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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ-UFC PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE - PRODEMA ISABELLE MARINHO QUINDERÉ SARAIVA O EMPREGO DA RESERVA LEGAL NO MUNICÍPIO DE IRAUÇUBA/CE FORTALEZA 2013

O EMPREGO DA RESERVA LEGAL NO MUNICÍPIO DE IRAUÇUBA/CE€¦ · Figura 1 Objetivos da reserva legal no Código Florestal de 1965 27 Figura 2 Objetivos da reserva legal na Lei 12.651/2012

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Page 1: O EMPREGO DA RESERVA LEGAL NO MUNICÍPIO DE IRAUÇUBA/CE€¦ · Figura 1 Objetivos da reserva legal no Código Florestal de 1965 27 Figura 2 Objetivos da reserva legal na Lei 12.651/2012

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute-UFC

PROacute-REITORIA DE PESQUISA E POacuteS-GRADUACcedilAtildeO

PROGRAMA REGIONAL DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO

EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE - PRODEMA

ISABELLE MARINHO QUINDEREacute SARAIVA

O EMPREGO DA RESERVA LEGAL NO MUNICIacutePIO DE

IRAUCcedilUBACE

FORTALEZA

2013

ISABELLE MARINHO QUINDEREacute SARAIVA

O EMPREGO DA RESERVA LEGAL NO MUNICIacutePIO DE

IRAUCcedilUBACE

Dissertaccedilatildeo submetida agrave Coordenaccedilatildeo do

Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento

e Meio Ambiente da Universidade Federal do

Cearaacute como requisito parcial para obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de Mestre em Desenvolvimento e Meio

Ambiente

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Organizaccedilatildeo do Espaccedilo

e Desenvolvimento Sustentaacutevel

Orientador Prof Dr Joseacute Gerardo Beserra de

Oliveira

FORTALEZA

2013

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo

Universidade Federal do Cearaacute

Biblioteca de Ciecircncias e Tecnologia

S246e Saraiva Isabelle Marinho Quindere

O Emprego da reserva legal no municiacutepio de Irauccediluba Ce Isabelle Marinho Quindere Saraiva ndash

2013

122f il color enc 30 cm

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Universidade Federal do Cearaacute Programa Regional de Poacutes Graduaccedilatildeo

em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA Mestrado em Desenvolvimento e Meio

Ambiente Fortaleza 2013

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Organizaccedilatildeo do Espaccedilo e Desenvolvimento Sustentaacutevel

Orientaccedilatildeo Prof Dr Joseacute Gerado Beserra de Oliveira

1 Degradaccedilatildeo 2 Coacutedigo florestal 3 Reserva legal 4 Irauccediluba-Ce I Tiacutetulo

CDD 6367

ISABELLE MARINHO QUINDEREacute SARAIVA

O EMPREGO DA RESERVA LEGAL NO MUNICIacutePIO DE

IRAUCcedilUBACE

Dissertaccedilatildeo submetida agrave Coordenaccedilatildeo do

Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento

e Meio Ambiente da Universidade Federal do

Cearaacute como requisito parcial para obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de Mestre em Desenvolvimento e Meio

Ambiente

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Organizaccedilatildeo do Espaccedilo

e Desenvolvimento Sustentaacutevel

Orientador Prof Dr Joseacute Gerardo Beserra de

Oliveira

Aprovada em ___ ___ _____

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________

Prof Dr Joseacute Gerardo Beserra de Oliveira (Orientador)

Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC

________________________________________________

Profordf Drordf Marta Celina Linhares Sales

Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC

________________________________________________

Profordf Drordf Jacqeline Pires Gonccedilalves Lustosa

Universidade Federal de Campina Grande ndash UFCG

Dedico a Deus minha forccedila Autor da minha

vida meu tudo e ao meu marido Pedro

eterno companheiro e ajudador

AGRADECIMENTOS

A Deus que eacute Quem me permitiu ser aprovada estar e concluir esse curso tatildeo importante Ele

que em mim gerou todas as forccedilas necessaacuterias para continuar e natildeo desistir dando-me a

condiccedilatildeo de chegar ateacute o fim com louvor

Ao Professor Dr Joseacute Gerardo Beserra de Oliveira pela orientaccedilatildeo pela paciecircncia pelo

carinho e apoio desprendidos para a realizaccedilatildeo deste trabalho Por seus conhecimentos na

aacuterea pois sem eles natildeo poderia ter me levado a enriquecer tanto este trabalho

Agrave CAPES que me ajudou financeiramente

Agrave minha famiacutelia em especial minha matildee que sempre procurou saber como estava a minha

pesquisa dando-me aquele apoio nato de matildee

A Pedro Saraiva meu amor grande amor que sempre me apoiou e acreditou no meu talento

na minha competecircncia e vitoacuteria

Aos servidores do INCRA muito soliacutecitos e atenciosos com a minha pesquisa dentre eles sr

Raimundo Martins da Divisatildeo de Ordenamento da Estrutura Fundiaacuteria Joseacute Jaime D‟Alencar

Juacutenior do Serviccedilo de Cartografia Odilo Neto Luna Coelho e Joseacute Salmito de Almeida Juacutenior

ambos da Divisatildeo de Obtenccedilatildeo de Terras ndash setor de Serviccedilo ao Meio Ambiente

Agrave Dra Claacuteudia Regina Nogueira titular do Cartoacuterio de Registro de Imoacuteveis de Irauccediluba por

sua disponibilidade e por permitir o acesso aos livros cartoraacuterios onde encontrei dados tatildeo

importantes para o trabalho

Ao IDACE atraveacutes dos servidores Dr Paulo Henrique Lobo diretor teacutecnico de operaccedilotildees

Dr Ricardo Durval superintendente do oacutergatildeo Linardy Barreto de Holanda Priscila Azevedo

de Aguiar ambos do Nuacutecleo de Geoprocessamento (NUGEO) Nadir Loiola Dias e Florence

Mary Cavalcante Mouratildeo Lobo ambas da Diretoria Teacutecnica e de Operaccedilotildees (DTO) Todos

eles me ajudaram de forma a tornar possiacutevel parte desta pesquisa pelo que sou imensamente

grata

Perguntei-me inuacutemeras vezes se deveria prosseguir A resposta me era

dada quando olhava para traacutes e via meu passado cheio de grandes

vitoacuterias e conquistas pela matildeo de Deus e pelo meu esforccedilo Entatildeo

decidi que natildeo seria agora que natildeo chegaria ateacute o fim mesmo que o

que me impulsionou para esse desafio jaacute natildeo tem mais a mesma

intensidade Aqui estou eu fazendo desse momento mais uma

imensuraacutevel vitoacuteria por Aquele que um dia me deu essa oportunidade

A Ele toda honra e toda gloacuteria

A autora

RESUMO

A degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio de Irauccediluba eacute alvo de vaacuterias pesquisas pois eacute um

problema onde as causas estatildeo presentes natildeo soacute ali mas em grande parte do semiaacuterido

nordestino no entanto ao se tratar deste assunto logo vem agrave tona outra questatildeo mais seacuteria o

processo de desertificaccedilatildeo O presente trabalho faz uma raacutepida abordagem do semiaacuterido

dando especial evidecircncia agravequele municiacutepio englobando a origem da degradaccedilatildeo a atual

situaccedilatildeo local e possiacuteveis formas para minimizar ou ateacute mesmo estagnar aquele problema

ambiental O objetivo geral foi levantar o nuacutemero de propriedades rurais no municiacutepio

elegendo em sua maioria os projetos de assentamento rural e verificar se possuiacuteam ou natildeo

uma aacuterea especialmente protegida denominada reserva legal A escolha desse instituto como

indicador se deu por ser ele um instrumento criado por lei e que por sua vez impele todo e

qualquer proprietaacuterio ou possuidor rural a manter uma parcela miacutenima de 20 do seu imoacutevel

preservado como aacuterea de Reserva Legal Sua efetividade como instrumento de preservaccedilatildeo

foi analisada em 6 propriedades a partir de imagens do sateacutelite LANDSAT 5 com base nos

anos de 1993 e 2007 e atraveacutes da anaacutelise do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada

(NDVI) foi realizado um estudo comparativo para verificar se houve evoluccedilatildeo ou natildeo do

quadro vegetativo dentro e fora das aacutereas de reserva legal Na identificaccedilatildeo dos imoacuteveis

estudados soacute foram encontrados seis com reserva legal oficialmente implantada ateacute o ano de

2007 data mais recente da imagem de sateacutelite empregada A anaacutelise comparativa realizada

com esses imoacuteveis que tecircm algum tipo de registro no Cartoacuterio de Imoacuteveis eou no INCRA

dentre os 713 medidos e georreferenciados pelo IDACE e que por sua vez foi conduzida com

uso do NDVI natildeo indicou diferenccedila significativa entre os iacutendices encontrados para a

cobertura vegetal dentro e fora das aacutereas de Reserva Legal

Palavras-chave Degradaccedilatildeo Ambiental Coacutedigo Florestal Reserva Legal IrauccedilubaCE

ABSTRACT

The environmental degradation in the municipality of Irauccediluba is the target of several studies

because it is an issue where the causes are present in much of the northeastern semiarid

However when dealing with this subject soon comes to attention another issue which is more

serious and that arises from the ongoing degradation the process of desertification The

present paper analyzes briefly the cearense semiarid giving special emphasis to that

municipality so that the origin of the degradation the current local situation and even

possible ways to minimize or even stagnate that environmental problem were all the target of

this research The overall goal was to enumerate the number of farms among them those that

either have a specially protected area called legal reserve or those that does not The choice

of this statistic as an indicator was due to the fact that it is a legal instrument which in turns

compels all and any owner of land or rural possessor to maintain 20 of their property

preserved as a Legal Reserve area Its effectiveness as a tool for preservation was analyzed in

6 properties with the help of satellite images from LANDSAT 5 taken between the years

1993 and 2007 and by examining the Normalized Difference Vegetation Index (NDVI) a

comparative study was conducted to determine whether there was a growth or not of the

vegetative area inside and outside the legal reserves During the identification of the

properties to be studied only six were found to have a legal reserve officially implemented by

the year 2007 the most recent date of the satellite images used A comparative analysis with

those lands that have some kind of record in the Registry of Property andor INCRA among

the 713 measured and georeferenced by IDACE and that in turn used the NDVI as a

guideline indicated no significant difference on the index either inside or outside the Legal

Reserves areas

Key-Words Environmental degradation Forest code Legal reserve IrauccedilubaCE

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 27

Figura 2 Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 (Novo Coacutedigo

Florestal)

27

Figura 3 Sistema de degradaccedilatildeo do meio ambiente 47

Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro 53

Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute 54

Figura 6 Iacutendice de aridez (UNEP) 56

Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo no Cearaacute 57

Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo 57

Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no ISSD 59

Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no IESD 60

Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios 61

Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute 79

Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba 79

Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo 81

Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras permanentes 85

Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras temporaacuterias 85

Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem

vegetal (tonano)

86

Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem

vegetal (m3ano)

86

Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011) 87

Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001 88

Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010 88

Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011 89

Figura 23 Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos 90

Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba 91

Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba 92

Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba 94

Figura 27 Grupo de solos que formam as associaccedilotildees pedoloacutegicas em

Irauccediluba

95

Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba 96

Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba 97

Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual 97

Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba 98

Figura 32 Iacutendice de umidade em Irauccediluba 98

Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba 100

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Medidas Provisoacuterias 21

Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras 48

Tabela 3 Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez (UNEP) 52

Tabela 4 Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo 55

Tabela 5 Levantamento de imoacuteveis com reserva legal (cartoacuterio de

registro de imoacuteveis)

73

Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais 76

Tabela 7 Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba 77

Tabela 8 Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de

anaacutelise

80

Tabela 9 Dados da propriedade particular estudada 80

Tabela 10 Propriedades estudadas 81

Tabela 11 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem

animal

87

Tabela 12 Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores 90

Tabela 13 Relaccedilatildeo entre solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo 93

Tabela 14 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEmbrapa 93

Tabela 15 Anaacutelise geral das propriedades estudadas 101

Tabela 16 NDVI dos imoacuteveis estudados 107

Tabela 17 Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal entre dentro e fora da aacuterea

de reserva legal pelo meacutetodo Sorensen

108

SUMAacuteRIO

Lista de Figuras vii

Lista de Tabelas ix

Resumo v

Abstract vi

INTRODUCcedilAtildeO 12

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 14

11 O Instituto da Reserva Legal 14

111 Conceito 15

112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica 17

113 Importacircncia da Reserva Legal 30

1131 Juriacutedica 31

1132 Social 32

1133 Ambiental 33

1134 Econocircmica 35

114 Direito de Propriedade X Reserva Legal 36

1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa 41

1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal 42

2 PROCESSO DE DEGRADACcedilAtildeO 45

21 Conceito 45

22 Degradaccedilatildeo ambiental 48

221 Erosatildeo 49

222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica 49

223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica 50

23 A degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 51

231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia 52

24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental 62

25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira 65

251 Lei ambiental de Irauccediluba 69

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 71

31 Reserva Legal em Irauccediluba 71

311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental ndash Projeto de

Assentamento Agraacuterio em foco

73

32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo 78

321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba 78

3211 Das propriedades estudadas 79

3212 Aspectos histoacutericos de ocupaccedilatildeo 82

322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas 82

323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba 91

3231 Altimetria e Classes de relevo 91

3232 Solos 92

3233 Clima 95

3234 Vegetaccedilatildeo 99

3235 Recursos Hiacutedricos 100

324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo 101

33 Metodologia 104

331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite 104

4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES 107

41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 107

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 110

REFEREcircNCIAS 113

INTRODUCcedilAtildeO

A degradaccedilatildeo como um problema ambiental jaacute foi alvo de inuacutemeras pesquisas

principalmente quando se trata do semiaacuterido brasileiro Estudos nesse sentido datam da

deacutecada de 70 eacutepoca em que o professor Vasconcelos Sobrinho passou a pesquisar o processo

de desertificaccedilatildeo no nordeste do Brasil (SALES 2002) Nas investigaccedilotildees ele identificou um

nuacutecleo no Cearaacute que se localiza em Irauccediluba Em assim sendo buscou-se desenvolver um

trabalho naquele municiacutepio tomando por base um mecanismo criado por lei cujo caraacuteter eacute a

conservaccedilatildeo do meio ambiente Trata-se da reserva legal Como nessa aacuterea natildeo haacute pesquisa

envolvendo a aplicabilidade do tal instituto viu-se a oportunidade de estudaacute-la produzindo-se

o presente trabalho

A proposta principal da pesquisa eacute fazer um levantamento dos imoacuteveis existentes

no municiacutepio de Irauccediluba pontuando de forma preponderante os de propriedade federal e

estadual destinados aos assentamentos rurais e assim identificar nessas aacutereas a existecircncia ou

natildeo do instituto da reserva legal e sua devida implantaccedilatildeo Nesse sentido encontrou-se 6

propriedades que possuiacuteam a reserva legal sendo 5 puacuteblicas e 1 privada Empoacutes o segundo

intuito envolve a diferenciaccedilatildeo entre a cobertura vegetal da reserva e do restante da

propriedade a partir da utilizaccedilatildeo de imagens de sateacutelite e o uso do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por

Diferenccedila Normalizada (NDVI)

Para isso foi necessaacuterio fazer um apanhado de como esse instrumento de

conservaccedilatildeo foi e eacute abordado no Coacutedigo Florestal que eacute a lei onde haacute previsatildeo da reserva

legal bem como traccedilar um histoacuterico de como se deu sua evoluccedilatildeo dentro do quadro

legislativo no paiacutes foi igualmente essencial Da mesma maneira buscou-se contextualizar a

importacircncia da reserva legal nos aspectos econocircmico juriacutedico social e ambiental de forma

que ficou ilustrado o valor que esse mecanismo tem para a sociedade As discussotildees de cunho

juriacutedico e praacutetico sobre o assunto foram levantadas pois o proprietaacuterio do imoacutevel vecirc a reserva

legal como ocircnus e natildeo como um instrumento de conservaccedilatildeo que traraacute imensuraacuteveis

benefiacutecios ambientais dentro de sua proacutepria aacuterea Encerrando o primeiro capiacutetulo tecircm-se as

formas de cumprir o mandamento legal que envolvem a reserva muito embora isto tenha

sofrido algumas alteraccedilotildees como se veraacute a seguir

Quanto agrave reserva legal em Irauccediluba as constataccedilotildees natildeo satildeo animadoras

Infelizmente haacute um desencontro de informaccedilotildees a comeccedilar pelo controle do nuacutemero de

imoacuteveis existentes no municiacutepio Em seguida soacute foram encontrados trecircs imoacuteveis com a

obrigaccedilatildeo devidamente formalizada em cartoacuterio Isso diante de um universo de mais de 700

propriedades eacute frustrante e desencorajador Outra abordagem feita neste toacutepico aponta o

licenciamento ambiental como mais um instrumento possibilitador da instalaccedilatildeo da reserva

legal pois o oacutergatildeo ambiental tem dever de exigir o tal instituto para licenciar atividades e

empreendimentos localizados em zona rural

Igualmente desalentadora eacute a degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio Por se tratar de

uma aacuterea com caracteriacutesticas naturalmente adversas e limitantes sua ingerecircncia deveria ser

profundamente fiscalizada e regulamentada pelas autoridades competentes em todos os niacuteveis

de governo Mas isso natildeo ocorre pelo contraacuterio em Irauccediluba satildeo exercidas atividades com

meacutetodos bem rudimentares e sem qualquer preocupaccedilatildeo com a recuperaccedilatildeo dos danos e com a

capacidade de suporte do meio Assim acontece a degradaccedilatildeo das aacutereas com a praacutetica do

desmatamento das queimadas do sobrepastoreio e outros tipos de intervenccedilatildeo

ambientalmente prejudiciais Diante desse quadro o homem do campo tende a abandonar

estas e ocupar outras terras estimulando ainda mais o processo de desertificaccedilatildeo ali presente

Outro toacutepico em que se chama atenccedilatildeo no trabalho eacute a quantidade de leis

envolvendo o tema Natildeo faltam regulamentaccedilotildees muito pelo contraacuterio sobram O que se

percebe eacute a existecircncia de leis para vaacuterios assuntos em vez de uma que englobe a maioria

deles Com lei ou sem lei a situaccedilatildeo parece natildeo progredir positivamente em termos de

recuperaccedilatildeo ambiental embora haja uma estrutura poliacutetica econocircmica e juriacutedica dirigida para

tais fins Aleacutem disto existem poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o municiacutepio especificamente e

outras que natildeo mas podem ser implementadas ali Eacute o caso dos benefiacutecios dos inuacutemeros

programas de governo direcionados para a reforma agraacuteria por exemplo Outro caso satildeo os

fundos de combate agrave degradaccedilatildeo e agrave desertificaccedilatildeo Nesta orientaccedilatildeo percebe-se que natildeo

faltam leis poliacuteticas puacuteblicas ou recursos Felizmente existe todo um aparato no sentido de

melhorar as condiccedilotildees ambientais e minimizar danos mas infelizmente na praacutetica essa

estrutura natildeo voga como deveria

Todo esse cenaacuterio estaacute enquadrado na caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo

devidamente abordada no terceiro capiacutetulo Laacute satildeo mencionados os aspectos socioeconocircmicos

do municiacutepio perpassando pelos acontecimentos histoacutericos de sua ocupaccedilatildeo As

caracteriacutesticas fisiograacuteficas de Irauccediluba tambeacutem se fazem presentes de maneira que foram

abordados aspectos pedoloacutegicos climaacuteticos vegetativos e hiacutedricos Aleacutem disto a metodologia

utilizada permitiu as constataccedilotildees discorridas nos resultados e discussotildees inseridas no

capiacutetulo 4 de forma que os objetivos da pesquisa foram alcanccedilados

13

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

11 O Instituto da Reserva Legal

A reserva legal eacute um instituto cuja importacircncia perfaz o esteio do

desenvolvimento sustentaacutevel no sentido de que harmoniza a viabilidade econocircmica com a

justiccedila social e o equiliacutebrio ecoloacutegico Eacute um notaacutevel exemplo de que eacute possiacutevel coexistirem

interesses particulares e coletivos pois a reserva legal nada mais eacute que a conservaccedilatildeo

ambiental de uma determinada porcentagem da propriedade ou posse rural passiacutevel de

intervenccedilatildeo pelo homem do campo

O presente estudo indica a reserva legal como uma forma de conservaccedilatildeo do

meio em face da extraccedilatildeo vegetal promovida pelo proprietaacuterio agriacutecola Foca ainda os

aspectos social econocircmico e ambiental dessa imposiccedilatildeo que tem seu nascedouro na legislaccedilatildeo

vigente Corrobora Silva (2001 p 59) ao afirmar que ldquoa cobertura vegetal nativa sobretudo

as florestais exerce papel de fundamental importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de

ecossistemas naturais bem como de ecossistemas criados pelo homemrdquo No mesmo sentido

Miranda (2008 p 31) diz que ldquoa reserva legal contribui para a mitigaccedilatildeo do aquecimento

global salvaguarda a biodiversidade e garante agraves presentes e futuras geraccedilotildees o direito a um

meio ambiente ecologicamente equilibradordquo

Traz-se agrave tona os aspectos que fundamentam a reserva legal como um instituto

que fora criado por lei especiacutefica para a conservaccedilatildeo do meio pois erroneamente os

proprietaacuterios rurais a veem como limitaccedilatildeo ao direito de propriedade e entendem que destinar

uma porcentagem de seus imoacuteveis para uma aacuterea que natildeo corresponde agrave afericcedilatildeo de lucro eacute

tatildeo somente um ocircnus eou uma perda e natildeo um investimento Nesse sentido explicam

Galdino e Candido (2008 p 251) que ldquoa instituiccedilatildeo da reserva legal natildeo enfraquece ou destroacutei

o direito de propriedade Ao reveacutes possibilita a existecircncia de um meio ambiente

ecologicamente equilibrado condicionando a propriedade a uma funccedilatildeo socioambientalrdquo

Conforme Bacha (2005 p 24) ldquodeve-se pensar em novas formas de estiacutemulo

econocircmico ao produtor para que ele recomponha a reserva legal pois a legislaccedilatildeo atual

apenas lhe coloca custos em contrapartida de benefiacutecios a toda sociedaderdquo Cabe ainda

mencionar a possibilidade prevista no Coacutedigo Florestal ou seja na Lei 4771 (BRASIL

1965) quanto agrave intervenccedilatildeo na aacuterea destinada agrave reserva legal de forma sustentaacutevel sem

suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo

econocircmica dessas aacutereas

Existem estudos justificando biologicamente a existecircncia da reserva legal Eacute sobre

o que discorre Metzger (2002 p 48) quando afirma que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de

propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa satildeo

fundamentais para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada

regiatildeordquo Complementa ainda Silva (2001 p 59) quando afirma sobre ldquoa importacircncia da

cobertura vegetal em reserva legal que permite uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da

aacutegua no solo e no subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos aleacutem de

promover a manutenccedilatildeo da diversidade geneacuteticardquo

Ademais o exerciacutecio de atividades econocircmicas que tem por principal insumo os

recursos naturais modifica sensivelmente a cobertura vegetal e o solo contribuindo para um

processo de degradaccedilatildeo Para tanto o respeito agrave legislaccedilatildeo ambiental vigente como o Coacutedigo

Florestal por exemplo eacute de extrema relevacircncia uma vez que eacute norma conducente agrave

conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo das formas de vegetaccedilatildeo e suas respectivas ingerecircncias Tal lei

prevecirc a reserva legal como espaccedilo especialmente protegido

Balizando tal atividade econocircmica frente agrave observacircncia da reserva legal surge a

proposiccedilatildeo elencada por Bacha (2005 p 24) que ldquopara o produtor rural honrar tal instituto

tendo-o como lucrativo eacute necessaacuterio que sua composiccedilatildeo floriacutestica seja feita em parte com

espeacutecies comerciaisrdquo Eacute o que Miranda (2008 p 45) sob o aspecto socioeconocircmico bem

pontua quando evidencia que esta legislaccedilatildeo carece de aderecircncia social pois natildeo condiz com

a realidade e que enfatiza ainda

Para que haja aderecircncia social ela deveria prever uma reestruturaccedilatildeo completa no

modelo de desenvolvimento Sem isso tanto os pequenos como os grandes

proprietaacuterios natildeo possuiratildeo condiccedilotildees para cumprir a lei e uma vez na ilegalidade

cometem outros crimes ambientais E por entenderem que a lei natildeo eacute factiacutevel natildeo a

cumprem [] Aleacutem disso as linhas de creacutedito inclusive dos bancos oficiais natildeo

financiam atividades sustentaacuteveis mas a pecuaacuteria o plantio de soja entre outras por

acreditarem possuir nelas uma seguranccedila maior para o investimento (MIRANDA

2008 p 45)

111 Conceito

A reserva legal eacute um mecanismo criado para a conservaccedilatildeo dos recursos naturais

cuja origem eacute a lei Sua essecircncia sempre esteve presente em normas de caraacuteter protecionista

que dispunham sobre florestas e demais formas de vegetaccedilatildeo muito embora tenham ocorrido

inuacutemeras alteraccedilotildees ao longo do tempo Eacute o que se pode observar pela evoluccedilatildeo legislativa

que a seguir seraacute apontada

15

A expressatildeo reserva legal pode ser simploriamente entendida como uma aacuterea a ser

conservada por um detentor de imoacutevel rural e que por sua vez varia com a localidade do

bioma em que a aacuterea estaacute inserida A lei que versa sobre esse tema eacute conhecida como Coacutedigo

Florestal e com esse nome existiu em trecircs momentos diferentes da histoacuteria do legislativo

brasileiro O primeiro foi no ano de 1934 o segundo em 1965 e por uacuteltimo em 2012 estando

presente em todos eles uma seacuterie de modificaccedilotildees que levaram ao aperfeiccediloamento do

conteuacutedo e dos objetivos da reserva legal bem como flexibilizaccedilotildees e restriccedilotildees a depender

do momento econocircmico em que o paiacutes vivia eou dos interesses da maioria de parlamentares agrave

eacutepoca

Atualmente a Lei 12651 de 25052012 ou como eacute conhecida por Novo Coacutedigo

Florestal atraveacutes de seu artigo 3ordm inciso III prevecirc o conceito de reserva legal da seguinte

forma

III ndash Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural

delimitada nos termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de

modo sustentaacutevel dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a

reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade

bem como o abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012

p 3) (BRASIL 2012)

Jaacute a previsatildeo elencada nos Coacutedigos anteriores de 1934 e 1965 dispotildee

Coacutedigo Florestal de 1934 - Decreto 23793

Art 23 - Nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas poderaacute abater mais de trecircs

quartas partes da vegetaccedilatildeo existente []

sect 1ordm O dispositivo do artigo natildeo se applica a juizo das autoridades florestaes

competentes agraves pequenas propriedades isoladas que estejam proximas de florestas

ou situadas em zona urbana

sect 2ordm Antes de iniciar a derrubada com a antecedencia minima de 30 dias o

proprietario daraacute sciencia de sua intenccedilatildeo aacute autoridade competente afim de que esta

determine a parte das mattas que seraacute conservada (BRASIL 1935 p 5)

Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771

Art 1ordm sect 2ordm inciso III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma

propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao

uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos

ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora

nativas (BRASIL 1965 p 2)

Percebe-se que na lei de 1934 se quer haacute menccedilatildeo ao termo reserva legal mas se

vecirc claramente a intenccedilatildeo conservacionista do legislador e se ressalte que eacute uma visatildeo bem

mais proacute-ambiente uma vez que proiacutebe o desmatamento acima de frac34 da propriedade

protegendo assim 25 de sua aacuterea Embora o Coacutedigo Florestal de 1934 natildeo preveja

16

explicitamente a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo em determinada aacuterea com o nome de reserva legal o

artigo 23 do diploma citado acima estaacute notoriamente revestido de um caraacuteter conservacionista

e quem natildeo o cumprisse estaria enquadrado no paraacutegrafo 4ordm do artigo 86 do Capitulo V ndash

Infracccedilotildees florestaes

Art 86 As contravenccedilotildees previstas nos arts 9ordm sect 1ordm 21 22 e sect 1ordm 23 e paragrapho

unico 24 a 30 31 a 34 37 43 a 45 49 e paragrapho unico 51 54 e paragrapho

unico 55 e 64 deste codigo quando natildeo se caracterizarem especialmente algumas

figuras delictuosas definidas no art 83 ou no art 87 sujeitas seus autores aacutes penas

seguintes

[]

sect 4ordm pelas das letras g h do art 22 e arts 23 e 44 - detenccedilatildeo ateacute 60 dias e multa ateacute

10000$000 (BRASIL 1935 p 14)

Em contrapartida um pouco mais aperfeiccediloado embora um tanto quanto tarde o

instituto da reserva legal aparece bem definido somente em 2001 quando a Medida Provisoacuteria

nordm 2166-6 (BRASIL 2001) acrescentou ao texto da Lei 4771 (BRASIL 1965) o seu conceito

da forma como eacute mais conhecido ultimamente apesar de natildeo se limitar soacute a esta modificaccedilatildeo

Como tantas outras leis o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) sofreu diversas

alteraccedilotildees ao longo de sua vigecircncia que durou ateacute 25 de maio de 2012 data em que a Lei

12651 (BRASIL 2012) entra em vigor revoga a anterior e estabelece o novo Coacutedigo

Florestal

Como a temaacutetica deste trabalho eacute discorrer sobre a existecircncia da reserva legal a

partir de um levantamento nas propriedades rurais seratildeo tratadas tatildeo somente as

modificaccedilotildees que dizem respeito a este instituto

112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica

O protecionismo florestal como ligeiramente mencionado anteriormente foi

delineado em um preceito normativo datado da deacutecada de 30 quando surgiu o primeiro

diploma legal a prever a conservaccedilatildeo relativa agrave manutenccedilatildeo das matas Eacute atraveacutes do Decreto

ndeg 23793 de 23 de janeiro de 1934 (BRASIL 1935) que a vegetaccedilatildeo recebe amparo e passa a

ser resguardada da supressatildeo indiscriminada Surge entatildeo o primeiro Coacutedigo Florestal

Brasileiro que em seu artigo 23 descreve que nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas

poderaacute abater mais de trecircs quartas partes da vegetaccedilatildeo existente

17

Eacute interessante observar que a delimitaccedilatildeo imposta pela norma corresponde a vinte

e cinco por cento da propriedade ou seja um grande desafio para a sociedade da eacutepoca que

era tradicionalmente agriacutecola e despontava para a industrializaccedilatildeo

Para melhor apreciar as preocupaccedilotildees que justificaram a ediccedilatildeo do Coacutedigo Florestal

de 1934 haacute que se entender a realidade soacutecio-econocircmica e poliacutetica da sociedade

brasileira no iniacutecio do seacuteculo XX A populaccedilatildeo estava concentrada proacuteximo agrave

Capital da Repuacuteblica cidade do Rio de Janeiro Estado da Guanabara A cafeicultura

avanccedilava pelos morros que constituem a topografia do Vale do Paraiacuteba substituindo

toda a vegetaccedilatildeo nativa A criaccedilatildeo de gado outra forma de utilizaccedilatildeo das terras

fazia-se de modo extensivo e com miacutenima teacutecnica Na silvicultura que jaacute se iniciara

tiacutemida nos primeiros anos do seacuteculo XX verificava-se o trabalho valioso e pioneiro

de Edmundo Navarro de Andrade com a introduccedilatildeo de espeacutecies de Eucalyptus mas

restrito agraves atividades da Cia Paulista de Estradas de Ferro no Estado de Satildeo Paulo

No resto do Paiacutes assim como antes no Estado de Satildeo Paulo a atividade florestal era

fundamentada no mais puro extrativismo Nos Estados do Paranaacute e Santa Catarina

os estoques de Araucaria angustifolia eram rapidamente exauridos Foi nesse cenaacuterio

que o Poder Puacuteblico decidiu interceder estabelecendo limites ao que parecia ser um

saque ou pilhagem dos recursos florestais (muito embora ateacute entatildeo tais praacuteticas

fossem liacutecitas) A mencionada ldquointervenccedilatildeordquo necessaacuteria materializou-se por meio

da ediccedilatildeo de um (primeiro) Coacutedigo Florestal o de 1934 (AHRENS 2001 p 6)

Diferentemente do Decreto de 1934 (BRASIL 1935) ao ser publicada em 15 de

setembro a Lei 4771 (BRASIL 1965) ou seja o Coacutedigo Florestal de 1965 trouxe em seu

artigo 16 a ideia do que seria a reserva legal Criou-se entatildeo um limite miacutenimo a ser

respeitado dentro de cada propriedade muito embora soacute mencione uma porcentagem definida

para aacutereas localizadas no Leste Sul e Centro-Oeste do paiacutes deixando de fora as demais

regiotildees

Art 16 As florestas de domiacutenio privado natildeo sujeitas ao regime de utilizaccedilatildeo

limitada e ressalvadas as de preservaccedilatildeo permanente previstas nos artigos 2deg e 3deg

desta lei satildeo suscetiacuteveis de exploraccedilatildeo obedecidas as seguintes restriccedilotildees

a) nas regiotildees Leste Meridional Sul e Centro-Oeste esta na parte sul as derrubadas

de florestas nativas primitivas ou regeneradas soacute seratildeo permitidas desde que seja

em qualquer caso respeitado o limite miacutenimo de 20 da aacuterea de cada

propriedade com cobertura arboacuterea localizada a criteacuterio da autoridade competente

b) nas regiotildees citadas na letra anterior nas aacutereas jaacute desbravadas e previamente

delimitadas pela autoridade competente ficam proibidas as derrubadas de florestas

primitivas quando feitas para ocupaccedilatildeo do solo com cultura e pastagens

permitindo-se nesses casos apenas a extraccedilatildeo de aacutervores para produccedilatildeo de madeira

Nas aacutereas ainda incultas sujeitas a formas de desbravamento as derrubadas de

florestas primitivas nos trabalhos de instalaccedilatildeo de novas propriedades agriacutecolas soacute

seratildeo toleradas ateacute o maacuteximo de 30 da aacuterea da propriedade

c) na regiatildeo Sul as aacutereas atualmente revestidas de formaccedilotildees florestais em que

ocorre o pinheiro brasileiro Araucaria angustifolia (Bert - O Ktze) natildeo poderatildeo

ser desflorestadas de forma a provocar a eliminaccedilatildeo permanente das florestas

tolerando-se somente a exploraccedilatildeo racional destas observadas as prescriccedilotildees

ditadas pela teacutecnica com a garantia de permanecircncia dos maciccedilos em boas condiccedilotildees

de desenvolvimento e produccedilatildeo

18

d) nas regiotildees Nordeste e Leste Setentrional inclusive nos Estados do Maranhatildeo e

Piauiacute o corte de aacutervores e a exploraccedilatildeo de florestas soacute seraacute permitida com

observacircncia de normas teacutecnicas a serem estabelecidas por ato do Poder Puacuteblico na

forma do art 15 sect 1ordm Nas propriedades rurais compreendidas na aliacutenea a deste artigo com aacuterea entre

vinte (20) a cinquumlenta (50) hectares computar-se-atildeo para efeito de fixaccedilatildeo do limite

percentual aleacutem da cobertura florestal de qualquer natureza os maciccedilos de porte

arboacutereo sejam frutiacutecolas ornamentais ou industriais (BRASIL 1965 p 6-7)

Honestamente natildeo se sabe o motivo pelo qual o legislador neste momento inicial

da lei natildeo se deteve agraves minuacutecias quanto agraves regiotildees Nordeste Oeste e Sudeste como o fez para

as outras ou porque sequer definiu percentuais de vegetaccedilatildeo a ser preservadas nelas Aleacutem

disto simplesmente deixar a cargo de ato do Poder Puacuteblico a exploraccedilatildeo de florestas e o corte

de aacutervores no Nordeste eacute no miacutenimo curioso principalmente porque nessa regiatildeo encontra-se

o bioma Caatinga que eacute iacutempar e inexiste em qualquer outra parte do mundo Corrobora com

isto o Monitoramento do Desmatamento nos Biomas Brasileiros por Sateacutelite MMA e IBAMA

ao expor que mesmo sendo a uacutenica grande regiatildeo natural brasileira cujos limites estatildeo

inteiramente restritos ao territoacuterio nacional pouca atenccedilatildeo tem sido dada agrave conservaccedilatildeo da

heterogecircnea paisagem da Caatinga (BRASIL 2010)

Aleacutem disto as colocaccedilotildees do artigo 44 surpreendem quando especializam o tipo

de corte permitido e enquadram 50 da propriedade como reserva legal para o Norte do paiacutes

e o norte da regiatildeo Centro-Oeste como se pode observar

Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste enquanto natildeo for

estabelecido o decreto de que trata o artigo 15 a exploraccedilatildeo a corte razo soacute eacute

permissiacutevel desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea pelo menos 50 da aacuterea

de cada propriedade (BRASIL 1965 p 15)

Em 1989 surge a Lei 7803 (BRASIL 1989b) que acrescenta os paraacutegrafos 2ordm e

3ordm ao artigo 16 inaugurando a expressatildeo reserva legal e ratificando o percentual miacutenimo do

que deveria ser conservado a tiacutetulo de reserva legal Ao artigo 44 foi acrescentado o

paraacutegrafo uacutenico onde os 50 da propriedade anteriormente indicados para permanecer com a

cobertura vegetal agora passam a ser reconhecidos como reserva legal Em ambos os

dispositivos estaacute presente o procedimento formal a ser adotado com fins de resguardar a

aplicaccedilatildeo daquele instituto e seus efeitos isto eacute a averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio

Art 16 []

sect 2ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) de

cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso deveraacute ser averbada agrave margem

19

da inscriccedilatildeo de matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo

vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou

de desmembramento da aacuterea

sect 3ordm Aplica-se agraves aacutereas de cerrado a reserva legal de 20 (vinte por cento) para

todos os efeitos legais (BRASIL 1989b p 1)

Art 44 [] Paraacutegrafo uacutenico A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 50

(cinquumlenta por cento) de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso

deveraacute ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de

imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de

transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de desmembramento da aacuterea (BRASIL 1989b p

2)

Nota-se que os dispositivos trazem novidades como a vedaccedilatildeo a um tipo de corte

o meacutetodo garantidor para a implantaccedilatildeo da reserva legal e a proibiccedilatildeo de mudanccedila na aacuterea

destinada a receber o benefiacutecio Ademais o bioma cerrado eacute especialmente citado afirmando

assim a instituiccedilatildeo da reserva legal nele e seu respectivo percentual

Vale destacar ainda a entidade puacuteblica que recebeu por forccedila legal a

incumbecircncia de promover os atos formais e documentais para a implantaccedilatildeo da reserva legal

Trata-se do registro ou cartoacuterio de imoacuteveis que por sua vez reuacutene em seus livros oficiais

todas as informaccedilotildees sobre as propriedades imobiliaacuterias de sua circunscriccedilatildeo ou regiatildeo

geograacutefica Enfim o registro de imoacuteveis eacute o oacutergatildeo constitutivo da propriedade e o que guarda

este direito aleacutem de vigiar se a funccedilatildeo social e ambiental do imoacutevel estaacute sendo cumprida

Por conseguinte houve a ediccedilatildeo da Medida Provisoacuteria1 1511 em 25 de julho de

1996 (BRASIL 1996) com o objetivo de dar nova redaccedilatildeo ao artigo 44 do Coacutedigo Florestal

ou seja amplia o percentual da reserva legal de 50 para 80 em casos especiacuteficos e esmiuacuteccedila o

Norte do Brasil e o norte da regiatildeo Centro-Oeste

Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste a exploraccedilatildeo a

corte raso soacute eacute permitida desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea de no

miacutenimo cinquumlenta por cento de cada propriedade

sect 1ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo cinquumlenta por cento

de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso seraacute averbada agrave margem da

inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a

alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de

desmembramento da aacuterea

1 Medidas Provisoacuterias satildeo instrumentos juriacutedico-poliacuteticos traduzidos na forma de atos normativos com forccedila de

lei praticados pelo Chefe do Executivo Federal em situaccedilotildees de urgecircncia e relevacircncia e que devem ser

submetidas de imediato agrave deliberaccedilatildeo do Congresso Nacional (FILHO 2005) A Constituiccedilatildeo Federal em seu

Art 62 prevecirc que em caso de relevacircncia e urgecircncia o Presidente da Repuacuteblica poderaacute adotar medidas

provisoacuterias com forccedila de lei devendo submetecirc-las de imediato ao Congresso Nacional

20

sect 2ordm Nas propriedades onde a cobertura arboacuterea se constitui de fitofisionomias

florestais natildeo seraacute admitido o corte raso em pelo menos oitenta por cento dessas

tipologias florestais

sect 3ordm Para efeito do disposto no caput entende-se por regiatildeo Norte e parte Norte da

regiatildeo Centro-Oeste os Estados do Acre Paraacute Amazonas Roraima Rondocircnia

Amapaacute e Mato Grosso aleacutem das regiotildees situadas ao norte do paralelo 13degS nos

Estados de Tocantins e Goiaacutes e a oeste do meridiano de 44degW no Estado do

Maranhatildeo (BRASIL 1996 p 1)

Fazendo uma retrospectiva ldquoesse ato do Poder Executivo pretendeu conter o

desmatamento na Amazocircnia num momento em que era divulgado o aumento da taxa meacutedia

anual de desflorestamento no biecircnio 1993-1994rdquo (MIRANDA 2008 p 38) Entretanto essa

natildeo foi a uacutenica iniciativa do chefe do executivo para alterar os percentuais citados acima

Inclusive eacute perturbador o levantamento do nuacutemero de medidas provisoacuterias com o fim de

modificar o Coacutedigo Florestal em especial os criteacuterios e aspectos que envolvem a reserva

legal que ora satildeo mais flexibilizados ora mais restritivos Eacute o que se pode observar pela

leitura da Tabela 1 onde se verifica a existecircncia de 68 propostas de mudanccedila em um espaccedilo de

tempo pouco maior que 5 anos

Tabela 1 Medidas Provisoacuterias (MP)Ano

MEDIDAS PROVISOacuteRIAS (MP) Nordm DE MPPERIacuteODO PERIacuteODOS

Nordm 1511 a 1511-17 18 1ordm) 25071996 a 20111997

Nordm 1605-18 a 1605-30 13 2ordm) 11121997 a 19111998

Nordm 1736-31 a 1736-37 7 3ordm) 14121998 a 02061999

Nordm 1885-38 a 1885-43 6 4ordm) 29061999 a 02111999

Nordm 1956-44 a 1956-57 14 5ordm) 09121999 a 14122000

Nordm 2080-58 a 2080-64 7 6ordm) 27122000 a 13062001

Nordm 2166-65 a 2166-67 3 7ordm) 28062001 a 24082001

A uacuteltima Medida Provisoacuteria a promover consideraacuteveis alteraccedilotildees que dizem

respeito agrave reserva legal foi a de nordm 2166-67 de 24 de agosto de 2001 (BRASIL 2001) Ela

acrescentou o inciso III ao paraacutegrafo 2ordm do artigo 1ordm do Coacutedigo Florestal estabelecendo o

conceito de reserva legal ateacute entatildeo natildeo definido no texto da lei muito embora sua acepccedilatildeo jaacute

existisse

21

Art 1ordm []

sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por

[]

III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural

excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos

recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave

conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas

(BRASIL 2001 p 1)

Vale destacar que a reserva legal soacute deveraacute existir em propriedade ou posse rural

natildeo sendo obrigatoacuteria na aacuterea urbana aleacutem do que natildeo eacute soacute o proprietaacuterio ou seja aquele que

deteacutem o domiacutenio do imoacutevel eacute quem deve implantaacute-la mas o possuidor tambeacutem estaacute sujeito a

tal imposiccedilatildeo legal Isso acontece porque o instituto estaacute vinculado ao imoacutevel e natildeo ao dono

ou quem faz as suas vezes por isso eacute considerada uma obrigaccedilatildeo propter rem isto eacute proacutepria

da coisa

Aleacutem da inclusatildeo do conceito de reserva legal ao Coacutedigo Florestal (BRASIL

1965) ocorreu a fixaccedilatildeo de outros percentuais bem como a adiccedilatildeo de mais oito paraacutegrafos

que delinearam aspectos outrora natildeo mencionados Eacute o que se lecirc pela nova redaccedilatildeo do artigo

16

Art 16 As florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo nativa ressalvadas as situadas em

aacuterea de preservaccedilatildeo permanente assim como aquelas natildeo sujeitas ao regime de

utilizaccedilatildeo limitada ou objeto de legislaccedilatildeo especiacutefica satildeo suscetiacuteveis de supressatildeo

desde que sejam mantidas a tiacutetulo de reserva legal no miacutenimo

I - oitenta por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta localizada na

Amazocircnia Legal

II - trinta e cinco por cento na propriedade rural situada em aacuterea de cerrado

localizada na Amazocircnia Legal sendo no miacutenimo vinte por cento na propriedade e

quinze por cento na forma de compensaccedilatildeo em outra aacuterea desde que esteja

localizada na mesma microbacia e seja averbada nos termos do sect 7ordm deste artigo

III - vinte por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta ou outras

formas de vegetaccedilatildeo nativa localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e

IV - vinte por cento na propriedade rural em aacuterea de campos gerais localizada em

qualquer regiatildeo do Paiacutes

sect 1o O percentual de reserva legal na propriedade situada em aacuterea de floresta e

cerrado seraacute definido considerando separadamente os iacutendices contidos nos incisos I

e II deste artigo

sect 2ordm A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser

utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel de acordo com princiacutepios e

criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos estabelecidos no regulamento ressalvadas as

hipoacuteteses previstas no sect 3o deste artigo sem prejuiacutezo das demais legislaccedilotildees

especiacuteficas

sect 3ordm Para cumprimento da manutenccedilatildeo ou compensaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal em

pequena propriedade ou posse rural familiar podem ser computados os plantios de

aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais compostos por espeacutecies exoacuteticas

cultivadas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas

sect 4ordm A localizaccedilatildeo da reserva legal deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental estadual

competente ou mediante convecircnio pelo oacutergatildeo ambiental municipal ou outra

instituiccedilatildeo devidamente habilitada devendo ser considerados no processo de

aprovaccedilatildeo a funccedilatildeo social da propriedade e os seguintes criteacuterios e instrumentos

quando houver

22

I - o plano de bacia hidrograacutefica

II - o plano diretor municipal

III - o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico

IV - outras categorias de zoneamento ambiental e

V - a proximidade com outra Reserva Legal Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente

unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida

sect 5ordm O Poder Executivo se for indicado pelo Zoneamento Ecoloacutegico Econocircmico -

ZEE e pelo Zoneamento Agriacutecola ouvidos o CONAMA o Ministeacuterio do Meio

Ambiente e o Ministeacuterio da Agricultura e do Abastecimento poderaacute

I - reduzir para fins de recomposiccedilatildeo a reserva legal na Amazocircnia Legal para ateacute

cinquumlenta por cento da propriedade excluiacutedas em qualquer caso as Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente os ecoacutetonos os siacutetios e ecossistemas especialmente

protegidos os locais de expressiva biodiversidade e os corredores ecoloacutegicos e

II - ampliar as aacutereas de reserva legal em ateacute cinquumlenta por cento dos iacutendices

previstos neste Coacutedigo em todo o territoacuterio nacional

sect 6ordm Seraacute admitido pelo oacutergatildeo ambiental competente o cocircmputo das aacutereas relativas

agrave vegetaccedilatildeo nativa existente em aacuterea de preservaccedilatildeo permanente no caacutelculo do

percentual de reserva legal desde que natildeo implique em conversatildeo de novas aacutereas

para o uso alternativo do solo e quando a soma da vegetaccedilatildeo nativa em aacuterea de

preservaccedilatildeo permanente e reserva legal exceder a

I - oitenta por cento da propriedade rural localizada na Amazocircnia Legal

II - cinquumlenta por cento da propriedade rural localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e

III - vinte e cinco por cento da pequena propriedade definida pelas aliacuteneas b e c

do inciso I do sect 2ordm do art 1ordm

sect 7o O regime de uso da aacuterea de preservaccedilatildeo permanente natildeo se altera na hipoacutetese

prevista no sect 6o

sect 8ordm A aacuterea de reserva legal deve ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo de matriacutecula

do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua

destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou de

retificaccedilatildeo da aacuterea com as exceccedilotildees previstas neste Coacutedigo

sect 9ordm A averbaccedilatildeo da reserva legal da pequena propriedade ou posse rural familiar eacute

gratuita devendo o Poder Puacuteblico prestar apoio teacutecnico e juriacutedico quando

necessaacuterio

sect 10 Na posse a reserva legal eacute assegurada por Termo de Ajustamento de Conduta

firmado pelo possuidor com o oacutergatildeo ambiental estadual ou federal competente com

forccedila de tiacutetulo executivo e contendo no miacutenimo a localizaccedilatildeo da reserva legal as

suas caracteriacutesticas ecoloacutegicas baacutesicas e a proibiccedilatildeo de supressatildeo de sua vegetaccedilatildeo

aplicando-se no que couber as mesmas disposiccedilotildees previstas neste Coacutedigo para a

propriedade rural

sect 11 Poderaacute ser instituiacuteda reserva legal em regime de condomiacutenio entre mais de

uma propriedade respeitado o percentual legal em relaccedilatildeo a cada imoacutevel mediante a

aprovaccedilatildeo do oacutergatildeo ambiental estadual competente e as devidas averbaccedilotildees

referentes a todos os imoacuteveis envolvidos (BRASIL 2001 p 34)

Caso seja traccedilado um paralelo entre o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)

com as alteraccedilotildees aplicadas e agrave uacuteltima Medida Provisoacuteria percebe-se que o primeiro texto em

seu artigo 16 soacute mencionava as florestas particulares enquanto que em 2001 o reformulado

pela Medida Provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) generaliza a possibilidade de supressatildeo

vegetal para florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo incluindo-as no texto da lei Isto significa

que as florestas puacuteblicas embora sejam de domiacutenio coletivo tambeacutem devem respeitar a

reserva legal de acordo com o estabelecido

E ainda de 1989 ateacute 2001 o percentual para reserva legal era de 20 da

propriedade rural para todas as regiotildees com exceccedilatildeo dos imoacuteveis no norte do paiacutes e no norte

23

do centro-oeste onde deveriam ser protegidos 50 da cobertura arboacuterea Poreacutem com o

advento da Medida provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) aumentou-se essa porcentagem para

80 na Amazocircnia Legal2 para 35 no bioma cerrado localizado na Amazocircnia Legal e a

permanecircncia dos 20 para as demais regiotildees do Brasil

Enfim eacute possiacutevel concluir claramente que tal Medida Provisoacuteria ao modificar o

artigo 16 definiu o conceito de reserva legal foi mais especiacutefica quanto aos seus percentuais

alargou os tipos de florestas suscetiacuteveis ao desmatamento estabeleceu que a vegetaccedilatildeo da

reserva legal soacute poderia ser utilizada atraveacutes de um manejo florestal sustentaacutevel (sect2ordm)

determinou que sua localizaccedilatildeo deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental competente

obedecendo os 5 criteacuterios ambientais estabelecidos (sect4ordm) permitiu a sobreposiccedilatildeo de aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente agrave de reserva legal em alguns casos (sect6ordm) reafirmou o procedimento

documental garantidor do instituto (sect8ordm) criou a possibilidade de constituir a reserva legal

em condomiacutenio (sect11ordm) dentre outros

Encerrando as mudanccedilas trazidas pela Medida Provisoacuteria 2166-672001

(BRASIL 2001) tem-se o artigo 44 que foi completamente reformulado em conteuacutedo em

nuacutemero de incisos e paraacutegrafos O teor deste dispositivo agora versa sobre a recomposiccedilatildeo a

regeneraccedilatildeo e a compensaccedilatildeo da reserva legal Tais accedilotildees devem estar em consonacircncia com o

disposto no artigo 16

Art 44 O proprietaacuterio ou possuidor de imoacutevel rural com aacuterea de floresta nativa

natural primitiva ou regenerada ou outra forma de vegetaccedilatildeo nativa em extensatildeo

inferior ao estabelecido nos incisos I II III e IV do art 16 ressalvado o disposto

nos seus sectsect 5o e 6o deve adotar as seguintes alternativas isoladas ou

conjuntamente

I - recompor a reserva legal de sua propriedade mediante o plantio a cada trecircs anos

de no miacutenimo 110 da aacuterea total necessaacuteria agrave sua complementaccedilatildeo com espeacutecies

nativas de acordo com criteacuterios estabelecidos pelo oacutergatildeo ambiental estadual

competente

II - conduzir a regeneraccedilatildeo natural da reserva legal e

III - compensar a reserva legal por outra aacuterea equivalente em importacircncia ecoloacutegica

e extensatildeo desde que pertenccedila ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma

microbacia conforme criteacuterios estabelecidos em regulamento

sect 1o Na recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I o oacutergatildeo ambiental estadual

competente deve apoiar tecnicamente a pequena propriedade ou posse rural familiar

sect 2o A recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I pode ser realizada mediante o plantio

temporaacuterio de espeacutecies exoacuteticas como pioneiras visando a restauraccedilatildeo do

ecossistema original de acordo com criteacuterios teacutecnicos gerais estabelecidos pelo

CONAMA

2 Amazocircnia Legal - eacute uma aacuterea que engloba a totalidade de oito estados o Acre o Amapaacute o Amazonas o Mato

Grosso o Paraacute Rondocircnia Roraima e Tocantins e parte do Estado do Maranhatildeo (a oeste do meridiano de 44ordmW)

O conceito da Amazocircnia Legal foi criado pela lei 1806 de 06 de janeiro de 1953 (BRASIL 2011) Disponiacutevel

em lthttpwwwipeagovbrdesafiosindexphpoption=com_contentampid=2154catid=28ampItemid=23gt

24

sect 3o A regeneraccedilatildeo de que trata o inciso II seraacute autorizada pelo oacutergatildeo ambiental

estadual competente quando sua viabilidade for comprovada por laudo teacutecnico

podendo ser exigido o isolamento da aacuterea

sect 4o Na impossibilidade de compensaccedilatildeo da reserva legal dentro da mesma micro-

bacia hidrograacutefica deve o oacutergatildeo ambiental estadual competente aplicar o criteacuterio de

maior proximidade possiacutevel entre a propriedade desprovida de reserva legal e a aacuterea

escolhida para compensaccedilatildeo desde que na mesma bacia hidrograacutefica e no mesmo

Estado atendido quando houver o respectivo Plano de Bacia Hidrograacutefica e

respeitadas as demais condicionantes estabelecidas no inciso III

sect 5o A compensaccedilatildeo de que trata o inciso III deste artigo deveraacute ser submetida agrave

aprovaccedilatildeo pelo oacutergatildeo ambiental estadual competente e pode ser implementada

mediante o arrendamento de aacuterea sob regime de servidatildeo florestal ou reserva legal

ou aquisiccedilatildeo de cotas de que trata o art 44-B

sect 6o O proprietaacuterio rural poderaacute ser desonerado pelo periacuteodo de trinta anos das

obrigaccedilotildees previstas neste artigo mediante a doaccedilatildeo ao oacutergatildeo ambiental

competente de aacuterea localizada no interior de Parque Nacional ou Estadual Floresta

Nacional Reserva Extrativista Reserva Bioloacutegica ou Estaccedilatildeo Ecoloacutegica pendente de

regularizaccedilatildeo fundiaacuteria respeitados os criteacuterios previstos no inciso III deste

artigo (NR) (BRASIL 2001 p 45)

Quanto agrave sanccedilatildeo curiosamente neste Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965) natildeo haacute

nenhuma previsatildeo com relaccedilatildeo ao descumprimento da reserva legal diferentemente do

diploma de 1934 (BRASIL 1935) como se pocircde ler anteriormente Nesse sentido existir

uma lei sem a ela estar vinculada uma sanccedilatildeo quando descumprida eacute o mesmo que um fogo

que natildeo queima uma luz que natildeo alumia (MONTEIRO 1992)

Assim finaliza-se a anaacutelise do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) e se

inicia a apreciaccedilatildeo do Novo Coacutedigo Florestal isto eacute a Lei 12651 de 25 de maio de 2012

(BRASIL 2012) que jaacute possui algumas modificaccedilotildees mesmo sendo uma norma bastante

recente Trata-se de uma lei que em seu artigo 1ordm de pronto menciona o instituto da reserva

legal elevando-a a um patamar antes natildeo reconhecido quanto agrave especialidade que lhe eacute

inerente

Art 1ordm-A Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente e as aacutereas de Reserva Legal a exploraccedilatildeo florestal o

suprimento de mateacuteria-prima florestal o controle da origem dos produtos florestais e

o controle e prevenccedilatildeo dos incecircndios florestais e prevecirc instrumentos econocircmicos e

financeiros para o alcance de seus objetivos (BRASIL 2012 p 1)

Quanto a sua definiccedilatildeo embora citada anteriormente vecirc-se a necessidade de se

enfatizar as diferenccedilas entre o novo dispositivo e o anterior ora revogado ateacute porque o

recente eacute bem mais minucioso e atual em se tratando de tendecircncias e realidades do presente

Art 3ordm []

25

III - Aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural delimitada nos

termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de modo sustentaacutevel

dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a reabilitaccedilatildeo dos

processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade bem como o

abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012 p 3)

Art 1ordm []

sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por

[]

III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural

excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos

recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave

conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas

(BRASIL 1965 p 1)

Pela leitura observa-se que a aacuterea de reserva legal desde o iniacutecio estaacute restrita ao

imoacutevel rural excluindo assim o urbano Seu objetivo tambeacutem sempre foi o mesmo

sustentabilidade Isto eacute visto quando se examina o texto do Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965)

ao citar as expressotildees conservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo biodiversidade e proteccedilatildeo colocando nesse

iacutenterim recursos naturais processos ecoloacutegicos fauna e flora nativas O foco da reserva legal

eacute claro quanto agrave conservaccedilatildeo de uma forma sistecircmica pois inclui aspectos de solo vegetaccedilatildeo

vida animal e seus respectivos ciclos Eacute o que coloca SOUZA (2002 p 2829 apud Miranda

2008 p 53)

[] justifica a existecircncia de um mecanismo juriacutedico que garanta ao homem a

manutenccedilatildeo da biodiversidade para o seu proacuteprio bem Deste ponto de vista no

Brasil a Reserva Legal ainda eacute o mecanismo existente se natildeo o uacutenico que garante

essa manutenccedilatildeo tamanha a dependecircncia dos seres humanos de energia advinda de

plantas e animais

Jaacute a lei de 2012 (BRASIL 2012) inova ao incluir e modificar algumas acepccedilotildees

O uso econocircmico eacute uma delas Antes era mencionado somente um uso sustentaacutevel dos

recursos naturais mas agora eacute um uso com base na teoria de produccedilatildeo e consumo sob o vieacutes

da sustentabilidade Aleacutem disto a nova redaccedilatildeo faz uma pequena diferenciaccedilatildeo quanto ao

auxiacutelio que a reserva legal daacute agrave conservaccedilatildeo e agrave reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos

enquanto que a anterior ditava que o tal instituto era necessaacuterio para alcanccedilar os citados

objetivos Inclui tambeacutem a promoccedilatildeo que a reserva legal faz agrave biodiversidade e por fim a

uacuteltima norma agrega a proteccedilatildeo agrave fauna silvestre3 o que outrora era soacute agrave nativa

3 ldquoEacute preciso que a fauna tenha a sua vida ou parte dela ocorrendo naturalmente dentro dos limites do territoacuterio

brasileiro e suas aacuteguas jurisdicionaisrdquo (AMADO 2012 p329) silvestre ndash satildeo animais pertencentes agraves espeacutecies

nativas migratoacuterias e quaisquer outras aquaacuteticas ou terrestres

26

Percebe-se que com o passar dos anos as leis que versam sobre florestas estatildeo

cada vez mais aperfeiccediloadas com particularidades e especificidades como se pode concluir

pela leitura da evoluccedilatildeo histoacuterica dessas normas e suas modificaccedilotildees Visualiza-se melhor

tambeacutem ao se comparar os objetivos da reserva legal nas figuras 1 e 2

Figura 1 - Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771 (BRASIL 1965)

Figura 2 - Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 - Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)

RESERVA

LEGAL

ASSEGURA AUXILIA PROMOVE

27

E em se tratando das penalidades quem natildeo respeitar a reserva legal estaraacute

enquadrado no Decreto Federal 6514 de 22 de julho de 2008 (BRASIL 2008) que dispotildee

sobre as infraccedilotildees e sanccedilotildees administrativas ao meio ambiente e prevecirc aplicaccedilatildeo de multas

como descrito nos artigos abaixo

Art 48 Impedir ou dificultar a regeneraccedilatildeo natural de florestas ou demais formas

de vegetaccedilatildeo nativa em unidades de conservaccedilatildeo ou outras aacutereas especialmente

protegidas quando couber aacuterea de preservaccedilatildeo permanente reserva legal ou

demais locais cuja regeneraccedilatildeo tenha sido indicada pela autoridade ambiental

competente

Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo

[]

Art 51 Destruir desmatar danificar ou explorar floresta ou qualquer tipo de

vegetaccedilatildeo nativa ou de espeacutecies nativas plantadas em aacuterea de reserva legal ou

servidatildeo florestal de domiacutenio puacuteblico ou privado sem autorizaccedilatildeo preacutevia do oacutergatildeo

ambiental competente ou em desacordo com a concedida

Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo

[]

Art 55 Deixar de averbar a reserva legal Multa de R$ 50000 (quinhentos reais) a R$ 10000000 (cem mil reais) (BRASIL

2008 p 12)

Ao ler o dispositivo da lei eacute possiacutevel averiguar que tanto accedilotildees como omissotildees

possiacuteveis de cometimento quanto agrave reserva legal estatildeo previstas naquele Decreto (BRASIL

2008) o que daacute poder agraves autoridades constituiacutedas de exercerem seu papel fiscalizatoacuterio e

sancionatoacuterio em desfavor daquele que descumprir tal obrigaccedilatildeo

Nesse novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012) a reserva legal estaacute muito mais

discorrida e consequentemente resguardada A lei trouxe um capiacutetulo especiacutefico com duas

seccedilotildees organizadas dispondo sobre a delimitaccedilatildeo e o regime de proteccedilatildeo do instituto aleacutem de

outra seccedilatildeo que prevecirc a transformaccedilatildeo das reservas legais em aacutereas verdes nas expansotildees

urbanas

Para comeccedilar a analisar as novidades trazidas pelo Coacutedigo Florestal (BRASIL

2012) vale mencionar a mais importante quanto ao controle e fiscalizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da

reserva legal que se daraacute pelo Cadastro Ambiental Rural ndash CAR Eacute um registro puacuteblico

eletrocircnico de acircmbito nacional obrigatoacuterio para todos os imoacuteveis rurais com a finalidade de

integrar as informaccedilotildees ambientais das propriedades e posses rurais compondo base de dados

para controle monitoramento planejamento ambiental e econocircmico e combate ao

desmatamento conforme artigo 29 daquele diploma legal Para se cadastrar no CAR o

proprietaacuterio ou possuidor rural deveraacute identificar-se comprovar a propriedade ou posse e

identificar o imoacutevel atraveacutes de planta georreferenciada e memorial descritivo informando os

28

remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente dentre outras

segundo o inciso III do paraacutegrafo primeiro do mesmo dispositivo acima

Com a criaccedilatildeo desse sistema a supressatildeo de novas aacutereas de floresta ou outras

formas de vegetaccedilatildeo nativa soacute poderaacute ser autorizada apoacutes a inserccedilatildeo do imoacutevel onde ocorreraacute

o desmatamento no Cadastro Ambiental Rural A exceccedilatildeo a essa regra eacute o imoacutevel que jaacute

possua a reserva legal averbada na sua matriacutecula com a respectiva identificaccedilatildeo e localizaccedilatildeo

Isso dispensa a inclusatildeo no CAR Eacute o que rezam o paraacutegrafo terceiro do artigo 12 e o artigo

30 do Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)

A nova lei prevecirc que a inscriccedilatildeo no CAR eacute obrigatoacuteria para todas as propriedades

e posses rurais e deve ser requerida no prazo de um ano a partir da sua implantaccedilatildeo (sect3ordm do

artigo 29) No caso do Cearaacute o Cadastro Ambiental Rural ainda natildeo foi estabelecido embora

a lei jaacute tenha completado um ano Aleacutem disto agravequele que protocolar toda documentaccedilatildeo para

anaacutelise da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal no oacutergatildeo ambiental competente natildeo poderaacute ser

imputada sanccedilatildeo administrativa nem restriccedilatildeo a direitos por qualquer oacutergatildeo ambiental

competente (sect2ordm do artigo 14) desde que a sanccedilatildeo diga respeito a natildeo formalizaccedilatildeo da aacuterea de

reserva legal

Outra novidade eacute a dispensa de reserva legal em alguns casos como nos

empreendimentos de abastecimento puacuteblico de aacutegua e tratamento de esgoto nas aacutereas

adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessatildeo permissatildeo ou autorizaccedilatildeo para

exploraccedilatildeo de potencial de energia hidraacuteulica nas quais funcionem empreendimentos de

geraccedilatildeo de energia eleacutetrica subestaccedilotildees ou seja instaladas linhas de transmissatildeo e de

distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica e nas aacutereas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de

implantaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo de capacidade de rodovias e ferrovias (sect6 ordm sect7 ordm e sect8ordm do artigo 12)

Ao passo que na Lei 477165 (BRASIL 1965) o uacutenico caso dispensaacutevel de cumprir a reserva

legal era a doaccedilatildeo pelo proprietaacuterio rural de aacuterea localizada no interior de unidade de

conservaccedilatildeo de domiacutenio puacuteblico pendente de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria ao oacutergatildeo ambiental

competente (sect6ordm do art 44)

Quanto aos percentuais de reserva legal sobre a propriedade ou posse rural nada

mudou ou seja permaneceram os mesmos embora organizados de forma diferente conforme

se segue

Art 12 Todo imoacutevel rural deve manter aacuterea com cobertura de vegetaccedilatildeo nativa a

tiacutetulo de Reserva Legal sem prejuiacutezo da aplicaccedilatildeo das normas sobre as Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente observados os seguintes percentuais miacutenimos em relaccedilatildeo agrave

aacuterea do imoacutevel excetuados os casos previstos no art 68 desta Lei

I - localizado na Amazocircnia Legal

29

a) 80 (oitenta por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de florestas

b) 35 (trinta e cinco por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de cerrado

c) 20 (vinte por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de campos gerais

II - localizado nas demais regiotildees do Paiacutes 20 (vinte por cento) (BRASIL 2012 p

15)

Acerca da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal alguns criteacuterios a serem

observados permaneceram inalterados tais como o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento

ecoloacutegico-econocircmico4 e a proximidade com outra reserva legal aacuterea de preservaccedilatildeo

permanente unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida Por outro lado

foram acrescentados dois aspectos a serem considerados tambeacutem satildeo eles as aacutereas de maior

importacircncia para a conservaccedilatildeo da biodiversidade e as aacutereas de maior fragilidade ambiental

(Incisos IV e V do artigo 14)

Por fim haacute que se falar que a nova lei permitiu a sobreposiccedilatildeo das aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente agrave aacuterea de reserva legal ou seja ao se calcular o percentual desta

poderatildeo ser computadas as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente existentes no imoacutevel rural desde

que atenda alguns requisitos Eacute o que prescreve o artigo 15

Art 15 Seraacute admitido o cocircmputo das Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente no caacutelculo

do percentual da Reserva Legal do imoacutevel desde que

I - o benefiacutecio previsto neste artigo natildeo implique a conversatildeo de novas aacutereas para o

uso alternativo do solo

II - a aacuterea a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperaccedilatildeo

conforme comprovaccedilatildeo do proprietaacuterio ao oacutergatildeo estadual integrante do Sisnama e

III - o proprietaacuterio ou possuidor tenha requerido inclusatildeo do imoacutevel no Cadastro

Ambiental Rural - CAR nos termos desta Lei BRASIL 2012 p 1617)

Basicamente essas foram as inovaccedilotildees mais pertinentes agrave reserva legal trazidas

pelo Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)

113 Importacircncia da reserva legal

Vaacuterios aspectos perfazem o instituto da reserva legal Satildeo fundamentos de

cunho teacutecnico e cientiacutefico que revelam sua importacircncia atraveacutes da abordagem juriacutedica social

ambiental e econocircmica A reserva legal natildeo foi simplesmente uma imposiccedilatildeo prevista em lei

4 Zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ndash eacute um zoneamento ambiental Esse instrumento estaacute previsto na Poliacutetica

Nacional do Meio Ambiente que foi instituiacuteda pela Lei 693881 Trata-se de uma modalidade de intervenccedilatildeo

estatal sobre o territoacuterio a fim de reparti-lo em zonas consoante o melhor interesse na preservaccedilatildeo ambiental e

no uso sustentaacutevel dos recursos naturais Conferir AMADO Frederico Direito Ambiental Esquematizado

2012 p111

30

mas uma mobilizaccedilatildeo da sociedade para resguardar os bens ambientais impedindo a

degradaccedilatildeo sem precedentes

ldquoA reserva legal busca a preservaccedilatildeo ambiental como um todo natildeo soacute do imoacutevel

que nesta se situardquo (AMADO 2009 p 105) Ainda salienta Moraes (2002 p 30) que ldquoa

reserva legal natildeo possui funccedilatildeo vinculada ao imoacutevel especificamente sendo limitaccedilatildeo de

niacutevel macro ou seja mais preocupada com a melhoria regional da biodiversidade do que

propriamente com o ecossistema interno da propriedaderdquo E muito bem acrescenta Milareacute

(2009 p 166)

Aleacutem de preservar belezas cecircnicas e bucoacutelicos ambientes histoacutericos para as geraccedilotildees

futuras as aacutereas protegidas assumiram objetivos como a proteccedilatildeo de recursos

hiacutedricos manejo de recursos naturais desenvolvimento de pesquisas cientiacuteficas

manutenccedilatildeo do equiliacutebrio climaacutetico e ecoloacutegico preservaccedilatildeo de recursos geneacuteticos

e atualmente constituem o eixo de estruturaccedilatildeo da preservaccedilatildeo in situ da

biodiversidade como um todo

1131 Juriacutedica

A reserva legal foi criada pela forccedila do universo juriacutedico brasileiro que lhe

pressupotildee efetividade Como jaacute fora mencionado o instituto teve sua definiccedilatildeo atraveacutes da

Medida Provisoacuteria 2166-672001 (BRASIL 2001) que por sua vez alterou o Coacutedigo

Florestal (BRASIL 1965) vigente agrave eacutepoca Embora houvesse previsatildeo legal para aacutereas

especialmente protegidas estas ateacute entatildeo natildeo haviam sido nominadas como reserva legal

A lei ndeg 477165 (BRASIL 1965) segundo Trennepohl (2009) trazia uma maior

preocupaccedilatildeo com a erosatildeo de terras e o consequente prejuiacutezo para as atividades produtivas

Denotando predominante inclinaccedilatildeo para a sustentabilidade econocircmica da mateacuteria-prima

aquele diploma tratava a utilizaccedilatildeo dos recursos florestais de forma racional com finalidade

de garantir as atividades econocircmicas para as quais servem de insumo

Jaacute no entendimento de Schaffer e Medeiros (2009) a figura da reserva legal no

Coacutedigo Florestal revela-se como uma norma de importacircncia e observacircncia necessaacuterias

essencialmente estrateacutegicas para a garantia de um desenvolvimento equilibrado e sustentaacutevel

para a naccedilatildeo brasileira Tambeacutem observam os mesmos autores que a tatildeo discutida lei florestal

estabeleceu percentuais diferenciados de Reserva Legal em funccedilatildeo da localizaccedilatildeo do tipo de

vegetaccedilatildeo e das caracteriacutesticas ambientais das diferentes regiotildees do paiacutes

A eficaacutecia para o cumprimento do instituto se baseia na imposiccedilatildeo da lei quanto agrave

obrigaccedilatildeo dos proprietaacuterios ou posseiros rurais se dirigirem ao cartoacuterio de registro do seu

31

imoacutevel com a aacuterea da reserva jaacute delimitada e procederem agrave averbaccedilatildeo agrave margem da sua

matriacutecula No entanto essa obrigatoriedade foi substituiacuteda pelo Cadastro Ambiental Rural

que deveraacute ser feito no oacutergatildeo ambiental competente conforme visto anteriormente Esse

procedimento se daacute pelos paracircmetros devidamente previstos em normas teacutecnicas que dispotildeem

como o dono da aacuterea deve conduzir tal processo Essa averbaccedilatildeo eacute irretrataacutevel ou seja jamais

pode ser desfeita e eacute isso que daacute eficiecircncia ao instituto se cumprido Tal imposiccedilatildeo garante

que o proprietaacuterio natildeo desmembre seu imoacutevel na intenccedilatildeo de burlar a lei

Quanto ao procedimento de averbaccedilatildeo da reserva legal na matriacutecula do imoacutevel

ressalta Trennepohl (2009 p11-12)

A exigecircncia da averbaccedilatildeo da reserva legal vem desde 1965 vale dizer haacute mais de

quarenta anos existe esta obrigatoriedade E muitos proprietaacuterios rurais cumpriram agrave

risca esta exigecircncia averbando e mantendo preservado o percentual estipulado pela

lei

[]

A necessidade dessa averbaccedilatildeo dispensa maiores comentaacuterios e pode ser facilmente

entendida como a uacutenica garantia eficaz para que a transferecircncia ou a partilha natildeo

afastem essa obrigaccedilatildeo propter rem [proacutepria da coisa] que vincula a propriedade

natildeo o proprietaacuterio

Para alguns proprietaacuterios de terras rurais se houver o atendimento do instituto da

reserva legal caberia uma indenizaccedilatildeo pela perda daquela porcentagem em suas propriedades

mas como bem ilustra Magnanini (2010 p 5) ldquoa funccedilatildeo protetora da floresta natildeo eacute restriccedilatildeo

indenizaacutevel mas decorrecircncia da proacutepria natureza que preparou terras mais uacuteteis e outras

menosrdquo

1132 Social

Segundo o renomado filoacutesofo Mondin (2004 p 117) ldquoo homem eacute um ser

sociaacutevel portanto incapaz de sozinho alcanccedilar seus objetivos anseios e realizaccedilotildees

consequentemente viverrdquo A partir dessa constataccedilatildeo soacute resta ao ser humano subsistir numa

sociedade inserida no mundo natural

Como indiviacuteduo pratica accedilotildees que lhe afetam direta e indiretamente promovendo

reflexos no espaccedilo em que habita Por isso o aspecto social estaacute intimamente vinculado agrave

qualidade ambiental uma vez que o ser humano gera impactos positivos e negativos em seu

entorno Como natildeo se pode separar a atuaccedilatildeo dele do meio em que foi introduzido necessaacuterio

eacute fazer o balizamento de suas atitudes Uma das formas de limitar seu comportamento eacute a

confecccedilatildeo de normas como por exemplo a lei que nada mais eacute do que a expressatildeo de uma

32

demanda social por medidas coercitivas em virtude do desrespeito a um aspecto que a

sociedade defende ou repudia

Quanto agraves accedilotildees humanas e seus reflexos a teoria de ldquometapopulaccedilotildeesrdquo define

que a raccedila humana causa imenso impacto na Terra provocando a deterioraccedilatildeo dos sistemas

ecoloacutegicos e a extinccedilatildeo de muitas espeacutecies as quais tem seu ritmo acelerado agrave medida que a

populaccedilatildeo cresce e aumentando com isso o consumo de energia e de recursos naturais

SOUZA (2002 apud Miranda 2008)

O aspecto social que envolve a reserva legal confronta-se com praacuteticas seculares

do homem campestre como bem ilustra Magnanini (2010 p 3) engenheiro agrocircnomo e um

dos autores do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)

A agricultura itinerante continua se desenvolvendo segundo os meacutetodos primitivos

dos primeiros anos do descobrimento Chega o agricultor derruba e queima as

matas sem indagar se elas satildeo necessaacuterias agrave conservaccedilatildeo da feracidade do solo ou

do regime das aacuteguas Depois de alguns anos de exploraccedilatildeo renovando anualmente a

queimada como meio de extinguir a vegetaccedilatildeo invasora o terreno esgotado eacute

entregue ao abandono e o agricultor seguindo as pegadas do madeireiro que adiante

derrubou as aacutervores para extrair as toras inicia novo ciclo devastador idecircntico ao

precedente Como efeito disto a agricultura cada vez se interioriza mais e cada vez

se distancia mais dos centros consumidores requerendo transportes sempre mais

caros [] Inundaccedilotildees cada vez mais destruidoras pela remoccedilatildeo desordenada de

florestas colocam em sobressalto as populaccedilotildees de centenas de cidades ribeirinhas

Vale mencionar outra caracteriacutestica que expressa o valor que a reserva legal

quando estaacute sendo cumprida imprime na aacuterea rural ndash eacute a funccedilatildeo social da propriedade

considerada como princiacutepio basilar para o uso da mesma Designaccedilatildeo bastante enunciada

pelas normas que estabelecem aquele instituto permeia o direito de propriedade da terra que

natildeo eacute visto unilateralmente e sim em sua universalidade uma vez que o imoacutevel natildeo estaacute para

servir soacute a seu dono mas tem que atender sua funccedilatildeo social Nesse sentido Miranda (2008)

pontua que a reserva legal eacute uma forma de assegurar a funccedilatildeo social da propriedade fazendo

com que esta contribua com a preservaccedilatildeo do meio ambiente ecologicamente equilibrado para

atuais e futuras geraccedilotildees Eacute como tambeacutem entende Trennepohl (2009 p 11) ao afirmar que

A preservaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa num percentual das propriedades rurais diminui o

lucro do proprietaacuterio mas de forma muito menos significativa que o ganho para a

coletividade com a qualidade ambiental decorrente pelo que entendemos

inquestionaacutevel que o interesse coletivo se sobrepotildee ao individual

1133 Ambiental

Considerado como um dos principais fatores que embasam a instituiccedilatildeo da reserva

legal na propriedade ou posse rural o aspecto ambiental se funda na biologia que perpassa

33

essencialmente esse vieacutes sem admitir qualquer desassociaccedilatildeo entre as unidades ambientais

como aacutegua solo vegetaccedilatildeo e ar Pode-se afirmar que o alicerce do estudo do meio eacute a ciecircncia

bioloacutegica que por sua vez analisa as reaccedilotildees as funccedilotildees fiacutesico-quiacutemicas a qualidade do

ambiente testando seus limites ou melhor sua capacidade de suporte Do mesmo modo

Miranda (2008 p 51) discorre sobre a importacircncia ecoloacutegica do instituto da reserva legal

quando afirma que ldquosua funccedilatildeo preciacutepua eacute assegurar mostras significativas de ecossistemas

conservando a biodiversidade e servindo de abrigo e proteccedilatildeo agrave fauna e agrave florardquo

Sobre isso Metzger (2002 p 48) tambeacutem atesta que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de

propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa eacute

fundamental para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada

regiatildeordquo Complementa Silva (2001 p 59) quando afirma

A cobertura vegetal nativa sobretudo as florestais exerce papel de fundamental

importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de ecossistemas naturais bem como de

ecossistemas criados pelo homem como eacute o caso dos ecossistemas agriacutecolas Aleacutem

de permitirem uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da aacutegua no solo e no

subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos regular a vazatildeo

dos rios reduzindo as intensidades dos extremos de estiagens e enchentes manterem

a diversidade geneacutetica

Logo todos os benefiacutecios apontados pelos autores acima podem ser verificados

em uma menor escala quando haacute a observacircncia da reserva legal dentro de cada propriedade

rural em determinada regiatildeo garantindo sua viabilidade ambiental posto que assume um

papel niacutetido de conservaccedilatildeo Para exemplificar a assertiva retro menciona-se o microclima

favoraacutevel mantido quando haacute vegetaccedilatildeo na aacuterea em apreccedilo que por sua vez amortiza a

incidecircncia solar sobre aquela regiatildeo Por outro lado a cobertura vegetal tambeacutem eacute favoraacutevel agrave

manutenccedilatildeo dos solos uma vez que dificulta a accedilatildeo erosiva das chuvas

Infere-se portanto que a existecircncia da reserva legal na propriedade rural soacute traz

vantagens ao meio ambiente por mais que a tradiccedilatildeo campestre natildeo as compreenda Eacute o que

demonstram Schaffer e Medeiros (2009 p 2) ensinando que

A Reserva Legal (RL) por sua vez natildeo tem apenas a funccedilatildeo de prover o uso

sustentaacutevel dos recursos naturais na propriedade ou posse rural Tem tambeacutem a

funccedilatildeo de conservar e reabilitar os processos ecoloacutegicos conservar a biodiversidade

e servir de abrigo e proteccedilatildeo da fauna e flora nativas Desta forma a norma geral de

caraacuteter nacional [Coacutedigo Florestal] concilia o necessaacuterio uso sustentaacutevel de recursos

naturais para a propriedade ou posse rural com as funccedilotildees ambientais e o

provimento de serviccedilos ambientais de retenccedilatildeo de aacutegua conservaccedilatildeo do solo

manutenccedilatildeo de grupos de polinizadores e fixaccedilatildeo de biomassa entre outros os quais

satildeo importantes e necessaacuterios ao cumprimento da funccedilatildeo socioambiental dos

imoacuteveis ou propriedades rurais

34

No mesmo sentido Mercadante (1999 p 240 apud MIRANDA 2008 p 5354)

numa interpretaccedilatildeo mais ampla sobre a importacircncia ecoloacutegica da reserva legal diz

A Reserva Legal natildeo tem por objetivo apenas a conservaccedilatildeo da natureza da flora e

da fauna pelo valor intriacutenseco dos recursos bioloacutegicos ou pela contribuiccedilatildeo dessas

aacutereas para a qualidade do ambiente em geral A Reserva Legal eacute fundamental para a

estabilidade ecoloacutegica e consequentemente a exploraccedilatildeo em bases sustentaacuteveis do

proacuteprio imoacutevel rural A Reserva Legal contribui para a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo

do solo o controle da erosatildeo o controle do assoreamento dos cursos d‟aacutegua a

conservaccedilatildeo dos corpos d‟aacutegua e dos mananciais serve de abrigo para os predadores

das pragas agriacutecolas fornece madeira e outros recursos florestais para uso na

propriedade dentre outros benefiacutecios

E por fim eacute cabiacutevel mencionar ainda que o Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL

2012) fixou criteacuterios bem mais especiacuteficos e pertinentes ao estabelecimento da reserva legal

como proceder ao cumprimento desse instituto observando se sua localizaccedilatildeo eacute condizente

com o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ou outras categorias

de zoneamento ambiental a proximidade com outras aacutereas legalmente protegidas dentre

outros

1134 Econocircmica

A reserva legal sob o aspecto econocircmico eacute muito controversa uma vez que eacute vista

pelo proprietaacuterio ou posseiro rural como um encargo Mesmo porque como exprime

Trennepohl (2009) ateacute a deacutecada de 80 quando se tinha diferentes normas com dispositivos

protecionistas mas com enfoque preponderantemente economicista os recursos naturais eram

tratados muito mais como insumos de produccedilatildeo ou bens de uso imediato da sociedade do que

como elementos integrantes de um intrincado e fraacutegil equiliacutebrio ambiental Isto condicionou

fatalmente a sociedade brasileira contemporacircnea a natildeo observar a deferecircncia aos bens

ambientais quiccedilaacute respeitar certa porcentagem de uma aacuterea que fora adquirida por um

particular com seus recursos proacuteprios e a tem como totalmente privada

Ainda eacute possiacutevel pelo Coacutedigo Florestal - Lei 126512012 (BRASIL 2012)

intervir na aacuterea destinada agrave reserva de forma sustentaacutevel sem suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo

uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo econocircmica dessas aacutereas Aleacutem do

que ldquoa recuperaccedilatildeo de aacutereas de RL pode ainda gerar produtos e subprodutos madeireiros jaacute

escassos em algumas regiotildees garantindo assim uma renda adicional ao produtor rural e

mateacuteria-prima para a induacutestriardquo conforme defendem Schaffer e Medeiros (2009 p 12)

Para Magnanini (2010) a situaccedilatildeo eacute graviacutessima quando sugere ficar a criteacuterio

do proprietaacuterio rural a iniciativa de proceder ou natildeo agrave reserva legal jaacute que a Administraccedilatildeo

35

Puacuteblica natildeo tem como combater eficientemente o descumprimento desse instituto Eacute o que

propotildee no momento em que coloca

O dilema eacute este ou impotildee-se a todos os donos de terras defenderem agrave sua custa a

produtividade do solo contra a erosatildeo terriacutevel e crescente ou cruzam-se os braccedilos

ante a incapacidade pela pobreza do Poder Puacuteblico na maioria dos Estados do

Brasil para deter a transformaccedilatildeo do Paiacutes num deserto em que as estaccedilotildees se

alternem entre inundaccedilotildees e secas devoradoras de todo o esforccedilo humano

(MAGNANINI 2010 p 5)

Ademais define-se outra vertente do aspecto econocircmico tatildeo bem colocada pela

acepccedilatildeo que tem Bacha (2005 p 9) ao afirmar que

A reserva legal eacute um mecanismo de poliacutetica de rendas pelo qual se procura

estabelecer um zoneamento do uso da terra dentro da propriedade rural A poliacutetica

de rendas constitui-se numa seacuterie de regulamentaccedilotildees que restringem a produccedilatildeo e a

comercializaccedilatildeo de produtos bem como o uso dos fatores de produccedilatildeo eou

determinam valores miacutenimos ou maacuteximos para o pagamento pelo uso desses fatores

ou por produtos elaborados numa economia

Eacute possiacutevel portanto depreender o entendimento do autor de modo que a reserva

legal vem restringir o uso indiscriminado dos recursos florestais gerando com isso a

manutenccedilatildeo do bem ambiental que seraacute resguardado por aquele instituto Isto influiraacute

diretamente na cadeia produtiva nas oscilaccedilotildees de demanda e procura do mercado de mateacuteria-

prima de origem vegetal Ou seja pode-se entender que a meacutedio eou longo prazo a reserva

legal seraacute um ponto de equiliacutebrio no fluxo da produccedilatildeo de bens e serviccedilos que careccedilam desse

recurso natural

114 Direito de Propriedade x Reserva Legal

A propriedade privada eacute uma espeacutecie baacutesica que se decompotildee em propriedade

rural ou urbana segundo se refira a moradias do campo ou moradias derivadas das

construccedilotildees ou edificaccedilotildees idocircneas para sua habitualidade ou aproveitamento diferente do

que eacute a exploraccedilatildeo agraacuteria de qualquer moradia rural (CRIADO 2010)

A propriedade no direito brasileiro foi constituiacuteda em forma e conteuacutedo a partir de

normas muito antigas e de outras naccedilotildees ou seja foi reproduzida com base no direito romano

ldquoDesde aqueles tempos o direito de propriedade era tido como absoluto isto eacute o proprietaacuterio

tinha o direito de usar ou natildeo usar gozar ou natildeo gozar e dispor ou natildeo dispor da propriedade

imobiliaacuteriardquo (MELO 2010 p22) Em contrapartida ldquoos direitos de propriedade

constitucional certamente satildeo direitos de liberdade seja a liberdade individual seja a

liberdade comunitaacuteria que satildeo complementares e indissociaacuteveis haja vista que uma natildeo

36

existe sem a outra como nos demonstram as experiecircncias totalitaacuterias do seacuteculo XXrdquo

(ANTUNES 2011 p37)

A garantia do direito de propriedade estaacute prevista constitucionalmente ou seja na

maior Lei do paiacutes uma vez que ela se sobrepotildee a todas as outras leis e normas juriacutedicas Eacute a

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil que foi promulgada em 05 de outubro de

1988 Conhecida como Carta Magna a Constituiccedilatildeo de 1988 (BRASIL 1988) em seu Tiacutetulo

II estabelece os direitos e as garantias fundamentais do e para o povo brasileiro Logo no

primeiro capiacutetulo deste tiacutetulo estatildeo dispostos os direitos e deveres individuais e coletivos que

o Estado brasileiro deve assegurar aos seus cidadatildeos Eacute no artigo 5ordm que estatildeo previstas tais

premissas inclusive o direito de propriedade (inciso XXII) e o respeito agrave sua funccedilatildeo social

(XXIII)

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade

do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos

seguintes

[]

XXII - eacute garantido o direito de propriedade

XXIII - a propriedade atenderaacute a sua funccedilatildeo social

Quanto agrave funccedilatildeo social da propriedade ldquosomente nos seacuteculos XIX e XX surgiu a

ideia em que o imoacutevel natildeo teria mais o caraacuteter absoluto e intangiacutevel de forma que o

proprietaacuterio por possuir recursos deveria cumprir a tal funccedilatildeordquo (MELO 2010 p23) Ainda

ldquodiscorrer sobre a funccedilatildeo social da propriedade significa abandonar a ideia absolutista e

inflexiacutevel desse instituto para admitir a revitalizaccedilatildeo e o condicionamento do exerciacutecio a

interesses maiores que os do proprietaacuterio individualrdquo (PETERS 2003 p 125 apud

MIRANDA 2008 p 56) Foi nesse sentido que as Constituiccedilotildees Federais brasileiras de 1934

(BRASIL 1934b) 1946 (BRASIL 1946) 1967 (BRASIL 1967c) e a de 1988 (BRASIL

1988) restringiram o direito de propriedade

Constituiccedilatildeo de 1934

Art 113 - A Constituiccedilatildeo assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade dos direitos concernentes agrave liberdade agrave subsistecircncia agrave seguranccedila

individual e agrave propriedade nos termos seguintes

[]

17) Eacute garantido o direito de propriedade que natildeo poderaacute ser exercido contra o

interesse social ou coletivo na forma que a lei determinar A desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica far-se-aacute nos termos da lei mediante preacutevia e justa

indenizaccedilatildeo [] (BRASIL 1934b p 33)

Constituiccedilatildeo de 1946

Art 141 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

Paiacutes a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade a seguranccedila

individual e agrave propriedade nos termos seguintes

37

[]

sect 16 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa

indenizaccedilatildeo em dinheiro (BRASIL 1946 p 31)

Constituiccedilatildeo de 1967

Art 150 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

Pais a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

[]

sect 22 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa

indenizaccedilatildeo em dinheiro ressalvado o disposto no art 157 sect 1ordm []

[]

Art 157 - A ordem econocircmica tem por fim realizar a justiccedila social com base nos

seguintes princiacutepios

[]

III - funccedilatildeo social da propriedade

[]

sect 1ordm - Para os fins previstos neste artigo a Uniatildeo poderaacute promover a desapropriaccedilatildeo

da propriedade territorial rural mediante pagamento de justa indenizaccedilatildeo fixada

segundo os criteacuterios que a lei estabelecer em tiacutetulos especiais da diacutevida puacuteblica []

(BRASIL 1967c p 4951)

Embora os textos se assemelhem eacute faacutecil observar que em 1934 o direito de

propriedade natildeo poderia ir contra o interesse social ou coletivo enquanto que na Constituiccedilatildeo

de 1946 (BRASIL 1946) jaacute se comeccedila a falar em desapropriaccedilatildeo caso aquele interesse natildeo

seja observado Em 1967 existe uma combinaccedilatildeo entre o direito de propriedade e a justiccedila

social estando esta prevista como objetivo da ordem econocircmica que por sua vez cita

claramente a funccedilatildeo social da propriedade como um de seus princiacutepios Mais uma vez a

desapropriaccedilatildeo vem agrave tona agora com um toque mais robusto e imbuiacutedo de maior evidecircncia

jaacute que aquela Carta (BRASIL 1967c) faz menccedilatildeo no paraacutegrafo 1ordm do artigo 157 que a Uniatildeo

poderaacute desapropriar a propriedade territorial rural se natildeo atender dentre outros aspectos a

funccedilatildeo social da propriedade

Retroagindo aproximadamente trecircs anos a desapropriaccedilatildeo jaacute estava em pauta

atraveacutes da Lei 450464 (BRASIL 1964) conhecida como o Estatuto da Terra Com o

objetivo de regular os direitos e obrigaccedilotildees concernentes aos bens imoacuteveis rurais a citada lei

menciona a desapropriaccedilatildeo como uma das medidas de execuccedilatildeo da Reforma Agraacuteria e

promoccedilatildeo da Poliacutetica Agriacutecola (Art 1deg) Aleacutem disto o artigo segundo assegura a todos a

oportunidade de acesso agrave propriedade da terra condicionada pela sua funccedilatildeo social desde que

cumpra as seguintes condiccedilotildees

Art 2deg

sect 1deg A propriedade da terra desempenha integralmente a sua funccedilatildeo social quando

simultaneamente

a) favorece o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores que nela labutam

assim como de suas famiacutelias

38

b) manteacutem niacuteveis satisfatoacuterios de produtividade

c) assegura a conservaccedilatildeo dos recursos naturais

d) observa as disposiccedilotildees legais que regulam as justas relaccedilotildees de trabalho entre os

que a possuem e a cultivem (BRASIL 1964 p 1)

Encerrando o rol de Constituiccedilotildees brasileiras quanto ao direito de propriedade e

sua funccedilatildeo social a de 1988 consagra este princiacutepio no artigo 186

Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende

simultaneamente segundo criteacuterios e graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos

seguintes requisitos

I - aproveitamento racional e adequado

II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio

ambiente

[] (BRASIL 1988 p 144)

Chama atenccedilatildeo o inciso II quando dispotildee sobre a utilizaccedilatildeo adequada dos

recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio ambiente Eacute nesse iacutenterim que a reserva

legal eacute reconhecida por dar ao imoacutevel uma funccedilatildeo social ldquouma vez que atribui agrave propriedade

a exigecircncia da observacircncia de funccedilotildees econocircmica e social bem como de preservaccedilatildeo do meio

ambienterdquo (MELO 2010 p 24) Tambeacutem sobre isso bem coloca Trennepohl (2009 p 12)

A limitaccedilatildeo administrativa do exerciacutecio do direito de propriedade encontra respaldo

no art 186 da Constituiccedilatildeo Federal pois a propriedade rural somente cumpre sua

funccedilatildeo social quando obedecido o aproveitamento racional e utilizados

adequadamente os recursos naturais disponiacuteveis com vistas agrave preservaccedilatildeo do meio

ambiente

ldquoNatildeo haacute direito de propriedade para quem natildeo faz a terra cumprir sua funccedilatildeo

socialrdquo Eacute como entende o professor de direito agraacuterio Carlos Mareacutes (2003 p 134 apud

MELO 2010 p 25) Cavedon (2003 p 122 apud MIRANDA 2008 p 5859) tambeacutem

observa que

Os requisitos estipulados pelo artigo 186 devem ser atendidos simultaneamente sob

pena da propriedade natildeo atender sua funccedilatildeo social e por isso perder sua proteccedilatildeo

constitucional Como consequecircncia esta fica sujeita agrave desapropriaccedilatildeo por interesse

social para fins de reforma agraacuteria conforme o caput do artigo 184 da CF88 Eacute o que

Lenza denomina de desapropriaccedilatildeo-sanccedilatildeo Isto porque a Constituiccedilatildeo de 1988 em

seu artigo 5ordm inciso XXIV garante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiro mediante a

desapropriaccedilatildeo por necessidade utilidade puacuteblica ou interesse social A sanccedilatildeo estaacute

justamente na forma de pagamento da indenizaccedilatildeo quando a propriedade rural natildeo

atende a sua funccedilatildeo social o pagamento natildeo eacute efetuado em dinheiro mas em tiacutetulos

da diacutevida agraacuteria5 Assim o meio ambiente ganha relevacircncia como elemento

5 Tiacutetulos da diacutevida agraacuteria (TDA) - Meio de pagamento de indenizaccedilotildees devidas aos que sofreram accedilatildeo

expropriatoacuteria da Uniatildeo Federal Criado pelo Governo Federal eacute vinculado agrave desapropriaccedilatildeo de imoacuteveis rurais

por interesse social para efeito de reforma agraacuteria ou aquisiccedilotildees por compra e venda de imoacuteveis rurais destinados

agrave implantaccedilatildeo de projetos integrantes do Programa Nacional de Reforma Agraacuteria Disponiacutevel em

lthttpwwwcetipcombrtitulos-publicostdagt Acesso em 27062013

39

integrante da funccedilatildeo social da propriedade em funccedilatildeo do artigo 186 II que prevecirc a

utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio

ambiente e no artigo 170 que coloca a propriedade privada a funccedilatildeo social da

propriedade e a defesa do meio ambiente lado a lado como princiacutepios da ordem

econocircmica Com base nestes dispositivos legais Cavedon entende que a propriedade

deve atender tambeacutem a sua funccedilatildeo ambiental apesar desta natildeo constar de forma

expliacutecita no texto constitucional

Desta forma por estar limitado o proprietaacuterio rural natildeo pode dispor livremente de

seu imoacutevel pois haacute de cumprir sua funccedilatildeo social que resulta na observacircncia de requisitos que

visam vantagens para a coletividade em detrimento de restriccedilotildees individuais Assim sendo

muitos particulares entendem que a obrigaccedilatildeo de destinarem determinada porcentagem de

suas propriedades rurais para a reserva legal eacute uma espeacutecie de desapropriaccedilatildeo indireta imposta

pelo poder puacuteblico e por isso deveriam ser indenizados Da mesma forma outros segundo

Miranda (2008) concluem que eacute uma restriccedilatildeo da propriedade uma vez que inviabiliza a

utilizaccedilatildeo econocircmica do bem e por isso caberia uma recomposiccedilatildeo patrimonial Ao contraacuterio

desse entendimento Trennepohl (2009 p 11) explica

A averbaccedilatildeo da reserva legal natildeo representa uma desapropriaccedilatildeo indireta como

muita gente pensa pois sua vegetaccedilatildeo pode ser explorada na forma de manejo

florestal sustentaacutevel e a aacuterea pode ser utilizada para outras atividades rentaacuteveis

Tanto eacute assim que inuacutemeras accedilotildees judiciais propostas pleiteando indenizaccedilatildeo pela

restriccedilatildeo de uso dessas aacutereas foram fulminadas nas diferentes esferas do Poder

Judiciaacuterio

Ademais a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 (BRASIL 1988) em seu artigo 225

tambeacutem estabelece que

Art 225 Todos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de

uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder

Puacuteblico e agrave coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e

futuras geraccedilotildees

sect 1ordm - Para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Poder Puacuteblico

I - preservar e restaurar os processos ecoloacutegicos essenciais e prover o manejo

ecoloacutegico das espeacutecies e ecossistemas []

III - definir em todas as unidades da Federaccedilatildeo espaccedilos territoriais e seus

componentes a serem especialmente protegidos sendo a alteraccedilatildeo e a supressatildeo

permitidas somente atraveacutes de lei vedada qualquer utilizaccedilatildeo que comprometa a

integridade dos atributos que justifiquem sua proteccedilatildeo (BRASIL 1988 p 225226)

Ressalta-se que ldquoa Carta Magna de 1988 eacute a primeira Constituiccedilatildeo brasileira em

que a expressatildeo meio ambiente eacute mencionadardquo (MELO 2010 p 20) Ademais inovou ao

adotar a terminologia ldquoespaccedilo territorial especialmente protegidordquo para designar uma aacuterea sob

regime especial de administraccedilatildeo com o objetivo de proteger os atributos ambientais

justificadores do seu reconhecimento e individualizaccedilatildeo pelo Poder Puacuteblico (MILAREacute 2009)

40

Desta forma pela simples leitura do texto constitucional observa-se que eacute uma

prerrogativa do Poder Puacuteblico promover a preservaccedilatildeo do meio ambiente bem como

estabelecer unidades especialmente protegidas para garantir a manutenccedilatildeo dos recursos

naturais A forma com que o Estado cumpriraacute este dever eacute atraveacutes da ediccedilatildeo de leis que

obriguem seus administrados a satisfazerem tais imposiccedilotildees Para tanto tem-se o Coacutedigo

Florestal (BRASIL 1965 2012) que prevecirc a reserva legal como um dos meios de viabilizar

essa proteccedilatildeo Eacute sobre o que discorre Trennepohl (2009 p 12)

A reserva legal eacute um dos instrumentos que permitem o cumprimento do art 225 da

Constituiccedilatildeo Federal o qual impotildee ao Poder Puacuteblico o dever de defender e preservar

o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras geraccedilotildees

(caput) atraveacutes de definiccedilatildeo de espaccedilos territoriais e seus componentes a serem

especialmente protegidos (sect1deg III) bem como de proteger a flora e a fauna (sect1deg

VII)

Conclui-se portanto que a reserva legal introduzida pelo Coacutedigo de 65 (BRASIL

1965) modificou os contornos do direito de propriedade restringindo seu uso e que a funccedilatildeo

social do bem imoacutevel teve como origem forte conflito entre necessidades coletivas ou assim

interpretadas e o regime particular da propriedade individual (ANTUNES 2011)

1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa

As formas de limitaccedilotildees que recaem sobre a propriedade tornam-se um problema

importante em mateacuteria ambiental pois na grande maioria das vezes a natureza juriacutedica dos

espaccedilos territoriais especialmente protegidos se confunde com a limitaccedilatildeo administrativa

(MELO 2010) Assim questiona-se se realmente estamos diante de servidotildees limites

limitaccedilotildees ou delimitaccedilotildees A questatildeo natildeo eacute paciacutefica (CRIADO 2010)

A limitaccedilatildeo administrativa segundo Meireles (2004 p 568) eacute ldquotoda imposiccedilatildeo

geral gratuita unilateral e de ordem puacuteblica condicionadora do exerciacutecio de direitos ou de

atividades particulares agraves exigecircncias do bem-estar socialrdquo Satildeo implementadas de forma

imperativa obrigando o proprietaacuterio a fazer ou natildeo fazer algo na sua propriedade mas sem

retirar a utilizaccedilatildeo econocircmica deste bem ldquoJaacute a restriccedilatildeo ocorre quando a administraccedilatildeo impotildee

ao proprietaacuterio dever que o obrigue ou o impeccedila de fazer algo em sua propriedade retirando a

utilizaccedilatildeo econocircmica desta Havendo neste caso a necessidade de recomposiccedilatildeo patrimonialrdquo

(MIRANDA 2008 p 61)

41

Aleacutem do que hibridamente haacute os que entendem que a reserva legal eacute uma

desapropriaccedilatildeo indireta6 disfarccedilada de limitaccedilatildeo da propriedade que por sua vez inviabiliza a

utilizaccedilatildeo econocircmica do bem provocando uma busca por indenizaccedilatildeo Eacute nesse sentido que se

pronunciam os superiores tribunais do paiacutes como por exemplo se pronunciou o ministro Luiz

Pereira do Tribunal de Justiccedila do Estado de Satildeo Paulo ao decidir pela indenizabilidade da

aacuterea compreendida na reserva legal E ainda o proacuteprio Supremo Tribunal Federal tem se

manifestado de forma enfaacutetica ldquoimpedindo que a bdquolimitaccedilatildeo administrativa‟ esvazie o

conteuacutedo econocircmico do direito de propriedade determinando que em tais hipoacuteteses o Estado

indenize os prejuiacutezos de ordem patrimonial sofridos pelo particularrdquo (ANTUNES 2011

p163164)

Mesmo sendo um instrumento de conservaccedilatildeo ambiental com a possibilidade de

exploraccedilatildeo racional atraveacutes de manejo florestal sustentaacutevel eacute visivelmente perceptiacutevel o

conflito entre interesses particulares e a salvaguarda da vegetaccedilatildeo proposta por norma

juriacutedica Posto isto observa-se de um lado intenccedilotildees puramente econocircmicas que por sua vez

levam os proprietaacuterios a ignorarem a lei derrubando e queimando as matas que deveriam ser

preservadas a tiacutetulo de Reserva Legal ou ainda se eximindo de suas responsabilidades soacutecio-

ambientais Opotildeem-se portanto aos fortes instrumentos juriacutedicos de proteccedilatildeo das matas

brasileiras (MIRANDA 2008)

1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal

Na vigecircncia da lei anterior ou seja do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)

a forma de garantir documentalmente o cumprimento da reserva legal era averbaacute-la junto agrave

matriacutecula da propriedade constante em um Registro de Imoacuteveis Vale aqui esmiuccedilar o que eacute e

como era esse procedimento

ldquoO Registro de Imoacuteveis eacute uma instituiccedilatildeo nascida no seacuteculo XIX para dar

seguranccedila agrave contrataccedilatildeo imobiliaacuteria e na qual se inscreviam os direitos nascidos das relaccedilotildees

privadas ou civisrdquo (CRIADO 2010 p126) ldquoE que surgiu como necessidade do Estado de

controlar o direito de propriedade e como instrumento de seguranccedila juriacutedica para o traacutefego

imobiliaacuteriordquo (MELO 2010 p18) Regido pela Lei 601573 (BRASIL 1973) que cria a

figura da matriacutecula e que por sua vez representa a individualidade do imoacutevel sua situaccedilatildeo

6 Desapropriaccedilatildeo indireta ndash ldquotoda intervenccedilatildeo do Estado na propriedade que venha a impossibilitar o uso e gozo

desse bem retirando-lhe o conteuacutedo econocircmicordquo (TAVARES 1998 p 2 apud MIRANDA 2008 p 62)

42

geograacutefica e perfeita descriccedilatildeo sofrendo alteraccedilotildees objetivas e subjetivas por meio da

averbaccedilatildeo sempre com um mesmo nuacutemero de ordem facilitando incrivelmente as pesquisas e

expediccedilatildeo de certidotildees (MELO 2010)

Desta forma cada imoacutevel possui um registro onde pode ser descrito tudo o que

acontece com ele e nele por exemplo quem comprou vendeu se o dono hipotecou o bem a

um banco por causa de empreacutestimo etc Cada novidade que acontece no imoacutevel eacute inscrita sob

a forma e nome de averbaccedilatildeo no seu registro que por sua vez tem um nuacutemero de matriacutecula

para o identificar da mesma forma que um cidadatildeo tem um nuacutemero de Registro Geral (RG)

com seu nome completo data de nascimento e filiaccedilatildeo

No caso a averbaccedilatildeo da reserva legal era feita da seguinte forma o dono do

imoacutevel ldquointeressadordquo em cumprir sua obrigaccedilatildeo deveria submeter a localizaccedilatildeo da reserva

legal ao oacutergatildeo ambiental estadual que por sua vez aprovaria ou natildeo o local onde o proprietaacuterio

iria destinar agrave reserva legal Essa delimitaccedilatildeo deveria ser feita a partir de um

georreferenciamento que utiliza coordenadas geograacuteficas fixadas com o auxiacutelio de sateacutelites

conforme o Sistema Geodeacutesico Brasileiro (SGB) ao qual o Registro de imoacuteveis estaacute

vinculado (MELO 2010)

ldquoA representaccedilatildeo graacutefica da propriedade e sua atualizaccedilatildeo permitem um

conhecimento da evoluccedilatildeo do territoacuterio suas modificaccedilotildees e o impacto meio ambiental que

nele tenha ocasionado atuaccedilatildeo do acircmbito imobiliaacuterio com transcendecircncia nesta mateacuteriardquo

(LIBERAL 2007 p 121 apud MELO 2010 p3233)

Assim com a propriedade e sua respectiva aacuterea de reserva legal

georreferenciadas o proacuteximo passo seria a elaboraccedilatildeo de uma planta a partir dos dados

coletados e juntamente com o documento comprobatoacuterio de que o imoacutevel possuiacutea registro

submeter a localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva ao oacutergatildeo ambiental competente Se aprovada o

oacutergatildeo expediria um Termo de Averbaccedilatildeo da Reserva Legal que juntamente com a mesma

planta apresentada anteriormente deveria ser levado ao cartoacuterio de imoacuteveis para posterior

averbaccedilatildeo no registro do bem Nesta averbaccedilatildeo estariam descritas todas as informaccedilotildees da

reserva legal e sua localizaccedilatildeo geograacutefica

ldquoEsse procedimento documental tinha fundamento no princiacutepio da publicidade

que eacute a alma dos registros puacuteblicos porque eacute a oportunidade dada ao povo de conhecer tudo

que lhe interessa a respeito de determinados atosrdquo (BALBINO FILHO 1999 p 9 apud

MELO 2010 p34) Ateacute porque qualquer pessoa pode solicitar informaccedilotildees sobre os registros

junto ao cartoacuterio de imoacuteveis ldquoE natildeo poderia ser diferente pois o Registro de Imoacuteveis atua no

43

direito ambiental como ator coadjuvante reforccedilando a publicidade legal bem como

cooperando com o cumprimento e garantia das obrigaccedilotildees ambientaisrdquo (MELO 2010 p79)

Natildeo obstante malgrado existia a obrigaccedilatildeo legal de todo proprietaacuterio averbar a

aacuterea de RLF no Registro de Imoacuteveis o fato eacute que pequena porcentagem dos proprietaacuterios

procedeu agrave sua especializaccedilatildeo ldquoA razatildeo eacute simples trata-se de norma incompleta foi criada a

obrigaccedilatildeo mas propositalmente a sanccedilatildeo foi esquecidardquo (MELO 2010 p56)

Com a lei 126512012 (BRASIL 2012) ou Novo Coacutedigo Florestal esse

procedimento mudou Logo natildeo se deve mais averbar a reserva legal no registro do imoacutevel

Agora a obrigaccedilatildeo passou a ser o cadastramento da propriedade rural no Cadastro Ambiental

Rural (CAR) O atual meacutetodo consiste na inscriccedilatildeo do imoacutevel a partir da identificaccedilatildeo do

proprietaacuterio ou possuidor rural apresentaccedilatildeo de documento que comprove a propriedade ou a

posse e a identificaccedilatildeo do imoacutevel por meio de planta e memorial descritivo contendo a

indicaccedilatildeo das coordenadas geograacuteficas com pelo menos um ponto de amarraccedilatildeo do periacutemetro

do imoacutevel informando a localizaccedilatildeo dos remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa das Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente das Aacutereas de Uso Restrito das aacutereas consolidadas e caso existente

tambeacutem da localizaccedilatildeo da Reserva Legal

No entanto o CAR ainda natildeo estaacute implantado no Cearaacute o que eacute realidade em

vaacuterios outros estados tambeacutem A obrigatoriedade de inscriccedilatildeo neste Cadastro eacute de ateacute dois

anos apoacutes sua implementaccedilatildeo que ateacute o momento natildeo aconteceu Todavia o secretaacuterio de

Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentaacutevel Sr Paulo Guilherme Cabral afirmou em

21052013 que o lanccedilamento em acircmbito nacional do Cadastro Ambiental Rural (CAR) deve

ocorrer ateacute o iniacutecio de junho e para agilizar a inscriccedilatildeo de mais de 5 milhotildees de propriedades

o Ministeacuterio do Meio Ambiente tem buscado ajuda de sindicatos cooperativas e associaccedilotildees

do setor agriacutecola aleacutem de outros oacutergatildeos puacuteblicos7 Infelizmente nada aconteceu ateacute e apoacutes

aquela previsatildeo

Contraditoriamente natildeo existe um prazo para o governo implantar o CAR mas

para o proprietaacuterio ou posseiro sim quando o cadastro dos imoacuteveis estiver disponiacutevel O

impasse eacute o que fazer o dono da terra aguarda o novo procedimento vigorar ou adota o

meacutetodo anterior

7 Conferir notiacutecia publicada em 22052013 no site lthttpsouagrocombrlancamento-nacional-do-car-deve-

sair-ate-junhogt

44

2 Processo de Degradaccedilatildeo

21 Conceito

A degradaccedilatildeo de uma forma geral eacute ldquoa ocorrecircncia de modificaccedilotildees fiacutesicas

metaboacutelicas ou quiacutemicas para uma forma menos complexa E a degradaccedilatildeo ambiental eacute a

alteraccedilatildeo das caracteriacutesticas do meio ambienterdquo (GUERRA et al 2009 p108) Jaacute o inciso II

do artigo 3ordm da Lei 693881 (BRASIL 1981) descreve a degradaccedilatildeo da qualidade ambiental

como alteraccedilatildeo adversa das caracteriacutesticas do meio ambiente

Para Arauacutejo et al (2008 p 19) ldquoa degradaccedilatildeo das terras envolve a reduccedilatildeo dos

potenciais recursos renovaacuteveis por uma combinaccedilatildeo de processos agindo sobre a terrardquo Os

autores ainda atestam que

Tal reduccedilatildeo levando ao abandono ou ldquodesertificaccedilatildeordquo da terra [] pode ser por

processos naturais como por exemplo o ressecamento do clima atmosfeacuterico

processos naturais de erosatildeo alguns outros de formaccedilatildeo do solo ou uma invasatildeo

natural de plantas ou animais nocivos Pode tambeacutem ocorrer por accedilotildees antroacutepicas

diretamente sobre o terreno ou indiretamente em razatildeo das mudanccedilas climaacuteticas

adversas induzidas pelo homem (ARAUacuteJO et al 2008 p 19)

Para a Food and Agriculture Organizations of the United Nations - FAO

(Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e Agricultura) o conceito de degradaccedilatildeo

de terras se refere ldquoagrave deterioraccedilatildeo ou perda total da capacidade dos solos para uso presente e

futurordquo (FAO 1980 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 23)

Observa-se portanto que a degradaccedilatildeo ambiental se natildeo combatida pressupotildee

um processo criacutetico e muito seacuterio o da desertificaccedilatildeo Eacute como considera Sales (2002) e ainda

afirma que o potencial natural das terras quanto agrave degradaccedilatildeo e a accedilatildeo antroacutepica

desencadeiam a desertificaccedilatildeo

O processo de degradaccedilatildeo ambiental pode ocorrer a partir de um ambiente que jaacute

possui caracteriacutesticas naturais limitantes eou extremas onde nele eacute inserido o fator antroacutepico

seja pela simples ocupaccedilatildeo de uma populaccedilatildeo naquela aacuterea seja pelo manejo inadequado dos

recursos naturais ali presentes De outra forma a degradaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel em ambientes

sem fragilidades naturalmente aparentes

A degradaccedilatildeo ambiental advinda da intervenccedilatildeo humana num cenaacuterio mundial

traduz-se em 15 das terras jaacute comprometidas pelas atividades humanas sendo que na

Ameacuterica do Sul dentro daquele percentual encontrou-se 1 de terras devastadas 11 de

terras leve ou moderadamente degradadas e 1 de terra forte ou extremamente degradada8

As estimativas apontam uma expansatildeo anual de 5 a 12 milhotildees de hectares de solo de um

total de 48 bilhotildees de hectares de aacutereas cultivaacuteveis e pastos ainda existentes e segundo a

ISRICUNEP (1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 28) isso resulta na seguinte constataccedilatildeo

A degradaccedilatildeo ambiental causa a perda de aproximadamente 14 milhotildees de

toneladas de gratildeos anualmente isto eacute metade da quantidade necessaacuteria para cobrir

as necessidades da populaccedilatildeo global adicional para o mesmo periacuteodo E no aspecto

financeiro para Blaikie e Brookfiel (1987) a produtividade do trabalho eacute atingida

desfavoravelmente pois a degradaccedilatildeo ambiental consome diretamente o produto do

trabalho e tambeacutem o aporte de capital na produccedilatildeo A qualidade de vida diminui

porque satildeo necessaacuterios mais tempo e um trabalho mais duro para se obter o mesmo

produto isso sem mencionar as medidas conservacionistas no campo fertilizaccedilatildeo

mais intensa ou a abertura de aacutereas para lavouras ou pastos cada vez mais distantes

[] Em ocasiotildees mais raras mas tambeacutem tatildeo dramaacuteticas a degradaccedilatildeo ambiental

forccedila o deslocamento da populaccedilatildeo Centenas de milhares de hectares tecircm de ser

abandonados a cada ano por estarem degradados demais para o cultivo ou ateacute

mesmo para pastagens (ARAUacuteJO et al 2008 p 31)

Em se tratando de semiaacuterido os recursos ambientais satildeo fraacutegeis e associados a

este quadro haacute uma populaccedilatildeo que por sua vez lanccedila matildeo dos bens naturais produzindo uma

deterioraccedilatildeo ambiental ldquoO Cearaacute por conseguinte apresenta extensas aacutereas com problemas

relativos agrave degradaccedilatildeo ambiental principalmente a desertificaccedilatildeordquo (IRAUCcedilUBA 2009 p 7)

Eacute o caso de Irauccediluba por causa da degradaccedilatildeo advinda do desmatamento e das

queimadas que exaurem os nutrientes do solo a agricultura de subsistecircncia colhe em gratildeos

menos de 500 kgha enquanto que a produccedilatildeo potencial seria cerca de 2000 kgha

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Isso explica a baixa participaccedilatildeo da agricultura na

produccedilatildeo agropecuaacuteria do municiacutepio E ldquoessa produccedilatildeo sequer paga os custos da lavoura de

forma que os pequenos produtores estatildeo pagando para plantar na maioria dos casosrdquo

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 18) As consequecircncias sociais disto satildeo ldquoum ciclo de

pobreza e miseacuteria tornando a regiatildeo cada vez mais vulneraacutevelrdquo (SALES 2002 p116)

Em niacutevel mais criacutetico segundo as Naccedilotildees Unidas a desertificaccedilatildeo degrada 60 mil

km2 de terras feacuterteis por ano em todo o mundo provocando perdas de 4 bilhotildees de doacutelares na

economia mundial No Brasil estima-se que essas perdas atinjam 100 milhotildees de doacutelares9

Por fim ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013) entendem que a degradaccedilatildeo em terras

brasileiras remonta o tempo dos colonizadores pois estes aplicavam diretamente meacutetodos e

praacuteticas proacuteprios para solos de clima temperado Assim as matas foram derrubadas queimou-

se a vegetaccedilatildeo em larga escala e lavouras nocircmades foram estabelecidas aproveitou-se o humo

8 Conferir ISRICUNEP 1991 In Arauacutejo et al 2008 p 27

9 Conferir RODRIGUES (2006) in CEARAacute 2010

46

onde este jaacute existia expuseram-se os solos agrave erosatildeo enfim saquearam-se os recursos naturais

renovaacuteveis ldquoNo caso do Cearaacute documenta-se que em 1861 a Comissatildeo Cientiacutefica enviada

para estudar o Nordeste registrava a destruiccedilatildeo acelerada da vegetaccedilatildeo principalmente nos

contrafortes das serras em virtude dos desmatamentos e queimadas para plantio de

mandiocardquo ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013 p 8)

