundo provocando perdas de 4 bilhotildees de doacutelares na
economia mundial No Brasil estima-se que essas perdas atinjam 100 milhotildees de doacutelares9
Por fim ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013) entendem que a degradaccedilatildeo em terras
brasileiras remonta o tempo dos colonizadores pois estes aplicavam diretamente meacutetodos e
praacuteticas proacuteprios para solos de clima temperado Assim as matas foram derrubadas queimou-
se a vegetaccedilatildeo em larga escala e lavouras nocircmades foram estabelecidas aproveitou-se o humo
8 Conferir ISRICUNEP 1991 In Arauacutejo et al 2008 p 27
9 Conferir RODRIGUES (2006) in CEARAacute 2010
46
onde este jaacute existia expuseram-se os solos agrave erosatildeo enfim saquearam-se os recursos naturais
renovaacuteveis ldquoNo caso do Cearaacute documenta-se que em 1861 a Comissatildeo Cientiacutefica enviada
para estudar o Nordeste registrava a destruiccedilatildeo acelerada da vegetaccedilatildeo principalmente nos
contrafortes das serras em virtude dos desmatamentos e queimadas para plantio de
mandiocardquo ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013 p 8)
Para uma melhor compreensatildeo quanto agrave intervenccedilatildeo humana negativa no
ambiente aponta-se o esquema proposto na figura 3 a seguir resumindo o processo de
degradaccedilatildeo ambiental apresentado pelo PAE10
(CEARAacute 2010b)
Figura 3 Sistema de Degradaccedilatildeo do Meio Ambiente Adaptado de Tricart (apud Souza 2000)
Fonte PAE (CEARAacute 2010b p 30)
10
PAECE ndash Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca
(CEARAacute 2010)
47
22 Degradaccedilatildeo Ambiental
A degradaccedilatildeo tem vaacuterias causas dentre elas a erosatildeo e o manejo inadequado do
solo Em se tratando deste uacuteltimo pode-se destacar as atividades agropecuaacuterias e suas
praacuteticas como por exemplo o desmatamento desmedido e irracional a irrigaccedilatildeo de forma
errada salinizando ou encharcando o solo o sobrepastoreio que compacta o solo e o uso de
defensivos agriacutecolas que provocam a contaminaccedilatildeo do solo e eliminam os microorganismos
ali presentes Deduz-se portanto que isso eacute um reflexo derivado de uma estrutura fundiaacuteria
extremamente riacutegida onde satildeo desenvolvidas aquelas atividades com baixo niacutevel tecnoloacutegico
levando a praacuteticas agriacutecolas predatoacuterias (SALES 2002 p116)
Com as causas naturais e as provocadas pelo homem quanto agrave degradaccedilatildeo do solo
expostas na tabela 2 a compreensatildeo fica mais clara
Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras
FATORES ACcedilOtildeES ANTROacutePICAS CONDICcedilOtildeES NATURAIS
Facilitadores
Desmatamento
Permissatildeo do superpastoreio
Uso excessivo da vegetaccedilatildeo
Taludes de corte
Remoccedilatildeo da cobertura vegetal para o cultivo
Topografia
Textura do solo
Composiccedilatildeo do solo
Cobertura vegetal
Regimes hidrograacuteficos
Diretos
Uso de maacutequinas
Conduccedilatildeo do gado
Encurtamento do pousio
Entrada excessiva de aacutegua drenagem insuficiente
Excesso de fertilizaccedilatildeo aacutecida
Uso excessivo de produtos quiacutemicos estrume
Disposiccedilatildeo de resiacuteduos domeacutesticos industriais
Chuvas fortes
Alagamentos
Ventos fortes
Fonte FAO (1980 apud Arauacutejo et al 2008 p 33)
Entendem Arauacutejo et al (2008 p 29) que as consequecircncias disto no meio rural satildeo
Um decliacutenio na produtividade ou uma necessidade crescente do aporte de nutrientes
para manter as mesmas produtividades uma vez que os ldquosubsolos geralmente
contem menos nutrientes do que as camadas superioresrdquo sendo necessaacuterio mais
fertilizante para manter a produtividade das culturas Isso por sua vez aumenta os
custos da produccedilatildeo
Partindo dessas constataccedilotildees conclui-se que satildeo seacuterias as consequecircncias
ambientais sociais e econocircmicas a esse respeito por isso satildeo necessaacuterias medidas mitigadoras
que visem minimizar esses impactos bem como meios de recuperar os danos jaacute existentes
A questatildeo torna-se ainda mais preocupante quando o olhar recai sobre os
processos de formaccedilatildeo do solo que segundo Kendall e Pimentel (1994 apud ARAUacuteJO et al
48
2008 p 21) ldquosatildeo lentos e necessitam de duzentos a mil anos para formar 25cm de solos e
isso sob condiccedilotildees agriacutecolas normaisrdquo Dessa forma a degradaccedilatildeo do solo eacute muito mais
criacutetica uma vez que eacute quase irreversiacutevel quando se trata do lapso temporal para se regenerar
ldquoA irreversibilidade tambeacutem ocorre quando o clima e as atividades humanas se combinam
tornando um solo anteriormente sadio em aacuterea devastadardquo (ARAUacuteJO et al 2008 p 2021)
221 Erosatildeo
Eacute o processo natural de decomposiccedilatildeo e transporte de sedimentos que altera as
formas de relevo Causada por agentes como vento chuvas aacuteguas correntes pode ser
acelerada por intervenccedilotildees humanas como por exemplo o desmatamento (TRIGUEIRO
2005 apud GUERRA 2009 p 129)
Arauacutejo et al (2008 p 34) afirmam que ldquoembora a erosatildeo possa ocorrer sem a
intervenccedilatildeo humana na praacutetica ela geralmente eacute iniciada eou acelerada por atividades
antroacutepicas que causam o desaparecimento da cobertura protetora da vegetaccedilatildeo natural ou
danificam a estrutura do solordquo
No PAN (BRASIL 2004 p 42) consta que ldquoa resultante do antropismo eacute
principalmente a erosatildeo particularmente a laminarrdquo que se inicia com a destruiccedilatildeo da
cobertura vegetal
A erosatildeo pode ser pela accedilatildeo da aacutegua eou do vento Em ambos os casos a camada
superficial do solo eacute retirada Para Arauacutejo et al (2008 p 24) ldquoa erosatildeo eoacutelica eacute mais comum
em climas aacuterido e semiaacuterido e eacute considerada uma forma de degradaccedilatildeo bem como a da aacutegua
que pode ateacute deformar o terreno formando ravinas e voccedilorocasrdquo Uma consequecircncia grave
disto segundo os mesmos autores eacute a reduccedilatildeo da fertilidade pelos motivos a seguir Menor
penetraccedilatildeo de raiacutezes em decorrecircncia de um solo menos denso e mais fino Reduccedilatildeo na
capacidade de retenccedilatildeo de aacutegua Varredura dos nutrientes utilizados pelas plantas
Para a FAO segundo Arauacutejo et al (2008 p 30) ldquoaproximadamente 25 bilhotildees de
toneladas de solo satildeo erodidos a cada ano sendo 17 toneladas por hectare cultivadordquo
222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica
Dentro do que jaacute foi citado anteriormente a (1) irrigaccedilatildeo inadequada que saliniza
ou encharca o solo e o (2) uso de defensivos agriacutecolas contaminando e eliminando os
49
microorganismos satildeo soacute algumas causas deste tipo de degradaccedilatildeo Aleacutem destas tem-se a (3)
acidificaccedilatildeo e o (4) esgotamento do solo causando a perda de nutrientes Para Arauacutejo et al
(2008 p 25) ldquoa salinizaccedilatildeo pode ser resultado de manejo mal realizado da irrigaccedilatildeo da alta
concentraccedilatildeo de sais na aacutegua ou atenccedilatildeo indevida agrave drenagem Esta acarreta a salinizaccedilatildeo dos
solos especialmente em regiotildees aacuteridas por que as altas taxas de evaporaccedilatildeo estimulam o
processordquo E ainda por atividades humanas que elevam a evaporaccedilatildeo em solos com material
salino ou com lenccedilol freaacutetico salino (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25)
Segundo o PAN (BRASIL 2004 p 64) ldquoa irrigaccedilatildeo produz impactos
indesejaacuteveis em qualquer aacuterea semiaacuteridardquo se realizada de forma inadequada e sem o recurso
da drenagem Complementa ainda o documento ao dizer que
Um solo submetido agrave irrigaccedilatildeo estaacute salinizado quando a concentraccedilatildeo de sais nesse
terreno se eleva a ponto de prejudicar o rendimento econocircmico das culturas A
salinizaccedilatildeo do solo afeta a germinaccedilatildeo e a densidade das culturas bem como seu
desenvolvimento vegetativo reduzindo a produtividade das lavouras Nos casos
limites a salinizaccedilatildeo pode levar agrave morte generalizada das plantas inviabilizando o
cultivo das terras afetadas (BRASIL 2004 p 64)
Aleacutem disso o uso excessivo de agrotoacutexicos eacute tido como poluiccedilatildeo e pode levar agrave
reduccedilatildeo do potencial agriacutecola da terra Resiacuteduos industriais e urbanos tambeacutem podem poluir
terras agricultaacuteveis O esgotamento do solo pelo plantio excessivo de culturas sem promover
um pousio miacutenimo do terreno exaure os nutrientes daquela aacuterea Isso eacute comum onde a
agricultura eacute praticada em solos pobres ou moderadamente feacuterteis sem a aplicaccedilatildeo suficiente
de esterco ou fertilizante (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25) E por fim
a acidez pode ser provocada quando se utiliza muitos fertilizantes aacutecidos ou em decorrecircncia
da maacute drenagem em alguns tipos de solo
223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica
Conhecidos pela compactaccedilatildeo do solo elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico e pelo
rebaixamento da superfiacutecie da terra (subsidecircncia) a esses tipos de degradaccedilatildeo natildeo se pode
deixar de somar uma causa precursora que eacute o desmatamento desmedido e irracional
deixando o solo nu e exposto agraves intempeacuteries do tempo Da mesma forma entende Cruz (1994
p 135-147 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 35) ao afirmar que ldquoa remoccedilatildeo da cobertura vegetal
inicia ou acelera a erosatildeo do solo sob a accedilatildeo da chuva e do vento de igual modo a queimada
visando o controle de ervas estimula a lixiviaccedilatildeo e a perda do solordquo
50
A compactaccedilatildeo do solo como o resultado do uso de maacutequinas pesadas em solos
instaacuteveis bem como o pisoteio do gado que via de regra eacute agravado por um
sobrepastoreio da aacuterea O impacto das gotas de chuva provoca tambeacutem o selamento
e encrostamento do solo A elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico eacute ocasionada pelo
encharcamento da terra que por sua vez natildeo tem na mesma proporccedilatildeo a capacidade
de drenagem (ARAUacuteJO et al 2008 p 25)
23 A degradaccedilatildeo em Irauccediluba
Em Irauccediluba as praacuteticas agriacutecolas e a pecuaacuteria satildeo muito ofensivas aos recursos
naturais Isso se deve agrave capacidade de suporte do ambiente que natildeo eacute respeitada gerando
impactos e danos ambientais seacuterios e de caraacuteter praticamente irreversiacuteveis O sobrepastejo de
bovinos ovinos e caprinos o desmatamento e as queimadas deixam a regiatildeo com um niacutevel de
degradaccedilatildeo altiacutessimo ateacute porque suas condiccedilotildees naturais jaacute satildeo adversas E ainda haacute outro
fator agravante - o tempo de recuperaccedilatildeo natural tambeacutem natildeo eacute observado nem cumprido
fragilizando por demais o ambiente
Para Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 7) ldquoA introduccedilatildeo da pecuaacuteria no nuacutecleo de
Irauccediluba trouxe a tiracolo a agricultura e a extraccedilatildeo de madeira A primeira baseava-se no
desmatamento indiscriminado e na queimada geral E a segunda na coleta da lenha sem
reposiccedilatildeo florestalrdquo Desta forma a degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba estaacute desenhada por
1 Superpastejo que causa prejuiacutezos sensiacuteveis agrave vegetaccedilatildeo pelo consumo das
cascas dos troncos de aacutervores e arbustos e pela remoccedilatildeo das placircntulas das espeacutecies
arboacutereas e arbustivas Nessas condiccedilotildees mudanccedilas na composiccedilatildeo floriacutestica da
vegetaccedilatildeo podem resultar em virtude do desaparecimento das espeacutecies lenhosas
forrageiras o que em aacutereas de vegetaccedilatildeo degradada acelera o processo de
desertificaccedilatildeo Em aacutereas de caatinga o pastejo por ovinos induz mudanccedilas
significativas na composiccedilatildeo botacircnica do estrato herbaacuteceo com a reduccedilatildeo da
participaccedilatildeo das gramiacuteneas mesmo em condiccedilotildees de pastoreio moderado Nesse
contexto o sobrepastejo por ovinos pode resultar no desaparecimento das gramiacuteneas
e ao final de toda cobertura herbaacutecea da vegetaccedilatildeo expondo o solo aos efeitos da
erosatildeo (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 78)
2 Agricultura rudimentar que pratica o desmatamento e faz uso do fogo O
impacto deste sobre o ecossistema eacute onipresente e caracteriza-se pela queda da
produccedilatildeo agriacutecola pela degradaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa pela erosatildeo dos solos pela
perda da biodiversidade da flora e da fauna e pelo assoreamento e salinizaccedilatildeo dos
mananciais pela perda da resiliecircncia aumentando sua fragilidade diante das
variaccedilotildees climaacuteticas tiacutepicas das regiotildees semiaacuteridas Aleacutem disto os desmatamentos e
queimadas seguidos por um curto periacuteodo de pousio terminam por levar a vegetaccedilatildeo
a um disclimax dominado por arbustos uma vez que o banco de sementes das
arboacutereas praticamente desapareceu (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 918)
3 Manejo inadequado do solo associado ao relevo da regiatildeo Satildeo trecircs tipos de
solo que se destacam em Irauccediluba litoacutelicos planossolos e luvissolos Por conta da
declividade de 8 a 45 os agricultores optam pelas terras nas encostas para
implantar os roccedilados pois haacute um menor risco de perder a safra em funccedilatildeo do
alagamento comum nas terras planas do municiacutepio durante a eacutepoca das chuvas
Nestas condiccedilotildees as perdas de solo por erosatildeo satildeo assombrosas Aleacutem disto haacute a
erosatildeo nos planossolos provocada pelo sobrepastejo com perdas de solo superiores a
51
17 tha em uma uacutenica estaccedilatildeo das chuvas o que enfatiza a importacircncia da cobertura
vegetal na proteccedilatildeo contra a erosatildeo (apud SALES 2003) Como consequecircncia do
sobrepastejo continuado ao longo provavelmente de centenas de anos a erosatildeo
laminar jaacute removeu porccedilatildeo significativa do horizonte A expondo em alguns casos o
horizonte B textural Aleacutem disso houve uma exaustatildeo dos nutrientes do solo
principalmente do foacutesforo Outro fator que tambeacutem intensifica a degradaccedilatildeo eacute o
curtiacutessimo periacuteodo de repouso Estima-se em 50 anos o tempo necessaacuterio para que a
vegetaccedilatildeo da caatinga em um luvissolo que foi destruiacuteda pela queimada do roccedilado
volte pela sucessatildeo secundaacuteria ao cliacutemax original Ora na regiatildeo este periacuteodo estaacute
reduzido a cerca de oito anos Com isto natildeo haacute a recuperaccedilatildeo da fertilidade do solo e
a recomposiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo Isto porque a velocidade de crescimento das arboacutereas
da caatinga eacute muito variaacutevel (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 810)
Concluem portanto os autores Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 17) que ldquoas praacuteticas
rotineiramente adotadas do desmatamento e do fogo a exposiccedilatildeo do solo e a diminuiccedilatildeo do
periacuteodo de pousio tecircm induzido processos de degradaccedilatildeo mormente os de erosatildeordquo
231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia
A desertificaccedilatildeo eacute um problema ambiental que assola vaacuterias partes do mundo e
vem sendo discutido desde 1977 quando em Nairoacutebi no Quecircnia aconteceu a Conferecircncia
sobre Desertificaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas ldquoA observaccedilatildeo desse processo se atribui ao cientista
Aubreville que em 1949 constatou o prolongamento da degradaccedilatildeo para o norte das zonas
mais aacuteridas do Saara e para as regiotildees semiaacuteridas e subuacutemidas do norte da Aacutefricardquo (ARAUacuteJO
et al 2008 p 26) Em 1992 na ECO 92 foi definido o conceito de desertificaccedilatildeo cuja
ocorrecircncia se daacute em aacutereas aacuteridas semiaacuteridas e subuacutemidas secas O grau de aridez eacute
estabelecido pela relaccedilatildeo PEtp que eacute a razatildeo entre a meacutedia da precipitaccedilatildeo total anual e a
evapotranspiraccedilatildeo potencial do mesmo periacuteodo metodologia esta desenvolvida por
Thornthwaite (1955) Desta forma definiu-se uma correspondecircncia entre o clima e o
resultado da relaccedilatildeo acima conforme mostra a tabela 3
Tabela 3 ndash Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez
CLIMA P ETP
Hiper-aacuterido lt 005
Aacuterido De 005 a 020
Semiaacuterido gt 020 a 050
Subuacutemido Seco gt 050 a 065
Subuacutemido Uacutemido gt 065
Fonte United Nations Environment Programme ndash UNEP (Programa
Ambiental das Naccedilotildees Unidas) 1992
52
Eacute interessante mencionar que o semiaacuterido brasileiro delimitado pela uacuteltima vez
em 1995 foi novamente demarcado a partir da iniciativa do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
Nacional (MIN) que instituiu um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) envolvendo
departamentos empresas institutos agecircncias e ateacute bancos puacuteblicos para a readequaccedilatildeo dos
criteacuterios propostos pela Lei 782789 (BRASIL 1989c) Somente a inserccedilatildeo do municiacutepio na
aacuterea de abrangecircncia da extinta Superintendecircncia de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)
e a precipitaccedilatildeo meacutedia anual de ateacute 800 mm eram condiccedilotildees para enquadrar ou natildeo
determinado municiacutepio no semiaacuterido brasileiro (SUDENE 1990) Os novos paracircmetros satildeo
mais abrangentes pois aleacutem de considerar a precipitaccedilatildeo pluviomeacutetrica meacutedia anual inferior a
800 mm avaliam se o iacutendice de aridez do municiacutepio eacute de ateacute 05 ou se o risco de seca eacute maior
que 6011
Com a nova delimitaccedilatildeo em 2005 foram incorporados mais 102 municiacutepios aos
1031 jaacute classificados de forma que a aacuterea oficialmente semiaacuterida brasileira aumentou de
8923094 km2 para 9695894 km
2 ou seja um acreacutescimo de 866
12
A figura 4 ilustra o novo formato do semiaacuterido no Brasil E no Cearaacute foram
incorporados mais 16 totalizando 150 de um universo com 184 municiacutepios Isto significa
815 do estado e 132 de toda a regiatildeo semiaacuterida do paiacutes13
O quadro atual do semiaacuterido
cearense estaacute delineado na figura 5 a seguir
Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro
Fonte MIN (BRASIL 2005c)
11
Conferir Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro MI (BRASIL 2005c) 12
Idem 13
Ibidem
53
Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute
Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)
Com relaccedilatildeo ao processo de desertificaccedilatildeo no Brasil uma aacuterea de 900000 Kmsup2 eacute
atingida afetando direta ou indiretamente mais de 15 milhotildees de brasileiros natildeo existindo no
territoacuterio nacional outro problema ambiental que atinja tamanha aacuterea e tantas pessoas
(SUDENE 2000 apud IRAUCcedilUBA 2009) A regiatildeo nordeste por sua vez concentra as
Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) incluindo os espaccedilos semiaacuteridos e subuacutemidos
secos ambos de maior abrangecircncia fiacutesico-territorial vis-agrave-vis os outros espaccedilos naturais que
conformam e estruturam o Nordeste brasileiro (BRASIL 2004)
Pesquisadores apontam como principais causas de desertificaccedilatildeo no semiaacuterido
cearense a ocupaccedilatildeo desordenada do solo o desmatamento praacuteticas de queimadas (CEARAacute
2010b) Dentro desse raciociacutenio
Os estabelecimentos agropecuaacuterios ocupam o solo principalmente com lavouras
temporaacuterias e a criaccedilatildeo de animais Estas atividades muitas vezes satildeo executadas
sem preocupaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos e contribuem para
agravar o quadro de degradaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2010b p 103)
No mesmo sentido e no tocante agraves Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) o
PAN (BRASIL 2004) destaca que as condiccedilotildees ambientais dessas aacutereas (principalmente as de
54
clima solo aacutegua e vegetaccedilatildeo) associadas agrave pressatildeo exercida sobre os recursos naturais pela
accedilatildeo antroacutepica (pressatildeo populacional formas inadequadas de uso e ocupaccedilatildeo do solo entre
outros) vecircm contribuindo para a deflagraccedilatildeo de processos de desertificaccedilatildeo em algumas de
suas sub-regiotildees Um dos motivos para isso eacute a combinaccedilatildeo entre pobreza e desigualdade de
forma que
Uma imensa massa de pequenos agricultores descapitalizados confinados em
pequenas parcelas de terras de tais aacutereas (via de regra de meacutedia ou baixa fertilidade
natural) dependentes de seu trabalho para a produccedilatildeo de alimentos para
autoconsumo de forragens para seus animais mas necessitando produzir excedentes
comercializaacuteveis tenderaacute naturalmente a sobreutilizar os recursos naturais
contribuindo dessa forma para agravar os processos de degradaccedilatildeo Nas ASD este
ciacuterculo vicioso eacute agravado pela ocorrecircncia de secas perioacutedicas que levam agrave perdas
significativas e recorrentes de produccedilatildeo e de renda Neste sentido as secas
potencializam o grau de degradaccedilatildeo levando a vulnerabilidade ambiental a niacuteveis
mais elevados Os efeitos das secas sobre a sauacutede e a inseguranccedila alimentar e
nutricional tambeacutem satildeo conhecidos e consideraacuteveis (BRASIL 2004 p 106)
Classificando a susceptibilidade dessas aacutereas Matallo Jr (1999) construiu uma
relaccedilatildeo entre a aptidatildeo agrave desertificaccedilatildeo em funccedilatildeo do iacutendice de aridez conforme se vecirc pela
tabela 4
Tabela 4 - Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo
IacuteNDICE DE ARIDEZ SUSCEPTIBILIDADE Agrave
DESERTIFICACcedilAtildeO
005 a 020 Muito Alta
021 a 050 Alta
051 a 065 Moderada Fonte MATALLO JR (1999)
Nesse iacutenterim o municiacutepio de estudo do corrente trabalho tem iacutendice de aridez
conforme adotado pela UNEP de acordo com o que ilustra na figura 6
55
Figura 6 Iacutendice de Aridez (UNEP) do municiacutepio de Irauccediluba
O Cearaacute por sua vez eacute ldquoo Estado com a maior aacuterea relativa sob niacuteveis altos de
desertificaccedilatildeordquo (LEMOS 1995 apud FOLHES e VIANA 2001 p 5) Seu processo de
ocupaccedilatildeo e uso de terras via de regra foi marcado pela apropriaccedilatildeo dos recursos naturais de
forma a degradaacute-los Esta foi uma das causas para a concepccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Estadual
de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (PAE) cujo objetivo eacute
Contribuir para a convivecircncia equilibrada com o semiaacuterido por meio da
sustentabilidade ambiental do bioma caatinga a partir de poliacuteticas ambientais
sociais e econocircmicas focadas na reduccedilatildeo da pobreza A gestatildeo do Programa
pressupotildee a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo
democraacutetico e a participaccedilatildeo da sociedade (CEARAacute 2010b p 20)
No Estado existem trecircs nuacutecleos em processo de desertificaccedilatildeo Localizam-se no
Sertatildeo dos Inhamuns Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte e Sertatildeo de Jaguaribe abrangendo
respectivamente os municiacutepios de Arneiroz Independecircncia e Tauaacute Canindeacute Irauccediluba
Miraiacutema e Santa Quiteacuteria Jaguaretama Jaguaribara Jaguaribe Alto Santo e Morada Nova
(CEARAacute 2010b) Totalizam portanto 12 cidades com os maiores iacutendices de degradaccedilatildeo
ambiental do estado portanto susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo num grau muito grave como se
pode ver pelas figuras 7 e 8
No entanto o presente trabalho se ateraacute tatildeo somente ao municiacutepio de Irauccediluba
abrangido pelo nuacutecleo Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte
Fonte NOLEcircTO (2005)
56
Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave
desertificaccedilatildeo no Cearaacute desertificaccedilatildeo
Fonte IPECE (CEARAacute 2010a) Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)
O PAE (CEARAacute 2010b) utilizou para a formulaccedilatildeo do iacutendice de susceptibilidade
agrave desertificaccedilatildeo indicadores sociais que apontam a forma de ocupaccedilatildeo e tudo que dela
decorre e indicadores econocircmicos que representam as atividades humanas exercidas no
municiacutepio Vale ressaltar que as caracteriacutesticas do meio ambiente da regiatildeo natildeo foram
ignoradas muito pelo contraacuterio elas definiram as aacutereas classificadas como susceptiacuteveis agrave
desertificaccedilatildeo A lista abaixo demonstra os criteacuterios mensurados e os aspectos ambientais
observados
Indicadores sociais
1 Proporccedilatildeo da aacuterea das grandes propriedades na aacuterea total dos imoacuteveis rurais em
2005
2 Razatildeo entre alfabetizados e natildeo-alfabetizados de 5 ou mais anos de idade em
2000
3 Taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais de idade em 2000
(percentagem)
4 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino fundamental da populaccedilatildeo de 7 a 14
anos de idade em 2005
5 Taxa de evasatildeo no ensino fundamental em 2005
57
6 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino meacutedio da populaccedilatildeo de 15 a 17 anos de
idade em 2005
7 Taxa de evasatildeo escolar no ensino meacutedio em 2005
8 Densidade demograacutefica em 2006 (habitanteskm2)
Indicadores econocircmicos
1 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de carvatildeo vegetal pela aacuterea do municiacutepio em 2006
(tonha)
2 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de lenha pela aacuterea do municiacutepio em 2006 (m3ha)
3 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)
4 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)
5 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como pequena
propriedade em 2005 (haimoacutevel)
6 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como minifuacutendio em
2005 (haimoacutevel)
7 Razatildeo do consumo de energia eleacutetrica rural por consumidores de energia eleacutetrica
rural em 2005
8 Proporccedilatildeo de induacutestrias de transformaccedilatildeo no total de empresas industriais ativas
em 2005
9 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de feijatildeo em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
10 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com arroz em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
11 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com milho em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
12 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de mandioca em 2006 na aacuterea total dos
estabelecimentos agropecuaacuterios em 1996
13 Razatildeo do efetivo de bovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
14 Razatildeo do efetivo de ovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
15 Razatildeo do efetivo de caprinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
16 Razatildeo do efetivo de suiacutenos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
17 Produto Interno Bruto per capita a preccedilos de mercado em 2004
Caracteriacutesticas ambientais
1 Degradaccedilatildeo da cobertura vegetal
2 Assoreamento dos rios
3 Pastoreio excessivo
4 Perda da biodiversidade
5 Perda da capacidade produtiva do solo
6 Baixa relaccedilatildeo entre capacidade produtiva dos recursos naturais e sua capacidade
de recuperaccedilatildeo
A anaacutelise dos 25 paracircmetros entremeados com as condiccedilotildees ambientais estaacute
devidamente compilada no Quadro 2 ndash Caracterizaccedilatildeo das ASDs nos Sertotildees de Irauccediluba e
Centro-Norte do PAE (CEARAacute 2010b) As constataccedilotildees ensejam problemas no meio
ambiente a partir dos inuacutemeros gargalos sociais e econocircmicos como por exemplo a produccedilatildeo
agriacutecola em lavouras temporaacuterias na maior proporccedilatildeo dos estabelecimentos rurais o grande
iacutendice de pobres da regiatildeo o consumo de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo cada vez maior
58
Natildeo se pode deixar de mencionar os problemas ambientais que deixam a aacuterea em
questatildeo muito mais vulneraacutevel aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas e da desertificaccedilatildeo Satildeo
eles degradaccedilatildeo dos solos e da cobertura vegetal primaacuteria o sobrepastoreio o
desencadeamento e expansatildeo de processos erosivos acelerados com ocorrecircncia muito
frequente de afloramentos rochosos e chatildeos pedregosos perda de solos e biodiversidade
empobrecida baixa frequecircncia de espeacutecies lenhosas da caatinga e processos erosivos muito
ativos em funccedilatildeo do aumento da torrencialidade do escoamento superficial
Assim conclui-se que natildeo haacute como dissociar o quadro social e econocircmico das
nuances ambientais de um municiacutepio ou regiatildeo
Em se tratando da ASD nos Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte faz-se necessaacuterio
expor os nuacutemeros encontrados e as respectivas conclusotildees a partir dos levantamentos feitos
pelo PAE (CEARAacute 2010b) O Iacutendice Econocircmico e Social de Susceptibilidade agrave
Desertificaccedilatildeo (IESSD) ilustrado pelas figuras 9 e 10 por exemplo aponta as possiacuteveis causas
e os principais agentes causadores do processo de desertificaccedilatildeo sem quantificar ou mensurar
seu niacutevel
Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no Iacutendice Social de Susceptibilidade agrave
Desertificaccedilatildeo (ISSD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)
Fonte PAE (CEARAacute 2010b)
0
5
10
15
20
25
30
Contribuiccedilatildeo no ISSD ()
59
Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no Iacutendice Econocircmico de Susceptibilidade agrave
Desertificaccedilatildeo (IESD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)
Fonte PAE (CEARAacute 2010b)
Assim analisando os dois graacuteficos acima eacute possiacutevel perceber que sob o aspecto
social a concentraccedilatildeo de terras e a educaccedilatildeo datildeo a maior contribuiccedilatildeo ao iacutendice de
susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo enquanto que no vieacutes econocircmico destacam-se as aacutereas
destinadas a imoacuteveis rurais e o PIB ldquoper capitardquo Eacute um cenaacuterio deveras preocupante visto que
aquela regiatildeo jaacute eacute dotada de condiccedilotildees naturais adversas Uma populaccedilatildeo sem educaccedilatildeo
inserida num niacutevel de pobreza e ocupante de grande parte da zona rural que eacute onde as
atividades potencialmente degradadoras satildeo praticadas traduz uma combinaccedilatildeo
extremamente alarmante pois fazem uso de praacuteticas predatoacuterias e potencializam a
susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo
Segundo o PAE (CEARAacute 2010b p 123) nessa regiatildeo satildeo observadas ldquomarcas
configuradas de desertificaccedilatildeo como o elevado estaacutegio de degradaccedilatildeo do solo comprometendo
os processos naturais de sucessatildeo processos erosivos acelerados perda de solo e
biodiversidade espeacutecies lenhosas rarefeitasrdquo
05
1015202530354045
Contribuiccedilatildeo no IESD ()
60
Sob um olhar mais aprofundado voltado agrave Irauccediluba haacute maior destaque para as
atividades de agricultura e pecuaacuteria Lavouras temporaacuterias como feijatildeo milho e mandioca satildeo
as mais praticadas pelo pequeno agricultor A figura 11 aponta o percentual de
estabelecimentos ocupados com atividades agropecuaacuterias no municiacutepio
Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios Adaptado
Fonte PAE (CEARAacute 2010b)
Com relaccedilatildeo agrave extraccedilatildeo legalizada de madeira no municiacutepio de Irauccediluba o IBGE
informa que tanto a produccedilatildeo de carvatildeo como o corte de lenha entre 2004 a 2011 foi estaacutevel
Aquela girou em torno de 71 toneladas com um custo variaacutevel de R$ 1100000 a 2300000
ao ano enquanto que este ficou na casa dos 10000 m3 resultando num rendimento que
oscilou de R$ 4200000 a R$ 5700000 anuais14
Por fim Irauccediluba embora representando um dos quatro nuacutecleos de desertificaccedilatildeo
do Nordeste natildeo apresenta a pior condiccedilatildeo socioeconocircmica considerando a maioria dos
indicadores analisados (CEARAacute 2010b) Desta forma conclui-se que estes aspectos natildeo
determinam a desertificaccedilatildeo mas influenciam principalmente se as condiccedilotildees ambientais satildeo
limitantes Assim uma economia e uma sociedade deficientes inseridas num ambiente fraacutegil
natildeo tecircm como deixar de gerar degradaccedilatildeo
14
Conferir em lthttpwwwibgegovbrcidadesatxtrasperfilphpcodmun=230610ampsearch=ceara|iraucubagt
0
10
20
30
40
50
60
Irauccediluba
61
24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo do processo de degradaccedilatildeo
Embora o quadro de degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba seja por demais
preocupante ainda haacute condiccedilotildees para sua reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica a partir de
teacutecnicas e praacuteticas correspondentes ao tipo de solo ao estaacutegio de degradaccedilatildeo da aacuterea e ao
histoacuterico do uso da terra (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Continuam os autores
Assim considerando as extensotildees sob o planossolo que ocupam uma aacuterea total de
27321 ha duas recomendaccedilotildees podem ser propostas a regeneraccedilatildeo natural e a
adubaccedilatildeo organo-mineral A regeneraccedilatildeo natural eacute um processo muito lento e no
caso do planossolo de Irauccediluba dificilmente proporcionaraacute condiccedilotildees para retorno agrave
produtividade esperada [](ARAUacuteJO FILHO 1992) Entatildeo estaacute claro que a
recuperaccedilatildeo natural via pousio eacute muito lenta mas constitui uma opccedilatildeo em muitos
casos A aplicaccedilatildeo de adubo orgacircnico (estercos) eacute outra alternativa de recuperaccedilatildeo
pastoril que poderia ser utilizada no nuacutecleo de Irauccediluba Assim a fertilizaccedilatildeo com
foacutesforo constitui uma boa opccedilatildeo para a recuperaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica das
pastagens degradadas nos planossolos do nuacutecleo de Irauccediluba (ARAUacuteJO FILHO e
SILVA 2013 p 1013)
Outros fatores que envolvem o processo de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo
em Irauccediluba segundo Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 15) eacute ldquoa fixaccedilatildeo da agricultura no
terreno a sustaccedilatildeo do desmatamento e do uso do fogo visando agrave mitigaccedilatildeo dos impactos
antroacutepicos negativos a recuperaccedilatildeo dos agroecossistemas o aumento da produtividade
agriacutecola e da renda familiarrdquo Para tanto os mesmos autores sugerem que
A agrossilvicultura eacute com certeza o modelo de exploraccedilatildeo da terra mais apropriado
Dentre os modelos de sistemas agroflorestais o silvopastoril e o agrossilvipastoril
seriam os mais indicados para as condiccedilotildees de Irauccediluba O primeiro associa o
manejo florestal com a exploraccedilatildeo pastoril e o segundo associa o manejo florestal a
exploraccedilatildeo pastoril e a agricultura formando o sistema lavoura-pecuaacuteria-floresta O
modelo silvopastoril pode ser estabelecido seja para ter a madeira como o principal
produto seja para ter na exploraccedilatildeo animal a principal atividade (ARAUacuteJO FILHO
e SILVA 2013 p 15)
[]
A opccedilatildeo pela agrossilvicultura como a alternativa mais apropriada para a
reabilitaccedilatildeo dos solos de potencial agriacutecola mais elevado fundamenta-se na garantia
que este sistema de uso da terra traz a seguranccedila ambiental e a seguranccedila alimentar
No primeiro caso o solo eacute protegido contra a erosatildeo pelo acuacutemulo de serrapilheira
tem sua fertilidade reposta e sua biologia ativada pela deposiccedilatildeo da mateacuteria
orgacircnica Os recursos hiacutedricos satildeo beneficiados pela manutenccedilatildeo da mata ciliar
evitando o assoreamento das nascentes e reservatoacuterios e pela reduccedilatildeo das perdas de
aacutegua pelo solo A flora com a sustaccedilatildeo das queimadas e dos desmatamentos tem sua
biodiversidade incrementada e integraccedilatildeo das aacutervores no sistema produtivo
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2021)
Assim sendo o principal objetivo da recuperaccedilatildeo de uma aacuterea degradada deve ser
a recomposiccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica do solo Isto porque para que se restabeleccedila a
62
funcionalidade do ecossistema eacute fundamental a revitalizaccedilatildeo da biologia do solo principal
responsaacutevel pela circulaccedilatildeo de nutrientes15
Aleacutem disso continuam os mesmos autores
O aumento da mateacuteria orgacircnica e a formaccedilatildeo de uma cobertura morta sobre o solo o
protegeratildeo contra a erosatildeo laminar e melhoraratildeo sua capacidade de retenccedilatildeo de
aacutegua [] Os nutrientes de ecossistemas florestais de clima tropical se concentram
na biomassa e natildeo no solo como nos de clima temperado por isso os meacutetodos de
exploraccedilatildeo dos solos deveriam estar fundamentados no menor distuacuterbio possiacutevel do
meio bioloacutegico e no reforccedilo do aporte de mateacuteria orgacircnica (ARAUacuteJO FILHO e
SILVA 2013 p 710)
Nesse sentido para ambientes tropicais os sistemas de produccedilatildeo agroflorestais
(SAF) estatildeo sendo avaliados e propostos como alternativas ecologicamente sustentaacuteveis de
exploraccedilatildeo O uso de espeacutecies arboacutereas constitui a garantia de manter ativa a circulaccedilatildeo de
nutrientes e o aporte significativo de mateacuteria orgacircnica condiccedilatildeo essencial para se cultivar de
maneira continuada os solos tropicais16
No caso do bioma caatinga e de ambiente semiaacuterido segundo Arauacutejo Filho e silva
(2013) trecircs recomendaccedilotildees fundamentais garantem quando seguidas a sustentabilidade das
tecnologias de manipulaccedilatildeo
Preservaccedilatildeo de ateacute 400 aacutervores por hectare ou o equivalente a 40 de cobertura
utilizaccedilatildeo maacutexima de 60 da forragem disponiacutevel e preservaccedilatildeo da mata ciliar em
toda a malha de drenagem da pastagem Esta tecnologia jaacute vem sendo utilizada pelos
produtores na regiatildeo de Irauccediluba desde o iniacutecio da deacutecada de 1980 envolvendo
uma aacuterea de cerca de 3000 ha (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 1617)
Outras maneiras de controle e combate do processo de degradaccedilatildeo cuja iniciativa
vem do governo em suas diferentes formas e esferas satildeo os programas e as poliacuteticas puacuteblicas
a criaccedilatildeo de leis e normas sobre o tema a disponibilidade de recursos a fiscalizaccedilatildeo dos
oacutergatildeos competentes dentre outros
Ilustrando o primeiro exemplo em abril de 2011 a Superintendecircncia Estadual do
Meio Ambiente (SEMACE) e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) celebraram um convecircnio
de assistecircncia teacutecnica e financeira para a realizaccedilatildeo da pesquisa ldquoRevitalizaccedilatildeo da cobertura
vegetal nativa atraveacutes da recomposiccedilatildeo das matas ciliares e enriquecimento das aacutereas
destinadas a compor reserva legal dos imoacuteveis rurais do municiacutepio de Irauccedilubardquo Para a
consecuccedilatildeo dos objetivos propostos foi concedido um montante de R$ 4920000 (quarenta e
nove mil e duzentos reais) com fins de recuperar a qualidade do meio biofiacutesico atraveacutes do
plantio de essecircncias florestais nativas e plantas adaptadas agraves condiccedilotildees edafoclimaacuteticas da
aacuterea de abrangecircncia do projeto para
15
Como recomenda Lima (2009) In Arauacutejo Filho e Silva (2013) 16
Idem
63
1 Minimizar os impactos ambientais adversos causados pelos sistemas tradicionais
de exploraccedilatildeo econocircmica
2 Implantar um viveiro florestal permanente destinado agrave produccedilatildeo de mudas
nativas e adaptadas agraves condiccedilotildees locais associando-lhe atividades educativas e
de natureza formativa para o puacuteblico interessado
3 Incentivar o cultivo de essecircncias florestais nativas arboacutereas e frutiacuteferas que
contribuiratildeo para gerar alternativas de diversificaccedilatildeo de renda e por conseguinte
a melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo do municiacutepio
4 Fomentar a produccedilatildeo e o plantio de essecircncias florestais nativas ameaccediladas de
extinccedilatildeo
5 Viabilizar a recomposiccedilatildeo de matas ciliares dentro dos limites de abrangecircncia da
aacuterea das bacias hidrograacuteficas dos recursos hiacutedricos naturais denominados de
Riacho Aracatiaccedilu e Riacho Curu e do principal reservatoacuterio denominado de
Accedilude Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu seja em aacutereas de domiacutenio puacuteblico seja em
aacutereas de domiacutenio privado
6 Estabelecer a recuperaccedilatildeo da cobertura vegetal nativa de aacutereas de reserva legal
das propriedades rurais
O prazo do convecircnio era de doze meses ou seja ateacute abril de 2012 todavia foi
renovado por aditivo ateacute abril de 2013 Seu lanccedilamento soacute se deu em dezembro de 2011 e ateacute
agosto de 2012 o viveiro florestal ainda natildeo havia sido construiacutedo mas palestras com os
temas Desmatamento e Reserva Legal Fogo Desmatamento e Preservaccedilatildeo dos Accediludes
Resiacuteduos Soacutelidos Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal Aacuterea de
Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal foram ministradas pela SEMACE
Infelizmente nada mais foi feito pois dificuldades como a burocracia com o banco
financiador e a seca que assola o municiacutepio inviabilizando a produccedilatildeo e o plantio das mudas
levaram agrave extinccedilatildeo do convecircnio uma vez que seu prazo natildeo foi renovado numa segunda
oportunidade O recurso investido foi devolvido ao BNB e natildeo haacute qualquer previsatildeo de
retomada do projeto
Natildeo se pode deixar de registrar a indignaccedilatildeo que esse desfecho causa naqueles
que estudam e buscam uma saiacuteda Muitas vezes se natildeo todas as vezes ela existe mas eacute
deveras negligenciada ou pouco valorizada O que eacute que isso O Brasil eacute um paiacutes rico natildeo
falta recurso o que muito falta eacute vontade coragem e preferecircncia por aquilo que se deve
fazer Isto eacute um ultraje ao homem do campo que humilde e inocentemente espera confiante
em alguma providecircncia de seus representantes ou por quem faz as suas vezes
De modo diverso as normas 43 e 44 de 2005 (BRASIL 2005 a b) e a 512006
(BRASIL 2006a) que seratildeo explanadas no item 331 criadas pelo INCRA satildeo outras
medidas parecidas com o convecircnio citado acima pois tambeacutem foram elaboradas com o intuito
de recuperar e conservar os recursos naturais em aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e de
64
reserva legal mesmo sendo especiacuteficas para projetos de assentamento agraacuterio federal Atraveacutes
delas um determinado valor pode ser cedido por aquele oacutergatildeo e destinado agraves famiacutelias
assentadas para promoverem agrave implantaccedilatildeo de um projeto de recuperaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo
Como Poliacuteticas Puacuteblicas em niacutevel local e estadual que englobam o problema da
degradaccedilatildeo ambiental amplamente aqui discutido inclusive o mais seacuterio deles que eacute a
desertificaccedilatildeo destaca-se o Plano de Accedilatildeo Municipal de Combate agrave Desertificaccedilatildeo de
Irauccediluba (IRAUCcedilUBA 2009) e o Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e
Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (CEARAacute 2010b) O primeiro levou nove anos para se tornar
poliacutetica puacuteblica e contou com recursos do fundo de apoio a iniciativas locais de combate agrave
desertificaccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Nacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos
Efeitos da Seca (BRASIL 2004) Sua funccedilatildeo eacute orientar e desenvolver accedilotildees no sentido de
controlar e prevenir o avanccedilo da desertificaccedilatildeo e quando possiacutevel recuperar aacutereas degradadas
para o uso produtivo ou seja alcanccedilar o desenvolvimento sustentaacutevel nas aacutereas sujeitas agrave seca
e a desertificaccedilatildeo do Municiacutepio Como objetivos baacutesicos estatildeo as contribuiccedilotildees para
1 A formulaccedilatildeo do planejamento de uso sustentaacutevel dos recursos naturais do
Municiacutepio
2 A melhoria da produtividade e produccedilatildeo agriacutecola nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e
desertificaccedilatildeo
3 A reduccedilatildeo da vulnerabilidade e melhoria da qualidade de vida das populaccedilotildees
residentes nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e agrave desertificaccedilatildeo
4 A articulaccedilatildeo de accedilotildees setoriais do governo (em niacutevel federal estadual e
municipal) com vista agrave sinergia dos processos de planejamento
5 A melhoria da capacidade de enfrentamento dos problemas de desertificaccedilatildeo e
seca por parte das populaccedilotildees locais (IRAUCcedilUBA 2009 p 24)
O PAE (CEARAacute 2010b) em seu objetivo global e em termos gerais natildeo eacute muito
diferente do PAM (IRAUCcedilUBA 2009) pois visa contribuir para a convivecircncia com o
semiaacuterido e sustentabilidade ambiental do bioma caatinga Busca promover poliacuteticas
ambientais sociais e econocircmicas para a reduccedilatildeo da pobreza procurando em sua
administraccedilatildeo a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo democraacutetico
e a participaccedilatildeo da sociedade E recorre agrave negociaccedilatildeo transparente e responsaacutevel de conflitos
como forma privilegiada de superar as diferenccedilas de uso dos recursos naturais
25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira
A lei 6938 (BRASIL 1981) promulgada em 1981 foi a primeira norma juriacutedica
tratando da temaacutetica ambiental no Brasil Como bem diz Milareacute (2009) ela tem um caraacuteter
65
inovador pois sua implementaccedilatildeo seus resultados assim como a estabilidade e a efetividade
que denota constituem um salto de qualidade na vida puacuteblica brasileira
Com nascedouro um tanto quanto isolado a lei 693881 (BRASIL 1981)
instituiu a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente para a preservaccedilatildeo melhoria e recuperaccedilatildeo da
qualidade ambiental propiacutecia agrave vida visando assegurar no Paiacutes condiccedilotildees ao
desenvolvimento soacutecioeconocircmico aos interesses da seguranccedila nacional e agrave proteccedilatildeo da
dignidade da vida (artigo 2ordm) Tais objetivos estatildeo baseados em princiacutepios norteadores dos
quais se destacam para a presente pesquisa a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas (inciso VIII) e a
proteccedilatildeo de aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX)
Instrumentalizando a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente quanto agrave degradaccedilatildeo
ambiental existem as penalidades disciplinares ou compensatoacuterias ao natildeo cumprimento das
medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo ou correccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental conforme o artigo
9ordm inciso IX da Lei 693881 (BRASIL 1981) Em termos de sanccedilatildeo o artigo 14 disciplina
que os danos causados pela degradaccedilatildeo da qualidade ambiental sujeitaratildeo os transgressores agrave
multa simples ou diaacuteria agrave perda ou restriccedilatildeo de incentivos e benefiacutecios fiscais concedidos
pelo Poder Puacuteblico agrave perda ou suspensatildeo de participaccedilatildeo em linhas de financiamento em
estabelecimentos oficiais de creacutedito e agrave suspensatildeo de sua atividade
Para evitar a sanccedilatildeo pratica-se a prevenccedilatildeo e uma forma de prevenir a degradaccedilatildeo
eacute o licenciamento ambiental conforme preconiza o artigo 10 daquela mesma lei O natildeo
cumprimento disto enseja o enquadramento do representante da atividade ou do
estabelecimento no artigo 60 da Lei 960598 (BRASIL 1998) que versa sobre crimes
ambientais
Art 10 A construccedilatildeo instalaccedilatildeo ampliaccedilatildeo e funcionamento de estabelecimentos e
atividades utilizadores de recursos ambientais efetiva ou potencialmente poluidores
ou capazes sob qualquer forma de causar degradaccedilatildeo ambiental dependeratildeo de
preacutevio licenciamento ambiental (BRASIL 1981 p 7)
Art 60 Construir reformar ampliar instalar ou fazer funcionar em qualquer parte
do territoacuterio nacional estabelecimentos obras ou serviccedilos potencialmente
poluidores sem licenccedila ou autorizaccedilatildeo dos oacutergatildeos ambientais competentes ou
contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes Pena - detenccedilatildeo de um a seis meses ou multa ou ambas as penas cumulativamente
(BRASIL 1998 p 12)
Outra previsatildeo salutar na Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente eacute o dever que
entidades e oacutergatildeos de financiamento e incentivos governamentais tecircm de condicionar a
aprovaccedilatildeo de projetos financiaacuteveis ao licenciamento ambiental Aleacutem disto devem constar em
tais projetos a realizaccedilatildeo de obras e aquisiccedilatildeo de equipamentos destinados ao controle de
degradaccedilatildeo ambiental e a melhoria da qualidade do meio ambiente (artigo 12 paraacutegrafo
66
uacutenico) Isto tudo porque a instituiccedilatildeo que financia atividades eou empreendimentos que por
ventura causem algum dano tambeacutem se tornam corresponsaacuteveis pelo passivo ambiental
respondendo perante os oacutergatildeos competentes e os guardiatildees da lei
Por fim eacute pertinente mencionar que toda accedilatildeo ou omissatildeo prevista na legislaccedilatildeo
ambiental brasileira seja nas leis que criam diretrizes como nas que preveem sanccedilotildees visa o
combate o controle a reparaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo da degradaccedilatildeo aos bens naturais como um
todo O impasse eacute existir inuacutemeras normas distintas que dispotildeem sobre vaacuterios recursos
ambientais e que satildeo criadas em eacutepocas diferentes como por exemplo o Coacutedigo Florestal
(BRASIL 2012) o Coacutedigo de Caccedila (BRASIL 1967a) o Coacutedigo Mineraacuterio (BRASIL
1967b) o Coacutedigo de Pesca (BRASIL 2009) o Coacutedigo de Aacuteguas (BRASIL 1934a) a Poliacutetica
Nacional de Recursos Hiacutedricos (BRASIL 1997) o Programa Nacional de controle da
qualidade do ar (BRASIL 1989a) dentre outras O ideal eacute que houvesse a reuniatildeo de todos os
dispositivos em uma legislaccedilatildeo soacute como o fez a lei de crimes ambientais que versa sobre
infraccedilotildees cometidas aos bens naturais apontados pelas diversas normas citadas
Em niacutevel estadual o Cearaacute dispotildee de um arcabouccedilo legal que reflete um
pouco o que jaacute estaacute disposto nas leis federais no entanto cabe aqui citar algumas normas
pertinentes ao assunto estudado
A Resoluccedilatildeo nordm 092003 (CEARAacute 2003) do Conselho Estadual do Meio
Ambiente (COEMA) estabeleceu a compensaccedilatildeo ambiental como forma de prevenir eou
obrigar o poluidorusuaacuterio pagador ou degradador a indenizar os danos causados em
decorrecircncia da utilizaccedilatildeo de recursos naturais para fins econocircmicos Trata-se de medida
arrecadatoacuteria anterior ao processo de licenciamento ambiental e condicionada ao firmamento
de um Termo de Compromisso A supracitada norma definiu percentual de 05 a ser recolhido
com base no valor do empreendimento a ser implantado A destinaccedilatildeo dos valores recolhidos
seria via de regra a Unidades de Conservaccedilatildeo
A Lei Complementar nordm 482004 (CEARAacute 2004) criou o Fundo e o Conselho
Estadual Gestor do Meio Ambiente (FEMA) onde uma de suas finalidades eacute o ressarcimento
da coletividade por danos causados ao meio ambiente Reza o artigo 10 que qualquer cidadatildeo
pode propor projetos relativos agrave reconstituiccedilatildeo reparaccedilatildeo preservaccedilatildeo e prevenccedilatildeo do meio
ambiente A dita lei foi regulamentada pelo Decreto Estadual nordm 277192005 (CEARAacute 2005)
que por sua vez dispocircs accedilotildees programas planos e projetos para a melhoria e recuperaccedilatildeo da
qualidade ambiental no Estado do Cearaacute Agrave pertinecircncia da presente pesquisa cabe destacar
uma diretriz do FEMA prevista no inciso VIII do artigo 3ordm daquele Decreto
67
Artigo 3ordm
[]
VIII - Promover a proteccedilatildeo da biodiversidade e dos ecossistemas associados e aacutereas
ameaccediladas de degradaccedilatildeo atraveacutes da preservaccedilatildeo conservaccedilatildeo e administraccedilatildeo de
biomas representativos bem assim da recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas
possibilitando melhor controle de atividades potencialmente poluidoras nos termos
da legislaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2005 p 2)
Eacute essencial citar a Lei 1248895 (CEARAacute 1995) que dispotildee sobre a Poliacutetica
Florestal do Estado do Cearaacute Um de seus objetivos guarda relaccedilatildeo direta com este trabalho
qual seja promover a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas e em processos de degradaccedilatildeo
especialmente nas aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e reserva legal bem como proteger as
aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX do artigo 3ordm) Para tanto um dos instrumentos
previsto e deveras necessaacuterio para a consecuccedilatildeo de tais fins eacute a fiscalizaccedilatildeo a aplicaccedilatildeo de
penalidades accedilotildees disciplinares e compensatoacuterias das medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo dos
recursos naturais ou a correccedilatildeo da degradaccedilatildeo do meio ambiente (inciso XI do artigo 4ordm)
E por fim eacute cabiacutevel mencionar a Lei 141982008 (CEARAacute 2008) pois institui a
Poliacutetica Estadual de Combate e Prevenccedilatildeo agrave Desertificaccedilatildeo e tem por base a Convenccedilatildeo
Internacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo nos Paiacuteses afetados por Seca Grave eou
Desertificaccedilatildeo Como jaacute mencionado no Cearaacute existem trecircs nuacutecleos com aacutereas susceptiacuteveis agrave
desertificaccedilatildeo e nada mais apropriado que o Estado dispor de uma legislaccedilatildeo proacutepria sobre o
tema Diante disto destacam-se os seguintes dispositivos
Art 1ordm Institui a Poliacutetica Estadual de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Desertificaccedilatildeo a qual
tem por objetivos
[]
III - instituir mecanismos de proteccedilatildeo conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da flora fauna e
de solos degradados nas aacutereas de risco ou impactadas pela desertificaccedilatildeo
[]
Art 3ordm Cumpre ao Poder Puacuteblico
I - diagnosticar o avanccedilo do processo de degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo ambiental nas
aacutereas afetadas
II - definir um plano de contingecircncia para mitigaccedilatildeo dos efeitos da degradaccedilatildeo
ambiental
[]
XI - estimular o desenvolvimento de agroinduacutestrias baseadas em alimentos
ambientalmente e culturalmente adaptados ao meio ambiente
[]
XIV - estimular a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
e de Reserva Legal []
[]
Art 5ordm No tocante agrave agricultura irrigada o Poder Puacuteblico deveraacute
[]
II - diagnosticar as aacutereas cujos solos sejam susceptiacuteveis agrave salinizaccedilatildeo e acuacutemulo de
compostos de soacutedio e fomentar a recuperaccedilatildeo de solos afetados por salinizaccedilatildeo e
acuacutemulo de compostos de soacutedio
Art 6ordm No tocante agrave agricultura sequeiro o Poder Puacuteblico deveraacute
[]
68
II - incentivar o manejo sustentaacutevel dos recursos naturais apoiando o
desenvolvimento de sistemas agroflorestais e agrosilvopastoris diversificados e
integrados como forma de conciliar a recuperaccedilatildeo florestal e as atividades agriacutecolas
(CEARAacute 2008 p 1 - 3)
251 Lei ambiental de Irauccediluba
O municiacutepio de Irauccediluba criou sua proacutepria Poliacutetica Ambiental a partir da Lei
5652007 (IRAUCcedilUBA 2007) Nela estatildeo dispostos princiacutepios e instrumentos de accedilatildeo que
visam agrave qualidade ambiental em seus diferentes aspectos Felizmente a norma natildeo deixou de
fora as aacutereas de reserva legal pelo contraacuterio tratou do tema em uma seccedilatildeo especiacutefica
composta pelos artigos 57 e 58
Art 57 - A reserva legal eacute requisito essencial ao exerciacutecio legiacutetimo do direito de
propriedade na aacuterea rural e fundamental para a proteccedilatildeo do meio ambiente
ecologicamente equilibrado e da biodiversidade cumprindo funccedilotildees do interesse
coletivo e individual do proprietaacuterio
Art 58 - A reserva legal eacute a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) localizada no
interior de uma propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente
necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos
processos ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de
fauna e flora nativas sendo imutaacutevel sua localizaccedilatildeo apoacutes definida
sect1ordm - Fica proibido qualquer registro imobiliaacuterio relativo a propriedade rural sem
preacutevio registro da reserva legal sob pena de nulidade do ato
sect2ordm- A reserva legal deveraacute ser averbada agrave margem da matriacutecula do imoacutevel no
registro competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de
transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou divisatildeo da aacuterea
sect3ordm - As aacutereas de reserva legal e preservaccedilatildeo permanente poderatildeo ser computadas
conjuntamente desde que somadas passem de 50 (cinquumlenta por cento) da
extensatildeo total da propriedade e sejam de extensatildeo contiacutenua
sect4ordm - No imoacutevel rural que natildeo houver vegetaccedilatildeo nativa suficiente para compor o
miacutenimo da reserva legal o proprietaacuterio ou possuidor deveraacute recuperar e recompor
com a vegetaccedilatildeo nativa ateacute atingir a porcentagem determinada
sect5ordm - A recomposiccedilatildeo mencionada no paraacutegrafo anterior deveraacute ser realizada na
proporccedilatildeo de no miacutenimo 110 (um deacutecimo) da aacuterea da propriedade ou posse a cada
ano dando prioridade agraves aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
sect6ordm - A Reserva Legal deve ser preferencialmente contiacutegua a das propriedades
vizinhas agraves unidades de conservaccedilatildeo ou aacutereas florestadas formando um corredor de
vegetaccedilatildeo
sect7ordm - A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser
utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel (IRAUCcedilUBA 2007 p 26)
No artigo 57 haacute o reconhecimento do direito de propriedade agrave luz da funccedilatildeo
social dada pela reserva legal e a devida importacircncia agrave proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental Jaacute o
58 prevecirc os 20 da aacuterea a tiacutetulo de reserva reproduzindo o que a lei federal ou seja o
Coacutedigo Florestal dispotildee No entanto o sect1ordm do mesmo dispositivo acaba restringindo ainda
mais o que a norma geral prescreve isto eacute proiacutebe qualquer registro junto ao cartoacuterio de
imoacuteveis sem a devida averbaccedilatildeo na matriacutecula da propriedade muito embora isso jaacute possa ser
diferente pela instituiccedilatildeo do Cadastro Ambiental Rural Dos paraacutegrafos 2ordm ao 5ordm houve a
69
revogaccedilatildeo expressa pela Lei 126512012 (BRASIL 2012) ou novo Coacutedigo Florestal O 6ordm e o
7ordm continuaram vigentes em sua essecircncia sofrendo apenas pequenas alteraccedilotildees jaacute que devem
estar em consonacircncia com a lei federal natildeo podendo ser menos restritivos
Por fim aleacutem do que fora comentado a lei ambiental de Irauccediluba traz muito em
sua natureza procedimentos e mandamentos semelhantes agrave de uma lei de uso e ocupaccedilatildeo do
solo Prevecirc portanto paracircmetros sobre publicidade emissotildees sonoras construccedilatildeo civil
poluiccedilatildeo obras dentre outros
70
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS
31 Reserva Legal em Irauccediluba
Um dos objetivos da presente pesquisa eacute o levantamento do nuacutemero de imoacuteveis
rurais no municiacutepio de Irauccediluba para em seguida verificar o grau de obediecircncia ao instituto
da reserva legal nessas propriedades Para tanto buscou-se os respectivos dados no cartoacuterio de
registro de imoacuteveis do municiacutepio no Instituto de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e
no Instituto de Desenvolvimento Agraacuterio do Cearaacute (IDACE)
No cartoacuterio de imoacuteveis onde o acesso eacute possiacutevel pela liberdade que qualquer
interessado tem para solicitar informaccedilotildees registrais achou-se o nuacutemero de 215 imoacuteveis
registrados Jaacute no INCRA o total de propriedades ali cadastradas eacute de 415 e no IDACE 713
imoacuteveis devidamente medidos e georreferenciados
Primeiramente cabe discorrer um pouco sobre esse desencontro na quantidade
dos imoacuteveis O fato de o cartoacuterio municipal possuir 215 imoacuteveis rurais registrados natildeo
significa que soacute tenha esse nuacutemero de propriedades laacute pois existem inuacutemeras terras habitadas
e utilizadas sem qualquer registro formal e neste caso o que os ldquodonosrdquo desses lugares
deteacutem chama-se posse o que os torna posseiros e natildeo proprietaacuterios O INCRA ter em seu
banco de dados o cadastro de 415 propriedades rurais tambeacutem natildeo quer dizer que soacute haja as
415 uma vez que a procura por este oacutergatildeo eacute voluntaacuteria quando se trata de cadastramento do
imoacutevel Soacute seraacute diferente se surgir a necessidade de desmembrar arrendar hipotecar vender
ou prometer em venda o bem rural Ou ainda em caso de partilha17
Esses satildeo os casos que
impelem o proprietaacuterio a cadastrar seu imoacutevel conforme definidos pela lei 494766
(BRASIL 1966) Do contraacuterio natildeo eacute obrigatoacuterio motivo pelo qual se explica nuacutemeros tatildeo
distintos uns dos outros Justificando um pouco esta discrepacircncia o II Plano Nacional de
Reforma Agraacuteria aponta que os dados do Cadastro do INCRA indicam que ldquosomente 5086
da aacuterea total do territoacuterio brasileiro estaacute na condiccedilatildeo de cadastradardquo (II PNRA 2003 p 22)
E por fim o nuacutemero apontado pelo IDACE acredita-se ser o mais proacuteximo da
realidade uma vez que pelo Programa de Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria com iniacutecio em 2007 as
propriedades rurais no municiacutepio de Irauccediluba foram no ano de 2012 medidas e
georreferenciadas uma a uma para dar fim aos problemas decorrentes da ausecircncia de tiacutetulos
imobiliaacuterios e o tamanho das aacutereas Eacute o que segue estabelecido pelo II PNRA (2003)
17
Partilha eacute a via pela qual se daacute a divisatildeo dos bens de uma heranccedila
A importacircncia de um recadastramento de todos os imoacuteveis rurais e da revisatildeo das
normas que regem o processo de registro das propriedades eacute ainda maior quando se
observa que as possibilidades de obtenccedilatildeo de terras para Reforma Agraacuteria estatildeo
condicionadas por dois indicadores que dependem das informaccedilotildees contidas no
Cadastro do INCRA o moacutedulo fiscal e os iacutendices de produtividade [] Por meio de
uma integraccedilatildeo do INCRA com os oacutergatildeos estaduais seraacute executado um amplo
processo de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria visando regularizar as pequenas posses de boa feacute
e a arrecadaccedilatildeo e incorporaccedilatildeo de terras devolutas ao patrimocircnio puacuteblico seguida de
sua destinaccedilatildeo para o assentamento de trabalhadores rurais e tambeacutem promover
accedilotildees anulatoacuterias sobre ocupaccedilotildees de terras com registros irregulares (II PNRA
2003 p 23)
Contudo o nuacutemero desencontrado de imoacuteveis natildeo eacute soacute o que assusta ou angustia
mas sim a quantidade iacutenfima de reserva legal existente naquele municiacutepio que jaacute sofre com
um processo criacutetico de degradaccedilatildeo
Apoacutes verificar junto ao cartoacuterio a quantidade de imoacuteveis rurais registrados
averiguou-se que somente trecircs dos 215 estatildeo com suas respectivas aacutereas de reserva legal
devidamente averbadas junto ao registro do bem Essa aguda diferenccedila tambeacutem natildeo muda
quando se analisa as informaccedilotildees presentes nos cadastros feitos junto ao INCRA Muitos satildeo
os cadastramentos onde tem descritas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente mas de reserva legal
somente cinco das 415 propriedades cadastradas No IDACE natildeo foi possiacutevel fazer esse
levantamento porque o objetivo deste oacutergatildeo em adentrar as aacutereas era medi-las em sua
totalidade sem discriminar a presenccedila de qualquer constataccedilatildeo em seu interior
Pela leitura da tabela 5 eacute possiacutevel concluir duas realidades A primeira eacute a
existecircncia de propriedade cujo registro apresenta averbaccedilatildeo da reserva legal mas sem
cadastro junto ao INCRA como eacute o caso do imoacutevel Poccedilo da PedraAacuteguas Mortas No
segundo caso ocorre o contraacuterio isto eacute natildeo haacute averbaccedilatildeo da reserva legal no cartoacuterio de
registro mas existe o cadastro da propriedade perante o INCRA constando a reserva legal
devidamente apontada conforme relatoacuterios cedidos por aquele oacutergatildeo
72
Tabela 5 - Levantamento de Imoacuteveis com reserva legal (Cartoacuterio de registro de imoacuteveisINCRA)
311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental - Projeto de Assentamento Agraacuterio em
foco
Todo projeto de assentamento de reforma agraacuteria soacute deve ser implantado apoacutes o
licenciamento ambiental junto ao oacutergatildeo competente que pela relevacircncia social do
empreendimento possui um procedimento diferenciado Eacute um processo trifaacutesico ou seja
consiste na licenccedila preacutevia (LP) licenccedila de instalaccedilatildeo (LI) e licenccedila de operaccedilatildeo (LO) mas no
caso dos projetos de assentamento satildeo soacute duas a LP e a LIO que nada mais eacute que a licenccedila de
18
Trata-se de um imoacutevel que foi destinado a Projeto de Assentamento no acircmbito estadual No entanto o registro
no cartoacuterio aponta que a propriedade possui Reserva Legal averbada mas no cadastro do INCRA natildeo haacute
qualquer menccedilatildeo a essa aacuterea 19
PA ndash Projeto de Assentamento da Reforma Agraacuteria Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria conjunto
de accedilotildees planejadas e desenvolvidas em aacuterea destinada agrave reforma agraacuteria para um puacuteblico beneficiaacuterio
orientadas para utilizaccedilatildeo racional dos espaccedilos fiacutesicos e dos recursos naturais existentes objetivando a
implementaccedilatildeo dos sistemas de vivecircncia e produccedilatildeo sustentaacuteveis na perspectiva do cumprimento da funccedilatildeo
social da terra e da promoccedilatildeo econocircmica social e cultural do trabalhador rural e de seus familiares (BRASIL
2006b) 20
O imoacutevel Poccedilo da Pedra e Aacuteguas Mortas eacute um soacute Embora natildeo conste no registro do cartoacuterio a aacuterea total da
propriedade e a destinada agrave reserva legal o Termo de Responsabilidade de Averbaccedilatildeo da Aacuterea de Reserva Legal
cedido pelo INCRA descreve as aacutereas apontadas na tabela 2
RESERVA LEGAL DOCUMENTALMENTE EXISTENTE
Imoacutevel Fonte dos Dados Aacuterea do Imoacutevel
(ha)
Aacuterea (ha) Domiacutenio Data da
Averbaccedilatildeo (AV)
Cadastro (C)
Miramar Cartoacuterio de Imoacuteveis
INCRA
1144 2305 Particular AV 06042005
C 05092005
Saco do
Vento18
Cartoacuterio de Imoacuteveis
INCRA
33060 661 PA19
estadual
AV 03102012
C 27122011
Poccedilo da Pedra
(Aacuteguas
Mortas)20
Cartoacuterio de Imoacuteveis 239778 47955 INCRA AV 02012003
Boa Vista INCRA 348 6960 Particular C 30121992
Escondido e
Vale do
Agreste
INCRA 15775 3155 Particular C 30121992
Lagoa Cercada INCRA 55180 50 Particular C13101992
73
instalaccedilatildeo e de operaccedilatildeo em um mesmo pedido conforme prevecirc a Resoluccedilatildeo CONAMA
3872006 (BRASIL 2006b)
Art 3ordm O oacutergatildeo ambiental competente concederaacute a Licenccedila Preacutevia - LP e a Licenccedila
de
Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo - LIO para os Projetos de Assentamentos de Reforma Agraacuteria
[]
sect 2o A LP constitui-se documento obrigatoacuterio e que antecede o ato de criaccedilatildeo de um
Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria tendo prazo para a sua expediccedilatildeo
apoacutes seu requerimento de ateacute noventa dias
sect 3o A LIO deveraacute ser requerida durante a validade da LP e cumpridos os requisitos
da mesma [] (BRASIL 2006 p2)
Por se tratar de um empreendimento rural e ambientalmente licenciaacutevel eacute muito
mais faacutecil e oportuno acontecer o cumprimento da reserva legal jaacute que o oacutergatildeo competente
foi provocado e por sua vez deve exigir a observacircncia daquele instituto Desta forma natildeo se
pode admitir que um licenciamento em zona rural seja concedido sem o devido respeito agrave aacuterea
de reserva legal
Especificamente os projetos de assentamento federais isto eacute os realizados pelo
INCRA devem obedecer agrave ordem que segue Ao dar iniacutecio ao processo de desapropriaccedilatildeo de
alguma terra o INCRA jaacute deve solicitar a Licenccedila Preacutevia devendo constar naquele processo o
protocolo do pedido A criaccedilatildeo do assentamento soacute eacute possiacutevel mediante uma portaria
resoluccedilatildeo ou decreto desde que jaacute possua a Licenccedila Preacutevia expedida Criado o assentamento
a Licenccedila de Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo deve ser solicitada de imediato ateacute porque se o contraacuterio
ocorrer os assentados ficam impossibilitados de receber recursos do governo como o creacutedito
de apoio inicial o creacutedito fomento o creacutedito para a construccedilatildeo de casa dentre outros
Essa sequencia e esses mandamentos estatildeo previstos no artigo 3ordm da Resoluccedilatildeo
CONAMA 3872006 (BRASIL 2006b) citada acima e no Acoacuterdatildeo nordm 2633-5107 (BRASIL
2007) do Tribunal de Contas da Uniatildeo conforme prevecirc o item 3 do sumaacuterio daquele
julgamento (3) A Licenccedila Preacutevia constitui-se em documento obrigatoacuterio e que antecede o ato
de criaccedilatildeo de um projeto de assentamento de reforma agraacuteria devendo ser expedida
anteriormente agrave obtenccedilatildeo da terra Trata-se de uma decisatildeo que teve origem em uma auditoria
realizada por este oacutergatildeo em assentamentos no Amazonas Paraacute e Acre quanto aos estudos de
viabilidade ambiental reserva legal e licenciamento ambiental em projetos criados pelo
INCRA Essa auditoria objetivou portanto avaliar o impacto nas aacutereas de reserva legal dos
projetos de assentamento bem como o cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental aplicaacutevel a esses
projetos conforme item 2 do Relatoacuterio do referido Acoacuterdatildeo Para tanto buscou-se saber se os
limites da reserva legal estavam sendo devidamente demarcados e preservados nos projetos de
74
assentamento rural e se o INCRA estava promovendo a aplicaccedilatildeo de teacutecnicas viaacuteveis para a
exploraccedilatildeo sustentaacutevel da Reserva Legal
Constatou-se pela amostragem realizada e demonstrada na Conclusatildeo e no Voto
do Acoacuterdatildeo 26332007 (BRASIL 2007) que
Conclusatildeo
[]
Item 65 o INCRA tem a necessidade premente de adotar medidas com vistas a
normalizar os procedimentos de criaccedilatildeo de projetos de assentamento desde o iniacutecio
do processo no que se refere ao cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental
Item 66 Eacute notoacuterio que a morosidade do oacutergatildeo no processo de regularizaccedilatildeo das
exigecircncias determinadas pela legislaccedilatildeo ambiental contribuiraacute para degradaccedilatildeo do
meio ambiente patrimocircnio sob proteccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal Brasileira Ao
disponibilizar terra aos assentados sem indicar a forma de uso do terreno por meio
do Plano de Uso e sem delimitar as aacutereas de preservaccedilatildeo mediante a demarcaccedilatildeo
das reservas legais o INCRA estaraacute dando tutela a esses usuaacuterios para disporem dos
lotes da forma que melhor lhes convier sem importar se essa exploraccedilatildeo implicaraacute
em degradaccedilatildeo ambiental (BRASIL 2007 p 9)
[]
Voto
[] Item 3 ndash subitem 12 A equipe de auditoria constatou nos assentamentos uma
grande degradaccedilatildeo das aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APP) e da reserva legal (RL)
Ainda verificou por meio de questionaacuterios aplicados aos trabalhadores assentados
que o INCRA natildeo promove accedilotildees efetivas relacionadas agrave orientaccedilatildeo e
conscientizaccedilatildeo ambiental dessas comunidades que natildeo sabem sequer o que
significa APP e RL
[]
Item 5 Outrossim eacute importante frisar que o INCRA eacute co-responsaacutevel pelas
irregularidades ambientais constatadas em seus projetos de assentamento []
(BRASIL 2007 p 11)
E por fim o dito Acoacuterdatildeo determina em niacutevel nacional embora a motivaccedilatildeo da
decisatildeo tenha por base a auditoria realizada somente em trecircs estados que
O INCRA se abstenha de criar projetos de assentamento sem a observacircncia ao
disposto no art 2ordm inciso III cc 3ordm sect 2ordm da Resoluccedilatildeo Conama 3872006 que
condiciona a criaccedilatildeo de projetos de assentamentos de reforma agraacuteria agrave existecircncia da
licenccedila preacutevia e ao disposto no art 2ordm inciso IV da mesma Resoluccedilatildeo que exige a
licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo como condiccedilatildeo para a implantaccedilatildeo e operaccedilatildeo
destes projetos Que em decorrecircncia do disposto no art 2ordm inciso VII da
ResoluccedilatildeoConama 3872006 atente a necessidade de que a reserva legal esteja
perfeitamente delimitada e caracterizada por ocasiatildeo do Plano de
Desenvolvimento do Assentamento e que o referido Plano seja elaborado em prazo
razoaacutevel (BRASIL 2007 p 16)
Para enriquecer a pesquisa nesse sentido procurou-se junto ao oacutergatildeo ambiental
estadual a SEMACE ndash Superintendecircncia Estadual do Meio Ambiente e ao proacuteprio INCRA as
licenccedilas emitidas e ainda em tramitaccedilatildeo referentes aos projetos de assentamento federais
Encontrou-se assim 3 processos de licenciamento na SEMACE numa busca compreendida
75
entre 01012010 a 06052013 sendo 2 de licenccedilas preacutevias e 1 de licenccedila de instalaccedilatildeo e
operaccedilatildeo No INCRA localizou-se 5 processos como se pode observar pela tabela 6 sendo 2
de licenccedilas preacutevias e 3 de licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo num periacuteodo de 09122008 a
08112010
Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais
Fonte SEMACE e INCRA
Conclui-se portanto a existecircncia de trecircs processos de LIO jaacute emitidas mas sem a
averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio de duas das trecircs propriedades conforme se pode
confirmar pela pesquisa feita no registro de imoacuteveis de Irauccediluba A exceccedilatildeo eacute a fazenda
Aacuteguas MortasPoccedilo da Pedra que possui averbaccedilatildeo da reserva legal desde 02012003
Aleacutem disto verificou-se tambeacutem todos os empreendimentos e atividades
localizadas no municiacutepio de Irauccediluba que possuem solicitaccedilatildeo ou recebimento de licenccedila
ambiental tanto em zona urbana como rural No total satildeo 15 tramitando e 40 emitidas
ressaltando que licenciamentos em zona rural o cumprimento da reserva legal deve ser
exigido
Quanto aos assentamentos agraacuterios no municiacutepio de Irauccediluba a tabela 7 aponta a
pesquisa realizada junto ao INCRA e ao IDACE onde se constatou que o primeiro oacutergatildeo
implantou 8 projetos e o segundo 6 Em todos eles existe a demarcaccedilatildeo da aacuterea de reserva
legal nas plantas georreferenciadas cedidas pelas duas instituiccedilotildees acima citadas
PROCESSO TIPO PA FONTE DO
DADO
PROTOCOLO EXPEDICcedilAtildeO VALIDADE STATUS
11386605-4 LP Arraia INCRASEMA
CE
08112010 01072011 Natildeo
informada
Emitida
11118313-8 LP Alegre e
anexos
INCRASEMA
CE
10112010 29032011 Natildeo
informada
Tramitando
09557603-7 LIO Aacuteguas
Mortas
Poccedilo da
Pedra
INCRASEMA
CE
30102009 24032010 24032013 Emitida
08653283-9 LIO Satildeo
Marinho
Rodeador
INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida
08653281-2 LIO Olho
d‟aacutegua da
esperanccedila
INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida
76
Tabela 7 - Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba
PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO - IRAUCcedilUBA
Nome do
Assentamento
Instituiccedilatildeo
Responsaacutevel
Aacuterea do
Imoacutevel (ha)
Aacuterea de Reserva
Legal (ha)
Data de criaccedilatildeo Nordm de Famiacutelias
Assentadas
Saco do Vento IDACE 33060 661 Em andamento 10
Aroeira IDACE 50508 10101 Em andamento 10
Boqueiratildeo IDACE 38474 7694 Em andamento -
Mudubim IDACE 6512 1302 Em andamento 5
Consulta IDACE 39593 7918 23072001 13
Cachoeira IDACE 14929 2985 05102006 10
Saco Verde INCRA 6464 129280 2691997 100
Cajazeiras II INCRA 96487 19297 2691997 30
Aacuteguas Mortas
Poccedilo da Pedra
INCRA 239778 47955 22121997 52
RiachueloAlto
Alegre
INCRA 3378 67560 09112005 16
Olho drsquoAacutegua da
Esperanccedila
INCRA 1940 388 06122007 23
Satildeo Marinho
Rodeador
INCRA 50757 10151 04122006 10
Arraia INCRA 156797 31359 13102011 34
Almas INCRA 1297 25940 17111998 22
Eacute importante salientar que em 2005 e em 2006 o INCRA baixou 3 normas
referentes a criteacuterios e procedimentos para a implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e
Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria A
primeira eacute a NE 432005 (BRASIL 2005a) a segunda NE 442005 (BRASIL 2005b) que
estabeleceu o valor unitaacuterio por famiacutelia para a implantaccedilatildeo destes projetos e a terceira NE
512006 (BRASIL 2006a) aprovou o manual para a elaboraccedilatildeo dos projetos de recuperaccedilatildeo
A NE 432005 (BRASIL 2005a) considera a premente necessidade de
recuperaccedilatildeo natildeo soacute de Reserva Legal mas de aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente em grande
parte dos Projetos de Assentamento em todo o territoacuterio nacional mas infelizmente soacute
abrange os que satildeo implantados pelo Governo Federal (Art 2ordm inciso I) ficando de fora os
que satildeo de competecircncia dos Estados O criteacuterio para implantaccedilatildeo desses projetos eacute a aacuterea ser
reconhecida com problemas ambientais principalmente em termos de degradaccedilatildeo (Art 2ordm
inciso II) Para ser possiacutevel financeiramente a execuccedilatildeo de um projeto deste cuja norma
regulamentadora ainda se encontra vigente o INCRA disponibiliza ateacute R$ 100000 por
famiacutelia (Art 1ordm NE 442005 (BRASIL 2005b)) no entanto caso seja tecnicamente
comprovado que a recuperaccedilatildeo de aacutereas de reserva legal preservaccedilatildeo permanente e de solo
exija um maior investimento o valor poderaacute ser superior ao estabelecido Neste caso a
importacircncia repassada seraacute definida em funccedilatildeo do custo calculado para a recuperaccedilatildeo do dano
ambiental (Art 1ordm Paraacutegrafo Uacutenico)
77
O manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e
conservaccedilatildeo de recursos naturais em assentamentos da reforma agraacuteria aprovado pela NE
512006 (BRASIL 2006a) deixa claro que seus objetivos natildeo satildeo soacute reabilitar e resguardar a
aacuterea ambiental do assentamento Haacute mais e maiores propoacutesitos nisto como por exemplo
cumprir as exigecircncias estabelecidas pelo oacutergatildeo de meio ambiente estadual durante o processo
de licenciamento21
bem como a mobilizaccedilatildeo da comunidade em torno de atividades visando agrave
recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo dos recursos naturais por meio de programas de educaccedilatildeo
ambiental fiscalizaccedilatildeo e manutenccedilatildeo envolvendo os assentados Para que isto ocorra eacute
extremamente importante a participaccedilatildeo destes na elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do projeto22
Por fim os Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais seratildeo
destinados agraves seguintes praacuteticas23
1 Cercamento de aacutereas de Reserva Legal e aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
visando a regeneraccedilatildeo eou a proteccedilatildeo das aacutereas
2 Construccedilatildeo de viveiros para produccedilatildeo de mudas que seratildeo utilizadas no processo
de recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas
3 Demarcaccedilatildeo topograacutefica da Reserva Legal
4 []
5 Reflorestamento em aacutereas de Reserva Legal com espeacutecies nativas que
possibilitem o manejo florestal sustentaacutevel madeireiro ou natildeo madeireiro baseado
em princiacutepios e em criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos definidos e devidamente
aprovados pelo oacutergatildeo ambiental competente
6 Plantio de aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais composto por espeacutecies
exoacuteticas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas para
compensaccedilatildeo ou manutenccedilatildeo da aacuterea de reserva legal a criteacuterio do oacutergatildeo ambiental
competente
7 Atividades alternativas de produccedilatildeo (criaccedilatildeo de abelhas artesanato entre outras)
associadas agrave recuperaccedilatildeo ambiental e como instrumento de valorizaccedilatildeo das aacutereas a
serem conservadas ou recuperadas e de combate agraves praacuteticas indevidas de uso do
fogo
8 [] (BRASIL 2006ordf p 1112)
32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo
321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba
O municiacutepio de Irauccediluba possui uma aacuterea de 1461253 Km2 o que corresponde a
098 do territoacuterio estadual e estaacute situado no sertatildeo Centro-Norte conforme figura 12
inserido na microrregiatildeo geograacutefica de Sobral Dista cerca de 150 Km da capital Fortaleza e
21
p 7 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos naturais 22
p 11e 13 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos
naturais 23
p 11e 12 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos
naturais
78
localiza-se entre as coordenadas geograacuteficas Latitude 3˚44‟46rdquo S (Sul) e Longitude 39˚47‟00rdquo
WGr (oeste) Faz fronteira ao norte com os municiacutepios de Miraiacutema e Itapipoca ao sul com
Santa Quiteacuteria e Canindeacute a leste com Itapajeacute e Tejuccediluoca e a oeste com Sobral e possui trecircs
distritos Missi Juaacute e Boa Vista segundo ilustra a figura 13
Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba
Fonte Lustosa (2004) Fonte Lustosa (2004)
Segundo o censo de 2010 do IBGE a populaccedilatildeo do municiacutepio era de 22324
pessoas sendo curiosamente a maioria homens (5083) Jaacute sua densidade demograacutefica
correspondia a 1539 habKm2 A ocupaccedilatildeo municipal predomina na zona urbana
correspondendo a 6425 dos indiviacuteduos Em 2012 a populaccedilatildeo aumentou para 22742
pessoas
3211 Das propriedades estudadas
Por Irauccediluba possuir aproximadamente 713 imoacuteveis rurais tomando por base a
mediccedilatildeo feita pelo IDACE em 2012 natildeo seria possiacutevel o estudo de todas elas Partiu-se
entatildeo para uma amostragem com base nos imoacuteveis que possuiacuteam a reserva legal seja por
registro em cartoacuterio eou porque a aacuterea eacute puacuteblica e foi destinada a projetos de assentamentos
agraacuterios (PA‟s) estaduais e federais que por sua vez deveriam respeitar tal obrigatoriedade
79
Pela tabela 8 vecirc-se que dos 14 assentamentos em Irauccediluba 6 satildeo estaduais e 8
federais No entanto os criteacuterios utilizados para examinaacute-los foi o tempo de criaccedilatildeo de cada
um e a existecircncia de reserva legal delimitada na planta da propriedade Aleacutem disto foi
escolhido um imoacutevel particular por apresentar a averbaccedilatildeo da reserva legal como demonstra a
tabela 9
Tabela 8 - Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de anaacutelise
PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO
Nome do
Assentamento
Instituiccedilatildeo
Responsaacutevel Data de Criaccedilatildeo Status para anaacutelise
Saco do Vento IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Aroeira IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Boqueiratildeo IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Mudubim IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Consulta IDACE 23072001 Planta natildeo disponibilizada
Cachoeira IDACE 05102006 Planta natildeo disponibilizada
Saco Verde INCRA 2691997 Incluiacutedo
Cajazeiras II INCRA 2691997 Incluiacutedo
Aacuteguas Mortas
Poccedilo da Pedra INCRA 22121997 Incluiacutedo
RiachueloAlto
Alegre INCRA 09112005 Incluiacutedo
Almas INCRA 17111998 Incluiacutedo
Olho d‟Aacutegua da
Esperanccedila INCRA 06122007
Muito recente ndash Fora de abrangecircncia
das imagens de sateacutelite
Satildeo Marinho
Rodeador INCRA 04122006
Reserva legal natildeo delimitada na planta
do imoacutevel
Arraia INCRA 13102011 Muito recente ndash Fora de abrangecircncia
das imagens de sateacutelite
Tabela 9 - Dados da propriedade particular estudada PROPRIEDADE PARTICULAR ANALISADA
Nome Proprietaacuterio Data da averbaccedilatildeo
da RL Status para anaacutelise
Miramar MIRASA ndash Miramar
Agropecuaacuteria SA 06042005 Incluiacutedo
Diante dos paracircmetros de seleccedilatildeo apontados acima restaram 5 assentamentos e 1
aacuterea particular totalizando 6 aacutereas para estudo Assim sendo as propriedades analisadas
foram RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas Almas Saco Verde Cazajeiras II e Miramar
sendo esta a de domiacutenio privado Com exceccedilatildeo desta uacuteltima as demais satildeo assentamentos
agraacuterios federais ficando de fora os estaduais por serem em sua maioria recentes isto eacute a
partir de 2010 e por isso natildeo abrangidos pelas imagens de sateacutelite utilizadas (anos 1993 e
2007) As duas estaduais mais antigas Consulta e Cachoeira natildeo tiveram suas plantas
80
disponibilizadas pelo oacutergatildeo competente e as federais que ficaram excluiacutedas tambeacutem eram
muito recentes aleacutem do que natildeo possuiacuteam reserva legal delimitada
A figura 14 a seguir mostra a localizaccedilatildeo das propriedades estudadas e suas
respectivas reservas legais delimitadas que podem ser lidas pela legenda de cores ao lado
Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo
A tabela 10 traz as aacutereas de cada imoacutevel e sua reserva legal onde eacute possiacutevel
constatar um nuacutemero pequeno de propriedades que apresentam o tal instituto criado e exigido
por lei Aleacutem disso a soma de suas aacutereas tambeacutem eacute pouco expressiva ao comparar com a do
municiacutepio No total satildeo 1628865 hectares sendo 328832 hectares pertinentes agrave reserva
legal
Tabela 10 - Propriedades estudadas
PROPRIEDADES ESTUDADAS
IMOacuteVEL DOMIacuteNIO AacuteREA DO IMOVEL (HA) AacuteREA DA RESERVA LEGAL (HA)
Saco Verde INCRA 6464 129280
Cajazeiras II INCRA 96487 19297
Aacuteguas Mortas Poccedilo da Pedra INCRA 239778 47955
Riachuelo Alto Alegre INCRA 3378 67560
Olho drsquoAacutegua da Esperanccedila INCRA 1940 388
81
Miramar PARTICULAR 1144 25940
3212 Aspectos histoacutericos da ocupaccedilatildeo do municiacutepio
Haacute quem diga que Irauccediluba significa tanto amizade como grande abelha amarela
A primeira acepccedilatildeo se deve ao povo hospitaleiro de bons sentimentos e amigos da paz Jaacute a
segunda faz referecircncia a um vocaacutebulo indiacutegena cuja expressatildeo representa a junccedilatildeo de trecircs
palavras ira que quer dizer mel ou abelha ussu grande e yuba amarelo (FOLHES e
VIANA 2001)
Segundo o IBGE o surgimento de Irauccediluba se deve a um povoado denominado
Cacimba do Meio que despontou no iniacutecio do seacuteculo XIX O nome do municiacutepio como
atualmente eacute conhecido soacute foi alterado em 1899 pelo desembargador Aacutelvaro de Alencar
Irauccediluba foi distrito de Itapajeacute de 1905 ateacute 1957 quando foi elevada agrave condiccedilatildeo de municiacutepio
Quanto a sua ocupaccedilatildeo Arauacutejo Filho e Silva (2013) remontam a memoacuteria dos
mais antigos que registra o fenocircmeno da transumacircncia na regiatildeo jaacute no seacuteculo XIX Aleacutem
disto os autores ainda mencionam que
O primeiro relato da presenccedila do homem branco na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba
refere-se agrave passagem no ano de 1606-1607 dos jesuiacutetas Francisco Pinto e Luiacutes
Figueira Na eacutepoca a regiatildeo era habitada por iacutendios das etnias Tupi e Tapuia
citando-se os Anaceacute Apuiareacute e Kariri (GIRAtildeO1967) Consta entatildeo que os
indiacutegenas viviam da caccedila e que na eacutepoca seca ateavam fogo na erva para afugentar
as cobras e facilitar a caccedila (ARAUacuteJO e SILVA 2013 p 4)
E soacute para constar o potencial do municiacutepio acerca da boa qualidade das pastagens
de forma a compensar a praacutetica da transumacircncia em tempos antigos vale referenciar um
texto de Dias (1998) que Folhes e Viana (2001) fazem menccedilatildeo
ldquo() no espaccedilo onde Irauccediluba estaacute inserida atualmente visto como um ambiente
inoacutespito em processo de desertificaccedilatildeo no seacuteculo XVII ao se transitar pela flora
primitiva na eacutepoca das chuvas era difiacutecil saber se era noite ou dia face ao
adensamento da vegetaccedilatildeordquo Esse adensamento foi registrado pelos jesuiacutetas
Francisco Pinto e Luiacutes Figueira em 1607 quando partiram de Pernambuco numa
missatildeo de catequese em direccedilatildeo ao Maranhatildeo (DIAS 1998 p 62 apud FOLHES e
VIANA 2001 p 9)
322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas
Arauacutejo Filho e Silva (2013) fazem um apanhado sucinto e ao mesmo tempo geral
de duas atividades econocircmicas desenvolvidas no municiacutepio de Irauccediluba
82
Historicamente a Regiatildeo tem na pecuaacuteria a mais importante atividade dentro de um
sistema de transumacircncia servindo de estaccedilatildeo na eacutepoca das chuvas para os rebanhos
criados na regiatildeo litoracircnea Isto porque apresenta extensas aacutereas recobertas por
planossolos sob uma caatinga do tipo savana com cobertura herbaacutecea de excelente
potencial forrageiro Considerando a ocupaccedilatildeo da aacuterea municipal 124 satildeo usados
para a produccedilatildeo agriacutecola a pecuaacuteria ocupa 671 e os restantes 205 satildeo
recobertos de matas Confrontando os dados da distribuiccedilatildeo dos solos e de sua
ocupaccedilatildeo vecirc-se que a pecuaacuteria eacute praticada em toda a extensatildeo dos planossolos e dos
luvissolos a agricultura ocupa pequena parcela do luvissolo e dos solos litoacutelicos e a
extraccedilatildeo de madeira parte dos litoacutelicos e dos luvissolos (IBGE 2010) (ARAUacuteJO
FILHO e SILVA 2013 p 1)
Para os autores a pecuaacuteria em sistemas de produccedilatildeo de regiotildees semiaacuteridas
constitui uma atividade tampatildeo dos efeitos da seca facilita a dispersatildeo dos riscos de perdas
tem boa liquidez econocircmica e eacute um fator muito importante de fixaccedilatildeo do homem agrave terra
Em se tratando de nuacutemeros o PAE (CEARAacute 2010b) apresentou em seus
levantamentos percentuais a situaccedilatildeo de alguns aspectos socioeconocircmicos que ora se julga
interessantes expor neste trabalho Por exemplo o analfabetismo estaacute decrescendo eacute o que a
taxa de escolaridade no ensino fundamental de 932 em 2007 demonstra mas altas taxas
de repetecircncia evasatildeo escolar qualificaccedilatildeo dos professores baixo aproveitamento dos alunos
e divergecircncia entre a faixa etaacuteria e a seacuterie cursada tambeacutem satildeo problemas que afetam a
educaccedilatildeo no municiacutepio Folhes e Viana (2001) Quanto ao saneamento baacutesico natildeo existia rede
de esgotamento no municiacutepio nem aacutegua tratada para a maioria da populaccedilatildeo conforme
pesquisa realizada em 2007 contudo em 2010 a CAGECE24
informou que havia 6173
ligaccedilotildees entre reais e ativas para o abastecimento de aacutegua enquanto que a cobertura de
esgoto continuava sem nenhuma ligaccedilatildeo mas curiosamente apresentava uma taxa de
cobertura de 1937
O PAE (CEARAacute 2010) diz que em Irauccediluba o salaacuterio meacutedio mensal da
populaccedilatildeo correspondia a um salaacuterio miacutenimo e meio mas o IBGE (2010) traz outro nuacutemero
Em 2010 quando o salaacuterio miacutenimo era de R$ 51000 a renda domiciliar per capita entre frac14 a
mais de 3 correspondia a 5158 trabalhadores sendo que a maioria deles recebia por mecircs R$
12750 ou menos Agregada a essa realidade econocircmica existe a populaccedilatildeo extremamente
pobre com renda domiciliar per capita de ateacute R$ 7000 Nesse patamar concentram-se 8008
pessoas
Eacute nesse contexto que estatildeo cerca de 13500 pessoas classificadas como
economicamente ativas no municiacutepio Infelizmente o nuacutemero de irauccedilubenses inseridos na
condiccedilatildeo de pobreza eacute bem expressivo correspondendo a 3587 da populaccedilatildeo em 2010
24
In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p14)
83
Eacute faacutecil perceber que se trata de uma cidade pouco desenvolvida pobre sem muita
educaccedilatildeo e condiccedilotildees baacutesicas de sauacutede Isso reflete tanto na economia como na qualidade de
vida sem falar no cenaacuterio ambiental pois a situaccedilatildeo como estaacute posta favorece muito mais a
degradaccedilatildeo dos recursos naturais
Falando em questotildees ambientais dentro do contexto da dinacircmica populacional de
Irauccediluba eacute interessante citar a retraccedilatildeo no nuacutemero de indiviacuteduos residentes na aacuterea rural
desde a deacutecada de 70 e consequentemente aumento na urbana Considerando que os riscos de
desertificaccedilatildeo satildeo mais acentuados nas regiotildees densamente povoadas porque haacute maior
pressatildeo sobre os bens naturais e que a densidade demograacutefica do municiacutepio em 2010 estava
em 1539 habkm Folhes e Viana (2001) pontuam
A densidade demograacutefica de Irauccediluba representa pouco mais da metade do que
Ferreira et al (1994) estabeleceram como ldquofator de pressatildeordquo no estudo que se
tornou conhecido por ser o primeiro a confeccionar o mapa de susceptibilidade agrave
desertificaccedilatildeo do Nordeste brasileiro dada(s) as condiccedilotildees de semi-aridez as
condiccedilotildees dos solos a disponibilidade de aacutegua da regiatildeo e a capacidade de suporte
da mesma adotou-se como fator de pressatildeo sobre o meio ambiente a densidade
igual ou superior a 20habkm2 (p19-20)rdquo Veem-se a dificuldade e imprecisatildeo dos
estudos quanto agrave determinaccedilatildeo de algum ponto criacutetico onde a relaccedilatildeo densidade
demograacutefica versus processos de desertificaccedilatildeo passa de causa para efeito
(FOLHES e VIANA 2001 p 13)
Os autores ainda reforccedilam que o municiacutepio se enquadra no grupo com fraca
densidade demograacutefica que eacute de 10 a 20habkm2 de acordo com a classificaccedilatildeo estabelecida
pelo diagnoacutestico agro-soacutecio-econocircmico
Segundo Folhes e Viana (2001) um dos iacutendices mais sensiacuteveis para se medir o
niacutevel de desenvolvimento de um municiacutepio eacute a taxa de mortalidade infantil pois ela revela a
estreita ligaccedilatildeo entre o estado de sauacutede da populaccedilatildeo o acesso aos serviccedilos meacutedicos
condicionados pela situaccedilatildeo soacutecioeconocircmica da populaccedilatildeo Em Irauccediluba essa taxa eacute de 1592
mortos a cada 1000 nascidos vivos maior ainda que a do estado 133225
A economia de Irauccediluba gira em torno de atividades como agricultura e pecuaacuteria
Aquela engloba culturas praticadas em lavouras permanentes e temporaacuterias e esta envolve a
criaccedilatildeo de gado de vaacuterias espeacutecies e aves como galos e galinhas Em termos comparativos
traccedilou-se um paralelo do sistema produtivo econocircmico nos anos de 2001 e 2011 para que se
pudesse avaliar alguma retraccedilatildeo ou evoluccedilatildeo no quadro agropecuaacuterio e industrial do
municiacutepio
A figura 15 abaixo eacute autoexplicativa de modo que prontamente se percebe a
banana e a manga como as culturas mais significativas ficando logo atraacutes o cocircco da baiacutea
25
SESA (2011) In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p 9)
84
Nota-se tambeacutem natildeo haver muita diferenccedila de produccedilatildeo dos trecircs cultivos agriacutecolas nesses
dois anos o que leva a concluir que os produtores do municiacutepio mantiveram os investimentos
e colheitas semelhantes O mesmo natildeo ocorreu com o algodatildeo arboacutereo pois seu resultado caiu
drasticamente no periacuteodo analisado Ressalte-se poreacutem que o ano de 2001 foi mais produtivo
que o de 2011 com exceccedilatildeo da castanha de caju
Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Permanentes
Fonte IBGE (2001 e 2011)
Com relaccedilatildeo agraves lavouras temporaacuterias o destaque eacute da mandioca e da mamona
muito embora esta uacuteltima soacute apresente resultados no ano de 2011 Outras culturas temporaacuterias
satildeo o milho e o feijatildeo mas natildeo constam na figura 16 porque a disparidade entre os dois anos
e a alta produtividade em 2011 dificultariam a visualizaccedilatildeo
Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Temporaacuterias
Fonte IBGE (2001 e 2011)
85
De qualquer maneira a safra de milho e feijatildeo em 2001 natildeo foi tatildeo expressiva
ou seja correspondeu a 14 e 7 toneladas respectivamente Jaacute em 2011 esse nuacutemero foi agraves
alturas chegando agraves 4433 toneladas de milho e 2088 toneladas de feijatildeo
Jaacute os produtos de origem florestal comuns em Irauccediluba satildeo a cera o poacute e a fibra
da carnauacuteba o carvatildeo vegetal a lenha e a madeira em tora poreacutem os mais relevantes satildeo o
carvatildeo vegetal e a lenha conforme se vecirc nas figuras 17 e 18
Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em tonano
Fonte IBGE (2001 e 2011)
Como a lenha e a madeira em tora tecircm unidade de medida diferente dos demais
produtos construiu-se a figura 18 para natildeo deixaacute-las de fora da anaacutelise
0100020003000400050006000700080009000
1000011000
Lenha Madeira em tora
Produtos de origem vegetal (m3ano)
2001
2011
Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em m3ano
Fonte IBGE (2001 e 2011)
86
Quanto aos produtos de origem animal o leite foi o mais vultoso sobressaindo-se
nos anos de 2001 e 2011 Na tabela 11 abaixo tambeacutem foram relacionados os outros mas
com participaccedilatildeo bem pequena na produtividade do municiacutepio
Tabela 11 - Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem animal Produtos de origem animal
Leite Mel de abelha Ovos de galinha Ovos de codorna
Produccedilatildeo (mil l) Produccedilatildeo (kg) Produccedilatildeo (mil dz) Produccedilatildeo (mil dz)
2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011
5228 6031 0 507 80 143 0 1
Fonte IBGE (2001 e 2011)
Em termos industriais julgou-se interessante fazer uma comparaccedilatildeo um tanto
mais abrangente citando tambeacutem os nuacutemeros do ano de 2010 Observa-se que os grupos de
induacutestrias existentes em Irauccediluba reuacutenem as de extraccedilatildeo mineral construccedilatildeo civil e
principalmente as de transformaccedilatildeo conforme figura 19
Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011)
Fonte IBGE (2001 2010 e 2011)
Eacute possiacutevel observar pela figura acima que as empresas de extraccedilatildeo mineral e de
construccedilatildeo civil pouco se desenvolveram durante o periacuteodo analisado o mesmo natildeo ocorreu
com as induacutestrias de transformaccedilatildeo que inclusive chamam bastante atenccedilatildeo Estas se
desdobram em vaacuterias espeacutecies como por exemplo produccedilatildeo de minerais natildeo metaacutelicos
metaluacutergica mecacircnica produccedilatildeo de material eleacutetrico eletrocircnico e comunicaccedilatildeo produccedilatildeo de
material para transporte madeireira mobiliaacuteria produccedilatildeo de papel papelatildeo e borracha
beneficiamento de couros peles e similares quiacutemica produccedilatildeo de produtos farmacecircuticos e
veterinaacuterios de material plaacutestico tecircxtil vestuaacuterio calccedilados artefatos de tecido couros e
peles produtos alimentares bebidas fumo dentre outras
87
De 2001 para 2010 a quantidade de induacutestrias de transformaccedilatildeo pouco aumentou
passando de 13 para 17 mas de 2010 a 2011 esse rol duplicou indo de 17 para 34 empresas
como se pode observar pelas figuras 20 21 e 22
Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001
Fonte IBGE (2001)
Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010
Fonte IBGE (2010)
TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 13
TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 17
88
Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011
Fonte IBGE (2011)
A induacutestria tecircxtil oscilou em nuacutemeros visto que em 2001 contava com 5
empresas em 2010 com 4 expandido para 9 de forma que essa quantidade representou 26
do total de induacutestrias em Irauccediluba no ano de 2011 Outra atividade expressiva no municiacutepio eacute
a de produtos alimentares Muito embora natildeo exista em 2010 nos anos de 2001 e 2011 ela
totalizava 5 e 9 unidades respectivamente representando 23 e 26 cada uma no universo de
empresas Em terceiro plano encontra-se a produccedilatildeo de minerais natildeo-metaacutelicos que em 2001
contou com 1 induacutestria em 2010 com 2 e em 2011 com 3 Aleacutem disto apareceram a partir de
2010 atividades como mobiliaacuterio couros e peles vestuaacuterio e uma categoria natildeo definida pelo
IBGE classificada como diversas Em contrapartida desapareceram da contagem as
induacutestrias madeireira e metaluacutergica
Na pecuaacuteria existe a criaccedilatildeo de gado e aves O realce no primeiro grupo eacute dado
pelos bovinos seguido pelos ovinos e caprinos tanto no ano de 2010 como 2011 sendo neste
os nuacutemeros maiores Quanto agraves aves a ocorrecircncia eacute de galos frangos frangas e pintos aleacutem
de galinhas Entre estes dois grupos o primeiro eacute mais representativo como bem se examina
pela figura 23
TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 34
89
Figura 23 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos
Fonte IBGE (2011 e 2011)
Sem esquecer outros rebanhos mesmo que de menor grandeza existem no
municiacutepio bubalinos muares coelhos e codornas segundo os nuacutemeros apresentados na
tabela 12
Tabela 12 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores Rebanhos Bubalinos Muares Coelhos Codornas
Ano 2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011
Nordm de indiviacuteduos 98 48 380 436 22 67 89 193
Fonte IBGE (2011 e 2011)
Por fim conclui-se que em Irauccediluba eacute praticado aleacutem das atividades industriais o
tripeacute econocircmico baseado na produccedilatildeo agriacutecola pecuaacuteria e madeireira esta a partir da
exploraccedilatildeo de lenha e carvatildeo vegetal Desta maneira seria mais interessante para o municiacutepio
considerando suas caracteriacutesticas ambientais o uso de sistemas de produccedilatildeo
agrossilvopastoris Nesse sentido Arauacutejo Filho e Silva (2013) ilustram
Os sistemas de produccedilatildeo agrossilvipastoris satildeo formas de uso e manejo da terra nas
quais aacutervores e arbustos satildeo utilizados em associaccedilatildeo com cultivos agriacutecolas e
animais numa mesma aacuterea de maneira simultacircnea ou numa sequecircncia temporal
Cada componente do sistema de produccedilatildeo deve ter pelo menos uma funccedilatildeo proacutepria e
sua integraccedilatildeo garante sua funcionalidade Assim as aacutervores devem ser em nuacutemero
suficiente para um aporte significativo de serrapilheira fonte de mateacuteria orgacircnica
para o solo Os animais satildeo os redistribuidores de nutrientes entre os componentes
do sistema via urina e esterco E as culturas garantem a produccedilatildeo de alimentos para
a famiacutelia e seus animais e contribuem para a circulaccedilatildeo de nutrientes dentro do
sistema Os SAF‟s podem tambeacutem ser usados para a reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e
econocircmica de aacutereas degradadas sobre luvissolos e argissolos (ARAUacuteJO FILHO e
SILVA 2013 p 1819)
90
323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba
A caracterizaccedilatildeo ambiental realizada no municiacutepio das aacutereas de estudo engloba a
altimetria as classes de relevo demonstrando a declividade do terreno que varia de plano a
forte ondulado os tipos de solos e suas associaccedilotildees de classes entre si o clima envolvendo
dados sobre a pluviometria anual o iacutendice de umidade o nuacutemero de meses sem chuva a
temperatura e a evapotranspiraccedilatildeo total anual do municiacutepio Comenta-se ainda a vegetaccedilatildeo e
suas formas aleacutem dos rios e accediludes existentes em Irauccediluba reunindo seus recursos hiacutedricos
3231 Altimetria e Classe de relevo
A altimetria do municiacutepio estaacute exibida na figura 24 conforme seus niacuteveis de
altitude que variam de 80 a 840 metros acima do mar
Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba
91
Jaacute o relevo oscila de plano a forte ondulado conforme figura 25 Arauacutejo Filho e Silva
(2013 p 1) definem que ldquonos planossolos o relevo varia de plano a suave-ondulado (de 1 a 8)
nos argisssolos e nos luvissolos apresentam-se em relevo de suave-ondulado a ondulado (de 8 a
20) e os litoacutelicos estatildeo em relevo forte-ondulado (de 20 a 45)rdquo
Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba
3232 Solos
A regiatildeo semiaacuterida nordestina ldquo[] recebe anualmente calor e luz em excesso o
que resulta em raacutepida mineraccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica Seus solos satildeo geralmente pouco
profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica mas relativamente ricos
em bases trocaacuteveisrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 7)
O PAN (BRASIL 2004) assegura que as classes de associaccedilatildeo de solos presentes
no semiaacuterido do Nordeste satildeo o bruno natildeo caacutelcico litoacutelicos podzoacutelico eutroacutefico terra roxa
estruturada cambissolo ondulado e forte ondulado e planossolos Apresentam tambeacutem tipos
de relevo e susceptibilidade agrave erosatildeo diferenciados como mostra a tabela 13
92
Tabela 13 - Relaccedilatildeo de solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo
CLASSES DE SOLO RELEVO SUSCEPTIBILIDA Agrave
EROSAtildeO
Bruno natildeo caacutelcico (Luvissolos) Suave ondulado e ondulado Forte
Litoacutelicos Ondulado forte ondulado e
montanhoso Muito forte
Podzoacutelico eutroacutefico terra roxa
estruturada cambissolo ondulado e
forte ondulado
Ondulado e forte ondulado Moderado
Planossolos Plano e suave ondulado Moderado
Fonte PAN Brasil (2004)
ldquoTrecircs classes de solos se destacam no municiacutepio de Irauccediluba luvissolos com
432 de cobertura planossolos com 187 e litoacutelicos com 332 Juntos eles perfazem
951 da aacuterea do municiacutepiordquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2)
Os luvissolos constituem os solos mais utilizados pela agricultura migratoacuteria do
semiaacuterido nordestino Por causa do desmatamento e uso do fogo haacute indicaccedilotildees de que pelo
menos 65 da aacuterea de cobertura deste importante solo se encontrem em erosatildeo de grave a
muito grave Em Irauccediluba natildeo eacute diferente pois a agricultura eacute praticada nas aacutereas recobertas
por luvissolos e solos litoacutelicos enquanto a pecuaacuteria eacute desenvolvida tanto no planossolo com
presenccedila tambeacutem nas aacutereas de luvissolo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013)
Em se tratando de associaccedilatildeo de solos a tabela 14 indica a nomenclatura utilizada
por Jacomine (1973) e pela EMBRAPA (2006) para definir os tipos de associaccedilatildeo
encontrados em Irauccediluba apontando ainda a porcentagem de cada um dentro da respectiva
associaccedilatildeo E a figura 26 apresenta a distribuiccedilatildeo dessas associaccedilotildees no municiacutepio de forma
que eacute possiacutevel notar o predomiacutenio da associaccedilatildeo NC15 seguida da Re25 e Re26
Tabela 14 - Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEMBRAPA
ASSOCIACcedilAtildeO
DE SOLO EM
JACOMINE
(1973)
NOMENCLATURA DOS SOLOS NAS ASSOCIACcedilOtildeES DO SOLO
NA
ASSOCIACcedilAtildeO JACOMINE (1973) EMBRAPA (2006)
PE6
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO moderado
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 40
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO chemozecircnico
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 30
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 15
AFLORAMENTOS DE ROCHA - 15
PE42
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 70
REGOSOL EUTROacuteFICO NEOSSOLOS
REGOLIacuteTICOS 30
NC7 BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO LUVISSOLO 40
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 35
93
BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO veacutertico LUVISSOLO 25
NC15
BRUNOS NAtildeO CAacuteLCICOS
INDISCRIMINADOS LUVISSOLO 40
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 25
PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 20
SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 15
PL6
PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 45
SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 35
SOLOS OTOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 20
Re6
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 65
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 35
Re25 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel
estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -
Re26 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel
estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -
Fonte Jacomine et al (1973) e EMBRAPA (2006)
Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba
94
Por fim a figura 27 apresenta os quatro grandes grupos de solo encontrados em
Irauccediluba e sua distribuiccedilatildeo no municiacutepio sendo eles Podzoacutelico vermelho amarelo
equivalente eutroacutefico (PE) Bruno natildeo caacutelcico (NC) Planossolo (PL) e Solos litoacutelicos (Re)
Figura 27 Grupos de solos que formam associaccedilotildees pedoloacutegicas em Irauccediluba
3233 Clima
ldquoO clima na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba eacute conforme classificaccedilatildeo de Koumlppen
(MILLER 1971) do tipo Bshw semiaacuterido megateacutermico com curta estaccedilatildeo chuvosa no
veratildeo-outono e com concentraccedilatildeo das precipitaccedilotildees pluviais nos meses de marccedilo e abrilrdquo
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2) Anualmente o municiacutepio apresenta pluviometria
meacutedia abaixo dos 700 mm mas existe maior incidecircncia de chuva em outras regiotildees de
Irauccediluba Eacute o que demonstra a figura 28
Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba
Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba
95
Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba
ldquoA regiatildeo apresenta um dos mais baixos iacutendices pluviomeacutetricos do Estado do Cearaacute
com meacutedia histoacuterica de 540 mm Isto porque a aacuterea encontra-se a sotavento da serra
de Uruburetama constituindo-se em uma ldquosombra de chuvardquo causada pela
interceptaccedilatildeo pela serra dos ventos uacutemidos oriundos do oceanordquo (ARAUacuteJO FILHO
e SILVA 2013 p 2)
O municiacutepio passa a maior parte do ano sem chuva aproximadamente dez meses
e apesar da pouca pluviosidade a evapotranspiraccedilatildeo eacute maior que a precipitaccedilatildeo Sem poder
ser diferente as temperaturas variam de 25 a 28 graus sendo que na maior parte da aacuterea
incidem temperaturas de 26 a 27 graus centiacutegrados e a umidade aponta a incidecircncia do clima
semiaacuterido em Irauccediluba As figuras 06 29 30 31 e 32 ilustram as informaccedilotildees declaradas
96
Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba
Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual
97
Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba
Figura 32 Iacutendice Efetivo de umidade em Irauccediluba
Fonte NOLEcircTO (2005)
98
3234 Vegetaccedilatildeo
A caatinga eacute um dos maiores biomas brasileiros e significa mata branca Por ser
uma vegetaccedilatildeo xeroacutefila eacute capaz de suportar vaacuterios anos de estiagem recuperando com
rapidez suas atividades logo nas primeiras chuvas apoacutes a seca A adaptaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo ao
clima semiaacuterido eacute impressionante como por exemplo as cascas claras ou reluzentes servem
para diminuir o aquecimento do tecido vivo da planta Por causa da falta de aacutegua satildeo
caducifoacutelias isto eacute as folhas caem durante a estaccedilatildeo seca para evitar excesso de perda d‟aacutegua
pela evapotranspiraccedilatildeo aleacutem disto os caules satildeo projetados para armazenar aacutegua (MAIA
2012)
ldquoA caatinga se assemelha a arbustos tropicais ou bosques de espinhos Eles
contecircm pequenas aacutervores de madeira dura grotescamente retorcidas e com espinhos as folhas
satildeo pequenas e caem durante a estaccedilatildeo secardquo Odum e Barret (2008 p 453)
Fisionomicamente eacute possiacutevel diferenciar os tipos de vegetaccedilatildeo o arboacutereo que estaacute nas
superfiacutecies mais conservadas sendo o pau branco o angico o pereiro dentre outras suas
espeacutecies mais representativas o arbustivo que eacute sinal de aacutereas jaacute degradadas pelo
desmatamento uso agriacutecola e pecuaacuteria e o herbaacuteceo figurado por gramiacuteneas presentes
somente durante o periacuteodo chuvoso e explorado pela pecuaacuteria extensiva (DANTAS et al
2007)
ldquoO Bioma Caatinga estaacute inserido no quadro dos Ecossistemas da Regiatildeo das
Caatingas e Florestas Deciduais do Nordeste Abrange as especificidades do Domiacutenio
Morfoclimaacutetico das Caatingas sejam elas arbustivas ou arboacutereasrdquo (BRASIL 2004 p 68) Os
frutos amadurecem ao fim da eacutepoca das chuvas quase que generalizadamente na maioria das
espeacutecies arboacutereas e herbaacuteceas permanecendo pendentes dos ramos durante algum tempo Ao
se desprenderem e caiacuterem no solo natildeo germinam de imediato pois a resistecircncia da casca e
outros artifiacutecios da natureza impedem a germinaccedilatildeo pronta Se germinassem morreriam quase
em seguida natildeo resistindo agrave longa estaccedilatildeo seca e quente da estiagem com interrupccedilatildeo brusca
e total das chuvas A germinaccedilatildeo poreacutem processa-se rapidamente logo ao caiacuterem as
primeiras chuvas pois os indumentos foram intensamente desgastados pelo intemperismordquo
As queimadas realizadas para a preparaccedilatildeo de novos terrenos de cultivo desempenham papel
de grande poder destruidor do ambiente ldquoCompreende-se pois que a restauraccedilatildeo da
cobertura vegetal depende da preservaccedilatildeo desses estoques de sementesrdquo26
26
Conferir SOBRINHO Vasconcelos (1983) In PAN Brasil 2004
99
ldquoA vegetaccedilatildeo da aacuterea do nuacutecleo de desertificaccedilatildeo de Irauccediluba espelha os efeitos dos
fatores fiacutesicos mormente os de natureza hiacutedrica e edaacutefica e da accedilatildeo antroacutepica
Assim as aacutereas dos solos argissolos litoacutelicos e luvissolos apresentam uma cobertura
arbustiva-arboacuterea formando um verdadeiro mosaico de diferentes estaacutedios
sucessionais em virtude das praacuteticas agriacutecola ambientalmente agressivasrdquo [] ldquoAs
aacutereas sobre os planossolos estatildeo recobertas por uma caatinga assavanada e
esporadicamente com afloramentos rochosos e com cobertura arbustiva arboacuterea
meacutedia abaixo de 20 e densidade de cerca 200plantasha A camada herbaacutecea de
biodiversidade inferior ao das aacutereas de luvissolos ou argissolos eacute rica no entanto
em espeacutecies forrageiras destacando-se a erva de ovelha (Stylosanthes humilis)
vassourinha (Stylosanthes angustifolia) urinana (Zornia bracteata) e capim accedilu
(Paspalum milegrana) O capim panasco no entanto predomina nas aacutereas
sobrepastejadasrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 34)
A figura 33 espelha a composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba Segue claro que a Caatinga
Arboacuterea Sem Palmeira (Cas) predomina seguida da Caatinga Arboacuterea Com Palmeira (Cap) e
da Caatinga Parque Sem Palmeira (Cps) A Floresta Ombroacutefila Aberta (Acc1) e as Aacutereas De
Formaccedilatildeo Pioneira (Acc2) representam uma aacuterea menor do municiacutepio
Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba
3235 Recursos Hiacutedricos
O nuacutecleo de Irauccediluba estaacute situado na bacia hidrograacutefica do rio Curu contando com
o aporte dos rios Aracatiaccedilu e Caxitoreacute aleacutem de vaacuterios riachos destacando-se o Aroeira o
Fonte NOLEcircTO (2005)
Fonte NOLEcircTO (2005)
100
Gabriel e o Cachoeira A ausecircncia de barragens de porte representativo faz com que a
pequena accediludagem assuma um papel relevante Destacam-se dentre essas os Accediludes Satildeo
Gabriel do Mocoacute (IRAUCcedilUBA 2009)
Por conta da irregularidade das chuvas que contribui para favorecer o escoamento
de superfiacutecie junto agraves condiccedilotildees geoloacutegicas predominantemente cristalinas favorecem o
escoamento raacutepido das aacuteguas pluviais inviabilizando o acuacutemulo de aacuteguas subterracircneas em
quantidades razoaacuteveis (IRAUCcedilUBA 2009) existem no municiacutepio cerca de 28 pequenos
accediludes nomeando-se o Nogueira Ramos o Cairu Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu e o Jerimum
que abastece a cidade de Irauccediluba ldquoUma estrutura muito comum no municiacutepio eacute o barreiro da
salvaccedilatildeo constituindo-se em um sistema temporaacuterio de armazenamento de aacutegua para atender
agrave demanda dos rebanhos durante boa parte da estaccedilatildeo secardquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA
2013 p 3)
324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo
A partir da abordagem feita no item 323 passa-se a analisar a realidade de cada
propriedade estudada Visando apontar os aspectos geoambientais dos imoacuteveis construiu-se
um quadro siacutentese conforme tabela 15 abaixo
Tabela 15 ndash Anaacutelise Geral das propriedades estudadas
Anaacutelise
Imoacuteveis com Reserva Legal
Riachuelo
Alto Alegre
Aacuteguas
Mortas
Almas
Cajazeiras
II
Saco
Verde
Miramar
Classe
no
Tipo
Niacuteveis da Classe
no Tipo
Aacuterea (km2)
336 238 127 124 671 86
no Niacutevel da Classe no Tipo
Precipitaccedilatildeo
Total
Meacutedia Anual
lt 600 - - - - 103 -
600 a 700 100 100 100 755 100
700 a 800 - - - 976 112 -
800 a 900 - - - 24 - -
Temperatura
Meacutedia Anual
(oC)
25-26 - - - - 71 -
26-27 100 100 100 100 929 100
27-28 - - - - - -
ETP
lt 1450 - - - - 100 100
1450-1500 - - - - - -
1500-1550 - - - - - -
1550-1600 100 100 100 - - -
1600-1650 - - - 141 - -
1650-1700 - - - 859 - -
101
Nugravemero
de
Meses secos
85 a 95 100 100 564 100 330 -
95 a 105 - - 454 - 670 100
gt105 - - - - - -
Im
gt - 333 - - - - - -
- 344 a - 499 100 100 100 100 388 15
lt - 499 - - - - 612 985
Igravendice de Aridez
do UNEP 020 a 050 100 100 100 100 780 100
050 a 065 - - - - 220 -
Classes
de
Relevo
Plano 23 46 56 112 55 135
Suave Ondulado 162 316 378 373 227 485
Ondulado 194 338 427 64 124 130
Muito Ondulado 127 111 72 38 72 70
Forte Ondulado 463 185 66 264 400 179
Montanhoso 31 04 - 105 120 03
Escarpado - - - 44 02 -
Classes
de
Altitude
80-120 - - -- 560 - -
120-160 - - - 113 - -
160-200 - - - 60 321 -
200-240 54 171 723
240-280 01 41 460 40 85 202
280-320 139 614 521 36 68 49
320-360 349 211 10 41 56 24
360-400 178 65 01 38 70 02
400-440 90 24 - 28 53 -
440-480 63 21 - 19 55 -
480-520 45 16 - 10 45 -
520-560 33 05 - 02 32 -
560-600 29 02 - - 15 -
600-640 25 01 - - 10 -
640-680 17 - - - 08 -
680-720 13 - - - 07 -
720-760 07 - - - 03 -
760-800 05 - - - 02
800-840 03 - - - - -
840-880 02 - - - - -
880-920 01 - - - - -
Associaccedilotildees
de
Solos
PE 6 - - - - 207 -
PE 42 - - - 913 - -
NC 7 - - - - - -
NC 15 940 755 516 - - 441
PL 6 - - - - 348 -
Re 6 - - - - - -
Re 25 - - - 87 445 -
Re 26 60 245 424 - - 559
Grupos
de
solos
PE - - - 913 207 -
NC 940 762 516 - - 441
PL - - - - 348 -
Re 60 238 484 87 445 559
Cobertura
Vegetal
Cas 515 934 100 - 265 100
Cap - - - 649 - -
Cps - - - - 168 -
Acc1 485 66 - - - -
Acc2 351 567 -
Quanto agrave graduaccedilatildeo altimeacutetrica em que se encontra cada propriedade em estudo eacute
possiacutevel observar que a RiachueloAlto Alegre tem niacuteveis de altimetria crescentes a partir de
102
240 ateacute 920 metros destacando-se como o imoacutevel de maior altitude seguido de Saco Verde e
Aacuteguas Mortas As outras natildeo passam dos 560 metros de altitude
Em se tratando da classe de relevo a que se apresenta mais plana eacute Miramar com
135 de sua aacuterea seguida de Cajazeiras II com 112 Em relevo montanhoso destacam-se
Saco Verde com 12 de terreno e Cajazeiras II com 105 No entanto a predominacircncia eacute de
imoacuteveis inseridos na faixa entre o suave ondulado e o forte ondulado
Os imoacuteveis em anaacutelise situam-se em diferentes grupos de solos como ilustra a
tabela 15 Por exemplo RiachueloAlto Alegre e Aacuteguas Mortas estatildeo 94 e 762
respectivamente em luvissolos ou seja em solos Bruno natildeo caacutelcicos e Podzoacutelico vermelho
amarelo equivalente eutroacutefico Almas e Miramar estatildeo divididas aproximadamente agrave metade
em solo litoacutelico e em Bruno natildeo caacutelcico Em Cazajeiras II predomina o solo Podzoacutelico
vermelho amarelo equivalente eutroacutefico mas apresenta um pequeno percentual em solo
litoacutelico E por fim Saco Verde possui uma distribuiccedilatildeo variada de solos Podzoacutelico vermelho
amarelo equivalente eutroacutefico (207) Planossolos (348) e litoacutelicos (445) sendo o
uacutenico imoacutevel com planossolos
Nas associaccedilotildees de solos prevalece a subclasse 15 dos solos Bruno natildeo caacutelcicos
(NC) nas propriedades RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas e Almas Cajazeiras II estaacute
quase totalmente na subclasse 42 do Podzoacutelico vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) e
Miramar mesmo quase ao meio entre NC e Re possui a maior parte de sua aacuterea na subclasse
26 de solos litoacutelicos (Re) Saco Verde embora um tanto quanto bem distribuiacuteda tem 207
de aacuterea na subclasse 6 dos Podzoacutelicos vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) 348
em planossolos subclasse 6 inclusive eacute o uacutenico imoacutevel nessa classificaccedilatildeo e 445 em Re6
A realidade das aacutereas em estudo descrita na tabela 15 revela que mais da metade
delas estaacute inserida na faixa de pluviosidade abaixo dos 700 mm contudo Cajazeiras II foge agrave
regra apresentando pluviometria entre 700 a 900 mm Em Saco Verde ocorre distribuiccedilatildeo
irregular de chuvas e aleacutem de estar na meacutedia tem precipitaccedilatildeo tanto abaixo dos 600 como
acima de 700 mm
E por fim a cobertura vegetal de Almas Miramar quase toda de Aacuteguas Mortas e
a metade RiachueloAlto Alegre eacute de caatinga arboacuterea sem palmeira (Cas) enquanto que mais
de 50 da Cajazeiras II estaacute em caatinga arboacuterea com palmeira (Cap) Saco Verde tem mais
da metade da aacuterea em formaccedilatildeo pioneira (Acc2)
103
33 Metodologia
A metodologia utilizada no levantamento acerca da existecircncia de reserva legal no
municiacutepio de Irauccediluba envolveu algumas fases de anaacutelise como pesquisa bibliograacutefica
documental caracterizaccedilatildeo da aacuterea sob os aspectos sociais econocircmicos e ambientais o uso de
imagens orbitais e a aplicaccedilatildeo do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada (NDVI -
Normalized Difference Vegetation Index) nas propriedades em estudo
A abordagem envolveu o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo uma vez que para avaliar a
aplicabilidade da reserva legal como forma de combater o processo de degradaccedilatildeo ambiental
em Irauccediluba partiu-se da hipoacutetese de que se cada detentor de propriedade rural cumprisse a
obrigaccedilatildeo de implantaacute-la o processo de degradaccedilatildeo quiccedilaacute o de desertificaccedilatildeo seria estancado
no municiacutepio Aleacutem disso seria um instrumento proporcionador da recuperaccedilatildeo ambiental em
virtude de seus benefiacutecios A investigaccedilatildeo se deu por procedimentos de vieacutes histoacuterico e
comparativo tendo sido realizada uma retrospectiva de como foi o tratamento dado agrave reserva
legal no contexto juriacutedico econocircmico social e ambiental Aleacutem disto estudou-se as
propriedades que apresentaram o instituto mesmo que soacute documentalmente de maneira a
confrontar a situaccedilatildeo existente nos anos de 1993 e 2007 e sua modificaccedilatildeo
Para alcanccedilar os propoacutesitos deste trabalho ocorreu a coleta de dados pela pesquisa
documental e bibliograacutefica aleacutem da observaccedilatildeo direta intensiva que foi possiacutevel pelo exame
de dados obtidos por imagens do sateacutelite LANDSAT 5 referente aos anos de 1993 e 2007
bem como a avaliaccedilatildeo das aacutereas estudadas atraveacutes do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila
Normalizada (NDVI)
As informaccedilotildees geograacuteficas das propriedades em estudo foram disponibilizadas
basicamente pelo INCRA e pelo cartoacuterio de imoacuteveis de Irauccediluba Ambos cederam as plantas
georreferenciadas que foram vetorizadas em UTM 24s atraveacutes do programa CARTALINX 12
para em seguida serem exportadas para o IDRISI 322 e entatildeo convertidas para latitude e
longitude DATUM GS 84
331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite
O NDVI eacute um iacutendice de vegetaccedilatildeo derivado de imagens de sateacutelites e muito
utilizado na avaliaccedilatildeo da cobertura vegetal indicando o tipo a condiccedilatildeo e a densidade da
vegetaccedilatildeo atraveacutes do uso de bandas No caso as bandas do vermelho na faixa do visiacutevel e do
infravermelho proacutexima (PINHEIRO 2011) Agrave medida que aumenta a quantidade de
104
vegetaccedilatildeo verde aumenta a reflexatildeo na banda do infravermelho proacuteximo e diminui a reflexatildeo
na banda do vermelho fazendo com que o aumento da razatildeo seja potencializado realccedilando
assim a vegetaccedilatildeo27
Na banda do vermelho a clorofila absorve a energia solar resultando em uma
baixa reflectacircncia e no infravermelho proacuteximo tanto a morfologia interna das folhas quanto a
estrutura da vegetaccedilatildeo apresentam uma alta reflectacircncia da energia solar incidente A
combinaccedilatildeo dessas bandas realccedila a aacuterea de vegetaccedilatildeo nas imagens e quanto maior o contraste
maior o vigor da vegetaccedilatildeo da aacuterea imageada (LOURENCcedilO LANDIM 2004)28
Portanto o NDVI pode ser utilizado como uma teacutecnica para mapeamento
contiacutenuo da cobertura vegetal de uma regiatildeo possibilitando analisar e monitorar a
variabilidade desta em periacuteodos distintos (PINHEIRO 2011) Ressaltam ainda as diferenccedilas
entre aacutereas vegetadas e de solo exposto (VERONA 2002)29
O caacutelculo para se chegar ao NDVI deriva da razatildeo entre os valores das bandas do
vermelho e infravermelho proacuteximo ou seja a diferenccedila da resposta espectral do pixel dessas
bandas pela sua soma (SILVA et al 2007)30
resulta nos valores do NDVI que variam de ndash1 a
+1 A equaccedilatildeo para o caacutelculo do NDVI foi proposta por (JENSEN 1996)31
in Ewerton Torres
Melo 2008) conforme segue abaixo
NDVI = (NIR - R) (NIR + R)
Em que
NDVI eacute o iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada NIR eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Infra-Vermelho Proacuteximo
(076 a 090 μm)
R eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Vermelho (063 a 069μm)
Assim a vegetaccedilatildeo eacute caracterizada por uma intensa absorccedilatildeo devido agrave clorofila na
regiatildeo do vermelho (063 ndash 069 μm) e por uma intensa energia refletida na regiatildeo do
infravermelho proacuteximo (076 ndash 090 μm) causada pela estrutura celular das folhas Portanto
muitos dos modelos de iacutendice de vegetaccedilatildeo utilizam somente as bandas de imagem vermelha
ou proacutexima ao infravermelho (MELO 2008)
27
Novo (1989) In MELO Ewerton Torres (2008) 28
In PINHEIRO 2011 29
Idem 30
Ibidem 31
In MELO 2008
105
Conforme (BRAGA et al sd) estudos de variabilidade temporal e espacial sobre
a regiatildeo Nordeste do Brasil indicam que as aacutereas vegetadas variam de 01 a 08 sendo que
esses valores dependem da estrutura densidade e umidade da vegetaccedilatildeo As rochas e os solos
apresentam valores proacuteximos de zero e a aacutegua aparece com valores negativos Coberturas
vegetais muitos densas se expressam pelos maiores valores obtidos (PINHEIRO 2011)
106
4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES
41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba
O foco principal da pesquisa foi levantar e analisar as propriedades que de alguma
forma apresentem a reserva legal seja oficial ou extraoficialmente Com o exame das imagens
de sateacutelite dos anos de 1993 e 2007 utilizando o NDVI constatou-se que os iacutendices da
cobertura vegetal satildeo muito parecidos tanto dentro como fora da aacuterea de reserva ao serem
comparados pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Isto leva a crer que o instituto legal pode natildeo
ter promovido qualquer diferenccedila em termos de cobertura vegetal sem falar na hipoacutetese de
nem mesmo ter sido cumprido
Analisando os iacutendices de NDVI comprova-se que na grande maioria dos
imoacuteveis a cobertura vegetal tanto dentro como fora da aacuterea de reserva legal diminuiu entre
os anos de 1993 e 2007 Embora nas propriedades a vegetaccedilatildeo se apresente em niacuteveis
diferenciados de existecircncia representados pelas faixas 2 a 9 da tabela 16 vecirc-se que quase
todos em 1993 apresentavam aacutereas significativas de vegetaccedilatildeo na faixa 6 e 7 Se averiguar as
mesmas colunas em 2007 eacute notoacuteria a retraccedilatildeo nos iacutendices salvo na faixa 5 referente aos
imoacuteveis Aacuteguas Mortas Almas e Saco Verde
Tabela 16 - NDVI dos imoacuteveis estudados
IMOacuteVEL SEGMENTO ANO
Aacuterea no niacutevel de NDVI como uma porcentagem da aacuterea total do segmento
Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 4 Faixa 5 Faixa 6 Faixa 7 Faixa 8 Faixa 9
0 a 01 01 a 02 02 a 03 03 a 04 04 a 05 05 a 06 06 a 07 07 a 08 08 a 09
Riachuelo
Alto
Alegre
Fora 1993 0558 0458 0978 2418 9904 68884 16798 0022 0019
2007 1369 1351 2366 9734 56243 28713 0205 0019 -
Reserva 1993 0532 0319 0473 1006 3224 57424 36868 0074 -
2007 1818 1611 1951 7524 53112 33777 0207 - -
Aacuteguas
Mortas
Fora 1993 1588 1833 2701 6525 18029 41168 28024 0141 -
2007 4979 3485 4979 12220 34523 39105 0616 0097 -
Reserva 1993 - - 0084 1246 10452 56862 31356 - -
2007 2092 1902 6677 6127 52292 34545 0275 0085 -
Almas Fora 1993 1954 1336 1650 3339 9359 48925 33222 0216 -
2007 0845 1463 2583 13464 44731 36659 0216 - 0039
Reserva 1993 13455 3058 2299 3858 12198 40686 23344 0156 0156
2007 1052 1208 1052 7947 53759 34827 0156 - -
Miramar Fora 1993 - - 1075 6023 36519 50699 5684 - -
2007 0810 1001 1870 6818 66765 22545 0132 0059 -
Reserva 1993 1540 0285 0799 7758 39646 48431 1540 - -
2007 - 0513 2339 33143 63206 0799 - - -
Saco
Verde
Fora 1993 6867 5558 9959 20131 37338 19016 0097 1097 1097
2007 6469 8972 19278 30986 32219 2026 0050 - -
Reserva 1993 6927 9383 17136 26903 29900 9113 0609 0030 -
2007 8767 10375 17166 29254 332881 1157 - - -
Cajazeiras
II
Fora 1993 0040 0606 8206 39766 45877 5412 0092 - -
2007 2003 9562 25154 44710 17723 0647 - - -
Reserva 1993 2885 2885 12402 48057 29936 2360 0674 - -
2007 3895 8165 21610 39476 26704 0150 - -
Os iacutendices de NDVI da tabela 16 serviram de base para o caacutelculo da anaacutelise de
semelhanccedila pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Assim a constataccedilatildeo acima eacute confirmada pela
tabela 17 que por sua vez atesta o grau de similaridade entre a aacuterea interna e externa agrave
reserva legal nos anos analisados Eacute surpreendente o niacutevel de semelhanccedila encontrado O
percentual mais baixo em 1993 eacute de 798 chegando no mesmo ano a 933 Jaacute em 2007 a
percentagem de semelhanccedila diminui nos imoacuteveis Aacuteguas Mortas e Miramar de 81 para 75 e
de 933 para 731 respectivamente Isto natildeo quer dizer que o niacutevel de cobertura vegetal
melhorou ou piorou mas que a diferenccedila na semelhanccedila entre dentro e fora da aacuterea de reserva
legal nessas propriedades reduziu sugerindo que o respeito agravequele instituto pode ter
promovido a alteraccedilatildeo Em contrapartida nos outros imoacuteveis essa semelhanccedila aumentou
aproximando-se dos 94
Assim eacute provaacutevel que pelos meacutetodos utilizados a funccedilatildeo proposta pelo instituto
da reserva legal natildeo esteja sendo alcanccedilada visto que o grau de semelhanccedila entre a aacuterea de
dentro e fora da reserva legal estaacute muito aproximado pois sequer apresentou-se abaixo dos
70 de diferenccedila
Tabela 17 - Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal pelo meacutetodo de Sorensen (1948)
ANAacuteLISE DE SEMELHANCcedilA DE SORENSEN () ENTRE
FORA E DENTRO DA AacuteREA DE RESERVA LEGAL
IMOacuteVEL
Reserva
ANO 1993 2007
108
Riachuelo Alto Alegre Fora 1993 798 -
2007 - 941
Aacuteguas Mortas Fora 1993 810 -
2007 - 750
Almas Fora 1993 821 -
2007 - 908
Saco Verde Fora 1993 799 -
2007 - 891
Cajazeiras II Fora 1993 813 -
2007 - 952
Miramar Fora 1993 933 -
2007 - 731
109
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A abordagem dos assuntos aqui tratados e os resultados alcanccedilados permitem a
conclusatildeo de que a reserva legal eacute uma criaccedilatildeo da lei com intenccedilotildees conservacionistas
avanccediladas Como espaccedilo especialmente protegido requer um tratamento diferenciado natildeo soacute
como previsto em normas mas sob a oacutetica da sociedade Observou-se que foi um assunto
amplamente tratado e debatido nas esferas do poder legislativo e judiciaacuterio do paiacutes e que
tambeacutem eacute alvo de poliacuteticas puacuteblicas e atuaccedilatildeo das autoridades competentes embora um tanto
falhas
Contatou-se que o emprego da reserva legal no municiacutepio de Irauccediluba eacute pouco expressivo
diante da quantidade de propriedades ali existentes por isso os benefiacutecios trazidos pela
conservaccedilatildeo desses espaccedilos mal podem ser sentidos no municiacutepio que sofre com a degradaccedilatildeo
ambiental contiacutenua inclusive com a presenccedila do processo de desertificaccedilatildeo Aleacutem disto a
falta de cumprimento do formal procedimento acerca da implantaccedilatildeo da reserva legal em
aacutereas puacuteblicas eacute intrigante Isto porque se pressupotildee accedilotildees de estrita legalidade envolvendo o
ente estatal Nesse sentindo partindo do entendimento que os projetos de assentamento satildeo
resultado de poliacuteticas puacuteblicas para reforma agraacuteria pressupunha-se que nestes espaccedilos a
reserva legal estaria estabelecida mas as anaacutelises mostraram que natildeo haacute diferenccedila quando
comparadas a aacuterea de dentro e de fora da reserva nas propriedades A situaccedilatildeo eacute anaacuteloga no
imoacutevel particular apreciado
A respeito da degradaccedilatildeo viu-se que Irauccediluba por ser rota de passagem do gado
desde o seacuteculo XIX aporta animais em transumacircncia de outras regiotildees Os relatos de jesuiacutetas
que cruzaram o municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XVII registram o lugar com vegetaccedilatildeo fechada
e densa Diante disso eacute possiacutevel afirmar que nem sempre Irauccediluba teve um ambiente inoacutespito
e com caracteriacutesticas severamente adversas O quadro atual se deve agraves intervenccedilotildees antroacutepicas
sem teacutecnicas apropriadas para o desenvolvimento de atividades econocircmicas em conjunto com
as caracteriacutesticas de um meio semiaacuterido Essas atividades geralmente abrangem culturas de
subsistecircncia praticadas recorrentemente no mesmo lugar sem o pousio necessaacuterio do solo que
por sua vez natildeo eacute tatildeo rico em nutrientes em decorrecircncia dos desmatamentos e queimadas
Pela caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo pocircde se verificar que seus atributos
envolvem solos pouco profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica
O clima eacute o semiaacuterido onde haacute baixa pluviometria e temperaturas em torno dos 28ordmC e a
vegetaccedilatildeo eacute caatinga nos tipos arbustivos e herbaacuteceos excepcionalmente o arboacutereo por causa
da degradaccedilatildeo
Os resultados mostraram que os iacutendices de NDVI nas propriedades analisadas
apontam um grau de semelhanccedila de ateacute 94 entre dentro e fora da aacuterea da reserva legal pelo
que se pode inferir 2 suposiccedilotildees
1) A reserva legal existe somente em niacutevel documental e natildeo no local apontado
dentro do imoacutevel
ou
2) A reserva legal existe mas estaacute com a cobertura vegetal bem semelhante agrave de fora
da sua aacuterea de maneira que pode estar tatildeo degradada quanto ou tatildeo conservada
quanto
Partindo para a segunda suposiccedilatildeo os iacutendices de NDVI constatam sim que a
cobertura vegetal apresenta um grau elevado de semelhanccedila entre os dois espaccedilos e que em 4
dos 6 imoacuteveis ambos diminuiacuteram de 1993 a 2007 Desta forma natildeo haacute como afirmar que a
reserva legal no estado em que se encontra nas propriedades analisadas eacute um meio de
combater a degradaccedilatildeo ambiental Contudo nos casos em que real e verdadeiramente for
aplicada por certo traraacute ganhos ambientais mas isto deve ser alvo de mais e maiores estudos
acerca do assunto
Eacute curioso que mesmo Irauccediluba sendo um nuacutecleo de desertificaccedilatildeo e por isso alvo
de estudos pesquisas projetos e poliacuteticas puacuteblicas envolvendo degradaccedilatildeo recuperaccedilatildeo e
conservaccedilatildeo ambiental a situaccedilatildeo aparentemente natildeo progride em termos de melhorias Ao
contraacuterio disto constata-se cada vez mais a deterioraccedilatildeo do meio ambiente a ocupaccedilatildeo e a
utilizaccedilatildeo indevida dos recursos naturais
Encerrando a abordagem do assunto tratado assevera-se que a reserva legal jaacute eacute
um instituto consolidado em lei natildeo justificando quaisquer argumentos quanto ao seu
descumprimento Inclusive a natildeo observacircncia do bendito mandamento eacute considerada crime e
nesse sentido natildeo haacute uma atuaccedilatildeo maciccedila do Estado em termos de fiscalizaccedilatildeo pois se assim
existisse natildeo se estaria diante de uma constataccedilatildeo tatildeo seacuteria acerca do pequeno nuacutemero de
imoacuteveis que apresentaram a reserva legal mesmo que documentalmente Essa estatiacutestica
diminuiu ainda mais quando se analisou a diferenccedila na vegetaccedilatildeo sendo possiacutevel concluir que
o caraacuteter conservacionista da reserva legal e ela proacutepria natildeo estatildeo alcanccedilando o fim para que
foi criada
Por fim acredita-se que a reserva legal se cumprida eacute um instrumento
conservacionista capaz de auxiliar na recuperaccedilatildeo ambiental e arrefecer os processos de
111
degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo criticamente manifestos no municiacutepio de Irauccediluba Indo mais
aleacutem vecirc-se que pela oacutetica do referido instituto o desenvolvimento sustentaacutevel eacute possiacutevel
pois mesmo de encontro a interesses particulares ele consegue reunir e harmonizar o vieacutes
econocircmico o social e o ambiental
112
REFEREcircNCIAS
AGCO Lanccedilamento nacional do CAR deve sair ateacute junho Sou Agro 22052013
Disponiacutevel em lt httpwwwsouagrocombrgt Acesso em 27 mai 2013
AHRENS Sergio O ldquonovordquocoacutedigo florestal brasileiro conceitos juriacutedicos fundamentais
Trabalho Voluntaacuterio In CONGRESSO FLORESTAL BRASILEIRO 8 Satildeo Paulo SP
Anais Satildeo Paulo Sociedade Brasileira de Silvicultura Brasiacutelia Sociedade Brasileira de
Engenheiros Florestais 2003 1 CD-ROM
AMADO Frederico Augusto Di Trindade Direito ambiental sistematizado Rio de Janeiro
Forense Satildeo Paulo Meacutetodo 2009
ANTUNES Paulo de Bessa Aacutereas protegidas e propriedade constitucional Satildeo Paulo
Atlas 2011
ARAUacuteJO Gustavo Henrique de Sousa ALMEIDA Josimar Ribeiro de GUERRA Antocircnio
Joseacute Teixeira Gestatildeo ambiental de aacutereas degradadas 3ed ndash Rio de Janeiro Bertrand
Brasil 2008
ARAUacuteJO FILHO Joatildeo Ambroacutesio SILVA Nilzemary Lima da Impactos e mitigaccedilatildeo do
antropismo no nuacutecleo de desertificaccedilatildeo em Irauccediluba In OLIVEIRA Joseacute Gerardo Beserra
SALES Marta Celina Linhares (Org) Monitorando a desertificaccedilatildeo em Irauccediluba
resultados de doze anos de pesquisa Fortaleza Ediccedilotildees UFC2013 (No Prelo)
BACHA Carlos Joseacute Caetano Eficaacutecia da poliacutetica de reserva legal no Brasil Teoria e
Evidecircncia Econocircmica Passo Fundo RS v 13 n25 p9-27 2005
BRASIL Acoacuterdatildeo nordm 2633-51 de 10 de dezembro de 2007 do Tribunal de Contas da Uniatildeo
Relatoacuterio de auditoria Projetos de assentamento Estudos de viabilidade ambiental Reserva
legal Licenciamento ambiental Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 11 dez 2007
Disponiacutevel em lthttptcugovbrgt Acesso em 12 mar 2013
BRASIL Constituiccedilatildeo Repuacuteblica dos Estados Unidos do Brasil de 16 de julho de 1934
Constituiccedilatildeo (1934) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Rio de Janeiro RJ 16 jul 1934
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 8 jul 2013
BRASIL Constituiccedilatildeo Repuacuteblica dos Estados Unidos do Brasil de 18 de setembro de 1946
Constituiccedilatildeo (1946) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Rio de Janeiro RJ 25 set 1946
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 08 jul 2013
BRASIL Constituiccedilatildeo Repuacuteblica Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988
Constituiccedilatildeo (1988) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia-DF 05 out 1988
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 8 set 2011
BRASIL Decreto Federal ndeg 24643 de 10 de julho de 1934 Decreta o Coacutedigo de Aacuteguas
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 10 jul 1934
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Decreto Federal ndeg 23793 de 23 de janeiro de 1934 Aprova o coacutedigo florestal
que com este baixa Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Rio de Janeiro RJ 21 mar 1935
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 11 nov 2010
BRASIL Decreto-Lei ndeg 227 de 28 de fevereiro de 1967 Daacute nova redaccedilatildeo ao Decreto-lei
nordm 1985 de 29 de janeiro de 1940 (Coacutedigo de Minas) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia
DF 28 fev 1967 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Decreto Federal nordm 6514 de 22 de julho de 2008 Dispotildee sobre as infraccedilotildees e
sanccedilotildees administrativas ao meio ambiente estabelece o processo administrativo federal
para apuraccedilatildeo destas infraccedilotildees e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo Brasiacutelia DF 23 jul 2008 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em
05 out 2010
BRASIL Lei Federal ndeg 4504 de 30 de novembro de 1964 Dispotildee sobre o Estatuto da Terra
e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 31 nov 1964
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 08 jul 2013
BRASIL Lei Federal nordm 4771 de 15 de setembro de 1965 Institui o novo Coacutedigo Florestal
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 16 set 1965 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 10 out 2010
BRASIL Lei Federal ndeg 4947 de 06 de abril de 1966 Fixa Normas de Direito Agraacuterio
Dispotildee sobre o Sistema de Organizaccedilatildeo e Funcionamento do Instituto Brasileiro de
Reforma Agraacuteria e daacute outras Providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 11 abr
1966 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 02 abr 2013
BRASIL Lei Federal nordm 5197 de 03 de janeiro de 1967 Dispotildee sobre a proteccedilatildeo agrave fauna e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 03 jan 1967
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 6015 de 31 de dezembro de 1973 Dispotildee sobre os registros
puacuteblicos e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 31 dez 1973
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 6938 de 31 de agosto de 1981 Dispotildee sobre a Poliacutetica Nacional
do Meio Ambiente seus fins e mecanismos de formulaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 02 set 1981
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 13 ago 2012
BRASIL Lei Federal nordm 7803 de 18 de julho de 1989 Altera a redaccedilatildeo da Lei nordm 4771 de
15 de setembro de 1965 e revoga as Leis nordms 6535 de 15 de junho de 1978 e 7511 de 7
de julho de 1986 Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 20 jul 1989
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 15 mar 2012
BRASIL Lei Federal nordm 7827 de 27 de setembro de 1989 Regulamenta o art 159 inciso I
aliacutenea c da Constituiccedilatildeo Federal institui o Fundo Constitucional de Financiamento do
Norte - FNO o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste - FNE e o Fundo
Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste - FCO e daacute outras providecircncias
114
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 27 set 1989 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 13 mai 2013
BRASIL Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada Amazocircnia Legal Brasiacutelia 2011
Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrgt Acesso em 02 jun2013
BRASIL Lei Federal nordm 9443 de 08 de janeiro de 1997 Institui a Poliacutetica Nacional de
Recursos Hiacutedricos cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hiacutedricos
regulamenta o inciso XIX do art 21 da Constituiccedilatildeo Federal e altera o art 1ordm da Lei nordm
8001 de 13 de marccedilo de 1990 que modificou a Lei nordm 7990 de 28 de dezembro de 1989 Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 08 jan 1997 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 05 out 2010
BRASIL Lei Federal nordm 9605 de 12 de fevereiro de 1998 Dispotildee sobre as sanccedilotildees penais e
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 12 fev 1998
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 11959 de 29 de junho de 2009 Dispotildee sobre a Poliacutetica Nacional
de Desenvolvimento Sustentaacutevel da Aquicultura e da Pesca regula as atividades
pesqueiras revoga a Lei nordm 7679 de 23 de novembro de 1988 e dispositivos do Decreto-
Lei nordm 221 de 28 de fevereiro de 1967 e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo Brasiacutelia DF 29 jun 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em
11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 12651 de 25 de maio de 2012 Dispotildee sobre a proteccedilatildeo da
vegetaccedilatildeo nativa altera as Leis nos 6938 de 31 de agosto de 1981 9393 de 19 de
dezembro de 1996 e 11428 de 22 de dezembro de 2006 revoga as Leis nos 4771 de 15
de setembro de 1965 e 7754 de 14 de abril de 1989 e a Medida Provisoacuteria no 2166-67
de 24 de agosto de 2001 e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF
25 mai 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 17 jan 2013
BRASIL Medida Provisoacuteria nordm 1511 de 25 de julho de 1996 Daacute nova redaccedilatildeo ao art 44
da Lei nordm 4771 de 15 de setembro de 1965 e dispotildee sobre a proibiccedilatildeo do incremento da
conversatildeo de aacutereas florestais em aacutereas agriacutecolas na regiatildeo Norte e na parte Norte da
regiatildeo Centro-Oeste e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 26
jul 1996 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Medida Provisoacuteria nordm 2166-67 de 24 de agosto de 2001 Altera os arts 1o 4o 14
16 e 44 e acresce dispositivos agrave Lei no 4771 de 15 de setembro de 1965 que institui o
Coacutedigo Florestal bem como altera o art 10 da Lei no 9393 de 19 de dezembro de 1996
que dispotildee sobre o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 25 ago 2001 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 05 out 2010
BRASIL Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio II Plano Nacional de Reforma Agraacuteria
ndash PNRA 2003 Conferecircncia da Terra em Brasiacutelia Disponiacutevel em lt httpwwwmdagovbrgt Acesso em 23 jul 2013
115
BRASIL Resoluccedilatildeo CONAMA ndeg 5 de 15 de junho de 1989 Dispotildee sobre o Programa
Nacional de Controle da Poluiccedilatildeo do Ar ndash PRONAR Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF
25 ago 1989 Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro
Brasiacutelia 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwasabrasilorgbrgt Acesso em 05 jun 2013
BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Monitoramento do desmatamento nos biomas
brasileiros por sateacutelite Acordo de cooperaccedilatildeo teacutecnica MMAIBAMA Monitoramento do
bioma Caatinga Brasiacutelia 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 16
mar 2012
BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Programa de Accedilatildeo Nacional de Combate agrave
Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca PAN-Brasil Brasiacutelia 2004
Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 07 mai 2012
BRASIL Norma de Execuccedilatildeo INCRA nordm 43 de 28 de junho de 2005 Estabelece criteacuterios e
procedimentos referentes agrave implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de
Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria Boletim de Serviccedilos nordm
27 de 04072005 Disponiacutevel em lthttpwwwincragovbrgt Acesso em 05 abr 2013
BRASIL Norma de Execuccedilatildeo INCRA nordm 44 de 28 de junho de 2005 Estabelece valor
unitaacuterio por famiacutelia referente agrave implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de
Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria
Disponiacutevel em lthttpwwwincragovbrgt Acesso em 05 abr 2013
BRASIL Norma de Execuccedilatildeo INCRA nordm 51 de 24 de julho de 2006 Aprova o Manual para
Elaboraccedilatildeo e Implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos naturais e
seus Anexos Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 26 jul 2006
Disponiacutevel em lthttpwwwincragovbrgt Acesso em 05 abr 2013
BRASIL Resoluccedilatildeo CONAMA ndeg 387 de 27 de dezembro de 2006 Revoga a Resoluccedilatildeo
CONAMA no 28901 Estabelece procedimentos para o licenciamento ambiental de Projetos
de Assentamentos de Reforma Agraacuteria e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo Brasiacutelia DF 29 dez 2006
Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 03 abr 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Lei Estadual nordm 12488 de 13 de setembro de
1995 Dispotildee sobre a Poliacutetica Florestal do Estado do Cearaacute e daacute outras providecircncias Diaacuterio
Oficial do Estado Cearaacute CE 27 set 1995
Disponiacutevel em lthttpwwwalcegovbrgt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Resoluccedilatildeo COEMA ndeg 09 de 29 de maio de
2003 Institui o compromisso de compensaccedilatildeo ambiental por danos causados ao meio
ambiente e pela utilizaccedilatildeo de recursos ambientais Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 09
jun 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwsemacecegovbrgt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Lei Complementar Estadual nordm 48 de 19 de julho
de 2004 Cria o Fundo e o Conselho Estadual Gestor do Meio Ambiente ndash FEMA e daacute
116
outras providecircncias Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 23 jul 2004 Disponiacutevel em
lthttpwwwalcegovbr gt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Decreto Estadual ndeg 27719 de 07 de marccedilo de
2005 Regulamenta a Lei Complementar nordm 48 de 19 de julho de 2004 que cria o Fundo
Estadual do Meio Ambiente ndash FEMA o Conselho Gestor e revoga o Decreto nordm 27564 de
17 de setembro de 2004 Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 07 mar 2005 Disponiacutevel
em lthttpwwwalcegovbr gt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Lei Estadual nordm 14198 de 05 de agosto de 2008
Institui a Poliacutetica Estadual de Combate e Prevenccedilatildeo agrave Desertificaccedilatildeo e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 12 ago 2008 Disponiacutevel em
lthttpwwwalcegovbrgt Acesso em 19 jul 2013
CEARAacute Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute ndash IPECE Cearaacute em
nuacutemeros Fortaleza 2010 Disponiacutevel em httpwwwipececegovbr Acesso em 17 nov
2012
CEARAacute Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute Perfil baacutesico municipal
Irauccediluba Fortaleza 2012 Disponiacutevel em httpwwwipececegovbr Acesso em 21 jul
2013
CEARAacute Secretaria dos Recursos Hiacutedricos Programa de accedilatildeo estadual de combate agrave
desertificaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo dos efeitos da seca PAE-CE Fortaleza Ministeacuterio do Meio
Ambiente Secretaria dos Recursos Hiacutedricos 2010 372p
CRIADO Francisco de Asiacutes Palaacutecios O registro e seus desafios no novo milecircnio ordem
progresso e proteccedilatildeo ambiental Satildeo Paulo Saraiva 2010
DANTAS Eustoacutegio Wanderley Correia et al Cearaacute um novo olhar geograacutefico 2 ed atual
Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha 2007
EMBRAPA Centro Nacional de Pesquisa de Solos (Rio de Janeiro RJ) Sistema brasileiro
de classificaccedilatildeo de solos 2 ed ndash Rio de Janeiro 2006
FILHO Humberto Lima de Lucena Consideraccedilotildees acerca da medida provisoacuteria ndash aspectos
juriacutedicos e praacuteticas governamentais Revista Eletrocircnica Jus Navegandi Ano 2005 mecircs
JULHO Disponiacutevel em ltwwwjuscombrgt Acesso em 02 jun 2013
FOLHES Marcelo Teophilo VIANA Manuel Osoacuterio de Lima Estudo da
degradaccedilatildeodesertificaccedilatildeo em sistemas de produccedilatildeo no semiaacuterido nos estados do Cearaacute
e Piauiacute diagnoacutestico soacutecio-econocircmico do municiacutepio de Irauccediluba Departamento de Economia
Agriacutecola da Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2001
GALDINO Valeacuteria Silva CANDIDO Angeacutelica Giosa Da reserva legal florestal como
limitaccedilatildeo ao direito de propriedade Revista de Ciecircncias Juriacutedicas v 6 n1 237-252 2008
GUERRA Antocircnio Joseacute Teixeira et al Dicionaacuterio de meio ambiente Rio de Janeiro Thex
2009
117
IBGE Censo 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrgt Acesso 3 ago 2013
IBGE Censo 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrgt Acesso 3 ago 2013
IBGE Censo 2011 Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrgt Acesso 3 ago 2013
IRAUCcedilUBA Prefeitura Municipal Lei Municipal nordm 565 de 19 de outubro de 2007 Dispotildee
sobre a Poliacutetica Ambiental do Municiacutepio de Irauccediluba Unidades de Conservaccedilatildeo e daacute
outras providecircncias IrauccedilubaCE 2007
IRAUCcedilUBA Prefeitura Municipal Plano de accedilatildeo municipal de combate a desertificaccedilatildeo
de Irauccediluba (PAM 2009) Irauccediluba CEInstituto Cactos 2009
JACOMINE P K T et al Levantamento exploratoacuterio reconhecimento de solos do Estado
do Cearaacute Recife DPP AgMADNPEA-SUDENEDRN 1973 2 v (Boletim de Pesquisa n
28)
LUSTOSA Jacqueline Pires Gonccedilalves Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica micromorfoloacutegica e
mineraloacutegica de trecircs topossequumlecircncias no Municiacutepio de Irauccediluba e suas relaccedilotildees com os
processos de desertificaccedilatildeo 142f 2004 Tese de doutorado em Geociecircncias Instituto de
Geociecircncias e Ciecircncias Exatas da Universidade Estadual Paulista Rio ClaroSP 2004
MAIA Gerda Nickel Caatinga aacutervores e arbustos e suas utilidades 2 ed Fortaleza
Printcolor Graacutefica e Editora 2012
MAGNANINI Alceo A histoacuteria da Lei Federal ndeg 47711965 (ldquoCoacutedigordquo florestal
brasileiro) Disponiacutevel em lthttpwwwportaldomeioambienteorgbrgt Acesso em lt20 dez
2010gt
MATALLO JR Heitor A desertificaccedilatildeo no mundo e no Brasil In SCHENKEL Celso
Salatino MATALLO JR Heitor Desertificaccedilatildeo Brasiacutelia UNESCO 1999
MEIRELES Hely Lopes Direito administrativo brasileiro 29 ed Satildeo Paulo Malheiros
2004
MELO Ewerton Torres Diagnoacutestico fiacutesico conservacionista da microbacia do riacho dos
cavalos - Crateuacutes-Cearaacute 128f 2008 Dissertaccedilatildeo de mestrado do Programa Regional de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) da Universidade
Federal do Cearaacute FortalezaCE 2008
MELO Marcelo Augusto Santana O meio ambiente e o registro de imoacuteveis Satildeo Paulo
Saraiva 2010
METZGER Jean Paul Bases bioloacutegicas para a bdquoreserva legal‟ Revista Ciecircncia Hoje v 31
n 183 p 48-49 2002
MILAREacute Eacutedis Direito do ambiente e a gestatildeo ambiental em foco doutrina
jurisprudecircncia glossaacuterio 6ed rev atual e ampl Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais
2009
118
MIRANDA Joatildeo Paulo Rocha de Aquecimento global queimadas e reserva legal no
Direito Paacutetrio conflitos e desafios na Amazocircnia brasileira MT Amazoon Manaus 2008
MONDIN Basttista Introduccedilatildeo agrave filosofia problemas sistemas autores obras 15 ed Satildeo
Paulo Paulus 2004 p 117
MONTEIRO Washington de Barros Curso de direito civil parte geral 4 ed Satildeo Paulo
Saraiva 1992
MORAES Luis Carlos Silva de Coacutedigo florestal comentado Satildeo Paulo Atlas 2002
NOLETO Tania Maria Serra de Jesus Suscetibilidade geoambietal das terras secas da
microrregiatildeo de SobralCe agrave desertificaccedilatildeo 145f 2005 Dissertaccedilatildeo de mestrado do
Programa Regional de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA)
da Universidade Federal do Cearaacute FortalezaCE 2005
ODUM Eugene P BARRET Gary W Fundamentos da ecologia Satildeo Paulo Cengage
Learning 2008
PINHEIRO Renata Aline Bezerra Anaacutelise do processo de degradaccedilatildeodesertificaccedilatildeo na
bacia do riacho feiticeiro com base no DFC municiacutepio de Jaguaribe-Cearaacute 129f 2011
Dissertaccedilatildeo de mestrado do Programa Regional de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e
Meio Ambiente (PRODEMA) da Universidade Federal do Cearaacute FortalezaCE 2011
SALES Marta Celina Linhares Evoluccedilatildeo dos estudos de desertificaccedilatildeo no nordeste
brasileiro Revista GEOUSP Espaccedilo e TempoSatildep Paulo n11 p 115-126 2002
SCHAFFER Wigold B MEDEIROS Joatildeo de Deus Normas ambientais gerais de caraacuteter
nacional imprescindiacuteveis para as poliacuteticas estrateacutegicas do paiacutes Ano 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwapremaviorgbrgt Acesso em 20 set 2010
SILVA Benedita Aparecida de Poliacutetica florestal reserva legal extra propriedade Revista
Economia Anaacutelises e Perspectivas Socioeconocircmicas v 3 n7 p 59-60 2001
SORENSEN Thorvald Julius A Method of establishing groups of equal amplitude in
plant sociology based on similarity of species content and its application to analyses of
the vegetation on danish commons Koslashbenhavn I kommission hos E Munksgaard 1948
SUDENE Dados pluviomeacutetricos mensais do nordeste estado do Cearaacute Recife 1990
THORNTHWAITE Charles Warren MATHER John Russell The Water Balance
Publications in climatology New Jersey v3 n1 1955
TRENNEPOHL Curt As sanccedilotildees administrativas aplicaacuteveis pela falta de averbaccedilatildeo da
reserva legal Constitucionalidade e legalidade do art 55 do Decreto ndeg 651408 Foacuterum de
Direito Urbano e Ambiental v 8 n44 p 09-14 2009
119
ISABELLE MARINHO QUINDEREacute SARAIVA
O EMPREGO DA RESERVA LEGAL NO MUNICIacutePIO DE
IRAUCcedilUBACE
Dissertaccedilatildeo submetida agrave Coordenaccedilatildeo do
Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento
e Meio Ambiente da Universidade Federal do
Cearaacute como requisito parcial para obtenccedilatildeo do
tiacutetulo de Mestre em Desenvolvimento e Meio
Ambiente
Aacuterea de Concentraccedilatildeo Organizaccedilatildeo do Espaccedilo
e Desenvolvimento Sustentaacutevel
Orientador Prof Dr Joseacute Gerardo Beserra de
Oliveira
FORTALEZA
2013
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo
Universidade Federal do Cearaacute
Biblioteca de Ciecircncias e Tecnologia
S246e Saraiva Isabelle Marinho Quindere
O Emprego da reserva legal no municiacutepio de Irauccediluba Ce Isabelle Marinho Quindere Saraiva ndash
2013
122f il color enc 30 cm
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Universidade Federal do Cearaacute Programa Regional de Poacutes Graduaccedilatildeo
em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA Mestrado em Desenvolvimento e Meio
Ambiente Fortaleza 2013
Aacuterea de Concentraccedilatildeo Organizaccedilatildeo do Espaccedilo e Desenvolvimento Sustentaacutevel
Orientaccedilatildeo Prof Dr Joseacute Gerado Beserra de Oliveira
1 Degradaccedilatildeo 2 Coacutedigo florestal 3 Reserva legal 4 Irauccediluba-Ce I Tiacutetulo
CDD 6367
ISABELLE MARINHO QUINDEREacute SARAIVA
O EMPREGO DA RESERVA LEGAL NO MUNICIacutePIO DE
IRAUCcedilUBACE
Dissertaccedilatildeo submetida agrave Coordenaccedilatildeo do
Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento
e Meio Ambiente da Universidade Federal do
Cearaacute como requisito parcial para obtenccedilatildeo do
tiacutetulo de Mestre em Desenvolvimento e Meio
Ambiente
Aacuterea de Concentraccedilatildeo Organizaccedilatildeo do Espaccedilo
e Desenvolvimento Sustentaacutevel
Orientador Prof Dr Joseacute Gerardo Beserra de
Oliveira
Aprovada em ___ ___ _____
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
Prof Dr Joseacute Gerardo Beserra de Oliveira (Orientador)
Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC
________________________________________________
Profordf Drordf Marta Celina Linhares Sales
Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC
________________________________________________
Profordf Drordf Jacqeline Pires Gonccedilalves Lustosa
Universidade Federal de Campina Grande ndash UFCG
Dedico a Deus minha forccedila Autor da minha
vida meu tudo e ao meu marido Pedro
eterno companheiro e ajudador
AGRADECIMENTOS
A Deus que eacute Quem me permitiu ser aprovada estar e concluir esse curso tatildeo importante Ele
que em mim gerou todas as forccedilas necessaacuterias para continuar e natildeo desistir dando-me a
condiccedilatildeo de chegar ateacute o fim com louvor
Ao Professor Dr Joseacute Gerardo Beserra de Oliveira pela orientaccedilatildeo pela paciecircncia pelo
carinho e apoio desprendidos para a realizaccedilatildeo deste trabalho Por seus conhecimentos na
aacuterea pois sem eles natildeo poderia ter me levado a enriquecer tanto este trabalho
Agrave CAPES que me ajudou financeiramente
Agrave minha famiacutelia em especial minha matildee que sempre procurou saber como estava a minha
pesquisa dando-me aquele apoio nato de matildee
A Pedro Saraiva meu amor grande amor que sempre me apoiou e acreditou no meu talento
na minha competecircncia e vitoacuteria
Aos servidores do INCRA muito soliacutecitos e atenciosos com a minha pesquisa dentre eles sr
Raimundo Martins da Divisatildeo de Ordenamento da Estrutura Fundiaacuteria Joseacute Jaime D‟Alencar
Juacutenior do Serviccedilo de Cartografia Odilo Neto Luna Coelho e Joseacute Salmito de Almeida Juacutenior
ambos da Divisatildeo de Obtenccedilatildeo de Terras ndash setor de Serviccedilo ao Meio Ambiente
Agrave Dra Claacuteudia Regina Nogueira titular do Cartoacuterio de Registro de Imoacuteveis de Irauccediluba por
sua disponibilidade e por permitir o acesso aos livros cartoraacuterios onde encontrei dados tatildeo
importantes para o trabalho
Ao IDACE atraveacutes dos servidores Dr Paulo Henrique Lobo diretor teacutecnico de operaccedilotildees
Dr Ricardo Durval superintendente do oacutergatildeo Linardy Barreto de Holanda Priscila Azevedo
de Aguiar ambos do Nuacutecleo de Geoprocessamento (NUGEO) Nadir Loiola Dias e Florence
Mary Cavalcante Mouratildeo Lobo ambas da Diretoria Teacutecnica e de Operaccedilotildees (DTO) Todos
eles me ajudaram de forma a tornar possiacutevel parte desta pesquisa pelo que sou imensamente
grata
Perguntei-me inuacutemeras vezes se deveria prosseguir A resposta me era
dada quando olhava para traacutes e via meu passado cheio de grandes
vitoacuterias e conquistas pela matildeo de Deus e pelo meu esforccedilo Entatildeo
decidi que natildeo seria agora que natildeo chegaria ateacute o fim mesmo que o
que me impulsionou para esse desafio jaacute natildeo tem mais a mesma
intensidade Aqui estou eu fazendo desse momento mais uma
imensuraacutevel vitoacuteria por Aquele que um dia me deu essa oportunidade
A Ele toda honra e toda gloacuteria
A autora
RESUMO
A degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio de Irauccediluba eacute alvo de vaacuterias pesquisas pois eacute um
problema onde as causas estatildeo presentes natildeo soacute ali mas em grande parte do semiaacuterido
nordestino no entanto ao se tratar deste assunto logo vem agrave tona outra questatildeo mais seacuteria o
processo de desertificaccedilatildeo O presente trabalho faz uma raacutepida abordagem do semiaacuterido
dando especial evidecircncia agravequele municiacutepio englobando a origem da degradaccedilatildeo a atual
situaccedilatildeo local e possiacuteveis formas para minimizar ou ateacute mesmo estagnar aquele problema
ambiental O objetivo geral foi levantar o nuacutemero de propriedades rurais no municiacutepio
elegendo em sua maioria os projetos de assentamento rural e verificar se possuiacuteam ou natildeo
uma aacuterea especialmente protegida denominada reserva legal A escolha desse instituto como
indicador se deu por ser ele um instrumento criado por lei e que por sua vez impele todo e
qualquer proprietaacuterio ou possuidor rural a manter uma parcela miacutenima de 20 do seu imoacutevel
preservado como aacuterea de Reserva Legal Sua efetividade como instrumento de preservaccedilatildeo
foi analisada em 6 propriedades a partir de imagens do sateacutelite LANDSAT 5 com base nos
anos de 1993 e 2007 e atraveacutes da anaacutelise do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada
(NDVI) foi realizado um estudo comparativo para verificar se houve evoluccedilatildeo ou natildeo do
quadro vegetativo dentro e fora das aacutereas de reserva legal Na identificaccedilatildeo dos imoacuteveis
estudados soacute foram encontrados seis com reserva legal oficialmente implantada ateacute o ano de
2007 data mais recente da imagem de sateacutelite empregada A anaacutelise comparativa realizada
com esses imoacuteveis que tecircm algum tipo de registro no Cartoacuterio de Imoacuteveis eou no INCRA
dentre os 713 medidos e georreferenciados pelo IDACE e que por sua vez foi conduzida com
uso do NDVI natildeo indicou diferenccedila significativa entre os iacutendices encontrados para a
cobertura vegetal dentro e fora das aacutereas de Reserva Legal
Palavras-chave Degradaccedilatildeo Ambiental Coacutedigo Florestal Reserva Legal IrauccedilubaCE
ABSTRACT
The environmental degradation in the municipality of Irauccediluba is the target of several studies
because it is an issue where the causes are present in much of the northeastern semiarid
However when dealing with this subject soon comes to attention another issue which is more
serious and that arises from the ongoing degradation the process of desertification The
present paper analyzes briefly the cearense semiarid giving special emphasis to that
municipality so that the origin of the degradation the current local situation and even
possible ways to minimize or even stagnate that environmental problem were all the target of
this research The overall goal was to enumerate the number of farms among them those that
either have a specially protected area called legal reserve or those that does not The choice
of this statistic as an indicator was due to the fact that it is a legal instrument which in turns
compels all and any owner of land or rural possessor to maintain 20 of their property
preserved as a Legal Reserve area Its effectiveness as a tool for preservation was analyzed in
6 properties with the help of satellite images from LANDSAT 5 taken between the years
1993 and 2007 and by examining the Normalized Difference Vegetation Index (NDVI) a
comparative study was conducted to determine whether there was a growth or not of the
vegetative area inside and outside the legal reserves During the identification of the
properties to be studied only six were found to have a legal reserve officially implemented by
the year 2007 the most recent date of the satellite images used A comparative analysis with
those lands that have some kind of record in the Registry of Property andor INCRA among
the 713 measured and georeferenced by IDACE and that in turn used the NDVI as a
guideline indicated no significant difference on the index either inside or outside the Legal
Reserves areas
Key-Words Environmental degradation Forest code Legal reserve IrauccedilubaCE
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 27
Figura 2 Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 (Novo Coacutedigo
Florestal)
27
Figura 3 Sistema de degradaccedilatildeo do meio ambiente 47
Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro 53
Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute 54
Figura 6 Iacutendice de aridez (UNEP) 56
Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo no Cearaacute 57
Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo 57
Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no ISSD 59
Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no IESD 60
Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios 61
Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute 79
Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba 79
Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo 81
Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras permanentes 85
Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras temporaacuterias 85
Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem
vegetal (tonano)
86
Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem
vegetal (m3ano)
86
Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011) 87
Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001 88
Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010 88
Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011 89
Figura 23 Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos 90
Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba 91
Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba 92
Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba 94
Figura 27 Grupo de solos que formam as associaccedilotildees pedoloacutegicas em
Irauccediluba
95
Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba 96
Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba 97
Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual 97
Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba 98
Figura 32 Iacutendice de umidade em Irauccediluba 98
Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba 100
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Medidas Provisoacuterias 21
Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras 48
Tabela 3 Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez (UNEP) 52
Tabela 4 Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo 55
Tabela 5 Levantamento de imoacuteveis com reserva legal (cartoacuterio de
registro de imoacuteveis)
73
Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais 76
Tabela 7 Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba 77
Tabela 8 Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de
anaacutelise
80
Tabela 9 Dados da propriedade particular estudada 80
Tabela 10 Propriedades estudadas 81
Tabela 11 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem
animal
87
Tabela 12 Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores 90
Tabela 13 Relaccedilatildeo entre solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo 93
Tabela 14 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEmbrapa 93
Tabela 15 Anaacutelise geral das propriedades estudadas 101
Tabela 16 NDVI dos imoacuteveis estudados 107
Tabela 17 Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal entre dentro e fora da aacuterea
de reserva legal pelo meacutetodo Sorensen
108
SUMAacuteRIO
Lista de Figuras vii
Lista de Tabelas ix
Resumo v
Abstract vi
INTRODUCcedilAtildeO 12
1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 14
11 O Instituto da Reserva Legal 14
111 Conceito 15
112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica 17
113 Importacircncia da Reserva Legal 30
1131 Juriacutedica 31
1132 Social 32
1133 Ambiental 33
1134 Econocircmica 35
114 Direito de Propriedade X Reserva Legal 36
1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa 41
1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal 42
2 PROCESSO DE DEGRADACcedilAtildeO 45
21 Conceito 45
22 Degradaccedilatildeo ambiental 48
221 Erosatildeo 49
222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica 49
223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica 50
23 A degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 51
231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia 52
24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental 62
25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira 65
251 Lei ambiental de Irauccediluba 69
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 71
31 Reserva Legal em Irauccediluba 71
311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental ndash Projeto de
Assentamento Agraacuterio em foco
73
32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo 78
321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba 78
3211 Das propriedades estudadas 79
3212 Aspectos histoacutericos de ocupaccedilatildeo 82
322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas 82
323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba 91
3231 Altimetria e Classes de relevo 91
3232 Solos 92
3233 Clima 95
3234 Vegetaccedilatildeo 99
3235 Recursos Hiacutedricos 100
324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo 101
33 Metodologia 104
331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite 104
4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES 107
41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 107
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 110
REFEREcircNCIAS 113
INTRODUCcedilAtildeO
A degradaccedilatildeo como um problema ambiental jaacute foi alvo de inuacutemeras pesquisas
principalmente quando se trata do semiaacuterido brasileiro Estudos nesse sentido datam da
deacutecada de 70 eacutepoca em que o professor Vasconcelos Sobrinho passou a pesquisar o processo
de desertificaccedilatildeo no nordeste do Brasil (SALES 2002) Nas investigaccedilotildees ele identificou um
nuacutecleo no Cearaacute que se localiza em Irauccediluba Em assim sendo buscou-se desenvolver um
trabalho naquele municiacutepio tomando por base um mecanismo criado por lei cujo caraacuteter eacute a
conservaccedilatildeo do meio ambiente Trata-se da reserva legal Como nessa aacuterea natildeo haacute pesquisa
envolvendo a aplicabilidade do tal instituto viu-se a oportunidade de estudaacute-la produzindo-se
o presente trabalho
A proposta principal da pesquisa eacute fazer um levantamento dos imoacuteveis existentes
no municiacutepio de Irauccediluba pontuando de forma preponderante os de propriedade federal e
estadual destinados aos assentamentos rurais e assim identificar nessas aacutereas a existecircncia ou
natildeo do instituto da reserva legal e sua devida implantaccedilatildeo Nesse sentido encontrou-se 6
propriedades que possuiacuteam a reserva legal sendo 5 puacuteblicas e 1 privada Empoacutes o segundo
intuito envolve a diferenciaccedilatildeo entre a cobertura vegetal da reserva e do restante da
propriedade a partir da utilizaccedilatildeo de imagens de sateacutelite e o uso do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por
Diferenccedila Normalizada (NDVI)
Para isso foi necessaacuterio fazer um apanhado de como esse instrumento de
conservaccedilatildeo foi e eacute abordado no Coacutedigo Florestal que eacute a lei onde haacute previsatildeo da reserva
legal bem como traccedilar um histoacuterico de como se deu sua evoluccedilatildeo dentro do quadro
legislativo no paiacutes foi igualmente essencial Da mesma maneira buscou-se contextualizar a
importacircncia da reserva legal nos aspectos econocircmico juriacutedico social e ambiental de forma
que ficou ilustrado o valor que esse mecanismo tem para a sociedade As discussotildees de cunho
juriacutedico e praacutetico sobre o assunto foram levantadas pois o proprietaacuterio do imoacutevel vecirc a reserva
legal como ocircnus e natildeo como um instrumento de conservaccedilatildeo que traraacute imensuraacuteveis
benefiacutecios ambientais dentro de sua proacutepria aacuterea Encerrando o primeiro capiacutetulo tecircm-se as
formas de cumprir o mandamento legal que envolvem a reserva muito embora isto tenha
sofrido algumas alteraccedilotildees como se veraacute a seguir
Quanto agrave reserva legal em Irauccediluba as constataccedilotildees natildeo satildeo animadoras
Infelizmente haacute um desencontro de informaccedilotildees a comeccedilar pelo controle do nuacutemero de
imoacuteveis existentes no municiacutepio Em seguida soacute foram encontrados trecircs imoacuteveis com a
obrigaccedilatildeo devidamente formalizada em cartoacuterio Isso diante de um universo de mais de 700
propriedades eacute frustrante e desencorajador Outra abordagem feita neste toacutepico aponta o
licenciamento ambiental como mais um instrumento possibilitador da instalaccedilatildeo da reserva
legal pois o oacutergatildeo ambiental tem dever de exigir o tal instituto para licenciar atividades e
empreendimentos localizados em zona rural
Igualmente desalentadora eacute a degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio Por se tratar de
uma aacuterea com caracteriacutesticas naturalmente adversas e limitantes sua ingerecircncia deveria ser
profundamente fiscalizada e regulamentada pelas autoridades competentes em todos os niacuteveis
de governo Mas isso natildeo ocorre pelo contraacuterio em Irauccediluba satildeo exercidas atividades com
meacutetodos bem rudimentares e sem qualquer preocupaccedilatildeo com a recuperaccedilatildeo dos danos e com a
capacidade de suporte do meio Assim acontece a degradaccedilatildeo das aacutereas com a praacutetica do
desmatamento das queimadas do sobrepastoreio e outros tipos de intervenccedilatildeo
ambientalmente prejudiciais Diante desse quadro o homem do campo tende a abandonar
estas e ocupar outras terras estimulando ainda mais o processo de desertificaccedilatildeo ali presente
Outro toacutepico em que se chama atenccedilatildeo no trabalho eacute a quantidade de leis
envolvendo o tema Natildeo faltam regulamentaccedilotildees muito pelo contraacuterio sobram O que se
percebe eacute a existecircncia de leis para vaacuterios assuntos em vez de uma que englobe a maioria
deles Com lei ou sem lei a situaccedilatildeo parece natildeo progredir positivamente em termos de
recuperaccedilatildeo ambiental embora haja uma estrutura poliacutetica econocircmica e juriacutedica dirigida para
tais fins Aleacutem disto existem poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o municiacutepio especificamente e
outras que natildeo mas podem ser implementadas ali Eacute o caso dos benefiacutecios dos inuacutemeros
programas de governo direcionados para a reforma agraacuteria por exemplo Outro caso satildeo os
fundos de combate agrave degradaccedilatildeo e agrave desertificaccedilatildeo Nesta orientaccedilatildeo percebe-se que natildeo
faltam leis poliacuteticas puacuteblicas ou recursos Felizmente existe todo um aparato no sentido de
melhorar as condiccedilotildees ambientais e minimizar danos mas infelizmente na praacutetica essa
estrutura natildeo voga como deveria
Todo esse cenaacuterio estaacute enquadrado na caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo
devidamente abordada no terceiro capiacutetulo Laacute satildeo mencionados os aspectos socioeconocircmicos
do municiacutepio perpassando pelos acontecimentos histoacutericos de sua ocupaccedilatildeo As
caracteriacutesticas fisiograacuteficas de Irauccediluba tambeacutem se fazem presentes de maneira que foram
abordados aspectos pedoloacutegicos climaacuteticos vegetativos e hiacutedricos Aleacutem disto a metodologia
utilizada permitiu as constataccedilotildees discorridas nos resultados e discussotildees inseridas no
capiacutetulo 4 de forma que os objetivos da pesquisa foram alcanccedilados
13
1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
11 O Instituto da Reserva Legal
A reserva legal eacute um instituto cuja importacircncia perfaz o esteio do
desenvolvimento sustentaacutevel no sentido de que harmoniza a viabilidade econocircmica com a
justiccedila social e o equiliacutebrio ecoloacutegico Eacute um notaacutevel exemplo de que eacute possiacutevel coexistirem
interesses particulares e coletivos pois a reserva legal nada mais eacute que a conservaccedilatildeo
ambiental de uma determinada porcentagem da propriedade ou posse rural passiacutevel de
intervenccedilatildeo pelo homem do campo
O presente estudo indica a reserva legal como uma forma de conservaccedilatildeo do
meio em face da extraccedilatildeo vegetal promovida pelo proprietaacuterio agriacutecola Foca ainda os
aspectos social econocircmico e ambiental dessa imposiccedilatildeo que tem seu nascedouro na legislaccedilatildeo
vigente Corrobora Silva (2001 p 59) ao afirmar que ldquoa cobertura vegetal nativa sobretudo
as florestais exerce papel de fundamental importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de
ecossistemas naturais bem como de ecossistemas criados pelo homemrdquo No mesmo sentido
Miranda (2008 p 31) diz que ldquoa reserva legal contribui para a mitigaccedilatildeo do aquecimento
global salvaguarda a biodiversidade e garante agraves presentes e futuras geraccedilotildees o direito a um
meio ambiente ecologicamente equilibradordquo
Traz-se agrave tona os aspectos que fundamentam a reserva legal como um instituto
que fora criado por lei especiacutefica para a conservaccedilatildeo do meio pois erroneamente os
proprietaacuterios rurais a veem como limitaccedilatildeo ao direito de propriedade e entendem que destinar
uma porcentagem de seus imoacuteveis para uma aacuterea que natildeo corresponde agrave afericcedilatildeo de lucro eacute
tatildeo somente um ocircnus eou uma perda e natildeo um investimento Nesse sentido explicam
Galdino e Candido (2008 p 251) que ldquoa instituiccedilatildeo da reserva legal natildeo enfraquece ou destroacutei
o direito de propriedade Ao reveacutes possibilita a existecircncia de um meio ambiente
ecologicamente equilibrado condicionando a propriedade a uma funccedilatildeo socioambientalrdquo
Conforme Bacha (2005 p 24) ldquodeve-se pensar em novas formas de estiacutemulo
econocircmico ao produtor para que ele recomponha a reserva legal pois a legislaccedilatildeo atual
apenas lhe coloca custos em contrapartida de benefiacutecios a toda sociedaderdquo Cabe ainda
mencionar a possibilidade prevista no Coacutedigo Florestal ou seja na Lei 4771 (BRASIL
1965) quanto agrave intervenccedilatildeo na aacuterea destinada agrave reserva legal de forma sustentaacutevel sem
suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo
econocircmica dessas aacutereas
Existem estudos justificando biologicamente a existecircncia da reserva legal Eacute sobre
o que discorre Metzger (2002 p 48) quando afirma que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de
propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa satildeo
fundamentais para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada
regiatildeordquo Complementa ainda Silva (2001 p 59) quando afirma sobre ldquoa importacircncia da
cobertura vegetal em reserva legal que permite uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da
aacutegua no solo e no subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos aleacutem de
promover a manutenccedilatildeo da diversidade geneacuteticardquo
Ademais o exerciacutecio de atividades econocircmicas que tem por principal insumo os
recursos naturais modifica sensivelmente a cobertura vegetal e o solo contribuindo para um
processo de degradaccedilatildeo Para tanto o respeito agrave legislaccedilatildeo ambiental vigente como o Coacutedigo
Florestal por exemplo eacute de extrema relevacircncia uma vez que eacute norma conducente agrave
conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo das formas de vegetaccedilatildeo e suas respectivas ingerecircncias Tal lei
prevecirc a reserva legal como espaccedilo especialmente protegido
Balizando tal atividade econocircmica frente agrave observacircncia da reserva legal surge a
proposiccedilatildeo elencada por Bacha (2005 p 24) que ldquopara o produtor rural honrar tal instituto
tendo-o como lucrativo eacute necessaacuterio que sua composiccedilatildeo floriacutestica seja feita em parte com
espeacutecies comerciaisrdquo Eacute o que Miranda (2008 p 45) sob o aspecto socioeconocircmico bem
pontua quando evidencia que esta legislaccedilatildeo carece de aderecircncia social pois natildeo condiz com
a realidade e que enfatiza ainda
Para que haja aderecircncia social ela deveria prever uma reestruturaccedilatildeo completa no
modelo de desenvolvimento Sem isso tanto os pequenos como os grandes
proprietaacuterios natildeo possuiratildeo condiccedilotildees para cumprir a lei e uma vez na ilegalidade
cometem outros crimes ambientais E por entenderem que a lei natildeo eacute factiacutevel natildeo a
cumprem [] Aleacutem disso as linhas de creacutedito inclusive dos bancos oficiais natildeo
financiam atividades sustentaacuteveis mas a pecuaacuteria o plantio de soja entre outras por
acreditarem possuir nelas uma seguranccedila maior para o investimento (MIRANDA
2008 p 45)
111 Conceito
A reserva legal eacute um mecanismo criado para a conservaccedilatildeo dos recursos naturais
cuja origem eacute a lei Sua essecircncia sempre esteve presente em normas de caraacuteter protecionista
que dispunham sobre florestas e demais formas de vegetaccedilatildeo muito embora tenham ocorrido
inuacutemeras alteraccedilotildees ao longo do tempo Eacute o que se pode observar pela evoluccedilatildeo legislativa
que a seguir seraacute apontada
15
A expressatildeo reserva legal pode ser simploriamente entendida como uma aacuterea a ser
conservada por um detentor de imoacutevel rural e que por sua vez varia com a localidade do
bioma em que a aacuterea estaacute inserida A lei que versa sobre esse tema eacute conhecida como Coacutedigo
Florestal e com esse nome existiu em trecircs momentos diferentes da histoacuteria do legislativo
brasileiro O primeiro foi no ano de 1934 o segundo em 1965 e por uacuteltimo em 2012 estando
presente em todos eles uma seacuterie de modificaccedilotildees que levaram ao aperfeiccediloamento do
conteuacutedo e dos objetivos da reserva legal bem como flexibilizaccedilotildees e restriccedilotildees a depender
do momento econocircmico em que o paiacutes vivia eou dos interesses da maioria de parlamentares agrave
eacutepoca
Atualmente a Lei 12651 de 25052012 ou como eacute conhecida por Novo Coacutedigo
Florestal atraveacutes de seu artigo 3ordm inciso III prevecirc o conceito de reserva legal da seguinte
forma
III ndash Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural
delimitada nos termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de
modo sustentaacutevel dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a
reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade
bem como o abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012
p 3) (BRASIL 2012)
Jaacute a previsatildeo elencada nos Coacutedigos anteriores de 1934 e 1965 dispotildee
Coacutedigo Florestal de 1934 - Decreto 23793
Art 23 - Nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas poderaacute abater mais de trecircs
quartas partes da vegetaccedilatildeo existente []
sect 1ordm O dispositivo do artigo natildeo se applica a juizo das autoridades florestaes
competentes agraves pequenas propriedades isoladas que estejam proximas de florestas
ou situadas em zona urbana
sect 2ordm Antes de iniciar a derrubada com a antecedencia minima de 30 dias o
proprietario daraacute sciencia de sua intenccedilatildeo aacute autoridade competente afim de que esta
determine a parte das mattas que seraacute conservada (BRASIL 1935 p 5)
Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771
Art 1ordm sect 2ordm inciso III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma
propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao
uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos
ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora
nativas (BRASIL 1965 p 2)
Percebe-se que na lei de 1934 se quer haacute menccedilatildeo ao termo reserva legal mas se
vecirc claramente a intenccedilatildeo conservacionista do legislador e se ressalte que eacute uma visatildeo bem
mais proacute-ambiente uma vez que proiacutebe o desmatamento acima de frac34 da propriedade
protegendo assim 25 de sua aacuterea Embora o Coacutedigo Florestal de 1934 natildeo preveja
16
explicitamente a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo em determinada aacuterea com o nome de reserva legal o
artigo 23 do diploma citado acima estaacute notoriamente revestido de um caraacuteter conservacionista
e quem natildeo o cumprisse estaria enquadrado no paraacutegrafo 4ordm do artigo 86 do Capitulo V ndash
Infracccedilotildees florestaes
Art 86 As contravenccedilotildees previstas nos arts 9ordm sect 1ordm 21 22 e sect 1ordm 23 e paragrapho
unico 24 a 30 31 a 34 37 43 a 45 49 e paragrapho unico 51 54 e paragrapho
unico 55 e 64 deste codigo quando natildeo se caracterizarem especialmente algumas
figuras delictuosas definidas no art 83 ou no art 87 sujeitas seus autores aacutes penas
seguintes
[]
sect 4ordm pelas das letras g h do art 22 e arts 23 e 44 - detenccedilatildeo ateacute 60 dias e multa ateacute
10000$000 (BRASIL 1935 p 14)
Em contrapartida um pouco mais aperfeiccediloado embora um tanto quanto tarde o
instituto da reserva legal aparece bem definido somente em 2001 quando a Medida Provisoacuteria
nordm 2166-6 (BRASIL 2001) acrescentou ao texto da Lei 4771 (BRASIL 1965) o seu conceito
da forma como eacute mais conhecido ultimamente apesar de natildeo se limitar soacute a esta modificaccedilatildeo
Como tantas outras leis o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) sofreu diversas
alteraccedilotildees ao longo de sua vigecircncia que durou ateacute 25 de maio de 2012 data em que a Lei
12651 (BRASIL 2012) entra em vigor revoga a anterior e estabelece o novo Coacutedigo
Florestal
Como a temaacutetica deste trabalho eacute discorrer sobre a existecircncia da reserva legal a
partir de um levantamento nas propriedades rurais seratildeo tratadas tatildeo somente as
modificaccedilotildees que dizem respeito a este instituto
112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica
O protecionismo florestal como ligeiramente mencionado anteriormente foi
delineado em um preceito normativo datado da deacutecada de 30 quando surgiu o primeiro
diploma legal a prever a conservaccedilatildeo relativa agrave manutenccedilatildeo das matas Eacute atraveacutes do Decreto
ndeg 23793 de 23 de janeiro de 1934 (BRASIL 1935) que a vegetaccedilatildeo recebe amparo e passa a
ser resguardada da supressatildeo indiscriminada Surge entatildeo o primeiro Coacutedigo Florestal
Brasileiro que em seu artigo 23 descreve que nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas
poderaacute abater mais de trecircs quartas partes da vegetaccedilatildeo existente
17
Eacute interessante observar que a delimitaccedilatildeo imposta pela norma corresponde a vinte
e cinco por cento da propriedade ou seja um grande desafio para a sociedade da eacutepoca que
era tradicionalmente agriacutecola e despontava para a industrializaccedilatildeo
Para melhor apreciar as preocupaccedilotildees que justificaram a ediccedilatildeo do Coacutedigo Florestal
de 1934 haacute que se entender a realidade soacutecio-econocircmica e poliacutetica da sociedade
brasileira no iniacutecio do seacuteculo XX A populaccedilatildeo estava concentrada proacuteximo agrave
Capital da Repuacuteblica cidade do Rio de Janeiro Estado da Guanabara A cafeicultura
avanccedilava pelos morros que constituem a topografia do Vale do Paraiacuteba substituindo
toda a vegetaccedilatildeo nativa A criaccedilatildeo de gado outra forma de utilizaccedilatildeo das terras
fazia-se de modo extensivo e com miacutenima teacutecnica Na silvicultura que jaacute se iniciara
tiacutemida nos primeiros anos do seacuteculo XX verificava-se o trabalho valioso e pioneiro
de Edmundo Navarro de Andrade com a introduccedilatildeo de espeacutecies de Eucalyptus mas
restrito agraves atividades da Cia Paulista de Estradas de Ferro no Estado de Satildeo Paulo
No resto do Paiacutes assim como antes no Estado de Satildeo Paulo a atividade florestal era
fundamentada no mais puro extrativismo Nos Estados do Paranaacute e Santa Catarina
os estoques de Araucaria angustifolia eram rapidamente exauridos Foi nesse cenaacuterio
que o Poder Puacuteblico decidiu interceder estabelecendo limites ao que parecia ser um
saque ou pilhagem dos recursos florestais (muito embora ateacute entatildeo tais praacuteticas
fossem liacutecitas) A mencionada ldquointervenccedilatildeordquo necessaacuteria materializou-se por meio
da ediccedilatildeo de um (primeiro) Coacutedigo Florestal o de 1934 (AHRENS 2001 p 6)
Diferentemente do Decreto de 1934 (BRASIL 1935) ao ser publicada em 15 de
setembro a Lei 4771 (BRASIL 1965) ou seja o Coacutedigo Florestal de 1965 trouxe em seu
artigo 16 a ideia do que seria a reserva legal Criou-se entatildeo um limite miacutenimo a ser
respeitado dentro de cada propriedade muito embora soacute mencione uma porcentagem definida
para aacutereas localizadas no Leste Sul e Centro-Oeste do paiacutes deixando de fora as demais
regiotildees
Art 16 As florestas de domiacutenio privado natildeo sujeitas ao regime de utilizaccedilatildeo
limitada e ressalvadas as de preservaccedilatildeo permanente previstas nos artigos 2deg e 3deg
desta lei satildeo suscetiacuteveis de exploraccedilatildeo obedecidas as seguintes restriccedilotildees
a) nas regiotildees Leste Meridional Sul e Centro-Oeste esta na parte sul as derrubadas
de florestas nativas primitivas ou regeneradas soacute seratildeo permitidas desde que seja
em qualquer caso respeitado o limite miacutenimo de 20 da aacuterea de cada
propriedade com cobertura arboacuterea localizada a criteacuterio da autoridade competente
b) nas regiotildees citadas na letra anterior nas aacutereas jaacute desbravadas e previamente
delimitadas pela autoridade competente ficam proibidas as derrubadas de florestas
primitivas quando feitas para ocupaccedilatildeo do solo com cultura e pastagens
permitindo-se nesses casos apenas a extraccedilatildeo de aacutervores para produccedilatildeo de madeira
Nas aacutereas ainda incultas sujeitas a formas de desbravamento as derrubadas de
florestas primitivas nos trabalhos de instalaccedilatildeo de novas propriedades agriacutecolas soacute
seratildeo toleradas ateacute o maacuteximo de 30 da aacuterea da propriedade
c) na regiatildeo Sul as aacutereas atualmente revestidas de formaccedilotildees florestais em que
ocorre o pinheiro brasileiro Araucaria angustifolia (Bert - O Ktze) natildeo poderatildeo
ser desflorestadas de forma a provocar a eliminaccedilatildeo permanente das florestas
tolerando-se somente a exploraccedilatildeo racional destas observadas as prescriccedilotildees
ditadas pela teacutecnica com a garantia de permanecircncia dos maciccedilos em boas condiccedilotildees
de desenvolvimento e produccedilatildeo
18
d) nas regiotildees Nordeste e Leste Setentrional inclusive nos Estados do Maranhatildeo e
Piauiacute o corte de aacutervores e a exploraccedilatildeo de florestas soacute seraacute permitida com
observacircncia de normas teacutecnicas a serem estabelecidas por ato do Poder Puacuteblico na
forma do art 15 sect 1ordm Nas propriedades rurais compreendidas na aliacutenea a deste artigo com aacuterea entre
vinte (20) a cinquumlenta (50) hectares computar-se-atildeo para efeito de fixaccedilatildeo do limite
percentual aleacutem da cobertura florestal de qualquer natureza os maciccedilos de porte
arboacutereo sejam frutiacutecolas ornamentais ou industriais (BRASIL 1965 p 6-7)
Honestamente natildeo se sabe o motivo pelo qual o legislador neste momento inicial
da lei natildeo se deteve agraves minuacutecias quanto agraves regiotildees Nordeste Oeste e Sudeste como o fez para
as outras ou porque sequer definiu percentuais de vegetaccedilatildeo a ser preservadas nelas Aleacutem
disto simplesmente deixar a cargo de ato do Poder Puacuteblico a exploraccedilatildeo de florestas e o corte
de aacutervores no Nordeste eacute no miacutenimo curioso principalmente porque nessa regiatildeo encontra-se
o bioma Caatinga que eacute iacutempar e inexiste em qualquer outra parte do mundo Corrobora com
isto o Monitoramento do Desmatamento nos Biomas Brasileiros por Sateacutelite MMA e IBAMA
ao expor que mesmo sendo a uacutenica grande regiatildeo natural brasileira cujos limites estatildeo
inteiramente restritos ao territoacuterio nacional pouca atenccedilatildeo tem sido dada agrave conservaccedilatildeo da
heterogecircnea paisagem da Caatinga (BRASIL 2010)
Aleacutem disto as colocaccedilotildees do artigo 44 surpreendem quando especializam o tipo
de corte permitido e enquadram 50 da propriedade como reserva legal para o Norte do paiacutes
e o norte da regiatildeo Centro-Oeste como se pode observar
Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste enquanto natildeo for
estabelecido o decreto de que trata o artigo 15 a exploraccedilatildeo a corte razo soacute eacute
permissiacutevel desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea pelo menos 50 da aacuterea
de cada propriedade (BRASIL 1965 p 15)
Em 1989 surge a Lei 7803 (BRASIL 1989b) que acrescenta os paraacutegrafos 2ordm e
3ordm ao artigo 16 inaugurando a expressatildeo reserva legal e ratificando o percentual miacutenimo do
que deveria ser conservado a tiacutetulo de reserva legal Ao artigo 44 foi acrescentado o
paraacutegrafo uacutenico onde os 50 da propriedade anteriormente indicados para permanecer com a
cobertura vegetal agora passam a ser reconhecidos como reserva legal Em ambos os
dispositivos estaacute presente o procedimento formal a ser adotado com fins de resguardar a
aplicaccedilatildeo daquele instituto e seus efeitos isto eacute a averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio
Art 16 []
sect 2ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) de
cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso deveraacute ser averbada agrave margem
19
da inscriccedilatildeo de matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo
vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou
de desmembramento da aacuterea
sect 3ordm Aplica-se agraves aacutereas de cerrado a reserva legal de 20 (vinte por cento) para
todos os efeitos legais (BRASIL 1989b p 1)
Art 44 [] Paraacutegrafo uacutenico A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 50
(cinquumlenta por cento) de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso
deveraacute ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de
imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de
transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de desmembramento da aacuterea (BRASIL 1989b p
2)
Nota-se que os dispositivos trazem novidades como a vedaccedilatildeo a um tipo de corte
o meacutetodo garantidor para a implantaccedilatildeo da reserva legal e a proibiccedilatildeo de mudanccedila na aacuterea
destinada a receber o benefiacutecio Ademais o bioma cerrado eacute especialmente citado afirmando
assim a instituiccedilatildeo da reserva legal nele e seu respectivo percentual
Vale destacar ainda a entidade puacuteblica que recebeu por forccedila legal a
incumbecircncia de promover os atos formais e documentais para a implantaccedilatildeo da reserva legal
Trata-se do registro ou cartoacuterio de imoacuteveis que por sua vez reuacutene em seus livros oficiais
todas as informaccedilotildees sobre as propriedades imobiliaacuterias de sua circunscriccedilatildeo ou regiatildeo
geograacutefica Enfim o registro de imoacuteveis eacute o oacutergatildeo constitutivo da propriedade e o que guarda
este direito aleacutem de vigiar se a funccedilatildeo social e ambiental do imoacutevel estaacute sendo cumprida
Por conseguinte houve a ediccedilatildeo da Medida Provisoacuteria1 1511 em 25 de julho de
1996 (BRASIL 1996) com o objetivo de dar nova redaccedilatildeo ao artigo 44 do Coacutedigo Florestal
ou seja amplia o percentual da reserva legal de 50 para 80 em casos especiacuteficos e esmiuacuteccedila o
Norte do Brasil e o norte da regiatildeo Centro-Oeste
Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste a exploraccedilatildeo a
corte raso soacute eacute permitida desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea de no
miacutenimo cinquumlenta por cento de cada propriedade
sect 1ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo cinquumlenta por cento
de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso seraacute averbada agrave margem da
inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a
alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de
desmembramento da aacuterea
1 Medidas Provisoacuterias satildeo instrumentos juriacutedico-poliacuteticos traduzidos na forma de atos normativos com forccedila de
lei praticados pelo Chefe do Executivo Federal em situaccedilotildees de urgecircncia e relevacircncia e que devem ser
submetidas de imediato agrave deliberaccedilatildeo do Congresso Nacional (FILHO 2005) A Constituiccedilatildeo Federal em seu
Art 62 prevecirc que em caso de relevacircncia e urgecircncia o Presidente da Repuacuteblica poderaacute adotar medidas
provisoacuterias com forccedila de lei devendo submetecirc-las de imediato ao Congresso Nacional
20
sect 2ordm Nas propriedades onde a cobertura arboacuterea se constitui de fitofisionomias
florestais natildeo seraacute admitido o corte raso em pelo menos oitenta por cento dessas
tipologias florestais
sect 3ordm Para efeito do disposto no caput entende-se por regiatildeo Norte e parte Norte da
regiatildeo Centro-Oeste os Estados do Acre Paraacute Amazonas Roraima Rondocircnia
Amapaacute e Mato Grosso aleacutem das regiotildees situadas ao norte do paralelo 13degS nos
Estados de Tocantins e Goiaacutes e a oeste do meridiano de 44degW no Estado do
Maranhatildeo (BRASIL 1996 p 1)
Fazendo uma retrospectiva ldquoesse ato do Poder Executivo pretendeu conter o
desmatamento na Amazocircnia num momento em que era divulgado o aumento da taxa meacutedia
anual de desflorestamento no biecircnio 1993-1994rdquo (MIRANDA 2008 p 38) Entretanto essa
natildeo foi a uacutenica iniciativa do chefe do executivo para alterar os percentuais citados acima
Inclusive eacute perturbador o levantamento do nuacutemero de medidas provisoacuterias com o fim de
modificar o Coacutedigo Florestal em especial os criteacuterios e aspectos que envolvem a reserva
legal que ora satildeo mais flexibilizados ora mais restritivos Eacute o que se pode observar pela
leitura da Tabela 1 onde se verifica a existecircncia de 68 propostas de mudanccedila em um espaccedilo de
tempo pouco maior que 5 anos
Tabela 1 Medidas Provisoacuterias (MP)Ano
MEDIDAS PROVISOacuteRIAS (MP) Nordm DE MPPERIacuteODO PERIacuteODOS
Nordm 1511 a 1511-17 18 1ordm) 25071996 a 20111997
Nordm 1605-18 a 1605-30 13 2ordm) 11121997 a 19111998
Nordm 1736-31 a 1736-37 7 3ordm) 14121998 a 02061999
Nordm 1885-38 a 1885-43 6 4ordm) 29061999 a 02111999
Nordm 1956-44 a 1956-57 14 5ordm) 09121999 a 14122000
Nordm 2080-58 a 2080-64 7 6ordm) 27122000 a 13062001
Nordm 2166-65 a 2166-67 3 7ordm) 28062001 a 24082001
A uacuteltima Medida Provisoacuteria a promover consideraacuteveis alteraccedilotildees que dizem
respeito agrave reserva legal foi a de nordm 2166-67 de 24 de agosto de 2001 (BRASIL 2001) Ela
acrescentou o inciso III ao paraacutegrafo 2ordm do artigo 1ordm do Coacutedigo Florestal estabelecendo o
conceito de reserva legal ateacute entatildeo natildeo definido no texto da lei muito embora sua acepccedilatildeo jaacute
existisse
21
Art 1ordm []
sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por
[]
III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural
excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos
recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave
conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas
(BRASIL 2001 p 1)
Vale destacar que a reserva legal soacute deveraacute existir em propriedade ou posse rural
natildeo sendo obrigatoacuteria na aacuterea urbana aleacutem do que natildeo eacute soacute o proprietaacuterio ou seja aquele que
deteacutem o domiacutenio do imoacutevel eacute quem deve implantaacute-la mas o possuidor tambeacutem estaacute sujeito a
tal imposiccedilatildeo legal Isso acontece porque o instituto estaacute vinculado ao imoacutevel e natildeo ao dono
ou quem faz as suas vezes por isso eacute considerada uma obrigaccedilatildeo propter rem isto eacute proacutepria
da coisa
Aleacutem da inclusatildeo do conceito de reserva legal ao Coacutedigo Florestal (BRASIL
1965) ocorreu a fixaccedilatildeo de outros percentuais bem como a adiccedilatildeo de mais oito paraacutegrafos
que delinearam aspectos outrora natildeo mencionados Eacute o que se lecirc pela nova redaccedilatildeo do artigo
16
Art 16 As florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo nativa ressalvadas as situadas em
aacuterea de preservaccedilatildeo permanente assim como aquelas natildeo sujeitas ao regime de
utilizaccedilatildeo limitada ou objeto de legislaccedilatildeo especiacutefica satildeo suscetiacuteveis de supressatildeo
desde que sejam mantidas a tiacutetulo de reserva legal no miacutenimo
I - oitenta por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta localizada na
Amazocircnia Legal
II - trinta e cinco por cento na propriedade rural situada em aacuterea de cerrado
localizada na Amazocircnia Legal sendo no miacutenimo vinte por cento na propriedade e
quinze por cento na forma de compensaccedilatildeo em outra aacuterea desde que esteja
localizada na mesma microbacia e seja averbada nos termos do sect 7ordm deste artigo
III - vinte por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta ou outras
formas de vegetaccedilatildeo nativa localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e
IV - vinte por cento na propriedade rural em aacuterea de campos gerais localizada em
qualquer regiatildeo do Paiacutes
sect 1o O percentual de reserva legal na propriedade situada em aacuterea de floresta e
cerrado seraacute definido considerando separadamente os iacutendices contidos nos incisos I
e II deste artigo
sect 2ordm A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser
utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel de acordo com princiacutepios e
criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos estabelecidos no regulamento ressalvadas as
hipoacuteteses previstas no sect 3o deste artigo sem prejuiacutezo das demais legislaccedilotildees
especiacuteficas
sect 3ordm Para cumprimento da manutenccedilatildeo ou compensaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal em
pequena propriedade ou posse rural familiar podem ser computados os plantios de
aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais compostos por espeacutecies exoacuteticas
cultivadas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas
sect 4ordm A localizaccedilatildeo da reserva legal deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental estadual
competente ou mediante convecircnio pelo oacutergatildeo ambiental municipal ou outra
instituiccedilatildeo devidamente habilitada devendo ser considerados no processo de
aprovaccedilatildeo a funccedilatildeo social da propriedade e os seguintes criteacuterios e instrumentos
quando houver
22
I - o plano de bacia hidrograacutefica
II - o plano diretor municipal
III - o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico
IV - outras categorias de zoneamento ambiental e
V - a proximidade com outra Reserva Legal Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente
unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida
sect 5ordm O Poder Executivo se for indicado pelo Zoneamento Ecoloacutegico Econocircmico -
ZEE e pelo Zoneamento Agriacutecola ouvidos o CONAMA o Ministeacuterio do Meio
Ambiente e o Ministeacuterio da Agricultura e do Abastecimento poderaacute
I - reduzir para fins de recomposiccedilatildeo a reserva legal na Amazocircnia Legal para ateacute
cinquumlenta por cento da propriedade excluiacutedas em qualquer caso as Aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente os ecoacutetonos os siacutetios e ecossistemas especialmente
protegidos os locais de expressiva biodiversidade e os corredores ecoloacutegicos e
II - ampliar as aacutereas de reserva legal em ateacute cinquumlenta por cento dos iacutendices
previstos neste Coacutedigo em todo o territoacuterio nacional
sect 6ordm Seraacute admitido pelo oacutergatildeo ambiental competente o cocircmputo das aacutereas relativas
agrave vegetaccedilatildeo nativa existente em aacuterea de preservaccedilatildeo permanente no caacutelculo do
percentual de reserva legal desde que natildeo implique em conversatildeo de novas aacutereas
para o uso alternativo do solo e quando a soma da vegetaccedilatildeo nativa em aacuterea de
preservaccedilatildeo permanente e reserva legal exceder a
I - oitenta por cento da propriedade rural localizada na Amazocircnia Legal
II - cinquumlenta por cento da propriedade rural localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e
III - vinte e cinco por cento da pequena propriedade definida pelas aliacuteneas b e c
do inciso I do sect 2ordm do art 1ordm
sect 7o O regime de uso da aacuterea de preservaccedilatildeo permanente natildeo se altera na hipoacutetese
prevista no sect 6o
sect 8ordm A aacuterea de reserva legal deve ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo de matriacutecula
do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua
destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou de
retificaccedilatildeo da aacuterea com as exceccedilotildees previstas neste Coacutedigo
sect 9ordm A averbaccedilatildeo da reserva legal da pequena propriedade ou posse rural familiar eacute
gratuita devendo o Poder Puacuteblico prestar apoio teacutecnico e juriacutedico quando
necessaacuterio
sect 10 Na posse a reserva legal eacute assegurada por Termo de Ajustamento de Conduta
firmado pelo possuidor com o oacutergatildeo ambiental estadual ou federal competente com
forccedila de tiacutetulo executivo e contendo no miacutenimo a localizaccedilatildeo da reserva legal as
suas caracteriacutesticas ecoloacutegicas baacutesicas e a proibiccedilatildeo de supressatildeo de sua vegetaccedilatildeo
aplicando-se no que couber as mesmas disposiccedilotildees previstas neste Coacutedigo para a
propriedade rural
sect 11 Poderaacute ser instituiacuteda reserva legal em regime de condomiacutenio entre mais de
uma propriedade respeitado o percentual legal em relaccedilatildeo a cada imoacutevel mediante a
aprovaccedilatildeo do oacutergatildeo ambiental estadual competente e as devidas averbaccedilotildees
referentes a todos os imoacuteveis envolvidos (BRASIL 2001 p 34)
Caso seja traccedilado um paralelo entre o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)
com as alteraccedilotildees aplicadas e agrave uacuteltima Medida Provisoacuteria percebe-se que o primeiro texto em
seu artigo 16 soacute mencionava as florestas particulares enquanto que em 2001 o reformulado
pela Medida Provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) generaliza a possibilidade de supressatildeo
vegetal para florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo incluindo-as no texto da lei Isto significa
que as florestas puacuteblicas embora sejam de domiacutenio coletivo tambeacutem devem respeitar a
reserva legal de acordo com o estabelecido
E ainda de 1989 ateacute 2001 o percentual para reserva legal era de 20 da
propriedade rural para todas as regiotildees com exceccedilatildeo dos imoacuteveis no norte do paiacutes e no norte
23
do centro-oeste onde deveriam ser protegidos 50 da cobertura arboacuterea Poreacutem com o
advento da Medida provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) aumentou-se essa porcentagem para
80 na Amazocircnia Legal2 para 35 no bioma cerrado localizado na Amazocircnia Legal e a
permanecircncia dos 20 para as demais regiotildees do Brasil
Enfim eacute possiacutevel concluir claramente que tal Medida Provisoacuteria ao modificar o
artigo 16 definiu o conceito de reserva legal foi mais especiacutefica quanto aos seus percentuais
alargou os tipos de florestas suscetiacuteveis ao desmatamento estabeleceu que a vegetaccedilatildeo da
reserva legal soacute poderia ser utilizada atraveacutes de um manejo florestal sustentaacutevel (sect2ordm)
determinou que sua localizaccedilatildeo deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental competente
obedecendo os 5 criteacuterios ambientais estabelecidos (sect4ordm) permitiu a sobreposiccedilatildeo de aacutereas de
preservaccedilatildeo permanente agrave de reserva legal em alguns casos (sect6ordm) reafirmou o procedimento
documental garantidor do instituto (sect8ordm) criou a possibilidade de constituir a reserva legal
em condomiacutenio (sect11ordm) dentre outros
Encerrando as mudanccedilas trazidas pela Medida Provisoacuteria 2166-672001
(BRASIL 2001) tem-se o artigo 44 que foi completamente reformulado em conteuacutedo em
nuacutemero de incisos e paraacutegrafos O teor deste dispositivo agora versa sobre a recomposiccedilatildeo a
regeneraccedilatildeo e a compensaccedilatildeo da reserva legal Tais accedilotildees devem estar em consonacircncia com o
disposto no artigo 16
Art 44 O proprietaacuterio ou possuidor de imoacutevel rural com aacuterea de floresta nativa
natural primitiva ou regenerada ou outra forma de vegetaccedilatildeo nativa em extensatildeo
inferior ao estabelecido nos incisos I II III e IV do art 16 ressalvado o disposto
nos seus sectsect 5o e 6o deve adotar as seguintes alternativas isoladas ou
conjuntamente
I - recompor a reserva legal de sua propriedade mediante o plantio a cada trecircs anos
de no miacutenimo 110 da aacuterea total necessaacuteria agrave sua complementaccedilatildeo com espeacutecies
nativas de acordo com criteacuterios estabelecidos pelo oacutergatildeo ambiental estadual
competente
II - conduzir a regeneraccedilatildeo natural da reserva legal e
III - compensar a reserva legal por outra aacuterea equivalente em importacircncia ecoloacutegica
e extensatildeo desde que pertenccedila ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma
microbacia conforme criteacuterios estabelecidos em regulamento
sect 1o Na recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I o oacutergatildeo ambiental estadual
competente deve apoiar tecnicamente a pequena propriedade ou posse rural familiar
sect 2o A recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I pode ser realizada mediante o plantio
temporaacuterio de espeacutecies exoacuteticas como pioneiras visando a restauraccedilatildeo do
ecossistema original de acordo com criteacuterios teacutecnicos gerais estabelecidos pelo
CONAMA
2 Amazocircnia Legal - eacute uma aacuterea que engloba a totalidade de oito estados o Acre o Amapaacute o Amazonas o Mato
Grosso o Paraacute Rondocircnia Roraima e Tocantins e parte do Estado do Maranhatildeo (a oeste do meridiano de 44ordmW)
O conceito da Amazocircnia Legal foi criado pela lei 1806 de 06 de janeiro de 1953 (BRASIL 2011) Disponiacutevel
em lthttpwwwipeagovbrdesafiosindexphpoption=com_contentampid=2154catid=28ampItemid=23gt
24
sect 3o A regeneraccedilatildeo de que trata o inciso II seraacute autorizada pelo oacutergatildeo ambiental
estadual competente quando sua viabilidade for comprovada por laudo teacutecnico
podendo ser exigido o isolamento da aacuterea
sect 4o Na impossibilidade de compensaccedilatildeo da reserva legal dentro da mesma micro-
bacia hidrograacutefica deve o oacutergatildeo ambiental estadual competente aplicar o criteacuterio de
maior proximidade possiacutevel entre a propriedade desprovida de reserva legal e a aacuterea
escolhida para compensaccedilatildeo desde que na mesma bacia hidrograacutefica e no mesmo
Estado atendido quando houver o respectivo Plano de Bacia Hidrograacutefica e
respeitadas as demais condicionantes estabelecidas no inciso III
sect 5o A compensaccedilatildeo de que trata o inciso III deste artigo deveraacute ser submetida agrave
aprovaccedilatildeo pelo oacutergatildeo ambiental estadual competente e pode ser implementada
mediante o arrendamento de aacuterea sob regime de servidatildeo florestal ou reserva legal
ou aquisiccedilatildeo de cotas de que trata o art 44-B
sect 6o O proprietaacuterio rural poderaacute ser desonerado pelo periacuteodo de trinta anos das
obrigaccedilotildees previstas neste artigo mediante a doaccedilatildeo ao oacutergatildeo ambiental
competente de aacuterea localizada no interior de Parque Nacional ou Estadual Floresta
Nacional Reserva Extrativista Reserva Bioloacutegica ou Estaccedilatildeo Ecoloacutegica pendente de
regularizaccedilatildeo fundiaacuteria respeitados os criteacuterios previstos no inciso III deste
artigo (NR) (BRASIL 2001 p 45)
Quanto agrave sanccedilatildeo curiosamente neste Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965) natildeo haacute
nenhuma previsatildeo com relaccedilatildeo ao descumprimento da reserva legal diferentemente do
diploma de 1934 (BRASIL 1935) como se pocircde ler anteriormente Nesse sentido existir
uma lei sem a ela estar vinculada uma sanccedilatildeo quando descumprida eacute o mesmo que um fogo
que natildeo queima uma luz que natildeo alumia (MONTEIRO 1992)
Assim finaliza-se a anaacutelise do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) e se
inicia a apreciaccedilatildeo do Novo Coacutedigo Florestal isto eacute a Lei 12651 de 25 de maio de 2012
(BRASIL 2012) que jaacute possui algumas modificaccedilotildees mesmo sendo uma norma bastante
recente Trata-se de uma lei que em seu artigo 1ordm de pronto menciona o instituto da reserva
legal elevando-a a um patamar antes natildeo reconhecido quanto agrave especialidade que lhe eacute
inerente
Art 1ordm-A Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente e as aacutereas de Reserva Legal a exploraccedilatildeo florestal o
suprimento de mateacuteria-prima florestal o controle da origem dos produtos florestais e
o controle e prevenccedilatildeo dos incecircndios florestais e prevecirc instrumentos econocircmicos e
financeiros para o alcance de seus objetivos (BRASIL 2012 p 1)
Quanto a sua definiccedilatildeo embora citada anteriormente vecirc-se a necessidade de se
enfatizar as diferenccedilas entre o novo dispositivo e o anterior ora revogado ateacute porque o
recente eacute bem mais minucioso e atual em se tratando de tendecircncias e realidades do presente
Art 3ordm []
25
III - Aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural delimitada nos
termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de modo sustentaacutevel
dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a reabilitaccedilatildeo dos
processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade bem como o
abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012 p 3)
Art 1ordm []
sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por
[]
III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural
excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos
recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave
conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas
(BRASIL 1965 p 1)
Pela leitura observa-se que a aacuterea de reserva legal desde o iniacutecio estaacute restrita ao
imoacutevel rural excluindo assim o urbano Seu objetivo tambeacutem sempre foi o mesmo
sustentabilidade Isto eacute visto quando se examina o texto do Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965)
ao citar as expressotildees conservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo biodiversidade e proteccedilatildeo colocando nesse
iacutenterim recursos naturais processos ecoloacutegicos fauna e flora nativas O foco da reserva legal
eacute claro quanto agrave conservaccedilatildeo de uma forma sistecircmica pois inclui aspectos de solo vegetaccedilatildeo
vida animal e seus respectivos ciclos Eacute o que coloca SOUZA (2002 p 2829 apud Miranda
2008 p 53)
[] justifica a existecircncia de um mecanismo juriacutedico que garanta ao homem a
manutenccedilatildeo da biodiversidade para o seu proacuteprio bem Deste ponto de vista no
Brasil a Reserva Legal ainda eacute o mecanismo existente se natildeo o uacutenico que garante
essa manutenccedilatildeo tamanha a dependecircncia dos seres humanos de energia advinda de
plantas e animais
Jaacute a lei de 2012 (BRASIL 2012) inova ao incluir e modificar algumas acepccedilotildees
O uso econocircmico eacute uma delas Antes era mencionado somente um uso sustentaacutevel dos
recursos naturais mas agora eacute um uso com base na teoria de produccedilatildeo e consumo sob o vieacutes
da sustentabilidade Aleacutem disto a nova redaccedilatildeo faz uma pequena diferenciaccedilatildeo quanto ao
auxiacutelio que a reserva legal daacute agrave conservaccedilatildeo e agrave reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos
enquanto que a anterior ditava que o tal instituto era necessaacuterio para alcanccedilar os citados
objetivos Inclui tambeacutem a promoccedilatildeo que a reserva legal faz agrave biodiversidade e por fim a
uacuteltima norma agrega a proteccedilatildeo agrave fauna silvestre3 o que outrora era soacute agrave nativa
3 ldquoEacute preciso que a fauna tenha a sua vida ou parte dela ocorrendo naturalmente dentro dos limites do territoacuterio
brasileiro e suas aacuteguas jurisdicionaisrdquo (AMADO 2012 p329) silvestre ndash satildeo animais pertencentes agraves espeacutecies
nativas migratoacuterias e quaisquer outras aquaacuteticas ou terrestres
26
Percebe-se que com o passar dos anos as leis que versam sobre florestas estatildeo
cada vez mais aperfeiccediloadas com particularidades e especificidades como se pode concluir
pela leitura da evoluccedilatildeo histoacuterica dessas normas e suas modificaccedilotildees Visualiza-se melhor
tambeacutem ao se comparar os objetivos da reserva legal nas figuras 1 e 2
Figura 1 - Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771 (BRASIL 1965)
Figura 2 - Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 - Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)
RESERVA
LEGAL
ASSEGURA AUXILIA PROMOVE
27
E em se tratando das penalidades quem natildeo respeitar a reserva legal estaraacute
enquadrado no Decreto Federal 6514 de 22 de julho de 2008 (BRASIL 2008) que dispotildee
sobre as infraccedilotildees e sanccedilotildees administrativas ao meio ambiente e prevecirc aplicaccedilatildeo de multas
como descrito nos artigos abaixo
Art 48 Impedir ou dificultar a regeneraccedilatildeo natural de florestas ou demais formas
de vegetaccedilatildeo nativa em unidades de conservaccedilatildeo ou outras aacutereas especialmente
protegidas quando couber aacuterea de preservaccedilatildeo permanente reserva legal ou
demais locais cuja regeneraccedilatildeo tenha sido indicada pela autoridade ambiental
competente
Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo
[]
Art 51 Destruir desmatar danificar ou explorar floresta ou qualquer tipo de
vegetaccedilatildeo nativa ou de espeacutecies nativas plantadas em aacuterea de reserva legal ou
servidatildeo florestal de domiacutenio puacuteblico ou privado sem autorizaccedilatildeo preacutevia do oacutergatildeo
ambiental competente ou em desacordo com a concedida
Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo
[]
Art 55 Deixar de averbar a reserva legal Multa de R$ 50000 (quinhentos reais) a R$ 10000000 (cem mil reais) (BRASIL
2008 p 12)
Ao ler o dispositivo da lei eacute possiacutevel averiguar que tanto accedilotildees como omissotildees
possiacuteveis de cometimento quanto agrave reserva legal estatildeo previstas naquele Decreto (BRASIL
2008) o que daacute poder agraves autoridades constituiacutedas de exercerem seu papel fiscalizatoacuterio e
sancionatoacuterio em desfavor daquele que descumprir tal obrigaccedilatildeo
Nesse novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012) a reserva legal estaacute muito mais
discorrida e consequentemente resguardada A lei trouxe um capiacutetulo especiacutefico com duas
seccedilotildees organizadas dispondo sobre a delimitaccedilatildeo e o regime de proteccedilatildeo do instituto aleacutem de
outra seccedilatildeo que prevecirc a transformaccedilatildeo das reservas legais em aacutereas verdes nas expansotildees
urbanas
Para comeccedilar a analisar as novidades trazidas pelo Coacutedigo Florestal (BRASIL
2012) vale mencionar a mais importante quanto ao controle e fiscalizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da
reserva legal que se daraacute pelo Cadastro Ambiental Rural ndash CAR Eacute um registro puacuteblico
eletrocircnico de acircmbito nacional obrigatoacuterio para todos os imoacuteveis rurais com a finalidade de
integrar as informaccedilotildees ambientais das propriedades e posses rurais compondo base de dados
para controle monitoramento planejamento ambiental e econocircmico e combate ao
desmatamento conforme artigo 29 daquele diploma legal Para se cadastrar no CAR o
proprietaacuterio ou possuidor rural deveraacute identificar-se comprovar a propriedade ou posse e
identificar o imoacutevel atraveacutes de planta georreferenciada e memorial descritivo informando os
28
remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente dentre outras
segundo o inciso III do paraacutegrafo primeiro do mesmo dispositivo acima
Com a criaccedilatildeo desse sistema a supressatildeo de novas aacutereas de floresta ou outras
formas de vegetaccedilatildeo nativa soacute poderaacute ser autorizada apoacutes a inserccedilatildeo do imoacutevel onde ocorreraacute
o desmatamento no Cadastro Ambiental Rural A exceccedilatildeo a essa regra eacute o imoacutevel que jaacute
possua a reserva legal averbada na sua matriacutecula com a respectiva identificaccedilatildeo e localizaccedilatildeo
Isso dispensa a inclusatildeo no CAR Eacute o que rezam o paraacutegrafo terceiro do artigo 12 e o artigo
30 do Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)
A nova lei prevecirc que a inscriccedilatildeo no CAR eacute obrigatoacuteria para todas as propriedades
e posses rurais e deve ser requerida no prazo de um ano a partir da sua implantaccedilatildeo (sect3ordm do
artigo 29) No caso do Cearaacute o Cadastro Ambiental Rural ainda natildeo foi estabelecido embora
a lei jaacute tenha completado um ano Aleacutem disto agravequele que protocolar toda documentaccedilatildeo para
anaacutelise da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal no oacutergatildeo ambiental competente natildeo poderaacute ser
imputada sanccedilatildeo administrativa nem restriccedilatildeo a direitos por qualquer oacutergatildeo ambiental
competente (sect2ordm do artigo 14) desde que a sanccedilatildeo diga respeito a natildeo formalizaccedilatildeo da aacuterea de
reserva legal
Outra novidade eacute a dispensa de reserva legal em alguns casos como nos
empreendimentos de abastecimento puacuteblico de aacutegua e tratamento de esgoto nas aacutereas
adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessatildeo permissatildeo ou autorizaccedilatildeo para
exploraccedilatildeo de potencial de energia hidraacuteulica nas quais funcionem empreendimentos de
geraccedilatildeo de energia eleacutetrica subestaccedilotildees ou seja instaladas linhas de transmissatildeo e de
distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica e nas aacutereas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de
implantaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo de capacidade de rodovias e ferrovias (sect6 ordm sect7 ordm e sect8ordm do artigo 12)
Ao passo que na Lei 477165 (BRASIL 1965) o uacutenico caso dispensaacutevel de cumprir a reserva
legal era a doaccedilatildeo pelo proprietaacuterio rural de aacuterea localizada no interior de unidade de
conservaccedilatildeo de domiacutenio puacuteblico pendente de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria ao oacutergatildeo ambiental
competente (sect6ordm do art 44)
Quanto aos percentuais de reserva legal sobre a propriedade ou posse rural nada
mudou ou seja permaneceram os mesmos embora organizados de forma diferente conforme