Para uma melhor compreensatildeo quanto agrave intervenccedilatildeo humana negativa no

ambiente aponta-se o esquema proposto na figura 3 a seguir resumindo o processo de

degradaccedilatildeo ambiental apresentado pelo PAE10

(CEARAacute 2010b)

Figura 3 Sistema de Degradaccedilatildeo do Meio Ambiente Adaptado de Tricart (apud Souza 2000)

Fonte PAE (CEARAacute 2010b p 30)

10

PAECE ndash Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca

(CEARAacute 2010)

47

22 Degradaccedilatildeo Ambiental

A degradaccedilatildeo tem vaacuterias causas dentre elas a erosatildeo e o manejo inadequado do

solo Em se tratando deste uacuteltimo pode-se destacar as atividades agropecuaacuterias e suas

praacuteticas como por exemplo o desmatamento desmedido e irracional a irrigaccedilatildeo de forma

errada salinizando ou encharcando o solo o sobrepastoreio que compacta o solo e o uso de

defensivos agriacutecolas que provocam a contaminaccedilatildeo do solo e eliminam os microorganismos

ali presentes Deduz-se portanto que isso eacute um reflexo derivado de uma estrutura fundiaacuteria

extremamente riacutegida onde satildeo desenvolvidas aquelas atividades com baixo niacutevel tecnoloacutegico

levando a praacuteticas agriacutecolas predatoacuterias (SALES 2002 p116)

Com as causas naturais e as provocadas pelo homem quanto agrave degradaccedilatildeo do solo

expostas na tabela 2 a compreensatildeo fica mais clara

Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras

FATORES ACcedilOtildeES ANTROacutePICAS CONDICcedilOtildeES NATURAIS

Facilitadores

Desmatamento

Permissatildeo do superpastoreio

Uso excessivo da vegetaccedilatildeo

Taludes de corte

Remoccedilatildeo da cobertura vegetal para o cultivo

Topografia

Textura do solo

Composiccedilatildeo do solo

Cobertura vegetal

Regimes hidrograacuteficos

Diretos

Uso de maacutequinas

Conduccedilatildeo do gado

Encurtamento do pousio

Entrada excessiva de aacutegua drenagem insuficiente

Excesso de fertilizaccedilatildeo aacutecida

Uso excessivo de produtos quiacutemicos estrume

Disposiccedilatildeo de resiacuteduos domeacutesticos industriais

Chuvas fortes

Alagamentos

Ventos fortes

Fonte FAO (1980 apud Arauacutejo et al 2008 p 33)

Entendem Arauacutejo et al (2008 p 29) que as consequecircncias disto no meio rural satildeo

Um decliacutenio na produtividade ou uma necessidade crescente do aporte de nutrientes

para manter as mesmas produtividades uma vez que os ldquosubsolos geralmente

contem menos nutrientes do que as camadas superioresrdquo sendo necessaacuterio mais

fertilizante para manter a produtividade das culturas Isso por sua vez aumenta os

custos da produccedilatildeo

Partindo dessas constataccedilotildees conclui-se que satildeo seacuterias as consequecircncias

ambientais sociais e econocircmicas a esse respeito por isso satildeo necessaacuterias medidas mitigadoras

que visem minimizar esses impactos bem como meios de recuperar os danos jaacute existentes

A questatildeo torna-se ainda mais preocupante quando o olhar recai sobre os

processos de formaccedilatildeo do solo que segundo Kendall e Pimentel (1994 apud ARAUacuteJO et al

48

2008 p 21) ldquosatildeo lentos e necessitam de duzentos a mil anos para formar 25cm de solos e

isso sob condiccedilotildees agriacutecolas normaisrdquo Dessa forma a degradaccedilatildeo do solo eacute muito mais

criacutetica uma vez que eacute quase irreversiacutevel quando se trata do lapso temporal para se regenerar

ldquoA irreversibilidade tambeacutem ocorre quando o clima e as atividades humanas se combinam

tornando um solo anteriormente sadio em aacuterea devastadardquo (ARAUacuteJO et al 2008 p 2021)

221 Erosatildeo

Eacute o processo natural de decomposiccedilatildeo e transporte de sedimentos que altera as

formas de relevo Causada por agentes como vento chuvas aacuteguas correntes pode ser

acelerada por intervenccedilotildees humanas como por exemplo o desmatamento (TRIGUEIRO

2005 apud GUERRA 2009 p 129)

Arauacutejo et al (2008 p 34) afirmam que ldquoembora a erosatildeo possa ocorrer sem a

intervenccedilatildeo humana na praacutetica ela geralmente eacute iniciada eou acelerada por atividades

antroacutepicas que causam o desaparecimento da cobertura protetora da vegetaccedilatildeo natural ou

danificam a estrutura do solordquo

No PAN (BRASIL 2004 p 42) consta que ldquoa resultante do antropismo eacute

principalmente a erosatildeo particularmente a laminarrdquo que se inicia com a destruiccedilatildeo da

cobertura vegetal

A erosatildeo pode ser pela accedilatildeo da aacutegua eou do vento Em ambos os casos a camada

superficial do solo eacute retirada Para Arauacutejo et al (2008 p 24) ldquoa erosatildeo eoacutelica eacute mais comum

em climas aacuterido e semiaacuterido e eacute considerada uma forma de degradaccedilatildeo bem como a da aacutegua

que pode ateacute deformar o terreno formando ravinas e voccedilorocasrdquo Uma consequecircncia grave

disto segundo os mesmos autores eacute a reduccedilatildeo da fertilidade pelos motivos a seguir Menor

penetraccedilatildeo de raiacutezes em decorrecircncia de um solo menos denso e mais fino Reduccedilatildeo na

capacidade de retenccedilatildeo de aacutegua Varredura dos nutrientes utilizados pelas plantas

Para a FAO segundo Arauacutejo et al (2008 p 30) ldquoaproximadamente 25 bilhotildees de

toneladas de solo satildeo erodidos a cada ano sendo 17 toneladas por hectare cultivadordquo

222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica

Dentro do que jaacute foi citado anteriormente a (1) irrigaccedilatildeo inadequada que saliniza

ou encharca o solo e o (2) uso de defensivos agriacutecolas contaminando e eliminando os

49

microorganismos satildeo soacute algumas causas deste tipo de degradaccedilatildeo Aleacutem destas tem-se a (3)

acidificaccedilatildeo e o (4) esgotamento do solo causando a perda de nutrientes Para Arauacutejo et al

(2008 p 25) ldquoa salinizaccedilatildeo pode ser resultado de manejo mal realizado da irrigaccedilatildeo da alta

concentraccedilatildeo de sais na aacutegua ou atenccedilatildeo indevida agrave drenagem Esta acarreta a salinizaccedilatildeo dos

solos especialmente em regiotildees aacuteridas por que as altas taxas de evaporaccedilatildeo estimulam o

processordquo E ainda por atividades humanas que elevam a evaporaccedilatildeo em solos com material

salino ou com lenccedilol freaacutetico salino (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25)

Segundo o PAN (BRASIL 2004 p 64) ldquoa irrigaccedilatildeo produz impactos

indesejaacuteveis em qualquer aacuterea semiaacuteridardquo se realizada de forma inadequada e sem o recurso

da drenagem Complementa ainda o documento ao dizer que

Um solo submetido agrave irrigaccedilatildeo estaacute salinizado quando a concentraccedilatildeo de sais nesse

terreno se eleva a ponto de prejudicar o rendimento econocircmico das culturas A

salinizaccedilatildeo do solo afeta a germinaccedilatildeo e a densidade das culturas bem como seu

desenvolvimento vegetativo reduzindo a produtividade das lavouras Nos casos

limites a salinizaccedilatildeo pode levar agrave morte generalizada das plantas inviabilizando o

cultivo das terras afetadas (BRASIL 2004 p 64)

Aleacutem disso o uso excessivo de agrotoacutexicos eacute tido como poluiccedilatildeo e pode levar agrave

reduccedilatildeo do potencial agriacutecola da terra Resiacuteduos industriais e urbanos tambeacutem podem poluir

terras agricultaacuteveis O esgotamento do solo pelo plantio excessivo de culturas sem promover

um pousio miacutenimo do terreno exaure os nutrientes daquela aacuterea Isso eacute comum onde a

agricultura eacute praticada em solos pobres ou moderadamente feacuterteis sem a aplicaccedilatildeo suficiente

de esterco ou fertilizante (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25) E por fim

a acidez pode ser provocada quando se utiliza muitos fertilizantes aacutecidos ou em decorrecircncia

da maacute drenagem em alguns tipos de solo

223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica

Conhecidos pela compactaccedilatildeo do solo elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico e pelo

rebaixamento da superfiacutecie da terra (subsidecircncia) a esses tipos de degradaccedilatildeo natildeo se pode

deixar de somar uma causa precursora que eacute o desmatamento desmedido e irracional

deixando o solo nu e exposto agraves intempeacuteries do tempo Da mesma forma entende Cruz (1994

p 135-147 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 35) ao afirmar que ldquoa remoccedilatildeo da cobertura vegetal

inicia ou acelera a erosatildeo do solo sob a accedilatildeo da chuva e do vento de igual modo a queimada

visando o controle de ervas estimula a lixiviaccedilatildeo e a perda do solordquo

50

A compactaccedilatildeo do solo como o resultado do uso de maacutequinas pesadas em solos

instaacuteveis bem como o pisoteio do gado que via de regra eacute agravado por um

sobrepastoreio da aacuterea O impacto das gotas de chuva provoca tambeacutem o selamento

e encrostamento do solo A elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico eacute ocasionada pelo

encharcamento da terra que por sua vez natildeo tem na mesma proporccedilatildeo a capacidade

de drenagem (ARAUacuteJO et al 2008 p 25)

23 A degradaccedilatildeo em Irauccediluba

Em Irauccediluba as praacuteticas agriacutecolas e a pecuaacuteria satildeo muito ofensivas aos recursos

naturais Isso se deve agrave capacidade de suporte do ambiente que natildeo eacute respeitada gerando

impactos e danos ambientais seacuterios e de caraacuteter praticamente irreversiacuteveis O sobrepastejo de

bovinos ovinos e caprinos o desmatamento e as queimadas deixam a regiatildeo com um niacutevel de

degradaccedilatildeo altiacutessimo ateacute porque suas condiccedilotildees naturais jaacute satildeo adversas E ainda haacute outro

fator agravante - o tempo de recuperaccedilatildeo natural tambeacutem natildeo eacute observado nem cumprido

fragilizando por demais o ambiente

Para Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 7) ldquoA introduccedilatildeo da pecuaacuteria no nuacutecleo de

Irauccediluba trouxe a tiracolo a agricultura e a extraccedilatildeo de madeira A primeira baseava-se no

desmatamento indiscriminado e na queimada geral E a segunda na coleta da lenha sem

reposiccedilatildeo florestalrdquo Desta forma a degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba estaacute desenhada por

1 Superpastejo que causa prejuiacutezos sensiacuteveis agrave vegetaccedilatildeo pelo consumo das

cascas dos troncos de aacutervores e arbustos e pela remoccedilatildeo das placircntulas das espeacutecies

arboacutereas e arbustivas Nessas condiccedilotildees mudanccedilas na composiccedilatildeo floriacutestica da

vegetaccedilatildeo podem resultar em virtude do desaparecimento das espeacutecies lenhosas

forrageiras o que em aacutereas de vegetaccedilatildeo degradada acelera o processo de

desertificaccedilatildeo Em aacutereas de caatinga o pastejo por ovinos induz mudanccedilas

significativas na composiccedilatildeo botacircnica do estrato herbaacuteceo com a reduccedilatildeo da

participaccedilatildeo das gramiacuteneas mesmo em condiccedilotildees de pastoreio moderado Nesse

contexto o sobrepastejo por ovinos pode resultar no desaparecimento das gramiacuteneas

e ao final de toda cobertura herbaacutecea da vegetaccedilatildeo expondo o solo aos efeitos da

erosatildeo (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 78)

2 Agricultura rudimentar que pratica o desmatamento e faz uso do fogo O

impacto deste sobre o ecossistema eacute onipresente e caracteriza-se pela queda da

produccedilatildeo agriacutecola pela degradaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa pela erosatildeo dos solos pela

perda da biodiversidade da flora e da fauna e pelo assoreamento e salinizaccedilatildeo dos

mananciais pela perda da resiliecircncia aumentando sua fragilidade diante das

variaccedilotildees climaacuteticas tiacutepicas das regiotildees semiaacuteridas Aleacutem disto os desmatamentos e

queimadas seguidos por um curto periacuteodo de pousio terminam por levar a vegetaccedilatildeo

a um disclimax dominado por arbustos uma vez que o banco de sementes das

arboacutereas praticamente desapareceu (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 918)

3 Manejo inadequado do solo associado ao relevo da regiatildeo Satildeo trecircs tipos de

solo que se destacam em Irauccediluba litoacutelicos planossolos e luvissolos Por conta da

declividade de 8 a 45 os agricultores optam pelas terras nas encostas para

implantar os roccedilados pois haacute um menor risco de perder a safra em funccedilatildeo do

alagamento comum nas terras planas do municiacutepio durante a eacutepoca das chuvas

Nestas condiccedilotildees as perdas de solo por erosatildeo satildeo assombrosas Aleacutem disto haacute a

erosatildeo nos planossolos provocada pelo sobrepastejo com perdas de solo superiores a

51

17 tha em uma uacutenica estaccedilatildeo das chuvas o que enfatiza a importacircncia da cobertura

vegetal na proteccedilatildeo contra a erosatildeo (apud SALES 2003) Como consequecircncia do

sobrepastejo continuado ao longo provavelmente de centenas de anos a erosatildeo

laminar jaacute removeu porccedilatildeo significativa do horizonte A expondo em alguns casos o

horizonte B textural Aleacutem disso houve uma exaustatildeo dos nutrientes do solo

principalmente do foacutesforo Outro fator que tambeacutem intensifica a degradaccedilatildeo eacute o

curtiacutessimo periacuteodo de repouso Estima-se em 50 anos o tempo necessaacuterio para que a

vegetaccedilatildeo da caatinga em um luvissolo que foi destruiacuteda pela queimada do roccedilado

volte pela sucessatildeo secundaacuteria ao cliacutemax original Ora na regiatildeo este periacuteodo estaacute

reduzido a cerca de oito anos Com isto natildeo haacute a recuperaccedilatildeo da fertilidade do solo e

a recomposiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo Isto porque a velocidade de crescimento das arboacutereas

da caatinga eacute muito variaacutevel (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 810)

Concluem portanto os autores Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 17) que ldquoas praacuteticas

rotineiramente adotadas do desmatamento e do fogo a exposiccedilatildeo do solo e a diminuiccedilatildeo do

periacuteodo de pousio tecircm induzido processos de degradaccedilatildeo mormente os de erosatildeordquo

231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia

A desertificaccedilatildeo eacute um problema ambiental que assola vaacuterias partes do mundo e

vem sendo discutido desde 1977 quando em Nairoacutebi no Quecircnia aconteceu a Conferecircncia

sobre Desertificaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas ldquoA observaccedilatildeo desse processo se atribui ao cientista

Aubreville que em 1949 constatou o prolongamento da degradaccedilatildeo para o norte das zonas

mais aacuteridas do Saara e para as regiotildees semiaacuteridas e subuacutemidas do norte da Aacutefricardquo (ARAUacuteJO

et al 2008 p 26) Em 1992 na ECO 92 foi definido o conceito de desertificaccedilatildeo cuja

ocorrecircncia se daacute em aacutereas aacuteridas semiaacuteridas e subuacutemidas secas O grau de aridez eacute

estabelecido pela relaccedilatildeo PEtp que eacute a razatildeo entre a meacutedia da precipitaccedilatildeo total anual e a

evapotranspiraccedilatildeo potencial do mesmo periacuteodo metodologia esta desenvolvida por

Thornthwaite (1955) Desta forma definiu-se uma correspondecircncia entre o clima e o

resultado da relaccedilatildeo acima conforme mostra a tabela 3

Tabela 3 ndash Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez

CLIMA P ETP

Hiper-aacuterido lt 005

Aacuterido De 005 a 020

Semiaacuterido gt 020 a 050

Subuacutemido Seco gt 050 a 065

Subuacutemido Uacutemido gt 065

Fonte United Nations Environment Programme ndash UNEP (Programa

Ambiental das Naccedilotildees Unidas) 1992

52

Eacute interessante mencionar que o semiaacuterido brasileiro delimitado pela uacuteltima vez

em 1995 foi novamente demarcado a partir da iniciativa do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo

Nacional (MIN) que instituiu um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) envolvendo

departamentos empresas institutos agecircncias e ateacute bancos puacuteblicos para a readequaccedilatildeo dos

criteacuterios propostos pela Lei 782789 (BRASIL 1989c) Somente a inserccedilatildeo do municiacutepio na

aacuterea de abrangecircncia da extinta Superintendecircncia de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)

e a precipitaccedilatildeo meacutedia anual de ateacute 800 mm eram condiccedilotildees para enquadrar ou natildeo

determinado municiacutepio no semiaacuterido brasileiro (SUDENE 1990) Os novos paracircmetros satildeo

mais abrangentes pois aleacutem de considerar a precipitaccedilatildeo pluviomeacutetrica meacutedia anual inferior a

800 mm avaliam se o iacutendice de aridez do municiacutepio eacute de ateacute 05 ou se o risco de seca eacute maior

que 6011

Com a nova delimitaccedilatildeo em 2005 foram incorporados mais 102 municiacutepios aos

1031 jaacute classificados de forma que a aacuterea oficialmente semiaacuterida brasileira aumentou de

8923094 km2 para 9695894 km

2 ou seja um acreacutescimo de 866

12

A figura 4 ilustra o novo formato do semiaacuterido no Brasil E no Cearaacute foram

incorporados mais 16 totalizando 150 de um universo com 184 municiacutepios Isto significa

815 do estado e 132 de toda a regiatildeo semiaacuterida do paiacutes13

O quadro atual do semiaacuterido

cearense estaacute delineado na figura 5 a seguir

Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro

Fonte MIN (BRASIL 2005c)

11

Conferir Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro MI (BRASIL 2005c) 12

Idem 13

Ibidem

53

Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute

Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)

Com relaccedilatildeo ao processo de desertificaccedilatildeo no Brasil uma aacuterea de 900000 Kmsup2 eacute

atingida afetando direta ou indiretamente mais de 15 milhotildees de brasileiros natildeo existindo no

territoacuterio nacional outro problema ambiental que atinja tamanha aacuterea e tantas pessoas

(SUDENE 2000 apud IRAUCcedilUBA 2009) A regiatildeo nordeste por sua vez concentra as

Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) incluindo os espaccedilos semiaacuteridos e subuacutemidos

secos ambos de maior abrangecircncia fiacutesico-territorial vis-agrave-vis os outros espaccedilos naturais que

conformam e estruturam o Nordeste brasileiro (BRASIL 2004)

Pesquisadores apontam como principais causas de desertificaccedilatildeo no semiaacuterido

cearense a ocupaccedilatildeo desordenada do solo o desmatamento praacuteticas de queimadas (CEARAacute

2010b) Dentro desse raciociacutenio

Os estabelecimentos agropecuaacuterios ocupam o solo principalmente com lavouras

temporaacuterias e a criaccedilatildeo de animais Estas atividades muitas vezes satildeo executadas

sem preocupaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos e contribuem para

agravar o quadro de degradaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2010b p 103)

No mesmo sentido e no tocante agraves Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) o

PAN (BRASIL 2004) destaca que as condiccedilotildees ambientais dessas aacutereas (principalmente as de

54

clima solo aacutegua e vegetaccedilatildeo) associadas agrave pressatildeo exercida sobre os recursos naturais pela

accedilatildeo antroacutepica (pressatildeo populacional formas inadequadas de uso e ocupaccedilatildeo do solo entre

outros) vecircm contribuindo para a deflagraccedilatildeo de processos de desertificaccedilatildeo em algumas de

suas sub-regiotildees Um dos motivos para isso eacute a combinaccedilatildeo entre pobreza e desigualdade de

forma que

Uma imensa massa de pequenos agricultores descapitalizados confinados em

pequenas parcelas de terras de tais aacutereas (via de regra de meacutedia ou baixa fertilidade

natural) dependentes de seu trabalho para a produccedilatildeo de alimentos para

autoconsumo de forragens para seus animais mas necessitando produzir excedentes

comercializaacuteveis tenderaacute naturalmente a sobreutilizar os recursos naturais

contribuindo dessa forma para agravar os processos de degradaccedilatildeo Nas ASD este

ciacuterculo vicioso eacute agravado pela ocorrecircncia de secas perioacutedicas que levam agrave perdas

significativas e recorrentes de produccedilatildeo e de renda Neste sentido as secas

potencializam o grau de degradaccedilatildeo levando a vulnerabilidade ambiental a niacuteveis

mais elevados Os efeitos das secas sobre a sauacutede e a inseguranccedila alimentar e

nutricional tambeacutem satildeo conhecidos e consideraacuteveis (BRASIL 2004 p 106)

Classificando a susceptibilidade dessas aacutereas Matallo Jr (1999) construiu uma

relaccedilatildeo entre a aptidatildeo agrave desertificaccedilatildeo em funccedilatildeo do iacutendice de aridez conforme se vecirc pela

tabela 4

Tabela 4 - Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo

IacuteNDICE DE ARIDEZ SUSCEPTIBILIDADE Agrave

DESERTIFICACcedilAtildeO

005 a 020 Muito Alta

021 a 050 Alta

051 a 065 Moderada Fonte MATALLO JR (1999)

Nesse iacutenterim o municiacutepio de estudo do corrente trabalho tem iacutendice de aridez

conforme adotado pela UNEP de acordo com o que ilustra na figura 6

55

Figura 6 Iacutendice de Aridez (UNEP) do municiacutepio de Irauccediluba

O Cearaacute por sua vez eacute ldquoo Estado com a maior aacuterea relativa sob niacuteveis altos de

desertificaccedilatildeordquo (LEMOS 1995 apud FOLHES e VIANA 2001 p 5) Seu processo de

ocupaccedilatildeo e uso de terras via de regra foi marcado pela apropriaccedilatildeo dos recursos naturais de

forma a degradaacute-los Esta foi uma das causas para a concepccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Estadual

de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (PAE) cujo objetivo eacute

Contribuir para a convivecircncia equilibrada com o semiaacuterido por meio da

sustentabilidade ambiental do bioma caatinga a partir de poliacuteticas ambientais

sociais e econocircmicas focadas na reduccedilatildeo da pobreza A gestatildeo do Programa

pressupotildee a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo

democraacutetico e a participaccedilatildeo da sociedade (CEARAacute 2010b p 20)

No Estado existem trecircs nuacutecleos em processo de desertificaccedilatildeo Localizam-se no

Sertatildeo dos Inhamuns Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte e Sertatildeo de Jaguaribe abrangendo

respectivamente os municiacutepios de Arneiroz Independecircncia e Tauaacute Canindeacute Irauccediluba

Miraiacutema e Santa Quiteacuteria Jaguaretama Jaguaribara Jaguaribe Alto Santo e Morada Nova

(CEARAacute 2010b) Totalizam portanto 12 cidades com os maiores iacutendices de degradaccedilatildeo

ambiental do estado portanto susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo num grau muito grave como se

pode ver pelas figuras 7 e 8

No entanto o presente trabalho se ateraacute tatildeo somente ao municiacutepio de Irauccediluba

abrangido pelo nuacutecleo Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte

Fonte NOLEcircTO (2005)

56

Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave

desertificaccedilatildeo no Cearaacute desertificaccedilatildeo

Fonte IPECE (CEARAacute 2010a) Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)

O PAE (CEARAacute 2010b) utilizou para a formulaccedilatildeo do iacutendice de susceptibilidade

agrave desertificaccedilatildeo indicadores sociais que apontam a forma de ocupaccedilatildeo e tudo que dela

decorre e indicadores econocircmicos que representam as atividades humanas exercidas no

municiacutepio Vale ressaltar que as caracteriacutesticas do meio ambiente da regiatildeo natildeo foram

ignoradas muito pelo contraacuterio elas definiram as aacutereas classificadas como susceptiacuteveis agrave

desertificaccedilatildeo A lista abaixo demonstra os criteacuterios mensurados e os aspectos ambientais

observados

Indicadores sociais

1 Proporccedilatildeo da aacuterea das grandes propriedades na aacuterea total dos imoacuteveis rurais em

2005

2 Razatildeo entre alfabetizados e natildeo-alfabetizados de 5 ou mais anos de idade em

2000

3 Taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais de idade em 2000

(percentagem)

4 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino fundamental da populaccedilatildeo de 7 a 14

anos de idade em 2005

5 Taxa de evasatildeo no ensino fundamental em 2005

57

6 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino meacutedio da populaccedilatildeo de 15 a 17 anos de

idade em 2005

7 Taxa de evasatildeo escolar no ensino meacutedio em 2005

8 Densidade demograacutefica em 2006 (habitanteskm2)

Indicadores econocircmicos

1 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de carvatildeo vegetal pela aacuterea do municiacutepio em 2006

(tonha)

2 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de lenha pela aacuterea do municiacutepio em 2006 (m3ha)

3 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)

4 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)

5 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como pequena

propriedade em 2005 (haimoacutevel)

6 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como minifuacutendio em

2005 (haimoacutevel)

7 Razatildeo do consumo de energia eleacutetrica rural por consumidores de energia eleacutetrica

rural em 2005

8 Proporccedilatildeo de induacutestrias de transformaccedilatildeo no total de empresas industriais ativas

em 2005

9 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de feijatildeo em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

10 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com arroz em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

11 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com milho em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

12 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de mandioca em 2006 na aacuterea total dos

estabelecimentos agropecuaacuterios em 1996

13 Razatildeo do efetivo de bovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

14 Razatildeo do efetivo de ovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

15 Razatildeo do efetivo de caprinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

16 Razatildeo do efetivo de suiacutenos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

17 Produto Interno Bruto per capita a preccedilos de mercado em 2004

Caracteriacutesticas ambientais

1 Degradaccedilatildeo da cobertura vegetal

2 Assoreamento dos rios

3 Pastoreio excessivo

4 Perda da biodiversidade

5 Perda da capacidade produtiva do solo

6 Baixa relaccedilatildeo entre capacidade produtiva dos recursos naturais e sua capacidade

de recuperaccedilatildeo

A anaacutelise dos 25 paracircmetros entremeados com as condiccedilotildees ambientais estaacute

devidamente compilada no Quadro 2 ndash Caracterizaccedilatildeo das ASDs nos Sertotildees de Irauccediluba e

Centro-Norte do PAE (CEARAacute 2010b) As constataccedilotildees ensejam problemas no meio

ambiente a partir dos inuacutemeros gargalos sociais e econocircmicos como por exemplo a produccedilatildeo

agriacutecola em lavouras temporaacuterias na maior proporccedilatildeo dos estabelecimentos rurais o grande

iacutendice de pobres da regiatildeo o consumo de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo cada vez maior

58

Natildeo se pode deixar de mencionar os problemas ambientais que deixam a aacuterea em

questatildeo muito mais vulneraacutevel aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas e da desertificaccedilatildeo Satildeo

eles degradaccedilatildeo dos solos e da cobertura vegetal primaacuteria o sobrepastoreio o

desencadeamento e expansatildeo de processos erosivos acelerados com ocorrecircncia muito

frequente de afloramentos rochosos e chatildeos pedregosos perda de solos e biodiversidade

empobrecida baixa frequecircncia de espeacutecies lenhosas da caatinga e processos erosivos muito

ativos em funccedilatildeo do aumento da torrencialidade do escoamento superficial

Assim conclui-se que natildeo haacute como dissociar o quadro social e econocircmico das

nuances ambientais de um municiacutepio ou regiatildeo

Em se tratando da ASD nos Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte faz-se necessaacuterio

expor os nuacutemeros encontrados e as respectivas conclusotildees a partir dos levantamentos feitos

pelo PAE (CEARAacute 2010b) O Iacutendice Econocircmico e Social de Susceptibilidade agrave

Desertificaccedilatildeo (IESSD) ilustrado pelas figuras 9 e 10 por exemplo aponta as possiacuteveis causas

e os principais agentes causadores do processo de desertificaccedilatildeo sem quantificar ou mensurar

seu niacutevel

Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no Iacutendice Social de Susceptibilidade agrave

Desertificaccedilatildeo (ISSD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)

Fonte PAE (CEARAacute 2010b)

0

5

10

15

20

25

30

Contribuiccedilatildeo no ISSD ()

59

Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no Iacutendice Econocircmico de Susceptibilidade agrave

Desertificaccedilatildeo (IESD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)

Fonte PAE (CEARAacute 2010b)

Assim analisando os dois graacuteficos acima eacute possiacutevel perceber que sob o aspecto

social a concentraccedilatildeo de terras e a educaccedilatildeo datildeo a maior contribuiccedilatildeo ao iacutendice de

susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo enquanto que no vieacutes econocircmico destacam-se as aacutereas

destinadas a imoacuteveis rurais e o PIB ldquoper capitardquo Eacute um cenaacuterio deveras preocupante visto que

aquela regiatildeo jaacute eacute dotada de condiccedilotildees naturais adversas Uma populaccedilatildeo sem educaccedilatildeo

inserida num niacutevel de pobreza e ocupante de grande parte da zona rural que eacute onde as

atividades potencialmente degradadoras satildeo praticadas traduz uma combinaccedilatildeo

extremamente alarmante pois fazem uso de praacuteticas predatoacuterias e potencializam a

susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo

Segundo o PAE (CEARAacute 2010b p 123) nessa regiatildeo satildeo observadas ldquomarcas

configuradas de desertificaccedilatildeo como o elevado estaacutegio de degradaccedilatildeo do solo comprometendo

os processos naturais de sucessatildeo processos erosivos acelerados perda de solo e

biodiversidade espeacutecies lenhosas rarefeitasrdquo

05

1015202530354045

Contribuiccedilatildeo no IESD ()

60

Sob um olhar mais aprofundado voltado agrave Irauccediluba haacute maior destaque para as

atividades de agricultura e pecuaacuteria Lavouras temporaacuterias como feijatildeo milho e mandioca satildeo

as mais praticadas pelo pequeno agricultor A figura 11 aponta o percentual de

estabelecimentos ocupados com atividades agropecuaacuterias no municiacutepio

Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios Adaptado

Fonte PAE (CEARAacute 2010b)

Com relaccedilatildeo agrave extraccedilatildeo legalizada de madeira no municiacutepio de Irauccediluba o IBGE

informa que tanto a produccedilatildeo de carvatildeo como o corte de lenha entre 2004 a 2011 foi estaacutevel

Aquela girou em torno de 71 toneladas com um custo variaacutevel de R$ 1100000 a 2300000

ao ano enquanto que este ficou na casa dos 10000 m3 resultando num rendimento que

oscilou de R$ 4200000 a R$ 5700000 anuais14

Por fim Irauccediluba embora representando um dos quatro nuacutecleos de desertificaccedilatildeo

do Nordeste natildeo apresenta a pior condiccedilatildeo socioeconocircmica considerando a maioria dos

indicadores analisados (CEARAacute 2010b) Desta forma conclui-se que estes aspectos natildeo

determinam a desertificaccedilatildeo mas influenciam principalmente se as condiccedilotildees ambientais satildeo

limitantes Assim uma economia e uma sociedade deficientes inseridas num ambiente fraacutegil

natildeo tecircm como deixar de gerar degradaccedilatildeo

14

Conferir em lthttpwwwibgegovbrcidadesatxtrasperfilphpcodmun=230610ampsearch=ceara|iraucubagt

0

10

20

30

40

50

60

Irauccediluba

61

24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo do processo de degradaccedilatildeo

Embora o quadro de degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba seja por demais

preocupante ainda haacute condiccedilotildees para sua reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica a partir de

teacutecnicas e praacuteticas correspondentes ao tipo de solo ao estaacutegio de degradaccedilatildeo da aacuterea e ao

histoacuterico do uso da terra (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Continuam os autores

Assim considerando as extensotildees sob o planossolo que ocupam uma aacuterea total de

27321 ha duas recomendaccedilotildees podem ser propostas a regeneraccedilatildeo natural e a

adubaccedilatildeo organo-mineral A regeneraccedilatildeo natural eacute um processo muito lento e no

caso do planossolo de Irauccediluba dificilmente proporcionaraacute condiccedilotildees para retorno agrave

produtividade esperada [](ARAUacuteJO FILHO 1992) Entatildeo estaacute claro que a

recuperaccedilatildeo natural via pousio eacute muito lenta mas constitui uma opccedilatildeo em muitos

casos A aplicaccedilatildeo de adubo orgacircnico (estercos) eacute outra alternativa de recuperaccedilatildeo

pastoril que poderia ser utilizada no nuacutecleo de Irauccediluba Assim a fertilizaccedilatildeo com

foacutesforo constitui uma boa opccedilatildeo para a recuperaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica das

pastagens degradadas nos planossolos do nuacutecleo de Irauccediluba (ARAUacuteJO FILHO e

SILVA 2013 p 1013)

Outros fatores que envolvem o processo de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo

em Irauccediluba segundo Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 15) eacute ldquoa fixaccedilatildeo da agricultura no

terreno a sustaccedilatildeo do desmatamento e do uso do fogo visando agrave mitigaccedilatildeo dos impactos

antroacutepicos negativos a recuperaccedilatildeo dos agroecossistemas o aumento da produtividade

agriacutecola e da renda familiarrdquo Para tanto os mesmos autores sugerem que

A agrossilvicultura eacute com certeza o modelo de exploraccedilatildeo da terra mais apropriado

Dentre os modelos de sistemas agroflorestais o silvopastoril e o agrossilvipastoril

seriam os mais indicados para as condiccedilotildees de Irauccediluba O primeiro associa o

manejo florestal com a exploraccedilatildeo pastoril e o segundo associa o manejo florestal a

exploraccedilatildeo pastoril e a agricultura formando o sistema lavoura-pecuaacuteria-floresta O

modelo silvopastoril pode ser estabelecido seja para ter a madeira como o principal

produto seja para ter na exploraccedilatildeo animal a principal atividade (ARAUacuteJO FILHO

e SILVA 2013 p 15)

[]

A opccedilatildeo pela agrossilvicultura como a alternativa mais apropriada para a

reabilitaccedilatildeo dos solos de potencial agriacutecola mais elevado fundamenta-se na garantia

que este sistema de uso da terra traz a seguranccedila ambiental e a seguranccedila alimentar

No primeiro caso o solo eacute protegido contra a erosatildeo pelo acuacutemulo de serrapilheira

tem sua fertilidade reposta e sua biologia ativada pela deposiccedilatildeo da mateacuteria

orgacircnica Os recursos hiacutedricos satildeo beneficiados pela manutenccedilatildeo da mata ciliar

evitando o assoreamento das nascentes e reservatoacuterios e pela reduccedilatildeo das perdas de

aacutegua pelo solo A flora com a sustaccedilatildeo das queimadas e dos desmatamentos tem sua

biodiversidade incrementada e integraccedilatildeo das aacutervores no sistema produtivo

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2021)

Assim sendo o principal objetivo da recuperaccedilatildeo de uma aacuterea degradada deve ser

a recomposiccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica do solo Isto porque para que se restabeleccedila a

62

funcionalidade do ecossistema eacute fundamental a revitalizaccedilatildeo da biologia do solo principal

responsaacutevel pela circulaccedilatildeo de nutrientes15

Aleacutem disso continuam os mesmos autores

O aumento da mateacuteria orgacircnica e a formaccedilatildeo de uma cobertura morta sobre o solo o

protegeratildeo contra a erosatildeo laminar e melhoraratildeo sua capacidade de retenccedilatildeo de

aacutegua [] Os nutrientes de ecossistemas florestais de clima tropical se concentram

na biomassa e natildeo no solo como nos de clima temperado por isso os meacutetodos de

exploraccedilatildeo dos solos deveriam estar fundamentados no menor distuacuterbio possiacutevel do

meio bioloacutegico e no reforccedilo do aporte de mateacuteria orgacircnica (ARAUacuteJO FILHO e

SILVA 2013 p 710)

Nesse sentido para ambientes tropicais os sistemas de produccedilatildeo agroflorestais

(SAF) estatildeo sendo avaliados e propostos como alternativas ecologicamente sustentaacuteveis de

exploraccedilatildeo O uso de espeacutecies arboacutereas constitui a garantia de manter ativa a circulaccedilatildeo de

nutrientes e o aporte significativo de mateacuteria orgacircnica condiccedilatildeo essencial para se cultivar de

maneira continuada os solos tropicais16

No caso do bioma caatinga e de ambiente semiaacuterido segundo Arauacutejo Filho e silva

(2013) trecircs recomendaccedilotildees fundamentais garantem quando seguidas a sustentabilidade das

tecnologias de manipulaccedilatildeo

Preservaccedilatildeo de ateacute 400 aacutervores por hectare ou o equivalente a 40 de cobertura

utilizaccedilatildeo maacutexima de 60 da forragem disponiacutevel e preservaccedilatildeo da mata ciliar em

toda a malha de drenagem da pastagem Esta tecnologia jaacute vem sendo utilizada pelos

produtores na regiatildeo de Irauccediluba desde o iniacutecio da deacutecada de 1980 envolvendo

uma aacuterea de cerca de 3000 ha (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 1617)

Outras maneiras de controle e combate do processo de degradaccedilatildeo cuja iniciativa

vem do governo em suas diferentes formas e esferas satildeo os programas e as poliacuteticas puacuteblicas

a criaccedilatildeo de leis e normas sobre o tema a disponibilidade de recursos a fiscalizaccedilatildeo dos

oacutergatildeos competentes dentre outros

Ilustrando o primeiro exemplo em abril de 2011 a Superintendecircncia Estadual do

Meio Ambiente (SEMACE) e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) celebraram um convecircnio

de assistecircncia teacutecnica e financeira para a realizaccedilatildeo da pesquisa ldquoRevitalizaccedilatildeo da cobertura

vegetal nativa atraveacutes da recomposiccedilatildeo das matas ciliares e enriquecimento das aacutereas

destinadas a compor reserva legal dos imoacuteveis rurais do municiacutepio de Irauccedilubardquo Para a

consecuccedilatildeo dos objetivos propostos foi concedido um montante de R$ 4920000 (quarenta e

nove mil e duzentos reais) com fins de recuperar a qualidade do meio biofiacutesico atraveacutes do

plantio de essecircncias florestais nativas e plantas adaptadas agraves condiccedilotildees edafoclimaacuteticas da

aacuterea de abrangecircncia do projeto para

15

Como recomenda Lima (2009) In Arauacutejo Filho e Silva (2013) 16

Idem

63

1 Minimizar os impactos ambientais adversos causados pelos sistemas tradicionais

de exploraccedilatildeo econocircmica

2 Implantar um viveiro florestal permanente destinado agrave produccedilatildeo de mudas

nativas e adaptadas agraves condiccedilotildees locais associando-lhe atividades educativas e

de natureza formativa para o puacuteblico interessado

3 Incentivar o cultivo de essecircncias florestais nativas arboacutereas e frutiacuteferas que

contribuiratildeo para gerar alternativas de diversificaccedilatildeo de renda e por conseguinte

a melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo do municiacutepio

4 Fomentar a produccedilatildeo e o plantio de essecircncias florestais nativas ameaccediladas de

extinccedilatildeo

5 Viabilizar a recomposiccedilatildeo de matas ciliares dentro dos limites de abrangecircncia da

aacuterea das bacias hidrograacuteficas dos recursos hiacutedricos naturais denominados de

Riacho Aracatiaccedilu e Riacho Curu e do principal reservatoacuterio denominado de

Accedilude Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu seja em aacutereas de domiacutenio puacuteblico seja em

aacutereas de domiacutenio privado

6 Estabelecer a recuperaccedilatildeo da cobertura vegetal nativa de aacutereas de reserva legal

das propriedades rurais

O prazo do convecircnio era de doze meses ou seja ateacute abril de 2012 todavia foi

renovado por aditivo ateacute abril de 2013 Seu lanccedilamento soacute se deu em dezembro de 2011 e ateacute

agosto de 2012 o viveiro florestal ainda natildeo havia sido construiacutedo mas palestras com os

temas Desmatamento e Reserva Legal Fogo Desmatamento e Preservaccedilatildeo dos Accediludes

Resiacuteduos Soacutelidos Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal Aacuterea de

Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal foram ministradas pela SEMACE

Infelizmente nada mais foi feito pois dificuldades como a burocracia com o banco

financiador e a seca que assola o municiacutepio inviabilizando a produccedilatildeo e o plantio das mudas

levaram agrave extinccedilatildeo do convecircnio uma vez que seu prazo natildeo foi renovado numa segunda

oportunidade O recurso investido foi devolvido ao BNB e natildeo haacute qualquer previsatildeo de

retomada do projeto

Natildeo se pode deixar de registrar a indignaccedilatildeo que esse desfecho causa naqueles

que estudam e buscam uma saiacuteda Muitas vezes se natildeo todas as vezes ela existe mas eacute

deveras negligenciada ou pouco valorizada O que eacute que isso O Brasil eacute um paiacutes rico natildeo

falta recurso o que muito falta eacute vontade coragem e preferecircncia por aquilo que se deve

fazer Isto eacute um ultraje ao homem do campo que humilde e inocentemente espera confiante

em alguma providecircncia de seus representantes ou por quem faz as suas vezes

De modo diverso as normas 43 e 44 de 2005 (BRASIL 2005 a b) e a 512006

(BRASIL 2006a) que seratildeo explanadas no item 331 criadas pelo INCRA satildeo outras

medidas parecidas com o convecircnio citado acima pois tambeacutem foram elaboradas com o intuito

de recuperar e conservar os recursos naturais em aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e de

64

reserva legal mesmo sendo especiacuteficas para projetos de assentamento agraacuterio federal Atraveacutes

delas um determinado valor pode ser cedido por aquele oacutergatildeo e destinado agraves famiacutelias

assentadas para promoverem agrave implantaccedilatildeo de um projeto de recuperaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo

Como Poliacuteticas Puacuteblicas em niacutevel local e estadual que englobam o problema da

degradaccedilatildeo ambiental amplamente aqui discutido inclusive o mais seacuterio deles que eacute a

desertificaccedilatildeo destaca-se o Plano de Accedilatildeo Municipal de Combate agrave Desertificaccedilatildeo de

Irauccediluba (IRAUCcedilUBA 2009) e o Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e

Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (CEARAacute 2010b) O primeiro levou nove anos para se tornar

poliacutetica puacuteblica e contou com recursos do fundo de apoio a iniciativas locais de combate agrave

desertificaccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Nacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos

Efeitos da Seca (BRASIL 2004) Sua funccedilatildeo eacute orientar e desenvolver accedilotildees no sentido de

controlar e prevenir o avanccedilo da desertificaccedilatildeo e quando possiacutevel recuperar aacutereas degradadas

para o uso produtivo ou seja alcanccedilar o desenvolvimento sustentaacutevel nas aacutereas sujeitas agrave seca

e a desertificaccedilatildeo do Municiacutepio Como objetivos baacutesicos estatildeo as contribuiccedilotildees para

1 A formulaccedilatildeo do planejamento de uso sustentaacutevel dos recursos naturais do

Municiacutepio

2 A melhoria da produtividade e produccedilatildeo agriacutecola nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e

desertificaccedilatildeo

3 A reduccedilatildeo da vulnerabilidade e melhoria da qualidade de vida das populaccedilotildees

residentes nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e agrave desertificaccedilatildeo

4 A articulaccedilatildeo de accedilotildees setoriais do governo (em niacutevel federal estadual e

municipal) com vista agrave sinergia dos processos de planejamento

5 A melhoria da capacidade de enfrentamento dos problemas de desertificaccedilatildeo e

seca por parte das populaccedilotildees locais (IRAUCcedilUBA 2009 p 24)

O PAE (CEARAacute 2010b) em seu objetivo global e em termos gerais natildeo eacute muito

diferente do PAM (IRAUCcedilUBA 2009) pois visa contribuir para a convivecircncia com o

semiaacuterido e sustentabilidade ambiental do bioma caatinga Busca promover poliacuteticas

ambientais sociais e econocircmicas para a reduccedilatildeo da pobreza procurando em sua

administraccedilatildeo a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo democraacutetico

e a participaccedilatildeo da sociedade E recorre agrave negociaccedilatildeo transparente e responsaacutevel de conflitos

como forma privilegiada de superar as diferenccedilas de uso dos recursos naturais

25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira

A lei 6938 (BRASIL 1981) promulgada em 1981 foi a primeira norma juriacutedica

tratando da temaacutetica ambiental no Brasil Como bem diz Milareacute (2009) ela tem um caraacuteter

65

inovador pois sua implementaccedilatildeo seus resultados assim como a estabilidade e a efetividade

que denota constituem um salto de qualidade na vida puacuteblica brasileira

Com nascedouro um tanto quanto isolado a lei 693881 (BRASIL 1981)

instituiu a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente para a preservaccedilatildeo melhoria e recuperaccedilatildeo da

qualidade ambiental propiacutecia agrave vida visando assegurar no Paiacutes condiccedilotildees ao

desenvolvimento soacutecioeconocircmico aos interesses da seguranccedila nacional e agrave proteccedilatildeo da

dignidade da vida (artigo 2ordm) Tais objetivos estatildeo baseados em princiacutepios norteadores dos

quais se destacam para a presente pesquisa a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas (inciso VIII) e a

proteccedilatildeo de aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX)

Instrumentalizando a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente quanto agrave degradaccedilatildeo

ambiental existem as penalidades disciplinares ou compensatoacuterias ao natildeo cumprimento das

medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo ou correccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental conforme o artigo

9ordm inciso IX da Lei 693881 (BRASIL 1981) Em termos de sanccedilatildeo o artigo 14 disciplina

que os danos causados pela degradaccedilatildeo da qualidade ambiental sujeitaratildeo os transgressores agrave

multa simples ou diaacuteria agrave perda ou restriccedilatildeo de incentivos e benefiacutecios fiscais concedidos

pelo Poder Puacuteblico agrave perda ou suspensatildeo de participaccedilatildeo em linhas de financiamento em

estabelecimentos oficiais de creacutedito e agrave suspensatildeo de sua atividade

Para evitar a sanccedilatildeo pratica-se a prevenccedilatildeo e uma forma de prevenir a degradaccedilatildeo

eacute o licenciamento ambiental conforme preconiza o artigo 10 daquela mesma lei O natildeo

cumprimento disto enseja o enquadramento do representante da atividade ou do

estabelecimento no artigo 60 da Lei 960598 (BRASIL 1998) que versa sobre crimes

ambientais

Art 10 A construccedilatildeo instalaccedilatildeo ampliaccedilatildeo e funcionamento de estabelecimentos e

atividades utilizadores de recursos ambientais efetiva ou potencialmente poluidores

ou capazes sob qualquer forma de causar degradaccedilatildeo ambiental dependeratildeo de

preacutevio licenciamento ambiental (BRASIL 1981 p 7)

Art 60 Construir reformar ampliar instalar ou fazer funcionar em qualquer parte

do territoacuterio nacional estabelecimentos obras ou serviccedilos potencialmente

poluidores sem licenccedila ou autorizaccedilatildeo dos oacutergatildeos ambientais competentes ou

contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes Pena - detenccedilatildeo de um a seis meses ou multa ou ambas as penas cumulativamente

(BRASIL 1998 p 12)

Outra previsatildeo salutar na Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente eacute o dever que

entidades e oacutergatildeos de financiamento e incentivos governamentais tecircm de condicionar a

aprovaccedilatildeo de projetos financiaacuteveis ao licenciamento ambiental Aleacutem disto devem constar em

tais projetos a realizaccedilatildeo de obras e aquisiccedilatildeo de equipamentos destinados ao controle de

degradaccedilatildeo ambiental e a melhoria da qualidade do meio ambiente (artigo 12 paraacutegrafo

66

uacutenico) Isto tudo porque a instituiccedilatildeo que financia atividades eou empreendimentos que por

ventura causem algum dano tambeacutem se tornam corresponsaacuteveis pelo passivo ambiental

respondendo perante os oacutergatildeos competentes e os guardiatildees da lei

Por fim eacute pertinente mencionar que toda accedilatildeo ou omissatildeo prevista na legislaccedilatildeo

ambiental brasileira seja nas leis que criam diretrizes como nas que preveem sanccedilotildees visa o

combate o controle a reparaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo da degradaccedilatildeo aos bens naturais como um

todo O impasse eacute existir inuacutemeras normas distintas que dispotildeem sobre vaacuterios recursos

ambientais e que satildeo criadas em eacutepocas diferentes como por exemplo o Coacutedigo Florestal

(BRASIL 2012) o Coacutedigo de Caccedila (BRASIL 1967a) o Coacutedigo Mineraacuterio (BRASIL

1967b) o Coacutedigo de Pesca (BRASIL 2009) o Coacutedigo de Aacuteguas (BRASIL 1934a) a Poliacutetica

Nacional de Recursos Hiacutedricos (BRASIL 1997) o Programa Nacional de controle da

qualidade do ar (BRASIL 1989a) dentre outras O ideal eacute que houvesse a reuniatildeo de todos os

dispositivos em uma legislaccedilatildeo soacute como o fez a lei de crimes ambientais que versa sobre

infraccedilotildees cometidas aos bens naturais apontados pelas diversas normas citadas

Em niacutevel estadual o Cearaacute dispotildee de um arcabouccedilo legal que reflete um

pouco o que jaacute estaacute disposto nas leis federais no entanto cabe aqui citar algumas normas

pertinentes ao assunto estudado

A Resoluccedilatildeo nordm 092003 (CEARAacute 2003) do Conselho Estadual do Meio

Ambiente (COEMA) estabeleceu a compensaccedilatildeo ambiental como forma de prevenir eou

obrigar o poluidorusuaacuterio pagador ou degradador a indenizar os danos causados em

decorrecircncia da utilizaccedilatildeo de recursos naturais para fins econocircmicos Trata-se de medida

arrecadatoacuteria anterior ao processo de licenciamento ambiental e condicionada ao firmamento

de um Termo de Compromisso A supracitada norma definiu percentual de 05 a ser recolhido

com base no valor do empreendimento a ser implantado A destinaccedilatildeo dos valores recolhidos

seria via de regra a Unidades de Conservaccedilatildeo

A Lei Complementar nordm 482004 (CEARAacute 2004) criou o Fundo e o Conselho

Estadual Gestor do Meio Ambiente (FEMA) onde uma de suas finalidades eacute o ressarcimento

da coletividade por danos causados ao meio ambiente Reza o artigo 10 que qualquer cidadatildeo

pode propor projetos relativos agrave reconstituiccedilatildeo reparaccedilatildeo preservaccedilatildeo e prevenccedilatildeo do meio

ambiente A dita lei foi regulamentada pelo Decreto Estadual nordm 277192005 (CEARAacute 2005)

que por sua vez dispocircs accedilotildees programas planos e projetos para a melhoria e recuperaccedilatildeo da

qualidade ambiental no Estado do Cearaacute Agrave pertinecircncia da presente pesquisa cabe destacar

uma diretriz do FEMA prevista no inciso VIII do artigo 3ordm daquele Decreto

67

Artigo 3ordm

[]

VIII - Promover a proteccedilatildeo da biodiversidade e dos ecossistemas associados e aacutereas

ameaccediladas de degradaccedilatildeo atraveacutes da preservaccedilatildeo conservaccedilatildeo e administraccedilatildeo de

biomas representativos bem assim da recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas

possibilitando melhor controle de atividades potencialmente poluidoras nos termos

da legislaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2005 p 2)

Eacute essencial citar a Lei 1248895 (CEARAacute 1995) que dispotildee sobre a Poliacutetica

Florestal do Estado do Cearaacute Um de seus objetivos guarda relaccedilatildeo direta com este trabalho

qual seja promover a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas e em processos de degradaccedilatildeo

especialmente nas aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e reserva legal bem como proteger as

aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX do artigo 3ordm) Para tanto um dos instrumentos

previsto e deveras necessaacuterio para a consecuccedilatildeo de tais fins eacute a fiscalizaccedilatildeo a aplicaccedilatildeo de

penalidades accedilotildees disciplinares e compensatoacuterias das medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo dos

recursos naturais ou a correccedilatildeo da degradaccedilatildeo do meio ambiente (inciso XI do artigo 4ordm)

E por fim eacute cabiacutevel mencionar a Lei 141982008 (CEARAacute 2008) pois institui a

Poliacutetica Estadual de Combate e Prevenccedilatildeo agrave Desertificaccedilatildeo e tem por base a Convenccedilatildeo

Internacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo nos Paiacuteses afetados por Seca Grave eou

Desertificaccedilatildeo Como jaacute mencionado no Cearaacute existem trecircs nuacutecleos com aacutereas susceptiacuteveis agrave

desertificaccedilatildeo e nada mais apropriado que o Estado dispor de uma legislaccedilatildeo proacutepria sobre o

tema Diante disto destacam-se os seguintes dispositivos

Art 1ordm Institui a Poliacutetica Estadual de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Desertificaccedilatildeo a qual

tem por objetivos

[]

III - instituir mecanismos de proteccedilatildeo conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da flora fauna e

de solos degradados nas aacutereas de risco ou impactadas pela desertificaccedilatildeo

[]

Art 3ordm Cumpre ao Poder Puacuteblico

I - diagnosticar o avanccedilo do processo de degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo ambiental nas

aacutereas afetadas

II - definir um plano de contingecircncia para mitigaccedilatildeo dos efeitos da degradaccedilatildeo

ambiental

[]

XI - estimular o desenvolvimento de agroinduacutestrias baseadas em alimentos

ambientalmente e culturalmente adaptados ao meio ambiente

[]

XIV - estimular a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente

e de Reserva Legal []

[]

Art 5ordm No tocante agrave agricultura irrigada o Poder Puacuteblico deveraacute

[]

II - diagnosticar as aacutereas cujos solos sejam susceptiacuteveis agrave salinizaccedilatildeo e acuacutemulo de

compostos de soacutedio e fomentar a recuperaccedilatildeo de solos afetados por salinizaccedilatildeo e

acuacutemulo de compostos de soacutedio

Art 6ordm No tocante agrave agricultura sequeiro o Poder Puacuteblico deveraacute

[]

68

II - incentivar o manejo sustentaacutevel dos recursos naturais apoiando o

desenvolvimento de sistemas agroflorestais e agrosilvopastoris diversificados e

integrados como forma de conciliar a recuperaccedilatildeo florestal e as atividades agriacutecolas

(CEARAacute 2008 p 1 - 3)

251 Lei ambiental de Irauccediluba

O municiacutepio de Irauccediluba criou sua proacutepria Poliacutetica Ambiental a partir da Lei

5652007 (IRAUCcedilUBA 2007) Nela estatildeo dispostos princiacutepios e instrumentos de accedilatildeo que

visam agrave qualidade ambiental em seus diferentes aspectos Felizmente a norma natildeo deixou de

fora as aacutereas de reserva legal pelo contraacuterio tratou do tema em uma seccedilatildeo especiacutefica

composta pelos artigos 57 e 58

Art 57 - A reserva legal eacute requisito essencial ao exerciacutecio legiacutetimo do direito de

propriedade na aacuterea rural e fundamental para a proteccedilatildeo do meio ambiente

ecologicamente equilibrado e da biodiversidade cumprindo funccedilotildees do interesse

coletivo e individual do proprietaacuterio

Art 58 - A reserva legal eacute a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) localizada no

interior de uma propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente

necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos

processos ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de

fauna e flora nativas sendo imutaacutevel sua localizaccedilatildeo apoacutes definida

sect1ordm - Fica proibido qualquer registro imobiliaacuterio relativo a propriedade rural sem

preacutevio registro da reserva legal sob pena de nulidade do ato

sect2ordm- A reserva legal deveraacute ser averbada agrave margem da matriacutecula do imoacutevel no

registro competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de

transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou divisatildeo da aacuterea

sect3ordm - As aacutereas de reserva legal e preservaccedilatildeo permanente poderatildeo ser computadas

conjuntamente desde que somadas passem de 50 (cinquumlenta por cento) da

extensatildeo total da propriedade e sejam de extensatildeo contiacutenua

sect4ordm - No imoacutevel rural que natildeo houver vegetaccedilatildeo nativa suficiente para compor o

miacutenimo da reserva legal o proprietaacuterio ou possuidor deveraacute recuperar e recompor

com a vegetaccedilatildeo nativa ateacute atingir a porcentagem determinada

sect5ordm - A recomposiccedilatildeo mencionada no paraacutegrafo anterior deveraacute ser realizada na

proporccedilatildeo de no miacutenimo 110 (um deacutecimo) da aacuterea da propriedade ou posse a cada

ano dando prioridade agraves aacutereas de preservaccedilatildeo permanente

sect6ordm - A Reserva Legal deve ser preferencialmente contiacutegua a das propriedades

vizinhas agraves unidades de conservaccedilatildeo ou aacutereas florestadas formando um corredor de

vegetaccedilatildeo

sect7ordm - A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser

utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel (IRAUCcedilUBA 2007 p 26)

No artigo 57 haacute o reconhecimento do direito de propriedade agrave luz da funccedilatildeo

social dada pela reserva legal e a devida importacircncia agrave proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental Jaacute o

58 prevecirc os 20 da aacuterea a tiacutetulo de reserva reproduzindo o que a lei federal ou seja o

Coacutedigo Florestal dispotildee No entanto o sect1ordm do mesmo dispositivo acaba restringindo ainda

mais o que a norma geral prescreve isto eacute proiacutebe qualquer registro junto ao cartoacuterio de

imoacuteveis sem a devida averbaccedilatildeo na matriacutecula da propriedade muito embora isso jaacute possa ser

diferente pela instituiccedilatildeo do Cadastro Ambiental Rural Dos paraacutegrafos 2ordm ao 5ordm houve a

69

revogaccedilatildeo expressa pela Lei 126512012 (BRASIL 2012) ou novo Coacutedigo Florestal O 6ordm e o

7ordm continuaram vigentes em sua essecircncia sofrendo apenas pequenas alteraccedilotildees jaacute que devem

estar em consonacircncia com a lei federal natildeo podendo ser menos restritivos

Por fim aleacutem do que fora comentado a lei ambiental de Irauccediluba traz muito em

sua natureza procedimentos e mandamentos semelhantes agrave de uma lei de uso e ocupaccedilatildeo do

solo Prevecirc portanto paracircmetros sobre publicidade emissotildees sonoras construccedilatildeo civil

poluiccedilatildeo obras dentre outros

70

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS

31 Reserva Legal em Irauccediluba

Um dos objetivos da presente pesquisa eacute o levantamento do nuacutemero de imoacuteveis

rurais no municiacutepio de Irauccediluba para em seguida verificar o grau de obediecircncia ao instituto

da reserva legal nessas propriedades Para tanto buscou-se os respectivos dados no cartoacuterio de

registro de imoacuteveis do municiacutepio no Instituto de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e

no Instituto de Desenvolvimento Agraacuterio do Cearaacute (IDACE)

No cartoacuterio de imoacuteveis onde o acesso eacute possiacutevel pela liberdade que qualquer

interessado tem para solicitar informaccedilotildees registrais achou-se o nuacutemero de 215 imoacuteveis

registrados Jaacute no INCRA o total de propriedades ali cadastradas eacute de 415 e no IDACE 713

imoacuteveis devidamente medidos e georreferenciados

Primeiramente cabe discorrer um pouco sobre esse desencontro na quantidade

dos imoacuteveis O fato de o cartoacuterio municipal possuir 215 imoacuteveis rurais registrados natildeo

significa que soacute tenha esse nuacutemero de propriedades laacute pois existem inuacutemeras terras habitadas

e utilizadas sem qualquer registro formal e neste caso o que os ldquodonosrdquo desses lugares

deteacutem chama-se posse o que os torna posseiros e natildeo proprietaacuterios O INCRA ter em seu

banco de dados o cadastro de 415 propriedades rurais tambeacutem natildeo quer dizer que soacute haja as

415 uma vez que a procura por este oacutergatildeo eacute voluntaacuteria quando se trata de cadastramento do

imoacutevel Soacute seraacute diferente se surgir a necessidade de desmembrar arrendar hipotecar vender

ou prometer em venda o bem rural Ou ainda em caso de partilha17

Esses satildeo os casos que

impelem o proprietaacuterio a cadastrar seu imoacutevel conforme definidos pela lei 494766

(BRASIL 1966) Do contraacuterio natildeo eacute obrigatoacuterio motivo pelo qual se explica nuacutemeros tatildeo

distintos uns dos outros Justificando um pouco esta discrepacircncia o II Plano Nacional de

Reforma Agraacuteria aponta que os dados do Cadastro do INCRA indicam que ldquosomente 5086

da aacuterea total do territoacuterio brasileiro estaacute na condiccedilatildeo de cadastradardquo (II PNRA 2003 p 22)

E por fim o nuacutemero apontado pelo IDACE acredita-se ser o mais proacuteximo da

realidade uma vez que pelo Programa de Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria com iniacutecio em 2007 as

propriedades rurais no municiacutepio de Irauccediluba foram no ano de 2012 medidas e

georreferenciadas uma a uma para dar fim aos problemas decorrentes da ausecircncia de tiacutetulos

imobiliaacuterios e o tamanho das aacutereas Eacute o que segue estabelecido pelo II PNRA (2003)

17

Partilha eacute a via pela qual se daacute a divisatildeo dos bens de uma heranccedila

A importacircncia de um recadastramento de todos os imoacuteveis rurais e da revisatildeo das

normas que regem o processo de registro das propriedades eacute ainda maior quando se

observa que as possibilidades de obtenccedilatildeo de terras para Reforma Agraacuteria estatildeo

condicionadas por dois indicadores que dependem das informaccedilotildees contidas no

Cadastro do INCRA o moacutedulo fiscal e os iacutendices de produtividade [] Por meio de

uma integraccedilatildeo do INCRA com os oacutergatildeos estaduais seraacute executado um amplo

processo de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria visando regularizar as pequenas posses de boa feacute

e a arrecadaccedilatildeo e incorporaccedilatildeo de terras devolutas ao patrimocircnio puacuteblico seguida de

sua destinaccedilatildeo para o assentamento de trabalhadores rurais e tambeacutem promover

accedilotildees anulatoacuterias sobre ocupaccedilotildees de terras com registros irregulares (II PNRA

2003 p 23)

Contudo o nuacutemero desencontrado de imoacuteveis natildeo eacute soacute o que assusta ou angustia

mas sim a quantidade iacutenfima de reserva legal existente naquele municiacutepio que jaacute sofre com

um processo criacutetico de degradaccedilatildeo

Apoacutes verificar junto ao cartoacuterio a quantidade de imoacuteveis rurais registrados

averiguou-se que somente trecircs dos 215 estatildeo com suas respectivas aacutereas de reserva legal

devidamente averbadas junto ao registro do bem Essa aguda diferenccedila tambeacutem natildeo muda

quando se analisa as informaccedilotildees presentes nos cadastros feitos junto ao INCRA Muitos satildeo

os cadastramentos onde tem descritas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente mas de reserva legal

somente cinco das 415 propriedades cadastradas No IDACE natildeo foi possiacutevel fazer esse

levantamento porque o objetivo deste oacutergatildeo em adentrar as aacutereas era medi-las em sua

totalidade sem discriminar a presenccedila de qualquer constataccedilatildeo em seu interior

Pela leitura da tabela 5 eacute possiacutevel concluir duas realidades A primeira eacute a

existecircncia de propriedade cujo registro apresenta averbaccedilatildeo da reserva legal mas sem

cadastro junto ao INCRA como eacute o caso do imoacutevel Poccedilo da PedraAacuteguas Mortas No

segundo caso ocorre o contraacuterio isto eacute natildeo haacute averbaccedilatildeo da reserva legal no cartoacuterio de

registro mas existe o cadastro da propriedade perante o INCRA constando a reserva legal

devidamente apontada conforme relatoacuterios cedidos por aquele oacutergatildeo

72

Tabela 5 - Levantamento de Imoacuteveis com reserva legal (Cartoacuterio de registro de imoacuteveisINCRA)

311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental - Projeto de Assentamento Agraacuterio em

foco

Todo projeto de assentamento de reforma agraacuteria soacute deve ser implantado apoacutes o

licenciamento ambiental junto ao oacutergatildeo competente que pela relevacircncia social do

empreendimento possui um procedimento diferenciado Eacute um processo trifaacutesico ou seja

consiste na licenccedila preacutevia (LP) licenccedila de instalaccedilatildeo (LI) e licenccedila de operaccedilatildeo (LO) mas no

caso dos projetos de assentamento satildeo soacute duas a LP e a LIO que nada mais eacute que a licenccedila de

18

Trata-se de um imoacutevel que foi destinado a Projeto de Assentamento no acircmbito estadual No entanto o registro

no cartoacuterio aponta que a propriedade possui Reserva Legal averbada mas no cadastro do INCRA natildeo haacute

qualquer menccedilatildeo a essa aacuterea 19

PA ndash Projeto de Assentamento da Reforma Agraacuteria Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria conjunto

de accedilotildees planejadas e desenvolvidas em aacuterea destinada agrave reforma agraacuteria para um puacuteblico beneficiaacuterio

orientadas para utilizaccedilatildeo racional dos espaccedilos fiacutesicos e dos recursos naturais existentes objetivando a

implementaccedilatildeo dos sistemas de vivecircncia e produccedilatildeo sustentaacuteveis na perspectiva do cumprimento da funccedilatildeo

social da terra e da promoccedilatildeo econocircmica social e cultural do trabalhador rural e de seus familiares (BRASIL

2006b) 20

O imoacutevel Poccedilo da Pedra e Aacuteguas Mortas eacute um soacute Embora natildeo conste no registro do cartoacuterio a aacuterea total da

propriedade e a destinada agrave reserva legal o Termo de Responsabilidade de Averbaccedilatildeo da Aacuterea de Reserva Legal

cedido pelo INCRA descreve as aacutereas apontadas na tabela 2

RESERVA LEGAL DOCUMENTALMENTE EXISTENTE

Imoacutevel Fonte dos Dados Aacuterea do Imoacutevel

(ha)

Aacuterea (ha) Domiacutenio Data da

Averbaccedilatildeo (AV)

Cadastro (C)

Miramar Cartoacuterio de Imoacuteveis

INCRA

1144 2305 Particular AV 06042005

C 05092005

Saco do

Vento18

Cartoacuterio de Imoacuteveis

INCRA

33060 661 PA19

estadual

AV 03102012

C 27122011

Poccedilo da Pedra

(Aacuteguas

Mortas)20

Cartoacuterio de Imoacuteveis 239778 47955 INCRA AV 02012003

Boa Vista INCRA 348 6960 Particular C 30121992

Escondido e

Vale do

Agreste

INCRA 15775 3155 Particular C 30121992

Lagoa Cercada INCRA 55180 50 Particular C13101992

73

instalaccedilatildeo e de operaccedilatildeo em um mesmo pedido conforme prevecirc a Resoluccedilatildeo CONAMA

3872006 (BRASIL 2006b)

Art 3ordm O oacutergatildeo ambiental competente concederaacute a Licenccedila Preacutevia - LP e a Licenccedila

de

Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo - LIO para os Projetos de Assentamentos de Reforma Agraacuteria

[]

sect 2o A LP constitui-se documento obrigatoacuterio e que antecede o ato de criaccedilatildeo de um

Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria tendo prazo para a sua expediccedilatildeo

apoacutes seu requerimento de ateacute noventa dias

sect 3o A LIO deveraacute ser requerida durante a validade da LP e cumpridos os requisitos

da mesma [] (BRASIL 2006 p2)

Por se tratar de um empreendimento rural e ambientalmente licenciaacutevel eacute muito

mais faacutecil e oportuno acontecer o cumprimento da reserva legal jaacute que o oacutergatildeo competente

foi provocado e por sua vez deve exigir a observacircncia daquele instituto Desta forma natildeo se

pode admitir que um licenciamento em zona rural seja concedido sem o devido respeito agrave aacuterea

de reserva legal

Especificamente os projetos de assentamento federais isto eacute os realizados pelo

INCRA devem obedecer agrave ordem que segue Ao dar iniacutecio ao processo de desapropriaccedilatildeo de

alguma terra o INCRA jaacute deve solicitar a Licenccedila Preacutevia devendo constar naquele processo o

protocolo do pedido A criaccedilatildeo do assentamento soacute eacute possiacutevel mediante uma portaria

resoluccedilatildeo ou decreto desde que jaacute possua a Licenccedila Preacutevia expedida Criado o assentamento

a Licenccedila de Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo deve ser solicitada de imediato ateacute porque se o contraacuterio

ocorrer os assentados ficam impossibilitados de receber recursos do governo como o creacutedito

de apoio inicial o creacutedito fomento o creacutedito para a construccedilatildeo de casa dentre outros

Essa sequencia e esses mandamentos estatildeo previstos no artigo 3ordm da Resoluccedilatildeo

CONAMA 3872006 (BRASIL 2006b) citada acima e no Acoacuterdatildeo nordm 2633-5107 (BRASIL

2007) do Tribunal de Contas da Uniatildeo conforme prevecirc o item 3 do sumaacuterio daquele

julgamento (3) A Licenccedila Preacutevia constitui-se em documento obrigatoacuterio e que antecede o ato

de criaccedilatildeo de um projeto de assentamento de reforma agraacuteria devendo ser expedida

anteriormente agrave obtenccedilatildeo da terra Trata-se de uma decisatildeo que teve origem em uma auditoria

realizada por este oacutergatildeo em assentamentos no Amazonas Paraacute e Acre quanto aos estudos de

viabilidade ambiental reserva legal e licenciamento ambiental em projetos criados pelo

INCRA Essa auditoria objetivou portanto avaliar o impacto nas aacutereas de reserva legal dos

projetos de assentamento bem como o cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental aplicaacutevel a esses

projetos conforme item 2 do Relatoacuterio do referido Acoacuterdatildeo Para tanto buscou-se saber se os

limites da reserva legal estavam sendo devidamente demarcados e preservados nos projetos de

74

assentamento rural e se o INCRA estava promovendo a aplicaccedilatildeo de teacutecnicas viaacuteveis para a

exploraccedilatildeo sustentaacutevel da Reserva Legal

Constatou-se pela amostragem realizada e demonstrada na Conclusatildeo e no Voto

do Acoacuterdatildeo 26332007 (BRASIL 2007) que

Conclusatildeo

[]

Item 65 o INCRA tem a necessidade premente de adotar medidas com vistas a

normalizar os procedimentos de criaccedilatildeo de projetos de assentamento desde o iniacutecio

do processo no que se refere ao cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental

Item 66 Eacute notoacuterio que a morosidade do oacutergatildeo no processo de regularizaccedilatildeo das

exigecircncias determinadas pela legislaccedilatildeo ambiental contribuiraacute para degradaccedilatildeo do

meio ambiente patrimocircnio sob proteccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal Brasileira Ao

disponibilizar terra aos assentados sem indicar a forma de uso do terreno por meio

do Plano de Uso e sem delimitar as aacutereas de preservaccedilatildeo mediante a demarcaccedilatildeo

das reservas legais o INCRA estaraacute dando tutela a esses usuaacuterios para disporem dos

lotes da forma que melhor lhes convier sem importar se essa exploraccedilatildeo implicaraacute

em degradaccedilatildeo ambiental (BRASIL 2007 p 9)

[]

Voto

[] Item 3 ndash subitem 12 A equipe de auditoria constatou nos assentamentos uma

grande degradaccedilatildeo das aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APP) e da reserva legal (RL)

Ainda verificou por meio de questionaacuterios aplicados aos trabalhadores assentados

que o INCRA natildeo promove accedilotildees efetivas relacionadas agrave orientaccedilatildeo e

conscientizaccedilatildeo ambiental dessas comunidades que natildeo sabem sequer o que

significa APP e RL

[]

Item 5 Outrossim eacute importante frisar que o INCRA eacute co-responsaacutevel pelas

irregularidades ambientais constatadas em seus projetos de assentamento []

(BRASIL 2007 p 11)

E por fim o dito Acoacuterdatildeo determina em niacutevel nacional embora a motivaccedilatildeo da

decisatildeo tenha por base a auditoria realizada somente em trecircs estados que

O INCRA se abstenha de criar projetos de assentamento sem a observacircncia ao

disposto no art 2ordm inciso III cc 3ordm sect 2ordm da Resoluccedilatildeo Conama 3872006 que

condiciona a criaccedilatildeo de projetos de assentamentos de reforma agraacuteria agrave existecircncia da

licenccedila preacutevia e ao disposto no art 2ordm inciso IV da mesma Resoluccedilatildeo que exige a

licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo como condiccedilatildeo para a implantaccedilatildeo e operaccedilatildeo

destes projetos Que em decorrecircncia do disposto no art 2ordm inciso VII da

ResoluccedilatildeoConama 3872006 atente a necessidade de que a reserva legal esteja

perfeitamente delimitada e caracterizada por ocasiatildeo do Plano de

Desenvolvimento do Assentamento e que o referido Plano seja elaborado em prazo

razoaacutevel (BRASIL 2007 p 16)

Para enriquecer a pesquisa nesse sentido procurou-se junto ao oacutergatildeo ambiental

estadual a SEMACE ndash Superintendecircncia Estadual do Meio Ambiente e ao proacuteprio INCRA as

licenccedilas emitidas e ainda em tramitaccedilatildeo referentes aos projetos de assentamento federais

Encontrou-se assim 3 processos de licenciamento na SEMACE numa busca compreendida

75

entre 01012010 a 06052013 sendo 2 de licenccedilas preacutevias e 1 de licenccedila de instalaccedilatildeo e

operaccedilatildeo No INCRA localizou-se 5 processos como se pode observar pela tabela 6 sendo 2

de licenccedilas preacutevias e 3 de licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo num periacuteodo de 09122008 a

08112010

Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais

Fonte SEMACE e INCRA

Conclui-se portanto a existecircncia de trecircs processos de LIO jaacute emitidas mas sem a

averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio de duas das trecircs propriedades conforme se pode

confirmar pela pesquisa feita no registro de imoacuteveis de Irauccediluba A exceccedilatildeo eacute a fazenda

Aacuteguas MortasPoccedilo da Pedra que possui averbaccedilatildeo da reserva legal desde 02012003

Aleacutem disto verificou-se tambeacutem todos os empreendimentos e atividades

localizadas no municiacutepio de Irauccediluba que possuem solicitaccedilatildeo ou recebimento de licenccedila

ambiental tanto em zona urbana como rural No total satildeo 15 tramitando e 40 emitidas

ressaltando que licenciamentos em zona rural o cumprimento da reserva legal deve ser

exigido

Quanto aos assentamentos agraacuterios no municiacutepio de Irauccediluba a tabela 7 aponta a

pesquisa realizada junto ao INCRA e ao IDACE onde se constatou que o primeiro oacutergatildeo

implantou 8 projetos e o segundo 6 Em todos eles existe a demarcaccedilatildeo da aacuterea de reserva

legal nas plantas georreferenciadas cedidas pelas duas instituiccedilotildees acima citadas

PROCESSO TIPO PA FONTE DO

DADO

PROTOCOLO EXPEDICcedilAtildeO VALIDADE STATUS

11386605-4 LP Arraia INCRASEMA

CE

08112010 01072011 Natildeo

informada

Emitida

11118313-8 LP Alegre e

anexos

INCRASEMA

CE

10112010 29032011 Natildeo

informada

Tramitando

09557603-7 LIO Aacuteguas

Mortas

Poccedilo da

Pedra

INCRASEMA

CE

30102009 24032010 24032013 Emitida

08653283-9 LIO Satildeo

Marinho

Rodeador

INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida

08653281-2 LIO Olho

d‟aacutegua da

esperanccedila

INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida

76

Tabela 7 - Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba

PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO - IRAUCcedilUBA

Nome do

Assentamento

Instituiccedilatildeo

Responsaacutevel

Aacuterea do

Imoacutevel (ha)

Aacuterea de Reserva

Legal (ha)

Data de criaccedilatildeo Nordm de Famiacutelias

Assentadas

Saco do Vento IDACE 33060 661 Em andamento 10

Aroeira IDACE 50508 10101 Em andamento 10

Boqueiratildeo IDACE 38474 7694 Em andamento -

Mudubim IDACE 6512 1302 Em andamento 5

Consulta IDACE 39593 7918 23072001 13

Cachoeira IDACE 14929 2985 05102006 10

Saco Verde INCRA 6464 129280 2691997 100

Cajazeiras II INCRA 96487 19297 2691997 30

Aacuteguas Mortas

Poccedilo da Pedra

INCRA 239778 47955 22121997 52

RiachueloAlto

Alegre

INCRA 3378 67560 09112005 16

Olho drsquoAacutegua da

Esperanccedila

INCRA 1940 388 06122007 23

Satildeo Marinho

Rodeador

INCRA 50757 10151 04122006 10

Arraia INCRA 156797 31359 13102011 34

Almas INCRA 1297 25940 17111998 22

Eacute importante salientar que em 2005 e em 2006 o INCRA baixou 3 normas

referentes a criteacuterios e procedimentos para a implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e

Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria A

primeira eacute a NE 432005 (BRASIL 2005a) a segunda NE 442005 (BRASIL 2005b) que

estabeleceu o valor unitaacuterio por famiacutelia para a implantaccedilatildeo destes projetos e a terceira NE

512006 (BRASIL 2006a) aprovou o manual para a elaboraccedilatildeo dos projetos de recuperaccedilatildeo

A NE 432005 (BRASIL 2005a) considera a premente necessidade de

recuperaccedilatildeo natildeo soacute de Reserva Legal mas de aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente em grande

parte dos Projetos de Assentamento em todo o territoacuterio nacional mas infelizmente soacute

abrange os que satildeo implantados pelo Governo Federal (Art 2ordm inciso I) ficando de fora os

que satildeo de competecircncia dos Estados O criteacuterio para implantaccedilatildeo desses projetos eacute a aacuterea ser

reconhecida com problemas ambientais principalmente em termos de degradaccedilatildeo (Art 2ordm

inciso II) Para ser possiacutevel financeiramente a execuccedilatildeo de um projeto deste cuja norma

regulamentadora ainda se encontra vigente o INCRA disponibiliza ateacute R$ 100000 por

famiacutelia (Art 1ordm NE 442005 (BRASIL 2005b)) no entanto caso seja tecnicamente

comprovado que a recuperaccedilatildeo de aacutereas de reserva legal preservaccedilatildeo permanente e de solo

exija um maior investimento o valor poderaacute ser superior ao estabelecido Neste caso a

importacircncia repassada seraacute definida em funccedilatildeo do custo calculado para a recuperaccedilatildeo do dano

ambiental (Art 1ordm Paraacutegrafo Uacutenico)

77

O manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e

conservaccedilatildeo de recursos naturais em assentamentos da reforma agraacuteria aprovado pela NE

512006 (BRASIL 2006a) deixa claro que seus objetivos natildeo satildeo soacute reabilitar e resguardar a

aacuterea ambiental do assentamento Haacute mais e maiores propoacutesitos nisto como por exemplo

cumprir as exigecircncias estabelecidas pelo oacutergatildeo de meio ambiente estadual durante o processo

de licenciamento21

bem como a mobilizaccedilatildeo da comunidade em torno de atividades visando agrave

recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo dos recursos naturais por meio de programas de educaccedilatildeo

ambiental fiscalizaccedilatildeo e manutenccedilatildeo envolvendo os assentados Para que isto ocorra eacute

extremamente importante a participaccedilatildeo destes na elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do projeto22

Por fim os Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais seratildeo

destinados agraves seguintes praacuteticas23

1 Cercamento de aacutereas de Reserva Legal e aacutereas de preservaccedilatildeo permanente

visando a regeneraccedilatildeo eou a proteccedilatildeo das aacutereas

2 Construccedilatildeo de viveiros para produccedilatildeo de mudas que seratildeo utilizadas no processo

de recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas

3 Demarcaccedilatildeo topograacutefica da Reserva Legal

4 []

5 Reflorestamento em aacutereas de Reserva Legal com espeacutecies nativas que

possibilitem o manejo florestal sustentaacutevel madeireiro ou natildeo madeireiro baseado

em princiacutepios e em criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos definidos e devidamente

aprovados pelo oacutergatildeo ambiental competente

6 Plantio de aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais composto por espeacutecies

exoacuteticas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas para

compensaccedilatildeo ou manutenccedilatildeo da aacuterea de reserva legal a criteacuterio do oacutergatildeo ambiental

competente

7 Atividades alternativas de produccedilatildeo (criaccedilatildeo de abelhas artesanato entre outras)

associadas agrave recuperaccedilatildeo ambiental e como instrumento de valorizaccedilatildeo das aacutereas a

serem conservadas ou recuperadas e de combate agraves praacuteticas indevidas de uso do

fogo

8 [] (BRASIL 2006ordf p 1112)

32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo

321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba

O municiacutepio de Irauccediluba possui uma aacuterea de 1461253 Km2 o que corresponde a

098 do territoacuterio estadual e estaacute situado no sertatildeo Centro-Norte conforme figura 12

inserido na microrregiatildeo geograacutefica de Sobral Dista cerca de 150 Km da capital Fortaleza e

21

p 7 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos naturais 22

p 11e 13 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos

naturais 23

p 11e 12 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos

naturais

78

localiza-se entre as coordenadas geograacuteficas Latitude 3˚44‟46rdquo S (Sul) e Longitude 39˚47‟00rdquo

WGr (oeste) Faz fronteira ao norte com os municiacutepios de Miraiacutema e Itapipoca ao sul com

Santa Quiteacuteria e Canindeacute a leste com Itapajeacute e Tejuccediluoca e a oeste com Sobral e possui trecircs

distritos Missi Juaacute e Boa Vista segundo ilustra a figura 13

Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba

Fonte Lustosa (2004) Fonte Lustosa (2004)

Segundo o censo de 2010 do IBGE a populaccedilatildeo do municiacutepio era de 22324

pessoas sendo curiosamente a maioria homens (5083) Jaacute sua densidade demograacutefica

correspondia a 1539 habKm2 A ocupaccedilatildeo municipal predomina na zona urbana

correspondendo a 6425 dos indiviacuteduos Em 2012 a populaccedilatildeo aumentou para 22742

pessoas

3211 Das propriedades estudadas

Por Irauccediluba possuir aproximadamente 713 imoacuteveis rurais tomando por base a

mediccedilatildeo feita pelo IDACE em 2012 natildeo seria possiacutevel o estudo de todas elas Partiu-se

entatildeo para uma amostragem com base nos imoacuteveis que possuiacuteam a reserva legal seja por

registro em cartoacuterio eou porque a aacuterea eacute puacuteblica e foi destinada a projetos de assentamentos

agraacuterios (PA‟s) estaduais e federais que por sua vez deveriam respeitar tal obrigatoriedade

79

Pela tabela 8 vecirc-se que dos 14 assentamentos em Irauccediluba 6 satildeo estaduais e 8

federais No entanto os criteacuterios utilizados para examinaacute-los foi o tempo de criaccedilatildeo de cada

um e a existecircncia de reserva legal delimitada na planta da propriedade Aleacutem disto foi

escolhido um imoacutevel particular por apresentar a averbaccedilatildeo da reserva legal como demonstra a

tabela 9

Tabela 8 - Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de anaacutelise

PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO

Nome do

Assentamento

Instituiccedilatildeo

Responsaacutevel Data de Criaccedilatildeo Status para anaacutelise

Saco do Vento IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Aroeira IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Boqueiratildeo IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Mudubim IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Consulta IDACE 23072001 Planta natildeo disponibilizada

Cachoeira IDACE 05102006 Planta natildeo disponibilizada

Saco Verde INCRA 2691997 Incluiacutedo

Cajazeiras II INCRA 2691997 Incluiacutedo

Aacuteguas Mortas

Poccedilo da Pedra INCRA 22121997 Incluiacutedo

RiachueloAlto

Alegre INCRA 09112005 Incluiacutedo

Almas INCRA 17111998 Incluiacutedo

Olho d‟Aacutegua da

Esperanccedila INCRA 06122007

Muito recente ndash Fora de abrangecircncia

das imagens de sateacutelite

Satildeo Marinho

Rodeador INCRA 04122006

Reserva legal natildeo delimitada na planta

do imoacutevel

Arraia INCRA 13102011 Muito recente ndash Fora de abrangecircncia

das imagens de sateacutelite

Tabela 9 - Dados da propriedade particular estudada PROPRIEDADE PARTICULAR ANALISADA

Nome Proprietaacuterio Data da averbaccedilatildeo

da RL Status para anaacutelise

Miramar MIRASA ndash Miramar

Agropecuaacuteria SA 06042005 Incluiacutedo

Diante dos paracircmetros de seleccedilatildeo apontados acima restaram 5 assentamentos e 1

aacuterea particular totalizando 6 aacutereas para estudo Assim sendo as propriedades analisadas

foram RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas Almas Saco Verde Cazajeiras II e Miramar

sendo esta a de domiacutenio privado Com exceccedilatildeo desta uacuteltima as demais satildeo assentamentos

agraacuterios federais ficando de fora os estaduais por serem em sua maioria recentes isto eacute a

partir de 2010 e por isso natildeo abrangidos pelas imagens de sateacutelite utilizadas (anos 1993 e

2007) As duas estaduais mais antigas Consulta e Cachoeira natildeo tiveram suas plantas

80

disponibilizadas pelo oacutergatildeo competente e as federais que ficaram excluiacutedas tambeacutem eram

muito recentes aleacutem do que natildeo possuiacuteam reserva legal delimitada

A figura 14 a seguir mostra a localizaccedilatildeo das propriedades estudadas e suas

respectivas reservas legais delimitadas que podem ser lidas pela legenda de cores ao lado

Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo

A tabela 10 traz as aacutereas de cada imoacutevel e sua reserva legal onde eacute possiacutevel

constatar um nuacutemero pequeno de propriedades que apresentam o tal instituto criado e exigido

por lei Aleacutem disso a soma de suas aacutereas tambeacutem eacute pouco expressiva ao comparar com a do

municiacutepio No total satildeo 1628865 hectares sendo 328832 hectares pertinentes agrave reserva

legal

Tabela 10 - Propriedades estudadas

PROPRIEDADES ESTUDADAS

IMOacuteVEL DOMIacuteNIO AacuteREA DO IMOVEL (HA) AacuteREA DA RESERVA LEGAL (HA)

Saco Verde INCRA 6464 129280

Cajazeiras II INCRA 96487 19297

Aacuteguas Mortas Poccedilo da Pedra INCRA 239778 47955

Riachuelo Alto Alegre INCRA 3378 67560

Olho drsquoAacutegua da Esperanccedila INCRA 1940 388

81

Miramar PARTICULAR 1144 25940

3212 Aspectos histoacutericos da ocupaccedilatildeo do municiacutepio

Haacute quem diga que Irauccediluba significa tanto amizade como grande abelha amarela

A primeira acepccedilatildeo se deve ao povo hospitaleiro de bons sentimentos e amigos da paz Jaacute a

segunda faz referecircncia a um vocaacutebulo indiacutegena cuja expressatildeo representa a junccedilatildeo de trecircs

palavras ira que quer dizer mel ou abelha ussu grande e yuba amarelo (FOLHES e

VIANA 2001)

Segundo o IBGE o surgimento de Irauccediluba se deve a um povoado denominado

Cacimba do Meio que despontou no iniacutecio do seacuteculo XIX O nome do municiacutepio como

atualmente eacute conhecido soacute foi alterado em 1899 pelo desembargador Aacutelvaro de Alencar

Irauccediluba foi distrito de Itapajeacute de 1905 ateacute 1957 quando foi elevada agrave condiccedilatildeo de municiacutepio

Quanto a sua ocupaccedilatildeo Arauacutejo Filho e Silva (2013) remontam a memoacuteria dos

mais antigos que registra o fenocircmeno da transumacircncia na regiatildeo jaacute no seacuteculo XIX Aleacutem

disto os autores ainda mencionam que

O primeiro relato da presenccedila do homem branco na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba

refere-se agrave passagem no ano de 1606-1607 dos jesuiacutetas Francisco Pinto e Luiacutes

Figueira Na eacutepoca a regiatildeo era habitada por iacutendios das etnias Tupi e Tapuia

citando-se os Anaceacute Apuiareacute e Kariri (GIRAtildeO1967) Consta entatildeo que os

indiacutegenas viviam da caccedila e que na eacutepoca seca ateavam fogo na erva para afugentar

as cobras e facilitar a caccedila (ARAUacuteJO e SILVA 2013 p 4)

E soacute para constar o potencial do municiacutepio acerca da boa qualidade das pastagens

de forma a compensar a praacutetica da transumacircncia em tempos antigos vale referenciar um

texto de Dias (1998) que Folhes e Viana (2001) fazem menccedilatildeo

ldquo() no espaccedilo onde Irauccediluba estaacute inserida atualmente visto como um ambiente

inoacutespito em processo de desertificaccedilatildeo no seacuteculo XVII ao se transitar pela flora

primitiva na eacutepoca das chuvas era difiacutecil saber se era noite ou dia face ao

adensamento da vegetaccedilatildeordquo Esse adensamento foi registrado pelos jesuiacutetas

Francisco Pinto e Luiacutes Figueira em 1607 quando partiram de Pernambuco numa

missatildeo de catequese em direccedilatildeo ao Maranhatildeo (DIAS 1998 p 62 apud FOLHES e

VIANA 2001 p 9)

322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas

Arauacutejo Filho e Silva (2013) fazem um apanhado sucinto e ao mesmo tempo geral

de duas atividades econocircmicas desenvolvidas no municiacutepio de Irauccediluba

82

Historicamente a Regiatildeo tem na pecuaacuteria a mais importante atividade dentro de um

sistema de transumacircncia servindo de estaccedilatildeo na eacutepoca das chuvas para os rebanhos

criados na regiatildeo litoracircnea Isto porque apresenta extensas aacutereas recobertas por

planossolos sob uma caatinga do tipo savana com cobertura herbaacutecea de excelente

potencial forrageiro Considerando a ocupaccedilatildeo da aacuterea municipal 124 satildeo usados

para a produccedilatildeo agriacutecola a pecuaacuteria ocupa 671 e os restantes 205 satildeo

recobertos de matas Confrontando os dados da distribuiccedilatildeo dos solos e de sua

ocupaccedilatildeo vecirc-se que a pecuaacuteria eacute praticada em toda a extensatildeo dos planossolos e dos

luvissolos a agricultura ocupa pequena parcela do luvissolo e dos solos litoacutelicos e a

extraccedilatildeo de madeira parte dos litoacutelicos e dos luvissolos (IBGE 2010) (ARAUacuteJO

FILHO e SILVA 2013 p 1)

Para os autores a pecuaacuteria em sistemas de produccedilatildeo de regiotildees semiaacuteridas

constitui uma atividade tampatildeo dos efeitos da seca facilita a dispersatildeo dos riscos de perdas

tem boa liquidez econocircmica e eacute um fator muito importante de fixaccedilatildeo do homem agrave terra

Em se tratando de nuacutemeros o PAE (CEARAacute 2010b) apresentou em seus

levantamentos percentuais a situaccedilatildeo de alguns aspectos socioeconocircmicos que ora se julga

interessantes expor neste trabalho Por exemplo o analfabetismo estaacute decrescendo eacute o que a

taxa de escolaridade no ensino fundamental de 932 em 2007 demonstra mas altas taxas

de repetecircncia evasatildeo escolar qualificaccedilatildeo dos professores baixo aproveitamento dos alunos

e divergecircncia entre a faixa etaacuteria e a seacuterie cursada tambeacutem satildeo problemas que afetam a

educaccedilatildeo no municiacutepio Folhes e Viana (2001) Quanto ao saneamento baacutesico natildeo existia rede

de esgotamento no municiacutepio nem aacutegua tratada para a maioria da populaccedilatildeo conforme

pesquisa realizada em 2007 contudo em 2010 a CAGECE24

informou que havia 6173

ligaccedilotildees entre reais e ativas para o abastecimento de aacutegua enquanto que a cobertura de

esgoto continuava sem nenhuma ligaccedilatildeo mas curiosamente apresentava uma taxa de

cobertura de 1937

O PAE (CEARAacute 2010) diz que em Irauccediluba o salaacuterio meacutedio mensal da

populaccedilatildeo correspondia a um salaacuterio miacutenimo e meio mas o IBGE (2010) traz outro nuacutemero

Em 2010 quando o salaacuterio miacutenimo era de R$ 51000 a renda domiciliar per capita entre frac14 a

mais de 3 correspondia a 5158 trabalhadores sendo que a maioria deles recebia por mecircs R$

12750 ou menos Agregada a essa realidade econocircmica existe a populaccedilatildeo extremamente

pobre com renda domiciliar per capita de ateacute R$ 7000 Nesse patamar concentram-se 8008

pessoas

Eacute nesse contexto que estatildeo cerca de 13500 pessoas classificadas como

economicamente ativas no municiacutepio Infelizmente o nuacutemero de irauccedilubenses inseridos na

condiccedilatildeo de pobreza eacute bem expressivo correspondendo a 3587 da populaccedilatildeo em 2010

24

In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p14)

83

Eacute faacutecil perceber que se trata de uma cidade pouco desenvolvida pobre sem muita

educaccedilatildeo e condiccedilotildees baacutesicas de sauacutede Isso reflete tanto na economia como na qualidade de

vida sem falar no cenaacuterio ambiental pois a situaccedilatildeo como estaacute posta favorece muito mais a

degradaccedilatildeo dos recursos naturais

Falando em questotildees ambientais dentro do contexto da dinacircmica populacional de

Irauccediluba eacute interessante citar a retraccedilatildeo no nuacutemero de indiviacuteduos residentes na aacuterea rural

desde a deacutecada de 70 e consequentemente aumento na urbana Considerando que os riscos de

desertificaccedilatildeo satildeo mais acentuados nas regiotildees densamente povoadas porque haacute maior

pressatildeo sobre os bens naturais e que a densidade demograacutefica do municiacutepio em 2010 estava

em 1539 habkm Folhes e Viana (2001) pontuam

A densidade demograacutefica de Irauccediluba representa pouco mais da metade do que

Ferreira et al (1994) estabeleceram como ldquofator de pressatildeordquo no estudo que se

tornou conhecido por ser o primeiro a confeccionar o mapa de susceptibilidade agrave

desertificaccedilatildeo do Nordeste brasileiro dada(s) as condiccedilotildees de semi-aridez as

condiccedilotildees dos solos a disponibilidade de aacutegua da regiatildeo e a capacidade de suporte

da mesma adotou-se como fator de pressatildeo sobre o meio ambiente a densidade

igual ou superior a 20habkm2 (p19-20)rdquo Veem-se a dificuldade e imprecisatildeo dos

estudos quanto agrave determinaccedilatildeo de algum ponto criacutetico onde a relaccedilatildeo densidade

demograacutefica versus processos de desertificaccedilatildeo passa de causa para efeito

(FOLHES e VIANA 2001 p 13)

Os autores ainda reforccedilam que o municiacutepio se enquadra no grupo com fraca

densidade demograacutefica que eacute de 10 a 20habkm2 de acordo com a classificaccedilatildeo estabelecida

pelo diagnoacutestico agro-soacutecio-econocircmico

Segundo Folhes e Viana (2001) um dos iacutendices mais sensiacuteveis para se medir o

niacutevel de desenvolvimento de um municiacutepio eacute a taxa de mortalidade infantil pois ela revela a

estreita ligaccedilatildeo entre o estado de sauacutede da populaccedilatildeo o acesso aos serviccedilos meacutedicos

condicionados pela situaccedilatildeo soacutecioeconocircmica da populaccedilatildeo Em Irauccediluba essa taxa eacute de 1592

mortos a cada 1000 nascidos vivos maior ainda que a do estado 133225

A economia de Irauccediluba gira em torno de atividades como agricultura e pecuaacuteria

Aquela engloba culturas praticadas em lavouras permanentes e temporaacuterias e esta envolve a

criaccedilatildeo de gado de vaacuterias espeacutecies e aves como galos e galinhas Em termos comparativos

traccedilou-se um paralelo do sistema produtivo econocircmico nos anos de 2001 e 2011 para que se

pudesse avaliar alguma retraccedilatildeo ou evoluccedilatildeo no quadro agropecuaacuterio e industrial do

municiacutepio

A figura 15 abaixo eacute autoexplicativa de modo que prontamente se percebe a

banana e a manga como as culturas mais significativas ficando logo atraacutes o cocircco da baiacutea

25

SESA (2011) In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p 9)

84

Nota-se tambeacutem natildeo haver muita diferenccedila de produccedilatildeo dos trecircs cultivos agriacutecolas nesses

dois anos o que leva a concluir que os produtores do municiacutepio mantiveram os investimentos

e colheitas semelhantes O mesmo natildeo ocorreu com o algodatildeo arboacutereo pois seu resultado caiu

drasticamente no periacuteodo analisado Ressalte-se poreacutem que o ano de 2001 foi mais produtivo

que o de 2011 com exceccedilatildeo da castanha de caju

Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Permanentes

Fonte IBGE (2001 e 2011)

Com relaccedilatildeo agraves lavouras temporaacuterias o destaque eacute da mandioca e da mamona

muito embora esta uacuteltima soacute apresente resultados no ano de 2011 Outras culturas temporaacuterias

satildeo o milho e o feijatildeo mas natildeo constam na figura 16 porque a disparidade entre os dois anos

e a alta produtividade em 2011 dificultariam a visualizaccedilatildeo

Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Temporaacuterias

Fonte IBGE (2001 e 2011)

85

De qualquer maneira a safra de milho e feijatildeo em 2001 natildeo foi tatildeo expressiva

ou seja correspondeu a 14 e 7 toneladas respectivamente Jaacute em 2011 esse nuacutemero foi agraves

alturas chegando agraves 4433 toneladas de milho e 2088 toneladas de feijatildeo

Jaacute os produtos de origem florestal comuns em Irauccediluba satildeo a cera o poacute e a fibra

da carnauacuteba o carvatildeo vegetal a lenha e a madeira em tora poreacutem os mais relevantes satildeo o

carvatildeo vegetal e a lenha conforme se vecirc nas figuras 17 e 18

Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em tonano

Fonte IBGE (2001 e 2011)

Como a lenha e a madeira em tora tecircm unidade de medida diferente dos demais

produtos construiu-se a figura 18 para natildeo deixaacute-las de fora da anaacutelise

0100020003000400050006000700080009000

1000011000

Lenha Madeira em tora

Produtos de origem vegetal (m3ano)

2001

2011

Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em m3ano

Fonte IBGE (2001 e 2011)

86

Quanto aos produtos de origem animal o leite foi o mais vultoso sobressaindo-se

nos anos de 2001 e 2011 Na tabela 11 abaixo tambeacutem foram relacionados os outros mas

com participaccedilatildeo bem pequena na produtividade do municiacutepio

Tabela 11 - Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem animal Produtos de origem animal

Leite Mel de abelha Ovos de galinha Ovos de codorna

Produccedilatildeo (mil l) Produccedilatildeo (kg) Produccedilatildeo (mil dz) Produccedilatildeo (mil dz)

2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011

5228 6031 0 507 80 143 0 1

Fonte IBGE (2001 e 2011)

Em termos industriais julgou-se interessante fazer uma comparaccedilatildeo um tanto

mais abrangente citando tambeacutem os nuacutemeros do ano de 2010 Observa-se que os grupos de

induacutestrias existentes em Irauccediluba reuacutenem as de extraccedilatildeo mineral construccedilatildeo civil e

principalmente as de transformaccedilatildeo conforme figura 19

Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011)

Fonte IBGE (2001 2010 e 2011)

Eacute possiacutevel observar pela figura acima que as empresas de extraccedilatildeo mineral e de

construccedilatildeo civil pouco se desenvolveram durante o periacuteodo analisado o mesmo natildeo ocorreu

com as induacutestrias de transformaccedilatildeo que inclusive chamam bastante atenccedilatildeo Estas se

desdobram em vaacuterias espeacutecies como por exemplo produccedilatildeo de minerais natildeo metaacutelicos

metaluacutergica mecacircnica produccedilatildeo de material eleacutetrico eletrocircnico e comunicaccedilatildeo produccedilatildeo de

material para transporte madeireira mobiliaacuteria produccedilatildeo de papel papelatildeo e borracha

beneficiamento de couros peles e similares quiacutemica produccedilatildeo de produtos farmacecircuticos e

veterinaacuterios de material plaacutestico tecircxtil vestuaacuterio calccedilados artefatos de tecido couros e

peles produtos alimentares bebidas fumo dentre outras

87

De 2001 para 2010 a quantidade de induacutestrias de transformaccedilatildeo pouco aumentou

passando de 13 para 17 mas de 2010 a 2011 esse rol duplicou indo de 17 para 34 empresas

como se pode observar pelas figuras 20 21 e 22

Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001

Fonte IBGE (2001)

Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010

Fonte IBGE (2010)

TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 13

TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 17

88

Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011

Fonte IBGE (2011)

A induacutestria tecircxtil oscilou em nuacutemeros visto que em 2001 contava com 5

empresas em 2010 com 4 expandido para 9 de forma que essa quantidade representou 26

do total de induacutestrias em Irauccediluba no ano de 2011 Outra atividade expressiva no municiacutepio eacute

a de produtos alimentares Muito embora natildeo exista em 2010 nos anos de 2001 e 2011 ela

totalizava 5 e 9 unidades respectivamente representando 23 e 26 cada uma no universo de

empresas Em terceiro plano encontra-se a produccedilatildeo de minerais natildeo-metaacutelicos que em 2001

contou com 1 induacutestria em 2010 com 2 e em 2011 com 3 Aleacutem disto apareceram a partir de

2010 atividades como mobiliaacuterio couros e peles vestuaacuterio e uma categoria natildeo definida pelo

IBGE classificada como diversas Em contrapartida desapareceram da contagem as

induacutestrias madeireira e metaluacutergica

Na pecuaacuteria existe a criaccedilatildeo de gado e aves O realce no primeiro grupo eacute dado

pelos bovinos seguido pelos ovinos e caprinos tanto no ano de 2010 como 2011 sendo neste

os nuacutemeros maiores Quanto agraves aves a ocorrecircncia eacute de galos frangos frangas e pintos aleacutem

de galinhas Entre estes dois grupos o primeiro eacute mais representativo como bem se examina

pela figura 23

TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 34

89

Figura 23 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos

Fonte IBGE (2011 e 2011)

Sem esquecer outros rebanhos mesmo que de menor grandeza existem no

municiacutepio bubalinos muares coelhos e codornas segundo os nuacutemeros apresentados na

tabela 12

Tabela 12 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores Rebanhos Bubalinos Muares Coelhos Codornas

Ano 2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011

Nordm de indiviacuteduos 98 48 380 436 22 67 89 193

Fonte IBGE (2011 e 2011)

Por fim conclui-se que em Irauccediluba eacute praticado aleacutem das atividades industriais o

tripeacute econocircmico baseado na produccedilatildeo agriacutecola pecuaacuteria e madeireira esta a partir da

exploraccedilatildeo de lenha e carvatildeo vegetal Desta maneira seria mais interessante para o municiacutepio

considerando suas caracteriacutesticas ambientais o uso de sistemas de produccedilatildeo

agrossilvopastoris Nesse sentido Arauacutejo Filho e Silva (2013) ilustram

Os sistemas de produccedilatildeo agrossilvipastoris satildeo formas de uso e manejo da terra nas

quais aacutervores e arbustos satildeo utilizados em associaccedilatildeo com cultivos agriacutecolas e

animais numa mesma aacuterea de maneira simultacircnea ou numa sequecircncia temporal

Cada componente do sistema de produccedilatildeo deve ter pelo menos uma funccedilatildeo proacutepria e

sua integraccedilatildeo garante sua funcionalidade Assim as aacutervores devem ser em nuacutemero

suficiente para um aporte significativo de serrapilheira fonte de mateacuteria orgacircnica

para o solo Os animais satildeo os redistribuidores de nutrientes entre os componentes

do sistema via urina e esterco E as culturas garantem a produccedilatildeo de alimentos para

a famiacutelia e seus animais e contribuem para a circulaccedilatildeo de nutrientes dentro do

sistema Os SAF‟s podem tambeacutem ser usados para a reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e

econocircmica de aacutereas degradadas sobre luvissolos e argissolos (ARAUacuteJO FILHO e

SILVA 2013 p 1819)

90

323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba

A caracterizaccedilatildeo ambiental realizada no municiacutepio das aacutereas de estudo engloba a

altimetria as classes de relevo demonstrando a declividade do terreno que varia de plano a

forte ondulado os tipos de solos e suas associaccedilotildees de classes entre si o clima envolvendo

dados sobre a pluviometria anual o iacutendice de umidade o nuacutemero de meses sem chuva a

temperatura e a evapotranspiraccedilatildeo total anual do municiacutepio Comenta-se ainda a vegetaccedilatildeo e

suas formas aleacutem dos rios e accediludes existentes em Irauccediluba reunindo seus recursos hiacutedricos

3231 Altimetria e Classe de relevo

A altimetria do municiacutepio estaacute exibida na figura 24 conforme seus niacuteveis de

altitude que variam de 80 a 840 metros acima do mar

Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba

91

Jaacute o relevo oscila de plano a forte ondulado conforme figura 25 Arauacutejo Filho e Silva

(2013 p 1) definem que ldquonos planossolos o relevo varia de plano a suave-ondulado (de 1 a 8)

nos argisssolos e nos luvissolos apresentam-se em relevo de suave-ondulado a ondulado (de 8 a

20) e os litoacutelicos estatildeo em relevo forte-ondulado (de 20 a 45)rdquo

Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba

3232 Solos

A regiatildeo semiaacuterida nordestina ldquo[] recebe anualmente calor e luz em excesso o

que resulta em raacutepida mineraccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica Seus solos satildeo geralmente pouco

profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica mas relativamente ricos

em bases trocaacuteveisrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 7)

O PAN (BRASIL 2004) assegura que as classes de associaccedilatildeo de solos presentes

no semiaacuterido do Nordeste satildeo o bruno natildeo caacutelcico litoacutelicos podzoacutelico eutroacutefico terra roxa

estruturada cambissolo ondulado e forte ondulado e planossolos Apresentam tambeacutem tipos

de relevo e susceptibilidade agrave erosatildeo diferenciados como mostra a tabela 13

92

Tabela 13 - Relaccedilatildeo de solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo

CLASSES DE SOLO RELEVO SUSCEPTIBILIDA Agrave

EROSAtildeO

Bruno natildeo caacutelcico (Luvissolos) Suave ondulado e ondulado Forte

Litoacutelicos Ondulado forte ondulado e

montanhoso Muito forte

Podzoacutelico eutroacutefico terra roxa

estruturada cambissolo ondulado e

forte ondulado

Ondulado e forte ondulado Moderado

Planossolos Plano e suave ondulado Moderado

Fonte PAN Brasil (2004)

ldquoTrecircs classes de solos se destacam no municiacutepio de Irauccediluba luvissolos com

432 de cobertura planossolos com 187 e litoacutelicos com 332 Juntos eles perfazem

951 da aacuterea do municiacutepiordquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2)

Os luvissolos constituem os solos mais utilizados pela agricultura migratoacuteria do

semiaacuterido nordestino Por causa do desmatamento e uso do fogo haacute indicaccedilotildees de que pelo

menos 65 da aacuterea de cobertura deste importante solo se encontrem em erosatildeo de grave a

muito grave Em Irauccediluba natildeo eacute diferente pois a agricultura eacute praticada nas aacutereas recobertas

por luvissolos e solos litoacutelicos enquanto a pecuaacuteria eacute desenvolvida tanto no planossolo com

presenccedila tambeacutem nas aacutereas de luvissolo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013)

Em se tratando de associaccedilatildeo de solos a tabela 14 indica a nomenclatura utilizada

por Jacomine (1973) e pela EMBRAPA (2006) para definir os tipos de associaccedilatildeo

encontrados em Irauccediluba apontando ainda a porcentagem de cada um dentro da respectiva

associaccedilatildeo E a figura 26 apresenta a distribuiccedilatildeo dessas associaccedilotildees no municiacutepio de forma

que eacute possiacutevel notar o predomiacutenio da associaccedilatildeo NC15 seguida da Re25 e Re26

Tabela 14 - Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEMBRAPA

ASSOCIACcedilAtildeO

DE SOLO EM

JACOMINE

(1973)

NOMENCLATURA DOS SOLOS NAS ASSOCIACcedilOtildeES DO SOLO

NA

ASSOCIACcedilAtildeO JACOMINE (1973) EMBRAPA (2006)

PE6

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO moderado

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 40

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO chemozecircnico

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 30

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 15

AFLORAMENTOS DE ROCHA - 15

PE42

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 70

REGOSOL EUTROacuteFICO NEOSSOLOS

REGOLIacuteTICOS 30

NC7 BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO LUVISSOLO 40

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 35

93

BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO veacutertico LUVISSOLO 25

NC15

BRUNOS NAtildeO CAacuteLCICOS

INDISCRIMINADOS LUVISSOLO 40

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 25

PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 20

SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 15

PL6

PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 45

SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 35

SOLOS OTOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 20

Re6

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 65

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 35

Re25 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel

estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -

Re26 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel

estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -

Fonte Jacomine et al (1973) e EMBRAPA (2006)

Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba

94

Por fim a figura 27 apresenta os quatro grandes grupos de solo encontrados em

Irauccediluba e sua distribuiccedilatildeo no municiacutepio sendo eles Podzoacutelico vermelho amarelo

equivalente eutroacutefico (PE) Bruno natildeo caacutelcico (NC) Planossolo (PL) e Solos litoacutelicos (Re)

Figura 27 Grupos de solos que formam associaccedilotildees pedoloacutegicas em Irauccediluba

3233 Clima

ldquoO clima na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba eacute conforme classificaccedilatildeo de Koumlppen

(MILLER 1971) do tipo Bshw semiaacuterido megateacutermico com curta estaccedilatildeo chuvosa no

veratildeo-outono e com concentraccedilatildeo das precipitaccedilotildees pluviais nos meses de marccedilo e abrilrdquo

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2) Anualmente o municiacutepio apresenta pluviometria

meacutedia abaixo dos 700 mm mas existe maior incidecircncia de chuva em outras regiotildees de

Irauccediluba Eacute o que demonstra a figura 28

Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba

Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba

95

Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba

ldquoA regiatildeo apresenta um dos mais baixos iacutendices pluviomeacutetricos do Estado do Cearaacute

com meacutedia histoacuterica de 540 mm Isto porque a aacuterea encontra-se a sotavento da serra

de Uruburetama constituindo-se em uma ldquosombra de chuvardquo causada pela

interceptaccedilatildeo pela serra dos ventos uacutemidos oriundos do oceanordquo (ARAUacuteJO FILHO

e SILVA 2013 p 2)

O municiacutepio passa a maior parte do ano sem chuva aproximadamente dez meses

e apesar da pouca pluviosidade a evapotranspiraccedilatildeo eacute maior que a precipitaccedilatildeo Sem poder

ser diferente as temperaturas variam de 25 a 28 graus sendo que na maior parte da aacuterea

incidem temperaturas de 26 a 27 graus centiacutegrados e a umidade aponta a incidecircncia do clima

semiaacuterido em Irauccediluba As figuras 06 29 30 31 e 32 ilustram as informaccedilotildees declaradas

96

Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba

Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual

97

Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba

Figura 32 Iacutendice Efetivo de umidade em Irauccediluba

Fonte NOLEcircTO (2005)

98

3234 Vegetaccedilatildeo

A caatinga eacute um dos maiores biomas brasileiros e significa mata branca Por ser

uma vegetaccedilatildeo xeroacutefila eacute capaz de suportar vaacuterios anos de estiagem recuperando com

rapidez suas atividades logo nas primeiras chuvas apoacutes a seca A adaptaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo ao

clima semiaacuterido eacute impressionante como por exemplo as cascas claras ou reluzentes servem

para diminuir o aquecimento do tecido vivo da planta Por causa da falta de aacutegua satildeo

caducifoacutelias isto eacute as folhas caem durante a estaccedilatildeo seca para evitar excesso de perda d‟aacutegua

pela evapotranspiraccedilatildeo aleacutem disto os caules satildeo projetados para armazenar aacutegua (MAIA

2012)

ldquoA caatinga se assemelha a arbustos tropicais ou bosques de espinhos Eles

contecircm pequenas aacutervores de madeira dura grotescamente retorcidas e com espinhos as folhas

satildeo pequenas e caem durante a estaccedilatildeo secardquo Odum e Barret (2008 p 453)

Fisionomicamente eacute possiacutevel diferenciar os tipos de vegetaccedilatildeo o arboacutereo que estaacute nas

superfiacutecies mais conservadas sendo o pau branco o angico o pereiro dentre outras suas

espeacutecies mais representativas o arbustivo que eacute sinal de aacutereas jaacute degradadas pelo

desmatamento uso agriacutecola e pecuaacuteria e o herbaacuteceo figurado por gramiacuteneas presentes

somente durante o periacuteodo chuvoso e explorado pela pecuaacuteria extensiva (DANTAS et al

2007)

ldquoO Bioma Caatinga estaacute inserido no quadro dos Ecossistemas da Regiatildeo das

Caatingas e Florestas Deciduais do Nordeste Abrange as especificidades do Domiacutenio

Morfoclimaacutetico das Caatingas sejam elas arbustivas ou arboacutereasrdquo (BRASIL 2004 p 68) Os

frutos amadurecem ao fim da eacutepoca das chuvas quase que generalizadamente na maioria das

espeacutecies arboacutereas e herbaacuteceas permanecendo pendentes dos ramos durante algum tempo Ao

se desprenderem e caiacuterem no solo natildeo germinam de imediato pois a resistecircncia da casca e

outros artifiacutecios da natureza impedem a germinaccedilatildeo pronta Se germinassem morreriam quase

em seguida natildeo resistindo agrave longa estaccedilatildeo seca e quente da estiagem com interrupccedilatildeo brusca

e total das chuvas A germinaccedilatildeo poreacutem processa-se rapidamente logo ao caiacuterem as

primeiras chuvas pois os indumentos foram intensamente desgastados pelo intemperismordquo

As queimadas realizadas para a preparaccedilatildeo de novos terrenos de cultivo desempenham papel

de grande poder destruidor do ambiente ldquoCompreende-se pois que a restauraccedilatildeo da

cobertura vegetal depende da preservaccedilatildeo desses estoques de sementesrdquo26

26

Conferir SOBRINHO Vasconcelos (1983) In PAN Brasil 2004

99

ldquoA vegetaccedilatildeo da aacuterea do nuacutecleo de desertificaccedilatildeo de Irauccediluba espelha os efeitos dos

fatores fiacutesicos mormente os de natureza hiacutedrica e edaacutefica e da accedilatildeo antroacutepica

Assim as aacutereas dos solos argissolos litoacutelicos e luvissolos apresentam uma cobertura

arbustiva-arboacuterea formando um verdadeiro mosaico de diferentes estaacutedios

sucessionais em virtude das praacuteticas agriacutecola ambientalmente agressivasrdquo [] ldquoAs

aacutereas sobre os planossolos estatildeo recobertas por uma caatinga assavanada e

esporadicamente com afloramentos rochosos e com cobertura arbustiva arboacuterea

meacutedia abaixo de 20 e densidade de cerca 200plantasha A camada herbaacutecea de

biodiversidade inferior ao das aacutereas de luvissolos ou argissolos eacute rica no entanto

em espeacutecies forrageiras destacando-se a erva de ovelha (Stylosanthes humilis)

vassourinha (Stylosanthes angustifolia) urinana (Zornia bracteata) e capim accedilu

(Paspalum milegrana) O capim panasco no entanto predomina nas aacutereas

sobrepastejadasrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 34)

A figura 33 espelha a composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba Segue claro que a Caatinga

Arboacuterea Sem Palmeira (Cas) predomina seguida da Caatinga Arboacuterea Com Palmeira (Cap) e

da Caatinga Parque Sem Palmeira (Cps) A Floresta Ombroacutefila Aberta (Acc1) e as Aacutereas De

Formaccedilatildeo Pioneira (Acc2) representam uma aacuterea menor do municiacutepio

Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba

3235 Recursos Hiacutedricos

O nuacutecleo de Irauccediluba estaacute situado na bacia hidrograacutefica do rio Curu contando com

o aporte dos rios Aracatiaccedilu e Caxitoreacute aleacutem de vaacuterios riachos destacando-se o Aroeira o

Fonte NOLEcircTO (2005)

Fonte NOLEcircTO (2005)

100

Gabriel e o Cachoeira A ausecircncia de barragens de porte representativo faz com que a

pequena accediludagem assuma um papel relevante Destacam-se dentre essas os Accediludes Satildeo

Gabriel do Mocoacute (IRAUCcedilUBA 2009)

Por conta da irregularidade das chuvas que contribui para favorecer o escoamento

de superfiacutecie junto agraves condiccedilotildees geoloacutegicas predominantemente cristalinas favorecem o

escoamento raacutepido das aacuteguas pluviais inviabilizando o acuacutemulo de aacuteguas subterracircneas em

quantidades razoaacuteveis (IRAUCcedilUBA 2009) existem no municiacutepio cerca de 28 pequenos

accediludes nomeando-se o Nogueira Ramos o Cairu Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu e o Jerimum

que abastece a cidade de Irauccediluba ldquoUma estrutura muito comum no municiacutepio eacute o barreiro da

salvaccedilatildeo constituindo-se em um sistema temporaacuterio de armazenamento de aacutegua para atender

agrave demanda dos rebanhos durante boa parte da estaccedilatildeo secardquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA

2013 p 3)

324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo

A partir da abordagem feita no item 323 passa-se a analisar a realidade de cada

propriedade estudada Visando apontar os aspectos geoambientais dos imoacuteveis construiu-se

um quadro siacutentese conforme tabela 15 abaixo

Tabela 15 ndash Anaacutelise Geral das propriedades estudadas

Anaacutelise

Imoacuteveis com Reserva Legal

Riachuelo

Alto Alegre

Aacuteguas

Mortas

Almas

Cajazeiras

II

Saco

Verde

Miramar

Classe

no

Tipo

Niacuteveis da Classe

no Tipo

Aacuterea (km2)

336 238 127 124 671 86

no Niacutevel da Classe no Tipo

Precipitaccedilatildeo

Total

Meacutedia Anual

lt 600 - - - - 103 -

600 a 700 100 100 100 755 100

700 a 800 - - - 976 112 -

800 a 900 - - - 24 - -

Temperatura

Meacutedia Anual

(oC)

25-26 - - - - 71 -

26-27 100 100 100 100 929 100

27-28 - - - - - -

ETP

lt 1450 - - - - 100 100

1450-1500 - - - - - -

1500-1550 - - - - - -

1550-1600 100 100 100 - - -

1600-1650 - - - 141 - -

1650-1700 - - - 859 - -

101

Nugravemero

de

Meses secos

85 a 95 100 100 564 100 330 -

95 a 105 - - 454 - 670 100

gt105 - - - - - -

Im

gt - 333 - - - - - -

- 344 a - 499 100 100 100 100 388 15

lt - 499 - - - - 612 985

Igravendice de Aridez

do UNEP 020 a 050 100 100 100 100 780 100

050 a 065 - - - - 220 -

Classes

de

Relevo

Plano 23 46 56 112 55 135

Suave Ondulado 162 316 378 373 227 485

Ondulado 194 338 427 64 124 130

Muito Ondulado 127 111 72 38 72 70

Forte Ondulado 463 185 66 264 400 179

Montanhoso 31 04 - 105 120 03

Escarpado - - - 44 02 -

Classes

de

Altitude

80-120 - - -- 560 - -

120-160 - - - 113 - -

160-200 - - - 60 321 -

200-240 54 171 723

240-280 01 41 460 40 85 202

280-320 139 614 521 36 68 49

320-360 349 211 10 41 56 24

360-400 178 65 01 38 70 02

400-440 90 24 - 28 53 -

440-480 63 21 - 19 55 -

480-520 45 16 - 10 45 -

520-560 33 05 - 02 32 -

560-600 29 02 - - 15 -

600-640 25 01 - - 10 -

640-680 17 - - - 08 -

680-720 13 - - - 07 -

720-760 07 - - - 03 -

760-800 05 - - - 02

800-840 03 - - - - -

840-880 02 - - - - -

880-920 01 - - - - -

Associaccedilotildees

de

Solos

PE 6 - - - - 207 -

PE 42 - - - 913 - -

NC 7 - - - - - -

NC 15 940 755 516 - - 441

PL 6 - - - - 348 -

Re 6 - - - - - -

Re 25 - - - 87 445 -

Re 26 60 245 424 - - 559

Grupos

de

solos

PE - - - 913 207 -

NC 940 762 516 - - 441

PL - - - - 348 -

Re 60 238 484 87 445 559

Cobertura

Vegetal

Cas 515 934 100 - 265 100

Cap - - - 649 - -

Cps - - - - 168 -

Acc1 485 66 - - - -

Acc2 351 567 -

Quanto agrave graduaccedilatildeo altimeacutetrica em que se encontra cada propriedade em estudo eacute

possiacutevel observar que a RiachueloAlto Alegre tem niacuteveis de altimetria crescentes a partir de

102

240 ateacute 920 metros destacando-se como o imoacutevel de maior altitude seguido de Saco Verde e

Aacuteguas Mortas As outras natildeo passam dos 560 metros de altitude

Em se tratando da classe de relevo a que se apresenta mais plana eacute Miramar com

135 de sua aacuterea seguida de Cajazeiras II com 112 Em relevo montanhoso destacam-se

Saco Verde com 12 de terreno e Cajazeiras II com 105 No entanto a predominacircncia eacute de

imoacuteveis inseridos na faixa entre o suave ondulado e o forte ondulado

Os imoacuteveis em anaacutelise situam-se em diferentes grupos de solos como ilustra a

tabela 15 Por exemplo RiachueloAlto Alegre e Aacuteguas Mortas estatildeo 94 e 762

respectivamente em luvissolos ou seja em solos Bruno natildeo caacutelcicos e Podzoacutelico vermelho

amarelo equivalente eutroacutefico Almas e Miramar estatildeo divididas aproximadamente agrave metade

em solo litoacutelico e em Bruno natildeo caacutelcico Em Cazajeiras II predomina o solo Podzoacutelico

vermelho amarelo equivalente eutroacutefico mas apresenta um pequeno percentual em solo

litoacutelico E por fim Saco Verde possui uma distribuiccedilatildeo variada de solos Podzoacutelico vermelho

amarelo equivalente eutroacutefico (207) Planossolos (348) e litoacutelicos (445) sendo o

uacutenico imoacutevel com planossolos

Nas associaccedilotildees de solos prevalece a subclasse 15 dos solos Bruno natildeo caacutelcicos

(NC) nas propriedades RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas e Almas Cajazeiras II estaacute

quase totalmente na subclasse 42 do Podzoacutelico vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) e

Miramar mesmo quase ao meio entre NC e Re possui a maior parte de sua aacuterea na subclasse

26 de solos litoacutelicos (Re) Saco Verde embora um tanto quanto bem distribuiacuteda tem 207

de aacuterea na subclasse 6 dos Podzoacutelicos vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) 348

em planossolos subclasse 6 inclusive eacute o uacutenico imoacutevel nessa classificaccedilatildeo e 445 em Re6

A realidade das aacutereas em estudo descrita na tabela 15 revela que mais da metade

delas estaacute inserida na faixa de pluviosidade abaixo dos 700 mm contudo Cajazeiras II foge agrave

regra apresentando pluviometria entre 700 a 900 mm Em Saco Verde ocorre distribuiccedilatildeo

irregular de chuvas e aleacutem de estar na meacutedia tem precipitaccedilatildeo tanto abaixo dos 600 como

acima de 700 mm

E por fim a cobertura vegetal de Almas Miramar quase toda de Aacuteguas Mortas e

a metade RiachueloAlto Alegre eacute de caatinga arboacuterea sem palmeira (Cas) enquanto que mais

de 50 da Cajazeiras II estaacute em caatinga arboacuterea com palmeira (Cap) Saco Verde tem mais

da metade da aacuterea em formaccedilatildeo pioneira (Acc2)

103

33 Metodologia

A metodologia utilizada no levantamento acerca da existecircncia de reserva legal no

municiacutepio de Irauccediluba envolveu algumas fases de anaacutelise como pesquisa bibliograacutefica

documental caracterizaccedilatildeo da aacuterea sob os aspectos sociais econocircmicos e ambientais o uso de

imagens orbitais e a aplicaccedilatildeo do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada (NDVI -

Normalized Difference Vegetation Index) nas propriedades em estudo

A abordagem envolveu o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo uma vez que para avaliar a

aplicabilidade da reserva legal como forma de combater o processo de degradaccedilatildeo ambiental

em Irauccediluba partiu-se da hipoacutetese de que se cada detentor de propriedade rural cumprisse a

obrigaccedilatildeo de implantaacute-la o processo de degradaccedilatildeo quiccedilaacute o de desertificaccedilatildeo seria estancado

no municiacutepio Aleacutem disso seria um instrumento proporcionador da recuperaccedilatildeo ambiental em

virtude de seus benefiacutecios A investigaccedilatildeo se deu por procedimentos de vieacutes histoacuterico e

comparativo tendo sido realizada uma retrospectiva de como foi o tratamento dado agrave reserva

legal no contexto juriacutedico econocircmico social e ambiental Aleacutem disto estudou-se as

propriedades que apresentaram o instituto mesmo que soacute documentalmente de maneira a

confrontar a situaccedilatildeo existente nos anos de 1993 e 2007 e sua modificaccedilatildeo

Para alcanccedilar os propoacutesitos deste trabalho ocorreu a coleta de dados pela pesquisa

documental e bibliograacutefica aleacutem da observaccedilatildeo direta intensiva que foi possiacutevel pelo exame

de dados obtidos por imagens do sateacutelite LANDSAT 5 referente aos anos de 1993 e 2007

bem como a avaliaccedilatildeo das aacutereas estudadas atraveacutes do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila

Normalizada (NDVI)

As informaccedilotildees geograacuteficas das propriedades em estudo foram disponibilizadas

basicamente pelo INCRA e pelo cartoacuterio de imoacuteveis de Irauccediluba Ambos cederam as plantas

georreferenciadas que foram vetorizadas em UTM 24s atraveacutes do programa CARTALINX 12

para em seguida serem exportadas para o IDRISI 322 e entatildeo convertidas para latitude e

longitude DATUM GS 84

331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite

O NDVI eacute um iacutendice de vegetaccedilatildeo derivado de imagens de sateacutelites e muito

utilizado na avaliaccedilatildeo da cobertura vegetal indicando o tipo a condiccedilatildeo e a densidade da

vegetaccedilatildeo atraveacutes do uso de bandas No caso as bandas do vermelho na faixa do visiacutevel e do

infravermelho proacutexima (PINHEIRO 2011) Agrave medida que aumenta a quantidade de

104

vegetaccedilatildeo verde aumenta a reflexatildeo na banda do infravermelho proacuteximo e diminui a reflexatildeo

na banda do vermelho fazendo com que o aumento da razatildeo seja potencializado realccedilando

assim a vegetaccedilatildeo27

Na banda do vermelho a clorofila absorve a energia solar resultando em uma

baixa reflectacircncia e no infravermelho proacuteximo tanto a morfologia interna das folhas quanto a

estrutura da vegetaccedilatildeo apresentam uma alta reflectacircncia da energia solar incidente A

combinaccedilatildeo dessas bandas realccedila a aacuterea de vegetaccedilatildeo nas imagens e quanto maior o contraste

maior o vigor da vegetaccedilatildeo da aacuterea imageada (LOURENCcedilO LANDIM 2004)28

Portanto o NDVI pode ser utilizado como uma teacutecnica para mapeamento

contiacutenuo da cobertura vegetal de uma regiatildeo possibilitando analisar e monitorar a

variabilidade desta em periacuteodos distintos (PINHEIRO 2011) Ressaltam ainda as diferenccedilas

entre aacutereas vegetadas e de solo exposto (VERONA 2002)29

O caacutelculo para se chegar ao NDVI deriva da razatildeo entre os valores das bandas do

vermelho e infravermelho proacuteximo ou seja a diferenccedila da resposta espectral do pixel dessas

bandas pela sua soma (SILVA et al 2007)30

resulta nos valores do NDVI que variam de ndash1 a

+1 A equaccedilatildeo para o caacutelculo do NDVI foi proposta por (JENSEN 1996)31

in Ewerton Torres

Melo 2008) conforme segue abaixo

NDVI = (NIR - R) (NIR + R)

Em que

NDVI eacute o iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada NIR eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Infra-Vermelho Proacuteximo

(076 a 090 μm)

R eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Vermelho (063 a 069μm)

Assim a vegetaccedilatildeo eacute caracterizada por uma intensa absorccedilatildeo devido agrave clorofila na

regiatildeo do vermelho (063 ndash 069 μm) e por uma intensa energia refletida na regiatildeo do

infravermelho proacuteximo (076 ndash 090 μm) causada pela estrutura celular das folhas Portanto

muitos dos modelos de iacutendice de vegetaccedilatildeo utilizam somente as bandas de imagem vermelha

ou proacutexima ao infravermelho (MELO 2008)

27

Novo (1989) In MELO Ewerton Torres (2008) 28

In PINHEIRO 2011 29

Idem 30

Ibidem 31

In MELO 2008

105

Conforme (BRAGA et al sd) estudos de variabilidade temporal e espacial sobre

a regiatildeo Nordeste do Brasil indicam que as aacutereas vegetadas variam de 01 a 08 sendo que

esses valores dependem da estrutura densidade e umidade da vegetaccedilatildeo As rochas e os solos

apresentam valores proacuteximos de zero e a aacutegua aparece com valores negativos Coberturas

vegetais muitos densas se expressam pelos maiores valores obtidos (PINHEIRO 2011)

106

4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES

41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba

O foco principal da pesquisa foi levantar e analisar as propriedades que de alguma

forma apresentem a reserva legal seja oficial ou extraoficialmente Com o exame das imagens

de sateacutelite dos anos de 1993 e 2007 utilizando o NDVI constatou-se que os iacutendices da

cobertura vegetal satildeo muito parecidos tanto dentro como fora da aacuterea de reserva ao serem

comparados pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Isto leva a crer que o instituto legal pode natildeo

ter promovido qualquer diferenccedila em termos de cobertura vegetal sem falar na hipoacutetese de

nem mesmo ter sido cumprido

Analisando os iacutendices de NDVI comprova-se que na grande maioria dos

imoacuteveis a cobertura vegetal tanto dentro como fora da aacuterea de reserva legal diminuiu entre

os anos de 1993 e 2007 Embora nas propriedades a vegetaccedilatildeo se apresente em niacuteveis

diferenciados de existecircncia representados pelas faixas 2 a 9 da tabela 16 vecirc-se que quase

todos em 1993 apresentavam aacutereas significativas de vegetaccedilatildeo na faixa 6 e 7 Se averiguar as

mesmas colunas em 2007 eacute notoacuteria a retraccedilatildeo nos iacutendices salvo na faixa 5 referente aos

imoacuteveis Aacuteguas Mortas Almas e Saco Verde

Tabela 16 - NDVI dos imoacuteveis estudados

IMOacuteVEL SEGMENTO ANO

Aacuterea no niacutevel de NDVI como uma porcentagem da aacuterea total do segmento

Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 4 Faixa 5 Faixa 6 Faixa 7 Faixa 8 Faixa 9

0 a 01 01 a 02 02 a 03 03 a 04 04 a 05 05 a 06 06 a 07 07 a 08 08 a 09

Riachuelo

Alto

Alegre

Fora 1993 0558 0458 0978 2418 9904 68884 16798 0022 0019

2007 1369 1351 2366 9734 56243 28713 0205 0019 -

Reserva 1993 0532 0319 0473 1006 3224 57424 36868 0074 -

2007 1818 1611 1951 7524 53112 33777 0207 - -

Aacuteguas

Mortas

Fora 1993 1588 1833 2701 6525 18029 41168 28024 0141 -

2007 4979 3485 4979 12220 34523 39105 0616 0097 -

Reserva 1993 - - 0084 1246 10452 56862 31356 - -

2007 2092 1902 6677 6127 52292 34545 0275 0085 -

Almas Fora 1993 1954 1336 1650 3339 9359 48925 33222 0216 -

2007 0845 1463 2583 13464 44731 36659 0216 - 0039

Reserva 1993 13455 3058 2299 3858 12198 40686 23344 0156 0156

2007 1052 1208 1052 7947 53759 34827 0156 - -

Miramar Fora 1993 - - 1075 6023 36519 50699 5684 - -

2007 0810 1001 1870 6818 66765 22545 0132 0059 -

Reserva 1993 1540 0285 0799 7758 39646 48431 1540 - -

2007 - 0513 2339 33143 63206 0799 - - -

Saco

Verde

Fora 1993 6867 5558 9959 20131 37338 19016 0097 1097 1097

2007 6469 8972 19278 30986 32219 2026 0050 - -

Reserva 1993 6927 9383 17136 26903 29900 9113 0609 0030 -

2007 8767 10375 17166 29254 332881 1157 - - -

Cajazeiras

II

Fora 1993 0040 0606 8206 39766 45877 5412 0092 - -

2007 2003 9562 25154 44710 17723 0647 - - -

Reserva 1993 2885 2885 12402 48057 29936 2360 0674 - -

2007 3895 8165 21610 39476 26704 0150 - -

Os iacutendices de NDVI da tabela 16 serviram de base para o caacutelculo da anaacutelise de

semelhanccedila pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Assim a constataccedilatildeo acima eacute confirmada pela

tabela 17 que por sua vez atesta o grau de similaridade entre a aacuterea interna e externa agrave

reserva legal nos anos analisados Eacute surpreendente o niacutevel de semelhanccedila encontrado O

percentual mais baixo em 1993 eacute de 798 chegando no mesmo ano a 933 Jaacute em 2007 a

percentagem de semelhanccedila diminui nos imoacuteveis Aacuteguas Mortas e Miramar de 81 para 75 e

de 933 para 731 respectivamente Isto natildeo quer dizer que o niacutevel de cobertura vegetal

melhorou ou piorou mas que a diferenccedila na semelhanccedila entre dentro e fora da aacuterea de reserva

legal nessas propriedades reduziu sugerindo que o respeito agravequele instituto pode ter

promovido a alteraccedilatildeo Em contrapartida nos outros imoacuteveis essa semelhanccedila aumentou

aproximando-se dos 94

Assim eacute provaacutevel que pelos meacutetodos utilizados a funccedilatildeo proposta pelo instituto

da reserva legal natildeo esteja sendo alcanccedilada visto que o grau de semelhanccedila entre a aacuterea de

dentro e fora da reserva legal estaacute muito aproximado pois sequer apresentou-se abaixo dos

70 de diferenccedila

Tabela 17 - Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal pelo meacutetodo de Sorensen (1948)

ANAacuteLISE DE SEMELHANCcedilA DE SORENSEN () ENTRE

FORA E DENTRO DA AacuteREA DE RESERVA LEGAL

IMOacuteVEL

Reserva

ANO 1993 2007

108

Riachuelo Alto Alegre Fora 1993 798 -

2007 - 941

Aacuteguas Mortas Fora 1993 810 -

2007 - 750

Almas Fora 1993 821 -

2007 - 908

Saco Verde Fora 1993 799 -

2007 - 891

Cajazeiras II Fora 1993 813 -

2007 - 952

Miramar Fora 1993 933 -

2007 - 731

109

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A abordagem dos assuntos aqui tratados e os resultados alcanccedilados permitem a

conclusatildeo de que a reserva legal eacute uma criaccedilatildeo da lei com intenccedilotildees conservacionistas

avanccediladas Como espaccedilo especialmente protegido requer um tratamento diferenciado natildeo soacute

como previsto em normas mas sob a oacutetica da sociedade Observou-se que foi um assunto

amplamente tratado e debatido nas esferas do poder legislativo e judiciaacuterio do paiacutes e que

tambeacutem eacute alvo de poliacuteticas puacuteblicas e atuaccedilatildeo das autoridades competentes embora um tanto

falhas

Contatou-se que o emprego da reserva legal no municiacutepio de Irauccediluba eacute pouco expressivo

diante da quantidade de propriedades ali existentes por isso os benefiacutecios trazidos pela

conservaccedilatildeo desses espaccedilos mal podem ser sentidos no municiacutepio que sofre com a degradaccedilatildeo

ambiental contiacutenua inclusive com a presenccedila do processo de desertificaccedilatildeo Aleacutem disto a

falta de cumprimento do formal procedimento acerca da implantaccedilatildeo da reserva legal em

aacutereas puacuteblicas eacute intrigante Isto porque se pressupotildee accedilotildees de estrita legalidade envolvendo o

ente estatal Nesse sentindo partindo do entendimento que os projetos de assentamento satildeo

resultado de poliacuteticas puacuteblicas para reforma agraacuteria pressupunha-se que nestes espaccedilos a

reserva legal estaria estabelecida mas as anaacutelises mostraram que natildeo haacute diferenccedila quando

comparadas a aacuterea de dentro e de fora da reserva nas propriedades A situaccedilatildeo eacute anaacuteloga no

imoacutevel particular apreciado

A respeito da degradaccedilatildeo viu-se que Irauccediluba por ser rota de passagem do gado

desde o seacuteculo XIX aporta animais em transumacircncia de outras regiotildees Os relatos de jesuiacutetas

que cruzaram o municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XVII registram o lugar com vegetaccedilatildeo fechada

e densa Diante disso eacute possiacutevel afirmar que nem sempre Irauccediluba teve um ambiente inoacutespito

e com caracteriacutesticas severamente adversas O quadro atual se deve agraves intervenccedilotildees antroacutepicas

sem teacutecnicas apropriadas para o desenvolvimento de atividades econocircmicas em conjunto com

as caracteriacutesticas de um meio semiaacuterido Essas atividades geralmente abrangem culturas de

subsistecircncia praticadas recorrentemente no mesmo lugar sem o pousio necessaacuterio do solo que

por sua vez natildeo eacute tatildeo rico em nutrientes em decorrecircncia dos desmatamentos e queimadas

Pela caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo pocircde se verificar que seus atributos

envolvem solos pouco profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica

O clima eacute o semiaacuterido onde haacute baixa pluviometria e temperaturas em torno dos 28ordmC e a

vegetaccedilatildeo eacute caatinga nos tipos arbustivos e herbaacuteceos excepcionalmente o arboacutereo por causa

da degradaccedilatildeo

Os resultados mostraram que os iacutendices de NDVI nas propriedades analisadas

apontam um grau de semelhanccedila de ateacute 94 entre dentro e fora da aacuterea da reserva legal pelo

que se pode inferir 2 suposiccedilotildees

1) A reserva legal existe somente em niacutevel documental e natildeo no local apontado

dentro do imoacutevel

ou

2) A reserva legal existe mas estaacute com a cobertura vegetal bem semelhante agrave de fora

da sua aacuterea de maneira que pode estar tatildeo degradada quanto ou tatildeo conservada

quanto

Partindo para a segunda suposiccedilatildeo os iacutendices de NDVI constatam sim que a

cobertura vegetal apresenta um grau elevado de semelhanccedila entre os dois espaccedilos e que em 4

dos 6 imoacuteveis ambos diminuiacuteram de 1993 a 2007 Desta forma natildeo haacute como afirmar que a

reserva legal no estado em que se encontra nas propriedades analisadas eacute um meio de

combater a degradaccedilatildeo ambiental Contudo nos casos em que real e verdadeiramente for

aplicada por certo traraacute ganhos ambientais mas isto deve ser alvo de mais e maiores estudos

acerca do assunto

Eacute curioso que mesmo Irauccediluba sendo um nuacutecleo de desertificaccedilatildeo e por isso alvo

de estudos pesquisas projetos e poliacuteticas puacuteblicas envolvendo degradaccedilatildeo recuperaccedilatildeo e

conservaccedilatildeo ambiental a situaccedilatildeo aparentemente natildeo progride em termos de melhorias Ao

contraacuterio disto constata-se cada vez mais a deterioraccedilatildeo do meio ambiente a ocupaccedilatildeo e a

utilizaccedilatildeo indevida dos recursos naturais

Encerrando a abordagem do assunto tratado assevera-se que a reserva legal jaacute eacute

um instituto consolidado em lei natildeo justificando quaisquer argumentos quanto ao seu

descumprimento Inclusive a natildeo observacircncia do bendito mandamento eacute considerada crime e

nesse sentido natildeo haacute uma atuaccedilatildeo maciccedila do Estado em termos de fiscalizaccedilatildeo pois se assim

existisse natildeo se estaria diante de uma constataccedilatildeo tatildeo seacuteria acerca do pequeno nuacutemero de

imoacuteveis que apresentaram a reserva legal mesmo que documentalmente Essa estatiacutestica

diminuiu ainda mais quando se analisou a diferenccedila na vegetaccedilatildeo sendo possiacutevel concluir que

o caraacuteter conservacionista da reserva legal e ela proacutepria natildeo estatildeo alcanccedilando o fim para que

foi criada

Por fim acredita-se que a reserva legal se cumprida eacute um instrumento

conservacionista capaz de auxiliar na recuperaccedilatildeo ambiental e arrefecer os processos de

111

degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo criticamente manifestos no municiacutepio de Irauccediluba Indo mais

aleacutem vecirc-se que pela oacutetica do referido instituto o desenvolvimento sustentaacutevel eacute possiacutevel

pois mesmo de encontro a interesses particulares ele consegue reunir e harmonizar o vieacutes

econocircmico o social e o ambiental

112

REFEREcircNCIAS

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Page 2: O EMPREGO DA RESERVA LEGAL NO MUNICÍPIO DE IRAUÇUBA/CE€¦ · Figura 1 Objetivos da reserva legal no Código Florestal de 1965 27 Figura 2 Objetivos da reserva legal na Lei 12.651/2012

ISABELLE MARINHO QUINDEREacute SARAIVA

O EMPREGO DA RESERVA LEGAL NO MUNICIacutePIO DE

IRAUCcedilUBACE

Dissertaccedilatildeo submetida agrave Coordenaccedilatildeo do

Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento

e Meio Ambiente da Universidade Federal do

Cearaacute como requisito parcial para obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de Mestre em Desenvolvimento e Meio

Ambiente

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Organizaccedilatildeo do Espaccedilo

e Desenvolvimento Sustentaacutevel

Orientador Prof Dr Joseacute Gerardo Beserra de

Oliveira

FORTALEZA

2013

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo

Universidade Federal do Cearaacute

Biblioteca de Ciecircncias e Tecnologia

S246e Saraiva Isabelle Marinho Quindere

O Emprego da reserva legal no municiacutepio de Irauccediluba Ce Isabelle Marinho Quindere Saraiva ndash

2013

122f il color enc 30 cm

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Universidade Federal do Cearaacute Programa Regional de Poacutes Graduaccedilatildeo

em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA Mestrado em Desenvolvimento e Meio

Ambiente Fortaleza 2013

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Organizaccedilatildeo do Espaccedilo e Desenvolvimento Sustentaacutevel

Orientaccedilatildeo Prof Dr Joseacute Gerado Beserra de Oliveira

1 Degradaccedilatildeo 2 Coacutedigo florestal 3 Reserva legal 4 Irauccediluba-Ce I Tiacutetulo

CDD 6367

ISABELLE MARINHO QUINDEREacute SARAIVA

O EMPREGO DA RESERVA LEGAL NO MUNICIacutePIO DE

IRAUCcedilUBACE

Dissertaccedilatildeo submetida agrave Coordenaccedilatildeo do

Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento

e Meio Ambiente da Universidade Federal do

Cearaacute como requisito parcial para obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de Mestre em Desenvolvimento e Meio

Ambiente

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Organizaccedilatildeo do Espaccedilo

e Desenvolvimento Sustentaacutevel

Orientador Prof Dr Joseacute Gerardo Beserra de

Oliveira

Aprovada em ___ ___ _____

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________

Prof Dr Joseacute Gerardo Beserra de Oliveira (Orientador)

Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC

________________________________________________

Profordf Drordf Marta Celina Linhares Sales

Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC

________________________________________________

Profordf Drordf Jacqeline Pires Gonccedilalves Lustosa

Universidade Federal de Campina Grande ndash UFCG

Dedico a Deus minha forccedila Autor da minha

vida meu tudo e ao meu marido Pedro

eterno companheiro e ajudador

AGRADECIMENTOS

A Deus que eacute Quem me permitiu ser aprovada estar e concluir esse curso tatildeo importante Ele

que em mim gerou todas as forccedilas necessaacuterias para continuar e natildeo desistir dando-me a

condiccedilatildeo de chegar ateacute o fim com louvor

Ao Professor Dr Joseacute Gerardo Beserra de Oliveira pela orientaccedilatildeo pela paciecircncia pelo

carinho e apoio desprendidos para a realizaccedilatildeo deste trabalho Por seus conhecimentos na

aacuterea pois sem eles natildeo poderia ter me levado a enriquecer tanto este trabalho

Agrave CAPES que me ajudou financeiramente

Agrave minha famiacutelia em especial minha matildee que sempre procurou saber como estava a minha

pesquisa dando-me aquele apoio nato de matildee

A Pedro Saraiva meu amor grande amor que sempre me apoiou e acreditou no meu talento

na minha competecircncia e vitoacuteria

Aos servidores do INCRA muito soliacutecitos e atenciosos com a minha pesquisa dentre eles sr

Raimundo Martins da Divisatildeo de Ordenamento da Estrutura Fundiaacuteria Joseacute Jaime D‟Alencar

Juacutenior do Serviccedilo de Cartografia Odilo Neto Luna Coelho e Joseacute Salmito de Almeida Juacutenior

ambos da Divisatildeo de Obtenccedilatildeo de Terras ndash setor de Serviccedilo ao Meio Ambiente

Agrave Dra Claacuteudia Regina Nogueira titular do Cartoacuterio de Registro de Imoacuteveis de Irauccediluba por

sua disponibilidade e por permitir o acesso aos livros cartoraacuterios onde encontrei dados tatildeo

importantes para o trabalho

Ao IDACE atraveacutes dos servidores Dr Paulo Henrique Lobo diretor teacutecnico de operaccedilotildees

Dr Ricardo Durval superintendente do oacutergatildeo Linardy Barreto de Holanda Priscila Azevedo

de Aguiar ambos do Nuacutecleo de Geoprocessamento (NUGEO) Nadir Loiola Dias e Florence

Mary Cavalcante Mouratildeo Lobo ambas da Diretoria Teacutecnica e de Operaccedilotildees (DTO) Todos

eles me ajudaram de forma a tornar possiacutevel parte desta pesquisa pelo que sou imensamente

grata

Perguntei-me inuacutemeras vezes se deveria prosseguir A resposta me era

dada quando olhava para traacutes e via meu passado cheio de grandes

vitoacuterias e conquistas pela matildeo de Deus e pelo meu esforccedilo Entatildeo

decidi que natildeo seria agora que natildeo chegaria ateacute o fim mesmo que o

que me impulsionou para esse desafio jaacute natildeo tem mais a mesma

intensidade Aqui estou eu fazendo desse momento mais uma

imensuraacutevel vitoacuteria por Aquele que um dia me deu essa oportunidade

A Ele toda honra e toda gloacuteria

A autora

RESUMO

A degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio de Irauccediluba eacute alvo de vaacuterias pesquisas pois eacute um

problema onde as causas estatildeo presentes natildeo soacute ali mas em grande parte do semiaacuterido

nordestino no entanto ao se tratar deste assunto logo vem agrave tona outra questatildeo mais seacuteria o

processo de desertificaccedilatildeo O presente trabalho faz uma raacutepida abordagem do semiaacuterido

dando especial evidecircncia agravequele municiacutepio englobando a origem da degradaccedilatildeo a atual

situaccedilatildeo local e possiacuteveis formas para minimizar ou ateacute mesmo estagnar aquele problema

ambiental O objetivo geral foi levantar o nuacutemero de propriedades rurais no municiacutepio

elegendo em sua maioria os projetos de assentamento rural e verificar se possuiacuteam ou natildeo

uma aacuterea especialmente protegida denominada reserva legal A escolha desse instituto como

indicador se deu por ser ele um instrumento criado por lei e que por sua vez impele todo e

qualquer proprietaacuterio ou possuidor rural a manter uma parcela miacutenima de 20 do seu imoacutevel

preservado como aacuterea de Reserva Legal Sua efetividade como instrumento de preservaccedilatildeo

foi analisada em 6 propriedades a partir de imagens do sateacutelite LANDSAT 5 com base nos

anos de 1993 e 2007 e atraveacutes da anaacutelise do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada

(NDVI) foi realizado um estudo comparativo para verificar se houve evoluccedilatildeo ou natildeo do

quadro vegetativo dentro e fora das aacutereas de reserva legal Na identificaccedilatildeo dos imoacuteveis

estudados soacute foram encontrados seis com reserva legal oficialmente implantada ateacute o ano de

2007 data mais recente da imagem de sateacutelite empregada A anaacutelise comparativa realizada

com esses imoacuteveis que tecircm algum tipo de registro no Cartoacuterio de Imoacuteveis eou no INCRA

dentre os 713 medidos e georreferenciados pelo IDACE e que por sua vez foi conduzida com

uso do NDVI natildeo indicou diferenccedila significativa entre os iacutendices encontrados para a

cobertura vegetal dentro e fora das aacutereas de Reserva Legal

Palavras-chave Degradaccedilatildeo Ambiental Coacutedigo Florestal Reserva Legal IrauccedilubaCE

ABSTRACT

The environmental degradation in the municipality of Irauccediluba is the target of several studies

because it is an issue where the causes are present in much of the northeastern semiarid

However when dealing with this subject soon comes to attention another issue which is more

serious and that arises from the ongoing degradation the process of desertification The

present paper analyzes briefly the cearense semiarid giving special emphasis to that

municipality so that the origin of the degradation the current local situation and even

possible ways to minimize or even stagnate that environmental problem were all the target of

this research The overall goal was to enumerate the number of farms among them those that

either have a specially protected area called legal reserve or those that does not The choice

of this statistic as an indicator was due to the fact that it is a legal instrument which in turns

compels all and any owner of land or rural possessor to maintain 20 of their property

preserved as a Legal Reserve area Its effectiveness as a tool for preservation was analyzed in

6 properties with the help of satellite images from LANDSAT 5 taken between the years

1993 and 2007 and by examining the Normalized Difference Vegetation Index (NDVI) a

comparative study was conducted to determine whether there was a growth or not of the

vegetative area inside and outside the legal reserves During the identification of the

properties to be studied only six were found to have a legal reserve officially implemented by

the year 2007 the most recent date of the satellite images used A comparative analysis with

those lands that have some kind of record in the Registry of Property andor INCRA among

the 713 measured and georeferenced by IDACE and that in turn used the NDVI as a

guideline indicated no significant difference on the index either inside or outside the Legal

Reserves areas

Key-Words Environmental degradation Forest code Legal reserve IrauccedilubaCE

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 27

Figura 2 Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 (Novo Coacutedigo

Florestal)

27

Figura 3 Sistema de degradaccedilatildeo do meio ambiente 47

Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro 53

Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute 54

Figura 6 Iacutendice de aridez (UNEP) 56

Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo no Cearaacute 57

Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo 57

Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no ISSD 59

Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no IESD 60

Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios 61

Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute 79

Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba 79

Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo 81

Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras permanentes 85

Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras temporaacuterias 85

Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem

vegetal (tonano)

86

Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem

vegetal (m3ano)

86

Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011) 87

Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001 88

Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010 88

Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011 89

Figura 23 Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos 90

Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba 91

Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba 92

Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba 94

Figura 27 Grupo de solos que formam as associaccedilotildees pedoloacutegicas em

Irauccediluba

95

Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba 96

Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba 97

Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual 97

Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba 98

Figura 32 Iacutendice de umidade em Irauccediluba 98

Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba 100

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Medidas Provisoacuterias 21

Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras 48

Tabela 3 Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez (UNEP) 52

Tabela 4 Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo 55

Tabela 5 Levantamento de imoacuteveis com reserva legal (cartoacuterio de

registro de imoacuteveis)

73

Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais 76

Tabela 7 Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba 77

Tabela 8 Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de

anaacutelise

80

Tabela 9 Dados da propriedade particular estudada 80

Tabela 10 Propriedades estudadas 81

Tabela 11 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem

animal

87

Tabela 12 Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores 90

Tabela 13 Relaccedilatildeo entre solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo 93

Tabela 14 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEmbrapa 93

Tabela 15 Anaacutelise geral das propriedades estudadas 101

Tabela 16 NDVI dos imoacuteveis estudados 107

Tabela 17 Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal entre dentro e fora da aacuterea

de reserva legal pelo meacutetodo Sorensen

108

SUMAacuteRIO

Lista de Figuras vii

Lista de Tabelas ix

Resumo v

Abstract vi

INTRODUCcedilAtildeO 12

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 14

11 O Instituto da Reserva Legal 14

111 Conceito 15

112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica 17

113 Importacircncia da Reserva Legal 30

1131 Juriacutedica 31

1132 Social 32

1133 Ambiental 33

1134 Econocircmica 35

114 Direito de Propriedade X Reserva Legal 36

1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa 41

1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal 42

2 PROCESSO DE DEGRADACcedilAtildeO 45

21 Conceito 45

22 Degradaccedilatildeo ambiental 48

221 Erosatildeo 49

222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica 49

223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica 50

23 A degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 51

231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia 52

24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental 62

25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira 65

251 Lei ambiental de Irauccediluba 69

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 71

31 Reserva Legal em Irauccediluba 71

311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental ndash Projeto de

Assentamento Agraacuterio em foco

73

32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo 78

321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba 78

3211 Das propriedades estudadas 79

3212 Aspectos histoacutericos de ocupaccedilatildeo 82

322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas 82

323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba 91

3231 Altimetria e Classes de relevo 91

3232 Solos 92

3233 Clima 95

3234 Vegetaccedilatildeo 99

3235 Recursos Hiacutedricos 100

324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo 101

33 Metodologia 104

331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite 104

4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES 107

41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 107

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 110

REFEREcircNCIAS 113

INTRODUCcedilAtildeO

A degradaccedilatildeo como um problema ambiental jaacute foi alvo de inuacutemeras pesquisas

principalmente quando se trata do semiaacuterido brasileiro Estudos nesse sentido datam da

deacutecada de 70 eacutepoca em que o professor Vasconcelos Sobrinho passou a pesquisar o processo

de desertificaccedilatildeo no nordeste do Brasil (SALES 2002) Nas investigaccedilotildees ele identificou um

nuacutecleo no Cearaacute que se localiza em Irauccediluba Em assim sendo buscou-se desenvolver um

trabalho naquele municiacutepio tomando por base um mecanismo criado por lei cujo caraacuteter eacute a

conservaccedilatildeo do meio ambiente Trata-se da reserva legal Como nessa aacuterea natildeo haacute pesquisa

envolvendo a aplicabilidade do tal instituto viu-se a oportunidade de estudaacute-la produzindo-se

o presente trabalho

A proposta principal da pesquisa eacute fazer um levantamento dos imoacuteveis existentes

no municiacutepio de Irauccediluba pontuando de forma preponderante os de propriedade federal e

estadual destinados aos assentamentos rurais e assim identificar nessas aacutereas a existecircncia ou

natildeo do instituto da reserva legal e sua devida implantaccedilatildeo Nesse sentido encontrou-se 6

propriedades que possuiacuteam a reserva legal sendo 5 puacuteblicas e 1 privada Empoacutes o segundo

intuito envolve a diferenciaccedilatildeo entre a cobertura vegetal da reserva e do restante da

propriedade a partir da utilizaccedilatildeo de imagens de sateacutelite e o uso do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por

Diferenccedila Normalizada (NDVI)

Para isso foi necessaacuterio fazer um apanhado de como esse instrumento de

conservaccedilatildeo foi e eacute abordado no Coacutedigo Florestal que eacute a lei onde haacute previsatildeo da reserva

legal bem como traccedilar um histoacuterico de como se deu sua evoluccedilatildeo dentro do quadro

legislativo no paiacutes foi igualmente essencial Da mesma maneira buscou-se contextualizar a

importacircncia da reserva legal nos aspectos econocircmico juriacutedico social e ambiental de forma

que ficou ilustrado o valor que esse mecanismo tem para a sociedade As discussotildees de cunho

juriacutedico e praacutetico sobre o assunto foram levantadas pois o proprietaacuterio do imoacutevel vecirc a reserva

legal como ocircnus e natildeo como um instrumento de conservaccedilatildeo que traraacute imensuraacuteveis

benefiacutecios ambientais dentro de sua proacutepria aacuterea Encerrando o primeiro capiacutetulo tecircm-se as

formas de cumprir o mandamento legal que envolvem a reserva muito embora isto tenha

sofrido algumas alteraccedilotildees como se veraacute a seguir

Quanto agrave reserva legal em Irauccediluba as constataccedilotildees natildeo satildeo animadoras

Infelizmente haacute um desencontro de informaccedilotildees a comeccedilar pelo controle do nuacutemero de

imoacuteveis existentes no municiacutepio Em seguida soacute foram encontrados trecircs imoacuteveis com a

obrigaccedilatildeo devidamente formalizada em cartoacuterio Isso diante de um universo de mais de 700

propriedades eacute frustrante e desencorajador Outra abordagem feita neste toacutepico aponta o

licenciamento ambiental como mais um instrumento possibilitador da instalaccedilatildeo da reserva

legal pois o oacutergatildeo ambiental tem dever de exigir o tal instituto para licenciar atividades e

empreendimentos localizados em zona rural

Igualmente desalentadora eacute a degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio Por se tratar de

uma aacuterea com caracteriacutesticas naturalmente adversas e limitantes sua ingerecircncia deveria ser

profundamente fiscalizada e regulamentada pelas autoridades competentes em todos os niacuteveis

de governo Mas isso natildeo ocorre pelo contraacuterio em Irauccediluba satildeo exercidas atividades com

meacutetodos bem rudimentares e sem qualquer preocupaccedilatildeo com a recuperaccedilatildeo dos danos e com a

capacidade de suporte do meio Assim acontece a degradaccedilatildeo das aacutereas com a praacutetica do

desmatamento das queimadas do sobrepastoreio e outros tipos de intervenccedilatildeo

ambientalmente prejudiciais Diante desse quadro o homem do campo tende a abandonar

estas e ocupar outras terras estimulando ainda mais o processo de desertificaccedilatildeo ali presente

Outro toacutepico em que se chama atenccedilatildeo no trabalho eacute a quantidade de leis

envolvendo o tema Natildeo faltam regulamentaccedilotildees muito pelo contraacuterio sobram O que se

percebe eacute a existecircncia de leis para vaacuterios assuntos em vez de uma que englobe a maioria

deles Com lei ou sem lei a situaccedilatildeo parece natildeo progredir positivamente em termos de

recuperaccedilatildeo ambiental embora haja uma estrutura poliacutetica econocircmica e juriacutedica dirigida para

tais fins Aleacutem disto existem poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o municiacutepio especificamente e

outras que natildeo mas podem ser implementadas ali Eacute o caso dos benefiacutecios dos inuacutemeros

programas de governo direcionados para a reforma agraacuteria por exemplo Outro caso satildeo os

fundos de combate agrave degradaccedilatildeo e agrave desertificaccedilatildeo Nesta orientaccedilatildeo percebe-se que natildeo

faltam leis poliacuteticas puacuteblicas ou recursos Felizmente existe todo um aparato no sentido de

melhorar as condiccedilotildees ambientais e minimizar danos mas infelizmente na praacutetica essa

estrutura natildeo voga como deveria

Todo esse cenaacuterio estaacute enquadrado na caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo

devidamente abordada no terceiro capiacutetulo Laacute satildeo mencionados os aspectos socioeconocircmicos

do municiacutepio perpassando pelos acontecimentos histoacutericos de sua ocupaccedilatildeo As

caracteriacutesticas fisiograacuteficas de Irauccediluba tambeacutem se fazem presentes de maneira que foram

abordados aspectos pedoloacutegicos climaacuteticos vegetativos e hiacutedricos Aleacutem disto a metodologia

utilizada permitiu as constataccedilotildees discorridas nos resultados e discussotildees inseridas no

capiacutetulo 4 de forma que os objetivos da pesquisa foram alcanccedilados

13

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

11 O Instituto da Reserva Legal

A reserva legal eacute um instituto cuja importacircncia perfaz o esteio do

desenvolvimento sustentaacutevel no sentido de que harmoniza a viabilidade econocircmica com a

justiccedila social e o equiliacutebrio ecoloacutegico Eacute um notaacutevel exemplo de que eacute possiacutevel coexistirem

interesses particulares e coletivos pois a reserva legal nada mais eacute que a conservaccedilatildeo

ambiental de uma determinada porcentagem da propriedade ou posse rural passiacutevel de

intervenccedilatildeo pelo homem do campo

O presente estudo indica a reserva legal como uma forma de conservaccedilatildeo do

meio em face da extraccedilatildeo vegetal promovida pelo proprietaacuterio agriacutecola Foca ainda os

aspectos social econocircmico e ambiental dessa imposiccedilatildeo que tem seu nascedouro na legislaccedilatildeo

vigente Corrobora Silva (2001 p 59) ao afirmar que ldquoa cobertura vegetal nativa sobretudo

as florestais exerce papel de fundamental importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de

ecossistemas naturais bem como de ecossistemas criados pelo homemrdquo No mesmo sentido

Miranda (2008 p 31) diz que ldquoa reserva legal contribui para a mitigaccedilatildeo do aquecimento

global salvaguarda a biodiversidade e garante agraves presentes e futuras geraccedilotildees o direito a um

meio ambiente ecologicamente equilibradordquo

Traz-se agrave tona os aspectos que fundamentam a reserva legal como um instituto

que fora criado por lei especiacutefica para a conservaccedilatildeo do meio pois erroneamente os

proprietaacuterios rurais a veem como limitaccedilatildeo ao direito de propriedade e entendem que destinar

uma porcentagem de seus imoacuteveis para uma aacuterea que natildeo corresponde agrave afericcedilatildeo de lucro eacute

tatildeo somente um ocircnus eou uma perda e natildeo um investimento Nesse sentido explicam

Galdino e Candido (2008 p 251) que ldquoa instituiccedilatildeo da reserva legal natildeo enfraquece ou destroacutei

o direito de propriedade Ao reveacutes possibilita a existecircncia de um meio ambiente

ecologicamente equilibrado condicionando a propriedade a uma funccedilatildeo socioambientalrdquo

Conforme Bacha (2005 p 24) ldquodeve-se pensar em novas formas de estiacutemulo

econocircmico ao produtor para que ele recomponha a reserva legal pois a legislaccedilatildeo atual

apenas lhe coloca custos em contrapartida de benefiacutecios a toda sociedaderdquo Cabe ainda

mencionar a possibilidade prevista no Coacutedigo Florestal ou seja na Lei 4771 (BRASIL

1965) quanto agrave intervenccedilatildeo na aacuterea destinada agrave reserva legal de forma sustentaacutevel sem

suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo

econocircmica dessas aacutereas

Existem estudos justificando biologicamente a existecircncia da reserva legal Eacute sobre

o que discorre Metzger (2002 p 48) quando afirma que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de

propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa satildeo

fundamentais para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada

regiatildeordquo Complementa ainda Silva (2001 p 59) quando afirma sobre ldquoa importacircncia da

cobertura vegetal em reserva legal que permite uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da

aacutegua no solo e no subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos aleacutem de

promover a manutenccedilatildeo da diversidade geneacuteticardquo

Ademais o exerciacutecio de atividades econocircmicas que tem por principal insumo os

recursos naturais modifica sensivelmente a cobertura vegetal e o solo contribuindo para um

processo de degradaccedilatildeo Para tanto o respeito agrave legislaccedilatildeo ambiental vigente como o Coacutedigo

Florestal por exemplo eacute de extrema relevacircncia uma vez que eacute norma conducente agrave

conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo das formas de vegetaccedilatildeo e suas respectivas ingerecircncias Tal lei

prevecirc a reserva legal como espaccedilo especialmente protegido

Balizando tal atividade econocircmica frente agrave observacircncia da reserva legal surge a

proposiccedilatildeo elencada por Bacha (2005 p 24) que ldquopara o produtor rural honrar tal instituto

tendo-o como lucrativo eacute necessaacuterio que sua composiccedilatildeo floriacutestica seja feita em parte com

espeacutecies comerciaisrdquo Eacute o que Miranda (2008 p 45) sob o aspecto socioeconocircmico bem

pontua quando evidencia que esta legislaccedilatildeo carece de aderecircncia social pois natildeo condiz com

a realidade e que enfatiza ainda

Para que haja aderecircncia social ela deveria prever uma reestruturaccedilatildeo completa no

modelo de desenvolvimento Sem isso tanto os pequenos como os grandes

proprietaacuterios natildeo possuiratildeo condiccedilotildees para cumprir a lei e uma vez na ilegalidade

cometem outros crimes ambientais E por entenderem que a lei natildeo eacute factiacutevel natildeo a

cumprem [] Aleacutem disso as linhas de creacutedito inclusive dos bancos oficiais natildeo

financiam atividades sustentaacuteveis mas a pecuaacuteria o plantio de soja entre outras por

acreditarem possuir nelas uma seguranccedila maior para o investimento (MIRANDA

2008 p 45)

111 Conceito

A reserva legal eacute um mecanismo criado para a conservaccedilatildeo dos recursos naturais

cuja origem eacute a lei Sua essecircncia sempre esteve presente em normas de caraacuteter protecionista

que dispunham sobre florestas e demais formas de vegetaccedilatildeo muito embora tenham ocorrido

inuacutemeras alteraccedilotildees ao longo do tempo Eacute o que se pode observar pela evoluccedilatildeo legislativa

que a seguir seraacute apontada

15

A expressatildeo reserva legal pode ser simploriamente entendida como uma aacuterea a ser

conservada por um detentor de imoacutevel rural e que por sua vez varia com a localidade do

bioma em que a aacuterea estaacute inserida A lei que versa sobre esse tema eacute conhecida como Coacutedigo

Florestal e com esse nome existiu em trecircs momentos diferentes da histoacuteria do legislativo

brasileiro O primeiro foi no ano de 1934 o segundo em 1965 e por uacuteltimo em 2012 estando

presente em todos eles uma seacuterie de modificaccedilotildees que levaram ao aperfeiccediloamento do

conteuacutedo e dos objetivos da reserva legal bem como flexibilizaccedilotildees e restriccedilotildees a depender

do momento econocircmico em que o paiacutes vivia eou dos interesses da maioria de parlamentares agrave

eacutepoca

Atualmente a Lei 12651 de 25052012 ou como eacute conhecida por Novo Coacutedigo

Florestal atraveacutes de seu artigo 3ordm inciso III prevecirc o conceito de reserva legal da seguinte

forma

III ndash Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural

delimitada nos termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de

modo sustentaacutevel dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a

reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade

bem como o abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012

p 3) (BRASIL 2012)

Jaacute a previsatildeo elencada nos Coacutedigos anteriores de 1934 e 1965 dispotildee

Coacutedigo Florestal de 1934 - Decreto 23793

Art 23 - Nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas poderaacute abater mais de trecircs

quartas partes da vegetaccedilatildeo existente []

sect 1ordm O dispositivo do artigo natildeo se applica a juizo das autoridades florestaes

competentes agraves pequenas propriedades isoladas que estejam proximas de florestas

ou situadas em zona urbana

sect 2ordm Antes de iniciar a derrubada com a antecedencia minima de 30 dias o

proprietario daraacute sciencia de sua intenccedilatildeo aacute autoridade competente afim de que esta

determine a parte das mattas que seraacute conservada (BRASIL 1935 p 5)

Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771

Art 1ordm sect 2ordm inciso III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma

propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao

uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos

ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora

nativas (BRASIL 1965 p 2)

Percebe-se que na lei de 1934 se quer haacute menccedilatildeo ao termo reserva legal mas se

vecirc claramente a intenccedilatildeo conservacionista do legislador e se ressalte que eacute uma visatildeo bem

mais proacute-ambiente uma vez que proiacutebe o desmatamento acima de frac34 da propriedade

protegendo assim 25 de sua aacuterea Embora o Coacutedigo Florestal de 1934 natildeo preveja

16

explicitamente a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo em determinada aacuterea com o nome de reserva legal o

artigo 23 do diploma citado acima estaacute notoriamente revestido de um caraacuteter conservacionista

e quem natildeo o cumprisse estaria enquadrado no paraacutegrafo 4ordm do artigo 86 do Capitulo V ndash

Infracccedilotildees florestaes

Art 86 As contravenccedilotildees previstas nos arts 9ordm sect 1ordm 21 22 e sect 1ordm 23 e paragrapho

unico 24 a 30 31 a 34 37 43 a 45 49 e paragrapho unico 51 54 e paragrapho

unico 55 e 64 deste codigo quando natildeo se caracterizarem especialmente algumas

figuras delictuosas definidas no art 83 ou no art 87 sujeitas seus autores aacutes penas

seguintes

[]

sect 4ordm pelas das letras g h do art 22 e arts 23 e 44 - detenccedilatildeo ateacute 60 dias e multa ateacute

10000$000 (BRASIL 1935 p 14)

Em contrapartida um pouco mais aperfeiccediloado embora um tanto quanto tarde o

instituto da reserva legal aparece bem definido somente em 2001 quando a Medida Provisoacuteria

nordm 2166-6 (BRASIL 2001) acrescentou ao texto da Lei 4771 (BRASIL 1965) o seu conceito

da forma como eacute mais conhecido ultimamente apesar de natildeo se limitar soacute a esta modificaccedilatildeo

Como tantas outras leis o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) sofreu diversas

alteraccedilotildees ao longo de sua vigecircncia que durou ateacute 25 de maio de 2012 data em que a Lei

12651 (BRASIL 2012) entra em vigor revoga a anterior e estabelece o novo Coacutedigo

Florestal

Como a temaacutetica deste trabalho eacute discorrer sobre a existecircncia da reserva legal a

partir de um levantamento nas propriedades rurais seratildeo tratadas tatildeo somente as

modificaccedilotildees que dizem respeito a este instituto

112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica

O protecionismo florestal como ligeiramente mencionado anteriormente foi

delineado em um preceito normativo datado da deacutecada de 30 quando surgiu o primeiro

diploma legal a prever a conservaccedilatildeo relativa agrave manutenccedilatildeo das matas Eacute atraveacutes do Decreto

ndeg 23793 de 23 de janeiro de 1934 (BRASIL 1935) que a vegetaccedilatildeo recebe amparo e passa a

ser resguardada da supressatildeo indiscriminada Surge entatildeo o primeiro Coacutedigo Florestal

Brasileiro que em seu artigo 23 descreve que nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas

poderaacute abater mais de trecircs quartas partes da vegetaccedilatildeo existente

17

Eacute interessante observar que a delimitaccedilatildeo imposta pela norma corresponde a vinte

e cinco por cento da propriedade ou seja um grande desafio para a sociedade da eacutepoca que

era tradicionalmente agriacutecola e despontava para a industrializaccedilatildeo

Para melhor apreciar as preocupaccedilotildees que justificaram a ediccedilatildeo do Coacutedigo Florestal

de 1934 haacute que se entender a realidade soacutecio-econocircmica e poliacutetica da sociedade

brasileira no iniacutecio do seacuteculo XX A populaccedilatildeo estava concentrada proacuteximo agrave

Capital da Repuacuteblica cidade do Rio de Janeiro Estado da Guanabara A cafeicultura

avanccedilava pelos morros que constituem a topografia do Vale do Paraiacuteba substituindo

toda a vegetaccedilatildeo nativa A criaccedilatildeo de gado outra forma de utilizaccedilatildeo das terras

fazia-se de modo extensivo e com miacutenima teacutecnica Na silvicultura que jaacute se iniciara

tiacutemida nos primeiros anos do seacuteculo XX verificava-se o trabalho valioso e pioneiro

de Edmundo Navarro de Andrade com a introduccedilatildeo de espeacutecies de Eucalyptus mas

restrito agraves atividades da Cia Paulista de Estradas de Ferro no Estado de Satildeo Paulo

No resto do Paiacutes assim como antes no Estado de Satildeo Paulo a atividade florestal era

fundamentada no mais puro extrativismo Nos Estados do Paranaacute e Santa Catarina

os estoques de Araucaria angustifolia eram rapidamente exauridos Foi nesse cenaacuterio

que o Poder Puacuteblico decidiu interceder estabelecendo limites ao que parecia ser um

saque ou pilhagem dos recursos florestais (muito embora ateacute entatildeo tais praacuteticas

fossem liacutecitas) A mencionada ldquointervenccedilatildeordquo necessaacuteria materializou-se por meio

da ediccedilatildeo de um (primeiro) Coacutedigo Florestal o de 1934 (AHRENS 2001 p 6)

Diferentemente do Decreto de 1934 (BRASIL 1935) ao ser publicada em 15 de

setembro a Lei 4771 (BRASIL 1965) ou seja o Coacutedigo Florestal de 1965 trouxe em seu

artigo 16 a ideia do que seria a reserva legal Criou-se entatildeo um limite miacutenimo a ser

respeitado dentro de cada propriedade muito embora soacute mencione uma porcentagem definida

para aacutereas localizadas no Leste Sul e Centro-Oeste do paiacutes deixando de fora as demais

regiotildees

Art 16 As florestas de domiacutenio privado natildeo sujeitas ao regime de utilizaccedilatildeo

limitada e ressalvadas as de preservaccedilatildeo permanente previstas nos artigos 2deg e 3deg

desta lei satildeo suscetiacuteveis de exploraccedilatildeo obedecidas as seguintes restriccedilotildees

a) nas regiotildees Leste Meridional Sul e Centro-Oeste esta na parte sul as derrubadas

de florestas nativas primitivas ou regeneradas soacute seratildeo permitidas desde que seja

em qualquer caso respeitado o limite miacutenimo de 20 da aacuterea de cada

propriedade com cobertura arboacuterea localizada a criteacuterio da autoridade competente

b) nas regiotildees citadas na letra anterior nas aacutereas jaacute desbravadas e previamente

delimitadas pela autoridade competente ficam proibidas as derrubadas de florestas

primitivas quando feitas para ocupaccedilatildeo do solo com cultura e pastagens

permitindo-se nesses casos apenas a extraccedilatildeo de aacutervores para produccedilatildeo de madeira

Nas aacutereas ainda incultas sujeitas a formas de desbravamento as derrubadas de

florestas primitivas nos trabalhos de instalaccedilatildeo de novas propriedades agriacutecolas soacute

seratildeo toleradas ateacute o maacuteximo de 30 da aacuterea da propriedade

c) na regiatildeo Sul as aacutereas atualmente revestidas de formaccedilotildees florestais em que

ocorre o pinheiro brasileiro Araucaria angustifolia (Bert - O Ktze) natildeo poderatildeo

ser desflorestadas de forma a provocar a eliminaccedilatildeo permanente das florestas

tolerando-se somente a exploraccedilatildeo racional destas observadas as prescriccedilotildees

ditadas pela teacutecnica com a garantia de permanecircncia dos maciccedilos em boas condiccedilotildees

de desenvolvimento e produccedilatildeo

18

d) nas regiotildees Nordeste e Leste Setentrional inclusive nos Estados do Maranhatildeo e

Piauiacute o corte de aacutervores e a exploraccedilatildeo de florestas soacute seraacute permitida com

observacircncia de normas teacutecnicas a serem estabelecidas por ato do Poder Puacuteblico na

forma do art 15 sect 1ordm Nas propriedades rurais compreendidas na aliacutenea a deste artigo com aacuterea entre

vinte (20) a cinquumlenta (50) hectares computar-se-atildeo para efeito de fixaccedilatildeo do limite

percentual aleacutem da cobertura florestal de qualquer natureza os maciccedilos de porte

arboacutereo sejam frutiacutecolas ornamentais ou industriais (BRASIL 1965 p 6-7)

Honestamente natildeo se sabe o motivo pelo qual o legislador neste momento inicial

da lei natildeo se deteve agraves minuacutecias quanto agraves regiotildees Nordeste Oeste e Sudeste como o fez para

as outras ou porque sequer definiu percentuais de vegetaccedilatildeo a ser preservadas nelas Aleacutem

disto simplesmente deixar a cargo de ato do Poder Puacuteblico a exploraccedilatildeo de florestas e o corte

de aacutervores no Nordeste eacute no miacutenimo curioso principalmente porque nessa regiatildeo encontra-se

o bioma Caatinga que eacute iacutempar e inexiste em qualquer outra parte do mundo Corrobora com

isto o Monitoramento do Desmatamento nos Biomas Brasileiros por Sateacutelite MMA e IBAMA

ao expor que mesmo sendo a uacutenica grande regiatildeo natural brasileira cujos limites estatildeo

inteiramente restritos ao territoacuterio nacional pouca atenccedilatildeo tem sido dada agrave conservaccedilatildeo da

heterogecircnea paisagem da Caatinga (BRASIL 2010)

Aleacutem disto as colocaccedilotildees do artigo 44 surpreendem quando especializam o tipo

de corte permitido e enquadram 50 da propriedade como reserva legal para o Norte do paiacutes

e o norte da regiatildeo Centro-Oeste como se pode observar

Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste enquanto natildeo for

estabelecido o decreto de que trata o artigo 15 a exploraccedilatildeo a corte razo soacute eacute

permissiacutevel desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea pelo menos 50 da aacuterea

de cada propriedade (BRASIL 1965 p 15)

Em 1989 surge a Lei 7803 (BRASIL 1989b) que acrescenta os paraacutegrafos 2ordm e

3ordm ao artigo 16 inaugurando a expressatildeo reserva legal e ratificando o percentual miacutenimo do

que deveria ser conservado a tiacutetulo de reserva legal Ao artigo 44 foi acrescentado o

paraacutegrafo uacutenico onde os 50 da propriedade anteriormente indicados para permanecer com a

cobertura vegetal agora passam a ser reconhecidos como reserva legal Em ambos os

dispositivos estaacute presente o procedimento formal a ser adotado com fins de resguardar a

aplicaccedilatildeo daquele instituto e seus efeitos isto eacute a averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio

Art 16 []

sect 2ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) de

cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso deveraacute ser averbada agrave margem

19

da inscriccedilatildeo de matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo

vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou

de desmembramento da aacuterea

sect 3ordm Aplica-se agraves aacutereas de cerrado a reserva legal de 20 (vinte por cento) para

todos os efeitos legais (BRASIL 1989b p 1)

Art 44 [] Paraacutegrafo uacutenico A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 50

(cinquumlenta por cento) de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso

deveraacute ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de

imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de

transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de desmembramento da aacuterea (BRASIL 1989b p

2)

Nota-se que os dispositivos trazem novidades como a vedaccedilatildeo a um tipo de corte

o meacutetodo garantidor para a implantaccedilatildeo da reserva legal e a proibiccedilatildeo de mudanccedila na aacuterea

destinada a receber o benefiacutecio Ademais o bioma cerrado eacute especialmente citado afirmando

assim a instituiccedilatildeo da reserva legal nele e seu respectivo percentual

Vale destacar ainda a entidade puacuteblica que recebeu por forccedila legal a

incumbecircncia de promover os atos formais e documentais para a implantaccedilatildeo da reserva legal

Trata-se do registro ou cartoacuterio de imoacuteveis que por sua vez reuacutene em seus livros oficiais

todas as informaccedilotildees sobre as propriedades imobiliaacuterias de sua circunscriccedilatildeo ou regiatildeo

geograacutefica Enfim o registro de imoacuteveis eacute o oacutergatildeo constitutivo da propriedade e o que guarda

este direito aleacutem de vigiar se a funccedilatildeo social e ambiental do imoacutevel estaacute sendo cumprida

Por conseguinte houve a ediccedilatildeo da Medida Provisoacuteria1 1511 em 25 de julho de

1996 (BRASIL 1996) com o objetivo de dar nova redaccedilatildeo ao artigo 44 do Coacutedigo Florestal

ou seja amplia o percentual da reserva legal de 50 para 80 em casos especiacuteficos e esmiuacuteccedila o

Norte do Brasil e o norte da regiatildeo Centro-Oeste

Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste a exploraccedilatildeo a

corte raso soacute eacute permitida desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea de no

miacutenimo cinquumlenta por cento de cada propriedade

sect 1ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo cinquumlenta por cento

de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso seraacute averbada agrave margem da

inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a

alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de

desmembramento da aacuterea

1 Medidas Provisoacuterias satildeo instrumentos juriacutedico-poliacuteticos traduzidos na forma de atos normativos com forccedila de

lei praticados pelo Chefe do Executivo Federal em situaccedilotildees de urgecircncia e relevacircncia e que devem ser

submetidas de imediato agrave deliberaccedilatildeo do Congresso Nacional (FILHO 2005) A Constituiccedilatildeo Federal em seu

Art 62 prevecirc que em caso de relevacircncia e urgecircncia o Presidente da Repuacuteblica poderaacute adotar medidas

provisoacuterias com forccedila de lei devendo submetecirc-las de imediato ao Congresso Nacional

20

sect 2ordm Nas propriedades onde a cobertura arboacuterea se constitui de fitofisionomias

florestais natildeo seraacute admitido o corte raso em pelo menos oitenta por cento dessas

tipologias florestais

sect 3ordm Para efeito do disposto no caput entende-se por regiatildeo Norte e parte Norte da

regiatildeo Centro-Oeste os Estados do Acre Paraacute Amazonas Roraima Rondocircnia

Amapaacute e Mato Grosso aleacutem das regiotildees situadas ao norte do paralelo 13degS nos

Estados de Tocantins e Goiaacutes e a oeste do meridiano de 44degW no Estado do

Maranhatildeo (BRASIL 1996 p 1)

Fazendo uma retrospectiva ldquoesse ato do Poder Executivo pretendeu conter o

desmatamento na Amazocircnia num momento em que era divulgado o aumento da taxa meacutedia

anual de desflorestamento no biecircnio 1993-1994rdquo (MIRANDA 2008 p 38) Entretanto essa

natildeo foi a uacutenica iniciativa do chefe do executivo para alterar os percentuais citados acima

Inclusive eacute perturbador o levantamento do nuacutemero de medidas provisoacuterias com o fim de

modificar o Coacutedigo Florestal em especial os criteacuterios e aspectos que envolvem a reserva

legal que ora satildeo mais flexibilizados ora mais restritivos Eacute o que se pode observar pela

leitura da Tabela 1 onde se verifica a existecircncia de 68 propostas de mudanccedila em um espaccedilo de

tempo pouco maior que 5 anos

Tabela 1 Medidas Provisoacuterias (MP)Ano

MEDIDAS PROVISOacuteRIAS (MP) Nordm DE MPPERIacuteODO PERIacuteODOS

Nordm 1511 a 1511-17 18 1ordm) 25071996 a 20111997

Nordm 1605-18 a 1605-30 13 2ordm) 11121997 a 19111998

Nordm 1736-31 a 1736-37 7 3ordm) 14121998 a 02061999

Nordm 1885-38 a 1885-43 6 4ordm) 29061999 a 02111999

Nordm 1956-44 a 1956-57 14 5ordm) 09121999 a 14122000

Nordm 2080-58 a 2080-64 7 6ordm) 27122000 a 13062001

Nordm 2166-65 a 2166-67 3 7ordm) 28062001 a 24082001

A uacuteltima Medida Provisoacuteria a promover consideraacuteveis alteraccedilotildees que dizem

respeito agrave reserva legal foi a de nordm 2166-67 de 24 de agosto de 2001 (BRASIL 2001) Ela

acrescentou o inciso III ao paraacutegrafo 2ordm do artigo 1ordm do Coacutedigo Florestal estabelecendo o

conceito de reserva legal ateacute entatildeo natildeo definido no texto da lei muito embora sua acepccedilatildeo jaacute

existisse

21

Art 1ordm []

sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por

[]

III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural

excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos

recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave

conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas

(BRASIL 2001 p 1)

Vale destacar que a reserva legal soacute deveraacute existir em propriedade ou posse rural

natildeo sendo obrigatoacuteria na aacuterea urbana aleacutem do que natildeo eacute soacute o proprietaacuterio ou seja aquele que

deteacutem o domiacutenio do imoacutevel eacute quem deve implantaacute-la mas o possuidor tambeacutem estaacute sujeito a

tal imposiccedilatildeo legal Isso acontece porque o instituto estaacute vinculado ao imoacutevel e natildeo ao dono

ou quem faz as suas vezes por isso eacute considerada uma obrigaccedilatildeo propter rem isto eacute proacutepria

da coisa

Aleacutem da inclusatildeo do conceito de reserva legal ao Coacutedigo Florestal (BRASIL

1965) ocorreu a fixaccedilatildeo de outros percentuais bem como a adiccedilatildeo de mais oito paraacutegrafos

que delinearam aspectos outrora natildeo mencionados Eacute o que se lecirc pela nova redaccedilatildeo do artigo

16

Art 16 As florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo nativa ressalvadas as situadas em

aacuterea de preservaccedilatildeo permanente assim como aquelas natildeo sujeitas ao regime de

utilizaccedilatildeo limitada ou objeto de legislaccedilatildeo especiacutefica satildeo suscetiacuteveis de supressatildeo

desde que sejam mantidas a tiacutetulo de reserva legal no miacutenimo

I - oitenta por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta localizada na

Amazocircnia Legal

II - trinta e cinco por cento na propriedade rural situada em aacuterea de cerrado

localizada na Amazocircnia Legal sendo no miacutenimo vinte por cento na propriedade e

quinze por cento na forma de compensaccedilatildeo em outra aacuterea desde que esteja

localizada na mesma microbacia e seja averbada nos termos do sect 7ordm deste artigo

III - vinte por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta ou outras

formas de vegetaccedilatildeo nativa localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e

IV - vinte por cento na propriedade rural em aacuterea de campos gerais localizada em

qualquer regiatildeo do Paiacutes

sect 1o O percentual de reserva legal na propriedade situada em aacuterea de floresta e

cerrado seraacute definido considerando separadamente os iacutendices contidos nos incisos I

e II deste artigo

sect 2ordm A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser

utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel de acordo com princiacutepios e

criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos estabelecidos no regulamento ressalvadas as

hipoacuteteses previstas no sect 3o deste artigo sem prejuiacutezo das demais legislaccedilotildees

especiacuteficas

sect 3ordm Para cumprimento da manutenccedilatildeo ou compensaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal em

pequena propriedade ou posse rural familiar podem ser computados os plantios de

aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais compostos por espeacutecies exoacuteticas

cultivadas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas

sect 4ordm A localizaccedilatildeo da reserva legal deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental estadual

competente ou mediante convecircnio pelo oacutergatildeo ambiental municipal ou outra

instituiccedilatildeo devidamente habilitada devendo ser considerados no processo de

aprovaccedilatildeo a funccedilatildeo social da propriedade e os seguintes criteacuterios e instrumentos

quando houver

22

I - o plano de bacia hidrograacutefica

II - o plano diretor municipal

III - o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico

IV - outras categorias de zoneamento ambiental e

V - a proximidade com outra Reserva Legal Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente

unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida

sect 5ordm O Poder Executivo se for indicado pelo Zoneamento Ecoloacutegico Econocircmico -

ZEE e pelo Zoneamento Agriacutecola ouvidos o CONAMA o Ministeacuterio do Meio

Ambiente e o Ministeacuterio da Agricultura e do Abastecimento poderaacute

I - reduzir para fins de recomposiccedilatildeo a reserva legal na Amazocircnia Legal para ateacute

cinquumlenta por cento da propriedade excluiacutedas em qualquer caso as Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente os ecoacutetonos os siacutetios e ecossistemas especialmente

protegidos os locais de expressiva biodiversidade e os corredores ecoloacutegicos e

II - ampliar as aacutereas de reserva legal em ateacute cinquumlenta por cento dos iacutendices

previstos neste Coacutedigo em todo o territoacuterio nacional

sect 6ordm Seraacute admitido pelo oacutergatildeo ambiental competente o cocircmputo das aacutereas relativas

agrave vegetaccedilatildeo nativa existente em aacuterea de preservaccedilatildeo permanente no caacutelculo do

percentual de reserva legal desde que natildeo implique em conversatildeo de novas aacutereas

para o uso alternativo do solo e quando a soma da vegetaccedilatildeo nativa em aacuterea de

preservaccedilatildeo permanente e reserva legal exceder a

I - oitenta por cento da propriedade rural localizada na Amazocircnia Legal

II - cinquumlenta por cento da propriedade rural localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e

III - vinte e cinco por cento da pequena propriedade definida pelas aliacuteneas b e c

do inciso I do sect 2ordm do art 1ordm

sect 7o O regime de uso da aacuterea de preservaccedilatildeo permanente natildeo se altera na hipoacutetese

prevista no sect 6o

sect 8ordm A aacuterea de reserva legal deve ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo de matriacutecula

do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua

destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou de

retificaccedilatildeo da aacuterea com as exceccedilotildees previstas neste Coacutedigo

sect 9ordm A averbaccedilatildeo da reserva legal da pequena propriedade ou posse rural familiar eacute

gratuita devendo o Poder Puacuteblico prestar apoio teacutecnico e juriacutedico quando

necessaacuterio

sect 10 Na posse a reserva legal eacute assegurada por Termo de Ajustamento de Conduta

firmado pelo possuidor com o oacutergatildeo ambiental estadual ou federal competente com

forccedila de tiacutetulo executivo e contendo no miacutenimo a localizaccedilatildeo da reserva legal as

suas caracteriacutesticas ecoloacutegicas baacutesicas e a proibiccedilatildeo de supressatildeo de sua vegetaccedilatildeo

aplicando-se no que couber as mesmas disposiccedilotildees previstas neste Coacutedigo para a

propriedade rural

sect 11 Poderaacute ser instituiacuteda reserva legal em regime de condomiacutenio entre mais de

uma propriedade respeitado o percentual legal em relaccedilatildeo a cada imoacutevel mediante a

aprovaccedilatildeo do oacutergatildeo ambiental estadual competente e as devidas averbaccedilotildees

referentes a todos os imoacuteveis envolvidos (BRASIL 2001 p 34)

Caso seja traccedilado um paralelo entre o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)

com as alteraccedilotildees aplicadas e agrave uacuteltima Medida Provisoacuteria percebe-se que o primeiro texto em

seu artigo 16 soacute mencionava as florestas particulares enquanto que em 2001 o reformulado

pela Medida Provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) generaliza a possibilidade de supressatildeo

vegetal para florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo incluindo-as no texto da lei Isto significa

que as florestas puacuteblicas embora sejam de domiacutenio coletivo tambeacutem devem respeitar a

reserva legal de acordo com o estabelecido

E ainda de 1989 ateacute 2001 o percentual para reserva legal era de 20 da

propriedade rural para todas as regiotildees com exceccedilatildeo dos imoacuteveis no norte do paiacutes e no norte

23

do centro-oeste onde deveriam ser protegidos 50 da cobertura arboacuterea Poreacutem com o

advento da Medida provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) aumentou-se essa porcentagem para

80 na Amazocircnia Legal2 para 35 no bioma cerrado localizado na Amazocircnia Legal e a

permanecircncia dos 20 para as demais regiotildees do Brasil

Enfim eacute possiacutevel concluir claramente que tal Medida Provisoacuteria ao modificar o

artigo 16 definiu o conceito de reserva legal foi mais especiacutefica quanto aos seus percentuais

alargou os tipos de florestas suscetiacuteveis ao desmatamento estabeleceu que a vegetaccedilatildeo da

reserva legal soacute poderia ser utilizada atraveacutes de um manejo florestal sustentaacutevel (sect2ordm)

determinou que sua localizaccedilatildeo deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental competente

obedecendo os 5 criteacuterios ambientais estabelecidos (sect4ordm) permitiu a sobreposiccedilatildeo de aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente agrave de reserva legal em alguns casos (sect6ordm) reafirmou o procedimento

documental garantidor do instituto (sect8ordm) criou a possibilidade de constituir a reserva legal

em condomiacutenio (sect11ordm) dentre outros

Encerrando as mudanccedilas trazidas pela Medida Provisoacuteria 2166-672001

(BRASIL 2001) tem-se o artigo 44 que foi completamente reformulado em conteuacutedo em

nuacutemero de incisos e paraacutegrafos O teor deste dispositivo agora versa sobre a recomposiccedilatildeo a

regeneraccedilatildeo e a compensaccedilatildeo da reserva legal Tais accedilotildees devem estar em consonacircncia com o

disposto no artigo 16

Art 44 O proprietaacuterio ou possuidor de imoacutevel rural com aacuterea de floresta nativa

natural primitiva ou regenerada ou outra forma de vegetaccedilatildeo nativa em extensatildeo

inferior ao estabelecido nos incisos I II III e IV do art 16 ressalvado o disposto

nos seus sectsect 5o e 6o deve adotar as seguintes alternativas isoladas ou

conjuntamente

I - recompor a reserva legal de sua propriedade mediante o plantio a cada trecircs anos

de no miacutenimo 110 da aacuterea total necessaacuteria agrave sua complementaccedilatildeo com espeacutecies

nativas de acordo com criteacuterios estabelecidos pelo oacutergatildeo ambiental estadual

competente

II - conduzir a regeneraccedilatildeo natural da reserva legal e

III - compensar a reserva legal por outra aacuterea equivalente em importacircncia ecoloacutegica

e extensatildeo desde que pertenccedila ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma

microbacia conforme criteacuterios estabelecidos em regulamento

sect 1o Na recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I o oacutergatildeo ambiental estadual

competente deve apoiar tecnicamente a pequena propriedade ou posse rural familiar

sect 2o A recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I pode ser realizada mediante o plantio

temporaacuterio de espeacutecies exoacuteticas como pioneiras visando a restauraccedilatildeo do

ecossistema original de acordo com criteacuterios teacutecnicos gerais estabelecidos pelo

CONAMA

2 Amazocircnia Legal - eacute uma aacuterea que engloba a totalidade de oito estados o Acre o Amapaacute o Amazonas o Mato

Grosso o Paraacute Rondocircnia Roraima e Tocantins e parte do Estado do Maranhatildeo (a oeste do meridiano de 44ordmW)

O conceito da Amazocircnia Legal foi criado pela lei 1806 de 06 de janeiro de 1953 (BRASIL 2011) Disponiacutevel

em lthttpwwwipeagovbrdesafiosindexphpoption=com_contentampid=2154catid=28ampItemid=23gt

24

sect 3o A regeneraccedilatildeo de que trata o inciso II seraacute autorizada pelo oacutergatildeo ambiental

estadual competente quando sua viabilidade for comprovada por laudo teacutecnico

podendo ser exigido o isolamento da aacuterea

sect 4o Na impossibilidade de compensaccedilatildeo da reserva legal dentro da mesma micro-

bacia hidrograacutefica deve o oacutergatildeo ambiental estadual competente aplicar o criteacuterio de

maior proximidade possiacutevel entre a propriedade desprovida de reserva legal e a aacuterea

escolhida para compensaccedilatildeo desde que na mesma bacia hidrograacutefica e no mesmo

Estado atendido quando houver o respectivo Plano de Bacia Hidrograacutefica e

respeitadas as demais condicionantes estabelecidas no inciso III

sect 5o A compensaccedilatildeo de que trata o inciso III deste artigo deveraacute ser submetida agrave

aprovaccedilatildeo pelo oacutergatildeo ambiental estadual competente e pode ser implementada

mediante o arrendamento de aacuterea sob regime de servidatildeo florestal ou reserva legal

ou aquisiccedilatildeo de cotas de que trata o art 44-B

sect 6o O proprietaacuterio rural poderaacute ser desonerado pelo periacuteodo de trinta anos das

obrigaccedilotildees previstas neste artigo mediante a doaccedilatildeo ao oacutergatildeo ambiental

competente de aacuterea localizada no interior de Parque Nacional ou Estadual Floresta

Nacional Reserva Extrativista Reserva Bioloacutegica ou Estaccedilatildeo Ecoloacutegica pendente de

regularizaccedilatildeo fundiaacuteria respeitados os criteacuterios previstos no inciso III deste

artigo (NR) (BRASIL 2001 p 45)

Quanto agrave sanccedilatildeo curiosamente neste Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965) natildeo haacute

nenhuma previsatildeo com relaccedilatildeo ao descumprimento da reserva legal diferentemente do

diploma de 1934 (BRASIL 1935) como se pocircde ler anteriormente Nesse sentido existir

uma lei sem a ela estar vinculada uma sanccedilatildeo quando descumprida eacute o mesmo que um fogo

que natildeo queima uma luz que natildeo alumia (MONTEIRO 1992)

Assim finaliza-se a anaacutelise do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) e se

inicia a apreciaccedilatildeo do Novo Coacutedigo Florestal isto eacute a Lei 12651 de 25 de maio de 2012

(BRASIL 2012) que jaacute possui algumas modificaccedilotildees mesmo sendo uma norma bastante

recente Trata-se de uma lei que em seu artigo 1ordm de pronto menciona o instituto da reserva

legal elevando-a a um patamar antes natildeo reconhecido quanto agrave especialidade que lhe eacute

inerente

Art 1ordm-A Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente e as aacutereas de Reserva Legal a exploraccedilatildeo florestal o

suprimento de mateacuteria-prima florestal o controle da origem dos produtos florestais e

o controle e prevenccedilatildeo dos incecircndios florestais e prevecirc instrumentos econocircmicos e

financeiros para o alcance de seus objetivos (BRASIL 2012 p 1)

Quanto a sua definiccedilatildeo embora citada anteriormente vecirc-se a necessidade de se

enfatizar as diferenccedilas entre o novo dispositivo e o anterior ora revogado ateacute porque o

recente eacute bem mais minucioso e atual em se tratando de tendecircncias e realidades do presente

Art 3ordm []

25

III - Aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural delimitada nos

termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de modo sustentaacutevel

dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a reabilitaccedilatildeo dos

processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade bem como o

abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012 p 3)

Art 1ordm []

sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por

[]

III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural

excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos

recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave

conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas

(BRASIL 1965 p 1)

Pela leitura observa-se que a aacuterea de reserva legal desde o iniacutecio estaacute restrita ao

imoacutevel rural excluindo assim o urbano Seu objetivo tambeacutem sempre foi o mesmo

sustentabilidade Isto eacute visto quando se examina o texto do Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965)

ao citar as expressotildees conservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo biodiversidade e proteccedilatildeo colocando nesse

iacutenterim recursos naturais processos ecoloacutegicos fauna e flora nativas O foco da reserva legal

eacute claro quanto agrave conservaccedilatildeo de uma forma sistecircmica pois inclui aspectos de solo vegetaccedilatildeo

vida animal e seus respectivos ciclos Eacute o que coloca SOUZA (2002 p 2829 apud Miranda

2008 p 53)

[] justifica a existecircncia de um mecanismo juriacutedico que garanta ao homem a

manutenccedilatildeo da biodiversidade para o seu proacuteprio bem Deste ponto de vista no

Brasil a Reserva Legal ainda eacute o mecanismo existente se natildeo o uacutenico que garante

essa manutenccedilatildeo tamanha a dependecircncia dos seres humanos de energia advinda de

plantas e animais

Jaacute a lei de 2012 (BRASIL 2012) inova ao incluir e modificar algumas acepccedilotildees

O uso econocircmico eacute uma delas Antes era mencionado somente um uso sustentaacutevel dos

recursos naturais mas agora eacute um uso com base na teoria de produccedilatildeo e consumo sob o vieacutes

da sustentabilidade Aleacutem disto a nova redaccedilatildeo faz uma pequena diferenciaccedilatildeo quanto ao

auxiacutelio que a reserva legal daacute agrave conservaccedilatildeo e agrave reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos

enquanto que a anterior ditava que o tal instituto era necessaacuterio para alcanccedilar os citados

objetivos Inclui tambeacutem a promoccedilatildeo que a reserva legal faz agrave biodiversidade e por fim a

uacuteltima norma agrega a proteccedilatildeo agrave fauna silvestre3 o que outrora era soacute agrave nativa

3 ldquoEacute preciso que a fauna tenha a sua vida ou parte dela ocorrendo naturalmente dentro dos limites do territoacuterio

brasileiro e suas aacuteguas jurisdicionaisrdquo (AMADO 2012 p329) silvestre ndash satildeo animais pertencentes agraves espeacutecies

nativas migratoacuterias e quaisquer outras aquaacuteticas ou terrestres

26

Percebe-se que com o passar dos anos as leis que versam sobre florestas estatildeo

cada vez mais aperfeiccediloadas com particularidades e especificidades como se pode concluir

pela leitura da evoluccedilatildeo histoacuterica dessas normas e suas modificaccedilotildees Visualiza-se melhor

tambeacutem ao se comparar os objetivos da reserva legal nas figuras 1 e 2

Figura 1 - Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771 (BRASIL 1965)

Figura 2 - Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 - Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)

RESERVA

LEGAL

ASSEGURA AUXILIA PROMOVE

27

E em se tratando das penalidades quem natildeo respeitar a reserva legal estaraacute

enquadrado no Decreto Federal 6514 de 22 de julho de 2008 (BRASIL 2008) que dispotildee

sobre as infraccedilotildees e sanccedilotildees administrativas ao meio ambiente e prevecirc aplicaccedilatildeo de multas

como descrito nos artigos abaixo

Art 48 Impedir ou dificultar a regeneraccedilatildeo natural de florestas ou demais formas

de vegetaccedilatildeo nativa em unidades de conservaccedilatildeo ou outras aacutereas especialmente

protegidas quando couber aacuterea de preservaccedilatildeo permanente reserva legal ou

demais locais cuja regeneraccedilatildeo tenha sido indicada pela autoridade ambiental

competente

Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo

[]

Art 51 Destruir desmatar danificar ou explorar floresta ou qualquer tipo de

vegetaccedilatildeo nativa ou de espeacutecies nativas plantadas em aacuterea de reserva legal ou

servidatildeo florestal de domiacutenio puacuteblico ou privado sem autorizaccedilatildeo preacutevia do oacutergatildeo

ambiental competente ou em desacordo com a concedida

Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo

[]

Art 55 Deixar de averbar a reserva legal Multa de R$ 50000 (quinhentos reais) a R$ 10000000 (cem mil reais) (BRASIL

2008 p 12)

Ao ler o dispositivo da lei eacute possiacutevel averiguar que tanto accedilotildees como omissotildees

possiacuteveis de cometimento quanto agrave reserva legal estatildeo previstas naquele Decreto (BRASIL

2008) o que daacute poder agraves autoridades constituiacutedas de exercerem seu papel fiscalizatoacuterio e

sancionatoacuterio em desfavor daquele que descumprir tal obrigaccedilatildeo

Nesse novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012) a reserva legal estaacute muito mais

discorrida e consequentemente resguardada A lei trouxe um capiacutetulo especiacutefico com duas

seccedilotildees organizadas dispondo sobre a delimitaccedilatildeo e o regime de proteccedilatildeo do instituto aleacutem de

outra seccedilatildeo que prevecirc a transformaccedilatildeo das reservas legais em aacutereas verdes nas expansotildees

urbanas

Para comeccedilar a analisar as novidades trazidas pelo Coacutedigo Florestal (BRASIL

2012) vale mencionar a mais importante quanto ao controle e fiscalizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da

reserva legal que se daraacute pelo Cadastro Ambiental Rural ndash CAR Eacute um registro puacuteblico

eletrocircnico de acircmbito nacional obrigatoacuterio para todos os imoacuteveis rurais com a finalidade de

integrar as informaccedilotildees ambientais das propriedades e posses rurais compondo base de dados

para controle monitoramento planejamento ambiental e econocircmico e combate ao

desmatamento conforme artigo 29 daquele diploma legal Para se cadastrar no CAR o

proprietaacuterio ou possuidor rural deveraacute identificar-se comprovar a propriedade ou posse e

identificar o imoacutevel atraveacutes de planta georreferenciada e memorial descritivo informando os

28

remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente dentre outras

segundo o inciso III do paraacutegrafo primeiro do mesmo dispositivo acima

Com a criaccedilatildeo desse sistema a supressatildeo de novas aacutereas de floresta ou outras

formas de vegetaccedilatildeo nativa soacute poderaacute ser autorizada apoacutes a inserccedilatildeo do imoacutevel onde ocorreraacute

o desmatamento no Cadastro Ambiental Rural A exceccedilatildeo a essa regra eacute o imoacutevel que jaacute

possua a reserva legal averbada na sua matriacutecula com a respectiva identificaccedilatildeo e localizaccedilatildeo

Isso dispensa a inclusatildeo no CAR Eacute o que rezam o paraacutegrafo terceiro do artigo 12 e o artigo

30 do Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)

A nova lei prevecirc que a inscriccedilatildeo no CAR eacute obrigatoacuteria para todas as propriedades

e posses rurais e deve ser requerida no prazo de um ano a partir da sua implantaccedilatildeo (sect3ordm do

artigo 29) No caso do Cearaacute o Cadastro Ambiental Rural ainda natildeo foi estabelecido embora

a lei jaacute tenha completado um ano Aleacutem disto agravequele que protocolar toda documentaccedilatildeo para

anaacutelise da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal no oacutergatildeo ambiental competente natildeo poderaacute ser

imputada sanccedilatildeo administrativa nem restriccedilatildeo a direitos por qualquer oacutergatildeo ambiental

competente (sect2ordm do artigo 14) desde que a sanccedilatildeo diga respeito a natildeo formalizaccedilatildeo da aacuterea de

reserva legal

Outra novidade eacute a dispensa de reserva legal em alguns casos como nos

empreendimentos de abastecimento puacuteblico de aacutegua e tratamento de esgoto nas aacutereas

adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessatildeo permissatildeo ou autorizaccedilatildeo para

exploraccedilatildeo de potencial de energia hidraacuteulica nas quais funcionem empreendimentos de

geraccedilatildeo de energia eleacutetrica subestaccedilotildees ou seja instaladas linhas de transmissatildeo e de

distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica e nas aacutereas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de

implantaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo de capacidade de rodovias e ferrovias (sect6 ordm sect7 ordm e sect8ordm do artigo 12)

Ao passo que na Lei 477165 (BRASIL 1965) o uacutenico caso dispensaacutevel de cumprir a reserva

legal era a doaccedilatildeo pelo proprietaacuterio rural de aacuterea localizada no interior de unidade de

conservaccedilatildeo de domiacutenio puacuteblico pendente de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria ao oacutergatildeo ambiental

competente (sect6ordm do art 44)

Quanto aos percentuais de reserva legal sobre a propriedade ou posse rural nada

mudou ou seja permaneceram os mesmos embora organizados de forma diferente conforme

se segue

Art 12 Todo imoacutevel rural deve manter aacuterea com cobertura de vegetaccedilatildeo nativa a

tiacutetulo de Reserva Legal sem prejuiacutezo da aplicaccedilatildeo das normas sobre as Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente observados os seguintes percentuais miacutenimos em relaccedilatildeo agrave

aacuterea do imoacutevel excetuados os casos previstos no art 68 desta Lei

I - localizado na Amazocircnia Legal

29

a) 80 (oitenta por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de florestas

b) 35 (trinta e cinco por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de cerrado

c) 20 (vinte por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de campos gerais

II - localizado nas demais regiotildees do Paiacutes 20 (vinte por cento) (BRASIL 2012 p

15)

Acerca da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal alguns criteacuterios a serem

observados permaneceram inalterados tais como o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento

ecoloacutegico-econocircmico4 e a proximidade com outra reserva legal aacuterea de preservaccedilatildeo

permanente unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida Por outro lado

foram acrescentados dois aspectos a serem considerados tambeacutem satildeo eles as aacutereas de maior

importacircncia para a conservaccedilatildeo da biodiversidade e as aacutereas de maior fragilidade ambiental

(Incisos IV e V do artigo 14)

Por fim haacute que se falar que a nova lei permitiu a sobreposiccedilatildeo das aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente agrave aacuterea de reserva legal ou seja ao se calcular o percentual desta

poderatildeo ser computadas as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente existentes no imoacutevel rural desde

que atenda alguns requisitos Eacute o que prescreve o artigo 15

Art 15 Seraacute admitido o cocircmputo das Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente no caacutelculo

do percentual da Reserva Legal do imoacutevel desde que

I - o benefiacutecio previsto neste artigo natildeo implique a conversatildeo de novas aacutereas para o

uso alternativo do solo

II - a aacuterea a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperaccedilatildeo

conforme comprovaccedilatildeo do proprietaacuterio ao oacutergatildeo estadual integrante do Sisnama e

III - o proprietaacuterio ou possuidor tenha requerido inclusatildeo do imoacutevel no Cadastro

Ambiental Rural - CAR nos termos desta Lei BRASIL 2012 p 1617)

Basicamente essas foram as inovaccedilotildees mais pertinentes agrave reserva legal trazidas

pelo Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)

113 Importacircncia da reserva legal

Vaacuterios aspectos perfazem o instituto da reserva legal Satildeo fundamentos de

cunho teacutecnico e cientiacutefico que revelam sua importacircncia atraveacutes da abordagem juriacutedica social

ambiental e econocircmica A reserva legal natildeo foi simplesmente uma imposiccedilatildeo prevista em lei

4 Zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ndash eacute um zoneamento ambiental Esse instrumento estaacute previsto na Poliacutetica

Nacional do Meio Ambiente que foi instituiacuteda pela Lei 693881 Trata-se de uma modalidade de intervenccedilatildeo

estatal sobre o territoacuterio a fim de reparti-lo em zonas consoante o melhor interesse na preservaccedilatildeo ambiental e

no uso sustentaacutevel dos recursos naturais Conferir AMADO Frederico Direito Ambiental Esquematizado

2012 p111

30

mas uma mobilizaccedilatildeo da sociedade para resguardar os bens ambientais impedindo a

degradaccedilatildeo sem precedentes

ldquoA reserva legal busca a preservaccedilatildeo ambiental como um todo natildeo soacute do imoacutevel

que nesta se situardquo (AMADO 2009 p 105) Ainda salienta Moraes (2002 p 30) que ldquoa

reserva legal natildeo possui funccedilatildeo vinculada ao imoacutevel especificamente sendo limitaccedilatildeo de

niacutevel macro ou seja mais preocupada com a melhoria regional da biodiversidade do que

propriamente com o ecossistema interno da propriedaderdquo E muito bem acrescenta Milareacute

(2009 p 166)

Aleacutem de preservar belezas cecircnicas e bucoacutelicos ambientes histoacutericos para as geraccedilotildees

futuras as aacutereas protegidas assumiram objetivos como a proteccedilatildeo de recursos

hiacutedricos manejo de recursos naturais desenvolvimento de pesquisas cientiacuteficas

manutenccedilatildeo do equiliacutebrio climaacutetico e ecoloacutegico preservaccedilatildeo de recursos geneacuteticos

e atualmente constituem o eixo de estruturaccedilatildeo da preservaccedilatildeo in situ da

biodiversidade como um todo

1131 Juriacutedica

A reserva legal foi criada pela forccedila do universo juriacutedico brasileiro que lhe

pressupotildee efetividade Como jaacute fora mencionado o instituto teve sua definiccedilatildeo atraveacutes da

Medida Provisoacuteria 2166-672001 (BRASIL 2001) que por sua vez alterou o Coacutedigo

Florestal (BRASIL 1965) vigente agrave eacutepoca Embora houvesse previsatildeo legal para aacutereas

especialmente protegidas estas ateacute entatildeo natildeo haviam sido nominadas como reserva legal

A lei ndeg 477165 (BRASIL 1965) segundo Trennepohl (2009) trazia uma maior

preocupaccedilatildeo com a erosatildeo de terras e o consequente prejuiacutezo para as atividades produtivas

Denotando predominante inclinaccedilatildeo para a sustentabilidade econocircmica da mateacuteria-prima

aquele diploma tratava a utilizaccedilatildeo dos recursos florestais de forma racional com finalidade

de garantir as atividades econocircmicas para as quais servem de insumo

Jaacute no entendimento de Schaffer e Medeiros (2009) a figura da reserva legal no

Coacutedigo Florestal revela-se como uma norma de importacircncia e observacircncia necessaacuterias

essencialmente estrateacutegicas para a garantia de um desenvolvimento equilibrado e sustentaacutevel

para a naccedilatildeo brasileira Tambeacutem observam os mesmos autores que a tatildeo discutida lei florestal

estabeleceu percentuais diferenciados de Reserva Legal em funccedilatildeo da localizaccedilatildeo do tipo de

vegetaccedilatildeo e das caracteriacutesticas ambientais das diferentes regiotildees do paiacutes

A eficaacutecia para o cumprimento do instituto se baseia na imposiccedilatildeo da lei quanto agrave

obrigaccedilatildeo dos proprietaacuterios ou posseiros rurais se dirigirem ao cartoacuterio de registro do seu

31

imoacutevel com a aacuterea da reserva jaacute delimitada e procederem agrave averbaccedilatildeo agrave margem da sua

matriacutecula No entanto essa obrigatoriedade foi substituiacuteda pelo Cadastro Ambiental Rural

que deveraacute ser feito no oacutergatildeo ambiental competente conforme visto anteriormente Esse

procedimento se daacute pelos paracircmetros devidamente previstos em normas teacutecnicas que dispotildeem

como o dono da aacuterea deve conduzir tal processo Essa averbaccedilatildeo eacute irretrataacutevel ou seja jamais

pode ser desfeita e eacute isso que daacute eficiecircncia ao instituto se cumprido Tal imposiccedilatildeo garante

que o proprietaacuterio natildeo desmembre seu imoacutevel na intenccedilatildeo de burlar a lei

Quanto ao procedimento de averbaccedilatildeo da reserva legal na matriacutecula do imoacutevel

ressalta Trennepohl (2009 p11-12)

A exigecircncia da averbaccedilatildeo da reserva legal vem desde 1965 vale dizer haacute mais de

quarenta anos existe esta obrigatoriedade E muitos proprietaacuterios rurais cumpriram agrave

risca esta exigecircncia averbando e mantendo preservado o percentual estipulado pela

lei

[]

A necessidade dessa averbaccedilatildeo dispensa maiores comentaacuterios e pode ser facilmente

entendida como a uacutenica garantia eficaz para que a transferecircncia ou a partilha natildeo

afastem essa obrigaccedilatildeo propter rem [proacutepria da coisa] que vincula a propriedade

natildeo o proprietaacuterio

Para alguns proprietaacuterios de terras rurais se houver o atendimento do instituto da

reserva legal caberia uma indenizaccedilatildeo pela perda daquela porcentagem em suas propriedades

mas como bem ilustra Magnanini (2010 p 5) ldquoa funccedilatildeo protetora da floresta natildeo eacute restriccedilatildeo

indenizaacutevel mas decorrecircncia da proacutepria natureza que preparou terras mais uacuteteis e outras

menosrdquo

1132 Social

Segundo o renomado filoacutesofo Mondin (2004 p 117) ldquoo homem eacute um ser

sociaacutevel portanto incapaz de sozinho alcanccedilar seus objetivos anseios e realizaccedilotildees

consequentemente viverrdquo A partir dessa constataccedilatildeo soacute resta ao ser humano subsistir numa

sociedade inserida no mundo natural

Como indiviacuteduo pratica accedilotildees que lhe afetam direta e indiretamente promovendo

reflexos no espaccedilo em que habita Por isso o aspecto social estaacute intimamente vinculado agrave

qualidade ambiental uma vez que o ser humano gera impactos positivos e negativos em seu

entorno Como natildeo se pode separar a atuaccedilatildeo dele do meio em que foi introduzido necessaacuterio

eacute fazer o balizamento de suas atitudes Uma das formas de limitar seu comportamento eacute a

confecccedilatildeo de normas como por exemplo a lei que nada mais eacute do que a expressatildeo de uma

32

demanda social por medidas coercitivas em virtude do desrespeito a um aspecto que a

sociedade defende ou repudia

Quanto agraves accedilotildees humanas e seus reflexos a teoria de ldquometapopulaccedilotildeesrdquo define

que a raccedila humana causa imenso impacto na Terra provocando a deterioraccedilatildeo dos sistemas

ecoloacutegicos e a extinccedilatildeo de muitas espeacutecies as quais tem seu ritmo acelerado agrave medida que a

populaccedilatildeo cresce e aumentando com isso o consumo de energia e de recursos naturais

SOUZA (2002 apud Miranda 2008)

O aspecto social que envolve a reserva legal confronta-se com praacuteticas seculares

do homem campestre como bem ilustra Magnanini (2010 p 3) engenheiro agrocircnomo e um

dos autores do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)

A agricultura itinerante continua se desenvolvendo segundo os meacutetodos primitivos

dos primeiros anos do descobrimento Chega o agricultor derruba e queima as

matas sem indagar se elas satildeo necessaacuterias agrave conservaccedilatildeo da feracidade do solo ou

do regime das aacuteguas Depois de alguns anos de exploraccedilatildeo renovando anualmente a

queimada como meio de extinguir a vegetaccedilatildeo invasora o terreno esgotado eacute

entregue ao abandono e o agricultor seguindo as pegadas do madeireiro que adiante

derrubou as aacutervores para extrair as toras inicia novo ciclo devastador idecircntico ao

precedente Como efeito disto a agricultura cada vez se interioriza mais e cada vez

se distancia mais dos centros consumidores requerendo transportes sempre mais

caros [] Inundaccedilotildees cada vez mais destruidoras pela remoccedilatildeo desordenada de

florestas colocam em sobressalto as populaccedilotildees de centenas de cidades ribeirinhas

Vale mencionar outra caracteriacutestica que expressa o valor que a reserva legal

quando estaacute sendo cumprida imprime na aacuterea rural ndash eacute a funccedilatildeo social da propriedade

considerada como princiacutepio basilar para o uso da mesma Designaccedilatildeo bastante enunciada

pelas normas que estabelecem aquele instituto permeia o direito de propriedade da terra que

natildeo eacute visto unilateralmente e sim em sua universalidade uma vez que o imoacutevel natildeo estaacute para

servir soacute a seu dono mas tem que atender sua funccedilatildeo social Nesse sentido Miranda (2008)

pontua que a reserva legal eacute uma forma de assegurar a funccedilatildeo social da propriedade fazendo

com que esta contribua com a preservaccedilatildeo do meio ambiente ecologicamente equilibrado para

atuais e futuras geraccedilotildees Eacute como tambeacutem entende Trennepohl (2009 p 11) ao afirmar que

A preservaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa num percentual das propriedades rurais diminui o

lucro do proprietaacuterio mas de forma muito menos significativa que o ganho para a

coletividade com a qualidade ambiental decorrente pelo que entendemos

inquestionaacutevel que o interesse coletivo se sobrepotildee ao individual

1133 Ambiental

Considerado como um dos principais fatores que embasam a instituiccedilatildeo da reserva

legal na propriedade ou posse rural o aspecto ambiental se funda na biologia que perpassa

33

essencialmente esse vieacutes sem admitir qualquer desassociaccedilatildeo entre as unidades ambientais

como aacutegua solo vegetaccedilatildeo e ar Pode-se afirmar que o alicerce do estudo do meio eacute a ciecircncia

bioloacutegica que por sua vez analisa as reaccedilotildees as funccedilotildees fiacutesico-quiacutemicas a qualidade do

ambiente testando seus limites ou melhor sua capacidade de suporte Do mesmo modo

Miranda (2008 p 51) discorre sobre a importacircncia ecoloacutegica do instituto da reserva legal

quando afirma que ldquosua funccedilatildeo preciacutepua eacute assegurar mostras significativas de ecossistemas

conservando a biodiversidade e servindo de abrigo e proteccedilatildeo agrave fauna e agrave florardquo

Sobre isso Metzger (2002 p 48) tambeacutem atesta que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de

propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa eacute

fundamental para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada

regiatildeordquo Complementa Silva (2001 p 59) quando afirma

A cobertura vegetal nativa sobretudo as florestais exerce papel de fundamental

importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de ecossistemas naturais bem como de

ecossistemas criados pelo homem como eacute o caso dos ecossistemas agriacutecolas Aleacutem

de permitirem uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da aacutegua no solo e no

subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos regular a vazatildeo

dos rios reduzindo as intensidades dos extremos de estiagens e enchentes manterem

a diversidade geneacutetica

Logo todos os benefiacutecios apontados pelos autores acima podem ser verificados

em uma menor escala quando haacute a observacircncia da reserva legal dentro de cada propriedade

rural em determinada regiatildeo garantindo sua viabilidade ambiental posto que assume um

papel niacutetido de conservaccedilatildeo Para exemplificar a assertiva retro menciona-se o microclima

favoraacutevel mantido quando haacute vegetaccedilatildeo na aacuterea em apreccedilo que por sua vez amortiza a

incidecircncia solar sobre aquela regiatildeo Por outro lado a cobertura vegetal tambeacutem eacute favoraacutevel agrave

manutenccedilatildeo dos solos uma vez que dificulta a accedilatildeo erosiva das chuvas

Infere-se portanto que a existecircncia da reserva legal na propriedade rural soacute traz

vantagens ao meio ambiente por mais que a tradiccedilatildeo campestre natildeo as compreenda Eacute o que

demonstram Schaffer e Medeiros (2009 p 2) ensinando que

A Reserva Legal (RL) por sua vez natildeo tem apenas a funccedilatildeo de prover o uso

sustentaacutevel dos recursos naturais na propriedade ou posse rural Tem tambeacutem a

funccedilatildeo de conservar e reabilitar os processos ecoloacutegicos conservar a biodiversidade

e servir de abrigo e proteccedilatildeo da fauna e flora nativas Desta forma a norma geral de

caraacuteter nacional [Coacutedigo Florestal] concilia o necessaacuterio uso sustentaacutevel de recursos

naturais para a propriedade ou posse rural com as funccedilotildees ambientais e o

provimento de serviccedilos ambientais de retenccedilatildeo de aacutegua conservaccedilatildeo do solo

manutenccedilatildeo de grupos de polinizadores e fixaccedilatildeo de biomassa entre outros os quais

satildeo importantes e necessaacuterios ao cumprimento da funccedilatildeo socioambiental dos

imoacuteveis ou propriedades rurais

34

No mesmo sentido Mercadante (1999 p 240 apud MIRANDA 2008 p 5354)

numa interpretaccedilatildeo mais ampla sobre a importacircncia ecoloacutegica da reserva legal diz

A Reserva Legal natildeo tem por objetivo apenas a conservaccedilatildeo da natureza da flora e

da fauna pelo valor intriacutenseco dos recursos bioloacutegicos ou pela contribuiccedilatildeo dessas

aacutereas para a qualidade do ambiente em geral A Reserva Legal eacute fundamental para a

estabilidade ecoloacutegica e consequentemente a exploraccedilatildeo em bases sustentaacuteveis do

proacuteprio imoacutevel rural A Reserva Legal contribui para a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo

do solo o controle da erosatildeo o controle do assoreamento dos cursos d‟aacutegua a

conservaccedilatildeo dos corpos d‟aacutegua e dos mananciais serve de abrigo para os predadores

das pragas agriacutecolas fornece madeira e outros recursos florestais para uso na

propriedade dentre outros benefiacutecios

E por fim eacute cabiacutevel mencionar ainda que o Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL

2012) fixou criteacuterios bem mais especiacuteficos e pertinentes ao estabelecimento da reserva legal

como proceder ao cumprimento desse instituto observando se sua localizaccedilatildeo eacute condizente

com o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ou outras categorias

de zoneamento ambiental a proximidade com outras aacutereas legalmente protegidas dentre

outros

1134 Econocircmica

A reserva legal sob o aspecto econocircmico eacute muito controversa uma vez que eacute vista

pelo proprietaacuterio ou posseiro rural como um encargo Mesmo porque como exprime

Trennepohl (2009) ateacute a deacutecada de 80 quando se tinha diferentes normas com dispositivos

protecionistas mas com enfoque preponderantemente economicista os recursos naturais eram

tratados muito mais como insumos de produccedilatildeo ou bens de uso imediato da sociedade do que

como elementos integrantes de um intrincado e fraacutegil equiliacutebrio ambiental Isto condicionou

fatalmente a sociedade brasileira contemporacircnea a natildeo observar a deferecircncia aos bens

ambientais quiccedilaacute respeitar certa porcentagem de uma aacuterea que fora adquirida por um

particular com seus recursos proacuteprios e a tem como totalmente privada

Ainda eacute possiacutevel pelo Coacutedigo Florestal - Lei 126512012 (BRASIL 2012)

intervir na aacuterea destinada agrave reserva de forma sustentaacutevel sem suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo

uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo econocircmica dessas aacutereas Aleacutem do

que ldquoa recuperaccedilatildeo de aacutereas de RL pode ainda gerar produtos e subprodutos madeireiros jaacute

escassos em algumas regiotildees garantindo assim uma renda adicional ao produtor rural e

mateacuteria-prima para a induacutestriardquo conforme defendem Schaffer e Medeiros (2009 p 12)

Para Magnanini (2010) a situaccedilatildeo eacute graviacutessima quando sugere ficar a criteacuterio

do proprietaacuterio rural a iniciativa de proceder ou natildeo agrave reserva legal jaacute que a Administraccedilatildeo

35

Puacuteblica natildeo tem como combater eficientemente o descumprimento desse instituto Eacute o que

propotildee no momento em que coloca

O dilema eacute este ou impotildee-se a todos os donos de terras defenderem agrave sua custa a

produtividade do solo contra a erosatildeo terriacutevel e crescente ou cruzam-se os braccedilos

ante a incapacidade pela pobreza do Poder Puacuteblico na maioria dos Estados do

Brasil para deter a transformaccedilatildeo do Paiacutes num deserto em que as estaccedilotildees se

alternem entre inundaccedilotildees e secas devoradoras de todo o esforccedilo humano

(MAGNANINI 2010 p 5)

Ademais define-se outra vertente do aspecto econocircmico tatildeo bem colocada pela

acepccedilatildeo que tem Bacha (2005 p 9) ao afirmar que

A reserva legal eacute um mecanismo de poliacutetica de rendas pelo qual se procura

estabelecer um zoneamento do uso da terra dentro da propriedade rural A poliacutetica

de rendas constitui-se numa seacuterie de regulamentaccedilotildees que restringem a produccedilatildeo e a

comercializaccedilatildeo de produtos bem como o uso dos fatores de produccedilatildeo eou

determinam valores miacutenimos ou maacuteximos para o pagamento pelo uso desses fatores

ou por produtos elaborados numa economia

Eacute possiacutevel portanto depreender o entendimento do autor de modo que a reserva

legal vem restringir o uso indiscriminado dos recursos florestais gerando com isso a

manutenccedilatildeo do bem ambiental que seraacute resguardado por aquele instituto Isto influiraacute

diretamente na cadeia produtiva nas oscilaccedilotildees de demanda e procura do mercado de mateacuteria-

prima de origem vegetal Ou seja pode-se entender que a meacutedio eou longo prazo a reserva

legal seraacute um ponto de equiliacutebrio no fluxo da produccedilatildeo de bens e serviccedilos que careccedilam desse

recurso natural

114 Direito de Propriedade x Reserva Legal

A propriedade privada eacute uma espeacutecie baacutesica que se decompotildee em propriedade

rural ou urbana segundo se refira a moradias do campo ou moradias derivadas das

construccedilotildees ou edificaccedilotildees idocircneas para sua habitualidade ou aproveitamento diferente do

que eacute a exploraccedilatildeo agraacuteria de qualquer moradia rural (CRIADO 2010)

A propriedade no direito brasileiro foi constituiacuteda em forma e conteuacutedo a partir de

normas muito antigas e de outras naccedilotildees ou seja foi reproduzida com base no direito romano

ldquoDesde aqueles tempos o direito de propriedade era tido como absoluto isto eacute o proprietaacuterio

tinha o direito de usar ou natildeo usar gozar ou natildeo gozar e dispor ou natildeo dispor da propriedade

imobiliaacuteriardquo (MELO 2010 p22) Em contrapartida ldquoos direitos de propriedade

constitucional certamente satildeo direitos de liberdade seja a liberdade individual seja a

liberdade comunitaacuteria que satildeo complementares e indissociaacuteveis haja vista que uma natildeo

36

existe sem a outra como nos demonstram as experiecircncias totalitaacuterias do seacuteculo XXrdquo

(ANTUNES 2011 p37)

A garantia do direito de propriedade estaacute prevista constitucionalmente ou seja na

maior Lei do paiacutes uma vez que ela se sobrepotildee a todas as outras leis e normas juriacutedicas Eacute a

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil que foi promulgada em 05 de outubro de

1988 Conhecida como Carta Magna a Constituiccedilatildeo de 1988 (BRASIL 1988) em seu Tiacutetulo

II estabelece os direitos e as garantias fundamentais do e para o povo brasileiro Logo no

primeiro capiacutetulo deste tiacutetulo estatildeo dispostos os direitos e deveres individuais e coletivos que

o Estado brasileiro deve assegurar aos seus cidadatildeos Eacute no artigo 5ordm que estatildeo previstas tais

premissas inclusive o direito de propriedade (inciso XXII) e o respeito agrave sua funccedilatildeo social

(XXIII)

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade

do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos

seguintes

[]

XXII - eacute garantido o direito de propriedade

XXIII - a propriedade atenderaacute a sua funccedilatildeo social

Quanto agrave funccedilatildeo social da propriedade ldquosomente nos seacuteculos XIX e XX surgiu a

ideia em que o imoacutevel natildeo teria mais o caraacuteter absoluto e intangiacutevel de forma que o

proprietaacuterio por possuir recursos deveria cumprir a tal funccedilatildeordquo (MELO 2010 p23) Ainda

ldquodiscorrer sobre a funccedilatildeo social da propriedade significa abandonar a ideia absolutista e

inflexiacutevel desse instituto para admitir a revitalizaccedilatildeo e o condicionamento do exerciacutecio a

interesses maiores que os do proprietaacuterio individualrdquo (PETERS 2003 p 125 apud

MIRANDA 2008 p 56) Foi nesse sentido que as Constituiccedilotildees Federais brasileiras de 1934

(BRASIL 1934b) 1946 (BRASIL 1946) 1967 (BRASIL 1967c) e a de 1988 (BRASIL

1988) restringiram o direito de propriedade

Constituiccedilatildeo de 1934

Art 113 - A Constituiccedilatildeo assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade dos direitos concernentes agrave liberdade agrave subsistecircncia agrave seguranccedila

individual e agrave propriedade nos termos seguintes

[]

17) Eacute garantido o direito de propriedade que natildeo poderaacute ser exercido contra o

interesse social ou coletivo na forma que a lei determinar A desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica far-se-aacute nos termos da lei mediante preacutevia e justa

indenizaccedilatildeo [] (BRASIL 1934b p 33)

Constituiccedilatildeo de 1946

Art 141 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

Paiacutes a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade a seguranccedila

individual e agrave propriedade nos termos seguintes

37

[]

sect 16 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa

indenizaccedilatildeo em dinheiro (BRASIL 1946 p 31)

Constituiccedilatildeo de 1967

Art 150 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

Pais a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

[]

sect 22 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa

indenizaccedilatildeo em dinheiro ressalvado o disposto no art 157 sect 1ordm []

[]

Art 157 - A ordem econocircmica tem por fim realizar a justiccedila social com base nos

seguintes princiacutepios

[]

III - funccedilatildeo social da propriedade

[]

sect 1ordm - Para os fins previstos neste artigo a Uniatildeo poderaacute promover a desapropriaccedilatildeo

da propriedade territorial rural mediante pagamento de justa indenizaccedilatildeo fixada

segundo os criteacuterios que a lei estabelecer em tiacutetulos especiais da diacutevida puacuteblica []

(BRASIL 1967c p 4951)

Embora os textos se assemelhem eacute faacutecil observar que em 1934 o direito de

propriedade natildeo poderia ir contra o interesse social ou coletivo enquanto que na Constituiccedilatildeo

de 1946 (BRASIL 1946) jaacute se comeccedila a falar em desapropriaccedilatildeo caso aquele interesse natildeo

seja observado Em 1967 existe uma combinaccedilatildeo entre o direito de propriedade e a justiccedila

social estando esta prevista como objetivo da ordem econocircmica que por sua vez cita

claramente a funccedilatildeo social da propriedade como um de seus princiacutepios Mais uma vez a

desapropriaccedilatildeo vem agrave tona agora com um toque mais robusto e imbuiacutedo de maior evidecircncia

jaacute que aquela Carta (BRASIL 1967c) faz menccedilatildeo no paraacutegrafo 1ordm do artigo 157 que a Uniatildeo

poderaacute desapropriar a propriedade territorial rural se natildeo atender dentre outros aspectos a

funccedilatildeo social da propriedade

Retroagindo aproximadamente trecircs anos a desapropriaccedilatildeo jaacute estava em pauta

atraveacutes da Lei 450464 (BRASIL 1964) conhecida como o Estatuto da Terra Com o

objetivo de regular os direitos e obrigaccedilotildees concernentes aos bens imoacuteveis rurais a citada lei

menciona a desapropriaccedilatildeo como uma das medidas de execuccedilatildeo da Reforma Agraacuteria e

promoccedilatildeo da Poliacutetica Agriacutecola (Art 1deg) Aleacutem disto o artigo segundo assegura a todos a

oportunidade de acesso agrave propriedade da terra condicionada pela sua funccedilatildeo social desde que

cumpra as seguintes condiccedilotildees

Art 2deg

sect 1deg A propriedade da terra desempenha integralmente a sua funccedilatildeo social quando

simultaneamente

a) favorece o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores que nela labutam

assim como de suas famiacutelias

38

b) manteacutem niacuteveis satisfatoacuterios de produtividade

c) assegura a conservaccedilatildeo dos recursos naturais

d) observa as disposiccedilotildees legais que regulam as justas relaccedilotildees de trabalho entre os

que a possuem e a cultivem (BRASIL 1964 p 1)

Encerrando o rol de Constituiccedilotildees brasileiras quanto ao direito de propriedade e

sua funccedilatildeo social a de 1988 consagra este princiacutepio no artigo 186

Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende

simultaneamente segundo criteacuterios e graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos

seguintes requisitos

I - aproveitamento racional e adequado

II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio

ambiente

[] (BRASIL 1988 p 144)

Chama atenccedilatildeo o inciso II quando dispotildee sobre a utilizaccedilatildeo adequada dos

recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio ambiente Eacute nesse iacutenterim que a reserva

legal eacute reconhecida por dar ao imoacutevel uma funccedilatildeo social ldquouma vez que atribui agrave propriedade

a exigecircncia da observacircncia de funccedilotildees econocircmica e social bem como de preservaccedilatildeo do meio

ambienterdquo (MELO 2010 p 24) Tambeacutem sobre isso bem coloca Trennepohl (2009 p 12)

A limitaccedilatildeo administrativa do exerciacutecio do direito de propriedade encontra respaldo

no art 186 da Constituiccedilatildeo Federal pois a propriedade rural somente cumpre sua

funccedilatildeo social quando obedecido o aproveitamento racional e utilizados

adequadamente os recursos naturais disponiacuteveis com vistas agrave preservaccedilatildeo do meio

ambiente

ldquoNatildeo haacute direito de propriedade para quem natildeo faz a terra cumprir sua funccedilatildeo

socialrdquo Eacute como entende o professor de direito agraacuterio Carlos Mareacutes (2003 p 134 apud

MELO 2010 p 25) Cavedon (2003 p 122 apud MIRANDA 2008 p 5859) tambeacutem

observa que

Os requisitos estipulados pelo artigo 186 devem ser atendidos simultaneamente sob

pena da propriedade natildeo atender sua funccedilatildeo social e por isso perder sua proteccedilatildeo

constitucional Como consequecircncia esta fica sujeita agrave desapropriaccedilatildeo por interesse

social para fins de reforma agraacuteria conforme o caput do artigo 184 da CF88 Eacute o que

Lenza denomina de desapropriaccedilatildeo-sanccedilatildeo Isto porque a Constituiccedilatildeo de 1988 em

seu artigo 5ordm inciso XXIV garante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiro mediante a

desapropriaccedilatildeo por necessidade utilidade puacuteblica ou interesse social A sanccedilatildeo estaacute

justamente na forma de pagamento da indenizaccedilatildeo quando a propriedade rural natildeo

atende a sua funccedilatildeo social o pagamento natildeo eacute efetuado em dinheiro mas em tiacutetulos

da diacutevida agraacuteria5 Assim o meio ambiente ganha relevacircncia como elemento

5 Tiacutetulos da diacutevida agraacuteria (TDA) - Meio de pagamento de indenizaccedilotildees devidas aos que sofreram accedilatildeo

expropriatoacuteria da Uniatildeo Federal Criado pelo Governo Federal eacute vinculado agrave desapropriaccedilatildeo de imoacuteveis rurais

por interesse social para efeito de reforma agraacuteria ou aquisiccedilotildees por compra e venda de imoacuteveis rurais destinados

agrave implantaccedilatildeo de projetos integrantes do Programa Nacional de Reforma Agraacuteria Disponiacutevel em

lthttpwwwcetipcombrtitulos-publicostdagt Acesso em 27062013

39

integrante da funccedilatildeo social da propriedade em funccedilatildeo do artigo 186 II que prevecirc a

utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio

ambiente e no artigo 170 que coloca a propriedade privada a funccedilatildeo social da

propriedade e a defesa do meio ambiente lado a lado como princiacutepios da ordem

econocircmica Com base nestes dispositivos legais Cavedon entende que a propriedade

deve atender tambeacutem a sua funccedilatildeo ambiental apesar desta natildeo constar de forma

expliacutecita no texto constitucional

Desta forma por estar limitado o proprietaacuterio rural natildeo pode dispor livremente de

seu imoacutevel pois haacute de cumprir sua funccedilatildeo social que resulta na observacircncia de requisitos que

visam vantagens para a coletividade em detrimento de restriccedilotildees individuais Assim sendo

muitos particulares entendem que a obrigaccedilatildeo de destinarem determinada porcentagem de

suas propriedades rurais para a reserva legal eacute uma espeacutecie de desapropriaccedilatildeo indireta imposta

pelo poder puacuteblico e por isso deveriam ser indenizados Da mesma forma outros segundo