se segue
Art 12 Todo imoacutevel rural deve manter aacuterea com cobertura de vegetaccedilatildeo nativa a
tiacutetulo de Reserva Legal sem prejuiacutezo da aplicaccedilatildeo das normas sobre as Aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente observados os seguintes percentuais miacutenimos em relaccedilatildeo agrave
aacuterea do imoacutevel excetuados os casos previstos no art 68 desta Lei
I - localizado na Amazocircnia Legal
29
a) 80 (oitenta por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de florestas
b) 35 (trinta e cinco por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de cerrado
c) 20 (vinte por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de campos gerais
II - localizado nas demais regiotildees do Paiacutes 20 (vinte por cento) (BRASIL 2012 p
15)
Acerca da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal alguns criteacuterios a serem
observados permaneceram inalterados tais como o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento
ecoloacutegico-econocircmico4 e a proximidade com outra reserva legal aacuterea de preservaccedilatildeo
permanente unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida Por outro lado
foram acrescentados dois aspectos a serem considerados tambeacutem satildeo eles as aacutereas de maior
importacircncia para a conservaccedilatildeo da biodiversidade e as aacutereas de maior fragilidade ambiental
(Incisos IV e V do artigo 14)
Por fim haacute que se falar que a nova lei permitiu a sobreposiccedilatildeo das aacutereas de
preservaccedilatildeo permanente agrave aacuterea de reserva legal ou seja ao se calcular o percentual desta
poderatildeo ser computadas as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente existentes no imoacutevel rural desde
que atenda alguns requisitos Eacute o que prescreve o artigo 15
Art 15 Seraacute admitido o cocircmputo das Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente no caacutelculo
do percentual da Reserva Legal do imoacutevel desde que
I - o benefiacutecio previsto neste artigo natildeo implique a conversatildeo de novas aacutereas para o
uso alternativo do solo
II - a aacuterea a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperaccedilatildeo
conforme comprovaccedilatildeo do proprietaacuterio ao oacutergatildeo estadual integrante do Sisnama e
III - o proprietaacuterio ou possuidor tenha requerido inclusatildeo do imoacutevel no Cadastro
Ambiental Rural - CAR nos termos desta Lei BRASIL 2012 p 1617)
Basicamente essas foram as inovaccedilotildees mais pertinentes agrave reserva legal trazidas
pelo Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)
113 Importacircncia da reserva legal
Vaacuterios aspectos perfazem o instituto da reserva legal Satildeo fundamentos de
cunho teacutecnico e cientiacutefico que revelam sua importacircncia atraveacutes da abordagem juriacutedica social
ambiental e econocircmica A reserva legal natildeo foi simplesmente uma imposiccedilatildeo prevista em lei
4 Zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ndash eacute um zoneamento ambiental Esse instrumento estaacute previsto na Poliacutetica
Nacional do Meio Ambiente que foi instituiacuteda pela Lei 693881 Trata-se de uma modalidade de intervenccedilatildeo
estatal sobre o territoacuterio a fim de reparti-lo em zonas consoante o melhor interesse na preservaccedilatildeo ambiental e
no uso sustentaacutevel dos recursos naturais Conferir AMADO Frederico Direito Ambiental Esquematizado
2012 p111
30
mas uma mobilizaccedilatildeo da sociedade para resguardar os bens ambientais impedindo a
degradaccedilatildeo sem precedentes
ldquoA reserva legal busca a preservaccedilatildeo ambiental como um todo natildeo soacute do imoacutevel
que nesta se situardquo (AMADO 2009 p 105) Ainda salienta Moraes (2002 p 30) que ldquoa
reserva legal natildeo possui funccedilatildeo vinculada ao imoacutevel especificamente sendo limitaccedilatildeo de
niacutevel macro ou seja mais preocupada com a melhoria regional da biodiversidade do que
propriamente com o ecossistema interno da propriedaderdquo E muito bem acrescenta Milareacute
(2009 p 166)
Aleacutem de preservar belezas cecircnicas e bucoacutelicos ambientes histoacutericos para as geraccedilotildees
futuras as aacutereas protegidas assumiram objetivos como a proteccedilatildeo de recursos
hiacutedricos manejo de recursos naturais desenvolvimento de pesquisas cientiacuteficas
manutenccedilatildeo do equiliacutebrio climaacutetico e ecoloacutegico preservaccedilatildeo de recursos geneacuteticos
e atualmente constituem o eixo de estruturaccedilatildeo da preservaccedilatildeo in situ da
biodiversidade como um todo
1131 Juriacutedica
A reserva legal foi criada pela forccedila do universo juriacutedico brasileiro que lhe
pressupotildee efetividade Como jaacute fora mencionado o instituto teve sua definiccedilatildeo atraveacutes da
Medida Provisoacuteria 2166-672001 (BRASIL 2001) que por sua vez alterou o Coacutedigo
Florestal (BRASIL 1965) vigente agrave eacutepoca Embora houvesse previsatildeo legal para aacutereas
especialmente protegidas estas ateacute entatildeo natildeo haviam sido nominadas como reserva legal
A lei ndeg 477165 (BRASIL 1965) segundo Trennepohl (2009) trazia uma maior
preocupaccedilatildeo com a erosatildeo de terras e o consequente prejuiacutezo para as atividades produtivas
Denotando predominante inclinaccedilatildeo para a sustentabilidade econocircmica da mateacuteria-prima
aquele diploma tratava a utilizaccedilatildeo dos recursos florestais de forma racional com finalidade
de garantir as atividades econocircmicas para as quais servem de insumo
Jaacute no entendimento de Schaffer e Medeiros (2009) a figura da reserva legal no
Coacutedigo Florestal revela-se como uma norma de importacircncia e observacircncia necessaacuterias
essencialmente estrateacutegicas para a garantia de um desenvolvimento equilibrado e sustentaacutevel
para a naccedilatildeo brasileira Tambeacutem observam os mesmos autores que a tatildeo discutida lei florestal
estabeleceu percentuais diferenciados de Reserva Legal em funccedilatildeo da localizaccedilatildeo do tipo de
vegetaccedilatildeo e das caracteriacutesticas ambientais das diferentes regiotildees do paiacutes
A eficaacutecia para o cumprimento do instituto se baseia na imposiccedilatildeo da lei quanto agrave
obrigaccedilatildeo dos proprietaacuterios ou posseiros rurais se dirigirem ao cartoacuterio de registro do seu
31
imoacutevel com a aacuterea da reserva jaacute delimitada e procederem agrave averbaccedilatildeo agrave margem da sua
matriacutecula No entanto essa obrigatoriedade foi substituiacuteda pelo Cadastro Ambiental Rural
que deveraacute ser feito no oacutergatildeo ambiental competente conforme visto anteriormente Esse
procedimento se daacute pelos paracircmetros devidamente previstos em normas teacutecnicas que dispotildeem
como o dono da aacuterea deve conduzir tal processo Essa averbaccedilatildeo eacute irretrataacutevel ou seja jamais
pode ser desfeita e eacute isso que daacute eficiecircncia ao instituto se cumprido Tal imposiccedilatildeo garante
que o proprietaacuterio natildeo desmembre seu imoacutevel na intenccedilatildeo de burlar a lei
Quanto ao procedimento de averbaccedilatildeo da reserva legal na matriacutecula do imoacutevel
ressalta Trennepohl (2009 p11-12)
A exigecircncia da averbaccedilatildeo da reserva legal vem desde 1965 vale dizer haacute mais de
quarenta anos existe esta obrigatoriedade E muitos proprietaacuterios rurais cumpriram agrave
risca esta exigecircncia averbando e mantendo preservado o percentual estipulado pela
lei
[]
A necessidade dessa averbaccedilatildeo dispensa maiores comentaacuterios e pode ser facilmente
entendida como a uacutenica garantia eficaz para que a transferecircncia ou a partilha natildeo
afastem essa obrigaccedilatildeo propter rem [proacutepria da coisa] que vincula a propriedade
natildeo o proprietaacuterio
Para alguns proprietaacuterios de terras rurais se houver o atendimento do instituto da
reserva legal caberia uma indenizaccedilatildeo pela perda daquela porcentagem em suas propriedades
mas como bem ilustra Magnanini (2010 p 5) ldquoa funccedilatildeo protetora da floresta natildeo eacute restriccedilatildeo
indenizaacutevel mas decorrecircncia da proacutepria natureza que preparou terras mais uacuteteis e outras
menosrdquo
1132 Social
Segundo o renomado filoacutesofo Mondin (2004 p 117) ldquoo homem eacute um ser
sociaacutevel portanto incapaz de sozinho alcanccedilar seus objetivos anseios e realizaccedilotildees
consequentemente viverrdquo A partir dessa constataccedilatildeo soacute resta ao ser humano subsistir numa
sociedade inserida no mundo natural
Como indiviacuteduo pratica accedilotildees que lhe afetam direta e indiretamente promovendo
reflexos no espaccedilo em que habita Por isso o aspecto social estaacute intimamente vinculado agrave
qualidade ambiental uma vez que o ser humano gera impactos positivos e negativos em seu
entorno Como natildeo se pode separar a atuaccedilatildeo dele do meio em que foi introduzido necessaacuterio
eacute fazer o balizamento de suas atitudes Uma das formas de limitar seu comportamento eacute a
confecccedilatildeo de normas como por exemplo a lei que nada mais eacute do que a expressatildeo de uma
32
demanda social por medidas coercitivas em virtude do desrespeito a um aspecto que a
sociedade defende ou repudia
Quanto agraves accedilotildees humanas e seus reflexos a teoria de ldquometapopulaccedilotildeesrdquo define
que a raccedila humana causa imenso impacto na Terra provocando a deterioraccedilatildeo dos sistemas
ecoloacutegicos e a extinccedilatildeo de muitas espeacutecies as quais tem seu ritmo acelerado agrave medida que a
populaccedilatildeo cresce e aumentando com isso o consumo de energia e de recursos naturais
SOUZA (2002 apud Miranda 2008)
O aspecto social que envolve a reserva legal confronta-se com praacuteticas seculares
do homem campestre como bem ilustra Magnanini (2010 p 3) engenheiro agrocircnomo e um
dos autores do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)
A agricultura itinerante continua se desenvolvendo segundo os meacutetodos primitivos
dos primeiros anos do descobrimento Chega o agricultor derruba e queima as
matas sem indagar se elas satildeo necessaacuterias agrave conservaccedilatildeo da feracidade do solo ou
do regime das aacuteguas Depois de alguns anos de exploraccedilatildeo renovando anualmente a
queimada como meio de extinguir a vegetaccedilatildeo invasora o terreno esgotado eacute
entregue ao abandono e o agricultor seguindo as pegadas do madeireiro que adiante
derrubou as aacutervores para extrair as toras inicia novo ciclo devastador idecircntico ao
precedente Como efeito disto a agricultura cada vez se interioriza mais e cada vez
se distancia mais dos centros consumidores requerendo transportes sempre mais
caros [] Inundaccedilotildees cada vez mais destruidoras pela remoccedilatildeo desordenada de
florestas colocam em sobressalto as populaccedilotildees de centenas de cidades ribeirinhas
Vale mencionar outra caracteriacutestica que expressa o valor que a reserva legal
quando estaacute sendo cumprida imprime na aacuterea rural ndash eacute a funccedilatildeo social da propriedade
considerada como princiacutepio basilar para o uso da mesma Designaccedilatildeo bastante enunciada
pelas normas que estabelecem aquele instituto permeia o direito de propriedade da terra que
natildeo eacute visto unilateralmente e sim em sua universalidade uma vez que o imoacutevel natildeo estaacute para
servir soacute a seu dono mas tem que atender sua funccedilatildeo social Nesse sentido Miranda (2008)
pontua que a reserva legal eacute uma forma de assegurar a funccedilatildeo social da propriedade fazendo
com que esta contribua com a preservaccedilatildeo do meio ambiente ecologicamente equilibrado para
atuais e futuras geraccedilotildees Eacute como tambeacutem entende Trennepohl (2009 p 11) ao afirmar que
A preservaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa num percentual das propriedades rurais diminui o
lucro do proprietaacuterio mas de forma muito menos significativa que o ganho para a
coletividade com a qualidade ambiental decorrente pelo que entendemos
inquestionaacutevel que o interesse coletivo se sobrepotildee ao individual
1133 Ambiental
Considerado como um dos principais fatores que embasam a instituiccedilatildeo da reserva
legal na propriedade ou posse rural o aspecto ambiental se funda na biologia que perpassa
33
essencialmente esse vieacutes sem admitir qualquer desassociaccedilatildeo entre as unidades ambientais
como aacutegua solo vegetaccedilatildeo e ar Pode-se afirmar que o alicerce do estudo do meio eacute a ciecircncia
bioloacutegica que por sua vez analisa as reaccedilotildees as funccedilotildees fiacutesico-quiacutemicas a qualidade do
ambiente testando seus limites ou melhor sua capacidade de suporte Do mesmo modo
Miranda (2008 p 51) discorre sobre a importacircncia ecoloacutegica do instituto da reserva legal
quando afirma que ldquosua funccedilatildeo preciacutepua eacute assegurar mostras significativas de ecossistemas
conservando a biodiversidade e servindo de abrigo e proteccedilatildeo agrave fauna e agrave florardquo
Sobre isso Metzger (2002 p 48) tambeacutem atesta que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de
propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa eacute
fundamental para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada
regiatildeordquo Complementa Silva (2001 p 59) quando afirma
A cobertura vegetal nativa sobretudo as florestais exerce papel de fundamental
importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de ecossistemas naturais bem como de
ecossistemas criados pelo homem como eacute o caso dos ecossistemas agriacutecolas Aleacutem
de permitirem uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da aacutegua no solo e no
subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos regular a vazatildeo
dos rios reduzindo as intensidades dos extremos de estiagens e enchentes manterem
a diversidade geneacutetica
Logo todos os benefiacutecios apontados pelos autores acima podem ser verificados
em uma menor escala quando haacute a observacircncia da reserva legal dentro de cada propriedade
rural em determinada regiatildeo garantindo sua viabilidade ambiental posto que assume um
papel niacutetido de conservaccedilatildeo Para exemplificar a assertiva retro menciona-se o microclima
favoraacutevel mantido quando haacute vegetaccedilatildeo na aacuterea em apreccedilo que por sua vez amortiza a
incidecircncia solar sobre aquela regiatildeo Por outro lado a cobertura vegetal tambeacutem eacute favoraacutevel agrave
manutenccedilatildeo dos solos uma vez que dificulta a accedilatildeo erosiva das chuvas
Infere-se portanto que a existecircncia da reserva legal na propriedade rural soacute traz
vantagens ao meio ambiente por mais que a tradiccedilatildeo campestre natildeo as compreenda Eacute o que
demonstram Schaffer e Medeiros (2009 p 2) ensinando que
A Reserva Legal (RL) por sua vez natildeo tem apenas a funccedilatildeo de prover o uso
sustentaacutevel dos recursos naturais na propriedade ou posse rural Tem tambeacutem a
funccedilatildeo de conservar e reabilitar os processos ecoloacutegicos conservar a biodiversidade
e servir de abrigo e proteccedilatildeo da fauna e flora nativas Desta forma a norma geral de
caraacuteter nacional [Coacutedigo Florestal] concilia o necessaacuterio uso sustentaacutevel de recursos
naturais para a propriedade ou posse rural com as funccedilotildees ambientais e o
provimento de serviccedilos ambientais de retenccedilatildeo de aacutegua conservaccedilatildeo do solo
manutenccedilatildeo de grupos de polinizadores e fixaccedilatildeo de biomassa entre outros os quais
satildeo importantes e necessaacuterios ao cumprimento da funccedilatildeo socioambiental dos
imoacuteveis ou propriedades rurais
34
No mesmo sentido Mercadante (1999 p 240 apud MIRANDA 2008 p 5354)
numa interpretaccedilatildeo mais ampla sobre a importacircncia ecoloacutegica da reserva legal diz
A Reserva Legal natildeo tem por objetivo apenas a conservaccedilatildeo da natureza da flora e
da fauna pelo valor intriacutenseco dos recursos bioloacutegicos ou pela contribuiccedilatildeo dessas
aacutereas para a qualidade do ambiente em geral A Reserva Legal eacute fundamental para a
estabilidade ecoloacutegica e consequentemente a exploraccedilatildeo em bases sustentaacuteveis do
proacuteprio imoacutevel rural A Reserva Legal contribui para a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo
do solo o controle da erosatildeo o controle do assoreamento dos cursos d‟aacutegua a
conservaccedilatildeo dos corpos d‟aacutegua e dos mananciais serve de abrigo para os predadores
das pragas agriacutecolas fornece madeira e outros recursos florestais para uso na
propriedade dentre outros benefiacutecios
E por fim eacute cabiacutevel mencionar ainda que o Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL
2012) fixou criteacuterios bem mais especiacuteficos e pertinentes ao estabelecimento da reserva legal
como proceder ao cumprimento desse instituto observando se sua localizaccedilatildeo eacute condizente
com o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ou outras categorias
de zoneamento ambiental a proximidade com outras aacutereas legalmente protegidas dentre
outros
1134 Econocircmica
A reserva legal sob o aspecto econocircmico eacute muito controversa uma vez que eacute vista
pelo proprietaacuterio ou posseiro rural como um encargo Mesmo porque como exprime
Trennepohl (2009) ateacute a deacutecada de 80 quando se tinha diferentes normas com dispositivos
protecionistas mas com enfoque preponderantemente economicista os recursos naturais eram
tratados muito mais como insumos de produccedilatildeo ou bens de uso imediato da sociedade do que
como elementos integrantes de um intrincado e fraacutegil equiliacutebrio ambiental Isto condicionou
fatalmente a sociedade brasileira contemporacircnea a natildeo observar a deferecircncia aos bens
ambientais quiccedilaacute respeitar certa porcentagem de uma aacuterea que fora adquirida por um
particular com seus recursos proacuteprios e a tem como totalmente privada
Ainda eacute possiacutevel pelo Coacutedigo Florestal - Lei 126512012 (BRASIL 2012)
intervir na aacuterea destinada agrave reserva de forma sustentaacutevel sem suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo
uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo econocircmica dessas aacutereas Aleacutem do
que ldquoa recuperaccedilatildeo de aacutereas de RL pode ainda gerar produtos e subprodutos madeireiros jaacute
escassos em algumas regiotildees garantindo assim uma renda adicional ao produtor rural e
mateacuteria-prima para a induacutestriardquo conforme defendem Schaffer e Medeiros (2009 p 12)
Para Magnanini (2010) a situaccedilatildeo eacute graviacutessima quando sugere ficar a criteacuterio
do proprietaacuterio rural a iniciativa de proceder ou natildeo agrave reserva legal jaacute que a Administraccedilatildeo
35
Puacuteblica natildeo tem como combater eficientemente o descumprimento desse instituto Eacute o que
propotildee no momento em que coloca
O dilema eacute este ou impotildee-se a todos os donos de terras defenderem agrave sua custa a
produtividade do solo contra a erosatildeo terriacutevel e crescente ou cruzam-se os braccedilos
ante a incapacidade pela pobreza do Poder Puacuteblico na maioria dos Estados do
Brasil para deter a transformaccedilatildeo do Paiacutes num deserto em que as estaccedilotildees se
alternem entre inundaccedilotildees e secas devoradoras de todo o esforccedilo humano
(MAGNANINI 2010 p 5)
Ademais define-se outra vertente do aspecto econocircmico tatildeo bem colocada pela
acepccedilatildeo que tem Bacha (2005 p 9) ao afirmar que
A reserva legal eacute um mecanismo de poliacutetica de rendas pelo qual se procura
estabelecer um zoneamento do uso da terra dentro da propriedade rural A poliacutetica
de rendas constitui-se numa seacuterie de regulamentaccedilotildees que restringem a produccedilatildeo e a
comercializaccedilatildeo de produtos bem como o uso dos fatores de produccedilatildeo eou
determinam valores miacutenimos ou maacuteximos para o pagamento pelo uso desses fatores
ou por produtos elaborados numa economia
Eacute possiacutevel portanto depreender o entendimento do autor de modo que a reserva
legal vem restringir o uso indiscriminado dos recursos florestais gerando com isso a
manutenccedilatildeo do bem ambiental que seraacute resguardado por aquele instituto Isto influiraacute
diretamente na cadeia produtiva nas oscilaccedilotildees de demanda e procura do mercado de mateacuteria-
prima de origem vegetal Ou seja pode-se entender que a meacutedio eou longo prazo a reserva
legal seraacute um ponto de equiliacutebrio no fluxo da produccedilatildeo de bens e serviccedilos que careccedilam desse
recurso natural
114 Direito de Propriedade x Reserva Legal
A propriedade privada eacute uma espeacutecie baacutesica que se decompotildee em propriedade
rural ou urbana segundo se refira a moradias do campo ou moradias derivadas das
construccedilotildees ou edificaccedilotildees idocircneas para sua habitualidade ou aproveitamento diferente do
que eacute a exploraccedilatildeo agraacuteria de qualquer moradia rural (CRIADO 2010)
A propriedade no direito brasileiro foi constituiacuteda em forma e conteuacutedo a partir de
normas muito antigas e de outras naccedilotildees ou seja foi reproduzida com base no direito romano
ldquoDesde aqueles tempos o direito de propriedade era tido como absoluto isto eacute o proprietaacuterio
tinha o direito de usar ou natildeo usar gozar ou natildeo gozar e dispor ou natildeo dispor da propriedade
imobiliaacuteriardquo (MELO 2010 p22) Em contrapartida ldquoos direitos de propriedade
constitucional certamente satildeo direitos de liberdade seja a liberdade individual seja a
liberdade comunitaacuteria que satildeo complementares e indissociaacuteveis haja vista que uma natildeo
36
existe sem a outra como nos demonstram as experiecircncias totalitaacuterias do seacuteculo XXrdquo
(ANTUNES 2011 p37)
A garantia do direito de propriedade estaacute prevista constitucionalmente ou seja na
maior Lei do paiacutes uma vez que ela se sobrepotildee a todas as outras leis e normas juriacutedicas Eacute a
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil que foi promulgada em 05 de outubro de
1988 Conhecida como Carta Magna a Constituiccedilatildeo de 1988 (BRASIL 1988) em seu Tiacutetulo
II estabelece os direitos e as garantias fundamentais do e para o povo brasileiro Logo no
primeiro capiacutetulo deste tiacutetulo estatildeo dispostos os direitos e deveres individuais e coletivos que
o Estado brasileiro deve assegurar aos seus cidadatildeos Eacute no artigo 5ordm que estatildeo previstas tais
premissas inclusive o direito de propriedade (inciso XXII) e o respeito agrave sua funccedilatildeo social
(XXIII)
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade
do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos
seguintes
[]
XXII - eacute garantido o direito de propriedade
XXIII - a propriedade atenderaacute a sua funccedilatildeo social
Quanto agrave funccedilatildeo social da propriedade ldquosomente nos seacuteculos XIX e XX surgiu a
ideia em que o imoacutevel natildeo teria mais o caraacuteter absoluto e intangiacutevel de forma que o
proprietaacuterio por possuir recursos deveria cumprir a tal funccedilatildeordquo (MELO 2010 p23) Ainda
ldquodiscorrer sobre a funccedilatildeo social da propriedade significa abandonar a ideia absolutista e
inflexiacutevel desse instituto para admitir a revitalizaccedilatildeo e o condicionamento do exerciacutecio a
interesses maiores que os do proprietaacuterio individualrdquo (PETERS 2003 p 125 apud
MIRANDA 2008 p 56) Foi nesse sentido que as Constituiccedilotildees Federais brasileiras de 1934
(BRASIL 1934b) 1946 (BRASIL 1946) 1967 (BRASIL 1967c) e a de 1988 (BRASIL
1988) restringiram o direito de propriedade
Constituiccedilatildeo de 1934
Art 113 - A Constituiccedilatildeo assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade dos direitos concernentes agrave liberdade agrave subsistecircncia agrave seguranccedila
individual e agrave propriedade nos termos seguintes
[]
17) Eacute garantido o direito de propriedade que natildeo poderaacute ser exercido contra o
interesse social ou coletivo na forma que a lei determinar A desapropriaccedilatildeo por
necessidade ou utilidade puacuteblica far-se-aacute nos termos da lei mediante preacutevia e justa
indenizaccedilatildeo [] (BRASIL 1934b p 33)
Constituiccedilatildeo de 1946
Art 141 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
Paiacutes a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade a seguranccedila
individual e agrave propriedade nos termos seguintes
37
[]
sect 16 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por
necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa
indenizaccedilatildeo em dinheiro (BRASIL 1946 p 31)
Constituiccedilatildeo de 1967
Art 150 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
Pais a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
[]
sect 22 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por
necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa
indenizaccedilatildeo em dinheiro ressalvado o disposto no art 157 sect 1ordm []
[]
Art 157 - A ordem econocircmica tem por fim realizar a justiccedila social com base nos
seguintes princiacutepios
[]
III - funccedilatildeo social da propriedade
[]
sect 1ordm - Para os fins previstos neste artigo a Uniatildeo poderaacute promover a desapropriaccedilatildeo
da propriedade territorial rural mediante pagamento de justa indenizaccedilatildeo fixada
segundo os criteacuterios que a lei estabelecer em tiacutetulos especiais da diacutevida puacuteblica []
(BRASIL 1967c p 4951)
Embora os textos se assemelhem eacute faacutecil observar que em 1934 o direito de
propriedade natildeo poderia ir contra o interesse social ou coletivo enquanto que na Constituiccedilatildeo
de 1946 (BRASIL 1946) jaacute se comeccedila a falar em desapropriaccedilatildeo caso aquele interesse natildeo
seja observado Em 1967 existe uma combinaccedilatildeo entre o direito de propriedade e a justiccedila
social estando esta prevista como objetivo da ordem econocircmica que por sua vez cita
claramente a funccedilatildeo social da propriedade como um de seus princiacutepios Mais uma vez a
desapropriaccedilatildeo vem agrave tona agora com um toque mais robusto e imbuiacutedo de maior evidecircncia
jaacute que aquela Carta (BRASIL 1967c) faz menccedilatildeo no paraacutegrafo 1ordm do artigo 157 que a Uniatildeo
poderaacute desapropriar a propriedade territorial rural se natildeo atender dentre outros aspectos a
funccedilatildeo social da propriedade
Retroagindo aproximadamente trecircs anos a desapropriaccedilatildeo jaacute estava em pauta
atraveacutes da Lei 450464 (BRASIL 1964) conhecida como o Estatuto da Terra Com o
objetivo de regular os direitos e obrigaccedilotildees concernentes aos bens imoacuteveis rurais a citada lei
menciona a desapropriaccedilatildeo como uma das medidas de execuccedilatildeo da Reforma Agraacuteria e
promoccedilatildeo da Poliacutetica Agriacutecola (Art 1deg) Aleacutem disto o artigo segundo assegura a todos a
oportunidade de acesso agrave propriedade da terra condicionada pela sua funccedilatildeo social desde que
cumpra as seguintes condiccedilotildees
Art 2deg
sect 1deg A propriedade da terra desempenha integralmente a sua funccedilatildeo social quando
simultaneamente
a) favorece o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores que nela labutam
assim como de suas famiacutelias
38
b) manteacutem niacuteveis satisfatoacuterios de produtividade
c) assegura a conservaccedilatildeo dos recursos naturais
d) observa as disposiccedilotildees legais que regulam as justas relaccedilotildees de trabalho entre os
que a possuem e a cultivem (BRASIL 1964 p 1)
Encerrando o rol de Constituiccedilotildees brasileiras quanto ao direito de propriedade e
sua funccedilatildeo social a de 1988 consagra este princiacutepio no artigo 186
Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende
simultaneamente segundo criteacuterios e graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos
seguintes requisitos
I - aproveitamento racional e adequado
II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio
ambiente
[] (BRASIL 1988 p 144)
Chama atenccedilatildeo o inciso II quando dispotildee sobre a utilizaccedilatildeo adequada dos
recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio ambiente Eacute nesse iacutenterim que a reserva
legal eacute reconhecida por dar ao imoacutevel uma funccedilatildeo social ldquouma vez que atribui agrave propriedade
a exigecircncia da observacircncia de funccedilotildees econocircmica e social bem como de preservaccedilatildeo do meio
ambienterdquo (MELO 2010 p 24) Tambeacutem sobre isso bem coloca Trennepohl (2009 p 12)
A limitaccedilatildeo administrativa do exerciacutecio do direito de propriedade encontra respaldo
no art 186 da Constituiccedilatildeo Federal pois a propriedade rural somente cumpre sua
funccedilatildeo social quando obedecido o aproveitamento racional e utilizados
adequadamente os recursos naturais disponiacuteveis com vistas agrave preservaccedilatildeo do meio
ambiente
ldquoNatildeo haacute direito de propriedade para quem natildeo faz a terra cumprir sua funccedilatildeo
socialrdquo Eacute como entende o professor de direito agraacuterio Carlos Mareacutes (2003 p 134 apud
MELO 2010 p 25) Cavedon (2003 p 122 apud MIRANDA 2008 p 5859) tambeacutem
observa que
Os requisitos estipulados pelo artigo 186 devem ser atendidos simultaneamente sob
pena da propriedade natildeo atender sua funccedilatildeo social e por isso perder sua proteccedilatildeo
constitucional Como consequecircncia esta fica sujeita agrave desapropriaccedilatildeo por interesse
social para fins de reforma agraacuteria conforme o caput do artigo 184 da CF88 Eacute o que
Lenza denomina de desapropriaccedilatildeo-sanccedilatildeo Isto porque a Constituiccedilatildeo de 1988 em
seu artigo 5ordm inciso XXIV garante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiro mediante a
desapropriaccedilatildeo por necessidade utilidade puacuteblica ou interesse social A sanccedilatildeo estaacute
justamente na forma de pagamento da indenizaccedilatildeo quando a propriedade rural natildeo
atende a sua funccedilatildeo social o pagamento natildeo eacute efetuado em dinheiro mas em tiacutetulos
da diacutevida agraacuteria5 Assim o meio ambiente ganha relevacircncia como elemento
5 Tiacutetulos da diacutevida agraacuteria (TDA) - Meio de pagamento de indenizaccedilotildees devidas aos que sofreram accedilatildeo
expropriatoacuteria da Uniatildeo Federal Criado pelo Governo Federal eacute vinculado agrave desapropriaccedilatildeo de imoacuteveis rurais
por interesse social para efeito de reforma agraacuteria ou aquisiccedilotildees por compra e venda de imoacuteveis rurais destinados
agrave implantaccedilatildeo de projetos integrantes do Programa Nacional de Reforma Agraacuteria Disponiacutevel em
lthttpwwwcetipcombrtitulos-publicostdagt Acesso em 27062013
39
integrante da funccedilatildeo social da propriedade em funccedilatildeo do artigo 186 II que prevecirc a
utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio
ambiente e no artigo 170 que coloca a propriedade privada a funccedilatildeo social da
propriedade e a defesa do meio ambiente lado a lado como princiacutepios da ordem
econocircmica Com base nestes dispositivos legais Cavedon entende que a propriedade
deve atender tambeacutem a sua funccedilatildeo ambiental apesar desta natildeo constar de forma
expliacutecita no texto constitucional
Desta forma por estar limitado o proprietaacuterio rural natildeo pode dispor livremente de
seu imoacutevel pois haacute de cumprir sua funccedilatildeo social que resulta na observacircncia de requisitos que
visam vantagens para a coletividade em detrimento de restriccedilotildees individuais Assim sendo
muitos particulares entendem que a obrigaccedilatildeo de destinarem determinada porcentagem de
suas propriedades rurais para a reserva legal eacute uma espeacutecie de desapropriaccedilatildeo indireta imposta
pelo poder puacuteblico e por isso deveriam ser indenizados Da mesma forma outros segundo
Miranda (2008) concluem que eacute uma restriccedilatildeo da propriedade uma vez que inviabiliza a
utilizaccedilatildeo econocircmica do bem e por isso caberia uma recomposiccedilatildeo patrimonial Ao contraacuterio
desse entendimento Trennepohl (2009 p 11) explica
A averbaccedilatildeo da reserva legal natildeo representa uma desapropriaccedilatildeo indireta como
muita gente pensa pois sua vegetaccedilatildeo pode ser explorada na forma de manejo
florestal sustentaacutevel e a aacuterea pode ser utilizada para outras atividades rentaacuteveis
Tanto eacute assim que inuacutemeras accedilotildees judiciais propostas pleiteando indenizaccedilatildeo pela
restriccedilatildeo de uso dessas aacutereas foram fulminadas nas diferentes esferas do Poder
Judiciaacuterio
Ademais a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 (BRASIL 1988) em seu artigo 225
tambeacutem estabelece que
Art 225 Todos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de
uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder
Puacuteblico e agrave coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e
futuras geraccedilotildees
sect 1ordm - Para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Poder Puacuteblico
I - preservar e restaurar os processos ecoloacutegicos essenciais e prover o manejo
ecoloacutegico das espeacutecies e ecossistemas []
III - definir em todas as unidades da Federaccedilatildeo espaccedilos territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos sendo a alteraccedilatildeo e a supressatildeo
permitidas somente atraveacutes de lei vedada qualquer utilizaccedilatildeo que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteccedilatildeo (BRASIL 1988 p 225226)
Ressalta-se que ldquoa Carta Magna de 1988 eacute a primeira Constituiccedilatildeo brasileira em
que a expressatildeo meio ambiente eacute mencionadardquo (MELO 2010 p 20) Ademais inovou ao
adotar a terminologia ldquoespaccedilo territorial especialmente protegidordquo para designar uma aacuterea sob
regime especial de administraccedilatildeo com o objetivo de proteger os atributos ambientais
justificadores do seu reconhecimento e individualizaccedilatildeo pelo Poder Puacuteblico (MILAREacute 2009)
40
Desta forma pela simples leitura do texto constitucional observa-se que eacute uma
prerrogativa do Poder Puacuteblico promover a preservaccedilatildeo do meio ambiente bem como
estabelecer unidades especialmente protegidas para garantir a manutenccedilatildeo dos recursos
naturais A forma com que o Estado cumpriraacute este dever eacute atraveacutes da ediccedilatildeo de leis que
obriguem seus administrados a satisfazerem tais imposiccedilotildees Para tanto tem-se o Coacutedigo
Florestal (BRASIL 1965 2012) que prevecirc a reserva legal como um dos meios de viabilizar
essa proteccedilatildeo Eacute sobre o que discorre Trennepohl (2009 p 12)
A reserva legal eacute um dos instrumentos que permitem o cumprimento do art 225 da
Constituiccedilatildeo Federal o qual impotildee ao Poder Puacuteblico o dever de defender e preservar
o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras geraccedilotildees
(caput) atraveacutes de definiccedilatildeo de espaccedilos territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos (sect1deg III) bem como de proteger a flora e a fauna (sect1deg
VII)
Conclui-se portanto que a reserva legal introduzida pelo Coacutedigo de 65 (BRASIL
1965) modificou os contornos do direito de propriedade restringindo seu uso e que a funccedilatildeo
social do bem imoacutevel teve como origem forte conflito entre necessidades coletivas ou assim
interpretadas e o regime particular da propriedade individual (ANTUNES 2011)
1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa
As formas de limitaccedilotildees que recaem sobre a propriedade tornam-se um problema
importante em mateacuteria ambiental pois na grande maioria das vezes a natureza juriacutedica dos
espaccedilos territoriais especialmente protegidos se confunde com a limitaccedilatildeo administrativa
(MELO 2010) Assim questiona-se se realmente estamos diante de servidotildees limites
limitaccedilotildees ou delimitaccedilotildees A questatildeo natildeo eacute paciacutefica (CRIADO 2010)
A limitaccedilatildeo administrativa segundo Meireles (2004 p 568) eacute ldquotoda imposiccedilatildeo
geral gratuita unilateral e de ordem puacuteblica condicionadora do exerciacutecio de direitos ou de
atividades particulares agraves exigecircncias do bem-estar socialrdquo Satildeo implementadas de forma
imperativa obrigando o proprietaacuterio a fazer ou natildeo fazer algo na sua propriedade mas sem
retirar a utilizaccedilatildeo econocircmica deste bem ldquoJaacute a restriccedilatildeo ocorre quando a administraccedilatildeo impotildee
ao proprietaacuterio dever que o obrigue ou o impeccedila de fazer algo em sua propriedade retirando a
utilizaccedilatildeo econocircmica desta Havendo neste caso a necessidade de recomposiccedilatildeo patrimonialrdquo
(MIRANDA 2008 p 61)
41
Aleacutem do que hibridamente haacute os que entendem que a reserva legal eacute uma
desapropriaccedilatildeo indireta6 disfarccedilada de limitaccedilatildeo da propriedade que por sua vez inviabiliza a
utilizaccedilatildeo econocircmica do bem provocando uma busca por indenizaccedilatildeo Eacute nesse sentido que se
pronunciam os superiores tribunais do paiacutes como por exemplo se pronunciou o ministro Luiz
Pereira do Tribunal de Justiccedila do Estado de Satildeo Paulo ao decidir pela indenizabilidade da
aacuterea compreendida na reserva legal E ainda o proacuteprio Supremo Tribunal Federal tem se
manifestado de forma enfaacutetica ldquoimpedindo que a bdquolimitaccedilatildeo administrativa‟ esvazie o
conteuacutedo econocircmico do direito de propriedade determinando que em tais hipoacuteteses o Estado
indenize os prejuiacutezos de ordem patrimonial sofridos pelo particularrdquo (ANTUNES 2011
p163164)
Mesmo sendo um instrumento de conservaccedilatildeo ambiental com a possibilidade de
exploraccedilatildeo racional atraveacutes de manejo florestal sustentaacutevel eacute visivelmente perceptiacutevel o
conflito entre interesses particulares e a salvaguarda da vegetaccedilatildeo proposta por norma
juriacutedica Posto isto observa-se de um lado intenccedilotildees puramente econocircmicas que por sua vez
levam os proprietaacuterios a ignorarem a lei derrubando e queimando as matas que deveriam ser
preservadas a tiacutetulo de Reserva Legal ou ainda se eximindo de suas responsabilidades soacutecio-
ambientais Opotildeem-se portanto aos fortes instrumentos juriacutedicos de proteccedilatildeo das matas
brasileiras (MIRANDA 2008)
1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal
Na vigecircncia da lei anterior ou seja do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)
a forma de garantir documentalmente o cumprimento da reserva legal era averbaacute-la junto agrave
matriacutecula da propriedade constante em um Registro de Imoacuteveis Vale aqui esmiuccedilar o que eacute e
como era esse procedimento
ldquoO Registro de Imoacuteveis eacute uma instituiccedilatildeo nascida no seacuteculo XIX para dar
seguranccedila agrave contrataccedilatildeo imobiliaacuteria e na qual se inscreviam os direitos nascidos das relaccedilotildees
privadas ou civisrdquo (CRIADO 2010 p126) ldquoE que surgiu como necessidade do Estado de
controlar o direito de propriedade e como instrumento de seguranccedila juriacutedica para o traacutefego
imobiliaacuteriordquo (MELO 2010 p18) Regido pela Lei 601573 (BRASIL 1973) que cria a
figura da matriacutecula e que por sua vez representa a individualidade do imoacutevel sua situaccedilatildeo
6 Desapropriaccedilatildeo indireta ndash ldquotoda intervenccedilatildeo do Estado na propriedade que venha a impossibilitar o uso e gozo
desse bem retirando-lhe o conteuacutedo econocircmicordquo (TAVARES 1998 p 2 apud MIRANDA 2008 p 62)
42
geograacutefica e perfeita descriccedilatildeo sofrendo alteraccedilotildees objetivas e subjetivas por meio da
averbaccedilatildeo sempre com um mesmo nuacutemero de ordem facilitando incrivelmente as pesquisas e
expediccedilatildeo de certidotildees (MELO 2010)
Desta forma cada imoacutevel possui um registro onde pode ser descrito tudo o que
acontece com ele e nele por exemplo quem comprou vendeu se o dono hipotecou o bem a
um banco por causa de empreacutestimo etc Cada novidade que acontece no imoacutevel eacute inscrita sob
a forma e nome de averbaccedilatildeo no seu registro que por sua vez tem um nuacutemero de matriacutecula
para o identificar da mesma forma que um cidadatildeo tem um nuacutemero de Registro Geral (RG)
com seu nome completo data de nascimento e filiaccedilatildeo
No caso a averbaccedilatildeo da reserva legal era feita da seguinte forma o dono do
imoacutevel ldquointeressadordquo em cumprir sua obrigaccedilatildeo deveria submeter a localizaccedilatildeo da reserva
legal ao oacutergatildeo ambiental estadual que por sua vez aprovaria ou natildeo o local onde o proprietaacuterio
iria destinar agrave reserva legal Essa delimitaccedilatildeo deveria ser feita a partir de um
georreferenciamento que utiliza coordenadas geograacuteficas fixadas com o auxiacutelio de sateacutelites
conforme o Sistema Geodeacutesico Brasileiro (SGB) ao qual o Registro de imoacuteveis estaacute
vinculado (MELO 2010)
ldquoA representaccedilatildeo graacutefica da propriedade e sua atualizaccedilatildeo permitem um
conhecimento da evoluccedilatildeo do territoacuterio suas modificaccedilotildees e o impacto meio ambiental que
nele tenha ocasionado atuaccedilatildeo do acircmbito imobiliaacuterio com transcendecircncia nesta mateacuteriardquo
(LIBERAL 2007 p 121 apud MELO 2010 p3233)
Assim com a propriedade e sua respectiva aacuterea de reserva legal
georreferenciadas o proacuteximo passo seria a elaboraccedilatildeo de uma planta a partir dos dados
coletados e juntamente com o documento comprobatoacuterio de que o imoacutevel possuiacutea registro
submeter a localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva ao oacutergatildeo ambiental competente Se aprovada o
oacutergatildeo expediria um Termo de Averbaccedilatildeo da Reserva Legal que juntamente com a mesma
planta apresentada anteriormente deveria ser levado ao cartoacuterio de imoacuteveis para posterior
averbaccedilatildeo no registro do bem Nesta averbaccedilatildeo estariam descritas todas as informaccedilotildees da
reserva legal e sua localizaccedilatildeo geograacutefica
ldquoEsse procedimento documental tinha fundamento no princiacutepio da publicidade
que eacute a alma dos registros puacuteblicos porque eacute a oportunidade dada ao povo de conhecer tudo
que lhe interessa a respeito de determinados atosrdquo (BALBINO FILHO 1999 p 9 apud
MELO 2010 p34) Ateacute porque qualquer pessoa pode solicitar informaccedilotildees sobre os registros
junto ao cartoacuterio de imoacuteveis ldquoE natildeo poderia ser diferente pois o Registro de Imoacuteveis atua no
43
direito ambiental como ator coadjuvante reforccedilando a publicidade legal bem como
cooperando com o cumprimento e garantia das obrigaccedilotildees ambientaisrdquo (MELO 2010 p79)
Natildeo obstante malgrado existia a obrigaccedilatildeo legal de todo proprietaacuterio averbar a
aacuterea de RLF no Registro de Imoacuteveis o fato eacute que pequena porcentagem dos proprietaacuterios
procedeu agrave sua especializaccedilatildeo ldquoA razatildeo eacute simples trata-se de norma incompleta foi criada a
obrigaccedilatildeo mas propositalmente a sanccedilatildeo foi esquecidardquo (MELO 2010 p56)
Com a lei 126512012 (BRASIL 2012) ou Novo Coacutedigo Florestal esse
procedimento mudou Logo natildeo se deve mais averbar a reserva legal no registro do imoacutevel
Agora a obrigaccedilatildeo passou a ser o cadastramento da propriedade rural no Cadastro Ambiental
Rural (CAR) O atual meacutetodo consiste na inscriccedilatildeo do imoacutevel a partir da identificaccedilatildeo do
proprietaacuterio ou possuidor rural apresentaccedilatildeo de documento que comprove a propriedade ou a
posse e a identificaccedilatildeo do imoacutevel por meio de planta e memorial descritivo contendo a
indicaccedilatildeo das coordenadas geograacuteficas com pelo menos um ponto de amarraccedilatildeo do periacutemetro
do imoacutevel informando a localizaccedilatildeo dos remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa das Aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente das Aacutereas de Uso Restrito das aacutereas consolidadas e caso existente
tambeacutem da localizaccedilatildeo da Reserva Legal
No entanto o CAR ainda natildeo estaacute implantado no Cearaacute o que eacute realidade em
vaacuterios outros estados tambeacutem A obrigatoriedade de inscriccedilatildeo neste Cadastro eacute de ateacute dois
anos apoacutes sua implementaccedilatildeo que ateacute o momento natildeo aconteceu Todavia o secretaacuterio de
Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentaacutevel Sr Paulo Guilherme Cabral afirmou em
21052013 que o lanccedilamento em acircmbito nacional do Cadastro Ambiental Rural (CAR) deve
ocorrer ateacute o iniacutecio de junho e para agilizar a inscriccedilatildeo de mais de 5 milhotildees de propriedades
o Ministeacuterio do Meio Ambiente tem buscado ajuda de sindicatos cooperativas e associaccedilotildees
do setor agriacutecola aleacutem de outros oacutergatildeos puacuteblicos7 Infelizmente nada aconteceu ateacute e apoacutes
aquela previsatildeo
Contraditoriamente natildeo existe um prazo para o governo implantar o CAR mas
para o proprietaacuterio ou posseiro sim quando o cadastro dos imoacuteveis estiver disponiacutevel O
impasse eacute o que fazer o dono da terra aguarda o novo procedimento vigorar ou adota o
meacutetodo anterior
7 Conferir notiacutecia publicada em 22052013 no site lthttpsouagrocombrlancamento-nacional-do-car-deve-
sair-ate-junhogt
44
2 Processo de Degradaccedilatildeo
21 Conceito
A degradaccedilatildeo de uma forma geral eacute ldquoa ocorrecircncia de modificaccedilotildees fiacutesicas
metaboacutelicas ou quiacutemicas para uma forma menos complexa E a degradaccedilatildeo ambiental eacute a
alteraccedilatildeo das caracteriacutesticas do meio ambienterdquo (GUERRA et al 2009 p108) Jaacute o inciso II
do artigo 3ordm da Lei 693881 (BRASIL 1981) descreve a degradaccedilatildeo da qualidade ambiental
como alteraccedilatildeo adversa das caracteriacutesticas do meio ambiente
Para Arauacutejo et al (2008 p 19) ldquoa degradaccedilatildeo das terras envolve a reduccedilatildeo dos
potenciais recursos renovaacuteveis por uma combinaccedilatildeo de processos agindo sobre a terrardquo Os
autores ainda atestam que
Tal reduccedilatildeo levando ao abandono ou ldquodesertificaccedilatildeordquo da terra [] pode ser por
processos naturais como por exemplo o ressecamento do clima atmosfeacuterico
processos naturais de erosatildeo alguns outros de formaccedilatildeo do solo ou uma invasatildeo
natural de plantas ou animais nocivos Pode tambeacutem ocorrer por accedilotildees antroacutepicas
diretamente sobre o terreno ou indiretamente em razatildeo das mudanccedilas climaacuteticas
adversas induzidas pelo homem (ARAUacuteJO et al 2008 p 19)
Para a Food and Agriculture Organizations of the United Nations - FAO
(Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e Agricultura) o conceito de degradaccedilatildeo
de terras se refere ldquoagrave deterioraccedilatildeo ou perda total da capacidade dos solos para uso presente e
futurordquo (FAO 1980 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 23)
Observa-se portanto que a degradaccedilatildeo ambiental se natildeo combatida pressupotildee
um processo criacutetico e muito seacuterio o da desertificaccedilatildeo Eacute como considera Sales (2002) e ainda
afirma que o potencial natural das terras quanto agrave degradaccedilatildeo e a accedilatildeo antroacutepica
desencadeiam a desertificaccedilatildeo
O processo de degradaccedilatildeo ambiental pode ocorrer a partir de um ambiente que jaacute
possui caracteriacutesticas naturais limitantes eou extremas onde nele eacute inserido o fator antroacutepico
seja pela simples ocupaccedilatildeo de uma populaccedilatildeo naquela aacuterea seja pelo manejo inadequado dos
recursos naturais ali presentes De outra forma a degradaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel em ambientes
sem fragilidades naturalmente aparentes
A degradaccedilatildeo ambiental advinda da intervenccedilatildeo humana num cenaacuterio mundial
traduz-se em 15 das terras jaacute comprometidas pelas atividades humanas sendo que na
Ameacuterica do Sul dentro daquele percentual encontrou-se 1 de terras devastadas 11 de
terras leve ou moderadamente degradadas e 1 de terra forte ou extremamente degradada8
As estimativas apontam uma expansatildeo anual de 5 a 12 milhotildees de hectares de solo de um
total de 48 bilhotildees de hectares de aacutereas cultivaacuteveis e pastos ainda existentes e segundo a
ISRICUNEP (1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 28) isso resulta na seguinte constataccedilatildeo
A degradaccedilatildeo ambiental causa a perda de aproximadamente 14 milhotildees de
toneladas de gratildeos anualmente isto eacute metade da quantidade necessaacuteria para cobrir
as necessidades da populaccedilatildeo global adicional para o mesmo periacuteodo E no aspecto
financeiro para Blaikie e Brookfiel (1987) a produtividade do trabalho eacute atingida
desfavoravelmente pois a degradaccedilatildeo ambiental consome diretamente o produto do
trabalho e tambeacutem o aporte de capital na produccedilatildeo A qualidade de vida diminui
porque satildeo necessaacuterios mais tempo e um trabalho mais duro para se obter o mesmo
produto isso sem mencionar as medidas conservacionistas no campo fertilizaccedilatildeo
mais intensa ou a abertura de aacutereas para lavouras ou pastos cada vez mais distantes
[] Em ocasiotildees mais raras mas tambeacutem tatildeo dramaacuteticas a degradaccedilatildeo ambiental
forccedila o deslocamento da populaccedilatildeo Centenas de milhares de hectares tecircm de ser
abandonados a cada ano por estarem degradados demais para o cultivo ou ateacute
mesmo para pastagens (ARAUacuteJO et al 2008 p 31)
Em se tratando de semiaacuterido os recursos ambientais satildeo fraacutegeis e associados a
este quadro haacute uma populaccedilatildeo que por sua vez lanccedila matildeo dos bens naturais produzindo uma
deterioraccedilatildeo ambiental ldquoO Cearaacute por conseguinte apresenta extensas aacutereas com problemas
relativos agrave degradaccedilatildeo ambiental principalmente a desertificaccedilatildeordquo (IRAUCcedilUBA 2009 p 7)
Eacute o caso de Irauccediluba por causa da degradaccedilatildeo advinda do desmatamento e das
queimadas que exaurem os nutrientes do solo a agricultura de subsistecircncia colhe em gratildeos
menos de 500 kgha enquanto que a produccedilatildeo potencial seria cerca de 2000 kgha
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Isso explica a baixa participaccedilatildeo da agricultura na
produccedilatildeo agropecuaacuteria do municiacutepio E ldquoessa produccedilatildeo sequer paga os custos da lavoura de
forma que os pequenos produtores estatildeo pagando para plantar na maioria dos casosrdquo
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 18) As consequecircncias sociais disto satildeo ldquoum ciclo de
pobreza e miseacuteria tornando a regiatildeo cada vez mais vulneraacutevelrdquo (SALES 2002 p116)
Em niacutevel mais criacutetico segundo as Naccedilotildees Unidas a desertificaccedilatildeo degrada 60 mil
km2 de terras feacuterteis por ano em todo o mundo provocando perdas de 4 bilhotildees de doacutelares na
economia mundial No Brasil estima-se que essas perdas atinjam 100 milhotildees de doacutelares9
Por fim ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013) entendem que a degradaccedilatildeo em terras
brasileiras remonta o tempo dos colonizadores pois estes aplicavam diretamente meacutetodos e
praacuteticas proacuteprios para solos de clima temperado Assim as matas foram derrubadas queimou-
se a vegetaccedilatildeo em larga escala e lavouras nocircmades foram estabelecidas aproveitou-se o humo
8 Conferir ISRICUNEP 1991 In Arauacutejo et al 2008 p 27
9 Conferir RODRIGUES (2006) in CEARAacute 2010
46
onde este jaacute existia expuseram-se os solos agrave erosatildeo enfim saquearam-se os recursos naturais
renovaacuteveis ldquoNo caso do Cearaacute documenta-se que em 1861 a Comissatildeo Cientiacutefica enviada
para estudar o Nordeste registrava a destruiccedilatildeo acelerada da vegetaccedilatildeo principalmente nos
contrafortes das serras em virtude dos desmatamentos e queimadas para plantio de
mandiocardquo ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013 p 8)
Para uma melhor compreensatildeo quanto agrave intervenccedilatildeo humana negativa no
ambiente aponta-se o esquema proposto na figura 3 a seguir resumindo o processo de
degradaccedilatildeo ambiental apresentado pelo PAE10
(CEARAacute 2010b)
Figura 3 Sistema de Degradaccedilatildeo do Meio Ambiente Adaptado de Tricart (apud Souza 2000)
Fonte PAE (CEARAacute 2010b p 30)
10
PAECE ndash Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca
(CEARAacute 2010)
47
22 Degradaccedilatildeo Ambiental
A degradaccedilatildeo tem vaacuterias causas dentre elas a erosatildeo e o manejo inadequado do
solo Em se tratando deste uacuteltimo pode-se destacar as atividades agropecuaacuterias e suas
praacuteticas como por exemplo o desmatamento desmedido e irracional a irrigaccedilatildeo de forma
errada salinizando ou encharcando o solo o sobrepastoreio que compacta o solo e o uso de
defensivos agriacutecolas que provocam a contaminaccedilatildeo do solo e eliminam os microorganismos
ali presentes Deduz-se portanto que isso eacute um reflexo derivado de uma estrutura fundiaacuteria
extremamente riacutegida onde satildeo desenvolvidas aquelas atividades com baixo niacutevel tecnoloacutegico
levando a praacuteticas agriacutecolas predatoacuterias (SALES 2002 p116)
Com as causas naturais e as provocadas pelo homem quanto agrave degradaccedilatildeo do solo
expostas na tabela 2 a compreensatildeo fica mais clara
Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras
FATORES ACcedilOtildeES ANTROacutePICAS CONDICcedilOtildeES NATURAIS
Facilitadores
Desmatamento
Permissatildeo do superpastoreio
Uso excessivo da vegetaccedilatildeo
Taludes de corte
Remoccedilatildeo da cobertura vegetal para o cultivo
Topografia
Textura do solo
Composiccedilatildeo do solo
Cobertura vegetal
Regimes hidrograacuteficos
Diretos
Uso de maacutequinas
Conduccedilatildeo do gado
Encurtamento do pousio
Entrada excessiva de aacutegua drenagem insuficiente
Excesso de fertilizaccedilatildeo aacutecida
Uso excessivo de produtos quiacutemicos estrume
Disposiccedilatildeo de resiacuteduos domeacutesticos industriais
Chuvas fortes
Alagamentos
Ventos fortes
Fonte FAO (1980 apud Arauacutejo et al 2008 p 33)
Entendem Arauacutejo et al (2008 p 29) que as consequecircncias disto no meio rural satildeo
Um decliacutenio na produtividade ou uma necessidade crescente do aporte de nutrientes
para manter as mesmas produtividades uma vez que os ldquosubsolos geralmente
contem menos nutrientes do que as camadas superioresrdquo sendo necessaacuterio mais
fertilizante para manter a produtividade das culturas Isso por sua vez aumenta os
custos da produccedilatildeo
Partindo dessas constataccedilotildees conclui-se que satildeo seacuterias as consequecircncias
ambientais sociais e econocircmicas a esse respeito por isso satildeo necessaacuterias medidas mitigadoras
que visem minimizar esses impactos bem como meios de recuperar os danos jaacute existentes
A questatildeo torna-se ainda mais preocupante quando o olhar recai sobre os
processos de formaccedilatildeo do solo que segundo Kendall e Pimentel (1994 apud ARAUacuteJO et al
48
2008 p 21) ldquosatildeo lentos e necessitam de duzentos a mil anos para formar 25cm de solos e
isso sob condiccedilotildees agriacutecolas normaisrdquo Dessa forma a degradaccedilatildeo do solo eacute muito mais
criacutetica uma vez que eacute quase irreversiacutevel quando se trata do lapso temporal para se regenerar
ldquoA irreversibilidade tambeacutem ocorre quando o clima e as atividades humanas se combinam
tornando um solo anteriormente sadio em aacuterea devastadardquo (ARAUacuteJO et al 2008 p 2021)
221 Erosatildeo
Eacute o processo natural de decomposiccedilatildeo e transporte de sedimentos que altera as
formas de relevo Causada por agentes como vento chuvas aacuteguas correntes pode ser
acelerada por intervenccedilotildees humanas como por exemplo o desmatamento (TRIGUEIRO
2005 apud GUERRA 2009 p 129)
Arauacutejo et al (2008 p 34) afirmam que ldquoembora a erosatildeo possa ocorrer sem a
intervenccedilatildeo humana na praacutetica ela geralmente eacute iniciada eou acelerada por atividades
antroacutepicas que causam o desaparecimento da cobertura protetora da vegetaccedilatildeo natural ou
danificam a estrutura do solordquo
No PAN (BRASIL 2004 p 42) consta que ldquoa resultante do antropismo eacute
principalmente a erosatildeo particularmente a laminarrdquo que se inicia com a destruiccedilatildeo da
cobertura vegetal
A erosatildeo pode ser pela accedilatildeo da aacutegua eou do vento Em ambos os casos a camada
superficial do solo eacute retirada Para Arauacutejo et al (2008 p 24) ldquoa erosatildeo eoacutelica eacute mais comum
em climas aacuterido e semiaacuterido e eacute considerada uma forma de degradaccedilatildeo bem como a da aacutegua
que pode ateacute deformar o terreno formando ravinas e voccedilorocasrdquo Uma consequecircncia grave
disto segundo os mesmos autores eacute a reduccedilatildeo da fertilidade pelos motivos a seguir Menor
penetraccedilatildeo de raiacutezes em decorrecircncia de um solo menos denso e mais fino Reduccedilatildeo na
capacidade de retenccedilatildeo de aacutegua Varredura dos nutrientes utilizados pelas plantas
Para a FAO segundo Arauacutejo et al (2008 p 30) ldquoaproximadamente 25 bilhotildees de
toneladas de solo satildeo erodidos a cada ano sendo 17 toneladas por hectare cultivadordquo
222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica
Dentro do que jaacute foi citado anteriormente a (1) irrigaccedilatildeo inadequada que saliniza
ou encharca o solo e o (2) uso de defensivos agriacutecolas contaminando e eliminando os
49
microorganismos satildeo soacute algumas causas deste tipo de degradaccedilatildeo Aleacutem destas tem-se a (3)
acidificaccedilatildeo e o (4) esgotamento do solo causando a perda de nutrientes Para Arauacutejo et al
(2008 p 25) ldquoa salinizaccedilatildeo pode ser resultado de manejo mal realizado da irrigaccedilatildeo da alta
concentraccedilatildeo de sais na aacutegua ou atenccedilatildeo indevida agrave drenagem Esta acarreta a salinizaccedilatildeo dos
solos especialmente em regiotildees aacuteridas por que as altas taxas de evaporaccedilatildeo estimulam o
processordquo E ainda por atividades humanas que elevam a evaporaccedilatildeo em solos com material
salino ou com lenccedilol freaacutetico salino (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25)
Segundo o PAN (BRASIL 2004 p 64) ldquoa irrigaccedilatildeo produz impactos
indesejaacuteveis em qualquer aacuterea semiaacuteridardquo se realizada de forma inadequada e sem o recurso
da drenagem Complementa ainda o documento ao dizer que
Um solo submetido agrave irrigaccedilatildeo estaacute salinizado quando a concentraccedilatildeo de sais nesse
terreno se eleva a ponto de prejudicar o rendimento econocircmico das culturas A
salinizaccedilatildeo do solo afeta a germinaccedilatildeo e a densidade das culturas bem como seu
desenvolvimento vegetativo reduzindo a produtividade das lavouras Nos casos
limites a salinizaccedilatildeo pode levar agrave morte generalizada das plantas inviabilizando o
cultivo das terras afetadas (BRASIL 2004 p 64)
Aleacutem disso o uso excessivo de agrotoacutexicos eacute tido como poluiccedilatildeo e pode levar agrave
reduccedilatildeo do potencial agriacutecola da terra Resiacuteduos industriais e urbanos tambeacutem podem poluir
terras agricultaacuteveis O esgotamento do solo pelo plantio excessivo de culturas sem promover
um pousio miacutenimo do terreno exaure os nutrientes daquela aacuterea Isso eacute comum onde a
agricultura eacute praticada em solos pobres ou moderadamente feacuterteis sem a aplicaccedilatildeo suficiente
de esterco ou fertilizante (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25) E por fim
a acidez pode ser provocada quando se utiliza muitos fertilizantes aacutecidos ou em decorrecircncia
da maacute drenagem em alguns tipos de solo
223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica
Conhecidos pela compactaccedilatildeo do solo elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico e pelo
rebaixamento da superfiacutecie da terra (subsidecircncia) a esses tipos de degradaccedilatildeo natildeo se pode
deixar de somar uma causa precursora que eacute o desmatamento desmedido e irracional
deixando o solo nu e exposto agraves intempeacuteries do tempo Da mesma forma entende Cruz (1994
p 135-147 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 35) ao afirmar que ldquoa remoccedilatildeo da cobertura vegetal
inicia ou acelera a erosatildeo do solo sob a accedilatildeo da chuva e do vento de igual modo a queimada
visando o controle de ervas estimula a lixiviaccedilatildeo e a perda do solordquo
50
A compactaccedilatildeo do solo como o resultado do uso de maacutequinas pesadas em solos
instaacuteveis bem como o pisoteio do gado que via de regra eacute agravado por um
sobrepastoreio da aacuterea O impacto das gotas de chuva provoca tambeacutem o selamento
e encrostamento do solo A elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico eacute ocasionada pelo
encharcamento da terra que por sua vez natildeo tem na mesma proporccedilatildeo a capacidade
de drenagem (ARAUacuteJO et al 2008 p 25)
23 A degradaccedilatildeo em Irauccediluba
Em Irauccediluba as praacuteticas agriacutecolas e a pecuaacuteria satildeo muito ofensivas aos recursos
naturais Isso se deve agrave capacidade de suporte do ambiente que natildeo eacute respeitada gerando
impactos e danos ambientais seacuterios e de caraacuteter praticamente irreversiacuteveis O sobrepastejo de
bovinos ovinos e caprinos o desmatamento e as queimadas deixam a regiatildeo com um niacutevel de
degradaccedilatildeo altiacutessimo ateacute porque suas condiccedilotildees naturais jaacute satildeo adversas E ainda haacute outro
fator agravante - o tempo de recuperaccedilatildeo natural tambeacutem natildeo eacute observado nem cumprido
fragilizando por demais o ambiente
Para Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 7) ldquoA introduccedilatildeo da pecuaacuteria no nuacutecleo de
Irauccediluba trouxe a tiracolo a agricultura e a extraccedilatildeo de madeira A primeira baseava-se no
desmatamento indiscriminado e na queimada geral E a segunda na coleta da lenha sem
reposiccedilatildeo florestalrdquo Desta forma a degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba estaacute desenhada por
1 Superpastejo que causa prejuiacutezos sensiacuteveis agrave vegetaccedilatildeo pelo consumo das
cascas dos troncos de aacutervores e arbustos e pela remoccedilatildeo das placircntulas das espeacutecies
arboacutereas e arbustivas Nessas condiccedilotildees mudanccedilas na composiccedilatildeo floriacutestica da
vegetaccedilatildeo podem resultar em virtude do desaparecimento das espeacutecies lenhosas
forrageiras o que em aacutereas de vegetaccedilatildeo degradada acelera o processo de
desertificaccedilatildeo Em aacutereas de caatinga o pastejo por ovinos induz mudanccedilas
significativas na composiccedilatildeo botacircnica do estrato herbaacuteceo com a reduccedilatildeo da
participaccedilatildeo das gramiacuteneas mesmo em condiccedilotildees de pastoreio moderado Nesse
contexto o sobrepastejo por ovinos pode resultar no desaparecimento das gramiacuteneas
e ao final de toda cobertura herbaacutecea da vegetaccedilatildeo expondo o solo aos efeitos da
erosatildeo (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 78)
2 Agricultura rudimentar que pratica o desmatamento e faz uso do fogo O
impacto deste sobre o ecossistema eacute onipresente e caracteriza-se pela queda da
produccedilatildeo agriacutecola pela degradaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa pela erosatildeo dos solos pela
perda da biodiversidade da flora e da fauna e pelo assoreamento e salinizaccedilatildeo dos
mananciais pela perda da resiliecircncia aumentando sua fragilidade diante das
variaccedilotildees climaacuteticas tiacutepicas das regiotildees semiaacuteridas Aleacutem disto os desmatamentos e
queimadas seguidos por um curto periacuteodo de pousio terminam por levar a vegetaccedilatildeo
a um disclimax dominado por arbustos uma vez que o banco de sementes das
arboacutereas praticamente desapareceu (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 918)
3 Manejo inadequado do solo associado ao relevo da regiatildeo Satildeo trecircs tipos de
solo que se destacam em Irauccediluba litoacutelicos planossolos e luvissolos Por conta da
declividade de 8 a 45 os agricultores optam pelas terras nas encostas para
implantar os roccedilados pois haacute um menor risco de perder a safra em funccedilatildeo do
alagamento comum nas terras planas do municiacutepio durante a eacutepoca das chuvas
Nestas condiccedilotildees as perdas de solo por erosatildeo satildeo assombrosas Aleacutem disto haacute a
erosatildeo nos planossolos provocada pelo sobrepastejo com perdas de solo superiores a
51
17 tha em uma uacutenica estaccedilatildeo das chuvas o que enfatiza a importacircncia da cobertura
vegetal na proteccedilatildeo contra a erosatildeo (apud SALES 2003) Como consequecircncia do
sobrepastejo continuado ao longo provavelmente de centenas de anos a erosatildeo
laminar jaacute removeu porccedilatildeo significativa do horizonte A expondo em alguns casos o
horizonte B textural Aleacutem disso houve uma exaustatildeo dos nutrientes do solo
principalmente do foacutesforo Outro fator que tambeacutem intensifica a degradaccedilatildeo eacute o
curtiacutessimo periacuteodo de repouso Estima-se em 50 anos o tempo necessaacuterio para que a
vegetaccedilatildeo da caatinga em um luvissolo que foi destruiacuteda pela queimada do roccedilado
volte pela sucessatildeo secundaacuteria ao cliacutemax original Ora na regiatildeo este periacuteodo estaacute
reduzido a cerca de oito anos Com isto natildeo haacute a recuperaccedilatildeo da fertilidade do solo e
a recomposiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo Isto porque a velocidade de crescimento das arboacutereas
da caatinga eacute muito variaacutevel (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 810)
Concluem portanto os autores Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 17) que ldquoas praacuteticas
rotineiramente adotadas do desmatamento e do fogo a exposiccedilatildeo do solo e a diminuiccedilatildeo do
periacuteodo de pousio tecircm induzido processos de degradaccedilatildeo mormente os de erosatildeordquo
231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia
A desertificaccedilatildeo eacute um problema ambiental que assola vaacuterias partes do mundo e
vem sendo discutido desde 1977 quando em Nairoacutebi no Quecircnia aconteceu a Conferecircncia
sobre Desertificaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas ldquoA observaccedilatildeo desse processo se atribui ao cientista
Aubreville que em 1949 constatou o prolongamento da degradaccedilatildeo para o norte das zonas
mais aacuteridas do Saara e para as regiotildees semiaacuteridas e subuacutemidas do norte da Aacutefricardquo (ARAUacuteJO
et al 2008 p 26) Em 1992 na ECO 92 foi definido o conceito de desertificaccedilatildeo cuja
ocorrecircncia se daacute em aacutereas aacuteridas semiaacuteridas e subuacutemidas secas O grau de aridez eacute
estabelecido pela relaccedilatildeo PEtp que eacute a razatildeo entre a meacutedia da precipitaccedilatildeo total anual e a
evapotranspiraccedilatildeo potencial do mesmo periacuteodo metodologia esta desenvolvida por
Thornthwaite (1955) Desta forma definiu-se uma correspondecircncia entre o clima e o
resultado da relaccedilatildeo acima conforme mostra a tabela 3
Tabela 3 ndash Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez
CLIMA P ETP
Hiper-aacuterido lt 005
Aacuterido De 005 a 020
Semiaacuterido gt 020 a 050
Subuacutemido Seco gt 050 a 065
Subuacutemido Uacutemido gt 065
Fonte United Nations Environment Programme ndash UNEP (Programa
Ambiental das Naccedilotildees Unidas) 1992
52
Eacute interessante mencionar que o semiaacuterido brasileiro delimitado pela uacuteltima vez
em 1995 foi novamente demarcado a partir da iniciativa do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
Nacional (MIN) que instituiu um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) envolvendo
departamentos empresas institutos agecircncias e ateacute bancos puacuteblicos para a readequaccedilatildeo dos
criteacuterios propostos pela Lei 782789 (BRASIL 1989c) Somente a inserccedilatildeo do municiacutepio na
aacuterea de abrangecircncia da extinta Superintendecircncia de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)
e a precipitaccedilatildeo meacutedia anual de ateacute 800 mm eram condiccedilotildees para enquadrar ou natildeo
determinado municiacutepio no semiaacuterido brasileiro (SUDENE 1990) Os novos paracircmetros satildeo
mais abrangentes pois aleacutem de considerar a precipitaccedilatildeo pluviomeacutetrica meacutedia anual inferior a
800 mm avaliam se o iacutendice de aridez do municiacutepio eacute de ateacute 05 ou se o risco de seca eacute maior
que 6011
Com a nova delimitaccedilatildeo em 2005 foram incorporados mais 102 municiacutepios aos
1031 jaacute classificados de forma que a aacuterea oficialmente semiaacuterida brasileira aumentou de
8923094 km2 para 9695894 km
2 ou seja um acreacutescimo de 866
12
A figura 4 ilustra o novo formato do semiaacuterido no Brasil E no Cearaacute foram
incorporados mais 16 totalizando 150 de um universo com 184 municiacutepios Isto significa
815 do estado e 132 de toda a regiatildeo semiaacuterida do paiacutes13
O quadro atual do semiaacuterido
cearense estaacute delineado na figura 5 a seguir
Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro
Fonte MIN (BRASIL 2005c)
11
Conferir Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro MI (BRASIL 2005c) 12
Idem 13
Ibidem
53
Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute
Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)
Com relaccedilatildeo ao processo de desertificaccedilatildeo no Brasil uma aacuterea de 900000 Kmsup2 eacute
atingida afetando direta ou indiretamente mais de 15 milhotildees de brasileiros natildeo existindo no
territoacuterio nacional outro problema ambiental que atinja tamanha aacuterea e tantas pessoas
(SUDENE 2000 apud IRAUCcedilUBA 2009) A regiatildeo nordeste por sua vez concentra as
Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) incluindo os espaccedilos semiaacuteridos e subuacutemidos
secos ambos de maior abrangecircncia fiacutesico-territorial vis-agrave-vis os outros espaccedilos naturais que
conformam e estruturam o Nordeste brasileiro (BRASIL 2004)
Pesquisadores apontam como principais causas de desertificaccedilatildeo no semiaacuterido
cearense a ocupaccedilatildeo desordenada do solo o desmatamento praacuteticas de queimadas (CEARAacute
2010b) Dentro desse raciociacutenio
Os estabelecimentos agropecuaacuterios ocupam o solo principalmente com lavouras
temporaacuterias e a criaccedilatildeo de animais Estas atividades muitas vezes satildeo executadas
sem preocupaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos e contribuem para
agravar o quadro de degradaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2010b p 103)
No mesmo sentido e no tocante agraves Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) o
PAN (BRASIL 2004) destaca que as condiccedilotildees ambientais dessas aacutereas (principalmente as de
54
clima solo aacutegua e vegetaccedilatildeo) associadas agrave pressatildeo exercida sobre os recursos naturais pela
accedilatildeo antroacutepica (pressatildeo populacional formas inadequadas de uso e ocupaccedilatildeo do solo entre
outros) vecircm contribuindo para a deflagraccedilatildeo de processos de desertificaccedilatildeo em algumas de
suas sub-regiotildees Um dos motivos para isso eacute a combinaccedilatildeo entre pobreza e desigualdade de
forma que
Uma imensa massa de pequenos agricultores descapitalizados confinados em
pequenas parcelas de terras de tais aacutereas (via de regra de meacutedia ou baixa fertilidade
natural) dependentes de seu trabalho para a produccedilatildeo de alimentos para
autoconsumo de forragens para seus animais mas necessitando produzir excedentes
comercializaacuteveis tenderaacute naturalmente a sobreutilizar os recursos naturais
contribuindo dessa forma para agravar os processos de degradaccedilatildeo Nas ASD este
ciacuterculo vicioso eacute agravado pela ocorrecircncia de secas perioacutedicas que levam agrave perdas
significativas e recorrentes de produccedilatildeo e de renda Neste sentido as secas
potencializam o grau de degradaccedilatildeo levando a vulnerabilidade ambiental a niacuteveis
mais elevados Os efeitos das secas sobre a sauacutede e a inseguranccedila alimentar e
nutricional tambeacutem satildeo conhecidos e consideraacuteveis (BRASIL 2004 p 106)
Classificando a susceptibilidade dessas aacutereas Matallo Jr (1999) construiu uma
relaccedilatildeo entre a aptidatildeo agrave desertificaccedilatildeo em funccedilatildeo do iacutendice de aridez conforme se vecirc pela
tabela 4
Tabela 4 - Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo
IacuteNDICE DE ARIDEZ SUSCEPTIBILIDADE Agrave
DESERTIFICACcedilAtildeO
005 a 020 Muito Alta
021 a 050 Alta
051 a 065 Moderada Fonte MATALLO JR (1999)
Nesse iacutenterim o municiacutepio de estudo do corrente trabalho tem iacutendice de aridez
conforme adotado pela UNEP de acordo com o que ilustra na figura 6
55
Figura 6 Iacutendice de Aridez (UNEP) do municiacutepio de Irauccediluba
O Cearaacute por sua vez eacute ldquoo Estado com a maior aacuterea relativa sob niacuteveis altos de
desertificaccedilatildeordquo (LEMOS 1995 apud FOLHES e VIANA 2001 p 5) Seu processo de
ocupaccedilatildeo e uso de terras via de regra foi marcado pela apropriaccedilatildeo dos recursos naturais de
forma a degradaacute-los Esta foi uma das causas para a concepccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Estadual
de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (PAE) cujo objetivo eacute
Contribuir para a convivecircncia equilibrada com o semiaacuterido por meio da
sustentabilidade ambiental do bioma caatinga a partir de poliacuteticas ambientais
sociais e econocircmicas focadas na reduccedilatildeo da pobreza A gestatildeo do Programa
pressupotildee a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo
democraacutetico e a participaccedilatildeo da sociedade (CEARAacute 2010b p 20)
No Estado existem trecircs nuacutecleos em processo de desertificaccedilatildeo Localizam-se no
Sertatildeo dos Inhamuns Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte e Sertatildeo de Jaguaribe abrangendo
respectivamente os municiacutepios de Arneiroz Independecircncia e Tauaacute Canindeacute Irauccediluba
Miraiacutema e Santa Quiteacuteria Jaguaretama Jaguaribara Jaguaribe Alto Santo e Morada Nova
(CEARAacute 2010b) Totalizam portanto 12 cidades com os maiores iacutendices de degradaccedilatildeo
ambiental do estado portanto susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo num grau muito grave como se
pode ver pelas figuras 7 e 8
No entanto o presente trabalho se ateraacute tatildeo somente ao municiacutepio de Irauccediluba
abrangido pelo nuacutecleo Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte
Fonte NOLEcircTO (2005)
56
Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave
desertificaccedilatildeo no Cearaacute desertificaccedilatildeo
Fonte IPECE (CEARAacute 2010a) Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)
O PAE (CEARAacute 2010b) utilizou para a formulaccedilatildeo do iacutendice de susceptibilidade
agrave desertificaccedilatildeo indicadores sociais que apontam a forma de ocupaccedilatildeo e tudo que dela
decorre e indicadores econocircmicos que representam as atividades humanas exercidas no
municiacutepio Vale ressaltar que as caracteriacutesticas do meio ambiente da regiatildeo natildeo foram
ignoradas muito pelo contraacuterio elas definiram as aacutereas classificadas como susceptiacuteveis agrave
desertificaccedilatildeo A lista abaixo demonstra os criteacuterios mensurados e os aspectos ambientais
observados
Indicadores sociais
1 Proporccedilatildeo da aacuterea das grandes propriedades na aacuterea total dos imoacuteveis rurais em
2005
2 Razatildeo entre alfabetizados e natildeo-alfabetizados de 5 ou mais anos de idade em
2000
3 Taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais de idade em 2000
(percentagem)
4 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino fundamental da populaccedilatildeo de 7 a 14
anos de idade em 2005
5 Taxa de evasatildeo no ensino fundamental em 2005
57
6 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino meacutedio da populaccedilatildeo de 15 a 17 anos de
idade em 2005
7 Taxa de evasatildeo escolar no ensino meacutedio em 2005
8 Densidade demograacutefica em 2006 (habitanteskm2)
Indicadores econocircmicos
1 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de carvatildeo vegetal pela aacuterea do municiacutepio em 2006
(tonha)
2 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de lenha pela aacuterea do municiacutepio em 2006 (m3ha)
3 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)
4 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)
5 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como pequena
propriedade em 2005 (haimoacutevel)
6 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como minifuacutendio em
2005 (haimoacutevel)
7 Razatildeo do consumo de energia eleacutetrica rural por consumidores de energia eleacutetrica
rural em 2005
8 Proporccedilatildeo de induacutestrias de transformaccedilatildeo no total de empresas industriais ativas
em 2005
9 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de feijatildeo em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
10 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com arroz em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
11 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com milho em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
12 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de mandioca em 2006 na aacuterea total dos
estabelecimentos agropecuaacuterios em 1996
13 Razatildeo do efetivo de bovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
14 Razatildeo do efetivo de ovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
15 Razatildeo do efetivo de caprinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
16 Razatildeo do efetivo de suiacutenos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
17 Produto Interno Bruto per capita a preccedilos de mercado em 2004
Caracteriacutesticas ambientais
1 Degradaccedilatildeo da cobertura vegetal
2 Assoreamento dos rios
3 Pastoreio excessivo
4 Perda da biodiversidade
5 Perda da capacidade produtiva do solo
6 Baixa relaccedilatildeo entre capacidade produtiva dos recursos naturais e sua capacidade
de recuperaccedilatildeo
A anaacutelise dos 25 paracircmetros entremeados com as condiccedilotildees ambientais estaacute
devidamente compilada no Quadro 2 ndash Caracterizaccedilatildeo das ASDs nos Sertotildees de Irauccediluba e
Centro-Norte do PAE (CEARAacute 2010b) As constataccedilotildees ensejam problemas no meio
ambiente a partir dos inuacutemeros gargalos sociais e econocircmicos como por exemplo a produccedilatildeo
agriacutecola em lavouras temporaacuterias na maior proporccedilatildeo dos estabelecimentos rurais o grande
iacutendice de pobres da regiatildeo o consumo de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo cada vez maior
58
Natildeo se pode deixar de mencionar os problemas ambientais que deixam a aacuterea em
questatildeo muito mais vulneraacutevel aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas e da desertificaccedilatildeo Satildeo
eles degradaccedilatildeo dos solos e da cobertura vegetal primaacuteria o sobrepastoreio o
desencadeamento e expansatildeo de processos erosivos acelerados com ocorrecircncia muito
frequente de afloramentos rochosos e chatildeos pedregosos perda de solos e biodiversidade
empobrecida baixa frequecircncia de espeacutecies lenhosas da caatinga e processos erosivos muito
ativos em funccedilatildeo do aumento da torrencialidade do escoamento superficial
Assim conclui-se que natildeo haacute como dissociar o quadro social e econocircmico das
nuances ambientais de um municiacutepio ou regiatildeo
Em se tratando da ASD nos Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte faz-se necessaacuterio
expor os nuacutemeros encontrados e as respectivas conclusotildees a partir dos levantamentos feitos
pelo PAE (CEARAacute 2010b) O Iacutendice Econocircmico e Social de Susceptibilidade agrave
Desertificaccedilatildeo (IESSD) ilustrado pelas figuras 9 e 10 por exemplo aponta as possiacuteveis causas
e os principais agentes causadores do processo de desertificaccedilatildeo sem quantificar ou mensurar
seu niacutevel
Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no Iacutendice Social de Susceptibilidade agrave
Desertificaccedilatildeo (ISSD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)
Fonte PAE (CEARAacute 2010b)
0
5
10
15
20
25
30
Contribuiccedilatildeo no ISSD ()
59
Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no Iacutendice Econocircmico de Susceptibilidade agrave
Desertificaccedilatildeo (IESD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)
Fonte PAE (CEARAacute 2010b)
Assim analisando os dois graacuteficos acima eacute possiacutevel perceber que sob o aspecto
social a concentraccedilatildeo de terras e a educaccedilatildeo datildeo a maior contribuiccedilatildeo ao iacutendice de
susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo enquanto que no vieacutes econocircmico destacam-se as aacutereas
destinadas a imoacuteveis rurais e o PIB ldquoper capitardquo Eacute um cenaacuterio deveras preocupante visto que
aquela regiatildeo jaacute eacute dotada de condiccedilotildees naturais adversas Uma populaccedilatildeo sem educaccedilatildeo
inserida num niacutevel de pobreza e ocupante de grande parte da zona rural que eacute onde as
atividades potencialmente degradadoras satildeo praticadas traduz uma combinaccedilatildeo
extremamente alarmante pois fazem uso de praacuteticas predatoacuterias e potencializam a
susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo
Segundo o PAE (CEARAacute 2010b p 123) nessa regiatildeo satildeo observadas ldquomarcas
configuradas de desertificaccedilatildeo como o elevado estaacutegio de degradaccedilatildeo do solo comprometendo
os processos naturais de sucessatildeo processos erosivos acelerados perda de solo e
biodiversidade espeacutecies lenhosas rarefeitasrdquo
05
1015202530354045
Contribuiccedilatildeo no IESD ()
60
Sob um olhar mais aprofundado voltado agrave Irauccediluba haacute maior destaque para as
atividades de agricultura e pecuaacuteria Lavouras temporaacuterias como feijatildeo milho e mandioca satildeo
as mais praticadas pelo pequeno agricultor A figura 11 aponta o percentual de
estabelecimentos ocupados com atividades agropecuaacuterias no municiacutepio
Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios Adaptado
Fonte PAE (CEARAacute 2010b)
Com relaccedilatildeo agrave extraccedilatildeo legalizada de madeira no municiacutepio de Irauccediluba o IBGE
informa que tanto a produccedilatildeo de carvatildeo como o corte de lenha entre 2004 a 2011 foi estaacutevel
Aquela girou em torno de 71 toneladas com um custo variaacutevel de R$ 1100000 a 2300000
ao ano enquanto que este ficou na casa dos 10000 m3 resultando num rendimento que
oscilou de R$ 4200000 a R$ 5700000 anuais14
Por fim Irauccediluba embora representando um dos quatro nuacutecleos de desertificaccedilatildeo
do Nordeste natildeo apresenta a pior condiccedilatildeo socioeconocircmica considerando a maioria dos
indicadores analisados (CEARAacute 2010b) Desta forma conclui-se que estes aspectos natildeo
determinam a desertificaccedilatildeo mas influenciam principalmente se as condiccedilotildees ambientais satildeo
limitantes Assim uma economia e uma sociedade deficientes inseridas num ambiente fraacutegil
natildeo tecircm como deixar de gerar degradaccedilatildeo
14
Conferir em lthttpwwwibgegovbrcidadesatxtrasperfilphpcodmun=230610ampsearch=ceara|iraucubagt
0
10
20
30
40
50
60
Irauccediluba
61
24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo do processo de degradaccedilatildeo
Embora o quadro de degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba seja por demais
preocupante ainda haacute condiccedilotildees para sua reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica a partir de
teacutecnicas e praacuteticas correspondentes ao tipo de solo ao estaacutegio de degradaccedilatildeo da aacuterea e ao
histoacuterico do uso da terra (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Continuam os autores
Assim considerando as extensotildees sob o planossolo que ocupam uma aacuterea total de
27321 ha duas recomendaccedilotildees podem ser propostas a regeneraccedilatildeo natural e a
adubaccedilatildeo organo-mineral A regeneraccedilatildeo natural eacute um processo muito lento e no
caso do planossolo de Irauccediluba dificilmente proporcionaraacute condiccedilotildees para retorno agrave
produtividade esperada [](ARAUacuteJO FILHO 1992) Entatildeo estaacute claro que a
recuperaccedilatildeo natural via pousio eacute muito lenta mas constitui uma opccedilatildeo em muitos
casos A aplicaccedilatildeo de adubo orgacircnico (estercos) eacute outra alternativa de recuperaccedilatildeo
pastoril que poderia ser utilizada no nuacutecleo de Irauccediluba Assim a fertilizaccedilatildeo com
foacutesforo constitui uma boa opccedilatildeo para a recuperaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica das
pastagens degradadas nos planossolos do nuacutecleo de Irauccediluba (ARAUacuteJO FILHO e
SILVA 2013 p 1013)
Outros fatores que envolvem o processo de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo
em Irauccediluba segundo Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 15) eacute ldquoa fixaccedilatildeo da agricultura no
terreno a sustaccedilatildeo do desmatamento e do uso do fogo visando agrave mitigaccedilatildeo dos impactos
antroacutepicos negativos a recuperaccedilatildeo dos agroecossistemas o aumento da produtividade
agriacutecola e da renda familiarrdquo Para tanto os mesmos autores sugerem que
A agrossilvicultura eacute com certeza o modelo de exploraccedilatildeo da terra mais apropriado
Dentre os modelos de sistemas agroflorestais o silvopastoril e o agrossilvipastoril
seriam os mais indicados para as condiccedilotildees de Irauccediluba O primeiro associa o
manejo florestal com a exploraccedilatildeo pastoril e o segundo associa o manejo florestal a
exploraccedilatildeo pastoril e a agricultura formando o sistema lavoura-pecuaacuteria-floresta O
modelo silvopastoril pode ser estabelecido seja para ter a madeira como o principal
produto seja para ter na exploraccedilatildeo animal a principal atividade (ARAUacuteJO FILHO
e SILVA 2013 p 15)
[]
A opccedilatildeo pela agrossilvicultura como a alternativa mais apropriada para a
reabilitaccedilatildeo dos solos de potencial agriacutecola mais elevado fundamenta-se na garantia
que este sistema de uso da terra traz a seguranccedila ambiental e a seguranccedila alimentar
No primeiro caso o solo eacute protegido contra a erosatildeo pelo acuacutemulo de serrapilheira
tem sua fertilidade reposta e sua biologia ativada pela deposiccedilatildeo da mateacuteria
orgacircnica Os recursos hiacutedricos satildeo beneficiados pela manutenccedilatildeo da mata ciliar
evitando o assoreamento das nascentes e reservatoacuterios e pela reduccedilatildeo das perdas de
aacutegua pelo solo A flora com a sustaccedilatildeo das queimadas e dos desmatamentos tem sua
biodiversidade incrementada e integraccedilatildeo das aacutervores no sistema produtivo
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2021)
Assim sendo o principal objetivo da recuperaccedilatildeo de uma aacuterea degradada deve ser
a recomposiccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica do solo Isto porque para que se restabeleccedila a
62
funcionalidade do ecossistema eacute fundamental a revitalizaccedilatildeo da biologia do solo principal
responsaacutevel pela circulaccedilatildeo de nutrientes15
Aleacutem disso continuam os mesmos autores
O aumento da mateacuteria orgacircnica e a formaccedilatildeo de uma cobertura morta sobre o solo o
protegeratildeo contra a erosatildeo laminar e melhoraratildeo sua capacidade de retenccedilatildeo de
aacutegua [] Os nutrientes de ecossistemas florestais de clima tropical se concentram
na biomassa e natildeo no solo como nos de clima temperado por isso os meacutetodos de
exploraccedilatildeo dos solos deveriam estar fundamentados no menor distuacuterbio possiacutevel do
meio bioloacutegico e no reforccedilo do aporte de mateacuteria orgacircnica (ARAUacuteJO FILHO e
SILVA 2013 p 710)
Nesse sentido para ambientes tropicais os sistemas de produccedilatildeo agroflorestais
(SAF) estatildeo sendo avaliados e propostos como alternativas ecologicamente sustentaacuteveis de
exploraccedilatildeo O uso de espeacutecies arboacutereas constitui a garantia de manter ativa a circulaccedilatildeo de
nutrientes e o aporte significativo de mateacuteria orgacircnica condiccedilatildeo essencial para se cultivar de
maneira continuada os solos tropicais16
No caso do bioma caatinga e de ambiente semiaacuterido segundo Arauacutejo Filho e silva
(2013) trecircs recomendaccedilotildees fundamentais garantem quando seguidas a sustentabilidade das
tecnologias de manipulaccedilatildeo
Preservaccedilatildeo de ateacute 400 aacutervores por hectare ou o equivalente a 40 de cobertura
utilizaccedilatildeo maacutexima de 60 da forragem disponiacutevel e preservaccedilatildeo da mata ciliar em
toda a malha de drenagem da pastagem Esta tecnologia jaacute vem sendo utilizada pelos
produtores na regiatildeo de Irauccediluba desde o iniacutecio da deacutecada de 1980 envolvendo
uma aacuterea de cerca de 3000 ha (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 1617)
Outras maneiras de controle e combate do processo de degradaccedilatildeo cuja iniciativa
vem do governo em suas diferentes formas e esferas satildeo os programas e as poliacuteticas puacuteblicas
a criaccedilatildeo de leis e normas sobre o tema a disponibilidade de recursos a fiscalizaccedilatildeo dos
oacutergatildeos competentes dentre outros
Ilustrando o primeiro exemplo em abril de 2011 a Superintendecircncia Estadual do
Meio Ambiente (SEMACE) e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) celebraram um convecircnio
de assistecircncia teacutecnica e financeira para a realizaccedilatildeo da pesquisa ldquoRevitalizaccedilatildeo da cobertura
vegetal nativa atraveacutes da recomposiccedilatildeo das matas ciliares e enriquecimento das aacutereas
destinadas a compor reserva legal dos imoacuteveis rurais do municiacutepio de Irauccedilubardquo Para a
consecuccedilatildeo dos objetivos propostos foi concedido um montante de R$ 4920000 (quarenta e
nove mil e duzentos reais) com fins de recuperar a qualidade do meio biofiacutesico atraveacutes do
plantio de essecircncias florestais nativas e plantas adaptadas agraves condiccedilotildees edafoclimaacuteticas da
aacuterea de abrangecircncia do projeto para
15
Como recomenda Lima (2009) In Arauacutejo Filho e Silva (2013) 16
Idem
63
1 Minimizar os impactos ambientais adversos causados pelos sistemas tradicionais
de exploraccedilatildeo econocircmica
2 Implantar um viveiro florestal permanente destinado agrave produccedilatildeo de mudas
nativas e adaptadas agraves condiccedilotildees locais associando-lhe atividades educativas e
de natureza formativa para o puacuteblico interessado
3 Incentivar o cultivo de essecircncias florestais nativas arboacutereas e frutiacuteferas que
contribuiratildeo para gerar alternativas de diversificaccedilatildeo de renda e por conseguinte
a melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo do municiacutepio
4 Fomentar a produccedilatildeo e o plantio de essecircncias florestais nativas ameaccediladas de
extinccedilatildeo
5 Viabilizar a recomposiccedilatildeo de matas ciliares dentro dos limites de abrangecircncia da
aacuterea das bacias hidrograacuteficas dos recursos hiacutedricos naturais denominados de
Riacho Aracatiaccedilu e Riacho Curu e do principal reservatoacuterio denominado de
Accedilude Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu seja em aacutereas de domiacutenio puacuteblico seja em
aacutereas de domiacutenio privado
6 Estabelecer a recuperaccedilatildeo da cobertura vegetal nativa de aacutereas de reserva legal
das propriedades rurais
O prazo do convecircnio era de doze meses ou seja ateacute abril de 2012 todavia foi
renovado por aditivo ateacute abril de 2013 Seu lanccedilamento soacute se deu em dezembro de 2011 e ateacute
agosto de 2012 o viveiro florestal ainda natildeo havia sido construiacutedo mas palestras com os
temas Desmatamento e Reserva Legal Fogo Desmatamento e Preservaccedilatildeo dos Accediludes
Resiacuteduos Soacutelidos Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal Aacuterea de
Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal foram ministradas pela SEMACE
Infelizmente nada mais foi feito pois dificuldades como a burocracia com o banco
financiador e a seca que assola o municiacutepio inviabilizando a produccedilatildeo e o plantio das mudas
levaram agrave extinccedilatildeo do convecircnio uma vez que seu prazo natildeo foi renovado numa segunda
oportunidade O recurso investido foi devolvido ao BNB e natildeo haacute qualquer previsatildeo de
retomada do projeto
Natildeo se pode deixar de registrar a indignaccedilatildeo que esse desfecho causa naqueles
que estudam e buscam uma saiacuteda Muitas vezes se natildeo todas as vezes ela existe mas eacute
deveras negligenciada ou pouco valorizada O que eacute que isso O Brasil eacute um paiacutes rico natildeo
falta recurso o que muito falta eacute vontade coragem e preferecircncia por aquilo que se deve
fazer Isto eacute um ultraje ao homem do campo que humilde e inocentemente espera confiante
em alguma providecircncia de seus representantes ou por quem faz as suas vezes
De modo diverso as normas 43 e 44 de 2005 (BRASIL 2005 a b) e a 512006
(BRASIL 2006a) que seratildeo explanadas no item 331 criadas pelo INCRA satildeo outras
medidas parecidas com o convecircnio citado acima pois tambeacutem foram elaboradas com o intuito
de recuperar e conservar os recursos naturais em aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e de
64
reserva legal mesmo sendo especiacuteficas para projetos de assentamento agraacuterio federal Atraveacutes
delas um determinado valor pode ser cedido por aquele oacutergatildeo e destinado agraves famiacutelias
assentadas para promoverem agrave implantaccedilatildeo de um projeto de recuperaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo
Como Poliacuteticas Puacuteblicas em niacutevel local e estadual que englobam o problema da
degradaccedilatildeo ambiental amplamente aqui discutido inclusive o mais seacuterio deles que eacute a
desertificaccedilatildeo destaca-se o Plano de Accedilatildeo Municipal de Combate agrave Desertificaccedilatildeo de
Irauccediluba (IRAUCcedilUBA 2009) e o Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e
Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (CEARAacute 2010b) O primeiro levou nove anos para se tornar
poliacutetica puacuteblica e contou com recursos do fundo de apoio a iniciativas locais de combate agrave
desertificaccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Nacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos
Efeitos da Seca (BRASIL 2004) Sua funccedilatildeo eacute orientar e desenvolver accedilotildees no sentido de
controlar e prevenir o avanccedilo da desertificaccedilatildeo e quando possiacutevel recuperar aacutereas degradadas
para o uso produtivo ou seja alcanccedilar o desenvolvimento sustentaacutevel nas aacutereas sujeitas agrave seca
e a desertificaccedilatildeo do Municiacutepio Como objetivos baacutesicos estatildeo as contribuiccedilotildees para
1 A formulaccedilatildeo do planejamento de uso sustentaacutevel dos recursos naturais do
Municiacutepio
2 A melhoria da produtividade e produccedilatildeo agriacutecola nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e
desertificaccedilatildeo
3 A reduccedilatildeo da vulnerabilidade e melhoria da qualidade de vida das populaccedilotildees
residentes nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e agrave desertificaccedilatildeo
4 A articulaccedilatildeo de accedilotildees setoriais do governo (em niacutevel federal estadual e
municipal) com vista agrave sinergia dos processos de planejamento
5 A melhoria da capacidade de enfrentamento dos problemas de desertificaccedilatildeo e
seca por parte das populaccedilotildees locais (IRAUCcedilUBA 2009 p 24)
O PAE (CEARAacute 2010b) em seu objetivo global e em termos gerais natildeo eacute muito
diferente do PAM (IRAUCcedilUBA 2009) pois visa contribuir para a convivecircncia com o
semiaacuterido e sustentabilidade ambiental do bioma caatinga Busca promover poliacuteticas
ambientais sociais e econocircmicas para a reduccedilatildeo da pobreza procurando em sua
administraccedilatildeo a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo democraacutetico
e a participaccedilatildeo da sociedade E recorre agrave negociaccedilatildeo transparente e responsaacutevel de conflitos
como forma privilegiada de superar as diferenccedilas de uso dos recursos naturais
25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira
A lei 6938 (BRASIL 1981) promulgada em 1981 foi a primeira norma juriacutedica
tratando da temaacutetica ambiental no Brasil Como bem diz Milareacute (2009) ela tem um caraacuteter
65
inovador pois sua implementaccedilatildeo seus resultados assim como a estabilidade e a efetividade
que denota constituem um salto de qualidade na vida puacuteblica brasileira
Com nascedouro um tanto quanto isolado a lei 693881 (BRASIL 1981)
instituiu a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente para a preservaccedilatildeo melhoria e recuperaccedilatildeo da
qualidade ambiental propiacutecia agrave vida visando assegurar no Paiacutes condiccedilotildees ao
desenvolvimento soacutecioeconocircmico aos interesses da seguranccedila nacional e agrave proteccedilatildeo da
dignidade da vida (artigo 2ordm) Tais objetivos estatildeo baseados em princiacutepios norteadores dos
quais se destacam para a presente pesquisa a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas (inciso VIII) e a
proteccedilatildeo de aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX)
Instrumentalizando a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente quanto agrave degradaccedilatildeo
ambiental existem as penalidades disciplinares ou compensatoacuterias ao natildeo cumprimento das
medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo ou correccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental conforme o artigo
9ordm inciso IX da Lei 693881 (BRASIL 1981) Em termos de sanccedilatildeo o artigo 14 disciplina
que os danos causados pela degradaccedilatildeo da qualidade ambiental sujeitaratildeo os transgressores agrave
multa simples ou diaacuteria agrave perda ou restriccedilatildeo de incentivos e benefiacutecios fiscais concedidos
pelo Poder Puacuteblico agrave perda ou suspensatildeo de participaccedilatildeo em linhas de financiamento em
estabelecimentos oficiais de creacutedito e agrave suspensatildeo de sua atividade
Para evitar a sanccedilatildeo pratica-se a prevenccedilatildeo e uma forma de prevenir a degradaccedilatildeo
eacute o licenciamento ambiental conforme preconiza o artigo 10 daquela mesma lei O natildeo
cumprimento disto enseja o enquadramento do representante da atividade ou do
estabelecimento no artigo 60 da Lei 960598 (BRASIL 1998) que versa sobre crimes
ambientais
Art 10 A construccedilatildeo instalaccedilatildeo ampliaccedilatildeo e funcionamento de estabelecimentos e
atividades utilizadores de recursos ambientais efetiva ou potencialmente poluidores
ou capazes sob qualquer forma de causar degradaccedilatildeo ambiental dependeratildeo de
preacutevio licenciamento ambiental (BRASIL 1981 p 7)
Art 60 Construir reformar ampliar instalar ou fazer funcionar em qualquer parte
do territoacuterio nacional estabelecimentos obras ou serviccedilos potencialmente
poluidores sem licenccedila ou autorizaccedilatildeo dos oacutergatildeos ambientais competentes ou
contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes Pena - detenccedilatildeo de um a seis meses ou multa ou ambas as penas cumulativamente
(BRASIL 1998 p 12)
Outra previsatildeo salutar na Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente eacute o dever que
entidades e oacutergatildeos de financiamento e incentivos governamentais tecircm de condicionar a
aprovaccedilatildeo de projetos financiaacuteveis ao licenciamento ambiental Aleacutem disto devem constar em
tais projetos a realizaccedilatildeo de obras e aquisiccedilatildeo de equipamentos destinados ao controle de
degradaccedilatildeo ambiental e a melhoria da qualidade do meio ambiente (artigo 12 paraacutegrafo
66
uacutenico) Isto tudo porque a instituiccedilatildeo que financia atividades eou empreendimentos que por
ventura causem algum dano tambeacutem se tornam corresponsaacuteveis pelo passivo ambiental
respondendo perante os oacutergatildeos competentes e os guardiatildees da lei
Por fim eacute pertinente mencionar que toda accedilatildeo ou omissatildeo prevista na legislaccedilatildeo
ambiental brasileira seja nas leis que criam diretrizes como nas que preveem sanccedilotildees visa o
combate o controle a reparaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo da degradaccedilatildeo aos bens naturais como um
todo O impasse eacute existir inuacutemeras normas distintas que dispotildeem sobre vaacuterios recursos
ambientais e que satildeo criadas em eacutepocas diferentes como por exemplo o Coacutedigo Florestal
(BRASIL 2012) o Coacutedigo de Caccedila (BRASIL 1967a) o Coacutedigo Mineraacuterio (BRASIL
1967b) o Coacutedigo de Pesca (BRASIL 2009) o Coacutedigo de Aacuteguas (BRASIL 1934a) a Poliacutetica
Nacional de Recursos Hiacutedricos (BRASIL 1997) o Programa Nacional de controle da
qualidade do ar (BRASIL 1989a) dentre outras O ideal eacute que houvesse a reuniatildeo de todos os
dispositivos em uma legislaccedilatildeo soacute como o fez a lei de crimes ambientais que versa sobre
infraccedilotildees cometidas aos bens naturais apontados pelas diversas normas citadas
Em niacutevel estadual o Cearaacute dispotildee de um arcabouccedilo legal que reflete um
pouco o que jaacute estaacute disposto nas leis federais no entanto cabe aqui citar algumas normas
pertinentes ao assunto estudado
A Resoluccedilatildeo nordm 092003 (CEARAacute 2003) do Conselho Estadual do Meio
Ambiente (COEMA) estabeleceu a compensaccedilatildeo ambiental como forma de prevenir eou
obrigar o poluidorusuaacuterio pagador ou degradador a indenizar os danos causados em
decorrecircncia da utilizaccedilatildeo de recursos naturais para fins econocircmicos Trata-se de medida
arrecadatoacuteria anterior ao processo de licenciamento ambiental e condicionada ao firmamento
de um Termo de Compromisso A supracitada norma definiu percentual de 05 a ser recolhido
com base no valor do empreendimento a ser implantado A destinaccedilatildeo dos valores recolhidos
seria via de regra a Unidades de Conservaccedilatildeo
A Lei Complementar nordm 482004 (CEARAacute 2004) criou o Fundo e o Conselho
Estadual Gestor do Meio Ambiente (FEMA) onde uma de suas finalidades eacute o ressarcimento
da coletividade por danos causados ao meio ambiente Reza o artigo 10 que qualquer cidadatildeo
pode propor projetos relativos agrave reconstituiccedilatildeo reparaccedilatildeo preservaccedilatildeo e prevenccedilatildeo do meio
ambiente A dita lei foi regulamentada pelo Decreto Estadual nordm 277192005 (CEARAacute 2005)
que por sua vez dispocircs accedilotildees programas planos e projetos para a melhoria e recuperaccedilatildeo da
qualidade ambiental no Estado do Cearaacute Agrave pertinecircncia da presente pesquisa cabe destacar
uma diretriz do FEMA prevista no inciso VIII do artigo 3ordm daquele Decreto
67
Artigo 3ordm
[]
VIII - Promover a proteccedilatildeo da biodiversidade e dos ecossistemas associados e aacutereas
ameaccediladas de degradaccedilatildeo atraveacutes da preservaccedilatildeo conservaccedilatildeo e administraccedilatildeo de
biomas representativos bem assim da recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas
possibilitando melhor controle de atividades potencialmente poluidoras nos termos
da legislaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2005 p 2)
Eacute essencial citar a Lei 1248895 (CEARAacute 1995) que dispotildee sobre a Poliacutetica
Florestal do Estado do Cearaacute Um de seus objetivos guarda relaccedilatildeo direta com este trabalho
qual seja promover a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas e em processos de degradaccedilatildeo
especialmente nas aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e reserva legal bem como proteger as
aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX do artigo 3ordm) Para tanto um dos instrumentos
previsto e deveras necessaacuterio para a consecuccedilatildeo de tais fins eacute a fiscalizaccedilatildeo a aplicaccedilatildeo de
penalidades accedilotildees disciplinares e compensatoacuterias das medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo dos
recursos naturais ou a correccedilatildeo da degradaccedilatildeo do meio ambiente (inciso XI do artigo 4ordm)
E por fim eacute cabiacutevel mencionar a Lei 141982008 (CEARAacute 2008) pois institui a
Poliacutetica Estadual de Combate e Prevenccedilatildeo agrave Desertificaccedilatildeo e tem por base a Convenccedilatildeo
Internacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo nos Paiacuteses afetados por Seca Grave eou
Desertificaccedilatildeo Como jaacute mencionado no Cearaacute existem trecircs nuacutecleos com aacutereas susceptiacuteveis agrave
desertificaccedilatildeo e nada mais apropriado que o Estado dispor de uma legislaccedilatildeo proacutepria sobre o
tema Diante disto destacam-se os seguintes dispositivos
Art 1ordm Institui a Poliacutetica Estadual de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Desertificaccedilatildeo a qual
tem por objetivos
[]
III - instituir mecanismos de proteccedilatildeo conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da flora fauna e
de solos degradados nas aacutereas de risco ou impactadas pela desertificaccedilatildeo
[]
Art 3ordm Cumpre ao Poder Puacuteblico
I - diagnosticar o avanccedilo do processo de degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo ambiental nas
aacutereas afetadas
II - definir um plano de contingecircncia para mitigaccedilatildeo dos efeitos da degradaccedilatildeo
ambiental
[]
XI - estimular o desenvolvimento de agroinduacutestrias baseadas em alimentos
ambientalmente e culturalmente adaptados ao meio ambiente
[]
XIV - estimular a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
e de Reserva Legal []
[]
Art 5ordm No tocante agrave agricultura irrigada o Poder Puacuteblico deveraacute
[]
II - diagnosticar as aacutereas cujos solos sejam susceptiacuteveis agrave salinizaccedilatildeo e acuacutemulo de
compostos de soacutedio e fomentar a recuperaccedilatildeo de solos afetados por salinizaccedilatildeo e
acuacutemulo de compostos de soacutedio
Art 6ordm No tocante agrave agricultura sequeiro o Poder Puacuteblico deveraacute
[]
68
II - incentivar o manejo sustentaacutevel dos recursos naturais apoiando o
desenvolvimento de sistemas agroflorestais e agrosilvopastoris diversificados e
integrados como forma de conciliar a recuperaccedilatildeo florestal e as atividades agriacutecolas
(CEARAacute 2008 p 1 - 3)
251 Lei ambiental de Irauccediluba
O municiacutepio de Irauccediluba criou sua proacutepria Poliacutetica Ambiental a partir da Lei
5652007 (IRAUCcedilUBA 2007) Nela estatildeo dispostos princiacutepios e instrumentos de accedilatildeo que
visam agrave qualidade ambiental em seus diferentes aspectos Felizmente a norma natildeo deixou de
fora as aacutereas de reserva legal pelo contraacuterio tratou do tema em uma seccedilatildeo especiacutefica
composta pelos artigos 57 e 58
Art 57 - A reserva legal eacute requisito essencial ao exerciacutecio legiacutetimo do direito de
propriedade na aacuterea rural e fundamental para a proteccedilatildeo do meio ambiente
ecologicamente equilibrado e da biodiversidade cumprindo funccedilotildees do interesse
coletivo e individual do proprietaacuterio
Art 58 - A reserva legal eacute a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) localizada no
interior de uma propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente
necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos
processos ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de
fauna e flora nativas sendo imutaacutevel sua localizaccedilatildeo apoacutes definida
sect1ordm - Fica proibido qualquer registro imobiliaacuterio relativo a propriedade rural sem
preacutevio registro da reserva legal sob pena de nulidade do ato
sect2ordm- A reserva legal deveraacute ser averbada agrave margem da matriacutecula do imoacutevel no
registro competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de
transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou divisatildeo da aacuterea
sect3ordm - As aacutereas de reserva legal e preservaccedilatildeo permanente poderatildeo ser computadas
conjuntamente desde que somadas passem de 50 (cinquumlenta por cento) da
extensatildeo total da propriedade e sejam de extensatildeo contiacutenua
sect4ordm - No imoacutevel rural que natildeo houver vegetaccedilatildeo nativa suficiente para compor o
miacutenimo da reserva legal o proprietaacuterio ou possuidor deveraacute recuperar e recompor
com a vegetaccedilatildeo nativa ateacute atingir a porcentagem determinada
sect5ordm - A recomposiccedilatildeo mencionada no paraacutegrafo anterior deveraacute ser realizada na
proporccedilatildeo de no miacutenimo 110 (um deacutecimo) da aacuterea da propriedade ou posse a cada
ano dando prioridade agraves aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
sect6ordm - A Reserva Legal deve ser preferencialmente contiacutegua a das propriedades
vizinhas agraves unidades de conservaccedilatildeo ou aacutereas florestadas formando um corredor de
vegetaccedilatildeo
sect7ordm - A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser
utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel (IRAUCcedilUBA 2007 p 26)
No artigo 57 haacute o reconhecimento do direito de propriedade agrave luz da funccedilatildeo
social dada pela reserva legal e a devida importacircncia agrave proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental Jaacute o
58 prevecirc os 20 da aacuterea a tiacutetulo de reserva reproduzindo o que a lei federal ou seja o
Coacutedigo Florestal dispotildee No entanto o sect1ordm do mesmo dispositivo acaba restringindo ainda
mais o que a norma geral prescreve isto eacute proiacutebe qualquer registro junto ao cartoacuterio de
imoacuteveis sem a devida averbaccedilatildeo na matriacutecula da propriedade muito embora isso jaacute possa ser
diferente pela instituiccedilatildeo do Cadastro Ambiental Rural Dos paraacutegrafos 2ordm ao 5ordm houve a
69
revogaccedilatildeo expressa pela Lei 126512012 (BRASIL 2012) ou novo Coacutedigo Florestal O 6ordm e o
7ordm continuaram vigentes em sua essecircncia sofrendo apenas pequenas alteraccedilotildees jaacute que devem
estar em consonacircncia com a lei federal natildeo podendo ser menos restritivos
Por fim aleacutem do que fora comentado a lei ambiental de Irauccediluba traz muito em
sua natureza procedimentos e mandamentos semelhantes agrave de uma lei de uso e ocupaccedilatildeo do
solo Prevecirc portanto paracircmetros sobre publicidade emissotildees sonoras construccedilatildeo civil
poluiccedilatildeo obras dentre outros
70
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS
31 Reserva Legal em Irauccediluba
Um dos objetivos da presente pesquisa eacute o levantamento do nuacutemero de imoacuteveis
rurais no municiacutepio de Irauccediluba para em seguida verificar o grau de obediecircncia ao instituto
da reserva legal nessas propriedades Para tanto buscou-se os respectivos dados no cartoacuterio de
registro de imoacuteveis do municiacutepio no Instituto de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e
no Instituto de Desenvolvimento Agraacuterio do Cearaacute (IDACE)
No cartoacuterio de imoacuteveis onde o acesso eacute possiacutevel pela liberdade que qualquer
interessado tem para solicitar informaccedilotildees registrais achou-se o nuacutemero de 215 imoacuteveis
registrados Jaacute no INCRA o total de propriedades ali cadastradas eacute de 415 e no IDACE 713
imoacuteveis devidamente medidos e georreferenciados
Primeiramente cabe discorrer um pouco sobre esse desencontro na quantidade
dos imoacuteveis O fato de o cartoacuterio municipal possuir 215 imoacuteveis rurais registrados natildeo
significa que soacute tenha esse nuacutemero de propriedades laacute pois existem inuacutemeras terras habitadas
e utilizadas sem qualquer registro formal e neste caso o que os ldquodonosrdquo desses lugares
deteacutem chama-se posse o que os torna posseiros e natildeo proprietaacuterios O INCRA ter em seu
banco de dados o cadastro de 415 propriedades rurais tambeacutem natildeo quer dizer que soacute haja as
415 uma vez que a procura por este oacutergatildeo eacute voluntaacuteria quando se trata de cadastramento do
imoacutevel Soacute seraacute diferente se surgir a necessidade de desmembrar arrendar hipotecar vender
ou prometer em venda o bem rural Ou ainda em caso de partilha17
Esses satildeo os casos que
impelem o proprietaacuterio a cadastrar seu imoacutevel conforme definidos pela lei 494766
(BRASIL 1966) Do contraacuterio natildeo eacute obrigatoacuterio motivo pelo qual se explica nuacutemeros tatildeo
distintos uns dos outros Justificando um pouco esta discrepacircncia o II Plano Nacional de
Reforma Agraacuteria aponta que os dados do Cadastro do INCRA indicam que ldquosomente 5086
da aacuterea total do territoacuterio brasileiro estaacute na condiccedilatildeo de cadastradardquo (II PNRA 2003 p 22)
E por fim o nuacutemero apontado pelo IDACE acredita-se ser o mais proacuteximo da
realidade uma vez que pelo Programa de Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria com iniacutecio em 2007 as
propriedades rurais no municiacutepio de Irauccediluba foram no ano de 2012 medidas e
georreferenciadas uma a uma para dar fim aos problemas decorrentes da ausecircncia de tiacutetulos
imobiliaacuterios e o tamanho das aacutereas Eacute o que segue estabelecido pelo II PNRA (2003)
17
Partilha eacute a via pela qual se daacute a divisatildeo dos bens de uma heranccedila
A importacircncia de um recadastramento de todos os imoacuteveis rurais e da revisatildeo das
normas que regem o processo de registro das propriedades eacute ainda maior quando se
observa que as possibilidades de obtenccedilatildeo de terras para Reforma Agraacuteria estatildeo
condicionadas por dois indicadores que dependem das informaccedilotildees contidas no
Cadastro do INCRA o moacutedulo fiscal e os iacutendices de produtividade [] Por meio de
uma integraccedilatildeo do INCRA com os oacutergatildeos estaduais seraacute executado um amplo
processo de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria visando regularizar as pequenas posses de boa feacute
e a arrecadaccedilatildeo e incorporaccedilatildeo de terras devolutas ao patrimocircnio puacuteblico seguida de
sua destinaccedilatildeo para o assentamento de trabalhadores rurais e tambeacutem promover
accedilotildees anulatoacuterias sobre ocupaccedilotildees de terras com registros irregulares (II PNRA
2003 p 23)
Contudo o nuacutemero desencontrado de imoacuteveis natildeo eacute soacute o que assusta ou angustia
mas sim a quantidade iacutenfima de reserva legal existente naquele municiacutepio que jaacute sofre com
um processo criacutetico de degradaccedilatildeo
Apoacutes verificar junto ao cartoacuterio a quantidade de imoacuteveis rurais registrados
averiguou-se que somente trecircs dos 215 estatildeo com suas respectivas aacutereas de reserva legal
devidamente averbadas junto ao registro do bem Essa aguda diferenccedila tambeacutem natildeo muda
quando se analisa as informaccedilotildees presentes nos cadastros feitos junto ao INCRA Muitos satildeo
os cadastramentos onde tem descritas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente mas de reserva legal
somente cinco das 415 propriedades cadastradas No IDACE natildeo foi possiacutevel fazer esse
levantamento porque o objetivo deste oacutergatildeo em adentrar as aacutereas era medi-las em sua
totalidade sem discriminar a presenccedila de qualquer constataccedilatildeo em seu interior
Pela leitura da tabela 5 eacute possiacutevel concluir duas realidades A primeira eacute a
existecircncia de propriedade cujo registro apresenta averbaccedilatildeo da reserva legal mas sem
cadastro junto ao INCRA como eacute o caso do imoacutevel Poccedilo da PedraAacuteguas Mortas No
segundo caso ocorre o contraacuterio isto eacute natildeo haacute averbaccedilatildeo da reserva legal no cartoacuterio de
registro mas existe o cadastro da propriedade perante o INCRA constando a reserva legal
devidamente apontada conforme relatoacuterios cedidos por aquele oacutergatildeo
72
Tabela 5 - Levantamento de Imoacuteveis com reserva legal (Cartoacuterio de registro de imoacuteveisINCRA)
311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental - Projeto de Assentamento Agraacuterio em
foco
Todo projeto de assentamento de reforma agraacuteria soacute deve ser implantado apoacutes o
licenciamento ambiental junto ao oacutergatildeo competente que pela relevacircncia social do
empreendimento possui um procedimento diferenciado Eacute um processo trifaacutesico ou seja
consiste na licenccedila preacutevia (LP) licenccedila de instalaccedilatildeo (LI) e licenccedila de operaccedilatildeo (LO) mas no
caso dos projetos de assentamento satildeo soacute duas a LP e a LIO que nada mais eacute que a licenccedila de
18
Trata-se de um imoacutevel que foi destinado a Projeto de Assentamento no acircmbito estadual No entanto o registro
no cartoacuterio aponta que a propriedade possui Reserva Legal averbada mas no cadastro do INCRA natildeo haacute
qualquer menccedilatildeo a essa aacuterea 19
PA ndash Projeto de Assentamento da Reforma Agraacuteria Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria conjunto
de accedilotildees planejadas e desenvolvidas em aacuterea destinada agrave reforma agraacuteria para um puacuteblico beneficiaacuterio
orientadas para utilizaccedilatildeo racional dos espaccedilos fiacutesicos e dos recursos naturais existentes objetivando a
implementaccedilatildeo dos sistemas de vivecircncia e produccedilatildeo sustentaacuteveis na perspectiva do cumprimento da funccedilatildeo
social da terra e da promoccedilatildeo econocircmica social e cultural do trabalhador rural e de seus familiares (BRASIL
2006b) 20
O imoacutevel Poccedilo da Pedra e Aacuteguas Mortas eacute um soacute Embora natildeo conste no registro do cartoacuterio a aacuterea total da
propriedade e a destinada agrave reserva legal o Termo de Responsabilidade de Averbaccedilatildeo da Aacuterea de Reserva Legal
cedido pelo INCRA descreve as aacutereas apontadas na tabela 2
RESERVA LEGAL DOCUMENTALMENTE EXISTENTE
Imoacutevel Fonte dos Dados Aacuterea do Imoacutevel
(ha)
Aacuterea (ha) Domiacutenio Data da
Averbaccedilatildeo (AV)
Cadastro (C)
Miramar Cartoacuterio de Imoacuteveis
INCRA
1144 2305 Particular AV 06042005
C 05092005
Saco do
Vento18
Cartoacuterio de Imoacuteveis
INCRA
33060 661 PA19
estadual
AV 03102012
C 27122011
Poccedilo da Pedra
(Aacuteguas
Mortas)20
Cartoacuterio de Imoacuteveis 239778 47955 INCRA AV 02012003
Boa Vista INCRA 348 6960 Particular C 30121992
Escondido e
Vale do
Agreste
INCRA 15775 3155 Particular C 30121992
Lagoa Cercada INCRA 55180 50 Particular C13101992
73
instalaccedilatildeo e de operaccedilatildeo em um mesmo pedido conforme prevecirc a Resoluccedilatildeo CONAMA
3872006 (BRASIL 2006b)
Art 3ordm O oacutergatildeo ambiental competente concederaacute a Licenccedila Preacutevia - LP e a Licenccedila
de
Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo - LIO para os Projetos de Assentamentos de Reforma Agraacuteria
[]
sect 2o A LP constitui-se documento obrigatoacuterio e que antecede o ato de criaccedilatildeo de um
Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria tendo prazo para a sua expediccedilatildeo
apoacutes seu requerimento de ateacute noventa dias
sect 3o A LIO deveraacute ser requerida durante a validade da LP e cumpridos os requisitos
da mesma [] (BRASIL 2006 p2)
Por se tratar de um empreendimento rural e ambientalmente licenciaacutevel eacute muito
mais faacutecil e oportuno acontecer o cumprimento da reserva legal jaacute que o oacutergatildeo competente
foi provocado e por sua vez deve exigir a observacircncia daquele instituto Desta forma natildeo se
pode admitir que um licenciamento em zona rural seja concedido sem o devido respeito agrave aacuterea
de reserva legal
Especificamente os projetos de assentamento federais isto eacute os realizados pelo
INCRA devem obedecer agrave ordem que segue Ao dar iniacutecio ao processo de desapropriaccedilatildeo de
alguma terra o INCRA jaacute deve solicitar a Licenccedila Preacutevia devendo constar naquele processo o
protocolo do pedido A criaccedilatildeo do assentamento soacute eacute possiacutevel mediante uma portaria
resoluccedilatildeo ou decreto desde que jaacute possua a Licenccedila Preacutevia expedida Criado o assentamento
a Licenccedila de Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo deve ser solicitada de imediato ateacute porque se o contraacuterio
ocorrer os assentados ficam impossibilitados de receber recursos do governo como o creacutedito
de apoio inicial o creacutedito fomento o creacutedito para a construccedilatildeo de casa dentre outros
Essa sequencia e esses mandamentos estatildeo previstos no artigo 3ordm da Resoluccedilatildeo
CONAMA 3872006 (BRASIL 2006b) citada acima e no Acoacuterdatildeo nordm 2633-5107 (BRASIL
2007) do Tribunal de Contas da Uniatildeo conforme prevecirc o item 3 do sumaacuterio daquele
julgamento (3) A Licenccedila Preacutevia constitui-se em documento obrigatoacuterio e que antecede o ato
de criaccedilatildeo de um projeto de assentamento de reforma agraacuteria devendo ser expedida
anteriormente agrave obtenccedilatildeo da terra Trata-se de uma decisatildeo que teve origem em uma auditoria
realizada por este oacutergatildeo em assentamentos no Amazonas Paraacute e Acre quanto aos estudos de
viabilidade ambiental reserva legal e licenciamento ambiental em projetos criados pelo
INCRA Essa auditoria objetivou portanto avaliar o impacto nas aacutereas de reserva legal dos
projetos de assentamento bem como o cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental aplicaacutevel a esses
projetos conforme item 2 do Relatoacuterio do referido Acoacuterdatildeo Para tanto buscou-se saber se os
limites da reserva legal estavam sendo devidamente demarcados e preservados nos projetos de
74
assentamento rural e se o INCRA estava promovendo a aplicaccedilatildeo de teacutecnicas viaacuteveis para a
exploraccedilatildeo sustentaacutevel da Reserva Legal
Constatou-se pela amostragem realizada e demonstrada na Conclusatildeo e no Voto
do Acoacuterdatildeo 26332007 (BRASIL 2007) que
Conclusatildeo
[]
Item 65 o INCRA tem a necessidade premente de adotar medidas com vistas a
normalizar os procedimentos de criaccedilatildeo de projetos de assentamento desde o iniacutecio
do processo no que se refere ao cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental
Item 66 Eacute notoacuterio que a morosidade do oacutergatildeo no processo de regularizaccedilatildeo das
exigecircncias determinadas pela legislaccedilatildeo ambiental contribuiraacute para degradaccedilatildeo do
meio ambiente patrimocircnio sob proteccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal Brasileira Ao
disponibilizar terra aos assentados sem indicar a forma de uso do terreno por meio
do Plano de Uso e sem delimitar as aacutereas de preservaccedilatildeo mediante a demarcaccedilatildeo
das reservas legais o INCRA estaraacute dando tutela a esses usuaacuterios para disporem dos
lotes da forma que melhor lhes convier sem importar se essa exploraccedilatildeo implicaraacute
em degradaccedilatildeo ambiental (BRASIL 2007 p 9)
[]
Voto
[] Item 3 ndash subitem 12 A equipe de auditoria constatou nos assentamentos uma
grande degradaccedilatildeo das aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APP) e da reserva legal (RL)
Ainda verificou por meio de questionaacuterios aplicados aos trabalhadores assentados
que o INCRA natildeo promove accedilotildees efetivas relacionadas agrave orientaccedilatildeo e
conscientizaccedilatildeo ambiental dessas comunidades que natildeo sabem sequer o que
significa APP e RL
[]
Item 5 Outrossim eacute importante frisar que o INCRA eacute co-responsaacutevel pelas
irregularidades ambientais constatadas em seus projetos de assentamento []
(BRASIL 2007 p 11)
E por fim o dito Acoacuterdatildeo determina em niacutevel nacional embora a motivaccedilatildeo da
decisatildeo tenha por base a auditoria realizada somente em trecircs estados que
O INCRA se abstenha de criar projetos de assentamento sem a observacircncia ao
disposto no art 2ordm inciso III cc 3ordm sect 2ordm da Resoluccedilatildeo Conama 3872006 que
condiciona a criaccedilatildeo de projetos de assentamentos de reforma agraacuteria agrave existecircncia da
licenccedila preacutevia e ao disposto no art 2ordm inciso IV da mesma Resoluccedilatildeo que exige a
licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo como condiccedilatildeo para a implantaccedilatildeo e operaccedilatildeo
destes projetos Que em decorrecircncia do disposto no art 2ordm inciso VII da
ResoluccedilatildeoConama 3872006 atente a necessidade de que a reserva legal esteja
perfeitamente delimitada e caracterizada por ocasiatildeo do Plano de
Desenvolvimento do Assentamento e que o referido Plano seja elaborado em prazo
razoaacutevel (BRASIL 2007 p 16)
Para enriquecer a pesquisa nesse sentido procurou-se junto ao oacutergatildeo ambiental
estadual a SEMACE ndash Superintendecircncia Estadual do Meio Ambiente e ao proacuteprio INCRA as
licenccedilas emitidas e ainda em tramitaccedilatildeo referentes aos projetos de assentamento federais
Encontrou-se assim 3 processos de licenciamento na SEMACE numa busca compreendida
75
entre 01012010 a 06052013 sendo 2 de licenccedilas preacutevias e 1 de licenccedila de instalaccedilatildeo e
operaccedilatildeo No INCRA localizou-se 5 processos como se pode observar pela tabela 6 sendo 2
de licenccedilas preacutevias e 3 de licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo num periacuteodo de 09122008 a
08112010
Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais
Fonte SEMACE e INCRA
Conclui-se portanto a existecircncia de trecircs processos de LIO jaacute emitidas mas sem a
averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio de duas das trecircs propriedades conforme se pode
confirmar pela pesquisa feita no registro de imoacuteveis de Irauccediluba A exceccedilatildeo eacute a fazenda
Aacuteguas MortasPoccedilo da Pedra que possui averbaccedilatildeo da reserva legal desde 02012003
Aleacutem disto verificou-se tambeacutem todos os empreendimentos e atividades
localizadas no municiacutepio de Irauccediluba que possuem solicitaccedilatildeo ou recebimento de licenccedila
ambiental tanto em zona urbana como rural No total satildeo 15 tramitando e 40 emitidas
ressaltando que licenciamentos em zona rural o cumprimento da reserva legal deve ser
exigido
Quanto aos assentamentos agraacuterios no municiacutepio de Irauccediluba a tabela 7 aponta a
pesquisa realizada junto ao INCRA e ao IDACE onde se constatou que o primeiro oacutergatildeo
implantou 8 projetos e o segundo 6 Em todos eles existe a demarcaccedilatildeo da aacuterea de reserva
legal nas plantas georreferenciadas cedidas pelas duas instituiccedilotildees acima citadas
PROCESSO TIPO PA FONTE DO
DADO
PROTOCOLO EXPEDICcedilAtildeO VALIDADE STATUS
11386605-4 LP Arraia INCRASEMA
CE
08112010 01072011 Natildeo
informada
Emitida
11118313-8 LP Alegre e
anexos
INCRASEMA
CE
10112010 29032011 Natildeo
informada
Tramitando
09557603-7 LIO Aacuteguas
Mortas
Poccedilo da
Pedra
INCRASEMA
CE
30102009 24032010 24032013 Emitida
08653283-9 LIO Satildeo
Marinho
Rodeador
INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida
08653281-2 LIO Olho
d‟aacutegua da
esperanccedila
INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida
76
Tabela 7 - Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba
PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO - IRAUCcedilUBA
Nome do
Assentamento
Instituiccedilatildeo
Responsaacutevel
Aacuterea do
Imoacutevel (ha)
Aacuterea de Reserva
Legal (ha)
Data de criaccedilatildeo Nordm de Famiacutelias
Assentadas
Saco do Vento IDACE 33060 661 Em andamento 10
Aroeira IDACE 50508 10101 Em andamento 10
Boqueiratildeo IDACE 38474 7694 Em andamento -
Mudubim IDACE 6512 1302 Em andamento 5
Consulta IDACE 39593 7918 23072001 13
Cachoeira IDACE 14929 2985 05102006 10
Saco Verde INCRA 6464 129280 2691997 100
Cajazeiras II INCRA 96487 19297 2691997 30
Aacuteguas Mortas
Poccedilo da Pedra
INCRA 239778 47955 22121997 52
RiachueloAlto
Alegre
INCRA 3378 67560 09112005 16
Olho drsquoAacutegua da
Esperanccedila
INCRA 1940 388 06122007 23
Satildeo Marinho
Rodeador
INCRA 50757 10151 04122006 10
Arraia INCRA 156797 31359 13102011 34
Almas INCRA 1297 25940 17111998 22
Eacute importante salientar que em 2005 e em 2006 o INCRA baixou 3 normas
referentes a criteacuterios e procedimentos para a implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e
Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria A
primeira eacute a NE 432005 (BRASIL 2005a) a segunda NE 442005 (BRASIL 2005b) que
estabeleceu o valor unitaacuterio por famiacutelia para a implantaccedilatildeo destes projetos e a terceira NE
512006 (BRASIL 2006a) aprovou o manual para a elaboraccedilatildeo dos projetos de recuperaccedilatildeo
A NE 432005 (BRASIL 2005a) considera a premente necessidade de
recuperaccedilatildeo natildeo soacute de Reserva Legal mas de aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente em grande
parte dos Projetos de Assentamento em todo o territoacuterio nacional mas infelizmente soacute
abrange os que satildeo implantados pelo Governo Federal (Art 2ordm inciso I) ficando de fora os
que satildeo de competecircncia dos Estados O criteacuterio para implantaccedilatildeo desses projetos eacute a aacuterea ser
reconhecida com problemas ambientais principalmente em termos de degradaccedilatildeo (Art 2ordm
inciso II) Para ser possiacutevel financeiramente a execuccedilatildeo de um projeto deste cuja norma
regulamentadora ainda se encontra vigente o INCRA disponibiliza ateacute R$ 100000 por
famiacutelia (Art 1ordm NE 442005 (BRASIL 2005b)) no entanto caso seja tecnicamente
comprovado que a recuperaccedilatildeo de aacutereas de reserva legal preservaccedilatildeo permanente e de solo
exija um maior investimento o valor poderaacute ser superior ao estabelecido Neste caso a
importacircncia repassada seraacute definida em funccedilatildeo do custo calculado para a recuperaccedilatildeo do dano
ambiental (Art 1ordm Paraacutegrafo Uacutenico)
77
O manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e
conservaccedilatildeo de recursos naturais em assentamentos da reforma agraacuteria aprovado pela NE
512006 (BRASIL 2006a) deixa claro que seus objetivos natildeo satildeo soacute reabilitar e resguardar a
aacuterea ambiental do assentamento Haacute mais e maiores propoacutesitos nisto como por exemplo
cumprir as exigecircncias estabelecidas pelo oacutergatildeo de meio ambiente estadual durante o processo
de licenciamento21
bem como a mobilizaccedilatildeo da comunidade em torno de atividades visando agrave
recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo dos recursos naturais por meio de programas de educaccedilatildeo
ambiental fiscalizaccedilatildeo e manutenccedilatildeo envolvendo os assentados Para que isto ocorra eacute
extremamente importante a participaccedilatildeo destes na elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do projeto22
Por fim os Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais seratildeo
destinados agraves seguintes praacuteticas23
1 Cercamento de aacutereas de Reserva Legal e aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
visando a regeneraccedilatildeo eou a proteccedilatildeo das aacutereas
2 Construccedilatildeo de viveiros para produccedilatildeo de mudas que seratildeo utilizadas no processo
de recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas
3 Demarcaccedilatildeo topograacutefica da Reserva Legal
4 []
5 Reflorestamento em aacutereas de Reserva Legal com espeacutecies nativas que
possibilitem o manejo florestal sustentaacutevel madeireiro ou natildeo madeireiro baseado
em princiacutepios e em criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos definidos e devidamente
aprovados pelo oacutergatildeo ambiental competente
6 Plantio de aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais composto por espeacutecies
exoacuteticas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas para
compensaccedilatildeo ou manutenccedilatildeo da aacuterea de reserva legal a criteacuterio do oacutergatildeo ambiental
competente
7 Atividades alternativas de produccedilatildeo (criaccedilatildeo de abelhas artesanato entre outras)
associadas agrave recuperaccedilatildeo ambiental e como instrumento de valorizaccedilatildeo das aacutereas a
serem conservadas ou recuperadas e de combate agraves praacuteticas indevidas de uso do
fogo
8 [] (BRASIL 2006ordf p 1112)
32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo
321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba
O municiacutepio de Irauccediluba possui uma aacuterea de 1461253 Km2 o que corresponde a
098 do territoacuterio estadual e estaacute situado no sertatildeo Centro-Norte conforme figura 12
inserido na microrregiatildeo geograacutefica de Sobral Dista cerca de 150 Km da capital Fortaleza e
21
p 7 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos naturais 22
p 11e 13 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos
naturais 23
p 11e 12 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos
naturais
78
localiza-se entre as coordenadas geograacuteficas Latitude 3˚44‟46rdquo S (Sul) e Longitude 39˚47‟00rdquo
WGr (oeste) Faz fronteira ao norte com os municiacutepios de Miraiacutema e Itapipoca ao sul com
Santa Quiteacuteria e Canindeacute a leste com Itapajeacute e Tejuccediluoca e a oeste com Sobral e possui trecircs
distritos Missi Juaacute e Boa Vista segundo ilustra a figura 13
Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba
Fonte Lustosa (2004) Fonte Lustosa (2004)
Segundo o censo de 2010 do IBGE a populaccedilatildeo do municiacutepio era de 22324
pessoas sendo curiosamente a maioria homens (5083) Jaacute sua densidade demograacutefica
correspondia a 1539 habKm2 A ocupaccedilatildeo municipal predomina na zona urbana
correspondendo a 6425 dos indiviacuteduos Em 2012 a populaccedilatildeo aumentou para 22742
pessoas
3211 Das propriedades estudadas
Por Irauccediluba possuir aproximadamente 713 imoacuteveis rurais tomando por base a
mediccedilatildeo feita pelo IDACE em 2012 natildeo seria possiacutevel o estudo de todas elas Partiu-se
entatildeo para uma amostragem com base nos imoacuteveis que possuiacuteam a reserva legal seja por
registro em cartoacuterio eou porque a aacuterea eacute puacuteblica e foi destinada a projetos de assentamentos
agraacuterios (PA‟s) estaduais e federais que por sua vez deveriam respeitar tal obrigatoriedade
79
Pela tabela 8 vecirc-se que dos 14 assentamentos em Irauccediluba 6 satildeo estaduais e 8
federais No entanto os criteacuterios utilizados para examinaacute-los foi o tempo de criaccedilatildeo de cada
um e a existecircncia de reserva legal delimitada na planta da propriedade Aleacutem disto foi
escolhido um imoacutevel particular por apresentar a averbaccedilatildeo da reserva legal como demonstra a
tabela 9
Tabela 8 - Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de anaacutelise
PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO
Nome do
Assentamento
Instituiccedilatildeo
Responsaacutevel Data de Criaccedilatildeo Status para anaacutelise
Saco do Vento IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Aroeira IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Boqueiratildeo IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Mudubim IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Consulta IDACE 23072001 Planta natildeo disponibilizada
Cachoeira IDACE 05102006 Planta natildeo disponibilizada
Saco Verde INCRA 2691997 Incluiacutedo
Cajazeiras II INCRA 2691997 Incluiacutedo
Aacuteguas Mortas
Poccedilo da Pedra INCRA 22121997 Incluiacutedo
RiachueloAlto
Alegre INCRA 09112005 Incluiacutedo
Almas INCRA 17111998 Incluiacutedo
Olho d‟Aacutegua da
Esperanccedila INCRA 06122007
Muito recente ndash Fora de abrangecircncia
das imagens de sateacutelite
Satildeo Marinho
Rodeador INCRA 04122006
Reserva legal natildeo delimitada na planta
do imoacutevel
Arraia INCRA 13102011 Muito recente ndash Fora de abrangecircncia
das imagens de sateacutelite
Tabela 9 - Dados da propriedade particular estudada PROPRIEDADE PARTICULAR ANALISADA
Nome Proprietaacuterio Data da averbaccedilatildeo
da RL Status para anaacutelise
Miramar MIRASA ndash Miramar
Agropecuaacuteria SA 06042005 Incluiacutedo
Diante dos paracircmetros de seleccedilatildeo apontados acima restaram 5 assentamentos e 1
aacuterea particular totalizando 6 aacutereas para estudo Assim sendo as propriedades analisadas
foram RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas Almas Saco Verde Cazajeiras II e Miramar
sendo esta a de domiacutenio privado Com exceccedilatildeo desta uacuteltima as demais satildeo assentamentos
agraacuterios federais ficando de fora os estaduais por serem em sua maioria recentes isto eacute a
partir de 2010 e por isso natildeo abrangidos pelas imagens de sateacutelite utilizadas (anos 1993 e
2007) As duas estaduais mais antigas Consulta e Cachoeira natildeo tiveram suas plantas
80
disponibilizadas pelo oacutergatildeo competente e as federais que ficaram excluiacutedas tambeacutem eram
muito recentes aleacutem do que natildeo possuiacuteam reserva legal delimitada
A figura 14 a seguir mostra a localizaccedilatildeo das propriedades estudadas e suas
respectivas reservas legais delimitadas que podem ser lidas pela legenda de cores ao lado
Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo
A tabela 10 traz as aacutereas de cada imoacutevel e sua reserva legal onde eacute possiacutevel
constatar um nuacutemero pequeno de propriedades que apresentam o tal instituto criado e exigido
por lei Aleacutem disso a soma de suas aacutereas tambeacutem eacute pouco expressiva ao comparar com a do
municiacutepio No total satildeo 1628865 hectares sendo 328832 hectares pertinentes agrave reserva
legal
Tabela 10 - Propriedades estudadas
PROPRIEDADES ESTUDADAS
IMOacuteVEL DOMIacuteNIO AacuteREA DO IMOVEL (HA) AacuteREA DA RESERVA LEGAL (HA)
Saco Verde INCRA 6464 129280
Cajazeiras II INCRA 96487 19297
Aacuteguas Mortas Poccedilo da Pedra INCRA 239778 47955
Riachuelo Alto Alegre INCRA 3378 67560
Olho drsquoAacutegua da Esperanccedila INCRA 1940 388
81
Miramar PARTICULAR 1144 25940
3212 Aspectos histoacutericos da ocupaccedilatildeo do municiacutepio
Haacute quem diga que Irauccediluba significa tanto amizade como grande abelha amarela
A primeira acepccedilatildeo se deve ao povo hospitaleiro de bons sentimentos e amigos da paz Jaacute a
segunda faz referecircncia a um vocaacutebulo indiacutegena cuja expressatildeo representa a junccedilatildeo de trecircs
palavras ira que quer dizer mel ou abelha ussu grande e yuba amarelo (FOLHES e
VIANA 2001)
Segundo o IBGE o surgimento de Irauccediluba se deve a um povoado denominado
Cacimba do Meio que despontou no iniacutecio do seacuteculo XIX O nome do municiacutepio como
atualmente eacute conhecido soacute foi alterado em 1899 pelo desembargador Aacutelvaro de Alencar
Irauccediluba foi distrito de Itapajeacute de 1905 ateacute 1957 quando foi elevada agrave condiccedilatildeo de municiacutepio
Quanto a sua ocupaccedilatildeo Arauacutejo Filho e Silva (2013) remontam a memoacuteria dos
mais antigos que registra o fenocircmeno da transumacircncia na regiatildeo jaacute no seacuteculo XIX Aleacutem
disto os autores ainda mencionam que
O primeiro relato da presenccedila do homem branco na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba
refere-se agrave passagem no ano de 1606-1607 dos jesuiacutetas Francisco Pinto e Luiacutes
Figueira Na eacutepoca a regiatildeo era habitada por iacutendios das etnias Tupi e Tapuia
citando-se os Anaceacute Apuiareacute e Kariri (GIRAtildeO1967) Consta entatildeo que os
indiacutegenas viviam da caccedila e que na eacutepoca seca ateavam fogo na erva para afugentar
as cobras e facilitar a caccedila (ARAUacuteJO e SILVA 2013 p 4)
E soacute para constar o potencial do municiacutepio acerca da boa qualidade das pastagens
de forma a compensar a praacutetica da transumacircncia em tempos antigos vale referenciar um
texto de Dias (1998) que Folhes e Viana (2001) fazem menccedilatildeo
ldquo() no espaccedilo onde Irauccediluba estaacute inserida atualmente visto como um ambiente
inoacutespito em processo de desertificaccedilatildeo no seacuteculo XVII ao se transitar pela flora
primitiva na eacutepoca das chuvas era difiacutecil saber se era noite ou dia face ao
adensamento da vegetaccedilatildeordquo Esse adensamento foi registrado pelos jesuiacutetas
Francisco Pinto e Luiacutes Figueira em 1607 quando partiram de Pernambuco numa
missatildeo de catequese em direccedilatildeo ao Maranhatildeo (DIAS 1998 p 62 apud FOLHES e
VIANA 2001 p 9)
322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas
Arauacutejo Filho e Silva (2013) fazem um apanhado sucinto e ao mesmo tempo geral
de duas atividades econocircmicas desenvolvidas no municiacutepio de Irauccediluba
82
Historicamente a Regiatildeo tem na pecuaacuteria a mais importante atividade dentro de um
sistema de transumacircncia servindo de estaccedilatildeo na eacutepoca das chuvas para os rebanhos
criados na regiatildeo litoracircnea Isto porque apresenta extensas aacutereas recobertas por
planossolos sob uma caatinga do tipo savana com cobertura herbaacutecea de excelente
potencial forrageiro Considerando a ocupaccedilatildeo da aacuterea municipal 124 satildeo usados
para a produccedilatildeo agriacutecola a pecuaacuteria ocupa 671 e os restantes 205 satildeo
recobertos de matas Confrontando os dados da distribuiccedilatildeo dos solos e de sua
ocupaccedilatildeo vecirc-se que a pecuaacuteria eacute praticada em toda a extensatildeo dos planossolos e dos
luvissolos a agricultura ocupa pequena parcela do luvissolo e dos solos litoacutelicos e a
extraccedilatildeo de madeira parte dos litoacutelicos e dos luvissolos (IBGE 2010) (ARAUacuteJO
FILHO e SILVA 2013 p 1)
Para os autores a pecuaacuteria em sistemas de produccedilatildeo de regiotildees semiaacuteridas
constitui uma atividade tampatildeo dos efeitos da seca facilita a dispersatildeo dos riscos de perdas
tem boa liquidez econocircmica e eacute um fator muito importante de fixaccedilatildeo do homem agrave terra
Em se tratando de nuacutemeros o PAE (CEARAacute 2010b) apresentou em seus
levantamentos percentuais a situaccedilatildeo de alguns aspectos socioeconocircmicos que ora se julga
interessantes expor neste trabalho Por exemplo o analfabetismo estaacute decrescendo eacute o que a
taxa de escolaridade no ensino fundamental de 932 em 2007 demonstra mas altas taxas
de repetecircncia evasatildeo escolar qualificaccedilatildeo dos professores baixo aproveitamento dos alunos
e divergecircncia entre a faixa etaacuteria e a seacuterie cursada tambeacutem satildeo problemas que afetam a
educaccedilatildeo no municiacutepio Folhes e Viana (2001) Quanto ao saneamento baacutesico natildeo existia rede
de esgotamento no municiacutepio nem aacutegua tratada para a maioria da populaccedilatildeo conforme
pesquisa realizada em 2007 contudo em 2010 a CAGECE24
informou que havia 6173
ligaccedilotildees entre reais e ativas para o abastecimento de aacutegua enquanto que a cobertura de
esgoto continuava sem nenhuma ligaccedilatildeo mas curiosamente apresentava uma taxa de
cobertura de 1937
O PAE (CEARAacute 2010) diz que em Irauccediluba o salaacuterio meacutedio mensal da
populaccedilatildeo correspondia a um salaacuterio miacutenimo e meio mas o IBGE (2010) traz outro nuacutemero
Em 2010 quando o salaacuterio miacutenimo era de R$ 51000 a renda domiciliar per capita entre frac14 a
mais de 3 correspondia a 5158 trabalhadores sendo que a maioria deles recebia por mecircs R$
12750 ou menos Agregada a essa realidade econocircmica existe a populaccedilatildeo extremamente
pobre com renda domiciliar per capita de ateacute R$ 7000 Nesse patamar concentram-se 8008
pessoas
Eacute nesse contexto que estatildeo cerca de 13500 pessoas classificadas como
economicamente ativas no municiacutepio Infelizmente o nuacutemero de irauccedilubenses inseridos na
condiccedilatildeo de pobreza eacute bem expressivo correspondendo a 3587 da populaccedilatildeo em 2010
24
In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p14)
83
Eacute faacutecil perceber que se trata de uma cidade pouco desenvolvida pobre sem muita
educaccedilatildeo e condiccedilotildees baacutesicas de sauacutede Isso reflete tanto na economia como na qualidade de
vida sem falar no cenaacuterio ambiental pois a situaccedilatildeo como estaacute posta favorece muito mais a
degradaccedilatildeo dos recursos naturais
Falando em questotildees ambientais dentro do contexto da dinacircmica populacional de
Irauccediluba eacute interessante citar a retraccedilatildeo no nuacutemero de indiviacuteduos residentes na aacuterea rural
desde a deacutecada de 70 e consequentemente aumento na urbana Considerando que os riscos de
desertificaccedilatildeo satildeo mais acentuados nas regiotildees densamente povoadas porque haacute maior
pressatildeo sobre os bens naturais e que a densidade demograacutefica do municiacutepio em 2010 estava
em 1539 habkm Folhes e Viana (2001) pontuam
A densidade demograacutefica de Irauccediluba representa pouco mais da metade do que
Ferreira et al (1994) estabeleceram como ldquofator de pressatildeordquo no estudo que se
tornou conhecido por ser o primeiro a confeccionar o mapa de susceptibilidade agrave
desertificaccedilatildeo do Nordeste brasileiro dada(s) as condiccedilotildees de semi-aridez as
condiccedilotildees dos solos a disponibilidade de aacutegua da regiatildeo e a capacidade de suporte
da mesma adotou-se como fator de pressatildeo sobre o meio ambiente a densidade
igual ou superior a 20habkm2 (p19-20)rdquo Veem-se a dificuldade e imprecisatildeo dos
estudos quanto agrave determinaccedilatildeo de algum ponto criacutetico onde a relaccedilatildeo densidade
demograacutefica versus processos de desertificaccedilatildeo passa de causa para efeito
(FOLHES e VIANA 2001 p 13)
Os autores ainda reforccedilam que o municiacutepio se enquadra no grupo com fraca
densidade demograacutefica que eacute de 10 a 20habkm2 de acordo com a classificaccedilatildeo estabelecida
pelo diagnoacutestico agro-soacutecio-econocircmico
Segundo Folhes e Viana (2001) um dos iacutendices mais sensiacuteveis para se medir o
niacutevel de desenvolvimento de um municiacutepio eacute a taxa de mortalidade infantil pois ela revela a
estreita ligaccedilatildeo entre o estado de sauacutede da populaccedilatildeo o acesso aos serviccedilos meacutedicos
condicionados pela situaccedilatildeo soacutecioeconocircmica da populaccedilatildeo Em Irauccediluba essa taxa eacute de 1592
mortos a cada 1000 nascidos vivos maior ainda que a do estado 133225
A economia de Irauccediluba gira em torno de atividades como agricultura e pecuaacuteria
Aquela engloba culturas praticadas em lavouras permanentes e temporaacuterias e esta envolve a
criaccedilatildeo de gado de vaacuterias espeacutecies e aves como galos e galinhas Em termos comparativos
traccedilou-se um paralelo do sistema produtivo econocircmico nos anos de 2001 e 2011 para que se
pudesse avaliar alguma retraccedilatildeo ou evoluccedilatildeo no quadro agropecuaacuterio e industrial do
municiacutepio
A figura 15 abaixo eacute autoexplicativa de modo que prontamente se percebe a
banana e a manga como as culturas mais significativas ficando logo atraacutes o cocircco da baiacutea
25
SESA (2011) In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p 9)
84
Nota-se tambeacutem natildeo haver muita diferenccedila de produccedilatildeo dos trecircs cultivos agriacutecolas nesses
dois anos o que leva a concluir que os produtores do municiacutepio mantiveram os investimentos
e colheitas semelhantes O mesmo natildeo ocorreu com o algodatildeo arboacutereo pois seu resultado caiu
drasticamente no periacuteodo analisado Ressalte-se poreacutem que o ano de 2001 foi mais produtivo
que o de 2011 com exceccedilatildeo da castanha de caju
Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Permanentes
Fonte IBGE (2001 e 2011)
Com relaccedilatildeo agraves lavouras temporaacuterias o destaque eacute da mandioca e da mamona
muito embora esta uacuteltima soacute apresente resultados no ano de 2011 Outras culturas temporaacuterias
satildeo o milho e o feijatildeo mas natildeo constam na figura 16 porque a disparidade entre os dois anos
e a alta produtividade em 2011 dificultariam a visualizaccedilatildeo
Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Temporaacuterias
Fonte IBGE (2001 e 2011)
85
De qualquer maneira a safra de milho e feijatildeo em 2001 natildeo foi tatildeo expressiva
ou seja correspondeu a 14 e 7 toneladas respectivamente Jaacute em 2011 esse nuacutemero foi agraves
alturas chegando agraves 4433 toneladas de milho e 2088 toneladas de feijatildeo
Jaacute os produtos de origem florestal comuns em Irauccediluba satildeo a cera o poacute e a fibra
da carnauacuteba o carvatildeo vegetal a lenha e a madeira em tora poreacutem os mais relevantes satildeo o
carvatildeo vegetal e a lenha conforme se vecirc nas figuras 17 e 18
Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em tonano
Fonte IBGE (2001 e 2011)
Como a lenha e a madeira em tora tecircm unidade de medida diferente dos demais
produtos construiu-se a figura 18 para natildeo deixaacute-las de fora da anaacutelise
0100020003000400050006000700080009000
1000011000
Lenha Madeira em tora
Produtos de origem vegetal (m3ano)
2001
2011
Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em m3ano
Fonte IBGE (2001 e 2011)
86
Quanto aos produtos de origem animal o leite foi o mais vultoso sobressaindo-se
nos anos de 2001 e 2011 Na tabela 11 abaixo tambeacutem foram relacionados os outros mas
com participaccedilatildeo bem pequena na produtividade do municiacutepio
Tabela 11 - Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem animal Produtos de origem animal
Leite Mel de abelha Ovos de galinha Ovos de codorna
Produccedilatildeo (mil l) Produccedilatildeo (kg) Produccedilatildeo (mil dz) Produccedilatildeo (mil dz)
2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011
5228 6031 0 507 80 143 0 1
Fonte IBGE (2001 e 2011)
Em termos industriais julgou-se interessante fazer uma comparaccedilatildeo um tanto
mais abrangente citando tambeacutem os nuacutemeros do ano de 2010 Observa-se que os grupos de
induacutestrias existentes em Irauccediluba reuacutenem as de extraccedilatildeo mineral construccedilatildeo civil e
principalmente as de transformaccedilatildeo conforme figura 19
Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011)
Fonte IBGE (2001 2010 e 2011)
Eacute possiacutevel observar pela figura acima que as empresas de extraccedilatildeo mineral e de
construccedilatildeo civil pouco se desenvolveram durante o periacuteodo analisado o mesmo natildeo ocorreu
com as induacutestrias de transformaccedilatildeo que inclusive chamam bastante atenccedilatildeo Estas se
desdobram em vaacuterias espeacutecies como por exemplo produccedilatildeo de minerais natildeo metaacutelicos
metaluacutergica mecacircnica produccedilatildeo de material eleacutetrico eletrocircnico e comunicaccedilatildeo produccedilatildeo de
material para transporte madeireira mobiliaacuteria produccedilatildeo de papel papelatildeo e borracha
beneficiamento de couros peles e similares quiacutemica produccedilatildeo de produtos farmacecircuticos e
veterinaacuterios de material plaacutestico tecircxtil vestuaacuterio calccedilados artefatos de tecido couros e
peles produtos alimentares bebidas fumo dentre outras
87
De 2001 para 2010 a quantidade de induacutestrias de transformaccedilatildeo pouco aumentou
passando de 13 para 17 mas de 2010 a 2011 esse rol duplicou indo de 17 para 34 empresas
como se pode observar pelas figuras 20 21 e 22
Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001
Fonte IBGE (2001)
Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010
Fonte IBGE (2010)
TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 13
TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 17
88
Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011
Fonte IBGE (2011)
A induacutestria tecircxtil oscilou em nuacutemeros visto que em 2001 contava com 5
empresas em 2010 com 4 expandido para 9 de forma que essa quantidade representou 26
do total de induacutestrias em Irauccediluba no ano de 2011 Outra atividade expressiva no municiacutepio eacute
a de produtos alimentares Muito embora natildeo exista em 2010 nos anos de 2001 e 2011 ela
totalizava 5 e 9 unidades respectivamente representando 23 e 26 cada uma no universo de
empresas Em terceiro plano encontra-se a produccedilatildeo de minerais natildeo-metaacutelicos que em 2001
contou com 1 induacutestria em 2010 com 2 e em 2011 com 3 Aleacutem disto apareceram a partir de
2010 atividades como mobiliaacuterio couros e peles vestuaacuterio e uma categoria natildeo definida pelo
IBGE classificada como diversas Em contrapartida desapareceram da contagem as
induacutestrias madeireira e metaluacutergica
Na pecuaacuteria existe a criaccedilatildeo de gado e aves O realce no primeiro grupo eacute dado
pelos bovinos seguido pelos ovinos e caprinos tanto no ano de 2010 como 2011 sendo neste
os nuacutemeros maiores Quanto agraves aves a ocorrecircncia eacute de galos frangos frangas e pintos aleacutem
de galinhas Entre estes dois grupos o primeiro eacute mais representativo como bem se examina
pela figura 23
TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 34
89
Figura 23 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos
Fonte IBGE (2011 e 2011)
Sem esquecer outros rebanhos mesmo que de menor grandeza existem no
municiacutepio bubalinos muares coelhos e codornas segundo os nuacutemeros apresentados na
tabela 12
Tabela 12 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores Rebanhos Bubalinos Muares Coelhos Codornas
Ano 2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011
Nordm de indiviacuteduos 98 48 380 436 22 67 89 193
Fonte IBGE (2011 e 2011)
Por fim conclui-se que em Irauccediluba eacute praticado aleacutem das atividades industriais o
tripeacute econocircmico baseado na produccedilatildeo agriacutecola pecuaacuteria e madeireira esta a partir da
exploraccedilatildeo de lenha e carvatildeo vegetal Desta maneira seria mais interessante para o municiacutepio
considerando suas caracteriacutesticas ambientais o uso de sistemas de produccedilatildeo
agrossilvopastoris Nesse sentido Arauacutejo Filho e Silva (2013) ilustram
Os sistemas de produccedilatildeo agrossilvipastoris satildeo formas de uso e manejo da terra nas
quais aacutervores e arbustos satildeo utilizados em associaccedilatildeo com cultivos agriacutecolas e
animais numa mesma aacuterea de maneira simultacircnea ou numa sequecircncia temporal
Cada componente do sistema de produccedilatildeo deve ter pelo menos uma funccedilatildeo proacutepria e
sua integraccedilatildeo garante sua funcionalidade Assim as aacutervores devem ser em nuacutemero
suficiente para um aporte significativo de serrapilheira fonte de mateacuteria orgacircnica
para o solo Os animais satildeo os redistribuidores de nutrientes entre os componentes
do sistema via urina e esterco E as culturas garantem a produccedilatildeo de alimentos para
a famiacutelia e seus animais e contribuem para a circulaccedilatildeo de nutrientes dentro do
sistema Os SAF‟s podem tambeacutem ser usados para a reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e
econocircmica de aacutereas degradadas sobre luvissolos e argissolos (ARAUacuteJO FILHO e
SILVA 2013 p 1819)
90
323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba
A caracterizaccedilatildeo ambiental realizada no municiacutepio das aacutereas de estudo engloba a
altimetria as classes de relevo demonstrando a declividade do terreno que varia de plano a
forte ondulado os tipos de solos e suas associaccedilotildees de classes entre si o clima envolvendo
dados sobre a pluviometria anual o iacutendice de umidade o nuacutemero de meses sem chuva a
temperatura e a evapotranspiraccedilatildeo total anual do municiacutepio Comenta-se ainda a vegetaccedilatildeo e
suas formas aleacutem dos rios e accediludes existentes em Irauccediluba reunindo seus recursos hiacutedricos
3231 Altimetria e Classe de relevo
A altimetria do municiacutepio estaacute exibida na figura 24 conforme seus niacuteveis de
altitude que variam de 80 a 840 metros acima do mar
Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba
91
Jaacute o relevo oscila de plano a forte ondulado conforme figura 25 Arauacutejo Filho e Silva
(2013 p 1) definem que ldquonos planossolos o relevo varia de plano a suave-ondulado (de 1 a 8)
nos argisssolos e nos luvissolos apresentam-se em relevo de suave-ondulado a ondulado (de 8 a
20) e os litoacutelicos estatildeo em relevo forte-ondulado (de 20 a 45)rdquo
Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba
3232 Solos
A regiatildeo semiaacuterida nordestina ldquo[] recebe anualmente calor e luz em excesso o
que resulta em raacutepida mineraccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica Seus solos satildeo geralmente pouco
profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica mas relativamente ricos
em bases trocaacuteveisrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 7)
O PAN (BRASIL 2004) assegura que as classes de associaccedilatildeo de solos presentes
no semiaacuterido do Nordeste satildeo o bruno natildeo caacutelcico litoacutelicos podzoacutelico eutroacutefico terra roxa
estruturada cambissolo ondulado e forte ondulado e planossolos Apresentam tambeacutem tipos
de relevo e susceptibilidade agrave erosatildeo diferenciados como mostra a tabela 13
92
Tabela 13 - Relaccedilatildeo de solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo
CLASSES DE SOLO RELEVO SUSCEPTIBILIDA Agrave
EROSAtildeO
Bruno natildeo caacutelcico (Luvissolos) Suave ondulado e ondulado Forte
Litoacutelicos Ondulado forte ondulado e
montanhoso Muito forte
Podzoacutelico eutroacutefico terra roxa
estruturada cambissolo ondulado e
forte ondulado
Ondulado e forte ondulado Moderado
Planossolos Plano e suave ondulado Moderado
Fonte PAN Brasil (2004)
ldquoTrecircs classes de solos se destacam no municiacutepio de Irauccediluba luvissolos com
432 de cobertura planossolos com 187 e litoacutelicos com 332 Juntos eles perfazem
951 da aacuterea do municiacutepiordquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2)
Os luvissolos constituem os solos mais utilizados pela agricultura migratoacuteria do
semiaacuterido nordestino Por causa do desmatamento e uso do fogo haacute indicaccedilotildees de que pelo
menos 65 da aacuterea de cobertura deste importante solo se encontrem em erosatildeo de grave a
muito grave Em Irauccediluba natildeo eacute diferente pois a agricultura eacute praticada nas aacutereas recobertas
por luvissolos e solos litoacutelicos enquanto a pecuaacuteria eacute desenvolvida tanto no planossolo com
presenccedila tambeacutem nas aacutereas de luvissolo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013)
Em se tratando de associaccedilatildeo de solos a tabela 14 indica a nomenclatura utilizada
por Jacomine (1973) e pela EMBRAPA (2006) para definir os tipos de associaccedilatildeo
encontrados em Irauccediluba apontando ainda a porcentagem de cada um dentro da respectiva
associaccedilatildeo E a figura 26 apresenta a distribuiccedilatildeo dessas associaccedilotildees no municiacutepio de forma
que eacute possiacutevel notar o predomiacutenio da associaccedilatildeo NC15 seguida da Re25 e Re26
Tabela 14 - Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEMBRAPA
ASSOCIACcedilAtildeO
DE SOLO EM
JACOMINE
(1973)
NOMENCLATURA DOS SOLOS NAS ASSOCIACcedilOtildeES DO SOLO
NA
ASSOCIACcedilAtildeO JACOMINE (1973) EMBRAPA (2006)
PE6
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO moderado
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 40
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO chemozecircnico
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 30
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 15
AFLORAMENTOS DE ROCHA - 15
PE42
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 70
REGOSOL EUTROacuteFICO NEOSSOLOS
REGOLIacuteTICOS 30
NC7 BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO LUVISSOLO 40
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 35
93
BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO veacutertico LUVISSOLO 25
NC15
BRUNOS NAtildeO CAacuteLCICOS
INDISCRIMINADOS LUVISSOLO 40
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 25
PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 20
SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 15
PL6
PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 45
SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 35
SOLOS OTOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 20
Re6
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 65
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 35
Re25 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel
estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -
Re26 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel
estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -
Fonte Jacomine et al (1973) e EMBRAPA (2006)
Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba
94
Por fim a figura 27 apresenta os quatro grandes grupos de solo encontrados em
Irauccediluba e sua distribuiccedilatildeo no municiacutepio sendo eles Podzoacutelico vermelho amarelo
equivalente eutroacutefico (PE) Bruno natildeo caacutelcico (NC) Planossolo (PL) e Solos litoacutelicos (Re)
Figura 27 Grupos de solos que formam associaccedilotildees pedoloacutegicas em Irauccediluba
3233 Clima
ldquoO clima na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba eacute conforme classificaccedilatildeo de Koumlppen
(MILLER 1971) do tipo Bshw semiaacuterido megateacutermico com curta estaccedilatildeo chuvosa no
veratildeo-outono e com concentraccedilatildeo das precipitaccedilotildees pluviais nos meses de marccedilo e abrilrdquo
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2) Anualmente o municiacutepio apresenta pluviometria
meacutedia abaixo dos 700 mm mas existe maior incidecircncia de chuva em outras regiotildees de
Irauccediluba Eacute o que demonstra a figura 28
Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba
Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba
95
Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba
ldquoA regiatildeo apresenta um dos mais baixos iacutendices pluviomeacutetricos do Estado do Cearaacute
com meacutedia histoacuterica de 540 mm Isto porque a aacuterea encontra-se a sotavento da serra
de Uruburetama constituindo-se em uma ldquosombra de chuvardquo causada pela
interceptaccedilatildeo pela serra dos ventos uacutemidos oriundos do oceanordquo (ARAUacuteJO FILHO
e SILVA 2013 p 2)
O municiacutepio passa a maior parte do ano sem chuva aproximadamente dez meses
e apesar da pouca pluviosidade a evapotranspiraccedilatildeo eacute maior que a precipitaccedilatildeo Sem poder
ser diferente as temperaturas variam de 25 a 28 graus sendo que na maior parte da aacuterea
incidem temperaturas de 26 a 27 graus centiacutegrados e a umidade aponta a incidecircncia do clima
semiaacuterido em Irauccediluba As figuras 06 29 30 31 e 32 ilustram as informaccedilotildees declaradas
96
Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba
Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual
97
Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba
Figura 32 Iacutendice Efetivo de umidade em Irauccediluba
Fonte NOLEcircTO (2005)
98
3234 Vegetaccedilatildeo
A caatinga eacute um dos maiores biomas brasileiros e significa mata branca Por ser
uma vegetaccedilatildeo xeroacutefila eacute capaz de suportar vaacuterios anos de estiagem recuperando com
rapidez suas atividades logo nas primeiras chuvas apoacutes a seca A adaptaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo ao
clima semiaacuterido eacute impressionante como por exemplo as cascas claras ou reluzentes servem
para diminuir o aquecimento do tecido vivo da planta Por causa da falta de aacutegua satildeo
caducifoacutelias isto eacute as folhas caem durante a estaccedilatildeo seca para evitar excesso de perda d‟aacutegua
pela evapotranspiraccedilatildeo aleacutem disto os caules satildeo projetados para armazenar aacutegua (MAIA
2012)
ldquoA caatinga se assemelha a arbustos tropicais ou bosques de espinhos Eles
contecircm pequenas aacutervores de madeira dura grotescamente retorcidas e com espinhos as folhas
satildeo pequenas e caem durante a estaccedilatildeo secardquo Odum e Barret (2008 p 453)
Fisionomicamente eacute possiacutevel diferenciar os tipos de vegetaccedilatildeo o arboacutereo que estaacute nas
superfiacutecies mais conservadas sendo o pau branco o angico o pereiro dentre outras suas
espeacutecies mais representativas o arbustivo que eacute sinal de aacutereas jaacute degradadas pelo
desmatamento uso agriacutecola e pecuaacuteria e o herbaacuteceo figurado por gramiacuteneas presentes
somente durante o periacuteodo chuvoso e explorado pela pecuaacuteria extensiva (DANTAS et al
2007)
ldquoO Bioma Caatinga estaacute inserido no quadro dos Ecossistemas da Regiatildeo das
Caatingas e Florestas Deciduais do Nordeste Abrange as especificidades do Domiacutenio
Morfoclimaacutetico das Caatingas sejam elas arbustivas ou arboacutereasrdquo (BRASIL 2004 p 68) Os
frutos amadurecem ao fim da eacutepoca das chuvas quase que generalizadamente na maioria das
espeacutecies arboacutereas e herbaacuteceas permanecendo pendentes dos ramos durante algum tempo Ao
se desprenderem e caiacuterem no solo natildeo germinam de imediato pois a resistecircncia da casca e
outros artifiacutecios da natureza impedem a germinaccedilatildeo pronta Se germinassem morreriam quase
em seguida natildeo resistindo agrave longa estaccedilatildeo seca e quente da estiagem com interrupccedilatildeo brusca
e total das chuvas A germinaccedilatildeo poreacutem processa-se rapidamente logo ao caiacuterem as
primeiras chuvas pois os indumentos foram intensamente desgastados pelo intemperismordquo
As queimadas realizadas para a preparaccedilatildeo de novos terrenos de cultivo desempenham papel
de grande poder destruidor do ambiente ldquoCompreende-se pois que a restauraccedilatildeo da
cobertura vegetal depende da preservaccedilatildeo desses estoques de sementesrdquo26
26
Conferir SOBRINHO Vasconcelos (1983) In PAN Brasil 2004
99
ldquoA vegetaccedilatildeo da aacuterea do nuacutecleo de desertificaccedilatildeo de Irauccediluba espelha os efeitos dos
fatores fiacutesicos mormente os de natureza hiacutedrica e edaacutefica e da accedilatildeo antroacutepica
Assim as aacutereas dos solos argissolos litoacutelicos e luvissolos apresentam uma cobertura
arbustiva-arboacuterea formando um verdadeiro mosaico de diferentes estaacutedios
sucessionais em virtude das praacuteticas agriacutecola ambientalmente agressivasrdquo [] ldquoAs
aacutereas sobre os planossolos estatildeo recobertas por uma caatinga assavanada e
esporadicamente com afloramentos rochosos e com cobertura arbustiva arboacuterea
meacutedia abaixo de 20 e densidade de cerca 200plantasha A camada herbaacutecea de
biodiversidade inferior ao das aacutereas de luvissolos ou argissolos eacute rica no entanto
em espeacutecies forrageiras destacando-se a erva de ovelha (Stylosanthes humilis)
vassourinha (Stylosanthes angustifolia) urinana (Zornia bracteata) e capim accedilu
(Paspalum milegrana) O capim panasco no entanto predomina nas aacutereas
sobrepastejadasrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 34)
A figura 33 espelha a composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba Segue claro que a Caatinga
Arboacuterea Sem Palmeira (Cas) predomina seguida da Caatinga Arboacuterea Com Palmeira (Cap) e
da Caatinga Parque Sem Palmeira (Cps) A Floresta Ombroacutefila Aberta (Acc1) e as Aacutereas De
Formaccedilatildeo Pioneira (Acc2) representam uma aacuterea menor do municiacutepio
Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba
3235 Recursos Hiacutedricos
O nuacutecleo de Irauccediluba estaacute situado na bacia hidrograacutefica do rio Curu contando com
o aporte dos rios Aracatiaccedilu e Caxitoreacute aleacutem de vaacuterios riachos destacando-se o Aroeira o
Fonte NOLEcircTO (2005)
Fonte NOLEcircTO (2005)
100
Gabriel e o Cachoeira A ausecircncia de barragens de porte representativo faz com que a
pequena accediludagem assuma um papel relevante Destacam-se dentre essas os Accediludes Satildeo
Gabriel do Mocoacute (IRAUCcedilUBA 2009)
Por conta da irregularidade das chuvas que contribui para favorecer o escoamento
de superfiacutecie junto agraves condiccedilotildees geoloacutegicas predominantemente cristalinas favorecem o
escoamento raacutepido das aacuteguas pluviais inviabilizando o acuacutemulo de aacuteguas subterracircneas em
quantidades razoaacuteveis (IRAUCcedilUBA 2009) existem no municiacutepio cerca de 28 pequenos
accediludes nomeando-se o Nogueira Ramos o Cairu Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu e o Jerimum
que abastece a cidade de Irauccediluba ldquoUma estrutura muito comum no municiacutepio eacute o barreiro da
salvaccedilatildeo constituindo-se em um sistema temporaacuterio de armazenamento de aacutegua para atender
agrave demanda dos rebanhos durante boa parte da estaccedilatildeo secardquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA
2013 p 3)
324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo
A partir da abordagem feita no item 323 passa-se a analisar a realidade de cada
propriedade estudada Visando apontar os aspectos geoambientais dos imoacuteveis construiu-se
um quadro siacutentese conforme tabela 15 abaixo
Tabela 15 ndash Anaacutelise Geral das propriedades estudadas
Anaacutelise
Imoacuteveis com Reserva Legal
Riachuelo
Alto Alegre
Aacuteguas
Mortas
Almas
Cajazeiras
II
Saco
Verde
Miramar
Classe
no
Tipo
Niacuteveis da Classe
no Tipo
Aacuterea (km2)
336 238 127 124 671 86
no Niacutevel da Classe no Tipo
Precipitaccedilatildeo
Total
Meacutedia Anual
lt 600 - - - - 103 -
600 a 700 100 100 100 755 100
700 a 800 - - - 976 112 -
800 a 900 - - - 24 - -
Temperatura
Meacutedia Anual
(oC)
25-26 - - - - 71 -
26-27 100 100 100 100 929 100
27-28 - - - - - -
ETP
lt 1450 - - - - 100 100
1450-1500 - - - - - -
1500-1550 - - - - - -
1550-1600 100 100 100 - - -
1600-1650 - - - 141 - -
1650-1700 - - - 859 - -
101
Nugravemero
de
Meses secos
85 a 95 100 100 564 100 330 -
95 a 105 - - 454 - 670 100
gt105 - - - - - -
Im
gt - 333 - - - - - -
- 344 a - 499 100 100 100 100 388 15
lt - 499 - - - - 612 985
Igravendice de Aridez
do UNEP 020 a 050 100 100 100 100 780 100
050 a 065 - - - - 220 -
Classes
de
Relevo
Plano 23 46 56 112 55 135
Suave Ondulado 162 316 378 373 227 485
Ondulado 194 338 427 64 124 130
Muito Ondulado 127 111 72 38 72 70
Forte Ondulado 463 185 66 264 400 179
Montanhoso 31 04 - 105 120 03
Escarpado - - - 44 02 -
Classes
de
Altitude
80-120 - - -- 560 - -
120-160 - - - 113 - -
160-200 - - - 60 321 -
200-240 54 171 723
240-280 01 41 460 40 85 202
280-320 139 614 521 36 68 49
320-360 349 211 10 41 56 24
360-400 178 65 01 38 70 02
400-440 90 24 - 28 53 -
440-480 63 21 - 19 55 -
480-520 45 16 - 10 45 -
520-560 33 05 - 02 32 -
560-600 29 02 - - 15 -
600-640 25 01 - - 10 -
640-680 17 - - - 08 -
680-720 13 - - - 07 -
720-760 07 - - - 03 -
760-800 05 - - - 02
800-840 03 - - - - -
840-880 02 - - - - -
880-920 01 - - - - -
Associaccedilotildees
de
Solos
PE 6 - - - - 207 -
PE 42 - - - 913 - -
NC 7 - - - - - -
NC 15 940 755 516 - - 441
PL 6 - - - - 348 -
Re 6 - - - - - -
Re 25 - - - 87 445 -
Re 26 60 245 424 - - 559
Grupos
de
solos
PE - - - 913 207 -
NC 940 762 516 - - 441
PL - - - - 348 -
Re 60 238 484 87 445 559
Cobertura
Vegetal
Cas 515 934 100 - 265 100
Cap - - - 649 - -
Cps - - - - 168 -
Acc1 485 66 - - - -
Acc2 351 567 -
Quanto agrave graduaccedilatildeo altimeacutetrica em que se encontra cada propriedade em estudo eacute
possiacutevel observar que a RiachueloAlto Alegre tem niacuteveis de altimetria crescentes a partir de
102
240 ateacute 920 metros destacando-se como o imoacutevel de maior altitude seguido de Saco Verde e
Aacuteguas Mortas As outras natildeo passam dos 560 metros de altitude
Em se tratando da classe de relevo a que se apresenta mais plana eacute Miramar com
135 de sua aacuterea seguida de Cajazeiras II com 112 Em relevo montanhoso destacam-se
Saco Verde com 12 de terreno e Cajazeiras II com 105 No entanto a predominacircncia eacute de
imoacuteveis inseridos na faixa entre o suave ondulado e o forte ondulado
Os imoacuteveis em anaacutelise situam-se em diferentes grupos de solos como ilustra a
tabela 15 Por exemplo RiachueloAlto Alegre e Aacuteguas Mortas estatildeo 94 e 762
respectivamente em luvissolos ou seja em solos Bruno natildeo caacutelcicos e Podzoacutelico vermelho
amarelo equivalente eutroacutefico Almas e Miramar estatildeo divididas aproximadamente agrave metade
em solo litoacutelico e em Bruno natildeo caacutelcico Em Cazajeiras II predomina o solo Podzoacutelico
vermelho amarelo equivalente eutroacutefico mas apresenta um pequeno percentual em solo
litoacutelico E por fim Saco Verde possui uma distribuiccedilatildeo variada de solos Podzoacutelico vermelho
amarelo equivalente eutroacutefico (207) Planossolos (348) e litoacutelicos (445) sendo o
uacutenico imoacutevel com planossolos
Nas associaccedilotildees de solos prevalece a subclasse 15 dos solos Bruno natildeo caacutelcicos
(NC) nas propriedades RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas e Almas Cajazeiras II estaacute
quase totalmente na subclasse 42 do Podzoacutelico vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) e
Miramar mesmo quase ao meio entre NC e Re possui a maior parte de sua aacuterea na subclasse
26 de solos litoacutelicos (Re) Saco Verde embora um tanto quanto bem distribuiacuteda tem 207
de aacuterea na subclasse 6 dos Podzoacutelicos vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) 348
em planossolos subclasse 6 inclusive eacute o uacutenico imoacutevel nessa classificaccedilatildeo e 445 em Re6
A realidade das aacutereas em estudo descrita na tabela 15 revela que mais da metade
delas estaacute inserida na faixa de pluviosidade abaixo dos 700 mm contudo Cajazeiras II foge agrave
regra apresentando pluviometria entre 700 a 900 mm Em Saco Verde ocorre distribuiccedilatildeo
irregular de chuvas e aleacutem de estar na meacutedia tem precipitaccedilatildeo tanto abaixo dos 600 como
acima de 700 mm
E por fim a cobertura vegetal de Almas Miramar quase toda de Aacuteguas Mortas e
a metade RiachueloAlto Alegre eacute de caatinga arboacuterea sem palmeira (Cas) enquanto que mais
de 50 da Cajazeiras II estaacute em caatinga arboacuterea com palmeira (Cap) Saco Verde tem mais
da metade da aacuterea em formaccedilatildeo pioneira (Acc2)
103
33 Metodologia
A metodologia utilizada no levantamento acerca da existecircncia de reserva legal no
municiacutepio de Irauccediluba envolveu algumas fases de anaacutelise como pesquisa bibliograacutefica
documental caracterizaccedilatildeo da aacuterea sob os aspectos sociais econocircmicos e ambientais o uso de
imagens orbitais e a aplicaccedilatildeo do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada (NDVI -
Normalized Difference Vegetation Index) nas propriedades em estudo
A abordagem envolveu o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo uma vez que para avaliar a
aplicabilidade da reserva legal como forma de combater o processo de degradaccedilatildeo ambiental
em Irauccediluba partiu-se da hipoacutetese de que se cada detentor de propriedade rural cumprisse a
obrigaccedilatildeo de implantaacute-la o processo de degradaccedilatildeo quiccedilaacute o de desertificaccedilatildeo seria estancado
no municiacutepio Aleacutem disso seria um instrumento proporcionador da recuperaccedilatildeo ambiental em
virtude de seus benefiacutecios A investigaccedilatildeo se deu por procedimentos de vieacutes histoacuterico e
comparativo tendo sido realizada uma retrospectiva de como foi o tratamento dado agrave reserva
legal no contexto juriacutedico econocircmico social e ambiental Aleacutem disto estudou-se as
propriedades que apresentaram o instituto mesmo que soacute documentalmente de maneira a
confrontar a situaccedilatildeo existente nos anos de 1993 e 2007 e sua modificaccedilatildeo
Para alcanccedilar os propoacutesitos deste trabalho ocorreu a coleta de dados pela pesquisa
documental e bibliograacutefica aleacutem da observaccedilatildeo direta intensiva que foi possiacutevel pelo exame
de dados obtidos por imagens do sateacutelite LANDSAT 5 referente aos anos de 1993 e 2007
bem como a avaliaccedilatildeo das aacutereas estudadas atraveacutes do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila
Normalizada (NDVI)
As informaccedilotildees geograacuteficas das propriedades em estudo foram disponibilizadas
basicamente pelo INCRA e pelo cartoacuterio de imoacuteveis de Irauccediluba Ambos cederam as plantas
georreferenciadas que foram vetorizadas em UTM 24s atraveacutes do programa CARTALINX 12
para em seguida serem exportadas para o IDRISI 322 e entatildeo convertidas para latitude e
longitude DATUM GS 84
331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite
O NDVI eacute um iacutendice de vegetaccedilatildeo derivado de imagens de sateacutelites e muito
utilizado na avaliaccedilatildeo da cobertura vegetal indicando o tipo a condiccedilatildeo e a densidade da
vegetaccedilatildeo atraveacutes do uso de bandas No caso as bandas do vermelho na faixa do visiacutevel e do
infravermelho proacutexima (PINHEIRO 2011) Agrave medida que aumenta a quantidade de
104
vegetaccedilatildeo verde aumenta a reflexatildeo na banda do infravermelho proacuteximo e diminui a reflexatildeo
na banda do vermelho fazendo com que o aumento da razatildeo seja potencializado realccedilando
assim a vegetaccedilatildeo27
Na banda do vermelho a clorofila absorve a energia solar resultando em uma
baixa reflectacircncia e no infravermelho proacuteximo tanto a morfologia interna das folhas quanto a
estrutura da vegetaccedilatildeo apresentam uma alta reflectacircncia da energia solar incidente A
combinaccedilatildeo dessas bandas realccedila a aacuterea de vegetaccedilatildeo nas imagens e quanto maior o contraste
maior o vigor da vegetaccedilatildeo da aacuterea imageada (LOURENCcedilO LANDIM 2004)28
Portanto o NDVI pode ser utilizado como uma teacutecnica para mapeamento
contiacutenuo da cobertura vegetal de uma regiatildeo possibilitando analisar e monitorar a
variabilidade desta em periacuteodos distintos (PINHEIRO 2011) Ressaltam ainda as diferenccedilas
entre aacutereas vegetadas e de solo exposto (VERONA 2002)29
O caacutelculo para se chegar ao NDVI deriva da razatildeo entre os valores das bandas do
vermelho e infravermelho proacuteximo ou seja a diferenccedila da resposta espectral do pixel dessas
bandas pela sua soma (SILVA et al 2007)30
resulta nos valores do NDVI que variam de ndash1 a
+1 A equaccedilatildeo para o caacutelculo do NDVI foi proposta por (JENSEN 1996)31
in Ewerton Torres
Melo 2008) conforme segue abaixo
NDVI = (NIR - R) (NIR + R)
Em que
NDVI eacute o iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada NIR eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Infra-Vermelho Proacuteximo
(076 a 090 μm)
R eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Vermelho (063 a 069μm)
Assim a vegetaccedilatildeo eacute caracterizada por uma intensa absorccedilatildeo devido agrave clorofila na
regiatildeo do vermelho (063 ndash 069 μm) e por uma intensa energia refletida na regiatildeo do
infravermelho proacuteximo (076 ndash 090 μm) causada pela estrutura celular das folhas Portanto
muitos dos modelos de iacutendice de vegetaccedilatildeo utilizam somente as bandas de imagem vermelha
ou proacutexima ao infravermelho (MELO 2008)
27
Novo (1989) In MELO Ewerton Torres (2008) 28
In PINHEIRO 2011 29
Idem 30
Ibidem 31
In MELO 2008
105
Conforme (BRAGA et al sd) estudos de variabilidade temporal e espacial sobre
a regiatildeo Nordeste do Brasil indicam que as aacutereas vegetadas variam de 01 a 08 sendo que
esses valores dependem da estrutura densidade e umidade da vegetaccedilatildeo As rochas e os solos
apresentam valores proacuteximos de zero e a aacutegua aparece com valores negativos Coberturas
vegetais muitos densas se expressam pelos maiores valores obtidos (PINHEIRO 2011)
106
4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES
41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba
O foco principal da pesquisa foi levantar e analisar as propriedades que de alguma
forma apresentem a reserva legal seja oficial ou extraoficialmente Com o exame das imagens
de sateacutelite dos anos de 1993 e 2007 utilizando o NDVI constatou-se que os iacutendices da
cobertura vegetal satildeo muito parecidos tanto dentro como fora da aacuterea de reserva ao serem
comparados pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Isto leva a crer que o instituto legal pode natildeo
ter promovido qualquer diferenccedila em termos de cobertura vegetal sem falar na hipoacutetese de
nem mesmo ter sido cumprido
Analisando os iacutendices de NDVI comprova-se que na grande maioria dos
imoacuteveis a cobertura vegetal tanto dentro como fora da aacuterea de reserva legal diminuiu entre
os anos de 1993 e 2007 Embora nas propriedades a vegetaccedilatildeo se apresente em niacuteveis
diferenciados de existecircncia representados pelas faixas 2 a 9 da tabela 16 vecirc-se que quase
todos em 1993 apresentavam aacutereas significativas de vegetaccedilatildeo na faixa 6 e 7 Se averiguar as
mesmas colunas em 2007 eacute notoacuteria a retraccedilatildeo nos iacutendices salvo na faixa 5 referente aos
imoacuteveis Aacuteguas Mortas Almas e Saco Verde
Tabela 16 - NDVI dos imoacuteveis estudados
IMOacuteVEL SEGMENTO ANO
Aacuterea no niacutevel de NDVI como uma porcentagem da aacuterea total do segmento
Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 4 Faixa 5 Faixa 6 Faixa 7 Faixa 8 Faixa 9
0 a 01 01 a 02 02 a 03 03 a 04 04 a 05 05 a 06 06 a 07 07 a 08 08 a 09
Riachuelo
Alto
Alegre
Fora 1993 0558 0458 0978 2418 9904 68884 16798 0022 0019
2007 1369 1351 2366 9734 56243 28713 0205 0019 -
Reserva 1993 0532 0319 0473 1006 3224 57424 36868 0074 -
2007 1818 1611 1951 7524 53112 33777 0207 - -
Aacuteguas
Mortas
Fora 1993 1588 1833 2701 6525 18029 41168 28024 0141 -
2007 4979 3485 4979 12220 34523 39105 0616 0097 -
Reserva 1993 - - 0084 1246 10452 56862 31356 - -
2007 2092 1902 6677 6127 52292 34545 0275 0085 -
Almas Fora 1993 1954 1336 1650 3339 9359 48925 33222 0216 -
2007 0845 1463 2583 13464 44731 36659 0216 - 0039
Reserva 1993 13455 3058 2299 3858 12198 40686 23344 0156 0156
2007 1052 1208 1052 7947 53759 34827 0156 - -
Miramar Fora 1993 - - 1075 6023 36519 50699 5684 - -
2007 0810 1001 1870 6818 66765 22545 0132 0059 -
Reserva 1993 1540 0285 0799 7758 39646 48431 1540 - -
2007 - 0513 2339 33143 63206 0799 - - -
Saco
Verde
Fora 1993 6867 5558 9959 20131 37338 19016 0097 1097 1097
2007 6469 8972 19278 30986 32219 2026 0050 - -
Reserva 1993 6927 9383 17136 26903 29900 9113 0609 0030 -
2007 8767 10375 17166 29254 332881 1157 - - -
Cajazeiras
II
Fora 1993 0040 0606 8206 39766 45877 5412 0092 - -
2007 2003 9562 25154 44710 17723 0647 - - -
Reserva 1993 2885 2885 12402 48057 29936 2360 0674 - -
2007 3895 8165 21610 39476 26704 0150 - -
Os iacutendices de NDVI da tabela 16 serviram de base para o caacutelculo da anaacutelise de
semelhanccedila pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Assim a constataccedilatildeo acima eacute confirmada pela
tabela 17 que por sua vez atesta o grau de similaridade entre a aacuterea interna e externa agrave
reserva legal nos anos analisados Eacute surpreendente o niacutevel de semelhanccedila encontrado O
percentual mais baixo em 1993 eacute de 798 chegando no mesmo ano a 933 Jaacute em 2007 a
percentagem de semelhanccedila diminui nos imoacuteveis Aacuteguas Mortas e Miramar de 81 para 75 e
de 933 para 731 respectivamente Isto natildeo quer dizer que o niacutevel de cobertura vegetal
melhorou ou piorou mas que a diferenccedila na semelhanccedila entre dentro e fora da aacuterea de reserva
legal nessas propriedades reduziu sugerindo que o respeito agravequele instituto pode ter
promovido a alteraccedilatildeo Em contrapartida nos outros imoacuteveis essa semelhanccedila aumentou
aproximando-se dos 94
Assim eacute provaacutevel que pelos meacutetodos utilizados a funccedilatildeo proposta pelo instituto
da reserva legal natildeo esteja sendo alcanccedilada visto que o grau de semelhanccedila entre a aacuterea de
dentro e fora da reserva legal estaacute muito aproximado pois sequer apresentou-se abaixo dos
70 de diferenccedila
Tabela 17 - Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal pelo meacutetodo de Sorensen (1948)
ANAacuteLISE DE SEMELHANCcedilA DE SORENSEN () ENTRE
FORA E DENTRO DA AacuteREA DE RESERVA LEGAL
IMOacuteVEL
Reserva
ANO 1993 2007
108
Riachuelo Alto Alegre Fora 1993 798 -
2007 - 941
Aacuteguas Mortas Fora 1993 810 -
2007 - 750
Almas Fora 1993 821 -
2007 - 908
Saco Verde Fora 1993 799 -
2007 - 891
Cajazeiras II Fora 1993 813 -
2007 - 952
Miramar Fora 1993 933 -
2007 - 731
109
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A abordagem dos assuntos aqui tratados e os resultados alcanccedilados permitem a
conclusatildeo de que a reserva legal eacute uma criaccedilatildeo da lei com intenccedilotildees conservacionistas
avanccediladas Como espaccedilo especialmente protegido requer um tratamento diferenciado natildeo soacute
como previsto em normas mas sob a oacutetica da sociedade Observou-se que foi um assunto
amplamente tratado e debatido nas esferas do poder legislativo e judiciaacuterio do paiacutes e que
tambeacutem eacute alvo de poliacuteticas puacuteblicas e atuaccedilatildeo das autoridades competentes embora um tanto
falhas
Contatou-se que o emprego da reserva legal no municiacutepio de Irauccediluba eacute pouco expressivo
diante da quantidade de propriedades ali existentes por isso os benefiacutecios trazidos pela
conservaccedilatildeo desses espaccedilos mal podem ser sentidos no municiacutepio que sofre com a degradaccedilatildeo
ambiental contiacutenua inclusive com a presenccedila do processo de desertificaccedilatildeo Aleacutem disto a
falta de cumprimento do formal procedimento acerca da implantaccedilatildeo da reserva legal em
aacutereas puacuteblicas eacute intrigante Isto porque se pressupotildee accedilotildees de estrita legalidade envolvendo o
ente estatal Nesse sentindo partindo do entendimento que os projetos de assentamento satildeo
resultado de poliacuteticas puacuteblicas para reforma agraacuteria pressupunha-se que nestes espaccedilos a
reserva legal estaria estabelecida mas as anaacutelises mostraram que natildeo haacute diferenccedila quando
comparadas a aacuterea de dentro e de fora da reserva nas propriedades A situaccedilatildeo eacute anaacuteloga no
imoacutevel particular apreciado
A respeito da degradaccedilatildeo viu-se que Irauccediluba por ser rota de passagem do gado
desde o seacuteculo XIX aporta animais em transumacircncia de outras regiotildees Os relatos de jesuiacutetas
que cruzaram o municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XVII registram o lugar com vegetaccedilatildeo fechada
e densa Diante disso eacute possiacutevel afirmar que nem sempre Irauccediluba teve um ambiente inoacutespito
e com caracteriacutesticas severamente adversas O quadro atual se deve agraves intervenccedilotildees antroacutepicas
sem teacutecnicas apropriadas para o desenvolvimento de atividades econocircmicas em conjunto com
as caracteriacutesticas de um meio semiaacuterido Essas atividades geralmente abrangem culturas de
subsistecircncia praticadas recorrentemente no mesmo lugar sem o pousio necessaacuterio do solo que
por sua vez natildeo eacute tatildeo rico em nutrientes em decorrecircncia dos desmatamentos e queimadas
Pela caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo pocircde se verificar que seus atributos
envolvem solos pouco profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica
O clima eacute o semiaacuterido onde haacute baixa pluviometria e temperaturas em torno dos 28ordmC e a
vegetaccedilatildeo eacute caatinga nos tipos arbustivos e herbaacuteceos excepcionalmente o arboacutereo por causa
da degradaccedilatildeo
Os resultados mostraram que os iacutendices de NDVI nas propriedades analisadas
apontam um grau de semelhanccedila de ateacute 94 entre dentro e fora da aacuterea da reserva legal pelo
que se pode inferir 2 suposiccedilotildees
1) A reserva legal existe somente em niacutevel documental e natildeo no local apontado
dentro do imoacutevel
ou
2) A reserva legal existe mas estaacute com a cobertura vegetal bem semelhante agrave de fora
da sua aacuterea de maneira que pode estar tatildeo degradada quanto ou tatildeo conservada
quanto
Partindo para a segunda suposiccedilatildeo os iacutendices de NDVI constatam sim que a
cobertura vegetal apresenta um grau elevado de semelhanccedila entre os dois espaccedilos e que em 4
dos 6 imoacuteveis ambos diminuiacuteram de 1993 a 2007 Desta forma natildeo haacute como afirmar que a
reserva legal no estado em que se encontra nas propriedades analisadas eacute um meio de
combater a degradaccedilatildeo ambiental Contudo nos casos em que real e verdadeiramente for
aplicada por certo traraacute ganhos ambientais mas isto deve ser alvo de mais e maiores estudos
acerca do assunto
Eacute curioso que mesmo Irauccediluba sendo um nuacutecleo de desertificaccedilatildeo e por isso alvo
de estudos pesquisas projetos e poliacuteticas puacuteblicas envolvendo degradaccedilatildeo recuperaccedilatildeo e
conservaccedilatildeo ambiental a situaccedilatildeo aparentemente natildeo progride em termos de melhorias Ao
contraacuterio disto constata-se cada vez mais a deterioraccedilatildeo do meio ambiente a ocupaccedilatildeo e a
utilizaccedilatildeo indevida dos recursos naturais
Encerrando a abordagem do assunto tratado assevera-se que a reserva legal jaacute eacute
um instituto consolidado em lei natildeo justificando quaisquer argumentos quanto ao seu
descumprimento Inclusive a natildeo observacircncia do bendito mandamento eacute considerada crime e
nesse sentido natildeo haacute uma atuaccedilatildeo maciccedila do Estado em termos de fiscalizaccedilatildeo pois se assim
existisse natildeo se estaria diante de uma constataccedilatildeo tatildeo seacuteria acerca do pequeno nuacutemero de
imoacuteveis que apresentaram a reserva legal mesmo que documentalmente Essa estatiacutestica
diminuiu ainda mais quando se analisou a diferenccedila na vegetaccedilatildeo sendo possiacutevel concluir que
o caraacuteter conservacionista da reserva legal e ela proacutepria natildeo estatildeo alcanccedilando o fim para que
foi criada
Por fim acredita-se que a reserva legal se cumprida eacute um instrumento
conservacionista capaz de auxiliar na recuperaccedilatildeo ambiental e arrefecer os processos de
111
degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo criticamente manifestos no municiacutepio de Irauccediluba Indo mais
aleacutem vecirc-se que pela oacutetica do referido instituto o desenvolvimento sustentaacutevel eacute possiacutevel
pois mesmo de encontro a interesses particulares ele consegue reunir e harmonizar o vieacutes
econocircmico o social e o ambiental
112
REFEREcircNCIAS
AGCO Lanccedilamento nacional do CAR deve sair ateacute junho Sou Agro 22052013
Disponiacutevel em lt httpwwwsouagrocombrgt Acesso em 27 mai 2013
AHRENS Sergio O ldquonovordquocoacutedigo florestal brasileiro conceitos juriacutedicos fundamentais
Trabalho Voluntaacuterio In CONGRESSO FLORESTAL BRASILEIRO 8 Satildeo Paulo SP
Anais Satildeo Paulo Sociedade Brasileira de Silvicultura Brasiacutelia Sociedade Brasileira de
Engenheiros Florestais 2003 1 CD-ROM
AMADO Frederico Augusto Di Trindade Direito ambiental sistematizado Rio de Janeiro
Forense Satildeo Paulo Meacutetodo 2009
ANTUNES Paulo de Bessa Aacutereas protegidas e propriedade constitucional Satildeo Paulo
Atlas 2011
ARAUacuteJO Gustavo Henrique de Sousa ALMEIDA Josimar Ribeiro de GUERRA Antocircnio
Joseacute Teixeira Gestatildeo ambiental de aacutereas degradadas 3ed ndash Rio de Janeiro Bertrand
Brasil 2008
ARAUacuteJO FILHO Joatildeo Ambroacutesio SILVA Nilzemary Lima da Impactos e mitigaccedilatildeo do
antropismo no nuacutecleo de desertificaccedilatildeo em Irauccediluba In OLIVEIRA Joseacute Gerardo Beserra
SALES Marta Celina Linhares (Org) Monitorando a desertificaccedilatildeo em Irauccediluba
resultados de doze anos de pesquisa Fortaleza Ediccedilotildees UFC2013 (No Prelo)
BACHA Carlos Joseacute Caetano Eficaacutecia da poliacutetica de reserva legal no Brasil Teoria e
Evidecircncia Econocircmica Passo Fundo RS v 13 n25 p9-27 2005
BRASIL Acoacuterdatildeo nordm 2633-51 de 10 de dezembro de 2007 do Tribunal de Contas da Uniatildeo
Relatoacuterio de auditoria Projetos de assentamento Estudos de viabilidade ambiental Reserva
legal Licenciamento ambiental Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 11 dez 2007
Disponiacutevel em lthttptcugovbrgt Acesso em 12 mar 2013
BRASIL Constituiccedilatildeo Repuacuteblica dos Estados Unidos do Brasil de 16 de julho de 1934
Constituiccedilatildeo (1934) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Rio de Janeiro RJ 16 jul 1934
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 8 jul 2013
BRASIL Constituiccedilatildeo Repuacuteblica dos Estados Unidos do Brasil de 18 de setembro de 1946
Constituiccedilatildeo (1946) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Rio de Janeiro RJ 25 set 1946
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 08 jul 2013
BRASIL Constituiccedilatildeo Repuacuteblica Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988
Constituiccedilatildeo (1988) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia-DF 05 out 1988
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 8 set 2011
BRASIL Decreto Federal ndeg 24643 de 10 de julho de 1934 Decreta o Coacutedigo de Aacuteguas
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 10 jul 1934
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Decreto Federal ndeg 23793 de 23 de janeiro de 1934 Aprova o coacutedigo florestal
que com este baixa Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Rio de Janeiro RJ 21 mar 1935
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 11 nov 2010
BRASIL Decreto-Lei ndeg 227 de 28 de fevereiro de 1967 Daacute nova redaccedilatildeo ao Decreto-lei
nordm 1985 de 29 de janeiro de 1940 (Coacutedigo de Minas) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia
DF 28 fev 1967 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Decreto Federal nordm 6514 de 22 de julho de 2008 Dispotildee sobre as infraccedilotildees e
sanccedilotildees administrativas ao meio ambiente estabelece o processo administrativo federal
para apuraccedilatildeo destas infraccedilotildees e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo Brasiacutelia DF 23 jul 2008 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em
05 out 2010
BRASIL Lei Federal ndeg 4504 de 30 de novembro de 1964 Dispotildee sobre o Estatuto da Terra
e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 31 nov 1964
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 08 jul 2013
BRASIL Lei Federal nordm 4771 de 15 de setembro de 1965 Institui o novo Coacutedigo Florestal
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 16 set 1965 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 10 out 2010
BRASIL Lei Federal ndeg 4947 de 06 de abril de 1966 Fixa Normas de Direito Agraacuterio
Dispotildee sobre o Sistema de Organizaccedilatildeo e Funcionamento do Instituto Brasileiro de
Reforma Agraacuteria e daacute outras Providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 11 abr
1966 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 02 abr 2013
BRASIL Lei Federal nordm 5197 de 03 de janeiro de 1967 Dispotildee sobre a proteccedilatildeo agrave fauna e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 03 jan 1967
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 6015 de 31 de dezembro de 1973 Dispotildee sobre os registros
puacuteblicos e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 31 dez 1973
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 6938 de 31 de agosto de 1981 Dispotildee sobre a Poliacutetica Nacional
do Meio Ambiente seus fins e mecanismos de formulaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 02 set 1981
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 13 ago 2012
BRASIL Lei Federal nordm 7803 de 18 de julho de 1989 Altera a redaccedilatildeo da Lei nordm 4771 de
15 de setembro de 1965 e revoga as Leis nordms 6535 de 15 de junho de 1978 e 7511 de 7
de julho de 1986 Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 20 jul 1989
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 15 mar 2012
BRASIL Lei Federal nordm 7827 de 27 de setembro de 1989 Regulamenta o art 159 inciso I
aliacutenea c da Constituiccedilatildeo Federal institui o Fundo Constitucional de Financiamento do
Norte - FNO o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste - FNE e o Fundo
Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste - FCO e daacute outras providecircncias
114
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 27 set 1989 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 13 mai 2013
BRASIL Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada Amazocircnia Legal Brasiacutelia 2011
Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrgt Acesso em 02 jun2013
BRASIL Lei Federal nordm 9443 de 08 de janeiro de 1997 Institui a Poliacutetica Nacional de
Recursos Hiacutedricos cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hiacutedricos
regulamenta o inciso XIX do art 21 da Constituiccedilatildeo Federal e altera o art 1ordm da Lei nordm
8001 de 13 de marccedilo de 1990 que modificou a Lei nordm 7990 de 28 de dezembro de 1989 Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 08 jan 1997 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 05 out 2010
BRASIL Lei Federal nordm 9605 de 12 de fevereiro de 1998 Dispotildee sobre as sanccedilotildees penais e
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 12 fev 1998
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 11959 de 29 de junho de 2009 Dispotildee sobre a Poliacutetica Nacional
de Desenvolvimento Sustentaacutevel da Aquicultura e da Pesca regula as atividades
pesqueiras revoga a Lei nordm 7679 de 23 de novembro de 1988 e dispositivos do Decreto-
Lei nordm 221 de 28 de fevereiro de 1967 e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo Brasiacutelia DF 29 jun 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em
11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 12651 de 25 de maio de 2012 Dispotildee sobre a proteccedilatildeo da
vegetaccedilatildeo nativa altera as Leis nos 6938 de 31 de agosto de 1981 9393 de 19 de
dezembro de 1996 e 11428 de 22 de dezembro de 2006 revoga as Leis nos 4771 de 15
de setembro de 1965 e 7754 de 14 de abril de 1989 e a Medida Provisoacuteria no 2166-67
de 24 de agosto de 2001 e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF
25 mai 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 17 jan 2013
BRASIL Medida Provisoacuteria nordm 1511 de 25 de julho de 1996 Daacute nova redaccedilatildeo ao art 44
da Lei nordm 4771 de 15 de setembro de 1965 e dispotildee sobre a proibiccedilatildeo do incremento da
conversatildeo de aacutereas florestais em aacutereas agriacutecolas na regiatildeo Norte e na parte Norte da
regiatildeo Centro-Oeste e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 26
jul 1996 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Medida Provisoacuteria nordm 2166-67 de 24 de agosto de 2001 Altera os arts 1o 4o 14
16 e 44 e acresce dispositivos agrave Lei no 4771 de 15 de setembro de 1965 que institui o
Coacutedigo Florestal bem como altera o art 10 da Lei no 9393 de 19 de dezembro de 1996
que dispotildee sobre o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 25 ago 2001 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 05 out 2010
BRASIL Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio II Plano Nacional de Reforma Agraacuteria
ndash PNRA 2003 Conferecircncia da Terra em Brasiacutelia Disponiacutevel em lt httpwwwmdagovbrgt Acesso em 23 jul 2013
115
BRASIL Resoluccedilatildeo CONAMA ndeg 5 de 15 de junho de 1989 Dispotildee sobre o Programa
Nacional de Controle da Poluiccedilatildeo do Ar ndash PRONAR Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF
25 ago 1989 Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro
Brasiacutelia 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwasabrasilorgbrgt Acesso em 05 jun 2013
BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Monitoramento do desmatamento nos biomas
brasileiros por sateacutelite Acordo de cooperaccedilatildeo teacutecnica MMAIBAMA Monitoramento do
bioma Caatinga Brasiacutelia 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 16
mar 2012
BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Programa de Accedilatildeo Nacional de Combate agrave
Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca PAN-Brasil Brasiacutelia 2004
Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 07 mai 2012
BRASIL Norma de Execuccedilatildeo INCRA nordm 43 de 28 de junho de 2005 Estabelece criteacuterios e
procedimentos referentes agrave implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de
Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria Boletim de Serviccedilos nordm
27 de 04072005 Disponiacutevel em lthttpwwwincragovbrgt Acesso em 05 abr 2013
BRASIL Norma de Execuccedilatildeo INCRA nordm 44 de 28 de junho de 2005 Estabelece valor
unitaacuterio por famiacutelia referente agrave implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de
Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria
Disponiacutevel em lthttpwwwincragovbrgt Acesso em 05 abr 2013
BRASIL Norma de Execuccedilatildeo INCRA nordm 51 de 24 de julho de 2006 Aprova o Manual para
Elaboraccedilatildeo e Implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos naturais e
seus Anexos Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 26 jul 2006
Disponiacutevel em lthttpwwwincragovbrgt Acesso em 05 abr 2013
BRASIL Resoluccedilatildeo CONAMA ndeg 387 de 27 de dezembro de 2006 Revoga a Resoluccedilatildeo
CONAMA no 28901 Estabelece procedimentos para o licenciamento ambiental de Projetos
de Assentamentos de Reforma Agraacuteria e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo Brasiacutelia DF 29 dez 2006
Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 03 abr 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Lei Estadual nordm 12488 de 13 de setembro de
1995 Dispotildee sobre a Poliacutetica Florestal do Estado do Cearaacute e daacute outras providecircncias Diaacuterio
Oficial do Estado Cearaacute CE 27 set 1995
Disponiacutevel em lthttpwwwalcegovbrgt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Resoluccedilatildeo COEMA ndeg 09 de 29 de maio de
2003 Institui o compromisso de compensaccedilatildeo ambiental por danos causados ao meio
ambiente e pela utilizaccedilatildeo de recursos ambientais Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 09
jun 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwsemacecegovbrgt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Lei Complementar Estadual nordm 48 de 19 de julho
de 2004 Cria o Fundo e o Conselho Estadual Gestor do Meio Ambiente ndash FEMA e daacute
116
outras providecircncias Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 23 jul 2004 Disponiacutevel em
lthttpwwwalcegovbr gt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Decreto Estadual ndeg 27719 de 07 de marccedilo de
2005 Regulamenta a Lei Complementar nordm 48 de 19 de julho de 2004 que cria o Fundo
Estadual do Meio Ambiente ndash FEMA o Conselho Gestor e revoga o Decreto nordm 27564 de
17 de setembro de 2004 Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 07 mar 2005 Disponiacutevel
em lthttpwwwalcegovbr gt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Lei Estadual nordm 14198 de 05 de agosto de 2008
Institui a Poliacutetica Estadual de Combate e Prevenccedilatildeo agrave Desertificaccedilatildeo e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 12 ago 2008 Disponiacutevel em
lthttpwwwalcegovbrgt Acesso em 19 jul 2013
CEARAacute Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute ndash IPECE Cearaacute em
nuacutemeros Fortaleza 2010 Disponiacutevel em httpwwwipececegovbr Acesso em 17 nov
2012
CEARAacute Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute Perfil baacutesico municipal
Irauccediluba Fortaleza 2012 Disponiacutevel em httpwwwipececegovbr Acesso em 21 jul
2013
CEARAacute Secretaria dos Recursos Hiacutedricos Programa de accedilatildeo estadual de combate agrave
desertificaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo dos efeitos da seca PAE-CE Fortaleza Ministeacuterio do Meio
Ambiente Secretaria dos Recursos Hiacutedricos 2010 372p
CRIADO Francisco de Asiacutes Palaacutecios O registro e seus desafios no novo milecircnio ordem
progresso e proteccedilatildeo ambiental Satildeo Paulo Saraiva 2010
DANTAS Eustoacutegio Wanderley Correia et al Cearaacute um novo olhar geograacutefico 2 ed atual
Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha 2007
EMBRAPA Centro Nacional de Pesquisa de Solos (Rio de Janeiro RJ) Sistema brasileiro
de classificaccedilatildeo de solos 2 ed ndash Rio de Janeiro 2006
FILHO Humberto Lima de Lucena Consideraccedilotildees acerca da medida provisoacuteria ndash aspectos
juriacutedicos e praacuteticas governamentais Revista Eletrocircnica Jus Navegandi Ano 2005 mecircs
JULHO Disponiacutevel em ltwwwjuscombrgt Acesso em 02 jun 2013
FOLHES Marcelo Teophilo VIANA Manuel Osoacuterio de Lima Estudo da
degradaccedilatildeodesertificaccedilatildeo em sistemas de produccedilatildeo no semiaacuterido nos estados do Cearaacute
e Piauiacute diagnoacutestico soacutecio-econocircmico do municiacutepio de Irauccediluba Departamento de Economia
Agriacutecola da Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2001
GALDINO Valeacuteria Silva CANDIDO Angeacutelica Giosa Da reserva legal florestal como
limitaccedilatildeo ao direito de propriedade Revista de Ciecircncias Juriacutedicas v 6 n1 237-252 2008
GUERRA Antocircnio Joseacute Teixeira et al Dicionaacuterio de meio ambiente Rio de Janeiro Thex
2009
117
IBGE Censo 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrgt Acesso 3 ago 2013
IBGE Censo 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrgt Acesso 3 ago 2013
IBGE Censo 2011 Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrgt Acesso 3 ago 2013
IRAUCcedilUBA Prefeitura Municipal Lei Municipal nordm 565 de 19 de outubro de 2007 Dispotildee
sobre a Poliacutetica Ambiental do Municiacutepio de Irauccediluba Unidades de Conservaccedilatildeo e daacute
outras providecircncias IrauccedilubaCE 2007
IRAUCcedilUBA Prefeitura Municipal Plano de accedilatildeo municipal de combate a desertificaccedilatildeo
de Irauccediluba (PAM 2009) Irauccediluba CEInstituto Cactos 2009
JACOMINE P K T et al Levantamento exploratoacuterio reconhecimento de solos do Estado
do Cearaacute Recife DPP AgMADNPEA-SUDENEDRN 1973 2 v (Boletim de Pesquisa n
28)
LUSTOSA Jacqueline Pires Gonccedilalves Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica micromorfoloacutegica e
mineraloacutegica de trecircs topossequumlecircncias no Municiacutepio de Irauccediluba e suas relaccedilotildees com os
processos de desertificaccedilatildeo 142f 2004 Tese de doutorado em Geociecircncias Instituto de
Geociecircncias e Ciecircncias Exatas da Universidade Estadual Paulista Rio ClaroSP 2004
MAIA Gerda Nickel Caatinga aacutervores e arbustos e suas utilidades 2 ed Fortaleza
Printcolor Graacutefica e Editora 2012
MAGNANINI Alceo A histoacuteria da Lei Federal ndeg 47711965 (ldquoCoacutedigordquo florestal
brasileiro) Disponiacutevel em lthttpwwwportaldomeioambienteorgbrgt Acesso em lt20 dez
2010gt
MATALLO JR Heitor A desertificaccedilatildeo no mundo e no Brasil In SCHENKEL Celso
Salatino MATALLO JR Heitor Desertificaccedilatildeo Brasiacutelia UNESCO 1999
MEIRELES Hely Lopes Direito administrativo brasileiro 29 ed Satildeo Paulo Malheiros
2004
MELO Ewerton Torres Diagnoacutestico fiacutesico conservacionista da microbacia do riacho dos
cavalos - Crateuacutes-Cearaacute 128f 2008 Dissertaccedilatildeo de mestrado do Programa Regional de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) da Universidade
Federal do Cearaacute FortalezaCE 2008
MELO Marcelo Augusto Santana O meio ambiente e o registro de imoacuteveis Satildeo Paulo
Saraiva 2010
METZGER Jean Paul Bases bioloacutegicas para a bdquoreserva legal‟ Revista Ciecircncia Hoje v 31
n 183 p 48-49 2002
MILAREacute Eacutedis Direito do ambiente e a gestatildeo ambiental em foco doutrina
jurisprudecircncia glossaacuterio 6ed rev atual e ampl Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais
2009
118
MIRANDA Joatildeo Paulo Rocha de Aquecimento global queimadas e reserva legal no
Direito Paacutetrio conflitos e desafios na Amazocircnia brasileira MT Amazoon Manaus 2008
MONDIN Basttista Introduccedilatildeo agrave filosofia problemas sistemas autores obras 15 ed Satildeo
Paulo Paulus 2004 p 117
MONTEIRO Washington de Barros Curso de direito civil parte geral 4 ed Satildeo Paulo
Saraiva 1992
MORAES Luis Carlos Silva de Coacutedigo florestal comentado Satildeo Paulo Atlas 2002
NOLETO Tania Maria Serra de Jesus Suscetibilidade geoambietal das terras secas da
microrregiatildeo de SobralCe agrave desertificaccedilatildeo 145f 2005 Dissertaccedilatildeo de mestrado do
Programa Regional de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA)
da Universidade Federal do Cearaacute FortalezaCE 2005
ODUM Eugene P BARRET Gary W Fundamentos da ecologia Satildeo Paulo Cengage
Learning 2008
PINHEIRO Renata Aline Bezerra Anaacutelise do processo de degradaccedilatildeodesertificaccedilatildeo na
bacia do riacho feiticeiro com base no DFC municiacutepio de Jaguaribe-Cearaacute 129f 2011
Dissertaccedilatildeo de mestrado do Programa Regional de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e
Meio Ambiente (PRODEMA) da Universidade Federal do Cearaacute FortalezaCE 2011
SALES Marta Celina Linhares Evoluccedilatildeo dos estudos de desertificaccedilatildeo no nordeste
brasileiro Revista GEOUSP Espaccedilo e TempoSatildep Paulo n11 p 115-126 2002
SCHAFFER Wigold B MEDEIROS Joatildeo de Deus Normas ambientais gerais de caraacuteter
nacional imprescindiacuteveis para as poliacuteticas estrateacutegicas do paiacutes Ano 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwapremaviorgbrgt Acesso em 20 set 2010
SILVA Benedita Aparecida de Poliacutetica florestal reserva legal extra propriedade Revista
Economia Anaacutelises e Perspectivas Socioeconocircmicas v 3 n7 p 59-60 2001
SORENSEN Thorvald Julius A Method of establishing groups of equal amplitude in
plant sociology based on similarity of species content and its application to analyses of
the vegetation on danish commons Koslashbenhavn I kommission hos E Munksgaard 1948
SUDENE Dados pluviomeacutetricos mensais do nordeste estado do Cearaacute Recife 1990
THORNTHWAITE Charles Warren MATHER John Russell The Water Balance
Publications in climatology New Jersey v3 n1 1955
TRENNEPOHL Curt As sanccedilotildees administrativas aplicaacuteveis pela falta de averbaccedilatildeo da
reserva legal Constitucionalidade e legalidade do art 55 do Decreto ndeg 651408 Foacuterum de
Direito Urbano e Ambiental v 8 n44 p 09-14 2009
119
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo
Universidade Federal do Cearaacute
Biblioteca de Ciecircncias e Tecnologia
S246e Saraiva Isabelle Marinho Quindere
O Emprego da reserva legal no municiacutepio de Irauccediluba Ce Isabelle Marinho Quindere Saraiva ndash
2013
122f il color enc 30 cm
Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Universidade Federal do Cearaacute Programa Regional de Poacutes Graduaccedilatildeo
em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA Mestrado em Desenvolvimento e Meio
Ambiente Fortaleza 2013
Aacuterea de Concentraccedilatildeo Organizaccedilatildeo do Espaccedilo e Desenvolvimento Sustentaacutevel
Orientaccedilatildeo Prof Dr Joseacute Gerado Beserra de Oliveira
1 Degradaccedilatildeo 2 Coacutedigo florestal 3 Reserva legal 4 Irauccediluba-Ce I Tiacutetulo
CDD 6367
ISABELLE MARINHO QUINDEREacute SARAIVA
O EMPREGO DA RESERVA LEGAL NO MUNICIacutePIO DE
IRAUCcedilUBACE
Dissertaccedilatildeo submetida agrave Coordenaccedilatildeo do
Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento
e Meio Ambiente da Universidade Federal do
Cearaacute como requisito parcial para obtenccedilatildeo do
tiacutetulo de Mestre em Desenvolvimento e Meio
Ambiente
Aacuterea de Concentraccedilatildeo Organizaccedilatildeo do Espaccedilo
e Desenvolvimento Sustentaacutevel
Orientador Prof Dr Joseacute Gerardo Beserra de
Oliveira
Aprovada em ___ ___ _____
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
Prof Dr Joseacute Gerardo Beserra de Oliveira (Orientador)
Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC
________________________________________________
Profordf Drordf Marta Celina Linhares Sales
Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC
________________________________________________
Profordf Drordf Jacqeline Pires Gonccedilalves Lustosa
Universidade Federal de Campina Grande ndash UFCG
Dedico a Deus minha forccedila Autor da minha
vida meu tudo e ao meu marido Pedro
eterno companheiro e ajudador
AGRADECIMENTOS
A Deus que eacute Quem me permitiu ser aprovada estar e concluir esse curso tatildeo importante Ele
que em mim gerou todas as forccedilas necessaacuterias para continuar e natildeo desistir dando-me a
condiccedilatildeo de chegar ateacute o fim com louvor
Ao Professor Dr Joseacute Gerardo Beserra de Oliveira pela orientaccedilatildeo pela paciecircncia pelo
carinho e apoio desprendidos para a realizaccedilatildeo deste trabalho Por seus conhecimentos na
aacuterea pois sem eles natildeo poderia ter me levado a enriquecer tanto este trabalho
Agrave CAPES que me ajudou financeiramente
Agrave minha famiacutelia em especial minha matildee que sempre procurou saber como estava a minha
pesquisa dando-me aquele apoio nato de matildee
A Pedro Saraiva meu amor grande amor que sempre me apoiou e acreditou no meu talento
na minha competecircncia e vitoacuteria
Aos servidores do INCRA muito soliacutecitos e atenciosos com a minha pesquisa dentre eles sr
Raimundo Martins da Divisatildeo de Ordenamento da Estrutura Fundiaacuteria Joseacute Jaime D‟Alencar
Juacutenior do Serviccedilo de Cartografia Odilo Neto Luna Coelho e Joseacute Salmito de Almeida Juacutenior
ambos da Divisatildeo de Obtenccedilatildeo de Terras ndash setor de Serviccedilo ao Meio Ambiente
Agrave Dra Claacuteudia Regina Nogueira titular do Cartoacuterio de Registro de Imoacuteveis de Irauccediluba por
sua disponibilidade e por permitir o acesso aos livros cartoraacuterios onde encontrei dados tatildeo
importantes para o trabalho
Ao IDACE atraveacutes dos servidores Dr Paulo Henrique Lobo diretor teacutecnico de operaccedilotildees
Dr Ricardo Durval superintendente do oacutergatildeo Linardy Barreto de Holanda Priscila Azevedo
de Aguiar ambos do Nuacutecleo de Geoprocessamento (NUGEO) Nadir Loiola Dias e Florence
Mary Cavalcante Mouratildeo Lobo ambas da Diretoria Teacutecnica e de Operaccedilotildees (DTO) Todos
eles me ajudaram de forma a tornar possiacutevel parte desta pesquisa pelo que sou imensamente
grata
Perguntei-me inuacutemeras vezes se deveria prosseguir A resposta me era
dada quando olhava para traacutes e via meu passado cheio de grandes
vitoacuterias e conquistas pela matildeo de Deus e pelo meu esforccedilo Entatildeo
decidi que natildeo seria agora que natildeo chegaria ateacute o fim mesmo que o
que me impulsionou para esse desafio jaacute natildeo tem mais a mesma
intensidade Aqui estou eu fazendo desse momento mais uma
imensuraacutevel vitoacuteria por Aquele que um dia me deu essa oportunidade
A Ele toda honra e toda gloacuteria
A autora
RESUMO
A degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio de Irauccediluba eacute alvo de vaacuterias pesquisas pois eacute um
problema onde as causas estatildeo presentes natildeo soacute ali mas em grande parte do semiaacuterido
nordestino no entanto ao se tratar deste assunto logo vem agrave tona outra questatildeo mais seacuteria o
processo de desertificaccedilatildeo O presente trabalho faz uma raacutepida abordagem do semiaacuterido
dando especial evidecircncia agravequele municiacutepio englobando a origem da degradaccedilatildeo a atual
situaccedilatildeo local e possiacuteveis formas para minimizar ou ateacute mesmo estagnar aquele problema
ambiental O objetivo geral foi levantar o nuacutemero de propriedades rurais no municiacutepio
elegendo em sua maioria os projetos de assentamento rural e verificar se possuiacuteam ou natildeo
uma aacuterea especialmente protegida denominada reserva legal A escolha desse instituto como
indicador se deu por ser ele um instrumento criado por lei e que por sua vez impele todo e
qualquer proprietaacuterio ou possuidor rural a manter uma parcela miacutenima de 20 do seu imoacutevel
preservado como aacuterea de Reserva Legal Sua efetividade como instrumento de preservaccedilatildeo
foi analisada em 6 propriedades a partir de imagens do sateacutelite LANDSAT 5 com base nos
anos de 1993 e 2007 e atraveacutes da anaacutelise do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada
(NDVI) foi realizado um estudo comparativo para verificar se houve evoluccedilatildeo ou natildeo do
quadro vegetativo dentro e fora das aacutereas de reserva legal Na identificaccedilatildeo dos imoacuteveis
estudados soacute foram encontrados seis com reserva legal oficialmente implantada ateacute o ano de
2007 data mais recente da imagem de sateacutelite empregada A anaacutelise comparativa realizada
com esses imoacuteveis que tecircm algum tipo de registro no Cartoacuterio de Imoacuteveis eou no INCRA
dentre os 713 medidos e georreferenciados pelo IDACE e que por sua vez foi conduzida com
uso do NDVI natildeo indicou diferenccedila significativa entre os iacutendices encontrados para a
cobertura vegetal dentro e fora das aacutereas de Reserva Legal
Palavras-chave Degradaccedilatildeo Ambiental Coacutedigo Florestal Reserva Legal IrauccedilubaCE
ABSTRACT
The environmental degradation in the municipality of Irauccediluba is the target of several studies
because it is an issue where the causes are present in much of the northeastern semiarid
However when dealing with this subject soon comes to attention another issue which is more
serious and that arises from the ongoing degradation the process of desertification The
present paper analyzes briefly the cearense semiarid giving special emphasis to that
municipality so that the origin of the degradation the current local situation and even
possible ways to minimize or even stagnate that environmental problem were all the target of
this research The overall goal was to enumerate the number of farms among them those that
either have a specially protected area called legal reserve or those that does not The choice
of this statistic as an indicator was due to the fact that it is a legal instrument which in turns
compels all and any owner of land or rural possessor to maintain 20 of their property
preserved as a Legal Reserve area Its effectiveness as a tool for preservation was analyzed in
6 properties with the help of satellite images from LANDSAT 5 taken between the years
1993 and 2007 and by examining the Normalized Difference Vegetation Index (NDVI) a
comparative study was conducted to determine whether there was a growth or not of the
vegetative area inside and outside the legal reserves During the identification of the
properties to be studied only six were found to have a legal reserve officially implemented by
the year 2007 the most recent date of the satellite images used A comparative analysis with
those lands that have some kind of record in the Registry of Property andor INCRA among
the 713 measured and georeferenced by IDACE and that in turn used the NDVI as a
guideline indicated no significant difference on the index either inside or outside the Legal
Reserves areas
Key-Words Environmental degradation Forest code Legal reserve IrauccedilubaCE
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 27
Figura 2 Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 (Novo Coacutedigo
Florestal)
27
Figura 3 Sistema de degradaccedilatildeo do meio ambiente 47
Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro 53
Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute 54
Figura 6 Iacutendice de aridez (UNEP) 56
Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo no Cearaacute 57
Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo 57
Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no ISSD 59
Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no IESD 60
Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios 61
Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute 79
Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba 79
Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo 81
Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras permanentes 85
Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras temporaacuterias 85
Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem
vegetal (tonano)
86
Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem
vegetal (m3ano)
86
Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011) 87
Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001 88
Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010 88
Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011 89
Figura 23 Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos 90
Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba 91
Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba 92
Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba 94
Figura 27 Grupo de solos que formam as associaccedilotildees pedoloacutegicas em
Irauccediluba
95
Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba 96
Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba 97
Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual 97
Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba 98
Figura 32 Iacutendice de umidade em Irauccediluba 98
Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba 100
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Medidas Provisoacuterias 21
Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras 48
Tabela 3 Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez (UNEP) 52
Tabela 4 Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo 55
Tabela 5 Levantamento de imoacuteveis com reserva legal (cartoacuterio de
registro de imoacuteveis)
73
Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais 76
Tabela 7 Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba 77
Tabela 8 Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de
anaacutelise
80
Tabela 9 Dados da propriedade particular estudada 80
Tabela 10 Propriedades estudadas 81
Tabela 11 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem
animal
87
Tabela 12 Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores 90
Tabela 13 Relaccedilatildeo entre solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo 93
Tabela 14 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEmbrapa 93
Tabela 15 Anaacutelise geral das propriedades estudadas 101
Tabela 16 NDVI dos imoacuteveis estudados 107
Tabela 17 Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal entre dentro e fora da aacuterea
de reserva legal pelo meacutetodo Sorensen
108
SUMAacuteRIO
Lista de Figuras vii
Lista de Tabelas ix
Resumo v
Abstract vi
INTRODUCcedilAtildeO 12
1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 14
11 O Instituto da Reserva Legal 14
111 Conceito 15
112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica 17
113 Importacircncia da Reserva Legal 30
1131 Juriacutedica 31
1132 Social 32
1133 Ambiental 33
1134 Econocircmica 35
114 Direito de Propriedade X Reserva Legal 36
1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa 41
1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal 42
2 PROCESSO DE DEGRADACcedilAtildeO 45
21 Conceito 45
22 Degradaccedilatildeo ambiental 48
221 Erosatildeo 49
222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica 49
223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica 50
23 A degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 51
231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia 52
24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental 62
25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira 65
251 Lei ambiental de Irauccediluba 69
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 71
31 Reserva Legal em Irauccediluba 71
311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental ndash Projeto de
Assentamento Agraacuterio em foco
73
32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo 78
321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba 78
3211 Das propriedades estudadas 79
3212 Aspectos histoacutericos de ocupaccedilatildeo 82
322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas 82
323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba 91
3231 Altimetria e Classes de relevo 91
3232 Solos 92
3233 Clima 95
3234 Vegetaccedilatildeo 99
3235 Recursos Hiacutedricos 100
324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo 101
33 Metodologia 104
331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite 104
4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES 107
41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 107
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 110
REFEREcircNCIAS 113
INTRODUCcedilAtildeO
A degradaccedilatildeo como um problema ambiental jaacute foi alvo de inuacutemeras pesquisas
principalmente quando se trata do semiaacuterido brasileiro Estudos nesse sentido datam da
deacutecada de 70 eacutepoca em que o professor Vasconcelos Sobrinho passou a pesquisar o processo
de desertificaccedilatildeo no nordeste do Brasil (SALES 2002) Nas investigaccedilotildees ele identificou um
nuacutecleo no Cearaacute que se localiza em Irauccediluba Em assim sendo buscou-se desenvolver um
trabalho naquele municiacutepio tomando por base um mecanismo criado por lei cujo caraacuteter eacute a
conservaccedilatildeo do meio ambiente Trata-se da reserva legal Como nessa aacuterea natildeo haacute pesquisa
envolvendo a aplicabilidade do tal instituto viu-se a oportunidade de estudaacute-la produzindo-se
o presente trabalho
A proposta principal da pesquisa eacute fazer um levantamento dos imoacuteveis existentes
no municiacutepio de Irauccediluba pontuando de forma preponderante os de propriedade federal e
estadual destinados aos assentamentos rurais e assim identificar nessas aacutereas a existecircncia ou
natildeo do instituto da reserva legal e sua devida implantaccedilatildeo Nesse sentido encontrou-se 6
propriedades que possuiacuteam a reserva legal sendo 5 puacuteblicas e 1 privada Empoacutes o segundo
intuito envolve a diferenciaccedilatildeo entre a cobertura vegetal da reserva e do restante da
propriedade a partir da utilizaccedilatildeo de imagens de sateacutelite e o uso do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por
Diferenccedila Normalizada (NDVI)
Para isso foi necessaacuterio fazer um apanhado de como esse instrumento de
conservaccedilatildeo foi e eacute abordado no Coacutedigo Florestal que eacute a lei onde haacute previsatildeo da reserva
legal bem como traccedilar um histoacuterico de como se deu sua evoluccedilatildeo dentro do quadro
legislativo no paiacutes foi igualmente essencial Da mesma maneira buscou-se contextualizar a
importacircncia da reserva legal nos aspectos econocircmico juriacutedico social e ambiental de forma
que ficou ilustrado o valor que esse mecanismo tem para a sociedade As discussotildees de cunho
juriacutedico e praacutetico sobre o assunto foram levantadas pois o proprietaacuterio do imoacutevel vecirc a reserva
legal como ocircnus e natildeo como um instrumento de conservaccedilatildeo que traraacute imensuraacuteveis
benefiacutecios ambientais dentro de sua proacutepria aacuterea Encerrando o primeiro capiacutetulo tecircm-se as
formas de cumprir o mandamento legal que envolvem a reserva muito embora isto tenha
sofrido algumas alteraccedilotildees como se veraacute a seguir
Quanto agrave reserva legal em Irauccediluba as constataccedilotildees natildeo satildeo animadoras
Infelizmente haacute um desencontro de informaccedilotildees a comeccedilar pelo controle do nuacutemero de
imoacuteveis existentes no municiacutepio Em seguida soacute foram encontrados trecircs imoacuteveis com a
obrigaccedilatildeo devidamente formalizada em cartoacuterio Isso diante de um universo de mais de 700