Miranda (2008) concluem que eacute uma restriccedilatildeo da propriedade uma vez que inviabiliza a

utilizaccedilatildeo econocircmica do bem e por isso caberia uma recomposiccedilatildeo patrimonial Ao contraacuterio

desse entendimento Trennepohl (2009 p 11) explica

A averbaccedilatildeo da reserva legal natildeo representa uma desapropriaccedilatildeo indireta como

muita gente pensa pois sua vegetaccedilatildeo pode ser explorada na forma de manejo

florestal sustentaacutevel e a aacuterea pode ser utilizada para outras atividades rentaacuteveis

Tanto eacute assim que inuacutemeras accedilotildees judiciais propostas pleiteando indenizaccedilatildeo pela

restriccedilatildeo de uso dessas aacutereas foram fulminadas nas diferentes esferas do Poder

Judiciaacuterio

Ademais a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 (BRASIL 1988) em seu artigo 225

tambeacutem estabelece que

Art 225 Todos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de

uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder

Puacuteblico e agrave coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e

futuras geraccedilotildees

sect 1ordm - Para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Poder Puacuteblico

I - preservar e restaurar os processos ecoloacutegicos essenciais e prover o manejo

ecoloacutegico das espeacutecies e ecossistemas []

III - definir em todas as unidades da Federaccedilatildeo espaccedilos territoriais e seus

componentes a serem especialmente protegidos sendo a alteraccedilatildeo e a supressatildeo

permitidas somente atraveacutes de lei vedada qualquer utilizaccedilatildeo que comprometa a

integridade dos atributos que justifiquem sua proteccedilatildeo (BRASIL 1988 p 225226)

Ressalta-se que ldquoa Carta Magna de 1988 eacute a primeira Constituiccedilatildeo brasileira em

que a expressatildeo meio ambiente eacute mencionadardquo (MELO 2010 p 20) Ademais inovou ao

adotar a terminologia ldquoespaccedilo territorial especialmente protegidordquo para designar uma aacuterea sob

regime especial de administraccedilatildeo com o objetivo de proteger os atributos ambientais

justificadores do seu reconhecimento e individualizaccedilatildeo pelo Poder Puacuteblico (MILAREacute 2009)

40

Desta forma pela simples leitura do texto constitucional observa-se que eacute uma

prerrogativa do Poder Puacuteblico promover a preservaccedilatildeo do meio ambiente bem como

estabelecer unidades especialmente protegidas para garantir a manutenccedilatildeo dos recursos

naturais A forma com que o Estado cumpriraacute este dever eacute atraveacutes da ediccedilatildeo de leis que

obriguem seus administrados a satisfazerem tais imposiccedilotildees Para tanto tem-se o Coacutedigo

Florestal (BRASIL 1965 2012) que prevecirc a reserva legal como um dos meios de viabilizar

essa proteccedilatildeo Eacute sobre o que discorre Trennepohl (2009 p 12)

A reserva legal eacute um dos instrumentos que permitem o cumprimento do art 225 da

Constituiccedilatildeo Federal o qual impotildee ao Poder Puacuteblico o dever de defender e preservar

o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras geraccedilotildees

(caput) atraveacutes de definiccedilatildeo de espaccedilos territoriais e seus componentes a serem

especialmente protegidos (sect1deg III) bem como de proteger a flora e a fauna (sect1deg

VII)

Conclui-se portanto que a reserva legal introduzida pelo Coacutedigo de 65 (BRASIL

1965) modificou os contornos do direito de propriedade restringindo seu uso e que a funccedilatildeo

social do bem imoacutevel teve como origem forte conflito entre necessidades coletivas ou assim

interpretadas e o regime particular da propriedade individual (ANTUNES 2011)

1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa

As formas de limitaccedilotildees que recaem sobre a propriedade tornam-se um problema

importante em mateacuteria ambiental pois na grande maioria das vezes a natureza juriacutedica dos

espaccedilos territoriais especialmente protegidos se confunde com a limitaccedilatildeo administrativa

(MELO 2010) Assim questiona-se se realmente estamos diante de servidotildees limites

limitaccedilotildees ou delimitaccedilotildees A questatildeo natildeo eacute paciacutefica (CRIADO 2010)

A limitaccedilatildeo administrativa segundo Meireles (2004 p 568) eacute ldquotoda imposiccedilatildeo

geral gratuita unilateral e de ordem puacuteblica condicionadora do exerciacutecio de direitos ou de

atividades particulares agraves exigecircncias do bem-estar socialrdquo Satildeo implementadas de forma

imperativa obrigando o proprietaacuterio a fazer ou natildeo fazer algo na sua propriedade mas sem

retirar a utilizaccedilatildeo econocircmica deste bem ldquoJaacute a restriccedilatildeo ocorre quando a administraccedilatildeo impotildee

ao proprietaacuterio dever que o obrigue ou o impeccedila de fazer algo em sua propriedade retirando a

utilizaccedilatildeo econocircmica desta Havendo neste caso a necessidade de recomposiccedilatildeo patrimonialrdquo

(MIRANDA 2008 p 61)

41

Aleacutem do que hibridamente haacute os que entendem que a reserva legal eacute uma

desapropriaccedilatildeo indireta6 disfarccedilada de limitaccedilatildeo da propriedade que por sua vez inviabiliza a

utilizaccedilatildeo econocircmica do bem provocando uma busca por indenizaccedilatildeo Eacute nesse sentido que se

pronunciam os superiores tribunais do paiacutes como por exemplo se pronunciou o ministro Luiz

Pereira do Tribunal de Justiccedila do Estado de Satildeo Paulo ao decidir pela indenizabilidade da

aacuterea compreendida na reserva legal E ainda o proacuteprio Supremo Tribunal Federal tem se

manifestado de forma enfaacutetica ldquoimpedindo que a bdquolimitaccedilatildeo administrativa‟ esvazie o

conteuacutedo econocircmico do direito de propriedade determinando que em tais hipoacuteteses o Estado

indenize os prejuiacutezos de ordem patrimonial sofridos pelo particularrdquo (ANTUNES 2011

p163164)

Mesmo sendo um instrumento de conservaccedilatildeo ambiental com a possibilidade de

exploraccedilatildeo racional atraveacutes de manejo florestal sustentaacutevel eacute visivelmente perceptiacutevel o

conflito entre interesses particulares e a salvaguarda da vegetaccedilatildeo proposta por norma

juriacutedica Posto isto observa-se de um lado intenccedilotildees puramente econocircmicas que por sua vez

levam os proprietaacuterios a ignorarem a lei derrubando e queimando as matas que deveriam ser

preservadas a tiacutetulo de Reserva Legal ou ainda se eximindo de suas responsabilidades soacutecio-

ambientais Opotildeem-se portanto aos fortes instrumentos juriacutedicos de proteccedilatildeo das matas

brasileiras (MIRANDA 2008)

1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal

Na vigecircncia da lei anterior ou seja do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)

a forma de garantir documentalmente o cumprimento da reserva legal era averbaacute-la junto agrave

matriacutecula da propriedade constante em um Registro de Imoacuteveis Vale aqui esmiuccedilar o que eacute e

como era esse procedimento

ldquoO Registro de Imoacuteveis eacute uma instituiccedilatildeo nascida no seacuteculo XIX para dar

seguranccedila agrave contrataccedilatildeo imobiliaacuteria e na qual se inscreviam os direitos nascidos das relaccedilotildees

privadas ou civisrdquo (CRIADO 2010 p126) ldquoE que surgiu como necessidade do Estado de

controlar o direito de propriedade e como instrumento de seguranccedila juriacutedica para o traacutefego

imobiliaacuteriordquo (MELO 2010 p18) Regido pela Lei 601573 (BRASIL 1973) que cria a

figura da matriacutecula e que por sua vez representa a individualidade do imoacutevel sua situaccedilatildeo

6 Desapropriaccedilatildeo indireta ndash ldquotoda intervenccedilatildeo do Estado na propriedade que venha a impossibilitar o uso e gozo

desse bem retirando-lhe o conteuacutedo econocircmicordquo (TAVARES 1998 p 2 apud MIRANDA 2008 p 62)

42

geograacutefica e perfeita descriccedilatildeo sofrendo alteraccedilotildees objetivas e subjetivas por meio da

averbaccedilatildeo sempre com um mesmo nuacutemero de ordem facilitando incrivelmente as pesquisas e

expediccedilatildeo de certidotildees (MELO 2010)

Desta forma cada imoacutevel possui um registro onde pode ser descrito tudo o que

acontece com ele e nele por exemplo quem comprou vendeu se o dono hipotecou o bem a

um banco por causa de empreacutestimo etc Cada novidade que acontece no imoacutevel eacute inscrita sob

a forma e nome de averbaccedilatildeo no seu registro que por sua vez tem um nuacutemero de matriacutecula

para o identificar da mesma forma que um cidadatildeo tem um nuacutemero de Registro Geral (RG)

com seu nome completo data de nascimento e filiaccedilatildeo

No caso a averbaccedilatildeo da reserva legal era feita da seguinte forma o dono do

imoacutevel ldquointeressadordquo em cumprir sua obrigaccedilatildeo deveria submeter a localizaccedilatildeo da reserva

legal ao oacutergatildeo ambiental estadual que por sua vez aprovaria ou natildeo o local onde o proprietaacuterio

iria destinar agrave reserva legal Essa delimitaccedilatildeo deveria ser feita a partir de um

georreferenciamento que utiliza coordenadas geograacuteficas fixadas com o auxiacutelio de sateacutelites

conforme o Sistema Geodeacutesico Brasileiro (SGB) ao qual o Registro de imoacuteveis estaacute

vinculado (MELO 2010)

ldquoA representaccedilatildeo graacutefica da propriedade e sua atualizaccedilatildeo permitem um

conhecimento da evoluccedilatildeo do territoacuterio suas modificaccedilotildees e o impacto meio ambiental que

nele tenha ocasionado atuaccedilatildeo do acircmbito imobiliaacuterio com transcendecircncia nesta mateacuteriardquo

(LIBERAL 2007 p 121 apud MELO 2010 p3233)

Assim com a propriedade e sua respectiva aacuterea de reserva legal

georreferenciadas o proacuteximo passo seria a elaboraccedilatildeo de uma planta a partir dos dados

coletados e juntamente com o documento comprobatoacuterio de que o imoacutevel possuiacutea registro

submeter a localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva ao oacutergatildeo ambiental competente Se aprovada o

oacutergatildeo expediria um Termo de Averbaccedilatildeo da Reserva Legal que juntamente com a mesma

planta apresentada anteriormente deveria ser levado ao cartoacuterio de imoacuteveis para posterior

averbaccedilatildeo no registro do bem Nesta averbaccedilatildeo estariam descritas todas as informaccedilotildees da

reserva legal e sua localizaccedilatildeo geograacutefica

ldquoEsse procedimento documental tinha fundamento no princiacutepio da publicidade

que eacute a alma dos registros puacuteblicos porque eacute a oportunidade dada ao povo de conhecer tudo

que lhe interessa a respeito de determinados atosrdquo (BALBINO FILHO 1999 p 9 apud

MELO 2010 p34) Ateacute porque qualquer pessoa pode solicitar informaccedilotildees sobre os registros

junto ao cartoacuterio de imoacuteveis ldquoE natildeo poderia ser diferente pois o Registro de Imoacuteveis atua no

43

direito ambiental como ator coadjuvante reforccedilando a publicidade legal bem como

cooperando com o cumprimento e garantia das obrigaccedilotildees ambientaisrdquo (MELO 2010 p79)

Natildeo obstante malgrado existia a obrigaccedilatildeo legal de todo proprietaacuterio averbar a

aacuterea de RLF no Registro de Imoacuteveis o fato eacute que pequena porcentagem dos proprietaacuterios

procedeu agrave sua especializaccedilatildeo ldquoA razatildeo eacute simples trata-se de norma incompleta foi criada a

obrigaccedilatildeo mas propositalmente a sanccedilatildeo foi esquecidardquo (MELO 2010 p56)

Com a lei 126512012 (BRASIL 2012) ou Novo Coacutedigo Florestal esse

procedimento mudou Logo natildeo se deve mais averbar a reserva legal no registro do imoacutevel

Agora a obrigaccedilatildeo passou a ser o cadastramento da propriedade rural no Cadastro Ambiental

Rural (CAR) O atual meacutetodo consiste na inscriccedilatildeo do imoacutevel a partir da identificaccedilatildeo do

proprietaacuterio ou possuidor rural apresentaccedilatildeo de documento que comprove a propriedade ou a

posse e a identificaccedilatildeo do imoacutevel por meio de planta e memorial descritivo contendo a

indicaccedilatildeo das coordenadas geograacuteficas com pelo menos um ponto de amarraccedilatildeo do periacutemetro

do imoacutevel informando a localizaccedilatildeo dos remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa das Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente das Aacutereas de Uso Restrito das aacutereas consolidadas e caso existente

tambeacutem da localizaccedilatildeo da Reserva Legal

No entanto o CAR ainda natildeo estaacute implantado no Cearaacute o que eacute realidade em

vaacuterios outros estados tambeacutem A obrigatoriedade de inscriccedilatildeo neste Cadastro eacute de ateacute dois

anos apoacutes sua implementaccedilatildeo que ateacute o momento natildeo aconteceu Todavia o secretaacuterio de

Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentaacutevel Sr Paulo Guilherme Cabral afirmou em

21052013 que o lanccedilamento em acircmbito nacional do Cadastro Ambiental Rural (CAR) deve

ocorrer ateacute o iniacutecio de junho e para agilizar a inscriccedilatildeo de mais de 5 milhotildees de propriedades

o Ministeacuterio do Meio Ambiente tem buscado ajuda de sindicatos cooperativas e associaccedilotildees

do setor agriacutecola aleacutem de outros oacutergatildeos puacuteblicos7 Infelizmente nada aconteceu ateacute e apoacutes

aquela previsatildeo

Contraditoriamente natildeo existe um prazo para o governo implantar o CAR mas

para o proprietaacuterio ou posseiro sim quando o cadastro dos imoacuteveis estiver disponiacutevel O

impasse eacute o que fazer o dono da terra aguarda o novo procedimento vigorar ou adota o

meacutetodo anterior

7 Conferir notiacutecia publicada em 22052013 no site lthttpsouagrocombrlancamento-nacional-do-car-deve-

sair-ate-junhogt

44

2 Processo de Degradaccedilatildeo

21 Conceito

A degradaccedilatildeo de uma forma geral eacute ldquoa ocorrecircncia de modificaccedilotildees fiacutesicas

metaboacutelicas ou quiacutemicas para uma forma menos complexa E a degradaccedilatildeo ambiental eacute a

alteraccedilatildeo das caracteriacutesticas do meio ambienterdquo (GUERRA et al 2009 p108) Jaacute o inciso II

do artigo 3ordm da Lei 693881 (BRASIL 1981) descreve a degradaccedilatildeo da qualidade ambiental

como alteraccedilatildeo adversa das caracteriacutesticas do meio ambiente

Para Arauacutejo et al (2008 p 19) ldquoa degradaccedilatildeo das terras envolve a reduccedilatildeo dos

potenciais recursos renovaacuteveis por uma combinaccedilatildeo de processos agindo sobre a terrardquo Os

autores ainda atestam que

Tal reduccedilatildeo levando ao abandono ou ldquodesertificaccedilatildeordquo da terra [] pode ser por

processos naturais como por exemplo o ressecamento do clima atmosfeacuterico

processos naturais de erosatildeo alguns outros de formaccedilatildeo do solo ou uma invasatildeo

natural de plantas ou animais nocivos Pode tambeacutem ocorrer por accedilotildees antroacutepicas

diretamente sobre o terreno ou indiretamente em razatildeo das mudanccedilas climaacuteticas

adversas induzidas pelo homem (ARAUacuteJO et al 2008 p 19)

Para a Food and Agriculture Organizations of the United Nations - FAO

(Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e Agricultura) o conceito de degradaccedilatildeo

de terras se refere ldquoagrave deterioraccedilatildeo ou perda total da capacidade dos solos para uso presente e

futurordquo (FAO 1980 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 23)

Observa-se portanto que a degradaccedilatildeo ambiental se natildeo combatida pressupotildee

um processo criacutetico e muito seacuterio o da desertificaccedilatildeo Eacute como considera Sales (2002) e ainda

afirma que o potencial natural das terras quanto agrave degradaccedilatildeo e a accedilatildeo antroacutepica

desencadeiam a desertificaccedilatildeo

O processo de degradaccedilatildeo ambiental pode ocorrer a partir de um ambiente que jaacute

possui caracteriacutesticas naturais limitantes eou extremas onde nele eacute inserido o fator antroacutepico

seja pela simples ocupaccedilatildeo de uma populaccedilatildeo naquela aacuterea seja pelo manejo inadequado dos

recursos naturais ali presentes De outra forma a degradaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel em ambientes

sem fragilidades naturalmente aparentes

A degradaccedilatildeo ambiental advinda da intervenccedilatildeo humana num cenaacuterio mundial

traduz-se em 15 das terras jaacute comprometidas pelas atividades humanas sendo que na

Ameacuterica do Sul dentro daquele percentual encontrou-se 1 de terras devastadas 11 de

terras leve ou moderadamente degradadas e 1 de terra forte ou extremamente degradada8

As estimativas apontam uma expansatildeo anual de 5 a 12 milhotildees de hectares de solo de um

total de 48 bilhotildees de hectares de aacutereas cultivaacuteveis e pastos ainda existentes e segundo a

ISRICUNEP (1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 28) isso resulta na seguinte constataccedilatildeo

A degradaccedilatildeo ambiental causa a perda de aproximadamente 14 milhotildees de

toneladas de gratildeos anualmente isto eacute metade da quantidade necessaacuteria para cobrir

as necessidades da populaccedilatildeo global adicional para o mesmo periacuteodo E no aspecto

financeiro para Blaikie e Brookfiel (1987) a produtividade do trabalho eacute atingida

desfavoravelmente pois a degradaccedilatildeo ambiental consome diretamente o produto do

trabalho e tambeacutem o aporte de capital na produccedilatildeo A qualidade de vida diminui

porque satildeo necessaacuterios mais tempo e um trabalho mais duro para se obter o mesmo

produto isso sem mencionar as medidas conservacionistas no campo fertilizaccedilatildeo

mais intensa ou a abertura de aacutereas para lavouras ou pastos cada vez mais distantes

[] Em ocasiotildees mais raras mas tambeacutem tatildeo dramaacuteticas a degradaccedilatildeo ambiental

forccedila o deslocamento da populaccedilatildeo Centenas de milhares de hectares tecircm de ser

abandonados a cada ano por estarem degradados demais para o cultivo ou ateacute

mesmo para pastagens (ARAUacuteJO et al 2008 p 31)

Em se tratando de semiaacuterido os recursos ambientais satildeo fraacutegeis e associados a

este quadro haacute uma populaccedilatildeo que por sua vez lanccedila matildeo dos bens naturais produzindo uma

deterioraccedilatildeo ambiental ldquoO Cearaacute por conseguinte apresenta extensas aacutereas com problemas

relativos agrave degradaccedilatildeo ambiental principalmente a desertificaccedilatildeordquo (IRAUCcedilUBA 2009 p 7)

Eacute o caso de Irauccediluba por causa da degradaccedilatildeo advinda do desmatamento e das

queimadas que exaurem os nutrientes do solo a agricultura de subsistecircncia colhe em gratildeos

menos de 500 kgha enquanto que a produccedilatildeo potencial seria cerca de 2000 kgha

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Isso explica a baixa participaccedilatildeo da agricultura na

produccedilatildeo agropecuaacuteria do municiacutepio E ldquoessa produccedilatildeo sequer paga os custos da lavoura de

forma que os pequenos produtores estatildeo pagando para plantar na maioria dos casosrdquo

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 18) As consequecircncias sociais disto satildeo ldquoum ciclo de

pobreza e miseacuteria tornando a regiatildeo cada vez mais vulneraacutevelrdquo (SALES 2002 p116)

Em niacutevel mais criacutetico segundo as Naccedilotildees Unidas a desertificaccedilatildeo degrada 60 mil

km2 de terras feacuterteis por ano em todo o mundo provocando perdas de 4 bilhotildees de doacutelares na

economia mundial No Brasil estima-se que essas perdas atinjam 100 milhotildees de doacutelares9

Por fim ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013) entendem que a degradaccedilatildeo em terras

brasileiras remonta o tempo dos colonizadores pois estes aplicavam diretamente meacutetodos e

praacuteticas proacuteprios para solos de clima temperado Assim as matas foram derrubadas queimou-

se a vegetaccedilatildeo em larga escala e lavouras nocircmades foram estabelecidas aproveitou-se o humo

8 Conferir ISRICUNEP 1991 In Arauacutejo et al 2008 p 27

9 Conferir RODRIGUES (2006) in CEARAacute 2010

46

onde este jaacute existia expuseram-se os solos agrave erosatildeo enfim saquearam-se os recursos naturais

renovaacuteveis ldquoNo caso do Cearaacute documenta-se que em 1861 a Comissatildeo Cientiacutefica enviada

para estudar o Nordeste registrava a destruiccedilatildeo acelerada da vegetaccedilatildeo principalmente nos

contrafortes das serras em virtude dos desmatamentos e queimadas para plantio de

mandiocardquo ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013 p 8)

Para uma melhor compreensatildeo quanto agrave intervenccedilatildeo humana negativa no

ambiente aponta-se o esquema proposto na figura 3 a seguir resumindo o processo de

degradaccedilatildeo ambiental apresentado pelo PAE10

(CEARAacute 2010b)

Figura 3 Sistema de Degradaccedilatildeo do Meio Ambiente Adaptado de Tricart (apud Souza 2000)

Fonte PAE (CEARAacute 2010b p 30)

10

PAECE ndash Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca

(CEARAacute 2010)

47

22 Degradaccedilatildeo Ambiental

A degradaccedilatildeo tem vaacuterias causas dentre elas a erosatildeo e o manejo inadequado do

solo Em se tratando deste uacuteltimo pode-se destacar as atividades agropecuaacuterias e suas

praacuteticas como por exemplo o desmatamento desmedido e irracional a irrigaccedilatildeo de forma

errada salinizando ou encharcando o solo o sobrepastoreio que compacta o solo e o uso de

defensivos agriacutecolas que provocam a contaminaccedilatildeo do solo e eliminam os microorganismos

ali presentes Deduz-se portanto que isso eacute um reflexo derivado de uma estrutura fundiaacuteria

extremamente riacutegida onde satildeo desenvolvidas aquelas atividades com baixo niacutevel tecnoloacutegico

levando a praacuteticas agriacutecolas predatoacuterias (SALES 2002 p116)

Com as causas naturais e as provocadas pelo homem quanto agrave degradaccedilatildeo do solo

expostas na tabela 2 a compreensatildeo fica mais clara

Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras

FATORES ACcedilOtildeES ANTROacutePICAS CONDICcedilOtildeES NATURAIS

Facilitadores

Desmatamento

Permissatildeo do superpastoreio

Uso excessivo da vegetaccedilatildeo

Taludes de corte

Remoccedilatildeo da cobertura vegetal para o cultivo

Topografia

Textura do solo

Composiccedilatildeo do solo

Cobertura vegetal

Regimes hidrograacuteficos

Diretos

Uso de maacutequinas

Conduccedilatildeo do gado

Encurtamento do pousio

Entrada excessiva de aacutegua drenagem insuficiente

Excesso de fertilizaccedilatildeo aacutecida

Uso excessivo de produtos quiacutemicos estrume

Disposiccedilatildeo de resiacuteduos domeacutesticos industriais

Chuvas fortes

Alagamentos

Ventos fortes

Fonte FAO (1980 apud Arauacutejo et al 2008 p 33)

Entendem Arauacutejo et al (2008 p 29) que as consequecircncias disto no meio rural satildeo

Um decliacutenio na produtividade ou uma necessidade crescente do aporte de nutrientes

para manter as mesmas produtividades uma vez que os ldquosubsolos geralmente

contem menos nutrientes do que as camadas superioresrdquo sendo necessaacuterio mais

fertilizante para manter a produtividade das culturas Isso por sua vez aumenta os

custos da produccedilatildeo

Partindo dessas constataccedilotildees conclui-se que satildeo seacuterias as consequecircncias

ambientais sociais e econocircmicas a esse respeito por isso satildeo necessaacuterias medidas mitigadoras

que visem minimizar esses impactos bem como meios de recuperar os danos jaacute existentes

A questatildeo torna-se ainda mais preocupante quando o olhar recai sobre os

processos de formaccedilatildeo do solo que segundo Kendall e Pimentel (1994 apud ARAUacuteJO et al

48

2008 p 21) ldquosatildeo lentos e necessitam de duzentos a mil anos para formar 25cm de solos e

isso sob condiccedilotildees agriacutecolas normaisrdquo Dessa forma a degradaccedilatildeo do solo eacute muito mais

criacutetica uma vez que eacute quase irreversiacutevel quando se trata do lapso temporal para se regenerar

ldquoA irreversibilidade tambeacutem ocorre quando o clima e as atividades humanas se combinam

tornando um solo anteriormente sadio em aacuterea devastadardquo (ARAUacuteJO et al 2008 p 2021)

221 Erosatildeo

Eacute o processo natural de decomposiccedilatildeo e transporte de sedimentos que altera as

formas de relevo Causada por agentes como vento chuvas aacuteguas correntes pode ser

acelerada por intervenccedilotildees humanas como por exemplo o desmatamento (TRIGUEIRO

2005 apud GUERRA 2009 p 129)

Arauacutejo et al (2008 p 34) afirmam que ldquoembora a erosatildeo possa ocorrer sem a

intervenccedilatildeo humana na praacutetica ela geralmente eacute iniciada eou acelerada por atividades

antroacutepicas que causam o desaparecimento da cobertura protetora da vegetaccedilatildeo natural ou

danificam a estrutura do solordquo

No PAN (BRASIL 2004 p 42) consta que ldquoa resultante do antropismo eacute

principalmente a erosatildeo particularmente a laminarrdquo que se inicia com a destruiccedilatildeo da

cobertura vegetal

A erosatildeo pode ser pela accedilatildeo da aacutegua eou do vento Em ambos os casos a camada

superficial do solo eacute retirada Para Arauacutejo et al (2008 p 24) ldquoa erosatildeo eoacutelica eacute mais comum

em climas aacuterido e semiaacuterido e eacute considerada uma forma de degradaccedilatildeo bem como a da aacutegua

que pode ateacute deformar o terreno formando ravinas e voccedilorocasrdquo Uma consequecircncia grave

disto segundo os mesmos autores eacute a reduccedilatildeo da fertilidade pelos motivos a seguir Menor

penetraccedilatildeo de raiacutezes em decorrecircncia de um solo menos denso e mais fino Reduccedilatildeo na

capacidade de retenccedilatildeo de aacutegua Varredura dos nutrientes utilizados pelas plantas

Para a FAO segundo Arauacutejo et al (2008 p 30) ldquoaproximadamente 25 bilhotildees de

toneladas de solo satildeo erodidos a cada ano sendo 17 toneladas por hectare cultivadordquo

222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica

Dentro do que jaacute foi citado anteriormente a (1) irrigaccedilatildeo inadequada que saliniza

ou encharca o solo e o (2) uso de defensivos agriacutecolas contaminando e eliminando os

49

microorganismos satildeo soacute algumas causas deste tipo de degradaccedilatildeo Aleacutem destas tem-se a (3)

acidificaccedilatildeo e o (4) esgotamento do solo causando a perda de nutrientes Para Arauacutejo et al

(2008 p 25) ldquoa salinizaccedilatildeo pode ser resultado de manejo mal realizado da irrigaccedilatildeo da alta

concentraccedilatildeo de sais na aacutegua ou atenccedilatildeo indevida agrave drenagem Esta acarreta a salinizaccedilatildeo dos

solos especialmente em regiotildees aacuteridas por que as altas taxas de evaporaccedilatildeo estimulam o

processordquo E ainda por atividades humanas que elevam a evaporaccedilatildeo em solos com material

salino ou com lenccedilol freaacutetico salino (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25)

Segundo o PAN (BRASIL 2004 p 64) ldquoa irrigaccedilatildeo produz impactos

indesejaacuteveis em qualquer aacuterea semiaacuteridardquo se realizada de forma inadequada e sem o recurso

da drenagem Complementa ainda o documento ao dizer que

Um solo submetido agrave irrigaccedilatildeo estaacute salinizado quando a concentraccedilatildeo de sais nesse

terreno se eleva a ponto de prejudicar o rendimento econocircmico das culturas A

salinizaccedilatildeo do solo afeta a germinaccedilatildeo e a densidade das culturas bem como seu

desenvolvimento vegetativo reduzindo a produtividade das lavouras Nos casos

limites a salinizaccedilatildeo pode levar agrave morte generalizada das plantas inviabilizando o

cultivo das terras afetadas (BRASIL 2004 p 64)

Aleacutem disso o uso excessivo de agrotoacutexicos eacute tido como poluiccedilatildeo e pode levar agrave

reduccedilatildeo do potencial agriacutecola da terra Resiacuteduos industriais e urbanos tambeacutem podem poluir

terras agricultaacuteveis O esgotamento do solo pelo plantio excessivo de culturas sem promover

um pousio miacutenimo do terreno exaure os nutrientes daquela aacuterea Isso eacute comum onde a

agricultura eacute praticada em solos pobres ou moderadamente feacuterteis sem a aplicaccedilatildeo suficiente

de esterco ou fertilizante (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25) E por fim

a acidez pode ser provocada quando se utiliza muitos fertilizantes aacutecidos ou em decorrecircncia

da maacute drenagem em alguns tipos de solo

223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica

Conhecidos pela compactaccedilatildeo do solo elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico e pelo

rebaixamento da superfiacutecie da terra (subsidecircncia) a esses tipos de degradaccedilatildeo natildeo se pode

deixar de somar uma causa precursora que eacute o desmatamento desmedido e irracional

deixando o solo nu e exposto agraves intempeacuteries do tempo Da mesma forma entende Cruz (1994

p 135-147 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 35) ao afirmar que ldquoa remoccedilatildeo da cobertura vegetal

inicia ou acelera a erosatildeo do solo sob a accedilatildeo da chuva e do vento de igual modo a queimada

visando o controle de ervas estimula a lixiviaccedilatildeo e a perda do solordquo

50

A compactaccedilatildeo do solo como o resultado do uso de maacutequinas pesadas em solos

instaacuteveis bem como o pisoteio do gado que via de regra eacute agravado por um

sobrepastoreio da aacuterea O impacto das gotas de chuva provoca tambeacutem o selamento

e encrostamento do solo A elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico eacute ocasionada pelo

encharcamento da terra que por sua vez natildeo tem na mesma proporccedilatildeo a capacidade

de drenagem (ARAUacuteJO et al 2008 p 25)

23 A degradaccedilatildeo em Irauccediluba

Em Irauccediluba as praacuteticas agriacutecolas e a pecuaacuteria satildeo muito ofensivas aos recursos

naturais Isso se deve agrave capacidade de suporte do ambiente que natildeo eacute respeitada gerando

impactos e danos ambientais seacuterios e de caraacuteter praticamente irreversiacuteveis O sobrepastejo de

bovinos ovinos e caprinos o desmatamento e as queimadas deixam a regiatildeo com um niacutevel de

degradaccedilatildeo altiacutessimo ateacute porque suas condiccedilotildees naturais jaacute satildeo adversas E ainda haacute outro

fator agravante - o tempo de recuperaccedilatildeo natural tambeacutem natildeo eacute observado nem cumprido

fragilizando por demais o ambiente

Para Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 7) ldquoA introduccedilatildeo da pecuaacuteria no nuacutecleo de

Irauccediluba trouxe a tiracolo a agricultura e a extraccedilatildeo de madeira A primeira baseava-se no

desmatamento indiscriminado e na queimada geral E a segunda na coleta da lenha sem

reposiccedilatildeo florestalrdquo Desta forma a degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba estaacute desenhada por

1 Superpastejo que causa prejuiacutezos sensiacuteveis agrave vegetaccedilatildeo pelo consumo das

cascas dos troncos de aacutervores e arbustos e pela remoccedilatildeo das placircntulas das espeacutecies

arboacutereas e arbustivas Nessas condiccedilotildees mudanccedilas na composiccedilatildeo floriacutestica da

vegetaccedilatildeo podem resultar em virtude do desaparecimento das espeacutecies lenhosas

forrageiras o que em aacutereas de vegetaccedilatildeo degradada acelera o processo de

desertificaccedilatildeo Em aacutereas de caatinga o pastejo por ovinos induz mudanccedilas

significativas na composiccedilatildeo botacircnica do estrato herbaacuteceo com a reduccedilatildeo da

participaccedilatildeo das gramiacuteneas mesmo em condiccedilotildees de pastoreio moderado Nesse

contexto o sobrepastejo por ovinos pode resultar no desaparecimento das gramiacuteneas

e ao final de toda cobertura herbaacutecea da vegetaccedilatildeo expondo o solo aos efeitos da

erosatildeo (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 78)

2 Agricultura rudimentar que pratica o desmatamento e faz uso do fogo O

impacto deste sobre o ecossistema eacute onipresente e caracteriza-se pela queda da

produccedilatildeo agriacutecola pela degradaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa pela erosatildeo dos solos pela

perda da biodiversidade da flora e da fauna e pelo assoreamento e salinizaccedilatildeo dos

mananciais pela perda da resiliecircncia aumentando sua fragilidade diante das

variaccedilotildees climaacuteticas tiacutepicas das regiotildees semiaacuteridas Aleacutem disto os desmatamentos e

queimadas seguidos por um curto periacuteodo de pousio terminam por levar a vegetaccedilatildeo

a um disclimax dominado por arbustos uma vez que o banco de sementes das

arboacutereas praticamente desapareceu (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 918)

3 Manejo inadequado do solo associado ao relevo da regiatildeo Satildeo trecircs tipos de

solo que se destacam em Irauccediluba litoacutelicos planossolos e luvissolos Por conta da

declividade de 8 a 45 os agricultores optam pelas terras nas encostas para

implantar os roccedilados pois haacute um menor risco de perder a safra em funccedilatildeo do

alagamento comum nas terras planas do municiacutepio durante a eacutepoca das chuvas

Nestas condiccedilotildees as perdas de solo por erosatildeo satildeo assombrosas Aleacutem disto haacute a

erosatildeo nos planossolos provocada pelo sobrepastejo com perdas de solo superiores a

51

17 tha em uma uacutenica estaccedilatildeo das chuvas o que enfatiza a importacircncia da cobertura

vegetal na proteccedilatildeo contra a erosatildeo (apud SALES 2003) Como consequecircncia do

sobrepastejo continuado ao longo provavelmente de centenas de anos a erosatildeo

laminar jaacute removeu porccedilatildeo significativa do horizonte A expondo em alguns casos o

horizonte B textural Aleacutem disso houve uma exaustatildeo dos nutrientes do solo

principalmente do foacutesforo Outro fator que tambeacutem intensifica a degradaccedilatildeo eacute o

curtiacutessimo periacuteodo de repouso Estima-se em 50 anos o tempo necessaacuterio para que a

vegetaccedilatildeo da caatinga em um luvissolo que foi destruiacuteda pela queimada do roccedilado

volte pela sucessatildeo secundaacuteria ao cliacutemax original Ora na regiatildeo este periacuteodo estaacute

reduzido a cerca de oito anos Com isto natildeo haacute a recuperaccedilatildeo da fertilidade do solo e

a recomposiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo Isto porque a velocidade de crescimento das arboacutereas

da caatinga eacute muito variaacutevel (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 810)

Concluem portanto os autores Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 17) que ldquoas praacuteticas

rotineiramente adotadas do desmatamento e do fogo a exposiccedilatildeo do solo e a diminuiccedilatildeo do

periacuteodo de pousio tecircm induzido processos de degradaccedilatildeo mormente os de erosatildeordquo

231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia

A desertificaccedilatildeo eacute um problema ambiental que assola vaacuterias partes do mundo e

vem sendo discutido desde 1977 quando em Nairoacutebi no Quecircnia aconteceu a Conferecircncia

sobre Desertificaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas ldquoA observaccedilatildeo desse processo se atribui ao cientista

Aubreville que em 1949 constatou o prolongamento da degradaccedilatildeo para o norte das zonas

mais aacuteridas do Saara e para as regiotildees semiaacuteridas e subuacutemidas do norte da Aacutefricardquo (ARAUacuteJO

et al 2008 p 26) Em 1992 na ECO 92 foi definido o conceito de desertificaccedilatildeo cuja

ocorrecircncia se daacute em aacutereas aacuteridas semiaacuteridas e subuacutemidas secas O grau de aridez eacute

estabelecido pela relaccedilatildeo PEtp que eacute a razatildeo entre a meacutedia da precipitaccedilatildeo total anual e a

evapotranspiraccedilatildeo potencial do mesmo periacuteodo metodologia esta desenvolvida por

Thornthwaite (1955) Desta forma definiu-se uma correspondecircncia entre o clima e o

resultado da relaccedilatildeo acima conforme mostra a tabela 3

Tabela 3 ndash Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez

CLIMA P ETP

Hiper-aacuterido lt 005

Aacuterido De 005 a 020

Semiaacuterido gt 020 a 050

Subuacutemido Seco gt 050 a 065

Subuacutemido Uacutemido gt 065

Fonte United Nations Environment Programme ndash UNEP (Programa

Ambiental das Naccedilotildees Unidas) 1992

52

Eacute interessante mencionar que o semiaacuterido brasileiro delimitado pela uacuteltima vez

em 1995 foi novamente demarcado a partir da iniciativa do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo

Nacional (MIN) que instituiu um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) envolvendo

departamentos empresas institutos agecircncias e ateacute bancos puacuteblicos para a readequaccedilatildeo dos

criteacuterios propostos pela Lei 782789 (BRASIL 1989c) Somente a inserccedilatildeo do municiacutepio na

aacuterea de abrangecircncia da extinta Superintendecircncia de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)

e a precipitaccedilatildeo meacutedia anual de ateacute 800 mm eram condiccedilotildees para enquadrar ou natildeo

determinado municiacutepio no semiaacuterido brasileiro (SUDENE 1990) Os novos paracircmetros satildeo

mais abrangentes pois aleacutem de considerar a precipitaccedilatildeo pluviomeacutetrica meacutedia anual inferior a

800 mm avaliam se o iacutendice de aridez do municiacutepio eacute de ateacute 05 ou se o risco de seca eacute maior

que 6011

Com a nova delimitaccedilatildeo em 2005 foram incorporados mais 102 municiacutepios aos

1031 jaacute classificados de forma que a aacuterea oficialmente semiaacuterida brasileira aumentou de

8923094 km2 para 9695894 km

2 ou seja um acreacutescimo de 866

12

A figura 4 ilustra o novo formato do semiaacuterido no Brasil E no Cearaacute foram

incorporados mais 16 totalizando 150 de um universo com 184 municiacutepios Isto significa

815 do estado e 132 de toda a regiatildeo semiaacuterida do paiacutes13

O quadro atual do semiaacuterido

cearense estaacute delineado na figura 5 a seguir

Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro

Fonte MIN (BRASIL 2005c)

11

Conferir Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro MI (BRASIL 2005c) 12

Idem 13

Ibidem

53

Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute

Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)

Com relaccedilatildeo ao processo de desertificaccedilatildeo no Brasil uma aacuterea de 900000 Kmsup2 eacute

atingida afetando direta ou indiretamente mais de 15 milhotildees de brasileiros natildeo existindo no

territoacuterio nacional outro problema ambiental que atinja tamanha aacuterea e tantas pessoas

(SUDENE 2000 apud IRAUCcedilUBA 2009) A regiatildeo nordeste por sua vez concentra as

Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) incluindo os espaccedilos semiaacuteridos e subuacutemidos

secos ambos de maior abrangecircncia fiacutesico-territorial vis-agrave-vis os outros espaccedilos naturais que

conformam e estruturam o Nordeste brasileiro (BRASIL 2004)

Pesquisadores apontam como principais causas de desertificaccedilatildeo no semiaacuterido

cearense a ocupaccedilatildeo desordenada do solo o desmatamento praacuteticas de queimadas (CEARAacute

2010b) Dentro desse raciociacutenio

Os estabelecimentos agropecuaacuterios ocupam o solo principalmente com lavouras

temporaacuterias e a criaccedilatildeo de animais Estas atividades muitas vezes satildeo executadas

sem preocupaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos e contribuem para

agravar o quadro de degradaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2010b p 103)

No mesmo sentido e no tocante agraves Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) o

PAN (BRASIL 2004) destaca que as condiccedilotildees ambientais dessas aacutereas (principalmente as de

54

clima solo aacutegua e vegetaccedilatildeo) associadas agrave pressatildeo exercida sobre os recursos naturais pela

accedilatildeo antroacutepica (pressatildeo populacional formas inadequadas de uso e ocupaccedilatildeo do solo entre

outros) vecircm contribuindo para a deflagraccedilatildeo de processos de desertificaccedilatildeo em algumas de

suas sub-regiotildees Um dos motivos para isso eacute a combinaccedilatildeo entre pobreza e desigualdade de

forma que

Uma imensa massa de pequenos agricultores descapitalizados confinados em

pequenas parcelas de terras de tais aacutereas (via de regra de meacutedia ou baixa fertilidade

natural) dependentes de seu trabalho para a produccedilatildeo de alimentos para

autoconsumo de forragens para seus animais mas necessitando produzir excedentes

comercializaacuteveis tenderaacute naturalmente a sobreutilizar os recursos naturais

contribuindo dessa forma para agravar os processos de degradaccedilatildeo Nas ASD este

ciacuterculo vicioso eacute agravado pela ocorrecircncia de secas perioacutedicas que levam agrave perdas

significativas e recorrentes de produccedilatildeo e de renda Neste sentido as secas

potencializam o grau de degradaccedilatildeo levando a vulnerabilidade ambiental a niacuteveis

mais elevados Os efeitos das secas sobre a sauacutede e a inseguranccedila alimentar e

nutricional tambeacutem satildeo conhecidos e consideraacuteveis (BRASIL 2004 p 106)

Classificando a susceptibilidade dessas aacutereas Matallo Jr (1999) construiu uma

relaccedilatildeo entre a aptidatildeo agrave desertificaccedilatildeo em funccedilatildeo do iacutendice de aridez conforme se vecirc pela

tabela 4

Tabela 4 - Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo

IacuteNDICE DE ARIDEZ SUSCEPTIBILIDADE Agrave

DESERTIFICACcedilAtildeO

005 a 020 Muito Alta

021 a 050 Alta

051 a 065 Moderada Fonte MATALLO JR (1999)

Nesse iacutenterim o municiacutepio de estudo do corrente trabalho tem iacutendice de aridez

conforme adotado pela UNEP de acordo com o que ilustra na figura 6

55

Figura 6 Iacutendice de Aridez (UNEP) do municiacutepio de Irauccediluba

O Cearaacute por sua vez eacute ldquoo Estado com a maior aacuterea relativa sob niacuteveis altos de

desertificaccedilatildeordquo (LEMOS 1995 apud FOLHES e VIANA 2001 p 5) Seu processo de

ocupaccedilatildeo e uso de terras via de regra foi marcado pela apropriaccedilatildeo dos recursos naturais de

forma a degradaacute-los Esta foi uma das causas para a concepccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Estadual

de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (PAE) cujo objetivo eacute

Contribuir para a convivecircncia equilibrada com o semiaacuterido por meio da

sustentabilidade ambiental do bioma caatinga a partir de poliacuteticas ambientais

sociais e econocircmicas focadas na reduccedilatildeo da pobreza A gestatildeo do Programa

pressupotildee a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo

democraacutetico e a participaccedilatildeo da sociedade (CEARAacute 2010b p 20)

No Estado existem trecircs nuacutecleos em processo de desertificaccedilatildeo Localizam-se no

Sertatildeo dos Inhamuns Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte e Sertatildeo de Jaguaribe abrangendo

respectivamente os municiacutepios de Arneiroz Independecircncia e Tauaacute Canindeacute Irauccediluba

Miraiacutema e Santa Quiteacuteria Jaguaretama Jaguaribara Jaguaribe Alto Santo e Morada Nova

(CEARAacute 2010b) Totalizam portanto 12 cidades com os maiores iacutendices de degradaccedilatildeo

ambiental do estado portanto susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo num grau muito grave como se

pode ver pelas figuras 7 e 8

No entanto o presente trabalho se ateraacute tatildeo somente ao municiacutepio de Irauccediluba

abrangido pelo nuacutecleo Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte

Fonte NOLEcircTO (2005)

56

Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave

desertificaccedilatildeo no Cearaacute desertificaccedilatildeo

Fonte IPECE (CEARAacute 2010a) Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)

O PAE (CEARAacute 2010b) utilizou para a formulaccedilatildeo do iacutendice de susceptibilidade

agrave desertificaccedilatildeo indicadores sociais que apontam a forma de ocupaccedilatildeo e tudo que dela

decorre e indicadores econocircmicos que representam as atividades humanas exercidas no

municiacutepio Vale ressaltar que as caracteriacutesticas do meio ambiente da regiatildeo natildeo foram

ignoradas muito pelo contraacuterio elas definiram as aacutereas classificadas como susceptiacuteveis agrave

desertificaccedilatildeo A lista abaixo demonstra os criteacuterios mensurados e os aspectos ambientais

observados

Indicadores sociais

1 Proporccedilatildeo da aacuterea das grandes propriedades na aacuterea total dos imoacuteveis rurais em

2005

2 Razatildeo entre alfabetizados e natildeo-alfabetizados de 5 ou mais anos de idade em

2000

3 Taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais de idade em 2000

(percentagem)

4 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino fundamental da populaccedilatildeo de 7 a 14

anos de idade em 2005

5 Taxa de evasatildeo no ensino fundamental em 2005

57

6 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino meacutedio da populaccedilatildeo de 15 a 17 anos de

idade em 2005

7 Taxa de evasatildeo escolar no ensino meacutedio em 2005

8 Densidade demograacutefica em 2006 (habitanteskm2)

Indicadores econocircmicos

1 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de carvatildeo vegetal pela aacuterea do municiacutepio em 2006

(tonha)

2 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de lenha pela aacuterea do municiacutepio em 2006 (m3ha)

3 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)

4 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)

5 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como pequena

propriedade em 2005 (haimoacutevel)

6 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como minifuacutendio em

2005 (haimoacutevel)

7 Razatildeo do consumo de energia eleacutetrica rural por consumidores de energia eleacutetrica

rural em 2005

8 Proporccedilatildeo de induacutestrias de transformaccedilatildeo no total de empresas industriais ativas

em 2005

9 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de feijatildeo em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

10 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com arroz em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

11 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com milho em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

12 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de mandioca em 2006 na aacuterea total dos

estabelecimentos agropecuaacuterios em 1996

13 Razatildeo do efetivo de bovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

14 Razatildeo do efetivo de ovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

15 Razatildeo do efetivo de caprinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

16 Razatildeo do efetivo de suiacutenos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

17 Produto Interno Bruto per capita a preccedilos de mercado em 2004

Caracteriacutesticas ambientais

1 Degradaccedilatildeo da cobertura vegetal

2 Assoreamento dos rios

3 Pastoreio excessivo

4 Perda da biodiversidade

5 Perda da capacidade produtiva do solo

6 Baixa relaccedilatildeo entre capacidade produtiva dos recursos naturais e sua capacidade

de recuperaccedilatildeo

A anaacutelise dos 25 paracircmetros entremeados com as condiccedilotildees ambientais estaacute

devidamente compilada no Quadro 2 ndash Caracterizaccedilatildeo das ASDs nos Sertotildees de Irauccediluba e

Centro-Norte do PAE (CEARAacute 2010b) As constataccedilotildees ensejam problemas no meio

ambiente a partir dos inuacutemeros gargalos sociais e econocircmicos como por exemplo a produccedilatildeo

agriacutecola em lavouras temporaacuterias na maior proporccedilatildeo dos estabelecimentos rurais o grande

iacutendice de pobres da regiatildeo o consumo de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo cada vez maior

58

Natildeo se pode deixar de mencionar os problemas ambientais que deixam a aacuterea em

questatildeo muito mais vulneraacutevel aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas e da desertificaccedilatildeo Satildeo

eles degradaccedilatildeo dos solos e da cobertura vegetal primaacuteria o sobrepastoreio o

desencadeamento e expansatildeo de processos erosivos acelerados com ocorrecircncia muito

frequente de afloramentos rochosos e chatildeos pedregosos perda de solos e biodiversidade

empobrecida baixa frequecircncia de espeacutecies lenhosas da caatinga e processos erosivos muito

ativos em funccedilatildeo do aumento da torrencialidade do escoamento superficial

Assim conclui-se que natildeo haacute como dissociar o quadro social e econocircmico das

nuances ambientais de um municiacutepio ou regiatildeo

Em se tratando da ASD nos Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte faz-se necessaacuterio

expor os nuacutemeros encontrados e as respectivas conclusotildees a partir dos levantamentos feitos

pelo PAE (CEARAacute 2010b) O Iacutendice Econocircmico e Social de Susceptibilidade agrave

Desertificaccedilatildeo (IESSD) ilustrado pelas figuras 9 e 10 por exemplo aponta as possiacuteveis causas

e os principais agentes causadores do processo de desertificaccedilatildeo sem quantificar ou mensurar

seu niacutevel

Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no Iacutendice Social de Susceptibilidade agrave

Desertificaccedilatildeo (ISSD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)

Fonte PAE (CEARAacute 2010b)

0

5

10

15

20

25

30

Contribuiccedilatildeo no ISSD ()

59

Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no Iacutendice Econocircmico de Susceptibilidade agrave

Desertificaccedilatildeo (IESD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)

Fonte PAE (CEARAacute 2010b)

Assim analisando os dois graacuteficos acima eacute possiacutevel perceber que sob o aspecto

social a concentraccedilatildeo de terras e a educaccedilatildeo datildeo a maior contribuiccedilatildeo ao iacutendice de

susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo enquanto que no vieacutes econocircmico destacam-se as aacutereas

destinadas a imoacuteveis rurais e o PIB ldquoper capitardquo Eacute um cenaacuterio deveras preocupante visto que

aquela regiatildeo jaacute eacute dotada de condiccedilotildees naturais adversas Uma populaccedilatildeo sem educaccedilatildeo

inserida num niacutevel de pobreza e ocupante de grande parte da zona rural que eacute onde as

atividades potencialmente degradadoras satildeo praticadas traduz uma combinaccedilatildeo

extremamente alarmante pois fazem uso de praacuteticas predatoacuterias e potencializam a

susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo

Segundo o PAE (CEARAacute 2010b p 123) nessa regiatildeo satildeo observadas ldquomarcas

configuradas de desertificaccedilatildeo como o elevado estaacutegio de degradaccedilatildeo do solo comprometendo

os processos naturais de sucessatildeo processos erosivos acelerados perda de solo e

biodiversidade espeacutecies lenhosas rarefeitasrdquo

05

1015202530354045

Contribuiccedilatildeo no IESD ()

60

Sob um olhar mais aprofundado voltado agrave Irauccediluba haacute maior destaque para as

atividades de agricultura e pecuaacuteria Lavouras temporaacuterias como feijatildeo milho e mandioca satildeo

as mais praticadas pelo pequeno agricultor A figura 11 aponta o percentual de

estabelecimentos ocupados com atividades agropecuaacuterias no municiacutepio

Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios Adaptado

Fonte PAE (CEARAacute 2010b)

Com relaccedilatildeo agrave extraccedilatildeo legalizada de madeira no municiacutepio de Irauccediluba o IBGE

informa que tanto a produccedilatildeo de carvatildeo como o corte de lenha entre 2004 a 2011 foi estaacutevel

Aquela girou em torno de 71 toneladas com um custo variaacutevel de R$ 1100000 a 2300000

ao ano enquanto que este ficou na casa dos 10000 m3 resultando num rendimento que

oscilou de R$ 4200000 a R$ 5700000 anuais14

Por fim Irauccediluba embora representando um dos quatro nuacutecleos de desertificaccedilatildeo

do Nordeste natildeo apresenta a pior condiccedilatildeo socioeconocircmica considerando a maioria dos

indicadores analisados (CEARAacute 2010b) Desta forma conclui-se que estes aspectos natildeo

determinam a desertificaccedilatildeo mas influenciam principalmente se as condiccedilotildees ambientais satildeo

limitantes Assim uma economia e uma sociedade deficientes inseridas num ambiente fraacutegil

natildeo tecircm como deixar de gerar degradaccedilatildeo

14

Conferir em lthttpwwwibgegovbrcidadesatxtrasperfilphpcodmun=230610ampsearch=ceara|iraucubagt

0

10

20

30

40

50

60

Irauccediluba

61

24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo do processo de degradaccedilatildeo

Embora o quadro de degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba seja por demais

preocupante ainda haacute condiccedilotildees para sua reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica a partir de

teacutecnicas e praacuteticas correspondentes ao tipo de solo ao estaacutegio de degradaccedilatildeo da aacuterea e ao

histoacuterico do uso da terra (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Continuam os autores

Assim considerando as extensotildees sob o planossolo que ocupam uma aacuterea total de

27321 ha duas recomendaccedilotildees podem ser propostas a regeneraccedilatildeo natural e a

adubaccedilatildeo organo-mineral A regeneraccedilatildeo natural eacute um processo muito lento e no

caso do planossolo de Irauccediluba dificilmente proporcionaraacute condiccedilotildees para retorno agrave

produtividade esperada [](ARAUacuteJO FILHO 1992) Entatildeo estaacute claro que a

recuperaccedilatildeo natural via pousio eacute muito lenta mas constitui uma opccedilatildeo em muitos

casos A aplicaccedilatildeo de adubo orgacircnico (estercos) eacute outra alternativa de recuperaccedilatildeo

pastoril que poderia ser utilizada no nuacutecleo de Irauccediluba Assim a fertilizaccedilatildeo com

foacutesforo constitui uma boa opccedilatildeo para a recuperaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica das

pastagens degradadas nos planossolos do nuacutecleo de Irauccediluba (ARAUacuteJO FILHO e

SILVA 2013 p 1013)

Outros fatores que envolvem o processo de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo

em Irauccediluba segundo Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 15) eacute ldquoa fixaccedilatildeo da agricultura no

terreno a sustaccedilatildeo do desmatamento e do uso do fogo visando agrave mitigaccedilatildeo dos impactos

antroacutepicos negativos a recuperaccedilatildeo dos agroecossistemas o aumento da produtividade

agriacutecola e da renda familiarrdquo Para tanto os mesmos autores sugerem que

A agrossilvicultura eacute com certeza o modelo de exploraccedilatildeo da terra mais apropriado

Dentre os modelos de sistemas agroflorestais o silvopastoril e o agrossilvipastoril

seriam os mais indicados para as condiccedilotildees de Irauccediluba O primeiro associa o

manejo florestal com a exploraccedilatildeo pastoril e o segundo associa o manejo florestal a

exploraccedilatildeo pastoril e a agricultura formando o sistema lavoura-pecuaacuteria-floresta O

modelo silvopastoril pode ser estabelecido seja para ter a madeira como o principal

produto seja para ter na exploraccedilatildeo animal a principal atividade (ARAUacuteJO FILHO

e SILVA 2013 p 15)

[]

A opccedilatildeo pela agrossilvicultura como a alternativa mais apropriada para a

reabilitaccedilatildeo dos solos de potencial agriacutecola mais elevado fundamenta-se na garantia

que este sistema de uso da terra traz a seguranccedila ambiental e a seguranccedila alimentar

No primeiro caso o solo eacute protegido contra a erosatildeo pelo acuacutemulo de serrapilheira

tem sua fertilidade reposta e sua biologia ativada pela deposiccedilatildeo da mateacuteria

orgacircnica Os recursos hiacutedricos satildeo beneficiados pela manutenccedilatildeo da mata ciliar

evitando o assoreamento das nascentes e reservatoacuterios e pela reduccedilatildeo das perdas de

aacutegua pelo solo A flora com a sustaccedilatildeo das queimadas e dos desmatamentos tem sua

biodiversidade incrementada e integraccedilatildeo das aacutervores no sistema produtivo

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2021)

Assim sendo o principal objetivo da recuperaccedilatildeo de uma aacuterea degradada deve ser

a recomposiccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica do solo Isto porque para que se restabeleccedila a

62

funcionalidade do ecossistema eacute fundamental a revitalizaccedilatildeo da biologia do solo principal

responsaacutevel pela circulaccedilatildeo de nutrientes15

Aleacutem disso continuam os mesmos autores

O aumento da mateacuteria orgacircnica e a formaccedilatildeo de uma cobertura morta sobre o solo o

protegeratildeo contra a erosatildeo laminar e melhoraratildeo sua capacidade de retenccedilatildeo de

aacutegua [] Os nutrientes de ecossistemas florestais de clima tropical se concentram

na biomassa e natildeo no solo como nos de clima temperado por isso os meacutetodos de

exploraccedilatildeo dos solos deveriam estar fundamentados no menor distuacuterbio possiacutevel do

meio bioloacutegico e no reforccedilo do aporte de mateacuteria orgacircnica (ARAUacuteJO FILHO e

SILVA 2013 p 710)

Nesse sentido para ambientes tropicais os sistemas de produccedilatildeo agroflorestais

(SAF) estatildeo sendo avaliados e propostos como alternativas ecologicamente sustentaacuteveis de

exploraccedilatildeo O uso de espeacutecies arboacutereas constitui a garantia de manter ativa a circulaccedilatildeo de

nutrientes e o aporte significativo de mateacuteria orgacircnica condiccedilatildeo essencial para se cultivar de

maneira continuada os solos tropicais16

No caso do bioma caatinga e de ambiente semiaacuterido segundo Arauacutejo Filho e silva

(2013) trecircs recomendaccedilotildees fundamentais garantem quando seguidas a sustentabilidade das

tecnologias de manipulaccedilatildeo

Preservaccedilatildeo de ateacute 400 aacutervores por hectare ou o equivalente a 40 de cobertura

utilizaccedilatildeo maacutexima de 60 da forragem disponiacutevel e preservaccedilatildeo da mata ciliar em

toda a malha de drenagem da pastagem Esta tecnologia jaacute vem sendo utilizada pelos

produtores na regiatildeo de Irauccediluba desde o iniacutecio da deacutecada de 1980 envolvendo

uma aacuterea de cerca de 3000 ha (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 1617)

Outras maneiras de controle e combate do processo de degradaccedilatildeo cuja iniciativa

vem do governo em suas diferentes formas e esferas satildeo os programas e as poliacuteticas puacuteblicas

a criaccedilatildeo de leis e normas sobre o tema a disponibilidade de recursos a fiscalizaccedilatildeo dos

oacutergatildeos competentes dentre outros

Ilustrando o primeiro exemplo em abril de 2011 a Superintendecircncia Estadual do

Meio Ambiente (SEMACE) e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) celebraram um convecircnio

de assistecircncia teacutecnica e financeira para a realizaccedilatildeo da pesquisa ldquoRevitalizaccedilatildeo da cobertura

vegetal nativa atraveacutes da recomposiccedilatildeo das matas ciliares e enriquecimento das aacutereas

destinadas a compor reserva legal dos imoacuteveis rurais do municiacutepio de Irauccedilubardquo Para a

consecuccedilatildeo dos objetivos propostos foi concedido um montante de R$ 4920000 (quarenta e

nove mil e duzentos reais) com fins de recuperar a qualidade do meio biofiacutesico atraveacutes do

plantio de essecircncias florestais nativas e plantas adaptadas agraves condiccedilotildees edafoclimaacuteticas da

aacuterea de abrangecircncia do projeto para

15

Como recomenda Lima (2009) In Arauacutejo Filho e Silva (2013) 16

Idem

63

1 Minimizar os impactos ambientais adversos causados pelos sistemas tradicionais

de exploraccedilatildeo econocircmica

2 Implantar um viveiro florestal permanente destinado agrave produccedilatildeo de mudas

nativas e adaptadas agraves condiccedilotildees locais associando-lhe atividades educativas e

de natureza formativa para o puacuteblico interessado

3 Incentivar o cultivo de essecircncias florestais nativas arboacutereas e frutiacuteferas que

contribuiratildeo para gerar alternativas de diversificaccedilatildeo de renda e por conseguinte

a melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo do municiacutepio

4 Fomentar a produccedilatildeo e o plantio de essecircncias florestais nativas ameaccediladas de

extinccedilatildeo

5 Viabilizar a recomposiccedilatildeo de matas ciliares dentro dos limites de abrangecircncia da

aacuterea das bacias hidrograacuteficas dos recursos hiacutedricos naturais denominados de

Riacho Aracatiaccedilu e Riacho Curu e do principal reservatoacuterio denominado de

Accedilude Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu seja em aacutereas de domiacutenio puacuteblico seja em

aacutereas de domiacutenio privado

6 Estabelecer a recuperaccedilatildeo da cobertura vegetal nativa de aacutereas de reserva legal

das propriedades rurais

O prazo do convecircnio era de doze meses ou seja ateacute abril de 2012 todavia foi

renovado por aditivo ateacute abril de 2013 Seu lanccedilamento soacute se deu em dezembro de 2011 e ateacute

agosto de 2012 o viveiro florestal ainda natildeo havia sido construiacutedo mas palestras com os

temas Desmatamento e Reserva Legal Fogo Desmatamento e Preservaccedilatildeo dos Accediludes

Resiacuteduos Soacutelidos Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal Aacuterea de

Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal foram ministradas pela SEMACE

Infelizmente nada mais foi feito pois dificuldades como a burocracia com o banco

financiador e a seca que assola o municiacutepio inviabilizando a produccedilatildeo e o plantio das mudas

levaram agrave extinccedilatildeo do convecircnio uma vez que seu prazo natildeo foi renovado numa segunda

oportunidade O recurso investido foi devolvido ao BNB e natildeo haacute qualquer previsatildeo de

retomada do projeto

Natildeo se pode deixar de registrar a indignaccedilatildeo que esse desfecho causa naqueles

que estudam e buscam uma saiacuteda Muitas vezes se natildeo todas as vezes ela existe mas eacute

deveras negligenciada ou pouco valorizada O que eacute que isso O Brasil eacute um paiacutes rico natildeo

falta recurso o que muito falta eacute vontade coragem e preferecircncia por aquilo que se deve

fazer Isto eacute um ultraje ao homem do campo que humilde e inocentemente espera confiante

em alguma providecircncia de seus representantes ou por quem faz as suas vezes

De modo diverso as normas 43 e 44 de 2005 (BRASIL 2005 a b) e a 512006

(BRASIL 2006a) que seratildeo explanadas no item 331 criadas pelo INCRA satildeo outras

medidas parecidas com o convecircnio citado acima pois tambeacutem foram elaboradas com o intuito

de recuperar e conservar os recursos naturais em aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e de

64

reserva legal mesmo sendo especiacuteficas para projetos de assentamento agraacuterio federal Atraveacutes

delas um determinado valor pode ser cedido por aquele oacutergatildeo e destinado agraves famiacutelias

assentadas para promoverem agrave implantaccedilatildeo de um projeto de recuperaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo

Como Poliacuteticas Puacuteblicas em niacutevel local e estadual que englobam o problema da

degradaccedilatildeo ambiental amplamente aqui discutido inclusive o mais seacuterio deles que eacute a

desertificaccedilatildeo destaca-se o Plano de Accedilatildeo Municipal de Combate agrave Desertificaccedilatildeo de

Irauccediluba (IRAUCcedilUBA 2009) e o Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e

Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (CEARAacute 2010b) O primeiro levou nove anos para se tornar

poliacutetica puacuteblica e contou com recursos do fundo de apoio a iniciativas locais de combate agrave

desertificaccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Nacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos

Efeitos da Seca (BRASIL 2004) Sua funccedilatildeo eacute orientar e desenvolver accedilotildees no sentido de

controlar e prevenir o avanccedilo da desertificaccedilatildeo e quando possiacutevel recuperar aacutereas degradadas

para o uso produtivo ou seja alcanccedilar o desenvolvimento sustentaacutevel nas aacutereas sujeitas agrave seca

e a desertificaccedilatildeo do Municiacutepio Como objetivos baacutesicos estatildeo as contribuiccedilotildees para

1 A formulaccedilatildeo do planejamento de uso sustentaacutevel dos recursos naturais do

Municiacutepio

2 A melhoria da produtividade e produccedilatildeo agriacutecola nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e

desertificaccedilatildeo

3 A reduccedilatildeo da vulnerabilidade e melhoria da qualidade de vida das populaccedilotildees

residentes nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e agrave desertificaccedilatildeo

4 A articulaccedilatildeo de accedilotildees setoriais do governo (em niacutevel federal estadual e

municipal) com vista agrave sinergia dos processos de planejamento

5 A melhoria da capacidade de enfrentamento dos problemas de desertificaccedilatildeo e

seca por parte das populaccedilotildees locais (IRAUCcedilUBA 2009 p 24)

O PAE (CEARAacute 2010b) em seu objetivo global e em termos gerais natildeo eacute muito

diferente do PAM (IRAUCcedilUBA 2009) pois visa contribuir para a convivecircncia com o

semiaacuterido e sustentabilidade ambiental do bioma caatinga Busca promover poliacuteticas

ambientais sociais e econocircmicas para a reduccedilatildeo da pobreza procurando em sua

administraccedilatildeo a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo democraacutetico

e a participaccedilatildeo da sociedade E recorre agrave negociaccedilatildeo transparente e responsaacutevel de conflitos

como forma privilegiada de superar as diferenccedilas de uso dos recursos naturais

25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira

A lei 6938 (BRASIL 1981) promulgada em 1981 foi a primeira norma juriacutedica

tratando da temaacutetica ambiental no Brasil Como bem diz Milareacute (2009) ela tem um caraacuteter

65

inovador pois sua implementaccedilatildeo seus resultados assim como a estabilidade e a efetividade

que denota constituem um salto de qualidade na vida puacuteblica brasileira

Com nascedouro um tanto quanto isolado a lei 693881 (BRASIL 1981)

instituiu a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente para a preservaccedilatildeo melhoria e recuperaccedilatildeo da

qualidade ambiental propiacutecia agrave vida visando assegurar no Paiacutes condiccedilotildees ao

desenvolvimento soacutecioeconocircmico aos interesses da seguranccedila nacional e agrave proteccedilatildeo da

dignidade da vida (artigo 2ordm) Tais objetivos estatildeo baseados em princiacutepios norteadores dos

quais se destacam para a presente pesquisa a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas (inciso VIII) e a

proteccedilatildeo de aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX)

Instrumentalizando a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente quanto agrave degradaccedilatildeo

ambiental existem as penalidades disciplinares ou compensatoacuterias ao natildeo cumprimento das

medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo ou correccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental conforme o artigo

9ordm inciso IX da Lei 693881 (BRASIL 1981) Em termos de sanccedilatildeo o artigo 14 disciplina

que os danos causados pela degradaccedilatildeo da qualidade ambiental sujeitaratildeo os transgressores agrave

multa simples ou diaacuteria agrave perda ou restriccedilatildeo de incentivos e benefiacutecios fiscais concedidos

pelo Poder Puacuteblico agrave perda ou suspensatildeo de participaccedilatildeo em linhas de financiamento em

estabelecimentos oficiais de creacutedito e agrave suspensatildeo de sua atividade

Para evitar a sanccedilatildeo pratica-se a prevenccedilatildeo e uma forma de prevenir a degradaccedilatildeo

eacute o licenciamento ambiental conforme preconiza o artigo 10 daquela mesma lei O natildeo

cumprimento disto enseja o enquadramento do representante da atividade ou do

estabelecimento no artigo 60 da Lei 960598 (BRASIL 1998) que versa sobre crimes

ambientais

Art 10 A construccedilatildeo instalaccedilatildeo ampliaccedilatildeo e funcionamento de estabelecimentos e

atividades utilizadores de recursos ambientais efetiva ou potencialmente poluidores

ou capazes sob qualquer forma de causar degradaccedilatildeo ambiental dependeratildeo de

preacutevio licenciamento ambiental (BRASIL 1981 p 7)

Art 60 Construir reformar ampliar instalar ou fazer funcionar em qualquer parte

do territoacuterio nacional estabelecimentos obras ou serviccedilos potencialmente

poluidores sem licenccedila ou autorizaccedilatildeo dos oacutergatildeos ambientais competentes ou

contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes Pena - detenccedilatildeo de um a seis meses ou multa ou ambas as penas cumulativamente

(BRASIL 1998 p 12)

Outra previsatildeo salutar na Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente eacute o dever que

entidades e oacutergatildeos de financiamento e incentivos governamentais tecircm de condicionar a

aprovaccedilatildeo de projetos financiaacuteveis ao licenciamento ambiental Aleacutem disto devem constar em

tais projetos a realizaccedilatildeo de obras e aquisiccedilatildeo de equipamentos destinados ao controle de

degradaccedilatildeo ambiental e a melhoria da qualidade do meio ambiente (artigo 12 paraacutegrafo

66

uacutenico) Isto tudo porque a instituiccedilatildeo que financia atividades eou empreendimentos que por

ventura causem algum dano tambeacutem se tornam corresponsaacuteveis pelo passivo ambiental

respondendo perante os oacutergatildeos competentes e os guardiatildees da lei

Por fim eacute pertinente mencionar que toda accedilatildeo ou omissatildeo prevista na legislaccedilatildeo

ambiental brasileira seja nas leis que criam diretrizes como nas que preveem sanccedilotildees visa o

combate o controle a reparaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo da degradaccedilatildeo aos bens naturais como um

todo O impasse eacute existir inuacutemeras normas distintas que dispotildeem sobre vaacuterios recursos

ambientais e que satildeo criadas em eacutepocas diferentes como por exemplo o Coacutedigo Florestal

(BRASIL 2012) o Coacutedigo de Caccedila (BRASIL 1967a) o Coacutedigo Mineraacuterio (BRASIL

1967b) o Coacutedigo de Pesca (BRASIL 2009) o Coacutedigo de Aacuteguas (BRASIL 1934a) a Poliacutetica

Nacional de Recursos Hiacutedricos (BRASIL 1997) o Programa Nacional de controle da

qualidade do ar (BRASIL 1989a) dentre outras O ideal eacute que houvesse a reuniatildeo de todos os

dispositivos em uma legislaccedilatildeo soacute como o fez a lei de crimes ambientais que versa sobre

infraccedilotildees cometidas aos bens naturais apontados pelas diversas normas citadas

Em niacutevel estadual o Cearaacute dispotildee de um arcabouccedilo legal que reflete um

pouco o que jaacute estaacute disposto nas leis federais no entanto cabe aqui citar algumas normas

pertinentes ao assunto estudado

A Resoluccedilatildeo nordm 092003 (CEARAacute 2003) do Conselho Estadual do Meio

Ambiente (COEMA) estabeleceu a compensaccedilatildeo ambiental como forma de prevenir eou

obrigar o poluidorusuaacuterio pagador ou degradador a indenizar os danos causados em

decorrecircncia da utilizaccedilatildeo de recursos naturais para fins econocircmicos Trata-se de medida

arrecadatoacuteria anterior ao processo de licenciamento ambiental e condicionada ao firmamento

de um Termo de Compromisso A supracitada norma definiu percentual de 05 a ser recolhido

com base no valor do empreendimento a ser implantado A destinaccedilatildeo dos valores recolhidos

seria via de regra a Unidades de Conservaccedilatildeo

A Lei Complementar nordm 482004 (CEARAacute 2004) criou o Fundo e o Conselho

Estadual Gestor do Meio Ambiente (FEMA) onde uma de suas finalidades eacute o ressarcimento

da coletividade por danos causados ao meio ambiente Reza o artigo 10 que qualquer cidadatildeo

pode propor projetos relativos agrave reconstituiccedilatildeo reparaccedilatildeo preservaccedilatildeo e prevenccedilatildeo do meio

ambiente A dita lei foi regulamentada pelo Decreto Estadual nordm 277192005 (CEARAacute 2005)

que por sua vez dispocircs accedilotildees programas planos e projetos para a melhoria e recuperaccedilatildeo da

qualidade ambiental no Estado do Cearaacute Agrave pertinecircncia da presente pesquisa cabe destacar

uma diretriz do FEMA prevista no inciso VIII do artigo 3ordm daquele Decreto

67

Artigo 3ordm

[]

VIII - Promover a proteccedilatildeo da biodiversidade e dos ecossistemas associados e aacutereas

ameaccediladas de degradaccedilatildeo atraveacutes da preservaccedilatildeo conservaccedilatildeo e administraccedilatildeo de

biomas representativos bem assim da recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas

possibilitando melhor controle de atividades potencialmente poluidoras nos termos

da legislaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2005 p 2)

Eacute essencial citar a Lei 1248895 (CEARAacute 1995) que dispotildee sobre a Poliacutetica

Florestal do Estado do Cearaacute Um de seus objetivos guarda relaccedilatildeo direta com este trabalho

qual seja promover a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas e em processos de degradaccedilatildeo

especialmente nas aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e reserva legal bem como proteger as

aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX do artigo 3ordm) Para tanto um dos instrumentos

previsto e deveras necessaacuterio para a consecuccedilatildeo de tais fins eacute a fiscalizaccedilatildeo a aplicaccedilatildeo de

penalidades accedilotildees disciplinares e compensatoacuterias das medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo dos

recursos naturais ou a correccedilatildeo da degradaccedilatildeo do meio ambiente (inciso XI do artigo 4ordm)

E por fim eacute cabiacutevel mencionar a Lei 141982008 (CEARAacute 2008) pois institui a

Poliacutetica Estadual de Combate e Prevenccedilatildeo agrave Desertificaccedilatildeo e tem por base a Convenccedilatildeo

Internacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo nos Paiacuteses afetados por Seca Grave eou

Desertificaccedilatildeo Como jaacute mencionado no Cearaacute existem trecircs nuacutecleos com aacutereas susceptiacuteveis agrave

desertificaccedilatildeo e nada mais apropriado que o Estado dispor de uma legislaccedilatildeo proacutepria sobre o

tema Diante disto destacam-se os seguintes dispositivos

Art 1ordm Institui a Poliacutetica Estadual de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Desertificaccedilatildeo a qual

tem por objetivos

[]

III - instituir mecanismos de proteccedilatildeo conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da flora fauna e

de solos degradados nas aacutereas de risco ou impactadas pela desertificaccedilatildeo

[]

Art 3ordm Cumpre ao Poder Puacuteblico

I - diagnosticar o avanccedilo do processo de degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo ambiental nas

aacutereas afetadas

II - definir um plano de contingecircncia para mitigaccedilatildeo dos efeitos da degradaccedilatildeo

ambiental

[]

XI - estimular o desenvolvimento de agroinduacutestrias baseadas em alimentos

ambientalmente e culturalmente adaptados ao meio ambiente

[]

XIV - estimular a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente

e de Reserva Legal []

[]

Art 5ordm No tocante agrave agricultura irrigada o Poder Puacuteblico deveraacute

[]

II - diagnosticar as aacutereas cujos solos sejam susceptiacuteveis agrave salinizaccedilatildeo e acuacutemulo de

compostos de soacutedio e fomentar a recuperaccedilatildeo de solos afetados por salinizaccedilatildeo e

acuacutemulo de compostos de soacutedio

Art 6ordm No tocante agrave agricultura sequeiro o Poder Puacuteblico deveraacute

[]

68

II - incentivar o manejo sustentaacutevel dos recursos naturais apoiando o

desenvolvimento de sistemas agroflorestais e agrosilvopastoris diversificados e

integrados como forma de conciliar a recuperaccedilatildeo florestal e as atividades agriacutecolas

(CEARAacute 2008 p 1 - 3)

251 Lei ambiental de Irauccediluba

O municiacutepio de Irauccediluba criou sua proacutepria Poliacutetica Ambiental a partir da Lei

5652007 (IRAUCcedilUBA 2007) Nela estatildeo dispostos princiacutepios e instrumentos de accedilatildeo que

visam agrave qualidade ambiental em seus diferentes aspectos Felizmente a norma natildeo deixou de

fora as aacutereas de reserva legal pelo contraacuterio tratou do tema em uma seccedilatildeo especiacutefica

composta pelos artigos 57 e 58

Art 57 - A reserva legal eacute requisito essencial ao exerciacutecio legiacutetimo do direito de

propriedade na aacuterea rural e fundamental para a proteccedilatildeo do meio ambiente

ecologicamente equilibrado e da biodiversidade cumprindo funccedilotildees do interesse

coletivo e individual do proprietaacuterio

Art 58 - A reserva legal eacute a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) localizada no

interior de uma propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente

necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos

processos ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de

fauna e flora nativas sendo imutaacutevel sua localizaccedilatildeo apoacutes definida

sect1ordm - Fica proibido qualquer registro imobiliaacuterio relativo a propriedade rural sem

preacutevio registro da reserva legal sob pena de nulidade do ato

sect2ordm- A reserva legal deveraacute ser averbada agrave margem da matriacutecula do imoacutevel no

registro competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de

transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou divisatildeo da aacuterea

sect3ordm - As aacutereas de reserva legal e preservaccedilatildeo permanente poderatildeo ser computadas

conjuntamente desde que somadas passem de 50 (cinquumlenta por cento) da

extensatildeo total da propriedade e sejam de extensatildeo contiacutenua

sect4ordm - No imoacutevel rural que natildeo houver vegetaccedilatildeo nativa suficiente para compor o

miacutenimo da reserva legal o proprietaacuterio ou possuidor deveraacute recuperar e recompor

com a vegetaccedilatildeo nativa ateacute atingir a porcentagem determinada

sect5ordm - A recomposiccedilatildeo mencionada no paraacutegrafo anterior deveraacute ser realizada na

proporccedilatildeo de no miacutenimo 110 (um deacutecimo) da aacuterea da propriedade ou posse a cada

ano dando prioridade agraves aacutereas de preservaccedilatildeo permanente

sect6ordm - A Reserva Legal deve ser preferencialmente contiacutegua a das propriedades

vizinhas agraves unidades de conservaccedilatildeo ou aacutereas florestadas formando um corredor de

vegetaccedilatildeo

sect7ordm - A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser

utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel (IRAUCcedilUBA 2007 p 26)

No artigo 57 haacute o reconhecimento do direito de propriedade agrave luz da funccedilatildeo

social dada pela reserva legal e a devida importacircncia agrave proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental Jaacute o

58 prevecirc os 20 da aacuterea a tiacutetulo de reserva reproduzindo o que a lei federal ou seja o

Coacutedigo Florestal dispotildee No entanto o sect1ordm do mesmo dispositivo acaba restringindo ainda

mais o que a norma geral prescreve isto eacute proiacutebe qualquer registro junto ao cartoacuterio de

imoacuteveis sem a devida averbaccedilatildeo na matriacutecula da propriedade muito embora isso jaacute possa ser

diferente pela instituiccedilatildeo do Cadastro Ambiental Rural Dos paraacutegrafos 2ordm ao 5ordm houve a

69

revogaccedilatildeo expressa pela Lei 126512012 (BRASIL 2012) ou novo Coacutedigo Florestal O 6ordm e o

7ordm continuaram vigentes em sua essecircncia sofrendo apenas pequenas alteraccedilotildees jaacute que devem

estar em consonacircncia com a lei federal natildeo podendo ser menos restritivos

Por fim aleacutem do que fora comentado a lei ambiental de Irauccediluba traz muito em

sua natureza procedimentos e mandamentos semelhantes agrave de uma lei de uso e ocupaccedilatildeo do

solo Prevecirc portanto paracircmetros sobre publicidade emissotildees sonoras construccedilatildeo civil

poluiccedilatildeo obras dentre outros

70

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS

31 Reserva Legal em Irauccediluba

Um dos objetivos da presente pesquisa eacute o levantamento do nuacutemero de imoacuteveis

rurais no municiacutepio de Irauccediluba para em seguida verificar o grau de obediecircncia ao instituto

da reserva legal nessas propriedades Para tanto buscou-se os respectivos dados no cartoacuterio de

registro de imoacuteveis do municiacutepio no Instituto de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e

no Instituto de Desenvolvimento Agraacuterio do Cearaacute (IDACE)

No cartoacuterio de imoacuteveis onde o acesso eacute possiacutevel pela liberdade que qualquer

interessado tem para solicitar informaccedilotildees registrais achou-se o nuacutemero de 215 imoacuteveis

registrados Jaacute no INCRA o total de propriedades ali cadastradas eacute de 415 e no IDACE 713

imoacuteveis devidamente medidos e georreferenciados

Primeiramente cabe discorrer um pouco sobre esse desencontro na quantidade

dos imoacuteveis O fato de o cartoacuterio municipal possuir 215 imoacuteveis rurais registrados natildeo

significa que soacute tenha esse nuacutemero de propriedades laacute pois existem inuacutemeras terras habitadas

e utilizadas sem qualquer registro formal e neste caso o que os ldquodonosrdquo desses lugares

deteacutem chama-se posse o que os torna posseiros e natildeo proprietaacuterios O INCRA ter em seu

banco de dados o cadastro de 415 propriedades rurais tambeacutem natildeo quer dizer que soacute haja as

415 uma vez que a procura por este oacutergatildeo eacute voluntaacuteria quando se trata de cadastramento do

imoacutevel Soacute seraacute diferente se surgir a necessidade de desmembrar arrendar hipotecar vender

ou prometer em venda o bem rural Ou ainda em caso de partilha17

Esses satildeo os casos que

impelem o proprietaacuterio a cadastrar seu imoacutevel conforme definidos pela lei 494766

(BRASIL 1966) Do contraacuterio natildeo eacute obrigatoacuterio motivo pelo qual se explica nuacutemeros tatildeo

distintos uns dos outros Justificando um pouco esta discrepacircncia o II Plano Nacional de

Reforma Agraacuteria aponta que os dados do Cadastro do INCRA indicam que ldquosomente 5086

da aacuterea total do territoacuterio brasileiro estaacute na condiccedilatildeo de cadastradardquo (II PNRA 2003 p 22)

E por fim o nuacutemero apontado pelo IDACE acredita-se ser o mais proacuteximo da

realidade uma vez que pelo Programa de Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria com iniacutecio em 2007 as

propriedades rurais no municiacutepio de Irauccediluba foram no ano de 2012 medidas e

georreferenciadas uma a uma para dar fim aos problemas decorrentes da ausecircncia de tiacutetulos

imobiliaacuterios e o tamanho das aacutereas Eacute o que segue estabelecido pelo II PNRA (2003)

17

Partilha eacute a via pela qual se daacute a divisatildeo dos bens de uma heranccedila

A importacircncia de um recadastramento de todos os imoacuteveis rurais e da revisatildeo das

normas que regem o processo de registro das propriedades eacute ainda maior quando se

observa que as possibilidades de obtenccedilatildeo de terras para Reforma Agraacuteria estatildeo

condicionadas por dois indicadores que dependem das informaccedilotildees contidas no

Cadastro do INCRA o moacutedulo fiscal e os iacutendices de produtividade [] Por meio de

uma integraccedilatildeo do INCRA com os oacutergatildeos estaduais seraacute executado um amplo

processo de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria visando regularizar as pequenas posses de boa feacute

e a arrecadaccedilatildeo e incorporaccedilatildeo de terras devolutas ao patrimocircnio puacuteblico seguida de

sua destinaccedilatildeo para o assentamento de trabalhadores rurais e tambeacutem promover

accedilotildees anulatoacuterias sobre ocupaccedilotildees de terras com registros irregulares (II PNRA

2003 p 23)

Contudo o nuacutemero desencontrado de imoacuteveis natildeo eacute soacute o que assusta ou angustia

mas sim a quantidade iacutenfima de reserva legal existente naquele municiacutepio que jaacute sofre com

um processo criacutetico de degradaccedilatildeo

Apoacutes verificar junto ao cartoacuterio a quantidade de imoacuteveis rurais registrados

averiguou-se que somente trecircs dos 215 estatildeo com suas respectivas aacutereas de reserva legal

devidamente averbadas junto ao registro do bem Essa aguda diferenccedila tambeacutem natildeo muda

quando se analisa as informaccedilotildees presentes nos cadastros feitos junto ao INCRA Muitos satildeo

os cadastramentos onde tem descritas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente mas de reserva legal

somente cinco das 415 propriedades cadastradas No IDACE natildeo foi possiacutevel fazer esse

levantamento porque o objetivo deste oacutergatildeo em adentrar as aacutereas era medi-las em sua

totalidade sem discriminar a presenccedila de qualquer constataccedilatildeo em seu interior

Pela leitura da tabela 5 eacute possiacutevel concluir duas realidades A primeira eacute a

existecircncia de propriedade cujo registro apresenta averbaccedilatildeo da reserva legal mas sem

cadastro junto ao INCRA como eacute o caso do imoacutevel Poccedilo da PedraAacuteguas Mortas No

segundo caso ocorre o contraacuterio isto eacute natildeo haacute averbaccedilatildeo da reserva legal no cartoacuterio de

registro mas existe o cadastro da propriedade perante o INCRA constando a reserva legal

devidamente apontada conforme relatoacuterios cedidos por aquele oacutergatildeo

72

Tabela 5 - Levantamento de Imoacuteveis com reserva legal (Cartoacuterio de registro de imoacuteveisINCRA)

311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental - Projeto de Assentamento Agraacuterio em

foco

Todo projeto de assentamento de reforma agraacuteria soacute deve ser implantado apoacutes o

licenciamento ambiental junto ao oacutergatildeo competente que pela relevacircncia social do

empreendimento possui um procedimento diferenciado Eacute um processo trifaacutesico ou seja

consiste na licenccedila preacutevia (LP) licenccedila de instalaccedilatildeo (LI) e licenccedila de operaccedilatildeo (LO) mas no

caso dos projetos de assentamento satildeo soacute duas a LP e a LIO que nada mais eacute que a licenccedila de

18

Trata-se de um imoacutevel que foi destinado a Projeto de Assentamento no acircmbito estadual No entanto o registro

no cartoacuterio aponta que a propriedade possui Reserva Legal averbada mas no cadastro do INCRA natildeo haacute

qualquer menccedilatildeo a essa aacuterea 19

PA ndash Projeto de Assentamento da Reforma Agraacuteria Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria conjunto

de accedilotildees planejadas e desenvolvidas em aacuterea destinada agrave reforma agraacuteria para um puacuteblico beneficiaacuterio

orientadas para utilizaccedilatildeo racional dos espaccedilos fiacutesicos e dos recursos naturais existentes objetivando a

implementaccedilatildeo dos sistemas de vivecircncia e produccedilatildeo sustentaacuteveis na perspectiva do cumprimento da funccedilatildeo

social da terra e da promoccedilatildeo econocircmica social e cultural do trabalhador rural e de seus familiares (BRASIL

2006b) 20

O imoacutevel Poccedilo da Pedra e Aacuteguas Mortas eacute um soacute Embora natildeo conste no registro do cartoacuterio a aacuterea total da

propriedade e a destinada agrave reserva legal o Termo de Responsabilidade de Averbaccedilatildeo da Aacuterea de Reserva Legal

cedido pelo INCRA descreve as aacutereas apontadas na tabela 2

RESERVA LEGAL DOCUMENTALMENTE EXISTENTE

Imoacutevel Fonte dos Dados Aacuterea do Imoacutevel

(ha)

Aacuterea (ha) Domiacutenio Data da

Averbaccedilatildeo (AV)

Cadastro (C)

Miramar Cartoacuterio de Imoacuteveis

INCRA

1144 2305 Particular AV 06042005

C 05092005

Saco do

Vento18

Cartoacuterio de Imoacuteveis

INCRA

33060 661 PA19

estadual

AV 03102012

C 27122011

Poccedilo da Pedra

(Aacuteguas

Mortas)20

Cartoacuterio de Imoacuteveis 239778 47955 INCRA AV 02012003

Boa Vista INCRA 348 6960 Particular C 30121992

Escondido e

Vale do

Agreste

INCRA 15775 3155 Particular C 30121992

Lagoa Cercada INCRA 55180 50 Particular C13101992

73

instalaccedilatildeo e de operaccedilatildeo em um mesmo pedido conforme prevecirc a Resoluccedilatildeo CONAMA

3872006 (BRASIL 2006b)

Art 3ordm O oacutergatildeo ambiental competente concederaacute a Licenccedila Preacutevia - LP e a Licenccedila

de

Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo - LIO para os Projetos de Assentamentos de Reforma Agraacuteria

[]

sect 2o A LP constitui-se documento obrigatoacuterio e que antecede o ato de criaccedilatildeo de um

Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria tendo prazo para a sua expediccedilatildeo

apoacutes seu requerimento de ateacute noventa dias

sect 3o A LIO deveraacute ser requerida durante a validade da LP e cumpridos os requisitos

da mesma [] (BRASIL 2006 p2)

Por se tratar de um empreendimento rural e ambientalmente licenciaacutevel eacute muito

mais faacutecil e oportuno acontecer o cumprimento da reserva legal jaacute que o oacutergatildeo competente

foi provocado e por sua vez deve exigir a observacircncia daquele instituto Desta forma natildeo se

pode admitir que um licenciamento em zona rural seja concedido sem o devido respeito agrave aacuterea

de reserva legal

Especificamente os projetos de assentamento federais isto eacute os realizados pelo

INCRA devem obedecer agrave ordem que segue Ao dar iniacutecio ao processo de desapropriaccedilatildeo de

alguma terra o INCRA jaacute deve solicitar a Licenccedila Preacutevia devendo constar naquele processo o

protocolo do pedido A criaccedilatildeo do assentamento soacute eacute possiacutevel mediante uma portaria

resoluccedilatildeo ou decreto desde que jaacute possua a Licenccedila Preacutevia expedida Criado o assentamento

a Licenccedila de Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo deve ser solicitada de imediato ateacute porque se o contraacuterio

ocorrer os assentados ficam impossibilitados de receber recursos do governo como o creacutedito

de apoio inicial o creacutedito fomento o creacutedito para a construccedilatildeo de casa dentre outros

Essa sequencia e esses mandamentos estatildeo previstos no artigo 3ordm da Resoluccedilatildeo

CONAMA 3872006 (BRASIL 2006b) citada acima e no Acoacuterdatildeo nordm 2633-5107 (BRASIL

2007) do Tribunal de Contas da Uniatildeo conforme prevecirc o item 3 do sumaacuterio daquele

julgamento (3) A Licenccedila Preacutevia constitui-se em documento obrigatoacuterio e que antecede o ato

de criaccedilatildeo de um projeto de assentamento de reforma agraacuteria devendo ser expedida

anteriormente agrave obtenccedilatildeo da terra Trata-se de uma decisatildeo que teve origem em uma auditoria

realizada por este oacutergatildeo em assentamentos no Amazonas Paraacute e Acre quanto aos estudos de

viabilidade ambiental reserva legal e licenciamento ambiental em projetos criados pelo

INCRA Essa auditoria objetivou portanto avaliar o impacto nas aacutereas de reserva legal dos

projetos de assentamento bem como o cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental aplicaacutevel a esses

projetos conforme item 2 do Relatoacuterio do referido Acoacuterdatildeo Para tanto buscou-se saber se os

limites da reserva legal estavam sendo devidamente demarcados e preservados nos projetos de

74

assentamento rural e se o INCRA estava promovendo a aplicaccedilatildeo de teacutecnicas viaacuteveis para a

exploraccedilatildeo sustentaacutevel da Reserva Legal

Constatou-se pela amostragem realizada e demonstrada na Conclusatildeo e no Voto

do Acoacuterdatildeo 26332007 (BRASIL 2007) que

Conclusatildeo

[]

Item 65 o INCRA tem a necessidade premente de adotar medidas com vistas a

normalizar os procedimentos de criaccedilatildeo de projetos de assentamento desde o iniacutecio

do processo no que se refere ao cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental

Item 66 Eacute notoacuterio que a morosidade do oacutergatildeo no processo de regularizaccedilatildeo das

exigecircncias determinadas pela legislaccedilatildeo ambiental contribuiraacute para degradaccedilatildeo do

meio ambiente patrimocircnio sob proteccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal Brasileira Ao

disponibilizar terra aos assentados sem indicar a forma de uso do terreno por meio

do Plano de Uso e sem delimitar as aacutereas de preservaccedilatildeo mediante a demarcaccedilatildeo

das reservas legais o INCRA estaraacute dando tutela a esses usuaacuterios para disporem dos

lotes da forma que melhor lhes convier sem importar se essa exploraccedilatildeo implicaraacute

em degradaccedilatildeo ambiental (BRASIL 2007 p 9)

[]

Voto

[] Item 3 ndash subitem 12 A equipe de auditoria constatou nos assentamentos uma

grande degradaccedilatildeo das aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APP) e da reserva legal (RL)

Ainda verificou por meio de questionaacuterios aplicados aos trabalhadores assentados

que o INCRA natildeo promove accedilotildees efetivas relacionadas agrave orientaccedilatildeo e

conscientizaccedilatildeo ambiental dessas comunidades que natildeo sabem sequer o que

significa APP e RL

[]

Item 5 Outrossim eacute importante frisar que o INCRA eacute co-responsaacutevel pelas

irregularidades ambientais constatadas em seus projetos de assentamento []

(BRASIL 2007 p 11)

E por fim o dito Acoacuterdatildeo determina em niacutevel nacional embora a motivaccedilatildeo da

decisatildeo tenha por base a auditoria realizada somente em trecircs estados que

O INCRA se abstenha de criar projetos de assentamento sem a observacircncia ao

disposto no art 2ordm inciso III cc 3ordm sect 2ordm da Resoluccedilatildeo Conama 3872006 que

condiciona a criaccedilatildeo de projetos de assentamentos de reforma agraacuteria agrave existecircncia da

licenccedila preacutevia e ao disposto no art 2ordm inciso IV da mesma Resoluccedilatildeo que exige a

licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo como condiccedilatildeo para a implantaccedilatildeo e operaccedilatildeo

destes projetos Que em decorrecircncia do disposto no art 2ordm inciso VII da

ResoluccedilatildeoConama 3872006 atente a necessidade de que a reserva legal esteja

perfeitamente delimitada e caracterizada por ocasiatildeo do Plano de

Desenvolvimento do Assentamento e que o referido Plano seja elaborado em prazo

razoaacutevel (BRASIL 2007 p 16)

Para enriquecer a pesquisa nesse sentido procurou-se junto ao oacutergatildeo ambiental

estadual a SEMACE ndash Superintendecircncia Estadual do Meio Ambiente e ao proacuteprio INCRA as

licenccedilas emitidas e ainda em tramitaccedilatildeo referentes aos projetos de assentamento federais

Encontrou-se assim 3 processos de licenciamento na SEMACE numa busca compreendida

75

entre 01012010 a 06052013 sendo 2 de licenccedilas preacutevias e 1 de licenccedila de instalaccedilatildeo e

operaccedilatildeo No INCRA localizou-se 5 processos como se pode observar pela tabela 6 sendo 2

de licenccedilas preacutevias e 3 de licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo num periacuteodo de 09122008 a

08112010

Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais

Fonte SEMACE e INCRA

Conclui-se portanto a existecircncia de trecircs processos de LIO jaacute emitidas mas sem a

averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio de duas das trecircs propriedades conforme se pode

confirmar pela pesquisa feita no registro de imoacuteveis de Irauccediluba A exceccedilatildeo eacute a fazenda

Aacuteguas MortasPoccedilo da Pedra que possui averbaccedilatildeo da reserva legal desde 02012003

Aleacutem disto verificou-se tambeacutem todos os empreendimentos e atividades

localizadas no municiacutepio de Irauccediluba que possuem solicitaccedilatildeo ou recebimento de licenccedila

ambiental tanto em zona urbana como rural No total satildeo 15 tramitando e 40 emitidas

ressaltando que licenciamentos em zona rural o cumprimento da reserva legal deve ser

exigido

Quanto aos assentamentos agraacuterios no municiacutepio de Irauccediluba a tabela 7 aponta a

pesquisa realizada junto ao INCRA e ao IDACE onde se constatou que o primeiro oacutergatildeo

implantou 8 projetos e o segundo 6 Em todos eles existe a demarcaccedilatildeo da aacuterea de reserva

legal nas plantas georreferenciadas cedidas pelas duas instituiccedilotildees acima citadas

PROCESSO TIPO PA FONTE DO

DADO

PROTOCOLO EXPEDICcedilAtildeO VALIDADE STATUS

11386605-4 LP Arraia INCRASEMA

CE

08112010 01072011 Natildeo

informada

Emitida

11118313-8 LP Alegre e

anexos

INCRASEMA

CE

10112010 29032011 Natildeo

informada

Tramitando

09557603-7 LIO Aacuteguas

Mortas

Poccedilo da

Pedra

INCRASEMA

CE

30102009 24032010 24032013 Emitida

08653283-9 LIO Satildeo

Marinho

Rodeador

INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida

08653281-2 LIO Olho

d‟aacutegua da

esperanccedila

INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida

76

Tabela 7 - Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba

PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO - IRAUCcedilUBA

Nome do

Assentamento

Instituiccedilatildeo

Responsaacutevel

Aacuterea do

Imoacutevel (ha)

Aacuterea de Reserva

Legal (ha)

Data de criaccedilatildeo Nordm de Famiacutelias

Assentadas

Saco do Vento IDACE 33060 661 Em andamento 10

Aroeira IDACE 50508 10101 Em andamento 10

Boqueiratildeo IDACE 38474 7694 Em andamento -

Mudubim IDACE 6512 1302 Em andamento 5

Consulta IDACE 39593 7918 23072001 13

Cachoeira IDACE 14929 2985 05102006 10

Saco Verde INCRA 6464 129280 2691997 100

Cajazeiras II INCRA 96487 19297 2691997 30

Aacuteguas Mortas

Poccedilo da Pedra

INCRA 239778 47955 22121997 52

RiachueloAlto

Alegre

INCRA 3378 67560 09112005 16

Olho drsquoAacutegua da

Esperanccedila

INCRA 1940 388 06122007 23

Satildeo Marinho

Rodeador

INCRA 50757 10151 04122006 10

Arraia INCRA 156797 31359 13102011 34

Almas INCRA 1297 25940 17111998 22

Eacute importante salientar que em 2005 e em 2006 o INCRA baixou 3 normas

referentes a criteacuterios e procedimentos para a implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e

Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria A

primeira eacute a NE 432005 (BRASIL 2005a) a segunda NE 442005 (BRASIL 2005b) que

estabeleceu o valor unitaacuterio por famiacutelia para a implantaccedilatildeo destes projetos e a terceira NE

512006 (BRASIL 2006a) aprovou o manual para a elaboraccedilatildeo dos projetos de recuperaccedilatildeo

A NE 432005 (BRASIL 2005a) considera a premente necessidade de

recuperaccedilatildeo natildeo soacute de Reserva Legal mas de aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente em grande

parte dos Projetos de Assentamento em todo o territoacuterio nacional mas infelizmente soacute

abrange os que satildeo implantados pelo Governo Federal (Art 2ordm inciso I) ficando de fora os

que satildeo de competecircncia dos Estados O criteacuterio para implantaccedilatildeo desses projetos eacute a aacuterea ser

reconhecida com problemas ambientais principalmente em termos de degradaccedilatildeo (Art 2ordm

inciso II) Para ser possiacutevel financeiramente a execuccedilatildeo de um projeto deste cuja norma

regulamentadora ainda se encontra vigente o INCRA disponibiliza ateacute R$ 100000 por

famiacutelia (Art 1ordm NE 442005 (BRASIL 2005b)) no entanto caso seja tecnicamente

comprovado que a recuperaccedilatildeo de aacutereas de reserva legal preservaccedilatildeo permanente e de solo

exija um maior investimento o valor poderaacute ser superior ao estabelecido Neste caso a

importacircncia repassada seraacute definida em funccedilatildeo do custo calculado para a recuperaccedilatildeo do dano

ambiental (Art 1ordm Paraacutegrafo Uacutenico)

77

O manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e

conservaccedilatildeo de recursos naturais em assentamentos da reforma agraacuteria aprovado pela NE

512006 (BRASIL 2006a) deixa claro que seus objetivos natildeo satildeo soacute reabilitar e resguardar a

aacuterea ambiental do assentamento Haacute mais e maiores propoacutesitos nisto como por exemplo

cumprir as exigecircncias estabelecidas pelo oacutergatildeo de meio ambiente estadual durante o processo

de licenciamento21

bem como a mobilizaccedilatildeo da comunidade em torno de atividades visando agrave

recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo dos recursos naturais por meio de programas de educaccedilatildeo

ambiental fiscalizaccedilatildeo e manutenccedilatildeo envolvendo os assentados Para que isto ocorra eacute

extremamente importante a participaccedilatildeo destes na elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do projeto22

Por fim os Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais seratildeo

destinados agraves seguintes praacuteticas23

1 Cercamento de aacutereas de Reserva Legal e aacutereas de preservaccedilatildeo permanente

visando a regeneraccedilatildeo eou a proteccedilatildeo das aacutereas

2 Construccedilatildeo de viveiros para produccedilatildeo de mudas que seratildeo utilizadas no processo

de recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas

3 Demarcaccedilatildeo topograacutefica da Reserva Legal

4 []

5 Reflorestamento em aacutereas de Reserva Legal com espeacutecies nativas que

possibilitem o manejo florestal sustentaacutevel madeireiro ou natildeo madeireiro baseado

em princiacutepios e em criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos definidos e devidamente

aprovados pelo oacutergatildeo ambiental competente

6 Plantio de aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais composto por espeacutecies

exoacuteticas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas para

compensaccedilatildeo ou manutenccedilatildeo da aacuterea de reserva legal a criteacuterio do oacutergatildeo ambiental

competente

7 Atividades alternativas de produccedilatildeo (criaccedilatildeo de abelhas artesanato entre outras)

associadas agrave recuperaccedilatildeo ambiental e como instrumento de valorizaccedilatildeo das aacutereas a

serem conservadas ou recuperadas e de combate agraves praacuteticas indevidas de uso do

fogo

8 [] (BRASIL 2006ordf p 1112)

32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo

321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba

O municiacutepio de Irauccediluba possui uma aacuterea de 1461253 Km2 o que corresponde a

098 do territoacuterio estadual e estaacute situado no sertatildeo Centro-Norte conforme figura 12

inserido na microrregiatildeo geograacutefica de Sobral Dista cerca de 150 Km da capital Fortaleza e

21

p 7 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos naturais 22

p 11e 13 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos

naturais 23

p 11e 12 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos

naturais

78

localiza-se entre as coordenadas geograacuteficas Latitude 3˚44‟46rdquo S (Sul) e Longitude 39˚47‟00rdquo

WGr (oeste) Faz fronteira ao norte com os municiacutepios de Miraiacutema e Itapipoca ao sul com

Santa Quiteacuteria e Canindeacute a leste com Itapajeacute e Tejuccediluoca e a oeste com Sobral e possui trecircs

distritos Missi Juaacute e Boa Vista segundo ilustra a figura 13

Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba

Fonte Lustosa (2004) Fonte Lustosa (2004)

Segundo o censo de 2010 do IBGE a populaccedilatildeo do municiacutepio era de 22324

pessoas sendo curiosamente a maioria homens (5083) Jaacute sua densidade demograacutefica

correspondia a 1539 habKm2 A ocupaccedilatildeo municipal predomina na zona urbana

correspondendo a 6425 dos indiviacuteduos Em 2012 a populaccedilatildeo aumentou para 22742

pessoas

3211 Das propriedades estudadas

Por Irauccediluba possuir aproximadamente 713 imoacuteveis rurais tomando por base a

mediccedilatildeo feita pelo IDACE em 2012 natildeo seria possiacutevel o estudo de todas elas Partiu-se

entatildeo para uma amostragem com base nos imoacuteveis que possuiacuteam a reserva legal seja por

registro em cartoacuterio eou porque a aacuterea eacute puacuteblica e foi destinada a projetos de assentamentos

agraacuterios (PA‟s) estaduais e federais que por sua vez deveriam respeitar tal obrigatoriedade

79

Pela tabela 8 vecirc-se que dos 14 assentamentos em Irauccediluba 6 satildeo estaduais e 8

federais No entanto os criteacuterios utilizados para examinaacute-los foi o tempo de criaccedilatildeo de cada

um e a existecircncia de reserva legal delimitada na planta da propriedade Aleacutem disto foi

escolhido um imoacutevel particular por apresentar a averbaccedilatildeo da reserva legal como demonstra a

tabela 9

Tabela 8 - Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de anaacutelise

PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO

Nome do

Assentamento

Instituiccedilatildeo

Responsaacutevel Data de Criaccedilatildeo Status para anaacutelise

Saco do Vento IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Aroeira IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Boqueiratildeo IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Mudubim IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Consulta IDACE 23072001 Planta natildeo disponibilizada

Cachoeira IDACE 05102006 Planta natildeo disponibilizada

Saco Verde INCRA 2691997 Incluiacutedo

Cajazeiras II INCRA 2691997 Incluiacutedo

Aacuteguas Mortas

Poccedilo da Pedra INCRA 22121997 Incluiacutedo

RiachueloAlto

Alegre INCRA 09112005 Incluiacutedo

Almas INCRA 17111998 Incluiacutedo

Olho d‟Aacutegua da

Esperanccedila INCRA 06122007

Muito recente ndash Fora de abrangecircncia

das imagens de sateacutelite

Satildeo Marinho

Rodeador INCRA 04122006

Reserva legal natildeo delimitada na planta

do imoacutevel

Arraia INCRA 13102011 Muito recente ndash Fora de abrangecircncia

das imagens de sateacutelite

Tabela 9 - Dados da propriedade particular estudada PROPRIEDADE PARTICULAR ANALISADA

Nome Proprietaacuterio Data da averbaccedilatildeo

da RL Status para anaacutelise

Miramar MIRASA ndash Miramar

Agropecuaacuteria SA 06042005 Incluiacutedo

Diante dos paracircmetros de seleccedilatildeo apontados acima restaram 5 assentamentos e 1

aacuterea particular totalizando 6 aacutereas para estudo Assim sendo as propriedades analisadas

foram RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas Almas Saco Verde Cazajeiras II e Miramar

sendo esta a de domiacutenio privado Com exceccedilatildeo desta uacuteltima as demais satildeo assentamentos

agraacuterios federais ficando de fora os estaduais por serem em sua maioria recentes isto eacute a

partir de 2010 e por isso natildeo abrangidos pelas imagens de sateacutelite utilizadas (anos 1993 e

2007) As duas estaduais mais antigas Consulta e Cachoeira natildeo tiveram suas plantas

80

disponibilizadas pelo oacutergatildeo competente e as federais que ficaram excluiacutedas tambeacutem eram

muito recentes aleacutem do que natildeo possuiacuteam reserva legal delimitada

A figura 14 a seguir mostra a localizaccedilatildeo das propriedades estudadas e suas

respectivas reservas legais delimitadas que podem ser lidas pela legenda de cores ao lado

Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo

A tabela 10 traz as aacutereas de cada imoacutevel e sua reserva legal onde eacute possiacutevel

constatar um nuacutemero pequeno de propriedades que apresentam o tal instituto criado e exigido

por lei Aleacutem disso a soma de suas aacutereas tambeacutem eacute pouco expressiva ao comparar com a do

municiacutepio No total satildeo 1628865 hectares sendo 328832 hectares pertinentes agrave reserva

legal

Tabela 10 - Propriedades estudadas

PROPRIEDADES ESTUDADAS

IMOacuteVEL DOMIacuteNIO AacuteREA DO IMOVEL (HA) AacuteREA DA RESERVA LEGAL (HA)

Saco Verde INCRA 6464 129280

Cajazeiras II INCRA 96487 19297

Aacuteguas Mortas Poccedilo da Pedra INCRA 239778 47955

Riachuelo Alto Alegre INCRA 3378 67560

Olho drsquoAacutegua da Esperanccedila INCRA 1940 388

81

Miramar PARTICULAR 1144 25940

3212 Aspectos histoacutericos da ocupaccedilatildeo do municiacutepio

Haacute quem diga que Irauccediluba significa tanto amizade como grande abelha amarela

A primeira acepccedilatildeo se deve ao povo hospitaleiro de bons sentimentos e amigos da paz Jaacute a

segunda faz referecircncia a um vocaacutebulo indiacutegena cuja expressatildeo representa a junccedilatildeo de trecircs

palavras ira que quer dizer mel ou abelha ussu grande e yuba amarelo (FOLHES e

VIANA 2001)

Segundo o IBGE o surgimento de Irauccediluba se deve a um povoado denominado

Cacimba do Meio que despontou no iniacutecio do seacuteculo XIX O nome do municiacutepio como

atualmente eacute conhecido soacute foi alterado em 1899 pelo desembargador Aacutelvaro de Alencar

Irauccediluba foi distrito de Itapajeacute de 1905 ateacute 1957 quando foi elevada agrave condiccedilatildeo de municiacutepio

Quanto a sua ocupaccedilatildeo Arauacutejo Filho e Silva (2013) remontam a memoacuteria dos

mais antigos que registra o fenocircmeno da transumacircncia na regiatildeo jaacute no seacuteculo XIX Aleacutem

disto os autores ainda mencionam que

O primeiro relato da presenccedila do homem branco na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba

refere-se agrave passagem no ano de 1606-1607 dos jesuiacutetas Francisco Pinto e Luiacutes

Figueira Na eacutepoca a regiatildeo era habitada por iacutendios das etnias Tupi e Tapuia

citando-se os Anaceacute Apuiareacute e Kariri (GIRAtildeO1967) Consta entatildeo que os

indiacutegenas viviam da caccedila e que na eacutepoca seca ateavam fogo na erva para afugentar

as cobras e facilitar a caccedila (ARAUacuteJO e SILVA 2013 p 4)

E soacute para constar o potencial do municiacutepio acerca da boa qualidade das pastagens

de forma a compensar a praacutetica da transumacircncia em tempos antigos vale referenciar um

texto de Dias (1998) que Folhes e Viana (2001) fazem menccedilatildeo

ldquo() no espaccedilo onde Irauccediluba estaacute inserida atualmente visto como um ambiente

inoacutespito em processo de desertificaccedilatildeo no seacuteculo XVII ao se transitar pela flora

primitiva na eacutepoca das chuvas era difiacutecil saber se era noite ou dia face ao

adensamento da vegetaccedilatildeordquo Esse adensamento foi registrado pelos jesuiacutetas

Francisco Pinto e Luiacutes Figueira em 1607 quando partiram de Pernambuco numa

missatildeo de catequese em direccedilatildeo ao Maranhatildeo (DIAS 1998 p 62 apud FOLHES e

VIANA 2001 p 9)

322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas

Arauacutejo Filho e Silva (2013) fazem um apanhado sucinto e ao mesmo tempo geral

de duas atividades econocircmicas desenvolvidas no municiacutepio de Irauccediluba

82

Historicamente a Regiatildeo tem na pecuaacuteria a mais importante atividade dentro de um

sistema de transumacircncia servindo de estaccedilatildeo na eacutepoca das chuvas para os rebanhos

criados na regiatildeo litoracircnea Isto porque apresenta extensas aacutereas recobertas por

planossolos sob uma caatinga do tipo savana com cobertura herbaacutecea de excelente

potencial forrageiro Considerando a ocupaccedilatildeo da aacuterea municipal 124 satildeo usados

para a produccedilatildeo agriacutecola a pecuaacuteria ocupa 671 e os restantes 205 satildeo

recobertos de matas Confrontando os dados da distribuiccedilatildeo dos solos e de sua

ocupaccedilatildeo vecirc-se que a pecuaacuteria eacute praticada em toda a extensatildeo dos planossolos e dos

luvissolos a agricultura ocupa pequena parcela do luvissolo e dos solos litoacutelicos e a

extraccedilatildeo de madeira parte dos litoacutelicos e dos luvissolos (IBGE 2010) (ARAUacuteJO

FILHO e SILVA 2013 p 1)

Para os autores a pecuaacuteria em sistemas de produccedilatildeo de regiotildees semiaacuteridas

constitui uma atividade tampatildeo dos efeitos da seca facilita a dispersatildeo dos riscos de perdas

tem boa liquidez econocircmica e eacute um fator muito importante de fixaccedilatildeo do homem agrave terra

Em se tratando de nuacutemeros o PAE (CEARAacute 2010b) apresentou em seus

levantamentos percentuais a situaccedilatildeo de alguns aspectos socioeconocircmicos que ora se julga

interessantes expor neste trabalho Por exemplo o analfabetismo estaacute decrescendo eacute o que a

taxa de escolaridade no ensino fundamental de 932 em 2007 demonstra mas altas taxas

de repetecircncia evasatildeo escolar qualificaccedilatildeo dos professores baixo aproveitamento dos alunos

e divergecircncia entre a faixa etaacuteria e a seacuterie cursada tambeacutem satildeo problemas que afetam a

educaccedilatildeo no municiacutepio Folhes e Viana (2001) Quanto ao saneamento baacutesico natildeo existia rede

de esgotamento no municiacutepio nem aacutegua tratada para a maioria da populaccedilatildeo conforme

pesquisa realizada em 2007 contudo em 2010 a CAGECE24

informou que havia 6173

ligaccedilotildees entre reais e ativas para o abastecimento de aacutegua enquanto que a cobertura de

esgoto continuava sem nenhuma ligaccedilatildeo mas curiosamente apresentava uma taxa de

cobertura de 1937

O PAE (CEARAacute 2010) diz que em Irauccediluba o salaacuterio meacutedio mensal da

populaccedilatildeo correspondia a um salaacuterio miacutenimo e meio mas o IBGE (2010) traz outro nuacutemero

Em 2010 quando o salaacuterio miacutenimo era de R$ 51000 a renda domiciliar per capita entre frac14 a

mais de 3 correspondia a 5158 trabalhadores sendo que a maioria deles recebia por mecircs R$

12750 ou menos Agregada a essa realidade econocircmica existe a populaccedilatildeo extremamente

pobre com renda domiciliar per capita de ateacute R$ 7000 Nesse patamar concentram-se 8008

pessoas

Eacute nesse contexto que estatildeo cerca de 13500 pessoas classificadas como

economicamente ativas no municiacutepio Infelizmente o nuacutemero de irauccedilubenses inseridos na

condiccedilatildeo de pobreza eacute bem expressivo correspondendo a 3587 da populaccedilatildeo em 2010

24

In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p14)

83

Eacute faacutecil perceber que se trata de uma cidade pouco desenvolvida pobre sem muita

educaccedilatildeo e condiccedilotildees baacutesicas de sauacutede Isso reflete tanto na economia como na qualidade de

vida sem falar no cenaacuterio ambiental pois a situaccedilatildeo como estaacute posta favorece muito mais a

degradaccedilatildeo dos recursos naturais

Falando em questotildees ambientais dentro do contexto da dinacircmica populacional de

Irauccediluba eacute interessante citar a retraccedilatildeo no nuacutemero de indiviacuteduos residentes na aacuterea rural

desde a deacutecada de 70 e consequentemente aumento na urbana Considerando que os riscos de

desertificaccedilatildeo satildeo mais acentuados nas regiotildees densamente povoadas porque haacute maior

pressatildeo sobre os bens naturais e que a densidade demograacutefica do municiacutepio em 2010 estava

em 1539 habkm Folhes e Viana (2001) pontuam

A densidade demograacutefica de Irauccediluba representa pouco mais da metade do que

Ferreira et al (1994) estabeleceram como ldquofator de pressatildeordquo no estudo que se

tornou conhecido por ser o primeiro a confeccionar o mapa de susceptibilidade agrave

desertificaccedilatildeo do Nordeste brasileiro dada(s) as condiccedilotildees de semi-aridez as

condiccedilotildees dos solos a disponibilidade de aacutegua da regiatildeo e a capacidade de suporte

da mesma adotou-se como fator de pressatildeo sobre o meio ambiente a densidade

igual ou superior a 20habkm2 (p19-20)rdquo Veem-se a dificuldade e imprecisatildeo dos

estudos quanto agrave determinaccedilatildeo de algum ponto criacutetico onde a relaccedilatildeo densidade

demograacutefica versus processos de desertificaccedilatildeo passa de causa para efeito

(FOLHES e VIANA 2001 p 13)

Os autores ainda reforccedilam que o municiacutepio se enquadra no grupo com fraca

densidade demograacutefica que eacute de 10 a 20habkm2 de acordo com a classificaccedilatildeo estabelecida

pelo diagnoacutestico agro-soacutecio-econocircmico

Segundo Folhes e Viana (2001) um dos iacutendices mais sensiacuteveis para se medir o

niacutevel de desenvolvimento de um municiacutepio eacute a taxa de mortalidade infantil pois ela revela a

estreita ligaccedilatildeo entre o estado de sauacutede da populaccedilatildeo o acesso aos serviccedilos meacutedicos

condicionados pela situaccedilatildeo soacutecioeconocircmica da populaccedilatildeo Em Irauccediluba essa taxa eacute de 1592

mortos a cada 1000 nascidos vivos maior ainda que a do estado 133225

A economia de Irauccediluba gira em torno de atividades como agricultura e pecuaacuteria

Aquela engloba culturas praticadas em lavouras permanentes e temporaacuterias e esta envolve a

criaccedilatildeo de gado de vaacuterias espeacutecies e aves como galos e galinhas Em termos comparativos

traccedilou-se um paralelo do sistema produtivo econocircmico nos anos de 2001 e 2011 para que se

pudesse avaliar alguma retraccedilatildeo ou evoluccedilatildeo no quadro agropecuaacuterio e industrial do

municiacutepio

A figura 15 abaixo eacute autoexplicativa de modo que prontamente se percebe a

banana e a manga como as culturas mais significativas ficando logo atraacutes o cocircco da baiacutea

25

SESA (2011) In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p 9)

84

Nota-se tambeacutem natildeo haver muita diferenccedila de produccedilatildeo dos trecircs cultivos agriacutecolas nesses

dois anos o que leva a concluir que os produtores do municiacutepio mantiveram os investimentos

e colheitas semelhantes O mesmo natildeo ocorreu com o algodatildeo arboacutereo pois seu resultado caiu

drasticamente no periacuteodo analisado Ressalte-se poreacutem que o ano de 2001 foi mais produtivo

que o de 2011 com exceccedilatildeo da castanha de caju

Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Permanentes

Fonte IBGE (2001 e 2011)