propriedades eacute frustrante e desencorajador Outra abordagem feita neste toacutepico aponta o
licenciamento ambiental como mais um instrumento possibilitador da instalaccedilatildeo da reserva
legal pois o oacutergatildeo ambiental tem dever de exigir o tal instituto para licenciar atividades e
empreendimentos localizados em zona rural
Igualmente desalentadora eacute a degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio Por se tratar de
uma aacuterea com caracteriacutesticas naturalmente adversas e limitantes sua ingerecircncia deveria ser
profundamente fiscalizada e regulamentada pelas autoridades competentes em todos os niacuteveis
de governo Mas isso natildeo ocorre pelo contraacuterio em Irauccediluba satildeo exercidas atividades com
meacutetodos bem rudimentares e sem qualquer preocupaccedilatildeo com a recuperaccedilatildeo dos danos e com a
capacidade de suporte do meio Assim acontece a degradaccedilatildeo das aacutereas com a praacutetica do
desmatamento das queimadas do sobrepastoreio e outros tipos de intervenccedilatildeo
ambientalmente prejudiciais Diante desse quadro o homem do campo tende a abandonar
estas e ocupar outras terras estimulando ainda mais o processo de desertificaccedilatildeo ali presente
Outro toacutepico em que se chama atenccedilatildeo no trabalho eacute a quantidade de leis
envolvendo o tema Natildeo faltam regulamentaccedilotildees muito pelo contraacuterio sobram O que se
percebe eacute a existecircncia de leis para vaacuterios assuntos em vez de uma que englobe a maioria
deles Com lei ou sem lei a situaccedilatildeo parece natildeo progredir positivamente em termos de
recuperaccedilatildeo ambiental embora haja uma estrutura poliacutetica econocircmica e juriacutedica dirigida para
tais fins Aleacutem disto existem poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o municiacutepio especificamente e
outras que natildeo mas podem ser implementadas ali Eacute o caso dos benefiacutecios dos inuacutemeros
programas de governo direcionados para a reforma agraacuteria por exemplo Outro caso satildeo os
fundos de combate agrave degradaccedilatildeo e agrave desertificaccedilatildeo Nesta orientaccedilatildeo percebe-se que natildeo
faltam leis poliacuteticas puacuteblicas ou recursos Felizmente existe todo um aparato no sentido de
melhorar as condiccedilotildees ambientais e minimizar danos mas infelizmente na praacutetica essa
estrutura natildeo voga como deveria
Todo esse cenaacuterio estaacute enquadrado na caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo
devidamente abordada no terceiro capiacutetulo Laacute satildeo mencionados os aspectos socioeconocircmicos
do municiacutepio perpassando pelos acontecimentos histoacutericos de sua ocupaccedilatildeo As
caracteriacutesticas fisiograacuteficas de Irauccediluba tambeacutem se fazem presentes de maneira que foram
abordados aspectos pedoloacutegicos climaacuteticos vegetativos e hiacutedricos Aleacutem disto a metodologia
utilizada permitiu as constataccedilotildees discorridas nos resultados e discussotildees inseridas no
capiacutetulo 4 de forma que os objetivos da pesquisa foram alcanccedilados
13
1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
11 O Instituto da Reserva Legal
A reserva legal eacute um instituto cuja importacircncia perfaz o esteio do
desenvolvimento sustentaacutevel no sentido de que harmoniza a viabilidade econocircmica com a
justiccedila social e o equiliacutebrio ecoloacutegico Eacute um notaacutevel exemplo de que eacute possiacutevel coexistirem
interesses particulares e coletivos pois a reserva legal nada mais eacute que a conservaccedilatildeo
ambiental de uma determinada porcentagem da propriedade ou posse rural passiacutevel de
intervenccedilatildeo pelo homem do campo
O presente estudo indica a reserva legal como uma forma de conservaccedilatildeo do
meio em face da extraccedilatildeo vegetal promovida pelo proprietaacuterio agriacutecola Foca ainda os
aspectos social econocircmico e ambiental dessa imposiccedilatildeo que tem seu nascedouro na legislaccedilatildeo
vigente Corrobora Silva (2001 p 59) ao afirmar que ldquoa cobertura vegetal nativa sobretudo
as florestais exerce papel de fundamental importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de
ecossistemas naturais bem como de ecossistemas criados pelo homemrdquo No mesmo sentido
Miranda (2008 p 31) diz que ldquoa reserva legal contribui para a mitigaccedilatildeo do aquecimento
global salvaguarda a biodiversidade e garante agraves presentes e futuras geraccedilotildees o direito a um
meio ambiente ecologicamente equilibradordquo
Traz-se agrave tona os aspectos que fundamentam a reserva legal como um instituto
que fora criado por lei especiacutefica para a conservaccedilatildeo do meio pois erroneamente os
proprietaacuterios rurais a veem como limitaccedilatildeo ao direito de propriedade e entendem que destinar
uma porcentagem de seus imoacuteveis para uma aacuterea que natildeo corresponde agrave afericcedilatildeo de lucro eacute
tatildeo somente um ocircnus eou uma perda e natildeo um investimento Nesse sentido explicam
Galdino e Candido (2008 p 251) que ldquoa instituiccedilatildeo da reserva legal natildeo enfraquece ou destroacutei
o direito de propriedade Ao reveacutes possibilita a existecircncia de um meio ambiente
ecologicamente equilibrado condicionando a propriedade a uma funccedilatildeo socioambientalrdquo
Conforme Bacha (2005 p 24) ldquodeve-se pensar em novas formas de estiacutemulo
econocircmico ao produtor para que ele recomponha a reserva legal pois a legislaccedilatildeo atual
apenas lhe coloca custos em contrapartida de benefiacutecios a toda sociedaderdquo Cabe ainda
mencionar a possibilidade prevista no Coacutedigo Florestal ou seja na Lei 4771 (BRASIL
1965) quanto agrave intervenccedilatildeo na aacuterea destinada agrave reserva legal de forma sustentaacutevel sem
suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo
econocircmica dessas aacutereas
Existem estudos justificando biologicamente a existecircncia da reserva legal Eacute sobre
o que discorre Metzger (2002 p 48) quando afirma que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de
propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa satildeo
fundamentais para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada
regiatildeordquo Complementa ainda Silva (2001 p 59) quando afirma sobre ldquoa importacircncia da
cobertura vegetal em reserva legal que permite uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da
aacutegua no solo e no subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos aleacutem de
promover a manutenccedilatildeo da diversidade geneacuteticardquo
Ademais o exerciacutecio de atividades econocircmicas que tem por principal insumo os
recursos naturais modifica sensivelmente a cobertura vegetal e o solo contribuindo para um
processo de degradaccedilatildeo Para tanto o respeito agrave legislaccedilatildeo ambiental vigente como o Coacutedigo
Florestal por exemplo eacute de extrema relevacircncia uma vez que eacute norma conducente agrave
conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo das formas de vegetaccedilatildeo e suas respectivas ingerecircncias Tal lei
prevecirc a reserva legal como espaccedilo especialmente protegido
Balizando tal atividade econocircmica frente agrave observacircncia da reserva legal surge a
proposiccedilatildeo elencada por Bacha (2005 p 24) que ldquopara o produtor rural honrar tal instituto
tendo-o como lucrativo eacute necessaacuterio que sua composiccedilatildeo floriacutestica seja feita em parte com
espeacutecies comerciaisrdquo Eacute o que Miranda (2008 p 45) sob o aspecto socioeconocircmico bem
pontua quando evidencia que esta legislaccedilatildeo carece de aderecircncia social pois natildeo condiz com
a realidade e que enfatiza ainda
Para que haja aderecircncia social ela deveria prever uma reestruturaccedilatildeo completa no
modelo de desenvolvimento Sem isso tanto os pequenos como os grandes
proprietaacuterios natildeo possuiratildeo condiccedilotildees para cumprir a lei e uma vez na ilegalidade
cometem outros crimes ambientais E por entenderem que a lei natildeo eacute factiacutevel natildeo a
cumprem [] Aleacutem disso as linhas de creacutedito inclusive dos bancos oficiais natildeo
financiam atividades sustentaacuteveis mas a pecuaacuteria o plantio de soja entre outras por
acreditarem possuir nelas uma seguranccedila maior para o investimento (MIRANDA
2008 p 45)
111 Conceito
A reserva legal eacute um mecanismo criado para a conservaccedilatildeo dos recursos naturais
cuja origem eacute a lei Sua essecircncia sempre esteve presente em normas de caraacuteter protecionista
que dispunham sobre florestas e demais formas de vegetaccedilatildeo muito embora tenham ocorrido
inuacutemeras alteraccedilotildees ao longo do tempo Eacute o que se pode observar pela evoluccedilatildeo legislativa
que a seguir seraacute apontada
15
A expressatildeo reserva legal pode ser simploriamente entendida como uma aacuterea a ser
conservada por um detentor de imoacutevel rural e que por sua vez varia com a localidade do
bioma em que a aacuterea estaacute inserida A lei que versa sobre esse tema eacute conhecida como Coacutedigo
Florestal e com esse nome existiu em trecircs momentos diferentes da histoacuteria do legislativo
brasileiro O primeiro foi no ano de 1934 o segundo em 1965 e por uacuteltimo em 2012 estando
presente em todos eles uma seacuterie de modificaccedilotildees que levaram ao aperfeiccediloamento do
conteuacutedo e dos objetivos da reserva legal bem como flexibilizaccedilotildees e restriccedilotildees a depender
do momento econocircmico em que o paiacutes vivia eou dos interesses da maioria de parlamentares agrave
eacutepoca
Atualmente a Lei 12651 de 25052012 ou como eacute conhecida por Novo Coacutedigo
Florestal atraveacutes de seu artigo 3ordm inciso III prevecirc o conceito de reserva legal da seguinte
forma
III ndash Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural
delimitada nos termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de
modo sustentaacutevel dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a
reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade
bem como o abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012
p 3) (BRASIL 2012)
Jaacute a previsatildeo elencada nos Coacutedigos anteriores de 1934 e 1965 dispotildee
Coacutedigo Florestal de 1934 - Decreto 23793
Art 23 - Nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas poderaacute abater mais de trecircs
quartas partes da vegetaccedilatildeo existente []
sect 1ordm O dispositivo do artigo natildeo se applica a juizo das autoridades florestaes
competentes agraves pequenas propriedades isoladas que estejam proximas de florestas
ou situadas em zona urbana
sect 2ordm Antes de iniciar a derrubada com a antecedencia minima de 30 dias o
proprietario daraacute sciencia de sua intenccedilatildeo aacute autoridade competente afim de que esta
determine a parte das mattas que seraacute conservada (BRASIL 1935 p 5)
Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771
Art 1ordm sect 2ordm inciso III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma
propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao
uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos
ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora
nativas (BRASIL 1965 p 2)
Percebe-se que na lei de 1934 se quer haacute menccedilatildeo ao termo reserva legal mas se
vecirc claramente a intenccedilatildeo conservacionista do legislador e se ressalte que eacute uma visatildeo bem
mais proacute-ambiente uma vez que proiacutebe o desmatamento acima de frac34 da propriedade
protegendo assim 25 de sua aacuterea Embora o Coacutedigo Florestal de 1934 natildeo preveja
16
explicitamente a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo em determinada aacuterea com o nome de reserva legal o
artigo 23 do diploma citado acima estaacute notoriamente revestido de um caraacuteter conservacionista
e quem natildeo o cumprisse estaria enquadrado no paraacutegrafo 4ordm do artigo 86 do Capitulo V ndash
Infracccedilotildees florestaes
Art 86 As contravenccedilotildees previstas nos arts 9ordm sect 1ordm 21 22 e sect 1ordm 23 e paragrapho
unico 24 a 30 31 a 34 37 43 a 45 49 e paragrapho unico 51 54 e paragrapho
unico 55 e 64 deste codigo quando natildeo se caracterizarem especialmente algumas
figuras delictuosas definidas no art 83 ou no art 87 sujeitas seus autores aacutes penas
seguintes
[]
sect 4ordm pelas das letras g h do art 22 e arts 23 e 44 - detenccedilatildeo ateacute 60 dias e multa ateacute
10000$000 (BRASIL 1935 p 14)
Em contrapartida um pouco mais aperfeiccediloado embora um tanto quanto tarde o
instituto da reserva legal aparece bem definido somente em 2001 quando a Medida Provisoacuteria
nordm 2166-6 (BRASIL 2001) acrescentou ao texto da Lei 4771 (BRASIL 1965) o seu conceito
da forma como eacute mais conhecido ultimamente apesar de natildeo se limitar soacute a esta modificaccedilatildeo
Como tantas outras leis o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) sofreu diversas
alteraccedilotildees ao longo de sua vigecircncia que durou ateacute 25 de maio de 2012 data em que a Lei
12651 (BRASIL 2012) entra em vigor revoga a anterior e estabelece o novo Coacutedigo
Florestal
Como a temaacutetica deste trabalho eacute discorrer sobre a existecircncia da reserva legal a
partir de um levantamento nas propriedades rurais seratildeo tratadas tatildeo somente as
modificaccedilotildees que dizem respeito a este instituto
112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica
O protecionismo florestal como ligeiramente mencionado anteriormente foi
delineado em um preceito normativo datado da deacutecada de 30 quando surgiu o primeiro
diploma legal a prever a conservaccedilatildeo relativa agrave manutenccedilatildeo das matas Eacute atraveacutes do Decreto
ndeg 23793 de 23 de janeiro de 1934 (BRASIL 1935) que a vegetaccedilatildeo recebe amparo e passa a
ser resguardada da supressatildeo indiscriminada Surge entatildeo o primeiro Coacutedigo Florestal
Brasileiro que em seu artigo 23 descreve que nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas
poderaacute abater mais de trecircs quartas partes da vegetaccedilatildeo existente
17
Eacute interessante observar que a delimitaccedilatildeo imposta pela norma corresponde a vinte
e cinco por cento da propriedade ou seja um grande desafio para a sociedade da eacutepoca que
era tradicionalmente agriacutecola e despontava para a industrializaccedilatildeo
Para melhor apreciar as preocupaccedilotildees que justificaram a ediccedilatildeo do Coacutedigo Florestal
de 1934 haacute que se entender a realidade soacutecio-econocircmica e poliacutetica da sociedade
brasileira no iniacutecio do seacuteculo XX A populaccedilatildeo estava concentrada proacuteximo agrave
Capital da Repuacuteblica cidade do Rio de Janeiro Estado da Guanabara A cafeicultura
avanccedilava pelos morros que constituem a topografia do Vale do Paraiacuteba substituindo
toda a vegetaccedilatildeo nativa A criaccedilatildeo de gado outra forma de utilizaccedilatildeo das terras
fazia-se de modo extensivo e com miacutenima teacutecnica Na silvicultura que jaacute se iniciara
tiacutemida nos primeiros anos do seacuteculo XX verificava-se o trabalho valioso e pioneiro
de Edmundo Navarro de Andrade com a introduccedilatildeo de espeacutecies de Eucalyptus mas
restrito agraves atividades da Cia Paulista de Estradas de Ferro no Estado de Satildeo Paulo
No resto do Paiacutes assim como antes no Estado de Satildeo Paulo a atividade florestal era
fundamentada no mais puro extrativismo Nos Estados do Paranaacute e Santa Catarina
os estoques de Araucaria angustifolia eram rapidamente exauridos Foi nesse cenaacuterio
que o Poder Puacuteblico decidiu interceder estabelecendo limites ao que parecia ser um
saque ou pilhagem dos recursos florestais (muito embora ateacute entatildeo tais praacuteticas
fossem liacutecitas) A mencionada ldquointervenccedilatildeordquo necessaacuteria materializou-se por meio
da ediccedilatildeo de um (primeiro) Coacutedigo Florestal o de 1934 (AHRENS 2001 p 6)
Diferentemente do Decreto de 1934 (BRASIL 1935) ao ser publicada em 15 de
setembro a Lei 4771 (BRASIL 1965) ou seja o Coacutedigo Florestal de 1965 trouxe em seu
artigo 16 a ideia do que seria a reserva legal Criou-se entatildeo um limite miacutenimo a ser
respeitado dentro de cada propriedade muito embora soacute mencione uma porcentagem definida
para aacutereas localizadas no Leste Sul e Centro-Oeste do paiacutes deixando de fora as demais
regiotildees
Art 16 As florestas de domiacutenio privado natildeo sujeitas ao regime de utilizaccedilatildeo
limitada e ressalvadas as de preservaccedilatildeo permanente previstas nos artigos 2deg e 3deg
desta lei satildeo suscetiacuteveis de exploraccedilatildeo obedecidas as seguintes restriccedilotildees
a) nas regiotildees Leste Meridional Sul e Centro-Oeste esta na parte sul as derrubadas
de florestas nativas primitivas ou regeneradas soacute seratildeo permitidas desde que seja
em qualquer caso respeitado o limite miacutenimo de 20 da aacuterea de cada
propriedade com cobertura arboacuterea localizada a criteacuterio da autoridade competente
b) nas regiotildees citadas na letra anterior nas aacutereas jaacute desbravadas e previamente
delimitadas pela autoridade competente ficam proibidas as derrubadas de florestas
primitivas quando feitas para ocupaccedilatildeo do solo com cultura e pastagens
permitindo-se nesses casos apenas a extraccedilatildeo de aacutervores para produccedilatildeo de madeira
Nas aacutereas ainda incultas sujeitas a formas de desbravamento as derrubadas de
florestas primitivas nos trabalhos de instalaccedilatildeo de novas propriedades agriacutecolas soacute
seratildeo toleradas ateacute o maacuteximo de 30 da aacuterea da propriedade
c) na regiatildeo Sul as aacutereas atualmente revestidas de formaccedilotildees florestais em que
ocorre o pinheiro brasileiro Araucaria angustifolia (Bert - O Ktze) natildeo poderatildeo
ser desflorestadas de forma a provocar a eliminaccedilatildeo permanente das florestas
tolerando-se somente a exploraccedilatildeo racional destas observadas as prescriccedilotildees
ditadas pela teacutecnica com a garantia de permanecircncia dos maciccedilos em boas condiccedilotildees
de desenvolvimento e produccedilatildeo
18
d) nas regiotildees Nordeste e Leste Setentrional inclusive nos Estados do Maranhatildeo e
Piauiacute o corte de aacutervores e a exploraccedilatildeo de florestas soacute seraacute permitida com
observacircncia de normas teacutecnicas a serem estabelecidas por ato do Poder Puacuteblico na
forma do art 15 sect 1ordm Nas propriedades rurais compreendidas na aliacutenea a deste artigo com aacuterea entre
vinte (20) a cinquumlenta (50) hectares computar-se-atildeo para efeito de fixaccedilatildeo do limite
percentual aleacutem da cobertura florestal de qualquer natureza os maciccedilos de porte
arboacutereo sejam frutiacutecolas ornamentais ou industriais (BRASIL 1965 p 6-7)
Honestamente natildeo se sabe o motivo pelo qual o legislador neste momento inicial
da lei natildeo se deteve agraves minuacutecias quanto agraves regiotildees Nordeste Oeste e Sudeste como o fez para
as outras ou porque sequer definiu percentuais de vegetaccedilatildeo a ser preservadas nelas Aleacutem
disto simplesmente deixar a cargo de ato do Poder Puacuteblico a exploraccedilatildeo de florestas e o corte
de aacutervores no Nordeste eacute no miacutenimo curioso principalmente porque nessa regiatildeo encontra-se
o bioma Caatinga que eacute iacutempar e inexiste em qualquer outra parte do mundo Corrobora com
isto o Monitoramento do Desmatamento nos Biomas Brasileiros por Sateacutelite MMA e IBAMA
ao expor que mesmo sendo a uacutenica grande regiatildeo natural brasileira cujos limites estatildeo
inteiramente restritos ao territoacuterio nacional pouca atenccedilatildeo tem sido dada agrave conservaccedilatildeo da
heterogecircnea paisagem da Caatinga (BRASIL 2010)
Aleacutem disto as colocaccedilotildees do artigo 44 surpreendem quando especializam o tipo
de corte permitido e enquadram 50 da propriedade como reserva legal para o Norte do paiacutes
e o norte da regiatildeo Centro-Oeste como se pode observar
Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste enquanto natildeo for
estabelecido o decreto de que trata o artigo 15 a exploraccedilatildeo a corte razo soacute eacute
permissiacutevel desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea pelo menos 50 da aacuterea
de cada propriedade (BRASIL 1965 p 15)
Em 1989 surge a Lei 7803 (BRASIL 1989b) que acrescenta os paraacutegrafos 2ordm e
3ordm ao artigo 16 inaugurando a expressatildeo reserva legal e ratificando o percentual miacutenimo do
que deveria ser conservado a tiacutetulo de reserva legal Ao artigo 44 foi acrescentado o
paraacutegrafo uacutenico onde os 50 da propriedade anteriormente indicados para permanecer com a
cobertura vegetal agora passam a ser reconhecidos como reserva legal Em ambos os
dispositivos estaacute presente o procedimento formal a ser adotado com fins de resguardar a
aplicaccedilatildeo daquele instituto e seus efeitos isto eacute a averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio
Art 16 []
sect 2ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) de
cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso deveraacute ser averbada agrave margem
19
da inscriccedilatildeo de matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo
vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou
de desmembramento da aacuterea
sect 3ordm Aplica-se agraves aacutereas de cerrado a reserva legal de 20 (vinte por cento) para
todos os efeitos legais (BRASIL 1989b p 1)
Art 44 [] Paraacutegrafo uacutenico A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 50
(cinquumlenta por cento) de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso
deveraacute ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de
imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de
transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de desmembramento da aacuterea (BRASIL 1989b p
2)
Nota-se que os dispositivos trazem novidades como a vedaccedilatildeo a um tipo de corte
o meacutetodo garantidor para a implantaccedilatildeo da reserva legal e a proibiccedilatildeo de mudanccedila na aacuterea
destinada a receber o benefiacutecio Ademais o bioma cerrado eacute especialmente citado afirmando
assim a instituiccedilatildeo da reserva legal nele e seu respectivo percentual
Vale destacar ainda a entidade puacuteblica que recebeu por forccedila legal a
incumbecircncia de promover os atos formais e documentais para a implantaccedilatildeo da reserva legal
Trata-se do registro ou cartoacuterio de imoacuteveis que por sua vez reuacutene em seus livros oficiais
todas as informaccedilotildees sobre as propriedades imobiliaacuterias de sua circunscriccedilatildeo ou regiatildeo
geograacutefica Enfim o registro de imoacuteveis eacute o oacutergatildeo constitutivo da propriedade e o que guarda
este direito aleacutem de vigiar se a funccedilatildeo social e ambiental do imoacutevel estaacute sendo cumprida
Por conseguinte houve a ediccedilatildeo da Medida Provisoacuteria1 1511 em 25 de julho de
1996 (BRASIL 1996) com o objetivo de dar nova redaccedilatildeo ao artigo 44 do Coacutedigo Florestal
ou seja amplia o percentual da reserva legal de 50 para 80 em casos especiacuteficos e esmiuacuteccedila o
Norte do Brasil e o norte da regiatildeo Centro-Oeste
Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste a exploraccedilatildeo a
corte raso soacute eacute permitida desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea de no
miacutenimo cinquumlenta por cento de cada propriedade
sect 1ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo cinquumlenta por cento
de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso seraacute averbada agrave margem da
inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a
alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de
desmembramento da aacuterea
1 Medidas Provisoacuterias satildeo instrumentos juriacutedico-poliacuteticos traduzidos na forma de atos normativos com forccedila de
lei praticados pelo Chefe do Executivo Federal em situaccedilotildees de urgecircncia e relevacircncia e que devem ser
submetidas de imediato agrave deliberaccedilatildeo do Congresso Nacional (FILHO 2005) A Constituiccedilatildeo Federal em seu
Art 62 prevecirc que em caso de relevacircncia e urgecircncia o Presidente da Repuacuteblica poderaacute adotar medidas
provisoacuterias com forccedila de lei devendo submetecirc-las de imediato ao Congresso Nacional
20
sect 2ordm Nas propriedades onde a cobertura arboacuterea se constitui de fitofisionomias
florestais natildeo seraacute admitido o corte raso em pelo menos oitenta por cento dessas
tipologias florestais
sect 3ordm Para efeito do disposto no caput entende-se por regiatildeo Norte e parte Norte da
regiatildeo Centro-Oeste os Estados do Acre Paraacute Amazonas Roraima Rondocircnia
Amapaacute e Mato Grosso aleacutem das regiotildees situadas ao norte do paralelo 13degS nos
Estados de Tocantins e Goiaacutes e a oeste do meridiano de 44degW no Estado do
Maranhatildeo (BRASIL 1996 p 1)
Fazendo uma retrospectiva ldquoesse ato do Poder Executivo pretendeu conter o
desmatamento na Amazocircnia num momento em que era divulgado o aumento da taxa meacutedia
anual de desflorestamento no biecircnio 1993-1994rdquo (MIRANDA 2008 p 38) Entretanto essa
natildeo foi a uacutenica iniciativa do chefe do executivo para alterar os percentuais citados acima
Inclusive eacute perturbador o levantamento do nuacutemero de medidas provisoacuterias com o fim de
modificar o Coacutedigo Florestal em especial os criteacuterios e aspectos que envolvem a reserva
legal que ora satildeo mais flexibilizados ora mais restritivos Eacute o que se pode observar pela
leitura da Tabela 1 onde se verifica a existecircncia de 68 propostas de mudanccedila em um espaccedilo de
tempo pouco maior que 5 anos
Tabela 1 Medidas Provisoacuterias (MP)Ano
MEDIDAS PROVISOacuteRIAS (MP) Nordm DE MPPERIacuteODO PERIacuteODOS
Nordm 1511 a 1511-17 18 1ordm) 25071996 a 20111997
Nordm 1605-18 a 1605-30 13 2ordm) 11121997 a 19111998
Nordm 1736-31 a 1736-37 7 3ordm) 14121998 a 02061999
Nordm 1885-38 a 1885-43 6 4ordm) 29061999 a 02111999
Nordm 1956-44 a 1956-57 14 5ordm) 09121999 a 14122000
Nordm 2080-58 a 2080-64 7 6ordm) 27122000 a 13062001
Nordm 2166-65 a 2166-67 3 7ordm) 28062001 a 24082001
A uacuteltima Medida Provisoacuteria a promover consideraacuteveis alteraccedilotildees que dizem
respeito agrave reserva legal foi a de nordm 2166-67 de 24 de agosto de 2001 (BRASIL 2001) Ela
acrescentou o inciso III ao paraacutegrafo 2ordm do artigo 1ordm do Coacutedigo Florestal estabelecendo o
conceito de reserva legal ateacute entatildeo natildeo definido no texto da lei muito embora sua acepccedilatildeo jaacute
existisse
21
Art 1ordm []
sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por
[]
III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural
excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos
recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave
conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas
(BRASIL 2001 p 1)
Vale destacar que a reserva legal soacute deveraacute existir em propriedade ou posse rural
natildeo sendo obrigatoacuteria na aacuterea urbana aleacutem do que natildeo eacute soacute o proprietaacuterio ou seja aquele que
deteacutem o domiacutenio do imoacutevel eacute quem deve implantaacute-la mas o possuidor tambeacutem estaacute sujeito a
tal imposiccedilatildeo legal Isso acontece porque o instituto estaacute vinculado ao imoacutevel e natildeo ao dono
ou quem faz as suas vezes por isso eacute considerada uma obrigaccedilatildeo propter rem isto eacute proacutepria
da coisa
Aleacutem da inclusatildeo do conceito de reserva legal ao Coacutedigo Florestal (BRASIL
1965) ocorreu a fixaccedilatildeo de outros percentuais bem como a adiccedilatildeo de mais oito paraacutegrafos
que delinearam aspectos outrora natildeo mencionados Eacute o que se lecirc pela nova redaccedilatildeo do artigo
16
Art 16 As florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo nativa ressalvadas as situadas em
aacuterea de preservaccedilatildeo permanente assim como aquelas natildeo sujeitas ao regime de
utilizaccedilatildeo limitada ou objeto de legislaccedilatildeo especiacutefica satildeo suscetiacuteveis de supressatildeo
desde que sejam mantidas a tiacutetulo de reserva legal no miacutenimo
I - oitenta por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta localizada na
Amazocircnia Legal
II - trinta e cinco por cento na propriedade rural situada em aacuterea de cerrado
localizada na Amazocircnia Legal sendo no miacutenimo vinte por cento na propriedade e
quinze por cento na forma de compensaccedilatildeo em outra aacuterea desde que esteja
localizada na mesma microbacia e seja averbada nos termos do sect 7ordm deste artigo
III - vinte por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta ou outras
formas de vegetaccedilatildeo nativa localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e
IV - vinte por cento na propriedade rural em aacuterea de campos gerais localizada em
qualquer regiatildeo do Paiacutes
sect 1o O percentual de reserva legal na propriedade situada em aacuterea de floresta e
cerrado seraacute definido considerando separadamente os iacutendices contidos nos incisos I
e II deste artigo
sect 2ordm A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser
utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel de acordo com princiacutepios e
criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos estabelecidos no regulamento ressalvadas as
hipoacuteteses previstas no sect 3o deste artigo sem prejuiacutezo das demais legislaccedilotildees
especiacuteficas
sect 3ordm Para cumprimento da manutenccedilatildeo ou compensaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal em
pequena propriedade ou posse rural familiar podem ser computados os plantios de
aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais compostos por espeacutecies exoacuteticas
cultivadas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas
sect 4ordm A localizaccedilatildeo da reserva legal deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental estadual
competente ou mediante convecircnio pelo oacutergatildeo ambiental municipal ou outra
instituiccedilatildeo devidamente habilitada devendo ser considerados no processo de
aprovaccedilatildeo a funccedilatildeo social da propriedade e os seguintes criteacuterios e instrumentos
quando houver
22
I - o plano de bacia hidrograacutefica
II - o plano diretor municipal
III - o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico
IV - outras categorias de zoneamento ambiental e
V - a proximidade com outra Reserva Legal Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente
unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida
sect 5ordm O Poder Executivo se for indicado pelo Zoneamento Ecoloacutegico Econocircmico -
ZEE e pelo Zoneamento Agriacutecola ouvidos o CONAMA o Ministeacuterio do Meio
Ambiente e o Ministeacuterio da Agricultura e do Abastecimento poderaacute
I - reduzir para fins de recomposiccedilatildeo a reserva legal na Amazocircnia Legal para ateacute
cinquumlenta por cento da propriedade excluiacutedas em qualquer caso as Aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente os ecoacutetonos os siacutetios e ecossistemas especialmente
protegidos os locais de expressiva biodiversidade e os corredores ecoloacutegicos e
II - ampliar as aacutereas de reserva legal em ateacute cinquumlenta por cento dos iacutendices
previstos neste Coacutedigo em todo o territoacuterio nacional
sect 6ordm Seraacute admitido pelo oacutergatildeo ambiental competente o cocircmputo das aacutereas relativas
agrave vegetaccedilatildeo nativa existente em aacuterea de preservaccedilatildeo permanente no caacutelculo do
percentual de reserva legal desde que natildeo implique em conversatildeo de novas aacutereas
para o uso alternativo do solo e quando a soma da vegetaccedilatildeo nativa em aacuterea de
preservaccedilatildeo permanente e reserva legal exceder a
I - oitenta por cento da propriedade rural localizada na Amazocircnia Legal
II - cinquumlenta por cento da propriedade rural localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e
III - vinte e cinco por cento da pequena propriedade definida pelas aliacuteneas b e c
do inciso I do sect 2ordm do art 1ordm
sect 7o O regime de uso da aacuterea de preservaccedilatildeo permanente natildeo se altera na hipoacutetese
prevista no sect 6o
sect 8ordm A aacuterea de reserva legal deve ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo de matriacutecula
do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua
destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou de
retificaccedilatildeo da aacuterea com as exceccedilotildees previstas neste Coacutedigo
sect 9ordm A averbaccedilatildeo da reserva legal da pequena propriedade ou posse rural familiar eacute
gratuita devendo o Poder Puacuteblico prestar apoio teacutecnico e juriacutedico quando
necessaacuterio
sect 10 Na posse a reserva legal eacute assegurada por Termo de Ajustamento de Conduta
firmado pelo possuidor com o oacutergatildeo ambiental estadual ou federal competente com
forccedila de tiacutetulo executivo e contendo no miacutenimo a localizaccedilatildeo da reserva legal as
suas caracteriacutesticas ecoloacutegicas baacutesicas e a proibiccedilatildeo de supressatildeo de sua vegetaccedilatildeo
aplicando-se no que couber as mesmas disposiccedilotildees previstas neste Coacutedigo para a
propriedade rural
sect 11 Poderaacute ser instituiacuteda reserva legal em regime de condomiacutenio entre mais de
uma propriedade respeitado o percentual legal em relaccedilatildeo a cada imoacutevel mediante a
aprovaccedilatildeo do oacutergatildeo ambiental estadual competente e as devidas averbaccedilotildees
referentes a todos os imoacuteveis envolvidos (BRASIL 2001 p 34)
Caso seja traccedilado um paralelo entre o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)
com as alteraccedilotildees aplicadas e agrave uacuteltima Medida Provisoacuteria percebe-se que o primeiro texto em
seu artigo 16 soacute mencionava as florestas particulares enquanto que em 2001 o reformulado
pela Medida Provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) generaliza a possibilidade de supressatildeo
vegetal para florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo incluindo-as no texto da lei Isto significa
que as florestas puacuteblicas embora sejam de domiacutenio coletivo tambeacutem devem respeitar a
reserva legal de acordo com o estabelecido
E ainda de 1989 ateacute 2001 o percentual para reserva legal era de 20 da
propriedade rural para todas as regiotildees com exceccedilatildeo dos imoacuteveis no norte do paiacutes e no norte
23
do centro-oeste onde deveriam ser protegidos 50 da cobertura arboacuterea Poreacutem com o
advento da Medida provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) aumentou-se essa porcentagem para
80 na Amazocircnia Legal2 para 35 no bioma cerrado localizado na Amazocircnia Legal e a
permanecircncia dos 20 para as demais regiotildees do Brasil
Enfim eacute possiacutevel concluir claramente que tal Medida Provisoacuteria ao modificar o
artigo 16 definiu o conceito de reserva legal foi mais especiacutefica quanto aos seus percentuais
alargou os tipos de florestas suscetiacuteveis ao desmatamento estabeleceu que a vegetaccedilatildeo da
reserva legal soacute poderia ser utilizada atraveacutes de um manejo florestal sustentaacutevel (sect2ordm)
determinou que sua localizaccedilatildeo deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental competente
obedecendo os 5 criteacuterios ambientais estabelecidos (sect4ordm) permitiu a sobreposiccedilatildeo de aacutereas de
preservaccedilatildeo permanente agrave de reserva legal em alguns casos (sect6ordm) reafirmou o procedimento
documental garantidor do instituto (sect8ordm) criou a possibilidade de constituir a reserva legal
em condomiacutenio (sect11ordm) dentre outros
Encerrando as mudanccedilas trazidas pela Medida Provisoacuteria 2166-672001
(BRASIL 2001) tem-se o artigo 44 que foi completamente reformulado em conteuacutedo em
nuacutemero de incisos e paraacutegrafos O teor deste dispositivo agora versa sobre a recomposiccedilatildeo a
regeneraccedilatildeo e a compensaccedilatildeo da reserva legal Tais accedilotildees devem estar em consonacircncia com o
disposto no artigo 16
Art 44 O proprietaacuterio ou possuidor de imoacutevel rural com aacuterea de floresta nativa
natural primitiva ou regenerada ou outra forma de vegetaccedilatildeo nativa em extensatildeo
inferior ao estabelecido nos incisos I II III e IV do art 16 ressalvado o disposto
nos seus sectsect 5o e 6o deve adotar as seguintes alternativas isoladas ou
conjuntamente
I - recompor a reserva legal de sua propriedade mediante o plantio a cada trecircs anos
de no miacutenimo 110 da aacuterea total necessaacuteria agrave sua complementaccedilatildeo com espeacutecies
nativas de acordo com criteacuterios estabelecidos pelo oacutergatildeo ambiental estadual
competente
II - conduzir a regeneraccedilatildeo natural da reserva legal e
III - compensar a reserva legal por outra aacuterea equivalente em importacircncia ecoloacutegica
e extensatildeo desde que pertenccedila ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma
microbacia conforme criteacuterios estabelecidos em regulamento
sect 1o Na recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I o oacutergatildeo ambiental estadual
competente deve apoiar tecnicamente a pequena propriedade ou posse rural familiar
sect 2o A recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I pode ser realizada mediante o plantio
temporaacuterio de espeacutecies exoacuteticas como pioneiras visando a restauraccedilatildeo do
ecossistema original de acordo com criteacuterios teacutecnicos gerais estabelecidos pelo
CONAMA
2 Amazocircnia Legal - eacute uma aacuterea que engloba a totalidade de oito estados o Acre o Amapaacute o Amazonas o Mato
Grosso o Paraacute Rondocircnia Roraima e Tocantins e parte do Estado do Maranhatildeo (a oeste do meridiano de 44ordmW)
O conceito da Amazocircnia Legal foi criado pela lei 1806 de 06 de janeiro de 1953 (BRASIL 2011) Disponiacutevel
em lthttpwwwipeagovbrdesafiosindexphpoption=com_contentampid=2154catid=28ampItemid=23gt
24
sect 3o A regeneraccedilatildeo de que trata o inciso II seraacute autorizada pelo oacutergatildeo ambiental
estadual competente quando sua viabilidade for comprovada por laudo teacutecnico
podendo ser exigido o isolamento da aacuterea
sect 4o Na impossibilidade de compensaccedilatildeo da reserva legal dentro da mesma micro-
bacia hidrograacutefica deve o oacutergatildeo ambiental estadual competente aplicar o criteacuterio de
maior proximidade possiacutevel entre a propriedade desprovida de reserva legal e a aacuterea
escolhida para compensaccedilatildeo desde que na mesma bacia hidrograacutefica e no mesmo
Estado atendido quando houver o respectivo Plano de Bacia Hidrograacutefica e
respeitadas as demais condicionantes estabelecidas no inciso III
sect 5o A compensaccedilatildeo de que trata o inciso III deste artigo deveraacute ser submetida agrave
aprovaccedilatildeo pelo oacutergatildeo ambiental estadual competente e pode ser implementada
mediante o arrendamento de aacuterea sob regime de servidatildeo florestal ou reserva legal
ou aquisiccedilatildeo de cotas de que trata o art 44-B
sect 6o O proprietaacuterio rural poderaacute ser desonerado pelo periacuteodo de trinta anos das
obrigaccedilotildees previstas neste artigo mediante a doaccedilatildeo ao oacutergatildeo ambiental
competente de aacuterea localizada no interior de Parque Nacional ou Estadual Floresta
Nacional Reserva Extrativista Reserva Bioloacutegica ou Estaccedilatildeo Ecoloacutegica pendente de
regularizaccedilatildeo fundiaacuteria respeitados os criteacuterios previstos no inciso III deste
artigo (NR) (BRASIL 2001 p 45)
Quanto agrave sanccedilatildeo curiosamente neste Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965) natildeo haacute
nenhuma previsatildeo com relaccedilatildeo ao descumprimento da reserva legal diferentemente do
diploma de 1934 (BRASIL 1935) como se pocircde ler anteriormente Nesse sentido existir
uma lei sem a ela estar vinculada uma sanccedilatildeo quando descumprida eacute o mesmo que um fogo
que natildeo queima uma luz que natildeo alumia (MONTEIRO 1992)
Assim finaliza-se a anaacutelise do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) e se
inicia a apreciaccedilatildeo do Novo Coacutedigo Florestal isto eacute a Lei 12651 de 25 de maio de 2012
(BRASIL 2012) que jaacute possui algumas modificaccedilotildees mesmo sendo uma norma bastante
recente Trata-se de uma lei que em seu artigo 1ordm de pronto menciona o instituto da reserva
legal elevando-a a um patamar antes natildeo reconhecido quanto agrave especialidade que lhe eacute
inerente
Art 1ordm-A Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente e as aacutereas de Reserva Legal a exploraccedilatildeo florestal o
suprimento de mateacuteria-prima florestal o controle da origem dos produtos florestais e
o controle e prevenccedilatildeo dos incecircndios florestais e prevecirc instrumentos econocircmicos e
financeiros para o alcance de seus objetivos (BRASIL 2012 p 1)
Quanto a sua definiccedilatildeo embora citada anteriormente vecirc-se a necessidade de se
enfatizar as diferenccedilas entre o novo dispositivo e o anterior ora revogado ateacute porque o
recente eacute bem mais minucioso e atual em se tratando de tendecircncias e realidades do presente
Art 3ordm []
25
III - Aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural delimitada nos
termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de modo sustentaacutevel
dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a reabilitaccedilatildeo dos
processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade bem como o
abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012 p 3)
Art 1ordm []
sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por
[]
III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural
excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos
recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave
conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas
(BRASIL 1965 p 1)
Pela leitura observa-se que a aacuterea de reserva legal desde o iniacutecio estaacute restrita ao
imoacutevel rural excluindo assim o urbano Seu objetivo tambeacutem sempre foi o mesmo
sustentabilidade Isto eacute visto quando se examina o texto do Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965)
ao citar as expressotildees conservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo biodiversidade e proteccedilatildeo colocando nesse
iacutenterim recursos naturais processos ecoloacutegicos fauna e flora nativas O foco da reserva legal
eacute claro quanto agrave conservaccedilatildeo de uma forma sistecircmica pois inclui aspectos de solo vegetaccedilatildeo
vida animal e seus respectivos ciclos Eacute o que coloca SOUZA (2002 p 2829 apud Miranda
2008 p 53)
[] justifica a existecircncia de um mecanismo juriacutedico que garanta ao homem a
manutenccedilatildeo da biodiversidade para o seu proacuteprio bem Deste ponto de vista no
Brasil a Reserva Legal ainda eacute o mecanismo existente se natildeo o uacutenico que garante
essa manutenccedilatildeo tamanha a dependecircncia dos seres humanos de energia advinda de
plantas e animais
Jaacute a lei de 2012 (BRASIL 2012) inova ao incluir e modificar algumas acepccedilotildees
O uso econocircmico eacute uma delas Antes era mencionado somente um uso sustentaacutevel dos
recursos naturais mas agora eacute um uso com base na teoria de produccedilatildeo e consumo sob o vieacutes
da sustentabilidade Aleacutem disto a nova redaccedilatildeo faz uma pequena diferenciaccedilatildeo quanto ao
auxiacutelio que a reserva legal daacute agrave conservaccedilatildeo e agrave reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos
enquanto que a anterior ditava que o tal instituto era necessaacuterio para alcanccedilar os citados
objetivos Inclui tambeacutem a promoccedilatildeo que a reserva legal faz agrave biodiversidade e por fim a
uacuteltima norma agrega a proteccedilatildeo agrave fauna silvestre3 o que outrora era soacute agrave nativa
3 ldquoEacute preciso que a fauna tenha a sua vida ou parte dela ocorrendo naturalmente dentro dos limites do territoacuterio
brasileiro e suas aacuteguas jurisdicionaisrdquo (AMADO 2012 p329) silvestre ndash satildeo animais pertencentes agraves espeacutecies
nativas migratoacuterias e quaisquer outras aquaacuteticas ou terrestres
26
Percebe-se que com o passar dos anos as leis que versam sobre florestas estatildeo
cada vez mais aperfeiccediloadas com particularidades e especificidades como se pode concluir
pela leitura da evoluccedilatildeo histoacuterica dessas normas e suas modificaccedilotildees Visualiza-se melhor
tambeacutem ao se comparar os objetivos da reserva legal nas figuras 1 e 2
Figura 1 - Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771 (BRASIL 1965)
Figura 2 - Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 - Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)
RESERVA
LEGAL
ASSEGURA AUXILIA PROMOVE
27
E em se tratando das penalidades quem natildeo respeitar a reserva legal estaraacute
enquadrado no Decreto Federal 6514 de 22 de julho de 2008 (BRASIL 2008) que dispotildee
sobre as infraccedilotildees e sanccedilotildees administrativas ao meio ambiente e prevecirc aplicaccedilatildeo de multas
como descrito nos artigos abaixo
Art 48 Impedir ou dificultar a regeneraccedilatildeo natural de florestas ou demais formas
de vegetaccedilatildeo nativa em unidades de conservaccedilatildeo ou outras aacutereas especialmente
protegidas quando couber aacuterea de preservaccedilatildeo permanente reserva legal ou
demais locais cuja regeneraccedilatildeo tenha sido indicada pela autoridade ambiental
competente
Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo
[]
Art 51 Destruir desmatar danificar ou explorar floresta ou qualquer tipo de
vegetaccedilatildeo nativa ou de espeacutecies nativas plantadas em aacuterea de reserva legal ou
servidatildeo florestal de domiacutenio puacuteblico ou privado sem autorizaccedilatildeo preacutevia do oacutergatildeo
ambiental competente ou em desacordo com a concedida
Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo
[]
Art 55 Deixar de averbar a reserva legal Multa de R$ 50000 (quinhentos reais) a R$ 10000000 (cem mil reais) (BRASIL
2008 p 12)
Ao ler o dispositivo da lei eacute possiacutevel averiguar que tanto accedilotildees como omissotildees
possiacuteveis de cometimento quanto agrave reserva legal estatildeo previstas naquele Decreto (BRASIL
2008) o que daacute poder agraves autoridades constituiacutedas de exercerem seu papel fiscalizatoacuterio e
sancionatoacuterio em desfavor daquele que descumprir tal obrigaccedilatildeo
Nesse novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012) a reserva legal estaacute muito mais
discorrida e consequentemente resguardada A lei trouxe um capiacutetulo especiacutefico com duas
seccedilotildees organizadas dispondo sobre a delimitaccedilatildeo e o regime de proteccedilatildeo do instituto aleacutem de
outra seccedilatildeo que prevecirc a transformaccedilatildeo das reservas legais em aacutereas verdes nas expansotildees
urbanas
Para comeccedilar a analisar as novidades trazidas pelo Coacutedigo Florestal (BRASIL
2012) vale mencionar a mais importante quanto ao controle e fiscalizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da
reserva legal que se daraacute pelo Cadastro Ambiental Rural ndash CAR Eacute um registro puacuteblico
eletrocircnico de acircmbito nacional obrigatoacuterio para todos os imoacuteveis rurais com a finalidade de
integrar as informaccedilotildees ambientais das propriedades e posses rurais compondo base de dados
para controle monitoramento planejamento ambiental e econocircmico e combate ao
desmatamento conforme artigo 29 daquele diploma legal Para se cadastrar no CAR o
proprietaacuterio ou possuidor rural deveraacute identificar-se comprovar a propriedade ou posse e
identificar o imoacutevel atraveacutes de planta georreferenciada e memorial descritivo informando os
28
remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente dentre outras
segundo o inciso III do paraacutegrafo primeiro do mesmo dispositivo acima
Com a criaccedilatildeo desse sistema a supressatildeo de novas aacutereas de floresta ou outras
formas de vegetaccedilatildeo nativa soacute poderaacute ser autorizada apoacutes a inserccedilatildeo do imoacutevel onde ocorreraacute
o desmatamento no Cadastro Ambiental Rural A exceccedilatildeo a essa regra eacute o imoacutevel que jaacute
possua a reserva legal averbada na sua matriacutecula com a respectiva identificaccedilatildeo e localizaccedilatildeo
Isso dispensa a inclusatildeo no CAR Eacute o que rezam o paraacutegrafo terceiro do artigo 12 e o artigo
30 do Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)
A nova lei prevecirc que a inscriccedilatildeo no CAR eacute obrigatoacuteria para todas as propriedades
e posses rurais e deve ser requerida no prazo de um ano a partir da sua implantaccedilatildeo (sect3ordm do
artigo 29) No caso do Cearaacute o Cadastro Ambiental Rural ainda natildeo foi estabelecido embora
a lei jaacute tenha completado um ano Aleacutem disto agravequele que protocolar toda documentaccedilatildeo para
anaacutelise da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal no oacutergatildeo ambiental competente natildeo poderaacute ser
imputada sanccedilatildeo administrativa nem restriccedilatildeo a direitos por qualquer oacutergatildeo ambiental
competente (sect2ordm do artigo 14) desde que a sanccedilatildeo diga respeito a natildeo formalizaccedilatildeo da aacuterea de
reserva legal
Outra novidade eacute a dispensa de reserva legal em alguns casos como nos
empreendimentos de abastecimento puacuteblico de aacutegua e tratamento de esgoto nas aacutereas
adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessatildeo permissatildeo ou autorizaccedilatildeo para
exploraccedilatildeo de potencial de energia hidraacuteulica nas quais funcionem empreendimentos de
geraccedilatildeo de energia eleacutetrica subestaccedilotildees ou seja instaladas linhas de transmissatildeo e de
distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica e nas aacutereas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de
implantaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo de capacidade de rodovias e ferrovias (sect6 ordm sect7 ordm e sect8ordm do artigo 12)
Ao passo que na Lei 477165 (BRASIL 1965) o uacutenico caso dispensaacutevel de cumprir a reserva
legal era a doaccedilatildeo pelo proprietaacuterio rural de aacuterea localizada no interior de unidade de
conservaccedilatildeo de domiacutenio puacuteblico pendente de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria ao oacutergatildeo ambiental
competente (sect6ordm do art 44)
Quanto aos percentuais de reserva legal sobre a propriedade ou posse rural nada
mudou ou seja permaneceram os mesmos embora organizados de forma diferente conforme
se segue
Art 12 Todo imoacutevel rural deve manter aacuterea com cobertura de vegetaccedilatildeo nativa a
tiacutetulo de Reserva Legal sem prejuiacutezo da aplicaccedilatildeo das normas sobre as Aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente observados os seguintes percentuais miacutenimos em relaccedilatildeo agrave
aacuterea do imoacutevel excetuados os casos previstos no art 68 desta Lei
I - localizado na Amazocircnia Legal
29
a) 80 (oitenta por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de florestas
b) 35 (trinta e cinco por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de cerrado
c) 20 (vinte por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de campos gerais
II - localizado nas demais regiotildees do Paiacutes 20 (vinte por cento) (BRASIL 2012 p
15)
Acerca da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal alguns criteacuterios a serem
observados permaneceram inalterados tais como o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento
ecoloacutegico-econocircmico4 e a proximidade com outra reserva legal aacuterea de preservaccedilatildeo
permanente unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida Por outro lado
foram acrescentados dois aspectos a serem considerados tambeacutem satildeo eles as aacutereas de maior
importacircncia para a conservaccedilatildeo da biodiversidade e as aacutereas de maior fragilidade ambiental
(Incisos IV e V do artigo 14)
Por fim haacute que se falar que a nova lei permitiu a sobreposiccedilatildeo das aacutereas de
preservaccedilatildeo permanente agrave aacuterea de reserva legal ou seja ao se calcular o percentual desta
poderatildeo ser computadas as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente existentes no imoacutevel rural desde
que atenda alguns requisitos Eacute o que prescreve o artigo 15
Art 15 Seraacute admitido o cocircmputo das Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente no caacutelculo
do percentual da Reserva Legal do imoacutevel desde que
I - o benefiacutecio previsto neste artigo natildeo implique a conversatildeo de novas aacutereas para o
uso alternativo do solo
II - a aacuterea a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperaccedilatildeo
conforme comprovaccedilatildeo do proprietaacuterio ao oacutergatildeo estadual integrante do Sisnama e
III - o proprietaacuterio ou possuidor tenha requerido inclusatildeo do imoacutevel no Cadastro
Ambiental Rural - CAR nos termos desta Lei BRASIL 2012 p 1617)
Basicamente essas foram as inovaccedilotildees mais pertinentes agrave reserva legal trazidas
pelo Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)
113 Importacircncia da reserva legal
Vaacuterios aspectos perfazem o instituto da reserva legal Satildeo fundamentos de
cunho teacutecnico e cientiacutefico que revelam sua importacircncia atraveacutes da abordagem juriacutedica social
ambiental e econocircmica A reserva legal natildeo foi simplesmente uma imposiccedilatildeo prevista em lei
4 Zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ndash eacute um zoneamento ambiental Esse instrumento estaacute previsto na Poliacutetica
Nacional do Meio Ambiente que foi instituiacuteda pela Lei 693881 Trata-se de uma modalidade de intervenccedilatildeo
estatal sobre o territoacuterio a fim de reparti-lo em zonas consoante o melhor interesse na preservaccedilatildeo ambiental e
no uso sustentaacutevel dos recursos naturais Conferir AMADO Frederico Direito Ambiental Esquematizado
2012 p111
30
mas uma mobilizaccedilatildeo da sociedade para resguardar os bens ambientais impedindo a
degradaccedilatildeo sem precedentes
ldquoA reserva legal busca a preservaccedilatildeo ambiental como um todo natildeo soacute do imoacutevel
que nesta se situardquo (AMADO 2009 p 105) Ainda salienta Moraes (2002 p 30) que ldquoa
reserva legal natildeo possui funccedilatildeo vinculada ao imoacutevel especificamente sendo limitaccedilatildeo de
niacutevel macro ou seja mais preocupada com a melhoria regional da biodiversidade do que
propriamente com o ecossistema interno da propriedaderdquo E muito bem acrescenta Milareacute
(2009 p 166)
Aleacutem de preservar belezas cecircnicas e bucoacutelicos ambientes histoacutericos para as geraccedilotildees
futuras as aacutereas protegidas assumiram objetivos como a proteccedilatildeo de recursos
hiacutedricos manejo de recursos naturais desenvolvimento de pesquisas cientiacuteficas
manutenccedilatildeo do equiliacutebrio climaacutetico e ecoloacutegico preservaccedilatildeo de recursos geneacuteticos
e atualmente constituem o eixo de estruturaccedilatildeo da preservaccedilatildeo in situ da
biodiversidade como um todo
1131 Juriacutedica
A reserva legal foi criada pela forccedila do universo juriacutedico brasileiro que lhe
pressupotildee efetividade Como jaacute fora mencionado o instituto teve sua definiccedilatildeo atraveacutes da
Medida Provisoacuteria 2166-672001 (BRASIL 2001) que por sua vez alterou o Coacutedigo
Florestal (BRASIL 1965) vigente agrave eacutepoca Embora houvesse previsatildeo legal para aacutereas
especialmente protegidas estas ateacute entatildeo natildeo haviam sido nominadas como reserva legal
A lei ndeg 477165 (BRASIL 1965) segundo Trennepohl (2009) trazia uma maior
preocupaccedilatildeo com a erosatildeo de terras e o consequente prejuiacutezo para as atividades produtivas
Denotando predominante inclinaccedilatildeo para a sustentabilidade econocircmica da mateacuteria-prima
aquele diploma tratava a utilizaccedilatildeo dos recursos florestais de forma racional com finalidade
de garantir as atividades econocircmicas para as quais servem de insumo
Jaacute no entendimento de Schaffer e Medeiros (2009) a figura da reserva legal no
Coacutedigo Florestal revela-se como uma norma de importacircncia e observacircncia necessaacuterias
essencialmente estrateacutegicas para a garantia de um desenvolvimento equilibrado e sustentaacutevel
para a naccedilatildeo brasileira Tambeacutem observam os mesmos autores que a tatildeo discutida lei florestal
estabeleceu percentuais diferenciados de Reserva Legal em funccedilatildeo da localizaccedilatildeo do tipo de
vegetaccedilatildeo e das caracteriacutesticas ambientais das diferentes regiotildees do paiacutes
A eficaacutecia para o cumprimento do instituto se baseia na imposiccedilatildeo da lei quanto agrave
obrigaccedilatildeo dos proprietaacuterios ou posseiros rurais se dirigirem ao cartoacuterio de registro do seu
31
imoacutevel com a aacuterea da reserva jaacute delimitada e procederem agrave averbaccedilatildeo agrave margem da sua
matriacutecula No entanto essa obrigatoriedade foi substituiacuteda pelo Cadastro Ambiental Rural
que deveraacute ser feito no oacutergatildeo ambiental competente conforme visto anteriormente Esse
procedimento se daacute pelos paracircmetros devidamente previstos em normas teacutecnicas que dispotildeem
como o dono da aacuterea deve conduzir tal processo Essa averbaccedilatildeo eacute irretrataacutevel ou seja jamais
pode ser desfeita e eacute isso que daacute eficiecircncia ao instituto se cumprido Tal imposiccedilatildeo garante
que o proprietaacuterio natildeo desmembre seu imoacutevel na intenccedilatildeo de burlar a lei
Quanto ao procedimento de averbaccedilatildeo da reserva legal na matriacutecula do imoacutevel
ressalta Trennepohl (2009 p11-12)
A exigecircncia da averbaccedilatildeo da reserva legal vem desde 1965 vale dizer haacute mais de
quarenta anos existe esta obrigatoriedade E muitos proprietaacuterios rurais cumpriram agrave
risca esta exigecircncia averbando e mantendo preservado o percentual estipulado pela
lei
[]
A necessidade dessa averbaccedilatildeo dispensa maiores comentaacuterios e pode ser facilmente
entendida como a uacutenica garantia eficaz para que a transferecircncia ou a partilha natildeo
afastem essa obrigaccedilatildeo propter rem [proacutepria da coisa] que vincula a propriedade
natildeo o proprietaacuterio
Para alguns proprietaacuterios de terras rurais se houver o atendimento do instituto da
reserva legal caberia uma indenizaccedilatildeo pela perda daquela porcentagem em suas propriedades
mas como bem ilustra Magnanini (2010 p 5) ldquoa funccedilatildeo protetora da floresta natildeo eacute restriccedilatildeo
indenizaacutevel mas decorrecircncia da proacutepria natureza que preparou terras mais uacuteteis e outras
menosrdquo
1132 Social
Segundo o renomado filoacutesofo Mondin (2004 p 117) ldquoo homem eacute um ser
sociaacutevel portanto incapaz de sozinho alcanccedilar seus objetivos anseios e realizaccedilotildees
consequentemente viverrdquo A partir dessa constataccedilatildeo soacute resta ao ser humano subsistir numa
sociedade inserida no mundo natural
Como indiviacuteduo pratica accedilotildees que lhe afetam direta e indiretamente promovendo
reflexos no espaccedilo em que habita Por isso o aspecto social estaacute intimamente vinculado agrave
qualidade ambiental uma vez que o ser humano gera impactos positivos e negativos em seu
entorno Como natildeo se pode separar a atuaccedilatildeo dele do meio em que foi introduzido necessaacuterio
eacute fazer o balizamento de suas atitudes Uma das formas de limitar seu comportamento eacute a
confecccedilatildeo de normas como por exemplo a lei que nada mais eacute do que a expressatildeo de uma
32
demanda social por medidas coercitivas em virtude do desrespeito a um aspecto que a
sociedade defende ou repudia
Quanto agraves accedilotildees humanas e seus reflexos a teoria de ldquometapopulaccedilotildeesrdquo define
que a raccedila humana causa imenso impacto na Terra provocando a deterioraccedilatildeo dos sistemas
ecoloacutegicos e a extinccedilatildeo de muitas espeacutecies as quais tem seu ritmo acelerado agrave medida que a
populaccedilatildeo cresce e aumentando com isso o consumo de energia e de recursos naturais
SOUZA (2002 apud Miranda 2008)
O aspecto social que envolve a reserva legal confronta-se com praacuteticas seculares
do homem campestre como bem ilustra Magnanini (2010 p 3) engenheiro agrocircnomo e um
dos autores do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)
A agricultura itinerante continua se desenvolvendo segundo os meacutetodos primitivos
dos primeiros anos do descobrimento Chega o agricultor derruba e queima as
matas sem indagar se elas satildeo necessaacuterias agrave conservaccedilatildeo da feracidade do solo ou
do regime das aacuteguas Depois de alguns anos de exploraccedilatildeo renovando anualmente a
queimada como meio de extinguir a vegetaccedilatildeo invasora o terreno esgotado eacute
entregue ao abandono e o agricultor seguindo as pegadas do madeireiro que adiante
derrubou as aacutervores para extrair as toras inicia novo ciclo devastador idecircntico ao
precedente Como efeito disto a agricultura cada vez se interioriza mais e cada vez
se distancia mais dos centros consumidores requerendo transportes sempre mais
caros [] Inundaccedilotildees cada vez mais destruidoras pela remoccedilatildeo desordenada de
florestas colocam em sobressalto as populaccedilotildees de centenas de cidades ribeirinhas
Vale mencionar outra caracteriacutestica que expressa o valor que a reserva legal
quando estaacute sendo cumprida imprime na aacuterea rural ndash eacute a funccedilatildeo social da propriedade
considerada como princiacutepio basilar para o uso da mesma Designaccedilatildeo bastante enunciada
pelas normas que estabelecem aquele instituto permeia o direito de propriedade da terra que
natildeo eacute visto unilateralmente e sim em sua universalidade uma vez que o imoacutevel natildeo estaacute para
servir soacute a seu dono mas tem que atender sua funccedilatildeo social Nesse sentido Miranda (2008)
pontua que a reserva legal eacute uma forma de assegurar a funccedilatildeo social da propriedade fazendo
com que esta contribua com a preservaccedilatildeo do meio ambiente ecologicamente equilibrado para
atuais e futuras geraccedilotildees Eacute como tambeacutem entende Trennepohl (2009 p 11) ao afirmar que
A preservaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa num percentual das propriedades rurais diminui o
lucro do proprietaacuterio mas de forma muito menos significativa que o ganho para a
coletividade com a qualidade ambiental decorrente pelo que entendemos
inquestionaacutevel que o interesse coletivo se sobrepotildee ao individual
1133 Ambiental
Considerado como um dos principais fatores que embasam a instituiccedilatildeo da reserva
legal na propriedade ou posse rural o aspecto ambiental se funda na biologia que perpassa
33
essencialmente esse vieacutes sem admitir qualquer desassociaccedilatildeo entre as unidades ambientais
como aacutegua solo vegetaccedilatildeo e ar Pode-se afirmar que o alicerce do estudo do meio eacute a ciecircncia
bioloacutegica que por sua vez analisa as reaccedilotildees as funccedilotildees fiacutesico-quiacutemicas a qualidade do
ambiente testando seus limites ou melhor sua capacidade de suporte Do mesmo modo
Miranda (2008 p 51) discorre sobre a importacircncia ecoloacutegica do instituto da reserva legal
quando afirma que ldquosua funccedilatildeo preciacutepua eacute assegurar mostras significativas de ecossistemas
conservando a biodiversidade e servindo de abrigo e proteccedilatildeo agrave fauna e agrave florardquo
Sobre isso Metzger (2002 p 48) tambeacutem atesta que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de
propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa eacute
fundamental para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada
regiatildeordquo Complementa Silva (2001 p 59) quando afirma
A cobertura vegetal nativa sobretudo as florestais exerce papel de fundamental
importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de ecossistemas naturais bem como de
ecossistemas criados pelo homem como eacute o caso dos ecossistemas agriacutecolas Aleacutem
de permitirem uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da aacutegua no solo e no
subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos regular a vazatildeo
dos rios reduzindo as intensidades dos extremos de estiagens e enchentes manterem
a diversidade geneacutetica
Logo todos os benefiacutecios apontados pelos autores acima podem ser verificados
em uma menor escala quando haacute a observacircncia da reserva legal dentro de cada propriedade
rural em determinada regiatildeo garantindo sua viabilidade ambiental posto que assume um
papel niacutetido de conservaccedilatildeo Para exemplificar a assertiva retro menciona-se o microclima
favoraacutevel mantido quando haacute vegetaccedilatildeo na aacuterea em apreccedilo que por sua vez amortiza a
incidecircncia solar sobre aquela regiatildeo Por outro lado a cobertura vegetal tambeacutem eacute favoraacutevel agrave
manutenccedilatildeo dos solos uma vez que dificulta a accedilatildeo erosiva das chuvas
Infere-se portanto que a existecircncia da reserva legal na propriedade rural soacute traz
vantagens ao meio ambiente por mais que a tradiccedilatildeo campestre natildeo as compreenda Eacute o que
demonstram Schaffer e Medeiros (2009 p 2) ensinando que
A Reserva Legal (RL) por sua vez natildeo tem apenas a funccedilatildeo de prover o uso
sustentaacutevel dos recursos naturais na propriedade ou posse rural Tem tambeacutem a
funccedilatildeo de conservar e reabilitar os processos ecoloacutegicos conservar a biodiversidade
e servir de abrigo e proteccedilatildeo da fauna e flora nativas Desta forma a norma geral de
caraacuteter nacional [Coacutedigo Florestal] concilia o necessaacuterio uso sustentaacutevel de recursos
naturais para a propriedade ou posse rural com as funccedilotildees ambientais e o
provimento de serviccedilos ambientais de retenccedilatildeo de aacutegua conservaccedilatildeo do solo
manutenccedilatildeo de grupos de polinizadores e fixaccedilatildeo de biomassa entre outros os quais
satildeo importantes e necessaacuterios ao cumprimento da funccedilatildeo socioambiental dos
imoacuteveis ou propriedades rurais
34
No mesmo sentido Mercadante (1999 p 240 apud MIRANDA 2008 p 5354)
numa interpretaccedilatildeo mais ampla sobre a importacircncia ecoloacutegica da reserva legal diz
A Reserva Legal natildeo tem por objetivo apenas a conservaccedilatildeo da natureza da flora e
da fauna pelo valor intriacutenseco dos recursos bioloacutegicos ou pela contribuiccedilatildeo dessas
aacutereas para a qualidade do ambiente em geral A Reserva Legal eacute fundamental para a
estabilidade ecoloacutegica e consequentemente a exploraccedilatildeo em bases sustentaacuteveis do
proacuteprio imoacutevel rural A Reserva Legal contribui para a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo
do solo o controle da erosatildeo o controle do assoreamento dos cursos d‟aacutegua a
conservaccedilatildeo dos corpos d‟aacutegua e dos mananciais serve de abrigo para os predadores
das pragas agriacutecolas fornece madeira e outros recursos florestais para uso na
propriedade dentre outros benefiacutecios
E por fim eacute cabiacutevel mencionar ainda que o Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL
2012) fixou criteacuterios bem mais especiacuteficos e pertinentes ao estabelecimento da reserva legal
como proceder ao cumprimento desse instituto observando se sua localizaccedilatildeo eacute condizente
com o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ou outras categorias
de zoneamento ambiental a proximidade com outras aacutereas legalmente protegidas dentre
outros
1134 Econocircmica
A reserva legal sob o aspecto econocircmico eacute muito controversa uma vez que eacute vista
pelo proprietaacuterio ou posseiro rural como um encargo Mesmo porque como exprime
Trennepohl (2009) ateacute a deacutecada de 80 quando se tinha diferentes normas com dispositivos
protecionistas mas com enfoque preponderantemente economicista os recursos naturais eram
tratados muito mais como insumos de produccedilatildeo ou bens de uso imediato da sociedade do que
como elementos integrantes de um intrincado e fraacutegil equiliacutebrio ambiental Isto condicionou
fatalmente a sociedade brasileira contemporacircnea a natildeo observar a deferecircncia aos bens
ambientais quiccedilaacute respeitar certa porcentagem de uma aacuterea que fora adquirida por um
particular com seus recursos proacuteprios e a tem como totalmente privada
Ainda eacute possiacutevel pelo Coacutedigo Florestal - Lei 126512012 (BRASIL 2012)
intervir na aacuterea destinada agrave reserva de forma sustentaacutevel sem suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo
uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo econocircmica dessas aacutereas Aleacutem do
que ldquoa recuperaccedilatildeo de aacutereas de RL pode ainda gerar produtos e subprodutos madeireiros jaacute
escassos em algumas regiotildees garantindo assim uma renda adicional ao produtor rural e
mateacuteria-prima para a induacutestriardquo conforme defendem Schaffer e Medeiros (2009 p 12)
Para Magnanini (2010) a situaccedilatildeo eacute graviacutessima quando sugere ficar a criteacuterio
do proprietaacuterio rural a iniciativa de proceder ou natildeo agrave reserva legal jaacute que a Administraccedilatildeo
35
Puacuteblica natildeo tem como combater eficientemente o descumprimento desse instituto Eacute o que
propotildee no momento em que coloca
O dilema eacute este ou impotildee-se a todos os donos de terras defenderem agrave sua custa a
produtividade do solo contra a erosatildeo terriacutevel e crescente ou cruzam-se os braccedilos
ante a incapacidade pela pobreza do Poder Puacuteblico na maioria dos Estados do
Brasil para deter a transformaccedilatildeo do Paiacutes num deserto em que as estaccedilotildees se
alternem entre inundaccedilotildees e secas devoradoras de todo o esforccedilo humano
(MAGNANINI 2010 p 5)
Ademais define-se outra vertente do aspecto econocircmico tatildeo bem colocada pela
acepccedilatildeo que tem Bacha (2005 p 9) ao afirmar que
A reserva legal eacute um mecanismo de poliacutetica de rendas pelo qual se procura
estabelecer um zoneamento do uso da terra dentro da propriedade rural A poliacutetica
de rendas constitui-se numa seacuterie de regulamentaccedilotildees que restringem a produccedilatildeo e a
comercializaccedilatildeo de produtos bem como o uso dos fatores de produccedilatildeo eou
determinam valores miacutenimos ou maacuteximos para o pagamento pelo uso desses fatores
ou por produtos elaborados numa economia
Eacute possiacutevel portanto depreender o entendimento do autor de modo que a reserva
legal vem restringir o uso indiscriminado dos recursos florestais gerando com isso a
manutenccedilatildeo do bem ambiental que seraacute resguardado por aquele instituto Isto influiraacute
diretamente na cadeia produtiva nas oscilaccedilotildees de demanda e procura do mercado de mateacuteria-
prima de origem vegetal Ou seja pode-se entender que a meacutedio eou longo prazo a reserva
legal seraacute um ponto de equiliacutebrio no fluxo da produccedilatildeo de bens e serviccedilos que careccedilam desse
recurso natural
114 Direito de Propriedade x Reserva Legal
A propriedade privada eacute uma espeacutecie baacutesica que se decompotildee em propriedade
rural ou urbana segundo se refira a moradias do campo ou moradias derivadas das
construccedilotildees ou edificaccedilotildees idocircneas para sua habitualidade ou aproveitamento diferente do
que eacute a exploraccedilatildeo agraacuteria de qualquer moradia rural (CRIADO 2010)
A propriedade no direito brasileiro foi constituiacuteda em forma e conteuacutedo a partir de
normas muito antigas e de outras naccedilotildees ou seja foi reproduzida com base no direito romano
ldquoDesde aqueles tempos o direito de propriedade era tido como absoluto isto eacute o proprietaacuterio
tinha o direito de usar ou natildeo usar gozar ou natildeo gozar e dispor ou natildeo dispor da propriedade
imobiliaacuteriardquo (MELO 2010 p22) Em contrapartida ldquoos direitos de propriedade
constitucional certamente satildeo direitos de liberdade seja a liberdade individual seja a
liberdade comunitaacuteria que satildeo complementares e indissociaacuteveis haja vista que uma natildeo
36
existe sem a outra como nos demonstram as experiecircncias totalitaacuterias do seacuteculo XXrdquo
(ANTUNES 2011 p37)
A garantia do direito de propriedade estaacute prevista constitucionalmente ou seja na
maior Lei do paiacutes uma vez que ela se sobrepotildee a todas as outras leis e normas juriacutedicas Eacute a
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil que foi promulgada em 05 de outubro de
1988 Conhecida como Carta Magna a Constituiccedilatildeo de 1988 (BRASIL 1988) em seu Tiacutetulo
II estabelece os direitos e as garantias fundamentais do e para o povo brasileiro Logo no
primeiro capiacutetulo deste tiacutetulo estatildeo dispostos os direitos e deveres individuais e coletivos que
o Estado brasileiro deve assegurar aos seus cidadatildeos Eacute no artigo 5ordm que estatildeo previstas tais
premissas inclusive o direito de propriedade (inciso XXII) e o respeito agrave sua funccedilatildeo social
(XXIII)
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade
do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos
seguintes
[]
XXII - eacute garantido o direito de propriedade
XXIII - a propriedade atenderaacute a sua funccedilatildeo social
Quanto agrave funccedilatildeo social da propriedade ldquosomente nos seacuteculos XIX e XX surgiu a
ideia em que o imoacutevel natildeo teria mais o caraacuteter absoluto e intangiacutevel de forma que o
proprietaacuterio por possuir recursos deveria cumprir a tal funccedilatildeordquo (MELO 2010 p23) Ainda
ldquodiscorrer sobre a funccedilatildeo social da propriedade significa abandonar a ideia absolutista e
inflexiacutevel desse instituto para admitir a revitalizaccedilatildeo e o condicionamento do exerciacutecio a
interesses maiores que os do proprietaacuterio individualrdquo (PETERS 2003 p 125 apud
MIRANDA 2008 p 56) Foi nesse sentido que as Constituiccedilotildees Federais brasileiras de 1934
(BRASIL 1934b) 1946 (BRASIL 1946) 1967 (BRASIL 1967c) e a de 1988 (BRASIL
1988) restringiram o direito de propriedade
Constituiccedilatildeo de 1934
Art 113 - A Constituiccedilatildeo assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade dos direitos concernentes agrave liberdade agrave subsistecircncia agrave seguranccedila
individual e agrave propriedade nos termos seguintes
[]
17) Eacute garantido o direito de propriedade que natildeo poderaacute ser exercido contra o
interesse social ou coletivo na forma que a lei determinar A desapropriaccedilatildeo por
necessidade ou utilidade puacuteblica far-se-aacute nos termos da lei mediante preacutevia e justa
indenizaccedilatildeo [] (BRASIL 1934b p 33)
Constituiccedilatildeo de 1946
Art 141 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
Paiacutes a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade a seguranccedila
individual e agrave propriedade nos termos seguintes
37
[]
sect 16 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por
necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa
indenizaccedilatildeo em dinheiro (BRASIL 1946 p 31)
Constituiccedilatildeo de 1967
Art 150 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
Pais a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
[]
sect 22 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por
necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa
indenizaccedilatildeo em dinheiro ressalvado o disposto no art 157 sect 1ordm []
[]
Art 157 - A ordem econocircmica tem por fim realizar a justiccedila social com base nos
seguintes princiacutepios
[]
III - funccedilatildeo social da propriedade
[]
sect 1ordm - Para os fins previstos neste artigo a Uniatildeo poderaacute promover a desapropriaccedilatildeo
da propriedade territorial rural mediante pagamento de justa indenizaccedilatildeo fixada
segundo os criteacuterios que a lei estabelecer em tiacutetulos especiais da diacutevida puacuteblica []
(BRASIL 1967c p 4951)
Embora os textos se assemelhem eacute faacutecil observar que em 1934 o direito de
propriedade natildeo poderia ir contra o interesse social ou coletivo enquanto que na Constituiccedilatildeo
de 1946 (BRASIL 1946) jaacute se comeccedila a falar em desapropriaccedilatildeo caso aquele interesse natildeo
seja observado Em 1967 existe uma combinaccedilatildeo entre o direito de propriedade e a justiccedila
social estando esta prevista como objetivo da ordem econocircmica que por sua vez cita
claramente a funccedilatildeo social da propriedade como um de seus princiacutepios Mais uma vez a
desapropriaccedilatildeo vem agrave tona agora com um toque mais robusto e imbuiacutedo de maior evidecircncia
jaacute que aquela Carta (BRASIL 1967c) faz menccedilatildeo no paraacutegrafo 1ordm do artigo 157 que a Uniatildeo
poderaacute desapropriar a propriedade territorial rural se natildeo atender dentre outros aspectos a
funccedilatildeo social da propriedade
Retroagindo aproximadamente trecircs anos a desapropriaccedilatildeo jaacute estava em pauta
atraveacutes da Lei 450464 (BRASIL 1964) conhecida como o Estatuto da Terra Com o
objetivo de regular os direitos e obrigaccedilotildees concernentes aos bens imoacuteveis rurais a citada lei
menciona a desapropriaccedilatildeo como uma das medidas de execuccedilatildeo da Reforma Agraacuteria e
promoccedilatildeo da Poliacutetica Agriacutecola (Art 1deg) Aleacutem disto o artigo segundo assegura a todos a
oportunidade de acesso agrave propriedade da terra condicionada pela sua funccedilatildeo social desde que
cumpra as seguintes condiccedilotildees
Art 2deg
sect 1deg A propriedade da terra desempenha integralmente a sua funccedilatildeo social quando
simultaneamente
a) favorece o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores que nela labutam
assim como de suas famiacutelias
38
b) manteacutem niacuteveis satisfatoacuterios de produtividade
c) assegura a conservaccedilatildeo dos recursos naturais
d) observa as disposiccedilotildees legais que regulam as justas relaccedilotildees de trabalho entre os
que a possuem e a cultivem (BRASIL 1964 p 1)
Encerrando o rol de Constituiccedilotildees brasileiras quanto ao direito de propriedade e
sua funccedilatildeo social a de 1988 consagra este princiacutepio no artigo 186
Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende
simultaneamente segundo criteacuterios e graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos
seguintes requisitos
I - aproveitamento racional e adequado
II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio
ambiente
[] (BRASIL 1988 p 144)
Chama atenccedilatildeo o inciso II quando dispotildee sobre a utilizaccedilatildeo adequada dos
recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio ambiente Eacute nesse iacutenterim que a reserva
legal eacute reconhecida por dar ao imoacutevel uma funccedilatildeo social ldquouma vez que atribui agrave propriedade
a exigecircncia da observacircncia de funccedilotildees econocircmica e social bem como de preservaccedilatildeo do meio
ambienterdquo (MELO 2010 p 24) Tambeacutem sobre isso bem coloca Trennepohl (2009 p 12)
A limitaccedilatildeo administrativa do exerciacutecio do direito de propriedade encontra respaldo
no art 186 da Constituiccedilatildeo Federal pois a propriedade rural somente cumpre sua
funccedilatildeo social quando obedecido o aproveitamento racional e utilizados
adequadamente os recursos naturais disponiacuteveis com vistas agrave preservaccedilatildeo do meio
ambiente
ldquoNatildeo haacute direito de propriedade para quem natildeo faz a terra cumprir sua funccedilatildeo
socialrdquo Eacute como entende o professor de direito agraacuterio Carlos Mareacutes (2003 p 134 apud
MELO 2010 p 25) Cavedon (2003 p 122 apud MIRANDA 2008 p 5859) tambeacutem
observa que
Os requisitos estipulados pelo artigo 186 devem ser atendidos simultaneamente sob
pena da propriedade natildeo atender sua funccedilatildeo social e por isso perder sua proteccedilatildeo
constitucional Como consequecircncia esta fica sujeita agrave desapropriaccedilatildeo por interesse
social para fins de reforma agraacuteria conforme o caput do artigo 184 da CF88 Eacute o que
Lenza denomina de desapropriaccedilatildeo-sanccedilatildeo Isto porque a Constituiccedilatildeo de 1988 em
seu artigo 5ordm inciso XXIV garante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiro mediante a
desapropriaccedilatildeo por necessidade utilidade puacuteblica ou interesse social A sanccedilatildeo estaacute
justamente na forma de pagamento da indenizaccedilatildeo quando a propriedade rural natildeo
atende a sua funccedilatildeo social o pagamento natildeo eacute efetuado em dinheiro mas em tiacutetulos
da diacutevida agraacuteria5 Assim o meio ambiente ganha relevacircncia como elemento
5 Tiacutetulos da diacutevida agraacuteria (TDA) - Meio de pagamento de indenizaccedilotildees devidas aos que sofreram accedilatildeo
expropriatoacuteria da Uniatildeo Federal Criado pelo Governo Federal eacute vinculado agrave desapropriaccedilatildeo de imoacuteveis rurais
por interesse social para efeito de reforma agraacuteria ou aquisiccedilotildees por compra e venda de imoacuteveis rurais destinados
agrave implantaccedilatildeo de projetos integrantes do Programa Nacional de Reforma Agraacuteria Disponiacutevel em
lthttpwwwcetipcombrtitulos-publicostdagt Acesso em 27062013
39
integrante da funccedilatildeo social da propriedade em funccedilatildeo do artigo 186 II que prevecirc a
utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio
ambiente e no artigo 170 que coloca a propriedade privada a funccedilatildeo social da
propriedade e a defesa do meio ambiente lado a lado como princiacutepios da ordem
econocircmica Com base nestes dispositivos legais Cavedon entende que a propriedade
deve atender tambeacutem a sua funccedilatildeo ambiental apesar desta natildeo constar de forma
expliacutecita no texto constitucional
Desta forma por estar limitado o proprietaacuterio rural natildeo pode dispor livremente de
seu imoacutevel pois haacute de cumprir sua funccedilatildeo social que resulta na observacircncia de requisitos que
visam vantagens para a coletividade em detrimento de restriccedilotildees individuais Assim sendo
muitos particulares entendem que a obrigaccedilatildeo de destinarem determinada porcentagem de
suas propriedades rurais para a reserva legal eacute uma espeacutecie de desapropriaccedilatildeo indireta imposta
pelo poder puacuteblico e por isso deveriam ser indenizados Da mesma forma outros segundo
Miranda (2008) concluem que eacute uma restriccedilatildeo da propriedade uma vez que inviabiliza a
utilizaccedilatildeo econocircmica do bem e por isso caberia uma recomposiccedilatildeo patrimonial Ao contraacuterio
desse entendimento Trennepohl (2009 p 11) explica
A averbaccedilatildeo da reserva legal natildeo representa uma desapropriaccedilatildeo indireta como
muita gente pensa pois sua vegetaccedilatildeo pode ser explorada na forma de manejo
florestal sustentaacutevel e a aacuterea pode ser utilizada para outras atividades rentaacuteveis
Tanto eacute assim que inuacutemeras accedilotildees judiciais propostas pleiteando indenizaccedilatildeo pela
restriccedilatildeo de uso dessas aacutereas foram fulminadas nas diferentes esferas do Poder
Judiciaacuterio
Ademais a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 (BRASIL 1988) em seu artigo 225
tambeacutem estabelece que
Art 225 Todos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de
uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder
Puacuteblico e agrave coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e
futuras geraccedilotildees
sect 1ordm - Para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Poder Puacuteblico
I - preservar e restaurar os processos ecoloacutegicos essenciais e prover o manejo
ecoloacutegico das espeacutecies e ecossistemas []
III - definir em todas as unidades da Federaccedilatildeo espaccedilos territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos sendo a alteraccedilatildeo e a supressatildeo
permitidas somente atraveacutes de lei vedada qualquer utilizaccedilatildeo que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteccedilatildeo (BRASIL 1988 p 225226)
Ressalta-se que ldquoa Carta Magna de 1988 eacute a primeira Constituiccedilatildeo brasileira em
que a expressatildeo meio ambiente eacute mencionadardquo (MELO 2010 p 20) Ademais inovou ao
adotar a terminologia ldquoespaccedilo territorial especialmente protegidordquo para designar uma aacuterea sob
regime especial de administraccedilatildeo com o objetivo de proteger os atributos ambientais
justificadores do seu reconhecimento e individualizaccedilatildeo pelo Poder Puacuteblico (MILAREacute 2009)
40
Desta forma pela simples leitura do texto constitucional observa-se que eacute uma
prerrogativa do Poder Puacuteblico promover a preservaccedilatildeo do meio ambiente bem como
estabelecer unidades especialmente protegidas para garantir a manutenccedilatildeo dos recursos
naturais A forma com que o Estado cumpriraacute este dever eacute atraveacutes da ediccedilatildeo de leis que
obriguem seus administrados a satisfazerem tais imposiccedilotildees Para tanto tem-se o Coacutedigo
Florestal (BRASIL 1965 2012) que prevecirc a reserva legal como um dos meios de viabilizar
essa proteccedilatildeo Eacute sobre o que discorre Trennepohl (2009 p 12)
A reserva legal eacute um dos instrumentos que permitem o cumprimento do art 225 da
Constituiccedilatildeo Federal o qual impotildee ao Poder Puacuteblico o dever de defender e preservar
o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras geraccedilotildees
(caput) atraveacutes de definiccedilatildeo de espaccedilos territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos (sect1deg III) bem como de proteger a flora e a fauna (sect1deg
VII)
Conclui-se portanto que a reserva legal introduzida pelo Coacutedigo de 65 (BRASIL
1965) modificou os contornos do direito de propriedade restringindo seu uso e que a funccedilatildeo
social do bem imoacutevel teve como origem forte conflito entre necessidades coletivas ou assim
interpretadas e o regime particular da propriedade individual (ANTUNES 2011)
1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa
As formas de limitaccedilotildees que recaem sobre a propriedade tornam-se um problema
importante em mateacuteria ambiental pois na grande maioria das vezes a natureza juriacutedica dos
espaccedilos territoriais especialmente protegidos se confunde com a limitaccedilatildeo administrativa
(MELO 2010) Assim questiona-se se realmente estamos diante de servidotildees limites
limitaccedilotildees ou delimitaccedilotildees A questatildeo natildeo eacute paciacutefica (CRIADO 2010)
A limitaccedilatildeo administrativa segundo Meireles (2004 p 568) eacute ldquotoda imposiccedilatildeo
geral gratuita unilateral e de ordem puacuteblica condicionadora do exerciacutecio de direitos ou de
atividades particulares agraves exigecircncias do bem-estar socialrdquo Satildeo implementadas de forma
imperativa obrigando o proprietaacuterio a fazer ou natildeo fazer algo na sua propriedade mas sem
retirar a utilizaccedilatildeo econocircmica deste bem ldquoJaacute a restriccedilatildeo ocorre quando a administraccedilatildeo impotildee
ao proprietaacuterio dever que o obrigue ou o impeccedila de fazer algo em sua propriedade retirando a
utilizaccedilatildeo econocircmica desta Havendo neste caso a necessidade de recomposiccedilatildeo patrimonialrdquo
(MIRANDA 2008 p 61)
41
Aleacutem do que hibridamente haacute os que entendem que a reserva legal eacute uma
desapropriaccedilatildeo indireta6 disfarccedilada de limitaccedilatildeo da propriedade que por sua vez inviabiliza a
utilizaccedilatildeo econocircmica do bem provocando uma busca por indenizaccedilatildeo Eacute nesse sentido que se
pronunciam os superiores tribunais do paiacutes como por exemplo se pronunciou o ministro Luiz
Pereira do Tribunal de Justiccedila do Estado de Satildeo Paulo ao decidir pela indenizabilidade da
aacuterea compreendida na reserva legal E ainda o proacuteprio Supremo Tribunal Federal tem se
manifestado de forma enfaacutetica ldquoimpedindo que a bdquolimitaccedilatildeo administrativa‟ esvazie o
conteuacutedo econocircmico do direito de propriedade determinando que em tais hipoacuteteses o Estado
indenize os prejuiacutezos de ordem patrimonial sofridos pelo particularrdquo (ANTUNES 2011
p163164)
Mesmo sendo um instrumento de conservaccedilatildeo ambiental com a possibilidade de
exploraccedilatildeo racional atraveacutes de manejo florestal sustentaacutevel eacute visivelmente perceptiacutevel o
conflito entre interesses particulares e a salvaguarda da vegetaccedilatildeo proposta por norma
juriacutedica Posto isto observa-se de um lado intenccedilotildees puramente econocircmicas que por sua vez
levam os proprietaacuterios a ignorarem a lei derrubando e queimando as matas que deveriam ser
preservadas a tiacutetulo de Reserva Legal ou ainda se eximindo de suas responsabilidades soacutecio-
ambientais Opotildeem-se portanto aos fortes instrumentos juriacutedicos de proteccedilatildeo das matas
brasileiras (MIRANDA 2008)
1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal
Na vigecircncia da lei anterior ou seja do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)
a forma de garantir documentalmente o cumprimento da reserva legal era averbaacute-la junto agrave
matriacutecula da propriedade constante em um Registro de Imoacuteveis Vale aqui esmiuccedilar o que eacute e
como era esse procedimento
ldquoO Registro de Imoacuteveis eacute uma instituiccedilatildeo nascida no seacuteculo XIX para dar
seguranccedila agrave contrataccedilatildeo imobiliaacuteria e na qual se inscreviam os direitos nascidos das relaccedilotildees
privadas ou civisrdquo (CRIADO 2010 p126) ldquoE que surgiu como necessidade do Estado de
controlar o direito de propriedade e como instrumento de seguranccedila juriacutedica para o traacutefego
imobiliaacuteriordquo (MELO 2010 p18) Regido pela Lei 601573 (BRASIL 1973) que cria a
figura da matriacutecula e que por sua vez representa a individualidade do imoacutevel sua situaccedilatildeo
6 Desapropriaccedilatildeo indireta ndash ldquotoda intervenccedilatildeo do Estado na propriedade que venha a impossibilitar o uso e gozo
desse bem retirando-lhe o conteuacutedo econocircmicordquo (TAVARES 1998 p 2 apud MIRANDA 2008 p 62)
42
geograacutefica e perfeita descriccedilatildeo sofrendo alteraccedilotildees objetivas e subjetivas por meio da
averbaccedilatildeo sempre com um mesmo nuacutemero de ordem facilitando incrivelmente as pesquisas e
expediccedilatildeo de certidotildees (MELO 2010)
Desta forma cada imoacutevel possui um registro onde pode ser descrito tudo o que
acontece com ele e nele por exemplo quem comprou vendeu se o dono hipotecou o bem a
um banco por causa de empreacutestimo etc Cada novidade que acontece no imoacutevel eacute inscrita sob
a forma e nome de averbaccedilatildeo no seu registro que por sua vez tem um nuacutemero de matriacutecula
para o identificar da mesma forma que um cidadatildeo tem um nuacutemero de Registro Geral (RG)
com seu nome completo data de nascimento e filiaccedilatildeo
No caso a averbaccedilatildeo da reserva legal era feita da seguinte forma o dono do
imoacutevel ldquointeressadordquo em cumprir sua obrigaccedilatildeo deveria submeter a localizaccedilatildeo da reserva
legal ao oacutergatildeo ambiental estadual que por sua vez aprovaria ou natildeo o local onde o proprietaacuterio
iria destinar agrave reserva legal Essa delimitaccedilatildeo deveria ser feita a partir de um
georreferenciamento que utiliza coordenadas geograacuteficas fixadas com o auxiacutelio de sateacutelites
conforme o Sistema Geodeacutesico Brasileiro (SGB) ao qual o Registro de imoacuteveis estaacute
vinculado (MELO 2010)
ldquoA representaccedilatildeo graacutefica da propriedade e sua atualizaccedilatildeo permitem um
conhecimento da evoluccedilatildeo do territoacuterio suas modificaccedilotildees e o impacto meio ambiental que
nele tenha ocasionado atuaccedilatildeo do acircmbito imobiliaacuterio com transcendecircncia nesta mateacuteriardquo
(LIBERAL 2007 p 121 apud MELO 2010 p3233)
Assim com a propriedade e sua respectiva aacuterea de reserva legal
georreferenciadas o proacuteximo passo seria a elaboraccedilatildeo de uma planta a partir dos dados
coletados e juntamente com o documento comprobatoacuterio de que o imoacutevel possuiacutea registro
submeter a localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva ao oacutergatildeo ambiental competente Se aprovada o
oacutergatildeo expediria um Termo de Averbaccedilatildeo da Reserva Legal que juntamente com a mesma
planta apresentada anteriormente deveria ser levado ao cartoacuterio de imoacuteveis para posterior
averbaccedilatildeo no registro do bem Nesta averbaccedilatildeo estariam descritas todas as informaccedilotildees da
reserva legal e sua localizaccedilatildeo geograacutefica
ldquoEsse procedimento documental tinha fundamento no princiacutepio da publicidade
que eacute a alma dos registros puacuteblicos porque eacute a oportunidade dada ao povo de conhecer tudo
que lhe interessa a respeito de determinados atosrdquo (BALBINO FILHO 1999 p 9 apud
MELO 2010 p34) Ateacute porque qualquer pessoa pode solicitar informaccedilotildees sobre os registros
junto ao cartoacuterio de imoacuteveis ldquoE natildeo poderia ser diferente pois o Registro de Imoacuteveis atua no
43
direito ambiental como ator coadjuvante reforccedilando a publicidade legal bem como
cooperando com o cumprimento e garantia das obrigaccedilotildees ambientaisrdquo (MELO 2010 p79)
Natildeo obstante malgrado existia a obrigaccedilatildeo legal de todo proprietaacuterio averbar a
aacuterea de RLF no Registro de Imoacuteveis o fato eacute que pequena porcentagem dos proprietaacuterios
procedeu agrave sua especializaccedilatildeo ldquoA razatildeo eacute simples trata-se de norma incompleta foi criada a
obrigaccedilatildeo mas propositalmente a sanccedilatildeo foi esquecidardquo (MELO 2010 p56)
Com a lei 126512012 (BRASIL 2012) ou Novo Coacutedigo Florestal esse
procedimento mudou Logo natildeo se deve mais averbar a reserva legal no registro do imoacutevel
Agora a obrigaccedilatildeo passou a ser o cadastramento da propriedade rural no Cadastro Ambiental
Rural (CAR) O atual meacutetodo consiste na inscriccedilatildeo do imoacutevel a partir da identificaccedilatildeo do
proprietaacuterio ou possuidor rural apresentaccedilatildeo de documento que comprove a propriedade ou a
posse e a identificaccedilatildeo do imoacutevel por meio de planta e memorial descritivo contendo a
indicaccedilatildeo das coordenadas geograacuteficas com pelo menos um ponto de amarraccedilatildeo do periacutemetro
do imoacutevel informando a localizaccedilatildeo dos remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa das Aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente das Aacutereas de Uso Restrito das aacutereas consolidadas e caso existente
tambeacutem da localizaccedilatildeo da Reserva Legal
No entanto o CAR ainda natildeo estaacute implantado no Cearaacute o que eacute realidade em
vaacuterios outros estados tambeacutem A obrigatoriedade de inscriccedilatildeo neste Cadastro eacute de ateacute dois
anos apoacutes sua implementaccedilatildeo que ateacute o momento natildeo aconteceu Todavia o secretaacuterio de
Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentaacutevel Sr Paulo Guilherme Cabral afirmou em
21052013 que o lanccedilamento em acircmbito nacional do Cadastro Ambiental Rural (CAR) deve
ocorrer ateacute o iniacutecio de junho e para agilizar a inscriccedilatildeo de mais de 5 milhotildees de propriedades
o Ministeacuterio do Meio Ambiente tem buscado ajuda de sindicatos cooperativas e associaccedilotildees
do setor agriacutecola aleacutem de outros oacutergatildeos puacuteblicos7 Infelizmente nada aconteceu ateacute e apoacutes
aquela previsatildeo
Contraditoriamente natildeo existe um prazo para o governo implantar o CAR mas
para o proprietaacuterio ou posseiro sim quando o cadastro dos imoacuteveis estiver disponiacutevel O
impasse eacute o que fazer o dono da terra aguarda o novo procedimento vigorar ou adota o
meacutetodo anterior
7 Conferir notiacutecia publicada em 22052013 no site lthttpsouagrocombrlancamento-nacional-do-car-deve-
sair-ate-junhogt
44
2 Processo de Degradaccedilatildeo
21 Conceito
A degradaccedilatildeo de uma forma geral eacute ldquoa ocorrecircncia de modificaccedilotildees fiacutesicas
metaboacutelicas ou quiacutemicas para uma forma menos complexa E a degradaccedilatildeo ambiental eacute a
alteraccedilatildeo das caracteriacutesticas do meio ambienterdquo (GUERRA et al 2009 p108) Jaacute o inciso II
do artigo 3ordm da Lei 693881 (BRASIL 1981) descreve a degradaccedilatildeo da qualidade ambiental
como alteraccedilatildeo adversa das caracteriacutesticas do meio ambiente
Para Arauacutejo et al (2008 p 19) ldquoa degradaccedilatildeo das terras envolve a reduccedilatildeo dos
potenciais recursos renovaacuteveis por uma combinaccedilatildeo de processos agindo sobre a terrardquo Os
autores ainda atestam que
Tal reduccedilatildeo levando ao abandono ou ldquodesertificaccedilatildeordquo da terra [] pode ser por
processos naturais como por exemplo o ressecamento do clima atmosfeacuterico
processos naturais de erosatildeo alguns outros de formaccedilatildeo do solo ou uma invasatildeo
natural de plantas ou animais nocivos Pode tambeacutem ocorrer por accedilotildees antroacutepicas
diretamente sobre o terreno ou indiretamente em razatildeo das mudanccedilas climaacuteticas
adversas induzidas pelo homem (ARAUacuteJO et al 2008 p 19)
Para a Food and Agriculture Organizations of the United Nations - FAO
(Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e Agricultura) o conceito de degradaccedilatildeo
de terras se refere ldquoagrave deterioraccedilatildeo ou perda total da capacidade dos solos para uso presente e
futurordquo (FAO 1980 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 23)
Observa-se portanto que a degradaccedilatildeo ambiental se natildeo combatida pressupotildee
um processo criacutetico e muito seacuterio o da desertificaccedilatildeo Eacute como considera Sales (2002) e ainda
afirma que o potencial natural das terras quanto agrave degradaccedilatildeo e a accedilatildeo antroacutepica
desencadeiam a desertificaccedilatildeo
O processo de degradaccedilatildeo ambiental pode ocorrer a partir de um ambiente que jaacute
possui caracteriacutesticas naturais limitantes eou extremas onde nele eacute inserido o fator antroacutepico
seja pela simples ocupaccedilatildeo de uma populaccedilatildeo naquela aacuterea seja pelo manejo inadequado dos
recursos naturais ali presentes De outra forma a degradaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel em ambientes
sem fragilidades naturalmente aparentes
A degradaccedilatildeo ambiental advinda da intervenccedilatildeo humana num cenaacuterio mundial
traduz-se em 15 das terras jaacute comprometidas pelas atividades humanas sendo que na
Ameacuterica do Sul dentro daquele percentual encontrou-se 1 de terras devastadas 11 de
terras leve ou moderadamente degradadas e 1 de terra forte ou extremamente degradada8
As estimativas apontam uma expansatildeo anual de 5 a 12 milhotildees de hectares de solo de um
total de 48 bilhotildees de hectares de aacutereas cultivaacuteveis e pastos ainda existentes e segundo a
ISRICUNEP (1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 28) isso resulta na seguinte constataccedilatildeo
A degradaccedilatildeo ambiental causa a perda de aproximadamente 14 milhotildees de
toneladas de gratildeos anualmente isto eacute metade da quantidade necessaacuteria para cobrir
as necessidades da populaccedilatildeo global adicional para o mesmo periacuteodo E no aspecto
financeiro para Blaikie e Brookfiel (1987) a produtividade do trabalho eacute atingida
desfavoravelmente pois a degradaccedilatildeo ambiental consome diretamente o produto do
trabalho e tambeacutem o aporte de capital na produccedilatildeo A qualidade de vida diminui
porque satildeo necessaacuterios mais tempo e um trabalho mais duro para se obter o mesmo
produto isso sem mencionar as medidas conservacionistas no campo fertilizaccedilatildeo
mais intensa ou a abertura de aacutereas para lavouras ou pastos cada vez mais distantes
[] Em ocasiotildees mais raras mas tambeacutem tatildeo dramaacuteticas a degradaccedilatildeo ambiental
forccedila o deslocamento da populaccedilatildeo Centenas de milhares de hectares tecircm de ser
abandonados a cada ano por estarem degradados demais para o cultivo ou ateacute
mesmo para pastagens (ARAUacuteJO et al 2008 p 31)
Em se tratando de semiaacuterido os recursos ambientais satildeo fraacutegeis e associados a
este quadro haacute uma populaccedilatildeo que por sua vez lanccedila matildeo dos bens naturais produzindo uma
deterioraccedilatildeo ambiental ldquoO Cearaacute por conseguinte apresenta extensas aacutereas com problemas
relativos agrave degradaccedilatildeo ambiental principalmente a desertificaccedilatildeordquo (IRAUCcedilUBA 2009 p 7)
Eacute o caso de Irauccediluba por causa da degradaccedilatildeo advinda do desmatamento e das
queimadas que exaurem os nutrientes do solo a agricultura de subsistecircncia colhe em gratildeos
menos de 500 kgha enquanto que a produccedilatildeo potencial seria cerca de 2000 kgha
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Isso explica a baixa participaccedilatildeo da agricultura na
produccedilatildeo agropecuaacuteria do municiacutepio E ldquoessa produccedilatildeo sequer paga os custos da lavoura de
forma que os pequenos produtores estatildeo pagando para plantar na maioria dos casosrdquo
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 18) As consequecircncias sociais disto satildeo ldquoum ciclo de
pobreza e miseacuteria tornando a regiatildeo cada vez mais vulneraacutevelrdquo (SALES 2002 p116)
Em niacutevel mais criacutetico segundo as Naccedilotildees Unidas a desertificaccedilatildeo degrada 60 mil
km2 de terras feacuterteis por ano em todo o mundo provocando perdas de 4 bilhotildees de doacutelares na
economia mundial No Brasil estima-se que essas perdas atinjam 100 milhotildees de doacutelares9
Por fim ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013) entendem que a degradaccedilatildeo em terras
brasileiras remonta o tempo dos colonizadores pois estes aplicavam diretamente meacutetodos e
praacuteticas proacuteprios para solos de clima temperado Assim as matas foram derrubadas queimou-
se a vegetaccedilatildeo em larga escala e lavouras nocircmades foram estabelecidas aproveitou-se o humo
8 Conferir ISRICUNEP 1991 In Arauacutejo et al 2008 p 27
9 Conferir RODRIGUES (2006) in CEARAacute 2010
46
onde este jaacute existia expuseram-se os solos agrave erosatildeo enfim saquearam-se os recursos naturais
renovaacuteveis ldquoNo caso do Cearaacute documenta-se que em 1861 a Comissatildeo Cientiacutefica enviada
para estudar o Nordeste registrava a destruiccedilatildeo acelerada da vegetaccedilatildeo principalmente nos
contrafortes das serras em virtude dos desmatamentos e queimadas para plantio de
mandiocardquo ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013 p 8)
Para uma melhor compreensatildeo quanto agrave intervenccedilatildeo humana negativa no
ambiente aponta-se o esquema proposto na figura 3 a seguir resumindo o processo de
degradaccedilatildeo ambiental apresentado pelo PAE10
(CEARAacute 2010b)
Figura 3 Sistema de Degradaccedilatildeo do Meio Ambiente Adaptado de Tricart (apud Souza 2000)
Fonte PAE (CEARAacute 2010b p 30)
10
PAECE ndash Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca
(CEARAacute 2010)
47
22 Degradaccedilatildeo Ambiental
A degradaccedilatildeo tem vaacuterias causas dentre elas a erosatildeo e o manejo inadequado do
solo Em se tratando deste uacuteltimo pode-se destacar as atividades agropecuaacuterias e suas
praacuteticas como por exemplo o desmatamento desmedido e irracional a irrigaccedilatildeo de forma
errada salinizando ou encharcando o solo o sobrepastoreio que compacta o solo e o uso de
defensivos agriacutecolas que provocam a contaminaccedilatildeo do solo e eliminam os microorganismos
ali presentes Deduz-se portanto que isso eacute um reflexo derivado de uma estrutura fundiaacuteria
extremamente riacutegida onde satildeo desenvolvidas aquelas atividades com baixo niacutevel tecnoloacutegico
levando a praacuteticas agriacutecolas predatoacuterias (SALES 2002 p116)
Com as causas naturais e as provocadas pelo homem quanto agrave degradaccedilatildeo do solo
expostas na tabela 2 a compreensatildeo fica mais clara
Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras
FATORES ACcedilOtildeES ANTROacutePICAS CONDICcedilOtildeES NATURAIS
Facilitadores
Desmatamento
Permissatildeo do superpastoreio
Uso excessivo da vegetaccedilatildeo
Taludes de corte
Remoccedilatildeo da cobertura vegetal para o cultivo
Topografia
Textura do solo
Composiccedilatildeo do solo
Cobertura vegetal
Regimes hidrograacuteficos
Diretos
Uso de maacutequinas
Conduccedilatildeo do gado
Encurtamento do pousio
Entrada excessiva de aacutegua drenagem insuficiente
Excesso de fertilizaccedilatildeo aacutecida
Uso excessivo de produtos quiacutemicos estrume
Disposiccedilatildeo de resiacuteduos domeacutesticos industriais
Chuvas fortes
Alagamentos
Ventos fortes
Fonte FAO (1980 apud Arauacutejo et al 2008 p 33)
Entendem Arauacutejo et al (2008 p 29) que as consequecircncias disto no meio rural satildeo
Um decliacutenio na produtividade ou uma necessidade crescente do aporte de nutrientes
para manter as mesmas produtividades uma vez que os ldquosubsolos geralmente
contem menos nutrientes do que as camadas superioresrdquo sendo necessaacuterio mais
fertilizante para manter a produtividade das culturas Isso por sua vez aumenta os
custos da produccedilatildeo
Partindo dessas constataccedilotildees conclui-se que satildeo seacuterias as consequecircncias
ambientais sociais e econocircmicas a esse respeito por isso satildeo necessaacuterias medidas mitigadoras
que visem minimizar esses impactos bem como meios de recuperar os danos jaacute existentes
A questatildeo torna-se ainda mais preocupante quando o olhar recai sobre os
processos de formaccedilatildeo do solo que segundo Kendall e Pimentel (1994 apud ARAUacuteJO et al
48
2008 p 21) ldquosatildeo lentos e necessitam de duzentos a mil anos para formar 25cm de solos e
isso sob condiccedilotildees agriacutecolas normaisrdquo Dessa forma a degradaccedilatildeo do solo eacute muito mais
criacutetica uma vez que eacute quase irreversiacutevel quando se trata do lapso temporal para se regenerar
ldquoA irreversibilidade tambeacutem ocorre quando o clima e as atividades humanas se combinam
tornando um solo anteriormente sadio em aacuterea devastadardquo (ARAUacuteJO et al 2008 p 2021)
221 Erosatildeo
Eacute o processo natural de decomposiccedilatildeo e transporte de sedimentos que altera as
formas de relevo Causada por agentes como vento chuvas aacuteguas correntes pode ser
acelerada por intervenccedilotildees humanas como por exemplo o desmatamento (TRIGUEIRO
2005 apud GUERRA 2009 p 129)
Arauacutejo et al (2008 p 34) afirmam que ldquoembora a erosatildeo possa ocorrer sem a
intervenccedilatildeo humana na praacutetica ela geralmente eacute iniciada eou acelerada por atividades
antroacutepicas que causam o desaparecimento da cobertura protetora da vegetaccedilatildeo natural ou
danificam a estrutura do solordquo
No PAN (BRASIL 2004 p 42) consta que ldquoa resultante do antropismo eacute
principalmente a erosatildeo particularmente a laminarrdquo que se inicia com a destruiccedilatildeo da
cobertura vegetal
A erosatildeo pode ser pela accedilatildeo da aacutegua eou do vento Em ambos os casos a camada
superficial do solo eacute retirada Para Arauacutejo et al (2008 p 24) ldquoa erosatildeo eoacutelica eacute mais comum
em climas aacuterido e semiaacuterido e eacute considerada uma forma de degradaccedilatildeo bem como a da aacutegua
que pode ateacute deformar o terreno formando ravinas e voccedilorocasrdquo Uma consequecircncia grave
disto segundo os mesmos autores eacute a reduccedilatildeo da fertilidade pelos motivos a seguir Menor
penetraccedilatildeo de raiacutezes em decorrecircncia de um solo menos denso e mais fino Reduccedilatildeo na
capacidade de retenccedilatildeo de aacutegua Varredura dos nutrientes utilizados pelas plantas
Para a FAO segundo Arauacutejo et al (2008 p 30) ldquoaproximadamente 25 bilhotildees de
toneladas de solo satildeo erodidos a cada ano sendo 17 toneladas por hectare cultivadordquo
222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica
Dentro do que jaacute foi citado anteriormente a (1) irrigaccedilatildeo inadequada que saliniza
ou encharca o solo e o (2) uso de defensivos agriacutecolas contaminando e eliminando os
49
microorganismos satildeo soacute algumas causas deste tipo de degradaccedilatildeo Aleacutem destas tem-se a (3)
acidificaccedilatildeo e o (4) esgotamento do solo causando a perda de nutrientes Para Arauacutejo et al
(2008 p 25) ldquoa salinizaccedilatildeo pode ser resultado de manejo mal realizado da irrigaccedilatildeo da alta
concentraccedilatildeo de sais na aacutegua ou atenccedilatildeo indevida agrave drenagem Esta acarreta a salinizaccedilatildeo dos
solos especialmente em regiotildees aacuteridas por que as altas taxas de evaporaccedilatildeo estimulam o
processordquo E ainda por atividades humanas que elevam a evaporaccedilatildeo em solos com material
salino ou com lenccedilol freaacutetico salino (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25)
Segundo o PAN (BRASIL 2004 p 64) ldquoa irrigaccedilatildeo produz impactos
indesejaacuteveis em qualquer aacuterea semiaacuteridardquo se realizada de forma inadequada e sem o recurso
da drenagem Complementa ainda o documento ao dizer que
Um solo submetido agrave irrigaccedilatildeo estaacute salinizado quando a concentraccedilatildeo de sais nesse
terreno se eleva a ponto de prejudicar o rendimento econocircmico das culturas A
salinizaccedilatildeo do solo afeta a germinaccedilatildeo e a densidade das culturas bem como seu
desenvolvimento vegetativo reduzindo a produtividade das lavouras Nos casos
limites a salinizaccedilatildeo pode levar agrave morte generalizada das plantas inviabilizando o
cultivo das terras afetadas (BRASIL 2004 p 64)
Aleacutem disso o uso excessivo de agrotoacutexicos eacute tido como poluiccedilatildeo e pode levar agrave
reduccedilatildeo do potencial agriacutecola da terra Resiacuteduos industriais e urbanos tambeacutem podem poluir
terras agricultaacuteveis O esgotamento do solo pelo plantio excessivo de culturas sem promover
um pousio miacutenimo do terreno exaure os nutrientes daquela aacuterea Isso eacute comum onde a
agricultura eacute praticada em solos pobres ou moderadamente feacuterteis sem a aplicaccedilatildeo suficiente
de esterco ou fertilizante (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25) E por fim
a acidez pode ser provocada quando se utiliza muitos fertilizantes aacutecidos ou em decorrecircncia
da maacute drenagem em alguns tipos de solo
223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica
Conhecidos pela compactaccedilatildeo do solo elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico e pelo
rebaixamento da superfiacutecie da terra (subsidecircncia) a esses tipos de degradaccedilatildeo natildeo se pode
deixar de somar uma causa precursora que eacute o desmatamento desmedido e irracional
deixando o solo nu e exposto agraves intempeacuteries do tempo Da mesma forma entende Cruz (1994
p 135-147 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 35) ao afirmar que ldquoa remoccedilatildeo da cobertura vegetal
inicia ou acelera a erosatildeo do solo sob a accedilatildeo da chuva e do vento de igual modo a queimada
visando o controle de ervas estimula a lixiviaccedilatildeo e a perda do solordquo
50
A compactaccedilatildeo do solo como o resultado do uso de maacutequinas pesadas em solos
instaacuteveis bem como o pisoteio do gado que via de regra eacute agravado por um
sobrepastoreio da aacuterea O impacto das gotas de chuva provoca tambeacutem o selamento
e encrostamento do solo A elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico eacute ocasionada pelo
encharcamento da terra que por sua vez natildeo tem na mesma proporccedilatildeo a capacidade
de drenagem (ARAUacuteJO et al 2008 p 25)
23 A degradaccedilatildeo em Irauccediluba
Em Irauccediluba as praacuteticas agriacutecolas e a pecuaacuteria satildeo muito ofensivas aos recursos
naturais Isso se deve agrave capacidade de suporte do ambiente que natildeo eacute respeitada gerando
impactos e danos ambientais seacuterios e de caraacuteter praticamente irreversiacuteveis O sobrepastejo de
bovinos ovinos e caprinos o desmatamento e as queimadas deixam a regiatildeo com um niacutevel de
degradaccedilatildeo altiacutessimo ateacute porque suas condiccedilotildees naturais jaacute satildeo adversas E ainda haacute outro
fator agravante - o tempo de recuperaccedilatildeo natural tambeacutem natildeo eacute observado nem cumprido
fragilizando por demais o ambiente
Para Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 7) ldquoA introduccedilatildeo da pecuaacuteria no nuacutecleo de
Irauccediluba trouxe a tiracolo a agricultura e a extraccedilatildeo de madeira A primeira baseava-se no
desmatamento indiscriminado e na queimada geral E a segunda na coleta da lenha sem
reposiccedilatildeo florestalrdquo Desta forma a degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba estaacute desenhada por
1 Superpastejo que causa prejuiacutezos sensiacuteveis agrave vegetaccedilatildeo pelo consumo das
cascas dos troncos de aacutervores e arbustos e pela remoccedilatildeo das placircntulas das espeacutecies
arboacutereas e arbustivas Nessas condiccedilotildees mudanccedilas na composiccedilatildeo floriacutestica da
vegetaccedilatildeo podem resultar em virtude do desaparecimento das espeacutecies lenhosas
forrageiras o que em aacutereas de vegetaccedilatildeo degradada acelera o processo de
desertificaccedilatildeo Em aacutereas de caatinga o pastejo por ovinos induz mudanccedilas
significativas na composiccedilatildeo botacircnica do estrato herbaacuteceo com a reduccedilatildeo da
participaccedilatildeo das gramiacuteneas mesmo em condiccedilotildees de pastoreio moderado Nesse
contexto o sobrepastejo por ovinos pode resultar no desaparecimento das gramiacuteneas
e ao final de toda cobertura herbaacutecea da vegetaccedilatildeo expondo o solo aos efeitos da
erosatildeo (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 78)
2 Agricultura rudimentar que pratica o desmatamento e faz uso do fogo O
impacto deste sobre o ecossistema eacute onipresente e caracteriza-se pela queda da
produccedilatildeo agriacutecola pela degradaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa pela erosatildeo dos solos pela
perda da biodiversidade da flora e da fauna e pelo assoreamento e salinizaccedilatildeo dos
mananciais pela perda da resiliecircncia aumentando sua fragilidade diante das
variaccedilotildees climaacuteticas tiacutepicas das regiotildees semiaacuteridas Aleacutem disto os desmatamentos e
queimadas seguidos por um curto periacuteodo de pousio terminam por levar a vegetaccedilatildeo
a um disclimax dominado por arbustos uma vez que o banco de sementes das
arboacutereas praticamente desapareceu (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 918)
3 Manejo inadequado do solo associado ao relevo da regiatildeo Satildeo trecircs tipos de
solo que se destacam em Irauccediluba litoacutelicos planossolos e luvissolos Por conta da
declividade de 8 a 45 os agricultores optam pelas terras nas encostas para
implantar os roccedilados pois haacute um menor risco de perder a safra em funccedilatildeo do
alagamento comum nas terras planas do municiacutepio durante a eacutepoca das chuvas
Nestas condiccedilotildees as perdas de solo por erosatildeo satildeo assombrosas Aleacutem disto haacute a
erosatildeo nos planossolos provocada pelo sobrepastejo com perdas de solo superiores a
51
17 tha em uma uacutenica estaccedilatildeo das chuvas o que enfatiza a importacircncia da cobertura
vegetal na proteccedilatildeo contra a erosatildeo (apud SALES 2003) Como consequecircncia do
sobrepastejo continuado ao longo provavelmente de centenas de anos a erosatildeo
laminar jaacute removeu porccedilatildeo significativa do horizonte A expondo em alguns casos o
horizonte B textural Aleacutem disso houve uma exaustatildeo dos nutrientes do solo
principalmente do foacutesforo Outro fator que tambeacutem intensifica a degradaccedilatildeo eacute o
curtiacutessimo periacuteodo de repouso Estima-se em 50 anos o tempo necessaacuterio para que a
vegetaccedilatildeo da caatinga em um luvissolo que foi destruiacuteda pela queimada do roccedilado
volte pela sucessatildeo secundaacuteria ao cliacutemax original Ora na regiatildeo este periacuteodo estaacute
reduzido a cerca de oito anos Com isto natildeo haacute a recuperaccedilatildeo da fertilidade do solo e
a recomposiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo Isto porque a velocidade de crescimento das arboacutereas
da caatinga eacute muito variaacutevel (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 810)
Concluem portanto os autores Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 17) que ldquoas praacuteticas
rotineiramente adotadas do desmatamento e do fogo a exposiccedilatildeo do solo e a diminuiccedilatildeo do
periacuteodo de pousio tecircm induzido processos de degradaccedilatildeo mormente os de erosatildeordquo
231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia
A desertificaccedilatildeo eacute um problema ambiental que assola vaacuterias partes do mundo e
vem sendo discutido desde 1977 quando em Nairoacutebi no Quecircnia aconteceu a Conferecircncia
sobre Desertificaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas ldquoA observaccedilatildeo desse processo se atribui ao cientista
Aubreville que em 1949 constatou o prolongamento da degradaccedilatildeo para o norte das zonas
mais aacuteridas do Saara e para as regiotildees semiaacuteridas e subuacutemidas do norte da Aacutefricardquo (ARAUacuteJO
et al 2008 p 26) Em 1992 na ECO 92 foi definido o conceito de desertificaccedilatildeo cuja
ocorrecircncia se daacute em aacutereas aacuteridas semiaacuteridas e subuacutemidas secas O grau de aridez eacute
estabelecido pela relaccedilatildeo PEtp que eacute a razatildeo entre a meacutedia da precipitaccedilatildeo total anual e a
evapotranspiraccedilatildeo potencial do mesmo periacuteodo metodologia esta desenvolvida por
Thornthwaite (1955) Desta forma definiu-se uma correspondecircncia entre o clima e o
resultado da relaccedilatildeo acima conforme mostra a tabela 3
Tabela 3 ndash Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez
CLIMA P ETP
Hiper-aacuterido lt 005
Aacuterido De 005 a 020
Semiaacuterido gt 020 a 050
Subuacutemido Seco gt 050 a 065
Subuacutemido Uacutemido gt 065
Fonte United Nations Environment Programme ndash UNEP (Programa
Ambiental das Naccedilotildees Unidas) 1992
52
Eacute interessante mencionar que o semiaacuterido brasileiro delimitado pela uacuteltima vez
em 1995 foi novamente demarcado a partir da iniciativa do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
Nacional (MIN) que instituiu um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) envolvendo
departamentos empresas institutos agecircncias e ateacute bancos puacuteblicos para a readequaccedilatildeo dos
criteacuterios propostos pela Lei 782789 (BRASIL 1989c) Somente a inserccedilatildeo do municiacutepio na
aacuterea de abrangecircncia da extinta Superintendecircncia de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)
e a precipitaccedilatildeo meacutedia anual de ateacute 800 mm eram condiccedilotildees para enquadrar ou natildeo
determinado municiacutepio no semiaacuterido brasileiro (SUDENE 1990) Os novos paracircmetros satildeo
mais abrangentes pois aleacutem de considerar a precipitaccedilatildeo pluviomeacutetrica meacutedia anual inferior a
800 mm avaliam se o iacutendice de aridez do municiacutepio eacute de ateacute 05 ou se o risco de seca eacute maior
que 6011
Com a nova delimitaccedilatildeo em 2005 foram incorporados mais 102 municiacutepios aos
1031 jaacute classificados de forma que a aacuterea oficialmente semiaacuterida brasileira aumentou de
8923094 km2 para 9695894 km
2 ou seja um acreacutescimo de 866
12
A figura 4 ilustra o novo formato do semiaacuterido no Brasil E no Cearaacute foram
incorporados mais 16 totalizando 150 de um universo com 184 municiacutepios Isto significa
815 do estado e 132 de toda a regiatildeo semiaacuterida do paiacutes13
O quadro atual do semiaacuterido
cearense estaacute delineado na figura 5 a seguir
Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro
Fonte MIN (BRASIL 2005c)
11
Conferir Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro MI (BRASIL 2005c) 12
Idem 13
Ibidem
53
Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute
Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)
Com relaccedilatildeo ao processo de desertificaccedilatildeo no Brasil uma aacuterea de 900000 Kmsup2 eacute
atingida afetando direta ou indiretamente mais de 15 milhotildees de brasileiros natildeo existindo no
territoacuterio nacional outro problema ambiental que atinja tamanha aacuterea e tantas pessoas
(SUDENE 2000 apud IRAUCcedilUBA 2009) A regiatildeo nordeste por sua vez concentra as
Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) incluindo os espaccedilos semiaacuteridos e subuacutemidos
secos ambos de maior abrangecircncia fiacutesico-territorial vis-agrave-vis os outros espaccedilos naturais que
conformam e estruturam o Nordeste brasileiro (BRASIL 2004)
Pesquisadores apontam como principais causas de desertificaccedilatildeo no semiaacuterido
cearense a ocupaccedilatildeo desordenada do solo o desmatamento praacuteticas de queimadas (CEARAacute
2010b) Dentro desse raciociacutenio
Os estabelecimentos agropecuaacuterios ocupam o solo principalmente com lavouras
temporaacuterias e a criaccedilatildeo de animais Estas atividades muitas vezes satildeo executadas
sem preocupaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos e contribuem para
agravar o quadro de degradaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2010b p 103)
No mesmo sentido e no tocante agraves Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) o
PAN (BRASIL 2004) destaca que as condiccedilotildees ambientais dessas aacutereas (principalmente as de
54
clima solo aacutegua e vegetaccedilatildeo) associadas agrave pressatildeo exercida sobre os recursos naturais pela
accedilatildeo antroacutepica (pressatildeo populacional formas inadequadas de uso e ocupaccedilatildeo do solo entre
outros) vecircm contribuindo para a deflagraccedilatildeo de processos de desertificaccedilatildeo em algumas de
suas sub-regiotildees Um dos motivos para isso eacute a combinaccedilatildeo entre pobreza e desigualdade de
forma que
Uma imensa massa de pequenos agricultores descapitalizados confinados em
pequenas parcelas de terras de tais aacutereas (via de regra de meacutedia ou baixa fertilidade
natural) dependentes de seu trabalho para a produccedilatildeo de alimentos para
autoconsumo de forragens para seus animais mas necessitando produzir excedentes
comercializaacuteveis tenderaacute naturalmente a sobreutilizar os recursos naturais
contribuindo dessa forma para agravar os processos de degradaccedilatildeo Nas ASD este
ciacuterculo vicioso eacute agravado pela ocorrecircncia de secas perioacutedicas que levam agrave perdas
significativas e recorrentes de produccedilatildeo e de renda Neste sentido as secas
potencializam o grau de degradaccedilatildeo levando a vulnerabilidade ambiental a niacuteveis
mais elevados Os efeitos das secas sobre a sauacutede e a inseguranccedila alimentar e
nutricional tambeacutem satildeo conhecidos e consideraacuteveis (BRASIL 2004 p 106)
Classificando a susceptibilidade dessas aacutereas Matallo Jr (1999) construiu uma
relaccedilatildeo entre a aptidatildeo agrave desertificaccedilatildeo em funccedilatildeo do iacutendice de aridez conforme se vecirc pela
tabela 4
Tabela 4 - Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo
IacuteNDICE DE ARIDEZ SUSCEPTIBILIDADE Agrave
DESERTIFICACcedilAtildeO
005 a 020 Muito Alta
021 a 050 Alta
051 a 065 Moderada Fonte MATALLO JR (1999)
Nesse iacutenterim o municiacutepio de estudo do corrente trabalho tem iacutendice de aridez
conforme adotado pela UNEP de acordo com o que ilustra na figura 6
55
Figura 6 Iacutendice de Aridez (UNEP) do municiacutepio de Irauccediluba
O Cearaacute por sua vez eacute ldquoo Estado com a maior aacuterea relativa sob niacuteveis altos de
desertificaccedilatildeordquo (LEMOS 1995 apud FOLHES e VIANA 2001 p 5) Seu processo de
ocupaccedilatildeo e uso de terras via de regra foi marcado pela apropriaccedilatildeo dos recursos naturais de
forma a degradaacute-los Esta foi uma das causas para a concepccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Estadual
de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (PAE) cujo objetivo eacute
Contribuir para a convivecircncia equilibrada com o semiaacuterido por meio da
sustentabilidade ambiental do bioma caatinga a partir de poliacuteticas ambientais
sociais e econocircmicas focadas na reduccedilatildeo da pobreza A gestatildeo do Programa
pressupotildee a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo
democraacutetico e a participaccedilatildeo da sociedade (CEARAacute 2010b p 20)
No Estado existem trecircs nuacutecleos em processo de desertificaccedilatildeo Localizam-se no
Sertatildeo dos Inhamuns Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte e Sertatildeo de Jaguaribe abrangendo
respectivamente os municiacutepios de Arneiroz Independecircncia e Tauaacute Canindeacute Irauccediluba
Miraiacutema e Santa Quiteacuteria Jaguaretama Jaguaribara Jaguaribe Alto Santo e Morada Nova
(CEARAacute 2010b) Totalizam portanto 12 cidades com os maiores iacutendices de degradaccedilatildeo
ambiental do estado portanto susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo num grau muito grave como se
pode ver pelas figuras 7 e 8
No entanto o presente trabalho se ateraacute tatildeo somente ao municiacutepio de Irauccediluba
abrangido pelo nuacutecleo Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte
Fonte NOLEcircTO (2005)
56
Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave
desertificaccedilatildeo no Cearaacute desertificaccedilatildeo
Fonte IPECE (CEARAacute 2010a) Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)
O PAE (CEARAacute 2010b) utilizou para a formulaccedilatildeo do iacutendice de susceptibilidade
agrave desertificaccedilatildeo indicadores sociais que apontam a forma de ocupaccedilatildeo e tudo que dela
decorre e indicadores econocircmicos que representam as atividades humanas exercidas no
municiacutepio Vale ressaltar que as caracteriacutesticas do meio ambiente da regiatildeo natildeo foram
ignoradas muito pelo contraacuterio elas definiram as aacutereas classificadas como susceptiacuteveis agrave
desertificaccedilatildeo A lista abaixo demonstra os criteacuterios mensurados e os aspectos ambientais
observados
Indicadores sociais
1 Proporccedilatildeo da aacuterea das grandes propriedades na aacuterea total dos imoacuteveis rurais em
2005
2 Razatildeo entre alfabetizados e natildeo-alfabetizados de 5 ou mais anos de idade em
2000
3 Taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais de idade em 2000
(percentagem)
4 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino fundamental da populaccedilatildeo de 7 a 14
anos de idade em 2005
5 Taxa de evasatildeo no ensino fundamental em 2005
57
6 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino meacutedio da populaccedilatildeo de 15 a 17 anos de
idade em 2005
7 Taxa de evasatildeo escolar no ensino meacutedio em 2005
8 Densidade demograacutefica em 2006 (habitanteskm2)
Indicadores econocircmicos
1 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de carvatildeo vegetal pela aacuterea do municiacutepio em 2006
(tonha)
2 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de lenha pela aacuterea do municiacutepio em 2006 (m3ha)
3 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)
4 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)
5 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como pequena
propriedade em 2005 (haimoacutevel)
6 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como minifuacutendio em
2005 (haimoacutevel)
7 Razatildeo do consumo de energia eleacutetrica rural por consumidores de energia eleacutetrica
rural em 2005
8 Proporccedilatildeo de induacutestrias de transformaccedilatildeo no total de empresas industriais ativas
em 2005
9 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de feijatildeo em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
10 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com arroz em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
11 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com milho em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
12 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de mandioca em 2006 na aacuterea total dos
estabelecimentos agropecuaacuterios em 1996
13 Razatildeo do efetivo de bovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
14 Razatildeo do efetivo de ovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
15 Razatildeo do efetivo de caprinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
16 Razatildeo do efetivo de suiacutenos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
17 Produto Interno Bruto per capita a preccedilos de mercado em 2004
Caracteriacutesticas ambientais
1 Degradaccedilatildeo da cobertura vegetal
2 Assoreamento dos rios
3 Pastoreio excessivo
4 Perda da biodiversidade
5 Perda da capacidade produtiva do solo
6 Baixa relaccedilatildeo entre capacidade produtiva dos recursos naturais e sua capacidade
de recuperaccedilatildeo
A anaacutelise dos 25 paracircmetros entremeados com as condiccedilotildees ambientais estaacute
devidamente compilada no Quadro 2 ndash Caracterizaccedilatildeo das ASDs nos Sertotildees de Irauccediluba e
Centro-Norte do PAE (CEARAacute 2010b) As constataccedilotildees ensejam problemas no meio
ambiente a partir dos inuacutemeros gargalos sociais e econocircmicos como por exemplo a produccedilatildeo
agriacutecola em lavouras temporaacuterias na maior proporccedilatildeo dos estabelecimentos rurais o grande
iacutendice de pobres da regiatildeo o consumo de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo cada vez maior
58
Natildeo se pode deixar de mencionar os problemas ambientais que deixam a aacuterea em
questatildeo muito mais vulneraacutevel aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas e da desertificaccedilatildeo Satildeo
eles degradaccedilatildeo dos solos e da cobertura vegetal primaacuteria o sobrepastoreio o
desencadeamento e expansatildeo de processos erosivos acelerados com ocorrecircncia muito
frequente de afloramentos rochosos e chatildeos pedregosos perda de solos e biodiversidade
empobrecida baixa frequecircncia de espeacutecies lenhosas da caatinga e processos erosivos muito
ativos em funccedilatildeo do aumento da torrencialidade do escoamento superficial
Assim conclui-se que natildeo haacute como dissociar o quadro social e econocircmico das
nuances ambientais de um municiacutepio ou regiatildeo
Em se tratando da ASD nos Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte faz-se necessaacuterio
expor os nuacutemeros encontrados e as respectivas conclusotildees a partir dos levantamentos feitos
pelo PAE (CEARAacute 2010b) O Iacutendice Econocircmico e Social de Susceptibilidade agrave
Desertificaccedilatildeo (IESSD) ilustrado pelas figuras 9 e 10 por exemplo aponta as possiacuteveis causas
e os principais agentes causadores do processo de desertificaccedilatildeo sem quantificar ou mensurar
seu niacutevel
Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no Iacutendice Social de Susceptibilidade agrave
Desertificaccedilatildeo (ISSD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)
Fonte PAE (CEARAacute 2010b)
0
5
10
15
20
25
30
Contribuiccedilatildeo no ISSD ()
59
Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no Iacutendice Econocircmico de Susceptibilidade agrave
Desertificaccedilatildeo (IESD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)
Fonte PAE (CEARAacute 2010b)
Assim analisando os dois graacuteficos acima eacute possiacutevel perceber que sob o aspecto
social a concentraccedilatildeo de terras e a educaccedilatildeo datildeo a maior contribuiccedilatildeo ao iacutendice de
susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo enquanto que no vieacutes econocircmico destacam-se as aacutereas
destinadas a imoacuteveis rurais e o PIB ldquoper capitardquo Eacute um cenaacuterio deveras preocupante visto que
aquela regiatildeo jaacute eacute dotada de condiccedilotildees naturais adversas Uma populaccedilatildeo sem educaccedilatildeo
inserida num niacutevel de pobreza e ocupante de grande parte da zona rural que eacute onde as
atividades potencialmente degradadoras satildeo praticadas traduz uma combinaccedilatildeo
extremamente alarmante pois fazem uso de praacuteticas predatoacuterias e potencializam a
susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo
Segundo o PAE (CEARAacute 2010b p 123) nessa regiatildeo satildeo observadas ldquomarcas
configuradas de desertificaccedilatildeo como o elevado estaacutegio de degradaccedilatildeo do solo comprometendo
os processos naturais de sucessatildeo processos erosivos acelerados perda de solo e
biodiversidade espeacutecies lenhosas rarefeitasrdquo
05
1015202530354045
Contribuiccedilatildeo no IESD ()
60
Sob um olhar mais aprofundado voltado agrave Irauccediluba haacute maior destaque para as
atividades de agricultura e pecuaacuteria Lavouras temporaacuterias como feijatildeo milho e mandioca satildeo
as mais praticadas pelo pequeno agricultor A figura 11 aponta o percentual de
estabelecimentos ocupados com atividades agropecuaacuterias no municiacutepio
Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios Adaptado
Fonte PAE (CEARAacute 2010b)
Com relaccedilatildeo agrave extraccedilatildeo legalizada de madeira no municiacutepio de Irauccediluba o IBGE
informa que tanto a produccedilatildeo de carvatildeo como o corte de lenha entre 2004 a 2011 foi estaacutevel
Aquela girou em torno de 71 toneladas com um custo variaacutevel de R$ 1100000 a 2300000
ao ano enquanto que este ficou na casa dos 10000 m3 resultando num rendimento que
oscilou de R$ 4200000 a R$ 5700000 anuais14
Por fim Irauccediluba embora representando um dos quatro nuacutecleos de desertificaccedilatildeo
do Nordeste natildeo apresenta a pior condiccedilatildeo socioeconocircmica considerando a maioria dos
indicadores analisados (CEARAacute 2010b) Desta forma conclui-se que estes aspectos natildeo
determinam a desertificaccedilatildeo mas influenciam principalmente se as condiccedilotildees ambientais satildeo
limitantes Assim uma economia e uma sociedade deficientes inseridas num ambiente fraacutegil
natildeo tecircm como deixar de gerar degradaccedilatildeo
14
Conferir em lthttpwwwibgegovbrcidadesatxtrasperfilphpcodmun=230610ampsearch=ceara|iraucubagt
0
10
20
30
40
50
60
Irauccediluba
61
24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo do processo de degradaccedilatildeo
Embora o quadro de degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba seja por demais
preocupante ainda haacute condiccedilotildees para sua reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica a partir de
teacutecnicas e praacuteticas correspondentes ao tipo de solo ao estaacutegio de degradaccedilatildeo da aacuterea e ao
histoacuterico do uso da terra (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Continuam os autores
Assim considerando as extensotildees sob o planossolo que ocupam uma aacuterea total de
27321 ha duas recomendaccedilotildees podem ser propostas a regeneraccedilatildeo natural e a
adubaccedilatildeo organo-mineral A regeneraccedilatildeo natural eacute um processo muito lento e no
caso do planossolo de Irauccediluba dificilmente proporcionaraacute condiccedilotildees para retorno agrave
produtividade esperada [](ARAUacuteJO FILHO 1992) Entatildeo estaacute claro que a
recuperaccedilatildeo natural via pousio eacute muito lenta mas constitui uma opccedilatildeo em muitos
casos A aplicaccedilatildeo de adubo orgacircnico (estercos) eacute outra alternativa de recuperaccedilatildeo
pastoril que poderia ser utilizada no nuacutecleo de Irauccediluba Assim a fertilizaccedilatildeo com
foacutesforo constitui uma boa opccedilatildeo para a recuperaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica das
pastagens degradadas nos planossolos do nuacutecleo de Irauccediluba (ARAUacuteJO FILHO e
SILVA 2013 p 1013)
Outros fatores que envolvem o processo de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo
em Irauccediluba segundo Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 15) eacute ldquoa fixaccedilatildeo da agricultura no
terreno a sustaccedilatildeo do desmatamento e do uso do fogo visando agrave mitigaccedilatildeo dos impactos
antroacutepicos negativos a recuperaccedilatildeo dos agroecossistemas o aumento da produtividade
agriacutecola e da renda familiarrdquo Para tanto os mesmos autores sugerem que
A agrossilvicultura eacute com certeza o modelo de exploraccedilatildeo da terra mais apropriado
Dentre os modelos de sistemas agroflorestais o silvopastoril e o agrossilvipastoril
seriam os mais indicados para as condiccedilotildees de Irauccediluba O primeiro associa o
manejo florestal com a exploraccedilatildeo pastoril e o segundo associa o manejo florestal a
exploraccedilatildeo pastoril e a agricultura formando o sistema lavoura-pecuaacuteria-floresta O
modelo silvopastoril pode ser estabelecido seja para ter a madeira como o principal
produto seja para ter na exploraccedilatildeo animal a principal atividade (ARAUacuteJO FILHO
e SILVA 2013 p 15)
[]
A opccedilatildeo pela agrossilvicultura como a alternativa mais apropriada para a
reabilitaccedilatildeo dos solos de potencial agriacutecola mais elevado fundamenta-se na garantia
que este sistema de uso da terra traz a seguranccedila ambiental e a seguranccedila alimentar
No primeiro caso o solo eacute protegido contra a erosatildeo pelo acuacutemulo de serrapilheira
tem sua fertilidade reposta e sua biologia ativada pela deposiccedilatildeo da mateacuteria
orgacircnica Os recursos hiacutedricos satildeo beneficiados pela manutenccedilatildeo da mata ciliar
evitando o assoreamento das nascentes e reservatoacuterios e pela reduccedilatildeo das perdas de
aacutegua pelo solo A flora com a sustaccedilatildeo das queimadas e dos desmatamentos tem sua
biodiversidade incrementada e integraccedilatildeo das aacutervores no sistema produtivo
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2021)
Assim sendo o principal objetivo da recuperaccedilatildeo de uma aacuterea degradada deve ser
a recomposiccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica do solo Isto porque para que se restabeleccedila a
62
funcionalidade do ecossistema eacute fundamental a revitalizaccedilatildeo da biologia do solo principal
responsaacutevel pela circulaccedilatildeo de nutrientes15
Aleacutem disso continuam os mesmos autores
O aumento da mateacuteria orgacircnica e a formaccedilatildeo de uma cobertura morta sobre o solo o
protegeratildeo contra a erosatildeo laminar e melhoraratildeo sua capacidade de retenccedilatildeo de
aacutegua [] Os nutrientes de ecossistemas florestais de clima tropical se concentram
na biomassa e natildeo no solo como nos de clima temperado por isso os meacutetodos de
exploraccedilatildeo dos solos deveriam estar fundamentados no menor distuacuterbio possiacutevel do
meio bioloacutegico e no reforccedilo do aporte de mateacuteria orgacircnica (ARAUacuteJO FILHO e
SILVA 2013 p 710)
Nesse sentido para ambientes tropicais os sistemas de produccedilatildeo agroflorestais
(SAF) estatildeo sendo avaliados e propostos como alternativas ecologicamente sustentaacuteveis de
exploraccedilatildeo O uso de espeacutecies arboacutereas constitui a garantia de manter ativa a circulaccedilatildeo de
nutrientes e o aporte significativo de mateacuteria orgacircnica condiccedilatildeo essencial para se cultivar de
maneira continuada os solos tropicais16
No caso do bioma caatinga e de ambiente semiaacuterido segundo Arauacutejo Filho e silva
(2013) trecircs recomendaccedilotildees fundamentais garantem quando seguidas a sustentabilidade das
tecnologias de manipulaccedilatildeo
Preservaccedilatildeo de ateacute 400 aacutervores por hectare ou o equivalente a 40 de cobertura
utilizaccedilatildeo maacutexima de 60 da forragem disponiacutevel e preservaccedilatildeo da mata ciliar em
toda a malha de drenagem da pastagem Esta tecnologia jaacute vem sendo utilizada pelos
produtores na regiatildeo de Irauccediluba desde o iniacutecio da deacutecada de 1980 envolvendo
uma aacuterea de cerca de 3000 ha (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 1617)
Outras maneiras de controle e combate do processo de degradaccedilatildeo cuja iniciativa
vem do governo em suas diferentes formas e esferas satildeo os programas e as poliacuteticas puacuteblicas
a criaccedilatildeo de leis e normas sobre o tema a disponibilidade de recursos a fiscalizaccedilatildeo dos
oacutergatildeos competentes dentre outros
Ilustrando o primeiro exemplo em abril de 2011 a Superintendecircncia Estadual do
Meio Ambiente (SEMACE) e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) celebraram um convecircnio
de assistecircncia teacutecnica e financeira para a realizaccedilatildeo da pesquisa ldquoRevitalizaccedilatildeo da cobertura
vegetal nativa atraveacutes da recomposiccedilatildeo das matas ciliares e enriquecimento das aacutereas
destinadas a compor reserva legal dos imoacuteveis rurais do municiacutepio de Irauccedilubardquo Para a
consecuccedilatildeo dos objetivos propostos foi concedido um montante de R$ 4920000 (quarenta e
nove mil e duzentos reais) com fins de recuperar a qualidade do meio biofiacutesico atraveacutes do
plantio de essecircncias florestais nativas e plantas adaptadas agraves condiccedilotildees edafoclimaacuteticas da
aacuterea de abrangecircncia do projeto para
15
Como recomenda Lima (2009) In Arauacutejo Filho e Silva (2013) 16
Idem
63
1 Minimizar os impactos ambientais adversos causados pelos sistemas tradicionais
de exploraccedilatildeo econocircmica
2 Implantar um viveiro florestal permanente destinado agrave produccedilatildeo de mudas
nativas e adaptadas agraves condiccedilotildees locais associando-lhe atividades educativas e
de natureza formativa para o puacuteblico interessado
3 Incentivar o cultivo de essecircncias florestais nativas arboacutereas e frutiacuteferas que
contribuiratildeo para gerar alternativas de diversificaccedilatildeo de renda e por conseguinte
a melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo do municiacutepio
4 Fomentar a produccedilatildeo e o plantio de essecircncias florestais nativas ameaccediladas de
extinccedilatildeo
5 Viabilizar a recomposiccedilatildeo de matas ciliares dentro dos limites de abrangecircncia da
aacuterea das bacias hidrograacuteficas dos recursos hiacutedricos naturais denominados de
Riacho Aracatiaccedilu e Riacho Curu e do principal reservatoacuterio denominado de
Accedilude Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu seja em aacutereas de domiacutenio puacuteblico seja em
aacutereas de domiacutenio privado
6 Estabelecer a recuperaccedilatildeo da cobertura vegetal nativa de aacutereas de reserva legal
das propriedades rurais
O prazo do convecircnio era de doze meses ou seja ateacute abril de 2012 todavia foi
renovado por aditivo ateacute abril de 2013 Seu lanccedilamento soacute se deu em dezembro de 2011 e ateacute
agosto de 2012 o viveiro florestal ainda natildeo havia sido construiacutedo mas palestras com os
temas Desmatamento e Reserva Legal Fogo Desmatamento e Preservaccedilatildeo dos Accediludes
Resiacuteduos Soacutelidos Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal Aacuterea de
Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal foram ministradas pela SEMACE
Infelizmente nada mais foi feito pois dificuldades como a burocracia com o banco
financiador e a seca que assola o municiacutepio inviabilizando a produccedilatildeo e o plantio das mudas
levaram agrave extinccedilatildeo do convecircnio uma vez que seu prazo natildeo foi renovado numa segunda
oportunidade O recurso investido foi devolvido ao BNB e natildeo haacute qualquer previsatildeo de
retomada do projeto
Natildeo se pode deixar de registrar a indignaccedilatildeo que esse desfecho causa naqueles
que estudam e buscam uma saiacuteda Muitas vezes se natildeo todas as vezes ela existe mas eacute
deveras negligenciada ou pouco valorizada O que eacute que isso O Brasil eacute um paiacutes rico natildeo
falta recurso o que muito falta eacute vontade coragem e preferecircncia por aquilo que se deve
fazer Isto eacute um ultraje ao homem do campo que humilde e inocentemente espera confiante
em alguma providecircncia de seus representantes ou por quem faz as suas vezes
De modo diverso as normas 43 e 44 de 2005 (BRASIL 2005 a b) e a 512006
(BRASIL 2006a) que seratildeo explanadas no item 331 criadas pelo INCRA satildeo outras
medidas parecidas com o convecircnio citado acima pois tambeacutem foram elaboradas com o intuito
de recuperar e conservar os recursos naturais em aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e de
64
reserva legal mesmo sendo especiacuteficas para projetos de assentamento agraacuterio federal Atraveacutes
delas um determinado valor pode ser cedido por aquele oacutergatildeo e destinado agraves famiacutelias
assentadas para promoverem agrave implantaccedilatildeo de um projeto de recuperaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo
Como Poliacuteticas Puacuteblicas em niacutevel local e estadual que englobam o problema da
degradaccedilatildeo ambiental amplamente aqui discutido inclusive o mais seacuterio deles que eacute a
desertificaccedilatildeo destaca-se o Plano de Accedilatildeo Municipal de Combate agrave Desertificaccedilatildeo de
Irauccediluba (IRAUCcedilUBA 2009) e o Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e
Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (CEARAacute 2010b) O primeiro levou nove anos para se tornar
poliacutetica puacuteblica e contou com recursos do fundo de apoio a iniciativas locais de combate agrave
desertificaccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Nacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos
Efeitos da Seca (BRASIL 2004) Sua funccedilatildeo eacute orientar e desenvolver accedilotildees no sentido de
controlar e prevenir o avanccedilo da desertificaccedilatildeo e quando possiacutevel recuperar aacutereas degradadas
para o uso produtivo ou seja alcanccedilar o desenvolvimento sustentaacutevel nas aacutereas sujeitas agrave seca
e a desertificaccedilatildeo do Municiacutepio Como objetivos baacutesicos estatildeo as contribuiccedilotildees para
1 A formulaccedilatildeo do planejamento de uso sustentaacutevel dos recursos naturais do
Municiacutepio
2 A melhoria da produtividade e produccedilatildeo agriacutecola nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e
desertificaccedilatildeo
3 A reduccedilatildeo da vulnerabilidade e melhoria da qualidade de vida das populaccedilotildees
residentes nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e agrave desertificaccedilatildeo
4 A articulaccedilatildeo de accedilotildees setoriais do governo (em niacutevel federal estadual e
municipal) com vista agrave sinergia dos processos de planejamento
5 A melhoria da capacidade de enfrentamento dos problemas de desertificaccedilatildeo e
seca por parte das populaccedilotildees locais (IRAUCcedilUBA 2009 p 24)
O PAE (CEARAacute 2010b) em seu objetivo global e em termos gerais natildeo eacute muito
diferente do PAM (IRAUCcedilUBA 2009) pois visa contribuir para a convivecircncia com o
semiaacuterido e sustentabilidade ambiental do bioma caatinga Busca promover poliacuteticas
ambientais sociais e econocircmicas para a reduccedilatildeo da pobreza procurando em sua
administraccedilatildeo a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo democraacutetico
e a participaccedilatildeo da sociedade E recorre agrave negociaccedilatildeo transparente e responsaacutevel de conflitos
como forma privilegiada de superar as diferenccedilas de uso dos recursos naturais
25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira
A lei 6938 (BRASIL 1981) promulgada em 1981 foi a primeira norma juriacutedica
tratando da temaacutetica ambiental no Brasil Como bem diz Milareacute (2009) ela tem um caraacuteter
65
inovador pois sua implementaccedilatildeo seus resultados assim como a estabilidade e a efetividade
que denota constituem um salto de qualidade na vida puacuteblica brasileira
Com nascedouro um tanto quanto isolado a lei 693881 (BRASIL 1981)
instituiu a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente para a preservaccedilatildeo melhoria e recuperaccedilatildeo da
qualidade ambiental propiacutecia agrave vida visando assegurar no Paiacutes condiccedilotildees ao
desenvolvimento soacutecioeconocircmico aos interesses da seguranccedila nacional e agrave proteccedilatildeo da
dignidade da vida (artigo 2ordm) Tais objetivos estatildeo baseados em princiacutepios norteadores dos
quais se destacam para a presente pesquisa a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas (inciso VIII) e a
proteccedilatildeo de aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX)
Instrumentalizando a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente quanto agrave degradaccedilatildeo
ambiental existem as penalidades disciplinares ou compensatoacuterias ao natildeo cumprimento das
medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo ou correccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental conforme o artigo
9ordm inciso IX da Lei 693881 (BRASIL 1981) Em termos de sanccedilatildeo o artigo 14 disciplina
que os danos causados pela degradaccedilatildeo da qualidade ambiental sujeitaratildeo os transgressores agrave
multa simples ou diaacuteria agrave perda ou restriccedilatildeo de incentivos e benefiacutecios fiscais concedidos
pelo Poder Puacuteblico agrave perda ou suspensatildeo de participaccedilatildeo em linhas de financiamento em
estabelecimentos oficiais de creacutedito e agrave suspensatildeo de sua atividade
Para evitar a sanccedilatildeo pratica-se a prevenccedilatildeo e uma forma de prevenir a degradaccedilatildeo
eacute o licenciamento ambiental conforme preconiza o artigo 10 daquela mesma lei O natildeo
cumprimento disto enseja o enquadramento do representante da atividade ou do
estabelecimento no artigo 60 da Lei 960598 (BRASIL 1998) que versa sobre crimes
ambientais
Art 10 A construccedilatildeo instalaccedilatildeo ampliaccedilatildeo e funcionamento de estabelecimentos e
atividades utilizadores de recursos ambientais efetiva ou potencialmente poluidores
ou capazes sob qualquer forma de causar degradaccedilatildeo ambiental dependeratildeo de
preacutevio licenciamento ambiental (BRASIL 1981 p 7)
Art 60 Construir reformar ampliar instalar ou fazer funcionar em qualquer parte
do territoacuterio nacional estabelecimentos obras ou serviccedilos potencialmente
poluidores sem licenccedila ou autorizaccedilatildeo dos oacutergatildeos ambientais competentes ou
contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes Pena - detenccedilatildeo de um a seis meses ou multa ou ambas as penas cumulativamente
(BRASIL 1998 p 12)
Outra previsatildeo salutar na Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente eacute o dever que
entidades e oacutergatildeos de financiamento e incentivos governamentais tecircm de condicionar a
aprovaccedilatildeo de projetos financiaacuteveis ao licenciamento ambiental Aleacutem disto devem constar em
tais projetos a realizaccedilatildeo de obras e aquisiccedilatildeo de equipamentos destinados ao controle de
degradaccedilatildeo ambiental e a melhoria da qualidade do meio ambiente (artigo 12 paraacutegrafo
66
uacutenico) Isto tudo porque a instituiccedilatildeo que financia atividades eou empreendimentos que por
ventura causem algum dano tambeacutem se tornam corresponsaacuteveis pelo passivo ambiental
respondendo perante os oacutergatildeos competentes e os guardiatildees da lei
Por fim eacute pertinente mencionar que toda accedilatildeo ou omissatildeo prevista na legislaccedilatildeo
ambiental brasileira seja nas leis que criam diretrizes como nas que preveem sanccedilotildees visa o
combate o controle a reparaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo da degradaccedilatildeo aos bens naturais como um
todo O impasse eacute existir inuacutemeras normas distintas que dispotildeem sobre vaacuterios recursos
ambientais e que satildeo criadas em eacutepocas diferentes como por exemplo o Coacutedigo Florestal
(BRASIL 2012) o Coacutedigo de Caccedila (BRASIL 1967a) o Coacutedigo Mineraacuterio (BRASIL
1967b) o Coacutedigo de Pesca (BRASIL 2009) o Coacutedigo de Aacuteguas (BRASIL 1934a) a Poliacutetica
Nacional de Recursos Hiacutedricos (BRASIL 1997) o Programa Nacional de controle da
qualidade do ar (BRASIL 1989a) dentre outras O ideal eacute que houvesse a reuniatildeo de todos os
dispositivos em uma legislaccedilatildeo soacute como o fez a lei de crimes ambientais que versa sobre
infraccedilotildees cometidas aos bens naturais apontados pelas diversas normas citadas
Em niacutevel estadual o Cearaacute dispotildee de um arcabouccedilo legal que reflete um
pouco o que jaacute estaacute disposto nas leis federais no entanto cabe aqui citar algumas normas
pertinentes ao assunto estudado
A Resoluccedilatildeo nordm 092003 (CEARAacute 2003) do Conselho Estadual do Meio
Ambiente (COEMA) estabeleceu a compensaccedilatildeo ambiental como forma de prevenir eou
obrigar o poluidorusuaacuterio pagador ou degradador a indenizar os danos causados em
decorrecircncia da utilizaccedilatildeo de recursos naturais para fins econocircmicos Trata-se de medida
arrecadatoacuteria anterior ao processo de licenciamento ambiental e condicionada ao firmamento
de um Termo de Compromisso A supracitada norma definiu percentual de 05 a ser recolhido
com base no valor do empreendimento a ser implantado A destinaccedilatildeo dos valores recolhidos
seria via de regra a Unidades de Conservaccedilatildeo
A Lei Complementar nordm 482004 (CEARAacute 2004) criou o Fundo e o Conselho
Estadual Gestor do Meio Ambiente (FEMA) onde uma de suas finalidades eacute o ressarcimento
da coletividade por danos causados ao meio ambiente Reza o artigo 10 que qualquer cidadatildeo
pode propor projetos relativos agrave reconstituiccedilatildeo reparaccedilatildeo preservaccedilatildeo e prevenccedilatildeo do meio
ambiente A dita lei foi regulamentada pelo Decreto Estadual nordm 277192005 (CEARAacute 2005)
que por sua vez dispocircs accedilotildees programas planos e projetos para a melhoria e recuperaccedilatildeo da
qualidade ambiental no Estado do Cearaacute Agrave pertinecircncia da presente pesquisa cabe destacar
uma diretriz do FEMA prevista no inciso VIII do artigo 3ordm daquele Decreto
67
Artigo 3ordm
[]
VIII - Promover a proteccedilatildeo da biodiversidade e dos ecossistemas associados e aacutereas
ameaccediladas de degradaccedilatildeo atraveacutes da preservaccedilatildeo conservaccedilatildeo e administraccedilatildeo de
biomas representativos bem assim da recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas
possibilitando melhor controle de atividades potencialmente poluidoras nos termos
da legislaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2005 p 2)
Eacute essencial citar a Lei 1248895 (CEARAacute 1995) que dispotildee sobre a Poliacutetica
Florestal do Estado do Cearaacute Um de seus objetivos guarda relaccedilatildeo direta com este trabalho
qual seja promover a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas e em processos de degradaccedilatildeo
especialmente nas aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e reserva legal bem como proteger as
aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX do artigo 3ordm) Para tanto um dos instrumentos
previsto e deveras necessaacuterio para a consecuccedilatildeo de tais fins eacute a fiscalizaccedilatildeo a aplicaccedilatildeo de
penalidades accedilotildees disciplinares e compensatoacuterias das medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo dos
recursos naturais ou a correccedilatildeo da degradaccedilatildeo do meio ambiente (inciso XI do artigo 4ordm)
E por fim eacute cabiacutevel mencionar a Lei 141982008 (CEARAacute 2008) pois institui a
Poliacutetica Estadual de Combate e Prevenccedilatildeo agrave Desertificaccedilatildeo e tem por base a Convenccedilatildeo
Internacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo nos Paiacuteses afetados por Seca Grave eou
Desertificaccedilatildeo Como jaacute mencionado no Cearaacute existem trecircs nuacutecleos com aacutereas susceptiacuteveis agrave
desertificaccedilatildeo e nada mais apropriado que o Estado dispor de uma legislaccedilatildeo proacutepria sobre o
tema Diante disto destacam-se os seguintes dispositivos
Art 1ordm Institui a Poliacutetica Estadual de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Desertificaccedilatildeo a qual
tem por objetivos
[]
III - instituir mecanismos de proteccedilatildeo conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da flora fauna e
de solos degradados nas aacutereas de risco ou impactadas pela desertificaccedilatildeo
[]
Art 3ordm Cumpre ao Poder Puacuteblico
I - diagnosticar o avanccedilo do processo de degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo ambiental nas
aacutereas afetadas
II - definir um plano de contingecircncia para mitigaccedilatildeo dos efeitos da degradaccedilatildeo
ambiental
[]
XI - estimular o desenvolvimento de agroinduacutestrias baseadas em alimentos
ambientalmente e culturalmente adaptados ao meio ambiente
[]
XIV - estimular a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
e de Reserva Legal []
[]
Art 5ordm No tocante agrave agricultura irrigada o Poder Puacuteblico deveraacute
[]
II - diagnosticar as aacutereas cujos solos sejam susceptiacuteveis agrave salinizaccedilatildeo e acuacutemulo de
compostos de soacutedio e fomentar a recuperaccedilatildeo de solos afetados por salinizaccedilatildeo e
acuacutemulo de compostos de soacutedio
Art 6ordm No tocante agrave agricultura sequeiro o Poder Puacuteblico deveraacute
[]
68
II - incentivar o manejo sustentaacutevel dos recursos naturais apoiando o
desenvolvimento de sistemas agroflorestais e agrosilvopastoris diversificados e
integrados como forma de conciliar a recuperaccedilatildeo florestal e as atividades agriacutecolas
(CEARAacute 2008 p 1 - 3)
251 Lei ambiental de Irauccediluba
O municiacutepio de Irauccediluba criou sua proacutepria Poliacutetica Ambiental a partir da Lei
5652007 (IRAUCcedilUBA 2007) Nela estatildeo dispostos princiacutepios e instrumentos de accedilatildeo que
visam agrave qualidade ambiental em seus diferentes aspectos Felizmente a norma natildeo deixou de
fora as aacutereas de reserva legal pelo contraacuterio tratou do tema em uma seccedilatildeo especiacutefica
composta pelos artigos 57 e 58
Art 57 - A reserva legal eacute requisito essencial ao exerciacutecio legiacutetimo do direito de
propriedade na aacuterea rural e fundamental para a proteccedilatildeo do meio ambiente
ecologicamente equilibrado e da biodiversidade cumprindo funccedilotildees do interesse
coletivo e individual do proprietaacuterio
Art 58 - A reserva legal eacute a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) localizada no
interior de uma propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente
necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos
processos ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de
fauna e flora nativas sendo imutaacutevel sua localizaccedilatildeo apoacutes definida
sect1ordm - Fica proibido qualquer registro imobiliaacuterio relativo a propriedade rural sem
preacutevio registro da reserva legal sob pena de nulidade do ato
sect2ordm- A reserva legal deveraacute ser averbada agrave margem da matriacutecula do imoacutevel no
registro competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de
transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou divisatildeo da aacuterea
sect3ordm - As aacutereas de reserva legal e preservaccedilatildeo permanente poderatildeo ser computadas
conjuntamente desde que somadas passem de 50 (cinquumlenta por cento) da
extensatildeo total da propriedade e sejam de extensatildeo contiacutenua
sect4ordm - No imoacutevel rural que natildeo houver vegetaccedilatildeo nativa suficiente para compor o
miacutenimo da reserva legal o proprietaacuterio ou possuidor deveraacute recuperar e recompor
com a vegetaccedilatildeo nativa ateacute atingir a porcentagem determinada
sect5ordm - A recomposiccedilatildeo mencionada no paraacutegrafo anterior deveraacute ser realizada na
proporccedilatildeo de no miacutenimo 110 (um deacutecimo) da aacuterea da propriedade ou posse a cada
ano dando prioridade agraves aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
sect6ordm - A Reserva Legal deve ser preferencialmente contiacutegua a das propriedades
vizinhas agraves unidades de conservaccedilatildeo ou aacutereas florestadas formando um corredor de
vegetaccedilatildeo
sect7ordm - A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser
utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel (IRAUCcedilUBA 2007 p 26)
No artigo 57 haacute o reconhecimento do direito de propriedade agrave luz da funccedilatildeo
social dada pela reserva legal e a devida importacircncia agrave proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental Jaacute o
58 prevecirc os 20 da aacuterea a tiacutetulo de reserva reproduzindo o que a lei federal ou seja o
Coacutedigo Florestal dispotildee No entanto o sect1ordm do mesmo dispositivo acaba restringindo ainda
mais o que a norma geral prescreve isto eacute proiacutebe qualquer registro junto ao cartoacuterio de
imoacuteveis sem a devida averbaccedilatildeo na matriacutecula da propriedade muito embora isso jaacute possa ser
diferente pela instituiccedilatildeo do Cadastro Ambiental Rural Dos paraacutegrafos 2ordm ao 5ordm houve a
69
revogaccedilatildeo expressa pela Lei 126512012 (BRASIL 2012) ou novo Coacutedigo Florestal O 6ordm e o
7ordm continuaram vigentes em sua essecircncia sofrendo apenas pequenas alteraccedilotildees jaacute que devem
estar em consonacircncia com a lei federal natildeo podendo ser menos restritivos
Por fim aleacutem do que fora comentado a lei ambiental de Irauccediluba traz muito em
sua natureza procedimentos e mandamentos semelhantes agrave de uma lei de uso e ocupaccedilatildeo do
solo Prevecirc portanto paracircmetros sobre publicidade emissotildees sonoras construccedilatildeo civil
poluiccedilatildeo obras dentre outros
70
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS
31 Reserva Legal em Irauccediluba
Um dos objetivos da presente pesquisa eacute o levantamento do nuacutemero de imoacuteveis
rurais no municiacutepio de Irauccediluba para em seguida verificar o grau de obediecircncia ao instituto
da reserva legal nessas propriedades Para tanto buscou-se os respectivos dados no cartoacuterio de
registro de imoacuteveis do municiacutepio no Instituto de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e
no Instituto de Desenvolvimento Agraacuterio do Cearaacute (IDACE)
No cartoacuterio de imoacuteveis onde o acesso eacute possiacutevel pela liberdade que qualquer
interessado tem para solicitar informaccedilotildees registrais achou-se o nuacutemero de 215 imoacuteveis
registrados Jaacute no INCRA o total de propriedades ali cadastradas eacute de 415 e no IDACE 713
imoacuteveis devidamente medidos e georreferenciados
Primeiramente cabe discorrer um pouco sobre esse desencontro na quantidade
dos imoacuteveis O fato de o cartoacuterio municipal possuir 215 imoacuteveis rurais registrados natildeo
significa que soacute tenha esse nuacutemero de propriedades laacute pois existem inuacutemeras terras habitadas
e utilizadas sem qualquer registro formal e neste caso o que os ldquodonosrdquo desses lugares
deteacutem chama-se posse o que os torna posseiros e natildeo proprietaacuterios O INCRA ter em seu
banco de dados o cadastro de 415 propriedades rurais tambeacutem natildeo quer dizer que soacute haja as
415 uma vez que a procura por este oacutergatildeo eacute voluntaacuteria quando se trata de cadastramento do
imoacutevel Soacute seraacute diferente se surgir a necessidade de desmembrar arrendar hipotecar vender
ou prometer em venda o bem rural Ou ainda em caso de partilha17
Esses satildeo os casos que
impelem o proprietaacuterio a cadastrar seu imoacutevel conforme definidos pela lei 494766
(BRASIL 1966) Do contraacuterio natildeo eacute obrigatoacuterio motivo pelo qual se explica nuacutemeros tatildeo
distintos uns dos outros Justificando um pouco esta discrepacircncia o II Plano Nacional de
Reforma Agraacuteria aponta que os dados do Cadastro do INCRA indicam que ldquosomente 5086
da aacuterea total do territoacuterio brasileiro estaacute na condiccedilatildeo de cadastradardquo (II PNRA 2003 p 22)
E por fim o nuacutemero apontado pelo IDACE acredita-se ser o mais proacuteximo da
realidade uma vez que pelo Programa de Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria com iniacutecio em 2007 as
propriedades rurais no municiacutepio de Irauccediluba foram no ano de 2012 medidas e
georreferenciadas uma a uma para dar fim aos problemas decorrentes da ausecircncia de tiacutetulos
imobiliaacuterios e o tamanho das aacutereas Eacute o que segue estabelecido pelo II PNRA (2003)
17
Partilha eacute a via pela qual se daacute a divisatildeo dos bens de uma heranccedila
A importacircncia de um recadastramento de todos os imoacuteveis rurais e da revisatildeo das
normas que regem o processo de registro das propriedades eacute ainda maior quando se
observa que as possibilidades de obtenccedilatildeo de terras para Reforma Agraacuteria estatildeo
condicionadas por dois indicadores que dependem das informaccedilotildees contidas no
Cadastro do INCRA o moacutedulo fiscal e os iacutendices de produtividade [] Por meio de
uma integraccedilatildeo do INCRA com os oacutergatildeos estaduais seraacute executado um amplo
processo de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria visando regularizar as pequenas posses de boa feacute
e a arrecadaccedilatildeo e incorporaccedilatildeo de terras devolutas ao patrimocircnio puacuteblico seguida de
sua destinaccedilatildeo para o assentamento de trabalhadores rurais e tambeacutem promover
accedilotildees anulatoacuterias sobre ocupaccedilotildees de terras com registros irregulares (II PNRA
2003 p 23)
Contudo o nuacutemero desencontrado de imoacuteveis natildeo eacute soacute o que assusta ou angustia
mas sim a quantidade iacutenfima de reserva legal existente naquele municiacutepio que jaacute sofre com
um processo criacutetico de degradaccedilatildeo
Apoacutes verificar junto ao cartoacuterio a quantidade de imoacuteveis rurais registrados
averiguou-se que somente trecircs dos 215 estatildeo com suas respectivas aacutereas de reserva legal
devidamente averbadas junto ao registro do bem Essa aguda diferenccedila tambeacutem natildeo muda
quando se analisa as informaccedilotildees presentes nos cadastros feitos junto ao INCRA Muitos satildeo
os cadastramentos onde tem descritas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente mas de reserva legal
somente cinco das 415 propriedades cadastradas No IDACE natildeo foi possiacutevel fazer esse
levantamento porque o objetivo deste oacutergatildeo em adentrar as aacutereas era medi-las em sua
totalidade sem discriminar a presenccedila de qualquer constataccedilatildeo em seu interior
Pela leitura da tabela 5 eacute possiacutevel concluir duas realidades A primeira eacute a
existecircncia de propriedade cujo registro apresenta averbaccedilatildeo da reserva legal mas sem
cadastro junto ao INCRA como eacute o caso do imoacutevel Poccedilo da PedraAacuteguas Mortas No
segundo caso ocorre o contraacuterio isto eacute natildeo haacute averbaccedilatildeo da reserva legal no cartoacuterio de
registro mas existe o cadastro da propriedade perante o INCRA constando a reserva legal
devidamente apontada conforme relatoacuterios cedidos por aquele oacutergatildeo
72
Tabela 5 - Levantamento de Imoacuteveis com reserva legal (Cartoacuterio de registro de imoacuteveisINCRA)
311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental - Projeto de Assentamento Agraacuterio em
foco
Todo projeto de assentamento de reforma agraacuteria soacute deve ser implantado apoacutes o
licenciamento ambiental junto ao oacutergatildeo competente que pela relevacircncia social do
empreendimento possui um procedimento diferenciado Eacute um processo trifaacutesico ou seja
consiste na licenccedila preacutevia (LP) licenccedila de instalaccedilatildeo (LI) e licenccedila de operaccedilatildeo (LO) mas no
caso dos projetos de assentamento satildeo soacute duas a LP e a LIO que nada mais eacute que a licenccedila de
18
Trata-se de um imoacutevel que foi destinado a Projeto de Assentamento no acircmbito estadual No entanto o registro
no cartoacuterio aponta que a propriedade possui Reserva Legal averbada mas no cadastro do INCRA natildeo haacute
qualquer menccedilatildeo a essa aacuterea 19
PA ndash Projeto de Assentamento da Reforma Agraacuteria Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria conjunto
de accedilotildees planejadas e desenvolvidas em aacuterea destinada agrave reforma agraacuteria para um puacuteblico beneficiaacuterio
orientadas para utilizaccedilatildeo racional dos espaccedilos fiacutesicos e dos recursos naturais existentes objetivando a
implementaccedilatildeo dos sistemas de vivecircncia e produccedilatildeo sustentaacuteveis na perspectiva do cumprimento da funccedilatildeo
social da terra e da promoccedilatildeo econocircmica social e cultural do trabalhador rural e de seus familiares (BRASIL
2006b) 20
O imoacutevel Poccedilo da Pedra e Aacuteguas Mortas eacute um soacute Embora natildeo conste no registro do cartoacuterio a aacuterea total da
propriedade e a destinada agrave reserva legal o Termo de Responsabilidade de Averbaccedilatildeo da Aacuterea de Reserva Legal
cedido pelo INCRA descreve as aacutereas apontadas na tabela 2
RESERVA LEGAL DOCUMENTALMENTE EXISTENTE
Imoacutevel Fonte dos Dados Aacuterea do Imoacutevel
(ha)
Aacuterea (ha) Domiacutenio Data da
Averbaccedilatildeo (AV)
Cadastro (C)
Miramar Cartoacuterio de Imoacuteveis
INCRA
1144 2305 Particular AV 06042005
C 05092005
Saco do
Vento18
Cartoacuterio de Imoacuteveis
INCRA
33060 661 PA19
estadual
AV 03102012
C 27122011
Poccedilo da Pedra
(Aacuteguas
Mortas)20
Cartoacuterio de Imoacuteveis 239778 47955 INCRA AV 02012003
Boa Vista INCRA 348 6960 Particular C 30121992
Escondido e
Vale do
Agreste
INCRA 15775 3155 Particular C 30121992
Lagoa Cercada INCRA 55180 50 Particular C13101992
73
instalaccedilatildeo e de operaccedilatildeo em um mesmo pedido conforme prevecirc a Resoluccedilatildeo CONAMA
3872006 (BRASIL 2006b)
Art 3ordm O oacutergatildeo ambiental competente concederaacute a Licenccedila Preacutevia - LP e a Licenccedila
de
Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo - LIO para os Projetos de Assentamentos de Reforma Agraacuteria
[]
sect 2o A LP constitui-se documento obrigatoacuterio e que antecede o ato de criaccedilatildeo de um
Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria tendo prazo para a sua expediccedilatildeo
apoacutes seu requerimento de ateacute noventa dias
sect 3o A LIO deveraacute ser requerida durante a validade da LP e cumpridos os requisitos
da mesma [] (BRASIL 2006 p2)
Por se tratar de um empreendimento rural e ambientalmente licenciaacutevel eacute muito
mais faacutecil e oportuno acontecer o cumprimento da reserva legal jaacute que o oacutergatildeo competente
foi provocado e por sua vez deve exigir a observacircncia daquele instituto Desta forma natildeo se
pode admitir que um licenciamento em zona rural seja concedido sem o devido respeito agrave aacuterea
de reserva legal
Especificamente os projetos de assentamento federais isto eacute os realizados pelo
INCRA devem obedecer agrave ordem que segue Ao dar iniacutecio ao processo de desapropriaccedilatildeo de
alguma terra o INCRA jaacute deve solicitar a Licenccedila Preacutevia devendo constar naquele processo o
protocolo do pedido A criaccedilatildeo do assentamento soacute eacute possiacutevel mediante uma portaria
resoluccedilatildeo ou decreto desde que jaacute possua a Licenccedila Preacutevia expedida Criado o assentamento
a Licenccedila de Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo deve ser solicitada de imediato ateacute porque se o contraacuterio
ocorrer os assentados ficam impossibilitados de receber recursos do governo como o creacutedito
de apoio inicial o creacutedito fomento o creacutedito para a construccedilatildeo de casa dentre outros
Essa sequencia e esses mandamentos estatildeo previstos no artigo 3ordm da Resoluccedilatildeo
CONAMA 3872006 (BRASIL 2006b) citada acima e no Acoacuterdatildeo nordm 2633-5107 (BRASIL
2007) do Tribunal de Contas da Uniatildeo conforme prevecirc o item 3 do sumaacuterio daquele
julgamento (3) A Licenccedila Preacutevia constitui-se em documento obrigatoacuterio e que antecede o ato
de criaccedilatildeo de um projeto de assentamento de reforma agraacuteria devendo ser expedida
anteriormente agrave obtenccedilatildeo da terra Trata-se de uma decisatildeo que teve origem em uma auditoria
realizada por este oacutergatildeo em assentamentos no Amazonas Paraacute e Acre quanto aos estudos de
viabilidade ambiental reserva legal e licenciamento ambiental em projetos criados pelo
INCRA Essa auditoria objetivou portanto avaliar o impacto nas aacutereas de reserva legal dos
projetos de assentamento bem como o cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental aplicaacutevel a esses
projetos conforme item 2 do Relatoacuterio do referido Acoacuterdatildeo Para tanto buscou-se saber se os
limites da reserva legal estavam sendo devidamente demarcados e preservados nos projetos de
74
assentamento rural e se o INCRA estava promovendo a aplicaccedilatildeo de teacutecnicas viaacuteveis para a
exploraccedilatildeo sustentaacutevel da Reserva Legal
Constatou-se pela amostragem realizada e demonstrada na Conclusatildeo e no Voto
do Acoacuterdatildeo 26332007 (BRASIL 2007) que
Conclusatildeo
[]
Item 65 o INCRA tem a necessidade premente de adotar medidas com vistas a
normalizar os procedimentos de criaccedilatildeo de projetos de assentamento desde o iniacutecio
do processo no que se refere ao cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental
Item 66 Eacute notoacuterio que a morosidade do oacutergatildeo no processo de regularizaccedilatildeo das
exigecircncias determinadas pela legislaccedilatildeo ambiental contribuiraacute para degradaccedilatildeo do
meio ambiente patrimocircnio sob proteccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal Brasileira Ao
disponibilizar terra aos assentados sem indicar a forma de uso do terreno por meio
do Plano de Uso e sem delimitar as aacutereas de preservaccedilatildeo mediante a demarcaccedilatildeo
das reservas legais o INCRA estaraacute dando tutela a esses usuaacuterios para disporem dos
lotes da forma que melhor lhes convier sem importar se essa exploraccedilatildeo implicaraacute
em degradaccedilatildeo ambiental (BRASIL 2007 p 9)
[]
Voto
[] Item 3 ndash subitem 12 A equipe de auditoria constatou nos assentamentos uma
grande degradaccedilatildeo das aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APP) e da reserva legal (RL)
Ainda verificou por meio de questionaacuterios aplicados aos trabalhadores assentados
que o INCRA natildeo promove accedilotildees efetivas relacionadas agrave orientaccedilatildeo e
conscientizaccedilatildeo ambiental dessas comunidades que natildeo sabem sequer o que
significa APP e RL
[]
Item 5 Outrossim eacute importante frisar que o INCRA eacute co-responsaacutevel pelas
irregularidades ambientais constatadas em seus projetos de assentamento []
(BRASIL 2007 p 11)
E por fim o dito Acoacuterdatildeo determina em niacutevel nacional embora a motivaccedilatildeo da
decisatildeo tenha por base a auditoria realizada somente em trecircs estados que
O INCRA se abstenha de criar projetos de assentamento sem a observacircncia ao
disposto no art 2ordm inciso III cc 3ordm sect 2ordm da Resoluccedilatildeo Conama 3872006 que
condiciona a criaccedilatildeo de projetos de assentamentos de reforma agraacuteria agrave existecircncia da
licenccedila preacutevia e ao disposto no art 2ordm inciso IV da mesma Resoluccedilatildeo que exige a
licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo como condiccedilatildeo para a implantaccedilatildeo e operaccedilatildeo
destes projetos Que em decorrecircncia do disposto no art 2ordm inciso VII da
ResoluccedilatildeoConama 3872006 atente a necessidade de que a reserva legal esteja
perfeitamente delimitada e caracterizada por ocasiatildeo do Plano de
Desenvolvimento do Assentamento e que o referido Plano seja elaborado em prazo
razoaacutevel (BRASIL 2007 p 16)
Para enriquecer a pesquisa nesse sentido procurou-se junto ao oacutergatildeo ambiental
estadual a SEMACE ndash Superintendecircncia Estadual do Meio Ambiente e ao proacuteprio INCRA as
licenccedilas emitidas e ainda em tramitaccedilatildeo referentes aos projetos de assentamento federais
Encontrou-se assim 3 processos de licenciamento na SEMACE numa busca compreendida
75
entre 01012010 a 06052013 sendo 2 de licenccedilas preacutevias e 1 de licenccedila de instalaccedilatildeo e
operaccedilatildeo No INCRA localizou-se 5 processos como se pode observar pela tabela 6 sendo 2
de licenccedilas preacutevias e 3 de licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo num periacuteodo de 09122008 a
08112010
Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais
Fonte SEMACE e INCRA
Conclui-se portanto a existecircncia de trecircs processos de LIO jaacute emitidas mas sem a
averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio de duas das trecircs propriedades conforme se pode
confirmar pela pesquisa feita no registro de imoacuteveis de Irauccediluba A exceccedilatildeo eacute a fazenda
Aacuteguas MortasPoccedilo da Pedra que possui averbaccedilatildeo da reserva legal desde 02012003
Aleacutem disto verificou-se tambeacutem todos os empreendimentos e atividades
localizadas no municiacutepio de Irauccediluba que possuem solicitaccedilatildeo ou recebimento de licenccedila
ambiental tanto em zona urbana como rural No total satildeo 15 tramitando e 40 emitidas
ressaltando que licenciamentos em zona rural o cumprimento da reserva legal deve ser
exigido
Quanto aos assentamentos agraacuterios no municiacutepio de Irauccediluba a tabela 7 aponta a
pesquisa realizada junto ao INCRA e ao IDACE onde se constatou que o primeiro oacutergatildeo
implantou 8 projetos e o segundo 6 Em todos eles existe a demarcaccedilatildeo da aacuterea de reserva
legal nas plantas georreferenciadas cedidas pelas duas instituiccedilotildees acima citadas
PROCESSO TIPO PA FONTE DO
DADO
PROTOCOLO EXPEDICcedilAtildeO VALIDADE STATUS
11386605-4 LP Arraia INCRASEMA
CE
08112010 01072011 Natildeo
informada
Emitida
11118313-8 LP Alegre e
anexos
INCRASEMA
CE
10112010 29032011 Natildeo
informada
Tramitando
09557603-7 LIO Aacuteguas
Mortas
Poccedilo da
Pedra
INCRASEMA
CE
30102009 24032010 24032013 Emitida
08653283-9 LIO Satildeo
Marinho
Rodeador
INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida
08653281-2 LIO Olho
d‟aacutegua da
esperanccedila
INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida
76
Tabela 7 - Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba
PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO - IRAUCcedilUBA
Nome do
Assentamento
Instituiccedilatildeo
Responsaacutevel
Aacuterea do
Imoacutevel (ha)
Aacuterea de Reserva
Legal (ha)
Data de criaccedilatildeo Nordm de Famiacutelias
Assentadas
Saco do Vento IDACE 33060 661 Em andamento 10
Aroeira IDACE 50508 10101 Em andamento 10
Boqueiratildeo IDACE 38474 7694 Em andamento -
Mudubim IDACE 6512 1302 Em andamento 5
Consulta IDACE 39593 7918 23072001 13
Cachoeira IDACE 14929 2985 05102006 10
Saco Verde INCRA 6464 129280 2691997 100
Cajazeiras II INCRA 96487 19297 2691997 30
Aacuteguas Mortas
Poccedilo da Pedra
INCRA 239778 47955 22121997 52
RiachueloAlto
Alegre
INCRA 3378 67560 09112005 16
Olho drsquoAacutegua da
Esperanccedila
INCRA 1940 388 06122007 23
Satildeo Marinho
Rodeador
INCRA 50757 10151 04122006 10
Arraia INCRA 156797 31359 13102011 34
Almas INCRA 1297 25940 17111998 22
Eacute importante salientar que em 2005 e em 2006 o INCRA baixou 3 normas
referentes a criteacuterios e procedimentos para a implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e
Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria A
primeira eacute a NE 432005 (BRASIL 2005a) a segunda NE 442005 (BRASIL 2005b) que
estabeleceu o valor unitaacuterio por famiacutelia para a implantaccedilatildeo destes projetos e a terceira NE
512006 (BRASIL 2006a) aprovou o manual para a elaboraccedilatildeo dos projetos de recuperaccedilatildeo
A NE 432005 (BRASIL 2005a) considera a premente necessidade de
recuperaccedilatildeo natildeo soacute de Reserva Legal mas de aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente em grande
parte dos Projetos de Assentamento em todo o territoacuterio nacional mas infelizmente soacute
abrange os que satildeo implantados pelo Governo Federal (Art 2ordm inciso I) ficando de fora os
que satildeo de competecircncia dos Estados O criteacuterio para implantaccedilatildeo desses projetos eacute a aacuterea ser
reconhecida com problemas ambientais principalmente em termos de degradaccedilatildeo (Art 2ordm
inciso II) Para ser possiacutevel financeiramente a execuccedilatildeo de um projeto deste cuja norma
regulamentadora ainda se encontra vigente o INCRA disponibiliza ateacute R$ 100000 por
famiacutelia (Art 1ordm NE 442005 (BRASIL 2005b)) no entanto caso seja tecnicamente
comprovado que a recuperaccedilatildeo de aacutereas de reserva legal preservaccedilatildeo permanente e de solo
exija um maior investimento o valor poderaacute ser superior ao estabelecido Neste caso a
importacircncia repassada seraacute definida em funccedilatildeo do custo calculado para a recuperaccedilatildeo do dano
ambiental (Art 1ordm Paraacutegrafo Uacutenico)
77
O manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e
conservaccedilatildeo de recursos naturais em assentamentos da reforma agraacuteria aprovado pela NE
512006 (BRASIL 2006a) deixa claro que seus objetivos natildeo satildeo soacute reabilitar e resguardar a
aacuterea ambiental do assentamento Haacute mais e maiores propoacutesitos nisto como por exemplo
cumprir as exigecircncias estabelecidas pelo oacutergatildeo de meio ambiente estadual durante o processo
de licenciamento21
bem como a mobilizaccedilatildeo da comunidade em torno de atividades visando agrave
recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo dos recursos naturais por meio de programas de educaccedilatildeo
ambiental fiscalizaccedilatildeo e manutenccedilatildeo envolvendo os assentados Para que isto ocorra eacute
extremamente importante a participaccedilatildeo destes na elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do projeto22
Por fim os Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais seratildeo
destinados agraves seguintes praacuteticas23
1 Cercamento de aacutereas de Reserva Legal e aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
visando a regeneraccedilatildeo eou a proteccedilatildeo das aacutereas
2 Construccedilatildeo de viveiros para produccedilatildeo de mudas que seratildeo utilizadas no processo
de recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas
3 Demarcaccedilatildeo topograacutefica da Reserva Legal
4 []
5 Reflorestamento em aacutereas de Reserva Legal com espeacutecies nativas que
possibilitem o manejo florestal sustentaacutevel madeireiro ou natildeo madeireiro baseado
em princiacutepios e em criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos definidos e devidamente
aprovados pelo oacutergatildeo ambiental competente
6 Plantio de aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais composto por espeacutecies
exoacuteticas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas para
compensaccedilatildeo ou manutenccedilatildeo da aacuterea de reserva legal a criteacuterio do oacutergatildeo ambiental
competente
7 Atividades alternativas de produccedilatildeo (criaccedilatildeo de abelhas artesanato entre outras)
associadas agrave recuperaccedilatildeo ambiental e como instrumento de valorizaccedilatildeo das aacutereas a
serem conservadas ou recuperadas e de combate agraves praacuteticas indevidas de uso do
fogo
8 [] (BRASIL 2006ordf p 1112)
32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo
321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba
O municiacutepio de Irauccediluba possui uma aacuterea de 1461253 Km2 o que corresponde a
098 do territoacuterio estadual e estaacute situado no sertatildeo Centro-Norte conforme figura 12
inserido na microrregiatildeo geograacutefica de Sobral Dista cerca de 150 Km da capital Fortaleza e
21
p 7 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos naturais 22
p 11e 13 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos
naturais 23
p 11e 12 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos
naturais
78
localiza-se entre as coordenadas geograacuteficas Latitude 3˚44‟46rdquo S (Sul) e Longitude 39˚47‟00rdquo
WGr (oeste) Faz fronteira ao norte com os municiacutepios de Miraiacutema e Itapipoca ao sul com
Santa Quiteacuteria e Canindeacute a leste com Itapajeacute e Tejuccediluoca e a oeste com Sobral e possui trecircs
distritos Missi Juaacute e Boa Vista segundo ilustra a figura 13
Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba
Fonte Lustosa (2004) Fonte Lustosa (2004)
Segundo o censo de 2010 do IBGE a populaccedilatildeo do municiacutepio era de 22324
pessoas sendo curiosamente a maioria homens (5083) Jaacute sua densidade demograacutefica
correspondia a 1539 habKm2 A ocupaccedilatildeo municipal predomina na zona urbana
correspondendo a 6425 dos indiviacuteduos Em 2012 a populaccedilatildeo aumentou para 22742
pessoas
3211 Das propriedades estudadas
Por Irauccediluba possuir aproximadamente 713 imoacuteveis rurais tomando por base a
mediccedilatildeo feita pelo IDACE em 2012 natildeo seria possiacutevel o estudo de todas elas Partiu-se
entatildeo para uma amostragem com base nos imoacuteveis que possuiacuteam a reserva legal seja por
registro em cartoacuterio eou porque a aacuterea eacute puacuteblica e foi destinada a projetos de assentamentos
agraacuterios (PA‟s) estaduais e federais que por sua vez deveriam respeitar tal obrigatoriedade
79
Pela tabela 8 vecirc-se que dos 14 assentamentos em Irauccediluba 6 satildeo estaduais e 8
federais No entanto os criteacuterios utilizados para examinaacute-los foi o tempo de criaccedilatildeo de cada
um e a existecircncia de reserva legal delimitada na planta da propriedade Aleacutem disto foi
escolhido um imoacutevel particular por apresentar a averbaccedilatildeo da reserva legal como demonstra a
tabela 9
Tabela 8 - Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de anaacutelise
PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO
Nome do
Assentamento
Instituiccedilatildeo
Responsaacutevel Data de Criaccedilatildeo Status para anaacutelise
Saco do Vento IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Aroeira IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Boqueiratildeo IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Mudubim IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Consulta IDACE 23072001 Planta natildeo disponibilizada
Cachoeira IDACE 05102006 Planta natildeo disponibilizada
Saco Verde INCRA 2691997 Incluiacutedo
Cajazeiras II INCRA 2691997 Incluiacutedo
Aacuteguas Mortas
Poccedilo da Pedra INCRA 22121997 Incluiacutedo
RiachueloAlto
Alegre INCRA 09112005 Incluiacutedo
Almas INCRA 17111998 Incluiacutedo
Olho d‟Aacutegua da
Esperanccedila INCRA 06122007
Muito recente ndash Fora de abrangecircncia
das imagens de sateacutelite
Satildeo Marinho
Rodeador INCRA 04122006
Reserva legal natildeo delimitada na planta
do imoacutevel
Arraia INCRA 13102011 Muito recente ndash Fora de abrangecircncia
das imagens de sateacutelite
Tabela 9 - Dados da propriedade particular estudada PROPRIEDADE PARTICULAR ANALISADA
Nome Proprietaacuterio Data da averbaccedilatildeo
da RL Status para anaacutelise
Miramar MIRASA ndash Miramar
Agropecuaacuteria SA 06042005 Incluiacutedo
Diante dos paracircmetros de seleccedilatildeo apontados acima restaram 5 assentamentos e 1
aacuterea particular totalizando 6 aacutereas para estudo Assim sendo as propriedades analisadas
foram RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas Almas Saco Verde Cazajeiras II e Miramar
sendo esta a de domiacutenio privado Com exceccedilatildeo desta uacuteltima as demais satildeo assentamentos
agraacuterios federais ficando de fora os estaduais por serem em sua maioria recentes isto eacute a
partir de 2010 e por isso natildeo abrangidos pelas imagens de sateacutelite utilizadas (anos 1993 e
2007) As duas estaduais mais antigas Consulta e Cachoeira natildeo tiveram suas plantas
80
disponibilizadas pelo oacutergatildeo competente e as federais que ficaram excluiacutedas tambeacutem eram
muito recentes aleacutem do que natildeo possuiacuteam reserva legal delimitada
A figura 14 a seguir mostra a localizaccedilatildeo das propriedades estudadas e suas
respectivas reservas legais delimitadas que podem ser lidas pela legenda de cores ao lado
Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo
A tabela 10 traz as aacutereas de cada imoacutevel e sua reserva legal onde eacute possiacutevel
constatar um nuacutemero pequeno de propriedades que apresentam o tal instituto criado e exigido
por lei Aleacutem disso a soma de suas aacutereas tambeacutem eacute pouco expressiva ao comparar com a do
municiacutepio No total satildeo 1628865 hectares sendo 328832 hectares pertinentes agrave reserva
legal
Tabela 10 - Propriedades estudadas
PROPRIEDADES ESTUDADAS
IMOacuteVEL DOMIacuteNIO AacuteREA DO IMOVEL (HA) AacuteREA DA RESERVA LEGAL (HA)
Saco Verde INCRA 6464 129280
Cajazeiras II INCRA 96487 19297
Aacuteguas Mortas Poccedilo da Pedra INCRA 239778 47955
Riachuelo Alto Alegre INCRA 3378 67560
Olho drsquoAacutegua da Esperanccedila INCRA 1940 388
81
Miramar PARTICULAR 1144 25940
3212 Aspectos histoacutericos da ocupaccedilatildeo do municiacutepio
Haacute quem diga que Irauccediluba significa tanto amizade como grande abelha amarela
A primeira acepccedilatildeo se deve ao povo hospitaleiro de bons sentimentos e amigos da paz Jaacute a
segunda faz referecircncia a um vocaacutebulo indiacutegena cuja expressatildeo representa a junccedilatildeo de trecircs
palavras ira que quer dizer mel ou abelha ussu grande e yuba amarelo (FOLHES e
VIANA 2001)
Segundo o IBGE o surgimento de Irauccediluba se deve a um povoado denominado
Cacimba do Meio que despontou no iniacutecio do seacuteculo XIX O nome do municiacutepio como
atualmente eacute conhecido soacute foi alterado em 1899 pelo desembargador Aacutelvaro de Alencar
Irauccediluba foi distrito de Itapajeacute de 1905 ateacute 1957 quando foi elevada agrave condiccedilatildeo de municiacutepio
Quanto a sua ocupaccedilatildeo Arauacutejo Filho e Silva (2013) remontam a memoacuteria dos
mais antigos que registra o fenocircmeno da transumacircncia na regiatildeo jaacute no seacuteculo XIX Aleacutem
disto os autores ainda mencionam que
O primeiro relato da presenccedila do homem branco na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba
refere-se agrave passagem no ano de 1606-1607 dos jesuiacutetas Francisco Pinto e Luiacutes
Figueira Na eacutepoca a regiatildeo era habitada por iacutendios das etnias Tupi e Tapuia
citando-se os Anaceacute Apuiareacute e Kariri (GIRAtildeO1967) Consta entatildeo que os
indiacutegenas viviam da caccedila e que na eacutepoca seca ateavam fogo na erva para afugentar
as cobras e facilitar a caccedila (ARAUacuteJO e SILVA 2013 p 4)
E soacute para constar o potencial do municiacutepio acerca da boa qualidade das pastagens
de forma a compensar a praacutetica da transumacircncia em tempos antigos vale referenciar um
texto de Dias (1998) que Folhes e Viana (2001) fazem menccedilatildeo
ldquo() no espaccedilo onde Irauccediluba estaacute inserida atualmente visto como um ambiente
inoacutespito em processo de desertificaccedilatildeo no seacuteculo XVII ao se transitar pela flora
primitiva na eacutepoca das chuvas era difiacutecil saber se era noite ou dia face ao
adensamento da vegetaccedilatildeordquo Esse adensamento foi registrado pelos jesuiacutetas
Francisco Pinto e Luiacutes Figueira em 1607 quando partiram de Pernambuco numa
missatildeo de catequese em direccedilatildeo ao Maranhatildeo (DIAS 1998 p 62 apud FOLHES e
VIANA 2001 p 9)
322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas
Arauacutejo Filho e Silva (2013) fazem um apanhado sucinto e ao mesmo tempo geral
de duas atividades econocircmicas desenvolvidas no municiacutepio de Irauccediluba
82
Historicamente a Regiatildeo tem na pecuaacuteria a mais importante atividade dentro de um
sistema de transumacircncia servindo de estaccedilatildeo na eacutepoca das chuvas para os rebanhos
criados na regiatildeo litoracircnea Isto porque apresenta extensas aacutereas recobertas por
planossolos sob uma caatinga do tipo savana com cobertura herbaacutecea de excelente
potencial forrageiro Considerando a ocupaccedilatildeo da aacuterea municipal 124 satildeo usados
para a produccedilatildeo agriacutecola a pecuaacuteria ocupa 671 e os restantes 205 satildeo
recobertos de matas Confrontando os dados da distribuiccedilatildeo dos solos e de sua
ocupaccedilatildeo vecirc-se que a pecuaacuteria eacute praticada em toda a extensatildeo dos planossolos e dos
luvissolos a agricultura ocupa pequena parcela do luvissolo e dos solos litoacutelicos e a
extraccedilatildeo de madeira parte dos litoacutelicos e dos luvissolos (IBGE 2010) (ARAUacuteJO
FILHO e SILVA 2013 p 1)
Para os autores a pecuaacuteria em sistemas de produccedilatildeo de regiotildees semiaacuteridas
constitui uma atividade tampatildeo dos efeitos da seca facilita a dispersatildeo dos riscos de perdas
tem boa liquidez econocircmica e eacute um fator muito importante de fixaccedilatildeo do homem agrave terra
Em se tratando de nuacutemeros o PAE (CEARAacute 2010b) apresentou em seus
levantamentos percentuais a situaccedilatildeo de alguns aspectos socioeconocircmicos que ora se julga
interessantes expor neste trabalho Por exemplo o analfabetismo estaacute decrescendo eacute o que a
taxa de escolaridade no ensino fundamental de 932 em 2007 demonstra mas altas taxas
de repetecircncia evasatildeo escolar qualificaccedilatildeo dos professores baixo aproveitamento dos alunos
e divergecircncia entre a faixa etaacuteria e a seacuterie cursada tambeacutem satildeo problemas que afetam a
educaccedilatildeo no municiacutepio Folhes e Viana (2001) Quanto ao saneamento baacutesico natildeo existia rede
de esgotamento no municiacutepio nem aacutegua tratada para a maioria da populaccedilatildeo conforme
pesquisa realizada em 2007 contudo em 2010 a CAGECE24
informou que havia 6173
ligaccedilotildees entre reais e ativas para o abastecimento de aacutegua enquanto que a cobertura de
esgoto continuava sem nenhuma ligaccedilatildeo mas curiosamente apresentava uma taxa de
cobertura de 1937
O PAE (CEARAacute 2010) diz que em Irauccediluba o salaacuterio meacutedio mensal da
populaccedilatildeo correspondia a um salaacuterio miacutenimo e meio mas o IBGE (2010) traz outro nuacutemero
Em 2010 quando o salaacuterio miacutenimo era de R$ 51000 a renda domiciliar per capita entre frac14 a
mais de 3 correspondia a 5158 trabalhadores sendo que a maioria deles recebia por mecircs R$
12750 ou menos Agregada a essa realidade econocircmica existe a populaccedilatildeo extremamente
pobre com renda domiciliar per capita de ateacute R$ 7000 Nesse patamar concentram-se 8008
pessoas
Eacute nesse contexto que estatildeo cerca de 13500 pessoas classificadas como
economicamente ativas no municiacutepio Infelizmente o nuacutemero de irauccedilubenses inseridos na
condiccedilatildeo de pobreza eacute bem expressivo correspondendo a 3587 da populaccedilatildeo em 2010
24
In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p14)
83
Eacute faacutecil perceber que se trata de uma cidade pouco desenvolvida pobre sem muita
educaccedilatildeo e condiccedilotildees baacutesicas de sauacutede Isso reflete tanto na economia como na qualidade de
vida sem falar no cenaacuterio ambiental pois a situaccedilatildeo como estaacute posta favorece muito mais a
degradaccedilatildeo dos recursos naturais
Falando em questotildees ambientais dentro do contexto da dinacircmica populacional de
Irauccediluba eacute interessante citar a retraccedilatildeo no nuacutemero de indiviacuteduos residentes na aacuterea rural
desde a deacutecada de 70 e consequentemente aumento na urbana Considerando que os riscos de
desertificaccedilatildeo satildeo mais acentuados nas regiotildees densamente povoadas porque haacute maior
pressatildeo sobre os bens naturais e que a densidade demograacutefica do municiacutepio em 2010 estava
em 1539 habkm Folhes e Viana (2001) pontuam
A densidade demograacutefica de Irauccediluba representa pouco mais da metade do que
Ferreira et al (1994) estabeleceram como ldquofator de pressatildeordquo no estudo que se
tornou conhecido por ser o primeiro a confeccionar o mapa de susceptibilidade agrave
desertificaccedilatildeo do Nordeste brasileiro dada(s) as condiccedilotildees de semi-aridez as
condiccedilotildees dos solos a disponibilidade de aacutegua da regiatildeo e a capacidade de suporte
da mesma adotou-se como fator de pressatildeo sobre o meio ambiente a densidade
igual ou superior a 20habkm2 (p19-20)rdquo Veem-se a dificuldade e imprecisatildeo dos
estudos quanto agrave determinaccedilatildeo de algum ponto criacutetico onde a relaccedilatildeo densidade
demograacutefica versus processos de desertificaccedilatildeo passa de causa para efeito
(FOLHES e VIANA 2001 p 13)
Os autores ainda reforccedilam que o municiacutepio se enquadra no grupo com fraca
densidade demograacutefica que eacute de 10 a 20habkm2 de acordo com a classificaccedilatildeo estabelecida
pelo diagnoacutestico agro-soacutecio-econocircmico
Segundo Folhes e Viana (2001) um dos iacutendices mais sensiacuteveis para se medir o
niacutevel de desenvolvimento de um municiacutepio eacute a taxa de mortalidade infantil pois ela revela a
estreita ligaccedilatildeo entre o estado de sauacutede da populaccedilatildeo o acesso aos serviccedilos meacutedicos
condicionados pela situaccedilatildeo soacutecioeconocircmica da populaccedilatildeo Em Irauccediluba essa taxa eacute de 1592
mortos a cada 1000 nascidos vivos maior ainda que a do estado 133225
A economia de Irauccediluba gira em torno de atividades como agricultura e pecuaacuteria
Aquela engloba culturas praticadas em lavouras permanentes e temporaacuterias e esta envolve a
criaccedilatildeo de gado de vaacuterias espeacutecies e aves como galos e galinhas Em termos comparativos
traccedilou-se um paralelo do sistema produtivo econocircmico nos anos de 2001 e 2011 para que se
pudesse avaliar alguma retraccedilatildeo ou evoluccedilatildeo no quadro agropecuaacuterio e industrial do
municiacutepio
A figura 15 abaixo eacute autoexplicativa de modo que prontamente se percebe a
banana e a manga como as culturas mais significativas ficando logo atraacutes o cocircco da baiacutea
25
SESA (2011) In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p 9)
84
Nota-se tambeacutem natildeo haver muita diferenccedila de produccedilatildeo dos trecircs cultivos agriacutecolas nesses
dois anos o que leva a concluir que os produtores do municiacutepio mantiveram os investimentos
e colheitas semelhantes O mesmo natildeo ocorreu com o algodatildeo arboacutereo pois seu resultado caiu
drasticamente no periacuteodo analisado Ressalte-se poreacutem que o ano de 2001 foi mais produtivo
que o de 2011 com exceccedilatildeo da castanha de caju
Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Permanentes
Fonte IBGE (2001 e 2011)
Com relaccedilatildeo agraves lavouras temporaacuterias o destaque eacute da mandioca e da mamona
muito embora esta uacuteltima soacute apresente resultados no ano de 2011 Outras culturas temporaacuterias
satildeo o milho e o feijatildeo mas natildeo constam na figura 16 porque a disparidade entre os dois anos
e a alta produtividade em 2011 dificultariam a visualizaccedilatildeo
Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Temporaacuterias
Fonte IBGE (2001 e 2011)
85
De qualquer maneira a safra de milho e feijatildeo em 2001 natildeo foi tatildeo expressiva
ou seja correspondeu a 14 e 7 toneladas respectivamente Jaacute em 2011 esse nuacutemero foi agraves
alturas chegando agraves 4433 toneladas de milho e 2088 toneladas de feijatildeo
Jaacute os produtos de origem florestal comuns em Irauccediluba satildeo a cera o poacute e a fibra
da carnauacuteba o carvatildeo vegetal a lenha e a madeira em tora poreacutem os mais relevantes satildeo o
carvatildeo vegetal e a lenha conforme se vecirc nas figuras 17 e 18
Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em tonano
Fonte IBGE (2001 e 2011)
Como a lenha e a madeira em tora tecircm unidade de medida diferente dos demais
produtos construiu-se a figura 18 para natildeo deixaacute-las de fora da anaacutelise
0100020003000400050006000700080009000
1000011000
Lenha Madeira em tora
Produtos de origem vegetal (m3ano)
2001
2011
Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em m3ano
Fonte IBGE (2001 e 2011)
86
Quanto aos produtos de origem animal o leite foi o mais vultoso sobressaindo-se
nos anos de 2001 e 2011 Na tabela 11 abaixo tambeacutem foram relacionados os outros mas
com participaccedilatildeo bem pequena na produtividade do municiacutepio
Tabela 11 - Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem animal Produtos de origem animal
Leite Mel de abelha Ovos de galinha Ovos de codorna
Produccedilatildeo (mil l) Produccedilatildeo (kg) Produccedilatildeo (mil dz) Produccedilatildeo (mil dz)
2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011
5228 6031 0 507 80 143 0 1
Fonte IBGE (2001 e 2011)
Em termos industriais julgou-se interessante fazer uma comparaccedilatildeo um tanto
mais abrangente citando tambeacutem os nuacutemeros do ano de 2010 Observa-se que os grupos de
induacutestrias existentes em Irauccediluba reuacutenem as de extraccedilatildeo mineral construccedilatildeo civil e
principalmente as de transformaccedilatildeo conforme figura 19
Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011)
Fonte IBGE (2001 2010 e 2011)
Eacute possiacutevel observar pela figura acima que as empresas de extraccedilatildeo mineral e de
construccedilatildeo civil pouco se desenvolveram durante o periacuteodo analisado o mesmo natildeo ocorreu
com as induacutestrias de transformaccedilatildeo que inclusive chamam bastante atenccedilatildeo Estas se
desdobram em vaacuterias espeacutecies como por exemplo produccedilatildeo de minerais natildeo metaacutelicos
metaluacutergica mecacircnica produccedilatildeo de material eleacutetrico eletrocircnico e comunicaccedilatildeo produccedilatildeo de
material para transporte madeireira mobiliaacuteria produccedilatildeo de papel papelatildeo e borracha
beneficiamento de couros peles e similares quiacutemica produccedilatildeo de produtos farmacecircuticos e
veterinaacuterios de material plaacutestico tecircxtil vestuaacuterio calccedilados artefatos de tecido couros e
peles produtos alimentares bebidas fumo dentre outras
87
De 2001 para 2010 a quantidade de induacutestrias de transformaccedilatildeo pouco aumentou
passando de 13 para 17 mas de 2010 a 2011 esse rol duplicou indo de 17 para 34 empresas
como se pode observar pelas figuras 20 21 e 22
Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001
Fonte IBGE (2001)
Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010
Fonte IBGE (2010)
TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 13
TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 17
88
Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011
Fonte IBGE (2011)
A induacutestria tecircxtil oscilou em nuacutemeros visto que em 2001 contava com 5
empresas em 2010 com 4 expandido para 9 de forma que essa quantidade representou 26
do total de induacutestrias em Irauccediluba no ano de 2011 Outra atividade expressiva no municiacutepio eacute
a de produtos alimentares Muito embora natildeo exista em 2010 nos anos de 2001 e 2011 ela
totalizava 5 e 9 unidades respectivamente representando 23 e 26 cada uma no universo de
empresas Em terceiro plano encontra-se a produccedilatildeo de minerais natildeo-metaacutelicos que em 2001
contou com 1 induacutestria em 2010 com 2 e em 2011 com 3 Aleacutem disto apareceram a partir de
2010 atividades como mobiliaacuterio couros e peles vestuaacuterio e uma categoria natildeo definida pelo
IBGE classificada como diversas Em contrapartida desapareceram da contagem as
induacutestrias madeireira e metaluacutergica
Na pecuaacuteria existe a criaccedilatildeo de gado e aves O realce no primeiro grupo eacute dado
pelos bovinos seguido pelos ovinos e caprinos tanto no ano de 2010 como 2011 sendo neste
os nuacutemeros maiores Quanto agraves aves a ocorrecircncia eacute de galos frangos frangas e pintos aleacutem
de galinhas Entre estes dois grupos o primeiro eacute mais representativo como bem se examina
pela figura 23
TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 34
89
Figura 23 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos
Fonte IBGE (2011 e 2011)
Sem esquecer outros rebanhos mesmo que de menor grandeza existem no
municiacutepio bubalinos muares coelhos e codornas segundo os nuacutemeros apresentados na
tabela 12
Tabela 12 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores Rebanhos Bubalinos Muares Coelhos Codornas
Ano 2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011
Nordm de indiviacuteduos 98 48 380 436 22 67 89 193
Fonte IBGE (2011 e 2011)
Por fim conclui-se que em Irauccediluba eacute praticado aleacutem das atividades industriais o
tripeacute econocircmico baseado na produccedilatildeo agriacutecola pecuaacuteria e madeireira esta a partir da
exploraccedilatildeo de lenha e carvatildeo vegetal Desta maneira seria mais interessante para o municiacutepio
considerando suas caracteriacutesticas ambientais o uso de sistemas de produccedilatildeo
agrossilvopastoris Nesse sentido Arauacutejo Filho e Silva (2013) ilustram
Os sistemas de produccedilatildeo agrossilvipastoris satildeo formas de uso e manejo da terra nas
quais aacutervores e arbustos satildeo utilizados em associaccedilatildeo com cultivos agriacutecolas e
animais numa mesma aacuterea de maneira simultacircnea ou numa sequecircncia temporal
Cada componente do sistema de produccedilatildeo deve ter pelo menos uma funccedilatildeo proacutepria e
sua integraccedilatildeo garante sua funcionalidade Assim as aacutervores devem ser em nuacutemero
suficiente para um aporte significativo de serrapilheira fonte de mateacuteria orgacircnica
para o solo Os animais satildeo os redistribuidores de nutrientes entre os componentes
do sistema via urina e esterco E as culturas garantem a produccedilatildeo de alimentos para
a famiacutelia e seus animais e contribuem para a circulaccedilatildeo de nutrientes dentro do
sistema Os SAF‟s podem tambeacutem ser usados para a reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e
econocircmica de aacutereas degradadas sobre luvissolos e argissolos (ARAUacuteJO FILHO e
SILVA 2013 p 1819)
90
323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba
A caracterizaccedilatildeo ambiental realizada no municiacutepio das aacutereas de estudo engloba a
altimetria as classes de relevo demonstrando a declividade do terreno que varia de plano a
forte ondulado os tipos de solos e suas associaccedilotildees de classes entre si o clima envolvendo
dados sobre a pluviometria anual o iacutendice de umidade o nuacutemero de meses sem chuva a
temperatura e a evapotranspiraccedilatildeo total anual do municiacutepio Comenta-se ainda a vegetaccedilatildeo e
suas formas aleacutem dos rios e accediludes existentes em Irauccediluba reunindo seus recursos hiacutedricos
3231 Altimetria e Classe de relevo
A altimetria do municiacutepio estaacute exibida na figura 24 conforme seus niacuteveis de
altitude que variam de 80 a 840 metros acima do mar
Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba
91
Jaacute o relevo oscila de plano a forte ondulado conforme figura 25 Arauacutejo Filho e Silva
(2013 p 1) definem que ldquonos planossolos o relevo varia de plano a suave-ondulado (de 1 a 8)
nos argisssolos e nos luvissolos apresentam-se em relevo de suave-ondulado a ondulado (de 8 a
20) e os litoacutelicos estatildeo em relevo forte-ondulado (de 20 a 45)rdquo
Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba
3232 Solos
A regiatildeo semiaacuterida nordestina ldquo[] recebe anualmente calor e luz em excesso o
que resulta em raacutepida mineraccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica Seus solos satildeo geralmente pouco
profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica mas relativamente ricos
em bases trocaacuteveisrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 7)
O PAN (BRASIL 2004) assegura que as classes de associaccedilatildeo de solos presentes
no semiaacuterido do Nordeste satildeo o bruno natildeo caacutelcico litoacutelicos podzoacutelico eutroacutefico terra roxa
estruturada cambissolo ondulado e forte ondulado e planossolos Apresentam tambeacutem tipos
de relevo e susceptibilidade agrave erosatildeo diferenciados como mostra a tabela 13
92
Tabela 13 - Relaccedilatildeo de solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo
CLASSES DE SOLO RELEVO SUSCEPTIBILIDA Agrave
EROSAtildeO
Bruno natildeo caacutelcico (Luvissolos) Suave ondulado e ondulado Forte
Litoacutelicos Ondulado forte ondulado e
montanhoso Muito forte
Podzoacutelico eutroacutefico terra roxa
estruturada cambissolo ondulado e
forte ondulado
Ondulado e forte ondulado Moderado
Planossolos Plano e suave ondulado Moderado
Fonte PAN Brasil (2004)
ldquoTrecircs classes de solos se destacam no municiacutepio de Irauccediluba luvissolos com
432 de cobertura planossolos com 187 e litoacutelicos com 332 Juntos eles perfazem
951 da aacuterea do municiacutepiordquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2)
Os luvissolos constituem os solos mais utilizados pela agricultura migratoacuteria do
semiaacuterido nordestino Por causa do desmatamento e uso do fogo haacute indicaccedilotildees de que pelo
menos 65 da aacuterea de cobertura deste importante solo se encontrem em erosatildeo de grave a
muito grave Em Irauccediluba natildeo eacute diferente pois a agricultura eacute praticada nas aacutereas recobertas
por luvissolos e solos litoacutelicos enquanto a pecuaacuteria eacute desenvolvida tanto no planossolo com
presenccedila tambeacutem nas aacutereas de luvissolo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013)
Em se tratando de associaccedilatildeo de solos a tabela 14 indica a nomenclatura utilizada
por Jacomine (1973) e pela EMBRAPA (2006) para definir os tipos de associaccedilatildeo
encontrados em Irauccediluba apontando ainda a porcentagem de cada um dentro da respectiva
associaccedilatildeo E a figura 26 apresenta a distribuiccedilatildeo dessas associaccedilotildees no municiacutepio de forma
que eacute possiacutevel notar o predomiacutenio da associaccedilatildeo NC15 seguida da Re25 e Re26
Tabela 14 - Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEMBRAPA
ASSOCIACcedilAtildeO
DE SOLO EM
JACOMINE
(1973)
NOMENCLATURA DOS SOLOS NAS ASSOCIACcedilOtildeES DO SOLO
NA
ASSOCIACcedilAtildeO JACOMINE (1973) EMBRAPA (2006)
PE6
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO moderado
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 40
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO chemozecircnico
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 30
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 15
AFLORAMENTOS DE ROCHA - 15
PE42
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 70
REGOSOL EUTROacuteFICO NEOSSOLOS
REGOLIacuteTICOS 30
NC7 BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO LUVISSOLO 40
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 35
93
BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO veacutertico LUVISSOLO 25
NC15
BRUNOS NAtildeO CAacuteLCICOS
INDISCRIMINADOS LUVISSOLO 40
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 25
PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 20
SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 15
PL6
PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 45
SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 35
SOLOS OTOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 20
Re6
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 65
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 35
Re25 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel
estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -
Re26 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel
estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -
Fonte Jacomine et al (1973) e EMBRAPA (2006)
Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba
94
Por fim a figura 27 apresenta os quatro grandes grupos de solo encontrados em
Irauccediluba e sua distribuiccedilatildeo no municiacutepio sendo eles Podzoacutelico vermelho amarelo
equivalente eutroacutefico (PE) Bruno natildeo caacutelcico (NC) Planossolo (PL) e Solos litoacutelicos (Re)
Figura 27 Grupos de solos que formam associaccedilotildees pedoloacutegicas em Irauccediluba
3233 Clima
ldquoO clima na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba eacute conforme classificaccedilatildeo de Koumlppen
(MILLER 1971) do tipo Bshw semiaacuterido megateacutermico com curta estaccedilatildeo chuvosa no
veratildeo-outono e com concentraccedilatildeo das precipitaccedilotildees pluviais nos meses de marccedilo e abrilrdquo
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2) Anualmente o municiacutepio apresenta pluviometria
meacutedia abaixo dos 700 mm mas existe maior incidecircncia de chuva em outras regiotildees de
Irauccediluba Eacute o que demonstra a figura 28
Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba
Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba
95
Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba
ldquoA regiatildeo apresenta um dos mais baixos iacutendices pluviomeacutetricos do Estado do Cearaacute
com meacutedia histoacuterica de 540 mm Isto porque a aacuterea encontra-se a sotavento da serra
de Uruburetama constituindo-se em uma ldquosombra de chuvardquo causada pela
interceptaccedilatildeo pela serra dos ventos uacutemidos oriundos do oceanordquo (ARAUacuteJO FILHO
e SILVA 2013 p 2)
O municiacutepio passa a maior parte do ano sem chuva aproximadamente dez meses
e apesar da pouca pluviosidade a evapotranspiraccedilatildeo eacute maior que a precipitaccedilatildeo Sem poder
ser diferente as temperaturas variam de 25 a 28 graus sendo que na maior parte da aacuterea
incidem temperaturas de 26 a 27 graus centiacutegrados e a umidade aponta a incidecircncia do clima
semiaacuterido em Irauccediluba As figuras 06 29 30 31 e 32 ilustram as informaccedilotildees declaradas
96
Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba
Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual
97
Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba
Figura 32 Iacutendice Efetivo de umidade em Irauccediluba
Fonte NOLEcircTO (2005)
98
3234 Vegetaccedilatildeo
A caatinga eacute um dos maiores biomas brasileiros e significa mata branca Por ser
uma vegetaccedilatildeo xeroacutefila eacute capaz de suportar vaacuterios anos de estiagem recuperando com
rapidez suas atividades logo nas primeiras chuvas apoacutes a seca A adaptaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo ao
clima semiaacuterido eacute impressionante como por exemplo as cascas claras ou reluzentes servem
para diminuir o aquecimento do tecido vivo da planta Por causa da falta de aacutegua satildeo
caducifoacutelias isto eacute as folhas caem durante a estaccedilatildeo seca para evitar excesso de perda d‟aacutegua
pela evapotranspiraccedilatildeo aleacutem disto os caules satildeo projetados para armazenar aacutegua (MAIA
2012)
ldquoA caatinga se assemelha a arbustos tropicais ou bosques de espinhos Eles
contecircm pequenas aacutervores de madeira dura grotescamente retorcidas e com espinhos as folhas
satildeo pequenas e caem durante a estaccedilatildeo secardquo Odum e Barret (2008 p 453)
Fisionomicamente eacute possiacutevel diferenciar os tipos de vegetaccedilatildeo o arboacutereo que estaacute nas
superfiacutecies mais conservadas sendo o pau branco o angico o pereiro dentre outras suas
espeacutecies mais representativas o arbustivo que eacute sinal de aacutereas jaacute degradadas pelo
desmatamento uso agriacutecola e pecuaacuteria e o herbaacuteceo figurado por gramiacuteneas presentes
somente durante o periacuteodo chuvoso e explorado pela pecuaacuteria extensiva (DANTAS et al
2007)
ldquoO Bioma Caatinga estaacute inserido no quadro dos Ecossistemas da Regiatildeo das
Caatingas e Florestas Deciduais do Nordeste Abrange as especificidades do Domiacutenio
Morfoclimaacutetico das Caatingas sejam elas arbustivas ou arboacutereasrdquo (BRASIL 2004 p 68) Os
frutos amadurecem ao fim da eacutepoca das chuvas quase que generalizadamente na maioria das
espeacutecies arboacutereas e herbaacuteceas permanecendo pendentes dos ramos durante algum tempo Ao
se desprenderem e caiacuterem no solo natildeo germinam de imediato pois a resistecircncia da casca e
outros artifiacutecios da natureza impedem a germinaccedilatildeo pronta Se germinassem morreriam quase
em seguida natildeo resistindo agrave longa estaccedilatildeo seca e quente da estiagem com interrupccedilatildeo brusca
e total das chuvas A germinaccedilatildeo poreacutem processa-se rapidamente logo ao caiacuterem as
primeiras chuvas pois os indumentos foram intensamente desgastados pelo intemperismordquo
As queimadas realizadas para a preparaccedilatildeo de novos terrenos de cultivo desempenham papel
de grande poder destruidor do ambiente ldquoCompreende-se pois que a restauraccedilatildeo da
cobertura vegetal depende da preservaccedilatildeo desses estoques de sementesrdquo26
26
Conferir SOBRINHO Vasconcelos (1983) In PAN Brasil 2004
99
ldquoA vegetaccedilatildeo da aacuterea do nuacutecleo de desertificaccedilatildeo de Irauccediluba espelha os efeitos dos
fatores fiacutesicos mormente os de natureza hiacutedrica e edaacutefica e da accedilatildeo antroacutepica
Assim as aacutereas dos solos argissolos litoacutelicos e luvissolos apresentam uma cobertura
arbustiva-arboacuterea formando um verdadeiro mosaico de diferentes estaacutedios
sucessionais em virtude das praacuteticas agriacutecola ambientalmente agressivasrdquo [] ldquoAs
aacutereas sobre os planossolos estatildeo recobertas por uma caatinga assavanada e
esporadicamente com afloramentos rochosos e com cobertura arbustiva arboacuterea
meacutedia abaixo de 20 e densidade de cerca 200plantasha A camada herbaacutecea de
biodiversidade inferior ao das aacutereas de luvissolos ou argissolos eacute rica no entanto
em espeacutecies forrageiras destacando-se a erva de ovelha (Stylosanthes humilis)
vassourinha (Stylosanthes angustifolia) urinana (Zornia bracteata) e capim accedilu
(Paspalum milegrana) O capim panasco no entanto predomina nas aacutereas
sobrepastejadasrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 34)
A figura 33 espelha a composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba Segue claro que a Caatinga
Arboacuterea Sem Palmeira (Cas) predomina seguida da Caatinga Arboacuterea Com Palmeira (Cap) e
da Caatinga Parque Sem Palmeira (Cps) A Floresta Ombroacutefila Aberta (Acc1) e as Aacutereas De
Formaccedilatildeo Pioneira (Acc2) representam uma aacuterea menor do municiacutepio
Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba
3235 Recursos Hiacutedricos
O nuacutecleo de Irauccediluba estaacute situado na bacia hidrograacutefica do rio Curu contando com
o aporte dos rios Aracatiaccedilu e Caxitoreacute aleacutem de vaacuterios riachos destacando-se o Aroeira o
Fonte NOLEcircTO (2005)
Fonte NOLEcircTO (2005)
100
Gabriel e o Cachoeira A ausecircncia de barragens de porte representativo faz com que a
pequena accediludagem assuma um papel relevante Destacam-se dentre essas os Accediludes Satildeo
Gabriel do Mocoacute (IRAUCcedilUBA 2009)
Por conta da irregularidade das chuvas que contribui para favorecer o escoamento
de superfiacutecie junto agraves condiccedilotildees geoloacutegicas predominantemente cristalinas favorecem o
escoamento raacutepido das aacuteguas pluviais inviabilizando o acuacutemulo de aacuteguas subterracircneas em
quantidades razoaacuteveis (IRAUCcedilUBA 2009) existem no municiacutepio cerca de 28 pequenos
accediludes nomeando-se o Nogueira Ramos o Cairu Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu e o Jerimum
que abastece a cidade de Irauccediluba ldquoUma estrutura muito comum no municiacutepio eacute o barreiro da
salvaccedilatildeo constituindo-se em um sistema temporaacuterio de armazenamento de aacutegua para atender
agrave demanda dos rebanhos durante boa parte da estaccedilatildeo secardquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA
2013 p 3)
324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo
A partir da abordagem feita no item 323 passa-se a analisar a realidade de cada
propriedade estudada Visando apontar os aspectos geoambientais dos imoacuteveis construiu-se
um quadro siacutentese conforme tabela 15 abaixo
Tabela 15 ndash Anaacutelise Geral das propriedades estudadas
Anaacutelise
Imoacuteveis com Reserva Legal
Riachuelo
Alto Alegre
Aacuteguas
Mortas
Almas
Cajazeiras
II
Saco
Verde
Miramar
Classe
no
Tipo
Niacuteveis da Classe
no Tipo
Aacuterea (km2)
336 238 127 124 671 86
no Niacutevel da Classe no Tipo
Precipitaccedilatildeo
Total
Meacutedia Anual
lt 600 - - - - 103 -
600 a 700 100 100 100 755 100
700 a 800 - - - 976 112 -
800 a 900 - - - 24 - -
Temperatura
Meacutedia Anual
(oC)
25-26 - - - - 71 -
26-27 100 100 100 100 929 100
27-28 - - - - - -
ETP
lt 1450 - - - - 100 100
1450-1500 - - - - - -
1500-1550 - - - - - -
1550-1600 100 100 100 - - -
1600-1650 - - - 141 - -
1650-1700 - - - 859 - -
101
Nugravemero
de
Meses secos
85 a 95 100 100 564 100 330 -
95 a 105 - - 454 - 670 100
gt105 - - - - - -
Im
gt - 333 - - - - - -
- 344 a - 499 100 100 100 100 388 15
lt - 499 - - - - 612 985
Igravendice de Aridez
do UNEP 020 a 050 100 100 100 100 780 100
050 a 065 - - - - 220 -
Classes
de
Relevo
Plano 23 46 56 112 55 135
Suave Ondulado 162 316 378 373 227 485
Ondulado 194 338 427 64 124 130
Muito Ondulado 127 111 72 38 72 70
Forte Ondulado 463 185 66 264 400 179
Montanhoso 31 04 - 105 120 03
Escarpado - - - 44 02 -
Classes
de
Altitude
80-120 - - -- 560 - -
120-160 - - - 113 - -
160-200 - - - 60 321 -
200-240 54 171 723
240-280 01 41 460 40 85 202
280-320 139 614 521 36 68 49
320-360 349 211 10 41 56 24
360-400 178 65 01 38 70 02
400-440 90 24 - 28 53 -
440-480 63 21 - 19 55 -
480-520 45 16 - 10 45 -
520-560 33 05 - 02 32 -
560-600 29 02 - - 15 -
600-640 25 01 - - 10 -
640-680 17 - - - 08 -
680-720 13 - - - 07 -
720-760 07 - - - 03 -
760-800 05 - - - 02
800-840 03 - - - - -
840-880 02 - - - - -
880-920 01 - - - - -
Associaccedilotildees
de
Solos
PE 6 - - - - 207 -
PE 42 - - - 913 - -
NC 7 - - - - - -
NC 15 940 755 516 - - 441
PL 6 - - - - 348 -
Re 6 - - - - - -
Re 25 - - - 87 445 -
Re 26 60 245 424 - - 559
Grupos
de
solos
PE - - - 913 207 -
NC 940 762 516 - - 441
PL - - - - 348 -
Re 60 238 484 87 445 559
Cobertura
Vegetal
Cas 515 934 100 - 265 100
Cap - - - 649 - -
Cps - - - - 168 -
Acc1 485 66 - - - -
Acc2 351 567 -
Quanto agrave graduaccedilatildeo altimeacutetrica em que se encontra cada propriedade em estudo eacute
possiacutevel observar que a RiachueloAlto Alegre tem niacuteveis de altimetria crescentes a partir de
102
240 ateacute 920 metros destacando-se como o imoacutevel de maior altitude seguido de Saco Verde e
Aacuteguas Mortas As outras natildeo passam dos 560 metros de altitude
Em se tratando da classe de relevo a que se apresenta mais plana eacute Miramar com
135 de sua aacuterea seguida de Cajazeiras II com 112 Em relevo montanhoso destacam-se
Saco Verde com 12 de terreno e Cajazeiras II com 105 No entanto a predominacircncia eacute de
imoacuteveis inseridos na faixa entre o suave ondulado e o forte ondulado
Os imoacuteveis em anaacutelise situam-se em diferentes grupos de solos como ilustra a
tabela 15 Por exemplo RiachueloAlto Alegre e Aacuteguas Mortas estatildeo 94 e 762
respectivamente em luvissolos ou seja em solos Bruno natildeo caacutelcicos e Podzoacutelico vermelho
amarelo equivalente eutroacutefico Almas e Miramar estatildeo divididas aproximadamente agrave metade
em solo litoacutelico e em Bruno natildeo caacutelcico Em Cazajeiras II predomina o solo Podzoacutelico
vermelho amarelo equivalente eutroacutefico mas apresenta um pequeno percentual em solo
litoacutelico E por fim Saco Verde possui uma distribuiccedilatildeo variada de solos Podzoacutelico vermelho
amarelo equivalente eutroacutefico (207) Planossolos (348) e litoacutelicos (445) sendo o
uacutenico imoacutevel com planossolos
Nas associaccedilotildees de solos prevalece a subclasse 15 dos solos Bruno natildeo caacutelcicos
(NC) nas propriedades RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas e Almas Cajazeiras II estaacute
quase totalmente na subclasse 42 do Podzoacutelico vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) e
Miramar mesmo quase ao meio entre NC e Re possui a maior parte de sua aacuterea na subclasse
26 de solos litoacutelicos (Re) Saco Verde embora um tanto quanto bem distribuiacuteda tem 207
de aacuterea na subclasse 6 dos Podzoacutelicos vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) 348
em planossolos subclasse 6 inclusive eacute o uacutenico imoacutevel nessa classificaccedilatildeo e 445 em Re6
A realidade das aacutereas em estudo descrita na tabela 15 revela que mais da metade
delas estaacute inserida na faixa de pluviosidade abaixo dos 700 mm contudo Cajazeiras II foge agrave
regra apresentando pluviometria entre 700 a 900 mm Em Saco Verde ocorre distribuiccedilatildeo
irregular de chuvas e aleacutem de estar na meacutedia tem precipitaccedilatildeo tanto abaixo dos 600 como
acima de 700 mm
E por fim a cobertura vegetal de Almas Miramar quase toda de Aacuteguas Mortas e
a metade RiachueloAlto Alegre eacute de caatinga arboacuterea sem palmeira (Cas) enquanto que mais
de 50 da Cajazeiras II estaacute em caatinga arboacuterea com palmeira (Cap) Saco Verde tem mais
da metade da aacuterea em formaccedilatildeo pioneira (Acc2)
103
33 Metodologia
A metodologia utilizada no levantamento acerca da existecircncia de reserva legal no
municiacutepio de Irauccediluba envolveu algumas fases de anaacutelise como pesquisa bibliograacutefica
documental caracterizaccedilatildeo da aacuterea sob os aspectos sociais econocircmicos e ambientais o uso de
imagens orbitais e a aplicaccedilatildeo do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada (NDVI -
Normalized Difference Vegetation Index) nas propriedades em estudo
A abordagem envolveu o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo uma vez que para avaliar a
aplicabilidade da reserva legal como forma de combater o processo de degradaccedilatildeo ambiental
em Irauccediluba partiu-se da hipoacutetese de que se cada detentor de propriedade rural cumprisse a
obrigaccedilatildeo de implantaacute-la o processo de degradaccedilatildeo quiccedilaacute o de desertificaccedilatildeo seria estancado
no municiacutepio Aleacutem disso seria um instrumento proporcionador da recuperaccedilatildeo ambiental em
virtude de seus benefiacutecios A investigaccedilatildeo se deu por procedimentos de vieacutes histoacuterico e
comparativo tendo sido realizada uma retrospectiva de como foi o tratamento dado agrave reserva
legal no contexto juriacutedico econocircmico social e ambiental Aleacutem disto estudou-se as
propriedades que apresentaram o instituto mesmo que soacute documentalmente de maneira a
confrontar a situaccedilatildeo existente nos anos de 1993 e 2007 e sua modificaccedilatildeo
Para alcanccedilar os propoacutesitos deste trabalho ocorreu a coleta de dados pela pesquisa
documental e bibliograacutefica aleacutem da observaccedilatildeo direta intensiva que foi possiacutevel pelo exame
de dados obtidos por imagens do sateacutelite LANDSAT 5 referente aos anos de 1993 e 2007
bem como a avaliaccedilatildeo das aacutereas estudadas atraveacutes do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila
Normalizada (NDVI)
As informaccedilotildees geograacuteficas das propriedades em estudo foram disponibilizadas
basicamente pelo INCRA e pelo cartoacuterio de imoacuteveis de Irauccediluba Ambos cederam as plantas
georreferenciadas que foram vetorizadas em UTM 24s atraveacutes do programa CARTALINX 12
para em seguida serem exportadas para o IDRISI 322 e entatildeo convertidas para latitude e
longitude DATUM GS 84
331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite
O NDVI eacute um iacutendice de vegetaccedilatildeo derivado de imagens de sateacutelites e muito
utilizado na avaliaccedilatildeo da cobertura vegetal indicando o tipo a condiccedilatildeo e a densidade da
vegetaccedilatildeo atraveacutes do uso de bandas No caso as bandas do vermelho na faixa do visiacutevel e do
infravermelho proacutexima (PINHEIRO 2011) Agrave medida que aumenta a quantidade de
104
vegetaccedilatildeo verde aumenta a reflexatildeo na banda do infravermelho proacuteximo e diminui a reflexatildeo
na banda do vermelho fazendo com que o aumento da razatildeo seja potencializado realccedilando
assim a vegetaccedilatildeo27
Na banda do vermelho a clorofila absorve a energia solar resultando em uma
baixa reflectacircncia e no infravermelho proacuteximo tanto a morfologia interna das folhas quanto a
estrutura da vegetaccedilatildeo apresentam uma alta reflectacircncia da energia solar incidente A
combinaccedilatildeo dessas bandas realccedila a aacuterea de vegetaccedilatildeo nas imagens e quanto maior o contraste
maior o vigor da vegetaccedilatildeo da aacuterea imageada (LOURENCcedilO LANDIM 2004)28
Portanto o NDVI pode ser utilizado como uma teacutecnica para mapeamento
contiacutenuo da cobertura vegetal de uma regiatildeo possibilitando analisar e monitorar a
variabilidade desta em periacuteodos distintos (PINHEIRO 2011) Ressaltam ainda as diferenccedilas
entre aacutereas vegetadas e de solo exposto (VERONA 2002)29
O caacutelculo para se chegar ao NDVI deriva da razatildeo entre os valores das bandas do
vermelho e infravermelho proacuteximo ou seja a diferenccedila da resposta espectral do pixel dessas
bandas pela sua soma (SILVA et al 2007)30
resulta nos valores do NDVI que variam de ndash1 a
+1 A equaccedilatildeo para o caacutelculo do NDVI foi proposta por (JENSEN 1996)31
in Ewerton Torres
Melo 2008) conforme segue abaixo
NDVI = (NIR - R) (NIR + R)
Em que
NDVI eacute o iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada NIR eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Infra-Vermelho Proacuteximo
(076 a 090 μm)
R eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Vermelho (063 a 069μm)
Assim a vegetaccedilatildeo eacute caracterizada por uma intensa absorccedilatildeo devido agrave clorofila na
regiatildeo do vermelho (063 ndash 069 μm) e por uma intensa energia refletida na regiatildeo do
infravermelho proacuteximo (076 ndash 090 μm) causada pela estrutura celular das folhas Portanto
muitos dos modelos de iacutendice de vegetaccedilatildeo utilizam somente as bandas de imagem vermelha
ou proacutexima ao infravermelho (MELO 2008)
27
Novo (1989) In MELO Ewerton Torres (2008) 28
In PINHEIRO 2011 29
Idem 30
Ibidem 31
In MELO 2008
105
Conforme (BRAGA et al sd) estudos de variabilidade temporal e espacial sobre
a regiatildeo Nordeste do Brasil indicam que as aacutereas vegetadas variam de 01 a 08 sendo que
esses valores dependem da estrutura densidade e umidade da vegetaccedilatildeo As rochas e os solos
apresentam valores proacuteximos de zero e a aacutegua aparece com valores negativos Coberturas
vegetais muitos densas se expressam pelos maiores valores obtidos (PINHEIRO 2011)
106
4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES
41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba
O foco principal da pesquisa foi levantar e analisar as propriedades que de alguma
forma apresentem a reserva legal seja oficial ou extraoficialmente Com o exame das imagens
de sateacutelite dos anos de 1993 e 2007 utilizando o NDVI constatou-se que os iacutendices da
cobertura vegetal satildeo muito parecidos tanto dentro como fora da aacuterea de reserva ao serem
comparados pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Isto leva a crer que o instituto legal pode natildeo
ter promovido qualquer diferenccedila em termos de cobertura vegetal sem falar na hipoacutetese de
nem mesmo ter sido cumprido
Analisando os iacutendices de NDVI comprova-se que na grande maioria dos
imoacuteveis a cobertura vegetal tanto dentro como fora da aacuterea de reserva legal diminuiu entre
os anos de 1993 e 2007 Embora nas propriedades a vegetaccedilatildeo se apresente em niacuteveis
diferenciados de existecircncia representados pelas faixas 2 a 9 da tabela 16 vecirc-se que quase
todos em 1993 apresentavam aacutereas significativas de vegetaccedilatildeo na faixa 6 e 7 Se averiguar as
mesmas colunas em 2007 eacute notoacuteria a retraccedilatildeo nos iacutendices salvo na faixa 5 referente aos
imoacuteveis Aacuteguas Mortas Almas e Saco Verde
Tabela 16 - NDVI dos imoacuteveis estudados
IMOacuteVEL SEGMENTO ANO
Aacuterea no niacutevel de NDVI como uma porcentagem da aacuterea total do segmento
Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 4 Faixa 5 Faixa 6 Faixa 7 Faixa 8 Faixa 9
0 a 01 01 a 02 02 a 03 03 a 04 04 a 05 05 a 06 06 a 07 07 a 08 08 a 09
Riachuelo
Alto
Alegre
Fora 1993 0558 0458 0978 2418 9904 68884 16798 0022 0019
2007 1369 1351 2366 9734 56243 28713 0205 0019 -
Reserva 1993 0532 0319 0473 1006 3224 57424 36868 0074 -
2007 1818 1611 1951 7524 53112 33777 0207 - -
Aacuteguas
Mortas
Fora 1993 1588 1833 2701 6525 18029 41168 28024 0141 -
2007 4979 3485 4979 12220 34523 39105 0616 0097 -
Reserva 1993 - - 0084 1246 10452 56862 31356 - -
2007 2092 1902 6677 6127 52292 34545 0275 0085 -
Almas Fora 1993 1954 1336 1650 3339 9359 48925 33222 0216 -
2007 0845 1463 2583 13464 44731 36659 0216 - 0039
Reserva 1993 13455 3058 2299 3858 12198 40686 23344 0156 0156
2007 1052 1208 1052 7947 53759 34827 0156 - -
Miramar Fora 1993 - - 1075 6023 36519 50699 5684 - -
2007 0810 1001 1870 6818 66765 22545 0132 0059 -
Reserva 1993 1540 0285 0799 7758 39646 48431 1540 - -
2007 - 0513 2339 33143 63206 0799 - - -
Saco
Verde
Fora 1993 6867 5558 9959 20131 37338 19016 0097 1097 1097
2007 6469 8972 19278 30986 32219 2026 0050 - -
Reserva 1993 6927 9383 17136 26903 29900 9113 0609 0030 -
2007 8767 10375 17166 29254 332881 1157 - - -
Cajazeiras
II
Fora 1993 0040 0606 8206 39766 45877 5412 0092 - -
2007 2003 9562 25154 44710 17723 0647 - - -
Reserva 1993 2885 2885 12402 48057 29936 2360 0674 - -
2007 3895 8165 21610 39476 26704 0150 - -
Os iacutendices de NDVI da tabela 16 serviram de base para o caacutelculo da anaacutelise de
semelhanccedila pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Assim a constataccedilatildeo acima eacute confirmada pela
tabela 17 que por sua vez atesta o grau de similaridade entre a aacuterea interna e externa agrave
reserva legal nos anos analisados Eacute surpreendente o niacutevel de semelhanccedila encontrado O
percentual mais baixo em 1993 eacute de 798 chegando no mesmo ano a 933 Jaacute em 2007 a
percentagem de semelhanccedila diminui nos imoacuteveis Aacuteguas Mortas e Miramar de 81 para 75 e
de 933 para 731 respectivamente Isto natildeo quer dizer que o niacutevel de cobertura vegetal
melhorou ou piorou mas que a diferenccedila na semelhanccedila entre dentro e fora da aacuterea de reserva
legal nessas propriedades reduziu sugerindo que o respeito agravequele instituto pode ter
promovido a alteraccedilatildeo Em contrapartida nos outros imoacuteveis essa semelhanccedila aumentou
aproximando-se dos 94
Assim eacute provaacutevel que pelos meacutetodos utilizados a funccedilatildeo proposta pelo instituto
da reserva legal natildeo esteja sendo alcanccedilada visto que o grau de semelhanccedila entre a aacuterea de
dentro e fora da reserva legal estaacute muito aproximado pois sequer apresentou-se abaixo dos
70 de diferenccedila
Tabela 17 - Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal pelo meacutetodo de Sorensen (1948)
ANAacuteLISE DE SEMELHANCcedilA DE SORENSEN () ENTRE
FORA E DENTRO DA AacuteREA DE RESERVA LEGAL
IMOacuteVEL
Reserva
ANO 1993 2007
108
Riachuelo Alto Alegre Fora 1993 798 -
2007 - 941
Aacuteguas Mortas Fora 1993 810 -
2007 - 750
Almas Fora 1993 821 -
2007 - 908
Saco Verde Fora 1993 799 -
2007 - 891
Cajazeiras II Fora 1993 813 -
2007 - 952
Miramar Fora 1993 933 -
2007 - 731
109
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A abordagem dos assuntos aqui tratados e os resultados alcanccedilados permitem a
conclusatildeo de que a reserva legal eacute uma criaccedilatildeo da lei com intenccedilotildees conservacionistas
avanccediladas Como espaccedilo especialmente protegido requer um tratamento diferenciado natildeo soacute
como previsto em normas mas sob a oacutetica da sociedade Observou-se que foi um assunto
amplamente tratado e debatido nas esferas do poder legislativo e judiciaacuterio do paiacutes e que
tambeacutem eacute alvo de poliacuteticas puacuteblicas e atuaccedilatildeo das autoridades competentes embora um tanto
falhas
Contatou-se que o emprego da reserva legal no municiacutepio de Irauccediluba eacute pouco expressivo
diante da quantidade de propriedades ali existentes por isso os benefiacutecios trazidos pela
conservaccedilatildeo desses espaccedilos mal podem ser sentidos no municiacutepio que sofre com a degradaccedilatildeo
ambiental contiacutenua inclusive com a presenccedila do processo de desertificaccedilatildeo Aleacutem disto a
falta de cumprimento do formal procedimento acerca da implantaccedilatildeo da reserva legal em
aacutereas puacuteblicas eacute intrigante Isto porque se pressupotildee accedilotildees de estrita legalidade envolvendo o
ente estatal Nesse sentindo partindo do entendimento que os projetos de assentamento satildeo
resultado de poliacuteticas puacuteblicas para reforma agraacuteria pressupunha-se que nestes espaccedilos a
reserva legal estaria estabelecida mas as anaacutelises mostraram que natildeo haacute diferenccedila quando
comparadas a aacuterea de dentro e de fora da reserva nas propriedades A situaccedilatildeo eacute anaacuteloga no
imoacutevel particular apreciado
A respeito da degradaccedilatildeo viu-se que Irauccediluba por ser rota de passagem do gado
desde o seacuteculo XIX aporta animais em transumacircncia de outras regiotildees Os relatos de jesuiacutetas
que cruzaram o municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XVII registram o lugar com vegetaccedilatildeo fechada
e densa Diante disso eacute possiacutevel afirmar que nem sempre Irauccediluba teve um ambiente inoacutespito
e com caracteriacutesticas severamente adversas O quadro atual se deve agraves intervenccedilotildees antroacutepicas
sem teacutecnicas apropriadas para o desenvolvimento de atividades econocircmicas em conjunto com
as caracteriacutesticas de um meio semiaacuterido Essas atividades geralmente abrangem culturas de
subsistecircncia praticadas recorrentemente no mesmo lugar sem o pousio necessaacuterio do solo que
por sua vez natildeo eacute tatildeo rico em nutrientes em decorrecircncia dos desmatamentos e queimadas
Pela caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo pocircde se verificar que seus atributos
envolvem solos pouco profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica
O clima eacute o semiaacuterido onde haacute baixa pluviometria e temperaturas em torno dos 28ordmC e a
vegetaccedilatildeo eacute caatinga nos tipos arbustivos e herbaacuteceos excepcionalmente o arboacutereo por causa
da degradaccedilatildeo
Os resultados mostraram que os iacutendices de NDVI nas propriedades analisadas
apontam um grau de semelhanccedila de ateacute 94 entre dentro e fora da aacuterea da reserva legal pelo
que se pode inferir 2 suposiccedilotildees
1) A reserva legal existe somente em niacutevel documental e natildeo no local apontado
dentro do imoacutevel
ou
2) A reserva legal existe mas estaacute com a cobertura vegetal bem semelhante agrave de fora
da sua aacuterea de maneira que pode estar tatildeo degradada quanto ou tatildeo conservada
quanto
Partindo para a segunda suposiccedilatildeo os iacutendices de NDVI constatam sim que a
cobertura vegetal apresenta um grau elevado de semelhanccedila entre os dois espaccedilos e que em 4
dos 6 imoacuteveis ambos diminuiacuteram de 1993 a 2007 Desta forma natildeo haacute como afirmar que a
reserva legal no estado em que se encontra nas propriedades analisadas eacute um meio de
combater a degradaccedilatildeo ambiental Contudo nos casos em que real e verdadeiramente for
aplicada por certo traraacute ganhos ambientais mas isto deve ser alvo de mais e maiores estudos
acerca do assunto
Eacute curioso que mesmo Irauccediluba sendo um nuacutecleo de desertificaccedilatildeo e por isso alvo
de estudos pesquisas projetos e poliacuteticas puacuteblicas envolvendo degradaccedilatildeo recuperaccedilatildeo e
conservaccedilatildeo ambiental a situaccedilatildeo aparentemente natildeo progride em termos de melhorias Ao
contraacuterio disto constata-se cada vez mais a deterioraccedilatildeo do meio ambiente a ocupaccedilatildeo e a
utilizaccedilatildeo indevida dos recursos naturais
Encerrando a abordagem do assunto tratado assevera-se que a reserva legal jaacute eacute
um instituto consolidado em lei natildeo justificando quaisquer argumentos quanto ao seu
descumprimento Inclusive a natildeo observacircncia do bendito mandamento eacute considerada crime e
nesse sentido natildeo haacute uma atuaccedilatildeo maciccedila do Estado em termos de fiscalizaccedilatildeo pois se assim
existisse natildeo se estaria diante de uma constataccedilatildeo tatildeo seacuteria acerca do pequeno nuacutemero de
imoacuteveis que apresentaram a reserva legal mesmo que documentalmente Essa estatiacutestica
diminuiu ainda mais quando se analisou a diferenccedila na vegetaccedilatildeo sendo possiacutevel concluir que
o caraacuteter conservacionista da reserva legal e ela proacutepria natildeo estatildeo alcanccedilando o fim para que
foi criada
Por fim acredita-se que a reserva legal se cumprida eacute um instrumento
conservacionista capaz de auxiliar na recuperaccedilatildeo ambiental e arrefecer os processos de
111
degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo criticamente manifestos no municiacutepio de Irauccediluba Indo mais
aleacutem vecirc-se que pela oacutetica do referido instituto o desenvolvimento sustentaacutevel eacute possiacutevel
pois mesmo de encontro a interesses particulares ele consegue reunir e harmonizar o vieacutes
econocircmico o social e o ambiental
112
REFEREcircNCIAS
AGCO Lanccedilamento nacional do CAR deve sair ateacute junho Sou Agro 22052013
Disponiacutevel em lt httpwwwsouagrocombrgt Acesso em 27 mai 2013
AHRENS Sergio O ldquonovordquocoacutedigo florestal brasileiro conceitos juriacutedicos fundamentais
Trabalho Voluntaacuterio In CONGRESSO FLORESTAL BRASILEIRO 8 Satildeo Paulo SP
Anais Satildeo Paulo Sociedade Brasileira de Silvicultura Brasiacutelia Sociedade Brasileira de
Engenheiros Florestais 2003 1 CD-ROM
AMADO Frederico Augusto Di Trindade Direito ambiental sistematizado Rio de Janeiro
Forense Satildeo Paulo Meacutetodo 2009
ANTUNES Paulo de Bessa Aacutereas protegidas e propriedade constitucional Satildeo Paulo
Atlas 2011
ARAUacuteJO Gustavo Henrique de Sousa ALMEIDA Josimar Ribeiro de GUERRA Antocircnio
Joseacute Teixeira Gestatildeo ambiental de aacutereas degradadas 3ed ndash Rio de Janeiro Bertrand
Brasil 2008
ARAUacuteJO FILHO Joatildeo Ambroacutesio SILVA Nilzemary Lima da Impactos e mitigaccedilatildeo do
antropismo no nuacutecleo de desertificaccedilatildeo em Irauccediluba In OLIVEIRA Joseacute Gerardo Beserra
SALES Marta Celina Linhares (Org) Monitorando a desertificaccedilatildeo em Irauccediluba
resultados de doze anos de pesquisa Fortaleza Ediccedilotildees UFC2013 (No Prelo)
BACHA Carlos Joseacute Caetano Eficaacutecia da poliacutetica de reserva legal no Brasil Teoria e
Evidecircncia Econocircmica Passo Fundo RS v 13 n25 p9-27 2005
BRASIL Acoacuterdatildeo nordm 2633-51 de 10 de dezembro de 2007 do Tribunal de Contas da Uniatildeo
Relatoacuterio de auditoria Projetos de assentamento Estudos de viabilidade ambiental Reserva
legal Licenciamento ambiental Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 11 dez 2007
Disponiacutevel em lthttptcugovbrgt Acesso em 12 mar 2013
BRASIL Constituiccedilatildeo Repuacuteblica dos Estados Unidos do Brasil de 16 de julho de 1934
Constituiccedilatildeo (1934) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Rio de Janeiro RJ 16 jul 1934
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 8 jul 2013
BRASIL Constituiccedilatildeo Repuacuteblica dos Estados Unidos do Brasil de 18 de setembro de 1946
Constituiccedilatildeo (1946) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Rio de Janeiro RJ 25 set 1946
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 08 jul 2013
BRASIL Constituiccedilatildeo Repuacuteblica Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988
Constituiccedilatildeo (1988) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia-DF 05 out 1988
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 8 set 2011
BRASIL Decreto Federal ndeg 24643 de 10 de julho de 1934 Decreta o Coacutedigo de Aacuteguas
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 10 jul 1934
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Decreto Federal ndeg 23793 de 23 de janeiro de 1934 Aprova o coacutedigo florestal
que com este baixa Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Rio de Janeiro RJ 21 mar 1935
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 11 nov 2010
BRASIL Decreto-Lei ndeg 227 de 28 de fevereiro de 1967 Daacute nova redaccedilatildeo ao Decreto-lei
nordm 1985 de 29 de janeiro de 1940 (Coacutedigo de Minas) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia
DF 28 fev 1967 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Decreto Federal nordm 6514 de 22 de julho de 2008 Dispotildee sobre as infraccedilotildees e
sanccedilotildees administrativas ao meio ambiente estabelece o processo administrativo federal
para apuraccedilatildeo destas infraccedilotildees e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo Brasiacutelia DF 23 jul 2008 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em
05 out 2010
BRASIL Lei Federal ndeg 4504 de 30 de novembro de 1964 Dispotildee sobre o Estatuto da Terra
e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 31 nov 1964
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 08 jul 2013
BRASIL Lei Federal nordm 4771 de 15 de setembro de 1965 Institui o novo Coacutedigo Florestal
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 16 set 1965 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 10 out 2010
BRASIL Lei Federal ndeg 4947 de 06 de abril de 1966 Fixa Normas de Direito Agraacuterio
Dispotildee sobre o Sistema de Organizaccedilatildeo e Funcionamento do Instituto Brasileiro de
Reforma Agraacuteria e daacute outras Providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 11 abr
1966 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 02 abr 2013
BRASIL Lei Federal nordm 5197 de 03 de janeiro de 1967 Dispotildee sobre a proteccedilatildeo agrave fauna e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 03 jan 1967
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 6015 de 31 de dezembro de 1973 Dispotildee sobre os registros
puacuteblicos e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 31 dez 1973
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 6938 de 31 de agosto de 1981 Dispotildee sobre a Poliacutetica Nacional
do Meio Ambiente seus fins e mecanismos de formulaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 02 set 1981
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 13 ago 2012
BRASIL Lei Federal nordm 7803 de 18 de julho de 1989 Altera a redaccedilatildeo da Lei nordm 4771 de
15 de setembro de 1965 e revoga as Leis nordms 6535 de 15 de junho de 1978 e 7511 de 7
de julho de 1986 Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 20 jul 1989
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 15 mar 2012
BRASIL Lei Federal nordm 7827 de 27 de setembro de 1989 Regulamenta o art 159 inciso I
aliacutenea c da Constituiccedilatildeo Federal institui o Fundo Constitucional de Financiamento do
Norte - FNO o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste - FNE e o Fundo
Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste - FCO e daacute outras providecircncias
114
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 27 set 1989 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 13 mai 2013
BRASIL Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada Amazocircnia Legal Brasiacutelia 2011
Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrgt Acesso em 02 jun2013
BRASIL Lei Federal nordm 9443 de 08 de janeiro de 1997 Institui a Poliacutetica Nacional de
Recursos Hiacutedricos cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hiacutedricos
regulamenta o inciso XIX do art 21 da Constituiccedilatildeo Federal e altera o art 1ordm da Lei nordm
8001 de 13 de marccedilo de 1990 que modificou a Lei nordm 7990 de 28 de dezembro de 1989 Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 08 jan 1997 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 05 out 2010
BRASIL Lei Federal nordm 9605 de 12 de fevereiro de 1998 Dispotildee sobre as sanccedilotildees penais e
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 12 fev 1998
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 11959 de 29 de junho de 2009 Dispotildee sobre a Poliacutetica Nacional
de Desenvolvimento Sustentaacutevel da Aquicultura e da Pesca regula as atividades
pesqueiras revoga a Lei nordm 7679 de 23 de novembro de 1988 e dispositivos do Decreto-
Lei nordm 221 de 28 de fevereiro de 1967 e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo Brasiacutelia DF 29 jun 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em
11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 12651 de 25 de maio de 2012 Dispotildee sobre a proteccedilatildeo da
vegetaccedilatildeo nativa altera as Leis nos 6938 de 31 de agosto de 1981 9393 de 19 de
dezembro de 1996 e 11428 de 22 de dezembro de 2006 revoga as Leis nos 4771 de 15
de setembro de 1965 e 7754 de 14 de abril de 1989 e a Medida Provisoacuteria no 2166-67
de 24 de agosto de 2001 e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF
25 mai 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 17 jan 2013
BRASIL Medida Provisoacuteria nordm 1511 de 25 de julho de 1996 Daacute nova redaccedilatildeo ao art 44
da Lei nordm 4771 de 15 de setembro de 1965 e dispotildee sobre a proibiccedilatildeo do incremento da
conversatildeo de aacutereas florestais em aacutereas agriacutecolas na regiatildeo Norte e na parte Norte da
regiatildeo Centro-Oeste e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 26
jul 1996 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Medida Provisoacuteria nordm 2166-67 de 24 de agosto de 2001 Altera os arts 1o 4o 14
16 e 44 e acresce dispositivos agrave Lei no 4771 de 15 de setembro de 1965 que institui o
Coacutedigo Florestal bem como altera o art 10 da Lei no 9393 de 19 de dezembro de 1996
que dispotildee sobre o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 25 ago 2001 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 05 out 2010
BRASIL Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio II Plano Nacional de Reforma Agraacuteria
ndash PNRA 2003 Conferecircncia da Terra em Brasiacutelia Disponiacutevel em lt httpwwwmdagovbrgt Acesso em 23 jul 2013
115
BRASIL Resoluccedilatildeo CONAMA ndeg 5 de 15 de junho de 1989 Dispotildee sobre o Programa
Nacional de Controle da Poluiccedilatildeo do Ar ndash PRONAR Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF
25 ago 1989 Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro
Brasiacutelia 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwasabrasilorgbrgt Acesso em 05 jun 2013
BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Monitoramento do desmatamento nos biomas
brasileiros por sateacutelite Acordo de cooperaccedilatildeo teacutecnica MMAIBAMA Monitoramento do
bioma Caatinga Brasiacutelia 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 16
mar 2012
BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Programa de Accedilatildeo Nacional de Combate agrave
Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca PAN-Brasil Brasiacutelia 2004
Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 07 mai 2012
BRASIL Norma de Execuccedilatildeo INCRA nordm 43 de 28 de junho de 2005 Estabelece criteacuterios e
procedimentos referentes agrave implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de
Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria Boletim de Serviccedilos nordm
27 de 04072005 Disponiacutevel em lthttpwwwincragovbrgt Acesso em 05 abr 2013
BRASIL Norma de Execuccedilatildeo INCRA nordm 44 de 28 de junho de 2005 Estabelece valor
unitaacuterio por famiacutelia referente agrave implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de
Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria
Disponiacutevel em lthttpwwwincragovbrgt Acesso em 05 abr 2013
BRASIL Norma de Execuccedilatildeo INCRA nordm 51 de 24 de julho de 2006 Aprova o Manual para
Elaboraccedilatildeo e Implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos naturais e
seus Anexos Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 26 jul 2006
Disponiacutevel em lthttpwwwincragovbrgt Acesso em 05 abr 2013
BRASIL Resoluccedilatildeo CONAMA ndeg 387 de 27 de dezembro de 2006 Revoga a Resoluccedilatildeo
CONAMA no 28901 Estabelece procedimentos para o licenciamento ambiental de Projetos
de Assentamentos de Reforma Agraacuteria e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo Brasiacutelia DF 29 dez 2006
Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 03 abr 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Lei Estadual nordm 12488 de 13 de setembro de
1995 Dispotildee sobre a Poliacutetica Florestal do Estado do Cearaacute e daacute outras providecircncias Diaacuterio
Oficial do Estado Cearaacute CE 27 set 1995
Disponiacutevel em lthttpwwwalcegovbrgt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Resoluccedilatildeo COEMA ndeg 09 de 29 de maio de
2003 Institui o compromisso de compensaccedilatildeo ambiental por danos causados ao meio
ambiente e pela utilizaccedilatildeo de recursos ambientais Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 09
jun 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwsemacecegovbrgt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Lei Complementar Estadual nordm 48 de 19 de julho
de 2004 Cria o Fundo e o Conselho Estadual Gestor do Meio Ambiente ndash FEMA e daacute
116
outras providecircncias Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 23 jul 2004 Disponiacutevel em
lthttpwwwalcegovbr gt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Decreto Estadual ndeg 27719 de 07 de marccedilo de
2005 Regulamenta a Lei Complementar nordm 48 de 19 de julho de 2004 que cria o Fundo
Estadual do Meio Ambiente ndash FEMA o Conselho Gestor e revoga o Decreto nordm 27564 de
17 de setembro de 2004 Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 07 mar 2005 Disponiacutevel
em lthttpwwwalcegovbr gt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Lei Estadual nordm 14198 de 05 de agosto de 2008
Institui a Poliacutetica Estadual de Combate e Prevenccedilatildeo agrave Desertificaccedilatildeo e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 12 ago 2008 Disponiacutevel em
lthttpwwwalcegovbrgt Acesso em 19 jul 2013
CEARAacute Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute ndash IPECE Cearaacute em
nuacutemeros Fortaleza 2010 Disponiacutevel em httpwwwipececegovbr Acesso em 17 nov
2012
CEARAacute Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute Perfil baacutesico municipal
Irauccediluba Fortaleza 2012 Disponiacutevel em httpwwwipececegovbr Acesso em 21 jul
2013
CEARAacute Secretaria dos Recursos Hiacutedricos Programa de accedilatildeo estadual de combate agrave
desertificaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo dos efeitos da seca PAE-CE Fortaleza Ministeacuterio do Meio
Ambiente Secretaria dos Recursos Hiacutedricos 2010 372p
CRIADO Francisco de Asiacutes Palaacutecios O registro e seus desafios no novo milecircnio ordem
progresso e proteccedilatildeo ambiental Satildeo Paulo Saraiva 2010
DANTAS Eustoacutegio Wanderley Correia et al Cearaacute um novo olhar geograacutefico 2 ed atual
Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha 2007
EMBRAPA Centro Nacional de Pesquisa de Solos (Rio de Janeiro RJ) Sistema brasileiro
de classificaccedilatildeo de solos 2 ed ndash Rio de Janeiro 2006
FILHO Humberto Lima de Lucena Consideraccedilotildees acerca da medida provisoacuteria ndash aspectos
juriacutedicos e praacuteticas governamentais Revista Eletrocircnica Jus Navegandi Ano 2005 mecircs
JULHO Disponiacutevel em ltwwwjuscombrgt Acesso em 02 jun 2013
FOLHES Marcelo Teophilo VIANA Manuel Osoacuterio de Lima Estudo da
degradaccedilatildeodesertificaccedilatildeo em sistemas de produccedilatildeo no semiaacuterido nos estados do Cearaacute
e Piauiacute diagnoacutestico soacutecio-econocircmico do municiacutepio de Irauccediluba Departamento de Economia
Agriacutecola da Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2001
GALDINO Valeacuteria Silva CANDIDO Angeacutelica Giosa Da reserva legal florestal como
limitaccedilatildeo ao direito de propriedade Revista de Ciecircncias Juriacutedicas v 6 n1 237-252 2008
GUERRA Antocircnio Joseacute Teixeira et al Dicionaacuterio de meio ambiente Rio de Janeiro Thex
2009
117
IBGE Censo 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrgt Acesso 3 ago 2013
IBGE Censo 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrgt Acesso 3 ago 2013
IBGE Censo 2011 Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrgt Acesso 3 ago 2013
IRAUCcedilUBA Prefeitura Municipal Lei Municipal nordm 565 de 19 de outubro de 2007 Dispotildee
sobre a Poliacutetica Ambiental do Municiacutepio de Irauccediluba Unidades de Conservaccedilatildeo e daacute
outras providecircncias IrauccedilubaCE 2007
IRAUCcedilUBA Prefeitura Municipal Plano de accedilatildeo municipal de combate a desertificaccedilatildeo
de Irauccediluba (PAM 2009) Irauccediluba CEInstituto Cactos 2009
JACOMINE P K T et al Levantamento exploratoacuterio reconhecimento de solos do Estado
do Cearaacute Recife DPP AgMADNPEA-SUDENEDRN 1973 2 v (Boletim de Pesquisa n
28)
LUSTOSA Jacqueline Pires Gonccedilalves Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica micromorfoloacutegica e
mineraloacutegica de trecircs topossequumlecircncias no Municiacutepio de Irauccediluba e suas relaccedilotildees com os
processos de desertificaccedilatildeo 142f 2004 Tese de doutorado em Geociecircncias Instituto de
Geociecircncias e Ciecircncias Exatas da Universidade Estadual Paulista Rio ClaroSP 2004
MAIA Gerda Nickel Caatinga aacutervores e arbustos e suas utilidades 2 ed Fortaleza
Printcolor Graacutefica e Editora 2012
MAGNANINI Alceo A histoacuteria da Lei Federal ndeg 47711965 (ldquoCoacutedigordquo florestal
brasileiro) Disponiacutevel em lthttpwwwportaldomeioambienteorgbrgt Acesso em lt20 dez
2010gt
MATALLO JR Heitor A desertificaccedilatildeo no mundo e no Brasil In SCHENKEL Celso
Salatino MATALLO JR Heitor Desertificaccedilatildeo Brasiacutelia UNESCO 1999
MEIRELES Hely Lopes Direito administrativo brasileiro 29 ed Satildeo Paulo Malheiros
2004
MELO Ewerton Torres Diagnoacutestico fiacutesico conservacionista da microbacia do riacho dos
cavalos - Crateuacutes-Cearaacute 128f 2008 Dissertaccedilatildeo de mestrado do Programa Regional de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) da Universidade
Federal do Cearaacute FortalezaCE 2008
MELO Marcelo Augusto Santana O meio ambiente e o registro de imoacuteveis Satildeo Paulo
Saraiva 2010
METZGER Jean Paul Bases bioloacutegicas para a bdquoreserva legal‟ Revista Ciecircncia Hoje v 31
n 183 p 48-49 2002
MILAREacute Eacutedis Direito do ambiente e a gestatildeo ambiental em foco doutrina
jurisprudecircncia glossaacuterio 6ed rev atual e ampl Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais
2009
118
MIRANDA Joatildeo Paulo Rocha de Aquecimento global queimadas e reserva legal no
Direito Paacutetrio conflitos e desafios na Amazocircnia brasileira MT Amazoon Manaus 2008
MONDIN Basttista Introduccedilatildeo agrave filosofia problemas sistemas autores obras 15 ed Satildeo
Paulo Paulus 2004 p 117
MONTEIRO Washington de Barros Curso de direito civil parte geral 4 ed Satildeo Paulo
Saraiva 1992
MORAES Luis Carlos Silva de Coacutedigo florestal comentado Satildeo Paulo Atlas 2002
NOLETO Tania Maria Serra de Jesus Suscetibilidade geoambietal das terras secas da
microrregiatildeo de SobralCe agrave desertificaccedilatildeo 145f 2005 Dissertaccedilatildeo de mestrado do
Programa Regional de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA)
da Universidade Federal do Cearaacute FortalezaCE 2005
ODUM Eugene P BARRET Gary W Fundamentos da ecologia Satildeo Paulo Cengage
Learning 2008
PINHEIRO Renata Aline Bezerra Anaacutelise do processo de degradaccedilatildeodesertificaccedilatildeo na
bacia do riacho feiticeiro com base no DFC municiacutepio de Jaguaribe-Cearaacute 129f 2011
Dissertaccedilatildeo de mestrado do Programa Regional de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e
Meio Ambiente (PRODEMA) da Universidade Federal do Cearaacute FortalezaCE 2011
SALES Marta Celina Linhares Evoluccedilatildeo dos estudos de desertificaccedilatildeo no nordeste
brasileiro Revista GEOUSP Espaccedilo e TempoSatildep Paulo n11 p 115-126 2002
SCHAFFER Wigold B MEDEIROS Joatildeo de Deus Normas ambientais gerais de caraacuteter
nacional imprescindiacuteveis para as poliacuteticas estrateacutegicas do paiacutes Ano 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwapremaviorgbrgt Acesso em 20 set 2010
SILVA Benedita Aparecida de Poliacutetica florestal reserva legal extra propriedade Revista
Economia Anaacutelises e Perspectivas Socioeconocircmicas v 3 n7 p 59-60 2001
SORENSEN Thorvald Julius A Method of establishing groups of equal amplitude in
plant sociology based on similarity of species content and its application to analyses of
the vegetation on danish commons Koslashbenhavn I kommission hos E Munksgaard 1948
SUDENE Dados pluviomeacutetricos mensais do nordeste estado do Cearaacute Recife 1990
THORNTHWAITE Charles Warren MATHER John Russell The Water Balance
Publications in climatology New Jersey v3 n1 1955
TRENNEPOHL Curt As sanccedilotildees administrativas aplicaacuteveis pela falta de averbaccedilatildeo da
reserva legal Constitucionalidade e legalidade do art 55 do Decreto ndeg 651408 Foacuterum de
Direito Urbano e Ambiental v 8 n44 p 09-14 2009
119
ISABELLE MARINHO QUINDEREacute SARAIVA
O EMPREGO DA RESERVA LEGAL NO MUNICIacutePIO DE
IRAUCcedilUBACE
Dissertaccedilatildeo submetida agrave Coordenaccedilatildeo do
Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento
e Meio Ambiente da Universidade Federal do
Cearaacute como requisito parcial para obtenccedilatildeo do
tiacutetulo de Mestre em Desenvolvimento e Meio
Ambiente
Aacuterea de Concentraccedilatildeo Organizaccedilatildeo do Espaccedilo
e Desenvolvimento Sustentaacutevel
Orientador Prof Dr Joseacute Gerardo Beserra de
Oliveira
Aprovada em ___ ___ _____
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
Prof Dr Joseacute Gerardo Beserra de Oliveira (Orientador)
Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC
________________________________________________
Profordf Drordf Marta Celina Linhares Sales
Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC
________________________________________________
Profordf Drordf Jacqeline Pires Gonccedilalves Lustosa
Universidade Federal de Campina Grande ndash UFCG
Dedico a Deus minha forccedila Autor da minha
vida meu tudo e ao meu marido Pedro
eterno companheiro e ajudador
AGRADECIMENTOS
A Deus que eacute Quem me permitiu ser aprovada estar e concluir esse curso tatildeo importante Ele
que em mim gerou todas as forccedilas necessaacuterias para continuar e natildeo desistir dando-me a
condiccedilatildeo de chegar ateacute o fim com louvor
Ao Professor Dr Joseacute Gerardo Beserra de Oliveira pela orientaccedilatildeo pela paciecircncia pelo
carinho e apoio desprendidos para a realizaccedilatildeo deste trabalho Por seus conhecimentos na
aacuterea pois sem eles natildeo poderia ter me levado a enriquecer tanto este trabalho
Agrave CAPES que me ajudou financeiramente
Agrave minha famiacutelia em especial minha matildee que sempre procurou saber como estava a minha
pesquisa dando-me aquele apoio nato de matildee
A Pedro Saraiva meu amor grande amor que sempre me apoiou e acreditou no meu talento
na minha competecircncia e vitoacuteria
Aos servidores do INCRA muito soliacutecitos e atenciosos com a minha pesquisa dentre eles sr
Raimundo Martins da Divisatildeo de Ordenamento da Estrutura Fundiaacuteria Joseacute Jaime D‟Alencar
Juacutenior do Serviccedilo de Cartografia Odilo Neto Luna Coelho e Joseacute Salmito de Almeida Juacutenior
ambos da Divisatildeo de Obtenccedilatildeo de Terras ndash setor de Serviccedilo ao Meio Ambiente
Agrave Dra Claacuteudia Regina Nogueira titular do Cartoacuterio de Registro de Imoacuteveis de Irauccediluba por
sua disponibilidade e por permitir o acesso aos livros cartoraacuterios onde encontrei dados tatildeo
importantes para o trabalho
Ao IDACE atraveacutes dos servidores Dr Paulo Henrique Lobo diretor teacutecnico de operaccedilotildees
Dr Ricardo Durval superintendente do oacutergatildeo Linardy Barreto de Holanda Priscila Azevedo
de Aguiar ambos do Nuacutecleo de Geoprocessamento (NUGEO) Nadir Loiola Dias e Florence
Mary Cavalcante Mouratildeo Lobo ambas da Diretoria Teacutecnica e de Operaccedilotildees (DTO) Todos
eles me ajudaram de forma a tornar possiacutevel parte desta pesquisa pelo que sou imensamente
grata
Perguntei-me inuacutemeras vezes se deveria prosseguir A resposta me era
dada quando olhava para traacutes e via meu passado cheio de grandes
vitoacuterias e conquistas pela matildeo de Deus e pelo meu esforccedilo Entatildeo
decidi que natildeo seria agora que natildeo chegaria ateacute o fim mesmo que o
que me impulsionou para esse desafio jaacute natildeo tem mais a mesma
intensidade Aqui estou eu fazendo desse momento mais uma
imensuraacutevel vitoacuteria por Aquele que um dia me deu essa oportunidade
A Ele toda honra e toda gloacuteria
A autora
RESUMO
A degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio de Irauccediluba eacute alvo de vaacuterias pesquisas pois eacute um
problema onde as causas estatildeo presentes natildeo soacute ali mas em grande parte do semiaacuterido
nordestino no entanto ao se tratar deste assunto logo vem agrave tona outra questatildeo mais seacuteria o
processo de desertificaccedilatildeo O presente trabalho faz uma raacutepida abordagem do semiaacuterido
dando especial evidecircncia agravequele municiacutepio englobando a origem da degradaccedilatildeo a atual
situaccedilatildeo local e possiacuteveis formas para minimizar ou ateacute mesmo estagnar aquele problema
ambiental O objetivo geral foi levantar o nuacutemero de propriedades rurais no municiacutepio
elegendo em sua maioria os projetos de assentamento rural e verificar se possuiacuteam ou natildeo
uma aacuterea especialmente protegida denominada reserva legal A escolha desse instituto como
indicador se deu por ser ele um instrumento criado por lei e que por sua vez impele todo e
qualquer proprietaacuterio ou possuidor rural a manter uma parcela miacutenima de 20 do seu imoacutevel
preservado como aacuterea de Reserva Legal Sua efetividade como instrumento de preservaccedilatildeo
foi analisada em 6 propriedades a partir de imagens do sateacutelite LANDSAT 5 com base nos
anos de 1993 e 2007 e atraveacutes da anaacutelise do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada
(NDVI) foi realizado um estudo comparativo para verificar se houve evoluccedilatildeo ou natildeo do
quadro vegetativo dentro e fora das aacutereas de reserva legal Na identificaccedilatildeo dos imoacuteveis
estudados soacute foram encontrados seis com reserva legal oficialmente implantada ateacute o ano de
2007 data mais recente da imagem de sateacutelite empregada A anaacutelise comparativa realizada
com esses imoacuteveis que tecircm algum tipo de registro no Cartoacuterio de Imoacuteveis eou no INCRA
dentre os 713 medidos e georreferenciados pelo IDACE e que por sua vez foi conduzida com
uso do NDVI natildeo indicou diferenccedila significativa entre os iacutendices encontrados para a
cobertura vegetal dentro e fora das aacutereas de Reserva Legal
Palavras-chave Degradaccedilatildeo Ambiental Coacutedigo Florestal Reserva Legal IrauccedilubaCE
ABSTRACT
The environmental degradation in the municipality of Irauccediluba is the target of several studies
because it is an issue where the causes are present in much of the northeastern semiarid
However when dealing with this subject soon comes to attention another issue which is more
serious and that arises from the ongoing degradation the process of desertification The
present paper analyzes briefly the cearense semiarid giving special emphasis to that
municipality so that the origin of the degradation the current local situation and even
possible ways to minimize or even stagnate that environmental problem were all the target of
this research The overall goal was to enumerate the number of farms among them those that
either have a specially protected area called legal reserve or those that does not The choice
of this statistic as an indicator was due to the fact that it is a legal instrument which in turns
compels all and any owner of land or rural possessor to maintain 20 of their property
preserved as a Legal Reserve area Its effectiveness as a tool for preservation was analyzed in
6 properties with the help of satellite images from LANDSAT 5 taken between the years
1993 and 2007 and by examining the Normalized Difference Vegetation Index (NDVI) a
comparative study was conducted to determine whether there was a growth or not of the
vegetative area inside and outside the legal reserves During the identification of the
properties to be studied only six were found to have a legal reserve officially implemented by
the year 2007 the most recent date of the satellite images used A comparative analysis with
those lands that have some kind of record in the Registry of Property andor INCRA among
the 713 measured and georeferenced by IDACE and that in turn used the NDVI as a
guideline indicated no significant difference on the index either inside or outside the Legal
Reserves areas
Key-Words Environmental degradation Forest code Legal reserve IrauccedilubaCE
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 27
Figura 2 Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 (Novo Coacutedigo
Florestal)
27
Figura 3 Sistema de degradaccedilatildeo do meio ambiente 47
Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro 53
Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute 54
Figura 6 Iacutendice de aridez (UNEP) 56
Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo no Cearaacute 57
Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo 57
Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no ISSD 59
Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no IESD 60
Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios 61
Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute 79
Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba 79
Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo 81
Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras permanentes 85
Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras temporaacuterias 85
Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem
vegetal (tonano)
86
Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem
vegetal (m3ano)
86
Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011) 87
Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001 88
Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010 88
Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011 89
Figura 23 Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos 90
Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba 91
Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba 92
Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba 94
Figura 27 Grupo de solos que formam as associaccedilotildees pedoloacutegicas em
Irauccediluba
95
Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba 96
Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba 97
Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual 97
Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba 98
Figura 32 Iacutendice de umidade em Irauccediluba 98
Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba 100
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Medidas Provisoacuterias 21
Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras 48
Tabela 3 Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez (UNEP) 52
Tabela 4 Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo 55
Tabela 5 Levantamento de imoacuteveis com reserva legal (cartoacuterio de
registro de imoacuteveis)
73
Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais 76
Tabela 7 Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba 77
Tabela 8 Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de
anaacutelise
80
Tabela 9 Dados da propriedade particular estudada 80
Tabela 10 Propriedades estudadas 81
Tabela 11 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem
animal
87
Tabela 12 Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores 90
Tabela 13 Relaccedilatildeo entre solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo 93
Tabela 14 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEmbrapa 93
Tabela 15 Anaacutelise geral das propriedades estudadas 101
Tabela 16 NDVI dos imoacuteveis estudados 107
Tabela 17 Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal entre dentro e fora da aacuterea
de reserva legal pelo meacutetodo Sorensen
108
SUMAacuteRIO
Lista de Figuras vii
Lista de Tabelas ix
Resumo v
Abstract vi
INTRODUCcedilAtildeO 12
1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 14
11 O Instituto da Reserva Legal 14
111 Conceito 15
112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica 17
113 Importacircncia da Reserva Legal 30
1131 Juriacutedica 31
1132 Social 32
1133 Ambiental 33
1134 Econocircmica 35
114 Direito de Propriedade X Reserva Legal 36
1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa 41
1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal 42
2 PROCESSO DE DEGRADACcedilAtildeO 45
21 Conceito 45
22 Degradaccedilatildeo ambiental 48
221 Erosatildeo 49
222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica 49
223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica 50
23 A degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 51
231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia 52
24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental 62
25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira 65
251 Lei ambiental de Irauccediluba 69
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 71
31 Reserva Legal em Irauccediluba 71
311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental ndash Projeto de
Assentamento Agraacuterio em foco
73
32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo 78
321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba 78
3211 Das propriedades estudadas 79
3212 Aspectos histoacutericos de ocupaccedilatildeo 82
322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas 82
323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba 91
3231 Altimetria e Classes de relevo 91
3232 Solos 92
3233 Clima 95
3234 Vegetaccedilatildeo 99
3235 Recursos Hiacutedricos 100
324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo 101
33 Metodologia 104
331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite 104
4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES 107
41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 107
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 110
REFEREcircNCIAS 113
INTRODUCcedilAtildeO
A degradaccedilatildeo como um problema ambiental jaacute foi alvo de inuacutemeras pesquisas
principalmente quando se trata do semiaacuterido brasileiro Estudos nesse sentido datam da
deacutecada de 70 eacutepoca em que o professor Vasconcelos Sobrinho passou a pesquisar o processo
de desertificaccedilatildeo no nordeste do Brasil (SALES 2002) Nas investigaccedilotildees ele identificou um
nuacutecleo no Cearaacute que se localiza em Irauccediluba Em assim sendo buscou-se desenvolver um
trabalho naquele municiacutepio tomando por base um mecanismo criado por lei cujo caraacuteter eacute a
conservaccedilatildeo do meio ambiente Trata-se da reserva legal Como nessa aacuterea natildeo haacute pesquisa
envolvendo a aplicabilidade do tal instituto viu-se a oportunidade de estudaacute-la produzindo-se
o presente trabalho
A proposta principal da pesquisa eacute fazer um levantamento dos imoacuteveis existentes
no municiacutepio de Irauccediluba pontuando de forma preponderante os de propriedade federal e
estadual destinados aos assentamentos rurais e assim identificar nessas aacutereas a existecircncia ou
natildeo do instituto da reserva legal e sua devida implantaccedilatildeo Nesse sentido encontrou-se 6
propriedades que possuiacuteam a reserva legal sendo 5 puacuteblicas e 1 privada Empoacutes o segundo
intuito envolve a diferenciaccedilatildeo entre a cobertura vegetal da reserva e do restante da
propriedade a partir da utilizaccedilatildeo de imagens de sateacutelite e o uso do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por
Diferenccedila Normalizada (NDVI)
Para isso foi necessaacuterio fazer um apanhado de como esse instrumento de
conservaccedilatildeo foi e eacute abordado no Coacutedigo Florestal que eacute a lei onde haacute previsatildeo da reserva
legal bem como traccedilar um histoacuterico de como se deu sua evoluccedilatildeo dentro do quadro
legislativo no paiacutes foi igualmente essencial Da mesma maneira buscou-se contextualizar a
importacircncia da reserva legal nos aspectos econocircmico juriacutedico social e ambiental de forma
que ficou ilustrado o valor que esse mecanismo tem para a sociedade As discussotildees de cunho
juriacutedico e praacutetico sobre o assunto foram levantadas pois o proprietaacuterio do imoacutevel vecirc a reserva
legal como ocircnus e natildeo como um instrumento de conservaccedilatildeo que traraacute imensuraacuteveis
benefiacutecios ambientais dentro de sua proacutepria aacuterea Encerrando o primeiro capiacutetulo tecircm-se as
formas de cumprir o mandamento legal que envolvem a reserva muito embora isto tenha
sofrido algumas alteraccedilotildees como se veraacute a seguir
Quanto agrave reserva legal em Irauccediluba as constataccedilotildees natildeo satildeo animadoras
Infelizmente haacute um desencontro de informaccedilotildees a comeccedilar pelo controle do nuacutemero de
imoacuteveis existentes no municiacutepio Em seguida soacute foram encontrados trecircs imoacuteveis com a
obrigaccedilatildeo devidamente formalizada em cartoacuterio Isso diante de um universo de mais de 700
propriedades eacute frustrante e desencorajador Outra abordagem feita neste toacutepico aponta o
licenciamento ambiental como mais um instrumento possibilitador da instalaccedilatildeo da reserva
legal pois o oacutergatildeo ambiental tem dever de exigir o tal instituto para licenciar atividades e
empreendimentos localizados em zona rural
Igualmente desalentadora eacute a degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio Por se tratar de
uma aacuterea com caracteriacutesticas naturalmente adversas e limitantes sua ingerecircncia deveria ser
profundamente fiscalizada e regulamentada pelas autoridades competentes em todos os niacuteveis
de governo Mas isso natildeo ocorre pelo contraacuterio em Irauccediluba satildeo exercidas atividades com
meacutetodos bem rudimentares e sem qualquer preocupaccedilatildeo com a recuperaccedilatildeo dos danos e com a
capacidade de suporte do meio Assim acontece a degradaccedilatildeo das aacutereas com a praacutetica do
desmatamento das queimadas do sobrepastoreio e outros tipos de intervenccedilatildeo
ambientalmente prejudiciais Diante desse quadro o homem do campo tende a abandonar
estas e ocupar outras terras estimulando ainda mais o processo de desertificaccedilatildeo ali presente
Outro toacutepico em que se chama atenccedilatildeo no trabalho eacute a quantidade de leis
envolvendo o tema Natildeo faltam regulamentaccedilotildees muito pelo contraacuterio sobram O que se
percebe eacute a existecircncia de leis para vaacuterios assuntos em vez de uma que englobe a maioria
deles Com lei ou sem lei a situaccedilatildeo parece natildeo progredir positivamente em termos de
recuperaccedilatildeo ambiental embora haja uma estrutura poliacutetica econocircmica e juriacutedica dirigida para
tais fins Aleacutem disto existem poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o municiacutepio especificamente e
outras que natildeo mas podem ser implementadas ali Eacute o caso dos benefiacutecios dos inuacutemeros
programas de governo direcionados para a reforma agraacuteria por exemplo Outro caso satildeo os
fundos de combate agrave degradaccedilatildeo e agrave desertificaccedilatildeo Nesta orientaccedilatildeo percebe-se que natildeo
faltam leis poliacuteticas puacuteblicas ou recursos Felizmente existe todo um aparato no sentido de
melhorar as condiccedilotildees ambientais e minimizar danos mas infelizmente na praacutetica essa
estrutura natildeo voga como deveria
Todo esse cenaacuterio estaacute enquadrado na caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo
devidamente abordada no terceiro capiacutetulo Laacute satildeo mencionados os aspectos socioeconocircmicos
do municiacutepio perpassando pelos acontecimentos histoacutericos de sua ocupaccedilatildeo As
caracteriacutesticas fisiograacuteficas de Irauccediluba tambeacutem se fazem presentes de maneira que foram
abordados aspectos pedoloacutegicos climaacuteticos vegetativos e hiacutedricos Aleacutem disto a metodologia
utilizada permitiu as constataccedilotildees discorridas nos resultados e discussotildees inseridas no
capiacutetulo 4 de forma que os objetivos da pesquisa foram alcanccedilados
13
1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
11 O Instituto da Reserva Legal
A reserva legal eacute um instituto cuja importacircncia perfaz o esteio do
desenvolvimento sustentaacutevel no sentido de que harmoniza a viabilidade econocircmica com a
justiccedila social e o equiliacutebrio ecoloacutegico Eacute um notaacutevel exemplo de que eacute possiacutevel coexistirem
interesses particulares e coletivos pois a reserva legal nada mais eacute que a conservaccedilatildeo
ambiental de uma determinada porcentagem da propriedade ou posse rural passiacutevel de
intervenccedilatildeo pelo homem do campo
O presente estudo indica a reserva legal como uma forma de conservaccedilatildeo do
meio em face da extraccedilatildeo vegetal promovida pelo proprietaacuterio agriacutecola Foca ainda os
aspectos social econocircmico e ambiental dessa imposiccedilatildeo que tem seu nascedouro na legislaccedilatildeo
vigente Corrobora Silva (2001 p 59) ao afirmar que ldquoa cobertura vegetal nativa sobretudo
as florestais exerce papel de fundamental importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de
ecossistemas naturais bem como de ecossistemas criados pelo homemrdquo No mesmo sentido
Miranda (2008 p 31) diz que ldquoa reserva legal contribui para a mitigaccedilatildeo do aquecimento
global salvaguarda a biodiversidade e garante agraves presentes e futuras geraccedilotildees o direito a um
meio ambiente ecologicamente equilibradordquo
Traz-se agrave tona os aspectos que fundamentam a reserva legal como um instituto
que fora criado por lei especiacutefica para a conservaccedilatildeo do meio pois erroneamente os
proprietaacuterios rurais a veem como limitaccedilatildeo ao direito de propriedade e entendem que destinar
uma porcentagem de seus imoacuteveis para uma aacuterea que natildeo corresponde agrave afericcedilatildeo de lucro eacute
tatildeo somente um ocircnus eou uma perda e natildeo um investimento Nesse sentido explicam
Galdino e Candido (2008 p 251) que ldquoa instituiccedilatildeo da reserva legal natildeo enfraquece ou destroacutei
o direito de propriedade Ao reveacutes possibilita a existecircncia de um meio ambiente
ecologicamente equilibrado condicionando a propriedade a uma funccedilatildeo socioambientalrdquo
Conforme Bacha (2005 p 24) ldquodeve-se pensar em novas formas de estiacutemulo
econocircmico ao produtor para que ele recomponha a reserva legal pois a legislaccedilatildeo atual
apenas lhe coloca custos em contrapartida de benefiacutecios a toda sociedaderdquo Cabe ainda
mencionar a possibilidade prevista no Coacutedigo Florestal ou seja na Lei 4771 (BRASIL
1965) quanto agrave intervenccedilatildeo na aacuterea destinada agrave reserva legal de forma sustentaacutevel sem
suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo
econocircmica dessas aacutereas
Existem estudos justificando biologicamente a existecircncia da reserva legal Eacute sobre
o que discorre Metzger (2002 p 48) quando afirma que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de
propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa satildeo
fundamentais para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada
regiatildeordquo Complementa ainda Silva (2001 p 59) quando afirma sobre ldquoa importacircncia da
cobertura vegetal em reserva legal que permite uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da
aacutegua no solo e no subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos aleacutem de
promover a manutenccedilatildeo da diversidade geneacuteticardquo
Ademais o exerciacutecio de atividades econocircmicas que tem por principal insumo os
recursos naturais modifica sensivelmente a cobertura vegetal e o solo contribuindo para um
processo de degradaccedilatildeo Para tanto o respeito agrave legislaccedilatildeo ambiental vigente como o Coacutedigo
Florestal por exemplo eacute de extrema relevacircncia uma vez que eacute norma conducente agrave
conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo das formas de vegetaccedilatildeo e suas respectivas ingerecircncias Tal lei
prevecirc a reserva legal como espaccedilo especialmente protegido
Balizando tal atividade econocircmica frente agrave observacircncia da reserva legal surge a
proposiccedilatildeo elencada por Bacha (2005 p 24) que ldquopara o produtor rural honrar tal instituto
tendo-o como lucrativo eacute necessaacuterio que sua composiccedilatildeo floriacutestica seja feita em parte com
espeacutecies comerciaisrdquo Eacute o que Miranda (2008 p 45) sob o aspecto socioeconocircmico bem
pontua quando evidencia que esta legislaccedilatildeo carece de aderecircncia social pois natildeo condiz com
a realidade e que enfatiza ainda
Para que haja aderecircncia social ela deveria prever uma reestruturaccedilatildeo completa no
modelo de desenvolvimento Sem isso tanto os pequenos como os grandes
proprietaacuterios natildeo possuiratildeo condiccedilotildees para cumprir a lei e uma vez na ilegalidade
cometem outros crimes ambientais E por entenderem que a lei natildeo eacute factiacutevel natildeo a
cumprem [] Aleacutem disso as linhas de creacutedito inclusive dos bancos oficiais natildeo
financiam atividades sustentaacuteveis mas a pecuaacuteria o plantio de soja entre outras por
acreditarem possuir nelas uma seguranccedila maior para o investimento (MIRANDA
2008 p 45)
111 Conceito
A reserva legal eacute um mecanismo criado para a conservaccedilatildeo dos recursos naturais
cuja origem eacute a lei Sua essecircncia sempre esteve presente em normas de caraacuteter protecionista
que dispunham sobre florestas e demais formas de vegetaccedilatildeo muito embora tenham ocorrido
inuacutemeras alteraccedilotildees ao longo do tempo Eacute o que se pode observar pela evoluccedilatildeo legislativa
que a seguir seraacute apontada
15
A expressatildeo reserva legal pode ser simploriamente entendida como uma aacuterea a ser
conservada por um detentor de imoacutevel rural e que por sua vez varia com a localidade do
bioma em que a aacuterea estaacute inserida A lei que versa sobre esse tema eacute conhecida como Coacutedigo
Florestal e com esse nome existiu em trecircs momentos diferentes da histoacuteria do legislativo
brasileiro O primeiro foi no ano de 1934 o segundo em 1965 e por uacuteltimo em 2012 estando
presente em todos eles uma seacuterie de modificaccedilotildees que levaram ao aperfeiccediloamento do
conteuacutedo e dos objetivos da reserva legal bem como flexibilizaccedilotildees e restriccedilotildees a depender
do momento econocircmico em que o paiacutes vivia eou dos interesses da maioria de parlamentares agrave
eacutepoca
Atualmente a Lei 12651 de 25052012 ou como eacute conhecida por Novo Coacutedigo
Florestal atraveacutes de seu artigo 3ordm inciso III prevecirc o conceito de reserva legal da seguinte
forma
III ndash Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural
delimitada nos termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de
modo sustentaacutevel dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a
reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade
bem como o abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012
p 3) (BRASIL 2012)
Jaacute a previsatildeo elencada nos Coacutedigos anteriores de 1934 e 1965 dispotildee
Coacutedigo Florestal de 1934 - Decreto 23793
Art 23 - Nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas poderaacute abater mais de trecircs
quartas partes da vegetaccedilatildeo existente []
sect 1ordm O dispositivo do artigo natildeo se applica a juizo das autoridades florestaes
competentes agraves pequenas propriedades isoladas que estejam proximas de florestas
ou situadas em zona urbana
sect 2ordm Antes de iniciar a derrubada com a antecedencia minima de 30 dias o
proprietario daraacute sciencia de sua intenccedilatildeo aacute autoridade competente afim de que esta
determine a parte das mattas que seraacute conservada (BRASIL 1935 p 5)
Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771
Art 1ordm sect 2ordm inciso III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma
propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao
uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos
ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora
nativas (BRASIL 1965 p 2)
Percebe-se que na lei de 1934 se quer haacute menccedilatildeo ao termo reserva legal mas se
vecirc claramente a intenccedilatildeo conservacionista do legislador e se ressalte que eacute uma visatildeo bem
mais proacute-ambiente uma vez que proiacutebe o desmatamento acima de frac34 da propriedade
protegendo assim 25 de sua aacuterea Embora o Coacutedigo Florestal de 1934 natildeo preveja
16
explicitamente a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo em determinada aacuterea com o nome de reserva legal o
artigo 23 do diploma citado acima estaacute notoriamente revestido de um caraacuteter conservacionista
e quem natildeo o cumprisse estaria enquadrado no paraacutegrafo 4ordm do artigo 86 do Capitulo V ndash
Infracccedilotildees florestaes
Art 86 As contravenccedilotildees previstas nos arts 9ordm sect 1ordm 21 22 e sect 1ordm 23 e paragrapho
unico 24 a 30 31 a 34 37 43 a 45 49 e paragrapho unico 51 54 e paragrapho
unico 55 e 64 deste codigo quando natildeo se caracterizarem especialmente algumas
figuras delictuosas definidas no art 83 ou no art 87 sujeitas seus autores aacutes penas
seguintes
[]
sect 4ordm pelas das letras g h do art 22 e arts 23 e 44 - detenccedilatildeo ateacute 60 dias e multa ateacute
10000$000 (BRASIL 1935 p 14)
Em contrapartida um pouco mais aperfeiccediloado embora um tanto quanto tarde o
instituto da reserva legal aparece bem definido somente em 2001 quando a Medida Provisoacuteria
nordm 2166-6 (BRASIL 2001) acrescentou ao texto da Lei 4771 (BRASIL 1965) o seu conceito
da forma como eacute mais conhecido ultimamente apesar de natildeo se limitar soacute a esta modificaccedilatildeo
Como tantas outras leis o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) sofreu diversas
alteraccedilotildees ao longo de sua vigecircncia que durou ateacute 25 de maio de 2012 data em que a Lei
12651 (BRASIL 2012) entra em vigor revoga a anterior e estabelece o novo Coacutedigo
Florestal
Como a temaacutetica deste trabalho eacute discorrer sobre a existecircncia da reserva legal a
partir de um levantamento nas propriedades rurais seratildeo tratadas tatildeo somente as
modificaccedilotildees que dizem respeito a este instituto
112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica
O protecionismo florestal como ligeiramente mencionado anteriormente foi
delineado em um preceito normativo datado da deacutecada de 30 quando surgiu o primeiro
diploma legal a prever a conservaccedilatildeo relativa agrave manutenccedilatildeo das matas Eacute atraveacutes do Decreto
ndeg 23793 de 23 de janeiro de 1934 (BRASIL 1935) que a vegetaccedilatildeo recebe amparo e passa a
ser resguardada da supressatildeo indiscriminada Surge entatildeo o primeiro Coacutedigo Florestal
Brasileiro que em seu artigo 23 descreve que nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas
poderaacute abater mais de trecircs quartas partes da vegetaccedilatildeo existente
17
Eacute interessante observar que a delimitaccedilatildeo imposta pela norma corresponde a vinte
e cinco por cento da propriedade ou seja um grande desafio para a sociedade da eacutepoca que
era tradicionalmente agriacutecola e despontava para a industrializaccedilatildeo
Para melhor apreciar as preocupaccedilotildees que justificaram a ediccedilatildeo do Coacutedigo Florestal
de 1934 haacute que se entender a realidade soacutecio-econocircmica e poliacutetica da sociedade
brasileira no iniacutecio do seacuteculo XX A populaccedilatildeo estava concentrada proacuteximo agrave
Capital da Repuacuteblica cidade do Rio de Janeiro Estado da Guanabara A cafeicultura
avanccedilava pelos morros que constituem a topografia do Vale do Paraiacuteba substituindo
toda a vegetaccedilatildeo nativa A criaccedilatildeo de gado outra forma de utilizaccedilatildeo das terras
fazia-se de modo extensivo e com miacutenima teacutecnica Na silvicultura que jaacute se iniciara
tiacutemida nos primeiros anos do seacuteculo XX verificava-se o trabalho valioso e pioneiro
de Edmundo Navarro de Andrade com a introduccedilatildeo de espeacutecies de Eucalyptus mas
restrito agraves atividades da Cia Paulista de Estradas de Ferro no Estado de Satildeo Paulo
No resto do Paiacutes assim como antes no Estado de Satildeo Paulo a atividade florestal era
fundamentada no mais puro extrativismo Nos Estados do Paranaacute e Santa Catarina
os estoques de Araucaria angustifolia eram rapidamente exauridos Foi nesse cenaacuterio
que o Poder Puacuteblico decidiu interceder estabelecendo limites ao que parecia ser um
saque ou pilhagem dos recursos florestais (muito embora ateacute entatildeo tais praacuteticas
fossem liacutecitas) A mencionada ldquointervenccedilatildeordquo necessaacuteria materializou-se por meio
da ediccedilatildeo de um (primeiro) Coacutedigo Florestal o de 1934 (AHRENS 2001 p 6)
Diferentemente do Decreto de 1934 (BRASIL 1935) ao ser publicada em 15 de
setembro a Lei 4771 (BRASIL 1965) ou seja o Coacutedigo Florestal de 1965 trouxe em seu
artigo 16 a ideia do que seria a reserva legal Criou-se entatildeo um limite miacutenimo a ser
respeitado dentro de cada propriedade muito embora soacute mencione uma porcentagem definida
para aacutereas localizadas no Leste Sul e Centro-Oeste do paiacutes deixando de fora as demais
regiotildees
Art 16 As florestas de domiacutenio privado natildeo sujeitas ao regime de utilizaccedilatildeo
limitada e ressalvadas as de preservaccedilatildeo permanente previstas nos artigos 2deg e 3deg
desta lei satildeo suscetiacuteveis de exploraccedilatildeo obedecidas as seguintes restriccedilotildees
a) nas regiotildees Leste Meridional Sul e Centro-Oeste esta na parte sul as derrubadas
de florestas nativas primitivas ou regeneradas soacute seratildeo permitidas desde que seja
em qualquer caso respeitado o limite miacutenimo de 20 da aacuterea de cada
propriedade com cobertura arboacuterea localizada a criteacuterio da autoridade competente
b) nas regiotildees citadas na letra anterior nas aacutereas jaacute desbravadas e previamente
delimitadas pela autoridade competente ficam proibidas as derrubadas de florestas
primitivas quando feitas para ocupaccedilatildeo do solo com cultura e pastagens
permitindo-se nesses casos apenas a extraccedilatildeo de aacutervores para produccedilatildeo de madeira
Nas aacutereas ainda incultas sujeitas a formas de desbravamento as derrubadas de
florestas primitivas nos trabalhos de instalaccedilatildeo de novas propriedades agriacutecolas soacute
seratildeo toleradas ateacute o maacuteximo de 30 da aacuterea da propriedade
c) na regiatildeo Sul as aacutereas atualmente revestidas de formaccedilotildees florestais em que
ocorre o pinheiro brasileiro Araucaria angustifolia (Bert - O Ktze) natildeo poderatildeo
ser desflorestadas de forma a provocar a eliminaccedilatildeo permanente das florestas
tolerando-se somente a exploraccedilatildeo racional destas observadas as prescriccedilotildees
ditadas pela teacutecnica com a garantia de permanecircncia dos maciccedilos em boas condiccedilotildees
de desenvolvimento e produccedilatildeo
18
d) nas regiotildees Nordeste e Leste Setentrional inclusive nos Estados do Maranhatildeo e
Piauiacute o corte de aacutervores e a exploraccedilatildeo de florestas soacute seraacute permitida com
observacircncia de normas teacutecnicas a serem estabelecidas por ato do Poder Puacuteblico na
forma do art 15 sect 1ordm Nas propriedades rurais compreendidas na aliacutenea a deste artigo com aacuterea entre
vinte (20) a cinquumlenta (50) hectares computar-se-atildeo para efeito de fixaccedilatildeo do limite
percentual aleacutem da cobertura florestal de qualquer natureza os maciccedilos de porte
arboacutereo sejam frutiacutecolas ornamentais ou industriais (BRASIL 1965 p 6-7)
Honestamente natildeo se sabe o motivo pelo qual o legislador neste momento inicial
da lei natildeo se deteve agraves minuacutecias quanto agraves regiotildees Nordeste Oeste e Sudeste como o fez para
as outras ou porque sequer definiu percentuais de vegetaccedilatildeo a ser preservadas nelas Aleacutem
disto simplesmente deixar a cargo de ato do Poder Puacuteblico a exploraccedilatildeo de florestas e o corte
de aacutervores no Nordeste eacute no miacutenimo curioso principalmente porque nessa regiatildeo encontra-se
o bioma Caatinga que eacute iacutempar e inexiste em qualquer outra parte do mundo Corrobora com
isto o Monitoramento do Desmatamento nos Biomas Brasileiros por Sateacutelite MMA e IBAMA
ao expor que mesmo sendo a uacutenica grande regiatildeo natural brasileira cujos limites estatildeo
inteiramente restritos ao territoacuterio nacional pouca atenccedilatildeo tem sido dada agrave conservaccedilatildeo da
heterogecircnea paisagem da Caatinga (BRASIL 2010)
Aleacutem disto as colocaccedilotildees do artigo 44 surpreendem quando especializam o tipo
de corte permitido e enquadram 50 da propriedade como reserva legal para o Norte do paiacutes
e o norte da regiatildeo Centro-Oeste como se pode observar
Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste enquanto natildeo for
estabelecido o decreto de que trata o artigo 15 a exploraccedilatildeo a corte razo soacute eacute
permissiacutevel desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea pelo menos 50 da aacuterea
de cada propriedade (BRASIL 1965 p 15)
Em 1989 surge a Lei 7803 (BRASIL 1989b) que acrescenta os paraacutegrafos 2ordm e
3ordm ao artigo 16 inaugurando a expressatildeo reserva legal e ratificando o percentual miacutenimo do
que deveria ser conservado a tiacutetulo de reserva legal Ao artigo 44 foi acrescentado o
paraacutegrafo uacutenico onde os 50 da propriedade anteriormente indicados para permanecer com a
cobertura vegetal agora passam a ser reconhecidos como reserva legal Em ambos os
dispositivos estaacute presente o procedimento formal a ser adotado com fins de resguardar a
aplicaccedilatildeo daquele instituto e seus efeitos isto eacute a averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio
Art 16 []
sect 2ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) de
cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso deveraacute ser averbada agrave margem
19
da inscriccedilatildeo de matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo
vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou
de desmembramento da aacuterea
sect 3ordm Aplica-se agraves aacutereas de cerrado a reserva legal de 20 (vinte por cento) para
todos os efeitos legais (BRASIL 1989b p 1)
Art 44 [] Paraacutegrafo uacutenico A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 50
(cinquumlenta por cento) de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso
deveraacute ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de
imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de
transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de desmembramento da aacuterea (BRASIL 1989b p
2)
Nota-se que os dispositivos trazem novidades como a vedaccedilatildeo a um tipo de corte
o meacutetodo garantidor para a implantaccedilatildeo da reserva legal e a proibiccedilatildeo de mudanccedila na aacuterea
destinada a receber o benefiacutecio Ademais o bioma cerrado eacute especialmente citado afirmando
assim a instituiccedilatildeo da reserva legal nele e seu respectivo percentual
Vale destacar ainda a entidade puacuteblica que recebeu por forccedila legal a
incumbecircncia de promover os atos formais e documentais para a implantaccedilatildeo da reserva legal
Trata-se do registro ou cartoacuterio de imoacuteveis que por sua vez reuacutene em seus livros oficiais
todas as informaccedilotildees sobre as propriedades imobiliaacuterias de sua circunscriccedilatildeo ou regiatildeo
geograacutefica Enfim o registro de imoacuteveis eacute o oacutergatildeo constitutivo da propriedade e o que guarda
este direito aleacutem de vigiar se a funccedilatildeo social e ambiental do imoacutevel estaacute sendo cumprida
Por conseguinte houve a ediccedilatildeo da Medida Provisoacuteria1 1511 em 25 de julho de
1996 (BRASIL 1996) com o objetivo de dar nova redaccedilatildeo ao artigo 44 do Coacutedigo Florestal
ou seja amplia o percentual da reserva legal de 50 para 80 em casos especiacuteficos e esmiuacuteccedila o
Norte do Brasil e o norte da regiatildeo Centro-Oeste
Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste a exploraccedilatildeo a
corte raso soacute eacute permitida desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea de no
miacutenimo cinquumlenta por cento de cada propriedade
sect 1ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo cinquumlenta por cento
de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso seraacute averbada agrave margem da
inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a
alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de
desmembramento da aacuterea
1 Medidas Provisoacuterias satildeo instrumentos juriacutedico-poliacuteticos traduzidos na forma de atos normativos com forccedila de
lei praticados pelo Chefe do Executivo Federal em situaccedilotildees de urgecircncia e relevacircncia e que devem ser
submetidas de imediato agrave deliberaccedilatildeo do Congresso Nacional (FILHO 2005) A Constituiccedilatildeo Federal em seu
Art 62 prevecirc que em caso de relevacircncia e urgecircncia o Presidente da Repuacuteblica poderaacute adotar medidas
provisoacuterias com forccedila de lei devendo submetecirc-las de imediato ao Congresso Nacional
20
sect 2ordm Nas propriedades onde a cobertura arboacuterea se constitui de fitofisionomias
florestais natildeo seraacute admitido o corte raso em pelo menos oitenta por cento dessas
tipologias florestais
sect 3ordm Para efeito do disposto no caput entende-se por regiatildeo Norte e parte Norte da
regiatildeo Centro-Oeste os Estados do Acre Paraacute Amazonas Roraima Rondocircnia
Amapaacute e Mato Grosso aleacutem das regiotildees situadas ao norte do paralelo 13degS nos
Estados de Tocantins e Goiaacutes e a oeste do meridiano de 44degW no Estado do
Maranhatildeo (BRASIL 1996 p 1)
Fazendo uma retrospectiva ldquoesse ato do Poder Executivo pretendeu conter o
desmatamento na Amazocircnia num momento em que era divulgado o aumento da taxa meacutedia
anual de desflorestamento no biecircnio 1993-1994rdquo (MIRANDA 2008 p 38) Entretanto essa
natildeo foi a uacutenica iniciativa do chefe do executivo para alterar os percentuais citados acima
Inclusive eacute perturbador o levantamento do nuacutemero de medidas provisoacuterias com o fim de
modificar o Coacutedigo Florestal em especial os criteacuterios e aspectos que envolvem a reserva
legal que ora satildeo mais flexibilizados ora mais restritivos Eacute o que se pode observar pela
leitura da Tabela 1 onde se verifica a existecircncia de 68 propostas de mudanccedila em um espaccedilo de
tempo pouco maior que 5 anos
Tabela 1 Medidas Provisoacuterias (MP)Ano
MEDIDAS PROVISOacuteRIAS (MP) Nordm DE MPPERIacuteODO PERIacuteODOS
Nordm 1511 a 1511-17 18 1ordm) 25071996 a 20111997
Nordm 1605-18 a 1605-30 13 2ordm) 11121997 a 19111998
Nordm 1736-31 a 1736-37 7 3ordm) 14121998 a 02061999
Nordm 1885-38 a 1885-43 6 4ordm) 29061999 a 02111999
Nordm 1956-44 a 1956-57 14 5ordm) 09121999 a 14122000
Nordm 2080-58 a 2080-64 7 6ordm) 27122000 a 13062001
Nordm 2166-65 a 2166-67 3 7ordm) 28062001 a 24082001
A uacuteltima Medida Provisoacuteria a promover consideraacuteveis alteraccedilotildees que dizem
respeito agrave reserva legal foi a de nordm 2166-67 de 24 de agosto de 2001 (BRASIL 2001) Ela
acrescentou o inciso III ao paraacutegrafo 2ordm do artigo 1ordm do Coacutedigo Florestal estabelecendo o
conceito de reserva legal ateacute entatildeo natildeo definido no texto da lei muito embora sua acepccedilatildeo jaacute
existisse
21
Art 1ordm []
sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por
[]
III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural
excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos
recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave
conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas
(BRASIL 2001 p 1)
Vale destacar que a reserva legal soacute deveraacute existir em propriedade ou posse rural
natildeo sendo obrigatoacuteria na aacuterea urbana aleacutem do que natildeo eacute soacute o proprietaacuterio ou seja aquele que
deteacutem o domiacutenio do imoacutevel eacute quem deve implantaacute-la mas o possuidor tambeacutem estaacute sujeito a
tal imposiccedilatildeo legal Isso acontece porque o instituto estaacute vinculado ao imoacutevel e natildeo ao dono
ou quem faz as suas vezes por isso eacute considerada uma obrigaccedilatildeo propter rem isto eacute proacutepria
da coisa
Aleacutem da inclusatildeo do conceito de reserva legal ao Coacutedigo Florestal (BRASIL
1965) ocorreu a fixaccedilatildeo de outros percentuais bem como a adiccedilatildeo de mais oito paraacutegrafos
que delinearam aspectos outrora natildeo mencionados Eacute o que se lecirc pela nova redaccedilatildeo do artigo
16
Art 16 As florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo nativa ressalvadas as situadas em
aacuterea de preservaccedilatildeo permanente assim como aquelas natildeo sujeitas ao regime de
utilizaccedilatildeo limitada ou objeto de legislaccedilatildeo especiacutefica satildeo suscetiacuteveis de supressatildeo
desde que sejam mantidas a tiacutetulo de reserva legal no miacutenimo
I - oitenta por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta localizada na
Amazocircnia Legal
II - trinta e cinco por cento na propriedade rural situada em aacuterea de cerrado
localizada na Amazocircnia Legal sendo no miacutenimo vinte por cento na propriedade e
quinze por cento na forma de compensaccedilatildeo em outra aacuterea desde que esteja
localizada na mesma microbacia e seja averbada nos termos do sect 7ordm deste artigo
III - vinte por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta ou outras
formas de vegetaccedilatildeo nativa localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e
IV - vinte por cento na propriedade rural em aacuterea de campos gerais localizada em
qualquer regiatildeo do Paiacutes
sect 1o O percentual de reserva legal na propriedade situada em aacuterea de floresta e
cerrado seraacute definido considerando separadamente os iacutendices contidos nos incisos I
e II deste artigo
sect 2ordm A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser
utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel de acordo com princiacutepios e
criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos estabelecidos no regulamento ressalvadas as
hipoacuteteses previstas no sect 3o deste artigo sem prejuiacutezo das demais legislaccedilotildees
especiacuteficas
sect 3ordm Para cumprimento da manutenccedilatildeo ou compensaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal em
pequena propriedade ou posse rural familiar podem ser computados os plantios de
aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais compostos por espeacutecies exoacuteticas
cultivadas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas
sect 4ordm A localizaccedilatildeo da reserva legal deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental estadual
competente ou mediante convecircnio pelo oacutergatildeo ambiental municipal ou outra
instituiccedilatildeo devidamente habilitada devendo ser considerados no processo de
aprovaccedilatildeo a funccedilatildeo social da propriedade e os seguintes criteacuterios e instrumentos
quando houver
22
I - o plano de bacia hidrograacutefica
II - o plano diretor municipal
III - o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico
IV - outras categorias de zoneamento ambiental e
V - a proximidade com outra Reserva Legal Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente
unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida
sect 5ordm O Poder Executivo se for indicado pelo Zoneamento Ecoloacutegico Econocircmico -
ZEE e pelo Zoneamento Agriacutecola ouvidos o CONAMA o Ministeacuterio do Meio
Ambiente e o Ministeacuterio da Agricultura e do Abastecimento poderaacute
I - reduzir para fins de recomposiccedilatildeo a reserva legal na Amazocircnia Legal para ateacute
cinquumlenta por cento da propriedade excluiacutedas em qualquer caso as Aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente os ecoacutetonos os siacutetios e ecossistemas especialmente
protegidos os locais de expressiva biodiversidade e os corredores ecoloacutegicos e
II - ampliar as aacutereas de reserva legal em ateacute cinquumlenta por cento dos iacutendices
previstos neste Coacutedigo em todo o territoacuterio nacional
sect 6ordm Seraacute admitido pelo oacutergatildeo ambiental competente o cocircmputo das aacutereas relativas
agrave vegetaccedilatildeo nativa existente em aacuterea de preservaccedilatildeo permanente no caacutelculo do
percentual de reserva legal desde que natildeo implique em conversatildeo de novas aacutereas
para o uso alternativo do solo e quando a soma da vegetaccedilatildeo nativa em aacuterea de
preservaccedilatildeo permanente e reserva legal exceder a
I - oitenta por cento da propriedade rural localizada na Amazocircnia Legal
II - cinquumlenta por cento da propriedade rural localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e
III - vinte e cinco por cento da pequena propriedade definida pelas aliacuteneas b e c
do inciso I do sect 2ordm do art 1ordm
sect 7o O regime de uso da aacuterea de preservaccedilatildeo permanente natildeo se altera na hipoacutetese
prevista no sect 6o
sect 8ordm A aacuterea de reserva legal deve ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo de matriacutecula
do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua
destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou de
retificaccedilatildeo da aacuterea com as exceccedilotildees previstas neste Coacutedigo
sect 9ordm A averbaccedilatildeo da reserva legal da pequena propriedade ou posse rural familiar eacute
gratuita devendo o Poder Puacuteblico prestar apoio teacutecnico e juriacutedico quando
necessaacuterio
sect 10 Na posse a reserva legal eacute assegurada por Termo de Ajustamento de Conduta
firmado pelo possuidor com o oacutergatildeo ambiental estadual ou federal competente com
forccedila de tiacutetulo executivo e contendo no miacutenimo a localizaccedilatildeo da reserva legal as
suas caracteriacutesticas ecoloacutegicas baacutesicas e a proibiccedilatildeo de supressatildeo de sua vegetaccedilatildeo
aplicando-se no que couber as mesmas disposiccedilotildees previstas neste Coacutedigo para a
propriedade rural
sect 11 Poderaacute ser instituiacuteda reserva legal em regime de condomiacutenio entre mais de
uma propriedade respeitado o percentual legal em relaccedilatildeo a cada imoacutevel mediante a
aprovaccedilatildeo do oacutergatildeo ambiental estadual competente e as devidas averbaccedilotildees
referentes a todos os imoacuteveis envolvidos (BRASIL 2001 p 34)
Caso seja traccedilado um paralelo entre o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)
com as alteraccedilotildees aplicadas e agrave uacuteltima Medida Provisoacuteria percebe-se que o primeiro texto em
seu artigo 16 soacute mencionava as florestas particulares enquanto que em 2001 o reformulado
pela Medida Provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) generaliza a possibilidade de supressatildeo
vegetal para florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo incluindo-as no texto da lei Isto significa
que as florestas puacuteblicas embora sejam de domiacutenio coletivo tambeacutem devem respeitar a
reserva legal de acordo com o estabelecido
E ainda de 1989 ateacute 2001 o percentual para reserva legal era de 20 da
propriedade rural para todas as regiotildees com exceccedilatildeo dos imoacuteveis no norte do paiacutes e no norte
23
do centro-oeste onde deveriam ser protegidos 50 da cobertura arboacuterea Poreacutem com o
advento da Medida provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) aumentou-se essa porcentagem para
80 na Amazocircnia Legal2 para 35 no bioma cerrado localizado na Amazocircnia Legal e a
permanecircncia dos 20 para as demais regiotildees do Brasil
Enfim eacute possiacutevel concluir claramente que tal Medida Provisoacuteria ao modificar o
artigo 16 definiu o conceito de reserva legal foi mais especiacutefica quanto aos seus percentuais
alargou os tipos de florestas suscetiacuteveis ao desmatamento estabeleceu que a vegetaccedilatildeo da
reserva legal soacute poderia ser utilizada atraveacutes de um manejo florestal sustentaacutevel (sect2ordm)
determinou que sua localizaccedilatildeo deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental competente
obedecendo os 5 criteacuterios ambientais estabelecidos (sect4ordm) permitiu a sobreposiccedilatildeo de aacutereas de
preservaccedilatildeo permanente agrave de reserva legal em alguns casos (sect6ordm) reafirmou o procedimento
documental garantidor do instituto (sect8ordm) criou a possibilidade de constituir a reserva legal
em condomiacutenio (sect11ordm) dentre outros
Encerrando as mudanccedilas trazidas pela Medida Provisoacuteria 2166-672001
(BRASIL 2001) tem-se o artigo 44 que foi completamente reformulado em conteuacutedo em
nuacutemero de incisos e paraacutegrafos O teor deste dispositivo agora versa sobre a recomposiccedilatildeo a
regeneraccedilatildeo e a compensaccedilatildeo da reserva legal Tais accedilotildees devem estar em consonacircncia com o
disposto no artigo 16
Art 44 O proprietaacuterio ou possuidor de imoacutevel rural com aacuterea de floresta nativa
natural primitiva ou regenerada ou outra forma de vegetaccedilatildeo nativa em extensatildeo
inferior ao estabelecido nos incisos I II III e IV do art 16 ressalvado o disposto
nos seus sectsect 5o e 6o deve adotar as seguintes alternativas isoladas ou
conjuntamente
I - recompor a reserva legal de sua propriedade mediante o plantio a cada trecircs anos
de no miacutenimo 110 da aacuterea total necessaacuteria agrave sua complementaccedilatildeo com espeacutecies
nativas de acordo com criteacuterios estabelecidos pelo oacutergatildeo ambiental estadual
competente
II - conduzir a regeneraccedilatildeo natural da reserva legal e
III - compensar a reserva legal por outra aacuterea equivalente em importacircncia ecoloacutegica
e extensatildeo desde que pertenccedila ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma
microbacia conforme criteacuterios estabelecidos em regulamento
sect 1o Na recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I o oacutergatildeo ambiental estadual
competente deve apoiar tecnicamente a pequena propriedade ou posse rural familiar
sect 2o A recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I pode ser realizada mediante o plantio
temporaacuterio de espeacutecies exoacuteticas como pioneiras visando a restauraccedilatildeo do
ecossistema original de acordo com criteacuterios teacutecnicos gerais estabelecidos pelo
CONAMA
2 Amazocircnia Legal - eacute uma aacuterea que engloba a totalidade de oito estados o Acre o Amapaacute o Amazonas o Mato
Grosso o Paraacute Rondocircnia Roraima e Tocantins e parte do Estado do Maranhatildeo (a oeste do meridiano de 44ordmW)
O conceito da Amazocircnia Legal foi criado pela lei 1806 de 06 de janeiro de 1953 (BRASIL 2011) Disponiacutevel
em lthttpwwwipeagovbrdesafiosindexphpoption=com_contentampid=2154catid=28ampItemid=23gt
24
sect 3o A regeneraccedilatildeo de que trata o inciso II seraacute autorizada pelo oacutergatildeo ambiental
estadual competente quando sua viabilidade for comprovada por laudo teacutecnico
podendo ser exigido o isolamento da aacuterea
sect 4o Na impossibilidade de compensaccedilatildeo da reserva legal dentro da mesma micro-
bacia hidrograacutefica deve o oacutergatildeo ambiental estadual competente aplicar o criteacuterio de
maior proximidade possiacutevel entre a propriedade desprovida de reserva legal e a aacuterea
escolhida para compensaccedilatildeo desde que na mesma bacia hidrograacutefica e no mesmo
Estado atendido quando houver o respectivo Plano de Bacia Hidrograacutefica e
respeitadas as demais condicionantes estabelecidas no inciso III
sect 5o A compensaccedilatildeo de que trata o inciso III deste artigo deveraacute ser submetida agrave
aprovaccedilatildeo pelo oacutergatildeo ambiental estadual competente e pode ser implementada
mediante o arrendamento de aacuterea sob regime de servidatildeo florestal ou reserva legal
ou aquisiccedilatildeo de cotas de que trata o art 44-B
sect 6o O proprietaacuterio rural poderaacute ser desonerado pelo periacuteodo de trinta anos das
obrigaccedilotildees previstas neste artigo mediante a doaccedilatildeo ao oacutergatildeo ambiental
competente de aacuterea localizada no interior de Parque Nacional ou Estadual Floresta
Nacional Reserva Extrativista Reserva Bioloacutegica ou Estaccedilatildeo Ecoloacutegica pendente de
regularizaccedilatildeo fundiaacuteria respeitados os criteacuterios previstos no inciso III deste
artigo (NR) (BRASIL 2001 p 45)
Quanto agrave sanccedilatildeo curiosamente neste Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965) natildeo haacute
nenhuma previsatildeo com relaccedilatildeo ao descumprimento da reserva legal diferentemente do
diploma de 1934 (BRASIL 1935) como se pocircde ler anteriormente Nesse sentido existir
uma lei sem a ela estar vinculada uma sanccedilatildeo quando descumprida eacute o mesmo que um fogo
que natildeo queima uma luz que natildeo alumia (MONTEIRO 1992)
Assim finaliza-se a anaacutelise do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) e se
inicia a apreciaccedilatildeo do Novo Coacutedigo Florestal isto eacute a Lei 12651 de 25 de maio de 2012
(BRASIL 2012) que jaacute possui algumas modificaccedilotildees mesmo sendo uma norma bastante
recente Trata-se de uma lei que em seu artigo 1ordm de pronto menciona o instituto da reserva
legal elevando-a a um patamar antes natildeo reconhecido quanto agrave especialidade que lhe eacute
inerente
Art 1ordm-A Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente e as aacutereas de Reserva Legal a exploraccedilatildeo florestal o
suprimento de mateacuteria-prima florestal o controle da origem dos produtos florestais e
o controle e prevenccedilatildeo dos incecircndios florestais e prevecirc instrumentos econocircmicos e
financeiros para o alcance de seus objetivos (BRASIL 2012 p 1)
Quanto a sua definiccedilatildeo embora citada anteriormente vecirc-se a necessidade de se
enfatizar as diferenccedilas entre o novo dispositivo e o anterior ora revogado ateacute porque o
recente eacute bem mais minucioso e atual em se tratando de tendecircncias e realidades do presente
Art 3ordm []
25
III - Aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural delimitada nos
termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de modo sustentaacutevel
dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a reabilitaccedilatildeo dos
processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade bem como o
abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012 p 3)
Art 1ordm []
sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por
[]
III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural
excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos
recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave
conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas
(BRASIL 1965 p 1)
Pela leitura observa-se que a aacuterea de reserva legal desde o iniacutecio estaacute restrita ao
imoacutevel rural excluindo assim o urbano Seu objetivo tambeacutem sempre foi o mesmo
sustentabilidade Isto eacute visto quando se examina o texto do Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965)
ao citar as expressotildees conservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo biodiversidade e proteccedilatildeo colocando nesse
iacutenterim recursos naturais processos ecoloacutegicos fauna e flora nativas O foco da reserva legal
eacute claro quanto agrave conservaccedilatildeo de uma forma sistecircmica pois inclui aspectos de solo vegetaccedilatildeo
vida animal e seus respectivos ciclos Eacute o que coloca SOUZA (2002 p 2829 apud Miranda
2008 p 53)
[] justifica a existecircncia de um mecanismo juriacutedico que garanta ao homem a
manutenccedilatildeo da biodiversidade para o seu proacuteprio bem Deste ponto de vista no
Brasil a Reserva Legal ainda eacute o mecanismo existente se natildeo o uacutenico que garante
essa manutenccedilatildeo tamanha a dependecircncia dos seres humanos de energia advinda de
plantas e animais
Jaacute a lei de 2012 (BRASIL 2012) inova ao incluir e modificar algumas acepccedilotildees
O uso econocircmico eacute uma delas Antes era mencionado somente um uso sustentaacutevel dos
recursos naturais mas agora eacute um uso com base na teoria de produccedilatildeo e consumo sob o vieacutes
da sustentabilidade Aleacutem disto a nova redaccedilatildeo faz uma pequena diferenciaccedilatildeo quanto ao
auxiacutelio que a reserva legal daacute agrave conservaccedilatildeo e agrave reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos
enquanto que a anterior ditava que o tal instituto era necessaacuterio para alcanccedilar os citados
objetivos Inclui tambeacutem a promoccedilatildeo que a reserva legal faz agrave biodiversidade e por fim a
uacuteltima norma agrega a proteccedilatildeo agrave fauna silvestre3 o que outrora era soacute agrave nativa
3 ldquoEacute preciso que a fauna tenha a sua vida ou parte dela ocorrendo naturalmente dentro dos limites do territoacuterio
brasileiro e suas aacuteguas jurisdicionaisrdquo (AMADO 2012 p329) silvestre ndash satildeo animais pertencentes agraves espeacutecies
nativas migratoacuterias e quaisquer outras aquaacuteticas ou terrestres
26
Percebe-se que com o passar dos anos as leis que versam sobre florestas estatildeo
cada vez mais aperfeiccediloadas com particularidades e especificidades como se pode concluir
pela leitura da evoluccedilatildeo histoacuterica dessas normas e suas modificaccedilotildees Visualiza-se melhor
tambeacutem ao se comparar os objetivos da reserva legal nas figuras 1 e 2
Figura 1 - Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771 (BRASIL 1965)
Figura 2 - Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 - Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)
RESERVA
LEGAL
ASSEGURA AUXILIA PROMOVE
27
E em se tratando das penalidades quem natildeo respeitar a reserva legal estaraacute
enquadrado no Decreto Federal 6514 de 22 de julho de 2008 (BRASIL 2008) que dispotildee
sobre as infraccedilotildees e sanccedilotildees administrativas ao meio ambiente e prevecirc aplicaccedilatildeo de multas
como descrito nos artigos abaixo
Art 48 Impedir ou dificultar a regeneraccedilatildeo natural de florestas ou demais formas
de vegetaccedilatildeo nativa em unidades de conservaccedilatildeo ou outras aacutereas especialmente
protegidas quando couber aacuterea de preservaccedilatildeo permanente reserva legal ou
demais locais cuja regeneraccedilatildeo tenha sido indicada pela autoridade ambiental
competente
Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo
[]
Art 51 Destruir desmatar danificar ou explorar floresta ou qualquer tipo de
vegetaccedilatildeo nativa ou de espeacutecies nativas plantadas em aacuterea de reserva legal ou
servidatildeo florestal de domiacutenio puacuteblico ou privado sem autorizaccedilatildeo preacutevia do oacutergatildeo
ambiental competente ou em desacordo com a concedida
Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo
[]
Art 55 Deixar de averbar a reserva legal Multa de R$ 50000 (quinhentos reais) a R$ 10000000 (cem mil reais) (BRASIL
2008 p 12)
Ao ler o dispositivo da lei eacute possiacutevel averiguar que tanto accedilotildees como omissotildees
possiacuteveis de cometimento quanto agrave reserva legal estatildeo previstas naquele Decreto (BRASIL
2008) o que daacute poder agraves autoridades constituiacutedas de exercerem seu papel fiscalizatoacuterio e
sancionatoacuterio em desfavor daquele que descumprir tal obrigaccedilatildeo
Nesse novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012) a reserva legal estaacute muito mais
discorrida e consequentemente resguardada A lei trouxe um capiacutetulo especiacutefico com duas
seccedilotildees organizadas dispondo sobre a delimitaccedilatildeo e o regime de proteccedilatildeo do instituto aleacutem de
outra seccedilatildeo que prevecirc a transformaccedilatildeo das reservas legais em aacutereas verdes nas expansotildees
urbanas
Para comeccedilar a analisar as novidades trazidas pelo Coacutedigo Florestal (BRASIL
2012) vale mencionar a mais importante quanto ao controle e fiscalizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da
reserva legal que se daraacute pelo Cadastro Ambiental Rural ndash CAR Eacute um registro puacuteblico
eletrocircnico de acircmbito nacional obrigatoacuterio para todos os imoacuteveis rurais com a finalidade de
integrar as informaccedilotildees ambientais das propriedades e posses rurais compondo base de dados
para controle monitoramento planejamento ambiental e econocircmico e combate ao
desmatamento conforme artigo 29 daquele diploma legal Para se cadastrar no CAR o
proprietaacuterio ou possuidor rural deveraacute identificar-se comprovar a propriedade ou posse e
identificar o imoacutevel atraveacutes de planta georreferenciada e memorial descritivo informando os
28
remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente dentre outras
segundo o inciso III do paraacutegrafo primeiro do mesmo dispositivo acima
Com a criaccedilatildeo desse sistema a supressatildeo de novas aacutereas de floresta ou outras
formas de vegetaccedilatildeo nativa soacute poderaacute ser autorizada apoacutes a inserccedilatildeo do imoacutevel onde ocorreraacute
o desmatamento no Cadastro Ambiental Rural A exceccedilatildeo a essa regra eacute o imoacutevel que jaacute
possua a reserva legal averbada na sua matriacutecula com a respectiva identificaccedilatildeo e localizaccedilatildeo
Isso dispensa a inclusatildeo no CAR Eacute o que rezam o paraacutegrafo terceiro do artigo 12 e o artigo
30 do Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)
A nova lei prevecirc que a inscriccedilatildeo no CAR eacute obrigatoacuteria para todas as propriedades
e posses rurais e deve ser requerida no prazo de um ano a partir da sua implantaccedilatildeo (sect3ordm do
artigo 29) No caso do Cearaacute o Cadastro Ambiental Rural ainda natildeo foi estabelecido embora
a lei jaacute tenha completado um ano Aleacutem disto agravequele que protocolar toda documentaccedilatildeo para
anaacutelise da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal no oacutergatildeo ambiental competente natildeo poderaacute ser
imputada sanccedilatildeo administrativa nem restriccedilatildeo a direitos por qualquer oacutergatildeo ambiental
competente (sect2ordm do artigo 14) desde que a sanccedilatildeo diga respeito a natildeo formalizaccedilatildeo da aacuterea de
reserva legal
Outra novidade eacute a dispensa de reserva legal em alguns casos como nos
empreendimentos de abastecimento puacuteblico de aacutegua e tratamento de esgoto nas aacutereas
adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessatildeo permissatildeo ou autorizaccedilatildeo para
exploraccedilatildeo de potencial de energia hidraacuteulica nas quais funcionem empreendimentos de
geraccedilatildeo de energia eleacutetrica subestaccedilotildees ou seja instaladas linhas de transmissatildeo e de
distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica e nas aacutereas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de
implantaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo de capacidade de rodovias e ferrovias (sect6 ordm sect7 ordm e sect8ordm do artigo 12)
Ao passo que na Lei 477165 (BRASIL 1965) o uacutenico caso dispensaacutevel de cumprir a reserva
legal era a doaccedilatildeo pelo proprietaacuterio rural de aacuterea localizada no interior de unidade de
conservaccedilatildeo de domiacutenio puacuteblico pendente de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria ao oacutergatildeo ambiental
competente (sect6ordm do art 44)
Quanto aos percentuais de reserva legal sobre a propriedade ou posse rural nada
mudou ou seja permaneceram os mesmos embora organizados de forma diferente conforme
se segue
Art 12 Todo imoacutevel rural deve manter aacuterea com cobertura de vegetaccedilatildeo nativa a
tiacutetulo de Reserva Legal sem prejuiacutezo da aplicaccedilatildeo das normas sobre as Aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente observados os seguintes percentuais miacutenimos em relaccedilatildeo agrave
aacuterea do imoacutevel excetuados os casos previstos no art 68 desta Lei
I - localizado na Amazocircnia Legal
29
a) 80 (oitenta por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de florestas
b) 35 (trinta e cinco por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de cerrado
c) 20 (vinte por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de campos gerais
II - localizado nas demais regiotildees do Paiacutes 20 (vinte por cento) (BRASIL 2012 p
15)
Acerca da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal alguns criteacuterios a serem
observados permaneceram inalterados tais como o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento
ecoloacutegico-econocircmico4 e a proximidade com outra reserva legal aacuterea de preservaccedilatildeo
permanente unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida Por outro lado
foram acrescentados dois aspectos a serem considerados tambeacutem satildeo eles as aacutereas de maior
importacircncia para a conservaccedilatildeo da biodiversidade e as aacutereas de maior fragilidade ambiental
(Incisos IV e V do artigo 14)
Por fim haacute que se falar que a nova lei permitiu a sobreposiccedilatildeo das aacutereas de
preservaccedilatildeo permanente agrave aacuterea de reserva legal ou seja ao se calcular o percentual desta
poderatildeo ser computadas as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente existentes no imoacutevel rural desde
que atenda alguns requisitos Eacute o que prescreve o artigo 15
Art 15 Seraacute admitido o cocircmputo das Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente no caacutelculo
do percentual da Reserva Legal do imoacutevel desde que
I - o benefiacutecio previsto neste artigo natildeo implique a conversatildeo de novas aacutereas para o
uso alternativo do solo
II - a aacuterea a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperaccedilatildeo
conforme comprovaccedilatildeo do proprietaacuterio ao oacutergatildeo estadual integrante do Sisnama e
III - o proprietaacuterio ou possuidor tenha requerido inclusatildeo do imoacutevel no Cadastro
Ambiental Rural - CAR nos termos desta Lei BRASIL 2012 p 1617)
Basicamente essas foram as inovaccedilotildees mais pertinentes agrave reserva legal trazidas
pelo Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)
113 Importacircncia da reserva legal
Vaacuterios aspectos perfazem o instituto da reserva legal Satildeo fundamentos de
cunho teacutecnico e cientiacutefico que revelam sua importacircncia atraveacutes da abordagem juriacutedica social
ambiental e econocircmica A reserva legal natildeo foi simplesmente uma imposiccedilatildeo prevista em lei
4 Zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ndash eacute um zoneamento ambiental Esse instrumento estaacute previsto na Poliacutetica
Nacional do Meio Ambiente que foi instituiacuteda pela Lei 693881 Trata-se de uma modalidade de intervenccedilatildeo
estatal sobre o territoacuterio a fim de reparti-lo em zonas consoante o melhor interesse na preservaccedilatildeo ambiental e
no uso sustentaacutevel dos recursos naturais Conferir AMADO Frederico Direito Ambiental Esquematizado
2012 p111
30
mas uma mobilizaccedilatildeo da sociedade para resguardar os bens ambientais impedindo a
degradaccedilatildeo sem precedentes
ldquoA reserva legal busca a preservaccedilatildeo ambiental como um todo natildeo soacute do imoacutevel
que nesta se situardquo (AMADO 2009 p 105) Ainda salienta Moraes (2002 p 30) que ldquoa
reserva legal natildeo possui funccedilatildeo vinculada ao imoacutevel especificamente sendo limitaccedilatildeo de
niacutevel macro ou seja mais preocupada com a melhoria regional da biodiversidade do que
propriamente com o ecossistema interno da propriedaderdquo E muito bem acrescenta Milareacute
(2009 p 166)
Aleacutem de preservar belezas cecircnicas e bucoacutelicos ambientes histoacutericos para as geraccedilotildees
futuras as aacutereas protegidas assumiram objetivos como a proteccedilatildeo de recursos
hiacutedricos manejo de recursos naturais desenvolvimento de pesquisas cientiacuteficas
manutenccedilatildeo do equiliacutebrio climaacutetico e ecoloacutegico preservaccedilatildeo de recursos geneacuteticos
e atualmente constituem o eixo de estruturaccedilatildeo da preservaccedilatildeo in situ da
biodiversidade como um todo
1131 Juriacutedica
A reserva legal foi criada pela forccedila do universo juriacutedico brasileiro que lhe
pressupotildee efetividade Como jaacute fora mencionado o instituto teve sua definiccedilatildeo atraveacutes da
Medida Provisoacuteria 2166-672001 (BRASIL 2001) que por sua vez alterou o Coacutedigo
Florestal (BRASIL 1965) vigente agrave eacutepoca Embora houvesse previsatildeo legal para aacutereas
especialmente protegidas estas ateacute entatildeo natildeo haviam sido nominadas como reserva legal
A lei ndeg 477165 (BRASIL 1965) segundo Trennepohl (2009) trazia uma maior
preocupaccedilatildeo com a erosatildeo de terras e o consequente prejuiacutezo para as atividades produtivas
Denotando predominante inclinaccedilatildeo para a sustentabilidade econocircmica da mateacuteria-prima
aquele diploma tratava a utilizaccedilatildeo dos recursos florestais de forma racional com finalidade
de garantir as atividades econocircmicas para as quais servem de insumo
Jaacute no entendimento de Schaffer e Medeiros (2009) a figura da reserva legal no
Coacutedigo Florestal revela-se como uma norma de importacircncia e observacircncia necessaacuterias
essencialmente estrateacutegicas para a garantia de um desenvolvimento equilibrado e sustentaacutevel
para a naccedilatildeo brasileira Tambeacutem observam os mesmos autores que a tatildeo discutida lei florestal
estabeleceu percentuais diferenciados de Reserva Legal em funccedilatildeo da localizaccedilatildeo do tipo de
vegetaccedilatildeo e das caracteriacutesticas ambientais das diferentes regiotildees do paiacutes
A eficaacutecia para o cumprimento do instituto se baseia na imposiccedilatildeo da lei quanto agrave
obrigaccedilatildeo dos proprietaacuterios ou posseiros rurais se dirigirem ao cartoacuterio de registro do seu
31
imoacutevel com a aacuterea da reserva jaacute delimitada e procederem agrave averbaccedilatildeo agrave margem da sua
matriacutecula No entanto essa obrigatoriedade foi substituiacuteda pelo Cadastro Ambiental Rural
que deveraacute ser feito no oacutergatildeo ambiental competente conforme visto anteriormente Esse
procedimento se daacute pelos paracircmetros devidamente previstos em normas teacutecnicas que dispotildeem
como o dono da aacuterea deve conduzir tal processo Essa averbaccedilatildeo eacute irretrataacutevel ou seja jamais
pode ser desfeita e eacute isso que daacute eficiecircncia ao instituto se cumprido Tal imposiccedilatildeo garante
que o proprietaacuterio natildeo desmembre seu imoacutevel na intenccedilatildeo de burlar a lei
Quanto ao procedimento de averbaccedilatildeo da reserva legal na matriacutecula do imoacutevel
ressalta Trennepohl (2009 p11-12)
A exigecircncia da averbaccedilatildeo da reserva legal vem desde 1965 vale dizer haacute mais de
quarenta anos existe esta obrigatoriedade E muitos proprietaacuterios rurais cumpriram agrave
risca esta exigecircncia averbando e mantendo preservado o percentual estipulado pela
lei
[]
A necessidade dessa averbaccedilatildeo dispensa maiores comentaacuterios e pode ser facilmente
entendida como a uacutenica garantia eficaz para que a transferecircncia ou a partilha natildeo
afastem essa obrigaccedilatildeo propter rem [proacutepria da coisa] que vincula a propriedade
natildeo o proprietaacuterio
Para alguns proprietaacuterios de terras rurais se houver o atendimento do instituto da
reserva legal caberia uma indenizaccedilatildeo pela perda daquela porcentagem em suas propriedades
mas como bem ilustra Magnanini (2010 p 5) ldquoa funccedilatildeo protetora da floresta natildeo eacute restriccedilatildeo
indenizaacutevel mas decorrecircncia da proacutepria natureza que preparou terras mais uacuteteis e outras
menosrdquo
1132 Social
Segundo o renomado filoacutesofo Mondin (2004 p 117) ldquoo homem eacute um ser
sociaacutevel portanto incapaz de sozinho alcanccedilar seus objetivos anseios e realizaccedilotildees
consequentemente viverrdquo A partir dessa constataccedilatildeo soacute resta ao ser humano subsistir numa
sociedade inserida no mundo natural
Como indiviacuteduo pratica accedilotildees que lhe afetam direta e indiretamente promovendo
reflexos no espaccedilo em que habita Por isso o aspecto social estaacute intimamente vinculado agrave
qualidade ambiental uma vez que o ser humano gera impactos positivos e negativos em seu
entorno Como natildeo se pode separar a atuaccedilatildeo dele do meio em que foi introduzido necessaacuterio
eacute fazer o balizamento de suas atitudes Uma das formas de limitar seu comportamento eacute a
confecccedilatildeo de normas como por exemplo a lei que nada mais eacute do que a expressatildeo de uma
32
demanda social por medidas coercitivas em virtude do desrespeito a um aspecto que a
sociedade defende ou repudia
Quanto agraves accedilotildees humanas e seus reflexos a teoria de ldquometapopulaccedilotildeesrdquo define
que a raccedila humana causa imenso impacto na Terra provocando a deterioraccedilatildeo dos sistemas
ecoloacutegicos e a extinccedilatildeo de muitas espeacutecies as quais tem seu ritmo acelerado agrave medida que a
populaccedilatildeo cresce e aumentando com isso o consumo de energia e de recursos naturais
SOUZA (2002 apud Miranda 2008)
O aspecto social que envolve a reserva legal confronta-se com praacuteticas seculares
do homem campestre como bem ilustra Magnanini (2010 p 3) engenheiro agrocircnomo e um
dos autores do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)
A agricultura itinerante continua se desenvolvendo segundo os meacutetodos primitivos
dos primeiros anos do descobrimento Chega o agricultor derruba e queima as
matas sem indagar se elas satildeo necessaacuterias agrave conservaccedilatildeo da feracidade do solo ou
do regime das aacuteguas Depois de alguns anos de exploraccedilatildeo renovando anualmente a
queimada como meio de extinguir a vegetaccedilatildeo invasora o terreno esgotado eacute
entregue ao abandono e o agricultor seguindo as pegadas do madeireiro que adiante
derrubou as aacutervores para extrair as toras inicia novo ciclo devastador idecircntico ao
precedente Como efeito disto a agricultura cada vez se interioriza mais e cada vez
se distancia mais dos centros consumidores requerendo transportes sempre mais
caros [] Inundaccedilotildees cada vez mais destruidoras pela remoccedilatildeo desordenada de
florestas colocam em sobressalto as populaccedilotildees de centenas de cidades ribeirinhas
Vale mencionar outra caracteriacutestica que expressa o valor que a reserva legal
quando estaacute sendo cumprida imprime na aacuterea rural ndash eacute a funccedilatildeo social da propriedade
considerada como princiacutepio basilar para o uso da mesma Designaccedilatildeo bastante enunciada
pelas normas que estabelecem aquele instituto permeia o direito de propriedade da terra que
natildeo eacute visto unilateralmente e sim em sua universalidade uma vez que o imoacutevel natildeo estaacute para
servir soacute a seu dono mas tem que atender sua funccedilatildeo social Nesse sentido Miranda (2008)
pontua que a reserva legal eacute uma forma de assegurar a funccedilatildeo social da propriedade fazendo
com que esta contribua com a preservaccedilatildeo do meio ambiente ecologicamente equilibrado para
atuais e futuras geraccedilotildees Eacute como tambeacutem entende Trennepohl (2009 p 11) ao afirmar que
A preservaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa num percentual das propriedades rurais diminui o
lucro do proprietaacuterio mas de forma muito menos significativa que o ganho para a
coletividade com a qualidade ambiental decorrente pelo que entendemos
inquestionaacutevel que o interesse coletivo se sobrepotildee ao individual
1133 Ambiental
Considerado como um dos principais fatores que embasam a instituiccedilatildeo da reserva
legal na propriedade ou posse rural o aspecto ambiental se funda na biologia que perpassa
33
essencialmente esse vieacutes sem admitir qualquer desassociaccedilatildeo entre as unidades ambientais
como aacutegua solo vegetaccedilatildeo e ar Pode-se afirmar que o alicerce do estudo do meio eacute a ciecircncia
bioloacutegica que por sua vez analisa as reaccedilotildees as funccedilotildees fiacutesico-quiacutemicas a qualidade do
ambiente testando seus limites ou melhor sua capacidade de suporte Do mesmo modo
Miranda (2008 p 51) discorre sobre a importacircncia ecoloacutegica do instituto da reserva legal
quando afirma que ldquosua funccedilatildeo preciacutepua eacute assegurar mostras significativas de ecossistemas
conservando a biodiversidade e servindo de abrigo e proteccedilatildeo agrave fauna e agrave florardquo
Sobre isso Metzger (2002 p 48) tambeacutem atesta que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de
propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa eacute
fundamental para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada
regiatildeordquo Complementa Silva (2001 p 59) quando afirma
A cobertura vegetal nativa sobretudo as florestais exerce papel de fundamental
importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de ecossistemas naturais bem como de
ecossistemas criados pelo homem como eacute o caso dos ecossistemas agriacutecolas Aleacutem
de permitirem uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da aacutegua no solo e no
subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos regular a vazatildeo
dos rios reduzindo as intensidades dos extremos de estiagens e enchentes manterem
a diversidade geneacutetica
Logo todos os benefiacutecios apontados pelos autores acima podem ser verificados
em uma menor escala quando haacute a observacircncia da reserva legal dentro de cada propriedade
rural em determinada regiatildeo garantindo sua viabilidade ambiental posto que assume um
papel niacutetido de conservaccedilatildeo Para exemplificar a assertiva retro menciona-se o microclima
favoraacutevel mantido quando haacute vegetaccedilatildeo na aacuterea em apreccedilo que por sua vez amortiza a
incidecircncia solar sobre aquela regiatildeo Por outro lado a cobertura vegetal tambeacutem eacute favoraacutevel agrave
manutenccedilatildeo dos solos uma vez que dificulta a accedilatildeo erosiva das chuvas
Infere-se portanto que a existecircncia da reserva legal na propriedade rural soacute traz
vantagens ao meio ambiente por mais que a tradiccedilatildeo campestre natildeo as compreenda Eacute o que
demonstram Schaffer e Medeiros (2009 p 2) ensinando que
A Reserva Legal (RL) por sua vez natildeo tem apenas a funccedilatildeo de prover o uso
sustentaacutevel dos recursos naturais na propriedade ou posse rural Tem tambeacutem a
funccedilatildeo de conservar e reabilitar os processos ecoloacutegicos conservar a biodiversidade
e servir de abrigo e proteccedilatildeo da fauna e flora nativas Desta forma a norma geral de
caraacuteter nacional [Coacutedigo Florestal] concilia o necessaacuterio uso sustentaacutevel de recursos
naturais para a propriedade ou posse rural com as funccedilotildees ambientais e o
provimento de serviccedilos ambientais de retenccedilatildeo de aacutegua conservaccedilatildeo do solo
manutenccedilatildeo de grupos de polinizadores e fixaccedilatildeo de biomassa entre outros os quais
satildeo importantes e necessaacuterios ao cumprimento da funccedilatildeo socioambiental dos
imoacuteveis ou propriedades rurais
34
No mesmo sentido Mercadante (1999 p 240 apud MIRANDA 2008 p 5354)
numa interpretaccedilatildeo mais ampla sobre a importacircncia ecoloacutegica da reserva legal diz
A Reserva Legal natildeo tem por objetivo apenas a conservaccedilatildeo da natureza da flora e
da fauna pelo valor intriacutenseco dos recursos bioloacutegicos ou pela contribuiccedilatildeo dessas
aacutereas para a qualidade do ambiente em geral A Reserva Legal eacute fundamental para a
estabilidade ecoloacutegica e consequentemente a exploraccedilatildeo em bases sustentaacuteveis do
proacuteprio imoacutevel rural A Reserva Legal contribui para a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo
do solo o controle da erosatildeo o controle do assoreamento dos cursos d‟aacutegua a
conservaccedilatildeo dos corpos d‟aacutegua e dos mananciais serve de abrigo para os predadores
das pragas agriacutecolas fornece madeira e outros recursos florestais para uso na
propriedade dentre outros benefiacutecios
E por fim eacute cabiacutevel mencionar ainda que o Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL
2012) fixou criteacuterios bem mais especiacuteficos e pertinentes ao estabelecimento da reserva legal
como proceder ao cumprimento desse instituto observando se sua localizaccedilatildeo eacute condizente
com o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ou outras categorias
de zoneamento ambiental a proximidade com outras aacutereas legalmente protegidas dentre
outros
1134 Econocircmica
A reserva legal sob o aspecto econocircmico eacute muito controversa uma vez que eacute vista
pelo proprietaacuterio ou posseiro rural como um encargo Mesmo porque como exprime
Trennepohl (2009) ateacute a deacutecada de 80 quando se tinha diferentes normas com dispositivos
protecionistas mas com enfoque preponderantemente economicista os recursos naturais eram
tratados muito mais como insumos de produccedilatildeo ou bens de uso imediato da sociedade do que
como elementos integrantes de um intrincado e fraacutegil equiliacutebrio ambiental Isto condicionou
fatalmente a sociedade brasileira contemporacircnea a natildeo observar a deferecircncia aos bens
ambientais quiccedilaacute respeitar certa porcentagem de uma aacuterea que fora adquirida por um
particular com seus recursos proacuteprios e a tem como totalmente privada
Ainda eacute possiacutevel pelo Coacutedigo Florestal - Lei 126512012 (BRASIL 2012)
intervir na aacuterea destinada agrave reserva de forma sustentaacutevel sem suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo
uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo econocircmica dessas aacutereas Aleacutem do
que ldquoa recuperaccedilatildeo de aacutereas de RL pode ainda gerar produtos e subprodutos madeireiros jaacute
escassos em algumas regiotildees garantindo assim uma renda adicional ao produtor rural e
mateacuteria-prima para a induacutestriardquo conforme defendem Schaffer e Medeiros (2009 p 12)
Para Magnanini (2010) a situaccedilatildeo eacute graviacutessima quando sugere ficar a criteacuterio
do proprietaacuterio rural a iniciativa de proceder ou natildeo agrave reserva legal jaacute que a Administraccedilatildeo
35
Puacuteblica natildeo tem como combater eficientemente o descumprimento desse instituto Eacute o que
propotildee no momento em que coloca
O dilema eacute este ou impotildee-se a todos os donos de terras defenderem agrave sua custa a
produtividade do solo contra a erosatildeo terriacutevel e crescente ou cruzam-se os braccedilos
ante a incapacidade pela pobreza do Poder Puacuteblico na maioria dos Estados do
Brasil para deter a transformaccedilatildeo do Paiacutes num deserto em que as estaccedilotildees se
alternem entre inundaccedilotildees e secas devoradoras de todo o esforccedilo humano
(MAGNANINI 2010 p 5)
Ademais define-se outra vertente do aspecto econocircmico tatildeo bem colocada pela
acepccedilatildeo que tem Bacha (2005 p 9) ao afirmar que
A reserva legal eacute um mecanismo de poliacutetica de rendas pelo qual se procura
estabelecer um zoneamento do uso da terra dentro da propriedade rural A poliacutetica
de rendas constitui-se numa seacuterie de regulamentaccedilotildees que restringem a produccedilatildeo e a
comercializaccedilatildeo de produtos bem como o uso dos fatores de produccedilatildeo eou
determinam valores miacutenimos ou maacuteximos para o pagamento pelo uso desses fatores
ou por produtos elaborados numa economia
Eacute possiacutevel portanto depreender o entendimento do autor de modo que a reserva
legal vem restringir o uso indiscriminado dos recursos florestais gerando com isso a
manutenccedilatildeo do bem ambiental que seraacute resguardado por aquele instituto Isto influiraacute
diretamente na cadeia produtiva nas oscilaccedilotildees de demanda e procura do mercado de mateacuteria-
prima de origem vegetal Ou seja pode-se entender que a meacutedio eou longo prazo a reserva
legal seraacute um ponto de equiliacutebrio no fluxo da produccedilatildeo de bens e serviccedilos que careccedilam desse
recurso natural
114 Direito de Propriedade x Reserva Legal
A propriedade privada eacute uma espeacutecie baacutesica que se decompotildee em propriedade
rural ou urbana segundo se refira a moradias do campo ou moradias derivadas das
construccedilotildees ou edificaccedilotildees idocircneas para sua habitualidade ou aproveitamento diferente do
que eacute a exploraccedilatildeo agraacuteria de qualquer moradia rural (CRIADO 2010)
A propriedade no direito brasileiro foi constituiacuteda em forma e conteuacutedo a partir de
normas muito antigas e de outras naccedilotildees ou seja foi reproduzida com base no direito romano
ldquoDesde aqueles tempos o direito de propriedade era tido como absoluto isto eacute o proprietaacuterio
tinha o direito de usar ou natildeo usar gozar ou natildeo gozar e dispor ou natildeo dispor da propriedade
imobiliaacuteriardquo (MELO 2010 p22) Em contrapartida ldquoos direitos de propriedade
constitucional certamente satildeo direitos de liberdade seja a liberdade individual seja a
liberdade comunitaacuteria que satildeo complementares e indissociaacuteveis haja vista que uma natildeo
36
existe sem a outra como nos demonstram as experiecircncias totalitaacuterias do seacuteculo XXrdquo
(ANTUNES 2011 p37)
A garantia do direito de propriedade estaacute prevista constitucionalmente ou seja na
maior Lei do paiacutes uma vez que ela se sobrepotildee a todas as outras leis e normas juriacutedicas Eacute a
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil que foi promulgada em 05 de outubro de
1988 Conhecida como Carta Magna a Constituiccedilatildeo de 1988 (BRASIL 1988) em seu Tiacutetulo
II estabelece os direitos e as garantias fundamentais do e para o povo brasileiro Logo no
primeiro capiacutetulo deste tiacutetulo estatildeo dispostos os direitos e deveres individuais e coletivos que
o Estado brasileiro deve assegurar aos seus cidadatildeos Eacute no artigo 5ordm que estatildeo previstas tais
premissas inclusive o direito de propriedade (inciso XXII) e o respeito agrave sua funccedilatildeo social
(XXIII)
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade
do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos
seguintes
[]
XXII - eacute garantido o direito de propriedade
XXIII - a propriedade atenderaacute a sua funccedilatildeo social
Quanto agrave funccedilatildeo social da propriedade ldquosomente nos seacuteculos XIX e XX surgiu a
ideia em que o imoacutevel natildeo teria mais o caraacuteter absoluto e intangiacutevel de forma que o
proprietaacuterio por possuir recursos deveria cumprir a tal funccedilatildeordquo (MELO 2010 p23) Ainda
ldquodiscorrer sobre a funccedilatildeo social da propriedade significa abandonar a ideia absolutista e
inflexiacutevel desse instituto para admitir a revitalizaccedilatildeo e o condicionamento do exerciacutecio a
interesses maiores que os do proprietaacuterio individualrdquo (PETERS 2003 p 125 apud
MIRANDA 2008 p 56) Foi nesse sentido que as Constituiccedilotildees Federais brasileiras de 1934
(BRASIL 1934b) 1946 (BRASIL 1946) 1967 (BRASIL 1967c) e a de 1988 (BRASIL
1988) restringiram o direito de propriedade
Constituiccedilatildeo de 1934
Art 113 - A Constituiccedilatildeo assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade dos direitos concernentes agrave liberdade agrave subsistecircncia agrave seguranccedila
individual e agrave propriedade nos termos seguintes
[]
17) Eacute garantido o direito de propriedade que natildeo poderaacute ser exercido contra o
interesse social ou coletivo na forma que a lei determinar A desapropriaccedilatildeo por
necessidade ou utilidade puacuteblica far-se-aacute nos termos da lei mediante preacutevia e justa
indenizaccedilatildeo [] (BRASIL 1934b p 33)
Constituiccedilatildeo de 1946
Art 141 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
Paiacutes a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade a seguranccedila
individual e agrave propriedade nos termos seguintes
37
[]
sect 16 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por
necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa
indenizaccedilatildeo em dinheiro (BRASIL 1946 p 31)
Constituiccedilatildeo de 1967
Art 150 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
Pais a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
[]
sect 22 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por
necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa
indenizaccedilatildeo em dinheiro ressalvado o disposto no art 157 sect 1ordm []
[]
Art 157 - A ordem econocircmica tem por fim realizar a justiccedila social com base nos
seguintes princiacutepios
[]
III - funccedilatildeo social da propriedade
[]
sect 1ordm - Para os fins previstos neste artigo a Uniatildeo poderaacute promover a desapropriaccedilatildeo
da propriedade territorial rural mediante pagamento de justa indenizaccedilatildeo fixada
segundo os criteacuterios que a lei estabelecer em tiacutetulos especiais da diacutevida puacuteblica []
(BRASIL 1967c p 4951)
Embora os textos se assemelhem eacute faacutecil observar que em 1934 o direito de
propriedade natildeo poderia ir contra o interesse social ou coletivo enquanto que na Constituiccedilatildeo
de 1946 (BRASIL 1946) jaacute se comeccedila a falar em desapropriaccedilatildeo caso aquele interesse natildeo
seja observado Em 1967 existe uma combinaccedilatildeo entre o direito de propriedade e a justiccedila
social estando esta prevista como objetivo da ordem econocircmica que por sua vez cita
claramente a funccedilatildeo social da propriedade como um de seus princiacutepios Mais uma vez a
desapropriaccedilatildeo vem agrave tona agora com um toque mais robusto e imbuiacutedo de maior evidecircncia
jaacute que aquela Carta (BRASIL 1967c) faz menccedilatildeo no paraacutegrafo 1ordm do artigo 157 que a Uniatildeo
poderaacute desapropriar a propriedade territorial rural se natildeo atender dentre outros aspectos a
funccedilatildeo social da propriedade
Retroagindo aproximadamente trecircs anos a desapropriaccedilatildeo jaacute estava em pauta
atraveacutes da Lei 450464 (BRASIL 1964) conhecida como o Estatuto da Terra Com o
objetivo de regular os direitos e obrigaccedilotildees concernentes aos bens imoacuteveis rurais a citada lei
menciona a desapropriaccedilatildeo como uma das medidas de execuccedilatildeo da Reforma Agraacuteria e
promoccedilatildeo da Poliacutetica Agriacutecola (Art 1deg) Aleacutem disto o artigo segundo assegura a todos a
oportunidade de acesso agrave propriedade da terra condicionada pela sua funccedilatildeo social desde que
cumpra as seguintes condiccedilotildees
Art 2deg
sect 1deg A propriedade da terra desempenha integralmente a sua funccedilatildeo social quando
simultaneamente
a) favorece o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores que nela labutam
assim como de suas famiacutelias
38
b) manteacutem niacuteveis satisfatoacuterios de produtividade
c) assegura a conservaccedilatildeo dos recursos naturais
d) observa as disposiccedilotildees legais que regulam as justas relaccedilotildees de trabalho entre os
que a possuem e a cultivem (BRASIL 1964 p 1)
Encerrando o rol de Constituiccedilotildees brasileiras quanto ao direito de propriedade e
sua funccedilatildeo social a de 1988 consagra este princiacutepio no artigo 186
Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende
simultaneamente segundo criteacuterios e graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos
seguintes requisitos
I - aproveitamento racional e adequado
II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio
ambiente
[] (BRASIL 1988 p 144)
Chama atenccedilatildeo o inciso II quando dispotildee sobre a utilizaccedilatildeo adequada dos
recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio ambiente Eacute nesse iacutenterim que a reserva
legal eacute reconhecida por dar ao imoacutevel uma funccedilatildeo social ldquouma vez que atribui agrave propriedade
a exigecircncia da observacircncia de funccedilotildees econocircmica e social bem como de preservaccedilatildeo do meio
ambienterdquo (MELO 2010 p 24) Tambeacutem sobre isso bem coloca Trennepohl (2009 p 12)
A limitaccedilatildeo administrativa do exerciacutecio do direito de propriedade encontra respaldo
no art 186 da Constituiccedilatildeo Federal pois a propriedade rural somente cumpre sua
funccedilatildeo social quando obedecido o aproveitamento racional e utilizados
adequadamente os recursos naturais disponiacuteveis com vistas agrave preservaccedilatildeo do meio
ambiente
ldquoNatildeo haacute direito de propriedade para quem natildeo faz a terra cumprir sua funccedilatildeo
socialrdquo Eacute como entende o professor de direito agraacuterio Carlos Mareacutes (2003 p 134 apud
MELO 2010 p 25) Cavedon (2003 p 122 apud MIRANDA 2008 p 5859) tambeacutem
observa que
Os requisitos estipulados pelo artigo 186 devem ser atendidos simultaneamente sob
pena da propriedade natildeo atender sua funccedilatildeo social e por isso perder sua proteccedilatildeo
constitucional Como consequecircncia esta fica sujeita agrave desapropriaccedilatildeo por interesse
social para fins de reforma agraacuteria conforme o caput do artigo 184 da CF88 Eacute o que
Lenza denomina de desapropriaccedilatildeo-sanccedilatildeo Isto porque a Constituiccedilatildeo de 1988 em
seu artigo 5ordm inciso XXIV garante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiro mediante a
desapropriaccedilatildeo por necessidade utilidade puacuteblica ou interesse social A sanccedilatildeo estaacute
justamente na forma de pagamento da indenizaccedilatildeo quando a propriedade rural natildeo
atende a sua funccedilatildeo social o pagamento natildeo eacute efetuado em dinheiro mas em tiacutetulos
da diacutevida agraacuteria5 Assim o meio ambiente ganha relevacircncia como elemento
5 Tiacutetulos da diacutevida agraacuteria (TDA) - Meio de pagamento de indenizaccedilotildees devidas aos que sofreram accedilatildeo
expropriatoacuteria da Uniatildeo Federal Criado pelo Governo Federal eacute vinculado agrave desapropriaccedilatildeo de imoacuteveis rurais
por interesse social para efeito de reforma agraacuteria ou aquisiccedilotildees por compra e venda de imoacuteveis rurais destinados
agrave implantaccedilatildeo de projetos integrantes do Programa Nacional de Reforma Agraacuteria Disponiacutevel em
lthttpwwwcetipcombrtitulos-publicostdagt Acesso em 27062013
39
integrante da funccedilatildeo social da propriedade em funccedilatildeo do artigo 186 II que prevecirc a
utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio
ambiente e no artigo 170 que coloca a propriedade privada a funccedilatildeo social da
propriedade e a defesa do meio ambiente lado a lado como princiacutepios da ordem
econocircmica Com base nestes dispositivos legais Cavedon entende que a propriedade
deve atender tambeacutem a sua funccedilatildeo ambiental apesar desta natildeo constar de forma
expliacutecita no texto constitucional
Desta forma por estar limitado o proprietaacuterio rural natildeo pode dispor livremente de
seu imoacutevel pois haacute de cumprir sua funccedilatildeo social que resulta na observacircncia de requisitos que
visam vantagens para a coletividade em detrimento de restriccedilotildees individuais Assim sendo
muitos particulares entendem que a obrigaccedilatildeo de destinarem determinada porcentagem de
suas propriedades rurais para a reserva legal eacute uma espeacutecie de desapropriaccedilatildeo indireta imposta
pelo poder puacuteblico e por isso deveriam ser indenizados Da mesma forma outros segundo
Miranda (2008) concluem que eacute uma restriccedilatildeo da propriedade uma vez que inviabiliza a
utilizaccedilatildeo econocircmica do bem e por isso caberia uma recomposiccedilatildeo patrimonial Ao contraacuterio
desse entendimento Trennepohl (2009 p 11) explica
A averbaccedilatildeo da reserva legal natildeo representa uma desapropriaccedilatildeo indireta como
muita gente pensa pois sua vegetaccedilatildeo pode ser explorada na forma de manejo
florestal sustentaacutevel e a aacuterea pode ser utilizada para outras atividades rentaacuteveis
Tanto eacute assim que inuacutemeras accedilotildees judiciais propostas pleiteando indenizaccedilatildeo pela
restriccedilatildeo de uso dessas aacutereas foram fulminadas nas diferentes esferas do Poder
Judiciaacuterio
Ademais a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 (BRASIL 1988) em seu artigo 225
tambeacutem estabelece que
Art 225 Todos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de
uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder
Puacuteblico e agrave coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e
futuras geraccedilotildees
sect 1ordm - Para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Poder Puacuteblico
I - preservar e restaurar os processos ecoloacutegicos essenciais e prover o manejo
ecoloacutegico das espeacutecies e ecossistemas []
III - definir em todas as unidades da Federaccedilatildeo espaccedilos territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos sendo a alteraccedilatildeo e a supressatildeo
permitidas somente atraveacutes de lei vedada qualquer utilizaccedilatildeo que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteccedilatildeo (BRASIL 1988 p 225226)
Ressalta-se que ldquoa Carta Magna de 1988 eacute a primeira Constituiccedilatildeo brasileira em
que a expressatildeo meio ambiente eacute mencionadardquo (MELO 2010 p 20) Ademais inovou ao
adotar a terminologia ldquoespaccedilo territorial especialmente protegidordquo para designar uma aacuterea sob
regime especial de administraccedilatildeo com o objetivo de proteger os atributos ambientais
justificadores do seu reconhecimento e individualizaccedilatildeo pelo Poder Puacuteblico (MILAREacute 2009)
40
Desta forma pela simples leitura do texto constitucional observa-se que eacute uma
prerrogativa do Poder Puacuteblico promover a preservaccedilatildeo do meio ambiente bem como
estabelecer unidades especialmente protegidas para garantir a manutenccedilatildeo dos recursos
naturais A forma com que o Estado cumpriraacute este dever eacute atraveacutes da ediccedilatildeo de leis que
obriguem seus administrados a satisfazerem tais imposiccedilotildees Para tanto tem-se o Coacutedigo
Florestal (BRASIL 1965 2012) que prevecirc a reserva legal como um dos meios de viabilizar
essa proteccedilatildeo Eacute sobre o que discorre Trennepohl (2009 p 12)
A reserva legal eacute um dos instrumentos que permitem o cumprimento do art 225 da
Constituiccedilatildeo Federal o qual impotildee ao Poder Puacuteblico o dever de defender e preservar
o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras geraccedilotildees
(caput) atraveacutes de definiccedilatildeo de espaccedilos territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos (sect1deg III) bem como de proteger a flora e a fauna (sect1deg
VII)
Conclui-se portanto que a reserva legal introduzida pelo Coacutedigo de 65 (BRASIL
1965) modificou os contornos do direito de propriedade restringindo seu uso e que a funccedilatildeo
social do bem imoacutevel teve como origem forte conflito entre necessidades coletivas ou assim
interpretadas e o regime particular da propriedade individual (ANTUNES 2011)
1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa
As formas de limitaccedilotildees que recaem sobre a propriedade tornam-se um problema
importante em mateacuteria ambiental pois na grande maioria das vezes a natureza juriacutedica dos
espaccedilos territoriais especialmente protegidos se confunde com a limitaccedilatildeo administrativa
(MELO 2010) Assim questiona-se se realmente estamos diante de servidotildees limites
limitaccedilotildees ou delimitaccedilotildees A questatildeo natildeo eacute paciacutefica (CRIADO 2010)
A limitaccedilatildeo administrativa segundo Meireles (2004 p 568) eacute ldquotoda imposiccedilatildeo
geral gratuita unilateral e de ordem puacuteblica condicionadora do exerciacutecio de direitos ou de
atividades particulares agraves exigecircncias do bem-estar socialrdquo Satildeo implementadas de forma
imperativa obrigando o proprietaacuterio a fazer ou natildeo fazer algo na sua propriedade mas sem
retirar a utilizaccedilatildeo econocircmica deste bem ldquoJaacute a restriccedilatildeo ocorre quando a administraccedilatildeo impotildee
ao proprietaacuterio dever que o obrigue ou o impeccedila de fazer algo em sua propriedade retirando a
utilizaccedilatildeo econocircmica desta Havendo neste caso a necessidade de recomposiccedilatildeo patrimonialrdquo
(MIRANDA 2008 p 61)
41
Aleacutem do que hibridamente haacute os que entendem que a reserva legal eacute uma
desapropriaccedilatildeo indireta6 disfarccedilada de limitaccedilatildeo da propriedade que por sua vez inviabiliza a
utilizaccedilatildeo econocircmica do bem provocando uma busca por indenizaccedilatildeo Eacute nesse sentido que se
pronunciam os superiores tribunais do paiacutes como por exemplo se pronunciou o ministro Luiz
Pereira do Tribunal de Justiccedila do Estado de Satildeo Paulo ao decidir pela indenizabilidade da
aacuterea compreendida na reserva legal E ainda o proacuteprio Supremo Tribunal Federal tem se
manifestado de forma enfaacutetica ldquoimpedindo que a bdquolimitaccedilatildeo administrativa‟ esvazie o
conteuacutedo econocircmico do direito de propriedade determinando que em tais hipoacuteteses o Estado
indenize os prejuiacutezos de ordem patrimonial sofridos pelo particularrdquo (ANTUNES 2011
p163164)
Mesmo sendo um instrumento de conservaccedilatildeo ambiental com a possibilidade de
exploraccedilatildeo racional atraveacutes de manejo florestal sustentaacutevel eacute visivelmente perceptiacutevel o
conflito entre interesses particulares e a salvaguarda da vegetaccedilatildeo proposta por norma
juriacutedica Posto isto observa-se de um lado intenccedilotildees puramente econocircmicas que por sua vez
levam os proprietaacuterios a ignorarem a lei derrubando e queimando as matas que deveriam ser
preservadas a tiacutetulo de Reserva Legal ou ainda se eximindo de suas responsabilidades soacutecio-
ambientais Opotildeem-se portanto aos fortes instrumentos juriacutedicos de proteccedilatildeo das matas
brasileiras (MIRANDA 2008)
1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal
Na vigecircncia da lei anterior ou seja do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)
a forma de garantir documentalmente o cumprimento da reserva legal era averbaacute-la junto agrave
matriacutecula da propriedade constante em um Registro de Imoacuteveis Vale aqui esmiuccedilar o que eacute e
como era esse procedimento
ldquoO Registro de Imoacuteveis eacute uma instituiccedilatildeo nascida no seacuteculo XIX para dar
seguranccedila agrave contrataccedilatildeo imobiliaacuteria e na qual se inscreviam os direitos nascidos das relaccedilotildees
privadas ou civisrdquo (CRIADO 2010 p126) ldquoE que surgiu como necessidade do Estado de
controlar o direito de propriedade e como instrumento de seguranccedila juriacutedica para o traacutefego
imobiliaacuteriordquo (MELO 2010 p18) Regido pela Lei 601573 (BRASIL 1973) que cria a
figura da matriacutecula e que por sua vez representa a individualidade do imoacutevel sua situaccedilatildeo
6 Desapropriaccedilatildeo indireta ndash ldquotoda intervenccedilatildeo do Estado na propriedade que venha a impossibilitar o uso e gozo
desse bem retirando-lhe o conteuacutedo econocircmicordquo (TAVARES 1998 p 2 apud MIRANDA 2008 p 62)
42
geograacutefica e perfeita descriccedilatildeo sofrendo alteraccedilotildees objetivas e subjetivas por meio da
averbaccedilatildeo sempre com um mesmo nuacutemero de ordem facilitando incrivelmente as pesquisas e
expediccedilatildeo de certidotildees (MELO 2010)
Desta forma cada imoacutevel possui um registro onde pode ser descrito tudo o que
acontece com ele e nele por exemplo quem comprou vendeu se o dono hipotecou o bem a
um banco por causa de empreacutestimo etc Cada novidade que acontece no imoacutevel eacute inscrita sob
a forma e nome de averbaccedilatildeo no seu registro que por sua vez tem um nuacutemero de matriacutecula
para o identificar da mesma forma que um cidadatildeo tem um nuacutemero de Registro Geral (RG)
com seu nome completo data de nascimento e filiaccedilatildeo
No caso a averbaccedilatildeo da reserva legal era feita da seguinte forma o dono do
imoacutevel ldquointeressadordquo em cumprir sua obrigaccedilatildeo deveria submeter a localizaccedilatildeo da reserva
legal ao oacutergatildeo ambiental estadual que por sua vez aprovaria ou natildeo o local onde o proprietaacuterio
iria destinar agrave reserva legal Essa delimitaccedilatildeo deveria ser feita a partir de um
georreferenciamento que utiliza coordenadas geograacuteficas fixadas com o auxiacutelio de sateacutelites
conforme o Sistema Geodeacutesico Brasileiro (SGB) ao qual o Registro de imoacuteveis estaacute
vinculado (MELO 2010)
ldquoA representaccedilatildeo graacutefica da propriedade e sua atualizaccedilatildeo permitem um
conhecimento da evoluccedilatildeo do territoacuterio suas modificaccedilotildees e o impacto meio ambiental que
nele tenha ocasionado atuaccedilatildeo do acircmbito imobiliaacuterio com transcendecircncia nesta mateacuteriardquo
(LIBERAL 2007 p 121 apud MELO 2010 p3233)
Assim com a propriedade e sua respectiva aacuterea de reserva legal
georreferenciadas o proacuteximo passo seria a elaboraccedilatildeo de uma planta a partir dos dados
coletados e juntamente com o documento comprobatoacuterio de que o imoacutevel possuiacutea registro
submeter a localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva ao oacutergatildeo ambiental competente Se aprovada o
oacutergatildeo expediria um Termo de Averbaccedilatildeo da Reserva Legal que juntamente com a mesma
planta apresentada anteriormente deveria ser levado ao cartoacuterio de imoacuteveis para posterior
averbaccedilatildeo no registro do bem Nesta averbaccedilatildeo estariam descritas todas as informaccedilotildees da
reserva legal e sua localizaccedilatildeo geograacutefica
ldquoEsse procedimento documental tinha fundamento no princiacutepio da publicidade
que eacute a alma dos registros puacuteblicos porque eacute a oportunidade dada ao povo de conhecer tudo
que lhe interessa a respeito de determinados atosrdquo (BALBINO FILHO 1999 p 9 apud
MELO 2010 p34) Ateacute porque qualquer pessoa pode solicitar informaccedilotildees sobre os registros
junto ao cartoacuterio de imoacuteveis ldquoE natildeo poderia ser diferente pois o Registro de Imoacuteveis atua no
43
direito ambiental como ator coadjuvante reforccedilando a publicidade legal bem como
cooperando com o cumprimento e garantia das obrigaccedilotildees ambientaisrdquo (MELO 2010 p79)
Natildeo obstante malgrado existia a obrigaccedilatildeo legal de todo proprietaacuterio averbar a
aacuterea de RLF no Registro de Imoacuteveis o fato eacute que pequena porcentagem dos proprietaacuterios
procedeu agrave sua especializaccedilatildeo ldquoA razatildeo eacute simples trata-se de norma incompleta foi criada a
obrigaccedilatildeo mas propositalmente a sanccedilatildeo foi esquecidardquo (MELO 2010 p56)
Com a lei 126512012 (BRASIL 2012) ou Novo Coacutedigo Florestal esse
procedimento mudou Logo natildeo se deve mais averbar a reserva legal no registro do imoacutevel
Agora a obrigaccedilatildeo passou a ser o cadastramento da propriedade rural no Cadastro Ambiental
Rural (CAR) O atual meacutetodo consiste na inscriccedilatildeo do imoacutevel a partir da identificaccedilatildeo do
proprietaacuterio ou possuidor rural apresentaccedilatildeo de documento que comprove a propriedade ou a
posse e a identificaccedilatildeo do imoacutevel por meio de planta e memorial descritivo contendo a
indicaccedilatildeo das coordenadas geograacuteficas com pelo menos um ponto de amarraccedilatildeo do periacutemetro
do imoacutevel informando a localizaccedilatildeo dos remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa das Aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente das Aacutereas de Uso Restrito das aacutereas consolidadas e caso existente
tambeacutem da localizaccedilatildeo da Reserva Legal
No entanto o CAR ainda natildeo estaacute implantado no Cearaacute o que eacute realidade em
vaacuterios outros estados tambeacutem A obrigatoriedade de inscriccedilatildeo neste Cadastro eacute de ateacute dois
anos apoacutes sua implementaccedilatildeo que ateacute o momento natildeo aconteceu Todavia o secretaacuterio de
Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentaacutevel Sr Paulo Guilherme Cabral afirmou em
21052013 que o lanccedilamento em acircmbito nacional do Cadastro Ambiental Rural (CAR) deve
ocorrer ateacute o iniacutecio de junho e para agilizar a inscriccedilatildeo de mais de 5 milhotildees de propriedades
o Ministeacuterio do Meio Ambiente tem buscado ajuda de sindicatos cooperativas e associaccedilotildees
do setor agriacutecola aleacutem de outros oacutergatildeos puacuteblicos7 Infelizmente nada aconteceu ateacute e apoacutes
aquela previsatildeo
Contraditoriamente natildeo existe um prazo para o governo implantar o CAR mas
para o proprietaacuterio ou posseiro sim quando o cadastro dos imoacuteveis estiver disponiacutevel O
impasse eacute o que fazer o dono da terra aguarda o novo procedimento vigorar ou adota o
meacutetodo anterior
7 Conferir notiacutecia publicada em 22052013 no site lthttpsouagrocombrlancamento-nacional-do-car-deve-
sair-ate-junhogt
44
2 Processo de Degradaccedilatildeo
21 Conceito
A degradaccedilatildeo de uma forma geral eacute ldquoa ocorrecircncia de modificaccedilotildees fiacutesicas
metaboacutelicas ou quiacutemicas para uma forma menos complexa E a degradaccedilatildeo ambiental eacute a
alteraccedilatildeo das caracteriacutesticas do meio ambienterdquo (GUERRA et al 2009 p108) Jaacute o inciso II
do artigo 3ordm da Lei 693881 (BRASIL 1981) descreve a degradaccedilatildeo da qualidade ambiental
como alteraccedilatildeo adversa das caracteriacutesticas do meio ambiente
Para Arauacutejo et al (2008 p 19) ldquoa degradaccedilatildeo das terras envolve a reduccedilatildeo dos
potenciais recursos renovaacuteveis por uma combinaccedilatildeo de processos agindo sobre a terrardquo Os
autores ainda atestam que
Tal reduccedilatildeo levando ao abandono ou ldquodesertificaccedilatildeordquo da terra [] pode ser por
processos naturais como por exemplo o ressecamento do clima atmosfeacuterico
processos naturais de erosatildeo alguns outros de formaccedilatildeo do solo ou uma invasatildeo
natural de plantas ou animais nocivos Pode tambeacutem ocorrer por accedilotildees antroacutepicas
diretamente sobre o terreno ou indiretamente em razatildeo das mudanccedilas climaacuteticas
adversas induzidas pelo homem (ARAUacuteJO et al 2008 p 19)
Para a Food and Agriculture Organizations of the United Nations - FAO
(Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e Agricultura) o conceito de degradaccedilatildeo
de terras se refere ldquoagrave deterioraccedilatildeo ou perda total da capacidade dos solos para uso presente e
futurordquo (FAO 1980 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 23)
Observa-se portanto que a degradaccedilatildeo ambiental se natildeo combatida pressupotildee
um processo criacutetico e muito seacuterio o da desertificaccedilatildeo Eacute como considera Sales (2002) e ainda
afirma que o potencial natural das terras quanto agrave degradaccedilatildeo e a accedilatildeo antroacutepica
desencadeiam a desertificaccedilatildeo
O processo de degradaccedilatildeo ambiental pode ocorrer a partir de um ambiente que jaacute
possui caracteriacutesticas naturais limitantes eou extremas onde nele eacute inserido o fator antroacutepico
seja pela simples ocupaccedilatildeo de uma populaccedilatildeo naquela aacuterea seja pelo manejo inadequado dos
recursos naturais ali presentes De outra forma a degradaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel em ambientes
sem fragilidades naturalmente aparentes
A degradaccedilatildeo ambiental advinda da intervenccedilatildeo humana num cenaacuterio mundial
traduz-se em 15 das terras jaacute comprometidas pelas atividades humanas sendo que na
Ameacuterica do Sul dentro daquele percentual encontrou-se 1 de terras devastadas 11 de
terras leve ou moderadamente degradadas e 1 de terra forte ou extremamente degradada8
As estimativas apontam uma expansatildeo anual de 5 a 12 milhotildees de hectares de solo de um
total de 48 bilhotildees de hectares de aacutereas cultivaacuteveis e pastos ainda existentes e segundo a
ISRICUNEP (1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 28) isso resulta na seguinte constataccedilatildeo
A degradaccedilatildeo ambiental causa a perda de aproximadamente 14 milhotildees de
toneladas de gratildeos anualmente isto eacute metade da quantidade necessaacuteria para cobrir
as necessidades da populaccedilatildeo global adicional para o mesmo periacuteodo E no aspecto
financeiro para Blaikie e Brookfiel (1987) a produtividade do trabalho eacute atingida
desfavoravelmente pois a degradaccedilatildeo ambiental consome diretamente o produto do
trabalho e tambeacutem o aporte de capital na produccedilatildeo A qualidade de vida diminui
porque satildeo necessaacuterios mais tempo e um trabalho mais duro para se obter o mesmo
produto isso sem mencionar as medidas conservacionistas no campo fertilizaccedilatildeo
mais intensa ou a abertura de aacutereas para lavouras ou pastos cada vez mais distantes
[] Em ocasiotildees mais raras mas tambeacutem tatildeo dramaacuteticas a degradaccedilatildeo ambiental
forccedila o deslocamento da populaccedilatildeo Centenas de milhares de hectares tecircm de ser
abandonados a cada ano por estarem degradados demais para o cultivo ou ateacute
mesmo para pastagens (ARAUacuteJO et al 2008 p 31)
Em se tratando de semiaacuterido os recursos ambientais satildeo fraacutegeis e associados a
este quadro haacute uma populaccedilatildeo que por sua vez lanccedila matildeo dos bens naturais produzindo uma
deterioraccedilatildeo ambiental ldquoO Cearaacute por conseguinte apresenta extensas aacutereas com problemas
relativos agrave degradaccedilatildeo ambiental principalmente a desertificaccedilatildeordquo (IRAUCcedilUBA 2009 p 7)
Eacute o caso de Irauccediluba por causa da degradaccedilatildeo advinda do desmatamento e das
queimadas que exaurem os nutrientes do solo a agricultura de subsistecircncia colhe em gratildeos
menos de 500 kgha enquanto que a produccedilatildeo potencial seria cerca de 2000 kgha
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Isso explica a baixa participaccedilatildeo da agricultura na
produccedilatildeo agropecuaacuteria do municiacutepio E ldquoessa produccedilatildeo sequer paga os custos da lavoura de
forma que os pequenos produtores estatildeo pagando para plantar na maioria dos casosrdquo
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 18) As consequecircncias sociais disto satildeo ldquoum ciclo de
pobreza e miseacuteria tornando a regiatildeo cada vez mais vulneraacutevelrdquo (SALES 2002 p116)
Em niacutevel mais criacutetico segundo as Naccedilotildees Unidas a desertificaccedilatildeo degrada 60 mil
km2 de terras feacuterteis por ano em todo o mundo provocando perdas de 4 bilhotildees de doacutelares na
economia mundial No Brasil estima-se que essas perdas atinjam 100 milhotildees de doacutelares9
Por fim ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013) entendem que a degradaccedilatildeo em terras
brasileiras remonta o tempo dos colonizadores pois estes aplicavam diretamente meacutetodos e
praacuteticas proacuteprios para solos de clima temperado Assim as matas foram derrubadas queimou-
se a vegetaccedilatildeo em larga escala e lavouras nocircmades foram estabelecidas aproveitou-se o humo
8 Conferir ISRICUNEP 1991 In Arauacutejo et al 2008 p 27
9 Conferir RODRIGUES (2006) in CEARAacute 2010
46
onde este jaacute existia expuseram-se os solos agrave erosatildeo enfim saquearam-se os recursos naturais
renovaacuteveis ldquoNo caso do Cearaacute documenta-se que em 1861 a Comissatildeo Cientiacutefica enviada
para estudar o Nordeste registrava a destruiccedilatildeo acelerada da vegetaccedilatildeo principalmente nos
contrafortes das serras em virtude dos desmatamentos e queimadas para plantio de
mandiocardquo ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013 p 8)
Para uma melhor compreensatildeo quanto agrave intervenccedilatildeo humana negativa no
ambiente aponta-se o esquema proposto na figura 3 a seguir resumindo o processo de
degradaccedilatildeo ambiental apresentado pelo PAE10
(CEARAacute 2010b)
Figura 3 Sistema de Degradaccedilatildeo do Meio Ambiente Adaptado de Tricart (apud Souza 2000)
Fonte PAE (CEARAacute 2010b p 30)
10
PAECE ndash Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca
(CEARAacute 2010)
47
22 Degradaccedilatildeo Ambiental
A degradaccedilatildeo tem vaacuterias causas dentre elas a erosatildeo e o manejo inadequado do
solo Em se tratando deste uacuteltimo pode-se destacar as atividades agropecuaacuterias e suas
praacuteticas como por exemplo o desmatamento desmedido e irracional a irrigaccedilatildeo de forma
errada salinizando ou encharcando o solo o sobrepastoreio que compacta o solo e o uso de
defensivos agriacutecolas que provocam a contaminaccedilatildeo do solo e eliminam os microorganismos
ali presentes Deduz-se portanto que isso eacute um reflexo derivado de uma estrutura fundiaacuteria
extremamente riacutegida onde satildeo desenvolvidas aquelas atividades com baixo niacutevel tecnoloacutegico
levando a praacuteticas agriacutecolas predatoacuterias (SALES 2002 p116)
Com as causas naturais e as provocadas pelo homem quanto agrave degradaccedilatildeo do solo
expostas na tabela 2 a compreensatildeo fica mais clara
Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras
FATORES ACcedilOtildeES ANTROacutePICAS CONDICcedilOtildeES NATURAIS
Facilitadores
Desmatamento
Permissatildeo do superpastoreio
Uso excessivo da vegetaccedilatildeo
Taludes de corte
Remoccedilatildeo da cobertura vegetal para o cultivo
Topografia
Textura do solo
Composiccedilatildeo do solo
Cobertura vegetal
Regimes hidrograacuteficos
Diretos
Uso de maacutequinas
Conduccedilatildeo do gado
Encurtamento do pousio
Entrada excessiva de aacutegua drenagem insuficiente
Excesso de fertilizaccedilatildeo aacutecida
Uso excessivo de produtos quiacutemicos estrume
Disposiccedilatildeo de resiacuteduos domeacutesticos industriais
Chuvas fortes
Alagamentos
Ventos fortes
Fonte FAO (1980 apud Arauacutejo et al 2008 p 33)
Entendem Arauacutejo et al (2008 p 29) que as consequecircncias disto no meio rural satildeo
Um decliacutenio na produtividade ou uma necessidade crescente do aporte de nutrientes
para manter as mesmas produtividades uma vez que os ldquosubsolos geralmente
contem menos nutrientes do que as camadas superioresrdquo sendo necessaacuterio mais
fertilizante para manter a produtividade das culturas Isso por sua vez aumenta os
custos da produccedilatildeo
Partindo dessas constataccedilotildees conclui-se que satildeo seacuterias as consequecircncias
ambientais sociais e econocircmicas a esse respeito por isso satildeo necessaacuterias medidas mitigadoras
que visem minimizar esses impactos bem como meios de recuperar os danos jaacute existentes
A questatildeo torna-se ainda mais preocupante quando o olhar recai sobre os
processos de formaccedilatildeo do solo que segundo Kendall e Pimentel (1994 apud ARAUacuteJO et al
48
2008 p 21) ldquosatildeo lentos e necessitam de duzentos a mil anos para formar 25cm de solos e
isso sob condiccedilotildees agriacutecolas normaisrdquo Dessa forma a degradaccedilatildeo do solo eacute muito mais
criacutetica uma vez que eacute quase irreversiacutevel quando se trata do lapso temporal para se regenerar
ldquoA irreversibilidade tambeacutem ocorre quando o clima e as atividades humanas se combinam
tornando um solo anteriormente sadio em aacuterea devastadardquo (ARAUacuteJO et al 2008 p 2021)
221 Erosatildeo
Eacute o processo natural de decomposiccedilatildeo e transporte de sedimentos que altera as
formas de relevo Causada por agentes como vento chuvas aacuteguas correntes pode ser
acelerada por intervenccedilotildees humanas como por exemplo o desmatamento (TRIGUEIRO
2005 apud GUERRA 2009 p 129)
Arauacutejo et al (2008 p 34) afirmam que ldquoembora a erosatildeo possa ocorrer sem a
intervenccedilatildeo humana na praacutetica ela geralmente eacute iniciada eou acelerada por atividades
antroacutepicas que causam o desaparecimento da cobertura protetora da vegetaccedilatildeo natural ou
danificam a estrutura do solordquo
No PAN (BRASIL 2004 p 42) consta que ldquoa resultante do antropismo eacute
principalmente a erosatildeo particularmente a laminarrdquo que se inicia com a destruiccedilatildeo da
cobertura vegetal
A erosatildeo pode ser pela accedilatildeo da aacutegua eou do vento Em ambos os casos a camada
superficial do solo eacute retirada Para Arauacutejo et al (2008 p 24) ldquoa erosatildeo eoacutelica eacute mais comum
em climas aacuterido e semiaacuterido e eacute considerada uma forma de degradaccedilatildeo bem como a da aacutegua
que pode ateacute deformar o terreno formando ravinas e voccedilorocasrdquo Uma consequecircncia grave
disto segundo os mesmos autores eacute a reduccedilatildeo da fertilidade pelos motivos a seguir Menor
penetraccedilatildeo de raiacutezes em decorrecircncia de um solo menos denso e mais fino Reduccedilatildeo na
capacidade de retenccedilatildeo de aacutegua Varredura dos nutrientes utilizados pelas plantas
Para a FAO segundo Arauacutejo et al (2008 p 30) ldquoaproximadamente 25 bilhotildees de
toneladas de solo satildeo erodidos a cada ano sendo 17 toneladas por hectare cultivadordquo
222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica
Dentro do que jaacute foi citado anteriormente a (1) irrigaccedilatildeo inadequada que saliniza
ou encharca o solo e o (2) uso de defensivos agriacutecolas contaminando e eliminando os
49
microorganismos satildeo soacute algumas causas deste tipo de degradaccedilatildeo Aleacutem destas tem-se a (3)
acidificaccedilatildeo e o (4) esgotamento do solo causando a perda de nutrientes Para Arauacutejo et al
(2008 p 25) ldquoa salinizaccedilatildeo pode ser resultado de manejo mal realizado da irrigaccedilatildeo da alta
concentraccedilatildeo de sais na aacutegua ou atenccedilatildeo indevida agrave drenagem Esta acarreta a salinizaccedilatildeo dos
solos especialmente em regiotildees aacuteridas por que as altas taxas de evaporaccedilatildeo estimulam o
processordquo E ainda por atividades humanas que elevam a evaporaccedilatildeo em solos com material
salino ou com lenccedilol freaacutetico salino (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25)
Segundo o PAN (BRASIL 2004 p 64) ldquoa irrigaccedilatildeo produz impactos
indesejaacuteveis em qualquer aacuterea semiaacuteridardquo se realizada de forma inadequada e sem o recurso
da drenagem Complementa ainda o documento ao dizer que
Um solo submetido agrave irrigaccedilatildeo estaacute salinizado quando a concentraccedilatildeo de sais nesse
terreno se eleva a ponto de prejudicar o rendimento econocircmico das culturas A
salinizaccedilatildeo do solo afeta a germinaccedilatildeo e a densidade das culturas bem como seu
desenvolvimento vegetativo reduzindo a produtividade das lavouras Nos casos
limites a salinizaccedilatildeo pode levar agrave morte generalizada das plantas inviabilizando o
cultivo das terras afetadas (BRASIL 2004 p 64)
Aleacutem disso o uso excessivo de agrotoacutexicos eacute tido como poluiccedilatildeo e pode levar agrave
reduccedilatildeo do potencial agriacutecola da terra Resiacuteduos industriais e urbanos tambeacutem podem poluir
terras agricultaacuteveis O esgotamento do solo pelo plantio excessivo de culturas sem promover
um pousio miacutenimo do terreno exaure os nutrientes daquela aacuterea Isso eacute comum onde a
agricultura eacute praticada em solos pobres ou moderadamente feacuterteis sem a aplicaccedilatildeo suficiente
de esterco ou fertilizante (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25) E por fim
a acidez pode ser provocada quando se utiliza muitos fertilizantes aacutecidos ou em decorrecircncia
da maacute drenagem em alguns tipos de solo
223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica
Conhecidos pela compactaccedilatildeo do solo elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico e pelo
rebaixamento da superfiacutecie da terra (subsidecircncia) a esses tipos de degradaccedilatildeo natildeo se pode
deixar de somar uma causa precursora que eacute o desmatamento desmedido e irracional
deixando o solo nu e exposto agraves intempeacuteries do tempo Da mesma forma entende Cruz (1994
p 135-147 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 35) ao afirmar que ldquoa remoccedilatildeo da cobertura vegetal
inicia ou acelera a erosatildeo do solo sob a accedilatildeo da chuva e do vento de igual modo a queimada
visando o controle de ervas estimula a lixiviaccedilatildeo e a perda do solordquo
50
A compactaccedilatildeo do solo como o resultado do uso de maacutequinas pesadas em solos
instaacuteveis bem como o pisoteio do gado que via de regra eacute agravado por um
sobrepastoreio da aacuterea O impacto das gotas de chuva provoca tambeacutem o selamento
e encrostamento do solo A elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico eacute ocasionada pelo
encharcamento da terra que por sua vez natildeo tem na mesma proporccedilatildeo a capacidade
de drenagem (ARAUacuteJO et al 2008 p 25)
23 A degradaccedilatildeo em Irauccediluba
Em Irauccediluba as praacuteticas agriacutecolas e a pecuaacuteria satildeo muito ofensivas aos recursos
naturais Isso se deve agrave capacidade de suporte do ambiente que natildeo eacute respeitada gerando
impactos e danos ambientais seacuterios e de caraacuteter praticamente irreversiacuteveis O sobrepastejo de
bovinos ovinos e caprinos o desmatamento e as queimadas deixam a regiatildeo com um niacutevel de
degradaccedilatildeo altiacutessimo ateacute porque suas condiccedilotildees naturais jaacute satildeo adversas E ainda haacute outro
fator agravante - o tempo de recuperaccedilatildeo natural tambeacutem natildeo eacute observado nem cumprido
fragilizando por demais o ambiente
Para Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 7) ldquoA introduccedilatildeo da pecuaacuteria no nuacutecleo de
Irauccediluba trouxe a tiracolo a agricultura e a extraccedilatildeo de madeira A primeira baseava-se no
desmatamento indiscriminado e na queimada geral E a segunda na coleta da lenha sem
reposiccedilatildeo florestalrdquo Desta forma a degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba estaacute desenhada por
1 Superpastejo que causa prejuiacutezos sensiacuteveis agrave vegetaccedilatildeo pelo consumo das
cascas dos troncos de aacutervores e arbustos e pela remoccedilatildeo das placircntulas das espeacutecies
arboacutereas e arbustivas Nessas condiccedilotildees mudanccedilas na composiccedilatildeo floriacutestica da
vegetaccedilatildeo podem resultar em virtude do desaparecimento das espeacutecies lenhosas
forrageiras o que em aacutereas de vegetaccedilatildeo degradada acelera o processo de
desertificaccedilatildeo Em aacutereas de caatinga o pastejo por ovinos induz mudanccedilas
significativas na composiccedilatildeo botacircnica do estrato herbaacuteceo com a reduccedilatildeo da
participaccedilatildeo das gramiacuteneas mesmo em condiccedilotildees de pastoreio moderado Nesse
contexto o sobrepastejo por ovinos pode resultar no desaparecimento das gramiacuteneas
e ao final de toda cobertura herbaacutecea da vegetaccedilatildeo expondo o solo aos efeitos da
erosatildeo (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 78)
2 Agricultura rudimentar que pratica o desmatamento e faz uso do fogo O
impacto deste sobre o ecossistema eacute onipresente e caracteriza-se pela queda da
produccedilatildeo agriacutecola pela degradaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa pela erosatildeo dos solos pela
perda da biodiversidade da flora e da fauna e pelo assoreamento e salinizaccedilatildeo dos
mananciais pela perda da resiliecircncia aumentando sua fragilidade diante das
variaccedilotildees climaacuteticas tiacutepicas das regiotildees semiaacuteridas Aleacutem disto os desmatamentos e
queimadas seguidos por um curto periacuteodo de pousio terminam por levar a vegetaccedilatildeo
a um disclimax dominado por arbustos uma vez que o banco de sementes das
arboacutereas praticamente desapareceu (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 918)
3 Manejo inadequado do solo associado ao relevo da regiatildeo Satildeo trecircs tipos de
solo que se destacam em Irauccediluba litoacutelicos planossolos e luvissolos Por conta da
declividade de 8 a 45 os agricultores optam pelas terras nas encostas para
implantar os roccedilados pois haacute um menor risco de perder a safra em funccedilatildeo do
alagamento comum nas terras planas do municiacutepio durante a eacutepoca das chuvas
Nestas condiccedilotildees as perdas de solo por erosatildeo satildeo assombrosas Aleacutem disto haacute a
erosatildeo nos planossolos provocada pelo sobrepastejo com perdas de solo superiores a
51
17 tha em uma uacutenica estaccedilatildeo das chuvas o que enfatiza a importacircncia da cobertura
vegetal na proteccedilatildeo contra a erosatildeo (apud SALES 2003) Como consequecircncia do
sobrepastejo continuado ao longo provavelmente de centenas de anos a erosatildeo
laminar jaacute removeu porccedilatildeo significativa do horizonte A expondo em alguns casos o
horizonte B textural Aleacutem disso houve uma exaustatildeo dos nutrientes do solo
principalmente do foacutesforo Outro fator que tambeacutem intensifica a degradaccedilatildeo eacute o
curtiacutessimo periacuteodo de repouso Estima-se em 50 anos o tempo necessaacuterio para que a
vegetaccedilatildeo da caatinga em um luvissolo que foi destruiacuteda pela queimada do roccedilado
volte pela sucessatildeo secundaacuteria ao cliacutemax original Ora na regiatildeo este periacuteodo estaacute
reduzido a cerca de oito anos Com isto natildeo haacute a recuperaccedilatildeo da fertilidade do solo e
a recomposiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo Isto porque a velocidade de crescimento das arboacutereas
da caatinga eacute muito variaacutevel (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 810)
Concluem portanto os autores Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 17) que ldquoas praacuteticas
rotineiramente adotadas do desmatamento e do fogo a exposiccedilatildeo do solo e a diminuiccedilatildeo do
periacuteodo de pousio tecircm induzido processos de degradaccedilatildeo mormente os de erosatildeordquo
231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia
A desertificaccedilatildeo eacute um problema ambiental que assola vaacuterias partes do mundo e
vem sendo discutido desde 1977 quando em Nairoacutebi no Quecircnia aconteceu a Conferecircncia
sobre Desertificaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas ldquoA observaccedilatildeo desse processo se atribui ao cientista
Aubreville que em 1949 constatou o prolongamento da degradaccedilatildeo para o norte das zonas
mais aacuteridas do Saara e para as regiotildees semiaacuteridas e subuacutemidas do norte da Aacutefricardquo (ARAUacuteJO
et al 2008 p 26) Em 1992 na ECO 92 foi definido o conceito de desertificaccedilatildeo cuja
ocorrecircncia se daacute em aacutereas aacuteridas semiaacuteridas e subuacutemidas secas O grau de aridez eacute
estabelecido pela relaccedilatildeo PEtp que eacute a razatildeo entre a meacutedia da precipitaccedilatildeo total anual e a
evapotranspiraccedilatildeo potencial do mesmo periacuteodo metodologia esta desenvolvida por
Thornthwaite (1955) Desta forma definiu-se uma correspondecircncia entre o clima e o
resultado da relaccedilatildeo acima conforme mostra a tabela 3
Tabela 3 ndash Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez
CLIMA P ETP
Hiper-aacuterido lt 005
Aacuterido De 005 a 020
Semiaacuterido gt 020 a 050
Subuacutemido Seco gt 050 a 065
Subuacutemido Uacutemido gt 065
Fonte United Nations Environment Programme ndash UNEP (Programa
Ambiental das Naccedilotildees Unidas) 1992
52
Eacute interessante mencionar que o semiaacuterido brasileiro delimitado pela uacuteltima vez
em 1995 foi novamente demarcado a partir da iniciativa do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
Nacional (MIN) que instituiu um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) envolvendo
departamentos empresas institutos agecircncias e ateacute bancos puacuteblicos para a readequaccedilatildeo dos
criteacuterios propostos pela Lei 782789 (BRASIL 1989c) Somente a inserccedilatildeo do municiacutepio na
aacuterea de abrangecircncia da extinta Superintendecircncia de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)
e a precipitaccedilatildeo meacutedia anual de ateacute 800 mm eram condiccedilotildees para enquadrar ou natildeo
determinado municiacutepio no semiaacuterido brasileiro (SUDENE 1990) Os novos paracircmetros satildeo
mais abrangentes pois aleacutem de considerar a precipitaccedilatildeo pluviomeacutetrica meacutedia anual inferior a
800 mm avaliam se o iacutendice de aridez do municiacutepio eacute de ateacute 05 ou se o risco de seca eacute maior
que 6011
Com a nova delimitaccedilatildeo em 2005 foram incorporados mais 102 municiacutepios aos
1031 jaacute classificados de forma que a aacuterea oficialmente semiaacuterida brasileira aumentou de
8923094 km2 para 9695894 km
2 ou seja um acreacutescimo de 866
12
A figura 4 ilustra o novo formato do semiaacuterido no Brasil E no Cearaacute foram
incorporados mais 16 totalizando 150 de um universo com 184 municiacutepios Isto significa
815 do estado e 132 de toda a regiatildeo semiaacuterida do paiacutes13
O quadro atual do semiaacuterido
cearense estaacute delineado na figura 5 a seguir
Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro
Fonte MIN (BRASIL 2005c)
11
Conferir Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro MI (BRASIL 2005c) 12
Idem 13
Ibidem
53
Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute
Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)
Com relaccedilatildeo ao processo de desertificaccedilatildeo no Brasil uma aacuterea de 900000 Kmsup2 eacute
atingida afetando direta ou indiretamente mais de 15 milhotildees de brasileiros natildeo existindo no
territoacuterio nacional outro problema ambiental que atinja tamanha aacuterea e tantas pessoas
(SUDENE 2000 apud IRAUCcedilUBA 2009) A regiatildeo nordeste por sua vez concentra as
Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) incluindo os espaccedilos semiaacuteridos e subuacutemidos
secos ambos de maior abrangecircncia fiacutesico-territorial vis-agrave-vis os outros espaccedilos naturais que
conformam e estruturam o Nordeste brasileiro (BRASIL 2004)
Pesquisadores apontam como principais causas de desertificaccedilatildeo no semiaacuterido
cearense a ocupaccedilatildeo desordenada do solo o desmatamento praacuteticas de queimadas (CEARAacute
2010b) Dentro desse raciociacutenio
Os estabelecimentos agropecuaacuterios ocupam o solo principalmente com lavouras
temporaacuterias e a criaccedilatildeo de animais Estas atividades muitas vezes satildeo executadas
sem preocupaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos e contribuem para
agravar o quadro de degradaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2010b p 103)
No mesmo sentido e no tocante agraves Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) o
PAN (BRASIL 2004) destaca que as condiccedilotildees ambientais dessas aacutereas (principalmente as de
54
clima solo aacutegua e vegetaccedilatildeo) associadas agrave pressatildeo exercida sobre os recursos naturais pela
accedilatildeo antroacutepica (pressatildeo populacional formas inadequadas de uso e ocupaccedilatildeo do solo entre
outros) vecircm contribuindo para a deflagraccedilatildeo de processos de desertificaccedilatildeo em algumas de
suas sub-regiotildees Um dos motivos para isso eacute a combinaccedilatildeo entre pobreza e desigualdade de
forma que
Uma imensa massa de pequenos agricultores descapitalizados confinados em
pequenas parcelas de terras de tais aacutereas (via de regra de meacutedia ou baixa fertilidade
natural) dependentes de seu trabalho para a produccedilatildeo de alimentos para
autoconsumo de forragens para seus animais mas necessitando produzir excedentes
comercializaacuteveis tenderaacute naturalmente a sobreutilizar os recursos naturais
contribuindo dessa forma para agravar os processos de degradaccedilatildeo Nas ASD este
ciacuterculo vicioso eacute agravado pela ocorrecircncia de secas perioacutedicas que levam agrave perdas
significativas e recorrentes de produccedilatildeo e de renda Neste sentido as secas
potencializam o grau de degradaccedilatildeo levando a vulnerabilidade ambiental a niacuteveis
mais elevados Os efeitos das secas sobre a sauacutede e a inseguranccedila alimentar e
nutricional tambeacutem satildeo conhecidos e consideraacuteveis (BRASIL 2004 p 106)
Classificando a susceptibilidade dessas aacutereas Matallo Jr (1999) construiu uma
relaccedilatildeo entre a aptidatildeo agrave desertificaccedilatildeo em funccedilatildeo do iacutendice de aridez conforme se vecirc pela
tabela 4
Tabela 4 - Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo
IacuteNDICE DE ARIDEZ SUSCEPTIBILIDADE Agrave
DESERTIFICACcedilAtildeO
005 a 020 Muito Alta
021 a 050 Alta
051 a 065 Moderada Fonte MATALLO JR (1999)
Nesse iacutenterim o municiacutepio de estudo do corrente trabalho tem iacutendice de aridez
conforme adotado pela UNEP de acordo com o que ilustra na figura 6
55
Figura 6 Iacutendice de Aridez (UNEP) do municiacutepio de Irauccediluba
O Cearaacute por sua vez eacute ldquoo Estado com a maior aacuterea relativa sob niacuteveis altos de
desertificaccedilatildeordquo (LEMOS 1995 apud FOLHES e VIANA 2001 p 5) Seu processo de
ocupaccedilatildeo e uso de terras via de regra foi marcado pela apropriaccedilatildeo dos recursos naturais de
forma a degradaacute-los Esta foi uma das causas para a concepccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Estadual
de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (PAE) cujo objetivo eacute
Contribuir para a convivecircncia equilibrada com o semiaacuterido por meio da
sustentabilidade ambiental do bioma caatinga a partir de poliacuteticas ambientais
sociais e econocircmicas focadas na reduccedilatildeo da pobreza A gestatildeo do Programa
pressupotildee a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo
democraacutetico e a participaccedilatildeo da sociedade (CEARAacute 2010b p 20)
No Estado existem trecircs nuacutecleos em processo de desertificaccedilatildeo Localizam-se no
Sertatildeo dos Inhamuns Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte e Sertatildeo de Jaguaribe abrangendo
respectivamente os municiacutepios de Arneiroz Independecircncia e Tauaacute Canindeacute Irauccediluba
Miraiacutema e Santa Quiteacuteria Jaguaretama Jaguaribara Jaguaribe Alto Santo e Morada Nova
(CEARAacute 2010b) Totalizam portanto 12 cidades com os maiores iacutendices de degradaccedilatildeo
ambiental do estado portanto susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo num grau muito grave como se
pode ver pelas figuras 7 e 8
No entanto o presente trabalho se ateraacute tatildeo somente ao municiacutepio de Irauccediluba
abrangido pelo nuacutecleo Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte
Fonte NOLEcircTO (2005)
56
Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave
desertificaccedilatildeo no Cearaacute desertificaccedilatildeo
Fonte IPECE (CEARAacute 2010a) Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)
O PAE (CEARAacute 2010b) utilizou para a formulaccedilatildeo do iacutendice de susceptibilidade
agrave desertificaccedilatildeo indicadores sociais que apontam a forma de ocupaccedilatildeo e tudo que dela
decorre e indicadores econocircmicos que representam as atividades humanas exercidas no
municiacutepio Vale ressaltar que as caracteriacutesticas do meio ambiente da regiatildeo natildeo foram
ignoradas muito pelo contraacuterio elas definiram as aacutereas classificadas como susceptiacuteveis agrave
desertificaccedilatildeo A lista abaixo demonstra os criteacuterios mensurados e os aspectos ambientais
observados
Indicadores sociais
1 Proporccedilatildeo da aacuterea das grandes propriedades na aacuterea total dos imoacuteveis rurais em
2005
2 Razatildeo entre alfabetizados e natildeo-alfabetizados de 5 ou mais anos de idade em
2000
3 Taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais de idade em 2000
(percentagem)
4 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino fundamental da populaccedilatildeo de 7 a 14
anos de idade em 2005
5 Taxa de evasatildeo no ensino fundamental em 2005
57
6 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino meacutedio da populaccedilatildeo de 15 a 17 anos de
idade em 2005
7 Taxa de evasatildeo escolar no ensino meacutedio em 2005
8 Densidade demograacutefica em 2006 (habitanteskm2)
Indicadores econocircmicos
1 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de carvatildeo vegetal pela aacuterea do municiacutepio em 2006
(tonha)
2 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de lenha pela aacuterea do municiacutepio em 2006 (m3ha)
3 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)
4 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)
5 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como pequena
propriedade em 2005 (haimoacutevel)
6 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como minifuacutendio em
2005 (haimoacutevel)
7 Razatildeo do consumo de energia eleacutetrica rural por consumidores de energia eleacutetrica
rural em 2005
8 Proporccedilatildeo de induacutestrias de transformaccedilatildeo no total de empresas industriais ativas
em 2005
9 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de feijatildeo em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
10 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com arroz em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
11 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com milho em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
12 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de mandioca em 2006 na aacuterea total dos
estabelecimentos agropecuaacuterios em 1996
13 Razatildeo do efetivo de bovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
14 Razatildeo do efetivo de ovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
15 Razatildeo do efetivo de caprinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
16 Razatildeo do efetivo de suiacutenos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
17 Produto Interno Bruto per capita a preccedilos de mercado em 2004
Caracteriacutesticas ambientais
1 Degradaccedilatildeo da cobertura vegetal
2 Assoreamento dos rios
3 Pastoreio excessivo
4 Perda da biodiversidade
5 Perda da capacidade produtiva do solo
6 Baixa relaccedilatildeo entre capacidade produtiva dos recursos naturais e sua capacidade
de recuperaccedilatildeo
A anaacutelise dos 25 paracircmetros entremeados com as condiccedilotildees ambientais estaacute
devidamente compilada no Quadro 2 ndash Caracterizaccedilatildeo das ASDs nos Sertotildees de Irauccediluba e
Centro-Norte do PAE (CEARAacute 2010b) As constataccedilotildees ensejam problemas no meio
ambiente a partir dos inuacutemeros gargalos sociais e econocircmicos como por exemplo a produccedilatildeo
agriacutecola em lavouras temporaacuterias na maior proporccedilatildeo dos estabelecimentos rurais o grande
iacutendice de pobres da regiatildeo o consumo de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo cada vez maior
58
Natildeo se pode deixar de mencionar os problemas ambientais que deixam a aacuterea em
questatildeo muito mais vulneraacutevel aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas e da desertificaccedilatildeo Satildeo
eles degradaccedilatildeo dos solos e da cobertura vegetal primaacuteria o sobrepastoreio o
desencadeamento e expansatildeo de processos erosivos acelerados com ocorrecircncia muito
frequente de afloramentos rochosos e chatildeos pedregosos perda de solos e biodiversidade
empobrecida baixa frequecircncia de espeacutecies lenhosas da caatinga e processos erosivos muito
ativos em funccedilatildeo do aumento da torrencialidade do escoamento superficial
Assim conclui-se que natildeo haacute como dissociar o quadro social e econocircmico das
nuances ambientais de um municiacutepio ou regiatildeo
Em se tratando da ASD nos Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte faz-se necessaacuterio
expor os nuacutemeros encontrados e as respectivas conclusotildees a partir dos levantamentos feitos
pelo PAE (CEARAacute 2010b) O Iacutendice Econocircmico e Social de Susceptibilidade agrave
Desertificaccedilatildeo (IESSD) ilustrado pelas figuras 9 e 10 por exemplo aponta as possiacuteveis causas
e os principais agentes causadores do processo de desertificaccedilatildeo sem quantificar ou mensurar
seu niacutevel
Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no Iacutendice Social de Susceptibilidade agrave
Desertificaccedilatildeo (ISSD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)
Fonte PAE (CEARAacute 2010b)
0
5
10
15
20
25
30
Contribuiccedilatildeo no ISSD ()
59
Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no Iacutendice Econocircmico de Susceptibilidade agrave
Desertificaccedilatildeo (IESD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)
Fonte PAE (CEARAacute 2010b)
Assim analisando os dois graacuteficos acima eacute possiacutevel perceber que sob o aspecto
social a concentraccedilatildeo de terras e a educaccedilatildeo datildeo a maior contribuiccedilatildeo ao iacutendice de
susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo enquanto que no vieacutes econocircmico destacam-se as aacutereas
destinadas a imoacuteveis rurais e o PIB ldquoper capitardquo Eacute um cenaacuterio deveras preocupante visto que
aquela regiatildeo jaacute eacute dotada de condiccedilotildees naturais adversas Uma populaccedilatildeo sem educaccedilatildeo
inserida num niacutevel de pobreza e ocupante de grande parte da zona rural que eacute onde as
atividades potencialmente degradadoras satildeo praticadas traduz uma combinaccedilatildeo
extremamente alarmante pois fazem uso de praacuteticas predatoacuterias e potencializam a
susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo
Segundo o PAE (CEARAacute 2010b p 123) nessa regiatildeo satildeo observadas ldquomarcas
configuradas de desertificaccedilatildeo como o elevado estaacutegio de degradaccedilatildeo do solo comprometendo
os processos naturais de sucessatildeo processos erosivos acelerados perda de solo e
biodiversidade espeacutecies lenhosas rarefeitasrdquo
05
1015202530354045
Contribuiccedilatildeo no IESD ()
60
Sob um olhar mais aprofundado voltado agrave Irauccediluba haacute maior destaque para as
atividades de agricultura e pecuaacuteria Lavouras temporaacuterias como feijatildeo milho e mandioca satildeo
as mais praticadas pelo pequeno agricultor A figura 11 aponta o percentual de
estabelecimentos ocupados com atividades agropecuaacuterias no municiacutepio
Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios Adaptado
Fonte PAE (CEARAacute 2010b)
Com relaccedilatildeo agrave extraccedilatildeo legalizada de madeira no municiacutepio de Irauccediluba o IBGE
informa que tanto a produccedilatildeo de carvatildeo como o corte de lenha entre 2004 a 2011 foi estaacutevel
Aquela girou em torno de 71 toneladas com um custo variaacutevel de R$ 1100000 a 2300000
ao ano enquanto que este ficou na casa dos 10000 m3 resultando num rendimento que
oscilou de R$ 4200000 a R$ 5700000 anuais14
Por fim Irauccediluba embora representando um dos quatro nuacutecleos de desertificaccedilatildeo
do Nordeste natildeo apresenta a pior condiccedilatildeo socioeconocircmica considerando a maioria dos
indicadores analisados (CEARAacute 2010b) Desta forma conclui-se que estes aspectos natildeo
determinam a desertificaccedilatildeo mas influenciam principalmente se as condiccedilotildees ambientais satildeo
limitantes Assim uma economia e uma sociedade deficientes inseridas num ambiente fraacutegil
natildeo tecircm como deixar de gerar degradaccedilatildeo
14
Conferir em lthttpwwwibgegovbrcidadesatxtrasperfilphpcodmun=230610ampsearch=ceara|iraucubagt
0
10
20
30
40
50
60
Irauccediluba
61
24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo do processo de degradaccedilatildeo
Embora o quadro de degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba seja por demais
preocupante ainda haacute condiccedilotildees para sua reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica a partir de
teacutecnicas e praacuteticas correspondentes ao tipo de solo ao estaacutegio de degradaccedilatildeo da aacuterea e ao
histoacuterico do uso da terra (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Continuam os autores
Assim considerando as extensotildees sob o planossolo que ocupam uma aacuterea total de
27321 ha duas recomendaccedilotildees podem ser propostas a regeneraccedilatildeo natural e a
adubaccedilatildeo organo-mineral A regeneraccedilatildeo natural eacute um processo muito lento e no
caso do planossolo de Irauccediluba dificilmente proporcionaraacute condiccedilotildees para retorno agrave
produtividade esperada [](ARAUacuteJO FILHO 1992) Entatildeo estaacute claro que a
recuperaccedilatildeo natural via pousio eacute muito lenta mas constitui uma opccedilatildeo em muitos
casos A aplicaccedilatildeo de adubo orgacircnico (estercos) eacute outra alternativa de recuperaccedilatildeo
pastoril que poderia ser utilizada no nuacutecleo de Irauccediluba Assim a fertilizaccedilatildeo com
foacutesforo constitui uma boa opccedilatildeo para a recuperaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica das
pastagens degradadas nos planossolos do nuacutecleo de Irauccediluba (ARAUacuteJO FILHO e
SILVA 2013 p 1013)
Outros fatores que envolvem o processo de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo
em Irauccediluba segundo Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 15) eacute ldquoa fixaccedilatildeo da agricultura no
terreno a sustaccedilatildeo do desmatamento e do uso do fogo visando agrave mitigaccedilatildeo dos impactos
antroacutepicos negativos a recuperaccedilatildeo dos agroecossistemas o aumento da produtividade
agriacutecola e da renda familiarrdquo Para tanto os mesmos autores sugerem que
A agrossilvicultura eacute com certeza o modelo de exploraccedilatildeo da terra mais apropriado
Dentre os modelos de sistemas agroflorestais o silvopastoril e o agrossilvipastoril
seriam os mais indicados para as condiccedilotildees de Irauccediluba O primeiro associa o
manejo florestal com a exploraccedilatildeo pastoril e o segundo associa o manejo florestal a
exploraccedilatildeo pastoril e a agricultura formando o sistema lavoura-pecuaacuteria-floresta O
modelo silvopastoril pode ser estabelecido seja para ter a madeira como o principal
produto seja para ter na exploraccedilatildeo animal a principal atividade (ARAUacuteJO FILHO
e SILVA 2013 p 15)
[]
A opccedilatildeo pela agrossilvicultura como a alternativa mais apropriada para a
reabilitaccedilatildeo dos solos de potencial agriacutecola mais elevado fundamenta-se na garantia
que este sistema de uso da terra traz a seguranccedila ambiental e a seguranccedila alimentar
No primeiro caso o solo eacute protegido contra a erosatildeo pelo acuacutemulo de serrapilheira
tem sua fertilidade reposta e sua biologia ativada pela deposiccedilatildeo da mateacuteria
orgacircnica Os recursos hiacutedricos satildeo beneficiados pela manutenccedilatildeo da mata ciliar
evitando o assoreamento das nascentes e reservatoacuterios e pela reduccedilatildeo das perdas de
aacutegua pelo solo A flora com a sustaccedilatildeo das queimadas e dos desmatamentos tem sua
biodiversidade incrementada e integraccedilatildeo das aacutervores no sistema produtivo
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2021)
Assim sendo o principal objetivo da recuperaccedilatildeo de uma aacuterea degradada deve ser
a recomposiccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica do solo Isto porque para que se restabeleccedila a
62
funcionalidade do ecossistema eacute fundamental a revitalizaccedilatildeo da biologia do solo principal
responsaacutevel pela circulaccedilatildeo de nutrientes15
Aleacutem disso continuam os mesmos autores
O aumento da mateacuteria orgacircnica e a formaccedilatildeo de uma cobertura morta sobre o solo o
protegeratildeo contra a erosatildeo laminar e melhoraratildeo sua capacidade de retenccedilatildeo de
aacutegua [] Os nutrientes de ecossistemas florestais de clima tropical se concentram
na biomassa e natildeo no solo como nos de clima temperado por isso os meacutetodos de
exploraccedilatildeo dos solos deveriam estar fundamentados no menor distuacuterbio possiacutevel do
meio bioloacutegico e no reforccedilo do aporte de mateacuteria orgacircnica (ARAUacuteJO FILHO e
SILVA 2013 p 710)
Nesse sentido para ambientes tropicais os sistemas de produccedilatildeo agroflorestais
(SAF) estatildeo sendo avaliados e propostos como alternativas ecologicamente sustentaacuteveis de
exploraccedilatildeo O uso de espeacutecies arboacutereas constitui a garantia de manter ativa a circulaccedilatildeo de
nutrientes e o aporte significativo de mateacuteria orgacircnica condiccedilatildeo essencial para se cultivar de
maneira continuada os solos tropicais16
No caso do bioma caatinga e de ambiente semiaacuterido segundo Arauacutejo Filho e silva
(2013) trecircs recomendaccedilotildees fundamentais garantem quando seguidas a sustentabilidade das
tecnologias de manipulaccedilatildeo
Preservaccedilatildeo de ateacute 400 aacutervores por hectare ou o equivalente a 40 de cobertura
utilizaccedilatildeo maacutexima de 60 da forragem disponiacutevel e preservaccedilatildeo da mata ciliar em
toda a malha de drenagem da pastagem Esta tecnologia jaacute vem sendo utilizada pelos
produtores na regiatildeo de Irauccediluba desde o iniacutecio da deacutecada de 1980 envolvendo
uma aacuterea de cerca de 3000 ha (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 1617)
Outras maneiras de controle e combate do processo de degradaccedilatildeo cuja iniciativa
vem do governo em suas diferentes formas e esferas satildeo os programas e as poliacuteticas puacuteblicas
a criaccedilatildeo de leis e normas sobre o tema a disponibilidade de recursos a fiscalizaccedilatildeo dos
oacutergatildeos competentes dentre outros
Ilustrando o primeiro exemplo em abril de 2011 a Superintendecircncia Estadual do
Meio Ambiente (SEMACE) e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) celebraram um convecircnio
de assistecircncia teacutecnica e financeira para a realizaccedilatildeo da pesquisa ldquoRevitalizaccedilatildeo da cobertura
vegetal nativa atraveacutes da recomposiccedilatildeo das matas ciliares e enriquecimento das aacutereas
destinadas a compor reserva legal dos imoacuteveis rurais do municiacutepio de Irauccedilubardquo Para a
consecuccedilatildeo dos objetivos propostos foi concedido um montante de R$ 4920000 (quarenta e
nove mil e duzentos reais) com fins de recuperar a qualidade do meio biofiacutesico atraveacutes do
plantio de essecircncias florestais nativas e plantas adaptadas agraves condiccedilotildees edafoclimaacuteticas da
aacuterea de abrangecircncia do projeto para
15
Como recomenda Lima (2009) In Arauacutejo Filho e Silva (2013) 16
Idem
63
1 Minimizar os impactos ambientais adversos causados pelos sistemas tradicionais
de exploraccedilatildeo econocircmica
2 Implantar um viveiro florestal permanente destinado agrave produccedilatildeo de mudas
nativas e adaptadas agraves condiccedilotildees locais associando-lhe atividades educativas e
de natureza formativa para o puacuteblico interessado
3 Incentivar o cultivo de essecircncias florestais nativas arboacutereas e frutiacuteferas que
contribuiratildeo para gerar alternativas de diversificaccedilatildeo de renda e por conseguinte
a melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo do municiacutepio
4 Fomentar a produccedilatildeo e o plantio de essecircncias florestais nativas ameaccediladas de
extinccedilatildeo
5 Viabilizar a recomposiccedilatildeo de matas ciliares dentro dos limites de abrangecircncia da
aacuterea das bacias hidrograacuteficas dos recursos hiacutedricos naturais denominados de
Riacho Aracatiaccedilu e Riacho Curu e do principal reservatoacuterio denominado de
Accedilude Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu seja em aacutereas de domiacutenio puacuteblico seja em
aacutereas de domiacutenio privado
6 Estabelecer a recuperaccedilatildeo da cobertura vegetal nativa de aacutereas de reserva legal
das propriedades rurais
O prazo do convecircnio era de doze meses ou seja ateacute abril de 2012 todavia foi
renovado por aditivo ateacute abril de 2013 Seu lanccedilamento soacute se deu em dezembro de 2011 e ateacute
agosto de 2012 o viveiro florestal ainda natildeo havia sido construiacutedo mas palestras com os
temas Desmatamento e Reserva Legal Fogo Desmatamento e Preservaccedilatildeo dos Accediludes
Resiacuteduos Soacutelidos Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal Aacuterea de
Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal foram ministradas pela SEMACE
Infelizmente nada mais foi feito pois dificuldades como a burocracia com o banco
financiador e a seca que assola o municiacutepio inviabilizando a produccedilatildeo e o plantio das mudas
levaram agrave extinccedilatildeo do convecircnio uma vez que seu prazo natildeo foi renovado numa segunda
oportunidade O recurso investido foi devolvido ao BNB e natildeo haacute qualquer previsatildeo de
retomada do projeto
Natildeo se pode deixar de registrar a indignaccedilatildeo que esse desfecho causa naqueles
que estudam e buscam uma saiacuteda Muitas vezes se natildeo todas as vezes ela existe mas eacute
deveras negligenciada ou pouco valorizada O que eacute que isso O Brasil eacute um paiacutes rico natildeo
falta recurso o que muito falta eacute vontade coragem e preferecircncia por aquilo que se deve
fazer Isto eacute um ultraje ao homem do campo que humilde e inocentemente espera confiante
em alguma providecircncia de seus representantes ou por quem faz as suas vezes
De modo diverso as normas 43 e 44 de 2005 (BRASIL 2005 a b) e a 512006
(BRASIL 2006a) que seratildeo explanadas no item 331 criadas pelo INCRA satildeo outras
medidas parecidas com o convecircnio citado acima pois tambeacutem foram elaboradas com o intuito
de recuperar e conservar os recursos naturais em aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e de
64
reserva legal mesmo sendo especiacuteficas para projetos de assentamento agraacuterio federal Atraveacutes
delas um determinado valor pode ser cedido por aquele oacutergatildeo e destinado agraves famiacutelias
assentadas para promoverem agrave implantaccedilatildeo de um projeto de recuperaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo
Como Poliacuteticas Puacuteblicas em niacutevel local e estadual que englobam o problema da
degradaccedilatildeo ambiental amplamente aqui discutido inclusive o mais seacuterio deles que eacute a
desertificaccedilatildeo destaca-se o Plano de Accedilatildeo Municipal de Combate agrave Desertificaccedilatildeo de
Irauccediluba (IRAUCcedilUBA 2009) e o Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e
Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (CEARAacute 2010b) O primeiro levou nove anos para se tornar
poliacutetica puacuteblica e contou com recursos do fundo de apoio a iniciativas locais de combate agrave
desertificaccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Nacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos
Efeitos da Seca (BRASIL 2004) Sua funccedilatildeo eacute orientar e desenvolver accedilotildees no sentido de
controlar e prevenir o avanccedilo da desertificaccedilatildeo e quando possiacutevel recuperar aacutereas degradadas
para o uso produtivo ou seja alcanccedilar o desenvolvimento sustentaacutevel nas aacutereas sujeitas agrave seca
e a desertificaccedilatildeo do Municiacutepio Como objetivos baacutesicos estatildeo as contribuiccedilotildees para
1 A formulaccedilatildeo do planejamento de uso sustentaacutevel dos recursos naturais do
Municiacutepio
2 A melhoria da produtividade e produccedilatildeo agriacutecola nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e
desertificaccedilatildeo
3 A reduccedilatildeo da vulnerabilidade e melhoria da qualidade de vida das populaccedilotildees
residentes nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e agrave desertificaccedilatildeo
4 A articulaccedilatildeo de accedilotildees setoriais do governo (em niacutevel federal estadual e
municipal) com vista agrave sinergia dos processos de planejamento
5 A melhoria da capacidade de enfrentamento dos problemas de desertificaccedilatildeo e
seca por parte das populaccedilotildees locais (IRAUCcedilUBA 2009 p 24)
O PAE (CEARAacute 2010b) em seu objetivo global e em termos gerais natildeo eacute muito
diferente do PAM (IRAUCcedilUBA 2009) pois visa contribuir para a convivecircncia com o
semiaacuterido e sustentabilidade ambiental do bioma caatinga Busca promover poliacuteticas
ambientais sociais e econocircmicas para a reduccedilatildeo da pobreza procurando em sua
administraccedilatildeo a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo democraacutetico
e a participaccedilatildeo da sociedade E recorre agrave negociaccedilatildeo transparente e responsaacutevel de conflitos
como forma privilegiada de superar as diferenccedilas de uso dos recursos naturais
25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira
A lei 6938 (BRASIL 1981) promulgada em 1981 foi a primeira norma juriacutedica
tratando da temaacutetica ambiental no Brasil Como bem diz Milareacute (2009) ela tem um caraacuteter
65
inovador pois sua implementaccedilatildeo seus resultados assim como a estabilidade e a efetividade
que denota constituem um salto de qualidade na vida puacuteblica brasileira
Com nascedouro um tanto quanto isolado a lei 693881 (BRASIL 1981)
instituiu a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente para a preservaccedilatildeo melhoria e recuperaccedilatildeo da
qualidade ambiental propiacutecia agrave vida visando assegurar no Paiacutes condiccedilotildees ao
desenvolvimento soacutecioeconocircmico aos interesses da seguranccedila nacional e agrave proteccedilatildeo da
dignidade da vida (artigo 2ordm) Tais objetivos estatildeo baseados em princiacutepios norteadores dos
quais se destacam para a presente pesquisa a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas (inciso VIII) e a
proteccedilatildeo de aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX)
Instrumentalizando a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente quanto agrave degradaccedilatildeo
ambiental existem as penalidades disciplinares ou compensatoacuterias ao natildeo cumprimento das
medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo ou correccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental conforme o artigo
9ordm inciso IX da Lei 693881 (BRASIL 1981) Em termos de sanccedilatildeo o artigo 14 disciplina
que os danos causados pela degradaccedilatildeo da qualidade ambiental sujeitaratildeo os transgressores agrave
multa simples ou diaacuteria agrave perda ou restriccedilatildeo de incentivos e benefiacutecios fiscais concedidos
pelo Poder Puacuteblico agrave perda ou suspensatildeo de participaccedilatildeo em linhas de financiamento em
estabelecimentos oficiais de creacutedito e agrave suspensatildeo de sua atividade
Para evitar a sanccedilatildeo pratica-se a prevenccedilatildeo e uma forma de prevenir a degradaccedilatildeo
eacute o licenciamento ambiental conforme preconiza o artigo 10 daquela mesma lei O natildeo
cumprimento disto enseja o enquadramento do representante da atividade ou do
estabelecimento no artigo 60 da Lei 960598 (BRASIL 1998) que versa sobre crimes
ambientais
Art 10 A construccedilatildeo instalaccedilatildeo ampliaccedilatildeo e funcionamento de estabelecimentos e
atividades utilizadores de recursos ambientais efetiva ou potencialmente poluidores
ou capazes sob qualquer forma de causar degradaccedilatildeo ambiental dependeratildeo de
preacutevio licenciamento ambiental (BRASIL 1981 p 7)
Art 60 Construir reformar ampliar instalar ou fazer funcionar em qualquer parte
do territoacuterio nacional estabelecimentos obras ou serviccedilos potencialmente
poluidores sem licenccedila ou autorizaccedilatildeo dos oacutergatildeos ambientais competentes ou
contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes Pena - detenccedilatildeo de um a seis meses ou multa ou ambas as penas cumulativamente
(BRASIL 1998 p 12)
Outra previsatildeo salutar na Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente eacute o dever que
entidades e oacutergatildeos de financiamento e incentivos governamentais tecircm de condicionar a
aprovaccedilatildeo de projetos financiaacuteveis ao licenciamento ambiental Aleacutem disto devem constar em
tais projetos a realizaccedilatildeo de obras e aquisiccedilatildeo de equipamentos destinados ao controle de
degradaccedilatildeo ambiental e a melhoria da qualidade do meio ambiente (artigo 12 paraacutegrafo
66
uacutenico) Isto tudo porque a instituiccedilatildeo que financia atividades eou empreendimentos que por
ventura causem algum dano tambeacutem se tornam corresponsaacuteveis pelo passivo ambiental
respondendo perante os oacutergatildeos competentes e os guardiatildees da lei
Por fim eacute pertinente mencionar que toda accedilatildeo ou omissatildeo prevista na legislaccedilatildeo
ambiental brasileira seja nas leis que criam diretrizes como nas que preveem sanccedilotildees visa o
combate o controle a reparaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo da degradaccedilatildeo aos bens naturais como um
todo O impasse eacute existir inuacutemeras normas distintas que dispotildeem sobre vaacuterios recursos
ambientais e que satildeo criadas em eacutepocas diferentes como por exemplo o Coacutedigo Florestal
(BRASIL 2012) o Coacutedigo de Caccedila (BRASIL 1967a) o Coacutedigo Mineraacuterio (BRASIL
1967b) o Coacutedigo de Pesca (BRASIL 2009) o Coacutedigo de Aacuteguas (BRASIL 1934a) a Poliacutetica
Nacional de Recursos Hiacutedricos (BRASIL 1997) o Programa Nacional de controle da
qualidade do ar (BRASIL 1989a) dentre outras O ideal eacute que houvesse a reuniatildeo de todos os
dispositivos em uma legislaccedilatildeo soacute como o fez a lei de crimes ambientais que versa sobre
infraccedilotildees cometidas aos bens naturais apontados pelas diversas normas citadas
Em niacutevel estadual o Cearaacute dispotildee de um arcabouccedilo legal que reflete um
pouco o que jaacute estaacute disposto nas leis federais no entanto cabe aqui citar algumas normas
pertinentes ao assunto estudado
A Resoluccedilatildeo nordm 092003 (CEARAacute 2003) do Conselho Estadual do Meio
Ambiente (COEMA) estabeleceu a compensaccedilatildeo ambiental como forma de prevenir eou
obrigar o poluidorusuaacuterio pagador ou degradador a indenizar os danos causados em
decorrecircncia da utilizaccedilatildeo de recursos naturais para fins econocircmicos Trata-se de medida
arrecadatoacuteria anterior ao processo de licenciamento ambiental e condicionada ao firmamento
de um Termo de Compromisso A supracitada norma definiu percentual de 05 a ser recolhido
com base no valor do empreendimento a ser implantado A destinaccedilatildeo dos valores recolhidos
seria via de regra a Unidades de Conservaccedilatildeo
A Lei Complementar nordm 482004 (CEARAacute 2004) criou o Fundo e o Conselho
Estadual Gestor do Meio Ambiente (FEMA) onde uma de suas finalidades eacute o ressarcimento
da coletividade por danos causados ao meio ambiente Reza o artigo 10 que qualquer cidadatildeo
pode propor projetos relativos agrave reconstituiccedilatildeo reparaccedilatildeo preservaccedilatildeo e prevenccedilatildeo do meio
ambiente A dita lei foi regulamentada pelo Decreto Estadual nordm 277192005 (CEARAacute 2005)
que por sua vez dispocircs accedilotildees programas planos e projetos para a melhoria e recuperaccedilatildeo da
qualidade ambiental no Estado do Cearaacute Agrave pertinecircncia da presente pesquisa cabe destacar
uma diretriz do FEMA prevista no inciso VIII do artigo 3ordm daquele Decreto
67
Artigo 3ordm
[]
VIII - Promover a proteccedilatildeo da biodiversidade e dos ecossistemas associados e aacutereas
ameaccediladas de degradaccedilatildeo atraveacutes da preservaccedilatildeo conservaccedilatildeo e administraccedilatildeo de
biomas representativos bem assim da recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas
possibilitando melhor controle de atividades potencialmente poluidoras nos termos
da legislaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2005 p 2)
Eacute essencial citar a Lei 1248895 (CEARAacute 1995) que dispotildee sobre a Poliacutetica
Florestal do Estado do Cearaacute Um de seus objetivos guarda relaccedilatildeo direta com este trabalho
qual seja promover a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas e em processos de degradaccedilatildeo
especialmente nas aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e reserva legal bem como proteger as
aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX do artigo 3ordm) Para tanto um dos instrumentos
previsto e deveras necessaacuterio para a consecuccedilatildeo de tais fins eacute a fiscalizaccedilatildeo a aplicaccedilatildeo de
penalidades accedilotildees disciplinares e compensatoacuterias das medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo dos
recursos naturais ou a correccedilatildeo da degradaccedilatildeo do meio ambiente (inciso XI do artigo 4ordm)
E por fim eacute cabiacutevel mencionar a Lei 141982008 (CEARAacute 2008) pois institui a
Poliacutetica Estadual de Combate e Prevenccedilatildeo agrave Desertificaccedilatildeo e tem por base a Convenccedilatildeo
Internacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo nos Paiacuteses afetados por Seca Grave eou
Desertificaccedilatildeo Como jaacute mencionado no Cearaacute existem trecircs nuacutecleos com aacutereas susceptiacuteveis agrave
desertificaccedilatildeo e nada mais apropriado que o Estado dispor de uma legislaccedilatildeo proacutepria sobre o
tema Diante disto destacam-se os seguintes dispositivos
Art 1ordm Institui a Poliacutetica Estadual de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Desertificaccedilatildeo a qual
tem por objetivos
[]
III - instituir mecanismos de proteccedilatildeo conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da flora fauna e
de solos degradados nas aacutereas de risco ou impactadas pela desertificaccedilatildeo
[]
Art 3ordm Cumpre ao Poder Puacuteblico
I - diagnosticar o avanccedilo do processo de degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo ambiental nas
aacutereas afetadas
II - definir um plano de contingecircncia para mitigaccedilatildeo dos efeitos da degradaccedilatildeo
ambiental
[]
XI - estimular o desenvolvimento de agroinduacutestrias baseadas em alimentos
ambientalmente e culturalmente adaptados ao meio ambiente
[]
XIV - estimular a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
e de Reserva Legal []
[]
Art 5ordm No tocante agrave agricultura irrigada o Poder Puacuteblico deveraacute
[]
II - diagnosticar as aacutereas cujos solos sejam susceptiacuteveis agrave salinizaccedilatildeo e acuacutemulo de
compostos de soacutedio e fomentar a recuperaccedilatildeo de solos afetados por salinizaccedilatildeo e
acuacutemulo de compostos de soacutedio
Art 6ordm No tocante agrave agricultura sequeiro o Poder Puacuteblico deveraacute
[]
68
II - incentivar o manejo sustentaacutevel dos recursos naturais apoiando o
desenvolvimento de sistemas agroflorestais e agrosilvopastoris diversificados e
integrados como forma de conciliar a recuperaccedilatildeo florestal e as atividades agriacutecolas
(CEARAacute 2008 p 1 - 3)
251 Lei ambiental de Irauccediluba
O municiacutepio de Irauccediluba criou sua proacutepria Poliacutetica Ambiental a partir da Lei
5652007 (IRAUCcedilUBA 2007) Nela estatildeo dispostos princiacutepios e instrumentos de accedilatildeo que
visam agrave qualidade ambiental em seus diferentes aspectos Felizmente a norma natildeo deixou de
fora as aacutereas de reserva legal pelo contraacuterio tratou do tema em uma seccedilatildeo especiacutefica
composta pelos artigos 57 e 58
Art 57 - A reserva legal eacute requisito essencial ao exerciacutecio legiacutetimo do direito de
propriedade na aacuterea rural e fundamental para a proteccedilatildeo do meio ambiente
ecologicamente equilibrado e da biodiversidade cumprindo funccedilotildees do interesse
coletivo e individual do proprietaacuterio
Art 58 - A reserva legal eacute a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) localizada no
interior de uma propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente
necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos
processos ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de
fauna e flora nativas sendo imutaacutevel sua localizaccedilatildeo apoacutes definida
sect1ordm - Fica proibido qualquer registro imobiliaacuterio relativo a propriedade rural sem
preacutevio registro da reserva legal sob pena de nulidade do ato
sect2ordm- A reserva legal deveraacute ser averbada agrave margem da matriacutecula do imoacutevel no
registro competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de
transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou divisatildeo da aacuterea
sect3ordm - As aacutereas de reserva legal e preservaccedilatildeo permanente poderatildeo ser computadas
conjuntamente desde que somadas passem de 50 (cinquumlenta por cento) da
extensatildeo total da propriedade e sejam de extensatildeo contiacutenua
sect4ordm - No imoacutevel rural que natildeo houver vegetaccedilatildeo nativa suficiente para compor o
miacutenimo da reserva legal o proprietaacuterio ou possuidor deveraacute recuperar e recompor
com a vegetaccedilatildeo nativa ateacute atingir a porcentagem determinada
sect5ordm - A recomposiccedilatildeo mencionada no paraacutegrafo anterior deveraacute ser realizada na
proporccedilatildeo de no miacutenimo 110 (um deacutecimo) da aacuterea da propriedade ou posse a cada
ano dando prioridade agraves aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
sect6ordm - A Reserva Legal deve ser preferencialmente contiacutegua a das propriedades
vizinhas agraves unidades de conservaccedilatildeo ou aacutereas florestadas formando um corredor de
vegetaccedilatildeo
sect7ordm - A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser
utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel (IRAUCcedilUBA 2007 p 26)
No artigo 57 haacute o reconhecimento do direito de propriedade agrave luz da funccedilatildeo
social dada pela reserva legal e a devida importacircncia agrave proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental Jaacute o
58 prevecirc os 20 da aacuterea a tiacutetulo de reserva reproduzindo o que a lei federal ou seja o
Coacutedigo Florestal dispotildee No entanto o sect1ordm do mesmo dispositivo acaba restringindo ainda
mais o que a norma geral prescreve isto eacute proiacutebe qualquer registro junto ao cartoacuterio de
imoacuteveis sem a devida averbaccedilatildeo na matriacutecula da propriedade muito embora isso jaacute possa ser
diferente pela instituiccedilatildeo do Cadastro Ambiental Rural Dos paraacutegrafos 2ordm ao 5ordm houve a
69
revogaccedilatildeo expressa pela Lei 126512012 (BRASIL 2012) ou novo Coacutedigo Florestal O 6ordm e o
7ordm continuaram vigentes em sua essecircncia sofrendo apenas pequenas alteraccedilotildees jaacute que devem
estar em consonacircncia com a lei federal natildeo podendo ser menos restritivos
Por fim aleacutem do que fora comentado a lei ambiental de Irauccediluba traz muito em
sua natureza procedimentos e mandamentos semelhantes agrave de uma lei de uso e ocupaccedilatildeo do
solo Prevecirc portanto paracircmetros sobre publicidade emissotildees sonoras construccedilatildeo civil
poluiccedilatildeo obras dentre outros
70
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS
31 Reserva Legal em Irauccediluba
Um dos objetivos da presente pesquisa eacute o levantamento do nuacutemero de imoacuteveis
rurais no municiacutepio de Irauccediluba para em seguida verificar o grau de obediecircncia ao instituto
da reserva legal nessas propriedades Para tanto buscou-se os respectivos dados no cartoacuterio de
registro de imoacuteveis do municiacutepio no Instituto de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e
no Instituto de Desenvolvimento Agraacuterio do Cearaacute (IDACE)
No cartoacuterio de imoacuteveis onde o acesso eacute possiacutevel pela liberdade que qualquer
interessado tem para solicitar informaccedilotildees registrais achou-se o nuacutemero de 215 imoacuteveis
registrados Jaacute no INCRA o total de propriedades ali cadastradas eacute de 415 e no IDACE 713
imoacuteveis devidamente medidos e georreferenciados
Primeiramente cabe discorrer um pouco sobre esse desencontro na quantidade
dos imoacuteveis O fato de o cartoacuterio municipal possuir 215 imoacuteveis rurais registrados natildeo
significa que soacute tenha esse nuacutemero de propriedades laacute pois existem inuacutemeras terras habitadas
e utilizadas sem qualquer registro formal e neste caso o que os ldquodonosrdquo desses lugares
deteacutem chama-se posse o que os torna posseiros e natildeo proprietaacuterios O INCRA ter em seu
banco de dados o cadastro de 415 propriedades rurais tambeacutem natildeo quer dizer que soacute haja as
415 uma vez que a procura por este oacutergatildeo eacute voluntaacuteria quando se trata de cadastramento do
imoacutevel Soacute seraacute diferente se surgir a necessidade de desmembrar arrendar hipotecar vender
ou prometer em venda o bem rural Ou ainda em caso de partilha17
Esses satildeo os casos que
impelem o proprietaacuterio a cadastrar seu imoacutevel conforme definidos pela lei 494766
(BRASIL 1966) Do contraacuterio natildeo eacute obrigatoacuterio motivo pelo qual se explica nuacutemeros tatildeo
distintos uns dos outros Justificando um pouco esta discrepacircncia o II Plano Nacional de
Reforma Agraacuteria aponta que os dados do Cadastro do INCRA indicam que ldquosomente 5086
da aacuterea total do territoacuterio brasileiro estaacute na condiccedilatildeo de cadastradardquo (II PNRA 2003 p 22)
E por fim o nuacutemero apontado pelo IDACE acredita-se ser o mais proacuteximo da
realidade uma vez que pelo Programa de Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria com iniacutecio em 2007 as
propriedades rurais no municiacutepio de Irauccediluba foram no ano de 2012 medidas e
georreferenciadas uma a uma para dar fim aos problemas decorrentes da ausecircncia de tiacutetulos
imobiliaacuterios e o tamanho das aacutereas Eacute o que segue estabelecido pelo II PNRA (2003)
17
Partilha eacute a via pela qual se daacute a divisatildeo dos bens de uma heranccedila
A importacircncia de um recadastramento de todos os imoacuteveis rurais e da revisatildeo das
normas que regem o processo de registro das propriedades eacute ainda maior quando se
observa que as possibilidades de obtenccedilatildeo de terras para Reforma Agraacuteria estatildeo
condicionadas por dois indicadores que dependem das informaccedilotildees contidas no
Cadastro do INCRA o moacutedulo fiscal e os iacutendices de produtividade [] Por meio de
uma integraccedilatildeo do INCRA com os oacutergatildeos estaduais seraacute executado um amplo
processo de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria visando regularizar as pequenas posses de boa feacute
e a arrecadaccedilatildeo e incorporaccedilatildeo de terras devolutas ao patrimocircnio puacuteblico seguida de
sua destinaccedilatildeo para o assentamento de trabalhadores rurais e tambeacutem promover
accedilotildees anulatoacuterias sobre ocupaccedilotildees de terras com registros irregulares (II PNRA
2003 p 23)
Contudo o nuacutemero desencontrado de imoacuteveis natildeo eacute soacute o que assusta ou angustia
mas sim a quantidade iacutenfima de reserva legal existente naquele municiacutepio que jaacute sofre com
um processo criacutetico de degradaccedilatildeo
Apoacutes verificar junto ao cartoacuterio a quantidade de imoacuteveis rurais registrados
averiguou-se que somente trecircs dos 215 estatildeo com suas respectivas aacutereas de reserva legal
devidamente averbadas junto ao registro do bem Essa aguda diferenccedila tambeacutem natildeo muda
quando se analisa as informaccedilotildees presentes nos cadastros feitos junto ao INCRA Muitos satildeo
os cadastramentos onde tem descritas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente mas de reserva legal
somente cinco das 415 propriedades cadastradas No IDACE natildeo foi possiacutevel fazer esse
levantamento porque o objetivo deste oacutergatildeo em adentrar as aacutereas era medi-las em sua
totalidade sem discriminar a presenccedila de qualquer constataccedilatildeo em seu interior
Pela leitura da tabela 5 eacute possiacutevel concluir duas realidades A primeira eacute a
existecircncia de propriedade cujo registro apresenta averbaccedilatildeo da reserva legal mas sem
cadastro junto ao INCRA como eacute o caso do imoacutevel Poccedilo da PedraAacuteguas Mortas No
segundo caso ocorre o contraacuterio isto eacute natildeo haacute averbaccedilatildeo da reserva legal no cartoacuterio de
registro mas existe o cadastro da propriedade perante o INCRA constando a reserva legal
devidamente apontada conforme relatoacuterios cedidos por aquele oacutergatildeo
72
Tabela 5 - Levantamento de Imoacuteveis com reserva legal (Cartoacuterio de registro de imoacuteveisINCRA)
311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental - Projeto de Assentamento Agraacuterio em
foco
Todo projeto de assentamento de reforma agraacuteria soacute deve ser implantado apoacutes o
licenciamento ambiental junto ao oacutergatildeo competente que pela relevacircncia social do
empreendimento possui um procedimento diferenciado Eacute um processo trifaacutesico ou seja
consiste na licenccedila preacutevia (LP) licenccedila de instalaccedilatildeo (LI) e licenccedila de operaccedilatildeo (LO) mas no
caso dos projetos de assentamento satildeo soacute duas a LP e a LIO que nada mais eacute que a licenccedila de
18
Trata-se de um imoacutevel que foi destinado a Projeto de Assentamento no acircmbito estadual No entanto o registro
no cartoacuterio aponta que a propriedade possui Reserva Legal averbada mas no cadastro do INCRA natildeo haacute
qualquer menccedilatildeo a essa aacuterea 19
PA ndash Projeto de Assentamento da Reforma Agraacuteria Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria conjunto
de accedilotildees planejadas e desenvolvidas em aacuterea destinada agrave reforma agraacuteria para um puacuteblico beneficiaacuterio
orientadas para utilizaccedilatildeo racional dos espaccedilos fiacutesicos e dos recursos naturais existentes objetivando a
implementaccedilatildeo dos sistemas de vivecircncia e produccedilatildeo sustentaacuteveis na perspectiva do cumprimento da funccedilatildeo
social da terra e da promoccedilatildeo econocircmica social e cultural do trabalhador rural e de seus familiares (BRASIL
2006b) 20
O imoacutevel Poccedilo da Pedra e Aacuteguas Mortas eacute um soacute Embora natildeo conste no registro do cartoacuterio a aacuterea total da
propriedade e a destinada agrave reserva legal o Termo de Responsabilidade de Averbaccedilatildeo da Aacuterea de Reserva Legal
cedido pelo INCRA descreve as aacutereas apontadas na tabela 2
RESERVA LEGAL DOCUMENTALMENTE EXISTENTE
Imoacutevel Fonte dos Dados Aacuterea do Imoacutevel
(ha)
Aacuterea (ha) Domiacutenio Data da
Averbaccedilatildeo (AV)
Cadastro (C)
Miramar Cartoacuterio de Imoacuteveis
INCRA
1144 2305 Particular AV 06042005
C 05092005
Saco do
Vento18
Cartoacuterio de Imoacuteveis
INCRA
33060 661 PA19
estadual
AV 03102012
C 27122011
Poccedilo da Pedra
(Aacuteguas
Mortas)20
Cartoacuterio de Imoacuteveis 239778 47955 INCRA AV 02012003
Boa Vista INCRA 348 6960 Particular C 30121992
Escondido e
Vale do
Agreste
INCRA 15775 3155 Particular C 30121992
Lagoa Cercada INCRA 55180 50 Particular C13101992
73
instalaccedilatildeo e de operaccedilatildeo em um mesmo pedido conforme prevecirc a Resoluccedilatildeo CONAMA
3872006 (BRASIL 2006b)
Art 3ordm O oacutergatildeo ambiental competente concederaacute a Licenccedila Preacutevia - LP e a Licenccedila
de
Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo - LIO para os Projetos de Assentamentos de Reforma Agraacuteria
[]
sect 2o A LP constitui-se documento obrigatoacuterio e que antecede o ato de criaccedilatildeo de um
Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria tendo prazo para a sua expediccedilatildeo
apoacutes seu requerimento de ateacute noventa dias
sect 3o A LIO deveraacute ser requerida durante a validade da LP e cumpridos os requisitos
da mesma [] (BRASIL 2006 p2)
Por se tratar de um empreendimento rural e ambientalmente licenciaacutevel eacute muito
mais faacutecil e oportuno acontecer o cumprimento da reserva legal jaacute que o oacutergatildeo competente
foi provocado e por sua vez deve exigir a observacircncia daquele instituto Desta forma natildeo se
pode admitir que um licenciamento em zona rural seja concedido sem o devido respeito agrave aacuterea
de reserva legal
Especificamente os projetos de assentamento federais isto eacute os realizados pelo
INCRA devem obedecer agrave ordem que segue Ao dar iniacutecio ao processo de desapropriaccedilatildeo de
alguma terra o INCRA jaacute deve solicitar a Licenccedila Preacutevia devendo constar naquele processo o
protocolo do pedido A criaccedilatildeo do assentamento soacute eacute possiacutevel mediante uma portaria
resoluccedilatildeo ou decreto desde que jaacute possua a Licenccedila Preacutevia expedida Criado o assentamento
a Licenccedila de Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo deve ser solicitada de imediato ateacute porque se o contraacuterio
ocorrer os assentados ficam impossibilitados de receber recursos do governo como o creacutedito
de apoio inicial o creacutedito fomento o creacutedito para a construccedilatildeo de casa dentre outros
Essa sequencia e esses mandamentos estatildeo previstos no artigo 3ordm da Resoluccedilatildeo
CONAMA 3872006 (BRASIL 2006b) citada acima e no Acoacuterdatildeo nordm 2633-5107 (BRASIL
2007) do Tribunal de Contas da Uniatildeo conforme prevecirc o item 3 do sumaacuterio daquele
julgamento (3) A Licenccedila Preacutevia constitui-se em documento obrigatoacuterio e que antecede o ato
de criaccedilatildeo de um projeto de assentamento de reforma agraacuteria devendo ser expedida
anteriormente agrave obtenccedilatildeo da terra Trata-se de uma decisatildeo que teve origem em uma auditoria
realizada por este oacutergatildeo em assentamentos no Amazonas Paraacute e Acre quanto aos estudos de
viabilidade ambiental reserva legal e licenciamento ambiental em projetos criados pelo
INCRA Essa auditoria objetivou portanto avaliar o impacto nas aacutereas de reserva legal dos
projetos de assentamento bem como o cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental aplicaacutevel a esses
projetos conforme item 2 do Relatoacuterio do referido Acoacuterdatildeo Para tanto buscou-se saber se os
limites da reserva legal estavam sendo devidamente demarcados e preservados nos projetos de
74
assentamento rural e se o INCRA estava promovendo a aplicaccedilatildeo de teacutecnicas viaacuteveis para a
exploraccedilatildeo sustentaacutevel da Reserva Legal
Constatou-se pela amostragem realizada e demonstrada na Conclusatildeo e no Voto
do Acoacuterdatildeo 26332007 (BRASIL 2007) que
Conclusatildeo
[]
Item 65 o INCRA tem a necessidade premente de adotar medidas com vistas a
normalizar os procedimentos de criaccedilatildeo de projetos de assentamento desde o iniacutecio
do processo no que se refere ao cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental
Item 66 Eacute notoacuterio que a morosidade do oacutergatildeo no processo de regularizaccedilatildeo das
exigecircncias determinadas pela legislaccedilatildeo ambiental contribuiraacute para degradaccedilatildeo do
meio ambiente patrimocircnio sob proteccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal Brasileira Ao
disponibilizar terra aos assentados sem indicar a forma de uso do terreno por meio
do Plano de Uso e sem delimitar as aacutereas de preservaccedilatildeo mediante a demarcaccedilatildeo
das reservas legais o INCRA estaraacute dando tutela a esses usuaacuterios para disporem dos
lotes da forma que melhor lhes convier sem importar se essa exploraccedilatildeo implicaraacute
em degradaccedilatildeo ambiental (BRASIL 2007 p 9)
[]
Voto
[] Item 3 ndash subitem 12 A equipe de auditoria constatou nos assentamentos uma
grande degradaccedilatildeo das aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APP) e da reserva legal (RL)
Ainda verificou por meio de questionaacuterios aplicados aos trabalhadores assentados
que o INCRA natildeo promove accedilotildees efetivas relacionadas agrave orientaccedilatildeo e
conscientizaccedilatildeo ambiental dessas comunidades que natildeo sabem sequer o que
significa APP e RL
[]
Item 5 Outrossim eacute importante frisar que o INCRA eacute co-responsaacutevel pelas
irregularidades ambientais constatadas em seus projetos de assentamento []
(BRASIL 2007 p 11)
E por fim o dito Acoacuterdatildeo determina em niacutevel nacional embora a motivaccedilatildeo da
decisatildeo tenha por base a auditoria realizada somente em trecircs estados que
O INCRA se abstenha de criar projetos de assentamento sem a observacircncia ao
disposto no art 2ordm inciso III cc 3ordm sect 2ordm da Resoluccedilatildeo Conama 3872006 que
condiciona a criaccedilatildeo de projetos de assentamentos de reforma agraacuteria agrave existecircncia da
licenccedila preacutevia e ao disposto no art 2ordm inciso IV da mesma Resoluccedilatildeo que exige a
licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo como condiccedilatildeo para a implantaccedilatildeo e operaccedilatildeo
destes projetos Que em decorrecircncia do disposto no art 2ordm inciso VII da
ResoluccedilatildeoConama 3872006 atente a necessidade de que a reserva legal esteja
perfeitamente delimitada e caracterizada por ocasiatildeo do Plano de
Desenvolvimento do Assentamento e que o referido Plano seja elaborado em prazo
razoaacutevel (BRASIL 2007 p 16)
Para enriquecer a pesquisa nesse sentido procurou-se junto ao oacutergatildeo ambiental
estadual a SEMACE ndash Superintendecircncia Estadual do Meio Ambiente e ao proacuteprio INCRA as
licenccedilas emitidas e ainda em tramitaccedilatildeo referentes aos projetos de assentamento federais
Encontrou-se assim 3 processos de licenciamento na SEMACE numa busca compreendida
75
entre 01012010 a 06052013 sendo 2 de licenccedilas preacutevias e 1 de licenccedila de instalaccedilatildeo e
operaccedilatildeo No INCRA localizou-se 5 processos como se pode observar pela tabela 6 sendo 2
de licenccedilas preacutevias e 3 de licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo num periacuteodo de 09122008 a
08112010
Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais
Fonte SEMACE e INCRA
Conclui-se portanto a existecircncia de trecircs processos de LIO jaacute emitidas mas sem a
averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio de duas das trecircs propriedades conforme se pode
confirmar pela pesquisa feita no registro de imoacuteveis de Irauccediluba A exceccedilatildeo eacute a fazenda
Aacuteguas MortasPoccedilo da Pedra que possui averbaccedilatildeo da reserva legal desde 02012003
Aleacutem disto verificou-se tambeacutem todos os empreendimentos e atividades
localizadas no municiacutepio de Irauccediluba que possuem solicitaccedilatildeo ou recebimento de licenccedila
ambiental tanto em zona urbana como rural No total satildeo 15 tramitando e 40 emitidas
ressaltando que licenciamentos em zona rural o cumprimento da reserva legal deve ser
exigido
Quanto aos assentamentos agraacuterios no municiacutepio de Irauccediluba a tabela 7 aponta a
pesquisa realizada junto ao INCRA e ao IDACE onde se constatou que o primeiro oacutergatildeo
implantou 8 projetos e o segundo 6 Em todos eles existe a demarcaccedilatildeo da aacuterea de reserva
legal nas plantas georreferenciadas cedidas pelas duas instituiccedilotildees acima citadas