Com relaccedilatildeo agraves lavouras temporaacuterias o destaque eacute da mandioca e da mamona

muito embora esta uacuteltima soacute apresente resultados no ano de 2011 Outras culturas temporaacuterias

satildeo o milho e o feijatildeo mas natildeo constam na figura 16 porque a disparidade entre os dois anos

e a alta produtividade em 2011 dificultariam a visualizaccedilatildeo

Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Temporaacuterias

Fonte IBGE (2001 e 2011)

85

De qualquer maneira a safra de milho e feijatildeo em 2001 natildeo foi tatildeo expressiva

ou seja correspondeu a 14 e 7 toneladas respectivamente Jaacute em 2011 esse nuacutemero foi agraves

alturas chegando agraves 4433 toneladas de milho e 2088 toneladas de feijatildeo

Jaacute os produtos de origem florestal comuns em Irauccediluba satildeo a cera o poacute e a fibra

da carnauacuteba o carvatildeo vegetal a lenha e a madeira em tora poreacutem os mais relevantes satildeo o

carvatildeo vegetal e a lenha conforme se vecirc nas figuras 17 e 18

Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em tonano

Fonte IBGE (2001 e 2011)

Como a lenha e a madeira em tora tecircm unidade de medida diferente dos demais

produtos construiu-se a figura 18 para natildeo deixaacute-las de fora da anaacutelise

0100020003000400050006000700080009000

1000011000

Lenha Madeira em tora

Produtos de origem vegetal (m3ano)

2001

2011

Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em m3ano

Fonte IBGE (2001 e 2011)

86

Quanto aos produtos de origem animal o leite foi o mais vultoso sobressaindo-se

nos anos de 2001 e 2011 Na tabela 11 abaixo tambeacutem foram relacionados os outros mas

com participaccedilatildeo bem pequena na produtividade do municiacutepio

Tabela 11 - Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem animal Produtos de origem animal

Leite Mel de abelha Ovos de galinha Ovos de codorna

Produccedilatildeo (mil l) Produccedilatildeo (kg) Produccedilatildeo (mil dz) Produccedilatildeo (mil dz)

2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011

5228 6031 0 507 80 143 0 1

Fonte IBGE (2001 e 2011)

Em termos industriais julgou-se interessante fazer uma comparaccedilatildeo um tanto

mais abrangente citando tambeacutem os nuacutemeros do ano de 2010 Observa-se que os grupos de

induacutestrias existentes em Irauccediluba reuacutenem as de extraccedilatildeo mineral construccedilatildeo civil e

principalmente as de transformaccedilatildeo conforme figura 19

Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011)

Fonte IBGE (2001 2010 e 2011)

Eacute possiacutevel observar pela figura acima que as empresas de extraccedilatildeo mineral e de

construccedilatildeo civil pouco se desenvolveram durante o periacuteodo analisado o mesmo natildeo ocorreu

com as induacutestrias de transformaccedilatildeo que inclusive chamam bastante atenccedilatildeo Estas se

desdobram em vaacuterias espeacutecies como por exemplo produccedilatildeo de minerais natildeo metaacutelicos

metaluacutergica mecacircnica produccedilatildeo de material eleacutetrico eletrocircnico e comunicaccedilatildeo produccedilatildeo de

material para transporte madeireira mobiliaacuteria produccedilatildeo de papel papelatildeo e borracha

beneficiamento de couros peles e similares quiacutemica produccedilatildeo de produtos farmacecircuticos e

veterinaacuterios de material plaacutestico tecircxtil vestuaacuterio calccedilados artefatos de tecido couros e

peles produtos alimentares bebidas fumo dentre outras

87

De 2001 para 2010 a quantidade de induacutestrias de transformaccedilatildeo pouco aumentou

passando de 13 para 17 mas de 2010 a 2011 esse rol duplicou indo de 17 para 34 empresas

como se pode observar pelas figuras 20 21 e 22

Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001

Fonte IBGE (2001)

Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010

Fonte IBGE (2010)

TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 13

TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 17

88

Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011

Fonte IBGE (2011)

A induacutestria tecircxtil oscilou em nuacutemeros visto que em 2001 contava com 5

empresas em 2010 com 4 expandido para 9 de forma que essa quantidade representou 26

do total de induacutestrias em Irauccediluba no ano de 2011 Outra atividade expressiva no municiacutepio eacute

a de produtos alimentares Muito embora natildeo exista em 2010 nos anos de 2001 e 2011 ela

totalizava 5 e 9 unidades respectivamente representando 23 e 26 cada uma no universo de

empresas Em terceiro plano encontra-se a produccedilatildeo de minerais natildeo-metaacutelicos que em 2001

contou com 1 induacutestria em 2010 com 2 e em 2011 com 3 Aleacutem disto apareceram a partir de

2010 atividades como mobiliaacuterio couros e peles vestuaacuterio e uma categoria natildeo definida pelo

IBGE classificada como diversas Em contrapartida desapareceram da contagem as

induacutestrias madeireira e metaluacutergica

Na pecuaacuteria existe a criaccedilatildeo de gado e aves O realce no primeiro grupo eacute dado

pelos bovinos seguido pelos ovinos e caprinos tanto no ano de 2010 como 2011 sendo neste

os nuacutemeros maiores Quanto agraves aves a ocorrecircncia eacute de galos frangos frangas e pintos aleacutem

de galinhas Entre estes dois grupos o primeiro eacute mais representativo como bem se examina

pela figura 23

TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 34

89

Figura 23 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos

Fonte IBGE (2011 e 2011)

Sem esquecer outros rebanhos mesmo que de menor grandeza existem no

municiacutepio bubalinos muares coelhos e codornas segundo os nuacutemeros apresentados na

tabela 12

Tabela 12 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores Rebanhos Bubalinos Muares Coelhos Codornas

Ano 2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011

Nordm de indiviacuteduos 98 48 380 436 22 67 89 193

Fonte IBGE (2011 e 2011)

Por fim conclui-se que em Irauccediluba eacute praticado aleacutem das atividades industriais o

tripeacute econocircmico baseado na produccedilatildeo agriacutecola pecuaacuteria e madeireira esta a partir da

exploraccedilatildeo de lenha e carvatildeo vegetal Desta maneira seria mais interessante para o municiacutepio

considerando suas caracteriacutesticas ambientais o uso de sistemas de produccedilatildeo

agrossilvopastoris Nesse sentido Arauacutejo Filho e Silva (2013) ilustram

Os sistemas de produccedilatildeo agrossilvipastoris satildeo formas de uso e manejo da terra nas

quais aacutervores e arbustos satildeo utilizados em associaccedilatildeo com cultivos agriacutecolas e

animais numa mesma aacuterea de maneira simultacircnea ou numa sequecircncia temporal

Cada componente do sistema de produccedilatildeo deve ter pelo menos uma funccedilatildeo proacutepria e

sua integraccedilatildeo garante sua funcionalidade Assim as aacutervores devem ser em nuacutemero

suficiente para um aporte significativo de serrapilheira fonte de mateacuteria orgacircnica

para o solo Os animais satildeo os redistribuidores de nutrientes entre os componentes

do sistema via urina e esterco E as culturas garantem a produccedilatildeo de alimentos para

a famiacutelia e seus animais e contribuem para a circulaccedilatildeo de nutrientes dentro do

sistema Os SAF‟s podem tambeacutem ser usados para a reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e

econocircmica de aacutereas degradadas sobre luvissolos e argissolos (ARAUacuteJO FILHO e

SILVA 2013 p 1819)

90

323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba

A caracterizaccedilatildeo ambiental realizada no municiacutepio das aacutereas de estudo engloba a

altimetria as classes de relevo demonstrando a declividade do terreno que varia de plano a

forte ondulado os tipos de solos e suas associaccedilotildees de classes entre si o clima envolvendo

dados sobre a pluviometria anual o iacutendice de umidade o nuacutemero de meses sem chuva a

temperatura e a evapotranspiraccedilatildeo total anual do municiacutepio Comenta-se ainda a vegetaccedilatildeo e

suas formas aleacutem dos rios e accediludes existentes em Irauccediluba reunindo seus recursos hiacutedricos

3231 Altimetria e Classe de relevo

A altimetria do municiacutepio estaacute exibida na figura 24 conforme seus niacuteveis de

altitude que variam de 80 a 840 metros acima do mar

Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba

91

Jaacute o relevo oscila de plano a forte ondulado conforme figura 25 Arauacutejo Filho e Silva

(2013 p 1) definem que ldquonos planossolos o relevo varia de plano a suave-ondulado (de 1 a 8)

nos argisssolos e nos luvissolos apresentam-se em relevo de suave-ondulado a ondulado (de 8 a

20) e os litoacutelicos estatildeo em relevo forte-ondulado (de 20 a 45)rdquo

Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba

3232 Solos

A regiatildeo semiaacuterida nordestina ldquo[] recebe anualmente calor e luz em excesso o

que resulta em raacutepida mineraccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica Seus solos satildeo geralmente pouco

profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica mas relativamente ricos

em bases trocaacuteveisrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 7)

O PAN (BRASIL 2004) assegura que as classes de associaccedilatildeo de solos presentes

no semiaacuterido do Nordeste satildeo o bruno natildeo caacutelcico litoacutelicos podzoacutelico eutroacutefico terra roxa

estruturada cambissolo ondulado e forte ondulado e planossolos Apresentam tambeacutem tipos

de relevo e susceptibilidade agrave erosatildeo diferenciados como mostra a tabela 13

92

Tabela 13 - Relaccedilatildeo de solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo

CLASSES DE SOLO RELEVO SUSCEPTIBILIDA Agrave

EROSAtildeO

Bruno natildeo caacutelcico (Luvissolos) Suave ondulado e ondulado Forte

Litoacutelicos Ondulado forte ondulado e

montanhoso Muito forte

Podzoacutelico eutroacutefico terra roxa

estruturada cambissolo ondulado e

forte ondulado

Ondulado e forte ondulado Moderado

Planossolos Plano e suave ondulado Moderado

Fonte PAN Brasil (2004)

ldquoTrecircs classes de solos se destacam no municiacutepio de Irauccediluba luvissolos com

432 de cobertura planossolos com 187 e litoacutelicos com 332 Juntos eles perfazem

951 da aacuterea do municiacutepiordquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2)

Os luvissolos constituem os solos mais utilizados pela agricultura migratoacuteria do

semiaacuterido nordestino Por causa do desmatamento e uso do fogo haacute indicaccedilotildees de que pelo

menos 65 da aacuterea de cobertura deste importante solo se encontrem em erosatildeo de grave a

muito grave Em Irauccediluba natildeo eacute diferente pois a agricultura eacute praticada nas aacutereas recobertas

por luvissolos e solos litoacutelicos enquanto a pecuaacuteria eacute desenvolvida tanto no planossolo com

presenccedila tambeacutem nas aacutereas de luvissolo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013)

Em se tratando de associaccedilatildeo de solos a tabela 14 indica a nomenclatura utilizada

por Jacomine (1973) e pela EMBRAPA (2006) para definir os tipos de associaccedilatildeo

encontrados em Irauccediluba apontando ainda a porcentagem de cada um dentro da respectiva

associaccedilatildeo E a figura 26 apresenta a distribuiccedilatildeo dessas associaccedilotildees no municiacutepio de forma

que eacute possiacutevel notar o predomiacutenio da associaccedilatildeo NC15 seguida da Re25 e Re26

Tabela 14 - Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEMBRAPA

ASSOCIACcedilAtildeO

DE SOLO EM

JACOMINE

(1973)

NOMENCLATURA DOS SOLOS NAS ASSOCIACcedilOtildeES DO SOLO

NA

ASSOCIACcedilAtildeO JACOMINE (1973) EMBRAPA (2006)

PE6

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO moderado

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 40

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO chemozecircnico

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 30

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 15

AFLORAMENTOS DE ROCHA - 15

PE42

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 70

REGOSOL EUTROacuteFICO NEOSSOLOS

REGOLIacuteTICOS 30

NC7 BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO LUVISSOLO 40

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 35

93

BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO veacutertico LUVISSOLO 25

NC15

BRUNOS NAtildeO CAacuteLCICOS

INDISCRIMINADOS LUVISSOLO 40

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 25

PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 20

SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 15

PL6

PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 45

SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 35

SOLOS OTOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 20

Re6

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 65

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 35

Re25 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel

estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -

Re26 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel

estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -

Fonte Jacomine et al (1973) e EMBRAPA (2006)

Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba

94

Por fim a figura 27 apresenta os quatro grandes grupos de solo encontrados em

Irauccediluba e sua distribuiccedilatildeo no municiacutepio sendo eles Podzoacutelico vermelho amarelo

equivalente eutroacutefico (PE) Bruno natildeo caacutelcico (NC) Planossolo (PL) e Solos litoacutelicos (Re)

Figura 27 Grupos de solos que formam associaccedilotildees pedoloacutegicas em Irauccediluba

3233 Clima

ldquoO clima na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba eacute conforme classificaccedilatildeo de Koumlppen

(MILLER 1971) do tipo Bshw semiaacuterido megateacutermico com curta estaccedilatildeo chuvosa no

veratildeo-outono e com concentraccedilatildeo das precipitaccedilotildees pluviais nos meses de marccedilo e abrilrdquo

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2) Anualmente o municiacutepio apresenta pluviometria

meacutedia abaixo dos 700 mm mas existe maior incidecircncia de chuva em outras regiotildees de

Irauccediluba Eacute o que demonstra a figura 28

Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba

Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba

95

Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba

ldquoA regiatildeo apresenta um dos mais baixos iacutendices pluviomeacutetricos do Estado do Cearaacute

com meacutedia histoacuterica de 540 mm Isto porque a aacuterea encontra-se a sotavento da serra

de Uruburetama constituindo-se em uma ldquosombra de chuvardquo causada pela

interceptaccedilatildeo pela serra dos ventos uacutemidos oriundos do oceanordquo (ARAUacuteJO FILHO

e SILVA 2013 p 2)

O municiacutepio passa a maior parte do ano sem chuva aproximadamente dez meses

e apesar da pouca pluviosidade a evapotranspiraccedilatildeo eacute maior que a precipitaccedilatildeo Sem poder

ser diferente as temperaturas variam de 25 a 28 graus sendo que na maior parte da aacuterea

incidem temperaturas de 26 a 27 graus centiacutegrados e a umidade aponta a incidecircncia do clima

semiaacuterido em Irauccediluba As figuras 06 29 30 31 e 32 ilustram as informaccedilotildees declaradas

96

Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba

Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual

97

Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba

Figura 32 Iacutendice Efetivo de umidade em Irauccediluba

Fonte NOLEcircTO (2005)

98

3234 Vegetaccedilatildeo

A caatinga eacute um dos maiores biomas brasileiros e significa mata branca Por ser

uma vegetaccedilatildeo xeroacutefila eacute capaz de suportar vaacuterios anos de estiagem recuperando com

rapidez suas atividades logo nas primeiras chuvas apoacutes a seca A adaptaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo ao

clima semiaacuterido eacute impressionante como por exemplo as cascas claras ou reluzentes servem

para diminuir o aquecimento do tecido vivo da planta Por causa da falta de aacutegua satildeo

caducifoacutelias isto eacute as folhas caem durante a estaccedilatildeo seca para evitar excesso de perda d‟aacutegua

pela evapotranspiraccedilatildeo aleacutem disto os caules satildeo projetados para armazenar aacutegua (MAIA

2012)

ldquoA caatinga se assemelha a arbustos tropicais ou bosques de espinhos Eles

contecircm pequenas aacutervores de madeira dura grotescamente retorcidas e com espinhos as folhas

satildeo pequenas e caem durante a estaccedilatildeo secardquo Odum e Barret (2008 p 453)

Fisionomicamente eacute possiacutevel diferenciar os tipos de vegetaccedilatildeo o arboacutereo que estaacute nas

superfiacutecies mais conservadas sendo o pau branco o angico o pereiro dentre outras suas

espeacutecies mais representativas o arbustivo que eacute sinal de aacutereas jaacute degradadas pelo

desmatamento uso agriacutecola e pecuaacuteria e o herbaacuteceo figurado por gramiacuteneas presentes

somente durante o periacuteodo chuvoso e explorado pela pecuaacuteria extensiva (DANTAS et al

2007)

ldquoO Bioma Caatinga estaacute inserido no quadro dos Ecossistemas da Regiatildeo das

Caatingas e Florestas Deciduais do Nordeste Abrange as especificidades do Domiacutenio

Morfoclimaacutetico das Caatingas sejam elas arbustivas ou arboacutereasrdquo (BRASIL 2004 p 68) Os

frutos amadurecem ao fim da eacutepoca das chuvas quase que generalizadamente na maioria das

espeacutecies arboacutereas e herbaacuteceas permanecendo pendentes dos ramos durante algum tempo Ao

se desprenderem e caiacuterem no solo natildeo germinam de imediato pois a resistecircncia da casca e

outros artifiacutecios da natureza impedem a germinaccedilatildeo pronta Se germinassem morreriam quase

em seguida natildeo resistindo agrave longa estaccedilatildeo seca e quente da estiagem com interrupccedilatildeo brusca

e total das chuvas A germinaccedilatildeo poreacutem processa-se rapidamente logo ao caiacuterem as

primeiras chuvas pois os indumentos foram intensamente desgastados pelo intemperismordquo

As queimadas realizadas para a preparaccedilatildeo de novos terrenos de cultivo desempenham papel

de grande poder destruidor do ambiente ldquoCompreende-se pois que a restauraccedilatildeo da

cobertura vegetal depende da preservaccedilatildeo desses estoques de sementesrdquo26

26

Conferir SOBRINHO Vasconcelos (1983) In PAN Brasil 2004

99

ldquoA vegetaccedilatildeo da aacuterea do nuacutecleo de desertificaccedilatildeo de Irauccediluba espelha os efeitos dos

fatores fiacutesicos mormente os de natureza hiacutedrica e edaacutefica e da accedilatildeo antroacutepica

Assim as aacutereas dos solos argissolos litoacutelicos e luvissolos apresentam uma cobertura

arbustiva-arboacuterea formando um verdadeiro mosaico de diferentes estaacutedios

sucessionais em virtude das praacuteticas agriacutecola ambientalmente agressivasrdquo [] ldquoAs

aacutereas sobre os planossolos estatildeo recobertas por uma caatinga assavanada e

esporadicamente com afloramentos rochosos e com cobertura arbustiva arboacuterea

meacutedia abaixo de 20 e densidade de cerca 200plantasha A camada herbaacutecea de

biodiversidade inferior ao das aacutereas de luvissolos ou argissolos eacute rica no entanto

em espeacutecies forrageiras destacando-se a erva de ovelha (Stylosanthes humilis)

vassourinha (Stylosanthes angustifolia) urinana (Zornia bracteata) e capim accedilu

(Paspalum milegrana) O capim panasco no entanto predomina nas aacutereas

sobrepastejadasrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 34)

A figura 33 espelha a composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba Segue claro que a Caatinga

Arboacuterea Sem Palmeira (Cas) predomina seguida da Caatinga Arboacuterea Com Palmeira (Cap) e

da Caatinga Parque Sem Palmeira (Cps) A Floresta Ombroacutefila Aberta (Acc1) e as Aacutereas De

Formaccedilatildeo Pioneira (Acc2) representam uma aacuterea menor do municiacutepio

Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba

3235 Recursos Hiacutedricos

O nuacutecleo de Irauccediluba estaacute situado na bacia hidrograacutefica do rio Curu contando com

o aporte dos rios Aracatiaccedilu e Caxitoreacute aleacutem de vaacuterios riachos destacando-se o Aroeira o

Fonte NOLEcircTO (2005)

Fonte NOLEcircTO (2005)

100

Gabriel e o Cachoeira A ausecircncia de barragens de porte representativo faz com que a

pequena accediludagem assuma um papel relevante Destacam-se dentre essas os Accediludes Satildeo

Gabriel do Mocoacute (IRAUCcedilUBA 2009)

Por conta da irregularidade das chuvas que contribui para favorecer o escoamento

de superfiacutecie junto agraves condiccedilotildees geoloacutegicas predominantemente cristalinas favorecem o

escoamento raacutepido das aacuteguas pluviais inviabilizando o acuacutemulo de aacuteguas subterracircneas em

quantidades razoaacuteveis (IRAUCcedilUBA 2009) existem no municiacutepio cerca de 28 pequenos

accediludes nomeando-se o Nogueira Ramos o Cairu Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu e o Jerimum

que abastece a cidade de Irauccediluba ldquoUma estrutura muito comum no municiacutepio eacute o barreiro da

salvaccedilatildeo constituindo-se em um sistema temporaacuterio de armazenamento de aacutegua para atender

agrave demanda dos rebanhos durante boa parte da estaccedilatildeo secardquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA

2013 p 3)

324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo

A partir da abordagem feita no item 323 passa-se a analisar a realidade de cada

propriedade estudada Visando apontar os aspectos geoambientais dos imoacuteveis construiu-se

um quadro siacutentese conforme tabela 15 abaixo

Tabela 15 ndash Anaacutelise Geral das propriedades estudadas

Anaacutelise

Imoacuteveis com Reserva Legal

Riachuelo

Alto Alegre

Aacuteguas

Mortas

Almas

Cajazeiras

II

Saco

Verde

Miramar

Classe

no

Tipo

Niacuteveis da Classe

no Tipo

Aacuterea (km2)

336 238 127 124 671 86

no Niacutevel da Classe no Tipo

Precipitaccedilatildeo

Total

Meacutedia Anual

lt 600 - - - - 103 -

600 a 700 100 100 100 755 100

700 a 800 - - - 976 112 -

800 a 900 - - - 24 - -

Temperatura

Meacutedia Anual

(oC)

25-26 - - - - 71 -

26-27 100 100 100 100 929 100

27-28 - - - - - -

ETP

lt 1450 - - - - 100 100

1450-1500 - - - - - -

1500-1550 - - - - - -

1550-1600 100 100 100 - - -

1600-1650 - - - 141 - -

1650-1700 - - - 859 - -

101

Nugravemero

de

Meses secos

85 a 95 100 100 564 100 330 -

95 a 105 - - 454 - 670 100

gt105 - - - - - -

Im

gt - 333 - - - - - -

- 344 a - 499 100 100 100 100 388 15

lt - 499 - - - - 612 985

Igravendice de Aridez

do UNEP 020 a 050 100 100 100 100 780 100

050 a 065 - - - - 220 -

Classes

de

Relevo

Plano 23 46 56 112 55 135

Suave Ondulado 162 316 378 373 227 485

Ondulado 194 338 427 64 124 130

Muito Ondulado 127 111 72 38 72 70

Forte Ondulado 463 185 66 264 400 179

Montanhoso 31 04 - 105 120 03

Escarpado - - - 44 02 -

Classes

de

Altitude

80-120 - - -- 560 - -

120-160 - - - 113 - -

160-200 - - - 60 321 -

200-240 54 171 723

240-280 01 41 460 40 85 202

280-320 139 614 521 36 68 49

320-360 349 211 10 41 56 24

360-400 178 65 01 38 70 02

400-440 90 24 - 28 53 -

440-480 63 21 - 19 55 -

480-520 45 16 - 10 45 -

520-560 33 05 - 02 32 -

560-600 29 02 - - 15 -

600-640 25 01 - - 10 -

640-680 17 - - - 08 -

680-720 13 - - - 07 -

720-760 07 - - - 03 -

760-800 05 - - - 02

800-840 03 - - - - -

840-880 02 - - - - -

880-920 01 - - - - -

Associaccedilotildees

de

Solos

PE 6 - - - - 207 -

PE 42 - - - 913 - -

NC 7 - - - - - -

NC 15 940 755 516 - - 441

PL 6 - - - - 348 -

Re 6 - - - - - -

Re 25 - - - 87 445 -

Re 26 60 245 424 - - 559

Grupos

de

solos

PE - - - 913 207 -

NC 940 762 516 - - 441

PL - - - - 348 -

Re 60 238 484 87 445 559

Cobertura

Vegetal

Cas 515 934 100 - 265 100

Cap - - - 649 - -

Cps - - - - 168 -

Acc1 485 66 - - - -

Acc2 351 567 -

Quanto agrave graduaccedilatildeo altimeacutetrica em que se encontra cada propriedade em estudo eacute

possiacutevel observar que a RiachueloAlto Alegre tem niacuteveis de altimetria crescentes a partir de

102

240 ateacute 920 metros destacando-se como o imoacutevel de maior altitude seguido de Saco Verde e

Aacuteguas Mortas As outras natildeo passam dos 560 metros de altitude

Em se tratando da classe de relevo a que se apresenta mais plana eacute Miramar com

135 de sua aacuterea seguida de Cajazeiras II com 112 Em relevo montanhoso destacam-se

Saco Verde com 12 de terreno e Cajazeiras II com 105 No entanto a predominacircncia eacute de

imoacuteveis inseridos na faixa entre o suave ondulado e o forte ondulado

Os imoacuteveis em anaacutelise situam-se em diferentes grupos de solos como ilustra a

tabela 15 Por exemplo RiachueloAlto Alegre e Aacuteguas Mortas estatildeo 94 e 762

respectivamente em luvissolos ou seja em solos Bruno natildeo caacutelcicos e Podzoacutelico vermelho

amarelo equivalente eutroacutefico Almas e Miramar estatildeo divididas aproximadamente agrave metade

em solo litoacutelico e em Bruno natildeo caacutelcico Em Cazajeiras II predomina o solo Podzoacutelico

vermelho amarelo equivalente eutroacutefico mas apresenta um pequeno percentual em solo

litoacutelico E por fim Saco Verde possui uma distribuiccedilatildeo variada de solos Podzoacutelico vermelho

amarelo equivalente eutroacutefico (207) Planossolos (348) e litoacutelicos (445) sendo o

uacutenico imoacutevel com planossolos

Nas associaccedilotildees de solos prevalece a subclasse 15 dos solos Bruno natildeo caacutelcicos

(NC) nas propriedades RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas e Almas Cajazeiras II estaacute

quase totalmente na subclasse 42 do Podzoacutelico vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) e

Miramar mesmo quase ao meio entre NC e Re possui a maior parte de sua aacuterea na subclasse

26 de solos litoacutelicos (Re) Saco Verde embora um tanto quanto bem distribuiacuteda tem 207

de aacuterea na subclasse 6 dos Podzoacutelicos vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) 348

em planossolos subclasse 6 inclusive eacute o uacutenico imoacutevel nessa classificaccedilatildeo e 445 em Re6

A realidade das aacutereas em estudo descrita na tabela 15 revela que mais da metade

delas estaacute inserida na faixa de pluviosidade abaixo dos 700 mm contudo Cajazeiras II foge agrave

regra apresentando pluviometria entre 700 a 900 mm Em Saco Verde ocorre distribuiccedilatildeo

irregular de chuvas e aleacutem de estar na meacutedia tem precipitaccedilatildeo tanto abaixo dos 600 como

acima de 700 mm

E por fim a cobertura vegetal de Almas Miramar quase toda de Aacuteguas Mortas e

a metade RiachueloAlto Alegre eacute de caatinga arboacuterea sem palmeira (Cas) enquanto que mais

de 50 da Cajazeiras II estaacute em caatinga arboacuterea com palmeira (Cap) Saco Verde tem mais

da metade da aacuterea em formaccedilatildeo pioneira (Acc2)

103

33 Metodologia

A metodologia utilizada no levantamento acerca da existecircncia de reserva legal no

municiacutepio de Irauccediluba envolveu algumas fases de anaacutelise como pesquisa bibliograacutefica

documental caracterizaccedilatildeo da aacuterea sob os aspectos sociais econocircmicos e ambientais o uso de

imagens orbitais e a aplicaccedilatildeo do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada (NDVI -

Normalized Difference Vegetation Index) nas propriedades em estudo

A abordagem envolveu o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo uma vez que para avaliar a

aplicabilidade da reserva legal como forma de combater o processo de degradaccedilatildeo ambiental

em Irauccediluba partiu-se da hipoacutetese de que se cada detentor de propriedade rural cumprisse a

obrigaccedilatildeo de implantaacute-la o processo de degradaccedilatildeo quiccedilaacute o de desertificaccedilatildeo seria estancado

no municiacutepio Aleacutem disso seria um instrumento proporcionador da recuperaccedilatildeo ambiental em

virtude de seus benefiacutecios A investigaccedilatildeo se deu por procedimentos de vieacutes histoacuterico e

comparativo tendo sido realizada uma retrospectiva de como foi o tratamento dado agrave reserva

legal no contexto juriacutedico econocircmico social e ambiental Aleacutem disto estudou-se as

propriedades que apresentaram o instituto mesmo que soacute documentalmente de maneira a

confrontar a situaccedilatildeo existente nos anos de 1993 e 2007 e sua modificaccedilatildeo

Para alcanccedilar os propoacutesitos deste trabalho ocorreu a coleta de dados pela pesquisa

documental e bibliograacutefica aleacutem da observaccedilatildeo direta intensiva que foi possiacutevel pelo exame

de dados obtidos por imagens do sateacutelite LANDSAT 5 referente aos anos de 1993 e 2007

bem como a avaliaccedilatildeo das aacutereas estudadas atraveacutes do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila

Normalizada (NDVI)

As informaccedilotildees geograacuteficas das propriedades em estudo foram disponibilizadas

basicamente pelo INCRA e pelo cartoacuterio de imoacuteveis de Irauccediluba Ambos cederam as plantas

georreferenciadas que foram vetorizadas em UTM 24s atraveacutes do programa CARTALINX 12

para em seguida serem exportadas para o IDRISI 322 e entatildeo convertidas para latitude e

longitude DATUM GS 84

331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite

O NDVI eacute um iacutendice de vegetaccedilatildeo derivado de imagens de sateacutelites e muito

utilizado na avaliaccedilatildeo da cobertura vegetal indicando o tipo a condiccedilatildeo e a densidade da

vegetaccedilatildeo atraveacutes do uso de bandas No caso as bandas do vermelho na faixa do visiacutevel e do

infravermelho proacutexima (PINHEIRO 2011) Agrave medida que aumenta a quantidade de

104

vegetaccedilatildeo verde aumenta a reflexatildeo na banda do infravermelho proacuteximo e diminui a reflexatildeo

na banda do vermelho fazendo com que o aumento da razatildeo seja potencializado realccedilando

assim a vegetaccedilatildeo27

Na banda do vermelho a clorofila absorve a energia solar resultando em uma

baixa reflectacircncia e no infravermelho proacuteximo tanto a morfologia interna das folhas quanto a

estrutura da vegetaccedilatildeo apresentam uma alta reflectacircncia da energia solar incidente A

combinaccedilatildeo dessas bandas realccedila a aacuterea de vegetaccedilatildeo nas imagens e quanto maior o contraste

maior o vigor da vegetaccedilatildeo da aacuterea imageada (LOURENCcedilO LANDIM 2004)28

Portanto o NDVI pode ser utilizado como uma teacutecnica para mapeamento

contiacutenuo da cobertura vegetal de uma regiatildeo possibilitando analisar e monitorar a

variabilidade desta em periacuteodos distintos (PINHEIRO 2011) Ressaltam ainda as diferenccedilas

entre aacutereas vegetadas e de solo exposto (VERONA 2002)29

O caacutelculo para se chegar ao NDVI deriva da razatildeo entre os valores das bandas do

vermelho e infravermelho proacuteximo ou seja a diferenccedila da resposta espectral do pixel dessas

bandas pela sua soma (SILVA et al 2007)30

resulta nos valores do NDVI que variam de ndash1 a

+1 A equaccedilatildeo para o caacutelculo do NDVI foi proposta por (JENSEN 1996)31

in Ewerton Torres

Melo 2008) conforme segue abaixo

NDVI = (NIR - R) (NIR + R)

Em que

NDVI eacute o iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada NIR eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Infra-Vermelho Proacuteximo

(076 a 090 μm)

R eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Vermelho (063 a 069μm)

Assim a vegetaccedilatildeo eacute caracterizada por uma intensa absorccedilatildeo devido agrave clorofila na

regiatildeo do vermelho (063 ndash 069 μm) e por uma intensa energia refletida na regiatildeo do

infravermelho proacuteximo (076 ndash 090 μm) causada pela estrutura celular das folhas Portanto

muitos dos modelos de iacutendice de vegetaccedilatildeo utilizam somente as bandas de imagem vermelha

ou proacutexima ao infravermelho (MELO 2008)

27

Novo (1989) In MELO Ewerton Torres (2008) 28

In PINHEIRO 2011 29

Idem 30

Ibidem 31

In MELO 2008

105

Conforme (BRAGA et al sd) estudos de variabilidade temporal e espacial sobre

a regiatildeo Nordeste do Brasil indicam que as aacutereas vegetadas variam de 01 a 08 sendo que

esses valores dependem da estrutura densidade e umidade da vegetaccedilatildeo As rochas e os solos

apresentam valores proacuteximos de zero e a aacutegua aparece com valores negativos Coberturas

vegetais muitos densas se expressam pelos maiores valores obtidos (PINHEIRO 2011)

106

4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES

41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba

O foco principal da pesquisa foi levantar e analisar as propriedades que de alguma

forma apresentem a reserva legal seja oficial ou extraoficialmente Com o exame das imagens

de sateacutelite dos anos de 1993 e 2007 utilizando o NDVI constatou-se que os iacutendices da

cobertura vegetal satildeo muito parecidos tanto dentro como fora da aacuterea de reserva ao serem

comparados pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Isto leva a crer que o instituto legal pode natildeo

ter promovido qualquer diferenccedila em termos de cobertura vegetal sem falar na hipoacutetese de

nem mesmo ter sido cumprido

Analisando os iacutendices de NDVI comprova-se que na grande maioria dos

imoacuteveis a cobertura vegetal tanto dentro como fora da aacuterea de reserva legal diminuiu entre

os anos de 1993 e 2007 Embora nas propriedades a vegetaccedilatildeo se apresente em niacuteveis

diferenciados de existecircncia representados pelas faixas 2 a 9 da tabela 16 vecirc-se que quase

todos em 1993 apresentavam aacutereas significativas de vegetaccedilatildeo na faixa 6 e 7 Se averiguar as

mesmas colunas em 2007 eacute notoacuteria a retraccedilatildeo nos iacutendices salvo na faixa 5 referente aos

imoacuteveis Aacuteguas Mortas Almas e Saco Verde

Tabela 16 - NDVI dos imoacuteveis estudados

IMOacuteVEL SEGMENTO ANO

Aacuterea no niacutevel de NDVI como uma porcentagem da aacuterea total do segmento

Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 4 Faixa 5 Faixa 6 Faixa 7 Faixa 8 Faixa 9

0 a 01 01 a 02 02 a 03 03 a 04 04 a 05 05 a 06 06 a 07 07 a 08 08 a 09

Riachuelo

Alto

Alegre

Fora 1993 0558 0458 0978 2418 9904 68884 16798 0022 0019

2007 1369 1351 2366 9734 56243 28713 0205 0019 -

Reserva 1993 0532 0319 0473 1006 3224 57424 36868 0074 -

2007 1818 1611 1951 7524 53112 33777 0207 - -

Aacuteguas

Mortas

Fora 1993 1588 1833 2701 6525 18029 41168 28024 0141 -

2007 4979 3485 4979 12220 34523 39105 0616 0097 -

Reserva 1993 - - 0084 1246 10452 56862 31356 - -

2007 2092 1902 6677 6127 52292 34545 0275 0085 -

Almas Fora 1993 1954 1336 1650 3339 9359 48925 33222 0216 -

2007 0845 1463 2583 13464 44731 36659 0216 - 0039

Reserva 1993 13455 3058 2299 3858 12198 40686 23344 0156 0156

2007 1052 1208 1052 7947 53759 34827 0156 - -

Miramar Fora 1993 - - 1075 6023 36519 50699 5684 - -

2007 0810 1001 1870 6818 66765 22545 0132 0059 -

Reserva 1993 1540 0285 0799 7758 39646 48431 1540 - -

2007 - 0513 2339 33143 63206 0799 - - -

Saco

Verde

Fora 1993 6867 5558 9959 20131 37338 19016 0097 1097 1097

2007 6469 8972 19278 30986 32219 2026 0050 - -

Reserva 1993 6927 9383 17136 26903 29900 9113 0609 0030 -

2007 8767 10375 17166 29254 332881 1157 - - -

Cajazeiras

II

Fora 1993 0040 0606 8206 39766 45877 5412 0092 - -

2007 2003 9562 25154 44710 17723 0647 - - -

Reserva 1993 2885 2885 12402 48057 29936 2360 0674 - -

2007 3895 8165 21610 39476 26704 0150 - -

Os iacutendices de NDVI da tabela 16 serviram de base para o caacutelculo da anaacutelise de

semelhanccedila pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Assim a constataccedilatildeo acima eacute confirmada pela

tabela 17 que por sua vez atesta o grau de similaridade entre a aacuterea interna e externa agrave

reserva legal nos anos analisados Eacute surpreendente o niacutevel de semelhanccedila encontrado O

percentual mais baixo em 1993 eacute de 798 chegando no mesmo ano a 933 Jaacute em 2007 a

percentagem de semelhanccedila diminui nos imoacuteveis Aacuteguas Mortas e Miramar de 81 para 75 e

de 933 para 731 respectivamente Isto natildeo quer dizer que o niacutevel de cobertura vegetal

melhorou ou piorou mas que a diferenccedila na semelhanccedila entre dentro e fora da aacuterea de reserva

legal nessas propriedades reduziu sugerindo que o respeito agravequele instituto pode ter

promovido a alteraccedilatildeo Em contrapartida nos outros imoacuteveis essa semelhanccedila aumentou

aproximando-se dos 94

Assim eacute provaacutevel que pelos meacutetodos utilizados a funccedilatildeo proposta pelo instituto

da reserva legal natildeo esteja sendo alcanccedilada visto que o grau de semelhanccedila entre a aacuterea de

dentro e fora da reserva legal estaacute muito aproximado pois sequer apresentou-se abaixo dos

70 de diferenccedila

Tabela 17 - Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal pelo meacutetodo de Sorensen (1948)

ANAacuteLISE DE SEMELHANCcedilA DE SORENSEN () ENTRE

FORA E DENTRO DA AacuteREA DE RESERVA LEGAL

IMOacuteVEL

Reserva

ANO 1993 2007

108

Riachuelo Alto Alegre Fora 1993 798 -

2007 - 941

Aacuteguas Mortas Fora 1993 810 -

2007 - 750

Almas Fora 1993 821 -

2007 - 908

Saco Verde Fora 1993 799 -

2007 - 891

Cajazeiras II Fora 1993 813 -

2007 - 952

Miramar Fora 1993 933 -

2007 - 731

109

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A abordagem dos assuntos aqui tratados e os resultados alcanccedilados permitem a

conclusatildeo de que a reserva legal eacute uma criaccedilatildeo da lei com intenccedilotildees conservacionistas

avanccediladas Como espaccedilo especialmente protegido requer um tratamento diferenciado natildeo soacute

como previsto em normas mas sob a oacutetica da sociedade Observou-se que foi um assunto

amplamente tratado e debatido nas esferas do poder legislativo e judiciaacuterio do paiacutes e que

tambeacutem eacute alvo de poliacuteticas puacuteblicas e atuaccedilatildeo das autoridades competentes embora um tanto

falhas

Contatou-se que o emprego da reserva legal no municiacutepio de Irauccediluba eacute pouco expressivo

diante da quantidade de propriedades ali existentes por isso os benefiacutecios trazidos pela

conservaccedilatildeo desses espaccedilos mal podem ser sentidos no municiacutepio que sofre com a degradaccedilatildeo

ambiental contiacutenua inclusive com a presenccedila do processo de desertificaccedilatildeo Aleacutem disto a

falta de cumprimento do formal procedimento acerca da implantaccedilatildeo da reserva legal em

aacutereas puacuteblicas eacute intrigante Isto porque se pressupotildee accedilotildees de estrita legalidade envolvendo o

ente estatal Nesse sentindo partindo do entendimento que os projetos de assentamento satildeo

resultado de poliacuteticas puacuteblicas para reforma agraacuteria pressupunha-se que nestes espaccedilos a

reserva legal estaria estabelecida mas as anaacutelises mostraram que natildeo haacute diferenccedila quando

comparadas a aacuterea de dentro e de fora da reserva nas propriedades A situaccedilatildeo eacute anaacuteloga no

imoacutevel particular apreciado

A respeito da degradaccedilatildeo viu-se que Irauccediluba por ser rota de passagem do gado

desde o seacuteculo XIX aporta animais em transumacircncia de outras regiotildees Os relatos de jesuiacutetas

que cruzaram o municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XVII registram o lugar com vegetaccedilatildeo fechada

e densa Diante disso eacute possiacutevel afirmar que nem sempre Irauccediluba teve um ambiente inoacutespito

e com caracteriacutesticas severamente adversas O quadro atual se deve agraves intervenccedilotildees antroacutepicas

sem teacutecnicas apropriadas para o desenvolvimento de atividades econocircmicas em conjunto com

as caracteriacutesticas de um meio semiaacuterido Essas atividades geralmente abrangem culturas de

subsistecircncia praticadas recorrentemente no mesmo lugar sem o pousio necessaacuterio do solo que

por sua vez natildeo eacute tatildeo rico em nutrientes em decorrecircncia dos desmatamentos e queimadas

Pela caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo pocircde se verificar que seus atributos

envolvem solos pouco profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica

O clima eacute o semiaacuterido onde haacute baixa pluviometria e temperaturas em torno dos 28ordmC e a

vegetaccedilatildeo eacute caatinga nos tipos arbustivos e herbaacuteceos excepcionalmente o arboacutereo por causa

da degradaccedilatildeo

Os resultados mostraram que os iacutendices de NDVI nas propriedades analisadas

apontam um grau de semelhanccedila de ateacute 94 entre dentro e fora da aacuterea da reserva legal pelo

que se pode inferir 2 suposiccedilotildees

1) A reserva legal existe somente em niacutevel documental e natildeo no local apontado

dentro do imoacutevel

ou

2) A reserva legal existe mas estaacute com a cobertura vegetal bem semelhante agrave de fora

da sua aacuterea de maneira que pode estar tatildeo degradada quanto ou tatildeo conservada

quanto

Partindo para a segunda suposiccedilatildeo os iacutendices de NDVI constatam sim que a

cobertura vegetal apresenta um grau elevado de semelhanccedila entre os dois espaccedilos e que em 4

dos 6 imoacuteveis ambos diminuiacuteram de 1993 a 2007 Desta forma natildeo haacute como afirmar que a

reserva legal no estado em que se encontra nas propriedades analisadas eacute um meio de

combater a degradaccedilatildeo ambiental Contudo nos casos em que real e verdadeiramente for

aplicada por certo traraacute ganhos ambientais mas isto deve ser alvo de mais e maiores estudos

acerca do assunto

Eacute curioso que mesmo Irauccediluba sendo um nuacutecleo de desertificaccedilatildeo e por isso alvo

de estudos pesquisas projetos e poliacuteticas puacuteblicas envolvendo degradaccedilatildeo recuperaccedilatildeo e

conservaccedilatildeo ambiental a situaccedilatildeo aparentemente natildeo progride em termos de melhorias Ao

contraacuterio disto constata-se cada vez mais a deterioraccedilatildeo do meio ambiente a ocupaccedilatildeo e a

utilizaccedilatildeo indevida dos recursos naturais

Encerrando a abordagem do assunto tratado assevera-se que a reserva legal jaacute eacute

um instituto consolidado em lei natildeo justificando quaisquer argumentos quanto ao seu

descumprimento Inclusive a natildeo observacircncia do bendito mandamento eacute considerada crime e

nesse sentido natildeo haacute uma atuaccedilatildeo maciccedila do Estado em termos de fiscalizaccedilatildeo pois se assim

existisse natildeo se estaria diante de uma constataccedilatildeo tatildeo seacuteria acerca do pequeno nuacutemero de

imoacuteveis que apresentaram a reserva legal mesmo que documentalmente Essa estatiacutestica

diminuiu ainda mais quando se analisou a diferenccedila na vegetaccedilatildeo sendo possiacutevel concluir que

o caraacuteter conservacionista da reserva legal e ela proacutepria natildeo estatildeo alcanccedilando o fim para que

foi criada

Por fim acredita-se que a reserva legal se cumprida eacute um instrumento

conservacionista capaz de auxiliar na recuperaccedilatildeo ambiental e arrefecer os processos de

111

degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo criticamente manifestos no municiacutepio de Irauccediluba Indo mais

aleacutem vecirc-se que pela oacutetica do referido instituto o desenvolvimento sustentaacutevel eacute possiacutevel

pois mesmo de encontro a interesses particulares ele consegue reunir e harmonizar o vieacutes

econocircmico o social e o ambiental

112

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Forense Satildeo Paulo Meacutetodo 2009

ANTUNES Paulo de Bessa Aacutereas protegidas e propriedade constitucional Satildeo Paulo

Atlas 2011

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122f il color enc 30 cm

Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Universidade Federal do Cearaacute Programa Regional de Poacutes Graduaccedilatildeo

em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA Mestrado em Desenvolvimento e Meio

Ambiente Fortaleza 2013

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Organizaccedilatildeo do Espaccedilo e Desenvolvimento Sustentaacutevel

Orientaccedilatildeo Prof Dr Joseacute Gerado Beserra de Oliveira

1 Degradaccedilatildeo 2 Coacutedigo florestal 3 Reserva legal 4 Irauccediluba-Ce I Tiacutetulo

CDD 6367

ISABELLE MARINHO QUINDEREacute SARAIVA

O EMPREGO DA RESERVA LEGAL NO MUNICIacutePIO DE

IRAUCcedilUBACE

Dissertaccedilatildeo submetida agrave Coordenaccedilatildeo do

Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento

e Meio Ambiente da Universidade Federal do

Cearaacute como requisito parcial para obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de Mestre em Desenvolvimento e Meio

Ambiente

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Organizaccedilatildeo do Espaccedilo

e Desenvolvimento Sustentaacutevel

Orientador Prof Dr Joseacute Gerardo Beserra de

Oliveira

Aprovada em ___ ___ _____

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________

Prof Dr Joseacute Gerardo Beserra de Oliveira (Orientador)

Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC

________________________________________________

Profordf Drordf Marta Celina Linhares Sales

Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC

________________________________________________

Profordf Drordf Jacqeline Pires Gonccedilalves Lustosa

Universidade Federal de Campina Grande ndash UFCG

Dedico a Deus minha forccedila Autor da minha

vida meu tudo e ao meu marido Pedro

eterno companheiro e ajudador

AGRADECIMENTOS

A Deus que eacute Quem me permitiu ser aprovada estar e concluir esse curso tatildeo importante Ele

que em mim gerou todas as forccedilas necessaacuterias para continuar e natildeo desistir dando-me a

condiccedilatildeo de chegar ateacute o fim com louvor

Ao Professor Dr Joseacute Gerardo Beserra de Oliveira pela orientaccedilatildeo pela paciecircncia pelo

carinho e apoio desprendidos para a realizaccedilatildeo deste trabalho Por seus conhecimentos na

aacuterea pois sem eles natildeo poderia ter me levado a enriquecer tanto este trabalho

Agrave CAPES que me ajudou financeiramente

Agrave minha famiacutelia em especial minha matildee que sempre procurou saber como estava a minha

pesquisa dando-me aquele apoio nato de matildee

A Pedro Saraiva meu amor grande amor que sempre me apoiou e acreditou no meu talento

na minha competecircncia e vitoacuteria

Aos servidores do INCRA muito soliacutecitos e atenciosos com a minha pesquisa dentre eles sr

Raimundo Martins da Divisatildeo de Ordenamento da Estrutura Fundiaacuteria Joseacute Jaime D‟Alencar

Juacutenior do Serviccedilo de Cartografia Odilo Neto Luna Coelho e Joseacute Salmito de Almeida Juacutenior

ambos da Divisatildeo de Obtenccedilatildeo de Terras ndash setor de Serviccedilo ao Meio Ambiente

Agrave Dra Claacuteudia Regina Nogueira titular do Cartoacuterio de Registro de Imoacuteveis de Irauccediluba por

sua disponibilidade e por permitir o acesso aos livros cartoraacuterios onde encontrei dados tatildeo

importantes para o trabalho

Ao IDACE atraveacutes dos servidores Dr Paulo Henrique Lobo diretor teacutecnico de operaccedilotildees

Dr Ricardo Durval superintendente do oacutergatildeo Linardy Barreto de Holanda Priscila Azevedo

de Aguiar ambos do Nuacutecleo de Geoprocessamento (NUGEO) Nadir Loiola Dias e Florence

Mary Cavalcante Mouratildeo Lobo ambas da Diretoria Teacutecnica e de Operaccedilotildees (DTO) Todos

eles me ajudaram de forma a tornar possiacutevel parte desta pesquisa pelo que sou imensamente

grata

Perguntei-me inuacutemeras vezes se deveria prosseguir A resposta me era

dada quando olhava para traacutes e via meu passado cheio de grandes

vitoacuterias e conquistas pela matildeo de Deus e pelo meu esforccedilo Entatildeo

decidi que natildeo seria agora que natildeo chegaria ateacute o fim mesmo que o

que me impulsionou para esse desafio jaacute natildeo tem mais a mesma

intensidade Aqui estou eu fazendo desse momento mais uma

imensuraacutevel vitoacuteria por Aquele que um dia me deu essa oportunidade

A Ele toda honra e toda gloacuteria

A autora

RESUMO

A degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio de Irauccediluba eacute alvo de vaacuterias pesquisas pois eacute um

problema onde as causas estatildeo presentes natildeo soacute ali mas em grande parte do semiaacuterido

nordestino no entanto ao se tratar deste assunto logo vem agrave tona outra questatildeo mais seacuteria o

processo de desertificaccedilatildeo O presente trabalho faz uma raacutepida abordagem do semiaacuterido

dando especial evidecircncia agravequele municiacutepio englobando a origem da degradaccedilatildeo a atual

situaccedilatildeo local e possiacuteveis formas para minimizar ou ateacute mesmo estagnar aquele problema

ambiental O objetivo geral foi levantar o nuacutemero de propriedades rurais no municiacutepio

elegendo em sua maioria os projetos de assentamento rural e verificar se possuiacuteam ou natildeo

uma aacuterea especialmente protegida denominada reserva legal A escolha desse instituto como

indicador se deu por ser ele um instrumento criado por lei e que por sua vez impele todo e

qualquer proprietaacuterio ou possuidor rural a manter uma parcela miacutenima de 20 do seu imoacutevel

preservado como aacuterea de Reserva Legal Sua efetividade como instrumento de preservaccedilatildeo

foi analisada em 6 propriedades a partir de imagens do sateacutelite LANDSAT 5 com base nos

anos de 1993 e 2007 e atraveacutes da anaacutelise do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada

(NDVI) foi realizado um estudo comparativo para verificar se houve evoluccedilatildeo ou natildeo do

quadro vegetativo dentro e fora das aacutereas de reserva legal Na identificaccedilatildeo dos imoacuteveis

estudados soacute foram encontrados seis com reserva legal oficialmente implantada ateacute o ano de

2007 data mais recente da imagem de sateacutelite empregada A anaacutelise comparativa realizada

com esses imoacuteveis que tecircm algum tipo de registro no Cartoacuterio de Imoacuteveis eou no INCRA

dentre os 713 medidos e georreferenciados pelo IDACE e que por sua vez foi conduzida com

uso do NDVI natildeo indicou diferenccedila significativa entre os iacutendices encontrados para a

cobertura vegetal dentro e fora das aacutereas de Reserva Legal

Palavras-chave Degradaccedilatildeo Ambiental Coacutedigo Florestal Reserva Legal IrauccedilubaCE

ABSTRACT

The environmental degradation in the municipality of Irauccediluba is the target of several studies

because it is an issue where the causes are present in much of the northeastern semiarid

However when dealing with this subject soon comes to attention another issue which is more

serious and that arises from the ongoing degradation the process of desertification The

present paper analyzes briefly the cearense semiarid giving special emphasis to that

municipality so that the origin of the degradation the current local situation and even

possible ways to minimize or even stagnate that environmental problem were all the target of

this research The overall goal was to enumerate the number of farms among them those that

either have a specially protected area called legal reserve or those that does not The choice

of this statistic as an indicator was due to the fact that it is a legal instrument which in turns

compels all and any owner of land or rural possessor to maintain 20 of their property

preserved as a Legal Reserve area Its effectiveness as a tool for preservation was analyzed in

6 properties with the help of satellite images from LANDSAT 5 taken between the years

1993 and 2007 and by examining the Normalized Difference Vegetation Index (NDVI) a

comparative study was conducted to determine whether there was a growth or not of the

vegetative area inside and outside the legal reserves During the identification of the

properties to be studied only six were found to have a legal reserve officially implemented by

the year 2007 the most recent date of the satellite images used A comparative analysis with

those lands that have some kind of record in the Registry of Property andor INCRA among

the 713 measured and georeferenced by IDACE and that in turn used the NDVI as a

guideline indicated no significant difference on the index either inside or outside the Legal

Reserves areas

Key-Words Environmental degradation Forest code Legal reserve IrauccedilubaCE

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 27

Figura 2 Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 (Novo Coacutedigo

Florestal)

27

Figura 3 Sistema de degradaccedilatildeo do meio ambiente 47

Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro 53

Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute 54

Figura 6 Iacutendice de aridez (UNEP) 56

Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo no Cearaacute 57

Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo 57

Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no ISSD 59

Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no IESD 60

Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios 61

Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute 79

Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba 79

Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo 81

Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras permanentes 85

Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras temporaacuterias 85

Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem

vegetal (tonano)

86

Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem

vegetal (m3ano)

86

Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011) 87

Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001 88

Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010 88

Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011 89

Figura 23 Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos 90

Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba 91

Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba 92

Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba 94

Figura 27 Grupo de solos que formam as associaccedilotildees pedoloacutegicas em

Irauccediluba

95

Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba 96

Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba 97

Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual 97

Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba 98

Figura 32 Iacutendice de umidade em Irauccediluba 98

Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba 100

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Medidas Provisoacuterias 21

Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras 48

Tabela 3 Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez (UNEP) 52

Tabela 4 Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo 55

Tabela 5 Levantamento de imoacuteveis com reserva legal (cartoacuterio de

registro de imoacuteveis)

73

Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais 76

Tabela 7 Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba 77

Tabela 8 Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de

anaacutelise

80

Tabela 9 Dados da propriedade particular estudada 80

Tabela 10 Propriedades estudadas 81

Tabela 11 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem

animal

87

Tabela 12 Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores 90

Tabela 13 Relaccedilatildeo entre solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo 93

Tabela 14 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEmbrapa 93

Tabela 15 Anaacutelise geral das propriedades estudadas 101

Tabela 16 NDVI dos imoacuteveis estudados 107

Tabela 17 Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal entre dentro e fora da aacuterea

de reserva legal pelo meacutetodo Sorensen

108

SUMAacuteRIO

Lista de Figuras vii

Lista de Tabelas ix

Resumo v

Abstract vi

INTRODUCcedilAtildeO 12

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 14

11 O Instituto da Reserva Legal 14

111 Conceito 15

112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica 17

113 Importacircncia da Reserva Legal 30

1131 Juriacutedica 31

1132 Social 32

1133 Ambiental 33

1134 Econocircmica 35

114 Direito de Propriedade X Reserva Legal 36

1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa 41

1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal 42

2 PROCESSO DE DEGRADACcedilAtildeO 45

21 Conceito 45

22 Degradaccedilatildeo ambiental 48

221 Erosatildeo 49

222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica 49

223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica 50

23 A degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 51

231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia 52

24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental 62

25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira 65

251 Lei ambiental de Irauccediluba 69

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 71

31 Reserva Legal em Irauccediluba 71

311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental ndash Projeto de

Assentamento Agraacuterio em foco

73

32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo 78

321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba 78

3211 Das propriedades estudadas 79

3212 Aspectos histoacutericos de ocupaccedilatildeo 82

322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas 82

323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba 91

3231 Altimetria e Classes de relevo 91

3232 Solos 92

3233 Clima 95

3234 Vegetaccedilatildeo 99

3235 Recursos Hiacutedricos 100

324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo 101

33 Metodologia 104

331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite 104

4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES 107

41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 107

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 110

REFEREcircNCIAS 113

INTRODUCcedilAtildeO

A degradaccedilatildeo como um problema ambiental jaacute foi alvo de inuacutemeras pesquisas

principalmente quando se trata do semiaacuterido brasileiro Estudos nesse sentido datam da

deacutecada de 70 eacutepoca em que o professor Vasconcelos Sobrinho passou a pesquisar o processo

de desertificaccedilatildeo no nordeste do Brasil (SALES 2002) Nas investigaccedilotildees ele identificou um

nuacutecleo no Cearaacute que se localiza em Irauccediluba Em assim sendo buscou-se desenvolver um

trabalho naquele municiacutepio tomando por base um mecanismo criado por lei cujo caraacuteter eacute a

conservaccedilatildeo do meio ambiente Trata-se da reserva legal Como nessa aacuterea natildeo haacute pesquisa

envolvendo a aplicabilidade do tal instituto viu-se a oportunidade de estudaacute-la produzindo-se

o presente trabalho

A proposta principal da pesquisa eacute fazer um levantamento dos imoacuteveis existentes

no municiacutepio de Irauccediluba pontuando de forma preponderante os de propriedade federal e

estadual destinados aos assentamentos rurais e assim identificar nessas aacutereas a existecircncia ou

natildeo do instituto da reserva legal e sua devida implantaccedilatildeo Nesse sentido encontrou-se 6

propriedades que possuiacuteam a reserva legal sendo 5 puacuteblicas e 1 privada Empoacutes o segundo

intuito envolve a diferenciaccedilatildeo entre a cobertura vegetal da reserva e do restante da

propriedade a partir da utilizaccedilatildeo de imagens de sateacutelite e o uso do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por

Diferenccedila Normalizada (NDVI)

Para isso foi necessaacuterio fazer um apanhado de como esse instrumento de

conservaccedilatildeo foi e eacute abordado no Coacutedigo Florestal que eacute a lei onde haacute previsatildeo da reserva

legal bem como traccedilar um histoacuterico de como se deu sua evoluccedilatildeo dentro do quadro

legislativo no paiacutes foi igualmente essencial Da mesma maneira buscou-se contextualizar a

importacircncia da reserva legal nos aspectos econocircmico juriacutedico social e ambiental de forma

que ficou ilustrado o valor que esse mecanismo tem para a sociedade As discussotildees de cunho

juriacutedico e praacutetico sobre o assunto foram levantadas pois o proprietaacuterio do imoacutevel vecirc a reserva

legal como ocircnus e natildeo como um instrumento de conservaccedilatildeo que traraacute imensuraacuteveis

benefiacutecios ambientais dentro de sua proacutepria aacuterea Encerrando o primeiro capiacutetulo tecircm-se as

formas de cumprir o mandamento legal que envolvem a reserva muito embora isto tenha

sofrido algumas alteraccedilotildees como se veraacute a seguir

Quanto agrave reserva legal em Irauccediluba as constataccedilotildees natildeo satildeo animadoras

Infelizmente haacute um desencontro de informaccedilotildees a comeccedilar pelo controle do nuacutemero de

imoacuteveis existentes no municiacutepio Em seguida soacute foram encontrados trecircs imoacuteveis com a

obrigaccedilatildeo devidamente formalizada em cartoacuterio Isso diante de um universo de mais de 700

propriedades eacute frustrante e desencorajador Outra abordagem feita neste toacutepico aponta o

licenciamento ambiental como mais um instrumento possibilitador da instalaccedilatildeo da reserva

legal pois o oacutergatildeo ambiental tem dever de exigir o tal instituto para licenciar atividades e

empreendimentos localizados em zona rural

Igualmente desalentadora eacute a degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio Por se tratar de

uma aacuterea com caracteriacutesticas naturalmente adversas e limitantes sua ingerecircncia deveria ser

profundamente fiscalizada e regulamentada pelas autoridades competentes em todos os niacuteveis

de governo Mas isso natildeo ocorre pelo contraacuterio em Irauccediluba satildeo exercidas atividades com

meacutetodos bem rudimentares e sem qualquer preocupaccedilatildeo com a recuperaccedilatildeo dos danos e com a

capacidade de suporte do meio Assim acontece a degradaccedilatildeo das aacutereas com a praacutetica do

desmatamento das queimadas do sobrepastoreio e outros tipos de intervenccedilatildeo

ambientalmente prejudiciais Diante desse quadro o homem do campo tende a abandonar

estas e ocupar outras terras estimulando ainda mais o processo de desertificaccedilatildeo ali presente

Outro toacutepico em que se chama atenccedilatildeo no trabalho eacute a quantidade de leis

envolvendo o tema Natildeo faltam regulamentaccedilotildees muito pelo contraacuterio sobram O que se

percebe eacute a existecircncia de leis para vaacuterios assuntos em vez de uma que englobe a maioria

deles Com lei ou sem lei a situaccedilatildeo parece natildeo progredir positivamente em termos de

recuperaccedilatildeo ambiental embora haja uma estrutura poliacutetica econocircmica e juriacutedica dirigida para

tais fins Aleacutem disto existem poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o municiacutepio especificamente e

outras que natildeo mas podem ser implementadas ali Eacute o caso dos benefiacutecios dos inuacutemeros

programas de governo direcionados para a reforma agraacuteria por exemplo Outro caso satildeo os

fundos de combate agrave degradaccedilatildeo e agrave desertificaccedilatildeo Nesta orientaccedilatildeo percebe-se que natildeo

faltam leis poliacuteticas puacuteblicas ou recursos Felizmente existe todo um aparato no sentido de

melhorar as condiccedilotildees ambientais e minimizar danos mas infelizmente na praacutetica essa

estrutura natildeo voga como deveria

Todo esse cenaacuterio estaacute enquadrado na caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo

devidamente abordada no terceiro capiacutetulo Laacute satildeo mencionados os aspectos socioeconocircmicos

do municiacutepio perpassando pelos acontecimentos histoacutericos de sua ocupaccedilatildeo As

caracteriacutesticas fisiograacuteficas de Irauccediluba tambeacutem se fazem presentes de maneira que foram

abordados aspectos pedoloacutegicos climaacuteticos vegetativos e hiacutedricos Aleacutem disto a metodologia

utilizada permitiu as constataccedilotildees discorridas nos resultados e discussotildees inseridas no

capiacutetulo 4 de forma que os objetivos da pesquisa foram alcanccedilados

13

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

11 O Instituto da Reserva Legal

A reserva legal eacute um instituto cuja importacircncia perfaz o esteio do

desenvolvimento sustentaacutevel no sentido de que harmoniza a viabilidade econocircmica com a

justiccedila social e o equiliacutebrio ecoloacutegico Eacute um notaacutevel exemplo de que eacute possiacutevel coexistirem

interesses particulares e coletivos pois a reserva legal nada mais eacute que a conservaccedilatildeo

ambiental de uma determinada porcentagem da propriedade ou posse rural passiacutevel de

intervenccedilatildeo pelo homem do campo

O presente estudo indica a reserva legal como uma forma de conservaccedilatildeo do

meio em face da extraccedilatildeo vegetal promovida pelo proprietaacuterio agriacutecola Foca ainda os

aspectos social econocircmico e ambiental dessa imposiccedilatildeo que tem seu nascedouro na legislaccedilatildeo

vigente Corrobora Silva (2001 p 59) ao afirmar que ldquoa cobertura vegetal nativa sobretudo

as florestais exerce papel de fundamental importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de

ecossistemas naturais bem como de ecossistemas criados pelo homemrdquo No mesmo sentido

Miranda (2008 p 31) diz que ldquoa reserva legal contribui para a mitigaccedilatildeo do aquecimento

global salvaguarda a biodiversidade e garante agraves presentes e futuras geraccedilotildees o direito a um

meio ambiente ecologicamente equilibradordquo

Traz-se agrave tona os aspectos que fundamentam a reserva legal como um instituto

que fora criado por lei especiacutefica para a conservaccedilatildeo do meio pois erroneamente os

proprietaacuterios rurais a veem como limitaccedilatildeo ao direito de propriedade e entendem que destinar

uma porcentagem de seus imoacuteveis para uma aacuterea que natildeo corresponde agrave afericcedilatildeo de lucro eacute

tatildeo somente um ocircnus eou uma perda e natildeo um investimento Nesse sentido explicam

Galdino e Candido (2008 p 251) que ldquoa instituiccedilatildeo da reserva legal natildeo enfraquece ou destroacutei

o direito de propriedade Ao reveacutes possibilita a existecircncia de um meio ambiente

ecologicamente equilibrado condicionando a propriedade a uma funccedilatildeo socioambientalrdquo

Conforme Bacha (2005 p 24) ldquodeve-se pensar em novas formas de estiacutemulo

econocircmico ao produtor para que ele recomponha a reserva legal pois a legislaccedilatildeo atual

apenas lhe coloca custos em contrapartida de benefiacutecios a toda sociedaderdquo Cabe ainda

mencionar a possibilidade prevista no Coacutedigo Florestal ou seja na Lei 4771 (BRASIL

1965) quanto agrave intervenccedilatildeo na aacuterea destinada agrave reserva legal de forma sustentaacutevel sem

suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo

econocircmica dessas aacutereas

Existem estudos justificando biologicamente a existecircncia da reserva legal Eacute sobre

o que discorre Metzger (2002 p 48) quando afirma que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de

propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa satildeo

fundamentais para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada

regiatildeordquo Complementa ainda Silva (2001 p 59) quando afirma sobre ldquoa importacircncia da

cobertura vegetal em reserva legal que permite uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da

aacutegua no solo e no subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos aleacutem de

promover a manutenccedilatildeo da diversidade geneacuteticardquo

Ademais o exerciacutecio de atividades econocircmicas que tem por principal insumo os

recursos naturais modifica sensivelmente a cobertura vegetal e o solo contribuindo para um

processo de degradaccedilatildeo Para tanto o respeito agrave legislaccedilatildeo ambiental vigente como o Coacutedigo

Florestal por exemplo eacute de extrema relevacircncia uma vez que eacute norma conducente agrave

conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo das formas de vegetaccedilatildeo e suas respectivas ingerecircncias Tal lei

prevecirc a reserva legal como espaccedilo especialmente protegido

Balizando tal atividade econocircmica frente agrave observacircncia da reserva legal surge a

proposiccedilatildeo elencada por Bacha (2005 p 24) que ldquopara o produtor rural honrar tal instituto

tendo-o como lucrativo eacute necessaacuterio que sua composiccedilatildeo floriacutestica seja feita em parte com

espeacutecies comerciaisrdquo Eacute o que Miranda (2008 p 45) sob o aspecto socioeconocircmico bem

pontua quando evidencia que esta legislaccedilatildeo carece de aderecircncia social pois natildeo condiz com

a realidade e que enfatiza ainda

Para que haja aderecircncia social ela deveria prever uma reestruturaccedilatildeo completa no

modelo de desenvolvimento Sem isso tanto os pequenos como os grandes

proprietaacuterios natildeo possuiratildeo condiccedilotildees para cumprir a lei e uma vez na ilegalidade

cometem outros crimes ambientais E por entenderem que a lei natildeo eacute factiacutevel natildeo a

cumprem [] Aleacutem disso as linhas de creacutedito inclusive dos bancos oficiais natildeo

financiam atividades sustentaacuteveis mas a pecuaacuteria o plantio de soja entre outras por

acreditarem possuir nelas uma seguranccedila maior para o investimento (MIRANDA

2008 p 45)

111 Conceito

A reserva legal eacute um mecanismo criado para a conservaccedilatildeo dos recursos naturais

cuja origem eacute a lei Sua essecircncia sempre esteve presente em normas de caraacuteter protecionista

que dispunham sobre florestas e demais formas de vegetaccedilatildeo muito embora tenham ocorrido

inuacutemeras alteraccedilotildees ao longo do tempo Eacute o que se pode observar pela evoluccedilatildeo legislativa

que a seguir seraacute apontada

15

A expressatildeo reserva legal pode ser simploriamente entendida como uma aacuterea a ser

conservada por um detentor de imoacutevel rural e que por sua vez varia com a localidade do

bioma em que a aacuterea estaacute inserida A lei que versa sobre esse tema eacute conhecida como Coacutedigo

Florestal e com esse nome existiu em trecircs momentos diferentes da histoacuteria do legislativo

brasileiro O primeiro foi no ano de 1934 o segundo em 1965 e por uacuteltimo em 2012 estando

presente em todos eles uma seacuterie de modificaccedilotildees que levaram ao aperfeiccediloamento do

conteuacutedo e dos objetivos da reserva legal bem como flexibilizaccedilotildees e restriccedilotildees a depender

do momento econocircmico em que o paiacutes vivia eou dos interesses da maioria de parlamentares agrave

eacutepoca

Atualmente a Lei 12651 de 25052012 ou como eacute conhecida por Novo Coacutedigo

Florestal atraveacutes de seu artigo 3ordm inciso III prevecirc o conceito de reserva legal da seguinte

forma

III ndash Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural

delimitada nos termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de

modo sustentaacutevel dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a

reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade

bem como o abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012

p 3) (BRASIL 2012)

Jaacute a previsatildeo elencada nos Coacutedigos anteriores de 1934 e 1965 dispotildee

Coacutedigo Florestal de 1934 - Decreto 23793

Art 23 - Nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas poderaacute abater mais de trecircs

quartas partes da vegetaccedilatildeo existente []

sect 1ordm O dispositivo do artigo natildeo se applica a juizo das autoridades florestaes

competentes agraves pequenas propriedades isoladas que estejam proximas de florestas

ou situadas em zona urbana

sect 2ordm Antes de iniciar a derrubada com a antecedencia minima de 30 dias o

proprietario daraacute sciencia de sua intenccedilatildeo aacute autoridade competente afim de que esta

determine a parte das mattas que seraacute conservada (BRASIL 1935 p 5)

Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771

Art 1ordm sect 2ordm inciso III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma

propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao

uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos

ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora

nativas (BRASIL 1965 p 2)

Percebe-se que na lei de 1934 se quer haacute menccedilatildeo ao termo reserva legal mas se

vecirc claramente a intenccedilatildeo conservacionista do legislador e se ressalte que eacute uma visatildeo bem

mais proacute-ambiente uma vez que proiacutebe o desmatamento acima de frac34 da propriedade

protegendo assim 25 de sua aacuterea Embora o Coacutedigo Florestal de 1934 natildeo preveja

16

explicitamente a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo em determinada aacuterea com o nome de reserva legal o

artigo 23 do diploma citado acima estaacute notoriamente revestido de um caraacuteter conservacionista

e quem natildeo o cumprisse estaria enquadrado no paraacutegrafo 4ordm do artigo 86 do Capitulo V ndash

Infracccedilotildees florestaes

Art 86 As contravenccedilotildees previstas nos arts 9ordm sect 1ordm 21 22 e sect 1ordm 23 e paragrapho

unico 24 a 30 31 a 34 37 43 a 45 49 e paragrapho unico 51 54 e paragrapho

unico 55 e 64 deste codigo quando natildeo se caracterizarem especialmente algumas

figuras delictuosas definidas no art 83 ou no art 87 sujeitas seus autores aacutes penas

seguintes

[]

sect 4ordm pelas das letras g h do art 22 e arts 23 e 44 - detenccedilatildeo ateacute 60 dias e multa ateacute

10000$000 (BRASIL 1935 p 14)

Em contrapartida um pouco mais aperfeiccediloado embora um tanto quanto tarde o

instituto da reserva legal aparece bem definido somente em 2001 quando a Medida Provisoacuteria

nordm 2166-6 (BRASIL 2001) acrescentou ao texto da Lei 4771 (BRASIL 1965) o seu conceito

da forma como eacute mais conhecido ultimamente apesar de natildeo se limitar soacute a esta modificaccedilatildeo

Como tantas outras leis o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) sofreu diversas

alteraccedilotildees ao longo de sua vigecircncia que durou ateacute 25 de maio de 2012 data em que a Lei

12651 (BRASIL 2012) entra em vigor revoga a anterior e estabelece o novo Coacutedigo

Florestal

Como a temaacutetica deste trabalho eacute discorrer sobre a existecircncia da reserva legal a

partir de um levantamento nas propriedades rurais seratildeo tratadas tatildeo somente as

modificaccedilotildees que dizem respeito a este instituto

112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica

O protecionismo florestal como ligeiramente mencionado anteriormente foi

delineado em um preceito normativo datado da deacutecada de 30 quando surgiu o primeiro

diploma legal a prever a conservaccedilatildeo relativa agrave manutenccedilatildeo das matas Eacute atraveacutes do Decreto

ndeg 23793 de 23 de janeiro de 1934 (BRASIL 1935) que a vegetaccedilatildeo recebe amparo e passa a

ser resguardada da supressatildeo indiscriminada Surge entatildeo o primeiro Coacutedigo Florestal

Brasileiro que em seu artigo 23 descreve que nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas

poderaacute abater mais de trecircs quartas partes da vegetaccedilatildeo existente

17

Eacute interessante observar que a delimitaccedilatildeo imposta pela norma corresponde a vinte

e cinco por cento da propriedade ou seja um grande desafio para a sociedade da eacutepoca que

era tradicionalmente agriacutecola e despontava para a industrializaccedilatildeo

Para melhor apreciar as preocupaccedilotildees que justificaram a ediccedilatildeo do Coacutedigo Florestal

de 1934 haacute que se entender a realidade soacutecio-econocircmica e poliacutetica da sociedade

brasileira no iniacutecio do seacuteculo XX A populaccedilatildeo estava concentrada proacuteximo agrave

Capital da Repuacuteblica cidade do Rio de Janeiro Estado da Guanabara A cafeicultura

avanccedilava pelos morros que constituem a topografia do Vale do Paraiacuteba substituindo

toda a vegetaccedilatildeo nativa A criaccedilatildeo de gado outra forma de utilizaccedilatildeo das terras

fazia-se de modo extensivo e com miacutenima teacutecnica Na silvicultura que jaacute se iniciara

tiacutemida nos primeiros anos do seacuteculo XX verificava-se o trabalho valioso e pioneiro

de Edmundo Navarro de Andrade com a introduccedilatildeo de espeacutecies de Eucalyptus mas

restrito agraves atividades da Cia Paulista de Estradas de Ferro no Estado de Satildeo Paulo

No resto do Paiacutes assim como antes no Estado de Satildeo Paulo a atividade florestal era

fundamentada no mais puro extrativismo Nos Estados do Paranaacute e Santa Catarina

os estoques de Araucaria angustifolia eram rapidamente exauridos Foi nesse cenaacuterio

que o Poder Puacuteblico decidiu interceder estabelecendo limites ao que parecia ser um

saque ou pilhagem dos recursos florestais (muito embora ateacute entatildeo tais praacuteticas

fossem liacutecitas) A mencionada ldquointervenccedilatildeordquo necessaacuteria materializou-se por meio

da ediccedilatildeo de um (primeiro) Coacutedigo Florestal o de 1934 (AHRENS 2001 p 6)

Diferentemente do Decreto de 1934 (BRASIL 1935) ao ser publicada em 15 de

setembro a Lei 4771 (BRASIL 1965) ou seja o Coacutedigo Florestal de 1965 trouxe em seu

artigo 16 a ideia do que seria a reserva legal Criou-se entatildeo um limite miacutenimo a ser

respeitado dentro de cada propriedade muito embora soacute mencione uma porcentagem definida

para aacutereas localizadas no Leste Sul e Centro-Oeste do paiacutes deixando de fora as demais

regiotildees

Art 16 As florestas de domiacutenio privado natildeo sujeitas ao regime de utilizaccedilatildeo

limitada e ressalvadas as de preservaccedilatildeo permanente previstas nos artigos 2deg e 3deg

desta lei satildeo suscetiacuteveis de exploraccedilatildeo obedecidas as seguintes restriccedilotildees

a) nas regiotildees Leste Meridional Sul e Centro-Oeste esta na parte sul as derrubadas

de florestas nativas primitivas ou regeneradas soacute seratildeo permitidas desde que seja

em qualquer caso respeitado o limite miacutenimo de 20 da aacuterea de cada

propriedade com cobertura arboacuterea localizada a criteacuterio da autoridade competente

b) nas regiotildees citadas na letra anterior nas aacutereas jaacute desbravadas e previamente

delimitadas pela autoridade competente ficam proibidas as derrubadas de florestas

primitivas quando feitas para ocupaccedilatildeo do solo com cultura e pastagens

permitindo-se nesses casos apenas a extraccedilatildeo de aacutervores para produccedilatildeo de madeira

Nas aacutereas ainda incultas sujeitas a formas de desbravamento as derrubadas de

florestas primitivas nos trabalhos de instalaccedilatildeo de novas propriedades agriacutecolas soacute

seratildeo toleradas ateacute o maacuteximo de 30 da aacuterea da propriedade

c) na regiatildeo Sul as aacutereas atualmente revestidas de formaccedilotildees florestais em que

ocorre o pinheiro brasileiro Araucaria angustifolia (Bert - O Ktze) natildeo poderatildeo

ser desflorestadas de forma a provocar a eliminaccedilatildeo permanente das florestas

tolerando-se somente a exploraccedilatildeo racional destas observadas as prescriccedilotildees

ditadas pela teacutecnica com a garantia de permanecircncia dos maciccedilos em boas condiccedilotildees

de desenvolvimento e produccedilatildeo

18

d) nas regiotildees Nordeste e Leste Setentrional inclusive nos Estados do Maranhatildeo e

Piauiacute o corte de aacutervores e a exploraccedilatildeo de florestas soacute seraacute permitida com

observacircncia de normas teacutecnicas a serem estabelecidas por ato do Poder Puacuteblico na

forma do art 15 sect 1ordm Nas propriedades rurais compreendidas na aliacutenea a deste artigo com aacuterea entre

vinte (20) a cinquumlenta (50) hectares computar-se-atildeo para efeito de fixaccedilatildeo do limite

percentual aleacutem da cobertura florestal de qualquer natureza os maciccedilos de porte

arboacutereo sejam frutiacutecolas ornamentais ou industriais (BRASIL 1965 p 6-7)

Honestamente natildeo se sabe o motivo pelo qual o legislador neste momento inicial

da lei natildeo se deteve agraves minuacutecias quanto agraves regiotildees Nordeste Oeste e Sudeste como o fez para

as outras ou porque sequer definiu percentuais de vegetaccedilatildeo a ser preservadas nelas Aleacutem

disto simplesmente deixar a cargo de ato do Poder Puacuteblico a exploraccedilatildeo de florestas e o corte

de aacutervores no Nordeste eacute no miacutenimo curioso principalmente porque nessa regiatildeo encontra-se

o bioma Caatinga que eacute iacutempar e inexiste em qualquer outra parte do mundo Corrobora com

isto o Monitoramento do Desmatamento nos Biomas Brasileiros por Sateacutelite MMA e IBAMA

ao expor que mesmo sendo a uacutenica grande regiatildeo natural brasileira cujos limites estatildeo

inteiramente restritos ao territoacuterio nacional pouca atenccedilatildeo tem sido dada agrave conservaccedilatildeo da

heterogecircnea paisagem da Caatinga (BRASIL 2010)

Aleacutem disto as colocaccedilotildees do artigo 44 surpreendem quando especializam o tipo

de corte permitido e enquadram 50 da propriedade como reserva legal para o Norte do paiacutes

e o norte da regiatildeo Centro-Oeste como se pode observar

Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste enquanto natildeo for

estabelecido o decreto de que trata o artigo 15 a exploraccedilatildeo a corte razo soacute eacute

permissiacutevel desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea pelo menos 50 da aacuterea

de cada propriedade (BRASIL 1965 p 15)

Em 1989 surge a Lei 7803 (BRASIL 1989b) que acrescenta os paraacutegrafos 2ordm e

3ordm ao artigo 16 inaugurando a expressatildeo reserva legal e ratificando o percentual miacutenimo do

que deveria ser conservado a tiacutetulo de reserva legal Ao artigo 44 foi acrescentado o

paraacutegrafo uacutenico onde os 50 da propriedade anteriormente indicados para permanecer com a

cobertura vegetal agora passam a ser reconhecidos como reserva legal Em ambos os

dispositivos estaacute presente o procedimento formal a ser adotado com fins de resguardar a

aplicaccedilatildeo daquele instituto e seus efeitos isto eacute a averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio

Art 16 []

sect 2ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) de

cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso deveraacute ser averbada agrave margem

19

da inscriccedilatildeo de matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo

vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou

de desmembramento da aacuterea

sect 3ordm Aplica-se agraves aacutereas de cerrado a reserva legal de 20 (vinte por cento) para

todos os efeitos legais (BRASIL 1989b p 1)

Art 44 [] Paraacutegrafo uacutenico A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 50

(cinquumlenta por cento) de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso

deveraacute ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de

imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de

transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de desmembramento da aacuterea (BRASIL 1989b p

2)

Nota-se que os dispositivos trazem novidades como a vedaccedilatildeo a um tipo de corte

o meacutetodo garantidor para a implantaccedilatildeo da reserva legal e a proibiccedilatildeo de mudanccedila na aacuterea

destinada a receber o benefiacutecio Ademais o bioma cerrado eacute especialmente citado afirmando

assim a instituiccedilatildeo da reserva legal nele e seu respectivo percentual

Vale destacar ainda a entidade puacuteblica que recebeu por forccedila legal a

incumbecircncia de promover os atos formais e documentais para a implantaccedilatildeo da reserva legal

Trata-se do registro ou cartoacuterio de imoacuteveis que por sua vez reuacutene em seus livros oficiais

todas as informaccedilotildees sobre as propriedades imobiliaacuterias de sua circunscriccedilatildeo ou regiatildeo

geograacutefica Enfim o registro de imoacuteveis eacute o oacutergatildeo constitutivo da propriedade e o que guarda

este direito aleacutem de vigiar se a funccedilatildeo social e ambiental do imoacutevel estaacute sendo cumprida

Por conseguinte houve a ediccedilatildeo da Medida Provisoacuteria1 1511 em 25 de julho de

1996 (BRASIL 1996) com o objetivo de dar nova redaccedilatildeo ao artigo 44 do Coacutedigo Florestal

ou seja amplia o percentual da reserva legal de 50 para 80 em casos especiacuteficos e esmiuacuteccedila o

Norte do Brasil e o norte da regiatildeo Centro-Oeste

Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste a exploraccedilatildeo a

corte raso soacute eacute permitida desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea de no

miacutenimo cinquumlenta por cento de cada propriedade

sect 1ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo cinquumlenta por cento

de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso seraacute averbada agrave margem da

inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a

alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de

desmembramento da aacuterea

1 Medidas Provisoacuterias satildeo instrumentos juriacutedico-poliacuteticos traduzidos na forma de atos normativos com forccedila de

lei praticados pelo Chefe do Executivo Federal em situaccedilotildees de urgecircncia e relevacircncia e que devem ser

submetidas de imediato agrave deliberaccedilatildeo do Congresso Nacional (FILHO 2005) A Constituiccedilatildeo Federal em seu

Art 62 prevecirc que em caso de relevacircncia e urgecircncia o Presidente da Repuacuteblica poderaacute adotar medidas

provisoacuterias com forccedila de lei devendo submetecirc-las de imediato ao Congresso Nacional

20

sect 2ordm Nas propriedades onde a cobertura arboacuterea se constitui de fitofisionomias

florestais natildeo seraacute admitido o corte raso em pelo menos oitenta por cento dessas

tipologias florestais

sect 3ordm Para efeito do disposto no caput entende-se por regiatildeo Norte e parte Norte da

regiatildeo Centro-Oeste os Estados do Acre Paraacute Amazonas Roraima Rondocircnia

Amapaacute e Mato Grosso aleacutem das regiotildees situadas ao norte do paralelo 13degS nos

Estados de Tocantins e Goiaacutes e a oeste do meridiano de 44degW no Estado do

Maranhatildeo (BRASIL 1996 p 1)

Fazendo uma retrospectiva ldquoesse ato do Poder Executivo pretendeu conter o

desmatamento na Amazocircnia num momento em que era divulgado o aumento da taxa meacutedia

anual de desflorestamento no biecircnio 1993-1994rdquo (MIRANDA 2008 p 38) Entretanto essa

natildeo foi a uacutenica iniciativa do chefe do executivo para alterar os percentuais citados acima

Inclusive eacute perturbador o levantamento do nuacutemero de medidas provisoacuterias com o fim de

modificar o Coacutedigo Florestal em especial os criteacuterios e aspectos que envolvem a reserva

legal que ora satildeo mais flexibilizados ora mais restritivos Eacute o que se pode observar pela

leitura da Tabela 1 onde se verifica a existecircncia de 68 propostas de mudanccedila em um espaccedilo de

tempo pouco maior que 5 anos

Tabela 1 Medidas Provisoacuterias (MP)Ano

MEDIDAS PROVISOacuteRIAS (MP) Nordm DE MPPERIacuteODO PERIacuteODOS

Nordm 1511 a 1511-17 18 1ordm) 25071996 a 20111997

Nordm 1605-18 a 1605-30 13 2ordm) 11121997 a 19111998

Nordm 1736-31 a 1736-37 7 3ordm) 14121998 a 02061999

Nordm 1885-38 a 1885-43 6 4ordm) 29061999 a 02111999

Nordm 1956-44 a 1956-57 14 5ordm) 09121999 a 14122000

Nordm 2080-58 a 2080-64 7 6ordm) 27122000 a 13062001

Nordm 2166-65 a 2166-67 3 7ordm) 28062001 a 24082001

A uacuteltima Medida Provisoacuteria a promover consideraacuteveis alteraccedilotildees que dizem

respeito agrave reserva legal foi a de nordm 2166-67 de 24 de agosto de 2001 (BRASIL 2001) Ela

acrescentou o inciso III ao paraacutegrafo 2ordm do artigo 1ordm do Coacutedigo Florestal estabelecendo o

conceito de reserva legal ateacute entatildeo natildeo definido no texto da lei muito embora sua acepccedilatildeo jaacute

existisse

21

Art 1ordm []

sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por

[]

III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural

excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos

recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave

conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas

(BRASIL 2001 p 1)

Vale destacar que a reserva legal soacute deveraacute existir em propriedade ou posse rural

natildeo sendo obrigatoacuteria na aacuterea urbana aleacutem do que natildeo eacute soacute o proprietaacuterio ou seja aquele que

deteacutem o domiacutenio do imoacutevel eacute quem deve implantaacute-la mas o possuidor tambeacutem estaacute sujeito a

tal imposiccedilatildeo legal Isso acontece porque o instituto estaacute vinculado ao imoacutevel e natildeo ao dono

ou quem faz as suas vezes por isso eacute considerada uma obrigaccedilatildeo propter rem isto eacute proacutepria

da coisa

Aleacutem da inclusatildeo do conceito de reserva legal ao Coacutedigo Florestal (BRASIL

1965) ocorreu a fixaccedilatildeo de outros percentuais bem como a adiccedilatildeo de mais oito paraacutegrafos

que delinearam aspectos outrora natildeo mencionados Eacute o que se lecirc pela nova redaccedilatildeo do artigo

16

Art 16 As florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo nativa ressalvadas as situadas em

aacuterea de preservaccedilatildeo permanente assim como aquelas natildeo sujeitas ao regime de

utilizaccedilatildeo limitada ou objeto de legislaccedilatildeo especiacutefica satildeo suscetiacuteveis de supressatildeo

desde que sejam mantidas a tiacutetulo de reserva legal no miacutenimo

I - oitenta por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta localizada na

Amazocircnia Legal

II - trinta e cinco por cento na propriedade rural situada em aacuterea de cerrado

localizada na Amazocircnia Legal sendo no miacutenimo vinte por cento na propriedade e

quinze por cento na forma de compensaccedilatildeo em outra aacuterea desde que esteja

localizada na mesma microbacia e seja averbada nos termos do sect 7ordm deste artigo

III - vinte por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta ou outras

formas de vegetaccedilatildeo nativa localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e

IV - vinte por cento na propriedade rural em aacuterea de campos gerais localizada em

qualquer regiatildeo do Paiacutes

sect 1o O percentual de reserva legal na propriedade situada em aacuterea de floresta e

cerrado seraacute definido considerando separadamente os iacutendices contidos nos incisos I

e II deste artigo

sect 2ordm A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser

utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel de acordo com princiacutepios e

criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos estabelecidos no regulamento ressalvadas as

hipoacuteteses previstas no sect 3o deste artigo sem prejuiacutezo das demais legislaccedilotildees

especiacuteficas

sect 3ordm Para cumprimento da manutenccedilatildeo ou compensaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal em

pequena propriedade ou posse rural familiar podem ser computados os plantios de

aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais compostos por espeacutecies exoacuteticas

cultivadas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas

sect 4ordm A localizaccedilatildeo da reserva legal deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental estadual

competente ou mediante convecircnio pelo oacutergatildeo ambiental municipal ou outra

instituiccedilatildeo devidamente habilitada devendo ser considerados no processo de

aprovaccedilatildeo a funccedilatildeo social da propriedade e os seguintes criteacuterios e instrumentos

quando houver

22

I - o plano de bacia hidrograacutefica

II - o plano diretor municipal

III - o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico

IV - outras categorias de zoneamento ambiental e

V - a proximidade com outra Reserva Legal Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente

unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida

sect 5ordm O Poder Executivo se for indicado pelo Zoneamento Ecoloacutegico Econocircmico -

ZEE e pelo Zoneamento Agriacutecola ouvidos o CONAMA o Ministeacuterio do Meio

Ambiente e o Ministeacuterio da Agricultura e do Abastecimento poderaacute

I - reduzir para fins de recomposiccedilatildeo a reserva legal na Amazocircnia Legal para ateacute

cinquumlenta por cento da propriedade excluiacutedas em qualquer caso as Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente os ecoacutetonos os siacutetios e ecossistemas especialmente

protegidos os locais de expressiva biodiversidade e os corredores ecoloacutegicos e

II - ampliar as aacutereas de reserva legal em ateacute cinquumlenta por cento dos iacutendices

previstos neste Coacutedigo em todo o territoacuterio nacional

sect 6ordm Seraacute admitido pelo oacutergatildeo ambiental competente o cocircmputo das aacutereas relativas

agrave vegetaccedilatildeo nativa existente em aacuterea de preservaccedilatildeo permanente no caacutelculo do

percentual de reserva legal desde que natildeo implique em conversatildeo de novas aacutereas

para o uso alternativo do solo e quando a soma da vegetaccedilatildeo nativa em aacuterea de

preservaccedilatildeo permanente e reserva legal exceder a

I - oitenta por cento da propriedade rural localizada na Amazocircnia Legal

II - cinquumlenta por cento da propriedade rural localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e

III - vinte e cinco por cento da pequena propriedade definida pelas aliacuteneas b e c

do inciso I do sect 2ordm do art 1ordm

sect 7o O regime de uso da aacuterea de preservaccedilatildeo permanente natildeo se altera na hipoacutetese

prevista no sect 6o

sect 8ordm A aacuterea de reserva legal deve ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo de matriacutecula

do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua

destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou de

retificaccedilatildeo da aacuterea com as exceccedilotildees previstas neste Coacutedigo

sect 9ordm A averbaccedilatildeo da reserva legal da pequena propriedade ou posse rural familiar eacute

gratuita devendo o Poder Puacuteblico prestar apoio teacutecnico e juriacutedico quando

necessaacuterio

sect 10 Na posse a reserva legal eacute assegurada por Termo de Ajustamento de Conduta

firmado pelo possuidor com o oacutergatildeo ambiental estadual ou federal competente com

forccedila de tiacutetulo executivo e contendo no miacutenimo a localizaccedilatildeo da reserva legal as

suas caracteriacutesticas ecoloacutegicas baacutesicas e a proibiccedilatildeo de supressatildeo de sua vegetaccedilatildeo

aplicando-se no que couber as mesmas disposiccedilotildees previstas neste Coacutedigo para a

propriedade rural

sect 11 Poderaacute ser instituiacuteda reserva legal em regime de condomiacutenio entre mais de

uma propriedade respeitado o percentual legal em relaccedilatildeo a cada imoacutevel mediante a

aprovaccedilatildeo do oacutergatildeo ambiental estadual competente e as devidas averbaccedilotildees

referentes a todos os imoacuteveis envolvidos (BRASIL 2001 p 34)

Caso seja traccedilado um paralelo entre o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)

com as alteraccedilotildees aplicadas e agrave uacuteltima Medida Provisoacuteria percebe-se que o primeiro texto em

seu artigo 16 soacute mencionava as florestas particulares enquanto que em 2001 o reformulado

pela Medida Provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) generaliza a possibilidade de supressatildeo

vegetal para florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo incluindo-as no texto da lei Isto significa

que as florestas puacuteblicas embora sejam de domiacutenio coletivo tambeacutem devem respeitar a

reserva legal de acordo com o estabelecido

E ainda de 1989 ateacute 2001 o percentual para reserva legal era de 20 da

propriedade rural para todas as regiotildees com exceccedilatildeo dos imoacuteveis no norte do paiacutes e no norte

23

do centro-oeste onde deveriam ser protegidos 50 da cobertura arboacuterea Poreacutem com o

advento da Medida provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) aumentou-se essa porcentagem para

80 na Amazocircnia Legal2 para 35 no bioma cerrado localizado na Amazocircnia Legal e a

permanecircncia dos 20 para as demais regiotildees do Brasil

Enfim eacute possiacutevel concluir claramente que tal Medida Provisoacuteria ao modificar o

artigo 16 definiu o conceito de reserva legal foi mais especiacutefica quanto aos seus percentuais

alargou os tipos de florestas suscetiacuteveis ao desmatamento estabeleceu que a vegetaccedilatildeo da

reserva legal soacute poderia ser utilizada atraveacutes de um manejo florestal sustentaacutevel (sect2ordm)

determinou que sua localizaccedilatildeo deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental competente

obedecendo os 5 criteacuterios ambientais estabelecidos (sect4ordm) permitiu a sobreposiccedilatildeo de aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente agrave de reserva legal em alguns casos (sect6ordm) reafirmou o procedimento

documental garantidor do instituto (sect8ordm) criou a possibilidade de constituir a reserva legal

em condomiacutenio (sect11ordm) dentre outros

Encerrando as mudanccedilas trazidas pela Medida Provisoacuteria 2166-672001

(BRASIL 2001) tem-se o artigo 44 que foi completamente reformulado em conteuacutedo em

nuacutemero de incisos e paraacutegrafos O teor deste dispositivo agora versa sobre a recomposiccedilatildeo a

regeneraccedilatildeo e a compensaccedilatildeo da reserva legal Tais accedilotildees devem estar em consonacircncia com o

disposto no artigo 16

Art 44 O proprietaacuterio ou possuidor de imoacutevel rural com aacuterea de floresta nativa

natural primitiva ou regenerada ou outra forma de vegetaccedilatildeo nativa em extensatildeo

inferior ao estabelecido nos incisos I II III e IV do art 16 ressalvado o disposto

nos seus sectsect 5o e 6o deve adotar as seguintes alternativas isoladas ou

conjuntamente

I - recompor a reserva legal de sua propriedade mediante o plantio a cada trecircs anos

de no miacutenimo 110 da aacuterea total necessaacuteria agrave sua complementaccedilatildeo com espeacutecies

nativas de acordo com criteacuterios estabelecidos pelo oacutergatildeo ambiental estadual

competente

II - conduzir a regeneraccedilatildeo natural da reserva legal e

III - compensar a reserva legal por outra aacuterea equivalente em importacircncia ecoloacutegica

e extensatildeo desde que pertenccedila ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma

microbacia conforme criteacuterios estabelecidos em regulamento

sect 1o Na recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I o oacutergatildeo ambiental estadual

competente deve apoiar tecnicamente a pequena propriedade ou posse rural familiar

sect 2o A recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I pode ser realizada mediante o plantio

temporaacuterio de espeacutecies exoacuteticas como pioneiras visando a restauraccedilatildeo do

ecossistema original de acordo com criteacuterios teacutecnicos gerais estabelecidos pelo

CONAMA

2 Amazocircnia Legal - eacute uma aacuterea que engloba a totalidade de oito estados o Acre o Amapaacute o Amazonas o Mato

Grosso o Paraacute Rondocircnia Roraima e Tocantins e parte do Estado do Maranhatildeo (a oeste do meridiano de 44ordmW)

O conceito da Amazocircnia Legal foi criado pela lei 1806 de 06 de janeiro de 1953 (BRASIL 2011) Disponiacutevel

em lthttpwwwipeagovbrdesafiosindexphpoption=com_contentampid=2154catid=28ampItemid=23gt

24

sect 3o A regeneraccedilatildeo de que trata o inciso II seraacute autorizada pelo oacutergatildeo ambiental

estadual competente quando sua viabilidade for comprovada por laudo teacutecnico

podendo ser exigido o isolamento da aacuterea

sect 4o Na impossibilidade de compensaccedilatildeo da reserva legal dentro da mesma micro-

bacia hidrograacutefica deve o oacutergatildeo ambiental estadual competente aplicar o criteacuterio de

maior proximidade possiacutevel entre a propriedade desprovida de reserva legal e a aacuterea

escolhida para compensaccedilatildeo desde que na mesma bacia hidrograacutefica e no mesmo

Estado atendido quando houver o respectivo Plano de Bacia Hidrograacutefica e

respeitadas as demais condicionantes estabelecidas no inciso III

sect 5o A compensaccedilatildeo de que trata o inciso III deste artigo deveraacute ser submetida agrave

aprovaccedilatildeo pelo oacutergatildeo ambiental estadual competente e pode ser implementada

mediante o arrendamento de aacuterea sob regime de servidatildeo florestal ou reserva legal

ou aquisiccedilatildeo de cotas de que trata o art 44-B

sect 6o O proprietaacuterio rural poderaacute ser desonerado pelo periacuteodo de trinta anos das

obrigaccedilotildees previstas neste artigo mediante a doaccedilatildeo ao oacutergatildeo ambiental

competente de aacuterea localizada no interior de Parque Nacional ou Estadual Floresta

Nacional Reserva Extrativista Reserva Bioloacutegica ou Estaccedilatildeo Ecoloacutegica pendente de

regularizaccedilatildeo fundiaacuteria respeitados os criteacuterios previstos no inciso III deste

artigo (NR) (BRASIL 2001 p 45)

Quanto agrave sanccedilatildeo curiosamente neste Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965) natildeo haacute

nenhuma previsatildeo com relaccedilatildeo ao descumprimento da reserva legal diferentemente do

diploma de 1934 (BRASIL 1935) como se pocircde ler anteriormente Nesse sentido existir

uma lei sem a ela estar vinculada uma sanccedilatildeo quando descumprida eacute o mesmo que um fogo

que natildeo queima uma luz que natildeo alumia (MONTEIRO 1992)

Assim finaliza-se a anaacutelise do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) e se

inicia a apreciaccedilatildeo do Novo Coacutedigo Florestal isto eacute a Lei 12651 de 25 de maio de 2012

(BRASIL 2012) que jaacute possui algumas modificaccedilotildees mesmo sendo uma norma bastante

recente Trata-se de uma lei que em seu artigo 1ordm de pronto menciona o instituto da reserva

legal elevando-a a um patamar antes natildeo reconhecido quanto agrave especialidade que lhe eacute

inerente

Art 1ordm-A Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente e as aacutereas de Reserva Legal a exploraccedilatildeo florestal o

suprimento de mateacuteria-prima florestal o controle da origem dos produtos florestais e

o controle e prevenccedilatildeo dos incecircndios florestais e prevecirc instrumentos econocircmicos e

financeiros para o alcance de seus objetivos (BRASIL 2012 p 1)

Quanto a sua definiccedilatildeo embora citada anteriormente vecirc-se a necessidade de se

enfatizar as diferenccedilas entre o novo dispositivo e o anterior ora revogado ateacute porque o

recente eacute bem mais minucioso e atual em se tratando de tendecircncias e realidades do presente

Art 3ordm []

25

III - Aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural delimitada nos

termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de modo sustentaacutevel

dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a reabilitaccedilatildeo dos

processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade bem como o

abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012 p 3)

Art 1ordm []

sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por

[]

III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural

excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos

recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave

conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas

(BRASIL 1965 p 1)

Pela leitura observa-se que a aacuterea de reserva legal desde o iniacutecio estaacute restrita ao

imoacutevel rural excluindo assim o urbano Seu objetivo tambeacutem sempre foi o mesmo

sustentabilidade Isto eacute visto quando se examina o texto do Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965)

ao citar as expressotildees conservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo biodiversidade e proteccedilatildeo colocando nesse

iacutenterim recursos naturais processos ecoloacutegicos fauna e flora nativas O foco da reserva legal

eacute claro quanto agrave conservaccedilatildeo de uma forma sistecircmica pois inclui aspectos de solo vegetaccedilatildeo

vida animal e seus respectivos ciclos Eacute o que coloca SOUZA (2002 p 2829 apud Miranda

2008 p 53)

[] justifica a existecircncia de um mecanismo juriacutedico que garanta ao homem a

manutenccedilatildeo da biodiversidade para o seu proacuteprio bem Deste ponto de vista no

Brasil a Reserva Legal ainda eacute o mecanismo existente se natildeo o uacutenico que garante

essa manutenccedilatildeo tamanha a dependecircncia dos seres humanos de energia advinda de

plantas e animais

Jaacute a lei de 2012 (BRASIL 2012) inova ao incluir e modificar algumas acepccedilotildees

O uso econocircmico eacute uma delas Antes era mencionado somente um uso sustentaacutevel dos

recursos naturais mas agora eacute um uso com base na teoria de produccedilatildeo e consumo sob o vieacutes

da sustentabilidade Aleacutem disto a nova redaccedilatildeo faz uma pequena diferenciaccedilatildeo quanto ao

auxiacutelio que a reserva legal daacute agrave conservaccedilatildeo e agrave reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos

enquanto que a anterior ditava que o tal instituto era necessaacuterio para alcanccedilar os citados

objetivos Inclui tambeacutem a promoccedilatildeo que a reserva legal faz agrave biodiversidade e por fim a

uacuteltima norma agrega a proteccedilatildeo agrave fauna silvestre3 o que outrora era soacute agrave nativa

3 ldquoEacute preciso que a fauna tenha a sua vida ou parte dela ocorrendo naturalmente dentro dos limites do territoacuterio

brasileiro e suas aacuteguas jurisdicionaisrdquo (AMADO 2012 p329) silvestre ndash satildeo animais pertencentes agraves espeacutecies

nativas migratoacuterias e quaisquer outras aquaacuteticas ou terrestres

26

Percebe-se que com o passar dos anos as leis que versam sobre florestas estatildeo

cada vez mais aperfeiccediloadas com particularidades e especificidades como se pode concluir

pela leitura da evoluccedilatildeo histoacuterica dessas normas e suas modificaccedilotildees Visualiza-se melhor

tambeacutem ao se comparar os objetivos da reserva legal nas figuras 1 e 2

Figura 1 - Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771 (BRASIL 1965)

Figura 2 - Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 - Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)

RESERVA

LEGAL

ASSEGURA AUXILIA PROMOVE

27

E em se tratando das penalidades quem natildeo respeitar a reserva legal estaraacute

enquadrado no Decreto Federal 6514 de 22 de julho de 2008 (BRASIL 2008) que dispotildee

sobre as infraccedilotildees e sanccedilotildees administrativas ao meio ambiente e prevecirc aplicaccedilatildeo de multas

como descrito nos artigos abaixo

Art 48 Impedir ou dificultar a regeneraccedilatildeo natural de florestas ou demais formas

de vegetaccedilatildeo nativa em unidades de conservaccedilatildeo ou outras aacutereas especialmente

protegidas quando couber aacuterea de preservaccedilatildeo permanente reserva legal ou

demais locais cuja regeneraccedilatildeo tenha sido indicada pela autoridade ambiental

competente

Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo

[]

Art 51 Destruir desmatar danificar ou explorar floresta ou qualquer tipo de

vegetaccedilatildeo nativa ou de espeacutecies nativas plantadas em aacuterea de reserva legal ou

servidatildeo florestal de domiacutenio puacuteblico ou privado sem autorizaccedilatildeo preacutevia do oacutergatildeo

ambiental competente ou em desacordo com a concedida

Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo

[]

Art 55 Deixar de averbar a reserva legal Multa de R$ 50000 (quinhentos reais) a R$ 10000000 (cem mil reais) (BRASIL

2008 p 12)

Ao ler o dispositivo da lei eacute possiacutevel averiguar que tanto accedilotildees como omissotildees

possiacuteveis de cometimento quanto agrave reserva legal estatildeo previstas naquele Decreto (BRASIL

2008) o que daacute poder agraves autoridades constituiacutedas de exercerem seu papel fiscalizatoacuterio e

sancionatoacuterio em desfavor daquele que descumprir tal obrigaccedilatildeo

Nesse novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012) a reserva legal estaacute muito mais

discorrida e consequentemente resguardada A lei trouxe um capiacutetulo especiacutefico com duas

seccedilotildees organizadas dispondo sobre a delimitaccedilatildeo e o regime de proteccedilatildeo do instituto aleacutem de

outra seccedilatildeo que prevecirc a transformaccedilatildeo das reservas legais em aacutereas verdes nas expansotildees

urbanas

Para comeccedilar a analisar as novidades trazidas pelo Coacutedigo Florestal (BRASIL

2012) vale mencionar a mais importante quanto ao controle e fiscalizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da

reserva legal que se daraacute pelo Cadastro Ambiental Rural ndash CAR Eacute um registro puacuteblico

eletrocircnico de acircmbito nacional obrigatoacuterio para todos os imoacuteveis rurais com a finalidade de

integrar as informaccedilotildees ambientais das propriedades e posses rurais compondo base de dados

para controle monitoramento planejamento ambiental e econocircmico e combate ao

desmatamento conforme artigo 29 daquele diploma legal Para se cadastrar no CAR o

proprietaacuterio ou possuidor rural deveraacute identificar-se comprovar a propriedade ou posse e

identificar o imoacutevel atraveacutes de planta georreferenciada e memorial descritivo informando os

28

remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente dentre outras

segundo o inciso III do paraacutegrafo primeiro do mesmo dispositivo acima

Com a criaccedilatildeo desse sistema a supressatildeo de novas aacutereas de floresta ou outras

formas de vegetaccedilatildeo nativa soacute poderaacute ser autorizada apoacutes a inserccedilatildeo do imoacutevel onde ocorreraacute

o desmatamento no Cadastro Ambiental Rural A exceccedilatildeo a essa regra eacute o imoacutevel que jaacute

possua a reserva legal averbada na sua matriacutecula com a respectiva identificaccedilatildeo e localizaccedilatildeo

Isso dispensa a inclusatildeo no CAR Eacute o que rezam o paraacutegrafo terceiro do artigo 12 e o artigo

30 do Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)

A nova lei prevecirc que a inscriccedilatildeo no CAR eacute obrigatoacuteria para todas as propriedades

e posses rurais e deve ser requerida no prazo de um ano a partir da sua implantaccedilatildeo (sect3ordm do

artigo 29) No caso do Cearaacute o Cadastro Ambiental Rural ainda natildeo foi estabelecido embora

a lei jaacute tenha completado um ano Aleacutem disto agravequele que protocolar toda documentaccedilatildeo para

anaacutelise da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal no oacutergatildeo ambiental competente natildeo poderaacute ser

imputada sanccedilatildeo administrativa nem restriccedilatildeo a direitos por qualquer oacutergatildeo ambiental

competente (sect2ordm do artigo 14) desde que a sanccedilatildeo diga respeito a natildeo formalizaccedilatildeo da aacuterea de

reserva legal

Outra novidade eacute a dispensa de reserva legal em alguns casos como nos

empreendimentos de abastecimento puacuteblico de aacutegua e tratamento de esgoto nas aacutereas

adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessatildeo permissatildeo ou autorizaccedilatildeo para

exploraccedilatildeo de potencial de energia hidraacuteulica nas quais funcionem empreendimentos de

geraccedilatildeo de energia eleacutetrica subestaccedilotildees ou seja instaladas linhas de transmissatildeo e de

distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica e nas aacutereas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de

implantaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo de capacidade de rodovias e ferrovias (sect6 ordm sect7 ordm e sect8ordm do artigo 12)

Ao passo que na Lei 477165 (BRASIL 1965) o uacutenico caso dispensaacutevel de cumprir a reserva

legal era a doaccedilatildeo pelo proprietaacuterio rural de aacuterea localizada no interior de unidade de

conservaccedilatildeo de domiacutenio puacuteblico pendente de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria ao oacutergatildeo ambiental

competente (sect6ordm do art 44)

Quanto aos percentuais de reserva legal sobre a propriedade ou posse rural nada

mudou ou seja permaneceram os mesmos embora organizados de forma diferente conforme

se segue

Art 12 Todo imoacutevel rural deve manter aacuterea com cobertura de vegetaccedilatildeo nativa a

tiacutetulo de Reserva Legal sem prejuiacutezo da aplicaccedilatildeo das normas sobre as Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente observados os seguintes percentuais miacutenimos em relaccedilatildeo agrave

aacuterea do imoacutevel excetuados os casos previstos no art 68 desta Lei

I - localizado na Amazocircnia Legal

29

a) 80 (oitenta por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de florestas

b) 35 (trinta e cinco por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de cerrado

c) 20 (vinte por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de campos gerais

II - localizado nas demais regiotildees do Paiacutes 20 (vinte por cento) (BRASIL 2012 p

15)

Acerca da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal alguns criteacuterios a serem

observados permaneceram inalterados tais como o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento

ecoloacutegico-econocircmico4 e a proximidade com outra reserva legal aacuterea de preservaccedilatildeo

permanente unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida Por outro lado

foram acrescentados dois aspectos a serem considerados tambeacutem satildeo eles as aacutereas de maior

importacircncia para a conservaccedilatildeo da biodiversidade e as aacutereas de maior fragilidade ambiental

(Incisos IV e V do artigo 14)

Por fim haacute que se falar que a nova lei permitiu a sobreposiccedilatildeo das aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente agrave aacuterea de reserva legal ou seja ao se calcular o percentual desta

poderatildeo ser computadas as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente existentes no imoacutevel rural desde

que atenda alguns requisitos Eacute o que prescreve o artigo 15

Art 15 Seraacute admitido o cocircmputo das Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente no caacutelculo

do percentual da Reserva Legal do imoacutevel desde que

I - o benefiacutecio previsto neste artigo natildeo implique a conversatildeo de novas aacutereas para o

uso alternativo do solo

II - a aacuterea a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperaccedilatildeo

conforme comprovaccedilatildeo do proprietaacuterio ao oacutergatildeo estadual integrante do Sisnama e

III - o proprietaacuterio ou possuidor tenha requerido inclusatildeo do imoacutevel no Cadastro

Ambiental Rural - CAR nos termos desta Lei BRASIL 2012 p 1617)

Basicamente essas foram as inovaccedilotildees mais pertinentes agrave reserva legal trazidas

pelo Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)

113 Importacircncia da reserva legal

Vaacuterios aspectos perfazem o instituto da reserva legal Satildeo fundamentos de

cunho teacutecnico e cientiacutefico que revelam sua importacircncia atraveacutes da abordagem juriacutedica social

ambiental e econocircmica A reserva legal natildeo foi simplesmente uma imposiccedilatildeo prevista em lei

4 Zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ndash eacute um zoneamento ambiental Esse instrumento estaacute previsto na Poliacutetica

Nacional do Meio Ambiente que foi instituiacuteda pela Lei 693881 Trata-se de uma modalidade de intervenccedilatildeo

estatal sobre o territoacuterio a fim de reparti-lo em zonas consoante o melhor interesse na preservaccedilatildeo ambiental e

no uso sustentaacutevel dos recursos naturais Conferir AMADO Frederico Direito Ambiental Esquematizado

2012 p111

30

mas uma mobilizaccedilatildeo da sociedade para resguardar os bens ambientais impedindo a

degradaccedilatildeo sem precedentes

ldquoA reserva legal busca a preservaccedilatildeo ambiental como um todo natildeo soacute do imoacutevel

que nesta se situardquo (AMADO 2009 p 105) Ainda salienta Moraes (2002 p 30) que ldquoa

reserva legal natildeo possui funccedilatildeo vinculada ao imoacutevel especificamente sendo limitaccedilatildeo de

niacutevel macro ou seja mais preocupada com a melhoria regional da biodiversidade do que

propriamente com o ecossistema interno da propriedaderdquo E muito bem acrescenta Milareacute

(2009 p 166)

Aleacutem de preservar belezas cecircnicas e bucoacutelicos ambientes histoacutericos para as geraccedilotildees

futuras as aacutereas protegidas assumiram objetivos como a proteccedilatildeo de recursos

hiacutedricos manejo de recursos naturais desenvolvimento de pesquisas cientiacuteficas

manutenccedilatildeo do equiliacutebrio climaacutetico e ecoloacutegico preservaccedilatildeo de recursos geneacuteticos

e atualmente constituem o eixo de estruturaccedilatildeo da preservaccedilatildeo in situ da

biodiversidade como um todo

1131 Juriacutedica

A reserva legal foi criada pela forccedila do universo juriacutedico brasileiro que lhe

pressupotildee efetividade Como jaacute fora mencionado o instituto teve sua definiccedilatildeo atraveacutes da

Medida Provisoacuteria 2166-672001 (BRASIL 2001) que por sua vez alterou o Coacutedigo

Florestal (BRASIL 1965) vigente agrave eacutepoca Embora houvesse previsatildeo legal para aacutereas

especialmente protegidas estas ateacute entatildeo natildeo haviam sido nominadas como reserva legal

A lei ndeg 477165 (BRASIL 1965) segundo Trennepohl (2009) trazia uma maior

preocupaccedilatildeo com a erosatildeo de terras e o consequente prejuiacutezo para as atividades produtivas

Denotando predominante inclinaccedilatildeo para a sustentabilidade econocircmica da mateacuteria-prima

aquele diploma tratava a utilizaccedilatildeo dos recursos florestais de forma racional com finalidade

de garantir as atividades econocircmicas para as quais servem de insumo

Jaacute no entendimento de Schaffer e Medeiros (2009) a figura da reserva legal no

Coacutedigo Florestal revela-se como uma norma de importacircncia e observacircncia necessaacuterias

essencialmente estrateacutegicas para a garantia de um desenvolvimento equilibrado e sustentaacutevel

para a naccedilatildeo brasileira Tambeacutem observam os mesmos autores que a tatildeo discutida lei florestal

estabeleceu percentuais diferenciados de Reserva Legal em funccedilatildeo da localizaccedilatildeo do tipo de

vegetaccedilatildeo e das caracteriacutesticas ambientais das diferentes regiotildees do paiacutes

A eficaacutecia para o cumprimento do instituto se baseia na imposiccedilatildeo da lei quanto agrave

obrigaccedilatildeo dos proprietaacuterios ou posseiros rurais se dirigirem ao cartoacuterio de registro do seu

31

imoacutevel com a aacuterea da reserva jaacute delimitada e procederem agrave averbaccedilatildeo agrave margem da sua

matriacutecula No entanto essa obrigatoriedade foi substituiacuteda pelo Cadastro Ambiental Rural

que deveraacute ser feito no oacutergatildeo ambiental competente conforme visto anteriormente Esse

procedimento se daacute pelos paracircmetros devidamente previstos em normas teacutecnicas que dispotildeem

como o dono da aacuterea deve conduzir tal processo Essa averbaccedilatildeo eacute irretrataacutevel ou seja jamais

pode ser desfeita e eacute isso que daacute eficiecircncia ao instituto se cumprido Tal imposiccedilatildeo garante

que o proprietaacuterio natildeo desmembre seu imoacutevel na intenccedilatildeo de burlar a lei

Quanto ao procedimento de averbaccedilatildeo da reserva legal na matriacutecula do imoacutevel

ressalta Trennepohl (2009 p11-12)

A exigecircncia da averbaccedilatildeo da reserva legal vem desde 1965 vale dizer haacute mais de

quarenta anos existe esta obrigatoriedade E muitos proprietaacuterios rurais cumpriram agrave

risca esta exigecircncia averbando e mantendo preservado o percentual estipulado pela

lei

[]

A necessidade dessa averbaccedilatildeo dispensa maiores comentaacuterios e pode ser facilmente

entendida como a uacutenica garantia eficaz para que a transferecircncia ou a partilha natildeo

afastem essa obrigaccedilatildeo propter rem [proacutepria da coisa] que vincula a propriedade

natildeo o proprietaacuterio

Para alguns proprietaacuterios de terras rurais se houver o atendimento do instituto da

reserva legal caberia uma indenizaccedilatildeo pela perda daquela porcentagem em suas propriedades

mas como bem ilustra Magnanini (2010 p 5) ldquoa funccedilatildeo protetora da floresta natildeo eacute restriccedilatildeo

indenizaacutevel mas decorrecircncia da proacutepria natureza que preparou terras mais uacuteteis e outras

menosrdquo

1132 Social

Segundo o renomado filoacutesofo Mondin (2004 p 117) ldquoo homem eacute um ser

sociaacutevel portanto incapaz de sozinho alcanccedilar seus objetivos anseios e realizaccedilotildees

consequentemente viverrdquo A partir dessa constataccedilatildeo soacute resta ao ser humano subsistir numa

sociedade inserida no mundo natural

Como indiviacuteduo pratica accedilotildees que lhe afetam direta e indiretamente promovendo

reflexos no espaccedilo em que habita Por isso o aspecto social estaacute intimamente vinculado agrave

qualidade ambiental uma vez que o ser humano gera impactos positivos e negativos em seu

entorno Como natildeo se pode separar a atuaccedilatildeo dele do meio em que foi introduzido necessaacuterio

eacute fazer o balizamento de suas atitudes Uma das formas de limitar seu comportamento eacute a

confecccedilatildeo de normas como por exemplo a lei que nada mais eacute do que a expressatildeo de uma

32

demanda social por medidas coercitivas em virtude do desrespeito a um aspecto que a

sociedade defende ou repudia

Quanto agraves accedilotildees humanas e seus reflexos a teoria de ldquometapopulaccedilotildeesrdquo define

que a raccedila humana causa imenso impacto na Terra provocando a deterioraccedilatildeo dos sistemas

ecoloacutegicos e a extinccedilatildeo de muitas espeacutecies as quais tem seu ritmo acelerado agrave medida que a

populaccedilatildeo cresce e aumentando com isso o consumo de energia e de recursos naturais

SOUZA (2002 apud Miranda 2008)

O aspecto social que envolve a reserva legal confronta-se com praacuteticas seculares

do homem campestre como bem ilustra Magnanini (2010 p 3) engenheiro agrocircnomo e um

dos autores do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)