PROCESSO TIPO PA FONTE DO
DADO
PROTOCOLO EXPEDICcedilAtildeO VALIDADE STATUS
11386605-4 LP Arraia INCRASEMA
CE
08112010 01072011 Natildeo
informada
Emitida
11118313-8 LP Alegre e
anexos
INCRASEMA
CE
10112010 29032011 Natildeo
informada
Tramitando
09557603-7 LIO Aacuteguas
Mortas
Poccedilo da
Pedra
INCRASEMA
CE
30102009 24032010 24032013 Emitida
08653283-9 LIO Satildeo
Marinho
Rodeador
INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida
08653281-2 LIO Olho
d‟aacutegua da
esperanccedila
INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida
76
Tabela 7 - Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba
PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO - IRAUCcedilUBA
Nome do
Assentamento
Instituiccedilatildeo
Responsaacutevel
Aacuterea do
Imoacutevel (ha)
Aacuterea de Reserva
Legal (ha)
Data de criaccedilatildeo Nordm de Famiacutelias
Assentadas
Saco do Vento IDACE 33060 661 Em andamento 10
Aroeira IDACE 50508 10101 Em andamento 10
Boqueiratildeo IDACE 38474 7694 Em andamento -
Mudubim IDACE 6512 1302 Em andamento 5
Consulta IDACE 39593 7918 23072001 13
Cachoeira IDACE 14929 2985 05102006 10
Saco Verde INCRA 6464 129280 2691997 100
Cajazeiras II INCRA 96487 19297 2691997 30
Aacuteguas Mortas
Poccedilo da Pedra
INCRA 239778 47955 22121997 52
RiachueloAlto
Alegre
INCRA 3378 67560 09112005 16
Olho drsquoAacutegua da
Esperanccedila
INCRA 1940 388 06122007 23
Satildeo Marinho
Rodeador
INCRA 50757 10151 04122006 10
Arraia INCRA 156797 31359 13102011 34
Almas INCRA 1297 25940 17111998 22
Eacute importante salientar que em 2005 e em 2006 o INCRA baixou 3 normas
referentes a criteacuterios e procedimentos para a implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e
Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria A
primeira eacute a NE 432005 (BRASIL 2005a) a segunda NE 442005 (BRASIL 2005b) que
estabeleceu o valor unitaacuterio por famiacutelia para a implantaccedilatildeo destes projetos e a terceira NE
512006 (BRASIL 2006a) aprovou o manual para a elaboraccedilatildeo dos projetos de recuperaccedilatildeo
A NE 432005 (BRASIL 2005a) considera a premente necessidade de
recuperaccedilatildeo natildeo soacute de Reserva Legal mas de aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente em grande
parte dos Projetos de Assentamento em todo o territoacuterio nacional mas infelizmente soacute
abrange os que satildeo implantados pelo Governo Federal (Art 2ordm inciso I) ficando de fora os
que satildeo de competecircncia dos Estados O criteacuterio para implantaccedilatildeo desses projetos eacute a aacuterea ser
reconhecida com problemas ambientais principalmente em termos de degradaccedilatildeo (Art 2ordm
inciso II) Para ser possiacutevel financeiramente a execuccedilatildeo de um projeto deste cuja norma
regulamentadora ainda se encontra vigente o INCRA disponibiliza ateacute R$ 100000 por
famiacutelia (Art 1ordm NE 442005 (BRASIL 2005b)) no entanto caso seja tecnicamente
comprovado que a recuperaccedilatildeo de aacutereas de reserva legal preservaccedilatildeo permanente e de solo
exija um maior investimento o valor poderaacute ser superior ao estabelecido Neste caso a
importacircncia repassada seraacute definida em funccedilatildeo do custo calculado para a recuperaccedilatildeo do dano
ambiental (Art 1ordm Paraacutegrafo Uacutenico)
77
O manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e
conservaccedilatildeo de recursos naturais em assentamentos da reforma agraacuteria aprovado pela NE
512006 (BRASIL 2006a) deixa claro que seus objetivos natildeo satildeo soacute reabilitar e resguardar a
aacuterea ambiental do assentamento Haacute mais e maiores propoacutesitos nisto como por exemplo
cumprir as exigecircncias estabelecidas pelo oacutergatildeo de meio ambiente estadual durante o processo
de licenciamento21
bem como a mobilizaccedilatildeo da comunidade em torno de atividades visando agrave
recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo dos recursos naturais por meio de programas de educaccedilatildeo
ambiental fiscalizaccedilatildeo e manutenccedilatildeo envolvendo os assentados Para que isto ocorra eacute
extremamente importante a participaccedilatildeo destes na elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do projeto22
Por fim os Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais seratildeo
destinados agraves seguintes praacuteticas23
1 Cercamento de aacutereas de Reserva Legal e aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
visando a regeneraccedilatildeo eou a proteccedilatildeo das aacutereas
2 Construccedilatildeo de viveiros para produccedilatildeo de mudas que seratildeo utilizadas no processo
de recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas
3 Demarcaccedilatildeo topograacutefica da Reserva Legal
4 []
5 Reflorestamento em aacutereas de Reserva Legal com espeacutecies nativas que
possibilitem o manejo florestal sustentaacutevel madeireiro ou natildeo madeireiro baseado
em princiacutepios e em criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos definidos e devidamente
aprovados pelo oacutergatildeo ambiental competente
6 Plantio de aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais composto por espeacutecies
exoacuteticas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas para
compensaccedilatildeo ou manutenccedilatildeo da aacuterea de reserva legal a criteacuterio do oacutergatildeo ambiental
competente
7 Atividades alternativas de produccedilatildeo (criaccedilatildeo de abelhas artesanato entre outras)
associadas agrave recuperaccedilatildeo ambiental e como instrumento de valorizaccedilatildeo das aacutereas a
serem conservadas ou recuperadas e de combate agraves praacuteticas indevidas de uso do
fogo
8 [] (BRASIL 2006ordf p 1112)
32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo
321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba
O municiacutepio de Irauccediluba possui uma aacuterea de 1461253 Km2 o que corresponde a
098 do territoacuterio estadual e estaacute situado no sertatildeo Centro-Norte conforme figura 12
inserido na microrregiatildeo geograacutefica de Sobral Dista cerca de 150 Km da capital Fortaleza e
21
p 7 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos naturais 22
p 11e 13 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos
naturais 23
p 11e 12 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos
naturais
78
localiza-se entre as coordenadas geograacuteficas Latitude 3˚44‟46rdquo S (Sul) e Longitude 39˚47‟00rdquo
WGr (oeste) Faz fronteira ao norte com os municiacutepios de Miraiacutema e Itapipoca ao sul com
Santa Quiteacuteria e Canindeacute a leste com Itapajeacute e Tejuccediluoca e a oeste com Sobral e possui trecircs
distritos Missi Juaacute e Boa Vista segundo ilustra a figura 13
Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba
Fonte Lustosa (2004) Fonte Lustosa (2004)
Segundo o censo de 2010 do IBGE a populaccedilatildeo do municiacutepio era de 22324
pessoas sendo curiosamente a maioria homens (5083) Jaacute sua densidade demograacutefica
correspondia a 1539 habKm2 A ocupaccedilatildeo municipal predomina na zona urbana
correspondendo a 6425 dos indiviacuteduos Em 2012 a populaccedilatildeo aumentou para 22742
pessoas
3211 Das propriedades estudadas
Por Irauccediluba possuir aproximadamente 713 imoacuteveis rurais tomando por base a
mediccedilatildeo feita pelo IDACE em 2012 natildeo seria possiacutevel o estudo de todas elas Partiu-se
entatildeo para uma amostragem com base nos imoacuteveis que possuiacuteam a reserva legal seja por
registro em cartoacuterio eou porque a aacuterea eacute puacuteblica e foi destinada a projetos de assentamentos
agraacuterios (PA‟s) estaduais e federais que por sua vez deveriam respeitar tal obrigatoriedade
79
Pela tabela 8 vecirc-se que dos 14 assentamentos em Irauccediluba 6 satildeo estaduais e 8
federais No entanto os criteacuterios utilizados para examinaacute-los foi o tempo de criaccedilatildeo de cada
um e a existecircncia de reserva legal delimitada na planta da propriedade Aleacutem disto foi
escolhido um imoacutevel particular por apresentar a averbaccedilatildeo da reserva legal como demonstra a
tabela 9
Tabela 8 - Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de anaacutelise
PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO
Nome do
Assentamento
Instituiccedilatildeo
Responsaacutevel Data de Criaccedilatildeo Status para anaacutelise
Saco do Vento IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Aroeira IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Boqueiratildeo IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Mudubim IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Consulta IDACE 23072001 Planta natildeo disponibilizada
Cachoeira IDACE 05102006 Planta natildeo disponibilizada
Saco Verde INCRA 2691997 Incluiacutedo
Cajazeiras II INCRA 2691997 Incluiacutedo
Aacuteguas Mortas
Poccedilo da Pedra INCRA 22121997 Incluiacutedo
RiachueloAlto
Alegre INCRA 09112005 Incluiacutedo
Almas INCRA 17111998 Incluiacutedo
Olho d‟Aacutegua da
Esperanccedila INCRA 06122007
Muito recente ndash Fora de abrangecircncia
das imagens de sateacutelite
Satildeo Marinho
Rodeador INCRA 04122006
Reserva legal natildeo delimitada na planta
do imoacutevel
Arraia INCRA 13102011 Muito recente ndash Fora de abrangecircncia
das imagens de sateacutelite
Tabela 9 - Dados da propriedade particular estudada PROPRIEDADE PARTICULAR ANALISADA
Nome Proprietaacuterio Data da averbaccedilatildeo
da RL Status para anaacutelise
Miramar MIRASA ndash Miramar
Agropecuaacuteria SA 06042005 Incluiacutedo
Diante dos paracircmetros de seleccedilatildeo apontados acima restaram 5 assentamentos e 1
aacuterea particular totalizando 6 aacutereas para estudo Assim sendo as propriedades analisadas
foram RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas Almas Saco Verde Cazajeiras II e Miramar
sendo esta a de domiacutenio privado Com exceccedilatildeo desta uacuteltima as demais satildeo assentamentos
agraacuterios federais ficando de fora os estaduais por serem em sua maioria recentes isto eacute a
partir de 2010 e por isso natildeo abrangidos pelas imagens de sateacutelite utilizadas (anos 1993 e
2007) As duas estaduais mais antigas Consulta e Cachoeira natildeo tiveram suas plantas
80
disponibilizadas pelo oacutergatildeo competente e as federais que ficaram excluiacutedas tambeacutem eram
muito recentes aleacutem do que natildeo possuiacuteam reserva legal delimitada
A figura 14 a seguir mostra a localizaccedilatildeo das propriedades estudadas e suas
respectivas reservas legais delimitadas que podem ser lidas pela legenda de cores ao lado
Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo
A tabela 10 traz as aacutereas de cada imoacutevel e sua reserva legal onde eacute possiacutevel
constatar um nuacutemero pequeno de propriedades que apresentam o tal instituto criado e exigido
por lei Aleacutem disso a soma de suas aacutereas tambeacutem eacute pouco expressiva ao comparar com a do
municiacutepio No total satildeo 1628865 hectares sendo 328832 hectares pertinentes agrave reserva
legal
Tabela 10 - Propriedades estudadas
PROPRIEDADES ESTUDADAS
IMOacuteVEL DOMIacuteNIO AacuteREA DO IMOVEL (HA) AacuteREA DA RESERVA LEGAL (HA)
Saco Verde INCRA 6464 129280
Cajazeiras II INCRA 96487 19297
Aacuteguas Mortas Poccedilo da Pedra INCRA 239778 47955
Riachuelo Alto Alegre INCRA 3378 67560
Olho drsquoAacutegua da Esperanccedila INCRA 1940 388
81
Miramar PARTICULAR 1144 25940
3212 Aspectos histoacutericos da ocupaccedilatildeo do municiacutepio
Haacute quem diga que Irauccediluba significa tanto amizade como grande abelha amarela
A primeira acepccedilatildeo se deve ao povo hospitaleiro de bons sentimentos e amigos da paz Jaacute a
segunda faz referecircncia a um vocaacutebulo indiacutegena cuja expressatildeo representa a junccedilatildeo de trecircs
palavras ira que quer dizer mel ou abelha ussu grande e yuba amarelo (FOLHES e
VIANA 2001)
Segundo o IBGE o surgimento de Irauccediluba se deve a um povoado denominado
Cacimba do Meio que despontou no iniacutecio do seacuteculo XIX O nome do municiacutepio como
atualmente eacute conhecido soacute foi alterado em 1899 pelo desembargador Aacutelvaro de Alencar
Irauccediluba foi distrito de Itapajeacute de 1905 ateacute 1957 quando foi elevada agrave condiccedilatildeo de municiacutepio
Quanto a sua ocupaccedilatildeo Arauacutejo Filho e Silva (2013) remontam a memoacuteria dos
mais antigos que registra o fenocircmeno da transumacircncia na regiatildeo jaacute no seacuteculo XIX Aleacutem
disto os autores ainda mencionam que
O primeiro relato da presenccedila do homem branco na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba
refere-se agrave passagem no ano de 1606-1607 dos jesuiacutetas Francisco Pinto e Luiacutes
Figueira Na eacutepoca a regiatildeo era habitada por iacutendios das etnias Tupi e Tapuia
citando-se os Anaceacute Apuiareacute e Kariri (GIRAtildeO1967) Consta entatildeo que os
indiacutegenas viviam da caccedila e que na eacutepoca seca ateavam fogo na erva para afugentar
as cobras e facilitar a caccedila (ARAUacuteJO e SILVA 2013 p 4)
E soacute para constar o potencial do municiacutepio acerca da boa qualidade das pastagens
de forma a compensar a praacutetica da transumacircncia em tempos antigos vale referenciar um
texto de Dias (1998) que Folhes e Viana (2001) fazem menccedilatildeo
ldquo() no espaccedilo onde Irauccediluba estaacute inserida atualmente visto como um ambiente
inoacutespito em processo de desertificaccedilatildeo no seacuteculo XVII ao se transitar pela flora
primitiva na eacutepoca das chuvas era difiacutecil saber se era noite ou dia face ao
adensamento da vegetaccedilatildeordquo Esse adensamento foi registrado pelos jesuiacutetas
Francisco Pinto e Luiacutes Figueira em 1607 quando partiram de Pernambuco numa
missatildeo de catequese em direccedilatildeo ao Maranhatildeo (DIAS 1998 p 62 apud FOLHES e
VIANA 2001 p 9)
322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas
Arauacutejo Filho e Silva (2013) fazem um apanhado sucinto e ao mesmo tempo geral
de duas atividades econocircmicas desenvolvidas no municiacutepio de Irauccediluba
82
Historicamente a Regiatildeo tem na pecuaacuteria a mais importante atividade dentro de um
sistema de transumacircncia servindo de estaccedilatildeo na eacutepoca das chuvas para os rebanhos
criados na regiatildeo litoracircnea Isto porque apresenta extensas aacutereas recobertas por
planossolos sob uma caatinga do tipo savana com cobertura herbaacutecea de excelente
potencial forrageiro Considerando a ocupaccedilatildeo da aacuterea municipal 124 satildeo usados
para a produccedilatildeo agriacutecola a pecuaacuteria ocupa 671 e os restantes 205 satildeo
recobertos de matas Confrontando os dados da distribuiccedilatildeo dos solos e de sua
ocupaccedilatildeo vecirc-se que a pecuaacuteria eacute praticada em toda a extensatildeo dos planossolos e dos
luvissolos a agricultura ocupa pequena parcela do luvissolo e dos solos litoacutelicos e a
extraccedilatildeo de madeira parte dos litoacutelicos e dos luvissolos (IBGE 2010) (ARAUacuteJO
FILHO e SILVA 2013 p 1)
Para os autores a pecuaacuteria em sistemas de produccedilatildeo de regiotildees semiaacuteridas
constitui uma atividade tampatildeo dos efeitos da seca facilita a dispersatildeo dos riscos de perdas
tem boa liquidez econocircmica e eacute um fator muito importante de fixaccedilatildeo do homem agrave terra
Em se tratando de nuacutemeros o PAE (CEARAacute 2010b) apresentou em seus
levantamentos percentuais a situaccedilatildeo de alguns aspectos socioeconocircmicos que ora se julga
interessantes expor neste trabalho Por exemplo o analfabetismo estaacute decrescendo eacute o que a
taxa de escolaridade no ensino fundamental de 932 em 2007 demonstra mas altas taxas
de repetecircncia evasatildeo escolar qualificaccedilatildeo dos professores baixo aproveitamento dos alunos
e divergecircncia entre a faixa etaacuteria e a seacuterie cursada tambeacutem satildeo problemas que afetam a
educaccedilatildeo no municiacutepio Folhes e Viana (2001) Quanto ao saneamento baacutesico natildeo existia rede
de esgotamento no municiacutepio nem aacutegua tratada para a maioria da populaccedilatildeo conforme
pesquisa realizada em 2007 contudo em 2010 a CAGECE24
informou que havia 6173
ligaccedilotildees entre reais e ativas para o abastecimento de aacutegua enquanto que a cobertura de
esgoto continuava sem nenhuma ligaccedilatildeo mas curiosamente apresentava uma taxa de
cobertura de 1937
O PAE (CEARAacute 2010) diz que em Irauccediluba o salaacuterio meacutedio mensal da
populaccedilatildeo correspondia a um salaacuterio miacutenimo e meio mas o IBGE (2010) traz outro nuacutemero
Em 2010 quando o salaacuterio miacutenimo era de R$ 51000 a renda domiciliar per capita entre frac14 a
mais de 3 correspondia a 5158 trabalhadores sendo que a maioria deles recebia por mecircs R$
12750 ou menos Agregada a essa realidade econocircmica existe a populaccedilatildeo extremamente
pobre com renda domiciliar per capita de ateacute R$ 7000 Nesse patamar concentram-se 8008
pessoas
Eacute nesse contexto que estatildeo cerca de 13500 pessoas classificadas como
economicamente ativas no municiacutepio Infelizmente o nuacutemero de irauccedilubenses inseridos na
condiccedilatildeo de pobreza eacute bem expressivo correspondendo a 3587 da populaccedilatildeo em 2010
24
In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p14)
83
Eacute faacutecil perceber que se trata de uma cidade pouco desenvolvida pobre sem muita
educaccedilatildeo e condiccedilotildees baacutesicas de sauacutede Isso reflete tanto na economia como na qualidade de
vida sem falar no cenaacuterio ambiental pois a situaccedilatildeo como estaacute posta favorece muito mais a
degradaccedilatildeo dos recursos naturais
Falando em questotildees ambientais dentro do contexto da dinacircmica populacional de
Irauccediluba eacute interessante citar a retraccedilatildeo no nuacutemero de indiviacuteduos residentes na aacuterea rural
desde a deacutecada de 70 e consequentemente aumento na urbana Considerando que os riscos de
desertificaccedilatildeo satildeo mais acentuados nas regiotildees densamente povoadas porque haacute maior
pressatildeo sobre os bens naturais e que a densidade demograacutefica do municiacutepio em 2010 estava
em 1539 habkm Folhes e Viana (2001) pontuam
A densidade demograacutefica de Irauccediluba representa pouco mais da metade do que
Ferreira et al (1994) estabeleceram como ldquofator de pressatildeordquo no estudo que se
tornou conhecido por ser o primeiro a confeccionar o mapa de susceptibilidade agrave
desertificaccedilatildeo do Nordeste brasileiro dada(s) as condiccedilotildees de semi-aridez as
condiccedilotildees dos solos a disponibilidade de aacutegua da regiatildeo e a capacidade de suporte
da mesma adotou-se como fator de pressatildeo sobre o meio ambiente a densidade
igual ou superior a 20habkm2 (p19-20)rdquo Veem-se a dificuldade e imprecisatildeo dos
estudos quanto agrave determinaccedilatildeo de algum ponto criacutetico onde a relaccedilatildeo densidade
demograacutefica versus processos de desertificaccedilatildeo passa de causa para efeito
(FOLHES e VIANA 2001 p 13)
Os autores ainda reforccedilam que o municiacutepio se enquadra no grupo com fraca
densidade demograacutefica que eacute de 10 a 20habkm2 de acordo com a classificaccedilatildeo estabelecida
pelo diagnoacutestico agro-soacutecio-econocircmico
Segundo Folhes e Viana (2001) um dos iacutendices mais sensiacuteveis para se medir o
niacutevel de desenvolvimento de um municiacutepio eacute a taxa de mortalidade infantil pois ela revela a
estreita ligaccedilatildeo entre o estado de sauacutede da populaccedilatildeo o acesso aos serviccedilos meacutedicos
condicionados pela situaccedilatildeo soacutecioeconocircmica da populaccedilatildeo Em Irauccediluba essa taxa eacute de 1592
mortos a cada 1000 nascidos vivos maior ainda que a do estado 133225
A economia de Irauccediluba gira em torno de atividades como agricultura e pecuaacuteria
Aquela engloba culturas praticadas em lavouras permanentes e temporaacuterias e esta envolve a
criaccedilatildeo de gado de vaacuterias espeacutecies e aves como galos e galinhas Em termos comparativos
traccedilou-se um paralelo do sistema produtivo econocircmico nos anos de 2001 e 2011 para que se
pudesse avaliar alguma retraccedilatildeo ou evoluccedilatildeo no quadro agropecuaacuterio e industrial do
municiacutepio
A figura 15 abaixo eacute autoexplicativa de modo que prontamente se percebe a
banana e a manga como as culturas mais significativas ficando logo atraacutes o cocircco da baiacutea
25
SESA (2011) In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p 9)
84
Nota-se tambeacutem natildeo haver muita diferenccedila de produccedilatildeo dos trecircs cultivos agriacutecolas nesses
dois anos o que leva a concluir que os produtores do municiacutepio mantiveram os investimentos
e colheitas semelhantes O mesmo natildeo ocorreu com o algodatildeo arboacutereo pois seu resultado caiu
drasticamente no periacuteodo analisado Ressalte-se poreacutem que o ano de 2001 foi mais produtivo
que o de 2011 com exceccedilatildeo da castanha de caju
Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Permanentes
Fonte IBGE (2001 e 2011)
Com relaccedilatildeo agraves lavouras temporaacuterias o destaque eacute da mandioca e da mamona
muito embora esta uacuteltima soacute apresente resultados no ano de 2011 Outras culturas temporaacuterias
satildeo o milho e o feijatildeo mas natildeo constam na figura 16 porque a disparidade entre os dois anos
e a alta produtividade em 2011 dificultariam a visualizaccedilatildeo
Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Temporaacuterias
Fonte IBGE (2001 e 2011)
85
De qualquer maneira a safra de milho e feijatildeo em 2001 natildeo foi tatildeo expressiva
ou seja correspondeu a 14 e 7 toneladas respectivamente Jaacute em 2011 esse nuacutemero foi agraves
alturas chegando agraves 4433 toneladas de milho e 2088 toneladas de feijatildeo
Jaacute os produtos de origem florestal comuns em Irauccediluba satildeo a cera o poacute e a fibra
da carnauacuteba o carvatildeo vegetal a lenha e a madeira em tora poreacutem os mais relevantes satildeo o
carvatildeo vegetal e a lenha conforme se vecirc nas figuras 17 e 18
Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em tonano
Fonte IBGE (2001 e 2011)
Como a lenha e a madeira em tora tecircm unidade de medida diferente dos demais
produtos construiu-se a figura 18 para natildeo deixaacute-las de fora da anaacutelise
0100020003000400050006000700080009000
1000011000
Lenha Madeira em tora
Produtos de origem vegetal (m3ano)
2001
2011
Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em m3ano
Fonte IBGE (2001 e 2011)
86
Quanto aos produtos de origem animal o leite foi o mais vultoso sobressaindo-se
nos anos de 2001 e 2011 Na tabela 11 abaixo tambeacutem foram relacionados os outros mas
com participaccedilatildeo bem pequena na produtividade do municiacutepio
Tabela 11 - Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem animal Produtos de origem animal
Leite Mel de abelha Ovos de galinha Ovos de codorna
Produccedilatildeo (mil l) Produccedilatildeo (kg) Produccedilatildeo (mil dz) Produccedilatildeo (mil dz)
2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011
5228 6031 0 507 80 143 0 1
Fonte IBGE (2001 e 2011)
Em termos industriais julgou-se interessante fazer uma comparaccedilatildeo um tanto
mais abrangente citando tambeacutem os nuacutemeros do ano de 2010 Observa-se que os grupos de
induacutestrias existentes em Irauccediluba reuacutenem as de extraccedilatildeo mineral construccedilatildeo civil e
principalmente as de transformaccedilatildeo conforme figura 19
Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011)
Fonte IBGE (2001 2010 e 2011)
Eacute possiacutevel observar pela figura acima que as empresas de extraccedilatildeo mineral e de
construccedilatildeo civil pouco se desenvolveram durante o periacuteodo analisado o mesmo natildeo ocorreu
com as induacutestrias de transformaccedilatildeo que inclusive chamam bastante atenccedilatildeo Estas se
desdobram em vaacuterias espeacutecies como por exemplo produccedilatildeo de minerais natildeo metaacutelicos
metaluacutergica mecacircnica produccedilatildeo de material eleacutetrico eletrocircnico e comunicaccedilatildeo produccedilatildeo de
material para transporte madeireira mobiliaacuteria produccedilatildeo de papel papelatildeo e borracha
beneficiamento de couros peles e similares quiacutemica produccedilatildeo de produtos farmacecircuticos e
veterinaacuterios de material plaacutestico tecircxtil vestuaacuterio calccedilados artefatos de tecido couros e
peles produtos alimentares bebidas fumo dentre outras
87
De 2001 para 2010 a quantidade de induacutestrias de transformaccedilatildeo pouco aumentou
passando de 13 para 17 mas de 2010 a 2011 esse rol duplicou indo de 17 para 34 empresas
como se pode observar pelas figuras 20 21 e 22
Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001
Fonte IBGE (2001)
Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010
Fonte IBGE (2010)
TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 13
TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 17
88
Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011
Fonte IBGE (2011)
A induacutestria tecircxtil oscilou em nuacutemeros visto que em 2001 contava com 5
empresas em 2010 com 4 expandido para 9 de forma que essa quantidade representou 26
do total de induacutestrias em Irauccediluba no ano de 2011 Outra atividade expressiva no municiacutepio eacute
a de produtos alimentares Muito embora natildeo exista em 2010 nos anos de 2001 e 2011 ela
totalizava 5 e 9 unidades respectivamente representando 23 e 26 cada uma no universo de
empresas Em terceiro plano encontra-se a produccedilatildeo de minerais natildeo-metaacutelicos que em 2001
contou com 1 induacutestria em 2010 com 2 e em 2011 com 3 Aleacutem disto apareceram a partir de
2010 atividades como mobiliaacuterio couros e peles vestuaacuterio e uma categoria natildeo definida pelo
IBGE classificada como diversas Em contrapartida desapareceram da contagem as
induacutestrias madeireira e metaluacutergica
Na pecuaacuteria existe a criaccedilatildeo de gado e aves O realce no primeiro grupo eacute dado
pelos bovinos seguido pelos ovinos e caprinos tanto no ano de 2010 como 2011 sendo neste
os nuacutemeros maiores Quanto agraves aves a ocorrecircncia eacute de galos frangos frangas e pintos aleacutem
de galinhas Entre estes dois grupos o primeiro eacute mais representativo como bem se examina
pela figura 23
TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 34
89
Figura 23 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos
Fonte IBGE (2011 e 2011)
Sem esquecer outros rebanhos mesmo que de menor grandeza existem no
municiacutepio bubalinos muares coelhos e codornas segundo os nuacutemeros apresentados na
tabela 12
Tabela 12 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores Rebanhos Bubalinos Muares Coelhos Codornas
Ano 2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011
Nordm de indiviacuteduos 98 48 380 436 22 67 89 193
Fonte IBGE (2011 e 2011)
Por fim conclui-se que em Irauccediluba eacute praticado aleacutem das atividades industriais o
tripeacute econocircmico baseado na produccedilatildeo agriacutecola pecuaacuteria e madeireira esta a partir da
exploraccedilatildeo de lenha e carvatildeo vegetal Desta maneira seria mais interessante para o municiacutepio
considerando suas caracteriacutesticas ambientais o uso de sistemas de produccedilatildeo
agrossilvopastoris Nesse sentido Arauacutejo Filho e Silva (2013) ilustram
Os sistemas de produccedilatildeo agrossilvipastoris satildeo formas de uso e manejo da terra nas
quais aacutervores e arbustos satildeo utilizados em associaccedilatildeo com cultivos agriacutecolas e
animais numa mesma aacuterea de maneira simultacircnea ou numa sequecircncia temporal
Cada componente do sistema de produccedilatildeo deve ter pelo menos uma funccedilatildeo proacutepria e
sua integraccedilatildeo garante sua funcionalidade Assim as aacutervores devem ser em nuacutemero
suficiente para um aporte significativo de serrapilheira fonte de mateacuteria orgacircnica
para o solo Os animais satildeo os redistribuidores de nutrientes entre os componentes
do sistema via urina e esterco E as culturas garantem a produccedilatildeo de alimentos para
a famiacutelia e seus animais e contribuem para a circulaccedilatildeo de nutrientes dentro do
sistema Os SAF‟s podem tambeacutem ser usados para a reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e
econocircmica de aacutereas degradadas sobre luvissolos e argissolos (ARAUacuteJO FILHO e
SILVA 2013 p 1819)
90
323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba
A caracterizaccedilatildeo ambiental realizada no municiacutepio das aacutereas de estudo engloba a
altimetria as classes de relevo demonstrando a declividade do terreno que varia de plano a
forte ondulado os tipos de solos e suas associaccedilotildees de classes entre si o clima envolvendo
dados sobre a pluviometria anual o iacutendice de umidade o nuacutemero de meses sem chuva a
temperatura e a evapotranspiraccedilatildeo total anual do municiacutepio Comenta-se ainda a vegetaccedilatildeo e
suas formas aleacutem dos rios e accediludes existentes em Irauccediluba reunindo seus recursos hiacutedricos
3231 Altimetria e Classe de relevo
A altimetria do municiacutepio estaacute exibida na figura 24 conforme seus niacuteveis de
altitude que variam de 80 a 840 metros acima do mar
Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba
91
Jaacute o relevo oscila de plano a forte ondulado conforme figura 25 Arauacutejo Filho e Silva
(2013 p 1) definem que ldquonos planossolos o relevo varia de plano a suave-ondulado (de 1 a 8)
nos argisssolos e nos luvissolos apresentam-se em relevo de suave-ondulado a ondulado (de 8 a
20) e os litoacutelicos estatildeo em relevo forte-ondulado (de 20 a 45)rdquo
Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba
3232 Solos
A regiatildeo semiaacuterida nordestina ldquo[] recebe anualmente calor e luz em excesso o
que resulta em raacutepida mineraccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica Seus solos satildeo geralmente pouco
profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica mas relativamente ricos
em bases trocaacuteveisrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 7)
O PAN (BRASIL 2004) assegura que as classes de associaccedilatildeo de solos presentes
no semiaacuterido do Nordeste satildeo o bruno natildeo caacutelcico litoacutelicos podzoacutelico eutroacutefico terra roxa
estruturada cambissolo ondulado e forte ondulado e planossolos Apresentam tambeacutem tipos
de relevo e susceptibilidade agrave erosatildeo diferenciados como mostra a tabela 13
92
Tabela 13 - Relaccedilatildeo de solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo
CLASSES DE SOLO RELEVO SUSCEPTIBILIDA Agrave
EROSAtildeO
Bruno natildeo caacutelcico (Luvissolos) Suave ondulado e ondulado Forte
Litoacutelicos Ondulado forte ondulado e
montanhoso Muito forte
Podzoacutelico eutroacutefico terra roxa
estruturada cambissolo ondulado e
forte ondulado
Ondulado e forte ondulado Moderado
Planossolos Plano e suave ondulado Moderado
Fonte PAN Brasil (2004)
ldquoTrecircs classes de solos se destacam no municiacutepio de Irauccediluba luvissolos com
432 de cobertura planossolos com 187 e litoacutelicos com 332 Juntos eles perfazem
951 da aacuterea do municiacutepiordquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2)
Os luvissolos constituem os solos mais utilizados pela agricultura migratoacuteria do
semiaacuterido nordestino Por causa do desmatamento e uso do fogo haacute indicaccedilotildees de que pelo
menos 65 da aacuterea de cobertura deste importante solo se encontrem em erosatildeo de grave a
muito grave Em Irauccediluba natildeo eacute diferente pois a agricultura eacute praticada nas aacutereas recobertas
por luvissolos e solos litoacutelicos enquanto a pecuaacuteria eacute desenvolvida tanto no planossolo com
presenccedila tambeacutem nas aacutereas de luvissolo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013)
Em se tratando de associaccedilatildeo de solos a tabela 14 indica a nomenclatura utilizada
por Jacomine (1973) e pela EMBRAPA (2006) para definir os tipos de associaccedilatildeo
encontrados em Irauccediluba apontando ainda a porcentagem de cada um dentro da respectiva
associaccedilatildeo E a figura 26 apresenta a distribuiccedilatildeo dessas associaccedilotildees no municiacutepio de forma
que eacute possiacutevel notar o predomiacutenio da associaccedilatildeo NC15 seguida da Re25 e Re26
Tabela 14 - Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEMBRAPA
ASSOCIACcedilAtildeO
DE SOLO EM
JACOMINE
(1973)
NOMENCLATURA DOS SOLOS NAS ASSOCIACcedilOtildeES DO SOLO
NA
ASSOCIACcedilAtildeO JACOMINE (1973) EMBRAPA (2006)
PE6
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO moderado
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 40
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO chemozecircnico
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 30
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 15
AFLORAMENTOS DE ROCHA - 15
PE42
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 70
REGOSOL EUTROacuteFICO NEOSSOLOS
REGOLIacuteTICOS 30
NC7 BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO LUVISSOLO 40
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 35
93
BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO veacutertico LUVISSOLO 25
NC15
BRUNOS NAtildeO CAacuteLCICOS
INDISCRIMINADOS LUVISSOLO 40
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 25
PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 20
SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 15
PL6
PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 45
SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 35
SOLOS OTOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 20
Re6
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 65
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 35
Re25 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel
estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -
Re26 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel
estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -
Fonte Jacomine et al (1973) e EMBRAPA (2006)
Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba
94
Por fim a figura 27 apresenta os quatro grandes grupos de solo encontrados em
Irauccediluba e sua distribuiccedilatildeo no municiacutepio sendo eles Podzoacutelico vermelho amarelo
equivalente eutroacutefico (PE) Bruno natildeo caacutelcico (NC) Planossolo (PL) e Solos litoacutelicos (Re)
Figura 27 Grupos de solos que formam associaccedilotildees pedoloacutegicas em Irauccediluba
3233 Clima
ldquoO clima na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba eacute conforme classificaccedilatildeo de Koumlppen
(MILLER 1971) do tipo Bshw semiaacuterido megateacutermico com curta estaccedilatildeo chuvosa no
veratildeo-outono e com concentraccedilatildeo das precipitaccedilotildees pluviais nos meses de marccedilo e abrilrdquo
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2) Anualmente o municiacutepio apresenta pluviometria
meacutedia abaixo dos 700 mm mas existe maior incidecircncia de chuva em outras regiotildees de
Irauccediluba Eacute o que demonstra a figura 28
Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba
Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba
95
Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba
ldquoA regiatildeo apresenta um dos mais baixos iacutendices pluviomeacutetricos do Estado do Cearaacute
com meacutedia histoacuterica de 540 mm Isto porque a aacuterea encontra-se a sotavento da serra
de Uruburetama constituindo-se em uma ldquosombra de chuvardquo causada pela
interceptaccedilatildeo pela serra dos ventos uacutemidos oriundos do oceanordquo (ARAUacuteJO FILHO
e SILVA 2013 p 2)
O municiacutepio passa a maior parte do ano sem chuva aproximadamente dez meses
e apesar da pouca pluviosidade a evapotranspiraccedilatildeo eacute maior que a precipitaccedilatildeo Sem poder
ser diferente as temperaturas variam de 25 a 28 graus sendo que na maior parte da aacuterea
incidem temperaturas de 26 a 27 graus centiacutegrados e a umidade aponta a incidecircncia do clima
semiaacuterido em Irauccediluba As figuras 06 29 30 31 e 32 ilustram as informaccedilotildees declaradas
96
Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba
Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual
97
Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba
Figura 32 Iacutendice Efetivo de umidade em Irauccediluba
Fonte NOLEcircTO (2005)
98
3234 Vegetaccedilatildeo
A caatinga eacute um dos maiores biomas brasileiros e significa mata branca Por ser
uma vegetaccedilatildeo xeroacutefila eacute capaz de suportar vaacuterios anos de estiagem recuperando com
rapidez suas atividades logo nas primeiras chuvas apoacutes a seca A adaptaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo ao
clima semiaacuterido eacute impressionante como por exemplo as cascas claras ou reluzentes servem
para diminuir o aquecimento do tecido vivo da planta Por causa da falta de aacutegua satildeo
caducifoacutelias isto eacute as folhas caem durante a estaccedilatildeo seca para evitar excesso de perda d‟aacutegua
pela evapotranspiraccedilatildeo aleacutem disto os caules satildeo projetados para armazenar aacutegua (MAIA
2012)
ldquoA caatinga se assemelha a arbustos tropicais ou bosques de espinhos Eles
contecircm pequenas aacutervores de madeira dura grotescamente retorcidas e com espinhos as folhas
satildeo pequenas e caem durante a estaccedilatildeo secardquo Odum e Barret (2008 p 453)
Fisionomicamente eacute possiacutevel diferenciar os tipos de vegetaccedilatildeo o arboacutereo que estaacute nas
superfiacutecies mais conservadas sendo o pau branco o angico o pereiro dentre outras suas
espeacutecies mais representativas o arbustivo que eacute sinal de aacutereas jaacute degradadas pelo
desmatamento uso agriacutecola e pecuaacuteria e o herbaacuteceo figurado por gramiacuteneas presentes
somente durante o periacuteodo chuvoso e explorado pela pecuaacuteria extensiva (DANTAS et al
2007)
ldquoO Bioma Caatinga estaacute inserido no quadro dos Ecossistemas da Regiatildeo das
Caatingas e Florestas Deciduais do Nordeste Abrange as especificidades do Domiacutenio
Morfoclimaacutetico das Caatingas sejam elas arbustivas ou arboacutereasrdquo (BRASIL 2004 p 68) Os
frutos amadurecem ao fim da eacutepoca das chuvas quase que generalizadamente na maioria das
espeacutecies arboacutereas e herbaacuteceas permanecendo pendentes dos ramos durante algum tempo Ao
se desprenderem e caiacuterem no solo natildeo germinam de imediato pois a resistecircncia da casca e
outros artifiacutecios da natureza impedem a germinaccedilatildeo pronta Se germinassem morreriam quase
em seguida natildeo resistindo agrave longa estaccedilatildeo seca e quente da estiagem com interrupccedilatildeo brusca
e total das chuvas A germinaccedilatildeo poreacutem processa-se rapidamente logo ao caiacuterem as
primeiras chuvas pois os indumentos foram intensamente desgastados pelo intemperismordquo
As queimadas realizadas para a preparaccedilatildeo de novos terrenos de cultivo desempenham papel
de grande poder destruidor do ambiente ldquoCompreende-se pois que a restauraccedilatildeo da
cobertura vegetal depende da preservaccedilatildeo desses estoques de sementesrdquo26
26
Conferir SOBRINHO Vasconcelos (1983) In PAN Brasil 2004
99
ldquoA vegetaccedilatildeo da aacuterea do nuacutecleo de desertificaccedilatildeo de Irauccediluba espelha os efeitos dos
fatores fiacutesicos mormente os de natureza hiacutedrica e edaacutefica e da accedilatildeo antroacutepica
Assim as aacutereas dos solos argissolos litoacutelicos e luvissolos apresentam uma cobertura
arbustiva-arboacuterea formando um verdadeiro mosaico de diferentes estaacutedios
sucessionais em virtude das praacuteticas agriacutecola ambientalmente agressivasrdquo [] ldquoAs
aacutereas sobre os planossolos estatildeo recobertas por uma caatinga assavanada e
esporadicamente com afloramentos rochosos e com cobertura arbustiva arboacuterea
meacutedia abaixo de 20 e densidade de cerca 200plantasha A camada herbaacutecea de
biodiversidade inferior ao das aacutereas de luvissolos ou argissolos eacute rica no entanto
em espeacutecies forrageiras destacando-se a erva de ovelha (Stylosanthes humilis)
vassourinha (Stylosanthes angustifolia) urinana (Zornia bracteata) e capim accedilu
(Paspalum milegrana) O capim panasco no entanto predomina nas aacutereas
sobrepastejadasrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 34)
A figura 33 espelha a composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba Segue claro que a Caatinga
Arboacuterea Sem Palmeira (Cas) predomina seguida da Caatinga Arboacuterea Com Palmeira (Cap) e
da Caatinga Parque Sem Palmeira (Cps) A Floresta Ombroacutefila Aberta (Acc1) e as Aacutereas De
Formaccedilatildeo Pioneira (Acc2) representam uma aacuterea menor do municiacutepio
Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba
3235 Recursos Hiacutedricos
O nuacutecleo de Irauccediluba estaacute situado na bacia hidrograacutefica do rio Curu contando com
o aporte dos rios Aracatiaccedilu e Caxitoreacute aleacutem de vaacuterios riachos destacando-se o Aroeira o
Fonte NOLEcircTO (2005)
Fonte NOLEcircTO (2005)
100
Gabriel e o Cachoeira A ausecircncia de barragens de porte representativo faz com que a
pequena accediludagem assuma um papel relevante Destacam-se dentre essas os Accediludes Satildeo
Gabriel do Mocoacute (IRAUCcedilUBA 2009)
Por conta da irregularidade das chuvas que contribui para favorecer o escoamento
de superfiacutecie junto agraves condiccedilotildees geoloacutegicas predominantemente cristalinas favorecem o
escoamento raacutepido das aacuteguas pluviais inviabilizando o acuacutemulo de aacuteguas subterracircneas em
quantidades razoaacuteveis (IRAUCcedilUBA 2009) existem no municiacutepio cerca de 28 pequenos
accediludes nomeando-se o Nogueira Ramos o Cairu Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu e o Jerimum
que abastece a cidade de Irauccediluba ldquoUma estrutura muito comum no municiacutepio eacute o barreiro da
salvaccedilatildeo constituindo-se em um sistema temporaacuterio de armazenamento de aacutegua para atender
agrave demanda dos rebanhos durante boa parte da estaccedilatildeo secardquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA
2013 p 3)
324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo
A partir da abordagem feita no item 323 passa-se a analisar a realidade de cada
propriedade estudada Visando apontar os aspectos geoambientais dos imoacuteveis construiu-se
um quadro siacutentese conforme tabela 15 abaixo
Tabela 15 ndash Anaacutelise Geral das propriedades estudadas
Anaacutelise
Imoacuteveis com Reserva Legal
Riachuelo
Alto Alegre
Aacuteguas
Mortas
Almas
Cajazeiras
II
Saco
Verde
Miramar
Classe
no
Tipo
Niacuteveis da Classe
no Tipo
Aacuterea (km2)
336 238 127 124 671 86
no Niacutevel da Classe no Tipo
Precipitaccedilatildeo
Total
Meacutedia Anual
lt 600 - - - - 103 -
600 a 700 100 100 100 755 100
700 a 800 - - - 976 112 -
800 a 900 - - - 24 - -
Temperatura
Meacutedia Anual
(oC)
25-26 - - - - 71 -
26-27 100 100 100 100 929 100
27-28 - - - - - -
ETP
lt 1450 - - - - 100 100
1450-1500 - - - - - -
1500-1550 - - - - - -
1550-1600 100 100 100 - - -
1600-1650 - - - 141 - -
1650-1700 - - - 859 - -
101
Nugravemero
de
Meses secos
85 a 95 100 100 564 100 330 -
95 a 105 - - 454 - 670 100
gt105 - - - - - -
Im
gt - 333 - - - - - -
- 344 a - 499 100 100 100 100 388 15
lt - 499 - - - - 612 985
Igravendice de Aridez
do UNEP 020 a 050 100 100 100 100 780 100
050 a 065 - - - - 220 -
Classes
de
Relevo
Plano 23 46 56 112 55 135
Suave Ondulado 162 316 378 373 227 485
Ondulado 194 338 427 64 124 130
Muito Ondulado 127 111 72 38 72 70
Forte Ondulado 463 185 66 264 400 179
Montanhoso 31 04 - 105 120 03
Escarpado - - - 44 02 -
Classes
de
Altitude
80-120 - - -- 560 - -
120-160 - - - 113 - -
160-200 - - - 60 321 -
200-240 54 171 723
240-280 01 41 460 40 85 202
280-320 139 614 521 36 68 49
320-360 349 211 10 41 56 24
360-400 178 65 01 38 70 02
400-440 90 24 - 28 53 -
440-480 63 21 - 19 55 -
480-520 45 16 - 10 45 -
520-560 33 05 - 02 32 -
560-600 29 02 - - 15 -
600-640 25 01 - - 10 -
640-680 17 - - - 08 -
680-720 13 - - - 07 -
720-760 07 - - - 03 -
760-800 05 - - - 02
800-840 03 - - - - -
840-880 02 - - - - -
880-920 01 - - - - -
Associaccedilotildees
de
Solos
PE 6 - - - - 207 -
PE 42 - - - 913 - -
NC 7 - - - - - -
NC 15 940 755 516 - - 441
PL 6 - - - - 348 -
Re 6 - - - - - -
Re 25 - - - 87 445 -
Re 26 60 245 424 - - 559
Grupos
de
solos
PE - - - 913 207 -
NC 940 762 516 - - 441
PL - - - - 348 -
Re 60 238 484 87 445 559
Cobertura
Vegetal
Cas 515 934 100 - 265 100
Cap - - - 649 - -
Cps - - - - 168 -
Acc1 485 66 - - - -
Acc2 351 567 -
Quanto agrave graduaccedilatildeo altimeacutetrica em que se encontra cada propriedade em estudo eacute
possiacutevel observar que a RiachueloAlto Alegre tem niacuteveis de altimetria crescentes a partir de
102
240 ateacute 920 metros destacando-se como o imoacutevel de maior altitude seguido de Saco Verde e
Aacuteguas Mortas As outras natildeo passam dos 560 metros de altitude
Em se tratando da classe de relevo a que se apresenta mais plana eacute Miramar com
135 de sua aacuterea seguida de Cajazeiras II com 112 Em relevo montanhoso destacam-se
Saco Verde com 12 de terreno e Cajazeiras II com 105 No entanto a predominacircncia eacute de
imoacuteveis inseridos na faixa entre o suave ondulado e o forte ondulado
Os imoacuteveis em anaacutelise situam-se em diferentes grupos de solos como ilustra a
tabela 15 Por exemplo RiachueloAlto Alegre e Aacuteguas Mortas estatildeo 94 e 762
respectivamente em luvissolos ou seja em solos Bruno natildeo caacutelcicos e Podzoacutelico vermelho
amarelo equivalente eutroacutefico Almas e Miramar estatildeo divididas aproximadamente agrave metade
em solo litoacutelico e em Bruno natildeo caacutelcico Em Cazajeiras II predomina o solo Podzoacutelico
vermelho amarelo equivalente eutroacutefico mas apresenta um pequeno percentual em solo
litoacutelico E por fim Saco Verde possui uma distribuiccedilatildeo variada de solos Podzoacutelico vermelho
amarelo equivalente eutroacutefico (207) Planossolos (348) e litoacutelicos (445) sendo o
uacutenico imoacutevel com planossolos
Nas associaccedilotildees de solos prevalece a subclasse 15 dos solos Bruno natildeo caacutelcicos
(NC) nas propriedades RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas e Almas Cajazeiras II estaacute
quase totalmente na subclasse 42 do Podzoacutelico vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) e
Miramar mesmo quase ao meio entre NC e Re possui a maior parte de sua aacuterea na subclasse
26 de solos litoacutelicos (Re) Saco Verde embora um tanto quanto bem distribuiacuteda tem 207
de aacuterea na subclasse 6 dos Podzoacutelicos vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) 348
em planossolos subclasse 6 inclusive eacute o uacutenico imoacutevel nessa classificaccedilatildeo e 445 em Re6
A realidade das aacutereas em estudo descrita na tabela 15 revela que mais da metade
delas estaacute inserida na faixa de pluviosidade abaixo dos 700 mm contudo Cajazeiras II foge agrave
regra apresentando pluviometria entre 700 a 900 mm Em Saco Verde ocorre distribuiccedilatildeo
irregular de chuvas e aleacutem de estar na meacutedia tem precipitaccedilatildeo tanto abaixo dos 600 como
acima de 700 mm
E por fim a cobertura vegetal de Almas Miramar quase toda de Aacuteguas Mortas e
a metade RiachueloAlto Alegre eacute de caatinga arboacuterea sem palmeira (Cas) enquanto que mais
de 50 da Cajazeiras II estaacute em caatinga arboacuterea com palmeira (Cap) Saco Verde tem mais
da metade da aacuterea em formaccedilatildeo pioneira (Acc2)
103
33 Metodologia
A metodologia utilizada no levantamento acerca da existecircncia de reserva legal no
municiacutepio de Irauccediluba envolveu algumas fases de anaacutelise como pesquisa bibliograacutefica
documental caracterizaccedilatildeo da aacuterea sob os aspectos sociais econocircmicos e ambientais o uso de
imagens orbitais e a aplicaccedilatildeo do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada (NDVI -
Normalized Difference Vegetation Index) nas propriedades em estudo
A abordagem envolveu o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo uma vez que para avaliar a
aplicabilidade da reserva legal como forma de combater o processo de degradaccedilatildeo ambiental
em Irauccediluba partiu-se da hipoacutetese de que se cada detentor de propriedade rural cumprisse a
obrigaccedilatildeo de implantaacute-la o processo de degradaccedilatildeo quiccedilaacute o de desertificaccedilatildeo seria estancado
no municiacutepio Aleacutem disso seria um instrumento proporcionador da recuperaccedilatildeo ambiental em
virtude de seus benefiacutecios A investigaccedilatildeo se deu por procedimentos de vieacutes histoacuterico e
comparativo tendo sido realizada uma retrospectiva de como foi o tratamento dado agrave reserva
legal no contexto juriacutedico econocircmico social e ambiental Aleacutem disto estudou-se as
propriedades que apresentaram o instituto mesmo que soacute documentalmente de maneira a
confrontar a situaccedilatildeo existente nos anos de 1993 e 2007 e sua modificaccedilatildeo
Para alcanccedilar os propoacutesitos deste trabalho ocorreu a coleta de dados pela pesquisa
documental e bibliograacutefica aleacutem da observaccedilatildeo direta intensiva que foi possiacutevel pelo exame
de dados obtidos por imagens do sateacutelite LANDSAT 5 referente aos anos de 1993 e 2007
bem como a avaliaccedilatildeo das aacutereas estudadas atraveacutes do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila
Normalizada (NDVI)
As informaccedilotildees geograacuteficas das propriedades em estudo foram disponibilizadas
basicamente pelo INCRA e pelo cartoacuterio de imoacuteveis de Irauccediluba Ambos cederam as plantas
georreferenciadas que foram vetorizadas em UTM 24s atraveacutes do programa CARTALINX 12
para em seguida serem exportadas para o IDRISI 322 e entatildeo convertidas para latitude e
longitude DATUM GS 84
331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite
O NDVI eacute um iacutendice de vegetaccedilatildeo derivado de imagens de sateacutelites e muito
utilizado na avaliaccedilatildeo da cobertura vegetal indicando o tipo a condiccedilatildeo e a densidade da
vegetaccedilatildeo atraveacutes do uso de bandas No caso as bandas do vermelho na faixa do visiacutevel e do
infravermelho proacutexima (PINHEIRO 2011) Agrave medida que aumenta a quantidade de
104
vegetaccedilatildeo verde aumenta a reflexatildeo na banda do infravermelho proacuteximo e diminui a reflexatildeo
na banda do vermelho fazendo com que o aumento da razatildeo seja potencializado realccedilando
assim a vegetaccedilatildeo27
Na banda do vermelho a clorofila absorve a energia solar resultando em uma
baixa reflectacircncia e no infravermelho proacuteximo tanto a morfologia interna das folhas quanto a
estrutura da vegetaccedilatildeo apresentam uma alta reflectacircncia da energia solar incidente A
combinaccedilatildeo dessas bandas realccedila a aacuterea de vegetaccedilatildeo nas imagens e quanto maior o contraste
maior o vigor da vegetaccedilatildeo da aacuterea imageada (LOURENCcedilO LANDIM 2004)28
Portanto o NDVI pode ser utilizado como uma teacutecnica para mapeamento
contiacutenuo da cobertura vegetal de uma regiatildeo possibilitando analisar e monitorar a
variabilidade desta em periacuteodos distintos (PINHEIRO 2011) Ressaltam ainda as diferenccedilas
entre aacutereas vegetadas e de solo exposto (VERONA 2002)29
O caacutelculo para se chegar ao NDVI deriva da razatildeo entre os valores das bandas do
vermelho e infravermelho proacuteximo ou seja a diferenccedila da resposta espectral do pixel dessas
bandas pela sua soma (SILVA et al 2007)30
resulta nos valores do NDVI que variam de ndash1 a
+1 A equaccedilatildeo para o caacutelculo do NDVI foi proposta por (JENSEN 1996)31
in Ewerton Torres
Melo 2008) conforme segue abaixo
NDVI = (NIR - R) (NIR + R)
Em que
NDVI eacute o iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada NIR eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Infra-Vermelho Proacuteximo
(076 a 090 μm)
R eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Vermelho (063 a 069μm)
Assim a vegetaccedilatildeo eacute caracterizada por uma intensa absorccedilatildeo devido agrave clorofila na
regiatildeo do vermelho (063 ndash 069 μm) e por uma intensa energia refletida na regiatildeo do
infravermelho proacuteximo (076 ndash 090 μm) causada pela estrutura celular das folhas Portanto
muitos dos modelos de iacutendice de vegetaccedilatildeo utilizam somente as bandas de imagem vermelha
ou proacutexima ao infravermelho (MELO 2008)
27
Novo (1989) In MELO Ewerton Torres (2008) 28
In PINHEIRO 2011 29
Idem 30
Ibidem 31
In MELO 2008
105
Conforme (BRAGA et al sd) estudos de variabilidade temporal e espacial sobre
a regiatildeo Nordeste do Brasil indicam que as aacutereas vegetadas variam de 01 a 08 sendo que
esses valores dependem da estrutura densidade e umidade da vegetaccedilatildeo As rochas e os solos
apresentam valores proacuteximos de zero e a aacutegua aparece com valores negativos Coberturas
vegetais muitos densas se expressam pelos maiores valores obtidos (PINHEIRO 2011)
106
4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES
41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba
O foco principal da pesquisa foi levantar e analisar as propriedades que de alguma
forma apresentem a reserva legal seja oficial ou extraoficialmente Com o exame das imagens
de sateacutelite dos anos de 1993 e 2007 utilizando o NDVI constatou-se que os iacutendices da
cobertura vegetal satildeo muito parecidos tanto dentro como fora da aacuterea de reserva ao serem
comparados pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Isto leva a crer que o instituto legal pode natildeo
ter promovido qualquer diferenccedila em termos de cobertura vegetal sem falar na hipoacutetese de
nem mesmo ter sido cumprido
Analisando os iacutendices de NDVI comprova-se que na grande maioria dos
imoacuteveis a cobertura vegetal tanto dentro como fora da aacuterea de reserva legal diminuiu entre
os anos de 1993 e 2007 Embora nas propriedades a vegetaccedilatildeo se apresente em niacuteveis
diferenciados de existecircncia representados pelas faixas 2 a 9 da tabela 16 vecirc-se que quase
todos em 1993 apresentavam aacutereas significativas de vegetaccedilatildeo na faixa 6 e 7 Se averiguar as
mesmas colunas em 2007 eacute notoacuteria a retraccedilatildeo nos iacutendices salvo na faixa 5 referente aos
imoacuteveis Aacuteguas Mortas Almas e Saco Verde
Tabela 16 - NDVI dos imoacuteveis estudados
IMOacuteVEL SEGMENTO ANO
Aacuterea no niacutevel de NDVI como uma porcentagem da aacuterea total do segmento
Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 4 Faixa 5 Faixa 6 Faixa 7 Faixa 8 Faixa 9
0 a 01 01 a 02 02 a 03 03 a 04 04 a 05 05 a 06 06 a 07 07 a 08 08 a 09
Riachuelo
Alto
Alegre
Fora 1993 0558 0458 0978 2418 9904 68884 16798 0022 0019
2007 1369 1351 2366 9734 56243 28713 0205 0019 -
Reserva 1993 0532 0319 0473 1006 3224 57424 36868 0074 -
2007 1818 1611 1951 7524 53112 33777 0207 - -
Aacuteguas
Mortas
Fora 1993 1588 1833 2701 6525 18029 41168 28024 0141 -
2007 4979 3485 4979 12220 34523 39105 0616 0097 -
Reserva 1993 - - 0084 1246 10452 56862 31356 - -
2007 2092 1902 6677 6127 52292 34545 0275 0085 -
Almas Fora 1993 1954 1336 1650 3339 9359 48925 33222 0216 -
2007 0845 1463 2583 13464 44731 36659 0216 - 0039
Reserva 1993 13455 3058 2299 3858 12198 40686 23344 0156 0156
2007 1052 1208 1052 7947 53759 34827 0156 - -
Miramar Fora 1993 - - 1075 6023 36519 50699 5684 - -
2007 0810 1001 1870 6818 66765 22545 0132 0059 -
Reserva 1993 1540 0285 0799 7758 39646 48431 1540 - -
2007 - 0513 2339 33143 63206 0799 - - -
Saco
Verde
Fora 1993 6867 5558 9959 20131 37338 19016 0097 1097 1097
2007 6469 8972 19278 30986 32219 2026 0050 - -
Reserva 1993 6927 9383 17136 26903 29900 9113 0609 0030 -
2007 8767 10375 17166 29254 332881 1157 - - -
Cajazeiras
II
Fora 1993 0040 0606 8206 39766 45877 5412 0092 - -
2007 2003 9562 25154 44710 17723 0647 - - -
Reserva 1993 2885 2885 12402 48057 29936 2360 0674 - -
2007 3895 8165 21610 39476 26704 0150 - -
Os iacutendices de NDVI da tabela 16 serviram de base para o caacutelculo da anaacutelise de
semelhanccedila pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Assim a constataccedilatildeo acima eacute confirmada pela
tabela 17 que por sua vez atesta o grau de similaridade entre a aacuterea interna e externa agrave
reserva legal nos anos analisados Eacute surpreendente o niacutevel de semelhanccedila encontrado O
percentual mais baixo em 1993 eacute de 798 chegando no mesmo ano a 933 Jaacute em 2007 a
percentagem de semelhanccedila diminui nos imoacuteveis Aacuteguas Mortas e Miramar de 81 para 75 e
de 933 para 731 respectivamente Isto natildeo quer dizer que o niacutevel de cobertura vegetal
melhorou ou piorou mas que a diferenccedila na semelhanccedila entre dentro e fora da aacuterea de reserva
legal nessas propriedades reduziu sugerindo que o respeito agravequele instituto pode ter
promovido a alteraccedilatildeo Em contrapartida nos outros imoacuteveis essa semelhanccedila aumentou
aproximando-se dos 94
Assim eacute provaacutevel que pelos meacutetodos utilizados a funccedilatildeo proposta pelo instituto
da reserva legal natildeo esteja sendo alcanccedilada visto que o grau de semelhanccedila entre a aacuterea de
dentro e fora da reserva legal estaacute muito aproximado pois sequer apresentou-se abaixo dos
70 de diferenccedila
Tabela 17 - Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal pelo meacutetodo de Sorensen (1948)
ANAacuteLISE DE SEMELHANCcedilA DE SORENSEN () ENTRE
FORA E DENTRO DA AacuteREA DE RESERVA LEGAL
IMOacuteVEL
Reserva
ANO 1993 2007
108
Riachuelo Alto Alegre Fora 1993 798 -
2007 - 941
Aacuteguas Mortas Fora 1993 810 -
2007 - 750
Almas Fora 1993 821 -
2007 - 908
Saco Verde Fora 1993 799 -
2007 - 891
Cajazeiras II Fora 1993 813 -
2007 - 952
Miramar Fora 1993 933 -
2007 - 731
109
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A abordagem dos assuntos aqui tratados e os resultados alcanccedilados permitem a
conclusatildeo de que a reserva legal eacute uma criaccedilatildeo da lei com intenccedilotildees conservacionistas
avanccediladas Como espaccedilo especialmente protegido requer um tratamento diferenciado natildeo soacute
como previsto em normas mas sob a oacutetica da sociedade Observou-se que foi um assunto
amplamente tratado e debatido nas esferas do poder legislativo e judiciaacuterio do paiacutes e que
tambeacutem eacute alvo de poliacuteticas puacuteblicas e atuaccedilatildeo das autoridades competentes embora um tanto
falhas
Contatou-se que o emprego da reserva legal no municiacutepio de Irauccediluba eacute pouco expressivo
diante da quantidade de propriedades ali existentes por isso os benefiacutecios trazidos pela
conservaccedilatildeo desses espaccedilos mal podem ser sentidos no municiacutepio que sofre com a degradaccedilatildeo
ambiental contiacutenua inclusive com a presenccedila do processo de desertificaccedilatildeo Aleacutem disto a
falta de cumprimento do formal procedimento acerca da implantaccedilatildeo da reserva legal em
aacutereas puacuteblicas eacute intrigante Isto porque se pressupotildee accedilotildees de estrita legalidade envolvendo o
ente estatal Nesse sentindo partindo do entendimento que os projetos de assentamento satildeo
resultado de poliacuteticas puacuteblicas para reforma agraacuteria pressupunha-se que nestes espaccedilos a
reserva legal estaria estabelecida mas as anaacutelises mostraram que natildeo haacute diferenccedila quando
comparadas a aacuterea de dentro e de fora da reserva nas propriedades A situaccedilatildeo eacute anaacuteloga no
imoacutevel particular apreciado
A respeito da degradaccedilatildeo viu-se que Irauccediluba por ser rota de passagem do gado
desde o seacuteculo XIX aporta animais em transumacircncia de outras regiotildees Os relatos de jesuiacutetas
que cruzaram o municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XVII registram o lugar com vegetaccedilatildeo fechada
e densa Diante disso eacute possiacutevel afirmar que nem sempre Irauccediluba teve um ambiente inoacutespito
e com caracteriacutesticas severamente adversas O quadro atual se deve agraves intervenccedilotildees antroacutepicas
sem teacutecnicas apropriadas para o desenvolvimento de atividades econocircmicas em conjunto com
as caracteriacutesticas de um meio semiaacuterido Essas atividades geralmente abrangem culturas de
subsistecircncia praticadas recorrentemente no mesmo lugar sem o pousio necessaacuterio do solo que
por sua vez natildeo eacute tatildeo rico em nutrientes em decorrecircncia dos desmatamentos e queimadas
Pela caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo pocircde se verificar que seus atributos
envolvem solos pouco profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica
O clima eacute o semiaacuterido onde haacute baixa pluviometria e temperaturas em torno dos 28ordmC e a
vegetaccedilatildeo eacute caatinga nos tipos arbustivos e herbaacuteceos excepcionalmente o arboacutereo por causa
da degradaccedilatildeo
Os resultados mostraram que os iacutendices de NDVI nas propriedades analisadas
apontam um grau de semelhanccedila de ateacute 94 entre dentro e fora da aacuterea da reserva legal pelo
que se pode inferir 2 suposiccedilotildees
1) A reserva legal existe somente em niacutevel documental e natildeo no local apontado
dentro do imoacutevel
ou
2) A reserva legal existe mas estaacute com a cobertura vegetal bem semelhante agrave de fora
da sua aacuterea de maneira que pode estar tatildeo degradada quanto ou tatildeo conservada
quanto
Partindo para a segunda suposiccedilatildeo os iacutendices de NDVI constatam sim que a
cobertura vegetal apresenta um grau elevado de semelhanccedila entre os dois espaccedilos e que em 4
dos 6 imoacuteveis ambos diminuiacuteram de 1993 a 2007 Desta forma natildeo haacute como afirmar que a
reserva legal no estado em que se encontra nas propriedades analisadas eacute um meio de
combater a degradaccedilatildeo ambiental Contudo nos casos em que real e verdadeiramente for
aplicada por certo traraacute ganhos ambientais mas isto deve ser alvo de mais e maiores estudos
acerca do assunto
Eacute curioso que mesmo Irauccediluba sendo um nuacutecleo de desertificaccedilatildeo e por isso alvo
de estudos pesquisas projetos e poliacuteticas puacuteblicas envolvendo degradaccedilatildeo recuperaccedilatildeo e
conservaccedilatildeo ambiental a situaccedilatildeo aparentemente natildeo progride em termos de melhorias Ao
contraacuterio disto constata-se cada vez mais a deterioraccedilatildeo do meio ambiente a ocupaccedilatildeo e a
utilizaccedilatildeo indevida dos recursos naturais
Encerrando a abordagem do assunto tratado assevera-se que a reserva legal jaacute eacute
um instituto consolidado em lei natildeo justificando quaisquer argumentos quanto ao seu
descumprimento Inclusive a natildeo observacircncia do bendito mandamento eacute considerada crime e
nesse sentido natildeo haacute uma atuaccedilatildeo maciccedila do Estado em termos de fiscalizaccedilatildeo pois se assim
existisse natildeo se estaria diante de uma constataccedilatildeo tatildeo seacuteria acerca do pequeno nuacutemero de
imoacuteveis que apresentaram a reserva legal mesmo que documentalmente Essa estatiacutestica
diminuiu ainda mais quando se analisou a diferenccedila na vegetaccedilatildeo sendo possiacutevel concluir que
o caraacuteter conservacionista da reserva legal e ela proacutepria natildeo estatildeo alcanccedilando o fim para que
foi criada
Por fim acredita-se que a reserva legal se cumprida eacute um instrumento
conservacionista capaz de auxiliar na recuperaccedilatildeo ambiental e arrefecer os processos de
111
degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo criticamente manifestos no municiacutepio de Irauccediluba Indo mais
aleacutem vecirc-se que pela oacutetica do referido instituto o desenvolvimento sustentaacutevel eacute possiacutevel
pois mesmo de encontro a interesses particulares ele consegue reunir e harmonizar o vieacutes
econocircmico o social e o ambiental
112
REFEREcircNCIAS
AGCO Lanccedilamento nacional do CAR deve sair ateacute junho Sou Agro 22052013
Disponiacutevel em lt httpwwwsouagrocombrgt Acesso em 27 mai 2013
AHRENS Sergio O ldquonovordquocoacutedigo florestal brasileiro conceitos juriacutedicos fundamentais
Trabalho Voluntaacuterio In CONGRESSO FLORESTAL BRASILEIRO 8 Satildeo Paulo SP
Anais Satildeo Paulo Sociedade Brasileira de Silvicultura Brasiacutelia Sociedade Brasileira de
Engenheiros Florestais 2003 1 CD-ROM
AMADO Frederico Augusto Di Trindade Direito ambiental sistematizado Rio de Janeiro
Forense Satildeo Paulo Meacutetodo 2009
ANTUNES Paulo de Bessa Aacutereas protegidas e propriedade constitucional Satildeo Paulo
Atlas 2011
ARAUacuteJO Gustavo Henrique de Sousa ALMEIDA Josimar Ribeiro de GUERRA Antocircnio
Joseacute Teixeira Gestatildeo ambiental de aacutereas degradadas 3ed ndash Rio de Janeiro Bertrand
Brasil 2008
ARAUacuteJO FILHO Joatildeo Ambroacutesio SILVA Nilzemary Lima da Impactos e mitigaccedilatildeo do
antropismo no nuacutecleo de desertificaccedilatildeo em Irauccediluba In OLIVEIRA Joseacute Gerardo Beserra
SALES Marta Celina Linhares (Org) Monitorando a desertificaccedilatildeo em Irauccediluba
resultados de doze anos de pesquisa Fortaleza Ediccedilotildees UFC2013 (No Prelo)
BACHA Carlos Joseacute Caetano Eficaacutecia da poliacutetica de reserva legal no Brasil Teoria e
Evidecircncia Econocircmica Passo Fundo RS v 13 n25 p9-27 2005
BRASIL Acoacuterdatildeo nordm 2633-51 de 10 de dezembro de 2007 do Tribunal de Contas da Uniatildeo
Relatoacuterio de auditoria Projetos de assentamento Estudos de viabilidade ambiental Reserva
legal Licenciamento ambiental Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 11 dez 2007
Disponiacutevel em lthttptcugovbrgt Acesso em 12 mar 2013
BRASIL Constituiccedilatildeo Repuacuteblica dos Estados Unidos do Brasil de 16 de julho de 1934
Constituiccedilatildeo (1934) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Rio de Janeiro RJ 16 jul 1934
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 8 jul 2013
BRASIL Constituiccedilatildeo Repuacuteblica dos Estados Unidos do Brasil de 18 de setembro de 1946
Constituiccedilatildeo (1946) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Rio de Janeiro RJ 25 set 1946
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 08 jul 2013
BRASIL Constituiccedilatildeo Repuacuteblica Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988
Constituiccedilatildeo (1988) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia-DF 05 out 1988
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 8 set 2011
BRASIL Decreto Federal ndeg 24643 de 10 de julho de 1934 Decreta o Coacutedigo de Aacuteguas
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 10 jul 1934
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Decreto Federal ndeg 23793 de 23 de janeiro de 1934 Aprova o coacutedigo florestal
que com este baixa Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Rio de Janeiro RJ 21 mar 1935
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 11 nov 2010
BRASIL Decreto-Lei ndeg 227 de 28 de fevereiro de 1967 Daacute nova redaccedilatildeo ao Decreto-lei
nordm 1985 de 29 de janeiro de 1940 (Coacutedigo de Minas) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia
DF 28 fev 1967 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Decreto Federal nordm 6514 de 22 de julho de 2008 Dispotildee sobre as infraccedilotildees e
sanccedilotildees administrativas ao meio ambiente estabelece o processo administrativo federal
para apuraccedilatildeo destas infraccedilotildees e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo Brasiacutelia DF 23 jul 2008 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em
05 out 2010
BRASIL Lei Federal ndeg 4504 de 30 de novembro de 1964 Dispotildee sobre o Estatuto da Terra
e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 31 nov 1964
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 08 jul 2013
BRASIL Lei Federal nordm 4771 de 15 de setembro de 1965 Institui o novo Coacutedigo Florestal
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 16 set 1965 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 10 out 2010
BRASIL Lei Federal ndeg 4947 de 06 de abril de 1966 Fixa Normas de Direito Agraacuterio
Dispotildee sobre o Sistema de Organizaccedilatildeo e Funcionamento do Instituto Brasileiro de
Reforma Agraacuteria e daacute outras Providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 11 abr
1966 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 02 abr 2013
BRASIL Lei Federal nordm 5197 de 03 de janeiro de 1967 Dispotildee sobre a proteccedilatildeo agrave fauna e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 03 jan 1967
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 6015 de 31 de dezembro de 1973 Dispotildee sobre os registros
puacuteblicos e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 31 dez 1973
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 6938 de 31 de agosto de 1981 Dispotildee sobre a Poliacutetica Nacional
do Meio Ambiente seus fins e mecanismos de formulaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 02 set 1981
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 13 ago 2012
BRASIL Lei Federal nordm 7803 de 18 de julho de 1989 Altera a redaccedilatildeo da Lei nordm 4771 de
15 de setembro de 1965 e revoga as Leis nordms 6535 de 15 de junho de 1978 e 7511 de 7
de julho de 1986 Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 20 jul 1989
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 15 mar 2012
BRASIL Lei Federal nordm 7827 de 27 de setembro de 1989 Regulamenta o art 159 inciso I
aliacutenea c da Constituiccedilatildeo Federal institui o Fundo Constitucional de Financiamento do
Norte - FNO o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste - FNE e o Fundo
Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste - FCO e daacute outras providecircncias
114
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 27 set 1989 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 13 mai 2013
BRASIL Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada Amazocircnia Legal Brasiacutelia 2011
Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrgt Acesso em 02 jun2013
BRASIL Lei Federal nordm 9443 de 08 de janeiro de 1997 Institui a Poliacutetica Nacional de
Recursos Hiacutedricos cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hiacutedricos
regulamenta o inciso XIX do art 21 da Constituiccedilatildeo Federal e altera o art 1ordm da Lei nordm
8001 de 13 de marccedilo de 1990 que modificou a Lei nordm 7990 de 28 de dezembro de 1989 Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 08 jan 1997 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 05 out 2010
BRASIL Lei Federal nordm 9605 de 12 de fevereiro de 1998 Dispotildee sobre as sanccedilotildees penais e
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 12 fev 1998
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 11959 de 29 de junho de 2009 Dispotildee sobre a Poliacutetica Nacional
de Desenvolvimento Sustentaacutevel da Aquicultura e da Pesca regula as atividades
pesqueiras revoga a Lei nordm 7679 de 23 de novembro de 1988 e dispositivos do Decreto-
Lei nordm 221 de 28 de fevereiro de 1967 e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo Brasiacutelia DF 29 jun 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em
11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 12651 de 25 de maio de 2012 Dispotildee sobre a proteccedilatildeo da
vegetaccedilatildeo nativa altera as Leis nos 6938 de 31 de agosto de 1981 9393 de 19 de
dezembro de 1996 e 11428 de 22 de dezembro de 2006 revoga as Leis nos 4771 de 15
de setembro de 1965 e 7754 de 14 de abril de 1989 e a Medida Provisoacuteria no 2166-67
de 24 de agosto de 2001 e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF
25 mai 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 17 jan 2013
BRASIL Medida Provisoacuteria nordm 1511 de 25 de julho de 1996 Daacute nova redaccedilatildeo ao art 44
da Lei nordm 4771 de 15 de setembro de 1965 e dispotildee sobre a proibiccedilatildeo do incremento da
conversatildeo de aacutereas florestais em aacutereas agriacutecolas na regiatildeo Norte e na parte Norte da
regiatildeo Centro-Oeste e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 26
jul 1996 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Medida Provisoacuteria nordm 2166-67 de 24 de agosto de 2001 Altera os arts 1o 4o 14
16 e 44 e acresce dispositivos agrave Lei no 4771 de 15 de setembro de 1965 que institui o
Coacutedigo Florestal bem como altera o art 10 da Lei no 9393 de 19 de dezembro de 1996
que dispotildee sobre o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 25 ago 2001 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 05 out 2010
BRASIL Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio II Plano Nacional de Reforma Agraacuteria
ndash PNRA 2003 Conferecircncia da Terra em Brasiacutelia Disponiacutevel em lt httpwwwmdagovbrgt Acesso em 23 jul 2013
115
BRASIL Resoluccedilatildeo CONAMA ndeg 5 de 15 de junho de 1989 Dispotildee sobre o Programa
Nacional de Controle da Poluiccedilatildeo do Ar ndash PRONAR Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF
25 ago 1989 Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro
Brasiacutelia 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwasabrasilorgbrgt Acesso em 05 jun 2013
BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Monitoramento do desmatamento nos biomas
brasileiros por sateacutelite Acordo de cooperaccedilatildeo teacutecnica MMAIBAMA Monitoramento do
bioma Caatinga Brasiacutelia 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 16
mar 2012
BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Programa de Accedilatildeo Nacional de Combate agrave
Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca PAN-Brasil Brasiacutelia 2004
Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 07 mai 2012
BRASIL Norma de Execuccedilatildeo INCRA nordm 43 de 28 de junho de 2005 Estabelece criteacuterios e
procedimentos referentes agrave implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de
Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria Boletim de Serviccedilos nordm
27 de 04072005 Disponiacutevel em lthttpwwwincragovbrgt Acesso em 05 abr 2013
BRASIL Norma de Execuccedilatildeo INCRA nordm 44 de 28 de junho de 2005 Estabelece valor
unitaacuterio por famiacutelia referente agrave implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de
Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria
Disponiacutevel em lthttpwwwincragovbrgt Acesso em 05 abr 2013
BRASIL Norma de Execuccedilatildeo INCRA nordm 51 de 24 de julho de 2006 Aprova o Manual para
Elaboraccedilatildeo e Implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos naturais e
seus Anexos Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 26 jul 2006
Disponiacutevel em lthttpwwwincragovbrgt Acesso em 05 abr 2013
BRASIL Resoluccedilatildeo CONAMA ndeg 387 de 27 de dezembro de 2006 Revoga a Resoluccedilatildeo
CONAMA no 28901 Estabelece procedimentos para o licenciamento ambiental de Projetos
de Assentamentos de Reforma Agraacuteria e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo Brasiacutelia DF 29 dez 2006
Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 03 abr 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Lei Estadual nordm 12488 de 13 de setembro de
1995 Dispotildee sobre a Poliacutetica Florestal do Estado do Cearaacute e daacute outras providecircncias Diaacuterio
Oficial do Estado Cearaacute CE 27 set 1995
Disponiacutevel em lthttpwwwalcegovbrgt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Resoluccedilatildeo COEMA ndeg 09 de 29 de maio de
2003 Institui o compromisso de compensaccedilatildeo ambiental por danos causados ao meio
ambiente e pela utilizaccedilatildeo de recursos ambientais Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 09
jun 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwsemacecegovbrgt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Lei Complementar Estadual nordm 48 de 19 de julho
de 2004 Cria o Fundo e o Conselho Estadual Gestor do Meio Ambiente ndash FEMA e daacute
116
outras providecircncias Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 23 jul 2004 Disponiacutevel em
lthttpwwwalcegovbr gt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Decreto Estadual ndeg 27719 de 07 de marccedilo de
2005 Regulamenta a Lei Complementar nordm 48 de 19 de julho de 2004 que cria o Fundo
Estadual do Meio Ambiente ndash FEMA o Conselho Gestor e revoga o Decreto nordm 27564 de
17 de setembro de 2004 Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 07 mar 2005 Disponiacutevel
em lthttpwwwalcegovbr gt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Lei Estadual nordm 14198 de 05 de agosto de 2008
Institui a Poliacutetica Estadual de Combate e Prevenccedilatildeo agrave Desertificaccedilatildeo e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 12 ago 2008 Disponiacutevel em
lthttpwwwalcegovbrgt Acesso em 19 jul 2013
CEARAacute Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute ndash IPECE Cearaacute em
nuacutemeros Fortaleza 2010 Disponiacutevel em httpwwwipececegovbr Acesso em 17 nov
2012
CEARAacute Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute Perfil baacutesico municipal
Irauccediluba Fortaleza 2012 Disponiacutevel em httpwwwipececegovbr Acesso em 21 jul
2013
CEARAacute Secretaria dos Recursos Hiacutedricos Programa de accedilatildeo estadual de combate agrave
desertificaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo dos efeitos da seca PAE-CE Fortaleza Ministeacuterio do Meio
Ambiente Secretaria dos Recursos Hiacutedricos 2010 372p
CRIADO Francisco de Asiacutes Palaacutecios O registro e seus desafios no novo milecircnio ordem
progresso e proteccedilatildeo ambiental Satildeo Paulo Saraiva 2010
DANTAS Eustoacutegio Wanderley Correia et al Cearaacute um novo olhar geograacutefico 2 ed atual
Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha 2007
EMBRAPA Centro Nacional de Pesquisa de Solos (Rio de Janeiro RJ) Sistema brasileiro
de classificaccedilatildeo de solos 2 ed ndash Rio de Janeiro 2006
FILHO Humberto Lima de Lucena Consideraccedilotildees acerca da medida provisoacuteria ndash aspectos
juriacutedicos e praacuteticas governamentais Revista Eletrocircnica Jus Navegandi Ano 2005 mecircs
JULHO Disponiacutevel em ltwwwjuscombrgt Acesso em 02 jun 2013
FOLHES Marcelo Teophilo VIANA Manuel Osoacuterio de Lima Estudo da
degradaccedilatildeodesertificaccedilatildeo em sistemas de produccedilatildeo no semiaacuterido nos estados do Cearaacute
e Piauiacute diagnoacutestico soacutecio-econocircmico do municiacutepio de Irauccediluba Departamento de Economia
Agriacutecola da Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2001
GALDINO Valeacuteria Silva CANDIDO Angeacutelica Giosa Da reserva legal florestal como
limitaccedilatildeo ao direito de propriedade Revista de Ciecircncias Juriacutedicas v 6 n1 237-252 2008
GUERRA Antocircnio Joseacute Teixeira et al Dicionaacuterio de meio ambiente Rio de Janeiro Thex
2009
117
IBGE Censo 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrgt Acesso 3 ago 2013
IBGE Censo 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrgt Acesso 3 ago 2013
IBGE Censo 2011 Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrgt Acesso 3 ago 2013
IRAUCcedilUBA Prefeitura Municipal Lei Municipal nordm 565 de 19 de outubro de 2007 Dispotildee
sobre a Poliacutetica Ambiental do Municiacutepio de Irauccediluba Unidades de Conservaccedilatildeo e daacute
outras providecircncias IrauccedilubaCE 2007
IRAUCcedilUBA Prefeitura Municipal Plano de accedilatildeo municipal de combate a desertificaccedilatildeo
de Irauccediluba (PAM 2009) Irauccediluba CEInstituto Cactos 2009
JACOMINE P K T et al Levantamento exploratoacuterio reconhecimento de solos do Estado
do Cearaacute Recife DPP AgMADNPEA-SUDENEDRN 1973 2 v (Boletim de Pesquisa n
28)
LUSTOSA Jacqueline Pires Gonccedilalves Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica micromorfoloacutegica e
mineraloacutegica de trecircs topossequumlecircncias no Municiacutepio de Irauccediluba e suas relaccedilotildees com os
processos de desertificaccedilatildeo 142f 2004 Tese de doutorado em Geociecircncias Instituto de
Geociecircncias e Ciecircncias Exatas da Universidade Estadual Paulista Rio ClaroSP 2004
MAIA Gerda Nickel Caatinga aacutervores e arbustos e suas utilidades 2 ed Fortaleza
Printcolor Graacutefica e Editora 2012
MAGNANINI Alceo A histoacuteria da Lei Federal ndeg 47711965 (ldquoCoacutedigordquo florestal
brasileiro) Disponiacutevel em lthttpwwwportaldomeioambienteorgbrgt Acesso em lt20 dez
2010gt
MATALLO JR Heitor A desertificaccedilatildeo no mundo e no Brasil In SCHENKEL Celso
Salatino MATALLO JR Heitor Desertificaccedilatildeo Brasiacutelia UNESCO 1999
MEIRELES Hely Lopes Direito administrativo brasileiro 29 ed Satildeo Paulo Malheiros
2004
MELO Ewerton Torres Diagnoacutestico fiacutesico conservacionista da microbacia do riacho dos
cavalos - Crateuacutes-Cearaacute 128f 2008 Dissertaccedilatildeo de mestrado do Programa Regional de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) da Universidade
Federal do Cearaacute FortalezaCE 2008
MELO Marcelo Augusto Santana O meio ambiente e o registro de imoacuteveis Satildeo Paulo
Saraiva 2010
METZGER Jean Paul Bases bioloacutegicas para a bdquoreserva legal‟ Revista Ciecircncia Hoje v 31
n 183 p 48-49 2002
MILAREacute Eacutedis Direito do ambiente e a gestatildeo ambiental em foco doutrina
jurisprudecircncia glossaacuterio 6ed rev atual e ampl Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais
2009
118
MIRANDA Joatildeo Paulo Rocha de Aquecimento global queimadas e reserva legal no
Direito Paacutetrio conflitos e desafios na Amazocircnia brasileira MT Amazoon Manaus 2008
MONDIN Basttista Introduccedilatildeo agrave filosofia problemas sistemas autores obras 15 ed Satildeo
Paulo Paulus 2004 p 117
MONTEIRO Washington de Barros Curso de direito civil parte geral 4 ed Satildeo Paulo
Saraiva 1992
MORAES Luis Carlos Silva de Coacutedigo florestal comentado Satildeo Paulo Atlas 2002
NOLETO Tania Maria Serra de Jesus Suscetibilidade geoambietal das terras secas da
microrregiatildeo de SobralCe agrave desertificaccedilatildeo 145f 2005 Dissertaccedilatildeo de mestrado do
Programa Regional de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA)
da Universidade Federal do Cearaacute FortalezaCE 2005
ODUM Eugene P BARRET Gary W Fundamentos da ecologia Satildeo Paulo Cengage
Learning 2008
PINHEIRO Renata Aline Bezerra Anaacutelise do processo de degradaccedilatildeodesertificaccedilatildeo na
bacia do riacho feiticeiro com base no DFC municiacutepio de Jaguaribe-Cearaacute 129f 2011
Dissertaccedilatildeo de mestrado do Programa Regional de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e
Meio Ambiente (PRODEMA) da Universidade Federal do Cearaacute FortalezaCE 2011
SALES Marta Celina Linhares Evoluccedilatildeo dos estudos de desertificaccedilatildeo no nordeste
brasileiro Revista GEOUSP Espaccedilo e TempoSatildep Paulo n11 p 115-126 2002
SCHAFFER Wigold B MEDEIROS Joatildeo de Deus Normas ambientais gerais de caraacuteter
nacional imprescindiacuteveis para as poliacuteticas estrateacutegicas do paiacutes Ano 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwapremaviorgbrgt Acesso em 20 set 2010
SILVA Benedita Aparecida de Poliacutetica florestal reserva legal extra propriedade Revista
Economia Anaacutelises e Perspectivas Socioeconocircmicas v 3 n7 p 59-60 2001
SORENSEN Thorvald Julius A Method of establishing groups of equal amplitude in
plant sociology based on similarity of species content and its application to analyses of
the vegetation on danish commons Koslashbenhavn I kommission hos E Munksgaard 1948
SUDENE Dados pluviomeacutetricos mensais do nordeste estado do Cearaacute Recife 1990
THORNTHWAITE Charles Warren MATHER John Russell The Water Balance
Publications in climatology New Jersey v3 n1 1955
TRENNEPOHL Curt As sanccedilotildees administrativas aplicaacuteveis pela falta de averbaccedilatildeo da
reserva legal Constitucionalidade e legalidade do art 55 do Decreto ndeg 651408 Foacuterum de
Direito Urbano e Ambiental v 8 n44 p 09-14 2009
119
Dedico a Deus minha forccedila Autor da minha
vida meu tudo e ao meu marido Pedro
eterno companheiro e ajudador
AGRADECIMENTOS
A Deus que eacute Quem me permitiu ser aprovada estar e concluir esse curso tatildeo importante Ele
que em mim gerou todas as forccedilas necessaacuterias para continuar e natildeo desistir dando-me a
condiccedilatildeo de chegar ateacute o fim com louvor
Ao Professor Dr Joseacute Gerardo Beserra de Oliveira pela orientaccedilatildeo pela paciecircncia pelo
carinho e apoio desprendidos para a realizaccedilatildeo deste trabalho Por seus conhecimentos na
aacuterea pois sem eles natildeo poderia ter me levado a enriquecer tanto este trabalho
Agrave CAPES que me ajudou financeiramente
Agrave minha famiacutelia em especial minha matildee que sempre procurou saber como estava a minha
pesquisa dando-me aquele apoio nato de matildee
A Pedro Saraiva meu amor grande amor que sempre me apoiou e acreditou no meu talento
na minha competecircncia e vitoacuteria
Aos servidores do INCRA muito soliacutecitos e atenciosos com a minha pesquisa dentre eles sr
Raimundo Martins da Divisatildeo de Ordenamento da Estrutura Fundiaacuteria Joseacute Jaime D‟Alencar
Juacutenior do Serviccedilo de Cartografia Odilo Neto Luna Coelho e Joseacute Salmito de Almeida Juacutenior
ambos da Divisatildeo de Obtenccedilatildeo de Terras ndash setor de Serviccedilo ao Meio Ambiente
Agrave Dra Claacuteudia Regina Nogueira titular do Cartoacuterio de Registro de Imoacuteveis de Irauccediluba por
sua disponibilidade e por permitir o acesso aos livros cartoraacuterios onde encontrei dados tatildeo
importantes para o trabalho
Ao IDACE atraveacutes dos servidores Dr Paulo Henrique Lobo diretor teacutecnico de operaccedilotildees
Dr Ricardo Durval superintendente do oacutergatildeo Linardy Barreto de Holanda Priscila Azevedo
de Aguiar ambos do Nuacutecleo de Geoprocessamento (NUGEO) Nadir Loiola Dias e Florence
Mary Cavalcante Mouratildeo Lobo ambas da Diretoria Teacutecnica e de Operaccedilotildees (DTO) Todos
eles me ajudaram de forma a tornar possiacutevel parte desta pesquisa pelo que sou imensamente
grata
Perguntei-me inuacutemeras vezes se deveria prosseguir A resposta me era
dada quando olhava para traacutes e via meu passado cheio de grandes
vitoacuterias e conquistas pela matildeo de Deus e pelo meu esforccedilo Entatildeo
decidi que natildeo seria agora que natildeo chegaria ateacute o fim mesmo que o
que me impulsionou para esse desafio jaacute natildeo tem mais a mesma
intensidade Aqui estou eu fazendo desse momento mais uma
imensuraacutevel vitoacuteria por Aquele que um dia me deu essa oportunidade
A Ele toda honra e toda gloacuteria
A autora
RESUMO
A degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio de Irauccediluba eacute alvo de vaacuterias pesquisas pois eacute um
problema onde as causas estatildeo presentes natildeo soacute ali mas em grande parte do semiaacuterido
nordestino no entanto ao se tratar deste assunto logo vem agrave tona outra questatildeo mais seacuteria o
processo de desertificaccedilatildeo O presente trabalho faz uma raacutepida abordagem do semiaacuterido
dando especial evidecircncia agravequele municiacutepio englobando a origem da degradaccedilatildeo a atual
situaccedilatildeo local e possiacuteveis formas para minimizar ou ateacute mesmo estagnar aquele problema
ambiental O objetivo geral foi levantar o nuacutemero de propriedades rurais no municiacutepio
elegendo em sua maioria os projetos de assentamento rural e verificar se possuiacuteam ou natildeo
uma aacuterea especialmente protegida denominada reserva legal A escolha desse instituto como
indicador se deu por ser ele um instrumento criado por lei e que por sua vez impele todo e
qualquer proprietaacuterio ou possuidor rural a manter uma parcela miacutenima de 20 do seu imoacutevel
preservado como aacuterea de Reserva Legal Sua efetividade como instrumento de preservaccedilatildeo
foi analisada em 6 propriedades a partir de imagens do sateacutelite LANDSAT 5 com base nos
anos de 1993 e 2007 e atraveacutes da anaacutelise do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada
(NDVI) foi realizado um estudo comparativo para verificar se houve evoluccedilatildeo ou natildeo do
quadro vegetativo dentro e fora das aacutereas de reserva legal Na identificaccedilatildeo dos imoacuteveis
estudados soacute foram encontrados seis com reserva legal oficialmente implantada ateacute o ano de
2007 data mais recente da imagem de sateacutelite empregada A anaacutelise comparativa realizada
com esses imoacuteveis que tecircm algum tipo de registro no Cartoacuterio de Imoacuteveis eou no INCRA
dentre os 713 medidos e georreferenciados pelo IDACE e que por sua vez foi conduzida com
uso do NDVI natildeo indicou diferenccedila significativa entre os iacutendices encontrados para a
cobertura vegetal dentro e fora das aacutereas de Reserva Legal
Palavras-chave Degradaccedilatildeo Ambiental Coacutedigo Florestal Reserva Legal IrauccedilubaCE
ABSTRACT
The environmental degradation in the municipality of Irauccediluba is the target of several studies
because it is an issue where the causes are present in much of the northeastern semiarid
However when dealing with this subject soon comes to attention another issue which is more
serious and that arises from the ongoing degradation the process of desertification The
present paper analyzes briefly the cearense semiarid giving special emphasis to that
municipality so that the origin of the degradation the current local situation and even
possible ways to minimize or even stagnate that environmental problem were all the target of
this research The overall goal was to enumerate the number of farms among them those that
either have a specially protected area called legal reserve or those that does not The choice
of this statistic as an indicator was due to the fact that it is a legal instrument which in turns
compels all and any owner of land or rural possessor to maintain 20 of their property
preserved as a Legal Reserve area Its effectiveness as a tool for preservation was analyzed in
6 properties with the help of satellite images from LANDSAT 5 taken between the years
1993 and 2007 and by examining the Normalized Difference Vegetation Index (NDVI) a
comparative study was conducted to determine whether there was a growth or not of the
vegetative area inside and outside the legal reserves During the identification of the
properties to be studied only six were found to have a legal reserve officially implemented by
the year 2007 the most recent date of the satellite images used A comparative analysis with
those lands that have some kind of record in the Registry of Property andor INCRA among
the 713 measured and georeferenced by IDACE and that in turn used the NDVI as a
guideline indicated no significant difference on the index either inside or outside the Legal
Reserves areas
Key-Words Environmental degradation Forest code Legal reserve IrauccedilubaCE
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 27
Figura 2 Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 (Novo Coacutedigo
Florestal)
27
Figura 3 Sistema de degradaccedilatildeo do meio ambiente 47
Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro 53
Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute 54
Figura 6 Iacutendice de aridez (UNEP) 56
Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo no Cearaacute 57
Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo 57
Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no ISSD 59
Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no IESD 60
Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios 61
Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute 79
Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba 79
Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo 81
Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras permanentes 85
Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras temporaacuterias 85
Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem
vegetal (tonano)
86
Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem
vegetal (m3ano)
86
Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011) 87
Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001 88
Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010 88
Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011 89
Figura 23 Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos 90
Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba 91
Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba 92
Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba 94
Figura 27 Grupo de solos que formam as associaccedilotildees pedoloacutegicas em
Irauccediluba
95
Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba 96
Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba 97
Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual 97
Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba 98
Figura 32 Iacutendice de umidade em Irauccediluba 98
Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba 100
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Medidas Provisoacuterias 21
Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras 48
Tabela 3 Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez (UNEP) 52
Tabela 4 Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo 55
Tabela 5 Levantamento de imoacuteveis com reserva legal (cartoacuterio de
registro de imoacuteveis)
73
Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais 76
Tabela 7 Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba 77
Tabela 8 Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de
anaacutelise
80
Tabela 9 Dados da propriedade particular estudada 80
Tabela 10 Propriedades estudadas 81
Tabela 11 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem
animal
87
Tabela 12 Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores 90
Tabela 13 Relaccedilatildeo entre solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo 93
Tabela 14 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEmbrapa 93
Tabela 15 Anaacutelise geral das propriedades estudadas 101
Tabela 16 NDVI dos imoacuteveis estudados 107
Tabela 17 Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal entre dentro e fora da aacuterea
de reserva legal pelo meacutetodo Sorensen
108
SUMAacuteRIO
Lista de Figuras vii
Lista de Tabelas ix
Resumo v
Abstract vi
INTRODUCcedilAtildeO 12
1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 14
11 O Instituto da Reserva Legal 14
111 Conceito 15
112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica 17
113 Importacircncia da Reserva Legal 30
1131 Juriacutedica 31
1132 Social 32
1133 Ambiental 33
1134 Econocircmica 35
114 Direito de Propriedade X Reserva Legal 36
1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa 41
1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal 42
2 PROCESSO DE DEGRADACcedilAtildeO 45
21 Conceito 45
22 Degradaccedilatildeo ambiental 48
221 Erosatildeo 49
222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica 49
223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica 50
23 A degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 51
231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia 52
24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental 62
25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira 65
251 Lei ambiental de Irauccediluba 69
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 71
31 Reserva Legal em Irauccediluba 71
311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental ndash Projeto de
Assentamento Agraacuterio em foco
73
32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo 78
321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba 78
3211 Das propriedades estudadas 79
3212 Aspectos histoacutericos de ocupaccedilatildeo 82
322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas 82
323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba 91
3231 Altimetria e Classes de relevo 91
3232 Solos 92
3233 Clima 95
3234 Vegetaccedilatildeo 99
3235 Recursos Hiacutedricos 100
324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo 101
33 Metodologia 104
331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite 104
4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES 107
41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 107
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 110
REFEREcircNCIAS 113
INTRODUCcedilAtildeO
A degradaccedilatildeo como um problema ambiental jaacute foi alvo de inuacutemeras pesquisas
principalmente quando se trata do semiaacuterido brasileiro Estudos nesse sentido datam da
deacutecada de 70 eacutepoca em que o professor Vasconcelos Sobrinho passou a pesquisar o processo
de desertificaccedilatildeo no nordeste do Brasil (SALES 2002) Nas investigaccedilotildees ele identificou um
nuacutecleo no Cearaacute que se localiza em Irauccediluba Em assim sendo buscou-se desenvolver um
trabalho naquele municiacutepio tomando por base um mecanismo criado por lei cujo caraacuteter eacute a
conservaccedilatildeo do meio ambiente Trata-se da reserva legal Como nessa aacuterea natildeo haacute pesquisa
envolvendo a aplicabilidade do tal instituto viu-se a oportunidade de estudaacute-la produzindo-se
o presente trabalho
A proposta principal da pesquisa eacute fazer um levantamento dos imoacuteveis existentes
no municiacutepio de Irauccediluba pontuando de forma preponderante os de propriedade federal e
estadual destinados aos assentamentos rurais e assim identificar nessas aacutereas a existecircncia ou
natildeo do instituto da reserva legal e sua devida implantaccedilatildeo Nesse sentido encontrou-se 6
propriedades que possuiacuteam a reserva legal sendo 5 puacuteblicas e 1 privada Empoacutes o segundo
intuito envolve a diferenciaccedilatildeo entre a cobertura vegetal da reserva e do restante da
propriedade a partir da utilizaccedilatildeo de imagens de sateacutelite e o uso do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por
Diferenccedila Normalizada (NDVI)
Para isso foi necessaacuterio fazer um apanhado de como esse instrumento de
conservaccedilatildeo foi e eacute abordado no Coacutedigo Florestal que eacute a lei onde haacute previsatildeo da reserva
legal bem como traccedilar um histoacuterico de como se deu sua evoluccedilatildeo dentro do quadro
legislativo no paiacutes foi igualmente essencial Da mesma maneira buscou-se contextualizar a
importacircncia da reserva legal nos aspectos econocircmico juriacutedico social e ambiental de forma
que ficou ilustrado o valor que esse mecanismo tem para a sociedade As discussotildees de cunho
juriacutedico e praacutetico sobre o assunto foram levantadas pois o proprietaacuterio do imoacutevel vecirc a reserva
legal como ocircnus e natildeo como um instrumento de conservaccedilatildeo que traraacute imensuraacuteveis
benefiacutecios ambientais dentro de sua proacutepria aacuterea Encerrando o primeiro capiacutetulo tecircm-se as
formas de cumprir o mandamento legal que envolvem a reserva muito embora isto tenha
sofrido algumas alteraccedilotildees como se veraacute a seguir
Quanto agrave reserva legal em Irauccediluba as constataccedilotildees natildeo satildeo animadoras
Infelizmente haacute um desencontro de informaccedilotildees a comeccedilar pelo controle do nuacutemero de
imoacuteveis existentes no municiacutepio Em seguida soacute foram encontrados trecircs imoacuteveis com a
obrigaccedilatildeo devidamente formalizada em cartoacuterio Isso diante de um universo de mais de 700
propriedades eacute frustrante e desencorajador Outra abordagem feita neste toacutepico aponta o
licenciamento ambiental como mais um instrumento possibilitador da instalaccedilatildeo da reserva
legal pois o oacutergatildeo ambiental tem dever de exigir o tal instituto para licenciar atividades e
empreendimentos localizados em zona rural
Igualmente desalentadora eacute a degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio Por se tratar de
uma aacuterea com caracteriacutesticas naturalmente adversas e limitantes sua ingerecircncia deveria ser
profundamente fiscalizada e regulamentada pelas autoridades competentes em todos os niacuteveis
de governo Mas isso natildeo ocorre pelo contraacuterio em Irauccediluba satildeo exercidas atividades com
meacutetodos bem rudimentares e sem qualquer preocupaccedilatildeo com a recuperaccedilatildeo dos danos e com a
capacidade de suporte do meio Assim acontece a degradaccedilatildeo das aacutereas com a praacutetica do
desmatamento das queimadas do sobrepastoreio e outros tipos de intervenccedilatildeo
ambientalmente prejudiciais Diante desse quadro o homem do campo tende a abandonar
estas e ocupar outras terras estimulando ainda mais o processo de desertificaccedilatildeo ali presente
Outro toacutepico em que se chama atenccedilatildeo no trabalho eacute a quantidade de leis
envolvendo o tema Natildeo faltam regulamentaccedilotildees muito pelo contraacuterio sobram O que se
percebe eacute a existecircncia de leis para vaacuterios assuntos em vez de uma que englobe a maioria
deles Com lei ou sem lei a situaccedilatildeo parece natildeo progredir positivamente em termos de
recuperaccedilatildeo ambiental embora haja uma estrutura poliacutetica econocircmica e juriacutedica dirigida para
tais fins Aleacutem disto existem poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o municiacutepio especificamente e
outras que natildeo mas podem ser implementadas ali Eacute o caso dos benefiacutecios dos inuacutemeros
programas de governo direcionados para a reforma agraacuteria por exemplo Outro caso satildeo os
fundos de combate agrave degradaccedilatildeo e agrave desertificaccedilatildeo Nesta orientaccedilatildeo percebe-se que natildeo
faltam leis poliacuteticas puacuteblicas ou recursos Felizmente existe todo um aparato no sentido de
melhorar as condiccedilotildees ambientais e minimizar danos mas infelizmente na praacutetica essa
estrutura natildeo voga como deveria
Todo esse cenaacuterio estaacute enquadrado na caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo
devidamente abordada no terceiro capiacutetulo Laacute satildeo mencionados os aspectos socioeconocircmicos
do municiacutepio perpassando pelos acontecimentos histoacutericos de sua ocupaccedilatildeo As
caracteriacutesticas fisiograacuteficas de Irauccediluba tambeacutem se fazem presentes de maneira que foram
abordados aspectos pedoloacutegicos climaacuteticos vegetativos e hiacutedricos Aleacutem disto a metodologia
utilizada permitiu as constataccedilotildees discorridas nos resultados e discussotildees inseridas no
capiacutetulo 4 de forma que os objetivos da pesquisa foram alcanccedilados
13
1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
11 O Instituto da Reserva Legal
A reserva legal eacute um instituto cuja importacircncia perfaz o esteio do
desenvolvimento sustentaacutevel no sentido de que harmoniza a viabilidade econocircmica com a
justiccedila social e o equiliacutebrio ecoloacutegico Eacute um notaacutevel exemplo de que eacute possiacutevel coexistirem
interesses particulares e coletivos pois a reserva legal nada mais eacute que a conservaccedilatildeo
ambiental de uma determinada porcentagem da propriedade ou posse rural passiacutevel de
intervenccedilatildeo pelo homem do campo
O presente estudo indica a reserva legal como uma forma de conservaccedilatildeo do
meio em face da extraccedilatildeo vegetal promovida pelo proprietaacuterio agriacutecola Foca ainda os
aspectos social econocircmico e ambiental dessa imposiccedilatildeo que tem seu nascedouro na legislaccedilatildeo
vigente Corrobora Silva (2001 p 59) ao afirmar que ldquoa cobertura vegetal nativa sobretudo
as florestais exerce papel de fundamental importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de
ecossistemas naturais bem como de ecossistemas criados pelo homemrdquo No mesmo sentido
Miranda (2008 p 31) diz que ldquoa reserva legal contribui para a mitigaccedilatildeo do aquecimento
global salvaguarda a biodiversidade e garante agraves presentes e futuras geraccedilotildees o direito a um
meio ambiente ecologicamente equilibradordquo
Traz-se agrave tona os aspectos que fundamentam a reserva legal como um instituto
que fora criado por lei especiacutefica para a conservaccedilatildeo do meio pois erroneamente os
proprietaacuterios rurais a veem como limitaccedilatildeo ao direito de propriedade e entendem que destinar
uma porcentagem de seus imoacuteveis para uma aacuterea que natildeo corresponde agrave afericcedilatildeo de lucro eacute
tatildeo somente um ocircnus eou uma perda e natildeo um investimento Nesse sentido explicam
Galdino e Candido (2008 p 251) que ldquoa instituiccedilatildeo da reserva legal natildeo enfraquece ou destroacutei
o direito de propriedade Ao reveacutes possibilita a existecircncia de um meio ambiente
ecologicamente equilibrado condicionando a propriedade a uma funccedilatildeo socioambientalrdquo
Conforme Bacha (2005 p 24) ldquodeve-se pensar em novas formas de estiacutemulo
econocircmico ao produtor para que ele recomponha a reserva legal pois a legislaccedilatildeo atual
apenas lhe coloca custos em contrapartida de benefiacutecios a toda sociedaderdquo Cabe ainda
mencionar a possibilidade prevista no Coacutedigo Florestal ou seja na Lei 4771 (BRASIL
1965) quanto agrave intervenccedilatildeo na aacuterea destinada agrave reserva legal de forma sustentaacutevel sem
suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo
econocircmica dessas aacutereas
Existem estudos justificando biologicamente a existecircncia da reserva legal Eacute sobre
o que discorre Metzger (2002 p 48) quando afirma que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de
propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa satildeo
fundamentais para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada
regiatildeordquo Complementa ainda Silva (2001 p 59) quando afirma sobre ldquoa importacircncia da
cobertura vegetal em reserva legal que permite uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da
aacutegua no solo e no subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos aleacutem de
promover a manutenccedilatildeo da diversidade geneacuteticardquo
Ademais o exerciacutecio de atividades econocircmicas que tem por principal insumo os
recursos naturais modifica sensivelmente a cobertura vegetal e o solo contribuindo para um
processo de degradaccedilatildeo Para tanto o respeito agrave legislaccedilatildeo ambiental vigente como o Coacutedigo
Florestal por exemplo eacute de extrema relevacircncia uma vez que eacute norma conducente agrave
conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo das formas de vegetaccedilatildeo e suas respectivas ingerecircncias Tal lei
prevecirc a reserva legal como espaccedilo especialmente protegido
Balizando tal atividade econocircmica frente agrave observacircncia da reserva legal surge a
proposiccedilatildeo elencada por Bacha (2005 p 24) que ldquopara o produtor rural honrar tal instituto
tendo-o como lucrativo eacute necessaacuterio que sua composiccedilatildeo floriacutestica seja feita em parte com
espeacutecies comerciaisrdquo Eacute o que Miranda (2008 p 45) sob o aspecto socioeconocircmico bem
pontua quando evidencia que esta legislaccedilatildeo carece de aderecircncia social pois natildeo condiz com
a realidade e que enfatiza ainda
Para que haja aderecircncia social ela deveria prever uma reestruturaccedilatildeo completa no
modelo de desenvolvimento Sem isso tanto os pequenos como os grandes
proprietaacuterios natildeo possuiratildeo condiccedilotildees para cumprir a lei e uma vez na ilegalidade
cometem outros crimes ambientais E por entenderem que a lei natildeo eacute factiacutevel natildeo a
cumprem [] Aleacutem disso as linhas de creacutedito inclusive dos bancos oficiais natildeo
financiam atividades sustentaacuteveis mas a pecuaacuteria o plantio de soja entre outras por
acreditarem possuir nelas uma seguranccedila maior para o investimento (MIRANDA
2008 p 45)
111 Conceito
A reserva legal eacute um mecanismo criado para a conservaccedilatildeo dos recursos naturais
cuja origem eacute a lei Sua essecircncia sempre esteve presente em normas de caraacuteter protecionista
que dispunham sobre florestas e demais formas de vegetaccedilatildeo muito embora tenham ocorrido
inuacutemeras alteraccedilotildees ao longo do tempo Eacute o que se pode observar pela evoluccedilatildeo legislativa
que a seguir seraacute apontada
15
A expressatildeo reserva legal pode ser simploriamente entendida como uma aacuterea a ser
conservada por um detentor de imoacutevel rural e que por sua vez varia com a localidade do
bioma em que a aacuterea estaacute inserida A lei que versa sobre esse tema eacute conhecida como Coacutedigo
Florestal e com esse nome existiu em trecircs momentos diferentes da histoacuteria do legislativo
brasileiro O primeiro foi no ano de 1934 o segundo em 1965 e por uacuteltimo em 2012 estando
presente em todos eles uma seacuterie de modificaccedilotildees que levaram ao aperfeiccediloamento do
conteuacutedo e dos objetivos da reserva legal bem como flexibilizaccedilotildees e restriccedilotildees a depender
do momento econocircmico em que o paiacutes vivia eou dos interesses da maioria de parlamentares agrave
eacutepoca
Atualmente a Lei 12651 de 25052012 ou como eacute conhecida por Novo Coacutedigo
Florestal atraveacutes de seu artigo 3ordm inciso III prevecirc o conceito de reserva legal da seguinte
forma
III ndash Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural
delimitada nos termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de
modo sustentaacutevel dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a
reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade
bem como o abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012
p 3) (BRASIL 2012)
Jaacute a previsatildeo elencada nos Coacutedigos anteriores de 1934 e 1965 dispotildee
Coacutedigo Florestal de 1934 - Decreto 23793
Art 23 - Nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas poderaacute abater mais de trecircs
quartas partes da vegetaccedilatildeo existente []
sect 1ordm O dispositivo do artigo natildeo se applica a juizo das autoridades florestaes
competentes agraves pequenas propriedades isoladas que estejam proximas de florestas
ou situadas em zona urbana
sect 2ordm Antes de iniciar a derrubada com a antecedencia minima de 30 dias o
proprietario daraacute sciencia de sua intenccedilatildeo aacute autoridade competente afim de que esta
determine a parte das mattas que seraacute conservada (BRASIL 1935 p 5)
Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771
Art 1ordm sect 2ordm inciso III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma
propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao
uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos
ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora
nativas (BRASIL 1965 p 2)
Percebe-se que na lei de 1934 se quer haacute menccedilatildeo ao termo reserva legal mas se
vecirc claramente a intenccedilatildeo conservacionista do legislador e se ressalte que eacute uma visatildeo bem
mais proacute-ambiente uma vez que proiacutebe o desmatamento acima de frac34 da propriedade
protegendo assim 25 de sua aacuterea Embora o Coacutedigo Florestal de 1934 natildeo preveja
16
explicitamente a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo em determinada aacuterea com o nome de reserva legal o
artigo 23 do diploma citado acima estaacute notoriamente revestido de um caraacuteter conservacionista
e quem natildeo o cumprisse estaria enquadrado no paraacutegrafo 4ordm do artigo 86 do Capitulo V ndash
Infracccedilotildees florestaes
Art 86 As contravenccedilotildees previstas nos arts 9ordm sect 1ordm 21 22 e sect 1ordm 23 e paragrapho
unico 24 a 30 31 a 34 37 43 a 45 49 e paragrapho unico 51 54 e paragrapho
unico 55 e 64 deste codigo quando natildeo se caracterizarem especialmente algumas
figuras delictuosas definidas no art 83 ou no art 87 sujeitas seus autores aacutes penas
seguintes
[]
sect 4ordm pelas das letras g h do art 22 e arts 23 e 44 - detenccedilatildeo ateacute 60 dias e multa ateacute
10000$000 (BRASIL 1935 p 14)
Em contrapartida um pouco mais aperfeiccediloado embora um tanto quanto tarde o
instituto da reserva legal aparece bem definido somente em 2001 quando a Medida Provisoacuteria
nordm 2166-6 (BRASIL 2001) acrescentou ao texto da Lei 4771 (BRASIL 1965) o seu conceito
da forma como eacute mais conhecido ultimamente apesar de natildeo se limitar soacute a esta modificaccedilatildeo
Como tantas outras leis o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) sofreu diversas
alteraccedilotildees ao longo de sua vigecircncia que durou ateacute 25 de maio de 2012 data em que a Lei
12651 (BRASIL 2012) entra em vigor revoga a anterior e estabelece o novo Coacutedigo
Florestal
Como a temaacutetica deste trabalho eacute discorrer sobre a existecircncia da reserva legal a
partir de um levantamento nas propriedades rurais seratildeo tratadas tatildeo somente as
modificaccedilotildees que dizem respeito a este instituto
112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica
O protecionismo florestal como ligeiramente mencionado anteriormente foi
delineado em um preceito normativo datado da deacutecada de 30 quando surgiu o primeiro
diploma legal a prever a conservaccedilatildeo relativa agrave manutenccedilatildeo das matas Eacute atraveacutes do Decreto
ndeg 23793 de 23 de janeiro de 1934 (BRASIL 1935) que a vegetaccedilatildeo recebe amparo e passa a
ser resguardada da supressatildeo indiscriminada Surge entatildeo o primeiro Coacutedigo Florestal
Brasileiro que em seu artigo 23 descreve que nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas
poderaacute abater mais de trecircs quartas partes da vegetaccedilatildeo existente
17
Eacute interessante observar que a delimitaccedilatildeo imposta pela norma corresponde a vinte
e cinco por cento da propriedade ou seja um grande desafio para a sociedade da eacutepoca que
era tradicionalmente agriacutecola e despontava para a industrializaccedilatildeo
Para melhor apreciar as preocupaccedilotildees que justificaram a ediccedilatildeo do Coacutedigo Florestal
de 1934 haacute que se entender a realidade soacutecio-econocircmica e poliacutetica da sociedade
brasileira no iniacutecio do seacuteculo XX A populaccedilatildeo estava concentrada proacuteximo agrave
Capital da Repuacuteblica cidade do Rio de Janeiro Estado da Guanabara A cafeicultura
avanccedilava pelos morros que constituem a topografia do Vale do Paraiacuteba substituindo
toda a vegetaccedilatildeo nativa A criaccedilatildeo de gado outra forma de utilizaccedilatildeo das terras
fazia-se de modo extensivo e com miacutenima teacutecnica Na silvicultura que jaacute se iniciara
tiacutemida nos primeiros anos do seacuteculo XX verificava-se o trabalho valioso e pioneiro
de Edmundo Navarro de Andrade com a introduccedilatildeo de espeacutecies de Eucalyptus mas
restrito agraves atividades da Cia Paulista de Estradas de Ferro no Estado de Satildeo Paulo
No resto do Paiacutes assim como antes no Estado de Satildeo Paulo a atividade florestal era
fundamentada no mais puro extrativismo Nos Estados do Paranaacute e Santa Catarina
os estoques de Araucaria angustifolia eram rapidamente exauridos Foi nesse cenaacuterio
que o Poder Puacuteblico decidiu interceder estabelecendo limites ao que parecia ser um
saque ou pilhagem dos recursos florestais (muito embora ateacute entatildeo tais praacuteticas
fossem liacutecitas) A mencionada ldquointervenccedilatildeordquo necessaacuteria materializou-se por meio
da ediccedilatildeo de um (primeiro) Coacutedigo Florestal o de 1934 (AHRENS 2001 p 6)
Diferentemente do Decreto de 1934 (BRASIL 1935) ao ser publicada em 15 de
setembro a Lei 4771 (BRASIL 1965) ou seja o Coacutedigo Florestal de 1965 trouxe em seu
artigo 16 a ideia do que seria a reserva legal Criou-se entatildeo um limite miacutenimo a ser
respeitado dentro de cada propriedade muito embora soacute mencione uma porcentagem definida
para aacutereas localizadas no Leste Sul e Centro-Oeste do paiacutes deixando de fora as demais
regiotildees
Art 16 As florestas de domiacutenio privado natildeo sujeitas ao regime de utilizaccedilatildeo
limitada e ressalvadas as de preservaccedilatildeo permanente previstas nos artigos 2deg e 3deg
desta lei satildeo suscetiacuteveis de exploraccedilatildeo obedecidas as seguintes restriccedilotildees
a) nas regiotildees Leste Meridional Sul e Centro-Oeste esta na parte sul as derrubadas
de florestas nativas primitivas ou regeneradas soacute seratildeo permitidas desde que seja
em qualquer caso respeitado o limite miacutenimo de 20 da aacuterea de cada
propriedade com cobertura arboacuterea localizada a criteacuterio da autoridade competente
b) nas regiotildees citadas na letra anterior nas aacutereas jaacute desbravadas e previamente
delimitadas pela autoridade competente ficam proibidas as derrubadas de florestas
primitivas quando feitas para ocupaccedilatildeo do solo com cultura e pastagens
permitindo-se nesses casos apenas a extraccedilatildeo de aacutervores para produccedilatildeo de madeira
Nas aacutereas ainda incultas sujeitas a formas de desbravamento as derrubadas de
florestas primitivas nos trabalhos de instalaccedilatildeo de novas propriedades agriacutecolas soacute
seratildeo toleradas ateacute o maacuteximo de 30 da aacuterea da propriedade
c) na regiatildeo Sul as aacutereas atualmente revestidas de formaccedilotildees florestais em que
ocorre o pinheiro brasileiro Araucaria angustifolia (Bert - O Ktze) natildeo poderatildeo
ser desflorestadas de forma a provocar a eliminaccedilatildeo permanente das florestas
tolerando-se somente a exploraccedilatildeo racional destas observadas as prescriccedilotildees
ditadas pela teacutecnica com a garantia de permanecircncia dos maciccedilos em boas condiccedilotildees
de desenvolvimento e produccedilatildeo
18
d) nas regiotildees Nordeste e Leste Setentrional inclusive nos Estados do Maranhatildeo e
Piauiacute o corte de aacutervores e a exploraccedilatildeo de florestas soacute seraacute permitida com
observacircncia de normas teacutecnicas a serem estabelecidas por ato do Poder Puacuteblico na
forma do art 15 sect 1ordm Nas propriedades rurais compreendidas na aliacutenea a deste artigo com aacuterea entre
vinte (20) a cinquumlenta (50) hectares computar-se-atildeo para efeito de fixaccedilatildeo do limite
percentual aleacutem da cobertura florestal de qualquer natureza os maciccedilos de porte
arboacutereo sejam frutiacutecolas ornamentais ou industriais (BRASIL 1965 p 6-7)
Honestamente natildeo se sabe o motivo pelo qual o legislador neste momento inicial
da lei natildeo se deteve agraves minuacutecias quanto agraves regiotildees Nordeste Oeste e Sudeste como o fez para
as outras ou porque sequer definiu percentuais de vegetaccedilatildeo a ser preservadas nelas Aleacutem
disto simplesmente deixar a cargo de ato do Poder Puacuteblico a exploraccedilatildeo de florestas e o corte
de aacutervores no Nordeste eacute no miacutenimo curioso principalmente porque nessa regiatildeo encontra-se
o bioma Caatinga que eacute iacutempar e inexiste em qualquer outra parte do mundo Corrobora com
isto o Monitoramento do Desmatamento nos Biomas Brasileiros por Sateacutelite MMA e IBAMA
ao expor que mesmo sendo a uacutenica grande regiatildeo natural brasileira cujos limites estatildeo
inteiramente restritos ao territoacuterio nacional pouca atenccedilatildeo tem sido dada agrave conservaccedilatildeo da
heterogecircnea paisagem da Caatinga (BRASIL 2010)
Aleacutem disto as colocaccedilotildees do artigo 44 surpreendem quando especializam o tipo
de corte permitido e enquadram 50 da propriedade como reserva legal para o Norte do paiacutes
e o norte da regiatildeo Centro-Oeste como se pode observar
Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste enquanto natildeo for
estabelecido o decreto de que trata o artigo 15 a exploraccedilatildeo a corte razo soacute eacute
permissiacutevel desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea pelo menos 50 da aacuterea
de cada propriedade (BRASIL 1965 p 15)
Em 1989 surge a Lei 7803 (BRASIL 1989b) que acrescenta os paraacutegrafos 2ordm e
3ordm ao artigo 16 inaugurando a expressatildeo reserva legal e ratificando o percentual miacutenimo do
que deveria ser conservado a tiacutetulo de reserva legal Ao artigo 44 foi acrescentado o
paraacutegrafo uacutenico onde os 50 da propriedade anteriormente indicados para permanecer com a
cobertura vegetal agora passam a ser reconhecidos como reserva legal Em ambos os
dispositivos estaacute presente o procedimento formal a ser adotado com fins de resguardar a
aplicaccedilatildeo daquele instituto e seus efeitos isto eacute a averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio
Art 16 []
sect 2ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) de
cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso deveraacute ser averbada agrave margem
19
da inscriccedilatildeo de matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo
vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou
de desmembramento da aacuterea
sect 3ordm Aplica-se agraves aacutereas de cerrado a reserva legal de 20 (vinte por cento) para
todos os efeitos legais (BRASIL 1989b p 1)
Art 44 [] Paraacutegrafo uacutenico A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 50
(cinquumlenta por cento) de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso
deveraacute ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de
imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de
transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de desmembramento da aacuterea (BRASIL 1989b p
2)
Nota-se que os dispositivos trazem novidades como a vedaccedilatildeo a um tipo de corte
o meacutetodo garantidor para a implantaccedilatildeo da reserva legal e a proibiccedilatildeo de mudanccedila na aacuterea
destinada a receber o benefiacutecio Ademais o bioma cerrado eacute especialmente citado afirmando
assim a instituiccedilatildeo da reserva legal nele e seu respectivo percentual
Vale destacar ainda a entidade puacuteblica que recebeu por forccedila legal a
incumbecircncia de promover os atos formais e documentais para a implantaccedilatildeo da reserva legal
Trata-se do registro ou cartoacuterio de imoacuteveis que por sua vez reuacutene em seus livros oficiais
todas as informaccedilotildees sobre as propriedades imobiliaacuterias de sua circunscriccedilatildeo ou regiatildeo
geograacutefica Enfim o registro de imoacuteveis eacute o oacutergatildeo constitutivo da propriedade e o que guarda
este direito aleacutem de vigiar se a funccedilatildeo social e ambiental do imoacutevel estaacute sendo cumprida
Por conseguinte houve a ediccedilatildeo da Medida Provisoacuteria1 1511 em 25 de julho de
1996 (BRASIL 1996) com o objetivo de dar nova redaccedilatildeo ao artigo 44 do Coacutedigo Florestal
ou seja amplia o percentual da reserva legal de 50 para 80 em casos especiacuteficos e esmiuacuteccedila o
Norte do Brasil e o norte da regiatildeo Centro-Oeste
Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste a exploraccedilatildeo a
corte raso soacute eacute permitida desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea de no
miacutenimo cinquumlenta por cento de cada propriedade
sect 1ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo cinquumlenta por cento
de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso seraacute averbada agrave margem da
inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a
alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de
desmembramento da aacuterea
1 Medidas Provisoacuterias satildeo instrumentos juriacutedico-poliacuteticos traduzidos na forma de atos normativos com forccedila de
lei praticados pelo Chefe do Executivo Federal em situaccedilotildees de urgecircncia e relevacircncia e que devem ser
submetidas de imediato agrave deliberaccedilatildeo do Congresso Nacional (FILHO 2005) A Constituiccedilatildeo Federal em seu
Art 62 prevecirc que em caso de relevacircncia e urgecircncia o Presidente da Repuacuteblica poderaacute adotar medidas
provisoacuterias com forccedila de lei devendo submetecirc-las de imediato ao Congresso Nacional
20
sect 2ordm Nas propriedades onde a cobertura arboacuterea se constitui de fitofisionomias
florestais natildeo seraacute admitido o corte raso em pelo menos oitenta por cento dessas
tipologias florestais
sect 3ordm Para efeito do disposto no caput entende-se por regiatildeo Norte e parte Norte da
regiatildeo Centro-Oeste os Estados do Acre Paraacute Amazonas Roraima Rondocircnia
Amapaacute e Mato Grosso aleacutem das regiotildees situadas ao norte do paralelo 13degS nos
Estados de Tocantins e Goiaacutes e a oeste do meridiano de 44degW no Estado do
Maranhatildeo (BRASIL 1996 p 1)
Fazendo uma retrospectiva ldquoesse ato do Poder Executivo pretendeu conter o
desmatamento na Amazocircnia num momento em que era divulgado o aumento da taxa meacutedia
anual de desflorestamento no biecircnio 1993-1994rdquo (MIRANDA 2008 p 38) Entretanto essa
natildeo foi a uacutenica iniciativa do chefe do executivo para alterar os percentuais citados acima
Inclusive eacute perturbador o levantamento do nuacutemero de medidas provisoacuterias com o fim de
modificar o Coacutedigo Florestal em especial os criteacuterios e aspectos que envolvem a reserva
legal que ora satildeo mais flexibilizados ora mais restritivos Eacute o que se pode observar pela
leitura da Tabela 1 onde se verifica a existecircncia de 68 propostas de mudanccedila em um espaccedilo de
tempo pouco maior que 5 anos
Tabela 1 Medidas Provisoacuterias (MP)Ano
MEDIDAS PROVISOacuteRIAS (MP) Nordm DE MPPERIacuteODO PERIacuteODOS
Nordm 1511 a 1511-17 18 1ordm) 25071996 a 20111997
Nordm 1605-18 a 1605-30 13 2ordm) 11121997 a 19111998
Nordm 1736-31 a 1736-37 7 3ordm) 14121998 a 02061999
Nordm 1885-38 a 1885-43 6 4ordm) 29061999 a 02111999
Nordm 1956-44 a 1956-57 14 5ordm) 09121999 a 14122000
Nordm 2080-58 a 2080-64 7 6ordm) 27122000 a 13062001
Nordm 2166-65 a 2166-67 3 7ordm) 28062001 a 24082001
A uacuteltima Medida Provisoacuteria a promover consideraacuteveis alteraccedilotildees que dizem
respeito agrave reserva legal foi a de nordm 2166-67 de 24 de agosto de 2001 (BRASIL 2001) Ela
acrescentou o inciso III ao paraacutegrafo 2ordm do artigo 1ordm do Coacutedigo Florestal estabelecendo o
conceito de reserva legal ateacute entatildeo natildeo definido no texto da lei muito embora sua acepccedilatildeo jaacute
existisse
21
Art 1ordm []
sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por
[]
III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural
excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos
recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave
conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas
(BRASIL 2001 p 1)
Vale destacar que a reserva legal soacute deveraacute existir em propriedade ou posse rural
natildeo sendo obrigatoacuteria na aacuterea urbana aleacutem do que natildeo eacute soacute o proprietaacuterio ou seja aquele que
deteacutem o domiacutenio do imoacutevel eacute quem deve implantaacute-la mas o possuidor tambeacutem estaacute sujeito a
tal imposiccedilatildeo legal Isso acontece porque o instituto estaacute vinculado ao imoacutevel e natildeo ao dono
ou quem faz as suas vezes por isso eacute considerada uma obrigaccedilatildeo propter rem isto eacute proacutepria
da coisa
Aleacutem da inclusatildeo do conceito de reserva legal ao Coacutedigo Florestal (BRASIL
1965) ocorreu a fixaccedilatildeo de outros percentuais bem como a adiccedilatildeo de mais oito paraacutegrafos
que delinearam aspectos outrora natildeo mencionados Eacute o que se lecirc pela nova redaccedilatildeo do artigo
16
Art 16 As florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo nativa ressalvadas as situadas em
aacuterea de preservaccedilatildeo permanente assim como aquelas natildeo sujeitas ao regime de
utilizaccedilatildeo limitada ou objeto de legislaccedilatildeo especiacutefica satildeo suscetiacuteveis de supressatildeo
desde que sejam mantidas a tiacutetulo de reserva legal no miacutenimo
I - oitenta por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta localizada na
Amazocircnia Legal
II - trinta e cinco por cento na propriedade rural situada em aacuterea de cerrado
localizada na Amazocircnia Legal sendo no miacutenimo vinte por cento na propriedade e
quinze por cento na forma de compensaccedilatildeo em outra aacuterea desde que esteja
localizada na mesma microbacia e seja averbada nos termos do sect 7ordm deste artigo
III - vinte por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta ou outras
formas de vegetaccedilatildeo nativa localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e
IV - vinte por cento na propriedade rural em aacuterea de campos gerais localizada em
qualquer regiatildeo do Paiacutes
sect 1o O percentual de reserva legal na propriedade situada em aacuterea de floresta e
cerrado seraacute definido considerando separadamente os iacutendices contidos nos incisos I
e II deste artigo
sect 2ordm A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser
utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel de acordo com princiacutepios e
criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos estabelecidos no regulamento ressalvadas as
hipoacuteteses previstas no sect 3o deste artigo sem prejuiacutezo das demais legislaccedilotildees
especiacuteficas
sect 3ordm Para cumprimento da manutenccedilatildeo ou compensaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal em
pequena propriedade ou posse rural familiar podem ser computados os plantios de
aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais compostos por espeacutecies exoacuteticas
cultivadas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas
sect 4ordm A localizaccedilatildeo da reserva legal deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental estadual
competente ou mediante convecircnio pelo oacutergatildeo ambiental municipal ou outra
instituiccedilatildeo devidamente habilitada devendo ser considerados no processo de
aprovaccedilatildeo a funccedilatildeo social da propriedade e os seguintes criteacuterios e instrumentos
quando houver
22
I - o plano de bacia hidrograacutefica
II - o plano diretor municipal
III - o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico
IV - outras categorias de zoneamento ambiental e
V - a proximidade com outra Reserva Legal Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente
unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida
sect 5ordm O Poder Executivo se for indicado pelo Zoneamento Ecoloacutegico Econocircmico -
ZEE e pelo Zoneamento Agriacutecola ouvidos o CONAMA o Ministeacuterio do Meio
Ambiente e o Ministeacuterio da Agricultura e do Abastecimento poderaacute
I - reduzir para fins de recomposiccedilatildeo a reserva legal na Amazocircnia Legal para ateacute
cinquumlenta por cento da propriedade excluiacutedas em qualquer caso as Aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente os ecoacutetonos os siacutetios e ecossistemas especialmente
protegidos os locais de expressiva biodiversidade e os corredores ecoloacutegicos e
II - ampliar as aacutereas de reserva legal em ateacute cinquumlenta por cento dos iacutendices
previstos neste Coacutedigo em todo o territoacuterio nacional
sect 6ordm Seraacute admitido pelo oacutergatildeo ambiental competente o cocircmputo das aacutereas relativas
agrave vegetaccedilatildeo nativa existente em aacuterea de preservaccedilatildeo permanente no caacutelculo do
percentual de reserva legal desde que natildeo implique em conversatildeo de novas aacutereas
para o uso alternativo do solo e quando a soma da vegetaccedilatildeo nativa em aacuterea de
preservaccedilatildeo permanente e reserva legal exceder a
I - oitenta por cento da propriedade rural localizada na Amazocircnia Legal
II - cinquumlenta por cento da propriedade rural localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e
III - vinte e cinco por cento da pequena propriedade definida pelas aliacuteneas b e c
do inciso I do sect 2ordm do art 1ordm
sect 7o O regime de uso da aacuterea de preservaccedilatildeo permanente natildeo se altera na hipoacutetese
prevista no sect 6o
sect 8ordm A aacuterea de reserva legal deve ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo de matriacutecula
do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua
destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou de
retificaccedilatildeo da aacuterea com as exceccedilotildees previstas neste Coacutedigo
sect 9ordm A averbaccedilatildeo da reserva legal da pequena propriedade ou posse rural familiar eacute
gratuita devendo o Poder Puacuteblico prestar apoio teacutecnico e juriacutedico quando
necessaacuterio
sect 10 Na posse a reserva legal eacute assegurada por Termo de Ajustamento de Conduta
firmado pelo possuidor com o oacutergatildeo ambiental estadual ou federal competente com
forccedila de tiacutetulo executivo e contendo no miacutenimo a localizaccedilatildeo da reserva legal as
suas caracteriacutesticas ecoloacutegicas baacutesicas e a proibiccedilatildeo de supressatildeo de sua vegetaccedilatildeo
aplicando-se no que couber as mesmas disposiccedilotildees previstas neste Coacutedigo para a
propriedade rural
sect 11 Poderaacute ser instituiacuteda reserva legal em regime de condomiacutenio entre mais de
uma propriedade respeitado o percentual legal em relaccedilatildeo a cada imoacutevel mediante a
aprovaccedilatildeo do oacutergatildeo ambiental estadual competente e as devidas averbaccedilotildees
referentes a todos os imoacuteveis envolvidos (BRASIL 2001 p 34)
Caso seja traccedilado um paralelo entre o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)
com as alteraccedilotildees aplicadas e agrave uacuteltima Medida Provisoacuteria percebe-se que o primeiro texto em
seu artigo 16 soacute mencionava as florestas particulares enquanto que em 2001 o reformulado
pela Medida Provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) generaliza a possibilidade de supressatildeo
vegetal para florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo incluindo-as no texto da lei Isto significa
que as florestas puacuteblicas embora sejam de domiacutenio coletivo tambeacutem devem respeitar a
reserva legal de acordo com o estabelecido
E ainda de 1989 ateacute 2001 o percentual para reserva legal era de 20 da
propriedade rural para todas as regiotildees com exceccedilatildeo dos imoacuteveis no norte do paiacutes e no norte
23
do centro-oeste onde deveriam ser protegidos 50 da cobertura arboacuterea Poreacutem com o
advento da Medida provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) aumentou-se essa porcentagem para
80 na Amazocircnia Legal2 para 35 no bioma cerrado localizado na Amazocircnia Legal e a
permanecircncia dos 20 para as demais regiotildees do Brasil
Enfim eacute possiacutevel concluir claramente que tal Medida Provisoacuteria ao modificar o
artigo 16 definiu o conceito de reserva legal foi mais especiacutefica quanto aos seus percentuais
alargou os tipos de florestas suscetiacuteveis ao desmatamento estabeleceu que a vegetaccedilatildeo da
reserva legal soacute poderia ser utilizada atraveacutes de um manejo florestal sustentaacutevel (sect2ordm)
determinou que sua localizaccedilatildeo deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental competente
obedecendo os 5 criteacuterios ambientais estabelecidos (sect4ordm) permitiu a sobreposiccedilatildeo de aacutereas de
preservaccedilatildeo permanente agrave de reserva legal em alguns casos (sect6ordm) reafirmou o procedimento
documental garantidor do instituto (sect8ordm) criou a possibilidade de constituir a reserva legal
em condomiacutenio (sect11ordm) dentre outros
Encerrando as mudanccedilas trazidas pela Medida Provisoacuteria 2166-672001
(BRASIL 2001) tem-se o artigo 44 que foi completamente reformulado em conteuacutedo em
nuacutemero de incisos e paraacutegrafos O teor deste dispositivo agora versa sobre a recomposiccedilatildeo a
regeneraccedilatildeo e a compensaccedilatildeo da reserva legal Tais accedilotildees devem estar em consonacircncia com o
disposto no artigo 16
Art 44 O proprietaacuterio ou possuidor de imoacutevel rural com aacuterea de floresta nativa
natural primitiva ou regenerada ou outra forma de vegetaccedilatildeo nativa em extensatildeo
inferior ao estabelecido nos incisos I II III e IV do art 16 ressalvado o disposto
nos seus sectsect 5o e 6o deve adotar as seguintes alternativas isoladas ou
conjuntamente
I - recompor a reserva legal de sua propriedade mediante o plantio a cada trecircs anos
de no miacutenimo 110 da aacuterea total necessaacuteria agrave sua complementaccedilatildeo com espeacutecies
nativas de acordo com criteacuterios estabelecidos pelo oacutergatildeo ambiental estadual
competente
II - conduzir a regeneraccedilatildeo natural da reserva legal e
III - compensar a reserva legal por outra aacuterea equivalente em importacircncia ecoloacutegica
e extensatildeo desde que pertenccedila ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma
microbacia conforme criteacuterios estabelecidos em regulamento
sect 1o Na recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I o oacutergatildeo ambiental estadual
competente deve apoiar tecnicamente a pequena propriedade ou posse rural familiar
sect 2o A recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I pode ser realizada mediante o plantio
temporaacuterio de espeacutecies exoacuteticas como pioneiras visando a restauraccedilatildeo do
ecossistema original de acordo com criteacuterios teacutecnicos gerais estabelecidos pelo
CONAMA
2 Amazocircnia Legal - eacute uma aacuterea que engloba a totalidade de oito estados o Acre o Amapaacute o Amazonas o Mato
Grosso o Paraacute Rondocircnia Roraima e Tocantins e parte do Estado do Maranhatildeo (a oeste do meridiano de 44ordmW)
O conceito da Amazocircnia Legal foi criado pela lei 1806 de 06 de janeiro de 1953 (BRASIL 2011) Disponiacutevel
em lthttpwwwipeagovbrdesafiosindexphpoption=com_contentampid=2154catid=28ampItemid=23gt
24
sect 3o A regeneraccedilatildeo de que trata o inciso II seraacute autorizada pelo oacutergatildeo ambiental
estadual competente quando sua viabilidade for comprovada por laudo teacutecnico
podendo ser exigido o isolamento da aacuterea
sect 4o Na impossibilidade de compensaccedilatildeo da reserva legal dentro da mesma micro-
bacia hidrograacutefica deve o oacutergatildeo ambiental estadual competente aplicar o criteacuterio de
maior proximidade possiacutevel entre a propriedade desprovida de reserva legal e a aacuterea
escolhida para compensaccedilatildeo desde que na mesma bacia hidrograacutefica e no mesmo
Estado atendido quando houver o respectivo Plano de Bacia Hidrograacutefica e
respeitadas as demais condicionantes estabelecidas no inciso III
sect 5o A compensaccedilatildeo de que trata o inciso III deste artigo deveraacute ser submetida agrave
aprovaccedilatildeo pelo oacutergatildeo ambiental estadual competente e pode ser implementada
mediante o arrendamento de aacuterea sob regime de servidatildeo florestal ou reserva legal
ou aquisiccedilatildeo de cotas de que trata o art 44-B
sect 6o O proprietaacuterio rural poderaacute ser desonerado pelo periacuteodo de trinta anos das
obrigaccedilotildees previstas neste artigo mediante a doaccedilatildeo ao oacutergatildeo ambiental
competente de aacuterea localizada no interior de Parque Nacional ou Estadual Floresta
Nacional Reserva Extrativista Reserva Bioloacutegica ou Estaccedilatildeo Ecoloacutegica pendente de
regularizaccedilatildeo fundiaacuteria respeitados os criteacuterios previstos no inciso III deste
artigo (NR) (BRASIL 2001 p 45)
Quanto agrave sanccedilatildeo curiosamente neste Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965) natildeo haacute
nenhuma previsatildeo com relaccedilatildeo ao descumprimento da reserva legal diferentemente do
diploma de 1934 (BRASIL 1935) como se pocircde ler anteriormente Nesse sentido existir
uma lei sem a ela estar vinculada uma sanccedilatildeo quando descumprida eacute o mesmo que um fogo
que natildeo queima uma luz que natildeo alumia (MONTEIRO 1992)
Assim finaliza-se a anaacutelise do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) e se
inicia a apreciaccedilatildeo do Novo Coacutedigo Florestal isto eacute a Lei 12651 de 25 de maio de 2012
(BRASIL 2012) que jaacute possui algumas modificaccedilotildees mesmo sendo uma norma bastante
recente Trata-se de uma lei que em seu artigo 1ordm de pronto menciona o instituto da reserva
legal elevando-a a um patamar antes natildeo reconhecido quanto agrave especialidade que lhe eacute
inerente
Art 1ordm-A Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente e as aacutereas de Reserva Legal a exploraccedilatildeo florestal o
suprimento de mateacuteria-prima florestal o controle da origem dos produtos florestais e
o controle e prevenccedilatildeo dos incecircndios florestais e prevecirc instrumentos econocircmicos e
financeiros para o alcance de seus objetivos (BRASIL 2012 p 1)
Quanto a sua definiccedilatildeo embora citada anteriormente vecirc-se a necessidade de se
enfatizar as diferenccedilas entre o novo dispositivo e o anterior ora revogado ateacute porque o
recente eacute bem mais minucioso e atual em se tratando de tendecircncias e realidades do presente
Art 3ordm []
25
III - Aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural delimitada nos
termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de modo sustentaacutevel
dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a reabilitaccedilatildeo dos
processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade bem como o
abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012 p 3)
Art 1ordm []
sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por
[]
III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural
excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos
recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave
conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas
(BRASIL 1965 p 1)
Pela leitura observa-se que a aacuterea de reserva legal desde o iniacutecio estaacute restrita ao
imoacutevel rural excluindo assim o urbano Seu objetivo tambeacutem sempre foi o mesmo
sustentabilidade Isto eacute visto quando se examina o texto do Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965)
ao citar as expressotildees conservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo biodiversidade e proteccedilatildeo colocando nesse
iacutenterim recursos naturais processos ecoloacutegicos fauna e flora nativas O foco da reserva legal
eacute claro quanto agrave conservaccedilatildeo de uma forma sistecircmica pois inclui aspectos de solo vegetaccedilatildeo
vida animal e seus respectivos ciclos Eacute o que coloca SOUZA (2002 p 2829 apud Miranda
2008 p 53)
[] justifica a existecircncia de um mecanismo juriacutedico que garanta ao homem a
manutenccedilatildeo da biodiversidade para o seu proacuteprio bem Deste ponto de vista no
Brasil a Reserva Legal ainda eacute o mecanismo existente se natildeo o uacutenico que garante
essa manutenccedilatildeo tamanha a dependecircncia dos seres humanos de energia advinda de
plantas e animais
Jaacute a lei de 2012 (BRASIL 2012) inova ao incluir e modificar algumas acepccedilotildees
O uso econocircmico eacute uma delas Antes era mencionado somente um uso sustentaacutevel dos
recursos naturais mas agora eacute um uso com base na teoria de produccedilatildeo e consumo sob o vieacutes
da sustentabilidade Aleacutem disto a nova redaccedilatildeo faz uma pequena diferenciaccedilatildeo quanto ao
auxiacutelio que a reserva legal daacute agrave conservaccedilatildeo e agrave reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos
enquanto que a anterior ditava que o tal instituto era necessaacuterio para alcanccedilar os citados
objetivos Inclui tambeacutem a promoccedilatildeo que a reserva legal faz agrave biodiversidade e por fim a
uacuteltima norma agrega a proteccedilatildeo agrave fauna silvestre3 o que outrora era soacute agrave nativa
3 ldquoEacute preciso que a fauna tenha a sua vida ou parte dela ocorrendo naturalmente dentro dos limites do territoacuterio
brasileiro e suas aacuteguas jurisdicionaisrdquo (AMADO 2012 p329) silvestre ndash satildeo animais pertencentes agraves espeacutecies
nativas migratoacuterias e quaisquer outras aquaacuteticas ou terrestres
26
Percebe-se que com o passar dos anos as leis que versam sobre florestas estatildeo
cada vez mais aperfeiccediloadas com particularidades e especificidades como se pode concluir
pela leitura da evoluccedilatildeo histoacuterica dessas normas e suas modificaccedilotildees Visualiza-se melhor
tambeacutem ao se comparar os objetivos da reserva legal nas figuras 1 e 2
Figura 1 - Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771 (BRASIL 1965)
Figura 2 - Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 - Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)
RESERVA
LEGAL
ASSEGURA AUXILIA PROMOVE
27
E em se tratando das penalidades quem natildeo respeitar a reserva legal estaraacute
enquadrado no Decreto Federal 6514 de 22 de julho de 2008 (BRASIL 2008) que dispotildee
sobre as infraccedilotildees e sanccedilotildees administrativas ao meio ambiente e prevecirc aplicaccedilatildeo de multas
como descrito nos artigos abaixo
Art 48 Impedir ou dificultar a regeneraccedilatildeo natural de florestas ou demais formas
de vegetaccedilatildeo nativa em unidades de conservaccedilatildeo ou outras aacutereas especialmente
protegidas quando couber aacuterea de preservaccedilatildeo permanente reserva legal ou
demais locais cuja regeneraccedilatildeo tenha sido indicada pela autoridade ambiental
competente
Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo
[]
Art 51 Destruir desmatar danificar ou explorar floresta ou qualquer tipo de
vegetaccedilatildeo nativa ou de espeacutecies nativas plantadas em aacuterea de reserva legal ou
servidatildeo florestal de domiacutenio puacuteblico ou privado sem autorizaccedilatildeo preacutevia do oacutergatildeo
ambiental competente ou em desacordo com a concedida
Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo
[]
Art 55 Deixar de averbar a reserva legal Multa de R$ 50000 (quinhentos reais) a R$ 10000000 (cem mil reais) (BRASIL
2008 p 12)
Ao ler o dispositivo da lei eacute possiacutevel averiguar que tanto accedilotildees como omissotildees
possiacuteveis de cometimento quanto agrave reserva legal estatildeo previstas naquele Decreto (BRASIL
2008) o que daacute poder agraves autoridades constituiacutedas de exercerem seu papel fiscalizatoacuterio e
sancionatoacuterio em desfavor daquele que descumprir tal obrigaccedilatildeo
Nesse novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012) a reserva legal estaacute muito mais
discorrida e consequentemente resguardada A lei trouxe um capiacutetulo especiacutefico com duas
seccedilotildees organizadas dispondo sobre a delimitaccedilatildeo e o regime de proteccedilatildeo do instituto aleacutem de
outra seccedilatildeo que prevecirc a transformaccedilatildeo das reservas legais em aacutereas verdes nas expansotildees
urbanas
Para comeccedilar a analisar as novidades trazidas pelo Coacutedigo Florestal (BRASIL
2012) vale mencionar a mais importante quanto ao controle e fiscalizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da
reserva legal que se daraacute pelo Cadastro Ambiental Rural ndash CAR Eacute um registro puacuteblico
eletrocircnico de acircmbito nacional obrigatoacuterio para todos os imoacuteveis rurais com a finalidade de
integrar as informaccedilotildees ambientais das propriedades e posses rurais compondo base de dados
para controle monitoramento planejamento ambiental e econocircmico e combate ao
desmatamento conforme artigo 29 daquele diploma legal Para se cadastrar no CAR o
proprietaacuterio ou possuidor rural deveraacute identificar-se comprovar a propriedade ou posse e
identificar o imoacutevel atraveacutes de planta georreferenciada e memorial descritivo informando os
28
remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente dentre outras
segundo o inciso III do paraacutegrafo primeiro do mesmo dispositivo acima
Com a criaccedilatildeo desse sistema a supressatildeo de novas aacutereas de floresta ou outras
formas de vegetaccedilatildeo nativa soacute poderaacute ser autorizada apoacutes a inserccedilatildeo do imoacutevel onde ocorreraacute
o desmatamento no Cadastro Ambiental Rural A exceccedilatildeo a essa regra eacute o imoacutevel que jaacute
possua a reserva legal averbada na sua matriacutecula com a respectiva identificaccedilatildeo e localizaccedilatildeo
Isso dispensa a inclusatildeo no CAR Eacute o que rezam o paraacutegrafo terceiro do artigo 12 e o artigo
30 do Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)
A nova lei prevecirc que a inscriccedilatildeo no CAR eacute obrigatoacuteria para todas as propriedades
e posses rurais e deve ser requerida no prazo de um ano a partir da sua implantaccedilatildeo (sect3ordm do
artigo 29) No caso do Cearaacute o Cadastro Ambiental Rural ainda natildeo foi estabelecido embora
a lei jaacute tenha completado um ano Aleacutem disto agravequele que protocolar toda documentaccedilatildeo para
anaacutelise da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal no oacutergatildeo ambiental competente natildeo poderaacute ser
imputada sanccedilatildeo administrativa nem restriccedilatildeo a direitos por qualquer oacutergatildeo ambiental
competente (sect2ordm do artigo 14) desde que a sanccedilatildeo diga respeito a natildeo formalizaccedilatildeo da aacuterea de
reserva legal
Outra novidade eacute a dispensa de reserva legal em alguns casos como nos
empreendimentos de abastecimento puacuteblico de aacutegua e tratamento de esgoto nas aacutereas
adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessatildeo permissatildeo ou autorizaccedilatildeo para
exploraccedilatildeo de potencial de energia hidraacuteulica nas quais funcionem empreendimentos de
geraccedilatildeo de energia eleacutetrica subestaccedilotildees ou seja instaladas linhas de transmissatildeo e de
distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica e nas aacutereas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de
implantaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo de capacidade de rodovias e ferrovias (sect6 ordm sect7 ordm e sect8ordm do artigo 12)
Ao passo que na Lei 477165 (BRASIL 1965) o uacutenico caso dispensaacutevel de cumprir a reserva
legal era a doaccedilatildeo pelo proprietaacuterio rural de aacuterea localizada no interior de unidade de
conservaccedilatildeo de domiacutenio puacuteblico pendente de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria ao oacutergatildeo ambiental
competente (sect6ordm do art 44)
Quanto aos percentuais de reserva legal sobre a propriedade ou posse rural nada
mudou ou seja permaneceram os mesmos embora organizados de forma diferente conforme
se segue
Art 12 Todo imoacutevel rural deve manter aacuterea com cobertura de vegetaccedilatildeo nativa a
tiacutetulo de Reserva Legal sem prejuiacutezo da aplicaccedilatildeo das normas sobre as Aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente observados os seguintes percentuais miacutenimos em relaccedilatildeo agrave
aacuterea do imoacutevel excetuados os casos previstos no art 68 desta Lei
I - localizado na Amazocircnia Legal
29
a) 80 (oitenta por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de florestas
b) 35 (trinta e cinco por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de cerrado
c) 20 (vinte por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de campos gerais
II - localizado nas demais regiotildees do Paiacutes 20 (vinte por cento) (BRASIL 2012 p
15)
Acerca da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal alguns criteacuterios a serem
observados permaneceram inalterados tais como o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento
ecoloacutegico-econocircmico4 e a proximidade com outra reserva legal aacuterea de preservaccedilatildeo
permanente unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida Por outro lado
foram acrescentados dois aspectos a serem considerados tambeacutem satildeo eles as aacutereas de maior
importacircncia para a conservaccedilatildeo da biodiversidade e as aacutereas de maior fragilidade ambiental
(Incisos IV e V do artigo 14)
Por fim haacute que se falar que a nova lei permitiu a sobreposiccedilatildeo das aacutereas de
preservaccedilatildeo permanente agrave aacuterea de reserva legal ou seja ao se calcular o percentual desta
poderatildeo ser computadas as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente existentes no imoacutevel rural desde
que atenda alguns requisitos Eacute o que prescreve o artigo 15
Art 15 Seraacute admitido o cocircmputo das Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente no caacutelculo
do percentual da Reserva Legal do imoacutevel desde que
I - o benefiacutecio previsto neste artigo natildeo implique a conversatildeo de novas aacutereas para o
uso alternativo do solo
II - a aacuterea a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperaccedilatildeo
conforme comprovaccedilatildeo do proprietaacuterio ao oacutergatildeo estadual integrante do Sisnama e
III - o proprietaacuterio ou possuidor tenha requerido inclusatildeo do imoacutevel no Cadastro
Ambiental Rural - CAR nos termos desta Lei BRASIL 2012 p 1617)
Basicamente essas foram as inovaccedilotildees mais pertinentes agrave reserva legal trazidas
pelo Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)
113 Importacircncia da reserva legal
Vaacuterios aspectos perfazem o instituto da reserva legal Satildeo fundamentos de
cunho teacutecnico e cientiacutefico que revelam sua importacircncia atraveacutes da abordagem juriacutedica social
ambiental e econocircmica A reserva legal natildeo foi simplesmente uma imposiccedilatildeo prevista em lei
4 Zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ndash eacute um zoneamento ambiental Esse instrumento estaacute previsto na Poliacutetica
Nacional do Meio Ambiente que foi instituiacuteda pela Lei 693881 Trata-se de uma modalidade de intervenccedilatildeo
estatal sobre o territoacuterio a fim de reparti-lo em zonas consoante o melhor interesse na preservaccedilatildeo ambiental e
no uso sustentaacutevel dos recursos naturais Conferir AMADO Frederico Direito Ambiental Esquematizado
2012 p111
30
mas uma mobilizaccedilatildeo da sociedade para resguardar os bens ambientais impedindo a
degradaccedilatildeo sem precedentes
ldquoA reserva legal busca a preservaccedilatildeo ambiental como um todo natildeo soacute do imoacutevel
que nesta se situardquo (AMADO 2009 p 105) Ainda salienta Moraes (2002 p 30) que ldquoa
reserva legal natildeo possui funccedilatildeo vinculada ao imoacutevel especificamente sendo limitaccedilatildeo de
niacutevel macro ou seja mais preocupada com a melhoria regional da biodiversidade do que
propriamente com o ecossistema interno da propriedaderdquo E muito bem acrescenta Milareacute
(2009 p 166)
Aleacutem de preservar belezas cecircnicas e bucoacutelicos ambientes histoacutericos para as geraccedilotildees
futuras as aacutereas protegidas assumiram objetivos como a proteccedilatildeo de recursos
hiacutedricos manejo de recursos naturais desenvolvimento de pesquisas cientiacuteficas
manutenccedilatildeo do equiliacutebrio climaacutetico e ecoloacutegico preservaccedilatildeo de recursos geneacuteticos
e atualmente constituem o eixo de estruturaccedilatildeo da preservaccedilatildeo in situ da
biodiversidade como um todo
1131 Juriacutedica
A reserva legal foi criada pela forccedila do universo juriacutedico brasileiro que lhe
pressupotildee efetividade Como jaacute fora mencionado o instituto teve sua definiccedilatildeo atraveacutes da
Medida Provisoacuteria 2166-672001 (BRASIL 2001) que por sua vez alterou o Coacutedigo
Florestal (BRASIL 1965) vigente agrave eacutepoca Embora houvesse previsatildeo legal para aacutereas
especialmente protegidas estas ateacute entatildeo natildeo haviam sido nominadas como reserva legal
A lei ndeg 477165 (BRASIL 1965) segundo Trennepohl (2009) trazia uma maior
preocupaccedilatildeo com a erosatildeo de terras e o consequente prejuiacutezo para as atividades produtivas
Denotando predominante inclinaccedilatildeo para a sustentabilidade econocircmica da mateacuteria-prima
aquele diploma tratava a utilizaccedilatildeo dos recursos florestais de forma racional com finalidade
de garantir as atividades econocircmicas para as quais servem de insumo
Jaacute no entendimento de Schaffer e Medeiros (2009) a figura da reserva legal no
Coacutedigo Florestal revela-se como uma norma de importacircncia e observacircncia necessaacuterias
essencialmente estrateacutegicas para a garantia de um desenvolvimento equilibrado e sustentaacutevel
para a naccedilatildeo brasileira Tambeacutem observam os mesmos autores que a tatildeo discutida lei florestal
estabeleceu percentuais diferenciados de Reserva Legal em funccedilatildeo da localizaccedilatildeo do tipo de
vegetaccedilatildeo e das caracteriacutesticas ambientais das diferentes regiotildees do paiacutes
A eficaacutecia para o cumprimento do instituto se baseia na imposiccedilatildeo da lei quanto agrave
obrigaccedilatildeo dos proprietaacuterios ou posseiros rurais se dirigirem ao cartoacuterio de registro do seu
31
imoacutevel com a aacuterea da reserva jaacute delimitada e procederem agrave averbaccedilatildeo agrave margem da sua
matriacutecula No entanto essa obrigatoriedade foi substituiacuteda pelo Cadastro Ambiental Rural
que deveraacute ser feito no oacutergatildeo ambiental competente conforme visto anteriormente Esse
procedimento se daacute pelos paracircmetros devidamente previstos em normas teacutecnicas que dispotildeem
como o dono da aacuterea deve conduzir tal processo Essa averbaccedilatildeo eacute irretrataacutevel ou seja jamais
pode ser desfeita e eacute isso que daacute eficiecircncia ao instituto se cumprido Tal imposiccedilatildeo garante
que o proprietaacuterio natildeo desmembre seu imoacutevel na intenccedilatildeo de burlar a lei
Quanto ao procedimento de averbaccedilatildeo da reserva legal na matriacutecula do imoacutevel
ressalta Trennepohl (2009 p11-12)
A exigecircncia da averbaccedilatildeo da reserva legal vem desde 1965 vale dizer haacute mais de
quarenta anos existe esta obrigatoriedade E muitos proprietaacuterios rurais cumpriram agrave
risca esta exigecircncia averbando e mantendo preservado o percentual estipulado pela
lei
[]
A necessidade dessa averbaccedilatildeo dispensa maiores comentaacuterios e pode ser facilmente
entendida como a uacutenica garantia eficaz para que a transferecircncia ou a partilha natildeo
afastem essa obrigaccedilatildeo propter rem [proacutepria da coisa] que vincula a propriedade
natildeo o proprietaacuterio
Para alguns proprietaacuterios de terras rurais se houver o atendimento do instituto da
reserva legal caberia uma indenizaccedilatildeo pela perda daquela porcentagem em suas propriedades
mas como bem ilustra Magnanini (2010 p 5) ldquoa funccedilatildeo protetora da floresta natildeo eacute restriccedilatildeo
indenizaacutevel mas decorrecircncia da proacutepria natureza que preparou terras mais uacuteteis e outras
menosrdquo
1132 Social
Segundo o renomado filoacutesofo Mondin (2004 p 117) ldquoo homem eacute um ser
sociaacutevel portanto incapaz de sozinho alcanccedilar seus objetivos anseios e realizaccedilotildees
consequentemente viverrdquo A partir dessa constataccedilatildeo soacute resta ao ser humano subsistir numa
sociedade inserida no mundo natural
Como indiviacuteduo pratica accedilotildees que lhe afetam direta e indiretamente promovendo
reflexos no espaccedilo em que habita Por isso o aspecto social estaacute intimamente vinculado agrave
qualidade ambiental uma vez que o ser humano gera impactos positivos e negativos em seu
entorno Como natildeo se pode separar a atuaccedilatildeo dele do meio em que foi introduzido necessaacuterio
eacute fazer o balizamento de suas atitudes Uma das formas de limitar seu comportamento eacute a
confecccedilatildeo de normas como por exemplo a lei que nada mais eacute do que a expressatildeo de uma
32
demanda social por medidas coercitivas em virtude do desrespeito a um aspecto que a
sociedade defende ou repudia
Quanto agraves accedilotildees humanas e seus reflexos a teoria de ldquometapopulaccedilotildeesrdquo define
que a raccedila humana causa imenso impacto na Terra provocando a deterioraccedilatildeo dos sistemas
ecoloacutegicos e a extinccedilatildeo de muitas espeacutecies as quais tem seu ritmo acelerado agrave medida que a
populaccedilatildeo cresce e aumentando com isso o consumo de energia e de recursos naturais
SOUZA (2002 apud Miranda 2008)
O aspecto social que envolve a reserva legal confronta-se com praacuteticas seculares
do homem campestre como bem ilustra Magnanini (2010 p 3) engenheiro agrocircnomo e um
dos autores do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)
A agricultura itinerante continua se desenvolvendo segundo os meacutetodos primitivos
dos primeiros anos do descobrimento Chega o agricultor derruba e queima as
matas sem indagar se elas satildeo necessaacuterias agrave conservaccedilatildeo da feracidade do solo ou
do regime das aacuteguas Depois de alguns anos de exploraccedilatildeo renovando anualmente a
queimada como meio de extinguir a vegetaccedilatildeo invasora o terreno esgotado eacute
entregue ao abandono e o agricultor seguindo as pegadas do madeireiro que adiante
derrubou as aacutervores para extrair as toras inicia novo ciclo devastador idecircntico ao
precedente Como efeito disto a agricultura cada vez se interioriza mais e cada vez
se distancia mais dos centros consumidores requerendo transportes sempre mais
caros [] Inundaccedilotildees cada vez mais destruidoras pela remoccedilatildeo desordenada de
florestas colocam em sobressalto as populaccedilotildees de centenas de cidades ribeirinhas
Vale mencionar outra caracteriacutestica que expressa o valor que a reserva legal
quando estaacute sendo cumprida imprime na aacuterea rural ndash eacute a funccedilatildeo social da propriedade
considerada como princiacutepio basilar para o uso da mesma Designaccedilatildeo bastante enunciada
pelas normas que estabelecem aquele instituto permeia o direito de propriedade da terra que
natildeo eacute visto unilateralmente e sim em sua universalidade uma vez que o imoacutevel natildeo estaacute para
servir soacute a seu dono mas tem que atender sua funccedilatildeo social Nesse sentido Miranda (2008)
pontua que a reserva legal eacute uma forma de assegurar a funccedilatildeo social da propriedade fazendo
com que esta contribua com a preservaccedilatildeo do meio ambiente ecologicamente equilibrado para
atuais e futuras geraccedilotildees Eacute como tambeacutem entende Trennepohl (2009 p 11) ao afirmar que
A preservaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa num percentual das propriedades rurais diminui o
lucro do proprietaacuterio mas de forma muito menos significativa que o ganho para a
coletividade com a qualidade ambiental decorrente pelo que entendemos
inquestionaacutevel que o interesse coletivo se sobrepotildee ao individual
1133 Ambiental
Considerado como um dos principais fatores que embasam a instituiccedilatildeo da reserva
legal na propriedade ou posse rural o aspecto ambiental se funda na biologia que perpassa
33
essencialmente esse vieacutes sem admitir qualquer desassociaccedilatildeo entre as unidades ambientais
como aacutegua solo vegetaccedilatildeo e ar Pode-se afirmar que o alicerce do estudo do meio eacute a ciecircncia
bioloacutegica que por sua vez analisa as reaccedilotildees as funccedilotildees fiacutesico-quiacutemicas a qualidade do
ambiente testando seus limites ou melhor sua capacidade de suporte Do mesmo modo
Miranda (2008 p 51) discorre sobre a importacircncia ecoloacutegica do instituto da reserva legal
quando afirma que ldquosua funccedilatildeo preciacutepua eacute assegurar mostras significativas de ecossistemas
conservando a biodiversidade e servindo de abrigo e proteccedilatildeo agrave fauna e agrave florardquo
Sobre isso Metzger (2002 p 48) tambeacutem atesta que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de
propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa eacute
fundamental para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada
regiatildeordquo Complementa Silva (2001 p 59) quando afirma
A cobertura vegetal nativa sobretudo as florestais exerce papel de fundamental
importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de ecossistemas naturais bem como de
ecossistemas criados pelo homem como eacute o caso dos ecossistemas agriacutecolas Aleacutem
de permitirem uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da aacutegua no solo e no
subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos regular a vazatildeo
dos rios reduzindo as intensidades dos extremos de estiagens e enchentes manterem
a diversidade geneacutetica
Logo todos os benefiacutecios apontados pelos autores acima podem ser verificados
em uma menor escala quando haacute a observacircncia da reserva legal dentro de cada propriedade
rural em determinada regiatildeo garantindo sua viabilidade ambiental posto que assume um
papel niacutetido de conservaccedilatildeo Para exemplificar a assertiva retro menciona-se o microclima
favoraacutevel mantido quando haacute vegetaccedilatildeo na aacuterea em apreccedilo que por sua vez amortiza a
incidecircncia solar sobre aquela regiatildeo Por outro lado a cobertura vegetal tambeacutem eacute favoraacutevel agrave
manutenccedilatildeo dos solos uma vez que dificulta a accedilatildeo erosiva das chuvas
Infere-se portanto que a existecircncia da reserva legal na propriedade rural soacute traz
vantagens ao meio ambiente por mais que a tradiccedilatildeo campestre natildeo as compreenda Eacute o que
demonstram Schaffer e Medeiros (2009 p 2) ensinando que
A Reserva Legal (RL) por sua vez natildeo tem apenas a funccedilatildeo de prover o uso
sustentaacutevel dos recursos naturais na propriedade ou posse rural Tem tambeacutem a
funccedilatildeo de conservar e reabilitar os processos ecoloacutegicos conservar a biodiversidade
e servir de abrigo e proteccedilatildeo da fauna e flora nativas Desta forma a norma geral de
caraacuteter nacional [Coacutedigo Florestal] concilia o necessaacuterio uso sustentaacutevel de recursos
naturais para a propriedade ou posse rural com as funccedilotildees ambientais e o
provimento de serviccedilos ambientais de retenccedilatildeo de aacutegua conservaccedilatildeo do solo
manutenccedilatildeo de grupos de polinizadores e fixaccedilatildeo de biomassa entre outros os quais
satildeo importantes e necessaacuterios ao cumprimento da funccedilatildeo socioambiental dos
imoacuteveis ou propriedades rurais
34
No mesmo sentido Mercadante (1999 p 240 apud MIRANDA 2008 p 5354)
numa interpretaccedilatildeo mais ampla sobre a importacircncia ecoloacutegica da reserva legal diz
A Reserva Legal natildeo tem por objetivo apenas a conservaccedilatildeo da natureza da flora e
da fauna pelo valor intriacutenseco dos recursos bioloacutegicos ou pela contribuiccedilatildeo dessas
aacutereas para a qualidade do ambiente em geral A Reserva Legal eacute fundamental para a
estabilidade ecoloacutegica e consequentemente a exploraccedilatildeo em bases sustentaacuteveis do
proacuteprio imoacutevel rural A Reserva Legal contribui para a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo
do solo o controle da erosatildeo o controle do assoreamento dos cursos d‟aacutegua a
conservaccedilatildeo dos corpos d‟aacutegua e dos mananciais serve de abrigo para os predadores
das pragas agriacutecolas fornece madeira e outros recursos florestais para uso na
propriedade dentre outros benefiacutecios
E por fim eacute cabiacutevel mencionar ainda que o Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL
2012) fixou criteacuterios bem mais especiacuteficos e pertinentes ao estabelecimento da reserva legal
como proceder ao cumprimento desse instituto observando se sua localizaccedilatildeo eacute condizente
com o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ou outras categorias
de zoneamento ambiental a proximidade com outras aacutereas legalmente protegidas dentre
outros
1134 Econocircmica
A reserva legal sob o aspecto econocircmico eacute muito controversa uma vez que eacute vista
pelo proprietaacuterio ou posseiro rural como um encargo Mesmo porque como exprime
Trennepohl (2009) ateacute a deacutecada de 80 quando se tinha diferentes normas com dispositivos
protecionistas mas com enfoque preponderantemente economicista os recursos naturais eram
tratados muito mais como insumos de produccedilatildeo ou bens de uso imediato da sociedade do que
como elementos integrantes de um intrincado e fraacutegil equiliacutebrio ambiental Isto condicionou
fatalmente a sociedade brasileira contemporacircnea a natildeo observar a deferecircncia aos bens
ambientais quiccedilaacute respeitar certa porcentagem de uma aacuterea que fora adquirida por um
particular com seus recursos proacuteprios e a tem como totalmente privada
Ainda eacute possiacutevel pelo Coacutedigo Florestal - Lei 126512012 (BRASIL 2012)
intervir na aacuterea destinada agrave reserva de forma sustentaacutevel sem suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo
uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo econocircmica dessas aacutereas Aleacutem do
que ldquoa recuperaccedilatildeo de aacutereas de RL pode ainda gerar produtos e subprodutos madeireiros jaacute
escassos em algumas regiotildees garantindo assim uma renda adicional ao produtor rural e
mateacuteria-prima para a induacutestriardquo conforme defendem Schaffer e Medeiros (2009 p 12)
Para Magnanini (2010) a situaccedilatildeo eacute graviacutessima quando sugere ficar a criteacuterio
do proprietaacuterio rural a iniciativa de proceder ou natildeo agrave reserva legal jaacute que a Administraccedilatildeo
35
Puacuteblica natildeo tem como combater eficientemente o descumprimento desse instituto Eacute o que
propotildee no momento em que coloca
O dilema eacute este ou impotildee-se a todos os donos de terras defenderem agrave sua custa a
produtividade do solo contra a erosatildeo terriacutevel e crescente ou cruzam-se os braccedilos
ante a incapacidade pela pobreza do Poder Puacuteblico na maioria dos Estados do
Brasil para deter a transformaccedilatildeo do Paiacutes num deserto em que as estaccedilotildees se
alternem entre inundaccedilotildees e secas devoradoras de todo o esforccedilo humano
(MAGNANINI 2010 p 5)
Ademais define-se outra vertente do aspecto econocircmico tatildeo bem colocada pela
acepccedilatildeo que tem Bacha (2005 p 9) ao afirmar que
A reserva legal eacute um mecanismo de poliacutetica de rendas pelo qual se procura
estabelecer um zoneamento do uso da terra dentro da propriedade rural A poliacutetica
de rendas constitui-se numa seacuterie de regulamentaccedilotildees que restringem a produccedilatildeo e a
comercializaccedilatildeo de produtos bem como o uso dos fatores de produccedilatildeo eou
determinam valores miacutenimos ou maacuteximos para o pagamento pelo uso desses fatores
ou por produtos elaborados numa economia
Eacute possiacutevel portanto depreender o entendimento do autor de modo que a reserva
legal vem restringir o uso indiscriminado dos recursos florestais gerando com isso a
manutenccedilatildeo do bem ambiental que seraacute resguardado por aquele instituto Isto influiraacute
diretamente na cadeia produtiva nas oscilaccedilotildees de demanda e procura do mercado de mateacuteria-
prima de origem vegetal Ou seja pode-se entender que a meacutedio eou longo prazo a reserva
legal seraacute um ponto de equiliacutebrio no fluxo da produccedilatildeo de bens e serviccedilos que careccedilam desse
recurso natural
114 Direito de Propriedade x Reserva Legal
A propriedade privada eacute uma espeacutecie baacutesica que se decompotildee em propriedade
rural ou urbana segundo se refira a moradias do campo ou moradias derivadas das
construccedilotildees ou edificaccedilotildees idocircneas para sua habitualidade ou aproveitamento diferente do
que eacute a exploraccedilatildeo agraacuteria de qualquer moradia rural (CRIADO 2010)
A propriedade no direito brasileiro foi constituiacuteda em forma e conteuacutedo a partir de
normas muito antigas e de outras naccedilotildees ou seja foi reproduzida com base no direito romano
ldquoDesde aqueles tempos o direito de propriedade era tido como absoluto isto eacute o proprietaacuterio
tinha o direito de usar ou natildeo usar gozar ou natildeo gozar e dispor ou natildeo dispor da propriedade
imobiliaacuteriardquo (MELO 2010 p22) Em contrapartida ldquoos direitos de propriedade
constitucional certamente satildeo direitos de liberdade seja a liberdade individual seja a
liberdade comunitaacuteria que satildeo complementares e indissociaacuteveis haja vista que uma natildeo
36
existe sem a outra como nos demonstram as experiecircncias totalitaacuterias do seacuteculo XXrdquo
(ANTUNES 2011 p37)
A garantia do direito de propriedade estaacute prevista constitucionalmente ou seja na
maior Lei do paiacutes uma vez que ela se sobrepotildee a todas as outras leis e normas juriacutedicas Eacute a
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil que foi promulgada em 05 de outubro de
1988 Conhecida como Carta Magna a Constituiccedilatildeo de 1988 (BRASIL 1988) em seu Tiacutetulo
II estabelece os direitos e as garantias fundamentais do e para o povo brasileiro Logo no
primeiro capiacutetulo deste tiacutetulo estatildeo dispostos os direitos e deveres individuais e coletivos que
o Estado brasileiro deve assegurar aos seus cidadatildeos Eacute no artigo 5ordm que estatildeo previstas tais
premissas inclusive o direito de propriedade (inciso XXII) e o respeito agrave sua funccedilatildeo social
(XXIII)
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade
do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos
seguintes
[]
XXII - eacute garantido o direito de propriedade
XXIII - a propriedade atenderaacute a sua funccedilatildeo social
Quanto agrave funccedilatildeo social da propriedade ldquosomente nos seacuteculos XIX e XX surgiu a
ideia em que o imoacutevel natildeo teria mais o caraacuteter absoluto e intangiacutevel de forma que o
proprietaacuterio por possuir recursos deveria cumprir a tal funccedilatildeordquo (MELO 2010 p23) Ainda
ldquodiscorrer sobre a funccedilatildeo social da propriedade significa abandonar a ideia absolutista e
inflexiacutevel desse instituto para admitir a revitalizaccedilatildeo e o condicionamento do exerciacutecio a
interesses maiores que os do proprietaacuterio individualrdquo (PETERS 2003 p 125 apud
MIRANDA 2008 p 56) Foi nesse sentido que as Constituiccedilotildees Federais brasileiras de 1934
(BRASIL 1934b) 1946 (BRASIL 1946) 1967 (BRASIL 1967c) e a de 1988 (BRASIL
1988) restringiram o direito de propriedade
Constituiccedilatildeo de 1934
Art 113 - A Constituiccedilatildeo assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade dos direitos concernentes agrave liberdade agrave subsistecircncia agrave seguranccedila
individual e agrave propriedade nos termos seguintes
[]
17) Eacute garantido o direito de propriedade que natildeo poderaacute ser exercido contra o
interesse social ou coletivo na forma que a lei determinar A desapropriaccedilatildeo por
necessidade ou utilidade puacuteblica far-se-aacute nos termos da lei mediante preacutevia e justa
indenizaccedilatildeo [] (BRASIL 1934b p 33)
Constituiccedilatildeo de 1946
Art 141 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
Paiacutes a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade a seguranccedila
individual e agrave propriedade nos termos seguintes
37
[]
sect 16 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por
necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa
indenizaccedilatildeo em dinheiro (BRASIL 1946 p 31)
Constituiccedilatildeo de 1967
Art 150 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
Pais a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
[]
sect 22 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por
necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa
indenizaccedilatildeo em dinheiro ressalvado o disposto no art 157 sect 1ordm []
[]
Art 157 - A ordem econocircmica tem por fim realizar a justiccedila social com base nos
seguintes princiacutepios
[]
III - funccedilatildeo social da propriedade
[]
sect 1ordm - Para os fins previstos neste artigo a Uniatildeo poderaacute promover a desapropriaccedilatildeo
da propriedade territorial rural mediante pagamento de justa indenizaccedilatildeo fixada
segundo os criteacuterios que a lei estabelecer em tiacutetulos especiais da diacutevida puacuteblica []
(BRASIL 1967c p 4951)
Embora os textos se assemelhem eacute faacutecil observar que em 1934 o direito de
propriedade natildeo poderia ir contra o interesse social ou coletivo enquanto que na Constituiccedilatildeo
de 1946 (BRASIL 1946) jaacute se comeccedila a falar em desapropriaccedilatildeo caso aquele interesse natildeo
seja observado Em 1967 existe uma combinaccedilatildeo entre o direito de propriedade e a justiccedila
social estando esta prevista como objetivo da ordem econocircmica que por sua vez cita
claramente a funccedilatildeo social da propriedade como um de seus princiacutepios Mais uma vez a
desapropriaccedilatildeo vem agrave tona agora com um toque mais robusto e imbuiacutedo de maior evidecircncia
jaacute que aquela Carta (BRASIL 1967c) faz menccedilatildeo no paraacutegrafo 1ordm do artigo 157 que a Uniatildeo
poderaacute desapropriar a propriedade territorial rural se natildeo atender dentre outros aspectos a
funccedilatildeo social da propriedade
Retroagindo aproximadamente trecircs anos a desapropriaccedilatildeo jaacute estava em pauta
atraveacutes da Lei 450464 (BRASIL 1964) conhecida como o Estatuto da Terra Com o
objetivo de regular os direitos e obrigaccedilotildees concernentes aos bens imoacuteveis rurais a citada lei
menciona a desapropriaccedilatildeo como uma das medidas de execuccedilatildeo da Reforma Agraacuteria e
promoccedilatildeo da Poliacutetica Agriacutecola (Art 1deg) Aleacutem disto o artigo segundo assegura a todos a
oportunidade de acesso agrave propriedade da terra condicionada pela sua funccedilatildeo social desde que
cumpra as seguintes condiccedilotildees
Art 2deg
sect 1deg A propriedade da terra desempenha integralmente a sua funccedilatildeo social quando
simultaneamente
a) favorece o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores que nela labutam
assim como de suas famiacutelias
38
b) manteacutem niacuteveis satisfatoacuterios de produtividade
c) assegura a conservaccedilatildeo dos recursos naturais
d) observa as disposiccedilotildees legais que regulam as justas relaccedilotildees de trabalho entre os
que a possuem e a cultivem (BRASIL 1964 p 1)
Encerrando o rol de Constituiccedilotildees brasileiras quanto ao direito de propriedade e
sua funccedilatildeo social a de 1988 consagra este princiacutepio no artigo 186
Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende
simultaneamente segundo criteacuterios e graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos
seguintes requisitos
I - aproveitamento racional e adequado
II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio
ambiente
[] (BRASIL 1988 p 144)
Chama atenccedilatildeo o inciso II quando dispotildee sobre a utilizaccedilatildeo adequada dos
recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio ambiente Eacute nesse iacutenterim que a reserva
legal eacute reconhecida por dar ao imoacutevel uma funccedilatildeo social ldquouma vez que atribui agrave propriedade
a exigecircncia da observacircncia de funccedilotildees econocircmica e social bem como de preservaccedilatildeo do meio
ambienterdquo (MELO 2010 p 24) Tambeacutem sobre isso bem coloca Trennepohl (2009 p 12)
A limitaccedilatildeo administrativa do exerciacutecio do direito de propriedade encontra respaldo
no art 186 da Constituiccedilatildeo Federal pois a propriedade rural somente cumpre sua
funccedilatildeo social quando obedecido o aproveitamento racional e utilizados
adequadamente os recursos naturais disponiacuteveis com vistas agrave preservaccedilatildeo do meio
ambiente
ldquoNatildeo haacute direito de propriedade para quem natildeo faz a terra cumprir sua funccedilatildeo
socialrdquo Eacute como entende o professor de direito agraacuterio Carlos Mareacutes (2003 p 134 apud
MELO 2010 p 25) Cavedon (2003 p 122 apud MIRANDA 2008 p 5859) tambeacutem
observa que
Os requisitos estipulados pelo artigo 186 devem ser atendidos simultaneamente sob
pena da propriedade natildeo atender sua funccedilatildeo social e por isso perder sua proteccedilatildeo
constitucional Como consequecircncia esta fica sujeita agrave desapropriaccedilatildeo por interesse
social para fins de reforma agraacuteria conforme o caput do artigo 184 da CF88 Eacute o que
Lenza denomina de desapropriaccedilatildeo-sanccedilatildeo Isto porque a Constituiccedilatildeo de 1988 em
seu artigo 5ordm inciso XXIV garante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiro mediante a
desapropriaccedilatildeo por necessidade utilidade puacuteblica ou interesse social A sanccedilatildeo estaacute
justamente na forma de pagamento da indenizaccedilatildeo quando a propriedade rural natildeo
atende a sua funccedilatildeo social o pagamento natildeo eacute efetuado em dinheiro mas em tiacutetulos
da diacutevida agraacuteria5 Assim o meio ambiente ganha relevacircncia como elemento
5 Tiacutetulos da diacutevida agraacuteria (TDA) - Meio de pagamento de indenizaccedilotildees devidas aos que sofreram accedilatildeo
expropriatoacuteria da Uniatildeo Federal Criado pelo Governo Federal eacute vinculado agrave desapropriaccedilatildeo de imoacuteveis rurais
por interesse social para efeito de reforma agraacuteria ou aquisiccedilotildees por compra e venda de imoacuteveis rurais destinados
agrave implantaccedilatildeo de projetos integrantes do Programa Nacional de Reforma Agraacuteria Disponiacutevel em
lthttpwwwcetipcombrtitulos-publicostdagt Acesso em 27062013
39
integrante da funccedilatildeo social da propriedade em funccedilatildeo do artigo 186 II que prevecirc a
utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio
ambiente e no artigo 170 que coloca a propriedade privada a funccedilatildeo social da
propriedade e a defesa do meio ambiente lado a lado como princiacutepios da ordem
econocircmica Com base nestes dispositivos legais Cavedon entende que a propriedade
deve atender tambeacutem a sua funccedilatildeo ambiental apesar desta natildeo constar de forma
expliacutecita no texto constitucional
Desta forma por estar limitado o proprietaacuterio rural natildeo pode dispor livremente de
seu imoacutevel pois haacute de cumprir sua funccedilatildeo social que resulta na observacircncia de requisitos que
visam vantagens para a coletividade em detrimento de restriccedilotildees individuais Assim sendo
muitos particulares entendem que a obrigaccedilatildeo de destinarem determinada porcentagem de
suas propriedades rurais para a reserva legal eacute uma espeacutecie de desapropriaccedilatildeo indireta imposta
pelo poder puacuteblico e por isso deveriam ser indenizados Da mesma forma outros segundo
Miranda (2008) concluem que eacute uma restriccedilatildeo da propriedade uma vez que inviabiliza a
utilizaccedilatildeo econocircmica do bem e por isso caberia uma recomposiccedilatildeo patrimonial Ao contraacuterio
desse entendimento Trennepohl (2009 p 11) explica
A averbaccedilatildeo da reserva legal natildeo representa uma desapropriaccedilatildeo indireta como
muita gente pensa pois sua vegetaccedilatildeo pode ser explorada na forma de manejo
florestal sustentaacutevel e a aacuterea pode ser utilizada para outras atividades rentaacuteveis
Tanto eacute assim que inuacutemeras accedilotildees judiciais propostas pleiteando indenizaccedilatildeo pela
restriccedilatildeo de uso dessas aacutereas foram fulminadas nas diferentes esferas do Poder
Judiciaacuterio
Ademais a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 (BRASIL 1988) em seu artigo 225
tambeacutem estabelece que
Art 225 Todos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de
uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder
Puacuteblico e agrave coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e
futuras geraccedilotildees
sect 1ordm - Para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Poder Puacuteblico
I - preservar e restaurar os processos ecoloacutegicos essenciais e prover o manejo
ecoloacutegico das espeacutecies e ecossistemas []
III - definir em todas as unidades da Federaccedilatildeo espaccedilos territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos sendo a alteraccedilatildeo e a supressatildeo
permitidas somente atraveacutes de lei vedada qualquer utilizaccedilatildeo que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteccedilatildeo (BRASIL 1988 p 225226)
Ressalta-se que ldquoa Carta Magna de 1988 eacute a primeira Constituiccedilatildeo brasileira em
que a expressatildeo meio ambiente eacute mencionadardquo (MELO 2010 p 20) Ademais inovou ao
adotar a terminologia ldquoespaccedilo territorial especialmente protegidordquo para designar uma aacuterea sob
regime especial de administraccedilatildeo com o objetivo de proteger os atributos ambientais
justificadores do seu reconhecimento e individualizaccedilatildeo pelo Poder Puacuteblico (MILAREacute 2009)
40
Desta forma pela simples leitura do texto constitucional observa-se que eacute uma
prerrogativa do Poder Puacuteblico promover a preservaccedilatildeo do meio ambiente bem como
estabelecer unidades especialmente protegidas para garantir a manutenccedilatildeo dos recursos
naturais A forma com que o Estado cumpriraacute este dever eacute atraveacutes da ediccedilatildeo de leis que
obriguem seus administrados a satisfazerem tais imposiccedilotildees Para tanto tem-se o Coacutedigo
Florestal (BRASIL 1965 2012) que prevecirc a reserva legal como um dos meios de viabilizar
essa proteccedilatildeo Eacute sobre o que discorre Trennepohl (2009 p 12)
A reserva legal eacute um dos instrumentos que permitem o cumprimento do art 225 da
Constituiccedilatildeo Federal o qual impotildee ao Poder Puacuteblico o dever de defender e preservar
o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras geraccedilotildees
(caput) atraveacutes de definiccedilatildeo de espaccedilos territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos (sect1deg III) bem como de proteger a flora e a fauna (sect1deg
VII)
Conclui-se portanto que a reserva legal introduzida pelo Coacutedigo de 65 (BRASIL
1965) modificou os contornos do direito de propriedade restringindo seu uso e que a funccedilatildeo
social do bem imoacutevel teve como origem forte conflito entre necessidades coletivas ou assim
interpretadas e o regime particular da propriedade individual (ANTUNES 2011)
1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa
As formas de limitaccedilotildees que recaem sobre a propriedade tornam-se um problema
importante em mateacuteria ambiental pois na grande maioria das vezes a natureza juriacutedica dos
espaccedilos territoriais especialmente protegidos se confunde com a limitaccedilatildeo administrativa
(MELO 2010) Assim questiona-se se realmente estamos diante de servidotildees limites
limitaccedilotildees ou delimitaccedilotildees A questatildeo natildeo eacute paciacutefica (CRIADO 2010)
A limitaccedilatildeo administrativa segundo Meireles (2004 p 568) eacute ldquotoda imposiccedilatildeo
geral gratuita unilateral e de ordem puacuteblica condicionadora do exerciacutecio de direitos ou de
atividades particulares agraves exigecircncias do bem-estar socialrdquo Satildeo implementadas de forma
imperativa obrigando o proprietaacuterio a fazer ou natildeo fazer algo na sua propriedade mas sem
retirar a utilizaccedilatildeo econocircmica deste bem ldquoJaacute a restriccedilatildeo ocorre quando a administraccedilatildeo impotildee
ao proprietaacuterio dever que o obrigue ou o impeccedila de fazer algo em sua propriedade retirando a
utilizaccedilatildeo econocircmica desta Havendo neste caso a necessidade de recomposiccedilatildeo patrimonialrdquo
(MIRANDA 2008 p 61)
41
Aleacutem do que hibridamente haacute os que entendem que a reserva legal eacute uma
desapropriaccedilatildeo indireta6 disfarccedilada de limitaccedilatildeo da propriedade que por sua vez inviabiliza a
utilizaccedilatildeo econocircmica do bem provocando uma busca por indenizaccedilatildeo Eacute nesse sentido que se
pronunciam os superiores tribunais do paiacutes como por exemplo se pronunciou o ministro Luiz
Pereira do Tribunal de Justiccedila do Estado de Satildeo Paulo ao decidir pela indenizabilidade da
aacuterea compreendida na reserva legal E ainda o proacuteprio Supremo Tribunal Federal tem se
manifestado de forma enfaacutetica ldquoimpedindo que a bdquolimitaccedilatildeo administrativa‟ esvazie o
conteuacutedo econocircmico do direito de propriedade determinando que em tais hipoacuteteses o Estado
indenize os prejuiacutezos de ordem patrimonial sofridos pelo particularrdquo (ANTUNES 2011
p163164)
Mesmo sendo um instrumento de conservaccedilatildeo ambiental com a possibilidade de
exploraccedilatildeo racional atraveacutes de manejo florestal sustentaacutevel eacute visivelmente perceptiacutevel o
conflito entre interesses particulares e a salvaguarda da vegetaccedilatildeo proposta por norma
juriacutedica Posto isto observa-se de um lado intenccedilotildees puramente econocircmicas que por sua vez
levam os proprietaacuterios a ignorarem a lei derrubando e queimando as matas que deveriam ser
preservadas a tiacutetulo de Reserva Legal ou ainda se eximindo de suas responsabilidades soacutecio-
ambientais Opotildeem-se portanto aos fortes instrumentos juriacutedicos de proteccedilatildeo das matas
brasileiras (MIRANDA 2008)
1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal
Na vigecircncia da lei anterior ou seja do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)
a forma de garantir documentalmente o cumprimento da reserva legal era averbaacute-la junto agrave
matriacutecula da propriedade constante em um Registro de Imoacuteveis Vale aqui esmiuccedilar o que eacute e
como era esse procedimento
ldquoO Registro de Imoacuteveis eacute uma instituiccedilatildeo nascida no seacuteculo XIX para dar
seguranccedila agrave contrataccedilatildeo imobiliaacuteria e na qual se inscreviam os direitos nascidos das relaccedilotildees
privadas ou civisrdquo (CRIADO 2010 p126) ldquoE que surgiu como necessidade do Estado de
controlar o direito de propriedade e como instrumento de seguranccedila juriacutedica para o traacutefego
imobiliaacuteriordquo (MELO 2010 p18) Regido pela Lei 601573 (BRASIL 1973) que cria a
figura da matriacutecula e que por sua vez representa a individualidade do imoacutevel sua situaccedilatildeo
6 Desapropriaccedilatildeo indireta ndash ldquotoda intervenccedilatildeo do Estado na propriedade que venha a impossibilitar o uso e gozo
desse bem retirando-lhe o conteuacutedo econocircmicordquo (TAVARES 1998 p 2 apud MIRANDA 2008 p 62)
42
geograacutefica e perfeita descriccedilatildeo sofrendo alteraccedilotildees objetivas e subjetivas por meio da
averbaccedilatildeo sempre com um mesmo nuacutemero de ordem facilitando incrivelmente as pesquisas e
expediccedilatildeo de certidotildees (MELO 2010)
Desta forma cada imoacutevel possui um registro onde pode ser descrito tudo o que
acontece com ele e nele por exemplo quem comprou vendeu se o dono hipotecou o bem a
um banco por causa de empreacutestimo etc Cada novidade que acontece no imoacutevel eacute inscrita sob
a forma e nome de averbaccedilatildeo no seu registro que por sua vez tem um nuacutemero de matriacutecula
para o identificar da mesma forma que um cidadatildeo tem um nuacutemero de Registro Geral (RG)
com seu nome completo data de nascimento e filiaccedilatildeo
No caso a averbaccedilatildeo da reserva legal era feita da seguinte forma o dono do
imoacutevel ldquointeressadordquo em cumprir sua obrigaccedilatildeo deveria submeter a localizaccedilatildeo da reserva
legal ao oacutergatildeo ambiental estadual que por sua vez aprovaria ou natildeo o local onde o proprietaacuterio
iria destinar agrave reserva legal Essa delimitaccedilatildeo deveria ser feita a partir de um
georreferenciamento que utiliza coordenadas geograacuteficas fixadas com o auxiacutelio de sateacutelites
conforme o Sistema Geodeacutesico Brasileiro (SGB) ao qual o Registro de imoacuteveis estaacute
vinculado (MELO 2010)
ldquoA representaccedilatildeo graacutefica da propriedade e sua atualizaccedilatildeo permitem um
conhecimento da evoluccedilatildeo do territoacuterio suas modificaccedilotildees e o impacto meio ambiental que
nele tenha ocasionado atuaccedilatildeo do acircmbito imobiliaacuterio com transcendecircncia nesta mateacuteriardquo
(LIBERAL 2007 p 121 apud MELO 2010 p3233)
Assim com a propriedade e sua respectiva aacuterea de reserva legal
georreferenciadas o proacuteximo passo seria a elaboraccedilatildeo de uma planta a partir dos dados
coletados e juntamente com o documento comprobatoacuterio de que o imoacutevel possuiacutea registro
submeter a localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva ao oacutergatildeo ambiental competente Se aprovada o
oacutergatildeo expediria um Termo de Averbaccedilatildeo da Reserva Legal que juntamente com a mesma
planta apresentada anteriormente deveria ser levado ao cartoacuterio de imoacuteveis para posterior
averbaccedilatildeo no registro do bem Nesta averbaccedilatildeo estariam descritas todas as informaccedilotildees da
reserva legal e sua localizaccedilatildeo geograacutefica
ldquoEsse procedimento documental tinha fundamento no princiacutepio da publicidade
que eacute a alma dos registros puacuteblicos porque eacute a oportunidade dada ao povo de conhecer tudo
que lhe interessa a respeito de determinados atosrdquo (BALBINO FILHO 1999 p 9 apud
MELO 2010 p34) Ateacute porque qualquer pessoa pode solicitar informaccedilotildees sobre os registros
junto ao cartoacuterio de imoacuteveis ldquoE natildeo poderia ser diferente pois o Registro de Imoacuteveis atua no
43
direito ambiental como ator coadjuvante reforccedilando a publicidade legal bem como
cooperando com o cumprimento e garantia das obrigaccedilotildees ambientaisrdquo (MELO 2010 p79)
Natildeo obstante malgrado existia a obrigaccedilatildeo legal de todo proprietaacuterio averbar a
aacuterea de RLF no Registro de Imoacuteveis o fato eacute que pequena porcentagem dos proprietaacuterios
procedeu agrave sua especializaccedilatildeo ldquoA razatildeo eacute simples trata-se de norma incompleta foi criada a
obrigaccedilatildeo mas propositalmente a sanccedilatildeo foi esquecidardquo (MELO 2010 p56)
Com a lei 126512012 (BRASIL 2012) ou Novo Coacutedigo Florestal esse
procedimento mudou Logo natildeo se deve mais averbar a reserva legal no registro do imoacutevel
Agora a obrigaccedilatildeo passou a ser o cadastramento da propriedade rural no Cadastro Ambiental
Rural (CAR) O atual meacutetodo consiste na inscriccedilatildeo do imoacutevel a partir da identificaccedilatildeo do
proprietaacuterio ou possuidor rural apresentaccedilatildeo de documento que comprove a propriedade ou a
posse e a identificaccedilatildeo do imoacutevel por meio de planta e memorial descritivo contendo a
indicaccedilatildeo das coordenadas geograacuteficas com pelo menos um ponto de amarraccedilatildeo do periacutemetro
do imoacutevel informando a localizaccedilatildeo dos remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa das Aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente das Aacutereas de Uso Restrito das aacutereas consolidadas e caso existente
tambeacutem da localizaccedilatildeo da Reserva Legal
No entanto o CAR ainda natildeo estaacute implantado no Cearaacute o que eacute realidade em
vaacuterios outros estados tambeacutem A obrigatoriedade de inscriccedilatildeo neste Cadastro eacute de ateacute dois
anos apoacutes sua implementaccedilatildeo que ateacute o momento natildeo aconteceu Todavia o secretaacuterio de
Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentaacutevel Sr Paulo Guilherme Cabral afirmou em
21052013 que o lanccedilamento em acircmbito nacional do Cadastro Ambiental Rural (CAR) deve
ocorrer ateacute o iniacutecio de junho e para agilizar a inscriccedilatildeo de mais de 5 milhotildees de propriedades
o Ministeacuterio do Meio Ambiente tem buscado ajuda de sindicatos cooperativas e associaccedilotildees
do setor agriacutecola aleacutem de outros oacutergatildeos puacuteblicos7 Infelizmente nada aconteceu ateacute e apoacutes
aquela previsatildeo
Contraditoriamente natildeo existe um prazo para o governo implantar o CAR mas
para o proprietaacuterio ou posseiro sim quando o cadastro dos imoacuteveis estiver disponiacutevel O
impasse eacute o que fazer o dono da terra aguarda o novo procedimento vigorar ou adota o
meacutetodo anterior
7 Conferir notiacutecia publicada em 22052013 no site lthttpsouagrocombrlancamento-nacional-do-car-deve-
sair-ate-junhogt
44
2 Processo de Degradaccedilatildeo
21 Conceito
A degradaccedilatildeo de uma forma geral eacute ldquoa ocorrecircncia de modificaccedilotildees fiacutesicas
metaboacutelicas ou quiacutemicas para uma forma menos complexa E a degradaccedilatildeo ambiental eacute a
alteraccedilatildeo das caracteriacutesticas do meio ambienterdquo (GUERRA et al 2009 p108) Jaacute o inciso II
do artigo 3ordm da Lei 693881 (BRASIL 1981) descreve a degradaccedilatildeo da qualidade ambiental
como alteraccedilatildeo adversa das caracteriacutesticas do meio ambiente
Para Arauacutejo et al (2008 p 19) ldquoa degradaccedilatildeo das terras envolve a reduccedilatildeo dos
potenciais recursos renovaacuteveis por uma combinaccedilatildeo de processos agindo sobre a terrardquo Os
autores ainda atestam que
Tal reduccedilatildeo levando ao abandono ou ldquodesertificaccedilatildeordquo da terra [] pode ser por
processos naturais como por exemplo o ressecamento do clima atmosfeacuterico
processos naturais de erosatildeo alguns outros de formaccedilatildeo do solo ou uma invasatildeo
natural de plantas ou animais nocivos Pode tambeacutem ocorrer por accedilotildees antroacutepicas
diretamente sobre o terreno ou indiretamente em razatildeo das mudanccedilas climaacuteticas
adversas induzidas pelo homem (ARAUacuteJO et al 2008 p 19)
Para a Food and Agriculture Organizations of the United Nations - FAO
(Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e Agricultura) o conceito de degradaccedilatildeo
de terras se refere ldquoagrave deterioraccedilatildeo ou perda total da capacidade dos solos para uso presente e
futurordquo (FAO 1980 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 23)
Observa-se portanto que a degradaccedilatildeo ambiental se natildeo combatida pressupotildee
um processo criacutetico e muito seacuterio o da desertificaccedilatildeo Eacute como considera Sales (2002) e ainda
afirma que o potencial natural das terras quanto agrave degradaccedilatildeo e a accedilatildeo antroacutepica
desencadeiam a desertificaccedilatildeo
O processo de degradaccedilatildeo ambiental pode ocorrer a partir de um ambiente que jaacute
possui caracteriacutesticas naturais limitantes eou extremas onde nele eacute inserido o fator antroacutepico
seja pela simples ocupaccedilatildeo de uma populaccedilatildeo naquela aacuterea seja pelo manejo inadequado dos
recursos naturais ali presentes De outra forma a degradaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel em ambientes
sem fragilidades naturalmente aparentes
A degradaccedilatildeo ambiental advinda da intervenccedilatildeo humana num cenaacuterio mundial
traduz-se em 15 das terras jaacute comprometidas pelas atividades humanas sendo que na
Ameacuterica do Sul dentro daquele percentual encontrou-se 1 de terras devastadas 11 de
terras leve ou moderadamente degradadas e 1 de terra forte ou extremamente degradada8
As estimativas apontam uma expansatildeo anual de 5 a 12 milhotildees de hectares de solo de um
total de 48 bilhotildees de hectares de aacutereas cultivaacuteveis e pastos ainda existentes e segundo a
ISRICUNEP (1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 28) isso resulta na seguinte constataccedilatildeo
A degradaccedilatildeo ambiental causa a perda de aproximadamente 14 milhotildees de
toneladas de gratildeos anualmente isto eacute metade da quantidade necessaacuteria para cobrir
as necessidades da populaccedilatildeo global adicional para o mesmo periacuteodo E no aspecto
financeiro para Blaikie e Brookfiel (1987) a produtividade do trabalho eacute atingida
desfavoravelmente pois a degradaccedilatildeo ambiental consome diretamente o produto do
trabalho e tambeacutem o aporte de capital na produccedilatildeo A qualidade de vida diminui
porque satildeo necessaacuterios mais tempo e um trabalho mais duro para se obter o mesmo
produto isso sem mencionar as medidas conservacionistas no campo fertilizaccedilatildeo
mais intensa ou a abertura de aacutereas para lavouras ou pastos cada vez mais distantes
[] Em ocasiotildees mais raras mas tambeacutem tatildeo dramaacuteticas a degradaccedilatildeo ambiental
forccedila o deslocamento da populaccedilatildeo Centenas de milhares de hectares tecircm de ser
abandonados a cada ano por estarem degradados demais para o cultivo ou ateacute
mesmo para pastagens (ARAUacuteJO et al 2008 p 31)
Em se tratando de semiaacuterido os recursos ambientais satildeo fraacutegeis e associados a
este quadro haacute uma populaccedilatildeo que por sua vez lanccedila matildeo dos bens naturais produzindo uma
deterioraccedilatildeo ambiental ldquoO Cearaacute por conseguinte apresenta extensas aacutereas com problemas
relativos agrave degradaccedilatildeo ambiental principalmente a desertificaccedilatildeordquo (IRAUCcedilUBA 2009 p 7)
Eacute o caso de Irauccediluba por causa da degradaccedilatildeo advinda do desmatamento e das
queimadas que exaurem os nutrientes do solo a agricultura de subsistecircncia colhe em gratildeos
menos de 500 kgha enquanto que a produccedilatildeo potencial seria cerca de 2000 kgha
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Isso explica a baixa participaccedilatildeo da agricultura na
produccedilatildeo agropecuaacuteria do municiacutepio E ldquoessa produccedilatildeo sequer paga os custos da lavoura de
forma que os pequenos produtores estatildeo pagando para plantar na maioria dos casosrdquo
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 18) As consequecircncias sociais disto satildeo ldquoum ciclo de
pobreza e miseacuteria tornando a regiatildeo cada vez mais vulneraacutevelrdquo (SALES 2002 p116)
Em niacutevel mais criacutetico segundo as Naccedilotildees Unidas a desertificaccedilatildeo degrada 60 mil
km2 de terras feacuterteis por ano em todo o mundo provocando perdas de 4 bilhotildees de doacutelares na
economia mundial No Brasil estima-se que essas perdas atinjam 100 milhotildees de doacutelares9
Por fim ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013) entendem que a degradaccedilatildeo em terras
brasileiras remonta o tempo dos colonizadores pois estes aplicavam diretamente meacutetodos e
praacuteticas proacuteprios para solos de clima temperado Assim as matas foram derrubadas queimou-
se a vegetaccedilatildeo em larga escala e lavouras nocircmades foram estabelecidas aproveitou-se o humo
8 Conferir ISRICUNEP 1991 In Arauacutejo et al 2008 p 27
9 Conferir RODRIGUES (2006) in CEARAacute 2010
46
onde este jaacute existia expuseram-se os solos agrave erosatildeo enfim saquearam-se os recursos naturais
renovaacuteveis ldquoNo caso do Cearaacute documenta-se que em 1861 a Comissatildeo Cientiacutefica enviada
para estudar o Nordeste registrava a destruiccedilatildeo acelerada da vegetaccedilatildeo principalmente nos
contrafortes das serras em virtude dos desmatamentos e queimadas para plantio de
mandiocardquo ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013 p 8)
Para uma melhor compreensatildeo quanto agrave intervenccedilatildeo humana negativa no
ambiente aponta-se o esquema proposto na figura 3 a seguir resumindo o processo de
degradaccedilatildeo ambiental apresentado pelo PAE10
(CEARAacute 2010b)
Figura 3 Sistema de Degradaccedilatildeo do Meio Ambiente Adaptado de Tricart (apud Souza 2000)
Fonte PAE (CEARAacute 2010b p 30)
10
PAECE ndash Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca
(CEARAacute 2010)
47
22 Degradaccedilatildeo Ambiental
A degradaccedilatildeo tem vaacuterias causas dentre elas a erosatildeo e o manejo inadequado do
solo Em se tratando deste uacuteltimo pode-se destacar as atividades agropecuaacuterias e suas
praacuteticas como por exemplo o desmatamento desmedido e irracional a irrigaccedilatildeo de forma
errada salinizando ou encharcando o solo o sobrepastoreio que compacta o solo e o uso de
defensivos agriacutecolas que provocam a contaminaccedilatildeo do solo e eliminam os microorganismos
ali presentes Deduz-se portanto que isso eacute um reflexo derivado de uma estrutura fundiaacuteria
extremamente riacutegida onde satildeo desenvolvidas aquelas atividades com baixo niacutevel tecnoloacutegico
levando a praacuteticas agriacutecolas predatoacuterias (SALES 2002 p116)
Com as causas naturais e as provocadas pelo homem quanto agrave degradaccedilatildeo do solo
expostas na tabela 2 a compreensatildeo fica mais clara
Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras
FATORES ACcedilOtildeES ANTROacutePICAS CONDICcedilOtildeES NATURAIS
Facilitadores
Desmatamento
Permissatildeo do superpastoreio
Uso excessivo da vegetaccedilatildeo
Taludes de corte
Remoccedilatildeo da cobertura vegetal para o cultivo
Topografia
Textura do solo
Composiccedilatildeo do solo
Cobertura vegetal
Regimes hidrograacuteficos
Diretos
Uso de maacutequinas
Conduccedilatildeo do gado
Encurtamento do pousio
Entrada excessiva de aacutegua drenagem insuficiente
Excesso de fertilizaccedilatildeo aacutecida
Uso excessivo de produtos quiacutemicos estrume
Disposiccedilatildeo de resiacuteduos domeacutesticos industriais
Chuvas fortes
Alagamentos
Ventos fortes
Fonte FAO (1980 apud Arauacutejo et al 2008 p 33)
Entendem Arauacutejo et al (2008 p 29) que as consequecircncias disto no meio rural satildeo
Um decliacutenio na produtividade ou uma necessidade crescente do aporte de nutrientes
para manter as mesmas produtividades uma vez que os ldquosubsolos geralmente
contem menos nutrientes do que as camadas superioresrdquo sendo necessaacuterio mais
fertilizante para manter a produtividade das culturas Isso por sua vez aumenta os
custos da produccedilatildeo
Partindo dessas constataccedilotildees conclui-se que satildeo seacuterias as consequecircncias
ambientais sociais e econocircmicas a esse respeito por isso satildeo necessaacuterias medidas mitigadoras
que visem minimizar esses impactos bem como meios de recuperar os danos jaacute existentes
A questatildeo torna-se ainda mais preocupante quando o olhar recai sobre os
processos de formaccedilatildeo do solo que segundo Kendall e Pimentel (1994 apud ARAUacuteJO et al
48
2008 p 21) ldquosatildeo lentos e necessitam de duzentos a mil anos para formar 25cm de solos e
isso sob condiccedilotildees agriacutecolas normaisrdquo Dessa forma a degradaccedilatildeo do solo eacute muito mais
criacutetica uma vez que eacute quase irreversiacutevel quando se trata do lapso temporal para se regenerar
ldquoA irreversibilidade tambeacutem ocorre quando o clima e as atividades humanas se combinam
tornando um solo anteriormente sadio em aacuterea devastadardquo (ARAUacuteJO et al 2008 p 2021)
221 Erosatildeo
Eacute o processo natural de decomposiccedilatildeo e transporte de sedimentos que altera as
formas de relevo Causada por agentes como vento chuvas aacuteguas correntes pode ser
acelerada por intervenccedilotildees humanas como por exemplo o desmatamento (TRIGUEIRO
2005 apud GUERRA 2009 p 129)
Arauacutejo et al (2008 p 34) afirmam que ldquoembora a erosatildeo possa ocorrer sem a
intervenccedilatildeo humana na praacutetica ela geralmente eacute iniciada eou acelerada por atividades
antroacutepicas que causam o desaparecimento da cobertura protetora da vegetaccedilatildeo natural ou
danificam a estrutura do solordquo
No PAN (BRASIL 2004 p 42) consta que ldquoa resultante do antropismo eacute
principalmente a erosatildeo particularmente a laminarrdquo que se inicia com a destruiccedilatildeo da
cobertura vegetal
A erosatildeo pode ser pela accedilatildeo da aacutegua eou do vento Em ambos os casos a camada
superficial do solo eacute retirada Para Arauacutejo et al (2008 p 24) ldquoa erosatildeo eoacutelica eacute mais comum
em climas aacuterido e semiaacuterido e eacute considerada uma forma de degradaccedilatildeo bem como a da aacutegua
que pode ateacute deformar o terreno formando ravinas e voccedilorocasrdquo Uma consequecircncia grave
disto segundo os mesmos autores eacute a reduccedilatildeo da fertilidade pelos motivos a seguir Menor
penetraccedilatildeo de raiacutezes em decorrecircncia de um solo menos denso e mais fino Reduccedilatildeo na
capacidade de retenccedilatildeo de aacutegua Varredura dos nutrientes utilizados pelas plantas
Para a FAO segundo Arauacutejo et al (2008 p 30) ldquoaproximadamente 25 bilhotildees de
toneladas de solo satildeo erodidos a cada ano sendo 17 toneladas por hectare cultivadordquo
222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica
Dentro do que jaacute foi citado anteriormente a (1) irrigaccedilatildeo inadequada que saliniza
ou encharca o solo e o (2) uso de defensivos agriacutecolas contaminando e eliminando os
49
microorganismos satildeo soacute algumas causas deste tipo de degradaccedilatildeo Aleacutem destas tem-se a (3)
acidificaccedilatildeo e o (4) esgotamento do solo causando a perda de nutrientes Para Arauacutejo et al
(2008 p 25) ldquoa salinizaccedilatildeo pode ser resultado de manejo mal realizado da irrigaccedilatildeo da alta
concentraccedilatildeo de sais na aacutegua ou atenccedilatildeo indevida agrave drenagem Esta acarreta a salinizaccedilatildeo dos
solos especialmente em regiotildees aacuteridas por que as altas taxas de evaporaccedilatildeo estimulam o
processordquo E ainda por atividades humanas que elevam a evaporaccedilatildeo em solos com material
salino ou com lenccedilol freaacutetico salino (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25)
Segundo o PAN (BRASIL 2004 p 64) ldquoa irrigaccedilatildeo produz impactos
indesejaacuteveis em qualquer aacuterea semiaacuteridardquo se realizada de forma inadequada e sem o recurso
da drenagem Complementa ainda o documento ao dizer que
Um solo submetido agrave irrigaccedilatildeo estaacute salinizado quando a concentraccedilatildeo de sais nesse
terreno se eleva a ponto de prejudicar o rendimento econocircmico das culturas A
salinizaccedilatildeo do solo afeta a germinaccedilatildeo e a densidade das culturas bem como seu
desenvolvimento vegetativo reduzindo a produtividade das lavouras Nos casos
limites a salinizaccedilatildeo pode levar agrave morte generalizada das plantas inviabilizando o
cultivo das terras afetadas (BRASIL 2004 p 64)
Aleacutem disso o uso excessivo de agrotoacutexicos eacute tido como poluiccedilatildeo e pode levar agrave
reduccedilatildeo do potencial agriacutecola da terra Resiacuteduos industriais e urbanos tambeacutem podem poluir
terras agricultaacuteveis O esgotamento do solo pelo plantio excessivo de culturas sem promover
um pousio miacutenimo do terreno exaure os nutrientes daquela aacuterea Isso eacute comum onde a
agricultura eacute praticada em solos pobres ou moderadamente feacuterteis sem a aplicaccedilatildeo suficiente
de esterco ou fertilizante (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25) E por fim
a acidez pode ser provocada quando se utiliza muitos fertilizantes aacutecidos ou em decorrecircncia
da maacute drenagem em alguns tipos de solo
223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica
Conhecidos pela compactaccedilatildeo do solo elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico e pelo
rebaixamento da superfiacutecie da terra (subsidecircncia) a esses tipos de degradaccedilatildeo natildeo se pode
deixar de somar uma causa precursora que eacute o desmatamento desmedido e irracional
deixando o solo nu e exposto agraves intempeacuteries do tempo Da mesma forma entende Cruz (1994
p 135-147 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 35) ao afirmar que ldquoa remoccedilatildeo da cobertura vegetal
inicia ou acelera a erosatildeo do solo sob a accedilatildeo da chuva e do vento de igual modo a queimada
visando o controle de ervas estimula a lixiviaccedilatildeo e a perda do solordquo
50
A compactaccedilatildeo do solo como o resultado do uso de maacutequinas pesadas em solos
instaacuteveis bem como o pisoteio do gado que via de regra eacute agravado por um
sobrepastoreio da aacuterea O impacto das gotas de chuva provoca tambeacutem o selamento
e encrostamento do solo A elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico eacute ocasionada pelo
encharcamento da terra que por sua vez natildeo tem na mesma proporccedilatildeo a capacidade
de drenagem (ARAUacuteJO et al 2008 p 25)
23 A degradaccedilatildeo em Irauccediluba
Em Irauccediluba as praacuteticas agriacutecolas e a pecuaacuteria satildeo muito ofensivas aos recursos
naturais Isso se deve agrave capacidade de suporte do ambiente que natildeo eacute respeitada gerando
impactos e danos ambientais seacuterios e de caraacuteter praticamente irreversiacuteveis O sobrepastejo de
bovinos ovinos e caprinos o desmatamento e as queimadas deixam a regiatildeo com um niacutevel de
degradaccedilatildeo altiacutessimo ateacute porque suas condiccedilotildees naturais jaacute satildeo adversas E ainda haacute outro
fator agravante - o tempo de recuperaccedilatildeo natural tambeacutem natildeo eacute observado nem cumprido
fragilizando por demais o ambiente
Para Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 7) ldquoA introduccedilatildeo da pecuaacuteria no nuacutecleo de
Irauccediluba trouxe a tiracolo a agricultura e a extraccedilatildeo de madeira A primeira baseava-se no
desmatamento indiscriminado e na queimada geral E a segunda na coleta da lenha sem
reposiccedilatildeo florestalrdquo Desta forma a degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba estaacute desenhada por
1 Superpastejo que causa prejuiacutezos sensiacuteveis agrave vegetaccedilatildeo pelo consumo das
cascas dos troncos de aacutervores e arbustos e pela remoccedilatildeo das placircntulas das espeacutecies
arboacutereas e arbustivas Nessas condiccedilotildees mudanccedilas na composiccedilatildeo floriacutestica da
vegetaccedilatildeo podem resultar em virtude do desaparecimento das espeacutecies lenhosas
forrageiras o que em aacutereas de vegetaccedilatildeo degradada acelera o processo de
desertificaccedilatildeo Em aacutereas de caatinga o pastejo por ovinos induz mudanccedilas
significativas na composiccedilatildeo botacircnica do estrato herbaacuteceo com a reduccedilatildeo da
participaccedilatildeo das gramiacuteneas mesmo em condiccedilotildees de pastoreio moderado Nesse
contexto o sobrepastejo por ovinos pode resultar no desaparecimento das gramiacuteneas
e ao final de toda cobertura herbaacutecea da vegetaccedilatildeo expondo o solo aos efeitos da
erosatildeo (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 78)
2 Agricultura rudimentar que pratica o desmatamento e faz uso do fogo O
impacto deste sobre o ecossistema eacute onipresente e caracteriza-se pela queda da
produccedilatildeo agriacutecola pela degradaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa pela erosatildeo dos solos pela
perda da biodiversidade da flora e da fauna e pelo assoreamento e salinizaccedilatildeo dos
mananciais pela perda da resiliecircncia aumentando sua fragilidade diante das
variaccedilotildees climaacuteticas tiacutepicas das regiotildees semiaacuteridas Aleacutem disto os desmatamentos e
queimadas seguidos por um curto periacuteodo de pousio terminam por levar a vegetaccedilatildeo
a um disclimax dominado por arbustos uma vez que o banco de sementes das
arboacutereas praticamente desapareceu (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 918)
3 Manejo inadequado do solo associado ao relevo da regiatildeo Satildeo trecircs tipos de
solo que se destacam em Irauccediluba litoacutelicos planossolos e luvissolos Por conta da
declividade de 8 a 45 os agricultores optam pelas terras nas encostas para
implantar os roccedilados pois haacute um menor risco de perder a safra em funccedilatildeo do
alagamento comum nas terras planas do municiacutepio durante a eacutepoca das chuvas
Nestas condiccedilotildees as perdas de solo por erosatildeo satildeo assombrosas Aleacutem disto haacute a
erosatildeo nos planossolos provocada pelo sobrepastejo com perdas de solo superiores a
51
17 tha em uma uacutenica estaccedilatildeo das chuvas o que enfatiza a importacircncia da cobertura
vegetal na proteccedilatildeo contra a erosatildeo (apud SALES 2003) Como consequecircncia do
sobrepastejo continuado ao longo provavelmente de centenas de anos a erosatildeo
laminar jaacute removeu porccedilatildeo significativa do horizonte A expondo em alguns casos o
horizonte B textural Aleacutem disso houve uma exaustatildeo dos nutrientes do solo
principalmente do foacutesforo Outro fator que tambeacutem intensifica a degradaccedilatildeo eacute o
curtiacutessimo periacuteodo de repouso Estima-se em 50 anos o tempo necessaacuterio para que a
vegetaccedilatildeo da caatinga em um luvissolo que foi destruiacuteda pela queimada do roccedilado
volte pela sucessatildeo secundaacuteria ao cliacutemax original Ora na regiatildeo este periacuteodo estaacute
reduzido a cerca de oito anos Com isto natildeo haacute a recuperaccedilatildeo da fertilidade do solo e
a recomposiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo Isto porque a velocidade de crescimento das arboacutereas
da caatinga eacute muito variaacutevel (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 810)
Concluem portanto os autores Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 17) que ldquoas praacuteticas
rotineiramente adotadas do desmatamento e do fogo a exposiccedilatildeo do solo e a diminuiccedilatildeo do
periacuteodo de pousio tecircm induzido processos de degradaccedilatildeo mormente os de erosatildeordquo
231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia
A desertificaccedilatildeo eacute um problema ambiental que assola vaacuterias partes do mundo e
vem sendo discutido desde 1977 quando em Nairoacutebi no Quecircnia aconteceu a Conferecircncia
sobre Desertificaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas ldquoA observaccedilatildeo desse processo se atribui ao cientista
Aubreville que em 1949 constatou o prolongamento da degradaccedilatildeo para o norte das zonas
mais aacuteridas do Saara e para as regiotildees semiaacuteridas e subuacutemidas do norte da Aacutefricardquo (ARAUacuteJO
et al 2008 p 26) Em 1992 na ECO 92 foi definido o conceito de desertificaccedilatildeo cuja
ocorrecircncia se daacute em aacutereas aacuteridas semiaacuteridas e subuacutemidas secas O grau de aridez eacute
estabelecido pela relaccedilatildeo PEtp que eacute a razatildeo entre a meacutedia da precipitaccedilatildeo total anual e a
evapotranspiraccedilatildeo potencial do mesmo periacuteodo metodologia esta desenvolvida por
Thornthwaite (1955) Desta forma definiu-se uma correspondecircncia entre o clima e o
resultado da relaccedilatildeo acima conforme mostra a tabela 3
Tabela 3 ndash Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez
CLIMA P ETP
Hiper-aacuterido lt 005
Aacuterido De 005 a 020
Semiaacuterido gt 020 a 050
Subuacutemido Seco gt 050 a 065
Subuacutemido Uacutemido gt 065
Fonte United Nations Environment Programme ndash UNEP (Programa
Ambiental das Naccedilotildees Unidas) 1992
52
Eacute interessante mencionar que o semiaacuterido brasileiro delimitado pela uacuteltima vez
em 1995 foi novamente demarcado a partir da iniciativa do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
Nacional (MIN) que instituiu um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) envolvendo
departamentos empresas institutos agecircncias e ateacute bancos puacuteblicos para a readequaccedilatildeo dos
criteacuterios propostos pela Lei 782789 (BRASIL 1989c) Somente a inserccedilatildeo do municiacutepio na
aacuterea de abrangecircncia da extinta Superintendecircncia de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)
e a precipitaccedilatildeo meacutedia anual de ateacute 800 mm eram condiccedilotildees para enquadrar ou natildeo
determinado municiacutepio no semiaacuterido brasileiro (SUDENE 1990) Os novos paracircmetros satildeo
mais abrangentes pois aleacutem de considerar a precipitaccedilatildeo pluviomeacutetrica meacutedia anual inferior a
800 mm avaliam se o iacutendice de aridez do municiacutepio eacute de ateacute 05 ou se o risco de seca eacute maior
que 6011
Com a nova delimitaccedilatildeo em 2005 foram incorporados mais 102 municiacutepios aos
1031 jaacute classificados de forma que a aacuterea oficialmente semiaacuterida brasileira aumentou de
8923094 km2 para 9695894 km
2 ou seja um acreacutescimo de 866
12
A figura 4 ilustra o novo formato do semiaacuterido no Brasil E no Cearaacute foram
incorporados mais 16 totalizando 150 de um universo com 184 municiacutepios Isto significa
815 do estado e 132 de toda a regiatildeo semiaacuterida do paiacutes13
O quadro atual do semiaacuterido
cearense estaacute delineado na figura 5 a seguir
Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro
Fonte MIN (BRASIL 2005c)
11
Conferir Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro MI (BRASIL 2005c) 12
Idem 13
Ibidem
53
Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute
Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)
Com relaccedilatildeo ao processo de desertificaccedilatildeo no Brasil uma aacuterea de 900000 Kmsup2 eacute
atingida afetando direta ou indiretamente mais de 15 milhotildees de brasileiros natildeo existindo no
territoacuterio nacional outro problema ambiental que atinja tamanha aacuterea e tantas pessoas
(SUDENE 2000 apud IRAUCcedilUBA 2009) A regiatildeo nordeste por sua vez concentra as
Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) incluindo os espaccedilos semiaacuteridos e subuacutemidos
secos ambos de maior abrangecircncia fiacutesico-territorial vis-agrave-vis os outros espaccedilos naturais que
conformam e estruturam o Nordeste brasileiro (BRASIL 2004)
Pesquisadores apontam como principais causas de desertificaccedilatildeo no semiaacuterido
cearense a ocupaccedilatildeo desordenada do solo o desmatamento praacuteticas de queimadas (CEARAacute
2010b) Dentro desse raciociacutenio
Os estabelecimentos agropecuaacuterios ocupam o solo principalmente com lavouras
temporaacuterias e a criaccedilatildeo de animais Estas atividades muitas vezes satildeo executadas
sem preocupaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos e contribuem para
agravar o quadro de degradaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2010b p 103)
No mesmo sentido e no tocante agraves Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) o
PAN (BRASIL 2004) destaca que as condiccedilotildees ambientais dessas aacutereas (principalmente as de
54
clima solo aacutegua e vegetaccedilatildeo) associadas agrave pressatildeo exercida sobre os recursos naturais pela
accedilatildeo antroacutepica (pressatildeo populacional formas inadequadas de uso e ocupaccedilatildeo do solo entre
outros) vecircm contribuindo para a deflagraccedilatildeo de processos de desertificaccedilatildeo em algumas de
suas sub-regiotildees Um dos motivos para isso eacute a combinaccedilatildeo entre pobreza e desigualdade de
forma que
Uma imensa massa de pequenos agricultores descapitalizados confinados em
pequenas parcelas de terras de tais aacutereas (via de regra de meacutedia ou baixa fertilidade
natural) dependentes de seu trabalho para a produccedilatildeo de alimentos para
autoconsumo de forragens para seus animais mas necessitando produzir excedentes
comercializaacuteveis tenderaacute naturalmente a sobreutilizar os recursos naturais
contribuindo dessa forma para agravar os processos de degradaccedilatildeo Nas ASD este
ciacuterculo vicioso eacute agravado pela ocorrecircncia de secas perioacutedicas que levam agrave perdas
significativas e recorrentes de produccedilatildeo e de renda Neste sentido as secas
potencializam o grau de degradaccedilatildeo levando a vulnerabilidade ambiental a niacuteveis
mais elevados Os efeitos das secas sobre a sauacutede e a inseguranccedila alimentar e
nutricional tambeacutem satildeo conhecidos e consideraacuteveis (BRASIL 2004 p 106)
Classificando a susceptibilidade dessas aacutereas Matallo Jr (1999) construiu uma
relaccedilatildeo entre a aptidatildeo agrave desertificaccedilatildeo em funccedilatildeo do iacutendice de aridez conforme se vecirc pela
tabela 4
Tabela 4 - Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo
IacuteNDICE DE ARIDEZ SUSCEPTIBILIDADE Agrave
DESERTIFICACcedilAtildeO
005 a 020 Muito Alta
021 a 050 Alta
051 a 065 Moderada Fonte MATALLO JR (1999)
Nesse iacutenterim o municiacutepio de estudo do corrente trabalho tem iacutendice de aridez
conforme adotado pela UNEP de acordo com o que ilustra na figura 6
55
Figura 6 Iacutendice de Aridez (UNEP) do municiacutepio de Irauccediluba
O Cearaacute por sua vez eacute ldquoo Estado com a maior aacuterea relativa sob niacuteveis altos de
desertificaccedilatildeordquo (LEMOS 1995 apud FOLHES e VIANA 2001 p 5) Seu processo de
ocupaccedilatildeo e uso de terras via de regra foi marcado pela apropriaccedilatildeo dos recursos naturais de
forma a degradaacute-los Esta foi uma das causas para a concepccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Estadual
de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (PAE) cujo objetivo eacute
Contribuir para a convivecircncia equilibrada com o semiaacuterido por meio da
sustentabilidade ambiental do bioma caatinga a partir de poliacuteticas ambientais
sociais e econocircmicas focadas na reduccedilatildeo da pobreza A gestatildeo do Programa
pressupotildee a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo
democraacutetico e a participaccedilatildeo da sociedade (CEARAacute 2010b p 20)
No Estado existem trecircs nuacutecleos em processo de desertificaccedilatildeo Localizam-se no
Sertatildeo dos Inhamuns Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte e Sertatildeo de Jaguaribe abrangendo
respectivamente os municiacutepios de Arneiroz Independecircncia e Tauaacute Canindeacute Irauccediluba
Miraiacutema e Santa Quiteacuteria Jaguaretama Jaguaribara Jaguaribe Alto Santo e Morada Nova
(CEARAacute 2010b) Totalizam portanto 12 cidades com os maiores iacutendices de degradaccedilatildeo
ambiental do estado portanto susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo num grau muito grave como se
pode ver pelas figuras 7 e 8
No entanto o presente trabalho se ateraacute tatildeo somente ao municiacutepio de Irauccediluba
abrangido pelo nuacutecleo Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte
Fonte NOLEcircTO (2005)
56
Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave
desertificaccedilatildeo no Cearaacute desertificaccedilatildeo
Fonte IPECE (CEARAacute 2010a) Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)
O PAE (CEARAacute 2010b) utilizou para a formulaccedilatildeo do iacutendice de susceptibilidade
agrave desertificaccedilatildeo indicadores sociais que apontam a forma de ocupaccedilatildeo e tudo que dela
decorre e indicadores econocircmicos que representam as atividades humanas exercidas no
municiacutepio Vale ressaltar que as caracteriacutesticas do meio ambiente da regiatildeo natildeo foram
ignoradas muito pelo contraacuterio elas definiram as aacutereas classificadas como susceptiacuteveis agrave
desertificaccedilatildeo A lista abaixo demonstra os criteacuterios mensurados e os aspectos ambientais
observados
Indicadores sociais
1 Proporccedilatildeo da aacuterea das grandes propriedades na aacuterea total dos imoacuteveis rurais em
2005
2 Razatildeo entre alfabetizados e natildeo-alfabetizados de 5 ou mais anos de idade em
2000
3 Taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais de idade em 2000
(percentagem)
4 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino fundamental da populaccedilatildeo de 7 a 14
anos de idade em 2005
5 Taxa de evasatildeo no ensino fundamental em 2005
57
6 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino meacutedio da populaccedilatildeo de 15 a 17 anos de
idade em 2005
7 Taxa de evasatildeo escolar no ensino meacutedio em 2005
8 Densidade demograacutefica em 2006 (habitanteskm2)
Indicadores econocircmicos
1 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de carvatildeo vegetal pela aacuterea do municiacutepio em 2006
(tonha)
2 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de lenha pela aacuterea do municiacutepio em 2006 (m3ha)
3 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)
4 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)
5 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como pequena
propriedade em 2005 (haimoacutevel)
6 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como minifuacutendio em
2005 (haimoacutevel)
7 Razatildeo do consumo de energia eleacutetrica rural por consumidores de energia eleacutetrica
rural em 2005
8 Proporccedilatildeo de induacutestrias de transformaccedilatildeo no total de empresas industriais ativas
em 2005
9 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de feijatildeo em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
10 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com arroz em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
11 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com milho em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
12 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de mandioca em 2006 na aacuterea total dos
estabelecimentos agropecuaacuterios em 1996
13 Razatildeo do efetivo de bovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
14 Razatildeo do efetivo de ovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
15 Razatildeo do efetivo de caprinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
16 Razatildeo do efetivo de suiacutenos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
17 Produto Interno Bruto per capita a preccedilos de mercado em 2004
Caracteriacutesticas ambientais
1 Degradaccedilatildeo da cobertura vegetal
2 Assoreamento dos rios
3 Pastoreio excessivo
4 Perda da biodiversidade
5 Perda da capacidade produtiva do solo
6 Baixa relaccedilatildeo entre capacidade produtiva dos recursos naturais e sua capacidade
de recuperaccedilatildeo
A anaacutelise dos 25 paracircmetros entremeados com as condiccedilotildees ambientais estaacute
devidamente compilada no Quadro 2 ndash Caracterizaccedilatildeo das ASDs nos Sertotildees de Irauccediluba e
Centro-Norte do PAE (CEARAacute 2010b) As constataccedilotildees ensejam problemas no meio
ambiente a partir dos inuacutemeros gargalos sociais e econocircmicos como por exemplo a produccedilatildeo
agriacutecola em lavouras temporaacuterias na maior proporccedilatildeo dos estabelecimentos rurais o grande
iacutendice de pobres da regiatildeo o consumo de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo cada vez maior
58
Natildeo se pode deixar de mencionar os problemas ambientais que deixam a aacuterea em
questatildeo muito mais vulneraacutevel aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas e da desertificaccedilatildeo Satildeo
eles degradaccedilatildeo dos solos e da cobertura vegetal primaacuteria o sobrepastoreio o
desencadeamento e expansatildeo de processos erosivos acelerados com ocorrecircncia muito
frequente de afloramentos rochosos e chatildeos pedregosos perda de solos e biodiversidade
empobrecida baixa frequecircncia de espeacutecies lenhosas da caatinga e processos erosivos muito
ativos em funccedilatildeo do aumento da torrencialidade do escoamento superficial
Assim conclui-se que natildeo haacute como dissociar o quadro social e econocircmico das
nuances ambientais de um municiacutepio ou regiatildeo
Em se tratando da ASD nos Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte faz-se necessaacuterio
expor os nuacutemeros encontrados e as respectivas conclusotildees a partir dos levantamentos feitos
pelo PAE (CEARAacute 2010b) O Iacutendice Econocircmico e Social de Susceptibilidade agrave
Desertificaccedilatildeo (IESSD) ilustrado pelas figuras 9 e 10 por exemplo aponta as possiacuteveis causas
e os principais agentes causadores do processo de desertificaccedilatildeo sem quantificar ou mensurar
seu niacutevel
Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no Iacutendice Social de Susceptibilidade agrave
Desertificaccedilatildeo (ISSD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)
Fonte PAE (CEARAacute 2010b)
0
5
10
15
20
25
30
Contribuiccedilatildeo no ISSD ()
59
Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no Iacutendice Econocircmico de Susceptibilidade agrave
Desertificaccedilatildeo (IESD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)
Fonte PAE (CEARAacute 2010b)
Assim analisando os dois graacuteficos acima eacute possiacutevel perceber que sob o aspecto
social a concentraccedilatildeo de terras e a educaccedilatildeo datildeo a maior contribuiccedilatildeo ao iacutendice de
susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo enquanto que no vieacutes econocircmico destacam-se as aacutereas
destinadas a imoacuteveis rurais e o PIB ldquoper capitardquo Eacute um cenaacuterio deveras preocupante visto que
aquela regiatildeo jaacute eacute dotada de condiccedilotildees naturais adversas Uma populaccedilatildeo sem educaccedilatildeo
inserida num niacutevel de pobreza e ocupante de grande parte da zona rural que eacute onde as
atividades potencialmente degradadoras satildeo praticadas traduz uma combinaccedilatildeo
extremamente alarmante pois fazem uso de praacuteticas predatoacuterias e potencializam a
susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo
Segundo o PAE (CEARAacute 2010b p 123) nessa regiatildeo satildeo observadas ldquomarcas
configuradas de desertificaccedilatildeo como o elevado estaacutegio de degradaccedilatildeo do solo comprometendo
os processos naturais de sucessatildeo processos erosivos acelerados perda de solo e
biodiversidade espeacutecies lenhosas rarefeitasrdquo
05
1015202530354045
Contribuiccedilatildeo no IESD ()
60
Sob um olhar mais aprofundado voltado agrave Irauccediluba haacute maior destaque para as
atividades de agricultura e pecuaacuteria Lavouras temporaacuterias como feijatildeo milho e mandioca satildeo
as mais praticadas pelo pequeno agricultor A figura 11 aponta o percentual de
estabelecimentos ocupados com atividades agropecuaacuterias no municiacutepio
Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios Adaptado
Fonte PAE (CEARAacute 2010b)
Com relaccedilatildeo agrave extraccedilatildeo legalizada de madeira no municiacutepio de Irauccediluba o IBGE
informa que tanto a produccedilatildeo de carvatildeo como o corte de lenha entre 2004 a 2011 foi estaacutevel
Aquela girou em torno de 71 toneladas com um custo variaacutevel de R$ 1100000 a 2300000
ao ano enquanto que este ficou na casa dos 10000 m3 resultando num rendimento que
oscilou de R$ 4200000 a R$ 5700000 anuais14
Por fim Irauccediluba embora representando um dos quatro nuacutecleos de desertificaccedilatildeo
do Nordeste natildeo apresenta a pior condiccedilatildeo socioeconocircmica considerando a maioria dos
indicadores analisados (CEARAacute 2010b) Desta forma conclui-se que estes aspectos natildeo
determinam a desertificaccedilatildeo mas influenciam principalmente se as condiccedilotildees ambientais satildeo
limitantes Assim uma economia e uma sociedade deficientes inseridas num ambiente fraacutegil
natildeo tecircm como deixar de gerar degradaccedilatildeo
14
Conferir em lthttpwwwibgegovbrcidadesatxtrasperfilphpcodmun=230610ampsearch=ceara|iraucubagt
0
10
20
30
40
50
60
Irauccediluba
61
24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo do processo de degradaccedilatildeo
Embora o quadro de degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba seja por demais
preocupante ainda haacute condiccedilotildees para sua reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica a partir de
teacutecnicas e praacuteticas correspondentes ao tipo de solo ao estaacutegio de degradaccedilatildeo da aacuterea e ao
histoacuterico do uso da terra (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Continuam os autores
Assim considerando as extensotildees sob o planossolo que ocupam uma aacuterea total de
27321 ha duas recomendaccedilotildees podem ser propostas a regeneraccedilatildeo natural e a
adubaccedilatildeo organo-mineral A regeneraccedilatildeo natural eacute um processo muito lento e no
caso do planossolo de Irauccediluba dificilmente proporcionaraacute condiccedilotildees para retorno agrave
produtividade esperada [](ARAUacuteJO FILHO 1992) Entatildeo estaacute claro que a
recuperaccedilatildeo natural via pousio eacute muito lenta mas constitui uma opccedilatildeo em muitos
casos A aplicaccedilatildeo de adubo orgacircnico (estercos) eacute outra alternativa de recuperaccedilatildeo
pastoril que poderia ser utilizada no nuacutecleo de Irauccediluba Assim a fertilizaccedilatildeo com
foacutesforo constitui uma boa opccedilatildeo para a recuperaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica das
pastagens degradadas nos planossolos do nuacutecleo de Irauccediluba (ARAUacuteJO FILHO e
SILVA 2013 p 1013)
Outros fatores que envolvem o processo de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo
em Irauccediluba segundo Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 15) eacute ldquoa fixaccedilatildeo da agricultura no
terreno a sustaccedilatildeo do desmatamento e do uso do fogo visando agrave mitigaccedilatildeo dos impactos
antroacutepicos negativos a recuperaccedilatildeo dos agroecossistemas o aumento da produtividade
agriacutecola e da renda familiarrdquo Para tanto os mesmos autores sugerem que
A agrossilvicultura eacute com certeza o modelo de exploraccedilatildeo da terra mais apropriado
Dentre os modelos de sistemas agroflorestais o silvopastoril e o agrossilvipastoril
seriam os mais indicados para as condiccedilotildees de Irauccediluba O primeiro associa o
manejo florestal com a exploraccedilatildeo pastoril e o segundo associa o manejo florestal a
exploraccedilatildeo pastoril e a agricultura formando o sistema lavoura-pecuaacuteria-floresta O
modelo silvopastoril pode ser estabelecido seja para ter a madeira como o principal
produto seja para ter na exploraccedilatildeo animal a principal atividade (ARAUacuteJO FILHO
e SILVA 2013 p 15)
[]
A opccedilatildeo pela agrossilvicultura como a alternativa mais apropriada para a
reabilitaccedilatildeo dos solos de potencial agriacutecola mais elevado fundamenta-se na garantia
que este sistema de uso da terra traz a seguranccedila ambiental e a seguranccedila alimentar
No primeiro caso o solo eacute protegido contra a erosatildeo pelo acuacutemulo de serrapilheira
tem sua fertilidade reposta e sua biologia ativada pela deposiccedilatildeo da mateacuteria
orgacircnica Os recursos hiacutedricos satildeo beneficiados pela manutenccedilatildeo da mata ciliar
evitando o assoreamento das nascentes e reservatoacuterios e pela reduccedilatildeo das perdas de
aacutegua pelo solo A flora com a sustaccedilatildeo das queimadas e dos desmatamentos tem sua
biodiversidade incrementada e integraccedilatildeo das aacutervores no sistema produtivo
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2021)
Assim sendo o principal objetivo da recuperaccedilatildeo de uma aacuterea degradada deve ser
a recomposiccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica do solo Isto porque para que se restabeleccedila a
62
funcionalidade do ecossistema eacute fundamental a revitalizaccedilatildeo da biologia do solo principal
responsaacutevel pela circulaccedilatildeo de nutrientes15
Aleacutem disso continuam os mesmos autores
O aumento da mateacuteria orgacircnica e a formaccedilatildeo de uma cobertura morta sobre o solo o
protegeratildeo contra a erosatildeo laminar e melhoraratildeo sua capacidade de retenccedilatildeo de
aacutegua [] Os nutrientes de ecossistemas florestais de clima tropical se concentram
na biomassa e natildeo no solo como nos de clima temperado por isso os meacutetodos de
exploraccedilatildeo dos solos deveriam estar fundamentados no menor distuacuterbio possiacutevel do
meio bioloacutegico e no reforccedilo do aporte de mateacuteria orgacircnica (ARAUacuteJO FILHO e
SILVA 2013 p 710)
Nesse sentido para ambientes tropicais os sistemas de produccedilatildeo agroflorestais
(SAF) estatildeo sendo avaliados e propostos como alternativas ecologicamente sustentaacuteveis de
exploraccedilatildeo O uso de espeacutecies arboacutereas constitui a garantia de manter ativa a circulaccedilatildeo de
nutrientes e o aporte significativo de mateacuteria orgacircnica condiccedilatildeo essencial para se cultivar de
maneira continuada os solos tropicais16
No caso do bioma caatinga e de ambiente semiaacuterido segundo Arauacutejo Filho e silva
(2013) trecircs recomendaccedilotildees fundamentais garantem quando seguidas a sustentabilidade das
tecnologias de manipulaccedilatildeo
Preservaccedilatildeo de ateacute 400 aacutervores por hectare ou o equivalente a 40 de cobertura
utilizaccedilatildeo maacutexima de 60 da forragem disponiacutevel e preservaccedilatildeo da mata ciliar em
toda a malha de drenagem da pastagem Esta tecnologia jaacute vem sendo utilizada pelos
produtores na regiatildeo de Irauccediluba desde o iniacutecio da deacutecada de 1980 envolvendo
uma aacuterea de cerca de 3000 ha (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 1617)
Outras maneiras de controle e combate do processo de degradaccedilatildeo cuja iniciativa
vem do governo em suas diferentes formas e esferas satildeo os programas e as poliacuteticas puacuteblicas
a criaccedilatildeo de leis e normas sobre o tema a disponibilidade de recursos a fiscalizaccedilatildeo dos
oacutergatildeos competentes dentre outros
Ilustrando o primeiro exemplo em abril de 2011 a Superintendecircncia Estadual do
Meio Ambiente (SEMACE) e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) celebraram um convecircnio
de assistecircncia teacutecnica e financeira para a realizaccedilatildeo da pesquisa ldquoRevitalizaccedilatildeo da cobertura
vegetal nativa atraveacutes da recomposiccedilatildeo das matas ciliares e enriquecimento das aacutereas
destinadas a compor reserva legal dos imoacuteveis rurais do municiacutepio de Irauccedilubardquo Para a
consecuccedilatildeo dos objetivos propostos foi concedido um montante de R$ 4920000 (quarenta e
nove mil e duzentos reais) com fins de recuperar a qualidade do meio biofiacutesico atraveacutes do
plantio de essecircncias florestais nativas e plantas adaptadas agraves condiccedilotildees edafoclimaacuteticas da
aacuterea de abrangecircncia do projeto para
15
Como recomenda Lima (2009) In Arauacutejo Filho e Silva (2013) 16
Idem
63
1 Minimizar os impactos ambientais adversos causados pelos sistemas tradicionais
de exploraccedilatildeo econocircmica
2 Implantar um viveiro florestal permanente destinado agrave produccedilatildeo de mudas
nativas e adaptadas agraves condiccedilotildees locais associando-lhe atividades educativas e
de natureza formativa para o puacuteblico interessado
3 Incentivar o cultivo de essecircncias florestais nativas arboacutereas e frutiacuteferas que
contribuiratildeo para gerar alternativas de diversificaccedilatildeo de renda e por conseguinte
a melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo do municiacutepio
4 Fomentar a produccedilatildeo e o plantio de essecircncias florestais nativas ameaccediladas de
extinccedilatildeo
5 Viabilizar a recomposiccedilatildeo de matas ciliares dentro dos limites de abrangecircncia da
aacuterea das bacias hidrograacuteficas dos recursos hiacutedricos naturais denominados de
Riacho Aracatiaccedilu e Riacho Curu e do principal reservatoacuterio denominado de
Accedilude Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu seja em aacutereas de domiacutenio puacuteblico seja em
aacutereas de domiacutenio privado
6 Estabelecer a recuperaccedilatildeo da cobertura vegetal nativa de aacutereas de reserva legal
das propriedades rurais
O prazo do convecircnio era de doze meses ou seja ateacute abril de 2012 todavia foi
renovado por aditivo ateacute abril de 2013 Seu lanccedilamento soacute se deu em dezembro de 2011 e ateacute
agosto de 2012 o viveiro florestal ainda natildeo havia sido construiacutedo mas palestras com os
temas Desmatamento e Reserva Legal Fogo Desmatamento e Preservaccedilatildeo dos Accediludes
Resiacuteduos Soacutelidos Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal Aacuterea de
Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal foram ministradas pela SEMACE
Infelizmente nada mais foi feito pois dificuldades como a burocracia com o banco
financiador e a seca que assola o municiacutepio inviabilizando a produccedilatildeo e o plantio das mudas
levaram agrave extinccedilatildeo do convecircnio uma vez que seu prazo natildeo foi renovado numa segunda
oportunidade O recurso investido foi devolvido ao BNB e natildeo haacute qualquer previsatildeo de
retomada do projeto
Natildeo se pode deixar de registrar a indignaccedilatildeo que esse desfecho causa naqueles
que estudam e buscam uma saiacuteda Muitas vezes se natildeo todas as vezes ela existe mas eacute
deveras negligenciada ou pouco valorizada O que eacute que isso O Brasil eacute um paiacutes rico natildeo
falta recurso o que muito falta eacute vontade coragem e preferecircncia por aquilo que se deve
fazer Isto eacute um ultraje ao homem do campo que humilde e inocentemente espera confiante
em alguma providecircncia de seus representantes ou por quem faz as suas vezes
De modo diverso as normas 43 e 44 de 2005 (BRASIL 2005 a b) e a 512006
(BRASIL 2006a) que seratildeo explanadas no item 331 criadas pelo INCRA satildeo outras
medidas parecidas com o convecircnio citado acima pois tambeacutem foram elaboradas com o intuito
de recuperar e conservar os recursos naturais em aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e de
64
reserva legal mesmo sendo especiacuteficas para projetos de assentamento agraacuterio federal Atraveacutes
delas um determinado valor pode ser cedido por aquele oacutergatildeo e destinado agraves famiacutelias
assentadas para promoverem agrave implantaccedilatildeo de um projeto de recuperaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo
Como Poliacuteticas Puacuteblicas em niacutevel local e estadual que englobam o problema da
degradaccedilatildeo ambiental amplamente aqui discutido inclusive o mais seacuterio deles que eacute a
desertificaccedilatildeo destaca-se o Plano de Accedilatildeo Municipal de Combate agrave Desertificaccedilatildeo de
Irauccediluba (IRAUCcedilUBA 2009) e o Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e
Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (CEARAacute 2010b) O primeiro levou nove anos para se tornar
poliacutetica puacuteblica e contou com recursos do fundo de apoio a iniciativas locais de combate agrave
desertificaccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Nacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos
Efeitos da Seca (BRASIL 2004) Sua funccedilatildeo eacute orientar e desenvolver accedilotildees no sentido de
controlar e prevenir o avanccedilo da desertificaccedilatildeo e quando possiacutevel recuperar aacutereas degradadas
para o uso produtivo ou seja alcanccedilar o desenvolvimento sustentaacutevel nas aacutereas sujeitas agrave seca
e a desertificaccedilatildeo do Municiacutepio Como objetivos baacutesicos estatildeo as contribuiccedilotildees para
1 A formulaccedilatildeo do planejamento de uso sustentaacutevel dos recursos naturais do
Municiacutepio
2 A melhoria da produtividade e produccedilatildeo agriacutecola nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e
desertificaccedilatildeo
3 A reduccedilatildeo da vulnerabilidade e melhoria da qualidade de vida das populaccedilotildees
residentes nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e agrave desertificaccedilatildeo
4 A articulaccedilatildeo de accedilotildees setoriais do governo (em niacutevel federal estadual e
municipal) com vista agrave sinergia dos processos de planejamento
5 A melhoria da capacidade de enfrentamento dos problemas de desertificaccedilatildeo e
seca por parte das populaccedilotildees locais (IRAUCcedilUBA 2009 p 24)
O PAE (CEARAacute 2010b) em seu objetivo global e em termos gerais natildeo eacute muito
diferente do PAM (IRAUCcedilUBA 2009) pois visa contribuir para a convivecircncia com o
semiaacuterido e sustentabilidade ambiental do bioma caatinga Busca promover poliacuteticas
ambientais sociais e econocircmicas para a reduccedilatildeo da pobreza procurando em sua
administraccedilatildeo a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo democraacutetico
e a participaccedilatildeo da sociedade E recorre agrave negociaccedilatildeo transparente e responsaacutevel de conflitos
como forma privilegiada de superar as diferenccedilas de uso dos recursos naturais
25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira
A lei 6938 (BRASIL 1981) promulgada em 1981 foi a primeira norma juriacutedica
tratando da temaacutetica ambiental no Brasil Como bem diz Milareacute (2009) ela tem um caraacuteter
65
inovador pois sua implementaccedilatildeo seus resultados assim como a estabilidade e a efetividade
que denota constituem um salto de qualidade na vida puacuteblica brasileira
Com nascedouro um tanto quanto isolado a lei 693881 (BRASIL 1981)
instituiu a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente para a preservaccedilatildeo melhoria e recuperaccedilatildeo da
qualidade ambiental propiacutecia agrave vida visando assegurar no Paiacutes condiccedilotildees ao
desenvolvimento soacutecioeconocircmico aos interesses da seguranccedila nacional e agrave proteccedilatildeo da
dignidade da vida (artigo 2ordm) Tais objetivos estatildeo baseados em princiacutepios norteadores dos
quais se destacam para a presente pesquisa a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas (inciso VIII) e a
proteccedilatildeo de aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX)
Instrumentalizando a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente quanto agrave degradaccedilatildeo
ambiental existem as penalidades disciplinares ou compensatoacuterias ao natildeo cumprimento das
medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo ou correccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental conforme o artigo
9ordm inciso IX da Lei 693881 (BRASIL 1981) Em termos de sanccedilatildeo o artigo 14 disciplina
que os danos causados pela degradaccedilatildeo da qualidade ambiental sujeitaratildeo os transgressores agrave
multa simples ou diaacuteria agrave perda ou restriccedilatildeo de incentivos e benefiacutecios fiscais concedidos
pelo Poder Puacuteblico agrave perda ou suspensatildeo de participaccedilatildeo em linhas de financiamento em
estabelecimentos oficiais de creacutedito e agrave suspensatildeo de sua atividade
Para evitar a sanccedilatildeo pratica-se a prevenccedilatildeo e uma forma de prevenir a degradaccedilatildeo
eacute o licenciamento ambiental conforme preconiza o artigo 10 daquela mesma lei O natildeo
cumprimento disto enseja o enquadramento do representante da atividade ou do
estabelecimento no artigo 60 da Lei 960598 (BRASIL 1998) que versa sobre crimes
ambientais
Art 10 A construccedilatildeo instalaccedilatildeo ampliaccedilatildeo e funcionamento de estabelecimentos e
atividades utilizadores de recursos ambientais efetiva ou potencialmente poluidores
ou capazes sob qualquer forma de causar degradaccedilatildeo ambiental dependeratildeo de
preacutevio licenciamento ambiental (BRASIL 1981 p 7)
Art 60 Construir reformar ampliar instalar ou fazer funcionar em qualquer parte
do territoacuterio nacional estabelecimentos obras ou serviccedilos potencialmente
poluidores sem licenccedila ou autorizaccedilatildeo dos oacutergatildeos ambientais competentes ou
contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes Pena - detenccedilatildeo de um a seis meses ou multa ou ambas as penas cumulativamente
(BRASIL 1998 p 12)
Outra previsatildeo salutar na Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente eacute o dever que
entidades e oacutergatildeos de financiamento e incentivos governamentais tecircm de condicionar a
aprovaccedilatildeo de projetos financiaacuteveis ao licenciamento ambiental Aleacutem disto devem constar em
tais projetos a realizaccedilatildeo de obras e aquisiccedilatildeo de equipamentos destinados ao controle de
degradaccedilatildeo ambiental e a melhoria da qualidade do meio ambiente (artigo 12 paraacutegrafo
66
uacutenico) Isto tudo porque a instituiccedilatildeo que financia atividades eou empreendimentos que por
ventura causem algum dano tambeacutem se tornam corresponsaacuteveis pelo passivo ambiental
respondendo perante os oacutergatildeos competentes e os guardiatildees da lei
Por fim eacute pertinente mencionar que toda accedilatildeo ou omissatildeo prevista na legislaccedilatildeo
ambiental brasileira seja nas leis que criam diretrizes como nas que preveem sanccedilotildees visa o
combate o controle a reparaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo da degradaccedilatildeo aos bens naturais como um
todo O impasse eacute existir inuacutemeras normas distintas que dispotildeem sobre vaacuterios recursos
ambientais e que satildeo criadas em eacutepocas diferentes como por exemplo o Coacutedigo Florestal
(BRASIL 2012) o Coacutedigo de Caccedila (BRASIL 1967a) o Coacutedigo Mineraacuterio (BRASIL
1967b) o Coacutedigo de Pesca (BRASIL 2009) o Coacutedigo de Aacuteguas (BRASIL 1934a) a Poliacutetica
Nacional de Recursos Hiacutedricos (BRASIL 1997) o Programa Nacional de controle da
qualidade do ar (BRASIL 1989a) dentre outras O ideal eacute que houvesse a reuniatildeo de todos os
dispositivos em uma legislaccedilatildeo soacute como o fez a lei de crimes ambientais que versa sobre
infraccedilotildees cometidas aos bens naturais apontados pelas diversas normas citadas
Em niacutevel estadual o Cearaacute dispotildee de um arcabouccedilo legal que reflete um
pouco o que jaacute estaacute disposto nas leis federais no entanto cabe aqui citar algumas normas
pertinentes ao assunto estudado
A Resoluccedilatildeo nordm 092003 (CEARAacute 2003) do Conselho Estadual do Meio
Ambiente (COEMA) estabeleceu a compensaccedilatildeo ambiental como forma de prevenir eou
obrigar o poluidorusuaacuterio pagador ou degradador a indenizar os danos causados em
decorrecircncia da utilizaccedilatildeo de recursos naturais para fins econocircmicos Trata-se de medida
arrecadatoacuteria anterior ao processo de licenciamento ambiental e condicionada ao firmamento
de um Termo de Compromisso A supracitada norma definiu percentual de 05 a ser recolhido
com base no valor do empreendimento a ser implantado A destinaccedilatildeo dos valores recolhidos
seria via de regra a Unidades de Conservaccedilatildeo
A Lei Complementar nordm 482004 (CEARAacute 2004) criou o Fundo e o Conselho
Estadual Gestor do Meio Ambiente (FEMA) onde uma de suas finalidades eacute o ressarcimento
da coletividade por danos causados ao meio ambiente Reza o artigo 10 que qualquer cidadatildeo
pode propor projetos relativos agrave reconstituiccedilatildeo reparaccedilatildeo preservaccedilatildeo e prevenccedilatildeo do meio
ambiente A dita lei foi regulamentada pelo Decreto Estadual nordm 277192005 (CEARAacute 2005)
que por sua vez dispocircs accedilotildees programas planos e projetos para a melhoria e recuperaccedilatildeo da
qualidade ambiental no Estado do Cearaacute Agrave pertinecircncia da presente pesquisa cabe destacar
uma diretriz do FEMA prevista no inciso VIII do artigo 3ordm daquele Decreto
67
Artigo 3ordm
[]
VIII - Promover a proteccedilatildeo da biodiversidade e dos ecossistemas associados e aacutereas
ameaccediladas de degradaccedilatildeo atraveacutes da preservaccedilatildeo conservaccedilatildeo e administraccedilatildeo de
biomas representativos bem assim da recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas
possibilitando melhor controle de atividades potencialmente poluidoras nos termos
da legislaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2005 p 2)
Eacute essencial citar a Lei 1248895 (CEARAacute 1995) que dispotildee sobre a Poliacutetica
Florestal do Estado do Cearaacute Um de seus objetivos guarda relaccedilatildeo direta com este trabalho
qual seja promover a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas e em processos de degradaccedilatildeo
especialmente nas aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e reserva legal bem como proteger as
aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX do artigo 3ordm) Para tanto um dos instrumentos
previsto e deveras necessaacuterio para a consecuccedilatildeo de tais fins eacute a fiscalizaccedilatildeo a aplicaccedilatildeo de
penalidades accedilotildees disciplinares e compensatoacuterias das medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo dos
recursos naturais ou a correccedilatildeo da degradaccedilatildeo do meio ambiente (inciso XI do artigo 4ordm)
E por fim eacute cabiacutevel mencionar a Lei 141982008 (CEARAacute 2008) pois institui a
Poliacutetica Estadual de Combate e Prevenccedilatildeo agrave Desertificaccedilatildeo e tem por base a Convenccedilatildeo
Internacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo nos Paiacuteses afetados por Seca Grave eou
Desertificaccedilatildeo Como jaacute mencionado no Cearaacute existem trecircs nuacutecleos com aacutereas susceptiacuteveis agrave
desertificaccedilatildeo e nada mais apropriado que o Estado dispor de uma legislaccedilatildeo proacutepria sobre o
tema Diante disto destacam-se os seguintes dispositivos
Art 1ordm Institui a Poliacutetica Estadual de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Desertificaccedilatildeo a qual
tem por objetivos
[]
III - instituir mecanismos de proteccedilatildeo conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da flora fauna e
de solos degradados nas aacutereas de risco ou impactadas pela desertificaccedilatildeo
[]
Art 3ordm Cumpre ao Poder Puacuteblico
I - diagnosticar o avanccedilo do processo de degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo ambiental nas
aacutereas afetadas
II - definir um plano de contingecircncia para mitigaccedilatildeo dos efeitos da degradaccedilatildeo
ambiental
[]
XI - estimular o desenvolvimento de agroinduacutestrias baseadas em alimentos
ambientalmente e culturalmente adaptados ao meio ambiente
[]
XIV - estimular a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
e de Reserva Legal []
[]
Art 5ordm No tocante agrave agricultura irrigada o Poder Puacuteblico deveraacute
[]
II - diagnosticar as aacutereas cujos solos sejam susceptiacuteveis agrave salinizaccedilatildeo e acuacutemulo de
compostos de soacutedio e fomentar a recuperaccedilatildeo de solos afetados por salinizaccedilatildeo e
acuacutemulo de compostos de soacutedio
Art 6ordm No tocante agrave agricultura sequeiro o Poder Puacuteblico deveraacute
[]
68
II - incentivar o manejo sustentaacutevel dos recursos naturais apoiando o
desenvolvimento de sistemas agroflorestais e agrosilvopastoris diversificados e
integrados como forma de conciliar a recuperaccedilatildeo florestal e as atividades agriacutecolas
(CEARAacute 2008 p 1 - 3)
251 Lei ambiental de Irauccediluba
O municiacutepio de Irauccediluba criou sua proacutepria Poliacutetica Ambiental a partir da Lei
5652007 (IRAUCcedilUBA 2007) Nela estatildeo dispostos princiacutepios e instrumentos de accedilatildeo que
visam agrave qualidade ambiental em seus diferentes aspectos Felizmente a norma natildeo deixou de
fora as aacutereas de reserva legal pelo contraacuterio tratou do tema em uma seccedilatildeo especiacutefica
composta pelos artigos 57 e 58
Art 57 - A reserva legal eacute requisito essencial ao exerciacutecio legiacutetimo do direito de
propriedade na aacuterea rural e fundamental para a proteccedilatildeo do meio ambiente
ecologicamente equilibrado e da biodiversidade cumprindo funccedilotildees do interesse
coletivo e individual do proprietaacuterio
Art 58 - A reserva legal eacute a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) localizada no
interior de uma propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente
necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos
processos ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de
fauna e flora nativas sendo imutaacutevel sua localizaccedilatildeo apoacutes definida
sect1ordm - Fica proibido qualquer registro imobiliaacuterio relativo a propriedade rural sem
preacutevio registro da reserva legal sob pena de nulidade do ato
sect2ordm- A reserva legal deveraacute ser averbada agrave margem da matriacutecula do imoacutevel no
registro competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de
transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou divisatildeo da aacuterea
sect3ordm - As aacutereas de reserva legal e preservaccedilatildeo permanente poderatildeo ser computadas
conjuntamente desde que somadas passem de 50 (cinquumlenta por cento) da
extensatildeo total da propriedade e sejam de extensatildeo contiacutenua
sect4ordm - No imoacutevel rural que natildeo houver vegetaccedilatildeo nativa suficiente para compor o
miacutenimo da reserva legal o proprietaacuterio ou possuidor deveraacute recuperar e recompor
com a vegetaccedilatildeo nativa ateacute atingir a porcentagem determinada
sect5ordm - A recomposiccedilatildeo mencionada no paraacutegrafo anterior deveraacute ser realizada na
proporccedilatildeo de no miacutenimo 110 (um deacutecimo) da aacuterea da propriedade ou posse a cada
ano dando prioridade agraves aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
sect6ordm - A Reserva Legal deve ser preferencialmente contiacutegua a das propriedades
vizinhas agraves unidades de conservaccedilatildeo ou aacutereas florestadas formando um corredor de
vegetaccedilatildeo
sect7ordm - A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser
utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel (IRAUCcedilUBA 2007 p 26)
No artigo 57 haacute o reconhecimento do direito de propriedade agrave luz da funccedilatildeo
social dada pela reserva legal e a devida importacircncia agrave proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental Jaacute o
58 prevecirc os 20 da aacuterea a tiacutetulo de reserva reproduzindo o que a lei federal ou seja o
Coacutedigo Florestal dispotildee No entanto o sect1ordm do mesmo dispositivo acaba restringindo ainda
mais o que a norma geral prescreve isto eacute proiacutebe qualquer registro junto ao cartoacuterio de
imoacuteveis sem a devida averbaccedilatildeo na matriacutecula da propriedade muito embora isso jaacute possa ser
diferente pela instituiccedilatildeo do Cadastro Ambiental Rural Dos paraacutegrafos 2ordm ao 5ordm houve a
69
revogaccedilatildeo expressa pela Lei 126512012 (BRASIL 2012) ou novo Coacutedigo Florestal O 6ordm e o
7ordm continuaram vigentes em sua essecircncia sofrendo apenas pequenas alteraccedilotildees jaacute que devem
estar em consonacircncia com a lei federal natildeo podendo ser menos restritivos
Por fim aleacutem do que fora comentado a lei ambiental de Irauccediluba traz muito em
sua natureza procedimentos e mandamentos semelhantes agrave de uma lei de uso e ocupaccedilatildeo do
solo Prevecirc portanto paracircmetros sobre publicidade emissotildees sonoras construccedilatildeo civil
poluiccedilatildeo obras dentre outros
70
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS
31 Reserva Legal em Irauccediluba
Um dos objetivos da presente pesquisa eacute o levantamento do nuacutemero de imoacuteveis
rurais no municiacutepio de Irauccediluba para em seguida verificar o grau de obediecircncia ao instituto
da reserva legal nessas propriedades Para tanto buscou-se os respectivos dados no cartoacuterio de
registro de imoacuteveis do municiacutepio no Instituto de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e
no Instituto de Desenvolvimento Agraacuterio do Cearaacute (IDACE)
No cartoacuterio de imoacuteveis onde o acesso eacute possiacutevel pela liberdade que qualquer
interessado tem para solicitar informaccedilotildees registrais achou-se o nuacutemero de 215 imoacuteveis
registrados Jaacute no INCRA o total de propriedades ali cadastradas eacute de 415 e no IDACE 713
imoacuteveis devidamente medidos e georreferenciados
Primeiramente cabe discorrer um pouco sobre esse desencontro na quantidade
dos imoacuteveis O fato de o cartoacuterio municipal possuir 215 imoacuteveis rurais registrados natildeo
significa que soacute tenha esse nuacutemero de propriedades laacute pois existem inuacutemeras terras habitadas
e utilizadas sem qualquer registro formal e neste caso o que os ldquodonosrdquo desses lugares
deteacutem chama-se posse o que os torna posseiros e natildeo proprietaacuterios O INCRA ter em seu
banco de dados o cadastro de 415 propriedades rurais tambeacutem natildeo quer dizer que soacute haja as
415 uma vez que a procura por este oacutergatildeo eacute voluntaacuteria quando se trata de cadastramento do
imoacutevel Soacute seraacute diferente se surgir a necessidade de desmembrar arrendar hipotecar vender
ou prometer em venda o bem rural Ou ainda em caso de partilha17
Esses satildeo os casos que
impelem o proprietaacuterio a cadastrar seu imoacutevel conforme definidos pela lei 494766
(BRASIL 1966) Do contraacuterio natildeo eacute obrigatoacuterio motivo pelo qual se explica nuacutemeros tatildeo
distintos uns dos outros Justificando um pouco esta discrepacircncia o II Plano Nacional de
Reforma Agraacuteria aponta que os dados do Cadastro do INCRA indicam que ldquosomente 5086
da aacuterea total do territoacuterio brasileiro estaacute na condiccedilatildeo de cadastradardquo (II PNRA 2003 p 22)
E por fim o nuacutemero apontado pelo IDACE acredita-se ser o mais proacuteximo da
realidade uma vez que pelo Programa de Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria com iniacutecio em 2007 as
propriedades rurais no municiacutepio de Irauccediluba foram no ano de 2012 medidas e
georreferenciadas uma a uma para dar fim aos problemas decorrentes da ausecircncia de tiacutetulos
imobiliaacuterios e o tamanho das aacutereas Eacute o que segue estabelecido pelo II PNRA (2003)
17
Partilha eacute a via pela qual se daacute a divisatildeo dos bens de uma heranccedila
A importacircncia de um recadastramento de todos os imoacuteveis rurais e da revisatildeo das
normas que regem o processo de registro das propriedades eacute ainda maior quando se
observa que as possibilidades de obtenccedilatildeo de terras para Reforma Agraacuteria estatildeo
condicionadas por dois indicadores que dependem das informaccedilotildees contidas no
Cadastro do INCRA o moacutedulo fiscal e os iacutendices de produtividade [] Por meio de
uma integraccedilatildeo do INCRA com os oacutergatildeos estaduais seraacute executado um amplo
processo de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria visando regularizar as pequenas posses de boa feacute
e a arrecadaccedilatildeo e incorporaccedilatildeo de terras devolutas ao patrimocircnio puacuteblico seguida de
sua destinaccedilatildeo para o assentamento de trabalhadores rurais e tambeacutem promover
accedilotildees anulatoacuterias sobre ocupaccedilotildees de terras com registros irregulares (II PNRA
2003 p 23)
Contudo o nuacutemero desencontrado de imoacuteveis natildeo eacute soacute o que assusta ou angustia
mas sim a quantidade iacutenfima de reserva legal existente naquele municiacutepio que jaacute sofre com
um processo criacutetico de degradaccedilatildeo
Apoacutes verificar junto ao cartoacuterio a quantidade de imoacuteveis rurais registrados
averiguou-se que somente trecircs dos 215 estatildeo com suas respectivas aacutereas de reserva legal
devidamente averbadas junto ao registro do bem Essa aguda diferenccedila tambeacutem natildeo muda
quando se analisa as informaccedilotildees presentes nos cadastros feitos junto ao INCRA Muitos satildeo
os cadastramentos onde tem descritas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente mas de reserva legal
somente cinco das 415 propriedades cadastradas No IDACE natildeo foi possiacutevel fazer esse
levantamento porque o objetivo deste oacutergatildeo em adentrar as aacutereas era medi-las em sua
totalidade sem discriminar a presenccedila de qualquer constataccedilatildeo em seu interior
Pela leitura da tabela 5 eacute possiacutevel concluir duas realidades A primeira eacute a
existecircncia de propriedade cujo registro apresenta averbaccedilatildeo da reserva legal mas sem
cadastro junto ao INCRA como eacute o caso do imoacutevel Poccedilo da PedraAacuteguas Mortas No
segundo caso ocorre o contraacuterio isto eacute natildeo haacute averbaccedilatildeo da reserva legal no cartoacuterio de
registro mas existe o cadastro da propriedade perante o INCRA constando a reserva legal
devidamente apontada conforme relatoacuterios cedidos por aquele oacutergatildeo
72
Tabela 5 - Levantamento de Imoacuteveis com reserva legal (Cartoacuterio de registro de imoacuteveisINCRA)
311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental - Projeto de Assentamento Agraacuterio em
foco
Todo projeto de assentamento de reforma agraacuteria soacute deve ser implantado apoacutes o
licenciamento ambiental junto ao oacutergatildeo competente que pela relevacircncia social do
empreendimento possui um procedimento diferenciado Eacute um processo trifaacutesico ou seja
consiste na licenccedila preacutevia (LP) licenccedila de instalaccedilatildeo (LI) e licenccedila de operaccedilatildeo (LO) mas no
caso dos projetos de assentamento satildeo soacute duas a LP e a LIO que nada mais eacute que a licenccedila de
18
Trata-se de um imoacutevel que foi destinado a Projeto de Assentamento no acircmbito estadual No entanto o registro
no cartoacuterio aponta que a propriedade possui Reserva Legal averbada mas no cadastro do INCRA natildeo haacute
qualquer menccedilatildeo a essa aacuterea 19
PA ndash Projeto de Assentamento da Reforma Agraacuteria Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria conjunto
de accedilotildees planejadas e desenvolvidas em aacuterea destinada agrave reforma agraacuteria para um puacuteblico beneficiaacuterio
orientadas para utilizaccedilatildeo racional dos espaccedilos fiacutesicos e dos recursos naturais existentes objetivando a
implementaccedilatildeo dos sistemas de vivecircncia e produccedilatildeo sustentaacuteveis na perspectiva do cumprimento da funccedilatildeo
social da terra e da promoccedilatildeo econocircmica social e cultural do trabalhador rural e de seus familiares (BRASIL
2006b) 20
O imoacutevel Poccedilo da Pedra e Aacuteguas Mortas eacute um soacute Embora natildeo conste no registro do cartoacuterio a aacuterea total da
propriedade e a destinada agrave reserva legal o Termo de Responsabilidade de Averbaccedilatildeo da Aacuterea de Reserva Legal
cedido pelo INCRA descreve as aacutereas apontadas na tabela 2
RESERVA LEGAL DOCUMENTALMENTE EXISTENTE
Imoacutevel Fonte dos Dados Aacuterea do Imoacutevel
(ha)
Aacuterea (ha) Domiacutenio Data da
Averbaccedilatildeo (AV)
Cadastro (C)
Miramar Cartoacuterio de Imoacuteveis
INCRA
1144 2305 Particular AV 06042005
C 05092005
Saco do
Vento18
Cartoacuterio de Imoacuteveis
INCRA
33060 661 PA19
estadual
AV 03102012
C 27122011
Poccedilo da Pedra
(Aacuteguas
Mortas)20
Cartoacuterio de Imoacuteveis 239778 47955 INCRA AV 02012003
Boa Vista INCRA 348 6960 Particular C 30121992
Escondido e
Vale do
Agreste
INCRA 15775 3155 Particular C 30121992
Lagoa Cercada INCRA 55180 50 Particular C13101992
73
instalaccedilatildeo e de operaccedilatildeo em um mesmo pedido conforme prevecirc a Resoluccedilatildeo CONAMA
3872006 (BRASIL 2006b)
Art 3ordm O oacutergatildeo ambiental competente concederaacute a Licenccedila Preacutevia - LP e a Licenccedila
de
Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo - LIO para os Projetos de Assentamentos de Reforma Agraacuteria
[]
sect 2o A LP constitui-se documento obrigatoacuterio e que antecede o ato de criaccedilatildeo de um
Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria tendo prazo para a sua expediccedilatildeo
apoacutes seu requerimento de ateacute noventa dias
sect 3o A LIO deveraacute ser requerida durante a validade da LP e cumpridos os requisitos
da mesma [] (BRASIL 2006 p2)
Por se tratar de um empreendimento rural e ambientalmente licenciaacutevel eacute muito
mais faacutecil e oportuno acontecer o cumprimento da reserva legal jaacute que o oacutergatildeo competente
foi provocado e por sua vez deve exigir a observacircncia daquele instituto Desta forma natildeo se
pode admitir que um licenciamento em zona rural seja concedido sem o devido respeito agrave aacuterea
de reserva legal
Especificamente os projetos de assentamento federais isto eacute os realizados pelo
INCRA devem obedecer agrave ordem que segue Ao dar iniacutecio ao processo de desapropriaccedilatildeo de
alguma terra o INCRA jaacute deve solicitar a Licenccedila Preacutevia devendo constar naquele processo o
protocolo do pedido A criaccedilatildeo do assentamento soacute eacute possiacutevel mediante uma portaria
resoluccedilatildeo ou decreto desde que jaacute possua a Licenccedila Preacutevia expedida Criado o assentamento
a Licenccedila de Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo deve ser solicitada de imediato ateacute porque se o contraacuterio
ocorrer os assentados ficam impossibilitados de receber recursos do governo como o creacutedito
de apoio inicial o creacutedito fomento o creacutedito para a construccedilatildeo de casa dentre outros
Essa sequencia e esses mandamentos estatildeo previstos no artigo 3ordm da Resoluccedilatildeo
CONAMA 3872006 (BRASIL 2006b) citada acima e no Acoacuterdatildeo nordm 2633-5107 (BRASIL
2007) do Tribunal de Contas da Uniatildeo conforme prevecirc o item 3 do sumaacuterio daquele
julgamento (3) A Licenccedila Preacutevia constitui-se em documento obrigatoacuterio e que antecede o ato
de criaccedilatildeo de um projeto de assentamento de reforma agraacuteria devendo ser expedida
anteriormente agrave obtenccedilatildeo da terra Trata-se de uma decisatildeo que teve origem em uma auditoria
realizada por este oacutergatildeo em assentamentos no Amazonas Paraacute e Acre quanto aos estudos de
viabilidade ambiental reserva legal e licenciamento ambiental em projetos criados pelo
INCRA Essa auditoria objetivou portanto avaliar o impacto nas aacutereas de reserva legal dos
projetos de assentamento bem como o cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental aplicaacutevel a esses
projetos conforme item 2 do Relatoacuterio do referido Acoacuterdatildeo Para tanto buscou-se saber se os
limites da reserva legal estavam sendo devidamente demarcados e preservados nos projetos de
74
assentamento rural e se o INCRA estava promovendo a aplicaccedilatildeo de teacutecnicas viaacuteveis para a
exploraccedilatildeo sustentaacutevel da Reserva Legal
Constatou-se pela amostragem realizada e demonstrada na Conclusatildeo e no Voto
do Acoacuterdatildeo 26332007 (BRASIL 2007) que
Conclusatildeo
[]
Item 65 o INCRA tem a necessidade premente de adotar medidas com vistas a
normalizar os procedimentos de criaccedilatildeo de projetos de assentamento desde o iniacutecio
do processo no que se refere ao cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental
Item 66 Eacute notoacuterio que a morosidade do oacutergatildeo no processo de regularizaccedilatildeo das
exigecircncias determinadas pela legislaccedilatildeo ambiental contribuiraacute para degradaccedilatildeo do
meio ambiente patrimocircnio sob proteccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal Brasileira Ao
disponibilizar terra aos assentados sem indicar a forma de uso do terreno por meio
do Plano de Uso e sem delimitar as aacutereas de preservaccedilatildeo mediante a demarcaccedilatildeo
das reservas legais o INCRA estaraacute dando tutela a esses usuaacuterios para disporem dos
lotes da forma que melhor lhes convier sem importar se essa exploraccedilatildeo implicaraacute
em degradaccedilatildeo ambiental (BRASIL 2007 p 9)
[]
Voto
[] Item 3 ndash subitem 12 A equipe de auditoria constatou nos assentamentos uma
grande degradaccedilatildeo das aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APP) e da reserva legal (RL)
Ainda verificou por meio de questionaacuterios aplicados aos trabalhadores assentados
que o INCRA natildeo promove accedilotildees efetivas relacionadas agrave orientaccedilatildeo e
conscientizaccedilatildeo ambiental dessas comunidades que natildeo sabem sequer o que
significa APP e RL
[]
Item 5 Outrossim eacute importante frisar que o INCRA eacute co-responsaacutevel pelas
irregularidades ambientais constatadas em seus projetos de assentamento []
(BRASIL 2007 p 11)
E por fim o dito Acoacuterdatildeo determina em niacutevel nacional embora a motivaccedilatildeo da
decisatildeo tenha por base a auditoria realizada somente em trecircs estados que
O INCRA se abstenha de criar projetos de assentamento sem a observacircncia ao
disposto no art 2ordm inciso III cc 3ordm sect 2ordm da Resoluccedilatildeo Conama 3872006 que
condiciona a criaccedilatildeo de projetos de assentamentos de reforma agraacuteria agrave existecircncia da
licenccedila preacutevia e ao disposto no art 2ordm inciso IV da mesma Resoluccedilatildeo que exige a
licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo como condiccedilatildeo para a implantaccedilatildeo e operaccedilatildeo
destes projetos Que em decorrecircncia do disposto no art 2ordm inciso VII da
ResoluccedilatildeoConama 3872006 atente a necessidade de que a reserva legal esteja
perfeitamente delimitada e caracterizada por ocasiatildeo do Plano de
Desenvolvimento do Assentamento e que o referido Plano seja elaborado em prazo
razoaacutevel (BRASIL 2007 p 16)
Para enriquecer a pesquisa nesse sentido procurou-se junto ao oacutergatildeo ambiental
estadual a SEMACE ndash Superintendecircncia Estadual do Meio Ambiente e ao proacuteprio INCRA as
licenccedilas emitidas e ainda em tramitaccedilatildeo referentes aos projetos de assentamento federais
Encontrou-se assim 3 processos de licenciamento na SEMACE numa busca compreendida
75
entre 01012010 a 06052013 sendo 2 de licenccedilas preacutevias e 1 de licenccedila de instalaccedilatildeo e
operaccedilatildeo No INCRA localizou-se 5 processos como se pode observar pela tabela 6 sendo 2
de licenccedilas preacutevias e 3 de licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo num periacuteodo de 09122008 a
08112010
Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais
Fonte SEMACE e INCRA
Conclui-se portanto a existecircncia de trecircs processos de LIO jaacute emitidas mas sem a
averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio de duas das trecircs propriedades conforme se pode
confirmar pela pesquisa feita no registro de imoacuteveis de Irauccediluba A exceccedilatildeo eacute a fazenda
Aacuteguas MortasPoccedilo da Pedra que possui averbaccedilatildeo da reserva legal desde 02012003
Aleacutem disto verificou-se tambeacutem todos os empreendimentos e atividades
localizadas no municiacutepio de Irauccediluba que possuem solicitaccedilatildeo ou recebimento de licenccedila
ambiental tanto em zona urbana como rural No total satildeo 15 tramitando e 40 emitidas
ressaltando que licenciamentos em zona rural o cumprimento da reserva legal deve ser
exigido
Quanto aos assentamentos agraacuterios no municiacutepio de Irauccediluba a tabela 7 aponta a
pesquisa realizada junto ao INCRA e ao IDACE onde se constatou que o primeiro oacutergatildeo
implantou 8 projetos e o segundo 6 Em todos eles existe a demarcaccedilatildeo da aacuterea de reserva
legal nas plantas georreferenciadas cedidas pelas duas instituiccedilotildees acima citadas
PROCESSO TIPO PA FONTE DO
DADO
PROTOCOLO EXPEDICcedilAtildeO VALIDADE STATUS
11386605-4 LP Arraia INCRASEMA
CE
08112010 01072011 Natildeo
informada
Emitida
11118313-8 LP Alegre e
anexos
INCRASEMA
CE
10112010 29032011 Natildeo
informada
Tramitando
09557603-7 LIO Aacuteguas
Mortas
Poccedilo da
Pedra
INCRASEMA
CE
30102009 24032010 24032013 Emitida
08653283-9 LIO Satildeo
Marinho
Rodeador
INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida
08653281-2 LIO Olho
d‟aacutegua da
esperanccedila
INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida
76
Tabela 7 - Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba
PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO - IRAUCcedilUBA
Nome do
Assentamento
Instituiccedilatildeo
Responsaacutevel
Aacuterea do
Imoacutevel (ha)
Aacuterea de Reserva
Legal (ha)
Data de criaccedilatildeo Nordm de Famiacutelias
Assentadas
Saco do Vento IDACE 33060 661 Em andamento 10
Aroeira IDACE 50508 10101 Em andamento 10
Boqueiratildeo IDACE 38474 7694 Em andamento -
Mudubim IDACE 6512 1302 Em andamento 5
Consulta IDACE 39593 7918 23072001 13
Cachoeira IDACE 14929 2985 05102006 10
Saco Verde INCRA 6464 129280 2691997 100
Cajazeiras II INCRA 96487 19297 2691997 30
Aacuteguas Mortas
Poccedilo da Pedra
INCRA 239778 47955 22121997 52
RiachueloAlto
Alegre
INCRA 3378 67560 09112005 16
Olho drsquoAacutegua da
Esperanccedila
INCRA 1940 388 06122007 23
Satildeo Marinho
Rodeador
INCRA 50757 10151 04122006 10
Arraia INCRA 156797 31359 13102011 34
Almas INCRA 1297 25940 17111998 22
Eacute importante salientar que em 2005 e em 2006 o INCRA baixou 3 normas
referentes a criteacuterios e procedimentos para a implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e
Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria A
primeira eacute a NE 432005 (BRASIL 2005a) a segunda NE 442005 (BRASIL 2005b) que
estabeleceu o valor unitaacuterio por famiacutelia para a implantaccedilatildeo destes projetos e a terceira NE
512006 (BRASIL 2006a) aprovou o manual para a elaboraccedilatildeo dos projetos de recuperaccedilatildeo
A NE 432005 (BRASIL 2005a) considera a premente necessidade de
recuperaccedilatildeo natildeo soacute de Reserva Legal mas de aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente em grande
parte dos Projetos de Assentamento em todo o territoacuterio nacional mas infelizmente soacute
abrange os que satildeo implantados pelo Governo Federal (Art 2ordm inciso I) ficando de fora os
que satildeo de competecircncia dos Estados O criteacuterio para implantaccedilatildeo desses projetos eacute a aacuterea ser
reconhecida com problemas ambientais principalmente em termos de degradaccedilatildeo (Art 2ordm
inciso II) Para ser possiacutevel financeiramente a execuccedilatildeo de um projeto deste cuja norma
regulamentadora ainda se encontra vigente o INCRA disponibiliza ateacute R$ 100000 por
famiacutelia (Art 1ordm NE 442005 (BRASIL 2005b)) no entanto caso seja tecnicamente
comprovado que a recuperaccedilatildeo de aacutereas de reserva legal preservaccedilatildeo permanente e de solo
exija um maior investimento o valor poderaacute ser superior ao estabelecido Neste caso a
importacircncia repassada seraacute definida em funccedilatildeo do custo calculado para a recuperaccedilatildeo do dano
ambiental (Art 1ordm Paraacutegrafo Uacutenico)
77
O manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e
conservaccedilatildeo de recursos naturais em assentamentos da reforma agraacuteria aprovado pela NE
512006 (BRASIL 2006a) deixa claro que seus objetivos natildeo satildeo soacute reabilitar e resguardar a
aacuterea ambiental do assentamento Haacute mais e maiores propoacutesitos nisto como por exemplo
cumprir as exigecircncias estabelecidas pelo oacutergatildeo de meio ambiente estadual durante o processo
de licenciamento21
bem como a mobilizaccedilatildeo da comunidade em torno de atividades visando agrave
recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo dos recursos naturais por meio de programas de educaccedilatildeo
ambiental fiscalizaccedilatildeo e manutenccedilatildeo envolvendo os assentados Para que isto ocorra eacute
extremamente importante a participaccedilatildeo destes na elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do projeto22
Por fim os Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais seratildeo
destinados agraves seguintes praacuteticas23
1 Cercamento de aacutereas de Reserva Legal e aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
visando a regeneraccedilatildeo eou a proteccedilatildeo das aacutereas
2 Construccedilatildeo de viveiros para produccedilatildeo de mudas que seratildeo utilizadas no processo
de recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas
3 Demarcaccedilatildeo topograacutefica da Reserva Legal
4 []
5 Reflorestamento em aacutereas de Reserva Legal com espeacutecies nativas que
possibilitem o manejo florestal sustentaacutevel madeireiro ou natildeo madeireiro baseado
em princiacutepios e em criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos definidos e devidamente
aprovados pelo oacutergatildeo ambiental competente
6 Plantio de aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais composto por espeacutecies
exoacuteticas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas para
compensaccedilatildeo ou manutenccedilatildeo da aacuterea de reserva legal a criteacuterio do oacutergatildeo ambiental
competente
7 Atividades alternativas de produccedilatildeo (criaccedilatildeo de abelhas artesanato entre outras)
associadas agrave recuperaccedilatildeo ambiental e como instrumento de valorizaccedilatildeo das aacutereas a
serem conservadas ou recuperadas e de combate agraves praacuteticas indevidas de uso do
fogo
8 [] (BRASIL 2006ordf p 1112)
32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo
321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba
O municiacutepio de Irauccediluba possui uma aacuterea de 1461253 Km2 o que corresponde a
098 do territoacuterio estadual e estaacute situado no sertatildeo Centro-Norte conforme figura 12
inserido na microrregiatildeo geograacutefica de Sobral Dista cerca de 150 Km da capital Fortaleza e
21
p 7 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos naturais 22
p 11e 13 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos
naturais 23
p 11e 12 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos
naturais
78
localiza-se entre as coordenadas geograacuteficas Latitude 3˚44‟46rdquo S (Sul) e Longitude 39˚47‟00rdquo
WGr (oeste) Faz fronteira ao norte com os municiacutepios de Miraiacutema e Itapipoca ao sul com
Santa Quiteacuteria e Canindeacute a leste com Itapajeacute e Tejuccediluoca e a oeste com Sobral e possui trecircs
distritos Missi Juaacute e Boa Vista segundo ilustra a figura 13
Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba
Fonte Lustosa (2004) Fonte Lustosa (2004)
Segundo o censo de 2010 do IBGE a populaccedilatildeo do municiacutepio era de 22324
pessoas sendo curiosamente a maioria homens (5083) Jaacute sua densidade demograacutefica
correspondia a 1539 habKm2 A ocupaccedilatildeo municipal predomina na zona urbana
correspondendo a 6425 dos indiviacuteduos Em 2012 a populaccedilatildeo aumentou para 22742
pessoas
3211 Das propriedades estudadas
Por Irauccediluba possuir aproximadamente 713 imoacuteveis rurais tomando por base a
mediccedilatildeo feita pelo IDACE em 2012 natildeo seria possiacutevel o estudo de todas elas Partiu-se
entatildeo para uma amostragem com base nos imoacuteveis que possuiacuteam a reserva legal seja por
registro em cartoacuterio eou porque a aacuterea eacute puacuteblica e foi destinada a projetos de assentamentos
agraacuterios (PA‟s) estaduais e federais que por sua vez deveriam respeitar tal obrigatoriedade
79
Pela tabela 8 vecirc-se que dos 14 assentamentos em Irauccediluba 6 satildeo estaduais e 8
federais No entanto os criteacuterios utilizados para examinaacute-los foi o tempo de criaccedilatildeo de cada
um e a existecircncia de reserva legal delimitada na planta da propriedade Aleacutem disto foi
escolhido um imoacutevel particular por apresentar a averbaccedilatildeo da reserva legal como demonstra a
tabela 9
Tabela 8 - Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de anaacutelise
PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO
Nome do
Assentamento
Instituiccedilatildeo
Responsaacutevel Data de Criaccedilatildeo Status para anaacutelise
Saco do Vento IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Aroeira IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Boqueiratildeo IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Mudubim IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Consulta IDACE 23072001 Planta natildeo disponibilizada
Cachoeira IDACE 05102006 Planta natildeo disponibilizada
Saco Verde INCRA 2691997 Incluiacutedo
Cajazeiras II INCRA 2691997 Incluiacutedo
Aacuteguas Mortas
Poccedilo da Pedra INCRA 22121997 Incluiacutedo
RiachueloAlto
Alegre INCRA 09112005 Incluiacutedo
Almas INCRA 17111998 Incluiacutedo
Olho d‟Aacutegua da
Esperanccedila INCRA 06122007
Muito recente ndash Fora de abrangecircncia
das imagens de sateacutelite
Satildeo Marinho
Rodeador INCRA 04122006
Reserva legal natildeo delimitada na planta
do imoacutevel
Arraia INCRA 13102011 Muito recente ndash Fora de abrangecircncia
das imagens de sateacutelite
Tabela 9 - Dados da propriedade particular estudada PROPRIEDADE PARTICULAR ANALISADA
Nome Proprietaacuterio Data da averbaccedilatildeo
da RL Status para anaacutelise
Miramar MIRASA ndash Miramar
Agropecuaacuteria SA 06042005 Incluiacutedo
Diante dos paracircmetros de seleccedilatildeo apontados acima restaram 5 assentamentos e 1
aacuterea particular totalizando 6 aacutereas para estudo Assim sendo as propriedades analisadas
foram RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas Almas Saco Verde Cazajeiras II e Miramar
sendo esta a de domiacutenio privado Com exceccedilatildeo desta uacuteltima as demais satildeo assentamentos
agraacuterios federais ficando de fora os estaduais por serem em sua maioria recentes isto eacute a
partir de 2010 e por isso natildeo abrangidos pelas imagens de sateacutelite utilizadas (anos 1993 e
2007) As duas estaduais mais antigas Consulta e Cachoeira natildeo tiveram suas plantas
80
disponibilizadas pelo oacutergatildeo competente e as federais que ficaram excluiacutedas tambeacutem eram
muito recentes aleacutem do que natildeo possuiacuteam reserva legal delimitada
A figura 14 a seguir mostra a localizaccedilatildeo das propriedades estudadas e suas
respectivas reservas legais delimitadas que podem ser lidas pela legenda de cores ao lado
Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo
A tabela 10 traz as aacutereas de cada imoacutevel e sua reserva legal onde eacute possiacutevel
constatar um nuacutemero pequeno de propriedades que apresentam o tal instituto criado e exigido
por lei Aleacutem disso a soma de suas aacutereas tambeacutem eacute pouco expressiva ao comparar com a do
municiacutepio No total satildeo 1628865 hectares sendo 328832 hectares pertinentes agrave reserva
legal
Tabela 10 - Propriedades estudadas
PROPRIEDADES ESTUDADAS
IMOacuteVEL DOMIacuteNIO AacuteREA DO IMOVEL (HA) AacuteREA DA RESERVA LEGAL (HA)
Saco Verde INCRA 6464 129280
Cajazeiras II INCRA 96487 19297
Aacuteguas Mortas Poccedilo da Pedra INCRA 239778 47955
Riachuelo Alto Alegre INCRA 3378 67560
Olho drsquoAacutegua da Esperanccedila INCRA 1940 388
81
Miramar PARTICULAR 1144 25940
3212 Aspectos histoacutericos da ocupaccedilatildeo do municiacutepio
Haacute quem diga que Irauccediluba significa tanto amizade como grande abelha amarela
A primeira acepccedilatildeo se deve ao povo hospitaleiro de bons sentimentos e amigos da paz Jaacute a
segunda faz referecircncia a um vocaacutebulo indiacutegena cuja expressatildeo representa a junccedilatildeo de trecircs
palavras ira que quer dizer mel ou abelha ussu grande e yuba amarelo (FOLHES e
VIANA 2001)
Segundo o IBGE o surgimento de Irauccediluba se deve a um povoado denominado
Cacimba do Meio que despontou no iniacutecio do seacuteculo XIX O nome do municiacutepio como
atualmente eacute conhecido soacute foi alterado em 1899 pelo desembargador Aacutelvaro de Alencar
Irauccediluba foi distrito de Itapajeacute de 1905 ateacute 1957 quando foi elevada agrave condiccedilatildeo de municiacutepio
Quanto a sua ocupaccedilatildeo Arauacutejo Filho e Silva (2013) remontam a memoacuteria dos
mais antigos que registra o fenocircmeno da transumacircncia na regiatildeo jaacute no seacuteculo XIX Aleacutem
disto os autores ainda mencionam que
O primeiro relato da presenccedila do homem branco na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba
refere-se agrave passagem no ano de 1606-1607 dos jesuiacutetas Francisco Pinto e Luiacutes
Figueira Na eacutepoca a regiatildeo era habitada por iacutendios das etnias Tupi e Tapuia
citando-se os Anaceacute Apuiareacute e Kariri (GIRAtildeO1967) Consta entatildeo que os
indiacutegenas viviam da caccedila e que na eacutepoca seca ateavam fogo na erva para afugentar
as cobras e facilitar a caccedila (ARAUacuteJO e SILVA 2013 p 4)
E soacute para constar o potencial do municiacutepio acerca da boa qualidade das pastagens
de forma a compensar a praacutetica da transumacircncia em tempos antigos vale referenciar um
texto de Dias (1998) que Folhes e Viana (2001) fazem menccedilatildeo
ldquo() no espaccedilo onde Irauccediluba estaacute inserida atualmente visto como um ambiente
inoacutespito em processo de desertificaccedilatildeo no seacuteculo XVII ao se transitar pela flora
primitiva na eacutepoca das chuvas era difiacutecil saber se era noite ou dia face ao
adensamento da vegetaccedilatildeordquo Esse adensamento foi registrado pelos jesuiacutetas
Francisco Pinto e Luiacutes Figueira em 1607 quando partiram de Pernambuco numa
missatildeo de catequese em direccedilatildeo ao Maranhatildeo (DIAS 1998 p 62 apud FOLHES e
VIANA 2001 p 9)
322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas
Arauacutejo Filho e Silva (2013) fazem um apanhado sucinto e ao mesmo tempo geral
de duas atividades econocircmicas desenvolvidas no municiacutepio de Irauccediluba
82
Historicamente a Regiatildeo tem na pecuaacuteria a mais importante atividade dentro de um
sistema de transumacircncia servindo de estaccedilatildeo na eacutepoca das chuvas para os rebanhos
criados na regiatildeo litoracircnea Isto porque apresenta extensas aacutereas recobertas por
planossolos sob uma caatinga do tipo savana com cobertura herbaacutecea de excelente
potencial forrageiro Considerando a ocupaccedilatildeo da aacuterea municipal 124 satildeo usados
para a produccedilatildeo agriacutecola a pecuaacuteria ocupa 671 e os restantes 205 satildeo
recobertos de matas Confrontando os dados da distribuiccedilatildeo dos solos e de sua
ocupaccedilatildeo vecirc-se que a pecuaacuteria eacute praticada em toda a extensatildeo dos planossolos e dos
luvissolos a agricultura ocupa pequena parcela do luvissolo e dos solos litoacutelicos e a
extraccedilatildeo de madeira parte dos litoacutelicos e dos luvissolos (IBGE 2010) (ARAUacuteJO
FILHO e SILVA 2013 p 1)
Para os autores a pecuaacuteria em sistemas de produccedilatildeo de regiotildees semiaacuteridas
constitui uma atividade tampatildeo dos efeitos da seca facilita a dispersatildeo dos riscos de perdas
tem boa liquidez econocircmica e eacute um fator muito importante de fixaccedilatildeo do homem agrave terra
Em se tratando de nuacutemeros o PAE (CEARAacute 2010b) apresentou em seus
levantamentos percentuais a situaccedilatildeo de alguns aspectos socioeconocircmicos que ora se julga
interessantes expor neste trabalho Por exemplo o analfabetismo estaacute decrescendo eacute o que a
taxa de escolaridade no ensino fundamental de 932 em 2007 demonstra mas altas taxas
de repetecircncia evasatildeo escolar qualificaccedilatildeo dos professores baixo aproveitamento dos alunos
e divergecircncia entre a faixa etaacuteria e a seacuterie cursada tambeacutem satildeo problemas que afetam a
educaccedilatildeo no municiacutepio Folhes e Viana (2001) Quanto ao saneamento baacutesico natildeo existia rede
de esgotamento no municiacutepio nem aacutegua tratada para a maioria da populaccedilatildeo conforme
pesquisa realizada em 2007 contudo em 2010 a CAGECE24
informou que havia 6173
ligaccedilotildees entre reais e ativas para o abastecimento de aacutegua enquanto que a cobertura de
esgoto continuava sem nenhuma ligaccedilatildeo mas curiosamente apresentava uma taxa de
cobertura de 1937
O PAE (CEARAacute 2010) diz que em Irauccediluba o salaacuterio meacutedio mensal da
populaccedilatildeo correspondia a um salaacuterio miacutenimo e meio mas o IBGE (2010) traz outro nuacutemero
Em 2010 quando o salaacuterio miacutenimo era de R$ 51000 a renda domiciliar per capita entre frac14 a
mais de 3 correspondia a 5158 trabalhadores sendo que a maioria deles recebia por mecircs R$
12750 ou menos Agregada a essa realidade econocircmica existe a populaccedilatildeo extremamente
pobre com renda domiciliar per capita de ateacute R$ 7000 Nesse patamar concentram-se 8008
pessoas
Eacute nesse contexto que estatildeo cerca de 13500 pessoas classificadas como
economicamente ativas no municiacutepio Infelizmente o nuacutemero de irauccedilubenses inseridos na
condiccedilatildeo de pobreza eacute bem expressivo correspondendo a 3587 da populaccedilatildeo em 2010
24
In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p14)
83
Eacute faacutecil perceber que se trata de uma cidade pouco desenvolvida pobre sem muita
educaccedilatildeo e condiccedilotildees baacutesicas de sauacutede Isso reflete tanto na economia como na qualidade de
vida sem falar no cenaacuterio ambiental pois a situaccedilatildeo como estaacute posta favorece muito mais a
degradaccedilatildeo dos recursos naturais
Falando em questotildees ambientais dentro do contexto da dinacircmica populacional de
Irauccediluba eacute interessante citar a retraccedilatildeo no nuacutemero de indiviacuteduos residentes na aacuterea rural
desde a deacutecada de 70 e consequentemente aumento na urbana Considerando que os riscos de
desertificaccedilatildeo satildeo mais acentuados nas regiotildees densamente povoadas porque haacute maior
pressatildeo sobre os bens naturais e que a densidade demograacutefica do municiacutepio em 2010 estava
em 1539 habkm Folhes e Viana (2001) pontuam
A densidade demograacutefica de Irauccediluba representa pouco mais da metade do que
Ferreira et al (1994) estabeleceram como ldquofator de pressatildeordquo no estudo que se
tornou conhecido por ser o primeiro a confeccionar o mapa de susceptibilidade agrave
desertificaccedilatildeo do Nordeste brasileiro dada(s) as condiccedilotildees de semi-aridez as
condiccedilotildees dos solos a disponibilidade de aacutegua da regiatildeo e a capacidade de suporte
da mesma adotou-se como fator de pressatildeo sobre o meio ambiente a densidade
igual ou superior a 20habkm2 (p19-20)rdquo Veem-se a dificuldade e imprecisatildeo dos
estudos quanto agrave determinaccedilatildeo de algum ponto criacutetico onde a relaccedilatildeo densidade
demograacutefica versus processos de desertificaccedilatildeo passa de causa para efeito
(FOLHES e VIANA 2001 p 13)
Os autores ainda reforccedilam que o municiacutepio se enquadra no grupo com fraca
densidade demograacutefica que eacute de 10 a 20habkm2 de acordo com a classificaccedilatildeo estabelecida
pelo diagnoacutestico agro-soacutecio-econocircmico
Segundo Folhes e Viana (2001) um dos iacutendices mais sensiacuteveis para se medir o
niacutevel de desenvolvimento de um municiacutepio eacute a taxa de mortalidade infantil pois ela revela a
estreita ligaccedilatildeo entre o estado de sauacutede da populaccedilatildeo o acesso aos serviccedilos meacutedicos
condicionados pela situaccedilatildeo soacutecioeconocircmica da populaccedilatildeo Em Irauccediluba essa taxa eacute de 1592
mortos a cada 1000 nascidos vivos maior ainda que a do estado 133225
A economia de Irauccediluba gira em torno de atividades como agricultura e pecuaacuteria
Aquela engloba culturas praticadas em lavouras permanentes e temporaacuterias e esta envolve a
criaccedilatildeo de gado de vaacuterias espeacutecies e aves como galos e galinhas Em termos comparativos
traccedilou-se um paralelo do sistema produtivo econocircmico nos anos de 2001 e 2011 para que se
pudesse avaliar alguma retraccedilatildeo ou evoluccedilatildeo no quadro agropecuaacuterio e industrial do
municiacutepio
A figura 15 abaixo eacute autoexplicativa de modo que prontamente se percebe a
banana e a manga como as culturas mais significativas ficando logo atraacutes o cocircco da baiacutea
25
SESA (2011) In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p 9)
84
Nota-se tambeacutem natildeo haver muita diferenccedila de produccedilatildeo dos trecircs cultivos agriacutecolas nesses
dois anos o que leva a concluir que os produtores do municiacutepio mantiveram os investimentos
e colheitas semelhantes O mesmo natildeo ocorreu com o algodatildeo arboacutereo pois seu resultado caiu
drasticamente no periacuteodo analisado Ressalte-se poreacutem que o ano de 2001 foi mais produtivo
que o de 2011 com exceccedilatildeo da castanha de caju
Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Permanentes
Fonte IBGE (2001 e 2011)
Com relaccedilatildeo agraves lavouras temporaacuterias o destaque eacute da mandioca e da mamona
muito embora esta uacuteltima soacute apresente resultados no ano de 2011 Outras culturas temporaacuterias
satildeo o milho e o feijatildeo mas natildeo constam na figura 16 porque a disparidade entre os dois anos
e a alta produtividade em 2011 dificultariam a visualizaccedilatildeo
Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Temporaacuterias
Fonte IBGE (2001 e 2011)
85
De qualquer maneira a safra de milho e feijatildeo em 2001 natildeo foi tatildeo expressiva
ou seja correspondeu a 14 e 7 toneladas respectivamente Jaacute em 2011 esse nuacutemero foi agraves
alturas chegando agraves 4433 toneladas de milho e 2088 toneladas de feijatildeo
Jaacute os produtos de origem florestal comuns em Irauccediluba satildeo a cera o poacute e a fibra
da carnauacuteba o carvatildeo vegetal a lenha e a madeira em tora poreacutem os mais relevantes satildeo o
carvatildeo vegetal e a lenha conforme se vecirc nas figuras 17 e 18
Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em tonano
Fonte IBGE (2001 e 2011)
Como a lenha e a madeira em tora tecircm unidade de medida diferente dos demais
produtos construiu-se a figura 18 para natildeo deixaacute-las de fora da anaacutelise
0100020003000400050006000700080009000
1000011000
Lenha Madeira em tora
Produtos de origem vegetal (m3ano)
2001
2011
Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em m3ano
Fonte IBGE (2001 e 2011)
86
Quanto aos produtos de origem animal o leite foi o mais vultoso sobressaindo-se
nos anos de 2001 e 2011 Na tabela 11 abaixo tambeacutem foram relacionados os outros mas
com participaccedilatildeo bem pequena na produtividade do municiacutepio
Tabela 11 - Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem animal Produtos de origem animal
Leite Mel de abelha Ovos de galinha Ovos de codorna
Produccedilatildeo (mil l) Produccedilatildeo (kg) Produccedilatildeo (mil dz) Produccedilatildeo (mil dz)
2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011
5228 6031 0 507 80 143 0 1
Fonte IBGE (2001 e 2011)
Em termos industriais julgou-se interessante fazer uma comparaccedilatildeo um tanto
mais abrangente citando tambeacutem os nuacutemeros do ano de 2010 Observa-se que os grupos de
induacutestrias existentes em Irauccediluba reuacutenem as de extraccedilatildeo mineral construccedilatildeo civil e
principalmente as de transformaccedilatildeo conforme figura 19
Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011)
Fonte IBGE (2001 2010 e 2011)
Eacute possiacutevel observar pela figura acima que as empresas de extraccedilatildeo mineral e de
construccedilatildeo civil pouco se desenvolveram durante o periacuteodo analisado o mesmo natildeo ocorreu
com as induacutestrias de transformaccedilatildeo que inclusive chamam bastante atenccedilatildeo Estas se
desdobram em vaacuterias espeacutecies como por exemplo produccedilatildeo de minerais natildeo metaacutelicos
metaluacutergica mecacircnica produccedilatildeo de material eleacutetrico eletrocircnico e comunicaccedilatildeo produccedilatildeo de
material para transporte madeireira mobiliaacuteria produccedilatildeo de papel papelatildeo e borracha
beneficiamento de couros peles e similares quiacutemica produccedilatildeo de produtos farmacecircuticos e
veterinaacuterios de material plaacutestico tecircxtil vestuaacuterio calccedilados artefatos de tecido couros e
peles produtos alimentares bebidas fumo dentre outras
87
De 2001 para 2010 a quantidade de induacutestrias de transformaccedilatildeo pouco aumentou
passando de 13 para 17 mas de 2010 a 2011 esse rol duplicou indo de 17 para 34 empresas
como se pode observar pelas figuras 20 21 e 22
Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001
Fonte IBGE (2001)
Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010
Fonte IBGE (2010)
TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 13
TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 17
88
Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011
Fonte IBGE (2011)
A induacutestria tecircxtil oscilou em nuacutemeros visto que em 2001 contava com 5
empresas em 2010 com 4 expandido para 9 de forma que essa quantidade representou 26
do total de induacutestrias em Irauccediluba no ano de 2011 Outra atividade expressiva no municiacutepio eacute
a de produtos alimentares Muito embora natildeo exista em 2010 nos anos de 2001 e 2011 ela
totalizava 5 e 9 unidades respectivamente representando 23 e 26 cada uma no universo de
empresas Em terceiro plano encontra-se a produccedilatildeo de minerais natildeo-metaacutelicos que em 2001
contou com 1 induacutestria em 2010 com 2 e em 2011 com 3 Aleacutem disto apareceram a partir de
2010 atividades como mobiliaacuterio couros e peles vestuaacuterio e uma categoria natildeo definida pelo
IBGE classificada como diversas Em contrapartida desapareceram da contagem as
induacutestrias madeireira e metaluacutergica
Na pecuaacuteria existe a criaccedilatildeo de gado e aves O realce no primeiro grupo eacute dado
pelos bovinos seguido pelos ovinos e caprinos tanto no ano de 2010 como 2011 sendo neste
os nuacutemeros maiores Quanto agraves aves a ocorrecircncia eacute de galos frangos frangas e pintos aleacutem
de galinhas Entre estes dois grupos o primeiro eacute mais representativo como bem se examina
pela figura 23
TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 34
89
Figura 23 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos
Fonte IBGE (2011 e 2011)
Sem esquecer outros rebanhos mesmo que de menor grandeza existem no
municiacutepio bubalinos muares coelhos e codornas segundo os nuacutemeros apresentados na
tabela 12
Tabela 12 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores Rebanhos Bubalinos Muares Coelhos Codornas
Ano 2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011
Nordm de indiviacuteduos 98 48 380 436 22 67 89 193
Fonte IBGE (2011 e 2011)
Por fim conclui-se que em Irauccediluba eacute praticado aleacutem das atividades industriais o
tripeacute econocircmico baseado na produccedilatildeo agriacutecola pecuaacuteria e madeireira esta a partir da
exploraccedilatildeo de lenha e carvatildeo vegetal Desta maneira seria mais interessante para o municiacutepio
considerando suas caracteriacutesticas ambientais o uso de sistemas de produccedilatildeo
agrossilvopastoris Nesse sentido Arauacutejo Filho e Silva (2013) ilustram
Os sistemas de produccedilatildeo agrossilvipastoris satildeo formas de uso e manejo da terra nas
quais aacutervores e arbustos satildeo utilizados em associaccedilatildeo com cultivos agriacutecolas e
animais numa mesma aacuterea de maneira simultacircnea ou numa sequecircncia temporal
Cada componente do sistema de produccedilatildeo deve ter pelo menos uma funccedilatildeo proacutepria e
sua integraccedilatildeo garante sua funcionalidade Assim as aacutervores devem ser em nuacutemero
suficiente para um aporte significativo de serrapilheira fonte de mateacuteria orgacircnica
para o solo Os animais satildeo os redistribuidores de nutrientes entre os componentes
do sistema via urina e esterco E as culturas garantem a produccedilatildeo de alimentos para
a famiacutelia e seus animais e contribuem para a circulaccedilatildeo de nutrientes dentro do
sistema Os SAF‟s podem tambeacutem ser usados para a reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e
econocircmica de aacutereas degradadas sobre luvissolos e argissolos (ARAUacuteJO FILHO e
SILVA 2013 p 1819)
90
323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba
A caracterizaccedilatildeo ambiental realizada no municiacutepio das aacutereas de estudo engloba a
altimetria as classes de relevo demonstrando a declividade do terreno que varia de plano a
forte ondulado os tipos de solos e suas associaccedilotildees de classes entre si o clima envolvendo
dados sobre a pluviometria anual o iacutendice de umidade o nuacutemero de meses sem chuva a
temperatura e a evapotranspiraccedilatildeo total anual do municiacutepio Comenta-se ainda a vegetaccedilatildeo e
suas formas aleacutem dos rios e accediludes existentes em Irauccediluba reunindo seus recursos hiacutedricos
3231 Altimetria e Classe de relevo
A altimetria do municiacutepio estaacute exibida na figura 24 conforme seus niacuteveis de
altitude que variam de 80 a 840 metros acima do mar
Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba
91
Jaacute o relevo oscila de plano a forte ondulado conforme figura 25 Arauacutejo Filho e Silva
(2013 p 1) definem que ldquonos planossolos o relevo varia de plano a suave-ondulado (de 1 a 8)
nos argisssolos e nos luvissolos apresentam-se em relevo de suave-ondulado a ondulado (de 8 a
20) e os litoacutelicos estatildeo em relevo forte-ondulado (de 20 a 45)rdquo
Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba
3232 Solos
A regiatildeo semiaacuterida nordestina ldquo[] recebe anualmente calor e luz em excesso o
que resulta em raacutepida mineraccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica Seus solos satildeo geralmente pouco
profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica mas relativamente ricos
em bases trocaacuteveisrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 7)
O PAN (BRASIL 2004) assegura que as classes de associaccedilatildeo de solos presentes
no semiaacuterido do Nordeste satildeo o bruno natildeo caacutelcico litoacutelicos podzoacutelico eutroacutefico terra roxa
estruturada cambissolo ondulado e forte ondulado e planossolos Apresentam tambeacutem tipos
de relevo e susceptibilidade agrave erosatildeo diferenciados como mostra a tabela 13
92
Tabela 13 - Relaccedilatildeo de solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo
CLASSES DE SOLO RELEVO SUSCEPTIBILIDA Agrave
EROSAtildeO
Bruno natildeo caacutelcico (Luvissolos) Suave ondulado e ondulado Forte
Litoacutelicos Ondulado forte ondulado e
montanhoso Muito forte
Podzoacutelico eutroacutefico terra roxa
estruturada cambissolo ondulado e
forte ondulado
Ondulado e forte ondulado Moderado
Planossolos Plano e suave ondulado Moderado
Fonte PAN Brasil (2004)
ldquoTrecircs classes de solos se destacam no municiacutepio de Irauccediluba luvissolos com
432 de cobertura planossolos com 187 e litoacutelicos com 332 Juntos eles perfazem
951 da aacuterea do municiacutepiordquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2)
Os luvissolos constituem os solos mais utilizados pela agricultura migratoacuteria do
semiaacuterido nordestino Por causa do desmatamento e uso do fogo haacute indicaccedilotildees de que pelo
menos 65 da aacuterea de cobertura deste importante solo se encontrem em erosatildeo de grave a
muito grave Em Irauccediluba natildeo eacute diferente pois a agricultura eacute praticada nas aacutereas recobertas
por luvissolos e solos litoacutelicos enquanto a pecuaacuteria eacute desenvolvida tanto no planossolo com
presenccedila tambeacutem nas aacutereas de luvissolo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013)
Em se tratando de associaccedilatildeo de solos a tabela 14 indica a nomenclatura utilizada
por Jacomine (1973) e pela EMBRAPA (2006) para definir os tipos de associaccedilatildeo
encontrados em Irauccediluba apontando ainda a porcentagem de cada um dentro da respectiva
associaccedilatildeo E a figura 26 apresenta a distribuiccedilatildeo dessas associaccedilotildees no municiacutepio de forma
que eacute possiacutevel notar o predomiacutenio da associaccedilatildeo NC15 seguida da Re25 e Re26
Tabela 14 - Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEMBRAPA
ASSOCIACcedilAtildeO
DE SOLO EM
JACOMINE
(1973)
NOMENCLATURA DOS SOLOS NAS ASSOCIACcedilOtildeES DO SOLO
NA
ASSOCIACcedilAtildeO JACOMINE (1973) EMBRAPA (2006)
PE6
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO moderado
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 40
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO chemozecircnico
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 30
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 15
AFLORAMENTOS DE ROCHA - 15
PE42
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 70
REGOSOL EUTROacuteFICO NEOSSOLOS
REGOLIacuteTICOS 30
NC7 BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO LUVISSOLO 40
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 35
93
BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO veacutertico LUVISSOLO 25
NC15
BRUNOS NAtildeO CAacuteLCICOS
INDISCRIMINADOS LUVISSOLO 40
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 25
PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 20
SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 15
PL6
PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 45
SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 35
SOLOS OTOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 20
Re6
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 65
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 35
Re25 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel
estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -
Re26 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel
estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -
Fonte Jacomine et al (1973) e EMBRAPA (2006)
Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba
94
Por fim a figura 27 apresenta os quatro grandes grupos de solo encontrados em
Irauccediluba e sua distribuiccedilatildeo no municiacutepio sendo eles Podzoacutelico vermelho amarelo
equivalente eutroacutefico (PE) Bruno natildeo caacutelcico (NC) Planossolo (PL) e Solos litoacutelicos (Re)
Figura 27 Grupos de solos que formam associaccedilotildees pedoloacutegicas em Irauccediluba
3233 Clima
ldquoO clima na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba eacute conforme classificaccedilatildeo de Koumlppen
(MILLER 1971) do tipo Bshw semiaacuterido megateacutermico com curta estaccedilatildeo chuvosa no
veratildeo-outono e com concentraccedilatildeo das precipitaccedilotildees pluviais nos meses de marccedilo e abrilrdquo
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2) Anualmente o municiacutepio apresenta pluviometria
meacutedia abaixo dos 700 mm mas existe maior incidecircncia de chuva em outras regiotildees de
Irauccediluba Eacute o que demonstra a figura 28
Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba
Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba
95
Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba
ldquoA regiatildeo apresenta um dos mais baixos iacutendices pluviomeacutetricos do Estado do Cearaacute
com meacutedia histoacuterica de 540 mm Isto porque a aacuterea encontra-se a sotavento da serra
de Uruburetama constituindo-se em uma ldquosombra de chuvardquo causada pela
interceptaccedilatildeo pela serra dos ventos uacutemidos oriundos do oceanordquo (ARAUacuteJO FILHO
e SILVA 2013 p 2)
O municiacutepio passa a maior parte do ano sem chuva aproximadamente dez meses
e apesar da pouca pluviosidade a evapotranspiraccedilatildeo eacute maior que a precipitaccedilatildeo Sem poder
ser diferente as temperaturas variam de 25 a 28 graus sendo que na maior parte da aacuterea
incidem temperaturas de 26 a 27 graus centiacutegrados e a umidade aponta a incidecircncia do clima
semiaacuterido em Irauccediluba As figuras 06 29 30 31 e 32 ilustram as informaccedilotildees declaradas
96
Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba
Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual
97
Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba
Figura 32 Iacutendice Efetivo de umidade em Irauccediluba
Fonte NOLEcircTO (2005)
98
3234 Vegetaccedilatildeo
A caatinga eacute um dos maiores biomas brasileiros e significa mata branca Por ser
uma vegetaccedilatildeo xeroacutefila eacute capaz de suportar vaacuterios anos de estiagem recuperando com
rapidez suas atividades logo nas primeiras chuvas apoacutes a seca A adaptaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo ao
clima semiaacuterido eacute impressionante como por exemplo as cascas claras ou reluzentes servem
para diminuir o aquecimento do tecido vivo da planta Por causa da falta de aacutegua satildeo
caducifoacutelias isto eacute as folhas caem durante a estaccedilatildeo seca para evitar excesso de perda d‟aacutegua
pela evapotranspiraccedilatildeo aleacutem disto os caules satildeo projetados para armazenar aacutegua (MAIA
2012)
ldquoA caatinga se assemelha a arbustos tropicais ou bosques de espinhos Eles
contecircm pequenas aacutervores de madeira dura grotescamente retorcidas e com espinhos as folhas
satildeo pequenas e caem durante a estaccedilatildeo secardquo Odum e Barret (2008 p 453)
Fisionomicamente eacute possiacutevel diferenciar os tipos de vegetaccedilatildeo o arboacutereo que estaacute nas
superfiacutecies mais conservadas sendo o pau branco o angico o pereiro dentre outras suas
espeacutecies mais representativas o arbustivo que eacute sinal de aacutereas jaacute degradadas pelo
desmatamento uso agriacutecola e pecuaacuteria e o herbaacuteceo figurado por gramiacuteneas presentes
somente durante o periacuteodo chuvoso e explorado pela pecuaacuteria extensiva (DANTAS et al
2007)
ldquoO Bioma Caatinga estaacute inserido no quadro dos Ecossistemas da Regiatildeo das
Caatingas e Florestas Deciduais do Nordeste Abrange as especificidades do Domiacutenio
Morfoclimaacutetico das Caatingas sejam elas arbustivas ou arboacutereasrdquo (BRASIL 2004 p 68) Os
frutos amadurecem ao fim da eacutepoca das chuvas quase que generalizadamente na maioria das
espeacutecies arboacutereas e herbaacuteceas permanecendo pendentes dos ramos durante algum tempo Ao
se desprenderem e caiacuterem no solo natildeo germinam de imediato pois a resistecircncia da casca e
outros artifiacutecios da natureza impedem a germinaccedilatildeo pronta Se germinassem morreriam quase
em seguida natildeo resistindo agrave longa estaccedilatildeo seca e quente da estiagem com interrupccedilatildeo brusca
e total das chuvas A germinaccedilatildeo poreacutem processa-se rapidamente logo ao caiacuterem as
primeiras chuvas pois os indumentos foram intensamente desgastados pelo intemperismordquo
As queimadas realizadas para a preparaccedilatildeo de novos terrenos de cultivo desempenham papel
de grande poder destruidor do ambiente ldquoCompreende-se pois que a restauraccedilatildeo da
cobertura vegetal depende da preservaccedilatildeo desses estoques de sementesrdquo26
26
Conferir SOBRINHO Vasconcelos (1983) In PAN Brasil 2004
99
ldquoA vegetaccedilatildeo da aacuterea do nuacutecleo de desertificaccedilatildeo de Irauccediluba espelha os efeitos dos
fatores fiacutesicos mormente os de natureza hiacutedrica e edaacutefica e da accedilatildeo antroacutepica
Assim as aacutereas dos solos argissolos litoacutelicos e luvissolos apresentam uma cobertura
arbustiva-arboacuterea formando um verdadeiro mosaico de diferentes estaacutedios
sucessionais em virtude das praacuteticas agriacutecola ambientalmente agressivasrdquo [] ldquoAs
aacutereas sobre os planossolos estatildeo recobertas por uma caatinga assavanada e
esporadicamente com afloramentos rochosos e com cobertura arbustiva arboacuterea
meacutedia abaixo de 20 e densidade de cerca 200plantasha A camada herbaacutecea de
biodiversidade inferior ao das aacutereas de luvissolos ou argissolos eacute rica no entanto
em espeacutecies forrageiras destacando-se a erva de ovelha (Stylosanthes humilis)
vassourinha (Stylosanthes angustifolia) urinana (Zornia bracteata) e capim accedilu
(Paspalum milegrana) O capim panasco no entanto predomina nas aacutereas
sobrepastejadasrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 34)
A figura 33 espelha a composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba Segue claro que a Caatinga
Arboacuterea Sem Palmeira (Cas) predomina seguida da Caatinga Arboacuterea Com Palmeira (Cap) e
da Caatinga Parque Sem Palmeira (Cps) A Floresta Ombroacutefila Aberta (Acc1) e as Aacutereas De
Formaccedilatildeo Pioneira (Acc2) representam uma aacuterea menor do municiacutepio
Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba
3235 Recursos Hiacutedricos
O nuacutecleo de Irauccediluba estaacute situado na bacia hidrograacutefica do rio Curu contando com
o aporte dos rios Aracatiaccedilu e Caxitoreacute aleacutem de vaacuterios riachos destacando-se o Aroeira o
Fonte NOLEcircTO (2005)
Fonte NOLEcircTO (2005)
100
Gabriel e o Cachoeira A ausecircncia de barragens de porte representativo faz com que a
pequena accediludagem assuma um papel relevante Destacam-se dentre essas os Accediludes Satildeo
Gabriel do Mocoacute (IRAUCcedilUBA 2009)
Por conta da irregularidade das chuvas que contribui para favorecer o escoamento
de superfiacutecie junto agraves condiccedilotildees geoloacutegicas predominantemente cristalinas favorecem o
escoamento raacutepido das aacuteguas pluviais inviabilizando o acuacutemulo de aacuteguas subterracircneas em
quantidades razoaacuteveis (IRAUCcedilUBA 2009) existem no municiacutepio cerca de 28 pequenos
accediludes nomeando-se o Nogueira Ramos o Cairu Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu e o Jerimum
que abastece a cidade de Irauccediluba ldquoUma estrutura muito comum no municiacutepio eacute o barreiro da
salvaccedilatildeo constituindo-se em um sistema temporaacuterio de armazenamento de aacutegua para atender
agrave demanda dos rebanhos durante boa parte da estaccedilatildeo secardquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA
2013 p 3)
324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo
A partir da abordagem feita no item 323 passa-se a analisar a realidade de cada
propriedade estudada Visando apontar os aspectos geoambientais dos imoacuteveis construiu-se
um quadro siacutentese conforme tabela 15 abaixo
Tabela 15 ndash Anaacutelise Geral das propriedades estudadas
Anaacutelise
Imoacuteveis com Reserva Legal
Riachuelo
Alto Alegre
Aacuteguas
Mortas
Almas
Cajazeiras
II
Saco
Verde
Miramar
Classe
no
Tipo
Niacuteveis da Classe
no Tipo
Aacuterea (km2)
336 238 127 124 671 86
no Niacutevel da Classe no Tipo
Precipitaccedilatildeo
Total
Meacutedia Anual
lt 600 - - - - 103 -
600 a 700 100 100 100 755 100
700 a 800 - - - 976 112 -
800 a 900 - - - 24 - -
Temperatura
Meacutedia Anual
(oC)
25-26 - - - - 71 -
26-27 100 100 100 100 929 100
27-28 - - - - - -
ETP
lt 1450 - - - - 100 100
1450-1500 - - - - - -
1500-1550 - - - - - -
1550-1600 100 100 100 - - -
1600-1650 - - - 141 - -
1650-1700 - - - 859 - -
101
Nugravemero
de
Meses secos
85 a 95 100 100 564 100 330 -
95 a 105 - - 454 - 670 100
gt105 - - - - - -
Im
gt - 333 - - - - - -
- 344 a - 499 100 100 100 100 388 15
lt - 499 - - - - 612 985
Igravendice de Aridez
do UNEP 020 a 050 100 100 100 100 780 100
050 a 065 - - - - 220 -
Classes
de
Relevo
Plano 23 46 56 112 55 135
Suave Ondulado 162 316 378 373 227 485
Ondulado 194 338 427 64 124 130
Muito Ondulado 127 111 72 38 72 70
Forte Ondulado 463 185 66 264 400 179
Montanhoso 31 04 - 105 120 03
Escarpado - - - 44 02 -
Classes
de
Altitude
80-120 - - -- 560 - -
120-160 - - - 113 - -
160-200 - - - 60 321 -
200-240 54 171 723
240-280 01 41 460 40 85 202
280-320 139 614 521 36 68 49
320-360 349 211 10 41 56 24
360-400 178 65 01 38 70 02
400-440 90 24 - 28 53 -
440-480 63 21 - 19 55 -
480-520 45 16 - 10 45 -
520-560 33 05 - 02 32 -
560-600 29 02 - - 15 -
600-640 25 01 - - 10 -
640-680 17 - - - 08 -
680-720 13 - - - 07 -
720-760 07 - - - 03 -
760-800 05 - - - 02
800-840 03 - - - - -
840-880 02 - - - - -
880-920 01 - - - - -
Associaccedilotildees
de
Solos
PE 6 - - - - 207 -
PE 42 - - - 913 - -
NC 7 - - - - - -
NC 15 940 755 516 - - 441
PL 6 - - - - 348 -
Re 6 - - - - - -
Re 25 - - - 87 445 -
Re 26 60 245 424 - - 559
Grupos
de
solos
PE - - - 913 207 -
NC 940 762 516 - - 441
PL - - - - 348 -
Re 60 238 484 87 445 559
Cobertura
Vegetal
Cas 515 934 100 - 265 100
Cap - - - 649 - -
Cps - - - - 168 -
Acc1 485 66 - - - -
Acc2 351 567 -
Quanto agrave graduaccedilatildeo altimeacutetrica em que se encontra cada propriedade em estudo eacute
possiacutevel observar que a RiachueloAlto Alegre tem niacuteveis de altimetria crescentes a partir de
102
240 ateacute 920 metros destacando-se como o imoacutevel de maior altitude seguido de Saco Verde e
Aacuteguas Mortas As outras natildeo passam dos 560 metros de altitude
Em se tratando da classe de relevo a que se apresenta mais plana eacute Miramar com
135 de sua aacuterea seguida de Cajazeiras II com 112 Em relevo montanhoso destacam-se
Saco Verde com 12 de terreno e Cajazeiras II com 105 No entanto a predominacircncia eacute de
imoacuteveis inseridos na faixa entre o suave ondulado e o forte ondulado
Os imoacuteveis em anaacutelise situam-se em diferentes grupos de solos como ilustra a
tabela 15 Por exemplo RiachueloAlto Alegre e Aacuteguas Mortas estatildeo 94 e 762
respectivamente em luvissolos ou seja em solos Bruno natildeo caacutelcicos e Podzoacutelico vermelho
amarelo equivalente eutroacutefico Almas e Miramar estatildeo divididas aproximadamente agrave metade
em solo litoacutelico e em Bruno natildeo caacutelcico Em Cazajeiras II predomina o solo Podzoacutelico
vermelho amarelo equivalente eutroacutefico mas apresenta um pequeno percentual em solo
litoacutelico E por fim Saco Verde possui uma distribuiccedilatildeo variada de solos Podzoacutelico vermelho
amarelo equivalente eutroacutefico (207) Planossolos (348) e litoacutelicos (445) sendo o
uacutenico imoacutevel com planossolos
Nas associaccedilotildees de solos prevalece a subclasse 15 dos solos Bruno natildeo caacutelcicos
(NC) nas propriedades RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas e Almas Cajazeiras II estaacute
quase totalmente na subclasse 42 do Podzoacutelico vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) e
Miramar mesmo quase ao meio entre NC e Re possui a maior parte de sua aacuterea na subclasse
26 de solos litoacutelicos (Re) Saco Verde embora um tanto quanto bem distribuiacuteda tem 207
de aacuterea na subclasse 6 dos Podzoacutelicos vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) 348
em planossolos subclasse 6 inclusive eacute o uacutenico imoacutevel nessa classificaccedilatildeo e 445 em Re6
A realidade das aacutereas em estudo descrita na tabela 15 revela que mais da metade
delas estaacute inserida na faixa de pluviosidade abaixo dos 700 mm contudo Cajazeiras II foge agrave
regra apresentando pluviometria entre 700 a 900 mm Em Saco Verde ocorre distribuiccedilatildeo
irregular de chuvas e aleacutem de estar na meacutedia tem precipitaccedilatildeo tanto abaixo dos 600 como
acima de 700 mm
E por fim a cobertura vegetal de Almas Miramar quase toda de Aacuteguas Mortas e
a metade RiachueloAlto Alegre eacute de caatinga arboacuterea sem palmeira (Cas) enquanto que mais
de 50 da Cajazeiras II estaacute em caatinga arboacuterea com palmeira (Cap) Saco Verde tem mais
da metade da aacuterea em formaccedilatildeo pioneira (Acc2)
103
33 Metodologia
A metodologia utilizada no levantamento acerca da existecircncia de reserva legal no
municiacutepio de Irauccediluba envolveu algumas fases de anaacutelise como pesquisa bibliograacutefica
documental caracterizaccedilatildeo da aacuterea sob os aspectos sociais econocircmicos e ambientais o uso de
imagens orbitais e a aplicaccedilatildeo do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada (NDVI -
Normalized Difference Vegetation Index) nas propriedades em estudo
A abordagem envolveu o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo uma vez que para avaliar a
aplicabilidade da reserva legal como forma de combater o processo de degradaccedilatildeo ambiental
em Irauccediluba partiu-se da hipoacutetese de que se cada detentor de propriedade rural cumprisse a
obrigaccedilatildeo de implantaacute-la o processo de degradaccedilatildeo quiccedilaacute o de desertificaccedilatildeo seria estancado
no municiacutepio Aleacutem disso seria um instrumento proporcionador da recuperaccedilatildeo ambiental em
virtude de seus benefiacutecios A investigaccedilatildeo se deu por procedimentos de vieacutes histoacuterico e
comparativo tendo sido realizada uma retrospectiva de como foi o tratamento dado agrave reserva
legal no contexto juriacutedico econocircmico social e ambiental Aleacutem disto estudou-se as
propriedades que apresentaram o instituto mesmo que soacute documentalmente de maneira a
confrontar a situaccedilatildeo existente nos anos de 1993 e 2007 e sua modificaccedilatildeo
Para alcanccedilar os propoacutesitos deste trabalho ocorreu a coleta de dados pela pesquisa
documental e bibliograacutefica aleacutem da observaccedilatildeo direta intensiva que foi possiacutevel pelo exame
de dados obtidos por imagens do sateacutelite LANDSAT 5 referente aos anos de 1993 e 2007
bem como a avaliaccedilatildeo das aacutereas estudadas atraveacutes do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila
Normalizada (NDVI)
As informaccedilotildees geograacuteficas das propriedades em estudo foram disponibilizadas
basicamente pelo INCRA e pelo cartoacuterio de imoacuteveis de Irauccediluba Ambos cederam as plantas
georreferenciadas que foram vetorizadas em UTM 24s atraveacutes do programa CARTALINX 12
para em seguida serem exportadas para o IDRISI 322 e entatildeo convertidas para latitude e
longitude DATUM GS 84
331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite
O NDVI eacute um iacutendice de vegetaccedilatildeo derivado de imagens de sateacutelites e muito
utilizado na avaliaccedilatildeo da cobertura vegetal indicando o tipo a condiccedilatildeo e a densidade da
vegetaccedilatildeo atraveacutes do uso de bandas No caso as bandas do vermelho na faixa do visiacutevel e do
infravermelho proacutexima (PINHEIRO 2011) Agrave medida que aumenta a quantidade de
104
vegetaccedilatildeo verde aumenta a reflexatildeo na banda do infravermelho proacuteximo e diminui a reflexatildeo
na banda do vermelho fazendo com que o aumento da razatildeo seja potencializado realccedilando
assim a vegetaccedilatildeo27
Na banda do vermelho a clorofila absorve a energia solar resultando em uma
baixa reflectacircncia e no infravermelho proacuteximo tanto a morfologia interna das folhas quanto a
estrutura da vegetaccedilatildeo apresentam uma alta reflectacircncia da energia solar incidente A
combinaccedilatildeo dessas bandas realccedila a aacuterea de vegetaccedilatildeo nas imagens e quanto maior o contraste
maior o vigor da vegetaccedilatildeo da aacuterea imageada (LOURENCcedilO LANDIM 2004)28
Portanto o NDVI pode ser utilizado como uma teacutecnica para mapeamento
contiacutenuo da cobertura vegetal de uma regiatildeo possibilitando analisar e monitorar a
variabilidade desta em periacuteodos distintos (PINHEIRO 2011) Ressaltam ainda as diferenccedilas
entre aacutereas vegetadas e de solo exposto (VERONA 2002)29
O caacutelculo para se chegar ao NDVI deriva da razatildeo entre os valores das bandas do
vermelho e infravermelho proacuteximo ou seja a diferenccedila da resposta espectral do pixel dessas
bandas pela sua soma (SILVA et al 2007)30
resulta nos valores do NDVI que variam de ndash1 a
+1 A equaccedilatildeo para o caacutelculo do NDVI foi proposta por (JENSEN 1996)31
in Ewerton Torres
Melo 2008) conforme segue abaixo
NDVI = (NIR - R) (NIR + R)
Em que
NDVI eacute o iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada NIR eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Infra-Vermelho Proacuteximo
(076 a 090 μm)
R eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Vermelho (063 a 069μm)
Assim a vegetaccedilatildeo eacute caracterizada por uma intensa absorccedilatildeo devido agrave clorofila na
regiatildeo do vermelho (063 ndash 069 μm) e por uma intensa energia refletida na regiatildeo do
infravermelho proacuteximo (076 ndash 090 μm) causada pela estrutura celular das folhas Portanto
muitos dos modelos de iacutendice de vegetaccedilatildeo utilizam somente as bandas de imagem vermelha
ou proacutexima ao infravermelho (MELO 2008)
27
Novo (1989) In MELO Ewerton Torres (2008) 28
In PINHEIRO 2011 29
Idem 30
Ibidem 31
In MELO 2008
105
Conforme (BRAGA et al sd) estudos de variabilidade temporal e espacial sobre
a regiatildeo Nordeste do Brasil indicam que as aacutereas vegetadas variam de 01 a 08 sendo que
esses valores dependem da estrutura densidade e umidade da vegetaccedilatildeo As rochas e os solos
apresentam valores proacuteximos de zero e a aacutegua aparece com valores negativos Coberturas
vegetais muitos densas se expressam pelos maiores valores obtidos (PINHEIRO 2011)
106
4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES
41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba
O foco principal da pesquisa foi levantar e analisar as propriedades que de alguma
forma apresentem a reserva legal seja oficial ou extraoficialmente Com o exame das imagens
de sateacutelite dos anos de 1993 e 2007 utilizando o NDVI constatou-se que os iacutendices da
cobertura vegetal satildeo muito parecidos tanto dentro como fora da aacuterea de reserva ao serem
comparados pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Isto leva a crer que o instituto legal pode natildeo
ter promovido qualquer diferenccedila em termos de cobertura vegetal sem falar na hipoacutetese de
nem mesmo ter sido cumprido
Analisando os iacutendices de NDVI comprova-se que na grande maioria dos
imoacuteveis a cobertura vegetal tanto dentro como fora da aacuterea de reserva legal diminuiu entre
os anos de 1993 e 2007 Embora nas propriedades a vegetaccedilatildeo se apresente em niacuteveis
diferenciados de existecircncia representados pelas faixas 2 a 9 da tabela 16 vecirc-se que quase
todos em 1993 apresentavam aacutereas significativas de vegetaccedilatildeo na faixa 6 e 7 Se averiguar as
mesmas colunas em 2007 eacute notoacuteria a retraccedilatildeo nos iacutendices salvo na faixa 5 referente aos
imoacuteveis Aacuteguas Mortas Almas e Saco Verde
Tabela 16 - NDVI dos imoacuteveis estudados
IMOacuteVEL SEGMENTO ANO
Aacuterea no niacutevel de NDVI como uma porcentagem da aacuterea total do segmento
Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 4 Faixa 5 Faixa 6 Faixa 7 Faixa 8 Faixa 9
0 a 01 01 a 02 02 a 03 03 a 04 04 a 05 05 a 06 06 a 07 07 a 08 08 a 09
Riachuelo
Alto
Alegre
Fora 1993 0558 0458 0978 2418 9904 68884 16798 0022 0019
2007 1369 1351 2366 9734 56243 28713 0205 0019 -
Reserva 1993 0532 0319 0473 1006 3224 57424 36868 0074 -
2007 1818 1611 1951 7524 53112 33777 0207 - -
Aacuteguas
Mortas
Fora 1993 1588 1833 2701 6525 18029 41168 28024 0141 -
2007 4979 3485 4979 12220 34523 39105 0616 0097 -
Reserva 1993 - - 0084 1246 10452 56862 31356 - -
2007 2092 1902 6677 6127 52292 34545 0275 0085 -
Almas Fora 1993 1954 1336 1650 3339 9359 48925 33222 0216 -
2007 0845 1463 2583 13464 44731 36659 0216 - 0039
Reserva 1993 13455 3058 2299 3858 12198 40686 23344 0156 0156
2007 1052 1208 1052 7947 53759 34827 0156 - -
Miramar Fora 1993 - - 1075 6023 36519 50699 5684 - -
2007 0810 1001 1870 6818 66765 22545 0132 0059 -
Reserva 1993 1540 0285 0799 7758 39646 48431 1540 - -
2007 - 0513 2339 33143 63206 0799 - - -
Saco
Verde
Fora 1993 6867 5558 9959 20131 37338 19016 0097 1097 1097
2007 6469 8972 19278 30986 32219 2026 0050 - -
Reserva 1993 6927 9383 17136 26903 29900 9113 0609 0030 -
2007 8767 10375 17166 29254 332881 1157 - - -
Cajazeiras
II
Fora 1993 0040 0606 8206 39766 45877 5412 0092 - -
2007 2003 9562 25154 44710 17723 0647 - - -
Reserva 1993 2885 2885 12402 48057 29936 2360 0674 - -
2007 3895 8165 21610 39476 26704 0150 - -
Os iacutendices de NDVI da tabela 16 serviram de base para o caacutelculo da anaacutelise de
semelhanccedila pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Assim a constataccedilatildeo acima eacute confirmada pela
tabela 17 que por sua vez atesta o grau de similaridade entre a aacuterea interna e externa agrave
reserva legal nos anos analisados Eacute surpreendente o niacutevel de semelhanccedila encontrado O
percentual mais baixo em 1993 eacute de 798 chegando no mesmo ano a 933 Jaacute em 2007 a
percentagem de semelhanccedila diminui nos imoacuteveis Aacuteguas Mortas e Miramar de 81 para 75 e
de 933 para 731 respectivamente Isto natildeo quer dizer que o niacutevel de cobertura vegetal
melhorou ou piorou mas que a diferenccedila na semelhanccedila entre dentro e fora da aacuterea de reserva
legal nessas propriedades reduziu sugerindo que o respeito agravequele instituto pode ter
promovido a alteraccedilatildeo Em contrapartida nos outros imoacuteveis essa semelhanccedila aumentou
aproximando-se dos 94
Assim eacute provaacutevel que pelos meacutetodos utilizados a funccedilatildeo proposta pelo instituto
da reserva legal natildeo esteja sendo alcanccedilada visto que o grau de semelhanccedila entre a aacuterea de
dentro e fora da reserva legal estaacute muito aproximado pois sequer apresentou-se abaixo dos
70 de diferenccedila
Tabela 17 - Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal pelo meacutetodo de Sorensen (1948)
ANAacuteLISE DE SEMELHANCcedilA DE SORENSEN () ENTRE
FORA E DENTRO DA AacuteREA DE RESERVA LEGAL
IMOacuteVEL
Reserva
ANO 1993 2007
108
Riachuelo Alto Alegre Fora 1993 798 -
2007 - 941
Aacuteguas Mortas Fora 1993 810 -
2007 - 750
Almas Fora 1993 821 -
2007 - 908
Saco Verde Fora 1993 799 -
2007 - 891
Cajazeiras II Fora 1993 813 -
2007 - 952
Miramar Fora 1993 933 -
2007 - 731
109
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A abordagem dos assuntos aqui tratados e os resultados alcanccedilados permitem a
conclusatildeo de que a reserva legal eacute uma criaccedilatildeo da lei com intenccedilotildees conservacionistas
avanccediladas Como espaccedilo especialmente protegido requer um tratamento diferenciado natildeo soacute
como previsto em normas mas sob a oacutetica da sociedade Observou-se que foi um assunto
amplamente tratado e debatido nas esferas do poder legislativo e judiciaacuterio do paiacutes e que
tambeacutem eacute alvo de poliacuteticas puacuteblicas e atuaccedilatildeo das autoridades competentes embora um tanto
falhas
Contatou-se que o emprego da reserva legal no municiacutepio de Irauccediluba eacute pouco expressivo
diante da quantidade de propriedades ali existentes por isso os benefiacutecios trazidos pela
conservaccedilatildeo desses espaccedilos mal podem ser sentidos no municiacutepio que sofre com a degradaccedilatildeo
ambiental contiacutenua inclusive com a presenccedila do processo de desertificaccedilatildeo Aleacutem disto a
falta de cumprimento do formal procedimento acerca da implantaccedilatildeo da reserva legal em
aacutereas puacuteblicas eacute intrigante Isto porque se pressupotildee accedilotildees de estrita legalidade envolvendo o
ente estatal Nesse sentindo partindo do entendimento que os projetos de assentamento satildeo
resultado de poliacuteticas puacuteblicas para reforma agraacuteria pressupunha-se que nestes espaccedilos a
reserva legal estaria estabelecida mas as anaacutelises mostraram que natildeo haacute diferenccedila quando
comparadas a aacuterea de dentro e de fora da reserva nas propriedades A situaccedilatildeo eacute anaacuteloga no
imoacutevel particular apreciado
A respeito da degradaccedilatildeo viu-se que Irauccediluba por ser rota de passagem do gado
desde o seacuteculo XIX aporta animais em transumacircncia de outras regiotildees Os relatos de jesuiacutetas
que cruzaram o municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XVII registram o lugar com vegetaccedilatildeo fechada
e densa Diante disso eacute possiacutevel afirmar que nem sempre Irauccediluba teve um ambiente inoacutespito
e com caracteriacutesticas severamente adversas O quadro atual se deve agraves intervenccedilotildees antroacutepicas
sem teacutecnicas apropriadas para o desenvolvimento de atividades econocircmicas em conjunto com
as caracteriacutesticas de um meio semiaacuterido Essas atividades geralmente abrangem culturas de
subsistecircncia praticadas recorrentemente no mesmo lugar sem o pousio necessaacuterio do solo que
por sua vez natildeo eacute tatildeo rico em nutrientes em decorrecircncia dos desmatamentos e queimadas
Pela caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo pocircde se verificar que seus atributos
envolvem solos pouco profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica
O clima eacute o semiaacuterido onde haacute baixa pluviometria e temperaturas em torno dos 28ordmC e a
vegetaccedilatildeo eacute caatinga nos tipos arbustivos e herbaacuteceos excepcionalmente o arboacutereo por causa
da degradaccedilatildeo
Os resultados mostraram que os iacutendices de NDVI nas propriedades analisadas
apontam um grau de semelhanccedila de ateacute 94 entre dentro e fora da aacuterea da reserva legal pelo
que se pode inferir 2 suposiccedilotildees
1) A reserva legal existe somente em niacutevel documental e natildeo no local apontado
dentro do imoacutevel
ou
2) A reserva legal existe mas estaacute com a cobertura vegetal bem semelhante agrave de fora
da sua aacuterea de maneira que pode estar tatildeo degradada quanto ou tatildeo conservada
quanto
Partindo para a segunda suposiccedilatildeo os iacutendices de NDVI constatam sim que a
cobertura vegetal apresenta um grau elevado de semelhanccedila entre os dois espaccedilos e que em 4
dos 6 imoacuteveis ambos diminuiacuteram de 1993 a 2007 Desta forma natildeo haacute como afirmar que a
reserva legal no estado em que se encontra nas propriedades analisadas eacute um meio de
combater a degradaccedilatildeo ambiental Contudo nos casos em que real e verdadeiramente for
aplicada por certo traraacute ganhos ambientais mas isto deve ser alvo de mais e maiores estudos
acerca do assunto
Eacute curioso que mesmo Irauccediluba sendo um nuacutecleo de desertificaccedilatildeo e por isso alvo
de estudos pesquisas projetos e poliacuteticas puacuteblicas envolvendo degradaccedilatildeo recuperaccedilatildeo e
conservaccedilatildeo ambiental a situaccedilatildeo aparentemente natildeo progride em termos de melhorias Ao
contraacuterio disto constata-se cada vez mais a deterioraccedilatildeo do meio ambiente a ocupaccedilatildeo e a
utilizaccedilatildeo indevida dos recursos naturais
Encerrando a abordagem do assunto tratado assevera-se que a reserva legal jaacute eacute
um instituto consolidado em lei natildeo justificando quaisquer argumentos quanto ao seu
descumprimento Inclusive a natildeo observacircncia do bendito mandamento eacute considerada crime e
nesse sentido natildeo haacute uma atuaccedilatildeo maciccedila do Estado em termos de fiscalizaccedilatildeo pois se assim
existisse natildeo se estaria diante de uma constataccedilatildeo tatildeo seacuteria acerca do pequeno nuacutemero de
imoacuteveis que apresentaram a reserva legal mesmo que documentalmente Essa estatiacutestica
diminuiu ainda mais quando se analisou a diferenccedila na vegetaccedilatildeo sendo possiacutevel concluir que
o caraacuteter conservacionista da reserva legal e ela proacutepria natildeo estatildeo alcanccedilando o fim para que
foi criada
Por fim acredita-se que a reserva legal se cumprida eacute um instrumento
conservacionista capaz de auxiliar na recuperaccedilatildeo ambiental e arrefecer os processos de
111
degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo criticamente manifestos no municiacutepio de Irauccediluba Indo mais
aleacutem vecirc-se que pela oacutetica do referido instituto o desenvolvimento sustentaacutevel eacute possiacutevel
pois mesmo de encontro a interesses particulares ele consegue reunir e harmonizar o vieacutes
econocircmico o social e o ambiental
112
REFEREcircNCIAS
AGCO Lanccedilamento nacional do CAR deve sair ateacute junho Sou Agro 22052013
Disponiacutevel em lt httpwwwsouagrocombrgt Acesso em 27 mai 2013
AHRENS Sergio O ldquonovordquocoacutedigo florestal brasileiro conceitos juriacutedicos fundamentais
Trabalho Voluntaacuterio In CONGRESSO FLORESTAL BRASILEIRO 8 Satildeo Paulo SP
Anais Satildeo Paulo Sociedade Brasileira de Silvicultura Brasiacutelia Sociedade Brasileira de
Engenheiros Florestais 2003 1 CD-ROM
AMADO Frederico Augusto Di Trindade Direito ambiental sistematizado Rio de Janeiro
Forense Satildeo Paulo Meacutetodo 2009
ANTUNES Paulo de Bessa Aacutereas protegidas e propriedade constitucional Satildeo Paulo
Atlas 2011
ARAUacuteJO Gustavo Henrique de Sousa ALMEIDA Josimar Ribeiro de GUERRA Antocircnio
Joseacute Teixeira Gestatildeo ambiental de aacutereas degradadas 3ed ndash Rio de Janeiro Bertrand
Brasil 2008
ARAUacuteJO FILHO Joatildeo Ambroacutesio SILVA Nilzemary Lima da Impactos e mitigaccedilatildeo do
antropismo no nuacutecleo de desertificaccedilatildeo em Irauccediluba In OLIVEIRA Joseacute Gerardo Beserra
SALES Marta Celina Linhares (Org) Monitorando a desertificaccedilatildeo em Irauccediluba
resultados de doze anos de pesquisa Fortaleza Ediccedilotildees UFC2013 (No Prelo)
BACHA Carlos Joseacute Caetano Eficaacutecia da poliacutetica de reserva legal no Brasil Teoria e
Evidecircncia Econocircmica Passo Fundo RS v 13 n25 p9-27 2005
BRASIL Acoacuterdatildeo nordm 2633-51 de 10 de dezembro de 2007 do Tribunal de Contas da Uniatildeo
Relatoacuterio de auditoria Projetos de assentamento Estudos de viabilidade ambiental Reserva
legal Licenciamento ambiental Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 11 dez 2007
Disponiacutevel em lthttptcugovbrgt Acesso em 12 mar 2013
BRASIL Constituiccedilatildeo Repuacuteblica dos Estados Unidos do Brasil de 16 de julho de 1934
Constituiccedilatildeo (1934) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Rio de Janeiro RJ 16 jul 1934
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 8 jul 2013
BRASIL Constituiccedilatildeo Repuacuteblica dos Estados Unidos do Brasil de 18 de setembro de 1946
Constituiccedilatildeo (1946) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Rio de Janeiro RJ 25 set 1946
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 08 jul 2013
BRASIL Constituiccedilatildeo Repuacuteblica Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988
Constituiccedilatildeo (1988) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia-DF 05 out 1988
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 8 set 2011
BRASIL Decreto Federal ndeg 24643 de 10 de julho de 1934 Decreta o Coacutedigo de Aacuteguas
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 10 jul 1934
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Decreto Federal ndeg 23793 de 23 de janeiro de 1934 Aprova o coacutedigo florestal
que com este baixa Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Rio de Janeiro RJ 21 mar 1935
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 11 nov 2010
BRASIL Decreto-Lei ndeg 227 de 28 de fevereiro de 1967 Daacute nova redaccedilatildeo ao Decreto-lei
nordm 1985 de 29 de janeiro de 1940 (Coacutedigo de Minas) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia
DF 28 fev 1967 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Decreto Federal nordm 6514 de 22 de julho de 2008 Dispotildee sobre as infraccedilotildees e
sanccedilotildees administrativas ao meio ambiente estabelece o processo administrativo federal
para apuraccedilatildeo destas infraccedilotildees e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo Brasiacutelia DF 23 jul 2008 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em
05 out 2010
BRASIL Lei Federal ndeg 4504 de 30 de novembro de 1964 Dispotildee sobre o Estatuto da Terra
e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 31 nov 1964
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 08 jul 2013
BRASIL Lei Federal nordm 4771 de 15 de setembro de 1965 Institui o novo Coacutedigo Florestal
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 16 set 1965 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 10 out 2010
BRASIL Lei Federal ndeg 4947 de 06 de abril de 1966 Fixa Normas de Direito Agraacuterio
Dispotildee sobre o Sistema de Organizaccedilatildeo e Funcionamento do Instituto Brasileiro de
Reforma Agraacuteria e daacute outras Providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 11 abr
1966 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 02 abr 2013
BRASIL Lei Federal nordm 5197 de 03 de janeiro de 1967 Dispotildee sobre a proteccedilatildeo agrave fauna e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 03 jan 1967
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 6015 de 31 de dezembro de 1973 Dispotildee sobre os registros
puacuteblicos e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 31 dez 1973
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 6938 de 31 de agosto de 1981 Dispotildee sobre a Poliacutetica Nacional
do Meio Ambiente seus fins e mecanismos de formulaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 02 set 1981
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 13 ago 2012
BRASIL Lei Federal nordm 7803 de 18 de julho de 1989 Altera a redaccedilatildeo da Lei nordm 4771 de
15 de setembro de 1965 e revoga as Leis nordms 6535 de 15 de junho de 1978 e 7511 de 7
de julho de 1986 Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 20 jul 1989
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 15 mar 2012
BRASIL Lei Federal nordm 7827 de 27 de setembro de 1989 Regulamenta o art 159 inciso I
aliacutenea c da Constituiccedilatildeo Federal institui o Fundo Constitucional de Financiamento do
Norte - FNO o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste - FNE e o Fundo
Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste - FCO e daacute outras providecircncias
114
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 27 set 1989 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 13 mai 2013
BRASIL Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada Amazocircnia Legal Brasiacutelia 2011
Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrgt Acesso em 02 jun2013
BRASIL Lei Federal nordm 9443 de 08 de janeiro de 1997 Institui a Poliacutetica Nacional de
Recursos Hiacutedricos cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hiacutedricos
regulamenta o inciso XIX do art 21 da Constituiccedilatildeo Federal e altera o art 1ordm da Lei nordm
8001 de 13 de marccedilo de 1990 que modificou a Lei nordm 7990 de 28 de dezembro de 1989 Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 08 jan 1997 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 05 out 2010
BRASIL Lei Federal nordm 9605 de 12 de fevereiro de 1998 Dispotildee sobre as sanccedilotildees penais e
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 12 fev 1998
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 11959 de 29 de junho de 2009 Dispotildee sobre a Poliacutetica Nacional
de Desenvolvimento Sustentaacutevel da Aquicultura e da Pesca regula as atividades
pesqueiras revoga a Lei nordm 7679 de 23 de novembro de 1988 e dispositivos do Decreto-
Lei nordm 221 de 28 de fevereiro de 1967 e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo Brasiacutelia DF 29 jun 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em
11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 12651 de 25 de maio de 2012 Dispotildee sobre a proteccedilatildeo da
vegetaccedilatildeo nativa altera as Leis nos 6938 de 31 de agosto de 1981 9393 de 19 de
dezembro de 1996 e 11428 de 22 de dezembro de 2006 revoga as Leis nos 4771 de 15
de setembro de 1965 e 7754 de 14 de abril de 1989 e a Medida Provisoacuteria no 2166-67
de 24 de agosto de 2001 e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF
25 mai 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 17 jan 2013
BRASIL Medida Provisoacuteria nordm 1511 de 25 de julho de 1996 Daacute nova redaccedilatildeo ao art 44
da Lei nordm 4771 de 15 de setembro de 1965 e dispotildee sobre a proibiccedilatildeo do incremento da
conversatildeo de aacutereas florestais em aacutereas agriacutecolas na regiatildeo Norte e na parte Norte da
regiatildeo Centro-Oeste e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 26
jul 1996 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Medida Provisoacuteria nordm 2166-67 de 24 de agosto de 2001 Altera os arts 1o 4o 14
16 e 44 e acresce dispositivos agrave Lei no 4771 de 15 de setembro de 1965 que institui o
Coacutedigo Florestal bem como altera o art 10 da Lei no 9393 de 19 de dezembro de 1996
que dispotildee sobre o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 25 ago 2001 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 05 out 2010
BRASIL Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio II Plano Nacional de Reforma Agraacuteria
ndash PNRA 2003 Conferecircncia da Terra em Brasiacutelia Disponiacutevel em lt httpwwwmdagovbrgt Acesso em 23 jul 2013
115
BRASIL Resoluccedilatildeo CONAMA ndeg 5 de 15 de junho de 1989 Dispotildee sobre o Programa
Nacional de Controle da Poluiccedilatildeo do Ar ndash PRONAR Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF
25 ago 1989 Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro
Brasiacutelia 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwasabrasilorgbrgt Acesso em 05 jun 2013
BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Monitoramento do desmatamento nos biomas
brasileiros por sateacutelite Acordo de cooperaccedilatildeo teacutecnica MMAIBAMA Monitoramento do
bioma Caatinga Brasiacutelia 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 16
mar 2012
BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Programa de Accedilatildeo Nacional de Combate agrave
Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca PAN-Brasil Brasiacutelia 2004
Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 07 mai 2012
BRASIL Norma de Execuccedilatildeo INCRA nordm 43 de 28 de junho de 2005 Estabelece criteacuterios e
procedimentos referentes agrave implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de
Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria Boletim de Serviccedilos nordm
27 de 04072005 Disponiacutevel em lthttpwwwincragovbrgt Acesso em 05 abr 2013
BRASIL Norma de Execuccedilatildeo INCRA nordm 44 de 28 de junho de 2005 Estabelece valor
unitaacuterio por famiacutelia referente agrave implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de
Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria
Disponiacutevel em lthttpwwwincragovbrgt Acesso em 05 abr 2013
BRASIL Norma de Execuccedilatildeo INCRA nordm 51 de 24 de julho de 2006 Aprova o Manual para
Elaboraccedilatildeo e Implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos naturais e
seus Anexos Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 26 jul 2006
Disponiacutevel em lthttpwwwincragovbrgt Acesso em 05 abr 2013
BRASIL Resoluccedilatildeo CONAMA ndeg 387 de 27 de dezembro de 2006 Revoga a Resoluccedilatildeo
CONAMA no 28901 Estabelece procedimentos para o licenciamento ambiental de Projetos
de Assentamentos de Reforma Agraacuteria e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo Brasiacutelia DF 29 dez 2006
Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 03 abr 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Lei Estadual nordm 12488 de 13 de setembro de
1995 Dispotildee sobre a Poliacutetica Florestal do Estado do Cearaacute e daacute outras providecircncias Diaacuterio
Oficial do Estado Cearaacute CE 27 set 1995
Disponiacutevel em lthttpwwwalcegovbrgt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Resoluccedilatildeo COEMA ndeg 09 de 29 de maio de
2003 Institui o compromisso de compensaccedilatildeo ambiental por danos causados ao meio
ambiente e pela utilizaccedilatildeo de recursos ambientais Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 09
jun 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwsemacecegovbrgt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Lei Complementar Estadual nordm 48 de 19 de julho
de 2004 Cria o Fundo e o Conselho Estadual Gestor do Meio Ambiente ndash FEMA e daacute
116
outras providecircncias Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 23 jul 2004 Disponiacutevel em
lthttpwwwalcegovbr gt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Decreto Estadual ndeg 27719 de 07 de marccedilo de
2005 Regulamenta a Lei Complementar nordm 48 de 19 de julho de 2004 que cria o Fundo
Estadual do Meio Ambiente ndash FEMA o Conselho Gestor e revoga o Decreto nordm 27564 de
17 de setembro de 2004 Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 07 mar 2005 Disponiacutevel
em lthttpwwwalcegovbr gt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Lei Estadual nordm 14198 de 05 de agosto de 2008
Institui a Poliacutetica Estadual de Combate e Prevenccedilatildeo agrave Desertificaccedilatildeo e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 12 ago 2008 Disponiacutevel em
lthttpwwwalcegovbrgt Acesso em 19 jul 2013
CEARAacute Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute ndash IPECE Cearaacute em
nuacutemeros Fortaleza 2010 Disponiacutevel em httpwwwipececegovbr Acesso em 17 nov
2012
CEARAacute Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute Perfil baacutesico municipal
Irauccediluba Fortaleza 2012 Disponiacutevel em httpwwwipececegovbr Acesso em 21 jul
2013
CEARAacute Secretaria dos Recursos Hiacutedricos Programa de accedilatildeo estadual de combate agrave
desertificaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo dos efeitos da seca PAE-CE Fortaleza Ministeacuterio do Meio
Ambiente Secretaria dos Recursos Hiacutedricos 2010 372p
CRIADO Francisco de Asiacutes Palaacutecios O registro e seus desafios no novo milecircnio ordem
progresso e proteccedilatildeo ambiental Satildeo Paulo Saraiva 2010
DANTAS Eustoacutegio Wanderley Correia et al Cearaacute um novo olhar geograacutefico 2 ed atual
Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha 2007
EMBRAPA Centro Nacional de Pesquisa de Solos (Rio de Janeiro RJ) Sistema brasileiro
de classificaccedilatildeo de solos 2 ed ndash Rio de Janeiro 2006
FILHO Humberto Lima de Lucena Consideraccedilotildees acerca da medida provisoacuteria ndash aspectos
juriacutedicos e praacuteticas governamentais Revista Eletrocircnica Jus Navegandi Ano 2005 mecircs
JULHO Disponiacutevel em ltwwwjuscombrgt Acesso em 02 jun 2013
FOLHES Marcelo Teophilo VIANA Manuel Osoacuterio de Lima Estudo da
degradaccedilatildeodesertificaccedilatildeo em sistemas de produccedilatildeo no semiaacuterido nos estados do Cearaacute
e Piauiacute diagnoacutestico soacutecio-econocircmico do municiacutepio de Irauccediluba Departamento de Economia
Agriacutecola da Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2001
GALDINO Valeacuteria Silva CANDIDO Angeacutelica Giosa Da reserva legal florestal como
limitaccedilatildeo ao direito de propriedade Revista de Ciecircncias Juriacutedicas v 6 n1 237-252 2008
GUERRA Antocircnio Joseacute Teixeira et al Dicionaacuterio de meio ambiente Rio de Janeiro Thex
2009
117
IBGE Censo 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrgt Acesso 3 ago 2013
IBGE Censo 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrgt Acesso 3 ago 2013
IBGE Censo 2011 Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrgt Acesso 3 ago 2013
IRAUCcedilUBA Prefeitura Municipal Lei Municipal nordm 565 de 19 de outubro de 2007 Dispotildee
sobre a Poliacutetica Ambiental do Municiacutepio de Irauccediluba Unidades de Conservaccedilatildeo e daacute
outras providecircncias IrauccedilubaCE 2007
IRAUCcedilUBA Prefeitura Municipal Plano de accedilatildeo municipal de combate a desertificaccedilatildeo
de Irauccediluba (PAM 2009) Irauccediluba CEInstituto Cactos 2009
JACOMINE P K T et al Levantamento exploratoacuterio reconhecimento de solos do Estado
do Cearaacute Recife DPP AgMADNPEA-SUDENEDRN 1973 2 v (Boletim de Pesquisa n
28)
LUSTOSA Jacqueline Pires Gonccedilalves Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica micromorfoloacutegica e
mineraloacutegica de trecircs topossequumlecircncias no Municiacutepio de Irauccediluba e suas relaccedilotildees com os
processos de desertificaccedilatildeo 142f 2004 Tese de doutorado em Geociecircncias Instituto de
Geociecircncias e Ciecircncias Exatas da Universidade Estadual Paulista Rio ClaroSP 2004
MAIA Gerda Nickel Caatinga aacutervores e arbustos e suas utilidades 2 ed Fortaleza
Printcolor Graacutefica e Editora 2012
MAGNANINI Alceo A histoacuteria da Lei Federal ndeg 47711965 (ldquoCoacutedigordquo florestal
brasileiro) Disponiacutevel em lthttpwwwportaldomeioambienteorgbrgt Acesso em lt20 dez
2010gt
MATALLO JR Heitor A desertificaccedilatildeo no mundo e no Brasil In SCHENKEL Celso
Salatino MATALLO JR Heitor Desertificaccedilatildeo Brasiacutelia UNESCO 1999
MEIRELES Hely Lopes Direito administrativo brasileiro 29 ed Satildeo Paulo Malheiros
2004
MELO Ewerton Torres Diagnoacutestico fiacutesico conservacionista da microbacia do riacho dos
cavalos - Crateuacutes-Cearaacute 128f 2008 Dissertaccedilatildeo de mestrado do Programa Regional de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) da Universidade
Federal do Cearaacute FortalezaCE 2008
MELO Marcelo Augusto Santana O meio ambiente e o registro de imoacuteveis Satildeo Paulo
Saraiva 2010
METZGER Jean Paul Bases bioloacutegicas para a bdquoreserva legal‟ Revista Ciecircncia Hoje v 31
n 183 p 48-49 2002
MILAREacute Eacutedis Direito do ambiente e a gestatildeo ambiental em foco doutrina
jurisprudecircncia glossaacuterio 6ed rev atual e ampl Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais
2009
118
MIRANDA Joatildeo Paulo Rocha de Aquecimento global queimadas e reserva legal no
Direito Paacutetrio conflitos e desafios na Amazocircnia brasileira MT Amazoon Manaus 2008
MONDIN Basttista Introduccedilatildeo agrave filosofia problemas sistemas autores obras 15 ed Satildeo
Paulo Paulus 2004 p 117
MONTEIRO Washington de Barros Curso de direito civil parte geral 4 ed Satildeo Paulo
Saraiva 1992
MORAES Luis Carlos Silva de Coacutedigo florestal comentado Satildeo Paulo Atlas 2002
NOLETO Tania Maria Serra de Jesus Suscetibilidade geoambietal das terras secas da
microrregiatildeo de SobralCe agrave desertificaccedilatildeo 145f 2005 Dissertaccedilatildeo de mestrado do
Programa Regional de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA)
da Universidade Federal do Cearaacute FortalezaCE 2005
ODUM Eugene P BARRET Gary W Fundamentos da ecologia Satildeo Paulo Cengage
Learning 2008
PINHEIRO Renata Aline Bezerra Anaacutelise do processo de degradaccedilatildeodesertificaccedilatildeo na
bacia do riacho feiticeiro com base no DFC municiacutepio de Jaguaribe-Cearaacute 129f 2011
Dissertaccedilatildeo de mestrado do Programa Regional de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e
Meio Ambiente (PRODEMA) da Universidade Federal do Cearaacute FortalezaCE 2011
SALES Marta Celina Linhares Evoluccedilatildeo dos estudos de desertificaccedilatildeo no nordeste
brasileiro Revista GEOUSP Espaccedilo e TempoSatildep Paulo n11 p 115-126 2002
SCHAFFER Wigold B MEDEIROS Joatildeo de Deus Normas ambientais gerais de caraacuteter
nacional imprescindiacuteveis para as poliacuteticas estrateacutegicas do paiacutes Ano 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwapremaviorgbrgt Acesso em 20 set 2010
SILVA Benedita Aparecida de Poliacutetica florestal reserva legal extra propriedade Revista
Economia Anaacutelises e Perspectivas Socioeconocircmicas v 3 n7 p 59-60 2001
SORENSEN Thorvald Julius A Method of establishing groups of equal amplitude in
plant sociology based on similarity of species content and its application to analyses of
the vegetation on danish commons Koslashbenhavn I kommission hos E Munksgaard 1948
SUDENE Dados pluviomeacutetricos mensais do nordeste estado do Cearaacute Recife 1990
THORNTHWAITE Charles Warren MATHER John Russell The Water Balance
Publications in climatology New Jersey v3 n1 1955
TRENNEPOHL Curt As sanccedilotildees administrativas aplicaacuteveis pela falta de averbaccedilatildeo da
reserva legal Constitucionalidade e legalidade do art 55 do Decreto ndeg 651408 Foacuterum de
Direito Urbano e Ambiental v 8 n44 p 09-14 2009
119
AGRADECIMENTOS
A Deus que eacute Quem me permitiu ser aprovada estar e concluir esse curso tatildeo importante Ele
que em mim gerou todas as forccedilas necessaacuterias para continuar e natildeo desistir dando-me a
condiccedilatildeo de chegar ateacute o fim com louvor
Ao Professor Dr Joseacute Gerardo Beserra de Oliveira pela orientaccedilatildeo pela paciecircncia pelo
carinho e apoio desprendidos para a realizaccedilatildeo deste trabalho Por seus conhecimentos na
aacuterea pois sem eles natildeo poderia ter me levado a enriquecer tanto este trabalho
Agrave CAPES que me ajudou financeiramente
Agrave minha famiacutelia em especial minha matildee que sempre procurou saber como estava a minha
pesquisa dando-me aquele apoio nato de matildee
A Pedro Saraiva meu amor grande amor que sempre me apoiou e acreditou no meu talento
na minha competecircncia e vitoacuteria
Aos servidores do INCRA muito soliacutecitos e atenciosos com a minha pesquisa dentre eles sr
Raimundo Martins da Divisatildeo de Ordenamento da Estrutura Fundiaacuteria Joseacute Jaime D‟Alencar
Juacutenior do Serviccedilo de Cartografia Odilo Neto Luna Coelho e Joseacute Salmito de Almeida Juacutenior
ambos da Divisatildeo de Obtenccedilatildeo de Terras ndash setor de Serviccedilo ao Meio Ambiente
Agrave Dra Claacuteudia Regina Nogueira titular do Cartoacuterio de Registro de Imoacuteveis de Irauccediluba por
sua disponibilidade e por permitir o acesso aos livros cartoraacuterios onde encontrei dados tatildeo
importantes para o trabalho
Ao IDACE atraveacutes dos servidores Dr Paulo Henrique Lobo diretor teacutecnico de operaccedilotildees
Dr Ricardo Durval superintendente do oacutergatildeo Linardy Barreto de Holanda Priscila Azevedo
de Aguiar ambos do Nuacutecleo de Geoprocessamento (NUGEO) Nadir Loiola Dias e Florence
Mary Cavalcante Mouratildeo Lobo ambas da Diretoria Teacutecnica e de Operaccedilotildees (DTO) Todos
eles me ajudaram de forma a tornar possiacutevel parte desta pesquisa pelo que sou imensamente
grata
Perguntei-me inuacutemeras vezes se deveria prosseguir A resposta me era
dada quando olhava para traacutes e via meu passado cheio de grandes
vitoacuterias e conquistas pela matildeo de Deus e pelo meu esforccedilo Entatildeo
decidi que natildeo seria agora que natildeo chegaria ateacute o fim mesmo que o
que me impulsionou para esse desafio jaacute natildeo tem mais a mesma
intensidade Aqui estou eu fazendo desse momento mais uma
imensuraacutevel vitoacuteria por Aquele que um dia me deu essa oportunidade
A Ele toda honra e toda gloacuteria
A autora
RESUMO
A degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio de Irauccediluba eacute alvo de vaacuterias pesquisas pois eacute um
problema onde as causas estatildeo presentes natildeo soacute ali mas em grande parte do semiaacuterido
nordestino no entanto ao se tratar deste assunto logo vem agrave tona outra questatildeo mais seacuteria o
processo de desertificaccedilatildeo O presente trabalho faz uma raacutepida abordagem do semiaacuterido
dando especial evidecircncia agravequele municiacutepio englobando a origem da degradaccedilatildeo a atual
situaccedilatildeo local e possiacuteveis formas para minimizar ou ateacute mesmo estagnar aquele problema
ambiental O objetivo geral foi levantar o nuacutemero de propriedades rurais no municiacutepio
elegendo em sua maioria os projetos de assentamento rural e verificar se possuiacuteam ou natildeo
uma aacuterea especialmente protegida denominada reserva legal A escolha desse instituto como
indicador se deu por ser ele um instrumento criado por lei e que por sua vez impele todo e
qualquer proprietaacuterio ou possuidor rural a manter uma parcela miacutenima de 20 do seu imoacutevel
preservado como aacuterea de Reserva Legal Sua efetividade como instrumento de preservaccedilatildeo
foi analisada em 6 propriedades a partir de imagens do sateacutelite LANDSAT 5 com base nos
anos de 1993 e 2007 e atraveacutes da anaacutelise do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada
(NDVI) foi realizado um estudo comparativo para verificar se houve evoluccedilatildeo ou natildeo do
quadro vegetativo dentro e fora das aacutereas de reserva legal Na identificaccedilatildeo dos imoacuteveis
estudados soacute foram encontrados seis com reserva legal oficialmente implantada ateacute o ano de
2007 data mais recente da imagem de sateacutelite empregada A anaacutelise comparativa realizada
com esses imoacuteveis que tecircm algum tipo de registro no Cartoacuterio de Imoacuteveis eou no INCRA
dentre os 713 medidos e georreferenciados pelo IDACE e que por sua vez foi conduzida com
uso do NDVI natildeo indicou diferenccedila significativa entre os iacutendices encontrados para a
cobertura vegetal dentro e fora das aacutereas de Reserva Legal
Palavras-chave Degradaccedilatildeo Ambiental Coacutedigo Florestal Reserva Legal IrauccedilubaCE
ABSTRACT
The environmental degradation in the municipality of Irauccediluba is the target of several studies
because it is an issue where the causes are present in much of the northeastern semiarid
However when dealing with this subject soon comes to attention another issue which is more
serious and that arises from the ongoing degradation the process of desertification The
present paper analyzes briefly the cearense semiarid giving special emphasis to that
municipality so that the origin of the degradation the current local situation and even
possible ways to minimize or even stagnate that environmental problem were all the target of
this research The overall goal was to enumerate the number of farms among them those that
either have a specially protected area called legal reserve or those that does not The choice
of this statistic as an indicator was due to the fact that it is a legal instrument which in turns
compels all and any owner of land or rural possessor to maintain 20 of their property
preserved as a Legal Reserve area Its effectiveness as a tool for preservation was analyzed in
6 properties with the help of satellite images from LANDSAT 5 taken between the years
1993 and 2007 and by examining the Normalized Difference Vegetation Index (NDVI) a
comparative study was conducted to determine whether there was a growth or not of the
vegetative area inside and outside the legal reserves During the identification of the
properties to be studied only six were found to have a legal reserve officially implemented by
the year 2007 the most recent date of the satellite images used A comparative analysis with
those lands that have some kind of record in the Registry of Property andor INCRA among
the 713 measured and georeferenced by IDACE and that in turn used the NDVI as a
guideline indicated no significant difference on the index either inside or outside the Legal
Reserves areas
Key-Words Environmental degradation Forest code Legal reserve IrauccedilubaCE
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 27
Figura 2 Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 (Novo Coacutedigo
Florestal)
27
Figura 3 Sistema de degradaccedilatildeo do meio ambiente 47
Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro 53
Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute 54
Figura 6 Iacutendice de aridez (UNEP) 56
Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo no Cearaacute 57
Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo 57
Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no ISSD 59
Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no IESD 60
Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios 61
Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute 79
Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba 79
Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo 81
Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras permanentes 85
Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras temporaacuterias 85
Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem
vegetal (tonano)
86
Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem
vegetal (m3ano)
86
Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011) 87
Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001 88
Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010 88
Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011 89
Figura 23 Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos 90
Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba 91
Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba 92
Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba 94
Figura 27 Grupo de solos que formam as associaccedilotildees pedoloacutegicas em
Irauccediluba
95
Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba 96
Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba 97
Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual 97
Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba 98
Figura 32 Iacutendice de umidade em Irauccediluba 98
Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba 100
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Medidas Provisoacuterias 21
Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras 48
Tabela 3 Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez (UNEP) 52
Tabela 4 Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo 55
Tabela 5 Levantamento de imoacuteveis com reserva legal (cartoacuterio de
registro de imoacuteveis)
73
Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais 76
Tabela 7 Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba 77
Tabela 8 Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de
anaacutelise
80
Tabela 9 Dados da propriedade particular estudada 80
Tabela 10 Propriedades estudadas 81
Tabela 11 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem
animal
87
Tabela 12 Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores 90
Tabela 13 Relaccedilatildeo entre solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo 93
Tabela 14 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEmbrapa 93
Tabela 15 Anaacutelise geral das propriedades estudadas 101
Tabela 16 NDVI dos imoacuteveis estudados 107
Tabela 17 Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal entre dentro e fora da aacuterea
de reserva legal pelo meacutetodo Sorensen
108
SUMAacuteRIO
Lista de Figuras vii
Lista de Tabelas ix
Resumo v
Abstract vi
INTRODUCcedilAtildeO 12
1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 14
11 O Instituto da Reserva Legal 14
111 Conceito 15
112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica 17
113 Importacircncia da Reserva Legal 30
1131 Juriacutedica 31
1132 Social 32
1133 Ambiental 33
1134 Econocircmica 35
114 Direito de Propriedade X Reserva Legal 36
1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa 41
1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal 42
2 PROCESSO DE DEGRADACcedilAtildeO 45
21 Conceito 45
22 Degradaccedilatildeo ambiental 48
221 Erosatildeo 49
222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica 49
223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica 50
23 A degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 51
231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia 52
24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental 62
25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira 65
251 Lei ambiental de Irauccediluba 69
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 71
31 Reserva Legal em Irauccediluba 71
311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental ndash Projeto de
Assentamento Agraacuterio em foco
73
32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo 78
321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba 78
3211 Das propriedades estudadas 79
3212 Aspectos histoacutericos de ocupaccedilatildeo 82
322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas 82
323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba 91
3231 Altimetria e Classes de relevo 91
3232 Solos 92
3233 Clima 95
3234 Vegetaccedilatildeo 99
3235 Recursos Hiacutedricos 100
324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo 101
33 Metodologia 104
331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite 104
4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES 107
41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 107
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 110
REFEREcircNCIAS 113
INTRODUCcedilAtildeO
A degradaccedilatildeo como um problema ambiental jaacute foi alvo de inuacutemeras pesquisas
principalmente quando se trata do semiaacuterido brasileiro Estudos nesse sentido datam da
deacutecada de 70 eacutepoca em que o professor Vasconcelos Sobrinho passou a pesquisar o processo
de desertificaccedilatildeo no nordeste do Brasil (SALES 2002) Nas investigaccedilotildees ele identificou um
nuacutecleo no Cearaacute que se localiza em Irauccediluba Em assim sendo buscou-se desenvolver um
trabalho naquele municiacutepio tomando por base um mecanismo criado por lei cujo caraacuteter eacute a
conservaccedilatildeo do meio ambiente Trata-se da reserva legal Como nessa aacuterea natildeo haacute pesquisa
envolvendo a aplicabilidade do tal instituto viu-se a oportunidade de estudaacute-la produzindo-se
o presente trabalho
A proposta principal da pesquisa eacute fazer um levantamento dos imoacuteveis existentes
no municiacutepio de Irauccediluba pontuando de forma preponderante os de propriedade federal e
estadual destinados aos assentamentos rurais e assim identificar nessas aacutereas a existecircncia ou
natildeo do instituto da reserva legal e sua devida implantaccedilatildeo Nesse sentido encontrou-se 6
propriedades que possuiacuteam a reserva legal sendo 5 puacuteblicas e 1 privada Empoacutes o segundo
intuito envolve a diferenciaccedilatildeo entre a cobertura vegetal da reserva e do restante da
propriedade a partir da utilizaccedilatildeo de imagens de sateacutelite e o uso do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por
Diferenccedila Normalizada (NDVI)
Para isso foi necessaacuterio fazer um apanhado de como esse instrumento de
conservaccedilatildeo foi e eacute abordado no Coacutedigo Florestal que eacute a lei onde haacute previsatildeo da reserva
legal bem como traccedilar um histoacuterico de como se deu sua evoluccedilatildeo dentro do quadro
legislativo no paiacutes foi igualmente essencial Da mesma maneira buscou-se contextualizar a
importacircncia da reserva legal nos aspectos econocircmico juriacutedico social e ambiental de forma
que ficou ilustrado o valor que esse mecanismo tem para a sociedade As discussotildees de cunho
juriacutedico e praacutetico sobre o assunto foram levantadas pois o proprietaacuterio do imoacutevel vecirc a reserva
legal como ocircnus e natildeo como um instrumento de conservaccedilatildeo que traraacute imensuraacuteveis
benefiacutecios ambientais dentro de sua proacutepria aacuterea Encerrando o primeiro capiacutetulo tecircm-se as
formas de cumprir o mandamento legal que envolvem a reserva muito embora isto tenha
sofrido algumas alteraccedilotildees como se veraacute a seguir
Quanto agrave reserva legal em Irauccediluba as constataccedilotildees natildeo satildeo animadoras
Infelizmente haacute um desencontro de informaccedilotildees a comeccedilar pelo controle do nuacutemero de
imoacuteveis existentes no municiacutepio Em seguida soacute foram encontrados trecircs imoacuteveis com a
obrigaccedilatildeo devidamente formalizada em cartoacuterio Isso diante de um universo de mais de 700
propriedades eacute frustrante e desencorajador Outra abordagem feita neste toacutepico aponta o
licenciamento ambiental como mais um instrumento possibilitador da instalaccedilatildeo da reserva
legal pois o oacutergatildeo ambiental tem dever de exigir o tal instituto para licenciar atividades e
empreendimentos localizados em zona rural
Igualmente desalentadora eacute a degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio Por se tratar de
uma aacuterea com caracteriacutesticas naturalmente adversas e limitantes sua ingerecircncia deveria ser
profundamente fiscalizada e regulamentada pelas autoridades competentes em todos os niacuteveis
de governo Mas isso natildeo ocorre pelo contraacuterio em Irauccediluba satildeo exercidas atividades com
meacutetodos bem rudimentares e sem qualquer preocupaccedilatildeo com a recuperaccedilatildeo dos danos e com a
capacidade de suporte do meio Assim acontece a degradaccedilatildeo das aacutereas com a praacutetica do
desmatamento das queimadas do sobrepastoreio e outros tipos de intervenccedilatildeo
ambientalmente prejudiciais Diante desse quadro o homem do campo tende a abandonar
estas e ocupar outras terras estimulando ainda mais o processo de desertificaccedilatildeo ali presente
Outro toacutepico em que se chama atenccedilatildeo no trabalho eacute a quantidade de leis
envolvendo o tema Natildeo faltam regulamentaccedilotildees muito pelo contraacuterio sobram O que se
percebe eacute a existecircncia de leis para vaacuterios assuntos em vez de uma que englobe a maioria
deles Com lei ou sem lei a situaccedilatildeo parece natildeo progredir positivamente em termos de
recuperaccedilatildeo ambiental embora haja uma estrutura poliacutetica econocircmica e juriacutedica dirigida para
tais fins Aleacutem disto existem poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o municiacutepio especificamente e
outras que natildeo mas podem ser implementadas ali Eacute o caso dos benefiacutecios dos inuacutemeros
programas de governo direcionados para a reforma agraacuteria por exemplo Outro caso satildeo os
fundos de combate agrave degradaccedilatildeo e agrave desertificaccedilatildeo Nesta orientaccedilatildeo percebe-se que natildeo
faltam leis poliacuteticas puacuteblicas ou recursos Felizmente existe todo um aparato no sentido de
melhorar as condiccedilotildees ambientais e minimizar danos mas infelizmente na praacutetica essa
estrutura natildeo voga como deveria
Todo esse cenaacuterio estaacute enquadrado na caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo
devidamente abordada no terceiro capiacutetulo Laacute satildeo mencionados os aspectos socioeconocircmicos
do municiacutepio perpassando pelos acontecimentos histoacutericos de sua ocupaccedilatildeo As
caracteriacutesticas fisiograacuteficas de Irauccediluba tambeacutem se fazem presentes de maneira que foram
abordados aspectos pedoloacutegicos climaacuteticos vegetativos e hiacutedricos Aleacutem disto a metodologia
utilizada permitiu as constataccedilotildees discorridas nos resultados e discussotildees inseridas no
capiacutetulo 4 de forma que os objetivos da pesquisa foram alcanccedilados
13
1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
11 O Instituto da Reserva Legal
A reserva legal eacute um instituto cuja importacircncia perfaz o esteio do
desenvolvimento sustentaacutevel no sentido de que harmoniza a viabilidade econocircmica com a
justiccedila social e o equiliacutebrio ecoloacutegico Eacute um notaacutevel exemplo de que eacute possiacutevel coexistirem
interesses particulares e coletivos pois a reserva legal nada mais eacute que a conservaccedilatildeo
ambiental de uma determinada porcentagem da propriedade ou posse rural passiacutevel de
intervenccedilatildeo pelo homem do campo
O presente estudo indica a reserva legal como uma forma de conservaccedilatildeo do
meio em face da extraccedilatildeo vegetal promovida pelo proprietaacuterio agriacutecola Foca ainda os
aspectos social econocircmico e ambiental dessa imposiccedilatildeo que tem seu nascedouro na legislaccedilatildeo
vigente Corrobora Silva (2001 p 59) ao afirmar que ldquoa cobertura vegetal nativa sobretudo
as florestais exerce papel de fundamental importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de
ecossistemas naturais bem como de ecossistemas criados pelo homemrdquo No mesmo sentido
Miranda (2008 p 31) diz que ldquoa reserva legal contribui para a mitigaccedilatildeo do aquecimento
global salvaguarda a biodiversidade e garante agraves presentes e futuras geraccedilotildees o direito a um
meio ambiente ecologicamente equilibradordquo
Traz-se agrave tona os aspectos que fundamentam a reserva legal como um instituto
que fora criado por lei especiacutefica para a conservaccedilatildeo do meio pois erroneamente os
proprietaacuterios rurais a veem como limitaccedilatildeo ao direito de propriedade e entendem que destinar
uma porcentagem de seus imoacuteveis para uma aacuterea que natildeo corresponde agrave afericcedilatildeo de lucro eacute
tatildeo somente um ocircnus eou uma perda e natildeo um investimento Nesse sentido explicam
Galdino e Candido (2008 p 251) que ldquoa instituiccedilatildeo da reserva legal natildeo enfraquece ou destroacutei
o direito de propriedade Ao reveacutes possibilita a existecircncia de um meio ambiente
ecologicamente equilibrado condicionando a propriedade a uma funccedilatildeo socioambientalrdquo
Conforme Bacha (2005 p 24) ldquodeve-se pensar em novas formas de estiacutemulo
econocircmico ao produtor para que ele recomponha a reserva legal pois a legislaccedilatildeo atual
apenas lhe coloca custos em contrapartida de benefiacutecios a toda sociedaderdquo Cabe ainda
mencionar a possibilidade prevista no Coacutedigo Florestal ou seja na Lei 4771 (BRASIL
1965) quanto agrave intervenccedilatildeo na aacuterea destinada agrave reserva legal de forma sustentaacutevel sem
suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo
econocircmica dessas aacutereas
Existem estudos justificando biologicamente a existecircncia da reserva legal Eacute sobre
o que discorre Metzger (2002 p 48) quando afirma que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de
propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa satildeo
fundamentais para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada
regiatildeordquo Complementa ainda Silva (2001 p 59) quando afirma sobre ldquoa importacircncia da
cobertura vegetal em reserva legal que permite uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da
aacutegua no solo e no subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos aleacutem de
promover a manutenccedilatildeo da diversidade geneacuteticardquo
Ademais o exerciacutecio de atividades econocircmicas que tem por principal insumo os
recursos naturais modifica sensivelmente a cobertura vegetal e o solo contribuindo para um
processo de degradaccedilatildeo Para tanto o respeito agrave legislaccedilatildeo ambiental vigente como o Coacutedigo
Florestal por exemplo eacute de extrema relevacircncia uma vez que eacute norma conducente agrave
conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo das formas de vegetaccedilatildeo e suas respectivas ingerecircncias Tal lei
prevecirc a reserva legal como espaccedilo especialmente protegido
Balizando tal atividade econocircmica frente agrave observacircncia da reserva legal surge a
proposiccedilatildeo elencada por Bacha (2005 p 24) que ldquopara o produtor rural honrar tal instituto
tendo-o como lucrativo eacute necessaacuterio que sua composiccedilatildeo floriacutestica seja feita em parte com
espeacutecies comerciaisrdquo Eacute o que Miranda (2008 p 45) sob o aspecto socioeconocircmico bem
pontua quando evidencia que esta legislaccedilatildeo carece de aderecircncia social pois natildeo condiz com
a realidade e que enfatiza ainda
Para que haja aderecircncia social ela deveria prever uma reestruturaccedilatildeo completa no
modelo de desenvolvimento Sem isso tanto os pequenos como os grandes
proprietaacuterios natildeo possuiratildeo condiccedilotildees para cumprir a lei e uma vez na ilegalidade
cometem outros crimes ambientais E por entenderem que a lei natildeo eacute factiacutevel natildeo a
cumprem [] Aleacutem disso as linhas de creacutedito inclusive dos bancos oficiais natildeo
financiam atividades sustentaacuteveis mas a pecuaacuteria o plantio de soja entre outras por
acreditarem possuir nelas uma seguranccedila maior para o investimento (MIRANDA
2008 p 45)
111 Conceito
A reserva legal eacute um mecanismo criado para a conservaccedilatildeo dos recursos naturais
cuja origem eacute a lei Sua essecircncia sempre esteve presente em normas de caraacuteter protecionista
que dispunham sobre florestas e demais formas de vegetaccedilatildeo muito embora tenham ocorrido
inuacutemeras alteraccedilotildees ao longo do tempo Eacute o que se pode observar pela evoluccedilatildeo legislativa
que a seguir seraacute apontada
15
A expressatildeo reserva legal pode ser simploriamente entendida como uma aacuterea a ser
conservada por um detentor de imoacutevel rural e que por sua vez varia com a localidade do
bioma em que a aacuterea estaacute inserida A lei que versa sobre esse tema eacute conhecida como Coacutedigo
Florestal e com esse nome existiu em trecircs momentos diferentes da histoacuteria do legislativo
brasileiro O primeiro foi no ano de 1934 o segundo em 1965 e por uacuteltimo em 2012 estando
presente em todos eles uma seacuterie de modificaccedilotildees que levaram ao aperfeiccediloamento do
conteuacutedo e dos objetivos da reserva legal bem como flexibilizaccedilotildees e restriccedilotildees a depender
do momento econocircmico em que o paiacutes vivia eou dos interesses da maioria de parlamentares agrave
eacutepoca
Atualmente a Lei 12651 de 25052012 ou como eacute conhecida por Novo Coacutedigo
Florestal atraveacutes de seu artigo 3ordm inciso III prevecirc o conceito de reserva legal da seguinte
forma
III ndash Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural
delimitada nos termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de
modo sustentaacutevel dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a
reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade
bem como o abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012
p 3) (BRASIL 2012)
Jaacute a previsatildeo elencada nos Coacutedigos anteriores de 1934 e 1965 dispotildee
Coacutedigo Florestal de 1934 - Decreto 23793
Art 23 - Nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas poderaacute abater mais de trecircs
quartas partes da vegetaccedilatildeo existente []
sect 1ordm O dispositivo do artigo natildeo se applica a juizo das autoridades florestaes
competentes agraves pequenas propriedades isoladas que estejam proximas de florestas
ou situadas em zona urbana
sect 2ordm Antes de iniciar a derrubada com a antecedencia minima de 30 dias o
proprietario daraacute sciencia de sua intenccedilatildeo aacute autoridade competente afim de que esta
determine a parte das mattas que seraacute conservada (BRASIL 1935 p 5)
Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771
Art 1ordm sect 2ordm inciso III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma
propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao
uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos
ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora
nativas (BRASIL 1965 p 2)
Percebe-se que na lei de 1934 se quer haacute menccedilatildeo ao termo reserva legal mas se
vecirc claramente a intenccedilatildeo conservacionista do legislador e se ressalte que eacute uma visatildeo bem
mais proacute-ambiente uma vez que proiacutebe o desmatamento acima de frac34 da propriedade
protegendo assim 25 de sua aacuterea Embora o Coacutedigo Florestal de 1934 natildeo preveja
16
explicitamente a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo em determinada aacuterea com o nome de reserva legal o
artigo 23 do diploma citado acima estaacute notoriamente revestido de um caraacuteter conservacionista
e quem natildeo o cumprisse estaria enquadrado no paraacutegrafo 4ordm do artigo 86 do Capitulo V ndash
Infracccedilotildees florestaes
Art 86 As contravenccedilotildees previstas nos arts 9ordm sect 1ordm 21 22 e sect 1ordm 23 e paragrapho
unico 24 a 30 31 a 34 37 43 a 45 49 e paragrapho unico 51 54 e paragrapho
unico 55 e 64 deste codigo quando natildeo se caracterizarem especialmente algumas
figuras delictuosas definidas no art 83 ou no art 87 sujeitas seus autores aacutes penas
seguintes
[]
sect 4ordm pelas das letras g h do art 22 e arts 23 e 44 - detenccedilatildeo ateacute 60 dias e multa ateacute
10000$000 (BRASIL 1935 p 14)
Em contrapartida um pouco mais aperfeiccediloado embora um tanto quanto tarde o
instituto da reserva legal aparece bem definido somente em 2001 quando a Medida Provisoacuteria
nordm 2166-6 (BRASIL 2001) acrescentou ao texto da Lei 4771 (BRASIL 1965) o seu conceito
da forma como eacute mais conhecido ultimamente apesar de natildeo se limitar soacute a esta modificaccedilatildeo
Como tantas outras leis o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) sofreu diversas
alteraccedilotildees ao longo de sua vigecircncia que durou ateacute 25 de maio de 2012 data em que a Lei
12651 (BRASIL 2012) entra em vigor revoga a anterior e estabelece o novo Coacutedigo
Florestal
Como a temaacutetica deste trabalho eacute discorrer sobre a existecircncia da reserva legal a
partir de um levantamento nas propriedades rurais seratildeo tratadas tatildeo somente as
modificaccedilotildees que dizem respeito a este instituto
112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica
O protecionismo florestal como ligeiramente mencionado anteriormente foi
delineado em um preceito normativo datado da deacutecada de 30 quando surgiu o primeiro
diploma legal a prever a conservaccedilatildeo relativa agrave manutenccedilatildeo das matas Eacute atraveacutes do Decreto
ndeg 23793 de 23 de janeiro de 1934 (BRASIL 1935) que a vegetaccedilatildeo recebe amparo e passa a
ser resguardada da supressatildeo indiscriminada Surge entatildeo o primeiro Coacutedigo Florestal
Brasileiro que em seu artigo 23 descreve que nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas
poderaacute abater mais de trecircs quartas partes da vegetaccedilatildeo existente
17
Eacute interessante observar que a delimitaccedilatildeo imposta pela norma corresponde a vinte
e cinco por cento da propriedade ou seja um grande desafio para a sociedade da eacutepoca que
era tradicionalmente agriacutecola e despontava para a industrializaccedilatildeo
Para melhor apreciar as preocupaccedilotildees que justificaram a ediccedilatildeo do Coacutedigo Florestal
de 1934 haacute que se entender a realidade soacutecio-econocircmica e poliacutetica da sociedade
brasileira no iniacutecio do seacuteculo XX A populaccedilatildeo estava concentrada proacuteximo agrave
Capital da Repuacuteblica cidade do Rio de Janeiro Estado da Guanabara A cafeicultura
avanccedilava pelos morros que constituem a topografia do Vale do Paraiacuteba substituindo
toda a vegetaccedilatildeo nativa A criaccedilatildeo de gado outra forma de utilizaccedilatildeo das terras
fazia-se de modo extensivo e com miacutenima teacutecnica Na silvicultura que jaacute se iniciara
tiacutemida nos primeiros anos do seacuteculo XX verificava-se o trabalho valioso e pioneiro
de Edmundo Navarro de Andrade com a introduccedilatildeo de espeacutecies de Eucalyptus mas
restrito agraves atividades da Cia Paulista de Estradas de Ferro no Estado de Satildeo Paulo
No resto do Paiacutes assim como antes no Estado de Satildeo Paulo a atividade florestal era
fundamentada no mais puro extrativismo Nos Estados do Paranaacute e Santa Catarina
os estoques de Araucaria angustifolia eram rapidamente exauridos Foi nesse cenaacuterio
que o Poder Puacuteblico decidiu interceder estabelecendo limites ao que parecia ser um
saque ou pilhagem dos recursos florestais (muito embora ateacute entatildeo tais praacuteticas
fossem liacutecitas) A mencionada ldquointervenccedilatildeordquo necessaacuteria materializou-se por meio
da ediccedilatildeo de um (primeiro) Coacutedigo Florestal o de 1934 (AHRENS 2001 p 6)
Diferentemente do Decreto de 1934 (BRASIL 1935) ao ser publicada em 15 de
setembro a Lei 4771 (BRASIL 1965) ou seja o Coacutedigo Florestal de 1965 trouxe em seu
artigo 16 a ideia do que seria a reserva legal Criou-se entatildeo um limite miacutenimo a ser
respeitado dentro de cada propriedade muito embora soacute mencione uma porcentagem definida
para aacutereas localizadas no Leste Sul e Centro-Oeste do paiacutes deixando de fora as demais
regiotildees
Art 16 As florestas de domiacutenio privado natildeo sujeitas ao regime de utilizaccedilatildeo
limitada e ressalvadas as de preservaccedilatildeo permanente previstas nos artigos 2deg e 3deg
desta lei satildeo suscetiacuteveis de exploraccedilatildeo obedecidas as seguintes restriccedilotildees
a) nas regiotildees Leste Meridional Sul e Centro-Oeste esta na parte sul as derrubadas
de florestas nativas primitivas ou regeneradas soacute seratildeo permitidas desde que seja
em qualquer caso respeitado o limite miacutenimo de 20 da aacuterea de cada
propriedade com cobertura arboacuterea localizada a criteacuterio da autoridade competente
b) nas regiotildees citadas na letra anterior nas aacutereas jaacute desbravadas e previamente
delimitadas pela autoridade competente ficam proibidas as derrubadas de florestas
primitivas quando feitas para ocupaccedilatildeo do solo com cultura e pastagens
permitindo-se nesses casos apenas a extraccedilatildeo de aacutervores para produccedilatildeo de madeira
Nas aacutereas ainda incultas sujeitas a formas de desbravamento as derrubadas de
florestas primitivas nos trabalhos de instalaccedilatildeo de novas propriedades agriacutecolas soacute
seratildeo toleradas ateacute o maacuteximo de 30 da aacuterea da propriedade
c) na regiatildeo Sul as aacutereas atualmente revestidas de formaccedilotildees florestais em que
ocorre o pinheiro brasileiro Araucaria angustifolia (Bert - O Ktze) natildeo poderatildeo
ser desflorestadas de forma a provocar a eliminaccedilatildeo permanente das florestas
tolerando-se somente a exploraccedilatildeo racional destas observadas as prescriccedilotildees
ditadas pela teacutecnica com a garantia de permanecircncia dos maciccedilos em boas condiccedilotildees
de desenvolvimento e produccedilatildeo
18
d) nas regiotildees Nordeste e Leste Setentrional inclusive nos Estados do Maranhatildeo e
Piauiacute o corte de aacutervores e a exploraccedilatildeo de florestas soacute seraacute permitida com
observacircncia de normas teacutecnicas a serem estabelecidas por ato do Poder Puacuteblico na
forma do art 15 sect 1ordm Nas propriedades rurais compreendidas na aliacutenea a deste artigo com aacuterea entre
vinte (20) a cinquumlenta (50) hectares computar-se-atildeo para efeito de fixaccedilatildeo do limite
percentual aleacutem da cobertura florestal de qualquer natureza os maciccedilos de porte
arboacutereo sejam frutiacutecolas ornamentais ou industriais (BRASIL 1965 p 6-7)
Honestamente natildeo se sabe o motivo pelo qual o legislador neste momento inicial
da lei natildeo se deteve agraves minuacutecias quanto agraves regiotildees Nordeste Oeste e Sudeste como o fez para
as outras ou porque sequer definiu percentuais de vegetaccedilatildeo a ser preservadas nelas Aleacutem
disto simplesmente deixar a cargo de ato do Poder Puacuteblico a exploraccedilatildeo de florestas e o corte
de aacutervores no Nordeste eacute no miacutenimo curioso principalmente porque nessa regiatildeo encontra-se
o bioma Caatinga que eacute iacutempar e inexiste em qualquer outra parte do mundo Corrobora com
isto o Monitoramento do Desmatamento nos Biomas Brasileiros por Sateacutelite MMA e IBAMA
ao expor que mesmo sendo a uacutenica grande regiatildeo natural brasileira cujos limites estatildeo
inteiramente restritos ao territoacuterio nacional pouca atenccedilatildeo tem sido dada agrave conservaccedilatildeo da
heterogecircnea paisagem da Caatinga (BRASIL 2010)
Aleacutem disto as colocaccedilotildees do artigo 44 surpreendem quando especializam o tipo
de corte permitido e enquadram 50 da propriedade como reserva legal para o Norte do paiacutes
e o norte da regiatildeo Centro-Oeste como se pode observar
Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste enquanto natildeo for
estabelecido o decreto de que trata o artigo 15 a exploraccedilatildeo a corte razo soacute eacute
permissiacutevel desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea pelo menos 50 da aacuterea
de cada propriedade (BRASIL 1965 p 15)
Em 1989 surge a Lei 7803 (BRASIL 1989b) que acrescenta os paraacutegrafos 2ordm e
3ordm ao artigo 16 inaugurando a expressatildeo reserva legal e ratificando o percentual miacutenimo do
que deveria ser conservado a tiacutetulo de reserva legal Ao artigo 44 foi acrescentado o
paraacutegrafo uacutenico onde os 50 da propriedade anteriormente indicados para permanecer com a
cobertura vegetal agora passam a ser reconhecidos como reserva legal Em ambos os
dispositivos estaacute presente o procedimento formal a ser adotado com fins de resguardar a
aplicaccedilatildeo daquele instituto e seus efeitos isto eacute a averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio
Art 16 []
sect 2ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) de
cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso deveraacute ser averbada agrave margem
19
da inscriccedilatildeo de matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo
vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou
de desmembramento da aacuterea
sect 3ordm Aplica-se agraves aacutereas de cerrado a reserva legal de 20 (vinte por cento) para
todos os efeitos legais (BRASIL 1989b p 1)
Art 44 [] Paraacutegrafo uacutenico A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 50
(cinquumlenta por cento) de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso
deveraacute ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de
imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de
transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de desmembramento da aacuterea (BRASIL 1989b p
2)
Nota-se que os dispositivos trazem novidades como a vedaccedilatildeo a um tipo de corte
o meacutetodo garantidor para a implantaccedilatildeo da reserva legal e a proibiccedilatildeo de mudanccedila na aacuterea
destinada a receber o benefiacutecio Ademais o bioma cerrado eacute especialmente citado afirmando
assim a instituiccedilatildeo da reserva legal nele e seu respectivo percentual
Vale destacar ainda a entidade puacuteblica que recebeu por forccedila legal a
incumbecircncia de promover os atos formais e documentais para a implantaccedilatildeo da reserva legal
Trata-se do registro ou cartoacuterio de imoacuteveis que por sua vez reuacutene em seus livros oficiais
todas as informaccedilotildees sobre as propriedades imobiliaacuterias de sua circunscriccedilatildeo ou regiatildeo
geograacutefica Enfim o registro de imoacuteveis eacute o oacutergatildeo constitutivo da propriedade e o que guarda
este direito aleacutem de vigiar se a funccedilatildeo social e ambiental do imoacutevel estaacute sendo cumprida
Por conseguinte houve a ediccedilatildeo da Medida Provisoacuteria1 1511 em 25 de julho de
1996 (BRASIL 1996) com o objetivo de dar nova redaccedilatildeo ao artigo 44 do Coacutedigo Florestal
ou seja amplia o percentual da reserva legal de 50 para 80 em casos especiacuteficos e esmiuacuteccedila o
Norte do Brasil e o norte da regiatildeo Centro-Oeste
Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste a exploraccedilatildeo a
corte raso soacute eacute permitida desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea de no
miacutenimo cinquumlenta por cento de cada propriedade
sect 1ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo cinquumlenta por cento
de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso seraacute averbada agrave margem da
inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a
alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de
desmembramento da aacuterea
1 Medidas Provisoacuterias satildeo instrumentos juriacutedico-poliacuteticos traduzidos na forma de atos normativos com forccedila de
lei praticados pelo Chefe do Executivo Federal em situaccedilotildees de urgecircncia e relevacircncia e que devem ser
submetidas de imediato agrave deliberaccedilatildeo do Congresso Nacional (FILHO 2005) A Constituiccedilatildeo Federal em seu
Art 62 prevecirc que em caso de relevacircncia e urgecircncia o Presidente da Repuacuteblica poderaacute adotar medidas
provisoacuterias com forccedila de lei devendo submetecirc-las de imediato ao Congresso Nacional
20
sect 2ordm Nas propriedades onde a cobertura arboacuterea se constitui de fitofisionomias
florestais natildeo seraacute admitido o corte raso em pelo menos oitenta por cento dessas
tipologias florestais
sect 3ordm Para efeito do disposto no caput entende-se por regiatildeo Norte e parte Norte da
regiatildeo Centro-Oeste os Estados do Acre Paraacute Amazonas Roraima Rondocircnia
Amapaacute e Mato Grosso aleacutem das regiotildees situadas ao norte do paralelo 13degS nos
Estados de Tocantins e Goiaacutes e a oeste do meridiano de 44degW no Estado do
Maranhatildeo (BRASIL 1996 p 1)
Fazendo uma retrospectiva ldquoesse ato do Poder Executivo pretendeu conter o
desmatamento na Amazocircnia num momento em que era divulgado o aumento da taxa meacutedia
anual de desflorestamento no biecircnio 1993-1994rdquo (MIRANDA 2008 p 38) Entretanto essa
natildeo foi a uacutenica iniciativa do chefe do executivo para alterar os percentuais citados acima
Inclusive eacute perturbador o levantamento do nuacutemero de medidas provisoacuterias com o fim de
modificar o Coacutedigo Florestal em especial os criteacuterios e aspectos que envolvem a reserva
legal que ora satildeo mais flexibilizados ora mais restritivos Eacute o que se pode observar pela
leitura da Tabela 1 onde se verifica a existecircncia de 68 propostas de mudanccedila em um espaccedilo de
tempo pouco maior que 5 anos
Tabela 1 Medidas Provisoacuterias (MP)Ano
MEDIDAS PROVISOacuteRIAS (MP) Nordm DE MPPERIacuteODO PERIacuteODOS
Nordm 1511 a 1511-17 18 1ordm) 25071996 a 20111997
Nordm 1605-18 a 1605-30 13 2ordm) 11121997 a 19111998
Nordm 1736-31 a 1736-37 7 3ordm) 14121998 a 02061999
Nordm 1885-38 a 1885-43 6 4ordm) 29061999 a 02111999
Nordm 1956-44 a 1956-57 14 5ordm) 09121999 a 14122000
Nordm 2080-58 a 2080-64 7 6ordm) 27122000 a 13062001
Nordm 2166-65 a 2166-67 3 7ordm) 28062001 a 24082001
A uacuteltima Medida Provisoacuteria a promover consideraacuteveis alteraccedilotildees que dizem
respeito agrave reserva legal foi a de nordm 2166-67 de 24 de agosto de 2001 (BRASIL 2001) Ela
acrescentou o inciso III ao paraacutegrafo 2ordm do artigo 1ordm do Coacutedigo Florestal estabelecendo o
conceito de reserva legal ateacute entatildeo natildeo definido no texto da lei muito embora sua acepccedilatildeo jaacute
existisse
21
Art 1ordm []
sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por
[]
III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural
excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos
recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave
conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas
(BRASIL 2001 p 1)
Vale destacar que a reserva legal soacute deveraacute existir em propriedade ou posse rural
natildeo sendo obrigatoacuteria na aacuterea urbana aleacutem do que natildeo eacute soacute o proprietaacuterio ou seja aquele que
deteacutem o domiacutenio do imoacutevel eacute quem deve implantaacute-la mas o possuidor tambeacutem estaacute sujeito a
tal imposiccedilatildeo legal Isso acontece porque o instituto estaacute vinculado ao imoacutevel e natildeo ao dono
ou quem faz as suas vezes por isso eacute considerada uma obrigaccedilatildeo propter rem isto eacute proacutepria
da coisa
Aleacutem da inclusatildeo do conceito de reserva legal ao Coacutedigo Florestal (BRASIL
1965) ocorreu a fixaccedilatildeo de outros percentuais bem como a adiccedilatildeo de mais oito paraacutegrafos
que delinearam aspectos outrora natildeo mencionados Eacute o que se lecirc pela nova redaccedilatildeo do artigo
16
Art 16 As florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo nativa ressalvadas as situadas em
aacuterea de preservaccedilatildeo permanente assim como aquelas natildeo sujeitas ao regime de
utilizaccedilatildeo limitada ou objeto de legislaccedilatildeo especiacutefica satildeo suscetiacuteveis de supressatildeo
desde que sejam mantidas a tiacutetulo de reserva legal no miacutenimo
I - oitenta por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta localizada na
Amazocircnia Legal
II - trinta e cinco por cento na propriedade rural situada em aacuterea de cerrado
localizada na Amazocircnia Legal sendo no miacutenimo vinte por cento na propriedade e
quinze por cento na forma de compensaccedilatildeo em outra aacuterea desde que esteja
localizada na mesma microbacia e seja averbada nos termos do sect 7ordm deste artigo
III - vinte por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta ou outras
formas de vegetaccedilatildeo nativa localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e
IV - vinte por cento na propriedade rural em aacuterea de campos gerais localizada em
qualquer regiatildeo do Paiacutes
sect 1o O percentual de reserva legal na propriedade situada em aacuterea de floresta e
cerrado seraacute definido considerando separadamente os iacutendices contidos nos incisos I
e II deste artigo
sect 2ordm A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser
utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel de acordo com princiacutepios e
criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos estabelecidos no regulamento ressalvadas as
hipoacuteteses previstas no sect 3o deste artigo sem prejuiacutezo das demais legislaccedilotildees
especiacuteficas
sect 3ordm Para cumprimento da manutenccedilatildeo ou compensaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal em
pequena propriedade ou posse rural familiar podem ser computados os plantios de
aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais compostos por espeacutecies exoacuteticas
cultivadas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas
sect 4ordm A localizaccedilatildeo da reserva legal deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental estadual
competente ou mediante convecircnio pelo oacutergatildeo ambiental municipal ou outra
instituiccedilatildeo devidamente habilitada devendo ser considerados no processo de
aprovaccedilatildeo a funccedilatildeo social da propriedade e os seguintes criteacuterios e instrumentos
quando houver
22
I - o plano de bacia hidrograacutefica
II - o plano diretor municipal
III - o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico
IV - outras categorias de zoneamento ambiental e
V - a proximidade com outra Reserva Legal Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente
unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida
sect 5ordm O Poder Executivo se for indicado pelo Zoneamento Ecoloacutegico Econocircmico -
ZEE e pelo Zoneamento Agriacutecola ouvidos o CONAMA o Ministeacuterio do Meio
Ambiente e o Ministeacuterio da Agricultura e do Abastecimento poderaacute
I - reduzir para fins de recomposiccedilatildeo a reserva legal na Amazocircnia Legal para ateacute
cinquumlenta por cento da propriedade excluiacutedas em qualquer caso as Aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente os ecoacutetonos os siacutetios e ecossistemas especialmente
protegidos os locais de expressiva biodiversidade e os corredores ecoloacutegicos e
II - ampliar as aacutereas de reserva legal em ateacute cinquumlenta por cento dos iacutendices
previstos neste Coacutedigo em todo o territoacuterio nacional
sect 6ordm Seraacute admitido pelo oacutergatildeo ambiental competente o cocircmputo das aacutereas relativas
agrave vegetaccedilatildeo nativa existente em aacuterea de preservaccedilatildeo permanente no caacutelculo do
percentual de reserva legal desde que natildeo implique em conversatildeo de novas aacutereas
para o uso alternativo do solo e quando a soma da vegetaccedilatildeo nativa em aacuterea de
preservaccedilatildeo permanente e reserva legal exceder a
I - oitenta por cento da propriedade rural localizada na Amazocircnia Legal
II - cinquumlenta por cento da propriedade rural localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e
III - vinte e cinco por cento da pequena propriedade definida pelas aliacuteneas b e c
do inciso I do sect 2ordm do art 1ordm
sect 7o O regime de uso da aacuterea de preservaccedilatildeo permanente natildeo se altera na hipoacutetese
prevista no sect 6o
sect 8ordm A aacuterea de reserva legal deve ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo de matriacutecula
do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua
destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou de
retificaccedilatildeo da aacuterea com as exceccedilotildees previstas neste Coacutedigo
sect 9ordm A averbaccedilatildeo da reserva legal da pequena propriedade ou posse rural familiar eacute
gratuita devendo o Poder Puacuteblico prestar apoio teacutecnico e juriacutedico quando
necessaacuterio
sect 10 Na posse a reserva legal eacute assegurada por Termo de Ajustamento de Conduta
firmado pelo possuidor com o oacutergatildeo ambiental estadual ou federal competente com
forccedila de tiacutetulo executivo e contendo no miacutenimo a localizaccedilatildeo da reserva legal as
suas caracteriacutesticas ecoloacutegicas baacutesicas e a proibiccedilatildeo de supressatildeo de sua vegetaccedilatildeo
aplicando-se no que couber as mesmas disposiccedilotildees previstas neste Coacutedigo para a
propriedade rural
sect 11 Poderaacute ser instituiacuteda reserva legal em regime de condomiacutenio entre mais de
uma propriedade respeitado o percentual legal em relaccedilatildeo a cada imoacutevel mediante a
aprovaccedilatildeo do oacutergatildeo ambiental estadual competente e as devidas averbaccedilotildees
referentes a todos os imoacuteveis envolvidos (BRASIL 2001 p 34)
Caso seja traccedilado um paralelo entre o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)
com as alteraccedilotildees aplicadas e agrave uacuteltima Medida Provisoacuteria percebe-se que o primeiro texto em
seu artigo 16 soacute mencionava as florestas particulares enquanto que em 2001 o reformulado
pela Medida Provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) generaliza a possibilidade de supressatildeo
vegetal para florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo incluindo-as no texto da lei Isto significa
que as florestas puacuteblicas embora sejam de domiacutenio coletivo tambeacutem devem respeitar a
reserva legal de acordo com o estabelecido
E ainda de 1989 ateacute 2001 o percentual para reserva legal era de 20 da
propriedade rural para todas as regiotildees com exceccedilatildeo dos imoacuteveis no norte do paiacutes e no norte
23
do centro-oeste onde deveriam ser protegidos 50 da cobertura arboacuterea Poreacutem com o
advento da Medida provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) aumentou-se essa porcentagem para
80 na Amazocircnia Legal2 para 35 no bioma cerrado localizado na Amazocircnia Legal e a
permanecircncia dos 20 para as demais regiotildees do Brasil
Enfim eacute possiacutevel concluir claramente que tal Medida Provisoacuteria ao modificar o
artigo 16 definiu o conceito de reserva legal foi mais especiacutefica quanto aos seus percentuais
alargou os tipos de florestas suscetiacuteveis ao desmatamento estabeleceu que a vegetaccedilatildeo da
reserva legal soacute poderia ser utilizada atraveacutes de um manejo florestal sustentaacutevel (sect2ordm)
determinou que sua localizaccedilatildeo deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental competente
obedecendo os 5 criteacuterios ambientais estabelecidos (sect4ordm) permitiu a sobreposiccedilatildeo de aacutereas de
preservaccedilatildeo permanente agrave de reserva legal em alguns casos (sect6ordm) reafirmou o procedimento
documental garantidor do instituto (sect8ordm) criou a possibilidade de constituir a reserva legal
em condomiacutenio (sect11ordm) dentre outros
Encerrando as mudanccedilas trazidas pela Medida Provisoacuteria 2166-672001
(BRASIL 2001) tem-se o artigo 44 que foi completamente reformulado em conteuacutedo em
nuacutemero de incisos e paraacutegrafos O teor deste dispositivo agora versa sobre a recomposiccedilatildeo a
regeneraccedilatildeo e a compensaccedilatildeo da reserva legal Tais accedilotildees devem estar em consonacircncia com o
disposto no artigo 16
Art 44 O proprietaacuterio ou possuidor de imoacutevel rural com aacuterea de floresta nativa
natural primitiva ou regenerada ou outra forma de vegetaccedilatildeo nativa em extensatildeo
inferior ao estabelecido nos incisos I II III e IV do art 16 ressalvado o disposto
nos seus sectsect 5o e 6o deve adotar as seguintes alternativas isoladas ou
conjuntamente
I - recompor a reserva legal de sua propriedade mediante o plantio a cada trecircs anos
de no miacutenimo 110 da aacuterea total necessaacuteria agrave sua complementaccedilatildeo com espeacutecies
nativas de acordo com criteacuterios estabelecidos pelo oacutergatildeo ambiental estadual
competente
II - conduzir a regeneraccedilatildeo natural da reserva legal e
III - compensar a reserva legal por outra aacuterea equivalente em importacircncia ecoloacutegica
e extensatildeo desde que pertenccedila ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma
microbacia conforme criteacuterios estabelecidos em regulamento
sect 1o Na recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I o oacutergatildeo ambiental estadual
competente deve apoiar tecnicamente a pequena propriedade ou posse rural familiar
sect 2o A recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I pode ser realizada mediante o plantio
temporaacuterio de espeacutecies exoacuteticas como pioneiras visando a restauraccedilatildeo do
ecossistema original de acordo com criteacuterios teacutecnicos gerais estabelecidos pelo
CONAMA
2 Amazocircnia Legal - eacute uma aacuterea que engloba a totalidade de oito estados o Acre o Amapaacute o Amazonas o Mato
Grosso o Paraacute Rondocircnia Roraima e Tocantins e parte do Estado do Maranhatildeo (a oeste do meridiano de 44ordmW)
O conceito da Amazocircnia Legal foi criado pela lei 1806 de 06 de janeiro de 1953 (BRASIL 2011) Disponiacutevel
em lthttpwwwipeagovbrdesafiosindexphpoption=com_contentampid=2154catid=28ampItemid=23gt
24
sect 3o A regeneraccedilatildeo de que trata o inciso II seraacute autorizada pelo oacutergatildeo ambiental
estadual competente quando sua viabilidade for comprovada por laudo teacutecnico
podendo ser exigido o isolamento da aacuterea
sect 4o Na impossibilidade de compensaccedilatildeo da reserva legal dentro da mesma micro-
bacia hidrograacutefica deve o oacutergatildeo ambiental estadual competente aplicar o criteacuterio de
maior proximidade possiacutevel entre a propriedade desprovida de reserva legal e a aacuterea
escolhida para compensaccedilatildeo desde que na mesma bacia hidrograacutefica e no mesmo
Estado atendido quando houver o respectivo Plano de Bacia Hidrograacutefica e
respeitadas as demais condicionantes estabelecidas no inciso III
sect 5o A compensaccedilatildeo de que trata o inciso III deste artigo deveraacute ser submetida agrave
aprovaccedilatildeo pelo oacutergatildeo ambiental estadual competente e pode ser implementada
mediante o arrendamento de aacuterea sob regime de servidatildeo florestal ou reserva legal
ou aquisiccedilatildeo de cotas de que trata o art 44-B
sect 6o O proprietaacuterio rural poderaacute ser desonerado pelo periacuteodo de trinta anos das
obrigaccedilotildees previstas neste artigo mediante a doaccedilatildeo ao oacutergatildeo ambiental
competente de aacuterea localizada no interior de Parque Nacional ou Estadual Floresta
Nacional Reserva Extrativista Reserva Bioloacutegica ou Estaccedilatildeo Ecoloacutegica pendente de
regularizaccedilatildeo fundiaacuteria respeitados os criteacuterios previstos no inciso III deste
artigo (NR) (BRASIL 2001 p 45)
Quanto agrave sanccedilatildeo curiosamente neste Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965) natildeo haacute
nenhuma previsatildeo com relaccedilatildeo ao descumprimento da reserva legal diferentemente do
diploma de 1934 (BRASIL 1935) como se pocircde ler anteriormente Nesse sentido existir
uma lei sem a ela estar vinculada uma sanccedilatildeo quando descumprida eacute o mesmo que um fogo
que natildeo queima uma luz que natildeo alumia (MONTEIRO 1992)
Assim finaliza-se a anaacutelise do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) e se
inicia a apreciaccedilatildeo do Novo Coacutedigo Florestal isto eacute a Lei 12651 de 25 de maio de 2012
(BRASIL 2012) que jaacute possui algumas modificaccedilotildees mesmo sendo uma norma bastante
recente Trata-se de uma lei que em seu artigo 1ordm de pronto menciona o instituto da reserva
legal elevando-a a um patamar antes natildeo reconhecido quanto agrave especialidade que lhe eacute
inerente
Art 1ordm-A Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente e as aacutereas de Reserva Legal a exploraccedilatildeo florestal o
suprimento de mateacuteria-prima florestal o controle da origem dos produtos florestais e
o controle e prevenccedilatildeo dos incecircndios florestais e prevecirc instrumentos econocircmicos e
financeiros para o alcance de seus objetivos (BRASIL 2012 p 1)
Quanto a sua definiccedilatildeo embora citada anteriormente vecirc-se a necessidade de se
enfatizar as diferenccedilas entre o novo dispositivo e o anterior ora revogado ateacute porque o
recente eacute bem mais minucioso e atual em se tratando de tendecircncias e realidades do presente
Art 3ordm []
25
III - Aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural delimitada nos
termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de modo sustentaacutevel
dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a reabilitaccedilatildeo dos
processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade bem como o
abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012 p 3)
Art 1ordm []
sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por
[]
III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural
excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos
recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave
conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas
(BRASIL 1965 p 1)
Pela leitura observa-se que a aacuterea de reserva legal desde o iniacutecio estaacute restrita ao
imoacutevel rural excluindo assim o urbano Seu objetivo tambeacutem sempre foi o mesmo
sustentabilidade Isto eacute visto quando se examina o texto do Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965)
ao citar as expressotildees conservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo biodiversidade e proteccedilatildeo colocando nesse
iacutenterim recursos naturais processos ecoloacutegicos fauna e flora nativas O foco da reserva legal
eacute claro quanto agrave conservaccedilatildeo de uma forma sistecircmica pois inclui aspectos de solo vegetaccedilatildeo
vida animal e seus respectivos ciclos Eacute o que coloca SOUZA (2002 p 2829 apud Miranda
2008 p 53)
[] justifica a existecircncia de um mecanismo juriacutedico que garanta ao homem a
manutenccedilatildeo da biodiversidade para o seu proacuteprio bem Deste ponto de vista no
Brasil a Reserva Legal ainda eacute o mecanismo existente se natildeo o uacutenico que garante
essa manutenccedilatildeo tamanha a dependecircncia dos seres humanos de energia advinda de
plantas e animais
Jaacute a lei de 2012 (BRASIL 2012) inova ao incluir e modificar algumas acepccedilotildees
O uso econocircmico eacute uma delas Antes era mencionado somente um uso sustentaacutevel dos
recursos naturais mas agora eacute um uso com base na teoria de produccedilatildeo e consumo sob o vieacutes
da sustentabilidade Aleacutem disto a nova redaccedilatildeo faz uma pequena diferenciaccedilatildeo quanto ao
auxiacutelio que a reserva legal daacute agrave conservaccedilatildeo e agrave reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos
enquanto que a anterior ditava que o tal instituto era necessaacuterio para alcanccedilar os citados
objetivos Inclui tambeacutem a promoccedilatildeo que a reserva legal faz agrave biodiversidade e por fim a
uacuteltima norma agrega a proteccedilatildeo agrave fauna silvestre3 o que outrora era soacute agrave nativa
3 ldquoEacute preciso que a fauna tenha a sua vida ou parte dela ocorrendo naturalmente dentro dos limites do territoacuterio
brasileiro e suas aacuteguas jurisdicionaisrdquo (AMADO 2012 p329) silvestre ndash satildeo animais pertencentes agraves espeacutecies
nativas migratoacuterias e quaisquer outras aquaacuteticas ou terrestres
26
Percebe-se que com o passar dos anos as leis que versam sobre florestas estatildeo
cada vez mais aperfeiccediloadas com particularidades e especificidades como se pode concluir
pela leitura da evoluccedilatildeo histoacuterica dessas normas e suas modificaccedilotildees Visualiza-se melhor
tambeacutem ao se comparar os objetivos da reserva legal nas figuras 1 e 2
Figura 1 - Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771 (BRASIL 1965)
Figura 2 - Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 - Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)
RESERVA
LEGAL
ASSEGURA AUXILIA PROMOVE
27
E em se tratando das penalidades quem natildeo respeitar a reserva legal estaraacute
enquadrado no Decreto Federal 6514 de 22 de julho de 2008 (BRASIL 2008) que dispotildee
sobre as infraccedilotildees e sanccedilotildees administrativas ao meio ambiente e prevecirc aplicaccedilatildeo de multas
como descrito nos artigos abaixo
Art 48 Impedir ou dificultar a regeneraccedilatildeo natural de florestas ou demais formas
de vegetaccedilatildeo nativa em unidades de conservaccedilatildeo ou outras aacutereas especialmente
protegidas quando couber aacuterea de preservaccedilatildeo permanente reserva legal ou
demais locais cuja regeneraccedilatildeo tenha sido indicada pela autoridade ambiental
competente
Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo
[]
Art 51 Destruir desmatar danificar ou explorar floresta ou qualquer tipo de
vegetaccedilatildeo nativa ou de espeacutecies nativas plantadas em aacuterea de reserva legal ou
servidatildeo florestal de domiacutenio puacuteblico ou privado sem autorizaccedilatildeo preacutevia do oacutergatildeo
ambiental competente ou em desacordo com a concedida
Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo
[]
Art 55 Deixar de averbar a reserva legal Multa de R$ 50000 (quinhentos reais) a R$ 10000000 (cem mil reais) (BRASIL
2008 p 12)
Ao ler o dispositivo da lei eacute possiacutevel averiguar que tanto accedilotildees como omissotildees
possiacuteveis de cometimento quanto agrave reserva legal estatildeo previstas naquele Decreto (BRASIL
2008) o que daacute poder agraves autoridades constituiacutedas de exercerem seu papel fiscalizatoacuterio e
sancionatoacuterio em desfavor daquele que descumprir tal obrigaccedilatildeo
Nesse novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012) a reserva legal estaacute muito mais
discorrida e consequentemente resguardada A lei trouxe um capiacutetulo especiacutefico com duas
seccedilotildees organizadas dispondo sobre a delimitaccedilatildeo e o regime de proteccedilatildeo do instituto aleacutem de
outra seccedilatildeo que prevecirc a transformaccedilatildeo das reservas legais em aacutereas verdes nas expansotildees
urbanas
Para comeccedilar a analisar as novidades trazidas pelo Coacutedigo Florestal (BRASIL
2012) vale mencionar a mais importante quanto ao controle e fiscalizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da
reserva legal que se daraacute pelo Cadastro Ambiental Rural ndash CAR Eacute um registro puacuteblico
eletrocircnico de acircmbito nacional obrigatoacuterio para todos os imoacuteveis rurais com a finalidade de
integrar as informaccedilotildees ambientais das propriedades e posses rurais compondo base de dados
para controle monitoramento planejamento ambiental e econocircmico e combate ao
desmatamento conforme artigo 29 daquele diploma legal Para se cadastrar no CAR o
proprietaacuterio ou possuidor rural deveraacute identificar-se comprovar a propriedade ou posse e
identificar o imoacutevel atraveacutes de planta georreferenciada e memorial descritivo informando os
28
remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente dentre outras
segundo o inciso III do paraacutegrafo primeiro do mesmo dispositivo acima
Com a criaccedilatildeo desse sistema a supressatildeo de novas aacutereas de floresta ou outras
formas de vegetaccedilatildeo nativa soacute poderaacute ser autorizada apoacutes a inserccedilatildeo do imoacutevel onde ocorreraacute
o desmatamento no Cadastro Ambiental Rural A exceccedilatildeo a essa regra eacute o imoacutevel que jaacute
possua a reserva legal averbada na sua matriacutecula com a respectiva identificaccedilatildeo e localizaccedilatildeo
Isso dispensa a inclusatildeo no CAR Eacute o que rezam o paraacutegrafo terceiro do artigo 12 e o artigo
30 do Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)
A nova lei prevecirc que a inscriccedilatildeo no CAR eacute obrigatoacuteria para todas as propriedades
e posses rurais e deve ser requerida no prazo de um ano a partir da sua implantaccedilatildeo (sect3ordm do
artigo 29) No caso do Cearaacute o Cadastro Ambiental Rural ainda natildeo foi estabelecido embora
a lei jaacute tenha completado um ano Aleacutem disto agravequele que protocolar toda documentaccedilatildeo para
anaacutelise da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal no oacutergatildeo ambiental competente natildeo poderaacute ser
imputada sanccedilatildeo administrativa nem restriccedilatildeo a direitos por qualquer oacutergatildeo ambiental
competente (sect2ordm do artigo 14) desde que a sanccedilatildeo diga respeito a natildeo formalizaccedilatildeo da aacuterea de
reserva legal
Outra novidade eacute a dispensa de reserva legal em alguns casos como nos
empreendimentos de abastecimento puacuteblico de aacutegua e tratamento de esgoto nas aacutereas
adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessatildeo permissatildeo ou autorizaccedilatildeo para
exploraccedilatildeo de potencial de energia hidraacuteulica nas quais funcionem empreendimentos de
geraccedilatildeo de energia eleacutetrica subestaccedilotildees ou seja instaladas linhas de transmissatildeo e de
distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica e nas aacutereas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de
implantaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo de capacidade de rodovias e ferrovias (sect6 ordm sect7 ordm e sect8ordm do artigo 12)
Ao passo que na Lei 477165 (BRASIL 1965) o uacutenico caso dispensaacutevel de cumprir a reserva
legal era a doaccedilatildeo pelo proprietaacuterio rural de aacuterea localizada no interior de unidade de
conservaccedilatildeo de domiacutenio puacuteblico pendente de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria ao oacutergatildeo ambiental
competente (sect6ordm do art 44)
Quanto aos percentuais de reserva legal sobre a propriedade ou posse rural nada
mudou ou seja permaneceram os mesmos embora organizados de forma diferente conforme
se segue
Art 12 Todo imoacutevel rural deve manter aacuterea com cobertura de vegetaccedilatildeo nativa a
tiacutetulo de Reserva Legal sem prejuiacutezo da aplicaccedilatildeo das normas sobre as Aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente observados os seguintes percentuais miacutenimos em relaccedilatildeo agrave
aacuterea do imoacutevel excetuados os casos previstos no art 68 desta Lei
I - localizado na Amazocircnia Legal
29
a) 80 (oitenta por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de florestas
b) 35 (trinta e cinco por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de cerrado
c) 20 (vinte por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de campos gerais
II - localizado nas demais regiotildees do Paiacutes 20 (vinte por cento) (BRASIL 2012 p
15)
Acerca da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal alguns criteacuterios a serem
observados permaneceram inalterados tais como o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento
ecoloacutegico-econocircmico4 e a proximidade com outra reserva legal aacuterea de preservaccedilatildeo
permanente unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida Por outro lado
foram acrescentados dois aspectos a serem considerados tambeacutem satildeo eles as aacutereas de maior
importacircncia para a conservaccedilatildeo da biodiversidade e as aacutereas de maior fragilidade ambiental
(Incisos IV e V do artigo 14)
Por fim haacute que se falar que a nova lei permitiu a sobreposiccedilatildeo das aacutereas de
preservaccedilatildeo permanente agrave aacuterea de reserva legal ou seja ao se calcular o percentual desta
poderatildeo ser computadas as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente existentes no imoacutevel rural desde
que atenda alguns requisitos Eacute o que prescreve o artigo 15
Art 15 Seraacute admitido o cocircmputo das Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente no caacutelculo
do percentual da Reserva Legal do imoacutevel desde que
I - o benefiacutecio previsto neste artigo natildeo implique a conversatildeo de novas aacutereas para o
uso alternativo do solo
II - a aacuterea a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperaccedilatildeo
conforme comprovaccedilatildeo do proprietaacuterio ao oacutergatildeo estadual integrante do Sisnama e
III - o proprietaacuterio ou possuidor tenha requerido inclusatildeo do imoacutevel no Cadastro
Ambiental Rural - CAR nos termos desta Lei BRASIL 2012 p 1617)
Basicamente essas foram as inovaccedilotildees mais pertinentes agrave reserva legal trazidas
pelo Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)
113 Importacircncia da reserva legal
Vaacuterios aspectos perfazem o instituto da reserva legal Satildeo fundamentos de
cunho teacutecnico e cientiacutefico que revelam sua importacircncia atraveacutes da abordagem juriacutedica social
ambiental e econocircmica A reserva legal natildeo foi simplesmente uma imposiccedilatildeo prevista em lei
4 Zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ndash eacute um zoneamento ambiental Esse instrumento estaacute previsto na Poliacutetica
Nacional do Meio Ambiente que foi instituiacuteda pela Lei 693881 Trata-se de uma modalidade de intervenccedilatildeo
estatal sobre o territoacuterio a fim de reparti-lo em zonas consoante o melhor interesse na preservaccedilatildeo ambiental e
no uso sustentaacutevel dos recursos naturais Conferir AMADO Frederico Direito Ambiental Esquematizado
2012 p111
30
mas uma mobilizaccedilatildeo da sociedade para resguardar os bens ambientais impedindo a
degradaccedilatildeo sem precedentes
ldquoA reserva legal busca a preservaccedilatildeo ambiental como um todo natildeo soacute do imoacutevel
que nesta se situardquo (AMADO 2009 p 105) Ainda salienta Moraes (2002 p 30) que ldquoa
reserva legal natildeo possui funccedilatildeo vinculada ao imoacutevel especificamente sendo limitaccedilatildeo de
niacutevel macro ou seja mais preocupada com a melhoria regional da biodiversidade do que
propriamente com o ecossistema interno da propriedaderdquo E muito bem acrescenta Milareacute
(2009 p 166)
Aleacutem de preservar belezas cecircnicas e bucoacutelicos ambientes histoacutericos para as geraccedilotildees
futuras as aacutereas protegidas assumiram objetivos como a proteccedilatildeo de recursos
hiacutedricos manejo de recursos naturais desenvolvimento de pesquisas cientiacuteficas
manutenccedilatildeo do equiliacutebrio climaacutetico e ecoloacutegico preservaccedilatildeo de recursos geneacuteticos
e atualmente constituem o eixo de estruturaccedilatildeo da preservaccedilatildeo in situ da
biodiversidade como um todo
1131 Juriacutedica
A reserva legal foi criada pela forccedila do universo juriacutedico brasileiro que lhe
pressupotildee efetividade Como jaacute fora mencionado o instituto teve sua definiccedilatildeo atraveacutes da
Medida Provisoacuteria 2166-672001 (BRASIL 2001) que por sua vez alterou o Coacutedigo
Florestal (BRASIL 1965) vigente agrave eacutepoca Embora houvesse previsatildeo legal para aacutereas
especialmente protegidas estas ateacute entatildeo natildeo haviam sido nominadas como reserva legal
A lei ndeg 477165 (BRASIL 1965) segundo Trennepohl (2009) trazia uma maior
preocupaccedilatildeo com a erosatildeo de terras e o consequente prejuiacutezo para as atividades produtivas
Denotando predominante inclinaccedilatildeo para a sustentabilidade econocircmica da mateacuteria-prima
aquele diploma tratava a utilizaccedilatildeo dos recursos florestais de forma racional com finalidade
de garantir as atividades econocircmicas para as quais servem de insumo
Jaacute no entendimento de Schaffer e Medeiros (2009) a figura da reserva legal no
Coacutedigo Florestal revela-se como uma norma de importacircncia e observacircncia necessaacuterias
essencialmente estrateacutegicas para a garantia de um desenvolvimento equilibrado e sustentaacutevel
para a naccedilatildeo brasileira Tambeacutem observam os mesmos autores que a tatildeo discutida lei florestal
estabeleceu percentuais diferenciados de Reserva Legal em funccedilatildeo da localizaccedilatildeo do tipo de
vegetaccedilatildeo e das caracteriacutesticas ambientais das diferentes regiotildees do paiacutes
A eficaacutecia para o cumprimento do instituto se baseia na imposiccedilatildeo da lei quanto agrave
obrigaccedilatildeo dos proprietaacuterios ou posseiros rurais se dirigirem ao cartoacuterio de registro do seu
31
imoacutevel com a aacuterea da reserva jaacute delimitada e procederem agrave averbaccedilatildeo agrave margem da sua
matriacutecula No entanto essa obrigatoriedade foi substituiacuteda pelo Cadastro Ambiental Rural
que deveraacute ser feito no oacutergatildeo ambiental competente conforme visto anteriormente Esse
procedimento se daacute pelos paracircmetros devidamente previstos em normas teacutecnicas que dispotildeem
como o dono da aacuterea deve conduzir tal processo Essa averbaccedilatildeo eacute irretrataacutevel ou seja jamais
pode ser desfeita e eacute isso que daacute eficiecircncia ao instituto se cumprido Tal imposiccedilatildeo garante
que o proprietaacuterio natildeo desmembre seu imoacutevel na intenccedilatildeo de burlar a lei
Quanto ao procedimento de averbaccedilatildeo da reserva legal na matriacutecula do imoacutevel
ressalta Trennepohl (2009 p11-12)
A exigecircncia da averbaccedilatildeo da reserva legal vem desde 1965 vale dizer haacute mais de
quarenta anos existe esta obrigatoriedade E muitos proprietaacuterios rurais cumpriram agrave
risca esta exigecircncia averbando e mantendo preservado o percentual estipulado pela
lei
[]
A necessidade dessa averbaccedilatildeo dispensa maiores comentaacuterios e pode ser facilmente
entendida como a uacutenica garantia eficaz para que a transferecircncia ou a partilha natildeo
afastem essa obrigaccedilatildeo propter rem [proacutepria da coisa] que vincula a propriedade
natildeo o proprietaacuterio
Para alguns proprietaacuterios de terras rurais se houver o atendimento do instituto da
reserva legal caberia uma indenizaccedilatildeo pela perda daquela porcentagem em suas propriedades
mas como bem ilustra Magnanini (2010 p 5) ldquoa funccedilatildeo protetora da floresta natildeo eacute restriccedilatildeo
indenizaacutevel mas decorrecircncia da proacutepria natureza que preparou terras mais uacuteteis e outras
menosrdquo
1132 Social
Segundo o renomado filoacutesofo Mondin (2004 p 117) ldquoo homem eacute um ser
sociaacutevel portanto incapaz de sozinho alcanccedilar seus objetivos anseios e realizaccedilotildees
consequentemente viverrdquo A partir dessa constataccedilatildeo soacute resta ao ser humano subsistir numa
sociedade inserida no mundo natural
Como indiviacuteduo pratica accedilotildees que lhe afetam direta e indiretamente promovendo
reflexos no espaccedilo em que habita Por isso o aspecto social estaacute intimamente vinculado agrave
qualidade ambiental uma vez que o ser humano gera impactos positivos e negativos em seu
entorno Como natildeo se pode separar a atuaccedilatildeo dele do meio em que foi introduzido necessaacuterio
eacute fazer o balizamento de suas atitudes Uma das formas de limitar seu comportamento eacute a
confecccedilatildeo de normas como por exemplo a lei que nada mais eacute do que a expressatildeo de uma
32
demanda social por medidas coercitivas em virtude do desrespeito a um aspecto que a
sociedade defende ou repudia
Quanto agraves accedilotildees humanas e seus reflexos a teoria de ldquometapopulaccedilotildeesrdquo define
que a raccedila humana causa imenso impacto na Terra provocando a deterioraccedilatildeo dos sistemas
ecoloacutegicos e a extinccedilatildeo de muitas espeacutecies as quais tem seu ritmo acelerado agrave medida que a
populaccedilatildeo cresce e aumentando com isso o consumo de energia e de recursos naturais
SOUZA (2002 apud Miranda 2008)
O aspecto social que envolve a reserva legal confronta-se com praacuteticas seculares
do homem campestre como bem ilustra Magnanini (2010 p 3) engenheiro agrocircnomo e um
dos autores do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)
A agricultura itinerante continua se desenvolvendo segundo os meacutetodos primitivos
dos primeiros anos do descobrimento Chega o agricultor derruba e queima as
matas sem indagar se elas satildeo necessaacuterias agrave conservaccedilatildeo da feracidade do solo ou
do regime das aacuteguas Depois de alguns anos de exploraccedilatildeo renovando anualmente a
queimada como meio de extinguir a vegetaccedilatildeo invasora o terreno esgotado eacute
entregue ao abandono e o agricultor seguindo as pegadas do madeireiro que adiante
derrubou as aacutervores para extrair as toras inicia novo ciclo devastador idecircntico ao
precedente Como efeito disto a agricultura cada vez se interioriza mais e cada vez
se distancia mais dos centros consumidores requerendo transportes sempre mais
caros [] Inundaccedilotildees cada vez mais destruidoras pela remoccedilatildeo desordenada de
florestas colocam em sobressalto as populaccedilotildees de centenas de cidades ribeirinhas
Vale mencionar outra caracteriacutestica que expressa o valor que a reserva legal
quando estaacute sendo cumprida imprime na aacuterea rural ndash eacute a funccedilatildeo social da propriedade
considerada como princiacutepio basilar para o uso da mesma Designaccedilatildeo bastante enunciada
pelas normas que estabelecem aquele instituto permeia o direito de propriedade da terra que
natildeo eacute visto unilateralmente e sim em sua universalidade uma vez que o imoacutevel natildeo estaacute para
servir soacute a seu dono mas tem que atender sua funccedilatildeo social Nesse sentido Miranda (2008)
pontua que a reserva legal eacute uma forma de assegurar a funccedilatildeo social da propriedade fazendo
com que esta contribua com a preservaccedilatildeo do meio ambiente ecologicamente equilibrado para
atuais e futuras geraccedilotildees Eacute como tambeacutem entende Trennepohl (2009 p 11) ao afirmar que
A preservaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa num percentual das propriedades rurais diminui o
lucro do proprietaacuterio mas de forma muito menos significativa que o ganho para a
coletividade com a qualidade ambiental decorrente pelo que entendemos
inquestionaacutevel que o interesse coletivo se sobrepotildee ao individual
1133 Ambiental
Considerado como um dos principais fatores que embasam a instituiccedilatildeo da reserva
legal na propriedade ou posse rural o aspecto ambiental se funda na biologia que perpassa
33
essencialmente esse vieacutes sem admitir qualquer desassociaccedilatildeo entre as unidades ambientais
como aacutegua solo vegetaccedilatildeo e ar Pode-se afirmar que o alicerce do estudo do meio eacute a ciecircncia
bioloacutegica que por sua vez analisa as reaccedilotildees as funccedilotildees fiacutesico-quiacutemicas a qualidade do
ambiente testando seus limites ou melhor sua capacidade de suporte Do mesmo modo
Miranda (2008 p 51) discorre sobre a importacircncia ecoloacutegica do instituto da reserva legal
quando afirma que ldquosua funccedilatildeo preciacutepua eacute assegurar mostras significativas de ecossistemas
conservando a biodiversidade e servindo de abrigo e proteccedilatildeo agrave fauna e agrave florardquo
Sobre isso Metzger (2002 p 48) tambeacutem atesta que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de
propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa eacute
fundamental para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada
regiatildeordquo Complementa Silva (2001 p 59) quando afirma
A cobertura vegetal nativa sobretudo as florestais exerce papel de fundamental
importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de ecossistemas naturais bem como de
ecossistemas criados pelo homem como eacute o caso dos ecossistemas agriacutecolas Aleacutem
de permitirem uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da aacutegua no solo e no
subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos regular a vazatildeo
dos rios reduzindo as intensidades dos extremos de estiagens e enchentes manterem
a diversidade geneacutetica
Logo todos os benefiacutecios apontados pelos autores acima podem ser verificados
em uma menor escala quando haacute a observacircncia da reserva legal dentro de cada propriedade
rural em determinada regiatildeo garantindo sua viabilidade ambiental posto que assume um
papel niacutetido de conservaccedilatildeo Para exemplificar a assertiva retro menciona-se o microclima
favoraacutevel mantido quando haacute vegetaccedilatildeo na aacuterea em apreccedilo que por sua vez amortiza a
incidecircncia solar sobre aquela regiatildeo Por outro lado a cobertura vegetal tambeacutem eacute favoraacutevel agrave
manutenccedilatildeo dos solos uma vez que dificulta a accedilatildeo erosiva das chuvas
Infere-se portanto que a existecircncia da reserva legal na propriedade rural soacute traz
vantagens ao meio ambiente por mais que a tradiccedilatildeo campestre natildeo as compreenda Eacute o que
demonstram Schaffer e Medeiros (2009 p 2) ensinando que
A Reserva Legal (RL) por sua vez natildeo tem apenas a funccedilatildeo de prover o uso
sustentaacutevel dos recursos naturais na propriedade ou posse rural Tem tambeacutem a
funccedilatildeo de conservar e reabilitar os processos ecoloacutegicos conservar a biodiversidade
e servir de abrigo e proteccedilatildeo da fauna e flora nativas Desta forma a norma geral de
caraacuteter nacional [Coacutedigo Florestal] concilia o necessaacuterio uso sustentaacutevel de recursos
naturais para a propriedade ou posse rural com as funccedilotildees ambientais e o
provimento de serviccedilos ambientais de retenccedilatildeo de aacutegua conservaccedilatildeo do solo
manutenccedilatildeo de grupos de polinizadores e fixaccedilatildeo de biomassa entre outros os quais
satildeo importantes e necessaacuterios ao cumprimento da funccedilatildeo socioambiental dos
imoacuteveis ou propriedades rurais
34
No mesmo sentido Mercadante (1999 p 240 apud MIRANDA 2008 p 5354)
numa interpretaccedilatildeo mais ampla sobre a importacircncia ecoloacutegica da reserva legal diz
A Reserva Legal natildeo tem por objetivo apenas a conservaccedilatildeo da natureza da flora e
da fauna pelo valor intriacutenseco dos recursos bioloacutegicos ou pela contribuiccedilatildeo dessas
aacutereas para a qualidade do ambiente em geral A Reserva Legal eacute fundamental para a
estabilidade ecoloacutegica e consequentemente a exploraccedilatildeo em bases sustentaacuteveis do
proacuteprio imoacutevel rural A Reserva Legal contribui para a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo
do solo o controle da erosatildeo o controle do assoreamento dos cursos d‟aacutegua a
conservaccedilatildeo dos corpos d‟aacutegua e dos mananciais serve de abrigo para os predadores
das pragas agriacutecolas fornece madeira e outros recursos florestais para uso na
propriedade dentre outros benefiacutecios
E por fim eacute cabiacutevel mencionar ainda que o Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL
2012) fixou criteacuterios bem mais especiacuteficos e pertinentes ao estabelecimento da reserva legal
como proceder ao cumprimento desse instituto observando se sua localizaccedilatildeo eacute condizente
com o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ou outras categorias
de zoneamento ambiental a proximidade com outras aacutereas legalmente protegidas dentre
outros
1134 Econocircmica
A reserva legal sob o aspecto econocircmico eacute muito controversa uma vez que eacute vista
pelo proprietaacuterio ou posseiro rural como um encargo Mesmo porque como exprime
Trennepohl (2009) ateacute a deacutecada de 80 quando se tinha diferentes normas com dispositivos
protecionistas mas com enfoque preponderantemente economicista os recursos naturais eram
tratados muito mais como insumos de produccedilatildeo ou bens de uso imediato da sociedade do que
como elementos integrantes de um intrincado e fraacutegil equiliacutebrio ambiental Isto condicionou
fatalmente a sociedade brasileira contemporacircnea a natildeo observar a deferecircncia aos bens
ambientais quiccedilaacute respeitar certa porcentagem de uma aacuterea que fora adquirida por um
particular com seus recursos proacuteprios e a tem como totalmente privada
Ainda eacute possiacutevel pelo Coacutedigo Florestal - Lei 126512012 (BRASIL 2012)
intervir na aacuterea destinada agrave reserva de forma sustentaacutevel sem suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo
uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo econocircmica dessas aacutereas Aleacutem do
que ldquoa recuperaccedilatildeo de aacutereas de RL pode ainda gerar produtos e subprodutos madeireiros jaacute
escassos em algumas regiotildees garantindo assim uma renda adicional ao produtor rural e
mateacuteria-prima para a induacutestriardquo conforme defendem Schaffer e Medeiros (2009 p 12)
Para Magnanini (2010) a situaccedilatildeo eacute graviacutessima quando sugere ficar a criteacuterio
do proprietaacuterio rural a iniciativa de proceder ou natildeo agrave reserva legal jaacute que a Administraccedilatildeo
35
Puacuteblica natildeo tem como combater eficientemente o descumprimento desse instituto Eacute o que
propotildee no momento em que coloca
O dilema eacute este ou impotildee-se a todos os donos de terras defenderem agrave sua custa a
produtividade do solo contra a erosatildeo terriacutevel e crescente ou cruzam-se os braccedilos
ante a incapacidade pela pobreza do Poder Puacuteblico na maioria dos Estados do
Brasil para deter a transformaccedilatildeo do Paiacutes num deserto em que as estaccedilotildees se
alternem entre inundaccedilotildees e secas devoradoras de todo o esforccedilo humano
(MAGNANINI 2010 p 5)
Ademais define-se outra vertente do aspecto econocircmico tatildeo bem colocada pela
acepccedilatildeo que tem Bacha (2005 p 9) ao afirmar que
A reserva legal eacute um mecanismo de poliacutetica de rendas pelo qual se procura
estabelecer um zoneamento do uso da terra dentro da propriedade rural A poliacutetica
de rendas constitui-se numa seacuterie de regulamentaccedilotildees que restringem a produccedilatildeo e a
comercializaccedilatildeo de produtos bem como o uso dos fatores de produccedilatildeo eou
determinam valores miacutenimos ou maacuteximos para o pagamento pelo uso desses fatores
ou por produtos elaborados numa economia
Eacute possiacutevel portanto depreender o entendimento do autor de modo que a reserva
legal vem restringir o uso indiscriminado dos recursos florestais gerando com isso a
manutenccedilatildeo do bem ambiental que seraacute resguardado por aquele instituto Isto influiraacute
diretamente na cadeia produtiva nas oscilaccedilotildees de demanda e procura do mercado de mateacuteria-
prima de origem vegetal Ou seja pode-se entender que a meacutedio eou longo prazo a reserva
legal seraacute um ponto de equiliacutebrio no fluxo da produccedilatildeo de bens e serviccedilos que careccedilam desse
recurso natural
114 Direito de Propriedade x Reserva Legal
A propriedade privada eacute uma espeacutecie baacutesica que se decompotildee em propriedade
rural ou urbana segundo se refira a moradias do campo ou moradias derivadas das
construccedilotildees ou edificaccedilotildees idocircneas para sua habitualidade ou aproveitamento diferente do
que eacute a exploraccedilatildeo agraacuteria de qualquer moradia rural (CRIADO 2010)
A propriedade no direito brasileiro foi constituiacuteda em forma e conteuacutedo a partir de
normas muito antigas e de outras naccedilotildees ou seja foi reproduzida com base no direito romano
ldquoDesde aqueles tempos o direito de propriedade era tido como absoluto isto eacute o proprietaacuterio
tinha o direito de usar ou natildeo usar gozar ou natildeo gozar e dispor ou natildeo dispor da propriedade
imobiliaacuteriardquo (MELO 2010 p22) Em contrapartida ldquoos direitos de propriedade
constitucional certamente satildeo direitos de liberdade seja a liberdade individual seja a
liberdade comunitaacuteria que satildeo complementares e indissociaacuteveis haja vista que uma natildeo
36
existe sem a outra como nos demonstram as experiecircncias totalitaacuterias do seacuteculo XXrdquo
(ANTUNES 2011 p37)
A garantia do direito de propriedade estaacute prevista constitucionalmente ou seja na
maior Lei do paiacutes uma vez que ela se sobrepotildee a todas as outras leis e normas juriacutedicas Eacute a
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil que foi promulgada em 05 de outubro de
1988 Conhecida como Carta Magna a Constituiccedilatildeo de 1988 (BRASIL 1988) em seu Tiacutetulo
II estabelece os direitos e as garantias fundamentais do e para o povo brasileiro Logo no
primeiro capiacutetulo deste tiacutetulo estatildeo dispostos os direitos e deveres individuais e coletivos que
o Estado brasileiro deve assegurar aos seus cidadatildeos Eacute no artigo 5ordm que estatildeo previstas tais
premissas inclusive o direito de propriedade (inciso XXII) e o respeito agrave sua funccedilatildeo social
(XXIII)
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade
do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos
seguintes
[]
XXII - eacute garantido o direito de propriedade
XXIII - a propriedade atenderaacute a sua funccedilatildeo social
Quanto agrave funccedilatildeo social da propriedade ldquosomente nos seacuteculos XIX e XX surgiu a
ideia em que o imoacutevel natildeo teria mais o caraacuteter absoluto e intangiacutevel de forma que o
proprietaacuterio por possuir recursos deveria cumprir a tal funccedilatildeordquo (MELO 2010 p23) Ainda
ldquodiscorrer sobre a funccedilatildeo social da propriedade significa abandonar a ideia absolutista e
inflexiacutevel desse instituto para admitir a revitalizaccedilatildeo e o condicionamento do exerciacutecio a
interesses maiores que os do proprietaacuterio individualrdquo (PETERS 2003 p 125 apud
MIRANDA 2008 p 56) Foi nesse sentido que as Constituiccedilotildees Federais brasileiras de 1934
(BRASIL 1934b) 1946 (BRASIL 1946) 1967 (BRASIL 1967c) e a de 1988 (BRASIL
1988) restringiram o direito de propriedade
Constituiccedilatildeo de 1934
Art 113 - A Constituiccedilatildeo assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade dos direitos concernentes agrave liberdade agrave subsistecircncia agrave seguranccedila
individual e agrave propriedade nos termos seguintes
[]
17) Eacute garantido o direito de propriedade que natildeo poderaacute ser exercido contra o
interesse social ou coletivo na forma que a lei determinar A desapropriaccedilatildeo por
necessidade ou utilidade puacuteblica far-se-aacute nos termos da lei mediante preacutevia e justa
indenizaccedilatildeo [] (BRASIL 1934b p 33)
Constituiccedilatildeo de 1946
Art 141 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
Paiacutes a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade a seguranccedila
individual e agrave propriedade nos termos seguintes
37
[]
sect 16 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por
necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa
indenizaccedilatildeo em dinheiro (BRASIL 1946 p 31)
Constituiccedilatildeo de 1967
Art 150 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
Pais a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
[]
sect 22 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por
necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa
indenizaccedilatildeo em dinheiro ressalvado o disposto no art 157 sect 1ordm []
[]
Art 157 - A ordem econocircmica tem por fim realizar a justiccedila social com base nos
seguintes princiacutepios
[]
III - funccedilatildeo social da propriedade
[]
sect 1ordm - Para os fins previstos neste artigo a Uniatildeo poderaacute promover a desapropriaccedilatildeo
da propriedade territorial rural mediante pagamento de justa indenizaccedilatildeo fixada
segundo os criteacuterios que a lei estabelecer em tiacutetulos especiais da diacutevida puacuteblica []
(BRASIL 1967c p 4951)
Embora os textos se assemelhem eacute faacutecil observar que em 1934 o direito de
propriedade natildeo poderia ir contra o interesse social ou coletivo enquanto que na Constituiccedilatildeo
de 1946 (BRASIL 1946) jaacute se comeccedila a falar em desapropriaccedilatildeo caso aquele interesse natildeo
seja observado Em 1967 existe uma combinaccedilatildeo entre o direito de propriedade e a justiccedila
social estando esta prevista como objetivo da ordem econocircmica que por sua vez cita
claramente a funccedilatildeo social da propriedade como um de seus princiacutepios Mais uma vez a
desapropriaccedilatildeo vem agrave tona agora com um toque mais robusto e imbuiacutedo de maior evidecircncia
jaacute que aquela Carta (BRASIL 1967c) faz menccedilatildeo no paraacutegrafo 1ordm do artigo 157 que a Uniatildeo
poderaacute desapropriar a propriedade territorial rural se natildeo atender dentre outros aspectos a
funccedilatildeo social da propriedade
Retroagindo aproximadamente trecircs anos a desapropriaccedilatildeo jaacute estava em pauta
atraveacutes da Lei 450464 (BRASIL 1964) conhecida como o Estatuto da Terra Com o
objetivo de regular os direitos e obrigaccedilotildees concernentes aos bens imoacuteveis rurais a citada lei
menciona a desapropriaccedilatildeo como uma das medidas de execuccedilatildeo da Reforma Agraacuteria e
promoccedilatildeo da Poliacutetica Agriacutecola (Art 1deg) Aleacutem disto o artigo segundo assegura a todos a
oportunidade de acesso agrave propriedade da terra condicionada pela sua funccedilatildeo social desde que
cumpra as seguintes condiccedilotildees
Art 2deg
sect 1deg A propriedade da terra desempenha integralmente a sua funccedilatildeo social quando
simultaneamente
a) favorece o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores que nela labutam
assim como de suas famiacutelias
38
b) manteacutem niacuteveis satisfatoacuterios de produtividade
c) assegura a conservaccedilatildeo dos recursos naturais
d) observa as disposiccedilotildees legais que regulam as justas relaccedilotildees de trabalho entre os
que a possuem e a cultivem (BRASIL 1964 p 1)
Encerrando o rol de Constituiccedilotildees brasileiras quanto ao direito de propriedade e
sua funccedilatildeo social a de 1988 consagra este princiacutepio no artigo 186
Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende
simultaneamente segundo criteacuterios e graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos
seguintes requisitos
I - aproveitamento racional e adequado
II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio
ambiente
[] (BRASIL 1988 p 144)
Chama atenccedilatildeo o inciso II quando dispotildee sobre a utilizaccedilatildeo adequada dos
recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio ambiente Eacute nesse iacutenterim que a reserva
legal eacute reconhecida por dar ao imoacutevel uma funccedilatildeo social ldquouma vez que atribui agrave propriedade
a exigecircncia da observacircncia de funccedilotildees econocircmica e social bem como de preservaccedilatildeo do meio
ambienterdquo (MELO 2010 p 24) Tambeacutem sobre isso bem coloca Trennepohl (2009 p 12)
A limitaccedilatildeo administrativa do exerciacutecio do direito de propriedade encontra respaldo
no art 186 da Constituiccedilatildeo Federal pois a propriedade rural somente cumpre sua
funccedilatildeo social quando obedecido o aproveitamento racional e utilizados
adequadamente os recursos naturais disponiacuteveis com vistas agrave preservaccedilatildeo do meio
ambiente
ldquoNatildeo haacute direito de propriedade para quem natildeo faz a terra cumprir sua funccedilatildeo
socialrdquo Eacute como entende o professor de direito agraacuterio Carlos Mareacutes (2003 p 134 apud
MELO 2010 p 25) Cavedon (2003 p 122 apud MIRANDA 2008 p 5859) tambeacutem
observa que
Os requisitos estipulados pelo artigo 186 devem ser atendidos simultaneamente sob
pena da propriedade natildeo atender sua funccedilatildeo social e por isso perder sua proteccedilatildeo
constitucional Como consequecircncia esta fica sujeita agrave desapropriaccedilatildeo por interesse
social para fins de reforma agraacuteria conforme o caput do artigo 184 da CF88 Eacute o que
Lenza denomina de desapropriaccedilatildeo-sanccedilatildeo Isto porque a Constituiccedilatildeo de 1988 em
seu artigo 5ordm inciso XXIV garante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiro mediante a
desapropriaccedilatildeo por necessidade utilidade puacuteblica ou interesse social A sanccedilatildeo estaacute