A agricultura itinerante continua se desenvolvendo segundo os meacutetodos primitivos

dos primeiros anos do descobrimento Chega o agricultor derruba e queima as

matas sem indagar se elas satildeo necessaacuterias agrave conservaccedilatildeo da feracidade do solo ou

do regime das aacuteguas Depois de alguns anos de exploraccedilatildeo renovando anualmente a

queimada como meio de extinguir a vegetaccedilatildeo invasora o terreno esgotado eacute

entregue ao abandono e o agricultor seguindo as pegadas do madeireiro que adiante

derrubou as aacutervores para extrair as toras inicia novo ciclo devastador idecircntico ao

precedente Como efeito disto a agricultura cada vez se interioriza mais e cada vez

se distancia mais dos centros consumidores requerendo transportes sempre mais

caros [] Inundaccedilotildees cada vez mais destruidoras pela remoccedilatildeo desordenada de

florestas colocam em sobressalto as populaccedilotildees de centenas de cidades ribeirinhas

Vale mencionar outra caracteriacutestica que expressa o valor que a reserva legal

quando estaacute sendo cumprida imprime na aacuterea rural ndash eacute a funccedilatildeo social da propriedade

considerada como princiacutepio basilar para o uso da mesma Designaccedilatildeo bastante enunciada

pelas normas que estabelecem aquele instituto permeia o direito de propriedade da terra que

natildeo eacute visto unilateralmente e sim em sua universalidade uma vez que o imoacutevel natildeo estaacute para

servir soacute a seu dono mas tem que atender sua funccedilatildeo social Nesse sentido Miranda (2008)

pontua que a reserva legal eacute uma forma de assegurar a funccedilatildeo social da propriedade fazendo

com que esta contribua com a preservaccedilatildeo do meio ambiente ecologicamente equilibrado para

atuais e futuras geraccedilotildees Eacute como tambeacutem entende Trennepohl (2009 p 11) ao afirmar que

A preservaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa num percentual das propriedades rurais diminui o

lucro do proprietaacuterio mas de forma muito menos significativa que o ganho para a

coletividade com a qualidade ambiental decorrente pelo que entendemos

inquestionaacutevel que o interesse coletivo se sobrepotildee ao individual

1133 Ambiental

Considerado como um dos principais fatores que embasam a instituiccedilatildeo da reserva

legal na propriedade ou posse rural o aspecto ambiental se funda na biologia que perpassa

33

essencialmente esse vieacutes sem admitir qualquer desassociaccedilatildeo entre as unidades ambientais

como aacutegua solo vegetaccedilatildeo e ar Pode-se afirmar que o alicerce do estudo do meio eacute a ciecircncia

bioloacutegica que por sua vez analisa as reaccedilotildees as funccedilotildees fiacutesico-quiacutemicas a qualidade do

ambiente testando seus limites ou melhor sua capacidade de suporte Do mesmo modo

Miranda (2008 p 51) discorre sobre a importacircncia ecoloacutegica do instituto da reserva legal

quando afirma que ldquosua funccedilatildeo preciacutepua eacute assegurar mostras significativas de ecossistemas

conservando a biodiversidade e servindo de abrigo e proteccedilatildeo agrave fauna e agrave florardquo

Sobre isso Metzger (2002 p 48) tambeacutem atesta que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de

propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa eacute

fundamental para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada

regiatildeordquo Complementa Silva (2001 p 59) quando afirma

A cobertura vegetal nativa sobretudo as florestais exerce papel de fundamental

importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de ecossistemas naturais bem como de

ecossistemas criados pelo homem como eacute o caso dos ecossistemas agriacutecolas Aleacutem

de permitirem uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da aacutegua no solo e no

subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos regular a vazatildeo

dos rios reduzindo as intensidades dos extremos de estiagens e enchentes manterem

a diversidade geneacutetica

Logo todos os benefiacutecios apontados pelos autores acima podem ser verificados

em uma menor escala quando haacute a observacircncia da reserva legal dentro de cada propriedade

rural em determinada regiatildeo garantindo sua viabilidade ambiental posto que assume um

papel niacutetido de conservaccedilatildeo Para exemplificar a assertiva retro menciona-se o microclima

favoraacutevel mantido quando haacute vegetaccedilatildeo na aacuterea em apreccedilo que por sua vez amortiza a

incidecircncia solar sobre aquela regiatildeo Por outro lado a cobertura vegetal tambeacutem eacute favoraacutevel agrave

manutenccedilatildeo dos solos uma vez que dificulta a accedilatildeo erosiva das chuvas

Infere-se portanto que a existecircncia da reserva legal na propriedade rural soacute traz

vantagens ao meio ambiente por mais que a tradiccedilatildeo campestre natildeo as compreenda Eacute o que

demonstram Schaffer e Medeiros (2009 p 2) ensinando que

A Reserva Legal (RL) por sua vez natildeo tem apenas a funccedilatildeo de prover o uso

sustentaacutevel dos recursos naturais na propriedade ou posse rural Tem tambeacutem a

funccedilatildeo de conservar e reabilitar os processos ecoloacutegicos conservar a biodiversidade

e servir de abrigo e proteccedilatildeo da fauna e flora nativas Desta forma a norma geral de

caraacuteter nacional [Coacutedigo Florestal] concilia o necessaacuterio uso sustentaacutevel de recursos

naturais para a propriedade ou posse rural com as funccedilotildees ambientais e o

provimento de serviccedilos ambientais de retenccedilatildeo de aacutegua conservaccedilatildeo do solo

manutenccedilatildeo de grupos de polinizadores e fixaccedilatildeo de biomassa entre outros os quais

satildeo importantes e necessaacuterios ao cumprimento da funccedilatildeo socioambiental dos

imoacuteveis ou propriedades rurais

34

No mesmo sentido Mercadante (1999 p 240 apud MIRANDA 2008 p 5354)

numa interpretaccedilatildeo mais ampla sobre a importacircncia ecoloacutegica da reserva legal diz

A Reserva Legal natildeo tem por objetivo apenas a conservaccedilatildeo da natureza da flora e

da fauna pelo valor intriacutenseco dos recursos bioloacutegicos ou pela contribuiccedilatildeo dessas

aacutereas para a qualidade do ambiente em geral A Reserva Legal eacute fundamental para a

estabilidade ecoloacutegica e consequentemente a exploraccedilatildeo em bases sustentaacuteveis do

proacuteprio imoacutevel rural A Reserva Legal contribui para a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo

do solo o controle da erosatildeo o controle do assoreamento dos cursos d‟aacutegua a

conservaccedilatildeo dos corpos d‟aacutegua e dos mananciais serve de abrigo para os predadores

das pragas agriacutecolas fornece madeira e outros recursos florestais para uso na

propriedade dentre outros benefiacutecios

E por fim eacute cabiacutevel mencionar ainda que o Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL

2012) fixou criteacuterios bem mais especiacuteficos e pertinentes ao estabelecimento da reserva legal

como proceder ao cumprimento desse instituto observando se sua localizaccedilatildeo eacute condizente

com o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ou outras categorias

de zoneamento ambiental a proximidade com outras aacutereas legalmente protegidas dentre

outros

1134 Econocircmica

A reserva legal sob o aspecto econocircmico eacute muito controversa uma vez que eacute vista

pelo proprietaacuterio ou posseiro rural como um encargo Mesmo porque como exprime

Trennepohl (2009) ateacute a deacutecada de 80 quando se tinha diferentes normas com dispositivos

protecionistas mas com enfoque preponderantemente economicista os recursos naturais eram

tratados muito mais como insumos de produccedilatildeo ou bens de uso imediato da sociedade do que

como elementos integrantes de um intrincado e fraacutegil equiliacutebrio ambiental Isto condicionou

fatalmente a sociedade brasileira contemporacircnea a natildeo observar a deferecircncia aos bens

ambientais quiccedilaacute respeitar certa porcentagem de uma aacuterea que fora adquirida por um

particular com seus recursos proacuteprios e a tem como totalmente privada

Ainda eacute possiacutevel pelo Coacutedigo Florestal - Lei 126512012 (BRASIL 2012)

intervir na aacuterea destinada agrave reserva de forma sustentaacutevel sem suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo

uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo econocircmica dessas aacutereas Aleacutem do

que ldquoa recuperaccedilatildeo de aacutereas de RL pode ainda gerar produtos e subprodutos madeireiros jaacute

escassos em algumas regiotildees garantindo assim uma renda adicional ao produtor rural e

mateacuteria-prima para a induacutestriardquo conforme defendem Schaffer e Medeiros (2009 p 12)

Para Magnanini (2010) a situaccedilatildeo eacute graviacutessima quando sugere ficar a criteacuterio

do proprietaacuterio rural a iniciativa de proceder ou natildeo agrave reserva legal jaacute que a Administraccedilatildeo

35

Puacuteblica natildeo tem como combater eficientemente o descumprimento desse instituto Eacute o que

propotildee no momento em que coloca

O dilema eacute este ou impotildee-se a todos os donos de terras defenderem agrave sua custa a

produtividade do solo contra a erosatildeo terriacutevel e crescente ou cruzam-se os braccedilos

ante a incapacidade pela pobreza do Poder Puacuteblico na maioria dos Estados do

Brasil para deter a transformaccedilatildeo do Paiacutes num deserto em que as estaccedilotildees se

alternem entre inundaccedilotildees e secas devoradoras de todo o esforccedilo humano

(MAGNANINI 2010 p 5)

Ademais define-se outra vertente do aspecto econocircmico tatildeo bem colocada pela

acepccedilatildeo que tem Bacha (2005 p 9) ao afirmar que

A reserva legal eacute um mecanismo de poliacutetica de rendas pelo qual se procura

estabelecer um zoneamento do uso da terra dentro da propriedade rural A poliacutetica

de rendas constitui-se numa seacuterie de regulamentaccedilotildees que restringem a produccedilatildeo e a

comercializaccedilatildeo de produtos bem como o uso dos fatores de produccedilatildeo eou

determinam valores miacutenimos ou maacuteximos para o pagamento pelo uso desses fatores

ou por produtos elaborados numa economia

Eacute possiacutevel portanto depreender o entendimento do autor de modo que a reserva

legal vem restringir o uso indiscriminado dos recursos florestais gerando com isso a

manutenccedilatildeo do bem ambiental que seraacute resguardado por aquele instituto Isto influiraacute

diretamente na cadeia produtiva nas oscilaccedilotildees de demanda e procura do mercado de mateacuteria-

prima de origem vegetal Ou seja pode-se entender que a meacutedio eou longo prazo a reserva

legal seraacute um ponto de equiliacutebrio no fluxo da produccedilatildeo de bens e serviccedilos que careccedilam desse

recurso natural

114 Direito de Propriedade x Reserva Legal

A propriedade privada eacute uma espeacutecie baacutesica que se decompotildee em propriedade

rural ou urbana segundo se refira a moradias do campo ou moradias derivadas das

construccedilotildees ou edificaccedilotildees idocircneas para sua habitualidade ou aproveitamento diferente do

que eacute a exploraccedilatildeo agraacuteria de qualquer moradia rural (CRIADO 2010)

A propriedade no direito brasileiro foi constituiacuteda em forma e conteuacutedo a partir de

normas muito antigas e de outras naccedilotildees ou seja foi reproduzida com base no direito romano

ldquoDesde aqueles tempos o direito de propriedade era tido como absoluto isto eacute o proprietaacuterio

tinha o direito de usar ou natildeo usar gozar ou natildeo gozar e dispor ou natildeo dispor da propriedade

imobiliaacuteriardquo (MELO 2010 p22) Em contrapartida ldquoos direitos de propriedade

constitucional certamente satildeo direitos de liberdade seja a liberdade individual seja a

liberdade comunitaacuteria que satildeo complementares e indissociaacuteveis haja vista que uma natildeo

36

existe sem a outra como nos demonstram as experiecircncias totalitaacuterias do seacuteculo XXrdquo

(ANTUNES 2011 p37)

A garantia do direito de propriedade estaacute prevista constitucionalmente ou seja na

maior Lei do paiacutes uma vez que ela se sobrepotildee a todas as outras leis e normas juriacutedicas Eacute a

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil que foi promulgada em 05 de outubro de

1988 Conhecida como Carta Magna a Constituiccedilatildeo de 1988 (BRASIL 1988) em seu Tiacutetulo

II estabelece os direitos e as garantias fundamentais do e para o povo brasileiro Logo no

primeiro capiacutetulo deste tiacutetulo estatildeo dispostos os direitos e deveres individuais e coletivos que

o Estado brasileiro deve assegurar aos seus cidadatildeos Eacute no artigo 5ordm que estatildeo previstas tais

premissas inclusive o direito de propriedade (inciso XXII) e o respeito agrave sua funccedilatildeo social

(XXIII)

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade

do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos

seguintes

[]

XXII - eacute garantido o direito de propriedade

XXIII - a propriedade atenderaacute a sua funccedilatildeo social

Quanto agrave funccedilatildeo social da propriedade ldquosomente nos seacuteculos XIX e XX surgiu a

ideia em que o imoacutevel natildeo teria mais o caraacuteter absoluto e intangiacutevel de forma que o

proprietaacuterio por possuir recursos deveria cumprir a tal funccedilatildeordquo (MELO 2010 p23) Ainda

ldquodiscorrer sobre a funccedilatildeo social da propriedade significa abandonar a ideia absolutista e

inflexiacutevel desse instituto para admitir a revitalizaccedilatildeo e o condicionamento do exerciacutecio a

interesses maiores que os do proprietaacuterio individualrdquo (PETERS 2003 p 125 apud

MIRANDA 2008 p 56) Foi nesse sentido que as Constituiccedilotildees Federais brasileiras de 1934

(BRASIL 1934b) 1946 (BRASIL 1946) 1967 (BRASIL 1967c) e a de 1988 (BRASIL

1988) restringiram o direito de propriedade

Constituiccedilatildeo de 1934

Art 113 - A Constituiccedilatildeo assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade dos direitos concernentes agrave liberdade agrave subsistecircncia agrave seguranccedila

individual e agrave propriedade nos termos seguintes

[]

17) Eacute garantido o direito de propriedade que natildeo poderaacute ser exercido contra o

interesse social ou coletivo na forma que a lei determinar A desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica far-se-aacute nos termos da lei mediante preacutevia e justa

indenizaccedilatildeo [] (BRASIL 1934b p 33)

Constituiccedilatildeo de 1946

Art 141 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

Paiacutes a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade a seguranccedila

individual e agrave propriedade nos termos seguintes

37

[]

sect 16 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa

indenizaccedilatildeo em dinheiro (BRASIL 1946 p 31)

Constituiccedilatildeo de 1967

Art 150 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

Pais a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

[]

sect 22 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa

indenizaccedilatildeo em dinheiro ressalvado o disposto no art 157 sect 1ordm []

[]

Art 157 - A ordem econocircmica tem por fim realizar a justiccedila social com base nos

seguintes princiacutepios

[]

III - funccedilatildeo social da propriedade

[]

sect 1ordm - Para os fins previstos neste artigo a Uniatildeo poderaacute promover a desapropriaccedilatildeo

da propriedade territorial rural mediante pagamento de justa indenizaccedilatildeo fixada

segundo os criteacuterios que a lei estabelecer em tiacutetulos especiais da diacutevida puacuteblica []

(BRASIL 1967c p 4951)

Embora os textos se assemelhem eacute faacutecil observar que em 1934 o direito de

propriedade natildeo poderia ir contra o interesse social ou coletivo enquanto que na Constituiccedilatildeo

de 1946 (BRASIL 1946) jaacute se comeccedila a falar em desapropriaccedilatildeo caso aquele interesse natildeo

seja observado Em 1967 existe uma combinaccedilatildeo entre o direito de propriedade e a justiccedila

social estando esta prevista como objetivo da ordem econocircmica que por sua vez cita

claramente a funccedilatildeo social da propriedade como um de seus princiacutepios Mais uma vez a

desapropriaccedilatildeo vem agrave tona agora com um toque mais robusto e imbuiacutedo de maior evidecircncia

jaacute que aquela Carta (BRASIL 1967c) faz menccedilatildeo no paraacutegrafo 1ordm do artigo 157 que a Uniatildeo

poderaacute desapropriar a propriedade territorial rural se natildeo atender dentre outros aspectos a

funccedilatildeo social da propriedade

Retroagindo aproximadamente trecircs anos a desapropriaccedilatildeo jaacute estava em pauta

atraveacutes da Lei 450464 (BRASIL 1964) conhecida como o Estatuto da Terra Com o

objetivo de regular os direitos e obrigaccedilotildees concernentes aos bens imoacuteveis rurais a citada lei

menciona a desapropriaccedilatildeo como uma das medidas de execuccedilatildeo da Reforma Agraacuteria e

promoccedilatildeo da Poliacutetica Agriacutecola (Art 1deg) Aleacutem disto o artigo segundo assegura a todos a

oportunidade de acesso agrave propriedade da terra condicionada pela sua funccedilatildeo social desde que

cumpra as seguintes condiccedilotildees

Art 2deg

sect 1deg A propriedade da terra desempenha integralmente a sua funccedilatildeo social quando

simultaneamente

a) favorece o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores que nela labutam

assim como de suas famiacutelias

38

b) manteacutem niacuteveis satisfatoacuterios de produtividade

c) assegura a conservaccedilatildeo dos recursos naturais

d) observa as disposiccedilotildees legais que regulam as justas relaccedilotildees de trabalho entre os

que a possuem e a cultivem (BRASIL 1964 p 1)

Encerrando o rol de Constituiccedilotildees brasileiras quanto ao direito de propriedade e

sua funccedilatildeo social a de 1988 consagra este princiacutepio no artigo 186

Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende

simultaneamente segundo criteacuterios e graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos

seguintes requisitos

I - aproveitamento racional e adequado

II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio

ambiente

[] (BRASIL 1988 p 144)

Chama atenccedilatildeo o inciso II quando dispotildee sobre a utilizaccedilatildeo adequada dos

recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio ambiente Eacute nesse iacutenterim que a reserva

legal eacute reconhecida por dar ao imoacutevel uma funccedilatildeo social ldquouma vez que atribui agrave propriedade

a exigecircncia da observacircncia de funccedilotildees econocircmica e social bem como de preservaccedilatildeo do meio

ambienterdquo (MELO 2010 p 24) Tambeacutem sobre isso bem coloca Trennepohl (2009 p 12)

A limitaccedilatildeo administrativa do exerciacutecio do direito de propriedade encontra respaldo

no art 186 da Constituiccedilatildeo Federal pois a propriedade rural somente cumpre sua

funccedilatildeo social quando obedecido o aproveitamento racional e utilizados

adequadamente os recursos naturais disponiacuteveis com vistas agrave preservaccedilatildeo do meio

ambiente

ldquoNatildeo haacute direito de propriedade para quem natildeo faz a terra cumprir sua funccedilatildeo

socialrdquo Eacute como entende o professor de direito agraacuterio Carlos Mareacutes (2003 p 134 apud

MELO 2010 p 25) Cavedon (2003 p 122 apud MIRANDA 2008 p 5859) tambeacutem

observa que

Os requisitos estipulados pelo artigo 186 devem ser atendidos simultaneamente sob

pena da propriedade natildeo atender sua funccedilatildeo social e por isso perder sua proteccedilatildeo

constitucional Como consequecircncia esta fica sujeita agrave desapropriaccedilatildeo por interesse

social para fins de reforma agraacuteria conforme o caput do artigo 184 da CF88 Eacute o que

Lenza denomina de desapropriaccedilatildeo-sanccedilatildeo Isto porque a Constituiccedilatildeo de 1988 em

seu artigo 5ordm inciso XXIV garante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiro mediante a

desapropriaccedilatildeo por necessidade utilidade puacuteblica ou interesse social A sanccedilatildeo estaacute

justamente na forma de pagamento da indenizaccedilatildeo quando a propriedade rural natildeo

atende a sua funccedilatildeo social o pagamento natildeo eacute efetuado em dinheiro mas em tiacutetulos

da diacutevida agraacuteria5 Assim o meio ambiente ganha relevacircncia como elemento

5 Tiacutetulos da diacutevida agraacuteria (TDA) - Meio de pagamento de indenizaccedilotildees devidas aos que sofreram accedilatildeo

expropriatoacuteria da Uniatildeo Federal Criado pelo Governo Federal eacute vinculado agrave desapropriaccedilatildeo de imoacuteveis rurais

por interesse social para efeito de reforma agraacuteria ou aquisiccedilotildees por compra e venda de imoacuteveis rurais destinados

agrave implantaccedilatildeo de projetos integrantes do Programa Nacional de Reforma Agraacuteria Disponiacutevel em

lthttpwwwcetipcombrtitulos-publicostdagt Acesso em 27062013

39

integrante da funccedilatildeo social da propriedade em funccedilatildeo do artigo 186 II que prevecirc a

utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio

ambiente e no artigo 170 que coloca a propriedade privada a funccedilatildeo social da

propriedade e a defesa do meio ambiente lado a lado como princiacutepios da ordem

econocircmica Com base nestes dispositivos legais Cavedon entende que a propriedade

deve atender tambeacutem a sua funccedilatildeo ambiental apesar desta natildeo constar de forma

expliacutecita no texto constitucional

Desta forma por estar limitado o proprietaacuterio rural natildeo pode dispor livremente de

seu imoacutevel pois haacute de cumprir sua funccedilatildeo social que resulta na observacircncia de requisitos que

visam vantagens para a coletividade em detrimento de restriccedilotildees individuais Assim sendo

muitos particulares entendem que a obrigaccedilatildeo de destinarem determinada porcentagem de

suas propriedades rurais para a reserva legal eacute uma espeacutecie de desapropriaccedilatildeo indireta imposta

pelo poder puacuteblico e por isso deveriam ser indenizados Da mesma forma outros segundo

Miranda (2008) concluem que eacute uma restriccedilatildeo da propriedade uma vez que inviabiliza a

utilizaccedilatildeo econocircmica do bem e por isso caberia uma recomposiccedilatildeo patrimonial Ao contraacuterio

desse entendimento Trennepohl (2009 p 11) explica

A averbaccedilatildeo da reserva legal natildeo representa uma desapropriaccedilatildeo indireta como

muita gente pensa pois sua vegetaccedilatildeo pode ser explorada na forma de manejo

florestal sustentaacutevel e a aacuterea pode ser utilizada para outras atividades rentaacuteveis

Tanto eacute assim que inuacutemeras accedilotildees judiciais propostas pleiteando indenizaccedilatildeo pela

restriccedilatildeo de uso dessas aacutereas foram fulminadas nas diferentes esferas do Poder

Judiciaacuterio

Ademais a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 (BRASIL 1988) em seu artigo 225

tambeacutem estabelece que

Art 225 Todos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de

uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder

Puacuteblico e agrave coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e

futuras geraccedilotildees

sect 1ordm - Para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Poder Puacuteblico

I - preservar e restaurar os processos ecoloacutegicos essenciais e prover o manejo

ecoloacutegico das espeacutecies e ecossistemas []

III - definir em todas as unidades da Federaccedilatildeo espaccedilos territoriais e seus

componentes a serem especialmente protegidos sendo a alteraccedilatildeo e a supressatildeo

permitidas somente atraveacutes de lei vedada qualquer utilizaccedilatildeo que comprometa a

integridade dos atributos que justifiquem sua proteccedilatildeo (BRASIL 1988 p 225226)

Ressalta-se que ldquoa Carta Magna de 1988 eacute a primeira Constituiccedilatildeo brasileira em

que a expressatildeo meio ambiente eacute mencionadardquo (MELO 2010 p 20) Ademais inovou ao

adotar a terminologia ldquoespaccedilo territorial especialmente protegidordquo para designar uma aacuterea sob

regime especial de administraccedilatildeo com o objetivo de proteger os atributos ambientais

justificadores do seu reconhecimento e individualizaccedilatildeo pelo Poder Puacuteblico (MILAREacute 2009)

40

Desta forma pela simples leitura do texto constitucional observa-se que eacute uma

prerrogativa do Poder Puacuteblico promover a preservaccedilatildeo do meio ambiente bem como

estabelecer unidades especialmente protegidas para garantir a manutenccedilatildeo dos recursos

naturais A forma com que o Estado cumpriraacute este dever eacute atraveacutes da ediccedilatildeo de leis que

obriguem seus administrados a satisfazerem tais imposiccedilotildees Para tanto tem-se o Coacutedigo

Florestal (BRASIL 1965 2012) que prevecirc a reserva legal como um dos meios de viabilizar

essa proteccedilatildeo Eacute sobre o que discorre Trennepohl (2009 p 12)

A reserva legal eacute um dos instrumentos que permitem o cumprimento do art 225 da

Constituiccedilatildeo Federal o qual impotildee ao Poder Puacuteblico o dever de defender e preservar

o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras geraccedilotildees

(caput) atraveacutes de definiccedilatildeo de espaccedilos territoriais e seus componentes a serem

especialmente protegidos (sect1deg III) bem como de proteger a flora e a fauna (sect1deg

VII)

Conclui-se portanto que a reserva legal introduzida pelo Coacutedigo de 65 (BRASIL

1965) modificou os contornos do direito de propriedade restringindo seu uso e que a funccedilatildeo

social do bem imoacutevel teve como origem forte conflito entre necessidades coletivas ou assim

interpretadas e o regime particular da propriedade individual (ANTUNES 2011)

1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa

As formas de limitaccedilotildees que recaem sobre a propriedade tornam-se um problema

importante em mateacuteria ambiental pois na grande maioria das vezes a natureza juriacutedica dos

espaccedilos territoriais especialmente protegidos se confunde com a limitaccedilatildeo administrativa

(MELO 2010) Assim questiona-se se realmente estamos diante de servidotildees limites

limitaccedilotildees ou delimitaccedilotildees A questatildeo natildeo eacute paciacutefica (CRIADO 2010)

A limitaccedilatildeo administrativa segundo Meireles (2004 p 568) eacute ldquotoda imposiccedilatildeo

geral gratuita unilateral e de ordem puacuteblica condicionadora do exerciacutecio de direitos ou de

atividades particulares agraves exigecircncias do bem-estar socialrdquo Satildeo implementadas de forma

imperativa obrigando o proprietaacuterio a fazer ou natildeo fazer algo na sua propriedade mas sem

retirar a utilizaccedilatildeo econocircmica deste bem ldquoJaacute a restriccedilatildeo ocorre quando a administraccedilatildeo impotildee

ao proprietaacuterio dever que o obrigue ou o impeccedila de fazer algo em sua propriedade retirando a

utilizaccedilatildeo econocircmica desta Havendo neste caso a necessidade de recomposiccedilatildeo patrimonialrdquo

(MIRANDA 2008 p 61)

41

Aleacutem do que hibridamente haacute os que entendem que a reserva legal eacute uma

desapropriaccedilatildeo indireta6 disfarccedilada de limitaccedilatildeo da propriedade que por sua vez inviabiliza a

utilizaccedilatildeo econocircmica do bem provocando uma busca por indenizaccedilatildeo Eacute nesse sentido que se

pronunciam os superiores tribunais do paiacutes como por exemplo se pronunciou o ministro Luiz

Pereira do Tribunal de Justiccedila do Estado de Satildeo Paulo ao decidir pela indenizabilidade da

aacuterea compreendida na reserva legal E ainda o proacuteprio Supremo Tribunal Federal tem se

manifestado de forma enfaacutetica ldquoimpedindo que a bdquolimitaccedilatildeo administrativa‟ esvazie o

conteuacutedo econocircmico do direito de propriedade determinando que em tais hipoacuteteses o Estado

indenize os prejuiacutezos de ordem patrimonial sofridos pelo particularrdquo (ANTUNES 2011

p163164)

Mesmo sendo um instrumento de conservaccedilatildeo ambiental com a possibilidade de

exploraccedilatildeo racional atraveacutes de manejo florestal sustentaacutevel eacute visivelmente perceptiacutevel o

conflito entre interesses particulares e a salvaguarda da vegetaccedilatildeo proposta por norma

juriacutedica Posto isto observa-se de um lado intenccedilotildees puramente econocircmicas que por sua vez

levam os proprietaacuterios a ignorarem a lei derrubando e queimando as matas que deveriam ser

preservadas a tiacutetulo de Reserva Legal ou ainda se eximindo de suas responsabilidades soacutecio-

ambientais Opotildeem-se portanto aos fortes instrumentos juriacutedicos de proteccedilatildeo das matas

brasileiras (MIRANDA 2008)

1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal

Na vigecircncia da lei anterior ou seja do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)

a forma de garantir documentalmente o cumprimento da reserva legal era averbaacute-la junto agrave

matriacutecula da propriedade constante em um Registro de Imoacuteveis Vale aqui esmiuccedilar o que eacute e

como era esse procedimento

ldquoO Registro de Imoacuteveis eacute uma instituiccedilatildeo nascida no seacuteculo XIX para dar

seguranccedila agrave contrataccedilatildeo imobiliaacuteria e na qual se inscreviam os direitos nascidos das relaccedilotildees

privadas ou civisrdquo (CRIADO 2010 p126) ldquoE que surgiu como necessidade do Estado de

controlar o direito de propriedade e como instrumento de seguranccedila juriacutedica para o traacutefego

imobiliaacuteriordquo (MELO 2010 p18) Regido pela Lei 601573 (BRASIL 1973) que cria a

figura da matriacutecula e que por sua vez representa a individualidade do imoacutevel sua situaccedilatildeo

6 Desapropriaccedilatildeo indireta ndash ldquotoda intervenccedilatildeo do Estado na propriedade que venha a impossibilitar o uso e gozo

desse bem retirando-lhe o conteuacutedo econocircmicordquo (TAVARES 1998 p 2 apud MIRANDA 2008 p 62)

42

geograacutefica e perfeita descriccedilatildeo sofrendo alteraccedilotildees objetivas e subjetivas por meio da

averbaccedilatildeo sempre com um mesmo nuacutemero de ordem facilitando incrivelmente as pesquisas e

expediccedilatildeo de certidotildees (MELO 2010)

Desta forma cada imoacutevel possui um registro onde pode ser descrito tudo o que

acontece com ele e nele por exemplo quem comprou vendeu se o dono hipotecou o bem a

um banco por causa de empreacutestimo etc Cada novidade que acontece no imoacutevel eacute inscrita sob

a forma e nome de averbaccedilatildeo no seu registro que por sua vez tem um nuacutemero de matriacutecula

para o identificar da mesma forma que um cidadatildeo tem um nuacutemero de Registro Geral (RG)

com seu nome completo data de nascimento e filiaccedilatildeo

No caso a averbaccedilatildeo da reserva legal era feita da seguinte forma o dono do

imoacutevel ldquointeressadordquo em cumprir sua obrigaccedilatildeo deveria submeter a localizaccedilatildeo da reserva

legal ao oacutergatildeo ambiental estadual que por sua vez aprovaria ou natildeo o local onde o proprietaacuterio

iria destinar agrave reserva legal Essa delimitaccedilatildeo deveria ser feita a partir de um

georreferenciamento que utiliza coordenadas geograacuteficas fixadas com o auxiacutelio de sateacutelites

conforme o Sistema Geodeacutesico Brasileiro (SGB) ao qual o Registro de imoacuteveis estaacute

vinculado (MELO 2010)

ldquoA representaccedilatildeo graacutefica da propriedade e sua atualizaccedilatildeo permitem um

conhecimento da evoluccedilatildeo do territoacuterio suas modificaccedilotildees e o impacto meio ambiental que

nele tenha ocasionado atuaccedilatildeo do acircmbito imobiliaacuterio com transcendecircncia nesta mateacuteriardquo

(LIBERAL 2007 p 121 apud MELO 2010 p3233)

Assim com a propriedade e sua respectiva aacuterea de reserva legal

georreferenciadas o proacuteximo passo seria a elaboraccedilatildeo de uma planta a partir dos dados

coletados e juntamente com o documento comprobatoacuterio de que o imoacutevel possuiacutea registro

submeter a localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva ao oacutergatildeo ambiental competente Se aprovada o

oacutergatildeo expediria um Termo de Averbaccedilatildeo da Reserva Legal que juntamente com a mesma

planta apresentada anteriormente deveria ser levado ao cartoacuterio de imoacuteveis para posterior

averbaccedilatildeo no registro do bem Nesta averbaccedilatildeo estariam descritas todas as informaccedilotildees da

reserva legal e sua localizaccedilatildeo geograacutefica

ldquoEsse procedimento documental tinha fundamento no princiacutepio da publicidade

que eacute a alma dos registros puacuteblicos porque eacute a oportunidade dada ao povo de conhecer tudo

que lhe interessa a respeito de determinados atosrdquo (BALBINO FILHO 1999 p 9 apud

MELO 2010 p34) Ateacute porque qualquer pessoa pode solicitar informaccedilotildees sobre os registros

junto ao cartoacuterio de imoacuteveis ldquoE natildeo poderia ser diferente pois o Registro de Imoacuteveis atua no

43

direito ambiental como ator coadjuvante reforccedilando a publicidade legal bem como

cooperando com o cumprimento e garantia das obrigaccedilotildees ambientaisrdquo (MELO 2010 p79)

Natildeo obstante malgrado existia a obrigaccedilatildeo legal de todo proprietaacuterio averbar a

aacuterea de RLF no Registro de Imoacuteveis o fato eacute que pequena porcentagem dos proprietaacuterios

procedeu agrave sua especializaccedilatildeo ldquoA razatildeo eacute simples trata-se de norma incompleta foi criada a

obrigaccedilatildeo mas propositalmente a sanccedilatildeo foi esquecidardquo (MELO 2010 p56)

Com a lei 126512012 (BRASIL 2012) ou Novo Coacutedigo Florestal esse

procedimento mudou Logo natildeo se deve mais averbar a reserva legal no registro do imoacutevel

Agora a obrigaccedilatildeo passou a ser o cadastramento da propriedade rural no Cadastro Ambiental

Rural (CAR) O atual meacutetodo consiste na inscriccedilatildeo do imoacutevel a partir da identificaccedilatildeo do

proprietaacuterio ou possuidor rural apresentaccedilatildeo de documento que comprove a propriedade ou a

posse e a identificaccedilatildeo do imoacutevel por meio de planta e memorial descritivo contendo a

indicaccedilatildeo das coordenadas geograacuteficas com pelo menos um ponto de amarraccedilatildeo do periacutemetro

do imoacutevel informando a localizaccedilatildeo dos remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa das Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente das Aacutereas de Uso Restrito das aacutereas consolidadas e caso existente

tambeacutem da localizaccedilatildeo da Reserva Legal

No entanto o CAR ainda natildeo estaacute implantado no Cearaacute o que eacute realidade em

vaacuterios outros estados tambeacutem A obrigatoriedade de inscriccedilatildeo neste Cadastro eacute de ateacute dois

anos apoacutes sua implementaccedilatildeo que ateacute o momento natildeo aconteceu Todavia o secretaacuterio de

Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentaacutevel Sr Paulo Guilherme Cabral afirmou em

21052013 que o lanccedilamento em acircmbito nacional do Cadastro Ambiental Rural (CAR) deve

ocorrer ateacute o iniacutecio de junho e para agilizar a inscriccedilatildeo de mais de 5 milhotildees de propriedades

o Ministeacuterio do Meio Ambiente tem buscado ajuda de sindicatos cooperativas e associaccedilotildees

do setor agriacutecola aleacutem de outros oacutergatildeos puacuteblicos7 Infelizmente nada aconteceu ateacute e apoacutes

aquela previsatildeo

Contraditoriamente natildeo existe um prazo para o governo implantar o CAR mas

para o proprietaacuterio ou posseiro sim quando o cadastro dos imoacuteveis estiver disponiacutevel O

impasse eacute o que fazer o dono da terra aguarda o novo procedimento vigorar ou adota o

meacutetodo anterior

7 Conferir notiacutecia publicada em 22052013 no site lthttpsouagrocombrlancamento-nacional-do-car-deve-

sair-ate-junhogt

44

2 Processo de Degradaccedilatildeo

21 Conceito

A degradaccedilatildeo de uma forma geral eacute ldquoa ocorrecircncia de modificaccedilotildees fiacutesicas

metaboacutelicas ou quiacutemicas para uma forma menos complexa E a degradaccedilatildeo ambiental eacute a

alteraccedilatildeo das caracteriacutesticas do meio ambienterdquo (GUERRA et al 2009 p108) Jaacute o inciso II

do artigo 3ordm da Lei 693881 (BRASIL 1981) descreve a degradaccedilatildeo da qualidade ambiental

como alteraccedilatildeo adversa das caracteriacutesticas do meio ambiente

Para Arauacutejo et al (2008 p 19) ldquoa degradaccedilatildeo das terras envolve a reduccedilatildeo dos

potenciais recursos renovaacuteveis por uma combinaccedilatildeo de processos agindo sobre a terrardquo Os

autores ainda atestam que

Tal reduccedilatildeo levando ao abandono ou ldquodesertificaccedilatildeordquo da terra [] pode ser por

processos naturais como por exemplo o ressecamento do clima atmosfeacuterico

processos naturais de erosatildeo alguns outros de formaccedilatildeo do solo ou uma invasatildeo

natural de plantas ou animais nocivos Pode tambeacutem ocorrer por accedilotildees antroacutepicas

diretamente sobre o terreno ou indiretamente em razatildeo das mudanccedilas climaacuteticas

adversas induzidas pelo homem (ARAUacuteJO et al 2008 p 19)

Para a Food and Agriculture Organizations of the United Nations - FAO

(Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e Agricultura) o conceito de degradaccedilatildeo

de terras se refere ldquoagrave deterioraccedilatildeo ou perda total da capacidade dos solos para uso presente e

futurordquo (FAO 1980 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 23)

Observa-se portanto que a degradaccedilatildeo ambiental se natildeo combatida pressupotildee

um processo criacutetico e muito seacuterio o da desertificaccedilatildeo Eacute como considera Sales (2002) e ainda

afirma que o potencial natural das terras quanto agrave degradaccedilatildeo e a accedilatildeo antroacutepica

desencadeiam a desertificaccedilatildeo

O processo de degradaccedilatildeo ambiental pode ocorrer a partir de um ambiente que jaacute

possui caracteriacutesticas naturais limitantes eou extremas onde nele eacute inserido o fator antroacutepico

seja pela simples ocupaccedilatildeo de uma populaccedilatildeo naquela aacuterea seja pelo manejo inadequado dos

recursos naturais ali presentes De outra forma a degradaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel em ambientes

sem fragilidades naturalmente aparentes

A degradaccedilatildeo ambiental advinda da intervenccedilatildeo humana num cenaacuterio mundial

traduz-se em 15 das terras jaacute comprometidas pelas atividades humanas sendo que na

Ameacuterica do Sul dentro daquele percentual encontrou-se 1 de terras devastadas 11 de

terras leve ou moderadamente degradadas e 1 de terra forte ou extremamente degradada8

As estimativas apontam uma expansatildeo anual de 5 a 12 milhotildees de hectares de solo de um

total de 48 bilhotildees de hectares de aacutereas cultivaacuteveis e pastos ainda existentes e segundo a

ISRICUNEP (1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 28) isso resulta na seguinte constataccedilatildeo

A degradaccedilatildeo ambiental causa a perda de aproximadamente 14 milhotildees de

toneladas de gratildeos anualmente isto eacute metade da quantidade necessaacuteria para cobrir

as necessidades da populaccedilatildeo global adicional para o mesmo periacuteodo E no aspecto

financeiro para Blaikie e Brookfiel (1987) a produtividade do trabalho eacute atingida

desfavoravelmente pois a degradaccedilatildeo ambiental consome diretamente o produto do

trabalho e tambeacutem o aporte de capital na produccedilatildeo A qualidade de vida diminui

porque satildeo necessaacuterios mais tempo e um trabalho mais duro para se obter o mesmo

produto isso sem mencionar as medidas conservacionistas no campo fertilizaccedilatildeo

mais intensa ou a abertura de aacutereas para lavouras ou pastos cada vez mais distantes

[] Em ocasiotildees mais raras mas tambeacutem tatildeo dramaacuteticas a degradaccedilatildeo ambiental

forccedila o deslocamento da populaccedilatildeo Centenas de milhares de hectares tecircm de ser

abandonados a cada ano por estarem degradados demais para o cultivo ou ateacute

mesmo para pastagens (ARAUacuteJO et al 2008 p 31)

Em se tratando de semiaacuterido os recursos ambientais satildeo fraacutegeis e associados a

este quadro haacute uma populaccedilatildeo que por sua vez lanccedila matildeo dos bens naturais produzindo uma

deterioraccedilatildeo ambiental ldquoO Cearaacute por conseguinte apresenta extensas aacutereas com problemas

relativos agrave degradaccedilatildeo ambiental principalmente a desertificaccedilatildeordquo (IRAUCcedilUBA 2009 p 7)

Eacute o caso de Irauccediluba por causa da degradaccedilatildeo advinda do desmatamento e das

queimadas que exaurem os nutrientes do solo a agricultura de subsistecircncia colhe em gratildeos

menos de 500 kgha enquanto que a produccedilatildeo potencial seria cerca de 2000 kgha

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Isso explica a baixa participaccedilatildeo da agricultura na

produccedilatildeo agropecuaacuteria do municiacutepio E ldquoessa produccedilatildeo sequer paga os custos da lavoura de

forma que os pequenos produtores estatildeo pagando para plantar na maioria dos casosrdquo

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 18) As consequecircncias sociais disto satildeo ldquoum ciclo de

pobreza e miseacuteria tornando a regiatildeo cada vez mais vulneraacutevelrdquo (SALES 2002 p116)

Em niacutevel mais criacutetico segundo as Naccedilotildees Unidas a desertificaccedilatildeo degrada 60 mil

km2 de terras feacuterteis por ano em todo o mundo provocando perdas de 4 bilhotildees de doacutelares na

economia mundial No Brasil estima-se que essas perdas atinjam 100 milhotildees de doacutelares9

Por fim ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013) entendem que a degradaccedilatildeo em terras

brasileiras remonta o tempo dos colonizadores pois estes aplicavam diretamente meacutetodos e

praacuteticas proacuteprios para solos de clima temperado Assim as matas foram derrubadas queimou-

se a vegetaccedilatildeo em larga escala e lavouras nocircmades foram estabelecidas aproveitou-se o humo

8 Conferir ISRICUNEP 1991 In Arauacutejo et al 2008 p 27

9 Conferir RODRIGUES (2006) in CEARAacute 2010

46

onde este jaacute existia expuseram-se os solos agrave erosatildeo enfim saquearam-se os recursos naturais

renovaacuteveis ldquoNo caso do Cearaacute documenta-se que em 1861 a Comissatildeo Cientiacutefica enviada

para estudar o Nordeste registrava a destruiccedilatildeo acelerada da vegetaccedilatildeo principalmente nos

contrafortes das serras em virtude dos desmatamentos e queimadas para plantio de

mandiocardquo ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013 p 8)

Para uma melhor compreensatildeo quanto agrave intervenccedilatildeo humana negativa no

ambiente aponta-se o esquema proposto na figura 3 a seguir resumindo o processo de

degradaccedilatildeo ambiental apresentado pelo PAE10

(CEARAacute 2010b)

Figura 3 Sistema de Degradaccedilatildeo do Meio Ambiente Adaptado de Tricart (apud Souza 2000)

Fonte PAE (CEARAacute 2010b p 30)

10

PAECE ndash Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca

(CEARAacute 2010)

47

22 Degradaccedilatildeo Ambiental

A degradaccedilatildeo tem vaacuterias causas dentre elas a erosatildeo e o manejo inadequado do

solo Em se tratando deste uacuteltimo pode-se destacar as atividades agropecuaacuterias e suas

praacuteticas como por exemplo o desmatamento desmedido e irracional a irrigaccedilatildeo de forma

errada salinizando ou encharcando o solo o sobrepastoreio que compacta o solo e o uso de

defensivos agriacutecolas que provocam a contaminaccedilatildeo do solo e eliminam os microorganismos

ali presentes Deduz-se portanto que isso eacute um reflexo derivado de uma estrutura fundiaacuteria

extremamente riacutegida onde satildeo desenvolvidas aquelas atividades com baixo niacutevel tecnoloacutegico

levando a praacuteticas agriacutecolas predatoacuterias (SALES 2002 p116)

Com as causas naturais e as provocadas pelo homem quanto agrave degradaccedilatildeo do solo

expostas na tabela 2 a compreensatildeo fica mais clara

Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras

FATORES ACcedilOtildeES ANTROacutePICAS CONDICcedilOtildeES NATURAIS

Facilitadores

Desmatamento

Permissatildeo do superpastoreio

Uso excessivo da vegetaccedilatildeo

Taludes de corte

Remoccedilatildeo da cobertura vegetal para o cultivo

Topografia

Textura do solo

Composiccedilatildeo do solo

Cobertura vegetal

Regimes hidrograacuteficos

Diretos

Uso de maacutequinas

Conduccedilatildeo do gado

Encurtamento do pousio

Entrada excessiva de aacutegua drenagem insuficiente

Excesso de fertilizaccedilatildeo aacutecida

Uso excessivo de produtos quiacutemicos estrume

Disposiccedilatildeo de resiacuteduos domeacutesticos industriais

Chuvas fortes

Alagamentos

Ventos fortes

Fonte FAO (1980 apud Arauacutejo et al 2008 p 33)

Entendem Arauacutejo et al (2008 p 29) que as consequecircncias disto no meio rural satildeo

Um decliacutenio na produtividade ou uma necessidade crescente do aporte de nutrientes

para manter as mesmas produtividades uma vez que os ldquosubsolos geralmente

contem menos nutrientes do que as camadas superioresrdquo sendo necessaacuterio mais

fertilizante para manter a produtividade das culturas Isso por sua vez aumenta os

custos da produccedilatildeo

Partindo dessas constataccedilotildees conclui-se que satildeo seacuterias as consequecircncias

ambientais sociais e econocircmicas a esse respeito por isso satildeo necessaacuterias medidas mitigadoras

que visem minimizar esses impactos bem como meios de recuperar os danos jaacute existentes

A questatildeo torna-se ainda mais preocupante quando o olhar recai sobre os

processos de formaccedilatildeo do solo que segundo Kendall e Pimentel (1994 apud ARAUacuteJO et al

48

2008 p 21) ldquosatildeo lentos e necessitam de duzentos a mil anos para formar 25cm de solos e

isso sob condiccedilotildees agriacutecolas normaisrdquo Dessa forma a degradaccedilatildeo do solo eacute muito mais

criacutetica uma vez que eacute quase irreversiacutevel quando se trata do lapso temporal para se regenerar

ldquoA irreversibilidade tambeacutem ocorre quando o clima e as atividades humanas se combinam

tornando um solo anteriormente sadio em aacuterea devastadardquo (ARAUacuteJO et al 2008 p 2021)

221 Erosatildeo

Eacute o processo natural de decomposiccedilatildeo e transporte de sedimentos que altera as

formas de relevo Causada por agentes como vento chuvas aacuteguas correntes pode ser

acelerada por intervenccedilotildees humanas como por exemplo o desmatamento (TRIGUEIRO

2005 apud GUERRA 2009 p 129)

Arauacutejo et al (2008 p 34) afirmam que ldquoembora a erosatildeo possa ocorrer sem a

intervenccedilatildeo humana na praacutetica ela geralmente eacute iniciada eou acelerada por atividades

antroacutepicas que causam o desaparecimento da cobertura protetora da vegetaccedilatildeo natural ou

danificam a estrutura do solordquo

No PAN (BRASIL 2004 p 42) consta que ldquoa resultante do antropismo eacute

principalmente a erosatildeo particularmente a laminarrdquo que se inicia com a destruiccedilatildeo da

cobertura vegetal

A erosatildeo pode ser pela accedilatildeo da aacutegua eou do vento Em ambos os casos a camada

superficial do solo eacute retirada Para Arauacutejo et al (2008 p 24) ldquoa erosatildeo eoacutelica eacute mais comum

em climas aacuterido e semiaacuterido e eacute considerada uma forma de degradaccedilatildeo bem como a da aacutegua

que pode ateacute deformar o terreno formando ravinas e voccedilorocasrdquo Uma consequecircncia grave

disto segundo os mesmos autores eacute a reduccedilatildeo da fertilidade pelos motivos a seguir Menor

penetraccedilatildeo de raiacutezes em decorrecircncia de um solo menos denso e mais fino Reduccedilatildeo na

capacidade de retenccedilatildeo de aacutegua Varredura dos nutrientes utilizados pelas plantas

Para a FAO segundo Arauacutejo et al (2008 p 30) ldquoaproximadamente 25 bilhotildees de

toneladas de solo satildeo erodidos a cada ano sendo 17 toneladas por hectare cultivadordquo

222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica

Dentro do que jaacute foi citado anteriormente a (1) irrigaccedilatildeo inadequada que saliniza

ou encharca o solo e o (2) uso de defensivos agriacutecolas contaminando e eliminando os

49

microorganismos satildeo soacute algumas causas deste tipo de degradaccedilatildeo Aleacutem destas tem-se a (3)

acidificaccedilatildeo e o (4) esgotamento do solo causando a perda de nutrientes Para Arauacutejo et al

(2008 p 25) ldquoa salinizaccedilatildeo pode ser resultado de manejo mal realizado da irrigaccedilatildeo da alta

concentraccedilatildeo de sais na aacutegua ou atenccedilatildeo indevida agrave drenagem Esta acarreta a salinizaccedilatildeo dos

solos especialmente em regiotildees aacuteridas por que as altas taxas de evaporaccedilatildeo estimulam o

processordquo E ainda por atividades humanas que elevam a evaporaccedilatildeo em solos com material

salino ou com lenccedilol freaacutetico salino (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25)

Segundo o PAN (BRASIL 2004 p 64) ldquoa irrigaccedilatildeo produz impactos

indesejaacuteveis em qualquer aacuterea semiaacuteridardquo se realizada de forma inadequada e sem o recurso

da drenagem Complementa ainda o documento ao dizer que

Um solo submetido agrave irrigaccedilatildeo estaacute salinizado quando a concentraccedilatildeo de sais nesse

terreno se eleva a ponto de prejudicar o rendimento econocircmico das culturas A

salinizaccedilatildeo do solo afeta a germinaccedilatildeo e a densidade das culturas bem como seu

desenvolvimento vegetativo reduzindo a produtividade das lavouras Nos casos

limites a salinizaccedilatildeo pode levar agrave morte generalizada das plantas inviabilizando o

cultivo das terras afetadas (BRASIL 2004 p 64)

Aleacutem disso o uso excessivo de agrotoacutexicos eacute tido como poluiccedilatildeo e pode levar agrave

reduccedilatildeo do potencial agriacutecola da terra Resiacuteduos industriais e urbanos tambeacutem podem poluir

terras agricultaacuteveis O esgotamento do solo pelo plantio excessivo de culturas sem promover

um pousio miacutenimo do terreno exaure os nutrientes daquela aacuterea Isso eacute comum onde a

agricultura eacute praticada em solos pobres ou moderadamente feacuterteis sem a aplicaccedilatildeo suficiente

de esterco ou fertilizante (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25) E por fim

a acidez pode ser provocada quando se utiliza muitos fertilizantes aacutecidos ou em decorrecircncia

da maacute drenagem em alguns tipos de solo

223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica

Conhecidos pela compactaccedilatildeo do solo elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico e pelo

rebaixamento da superfiacutecie da terra (subsidecircncia) a esses tipos de degradaccedilatildeo natildeo se pode

deixar de somar uma causa precursora que eacute o desmatamento desmedido e irracional

deixando o solo nu e exposto agraves intempeacuteries do tempo Da mesma forma entende Cruz (1994

p 135-147 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 35) ao afirmar que ldquoa remoccedilatildeo da cobertura vegetal

inicia ou acelera a erosatildeo do solo sob a accedilatildeo da chuva e do vento de igual modo a queimada

visando o controle de ervas estimula a lixiviaccedilatildeo e a perda do solordquo

50

A compactaccedilatildeo do solo como o resultado do uso de maacutequinas pesadas em solos

instaacuteveis bem como o pisoteio do gado que via de regra eacute agravado por um

sobrepastoreio da aacuterea O impacto das gotas de chuva provoca tambeacutem o selamento

e encrostamento do solo A elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico eacute ocasionada pelo

encharcamento da terra que por sua vez natildeo tem na mesma proporccedilatildeo a capacidade

de drenagem (ARAUacuteJO et al 2008 p 25)

23 A degradaccedilatildeo em Irauccediluba

Em Irauccediluba as praacuteticas agriacutecolas e a pecuaacuteria satildeo muito ofensivas aos recursos

naturais Isso se deve agrave capacidade de suporte do ambiente que natildeo eacute respeitada gerando

impactos e danos ambientais seacuterios e de caraacuteter praticamente irreversiacuteveis O sobrepastejo de

bovinos ovinos e caprinos o desmatamento e as queimadas deixam a regiatildeo com um niacutevel de

degradaccedilatildeo altiacutessimo ateacute porque suas condiccedilotildees naturais jaacute satildeo adversas E ainda haacute outro

fator agravante - o tempo de recuperaccedilatildeo natural tambeacutem natildeo eacute observado nem cumprido

fragilizando por demais o ambiente

Para Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 7) ldquoA introduccedilatildeo da pecuaacuteria no nuacutecleo de

Irauccediluba trouxe a tiracolo a agricultura e a extraccedilatildeo de madeira A primeira baseava-se no

desmatamento indiscriminado e na queimada geral E a segunda na coleta da lenha sem

reposiccedilatildeo florestalrdquo Desta forma a degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba estaacute desenhada por

1 Superpastejo que causa prejuiacutezos sensiacuteveis agrave vegetaccedilatildeo pelo consumo das

cascas dos troncos de aacutervores e arbustos e pela remoccedilatildeo das placircntulas das espeacutecies

arboacutereas e arbustivas Nessas condiccedilotildees mudanccedilas na composiccedilatildeo floriacutestica da

vegetaccedilatildeo podem resultar em virtude do desaparecimento das espeacutecies lenhosas

forrageiras o que em aacutereas de vegetaccedilatildeo degradada acelera o processo de

desertificaccedilatildeo Em aacutereas de caatinga o pastejo por ovinos induz mudanccedilas

significativas na composiccedilatildeo botacircnica do estrato herbaacuteceo com a reduccedilatildeo da

participaccedilatildeo das gramiacuteneas mesmo em condiccedilotildees de pastoreio moderado Nesse

contexto o sobrepastejo por ovinos pode resultar no desaparecimento das gramiacuteneas

e ao final de toda cobertura herbaacutecea da vegetaccedilatildeo expondo o solo aos efeitos da

erosatildeo (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 78)

2 Agricultura rudimentar que pratica o desmatamento e faz uso do fogo O

impacto deste sobre o ecossistema eacute onipresente e caracteriza-se pela queda da

produccedilatildeo agriacutecola pela degradaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa pela erosatildeo dos solos pela

perda da biodiversidade da flora e da fauna e pelo assoreamento e salinizaccedilatildeo dos

mananciais pela perda da resiliecircncia aumentando sua fragilidade diante das

variaccedilotildees climaacuteticas tiacutepicas das regiotildees semiaacuteridas Aleacutem disto os desmatamentos e

queimadas seguidos por um curto periacuteodo de pousio terminam por levar a vegetaccedilatildeo

a um disclimax dominado por arbustos uma vez que o banco de sementes das

arboacutereas praticamente desapareceu (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 918)

3 Manejo inadequado do solo associado ao relevo da regiatildeo Satildeo trecircs tipos de

solo que se destacam em Irauccediluba litoacutelicos planossolos e luvissolos Por conta da

declividade de 8 a 45 os agricultores optam pelas terras nas encostas para

implantar os roccedilados pois haacute um menor risco de perder a safra em funccedilatildeo do

alagamento comum nas terras planas do municiacutepio durante a eacutepoca das chuvas

Nestas condiccedilotildees as perdas de solo por erosatildeo satildeo assombrosas Aleacutem disto haacute a

erosatildeo nos planossolos provocada pelo sobrepastejo com perdas de solo superiores a

51

17 tha em uma uacutenica estaccedilatildeo das chuvas o que enfatiza a importacircncia da cobertura

vegetal na proteccedilatildeo contra a erosatildeo (apud SALES 2003) Como consequecircncia do

sobrepastejo continuado ao longo provavelmente de centenas de anos a erosatildeo

laminar jaacute removeu porccedilatildeo significativa do horizonte A expondo em alguns casos o

horizonte B textural Aleacutem disso houve uma exaustatildeo dos nutrientes do solo

principalmente do foacutesforo Outro fator que tambeacutem intensifica a degradaccedilatildeo eacute o

curtiacutessimo periacuteodo de repouso Estima-se em 50 anos o tempo necessaacuterio para que a

vegetaccedilatildeo da caatinga em um luvissolo que foi destruiacuteda pela queimada do roccedilado

volte pela sucessatildeo secundaacuteria ao cliacutemax original Ora na regiatildeo este periacuteodo estaacute

reduzido a cerca de oito anos Com isto natildeo haacute a recuperaccedilatildeo da fertilidade do solo e

a recomposiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo Isto porque a velocidade de crescimento das arboacutereas

da caatinga eacute muito variaacutevel (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 810)

Concluem portanto os autores Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 17) que ldquoas praacuteticas

rotineiramente adotadas do desmatamento e do fogo a exposiccedilatildeo do solo e a diminuiccedilatildeo do

periacuteodo de pousio tecircm induzido processos de degradaccedilatildeo mormente os de erosatildeordquo

231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia

A desertificaccedilatildeo eacute um problema ambiental que assola vaacuterias partes do mundo e

vem sendo discutido desde 1977 quando em Nairoacutebi no Quecircnia aconteceu a Conferecircncia

sobre Desertificaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas ldquoA observaccedilatildeo desse processo se atribui ao cientista

Aubreville que em 1949 constatou o prolongamento da degradaccedilatildeo para o norte das zonas

mais aacuteridas do Saara e para as regiotildees semiaacuteridas e subuacutemidas do norte da Aacutefricardquo (ARAUacuteJO

et al 2008 p 26) Em 1992 na ECO 92 foi definido o conceito de desertificaccedilatildeo cuja

ocorrecircncia se daacute em aacutereas aacuteridas semiaacuteridas e subuacutemidas secas O grau de aridez eacute

estabelecido pela relaccedilatildeo PEtp que eacute a razatildeo entre a meacutedia da precipitaccedilatildeo total anual e a

evapotranspiraccedilatildeo potencial do mesmo periacuteodo metodologia esta desenvolvida por

Thornthwaite (1955) Desta forma definiu-se uma correspondecircncia entre o clima e o

resultado da relaccedilatildeo acima conforme mostra a tabela 3

Tabela 3 ndash Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez

CLIMA P ETP

Hiper-aacuterido lt 005

Aacuterido De 005 a 020

Semiaacuterido gt 020 a 050

Subuacutemido Seco gt 050 a 065

Subuacutemido Uacutemido gt 065

Fonte United Nations Environment Programme ndash UNEP (Programa

Ambiental das Naccedilotildees Unidas) 1992

52

Eacute interessante mencionar que o semiaacuterido brasileiro delimitado pela uacuteltima vez

em 1995 foi novamente demarcado a partir da iniciativa do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo

Nacional (MIN) que instituiu um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) envolvendo

departamentos empresas institutos agecircncias e ateacute bancos puacuteblicos para a readequaccedilatildeo dos

criteacuterios propostos pela Lei 782789 (BRASIL 1989c) Somente a inserccedilatildeo do municiacutepio na

aacuterea de abrangecircncia da extinta Superintendecircncia de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)

e a precipitaccedilatildeo meacutedia anual de ateacute 800 mm eram condiccedilotildees para enquadrar ou natildeo

determinado municiacutepio no semiaacuterido brasileiro (SUDENE 1990) Os novos paracircmetros satildeo

mais abrangentes pois aleacutem de considerar a precipitaccedilatildeo pluviomeacutetrica meacutedia anual inferior a

800 mm avaliam se o iacutendice de aridez do municiacutepio eacute de ateacute 05 ou se o risco de seca eacute maior

que 6011

Com a nova delimitaccedilatildeo em 2005 foram incorporados mais 102 municiacutepios aos

1031 jaacute classificados de forma que a aacuterea oficialmente semiaacuterida brasileira aumentou de

8923094 km2 para 9695894 km

2 ou seja um acreacutescimo de 866

12

A figura 4 ilustra o novo formato do semiaacuterido no Brasil E no Cearaacute foram

incorporados mais 16 totalizando 150 de um universo com 184 municiacutepios Isto significa

815 do estado e 132 de toda a regiatildeo semiaacuterida do paiacutes13

O quadro atual do semiaacuterido

cearense estaacute delineado na figura 5 a seguir

Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro

Fonte MIN (BRASIL 2005c)

11

Conferir Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro MI (BRASIL 2005c) 12

Idem 13

Ibidem

53

Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute

Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)

Com relaccedilatildeo ao processo de desertificaccedilatildeo no Brasil uma aacuterea de 900000 Kmsup2 eacute

atingida afetando direta ou indiretamente mais de 15 milhotildees de brasileiros natildeo existindo no

territoacuterio nacional outro problema ambiental que atinja tamanha aacuterea e tantas pessoas

(SUDENE 2000 apud IRAUCcedilUBA 2009) A regiatildeo nordeste por sua vez concentra as

Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) incluindo os espaccedilos semiaacuteridos e subuacutemidos

secos ambos de maior abrangecircncia fiacutesico-territorial vis-agrave-vis os outros espaccedilos naturais que

conformam e estruturam o Nordeste brasileiro (BRASIL 2004)

Pesquisadores apontam como principais causas de desertificaccedilatildeo no semiaacuterido

cearense a ocupaccedilatildeo desordenada do solo o desmatamento praacuteticas de queimadas (CEARAacute

2010b) Dentro desse raciociacutenio

Os estabelecimentos agropecuaacuterios ocupam o solo principalmente com lavouras

temporaacuterias e a criaccedilatildeo de animais Estas atividades muitas vezes satildeo executadas

sem preocupaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos e contribuem para

agravar o quadro de degradaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2010b p 103)

No mesmo sentido e no tocante agraves Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) o

PAN (BRASIL 2004) destaca que as condiccedilotildees ambientais dessas aacutereas (principalmente as de

54

clima solo aacutegua e vegetaccedilatildeo) associadas agrave pressatildeo exercida sobre os recursos naturais pela

accedilatildeo antroacutepica (pressatildeo populacional formas inadequadas de uso e ocupaccedilatildeo do solo entre

outros) vecircm contribuindo para a deflagraccedilatildeo de processos de desertificaccedilatildeo em algumas de

suas sub-regiotildees Um dos motivos para isso eacute a combinaccedilatildeo entre pobreza e desigualdade de

forma que

Uma imensa massa de pequenos agricultores descapitalizados confinados em

pequenas parcelas de terras de tais aacutereas (via de regra de meacutedia ou baixa fertilidade

natural) dependentes de seu trabalho para a produccedilatildeo de alimentos para

autoconsumo de forragens para seus animais mas necessitando produzir excedentes

comercializaacuteveis tenderaacute naturalmente a sobreutilizar os recursos naturais

contribuindo dessa forma para agravar os processos de degradaccedilatildeo Nas ASD este

ciacuterculo vicioso eacute agravado pela ocorrecircncia de secas perioacutedicas que levam agrave perdas

significativas e recorrentes de produccedilatildeo e de renda Neste sentido as secas

potencializam o grau de degradaccedilatildeo levando a vulnerabilidade ambiental a niacuteveis

mais elevados Os efeitos das secas sobre a sauacutede e a inseguranccedila alimentar e

nutricional tambeacutem satildeo conhecidos e consideraacuteveis (BRASIL 2004 p 106)

Classificando a susceptibilidade dessas aacutereas Matallo Jr (1999) construiu uma

relaccedilatildeo entre a aptidatildeo agrave desertificaccedilatildeo em funccedilatildeo do iacutendice de aridez conforme se vecirc pela

tabela 4

Tabela 4 - Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo

IacuteNDICE DE ARIDEZ SUSCEPTIBILIDADE Agrave

DESERTIFICACcedilAtildeO

005 a 020 Muito Alta

021 a 050 Alta

051 a 065 Moderada Fonte MATALLO JR (1999)

Nesse iacutenterim o municiacutepio de estudo do corrente trabalho tem iacutendice de aridez

conforme adotado pela UNEP de acordo com o que ilustra na figura 6

55

Figura 6 Iacutendice de Aridez (UNEP) do municiacutepio de Irauccediluba

O Cearaacute por sua vez eacute ldquoo Estado com a maior aacuterea relativa sob niacuteveis altos de

desertificaccedilatildeordquo (LEMOS 1995 apud FOLHES e VIANA 2001 p 5) Seu processo de

ocupaccedilatildeo e uso de terras via de regra foi marcado pela apropriaccedilatildeo dos recursos naturais de

forma a degradaacute-los Esta foi uma das causas para a concepccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Estadual

de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (PAE) cujo objetivo eacute

Contribuir para a convivecircncia equilibrada com o semiaacuterido por meio da

sustentabilidade ambiental do bioma caatinga a partir de poliacuteticas ambientais

sociais e econocircmicas focadas na reduccedilatildeo da pobreza A gestatildeo do Programa

pressupotildee a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo

democraacutetico e a participaccedilatildeo da sociedade (CEARAacute 2010b p 20)

No Estado existem trecircs nuacutecleos em processo de desertificaccedilatildeo Localizam-se no

Sertatildeo dos Inhamuns Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte e Sertatildeo de Jaguaribe abrangendo

respectivamente os municiacutepios de Arneiroz Independecircncia e Tauaacute Canindeacute Irauccediluba

Miraiacutema e Santa Quiteacuteria Jaguaretama Jaguaribara Jaguaribe Alto Santo e Morada Nova

(CEARAacute 2010b) Totalizam portanto 12 cidades com os maiores iacutendices de degradaccedilatildeo

ambiental do estado portanto susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo num grau muito grave como se

pode ver pelas figuras 7 e 8

No entanto o presente trabalho se ateraacute tatildeo somente ao municiacutepio de Irauccediluba

abrangido pelo nuacutecleo Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte

Fonte NOLEcircTO (2005)

56

Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave

desertificaccedilatildeo no Cearaacute desertificaccedilatildeo

Fonte IPECE (CEARAacute 2010a) Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)

O PAE (CEARAacute 2010b) utilizou para a formulaccedilatildeo do iacutendice de susceptibilidade

agrave desertificaccedilatildeo indicadores sociais que apontam a forma de ocupaccedilatildeo e tudo que dela

decorre e indicadores econocircmicos que representam as atividades humanas exercidas no

municiacutepio Vale ressaltar que as caracteriacutesticas do meio ambiente da regiatildeo natildeo foram

ignoradas muito pelo contraacuterio elas definiram as aacutereas classificadas como susceptiacuteveis agrave

desertificaccedilatildeo A lista abaixo demonstra os criteacuterios mensurados e os aspectos ambientais

observados

Indicadores sociais

1 Proporccedilatildeo da aacuterea das grandes propriedades na aacuterea total dos imoacuteveis rurais em

2005

2 Razatildeo entre alfabetizados e natildeo-alfabetizados de 5 ou mais anos de idade em

2000

3 Taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais de idade em 2000

(percentagem)

4 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino fundamental da populaccedilatildeo de 7 a 14

anos de idade em 2005

5 Taxa de evasatildeo no ensino fundamental em 2005

57

6 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino meacutedio da populaccedilatildeo de 15 a 17 anos de

idade em 2005

7 Taxa de evasatildeo escolar no ensino meacutedio em 2005

8 Densidade demograacutefica em 2006 (habitanteskm2)

Indicadores econocircmicos

1 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de carvatildeo vegetal pela aacuterea do municiacutepio em 2006

(tonha)

2 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de lenha pela aacuterea do municiacutepio em 2006 (m3ha)

3 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)

4 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)

5 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como pequena

propriedade em 2005 (haimoacutevel)

6 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como minifuacutendio em

2005 (haimoacutevel)

7 Razatildeo do consumo de energia eleacutetrica rural por consumidores de energia eleacutetrica

rural em 2005

8 Proporccedilatildeo de induacutestrias de transformaccedilatildeo no total de empresas industriais ativas

em 2005

9 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de feijatildeo em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

10 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com arroz em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

11 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com milho em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

12 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de mandioca em 2006 na aacuterea total dos

estabelecimentos agropecuaacuterios em 1996

13 Razatildeo do efetivo de bovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

14 Razatildeo do efetivo de ovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

15 Razatildeo do efetivo de caprinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

16 Razatildeo do efetivo de suiacutenos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

17 Produto Interno Bruto per capita a preccedilos de mercado em 2004

Caracteriacutesticas ambientais

1 Degradaccedilatildeo da cobertura vegetal

2 Assoreamento dos rios

3 Pastoreio excessivo

4 Perda da biodiversidade

5 Perda da capacidade produtiva do solo

6 Baixa relaccedilatildeo entre capacidade produtiva dos recursos naturais e sua capacidade

de recuperaccedilatildeo

A anaacutelise dos 25 paracircmetros entremeados com as condiccedilotildees ambientais estaacute

devidamente compilada no Quadro 2 ndash Caracterizaccedilatildeo das ASDs nos Sertotildees de Irauccediluba e

Centro-Norte do PAE (CEARAacute 2010b) As constataccedilotildees ensejam problemas no meio

ambiente a partir dos inuacutemeros gargalos sociais e econocircmicos como por exemplo a produccedilatildeo

agriacutecola em lavouras temporaacuterias na maior proporccedilatildeo dos estabelecimentos rurais o grande

iacutendice de pobres da regiatildeo o consumo de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo cada vez maior

58

Natildeo se pode deixar de mencionar os problemas ambientais que deixam a aacuterea em

questatildeo muito mais vulneraacutevel aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas e da desertificaccedilatildeo Satildeo

eles degradaccedilatildeo dos solos e da cobertura vegetal primaacuteria o sobrepastoreio o

desencadeamento e expansatildeo de processos erosivos acelerados com ocorrecircncia muito

frequente de afloramentos rochosos e chatildeos pedregosos perda de solos e biodiversidade

empobrecida baixa frequecircncia de espeacutecies lenhosas da caatinga e processos erosivos muito

ativos em funccedilatildeo do aumento da torrencialidade do escoamento superficial

Assim conclui-se que natildeo haacute como dissociar o quadro social e econocircmico das

nuances ambientais de um municiacutepio ou regiatildeo

Em se tratando da ASD nos Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte faz-se necessaacuterio

expor os nuacutemeros encontrados e as respectivas conclusotildees a partir dos levantamentos feitos

pelo PAE (CEARAacute 2010b) O Iacutendice Econocircmico e Social de Susceptibilidade agrave

Desertificaccedilatildeo (IESSD) ilustrado pelas figuras 9 e 10 por exemplo aponta as possiacuteveis causas

e os principais agentes causadores do processo de desertificaccedilatildeo sem quantificar ou mensurar

seu niacutevel

Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no Iacutendice Social de Susceptibilidade agrave

Desertificaccedilatildeo (ISSD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)

Fonte PAE (CEARAacute 2010b)

0

5

10

15

20

25

30

Contribuiccedilatildeo no ISSD ()

59

Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no Iacutendice Econocircmico de Susceptibilidade agrave

Desertificaccedilatildeo (IESD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)

Fonte PAE (CEARAacute 2010b)

Assim analisando os dois graacuteficos acima eacute possiacutevel perceber que sob o aspecto

social a concentraccedilatildeo de terras e a educaccedilatildeo datildeo a maior contribuiccedilatildeo ao iacutendice de

susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo enquanto que no vieacutes econocircmico destacam-se as aacutereas

destinadas a imoacuteveis rurais e o PIB ldquoper capitardquo Eacute um cenaacuterio deveras preocupante visto que

aquela regiatildeo jaacute eacute dotada de condiccedilotildees naturais adversas Uma populaccedilatildeo sem educaccedilatildeo

inserida num niacutevel de pobreza e ocupante de grande parte da zona rural que eacute onde as

atividades potencialmente degradadoras satildeo praticadas traduz uma combinaccedilatildeo

extremamente alarmante pois fazem uso de praacuteticas predatoacuterias e potencializam a

susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo

Segundo o PAE (CEARAacute 2010b p 123) nessa regiatildeo satildeo observadas ldquomarcas

configuradas de desertificaccedilatildeo como o elevado estaacutegio de degradaccedilatildeo do solo comprometendo

os processos naturais de sucessatildeo processos erosivos acelerados perda de solo e

biodiversidade espeacutecies lenhosas rarefeitasrdquo

05

1015202530354045

Contribuiccedilatildeo no IESD ()

60

Sob um olhar mais aprofundado voltado agrave Irauccediluba haacute maior destaque para as

atividades de agricultura e pecuaacuteria Lavouras temporaacuterias como feijatildeo milho e mandioca satildeo

as mais praticadas pelo pequeno agricultor A figura 11 aponta o percentual de

estabelecimentos ocupados com atividades agropecuaacuterias no municiacutepio

Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios Adaptado

Fonte PAE (CEARAacute 2010b)

Com relaccedilatildeo agrave extraccedilatildeo legalizada de madeira no municiacutepio de Irauccediluba o IBGE

informa que tanto a produccedilatildeo de carvatildeo como o corte de lenha entre 2004 a 2011 foi estaacutevel

Aquela girou em torno de 71 toneladas com um custo variaacutevel de R$ 1100000 a 2300000

ao ano enquanto que este ficou na casa dos 10000 m3 resultando num rendimento que

oscilou de R$ 4200000 a R$ 5700000 anuais14

Por fim Irauccediluba embora representando um dos quatro nuacutecleos de desertificaccedilatildeo

do Nordeste natildeo apresenta a pior condiccedilatildeo socioeconocircmica considerando a maioria dos

indicadores analisados (CEARAacute 2010b) Desta forma conclui-se que estes aspectos natildeo

determinam a desertificaccedilatildeo mas influenciam principalmente se as condiccedilotildees ambientais satildeo

limitantes Assim uma economia e uma sociedade deficientes inseridas num ambiente fraacutegil

natildeo tecircm como deixar de gerar degradaccedilatildeo

14

Conferir em lthttpwwwibgegovbrcidadesatxtrasperfilphpcodmun=230610ampsearch=ceara|iraucubagt

0

10

20

30

40

50

60

Irauccediluba

61

24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo do processo de degradaccedilatildeo

Embora o quadro de degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba seja por demais

preocupante ainda haacute condiccedilotildees para sua reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica a partir de

teacutecnicas e praacuteticas correspondentes ao tipo de solo ao estaacutegio de degradaccedilatildeo da aacuterea e ao

histoacuterico do uso da terra (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Continuam os autores

Assim considerando as extensotildees sob o planossolo que ocupam uma aacuterea total de

27321 ha duas recomendaccedilotildees podem ser propostas a regeneraccedilatildeo natural e a

adubaccedilatildeo organo-mineral A regeneraccedilatildeo natural eacute um processo muito lento e no

caso do planossolo de Irauccediluba dificilmente proporcionaraacute condiccedilotildees para retorno agrave

produtividade esperada [](ARAUacuteJO FILHO 1992) Entatildeo estaacute claro que a

recuperaccedilatildeo natural via pousio eacute muito lenta mas constitui uma opccedilatildeo em muitos

casos A aplicaccedilatildeo de adubo orgacircnico (estercos) eacute outra alternativa de recuperaccedilatildeo

pastoril que poderia ser utilizada no nuacutecleo de Irauccediluba Assim a fertilizaccedilatildeo com

foacutesforo constitui uma boa opccedilatildeo para a recuperaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica das

pastagens degradadas nos planossolos do nuacutecleo de Irauccediluba (ARAUacuteJO FILHO e

SILVA 2013 p 1013)

Outros fatores que envolvem o processo de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo

em Irauccediluba segundo Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 15) eacute ldquoa fixaccedilatildeo da agricultura no

terreno a sustaccedilatildeo do desmatamento e do uso do fogo visando agrave mitigaccedilatildeo dos impactos

antroacutepicos negativos a recuperaccedilatildeo dos agroecossistemas o aumento da produtividade

agriacutecola e da renda familiarrdquo Para tanto os mesmos autores sugerem que

A agrossilvicultura eacute com certeza o modelo de exploraccedilatildeo da terra mais apropriado

Dentre os modelos de sistemas agroflorestais o silvopastoril e o agrossilvipastoril

seriam os mais indicados para as condiccedilotildees de Irauccediluba O primeiro associa o

manejo florestal com a exploraccedilatildeo pastoril e o segundo associa o manejo florestal a

exploraccedilatildeo pastoril e a agricultura formando o sistema lavoura-pecuaacuteria-floresta O

modelo silvopastoril pode ser estabelecido seja para ter a madeira como o principal

produto seja para ter na exploraccedilatildeo animal a principal atividade (ARAUacuteJO FILHO

e SILVA 2013 p 15)

[]

A opccedilatildeo pela agrossilvicultura como a alternativa mais apropriada para a

reabilitaccedilatildeo dos solos de potencial agriacutecola mais elevado fundamenta-se na garantia

que este sistema de uso da terra traz a seguranccedila ambiental e a seguranccedila alimentar

No primeiro caso o solo eacute protegido contra a erosatildeo pelo acuacutemulo de serrapilheira

tem sua fertilidade reposta e sua biologia ativada pela deposiccedilatildeo da mateacuteria

orgacircnica Os recursos hiacutedricos satildeo beneficiados pela manutenccedilatildeo da mata ciliar

evitando o assoreamento das nascentes e reservatoacuterios e pela reduccedilatildeo das perdas de

aacutegua pelo solo A flora com a sustaccedilatildeo das queimadas e dos desmatamentos tem sua

biodiversidade incrementada e integraccedilatildeo das aacutervores no sistema produtivo

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2021)

Assim sendo o principal objetivo da recuperaccedilatildeo de uma aacuterea degradada deve ser

a recomposiccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica do solo Isto porque para que se restabeleccedila a

62

funcionalidade do ecossistema eacute fundamental a revitalizaccedilatildeo da biologia do solo principal

responsaacutevel pela circulaccedilatildeo de nutrientes15

Aleacutem disso continuam os mesmos autores

O aumento da mateacuteria orgacircnica e a formaccedilatildeo de uma cobertura morta sobre o solo o

protegeratildeo contra a erosatildeo laminar e melhoraratildeo sua capacidade de retenccedilatildeo de

aacutegua [] Os nutrientes de ecossistemas florestais de clima tropical se concentram

na biomassa e natildeo no solo como nos de clima temperado por isso os meacutetodos de

exploraccedilatildeo dos solos deveriam estar fundamentados no menor distuacuterbio possiacutevel do

meio bioloacutegico e no reforccedilo do aporte de mateacuteria orgacircnica (ARAUacuteJO FILHO e

SILVA 2013 p 710)

Nesse sentido para ambientes tropicais os sistemas de produccedilatildeo agroflorestais

(SAF) estatildeo sendo avaliados e propostos como alternativas ecologicamente sustentaacuteveis de

exploraccedilatildeo O uso de espeacutecies arboacutereas constitui a garantia de manter ativa a circulaccedilatildeo de

nutrientes e o aporte significativo de mateacuteria orgacircnica condiccedilatildeo essencial para se cultivar de

maneira continuada os solos tropicais16

No caso do bioma caatinga e de ambiente semiaacuterido segundo Arauacutejo Filho e silva

(2013) trecircs recomendaccedilotildees fundamentais garantem quando seguidas a sustentabilidade das

tecnologias de manipulaccedilatildeo

Preservaccedilatildeo de ateacute 400 aacutervores por hectare ou o equivalente a 40 de cobertura

utilizaccedilatildeo maacutexima de 60 da forragem disponiacutevel e preservaccedilatildeo da mata ciliar em

toda a malha de drenagem da pastagem Esta tecnologia jaacute vem sendo utilizada pelos

produtores na regiatildeo de Irauccediluba desde o iniacutecio da deacutecada de 1980 envolvendo

uma aacuterea de cerca de 3000 ha (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 1617)

Outras maneiras de controle e combate do processo de degradaccedilatildeo cuja iniciativa

vem do governo em suas diferentes formas e esferas satildeo os programas e as poliacuteticas puacuteblicas

a criaccedilatildeo de leis e normas sobre o tema a disponibilidade de recursos a fiscalizaccedilatildeo dos

oacutergatildeos competentes dentre outros

Ilustrando o primeiro exemplo em abril de 2011 a Superintendecircncia Estadual do

Meio Ambiente (SEMACE) e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) celebraram um convecircnio

de assistecircncia teacutecnica e financeira para a realizaccedilatildeo da pesquisa ldquoRevitalizaccedilatildeo da cobertura

vegetal nativa atraveacutes da recomposiccedilatildeo das matas ciliares e enriquecimento das aacutereas

destinadas a compor reserva legal dos imoacuteveis rurais do municiacutepio de Irauccedilubardquo Para a

consecuccedilatildeo dos objetivos propostos foi concedido um montante de R$ 4920000 (quarenta e

nove mil e duzentos reais) com fins de recuperar a qualidade do meio biofiacutesico atraveacutes do

plantio de essecircncias florestais nativas e plantas adaptadas agraves condiccedilotildees edafoclimaacuteticas da

aacuterea de abrangecircncia do projeto para

15

Como recomenda Lima (2009) In Arauacutejo Filho e Silva (2013) 16

Idem

63

1 Minimizar os impactos ambientais adversos causados pelos sistemas tradicionais

de exploraccedilatildeo econocircmica

2 Implantar um viveiro florestal permanente destinado agrave produccedilatildeo de mudas

nativas e adaptadas agraves condiccedilotildees locais associando-lhe atividades educativas e

de natureza formativa para o puacuteblico interessado

3 Incentivar o cultivo de essecircncias florestais nativas arboacutereas e frutiacuteferas que

contribuiratildeo para gerar alternativas de diversificaccedilatildeo de renda e por conseguinte

a melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo do municiacutepio

4 Fomentar a produccedilatildeo e o plantio de essecircncias florestais nativas ameaccediladas de

extinccedilatildeo

5 Viabilizar a recomposiccedilatildeo de matas ciliares dentro dos limites de abrangecircncia da

aacuterea das bacias hidrograacuteficas dos recursos hiacutedricos naturais denominados de

Riacho Aracatiaccedilu e Riacho Curu e do principal reservatoacuterio denominado de

Accedilude Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu seja em aacutereas de domiacutenio puacuteblico seja em

aacutereas de domiacutenio privado

6 Estabelecer a recuperaccedilatildeo da cobertura vegetal nativa de aacutereas de reserva legal

das propriedades rurais

O prazo do convecircnio era de doze meses ou seja ateacute abril de 2012 todavia foi

renovado por aditivo ateacute abril de 2013 Seu lanccedilamento soacute se deu em dezembro de 2011 e ateacute

agosto de 2012 o viveiro florestal ainda natildeo havia sido construiacutedo mas palestras com os

temas Desmatamento e Reserva Legal Fogo Desmatamento e Preservaccedilatildeo dos Accediludes

Resiacuteduos Soacutelidos Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal Aacuterea de

Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal foram ministradas pela SEMACE

Infelizmente nada mais foi feito pois dificuldades como a burocracia com o banco

financiador e a seca que assola o municiacutepio inviabilizando a produccedilatildeo e o plantio das mudas

levaram agrave extinccedilatildeo do convecircnio uma vez que seu prazo natildeo foi renovado numa segunda

oportunidade O recurso investido foi devolvido ao BNB e natildeo haacute qualquer previsatildeo de

retomada do projeto

Natildeo se pode deixar de registrar a indignaccedilatildeo que esse desfecho causa naqueles

que estudam e buscam uma saiacuteda Muitas vezes se natildeo todas as vezes ela existe mas eacute

deveras negligenciada ou pouco valorizada O que eacute que isso O Brasil eacute um paiacutes rico natildeo

falta recurso o que muito falta eacute vontade coragem e preferecircncia por aquilo que se deve

fazer Isto eacute um ultraje ao homem do campo que humilde e inocentemente espera confiante

em alguma providecircncia de seus representantes ou por quem faz as suas vezes

De modo diverso as normas 43 e 44 de 2005 (BRASIL 2005 a b) e a 512006

(BRASIL 2006a) que seratildeo explanadas no item 331 criadas pelo INCRA satildeo outras

medidas parecidas com o convecircnio citado acima pois tambeacutem foram elaboradas com o intuito

de recuperar e conservar os recursos naturais em aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e de

64

reserva legal mesmo sendo especiacuteficas para projetos de assentamento agraacuterio federal Atraveacutes

delas um determinado valor pode ser cedido por aquele oacutergatildeo e destinado agraves famiacutelias

assentadas para promoverem agrave implantaccedilatildeo de um projeto de recuperaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo

Como Poliacuteticas Puacuteblicas em niacutevel local e estadual que englobam o problema da

degradaccedilatildeo ambiental amplamente aqui discutido inclusive o mais seacuterio deles que eacute a

desertificaccedilatildeo destaca-se o Plano de Accedilatildeo Municipal de Combate agrave Desertificaccedilatildeo de

Irauccediluba (IRAUCcedilUBA 2009) e o Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e

Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (CEARAacute 2010b) O primeiro levou nove anos para se tornar

poliacutetica puacuteblica e contou com recursos do fundo de apoio a iniciativas locais de combate agrave

desertificaccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Nacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos

Efeitos da Seca (BRASIL 2004) Sua funccedilatildeo eacute orientar e desenvolver accedilotildees no sentido de

controlar e prevenir o avanccedilo da desertificaccedilatildeo e quando possiacutevel recuperar aacutereas degradadas

para o uso produtivo ou seja alcanccedilar o desenvolvimento sustentaacutevel nas aacutereas sujeitas agrave seca

e a desertificaccedilatildeo do Municiacutepio Como objetivos baacutesicos estatildeo as contribuiccedilotildees para

1 A formulaccedilatildeo do planejamento de uso sustentaacutevel dos recursos naturais do

Municiacutepio

2 A melhoria da produtividade e produccedilatildeo agriacutecola nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e

desertificaccedilatildeo

3 A reduccedilatildeo da vulnerabilidade e melhoria da qualidade de vida das populaccedilotildees

residentes nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e agrave desertificaccedilatildeo

4 A articulaccedilatildeo de accedilotildees setoriais do governo (em niacutevel federal estadual e

municipal) com vista agrave sinergia dos processos de planejamento

5 A melhoria da capacidade de enfrentamento dos problemas de desertificaccedilatildeo e

seca por parte das populaccedilotildees locais (IRAUCcedilUBA 2009 p 24)

O PAE (CEARAacute 2010b) em seu objetivo global e em termos gerais natildeo eacute muito

diferente do PAM (IRAUCcedilUBA 2009) pois visa contribuir para a convivecircncia com o

semiaacuterido e sustentabilidade ambiental do bioma caatinga Busca promover poliacuteticas

ambientais sociais e econocircmicas para a reduccedilatildeo da pobreza procurando em sua

administraccedilatildeo a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo democraacutetico

e a participaccedilatildeo da sociedade E recorre agrave negociaccedilatildeo transparente e responsaacutevel de conflitos

como forma privilegiada de superar as diferenccedilas de uso dos recursos naturais

25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira

A lei 6938 (BRASIL 1981) promulgada em 1981 foi a primeira norma juriacutedica

tratando da temaacutetica ambiental no Brasil Como bem diz Milareacute (2009) ela tem um caraacuteter

65

inovador pois sua implementaccedilatildeo seus resultados assim como a estabilidade e a efetividade

que denota constituem um salto de qualidade na vida puacuteblica brasileira

Com nascedouro um tanto quanto isolado a lei 693881 (BRASIL 1981)

instituiu a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente para a preservaccedilatildeo melhoria e recuperaccedilatildeo da

qualidade ambiental propiacutecia agrave vida visando assegurar no Paiacutes condiccedilotildees ao

desenvolvimento soacutecioeconocircmico aos interesses da seguranccedila nacional e agrave proteccedilatildeo da

dignidade da vida (artigo 2ordm) Tais objetivos estatildeo baseados em princiacutepios norteadores dos

quais se destacam para a presente pesquisa a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas (inciso VIII) e a

proteccedilatildeo de aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX)

Instrumentalizando a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente quanto agrave degradaccedilatildeo

ambiental existem as penalidades disciplinares ou compensatoacuterias ao natildeo cumprimento das

medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo ou correccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental conforme o artigo

9ordm inciso IX da Lei 693881 (BRASIL 1981) Em termos de sanccedilatildeo o artigo 14 disciplina

que os danos causados pela degradaccedilatildeo da qualidade ambiental sujeitaratildeo os transgressores agrave

multa simples ou diaacuteria agrave perda ou restriccedilatildeo de incentivos e benefiacutecios fiscais concedidos

pelo Poder Puacuteblico agrave perda ou suspensatildeo de participaccedilatildeo em linhas de financiamento em

estabelecimentos oficiais de creacutedito e agrave suspensatildeo de sua atividade

Para evitar a sanccedilatildeo pratica-se a prevenccedilatildeo e uma forma de prevenir a degradaccedilatildeo

eacute o licenciamento ambiental conforme preconiza o artigo 10 daquela mesma lei O natildeo

cumprimento disto enseja o enquadramento do representante da atividade ou do

estabelecimento no artigo 60 da Lei 960598 (BRASIL 1998) que versa sobre crimes

ambientais

Art 10 A construccedilatildeo instalaccedilatildeo ampliaccedilatildeo e funcionamento de estabelecimentos e

atividades utilizadores de recursos ambientais efetiva ou potencialmente poluidores

ou capazes sob qualquer forma de causar degradaccedilatildeo ambiental dependeratildeo de

preacutevio licenciamento ambiental (BRASIL 1981 p 7)

Art 60 Construir reformar ampliar instalar ou fazer funcionar em qualquer parte

do territoacuterio nacional estabelecimentos obras ou serviccedilos potencialmente

poluidores sem licenccedila ou autorizaccedilatildeo dos oacutergatildeos ambientais competentes ou

contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes Pena - detenccedilatildeo de um a seis meses ou multa ou ambas as penas cumulativamente

(BRASIL 1998 p 12)

Outra previsatildeo salutar na Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente eacute o dever que

entidades e oacutergatildeos de financiamento e incentivos governamentais tecircm de condicionar a

aprovaccedilatildeo de projetos financiaacuteveis ao licenciamento ambiental Aleacutem disto devem constar em

tais projetos a realizaccedilatildeo de obras e aquisiccedilatildeo de equipamentos destinados ao controle de

degradaccedilatildeo ambiental e a melhoria da qualidade do meio ambiente (artigo 12 paraacutegrafo

66

uacutenico) Isto tudo porque a instituiccedilatildeo que financia atividades eou empreendimentos que por

ventura causem algum dano tambeacutem se tornam corresponsaacuteveis pelo passivo ambiental

respondendo perante os oacutergatildeos competentes e os guardiatildees da lei

Por fim eacute pertinente mencionar que toda accedilatildeo ou omissatildeo prevista na legislaccedilatildeo

ambiental brasileira seja nas leis que criam diretrizes como nas que preveem sanccedilotildees visa o

combate o controle a reparaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo da degradaccedilatildeo aos bens naturais como um

todo O impasse eacute existir inuacutemeras normas distintas que dispotildeem sobre vaacuterios recursos

ambientais e que satildeo criadas em eacutepocas diferentes como por exemplo o Coacutedigo Florestal

(BRASIL 2012) o Coacutedigo de Caccedila (BRASIL 1967a) o Coacutedigo Mineraacuterio (BRASIL

1967b) o Coacutedigo de Pesca (BRASIL 2009) o Coacutedigo de Aacuteguas (BRASIL 1934a) a Poliacutetica

Nacional de Recursos Hiacutedricos (BRASIL 1997) o Programa Nacional de controle da

qualidade do ar (BRASIL 1989a) dentre outras O ideal eacute que houvesse a reuniatildeo de todos os

dispositivos em uma legislaccedilatildeo soacute como o fez a lei de crimes ambientais que versa sobre

infraccedilotildees cometidas aos bens naturais apontados pelas diversas normas citadas

Em niacutevel estadual o Cearaacute dispotildee de um arcabouccedilo legal que reflete um

pouco o que jaacute estaacute disposto nas leis federais no entanto cabe aqui citar algumas normas

pertinentes ao assunto estudado

A Resoluccedilatildeo nordm 092003 (CEARAacute 2003) do Conselho Estadual do Meio

Ambiente (COEMA) estabeleceu a compensaccedilatildeo ambiental como forma de prevenir eou

obrigar o poluidorusuaacuterio pagador ou degradador a indenizar os danos causados em

decorrecircncia da utilizaccedilatildeo de recursos naturais para fins econocircmicos Trata-se de medida

arrecadatoacuteria anterior ao processo de licenciamento ambiental e condicionada ao firmamento

de um Termo de Compromisso A supracitada norma definiu percentual de 05 a ser recolhido

com base no valor do empreendimento a ser implantado A destinaccedilatildeo dos valores recolhidos

seria via de regra a Unidades de Conservaccedilatildeo

A Lei Complementar nordm 482004 (CEARAacute 2004) criou o Fundo e o Conselho

Estadual Gestor do Meio Ambiente (FEMA) onde uma de suas finalidades eacute o ressarcimento

da coletividade por danos causados ao meio ambiente Reza o artigo 10 que qualquer cidadatildeo

pode propor projetos relativos agrave reconstituiccedilatildeo reparaccedilatildeo preservaccedilatildeo e prevenccedilatildeo do meio

ambiente A dita lei foi regulamentada pelo Decreto Estadual nordm 277192005 (CEARAacute 2005)

que por sua vez dispocircs accedilotildees programas planos e projetos para a melhoria e recuperaccedilatildeo da

qualidade ambiental no Estado do Cearaacute Agrave pertinecircncia da presente pesquisa cabe destacar

uma diretriz do FEMA prevista no inciso VIII do artigo 3ordm daquele Decreto

67

Artigo 3ordm

[]

VIII - Promover a proteccedilatildeo da biodiversidade e dos ecossistemas associados e aacutereas

ameaccediladas de degradaccedilatildeo atraveacutes da preservaccedilatildeo conservaccedilatildeo e administraccedilatildeo de

biomas representativos bem assim da recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas

possibilitando melhor controle de atividades potencialmente poluidoras nos termos

da legislaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2005 p 2)

Eacute essencial citar a Lei 1248895 (CEARAacute 1995) que dispotildee sobre a Poliacutetica

Florestal do Estado do Cearaacute Um de seus objetivos guarda relaccedilatildeo direta com este trabalho

qual seja promover a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas e em processos de degradaccedilatildeo

especialmente nas aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e reserva legal bem como proteger as

aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX do artigo 3ordm) Para tanto um dos instrumentos

previsto e deveras necessaacuterio para a consecuccedilatildeo de tais fins eacute a fiscalizaccedilatildeo a aplicaccedilatildeo de

penalidades accedilotildees disciplinares e compensatoacuterias das medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo dos

recursos naturais ou a correccedilatildeo da degradaccedilatildeo do meio ambiente (inciso XI do artigo 4ordm)

E por fim eacute cabiacutevel mencionar a Lei 141982008 (CEARAacute 2008) pois institui a

Poliacutetica Estadual de Combate e Prevenccedilatildeo agrave Desertificaccedilatildeo e tem por base a Convenccedilatildeo

Internacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo nos Paiacuteses afetados por Seca Grave eou

Desertificaccedilatildeo Como jaacute mencionado no Cearaacute existem trecircs nuacutecleos com aacutereas susceptiacuteveis agrave

desertificaccedilatildeo e nada mais apropriado que o Estado dispor de uma legislaccedilatildeo proacutepria sobre o

tema Diante disto destacam-se os seguintes dispositivos

Art 1ordm Institui a Poliacutetica Estadual de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Desertificaccedilatildeo a qual

tem por objetivos

[]

III - instituir mecanismos de proteccedilatildeo conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da flora fauna e

de solos degradados nas aacutereas de risco ou impactadas pela desertificaccedilatildeo

[]

Art 3ordm Cumpre ao Poder Puacuteblico

I - diagnosticar o avanccedilo do processo de degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo ambiental nas

aacutereas afetadas

II - definir um plano de contingecircncia para mitigaccedilatildeo dos efeitos da degradaccedilatildeo

ambiental

[]

XI - estimular o desenvolvimento de agroinduacutestrias baseadas em alimentos

ambientalmente e culturalmente adaptados ao meio ambiente

[]

XIV - estimular a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente

e de Reserva Legal []

[]

Art 5ordm No tocante agrave agricultura irrigada o Poder Puacuteblico deveraacute

[]

II - diagnosticar as aacutereas cujos solos sejam susceptiacuteveis agrave salinizaccedilatildeo e acuacutemulo de

compostos de soacutedio e fomentar a recuperaccedilatildeo de solos afetados por salinizaccedilatildeo e

acuacutemulo de compostos de soacutedio

Art 6ordm No tocante agrave agricultura sequeiro o Poder Puacuteblico deveraacute

[]

68

II - incentivar o manejo sustentaacutevel dos recursos naturais apoiando o

desenvolvimento de sistemas agroflorestais e agrosilvopastoris diversificados e

integrados como forma de conciliar a recuperaccedilatildeo florestal e as atividades agriacutecolas

(CEARAacute 2008 p 1 - 3)

251 Lei ambiental de Irauccediluba

O municiacutepio de Irauccediluba criou sua proacutepria Poliacutetica Ambiental a partir da Lei

5652007 (IRAUCcedilUBA 2007) Nela estatildeo dispostos princiacutepios e instrumentos de accedilatildeo que

visam agrave qualidade ambiental em seus diferentes aspectos Felizmente a norma natildeo deixou de

fora as aacutereas de reserva legal pelo contraacuterio tratou do tema em uma seccedilatildeo especiacutefica

composta pelos artigos 57 e 58

Art 57 - A reserva legal eacute requisito essencial ao exerciacutecio legiacutetimo do direito de

propriedade na aacuterea rural e fundamental para a proteccedilatildeo do meio ambiente

ecologicamente equilibrado e da biodiversidade cumprindo funccedilotildees do interesse

coletivo e individual do proprietaacuterio

Art 58 - A reserva legal eacute a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) localizada no

interior de uma propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente

necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos

processos ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de

fauna e flora nativas sendo imutaacutevel sua localizaccedilatildeo apoacutes definida

sect1ordm - Fica proibido qualquer registro imobiliaacuterio relativo a propriedade rural sem

preacutevio registro da reserva legal sob pena de nulidade do ato

sect2ordm- A reserva legal deveraacute ser averbada agrave margem da matriacutecula do imoacutevel no

registro competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de

transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou divisatildeo da aacuterea

sect3ordm - As aacutereas de reserva legal e preservaccedilatildeo permanente poderatildeo ser computadas

conjuntamente desde que somadas passem de 50 (cinquumlenta por cento) da

extensatildeo total da propriedade e sejam de extensatildeo contiacutenua

sect4ordm - No imoacutevel rural que natildeo houver vegetaccedilatildeo nativa suficiente para compor o

miacutenimo da reserva legal o proprietaacuterio ou possuidor deveraacute recuperar e recompor

com a vegetaccedilatildeo nativa ateacute atingir a porcentagem determinada

sect5ordm - A recomposiccedilatildeo mencionada no paraacutegrafo anterior deveraacute ser realizada na

proporccedilatildeo de no miacutenimo 110 (um deacutecimo) da aacuterea da propriedade ou posse a cada

ano dando prioridade agraves aacutereas de preservaccedilatildeo permanente

sect6ordm - A Reserva Legal deve ser preferencialmente contiacutegua a das propriedades

vizinhas agraves unidades de conservaccedilatildeo ou aacutereas florestadas formando um corredor de

vegetaccedilatildeo

sect7ordm - A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser

utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel (IRAUCcedilUBA 2007 p 26)

No artigo 57 haacute o reconhecimento do direito de propriedade agrave luz da funccedilatildeo

social dada pela reserva legal e a devida importacircncia agrave proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental Jaacute o

58 prevecirc os 20 da aacuterea a tiacutetulo de reserva reproduzindo o que a lei federal ou seja o

Coacutedigo Florestal dispotildee No entanto o sect1ordm do mesmo dispositivo acaba restringindo ainda

mais o que a norma geral prescreve isto eacute proiacutebe qualquer registro junto ao cartoacuterio de

imoacuteveis sem a devida averbaccedilatildeo na matriacutecula da propriedade muito embora isso jaacute possa ser

diferente pela instituiccedilatildeo do Cadastro Ambiental Rural Dos paraacutegrafos 2ordm ao 5ordm houve a

69

revogaccedilatildeo expressa pela Lei 126512012 (BRASIL 2012) ou novo Coacutedigo Florestal O 6ordm e o

7ordm continuaram vigentes em sua essecircncia sofrendo apenas pequenas alteraccedilotildees jaacute que devem

estar em consonacircncia com a lei federal natildeo podendo ser menos restritivos

Por fim aleacutem do que fora comentado a lei ambiental de Irauccediluba traz muito em

sua natureza procedimentos e mandamentos semelhantes agrave de uma lei de uso e ocupaccedilatildeo do

solo Prevecirc portanto paracircmetros sobre publicidade emissotildees sonoras construccedilatildeo civil

poluiccedilatildeo obras dentre outros

70

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS

31 Reserva Legal em Irauccediluba

Um dos objetivos da presente pesquisa eacute o levantamento do nuacutemero de imoacuteveis

rurais no municiacutepio de Irauccediluba para em seguida verificar o grau de obediecircncia ao instituto

da reserva legal nessas propriedades Para tanto buscou-se os respectivos dados no cartoacuterio de

registro de imoacuteveis do municiacutepio no Instituto de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e

no Instituto de Desenvolvimento Agraacuterio do Cearaacute (IDACE)

No cartoacuterio de imoacuteveis onde o acesso eacute possiacutevel pela liberdade que qualquer

interessado tem para solicitar informaccedilotildees registrais achou-se o nuacutemero de 215 imoacuteveis

registrados Jaacute no INCRA o total de propriedades ali cadastradas eacute de 415 e no IDACE 713

imoacuteveis devidamente medidos e georreferenciados

Primeiramente cabe discorrer um pouco sobre esse desencontro na quantidade

dos imoacuteveis O fato de o cartoacuterio municipal possuir 215 imoacuteveis rurais registrados natildeo

significa que soacute tenha esse nuacutemero de propriedades laacute pois existem inuacutemeras terras habitadas

e utilizadas sem qualquer registro formal e neste caso o que os ldquodonosrdquo desses lugares

deteacutem chama-se posse o que os torna posseiros e natildeo proprietaacuterios O INCRA ter em seu

banco de dados o cadastro de 415 propriedades rurais tambeacutem natildeo quer dizer que soacute haja as

415 uma vez que a procura por este oacutergatildeo eacute voluntaacuteria quando se trata de cadastramento do

imoacutevel Soacute seraacute diferente se surgir a necessidade de desmembrar arrendar hipotecar vender

ou prometer em venda o bem rural Ou ainda em caso de partilha17

Esses satildeo os casos que

impelem o proprietaacuterio a cadastrar seu imoacutevel conforme definidos pela lei 494766

(BRASIL 1966) Do contraacuterio natildeo eacute obrigatoacuterio motivo pelo qual se explica nuacutemeros tatildeo

distintos uns dos outros Justificando um pouco esta discrepacircncia o II Plano Nacional de

Reforma Agraacuteria aponta que os dados do Cadastro do INCRA indicam que ldquosomente 5086

da aacuterea total do territoacuterio brasileiro estaacute na condiccedilatildeo de cadastradardquo (II PNRA 2003 p 22)

E por fim o nuacutemero apontado pelo IDACE acredita-se ser o mais proacuteximo da

realidade uma vez que pelo Programa de Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria com iniacutecio em 2007 as

propriedades rurais no municiacutepio de Irauccediluba foram no ano de 2012 medidas e

georreferenciadas uma a uma para dar fim aos problemas decorrentes da ausecircncia de tiacutetulos

imobiliaacuterios e o tamanho das aacutereas Eacute o que segue estabelecido pelo II PNRA (2003)

17

Partilha eacute a via pela qual se daacute a divisatildeo dos bens de uma heranccedila

A importacircncia de um recadastramento de todos os imoacuteveis rurais e da revisatildeo das

normas que regem o processo de registro das propriedades eacute ainda maior quando se

observa que as possibilidades de obtenccedilatildeo de terras para Reforma Agraacuteria estatildeo

condicionadas por dois indicadores que dependem das informaccedilotildees contidas no

Cadastro do INCRA o moacutedulo fiscal e os iacutendices de produtividade [] Por meio de

uma integraccedilatildeo do INCRA com os oacutergatildeos estaduais seraacute executado um amplo

processo de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria visando regularizar as pequenas posses de boa feacute

e a arrecadaccedilatildeo e incorporaccedilatildeo de terras devolutas ao patrimocircnio puacuteblico seguida de

sua destinaccedilatildeo para o assentamento de trabalhadores rurais e tambeacutem promover

accedilotildees anulatoacuterias sobre ocupaccedilotildees de terras com registros irregulares (II PNRA

2003 p 23)

Contudo o nuacutemero desencontrado de imoacuteveis natildeo eacute soacute o que assusta ou angustia

mas sim a quantidade iacutenfima de reserva legal existente naquele municiacutepio que jaacute sofre com

um processo criacutetico de degradaccedilatildeo

Apoacutes verificar junto ao cartoacuterio a quantidade de imoacuteveis rurais registrados

averiguou-se que somente trecircs dos 215 estatildeo com suas respectivas aacutereas de reserva legal

devidamente averbadas junto ao registro do bem Essa aguda diferenccedila tambeacutem natildeo muda

quando se analisa as informaccedilotildees presentes nos cadastros feitos junto ao INCRA Muitos satildeo

os cadastramentos onde tem descritas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente mas de reserva legal

somente cinco das 415 propriedades cadastradas No IDACE natildeo foi possiacutevel fazer esse

levantamento porque o objetivo deste oacutergatildeo em adentrar as aacutereas era medi-las em sua

totalidade sem discriminar a presenccedila de qualquer constataccedilatildeo em seu interior

Pela leitura da tabela 5 eacute possiacutevel concluir duas realidades A primeira eacute a

existecircncia de propriedade cujo registro apresenta averbaccedilatildeo da reserva legal mas sem

cadastro junto ao INCRA como eacute o caso do imoacutevel Poccedilo da PedraAacuteguas Mortas No

segundo caso ocorre o contraacuterio isto eacute natildeo haacute averbaccedilatildeo da reserva legal no cartoacuterio de

registro mas existe o cadastro da propriedade perante o INCRA constando a reserva legal

devidamente apontada conforme relatoacuterios cedidos por aquele oacutergatildeo

72

Tabela 5 - Levantamento de Imoacuteveis com reserva legal (Cartoacuterio de registro de imoacuteveisINCRA)

311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental - Projeto de Assentamento Agraacuterio em

foco

Todo projeto de assentamento de reforma agraacuteria soacute deve ser implantado apoacutes o

licenciamento ambiental junto ao oacutergatildeo competente que pela relevacircncia social do

empreendimento possui um procedimento diferenciado Eacute um processo trifaacutesico ou seja

consiste na licenccedila preacutevia (LP) licenccedila de instalaccedilatildeo (LI) e licenccedila de operaccedilatildeo (LO) mas no

caso dos projetos de assentamento satildeo soacute duas a LP e a LIO que nada mais eacute que a licenccedila de

18

Trata-se de um imoacutevel que foi destinado a Projeto de Assentamento no acircmbito estadual No entanto o registro

no cartoacuterio aponta que a propriedade possui Reserva Legal averbada mas no cadastro do INCRA natildeo haacute

qualquer menccedilatildeo a essa aacuterea 19

PA ndash Projeto de Assentamento da Reforma Agraacuteria Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria conjunto

de accedilotildees planejadas e desenvolvidas em aacuterea destinada agrave reforma agraacuteria para um puacuteblico beneficiaacuterio

orientadas para utilizaccedilatildeo racional dos espaccedilos fiacutesicos e dos recursos naturais existentes objetivando a

implementaccedilatildeo dos sistemas de vivecircncia e produccedilatildeo sustentaacuteveis na perspectiva do cumprimento da funccedilatildeo

social da terra e da promoccedilatildeo econocircmica social e cultural do trabalhador rural e de seus familiares (BRASIL

2006b) 20

O imoacutevel Poccedilo da Pedra e Aacuteguas Mortas eacute um soacute Embora natildeo conste no registro do cartoacuterio a aacuterea total da

propriedade e a destinada agrave reserva legal o Termo de Responsabilidade de Averbaccedilatildeo da Aacuterea de Reserva Legal

cedido pelo INCRA descreve as aacutereas apontadas na tabela 2

RESERVA LEGAL DOCUMENTALMENTE EXISTENTE

Imoacutevel Fonte dos Dados Aacuterea do Imoacutevel

(ha)

Aacuterea (ha) Domiacutenio Data da

Averbaccedilatildeo (AV)

Cadastro (C)

Miramar Cartoacuterio de Imoacuteveis

INCRA

1144 2305 Particular AV 06042005

C 05092005

Saco do

Vento18

Cartoacuterio de Imoacuteveis

INCRA

33060 661 PA19

estadual

AV 03102012

C 27122011

Poccedilo da Pedra

(Aacuteguas

Mortas)20

Cartoacuterio de Imoacuteveis 239778 47955 INCRA AV 02012003

Boa Vista INCRA 348 6960 Particular C 30121992

Escondido e

Vale do

Agreste

INCRA 15775 3155 Particular C 30121992

Lagoa Cercada INCRA 55180 50 Particular C13101992

73

instalaccedilatildeo e de operaccedilatildeo em um mesmo pedido conforme prevecirc a Resoluccedilatildeo CONAMA

3872006 (BRASIL 2006b)

Art 3ordm O oacutergatildeo ambiental competente concederaacute a Licenccedila Preacutevia - LP e a Licenccedila

de

Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo - LIO para os Projetos de Assentamentos de Reforma Agraacuteria

[]

sect 2o A LP constitui-se documento obrigatoacuterio e que antecede o ato de criaccedilatildeo de um

Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria tendo prazo para a sua expediccedilatildeo

apoacutes seu requerimento de ateacute noventa dias

sect 3o A LIO deveraacute ser requerida durante a validade da LP e cumpridos os requisitos

da mesma [] (BRASIL 2006 p2)

Por se tratar de um empreendimento rural e ambientalmente licenciaacutevel eacute muito

mais faacutecil e oportuno acontecer o cumprimento da reserva legal jaacute que o oacutergatildeo competente

foi provocado e por sua vez deve exigir a observacircncia daquele instituto Desta forma natildeo se

pode admitir que um licenciamento em zona rural seja concedido sem o devido respeito agrave aacuterea

de reserva legal

Especificamente os projetos de assentamento federais isto eacute os realizados pelo

INCRA devem obedecer agrave ordem que segue Ao dar iniacutecio ao processo de desapropriaccedilatildeo de

alguma terra o INCRA jaacute deve solicitar a Licenccedila Preacutevia devendo constar naquele processo o

protocolo do pedido A criaccedilatildeo do assentamento soacute eacute possiacutevel mediante uma portaria

resoluccedilatildeo ou decreto desde que jaacute possua a Licenccedila Preacutevia expedida Criado o assentamento

a Licenccedila de Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo deve ser solicitada de imediato ateacute porque se o contraacuterio

ocorrer os assentados ficam impossibilitados de receber recursos do governo como o creacutedito

de apoio inicial o creacutedito fomento o creacutedito para a construccedilatildeo de casa dentre outros

Essa sequencia e esses mandamentos estatildeo previstos no artigo 3ordm da Resoluccedilatildeo

CONAMA 3872006 (BRASIL 2006b) citada acima e no Acoacuterdatildeo nordm 2633-5107 (BRASIL

2007) do Tribunal de Contas da Uniatildeo conforme prevecirc o item 3 do sumaacuterio daquele

julgamento (3) A Licenccedila Preacutevia constitui-se em documento obrigatoacuterio e que antecede o ato

de criaccedilatildeo de um projeto de assentamento de reforma agraacuteria devendo ser expedida

anteriormente agrave obtenccedilatildeo da terra Trata-se de uma decisatildeo que teve origem em uma auditoria

realizada por este oacutergatildeo em assentamentos no Amazonas Paraacute e Acre quanto aos estudos de

viabilidade ambiental reserva legal e licenciamento ambiental em projetos criados pelo

INCRA Essa auditoria objetivou portanto avaliar o impacto nas aacutereas de reserva legal dos

projetos de assentamento bem como o cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental aplicaacutevel a esses

projetos conforme item 2 do Relatoacuterio do referido Acoacuterdatildeo Para tanto buscou-se saber se os

limites da reserva legal estavam sendo devidamente demarcados e preservados nos projetos de

74

assentamento rural e se o INCRA estava promovendo a aplicaccedilatildeo de teacutecnicas viaacuteveis para a

exploraccedilatildeo sustentaacutevel da Reserva Legal

Constatou-se pela amostragem realizada e demonstrada na Conclusatildeo e no Voto

do Acoacuterdatildeo 26332007 (BRASIL 2007) que

Conclusatildeo

[]

Item 65 o INCRA tem a necessidade premente de adotar medidas com vistas a

normalizar os procedimentos de criaccedilatildeo de projetos de assentamento desde o iniacutecio

do processo no que se refere ao cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental

Item 66 Eacute notoacuterio que a morosidade do oacutergatildeo no processo de regularizaccedilatildeo das

exigecircncias determinadas pela legislaccedilatildeo ambiental contribuiraacute para degradaccedilatildeo do

meio ambiente patrimocircnio sob proteccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal Brasileira Ao

disponibilizar terra aos assentados sem indicar a forma de uso do terreno por meio

do Plano de Uso e sem delimitar as aacutereas de preservaccedilatildeo mediante a demarcaccedilatildeo

das reservas legais o INCRA estaraacute dando tutela a esses usuaacuterios para disporem dos

lotes da forma que melhor lhes convier sem importar se essa exploraccedilatildeo implicaraacute

em degradaccedilatildeo ambiental (BRASIL 2007 p 9)

[]

Voto

[] Item 3 ndash subitem 12 A equipe de auditoria constatou nos assentamentos uma

grande degradaccedilatildeo das aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APP) e da reserva legal (RL)

Ainda verificou por meio de questionaacuterios aplicados aos trabalhadores assentados

que o INCRA natildeo promove accedilotildees efetivas relacionadas agrave orientaccedilatildeo e

conscientizaccedilatildeo ambiental dessas comunidades que natildeo sabem sequer o que

significa APP e RL

[]

Item 5 Outrossim eacute importante frisar que o INCRA eacute co-responsaacutevel pelas

irregularidades ambientais constatadas em seus projetos de assentamento []

(BRASIL 2007 p 11)

E por fim o dito Acoacuterdatildeo determina em niacutevel nacional embora a motivaccedilatildeo da

decisatildeo tenha por base a auditoria realizada somente em trecircs estados que

O INCRA se abstenha de criar projetos de assentamento sem a observacircncia ao

disposto no art 2ordm inciso III cc 3ordm sect 2ordm da Resoluccedilatildeo Conama 3872006 que

condiciona a criaccedilatildeo de projetos de assentamentos de reforma agraacuteria agrave existecircncia da

licenccedila preacutevia e ao disposto no art 2ordm inciso IV da mesma Resoluccedilatildeo que exige a

licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo como condiccedilatildeo para a implantaccedilatildeo e operaccedilatildeo

destes projetos Que em decorrecircncia do disposto no art 2ordm inciso VII da

ResoluccedilatildeoConama 3872006 atente a necessidade de que a reserva legal esteja

perfeitamente delimitada e caracterizada por ocasiatildeo do Plano de

Desenvolvimento do Assentamento e que o referido Plano seja elaborado em prazo

razoaacutevel (BRASIL 2007 p 16)

Para enriquecer a pesquisa nesse sentido procurou-se junto ao oacutergatildeo ambiental

estadual a SEMACE ndash Superintendecircncia Estadual do Meio Ambiente e ao proacuteprio INCRA as

licenccedilas emitidas e ainda em tramitaccedilatildeo referentes aos projetos de assentamento federais

Encontrou-se assim 3 processos de licenciamento na SEMACE numa busca compreendida

75

entre 01012010 a 06052013 sendo 2 de licenccedilas preacutevias e 1 de licenccedila de instalaccedilatildeo e

operaccedilatildeo No INCRA localizou-se 5 processos como se pode observar pela tabela 6 sendo 2

de licenccedilas preacutevias e 3 de licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo num periacuteodo de 09122008 a

08112010

Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais

Fonte SEMACE e INCRA

Conclui-se portanto a existecircncia de trecircs processos de LIO jaacute emitidas mas sem a

averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio de duas das trecircs propriedades conforme se pode

confirmar pela pesquisa feita no registro de imoacuteveis de Irauccediluba A exceccedilatildeo eacute a fazenda

Aacuteguas MortasPoccedilo da Pedra que possui averbaccedilatildeo da reserva legal desde 02012003

Aleacutem disto verificou-se tambeacutem todos os empreendimentos e atividades

localizadas no municiacutepio de Irauccediluba que possuem solicitaccedilatildeo ou recebimento de licenccedila

ambiental tanto em zona urbana como rural No total satildeo 15 tramitando e 40 emitidas

ressaltando que licenciamentos em zona rural o cumprimento da reserva legal deve ser

exigido

Quanto aos assentamentos agraacuterios no municiacutepio de Irauccediluba a tabela 7 aponta a

pesquisa realizada junto ao INCRA e ao IDACE onde se constatou que o primeiro oacutergatildeo

implantou 8 projetos e o segundo 6 Em todos eles existe a demarcaccedilatildeo da aacuterea de reserva

legal nas plantas georreferenciadas cedidas pelas duas instituiccedilotildees acima citadas

PROCESSO TIPO PA FONTE DO

DADO

PROTOCOLO EXPEDICcedilAtildeO VALIDADE STATUS

11386605-4 LP Arraia INCRASEMA

CE

08112010 01072011 Natildeo

informada

Emitida

11118313-8 LP Alegre e

anexos

INCRASEMA

CE

10112010 29032011 Natildeo

informada

Tramitando

09557603-7 LIO Aacuteguas

Mortas

Poccedilo da

Pedra

INCRASEMA

CE

30102009 24032010 24032013 Emitida

08653283-9 LIO Satildeo

Marinho

Rodeador

INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida

08653281-2 LIO Olho

d‟aacutegua da

esperanccedila

INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida

76

Tabela 7 - Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba

PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO - IRAUCcedilUBA

Nome do

Assentamento

Instituiccedilatildeo

Responsaacutevel

Aacuterea do

Imoacutevel (ha)

Aacuterea de Reserva

Legal (ha)