justamente na forma de pagamento da indenizaccedilatildeo quando a propriedade rural natildeo
atende a sua funccedilatildeo social o pagamento natildeo eacute efetuado em dinheiro mas em tiacutetulos
da diacutevida agraacuteria5 Assim o meio ambiente ganha relevacircncia como elemento
5 Tiacutetulos da diacutevida agraacuteria (TDA) - Meio de pagamento de indenizaccedilotildees devidas aos que sofreram accedilatildeo
expropriatoacuteria da Uniatildeo Federal Criado pelo Governo Federal eacute vinculado agrave desapropriaccedilatildeo de imoacuteveis rurais
por interesse social para efeito de reforma agraacuteria ou aquisiccedilotildees por compra e venda de imoacuteveis rurais destinados
agrave implantaccedilatildeo de projetos integrantes do Programa Nacional de Reforma Agraacuteria Disponiacutevel em
lthttpwwwcetipcombrtitulos-publicostdagt Acesso em 27062013
39
integrante da funccedilatildeo social da propriedade em funccedilatildeo do artigo 186 II que prevecirc a
utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio
ambiente e no artigo 170 que coloca a propriedade privada a funccedilatildeo social da
propriedade e a defesa do meio ambiente lado a lado como princiacutepios da ordem
econocircmica Com base nestes dispositivos legais Cavedon entende que a propriedade
deve atender tambeacutem a sua funccedilatildeo ambiental apesar desta natildeo constar de forma
expliacutecita no texto constitucional
Desta forma por estar limitado o proprietaacuterio rural natildeo pode dispor livremente de
seu imoacutevel pois haacute de cumprir sua funccedilatildeo social que resulta na observacircncia de requisitos que
visam vantagens para a coletividade em detrimento de restriccedilotildees individuais Assim sendo
muitos particulares entendem que a obrigaccedilatildeo de destinarem determinada porcentagem de
suas propriedades rurais para a reserva legal eacute uma espeacutecie de desapropriaccedilatildeo indireta imposta
pelo poder puacuteblico e por isso deveriam ser indenizados Da mesma forma outros segundo
Miranda (2008) concluem que eacute uma restriccedilatildeo da propriedade uma vez que inviabiliza a
utilizaccedilatildeo econocircmica do bem e por isso caberia uma recomposiccedilatildeo patrimonial Ao contraacuterio
desse entendimento Trennepohl (2009 p 11) explica
A averbaccedilatildeo da reserva legal natildeo representa uma desapropriaccedilatildeo indireta como
muita gente pensa pois sua vegetaccedilatildeo pode ser explorada na forma de manejo
florestal sustentaacutevel e a aacuterea pode ser utilizada para outras atividades rentaacuteveis
Tanto eacute assim que inuacutemeras accedilotildees judiciais propostas pleiteando indenizaccedilatildeo pela
restriccedilatildeo de uso dessas aacutereas foram fulminadas nas diferentes esferas do Poder
Judiciaacuterio
Ademais a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 (BRASIL 1988) em seu artigo 225
tambeacutem estabelece que
Art 225 Todos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de
uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder
Puacuteblico e agrave coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e
futuras geraccedilotildees
sect 1ordm - Para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Poder Puacuteblico
I - preservar e restaurar os processos ecoloacutegicos essenciais e prover o manejo
ecoloacutegico das espeacutecies e ecossistemas []
III - definir em todas as unidades da Federaccedilatildeo espaccedilos territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos sendo a alteraccedilatildeo e a supressatildeo
permitidas somente atraveacutes de lei vedada qualquer utilizaccedilatildeo que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteccedilatildeo (BRASIL 1988 p 225226)
Ressalta-se que ldquoa Carta Magna de 1988 eacute a primeira Constituiccedilatildeo brasileira em
que a expressatildeo meio ambiente eacute mencionadardquo (MELO 2010 p 20) Ademais inovou ao
adotar a terminologia ldquoespaccedilo territorial especialmente protegidordquo para designar uma aacuterea sob
regime especial de administraccedilatildeo com o objetivo de proteger os atributos ambientais
justificadores do seu reconhecimento e individualizaccedilatildeo pelo Poder Puacuteblico (MILAREacute 2009)
40
Desta forma pela simples leitura do texto constitucional observa-se que eacute uma
prerrogativa do Poder Puacuteblico promover a preservaccedilatildeo do meio ambiente bem como
estabelecer unidades especialmente protegidas para garantir a manutenccedilatildeo dos recursos
naturais A forma com que o Estado cumpriraacute este dever eacute atraveacutes da ediccedilatildeo de leis que
obriguem seus administrados a satisfazerem tais imposiccedilotildees Para tanto tem-se o Coacutedigo
Florestal (BRASIL 1965 2012) que prevecirc a reserva legal como um dos meios de viabilizar
essa proteccedilatildeo Eacute sobre o que discorre Trennepohl (2009 p 12)
A reserva legal eacute um dos instrumentos que permitem o cumprimento do art 225 da
Constituiccedilatildeo Federal o qual impotildee ao Poder Puacuteblico o dever de defender e preservar
o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras geraccedilotildees
(caput) atraveacutes de definiccedilatildeo de espaccedilos territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos (sect1deg III) bem como de proteger a flora e a fauna (sect1deg
VII)
Conclui-se portanto que a reserva legal introduzida pelo Coacutedigo de 65 (BRASIL
1965) modificou os contornos do direito de propriedade restringindo seu uso e que a funccedilatildeo
social do bem imoacutevel teve como origem forte conflito entre necessidades coletivas ou assim
interpretadas e o regime particular da propriedade individual (ANTUNES 2011)
1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa
As formas de limitaccedilotildees que recaem sobre a propriedade tornam-se um problema
importante em mateacuteria ambiental pois na grande maioria das vezes a natureza juriacutedica dos
espaccedilos territoriais especialmente protegidos se confunde com a limitaccedilatildeo administrativa
(MELO 2010) Assim questiona-se se realmente estamos diante de servidotildees limites
limitaccedilotildees ou delimitaccedilotildees A questatildeo natildeo eacute paciacutefica (CRIADO 2010)
A limitaccedilatildeo administrativa segundo Meireles (2004 p 568) eacute ldquotoda imposiccedilatildeo
geral gratuita unilateral e de ordem puacuteblica condicionadora do exerciacutecio de direitos ou de
atividades particulares agraves exigecircncias do bem-estar socialrdquo Satildeo implementadas de forma
imperativa obrigando o proprietaacuterio a fazer ou natildeo fazer algo na sua propriedade mas sem
retirar a utilizaccedilatildeo econocircmica deste bem ldquoJaacute a restriccedilatildeo ocorre quando a administraccedilatildeo impotildee
ao proprietaacuterio dever que o obrigue ou o impeccedila de fazer algo em sua propriedade retirando a
utilizaccedilatildeo econocircmica desta Havendo neste caso a necessidade de recomposiccedilatildeo patrimonialrdquo
(MIRANDA 2008 p 61)
41
Aleacutem do que hibridamente haacute os que entendem que a reserva legal eacute uma
desapropriaccedilatildeo indireta6 disfarccedilada de limitaccedilatildeo da propriedade que por sua vez inviabiliza a
utilizaccedilatildeo econocircmica do bem provocando uma busca por indenizaccedilatildeo Eacute nesse sentido que se
pronunciam os superiores tribunais do paiacutes como por exemplo se pronunciou o ministro Luiz
Pereira do Tribunal de Justiccedila do Estado de Satildeo Paulo ao decidir pela indenizabilidade da
aacuterea compreendida na reserva legal E ainda o proacuteprio Supremo Tribunal Federal tem se
manifestado de forma enfaacutetica ldquoimpedindo que a bdquolimitaccedilatildeo administrativa‟ esvazie o
conteuacutedo econocircmico do direito de propriedade determinando que em tais hipoacuteteses o Estado
indenize os prejuiacutezos de ordem patrimonial sofridos pelo particularrdquo (ANTUNES 2011
p163164)
Mesmo sendo um instrumento de conservaccedilatildeo ambiental com a possibilidade de
exploraccedilatildeo racional atraveacutes de manejo florestal sustentaacutevel eacute visivelmente perceptiacutevel o
conflito entre interesses particulares e a salvaguarda da vegetaccedilatildeo proposta por norma
juriacutedica Posto isto observa-se de um lado intenccedilotildees puramente econocircmicas que por sua vez
levam os proprietaacuterios a ignorarem a lei derrubando e queimando as matas que deveriam ser
preservadas a tiacutetulo de Reserva Legal ou ainda se eximindo de suas responsabilidades soacutecio-
ambientais Opotildeem-se portanto aos fortes instrumentos juriacutedicos de proteccedilatildeo das matas
brasileiras (MIRANDA 2008)
1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal
Na vigecircncia da lei anterior ou seja do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)
a forma de garantir documentalmente o cumprimento da reserva legal era averbaacute-la junto agrave
matriacutecula da propriedade constante em um Registro de Imoacuteveis Vale aqui esmiuccedilar o que eacute e
como era esse procedimento
ldquoO Registro de Imoacuteveis eacute uma instituiccedilatildeo nascida no seacuteculo XIX para dar
seguranccedila agrave contrataccedilatildeo imobiliaacuteria e na qual se inscreviam os direitos nascidos das relaccedilotildees
privadas ou civisrdquo (CRIADO 2010 p126) ldquoE que surgiu como necessidade do Estado de
controlar o direito de propriedade e como instrumento de seguranccedila juriacutedica para o traacutefego
imobiliaacuteriordquo (MELO 2010 p18) Regido pela Lei 601573 (BRASIL 1973) que cria a
figura da matriacutecula e que por sua vez representa a individualidade do imoacutevel sua situaccedilatildeo
6 Desapropriaccedilatildeo indireta ndash ldquotoda intervenccedilatildeo do Estado na propriedade que venha a impossibilitar o uso e gozo
desse bem retirando-lhe o conteuacutedo econocircmicordquo (TAVARES 1998 p 2 apud MIRANDA 2008 p 62)
42
geograacutefica e perfeita descriccedilatildeo sofrendo alteraccedilotildees objetivas e subjetivas por meio da
averbaccedilatildeo sempre com um mesmo nuacutemero de ordem facilitando incrivelmente as pesquisas e
expediccedilatildeo de certidotildees (MELO 2010)
Desta forma cada imoacutevel possui um registro onde pode ser descrito tudo o que
acontece com ele e nele por exemplo quem comprou vendeu se o dono hipotecou o bem a
um banco por causa de empreacutestimo etc Cada novidade que acontece no imoacutevel eacute inscrita sob
a forma e nome de averbaccedilatildeo no seu registro que por sua vez tem um nuacutemero de matriacutecula
para o identificar da mesma forma que um cidadatildeo tem um nuacutemero de Registro Geral (RG)
com seu nome completo data de nascimento e filiaccedilatildeo
No caso a averbaccedilatildeo da reserva legal era feita da seguinte forma o dono do
imoacutevel ldquointeressadordquo em cumprir sua obrigaccedilatildeo deveria submeter a localizaccedilatildeo da reserva
legal ao oacutergatildeo ambiental estadual que por sua vez aprovaria ou natildeo o local onde o proprietaacuterio
iria destinar agrave reserva legal Essa delimitaccedilatildeo deveria ser feita a partir de um
georreferenciamento que utiliza coordenadas geograacuteficas fixadas com o auxiacutelio de sateacutelites
conforme o Sistema Geodeacutesico Brasileiro (SGB) ao qual o Registro de imoacuteveis estaacute
vinculado (MELO 2010)
ldquoA representaccedilatildeo graacutefica da propriedade e sua atualizaccedilatildeo permitem um
conhecimento da evoluccedilatildeo do territoacuterio suas modificaccedilotildees e o impacto meio ambiental que
nele tenha ocasionado atuaccedilatildeo do acircmbito imobiliaacuterio com transcendecircncia nesta mateacuteriardquo
(LIBERAL 2007 p 121 apud MELO 2010 p3233)
Assim com a propriedade e sua respectiva aacuterea de reserva legal
georreferenciadas o proacuteximo passo seria a elaboraccedilatildeo de uma planta a partir dos dados
coletados e juntamente com o documento comprobatoacuterio de que o imoacutevel possuiacutea registro
submeter a localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva ao oacutergatildeo ambiental competente Se aprovada o
oacutergatildeo expediria um Termo de Averbaccedilatildeo da Reserva Legal que juntamente com a mesma
planta apresentada anteriormente deveria ser levado ao cartoacuterio de imoacuteveis para posterior
averbaccedilatildeo no registro do bem Nesta averbaccedilatildeo estariam descritas todas as informaccedilotildees da
reserva legal e sua localizaccedilatildeo geograacutefica
ldquoEsse procedimento documental tinha fundamento no princiacutepio da publicidade
que eacute a alma dos registros puacuteblicos porque eacute a oportunidade dada ao povo de conhecer tudo
que lhe interessa a respeito de determinados atosrdquo (BALBINO FILHO 1999 p 9 apud
MELO 2010 p34) Ateacute porque qualquer pessoa pode solicitar informaccedilotildees sobre os registros
junto ao cartoacuterio de imoacuteveis ldquoE natildeo poderia ser diferente pois o Registro de Imoacuteveis atua no
43
direito ambiental como ator coadjuvante reforccedilando a publicidade legal bem como
cooperando com o cumprimento e garantia das obrigaccedilotildees ambientaisrdquo (MELO 2010 p79)
Natildeo obstante malgrado existia a obrigaccedilatildeo legal de todo proprietaacuterio averbar a
aacuterea de RLF no Registro de Imoacuteveis o fato eacute que pequena porcentagem dos proprietaacuterios
procedeu agrave sua especializaccedilatildeo ldquoA razatildeo eacute simples trata-se de norma incompleta foi criada a
obrigaccedilatildeo mas propositalmente a sanccedilatildeo foi esquecidardquo (MELO 2010 p56)
Com a lei 126512012 (BRASIL 2012) ou Novo Coacutedigo Florestal esse
procedimento mudou Logo natildeo se deve mais averbar a reserva legal no registro do imoacutevel
Agora a obrigaccedilatildeo passou a ser o cadastramento da propriedade rural no Cadastro Ambiental
Rural (CAR) O atual meacutetodo consiste na inscriccedilatildeo do imoacutevel a partir da identificaccedilatildeo do
proprietaacuterio ou possuidor rural apresentaccedilatildeo de documento que comprove a propriedade ou a
posse e a identificaccedilatildeo do imoacutevel por meio de planta e memorial descritivo contendo a
indicaccedilatildeo das coordenadas geograacuteficas com pelo menos um ponto de amarraccedilatildeo do periacutemetro
do imoacutevel informando a localizaccedilatildeo dos remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa das Aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente das Aacutereas de Uso Restrito das aacutereas consolidadas e caso existente
tambeacutem da localizaccedilatildeo da Reserva Legal
No entanto o CAR ainda natildeo estaacute implantado no Cearaacute o que eacute realidade em
vaacuterios outros estados tambeacutem A obrigatoriedade de inscriccedilatildeo neste Cadastro eacute de ateacute dois
anos apoacutes sua implementaccedilatildeo que ateacute o momento natildeo aconteceu Todavia o secretaacuterio de
Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentaacutevel Sr Paulo Guilherme Cabral afirmou em
21052013 que o lanccedilamento em acircmbito nacional do Cadastro Ambiental Rural (CAR) deve
ocorrer ateacute o iniacutecio de junho e para agilizar a inscriccedilatildeo de mais de 5 milhotildees de propriedades
o Ministeacuterio do Meio Ambiente tem buscado ajuda de sindicatos cooperativas e associaccedilotildees
do setor agriacutecola aleacutem de outros oacutergatildeos puacuteblicos7 Infelizmente nada aconteceu ateacute e apoacutes
aquela previsatildeo
Contraditoriamente natildeo existe um prazo para o governo implantar o CAR mas
para o proprietaacuterio ou posseiro sim quando o cadastro dos imoacuteveis estiver disponiacutevel O
impasse eacute o que fazer o dono da terra aguarda o novo procedimento vigorar ou adota o
meacutetodo anterior
7 Conferir notiacutecia publicada em 22052013 no site lthttpsouagrocombrlancamento-nacional-do-car-deve-
sair-ate-junhogt
44
2 Processo de Degradaccedilatildeo
21 Conceito
A degradaccedilatildeo de uma forma geral eacute ldquoa ocorrecircncia de modificaccedilotildees fiacutesicas
metaboacutelicas ou quiacutemicas para uma forma menos complexa E a degradaccedilatildeo ambiental eacute a
alteraccedilatildeo das caracteriacutesticas do meio ambienterdquo (GUERRA et al 2009 p108) Jaacute o inciso II
do artigo 3ordm da Lei 693881 (BRASIL 1981) descreve a degradaccedilatildeo da qualidade ambiental
como alteraccedilatildeo adversa das caracteriacutesticas do meio ambiente
Para Arauacutejo et al (2008 p 19) ldquoa degradaccedilatildeo das terras envolve a reduccedilatildeo dos
potenciais recursos renovaacuteveis por uma combinaccedilatildeo de processos agindo sobre a terrardquo Os
autores ainda atestam que
Tal reduccedilatildeo levando ao abandono ou ldquodesertificaccedilatildeordquo da terra [] pode ser por
processos naturais como por exemplo o ressecamento do clima atmosfeacuterico
processos naturais de erosatildeo alguns outros de formaccedilatildeo do solo ou uma invasatildeo
natural de plantas ou animais nocivos Pode tambeacutem ocorrer por accedilotildees antroacutepicas
diretamente sobre o terreno ou indiretamente em razatildeo das mudanccedilas climaacuteticas
adversas induzidas pelo homem (ARAUacuteJO et al 2008 p 19)
Para a Food and Agriculture Organizations of the United Nations - FAO
(Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e Agricultura) o conceito de degradaccedilatildeo
de terras se refere ldquoagrave deterioraccedilatildeo ou perda total da capacidade dos solos para uso presente e
futurordquo (FAO 1980 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 23)
Observa-se portanto que a degradaccedilatildeo ambiental se natildeo combatida pressupotildee
um processo criacutetico e muito seacuterio o da desertificaccedilatildeo Eacute como considera Sales (2002) e ainda
afirma que o potencial natural das terras quanto agrave degradaccedilatildeo e a accedilatildeo antroacutepica
desencadeiam a desertificaccedilatildeo
O processo de degradaccedilatildeo ambiental pode ocorrer a partir de um ambiente que jaacute
possui caracteriacutesticas naturais limitantes eou extremas onde nele eacute inserido o fator antroacutepico
seja pela simples ocupaccedilatildeo de uma populaccedilatildeo naquela aacuterea seja pelo manejo inadequado dos
recursos naturais ali presentes De outra forma a degradaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel em ambientes
sem fragilidades naturalmente aparentes
A degradaccedilatildeo ambiental advinda da intervenccedilatildeo humana num cenaacuterio mundial
traduz-se em 15 das terras jaacute comprometidas pelas atividades humanas sendo que na
Ameacuterica do Sul dentro daquele percentual encontrou-se 1 de terras devastadas 11 de
terras leve ou moderadamente degradadas e 1 de terra forte ou extremamente degradada8
As estimativas apontam uma expansatildeo anual de 5 a 12 milhotildees de hectares de solo de um
total de 48 bilhotildees de hectares de aacutereas cultivaacuteveis e pastos ainda existentes e segundo a
ISRICUNEP (1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 28) isso resulta na seguinte constataccedilatildeo
A degradaccedilatildeo ambiental causa a perda de aproximadamente 14 milhotildees de
toneladas de gratildeos anualmente isto eacute metade da quantidade necessaacuteria para cobrir
as necessidades da populaccedilatildeo global adicional para o mesmo periacuteodo E no aspecto
financeiro para Blaikie e Brookfiel (1987) a produtividade do trabalho eacute atingida
desfavoravelmente pois a degradaccedilatildeo ambiental consome diretamente o produto do
trabalho e tambeacutem o aporte de capital na produccedilatildeo A qualidade de vida diminui
porque satildeo necessaacuterios mais tempo e um trabalho mais duro para se obter o mesmo
produto isso sem mencionar as medidas conservacionistas no campo fertilizaccedilatildeo
mais intensa ou a abertura de aacutereas para lavouras ou pastos cada vez mais distantes
[] Em ocasiotildees mais raras mas tambeacutem tatildeo dramaacuteticas a degradaccedilatildeo ambiental
forccedila o deslocamento da populaccedilatildeo Centenas de milhares de hectares tecircm de ser
abandonados a cada ano por estarem degradados demais para o cultivo ou ateacute
mesmo para pastagens (ARAUacuteJO et al 2008 p 31)
Em se tratando de semiaacuterido os recursos ambientais satildeo fraacutegeis e associados a
este quadro haacute uma populaccedilatildeo que por sua vez lanccedila matildeo dos bens naturais produzindo uma
deterioraccedilatildeo ambiental ldquoO Cearaacute por conseguinte apresenta extensas aacutereas com problemas
relativos agrave degradaccedilatildeo ambiental principalmente a desertificaccedilatildeordquo (IRAUCcedilUBA 2009 p 7)
Eacute o caso de Irauccediluba por causa da degradaccedilatildeo advinda do desmatamento e das
queimadas que exaurem os nutrientes do solo a agricultura de subsistecircncia colhe em gratildeos
menos de 500 kgha enquanto que a produccedilatildeo potencial seria cerca de 2000 kgha
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Isso explica a baixa participaccedilatildeo da agricultura na
produccedilatildeo agropecuaacuteria do municiacutepio E ldquoessa produccedilatildeo sequer paga os custos da lavoura de
forma que os pequenos produtores estatildeo pagando para plantar na maioria dos casosrdquo
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 18) As consequecircncias sociais disto satildeo ldquoum ciclo de
pobreza e miseacuteria tornando a regiatildeo cada vez mais vulneraacutevelrdquo (SALES 2002 p116)
Em niacutevel mais criacutetico segundo as Naccedilotildees Unidas a desertificaccedilatildeo degrada 60 mil
km2 de terras feacuterteis por ano em todo o mundo provocando perdas de 4 bilhotildees de doacutelares na
economia mundial No Brasil estima-se que essas perdas atinjam 100 milhotildees de doacutelares9
Por fim ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013) entendem que a degradaccedilatildeo em terras
brasileiras remonta o tempo dos colonizadores pois estes aplicavam diretamente meacutetodos e
praacuteticas proacuteprios para solos de clima temperado Assim as matas foram derrubadas queimou-
se a vegetaccedilatildeo em larga escala e lavouras nocircmades foram estabelecidas aproveitou-se o humo
8 Conferir ISRICUNEP 1991 In Arauacutejo et al 2008 p 27
9 Conferir RODRIGUES (2006) in CEARAacute 2010
46
onde este jaacute existia expuseram-se os solos agrave erosatildeo enfim saquearam-se os recursos naturais
renovaacuteveis ldquoNo caso do Cearaacute documenta-se que em 1861 a Comissatildeo Cientiacutefica enviada
para estudar o Nordeste registrava a destruiccedilatildeo acelerada da vegetaccedilatildeo principalmente nos
contrafortes das serras em virtude dos desmatamentos e queimadas para plantio de
mandiocardquo ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013 p 8)
Para uma melhor compreensatildeo quanto agrave intervenccedilatildeo humana negativa no
ambiente aponta-se o esquema proposto na figura 3 a seguir resumindo o processo de
degradaccedilatildeo ambiental apresentado pelo PAE10
(CEARAacute 2010b)
Figura 3 Sistema de Degradaccedilatildeo do Meio Ambiente Adaptado de Tricart (apud Souza 2000)
Fonte PAE (CEARAacute 2010b p 30)
10
PAECE ndash Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca
(CEARAacute 2010)
47
22 Degradaccedilatildeo Ambiental
A degradaccedilatildeo tem vaacuterias causas dentre elas a erosatildeo e o manejo inadequado do
solo Em se tratando deste uacuteltimo pode-se destacar as atividades agropecuaacuterias e suas
praacuteticas como por exemplo o desmatamento desmedido e irracional a irrigaccedilatildeo de forma
errada salinizando ou encharcando o solo o sobrepastoreio que compacta o solo e o uso de
defensivos agriacutecolas que provocam a contaminaccedilatildeo do solo e eliminam os microorganismos
ali presentes Deduz-se portanto que isso eacute um reflexo derivado de uma estrutura fundiaacuteria
extremamente riacutegida onde satildeo desenvolvidas aquelas atividades com baixo niacutevel tecnoloacutegico
levando a praacuteticas agriacutecolas predatoacuterias (SALES 2002 p116)
Com as causas naturais e as provocadas pelo homem quanto agrave degradaccedilatildeo do solo
expostas na tabela 2 a compreensatildeo fica mais clara
Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras
FATORES ACcedilOtildeES ANTROacutePICAS CONDICcedilOtildeES NATURAIS
Facilitadores
Desmatamento
Permissatildeo do superpastoreio
Uso excessivo da vegetaccedilatildeo
Taludes de corte
Remoccedilatildeo da cobertura vegetal para o cultivo
Topografia
Textura do solo
Composiccedilatildeo do solo
Cobertura vegetal
Regimes hidrograacuteficos
Diretos
Uso de maacutequinas
Conduccedilatildeo do gado
Encurtamento do pousio
Entrada excessiva de aacutegua drenagem insuficiente
Excesso de fertilizaccedilatildeo aacutecida
Uso excessivo de produtos quiacutemicos estrume
Disposiccedilatildeo de resiacuteduos domeacutesticos industriais
Chuvas fortes
Alagamentos
Ventos fortes
Fonte FAO (1980 apud Arauacutejo et al 2008 p 33)
Entendem Arauacutejo et al (2008 p 29) que as consequecircncias disto no meio rural satildeo
Um decliacutenio na produtividade ou uma necessidade crescente do aporte de nutrientes
para manter as mesmas produtividades uma vez que os ldquosubsolos geralmente
contem menos nutrientes do que as camadas superioresrdquo sendo necessaacuterio mais
fertilizante para manter a produtividade das culturas Isso por sua vez aumenta os
custos da produccedilatildeo
Partindo dessas constataccedilotildees conclui-se que satildeo seacuterias as consequecircncias
ambientais sociais e econocircmicas a esse respeito por isso satildeo necessaacuterias medidas mitigadoras
que visem minimizar esses impactos bem como meios de recuperar os danos jaacute existentes
A questatildeo torna-se ainda mais preocupante quando o olhar recai sobre os
processos de formaccedilatildeo do solo que segundo Kendall e Pimentel (1994 apud ARAUacuteJO et al
48
2008 p 21) ldquosatildeo lentos e necessitam de duzentos a mil anos para formar 25cm de solos e
isso sob condiccedilotildees agriacutecolas normaisrdquo Dessa forma a degradaccedilatildeo do solo eacute muito mais
criacutetica uma vez que eacute quase irreversiacutevel quando se trata do lapso temporal para se regenerar
ldquoA irreversibilidade tambeacutem ocorre quando o clima e as atividades humanas se combinam
tornando um solo anteriormente sadio em aacuterea devastadardquo (ARAUacuteJO et al 2008 p 2021)
221 Erosatildeo
Eacute o processo natural de decomposiccedilatildeo e transporte de sedimentos que altera as
formas de relevo Causada por agentes como vento chuvas aacuteguas correntes pode ser
acelerada por intervenccedilotildees humanas como por exemplo o desmatamento (TRIGUEIRO
2005 apud GUERRA 2009 p 129)
Arauacutejo et al (2008 p 34) afirmam que ldquoembora a erosatildeo possa ocorrer sem a
intervenccedilatildeo humana na praacutetica ela geralmente eacute iniciada eou acelerada por atividades
antroacutepicas que causam o desaparecimento da cobertura protetora da vegetaccedilatildeo natural ou
danificam a estrutura do solordquo
No PAN (BRASIL 2004 p 42) consta que ldquoa resultante do antropismo eacute
principalmente a erosatildeo particularmente a laminarrdquo que se inicia com a destruiccedilatildeo da
cobertura vegetal
A erosatildeo pode ser pela accedilatildeo da aacutegua eou do vento Em ambos os casos a camada
superficial do solo eacute retirada Para Arauacutejo et al (2008 p 24) ldquoa erosatildeo eoacutelica eacute mais comum
em climas aacuterido e semiaacuterido e eacute considerada uma forma de degradaccedilatildeo bem como a da aacutegua
que pode ateacute deformar o terreno formando ravinas e voccedilorocasrdquo Uma consequecircncia grave
disto segundo os mesmos autores eacute a reduccedilatildeo da fertilidade pelos motivos a seguir Menor
penetraccedilatildeo de raiacutezes em decorrecircncia de um solo menos denso e mais fino Reduccedilatildeo na
capacidade de retenccedilatildeo de aacutegua Varredura dos nutrientes utilizados pelas plantas
Para a FAO segundo Arauacutejo et al (2008 p 30) ldquoaproximadamente 25 bilhotildees de
toneladas de solo satildeo erodidos a cada ano sendo 17 toneladas por hectare cultivadordquo
222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica
Dentro do que jaacute foi citado anteriormente a (1) irrigaccedilatildeo inadequada que saliniza
ou encharca o solo e o (2) uso de defensivos agriacutecolas contaminando e eliminando os
49
microorganismos satildeo soacute algumas causas deste tipo de degradaccedilatildeo Aleacutem destas tem-se a (3)
acidificaccedilatildeo e o (4) esgotamento do solo causando a perda de nutrientes Para Arauacutejo et al
(2008 p 25) ldquoa salinizaccedilatildeo pode ser resultado de manejo mal realizado da irrigaccedilatildeo da alta
concentraccedilatildeo de sais na aacutegua ou atenccedilatildeo indevida agrave drenagem Esta acarreta a salinizaccedilatildeo dos
solos especialmente em regiotildees aacuteridas por que as altas taxas de evaporaccedilatildeo estimulam o
processordquo E ainda por atividades humanas que elevam a evaporaccedilatildeo em solos com material
salino ou com lenccedilol freaacutetico salino (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25)
Segundo o PAN (BRASIL 2004 p 64) ldquoa irrigaccedilatildeo produz impactos
indesejaacuteveis em qualquer aacuterea semiaacuteridardquo se realizada de forma inadequada e sem o recurso
da drenagem Complementa ainda o documento ao dizer que
Um solo submetido agrave irrigaccedilatildeo estaacute salinizado quando a concentraccedilatildeo de sais nesse
terreno se eleva a ponto de prejudicar o rendimento econocircmico das culturas A
salinizaccedilatildeo do solo afeta a germinaccedilatildeo e a densidade das culturas bem como seu
desenvolvimento vegetativo reduzindo a produtividade das lavouras Nos casos
limites a salinizaccedilatildeo pode levar agrave morte generalizada das plantas inviabilizando o
cultivo das terras afetadas (BRASIL 2004 p 64)
Aleacutem disso o uso excessivo de agrotoacutexicos eacute tido como poluiccedilatildeo e pode levar agrave
reduccedilatildeo do potencial agriacutecola da terra Resiacuteduos industriais e urbanos tambeacutem podem poluir
terras agricultaacuteveis O esgotamento do solo pelo plantio excessivo de culturas sem promover
um pousio miacutenimo do terreno exaure os nutrientes daquela aacuterea Isso eacute comum onde a
agricultura eacute praticada em solos pobres ou moderadamente feacuterteis sem a aplicaccedilatildeo suficiente
de esterco ou fertilizante (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25) E por fim
a acidez pode ser provocada quando se utiliza muitos fertilizantes aacutecidos ou em decorrecircncia
da maacute drenagem em alguns tipos de solo
223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica
Conhecidos pela compactaccedilatildeo do solo elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico e pelo
rebaixamento da superfiacutecie da terra (subsidecircncia) a esses tipos de degradaccedilatildeo natildeo se pode
deixar de somar uma causa precursora que eacute o desmatamento desmedido e irracional
deixando o solo nu e exposto agraves intempeacuteries do tempo Da mesma forma entende Cruz (1994
p 135-147 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 35) ao afirmar que ldquoa remoccedilatildeo da cobertura vegetal
inicia ou acelera a erosatildeo do solo sob a accedilatildeo da chuva e do vento de igual modo a queimada
visando o controle de ervas estimula a lixiviaccedilatildeo e a perda do solordquo
50
A compactaccedilatildeo do solo como o resultado do uso de maacutequinas pesadas em solos
instaacuteveis bem como o pisoteio do gado que via de regra eacute agravado por um
sobrepastoreio da aacuterea O impacto das gotas de chuva provoca tambeacutem o selamento
e encrostamento do solo A elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico eacute ocasionada pelo
encharcamento da terra que por sua vez natildeo tem na mesma proporccedilatildeo a capacidade
de drenagem (ARAUacuteJO et al 2008 p 25)
23 A degradaccedilatildeo em Irauccediluba
Em Irauccediluba as praacuteticas agriacutecolas e a pecuaacuteria satildeo muito ofensivas aos recursos
naturais Isso se deve agrave capacidade de suporte do ambiente que natildeo eacute respeitada gerando
impactos e danos ambientais seacuterios e de caraacuteter praticamente irreversiacuteveis O sobrepastejo de
bovinos ovinos e caprinos o desmatamento e as queimadas deixam a regiatildeo com um niacutevel de
degradaccedilatildeo altiacutessimo ateacute porque suas condiccedilotildees naturais jaacute satildeo adversas E ainda haacute outro
fator agravante - o tempo de recuperaccedilatildeo natural tambeacutem natildeo eacute observado nem cumprido
fragilizando por demais o ambiente
Para Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 7) ldquoA introduccedilatildeo da pecuaacuteria no nuacutecleo de
Irauccediluba trouxe a tiracolo a agricultura e a extraccedilatildeo de madeira A primeira baseava-se no
desmatamento indiscriminado e na queimada geral E a segunda na coleta da lenha sem
reposiccedilatildeo florestalrdquo Desta forma a degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba estaacute desenhada por
1 Superpastejo que causa prejuiacutezos sensiacuteveis agrave vegetaccedilatildeo pelo consumo das
cascas dos troncos de aacutervores e arbustos e pela remoccedilatildeo das placircntulas das espeacutecies
arboacutereas e arbustivas Nessas condiccedilotildees mudanccedilas na composiccedilatildeo floriacutestica da
vegetaccedilatildeo podem resultar em virtude do desaparecimento das espeacutecies lenhosas
forrageiras o que em aacutereas de vegetaccedilatildeo degradada acelera o processo de
desertificaccedilatildeo Em aacutereas de caatinga o pastejo por ovinos induz mudanccedilas
significativas na composiccedilatildeo botacircnica do estrato herbaacuteceo com a reduccedilatildeo da
participaccedilatildeo das gramiacuteneas mesmo em condiccedilotildees de pastoreio moderado Nesse
contexto o sobrepastejo por ovinos pode resultar no desaparecimento das gramiacuteneas
e ao final de toda cobertura herbaacutecea da vegetaccedilatildeo expondo o solo aos efeitos da
erosatildeo (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 78)
2 Agricultura rudimentar que pratica o desmatamento e faz uso do fogo O
impacto deste sobre o ecossistema eacute onipresente e caracteriza-se pela queda da
produccedilatildeo agriacutecola pela degradaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa pela erosatildeo dos solos pela
perda da biodiversidade da flora e da fauna e pelo assoreamento e salinizaccedilatildeo dos
mananciais pela perda da resiliecircncia aumentando sua fragilidade diante das
variaccedilotildees climaacuteticas tiacutepicas das regiotildees semiaacuteridas Aleacutem disto os desmatamentos e
queimadas seguidos por um curto periacuteodo de pousio terminam por levar a vegetaccedilatildeo
a um disclimax dominado por arbustos uma vez que o banco de sementes das
arboacutereas praticamente desapareceu (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 918)
3 Manejo inadequado do solo associado ao relevo da regiatildeo Satildeo trecircs tipos de
solo que se destacam em Irauccediluba litoacutelicos planossolos e luvissolos Por conta da
declividade de 8 a 45 os agricultores optam pelas terras nas encostas para
implantar os roccedilados pois haacute um menor risco de perder a safra em funccedilatildeo do
alagamento comum nas terras planas do municiacutepio durante a eacutepoca das chuvas
Nestas condiccedilotildees as perdas de solo por erosatildeo satildeo assombrosas Aleacutem disto haacute a
erosatildeo nos planossolos provocada pelo sobrepastejo com perdas de solo superiores a
51
17 tha em uma uacutenica estaccedilatildeo das chuvas o que enfatiza a importacircncia da cobertura
vegetal na proteccedilatildeo contra a erosatildeo (apud SALES 2003) Como consequecircncia do
sobrepastejo continuado ao longo provavelmente de centenas de anos a erosatildeo
laminar jaacute removeu porccedilatildeo significativa do horizonte A expondo em alguns casos o
horizonte B textural Aleacutem disso houve uma exaustatildeo dos nutrientes do solo
principalmente do foacutesforo Outro fator que tambeacutem intensifica a degradaccedilatildeo eacute o
curtiacutessimo periacuteodo de repouso Estima-se em 50 anos o tempo necessaacuterio para que a
vegetaccedilatildeo da caatinga em um luvissolo que foi destruiacuteda pela queimada do roccedilado
volte pela sucessatildeo secundaacuteria ao cliacutemax original Ora na regiatildeo este periacuteodo estaacute
reduzido a cerca de oito anos Com isto natildeo haacute a recuperaccedilatildeo da fertilidade do solo e
a recomposiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo Isto porque a velocidade de crescimento das arboacutereas
da caatinga eacute muito variaacutevel (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 810)
Concluem portanto os autores Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 17) que ldquoas praacuteticas
rotineiramente adotadas do desmatamento e do fogo a exposiccedilatildeo do solo e a diminuiccedilatildeo do
periacuteodo de pousio tecircm induzido processos de degradaccedilatildeo mormente os de erosatildeordquo
231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia
A desertificaccedilatildeo eacute um problema ambiental que assola vaacuterias partes do mundo e
vem sendo discutido desde 1977 quando em Nairoacutebi no Quecircnia aconteceu a Conferecircncia
sobre Desertificaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas ldquoA observaccedilatildeo desse processo se atribui ao cientista
Aubreville que em 1949 constatou o prolongamento da degradaccedilatildeo para o norte das zonas
mais aacuteridas do Saara e para as regiotildees semiaacuteridas e subuacutemidas do norte da Aacutefricardquo (ARAUacuteJO
et al 2008 p 26) Em 1992 na ECO 92 foi definido o conceito de desertificaccedilatildeo cuja
ocorrecircncia se daacute em aacutereas aacuteridas semiaacuteridas e subuacutemidas secas O grau de aridez eacute
estabelecido pela relaccedilatildeo PEtp que eacute a razatildeo entre a meacutedia da precipitaccedilatildeo total anual e a
evapotranspiraccedilatildeo potencial do mesmo periacuteodo metodologia esta desenvolvida por
Thornthwaite (1955) Desta forma definiu-se uma correspondecircncia entre o clima e o
resultado da relaccedilatildeo acima conforme mostra a tabela 3
Tabela 3 ndash Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez
CLIMA P ETP
Hiper-aacuterido lt 005
Aacuterido De 005 a 020
Semiaacuterido gt 020 a 050
Subuacutemido Seco gt 050 a 065
Subuacutemido Uacutemido gt 065
Fonte United Nations Environment Programme ndash UNEP (Programa
Ambiental das Naccedilotildees Unidas) 1992
52
Eacute interessante mencionar que o semiaacuterido brasileiro delimitado pela uacuteltima vez
em 1995 foi novamente demarcado a partir da iniciativa do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
Nacional (MIN) que instituiu um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) envolvendo
departamentos empresas institutos agecircncias e ateacute bancos puacuteblicos para a readequaccedilatildeo dos
criteacuterios propostos pela Lei 782789 (BRASIL 1989c) Somente a inserccedilatildeo do municiacutepio na
aacuterea de abrangecircncia da extinta Superintendecircncia de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)
e a precipitaccedilatildeo meacutedia anual de ateacute 800 mm eram condiccedilotildees para enquadrar ou natildeo
determinado municiacutepio no semiaacuterido brasileiro (SUDENE 1990) Os novos paracircmetros satildeo
mais abrangentes pois aleacutem de considerar a precipitaccedilatildeo pluviomeacutetrica meacutedia anual inferior a
800 mm avaliam se o iacutendice de aridez do municiacutepio eacute de ateacute 05 ou se o risco de seca eacute maior
que 6011
Com a nova delimitaccedilatildeo em 2005 foram incorporados mais 102 municiacutepios aos
1031 jaacute classificados de forma que a aacuterea oficialmente semiaacuterida brasileira aumentou de
8923094 km2 para 9695894 km
2 ou seja um acreacutescimo de 866
12
A figura 4 ilustra o novo formato do semiaacuterido no Brasil E no Cearaacute foram
incorporados mais 16 totalizando 150 de um universo com 184 municiacutepios Isto significa
815 do estado e 132 de toda a regiatildeo semiaacuterida do paiacutes13
O quadro atual do semiaacuterido
cearense estaacute delineado na figura 5 a seguir
Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro
Fonte MIN (BRASIL 2005c)
11
Conferir Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro MI (BRASIL 2005c) 12
Idem 13
Ibidem
53
Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute
Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)
Com relaccedilatildeo ao processo de desertificaccedilatildeo no Brasil uma aacuterea de 900000 Kmsup2 eacute
atingida afetando direta ou indiretamente mais de 15 milhotildees de brasileiros natildeo existindo no
territoacuterio nacional outro problema ambiental que atinja tamanha aacuterea e tantas pessoas
(SUDENE 2000 apud IRAUCcedilUBA 2009) A regiatildeo nordeste por sua vez concentra as
Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) incluindo os espaccedilos semiaacuteridos e subuacutemidos
secos ambos de maior abrangecircncia fiacutesico-territorial vis-agrave-vis os outros espaccedilos naturais que
conformam e estruturam o Nordeste brasileiro (BRASIL 2004)
Pesquisadores apontam como principais causas de desertificaccedilatildeo no semiaacuterido
cearense a ocupaccedilatildeo desordenada do solo o desmatamento praacuteticas de queimadas (CEARAacute
2010b) Dentro desse raciociacutenio
Os estabelecimentos agropecuaacuterios ocupam o solo principalmente com lavouras
temporaacuterias e a criaccedilatildeo de animais Estas atividades muitas vezes satildeo executadas
sem preocupaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos e contribuem para
agravar o quadro de degradaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2010b p 103)
No mesmo sentido e no tocante agraves Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) o
PAN (BRASIL 2004) destaca que as condiccedilotildees ambientais dessas aacutereas (principalmente as de
54
clima solo aacutegua e vegetaccedilatildeo) associadas agrave pressatildeo exercida sobre os recursos naturais pela
accedilatildeo antroacutepica (pressatildeo populacional formas inadequadas de uso e ocupaccedilatildeo do solo entre
outros) vecircm contribuindo para a deflagraccedilatildeo de processos de desertificaccedilatildeo em algumas de
suas sub-regiotildees Um dos motivos para isso eacute a combinaccedilatildeo entre pobreza e desigualdade de
forma que
Uma imensa massa de pequenos agricultores descapitalizados confinados em
pequenas parcelas de terras de tais aacutereas (via de regra de meacutedia ou baixa fertilidade
natural) dependentes de seu trabalho para a produccedilatildeo de alimentos para
autoconsumo de forragens para seus animais mas necessitando produzir excedentes
comercializaacuteveis tenderaacute naturalmente a sobreutilizar os recursos naturais
contribuindo dessa forma para agravar os processos de degradaccedilatildeo Nas ASD este
ciacuterculo vicioso eacute agravado pela ocorrecircncia de secas perioacutedicas que levam agrave perdas
significativas e recorrentes de produccedilatildeo e de renda Neste sentido as secas
potencializam o grau de degradaccedilatildeo levando a vulnerabilidade ambiental a niacuteveis
mais elevados Os efeitos das secas sobre a sauacutede e a inseguranccedila alimentar e
nutricional tambeacutem satildeo conhecidos e consideraacuteveis (BRASIL 2004 p 106)
Classificando a susceptibilidade dessas aacutereas Matallo Jr (1999) construiu uma
relaccedilatildeo entre a aptidatildeo agrave desertificaccedilatildeo em funccedilatildeo do iacutendice de aridez conforme se vecirc pela
tabela 4
Tabela 4 - Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo
IacuteNDICE DE ARIDEZ SUSCEPTIBILIDADE Agrave
DESERTIFICACcedilAtildeO
005 a 020 Muito Alta
021 a 050 Alta
051 a 065 Moderada Fonte MATALLO JR (1999)
Nesse iacutenterim o municiacutepio de estudo do corrente trabalho tem iacutendice de aridez
conforme adotado pela UNEP de acordo com o que ilustra na figura 6
55
Figura 6 Iacutendice de Aridez (UNEP) do municiacutepio de Irauccediluba
O Cearaacute por sua vez eacute ldquoo Estado com a maior aacuterea relativa sob niacuteveis altos de
desertificaccedilatildeordquo (LEMOS 1995 apud FOLHES e VIANA 2001 p 5) Seu processo de
ocupaccedilatildeo e uso de terras via de regra foi marcado pela apropriaccedilatildeo dos recursos naturais de
forma a degradaacute-los Esta foi uma das causas para a concepccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Estadual
de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (PAE) cujo objetivo eacute
Contribuir para a convivecircncia equilibrada com o semiaacuterido por meio da
sustentabilidade ambiental do bioma caatinga a partir de poliacuteticas ambientais
sociais e econocircmicas focadas na reduccedilatildeo da pobreza A gestatildeo do Programa
pressupotildee a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo
democraacutetico e a participaccedilatildeo da sociedade (CEARAacute 2010b p 20)
No Estado existem trecircs nuacutecleos em processo de desertificaccedilatildeo Localizam-se no
Sertatildeo dos Inhamuns Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte e Sertatildeo de Jaguaribe abrangendo
respectivamente os municiacutepios de Arneiroz Independecircncia e Tauaacute Canindeacute Irauccediluba
Miraiacutema e Santa Quiteacuteria Jaguaretama Jaguaribara Jaguaribe Alto Santo e Morada Nova
(CEARAacute 2010b) Totalizam portanto 12 cidades com os maiores iacutendices de degradaccedilatildeo
ambiental do estado portanto susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo num grau muito grave como se
pode ver pelas figuras 7 e 8
No entanto o presente trabalho se ateraacute tatildeo somente ao municiacutepio de Irauccediluba
abrangido pelo nuacutecleo Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte
Fonte NOLEcircTO (2005)
56
Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave
desertificaccedilatildeo no Cearaacute desertificaccedilatildeo
Fonte IPECE (CEARAacute 2010a) Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)
O PAE (CEARAacute 2010b) utilizou para a formulaccedilatildeo do iacutendice de susceptibilidade
agrave desertificaccedilatildeo indicadores sociais que apontam a forma de ocupaccedilatildeo e tudo que dela
decorre e indicadores econocircmicos que representam as atividades humanas exercidas no
municiacutepio Vale ressaltar que as caracteriacutesticas do meio ambiente da regiatildeo natildeo foram
ignoradas muito pelo contraacuterio elas definiram as aacutereas classificadas como susceptiacuteveis agrave
desertificaccedilatildeo A lista abaixo demonstra os criteacuterios mensurados e os aspectos ambientais
observados
Indicadores sociais
1 Proporccedilatildeo da aacuterea das grandes propriedades na aacuterea total dos imoacuteveis rurais em
2005
2 Razatildeo entre alfabetizados e natildeo-alfabetizados de 5 ou mais anos de idade em
2000
3 Taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais de idade em 2000
(percentagem)
4 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino fundamental da populaccedilatildeo de 7 a 14
anos de idade em 2005
5 Taxa de evasatildeo no ensino fundamental em 2005
57
6 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino meacutedio da populaccedilatildeo de 15 a 17 anos de
idade em 2005
7 Taxa de evasatildeo escolar no ensino meacutedio em 2005
8 Densidade demograacutefica em 2006 (habitanteskm2)
Indicadores econocircmicos
1 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de carvatildeo vegetal pela aacuterea do municiacutepio em 2006
(tonha)
2 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de lenha pela aacuterea do municiacutepio em 2006 (m3ha)
3 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)
4 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)
5 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como pequena
propriedade em 2005 (haimoacutevel)
6 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como minifuacutendio em
2005 (haimoacutevel)
7 Razatildeo do consumo de energia eleacutetrica rural por consumidores de energia eleacutetrica
rural em 2005
8 Proporccedilatildeo de induacutestrias de transformaccedilatildeo no total de empresas industriais ativas
em 2005
9 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de feijatildeo em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
10 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com arroz em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
11 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com milho em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
12 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de mandioca em 2006 na aacuterea total dos
estabelecimentos agropecuaacuterios em 1996
13 Razatildeo do efetivo de bovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
14 Razatildeo do efetivo de ovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
15 Razatildeo do efetivo de caprinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
16 Razatildeo do efetivo de suiacutenos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
17 Produto Interno Bruto per capita a preccedilos de mercado em 2004
Caracteriacutesticas ambientais
1 Degradaccedilatildeo da cobertura vegetal
2 Assoreamento dos rios
3 Pastoreio excessivo
4 Perda da biodiversidade
5 Perda da capacidade produtiva do solo
6 Baixa relaccedilatildeo entre capacidade produtiva dos recursos naturais e sua capacidade
de recuperaccedilatildeo
A anaacutelise dos 25 paracircmetros entremeados com as condiccedilotildees ambientais estaacute
devidamente compilada no Quadro 2 ndash Caracterizaccedilatildeo das ASDs nos Sertotildees de Irauccediluba e
Centro-Norte do PAE (CEARAacute 2010b) As constataccedilotildees ensejam problemas no meio
ambiente a partir dos inuacutemeros gargalos sociais e econocircmicos como por exemplo a produccedilatildeo
agriacutecola em lavouras temporaacuterias na maior proporccedilatildeo dos estabelecimentos rurais o grande
iacutendice de pobres da regiatildeo o consumo de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo cada vez maior
58
Natildeo se pode deixar de mencionar os problemas ambientais que deixam a aacuterea em
questatildeo muito mais vulneraacutevel aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas e da desertificaccedilatildeo Satildeo
eles degradaccedilatildeo dos solos e da cobertura vegetal primaacuteria o sobrepastoreio o
desencadeamento e expansatildeo de processos erosivos acelerados com ocorrecircncia muito
frequente de afloramentos rochosos e chatildeos pedregosos perda de solos e biodiversidade
empobrecida baixa frequecircncia de espeacutecies lenhosas da caatinga e processos erosivos muito
ativos em funccedilatildeo do aumento da torrencialidade do escoamento superficial
Assim conclui-se que natildeo haacute como dissociar o quadro social e econocircmico das
nuances ambientais de um municiacutepio ou regiatildeo
Em se tratando da ASD nos Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte faz-se necessaacuterio
expor os nuacutemeros encontrados e as respectivas conclusotildees a partir dos levantamentos feitos
pelo PAE (CEARAacute 2010b) O Iacutendice Econocircmico e Social de Susceptibilidade agrave
Desertificaccedilatildeo (IESSD) ilustrado pelas figuras 9 e 10 por exemplo aponta as possiacuteveis causas
e os principais agentes causadores do processo de desertificaccedilatildeo sem quantificar ou mensurar
seu niacutevel
Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no Iacutendice Social de Susceptibilidade agrave
Desertificaccedilatildeo (ISSD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)
Fonte PAE (CEARAacute 2010b)
0
5
10
15
20
25
30
Contribuiccedilatildeo no ISSD ()
59
Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no Iacutendice Econocircmico de Susceptibilidade agrave
Desertificaccedilatildeo (IESD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)
Fonte PAE (CEARAacute 2010b)
Assim analisando os dois graacuteficos acima eacute possiacutevel perceber que sob o aspecto
social a concentraccedilatildeo de terras e a educaccedilatildeo datildeo a maior contribuiccedilatildeo ao iacutendice de
susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo enquanto que no vieacutes econocircmico destacam-se as aacutereas
destinadas a imoacuteveis rurais e o PIB ldquoper capitardquo Eacute um cenaacuterio deveras preocupante visto que
aquela regiatildeo jaacute eacute dotada de condiccedilotildees naturais adversas Uma populaccedilatildeo sem educaccedilatildeo
inserida num niacutevel de pobreza e ocupante de grande parte da zona rural que eacute onde as
atividades potencialmente degradadoras satildeo praticadas traduz uma combinaccedilatildeo
extremamente alarmante pois fazem uso de praacuteticas predatoacuterias e potencializam a
susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo
Segundo o PAE (CEARAacute 2010b p 123) nessa regiatildeo satildeo observadas ldquomarcas
configuradas de desertificaccedilatildeo como o elevado estaacutegio de degradaccedilatildeo do solo comprometendo
os processos naturais de sucessatildeo processos erosivos acelerados perda de solo e
biodiversidade espeacutecies lenhosas rarefeitasrdquo
05
1015202530354045
Contribuiccedilatildeo no IESD ()
60
Sob um olhar mais aprofundado voltado agrave Irauccediluba haacute maior destaque para as
atividades de agricultura e pecuaacuteria Lavouras temporaacuterias como feijatildeo milho e mandioca satildeo
as mais praticadas pelo pequeno agricultor A figura 11 aponta o percentual de
estabelecimentos ocupados com atividades agropecuaacuterias no municiacutepio
Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios Adaptado
Fonte PAE (CEARAacute 2010b)
Com relaccedilatildeo agrave extraccedilatildeo legalizada de madeira no municiacutepio de Irauccediluba o IBGE
informa que tanto a produccedilatildeo de carvatildeo como o corte de lenha entre 2004 a 2011 foi estaacutevel
Aquela girou em torno de 71 toneladas com um custo variaacutevel de R$ 1100000 a 2300000
ao ano enquanto que este ficou na casa dos 10000 m3 resultando num rendimento que
oscilou de R$ 4200000 a R$ 5700000 anuais14
Por fim Irauccediluba embora representando um dos quatro nuacutecleos de desertificaccedilatildeo
do Nordeste natildeo apresenta a pior condiccedilatildeo socioeconocircmica considerando a maioria dos
indicadores analisados (CEARAacute 2010b) Desta forma conclui-se que estes aspectos natildeo
determinam a desertificaccedilatildeo mas influenciam principalmente se as condiccedilotildees ambientais satildeo
limitantes Assim uma economia e uma sociedade deficientes inseridas num ambiente fraacutegil
natildeo tecircm como deixar de gerar degradaccedilatildeo
14
Conferir em lthttpwwwibgegovbrcidadesatxtrasperfilphpcodmun=230610ampsearch=ceara|iraucubagt
0
10
20
30
40
50
60
Irauccediluba
61
24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo do processo de degradaccedilatildeo
Embora o quadro de degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba seja por demais
preocupante ainda haacute condiccedilotildees para sua reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica a partir de
teacutecnicas e praacuteticas correspondentes ao tipo de solo ao estaacutegio de degradaccedilatildeo da aacuterea e ao
histoacuterico do uso da terra (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Continuam os autores
Assim considerando as extensotildees sob o planossolo que ocupam uma aacuterea total de
27321 ha duas recomendaccedilotildees podem ser propostas a regeneraccedilatildeo natural e a
adubaccedilatildeo organo-mineral A regeneraccedilatildeo natural eacute um processo muito lento e no
caso do planossolo de Irauccediluba dificilmente proporcionaraacute condiccedilotildees para retorno agrave
produtividade esperada [](ARAUacuteJO FILHO 1992) Entatildeo estaacute claro que a
recuperaccedilatildeo natural via pousio eacute muito lenta mas constitui uma opccedilatildeo em muitos
casos A aplicaccedilatildeo de adubo orgacircnico (estercos) eacute outra alternativa de recuperaccedilatildeo
pastoril que poderia ser utilizada no nuacutecleo de Irauccediluba Assim a fertilizaccedilatildeo com
foacutesforo constitui uma boa opccedilatildeo para a recuperaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica das
pastagens degradadas nos planossolos do nuacutecleo de Irauccediluba (ARAUacuteJO FILHO e
SILVA 2013 p 1013)
Outros fatores que envolvem o processo de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo
em Irauccediluba segundo Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 15) eacute ldquoa fixaccedilatildeo da agricultura no
terreno a sustaccedilatildeo do desmatamento e do uso do fogo visando agrave mitigaccedilatildeo dos impactos
antroacutepicos negativos a recuperaccedilatildeo dos agroecossistemas o aumento da produtividade
agriacutecola e da renda familiarrdquo Para tanto os mesmos autores sugerem que
A agrossilvicultura eacute com certeza o modelo de exploraccedilatildeo da terra mais apropriado
Dentre os modelos de sistemas agroflorestais o silvopastoril e o agrossilvipastoril
seriam os mais indicados para as condiccedilotildees de Irauccediluba O primeiro associa o
manejo florestal com a exploraccedilatildeo pastoril e o segundo associa o manejo florestal a
exploraccedilatildeo pastoril e a agricultura formando o sistema lavoura-pecuaacuteria-floresta O
modelo silvopastoril pode ser estabelecido seja para ter a madeira como o principal
produto seja para ter na exploraccedilatildeo animal a principal atividade (ARAUacuteJO FILHO
e SILVA 2013 p 15)
[]
A opccedilatildeo pela agrossilvicultura como a alternativa mais apropriada para a
reabilitaccedilatildeo dos solos de potencial agriacutecola mais elevado fundamenta-se na garantia
que este sistema de uso da terra traz a seguranccedila ambiental e a seguranccedila alimentar
No primeiro caso o solo eacute protegido contra a erosatildeo pelo acuacutemulo de serrapilheira
tem sua fertilidade reposta e sua biologia ativada pela deposiccedilatildeo da mateacuteria
orgacircnica Os recursos hiacutedricos satildeo beneficiados pela manutenccedilatildeo da mata ciliar
evitando o assoreamento das nascentes e reservatoacuterios e pela reduccedilatildeo das perdas de
aacutegua pelo solo A flora com a sustaccedilatildeo das queimadas e dos desmatamentos tem sua
biodiversidade incrementada e integraccedilatildeo das aacutervores no sistema produtivo
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2021)
Assim sendo o principal objetivo da recuperaccedilatildeo de uma aacuterea degradada deve ser
a recomposiccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica do solo Isto porque para que se restabeleccedila a
62
funcionalidade do ecossistema eacute fundamental a revitalizaccedilatildeo da biologia do solo principal
responsaacutevel pela circulaccedilatildeo de nutrientes15
Aleacutem disso continuam os mesmos autores
O aumento da mateacuteria orgacircnica e a formaccedilatildeo de uma cobertura morta sobre o solo o
protegeratildeo contra a erosatildeo laminar e melhoraratildeo sua capacidade de retenccedilatildeo de
aacutegua [] Os nutrientes de ecossistemas florestais de clima tropical se concentram
na biomassa e natildeo no solo como nos de clima temperado por isso os meacutetodos de
exploraccedilatildeo dos solos deveriam estar fundamentados no menor distuacuterbio possiacutevel do
meio bioloacutegico e no reforccedilo do aporte de mateacuteria orgacircnica (ARAUacuteJO FILHO e
SILVA 2013 p 710)
Nesse sentido para ambientes tropicais os sistemas de produccedilatildeo agroflorestais
(SAF) estatildeo sendo avaliados e propostos como alternativas ecologicamente sustentaacuteveis de
exploraccedilatildeo O uso de espeacutecies arboacutereas constitui a garantia de manter ativa a circulaccedilatildeo de
nutrientes e o aporte significativo de mateacuteria orgacircnica condiccedilatildeo essencial para se cultivar de
maneira continuada os solos tropicais16
No caso do bioma caatinga e de ambiente semiaacuterido segundo Arauacutejo Filho e silva
(2013) trecircs recomendaccedilotildees fundamentais garantem quando seguidas a sustentabilidade das
tecnologias de manipulaccedilatildeo
Preservaccedilatildeo de ateacute 400 aacutervores por hectare ou o equivalente a 40 de cobertura
utilizaccedilatildeo maacutexima de 60 da forragem disponiacutevel e preservaccedilatildeo da mata ciliar em
toda a malha de drenagem da pastagem Esta tecnologia jaacute vem sendo utilizada pelos
produtores na regiatildeo de Irauccediluba desde o iniacutecio da deacutecada de 1980 envolvendo
uma aacuterea de cerca de 3000 ha (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 1617)
Outras maneiras de controle e combate do processo de degradaccedilatildeo cuja iniciativa
vem do governo em suas diferentes formas e esferas satildeo os programas e as poliacuteticas puacuteblicas
a criaccedilatildeo de leis e normas sobre o tema a disponibilidade de recursos a fiscalizaccedilatildeo dos
oacutergatildeos competentes dentre outros
Ilustrando o primeiro exemplo em abril de 2011 a Superintendecircncia Estadual do
Meio Ambiente (SEMACE) e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) celebraram um convecircnio
de assistecircncia teacutecnica e financeira para a realizaccedilatildeo da pesquisa ldquoRevitalizaccedilatildeo da cobertura
vegetal nativa atraveacutes da recomposiccedilatildeo das matas ciliares e enriquecimento das aacutereas
destinadas a compor reserva legal dos imoacuteveis rurais do municiacutepio de Irauccedilubardquo Para a
consecuccedilatildeo dos objetivos propostos foi concedido um montante de R$ 4920000 (quarenta e
nove mil e duzentos reais) com fins de recuperar a qualidade do meio biofiacutesico atraveacutes do
plantio de essecircncias florestais nativas e plantas adaptadas agraves condiccedilotildees edafoclimaacuteticas da
aacuterea de abrangecircncia do projeto para
15
Como recomenda Lima (2009) In Arauacutejo Filho e Silva (2013) 16
Idem
63
1 Minimizar os impactos ambientais adversos causados pelos sistemas tradicionais
de exploraccedilatildeo econocircmica
2 Implantar um viveiro florestal permanente destinado agrave produccedilatildeo de mudas
nativas e adaptadas agraves condiccedilotildees locais associando-lhe atividades educativas e
de natureza formativa para o puacuteblico interessado
3 Incentivar o cultivo de essecircncias florestais nativas arboacutereas e frutiacuteferas que
contribuiratildeo para gerar alternativas de diversificaccedilatildeo de renda e por conseguinte
a melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo do municiacutepio
4 Fomentar a produccedilatildeo e o plantio de essecircncias florestais nativas ameaccediladas de
extinccedilatildeo
5 Viabilizar a recomposiccedilatildeo de matas ciliares dentro dos limites de abrangecircncia da
aacuterea das bacias hidrograacuteficas dos recursos hiacutedricos naturais denominados de
Riacho Aracatiaccedilu e Riacho Curu e do principal reservatoacuterio denominado de
Accedilude Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu seja em aacutereas de domiacutenio puacuteblico seja em
aacutereas de domiacutenio privado
6 Estabelecer a recuperaccedilatildeo da cobertura vegetal nativa de aacutereas de reserva legal
das propriedades rurais
O prazo do convecircnio era de doze meses ou seja ateacute abril de 2012 todavia foi
renovado por aditivo ateacute abril de 2013 Seu lanccedilamento soacute se deu em dezembro de 2011 e ateacute
agosto de 2012 o viveiro florestal ainda natildeo havia sido construiacutedo mas palestras com os
temas Desmatamento e Reserva Legal Fogo Desmatamento e Preservaccedilatildeo dos Accediludes
Resiacuteduos Soacutelidos Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal Aacuterea de
Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal foram ministradas pela SEMACE
Infelizmente nada mais foi feito pois dificuldades como a burocracia com o banco
financiador e a seca que assola o municiacutepio inviabilizando a produccedilatildeo e o plantio das mudas
levaram agrave extinccedilatildeo do convecircnio uma vez que seu prazo natildeo foi renovado numa segunda
oportunidade O recurso investido foi devolvido ao BNB e natildeo haacute qualquer previsatildeo de
retomada do projeto
Natildeo se pode deixar de registrar a indignaccedilatildeo que esse desfecho causa naqueles
que estudam e buscam uma saiacuteda Muitas vezes se natildeo todas as vezes ela existe mas eacute
deveras negligenciada ou pouco valorizada O que eacute que isso O Brasil eacute um paiacutes rico natildeo
falta recurso o que muito falta eacute vontade coragem e preferecircncia por aquilo que se deve
fazer Isto eacute um ultraje ao homem do campo que humilde e inocentemente espera confiante
em alguma providecircncia de seus representantes ou por quem faz as suas vezes
De modo diverso as normas 43 e 44 de 2005 (BRASIL 2005 a b) e a 512006
(BRASIL 2006a) que seratildeo explanadas no item 331 criadas pelo INCRA satildeo outras
medidas parecidas com o convecircnio citado acima pois tambeacutem foram elaboradas com o intuito
de recuperar e conservar os recursos naturais em aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e de
64
reserva legal mesmo sendo especiacuteficas para projetos de assentamento agraacuterio federal Atraveacutes
delas um determinado valor pode ser cedido por aquele oacutergatildeo e destinado agraves famiacutelias
assentadas para promoverem agrave implantaccedilatildeo de um projeto de recuperaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo
Como Poliacuteticas Puacuteblicas em niacutevel local e estadual que englobam o problema da
degradaccedilatildeo ambiental amplamente aqui discutido inclusive o mais seacuterio deles que eacute a
desertificaccedilatildeo destaca-se o Plano de Accedilatildeo Municipal de Combate agrave Desertificaccedilatildeo de
Irauccediluba (IRAUCcedilUBA 2009) e o Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e
Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (CEARAacute 2010b) O primeiro levou nove anos para se tornar
poliacutetica puacuteblica e contou com recursos do fundo de apoio a iniciativas locais de combate agrave
desertificaccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Nacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos
Efeitos da Seca (BRASIL 2004) Sua funccedilatildeo eacute orientar e desenvolver accedilotildees no sentido de
controlar e prevenir o avanccedilo da desertificaccedilatildeo e quando possiacutevel recuperar aacutereas degradadas
para o uso produtivo ou seja alcanccedilar o desenvolvimento sustentaacutevel nas aacutereas sujeitas agrave seca
e a desertificaccedilatildeo do Municiacutepio Como objetivos baacutesicos estatildeo as contribuiccedilotildees para
1 A formulaccedilatildeo do planejamento de uso sustentaacutevel dos recursos naturais do
Municiacutepio
2 A melhoria da produtividade e produccedilatildeo agriacutecola nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e
desertificaccedilatildeo
3 A reduccedilatildeo da vulnerabilidade e melhoria da qualidade de vida das populaccedilotildees
residentes nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e agrave desertificaccedilatildeo
4 A articulaccedilatildeo de accedilotildees setoriais do governo (em niacutevel federal estadual e
municipal) com vista agrave sinergia dos processos de planejamento
5 A melhoria da capacidade de enfrentamento dos problemas de desertificaccedilatildeo e
seca por parte das populaccedilotildees locais (IRAUCcedilUBA 2009 p 24)
O PAE (CEARAacute 2010b) em seu objetivo global e em termos gerais natildeo eacute muito
diferente do PAM (IRAUCcedilUBA 2009) pois visa contribuir para a convivecircncia com o
semiaacuterido e sustentabilidade ambiental do bioma caatinga Busca promover poliacuteticas
ambientais sociais e econocircmicas para a reduccedilatildeo da pobreza procurando em sua
administraccedilatildeo a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo democraacutetico
e a participaccedilatildeo da sociedade E recorre agrave negociaccedilatildeo transparente e responsaacutevel de conflitos
como forma privilegiada de superar as diferenccedilas de uso dos recursos naturais
25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira
A lei 6938 (BRASIL 1981) promulgada em 1981 foi a primeira norma juriacutedica
tratando da temaacutetica ambiental no Brasil Como bem diz Milareacute (2009) ela tem um caraacuteter
65
inovador pois sua implementaccedilatildeo seus resultados assim como a estabilidade e a efetividade
que denota constituem um salto de qualidade na vida puacuteblica brasileira
Com nascedouro um tanto quanto isolado a lei 693881 (BRASIL 1981)
instituiu a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente para a preservaccedilatildeo melhoria e recuperaccedilatildeo da
qualidade ambiental propiacutecia agrave vida visando assegurar no Paiacutes condiccedilotildees ao
desenvolvimento soacutecioeconocircmico aos interesses da seguranccedila nacional e agrave proteccedilatildeo da
dignidade da vida (artigo 2ordm) Tais objetivos estatildeo baseados em princiacutepios norteadores dos
quais se destacam para a presente pesquisa a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas (inciso VIII) e a
proteccedilatildeo de aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX)
Instrumentalizando a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente quanto agrave degradaccedilatildeo
ambiental existem as penalidades disciplinares ou compensatoacuterias ao natildeo cumprimento das
medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo ou correccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental conforme o artigo
9ordm inciso IX da Lei 693881 (BRASIL 1981) Em termos de sanccedilatildeo o artigo 14 disciplina
que os danos causados pela degradaccedilatildeo da qualidade ambiental sujeitaratildeo os transgressores agrave
multa simples ou diaacuteria agrave perda ou restriccedilatildeo de incentivos e benefiacutecios fiscais concedidos
pelo Poder Puacuteblico agrave perda ou suspensatildeo de participaccedilatildeo em linhas de financiamento em
estabelecimentos oficiais de creacutedito e agrave suspensatildeo de sua atividade
Para evitar a sanccedilatildeo pratica-se a prevenccedilatildeo e uma forma de prevenir a degradaccedilatildeo
eacute o licenciamento ambiental conforme preconiza o artigo 10 daquela mesma lei O natildeo
cumprimento disto enseja o enquadramento do representante da atividade ou do
estabelecimento no artigo 60 da Lei 960598 (BRASIL 1998) que versa sobre crimes
ambientais
Art 10 A construccedilatildeo instalaccedilatildeo ampliaccedilatildeo e funcionamento de estabelecimentos e
atividades utilizadores de recursos ambientais efetiva ou potencialmente poluidores
ou capazes sob qualquer forma de causar degradaccedilatildeo ambiental dependeratildeo de
preacutevio licenciamento ambiental (BRASIL 1981 p 7)
Art 60 Construir reformar ampliar instalar ou fazer funcionar em qualquer parte
do territoacuterio nacional estabelecimentos obras ou serviccedilos potencialmente
poluidores sem licenccedila ou autorizaccedilatildeo dos oacutergatildeos ambientais competentes ou
contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes Pena - detenccedilatildeo de um a seis meses ou multa ou ambas as penas cumulativamente
(BRASIL 1998 p 12)
Outra previsatildeo salutar na Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente eacute o dever que
entidades e oacutergatildeos de financiamento e incentivos governamentais tecircm de condicionar a
aprovaccedilatildeo de projetos financiaacuteveis ao licenciamento ambiental Aleacutem disto devem constar em
tais projetos a realizaccedilatildeo de obras e aquisiccedilatildeo de equipamentos destinados ao controle de
degradaccedilatildeo ambiental e a melhoria da qualidade do meio ambiente (artigo 12 paraacutegrafo
66
uacutenico) Isto tudo porque a instituiccedilatildeo que financia atividades eou empreendimentos que por
ventura causem algum dano tambeacutem se tornam corresponsaacuteveis pelo passivo ambiental
respondendo perante os oacutergatildeos competentes e os guardiatildees da lei
Por fim eacute pertinente mencionar que toda accedilatildeo ou omissatildeo prevista na legislaccedilatildeo
ambiental brasileira seja nas leis que criam diretrizes como nas que preveem sanccedilotildees visa o
combate o controle a reparaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo da degradaccedilatildeo aos bens naturais como um
todo O impasse eacute existir inuacutemeras normas distintas que dispotildeem sobre vaacuterios recursos
ambientais e que satildeo criadas em eacutepocas diferentes como por exemplo o Coacutedigo Florestal
(BRASIL 2012) o Coacutedigo de Caccedila (BRASIL 1967a) o Coacutedigo Mineraacuterio (BRASIL
1967b) o Coacutedigo de Pesca (BRASIL 2009) o Coacutedigo de Aacuteguas (BRASIL 1934a) a Poliacutetica
Nacional de Recursos Hiacutedricos (BRASIL 1997) o Programa Nacional de controle da
qualidade do ar (BRASIL 1989a) dentre outras O ideal eacute que houvesse a reuniatildeo de todos os
dispositivos em uma legislaccedilatildeo soacute como o fez a lei de crimes ambientais que versa sobre
infraccedilotildees cometidas aos bens naturais apontados pelas diversas normas citadas
Em niacutevel estadual o Cearaacute dispotildee de um arcabouccedilo legal que reflete um
pouco o que jaacute estaacute disposto nas leis federais no entanto cabe aqui citar algumas normas
pertinentes ao assunto estudado
A Resoluccedilatildeo nordm 092003 (CEARAacute 2003) do Conselho Estadual do Meio
Ambiente (COEMA) estabeleceu a compensaccedilatildeo ambiental como forma de prevenir eou
obrigar o poluidorusuaacuterio pagador ou degradador a indenizar os danos causados em
decorrecircncia da utilizaccedilatildeo de recursos naturais para fins econocircmicos Trata-se de medida
arrecadatoacuteria anterior ao processo de licenciamento ambiental e condicionada ao firmamento
de um Termo de Compromisso A supracitada norma definiu percentual de 05 a ser recolhido
com base no valor do empreendimento a ser implantado A destinaccedilatildeo dos valores recolhidos
seria via de regra a Unidades de Conservaccedilatildeo
A Lei Complementar nordm 482004 (CEARAacute 2004) criou o Fundo e o Conselho
Estadual Gestor do Meio Ambiente (FEMA) onde uma de suas finalidades eacute o ressarcimento
da coletividade por danos causados ao meio ambiente Reza o artigo 10 que qualquer cidadatildeo
pode propor projetos relativos agrave reconstituiccedilatildeo reparaccedilatildeo preservaccedilatildeo e prevenccedilatildeo do meio
ambiente A dita lei foi regulamentada pelo Decreto Estadual nordm 277192005 (CEARAacute 2005)
que por sua vez dispocircs accedilotildees programas planos e projetos para a melhoria e recuperaccedilatildeo da
qualidade ambiental no Estado do Cearaacute Agrave pertinecircncia da presente pesquisa cabe destacar
uma diretriz do FEMA prevista no inciso VIII do artigo 3ordm daquele Decreto
67
Artigo 3ordm
[]
VIII - Promover a proteccedilatildeo da biodiversidade e dos ecossistemas associados e aacutereas
ameaccediladas de degradaccedilatildeo atraveacutes da preservaccedilatildeo conservaccedilatildeo e administraccedilatildeo de
biomas representativos bem assim da recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas
possibilitando melhor controle de atividades potencialmente poluidoras nos termos
da legislaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2005 p 2)
Eacute essencial citar a Lei 1248895 (CEARAacute 1995) que dispotildee sobre a Poliacutetica
Florestal do Estado do Cearaacute Um de seus objetivos guarda relaccedilatildeo direta com este trabalho
qual seja promover a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas e em processos de degradaccedilatildeo
especialmente nas aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e reserva legal bem como proteger as
aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX do artigo 3ordm) Para tanto um dos instrumentos
previsto e deveras necessaacuterio para a consecuccedilatildeo de tais fins eacute a fiscalizaccedilatildeo a aplicaccedilatildeo de
penalidades accedilotildees disciplinares e compensatoacuterias das medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo dos
recursos naturais ou a correccedilatildeo da degradaccedilatildeo do meio ambiente (inciso XI do artigo 4ordm)
E por fim eacute cabiacutevel mencionar a Lei 141982008 (CEARAacute 2008) pois institui a
Poliacutetica Estadual de Combate e Prevenccedilatildeo agrave Desertificaccedilatildeo e tem por base a Convenccedilatildeo
Internacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo nos Paiacuteses afetados por Seca Grave eou
Desertificaccedilatildeo Como jaacute mencionado no Cearaacute existem trecircs nuacutecleos com aacutereas susceptiacuteveis agrave
desertificaccedilatildeo e nada mais apropriado que o Estado dispor de uma legislaccedilatildeo proacutepria sobre o
tema Diante disto destacam-se os seguintes dispositivos
Art 1ordm Institui a Poliacutetica Estadual de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Desertificaccedilatildeo a qual
tem por objetivos
[]
III - instituir mecanismos de proteccedilatildeo conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da flora fauna e
de solos degradados nas aacutereas de risco ou impactadas pela desertificaccedilatildeo
[]
Art 3ordm Cumpre ao Poder Puacuteblico
I - diagnosticar o avanccedilo do processo de degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo ambiental nas
aacutereas afetadas
II - definir um plano de contingecircncia para mitigaccedilatildeo dos efeitos da degradaccedilatildeo
ambiental
[]
XI - estimular o desenvolvimento de agroinduacutestrias baseadas em alimentos
ambientalmente e culturalmente adaptados ao meio ambiente
[]
XIV - estimular a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
e de Reserva Legal []
[]
Art 5ordm No tocante agrave agricultura irrigada o Poder Puacuteblico deveraacute
[]
II - diagnosticar as aacutereas cujos solos sejam susceptiacuteveis agrave salinizaccedilatildeo e acuacutemulo de
compostos de soacutedio e fomentar a recuperaccedilatildeo de solos afetados por salinizaccedilatildeo e
acuacutemulo de compostos de soacutedio
Art 6ordm No tocante agrave agricultura sequeiro o Poder Puacuteblico deveraacute
[]
68
II - incentivar o manejo sustentaacutevel dos recursos naturais apoiando o
desenvolvimento de sistemas agroflorestais e agrosilvopastoris diversificados e
integrados como forma de conciliar a recuperaccedilatildeo florestal e as atividades agriacutecolas
(CEARAacute 2008 p 1 - 3)
251 Lei ambiental de Irauccediluba
O municiacutepio de Irauccediluba criou sua proacutepria Poliacutetica Ambiental a partir da Lei
5652007 (IRAUCcedilUBA 2007) Nela estatildeo dispostos princiacutepios e instrumentos de accedilatildeo que
visam agrave qualidade ambiental em seus diferentes aspectos Felizmente a norma natildeo deixou de
fora as aacutereas de reserva legal pelo contraacuterio tratou do tema em uma seccedilatildeo especiacutefica
composta pelos artigos 57 e 58
Art 57 - A reserva legal eacute requisito essencial ao exerciacutecio legiacutetimo do direito de
propriedade na aacuterea rural e fundamental para a proteccedilatildeo do meio ambiente
ecologicamente equilibrado e da biodiversidade cumprindo funccedilotildees do interesse
coletivo e individual do proprietaacuterio
Art 58 - A reserva legal eacute a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) localizada no
interior de uma propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente
necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos
processos ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de
fauna e flora nativas sendo imutaacutevel sua localizaccedilatildeo apoacutes definida
sect1ordm - Fica proibido qualquer registro imobiliaacuterio relativo a propriedade rural sem
preacutevio registro da reserva legal sob pena de nulidade do ato
sect2ordm- A reserva legal deveraacute ser averbada agrave margem da matriacutecula do imoacutevel no
registro competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de
transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou divisatildeo da aacuterea
sect3ordm - As aacutereas de reserva legal e preservaccedilatildeo permanente poderatildeo ser computadas
conjuntamente desde que somadas passem de 50 (cinquumlenta por cento) da
extensatildeo total da propriedade e sejam de extensatildeo contiacutenua
sect4ordm - No imoacutevel rural que natildeo houver vegetaccedilatildeo nativa suficiente para compor o
miacutenimo da reserva legal o proprietaacuterio ou possuidor deveraacute recuperar e recompor
com a vegetaccedilatildeo nativa ateacute atingir a porcentagem determinada
sect5ordm - A recomposiccedilatildeo mencionada no paraacutegrafo anterior deveraacute ser realizada na
proporccedilatildeo de no miacutenimo 110 (um deacutecimo) da aacuterea da propriedade ou posse a cada
ano dando prioridade agraves aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
sect6ordm - A Reserva Legal deve ser preferencialmente contiacutegua a das propriedades
vizinhas agraves unidades de conservaccedilatildeo ou aacutereas florestadas formando um corredor de
vegetaccedilatildeo
sect7ordm - A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser
utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel (IRAUCcedilUBA 2007 p 26)
No artigo 57 haacute o reconhecimento do direito de propriedade agrave luz da funccedilatildeo
social dada pela reserva legal e a devida importacircncia agrave proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental Jaacute o
58 prevecirc os 20 da aacuterea a tiacutetulo de reserva reproduzindo o que a lei federal ou seja o
Coacutedigo Florestal dispotildee No entanto o sect1ordm do mesmo dispositivo acaba restringindo ainda
mais o que a norma geral prescreve isto eacute proiacutebe qualquer registro junto ao cartoacuterio de
imoacuteveis sem a devida averbaccedilatildeo na matriacutecula da propriedade muito embora isso jaacute possa ser
diferente pela instituiccedilatildeo do Cadastro Ambiental Rural Dos paraacutegrafos 2ordm ao 5ordm houve a
69
revogaccedilatildeo expressa pela Lei 126512012 (BRASIL 2012) ou novo Coacutedigo Florestal O 6ordm e o
7ordm continuaram vigentes em sua essecircncia sofrendo apenas pequenas alteraccedilotildees jaacute que devem
estar em consonacircncia com a lei federal natildeo podendo ser menos restritivos
Por fim aleacutem do que fora comentado a lei ambiental de Irauccediluba traz muito em
sua natureza procedimentos e mandamentos semelhantes agrave de uma lei de uso e ocupaccedilatildeo do
solo Prevecirc portanto paracircmetros sobre publicidade emissotildees sonoras construccedilatildeo civil
poluiccedilatildeo obras dentre outros
70
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS
31 Reserva Legal em Irauccediluba
Um dos objetivos da presente pesquisa eacute o levantamento do nuacutemero de imoacuteveis
rurais no municiacutepio de Irauccediluba para em seguida verificar o grau de obediecircncia ao instituto
da reserva legal nessas propriedades Para tanto buscou-se os respectivos dados no cartoacuterio de
registro de imoacuteveis do municiacutepio no Instituto de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e
no Instituto de Desenvolvimento Agraacuterio do Cearaacute (IDACE)
No cartoacuterio de imoacuteveis onde o acesso eacute possiacutevel pela liberdade que qualquer
interessado tem para solicitar informaccedilotildees registrais achou-se o nuacutemero de 215 imoacuteveis
registrados Jaacute no INCRA o total de propriedades ali cadastradas eacute de 415 e no IDACE 713
imoacuteveis devidamente medidos e georreferenciados
Primeiramente cabe discorrer um pouco sobre esse desencontro na quantidade
dos imoacuteveis O fato de o cartoacuterio municipal possuir 215 imoacuteveis rurais registrados natildeo
significa que soacute tenha esse nuacutemero de propriedades laacute pois existem inuacutemeras terras habitadas
e utilizadas sem qualquer registro formal e neste caso o que os ldquodonosrdquo desses lugares
deteacutem chama-se posse o que os torna posseiros e natildeo proprietaacuterios O INCRA ter em seu
banco de dados o cadastro de 415 propriedades rurais tambeacutem natildeo quer dizer que soacute haja as
415 uma vez que a procura por este oacutergatildeo eacute voluntaacuteria quando se trata de cadastramento do
imoacutevel Soacute seraacute diferente se surgir a necessidade de desmembrar arrendar hipotecar vender
ou prometer em venda o bem rural Ou ainda em caso de partilha17
Esses satildeo os casos que
impelem o proprietaacuterio a cadastrar seu imoacutevel conforme definidos pela lei 494766
(BRASIL 1966) Do contraacuterio natildeo eacute obrigatoacuterio motivo pelo qual se explica nuacutemeros tatildeo
distintos uns dos outros Justificando um pouco esta discrepacircncia o II Plano Nacional de
Reforma Agraacuteria aponta que os dados do Cadastro do INCRA indicam que ldquosomente 5086
da aacuterea total do territoacuterio brasileiro estaacute na condiccedilatildeo de cadastradardquo (II PNRA 2003 p 22)
E por fim o nuacutemero apontado pelo IDACE acredita-se ser o mais proacuteximo da
realidade uma vez que pelo Programa de Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria com iniacutecio em 2007 as
propriedades rurais no municiacutepio de Irauccediluba foram no ano de 2012 medidas e
georreferenciadas uma a uma para dar fim aos problemas decorrentes da ausecircncia de tiacutetulos
imobiliaacuterios e o tamanho das aacutereas Eacute o que segue estabelecido pelo II PNRA (2003)
17
Partilha eacute a via pela qual se daacute a divisatildeo dos bens de uma heranccedila
A importacircncia de um recadastramento de todos os imoacuteveis rurais e da revisatildeo das
normas que regem o processo de registro das propriedades eacute ainda maior quando se
observa que as possibilidades de obtenccedilatildeo de terras para Reforma Agraacuteria estatildeo
condicionadas por dois indicadores que dependem das informaccedilotildees contidas no
Cadastro do INCRA o moacutedulo fiscal e os iacutendices de produtividade [] Por meio de
uma integraccedilatildeo do INCRA com os oacutergatildeos estaduais seraacute executado um amplo
processo de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria visando regularizar as pequenas posses de boa feacute
e a arrecadaccedilatildeo e incorporaccedilatildeo de terras devolutas ao patrimocircnio puacuteblico seguida de
sua destinaccedilatildeo para o assentamento de trabalhadores rurais e tambeacutem promover
accedilotildees anulatoacuterias sobre ocupaccedilotildees de terras com registros irregulares (II PNRA
2003 p 23)
Contudo o nuacutemero desencontrado de imoacuteveis natildeo eacute soacute o que assusta ou angustia
mas sim a quantidade iacutenfima de reserva legal existente naquele municiacutepio que jaacute sofre com
um processo criacutetico de degradaccedilatildeo
Apoacutes verificar junto ao cartoacuterio a quantidade de imoacuteveis rurais registrados
averiguou-se que somente trecircs dos 215 estatildeo com suas respectivas aacutereas de reserva legal
devidamente averbadas junto ao registro do bem Essa aguda diferenccedila tambeacutem natildeo muda
quando se analisa as informaccedilotildees presentes nos cadastros feitos junto ao INCRA Muitos satildeo
os cadastramentos onde tem descritas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente mas de reserva legal
somente cinco das 415 propriedades cadastradas No IDACE natildeo foi possiacutevel fazer esse
levantamento porque o objetivo deste oacutergatildeo em adentrar as aacutereas era medi-las em sua
totalidade sem discriminar a presenccedila de qualquer constataccedilatildeo em seu interior
Pela leitura da tabela 5 eacute possiacutevel concluir duas realidades A primeira eacute a
existecircncia de propriedade cujo registro apresenta averbaccedilatildeo da reserva legal mas sem
cadastro junto ao INCRA como eacute o caso do imoacutevel Poccedilo da PedraAacuteguas Mortas No
segundo caso ocorre o contraacuterio isto eacute natildeo haacute averbaccedilatildeo da reserva legal no cartoacuterio de
registro mas existe o cadastro da propriedade perante o INCRA constando a reserva legal
devidamente apontada conforme relatoacuterios cedidos por aquele oacutergatildeo
72
Tabela 5 - Levantamento de Imoacuteveis com reserva legal (Cartoacuterio de registro de imoacuteveisINCRA)
311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental - Projeto de Assentamento Agraacuterio em
foco
Todo projeto de assentamento de reforma agraacuteria soacute deve ser implantado apoacutes o
licenciamento ambiental junto ao oacutergatildeo competente que pela relevacircncia social do
empreendimento possui um procedimento diferenciado Eacute um processo trifaacutesico ou seja
consiste na licenccedila preacutevia (LP) licenccedila de instalaccedilatildeo (LI) e licenccedila de operaccedilatildeo (LO) mas no
caso dos projetos de assentamento satildeo soacute duas a LP e a LIO que nada mais eacute que a licenccedila de
18
Trata-se de um imoacutevel que foi destinado a Projeto de Assentamento no acircmbito estadual No entanto o registro
no cartoacuterio aponta que a propriedade possui Reserva Legal averbada mas no cadastro do INCRA natildeo haacute
qualquer menccedilatildeo a essa aacuterea 19
PA ndash Projeto de Assentamento da Reforma Agraacuteria Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria conjunto
de accedilotildees planejadas e desenvolvidas em aacuterea destinada agrave reforma agraacuteria para um puacuteblico beneficiaacuterio
orientadas para utilizaccedilatildeo racional dos espaccedilos fiacutesicos e dos recursos naturais existentes objetivando a
implementaccedilatildeo dos sistemas de vivecircncia e produccedilatildeo sustentaacuteveis na perspectiva do cumprimento da funccedilatildeo
social da terra e da promoccedilatildeo econocircmica social e cultural do trabalhador rural e de seus familiares (BRASIL
2006b) 20
O imoacutevel Poccedilo da Pedra e Aacuteguas Mortas eacute um soacute Embora natildeo conste no registro do cartoacuterio a aacuterea total da
propriedade e a destinada agrave reserva legal o Termo de Responsabilidade de Averbaccedilatildeo da Aacuterea de Reserva Legal
cedido pelo INCRA descreve as aacutereas apontadas na tabela 2
RESERVA LEGAL DOCUMENTALMENTE EXISTENTE
Imoacutevel Fonte dos Dados Aacuterea do Imoacutevel
(ha)
Aacuterea (ha) Domiacutenio Data da
Averbaccedilatildeo (AV)
Cadastro (C)
Miramar Cartoacuterio de Imoacuteveis
INCRA
1144 2305 Particular AV 06042005
C 05092005
Saco do
Vento18
Cartoacuterio de Imoacuteveis
INCRA
33060 661 PA19
estadual
AV 03102012
C 27122011
Poccedilo da Pedra
(Aacuteguas
Mortas)20
Cartoacuterio de Imoacuteveis 239778 47955 INCRA AV 02012003
Boa Vista INCRA 348 6960 Particular C 30121992
Escondido e
Vale do
Agreste
INCRA 15775 3155 Particular C 30121992
Lagoa Cercada INCRA 55180 50 Particular C13101992
73
instalaccedilatildeo e de operaccedilatildeo em um mesmo pedido conforme prevecirc a Resoluccedilatildeo CONAMA
3872006 (BRASIL 2006b)
Art 3ordm O oacutergatildeo ambiental competente concederaacute a Licenccedila Preacutevia - LP e a Licenccedila
de
Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo - LIO para os Projetos de Assentamentos de Reforma Agraacuteria
[]
sect 2o A LP constitui-se documento obrigatoacuterio e que antecede o ato de criaccedilatildeo de um
Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria tendo prazo para a sua expediccedilatildeo
apoacutes seu requerimento de ateacute noventa dias
sect 3o A LIO deveraacute ser requerida durante a validade da LP e cumpridos os requisitos
da mesma [] (BRASIL 2006 p2)
Por se tratar de um empreendimento rural e ambientalmente licenciaacutevel eacute muito
mais faacutecil e oportuno acontecer o cumprimento da reserva legal jaacute que o oacutergatildeo competente
foi provocado e por sua vez deve exigir a observacircncia daquele instituto Desta forma natildeo se
pode admitir que um licenciamento em zona rural seja concedido sem o devido respeito agrave aacuterea
de reserva legal
Especificamente os projetos de assentamento federais isto eacute os realizados pelo
INCRA devem obedecer agrave ordem que segue Ao dar iniacutecio ao processo de desapropriaccedilatildeo de
alguma terra o INCRA jaacute deve solicitar a Licenccedila Preacutevia devendo constar naquele processo o
protocolo do pedido A criaccedilatildeo do assentamento soacute eacute possiacutevel mediante uma portaria
resoluccedilatildeo ou decreto desde que jaacute possua a Licenccedila Preacutevia expedida Criado o assentamento
a Licenccedila de Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo deve ser solicitada de imediato ateacute porque se o contraacuterio
ocorrer os assentados ficam impossibilitados de receber recursos do governo como o creacutedito
de apoio inicial o creacutedito fomento o creacutedito para a construccedilatildeo de casa dentre outros
Essa sequencia e esses mandamentos estatildeo previstos no artigo 3ordm da Resoluccedilatildeo
CONAMA 3872006 (BRASIL 2006b) citada acima e no Acoacuterdatildeo nordm 2633-5107 (BRASIL
2007) do Tribunal de Contas da Uniatildeo conforme prevecirc o item 3 do sumaacuterio daquele
julgamento (3) A Licenccedila Preacutevia constitui-se em documento obrigatoacuterio e que antecede o ato
de criaccedilatildeo de um projeto de assentamento de reforma agraacuteria devendo ser expedida
anteriormente agrave obtenccedilatildeo da terra Trata-se de uma decisatildeo que teve origem em uma auditoria
realizada por este oacutergatildeo em assentamentos no Amazonas Paraacute e Acre quanto aos estudos de
viabilidade ambiental reserva legal e licenciamento ambiental em projetos criados pelo
INCRA Essa auditoria objetivou portanto avaliar o impacto nas aacutereas de reserva legal dos
projetos de assentamento bem como o cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental aplicaacutevel a esses
projetos conforme item 2 do Relatoacuterio do referido Acoacuterdatildeo Para tanto buscou-se saber se os
limites da reserva legal estavam sendo devidamente demarcados e preservados nos projetos de
74
assentamento rural e se o INCRA estava promovendo a aplicaccedilatildeo de teacutecnicas viaacuteveis para a
exploraccedilatildeo sustentaacutevel da Reserva Legal
Constatou-se pela amostragem realizada e demonstrada na Conclusatildeo e no Voto
do Acoacuterdatildeo 26332007 (BRASIL 2007) que
Conclusatildeo
[]
Item 65 o INCRA tem a necessidade premente de adotar medidas com vistas a
normalizar os procedimentos de criaccedilatildeo de projetos de assentamento desde o iniacutecio
do processo no que se refere ao cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental
Item 66 Eacute notoacuterio que a morosidade do oacutergatildeo no processo de regularizaccedilatildeo das
exigecircncias determinadas pela legislaccedilatildeo ambiental contribuiraacute para degradaccedilatildeo do
meio ambiente patrimocircnio sob proteccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal Brasileira Ao
disponibilizar terra aos assentados sem indicar a forma de uso do terreno por meio
do Plano de Uso e sem delimitar as aacutereas de preservaccedilatildeo mediante a demarcaccedilatildeo
das reservas legais o INCRA estaraacute dando tutela a esses usuaacuterios para disporem dos
lotes da forma que melhor lhes convier sem importar se essa exploraccedilatildeo implicaraacute
em degradaccedilatildeo ambiental (BRASIL 2007 p 9)
[]
Voto
[] Item 3 ndash subitem 12 A equipe de auditoria constatou nos assentamentos uma
grande degradaccedilatildeo das aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APP) e da reserva legal (RL)
Ainda verificou por meio de questionaacuterios aplicados aos trabalhadores assentados
que o INCRA natildeo promove accedilotildees efetivas relacionadas agrave orientaccedilatildeo e
conscientizaccedilatildeo ambiental dessas comunidades que natildeo sabem sequer o que
significa APP e RL
[]
Item 5 Outrossim eacute importante frisar que o INCRA eacute co-responsaacutevel pelas
irregularidades ambientais constatadas em seus projetos de assentamento []
(BRASIL 2007 p 11)
E por fim o dito Acoacuterdatildeo determina em niacutevel nacional embora a motivaccedilatildeo da
decisatildeo tenha por base a auditoria realizada somente em trecircs estados que
O INCRA se abstenha de criar projetos de assentamento sem a observacircncia ao
disposto no art 2ordm inciso III cc 3ordm sect 2ordm da Resoluccedilatildeo Conama 3872006 que
condiciona a criaccedilatildeo de projetos de assentamentos de reforma agraacuteria agrave existecircncia da
licenccedila preacutevia e ao disposto no art 2ordm inciso IV da mesma Resoluccedilatildeo que exige a
licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo como condiccedilatildeo para a implantaccedilatildeo e operaccedilatildeo
destes projetos Que em decorrecircncia do disposto no art 2ordm inciso VII da
ResoluccedilatildeoConama 3872006 atente a necessidade de que a reserva legal esteja
perfeitamente delimitada e caracterizada por ocasiatildeo do Plano de
Desenvolvimento do Assentamento e que o referido Plano seja elaborado em prazo
razoaacutevel (BRASIL 2007 p 16)
Para enriquecer a pesquisa nesse sentido procurou-se junto ao oacutergatildeo ambiental
estadual a SEMACE ndash Superintendecircncia Estadual do Meio Ambiente e ao proacuteprio INCRA as
licenccedilas emitidas e ainda em tramitaccedilatildeo referentes aos projetos de assentamento federais
Encontrou-se assim 3 processos de licenciamento na SEMACE numa busca compreendida
75
entre 01012010 a 06052013 sendo 2 de licenccedilas preacutevias e 1 de licenccedila de instalaccedilatildeo e
operaccedilatildeo No INCRA localizou-se 5 processos como se pode observar pela tabela 6 sendo 2
de licenccedilas preacutevias e 3 de licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo num periacuteodo de 09122008 a
08112010
Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais
Fonte SEMACE e INCRA
Conclui-se portanto a existecircncia de trecircs processos de LIO jaacute emitidas mas sem a
averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio de duas das trecircs propriedades conforme se pode
confirmar pela pesquisa feita no registro de imoacuteveis de Irauccediluba A exceccedilatildeo eacute a fazenda
Aacuteguas MortasPoccedilo da Pedra que possui averbaccedilatildeo da reserva legal desde 02012003
Aleacutem disto verificou-se tambeacutem todos os empreendimentos e atividades
localizadas no municiacutepio de Irauccediluba que possuem solicitaccedilatildeo ou recebimento de licenccedila
ambiental tanto em zona urbana como rural No total satildeo 15 tramitando e 40 emitidas
ressaltando que licenciamentos em zona rural o cumprimento da reserva legal deve ser
exigido
Quanto aos assentamentos agraacuterios no municiacutepio de Irauccediluba a tabela 7 aponta a
pesquisa realizada junto ao INCRA e ao IDACE onde se constatou que o primeiro oacutergatildeo
implantou 8 projetos e o segundo 6 Em todos eles existe a demarcaccedilatildeo da aacuterea de reserva
legal nas plantas georreferenciadas cedidas pelas duas instituiccedilotildees acima citadas
PROCESSO TIPO PA FONTE DO
DADO
PROTOCOLO EXPEDICcedilAtildeO VALIDADE STATUS
11386605-4 LP Arraia INCRASEMA
CE
08112010 01072011 Natildeo
informada
Emitida
11118313-8 LP Alegre e
anexos
INCRASEMA
CE
10112010 29032011 Natildeo
informada
Tramitando
09557603-7 LIO Aacuteguas
Mortas
Poccedilo da
Pedra
INCRASEMA
CE
30102009 24032010 24032013 Emitida
08653283-9 LIO Satildeo
Marinho
Rodeador
INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida
08653281-2 LIO Olho
d‟aacutegua da
esperanccedila
INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida
76
Tabela 7 - Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba
PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO - IRAUCcedilUBA
Nome do
Assentamento
Instituiccedilatildeo
Responsaacutevel
Aacuterea do
Imoacutevel (ha)
Aacuterea de Reserva
Legal (ha)
Data de criaccedilatildeo Nordm de Famiacutelias
Assentadas
Saco do Vento IDACE 33060 661 Em andamento 10
Aroeira IDACE 50508 10101 Em andamento 10
Boqueiratildeo IDACE 38474 7694 Em andamento -
Mudubim IDACE 6512 1302 Em andamento 5
Consulta IDACE 39593 7918 23072001 13
Cachoeira IDACE 14929 2985 05102006 10
Saco Verde INCRA 6464 129280 2691997 100
Cajazeiras II INCRA 96487 19297 2691997 30
Aacuteguas Mortas
Poccedilo da Pedra
INCRA 239778 47955 22121997 52
RiachueloAlto
Alegre
INCRA 3378 67560 09112005 16
Olho drsquoAacutegua da
Esperanccedila
INCRA 1940 388 06122007 23
Satildeo Marinho
Rodeador
INCRA 50757 10151 04122006 10
Arraia INCRA 156797 31359 13102011 34
Almas INCRA 1297 25940 17111998 22
Eacute importante salientar que em 2005 e em 2006 o INCRA baixou 3 normas
referentes a criteacuterios e procedimentos para a implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e
Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria A
primeira eacute a NE 432005 (BRASIL 2005a) a segunda NE 442005 (BRASIL 2005b) que
estabeleceu o valor unitaacuterio por famiacutelia para a implantaccedilatildeo destes projetos e a terceira NE
512006 (BRASIL 2006a) aprovou o manual para a elaboraccedilatildeo dos projetos de recuperaccedilatildeo
A NE 432005 (BRASIL 2005a) considera a premente necessidade de
recuperaccedilatildeo natildeo soacute de Reserva Legal mas de aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente em grande
parte dos Projetos de Assentamento em todo o territoacuterio nacional mas infelizmente soacute
abrange os que satildeo implantados pelo Governo Federal (Art 2ordm inciso I) ficando de fora os
que satildeo de competecircncia dos Estados O criteacuterio para implantaccedilatildeo desses projetos eacute a aacuterea ser
reconhecida com problemas ambientais principalmente em termos de degradaccedilatildeo (Art 2ordm
inciso II) Para ser possiacutevel financeiramente a execuccedilatildeo de um projeto deste cuja norma
regulamentadora ainda se encontra vigente o INCRA disponibiliza ateacute R$ 100000 por
famiacutelia (Art 1ordm NE 442005 (BRASIL 2005b)) no entanto caso seja tecnicamente
comprovado que a recuperaccedilatildeo de aacutereas de reserva legal preservaccedilatildeo permanente e de solo
exija um maior investimento o valor poderaacute ser superior ao estabelecido Neste caso a
importacircncia repassada seraacute definida em funccedilatildeo do custo calculado para a recuperaccedilatildeo do dano
ambiental (Art 1ordm Paraacutegrafo Uacutenico)
77
O manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e
conservaccedilatildeo de recursos naturais em assentamentos da reforma agraacuteria aprovado pela NE
512006 (BRASIL 2006a) deixa claro que seus objetivos natildeo satildeo soacute reabilitar e resguardar a
aacuterea ambiental do assentamento Haacute mais e maiores propoacutesitos nisto como por exemplo
cumprir as exigecircncias estabelecidas pelo oacutergatildeo de meio ambiente estadual durante o processo
de licenciamento21
bem como a mobilizaccedilatildeo da comunidade em torno de atividades visando agrave
recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo dos recursos naturais por meio de programas de educaccedilatildeo
ambiental fiscalizaccedilatildeo e manutenccedilatildeo envolvendo os assentados Para que isto ocorra eacute
extremamente importante a participaccedilatildeo destes na elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do projeto22
Por fim os Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais seratildeo
destinados agraves seguintes praacuteticas23
1 Cercamento de aacutereas de Reserva Legal e aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
visando a regeneraccedilatildeo eou a proteccedilatildeo das aacutereas
2 Construccedilatildeo de viveiros para produccedilatildeo de mudas que seratildeo utilizadas no processo
de recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas
3 Demarcaccedilatildeo topograacutefica da Reserva Legal
4 []
5 Reflorestamento em aacutereas de Reserva Legal com espeacutecies nativas que
possibilitem o manejo florestal sustentaacutevel madeireiro ou natildeo madeireiro baseado
em princiacutepios e em criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos definidos e devidamente
aprovados pelo oacutergatildeo ambiental competente
6 Plantio de aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais composto por espeacutecies
exoacuteticas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas para
compensaccedilatildeo ou manutenccedilatildeo da aacuterea de reserva legal a criteacuterio do oacutergatildeo ambiental
competente
7 Atividades alternativas de produccedilatildeo (criaccedilatildeo de abelhas artesanato entre outras)
associadas agrave recuperaccedilatildeo ambiental e como instrumento de valorizaccedilatildeo das aacutereas a
serem conservadas ou recuperadas e de combate agraves praacuteticas indevidas de uso do
fogo
8 [] (BRASIL 2006ordf p 1112)
32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo
321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba
O municiacutepio de Irauccediluba possui uma aacuterea de 1461253 Km2 o que corresponde a
098 do territoacuterio estadual e estaacute situado no sertatildeo Centro-Norte conforme figura 12
inserido na microrregiatildeo geograacutefica de Sobral Dista cerca de 150 Km da capital Fortaleza e
21
p 7 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos naturais 22
p 11e 13 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos
naturais 23
p 11e 12 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos
naturais
78
localiza-se entre as coordenadas geograacuteficas Latitude 3˚44‟46rdquo S (Sul) e Longitude 39˚47‟00rdquo
WGr (oeste) Faz fronteira ao norte com os municiacutepios de Miraiacutema e Itapipoca ao sul com
Santa Quiteacuteria e Canindeacute a leste com Itapajeacute e Tejuccediluoca e a oeste com Sobral e possui trecircs
distritos Missi Juaacute e Boa Vista segundo ilustra a figura 13
Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba
Fonte Lustosa (2004) Fonte Lustosa (2004)
Segundo o censo de 2010 do IBGE a populaccedilatildeo do municiacutepio era de 22324
pessoas sendo curiosamente a maioria homens (5083) Jaacute sua densidade demograacutefica
correspondia a 1539 habKm2 A ocupaccedilatildeo municipal predomina na zona urbana
correspondendo a 6425 dos indiviacuteduos Em 2012 a populaccedilatildeo aumentou para 22742
pessoas
3211 Das propriedades estudadas
Por Irauccediluba possuir aproximadamente 713 imoacuteveis rurais tomando por base a
mediccedilatildeo feita pelo IDACE em 2012 natildeo seria possiacutevel o estudo de todas elas Partiu-se
entatildeo para uma amostragem com base nos imoacuteveis que possuiacuteam a reserva legal seja por
registro em cartoacuterio eou porque a aacuterea eacute puacuteblica e foi destinada a projetos de assentamentos
agraacuterios (PA‟s) estaduais e federais que por sua vez deveriam respeitar tal obrigatoriedade
79
Pela tabela 8 vecirc-se que dos 14 assentamentos em Irauccediluba 6 satildeo estaduais e 8
federais No entanto os criteacuterios utilizados para examinaacute-los foi o tempo de criaccedilatildeo de cada
um e a existecircncia de reserva legal delimitada na planta da propriedade Aleacutem disto foi
escolhido um imoacutevel particular por apresentar a averbaccedilatildeo da reserva legal como demonstra a
tabela 9
Tabela 8 - Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de anaacutelise
PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO
Nome do
Assentamento
Instituiccedilatildeo
Responsaacutevel Data de Criaccedilatildeo Status para anaacutelise
Saco do Vento IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Aroeira IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Boqueiratildeo IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Mudubim IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Consulta IDACE 23072001 Planta natildeo disponibilizada
Cachoeira IDACE 05102006 Planta natildeo disponibilizada
Saco Verde INCRA 2691997 Incluiacutedo
Cajazeiras II INCRA 2691997 Incluiacutedo
Aacuteguas Mortas
Poccedilo da Pedra INCRA 22121997 Incluiacutedo
RiachueloAlto
Alegre INCRA 09112005 Incluiacutedo
Almas INCRA 17111998 Incluiacutedo
Olho d‟Aacutegua da
Esperanccedila INCRA 06122007
Muito recente ndash Fora de abrangecircncia
das imagens de sateacutelite
Satildeo Marinho
Rodeador INCRA 04122006
Reserva legal natildeo delimitada na planta
do imoacutevel
Arraia INCRA 13102011 Muito recente ndash Fora de abrangecircncia
das imagens de sateacutelite
Tabela 9 - Dados da propriedade particular estudada PROPRIEDADE PARTICULAR ANALISADA
Nome Proprietaacuterio Data da averbaccedilatildeo
da RL Status para anaacutelise
Miramar MIRASA ndash Miramar
Agropecuaacuteria SA 06042005 Incluiacutedo
Diante dos paracircmetros de seleccedilatildeo apontados acima restaram 5 assentamentos e 1
aacuterea particular totalizando 6 aacutereas para estudo Assim sendo as propriedades analisadas
foram RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas Almas Saco Verde Cazajeiras II e Miramar
sendo esta a de domiacutenio privado Com exceccedilatildeo desta uacuteltima as demais satildeo assentamentos
agraacuterios federais ficando de fora os estaduais por serem em sua maioria recentes isto eacute a
partir de 2010 e por isso natildeo abrangidos pelas imagens de sateacutelite utilizadas (anos 1993 e
2007) As duas estaduais mais antigas Consulta e Cachoeira natildeo tiveram suas plantas
80
disponibilizadas pelo oacutergatildeo competente e as federais que ficaram excluiacutedas tambeacutem eram
muito recentes aleacutem do que natildeo possuiacuteam reserva legal delimitada
A figura 14 a seguir mostra a localizaccedilatildeo das propriedades estudadas e suas
respectivas reservas legais delimitadas que podem ser lidas pela legenda de cores ao lado
Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo
A tabela 10 traz as aacutereas de cada imoacutevel e sua reserva legal onde eacute possiacutevel
constatar um nuacutemero pequeno de propriedades que apresentam o tal instituto criado e exigido
por lei Aleacutem disso a soma de suas aacutereas tambeacutem eacute pouco expressiva ao comparar com a do
municiacutepio No total satildeo 1628865 hectares sendo 328832 hectares pertinentes agrave reserva
legal
Tabela 10 - Propriedades estudadas
PROPRIEDADES ESTUDADAS
IMOacuteVEL DOMIacuteNIO AacuteREA DO IMOVEL (HA) AacuteREA DA RESERVA LEGAL (HA)
Saco Verde INCRA 6464 129280
Cajazeiras II INCRA 96487 19297
Aacuteguas Mortas Poccedilo da Pedra INCRA 239778 47955
Riachuelo Alto Alegre INCRA 3378 67560
Olho drsquoAacutegua da Esperanccedila INCRA 1940 388
81
Miramar PARTICULAR 1144 25940
3212 Aspectos histoacutericos da ocupaccedilatildeo do municiacutepio
Haacute quem diga que Irauccediluba significa tanto amizade como grande abelha amarela
A primeira acepccedilatildeo se deve ao povo hospitaleiro de bons sentimentos e amigos da paz Jaacute a
segunda faz referecircncia a um vocaacutebulo indiacutegena cuja expressatildeo representa a junccedilatildeo de trecircs
palavras ira que quer dizer mel ou abelha ussu grande e yuba amarelo (FOLHES e
VIANA 2001)
Segundo o IBGE o surgimento de Irauccediluba se deve a um povoado denominado
Cacimba do Meio que despontou no iniacutecio do seacuteculo XIX O nome do municiacutepio como
atualmente eacute conhecido soacute foi alterado em 1899 pelo desembargador Aacutelvaro de Alencar
Irauccediluba foi distrito de Itapajeacute de 1905 ateacute 1957 quando foi elevada agrave condiccedilatildeo de municiacutepio
Quanto a sua ocupaccedilatildeo Arauacutejo Filho e Silva (2013) remontam a memoacuteria dos
mais antigos que registra o fenocircmeno da transumacircncia na regiatildeo jaacute no seacuteculo XIX Aleacutem
disto os autores ainda mencionam que
O primeiro relato da presenccedila do homem branco na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba
refere-se agrave passagem no ano de 1606-1607 dos jesuiacutetas Francisco Pinto e Luiacutes
Figueira Na eacutepoca a regiatildeo era habitada por iacutendios das etnias Tupi e Tapuia
citando-se os Anaceacute Apuiareacute e Kariri (GIRAtildeO1967) Consta entatildeo que os
indiacutegenas viviam da caccedila e que na eacutepoca seca ateavam fogo na erva para afugentar
as cobras e facilitar a caccedila (ARAUacuteJO e SILVA 2013 p 4)
E soacute para constar o potencial do municiacutepio acerca da boa qualidade das pastagens
de forma a compensar a praacutetica da transumacircncia em tempos antigos vale referenciar um
texto de Dias (1998) que Folhes e Viana (2001) fazem menccedilatildeo
ldquo() no espaccedilo onde Irauccediluba estaacute inserida atualmente visto como um ambiente
inoacutespito em processo de desertificaccedilatildeo no seacuteculo XVII ao se transitar pela flora
primitiva na eacutepoca das chuvas era difiacutecil saber se era noite ou dia face ao
adensamento da vegetaccedilatildeordquo Esse adensamento foi registrado pelos jesuiacutetas
Francisco Pinto e Luiacutes Figueira em 1607 quando partiram de Pernambuco numa
missatildeo de catequese em direccedilatildeo ao Maranhatildeo (DIAS 1998 p 62 apud FOLHES e
VIANA 2001 p 9)
322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas
Arauacutejo Filho e Silva (2013) fazem um apanhado sucinto e ao mesmo tempo geral
de duas atividades econocircmicas desenvolvidas no municiacutepio de Irauccediluba
82
Historicamente a Regiatildeo tem na pecuaacuteria a mais importante atividade dentro de um
sistema de transumacircncia servindo de estaccedilatildeo na eacutepoca das chuvas para os rebanhos
criados na regiatildeo litoracircnea Isto porque apresenta extensas aacutereas recobertas por
planossolos sob uma caatinga do tipo savana com cobertura herbaacutecea de excelente
potencial forrageiro Considerando a ocupaccedilatildeo da aacuterea municipal 124 satildeo usados
para a produccedilatildeo agriacutecola a pecuaacuteria ocupa 671 e os restantes 205 satildeo
recobertos de matas Confrontando os dados da distribuiccedilatildeo dos solos e de sua
ocupaccedilatildeo vecirc-se que a pecuaacuteria eacute praticada em toda a extensatildeo dos planossolos e dos
luvissolos a agricultura ocupa pequena parcela do luvissolo e dos solos litoacutelicos e a
extraccedilatildeo de madeira parte dos litoacutelicos e dos luvissolos (IBGE 2010) (ARAUacuteJO
FILHO e SILVA 2013 p 1)
Para os autores a pecuaacuteria em sistemas de produccedilatildeo de regiotildees semiaacuteridas
constitui uma atividade tampatildeo dos efeitos da seca facilita a dispersatildeo dos riscos de perdas
tem boa liquidez econocircmica e eacute um fator muito importante de fixaccedilatildeo do homem agrave terra
Em se tratando de nuacutemeros o PAE (CEARAacute 2010b) apresentou em seus
levantamentos percentuais a situaccedilatildeo de alguns aspectos socioeconocircmicos que ora se julga
interessantes expor neste trabalho Por exemplo o analfabetismo estaacute decrescendo eacute o que a
taxa de escolaridade no ensino fundamental de 932 em 2007 demonstra mas altas taxas
de repetecircncia evasatildeo escolar qualificaccedilatildeo dos professores baixo aproveitamento dos alunos
e divergecircncia entre a faixa etaacuteria e a seacuterie cursada tambeacutem satildeo problemas que afetam a
educaccedilatildeo no municiacutepio Folhes e Viana (2001) Quanto ao saneamento baacutesico natildeo existia rede
de esgotamento no municiacutepio nem aacutegua tratada para a maioria da populaccedilatildeo conforme
pesquisa realizada em 2007 contudo em 2010 a CAGECE24
informou que havia 6173
ligaccedilotildees entre reais e ativas para o abastecimento de aacutegua enquanto que a cobertura de
esgoto continuava sem nenhuma ligaccedilatildeo mas curiosamente apresentava uma taxa de
cobertura de 1937
O PAE (CEARAacute 2010) diz que em Irauccediluba o salaacuterio meacutedio mensal da
populaccedilatildeo correspondia a um salaacuterio miacutenimo e meio mas o IBGE (2010) traz outro nuacutemero
Em 2010 quando o salaacuterio miacutenimo era de R$ 51000 a renda domiciliar per capita entre frac14 a
mais de 3 correspondia a 5158 trabalhadores sendo que a maioria deles recebia por mecircs R$
12750 ou menos Agregada a essa realidade econocircmica existe a populaccedilatildeo extremamente
pobre com renda domiciliar per capita de ateacute R$ 7000 Nesse patamar concentram-se 8008
pessoas
Eacute nesse contexto que estatildeo cerca de 13500 pessoas classificadas como
economicamente ativas no municiacutepio Infelizmente o nuacutemero de irauccedilubenses inseridos na
condiccedilatildeo de pobreza eacute bem expressivo correspondendo a 3587 da populaccedilatildeo em 2010
24
In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p14)
83
Eacute faacutecil perceber que se trata de uma cidade pouco desenvolvida pobre sem muita
educaccedilatildeo e condiccedilotildees baacutesicas de sauacutede Isso reflete tanto na economia como na qualidade de
vida sem falar no cenaacuterio ambiental pois a situaccedilatildeo como estaacute posta favorece muito mais a
degradaccedilatildeo dos recursos naturais
Falando em questotildees ambientais dentro do contexto da dinacircmica populacional de
Irauccediluba eacute interessante citar a retraccedilatildeo no nuacutemero de indiviacuteduos residentes na aacuterea rural
desde a deacutecada de 70 e consequentemente aumento na urbana Considerando que os riscos de
desertificaccedilatildeo satildeo mais acentuados nas regiotildees densamente povoadas porque haacute maior
pressatildeo sobre os bens naturais e que a densidade demograacutefica do municiacutepio em 2010 estava
em 1539 habkm Folhes e Viana (2001) pontuam
A densidade demograacutefica de Irauccediluba representa pouco mais da metade do que
Ferreira et al (1994) estabeleceram como ldquofator de pressatildeordquo no estudo que se
tornou conhecido por ser o primeiro a confeccionar o mapa de susceptibilidade agrave
desertificaccedilatildeo do Nordeste brasileiro dada(s) as condiccedilotildees de semi-aridez as
condiccedilotildees dos solos a disponibilidade de aacutegua da regiatildeo e a capacidade de suporte
da mesma adotou-se como fator de pressatildeo sobre o meio ambiente a densidade
igual ou superior a 20habkm2 (p19-20)rdquo Veem-se a dificuldade e imprecisatildeo dos
estudos quanto agrave determinaccedilatildeo de algum ponto criacutetico onde a relaccedilatildeo densidade
demograacutefica versus processos de desertificaccedilatildeo passa de causa para efeito
(FOLHES e VIANA 2001 p 13)
Os autores ainda reforccedilam que o municiacutepio se enquadra no grupo com fraca
densidade demograacutefica que eacute de 10 a 20habkm2 de acordo com a classificaccedilatildeo estabelecida
pelo diagnoacutestico agro-soacutecio-econocircmico
Segundo Folhes e Viana (2001) um dos iacutendices mais sensiacuteveis para se medir o
niacutevel de desenvolvimento de um municiacutepio eacute a taxa de mortalidade infantil pois ela revela a
estreita ligaccedilatildeo entre o estado de sauacutede da populaccedilatildeo o acesso aos serviccedilos meacutedicos
condicionados pela situaccedilatildeo soacutecioeconocircmica da populaccedilatildeo Em Irauccediluba essa taxa eacute de 1592
mortos a cada 1000 nascidos vivos maior ainda que a do estado 133225
A economia de Irauccediluba gira em torno de atividades como agricultura e pecuaacuteria
Aquela engloba culturas praticadas em lavouras permanentes e temporaacuterias e esta envolve a
criaccedilatildeo de gado de vaacuterias espeacutecies e aves como galos e galinhas Em termos comparativos
traccedilou-se um paralelo do sistema produtivo econocircmico nos anos de 2001 e 2011 para que se
pudesse avaliar alguma retraccedilatildeo ou evoluccedilatildeo no quadro agropecuaacuterio e industrial do
municiacutepio
A figura 15 abaixo eacute autoexplicativa de modo que prontamente se percebe a
banana e a manga como as culturas mais significativas ficando logo atraacutes o cocircco da baiacutea
25
SESA (2011) In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p 9)
84
Nota-se tambeacutem natildeo haver muita diferenccedila de produccedilatildeo dos trecircs cultivos agriacutecolas nesses
dois anos o que leva a concluir que os produtores do municiacutepio mantiveram os investimentos
e colheitas semelhantes O mesmo natildeo ocorreu com o algodatildeo arboacutereo pois seu resultado caiu
drasticamente no periacuteodo analisado Ressalte-se poreacutem que o ano de 2001 foi mais produtivo
que o de 2011 com exceccedilatildeo da castanha de caju
Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Permanentes
Fonte IBGE (2001 e 2011)
Com relaccedilatildeo agraves lavouras temporaacuterias o destaque eacute da mandioca e da mamona
muito embora esta uacuteltima soacute apresente resultados no ano de 2011 Outras culturas temporaacuterias
satildeo o milho e o feijatildeo mas natildeo constam na figura 16 porque a disparidade entre os dois anos
e a alta produtividade em 2011 dificultariam a visualizaccedilatildeo
Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Temporaacuterias
Fonte IBGE (2001 e 2011)
85
De qualquer maneira a safra de milho e feijatildeo em 2001 natildeo foi tatildeo expressiva
ou seja correspondeu a 14 e 7 toneladas respectivamente Jaacute em 2011 esse nuacutemero foi agraves
alturas chegando agraves 4433 toneladas de milho e 2088 toneladas de feijatildeo
Jaacute os produtos de origem florestal comuns em Irauccediluba satildeo a cera o poacute e a fibra
da carnauacuteba o carvatildeo vegetal a lenha e a madeira em tora poreacutem os mais relevantes satildeo o
carvatildeo vegetal e a lenha conforme se vecirc nas figuras 17 e 18
Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em tonano
Fonte IBGE (2001 e 2011)
Como a lenha e a madeira em tora tecircm unidade de medida diferente dos demais
produtos construiu-se a figura 18 para natildeo deixaacute-las de fora da anaacutelise
0100020003000400050006000700080009000
1000011000
Lenha Madeira em tora
Produtos de origem vegetal (m3ano)
2001
2011
Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em m3ano
Fonte IBGE (2001 e 2011)
86
Quanto aos produtos de origem animal o leite foi o mais vultoso sobressaindo-se
nos anos de 2001 e 2011 Na tabela 11 abaixo tambeacutem foram relacionados os outros mas
com participaccedilatildeo bem pequena na produtividade do municiacutepio
Tabela 11 - Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem animal Produtos de origem animal
Leite Mel de abelha Ovos de galinha Ovos de codorna
Produccedilatildeo (mil l) Produccedilatildeo (kg) Produccedilatildeo (mil dz) Produccedilatildeo (mil dz)
2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011
5228 6031 0 507 80 143 0 1
Fonte IBGE (2001 e 2011)
Em termos industriais julgou-se interessante fazer uma comparaccedilatildeo um tanto
mais abrangente citando tambeacutem os nuacutemeros do ano de 2010 Observa-se que os grupos de
induacutestrias existentes em Irauccediluba reuacutenem as de extraccedilatildeo mineral construccedilatildeo civil e
principalmente as de transformaccedilatildeo conforme figura 19
Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011)
Fonte IBGE (2001 2010 e 2011)
Eacute possiacutevel observar pela figura acima que as empresas de extraccedilatildeo mineral e de
construccedilatildeo civil pouco se desenvolveram durante o periacuteodo analisado o mesmo natildeo ocorreu
com as induacutestrias de transformaccedilatildeo que inclusive chamam bastante atenccedilatildeo Estas se
desdobram em vaacuterias espeacutecies como por exemplo produccedilatildeo de minerais natildeo metaacutelicos
metaluacutergica mecacircnica produccedilatildeo de material eleacutetrico eletrocircnico e comunicaccedilatildeo produccedilatildeo de
material para transporte madeireira mobiliaacuteria produccedilatildeo de papel papelatildeo e borracha
beneficiamento de couros peles e similares quiacutemica produccedilatildeo de produtos farmacecircuticos e
veterinaacuterios de material plaacutestico tecircxtil vestuaacuterio calccedilados artefatos de tecido couros e
peles produtos alimentares bebidas fumo dentre outras
87
De 2001 para 2010 a quantidade de induacutestrias de transformaccedilatildeo pouco aumentou
passando de 13 para 17 mas de 2010 a 2011 esse rol duplicou indo de 17 para 34 empresas
como se pode observar pelas figuras 20 21 e 22
Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001
Fonte IBGE (2001)
Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010
Fonte IBGE (2010)
TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 13
TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 17
88
Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011
Fonte IBGE (2011)
A induacutestria tecircxtil oscilou em nuacutemeros visto que em 2001 contava com 5
empresas em 2010 com 4 expandido para 9 de forma que essa quantidade representou 26
do total de induacutestrias em Irauccediluba no ano de 2011 Outra atividade expressiva no municiacutepio eacute
a de produtos alimentares Muito embora natildeo exista em 2010 nos anos de 2001 e 2011 ela
totalizava 5 e 9 unidades respectivamente representando 23 e 26 cada uma no universo de
empresas Em terceiro plano encontra-se a produccedilatildeo de minerais natildeo-metaacutelicos que em 2001
contou com 1 induacutestria em 2010 com 2 e em 2011 com 3 Aleacutem disto apareceram a partir de
2010 atividades como mobiliaacuterio couros e peles vestuaacuterio e uma categoria natildeo definida pelo
IBGE classificada como diversas Em contrapartida desapareceram da contagem as
induacutestrias madeireira e metaluacutergica
Na pecuaacuteria existe a criaccedilatildeo de gado e aves O realce no primeiro grupo eacute dado
pelos bovinos seguido pelos ovinos e caprinos tanto no ano de 2010 como 2011 sendo neste
os nuacutemeros maiores Quanto agraves aves a ocorrecircncia eacute de galos frangos frangas e pintos aleacutem
de galinhas Entre estes dois grupos o primeiro eacute mais representativo como bem se examina
pela figura 23
TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 34
89
Figura 23 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos
Fonte IBGE (2011 e 2011)
Sem esquecer outros rebanhos mesmo que de menor grandeza existem no
municiacutepio bubalinos muares coelhos e codornas segundo os nuacutemeros apresentados na
tabela 12
Tabela 12 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores Rebanhos Bubalinos Muares Coelhos Codornas
Ano 2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011
Nordm de indiviacuteduos 98 48 380 436 22 67 89 193
Fonte IBGE (2011 e 2011)
Por fim conclui-se que em Irauccediluba eacute praticado aleacutem das atividades industriais o
tripeacute econocircmico baseado na produccedilatildeo agriacutecola pecuaacuteria e madeireira esta a partir da
exploraccedilatildeo de lenha e carvatildeo vegetal Desta maneira seria mais interessante para o municiacutepio
considerando suas caracteriacutesticas ambientais o uso de sistemas de produccedilatildeo
agrossilvopastoris Nesse sentido Arauacutejo Filho e Silva (2013) ilustram
Os sistemas de produccedilatildeo agrossilvipastoris satildeo formas de uso e manejo da terra nas
quais aacutervores e arbustos satildeo utilizados em associaccedilatildeo com cultivos agriacutecolas e
animais numa mesma aacuterea de maneira simultacircnea ou numa sequecircncia temporal
Cada componente do sistema de produccedilatildeo deve ter pelo menos uma funccedilatildeo proacutepria e
sua integraccedilatildeo garante sua funcionalidade Assim as aacutervores devem ser em nuacutemero
suficiente para um aporte significativo de serrapilheira fonte de mateacuteria orgacircnica
para o solo Os animais satildeo os redistribuidores de nutrientes entre os componentes
do sistema via urina e esterco E as culturas garantem a produccedilatildeo de alimentos para
a famiacutelia e seus animais e contribuem para a circulaccedilatildeo de nutrientes dentro do
sistema Os SAF‟s podem tambeacutem ser usados para a reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e
econocircmica de aacutereas degradadas sobre luvissolos e argissolos (ARAUacuteJO FILHO e
SILVA 2013 p 1819)
90
323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba
A caracterizaccedilatildeo ambiental realizada no municiacutepio das aacutereas de estudo engloba a
altimetria as classes de relevo demonstrando a declividade do terreno que varia de plano a
forte ondulado os tipos de solos e suas associaccedilotildees de classes entre si o clima envolvendo
dados sobre a pluviometria anual o iacutendice de umidade o nuacutemero de meses sem chuva a
temperatura e a evapotranspiraccedilatildeo total anual do municiacutepio Comenta-se ainda a vegetaccedilatildeo e
suas formas aleacutem dos rios e accediludes existentes em Irauccediluba reunindo seus recursos hiacutedricos
3231 Altimetria e Classe de relevo
A altimetria do municiacutepio estaacute exibida na figura 24 conforme seus niacuteveis de
altitude que variam de 80 a 840 metros acima do mar
Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba
91
Jaacute o relevo oscila de plano a forte ondulado conforme figura 25 Arauacutejo Filho e Silva
(2013 p 1) definem que ldquonos planossolos o relevo varia de plano a suave-ondulado (de 1 a 8)
nos argisssolos e nos luvissolos apresentam-se em relevo de suave-ondulado a ondulado (de 8 a
20) e os litoacutelicos estatildeo em relevo forte-ondulado (de 20 a 45)rdquo
Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba
3232 Solos
A regiatildeo semiaacuterida nordestina ldquo[] recebe anualmente calor e luz em excesso o
que resulta em raacutepida mineraccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica Seus solos satildeo geralmente pouco
profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica mas relativamente ricos
em bases trocaacuteveisrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 7)
O PAN (BRASIL 2004) assegura que as classes de associaccedilatildeo de solos presentes
no semiaacuterido do Nordeste satildeo o bruno natildeo caacutelcico litoacutelicos podzoacutelico eutroacutefico terra roxa
estruturada cambissolo ondulado e forte ondulado e planossolos Apresentam tambeacutem tipos
de relevo e susceptibilidade agrave erosatildeo diferenciados como mostra a tabela 13
92
Tabela 13 - Relaccedilatildeo de solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo
CLASSES DE SOLO RELEVO SUSCEPTIBILIDA Agrave
EROSAtildeO
Bruno natildeo caacutelcico (Luvissolos) Suave ondulado e ondulado Forte
Litoacutelicos Ondulado forte ondulado e
montanhoso Muito forte
Podzoacutelico eutroacutefico terra roxa
estruturada cambissolo ondulado e
forte ondulado
Ondulado e forte ondulado Moderado
Planossolos Plano e suave ondulado Moderado
Fonte PAN Brasil (2004)
ldquoTrecircs classes de solos se destacam no municiacutepio de Irauccediluba luvissolos com
432 de cobertura planossolos com 187 e litoacutelicos com 332 Juntos eles perfazem
951 da aacuterea do municiacutepiordquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2)
Os luvissolos constituem os solos mais utilizados pela agricultura migratoacuteria do
semiaacuterido nordestino Por causa do desmatamento e uso do fogo haacute indicaccedilotildees de que pelo
menos 65 da aacuterea de cobertura deste importante solo se encontrem em erosatildeo de grave a
muito grave Em Irauccediluba natildeo eacute diferente pois a agricultura eacute praticada nas aacutereas recobertas
por luvissolos e solos litoacutelicos enquanto a pecuaacuteria eacute desenvolvida tanto no planossolo com
presenccedila tambeacutem nas aacutereas de luvissolo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013)
Em se tratando de associaccedilatildeo de solos a tabela 14 indica a nomenclatura utilizada
por Jacomine (1973) e pela EMBRAPA (2006) para definir os tipos de associaccedilatildeo
encontrados em Irauccediluba apontando ainda a porcentagem de cada um dentro da respectiva
associaccedilatildeo E a figura 26 apresenta a distribuiccedilatildeo dessas associaccedilotildees no municiacutepio de forma
que eacute possiacutevel notar o predomiacutenio da associaccedilatildeo NC15 seguida da Re25 e Re26
Tabela 14 - Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEMBRAPA
ASSOCIACcedilAtildeO
DE SOLO EM
JACOMINE
(1973)
NOMENCLATURA DOS SOLOS NAS ASSOCIACcedilOtildeES DO SOLO
NA
ASSOCIACcedilAtildeO JACOMINE (1973) EMBRAPA (2006)
PE6
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO moderado
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 40
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO chemozecircnico
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 30
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 15
AFLORAMENTOS DE ROCHA - 15
PE42
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 70
REGOSOL EUTROacuteFICO NEOSSOLOS
REGOLIacuteTICOS 30
NC7 BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO LUVISSOLO 40
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 35
93
BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO veacutertico LUVISSOLO 25
NC15
BRUNOS NAtildeO CAacuteLCICOS
INDISCRIMINADOS LUVISSOLO 40
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 25
PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 20
SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 15
PL6
PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 45
SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 35
SOLOS OTOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 20
Re6
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 65
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 35
Re25 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel
estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -
Re26 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel
estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -
Fonte Jacomine et al (1973) e EMBRAPA (2006)
Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba
94
Por fim a figura 27 apresenta os quatro grandes grupos de solo encontrados em
Irauccediluba e sua distribuiccedilatildeo no municiacutepio sendo eles Podzoacutelico vermelho amarelo
equivalente eutroacutefico (PE) Bruno natildeo caacutelcico (NC) Planossolo (PL) e Solos litoacutelicos (Re)
Figura 27 Grupos de solos que formam associaccedilotildees pedoloacutegicas em Irauccediluba
3233 Clima
ldquoO clima na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba eacute conforme classificaccedilatildeo de Koumlppen
(MILLER 1971) do tipo Bshw semiaacuterido megateacutermico com curta estaccedilatildeo chuvosa no
veratildeo-outono e com concentraccedilatildeo das precipitaccedilotildees pluviais nos meses de marccedilo e abrilrdquo
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2) Anualmente o municiacutepio apresenta pluviometria
meacutedia abaixo dos 700 mm mas existe maior incidecircncia de chuva em outras regiotildees de
Irauccediluba Eacute o que demonstra a figura 28
Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba
Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba
95
Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba
ldquoA regiatildeo apresenta um dos mais baixos iacutendices pluviomeacutetricos do Estado do Cearaacute
com meacutedia histoacuterica de 540 mm Isto porque a aacuterea encontra-se a sotavento da serra
de Uruburetama constituindo-se em uma ldquosombra de chuvardquo causada pela
interceptaccedilatildeo pela serra dos ventos uacutemidos oriundos do oceanordquo (ARAUacuteJO FILHO
e SILVA 2013 p 2)
O municiacutepio passa a maior parte do ano sem chuva aproximadamente dez meses
e apesar da pouca pluviosidade a evapotranspiraccedilatildeo eacute maior que a precipitaccedilatildeo Sem poder
ser diferente as temperaturas variam de 25 a 28 graus sendo que na maior parte da aacuterea
incidem temperaturas de 26 a 27 graus centiacutegrados e a umidade aponta a incidecircncia do clima
semiaacuterido em Irauccediluba As figuras 06 29 30 31 e 32 ilustram as informaccedilotildees declaradas
96
Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba
Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual
97
Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba
Figura 32 Iacutendice Efetivo de umidade em Irauccediluba
Fonte NOLEcircTO (2005)
98
3234 Vegetaccedilatildeo
A caatinga eacute um dos maiores biomas brasileiros e significa mata branca Por ser
uma vegetaccedilatildeo xeroacutefila eacute capaz de suportar vaacuterios anos de estiagem recuperando com
rapidez suas atividades logo nas primeiras chuvas apoacutes a seca A adaptaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo ao
clima semiaacuterido eacute impressionante como por exemplo as cascas claras ou reluzentes servem
para diminuir o aquecimento do tecido vivo da planta Por causa da falta de aacutegua satildeo
caducifoacutelias isto eacute as folhas caem durante a estaccedilatildeo seca para evitar excesso de perda d‟aacutegua
pela evapotranspiraccedilatildeo aleacutem disto os caules satildeo projetados para armazenar aacutegua (MAIA
2012)
ldquoA caatinga se assemelha a arbustos tropicais ou bosques de espinhos Eles
contecircm pequenas aacutervores de madeira dura grotescamente retorcidas e com espinhos as folhas
satildeo pequenas e caem durante a estaccedilatildeo secardquo Odum e Barret (2008 p 453)
Fisionomicamente eacute possiacutevel diferenciar os tipos de vegetaccedilatildeo o arboacutereo que estaacute nas
superfiacutecies mais conservadas sendo o pau branco o angico o pereiro dentre outras suas
espeacutecies mais representativas o arbustivo que eacute sinal de aacutereas jaacute degradadas pelo
desmatamento uso agriacutecola e pecuaacuteria e o herbaacuteceo figurado por gramiacuteneas presentes
somente durante o periacuteodo chuvoso e explorado pela pecuaacuteria extensiva (DANTAS et al
2007)
ldquoO Bioma Caatinga estaacute inserido no quadro dos Ecossistemas da Regiatildeo das
Caatingas e Florestas Deciduais do Nordeste Abrange as especificidades do Domiacutenio
Morfoclimaacutetico das Caatingas sejam elas arbustivas ou arboacutereasrdquo (BRASIL 2004 p 68) Os
frutos amadurecem ao fim da eacutepoca das chuvas quase que generalizadamente na maioria das
espeacutecies arboacutereas e herbaacuteceas permanecendo pendentes dos ramos durante algum tempo Ao
se desprenderem e caiacuterem no solo natildeo germinam de imediato pois a resistecircncia da casca e
outros artifiacutecios da natureza impedem a germinaccedilatildeo pronta Se germinassem morreriam quase
em seguida natildeo resistindo agrave longa estaccedilatildeo seca e quente da estiagem com interrupccedilatildeo brusca
e total das chuvas A germinaccedilatildeo poreacutem processa-se rapidamente logo ao caiacuterem as
primeiras chuvas pois os indumentos foram intensamente desgastados pelo intemperismordquo
As queimadas realizadas para a preparaccedilatildeo de novos terrenos de cultivo desempenham papel
de grande poder destruidor do ambiente ldquoCompreende-se pois que a restauraccedilatildeo da
cobertura vegetal depende da preservaccedilatildeo desses estoques de sementesrdquo26
26
Conferir SOBRINHO Vasconcelos (1983) In PAN Brasil 2004
99
ldquoA vegetaccedilatildeo da aacuterea do nuacutecleo de desertificaccedilatildeo de Irauccediluba espelha os efeitos dos
fatores fiacutesicos mormente os de natureza hiacutedrica e edaacutefica e da accedilatildeo antroacutepica
Assim as aacutereas dos solos argissolos litoacutelicos e luvissolos apresentam uma cobertura
arbustiva-arboacuterea formando um verdadeiro mosaico de diferentes estaacutedios
sucessionais em virtude das praacuteticas agriacutecola ambientalmente agressivasrdquo [] ldquoAs
aacutereas sobre os planossolos estatildeo recobertas por uma caatinga assavanada e
esporadicamente com afloramentos rochosos e com cobertura arbustiva arboacuterea
meacutedia abaixo de 20 e densidade de cerca 200plantasha A camada herbaacutecea de
biodiversidade inferior ao das aacutereas de luvissolos ou argissolos eacute rica no entanto
em espeacutecies forrageiras destacando-se a erva de ovelha (Stylosanthes humilis)
vassourinha (Stylosanthes angustifolia) urinana (Zornia bracteata) e capim accedilu
(Paspalum milegrana) O capim panasco no entanto predomina nas aacutereas
sobrepastejadasrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 34)
A figura 33 espelha a composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba Segue claro que a Caatinga
Arboacuterea Sem Palmeira (Cas) predomina seguida da Caatinga Arboacuterea Com Palmeira (Cap) e
da Caatinga Parque Sem Palmeira (Cps) A Floresta Ombroacutefila Aberta (Acc1) e as Aacutereas De
Formaccedilatildeo Pioneira (Acc2) representam uma aacuterea menor do municiacutepio
Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba
3235 Recursos Hiacutedricos
O nuacutecleo de Irauccediluba estaacute situado na bacia hidrograacutefica do rio Curu contando com
o aporte dos rios Aracatiaccedilu e Caxitoreacute aleacutem de vaacuterios riachos destacando-se o Aroeira o
Fonte NOLEcircTO (2005)
Fonte NOLEcircTO (2005)
100
Gabriel e o Cachoeira A ausecircncia de barragens de porte representativo faz com que a
pequena accediludagem assuma um papel relevante Destacam-se dentre essas os Accediludes Satildeo
Gabriel do Mocoacute (IRAUCcedilUBA 2009)
Por conta da irregularidade das chuvas que contribui para favorecer o escoamento
de superfiacutecie junto agraves condiccedilotildees geoloacutegicas predominantemente cristalinas favorecem o
escoamento raacutepido das aacuteguas pluviais inviabilizando o acuacutemulo de aacuteguas subterracircneas em
quantidades razoaacuteveis (IRAUCcedilUBA 2009) existem no municiacutepio cerca de 28 pequenos
accediludes nomeando-se o Nogueira Ramos o Cairu Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu e o Jerimum
que abastece a cidade de Irauccediluba ldquoUma estrutura muito comum no municiacutepio eacute o barreiro da
salvaccedilatildeo constituindo-se em um sistema temporaacuterio de armazenamento de aacutegua para atender
agrave demanda dos rebanhos durante boa parte da estaccedilatildeo secardquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA
2013 p 3)
324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo
A partir da abordagem feita no item 323 passa-se a analisar a realidade de cada
propriedade estudada Visando apontar os aspectos geoambientais dos imoacuteveis construiu-se
um quadro siacutentese conforme tabela 15 abaixo
Tabela 15 ndash Anaacutelise Geral das propriedades estudadas
Anaacutelise
Imoacuteveis com Reserva Legal
Riachuelo
Alto Alegre
Aacuteguas
Mortas
Almas
Cajazeiras
II
Saco
Verde
Miramar
Classe
no
Tipo
Niacuteveis da Classe
no Tipo
Aacuterea (km2)
336 238 127 124 671 86
no Niacutevel da Classe no Tipo
Precipitaccedilatildeo
Total
Meacutedia Anual
lt 600 - - - - 103 -
600 a 700 100 100 100 755 100
700 a 800 - - - 976 112 -
800 a 900 - - - 24 - -
Temperatura
Meacutedia Anual
(oC)
25-26 - - - - 71 -
26-27 100 100 100 100 929 100
27-28 - - - - - -
ETP
lt 1450 - - - - 100 100
1450-1500 - - - - - -
1500-1550 - - - - - -
1550-1600 100 100 100 - - -
1600-1650 - - - 141 - -
1650-1700 - - - 859 - -
101
Nugravemero
de
Meses secos
85 a 95 100 100 564 100 330 -
95 a 105 - - 454 - 670 100
gt105 - - - - - -
Im
gt - 333 - - - - - -
- 344 a - 499 100 100 100 100 388 15
lt - 499 - - - - 612 985
Igravendice de Aridez
do UNEP 020 a 050 100 100 100 100 780 100
050 a 065 - - - - 220 -
Classes
de
Relevo
Plano 23 46 56 112 55 135
Suave Ondulado 162 316 378 373 227 485
Ondulado 194 338 427 64 124 130
Muito Ondulado 127 111 72 38 72 70
Forte Ondulado 463 185 66 264 400 179
Montanhoso 31 04 - 105 120 03
Escarpado - - - 44 02 -
Classes
de
Altitude
80-120 - - -- 560 - -
120-160 - - - 113 - -
160-200 - - - 60 321 -
200-240 54 171 723
240-280 01 41 460 40 85 202
280-320 139 614 521 36 68 49
320-360 349 211 10 41 56 24
360-400 178 65 01 38 70 02
400-440 90 24 - 28 53 -
440-480 63 21 - 19 55 -
480-520 45 16 - 10 45 -
520-560 33 05 - 02 32 -
560-600 29 02 - - 15 -
600-640 25 01 - - 10 -
640-680 17 - - - 08 -
680-720 13 - - - 07 -
720-760 07 - - - 03 -
760-800 05 - - - 02
800-840 03 - - - - -
840-880 02 - - - - -
880-920 01 - - - - -
Associaccedilotildees
de
Solos
PE 6 - - - - 207 -
PE 42 - - - 913 - -
NC 7 - - - - - -
NC 15 940 755 516 - - 441
PL 6 - - - - 348 -
Re 6 - - - - - -
Re 25 - - - 87 445 -
Re 26 60 245 424 - - 559
Grupos
de
solos
PE - - - 913 207 -
NC 940 762 516 - - 441
PL - - - - 348 -
Re 60 238 484 87 445 559
Cobertura
Vegetal
Cas 515 934 100 - 265 100
Cap - - - 649 - -
Cps - - - - 168 -
Acc1 485 66 - - - -
Acc2 351 567 -
Quanto agrave graduaccedilatildeo altimeacutetrica em que se encontra cada propriedade em estudo eacute
possiacutevel observar que a RiachueloAlto Alegre tem niacuteveis de altimetria crescentes a partir de
102
240 ateacute 920 metros destacando-se como o imoacutevel de maior altitude seguido de Saco Verde e
Aacuteguas Mortas As outras natildeo passam dos 560 metros de altitude
Em se tratando da classe de relevo a que se apresenta mais plana eacute Miramar com
135 de sua aacuterea seguida de Cajazeiras II com 112 Em relevo montanhoso destacam-se
Saco Verde com 12 de terreno e Cajazeiras II com 105 No entanto a predominacircncia eacute de
imoacuteveis inseridos na faixa entre o suave ondulado e o forte ondulado
Os imoacuteveis em anaacutelise situam-se em diferentes grupos de solos como ilustra a
tabela 15 Por exemplo RiachueloAlto Alegre e Aacuteguas Mortas estatildeo 94 e 762
respectivamente em luvissolos ou seja em solos Bruno natildeo caacutelcicos e Podzoacutelico vermelho
amarelo equivalente eutroacutefico Almas e Miramar estatildeo divididas aproximadamente agrave metade
em solo litoacutelico e em Bruno natildeo caacutelcico Em Cazajeiras II predomina o solo Podzoacutelico
vermelho amarelo equivalente eutroacutefico mas apresenta um pequeno percentual em solo
litoacutelico E por fim Saco Verde possui uma distribuiccedilatildeo variada de solos Podzoacutelico vermelho
amarelo equivalente eutroacutefico (207) Planossolos (348) e litoacutelicos (445) sendo o
uacutenico imoacutevel com planossolos
Nas associaccedilotildees de solos prevalece a subclasse 15 dos solos Bruno natildeo caacutelcicos
(NC) nas propriedades RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas e Almas Cajazeiras II estaacute
quase totalmente na subclasse 42 do Podzoacutelico vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) e
Miramar mesmo quase ao meio entre NC e Re possui a maior parte de sua aacuterea na subclasse
26 de solos litoacutelicos (Re) Saco Verde embora um tanto quanto bem distribuiacuteda tem 207
de aacuterea na subclasse 6 dos Podzoacutelicos vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) 348
em planossolos subclasse 6 inclusive eacute o uacutenico imoacutevel nessa classificaccedilatildeo e 445 em Re6
A realidade das aacutereas em estudo descrita na tabela 15 revela que mais da metade
delas estaacute inserida na faixa de pluviosidade abaixo dos 700 mm contudo Cajazeiras II foge agrave
regra apresentando pluviometria entre 700 a 900 mm Em Saco Verde ocorre distribuiccedilatildeo
irregular de chuvas e aleacutem de estar na meacutedia tem precipitaccedilatildeo tanto abaixo dos 600 como
acima de 700 mm
E por fim a cobertura vegetal de Almas Miramar quase toda de Aacuteguas Mortas e
a metade RiachueloAlto Alegre eacute de caatinga arboacuterea sem palmeira (Cas) enquanto que mais
de 50 da Cajazeiras II estaacute em caatinga arboacuterea com palmeira (Cap) Saco Verde tem mais
da metade da aacuterea em formaccedilatildeo pioneira (Acc2)
103
33 Metodologia
A metodologia utilizada no levantamento acerca da existecircncia de reserva legal no
municiacutepio de Irauccediluba envolveu algumas fases de anaacutelise como pesquisa bibliograacutefica
documental caracterizaccedilatildeo da aacuterea sob os aspectos sociais econocircmicos e ambientais o uso de
imagens orbitais e a aplicaccedilatildeo do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada (NDVI -
Normalized Difference Vegetation Index) nas propriedades em estudo
A abordagem envolveu o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo uma vez que para avaliar a
aplicabilidade da reserva legal como forma de combater o processo de degradaccedilatildeo ambiental
em Irauccediluba partiu-se da hipoacutetese de que se cada detentor de propriedade rural cumprisse a
obrigaccedilatildeo de implantaacute-la o processo de degradaccedilatildeo quiccedilaacute o de desertificaccedilatildeo seria estancado
no municiacutepio Aleacutem disso seria um instrumento proporcionador da recuperaccedilatildeo ambiental em
virtude de seus benefiacutecios A investigaccedilatildeo se deu por procedimentos de vieacutes histoacuterico e
comparativo tendo sido realizada uma retrospectiva de como foi o tratamento dado agrave reserva
legal no contexto juriacutedico econocircmico social e ambiental Aleacutem disto estudou-se as
propriedades que apresentaram o instituto mesmo que soacute documentalmente de maneira a
confrontar a situaccedilatildeo existente nos anos de 1993 e 2007 e sua modificaccedilatildeo
Para alcanccedilar os propoacutesitos deste trabalho ocorreu a coleta de dados pela pesquisa
documental e bibliograacutefica aleacutem da observaccedilatildeo direta intensiva que foi possiacutevel pelo exame
de dados obtidos por imagens do sateacutelite LANDSAT 5 referente aos anos de 1993 e 2007
bem como a avaliaccedilatildeo das aacutereas estudadas atraveacutes do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila
Normalizada (NDVI)
As informaccedilotildees geograacuteficas das propriedades em estudo foram disponibilizadas
basicamente pelo INCRA e pelo cartoacuterio de imoacuteveis de Irauccediluba Ambos cederam as plantas
georreferenciadas que foram vetorizadas em UTM 24s atraveacutes do programa CARTALINX 12
para em seguida serem exportadas para o IDRISI 322 e entatildeo convertidas para latitude e
longitude DATUM GS 84
331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite
O NDVI eacute um iacutendice de vegetaccedilatildeo derivado de imagens de sateacutelites e muito
utilizado na avaliaccedilatildeo da cobertura vegetal indicando o tipo a condiccedilatildeo e a densidade da
vegetaccedilatildeo atraveacutes do uso de bandas No caso as bandas do vermelho na faixa do visiacutevel e do
infravermelho proacutexima (PINHEIRO 2011) Agrave medida que aumenta a quantidade de
104
vegetaccedilatildeo verde aumenta a reflexatildeo na banda do infravermelho proacuteximo e diminui a reflexatildeo
na banda do vermelho fazendo com que o aumento da razatildeo seja potencializado realccedilando
assim a vegetaccedilatildeo27
Na banda do vermelho a clorofila absorve a energia solar resultando em uma
baixa reflectacircncia e no infravermelho proacuteximo tanto a morfologia interna das folhas quanto a
estrutura da vegetaccedilatildeo apresentam uma alta reflectacircncia da energia solar incidente A
combinaccedilatildeo dessas bandas realccedila a aacuterea de vegetaccedilatildeo nas imagens e quanto maior o contraste
maior o vigor da vegetaccedilatildeo da aacuterea imageada (LOURENCcedilO LANDIM 2004)28
Portanto o NDVI pode ser utilizado como uma teacutecnica para mapeamento
contiacutenuo da cobertura vegetal de uma regiatildeo possibilitando analisar e monitorar a
variabilidade desta em periacuteodos distintos (PINHEIRO 2011) Ressaltam ainda as diferenccedilas
entre aacutereas vegetadas e de solo exposto (VERONA 2002)29
O caacutelculo para se chegar ao NDVI deriva da razatildeo entre os valores das bandas do
vermelho e infravermelho proacuteximo ou seja a diferenccedila da resposta espectral do pixel dessas
bandas pela sua soma (SILVA et al 2007)30
resulta nos valores do NDVI que variam de ndash1 a
+1 A equaccedilatildeo para o caacutelculo do NDVI foi proposta por (JENSEN 1996)31
in Ewerton Torres
Melo 2008) conforme segue abaixo
NDVI = (NIR - R) (NIR + R)
Em que
NDVI eacute o iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada NIR eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Infra-Vermelho Proacuteximo
(076 a 090 μm)
R eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Vermelho (063 a 069μm)
Assim a vegetaccedilatildeo eacute caracterizada por uma intensa absorccedilatildeo devido agrave clorofila na
regiatildeo do vermelho (063 ndash 069 μm) e por uma intensa energia refletida na regiatildeo do
infravermelho proacuteximo (076 ndash 090 μm) causada pela estrutura celular das folhas Portanto
muitos dos modelos de iacutendice de vegetaccedilatildeo utilizam somente as bandas de imagem vermelha
ou proacutexima ao infravermelho (MELO 2008)
27
Novo (1989) In MELO Ewerton Torres (2008) 28
In PINHEIRO 2011 29
Idem 30
Ibidem 31
In MELO 2008
105
Conforme (BRAGA et al sd) estudos de variabilidade temporal e espacial sobre
a regiatildeo Nordeste do Brasil indicam que as aacutereas vegetadas variam de 01 a 08 sendo que
esses valores dependem da estrutura densidade e umidade da vegetaccedilatildeo As rochas e os solos
apresentam valores proacuteximos de zero e a aacutegua aparece com valores negativos Coberturas
vegetais muitos densas se expressam pelos maiores valores obtidos (PINHEIRO 2011)
106
4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES
41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba
O foco principal da pesquisa foi levantar e analisar as propriedades que de alguma
forma apresentem a reserva legal seja oficial ou extraoficialmente Com o exame das imagens
de sateacutelite dos anos de 1993 e 2007 utilizando o NDVI constatou-se que os iacutendices da
cobertura vegetal satildeo muito parecidos tanto dentro como fora da aacuterea de reserva ao serem
comparados pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Isto leva a crer que o instituto legal pode natildeo
ter promovido qualquer diferenccedila em termos de cobertura vegetal sem falar na hipoacutetese de
nem mesmo ter sido cumprido
Analisando os iacutendices de NDVI comprova-se que na grande maioria dos
imoacuteveis a cobertura vegetal tanto dentro como fora da aacuterea de reserva legal diminuiu entre
os anos de 1993 e 2007 Embora nas propriedades a vegetaccedilatildeo se apresente em niacuteveis
diferenciados de existecircncia representados pelas faixas 2 a 9 da tabela 16 vecirc-se que quase
todos em 1993 apresentavam aacutereas significativas de vegetaccedilatildeo na faixa 6 e 7 Se averiguar as
mesmas colunas em 2007 eacute notoacuteria a retraccedilatildeo nos iacutendices salvo na faixa 5 referente aos
imoacuteveis Aacuteguas Mortas Almas e Saco Verde
Tabela 16 - NDVI dos imoacuteveis estudados
IMOacuteVEL SEGMENTO ANO
Aacuterea no niacutevel de NDVI como uma porcentagem da aacuterea total do segmento
Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 4 Faixa 5 Faixa 6 Faixa 7 Faixa 8 Faixa 9
0 a 01 01 a 02 02 a 03 03 a 04 04 a 05 05 a 06 06 a 07 07 a 08 08 a 09
Riachuelo
Alto
Alegre
Fora 1993 0558 0458 0978 2418 9904 68884 16798 0022 0019
2007 1369 1351 2366 9734 56243 28713 0205 0019 -
Reserva 1993 0532 0319 0473 1006 3224 57424 36868 0074 -
2007 1818 1611 1951 7524 53112 33777 0207 - -
Aacuteguas
Mortas
Fora 1993 1588 1833 2701 6525 18029 41168 28024 0141 -
2007 4979 3485 4979 12220 34523 39105 0616 0097 -
Reserva 1993 - - 0084 1246 10452 56862 31356 - -
2007 2092 1902 6677 6127 52292 34545 0275 0085 -
Almas Fora 1993 1954 1336 1650 3339 9359 48925 33222 0216 -
2007 0845 1463 2583 13464 44731 36659 0216 - 0039
Reserva 1993 13455 3058 2299 3858 12198 40686 23344 0156 0156
2007 1052 1208 1052 7947 53759 34827 0156 - -
Miramar Fora 1993 - - 1075 6023 36519 50699 5684 - -
2007 0810 1001 1870 6818 66765 22545 0132 0059 -
Reserva 1993 1540 0285 0799 7758 39646 48431 1540 - -
2007 - 0513 2339 33143 63206 0799 - - -
Saco
Verde
Fora 1993 6867 5558 9959 20131 37338 19016 0097 1097 1097
2007 6469 8972 19278 30986 32219 2026 0050 - -
Reserva 1993 6927 9383 17136 26903 29900 9113 0609 0030 -
2007 8767 10375 17166 29254 332881 1157 - - -
Cajazeiras
II
Fora 1993 0040 0606 8206 39766 45877 5412 0092 - -
2007 2003 9562 25154 44710 17723 0647 - - -
Reserva 1993 2885 2885 12402 48057 29936 2360 0674 - -
2007 3895 8165 21610 39476 26704 0150 - -
Os iacutendices de NDVI da tabela 16 serviram de base para o caacutelculo da anaacutelise de
semelhanccedila pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Assim a constataccedilatildeo acima eacute confirmada pela
tabela 17 que por sua vez atesta o grau de similaridade entre a aacuterea interna e externa agrave
reserva legal nos anos analisados Eacute surpreendente o niacutevel de semelhanccedila encontrado O
percentual mais baixo em 1993 eacute de 798 chegando no mesmo ano a 933 Jaacute em 2007 a
percentagem de semelhanccedila diminui nos imoacuteveis Aacuteguas Mortas e Miramar de 81 para 75 e
de 933 para 731 respectivamente Isto natildeo quer dizer que o niacutevel de cobertura vegetal
melhorou ou piorou mas que a diferenccedila na semelhanccedila entre dentro e fora da aacuterea de reserva
legal nessas propriedades reduziu sugerindo que o respeito agravequele instituto pode ter
promovido a alteraccedilatildeo Em contrapartida nos outros imoacuteveis essa semelhanccedila aumentou
aproximando-se dos 94
Assim eacute provaacutevel que pelos meacutetodos utilizados a funccedilatildeo proposta pelo instituto
da reserva legal natildeo esteja sendo alcanccedilada visto que o grau de semelhanccedila entre a aacuterea de
dentro e fora da reserva legal estaacute muito aproximado pois sequer apresentou-se abaixo dos
70 de diferenccedila
Tabela 17 - Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal pelo meacutetodo de Sorensen (1948)
ANAacuteLISE DE SEMELHANCcedilA DE SORENSEN () ENTRE
FORA E DENTRO DA AacuteREA DE RESERVA LEGAL
IMOacuteVEL
Reserva
ANO 1993 2007
108
Riachuelo Alto Alegre Fora 1993 798 -
2007 - 941
Aacuteguas Mortas Fora 1993 810 -
2007 - 750
Almas Fora 1993 821 -
2007 - 908
Saco Verde Fora 1993 799 -
2007 - 891
Cajazeiras II Fora 1993 813 -
2007 - 952
Miramar Fora 1993 933 -
2007 - 731
109
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A abordagem dos assuntos aqui tratados e os resultados alcanccedilados permitem a
conclusatildeo de que a reserva legal eacute uma criaccedilatildeo da lei com intenccedilotildees conservacionistas
avanccediladas Como espaccedilo especialmente protegido requer um tratamento diferenciado natildeo soacute
como previsto em normas mas sob a oacutetica da sociedade Observou-se que foi um assunto
amplamente tratado e debatido nas esferas do poder legislativo e judiciaacuterio do paiacutes e que
tambeacutem eacute alvo de poliacuteticas puacuteblicas e atuaccedilatildeo das autoridades competentes embora um tanto
falhas
Contatou-se que o emprego da reserva legal no municiacutepio de Irauccediluba eacute pouco expressivo
diante da quantidade de propriedades ali existentes por isso os benefiacutecios trazidos pela
conservaccedilatildeo desses espaccedilos mal podem ser sentidos no municiacutepio que sofre com a degradaccedilatildeo
ambiental contiacutenua inclusive com a presenccedila do processo de desertificaccedilatildeo Aleacutem disto a
falta de cumprimento do formal procedimento acerca da implantaccedilatildeo da reserva legal em
aacutereas puacuteblicas eacute intrigante Isto porque se pressupotildee accedilotildees de estrita legalidade envolvendo o
ente estatal Nesse sentindo partindo do entendimento que os projetos de assentamento satildeo
resultado de poliacuteticas puacuteblicas para reforma agraacuteria pressupunha-se que nestes espaccedilos a
reserva legal estaria estabelecida mas as anaacutelises mostraram que natildeo haacute diferenccedila quando
comparadas a aacuterea de dentro e de fora da reserva nas propriedades A situaccedilatildeo eacute anaacuteloga no
imoacutevel particular apreciado
A respeito da degradaccedilatildeo viu-se que Irauccediluba por ser rota de passagem do gado
desde o seacuteculo XIX aporta animais em transumacircncia de outras regiotildees Os relatos de jesuiacutetas
que cruzaram o municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XVII registram o lugar com vegetaccedilatildeo fechada
e densa Diante disso eacute possiacutevel afirmar que nem sempre Irauccediluba teve um ambiente inoacutespito
e com caracteriacutesticas severamente adversas O quadro atual se deve agraves intervenccedilotildees antroacutepicas
sem teacutecnicas apropriadas para o desenvolvimento de atividades econocircmicas em conjunto com
as caracteriacutesticas de um meio semiaacuterido Essas atividades geralmente abrangem culturas de
subsistecircncia praticadas recorrentemente no mesmo lugar sem o pousio necessaacuterio do solo que
por sua vez natildeo eacute tatildeo rico em nutrientes em decorrecircncia dos desmatamentos e queimadas
Pela caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo pocircde se verificar que seus atributos
envolvem solos pouco profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica
O clima eacute o semiaacuterido onde haacute baixa pluviometria e temperaturas em torno dos 28ordmC e a
vegetaccedilatildeo eacute caatinga nos tipos arbustivos e herbaacuteceos excepcionalmente o arboacutereo por causa
da degradaccedilatildeo
Os resultados mostraram que os iacutendices de NDVI nas propriedades analisadas
apontam um grau de semelhanccedila de ateacute 94 entre dentro e fora da aacuterea da reserva legal pelo
que se pode inferir 2 suposiccedilotildees
1) A reserva legal existe somente em niacutevel documental e natildeo no local apontado
dentro do imoacutevel
ou
2) A reserva legal existe mas estaacute com a cobertura vegetal bem semelhante agrave de fora
da sua aacuterea de maneira que pode estar tatildeo degradada quanto ou tatildeo conservada
quanto
Partindo para a segunda suposiccedilatildeo os iacutendices de NDVI constatam sim que a
cobertura vegetal apresenta um grau elevado de semelhanccedila entre os dois espaccedilos e que em 4
dos 6 imoacuteveis ambos diminuiacuteram de 1993 a 2007 Desta forma natildeo haacute como afirmar que a
reserva legal no estado em que se encontra nas propriedades analisadas eacute um meio de
combater a degradaccedilatildeo ambiental Contudo nos casos em que real e verdadeiramente for
aplicada por certo traraacute ganhos ambientais mas isto deve ser alvo de mais e maiores estudos
acerca do assunto
Eacute curioso que mesmo Irauccediluba sendo um nuacutecleo de desertificaccedilatildeo e por isso alvo
de estudos pesquisas projetos e poliacuteticas puacuteblicas envolvendo degradaccedilatildeo recuperaccedilatildeo e
conservaccedilatildeo ambiental a situaccedilatildeo aparentemente natildeo progride em termos de melhorias Ao
contraacuterio disto constata-se cada vez mais a deterioraccedilatildeo do meio ambiente a ocupaccedilatildeo e a
utilizaccedilatildeo indevida dos recursos naturais
Encerrando a abordagem do assunto tratado assevera-se que a reserva legal jaacute eacute
um instituto consolidado em lei natildeo justificando quaisquer argumentos quanto ao seu
descumprimento Inclusive a natildeo observacircncia do bendito mandamento eacute considerada crime e
nesse sentido natildeo haacute uma atuaccedilatildeo maciccedila do Estado em termos de fiscalizaccedilatildeo pois se assim
existisse natildeo se estaria diante de uma constataccedilatildeo tatildeo seacuteria acerca do pequeno nuacutemero de
imoacuteveis que apresentaram a reserva legal mesmo que documentalmente Essa estatiacutestica
diminuiu ainda mais quando se analisou a diferenccedila na vegetaccedilatildeo sendo possiacutevel concluir que
o caraacuteter conservacionista da reserva legal e ela proacutepria natildeo estatildeo alcanccedilando o fim para que
foi criada
Por fim acredita-se que a reserva legal se cumprida eacute um instrumento
conservacionista capaz de auxiliar na recuperaccedilatildeo ambiental e arrefecer os processos de
111
degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo criticamente manifestos no municiacutepio de Irauccediluba Indo mais
aleacutem vecirc-se que pela oacutetica do referido instituto o desenvolvimento sustentaacutevel eacute possiacutevel
pois mesmo de encontro a interesses particulares ele consegue reunir e harmonizar o vieacutes
econocircmico o social e o ambiental
112
REFEREcircNCIAS
AGCO Lanccedilamento nacional do CAR deve sair ateacute junho Sou Agro 22052013
Disponiacutevel em lt httpwwwsouagrocombrgt Acesso em 27 mai 2013
AHRENS Sergio O ldquonovordquocoacutedigo florestal brasileiro conceitos juriacutedicos fundamentais
Trabalho Voluntaacuterio In CONGRESSO FLORESTAL BRASILEIRO 8 Satildeo Paulo SP
Anais Satildeo Paulo Sociedade Brasileira de Silvicultura Brasiacutelia Sociedade Brasileira de
Engenheiros Florestais 2003 1 CD-ROM
AMADO Frederico Augusto Di Trindade Direito ambiental sistematizado Rio de Janeiro
Forense Satildeo Paulo Meacutetodo 2009
ANTUNES Paulo de Bessa Aacutereas protegidas e propriedade constitucional Satildeo Paulo
Atlas 2011
ARAUacuteJO Gustavo Henrique de Sousa ALMEIDA Josimar Ribeiro de GUERRA Antocircnio
Joseacute Teixeira Gestatildeo ambiental de aacutereas degradadas 3ed ndash Rio de Janeiro Bertrand
Brasil 2008
ARAUacuteJO FILHO Joatildeo Ambroacutesio SILVA Nilzemary Lima da Impactos e mitigaccedilatildeo do
antropismo no nuacutecleo de desertificaccedilatildeo em Irauccediluba In OLIVEIRA Joseacute Gerardo Beserra
SALES Marta Celina Linhares (Org) Monitorando a desertificaccedilatildeo em Irauccediluba
resultados de doze anos de pesquisa Fortaleza Ediccedilotildees UFC2013 (No Prelo)
BACHA Carlos Joseacute Caetano Eficaacutecia da poliacutetica de reserva legal no Brasil Teoria e
Evidecircncia Econocircmica Passo Fundo RS v 13 n25 p9-27 2005
BRASIL Acoacuterdatildeo nordm 2633-51 de 10 de dezembro de 2007 do Tribunal de Contas da Uniatildeo
Relatoacuterio de auditoria Projetos de assentamento Estudos de viabilidade ambiental Reserva
legal Licenciamento ambiental Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 11 dez 2007
Disponiacutevel em lthttptcugovbrgt Acesso em 12 mar 2013
BRASIL Constituiccedilatildeo Repuacuteblica dos Estados Unidos do Brasil de 16 de julho de 1934
Constituiccedilatildeo (1934) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Rio de Janeiro RJ 16 jul 1934
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 8 jul 2013
BRASIL Constituiccedilatildeo Repuacuteblica dos Estados Unidos do Brasil de 18 de setembro de 1946
Constituiccedilatildeo (1946) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Rio de Janeiro RJ 25 set 1946
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 08 jul 2013
BRASIL Constituiccedilatildeo Repuacuteblica Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988
Constituiccedilatildeo (1988) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia-DF 05 out 1988
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 8 set 2011
BRASIL Decreto Federal ndeg 24643 de 10 de julho de 1934 Decreta o Coacutedigo de Aacuteguas
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 10 jul 1934
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Decreto Federal ndeg 23793 de 23 de janeiro de 1934 Aprova o coacutedigo florestal
que com este baixa Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Rio de Janeiro RJ 21 mar 1935
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 11 nov 2010
BRASIL Decreto-Lei ndeg 227 de 28 de fevereiro de 1967 Daacute nova redaccedilatildeo ao Decreto-lei
nordm 1985 de 29 de janeiro de 1940 (Coacutedigo de Minas) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia
DF 28 fev 1967 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Decreto Federal nordm 6514 de 22 de julho de 2008 Dispotildee sobre as infraccedilotildees e
sanccedilotildees administrativas ao meio ambiente estabelece o processo administrativo federal
para apuraccedilatildeo destas infraccedilotildees e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo Brasiacutelia DF 23 jul 2008 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em
05 out 2010
BRASIL Lei Federal ndeg 4504 de 30 de novembro de 1964 Dispotildee sobre o Estatuto da Terra
e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 31 nov 1964
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 08 jul 2013
BRASIL Lei Federal nordm 4771 de 15 de setembro de 1965 Institui o novo Coacutedigo Florestal
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 16 set 1965 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 10 out 2010
BRASIL Lei Federal ndeg 4947 de 06 de abril de 1966 Fixa Normas de Direito Agraacuterio
Dispotildee sobre o Sistema de Organizaccedilatildeo e Funcionamento do Instituto Brasileiro de
Reforma Agraacuteria e daacute outras Providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 11 abr
1966 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 02 abr 2013
BRASIL Lei Federal nordm 5197 de 03 de janeiro de 1967 Dispotildee sobre a proteccedilatildeo agrave fauna e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 03 jan 1967
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 6015 de 31 de dezembro de 1973 Dispotildee sobre os registros
puacuteblicos e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 31 dez 1973
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 6938 de 31 de agosto de 1981 Dispotildee sobre a Poliacutetica Nacional
do Meio Ambiente seus fins e mecanismos de formulaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 02 set 1981
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 13 ago 2012
BRASIL Lei Federal nordm 7803 de 18 de julho de 1989 Altera a redaccedilatildeo da Lei nordm 4771 de
15 de setembro de 1965 e revoga as Leis nordms 6535 de 15 de junho de 1978 e 7511 de 7
de julho de 1986 Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 20 jul 1989
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 15 mar 2012
BRASIL Lei Federal nordm 7827 de 27 de setembro de 1989 Regulamenta o art 159 inciso I
aliacutenea c da Constituiccedilatildeo Federal institui o Fundo Constitucional de Financiamento do
Norte - FNO o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste - FNE e o Fundo
Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste - FCO e daacute outras providecircncias
114
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 27 set 1989 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 13 mai 2013
BRASIL Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada Amazocircnia Legal Brasiacutelia 2011
Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrgt Acesso em 02 jun2013
BRASIL Lei Federal nordm 9443 de 08 de janeiro de 1997 Institui a Poliacutetica Nacional de
Recursos Hiacutedricos cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hiacutedricos
regulamenta o inciso XIX do art 21 da Constituiccedilatildeo Federal e altera o art 1ordm da Lei nordm
8001 de 13 de marccedilo de 1990 que modificou a Lei nordm 7990 de 28 de dezembro de 1989 Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 08 jan 1997 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 05 out 2010
BRASIL Lei Federal nordm 9605 de 12 de fevereiro de 1998 Dispotildee sobre as sanccedilotildees penais e
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 12 fev 1998
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 11959 de 29 de junho de 2009 Dispotildee sobre a Poliacutetica Nacional
de Desenvolvimento Sustentaacutevel da Aquicultura e da Pesca regula as atividades
pesqueiras revoga a Lei nordm 7679 de 23 de novembro de 1988 e dispositivos do Decreto-
Lei nordm 221 de 28 de fevereiro de 1967 e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo Brasiacutelia DF 29 jun 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em
11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 12651 de 25 de maio de 2012 Dispotildee sobre a proteccedilatildeo da
vegetaccedilatildeo nativa altera as Leis nos 6938 de 31 de agosto de 1981 9393 de 19 de
dezembro de 1996 e 11428 de 22 de dezembro de 2006 revoga as Leis nos 4771 de 15
de setembro de 1965 e 7754 de 14 de abril de 1989 e a Medida Provisoacuteria no 2166-67
de 24 de agosto de 2001 e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF
25 mai 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 17 jan 2013
BRASIL Medida Provisoacuteria nordm 1511 de 25 de julho de 1996 Daacute nova redaccedilatildeo ao art 44
da Lei nordm 4771 de 15 de setembro de 1965 e dispotildee sobre a proibiccedilatildeo do incremento da
conversatildeo de aacutereas florestais em aacutereas agriacutecolas na regiatildeo Norte e na parte Norte da
regiatildeo Centro-Oeste e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 26
jul 1996 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Medida Provisoacuteria nordm 2166-67 de 24 de agosto de 2001 Altera os arts 1o 4o 14
16 e 44 e acresce dispositivos agrave Lei no 4771 de 15 de setembro de 1965 que institui o
Coacutedigo Florestal bem como altera o art 10 da Lei no 9393 de 19 de dezembro de 1996
que dispotildee sobre o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 25 ago 2001 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 05 out 2010
BRASIL Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio II Plano Nacional de Reforma Agraacuteria
ndash PNRA 2003 Conferecircncia da Terra em Brasiacutelia Disponiacutevel em lt httpwwwmdagovbrgt Acesso em 23 jul 2013
115
BRASIL Resoluccedilatildeo CONAMA ndeg 5 de 15 de junho de 1989 Dispotildee sobre o Programa
Nacional de Controle da Poluiccedilatildeo do Ar ndash PRONAR Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF
25 ago 1989 Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro
Brasiacutelia 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwasabrasilorgbrgt Acesso em 05 jun 2013
BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Monitoramento do desmatamento nos biomas
brasileiros por sateacutelite Acordo de cooperaccedilatildeo teacutecnica MMAIBAMA Monitoramento do
bioma Caatinga Brasiacutelia 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 16
mar 2012
BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Programa de Accedilatildeo Nacional de Combate agrave
Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca PAN-Brasil Brasiacutelia 2004
Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 07 mai 2012
BRASIL Norma de Execuccedilatildeo INCRA nordm 43 de 28 de junho de 2005 Estabelece criteacuterios e
procedimentos referentes agrave implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de
Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria Boletim de Serviccedilos nordm
27 de 04072005 Disponiacutevel em lthttpwwwincragovbrgt Acesso em 05 abr 2013
BRASIL Norma de Execuccedilatildeo INCRA nordm 44 de 28 de junho de 2005 Estabelece valor
unitaacuterio por famiacutelia referente agrave implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de
Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria
Disponiacutevel em lthttpwwwincragovbrgt Acesso em 05 abr 2013
BRASIL Norma de Execuccedilatildeo INCRA nordm 51 de 24 de julho de 2006 Aprova o Manual para
Elaboraccedilatildeo e Implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos naturais e
seus Anexos Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 26 jul 2006
Disponiacutevel em lthttpwwwincragovbrgt Acesso em 05 abr 2013
BRASIL Resoluccedilatildeo CONAMA ndeg 387 de 27 de dezembro de 2006 Revoga a Resoluccedilatildeo
CONAMA no 28901 Estabelece procedimentos para o licenciamento ambiental de Projetos
de Assentamentos de Reforma Agraacuteria e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo Brasiacutelia DF 29 dez 2006
Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 03 abr 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Lei Estadual nordm 12488 de 13 de setembro de
1995 Dispotildee sobre a Poliacutetica Florestal do Estado do Cearaacute e daacute outras providecircncias Diaacuterio
Oficial do Estado Cearaacute CE 27 set 1995
Disponiacutevel em lthttpwwwalcegovbrgt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Resoluccedilatildeo COEMA ndeg 09 de 29 de maio de
2003 Institui o compromisso de compensaccedilatildeo ambiental por danos causados ao meio
ambiente e pela utilizaccedilatildeo de recursos ambientais Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 09
jun 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwsemacecegovbrgt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Lei Complementar Estadual nordm 48 de 19 de julho
de 2004 Cria o Fundo e o Conselho Estadual Gestor do Meio Ambiente ndash FEMA e daacute
116
outras providecircncias Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 23 jul 2004 Disponiacutevel em
lthttpwwwalcegovbr gt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Decreto Estadual ndeg 27719 de 07 de marccedilo de
2005 Regulamenta a Lei Complementar nordm 48 de 19 de julho de 2004 que cria o Fundo
Estadual do Meio Ambiente ndash FEMA o Conselho Gestor e revoga o Decreto nordm 27564 de
17 de setembro de 2004 Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 07 mar 2005 Disponiacutevel
em lthttpwwwalcegovbr gt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Lei Estadual nordm 14198 de 05 de agosto de 2008
Institui a Poliacutetica Estadual de Combate e Prevenccedilatildeo agrave Desertificaccedilatildeo e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 12 ago 2008 Disponiacutevel em
lthttpwwwalcegovbrgt Acesso em 19 jul 2013
CEARAacute Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute ndash IPECE Cearaacute em
nuacutemeros Fortaleza 2010 Disponiacutevel em httpwwwipececegovbr Acesso em 17 nov
2012
CEARAacute Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute Perfil baacutesico municipal
Irauccediluba Fortaleza 2012 Disponiacutevel em httpwwwipececegovbr Acesso em 21 jul
2013
CEARAacute Secretaria dos Recursos Hiacutedricos Programa de accedilatildeo estadual de combate agrave
desertificaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo dos efeitos da seca PAE-CE Fortaleza Ministeacuterio do Meio
Ambiente Secretaria dos Recursos Hiacutedricos 2010 372p
CRIADO Francisco de Asiacutes Palaacutecios O registro e seus desafios no novo milecircnio ordem
progresso e proteccedilatildeo ambiental Satildeo Paulo Saraiva 2010
DANTAS Eustoacutegio Wanderley Correia et al Cearaacute um novo olhar geograacutefico 2 ed atual
Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha 2007
EMBRAPA Centro Nacional de Pesquisa de Solos (Rio de Janeiro RJ) Sistema brasileiro
de classificaccedilatildeo de solos 2 ed ndash Rio de Janeiro 2006
FILHO Humberto Lima de Lucena Consideraccedilotildees acerca da medida provisoacuteria ndash aspectos
juriacutedicos e praacuteticas governamentais Revista Eletrocircnica Jus Navegandi Ano 2005 mecircs
JULHO Disponiacutevel em ltwwwjuscombrgt Acesso em 02 jun 2013
FOLHES Marcelo Teophilo VIANA Manuel Osoacuterio de Lima Estudo da
degradaccedilatildeodesertificaccedilatildeo em sistemas de produccedilatildeo no semiaacuterido nos estados do Cearaacute
e Piauiacute diagnoacutestico soacutecio-econocircmico do municiacutepio de Irauccediluba Departamento de Economia
Agriacutecola da Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2001
GALDINO Valeacuteria Silva CANDIDO Angeacutelica Giosa Da reserva legal florestal como
limitaccedilatildeo ao direito de propriedade Revista de Ciecircncias Juriacutedicas v 6 n1 237-252 2008
GUERRA Antocircnio Joseacute Teixeira et al Dicionaacuterio de meio ambiente Rio de Janeiro Thex
2009
117
IBGE Censo 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrgt Acesso 3 ago 2013
IBGE Censo 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrgt Acesso 3 ago 2013
IBGE Censo 2011 Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrgt Acesso 3 ago 2013
IRAUCcedilUBA Prefeitura Municipal Lei Municipal nordm 565 de 19 de outubro de 2007 Dispotildee
sobre a Poliacutetica Ambiental do Municiacutepio de Irauccediluba Unidades de Conservaccedilatildeo e daacute
outras providecircncias IrauccedilubaCE 2007
IRAUCcedilUBA Prefeitura Municipal Plano de accedilatildeo municipal de combate a desertificaccedilatildeo
de Irauccediluba (PAM 2009) Irauccediluba CEInstituto Cactos 2009
JACOMINE P K T et al Levantamento exploratoacuterio reconhecimento de solos do Estado
do Cearaacute Recife DPP AgMADNPEA-SUDENEDRN 1973 2 v (Boletim de Pesquisa n
28)
LUSTOSA Jacqueline Pires Gonccedilalves Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica micromorfoloacutegica e
mineraloacutegica de trecircs topossequumlecircncias no Municiacutepio de Irauccediluba e suas relaccedilotildees com os
processos de desertificaccedilatildeo 142f 2004 Tese de doutorado em Geociecircncias Instituto de
Geociecircncias e Ciecircncias Exatas da Universidade Estadual Paulista Rio ClaroSP 2004
MAIA Gerda Nickel Caatinga aacutervores e arbustos e suas utilidades 2 ed Fortaleza
Printcolor Graacutefica e Editora 2012
MAGNANINI Alceo A histoacuteria da Lei Federal ndeg 47711965 (ldquoCoacutedigordquo florestal
brasileiro) Disponiacutevel em lthttpwwwportaldomeioambienteorgbrgt Acesso em lt20 dez
2010gt
MATALLO JR Heitor A desertificaccedilatildeo no mundo e no Brasil In SCHENKEL Celso
Salatino MATALLO JR Heitor Desertificaccedilatildeo Brasiacutelia UNESCO 1999
MEIRELES Hely Lopes Direito administrativo brasileiro 29 ed Satildeo Paulo Malheiros
2004
MELO Ewerton Torres Diagnoacutestico fiacutesico conservacionista da microbacia do riacho dos
cavalos - Crateuacutes-Cearaacute 128f 2008 Dissertaccedilatildeo de mestrado do Programa Regional de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) da Universidade
Federal do Cearaacute FortalezaCE 2008
MELO Marcelo Augusto Santana O meio ambiente e o registro de imoacuteveis Satildeo Paulo
Saraiva 2010
METZGER Jean Paul Bases bioloacutegicas para a bdquoreserva legal‟ Revista Ciecircncia Hoje v 31
n 183 p 48-49 2002
MILAREacute Eacutedis Direito do ambiente e a gestatildeo ambiental em foco doutrina
jurisprudecircncia glossaacuterio 6ed rev atual e ampl Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais
2009
118
MIRANDA Joatildeo Paulo Rocha de Aquecimento global queimadas e reserva legal no
Direito Paacutetrio conflitos e desafios na Amazocircnia brasileira MT Amazoon Manaus 2008
MONDIN Basttista Introduccedilatildeo agrave filosofia problemas sistemas autores obras 15 ed Satildeo
Paulo Paulus 2004 p 117
MONTEIRO Washington de Barros Curso de direito civil parte geral 4 ed Satildeo Paulo
Saraiva 1992
MORAES Luis Carlos Silva de Coacutedigo florestal comentado Satildeo Paulo Atlas 2002
NOLETO Tania Maria Serra de Jesus Suscetibilidade geoambietal das terras secas da
microrregiatildeo de SobralCe agrave desertificaccedilatildeo 145f 2005 Dissertaccedilatildeo de mestrado do
Programa Regional de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA)
da Universidade Federal do Cearaacute FortalezaCE 2005
ODUM Eugene P BARRET Gary W Fundamentos da ecologia Satildeo Paulo Cengage
Learning 2008
PINHEIRO Renata Aline Bezerra Anaacutelise do processo de degradaccedilatildeodesertificaccedilatildeo na
bacia do riacho feiticeiro com base no DFC municiacutepio de Jaguaribe-Cearaacute 129f 2011
Dissertaccedilatildeo de mestrado do Programa Regional de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e
Meio Ambiente (PRODEMA) da Universidade Federal do Cearaacute FortalezaCE 2011
SALES Marta Celina Linhares Evoluccedilatildeo dos estudos de desertificaccedilatildeo no nordeste
brasileiro Revista GEOUSP Espaccedilo e TempoSatildep Paulo n11 p 115-126 2002
SCHAFFER Wigold B MEDEIROS Joatildeo de Deus Normas ambientais gerais de caraacuteter
nacional imprescindiacuteveis para as poliacuteticas estrateacutegicas do paiacutes Ano 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwapremaviorgbrgt Acesso em 20 set 2010
SILVA Benedita Aparecida de Poliacutetica florestal reserva legal extra propriedade Revista
Economia Anaacutelises e Perspectivas Socioeconocircmicas v 3 n7 p 59-60 2001
SORENSEN Thorvald Julius A Method of establishing groups of equal amplitude in
plant sociology based on similarity of species content and its application to analyses of
the vegetation on danish commons Koslashbenhavn I kommission hos E Munksgaard 1948
SUDENE Dados pluviomeacutetricos mensais do nordeste estado do Cearaacute Recife 1990
THORNTHWAITE Charles Warren MATHER John Russell The Water Balance
Publications in climatology New Jersey v3 n1 1955
TRENNEPOHL Curt As sanccedilotildees administrativas aplicaacuteveis pela falta de averbaccedilatildeo da
reserva legal Constitucionalidade e legalidade do art 55 do Decreto ndeg 651408 Foacuterum de
Direito Urbano e Ambiental v 8 n44 p 09-14 2009
119
Perguntei-me inuacutemeras vezes se deveria prosseguir A resposta me era
dada quando olhava para traacutes e via meu passado cheio de grandes
vitoacuterias e conquistas pela matildeo de Deus e pelo meu esforccedilo Entatildeo
decidi que natildeo seria agora que natildeo chegaria ateacute o fim mesmo que o
que me impulsionou para esse desafio jaacute natildeo tem mais a mesma
intensidade Aqui estou eu fazendo desse momento mais uma
imensuraacutevel vitoacuteria por Aquele que um dia me deu essa oportunidade
A Ele toda honra e toda gloacuteria
A autora
RESUMO
A degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio de Irauccediluba eacute alvo de vaacuterias pesquisas pois eacute um
problema onde as causas estatildeo presentes natildeo soacute ali mas em grande parte do semiaacuterido
nordestino no entanto ao se tratar deste assunto logo vem agrave tona outra questatildeo mais seacuteria o
processo de desertificaccedilatildeo O presente trabalho faz uma raacutepida abordagem do semiaacuterido
dando especial evidecircncia agravequele municiacutepio englobando a origem da degradaccedilatildeo a atual
situaccedilatildeo local e possiacuteveis formas para minimizar ou ateacute mesmo estagnar aquele problema
ambiental O objetivo geral foi levantar o nuacutemero de propriedades rurais no municiacutepio
elegendo em sua maioria os projetos de assentamento rural e verificar se possuiacuteam ou natildeo
uma aacuterea especialmente protegida denominada reserva legal A escolha desse instituto como
indicador se deu por ser ele um instrumento criado por lei e que por sua vez impele todo e
qualquer proprietaacuterio ou possuidor rural a manter uma parcela miacutenima de 20 do seu imoacutevel
preservado como aacuterea de Reserva Legal Sua efetividade como instrumento de preservaccedilatildeo
foi analisada em 6 propriedades a partir de imagens do sateacutelite LANDSAT 5 com base nos
anos de 1993 e 2007 e atraveacutes da anaacutelise do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada
(NDVI) foi realizado um estudo comparativo para verificar se houve evoluccedilatildeo ou natildeo do
quadro vegetativo dentro e fora das aacutereas de reserva legal Na identificaccedilatildeo dos imoacuteveis
estudados soacute foram encontrados seis com reserva legal oficialmente implantada ateacute o ano de
2007 data mais recente da imagem de sateacutelite empregada A anaacutelise comparativa realizada
com esses imoacuteveis que tecircm algum tipo de registro no Cartoacuterio de Imoacuteveis eou no INCRA
dentre os 713 medidos e georreferenciados pelo IDACE e que por sua vez foi conduzida com
uso do NDVI natildeo indicou diferenccedila significativa entre os iacutendices encontrados para a
cobertura vegetal dentro e fora das aacutereas de Reserva Legal
Palavras-chave Degradaccedilatildeo Ambiental Coacutedigo Florestal Reserva Legal IrauccedilubaCE
ABSTRACT
The environmental degradation in the municipality of Irauccediluba is the target of several studies
because it is an issue where the causes are present in much of the northeastern semiarid
However when dealing with this subject soon comes to attention another issue which is more
serious and that arises from the ongoing degradation the process of desertification The
present paper analyzes briefly the cearense semiarid giving special emphasis to that
municipality so that the origin of the degradation the current local situation and even
possible ways to minimize or even stagnate that environmental problem were all the target of
this research The overall goal was to enumerate the number of farms among them those that
either have a specially protected area called legal reserve or those that does not The choice
of this statistic as an indicator was due to the fact that it is a legal instrument which in turns
compels all and any owner of land or rural possessor to maintain 20 of their property
preserved as a Legal Reserve area Its effectiveness as a tool for preservation was analyzed in
6 properties with the help of satellite images from LANDSAT 5 taken between the years
1993 and 2007 and by examining the Normalized Difference Vegetation Index (NDVI) a
comparative study was conducted to determine whether there was a growth or not of the
vegetative area inside and outside the legal reserves During the identification of the
properties to be studied only six were found to have a legal reserve officially implemented by
the year 2007 the most recent date of the satellite images used A comparative analysis with
those lands that have some kind of record in the Registry of Property andor INCRA among
the 713 measured and georeferenced by IDACE and that in turn used the NDVI as a
guideline indicated no significant difference on the index either inside or outside the Legal
Reserves areas
Key-Words Environmental degradation Forest code Legal reserve IrauccedilubaCE
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 27
Figura 2 Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 (Novo Coacutedigo
Florestal)
27
Figura 3 Sistema de degradaccedilatildeo do meio ambiente 47
Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro 53
Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute 54
Figura 6 Iacutendice de aridez (UNEP) 56
Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo no Cearaacute 57
Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo 57
Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no ISSD 59
Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no IESD 60
Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios 61
Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute 79
Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba 79
Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo 81
Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras permanentes 85
Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras temporaacuterias 85
Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem
vegetal (tonano)
86
Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem
vegetal (m3ano)
86
Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011) 87
Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001 88
Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010 88
Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011 89
Figura 23 Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos 90
Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba 91
Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba 92
Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba 94
Figura 27 Grupo de solos que formam as associaccedilotildees pedoloacutegicas em
Irauccediluba
95
Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba 96
Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba 97
Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual 97
Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba 98
Figura 32 Iacutendice de umidade em Irauccediluba 98
Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba 100
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Medidas Provisoacuterias 21
Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras 48
Tabela 3 Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez (UNEP) 52
Tabela 4 Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo 55
Tabela 5 Levantamento de imoacuteveis com reserva legal (cartoacuterio de
registro de imoacuteveis)
73
Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais 76
Tabela 7 Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba 77
Tabela 8 Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de
anaacutelise
80
Tabela 9 Dados da propriedade particular estudada 80
Tabela 10 Propriedades estudadas 81
Tabela 11 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem
animal
87
Tabela 12 Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores 90
Tabela 13 Relaccedilatildeo entre solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo 93
Tabela 14 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEmbrapa 93
Tabela 15 Anaacutelise geral das propriedades estudadas 101
Tabela 16 NDVI dos imoacuteveis estudados 107
Tabela 17 Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal entre dentro e fora da aacuterea
de reserva legal pelo meacutetodo Sorensen
108
SUMAacuteRIO
Lista de Figuras vii
Lista de Tabelas ix
Resumo v
Abstract vi
INTRODUCcedilAtildeO 12
1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 14
11 O Instituto da Reserva Legal 14
111 Conceito 15
112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica 17
113 Importacircncia da Reserva Legal 30
1131 Juriacutedica 31
1132 Social 32
1133 Ambiental 33
1134 Econocircmica 35
114 Direito de Propriedade X Reserva Legal 36
1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa 41
1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal 42
2 PROCESSO DE DEGRADACcedilAtildeO 45
21 Conceito 45
22 Degradaccedilatildeo ambiental 48
221 Erosatildeo 49
222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica 49
223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica 50
23 A degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 51
231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia 52
24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental 62
25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira 65
251 Lei ambiental de Irauccediluba 69
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 71
31 Reserva Legal em Irauccediluba 71
311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental ndash Projeto de
Assentamento Agraacuterio em foco
73
32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo 78
321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba 78
3211 Das propriedades estudadas 79
3212 Aspectos histoacutericos de ocupaccedilatildeo 82
322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas 82
323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba 91
3231 Altimetria e Classes de relevo 91
3232 Solos 92
3233 Clima 95
3234 Vegetaccedilatildeo 99
3235 Recursos Hiacutedricos 100
324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo 101
33 Metodologia 104
331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite 104
4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES 107
41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 107
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 110
REFEREcircNCIAS 113
INTRODUCcedilAtildeO
A degradaccedilatildeo como um problema ambiental jaacute foi alvo de inuacutemeras pesquisas
principalmente quando se trata do semiaacuterido brasileiro Estudos nesse sentido datam da
deacutecada de 70 eacutepoca em que o professor Vasconcelos Sobrinho passou a pesquisar o processo
de desertificaccedilatildeo no nordeste do Brasil (SALES 2002) Nas investigaccedilotildees ele identificou um
nuacutecleo no Cearaacute que se localiza em Irauccediluba Em assim sendo buscou-se desenvolver um
trabalho naquele municiacutepio tomando por base um mecanismo criado por lei cujo caraacuteter eacute a
conservaccedilatildeo do meio ambiente Trata-se da reserva legal Como nessa aacuterea natildeo haacute pesquisa
envolvendo a aplicabilidade do tal instituto viu-se a oportunidade de estudaacute-la produzindo-se
o presente trabalho
A proposta principal da pesquisa eacute fazer um levantamento dos imoacuteveis existentes
no municiacutepio de Irauccediluba pontuando de forma preponderante os de propriedade federal e
estadual destinados aos assentamentos rurais e assim identificar nessas aacutereas a existecircncia ou
natildeo do instituto da reserva legal e sua devida implantaccedilatildeo Nesse sentido encontrou-se 6
propriedades que possuiacuteam a reserva legal sendo 5 puacuteblicas e 1 privada Empoacutes o segundo
intuito envolve a diferenciaccedilatildeo entre a cobertura vegetal da reserva e do restante da
propriedade a partir da utilizaccedilatildeo de imagens de sateacutelite e o uso do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por
Diferenccedila Normalizada (NDVI)
Para isso foi necessaacuterio fazer um apanhado de como esse instrumento de
conservaccedilatildeo foi e eacute abordado no Coacutedigo Florestal que eacute a lei onde haacute previsatildeo da reserva
legal bem como traccedilar um histoacuterico de como se deu sua evoluccedilatildeo dentro do quadro
legislativo no paiacutes foi igualmente essencial Da mesma maneira buscou-se contextualizar a
importacircncia da reserva legal nos aspectos econocircmico juriacutedico social e ambiental de forma
que ficou ilustrado o valor que esse mecanismo tem para a sociedade As discussotildees de cunho
juriacutedico e praacutetico sobre o assunto foram levantadas pois o proprietaacuterio do imoacutevel vecirc a reserva
legal como ocircnus e natildeo como um instrumento de conservaccedilatildeo que traraacute imensuraacuteveis
benefiacutecios ambientais dentro de sua proacutepria aacuterea Encerrando o primeiro capiacutetulo tecircm-se as
formas de cumprir o mandamento legal que envolvem a reserva muito embora isto tenha
sofrido algumas alteraccedilotildees como se veraacute a seguir
Quanto agrave reserva legal em Irauccediluba as constataccedilotildees natildeo satildeo animadoras
Infelizmente haacute um desencontro de informaccedilotildees a comeccedilar pelo controle do nuacutemero de
imoacuteveis existentes no municiacutepio Em seguida soacute foram encontrados trecircs imoacuteveis com a
obrigaccedilatildeo devidamente formalizada em cartoacuterio Isso diante de um universo de mais de 700
propriedades eacute frustrante e desencorajador Outra abordagem feita neste toacutepico aponta o
licenciamento ambiental como mais um instrumento possibilitador da instalaccedilatildeo da reserva
legal pois o oacutergatildeo ambiental tem dever de exigir o tal instituto para licenciar atividades e
empreendimentos localizados em zona rural
Igualmente desalentadora eacute a degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio Por se tratar de
uma aacuterea com caracteriacutesticas naturalmente adversas e limitantes sua ingerecircncia deveria ser
profundamente fiscalizada e regulamentada pelas autoridades competentes em todos os niacuteveis
de governo Mas isso natildeo ocorre pelo contraacuterio em Irauccediluba satildeo exercidas atividades com
meacutetodos bem rudimentares e sem qualquer preocupaccedilatildeo com a recuperaccedilatildeo dos danos e com a
capacidade de suporte do meio Assim acontece a degradaccedilatildeo das aacutereas com a praacutetica do
desmatamento das queimadas do sobrepastoreio e outros tipos de intervenccedilatildeo
ambientalmente prejudiciais Diante desse quadro o homem do campo tende a abandonar
estas e ocupar outras terras estimulando ainda mais o processo de desertificaccedilatildeo ali presente
Outro toacutepico em que se chama atenccedilatildeo no trabalho eacute a quantidade de leis
envolvendo o tema Natildeo faltam regulamentaccedilotildees muito pelo contraacuterio sobram O que se
percebe eacute a existecircncia de leis para vaacuterios assuntos em vez de uma que englobe a maioria
deles Com lei ou sem lei a situaccedilatildeo parece natildeo progredir positivamente em termos de
recuperaccedilatildeo ambiental embora haja uma estrutura poliacutetica econocircmica e juriacutedica dirigida para
tais fins Aleacutem disto existem poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o municiacutepio especificamente e
outras que natildeo mas podem ser implementadas ali Eacute o caso dos benefiacutecios dos inuacutemeros
programas de governo direcionados para a reforma agraacuteria por exemplo Outro caso satildeo os
fundos de combate agrave degradaccedilatildeo e agrave desertificaccedilatildeo Nesta orientaccedilatildeo percebe-se que natildeo
faltam leis poliacuteticas puacuteblicas ou recursos Felizmente existe todo um aparato no sentido de
melhorar as condiccedilotildees ambientais e minimizar danos mas infelizmente na praacutetica essa
estrutura natildeo voga como deveria
Todo esse cenaacuterio estaacute enquadrado na caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo
devidamente abordada no terceiro capiacutetulo Laacute satildeo mencionados os aspectos socioeconocircmicos
do municiacutepio perpassando pelos acontecimentos histoacutericos de sua ocupaccedilatildeo As
caracteriacutesticas fisiograacuteficas de Irauccediluba tambeacutem se fazem presentes de maneira que foram
abordados aspectos pedoloacutegicos climaacuteticos vegetativos e hiacutedricos Aleacutem disto a metodologia
utilizada permitiu as constataccedilotildees discorridas nos resultados e discussotildees inseridas no
capiacutetulo 4 de forma que os objetivos da pesquisa foram alcanccedilados
13
1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
11 O Instituto da Reserva Legal
A reserva legal eacute um instituto cuja importacircncia perfaz o esteio do
desenvolvimento sustentaacutevel no sentido de que harmoniza a viabilidade econocircmica com a
justiccedila social e o equiliacutebrio ecoloacutegico Eacute um notaacutevel exemplo de que eacute possiacutevel coexistirem
interesses particulares e coletivos pois a reserva legal nada mais eacute que a conservaccedilatildeo
ambiental de uma determinada porcentagem da propriedade ou posse rural passiacutevel de
intervenccedilatildeo pelo homem do campo
O presente estudo indica a reserva legal como uma forma de conservaccedilatildeo do
meio em face da extraccedilatildeo vegetal promovida pelo proprietaacuterio agriacutecola Foca ainda os
aspectos social econocircmico e ambiental dessa imposiccedilatildeo que tem seu nascedouro na legislaccedilatildeo
vigente Corrobora Silva (2001 p 59) ao afirmar que ldquoa cobertura vegetal nativa sobretudo
as florestais exerce papel de fundamental importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de
ecossistemas naturais bem como de ecossistemas criados pelo homemrdquo No mesmo sentido
Miranda (2008 p 31) diz que ldquoa reserva legal contribui para a mitigaccedilatildeo do aquecimento
global salvaguarda a biodiversidade e garante agraves presentes e futuras geraccedilotildees o direito a um
meio ambiente ecologicamente equilibradordquo
Traz-se agrave tona os aspectos que fundamentam a reserva legal como um instituto
que fora criado por lei especiacutefica para a conservaccedilatildeo do meio pois erroneamente os
proprietaacuterios rurais a veem como limitaccedilatildeo ao direito de propriedade e entendem que destinar
uma porcentagem de seus imoacuteveis para uma aacuterea que natildeo corresponde agrave afericcedilatildeo de lucro eacute
tatildeo somente um ocircnus eou uma perda e natildeo um investimento Nesse sentido explicam
Galdino e Candido (2008 p 251) que ldquoa instituiccedilatildeo da reserva legal natildeo enfraquece ou destroacutei
o direito de propriedade Ao reveacutes possibilita a existecircncia de um meio ambiente
ecologicamente equilibrado condicionando a propriedade a uma funccedilatildeo socioambientalrdquo
Conforme Bacha (2005 p 24) ldquodeve-se pensar em novas formas de estiacutemulo
econocircmico ao produtor para que ele recomponha a reserva legal pois a legislaccedilatildeo atual
apenas lhe coloca custos em contrapartida de benefiacutecios a toda sociedaderdquo Cabe ainda
mencionar a possibilidade prevista no Coacutedigo Florestal ou seja na Lei 4771 (BRASIL
1965) quanto agrave intervenccedilatildeo na aacuterea destinada agrave reserva legal de forma sustentaacutevel sem
suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo
econocircmica dessas aacutereas
Existem estudos justificando biologicamente a existecircncia da reserva legal Eacute sobre
o que discorre Metzger (2002 p 48) quando afirma que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de
propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa satildeo
fundamentais para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada
regiatildeordquo Complementa ainda Silva (2001 p 59) quando afirma sobre ldquoa importacircncia da
cobertura vegetal em reserva legal que permite uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da
aacutegua no solo e no subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos aleacutem de
promover a manutenccedilatildeo da diversidade geneacuteticardquo
Ademais o exerciacutecio de atividades econocircmicas que tem por principal insumo os
recursos naturais modifica sensivelmente a cobertura vegetal e o solo contribuindo para um
processo de degradaccedilatildeo Para tanto o respeito agrave legislaccedilatildeo ambiental vigente como o Coacutedigo
Florestal por exemplo eacute de extrema relevacircncia uma vez que eacute norma conducente agrave
conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo das formas de vegetaccedilatildeo e suas respectivas ingerecircncias Tal lei
prevecirc a reserva legal como espaccedilo especialmente protegido
Balizando tal atividade econocircmica frente agrave observacircncia da reserva legal surge a
proposiccedilatildeo elencada por Bacha (2005 p 24) que ldquopara o produtor rural honrar tal instituto
tendo-o como lucrativo eacute necessaacuterio que sua composiccedilatildeo floriacutestica seja feita em parte com
espeacutecies comerciaisrdquo Eacute o que Miranda (2008 p 45) sob o aspecto socioeconocircmico bem
pontua quando evidencia que esta legislaccedilatildeo carece de aderecircncia social pois natildeo condiz com
a realidade e que enfatiza ainda
Para que haja aderecircncia social ela deveria prever uma reestruturaccedilatildeo completa no
modelo de desenvolvimento Sem isso tanto os pequenos como os grandes
proprietaacuterios natildeo possuiratildeo condiccedilotildees para cumprir a lei e uma vez na ilegalidade
cometem outros crimes ambientais E por entenderem que a lei natildeo eacute factiacutevel natildeo a
cumprem [] Aleacutem disso as linhas de creacutedito inclusive dos bancos oficiais natildeo
financiam atividades sustentaacuteveis mas a pecuaacuteria o plantio de soja entre outras por
acreditarem possuir nelas uma seguranccedila maior para o investimento (MIRANDA
2008 p 45)
111 Conceito
A reserva legal eacute um mecanismo criado para a conservaccedilatildeo dos recursos naturais
cuja origem eacute a lei Sua essecircncia sempre esteve presente em normas de caraacuteter protecionista
que dispunham sobre florestas e demais formas de vegetaccedilatildeo muito embora tenham ocorrido
inuacutemeras alteraccedilotildees ao longo do tempo Eacute o que se pode observar pela evoluccedilatildeo legislativa
que a seguir seraacute apontada
15
A expressatildeo reserva legal pode ser simploriamente entendida como uma aacuterea a ser
conservada por um detentor de imoacutevel rural e que por sua vez varia com a localidade do
bioma em que a aacuterea estaacute inserida A lei que versa sobre esse tema eacute conhecida como Coacutedigo
Florestal e com esse nome existiu em trecircs momentos diferentes da histoacuteria do legislativo
brasileiro O primeiro foi no ano de 1934 o segundo em 1965 e por uacuteltimo em 2012 estando
presente em todos eles uma seacuterie de modificaccedilotildees que levaram ao aperfeiccediloamento do
conteuacutedo e dos objetivos da reserva legal bem como flexibilizaccedilotildees e restriccedilotildees a depender
do momento econocircmico em que o paiacutes vivia eou dos interesses da maioria de parlamentares agrave
eacutepoca
Atualmente a Lei 12651 de 25052012 ou como eacute conhecida por Novo Coacutedigo
Florestal atraveacutes de seu artigo 3ordm inciso III prevecirc o conceito de reserva legal da seguinte
forma
III ndash Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural
delimitada nos termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de
modo sustentaacutevel dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a
reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade
bem como o abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012
p 3) (BRASIL 2012)
Jaacute a previsatildeo elencada nos Coacutedigos anteriores de 1934 e 1965 dispotildee
Coacutedigo Florestal de 1934 - Decreto 23793
Art 23 - Nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas poderaacute abater mais de trecircs
quartas partes da vegetaccedilatildeo existente []
sect 1ordm O dispositivo do artigo natildeo se applica a juizo das autoridades florestaes
competentes agraves pequenas propriedades isoladas que estejam proximas de florestas
ou situadas em zona urbana
sect 2ordm Antes de iniciar a derrubada com a antecedencia minima de 30 dias o
proprietario daraacute sciencia de sua intenccedilatildeo aacute autoridade competente afim de que esta
determine a parte das mattas que seraacute conservada (BRASIL 1935 p 5)
Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771
Art 1ordm sect 2ordm inciso III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma
propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao
uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos
ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora
nativas (BRASIL 1965 p 2)
Percebe-se que na lei de 1934 se quer haacute menccedilatildeo ao termo reserva legal mas se
vecirc claramente a intenccedilatildeo conservacionista do legislador e se ressalte que eacute uma visatildeo bem
mais proacute-ambiente uma vez que proiacutebe o desmatamento acima de frac34 da propriedade
protegendo assim 25 de sua aacuterea Embora o Coacutedigo Florestal de 1934 natildeo preveja
16
explicitamente a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo em determinada aacuterea com o nome de reserva legal o
artigo 23 do diploma citado acima estaacute notoriamente revestido de um caraacuteter conservacionista
e quem natildeo o cumprisse estaria enquadrado no paraacutegrafo 4ordm do artigo 86 do Capitulo V ndash
Infracccedilotildees florestaes
Art 86 As contravenccedilotildees previstas nos arts 9ordm sect 1ordm 21 22 e sect 1ordm 23 e paragrapho
unico 24 a 30 31 a 34 37 43 a 45 49 e paragrapho unico 51 54 e paragrapho
unico 55 e 64 deste codigo quando natildeo se caracterizarem especialmente algumas
figuras delictuosas definidas no art 83 ou no art 87 sujeitas seus autores aacutes penas
seguintes
[]
sect 4ordm pelas das letras g h do art 22 e arts 23 e 44 - detenccedilatildeo ateacute 60 dias e multa ateacute
10000$000 (BRASIL 1935 p 14)
Em contrapartida um pouco mais aperfeiccediloado embora um tanto quanto tarde o
instituto da reserva legal aparece bem definido somente em 2001 quando a Medida Provisoacuteria
nordm 2166-6 (BRASIL 2001) acrescentou ao texto da Lei 4771 (BRASIL 1965) o seu conceito
da forma como eacute mais conhecido ultimamente apesar de natildeo se limitar soacute a esta modificaccedilatildeo
Como tantas outras leis o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) sofreu diversas
alteraccedilotildees ao longo de sua vigecircncia que durou ateacute 25 de maio de 2012 data em que a Lei
12651 (BRASIL 2012) entra em vigor revoga a anterior e estabelece o novo Coacutedigo
Florestal
Como a temaacutetica deste trabalho eacute discorrer sobre a existecircncia da reserva legal a
partir de um levantamento nas propriedades rurais seratildeo tratadas tatildeo somente as
modificaccedilotildees que dizem respeito a este instituto
112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica
O protecionismo florestal como ligeiramente mencionado anteriormente foi
delineado em um preceito normativo datado da deacutecada de 30 quando surgiu o primeiro
diploma legal a prever a conservaccedilatildeo relativa agrave manutenccedilatildeo das matas Eacute atraveacutes do Decreto
ndeg 23793 de 23 de janeiro de 1934 (BRASIL 1935) que a vegetaccedilatildeo recebe amparo e passa a
ser resguardada da supressatildeo indiscriminada Surge entatildeo o primeiro Coacutedigo Florestal
Brasileiro que em seu artigo 23 descreve que nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas
poderaacute abater mais de trecircs quartas partes da vegetaccedilatildeo existente
17
Eacute interessante observar que a delimitaccedilatildeo imposta pela norma corresponde a vinte
e cinco por cento da propriedade ou seja um grande desafio para a sociedade da eacutepoca que
era tradicionalmente agriacutecola e despontava para a industrializaccedilatildeo
Para melhor apreciar as preocupaccedilotildees que justificaram a ediccedilatildeo do Coacutedigo Florestal
de 1934 haacute que se entender a realidade soacutecio-econocircmica e poliacutetica da sociedade
brasileira no iniacutecio do seacuteculo XX A populaccedilatildeo estava concentrada proacuteximo agrave
Capital da Repuacuteblica cidade do Rio de Janeiro Estado da Guanabara A cafeicultura
avanccedilava pelos morros que constituem a topografia do Vale do Paraiacuteba substituindo
toda a vegetaccedilatildeo nativa A criaccedilatildeo de gado outra forma de utilizaccedilatildeo das terras
fazia-se de modo extensivo e com miacutenima teacutecnica Na silvicultura que jaacute se iniciara
tiacutemida nos primeiros anos do seacuteculo XX verificava-se o trabalho valioso e pioneiro
de Edmundo Navarro de Andrade com a introduccedilatildeo de espeacutecies de Eucalyptus mas
restrito agraves atividades da Cia Paulista de Estradas de Ferro no Estado de Satildeo Paulo
No resto do Paiacutes assim como antes no Estado de Satildeo Paulo a atividade florestal era
fundamentada no mais puro extrativismo Nos Estados do Paranaacute e Santa Catarina
os estoques de Araucaria angustifolia eram rapidamente exauridos Foi nesse cenaacuterio
que o Poder Puacuteblico decidiu interceder estabelecendo limites ao que parecia ser um
saque ou pilhagem dos recursos florestais (muito embora ateacute entatildeo tais praacuteticas
fossem liacutecitas) A mencionada ldquointervenccedilatildeordquo necessaacuteria materializou-se por meio
da ediccedilatildeo de um (primeiro) Coacutedigo Florestal o de 1934 (AHRENS 2001 p 6)
Diferentemente do Decreto de 1934 (BRASIL 1935) ao ser publicada em 15 de
setembro a Lei 4771 (BRASIL 1965) ou seja o Coacutedigo Florestal de 1965 trouxe em seu
artigo 16 a ideia do que seria a reserva legal Criou-se entatildeo um limite miacutenimo a ser
respeitado dentro de cada propriedade muito embora soacute mencione uma porcentagem definida
para aacutereas localizadas no Leste Sul e Centro-Oeste do paiacutes deixando de fora as demais
regiotildees
Art 16 As florestas de domiacutenio privado natildeo sujeitas ao regime de utilizaccedilatildeo
limitada e ressalvadas as de preservaccedilatildeo permanente previstas nos artigos 2deg e 3deg
desta lei satildeo suscetiacuteveis de exploraccedilatildeo obedecidas as seguintes restriccedilotildees
a) nas regiotildees Leste Meridional Sul e Centro-Oeste esta na parte sul as derrubadas
de florestas nativas primitivas ou regeneradas soacute seratildeo permitidas desde que seja
em qualquer caso respeitado o limite miacutenimo de 20 da aacuterea de cada
propriedade com cobertura arboacuterea localizada a criteacuterio da autoridade competente
b) nas regiotildees citadas na letra anterior nas aacutereas jaacute desbravadas e previamente
delimitadas pela autoridade competente ficam proibidas as derrubadas de florestas
primitivas quando feitas para ocupaccedilatildeo do solo com cultura e pastagens
permitindo-se nesses casos apenas a extraccedilatildeo de aacutervores para produccedilatildeo de madeira
Nas aacutereas ainda incultas sujeitas a formas de desbravamento as derrubadas de
florestas primitivas nos trabalhos de instalaccedilatildeo de novas propriedades agriacutecolas soacute
seratildeo toleradas ateacute o maacuteximo de 30 da aacuterea da propriedade
c) na regiatildeo Sul as aacutereas atualmente revestidas de formaccedilotildees florestais em que
ocorre o pinheiro brasileiro Araucaria angustifolia (Bert - O Ktze) natildeo poderatildeo
ser desflorestadas de forma a provocar a eliminaccedilatildeo permanente das florestas
tolerando-se somente a exploraccedilatildeo racional destas observadas as prescriccedilotildees
ditadas pela teacutecnica com a garantia de permanecircncia dos maciccedilos em boas condiccedilotildees
de desenvolvimento e produccedilatildeo
18
d) nas regiotildees Nordeste e Leste Setentrional inclusive nos Estados do Maranhatildeo e
Piauiacute o corte de aacutervores e a exploraccedilatildeo de florestas soacute seraacute permitida com
observacircncia de normas teacutecnicas a serem estabelecidas por ato do Poder Puacuteblico na
forma do art 15 sect 1ordm Nas propriedades rurais compreendidas na aliacutenea a deste artigo com aacuterea entre
vinte (20) a cinquumlenta (50) hectares computar-se-atildeo para efeito de fixaccedilatildeo do limite
percentual aleacutem da cobertura florestal de qualquer natureza os maciccedilos de porte
arboacutereo sejam frutiacutecolas ornamentais ou industriais (BRASIL 1965 p 6-7)
Honestamente natildeo se sabe o motivo pelo qual o legislador neste momento inicial
da lei natildeo se deteve agraves minuacutecias quanto agraves regiotildees Nordeste Oeste e Sudeste como o fez para
as outras ou porque sequer definiu percentuais de vegetaccedilatildeo a ser preservadas nelas Aleacutem
disto simplesmente deixar a cargo de ato do Poder Puacuteblico a exploraccedilatildeo de florestas e o corte
de aacutervores no Nordeste eacute no miacutenimo curioso principalmente porque nessa regiatildeo encontra-se
o bioma Caatinga que eacute iacutempar e inexiste em qualquer outra parte do mundo Corrobora com
isto o Monitoramento do Desmatamento nos Biomas Brasileiros por Sateacutelite MMA e IBAMA
ao expor que mesmo sendo a uacutenica grande regiatildeo natural brasileira cujos limites estatildeo
inteiramente restritos ao territoacuterio nacional pouca atenccedilatildeo tem sido dada agrave conservaccedilatildeo da
heterogecircnea paisagem da Caatinga (BRASIL 2010)
Aleacutem disto as colocaccedilotildees do artigo 44 surpreendem quando especializam o tipo
de corte permitido e enquadram 50 da propriedade como reserva legal para o Norte do paiacutes
e o norte da regiatildeo Centro-Oeste como se pode observar
Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste enquanto natildeo for
estabelecido o decreto de que trata o artigo 15 a exploraccedilatildeo a corte razo soacute eacute
permissiacutevel desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea pelo menos 50 da aacuterea
de cada propriedade (BRASIL 1965 p 15)
Em 1989 surge a Lei 7803 (BRASIL 1989b) que acrescenta os paraacutegrafos 2ordm e
3ordm ao artigo 16 inaugurando a expressatildeo reserva legal e ratificando o percentual miacutenimo do
que deveria ser conservado a tiacutetulo de reserva legal Ao artigo 44 foi acrescentado o
paraacutegrafo uacutenico onde os 50 da propriedade anteriormente indicados para permanecer com a
cobertura vegetal agora passam a ser reconhecidos como reserva legal Em ambos os
dispositivos estaacute presente o procedimento formal a ser adotado com fins de resguardar a
aplicaccedilatildeo daquele instituto e seus efeitos isto eacute a averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio
Art 16 []
sect 2ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) de
cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso deveraacute ser averbada agrave margem
19
da inscriccedilatildeo de matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo
vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou
de desmembramento da aacuterea
sect 3ordm Aplica-se agraves aacutereas de cerrado a reserva legal de 20 (vinte por cento) para
todos os efeitos legais (BRASIL 1989b p 1)
Art 44 [] Paraacutegrafo uacutenico A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 50
(cinquumlenta por cento) de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso
deveraacute ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de
imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de
transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de desmembramento da aacuterea (BRASIL 1989b p
2)
Nota-se que os dispositivos trazem novidades como a vedaccedilatildeo a um tipo de corte
o meacutetodo garantidor para a implantaccedilatildeo da reserva legal e a proibiccedilatildeo de mudanccedila na aacuterea
destinada a receber o benefiacutecio Ademais o bioma cerrado eacute especialmente citado afirmando
assim a instituiccedilatildeo da reserva legal nele e seu respectivo percentual
Vale destacar ainda a entidade puacuteblica que recebeu por forccedila legal a
incumbecircncia de promover os atos formais e documentais para a implantaccedilatildeo da reserva legal
Trata-se do registro ou cartoacuterio de imoacuteveis que por sua vez reuacutene em seus livros oficiais
todas as informaccedilotildees sobre as propriedades imobiliaacuterias de sua circunscriccedilatildeo ou regiatildeo
geograacutefica Enfim o registro de imoacuteveis eacute o oacutergatildeo constitutivo da propriedade e o que guarda
este direito aleacutem de vigiar se a funccedilatildeo social e ambiental do imoacutevel estaacute sendo cumprida
Por conseguinte houve a ediccedilatildeo da Medida Provisoacuteria1 1511 em 25 de julho de
1996 (BRASIL 1996) com o objetivo de dar nova redaccedilatildeo ao artigo 44 do Coacutedigo Florestal
ou seja amplia o percentual da reserva legal de 50 para 80 em casos especiacuteficos e esmiuacuteccedila o
Norte do Brasil e o norte da regiatildeo Centro-Oeste
Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste a exploraccedilatildeo a
corte raso soacute eacute permitida desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea de no
miacutenimo cinquumlenta por cento de cada propriedade
sect 1ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo cinquumlenta por cento
de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso seraacute averbada agrave margem da
inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a
alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de
desmembramento da aacuterea
1 Medidas Provisoacuterias satildeo instrumentos juriacutedico-poliacuteticos traduzidos na forma de atos normativos com forccedila de
lei praticados pelo Chefe do Executivo Federal em situaccedilotildees de urgecircncia e relevacircncia e que devem ser
submetidas de imediato agrave deliberaccedilatildeo do Congresso Nacional (FILHO 2005) A Constituiccedilatildeo Federal em seu
Art 62 prevecirc que em caso de relevacircncia e urgecircncia o Presidente da Repuacuteblica poderaacute adotar medidas
provisoacuterias com forccedila de lei devendo submetecirc-las de imediato ao Congresso Nacional
20
sect 2ordm Nas propriedades onde a cobertura arboacuterea se constitui de fitofisionomias
florestais natildeo seraacute admitido o corte raso em pelo menos oitenta por cento dessas
tipologias florestais
sect 3ordm Para efeito do disposto no caput entende-se por regiatildeo Norte e parte Norte da
regiatildeo Centro-Oeste os Estados do Acre Paraacute Amazonas Roraima Rondocircnia
Amapaacute e Mato Grosso aleacutem das regiotildees situadas ao norte do paralelo 13degS nos
Estados de Tocantins e Goiaacutes e a oeste do meridiano de 44degW no Estado do
Maranhatildeo (BRASIL 1996 p 1)
Fazendo uma retrospectiva ldquoesse ato do Poder Executivo pretendeu conter o
desmatamento na Amazocircnia num momento em que era divulgado o aumento da taxa meacutedia
anual de desflorestamento no biecircnio 1993-1994rdquo (MIRANDA 2008 p 38) Entretanto essa
natildeo foi a uacutenica iniciativa do chefe do executivo para alterar os percentuais citados acima
Inclusive eacute perturbador o levantamento do nuacutemero de medidas provisoacuterias com o fim de
modificar o Coacutedigo Florestal em especial os criteacuterios e aspectos que envolvem a reserva
legal que ora satildeo mais flexibilizados ora mais restritivos Eacute o que se pode observar pela
leitura da Tabela 1 onde se verifica a existecircncia de 68 propostas de mudanccedila em um espaccedilo de
tempo pouco maior que 5 anos
Tabela 1 Medidas Provisoacuterias (MP)Ano
MEDIDAS PROVISOacuteRIAS (MP) Nordm DE MPPERIacuteODO PERIacuteODOS
Nordm 1511 a 1511-17 18 1ordm) 25071996 a 20111997
Nordm 1605-18 a 1605-30 13 2ordm) 11121997 a 19111998
Nordm 1736-31 a 1736-37 7 3ordm) 14121998 a 02061999
Nordm 1885-38 a 1885-43 6 4ordm) 29061999 a 02111999
Nordm 1956-44 a 1956-57 14 5ordm) 09121999 a 14122000
Nordm 2080-58 a 2080-64 7 6ordm) 27122000 a 13062001
Nordm 2166-65 a 2166-67 3 7ordm) 28062001 a 24082001
A uacuteltima Medida Provisoacuteria a promover consideraacuteveis alteraccedilotildees que dizem
respeito agrave reserva legal foi a de nordm 2166-67 de 24 de agosto de 2001 (BRASIL 2001) Ela
acrescentou o inciso III ao paraacutegrafo 2ordm do artigo 1ordm do Coacutedigo Florestal estabelecendo o
conceito de reserva legal ateacute entatildeo natildeo definido no texto da lei muito embora sua acepccedilatildeo jaacute
existisse
21
Art 1ordm []
sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por
[]
III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural
excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos
recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave
conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas
(BRASIL 2001 p 1)
Vale destacar que a reserva legal soacute deveraacute existir em propriedade ou posse rural
natildeo sendo obrigatoacuteria na aacuterea urbana aleacutem do que natildeo eacute soacute o proprietaacuterio ou seja aquele que
deteacutem o domiacutenio do imoacutevel eacute quem deve implantaacute-la mas o possuidor tambeacutem estaacute sujeito a
tal imposiccedilatildeo legal Isso acontece porque o instituto estaacute vinculado ao imoacutevel e natildeo ao dono
ou quem faz as suas vezes por isso eacute considerada uma obrigaccedilatildeo propter rem isto eacute proacutepria
da coisa
Aleacutem da inclusatildeo do conceito de reserva legal ao Coacutedigo Florestal (BRASIL
1965) ocorreu a fixaccedilatildeo de outros percentuais bem como a adiccedilatildeo de mais oito paraacutegrafos
que delinearam aspectos outrora natildeo mencionados Eacute o que se lecirc pela nova redaccedilatildeo do artigo
16
Art 16 As florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo nativa ressalvadas as situadas em
aacuterea de preservaccedilatildeo permanente assim como aquelas natildeo sujeitas ao regime de
utilizaccedilatildeo limitada ou objeto de legislaccedilatildeo especiacutefica satildeo suscetiacuteveis de supressatildeo
desde que sejam mantidas a tiacutetulo de reserva legal no miacutenimo
I - oitenta por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta localizada na
Amazocircnia Legal
II - trinta e cinco por cento na propriedade rural situada em aacuterea de cerrado
localizada na Amazocircnia Legal sendo no miacutenimo vinte por cento na propriedade e
quinze por cento na forma de compensaccedilatildeo em outra aacuterea desde que esteja
localizada na mesma microbacia e seja averbada nos termos do sect 7ordm deste artigo
III - vinte por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta ou outras
formas de vegetaccedilatildeo nativa localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e
IV - vinte por cento na propriedade rural em aacuterea de campos gerais localizada em
qualquer regiatildeo do Paiacutes
sect 1o O percentual de reserva legal na propriedade situada em aacuterea de floresta e
cerrado seraacute definido considerando separadamente os iacutendices contidos nos incisos I
e II deste artigo
sect 2ordm A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser
utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel de acordo com princiacutepios e
criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos estabelecidos no regulamento ressalvadas as
hipoacuteteses previstas no sect 3o deste artigo sem prejuiacutezo das demais legislaccedilotildees
especiacuteficas
sect 3ordm Para cumprimento da manutenccedilatildeo ou compensaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal em
pequena propriedade ou posse rural familiar podem ser computados os plantios de
aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais compostos por espeacutecies exoacuteticas
cultivadas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas
sect 4ordm A localizaccedilatildeo da reserva legal deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental estadual
competente ou mediante convecircnio pelo oacutergatildeo ambiental municipal ou outra
instituiccedilatildeo devidamente habilitada devendo ser considerados no processo de
aprovaccedilatildeo a funccedilatildeo social da propriedade e os seguintes criteacuterios e instrumentos
quando houver
22
I - o plano de bacia hidrograacutefica
II - o plano diretor municipal
III - o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico
IV - outras categorias de zoneamento ambiental e
V - a proximidade com outra Reserva Legal Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente
unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida
sect 5ordm O Poder Executivo se for indicado pelo Zoneamento Ecoloacutegico Econocircmico -
ZEE e pelo Zoneamento Agriacutecola ouvidos o CONAMA o Ministeacuterio do Meio
Ambiente e o Ministeacuterio da Agricultura e do Abastecimento poderaacute
I - reduzir para fins de recomposiccedilatildeo a reserva legal na Amazocircnia Legal para ateacute
cinquumlenta por cento da propriedade excluiacutedas em qualquer caso as Aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente os ecoacutetonos os siacutetios e ecossistemas especialmente
protegidos os locais de expressiva biodiversidade e os corredores ecoloacutegicos e
II - ampliar as aacutereas de reserva legal em ateacute cinquumlenta por cento dos iacutendices
previstos neste Coacutedigo em todo o territoacuterio nacional
sect 6ordm Seraacute admitido pelo oacutergatildeo ambiental competente o cocircmputo das aacutereas relativas
agrave vegetaccedilatildeo nativa existente em aacuterea de preservaccedilatildeo permanente no caacutelculo do
percentual de reserva legal desde que natildeo implique em conversatildeo de novas aacutereas
para o uso alternativo do solo e quando a soma da vegetaccedilatildeo nativa em aacuterea de
preservaccedilatildeo permanente e reserva legal exceder a
I - oitenta por cento da propriedade rural localizada na Amazocircnia Legal
II - cinquumlenta por cento da propriedade rural localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e
III - vinte e cinco por cento da pequena propriedade definida pelas aliacuteneas b e c
do inciso I do sect 2ordm do art 1ordm
sect 7o O regime de uso da aacuterea de preservaccedilatildeo permanente natildeo se altera na hipoacutetese
prevista no sect 6o
sect 8ordm A aacuterea de reserva legal deve ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo de matriacutecula
do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua
destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou de
retificaccedilatildeo da aacuterea com as exceccedilotildees previstas neste Coacutedigo
sect 9ordm A averbaccedilatildeo da reserva legal da pequena propriedade ou posse rural familiar eacute
gratuita devendo o Poder Puacuteblico prestar apoio teacutecnico e juriacutedico quando
necessaacuterio
sect 10 Na posse a reserva legal eacute assegurada por Termo de Ajustamento de Conduta
firmado pelo possuidor com o oacutergatildeo ambiental estadual ou federal competente com
forccedila de tiacutetulo executivo e contendo no miacutenimo a localizaccedilatildeo da reserva legal as
suas caracteriacutesticas ecoloacutegicas baacutesicas e a proibiccedilatildeo de supressatildeo de sua vegetaccedilatildeo
aplicando-se no que couber as mesmas disposiccedilotildees previstas neste Coacutedigo para a
propriedade rural
sect 11 Poderaacute ser instituiacuteda reserva legal em regime de condomiacutenio entre mais de
uma propriedade respeitado o percentual legal em relaccedilatildeo a cada imoacutevel mediante a
aprovaccedilatildeo do oacutergatildeo ambiental estadual competente e as devidas averbaccedilotildees
referentes a todos os imoacuteveis envolvidos (BRASIL 2001 p 34)
Caso seja traccedilado um paralelo entre o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)
com as alteraccedilotildees aplicadas e agrave uacuteltima Medida Provisoacuteria percebe-se que o primeiro texto em
seu artigo 16 soacute mencionava as florestas particulares enquanto que em 2001 o reformulado
pela Medida Provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) generaliza a possibilidade de supressatildeo
vegetal para florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo incluindo-as no texto da lei Isto significa
que as florestas puacuteblicas embora sejam de domiacutenio coletivo tambeacutem devem respeitar a
reserva legal de acordo com o estabelecido
E ainda de 1989 ateacute 2001 o percentual para reserva legal era de 20 da
propriedade rural para todas as regiotildees com exceccedilatildeo dos imoacuteveis no norte do paiacutes e no norte
23
do centro-oeste onde deveriam ser protegidos 50 da cobertura arboacuterea Poreacutem com o
advento da Medida provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) aumentou-se essa porcentagem para
80 na Amazocircnia Legal2 para 35 no bioma cerrado localizado na Amazocircnia Legal e a
permanecircncia dos 20 para as demais regiotildees do Brasil
Enfim eacute possiacutevel concluir claramente que tal Medida Provisoacuteria ao modificar o
artigo 16 definiu o conceito de reserva legal foi mais especiacutefica quanto aos seus percentuais
alargou os tipos de florestas suscetiacuteveis ao desmatamento estabeleceu que a vegetaccedilatildeo da
reserva legal soacute poderia ser utilizada atraveacutes de um manejo florestal sustentaacutevel (sect2ordm)
determinou que sua localizaccedilatildeo deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental competente
obedecendo os 5 criteacuterios ambientais estabelecidos (sect4ordm) permitiu a sobreposiccedilatildeo de aacutereas de
preservaccedilatildeo permanente agrave de reserva legal em alguns casos (sect6ordm) reafirmou o procedimento
documental garantidor do instituto (sect8ordm) criou a possibilidade de constituir a reserva legal
em condomiacutenio (sect11ordm) dentre outros
Encerrando as mudanccedilas trazidas pela Medida Provisoacuteria 2166-672001
(BRASIL 2001) tem-se o artigo 44 que foi completamente reformulado em conteuacutedo em
nuacutemero de incisos e paraacutegrafos O teor deste dispositivo agora versa sobre a recomposiccedilatildeo a
regeneraccedilatildeo e a compensaccedilatildeo da reserva legal Tais accedilotildees devem estar em consonacircncia com o
disposto no artigo 16
Art 44 O proprietaacuterio ou possuidor de imoacutevel rural com aacuterea de floresta nativa
natural primitiva ou regenerada ou outra forma de vegetaccedilatildeo nativa em extensatildeo
inferior ao estabelecido nos incisos I II III e IV do art 16 ressalvado o disposto
nos seus sectsect 5o e 6o deve adotar as seguintes alternativas isoladas ou
conjuntamente
I - recompor a reserva legal de sua propriedade mediante o plantio a cada trecircs anos
de no miacutenimo 110 da aacuterea total necessaacuteria agrave sua complementaccedilatildeo com espeacutecies
nativas de acordo com criteacuterios estabelecidos pelo oacutergatildeo ambiental estadual
competente
II - conduzir a regeneraccedilatildeo natural da reserva legal e
III - compensar a reserva legal por outra aacuterea equivalente em importacircncia ecoloacutegica
e extensatildeo desde que pertenccedila ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma
microbacia conforme criteacuterios estabelecidos em regulamento
sect 1o Na recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I o oacutergatildeo ambiental estadual
competente deve apoiar tecnicamente a pequena propriedade ou posse rural familiar
sect 2o A recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I pode ser realizada mediante o plantio
temporaacuterio de espeacutecies exoacuteticas como pioneiras visando a restauraccedilatildeo do
ecossistema original de acordo com criteacuterios teacutecnicos gerais estabelecidos pelo
CONAMA
2 Amazocircnia Legal - eacute uma aacuterea que engloba a totalidade de oito estados o Acre o Amapaacute o Amazonas o Mato
Grosso o Paraacute Rondocircnia Roraima e Tocantins e parte do Estado do Maranhatildeo (a oeste do meridiano de 44ordmW)
O conceito da Amazocircnia Legal foi criado pela lei 1806 de 06 de janeiro de 1953 (BRASIL 2011) Disponiacutevel
em lthttpwwwipeagovbrdesafiosindexphpoption=com_contentampid=2154catid=28ampItemid=23gt
24
sect 3o A regeneraccedilatildeo de que trata o inciso II seraacute autorizada pelo oacutergatildeo ambiental
estadual competente quando sua viabilidade for comprovada por laudo teacutecnico
podendo ser exigido o isolamento da aacuterea
sect 4o Na impossibilidade de compensaccedilatildeo da reserva legal dentro da mesma micro-
bacia hidrograacutefica deve o oacutergatildeo ambiental estadual competente aplicar o criteacuterio de
maior proximidade possiacutevel entre a propriedade desprovida de reserva legal e a aacuterea
escolhida para compensaccedilatildeo desde que na mesma bacia hidrograacutefica e no mesmo
Estado atendido quando houver o respectivo Plano de Bacia Hidrograacutefica e
respeitadas as demais condicionantes estabelecidas no inciso III
sect 5o A compensaccedilatildeo de que trata o inciso III deste artigo deveraacute ser submetida agrave
aprovaccedilatildeo pelo oacutergatildeo ambiental estadual competente e pode ser implementada
mediante o arrendamento de aacuterea sob regime de servidatildeo florestal ou reserva legal
ou aquisiccedilatildeo de cotas de que trata o art 44-B
sect 6o O proprietaacuterio rural poderaacute ser desonerado pelo periacuteodo de trinta anos das
obrigaccedilotildees previstas neste artigo mediante a doaccedilatildeo ao oacutergatildeo ambiental
competente de aacuterea localizada no interior de Parque Nacional ou Estadual Floresta
Nacional Reserva Extrativista Reserva Bioloacutegica ou Estaccedilatildeo Ecoloacutegica pendente de
regularizaccedilatildeo fundiaacuteria respeitados os criteacuterios previstos no inciso III deste
artigo (NR) (BRASIL 2001 p 45)
Quanto agrave sanccedilatildeo curiosamente neste Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965) natildeo haacute
nenhuma previsatildeo com relaccedilatildeo ao descumprimento da reserva legal diferentemente do
diploma de 1934 (BRASIL 1935) como se pocircde ler anteriormente Nesse sentido existir
uma lei sem a ela estar vinculada uma sanccedilatildeo quando descumprida eacute o mesmo que um fogo
que natildeo queima uma luz que natildeo alumia (MONTEIRO 1992)
Assim finaliza-se a anaacutelise do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) e se
inicia a apreciaccedilatildeo do Novo Coacutedigo Florestal isto eacute a Lei 12651 de 25 de maio de 2012
(BRASIL 2012) que jaacute possui algumas modificaccedilotildees mesmo sendo uma norma bastante
recente Trata-se de uma lei que em seu artigo 1ordm de pronto menciona o instituto da reserva
legal elevando-a a um patamar antes natildeo reconhecido quanto agrave especialidade que lhe eacute
inerente
Art 1ordm-A Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente e as aacutereas de Reserva Legal a exploraccedilatildeo florestal o
suprimento de mateacuteria-prima florestal o controle da origem dos produtos florestais e
o controle e prevenccedilatildeo dos incecircndios florestais e prevecirc instrumentos econocircmicos e
financeiros para o alcance de seus objetivos (BRASIL 2012 p 1)
Quanto a sua definiccedilatildeo embora citada anteriormente vecirc-se a necessidade de se
enfatizar as diferenccedilas entre o novo dispositivo e o anterior ora revogado ateacute porque o
recente eacute bem mais minucioso e atual em se tratando de tendecircncias e realidades do presente
Art 3ordm []
25
III - Aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural delimitada nos
termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de modo sustentaacutevel
dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a reabilitaccedilatildeo dos
processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade bem como o
abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012 p 3)
Art 1ordm []
sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por
[]
III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural
excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos
recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave
conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas
(BRASIL 1965 p 1)
Pela leitura observa-se que a aacuterea de reserva legal desde o iniacutecio estaacute restrita ao
imoacutevel rural excluindo assim o urbano Seu objetivo tambeacutem sempre foi o mesmo
sustentabilidade Isto eacute visto quando se examina o texto do Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965)
ao citar as expressotildees conservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo biodiversidade e proteccedilatildeo colocando nesse
iacutenterim recursos naturais processos ecoloacutegicos fauna e flora nativas O foco da reserva legal
eacute claro quanto agrave conservaccedilatildeo de uma forma sistecircmica pois inclui aspectos de solo vegetaccedilatildeo
vida animal e seus respectivos ciclos Eacute o que coloca SOUZA (2002 p 2829 apud Miranda
2008 p 53)
[] justifica a existecircncia de um mecanismo juriacutedico que garanta ao homem a
manutenccedilatildeo da biodiversidade para o seu proacuteprio bem Deste ponto de vista no
Brasil a Reserva Legal ainda eacute o mecanismo existente se natildeo o uacutenico que garante
essa manutenccedilatildeo tamanha a dependecircncia dos seres humanos de energia advinda de
plantas e animais
Jaacute a lei de 2012 (BRASIL 2012) inova ao incluir e modificar algumas acepccedilotildees
O uso econocircmico eacute uma delas Antes era mencionado somente um uso sustentaacutevel dos
recursos naturais mas agora eacute um uso com base na teoria de produccedilatildeo e consumo sob o vieacutes
da sustentabilidade Aleacutem disto a nova redaccedilatildeo faz uma pequena diferenciaccedilatildeo quanto ao
auxiacutelio que a reserva legal daacute agrave conservaccedilatildeo e agrave reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos
enquanto que a anterior ditava que o tal instituto era necessaacuterio para alcanccedilar os citados
objetivos Inclui tambeacutem a promoccedilatildeo que a reserva legal faz agrave biodiversidade e por fim a
uacuteltima norma agrega a proteccedilatildeo agrave fauna silvestre3 o que outrora era soacute agrave nativa
3 ldquoEacute preciso que a fauna tenha a sua vida ou parte dela ocorrendo naturalmente dentro dos limites do territoacuterio
brasileiro e suas aacuteguas jurisdicionaisrdquo (AMADO 2012 p329) silvestre ndash satildeo animais pertencentes agraves espeacutecies
nativas migratoacuterias e quaisquer outras aquaacuteticas ou terrestres
26
Percebe-se que com o passar dos anos as leis que versam sobre florestas estatildeo
cada vez mais aperfeiccediloadas com particularidades e especificidades como se pode concluir
pela leitura da evoluccedilatildeo histoacuterica dessas normas e suas modificaccedilotildees Visualiza-se melhor
tambeacutem ao se comparar os objetivos da reserva legal nas figuras 1 e 2
Figura 1 - Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771 (BRASIL 1965)
Figura 2 - Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 - Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)
RESERVA
LEGAL
ASSEGURA AUXILIA PROMOVE
27
E em se tratando das penalidades quem natildeo respeitar a reserva legal estaraacute
enquadrado no Decreto Federal 6514 de 22 de julho de 2008 (BRASIL 2008) que dispotildee
sobre as infraccedilotildees e sanccedilotildees administrativas ao meio ambiente e prevecirc aplicaccedilatildeo de multas
como descrito nos artigos abaixo
Art 48 Impedir ou dificultar a regeneraccedilatildeo natural de florestas ou demais formas
de vegetaccedilatildeo nativa em unidades de conservaccedilatildeo ou outras aacutereas especialmente
protegidas quando couber aacuterea de preservaccedilatildeo permanente reserva legal ou
demais locais cuja regeneraccedilatildeo tenha sido indicada pela autoridade ambiental
competente
Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo
[]
Art 51 Destruir desmatar danificar ou explorar floresta ou qualquer tipo de
vegetaccedilatildeo nativa ou de espeacutecies nativas plantadas em aacuterea de reserva legal ou
servidatildeo florestal de domiacutenio puacuteblico ou privado sem autorizaccedilatildeo preacutevia do oacutergatildeo
ambiental competente ou em desacordo com a concedida
Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo
[]
Art 55 Deixar de averbar a reserva legal Multa de R$ 50000 (quinhentos reais) a R$ 10000000 (cem mil reais) (BRASIL
2008 p 12)
Ao ler o dispositivo da lei eacute possiacutevel averiguar que tanto accedilotildees como omissotildees
possiacuteveis de cometimento quanto agrave reserva legal estatildeo previstas naquele Decreto (BRASIL
2008) o que daacute poder agraves autoridades constituiacutedas de exercerem seu papel fiscalizatoacuterio e
sancionatoacuterio em desfavor daquele que descumprir tal obrigaccedilatildeo
Nesse novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012) a reserva legal estaacute muito mais
discorrida e consequentemente resguardada A lei trouxe um capiacutetulo especiacutefico com duas
seccedilotildees organizadas dispondo sobre a delimitaccedilatildeo e o regime de proteccedilatildeo do instituto aleacutem de
outra seccedilatildeo que prevecirc a transformaccedilatildeo das reservas legais em aacutereas verdes nas expansotildees
urbanas
Para comeccedilar a analisar as novidades trazidas pelo Coacutedigo Florestal (BRASIL
2012) vale mencionar a mais importante quanto ao controle e fiscalizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da
reserva legal que se daraacute pelo Cadastro Ambiental Rural ndash CAR Eacute um registro puacuteblico
eletrocircnico de acircmbito nacional obrigatoacuterio para todos os imoacuteveis rurais com a finalidade de
integrar as informaccedilotildees ambientais das propriedades e posses rurais compondo base de dados
para controle monitoramento planejamento ambiental e econocircmico e combate ao
desmatamento conforme artigo 29 daquele diploma legal Para se cadastrar no CAR o
proprietaacuterio ou possuidor rural deveraacute identificar-se comprovar a propriedade ou posse e
identificar o imoacutevel atraveacutes de planta georreferenciada e memorial descritivo informando os
28
remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente dentre outras
segundo o inciso III do paraacutegrafo primeiro do mesmo dispositivo acima
Com a criaccedilatildeo desse sistema a supressatildeo de novas aacutereas de floresta ou outras
formas de vegetaccedilatildeo nativa soacute poderaacute ser autorizada apoacutes a inserccedilatildeo do imoacutevel onde ocorreraacute
o desmatamento no Cadastro Ambiental Rural A exceccedilatildeo a essa regra eacute o imoacutevel que jaacute
possua a reserva legal averbada na sua matriacutecula com a respectiva identificaccedilatildeo e localizaccedilatildeo
Isso dispensa a inclusatildeo no CAR Eacute o que rezam o paraacutegrafo terceiro do artigo 12 e o artigo
30 do Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)
A nova lei prevecirc que a inscriccedilatildeo no CAR eacute obrigatoacuteria para todas as propriedades
e posses rurais e deve ser requerida no prazo de um ano a partir da sua implantaccedilatildeo (sect3ordm do
artigo 29) No caso do Cearaacute o Cadastro Ambiental Rural ainda natildeo foi estabelecido embora
a lei jaacute tenha completado um ano Aleacutem disto agravequele que protocolar toda documentaccedilatildeo para
anaacutelise da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal no oacutergatildeo ambiental competente natildeo poderaacute ser
imputada sanccedilatildeo administrativa nem restriccedilatildeo a direitos por qualquer oacutergatildeo ambiental
competente (sect2ordm do artigo 14) desde que a sanccedilatildeo diga respeito a natildeo formalizaccedilatildeo da aacuterea de
reserva legal
Outra novidade eacute a dispensa de reserva legal em alguns casos como nos
empreendimentos de abastecimento puacuteblico de aacutegua e tratamento de esgoto nas aacutereas
adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessatildeo permissatildeo ou autorizaccedilatildeo para
exploraccedilatildeo de potencial de energia hidraacuteulica nas quais funcionem empreendimentos de
geraccedilatildeo de energia eleacutetrica subestaccedilotildees ou seja instaladas linhas de transmissatildeo e de
distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica e nas aacutereas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de
implantaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo de capacidade de rodovias e ferrovias (sect6 ordm sect7 ordm e sect8ordm do artigo 12)
Ao passo que na Lei 477165 (BRASIL 1965) o uacutenico caso dispensaacutevel de cumprir a reserva
legal era a doaccedilatildeo pelo proprietaacuterio rural de aacuterea localizada no interior de unidade de
conservaccedilatildeo de domiacutenio puacuteblico pendente de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria ao oacutergatildeo ambiental
competente (sect6ordm do art 44)
Quanto aos percentuais de reserva legal sobre a propriedade ou posse rural nada
mudou ou seja permaneceram os mesmos embora organizados de forma diferente conforme
se segue
Art 12 Todo imoacutevel rural deve manter aacuterea com cobertura de vegetaccedilatildeo nativa a
tiacutetulo de Reserva Legal sem prejuiacutezo da aplicaccedilatildeo das normas sobre as Aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente observados os seguintes percentuais miacutenimos em relaccedilatildeo agrave
aacuterea do imoacutevel excetuados os casos previstos no art 68 desta Lei
I - localizado na Amazocircnia Legal
29
a) 80 (oitenta por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de florestas
b) 35 (trinta e cinco por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de cerrado
c) 20 (vinte por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de campos gerais
II - localizado nas demais regiotildees do Paiacutes 20 (vinte por cento) (BRASIL 2012 p
15)
Acerca da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal alguns criteacuterios a serem
observados permaneceram inalterados tais como o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento
ecoloacutegico-econocircmico4 e a proximidade com outra reserva legal aacuterea de preservaccedilatildeo
permanente unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida Por outro lado
foram acrescentados dois aspectos a serem considerados tambeacutem satildeo eles as aacutereas de maior
importacircncia para a conservaccedilatildeo da biodiversidade e as aacutereas de maior fragilidade ambiental
(Incisos IV e V do artigo 14)
Por fim haacute que se falar que a nova lei permitiu a sobreposiccedilatildeo das aacutereas de
preservaccedilatildeo permanente agrave aacuterea de reserva legal ou seja ao se calcular o percentual desta
poderatildeo ser computadas as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente existentes no imoacutevel rural desde
que atenda alguns requisitos Eacute o que prescreve o artigo 15
Art 15 Seraacute admitido o cocircmputo das Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente no caacutelculo
do percentual da Reserva Legal do imoacutevel desde que
I - o benefiacutecio previsto neste artigo natildeo implique a conversatildeo de novas aacutereas para o
uso alternativo do solo
II - a aacuterea a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperaccedilatildeo
conforme comprovaccedilatildeo do proprietaacuterio ao oacutergatildeo estadual integrante do Sisnama e
III - o proprietaacuterio ou possuidor tenha requerido inclusatildeo do imoacutevel no Cadastro
Ambiental Rural - CAR nos termos desta Lei BRASIL 2012 p 1617)
Basicamente essas foram as inovaccedilotildees mais pertinentes agrave reserva legal trazidas
pelo Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)
113 Importacircncia da reserva legal
Vaacuterios aspectos perfazem o instituto da reserva legal Satildeo fundamentos de
cunho teacutecnico e cientiacutefico que revelam sua importacircncia atraveacutes da abordagem juriacutedica social
ambiental e econocircmica A reserva legal natildeo foi simplesmente uma imposiccedilatildeo prevista em lei
4 Zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ndash eacute um zoneamento ambiental Esse instrumento estaacute previsto na Poliacutetica
Nacional do Meio Ambiente que foi instituiacuteda pela Lei 693881 Trata-se de uma modalidade de intervenccedilatildeo
estatal sobre o territoacuterio a fim de reparti-lo em zonas consoante o melhor interesse na preservaccedilatildeo ambiental e
no uso sustentaacutevel dos recursos naturais Conferir AMADO Frederico Direito Ambiental Esquematizado
2012 p111
30
mas uma mobilizaccedilatildeo da sociedade para resguardar os bens ambientais impedindo a
degradaccedilatildeo sem precedentes
ldquoA reserva legal busca a preservaccedilatildeo ambiental como um todo natildeo soacute do imoacutevel
que nesta se situardquo (AMADO 2009 p 105) Ainda salienta Moraes (2002 p 30) que ldquoa
reserva legal natildeo possui funccedilatildeo vinculada ao imoacutevel especificamente sendo limitaccedilatildeo de
niacutevel macro ou seja mais preocupada com a melhoria regional da biodiversidade do que
propriamente com o ecossistema interno da propriedaderdquo E muito bem acrescenta Milareacute
(2009 p 166)
Aleacutem de preservar belezas cecircnicas e bucoacutelicos ambientes histoacutericos para as geraccedilotildees
futuras as aacutereas protegidas assumiram objetivos como a proteccedilatildeo de recursos
hiacutedricos manejo de recursos naturais desenvolvimento de pesquisas cientiacuteficas
manutenccedilatildeo do equiliacutebrio climaacutetico e ecoloacutegico preservaccedilatildeo de recursos geneacuteticos
e atualmente constituem o eixo de estruturaccedilatildeo da preservaccedilatildeo in situ da
biodiversidade como um todo
1131 Juriacutedica
A reserva legal foi criada pela forccedila do universo juriacutedico brasileiro que lhe
pressupotildee efetividade Como jaacute fora mencionado o instituto teve sua definiccedilatildeo atraveacutes da
Medida Provisoacuteria 2166-672001 (BRASIL 2001) que por sua vez alterou o Coacutedigo
Florestal (BRASIL 1965) vigente agrave eacutepoca Embora houvesse previsatildeo legal para aacutereas
especialmente protegidas estas ateacute entatildeo natildeo haviam sido nominadas como reserva legal
A lei ndeg 477165 (BRASIL 1965) segundo Trennepohl (2009) trazia uma maior
preocupaccedilatildeo com a erosatildeo de terras e o consequente prejuiacutezo para as atividades produtivas
Denotando predominante inclinaccedilatildeo para a sustentabilidade econocircmica da mateacuteria-prima
aquele diploma tratava a utilizaccedilatildeo dos recursos florestais de forma racional com finalidade
de garantir as atividades econocircmicas para as quais servem de insumo
Jaacute no entendimento de Schaffer e Medeiros (2009) a figura da reserva legal no
Coacutedigo Florestal revela-se como uma norma de importacircncia e observacircncia necessaacuterias
essencialmente estrateacutegicas para a garantia de um desenvolvimento equilibrado e sustentaacutevel
para a naccedilatildeo brasileira Tambeacutem observam os mesmos autores que a tatildeo discutida lei florestal
estabeleceu percentuais diferenciados de Reserva Legal em funccedilatildeo da localizaccedilatildeo do tipo de
vegetaccedilatildeo e das caracteriacutesticas ambientais das diferentes regiotildees do paiacutes
A eficaacutecia para o cumprimento do instituto se baseia na imposiccedilatildeo da lei quanto agrave
obrigaccedilatildeo dos proprietaacuterios ou posseiros rurais se dirigirem ao cartoacuterio de registro do seu
31
imoacutevel com a aacuterea da reserva jaacute delimitada e procederem agrave averbaccedilatildeo agrave margem da sua
matriacutecula No entanto essa obrigatoriedade foi substituiacuteda pelo Cadastro Ambiental Rural
que deveraacute ser feito no oacutergatildeo ambiental competente conforme visto anteriormente Esse
procedimento se daacute pelos paracircmetros devidamente previstos em normas teacutecnicas que dispotildeem
como o dono da aacuterea deve conduzir tal processo Essa averbaccedilatildeo eacute irretrataacutevel ou seja jamais
pode ser desfeita e eacute isso que daacute eficiecircncia ao instituto se cumprido Tal imposiccedilatildeo garante
que o proprietaacuterio natildeo desmembre seu imoacutevel na intenccedilatildeo de burlar a lei
Quanto ao procedimento de averbaccedilatildeo da reserva legal na matriacutecula do imoacutevel
ressalta Trennepohl (2009 p11-12)
A exigecircncia da averbaccedilatildeo da reserva legal vem desde 1965 vale dizer haacute mais de
quarenta anos existe esta obrigatoriedade E muitos proprietaacuterios rurais cumpriram agrave
risca esta exigecircncia averbando e mantendo preservado o percentual estipulado pela
lei
[]
A necessidade dessa averbaccedilatildeo dispensa maiores comentaacuterios e pode ser facilmente
entendida como a uacutenica garantia eficaz para que a transferecircncia ou a partilha natildeo
afastem essa obrigaccedilatildeo propter rem [proacutepria da coisa] que vincula a propriedade
natildeo o proprietaacuterio
Para alguns proprietaacuterios de terras rurais se houver o atendimento do instituto da
reserva legal caberia uma indenizaccedilatildeo pela perda daquela porcentagem em suas propriedades
mas como bem ilustra Magnanini (2010 p 5) ldquoa funccedilatildeo protetora da floresta natildeo eacute restriccedilatildeo
indenizaacutevel mas decorrecircncia da proacutepria natureza que preparou terras mais uacuteteis e outras
menosrdquo
1132 Social
Segundo o renomado filoacutesofo Mondin (2004 p 117) ldquoo homem eacute um ser
sociaacutevel portanto incapaz de sozinho alcanccedilar seus objetivos anseios e realizaccedilotildees
consequentemente viverrdquo A partir dessa constataccedilatildeo soacute resta ao ser humano subsistir numa
sociedade inserida no mundo natural
Como indiviacuteduo pratica accedilotildees que lhe afetam direta e indiretamente promovendo
reflexos no espaccedilo em que habita Por isso o aspecto social estaacute intimamente vinculado agrave
qualidade ambiental uma vez que o ser humano gera impactos positivos e negativos em seu
entorno Como natildeo se pode separar a atuaccedilatildeo dele do meio em que foi introduzido necessaacuterio
eacute fazer o balizamento de suas atitudes Uma das formas de limitar seu comportamento eacute a
confecccedilatildeo de normas como por exemplo a lei que nada mais eacute do que a expressatildeo de uma
32
demanda social por medidas coercitivas em virtude do desrespeito a um aspecto que a
sociedade defende ou repudia
Quanto agraves accedilotildees humanas e seus reflexos a teoria de ldquometapopulaccedilotildeesrdquo define
que a raccedila humana causa imenso impacto na Terra provocando a deterioraccedilatildeo dos sistemas
ecoloacutegicos e a extinccedilatildeo de muitas espeacutecies as quais tem seu ritmo acelerado agrave medida que a
populaccedilatildeo cresce e aumentando com isso o consumo de energia e de recursos naturais
SOUZA (2002 apud Miranda 2008)
O aspecto social que envolve a reserva legal confronta-se com praacuteticas seculares
do homem campestre como bem ilustra Magnanini (2010 p 3) engenheiro agrocircnomo e um
dos autores do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)
A agricultura itinerante continua se desenvolvendo segundo os meacutetodos primitivos
dos primeiros anos do descobrimento Chega o agricultor derruba e queima as
matas sem indagar se elas satildeo necessaacuterias agrave conservaccedilatildeo da feracidade do solo ou
do regime das aacuteguas Depois de alguns anos de exploraccedilatildeo renovando anualmente a
queimada como meio de extinguir a vegetaccedilatildeo invasora o terreno esgotado eacute
entregue ao abandono e o agricultor seguindo as pegadas do madeireiro que adiante
derrubou as aacutervores para extrair as toras inicia novo ciclo devastador idecircntico ao
precedente Como efeito disto a agricultura cada vez se interioriza mais e cada vez
se distancia mais dos centros consumidores requerendo transportes sempre mais
caros [] Inundaccedilotildees cada vez mais destruidoras pela remoccedilatildeo desordenada de
florestas colocam em sobressalto as populaccedilotildees de centenas de cidades ribeirinhas
Vale mencionar outra caracteriacutestica que expressa o valor que a reserva legal
quando estaacute sendo cumprida imprime na aacuterea rural ndash eacute a funccedilatildeo social da propriedade
considerada como princiacutepio basilar para o uso da mesma Designaccedilatildeo bastante enunciada
pelas normas que estabelecem aquele instituto permeia o direito de propriedade da terra que
natildeo eacute visto unilateralmente e sim em sua universalidade uma vez que o imoacutevel natildeo estaacute para
servir soacute a seu dono mas tem que atender sua funccedilatildeo social Nesse sentido Miranda (2008)
pontua que a reserva legal eacute uma forma de assegurar a funccedilatildeo social da propriedade fazendo
com que esta contribua com a preservaccedilatildeo do meio ambiente ecologicamente equilibrado para
atuais e futuras geraccedilotildees Eacute como tambeacutem entende Trennepohl (2009 p 11) ao afirmar que
A preservaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa num percentual das propriedades rurais diminui o
lucro do proprietaacuterio mas de forma muito menos significativa que o ganho para a
coletividade com a qualidade ambiental decorrente pelo que entendemos
inquestionaacutevel que o interesse coletivo se sobrepotildee ao individual
1133 Ambiental
Considerado como um dos principais fatores que embasam a instituiccedilatildeo da reserva
legal na propriedade ou posse rural o aspecto ambiental se funda na biologia que perpassa
33
essencialmente esse vieacutes sem admitir qualquer desassociaccedilatildeo entre as unidades ambientais
como aacutegua solo vegetaccedilatildeo e ar Pode-se afirmar que o alicerce do estudo do meio eacute a ciecircncia
bioloacutegica que por sua vez analisa as reaccedilotildees as funccedilotildees fiacutesico-quiacutemicas a qualidade do
ambiente testando seus limites ou melhor sua capacidade de suporte Do mesmo modo
Miranda (2008 p 51) discorre sobre a importacircncia ecoloacutegica do instituto da reserva legal
quando afirma que ldquosua funccedilatildeo preciacutepua eacute assegurar mostras significativas de ecossistemas
conservando a biodiversidade e servindo de abrigo e proteccedilatildeo agrave fauna e agrave florardquo
Sobre isso Metzger (2002 p 48) tambeacutem atesta que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de
propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa eacute
fundamental para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada
regiatildeordquo Complementa Silva (2001 p 59) quando afirma
A cobertura vegetal nativa sobretudo as florestais exerce papel de fundamental
importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de ecossistemas naturais bem como de
ecossistemas criados pelo homem como eacute o caso dos ecossistemas agriacutecolas Aleacutem
de permitirem uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da aacutegua no solo e no
subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos regular a vazatildeo
dos rios reduzindo as intensidades dos extremos de estiagens e enchentes manterem
a diversidade geneacutetica
Logo todos os benefiacutecios apontados pelos autores acima podem ser verificados
em uma menor escala quando haacute a observacircncia da reserva legal dentro de cada propriedade
rural em determinada regiatildeo garantindo sua viabilidade ambiental posto que assume um
papel niacutetido de conservaccedilatildeo Para exemplificar a assertiva retro menciona-se o microclima
favoraacutevel mantido quando haacute vegetaccedilatildeo na aacuterea em apreccedilo que por sua vez amortiza a
incidecircncia solar sobre aquela regiatildeo Por outro lado a cobertura vegetal tambeacutem eacute favoraacutevel agrave
manutenccedilatildeo dos solos uma vez que dificulta a accedilatildeo erosiva das chuvas
Infere-se portanto que a existecircncia da reserva legal na propriedade rural soacute traz
vantagens ao meio ambiente por mais que a tradiccedilatildeo campestre natildeo as compreenda Eacute o que
demonstram Schaffer e Medeiros (2009 p 2) ensinando que
A Reserva Legal (RL) por sua vez natildeo tem apenas a funccedilatildeo de prover o uso
sustentaacutevel dos recursos naturais na propriedade ou posse rural Tem tambeacutem a
funccedilatildeo de conservar e reabilitar os processos ecoloacutegicos conservar a biodiversidade
e servir de abrigo e proteccedilatildeo da fauna e flora nativas Desta forma a norma geral de
caraacuteter nacional [Coacutedigo Florestal] concilia o necessaacuterio uso sustentaacutevel de recursos
naturais para a propriedade ou posse rural com as funccedilotildees ambientais e o
provimento de serviccedilos ambientais de retenccedilatildeo de aacutegua conservaccedilatildeo do solo
manutenccedilatildeo de grupos de polinizadores e fixaccedilatildeo de biomassa entre outros os quais
satildeo importantes e necessaacuterios ao cumprimento da funccedilatildeo socioambiental dos
imoacuteveis ou propriedades rurais
34
No mesmo sentido Mercadante (1999 p 240 apud MIRANDA 2008 p 5354)
numa interpretaccedilatildeo mais ampla sobre a importacircncia ecoloacutegica da reserva legal diz
A Reserva Legal natildeo tem por objetivo apenas a conservaccedilatildeo da natureza da flora e
da fauna pelo valor intriacutenseco dos recursos bioloacutegicos ou pela contribuiccedilatildeo dessas
aacutereas para a qualidade do ambiente em geral A Reserva Legal eacute fundamental para a
estabilidade ecoloacutegica e consequentemente a exploraccedilatildeo em bases sustentaacuteveis do
proacuteprio imoacutevel rural A Reserva Legal contribui para a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo
do solo o controle da erosatildeo o controle do assoreamento dos cursos d‟aacutegua a
conservaccedilatildeo dos corpos d‟aacutegua e dos mananciais serve de abrigo para os predadores
das pragas agriacutecolas fornece madeira e outros recursos florestais para uso na
propriedade dentre outros benefiacutecios
E por fim eacute cabiacutevel mencionar ainda que o Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL
2012) fixou criteacuterios bem mais especiacuteficos e pertinentes ao estabelecimento da reserva legal
como proceder ao cumprimento desse instituto observando se sua localizaccedilatildeo eacute condizente
com o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ou outras categorias
de zoneamento ambiental a proximidade com outras aacutereas legalmente protegidas dentre
outros
1134 Econocircmica
A reserva legal sob o aspecto econocircmico eacute muito controversa uma vez que eacute vista
pelo proprietaacuterio ou posseiro rural como um encargo Mesmo porque como exprime
Trennepohl (2009) ateacute a deacutecada de 80 quando se tinha diferentes normas com dispositivos
protecionistas mas com enfoque preponderantemente economicista os recursos naturais eram
tratados muito mais como insumos de produccedilatildeo ou bens de uso imediato da sociedade do que
como elementos integrantes de um intrincado e fraacutegil equiliacutebrio ambiental Isto condicionou
fatalmente a sociedade brasileira contemporacircnea a natildeo observar a deferecircncia aos bens
ambientais quiccedilaacute respeitar certa porcentagem de uma aacuterea que fora adquirida por um
particular com seus recursos proacuteprios e a tem como totalmente privada
Ainda eacute possiacutevel pelo Coacutedigo Florestal - Lei 126512012 (BRASIL 2012)
intervir na aacuterea destinada agrave reserva de forma sustentaacutevel sem suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo
uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo econocircmica dessas aacutereas Aleacutem do
que ldquoa recuperaccedilatildeo de aacutereas de RL pode ainda gerar produtos e subprodutos madeireiros jaacute
escassos em algumas regiotildees garantindo assim uma renda adicional ao produtor rural e
mateacuteria-prima para a induacutestriardquo conforme defendem Schaffer e Medeiros (2009 p 12)
Para Magnanini (2010) a situaccedilatildeo eacute graviacutessima quando sugere ficar a criteacuterio
do proprietaacuterio rural a iniciativa de proceder ou natildeo agrave reserva legal jaacute que a Administraccedilatildeo
35
Puacuteblica natildeo tem como combater eficientemente o descumprimento desse instituto Eacute o que
propotildee no momento em que coloca
O dilema eacute este ou impotildee-se a todos os donos de terras defenderem agrave sua custa a
produtividade do solo contra a erosatildeo terriacutevel e crescente ou cruzam-se os braccedilos
ante a incapacidade pela pobreza do Poder Puacuteblico na maioria dos Estados do
Brasil para deter a transformaccedilatildeo do Paiacutes num deserto em que as estaccedilotildees se
alternem entre inundaccedilotildees e secas devoradoras de todo o esforccedilo humano
(MAGNANINI 2010 p 5)
Ademais define-se outra vertente do aspecto econocircmico tatildeo bem colocada pela
acepccedilatildeo que tem Bacha (2005 p 9) ao afirmar que
A reserva legal eacute um mecanismo de poliacutetica de rendas pelo qual se procura
estabelecer um zoneamento do uso da terra dentro da propriedade rural A poliacutetica
de rendas constitui-se numa seacuterie de regulamentaccedilotildees que restringem a produccedilatildeo e a
comercializaccedilatildeo de produtos bem como o uso dos fatores de produccedilatildeo eou
determinam valores miacutenimos ou maacuteximos para o pagamento pelo uso desses fatores
ou por produtos elaborados numa economia
Eacute possiacutevel portanto depreender o entendimento do autor de modo que a reserva
legal vem restringir o uso indiscriminado dos recursos florestais gerando com isso a
manutenccedilatildeo do bem ambiental que seraacute resguardado por aquele instituto Isto influiraacute
diretamente na cadeia produtiva nas oscilaccedilotildees de demanda e procura do mercado de mateacuteria-
prima de origem vegetal Ou seja pode-se entender que a meacutedio eou longo prazo a reserva
legal seraacute um ponto de equiliacutebrio no fluxo da produccedilatildeo de bens e serviccedilos que careccedilam desse
recurso natural
114 Direito de Propriedade x Reserva Legal
A propriedade privada eacute uma espeacutecie baacutesica que se decompotildee em propriedade
rural ou urbana segundo se refira a moradias do campo ou moradias derivadas das
construccedilotildees ou edificaccedilotildees idocircneas para sua habitualidade ou aproveitamento diferente do
que eacute a exploraccedilatildeo agraacuteria de qualquer moradia rural (CRIADO 2010)
A propriedade no direito brasileiro foi constituiacuteda em forma e conteuacutedo a partir de
normas muito antigas e de outras naccedilotildees ou seja foi reproduzida com base no direito romano
ldquoDesde aqueles tempos o direito de propriedade era tido como absoluto isto eacute o proprietaacuterio
tinha o direito de usar ou natildeo usar gozar ou natildeo gozar e dispor ou natildeo dispor da propriedade
imobiliaacuteriardquo (MELO 2010 p22) Em contrapartida ldquoos direitos de propriedade
constitucional certamente satildeo direitos de liberdade seja a liberdade individual seja a
liberdade comunitaacuteria que satildeo complementares e indissociaacuteveis haja vista que uma natildeo
36
existe sem a outra como nos demonstram as experiecircncias totalitaacuterias do seacuteculo XXrdquo
(ANTUNES 2011 p37)
A garantia do direito de propriedade estaacute prevista constitucionalmente ou seja na
maior Lei do paiacutes uma vez que ela se sobrepotildee a todas as outras leis e normas juriacutedicas Eacute a
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil que foi promulgada em 05 de outubro de
1988 Conhecida como Carta Magna a Constituiccedilatildeo de 1988 (BRASIL 1988) em seu Tiacutetulo
II estabelece os direitos e as garantias fundamentais do e para o povo brasileiro Logo no
primeiro capiacutetulo deste tiacutetulo estatildeo dispostos os direitos e deveres individuais e coletivos que
o Estado brasileiro deve assegurar aos seus cidadatildeos Eacute no artigo 5ordm que estatildeo previstas tais
premissas inclusive o direito de propriedade (inciso XXII) e o respeito agrave sua funccedilatildeo social
(XXIII)
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade
do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos
seguintes
[]
XXII - eacute garantido o direito de propriedade
XXIII - a propriedade atenderaacute a sua funccedilatildeo social
Quanto agrave funccedilatildeo social da propriedade ldquosomente nos seacuteculos XIX e XX surgiu a
ideia em que o imoacutevel natildeo teria mais o caraacuteter absoluto e intangiacutevel de forma que o
proprietaacuterio por possuir recursos deveria cumprir a tal funccedilatildeordquo (MELO 2010 p23) Ainda
ldquodiscorrer sobre a funccedilatildeo social da propriedade significa abandonar a ideia absolutista e
inflexiacutevel desse instituto para admitir a revitalizaccedilatildeo e o condicionamento do exerciacutecio a
interesses maiores que os do proprietaacuterio individualrdquo (PETERS 2003 p 125 apud
MIRANDA 2008 p 56) Foi nesse sentido que as Constituiccedilotildees Federais brasileiras de 1934
(BRASIL 1934b) 1946 (BRASIL 1946) 1967 (BRASIL 1967c) e a de 1988 (BRASIL
1988) restringiram o direito de propriedade
Constituiccedilatildeo de 1934
Art 113 - A Constituiccedilatildeo assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade dos direitos concernentes agrave liberdade agrave subsistecircncia agrave seguranccedila
individual e agrave propriedade nos termos seguintes
[]
17) Eacute garantido o direito de propriedade que natildeo poderaacute ser exercido contra o
interesse social ou coletivo na forma que a lei determinar A desapropriaccedilatildeo por
necessidade ou utilidade puacuteblica far-se-aacute nos termos da lei mediante preacutevia e justa
indenizaccedilatildeo [] (BRASIL 1934b p 33)
Constituiccedilatildeo de 1946
Art 141 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
Paiacutes a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade a seguranccedila
individual e agrave propriedade nos termos seguintes
37
[]
sect 16 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por
necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa
indenizaccedilatildeo em dinheiro (BRASIL 1946 p 31)
Constituiccedilatildeo de 1967
Art 150 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
Pais a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
[]
sect 22 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por
necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa
indenizaccedilatildeo em dinheiro ressalvado o disposto no art 157 sect 1ordm []
[]
Art 157 - A ordem econocircmica tem por fim realizar a justiccedila social com base nos
seguintes princiacutepios
[]
III - funccedilatildeo social da propriedade
[]
sect 1ordm - Para os fins previstos neste artigo a Uniatildeo poderaacute promover a desapropriaccedilatildeo
da propriedade territorial rural mediante pagamento de justa indenizaccedilatildeo fixada
segundo os criteacuterios que a lei estabelecer em tiacutetulos especiais da diacutevida puacuteblica []
(BRASIL 1967c p 4951)
Embora os textos se assemelhem eacute faacutecil observar que em 1934 o direito de
propriedade natildeo poderia ir contra o interesse social ou coletivo enquanto que na Constituiccedilatildeo
de 1946 (BRASIL 1946) jaacute se comeccedila a falar em desapropriaccedilatildeo caso aquele interesse natildeo
seja observado Em 1967 existe uma combinaccedilatildeo entre o direito de propriedade e a justiccedila
social estando esta prevista como objetivo da ordem econocircmica que por sua vez cita
claramente a funccedilatildeo social da propriedade como um de seus princiacutepios Mais uma vez a
desapropriaccedilatildeo vem agrave tona agora com um toque mais robusto e imbuiacutedo de maior evidecircncia
jaacute que aquela Carta (BRASIL 1967c) faz menccedilatildeo no paraacutegrafo 1ordm do artigo 157 que a Uniatildeo
poderaacute desapropriar a propriedade territorial rural se natildeo atender dentre outros aspectos a
funccedilatildeo social da propriedade
Retroagindo aproximadamente trecircs anos a desapropriaccedilatildeo jaacute estava em pauta
atraveacutes da Lei 450464 (BRASIL 1964) conhecida como o Estatuto da Terra Com o
objetivo de regular os direitos e obrigaccedilotildees concernentes aos bens imoacuteveis rurais a citada lei
menciona a desapropriaccedilatildeo como uma das medidas de execuccedilatildeo da Reforma Agraacuteria e
promoccedilatildeo da Poliacutetica Agriacutecola (Art 1deg) Aleacutem disto o artigo segundo assegura a todos a
oportunidade de acesso agrave propriedade da terra condicionada pela sua funccedilatildeo social desde que
cumpra as seguintes condiccedilotildees
Art 2deg
sect 1deg A propriedade da terra desempenha integralmente a sua funccedilatildeo social quando
simultaneamente
a) favorece o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores que nela labutam
assim como de suas famiacutelias
38
b) manteacutem niacuteveis satisfatoacuterios de produtividade
c) assegura a conservaccedilatildeo dos recursos naturais
d) observa as disposiccedilotildees legais que regulam as justas relaccedilotildees de trabalho entre os
que a possuem e a cultivem (BRASIL 1964 p 1)
Encerrando o rol de Constituiccedilotildees brasileiras quanto ao direito de propriedade e
sua funccedilatildeo social a de 1988 consagra este princiacutepio no artigo 186
Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende
simultaneamente segundo criteacuterios e graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos
seguintes requisitos
I - aproveitamento racional e adequado
II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio
ambiente
[] (BRASIL 1988 p 144)
Chama atenccedilatildeo o inciso II quando dispotildee sobre a utilizaccedilatildeo adequada dos
recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio ambiente Eacute nesse iacutenterim que a reserva
legal eacute reconhecida por dar ao imoacutevel uma funccedilatildeo social ldquouma vez que atribui agrave propriedade
a exigecircncia da observacircncia de funccedilotildees econocircmica e social bem como de preservaccedilatildeo do meio
ambienterdquo (MELO 2010 p 24) Tambeacutem sobre isso bem coloca Trennepohl (2009 p 12)
A limitaccedilatildeo administrativa do exerciacutecio do direito de propriedade encontra respaldo
no art 186 da Constituiccedilatildeo Federal pois a propriedade rural somente cumpre sua
funccedilatildeo social quando obedecido o aproveitamento racional e utilizados
adequadamente os recursos naturais disponiacuteveis com vistas agrave preservaccedilatildeo do meio
ambiente
ldquoNatildeo haacute direito de propriedade para quem natildeo faz a terra cumprir sua funccedilatildeo
socialrdquo Eacute como entende o professor de direito agraacuterio Carlos Mareacutes (2003 p 134 apud
MELO 2010 p 25) Cavedon (2003 p 122 apud MIRANDA 2008 p 5859) tambeacutem
observa que
Os requisitos estipulados pelo artigo 186 devem ser atendidos simultaneamente sob
pena da propriedade natildeo atender sua funccedilatildeo social e por isso perder sua proteccedilatildeo
constitucional Como consequecircncia esta fica sujeita agrave desapropriaccedilatildeo por interesse
social para fins de reforma agraacuteria conforme o caput do artigo 184 da CF88 Eacute o que
Lenza denomina de desapropriaccedilatildeo-sanccedilatildeo Isto porque a Constituiccedilatildeo de 1988 em
seu artigo 5ordm inciso XXIV garante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiro mediante a
desapropriaccedilatildeo por necessidade utilidade puacuteblica ou interesse social A sanccedilatildeo estaacute
justamente na forma de pagamento da indenizaccedilatildeo quando a propriedade rural natildeo
atende a sua funccedilatildeo social o pagamento natildeo eacute efetuado em dinheiro mas em tiacutetulos
da diacutevida agraacuteria5 Assim o meio ambiente ganha relevacircncia como elemento
5 Tiacutetulos da diacutevida agraacuteria (TDA) - Meio de pagamento de indenizaccedilotildees devidas aos que sofreram accedilatildeo
expropriatoacuteria da Uniatildeo Federal Criado pelo Governo Federal eacute vinculado agrave desapropriaccedilatildeo de imoacuteveis rurais
por interesse social para efeito de reforma agraacuteria ou aquisiccedilotildees por compra e venda de imoacuteveis rurais destinados
agrave implantaccedilatildeo de projetos integrantes do Programa Nacional de Reforma Agraacuteria Disponiacutevel em
lthttpwwwcetipcombrtitulos-publicostdagt Acesso em 27062013
39
integrante da funccedilatildeo social da propriedade em funccedilatildeo do artigo 186 II que prevecirc a
utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio
ambiente e no artigo 170 que coloca a propriedade privada a funccedilatildeo social da
propriedade e a defesa do meio ambiente lado a lado como princiacutepios da ordem
econocircmica Com base nestes dispositivos legais Cavedon entende que a propriedade
deve atender tambeacutem a sua funccedilatildeo ambiental apesar desta natildeo constar de forma
expliacutecita no texto constitucional
Desta forma por estar limitado o proprietaacuterio rural natildeo pode dispor livremente de
seu imoacutevel pois haacute de cumprir sua funccedilatildeo social que resulta na observacircncia de requisitos que
visam vantagens para a coletividade em detrimento de restriccedilotildees individuais Assim sendo
muitos particulares entendem que a obrigaccedilatildeo de destinarem determinada porcentagem de
suas propriedades rurais para a reserva legal eacute uma espeacutecie de desapropriaccedilatildeo indireta imposta
pelo poder puacuteblico e por isso deveriam ser indenizados Da mesma forma outros segundo
Miranda (2008) concluem que eacute uma restriccedilatildeo da propriedade uma vez que inviabiliza a
utilizaccedilatildeo econocircmica do bem e por isso caberia uma recomposiccedilatildeo patrimonial Ao contraacuterio
desse entendimento Trennepohl (2009 p 11) explica
A averbaccedilatildeo da reserva legal natildeo representa uma desapropriaccedilatildeo indireta como
muita gente pensa pois sua vegetaccedilatildeo pode ser explorada na forma de manejo
florestal sustentaacutevel e a aacuterea pode ser utilizada para outras atividades rentaacuteveis
Tanto eacute assim que inuacutemeras accedilotildees judiciais propostas pleiteando indenizaccedilatildeo pela
restriccedilatildeo de uso dessas aacutereas foram fulminadas nas diferentes esferas do Poder
Judiciaacuterio
Ademais a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 (BRASIL 1988) em seu artigo 225
tambeacutem estabelece que
Art 225 Todos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de
uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder
Puacuteblico e agrave coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e
futuras geraccedilotildees
sect 1ordm - Para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Poder Puacuteblico
I - preservar e restaurar os processos ecoloacutegicos essenciais e prover o manejo
ecoloacutegico das espeacutecies e ecossistemas []
III - definir em todas as unidades da Federaccedilatildeo espaccedilos territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos sendo a alteraccedilatildeo e a supressatildeo
permitidas somente atraveacutes de lei vedada qualquer utilizaccedilatildeo que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteccedilatildeo (BRASIL 1988 p 225226)
Ressalta-se que ldquoa Carta Magna de 1988 eacute a primeira Constituiccedilatildeo brasileira em
que a expressatildeo meio ambiente eacute mencionadardquo (MELO 2010 p 20) Ademais inovou ao
adotar a terminologia ldquoespaccedilo territorial especialmente protegidordquo para designar uma aacuterea sob
regime especial de administraccedilatildeo com o objetivo de proteger os atributos ambientais
justificadores do seu reconhecimento e individualizaccedilatildeo pelo Poder Puacuteblico (MILAREacute 2009)
40
Desta forma pela simples leitura do texto constitucional observa-se que eacute uma
prerrogativa do Poder Puacuteblico promover a preservaccedilatildeo do meio ambiente bem como
estabelecer unidades especialmente protegidas para garantir a manutenccedilatildeo dos recursos
naturais A forma com que o Estado cumpriraacute este dever eacute atraveacutes da ediccedilatildeo de leis que
obriguem seus administrados a satisfazerem tais imposiccedilotildees Para tanto tem-se o Coacutedigo
Florestal (BRASIL 1965 2012) que prevecirc a reserva legal como um dos meios de viabilizar
essa proteccedilatildeo Eacute sobre o que discorre Trennepohl (2009 p 12)
A reserva legal eacute um dos instrumentos que permitem o cumprimento do art 225 da
Constituiccedilatildeo Federal o qual impotildee ao Poder Puacuteblico o dever de defender e preservar
o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras geraccedilotildees
(caput) atraveacutes de definiccedilatildeo de espaccedilos territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos (sect1deg III) bem como de proteger a flora e a fauna (sect1deg
VII)
Conclui-se portanto que a reserva legal introduzida pelo Coacutedigo de 65 (BRASIL
1965) modificou os contornos do direito de propriedade restringindo seu uso e que a funccedilatildeo
social do bem imoacutevel teve como origem forte conflito entre necessidades coletivas ou assim
interpretadas e o regime particular da propriedade individual (ANTUNES 2011)
1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa
As formas de limitaccedilotildees que recaem sobre a propriedade tornam-se um problema
importante em mateacuteria ambiental pois na grande maioria das vezes a natureza juriacutedica dos
espaccedilos territoriais especialmente protegidos se confunde com a limitaccedilatildeo administrativa
(MELO 2010) Assim questiona-se se realmente estamos diante de servidotildees limites
limitaccedilotildees ou delimitaccedilotildees A questatildeo natildeo eacute paciacutefica (CRIADO 2010)
A limitaccedilatildeo administrativa segundo Meireles (2004 p 568) eacute ldquotoda imposiccedilatildeo
geral gratuita unilateral e de ordem puacuteblica condicionadora do exerciacutecio de direitos ou de
atividades particulares agraves exigecircncias do bem-estar socialrdquo Satildeo implementadas de forma
imperativa obrigando o proprietaacuterio a fazer ou natildeo fazer algo na sua propriedade mas sem
retirar a utilizaccedilatildeo econocircmica deste bem ldquoJaacute a restriccedilatildeo ocorre quando a administraccedilatildeo impotildee
ao proprietaacuterio dever que o obrigue ou o impeccedila de fazer algo em sua propriedade retirando a
utilizaccedilatildeo econocircmica desta Havendo neste caso a necessidade de recomposiccedilatildeo patrimonialrdquo
(MIRANDA 2008 p 61)
41
Aleacutem do que hibridamente haacute os que entendem que a reserva legal eacute uma
desapropriaccedilatildeo indireta6 disfarccedilada de limitaccedilatildeo da propriedade que por sua vez inviabiliza a
utilizaccedilatildeo econocircmica do bem provocando uma busca por indenizaccedilatildeo Eacute nesse sentido que se
pronunciam os superiores tribunais do paiacutes como por exemplo se pronunciou o ministro Luiz
Pereira do Tribunal de Justiccedila do Estado de Satildeo Paulo ao decidir pela indenizabilidade da
aacuterea compreendida na reserva legal E ainda o proacuteprio Supremo Tribunal Federal tem se
manifestado de forma enfaacutetica ldquoimpedindo que a bdquolimitaccedilatildeo administrativa‟ esvazie o
conteuacutedo econocircmico do direito de propriedade determinando que em tais hipoacuteteses o Estado
indenize os prejuiacutezos de ordem patrimonial sofridos pelo particularrdquo (ANTUNES 2011
p163164)
Mesmo sendo um instrumento de conservaccedilatildeo ambiental com a possibilidade de
exploraccedilatildeo racional atraveacutes de manejo florestal sustentaacutevel eacute visivelmente perceptiacutevel o
conflito entre interesses particulares e a salvaguarda da vegetaccedilatildeo proposta por norma
juriacutedica Posto isto observa-se de um lado intenccedilotildees puramente econocircmicas que por sua vez
levam os proprietaacuterios a ignorarem a lei derrubando e queimando as matas que deveriam ser
preservadas a tiacutetulo de Reserva Legal ou ainda se eximindo de suas responsabilidades soacutecio-
ambientais Opotildeem-se portanto aos fortes instrumentos juriacutedicos de proteccedilatildeo das matas
brasileiras (MIRANDA 2008)
1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal
Na vigecircncia da lei anterior ou seja do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)
a forma de garantir documentalmente o cumprimento da reserva legal era averbaacute-la junto agrave
matriacutecula da propriedade constante em um Registro de Imoacuteveis Vale aqui esmiuccedilar o que eacute e
como era esse procedimento
ldquoO Registro de Imoacuteveis eacute uma instituiccedilatildeo nascida no seacuteculo XIX para dar
seguranccedila agrave contrataccedilatildeo imobiliaacuteria e na qual se inscreviam os direitos nascidos das relaccedilotildees
privadas ou civisrdquo (CRIADO 2010 p126) ldquoE que surgiu como necessidade do Estado de
controlar o direito de propriedade e como instrumento de seguranccedila juriacutedica para o traacutefego
imobiliaacuteriordquo (MELO 2010 p18) Regido pela Lei 601573 (BRASIL 1973) que cria a
figura da matriacutecula e que por sua vez representa a individualidade do imoacutevel sua situaccedilatildeo
6 Desapropriaccedilatildeo indireta ndash ldquotoda intervenccedilatildeo do Estado na propriedade que venha a impossibilitar o uso e gozo
desse bem retirando-lhe o conteuacutedo econocircmicordquo (TAVARES 1998 p 2 apud MIRANDA 2008 p 62)
42
geograacutefica e perfeita descriccedilatildeo sofrendo alteraccedilotildees objetivas e subjetivas por meio da
averbaccedilatildeo sempre com um mesmo nuacutemero de ordem facilitando incrivelmente as pesquisas e
expediccedilatildeo de certidotildees (MELO 2010)
Desta forma cada imoacutevel possui um registro onde pode ser descrito tudo o que
acontece com ele e nele por exemplo quem comprou vendeu se o dono hipotecou o bem a
um banco por causa de empreacutestimo etc Cada novidade que acontece no imoacutevel eacute inscrita sob
a forma e nome de averbaccedilatildeo no seu registro que por sua vez tem um nuacutemero de matriacutecula
para o identificar da mesma forma que um cidadatildeo tem um nuacutemero de Registro Geral (RG)
com seu nome completo data de nascimento e filiaccedilatildeo
No caso a averbaccedilatildeo da reserva legal era feita da seguinte forma o dono do
imoacutevel ldquointeressadordquo em cumprir sua obrigaccedilatildeo deveria submeter a localizaccedilatildeo da reserva
legal ao oacutergatildeo ambiental estadual que por sua vez aprovaria ou natildeo o local onde o proprietaacuterio
iria destinar agrave reserva legal Essa delimitaccedilatildeo deveria ser feita a partir de um
georreferenciamento que utiliza coordenadas geograacuteficas fixadas com o auxiacutelio de sateacutelites
conforme o Sistema Geodeacutesico Brasileiro (SGB) ao qual o Registro de imoacuteveis estaacute
vinculado (MELO 2010)
ldquoA representaccedilatildeo graacutefica da propriedade e sua atualizaccedilatildeo permitem um
conhecimento da evoluccedilatildeo do territoacuterio suas modificaccedilotildees e o impacto meio ambiental que
nele tenha ocasionado atuaccedilatildeo do acircmbito imobiliaacuterio com transcendecircncia nesta mateacuteriardquo
(LIBERAL 2007 p 121 apud MELO 2010 p3233)
Assim com a propriedade e sua respectiva aacuterea de reserva legal
georreferenciadas o proacuteximo passo seria a elaboraccedilatildeo de uma planta a partir dos dados
coletados e juntamente com o documento comprobatoacuterio de que o imoacutevel possuiacutea registro
submeter a localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva ao oacutergatildeo ambiental competente Se aprovada o
oacutergatildeo expediria um Termo de Averbaccedilatildeo da Reserva Legal que juntamente com a mesma
planta apresentada anteriormente deveria ser levado ao cartoacuterio de imoacuteveis para posterior
averbaccedilatildeo no registro do bem Nesta averbaccedilatildeo estariam descritas todas as informaccedilotildees da
reserva legal e sua localizaccedilatildeo geograacutefica
ldquoEsse procedimento documental tinha fundamento no princiacutepio da publicidade
que eacute a alma dos registros puacuteblicos porque eacute a oportunidade dada ao povo de conhecer tudo
que lhe interessa a respeito de determinados atosrdquo (BALBINO FILHO 1999 p 9 apud
MELO 2010 p34) Ateacute porque qualquer pessoa pode solicitar informaccedilotildees sobre os registros
junto ao cartoacuterio de imoacuteveis ldquoE natildeo poderia ser diferente pois o Registro de Imoacuteveis atua no
43
direito ambiental como ator coadjuvante reforccedilando a publicidade legal bem como
cooperando com o cumprimento e garantia das obrigaccedilotildees ambientaisrdquo (MELO 2010 p79)
Natildeo obstante malgrado existia a obrigaccedilatildeo legal de todo proprietaacuterio averbar a
aacuterea de RLF no Registro de Imoacuteveis o fato eacute que pequena porcentagem dos proprietaacuterios
procedeu agrave sua especializaccedilatildeo ldquoA razatildeo eacute simples trata-se de norma incompleta foi criada a
obrigaccedilatildeo mas propositalmente a sanccedilatildeo foi esquecidardquo (MELO 2010 p56)
Com a lei 126512012 (BRASIL 2012) ou Novo Coacutedigo Florestal esse
procedimento mudou Logo natildeo se deve mais averbar a reserva legal no registro do imoacutevel
Agora a obrigaccedilatildeo passou a ser o cadastramento da propriedade rural no Cadastro Ambiental
Rural (CAR) O atual meacutetodo consiste na inscriccedilatildeo do imoacutevel a partir da identificaccedilatildeo do
proprietaacuterio ou possuidor rural apresentaccedilatildeo de documento que comprove a propriedade ou a
posse e a identificaccedilatildeo do imoacutevel por meio de planta e memorial descritivo contendo a
indicaccedilatildeo das coordenadas geograacuteficas com pelo menos um ponto de amarraccedilatildeo do periacutemetro
do imoacutevel informando a localizaccedilatildeo dos remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa das Aacutereas de
Preservaccedilatildeo Permanente das Aacutereas de Uso Restrito das aacutereas consolidadas e caso existente
tambeacutem da localizaccedilatildeo da Reserva Legal
No entanto o CAR ainda natildeo estaacute implantado no Cearaacute o que eacute realidade em
vaacuterios outros estados tambeacutem A obrigatoriedade de inscriccedilatildeo neste Cadastro eacute de ateacute dois
anos apoacutes sua implementaccedilatildeo que ateacute o momento natildeo aconteceu Todavia o secretaacuterio de
Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentaacutevel Sr Paulo Guilherme Cabral afirmou em
21052013 que o lanccedilamento em acircmbito nacional do Cadastro Ambiental Rural (CAR) deve
ocorrer ateacute o iniacutecio de junho e para agilizar a inscriccedilatildeo de mais de 5 milhotildees de propriedades
o Ministeacuterio do Meio Ambiente tem buscado ajuda de sindicatos cooperativas e associaccedilotildees
do setor agriacutecola aleacutem de outros oacutergatildeos puacuteblicos7 Infelizmente nada aconteceu ateacute e apoacutes
aquela previsatildeo
Contraditoriamente natildeo existe um prazo para o governo implantar o CAR mas
para o proprietaacuterio ou posseiro sim quando o cadastro dos imoacuteveis estiver disponiacutevel O
impasse eacute o que fazer o dono da terra aguarda o novo procedimento vigorar ou adota o
meacutetodo anterior
7 Conferir notiacutecia publicada em 22052013 no site lthttpsouagrocombrlancamento-nacional-do-car-deve-
sair-ate-junhogt
44
2 Processo de Degradaccedilatildeo
21 Conceito
A degradaccedilatildeo de uma forma geral eacute ldquoa ocorrecircncia de modificaccedilotildees fiacutesicas
metaboacutelicas ou quiacutemicas para uma forma menos complexa E a degradaccedilatildeo ambiental eacute a
alteraccedilatildeo das caracteriacutesticas do meio ambienterdquo (GUERRA et al 2009 p108) Jaacute o inciso II
do artigo 3ordm da Lei 693881 (BRASIL 1981) descreve a degradaccedilatildeo da qualidade ambiental
como alteraccedilatildeo adversa das caracteriacutesticas do meio ambiente
Para Arauacutejo et al (2008 p 19) ldquoa degradaccedilatildeo das terras envolve a reduccedilatildeo dos
potenciais recursos renovaacuteveis por uma combinaccedilatildeo de processos agindo sobre a terrardquo Os
autores ainda atestam que
Tal reduccedilatildeo levando ao abandono ou ldquodesertificaccedilatildeordquo da terra [] pode ser por
processos naturais como por exemplo o ressecamento do clima atmosfeacuterico
processos naturais de erosatildeo alguns outros de formaccedilatildeo do solo ou uma invasatildeo
natural de plantas ou animais nocivos Pode tambeacutem ocorrer por accedilotildees antroacutepicas
diretamente sobre o terreno ou indiretamente em razatildeo das mudanccedilas climaacuteticas
adversas induzidas pelo homem (ARAUacuteJO et al 2008 p 19)
Para a Food and Agriculture Organizations of the United Nations - FAO
(Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e Agricultura) o conceito de degradaccedilatildeo
de terras se refere ldquoagrave deterioraccedilatildeo ou perda total da capacidade dos solos para uso presente e
futurordquo (FAO 1980 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 23)
Observa-se portanto que a degradaccedilatildeo ambiental se natildeo combatida pressupotildee
um processo criacutetico e muito seacuterio o da desertificaccedilatildeo Eacute como considera Sales (2002) e ainda
afirma que o potencial natural das terras quanto agrave degradaccedilatildeo e a accedilatildeo antroacutepica
desencadeiam a desertificaccedilatildeo
O processo de degradaccedilatildeo ambiental pode ocorrer a partir de um ambiente que jaacute
possui caracteriacutesticas naturais limitantes eou extremas onde nele eacute inserido o fator antroacutepico
seja pela simples ocupaccedilatildeo de uma populaccedilatildeo naquela aacuterea seja pelo manejo inadequado dos
recursos naturais ali presentes De outra forma a degradaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel em ambientes
sem fragilidades naturalmente aparentes
A degradaccedilatildeo ambiental advinda da intervenccedilatildeo humana num cenaacuterio mundial
traduz-se em 15 das terras jaacute comprometidas pelas atividades humanas sendo que na
Ameacuterica do Sul dentro daquele percentual encontrou-se 1 de terras devastadas 11 de
terras leve ou moderadamente degradadas e 1 de terra forte ou extremamente degradada8
As estimativas apontam uma expansatildeo anual de 5 a 12 milhotildees de hectares de solo de um
total de 48 bilhotildees de hectares de aacutereas cultivaacuteveis e pastos ainda existentes e segundo a
ISRICUNEP (1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 28) isso resulta na seguinte constataccedilatildeo
A degradaccedilatildeo ambiental causa a perda de aproximadamente 14 milhotildees de
toneladas de gratildeos anualmente isto eacute metade da quantidade necessaacuteria para cobrir
as necessidades da populaccedilatildeo global adicional para o mesmo periacuteodo E no aspecto
financeiro para Blaikie e Brookfiel (1987) a produtividade do trabalho eacute atingida
desfavoravelmente pois a degradaccedilatildeo ambiental consome diretamente o produto do
trabalho e tambeacutem o aporte de capital na produccedilatildeo A qualidade de vida diminui
porque satildeo necessaacuterios mais tempo e um trabalho mais duro para se obter o mesmo
produto isso sem mencionar as medidas conservacionistas no campo fertilizaccedilatildeo
mais intensa ou a abertura de aacutereas para lavouras ou pastos cada vez mais distantes
[] Em ocasiotildees mais raras mas tambeacutem tatildeo dramaacuteticas a degradaccedilatildeo ambiental
forccedila o deslocamento da populaccedilatildeo Centenas de milhares de hectares tecircm de ser
abandonados a cada ano por estarem degradados demais para o cultivo ou ateacute
mesmo para pastagens (ARAUacuteJO et al 2008 p 31)
Em se tratando de semiaacuterido os recursos ambientais satildeo fraacutegeis e associados a
este quadro haacute uma populaccedilatildeo que por sua vez lanccedila matildeo dos bens naturais produzindo uma
deterioraccedilatildeo ambiental ldquoO Cearaacute por conseguinte apresenta extensas aacutereas com problemas
relativos agrave degradaccedilatildeo ambiental principalmente a desertificaccedilatildeordquo (IRAUCcedilUBA 2009 p 7)
Eacute o caso de Irauccediluba por causa da degradaccedilatildeo advinda do desmatamento e das
queimadas que exaurem os nutrientes do solo a agricultura de subsistecircncia colhe em gratildeos
menos de 500 kgha enquanto que a produccedilatildeo potencial seria cerca de 2000 kgha
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Isso explica a baixa participaccedilatildeo da agricultura na
produccedilatildeo agropecuaacuteria do municiacutepio E ldquoessa produccedilatildeo sequer paga os custos da lavoura de
forma que os pequenos produtores estatildeo pagando para plantar na maioria dos casosrdquo
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 18) As consequecircncias sociais disto satildeo ldquoum ciclo de
pobreza e miseacuteria tornando a regiatildeo cada vez mais vulneraacutevelrdquo (SALES 2002 p116)
Em niacutevel mais criacutetico segundo as Naccedilotildees Unidas a desertificaccedilatildeo degrada 60 mil
km2 de terras feacuterteis por ano em todo o mundo provocando perdas de 4 bilhotildees de doacutelares na
economia mundial No Brasil estima-se que essas perdas atinjam 100 milhotildees de doacutelares9
Por fim ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013) entendem que a degradaccedilatildeo em terras
brasileiras remonta o tempo dos colonizadores pois estes aplicavam diretamente meacutetodos e
praacuteticas proacuteprios para solos de clima temperado Assim as matas foram derrubadas queimou-
se a vegetaccedilatildeo em larga escala e lavouras nocircmades foram estabelecidas aproveitou-se o humo
8 Conferir ISRICUNEP 1991 In Arauacutejo et al 2008 p 27
9 Conferir RODRIGUES (2006) in CEARAacute 2010
46
onde este jaacute existia expuseram-se os solos agrave erosatildeo enfim saquearam-se os recursos naturais
renovaacuteveis ldquoNo caso do Cearaacute documenta-se que em 1861 a Comissatildeo Cientiacutefica enviada
para estudar o Nordeste registrava a destruiccedilatildeo acelerada da vegetaccedilatildeo principalmente nos
contrafortes das serras em virtude dos desmatamentos e queimadas para plantio de
mandiocardquo ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013 p 8)
Para uma melhor compreensatildeo quanto agrave intervenccedilatildeo humana negativa no
ambiente aponta-se o esquema proposto na figura 3 a seguir resumindo o processo de
degradaccedilatildeo ambiental apresentado pelo PAE10
(CEARAacute 2010b)
Figura 3 Sistema de Degradaccedilatildeo do Meio Ambiente Adaptado de Tricart (apud Souza 2000)
Fonte PAE (CEARAacute 2010b p 30)
10
PAECE ndash Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca
(CEARAacute 2010)
47
22 Degradaccedilatildeo Ambiental
A degradaccedilatildeo tem vaacuterias causas dentre elas a erosatildeo e o manejo inadequado do
solo Em se tratando deste uacuteltimo pode-se destacar as atividades agropecuaacuterias e suas
praacuteticas como por exemplo o desmatamento desmedido e irracional a irrigaccedilatildeo de forma
errada salinizando ou encharcando o solo o sobrepastoreio que compacta o solo e o uso de
defensivos agriacutecolas que provocam a contaminaccedilatildeo do solo e eliminam os microorganismos
ali presentes Deduz-se portanto que isso eacute um reflexo derivado de uma estrutura fundiaacuteria
extremamente riacutegida onde satildeo desenvolvidas aquelas atividades com baixo niacutevel tecnoloacutegico
levando a praacuteticas agriacutecolas predatoacuterias (SALES 2002 p116)
Com as causas naturais e as provocadas pelo homem quanto agrave degradaccedilatildeo do solo
expostas na tabela 2 a compreensatildeo fica mais clara
Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras
FATORES ACcedilOtildeES ANTROacutePICAS CONDICcedilOtildeES NATURAIS
Facilitadores
Desmatamento
Permissatildeo do superpastoreio
Uso excessivo da vegetaccedilatildeo
Taludes de corte
Remoccedilatildeo da cobertura vegetal para o cultivo
Topografia
Textura do solo
Composiccedilatildeo do solo
Cobertura vegetal
Regimes hidrograacuteficos
Diretos
Uso de maacutequinas
Conduccedilatildeo do gado
Encurtamento do pousio
Entrada excessiva de aacutegua drenagem insuficiente
Excesso de fertilizaccedilatildeo aacutecida
Uso excessivo de produtos quiacutemicos estrume
Disposiccedilatildeo de resiacuteduos domeacutesticos industriais
Chuvas fortes
Alagamentos
Ventos fortes
Fonte FAO (1980 apud Arauacutejo et al 2008 p 33)
Entendem Arauacutejo et al (2008 p 29) que as consequecircncias disto no meio rural satildeo
Um decliacutenio na produtividade ou uma necessidade crescente do aporte de nutrientes
para manter as mesmas produtividades uma vez que os ldquosubsolos geralmente
contem menos nutrientes do que as camadas superioresrdquo sendo necessaacuterio mais
fertilizante para manter a produtividade das culturas Isso por sua vez aumenta os
custos da produccedilatildeo
Partindo dessas constataccedilotildees conclui-se que satildeo seacuterias as consequecircncias
ambientais sociais e econocircmicas a esse respeito por isso satildeo necessaacuterias medidas mitigadoras
que visem minimizar esses impactos bem como meios de recuperar os danos jaacute existentes
A questatildeo torna-se ainda mais preocupante quando o olhar recai sobre os
processos de formaccedilatildeo do solo que segundo Kendall e Pimentel (1994 apud ARAUacuteJO et al
48
2008 p 21) ldquosatildeo lentos e necessitam de duzentos a mil anos para formar 25cm de solos e
isso sob condiccedilotildees agriacutecolas normaisrdquo Dessa forma a degradaccedilatildeo do solo eacute muito mais
criacutetica uma vez que eacute quase irreversiacutevel quando se trata do lapso temporal para se regenerar
ldquoA irreversibilidade tambeacutem ocorre quando o clima e as atividades humanas se combinam
tornando um solo anteriormente sadio em aacuterea devastadardquo (ARAUacuteJO et al 2008 p 2021)
221 Erosatildeo
Eacute o processo natural de decomposiccedilatildeo e transporte de sedimentos que altera as
formas de relevo Causada por agentes como vento chuvas aacuteguas correntes pode ser
acelerada por intervenccedilotildees humanas como por exemplo o desmatamento (TRIGUEIRO
2005 apud GUERRA 2009 p 129)
Arauacutejo et al (2008 p 34) afirmam que ldquoembora a erosatildeo possa ocorrer sem a
intervenccedilatildeo humana na praacutetica ela geralmente eacute iniciada eou acelerada por atividades
antroacutepicas que causam o desaparecimento da cobertura protetora da vegetaccedilatildeo natural ou
danificam a estrutura do solordquo
No PAN (BRASIL 2004 p 42) consta que ldquoa resultante do antropismo eacute
principalmente a erosatildeo particularmente a laminarrdquo que se inicia com a destruiccedilatildeo da
cobertura vegetal
A erosatildeo pode ser pela accedilatildeo da aacutegua eou do vento Em ambos os casos a camada
superficial do solo eacute retirada Para Arauacutejo et al (2008 p 24) ldquoa erosatildeo eoacutelica eacute mais comum
em climas aacuterido e semiaacuterido e eacute considerada uma forma de degradaccedilatildeo bem como a da aacutegua
que pode ateacute deformar o terreno formando ravinas e voccedilorocasrdquo Uma consequecircncia grave
disto segundo os mesmos autores eacute a reduccedilatildeo da fertilidade pelos motivos a seguir Menor
penetraccedilatildeo de raiacutezes em decorrecircncia de um solo menos denso e mais fino Reduccedilatildeo na
capacidade de retenccedilatildeo de aacutegua Varredura dos nutrientes utilizados pelas plantas
Para a FAO segundo Arauacutejo et al (2008 p 30) ldquoaproximadamente 25 bilhotildees de
toneladas de solo satildeo erodidos a cada ano sendo 17 toneladas por hectare cultivadordquo
222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica
Dentro do que jaacute foi citado anteriormente a (1) irrigaccedilatildeo inadequada que saliniza
ou encharca o solo e o (2) uso de defensivos agriacutecolas contaminando e eliminando os
49
microorganismos satildeo soacute algumas causas deste tipo de degradaccedilatildeo Aleacutem destas tem-se a (3)
acidificaccedilatildeo e o (4) esgotamento do solo causando a perda de nutrientes Para Arauacutejo et al
(2008 p 25) ldquoa salinizaccedilatildeo pode ser resultado de manejo mal realizado da irrigaccedilatildeo da alta
concentraccedilatildeo de sais na aacutegua ou atenccedilatildeo indevida agrave drenagem Esta acarreta a salinizaccedilatildeo dos
solos especialmente em regiotildees aacuteridas por que as altas taxas de evaporaccedilatildeo estimulam o
processordquo E ainda por atividades humanas que elevam a evaporaccedilatildeo em solos com material
salino ou com lenccedilol freaacutetico salino (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25)
Segundo o PAN (BRASIL 2004 p 64) ldquoa irrigaccedilatildeo produz impactos
indesejaacuteveis em qualquer aacuterea semiaacuteridardquo se realizada de forma inadequada e sem o recurso
da drenagem Complementa ainda o documento ao dizer que
Um solo submetido agrave irrigaccedilatildeo estaacute salinizado quando a concentraccedilatildeo de sais nesse
terreno se eleva a ponto de prejudicar o rendimento econocircmico das culturas A
salinizaccedilatildeo do solo afeta a germinaccedilatildeo e a densidade das culturas bem como seu
desenvolvimento vegetativo reduzindo a produtividade das lavouras Nos casos
limites a salinizaccedilatildeo pode levar agrave morte generalizada das plantas inviabilizando o
cultivo das terras afetadas (BRASIL 2004 p 64)
Aleacutem disso o uso excessivo de agrotoacutexicos eacute tido como poluiccedilatildeo e pode levar agrave
reduccedilatildeo do potencial agriacutecola da terra Resiacuteduos industriais e urbanos tambeacutem podem poluir
terras agricultaacuteveis O esgotamento do solo pelo plantio excessivo de culturas sem promover
um pousio miacutenimo do terreno exaure os nutrientes daquela aacuterea Isso eacute comum onde a
agricultura eacute praticada em solos pobres ou moderadamente feacuterteis sem a aplicaccedilatildeo suficiente
de esterco ou fertilizante (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25) E por fim
a acidez pode ser provocada quando se utiliza muitos fertilizantes aacutecidos ou em decorrecircncia
da maacute drenagem em alguns tipos de solo
223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica
Conhecidos pela compactaccedilatildeo do solo elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico e pelo
rebaixamento da superfiacutecie da terra (subsidecircncia) a esses tipos de degradaccedilatildeo natildeo se pode
deixar de somar uma causa precursora que eacute o desmatamento desmedido e irracional
deixando o solo nu e exposto agraves intempeacuteries do tempo Da mesma forma entende Cruz (1994
p 135-147 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 35) ao afirmar que ldquoa remoccedilatildeo da cobertura vegetal
inicia ou acelera a erosatildeo do solo sob a accedilatildeo da chuva e do vento de igual modo a queimada
visando o controle de ervas estimula a lixiviaccedilatildeo e a perda do solordquo
50
A compactaccedilatildeo do solo como o resultado do uso de maacutequinas pesadas em solos
instaacuteveis bem como o pisoteio do gado que via de regra eacute agravado por um
sobrepastoreio da aacuterea O impacto das gotas de chuva provoca tambeacutem o selamento
e encrostamento do solo A elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico eacute ocasionada pelo
encharcamento da terra que por sua vez natildeo tem na mesma proporccedilatildeo a capacidade
de drenagem (ARAUacuteJO et al 2008 p 25)
23 A degradaccedilatildeo em Irauccediluba
Em Irauccediluba as praacuteticas agriacutecolas e a pecuaacuteria satildeo muito ofensivas aos recursos
naturais Isso se deve agrave capacidade de suporte do ambiente que natildeo eacute respeitada gerando
impactos e danos ambientais seacuterios e de caraacuteter praticamente irreversiacuteveis O sobrepastejo de
bovinos ovinos e caprinos o desmatamento e as queimadas deixam a regiatildeo com um niacutevel de
degradaccedilatildeo altiacutessimo ateacute porque suas condiccedilotildees naturais jaacute satildeo adversas E ainda haacute outro
fator agravante - o tempo de recuperaccedilatildeo natural tambeacutem natildeo eacute observado nem cumprido
fragilizando por demais o ambiente
Para Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 7) ldquoA introduccedilatildeo da pecuaacuteria no nuacutecleo de
Irauccediluba trouxe a tiracolo a agricultura e a extraccedilatildeo de madeira A primeira baseava-se no
desmatamento indiscriminado e na queimada geral E a segunda na coleta da lenha sem
reposiccedilatildeo florestalrdquo Desta forma a degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba estaacute desenhada por
1 Superpastejo que causa prejuiacutezos sensiacuteveis agrave vegetaccedilatildeo pelo consumo das
cascas dos troncos de aacutervores e arbustos e pela remoccedilatildeo das placircntulas das espeacutecies
arboacutereas e arbustivas Nessas condiccedilotildees mudanccedilas na composiccedilatildeo floriacutestica da
vegetaccedilatildeo podem resultar em virtude do desaparecimento das espeacutecies lenhosas
forrageiras o que em aacutereas de vegetaccedilatildeo degradada acelera o processo de
desertificaccedilatildeo Em aacutereas de caatinga o pastejo por ovinos induz mudanccedilas
significativas na composiccedilatildeo botacircnica do estrato herbaacuteceo com a reduccedilatildeo da
participaccedilatildeo das gramiacuteneas mesmo em condiccedilotildees de pastoreio moderado Nesse
contexto o sobrepastejo por ovinos pode resultar no desaparecimento das gramiacuteneas
e ao final de toda cobertura herbaacutecea da vegetaccedilatildeo expondo o solo aos efeitos da
erosatildeo (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 78)
2 Agricultura rudimentar que pratica o desmatamento e faz uso do fogo O
impacto deste sobre o ecossistema eacute onipresente e caracteriza-se pela queda da
produccedilatildeo agriacutecola pela degradaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa pela erosatildeo dos solos pela
perda da biodiversidade da flora e da fauna e pelo assoreamento e salinizaccedilatildeo dos
mananciais pela perda da resiliecircncia aumentando sua fragilidade diante das
variaccedilotildees climaacuteticas tiacutepicas das regiotildees semiaacuteridas Aleacutem disto os desmatamentos e
queimadas seguidos por um curto periacuteodo de pousio terminam por levar a vegetaccedilatildeo
a um disclimax dominado por arbustos uma vez que o banco de sementes das
arboacutereas praticamente desapareceu (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 918)
3 Manejo inadequado do solo associado ao relevo da regiatildeo Satildeo trecircs tipos de
solo que se destacam em Irauccediluba litoacutelicos planossolos e luvissolos Por conta da
declividade de 8 a 45 os agricultores optam pelas terras nas encostas para
implantar os roccedilados pois haacute um menor risco de perder a safra em funccedilatildeo do
alagamento comum nas terras planas do municiacutepio durante a eacutepoca das chuvas
Nestas condiccedilotildees as perdas de solo por erosatildeo satildeo assombrosas Aleacutem disto haacute a
erosatildeo nos planossolos provocada pelo sobrepastejo com perdas de solo superiores a
51
17 tha em uma uacutenica estaccedilatildeo das chuvas o que enfatiza a importacircncia da cobertura
vegetal na proteccedilatildeo contra a erosatildeo (apud SALES 2003) Como consequecircncia do
sobrepastejo continuado ao longo provavelmente de centenas de anos a erosatildeo
laminar jaacute removeu porccedilatildeo significativa do horizonte A expondo em alguns casos o
horizonte B textural Aleacutem disso houve uma exaustatildeo dos nutrientes do solo
principalmente do foacutesforo Outro fator que tambeacutem intensifica a degradaccedilatildeo eacute o
curtiacutessimo periacuteodo de repouso Estima-se em 50 anos o tempo necessaacuterio para que a
vegetaccedilatildeo da caatinga em um luvissolo que foi destruiacuteda pela queimada do roccedilado
volte pela sucessatildeo secundaacuteria ao cliacutemax original Ora na regiatildeo este periacuteodo estaacute
reduzido a cerca de oito anos Com isto natildeo haacute a recuperaccedilatildeo da fertilidade do solo e
a recomposiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo Isto porque a velocidade de crescimento das arboacutereas
da caatinga eacute muito variaacutevel (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 810)
Concluem portanto os autores Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 17) que ldquoas praacuteticas
rotineiramente adotadas do desmatamento e do fogo a exposiccedilatildeo do solo e a diminuiccedilatildeo do
periacuteodo de pousio tecircm induzido processos de degradaccedilatildeo mormente os de erosatildeordquo
231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia
A desertificaccedilatildeo eacute um problema ambiental que assola vaacuterias partes do mundo e
vem sendo discutido desde 1977 quando em Nairoacutebi no Quecircnia aconteceu a Conferecircncia
sobre Desertificaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas ldquoA observaccedilatildeo desse processo se atribui ao cientista
Aubreville que em 1949 constatou o prolongamento da degradaccedilatildeo para o norte das zonas
mais aacuteridas do Saara e para as regiotildees semiaacuteridas e subuacutemidas do norte da Aacutefricardquo (ARAUacuteJO
et al 2008 p 26) Em 1992 na ECO 92 foi definido o conceito de desertificaccedilatildeo cuja
ocorrecircncia se daacute em aacutereas aacuteridas semiaacuteridas e subuacutemidas secas O grau de aridez eacute
estabelecido pela relaccedilatildeo PEtp que eacute a razatildeo entre a meacutedia da precipitaccedilatildeo total anual e a
evapotranspiraccedilatildeo potencial do mesmo periacuteodo metodologia esta desenvolvida por
Thornthwaite (1955) Desta forma definiu-se uma correspondecircncia entre o clima e o
resultado da relaccedilatildeo acima conforme mostra a tabela 3
Tabela 3 ndash Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez
CLIMA P ETP
Hiper-aacuterido lt 005
Aacuterido De 005 a 020
Semiaacuterido gt 020 a 050
Subuacutemido Seco gt 050 a 065
Subuacutemido Uacutemido gt 065
Fonte United Nations Environment Programme ndash UNEP (Programa
Ambiental das Naccedilotildees Unidas) 1992
52
Eacute interessante mencionar que o semiaacuterido brasileiro delimitado pela uacuteltima vez
em 1995 foi novamente demarcado a partir da iniciativa do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
Nacional (MIN) que instituiu um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) envolvendo
departamentos empresas institutos agecircncias e ateacute bancos puacuteblicos para a readequaccedilatildeo dos
criteacuterios propostos pela Lei 782789 (BRASIL 1989c) Somente a inserccedilatildeo do municiacutepio na
aacuterea de abrangecircncia da extinta Superintendecircncia de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)
e a precipitaccedilatildeo meacutedia anual de ateacute 800 mm eram condiccedilotildees para enquadrar ou natildeo
determinado municiacutepio no semiaacuterido brasileiro (SUDENE 1990) Os novos paracircmetros satildeo
mais abrangentes pois aleacutem de considerar a precipitaccedilatildeo pluviomeacutetrica meacutedia anual inferior a
800 mm avaliam se o iacutendice de aridez do municiacutepio eacute de ateacute 05 ou se o risco de seca eacute maior
que 6011
Com a nova delimitaccedilatildeo em 2005 foram incorporados mais 102 municiacutepios aos
1031 jaacute classificados de forma que a aacuterea oficialmente semiaacuterida brasileira aumentou de
8923094 km2 para 9695894 km
2 ou seja um acreacutescimo de 866
12
A figura 4 ilustra o novo formato do semiaacuterido no Brasil E no Cearaacute foram
incorporados mais 16 totalizando 150 de um universo com 184 municiacutepios Isto significa
815 do estado e 132 de toda a regiatildeo semiaacuterida do paiacutes13
O quadro atual do semiaacuterido
cearense estaacute delineado na figura 5 a seguir
Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro
Fonte MIN (BRASIL 2005c)
11
Conferir Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro MI (BRASIL 2005c) 12
Idem 13
Ibidem
53
Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute
Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)
Com relaccedilatildeo ao processo de desertificaccedilatildeo no Brasil uma aacuterea de 900000 Kmsup2 eacute
atingida afetando direta ou indiretamente mais de 15 milhotildees de brasileiros natildeo existindo no
territoacuterio nacional outro problema ambiental que atinja tamanha aacuterea e tantas pessoas
(SUDENE 2000 apud IRAUCcedilUBA 2009) A regiatildeo nordeste por sua vez concentra as
Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) incluindo os espaccedilos semiaacuteridos e subuacutemidos
secos ambos de maior abrangecircncia fiacutesico-territorial vis-agrave-vis os outros espaccedilos naturais que
conformam e estruturam o Nordeste brasileiro (BRASIL 2004)
Pesquisadores apontam como principais causas de desertificaccedilatildeo no semiaacuterido
cearense a ocupaccedilatildeo desordenada do solo o desmatamento praacuteticas de queimadas (CEARAacute
2010b) Dentro desse raciociacutenio
Os estabelecimentos agropecuaacuterios ocupam o solo principalmente com lavouras
temporaacuterias e a criaccedilatildeo de animais Estas atividades muitas vezes satildeo executadas
sem preocupaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos e contribuem para
agravar o quadro de degradaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2010b p 103)
No mesmo sentido e no tocante agraves Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) o
PAN (BRASIL 2004) destaca que as condiccedilotildees ambientais dessas aacutereas (principalmente as de
54
clima solo aacutegua e vegetaccedilatildeo) associadas agrave pressatildeo exercida sobre os recursos naturais pela
accedilatildeo antroacutepica (pressatildeo populacional formas inadequadas de uso e ocupaccedilatildeo do solo entre
outros) vecircm contribuindo para a deflagraccedilatildeo de processos de desertificaccedilatildeo em algumas de
suas sub-regiotildees Um dos motivos para isso eacute a combinaccedilatildeo entre pobreza e desigualdade de
forma que
Uma imensa massa de pequenos agricultores descapitalizados confinados em
pequenas parcelas de terras de tais aacutereas (via de regra de meacutedia ou baixa fertilidade
natural) dependentes de seu trabalho para a produccedilatildeo de alimentos para
autoconsumo de forragens para seus animais mas necessitando produzir excedentes
comercializaacuteveis tenderaacute naturalmente a sobreutilizar os recursos naturais
contribuindo dessa forma para agravar os processos de degradaccedilatildeo Nas ASD este
ciacuterculo vicioso eacute agravado pela ocorrecircncia de secas perioacutedicas que levam agrave perdas
significativas e recorrentes de produccedilatildeo e de renda Neste sentido as secas
potencializam o grau de degradaccedilatildeo levando a vulnerabilidade ambiental a niacuteveis
mais elevados Os efeitos das secas sobre a sauacutede e a inseguranccedila alimentar e
nutricional tambeacutem satildeo conhecidos e consideraacuteveis (BRASIL 2004 p 106)
Classificando a susceptibilidade dessas aacutereas Matallo Jr (1999) construiu uma
relaccedilatildeo entre a aptidatildeo agrave desertificaccedilatildeo em funccedilatildeo do iacutendice de aridez conforme se vecirc pela
tabela 4
Tabela 4 - Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo
IacuteNDICE DE ARIDEZ SUSCEPTIBILIDADE Agrave
DESERTIFICACcedilAtildeO
005 a 020 Muito Alta
021 a 050 Alta
051 a 065 Moderada Fonte MATALLO JR (1999)
Nesse iacutenterim o municiacutepio de estudo do corrente trabalho tem iacutendice de aridez
conforme adotado pela UNEP de acordo com o que ilustra na figura 6
55
Figura 6 Iacutendice de Aridez (UNEP) do municiacutepio de Irauccediluba
O Cearaacute por sua vez eacute ldquoo Estado com a maior aacuterea relativa sob niacuteveis altos de
desertificaccedilatildeordquo (LEMOS 1995 apud FOLHES e VIANA 2001 p 5) Seu processo de
ocupaccedilatildeo e uso de terras via de regra foi marcado pela apropriaccedilatildeo dos recursos naturais de
forma a degradaacute-los Esta foi uma das causas para a concepccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Estadual
de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (PAE) cujo objetivo eacute
Contribuir para a convivecircncia equilibrada com o semiaacuterido por meio da
sustentabilidade ambiental do bioma caatinga a partir de poliacuteticas ambientais
sociais e econocircmicas focadas na reduccedilatildeo da pobreza A gestatildeo do Programa
pressupotildee a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo
democraacutetico e a participaccedilatildeo da sociedade (CEARAacute 2010b p 20)
No Estado existem trecircs nuacutecleos em processo de desertificaccedilatildeo Localizam-se no
Sertatildeo dos Inhamuns Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte e Sertatildeo de Jaguaribe abrangendo
respectivamente os municiacutepios de Arneiroz Independecircncia e Tauaacute Canindeacute Irauccediluba
Miraiacutema e Santa Quiteacuteria Jaguaretama Jaguaribara Jaguaribe Alto Santo e Morada Nova
(CEARAacute 2010b) Totalizam portanto 12 cidades com os maiores iacutendices de degradaccedilatildeo
ambiental do estado portanto susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo num grau muito grave como se
pode ver pelas figuras 7 e 8
No entanto o presente trabalho se ateraacute tatildeo somente ao municiacutepio de Irauccediluba
abrangido pelo nuacutecleo Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte
Fonte NOLEcircTO (2005)
56
Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave
desertificaccedilatildeo no Cearaacute desertificaccedilatildeo
Fonte IPECE (CEARAacute 2010a) Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)
O PAE (CEARAacute 2010b) utilizou para a formulaccedilatildeo do iacutendice de susceptibilidade
agrave desertificaccedilatildeo indicadores sociais que apontam a forma de ocupaccedilatildeo e tudo que dela
decorre e indicadores econocircmicos que representam as atividades humanas exercidas no
municiacutepio Vale ressaltar que as caracteriacutesticas do meio ambiente da regiatildeo natildeo foram
ignoradas muito pelo contraacuterio elas definiram as aacutereas classificadas como susceptiacuteveis agrave
desertificaccedilatildeo A lista abaixo demonstra os criteacuterios mensurados e os aspectos ambientais
observados
Indicadores sociais
1 Proporccedilatildeo da aacuterea das grandes propriedades na aacuterea total dos imoacuteveis rurais em
2005
2 Razatildeo entre alfabetizados e natildeo-alfabetizados de 5 ou mais anos de idade em
2000
3 Taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais de idade em 2000
(percentagem)
4 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino fundamental da populaccedilatildeo de 7 a 14
anos de idade em 2005
5 Taxa de evasatildeo no ensino fundamental em 2005
57
6 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino meacutedio da populaccedilatildeo de 15 a 17 anos de
idade em 2005
7 Taxa de evasatildeo escolar no ensino meacutedio em 2005
8 Densidade demograacutefica em 2006 (habitanteskm2)
Indicadores econocircmicos
1 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de carvatildeo vegetal pela aacuterea do municiacutepio em 2006
(tonha)
2 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de lenha pela aacuterea do municiacutepio em 2006 (m3ha)
3 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)
4 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)
5 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como pequena
propriedade em 2005 (haimoacutevel)
6 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como minifuacutendio em
2005 (haimoacutevel)
7 Razatildeo do consumo de energia eleacutetrica rural por consumidores de energia eleacutetrica
rural em 2005
8 Proporccedilatildeo de induacutestrias de transformaccedilatildeo no total de empresas industriais ativas
em 2005
9 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de feijatildeo em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
10 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com arroz em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
11 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com milho em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
12 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de mandioca em 2006 na aacuterea total dos
estabelecimentos agropecuaacuterios em 1996
13 Razatildeo do efetivo de bovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
14 Razatildeo do efetivo de ovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
15 Razatildeo do efetivo de caprinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
16 Razatildeo do efetivo de suiacutenos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos
agropecuaacuterios em 1996
17 Produto Interno Bruto per capita a preccedilos de mercado em 2004
Caracteriacutesticas ambientais
1 Degradaccedilatildeo da cobertura vegetal
2 Assoreamento dos rios
3 Pastoreio excessivo
4 Perda da biodiversidade
5 Perda da capacidade produtiva do solo
6 Baixa relaccedilatildeo entre capacidade produtiva dos recursos naturais e sua capacidade
de recuperaccedilatildeo
A anaacutelise dos 25 paracircmetros entremeados com as condiccedilotildees ambientais estaacute
devidamente compilada no Quadro 2 ndash Caracterizaccedilatildeo das ASDs nos Sertotildees de Irauccediluba e
Centro-Norte do PAE (CEARAacute 2010b) As constataccedilotildees ensejam problemas no meio
ambiente a partir dos inuacutemeros gargalos sociais e econocircmicos como por exemplo a produccedilatildeo
agriacutecola em lavouras temporaacuterias na maior proporccedilatildeo dos estabelecimentos rurais o grande
iacutendice de pobres da regiatildeo o consumo de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo cada vez maior
58
Natildeo se pode deixar de mencionar os problemas ambientais que deixam a aacuterea em
questatildeo muito mais vulneraacutevel aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas e da desertificaccedilatildeo Satildeo
eles degradaccedilatildeo dos solos e da cobertura vegetal primaacuteria o sobrepastoreio o
desencadeamento e expansatildeo de processos erosivos acelerados com ocorrecircncia muito
frequente de afloramentos rochosos e chatildeos pedregosos perda de solos e biodiversidade
empobrecida baixa frequecircncia de espeacutecies lenhosas da caatinga e processos erosivos muito
ativos em funccedilatildeo do aumento da torrencialidade do escoamento superficial
Assim conclui-se que natildeo haacute como dissociar o quadro social e econocircmico das
nuances ambientais de um municiacutepio ou regiatildeo
Em se tratando da ASD nos Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte faz-se necessaacuterio
expor os nuacutemeros encontrados e as respectivas conclusotildees a partir dos levantamentos feitos
pelo PAE (CEARAacute 2010b) O Iacutendice Econocircmico e Social de Susceptibilidade agrave
Desertificaccedilatildeo (IESSD) ilustrado pelas figuras 9 e 10 por exemplo aponta as possiacuteveis causas
e os principais agentes causadores do processo de desertificaccedilatildeo sem quantificar ou mensurar
seu niacutevel
Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no Iacutendice Social de Susceptibilidade agrave
Desertificaccedilatildeo (ISSD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)
Fonte PAE (CEARAacute 2010b)
0
5
10
15
20
25
30
Contribuiccedilatildeo no ISSD ()
59
Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no Iacutendice Econocircmico de Susceptibilidade agrave
Desertificaccedilatildeo (IESD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)
Fonte PAE (CEARAacute 2010b)
Assim analisando os dois graacuteficos acima eacute possiacutevel perceber que sob o aspecto
social a concentraccedilatildeo de terras e a educaccedilatildeo datildeo a maior contribuiccedilatildeo ao iacutendice de
susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo enquanto que no vieacutes econocircmico destacam-se as aacutereas
destinadas a imoacuteveis rurais e o PIB ldquoper capitardquo Eacute um cenaacuterio deveras preocupante visto que
aquela regiatildeo jaacute eacute dotada de condiccedilotildees naturais adversas Uma populaccedilatildeo sem educaccedilatildeo
inserida num niacutevel de pobreza e ocupante de grande parte da zona rural que eacute onde as
atividades potencialmente degradadoras satildeo praticadas traduz uma combinaccedilatildeo
extremamente alarmante pois fazem uso de praacuteticas predatoacuterias e potencializam a
susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo
Segundo o PAE (CEARAacute 2010b p 123) nessa regiatildeo satildeo observadas ldquomarcas
configuradas de desertificaccedilatildeo como o elevado estaacutegio de degradaccedilatildeo do solo comprometendo
os processos naturais de sucessatildeo processos erosivos acelerados perda de solo e
biodiversidade espeacutecies lenhosas rarefeitasrdquo
05
1015202530354045
Contribuiccedilatildeo no IESD ()
60
Sob um olhar mais aprofundado voltado agrave Irauccediluba haacute maior destaque para as
atividades de agricultura e pecuaacuteria Lavouras temporaacuterias como feijatildeo milho e mandioca satildeo
as mais praticadas pelo pequeno agricultor A figura 11 aponta o percentual de
estabelecimentos ocupados com atividades agropecuaacuterias no municiacutepio
Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios Adaptado
Fonte PAE (CEARAacute 2010b)
Com relaccedilatildeo agrave extraccedilatildeo legalizada de madeira no municiacutepio de Irauccediluba o IBGE
informa que tanto a produccedilatildeo de carvatildeo como o corte de lenha entre 2004 a 2011 foi estaacutevel
Aquela girou em torno de 71 toneladas com um custo variaacutevel de R$ 1100000 a 2300000
ao ano enquanto que este ficou na casa dos 10000 m3 resultando num rendimento que
oscilou de R$ 4200000 a R$ 5700000 anuais14
Por fim Irauccediluba embora representando um dos quatro nuacutecleos de desertificaccedilatildeo
do Nordeste natildeo apresenta a pior condiccedilatildeo socioeconocircmica considerando a maioria dos
indicadores analisados (CEARAacute 2010b) Desta forma conclui-se que estes aspectos natildeo
determinam a desertificaccedilatildeo mas influenciam principalmente se as condiccedilotildees ambientais satildeo
limitantes Assim uma economia e uma sociedade deficientes inseridas num ambiente fraacutegil
natildeo tecircm como deixar de gerar degradaccedilatildeo
14
Conferir em lthttpwwwibgegovbrcidadesatxtrasperfilphpcodmun=230610ampsearch=ceara|iraucubagt
0
10
20
30
40
50
60
Irauccediluba
61
24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo do processo de degradaccedilatildeo
Embora o quadro de degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba seja por demais
preocupante ainda haacute condiccedilotildees para sua reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica a partir de
teacutecnicas e praacuteticas correspondentes ao tipo de solo ao estaacutegio de degradaccedilatildeo da aacuterea e ao
histoacuterico do uso da terra (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Continuam os autores
Assim considerando as extensotildees sob o planossolo que ocupam uma aacuterea total de
27321 ha duas recomendaccedilotildees podem ser propostas a regeneraccedilatildeo natural e a
adubaccedilatildeo organo-mineral A regeneraccedilatildeo natural eacute um processo muito lento e no
caso do planossolo de Irauccediluba dificilmente proporcionaraacute condiccedilotildees para retorno agrave
produtividade esperada [](ARAUacuteJO FILHO 1992) Entatildeo estaacute claro que a
recuperaccedilatildeo natural via pousio eacute muito lenta mas constitui uma opccedilatildeo em muitos
casos A aplicaccedilatildeo de adubo orgacircnico (estercos) eacute outra alternativa de recuperaccedilatildeo
pastoril que poderia ser utilizada no nuacutecleo de Irauccediluba Assim a fertilizaccedilatildeo com
foacutesforo constitui uma boa opccedilatildeo para a recuperaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica das
pastagens degradadas nos planossolos do nuacutecleo de Irauccediluba (ARAUacuteJO FILHO e
SILVA 2013 p 1013)
Outros fatores que envolvem o processo de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo
em Irauccediluba segundo Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 15) eacute ldquoa fixaccedilatildeo da agricultura no
terreno a sustaccedilatildeo do desmatamento e do uso do fogo visando agrave mitigaccedilatildeo dos impactos
antroacutepicos negativos a recuperaccedilatildeo dos agroecossistemas o aumento da produtividade
agriacutecola e da renda familiarrdquo Para tanto os mesmos autores sugerem que
A agrossilvicultura eacute com certeza o modelo de exploraccedilatildeo da terra mais apropriado
Dentre os modelos de sistemas agroflorestais o silvopastoril e o agrossilvipastoril
seriam os mais indicados para as condiccedilotildees de Irauccediluba O primeiro associa o
manejo florestal com a exploraccedilatildeo pastoril e o segundo associa o manejo florestal a
exploraccedilatildeo pastoril e a agricultura formando o sistema lavoura-pecuaacuteria-floresta O
modelo silvopastoril pode ser estabelecido seja para ter a madeira como o principal
produto seja para ter na exploraccedilatildeo animal a principal atividade (ARAUacuteJO FILHO
e SILVA 2013 p 15)
[]
A opccedilatildeo pela agrossilvicultura como a alternativa mais apropriada para a
reabilitaccedilatildeo dos solos de potencial agriacutecola mais elevado fundamenta-se na garantia
que este sistema de uso da terra traz a seguranccedila ambiental e a seguranccedila alimentar
No primeiro caso o solo eacute protegido contra a erosatildeo pelo acuacutemulo de serrapilheira
tem sua fertilidade reposta e sua biologia ativada pela deposiccedilatildeo da mateacuteria
orgacircnica Os recursos hiacutedricos satildeo beneficiados pela manutenccedilatildeo da mata ciliar
evitando o assoreamento das nascentes e reservatoacuterios e pela reduccedilatildeo das perdas de
aacutegua pelo solo A flora com a sustaccedilatildeo das queimadas e dos desmatamentos tem sua
biodiversidade incrementada e integraccedilatildeo das aacutervores no sistema produtivo
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2021)
Assim sendo o principal objetivo da recuperaccedilatildeo de uma aacuterea degradada deve ser
a recomposiccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica do solo Isto porque para que se restabeleccedila a
62
funcionalidade do ecossistema eacute fundamental a revitalizaccedilatildeo da biologia do solo principal
responsaacutevel pela circulaccedilatildeo de nutrientes15
Aleacutem disso continuam os mesmos autores
O aumento da mateacuteria orgacircnica e a formaccedilatildeo de uma cobertura morta sobre o solo o
protegeratildeo contra a erosatildeo laminar e melhoraratildeo sua capacidade de retenccedilatildeo de
aacutegua [] Os nutrientes de ecossistemas florestais de clima tropical se concentram
na biomassa e natildeo no solo como nos de clima temperado por isso os meacutetodos de
exploraccedilatildeo dos solos deveriam estar fundamentados no menor distuacuterbio possiacutevel do
meio bioloacutegico e no reforccedilo do aporte de mateacuteria orgacircnica (ARAUacuteJO FILHO e
SILVA 2013 p 710)
Nesse sentido para ambientes tropicais os sistemas de produccedilatildeo agroflorestais
(SAF) estatildeo sendo avaliados e propostos como alternativas ecologicamente sustentaacuteveis de
exploraccedilatildeo O uso de espeacutecies arboacutereas constitui a garantia de manter ativa a circulaccedilatildeo de
nutrientes e o aporte significativo de mateacuteria orgacircnica condiccedilatildeo essencial para se cultivar de
maneira continuada os solos tropicais16
No caso do bioma caatinga e de ambiente semiaacuterido segundo Arauacutejo Filho e silva
(2013) trecircs recomendaccedilotildees fundamentais garantem quando seguidas a sustentabilidade das
tecnologias de manipulaccedilatildeo
Preservaccedilatildeo de ateacute 400 aacutervores por hectare ou o equivalente a 40 de cobertura
utilizaccedilatildeo maacutexima de 60 da forragem disponiacutevel e preservaccedilatildeo da mata ciliar em
toda a malha de drenagem da pastagem Esta tecnologia jaacute vem sendo utilizada pelos
produtores na regiatildeo de Irauccediluba desde o iniacutecio da deacutecada de 1980 envolvendo
uma aacuterea de cerca de 3000 ha (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 1617)
Outras maneiras de controle e combate do processo de degradaccedilatildeo cuja iniciativa
vem do governo em suas diferentes formas e esferas satildeo os programas e as poliacuteticas puacuteblicas
a criaccedilatildeo de leis e normas sobre o tema a disponibilidade de recursos a fiscalizaccedilatildeo dos
oacutergatildeos competentes dentre outros
Ilustrando o primeiro exemplo em abril de 2011 a Superintendecircncia Estadual do
Meio Ambiente (SEMACE) e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) celebraram um convecircnio
de assistecircncia teacutecnica e financeira para a realizaccedilatildeo da pesquisa ldquoRevitalizaccedilatildeo da cobertura
vegetal nativa atraveacutes da recomposiccedilatildeo das matas ciliares e enriquecimento das aacutereas
destinadas a compor reserva legal dos imoacuteveis rurais do municiacutepio de Irauccedilubardquo Para a
consecuccedilatildeo dos objetivos propostos foi concedido um montante de R$ 4920000 (quarenta e
nove mil e duzentos reais) com fins de recuperar a qualidade do meio biofiacutesico atraveacutes do
plantio de essecircncias florestais nativas e plantas adaptadas agraves condiccedilotildees edafoclimaacuteticas da
aacuterea de abrangecircncia do projeto para
15
Como recomenda Lima (2009) In Arauacutejo Filho e Silva (2013) 16
Idem
63
1 Minimizar os impactos ambientais adversos causados pelos sistemas tradicionais
de exploraccedilatildeo econocircmica
2 Implantar um viveiro florestal permanente destinado agrave produccedilatildeo de mudas
nativas e adaptadas agraves condiccedilotildees locais associando-lhe atividades educativas e
de natureza formativa para o puacuteblico interessado
3 Incentivar o cultivo de essecircncias florestais nativas arboacutereas e frutiacuteferas que
contribuiratildeo para gerar alternativas de diversificaccedilatildeo de renda e por conseguinte
a melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo do municiacutepio
4 Fomentar a produccedilatildeo e o plantio de essecircncias florestais nativas ameaccediladas de
extinccedilatildeo
5 Viabilizar a recomposiccedilatildeo de matas ciliares dentro dos limites de abrangecircncia da
aacuterea das bacias hidrograacuteficas dos recursos hiacutedricos naturais denominados de
Riacho Aracatiaccedilu e Riacho Curu e do principal reservatoacuterio denominado de
Accedilude Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu seja em aacutereas de domiacutenio puacuteblico seja em
aacutereas de domiacutenio privado
6 Estabelecer a recuperaccedilatildeo da cobertura vegetal nativa de aacutereas de reserva legal
das propriedades rurais
O prazo do convecircnio era de doze meses ou seja ateacute abril de 2012 todavia foi
renovado por aditivo ateacute abril de 2013 Seu lanccedilamento soacute se deu em dezembro de 2011 e ateacute
agosto de 2012 o viveiro florestal ainda natildeo havia sido construiacutedo mas palestras com os
temas Desmatamento e Reserva Legal Fogo Desmatamento e Preservaccedilatildeo dos Accediludes
Resiacuteduos Soacutelidos Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal Aacuterea de
Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal foram ministradas pela SEMACE
Infelizmente nada mais foi feito pois dificuldades como a burocracia com o banco
financiador e a seca que assola o municiacutepio inviabilizando a produccedilatildeo e o plantio das mudas
levaram agrave extinccedilatildeo do convecircnio uma vez que seu prazo natildeo foi renovado numa segunda
oportunidade O recurso investido foi devolvido ao BNB e natildeo haacute qualquer previsatildeo de
retomada do projeto
Natildeo se pode deixar de registrar a indignaccedilatildeo que esse desfecho causa naqueles
que estudam e buscam uma saiacuteda Muitas vezes se natildeo todas as vezes ela existe mas eacute
deveras negligenciada ou pouco valorizada O que eacute que isso O Brasil eacute um paiacutes rico natildeo
falta recurso o que muito falta eacute vontade coragem e preferecircncia por aquilo que se deve
fazer Isto eacute um ultraje ao homem do campo que humilde e inocentemente espera confiante
em alguma providecircncia de seus representantes ou por quem faz as suas vezes
De modo diverso as normas 43 e 44 de 2005 (BRASIL 2005 a b) e a 512006
(BRASIL 2006a) que seratildeo explanadas no item 331 criadas pelo INCRA satildeo outras
medidas parecidas com o convecircnio citado acima pois tambeacutem foram elaboradas com o intuito
de recuperar e conservar os recursos naturais em aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e de
64
reserva legal mesmo sendo especiacuteficas para projetos de assentamento agraacuterio federal Atraveacutes
delas um determinado valor pode ser cedido por aquele oacutergatildeo e destinado agraves famiacutelias
assentadas para promoverem agrave implantaccedilatildeo de um projeto de recuperaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo
Como Poliacuteticas Puacuteblicas em niacutevel local e estadual que englobam o problema da
degradaccedilatildeo ambiental amplamente aqui discutido inclusive o mais seacuterio deles que eacute a
desertificaccedilatildeo destaca-se o Plano de Accedilatildeo Municipal de Combate agrave Desertificaccedilatildeo de
Irauccediluba (IRAUCcedilUBA 2009) e o Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e
Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (CEARAacute 2010b) O primeiro levou nove anos para se tornar
poliacutetica puacuteblica e contou com recursos do fundo de apoio a iniciativas locais de combate agrave
desertificaccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Nacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos
Efeitos da Seca (BRASIL 2004) Sua funccedilatildeo eacute orientar e desenvolver accedilotildees no sentido de
controlar e prevenir o avanccedilo da desertificaccedilatildeo e quando possiacutevel recuperar aacutereas degradadas
para o uso produtivo ou seja alcanccedilar o desenvolvimento sustentaacutevel nas aacutereas sujeitas agrave seca
e a desertificaccedilatildeo do Municiacutepio Como objetivos baacutesicos estatildeo as contribuiccedilotildees para
1 A formulaccedilatildeo do planejamento de uso sustentaacutevel dos recursos naturais do
Municiacutepio
2 A melhoria da produtividade e produccedilatildeo agriacutecola nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e
desertificaccedilatildeo
3 A reduccedilatildeo da vulnerabilidade e melhoria da qualidade de vida das populaccedilotildees
residentes nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e agrave desertificaccedilatildeo
4 A articulaccedilatildeo de accedilotildees setoriais do governo (em niacutevel federal estadual e
municipal) com vista agrave sinergia dos processos de planejamento
5 A melhoria da capacidade de enfrentamento dos problemas de desertificaccedilatildeo e
seca por parte das populaccedilotildees locais (IRAUCcedilUBA 2009 p 24)
O PAE (CEARAacute 2010b) em seu objetivo global e em termos gerais natildeo eacute muito
diferente do PAM (IRAUCcedilUBA 2009) pois visa contribuir para a convivecircncia com o
semiaacuterido e sustentabilidade ambiental do bioma caatinga Busca promover poliacuteticas
ambientais sociais e econocircmicas para a reduccedilatildeo da pobreza procurando em sua
administraccedilatildeo a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo democraacutetico
e a participaccedilatildeo da sociedade E recorre agrave negociaccedilatildeo transparente e responsaacutevel de conflitos
como forma privilegiada de superar as diferenccedilas de uso dos recursos naturais
25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira
A lei 6938 (BRASIL 1981) promulgada em 1981 foi a primeira norma juriacutedica
tratando da temaacutetica ambiental no Brasil Como bem diz Milareacute (2009) ela tem um caraacuteter
65
inovador pois sua implementaccedilatildeo seus resultados assim como a estabilidade e a efetividade
que denota constituem um salto de qualidade na vida puacuteblica brasileira
Com nascedouro um tanto quanto isolado a lei 693881 (BRASIL 1981)
instituiu a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente para a preservaccedilatildeo melhoria e recuperaccedilatildeo da
qualidade ambiental propiacutecia agrave vida visando assegurar no Paiacutes condiccedilotildees ao
desenvolvimento soacutecioeconocircmico aos interesses da seguranccedila nacional e agrave proteccedilatildeo da
dignidade da vida (artigo 2ordm) Tais objetivos estatildeo baseados em princiacutepios norteadores dos
quais se destacam para a presente pesquisa a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas (inciso VIII) e a
proteccedilatildeo de aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX)
Instrumentalizando a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente quanto agrave degradaccedilatildeo
ambiental existem as penalidades disciplinares ou compensatoacuterias ao natildeo cumprimento das
medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo ou correccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental conforme o artigo
9ordm inciso IX da Lei 693881 (BRASIL 1981) Em termos de sanccedilatildeo o artigo 14 disciplina
que os danos causados pela degradaccedilatildeo da qualidade ambiental sujeitaratildeo os transgressores agrave
multa simples ou diaacuteria agrave perda ou restriccedilatildeo de incentivos e benefiacutecios fiscais concedidos
pelo Poder Puacuteblico agrave perda ou suspensatildeo de participaccedilatildeo em linhas de financiamento em
estabelecimentos oficiais de creacutedito e agrave suspensatildeo de sua atividade
Para evitar a sanccedilatildeo pratica-se a prevenccedilatildeo e uma forma de prevenir a degradaccedilatildeo
eacute o licenciamento ambiental conforme preconiza o artigo 10 daquela mesma lei O natildeo
cumprimento disto enseja o enquadramento do representante da atividade ou do
estabelecimento no artigo 60 da Lei 960598 (BRASIL 1998) que versa sobre crimes
ambientais
Art 10 A construccedilatildeo instalaccedilatildeo ampliaccedilatildeo e funcionamento de estabelecimentos e
atividades utilizadores de recursos ambientais efetiva ou potencialmente poluidores
ou capazes sob qualquer forma de causar degradaccedilatildeo ambiental dependeratildeo de
preacutevio licenciamento ambiental (BRASIL 1981 p 7)
Art 60 Construir reformar ampliar instalar ou fazer funcionar em qualquer parte
do territoacuterio nacional estabelecimentos obras ou serviccedilos potencialmente
poluidores sem licenccedila ou autorizaccedilatildeo dos oacutergatildeos ambientais competentes ou
contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes Pena - detenccedilatildeo de um a seis meses ou multa ou ambas as penas cumulativamente
(BRASIL 1998 p 12)
Outra previsatildeo salutar na Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente eacute o dever que
entidades e oacutergatildeos de financiamento e incentivos governamentais tecircm de condicionar a
aprovaccedilatildeo de projetos financiaacuteveis ao licenciamento ambiental Aleacutem disto devem constar em
tais projetos a realizaccedilatildeo de obras e aquisiccedilatildeo de equipamentos destinados ao controle de
degradaccedilatildeo ambiental e a melhoria da qualidade do meio ambiente (artigo 12 paraacutegrafo
66
uacutenico) Isto tudo porque a instituiccedilatildeo que financia atividades eou empreendimentos que por
ventura causem algum dano tambeacutem se tornam corresponsaacuteveis pelo passivo ambiental
respondendo perante os oacutergatildeos competentes e os guardiatildees da lei
Por fim eacute pertinente mencionar que toda accedilatildeo ou omissatildeo prevista na legislaccedilatildeo
ambiental brasileira seja nas leis que criam diretrizes como nas que preveem sanccedilotildees visa o
combate o controle a reparaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo da degradaccedilatildeo aos bens naturais como um
todo O impasse eacute existir inuacutemeras normas distintas que dispotildeem sobre vaacuterios recursos
ambientais e que satildeo criadas em eacutepocas diferentes como por exemplo o Coacutedigo Florestal
(BRASIL 2012) o Coacutedigo de Caccedila (BRASIL 1967a) o Coacutedigo Mineraacuterio (BRASIL
1967b) o Coacutedigo de Pesca (BRASIL 2009) o Coacutedigo de Aacuteguas (BRASIL 1934a) a Poliacutetica
Nacional de Recursos Hiacutedricos (BRASIL 1997) o Programa Nacional de controle da
qualidade do ar (BRASIL 1989a) dentre outras O ideal eacute que houvesse a reuniatildeo de todos os
dispositivos em uma legislaccedilatildeo soacute como o fez a lei de crimes ambientais que versa sobre
infraccedilotildees cometidas aos bens naturais apontados pelas diversas normas citadas
Em niacutevel estadual o Cearaacute dispotildee de um arcabouccedilo legal que reflete um
pouco o que jaacute estaacute disposto nas leis federais no entanto cabe aqui citar algumas normas
pertinentes ao assunto estudado
A Resoluccedilatildeo nordm 092003 (CEARAacute 2003) do Conselho Estadual do Meio
Ambiente (COEMA) estabeleceu a compensaccedilatildeo ambiental como forma de prevenir eou
obrigar o poluidorusuaacuterio pagador ou degradador a indenizar os danos causados em
decorrecircncia da utilizaccedilatildeo de recursos naturais para fins econocircmicos Trata-se de medida
arrecadatoacuteria anterior ao processo de licenciamento ambiental e condicionada ao firmamento
de um Termo de Compromisso A supracitada norma definiu percentual de 05 a ser recolhido
com base no valor do empreendimento a ser implantado A destinaccedilatildeo dos valores recolhidos
seria via de regra a Unidades de Conservaccedilatildeo
A Lei Complementar nordm 482004 (CEARAacute 2004) criou o Fundo e o Conselho
Estadual Gestor do Meio Ambiente (FEMA) onde uma de suas finalidades eacute o ressarcimento
da coletividade por danos causados ao meio ambiente Reza o artigo 10 que qualquer cidadatildeo
pode propor projetos relativos agrave reconstituiccedilatildeo reparaccedilatildeo preservaccedilatildeo e prevenccedilatildeo do meio
ambiente A dita lei foi regulamentada pelo Decreto Estadual nordm 277192005 (CEARAacute 2005)
que por sua vez dispocircs accedilotildees programas planos e projetos para a melhoria e recuperaccedilatildeo da
qualidade ambiental no Estado do Cearaacute Agrave pertinecircncia da presente pesquisa cabe destacar
uma diretriz do FEMA prevista no inciso VIII do artigo 3ordm daquele Decreto
67
Artigo 3ordm
[]
VIII - Promover a proteccedilatildeo da biodiversidade e dos ecossistemas associados e aacutereas
ameaccediladas de degradaccedilatildeo atraveacutes da preservaccedilatildeo conservaccedilatildeo e administraccedilatildeo de
biomas representativos bem assim da recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas
possibilitando melhor controle de atividades potencialmente poluidoras nos termos
da legislaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2005 p 2)
Eacute essencial citar a Lei 1248895 (CEARAacute 1995) que dispotildee sobre a Poliacutetica
Florestal do Estado do Cearaacute Um de seus objetivos guarda relaccedilatildeo direta com este trabalho
qual seja promover a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas e em processos de degradaccedilatildeo
especialmente nas aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e reserva legal bem como proteger as
aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX do artigo 3ordm) Para tanto um dos instrumentos
previsto e deveras necessaacuterio para a consecuccedilatildeo de tais fins eacute a fiscalizaccedilatildeo a aplicaccedilatildeo de
penalidades accedilotildees disciplinares e compensatoacuterias das medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo dos
recursos naturais ou a correccedilatildeo da degradaccedilatildeo do meio ambiente (inciso XI do artigo 4ordm)
E por fim eacute cabiacutevel mencionar a Lei 141982008 (CEARAacute 2008) pois institui a
Poliacutetica Estadual de Combate e Prevenccedilatildeo agrave Desertificaccedilatildeo e tem por base a Convenccedilatildeo
Internacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo nos Paiacuteses afetados por Seca Grave eou
Desertificaccedilatildeo Como jaacute mencionado no Cearaacute existem trecircs nuacutecleos com aacutereas susceptiacuteveis agrave
desertificaccedilatildeo e nada mais apropriado que o Estado dispor de uma legislaccedilatildeo proacutepria sobre o
tema Diante disto destacam-se os seguintes dispositivos
Art 1ordm Institui a Poliacutetica Estadual de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Desertificaccedilatildeo a qual
tem por objetivos
[]
III - instituir mecanismos de proteccedilatildeo conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da flora fauna e
de solos degradados nas aacutereas de risco ou impactadas pela desertificaccedilatildeo
[]
Art 3ordm Cumpre ao Poder Puacuteblico
I - diagnosticar o avanccedilo do processo de degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo ambiental nas
aacutereas afetadas
II - definir um plano de contingecircncia para mitigaccedilatildeo dos efeitos da degradaccedilatildeo
ambiental
[]
XI - estimular o desenvolvimento de agroinduacutestrias baseadas em alimentos
ambientalmente e culturalmente adaptados ao meio ambiente
[]
XIV - estimular a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
e de Reserva Legal []
[]
Art 5ordm No tocante agrave agricultura irrigada o Poder Puacuteblico deveraacute
[]
II - diagnosticar as aacutereas cujos solos sejam susceptiacuteveis agrave salinizaccedilatildeo e acuacutemulo de
compostos de soacutedio e fomentar a recuperaccedilatildeo de solos afetados por salinizaccedilatildeo e
acuacutemulo de compostos de soacutedio
Art 6ordm No tocante agrave agricultura sequeiro o Poder Puacuteblico deveraacute
[]
68
II - incentivar o manejo sustentaacutevel dos recursos naturais apoiando o
desenvolvimento de sistemas agroflorestais e agrosilvopastoris diversificados e
integrados como forma de conciliar a recuperaccedilatildeo florestal e as atividades agriacutecolas
(CEARAacute 2008 p 1 - 3)
251 Lei ambiental de Irauccediluba
O municiacutepio de Irauccediluba criou sua proacutepria Poliacutetica Ambiental a partir da Lei
5652007 (IRAUCcedilUBA 2007) Nela estatildeo dispostos princiacutepios e instrumentos de accedilatildeo que
visam agrave qualidade ambiental em seus diferentes aspectos Felizmente a norma natildeo deixou de
fora as aacutereas de reserva legal pelo contraacuterio tratou do tema em uma seccedilatildeo especiacutefica
composta pelos artigos 57 e 58
Art 57 - A reserva legal eacute requisito essencial ao exerciacutecio legiacutetimo do direito de
propriedade na aacuterea rural e fundamental para a proteccedilatildeo do meio ambiente
ecologicamente equilibrado e da biodiversidade cumprindo funccedilotildees do interesse
coletivo e individual do proprietaacuterio
Art 58 - A reserva legal eacute a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) localizada no
interior de uma propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente
necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos
processos ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de
fauna e flora nativas sendo imutaacutevel sua localizaccedilatildeo apoacutes definida
sect1ordm - Fica proibido qualquer registro imobiliaacuterio relativo a propriedade rural sem
preacutevio registro da reserva legal sob pena de nulidade do ato
sect2ordm- A reserva legal deveraacute ser averbada agrave margem da matriacutecula do imoacutevel no
registro competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de
transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou divisatildeo da aacuterea
sect3ordm - As aacutereas de reserva legal e preservaccedilatildeo permanente poderatildeo ser computadas
conjuntamente desde que somadas passem de 50 (cinquumlenta por cento) da
extensatildeo total da propriedade e sejam de extensatildeo contiacutenua
sect4ordm - No imoacutevel rural que natildeo houver vegetaccedilatildeo nativa suficiente para compor o
miacutenimo da reserva legal o proprietaacuterio ou possuidor deveraacute recuperar e recompor
com a vegetaccedilatildeo nativa ateacute atingir a porcentagem determinada
sect5ordm - A recomposiccedilatildeo mencionada no paraacutegrafo anterior deveraacute ser realizada na
proporccedilatildeo de no miacutenimo 110 (um deacutecimo) da aacuterea da propriedade ou posse a cada
ano dando prioridade agraves aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
sect6ordm - A Reserva Legal deve ser preferencialmente contiacutegua a das propriedades
vizinhas agraves unidades de conservaccedilatildeo ou aacutereas florestadas formando um corredor de
vegetaccedilatildeo
sect7ordm - A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser
utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel (IRAUCcedilUBA 2007 p 26)
No artigo 57 haacute o reconhecimento do direito de propriedade agrave luz da funccedilatildeo
social dada pela reserva legal e a devida importacircncia agrave proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental Jaacute o
58 prevecirc os 20 da aacuterea a tiacutetulo de reserva reproduzindo o que a lei federal ou seja o
Coacutedigo Florestal dispotildee No entanto o sect1ordm do mesmo dispositivo acaba restringindo ainda
mais o que a norma geral prescreve isto eacute proiacutebe qualquer registro junto ao cartoacuterio de
imoacuteveis sem a devida averbaccedilatildeo na matriacutecula da propriedade muito embora isso jaacute possa ser
diferente pela instituiccedilatildeo do Cadastro Ambiental Rural Dos paraacutegrafos 2ordm ao 5ordm houve a
69
revogaccedilatildeo expressa pela Lei 126512012 (BRASIL 2012) ou novo Coacutedigo Florestal O 6ordm e o
7ordm continuaram vigentes em sua essecircncia sofrendo apenas pequenas alteraccedilotildees jaacute que devem
estar em consonacircncia com a lei federal natildeo podendo ser menos restritivos
Por fim aleacutem do que fora comentado a lei ambiental de Irauccediluba traz muito em
sua natureza procedimentos e mandamentos semelhantes agrave de uma lei de uso e ocupaccedilatildeo do
solo Prevecirc portanto paracircmetros sobre publicidade emissotildees sonoras construccedilatildeo civil
poluiccedilatildeo obras dentre outros
70
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS
31 Reserva Legal em Irauccediluba
Um dos objetivos da presente pesquisa eacute o levantamento do nuacutemero de imoacuteveis
rurais no municiacutepio de Irauccediluba para em seguida verificar o grau de obediecircncia ao instituto
da reserva legal nessas propriedades Para tanto buscou-se os respectivos dados no cartoacuterio de
registro de imoacuteveis do municiacutepio no Instituto de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e
no Instituto de Desenvolvimento Agraacuterio do Cearaacute (IDACE)
No cartoacuterio de imoacuteveis onde o acesso eacute possiacutevel pela liberdade que qualquer
interessado tem para solicitar informaccedilotildees registrais achou-se o nuacutemero de 215 imoacuteveis
registrados Jaacute no INCRA o total de propriedades ali cadastradas eacute de 415 e no IDACE 713
imoacuteveis devidamente medidos e georreferenciados
Primeiramente cabe discorrer um pouco sobre esse desencontro na quantidade
dos imoacuteveis O fato de o cartoacuterio municipal possuir 215 imoacuteveis rurais registrados natildeo
significa que soacute tenha esse nuacutemero de propriedades laacute pois existem inuacutemeras terras habitadas
e utilizadas sem qualquer registro formal e neste caso o que os ldquodonosrdquo desses lugares
deteacutem chama-se posse o que os torna posseiros e natildeo proprietaacuterios O INCRA ter em seu
banco de dados o cadastro de 415 propriedades rurais tambeacutem natildeo quer dizer que soacute haja as
415 uma vez que a procura por este oacutergatildeo eacute voluntaacuteria quando se trata de cadastramento do
imoacutevel Soacute seraacute diferente se surgir a necessidade de desmembrar arrendar hipotecar vender
ou prometer em venda o bem rural Ou ainda em caso de partilha17
Esses satildeo os casos que
impelem o proprietaacuterio a cadastrar seu imoacutevel conforme definidos pela lei 494766
(BRASIL 1966) Do contraacuterio natildeo eacute obrigatoacuterio motivo pelo qual se explica nuacutemeros tatildeo
distintos uns dos outros Justificando um pouco esta discrepacircncia o II Plano Nacional de
Reforma Agraacuteria aponta que os dados do Cadastro do INCRA indicam que ldquosomente 5086
da aacuterea total do territoacuterio brasileiro estaacute na condiccedilatildeo de cadastradardquo (II PNRA 2003 p 22)
E por fim o nuacutemero apontado pelo IDACE acredita-se ser o mais proacuteximo da
realidade uma vez que pelo Programa de Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria com iniacutecio em 2007 as
propriedades rurais no municiacutepio de Irauccediluba foram no ano de 2012 medidas e
georreferenciadas uma a uma para dar fim aos problemas decorrentes da ausecircncia de tiacutetulos
imobiliaacuterios e o tamanho das aacutereas Eacute o que segue estabelecido pelo II PNRA (2003)
17
Partilha eacute a via pela qual se daacute a divisatildeo dos bens de uma heranccedila
A importacircncia de um recadastramento de todos os imoacuteveis rurais e da revisatildeo das
normas que regem o processo de registro das propriedades eacute ainda maior quando se
observa que as possibilidades de obtenccedilatildeo de terras para Reforma Agraacuteria estatildeo
condicionadas por dois indicadores que dependem das informaccedilotildees contidas no
Cadastro do INCRA o moacutedulo fiscal e os iacutendices de produtividade [] Por meio de
uma integraccedilatildeo do INCRA com os oacutergatildeos estaduais seraacute executado um amplo
processo de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria visando regularizar as pequenas posses de boa feacute
e a arrecadaccedilatildeo e incorporaccedilatildeo de terras devolutas ao patrimocircnio puacuteblico seguida de
sua destinaccedilatildeo para o assentamento de trabalhadores rurais e tambeacutem promover
accedilotildees anulatoacuterias sobre ocupaccedilotildees de terras com registros irregulares (II PNRA
2003 p 23)
Contudo o nuacutemero desencontrado de imoacuteveis natildeo eacute soacute o que assusta ou angustia
mas sim a quantidade iacutenfima de reserva legal existente naquele municiacutepio que jaacute sofre com
um processo criacutetico de degradaccedilatildeo
Apoacutes verificar junto ao cartoacuterio a quantidade de imoacuteveis rurais registrados
averiguou-se que somente trecircs dos 215 estatildeo com suas respectivas aacutereas de reserva legal
devidamente averbadas junto ao registro do bem Essa aguda diferenccedila tambeacutem natildeo muda
quando se analisa as informaccedilotildees presentes nos cadastros feitos junto ao INCRA Muitos satildeo
os cadastramentos onde tem descritas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente mas de reserva legal
somente cinco das 415 propriedades cadastradas No IDACE natildeo foi possiacutevel fazer esse
levantamento porque o objetivo deste oacutergatildeo em adentrar as aacutereas era medi-las em sua
totalidade sem discriminar a presenccedila de qualquer constataccedilatildeo em seu interior
Pela leitura da tabela 5 eacute possiacutevel concluir duas realidades A primeira eacute a
existecircncia de propriedade cujo registro apresenta averbaccedilatildeo da reserva legal mas sem
cadastro junto ao INCRA como eacute o caso do imoacutevel Poccedilo da PedraAacuteguas Mortas No
segundo caso ocorre o contraacuterio isto eacute natildeo haacute averbaccedilatildeo da reserva legal no cartoacuterio de
registro mas existe o cadastro da propriedade perante o INCRA constando a reserva legal
devidamente apontada conforme relatoacuterios cedidos por aquele oacutergatildeo
72
Tabela 5 - Levantamento de Imoacuteveis com reserva legal (Cartoacuterio de registro de imoacuteveisINCRA)
311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental - Projeto de Assentamento Agraacuterio em
foco
Todo projeto de assentamento de reforma agraacuteria soacute deve ser implantado apoacutes o
licenciamento ambiental junto ao oacutergatildeo competente que pela relevacircncia social do
empreendimento possui um procedimento diferenciado Eacute um processo trifaacutesico ou seja
consiste na licenccedila preacutevia (LP) licenccedila de instalaccedilatildeo (LI) e licenccedila de operaccedilatildeo (LO) mas no
caso dos projetos de assentamento satildeo soacute duas a LP e a LIO que nada mais eacute que a licenccedila de
18
Trata-se de um imoacutevel que foi destinado a Projeto de Assentamento no acircmbito estadual No entanto o registro
no cartoacuterio aponta que a propriedade possui Reserva Legal averbada mas no cadastro do INCRA natildeo haacute
qualquer menccedilatildeo a essa aacuterea 19
PA ndash Projeto de Assentamento da Reforma Agraacuteria Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria conjunto
de accedilotildees planejadas e desenvolvidas em aacuterea destinada agrave reforma agraacuteria para um puacuteblico beneficiaacuterio
orientadas para utilizaccedilatildeo racional dos espaccedilos fiacutesicos e dos recursos naturais existentes objetivando a
implementaccedilatildeo dos sistemas de vivecircncia e produccedilatildeo sustentaacuteveis na perspectiva do cumprimento da funccedilatildeo
social da terra e da promoccedilatildeo econocircmica social e cultural do trabalhador rural e de seus familiares (BRASIL
2006b) 20
O imoacutevel Poccedilo da Pedra e Aacuteguas Mortas eacute um soacute Embora natildeo conste no registro do cartoacuterio a aacuterea total da
propriedade e a destinada agrave reserva legal o Termo de Responsabilidade de Averbaccedilatildeo da Aacuterea de Reserva Legal
cedido pelo INCRA descreve as aacutereas apontadas na tabela 2
RESERVA LEGAL DOCUMENTALMENTE EXISTENTE
Imoacutevel Fonte dos Dados Aacuterea do Imoacutevel
(ha)
Aacuterea (ha) Domiacutenio Data da
Averbaccedilatildeo (AV)
Cadastro (C)
Miramar Cartoacuterio de Imoacuteveis
INCRA
1144 2305 Particular AV 06042005
C 05092005
Saco do
Vento18
Cartoacuterio de Imoacuteveis
INCRA
33060 661 PA19
estadual
AV 03102012
C 27122011
Poccedilo da Pedra
(Aacuteguas
Mortas)20
Cartoacuterio de Imoacuteveis 239778 47955 INCRA AV 02012003
Boa Vista INCRA 348 6960 Particular C 30121992
Escondido e
Vale do
Agreste
INCRA 15775 3155 Particular C 30121992
Lagoa Cercada INCRA 55180 50 Particular C13101992
73
instalaccedilatildeo e de operaccedilatildeo em um mesmo pedido conforme prevecirc a Resoluccedilatildeo CONAMA
3872006 (BRASIL 2006b)
Art 3ordm O oacutergatildeo ambiental competente concederaacute a Licenccedila Preacutevia - LP e a Licenccedila
de
Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo - LIO para os Projetos de Assentamentos de Reforma Agraacuteria
[]
sect 2o A LP constitui-se documento obrigatoacuterio e que antecede o ato de criaccedilatildeo de um
Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria tendo prazo para a sua expediccedilatildeo
apoacutes seu requerimento de ateacute noventa dias
sect 3o A LIO deveraacute ser requerida durante a validade da LP e cumpridos os requisitos
da mesma [] (BRASIL 2006 p2)
Por se tratar de um empreendimento rural e ambientalmente licenciaacutevel eacute muito
mais faacutecil e oportuno acontecer o cumprimento da reserva legal jaacute que o oacutergatildeo competente
foi provocado e por sua vez deve exigir a observacircncia daquele instituto Desta forma natildeo se
pode admitir que um licenciamento em zona rural seja concedido sem o devido respeito agrave aacuterea
de reserva legal
Especificamente os projetos de assentamento federais isto eacute os realizados pelo
INCRA devem obedecer agrave ordem que segue Ao dar iniacutecio ao processo de desapropriaccedilatildeo de
alguma terra o INCRA jaacute deve solicitar a Licenccedila Preacutevia devendo constar naquele processo o
protocolo do pedido A criaccedilatildeo do assentamento soacute eacute possiacutevel mediante uma portaria
resoluccedilatildeo ou decreto desde que jaacute possua a Licenccedila Preacutevia expedida Criado o assentamento
a Licenccedila de Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo deve ser solicitada de imediato ateacute porque se o contraacuterio
ocorrer os assentados ficam impossibilitados de receber recursos do governo como o creacutedito
de apoio inicial o creacutedito fomento o creacutedito para a construccedilatildeo de casa dentre outros
Essa sequencia e esses mandamentos estatildeo previstos no artigo 3ordm da Resoluccedilatildeo
CONAMA 3872006 (BRASIL 2006b) citada acima e no Acoacuterdatildeo nordm 2633-5107 (BRASIL
2007) do Tribunal de Contas da Uniatildeo conforme prevecirc o item 3 do sumaacuterio daquele
julgamento (3) A Licenccedila Preacutevia constitui-se em documento obrigatoacuterio e que antecede o ato
de criaccedilatildeo de um projeto de assentamento de reforma agraacuteria devendo ser expedida
anteriormente agrave obtenccedilatildeo da terra Trata-se de uma decisatildeo que teve origem em uma auditoria
realizada por este oacutergatildeo em assentamentos no Amazonas Paraacute e Acre quanto aos estudos de
viabilidade ambiental reserva legal e licenciamento ambiental em projetos criados pelo
INCRA Essa auditoria objetivou portanto avaliar o impacto nas aacutereas de reserva legal dos
projetos de assentamento bem como o cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental aplicaacutevel a esses
projetos conforme item 2 do Relatoacuterio do referido Acoacuterdatildeo Para tanto buscou-se saber se os
limites da reserva legal estavam sendo devidamente demarcados e preservados nos projetos de
74
assentamento rural e se o INCRA estava promovendo a aplicaccedilatildeo de teacutecnicas viaacuteveis para a
exploraccedilatildeo sustentaacutevel da Reserva Legal
Constatou-se pela amostragem realizada e demonstrada na Conclusatildeo e no Voto
do Acoacuterdatildeo 26332007 (BRASIL 2007) que
Conclusatildeo
[]
Item 65 o INCRA tem a necessidade premente de adotar medidas com vistas a
normalizar os procedimentos de criaccedilatildeo de projetos de assentamento desde o iniacutecio
do processo no que se refere ao cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental
Item 66 Eacute notoacuterio que a morosidade do oacutergatildeo no processo de regularizaccedilatildeo das
exigecircncias determinadas pela legislaccedilatildeo ambiental contribuiraacute para degradaccedilatildeo do
meio ambiente patrimocircnio sob proteccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal Brasileira Ao
disponibilizar terra aos assentados sem indicar a forma de uso do terreno por meio
do Plano de Uso e sem delimitar as aacutereas de preservaccedilatildeo mediante a demarcaccedilatildeo
das reservas legais o INCRA estaraacute dando tutela a esses usuaacuterios para disporem dos
lotes da forma que melhor lhes convier sem importar se essa exploraccedilatildeo implicaraacute
em degradaccedilatildeo ambiental (BRASIL 2007 p 9)
[]
Voto
[] Item 3 ndash subitem 12 A equipe de auditoria constatou nos assentamentos uma
grande degradaccedilatildeo das aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APP) e da reserva legal (RL)
Ainda verificou por meio de questionaacuterios aplicados aos trabalhadores assentados
que o INCRA natildeo promove accedilotildees efetivas relacionadas agrave orientaccedilatildeo e
conscientizaccedilatildeo ambiental dessas comunidades que natildeo sabem sequer o que
significa APP e RL
[]
Item 5 Outrossim eacute importante frisar que o INCRA eacute co-responsaacutevel pelas
irregularidades ambientais constatadas em seus projetos de assentamento []
(BRASIL 2007 p 11)
E por fim o dito Acoacuterdatildeo determina em niacutevel nacional embora a motivaccedilatildeo da
decisatildeo tenha por base a auditoria realizada somente em trecircs estados que
O INCRA se abstenha de criar projetos de assentamento sem a observacircncia ao
disposto no art 2ordm inciso III cc 3ordm sect 2ordm da Resoluccedilatildeo Conama 3872006 que
condiciona a criaccedilatildeo de projetos de assentamentos de reforma agraacuteria agrave existecircncia da
licenccedila preacutevia e ao disposto no art 2ordm inciso IV da mesma Resoluccedilatildeo que exige a
licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo como condiccedilatildeo para a implantaccedilatildeo e operaccedilatildeo
destes projetos Que em decorrecircncia do disposto no art 2ordm inciso VII da
ResoluccedilatildeoConama 3872006 atente a necessidade de que a reserva legal esteja
perfeitamente delimitada e caracterizada por ocasiatildeo do Plano de
Desenvolvimento do Assentamento e que o referido Plano seja elaborado em prazo
razoaacutevel (BRASIL 2007 p 16)
Para enriquecer a pesquisa nesse sentido procurou-se junto ao oacutergatildeo ambiental
estadual a SEMACE ndash Superintendecircncia Estadual do Meio Ambiente e ao proacuteprio INCRA as
licenccedilas emitidas e ainda em tramitaccedilatildeo referentes aos projetos de assentamento federais
Encontrou-se assim 3 processos de licenciamento na SEMACE numa busca compreendida
75
entre 01012010 a 06052013 sendo 2 de licenccedilas preacutevias e 1 de licenccedila de instalaccedilatildeo e
operaccedilatildeo No INCRA localizou-se 5 processos como se pode observar pela tabela 6 sendo 2
de licenccedilas preacutevias e 3 de licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo num periacuteodo de 09122008 a
08112010
Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais
Fonte SEMACE e INCRA
Conclui-se portanto a existecircncia de trecircs processos de LIO jaacute emitidas mas sem a
averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio de duas das trecircs propriedades conforme se pode
confirmar pela pesquisa feita no registro de imoacuteveis de Irauccediluba A exceccedilatildeo eacute a fazenda
Aacuteguas MortasPoccedilo da Pedra que possui averbaccedilatildeo da reserva legal desde 02012003
Aleacutem disto verificou-se tambeacutem todos os empreendimentos e atividades
localizadas no municiacutepio de Irauccediluba que possuem solicitaccedilatildeo ou recebimento de licenccedila
ambiental tanto em zona urbana como rural No total satildeo 15 tramitando e 40 emitidas
ressaltando que licenciamentos em zona rural o cumprimento da reserva legal deve ser
exigido
Quanto aos assentamentos agraacuterios no municiacutepio de Irauccediluba a tabela 7 aponta a
pesquisa realizada junto ao INCRA e ao IDACE onde se constatou que o primeiro oacutergatildeo
implantou 8 projetos e o segundo 6 Em todos eles existe a demarcaccedilatildeo da aacuterea de reserva
legal nas plantas georreferenciadas cedidas pelas duas instituiccedilotildees acima citadas
PROCESSO TIPO PA FONTE DO
DADO
PROTOCOLO EXPEDICcedilAtildeO VALIDADE STATUS
11386605-4 LP Arraia INCRASEMA
CE
08112010 01072011 Natildeo
informada
Emitida
11118313-8 LP Alegre e
anexos
INCRASEMA
CE
10112010 29032011 Natildeo
informada
Tramitando
09557603-7 LIO Aacuteguas
Mortas
Poccedilo da
Pedra
INCRASEMA
CE
30102009 24032010 24032013 Emitida
08653283-9 LIO Satildeo
Marinho
Rodeador
INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida
08653281-2 LIO Olho
d‟aacutegua da
esperanccedila
INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida
76
Tabela 7 - Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba
PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO - IRAUCcedilUBA
Nome do
Assentamento
Instituiccedilatildeo
Responsaacutevel
Aacuterea do
Imoacutevel (ha)
Aacuterea de Reserva
Legal (ha)
Data de criaccedilatildeo Nordm de Famiacutelias
Assentadas
Saco do Vento IDACE 33060 661 Em andamento 10
Aroeira IDACE 50508 10101 Em andamento 10
Boqueiratildeo IDACE 38474 7694 Em andamento -
Mudubim IDACE 6512 1302 Em andamento 5
Consulta IDACE 39593 7918 23072001 13
Cachoeira IDACE 14929 2985 05102006 10
Saco Verde INCRA 6464 129280 2691997 100
Cajazeiras II INCRA 96487 19297 2691997 30
Aacuteguas Mortas
Poccedilo da Pedra
INCRA 239778 47955 22121997 52
RiachueloAlto
Alegre
INCRA 3378 67560 09112005 16
Olho drsquoAacutegua da
Esperanccedila
INCRA 1940 388 06122007 23
Satildeo Marinho
Rodeador
INCRA 50757 10151 04122006 10
Arraia INCRA 156797 31359 13102011 34
Almas INCRA 1297 25940 17111998 22
Eacute importante salientar que em 2005 e em 2006 o INCRA baixou 3 normas
referentes a criteacuterios e procedimentos para a implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e
Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria A
primeira eacute a NE 432005 (BRASIL 2005a) a segunda NE 442005 (BRASIL 2005b) que
estabeleceu o valor unitaacuterio por famiacutelia para a implantaccedilatildeo destes projetos e a terceira NE
512006 (BRASIL 2006a) aprovou o manual para a elaboraccedilatildeo dos projetos de recuperaccedilatildeo
A NE 432005 (BRASIL 2005a) considera a premente necessidade de
recuperaccedilatildeo natildeo soacute de Reserva Legal mas de aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente em grande
parte dos Projetos de Assentamento em todo o territoacuterio nacional mas infelizmente soacute
abrange os que satildeo implantados pelo Governo Federal (Art 2ordm inciso I) ficando de fora os
que satildeo de competecircncia dos Estados O criteacuterio para implantaccedilatildeo desses projetos eacute a aacuterea ser
reconhecida com problemas ambientais principalmente em termos de degradaccedilatildeo (Art 2ordm
inciso II) Para ser possiacutevel financeiramente a execuccedilatildeo de um projeto deste cuja norma
regulamentadora ainda se encontra vigente o INCRA disponibiliza ateacute R$ 100000 por
famiacutelia (Art 1ordm NE 442005 (BRASIL 2005b)) no entanto caso seja tecnicamente
comprovado que a recuperaccedilatildeo de aacutereas de reserva legal preservaccedilatildeo permanente e de solo
exija um maior investimento o valor poderaacute ser superior ao estabelecido Neste caso a
importacircncia repassada seraacute definida em funccedilatildeo do custo calculado para a recuperaccedilatildeo do dano
ambiental (Art 1ordm Paraacutegrafo Uacutenico)
77
O manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e
conservaccedilatildeo de recursos naturais em assentamentos da reforma agraacuteria aprovado pela NE
512006 (BRASIL 2006a) deixa claro que seus objetivos natildeo satildeo soacute reabilitar e resguardar a
aacuterea ambiental do assentamento Haacute mais e maiores propoacutesitos nisto como por exemplo
cumprir as exigecircncias estabelecidas pelo oacutergatildeo de meio ambiente estadual durante o processo
de licenciamento21
bem como a mobilizaccedilatildeo da comunidade em torno de atividades visando agrave
recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo dos recursos naturais por meio de programas de educaccedilatildeo
ambiental fiscalizaccedilatildeo e manutenccedilatildeo envolvendo os assentados Para que isto ocorra eacute
extremamente importante a participaccedilatildeo destes na elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do projeto22
Por fim os Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais seratildeo
destinados agraves seguintes praacuteticas23
1 Cercamento de aacutereas de Reserva Legal e aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
visando a regeneraccedilatildeo eou a proteccedilatildeo das aacutereas
2 Construccedilatildeo de viveiros para produccedilatildeo de mudas que seratildeo utilizadas no processo
de recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas
3 Demarcaccedilatildeo topograacutefica da Reserva Legal
4 []
5 Reflorestamento em aacutereas de Reserva Legal com espeacutecies nativas que
possibilitem o manejo florestal sustentaacutevel madeireiro ou natildeo madeireiro baseado
em princiacutepios e em criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos definidos e devidamente
aprovados pelo oacutergatildeo ambiental competente
6 Plantio de aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais composto por espeacutecies
exoacuteticas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas para
compensaccedilatildeo ou manutenccedilatildeo da aacuterea de reserva legal a criteacuterio do oacutergatildeo ambiental
competente
7 Atividades alternativas de produccedilatildeo (criaccedilatildeo de abelhas artesanato entre outras)
associadas agrave recuperaccedilatildeo ambiental e como instrumento de valorizaccedilatildeo das aacutereas a
serem conservadas ou recuperadas e de combate agraves praacuteticas indevidas de uso do
fogo
8 [] (BRASIL 2006ordf p 1112)
32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo
321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba
O municiacutepio de Irauccediluba possui uma aacuterea de 1461253 Km2 o que corresponde a
098 do territoacuterio estadual e estaacute situado no sertatildeo Centro-Norte conforme figura 12
inserido na microrregiatildeo geograacutefica de Sobral Dista cerca de 150 Km da capital Fortaleza e
21
p 7 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos naturais 22
p 11e 13 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos
naturais 23
p 11e 12 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos
naturais
78
localiza-se entre as coordenadas geograacuteficas Latitude 3˚44‟46rdquo S (Sul) e Longitude 39˚47‟00rdquo
WGr (oeste) Faz fronteira ao norte com os municiacutepios de Miraiacutema e Itapipoca ao sul com
Santa Quiteacuteria e Canindeacute a leste com Itapajeacute e Tejuccediluoca e a oeste com Sobral e possui trecircs
distritos Missi Juaacute e Boa Vista segundo ilustra a figura 13
Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba
Fonte Lustosa (2004) Fonte Lustosa (2004)
Segundo o censo de 2010 do IBGE a populaccedilatildeo do municiacutepio era de 22324
pessoas sendo curiosamente a maioria homens (5083) Jaacute sua densidade demograacutefica
correspondia a 1539 habKm2 A ocupaccedilatildeo municipal predomina na zona urbana
correspondendo a 6425 dos indiviacuteduos Em 2012 a populaccedilatildeo aumentou para 22742
pessoas
3211 Das propriedades estudadas
Por Irauccediluba possuir aproximadamente 713 imoacuteveis rurais tomando por base a
mediccedilatildeo feita pelo IDACE em 2012 natildeo seria possiacutevel o estudo de todas elas Partiu-se
entatildeo para uma amostragem com base nos imoacuteveis que possuiacuteam a reserva legal seja por
registro em cartoacuterio eou porque a aacuterea eacute puacuteblica e foi destinada a projetos de assentamentos
agraacuterios (PA‟s) estaduais e federais que por sua vez deveriam respeitar tal obrigatoriedade
79
Pela tabela 8 vecirc-se que dos 14 assentamentos em Irauccediluba 6 satildeo estaduais e 8
federais No entanto os criteacuterios utilizados para examinaacute-los foi o tempo de criaccedilatildeo de cada
um e a existecircncia de reserva legal delimitada na planta da propriedade Aleacutem disto foi
escolhido um imoacutevel particular por apresentar a averbaccedilatildeo da reserva legal como demonstra a
tabela 9
Tabela 8 - Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de anaacutelise
PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO
Nome do
Assentamento
Instituiccedilatildeo
Responsaacutevel Data de Criaccedilatildeo Status para anaacutelise
Saco do Vento IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Aroeira IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Boqueiratildeo IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Mudubim IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em
formaccedilatildeo
Consulta IDACE 23072001 Planta natildeo disponibilizada
Cachoeira IDACE 05102006 Planta natildeo disponibilizada
Saco Verde INCRA 2691997 Incluiacutedo
Cajazeiras II INCRA 2691997 Incluiacutedo
Aacuteguas Mortas
Poccedilo da Pedra INCRA 22121997 Incluiacutedo
RiachueloAlto
Alegre INCRA 09112005 Incluiacutedo
Almas INCRA 17111998 Incluiacutedo
Olho d‟Aacutegua da
Esperanccedila INCRA 06122007
Muito recente ndash Fora de abrangecircncia
das imagens de sateacutelite
Satildeo Marinho
Rodeador INCRA 04122006
Reserva legal natildeo delimitada na planta
do imoacutevel
Arraia INCRA 13102011 Muito recente ndash Fora de abrangecircncia
das imagens de sateacutelite
Tabela 9 - Dados da propriedade particular estudada PROPRIEDADE PARTICULAR ANALISADA
Nome Proprietaacuterio Data da averbaccedilatildeo
da RL Status para anaacutelise
Miramar MIRASA ndash Miramar
Agropecuaacuteria SA 06042005 Incluiacutedo
Diante dos paracircmetros de seleccedilatildeo apontados acima restaram 5 assentamentos e 1
aacuterea particular totalizando 6 aacutereas para estudo Assim sendo as propriedades analisadas
foram RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas Almas Saco Verde Cazajeiras II e Miramar
sendo esta a de domiacutenio privado Com exceccedilatildeo desta uacuteltima as demais satildeo assentamentos
agraacuterios federais ficando de fora os estaduais por serem em sua maioria recentes isto eacute a
partir de 2010 e por isso natildeo abrangidos pelas imagens de sateacutelite utilizadas (anos 1993 e
2007) As duas estaduais mais antigas Consulta e Cachoeira natildeo tiveram suas plantas
80
disponibilizadas pelo oacutergatildeo competente e as federais que ficaram excluiacutedas tambeacutem eram
muito recentes aleacutem do que natildeo possuiacuteam reserva legal delimitada
A figura 14 a seguir mostra a localizaccedilatildeo das propriedades estudadas e suas
respectivas reservas legais delimitadas que podem ser lidas pela legenda de cores ao lado
Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo
A tabela 10 traz as aacutereas de cada imoacutevel e sua reserva legal onde eacute possiacutevel
constatar um nuacutemero pequeno de propriedades que apresentam o tal instituto criado e exigido
por lei Aleacutem disso a soma de suas aacutereas tambeacutem eacute pouco expressiva ao comparar com a do
municiacutepio No total satildeo 1628865 hectares sendo 328832 hectares pertinentes agrave reserva
legal
Tabela 10 - Propriedades estudadas
PROPRIEDADES ESTUDADAS
IMOacuteVEL DOMIacuteNIO AacuteREA DO IMOVEL (HA) AacuteREA DA RESERVA LEGAL (HA)
Saco Verde INCRA 6464 129280
Cajazeiras II INCRA 96487 19297
Aacuteguas Mortas Poccedilo da Pedra INCRA 239778 47955
Riachuelo Alto Alegre INCRA 3378 67560
Olho drsquoAacutegua da Esperanccedila INCRA 1940 388
81
Miramar PARTICULAR 1144 25940
3212 Aspectos histoacutericos da ocupaccedilatildeo do municiacutepio
Haacute quem diga que Irauccediluba significa tanto amizade como grande abelha amarela
A primeira acepccedilatildeo se deve ao povo hospitaleiro de bons sentimentos e amigos da paz Jaacute a
segunda faz referecircncia a um vocaacutebulo indiacutegena cuja expressatildeo representa a junccedilatildeo de trecircs
palavras ira que quer dizer mel ou abelha ussu grande e yuba amarelo (FOLHES e
VIANA 2001)
Segundo o IBGE o surgimento de Irauccediluba se deve a um povoado denominado
Cacimba do Meio que despontou no iniacutecio do seacuteculo XIX O nome do municiacutepio como
atualmente eacute conhecido soacute foi alterado em 1899 pelo desembargador Aacutelvaro de Alencar
Irauccediluba foi distrito de Itapajeacute de 1905 ateacute 1957 quando foi elevada agrave condiccedilatildeo de municiacutepio
Quanto a sua ocupaccedilatildeo Arauacutejo Filho e Silva (2013) remontam a memoacuteria dos
mais antigos que registra o fenocircmeno da transumacircncia na regiatildeo jaacute no seacuteculo XIX Aleacutem
disto os autores ainda mencionam que
O primeiro relato da presenccedila do homem branco na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba
refere-se agrave passagem no ano de 1606-1607 dos jesuiacutetas Francisco Pinto e Luiacutes
Figueira Na eacutepoca a regiatildeo era habitada por iacutendios das etnias Tupi e Tapuia
citando-se os Anaceacute Apuiareacute e Kariri (GIRAtildeO1967) Consta entatildeo que os
indiacutegenas viviam da caccedila e que na eacutepoca seca ateavam fogo na erva para afugentar
as cobras e facilitar a caccedila (ARAUacuteJO e SILVA 2013 p 4)
E soacute para constar o potencial do municiacutepio acerca da boa qualidade das pastagens
de forma a compensar a praacutetica da transumacircncia em tempos antigos vale referenciar um
texto de Dias (1998) que Folhes e Viana (2001) fazem menccedilatildeo
ldquo() no espaccedilo onde Irauccediluba estaacute inserida atualmente visto como um ambiente
inoacutespito em processo de desertificaccedilatildeo no seacuteculo XVII ao se transitar pela flora
primitiva na eacutepoca das chuvas era difiacutecil saber se era noite ou dia face ao
adensamento da vegetaccedilatildeordquo Esse adensamento foi registrado pelos jesuiacutetas
Francisco Pinto e Luiacutes Figueira em 1607 quando partiram de Pernambuco numa
missatildeo de catequese em direccedilatildeo ao Maranhatildeo (DIAS 1998 p 62 apud FOLHES e
VIANA 2001 p 9)
322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas
Arauacutejo Filho e Silva (2013) fazem um apanhado sucinto e ao mesmo tempo geral
de duas atividades econocircmicas desenvolvidas no municiacutepio de Irauccediluba
82
Historicamente a Regiatildeo tem na pecuaacuteria a mais importante atividade dentro de um
sistema de transumacircncia servindo de estaccedilatildeo na eacutepoca das chuvas para os rebanhos
criados na regiatildeo litoracircnea Isto porque apresenta extensas aacutereas recobertas por
planossolos sob uma caatinga do tipo savana com cobertura herbaacutecea de excelente
potencial forrageiro Considerando a ocupaccedilatildeo da aacuterea municipal 124 satildeo usados
para a produccedilatildeo agriacutecola a pecuaacuteria ocupa 671 e os restantes 205 satildeo
recobertos de matas Confrontando os dados da distribuiccedilatildeo dos solos e de sua
ocupaccedilatildeo vecirc-se que a pecuaacuteria eacute praticada em toda a extensatildeo dos planossolos e dos
luvissolos a agricultura ocupa pequena parcela do luvissolo e dos solos litoacutelicos e a
extraccedilatildeo de madeira parte dos litoacutelicos e dos luvissolos (IBGE 2010) (ARAUacuteJO
FILHO e SILVA 2013 p 1)
Para os autores a pecuaacuteria em sistemas de produccedilatildeo de regiotildees semiaacuteridas
constitui uma atividade tampatildeo dos efeitos da seca facilita a dispersatildeo dos riscos de perdas
tem boa liquidez econocircmica e eacute um fator muito importante de fixaccedilatildeo do homem agrave terra
Em se tratando de nuacutemeros o PAE (CEARAacute 2010b) apresentou em seus
levantamentos percentuais a situaccedilatildeo de alguns aspectos socioeconocircmicos que ora se julga
interessantes expor neste trabalho Por exemplo o analfabetismo estaacute decrescendo eacute o que a
taxa de escolaridade no ensino fundamental de 932 em 2007 demonstra mas altas taxas
de repetecircncia evasatildeo escolar qualificaccedilatildeo dos professores baixo aproveitamento dos alunos
e divergecircncia entre a faixa etaacuteria e a seacuterie cursada tambeacutem satildeo problemas que afetam a
educaccedilatildeo no municiacutepio Folhes e Viana (2001) Quanto ao saneamento baacutesico natildeo existia rede
de esgotamento no municiacutepio nem aacutegua tratada para a maioria da populaccedilatildeo conforme
pesquisa realizada em 2007 contudo em 2010 a CAGECE24
informou que havia 6173
ligaccedilotildees entre reais e ativas para o abastecimento de aacutegua enquanto que a cobertura de
esgoto continuava sem nenhuma ligaccedilatildeo mas curiosamente apresentava uma taxa de
cobertura de 1937
O PAE (CEARAacute 2010) diz que em Irauccediluba o salaacuterio meacutedio mensal da
populaccedilatildeo correspondia a um salaacuterio miacutenimo e meio mas o IBGE (2010) traz outro nuacutemero
Em 2010 quando o salaacuterio miacutenimo era de R$ 51000 a renda domiciliar per capita entre frac14 a
mais de 3 correspondia a 5158 trabalhadores sendo que a maioria deles recebia por mecircs R$
12750 ou menos Agregada a essa realidade econocircmica existe a populaccedilatildeo extremamente
pobre com renda domiciliar per capita de ateacute R$ 7000 Nesse patamar concentram-se 8008
pessoas
Eacute nesse contexto que estatildeo cerca de 13500 pessoas classificadas como
economicamente ativas no municiacutepio Infelizmente o nuacutemero de irauccedilubenses inseridos na
condiccedilatildeo de pobreza eacute bem expressivo correspondendo a 3587 da populaccedilatildeo em 2010
24
In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p14)
83
Eacute faacutecil perceber que se trata de uma cidade pouco desenvolvida pobre sem muita
educaccedilatildeo e condiccedilotildees baacutesicas de sauacutede Isso reflete tanto na economia como na qualidade de
vida sem falar no cenaacuterio ambiental pois a situaccedilatildeo como estaacute posta favorece muito mais a
degradaccedilatildeo dos recursos naturais
Falando em questotildees ambientais dentro do contexto da dinacircmica populacional de
Irauccediluba eacute interessante citar a retraccedilatildeo no nuacutemero de indiviacuteduos residentes na aacuterea rural
desde a deacutecada de 70 e consequentemente aumento na urbana Considerando que os riscos de
desertificaccedilatildeo satildeo mais acentuados nas regiotildees densamente povoadas porque haacute maior
pressatildeo sobre os bens naturais e que a densidade demograacutefica do municiacutepio em 2010 estava
em 1539 habkm Folhes e Viana (2001) pontuam
A densidade demograacutefica de Irauccediluba representa pouco mais da metade do que
Ferreira et al (1994) estabeleceram como ldquofator de pressatildeordquo no estudo que se
tornou conhecido por ser o primeiro a confeccionar o mapa de susceptibilidade agrave
desertificaccedilatildeo do Nordeste brasileiro dada(s) as condiccedilotildees de semi-aridez as
condiccedilotildees dos solos a disponibilidade de aacutegua da regiatildeo e a capacidade de suporte
da mesma adotou-se como fator de pressatildeo sobre o meio ambiente a densidade
igual ou superior a 20habkm2 (p19-20)rdquo Veem-se a dificuldade e imprecisatildeo dos
estudos quanto agrave determinaccedilatildeo de algum ponto criacutetico onde a relaccedilatildeo densidade
demograacutefica versus processos de desertificaccedilatildeo passa de causa para efeito
(FOLHES e VIANA 2001 p 13)
Os autores ainda reforccedilam que o municiacutepio se enquadra no grupo com fraca
densidade demograacutefica que eacute de 10 a 20habkm2 de acordo com a classificaccedilatildeo estabelecida
pelo diagnoacutestico agro-soacutecio-econocircmico
Segundo Folhes e Viana (2001) um dos iacutendices mais sensiacuteveis para se medir o
niacutevel de desenvolvimento de um municiacutepio eacute a taxa de mortalidade infantil pois ela revela a
estreita ligaccedilatildeo entre o estado de sauacutede da populaccedilatildeo o acesso aos serviccedilos meacutedicos
condicionados pela situaccedilatildeo soacutecioeconocircmica da populaccedilatildeo Em Irauccediluba essa taxa eacute de 1592
mortos a cada 1000 nascidos vivos maior ainda que a do estado 133225
A economia de Irauccediluba gira em torno de atividades como agricultura e pecuaacuteria
Aquela engloba culturas praticadas em lavouras permanentes e temporaacuterias e esta envolve a
criaccedilatildeo de gado de vaacuterias espeacutecies e aves como galos e galinhas Em termos comparativos
traccedilou-se um paralelo do sistema produtivo econocircmico nos anos de 2001 e 2011 para que se
pudesse avaliar alguma retraccedilatildeo ou evoluccedilatildeo no quadro agropecuaacuterio e industrial do
municiacutepio
A figura 15 abaixo eacute autoexplicativa de modo que prontamente se percebe a
banana e a manga como as culturas mais significativas ficando logo atraacutes o cocircco da baiacutea
25
SESA (2011) In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p 9)
84
Nota-se tambeacutem natildeo haver muita diferenccedila de produccedilatildeo dos trecircs cultivos agriacutecolas nesses
dois anos o que leva a concluir que os produtores do municiacutepio mantiveram os investimentos
e colheitas semelhantes O mesmo natildeo ocorreu com o algodatildeo arboacutereo pois seu resultado caiu
drasticamente no periacuteodo analisado Ressalte-se poreacutem que o ano de 2001 foi mais produtivo
que o de 2011 com exceccedilatildeo da castanha de caju
Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Permanentes
Fonte IBGE (2001 e 2011)
Com relaccedilatildeo agraves lavouras temporaacuterias o destaque eacute da mandioca e da mamona
muito embora esta uacuteltima soacute apresente resultados no ano de 2011 Outras culturas temporaacuterias
satildeo o milho e o feijatildeo mas natildeo constam na figura 16 porque a disparidade entre os dois anos
e a alta produtividade em 2011 dificultariam a visualizaccedilatildeo
Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Temporaacuterias
Fonte IBGE (2001 e 2011)
85
De qualquer maneira a safra de milho e feijatildeo em 2001 natildeo foi tatildeo expressiva
ou seja correspondeu a 14 e 7 toneladas respectivamente Jaacute em 2011 esse nuacutemero foi agraves
alturas chegando agraves 4433 toneladas de milho e 2088 toneladas de feijatildeo
Jaacute os produtos de origem florestal comuns em Irauccediluba satildeo a cera o poacute e a fibra
da carnauacuteba o carvatildeo vegetal a lenha e a madeira em tora poreacutem os mais relevantes satildeo o
carvatildeo vegetal e a lenha conforme se vecirc nas figuras 17 e 18
Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em tonano
Fonte IBGE (2001 e 2011)
Como a lenha e a madeira em tora tecircm unidade de medida diferente dos demais
produtos construiu-se a figura 18 para natildeo deixaacute-las de fora da anaacutelise
0100020003000400050006000700080009000
1000011000
Lenha Madeira em tora
Produtos de origem vegetal (m3ano)
2001
2011
Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em m3ano
Fonte IBGE (2001 e 2011)
86
Quanto aos produtos de origem animal o leite foi o mais vultoso sobressaindo-se
nos anos de 2001 e 2011 Na tabela 11 abaixo tambeacutem foram relacionados os outros mas
com participaccedilatildeo bem pequena na produtividade do municiacutepio
Tabela 11 - Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem animal Produtos de origem animal
Leite Mel de abelha Ovos de galinha Ovos de codorna
Produccedilatildeo (mil l) Produccedilatildeo (kg) Produccedilatildeo (mil dz) Produccedilatildeo (mil dz)
2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011
5228 6031 0 507 80 143 0 1
Fonte IBGE (2001 e 2011)
Em termos industriais julgou-se interessante fazer uma comparaccedilatildeo um tanto
mais abrangente citando tambeacutem os nuacutemeros do ano de 2010 Observa-se que os grupos de
induacutestrias existentes em Irauccediluba reuacutenem as de extraccedilatildeo mineral construccedilatildeo civil e
principalmente as de transformaccedilatildeo conforme figura 19
Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011)
Fonte IBGE (2001 2010 e 2011)
Eacute possiacutevel observar pela figura acima que as empresas de extraccedilatildeo mineral e de
construccedilatildeo civil pouco se desenvolveram durante o periacuteodo analisado o mesmo natildeo ocorreu
com as induacutestrias de transformaccedilatildeo que inclusive chamam bastante atenccedilatildeo Estas se
desdobram em vaacuterias espeacutecies como por exemplo produccedilatildeo de minerais natildeo metaacutelicos
metaluacutergica mecacircnica produccedilatildeo de material eleacutetrico eletrocircnico e comunicaccedilatildeo produccedilatildeo de
material para transporte madeireira mobiliaacuteria produccedilatildeo de papel papelatildeo e borracha
beneficiamento de couros peles e similares quiacutemica produccedilatildeo de produtos farmacecircuticos e
veterinaacuterios de material plaacutestico tecircxtil vestuaacuterio calccedilados artefatos de tecido couros e
peles produtos alimentares bebidas fumo dentre outras
87
De 2001 para 2010 a quantidade de induacutestrias de transformaccedilatildeo pouco aumentou
passando de 13 para 17 mas de 2010 a 2011 esse rol duplicou indo de 17 para 34 empresas
como se pode observar pelas figuras 20 21 e 22
Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001
Fonte IBGE (2001)
Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010
Fonte IBGE (2010)
TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 13
TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 17
88
Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011
Fonte IBGE (2011)
A induacutestria tecircxtil oscilou em nuacutemeros visto que em 2001 contava com 5
empresas em 2010 com 4 expandido para 9 de forma que essa quantidade representou 26
do total de induacutestrias em Irauccediluba no ano de 2011 Outra atividade expressiva no municiacutepio eacute
a de produtos alimentares Muito embora natildeo exista em 2010 nos anos de 2001 e 2011 ela
totalizava 5 e 9 unidades respectivamente representando 23 e 26 cada uma no universo de
empresas Em terceiro plano encontra-se a produccedilatildeo de minerais natildeo-metaacutelicos que em 2001
contou com 1 induacutestria em 2010 com 2 e em 2011 com 3 Aleacutem disto apareceram a partir de
2010 atividades como mobiliaacuterio couros e peles vestuaacuterio e uma categoria natildeo definida pelo
IBGE classificada como diversas Em contrapartida desapareceram da contagem as
induacutestrias madeireira e metaluacutergica
Na pecuaacuteria existe a criaccedilatildeo de gado e aves O realce no primeiro grupo eacute dado
pelos bovinos seguido pelos ovinos e caprinos tanto no ano de 2010 como 2011 sendo neste
os nuacutemeros maiores Quanto agraves aves a ocorrecircncia eacute de galos frangos frangas e pintos aleacutem
de galinhas Entre estes dois grupos o primeiro eacute mais representativo como bem se examina
pela figura 23
TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 34
89
Figura 23 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos
Fonte IBGE (2011 e 2011)
Sem esquecer outros rebanhos mesmo que de menor grandeza existem no
municiacutepio bubalinos muares coelhos e codornas segundo os nuacutemeros apresentados na
tabela 12
Tabela 12 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores Rebanhos Bubalinos Muares Coelhos Codornas
Ano 2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011
Nordm de indiviacuteduos 98 48 380 436 22 67 89 193
Fonte IBGE (2011 e 2011)
Por fim conclui-se que em Irauccediluba eacute praticado aleacutem das atividades industriais o
tripeacute econocircmico baseado na produccedilatildeo agriacutecola pecuaacuteria e madeireira esta a partir da
exploraccedilatildeo de lenha e carvatildeo vegetal Desta maneira seria mais interessante para o municiacutepio
considerando suas caracteriacutesticas ambientais o uso de sistemas de produccedilatildeo
agrossilvopastoris Nesse sentido Arauacutejo Filho e Silva (2013) ilustram
Os sistemas de produccedilatildeo agrossilvipastoris satildeo formas de uso e manejo da terra nas
quais aacutervores e arbustos satildeo utilizados em associaccedilatildeo com cultivos agriacutecolas e
animais numa mesma aacuterea de maneira simultacircnea ou numa sequecircncia temporal
Cada componente do sistema de produccedilatildeo deve ter pelo menos uma funccedilatildeo proacutepria e
sua integraccedilatildeo garante sua funcionalidade Assim as aacutervores devem ser em nuacutemero
suficiente para um aporte significativo de serrapilheira fonte de mateacuteria orgacircnica
para o solo Os animais satildeo os redistribuidores de nutrientes entre os componentes
do sistema via urina e esterco E as culturas garantem a produccedilatildeo de alimentos para
a famiacutelia e seus animais e contribuem para a circulaccedilatildeo de nutrientes dentro do
sistema Os SAF‟s podem tambeacutem ser usados para a reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e
econocircmica de aacutereas degradadas sobre luvissolos e argissolos (ARAUacuteJO FILHO e
SILVA 2013 p 1819)
90
323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba
A caracterizaccedilatildeo ambiental realizada no municiacutepio das aacutereas de estudo engloba a
altimetria as classes de relevo demonstrando a declividade do terreno que varia de plano a
forte ondulado os tipos de solos e suas associaccedilotildees de classes entre si o clima envolvendo
dados sobre a pluviometria anual o iacutendice de umidade o nuacutemero de meses sem chuva a
temperatura e a evapotranspiraccedilatildeo total anual do municiacutepio Comenta-se ainda a vegetaccedilatildeo e
suas formas aleacutem dos rios e accediludes existentes em Irauccediluba reunindo seus recursos hiacutedricos
3231 Altimetria e Classe de relevo
A altimetria do municiacutepio estaacute exibida na figura 24 conforme seus niacuteveis de
altitude que variam de 80 a 840 metros acima do mar
Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba
91
Jaacute o relevo oscila de plano a forte ondulado conforme figura 25 Arauacutejo Filho e Silva
(2013 p 1) definem que ldquonos planossolos o relevo varia de plano a suave-ondulado (de 1 a 8)
nos argisssolos e nos luvissolos apresentam-se em relevo de suave-ondulado a ondulado (de 8 a
20) e os litoacutelicos estatildeo em relevo forte-ondulado (de 20 a 45)rdquo
Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba
3232 Solos
A regiatildeo semiaacuterida nordestina ldquo[] recebe anualmente calor e luz em excesso o
que resulta em raacutepida mineraccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica Seus solos satildeo geralmente pouco
profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica mas relativamente ricos
em bases trocaacuteveisrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 7)
O PAN (BRASIL 2004) assegura que as classes de associaccedilatildeo de solos presentes
no semiaacuterido do Nordeste satildeo o bruno natildeo caacutelcico litoacutelicos podzoacutelico eutroacutefico terra roxa
estruturada cambissolo ondulado e forte ondulado e planossolos Apresentam tambeacutem tipos
de relevo e susceptibilidade agrave erosatildeo diferenciados como mostra a tabela 13
92
Tabela 13 - Relaccedilatildeo de solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo
CLASSES DE SOLO RELEVO SUSCEPTIBILIDA Agrave
EROSAtildeO
Bruno natildeo caacutelcico (Luvissolos) Suave ondulado e ondulado Forte
Litoacutelicos Ondulado forte ondulado e
montanhoso Muito forte
Podzoacutelico eutroacutefico terra roxa
estruturada cambissolo ondulado e
forte ondulado
Ondulado e forte ondulado Moderado
Planossolos Plano e suave ondulado Moderado
Fonte PAN Brasil (2004)
ldquoTrecircs classes de solos se destacam no municiacutepio de Irauccediluba luvissolos com
432 de cobertura planossolos com 187 e litoacutelicos com 332 Juntos eles perfazem
951 da aacuterea do municiacutepiordquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2)
Os luvissolos constituem os solos mais utilizados pela agricultura migratoacuteria do
semiaacuterido nordestino Por causa do desmatamento e uso do fogo haacute indicaccedilotildees de que pelo
menos 65 da aacuterea de cobertura deste importante solo se encontrem em erosatildeo de grave a
muito grave Em Irauccediluba natildeo eacute diferente pois a agricultura eacute praticada nas aacutereas recobertas
por luvissolos e solos litoacutelicos enquanto a pecuaacuteria eacute desenvolvida tanto no planossolo com
presenccedila tambeacutem nas aacutereas de luvissolo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013)
Em se tratando de associaccedilatildeo de solos a tabela 14 indica a nomenclatura utilizada
por Jacomine (1973) e pela EMBRAPA (2006) para definir os tipos de associaccedilatildeo
encontrados em Irauccediluba apontando ainda a porcentagem de cada um dentro da respectiva
associaccedilatildeo E a figura 26 apresenta a distribuiccedilatildeo dessas associaccedilotildees no municiacutepio de forma
que eacute possiacutevel notar o predomiacutenio da associaccedilatildeo NC15 seguida da Re25 e Re26
Tabela 14 - Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEMBRAPA
ASSOCIACcedilAtildeO
DE SOLO EM
JACOMINE
(1973)
NOMENCLATURA DOS SOLOS NAS ASSOCIACcedilOtildeES DO SOLO
NA
ASSOCIACcedilAtildeO JACOMINE (1973) EMBRAPA (2006)
PE6
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO moderado
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 40
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO chemozecircnico
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 30
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 15
AFLORAMENTOS DE ROCHA - 15
PE42
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 70
REGOSOL EUTROacuteFICO NEOSSOLOS
REGOLIacuteTICOS 30
NC7 BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO LUVISSOLO 40
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 35
93
BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO veacutertico LUVISSOLO 25
NC15
BRUNOS NAtildeO CAacuteLCICOS
INDISCRIMINADOS LUVISSOLO 40
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 25
PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 20
SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 15
PL6
PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 45
SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 35
SOLOS OTOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 20
Re6
SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 65
PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO
EQUIVALENTE EUTROacuteFICO
ARGISSOLO VERMELHO
AMARELO EUTROacuteFICO 35
Re25 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel
estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -
Re26 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel
estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -
Fonte Jacomine et al (1973) e EMBRAPA (2006)
Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba
94
Por fim a figura 27 apresenta os quatro grandes grupos de solo encontrados em
Irauccediluba e sua distribuiccedilatildeo no municiacutepio sendo eles Podzoacutelico vermelho amarelo
equivalente eutroacutefico (PE) Bruno natildeo caacutelcico (NC) Planossolo (PL) e Solos litoacutelicos (Re)
Figura 27 Grupos de solos que formam associaccedilotildees pedoloacutegicas em Irauccediluba
3233 Clima
ldquoO clima na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba eacute conforme classificaccedilatildeo de Koumlppen
(MILLER 1971) do tipo Bshw semiaacuterido megateacutermico com curta estaccedilatildeo chuvosa no
veratildeo-outono e com concentraccedilatildeo das precipitaccedilotildees pluviais nos meses de marccedilo e abrilrdquo
(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2) Anualmente o municiacutepio apresenta pluviometria
meacutedia abaixo dos 700 mm mas existe maior incidecircncia de chuva em outras regiotildees de
Irauccediluba Eacute o que demonstra a figura 28
Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba
Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba
95
Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba
ldquoA regiatildeo apresenta um dos mais baixos iacutendices pluviomeacutetricos do Estado do Cearaacute
com meacutedia histoacuterica de 540 mm Isto porque a aacuterea encontra-se a sotavento da serra
de Uruburetama constituindo-se em uma ldquosombra de chuvardquo causada pela
interceptaccedilatildeo pela serra dos ventos uacutemidos oriundos do oceanordquo (ARAUacuteJO FILHO
e SILVA 2013 p 2)
O municiacutepio passa a maior parte do ano sem chuva aproximadamente dez meses
e apesar da pouca pluviosidade a evapotranspiraccedilatildeo eacute maior que a precipitaccedilatildeo Sem poder
ser diferente as temperaturas variam de 25 a 28 graus sendo que na maior parte da aacuterea
incidem temperaturas de 26 a 27 graus centiacutegrados e a umidade aponta a incidecircncia do clima
semiaacuterido em Irauccediluba As figuras 06 29 30 31 e 32 ilustram as informaccedilotildees declaradas
96
Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba
Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual
97
Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba
Figura 32 Iacutendice Efetivo de umidade em Irauccediluba
Fonte NOLEcircTO (2005)
98
3234 Vegetaccedilatildeo
A caatinga eacute um dos maiores biomas brasileiros e significa mata branca Por ser
uma vegetaccedilatildeo xeroacutefila eacute capaz de suportar vaacuterios anos de estiagem recuperando com
rapidez suas atividades logo nas primeiras chuvas apoacutes a seca A adaptaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo ao
clima semiaacuterido eacute impressionante como por exemplo as cascas claras ou reluzentes servem
para diminuir o aquecimento do tecido vivo da planta Por causa da falta de aacutegua satildeo
caducifoacutelias isto eacute as folhas caem durante a estaccedilatildeo seca para evitar excesso de perda d‟aacutegua
pela evapotranspiraccedilatildeo aleacutem disto os caules satildeo projetados para armazenar aacutegua (MAIA
2012)
ldquoA caatinga se assemelha a arbustos tropicais ou bosques de espinhos Eles
contecircm pequenas aacutervores de madeira dura grotescamente retorcidas e com espinhos as folhas
satildeo pequenas e caem durante a estaccedilatildeo secardquo Odum e Barret (2008 p 453)
Fisionomicamente eacute possiacutevel diferenciar os tipos de vegetaccedilatildeo o arboacutereo que estaacute nas
superfiacutecies mais conservadas sendo o pau branco o angico o pereiro dentre outras suas
espeacutecies mais representativas o arbustivo que eacute sinal de aacutereas jaacute degradadas pelo
desmatamento uso agriacutecola e pecuaacuteria e o herbaacuteceo figurado por gramiacuteneas presentes
somente durante o periacuteodo chuvoso e explorado pela pecuaacuteria extensiva (DANTAS et al
2007)
ldquoO Bioma Caatinga estaacute inserido no quadro dos Ecossistemas da Regiatildeo das
Caatingas e Florestas Deciduais do Nordeste Abrange as especificidades do Domiacutenio
Morfoclimaacutetico das Caatingas sejam elas arbustivas ou arboacutereasrdquo (BRASIL 2004 p 68) Os
frutos amadurecem ao fim da eacutepoca das chuvas quase que generalizadamente na maioria das
espeacutecies arboacutereas e herbaacuteceas permanecendo pendentes dos ramos durante algum tempo Ao
se desprenderem e caiacuterem no solo natildeo germinam de imediato pois a resistecircncia da casca e
outros artifiacutecios da natureza impedem a germinaccedilatildeo pronta Se germinassem morreriam quase
em seguida natildeo resistindo agrave longa estaccedilatildeo seca e quente da estiagem com interrupccedilatildeo brusca
e total das chuvas A germinaccedilatildeo poreacutem processa-se rapidamente logo ao caiacuterem as
primeiras chuvas pois os indumentos foram intensamente desgastados pelo intemperismordquo
As queimadas realizadas para a preparaccedilatildeo de novos terrenos de cultivo desempenham papel
de grande poder destruidor do ambiente ldquoCompreende-se pois que a restauraccedilatildeo da
cobertura vegetal depende da preservaccedilatildeo desses estoques de sementesrdquo26
26
Conferir SOBRINHO Vasconcelos (1983) In PAN Brasil 2004
99
ldquoA vegetaccedilatildeo da aacuterea do nuacutecleo de desertificaccedilatildeo de Irauccediluba espelha os efeitos dos
fatores fiacutesicos mormente os de natureza hiacutedrica e edaacutefica e da accedilatildeo antroacutepica
Assim as aacutereas dos solos argissolos litoacutelicos e luvissolos apresentam uma cobertura
arbustiva-arboacuterea formando um verdadeiro mosaico de diferentes estaacutedios
sucessionais em virtude das praacuteticas agriacutecola ambientalmente agressivasrdquo [] ldquoAs
aacutereas sobre os planossolos estatildeo recobertas por uma caatinga assavanada e
esporadicamente com afloramentos rochosos e com cobertura arbustiva arboacuterea
meacutedia abaixo de 20 e densidade de cerca 200plantasha A camada herbaacutecea de
biodiversidade inferior ao das aacutereas de luvissolos ou argissolos eacute rica no entanto
em espeacutecies forrageiras destacando-se a erva de ovelha (Stylosanthes humilis)
vassourinha (Stylosanthes angustifolia) urinana (Zornia bracteata) e capim accedilu
(Paspalum milegrana) O capim panasco no entanto predomina nas aacutereas
sobrepastejadasrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 34)
A figura 33 espelha a composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba Segue claro que a Caatinga
Arboacuterea Sem Palmeira (Cas) predomina seguida da Caatinga Arboacuterea Com Palmeira (Cap) e
da Caatinga Parque Sem Palmeira (Cps) A Floresta Ombroacutefila Aberta (Acc1) e as Aacutereas De
Formaccedilatildeo Pioneira (Acc2) representam uma aacuterea menor do municiacutepio
Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba
3235 Recursos Hiacutedricos
O nuacutecleo de Irauccediluba estaacute situado na bacia hidrograacutefica do rio Curu contando com
o aporte dos rios Aracatiaccedilu e Caxitoreacute aleacutem de vaacuterios riachos destacando-se o Aroeira o
Fonte NOLEcircTO (2005)
Fonte NOLEcircTO (2005)
100
Gabriel e o Cachoeira A ausecircncia de barragens de porte representativo faz com que a
pequena accediludagem assuma um papel relevante Destacam-se dentre essas os Accediludes Satildeo
Gabriel do Mocoacute (IRAUCcedilUBA 2009)
Por conta da irregularidade das chuvas que contribui para favorecer o escoamento
de superfiacutecie junto agraves condiccedilotildees geoloacutegicas predominantemente cristalinas favorecem o
escoamento raacutepido das aacuteguas pluviais inviabilizando o acuacutemulo de aacuteguas subterracircneas em
quantidades razoaacuteveis (IRAUCcedilUBA 2009) existem no municiacutepio cerca de 28 pequenos
accediludes nomeando-se o Nogueira Ramos o Cairu Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu e o Jerimum
que abastece a cidade de Irauccediluba ldquoUma estrutura muito comum no municiacutepio eacute o barreiro da
salvaccedilatildeo constituindo-se em um sistema temporaacuterio de armazenamento de aacutegua para atender
agrave demanda dos rebanhos durante boa parte da estaccedilatildeo secardquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA
2013 p 3)
324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo
A partir da abordagem feita no item 323 passa-se a analisar a realidade de cada
propriedade estudada Visando apontar os aspectos geoambientais dos imoacuteveis construiu-se
um quadro siacutentese conforme tabela 15 abaixo
Tabela 15 ndash Anaacutelise Geral das propriedades estudadas
Anaacutelise
Imoacuteveis com Reserva Legal
Riachuelo
Alto Alegre
Aacuteguas
Mortas
Almas
Cajazeiras
II
Saco
Verde
Miramar
Classe
no
Tipo
Niacuteveis da Classe
no Tipo
Aacuterea (km2)
336 238 127 124 671 86
no Niacutevel da Classe no Tipo
Precipitaccedilatildeo
Total
Meacutedia Anual
lt 600 - - - - 103 -
600 a 700 100 100 100 755 100
700 a 800 - - - 976 112 -
800 a 900 - - - 24 - -
Temperatura
Meacutedia Anual
(oC)
25-26 - - - - 71 -
26-27 100 100 100 100 929 100
27-28 - - - - - -
ETP
lt 1450 - - - - 100 100
1450-1500 - - - - - -
1500-1550 - - - - - -
1550-1600 100 100 100 - - -
1600-1650 - - - 141 - -
1650-1700 - - - 859 - -
101
Nugravemero
de
Meses secos
85 a 95 100 100 564 100 330 -
95 a 105 - - 454 - 670 100
gt105 - - - - - -
Im
gt - 333 - - - - - -
- 344 a - 499 100 100 100 100 388 15
lt - 499 - - - - 612 985
Igravendice de Aridez
do UNEP 020 a 050 100 100 100 100 780 100
050 a 065 - - - - 220 -
Classes
de
Relevo
Plano 23 46 56 112 55 135
Suave Ondulado 162 316 378 373 227 485
Ondulado 194 338 427 64 124 130
Muito Ondulado 127 111 72 38 72 70
Forte Ondulado 463 185 66 264 400 179
Montanhoso 31 04 - 105 120 03
Escarpado - - - 44 02 -
Classes
de
Altitude
80-120 - - -- 560 - -
120-160 - - - 113 - -
160-200 - - - 60 321 -
200-240 54 171 723
240-280 01 41 460 40 85 202
280-320 139 614 521 36 68 49
320-360 349 211 10 41 56 24
360-400 178 65 01 38 70 02
400-440 90 24 - 28 53 -
440-480 63 21 - 19 55 -
480-520 45 16 - 10 45 -
520-560 33 05 - 02 32 -
560-600 29 02 - - 15 -
600-640 25 01 - - 10 -
640-680 17 - - - 08 -
680-720 13 - - - 07 -
720-760 07 - - - 03 -
760-800 05 - - - 02
800-840 03 - - - - -
840-880 02 - - - - -
880-920 01 - - - - -
Associaccedilotildees
de
Solos
PE 6 - - - - 207 -
PE 42 - - - 913 - -
NC 7 - - - - - -
NC 15 940 755 516 - - 441
PL 6 - - - - 348 -
Re 6 - - - - - -
Re 25 - - - 87 445 -
Re 26 60 245 424 - - 559
Grupos
de
solos
PE - - - 913 207 -
NC 940 762 516 - - 441
PL - - - - 348 -
Re 60 238 484 87 445 559
Cobertura
Vegetal
Cas 515 934 100 - 265 100
Cap - - - 649 - -
Cps - - - - 168 -
Acc1 485 66 - - - -
Acc2 351 567 -
Quanto agrave graduaccedilatildeo altimeacutetrica em que se encontra cada propriedade em estudo eacute
possiacutevel observar que a RiachueloAlto Alegre tem niacuteveis de altimetria crescentes a partir de
102
240 ateacute 920 metros destacando-se como o imoacutevel de maior altitude seguido de Saco Verde e
Aacuteguas Mortas As outras natildeo passam dos 560 metros de altitude
Em se tratando da classe de relevo a que se apresenta mais plana eacute Miramar com
135 de sua aacuterea seguida de Cajazeiras II com 112 Em relevo montanhoso destacam-se
Saco Verde com 12 de terreno e Cajazeiras II com 105 No entanto a predominacircncia eacute de
imoacuteveis inseridos na faixa entre o suave ondulado e o forte ondulado
Os imoacuteveis em anaacutelise situam-se em diferentes grupos de solos como ilustra a
tabela 15 Por exemplo RiachueloAlto Alegre e Aacuteguas Mortas estatildeo 94 e 762
respectivamente em luvissolos ou seja em solos Bruno natildeo caacutelcicos e Podzoacutelico vermelho
amarelo equivalente eutroacutefico Almas e Miramar estatildeo divididas aproximadamente agrave metade
em solo litoacutelico e em Bruno natildeo caacutelcico Em Cazajeiras II predomina o solo Podzoacutelico
vermelho amarelo equivalente eutroacutefico mas apresenta um pequeno percentual em solo
litoacutelico E por fim Saco Verde possui uma distribuiccedilatildeo variada de solos Podzoacutelico vermelho
amarelo equivalente eutroacutefico (207) Planossolos (348) e litoacutelicos (445) sendo o
uacutenico imoacutevel com planossolos
Nas associaccedilotildees de solos prevalece a subclasse 15 dos solos Bruno natildeo caacutelcicos
(NC) nas propriedades RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas e Almas Cajazeiras II estaacute
quase totalmente na subclasse 42 do Podzoacutelico vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) e
Miramar mesmo quase ao meio entre NC e Re possui a maior parte de sua aacuterea na subclasse
26 de solos litoacutelicos (Re) Saco Verde embora um tanto quanto bem distribuiacuteda tem 207
de aacuterea na subclasse 6 dos Podzoacutelicos vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) 348
em planossolos subclasse 6 inclusive eacute o uacutenico imoacutevel nessa classificaccedilatildeo e 445 em Re6
A realidade das aacutereas em estudo descrita na tabela 15 revela que mais da metade
delas estaacute inserida na faixa de pluviosidade abaixo dos 700 mm contudo Cajazeiras II foge agrave
regra apresentando pluviometria entre 700 a 900 mm Em Saco Verde ocorre distribuiccedilatildeo
irregular de chuvas e aleacutem de estar na meacutedia tem precipitaccedilatildeo tanto abaixo dos 600 como
acima de 700 mm
E por fim a cobertura vegetal de Almas Miramar quase toda de Aacuteguas Mortas e
a metade RiachueloAlto Alegre eacute de caatinga arboacuterea sem palmeira (Cas) enquanto que mais
de 50 da Cajazeiras II estaacute em caatinga arboacuterea com palmeira (Cap) Saco Verde tem mais
da metade da aacuterea em formaccedilatildeo pioneira (Acc2)
103
33 Metodologia
A metodologia utilizada no levantamento acerca da existecircncia de reserva legal no
municiacutepio de Irauccediluba envolveu algumas fases de anaacutelise como pesquisa bibliograacutefica
documental caracterizaccedilatildeo da aacuterea sob os aspectos sociais econocircmicos e ambientais o uso de
imagens orbitais e a aplicaccedilatildeo do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada (NDVI -
Normalized Difference Vegetation Index) nas propriedades em estudo
A abordagem envolveu o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo uma vez que para avaliar a
aplicabilidade da reserva legal como forma de combater o processo de degradaccedilatildeo ambiental
em Irauccediluba partiu-se da hipoacutetese de que se cada detentor de propriedade rural cumprisse a
obrigaccedilatildeo de implantaacute-la o processo de degradaccedilatildeo quiccedilaacute o de desertificaccedilatildeo seria estancado
no municiacutepio Aleacutem disso seria um instrumento proporcionador da recuperaccedilatildeo ambiental em
virtude de seus benefiacutecios A investigaccedilatildeo se deu por procedimentos de vieacutes histoacuterico e
comparativo tendo sido realizada uma retrospectiva de como foi o tratamento dado agrave reserva
legal no contexto juriacutedico econocircmico social e ambiental Aleacutem disto estudou-se as
propriedades que apresentaram o instituto mesmo que soacute documentalmente de maneira a
confrontar a situaccedilatildeo existente nos anos de 1993 e 2007 e sua modificaccedilatildeo
Para alcanccedilar os propoacutesitos deste trabalho ocorreu a coleta de dados pela pesquisa
documental e bibliograacutefica aleacutem da observaccedilatildeo direta intensiva que foi possiacutevel pelo exame
de dados obtidos por imagens do sateacutelite LANDSAT 5 referente aos anos de 1993 e 2007
bem como a avaliaccedilatildeo das aacutereas estudadas atraveacutes do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila
Normalizada (NDVI)
As informaccedilotildees geograacuteficas das propriedades em estudo foram disponibilizadas
basicamente pelo INCRA e pelo cartoacuterio de imoacuteveis de Irauccediluba Ambos cederam as plantas
georreferenciadas que foram vetorizadas em UTM 24s atraveacutes do programa CARTALINX 12
para em seguida serem exportadas para o IDRISI 322 e entatildeo convertidas para latitude e
longitude DATUM GS 84
331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite
O NDVI eacute um iacutendice de vegetaccedilatildeo derivado de imagens de sateacutelites e muito
utilizado na avaliaccedilatildeo da cobertura vegetal indicando o tipo a condiccedilatildeo e a densidade da
vegetaccedilatildeo atraveacutes do uso de bandas No caso as bandas do vermelho na faixa do visiacutevel e do
infravermelho proacutexima (PINHEIRO 2011) Agrave medida que aumenta a quantidade de
104
vegetaccedilatildeo verde aumenta a reflexatildeo na banda do infravermelho proacuteximo e diminui a reflexatildeo
na banda do vermelho fazendo com que o aumento da razatildeo seja potencializado realccedilando
assim a vegetaccedilatildeo27
Na banda do vermelho a clorofila absorve a energia solar resultando em uma
baixa reflectacircncia e no infravermelho proacuteximo tanto a morfologia interna das folhas quanto a
estrutura da vegetaccedilatildeo apresentam uma alta reflectacircncia da energia solar incidente A
combinaccedilatildeo dessas bandas realccedila a aacuterea de vegetaccedilatildeo nas imagens e quanto maior o contraste
maior o vigor da vegetaccedilatildeo da aacuterea imageada (LOURENCcedilO LANDIM 2004)28
Portanto o NDVI pode ser utilizado como uma teacutecnica para mapeamento
contiacutenuo da cobertura vegetal de uma regiatildeo possibilitando analisar e monitorar a
variabilidade desta em periacuteodos distintos (PINHEIRO 2011) Ressaltam ainda as diferenccedilas
entre aacutereas vegetadas e de solo exposto (VERONA 2002)29
O caacutelculo para se chegar ao NDVI deriva da razatildeo entre os valores das bandas do
vermelho e infravermelho proacuteximo ou seja a diferenccedila da resposta espectral do pixel dessas
bandas pela sua soma (SILVA et al 2007)30
resulta nos valores do NDVI que variam de ndash1 a
+1 A equaccedilatildeo para o caacutelculo do NDVI foi proposta por (JENSEN 1996)31
in Ewerton Torres
Melo 2008) conforme segue abaixo
NDVI = (NIR - R) (NIR + R)
Em que
NDVI eacute o iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada NIR eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Infra-Vermelho Proacuteximo
(076 a 090 μm)
R eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Vermelho (063 a 069μm)
Assim a vegetaccedilatildeo eacute caracterizada por uma intensa absorccedilatildeo devido agrave clorofila na
regiatildeo do vermelho (063 ndash 069 μm) e por uma intensa energia refletida na regiatildeo do
infravermelho proacuteximo (076 ndash 090 μm) causada pela estrutura celular das folhas Portanto
muitos dos modelos de iacutendice de vegetaccedilatildeo utilizam somente as bandas de imagem vermelha
ou proacutexima ao infravermelho (MELO 2008)
27
Novo (1989) In MELO Ewerton Torres (2008) 28
In PINHEIRO 2011 29
Idem 30
Ibidem 31
In MELO 2008
105
Conforme (BRAGA et al sd) estudos de variabilidade temporal e espacial sobre
a regiatildeo Nordeste do Brasil indicam que as aacutereas vegetadas variam de 01 a 08 sendo que
esses valores dependem da estrutura densidade e umidade da vegetaccedilatildeo As rochas e os solos
apresentam valores proacuteximos de zero e a aacutegua aparece com valores negativos Coberturas
vegetais muitos densas se expressam pelos maiores valores obtidos (PINHEIRO 2011)
106
4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES
41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba
O foco principal da pesquisa foi levantar e analisar as propriedades que de alguma
forma apresentem a reserva legal seja oficial ou extraoficialmente Com o exame das imagens
de sateacutelite dos anos de 1993 e 2007 utilizando o NDVI constatou-se que os iacutendices da
cobertura vegetal satildeo muito parecidos tanto dentro como fora da aacuterea de reserva ao serem
comparados pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Isto leva a crer que o instituto legal pode natildeo
ter promovido qualquer diferenccedila em termos de cobertura vegetal sem falar na hipoacutetese de
nem mesmo ter sido cumprido
Analisando os iacutendices de NDVI comprova-se que na grande maioria dos
imoacuteveis a cobertura vegetal tanto dentro como fora da aacuterea de reserva legal diminuiu entre
os anos de 1993 e 2007 Embora nas propriedades a vegetaccedilatildeo se apresente em niacuteveis
diferenciados de existecircncia representados pelas faixas 2 a 9 da tabela 16 vecirc-se que quase
todos em 1993 apresentavam aacutereas significativas de vegetaccedilatildeo na faixa 6 e 7 Se averiguar as
mesmas colunas em 2007 eacute notoacuteria a retraccedilatildeo nos iacutendices salvo na faixa 5 referente aos
imoacuteveis Aacuteguas Mortas Almas e Saco Verde
Tabela 16 - NDVI dos imoacuteveis estudados
IMOacuteVEL SEGMENTO ANO
Aacuterea no niacutevel de NDVI como uma porcentagem da aacuterea total do segmento
Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 4 Faixa 5 Faixa 6 Faixa 7 Faixa 8 Faixa 9
0 a 01 01 a 02 02 a 03 03 a 04 04 a 05 05 a 06 06 a 07 07 a 08 08 a 09
Riachuelo
Alto
Alegre
Fora 1993 0558 0458 0978 2418 9904 68884 16798 0022 0019
2007 1369 1351 2366 9734 56243 28713 0205 0019 -
Reserva 1993 0532 0319 0473 1006 3224 57424 36868 0074 -
2007 1818 1611 1951 7524 53112 33777 0207 - -
Aacuteguas
Mortas
Fora 1993 1588 1833 2701 6525 18029 41168 28024 0141 -
2007 4979 3485 4979 12220 34523 39105 0616 0097 -
Reserva 1993 - - 0084 1246 10452 56862 31356 - -
2007 2092 1902 6677 6127 52292 34545 0275 0085 -
Almas Fora 1993 1954 1336 1650 3339 9359 48925 33222 0216 -
2007 0845 1463 2583 13464 44731 36659 0216 - 0039
Reserva 1993 13455 3058 2299 3858 12198 40686 23344 0156 0156
2007 1052 1208 1052 7947 53759 34827 0156 - -
Miramar Fora 1993 - - 1075 6023 36519 50699 5684 - -
2007 0810 1001 1870 6818 66765 22545 0132 0059 -
Reserva 1993 1540 0285 0799 7758 39646 48431 1540 - -
2007 - 0513 2339 33143 63206 0799 - - -
Saco
Verde
Fora 1993 6867 5558 9959 20131 37338 19016 0097 1097 1097
2007 6469 8972 19278 30986 32219 2026 0050 - -
Reserva 1993 6927 9383 17136 26903 29900 9113 0609 0030 -
2007 8767 10375 17166 29254 332881 1157 - - -
Cajazeiras
II
Fora 1993 0040 0606 8206 39766 45877 5412 0092 - -
2007 2003 9562 25154 44710 17723 0647 - - -
Reserva 1993 2885 2885 12402 48057 29936 2360 0674 - -
2007 3895 8165 21610 39476 26704 0150 - -
Os iacutendices de NDVI da tabela 16 serviram de base para o caacutelculo da anaacutelise de
semelhanccedila pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Assim a constataccedilatildeo acima eacute confirmada pela
tabela 17 que por sua vez atesta o grau de similaridade entre a aacuterea interna e externa agrave
reserva legal nos anos analisados Eacute surpreendente o niacutevel de semelhanccedila encontrado O
percentual mais baixo em 1993 eacute de 798 chegando no mesmo ano a 933 Jaacute em 2007 a
percentagem de semelhanccedila diminui nos imoacuteveis Aacuteguas Mortas e Miramar de 81 para 75 e
de 933 para 731 respectivamente Isto natildeo quer dizer que o niacutevel de cobertura vegetal
melhorou ou piorou mas que a diferenccedila na semelhanccedila entre dentro e fora da aacuterea de reserva
legal nessas propriedades reduziu sugerindo que o respeito agravequele instituto pode ter
promovido a alteraccedilatildeo Em contrapartida nos outros imoacuteveis essa semelhanccedila aumentou
aproximando-se dos 94
Assim eacute provaacutevel que pelos meacutetodos utilizados a funccedilatildeo proposta pelo instituto
da reserva legal natildeo esteja sendo alcanccedilada visto que o grau de semelhanccedila entre a aacuterea de
dentro e fora da reserva legal estaacute muito aproximado pois sequer apresentou-se abaixo dos
70 de diferenccedila
Tabela 17 - Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal pelo meacutetodo de Sorensen (1948)
ANAacuteLISE DE SEMELHANCcedilA DE SORENSEN () ENTRE
FORA E DENTRO DA AacuteREA DE RESERVA LEGAL
IMOacuteVEL
Reserva
ANO 1993 2007
108
Riachuelo Alto Alegre Fora 1993 798 -
2007 - 941
Aacuteguas Mortas Fora 1993 810 -
2007 - 750
Almas Fora 1993 821 -
2007 - 908
Saco Verde Fora 1993 799 -
2007 - 891
Cajazeiras II Fora 1993 813 -
2007 - 952
Miramar Fora 1993 933 -
2007 - 731
109
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A abordagem dos assuntos aqui tratados e os resultados alcanccedilados permitem a
conclusatildeo de que a reserva legal eacute uma criaccedilatildeo da lei com intenccedilotildees conservacionistas
avanccediladas Como espaccedilo especialmente protegido requer um tratamento diferenciado natildeo soacute
como previsto em normas mas sob a oacutetica da sociedade Observou-se que foi um assunto
amplamente tratado e debatido nas esferas do poder legislativo e judiciaacuterio do paiacutes e que
tambeacutem eacute alvo de poliacuteticas puacuteblicas e atuaccedilatildeo das autoridades competentes embora um tanto
falhas
Contatou-se que o emprego da reserva legal no municiacutepio de Irauccediluba eacute pouco expressivo
diante da quantidade de propriedades ali existentes por isso os benefiacutecios trazidos pela
conservaccedilatildeo desses espaccedilos mal podem ser sentidos no municiacutepio que sofre com a degradaccedilatildeo
ambiental contiacutenua inclusive com a presenccedila do processo de desertificaccedilatildeo Aleacutem disto a
falta de cumprimento do formal procedimento acerca da implantaccedilatildeo da reserva legal em
aacutereas puacuteblicas eacute intrigante Isto porque se pressupotildee accedilotildees de estrita legalidade envolvendo o
ente estatal Nesse sentindo partindo do entendimento que os projetos de assentamento satildeo
resultado de poliacuteticas puacuteblicas para reforma agraacuteria pressupunha-se que nestes espaccedilos a
reserva legal estaria estabelecida mas as anaacutelises mostraram que natildeo haacute diferenccedila quando
comparadas a aacuterea de dentro e de fora da reserva nas propriedades A situaccedilatildeo eacute anaacuteloga no
imoacutevel particular apreciado
A respeito da degradaccedilatildeo viu-se que Irauccediluba por ser rota de passagem do gado
desde o seacuteculo XIX aporta animais em transumacircncia de outras regiotildees Os relatos de jesuiacutetas
que cruzaram o municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XVII registram o lugar com vegetaccedilatildeo fechada
e densa Diante disso eacute possiacutevel afirmar que nem sempre Irauccediluba teve um ambiente inoacutespito
e com caracteriacutesticas severamente adversas O quadro atual se deve agraves intervenccedilotildees antroacutepicas
sem teacutecnicas apropriadas para o desenvolvimento de atividades econocircmicas em conjunto com
as caracteriacutesticas de um meio semiaacuterido Essas atividades geralmente abrangem culturas de
subsistecircncia praticadas recorrentemente no mesmo lugar sem o pousio necessaacuterio do solo que
por sua vez natildeo eacute tatildeo rico em nutrientes em decorrecircncia dos desmatamentos e queimadas
Pela caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo pocircde se verificar que seus atributos
envolvem solos pouco profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica
O clima eacute o semiaacuterido onde haacute baixa pluviometria e temperaturas em torno dos 28ordmC e a
vegetaccedilatildeo eacute caatinga nos tipos arbustivos e herbaacuteceos excepcionalmente o arboacutereo por causa
da degradaccedilatildeo
Os resultados mostraram que os iacutendices de NDVI nas propriedades analisadas
apontam um grau de semelhanccedila de ateacute 94 entre dentro e fora da aacuterea da reserva legal pelo
que se pode inferir 2 suposiccedilotildees
1) A reserva legal existe somente em niacutevel documental e natildeo no local apontado
dentro do imoacutevel
ou
2) A reserva legal existe mas estaacute com a cobertura vegetal bem semelhante agrave de fora
da sua aacuterea de maneira que pode estar tatildeo degradada quanto ou tatildeo conservada
quanto
Partindo para a segunda suposiccedilatildeo os iacutendices de NDVI constatam sim que a
cobertura vegetal apresenta um grau elevado de semelhanccedila entre os dois espaccedilos e que em 4
dos 6 imoacuteveis ambos diminuiacuteram de 1993 a 2007 Desta forma natildeo haacute como afirmar que a
reserva legal no estado em que se encontra nas propriedades analisadas eacute um meio de
combater a degradaccedilatildeo ambiental Contudo nos casos em que real e verdadeiramente for
aplicada por certo traraacute ganhos ambientais mas isto deve ser alvo de mais e maiores estudos
acerca do assunto
Eacute curioso que mesmo Irauccediluba sendo um nuacutecleo de desertificaccedilatildeo e por isso alvo
de estudos pesquisas projetos e poliacuteticas puacuteblicas envolvendo degradaccedilatildeo recuperaccedilatildeo e
conservaccedilatildeo ambiental a situaccedilatildeo aparentemente natildeo progride em termos de melhorias Ao
contraacuterio disto constata-se cada vez mais a deterioraccedilatildeo do meio ambiente a ocupaccedilatildeo e a
utilizaccedilatildeo indevida dos recursos naturais
Encerrando a abordagem do assunto tratado assevera-se que a reserva legal jaacute eacute
um instituto consolidado em lei natildeo justificando quaisquer argumentos quanto ao seu
descumprimento Inclusive a natildeo observacircncia do bendito mandamento eacute considerada crime e
nesse sentido natildeo haacute uma atuaccedilatildeo maciccedila do Estado em termos de fiscalizaccedilatildeo pois se assim
existisse natildeo se estaria diante de uma constataccedilatildeo tatildeo seacuteria acerca do pequeno nuacutemero de
imoacuteveis que apresentaram a reserva legal mesmo que documentalmente Essa estatiacutestica
diminuiu ainda mais quando se analisou a diferenccedila na vegetaccedilatildeo sendo possiacutevel concluir que
o caraacuteter conservacionista da reserva legal e ela proacutepria natildeo estatildeo alcanccedilando o fim para que
foi criada
Por fim acredita-se que a reserva legal se cumprida eacute um instrumento
conservacionista capaz de auxiliar na recuperaccedilatildeo ambiental e arrefecer os processos de
111
degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo criticamente manifestos no municiacutepio de Irauccediluba Indo mais
aleacutem vecirc-se que pela oacutetica do referido instituto o desenvolvimento sustentaacutevel eacute possiacutevel
pois mesmo de encontro a interesses particulares ele consegue reunir e harmonizar o vieacutes
econocircmico o social e o ambiental
112
REFEREcircNCIAS
AGCO Lanccedilamento nacional do CAR deve sair ateacute junho Sou Agro 22052013
Disponiacutevel em lt httpwwwsouagrocombrgt Acesso em 27 mai 2013
AHRENS Sergio O ldquonovordquocoacutedigo florestal brasileiro conceitos juriacutedicos fundamentais
Trabalho Voluntaacuterio In CONGRESSO FLORESTAL BRASILEIRO 8 Satildeo Paulo SP
Anais Satildeo Paulo Sociedade Brasileira de Silvicultura Brasiacutelia Sociedade Brasileira de
Engenheiros Florestais 2003 1 CD-ROM
AMADO Frederico Augusto Di Trindade Direito ambiental sistematizado Rio de Janeiro
Forense Satildeo Paulo Meacutetodo 2009
ANTUNES Paulo de Bessa Aacutereas protegidas e propriedade constitucional Satildeo Paulo
Atlas 2011
ARAUacuteJO Gustavo Henrique de Sousa ALMEIDA Josimar Ribeiro de GUERRA Antocircnio
Joseacute Teixeira Gestatildeo ambiental de aacutereas degradadas 3ed ndash Rio de Janeiro Bertrand
Brasil 2008
ARAUacuteJO FILHO Joatildeo Ambroacutesio SILVA Nilzemary Lima da Impactos e mitigaccedilatildeo do
antropismo no nuacutecleo de desertificaccedilatildeo em Irauccediluba In OLIVEIRA Joseacute Gerardo Beserra
SALES Marta Celina Linhares (Org) Monitorando a desertificaccedilatildeo em Irauccediluba
resultados de doze anos de pesquisa Fortaleza Ediccedilotildees UFC2013 (No Prelo)
BACHA Carlos Joseacute Caetano Eficaacutecia da poliacutetica de reserva legal no Brasil Teoria e
Evidecircncia Econocircmica Passo Fundo RS v 13 n25 p9-27 2005
BRASIL Acoacuterdatildeo nordm 2633-51 de 10 de dezembro de 2007 do Tribunal de Contas da Uniatildeo
Relatoacuterio de auditoria Projetos de assentamento Estudos de viabilidade ambiental Reserva
legal Licenciamento ambiental Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 11 dez 2007
Disponiacutevel em lthttptcugovbrgt Acesso em 12 mar 2013
BRASIL Constituiccedilatildeo Repuacuteblica dos Estados Unidos do Brasil de 16 de julho de 1934
Constituiccedilatildeo (1934) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Rio de Janeiro RJ 16 jul 1934
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 8 jul 2013
BRASIL Constituiccedilatildeo Repuacuteblica dos Estados Unidos do Brasil de 18 de setembro de 1946
Constituiccedilatildeo (1946) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Rio de Janeiro RJ 25 set 1946
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 08 jul 2013
BRASIL Constituiccedilatildeo Repuacuteblica Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988
Constituiccedilatildeo (1988) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia-DF 05 out 1988
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 8 set 2011
BRASIL Decreto Federal ndeg 24643 de 10 de julho de 1934 Decreta o Coacutedigo de Aacuteguas
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 10 jul 1934
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Decreto Federal ndeg 23793 de 23 de janeiro de 1934 Aprova o coacutedigo florestal
que com este baixa Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Rio de Janeiro RJ 21 mar 1935
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 11 nov 2010
BRASIL Decreto-Lei ndeg 227 de 28 de fevereiro de 1967 Daacute nova redaccedilatildeo ao Decreto-lei
nordm 1985 de 29 de janeiro de 1940 (Coacutedigo de Minas) Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia
DF 28 fev 1967 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Decreto Federal nordm 6514 de 22 de julho de 2008 Dispotildee sobre as infraccedilotildees e
sanccedilotildees administrativas ao meio ambiente estabelece o processo administrativo federal
para apuraccedilatildeo destas infraccedilotildees e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo Brasiacutelia DF 23 jul 2008 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em
05 out 2010
BRASIL Lei Federal ndeg 4504 de 30 de novembro de 1964 Dispotildee sobre o Estatuto da Terra
e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 31 nov 1964
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 08 jul 2013
BRASIL Lei Federal nordm 4771 de 15 de setembro de 1965 Institui o novo Coacutedigo Florestal
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 16 set 1965 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 10 out 2010
BRASIL Lei Federal ndeg 4947 de 06 de abril de 1966 Fixa Normas de Direito Agraacuterio
Dispotildee sobre o Sistema de Organizaccedilatildeo e Funcionamento do Instituto Brasileiro de
Reforma Agraacuteria e daacute outras Providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 11 abr
1966 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 02 abr 2013
BRASIL Lei Federal nordm 5197 de 03 de janeiro de 1967 Dispotildee sobre a proteccedilatildeo agrave fauna e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 03 jan 1967
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 6015 de 31 de dezembro de 1973 Dispotildee sobre os registros
puacuteblicos e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 31 dez 1973
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 6938 de 31 de agosto de 1981 Dispotildee sobre a Poliacutetica Nacional
do Meio Ambiente seus fins e mecanismos de formulaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 02 set 1981
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 13 ago 2012
BRASIL Lei Federal nordm 7803 de 18 de julho de 1989 Altera a redaccedilatildeo da Lei nordm 4771 de
15 de setembro de 1965 e revoga as Leis nordms 6535 de 15 de junho de 1978 e 7511 de 7
de julho de 1986 Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 20 jul 1989
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 15 mar 2012
BRASIL Lei Federal nordm 7827 de 27 de setembro de 1989 Regulamenta o art 159 inciso I
aliacutenea c da Constituiccedilatildeo Federal institui o Fundo Constitucional de Financiamento do
Norte - FNO o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste - FNE e o Fundo
Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste - FCO e daacute outras providecircncias
114
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 27 set 1989 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 13 mai 2013
BRASIL Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada Amazocircnia Legal Brasiacutelia 2011
Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrgt Acesso em 02 jun2013
BRASIL Lei Federal nordm 9443 de 08 de janeiro de 1997 Institui a Poliacutetica Nacional de
Recursos Hiacutedricos cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hiacutedricos
regulamenta o inciso XIX do art 21 da Constituiccedilatildeo Federal e altera o art 1ordm da Lei nordm
8001 de 13 de marccedilo de 1990 que modificou a Lei nordm 7990 de 28 de dezembro de 1989 Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 08 jan 1997 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 05 out 2010
BRASIL Lei Federal nordm 9605 de 12 de fevereiro de 1998 Dispotildee sobre as sanccedilotildees penais e
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 12 fev 1998
Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 11959 de 29 de junho de 2009 Dispotildee sobre a Poliacutetica Nacional
de Desenvolvimento Sustentaacutevel da Aquicultura e da Pesca regula as atividades
pesqueiras revoga a Lei nordm 7679 de 23 de novembro de 1988 e dispositivos do Decreto-
Lei nordm 221 de 28 de fevereiro de 1967 e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo Brasiacutelia DF 29 jun 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em
11 mai 2013
BRASIL Lei Federal nordm 12651 de 25 de maio de 2012 Dispotildee sobre a proteccedilatildeo da
vegetaccedilatildeo nativa altera as Leis nos 6938 de 31 de agosto de 1981 9393 de 19 de
dezembro de 1996 e 11428 de 22 de dezembro de 2006 revoga as Leis nos 4771 de 15
de setembro de 1965 e 7754 de 14 de abril de 1989 e a Medida Provisoacuteria no 2166-67
de 24 de agosto de 2001 e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF
25 mai 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 17 jan 2013
BRASIL Medida Provisoacuteria nordm 1511 de 25 de julho de 1996 Daacute nova redaccedilatildeo ao art 44
da Lei nordm 4771 de 15 de setembro de 1965 e dispotildee sobre a proibiccedilatildeo do incremento da
conversatildeo de aacutereas florestais em aacutereas agriacutecolas na regiatildeo Norte e na parte Norte da
regiatildeo Centro-Oeste e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 26
jul 1996 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Medida Provisoacuteria nordm 2166-67 de 24 de agosto de 2001 Altera os arts 1o 4o 14
16 e 44 e acresce dispositivos agrave Lei no 4771 de 15 de setembro de 1965 que institui o
Coacutedigo Florestal bem como altera o art 10 da Lei no 9393 de 19 de dezembro de 1996
que dispotildee sobre o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 25 ago 2001 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbr gt Acesso em 05 out 2010
BRASIL Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio II Plano Nacional de Reforma Agraacuteria
ndash PNRA 2003 Conferecircncia da Terra em Brasiacutelia Disponiacutevel em lt httpwwwmdagovbrgt Acesso em 23 jul 2013
115
BRASIL Resoluccedilatildeo CONAMA ndeg 5 de 15 de junho de 1989 Dispotildee sobre o Programa
Nacional de Controle da Poluiccedilatildeo do Ar ndash PRONAR Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF
25 ago 1989 Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 11 mai 2013
BRASIL Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro
Brasiacutelia 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwasabrasilorgbrgt Acesso em 05 jun 2013
BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Monitoramento do desmatamento nos biomas
brasileiros por sateacutelite Acordo de cooperaccedilatildeo teacutecnica MMAIBAMA Monitoramento do
bioma Caatinga Brasiacutelia 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 16
mar 2012
BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Programa de Accedilatildeo Nacional de Combate agrave
Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca PAN-Brasil Brasiacutelia 2004
Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 07 mai 2012
BRASIL Norma de Execuccedilatildeo INCRA nordm 43 de 28 de junho de 2005 Estabelece criteacuterios e
procedimentos referentes agrave implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de
Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria Boletim de Serviccedilos nordm
27 de 04072005 Disponiacutevel em lthttpwwwincragovbrgt Acesso em 05 abr 2013
BRASIL Norma de Execuccedilatildeo INCRA nordm 44 de 28 de junho de 2005 Estabelece valor
unitaacuterio por famiacutelia referente agrave implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de
Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria
Disponiacutevel em lthttpwwwincragovbrgt Acesso em 05 abr 2013
BRASIL Norma de Execuccedilatildeo INCRA nordm 51 de 24 de julho de 2006 Aprova o Manual para
Elaboraccedilatildeo e Implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos naturais e
seus Anexos Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 26 jul 2006
Disponiacutevel em lthttpwwwincragovbrgt Acesso em 05 abr 2013
BRASIL Resoluccedilatildeo CONAMA ndeg 387 de 27 de dezembro de 2006 Revoga a Resoluccedilatildeo
CONAMA no 28901 Estabelece procedimentos para o licenciamento ambiental de Projetos
de Assentamentos de Reforma Agraacuteria e daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo Brasiacutelia DF 29 dez 2006
Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrgt Acesso em 03 abr 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Lei Estadual nordm 12488 de 13 de setembro de
1995 Dispotildee sobre a Poliacutetica Florestal do Estado do Cearaacute e daacute outras providecircncias Diaacuterio
Oficial do Estado Cearaacute CE 27 set 1995
Disponiacutevel em lthttpwwwalcegovbrgt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Resoluccedilatildeo COEMA ndeg 09 de 29 de maio de
2003 Institui o compromisso de compensaccedilatildeo ambiental por danos causados ao meio
ambiente e pela utilizaccedilatildeo de recursos ambientais Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 09
jun 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwsemacecegovbrgt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Lei Complementar Estadual nordm 48 de 19 de julho
de 2004 Cria o Fundo e o Conselho Estadual Gestor do Meio Ambiente ndash FEMA e daacute
116
outras providecircncias Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 23 jul 2004 Disponiacutevel em
lthttpwwwalcegovbr gt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Decreto Estadual ndeg 27719 de 07 de marccedilo de
2005 Regulamenta a Lei Complementar nordm 48 de 19 de julho de 2004 que cria o Fundo
Estadual do Meio Ambiente ndash FEMA o Conselho Gestor e revoga o Decreto nordm 27564 de
17 de setembro de 2004 Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 07 mar 2005 Disponiacutevel
em lthttpwwwalcegovbr gt Acesso em 17 jul 2013
CEARAacute Assembleia Legislativa do Estado Lei Estadual nordm 14198 de 05 de agosto de 2008
Institui a Poliacutetica Estadual de Combate e Prevenccedilatildeo agrave Desertificaccedilatildeo e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial do Estado Cearaacute CE 12 ago 2008 Disponiacutevel em
lthttpwwwalcegovbrgt Acesso em 19 jul 2013
CEARAacute Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute ndash IPECE Cearaacute em
nuacutemeros Fortaleza 2010 Disponiacutevel em httpwwwipececegovbr Acesso em 17 nov
2012
CEARAacute Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute Perfil baacutesico municipal
Irauccediluba Fortaleza 2012 Disponiacutevel em httpwwwipececegovbr Acesso em 21 jul
2013
CEARAacute Secretaria dos Recursos Hiacutedricos Programa de accedilatildeo estadual de combate agrave
desertificaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo dos efeitos da seca PAE-CE Fortaleza Ministeacuterio do Meio
Ambiente Secretaria dos Recursos Hiacutedricos 2010 372p
CRIADO Francisco de Asiacutes Palaacutecios O registro e seus desafios no novo milecircnio ordem
progresso e proteccedilatildeo ambiental Satildeo Paulo Saraiva 2010
DANTAS Eustoacutegio Wanderley Correia et al Cearaacute um novo olhar geograacutefico 2 ed atual
Fortaleza Ediccedilotildees Demoacutecrito Rocha 2007
EMBRAPA Centro Nacional de Pesquisa de Solos (Rio de Janeiro RJ) Sistema brasileiro
de classificaccedilatildeo de solos 2 ed ndash Rio de Janeiro 2006
FILHO Humberto Lima de Lucena Consideraccedilotildees acerca da medida provisoacuteria ndash aspectos
juriacutedicos e praacuteticas governamentais Revista Eletrocircnica Jus Navegandi Ano 2005 mecircs
JULHO Disponiacutevel em ltwwwjuscombrgt Acesso em 02 jun 2013
FOLHES Marcelo Teophilo VIANA Manuel Osoacuterio de Lima Estudo da
degradaccedilatildeodesertificaccedilatildeo em sistemas de produccedilatildeo no semiaacuterido nos estados do Cearaacute
e Piauiacute diagnoacutestico soacutecio-econocircmico do municiacutepio de Irauccediluba Departamento de Economia
Agriacutecola da Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2001
GALDINO Valeacuteria Silva CANDIDO Angeacutelica Giosa Da reserva legal florestal como
limitaccedilatildeo ao direito de propriedade Revista de Ciecircncias Juriacutedicas v 6 n1 237-252 2008
GUERRA Antocircnio Joseacute Teixeira et al Dicionaacuterio de meio ambiente Rio de Janeiro Thex
2009
117
IBGE Censo 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrgt Acesso 3 ago 2013
IBGE Censo 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrgt Acesso 3 ago 2013
IBGE Censo 2011 Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrgt Acesso 3 ago 2013
IRAUCcedilUBA Prefeitura Municipal Lei Municipal nordm 565 de 19 de outubro de 2007 Dispotildee
sobre a Poliacutetica Ambiental do Municiacutepio de Irauccediluba Unidades de Conservaccedilatildeo e daacute
outras providecircncias IrauccedilubaCE 2007
IRAUCcedilUBA Prefeitura Municipal Plano de accedilatildeo municipal de combate a desertificaccedilatildeo
de Irauccediluba (PAM 2009) Irauccediluba CEInstituto Cactos 2009
JACOMINE P K T et al Levantamento exploratoacuterio reconhecimento de solos do Estado
do Cearaacute Recife DPP AgMADNPEA-SUDENEDRN 1973 2 v (Boletim de Pesquisa n
28)
LUSTOSA Jacqueline Pires Gonccedilalves Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica micromorfoloacutegica e
mineraloacutegica de trecircs topossequumlecircncias no Municiacutepio de Irauccediluba e suas relaccedilotildees com os
processos de desertificaccedilatildeo 142f 2004 Tese de doutorado em Geociecircncias Instituto de
Geociecircncias e Ciecircncias Exatas da Universidade Estadual Paulista Rio ClaroSP 2004
MAIA Gerda Nickel Caatinga aacutervores e arbustos e suas utilidades 2 ed Fortaleza
Printcolor Graacutefica e Editora 2012
MAGNANINI Alceo A histoacuteria da Lei Federal ndeg 47711965 (ldquoCoacutedigordquo florestal
brasileiro) Disponiacutevel em lthttpwwwportaldomeioambienteorgbrgt Acesso em lt20 dez
2010gt
MATALLO JR Heitor A desertificaccedilatildeo no mundo e no Brasil In SCHENKEL Celso
Salatino MATALLO JR Heitor Desertificaccedilatildeo Brasiacutelia UNESCO 1999
MEIRELES Hely Lopes Direito administrativo brasileiro 29 ed Satildeo Paulo Malheiros
2004
MELO Ewerton Torres Diagnoacutestico fiacutesico conservacionista da microbacia do riacho dos
cavalos - Crateuacutes-Cearaacute 128f 2008 Dissertaccedilatildeo de mestrado do Programa Regional de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) da Universidade
Federal do Cearaacute FortalezaCE 2008
MELO Marcelo Augusto Santana O meio ambiente e o registro de imoacuteveis Satildeo Paulo
Saraiva 2010
METZGER Jean Paul Bases bioloacutegicas para a bdquoreserva legal‟ Revista Ciecircncia Hoje v 31
n 183 p 48-49 2002
MILAREacute Eacutedis Direito do ambiente e a gestatildeo ambiental em foco doutrina
jurisprudecircncia glossaacuterio 6ed rev atual e ampl Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais
2009
118
MIRANDA Joatildeo Paulo Rocha de Aquecimento global queimadas e reserva legal no
Direito Paacutetrio conflitos e desafios na Amazocircnia brasileira MT Amazoon Manaus 2008
MONDIN Basttista Introduccedilatildeo agrave filosofia problemas sistemas autores obras 15 ed Satildeo
Paulo Paulus 2004 p 117
MONTEIRO Washington de Barros Curso de direito civil parte geral 4 ed Satildeo Paulo
Saraiva 1992
MORAES Luis Carlos Silva de Coacutedigo florestal comentado Satildeo Paulo Atlas 2002
NOLETO Tania Maria Serra de Jesus Suscetibilidade geoambietal das terras secas da
microrregiatildeo de SobralCe agrave desertificaccedilatildeo 145f 2005 Dissertaccedilatildeo de mestrado do
Programa Regional de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA)
da Universidade Federal do Cearaacute FortalezaCE 2005
ODUM Eugene P BARRET Gary W Fundamentos da ecologia Satildeo Paulo Cengage
Learning 2008
PINHEIRO Renata Aline Bezerra Anaacutelise do processo de degradaccedilatildeodesertificaccedilatildeo na
bacia do riacho feiticeiro com base no DFC municiacutepio de Jaguaribe-Cearaacute 129f 2011
Dissertaccedilatildeo de mestrado do Programa Regional de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e
Meio Ambiente (PRODEMA) da Universidade Federal do Cearaacute FortalezaCE 2011
SALES Marta Celina Linhares Evoluccedilatildeo dos estudos de desertificaccedilatildeo no nordeste
brasileiro Revista GEOUSP Espaccedilo e TempoSatildep Paulo n11 p 115-126 2002
SCHAFFER Wigold B MEDEIROS Joatildeo de Deus Normas ambientais gerais de caraacuteter
nacional imprescindiacuteveis para as poliacuteticas estrateacutegicas do paiacutes Ano 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwapremaviorgbrgt Acesso em 20 set 2010
SILVA Benedita Aparecida de Poliacutetica florestal reserva legal extra propriedade Revista
Economia Anaacutelises e Perspectivas Socioeconocircmicas v 3 n7 p 59-60 2001
SORENSEN Thorvald Julius A Method of establishing groups of equal amplitude in
plant sociology based on similarity of species content and its application to analyses of
the vegetation on danish commons Koslashbenhavn I kommission hos E Munksgaard 1948
SUDENE Dados pluviomeacutetricos mensais do nordeste estado do Cearaacute Recife 1990
THORNTHWAITE Charles Warren MATHER John Russell The Water Balance
Publications in climatology New Jersey v3 n1 1955
TRENNEPOHL Curt As sanccedilotildees administrativas aplicaacuteveis pela falta de averbaccedilatildeo da
reserva legal Constitucionalidade e legalidade do art 55 do Decreto ndeg 651408 Foacuterum de
Direito Urbano e Ambiental v 8 n44 p 09-14 2009
119