Data de criaccedilatildeo Nordm de Famiacutelias

Assentadas

Saco do Vento IDACE 33060 661 Em andamento 10

Aroeira IDACE 50508 10101 Em andamento 10

Boqueiratildeo IDACE 38474 7694 Em andamento -

Mudubim IDACE 6512 1302 Em andamento 5

Consulta IDACE 39593 7918 23072001 13

Cachoeira IDACE 14929 2985 05102006 10

Saco Verde INCRA 6464 129280 2691997 100

Cajazeiras II INCRA 96487 19297 2691997 30

Aacuteguas Mortas

Poccedilo da Pedra

INCRA 239778 47955 22121997 52

RiachueloAlto

Alegre

INCRA 3378 67560 09112005 16

Olho drsquoAacutegua da

Esperanccedila

INCRA 1940 388 06122007 23

Satildeo Marinho

Rodeador

INCRA 50757 10151 04122006 10

Arraia INCRA 156797 31359 13102011 34

Almas INCRA 1297 25940 17111998 22

Eacute importante salientar que em 2005 e em 2006 o INCRA baixou 3 normas

referentes a criteacuterios e procedimentos para a implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e

Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria A

primeira eacute a NE 432005 (BRASIL 2005a) a segunda NE 442005 (BRASIL 2005b) que

estabeleceu o valor unitaacuterio por famiacutelia para a implantaccedilatildeo destes projetos e a terceira NE

512006 (BRASIL 2006a) aprovou o manual para a elaboraccedilatildeo dos projetos de recuperaccedilatildeo

A NE 432005 (BRASIL 2005a) considera a premente necessidade de

recuperaccedilatildeo natildeo soacute de Reserva Legal mas de aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente em grande

parte dos Projetos de Assentamento em todo o territoacuterio nacional mas infelizmente soacute

abrange os que satildeo implantados pelo Governo Federal (Art 2ordm inciso I) ficando de fora os

que satildeo de competecircncia dos Estados O criteacuterio para implantaccedilatildeo desses projetos eacute a aacuterea ser

reconhecida com problemas ambientais principalmente em termos de degradaccedilatildeo (Art 2ordm

inciso II) Para ser possiacutevel financeiramente a execuccedilatildeo de um projeto deste cuja norma

regulamentadora ainda se encontra vigente o INCRA disponibiliza ateacute R$ 100000 por

famiacutelia (Art 1ordm NE 442005 (BRASIL 2005b)) no entanto caso seja tecnicamente

comprovado que a recuperaccedilatildeo de aacutereas de reserva legal preservaccedilatildeo permanente e de solo

exija um maior investimento o valor poderaacute ser superior ao estabelecido Neste caso a

importacircncia repassada seraacute definida em funccedilatildeo do custo calculado para a recuperaccedilatildeo do dano

ambiental (Art 1ordm Paraacutegrafo Uacutenico)

77

O manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e

conservaccedilatildeo de recursos naturais em assentamentos da reforma agraacuteria aprovado pela NE

512006 (BRASIL 2006a) deixa claro que seus objetivos natildeo satildeo soacute reabilitar e resguardar a

aacuterea ambiental do assentamento Haacute mais e maiores propoacutesitos nisto como por exemplo

cumprir as exigecircncias estabelecidas pelo oacutergatildeo de meio ambiente estadual durante o processo

de licenciamento21

bem como a mobilizaccedilatildeo da comunidade em torno de atividades visando agrave

recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo dos recursos naturais por meio de programas de educaccedilatildeo

ambiental fiscalizaccedilatildeo e manutenccedilatildeo envolvendo os assentados Para que isto ocorra eacute

extremamente importante a participaccedilatildeo destes na elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do projeto22

Por fim os Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais seratildeo

destinados agraves seguintes praacuteticas23

1 Cercamento de aacutereas de Reserva Legal e aacutereas de preservaccedilatildeo permanente

visando a regeneraccedilatildeo eou a proteccedilatildeo das aacutereas

2 Construccedilatildeo de viveiros para produccedilatildeo de mudas que seratildeo utilizadas no processo

de recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas

3 Demarcaccedilatildeo topograacutefica da Reserva Legal

4 []

5 Reflorestamento em aacutereas de Reserva Legal com espeacutecies nativas que

possibilitem o manejo florestal sustentaacutevel madeireiro ou natildeo madeireiro baseado

em princiacutepios e em criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos definidos e devidamente

aprovados pelo oacutergatildeo ambiental competente

6 Plantio de aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais composto por espeacutecies

exoacuteticas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas para

compensaccedilatildeo ou manutenccedilatildeo da aacuterea de reserva legal a criteacuterio do oacutergatildeo ambiental

competente

7 Atividades alternativas de produccedilatildeo (criaccedilatildeo de abelhas artesanato entre outras)

associadas agrave recuperaccedilatildeo ambiental e como instrumento de valorizaccedilatildeo das aacutereas a

serem conservadas ou recuperadas e de combate agraves praacuteticas indevidas de uso do

fogo

8 [] (BRASIL 2006ordf p 1112)

32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo

321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba

O municiacutepio de Irauccediluba possui uma aacuterea de 1461253 Km2 o que corresponde a

098 do territoacuterio estadual e estaacute situado no sertatildeo Centro-Norte conforme figura 12

inserido na microrregiatildeo geograacutefica de Sobral Dista cerca de 150 Km da capital Fortaleza e

21

p 7 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos naturais 22

p 11e 13 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos

naturais 23

p 11e 12 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos

naturais

78

localiza-se entre as coordenadas geograacuteficas Latitude 3˚44‟46rdquo S (Sul) e Longitude 39˚47‟00rdquo

WGr (oeste) Faz fronteira ao norte com os municiacutepios de Miraiacutema e Itapipoca ao sul com

Santa Quiteacuteria e Canindeacute a leste com Itapajeacute e Tejuccediluoca e a oeste com Sobral e possui trecircs

distritos Missi Juaacute e Boa Vista segundo ilustra a figura 13

Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba

Fonte Lustosa (2004) Fonte Lustosa (2004)

Segundo o censo de 2010 do IBGE a populaccedilatildeo do municiacutepio era de 22324

pessoas sendo curiosamente a maioria homens (5083) Jaacute sua densidade demograacutefica

correspondia a 1539 habKm2 A ocupaccedilatildeo municipal predomina na zona urbana

correspondendo a 6425 dos indiviacuteduos Em 2012 a populaccedilatildeo aumentou para 22742

pessoas

3211 Das propriedades estudadas

Por Irauccediluba possuir aproximadamente 713 imoacuteveis rurais tomando por base a

mediccedilatildeo feita pelo IDACE em 2012 natildeo seria possiacutevel o estudo de todas elas Partiu-se

entatildeo para uma amostragem com base nos imoacuteveis que possuiacuteam a reserva legal seja por

registro em cartoacuterio eou porque a aacuterea eacute puacuteblica e foi destinada a projetos de assentamentos

agraacuterios (PA‟s) estaduais e federais que por sua vez deveriam respeitar tal obrigatoriedade

79

Pela tabela 8 vecirc-se que dos 14 assentamentos em Irauccediluba 6 satildeo estaduais e 8

federais No entanto os criteacuterios utilizados para examinaacute-los foi o tempo de criaccedilatildeo de cada

um e a existecircncia de reserva legal delimitada na planta da propriedade Aleacutem disto foi

escolhido um imoacutevel particular por apresentar a averbaccedilatildeo da reserva legal como demonstra a

tabela 9

Tabela 8 - Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de anaacutelise

PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO

Nome do

Assentamento

Instituiccedilatildeo

Responsaacutevel Data de Criaccedilatildeo Status para anaacutelise

Saco do Vento IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Aroeira IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Boqueiratildeo IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Mudubim IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Consulta IDACE 23072001 Planta natildeo disponibilizada

Cachoeira IDACE 05102006 Planta natildeo disponibilizada

Saco Verde INCRA 2691997 Incluiacutedo

Cajazeiras II INCRA 2691997 Incluiacutedo

Aacuteguas Mortas

Poccedilo da Pedra INCRA 22121997 Incluiacutedo

RiachueloAlto

Alegre INCRA 09112005 Incluiacutedo

Almas INCRA 17111998 Incluiacutedo

Olho d‟Aacutegua da

Esperanccedila INCRA 06122007

Muito recente ndash Fora de abrangecircncia

das imagens de sateacutelite

Satildeo Marinho

Rodeador INCRA 04122006

Reserva legal natildeo delimitada na planta

do imoacutevel

Arraia INCRA 13102011 Muito recente ndash Fora de abrangecircncia

das imagens de sateacutelite

Tabela 9 - Dados da propriedade particular estudada PROPRIEDADE PARTICULAR ANALISADA

Nome Proprietaacuterio Data da averbaccedilatildeo

da RL Status para anaacutelise

Miramar MIRASA ndash Miramar

Agropecuaacuteria SA 06042005 Incluiacutedo

Diante dos paracircmetros de seleccedilatildeo apontados acima restaram 5 assentamentos e 1

aacuterea particular totalizando 6 aacutereas para estudo Assim sendo as propriedades analisadas

foram RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas Almas Saco Verde Cazajeiras II e Miramar

sendo esta a de domiacutenio privado Com exceccedilatildeo desta uacuteltima as demais satildeo assentamentos

agraacuterios federais ficando de fora os estaduais por serem em sua maioria recentes isto eacute a

partir de 2010 e por isso natildeo abrangidos pelas imagens de sateacutelite utilizadas (anos 1993 e

2007) As duas estaduais mais antigas Consulta e Cachoeira natildeo tiveram suas plantas

80

disponibilizadas pelo oacutergatildeo competente e as federais que ficaram excluiacutedas tambeacutem eram

muito recentes aleacutem do que natildeo possuiacuteam reserva legal delimitada

A figura 14 a seguir mostra a localizaccedilatildeo das propriedades estudadas e suas

respectivas reservas legais delimitadas que podem ser lidas pela legenda de cores ao lado

Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo

A tabela 10 traz as aacutereas de cada imoacutevel e sua reserva legal onde eacute possiacutevel

constatar um nuacutemero pequeno de propriedades que apresentam o tal instituto criado e exigido

por lei Aleacutem disso a soma de suas aacutereas tambeacutem eacute pouco expressiva ao comparar com a do

municiacutepio No total satildeo 1628865 hectares sendo 328832 hectares pertinentes agrave reserva

legal

Tabela 10 - Propriedades estudadas

PROPRIEDADES ESTUDADAS

IMOacuteVEL DOMIacuteNIO AacuteREA DO IMOVEL (HA) AacuteREA DA RESERVA LEGAL (HA)

Saco Verde INCRA 6464 129280

Cajazeiras II INCRA 96487 19297

Aacuteguas Mortas Poccedilo da Pedra INCRA 239778 47955

Riachuelo Alto Alegre INCRA 3378 67560

Olho drsquoAacutegua da Esperanccedila INCRA 1940 388

81

Miramar PARTICULAR 1144 25940

3212 Aspectos histoacutericos da ocupaccedilatildeo do municiacutepio

Haacute quem diga que Irauccediluba significa tanto amizade como grande abelha amarela

A primeira acepccedilatildeo se deve ao povo hospitaleiro de bons sentimentos e amigos da paz Jaacute a

segunda faz referecircncia a um vocaacutebulo indiacutegena cuja expressatildeo representa a junccedilatildeo de trecircs

palavras ira que quer dizer mel ou abelha ussu grande e yuba amarelo (FOLHES e

VIANA 2001)

Segundo o IBGE o surgimento de Irauccediluba se deve a um povoado denominado

Cacimba do Meio que despontou no iniacutecio do seacuteculo XIX O nome do municiacutepio como

atualmente eacute conhecido soacute foi alterado em 1899 pelo desembargador Aacutelvaro de Alencar

Irauccediluba foi distrito de Itapajeacute de 1905 ateacute 1957 quando foi elevada agrave condiccedilatildeo de municiacutepio

Quanto a sua ocupaccedilatildeo Arauacutejo Filho e Silva (2013) remontam a memoacuteria dos

mais antigos que registra o fenocircmeno da transumacircncia na regiatildeo jaacute no seacuteculo XIX Aleacutem

disto os autores ainda mencionam que

O primeiro relato da presenccedila do homem branco na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba

refere-se agrave passagem no ano de 1606-1607 dos jesuiacutetas Francisco Pinto e Luiacutes

Figueira Na eacutepoca a regiatildeo era habitada por iacutendios das etnias Tupi e Tapuia

citando-se os Anaceacute Apuiareacute e Kariri (GIRAtildeO1967) Consta entatildeo que os

indiacutegenas viviam da caccedila e que na eacutepoca seca ateavam fogo na erva para afugentar

as cobras e facilitar a caccedila (ARAUacuteJO e SILVA 2013 p 4)

E soacute para constar o potencial do municiacutepio acerca da boa qualidade das pastagens

de forma a compensar a praacutetica da transumacircncia em tempos antigos vale referenciar um

texto de Dias (1998) que Folhes e Viana (2001) fazem menccedilatildeo

ldquo() no espaccedilo onde Irauccediluba estaacute inserida atualmente visto como um ambiente

inoacutespito em processo de desertificaccedilatildeo no seacuteculo XVII ao se transitar pela flora

primitiva na eacutepoca das chuvas era difiacutecil saber se era noite ou dia face ao

adensamento da vegetaccedilatildeordquo Esse adensamento foi registrado pelos jesuiacutetas

Francisco Pinto e Luiacutes Figueira em 1607 quando partiram de Pernambuco numa

missatildeo de catequese em direccedilatildeo ao Maranhatildeo (DIAS 1998 p 62 apud FOLHES e

VIANA 2001 p 9)

322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas

Arauacutejo Filho e Silva (2013) fazem um apanhado sucinto e ao mesmo tempo geral

de duas atividades econocircmicas desenvolvidas no municiacutepio de Irauccediluba

82

Historicamente a Regiatildeo tem na pecuaacuteria a mais importante atividade dentro de um

sistema de transumacircncia servindo de estaccedilatildeo na eacutepoca das chuvas para os rebanhos

criados na regiatildeo litoracircnea Isto porque apresenta extensas aacutereas recobertas por

planossolos sob uma caatinga do tipo savana com cobertura herbaacutecea de excelente

potencial forrageiro Considerando a ocupaccedilatildeo da aacuterea municipal 124 satildeo usados

para a produccedilatildeo agriacutecola a pecuaacuteria ocupa 671 e os restantes 205 satildeo

recobertos de matas Confrontando os dados da distribuiccedilatildeo dos solos e de sua

ocupaccedilatildeo vecirc-se que a pecuaacuteria eacute praticada em toda a extensatildeo dos planossolos e dos

luvissolos a agricultura ocupa pequena parcela do luvissolo e dos solos litoacutelicos e a

extraccedilatildeo de madeira parte dos litoacutelicos e dos luvissolos (IBGE 2010) (ARAUacuteJO

FILHO e SILVA 2013 p 1)

Para os autores a pecuaacuteria em sistemas de produccedilatildeo de regiotildees semiaacuteridas

constitui uma atividade tampatildeo dos efeitos da seca facilita a dispersatildeo dos riscos de perdas

tem boa liquidez econocircmica e eacute um fator muito importante de fixaccedilatildeo do homem agrave terra

Em se tratando de nuacutemeros o PAE (CEARAacute 2010b) apresentou em seus

levantamentos percentuais a situaccedilatildeo de alguns aspectos socioeconocircmicos que ora se julga

interessantes expor neste trabalho Por exemplo o analfabetismo estaacute decrescendo eacute o que a

taxa de escolaridade no ensino fundamental de 932 em 2007 demonstra mas altas taxas

de repetecircncia evasatildeo escolar qualificaccedilatildeo dos professores baixo aproveitamento dos alunos

e divergecircncia entre a faixa etaacuteria e a seacuterie cursada tambeacutem satildeo problemas que afetam a

educaccedilatildeo no municiacutepio Folhes e Viana (2001) Quanto ao saneamento baacutesico natildeo existia rede

de esgotamento no municiacutepio nem aacutegua tratada para a maioria da populaccedilatildeo conforme

pesquisa realizada em 2007 contudo em 2010 a CAGECE24

informou que havia 6173

ligaccedilotildees entre reais e ativas para o abastecimento de aacutegua enquanto que a cobertura de

esgoto continuava sem nenhuma ligaccedilatildeo mas curiosamente apresentava uma taxa de

cobertura de 1937

O PAE (CEARAacute 2010) diz que em Irauccediluba o salaacuterio meacutedio mensal da

populaccedilatildeo correspondia a um salaacuterio miacutenimo e meio mas o IBGE (2010) traz outro nuacutemero

Em 2010 quando o salaacuterio miacutenimo era de R$ 51000 a renda domiciliar per capita entre frac14 a

mais de 3 correspondia a 5158 trabalhadores sendo que a maioria deles recebia por mecircs R$

12750 ou menos Agregada a essa realidade econocircmica existe a populaccedilatildeo extremamente

pobre com renda domiciliar per capita de ateacute R$ 7000 Nesse patamar concentram-se 8008

pessoas

Eacute nesse contexto que estatildeo cerca de 13500 pessoas classificadas como

economicamente ativas no municiacutepio Infelizmente o nuacutemero de irauccedilubenses inseridos na

condiccedilatildeo de pobreza eacute bem expressivo correspondendo a 3587 da populaccedilatildeo em 2010

24

In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p14)

83

Eacute faacutecil perceber que se trata de uma cidade pouco desenvolvida pobre sem muita

educaccedilatildeo e condiccedilotildees baacutesicas de sauacutede Isso reflete tanto na economia como na qualidade de

vida sem falar no cenaacuterio ambiental pois a situaccedilatildeo como estaacute posta favorece muito mais a

degradaccedilatildeo dos recursos naturais

Falando em questotildees ambientais dentro do contexto da dinacircmica populacional de

Irauccediluba eacute interessante citar a retraccedilatildeo no nuacutemero de indiviacuteduos residentes na aacuterea rural

desde a deacutecada de 70 e consequentemente aumento na urbana Considerando que os riscos de

desertificaccedilatildeo satildeo mais acentuados nas regiotildees densamente povoadas porque haacute maior

pressatildeo sobre os bens naturais e que a densidade demograacutefica do municiacutepio em 2010 estava

em 1539 habkm Folhes e Viana (2001) pontuam

A densidade demograacutefica de Irauccediluba representa pouco mais da metade do que

Ferreira et al (1994) estabeleceram como ldquofator de pressatildeordquo no estudo que se

tornou conhecido por ser o primeiro a confeccionar o mapa de susceptibilidade agrave

desertificaccedilatildeo do Nordeste brasileiro dada(s) as condiccedilotildees de semi-aridez as

condiccedilotildees dos solos a disponibilidade de aacutegua da regiatildeo e a capacidade de suporte

da mesma adotou-se como fator de pressatildeo sobre o meio ambiente a densidade

igual ou superior a 20habkm2 (p19-20)rdquo Veem-se a dificuldade e imprecisatildeo dos

estudos quanto agrave determinaccedilatildeo de algum ponto criacutetico onde a relaccedilatildeo densidade

demograacutefica versus processos de desertificaccedilatildeo passa de causa para efeito

(FOLHES e VIANA 2001 p 13)

Os autores ainda reforccedilam que o municiacutepio se enquadra no grupo com fraca

densidade demograacutefica que eacute de 10 a 20habkm2 de acordo com a classificaccedilatildeo estabelecida

pelo diagnoacutestico agro-soacutecio-econocircmico

Segundo Folhes e Viana (2001) um dos iacutendices mais sensiacuteveis para se medir o

niacutevel de desenvolvimento de um municiacutepio eacute a taxa de mortalidade infantil pois ela revela a

estreita ligaccedilatildeo entre o estado de sauacutede da populaccedilatildeo o acesso aos serviccedilos meacutedicos

condicionados pela situaccedilatildeo soacutecioeconocircmica da populaccedilatildeo Em Irauccediluba essa taxa eacute de 1592

mortos a cada 1000 nascidos vivos maior ainda que a do estado 133225

A economia de Irauccediluba gira em torno de atividades como agricultura e pecuaacuteria

Aquela engloba culturas praticadas em lavouras permanentes e temporaacuterias e esta envolve a

criaccedilatildeo de gado de vaacuterias espeacutecies e aves como galos e galinhas Em termos comparativos

traccedilou-se um paralelo do sistema produtivo econocircmico nos anos de 2001 e 2011 para que se

pudesse avaliar alguma retraccedilatildeo ou evoluccedilatildeo no quadro agropecuaacuterio e industrial do

municiacutepio

A figura 15 abaixo eacute autoexplicativa de modo que prontamente se percebe a

banana e a manga como as culturas mais significativas ficando logo atraacutes o cocircco da baiacutea

25

SESA (2011) In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p 9)

84

Nota-se tambeacutem natildeo haver muita diferenccedila de produccedilatildeo dos trecircs cultivos agriacutecolas nesses

dois anos o que leva a concluir que os produtores do municiacutepio mantiveram os investimentos

e colheitas semelhantes O mesmo natildeo ocorreu com o algodatildeo arboacutereo pois seu resultado caiu

drasticamente no periacuteodo analisado Ressalte-se poreacutem que o ano de 2001 foi mais produtivo

que o de 2011 com exceccedilatildeo da castanha de caju

Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Permanentes

Fonte IBGE (2001 e 2011)

Com relaccedilatildeo agraves lavouras temporaacuterias o destaque eacute da mandioca e da mamona

muito embora esta uacuteltima soacute apresente resultados no ano de 2011 Outras culturas temporaacuterias

satildeo o milho e o feijatildeo mas natildeo constam na figura 16 porque a disparidade entre os dois anos

e a alta produtividade em 2011 dificultariam a visualizaccedilatildeo

Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Temporaacuterias

Fonte IBGE (2001 e 2011)

85

De qualquer maneira a safra de milho e feijatildeo em 2001 natildeo foi tatildeo expressiva

ou seja correspondeu a 14 e 7 toneladas respectivamente Jaacute em 2011 esse nuacutemero foi agraves

alturas chegando agraves 4433 toneladas de milho e 2088 toneladas de feijatildeo

Jaacute os produtos de origem florestal comuns em Irauccediluba satildeo a cera o poacute e a fibra

da carnauacuteba o carvatildeo vegetal a lenha e a madeira em tora poreacutem os mais relevantes satildeo o

carvatildeo vegetal e a lenha conforme se vecirc nas figuras 17 e 18

Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em tonano

Fonte IBGE (2001 e 2011)

Como a lenha e a madeira em tora tecircm unidade de medida diferente dos demais

produtos construiu-se a figura 18 para natildeo deixaacute-las de fora da anaacutelise

0100020003000400050006000700080009000

1000011000

Lenha Madeira em tora

Produtos de origem vegetal (m3ano)

2001

2011

Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em m3ano

Fonte IBGE (2001 e 2011)

86

Quanto aos produtos de origem animal o leite foi o mais vultoso sobressaindo-se

nos anos de 2001 e 2011 Na tabela 11 abaixo tambeacutem foram relacionados os outros mas

com participaccedilatildeo bem pequena na produtividade do municiacutepio

Tabela 11 - Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem animal Produtos de origem animal

Leite Mel de abelha Ovos de galinha Ovos de codorna

Produccedilatildeo (mil l) Produccedilatildeo (kg) Produccedilatildeo (mil dz) Produccedilatildeo (mil dz)

2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011

5228 6031 0 507 80 143 0 1

Fonte IBGE (2001 e 2011)

Em termos industriais julgou-se interessante fazer uma comparaccedilatildeo um tanto

mais abrangente citando tambeacutem os nuacutemeros do ano de 2010 Observa-se que os grupos de

induacutestrias existentes em Irauccediluba reuacutenem as de extraccedilatildeo mineral construccedilatildeo civil e

principalmente as de transformaccedilatildeo conforme figura 19

Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011)

Fonte IBGE (2001 2010 e 2011)

Eacute possiacutevel observar pela figura acima que as empresas de extraccedilatildeo mineral e de

construccedilatildeo civil pouco se desenvolveram durante o periacuteodo analisado o mesmo natildeo ocorreu

com as induacutestrias de transformaccedilatildeo que inclusive chamam bastante atenccedilatildeo Estas se

desdobram em vaacuterias espeacutecies como por exemplo produccedilatildeo de minerais natildeo metaacutelicos

metaluacutergica mecacircnica produccedilatildeo de material eleacutetrico eletrocircnico e comunicaccedilatildeo produccedilatildeo de

material para transporte madeireira mobiliaacuteria produccedilatildeo de papel papelatildeo e borracha

beneficiamento de couros peles e similares quiacutemica produccedilatildeo de produtos farmacecircuticos e

veterinaacuterios de material plaacutestico tecircxtil vestuaacuterio calccedilados artefatos de tecido couros e

peles produtos alimentares bebidas fumo dentre outras

87

De 2001 para 2010 a quantidade de induacutestrias de transformaccedilatildeo pouco aumentou

passando de 13 para 17 mas de 2010 a 2011 esse rol duplicou indo de 17 para 34 empresas

como se pode observar pelas figuras 20 21 e 22

Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001

Fonte IBGE (2001)

Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010

Fonte IBGE (2010)

TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 13

TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 17

88

Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011

Fonte IBGE (2011)

A induacutestria tecircxtil oscilou em nuacutemeros visto que em 2001 contava com 5

empresas em 2010 com 4 expandido para 9 de forma que essa quantidade representou 26

do total de induacutestrias em Irauccediluba no ano de 2011 Outra atividade expressiva no municiacutepio eacute

a de produtos alimentares Muito embora natildeo exista em 2010 nos anos de 2001 e 2011 ela

totalizava 5 e 9 unidades respectivamente representando 23 e 26 cada uma no universo de

empresas Em terceiro plano encontra-se a produccedilatildeo de minerais natildeo-metaacutelicos que em 2001

contou com 1 induacutestria em 2010 com 2 e em 2011 com 3 Aleacutem disto apareceram a partir de

2010 atividades como mobiliaacuterio couros e peles vestuaacuterio e uma categoria natildeo definida pelo

IBGE classificada como diversas Em contrapartida desapareceram da contagem as

induacutestrias madeireira e metaluacutergica

Na pecuaacuteria existe a criaccedilatildeo de gado e aves O realce no primeiro grupo eacute dado

pelos bovinos seguido pelos ovinos e caprinos tanto no ano de 2010 como 2011 sendo neste

os nuacutemeros maiores Quanto agraves aves a ocorrecircncia eacute de galos frangos frangas e pintos aleacutem

de galinhas Entre estes dois grupos o primeiro eacute mais representativo como bem se examina

pela figura 23

TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 34

89

Figura 23 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos

Fonte IBGE (2011 e 2011)

Sem esquecer outros rebanhos mesmo que de menor grandeza existem no

municiacutepio bubalinos muares coelhos e codornas segundo os nuacutemeros apresentados na

tabela 12

Tabela 12 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores Rebanhos Bubalinos Muares Coelhos Codornas

Ano 2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011

Nordm de indiviacuteduos 98 48 380 436 22 67 89 193

Fonte IBGE (2011 e 2011)

Por fim conclui-se que em Irauccediluba eacute praticado aleacutem das atividades industriais o

tripeacute econocircmico baseado na produccedilatildeo agriacutecola pecuaacuteria e madeireira esta a partir da

exploraccedilatildeo de lenha e carvatildeo vegetal Desta maneira seria mais interessante para o municiacutepio

considerando suas caracteriacutesticas ambientais o uso de sistemas de produccedilatildeo

agrossilvopastoris Nesse sentido Arauacutejo Filho e Silva (2013) ilustram

Os sistemas de produccedilatildeo agrossilvipastoris satildeo formas de uso e manejo da terra nas

quais aacutervores e arbustos satildeo utilizados em associaccedilatildeo com cultivos agriacutecolas e

animais numa mesma aacuterea de maneira simultacircnea ou numa sequecircncia temporal

Cada componente do sistema de produccedilatildeo deve ter pelo menos uma funccedilatildeo proacutepria e

sua integraccedilatildeo garante sua funcionalidade Assim as aacutervores devem ser em nuacutemero

suficiente para um aporte significativo de serrapilheira fonte de mateacuteria orgacircnica

para o solo Os animais satildeo os redistribuidores de nutrientes entre os componentes

do sistema via urina e esterco E as culturas garantem a produccedilatildeo de alimentos para

a famiacutelia e seus animais e contribuem para a circulaccedilatildeo de nutrientes dentro do

sistema Os SAF‟s podem tambeacutem ser usados para a reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e

econocircmica de aacutereas degradadas sobre luvissolos e argissolos (ARAUacuteJO FILHO e

SILVA 2013 p 1819)

90

323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba

A caracterizaccedilatildeo ambiental realizada no municiacutepio das aacutereas de estudo engloba a

altimetria as classes de relevo demonstrando a declividade do terreno que varia de plano a

forte ondulado os tipos de solos e suas associaccedilotildees de classes entre si o clima envolvendo

dados sobre a pluviometria anual o iacutendice de umidade o nuacutemero de meses sem chuva a

temperatura e a evapotranspiraccedilatildeo total anual do municiacutepio Comenta-se ainda a vegetaccedilatildeo e

suas formas aleacutem dos rios e accediludes existentes em Irauccediluba reunindo seus recursos hiacutedricos

3231 Altimetria e Classe de relevo

A altimetria do municiacutepio estaacute exibida na figura 24 conforme seus niacuteveis de

altitude que variam de 80 a 840 metros acima do mar

Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba

91

Jaacute o relevo oscila de plano a forte ondulado conforme figura 25 Arauacutejo Filho e Silva

(2013 p 1) definem que ldquonos planossolos o relevo varia de plano a suave-ondulado (de 1 a 8)

nos argisssolos e nos luvissolos apresentam-se em relevo de suave-ondulado a ondulado (de 8 a

20) e os litoacutelicos estatildeo em relevo forte-ondulado (de 20 a 45)rdquo

Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba

3232 Solos

A regiatildeo semiaacuterida nordestina ldquo[] recebe anualmente calor e luz em excesso o

que resulta em raacutepida mineraccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica Seus solos satildeo geralmente pouco

profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica mas relativamente ricos

em bases trocaacuteveisrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 7)

O PAN (BRASIL 2004) assegura que as classes de associaccedilatildeo de solos presentes

no semiaacuterido do Nordeste satildeo o bruno natildeo caacutelcico litoacutelicos podzoacutelico eutroacutefico terra roxa

estruturada cambissolo ondulado e forte ondulado e planossolos Apresentam tambeacutem tipos

de relevo e susceptibilidade agrave erosatildeo diferenciados como mostra a tabela 13

92

Tabela 13 - Relaccedilatildeo de solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo

CLASSES DE SOLO RELEVO SUSCEPTIBILIDA Agrave

EROSAtildeO

Bruno natildeo caacutelcico (Luvissolos) Suave ondulado e ondulado Forte

Litoacutelicos Ondulado forte ondulado e

montanhoso Muito forte

Podzoacutelico eutroacutefico terra roxa

estruturada cambissolo ondulado e

forte ondulado

Ondulado e forte ondulado Moderado

Planossolos Plano e suave ondulado Moderado

Fonte PAN Brasil (2004)

ldquoTrecircs classes de solos se destacam no municiacutepio de Irauccediluba luvissolos com

432 de cobertura planossolos com 187 e litoacutelicos com 332 Juntos eles perfazem

951 da aacuterea do municiacutepiordquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2)

Os luvissolos constituem os solos mais utilizados pela agricultura migratoacuteria do

semiaacuterido nordestino Por causa do desmatamento e uso do fogo haacute indicaccedilotildees de que pelo

menos 65 da aacuterea de cobertura deste importante solo se encontrem em erosatildeo de grave a

muito grave Em Irauccediluba natildeo eacute diferente pois a agricultura eacute praticada nas aacutereas recobertas

por luvissolos e solos litoacutelicos enquanto a pecuaacuteria eacute desenvolvida tanto no planossolo com

presenccedila tambeacutem nas aacutereas de luvissolo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013)

Em se tratando de associaccedilatildeo de solos a tabela 14 indica a nomenclatura utilizada

por Jacomine (1973) e pela EMBRAPA (2006) para definir os tipos de associaccedilatildeo

encontrados em Irauccediluba apontando ainda a porcentagem de cada um dentro da respectiva

associaccedilatildeo E a figura 26 apresenta a distribuiccedilatildeo dessas associaccedilotildees no municiacutepio de forma

que eacute possiacutevel notar o predomiacutenio da associaccedilatildeo NC15 seguida da Re25 e Re26

Tabela 14 - Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEMBRAPA

ASSOCIACcedilAtildeO

DE SOLO EM

JACOMINE

(1973)

NOMENCLATURA DOS SOLOS NAS ASSOCIACcedilOtildeES DO SOLO

NA

ASSOCIACcedilAtildeO JACOMINE (1973) EMBRAPA (2006)

PE6

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO moderado

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 40

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO chemozecircnico

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 30

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 15

AFLORAMENTOS DE ROCHA - 15

PE42

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 70

REGOSOL EUTROacuteFICO NEOSSOLOS

REGOLIacuteTICOS 30

NC7 BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO LUVISSOLO 40

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 35

93

BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO veacutertico LUVISSOLO 25

NC15

BRUNOS NAtildeO CAacuteLCICOS

INDISCRIMINADOS LUVISSOLO 40

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 25

PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 20

SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 15

PL6

PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 45

SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 35

SOLOS OTOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 20

Re6

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 65

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 35

Re25 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel

estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -

Re26 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel

estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -

Fonte Jacomine et al (1973) e EMBRAPA (2006)

Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba

94

Por fim a figura 27 apresenta os quatro grandes grupos de solo encontrados em

Irauccediluba e sua distribuiccedilatildeo no municiacutepio sendo eles Podzoacutelico vermelho amarelo

equivalente eutroacutefico (PE) Bruno natildeo caacutelcico (NC) Planossolo (PL) e Solos litoacutelicos (Re)

Figura 27 Grupos de solos que formam associaccedilotildees pedoloacutegicas em Irauccediluba

3233 Clima

ldquoO clima na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba eacute conforme classificaccedilatildeo de Koumlppen

(MILLER 1971) do tipo Bshw semiaacuterido megateacutermico com curta estaccedilatildeo chuvosa no

veratildeo-outono e com concentraccedilatildeo das precipitaccedilotildees pluviais nos meses de marccedilo e abrilrdquo

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2) Anualmente o municiacutepio apresenta pluviometria

meacutedia abaixo dos 700 mm mas existe maior incidecircncia de chuva em outras regiotildees de

Irauccediluba Eacute o que demonstra a figura 28

Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba

Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba

95

Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba

ldquoA regiatildeo apresenta um dos mais baixos iacutendices pluviomeacutetricos do Estado do Cearaacute

com meacutedia histoacuterica de 540 mm Isto porque a aacuterea encontra-se a sotavento da serra

de Uruburetama constituindo-se em uma ldquosombra de chuvardquo causada pela

interceptaccedilatildeo pela serra dos ventos uacutemidos oriundos do oceanordquo (ARAUacuteJO FILHO

e SILVA 2013 p 2)

O municiacutepio passa a maior parte do ano sem chuva aproximadamente dez meses

e apesar da pouca pluviosidade a evapotranspiraccedilatildeo eacute maior que a precipitaccedilatildeo Sem poder

ser diferente as temperaturas variam de 25 a 28 graus sendo que na maior parte da aacuterea

incidem temperaturas de 26 a 27 graus centiacutegrados e a umidade aponta a incidecircncia do clima

semiaacuterido em Irauccediluba As figuras 06 29 30 31 e 32 ilustram as informaccedilotildees declaradas

96

Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba

Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual

97

Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba

Figura 32 Iacutendice Efetivo de umidade em Irauccediluba

Fonte NOLEcircTO (2005)

98

3234 Vegetaccedilatildeo

A caatinga eacute um dos maiores biomas brasileiros e significa mata branca Por ser

uma vegetaccedilatildeo xeroacutefila eacute capaz de suportar vaacuterios anos de estiagem recuperando com

rapidez suas atividades logo nas primeiras chuvas apoacutes a seca A adaptaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo ao

clima semiaacuterido eacute impressionante como por exemplo as cascas claras ou reluzentes servem

para diminuir o aquecimento do tecido vivo da planta Por causa da falta de aacutegua satildeo

caducifoacutelias isto eacute as folhas caem durante a estaccedilatildeo seca para evitar excesso de perda d‟aacutegua

pela evapotranspiraccedilatildeo aleacutem disto os caules satildeo projetados para armazenar aacutegua (MAIA

2012)

ldquoA caatinga se assemelha a arbustos tropicais ou bosques de espinhos Eles

contecircm pequenas aacutervores de madeira dura grotescamente retorcidas e com espinhos as folhas

satildeo pequenas e caem durante a estaccedilatildeo secardquo Odum e Barret (2008 p 453)

Fisionomicamente eacute possiacutevel diferenciar os tipos de vegetaccedilatildeo o arboacutereo que estaacute nas

superfiacutecies mais conservadas sendo o pau branco o angico o pereiro dentre outras suas

espeacutecies mais representativas o arbustivo que eacute sinal de aacutereas jaacute degradadas pelo

desmatamento uso agriacutecola e pecuaacuteria e o herbaacuteceo figurado por gramiacuteneas presentes

somente durante o periacuteodo chuvoso e explorado pela pecuaacuteria extensiva (DANTAS et al

2007)

ldquoO Bioma Caatinga estaacute inserido no quadro dos Ecossistemas da Regiatildeo das

Caatingas e Florestas Deciduais do Nordeste Abrange as especificidades do Domiacutenio

Morfoclimaacutetico das Caatingas sejam elas arbustivas ou arboacutereasrdquo (BRASIL 2004 p 68) Os

frutos amadurecem ao fim da eacutepoca das chuvas quase que generalizadamente na maioria das

espeacutecies arboacutereas e herbaacuteceas permanecendo pendentes dos ramos durante algum tempo Ao

se desprenderem e caiacuterem no solo natildeo germinam de imediato pois a resistecircncia da casca e

outros artifiacutecios da natureza impedem a germinaccedilatildeo pronta Se germinassem morreriam quase

em seguida natildeo resistindo agrave longa estaccedilatildeo seca e quente da estiagem com interrupccedilatildeo brusca

e total das chuvas A germinaccedilatildeo poreacutem processa-se rapidamente logo ao caiacuterem as

primeiras chuvas pois os indumentos foram intensamente desgastados pelo intemperismordquo

As queimadas realizadas para a preparaccedilatildeo de novos terrenos de cultivo desempenham papel

de grande poder destruidor do ambiente ldquoCompreende-se pois que a restauraccedilatildeo da

cobertura vegetal depende da preservaccedilatildeo desses estoques de sementesrdquo26

26

Conferir SOBRINHO Vasconcelos (1983) In PAN Brasil 2004

99

ldquoA vegetaccedilatildeo da aacuterea do nuacutecleo de desertificaccedilatildeo de Irauccediluba espelha os efeitos dos

fatores fiacutesicos mormente os de natureza hiacutedrica e edaacutefica e da accedilatildeo antroacutepica

Assim as aacutereas dos solos argissolos litoacutelicos e luvissolos apresentam uma cobertura

arbustiva-arboacuterea formando um verdadeiro mosaico de diferentes estaacutedios

sucessionais em virtude das praacuteticas agriacutecola ambientalmente agressivasrdquo [] ldquoAs

aacutereas sobre os planossolos estatildeo recobertas por uma caatinga assavanada e

esporadicamente com afloramentos rochosos e com cobertura arbustiva arboacuterea

meacutedia abaixo de 20 e densidade de cerca 200plantasha A camada herbaacutecea de

biodiversidade inferior ao das aacutereas de luvissolos ou argissolos eacute rica no entanto

em espeacutecies forrageiras destacando-se a erva de ovelha (Stylosanthes humilis)

vassourinha (Stylosanthes angustifolia) urinana (Zornia bracteata) e capim accedilu

(Paspalum milegrana) O capim panasco no entanto predomina nas aacutereas

sobrepastejadasrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 34)

A figura 33 espelha a composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba Segue claro que a Caatinga

Arboacuterea Sem Palmeira (Cas) predomina seguida da Caatinga Arboacuterea Com Palmeira (Cap) e

da Caatinga Parque Sem Palmeira (Cps) A Floresta Ombroacutefila Aberta (Acc1) e as Aacutereas De

Formaccedilatildeo Pioneira (Acc2) representam uma aacuterea menor do municiacutepio

Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba

3235 Recursos Hiacutedricos

O nuacutecleo de Irauccediluba estaacute situado na bacia hidrograacutefica do rio Curu contando com

o aporte dos rios Aracatiaccedilu e Caxitoreacute aleacutem de vaacuterios riachos destacando-se o Aroeira o

Fonte NOLEcircTO (2005)

Fonte NOLEcircTO (2005)

100

Gabriel e o Cachoeira A ausecircncia de barragens de porte representativo faz com que a

pequena accediludagem assuma um papel relevante Destacam-se dentre essas os Accediludes Satildeo

Gabriel do Mocoacute (IRAUCcedilUBA 2009)

Por conta da irregularidade das chuvas que contribui para favorecer o escoamento

de superfiacutecie junto agraves condiccedilotildees geoloacutegicas predominantemente cristalinas favorecem o

escoamento raacutepido das aacuteguas pluviais inviabilizando o acuacutemulo de aacuteguas subterracircneas em

quantidades razoaacuteveis (IRAUCcedilUBA 2009) existem no municiacutepio cerca de 28 pequenos

accediludes nomeando-se o Nogueira Ramos o Cairu Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu e o Jerimum

que abastece a cidade de Irauccediluba ldquoUma estrutura muito comum no municiacutepio eacute o barreiro da

salvaccedilatildeo constituindo-se em um sistema temporaacuterio de armazenamento de aacutegua para atender

agrave demanda dos rebanhos durante boa parte da estaccedilatildeo secardquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA

2013 p 3)

324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo

A partir da abordagem feita no item 323 passa-se a analisar a realidade de cada

propriedade estudada Visando apontar os aspectos geoambientais dos imoacuteveis construiu-se

um quadro siacutentese conforme tabela 15 abaixo

Tabela 15 ndash Anaacutelise Geral das propriedades estudadas

Anaacutelise

Imoacuteveis com Reserva Legal

Riachuelo

Alto Alegre

Aacuteguas

Mortas

Almas

Cajazeiras

II

Saco

Verde

Miramar

Classe

no

Tipo

Niacuteveis da Classe

no Tipo

Aacuterea (km2)

336 238 127 124 671 86

no Niacutevel da Classe no Tipo

Precipitaccedilatildeo

Total

Meacutedia Anual

lt 600 - - - - 103 -

600 a 700 100 100 100 755 100

700 a 800 - - - 976 112 -

800 a 900 - - - 24 - -

Temperatura

Meacutedia Anual

(oC)

25-26 - - - - 71 -

26-27 100 100 100 100 929 100

27-28 - - - - - -

ETP

lt 1450 - - - - 100 100

1450-1500 - - - - - -

1500-1550 - - - - - -

1550-1600 100 100 100 - - -

1600-1650 - - - 141 - -

1650-1700 - - - 859 - -

101

Nugravemero

de

Meses secos

85 a 95 100 100 564 100 330 -

95 a 105 - - 454 - 670 100

gt105 - - - - - -

Im

gt - 333 - - - - - -

- 344 a - 499 100 100 100 100 388 15

lt - 499 - - - - 612 985

Igravendice de Aridez

do UNEP 020 a 050 100 100 100 100 780 100

050 a 065 - - - - 220 -

Classes

de

Relevo

Plano 23 46 56 112 55 135

Suave Ondulado 162 316 378 373 227 485

Ondulado 194 338 427 64 124 130

Muito Ondulado 127 111 72 38 72 70

Forte Ondulado 463 185 66 264 400 179

Montanhoso 31 04 - 105 120 03

Escarpado - - - 44 02 -

Classes

de

Altitude

80-120 - - -- 560 - -

120-160 - - - 113 - -

160-200 - - - 60 321 -

200-240 54 171 723

240-280 01 41 460 40 85 202

280-320 139 614 521 36 68 49

320-360 349 211 10 41 56 24

360-400 178 65 01 38 70 02

400-440 90 24 - 28 53 -

440-480 63 21 - 19 55 -

480-520 45 16 - 10 45 -

520-560 33 05 - 02 32 -

560-600 29 02 - - 15 -

600-640 25 01 - - 10 -

640-680 17 - - - 08 -

680-720 13 - - - 07 -

720-760 07 - - - 03 -

760-800 05 - - - 02

800-840 03 - - - - -

840-880 02 - - - - -

880-920 01 - - - - -

Associaccedilotildees

de

Solos

PE 6 - - - - 207 -

PE 42 - - - 913 - -

NC 7 - - - - - -

NC 15 940 755 516 - - 441

PL 6 - - - - 348 -

Re 6 - - - - - -

Re 25 - - - 87 445 -

Re 26 60 245 424 - - 559

Grupos

de

solos

PE - - - 913 207 -

NC 940 762 516 - - 441

PL - - - - 348 -

Re 60 238 484 87 445 559

Cobertura

Vegetal

Cas 515 934 100 - 265 100

Cap - - - 649 - -

Cps - - - - 168 -

Acc1 485 66 - - - -

Acc2 351 567 -

Quanto agrave graduaccedilatildeo altimeacutetrica em que se encontra cada propriedade em estudo eacute

possiacutevel observar que a RiachueloAlto Alegre tem niacuteveis de altimetria crescentes a partir de

102

240 ateacute 920 metros destacando-se como o imoacutevel de maior altitude seguido de Saco Verde e

Aacuteguas Mortas As outras natildeo passam dos 560 metros de altitude

Em se tratando da classe de relevo a que se apresenta mais plana eacute Miramar com

135 de sua aacuterea seguida de Cajazeiras II com 112 Em relevo montanhoso destacam-se

Saco Verde com 12 de terreno e Cajazeiras II com 105 No entanto a predominacircncia eacute de

imoacuteveis inseridos na faixa entre o suave ondulado e o forte ondulado

Os imoacuteveis em anaacutelise situam-se em diferentes grupos de solos como ilustra a

tabela 15 Por exemplo RiachueloAlto Alegre e Aacuteguas Mortas estatildeo 94 e 762

respectivamente em luvissolos ou seja em solos Bruno natildeo caacutelcicos e Podzoacutelico vermelho

amarelo equivalente eutroacutefico Almas e Miramar estatildeo divididas aproximadamente agrave metade

em solo litoacutelico e em Bruno natildeo caacutelcico Em Cazajeiras II predomina o solo Podzoacutelico

vermelho amarelo equivalente eutroacutefico mas apresenta um pequeno percentual em solo

litoacutelico E por fim Saco Verde possui uma distribuiccedilatildeo variada de solos Podzoacutelico vermelho

amarelo equivalente eutroacutefico (207) Planossolos (348) e litoacutelicos (445) sendo o

uacutenico imoacutevel com planossolos

Nas associaccedilotildees de solos prevalece a subclasse 15 dos solos Bruno natildeo caacutelcicos

(NC) nas propriedades RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas e Almas Cajazeiras II estaacute

quase totalmente na subclasse 42 do Podzoacutelico vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) e

Miramar mesmo quase ao meio entre NC e Re possui a maior parte de sua aacuterea na subclasse

26 de solos litoacutelicos (Re) Saco Verde embora um tanto quanto bem distribuiacuteda tem 207

de aacuterea na subclasse 6 dos Podzoacutelicos vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) 348

em planossolos subclasse 6 inclusive eacute o uacutenico imoacutevel nessa classificaccedilatildeo e 445 em Re6

A realidade das aacutereas em estudo descrita na tabela 15 revela que mais da metade

delas estaacute inserida na faixa de pluviosidade abaixo dos 700 mm contudo Cajazeiras II foge agrave

regra apresentando pluviometria entre 700 a 900 mm Em Saco Verde ocorre distribuiccedilatildeo

irregular de chuvas e aleacutem de estar na meacutedia tem precipitaccedilatildeo tanto abaixo dos 600 como

acima de 700 mm

E por fim a cobertura vegetal de Almas Miramar quase toda de Aacuteguas Mortas e

a metade RiachueloAlto Alegre eacute de caatinga arboacuterea sem palmeira (Cas) enquanto que mais

de 50 da Cajazeiras II estaacute em caatinga arboacuterea com palmeira (Cap) Saco Verde tem mais

da metade da aacuterea em formaccedilatildeo pioneira (Acc2)

103

33 Metodologia

A metodologia utilizada no levantamento acerca da existecircncia de reserva legal no

municiacutepio de Irauccediluba envolveu algumas fases de anaacutelise como pesquisa bibliograacutefica

documental caracterizaccedilatildeo da aacuterea sob os aspectos sociais econocircmicos e ambientais o uso de

imagens orbitais e a aplicaccedilatildeo do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada (NDVI -

Normalized Difference Vegetation Index) nas propriedades em estudo

A abordagem envolveu o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo uma vez que para avaliar a

aplicabilidade da reserva legal como forma de combater o processo de degradaccedilatildeo ambiental

em Irauccediluba partiu-se da hipoacutetese de que se cada detentor de propriedade rural cumprisse a

obrigaccedilatildeo de implantaacute-la o processo de degradaccedilatildeo quiccedilaacute o de desertificaccedilatildeo seria estancado

no municiacutepio Aleacutem disso seria um instrumento proporcionador da recuperaccedilatildeo ambiental em

virtude de seus benefiacutecios A investigaccedilatildeo se deu por procedimentos de vieacutes histoacuterico e

comparativo tendo sido realizada uma retrospectiva de como foi o tratamento dado agrave reserva

legal no contexto juriacutedico econocircmico social e ambiental Aleacutem disto estudou-se as

propriedades que apresentaram o instituto mesmo que soacute documentalmente de maneira a

confrontar a situaccedilatildeo existente nos anos de 1993 e 2007 e sua modificaccedilatildeo

Para alcanccedilar os propoacutesitos deste trabalho ocorreu a coleta de dados pela pesquisa

documental e bibliograacutefica aleacutem da observaccedilatildeo direta intensiva que foi possiacutevel pelo exame

de dados obtidos por imagens do sateacutelite LANDSAT 5 referente aos anos de 1993 e 2007

bem como a avaliaccedilatildeo das aacutereas estudadas atraveacutes do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila

Normalizada (NDVI)

As informaccedilotildees geograacuteficas das propriedades em estudo foram disponibilizadas

basicamente pelo INCRA e pelo cartoacuterio de imoacuteveis de Irauccediluba Ambos cederam as plantas

georreferenciadas que foram vetorizadas em UTM 24s atraveacutes do programa CARTALINX 12

para em seguida serem exportadas para o IDRISI 322 e entatildeo convertidas para latitude e

longitude DATUM GS 84

331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite

O NDVI eacute um iacutendice de vegetaccedilatildeo derivado de imagens de sateacutelites e muito

utilizado na avaliaccedilatildeo da cobertura vegetal indicando o tipo a condiccedilatildeo e a densidade da

vegetaccedilatildeo atraveacutes do uso de bandas No caso as bandas do vermelho na faixa do visiacutevel e do

infravermelho proacutexima (PINHEIRO 2011) Agrave medida que aumenta a quantidade de

104

vegetaccedilatildeo verde aumenta a reflexatildeo na banda do infravermelho proacuteximo e diminui a reflexatildeo

na banda do vermelho fazendo com que o aumento da razatildeo seja potencializado realccedilando

assim a vegetaccedilatildeo27

Na banda do vermelho a clorofila absorve a energia solar resultando em uma

baixa reflectacircncia e no infravermelho proacuteximo tanto a morfologia interna das folhas quanto a

estrutura da vegetaccedilatildeo apresentam uma alta reflectacircncia da energia solar incidente A

combinaccedilatildeo dessas bandas realccedila a aacuterea de vegetaccedilatildeo nas imagens e quanto maior o contraste

maior o vigor da vegetaccedilatildeo da aacuterea imageada (LOURENCcedilO LANDIM 2004)28

Portanto o NDVI pode ser utilizado como uma teacutecnica para mapeamento

contiacutenuo da cobertura vegetal de uma regiatildeo possibilitando analisar e monitorar a

variabilidade desta em periacuteodos distintos (PINHEIRO 2011) Ressaltam ainda as diferenccedilas

entre aacutereas vegetadas e de solo exposto (VERONA 2002)29

O caacutelculo para se chegar ao NDVI deriva da razatildeo entre os valores das bandas do

vermelho e infravermelho proacuteximo ou seja a diferenccedila da resposta espectral do pixel dessas

bandas pela sua soma (SILVA et al 2007)30

resulta nos valores do NDVI que variam de ndash1 a

+1 A equaccedilatildeo para o caacutelculo do NDVI foi proposta por (JENSEN 1996)31

in Ewerton Torres

Melo 2008) conforme segue abaixo

NDVI = (NIR - R) (NIR + R)

Em que

NDVI eacute o iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada NIR eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Infra-Vermelho Proacuteximo

(076 a 090 μm)

R eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Vermelho (063 a 069μm)

Assim a vegetaccedilatildeo eacute caracterizada por uma intensa absorccedilatildeo devido agrave clorofila na

regiatildeo do vermelho (063 ndash 069 μm) e por uma intensa energia refletida na regiatildeo do

infravermelho proacuteximo (076 ndash 090 μm) causada pela estrutura celular das folhas Portanto

muitos dos modelos de iacutendice de vegetaccedilatildeo utilizam somente as bandas de imagem vermelha

ou proacutexima ao infravermelho (MELO 2008)

27

Novo (1989) In MELO Ewerton Torres (2008) 28

In PINHEIRO 2011 29

Idem 30

Ibidem 31

In MELO 2008

105

Conforme (BRAGA et al sd) estudos de variabilidade temporal e espacial sobre

a regiatildeo Nordeste do Brasil indicam que as aacutereas vegetadas variam de 01 a 08 sendo que

esses valores dependem da estrutura densidade e umidade da vegetaccedilatildeo As rochas e os solos

apresentam valores proacuteximos de zero e a aacutegua aparece com valores negativos Coberturas

vegetais muitos densas se expressam pelos maiores valores obtidos (PINHEIRO 2011)

106

4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES

41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba

O foco principal da pesquisa foi levantar e analisar as propriedades que de alguma

forma apresentem a reserva legal seja oficial ou extraoficialmente Com o exame das imagens

de sateacutelite dos anos de 1993 e 2007 utilizando o NDVI constatou-se que os iacutendices da

cobertura vegetal satildeo muito parecidos tanto dentro como fora da aacuterea de reserva ao serem

comparados pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Isto leva a crer que o instituto legal pode natildeo

ter promovido qualquer diferenccedila em termos de cobertura vegetal sem falar na hipoacutetese de

nem mesmo ter sido cumprido

Analisando os iacutendices de NDVI comprova-se que na grande maioria dos

imoacuteveis a cobertura vegetal tanto dentro como fora da aacuterea de reserva legal diminuiu entre

os anos de 1993 e 2007 Embora nas propriedades a vegetaccedilatildeo se apresente em niacuteveis

diferenciados de existecircncia representados pelas faixas 2 a 9 da tabela 16 vecirc-se que quase

todos em 1993 apresentavam aacutereas significativas de vegetaccedilatildeo na faixa 6 e 7 Se averiguar as

mesmas colunas em 2007 eacute notoacuteria a retraccedilatildeo nos iacutendices salvo na faixa 5 referente aos

imoacuteveis Aacuteguas Mortas Almas e Saco Verde

Tabela 16 - NDVI dos imoacuteveis estudados

IMOacuteVEL SEGMENTO ANO

Aacuterea no niacutevel de NDVI como uma porcentagem da aacuterea total do segmento

Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 4 Faixa 5 Faixa 6 Faixa 7 Faixa 8 Faixa 9

0 a 01 01 a 02 02 a 03 03 a 04 04 a 05 05 a 06 06 a 07 07 a 08 08 a 09

Riachuelo

Alto

Alegre

Fora 1993 0558 0458 0978 2418 9904 68884 16798 0022 0019

2007 1369 1351 2366 9734 56243 28713 0205 0019 -

Reserva 1993 0532 0319 0473 1006 3224 57424 36868 0074 -

2007 1818 1611 1951 7524 53112 33777 0207 - -

Aacuteguas

Mortas

Fora 1993 1588 1833 2701 6525 18029 41168 28024 0141 -

2007 4979 3485 4979 12220 34523 39105 0616 0097 -

Reserva 1993 - - 0084 1246 10452 56862 31356 - -

2007 2092 1902 6677 6127 52292 34545 0275 0085 -

Almas Fora 1993 1954 1336 1650 3339 9359 48925 33222 0216 -

2007 0845 1463 2583 13464 44731 36659 0216 - 0039

Reserva 1993 13455 3058 2299 3858 12198 40686 23344 0156 0156

2007 1052 1208 1052 7947 53759 34827 0156 - -

Miramar Fora 1993 - - 1075 6023 36519 50699 5684 - -

2007 0810 1001 1870 6818 66765 22545 0132 0059 -

Reserva 1993 1540 0285 0799 7758 39646 48431 1540 - -

2007 - 0513 2339 33143 63206 0799 - - -

Saco

Verde

Fora 1993 6867 5558 9959 20131 37338 19016 0097 1097 1097

2007 6469 8972 19278 30986 32219 2026 0050 - -

Reserva 1993 6927 9383 17136 26903 29900 9113 0609 0030 -

2007 8767 10375 17166 29254 332881 1157 - - -

Cajazeiras

II

Fora 1993 0040 0606 8206 39766 45877 5412 0092 - -

2007 2003 9562 25154 44710 17723 0647 - - -

Reserva 1993 2885 2885 12402 48057 29936 2360 0674 - -

2007 3895 8165 21610 39476 26704 0150 - -

Os iacutendices de NDVI da tabela 16 serviram de base para o caacutelculo da anaacutelise de

semelhanccedila pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Assim a constataccedilatildeo acima eacute confirmada pela

tabela 17 que por sua vez atesta o grau de similaridade entre a aacuterea interna e externa agrave

reserva legal nos anos analisados Eacute surpreendente o niacutevel de semelhanccedila encontrado O

percentual mais baixo em 1993 eacute de 798 chegando no mesmo ano a 933 Jaacute em 2007 a

percentagem de semelhanccedila diminui nos imoacuteveis Aacuteguas Mortas e Miramar de 81 para 75 e

de 933 para 731 respectivamente Isto natildeo quer dizer que o niacutevel de cobertura vegetal

melhorou ou piorou mas que a diferenccedila na semelhanccedila entre dentro e fora da aacuterea de reserva

legal nessas propriedades reduziu sugerindo que o respeito agravequele instituto pode ter

promovido a alteraccedilatildeo Em contrapartida nos outros imoacuteveis essa semelhanccedila aumentou

aproximando-se dos 94

Assim eacute provaacutevel que pelos meacutetodos utilizados a funccedilatildeo proposta pelo instituto

da reserva legal natildeo esteja sendo alcanccedilada visto que o grau de semelhanccedila entre a aacuterea de

dentro e fora da reserva legal estaacute muito aproximado pois sequer apresentou-se abaixo dos

70 de diferenccedila

Tabela 17 - Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal pelo meacutetodo de Sorensen (1948)

ANAacuteLISE DE SEMELHANCcedilA DE SORENSEN () ENTRE

FORA E DENTRO DA AacuteREA DE RESERVA LEGAL

IMOacuteVEL

Reserva

ANO 1993 2007

108

Riachuelo Alto Alegre Fora 1993 798 -

2007 - 941

Aacuteguas Mortas Fora 1993 810 -

2007 - 750

Almas Fora 1993 821 -

2007 - 908

Saco Verde Fora 1993 799 -

2007 - 891

Cajazeiras II Fora 1993 813 -

2007 - 952

Miramar Fora 1993 933 -

2007 - 731

109

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A abordagem dos assuntos aqui tratados e os resultados alcanccedilados permitem a

conclusatildeo de que a reserva legal eacute uma criaccedilatildeo da lei com intenccedilotildees conservacionistas

avanccediladas Como espaccedilo especialmente protegido requer um tratamento diferenciado natildeo soacute

como previsto em normas mas sob a oacutetica da sociedade Observou-se que foi um assunto

amplamente tratado e debatido nas esferas do poder legislativo e judiciaacuterio do paiacutes e que

tambeacutem eacute alvo de poliacuteticas puacuteblicas e atuaccedilatildeo das autoridades competentes embora um tanto

falhas

Contatou-se que o emprego da reserva legal no municiacutepio de Irauccediluba eacute pouco expressivo

diante da quantidade de propriedades ali existentes por isso os benefiacutecios trazidos pela

conservaccedilatildeo desses espaccedilos mal podem ser sentidos no municiacutepio que sofre com a degradaccedilatildeo

ambiental contiacutenua inclusive com a presenccedila do processo de desertificaccedilatildeo Aleacutem disto a

falta de cumprimento do formal procedimento acerca da implantaccedilatildeo da reserva legal em

aacutereas puacuteblicas eacute intrigante Isto porque se pressupotildee accedilotildees de estrita legalidade envolvendo o

ente estatal Nesse sentindo partindo do entendimento que os projetos de assentamento satildeo

resultado de poliacuteticas puacuteblicas para reforma agraacuteria pressupunha-se que nestes espaccedilos a

reserva legal estaria estabelecida mas as anaacutelises mostraram que natildeo haacute diferenccedila quando

comparadas a aacuterea de dentro e de fora da reserva nas propriedades A situaccedilatildeo eacute anaacuteloga no

imoacutevel particular apreciado

A respeito da degradaccedilatildeo viu-se que Irauccediluba por ser rota de passagem do gado

desde o seacuteculo XIX aporta animais em transumacircncia de outras regiotildees Os relatos de jesuiacutetas

que cruzaram o municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XVII registram o lugar com vegetaccedilatildeo fechada

e densa Diante disso eacute possiacutevel afirmar que nem sempre Irauccediluba teve um ambiente inoacutespito

e com caracteriacutesticas severamente adversas O quadro atual se deve agraves intervenccedilotildees antroacutepicas

sem teacutecnicas apropriadas para o desenvolvimento de atividades econocircmicas em conjunto com

as caracteriacutesticas de um meio semiaacuterido Essas atividades geralmente abrangem culturas de

subsistecircncia praticadas recorrentemente no mesmo lugar sem o pousio necessaacuterio do solo que

por sua vez natildeo eacute tatildeo rico em nutrientes em decorrecircncia dos desmatamentos e queimadas

Pela caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo pocircde se verificar que seus atributos

envolvem solos pouco profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica

O clima eacute o semiaacuterido onde haacute baixa pluviometria e temperaturas em torno dos 28ordmC e a

vegetaccedilatildeo eacute caatinga nos tipos arbustivos e herbaacuteceos excepcionalmente o arboacutereo por causa

da degradaccedilatildeo

Os resultados mostraram que os iacutendices de NDVI nas propriedades analisadas

apontam um grau de semelhanccedila de ateacute 94 entre dentro e fora da aacuterea da reserva legal pelo

que se pode inferir 2 suposiccedilotildees

1) A reserva legal existe somente em niacutevel documental e natildeo no local apontado

dentro do imoacutevel

ou

2) A reserva legal existe mas estaacute com a cobertura vegetal bem semelhante agrave de fora

da sua aacuterea de maneira que pode estar tatildeo degradada quanto ou tatildeo conservada

quanto

Partindo para a segunda suposiccedilatildeo os iacutendices de NDVI constatam sim que a

cobertura vegetal apresenta um grau elevado de semelhanccedila entre os dois espaccedilos e que em 4

dos 6 imoacuteveis ambos diminuiacuteram de 1993 a 2007 Desta forma natildeo haacute como afirmar que a

reserva legal no estado em que se encontra nas propriedades analisadas eacute um meio de

combater a degradaccedilatildeo ambiental Contudo nos casos em que real e verdadeiramente for

aplicada por certo traraacute ganhos ambientais mas isto deve ser alvo de mais e maiores estudos

acerca do assunto

Eacute curioso que mesmo Irauccediluba sendo um nuacutecleo de desertificaccedilatildeo e por isso alvo

de estudos pesquisas projetos e poliacuteticas puacuteblicas envolvendo degradaccedilatildeo recuperaccedilatildeo e

conservaccedilatildeo ambiental a situaccedilatildeo aparentemente natildeo progride em termos de melhorias Ao

contraacuterio disto constata-se cada vez mais a deterioraccedilatildeo do meio ambiente a ocupaccedilatildeo e a

utilizaccedilatildeo indevida dos recursos naturais

Encerrando a abordagem do assunto tratado assevera-se que a reserva legal jaacute eacute

um instituto consolidado em lei natildeo justificando quaisquer argumentos quanto ao seu

descumprimento Inclusive a natildeo observacircncia do bendito mandamento eacute considerada crime e

nesse sentido natildeo haacute uma atuaccedilatildeo maciccedila do Estado em termos de fiscalizaccedilatildeo pois se assim

existisse natildeo se estaria diante de uma constataccedilatildeo tatildeo seacuteria acerca do pequeno nuacutemero de

imoacuteveis que apresentaram a reserva legal mesmo que documentalmente Essa estatiacutestica

diminuiu ainda mais quando se analisou a diferenccedila na vegetaccedilatildeo sendo possiacutevel concluir que

o caraacuteter conservacionista da reserva legal e ela proacutepria natildeo estatildeo alcanccedilando o fim para que

foi criada

Por fim acredita-se que a reserva legal se cumprida eacute um instrumento

conservacionista capaz de auxiliar na recuperaccedilatildeo ambiental e arrefecer os processos de

111

degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo criticamente manifestos no municiacutepio de Irauccediluba Indo mais

aleacutem vecirc-se que pela oacutetica do referido instituto o desenvolvimento sustentaacutevel eacute possiacutevel

pois mesmo de encontro a interesses particulares ele consegue reunir e harmonizar o vieacutes

econocircmico o social e o ambiental

112

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de setembro de 1965 e 7754 de 14 de abril de 1989 e a Medida Provisoacuteria no 2166-67

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ISABELLE MARINHO QUINDEREacute SARAIVA

O EMPREGO DA RESERVA LEGAL NO MUNICIacutePIO DE

IRAUCcedilUBACE

Dissertaccedilatildeo submetida agrave Coordenaccedilatildeo do

Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento

e Meio Ambiente da Universidade Federal do

Cearaacute como requisito parcial para obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de Mestre em Desenvolvimento e Meio

Ambiente

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Organizaccedilatildeo do Espaccedilo

e Desenvolvimento Sustentaacutevel

Orientador Prof Dr Joseacute Gerardo Beserra de

Oliveira

Aprovada em ___ ___ _____

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________

Prof Dr Joseacute Gerardo Beserra de Oliveira (Orientador)

Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC

________________________________________________

Profordf Drordf Marta Celina Linhares Sales

Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC

________________________________________________

Profordf Drordf Jacqeline Pires Gonccedilalves Lustosa

Universidade Federal de Campina Grande ndash UFCG

Dedico a Deus minha forccedila Autor da minha

vida meu tudo e ao meu marido Pedro

eterno companheiro e ajudador

AGRADECIMENTOS

A Deus que eacute Quem me permitiu ser aprovada estar e concluir esse curso tatildeo importante Ele

que em mim gerou todas as forccedilas necessaacuterias para continuar e natildeo desistir dando-me a

condiccedilatildeo de chegar ateacute o fim com louvor

Ao Professor Dr Joseacute Gerardo Beserra de Oliveira pela orientaccedilatildeo pela paciecircncia pelo

carinho e apoio desprendidos para a realizaccedilatildeo deste trabalho Por seus conhecimentos na

aacuterea pois sem eles natildeo poderia ter me levado a enriquecer tanto este trabalho

Agrave CAPES que me ajudou financeiramente

Agrave minha famiacutelia em especial minha matildee que sempre procurou saber como estava a minha

pesquisa dando-me aquele apoio nato de matildee

A Pedro Saraiva meu amor grande amor que sempre me apoiou e acreditou no meu talento

na minha competecircncia e vitoacuteria

Aos servidores do INCRA muito soliacutecitos e atenciosos com a minha pesquisa dentre eles sr

Raimundo Martins da Divisatildeo de Ordenamento da Estrutura Fundiaacuteria Joseacute Jaime D‟Alencar

Juacutenior do Serviccedilo de Cartografia Odilo Neto Luna Coelho e Joseacute Salmito de Almeida Juacutenior

ambos da Divisatildeo de Obtenccedilatildeo de Terras ndash setor de Serviccedilo ao Meio Ambiente

Agrave Dra Claacuteudia Regina Nogueira titular do Cartoacuterio de Registro de Imoacuteveis de Irauccediluba por

sua disponibilidade e por permitir o acesso aos livros cartoraacuterios onde encontrei dados tatildeo

importantes para o trabalho

Ao IDACE atraveacutes dos servidores Dr Paulo Henrique Lobo diretor teacutecnico de operaccedilotildees

Dr Ricardo Durval superintendente do oacutergatildeo Linardy Barreto de Holanda Priscila Azevedo

de Aguiar ambos do Nuacutecleo de Geoprocessamento (NUGEO) Nadir Loiola Dias e Florence

Mary Cavalcante Mouratildeo Lobo ambas da Diretoria Teacutecnica e de Operaccedilotildees (DTO) Todos

eles me ajudaram de forma a tornar possiacutevel parte desta pesquisa pelo que sou imensamente

grata

Perguntei-me inuacutemeras vezes se deveria prosseguir A resposta me era

dada quando olhava para traacutes e via meu passado cheio de grandes

vitoacuterias e conquistas pela matildeo de Deus e pelo meu esforccedilo Entatildeo

decidi que natildeo seria agora que natildeo chegaria ateacute o fim mesmo que o

que me impulsionou para esse desafio jaacute natildeo tem mais a mesma

intensidade Aqui estou eu fazendo desse momento mais uma

imensuraacutevel vitoacuteria por Aquele que um dia me deu essa oportunidade

A Ele toda honra e toda gloacuteria

A autora

RESUMO

A degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio de Irauccediluba eacute alvo de vaacuterias pesquisas pois eacute um

problema onde as causas estatildeo presentes natildeo soacute ali mas em grande parte do semiaacuterido

nordestino no entanto ao se tratar deste assunto logo vem agrave tona outra questatildeo mais seacuteria o

processo de desertificaccedilatildeo O presente trabalho faz uma raacutepida abordagem do semiaacuterido

dando especial evidecircncia agravequele municiacutepio englobando a origem da degradaccedilatildeo a atual

situaccedilatildeo local e possiacuteveis formas para minimizar ou ateacute mesmo estagnar aquele problema

ambiental O objetivo geral foi levantar o nuacutemero de propriedades rurais no municiacutepio

elegendo em sua maioria os projetos de assentamento rural e verificar se possuiacuteam ou natildeo

uma aacuterea especialmente protegida denominada reserva legal A escolha desse instituto como

indicador se deu por ser ele um instrumento criado por lei e que por sua vez impele todo e

qualquer proprietaacuterio ou possuidor rural a manter uma parcela miacutenima de 20 do seu imoacutevel

preservado como aacuterea de Reserva Legal Sua efetividade como instrumento de preservaccedilatildeo

foi analisada em 6 propriedades a partir de imagens do sateacutelite LANDSAT 5 com base nos

anos de 1993 e 2007 e atraveacutes da anaacutelise do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada

(NDVI) foi realizado um estudo comparativo para verificar se houve evoluccedilatildeo ou natildeo do

quadro vegetativo dentro e fora das aacutereas de reserva legal Na identificaccedilatildeo dos imoacuteveis

estudados soacute foram encontrados seis com reserva legal oficialmente implantada ateacute o ano de

2007 data mais recente da imagem de sateacutelite empregada A anaacutelise comparativa realizada

com esses imoacuteveis que tecircm algum tipo de registro no Cartoacuterio de Imoacuteveis eou no INCRA

dentre os 713 medidos e georreferenciados pelo IDACE e que por sua vez foi conduzida com

uso do NDVI natildeo indicou diferenccedila significativa entre os iacutendices encontrados para a

cobertura vegetal dentro e fora das aacutereas de Reserva Legal

Palavras-chave Degradaccedilatildeo Ambiental Coacutedigo Florestal Reserva Legal IrauccedilubaCE

ABSTRACT

The environmental degradation in the municipality of Irauccediluba is the target of several studies

because it is an issue where the causes are present in much of the northeastern semiarid

However when dealing with this subject soon comes to attention another issue which is more

serious and that arises from the ongoing degradation the process of desertification The

present paper analyzes briefly the cearense semiarid giving special emphasis to that

municipality so that the origin of the degradation the current local situation and even

possible ways to minimize or even stagnate that environmental problem were all the target of

this research The overall goal was to enumerate the number of farms among them those that

either have a specially protected area called legal reserve or those that does not The choice

of this statistic as an indicator was due to the fact that it is a legal instrument which in turns

compels all and any owner of land or rural possessor to maintain 20 of their property

preserved as a Legal Reserve area Its effectiveness as a tool for preservation was analyzed in

6 properties with the help of satellite images from LANDSAT 5 taken between the years

1993 and 2007 and by examining the Normalized Difference Vegetation Index (NDVI) a

comparative study was conducted to determine whether there was a growth or not of the

vegetative area inside and outside the legal reserves During the identification of the

properties to be studied only six were found to have a legal reserve officially implemented by

the year 2007 the most recent date of the satellite images used A comparative analysis with

those lands that have some kind of record in the Registry of Property andor INCRA among

the 713 measured and georeferenced by IDACE and that in turn used the NDVI as a

guideline indicated no significant difference on the index either inside or outside the Legal

Reserves areas

Key-Words Environmental degradation Forest code Legal reserve IrauccedilubaCE

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 27

Figura 2 Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 (Novo Coacutedigo

Florestal)

27

Figura 3 Sistema de degradaccedilatildeo do meio ambiente 47

Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro 53

Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute 54

Figura 6 Iacutendice de aridez (UNEP) 56

Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo no Cearaacute 57

Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo 57

Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no ISSD 59

Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no IESD 60

Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios 61

Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute 79

Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba 79

Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo 81

Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras permanentes 85

Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras temporaacuterias 85

Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem

vegetal (tonano)

86

Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem

vegetal (m3ano)

86

Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011) 87

Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001 88

Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010 88

Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011 89

Figura 23 Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos 90

Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba 91

Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba 92

Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba 94

Figura 27 Grupo de solos que formam as associaccedilotildees pedoloacutegicas em

Irauccediluba

95

Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba 96

Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba 97

Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual 97

Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba 98

Figura 32 Iacutendice de umidade em Irauccediluba 98

Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba 100

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Medidas Provisoacuterias 21

Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras 48

Tabela 3 Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez (UNEP) 52

Tabela 4 Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo 55

Tabela 5 Levantamento de imoacuteveis com reserva legal (cartoacuterio de

registro de imoacuteveis)

73

Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais 76

Tabela 7 Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba 77

Tabela 8 Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de

anaacutelise

80

Tabela 9 Dados da propriedade particular estudada 80

Tabela 10 Propriedades estudadas 81

Tabela 11 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem

animal

87

Tabela 12 Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores 90

Tabela 13 Relaccedilatildeo entre solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo 93

Tabela 14 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEmbrapa 93

Tabela 15 Anaacutelise geral das propriedades estudadas 101

Tabela 16 NDVI dos imoacuteveis estudados 107

Tabela 17 Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal entre dentro e fora da aacuterea

de reserva legal pelo meacutetodo Sorensen

108

SUMAacuteRIO

Lista de Figuras vii

Lista de Tabelas ix

Resumo v

Abstract vi

INTRODUCcedilAtildeO 12

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 14

11 O Instituto da Reserva Legal 14

111 Conceito 15

112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica 17

113 Importacircncia da Reserva Legal 30

1131 Juriacutedica 31

1132 Social 32

1133 Ambiental 33

1134 Econocircmica 35

114 Direito de Propriedade X Reserva Legal 36

1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa 41

1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal 42

2 PROCESSO DE DEGRADACcedilAtildeO 45

21 Conceito 45

22 Degradaccedilatildeo ambiental 48

221 Erosatildeo 49

222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica 49

223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica 50

23 A degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 51

231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia 52

24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental 62

25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira 65

251 Lei ambiental de Irauccediluba 69

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 71

31 Reserva Legal em Irauccediluba 71

311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental ndash Projeto de

Assentamento Agraacuterio em foco

73

32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo 78

321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba 78

3211 Das propriedades estudadas 79

3212 Aspectos histoacutericos de ocupaccedilatildeo 82

322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas 82

323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba 91

3231 Altimetria e Classes de relevo 91

3232 Solos 92

3233 Clima 95

3234 Vegetaccedilatildeo 99

3235 Recursos Hiacutedricos 100

324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo 101

33 Metodologia 104

331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite 104

4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES 107

41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 107

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 110

REFEREcircNCIAS 113

INTRODUCcedilAtildeO

A degradaccedilatildeo como um problema ambiental jaacute foi alvo de inuacutemeras pesquisas

principalmente quando se trata do semiaacuterido brasileiro Estudos nesse sentido datam da

deacutecada de 70 eacutepoca em que o professor Vasconcelos Sobrinho passou a pesquisar o processo

de desertificaccedilatildeo no nordeste do Brasil (SALES 2002) Nas investigaccedilotildees ele identificou um

nuacutecleo no Cearaacute que se localiza em Irauccediluba Em assim sendo buscou-se desenvolver um

trabalho naquele municiacutepio tomando por base um mecanismo criado por lei cujo caraacuteter eacute a

conservaccedilatildeo do meio ambiente Trata-se da reserva legal Como nessa aacuterea natildeo haacute pesquisa

envolvendo a aplicabilidade do tal instituto viu-se a oportunidade de estudaacute-la produzindo-se

o presente trabalho

A proposta principal da pesquisa eacute fazer um levantamento dos imoacuteveis existentes

no municiacutepio de Irauccediluba pontuando de forma preponderante os de propriedade federal e

estadual destinados aos assentamentos rurais e assim identificar nessas aacutereas a existecircncia ou

natildeo do instituto da reserva legal e sua devida implantaccedilatildeo Nesse sentido encontrou-se 6

propriedades que possuiacuteam a reserva legal sendo 5 puacuteblicas e 1 privada Empoacutes o segundo

intuito envolve a diferenciaccedilatildeo entre a cobertura vegetal da reserva e do restante da

propriedade a partir da utilizaccedilatildeo de imagens de sateacutelite e o uso do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por

Diferenccedila Normalizada (NDVI)

Para isso foi necessaacuterio fazer um apanhado de como esse instrumento de

conservaccedilatildeo foi e eacute abordado no Coacutedigo Florestal que eacute a lei onde haacute previsatildeo da reserva

legal bem como traccedilar um histoacuterico de como se deu sua evoluccedilatildeo dentro do quadro

legislativo no paiacutes foi igualmente essencial Da mesma maneira buscou-se contextualizar a

importacircncia da reserva legal nos aspectos econocircmico juriacutedico social e ambiental de forma

que ficou ilustrado o valor que esse mecanismo tem para a sociedade As discussotildees de cunho

juriacutedico e praacutetico sobre o assunto foram levantadas pois o proprietaacuterio do imoacutevel vecirc a reserva

legal como ocircnus e natildeo como um instrumento de conservaccedilatildeo que traraacute imensuraacuteveis

benefiacutecios ambientais dentro de sua proacutepria aacuterea Encerrando o primeiro capiacutetulo tecircm-se as

formas de cumprir o mandamento legal que envolvem a reserva muito embora isto tenha

sofrido algumas alteraccedilotildees como se veraacute a seguir

Quanto agrave reserva legal em Irauccediluba as constataccedilotildees natildeo satildeo animadoras

Infelizmente haacute um desencontro de informaccedilotildees a comeccedilar pelo controle do nuacutemero de

imoacuteveis existentes no municiacutepio Em seguida soacute foram encontrados trecircs imoacuteveis com a

obrigaccedilatildeo devidamente formalizada em cartoacuterio Isso diante de um universo de mais de 700

propriedades eacute frustrante e desencorajador Outra abordagem feita neste toacutepico aponta o

licenciamento ambiental como mais um instrumento possibilitador da instalaccedilatildeo da reserva

legal pois o oacutergatildeo ambiental tem dever de exigir o tal instituto para licenciar atividades e

empreendimentos localizados em zona rural

Igualmente desalentadora eacute a degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio Por se tratar de

uma aacuterea com caracteriacutesticas naturalmente adversas e limitantes sua ingerecircncia deveria ser

profundamente fiscalizada e regulamentada pelas autoridades competentes em todos os niacuteveis

de governo Mas isso natildeo ocorre pelo contraacuterio em Irauccediluba satildeo exercidas atividades com

meacutetodos bem rudimentares e sem qualquer preocupaccedilatildeo com a recuperaccedilatildeo dos danos e com a

capacidade de suporte do meio Assim acontece a degradaccedilatildeo das aacutereas com a praacutetica do

desmatamento das queimadas do sobrepastoreio e outros tipos de intervenccedilatildeo

ambientalmente prejudiciais Diante desse quadro o homem do campo tende a abandonar

estas e ocupar outras terras estimulando ainda mais o processo de desertificaccedilatildeo ali presente

Outro toacutepico em que se chama atenccedilatildeo no trabalho eacute a quantidade de leis

envolvendo o tema Natildeo faltam regulamentaccedilotildees muito pelo contraacuterio sobram O que se

percebe eacute a existecircncia de leis para vaacuterios assuntos em vez de uma que englobe a maioria

deles Com lei ou sem lei a situaccedilatildeo parece natildeo progredir positivamente em termos de

recuperaccedilatildeo ambiental embora haja uma estrutura poliacutetica econocircmica e juriacutedica dirigida para

tais fins Aleacutem disto existem poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o municiacutepio especificamente e

outras que natildeo mas podem ser implementadas ali Eacute o caso dos benefiacutecios dos inuacutemeros

programas de governo direcionados para a reforma agraacuteria por exemplo Outro caso satildeo os

fundos de combate agrave degradaccedilatildeo e agrave desertificaccedilatildeo Nesta orientaccedilatildeo percebe-se que natildeo

faltam leis poliacuteticas puacuteblicas ou recursos Felizmente existe todo um aparato no sentido de

melhorar as condiccedilotildees ambientais e minimizar danos mas infelizmente na praacutetica essa

estrutura natildeo voga como deveria

Todo esse cenaacuterio estaacute enquadrado na caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo

devidamente abordada no terceiro capiacutetulo Laacute satildeo mencionados os aspectos socioeconocircmicos

do municiacutepio perpassando pelos acontecimentos histoacutericos de sua ocupaccedilatildeo As

caracteriacutesticas fisiograacuteficas de Irauccediluba tambeacutem se fazem presentes de maneira que foram

abordados aspectos pedoloacutegicos climaacuteticos vegetativos e hiacutedricos Aleacutem disto a metodologia

utilizada permitiu as constataccedilotildees discorridas nos resultados e discussotildees inseridas no

capiacutetulo 4 de forma que os objetivos da pesquisa foram alcanccedilados

13

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

11 O Instituto da Reserva Legal

A reserva legal eacute um instituto cuja importacircncia perfaz o esteio do

desenvolvimento sustentaacutevel no sentido de que harmoniza a viabilidade econocircmica com a

justiccedila social e o equiliacutebrio ecoloacutegico Eacute um notaacutevel exemplo de que eacute possiacutevel coexistirem

interesses particulares e coletivos pois a reserva legal nada mais eacute que a conservaccedilatildeo

ambiental de uma determinada porcentagem da propriedade ou posse rural passiacutevel de

intervenccedilatildeo pelo homem do campo

O presente estudo indica a reserva legal como uma forma de conservaccedilatildeo do

meio em face da extraccedilatildeo vegetal promovida pelo proprietaacuterio agriacutecola Foca ainda os

aspectos social econocircmico e ambiental dessa imposiccedilatildeo que tem seu nascedouro na legislaccedilatildeo

vigente Corrobora Silva (2001 p 59) ao afirmar que ldquoa cobertura vegetal nativa sobretudo

as florestais exerce papel de fundamental importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de

ecossistemas naturais bem como de ecossistemas criados pelo homemrdquo No mesmo sentido

Miranda (2008 p 31) diz que ldquoa reserva legal contribui para a mitigaccedilatildeo do aquecimento

global salvaguarda a biodiversidade e garante agraves presentes e futuras geraccedilotildees o direito a um

meio ambiente ecologicamente equilibradordquo

Traz-se agrave tona os aspectos que fundamentam a reserva legal como um instituto

que fora criado por lei especiacutefica para a conservaccedilatildeo do meio pois erroneamente os

proprietaacuterios rurais a veem como limitaccedilatildeo ao direito de propriedade e entendem que destinar

uma porcentagem de seus imoacuteveis para uma aacuterea que natildeo corresponde agrave afericcedilatildeo de lucro eacute

tatildeo somente um ocircnus eou uma perda e natildeo um investimento Nesse sentido explicam

Galdino e Candido (2008 p 251) que ldquoa instituiccedilatildeo da reserva legal natildeo enfraquece ou destroacutei

o direito de propriedade Ao reveacutes possibilita a existecircncia de um meio ambiente

ecologicamente equilibrado condicionando a propriedade a uma funccedilatildeo socioambientalrdquo

Conforme Bacha (2005 p 24) ldquodeve-se pensar em novas formas de estiacutemulo

econocircmico ao produtor para que ele recomponha a reserva legal pois a legislaccedilatildeo atual

apenas lhe coloca custos em contrapartida de benefiacutecios a toda sociedaderdquo Cabe ainda

mencionar a possibilidade prevista no Coacutedigo Florestal ou seja na Lei 4771 (BRASIL

1965) quanto agrave intervenccedilatildeo na aacuterea destinada agrave reserva legal de forma sustentaacutevel sem

suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo

econocircmica dessas aacutereas

Existem estudos justificando biologicamente a existecircncia da reserva legal Eacute sobre

o que discorre Metzger (2002 p 48) quando afirma que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de

propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa satildeo

fundamentais para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada

regiatildeordquo Complementa ainda Silva (2001 p 59) quando afirma sobre ldquoa importacircncia da

cobertura vegetal em reserva legal que permite uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da

aacutegua no solo e no subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos aleacutem de

promover a manutenccedilatildeo da diversidade geneacuteticardquo

Ademais o exerciacutecio de atividades econocircmicas que tem por principal insumo os

recursos naturais modifica sensivelmente a cobertura vegetal e o solo contribuindo para um

processo de degradaccedilatildeo Para tanto o respeito agrave legislaccedilatildeo ambiental vigente como o Coacutedigo

Florestal por exemplo eacute de extrema relevacircncia uma vez que eacute norma conducente agrave

conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo das formas de vegetaccedilatildeo e suas respectivas ingerecircncias Tal lei

prevecirc a reserva legal como espaccedilo especialmente protegido

Balizando tal atividade econocircmica frente agrave observacircncia da reserva legal surge a

proposiccedilatildeo elencada por Bacha (2005 p 24) que ldquopara o produtor rural honrar tal instituto

tendo-o como lucrativo eacute necessaacuterio que sua composiccedilatildeo floriacutestica seja feita em parte com

espeacutecies comerciaisrdquo Eacute o que Miranda (2008 p 45) sob o aspecto socioeconocircmico bem

pontua quando evidencia que esta legislaccedilatildeo carece de aderecircncia social pois natildeo condiz com

a realidade e que enfatiza ainda

Para que haja aderecircncia social ela deveria prever uma reestruturaccedilatildeo completa no

modelo de desenvolvimento Sem isso tanto os pequenos como os grandes

proprietaacuterios natildeo possuiratildeo condiccedilotildees para cumprir a lei e uma vez na ilegalidade

cometem outros crimes ambientais E por entenderem que a lei natildeo eacute factiacutevel natildeo a

cumprem [] Aleacutem disso as linhas de creacutedito inclusive dos bancos oficiais natildeo

financiam atividades sustentaacuteveis mas a pecuaacuteria o plantio de soja entre outras por

acreditarem possuir nelas uma seguranccedila maior para o investimento (MIRANDA

2008 p 45)

111 Conceito

A reserva legal eacute um mecanismo criado para a conservaccedilatildeo dos recursos naturais

cuja origem eacute a lei Sua essecircncia sempre esteve presente em normas de caraacuteter protecionista

que dispunham sobre florestas e demais formas de vegetaccedilatildeo muito embora tenham ocorrido

inuacutemeras alteraccedilotildees ao longo do tempo Eacute o que se pode observar pela evoluccedilatildeo legislativa

que a seguir seraacute apontada

15

A expressatildeo reserva legal pode ser simploriamente entendida como uma aacuterea a ser

conservada por um detentor de imoacutevel rural e que por sua vez varia com a localidade do

bioma em que a aacuterea estaacute inserida A lei que versa sobre esse tema eacute conhecida como Coacutedigo

Florestal e com esse nome existiu em trecircs momentos diferentes da histoacuteria do legislativo

brasileiro O primeiro foi no ano de 1934 o segundo em 1965 e por uacuteltimo em 2012 estando

presente em todos eles uma seacuterie de modificaccedilotildees que levaram ao aperfeiccediloamento do

conteuacutedo e dos objetivos da reserva legal bem como flexibilizaccedilotildees e restriccedilotildees a depender

do momento econocircmico em que o paiacutes vivia eou dos interesses da maioria de parlamentares agrave

eacutepoca

Atualmente a Lei 12651 de 25052012 ou como eacute conhecida por Novo Coacutedigo

Florestal atraveacutes de seu artigo 3ordm inciso III prevecirc o conceito de reserva legal da seguinte

forma

III ndash Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural

delimitada nos termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de

modo sustentaacutevel dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a

reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade

bem como o abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012

p 3) (BRASIL 2012)

Jaacute a previsatildeo elencada nos Coacutedigos anteriores de 1934 e 1965 dispotildee

Coacutedigo Florestal de 1934 - Decreto 23793

Art 23 - Nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas poderaacute abater mais de trecircs

quartas partes da vegetaccedilatildeo existente []

sect 1ordm O dispositivo do artigo natildeo se applica a juizo das autoridades florestaes

competentes agraves pequenas propriedades isoladas que estejam proximas de florestas

ou situadas em zona urbana

sect 2ordm Antes de iniciar a derrubada com a antecedencia minima de 30 dias o

proprietario daraacute sciencia de sua intenccedilatildeo aacute autoridade competente afim de que esta

determine a parte das mattas que seraacute conservada (BRASIL 1935 p 5)

Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771

Art 1ordm sect 2ordm inciso III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma

propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao

uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos

ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora

nativas (BRASIL 1965 p 2)

Percebe-se que na lei de 1934 se quer haacute menccedilatildeo ao termo reserva legal mas se

vecirc claramente a intenccedilatildeo conservacionista do legislador e se ressalte que eacute uma visatildeo bem

mais proacute-ambiente uma vez que proiacutebe o desmatamento acima de frac34 da propriedade

protegendo assim 25 de sua aacuterea Embora o Coacutedigo Florestal de 1934 natildeo preveja

16

explicitamente a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo em determinada aacuterea com o nome de reserva legal o

artigo 23 do diploma citado acima estaacute notoriamente revestido de um caraacuteter conservacionista

e quem natildeo o cumprisse estaria enquadrado no paraacutegrafo 4ordm do artigo 86 do Capitulo V ndash

Infracccedilotildees florestaes

Art 86 As contravenccedilotildees previstas nos arts 9ordm sect 1ordm 21 22 e sect 1ordm 23 e paragrapho

unico 24 a 30 31 a 34 37 43 a 45 49 e paragrapho unico 51 54 e paragrapho

unico 55 e 64 deste codigo quando natildeo se caracterizarem especialmente algumas

figuras delictuosas definidas no art 83 ou no art 87 sujeitas seus autores aacutes penas

seguintes

[]

sect 4ordm pelas das letras g h do art 22 e arts 23 e 44 - detenccedilatildeo ateacute 60 dias e multa ateacute

10000$000 (BRASIL 1935 p 14)

Em contrapartida um pouco mais aperfeiccediloado embora um tanto quanto tarde o

instituto da reserva legal aparece bem definido somente em 2001 quando a Medida Provisoacuteria

nordm 2166-6 (BRASIL 2001) acrescentou ao texto da Lei 4771 (BRASIL 1965) o seu conceito

da forma como eacute mais conhecido ultimamente apesar de natildeo se limitar soacute a esta modificaccedilatildeo

Como tantas outras leis o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) sofreu diversas

alteraccedilotildees ao longo de sua vigecircncia que durou ateacute 25 de maio de 2012 data em que a Lei

12651 (BRASIL 2012) entra em vigor revoga a anterior e estabelece o novo Coacutedigo

Florestal

Como a temaacutetica deste trabalho eacute discorrer sobre a existecircncia da reserva legal a

partir de um levantamento nas propriedades rurais seratildeo tratadas tatildeo somente as

modificaccedilotildees que dizem respeito a este instituto

112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica

O protecionismo florestal como ligeiramente mencionado anteriormente foi

delineado em um preceito normativo datado da deacutecada de 30 quando surgiu o primeiro

diploma legal a prever a conservaccedilatildeo relativa agrave manutenccedilatildeo das matas Eacute atraveacutes do Decreto

ndeg 23793 de 23 de janeiro de 1934 (BRASIL 1935) que a vegetaccedilatildeo recebe amparo e passa a

ser resguardada da supressatildeo indiscriminada Surge entatildeo o primeiro Coacutedigo Florestal

Brasileiro que em seu artigo 23 descreve que nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas

poderaacute abater mais de trecircs quartas partes da vegetaccedilatildeo existente

17

Eacute interessante observar que a delimitaccedilatildeo imposta pela norma corresponde a vinte

e cinco por cento da propriedade ou seja um grande desafio para a sociedade da eacutepoca que

era tradicionalmente agriacutecola e despontava para a industrializaccedilatildeo

Para melhor apreciar as preocupaccedilotildees que justificaram a ediccedilatildeo do Coacutedigo Florestal

de 1934 haacute que se entender a realidade soacutecio-econocircmica e poliacutetica da sociedade

brasileira no iniacutecio do seacuteculo XX A populaccedilatildeo estava concentrada proacuteximo agrave

Capital da Repuacuteblica cidade do Rio de Janeiro Estado da Guanabara A cafeicultura

avanccedilava pelos morros que constituem a topografia do Vale do Paraiacuteba substituindo

toda a vegetaccedilatildeo nativa A criaccedilatildeo de gado outra forma de utilizaccedilatildeo das terras

fazia-se de modo extensivo e com miacutenima teacutecnica Na silvicultura que jaacute se iniciara

tiacutemida nos primeiros anos do seacuteculo XX verificava-se o trabalho valioso e pioneiro

de Edmundo Navarro de Andrade com a introduccedilatildeo de espeacutecies de Eucalyptus mas

restrito agraves atividades da Cia Paulista de Estradas de Ferro no Estado de Satildeo Paulo

No resto do Paiacutes assim como antes no Estado de Satildeo Paulo a atividade florestal era

fundamentada no mais puro extrativismo Nos Estados do Paranaacute e Santa Catarina

os estoques de Araucaria angustifolia eram rapidamente exauridos Foi nesse cenaacuterio

que o Poder Puacuteblico decidiu interceder estabelecendo limites ao que parecia ser um

saque ou pilhagem dos recursos florestais (muito embora ateacute entatildeo tais praacuteticas

fossem liacutecitas) A mencionada ldquointervenccedilatildeordquo necessaacuteria materializou-se por meio

da ediccedilatildeo de um (primeiro) Coacutedigo Florestal o de 1934 (AHRENS 2001 p 6)

Diferentemente do Decreto de 1934 (BRASIL 1935) ao ser publicada em 15 de

setembro a Lei 4771 (BRASIL 1965) ou seja o Coacutedigo Florestal de 1965 trouxe em seu

artigo 16 a ideia do que seria a reserva legal Criou-se entatildeo um limite miacutenimo a ser

respeitado dentro de cada propriedade muito embora soacute mencione uma porcentagem definida

para aacutereas localizadas no Leste Sul e Centro-Oeste do paiacutes deixando de fora as demais

regiotildees

Art 16 As florestas de domiacutenio privado natildeo sujeitas ao regime de utilizaccedilatildeo

limitada e ressalvadas as de preservaccedilatildeo permanente previstas nos artigos 2deg e 3deg

desta lei satildeo suscetiacuteveis de exploraccedilatildeo obedecidas as seguintes restriccedilotildees

a) nas regiotildees Leste Meridional Sul e Centro-Oeste esta na parte sul as derrubadas

de florestas nativas primitivas ou regeneradas soacute seratildeo permitidas desde que seja

em qualquer caso respeitado o limite miacutenimo de 20 da aacuterea de cada

propriedade com cobertura arboacuterea localizada a criteacuterio da autoridade competente

b) nas regiotildees citadas na letra anterior nas aacutereas jaacute desbravadas e previamente

delimitadas pela autoridade competente ficam proibidas as derrubadas de florestas

primitivas quando feitas para ocupaccedilatildeo do solo com cultura e pastagens

permitindo-se nesses casos apenas a extraccedilatildeo de aacutervores para produccedilatildeo de madeira

Nas aacutereas ainda incultas sujeitas a formas de desbravamento as derrubadas de

florestas primitivas nos trabalhos de instalaccedilatildeo de novas propriedades agriacutecolas soacute

seratildeo toleradas ateacute o maacuteximo de 30 da aacuterea da propriedade

c) na regiatildeo Sul as aacutereas atualmente revestidas de formaccedilotildees florestais em que

ocorre o pinheiro brasileiro Araucaria angustifolia (Bert - O Ktze) natildeo poderatildeo

ser desflorestadas de forma a provocar a eliminaccedilatildeo permanente das florestas

tolerando-se somente a exploraccedilatildeo racional destas observadas as prescriccedilotildees

ditadas pela teacutecnica com a garantia de permanecircncia dos maciccedilos em boas condiccedilotildees

de desenvolvimento e produccedilatildeo

18

d) nas regiotildees Nordeste e Leste Setentrional inclusive nos Estados do Maranhatildeo e

Piauiacute o corte de aacutervores e a exploraccedilatildeo de florestas soacute seraacute permitida com

observacircncia de normas teacutecnicas a serem estabelecidas por ato do Poder Puacuteblico na

forma do art 15 sect 1ordm Nas propriedades rurais compreendidas na aliacutenea a deste artigo com aacuterea entre

vinte (20) a cinquumlenta (50) hectares computar-se-atildeo para efeito de fixaccedilatildeo do limite

percentual aleacutem da cobertura florestal de qualquer natureza os maciccedilos de porte

arboacutereo sejam frutiacutecolas ornamentais ou industriais (BRASIL 1965 p 6-7)

Honestamente natildeo se sabe o motivo pelo qual o legislador neste momento inicial

da lei natildeo se deteve agraves minuacutecias quanto agraves regiotildees Nordeste Oeste e Sudeste como o fez para

as outras ou porque sequer definiu percentuais de vegetaccedilatildeo a ser preservadas nelas Aleacutem

disto simplesmente deixar a cargo de ato do Poder Puacuteblico a exploraccedilatildeo de florestas e o corte

de aacutervores no Nordeste eacute no miacutenimo curioso principalmente porque nessa regiatildeo encontra-se

o bioma Caatinga que eacute iacutempar e inexiste em qualquer outra parte do mundo Corrobora com

isto o Monitoramento do Desmatamento nos Biomas Brasileiros por Sateacutelite MMA e IBAMA

ao expor que mesmo sendo a uacutenica grande regiatildeo natural brasileira cujos limites estatildeo

inteiramente restritos ao territoacuterio nacional pouca atenccedilatildeo tem sido dada agrave conservaccedilatildeo da

heterogecircnea paisagem da Caatinga (BRASIL 2010)

Aleacutem disto as colocaccedilotildees do artigo 44 surpreendem quando especializam o tipo

de corte permitido e enquadram 50 da propriedade como reserva legal para o Norte do paiacutes

e o norte da regiatildeo Centro-Oeste como se pode observar

Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste enquanto natildeo for

estabelecido o decreto de que trata o artigo 15 a exploraccedilatildeo a corte razo soacute eacute

permissiacutevel desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea pelo menos 50 da aacuterea

de cada propriedade (BRASIL 1965 p 15)

Em 1989 surge a Lei 7803 (BRASIL 1989b) que acrescenta os paraacutegrafos 2ordm e

3ordm ao artigo 16 inaugurando a expressatildeo reserva legal e ratificando o percentual miacutenimo do

que deveria ser conservado a tiacutetulo de reserva legal Ao artigo 44 foi acrescentado o

paraacutegrafo uacutenico onde os 50 da propriedade anteriormente indicados para permanecer com a

cobertura vegetal agora passam a ser reconhecidos como reserva legal Em ambos os

dispositivos estaacute presente o procedimento formal a ser adotado com fins de resguardar a

aplicaccedilatildeo daquele instituto e seus efeitos isto eacute a averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio

Art 16 []

sect 2ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) de

cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso deveraacute ser averbada agrave margem

19

da inscriccedilatildeo de matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo

vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou

de desmembramento da aacuterea

sect 3ordm Aplica-se agraves aacutereas de cerrado a reserva legal de 20 (vinte por cento) para

todos os efeitos legais (BRASIL 1989b p 1)

Art 44 [] Paraacutegrafo uacutenico A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 50

(cinquumlenta por cento) de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso

deveraacute ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de

imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de

transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de desmembramento da aacuterea (BRASIL 1989b p

2)

Nota-se que os dispositivos trazem novidades como a vedaccedilatildeo a um tipo de corte

o meacutetodo garantidor para a implantaccedilatildeo da reserva legal e a proibiccedilatildeo de mudanccedila na aacuterea

destinada a receber o benefiacutecio Ademais o bioma cerrado eacute especialmente citado afirmando

assim a instituiccedilatildeo da reserva legal nele e seu respectivo percentual

Vale destacar ainda a entidade puacuteblica que recebeu por forccedila legal a

incumbecircncia de promover os atos formais e documentais para a implantaccedilatildeo da reserva legal

Trata-se do registro ou cartoacuterio de imoacuteveis que por sua vez reuacutene em seus livros oficiais

todas as informaccedilotildees sobre as propriedades imobiliaacuterias de sua circunscriccedilatildeo ou regiatildeo

geograacutefica Enfim o registro de imoacuteveis eacute o oacutergatildeo constitutivo da propriedade e o que guarda

este direito aleacutem de vigiar se a funccedilatildeo social e ambiental do imoacutevel estaacute sendo cumprida

Por conseguinte houve a ediccedilatildeo da Medida Provisoacuteria1 1511 em 25 de julho de

1996 (BRASIL 1996) com o objetivo de dar nova redaccedilatildeo ao artigo 44 do Coacutedigo Florestal

ou seja amplia o percentual da reserva legal de 50 para 80 em casos especiacuteficos e esmiuacuteccedila o

Norte do Brasil e o norte da regiatildeo Centro-Oeste

Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste a exploraccedilatildeo a

corte raso soacute eacute permitida desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea de no

miacutenimo cinquumlenta por cento de cada propriedade

sect 1ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo cinquumlenta por cento

de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso seraacute averbada agrave margem da

inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a

alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de

desmembramento da aacuterea

1 Medidas Provisoacuterias satildeo instrumentos juriacutedico-poliacuteticos traduzidos na forma de atos normativos com forccedila de

lei praticados pelo Chefe do Executivo Federal em situaccedilotildees de urgecircncia e relevacircncia e que devem ser

submetidas de imediato agrave deliberaccedilatildeo do Congresso Nacional (FILHO 2005) A Constituiccedilatildeo Federal em seu

Art 62 prevecirc que em caso de relevacircncia e urgecircncia o Presidente da Repuacuteblica poderaacute adotar medidas

provisoacuterias com forccedila de lei devendo submetecirc-las de imediato ao Congresso Nacional

20

sect 2ordm Nas propriedades onde a cobertura arboacuterea se constitui de fitofisionomias

florestais natildeo seraacute admitido o corte raso em pelo menos oitenta por cento dessas

tipologias florestais

sect 3ordm Para efeito do disposto no caput entende-se por regiatildeo Norte e parte Norte da

regiatildeo Centro-Oeste os Estados do Acre Paraacute Amazonas Roraima Rondocircnia

Amapaacute e Mato Grosso aleacutem das regiotildees situadas ao norte do paralelo 13degS nos

Estados de Tocantins e Goiaacutes e a oeste do meridiano de 44degW no Estado do

Maranhatildeo (BRASIL 1996 p 1)

Fazendo uma retrospectiva ldquoesse ato do Poder Executivo pretendeu conter o

desmatamento na Amazocircnia num momento em que era divulgado o aumento da taxa meacutedia

anual de desflorestamento no biecircnio 1993-1994rdquo (MIRANDA 2008 p 38) Entretanto essa

natildeo foi a uacutenica iniciativa do chefe do executivo para alterar os percentuais citados acima

Inclusive eacute perturbador o levantamento do nuacutemero de medidas provisoacuterias com o fim de

modificar o Coacutedigo Florestal em especial os criteacuterios e aspectos que envolvem a reserva

legal que ora satildeo mais flexibilizados ora mais restritivos Eacute o que se pode observar pela

leitura da Tabela 1 onde se verifica a existecircncia de 68 propostas de mudanccedila em um espaccedilo de

tempo pouco maior que 5 anos

Tabela 1 Medidas Provisoacuterias (MP)Ano

MEDIDAS PROVISOacuteRIAS (MP) Nordm DE MPPERIacuteODO PERIacuteODOS

Nordm 1511 a 1511-17 18 1ordm) 25071996 a 20111997

Nordm 1605-18 a 1605-30 13 2ordm) 11121997 a 19111998

Nordm 1736-31 a 1736-37 7 3ordm) 14121998 a 02061999

Nordm 1885-38 a 1885-43 6 4ordm) 29061999 a 02111999

Nordm 1956-44 a 1956-57 14 5ordm) 09121999 a 14122000

Nordm 2080-58 a 2080-64 7 6ordm) 27122000 a 13062001

Nordm 2166-65 a 2166-67 3 7ordm) 28062001 a 24082001

A uacuteltima Medida Provisoacuteria a promover consideraacuteveis alteraccedilotildees que dizem

respeito agrave reserva legal foi a de nordm 2166-67 de 24 de agosto de 2001 (BRASIL 2001) Ela

acrescentou o inciso III ao paraacutegrafo 2ordm do artigo 1ordm do Coacutedigo Florestal estabelecendo o

conceito de reserva legal ateacute entatildeo natildeo definido no texto da lei muito embora sua acepccedilatildeo jaacute

existisse

21

Art 1ordm []

sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por

[]

III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural

excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos

recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave

conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas

(BRASIL 2001 p 1)

Vale destacar que a reserva legal soacute deveraacute existir em propriedade ou posse rural

natildeo sendo obrigatoacuteria na aacuterea urbana aleacutem do que natildeo eacute soacute o proprietaacuterio ou seja aquele que

deteacutem o domiacutenio do imoacutevel eacute quem deve implantaacute-la mas o possuidor tambeacutem estaacute sujeito a

tal imposiccedilatildeo legal Isso acontece porque o instituto estaacute vinculado ao imoacutevel e natildeo ao dono

ou quem faz as suas vezes por isso eacute considerada uma obrigaccedilatildeo propter rem isto eacute proacutepria

da coisa

Aleacutem da inclusatildeo do conceito de reserva legal ao Coacutedigo Florestal (BRASIL

1965) ocorreu a fixaccedilatildeo de outros percentuais bem como a adiccedilatildeo de mais oito paraacutegrafos

que delinearam aspectos outrora natildeo mencionados Eacute o que se lecirc pela nova redaccedilatildeo do artigo

16

Art 16 As florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo nativa ressalvadas as situadas em

aacuterea de preservaccedilatildeo permanente assim como aquelas natildeo sujeitas ao regime de

utilizaccedilatildeo limitada ou objeto de legislaccedilatildeo especiacutefica satildeo suscetiacuteveis de supressatildeo

desde que sejam mantidas a tiacutetulo de reserva legal no miacutenimo

I - oitenta por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta localizada na

Amazocircnia Legal

II - trinta e cinco por cento na propriedade rural situada em aacuterea de cerrado

localizada na Amazocircnia Legal sendo no miacutenimo vinte por cento na propriedade e

quinze por cento na forma de compensaccedilatildeo em outra aacuterea desde que esteja

localizada na mesma microbacia e seja averbada nos termos do sect 7ordm deste artigo

III - vinte por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta ou outras

formas de vegetaccedilatildeo nativa localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e

IV - vinte por cento na propriedade rural em aacuterea de campos gerais localizada em

qualquer regiatildeo do Paiacutes

sect 1o O percentual de reserva legal na propriedade situada em aacuterea de floresta e

cerrado seraacute definido considerando separadamente os iacutendices contidos nos incisos I

e II deste artigo

sect 2ordm A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser

utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel de acordo com princiacutepios e

criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos estabelecidos no regulamento ressalvadas as

hipoacuteteses previstas no sect 3o deste artigo sem prejuiacutezo das demais legislaccedilotildees

especiacuteficas

sect 3ordm Para cumprimento da manutenccedilatildeo ou compensaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal em

pequena propriedade ou posse rural familiar podem ser computados os plantios de

aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais compostos por espeacutecies exoacuteticas

cultivadas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas

sect 4ordm A localizaccedilatildeo da reserva legal deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental estadual

competente ou mediante convecircnio pelo oacutergatildeo ambiental municipal ou outra

instituiccedilatildeo devidamente habilitada devendo ser considerados no processo de

aprovaccedilatildeo a funccedilatildeo social da propriedade e os seguintes criteacuterios e instrumentos

quando houver

22

I - o plano de bacia hidrograacutefica

II - o plano diretor municipal

III - o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico

IV - outras categorias de zoneamento ambiental e

V - a proximidade com outra Reserva Legal Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente

unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida

sect 5ordm O Poder Executivo se for indicado pelo Zoneamento Ecoloacutegico Econocircmico -

ZEE e pelo Zoneamento Agriacutecola ouvidos o CONAMA o Ministeacuterio do Meio

Ambiente e o Ministeacuterio da Agricultura e do Abastecimento poderaacute

I - reduzir para fins de recomposiccedilatildeo a reserva legal na Amazocircnia Legal para ateacute

cinquumlenta por cento da propriedade excluiacutedas em qualquer caso as Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente os ecoacutetonos os siacutetios e ecossistemas especialmente

protegidos os locais de expressiva biodiversidade e os corredores ecoloacutegicos e

II - ampliar as aacutereas de reserva legal em ateacute cinquumlenta por cento dos iacutendices

previstos neste Coacutedigo em todo o territoacuterio nacional

sect 6ordm Seraacute admitido pelo oacutergatildeo ambiental competente o cocircmputo das aacutereas relativas

agrave vegetaccedilatildeo nativa existente em aacuterea de preservaccedilatildeo permanente no caacutelculo do

percentual de reserva legal desde que natildeo implique em conversatildeo de novas aacutereas

para o uso alternativo do solo e quando a soma da vegetaccedilatildeo nativa em aacuterea de

preservaccedilatildeo permanente e reserva legal exceder a

I - oitenta por cento da propriedade rural localizada na Amazocircnia Legal

II - cinquumlenta por cento da propriedade rural localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e

III - vinte e cinco por cento da pequena propriedade definida pelas aliacuteneas b e c

do inciso I do sect 2ordm do art 1ordm

sect 7o O regime de uso da aacuterea de preservaccedilatildeo permanente natildeo se altera na hipoacutetese

prevista no sect 6o

sect 8ordm A aacuterea de reserva legal deve ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo de matriacutecula

do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua

destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou de

retificaccedilatildeo da aacuterea com as exceccedilotildees previstas neste Coacutedigo

sect 9ordm A averbaccedilatildeo da reserva legal da pequena propriedade ou posse rural familiar eacute

gratuita devendo o Poder Puacuteblico prestar apoio teacutecnico e juriacutedico quando

necessaacuterio

sect 10 Na posse a reserva legal eacute assegurada por Termo de Ajustamento de Conduta

firmado pelo possuidor com o oacutergatildeo ambiental estadual ou federal competente com

forccedila de tiacutetulo executivo e contendo no miacutenimo a localizaccedilatildeo da reserva legal as

suas caracteriacutesticas ecoloacutegicas baacutesicas e a proibiccedilatildeo de supressatildeo de sua vegetaccedilatildeo

aplicando-se no que couber as mesmas disposiccedilotildees previstas neste Coacutedigo para a

propriedade rural

sect 11 Poderaacute ser instituiacuteda reserva legal em regime de condomiacutenio entre mais de

uma propriedade respeitado o percentual legal em relaccedilatildeo a cada imoacutevel mediante a

aprovaccedilatildeo do oacutergatildeo ambiental estadual competente e as devidas averbaccedilotildees

referentes a todos os imoacuteveis envolvidos (BRASIL 2001 p 34)

Caso seja traccedilado um paralelo entre o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)

com as alteraccedilotildees aplicadas e agrave uacuteltima Medida Provisoacuteria percebe-se que o primeiro texto em

seu artigo 16 soacute mencionava as florestas particulares enquanto que em 2001 o reformulado

pela Medida Provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) generaliza a possibilidade de supressatildeo

vegetal para florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo incluindo-as no texto da lei Isto significa

que as florestas puacuteblicas embora sejam de domiacutenio coletivo tambeacutem devem respeitar a

reserva legal de acordo com o estabelecido

E ainda de 1989 ateacute 2001 o percentual para reserva legal era de 20 da

propriedade rural para todas as regiotildees com exceccedilatildeo dos imoacuteveis no norte do paiacutes e no norte

23

do centro-oeste onde deveriam ser protegidos 50 da cobertura arboacuterea Poreacutem com o

advento da Medida provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) aumentou-se essa porcentagem para

80 na Amazocircnia Legal2 para 35 no bioma cerrado localizado na Amazocircnia Legal e a

permanecircncia dos 20 para as demais regiotildees do Brasil

Enfim eacute possiacutevel concluir claramente que tal Medida Provisoacuteria ao modificar o

artigo 16 definiu o conceito de reserva legal foi mais especiacutefica quanto aos seus percentuais

alargou os tipos de florestas suscetiacuteveis ao desmatamento estabeleceu que a vegetaccedilatildeo da

reserva legal soacute poderia ser utilizada atraveacutes de um manejo florestal sustentaacutevel (sect2ordm)

determinou que sua localizaccedilatildeo deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental competente

obedecendo os 5 criteacuterios ambientais estabelecidos (sect4ordm) permitiu a sobreposiccedilatildeo de aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente agrave de reserva legal em alguns casos (sect6ordm) reafirmou o procedimento

documental garantidor do instituto (sect8ordm) criou a possibilidade de constituir a reserva legal

em condomiacutenio (sect11ordm) dentre outros

Encerrando as mudanccedilas trazidas pela Medida Provisoacuteria 2166-672001

(BRASIL 2001) tem-se o artigo 44 que foi completamente reformulado em conteuacutedo em

nuacutemero de incisos e paraacutegrafos O teor deste dispositivo agora versa sobre a recomposiccedilatildeo a

regeneraccedilatildeo e a compensaccedilatildeo da reserva legal Tais accedilotildees devem estar em consonacircncia com o

disposto no artigo 16

Art 44 O proprietaacuterio ou possuidor de imoacutevel rural com aacuterea de floresta nativa

natural primitiva ou regenerada ou outra forma de vegetaccedilatildeo nativa em extensatildeo

inferior ao estabelecido nos incisos I II III e IV do art 16 ressalvado o disposto

nos seus sectsect 5o e 6o deve adotar as seguintes alternativas isoladas ou

conjuntamente

I - recompor a reserva legal de sua propriedade mediante o plantio a cada trecircs anos

de no miacutenimo 110 da aacuterea total necessaacuteria agrave sua complementaccedilatildeo com espeacutecies

nativas de acordo com criteacuterios estabelecidos pelo oacutergatildeo ambiental estadual

competente

II - conduzir a regeneraccedilatildeo natural da reserva legal e

III - compensar a reserva legal por outra aacuterea equivalente em importacircncia ecoloacutegica

e extensatildeo desde que pertenccedila ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma

microbacia conforme criteacuterios estabelecidos em regulamento

sect 1o Na recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I o oacutergatildeo ambiental estadual

competente deve apoiar tecnicamente a pequena propriedade ou posse rural familiar

sect 2o A recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I pode ser realizada mediante o plantio

temporaacuterio de espeacutecies exoacuteticas como pioneiras visando a restauraccedilatildeo do

ecossistema original de acordo com criteacuterios teacutecnicos gerais estabelecidos pelo

CONAMA

2 Amazocircnia Legal - eacute uma aacuterea que engloba a totalidade de oito estados o Acre o Amapaacute o Amazonas o Mato

Grosso o Paraacute Rondocircnia Roraima e Tocantins e parte do Estado do Maranhatildeo (a oeste do meridiano de 44ordmW)

O conceito da Amazocircnia Legal foi criado pela lei 1806 de 06 de janeiro de 1953 (BRASIL 2011) Disponiacutevel

em lthttpwwwipeagovbrdesafiosindexphpoption=com_contentampid=2154catid=28ampItemid=23gt

24

sect 3o A regeneraccedilatildeo de que trata o inciso II seraacute autorizada pelo oacutergatildeo ambiental

estadual competente quando sua viabilidade for comprovada por laudo teacutecnico

podendo ser exigido o isolamento da aacuterea

sect 4o Na impossibilidade de compensaccedilatildeo da reserva legal dentro da mesma micro-

bacia hidrograacutefica deve o oacutergatildeo ambiental estadual competente aplicar o criteacuterio de

maior proximidade possiacutevel entre a propriedade desprovida de reserva legal e a aacuterea

escolhida para compensaccedilatildeo desde que na mesma bacia hidrograacutefica e no mesmo

Estado atendido quando houver o respectivo Plano de Bacia Hidrograacutefica e

respeitadas as demais condicionantes estabelecidas no inciso III

sect 5o A compensaccedilatildeo de que trata o inciso III deste artigo deveraacute ser submetida agrave

aprovaccedilatildeo pelo oacutergatildeo ambiental estadual competente e pode ser implementada

mediante o arrendamento de aacuterea sob regime de servidatildeo florestal ou reserva legal

ou aquisiccedilatildeo de cotas de que trata o art 44-B

sect 6o O proprietaacuterio rural poderaacute ser desonerado pelo periacuteodo de trinta anos das

obrigaccedilotildees previstas neste artigo mediante a doaccedilatildeo ao oacutergatildeo ambiental

competente de aacuterea localizada no interior de Parque Nacional ou Estadual Floresta

Nacional Reserva Extrativista Reserva Bioloacutegica ou Estaccedilatildeo Ecoloacutegica pendente de

regularizaccedilatildeo fundiaacuteria respeitados os criteacuterios previstos no inciso III deste

artigo (NR) (BRASIL 2001 p 45)

Quanto agrave sanccedilatildeo curiosamente neste Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965) natildeo haacute

nenhuma previsatildeo com relaccedilatildeo ao descumprimento da reserva legal diferentemente do

diploma de 1934 (BRASIL 1935) como se pocircde ler anteriormente Nesse sentido existir

uma lei sem a ela estar vinculada uma sanccedilatildeo quando descumprida eacute o mesmo que um fogo

que natildeo queima uma luz que natildeo alumia (MONTEIRO 1992)

Assim finaliza-se a anaacutelise do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) e se

inicia a apreciaccedilatildeo do Novo Coacutedigo Florestal isto eacute a Lei 12651 de 25 de maio de 2012

(BRASIL 2012) que jaacute possui algumas modificaccedilotildees mesmo sendo uma norma bastante

recente Trata-se de uma lei que em seu artigo 1ordm de pronto menciona o instituto da reserva

legal elevando-a a um patamar antes natildeo reconhecido quanto agrave especialidade que lhe eacute

inerente

Art 1ordm-A Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente e as aacutereas de Reserva Legal a exploraccedilatildeo florestal o

suprimento de mateacuteria-prima florestal o controle da origem dos produtos florestais e

o controle e prevenccedilatildeo dos incecircndios florestais e prevecirc instrumentos econocircmicos e

financeiros para o alcance de seus objetivos (BRASIL 2012 p 1)

Quanto a sua definiccedilatildeo embora citada anteriormente vecirc-se a necessidade de se

enfatizar as diferenccedilas entre o novo dispositivo e o anterior ora revogado ateacute porque o

recente eacute bem mais minucioso e atual em se tratando de tendecircncias e realidades do presente

Art 3ordm []

25

III - Aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural delimitada nos

termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de modo sustentaacutevel

dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a reabilitaccedilatildeo dos

processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade bem como o

abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012 p 3)

Art 1ordm []

sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por

[]

III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural

excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos

recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave

conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas

(BRASIL 1965 p 1)

Pela leitura observa-se que a aacuterea de reserva legal desde o iniacutecio estaacute restrita ao

imoacutevel rural excluindo assim o urbano Seu objetivo tambeacutem sempre foi o mesmo

sustentabilidade Isto eacute visto quando se examina o texto do Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965)

ao citar as expressotildees conservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo biodiversidade e proteccedilatildeo colocando nesse

iacutenterim recursos naturais processos ecoloacutegicos fauna e flora nativas O foco da reserva legal

eacute claro quanto agrave conservaccedilatildeo de uma forma sistecircmica pois inclui aspectos de solo vegetaccedilatildeo

vida animal e seus respectivos ciclos Eacute o que coloca SOUZA (2002 p 2829 apud Miranda

2008 p 53)

[] justifica a existecircncia de um mecanismo juriacutedico que garanta ao homem a

manutenccedilatildeo da biodiversidade para o seu proacuteprio bem Deste ponto de vista no

Brasil a Reserva Legal ainda eacute o mecanismo existente se natildeo o uacutenico que garante

essa manutenccedilatildeo tamanha a dependecircncia dos seres humanos de energia advinda de

plantas e animais

Jaacute a lei de 2012 (BRASIL 2012) inova ao incluir e modificar algumas acepccedilotildees

O uso econocircmico eacute uma delas Antes era mencionado somente um uso sustentaacutevel dos

recursos naturais mas agora eacute um uso com base na teoria de produccedilatildeo e consumo sob o vieacutes

da sustentabilidade Aleacutem disto a nova redaccedilatildeo faz uma pequena diferenciaccedilatildeo quanto ao

auxiacutelio que a reserva legal daacute agrave conservaccedilatildeo e agrave reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos

enquanto que a anterior ditava que o tal instituto era necessaacuterio para alcanccedilar os citados

objetivos Inclui tambeacutem a promoccedilatildeo que a reserva legal faz agrave biodiversidade e por fim a

uacuteltima norma agrega a proteccedilatildeo agrave fauna silvestre3 o que outrora era soacute agrave nativa

3 ldquoEacute preciso que a fauna tenha a sua vida ou parte dela ocorrendo naturalmente dentro dos limites do territoacuterio

brasileiro e suas aacuteguas jurisdicionaisrdquo (AMADO 2012 p329) silvestre ndash satildeo animais pertencentes agraves espeacutecies

nativas migratoacuterias e quaisquer outras aquaacuteticas ou terrestres

26

Percebe-se que com o passar dos anos as leis que versam sobre florestas estatildeo

cada vez mais aperfeiccediloadas com particularidades e especificidades como se pode concluir

pela leitura da evoluccedilatildeo histoacuterica dessas normas e suas modificaccedilotildees Visualiza-se melhor

tambeacutem ao se comparar os objetivos da reserva legal nas figuras 1 e 2

Figura 1 - Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771 (BRASIL 1965)

Figura 2 - Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 - Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)

RESERVA

LEGAL

ASSEGURA AUXILIA PROMOVE

27

E em se tratando das penalidades quem natildeo respeitar a reserva legal estaraacute

enquadrado no Decreto Federal 6514 de 22 de julho de 2008 (BRASIL 2008) que dispotildee

sobre as infraccedilotildees e sanccedilotildees administrativas ao meio ambiente e prevecirc aplicaccedilatildeo de multas

como descrito nos artigos abaixo

Art 48 Impedir ou dificultar a regeneraccedilatildeo natural de florestas ou demais formas

de vegetaccedilatildeo nativa em unidades de conservaccedilatildeo ou outras aacutereas especialmente

protegidas quando couber aacuterea de preservaccedilatildeo permanente reserva legal ou

demais locais cuja regeneraccedilatildeo tenha sido indicada pela autoridade ambiental

competente

Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo

[]

Art 51 Destruir desmatar danificar ou explorar floresta ou qualquer tipo de

vegetaccedilatildeo nativa ou de espeacutecies nativas plantadas em aacuterea de reserva legal ou

servidatildeo florestal de domiacutenio puacuteblico ou privado sem autorizaccedilatildeo preacutevia do oacutergatildeo

ambiental competente ou em desacordo com a concedida

Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo

[]

Art 55 Deixar de averbar a reserva legal Multa de R$ 50000 (quinhentos reais) a R$ 10000000 (cem mil reais) (BRASIL

2008 p 12)

Ao ler o dispositivo da lei eacute possiacutevel averiguar que tanto accedilotildees como omissotildees

possiacuteveis de cometimento quanto agrave reserva legal estatildeo previstas naquele Decreto (BRASIL

2008) o que daacute poder agraves autoridades constituiacutedas de exercerem seu papel fiscalizatoacuterio e

sancionatoacuterio em desfavor daquele que descumprir tal obrigaccedilatildeo

Nesse novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012) a reserva legal estaacute muito mais

discorrida e consequentemente resguardada A lei trouxe um capiacutetulo especiacutefico com duas

seccedilotildees organizadas dispondo sobre a delimitaccedilatildeo e o regime de proteccedilatildeo do instituto aleacutem de

outra seccedilatildeo que prevecirc a transformaccedilatildeo das reservas legais em aacutereas verdes nas expansotildees

urbanas

Para comeccedilar a analisar as novidades trazidas pelo Coacutedigo Florestal (BRASIL

2012) vale mencionar a mais importante quanto ao controle e fiscalizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da

reserva legal que se daraacute pelo Cadastro Ambiental Rural ndash CAR Eacute um registro puacuteblico

eletrocircnico de acircmbito nacional obrigatoacuterio para todos os imoacuteveis rurais com a finalidade de

integrar as informaccedilotildees ambientais das propriedades e posses rurais compondo base de dados

para controle monitoramento planejamento ambiental e econocircmico e combate ao

desmatamento conforme artigo 29 daquele diploma legal Para se cadastrar no CAR o

proprietaacuterio ou possuidor rural deveraacute identificar-se comprovar a propriedade ou posse e

identificar o imoacutevel atraveacutes de planta georreferenciada e memorial descritivo informando os

28

remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente dentre outras

segundo o inciso III do paraacutegrafo primeiro do mesmo dispositivo acima

Com a criaccedilatildeo desse sistema a supressatildeo de novas aacutereas de floresta ou outras

formas de vegetaccedilatildeo nativa soacute poderaacute ser autorizada apoacutes a inserccedilatildeo do imoacutevel onde ocorreraacute

o desmatamento no Cadastro Ambiental Rural A exceccedilatildeo a essa regra eacute o imoacutevel que jaacute

possua a reserva legal averbada na sua matriacutecula com a respectiva identificaccedilatildeo e localizaccedilatildeo

Isso dispensa a inclusatildeo no CAR Eacute o que rezam o paraacutegrafo terceiro do artigo 12 e o artigo

30 do Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)

A nova lei prevecirc que a inscriccedilatildeo no CAR eacute obrigatoacuteria para todas as propriedades

e posses rurais e deve ser requerida no prazo de um ano a partir da sua implantaccedilatildeo (sect3ordm do

artigo 29) No caso do Cearaacute o Cadastro Ambiental Rural ainda natildeo foi estabelecido embora

a lei jaacute tenha completado um ano Aleacutem disto agravequele que protocolar toda documentaccedilatildeo para

anaacutelise da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal no oacutergatildeo ambiental competente natildeo poderaacute ser

imputada sanccedilatildeo administrativa nem restriccedilatildeo a direitos por qualquer oacutergatildeo ambiental

competente (sect2ordm do artigo 14) desde que a sanccedilatildeo diga respeito a natildeo formalizaccedilatildeo da aacuterea de

reserva legal

Outra novidade eacute a dispensa de reserva legal em alguns casos como nos

empreendimentos de abastecimento puacuteblico de aacutegua e tratamento de esgoto nas aacutereas

adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessatildeo permissatildeo ou autorizaccedilatildeo para

exploraccedilatildeo de potencial de energia hidraacuteulica nas quais funcionem empreendimentos de

geraccedilatildeo de energia eleacutetrica subestaccedilotildees ou seja instaladas linhas de transmissatildeo e de

distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica e nas aacutereas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de

implantaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo de capacidade de rodovias e ferrovias (sect6 ordm sect7 ordm e sect8ordm do artigo 12)

Ao passo que na Lei 477165 (BRASIL 1965) o uacutenico caso dispensaacutevel de cumprir a reserva

legal era a doaccedilatildeo pelo proprietaacuterio rural de aacuterea localizada no interior de unidade de

conservaccedilatildeo de domiacutenio puacuteblico pendente de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria ao oacutergatildeo ambiental

competente (sect6ordm do art 44)

Quanto aos percentuais de reserva legal sobre a propriedade ou posse rural nada

mudou ou seja permaneceram os mesmos embora organizados de forma diferente conforme

se segue

Art 12 Todo imoacutevel rural deve manter aacuterea com cobertura de vegetaccedilatildeo nativa a

tiacutetulo de Reserva Legal sem prejuiacutezo da aplicaccedilatildeo das normas sobre as Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente observados os seguintes percentuais miacutenimos em relaccedilatildeo agrave

aacuterea do imoacutevel excetuados os casos previstos no art 68 desta Lei

I - localizado na Amazocircnia Legal

29

a) 80 (oitenta por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de florestas

b) 35 (trinta e cinco por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de cerrado

c) 20 (vinte por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de campos gerais

II - localizado nas demais regiotildees do Paiacutes 20 (vinte por cento) (BRASIL 2012 p

15)

Acerca da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal alguns criteacuterios a serem

observados permaneceram inalterados tais como o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento

ecoloacutegico-econocircmico4 e a proximidade com outra reserva legal aacuterea de preservaccedilatildeo

permanente unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida Por outro lado

foram acrescentados dois aspectos a serem considerados tambeacutem satildeo eles as aacutereas de maior

importacircncia para a conservaccedilatildeo da biodiversidade e as aacutereas de maior fragilidade ambiental

(Incisos IV e V do artigo 14)

Por fim haacute que se falar que a nova lei permitiu a sobreposiccedilatildeo das aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente agrave aacuterea de reserva legal ou seja ao se calcular o percentual desta

poderatildeo ser computadas as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente existentes no imoacutevel rural desde

que atenda alguns requisitos Eacute o que prescreve o artigo 15

Art 15 Seraacute admitido o cocircmputo das Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente no caacutelculo

do percentual da Reserva Legal do imoacutevel desde que

I - o benefiacutecio previsto neste artigo natildeo implique a conversatildeo de novas aacutereas para o

uso alternativo do solo

II - a aacuterea a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperaccedilatildeo

conforme comprovaccedilatildeo do proprietaacuterio ao oacutergatildeo estadual integrante do Sisnama e

III - o proprietaacuterio ou possuidor tenha requerido inclusatildeo do imoacutevel no Cadastro

Ambiental Rural - CAR nos termos desta Lei BRASIL 2012 p 1617)

Basicamente essas foram as inovaccedilotildees mais pertinentes agrave reserva legal trazidas

pelo Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)

113 Importacircncia da reserva legal

Vaacuterios aspectos perfazem o instituto da reserva legal Satildeo fundamentos de

cunho teacutecnico e cientiacutefico que revelam sua importacircncia atraveacutes da abordagem juriacutedica social

ambiental e econocircmica A reserva legal natildeo foi simplesmente uma imposiccedilatildeo prevista em lei

4 Zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ndash eacute um zoneamento ambiental Esse instrumento estaacute previsto na Poliacutetica

Nacional do Meio Ambiente que foi instituiacuteda pela Lei 693881 Trata-se de uma modalidade de intervenccedilatildeo

estatal sobre o territoacuterio a fim de reparti-lo em zonas consoante o melhor interesse na preservaccedilatildeo ambiental e

no uso sustentaacutevel dos recursos naturais Conferir AMADO Frederico Direito Ambiental Esquematizado

2012 p111

30

mas uma mobilizaccedilatildeo da sociedade para resguardar os bens ambientais impedindo a

degradaccedilatildeo sem precedentes

ldquoA reserva legal busca a preservaccedilatildeo ambiental como um todo natildeo soacute do imoacutevel

que nesta se situardquo (AMADO 2009 p 105) Ainda salienta Moraes (2002 p 30) que ldquoa

reserva legal natildeo possui funccedilatildeo vinculada ao imoacutevel especificamente sendo limitaccedilatildeo de

niacutevel macro ou seja mais preocupada com a melhoria regional da biodiversidade do que

propriamente com o ecossistema interno da propriedaderdquo E muito bem acrescenta Milareacute

(2009 p 166)

Aleacutem de preservar belezas cecircnicas e bucoacutelicos ambientes histoacutericos para as geraccedilotildees

futuras as aacutereas protegidas assumiram objetivos como a proteccedilatildeo de recursos

hiacutedricos manejo de recursos naturais desenvolvimento de pesquisas cientiacuteficas

manutenccedilatildeo do equiliacutebrio climaacutetico e ecoloacutegico preservaccedilatildeo de recursos geneacuteticos

e atualmente constituem o eixo de estruturaccedilatildeo da preservaccedilatildeo in situ da

biodiversidade como um todo

1131 Juriacutedica

A reserva legal foi criada pela forccedila do universo juriacutedico brasileiro que lhe

pressupotildee efetividade Como jaacute fora mencionado o instituto teve sua definiccedilatildeo atraveacutes da

Medida Provisoacuteria 2166-672001 (BRASIL 2001) que por sua vez alterou o Coacutedigo

Florestal (BRASIL 1965) vigente agrave eacutepoca Embora houvesse previsatildeo legal para aacutereas

especialmente protegidas estas ateacute entatildeo natildeo haviam sido nominadas como reserva legal

A lei ndeg 477165 (BRASIL 1965) segundo Trennepohl (2009) trazia uma maior

preocupaccedilatildeo com a erosatildeo de terras e o consequente prejuiacutezo para as atividades produtivas

Denotando predominante inclinaccedilatildeo para a sustentabilidade econocircmica da mateacuteria-prima

aquele diploma tratava a utilizaccedilatildeo dos recursos florestais de forma racional com finalidade

de garantir as atividades econocircmicas para as quais servem de insumo

Jaacute no entendimento de Schaffer e Medeiros (2009) a figura da reserva legal no

Coacutedigo Florestal revela-se como uma norma de importacircncia e observacircncia necessaacuterias

essencialmente estrateacutegicas para a garantia de um desenvolvimento equilibrado e sustentaacutevel

para a naccedilatildeo brasileira Tambeacutem observam os mesmos autores que a tatildeo discutida lei florestal

estabeleceu percentuais diferenciados de Reserva Legal em funccedilatildeo da localizaccedilatildeo do tipo de

vegetaccedilatildeo e das caracteriacutesticas ambientais das diferentes regiotildees do paiacutes

A eficaacutecia para o cumprimento do instituto se baseia na imposiccedilatildeo da lei quanto agrave

obrigaccedilatildeo dos proprietaacuterios ou posseiros rurais se dirigirem ao cartoacuterio de registro do seu

31

imoacutevel com a aacuterea da reserva jaacute delimitada e procederem agrave averbaccedilatildeo agrave margem da sua

matriacutecula No entanto essa obrigatoriedade foi substituiacuteda pelo Cadastro Ambiental Rural

que deveraacute ser feito no oacutergatildeo ambiental competente conforme visto anteriormente Esse

procedimento se daacute pelos paracircmetros devidamente previstos em normas teacutecnicas que dispotildeem

como o dono da aacuterea deve conduzir tal processo Essa averbaccedilatildeo eacute irretrataacutevel ou seja jamais

pode ser desfeita e eacute isso que daacute eficiecircncia ao instituto se cumprido Tal imposiccedilatildeo garante

que o proprietaacuterio natildeo desmembre seu imoacutevel na intenccedilatildeo de burlar a lei

Quanto ao procedimento de averbaccedilatildeo da reserva legal na matriacutecula do imoacutevel

ressalta Trennepohl (2009 p11-12)

A exigecircncia da averbaccedilatildeo da reserva legal vem desde 1965 vale dizer haacute mais de

quarenta anos existe esta obrigatoriedade E muitos proprietaacuterios rurais cumpriram agrave

risca esta exigecircncia averbando e mantendo preservado o percentual estipulado pela

lei

[]

A necessidade dessa averbaccedilatildeo dispensa maiores comentaacuterios e pode ser facilmente

entendida como a uacutenica garantia eficaz para que a transferecircncia ou a partilha natildeo

afastem essa obrigaccedilatildeo propter rem [proacutepria da coisa] que vincula a propriedade

natildeo o proprietaacuterio

Para alguns proprietaacuterios de terras rurais se houver o atendimento do instituto da

reserva legal caberia uma indenizaccedilatildeo pela perda daquela porcentagem em suas propriedades

mas como bem ilustra Magnanini (2010 p 5) ldquoa funccedilatildeo protetora da floresta natildeo eacute restriccedilatildeo

indenizaacutevel mas decorrecircncia da proacutepria natureza que preparou terras mais uacuteteis e outras

menosrdquo

1132 Social

Segundo o renomado filoacutesofo Mondin (2004 p 117) ldquoo homem eacute um ser

sociaacutevel portanto incapaz de sozinho alcanccedilar seus objetivos anseios e realizaccedilotildees

consequentemente viverrdquo A partir dessa constataccedilatildeo soacute resta ao ser humano subsistir numa

sociedade inserida no mundo natural

Como indiviacuteduo pratica accedilotildees que lhe afetam direta e indiretamente promovendo

reflexos no espaccedilo em que habita Por isso o aspecto social estaacute intimamente vinculado agrave

qualidade ambiental uma vez que o ser humano gera impactos positivos e negativos em seu

entorno Como natildeo se pode separar a atuaccedilatildeo dele do meio em que foi introduzido necessaacuterio

eacute fazer o balizamento de suas atitudes Uma das formas de limitar seu comportamento eacute a

confecccedilatildeo de normas como por exemplo a lei que nada mais eacute do que a expressatildeo de uma

32

demanda social por medidas coercitivas em virtude do desrespeito a um aspecto que a

sociedade defende ou repudia

Quanto agraves accedilotildees humanas e seus reflexos a teoria de ldquometapopulaccedilotildeesrdquo define

que a raccedila humana causa imenso impacto na Terra provocando a deterioraccedilatildeo dos sistemas

ecoloacutegicos e a extinccedilatildeo de muitas espeacutecies as quais tem seu ritmo acelerado agrave medida que a

populaccedilatildeo cresce e aumentando com isso o consumo de energia e de recursos naturais

SOUZA (2002 apud Miranda 2008)

O aspecto social que envolve a reserva legal confronta-se com praacuteticas seculares

do homem campestre como bem ilustra Magnanini (2010 p 3) engenheiro agrocircnomo e um

dos autores do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)

A agricultura itinerante continua se desenvolvendo segundo os meacutetodos primitivos

dos primeiros anos do descobrimento Chega o agricultor derruba e queima as

matas sem indagar se elas satildeo necessaacuterias agrave conservaccedilatildeo da feracidade do solo ou

do regime das aacuteguas Depois de alguns anos de exploraccedilatildeo renovando anualmente a

queimada como meio de extinguir a vegetaccedilatildeo invasora o terreno esgotado eacute

entregue ao abandono e o agricultor seguindo as pegadas do madeireiro que adiante

derrubou as aacutervores para extrair as toras inicia novo ciclo devastador idecircntico ao

precedente Como efeito disto a agricultura cada vez se interioriza mais e cada vez

se distancia mais dos centros consumidores requerendo transportes sempre mais

caros [] Inundaccedilotildees cada vez mais destruidoras pela remoccedilatildeo desordenada de

florestas colocam em sobressalto as populaccedilotildees de centenas de cidades ribeirinhas

Vale mencionar outra caracteriacutestica que expressa o valor que a reserva legal

quando estaacute sendo cumprida imprime na aacuterea rural ndash eacute a funccedilatildeo social da propriedade

considerada como princiacutepio basilar para o uso da mesma Designaccedilatildeo bastante enunciada

pelas normas que estabelecem aquele instituto permeia o direito de propriedade da terra que

natildeo eacute visto unilateralmente e sim em sua universalidade uma vez que o imoacutevel natildeo estaacute para

servir soacute a seu dono mas tem que atender sua funccedilatildeo social Nesse sentido Miranda (2008)

pontua que a reserva legal eacute uma forma de assegurar a funccedilatildeo social da propriedade fazendo

com que esta contribua com a preservaccedilatildeo do meio ambiente ecologicamente equilibrado para

atuais e futuras geraccedilotildees Eacute como tambeacutem entende Trennepohl (2009 p 11) ao afirmar que

A preservaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa num percentual das propriedades rurais diminui o

lucro do proprietaacuterio mas de forma muito menos significativa que o ganho para a

coletividade com a qualidade ambiental decorrente pelo que entendemos

inquestionaacutevel que o interesse coletivo se sobrepotildee ao individual

1133 Ambiental

Considerado como um dos principais fatores que embasam a instituiccedilatildeo da reserva

legal na propriedade ou posse rural o aspecto ambiental se funda na biologia que perpassa

33

essencialmente esse vieacutes sem admitir qualquer desassociaccedilatildeo entre as unidades ambientais

como aacutegua solo vegetaccedilatildeo e ar Pode-se afirmar que o alicerce do estudo do meio eacute a ciecircncia

bioloacutegica que por sua vez analisa as reaccedilotildees as funccedilotildees fiacutesico-quiacutemicas a qualidade do

ambiente testando seus limites ou melhor sua capacidade de suporte Do mesmo modo

Miranda (2008 p 51) discorre sobre a importacircncia ecoloacutegica do instituto da reserva legal

quando afirma que ldquosua funccedilatildeo preciacutepua eacute assegurar mostras significativas de ecossistemas

conservando a biodiversidade e servindo de abrigo e proteccedilatildeo agrave fauna e agrave florardquo

Sobre isso Metzger (2002 p 48) tambeacutem atesta que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de

propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa eacute

fundamental para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada

regiatildeordquo Complementa Silva (2001 p 59) quando afirma

A cobertura vegetal nativa sobretudo as florestais exerce papel de fundamental

importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de ecossistemas naturais bem como de

ecossistemas criados pelo homem como eacute o caso dos ecossistemas agriacutecolas Aleacutem

de permitirem uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da aacutegua no solo e no

subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos regular a vazatildeo

dos rios reduzindo as intensidades dos extremos de estiagens e enchentes manterem

a diversidade geneacutetica

Logo todos os benefiacutecios apontados pelos autores acima podem ser verificados

em uma menor escala quando haacute a observacircncia da reserva legal dentro de cada propriedade

rural em determinada regiatildeo garantindo sua viabilidade ambiental posto que assume um

papel niacutetido de conservaccedilatildeo Para exemplificar a assertiva retro menciona-se o microclima

favoraacutevel mantido quando haacute vegetaccedilatildeo na aacuterea em apreccedilo que por sua vez amortiza a

incidecircncia solar sobre aquela regiatildeo Por outro lado a cobertura vegetal tambeacutem eacute favoraacutevel agrave

manutenccedilatildeo dos solos uma vez que dificulta a accedilatildeo erosiva das chuvas

Infere-se portanto que a existecircncia da reserva legal na propriedade rural soacute traz

vantagens ao meio ambiente por mais que a tradiccedilatildeo campestre natildeo as compreenda Eacute o que

demonstram Schaffer e Medeiros (2009 p 2) ensinando que

A Reserva Legal (RL) por sua vez natildeo tem apenas a funccedilatildeo de prover o uso

sustentaacutevel dos recursos naturais na propriedade ou posse rural Tem tambeacutem a

funccedilatildeo de conservar e reabilitar os processos ecoloacutegicos conservar a biodiversidade

e servir de abrigo e proteccedilatildeo da fauna e flora nativas Desta forma a norma geral de

caraacuteter nacional [Coacutedigo Florestal] concilia o necessaacuterio uso sustentaacutevel de recursos

naturais para a propriedade ou posse rural com as funccedilotildees ambientais e o

provimento de serviccedilos ambientais de retenccedilatildeo de aacutegua conservaccedilatildeo do solo

manutenccedilatildeo de grupos de polinizadores e fixaccedilatildeo de biomassa entre outros os quais

satildeo importantes e necessaacuterios ao cumprimento da funccedilatildeo socioambiental dos

imoacuteveis ou propriedades rurais

34

No mesmo sentido Mercadante (1999 p 240 apud MIRANDA 2008 p 5354)

numa interpretaccedilatildeo mais ampla sobre a importacircncia ecoloacutegica da reserva legal diz

A Reserva Legal natildeo tem por objetivo apenas a conservaccedilatildeo da natureza da flora e

da fauna pelo valor intriacutenseco dos recursos bioloacutegicos ou pela contribuiccedilatildeo dessas

aacutereas para a qualidade do ambiente em geral A Reserva Legal eacute fundamental para a

estabilidade ecoloacutegica e consequentemente a exploraccedilatildeo em bases sustentaacuteveis do

proacuteprio imoacutevel rural A Reserva Legal contribui para a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo

do solo o controle da erosatildeo o controle do assoreamento dos cursos d‟aacutegua a

conservaccedilatildeo dos corpos d‟aacutegua e dos mananciais serve de abrigo para os predadores

das pragas agriacutecolas fornece madeira e outros recursos florestais para uso na

propriedade dentre outros benefiacutecios

E por fim eacute cabiacutevel mencionar ainda que o Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL

2012) fixou criteacuterios bem mais especiacuteficos e pertinentes ao estabelecimento da reserva legal

como proceder ao cumprimento desse instituto observando se sua localizaccedilatildeo eacute condizente

com o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ou outras categorias

de zoneamento ambiental a proximidade com outras aacutereas legalmente protegidas dentre

outros

1134 Econocircmica

A reserva legal sob o aspecto econocircmico eacute muito controversa uma vez que eacute vista

pelo proprietaacuterio ou posseiro rural como um encargo Mesmo porque como exprime

Trennepohl (2009) ateacute a deacutecada de 80 quando se tinha diferentes normas com dispositivos

protecionistas mas com enfoque preponderantemente economicista os recursos naturais eram

tratados muito mais como insumos de produccedilatildeo ou bens de uso imediato da sociedade do que

como elementos integrantes de um intrincado e fraacutegil equiliacutebrio ambiental Isto condicionou

fatalmente a sociedade brasileira contemporacircnea a natildeo observar a deferecircncia aos bens

ambientais quiccedilaacute respeitar certa porcentagem de uma aacuterea que fora adquirida por um

particular com seus recursos proacuteprios e a tem como totalmente privada

Ainda eacute possiacutevel pelo Coacutedigo Florestal - Lei 126512012 (BRASIL 2012)

intervir na aacuterea destinada agrave reserva de forma sustentaacutevel sem suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo

uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo econocircmica dessas aacutereas Aleacutem do

que ldquoa recuperaccedilatildeo de aacutereas de RL pode ainda gerar produtos e subprodutos madeireiros jaacute

escassos em algumas regiotildees garantindo assim uma renda adicional ao produtor rural e

mateacuteria-prima para a induacutestriardquo conforme defendem Schaffer e Medeiros (2009 p 12)

Para Magnanini (2010) a situaccedilatildeo eacute graviacutessima quando sugere ficar a criteacuterio

do proprietaacuterio rural a iniciativa de proceder ou natildeo agrave reserva legal jaacute que a Administraccedilatildeo

35

Puacuteblica natildeo tem como combater eficientemente o descumprimento desse instituto Eacute o que

propotildee no momento em que coloca

O dilema eacute este ou impotildee-se a todos os donos de terras defenderem agrave sua custa a

produtividade do solo contra a erosatildeo terriacutevel e crescente ou cruzam-se os braccedilos

ante a incapacidade pela pobreza do Poder Puacuteblico na maioria dos Estados do

Brasil para deter a transformaccedilatildeo do Paiacutes num deserto em que as estaccedilotildees se

alternem entre inundaccedilotildees e secas devoradoras de todo o esforccedilo humano

(MAGNANINI 2010 p 5)

Ademais define-se outra vertente do aspecto econocircmico tatildeo bem colocada pela

acepccedilatildeo que tem Bacha (2005 p 9) ao afirmar que

A reserva legal eacute um mecanismo de poliacutetica de rendas pelo qual se procura

estabelecer um zoneamento do uso da terra dentro da propriedade rural A poliacutetica

de rendas constitui-se numa seacuterie de regulamentaccedilotildees que restringem a produccedilatildeo e a

comercializaccedilatildeo de produtos bem como o uso dos fatores de produccedilatildeo eou

determinam valores miacutenimos ou maacuteximos para o pagamento pelo uso desses fatores

ou por produtos elaborados numa economia

Eacute possiacutevel portanto depreender o entendimento do autor de modo que a reserva

legal vem restringir o uso indiscriminado dos recursos florestais gerando com isso a

manutenccedilatildeo do bem ambiental que seraacute resguardado por aquele instituto Isto influiraacute

diretamente na cadeia produtiva nas oscilaccedilotildees de demanda e procura do mercado de mateacuteria-

prima de origem vegetal Ou seja pode-se entender que a meacutedio eou longo prazo a reserva

legal seraacute um ponto de equiliacutebrio no fluxo da produccedilatildeo de bens e serviccedilos que careccedilam desse

recurso natural

114 Direito de Propriedade x Reserva Legal

A propriedade privada eacute uma espeacutecie baacutesica que se decompotildee em propriedade

rural ou urbana segundo se refira a moradias do campo ou moradias derivadas das

construccedilotildees ou edificaccedilotildees idocircneas para sua habitualidade ou aproveitamento diferente do

que eacute a exploraccedilatildeo agraacuteria de qualquer moradia rural (CRIADO 2010)

A propriedade no direito brasileiro foi constituiacuteda em forma e conteuacutedo a partir de

normas muito antigas e de outras naccedilotildees ou seja foi reproduzida com base no direito romano

ldquoDesde aqueles tempos o direito de propriedade era tido como absoluto isto eacute o proprietaacuterio

tinha o direito de usar ou natildeo usar gozar ou natildeo gozar e dispor ou natildeo dispor da propriedade

imobiliaacuteriardquo (MELO 2010 p22) Em contrapartida ldquoos direitos de propriedade

constitucional certamente satildeo direitos de liberdade seja a liberdade individual seja a

liberdade comunitaacuteria que satildeo complementares e indissociaacuteveis haja vista que uma natildeo

36

existe sem a outra como nos demonstram as experiecircncias totalitaacuterias do seacuteculo XXrdquo

(ANTUNES 2011 p37)

A garantia do direito de propriedade estaacute prevista constitucionalmente ou seja na

maior Lei do paiacutes uma vez que ela se sobrepotildee a todas as outras leis e normas juriacutedicas Eacute a

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil que foi promulgada em 05 de outubro de

1988 Conhecida como Carta Magna a Constituiccedilatildeo de 1988 (BRASIL 1988) em seu Tiacutetulo

II estabelece os direitos e as garantias fundamentais do e para o povo brasileiro Logo no

primeiro capiacutetulo deste tiacutetulo estatildeo dispostos os direitos e deveres individuais e coletivos que

o Estado brasileiro deve assegurar aos seus cidadatildeos Eacute no artigo 5ordm que estatildeo previstas tais

premissas inclusive o direito de propriedade (inciso XXII) e o respeito agrave sua funccedilatildeo social

(XXIII)

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade

do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos

seguintes

[]

XXII - eacute garantido o direito de propriedade

XXIII - a propriedade atenderaacute a sua funccedilatildeo social

Quanto agrave funccedilatildeo social da propriedade ldquosomente nos seacuteculos XIX e XX surgiu a

ideia em que o imoacutevel natildeo teria mais o caraacuteter absoluto e intangiacutevel de forma que o

proprietaacuterio por possuir recursos deveria cumprir a tal funccedilatildeordquo (MELO 2010 p23) Ainda

ldquodiscorrer sobre a funccedilatildeo social da propriedade significa abandonar a ideia absolutista e

inflexiacutevel desse instituto para admitir a revitalizaccedilatildeo e o condicionamento do exerciacutecio a

interesses maiores que os do proprietaacuterio individualrdquo (PETERS 2003 p 125 apud

MIRANDA 2008 p 56) Foi nesse sentido que as Constituiccedilotildees Federais brasileiras de 1934

(BRASIL 1934b) 1946 (BRASIL 1946) 1967 (BRASIL 1967c) e a de 1988 (BRASIL

1988) restringiram o direito de propriedade

Constituiccedilatildeo de 1934

Art 113 - A Constituiccedilatildeo assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade dos direitos concernentes agrave liberdade agrave subsistecircncia agrave seguranccedila

individual e agrave propriedade nos termos seguintes

[]

17) Eacute garantido o direito de propriedade que natildeo poderaacute ser exercido contra o

interesse social ou coletivo na forma que a lei determinar A desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica far-se-aacute nos termos da lei mediante preacutevia e justa

indenizaccedilatildeo [] (BRASIL 1934b p 33)

Constituiccedilatildeo de 1946

Art 141 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

Paiacutes a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade a seguranccedila

individual e agrave propriedade nos termos seguintes

37

[]

sect 16 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa

indenizaccedilatildeo em dinheiro (BRASIL 1946 p 31)

Constituiccedilatildeo de 1967

Art 150 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

Pais a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

[]

sect 22 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa

indenizaccedilatildeo em dinheiro ressalvado o disposto no art 157 sect 1ordm []

[]

Art 157 - A ordem econocircmica tem por fim realizar a justiccedila social com base nos

seguintes princiacutepios

[]

III - funccedilatildeo social da propriedade

[]

sect 1ordm - Para os fins previstos neste artigo a Uniatildeo poderaacute promover a desapropriaccedilatildeo

da propriedade territorial rural mediante pagamento de justa indenizaccedilatildeo fixada

segundo os criteacuterios que a lei estabelecer em tiacutetulos especiais da diacutevida puacuteblica []

(BRASIL 1967c p 4951)

Embora os textos se assemelhem eacute faacutecil observar que em 1934 o direito de

propriedade natildeo poderia ir contra o interesse social ou coletivo enquanto que na Constituiccedilatildeo

de 1946 (BRASIL 1946) jaacute se comeccedila a falar em desapropriaccedilatildeo caso aquele interesse natildeo

seja observado Em 1967 existe uma combinaccedilatildeo entre o direito de propriedade e a justiccedila

social estando esta prevista como objetivo da ordem econocircmica que por sua vez cita

claramente a funccedilatildeo social da propriedade como um de seus princiacutepios Mais uma vez a

desapropriaccedilatildeo vem agrave tona agora com um toque mais robusto e imbuiacutedo de maior evidecircncia

jaacute que aquela Carta (BRASIL 1967c) faz menccedilatildeo no paraacutegrafo 1ordm do artigo 157 que a Uniatildeo

poderaacute desapropriar a propriedade territorial rural se natildeo atender dentre outros aspectos a

funccedilatildeo social da propriedade

Retroagindo aproximadamente trecircs anos a desapropriaccedilatildeo jaacute estava em pauta

atraveacutes da Lei 450464 (BRASIL 1964) conhecida como o Estatuto da Terra Com o

objetivo de regular os direitos e obrigaccedilotildees concernentes aos bens imoacuteveis rurais a citada lei

menciona a desapropriaccedilatildeo como uma das medidas de execuccedilatildeo da Reforma Agraacuteria e

promoccedilatildeo da Poliacutetica Agriacutecola (Art 1deg) Aleacutem disto o artigo segundo assegura a todos a

oportunidade de acesso agrave propriedade da terra condicionada pela sua funccedilatildeo social desde que

cumpra as seguintes condiccedilotildees

Art 2deg

sect 1deg A propriedade da terra desempenha integralmente a sua funccedilatildeo social quando

simultaneamente

a) favorece o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores que nela labutam

assim como de suas famiacutelias

38

b) manteacutem niacuteveis satisfatoacuterios de produtividade

c) assegura a conservaccedilatildeo dos recursos naturais

d) observa as disposiccedilotildees legais que regulam as justas relaccedilotildees de trabalho entre os

que a possuem e a cultivem (BRASIL 1964 p 1)

Encerrando o rol de Constituiccedilotildees brasileiras quanto ao direito de propriedade e

sua funccedilatildeo social a de 1988 consagra este princiacutepio no artigo 186

Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende

simultaneamente segundo criteacuterios e graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos

seguintes requisitos

I - aproveitamento racional e adequado

II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio

ambiente

[] (BRASIL 1988 p 144)

Chama atenccedilatildeo o inciso II quando dispotildee sobre a utilizaccedilatildeo adequada dos

recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio ambiente Eacute nesse iacutenterim que a reserva

legal eacute reconhecida por dar ao imoacutevel uma funccedilatildeo social ldquouma vez que atribui agrave propriedade

a exigecircncia da observacircncia de funccedilotildees econocircmica e social bem como de preservaccedilatildeo do meio

ambienterdquo (MELO 2010 p 24) Tambeacutem sobre isso bem coloca Trennepohl (2009 p 12)

A limitaccedilatildeo administrativa do exerciacutecio do direito de propriedade encontra respaldo

no art 186 da Constituiccedilatildeo Federal pois a propriedade rural somente cumpre sua

funccedilatildeo social quando obedecido o aproveitamento racional e utilizados

adequadamente os recursos naturais disponiacuteveis com vistas agrave preservaccedilatildeo do meio

ambiente

ldquoNatildeo haacute direito de propriedade para quem natildeo faz a terra cumprir sua funccedilatildeo

socialrdquo Eacute como entende o professor de direito agraacuterio Carlos Mareacutes (2003 p 134 apud

MELO 2010 p 25) Cavedon (2003 p 122 apud MIRANDA 2008 p 5859) tambeacutem

observa que

Os requisitos estipulados pelo artigo 186 devem ser atendidos simultaneamente sob

pena da propriedade natildeo atender sua funccedilatildeo social e por isso perder sua proteccedilatildeo

constitucional Como consequecircncia esta fica sujeita agrave desapropriaccedilatildeo por interesse

social para fins de reforma agraacuteria conforme o caput do artigo 184 da CF88 Eacute o que

Lenza denomina de desapropriaccedilatildeo-sanccedilatildeo Isto porque a Constituiccedilatildeo de 1988 em

seu artigo 5ordm inciso XXIV garante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiro mediante a

desapropriaccedilatildeo por necessidade utilidade puacuteblica ou interesse social A sanccedilatildeo estaacute

justamente na forma de pagamento da indenizaccedilatildeo quando a propriedade rural natildeo

atende a sua funccedilatildeo social o pagamento natildeo eacute efetuado em dinheiro mas em tiacutetulos

da diacutevida agraacuteria5 Assim o meio ambiente ganha relevacircncia como elemento

5 Tiacutetulos da diacutevida agraacuteria (TDA) - Meio de pagamento de indenizaccedilotildees devidas aos que sofreram accedilatildeo

expropriatoacuteria da Uniatildeo Federal Criado pelo Governo Federal eacute vinculado agrave desapropriaccedilatildeo de imoacuteveis rurais

por interesse social para efeito de reforma agraacuteria ou aquisiccedilotildees por compra e venda de imoacuteveis rurais destinados

agrave implantaccedilatildeo de projetos integrantes do Programa Nacional de Reforma Agraacuteria Disponiacutevel em

lthttpwwwcetipcombrtitulos-publicostdagt Acesso em 27062013

39

integrante da funccedilatildeo social da propriedade em funccedilatildeo do artigo 186 II que prevecirc a

utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio

ambiente e no artigo 170 que coloca a propriedade privada a funccedilatildeo social da

propriedade e a defesa do meio ambiente lado a lado como princiacutepios da ordem

econocircmica Com base nestes dispositivos legais Cavedon entende que a propriedade

deve atender tambeacutem a sua funccedilatildeo ambiental apesar desta natildeo constar de forma

expliacutecita no texto constitucional

Desta forma por estar limitado o proprietaacuterio rural natildeo pode dispor livremente de

seu imoacutevel pois haacute de cumprir sua funccedilatildeo social que resulta na observacircncia de requisitos que

visam vantagens para a coletividade em detrimento de restriccedilotildees individuais Assim sendo

muitos particulares entendem que a obrigaccedilatildeo de destinarem determinada porcentagem de

suas propriedades rurais para a reserva legal eacute uma espeacutecie de desapropriaccedilatildeo indireta imposta

pelo poder puacuteblico e por isso deveriam ser indenizados Da mesma forma outros segundo

Miranda (2008) concluem que eacute uma restriccedilatildeo da propriedade uma vez que inviabiliza a

utilizaccedilatildeo econocircmica do bem e por isso caberia uma recomposiccedilatildeo patrimonial Ao contraacuterio

desse entendimento Trennepohl (2009 p 11) explica

A averbaccedilatildeo da reserva legal natildeo representa uma desapropriaccedilatildeo indireta como

muita gente pensa pois sua vegetaccedilatildeo pode ser explorada na forma de manejo

florestal sustentaacutevel e a aacuterea pode ser utilizada para outras atividades rentaacuteveis

Tanto eacute assim que inuacutemeras accedilotildees judiciais propostas pleiteando indenizaccedilatildeo pela

restriccedilatildeo de uso dessas aacutereas foram fulminadas nas diferentes esferas do Poder

Judiciaacuterio

Ademais a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 (BRASIL 1988) em seu artigo 225

tambeacutem estabelece que

Art 225 Todos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de

uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder

Puacuteblico e agrave coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e

futuras geraccedilotildees

sect 1ordm - Para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Poder Puacuteblico

I - preservar e restaurar os processos ecoloacutegicos essenciais e prover o manejo

ecoloacutegico das espeacutecies e ecossistemas []

III - definir em todas as unidades da Federaccedilatildeo espaccedilos territoriais e seus

componentes a serem especialmente protegidos sendo a alteraccedilatildeo e a supressatildeo

permitidas somente atraveacutes de lei vedada qualquer utilizaccedilatildeo que comprometa a

integridade dos atributos que justifiquem sua proteccedilatildeo (BRASIL 1988 p 225226)

Ressalta-se que ldquoa Carta Magna de 1988 eacute a primeira Constituiccedilatildeo brasileira em

que a expressatildeo meio ambiente eacute mencionadardquo (MELO 2010 p 20) Ademais inovou ao

adotar a terminologia ldquoespaccedilo territorial especialmente protegidordquo para designar uma aacuterea sob

regime especial de administraccedilatildeo com o objetivo de proteger os atributos ambientais

justificadores do seu reconhecimento e individualizaccedilatildeo pelo Poder Puacuteblico (MILAREacute 2009)

40

Desta forma pela simples leitura do texto constitucional observa-se que eacute uma

prerrogativa do Poder Puacuteblico promover a preservaccedilatildeo do meio ambiente bem como

estabelecer unidades especialmente protegidas para garantir a manutenccedilatildeo dos recursos

naturais A forma com que o Estado cumpriraacute este dever eacute atraveacutes da ediccedilatildeo de leis que

obriguem seus administrados a satisfazerem tais imposiccedilotildees Para tanto tem-se o Coacutedigo

Florestal (BRASIL 1965 2012) que prevecirc a reserva legal como um dos meios de viabilizar

essa proteccedilatildeo Eacute sobre o que discorre Trennepohl (2009 p 12)

A reserva legal eacute um dos instrumentos que permitem o cumprimento do art 225 da

Constituiccedilatildeo Federal o qual impotildee ao Poder Puacuteblico o dever de defender e preservar

o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras geraccedilotildees

(caput) atraveacutes de definiccedilatildeo de espaccedilos territoriais e seus componentes a serem

especialmente protegidos (sect1deg III) bem como de proteger a flora e a fauna (sect1deg

VII)

Conclui-se portanto que a reserva legal introduzida pelo Coacutedigo de 65 (BRASIL

1965) modificou os contornos do direito de propriedade restringindo seu uso e que a funccedilatildeo

social do bem imoacutevel teve como origem forte conflito entre necessidades coletivas ou assim

interpretadas e o regime particular da propriedade individual (ANTUNES 2011)

1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa

As formas de limitaccedilotildees que recaem sobre a propriedade tornam-se um problema

importante em mateacuteria ambiental pois na grande maioria das vezes a natureza juriacutedica dos

espaccedilos territoriais especialmente protegidos se confunde com a limitaccedilatildeo administrativa

(MELO 2010) Assim questiona-se se realmente estamos diante de servidotildees limites

limitaccedilotildees ou delimitaccedilotildees A questatildeo natildeo eacute paciacutefica (CRIADO 2010)

A limitaccedilatildeo administrativa segundo Meireles (2004 p 568) eacute ldquotoda imposiccedilatildeo

geral gratuita unilateral e de ordem puacuteblica condicionadora do exerciacutecio de direitos ou de

atividades particulares agraves exigecircncias do bem-estar socialrdquo Satildeo implementadas de forma

imperativa obrigando o proprietaacuterio a fazer ou natildeo fazer algo na sua propriedade mas sem

retirar a utilizaccedilatildeo econocircmica deste bem ldquoJaacute a restriccedilatildeo ocorre quando a administraccedilatildeo impotildee

ao proprietaacuterio dever que o obrigue ou o impeccedila de fazer algo em sua propriedade retirando a

utilizaccedilatildeo econocircmica desta Havendo neste caso a necessidade de recomposiccedilatildeo patrimonialrdquo

(MIRANDA 2008 p 61)

41

Aleacutem do que hibridamente haacute os que entendem que a reserva legal eacute uma

desapropriaccedilatildeo indireta6 disfarccedilada de limitaccedilatildeo da propriedade que por sua vez inviabiliza a

utilizaccedilatildeo econocircmica do bem provocando uma busca por indenizaccedilatildeo Eacute nesse sentido que se

pronunciam os superiores tribunais do paiacutes como por exemplo se pronunciou o ministro Luiz

Pereira do Tribunal de Justiccedila do Estado de Satildeo Paulo ao decidir pela indenizabilidade da

aacuterea compreendida na reserva legal E ainda o proacuteprio Supremo Tribunal Federal tem se

manifestado de forma enfaacutetica ldquoimpedindo que a bdquolimitaccedilatildeo administrativa‟ esvazie o

conteuacutedo econocircmico do direito de propriedade determinando que em tais hipoacuteteses o Estado

indenize os prejuiacutezos de ordem patrimonial sofridos pelo particularrdquo (ANTUNES 2011

p163164)

Mesmo sendo um instrumento de conservaccedilatildeo ambiental com a possibilidade de

exploraccedilatildeo racional atraveacutes de manejo florestal sustentaacutevel eacute visivelmente perceptiacutevel o

conflito entre interesses particulares e a salvaguarda da vegetaccedilatildeo proposta por norma

juriacutedica Posto isto observa-se de um lado intenccedilotildees puramente econocircmicas que por sua vez

levam os proprietaacuterios a ignorarem a lei derrubando e queimando as matas que deveriam ser

preservadas a tiacutetulo de Reserva Legal ou ainda se eximindo de suas responsabilidades soacutecio-

ambientais Opotildeem-se portanto aos fortes instrumentos juriacutedicos de proteccedilatildeo das matas

brasileiras (MIRANDA 2008)

1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal

Na vigecircncia da lei anterior ou seja do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)

a forma de garantir documentalmente o cumprimento da reserva legal era averbaacute-la junto agrave

matriacutecula da propriedade constante em um Registro de Imoacuteveis Vale aqui esmiuccedilar o que eacute e

como era esse procedimento

ldquoO Registro de Imoacuteveis eacute uma instituiccedilatildeo nascida no seacuteculo XIX para dar

seguranccedila agrave contrataccedilatildeo imobiliaacuteria e na qual se inscreviam os direitos nascidos das relaccedilotildees

privadas ou civisrdquo (CRIADO 2010 p126) ldquoE que surgiu como necessidade do Estado de

controlar o direito de propriedade e como instrumento de seguranccedila juriacutedica para o traacutefego

imobiliaacuteriordquo (MELO 2010 p18) Regido pela Lei 601573 (BRASIL 1973) que cria a

figura da matriacutecula e que por sua vez representa a individualidade do imoacutevel sua situaccedilatildeo

6 Desapropriaccedilatildeo indireta ndash ldquotoda intervenccedilatildeo do Estado na propriedade que venha a impossibilitar o uso e gozo

desse bem retirando-lhe o conteuacutedo econocircmicordquo (TAVARES 1998 p 2 apud MIRANDA 2008 p 62)

42

geograacutefica e perfeita descriccedilatildeo sofrendo alteraccedilotildees objetivas e subjetivas por meio da

averbaccedilatildeo sempre com um mesmo nuacutemero de ordem facilitando incrivelmente as pesquisas e

expediccedilatildeo de certidotildees (MELO 2010)

Desta forma cada imoacutevel possui um registro onde pode ser descrito tudo o que

acontece com ele e nele por exemplo quem comprou vendeu se o dono hipotecou o bem a

um banco por causa de empreacutestimo etc Cada novidade que acontece no imoacutevel eacute inscrita sob

a forma e nome de averbaccedilatildeo no seu registro que por sua vez tem um nuacutemero de matriacutecula

para o identificar da mesma forma que um cidadatildeo tem um nuacutemero de Registro Geral (RG)

com seu nome completo data de nascimento e filiaccedilatildeo

No caso a averbaccedilatildeo da reserva legal era feita da seguinte forma o dono do

imoacutevel ldquointeressadordquo em cumprir sua obrigaccedilatildeo deveria submeter a localizaccedilatildeo da reserva

legal ao oacutergatildeo ambiental estadual que por sua vez aprovaria ou natildeo o local onde o proprietaacuterio

iria destinar agrave reserva legal Essa delimitaccedilatildeo deveria ser feita a partir de um

georreferenciamento que utiliza coordenadas geograacuteficas fixadas com o auxiacutelio de sateacutelites

conforme o Sistema Geodeacutesico Brasileiro (SGB) ao qual o Registro de imoacuteveis estaacute

vinculado (MELO 2010)

ldquoA representaccedilatildeo graacutefica da propriedade e sua atualizaccedilatildeo permitem um

conhecimento da evoluccedilatildeo do territoacuterio suas modificaccedilotildees e o impacto meio ambiental que

nele tenha ocasionado atuaccedilatildeo do acircmbito imobiliaacuterio com transcendecircncia nesta mateacuteriardquo

(LIBERAL 2007 p 121 apud MELO 2010 p3233)

Assim com a propriedade e sua respectiva aacuterea de reserva legal

georreferenciadas o proacuteximo passo seria a elaboraccedilatildeo de uma planta a partir dos dados

coletados e juntamente com o documento comprobatoacuterio de que o imoacutevel possuiacutea registro

submeter a localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva ao oacutergatildeo ambiental competente Se aprovada o

oacutergatildeo expediria um Termo de Averbaccedilatildeo da Reserva Legal que juntamente com a mesma

planta apresentada anteriormente deveria ser levado ao cartoacuterio de imoacuteveis para posterior

averbaccedilatildeo no registro do bem Nesta averbaccedilatildeo estariam descritas todas as informaccedilotildees da

reserva legal e sua localizaccedilatildeo geograacutefica

ldquoEsse procedimento documental tinha fundamento no princiacutepio da publicidade

que eacute a alma dos registros puacuteblicos porque eacute a oportunidade dada ao povo de conhecer tudo

que lhe interessa a respeito de determinados atosrdquo (BALBINO FILHO 1999 p 9 apud

MELO 2010 p34) Ateacute porque qualquer pessoa pode solicitar informaccedilotildees sobre os registros

junto ao cartoacuterio de imoacuteveis ldquoE natildeo poderia ser diferente pois o Registro de Imoacuteveis atua no

43

direito ambiental como ator coadjuvante reforccedilando a publicidade legal bem como

cooperando com o cumprimento e garantia das obrigaccedilotildees ambientaisrdquo (MELO 2010 p79)

Natildeo obstante malgrado existia a obrigaccedilatildeo legal de todo proprietaacuterio averbar a

aacuterea de RLF no Registro de Imoacuteveis o fato eacute que pequena porcentagem dos proprietaacuterios

procedeu agrave sua especializaccedilatildeo ldquoA razatildeo eacute simples trata-se de norma incompleta foi criada a

obrigaccedilatildeo mas propositalmente a sanccedilatildeo foi esquecidardquo (MELO 2010 p56)

Com a lei 126512012 (BRASIL 2012) ou Novo Coacutedigo Florestal esse

procedimento mudou Logo natildeo se deve mais averbar a reserva legal no registro do imoacutevel

Agora a obrigaccedilatildeo passou a ser o cadastramento da propriedade rural no Cadastro Ambiental

Rural (CAR) O atual meacutetodo consiste na inscriccedilatildeo do imoacutevel a partir da identificaccedilatildeo do

proprietaacuterio ou possuidor rural apresentaccedilatildeo de documento que comprove a propriedade ou a

posse e a identificaccedilatildeo do imoacutevel por meio de planta e memorial descritivo contendo a

indicaccedilatildeo das coordenadas geograacuteficas com pelo menos um ponto de amarraccedilatildeo do periacutemetro

do imoacutevel informando a localizaccedilatildeo dos remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa das Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente das Aacutereas de Uso Restrito das aacutereas consolidadas e caso existente

tambeacutem da localizaccedilatildeo da Reserva Legal

No entanto o CAR ainda natildeo estaacute implantado no Cearaacute o que eacute realidade em

vaacuterios outros estados tambeacutem A obrigatoriedade de inscriccedilatildeo neste Cadastro eacute de ateacute dois

anos apoacutes sua implementaccedilatildeo que ateacute o momento natildeo aconteceu Todavia o secretaacuterio de

Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentaacutevel Sr Paulo Guilherme Cabral afirmou em

21052013 que o lanccedilamento em acircmbito nacional do Cadastro Ambiental Rural (CAR) deve

ocorrer ateacute o iniacutecio de junho e para agilizar a inscriccedilatildeo de mais de 5 milhotildees de propriedades

o Ministeacuterio do Meio Ambiente tem buscado ajuda de sindicatos cooperativas e associaccedilotildees

do setor agriacutecola aleacutem de outros oacutergatildeos puacuteblicos7 Infelizmente nada aconteceu ateacute e apoacutes

aquela previsatildeo

Contraditoriamente natildeo existe um prazo para o governo implantar o CAR mas

para o proprietaacuterio ou posseiro sim quando o cadastro dos imoacuteveis estiver disponiacutevel O

impasse eacute o que fazer o dono da terra aguarda o novo procedimento vigorar ou adota o

meacutetodo anterior

7 Conferir notiacutecia publicada em 22052013 no site lthttpsouagrocombrlancamento-nacional-do-car-deve-

sair-ate-junhogt

44

2 Processo de Degradaccedilatildeo

21 Conceito

A degradaccedilatildeo de uma forma geral eacute ldquoa ocorrecircncia de modificaccedilotildees fiacutesicas

metaboacutelicas ou quiacutemicas para uma forma menos complexa E a degradaccedilatildeo ambiental eacute a

alteraccedilatildeo das caracteriacutesticas do meio ambienterdquo (GUERRA et al 2009 p108) Jaacute o inciso II

do artigo 3ordm da Lei 693881 (BRASIL 1981) descreve a degradaccedilatildeo da qualidade ambiental

como alteraccedilatildeo adversa das caracteriacutesticas do meio ambiente

Para Arauacutejo et al (2008 p 19) ldquoa degradaccedilatildeo das terras envolve a reduccedilatildeo dos

potenciais recursos renovaacuteveis por uma combinaccedilatildeo de processos agindo sobre a terrardquo Os

autores ainda atestam que

Tal reduccedilatildeo levando ao abandono ou ldquodesertificaccedilatildeordquo da terra [] pode ser por

processos naturais como por exemplo o ressecamento do clima atmosfeacuterico

processos naturais de erosatildeo alguns outros de formaccedilatildeo do solo ou uma invasatildeo

natural de plantas ou animais nocivos Pode tambeacutem ocorrer por accedilotildees antroacutepicas

diretamente sobre o terreno ou indiretamente em razatildeo das mudanccedilas climaacuteticas

adversas induzidas pelo homem (ARAUacuteJO et al 2008 p 19)

Para a Food and Agriculture Organizations of the United Nations - FAO

(Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e Agricultura) o conceito de degradaccedilatildeo

de terras se refere ldquoagrave deterioraccedilatildeo ou perda total da capacidade dos solos para uso presente e

futurordquo (FAO 1980 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 23)

Observa-se portanto que a degradaccedilatildeo ambiental se natildeo combatida pressupotildee

um processo criacutetico e muito seacuterio o da desertificaccedilatildeo Eacute como considera Sales (2002) e ainda

afirma que o potencial natural das terras quanto agrave degradaccedilatildeo e a accedilatildeo antroacutepica

desencadeiam a desertificaccedilatildeo

O processo de degradaccedilatildeo ambiental pode ocorrer a partir de um ambiente que jaacute

possui caracteriacutesticas naturais limitantes eou extremas onde nele eacute inserido o fator antroacutepico

seja pela simples ocupaccedilatildeo de uma populaccedilatildeo naquela aacuterea seja pelo manejo inadequado dos

recursos naturais ali presentes De outra forma a degradaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel em ambientes

sem fragilidades naturalmente aparentes

A degradaccedilatildeo ambiental advinda da intervenccedilatildeo humana num cenaacuterio mundial

traduz-se em 15 das terras jaacute comprometidas pelas atividades humanas sendo que na

Ameacuterica do Sul dentro daquele percentual encontrou-se 1 de terras devastadas 11 de

terras leve ou moderadamente degradadas e 1 de terra forte ou extremamente degradada8

As estimativas apontam uma expansatildeo anual de 5 a 12 milhotildees de hectares de solo de um

total de 48 bilhotildees de hectares de aacutereas cultivaacuteveis e pastos ainda existentes e segundo a

ISRICUNEP (1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 28) isso resulta na seguinte constataccedilatildeo

A degradaccedilatildeo ambiental causa a perda de aproximadamente 14 milhotildees de

toneladas de gratildeos anualmente isto eacute metade da quantidade necessaacuteria para cobrir

as necessidades da populaccedilatildeo global adicional para o mesmo periacuteodo E no aspecto

financeiro para Blaikie e Brookfiel (1987) a produtividade do trabalho eacute atingida

desfavoravelmente pois a degradaccedilatildeo ambiental consome diretamente o produto do

trabalho e tambeacutem o aporte de capital na produccedilatildeo A qualidade de vida diminui

porque satildeo necessaacuterios mais tempo e um trabalho mais duro para se obter o mesmo

produto isso sem mencionar as medidas conservacionistas no campo fertilizaccedilatildeo

mais intensa ou a abertura de aacutereas para lavouras ou pastos cada vez mais distantes

[] Em ocasiotildees mais raras mas tambeacutem tatildeo dramaacuteticas a degradaccedilatildeo ambiental

forccedila o deslocamento da populaccedilatildeo Centenas de milhares de hectares tecircm de ser

abandonados a cada ano por estarem degradados demais para o cultivo ou ateacute

mesmo para pastagens (ARAUacuteJO et al 2008 p 31)

Em se tratando de semiaacuterido os recursos ambientais satildeo fraacutegeis e associados a

este quadro haacute uma populaccedilatildeo que por sua vez lanccedila matildeo dos bens naturais produzindo uma

deterioraccedilatildeo ambiental ldquoO Cearaacute por conseguinte apresenta extensas aacutereas com problemas

relativos agrave degradaccedilatildeo ambiental principalmente a desertificaccedilatildeordquo (IRAUCcedilUBA 2009 p 7)

Eacute o caso de Irauccediluba por causa da degradaccedilatildeo advinda do desmatamento e das

queimadas que exaurem os nutrientes do solo a agricultura de subsistecircncia colhe em gratildeos

menos de 500 kgha enquanto que a produccedilatildeo potencial seria cerca de 2000 kgha

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Isso explica a baixa participaccedilatildeo da agricultura na

produccedilatildeo agropecuaacuteria do municiacutepio E ldquoessa produccedilatildeo sequer paga os custos da lavoura de

forma que os pequenos produtores estatildeo pagando para plantar na maioria dos casosrdquo

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 18) As consequecircncias sociais disto satildeo ldquoum ciclo de

pobreza e miseacuteria tornando a regiatildeo cada vez mais vulneraacutevelrdquo (SALES 2002 p116)

Em niacutevel mais criacutetico segundo as Naccedilotildees Unidas a desertificaccedilatildeo degrada 60 mil

km2 de terras feacuterteis por ano em todo o mundo provocando perdas de 4 bilhotildees de doacutelares na

economia mundial No Brasil estima-se que essas perdas atinjam 100 milhotildees de doacutelares9

Por fim ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013) entendem que a degradaccedilatildeo em terras

brasileiras remonta o tempo dos colonizadores pois estes aplicavam diretamente meacutetodos e

praacuteticas proacuteprios para solos de clima temperado Assim as matas foram derrubadas queimou-

se a vegetaccedilatildeo em larga escala e lavouras nocircmades foram estabelecidas aproveitou-se o humo

8 Conferir ISRICUNEP 1991 In Arauacutejo et al 2008 p 27

9 Conferir RODRIGUES (2006) in CEARAacute 2010

46

onde este jaacute existia expuseram-se os solos agrave erosatildeo enfim saquearam-se os recursos naturais

renovaacuteveis ldquoNo caso do Cearaacute documenta-se que em 1861 a Comissatildeo Cientiacutefica enviada

para estudar o Nordeste registrava a destruiccedilatildeo acelerada da vegetaccedilatildeo principalmente nos

contrafortes das serras em virtude dos desmatamentos e queimadas para plantio de

mandiocardquo ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013 p 8)

Para uma melhor compreensatildeo quanto agrave intervenccedilatildeo humana negativa no

ambiente aponta-se o esquema proposto na figura 3 a seguir resumindo o processo de

degradaccedilatildeo ambiental apresentado pelo PAE10

(CEARAacute 2010b)

Figura 3 Sistema de Degradaccedilatildeo do Meio Ambiente Adaptado de Tricart (apud Souza 2000)

Fonte PAE (CEARAacute 2010b p 30)

10

PAECE ndash Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca

(CEARAacute 2010)

47

22 Degradaccedilatildeo Ambiental

A degradaccedilatildeo tem vaacuterias causas dentre elas a erosatildeo e o manejo inadequado do

solo Em se tratando deste uacuteltimo pode-se destacar as atividades agropecuaacuterias e suas

praacuteticas como por exemplo o desmatamento desmedido e irracional a irrigaccedilatildeo de forma

errada salinizando ou encharcando o solo o sobrepastoreio que compacta o solo e o uso de

defensivos agriacutecolas que provocam a contaminaccedilatildeo do solo e eliminam os microorganismos

ali presentes Deduz-se portanto que isso eacute um reflexo derivado de uma estrutura fundiaacuteria

extremamente riacutegida onde satildeo desenvolvidas aquelas atividades com baixo niacutevel tecnoloacutegico

levando a praacuteticas agriacutecolas predatoacuterias (SALES 2002 p116)

Com as causas naturais e as provocadas pelo homem quanto agrave degradaccedilatildeo do solo

expostas na tabela 2 a compreensatildeo fica mais clara

Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras

FATORES ACcedilOtildeES ANTROacutePICAS CONDICcedilOtildeES NATURAIS

Facilitadores

Desmatamento

Permissatildeo do superpastoreio

Uso excessivo da vegetaccedilatildeo

Taludes de corte

Remoccedilatildeo da cobertura vegetal para o cultivo

Topografia

Textura do solo

Composiccedilatildeo do solo

Cobertura vegetal

Regimes hidrograacuteficos

Diretos

Uso de maacutequinas

Conduccedilatildeo do gado

Encurtamento do pousio

Entrada excessiva de aacutegua drenagem insuficiente

Excesso de fertilizaccedilatildeo aacutecida

Uso excessivo de produtos quiacutemicos estrume

Disposiccedilatildeo de resiacuteduos domeacutesticos industriais

Chuvas fortes

Alagamentos

Ventos fortes

Fonte FAO (1980 apud Arauacutejo et al 2008 p 33)

Entendem Arauacutejo et al (2008 p 29) que as consequecircncias disto no meio rural satildeo

Um decliacutenio na produtividade ou uma necessidade crescente do aporte de nutrientes

para manter as mesmas produtividades uma vez que os ldquosubsolos geralmente

contem menos nutrientes do que as camadas superioresrdquo sendo necessaacuterio mais

fertilizante para manter a produtividade das culturas Isso por sua vez aumenta os

custos da produccedilatildeo

Partindo dessas constataccedilotildees conclui-se que satildeo seacuterias as consequecircncias

ambientais sociais e econocircmicas a esse respeito por isso satildeo necessaacuterias medidas mitigadoras

que visem minimizar esses impactos bem como meios de recuperar os danos jaacute existentes

A questatildeo torna-se ainda mais preocupante quando o olhar recai sobre os

processos de formaccedilatildeo do solo que segundo Kendall e Pimentel (1994 apud ARAUacuteJO et al

48

2008 p 21) ldquosatildeo lentos e necessitam de duzentos a mil anos para formar 25cm de solos e

isso sob condiccedilotildees agriacutecolas normaisrdquo Dessa forma a degradaccedilatildeo do solo eacute muito mais

criacutetica uma vez que eacute quase irreversiacutevel quando se trata do lapso temporal para se regenerar

ldquoA irreversibilidade tambeacutem ocorre quando o clima e as atividades humanas se combinam

tornando um solo anteriormente sadio em aacuterea devastadardquo (ARAUacuteJO et al 2008 p 2021)

221 Erosatildeo

Eacute o processo natural de decomposiccedilatildeo e transporte de sedimentos que altera as

formas de relevo Causada por agentes como vento chuvas aacuteguas correntes pode ser

acelerada por intervenccedilotildees humanas como por exemplo o desmatamento (TRIGUEIRO

2005 apud GUERRA 2009 p 129)

Arauacutejo et al (2008 p 34) afirmam que ldquoembora a erosatildeo possa ocorrer sem a

intervenccedilatildeo humana na praacutetica ela geralmente eacute iniciada eou acelerada por atividades

antroacutepicas que causam o desaparecimento da cobertura protetora da vegetaccedilatildeo natural ou

danificam a estrutura do solordquo

No PAN (BRASIL 2004 p 42) consta que ldquoa resultante do antropismo eacute

principalmente a erosatildeo particularmente a laminarrdquo que se inicia com a destruiccedilatildeo da

cobertura vegetal

A erosatildeo pode ser pela accedilatildeo da aacutegua eou do vento Em ambos os casos a camada

superficial do solo eacute retirada Para Arauacutejo et al (2008 p 24) ldquoa erosatildeo eoacutelica eacute mais comum

em climas aacuterido e semiaacuterido e eacute considerada uma forma de degradaccedilatildeo bem como a da aacutegua

que pode ateacute deformar o terreno formando ravinas e voccedilorocasrdquo Uma consequecircncia grave

disto segundo os mesmos autores eacute a reduccedilatildeo da fertilidade pelos motivos a seguir Menor

penetraccedilatildeo de raiacutezes em decorrecircncia de um solo menos denso e mais fino Reduccedilatildeo na

capacidade de retenccedilatildeo de aacutegua Varredura dos nutrientes utilizados pelas plantas

Para a FAO segundo Arauacutejo et al (2008 p 30) ldquoaproximadamente 25 bilhotildees de

toneladas de solo satildeo erodidos a cada ano sendo 17 toneladas por hectare cultivadordquo

222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica

Dentro do que jaacute foi citado anteriormente a (1) irrigaccedilatildeo inadequada que saliniza

ou encharca o solo e o (2) uso de defensivos agriacutecolas contaminando e eliminando os

49

microorganismos satildeo soacute algumas causas deste tipo de degradaccedilatildeo Aleacutem destas tem-se a (3)

acidificaccedilatildeo e o (4) esgotamento do solo causando a perda de nutrientes Para Arauacutejo et al

(2008 p 25) ldquoa salinizaccedilatildeo pode ser resultado de manejo mal realizado da irrigaccedilatildeo da alta

concentraccedilatildeo de sais na aacutegua ou atenccedilatildeo indevida agrave drenagem Esta acarreta a salinizaccedilatildeo dos

solos especialmente em regiotildees aacuteridas por que as altas taxas de evaporaccedilatildeo estimulam o

processordquo E ainda por atividades humanas que elevam a evaporaccedilatildeo em solos com material

salino ou com lenccedilol freaacutetico salino (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25)

Segundo o PAN (BRASIL 2004 p 64) ldquoa irrigaccedilatildeo produz impactos

indesejaacuteveis em qualquer aacuterea semiaacuteridardquo se realizada de forma inadequada e sem o recurso

da drenagem Complementa ainda o documento ao dizer que

Um solo submetido agrave irrigaccedilatildeo estaacute salinizado quando a concentraccedilatildeo de sais nesse

terreno se eleva a ponto de prejudicar o rendimento econocircmico das culturas A

salinizaccedilatildeo do solo afeta a germinaccedilatildeo e a densidade das culturas bem como seu

desenvolvimento vegetativo reduzindo a produtividade das lavouras Nos casos

limites a salinizaccedilatildeo pode levar agrave morte generalizada das plantas inviabilizando o

cultivo das terras afetadas (BRASIL 2004 p 64)

Aleacutem disso o uso excessivo de agrotoacutexicos eacute tido como poluiccedilatildeo e pode levar agrave

reduccedilatildeo do potencial agriacutecola da terra Resiacuteduos industriais e urbanos tambeacutem podem poluir

terras agricultaacuteveis O esgotamento do solo pelo plantio excessivo de culturas sem promover

um pousio miacutenimo do terreno exaure os nutrientes daquela aacuterea Isso eacute comum onde a

agricultura eacute praticada em solos pobres ou moderadamente feacuterteis sem a aplicaccedilatildeo suficiente

de esterco ou fertilizante (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25) E por fim

a acidez pode ser provocada quando se utiliza muitos fertilizantes aacutecidos ou em decorrecircncia

da maacute drenagem em alguns tipos de solo

223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica

Conhecidos pela compactaccedilatildeo do solo elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico e pelo

rebaixamento da superfiacutecie da terra (subsidecircncia) a esses tipos de degradaccedilatildeo natildeo se pode

deixar de somar uma causa precursora que eacute o desmatamento desmedido e irracional

deixando o solo nu e exposto agraves intempeacuteries do tempo Da mesma forma entende Cruz (1994

p 135-147 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 35) ao afirmar que ldquoa remoccedilatildeo da cobertura vegetal

inicia ou acelera a erosatildeo do solo sob a accedilatildeo da chuva e do vento de igual modo a queimada

visando o controle de ervas estimula a lixiviaccedilatildeo e a perda do solordquo

50

A compactaccedilatildeo do solo como o resultado do uso de maacutequinas pesadas em solos

instaacuteveis bem como o pisoteio do gado que via de regra eacute agravado por um

sobrepastoreio da aacuterea O impacto das gotas de chuva provoca tambeacutem o selamento

e encrostamento do solo A elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico eacute ocasionada pelo

encharcamento da terra que por sua vez natildeo tem na mesma proporccedilatildeo a capacidade

de drenagem (ARAUacuteJO et al 2008 p 25)

23 A degradaccedilatildeo em Irauccediluba

Em Irauccediluba as praacuteticas agriacutecolas e a pecuaacuteria satildeo muito ofensivas aos recursos

naturais Isso se deve agrave capacidade de suporte do ambiente que natildeo eacute respeitada gerando

impactos e danos ambientais seacuterios e de caraacuteter praticamente irreversiacuteveis O sobrepastejo de

bovinos ovinos e caprinos o desmatamento e as queimadas deixam a regiatildeo com um niacutevel de

degradaccedilatildeo altiacutessimo ateacute porque suas condiccedilotildees naturais jaacute satildeo adversas E ainda haacute outro

fator agravante - o tempo de recuperaccedilatildeo natural tambeacutem natildeo eacute observado nem cumprido

fragilizando por demais o ambiente

Para Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 7) ldquoA introduccedilatildeo da pecuaacuteria no nuacutecleo de

Irauccediluba trouxe a tiracolo a agricultura e a extraccedilatildeo de madeira A primeira baseava-se no

desmatamento indiscriminado e na queimada geral E a segunda na coleta da lenha sem

reposiccedilatildeo florestalrdquo Desta forma a degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba estaacute desenhada por

1 Superpastejo que causa prejuiacutezos sensiacuteveis agrave vegetaccedilatildeo pelo consumo das

cascas dos troncos de aacutervores e arbustos e pela remoccedilatildeo das placircntulas das espeacutecies

arboacutereas e arbustivas Nessas condiccedilotildees mudanccedilas na composiccedilatildeo floriacutestica da

vegetaccedilatildeo podem resultar em virtude do desaparecimento das espeacutecies lenhosas

forrageiras o que em aacutereas de vegetaccedilatildeo degradada acelera o processo de

desertificaccedilatildeo Em aacutereas de caatinga o pastejo por ovinos induz mudanccedilas

significativas na composiccedilatildeo botacircnica do estrato herbaacuteceo com a reduccedilatildeo da

participaccedilatildeo das gramiacuteneas mesmo em condiccedilotildees de pastoreio moderado Nesse

contexto o sobrepastejo por ovinos pode resultar no desaparecimento das gramiacuteneas

e ao final de toda cobertura herbaacutecea da vegetaccedilatildeo expondo o solo aos efeitos da

erosatildeo (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 78)

2 Agricultura rudimentar que pratica o desmatamento e faz uso do fogo O

impacto deste sobre o ecossistema eacute onipresente e caracteriza-se pela queda da

produccedilatildeo agriacutecola pela degradaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa pela erosatildeo dos solos pela

perda da biodiversidade da flora e da fauna e pelo assoreamento e salinizaccedilatildeo dos

mananciais pela perda da resiliecircncia aumentando sua fragilidade diante das

variaccedilotildees climaacuteticas tiacutepicas das regiotildees semiaacuteridas Aleacutem disto os desmatamentos e

queimadas seguidos por um curto periacuteodo de pousio terminam por levar a vegetaccedilatildeo

a um disclimax dominado por arbustos uma vez que o banco de sementes das

arboacutereas praticamente desapareceu (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 918)

3 Manejo inadequado do solo associado ao relevo da regiatildeo Satildeo trecircs tipos de

solo que se destacam em Irauccediluba litoacutelicos planossolos e luvissolos Por conta da

declividade de 8 a 45 os agricultores optam pelas terras nas encostas para

implantar os roccedilados pois haacute um menor risco de perder a safra em funccedilatildeo do

alagamento comum nas terras planas do municiacutepio durante a eacutepoca das chuvas

Nestas condiccedilotildees as perdas de solo por erosatildeo satildeo assombrosas Aleacutem disto haacute a

erosatildeo nos planossolos provocada pelo sobrepastejo com perdas de solo superiores a

51

17 tha em uma uacutenica estaccedilatildeo das chuvas o que enfatiza a importacircncia da cobertura

vegetal na proteccedilatildeo contra a erosatildeo (apud SALES 2003) Como consequecircncia do

sobrepastejo continuado ao longo provavelmente de centenas de anos a erosatildeo

laminar jaacute removeu porccedilatildeo significativa do horizonte A expondo em alguns casos o

horizonte B textural Aleacutem disso houve uma exaustatildeo dos nutrientes do solo

principalmente do foacutesforo Outro fator que tambeacutem intensifica a degradaccedilatildeo eacute o

curtiacutessimo periacuteodo de repouso Estima-se em 50 anos o tempo necessaacuterio para que a

vegetaccedilatildeo da caatinga em um luvissolo que foi destruiacuteda pela queimada do roccedilado

volte pela sucessatildeo secundaacuteria ao cliacutemax original Ora na regiatildeo este periacuteodo estaacute

reduzido a cerca de oito anos Com isto natildeo haacute a recuperaccedilatildeo da fertilidade do solo e

a recomposiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo Isto porque a velocidade de crescimento das arboacutereas

da caatinga eacute muito variaacutevel (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 810)

Concluem portanto os autores Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 17) que ldquoas praacuteticas

rotineiramente adotadas do desmatamento e do fogo a exposiccedilatildeo do solo e a diminuiccedilatildeo do

periacuteodo de pousio tecircm induzido processos de degradaccedilatildeo mormente os de erosatildeordquo

231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia

A desertificaccedilatildeo eacute um problema ambiental que assola vaacuterias partes do mundo e

vem sendo discutido desde 1977 quando em Nairoacutebi no Quecircnia aconteceu a Conferecircncia

sobre Desertificaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas ldquoA observaccedilatildeo desse processo se atribui ao cientista

Aubreville que em 1949 constatou o prolongamento da degradaccedilatildeo para o norte das zonas

mais aacuteridas do Saara e para as regiotildees semiaacuteridas e subuacutemidas do norte da Aacutefricardquo (ARAUacuteJO

et al 2008 p 26) Em 1992 na ECO 92 foi definido o conceito de desertificaccedilatildeo cuja

ocorrecircncia se daacute em aacutereas aacuteridas semiaacuteridas e subuacutemidas secas O grau de aridez eacute

estabelecido pela relaccedilatildeo PEtp que eacute a razatildeo entre a meacutedia da precipitaccedilatildeo total anual e a

evapotranspiraccedilatildeo potencial do mesmo periacuteodo metodologia esta desenvolvida por

Thornthwaite (1955) Desta forma definiu-se uma correspondecircncia entre o clima e o

resultado da relaccedilatildeo acima conforme mostra a tabela 3

Tabela 3 ndash Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez

CLIMA P ETP

Hiper-aacuterido lt 005

Aacuterido De 005 a 020

Semiaacuterido gt 020 a 050

Subuacutemido Seco gt 050 a 065

Subuacutemido Uacutemido gt 065

Fonte United Nations Environment Programme ndash UNEP (Programa

Ambiental das Naccedilotildees Unidas) 1992

52

Eacute interessante mencionar que o semiaacuterido brasileiro delimitado pela uacuteltima vez

em 1995 foi novamente demarcado a partir da iniciativa do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo

Nacional (MIN) que instituiu um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) envolvendo

departamentos empresas institutos agecircncias e ateacute bancos puacuteblicos para a readequaccedilatildeo dos

criteacuterios propostos pela Lei 782789 (BRASIL 1989c) Somente a inserccedilatildeo do municiacutepio na

aacuterea de abrangecircncia da extinta Superintendecircncia de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)

e a precipitaccedilatildeo meacutedia anual de ateacute 800 mm eram condiccedilotildees para enquadrar ou natildeo

determinado municiacutepio no semiaacuterido brasileiro (SUDENE 1990) Os novos paracircmetros satildeo

mais abrangentes pois aleacutem de considerar a precipitaccedilatildeo pluviomeacutetrica meacutedia anual inferior a

800 mm avaliam se o iacutendice de aridez do municiacutepio eacute de ateacute 05 ou se o risco de seca eacute maior

que 6011

Com a nova delimitaccedilatildeo em 2005 foram incorporados mais 102 municiacutepios aos

1031 jaacute classificados de forma que a aacuterea oficialmente semiaacuterida brasileira aumentou de

8923094 km2 para 9695894 km

2 ou seja um acreacutescimo de 866

12

A figura 4 ilustra o novo formato do semiaacuterido no Brasil E no Cearaacute foram

incorporados mais 16 totalizando 150 de um universo com 184 municiacutepios Isto significa

815 do estado e 132 de toda a regiatildeo semiaacuterida do paiacutes13

O quadro atual do semiaacuterido

cearense estaacute delineado na figura 5 a seguir

Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro

Fonte MIN (BRASIL 2005c)

11

Conferir Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro MI (BRASIL 2005c) 12

Idem 13

Ibidem

53

Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute

Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)

Com relaccedilatildeo ao processo de desertificaccedilatildeo no Brasil uma aacuterea de 900000 Kmsup2 eacute

atingida afetando direta ou indiretamente mais de 15 milhotildees de brasileiros natildeo existindo no

territoacuterio nacional outro problema ambiental que atinja tamanha aacuterea e tantas pessoas

(SUDENE 2000 apud IRAUCcedilUBA 2009) A regiatildeo nordeste por sua vez concentra as

Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) incluindo os espaccedilos semiaacuteridos e subuacutemidos

secos ambos de maior abrangecircncia fiacutesico-territorial vis-agrave-vis os outros espaccedilos naturais que

conformam e estruturam o Nordeste brasileiro (BRASIL 2004)

Pesquisadores apontam como principais causas de desertificaccedilatildeo no semiaacuterido

cearense a ocupaccedilatildeo desordenada do solo o desmatamento praacuteticas de queimadas (CEARAacute

2010b) Dentro desse raciociacutenio

Os estabelecimentos agropecuaacuterios ocupam o solo principalmente com lavouras

temporaacuterias e a criaccedilatildeo de animais Estas atividades muitas vezes satildeo executadas

sem preocupaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos e contribuem para

agravar o quadro de degradaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2010b p 103)

No mesmo sentido e no tocante agraves Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) o

PAN (BRASIL 2004) destaca que as condiccedilotildees ambientais dessas aacutereas (principalmente as de

54

clima solo aacutegua e vegetaccedilatildeo) associadas agrave pressatildeo exercida sobre os recursos naturais pela

accedilatildeo antroacutepica (pressatildeo populacional formas inadequadas de uso e ocupaccedilatildeo do solo entre

outros) vecircm contribuindo para a deflagraccedilatildeo de processos de desertificaccedilatildeo em algumas de

suas sub-regiotildees Um dos motivos para isso eacute a combinaccedilatildeo entre pobreza e desigualdade de

forma que

Uma imensa massa de pequenos agricultores descapitalizados confinados em

pequenas parcelas de terras de tais aacutereas (via de regra de meacutedia ou baixa fertilidade

natural) dependentes de seu trabalho para a produccedilatildeo de alimentos para

autoconsumo de forragens para seus animais mas necessitando produzir excedentes

comercializaacuteveis tenderaacute naturalmente a sobreutilizar os recursos naturais

contribuindo dessa forma para agravar os processos de degradaccedilatildeo Nas ASD este

ciacuterculo vicioso eacute agravado pela ocorrecircncia de secas perioacutedicas que levam agrave perdas

significativas e recorrentes de produccedilatildeo e de renda Neste sentido as secas

potencializam o grau de degradaccedilatildeo levando a vulnerabilidade ambiental a niacuteveis

mais elevados Os efeitos das secas sobre a sauacutede e a inseguranccedila alimentar e

nutricional tambeacutem satildeo conhecidos e consideraacuteveis (BRASIL 2004 p 106)

Classificando a susceptibilidade dessas aacutereas Matallo Jr (1999) construiu uma

relaccedilatildeo entre a aptidatildeo agrave desertificaccedilatildeo em funccedilatildeo do iacutendice de aridez conforme se vecirc pela

tabela 4

Tabela 4 - Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo

IacuteNDICE DE ARIDEZ SUSCEPTIBILIDADE Agrave

DESERTIFICACcedilAtildeO

005 a 020 Muito Alta

021 a 050 Alta

051 a 065 Moderada Fonte MATALLO JR (1999)

Nesse iacutenterim o municiacutepio de estudo do corrente trabalho tem iacutendice de aridez

conforme adotado pela UNEP de acordo com o que ilustra na figura 6

55

Figura 6 Iacutendice de Aridez (UNEP) do municiacutepio de Irauccediluba

O Cearaacute por sua vez eacute ldquoo Estado com a maior aacuterea relativa sob niacuteveis altos de

desertificaccedilatildeordquo (LEMOS 1995 apud FOLHES e VIANA 2001 p 5) Seu processo de

ocupaccedilatildeo e uso de terras via de regra foi marcado pela apropriaccedilatildeo dos recursos naturais de

forma a degradaacute-los Esta foi uma das causas para a concepccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Estadual

de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (PAE) cujo objetivo eacute

Contribuir para a convivecircncia equilibrada com o semiaacuterido por meio da

sustentabilidade ambiental do bioma caatinga a partir de poliacuteticas ambientais

sociais e econocircmicas focadas na reduccedilatildeo da pobreza A gestatildeo do Programa

pressupotildee a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo

democraacutetico e a participaccedilatildeo da sociedade (CEARAacute 2010b p 20)

No Estado existem trecircs nuacutecleos em processo de desertificaccedilatildeo Localizam-se no

Sertatildeo dos Inhamuns Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte e Sertatildeo de Jaguaribe abrangendo

respectivamente os municiacutepios de Arneiroz Independecircncia e Tauaacute Canindeacute Irauccediluba

Miraiacutema e Santa Quiteacuteria Jaguaretama Jaguaribara Jaguaribe Alto Santo e Morada Nova

(CEARAacute 2010b) Totalizam portanto 12 cidades com os maiores iacutendices de degradaccedilatildeo

ambiental do estado portanto susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo num grau muito grave como se

pode ver pelas figuras 7 e 8

No entanto o presente trabalho se ateraacute tatildeo somente ao municiacutepio de Irauccediluba

abrangido pelo nuacutecleo Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte

Fonte NOLEcircTO (2005)

56

Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave

desertificaccedilatildeo no Cearaacute desertificaccedilatildeo

Fonte IPECE (CEARAacute 2010a) Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)

O PAE (CEARAacute 2010b) utilizou para a formulaccedilatildeo do iacutendice de susceptibilidade

agrave desertificaccedilatildeo indicadores sociais que apontam a forma de ocupaccedilatildeo e tudo que dela

decorre e indicadores econocircmicos que representam as atividades humanas exercidas no

municiacutepio Vale ressaltar que as caracteriacutesticas do meio ambiente da regiatildeo natildeo foram

ignoradas muito pelo contraacuterio elas definiram as aacutereas classificadas como susceptiacuteveis agrave

desertificaccedilatildeo A lista abaixo demonstra os criteacuterios mensurados e os aspectos ambientais

observados

Indicadores sociais

1 Proporccedilatildeo da aacuterea das grandes propriedades na aacuterea total dos imoacuteveis rurais em

2005

2 Razatildeo entre alfabetizados e natildeo-alfabetizados de 5 ou mais anos de idade em

2000

3 Taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais de idade em 2000

(percentagem)

4 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino fundamental da populaccedilatildeo de 7 a 14

anos de idade em 2005

5 Taxa de evasatildeo no ensino fundamental em 2005

57

6 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino meacutedio da populaccedilatildeo de 15 a 17 anos de

idade em 2005

7 Taxa de evasatildeo escolar no ensino meacutedio em 2005

8 Densidade demograacutefica em 2006 (habitanteskm2)

Indicadores econocircmicos

1 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de carvatildeo vegetal pela aacuterea do municiacutepio em 2006

(tonha)

2 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de lenha pela aacuterea do municiacutepio em 2006 (m3ha)

3 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)

4 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)

5 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como pequena

propriedade em 2005 (haimoacutevel)

6 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como minifuacutendio em

2005 (haimoacutevel)

7 Razatildeo do consumo de energia eleacutetrica rural por consumidores de energia eleacutetrica

rural em 2005

8 Proporccedilatildeo de induacutestrias de transformaccedilatildeo no total de empresas industriais ativas

em 2005

9 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de feijatildeo em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

10 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com arroz em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

11 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com milho em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

12 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de mandioca em 2006 na aacuterea total dos

estabelecimentos agropecuaacuterios em 1996

13 Razatildeo do efetivo de bovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

14 Razatildeo do efetivo de ovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

15 Razatildeo do efetivo de caprinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

16 Razatildeo do efetivo de suiacutenos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

17 Produto Interno Bruto per capita a preccedilos de mercado em 2004

Caracteriacutesticas ambientais

1 Degradaccedilatildeo da cobertura vegetal

2 Assoreamento dos rios

3 Pastoreio excessivo

4 Perda da biodiversidade

5 Perda da capacidade produtiva do solo

6 Baixa relaccedilatildeo entre capacidade produtiva dos recursos naturais e sua capacidade

de recuperaccedilatildeo

A anaacutelise dos 25 paracircmetros entremeados com as condiccedilotildees ambientais estaacute

devidamente compilada no Quadro 2 ndash Caracterizaccedilatildeo das ASDs nos Sertotildees de Irauccediluba e

Centro-Norte do PAE (CEARAacute 2010b) As constataccedilotildees ensejam problemas no meio

ambiente a partir dos inuacutemeros gargalos sociais e econocircmicos como por exemplo a produccedilatildeo

agriacutecola em lavouras temporaacuterias na maior proporccedilatildeo dos estabelecimentos rurais o grande

iacutendice de pobres da regiatildeo o consumo de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo cada vez maior

58

Natildeo se pode deixar de mencionar os problemas ambientais que deixam a aacuterea em

questatildeo muito mais vulneraacutevel aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas e da desertificaccedilatildeo Satildeo

eles degradaccedilatildeo dos solos e da cobertura vegetal primaacuteria o sobrepastoreio o

desencadeamento e expansatildeo de processos erosivos acelerados com ocorrecircncia muito

frequente de afloramentos rochosos e chatildeos pedregosos perda de solos e biodiversidade

empobrecida baixa frequecircncia de espeacutecies lenhosas da caatinga e processos erosivos muito

ativos em funccedilatildeo do aumento da torrencialidade do escoamento superficial

Assim conclui-se que natildeo haacute como dissociar o quadro social e econocircmico das

nuances ambientais de um municiacutepio ou regiatildeo

Em se tratando da ASD nos Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte faz-se necessaacuterio

expor os nuacutemeros encontrados e as respectivas conclusotildees a partir dos levantamentos feitos

pelo PAE (CEARAacute 2010b) O Iacutendice Econocircmico e Social de Susceptibilidade agrave

Desertificaccedilatildeo (IESSD) ilustrado pelas figuras 9 e 10 por exemplo aponta as possiacuteveis causas

e os principais agentes causadores do processo de desertificaccedilatildeo sem quantificar ou mensurar

seu niacutevel

Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no Iacutendice Social de Susceptibilidade agrave

Desertificaccedilatildeo (ISSD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)

Fonte PAE (CEARAacute 2010b)

0

5

10

15

20

25

30

Contribuiccedilatildeo no ISSD ()

59

Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no Iacutendice Econocircmico de Susceptibilidade agrave

Desertificaccedilatildeo (IESD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)

Fonte PAE (CEARAacute 2010b)

Assim analisando os dois graacuteficos acima eacute possiacutevel perceber que sob o aspecto

social a concentraccedilatildeo de terras e a educaccedilatildeo datildeo a maior contribuiccedilatildeo ao iacutendice de

susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo enquanto que no vieacutes econocircmico destacam-se as aacutereas

destinadas a imoacuteveis rurais e o PIB ldquoper capitardquo Eacute um cenaacuterio deveras preocupante visto que

aquela regiatildeo jaacute eacute dotada de condiccedilotildees naturais adversas Uma populaccedilatildeo sem educaccedilatildeo

inserida num niacutevel de pobreza e ocupante de grande parte da zona rural que eacute onde as

atividades potencialmente degradadoras satildeo praticadas traduz uma combinaccedilatildeo

extremamente alarmante pois fazem uso de praacuteticas predatoacuterias e potencializam a

susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo

Segundo o PAE (CEARAacute 2010b p 123) nessa regiatildeo satildeo observadas ldquomarcas

configuradas de desertificaccedilatildeo como o elevado estaacutegio de degradaccedilatildeo do solo comprometendo

os processos naturais de sucessatildeo processos erosivos acelerados perda de solo e

biodiversidade espeacutecies lenhosas rarefeitasrdquo

05

1015202530354045

Contribuiccedilatildeo no IESD ()

60

Sob um olhar mais aprofundado voltado agrave Irauccediluba haacute maior destaque para as

atividades de agricultura e pecuaacuteria Lavouras temporaacuterias como feijatildeo milho e mandioca satildeo

as mais praticadas pelo pequeno agricultor A figura 11 aponta o percentual de

estabelecimentos ocupados com atividades agropecuaacuterias no municiacutepio

Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios Adaptado

Fonte PAE (CEARAacute 2010b)

Com relaccedilatildeo agrave extraccedilatildeo legalizada de madeira no municiacutepio de Irauccediluba o IBGE

informa que tanto a produccedilatildeo de carvatildeo como o corte de lenha entre 2004 a 2011 foi estaacutevel

Aquela girou em torno de 71 toneladas com um custo variaacutevel de R$ 1100000 a 2300000

ao ano enquanto que este ficou na casa dos 10000 m3 resultando num rendimento que

oscilou de R$ 4200000 a R$ 5700000 anuais14

Por fim Irauccediluba embora representando um dos quatro nuacutecleos de desertificaccedilatildeo

do Nordeste natildeo apresenta a pior condiccedilatildeo socioeconocircmica considerando a maioria dos

indicadores analisados (CEARAacute 2010b) Desta forma conclui-se que estes aspectos natildeo

determinam a desertificaccedilatildeo mas influenciam principalmente se as condiccedilotildees ambientais satildeo

limitantes Assim uma economia e uma sociedade deficientes inseridas num ambiente fraacutegil

natildeo tecircm como deixar de gerar degradaccedilatildeo

14

Conferir em lthttpwwwibgegovbrcidadesatxtrasperfilphpcodmun=230610ampsearch=ceara|iraucubagt

0

10

20

30

40

50

60

Irauccediluba

61

24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo do processo de degradaccedilatildeo

Embora o quadro de degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba seja por demais

preocupante ainda haacute condiccedilotildees para sua reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica a partir de

teacutecnicas e praacuteticas correspondentes ao tipo de solo ao estaacutegio de degradaccedilatildeo da aacuterea e ao

histoacuterico do uso da terra (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Continuam os autores

Assim considerando as extensotildees sob o planossolo que ocupam uma aacuterea total de

27321 ha duas recomendaccedilotildees podem ser propostas a regeneraccedilatildeo natural e a

adubaccedilatildeo organo-mineral A regeneraccedilatildeo natural eacute um processo muito lento e no

caso do planossolo de Irauccediluba dificilmente proporcionaraacute condiccedilotildees para retorno agrave

produtividade esperada [](ARAUacuteJO FILHO 1992) Entatildeo estaacute claro que a

recuperaccedilatildeo natural via pousio eacute muito lenta mas constitui uma opccedilatildeo em muitos

casos A aplicaccedilatildeo de adubo orgacircnico (estercos) eacute outra alternativa de recuperaccedilatildeo

pastoril que poderia ser utilizada no nuacutecleo de Irauccediluba Assim a fertilizaccedilatildeo com

foacutesforo constitui uma boa opccedilatildeo para a recuperaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica das

pastagens degradadas nos planossolos do nuacutecleo de Irauccediluba (ARAUacuteJO FILHO e

SILVA 2013 p 1013)

Outros fatores que envolvem o processo de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo

em Irauccediluba segundo Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 15) eacute ldquoa fixaccedilatildeo da agricultura no

terreno a sustaccedilatildeo do desmatamento e do uso do fogo visando agrave mitigaccedilatildeo dos impactos

antroacutepicos negativos a recuperaccedilatildeo dos agroecossistemas o aumento da produtividade

agriacutecola e da renda familiarrdquo Para tanto os mesmos autores sugerem que

A agrossilvicultura eacute com certeza o modelo de exploraccedilatildeo da terra mais apropriado

Dentre os modelos de sistemas agroflorestais o silvopastoril e o agrossilvipastoril

seriam os mais indicados para as condiccedilotildees de Irauccediluba O primeiro associa o

manejo florestal com a exploraccedilatildeo pastoril e o segundo associa o manejo florestal a

exploraccedilatildeo pastoril e a agricultura formando o sistema lavoura-pecuaacuteria-floresta O

modelo silvopastoril pode ser estabelecido seja para ter a madeira como o principal

produto seja para ter na exploraccedilatildeo animal a principal atividade (ARAUacuteJO FILHO

e SILVA 2013 p 15)

[]

A opccedilatildeo pela agrossilvicultura como a alternativa mais apropriada para a

reabilitaccedilatildeo dos solos de potencial agriacutecola mais elevado fundamenta-se na garantia

que este sistema de uso da terra traz a seguranccedila ambiental e a seguranccedila alimentar

No primeiro caso o solo eacute protegido contra a erosatildeo pelo acuacutemulo de serrapilheira

tem sua fertilidade reposta e sua biologia ativada pela deposiccedilatildeo da mateacuteria

orgacircnica Os recursos hiacutedricos satildeo beneficiados pela manutenccedilatildeo da mata ciliar

evitando o assoreamento das nascentes e reservatoacuterios e pela reduccedilatildeo das perdas de

aacutegua pelo solo A flora com a sustaccedilatildeo das queimadas e dos desmatamentos tem sua

biodiversidade incrementada e integraccedilatildeo das aacutervores no sistema produtivo

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2021)

Assim sendo o principal objetivo da recuperaccedilatildeo de uma aacuterea degradada deve ser

a recomposiccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica do solo Isto porque para que se restabeleccedila a

62

funcionalidade do ecossistema eacute fundamental a revitalizaccedilatildeo da biologia do solo principal

responsaacutevel pela circulaccedilatildeo de nutrientes15

Aleacutem disso continuam os mesmos autores

O aumento da mateacuteria orgacircnica e a formaccedilatildeo de uma cobertura morta sobre o solo o

protegeratildeo contra a erosatildeo laminar e melhoraratildeo sua capacidade de retenccedilatildeo de

aacutegua [] Os nutrientes de ecossistemas florestais de clima tropical se concentram

na biomassa e natildeo no solo como nos de clima temperado por isso os meacutetodos de

exploraccedilatildeo dos solos deveriam estar fundamentados no menor distuacuterbio possiacutevel do

meio bioloacutegico e no reforccedilo do aporte de mateacuteria orgacircnica (ARAUacuteJO FILHO e

SILVA 2013 p 710)

Nesse sentido para ambientes tropicais os sistemas de produccedilatildeo agroflorestais

(SAF) estatildeo sendo avaliados e propostos como alternativas ecologicamente sustentaacuteveis de

exploraccedilatildeo O uso de espeacutecies arboacutereas constitui a garantia de manter ativa a circulaccedilatildeo de

nutrientes e o aporte significativo de mateacuteria orgacircnica condiccedilatildeo essencial para se cultivar de

maneira continuada os solos tropicais16

No caso do bioma caatinga e de ambiente semiaacuterido segundo Arauacutejo Filho e silva

(2013) trecircs recomendaccedilotildees fundamentais garantem quando seguidas a sustentabilidade das

tecnologias de manipulaccedilatildeo

Preservaccedilatildeo de ateacute 400 aacutervores por hectare ou o equivalente a 40 de cobertura

utilizaccedilatildeo maacutexima de 60 da forragem disponiacutevel e preservaccedilatildeo da mata ciliar em

toda a malha de drenagem da pastagem Esta tecnologia jaacute vem sendo utilizada pelos

produtores na regiatildeo de Irauccediluba desde o iniacutecio da deacutecada de 1980 envolvendo

uma aacuterea de cerca de 3000 ha (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 1617)

Outras maneiras de controle e combate do processo de degradaccedilatildeo cuja iniciativa

vem do governo em suas diferentes formas e esferas satildeo os programas e as poliacuteticas puacuteblicas

a criaccedilatildeo de leis e normas sobre o tema a disponibilidade de recursos a fiscalizaccedilatildeo dos

oacutergatildeos competentes dentre outros

Ilustrando o primeiro exemplo em abril de 2011 a Superintendecircncia Estadual do

Meio Ambiente (SEMACE) e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) celebraram um convecircnio

de assistecircncia teacutecnica e financeira para a realizaccedilatildeo da pesquisa ldquoRevitalizaccedilatildeo da cobertura

vegetal nativa atraveacutes da recomposiccedilatildeo das matas ciliares e enriquecimento das aacutereas

destinadas a compor reserva legal dos imoacuteveis rurais do municiacutepio de Irauccedilubardquo Para a

consecuccedilatildeo dos objetivos propostos foi concedido um montante de R$ 4920000 (quarenta e

nove mil e duzentos reais) com fins de recuperar a qualidade do meio biofiacutesico atraveacutes do

plantio de essecircncias florestais nativas e plantas adaptadas agraves condiccedilotildees edafoclimaacuteticas da

aacuterea de abrangecircncia do projeto para

15

Como recomenda Lima (2009) In Arauacutejo Filho e Silva (2013) 16

Idem

63

1 Minimizar os impactos ambientais adversos causados pelos sistemas tradicionais

de exploraccedilatildeo econocircmica

2 Implantar um viveiro florestal permanente destinado agrave produccedilatildeo de mudas

nativas e adaptadas agraves condiccedilotildees locais associando-lhe atividades educativas e

de natureza formativa para o puacuteblico interessado

3 Incentivar o cultivo de essecircncias florestais nativas arboacutereas e frutiacuteferas que

contribuiratildeo para gerar alternativas de diversificaccedilatildeo de renda e por conseguinte

a melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo do municiacutepio

4 Fomentar a produccedilatildeo e o plantio de essecircncias florestais nativas ameaccediladas de

extinccedilatildeo

5 Viabilizar a recomposiccedilatildeo de matas ciliares dentro dos limites de abrangecircncia da

aacuterea das bacias hidrograacuteficas dos recursos hiacutedricos naturais denominados de

Riacho Aracatiaccedilu e Riacho Curu e do principal reservatoacuterio denominado de

Accedilude Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu seja em aacutereas de domiacutenio puacuteblico seja em

aacutereas de domiacutenio privado

6 Estabelecer a recuperaccedilatildeo da cobertura vegetal nativa de aacutereas de reserva legal

das propriedades rurais

O prazo do convecircnio era de doze meses ou seja ateacute abril de 2012 todavia foi

renovado por aditivo ateacute abril de 2013 Seu lanccedilamento soacute se deu em dezembro de 2011 e ateacute

agosto de 2012 o viveiro florestal ainda natildeo havia sido construiacutedo mas palestras com os

temas Desmatamento e Reserva Legal Fogo Desmatamento e Preservaccedilatildeo dos Accediludes

Resiacuteduos Soacutelidos Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal Aacuterea de

Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal foram ministradas pela SEMACE

Infelizmente nada mais foi feito pois dificuldades como a burocracia com o banco

financiador e a seca que assola o municiacutepio inviabilizando a produccedilatildeo e o plantio das mudas

levaram agrave extinccedilatildeo do convecircnio uma vez que seu prazo natildeo foi renovado numa segunda

oportunidade O recurso investido foi devolvido ao BNB e natildeo haacute qualquer previsatildeo de

retomada do projeto

Natildeo se pode deixar de registrar a indignaccedilatildeo que esse desfecho causa naqueles

que estudam e buscam uma saiacuteda Muitas vezes se natildeo todas as vezes ela existe mas eacute

deveras negligenciada ou pouco valorizada O que eacute que isso O Brasil eacute um paiacutes rico natildeo

falta recurso o que muito falta eacute vontade coragem e preferecircncia por aquilo que se deve

fazer Isto eacute um ultraje ao homem do campo que humilde e inocentemente espera confiante

em alguma providecircncia de seus representantes ou por quem faz as suas vezes

De modo diverso as normas 43 e 44 de 2005 (BRASIL 2005 a b) e a 512006

(BRASIL 2006a) que seratildeo explanadas no item 331 criadas pelo INCRA satildeo outras

medidas parecidas com o convecircnio citado acima pois tambeacutem foram elaboradas com o intuito

de recuperar e conservar os recursos naturais em aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e de

64

reserva legal mesmo sendo especiacuteficas para projetos de assentamento agraacuterio federal Atraveacutes

delas um determinado valor pode ser cedido por aquele oacutergatildeo e destinado agraves famiacutelias

assentadas para promoverem agrave implantaccedilatildeo de um projeto de recuperaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo

Como Poliacuteticas Puacuteblicas em niacutevel local e estadual que englobam o problema da

degradaccedilatildeo ambiental amplamente aqui discutido inclusive o mais seacuterio deles que eacute a

desertificaccedilatildeo destaca-se o Plano de Accedilatildeo Municipal de Combate agrave Desertificaccedilatildeo de

Irauccediluba (IRAUCcedilUBA 2009) e o Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e

Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (CEARAacute 2010b) O primeiro levou nove anos para se tornar

poliacutetica puacuteblica e contou com recursos do fundo de apoio a iniciativas locais de combate agrave

desertificaccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Nacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos

Efeitos da Seca (BRASIL 2004) Sua funccedilatildeo eacute orientar e desenvolver accedilotildees no sentido de

controlar e prevenir o avanccedilo da desertificaccedilatildeo e quando possiacutevel recuperar aacutereas degradadas

para o uso produtivo ou seja alcanccedilar o desenvolvimento sustentaacutevel nas aacutereas sujeitas agrave seca

e a desertificaccedilatildeo do Municiacutepio Como objetivos baacutesicos estatildeo as contribuiccedilotildees para

1 A formulaccedilatildeo do planejamento de uso sustentaacutevel dos recursos naturais do

Municiacutepio

2 A melhoria da produtividade e produccedilatildeo agriacutecola nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e

desertificaccedilatildeo

3 A reduccedilatildeo da vulnerabilidade e melhoria da qualidade de vida das populaccedilotildees

residentes nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e agrave desertificaccedilatildeo

4 A articulaccedilatildeo de accedilotildees setoriais do governo (em niacutevel federal estadual e

municipal) com vista agrave sinergia dos processos de planejamento

5 A melhoria da capacidade de enfrentamento dos problemas de desertificaccedilatildeo e

seca por parte das populaccedilotildees locais (IRAUCcedilUBA 2009 p 24)

O PAE (CEARAacute 2010b) em seu objetivo global e em termos gerais natildeo eacute muito

diferente do PAM (IRAUCcedilUBA 2009) pois visa contribuir para a convivecircncia com o

semiaacuterido e sustentabilidade ambiental do bioma caatinga Busca promover poliacuteticas

ambientais sociais e econocircmicas para a reduccedilatildeo da pobreza procurando em sua

administraccedilatildeo a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo democraacutetico

e a participaccedilatildeo da sociedade E recorre agrave negociaccedilatildeo transparente e responsaacutevel de conflitos

como forma privilegiada de superar as diferenccedilas de uso dos recursos naturais

25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira

A lei 6938 (BRASIL 1981) promulgada em 1981 foi a primeira norma juriacutedica

tratando da temaacutetica ambiental no Brasil Como bem diz Milareacute (2009) ela tem um caraacuteter

65

inovador pois sua implementaccedilatildeo seus resultados assim como a estabilidade e a efetividade

que denota constituem um salto de qualidade na vida puacuteblica brasileira

Com nascedouro um tanto quanto isolado a lei 693881 (BRASIL 1981)

instituiu a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente para a preservaccedilatildeo melhoria e recuperaccedilatildeo da

qualidade ambiental propiacutecia agrave vida visando assegurar no Paiacutes condiccedilotildees ao

desenvolvimento soacutecioeconocircmico aos interesses da seguranccedila nacional e agrave proteccedilatildeo da

dignidade da vida (artigo 2ordm) Tais objetivos estatildeo baseados em princiacutepios norteadores dos

quais se destacam para a presente pesquisa a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas (inciso VIII) e a

proteccedilatildeo de aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX)

Instrumentalizando a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente quanto agrave degradaccedilatildeo

ambiental existem as penalidades disciplinares ou compensatoacuterias ao natildeo cumprimento das

medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo ou correccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental conforme o artigo

9ordm inciso IX da Lei 693881 (BRASIL 1981) Em termos de sanccedilatildeo o artigo 14 disciplina

que os danos causados pela degradaccedilatildeo da qualidade ambiental sujeitaratildeo os transgressores agrave

multa simples ou diaacuteria agrave perda ou restriccedilatildeo de incentivos e benefiacutecios fiscais concedidos

pelo Poder Puacuteblico agrave perda ou suspensatildeo de participaccedilatildeo em linhas de financiamento em

estabelecimentos oficiais de creacutedito e agrave suspensatildeo de sua atividade

Para evitar a sanccedilatildeo pratica-se a prevenccedilatildeo e uma forma de prevenir a degradaccedilatildeo

eacute o licenciamento ambiental conforme preconiza o artigo 10 daquela mesma lei O natildeo

cumprimento disto enseja o enquadramento do representante da atividade ou do

estabelecimento no artigo 60 da Lei 960598 (BRASIL 1998) que versa sobre crimes

ambientais

Art 10 A construccedilatildeo instalaccedilatildeo ampliaccedilatildeo e funcionamento de estabelecimentos e

atividades utilizadores de recursos ambientais efetiva ou potencialmente poluidores

ou capazes sob qualquer forma de causar degradaccedilatildeo ambiental dependeratildeo de

preacutevio licenciamento ambiental (BRASIL 1981 p 7)

Art 60 Construir reformar ampliar instalar ou fazer funcionar em qualquer parte

do territoacuterio nacional estabelecimentos obras ou serviccedilos potencialmente

poluidores sem licenccedila ou autorizaccedilatildeo dos oacutergatildeos ambientais competentes ou

contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes Pena - detenccedilatildeo de um a seis meses ou multa ou ambas as penas cumulativamente

(BRASIL 1998 p 12)

Outra previsatildeo salutar na Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente eacute o dever que

entidades e oacutergatildeos de financiamento e incentivos governamentais tecircm de condicionar a

aprovaccedilatildeo de projetos financiaacuteveis ao licenciamento ambiental Aleacutem disto devem constar em

tais projetos a realizaccedilatildeo de obras e aquisiccedilatildeo de equipamentos destinados ao controle de

degradaccedilatildeo ambiental e a melhoria da qualidade do meio ambiente (artigo 12 paraacutegrafo

66

uacutenico) Isto tudo porque a instituiccedilatildeo que financia atividades eou empreendimentos que por

ventura causem algum dano tambeacutem se tornam corresponsaacuteveis pelo passivo ambiental

respondendo perante os oacutergatildeos competentes e os guardiatildees da lei

Por fim eacute pertinente mencionar que toda accedilatildeo ou omissatildeo prevista na legislaccedilatildeo

ambiental brasileira seja nas leis que criam diretrizes como nas que preveem sanccedilotildees visa o

combate o controle a reparaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo da degradaccedilatildeo aos bens naturais como um

todo O impasse eacute existir inuacutemeras normas distintas que dispotildeem sobre vaacuterios recursos

ambientais e que satildeo criadas em eacutepocas diferentes como por exemplo o Coacutedigo Florestal

(BRASIL 2012) o Coacutedigo de Caccedila (BRASIL 1967a) o Coacutedigo Mineraacuterio (BRASIL

1967b) o Coacutedigo de Pesca (BRASIL 2009) o Coacutedigo de Aacuteguas (BRASIL 1934a) a Poliacutetica

Nacional de Recursos Hiacutedricos (BRASIL 1997) o Programa Nacional de controle da

qualidade do ar (BRASIL 1989a) dentre outras O ideal eacute que houvesse a reuniatildeo de todos os

dispositivos em uma legislaccedilatildeo soacute como o fez a lei de crimes ambientais que versa sobre

infraccedilotildees cometidas aos bens naturais apontados pelas diversas normas citadas

Em niacutevel estadual o Cearaacute dispotildee de um arcabouccedilo legal que reflete um

pouco o que jaacute estaacute disposto nas leis federais no entanto cabe aqui citar algumas normas

pertinentes ao assunto estudado

A Resoluccedilatildeo nordm 092003 (CEARAacute 2003) do Conselho Estadual do Meio

Ambiente (COEMA) estabeleceu a compensaccedilatildeo ambiental como forma de prevenir eou

obrigar o poluidorusuaacuterio pagador ou degradador a indenizar os danos causados em

decorrecircncia da utilizaccedilatildeo de recursos naturais para fins econocircmicos Trata-se de medida

arrecadatoacuteria anterior ao processo de licenciamento ambiental e condicionada ao firmamento

de um Termo de Compromisso A supracitada norma definiu percentual de 05 a ser recolhido

com base no valor do empreendimento a ser implantado A destinaccedilatildeo dos valores recolhidos

seria via de regra a Unidades de Conservaccedilatildeo

A Lei Complementar nordm 482004 (CEARAacute 2004) criou o Fundo e o Conselho

Estadual Gestor do Meio Ambiente (FEMA) onde uma de suas finalidades eacute o ressarcimento

da coletividade por danos causados ao meio ambiente Reza o artigo 10 que qualquer cidadatildeo

pode propor projetos relativos agrave reconstituiccedilatildeo reparaccedilatildeo preservaccedilatildeo e prevenccedilatildeo do meio

ambiente A dita lei foi regulamentada pelo Decreto Estadual nordm 277192005 (CEARAacute 2005)

que por sua vez dispocircs accedilotildees programas planos e projetos para a melhoria e recuperaccedilatildeo da

qualidade ambiental no Estado do Cearaacute Agrave pertinecircncia da presente pesquisa cabe destacar

uma diretriz do FEMA prevista no inciso VIII do artigo 3ordm daquele Decreto

67

Artigo 3ordm

[]

VIII - Promover a proteccedilatildeo da biodiversidade e dos ecossistemas associados e aacutereas

ameaccediladas de degradaccedilatildeo atraveacutes da preservaccedilatildeo conservaccedilatildeo e administraccedilatildeo de

biomas representativos bem assim da recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas

possibilitando melhor controle de atividades potencialmente poluidoras nos termos

da legislaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2005 p 2)

Eacute essencial citar a Lei 1248895 (CEARAacute 1995) que dispotildee sobre a Poliacutetica

Florestal do Estado do Cearaacute Um de seus objetivos guarda relaccedilatildeo direta com este trabalho

qual seja promover a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas e em processos de degradaccedilatildeo

especialmente nas aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e reserva legal bem como proteger as

aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX do artigo 3ordm) Para tanto um dos instrumentos

previsto e deveras necessaacuterio para a consecuccedilatildeo de tais fins eacute a fiscalizaccedilatildeo a aplicaccedilatildeo de

penalidades accedilotildees disciplinares e compensatoacuterias das medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo dos

recursos naturais ou a correccedilatildeo da degradaccedilatildeo do meio ambiente (inciso XI do artigo 4ordm)

E por fim eacute cabiacutevel mencionar a Lei 141982008 (CEARAacute 2008) pois institui a

Poliacutetica Estadual de Combate e Prevenccedilatildeo agrave Desertificaccedilatildeo e tem por base a Convenccedilatildeo

Internacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo nos Paiacuteses afetados por Seca Grave eou

Desertificaccedilatildeo Como jaacute mencionado no Cearaacute existem trecircs nuacutecleos com aacutereas susceptiacuteveis agrave

desertificaccedilatildeo e nada mais apropriado que o Estado dispor de uma legislaccedilatildeo proacutepria sobre o

tema Diante disto destacam-se os seguintes dispositivos

Art 1ordm Institui a Poliacutetica Estadual de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Desertificaccedilatildeo a qual

tem por objetivos

[]

III - instituir mecanismos de proteccedilatildeo conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da flora fauna e

de solos degradados nas aacutereas de risco ou impactadas pela desertificaccedilatildeo

[]

Art 3ordm Cumpre ao Poder Puacuteblico

I - diagnosticar o avanccedilo do processo de degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo ambiental nas

aacutereas afetadas

II - definir um plano de contingecircncia para mitigaccedilatildeo dos efeitos da degradaccedilatildeo

ambiental

[]

XI - estimular o desenvolvimento de agroinduacutestrias baseadas em alimentos

ambientalmente e culturalmente adaptados ao meio ambiente

[]

XIV - estimular a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente

e de Reserva Legal []

[]

Art 5ordm No tocante agrave agricultura irrigada o Poder Puacuteblico deveraacute

[]

II - diagnosticar as aacutereas cujos solos sejam susceptiacuteveis agrave salinizaccedilatildeo e acuacutemulo de

compostos de soacutedio e fomentar a recuperaccedilatildeo de solos afetados por salinizaccedilatildeo e

acuacutemulo de compostos de soacutedio

Art 6ordm No tocante agrave agricultura sequeiro o Poder Puacuteblico deveraacute

[]

68

II - incentivar o manejo sustentaacutevel dos recursos naturais apoiando o

desenvolvimento de sistemas agroflorestais e agrosilvopastoris diversificados e

integrados como forma de conciliar a recuperaccedilatildeo florestal e as atividades agriacutecolas

(CEARAacute 2008 p 1 - 3)

251 Lei ambiental de Irauccediluba

O municiacutepio de Irauccediluba criou sua proacutepria Poliacutetica Ambiental a partir da Lei

5652007 (IRAUCcedilUBA 2007) Nela estatildeo dispostos princiacutepios e instrumentos de accedilatildeo que

visam agrave qualidade ambiental em seus diferentes aspectos Felizmente a norma natildeo deixou de

fora as aacutereas de reserva legal pelo contraacuterio tratou do tema em uma seccedilatildeo especiacutefica

composta pelos artigos 57 e 58

Art 57 - A reserva legal eacute requisito essencial ao exerciacutecio legiacutetimo do direito de

propriedade na aacuterea rural e fundamental para a proteccedilatildeo do meio ambiente

ecologicamente equilibrado e da biodiversidade cumprindo funccedilotildees do interesse

coletivo e individual do proprietaacuterio

Art 58 - A reserva legal eacute a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) localizada no

interior de uma propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente

necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos

processos ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de

fauna e flora nativas sendo imutaacutevel sua localizaccedilatildeo apoacutes definida

sect1ordm - Fica proibido qualquer registro imobiliaacuterio relativo a propriedade rural sem

preacutevio registro da reserva legal sob pena de nulidade do ato

sect2ordm- A reserva legal deveraacute ser averbada agrave margem da matriacutecula do imoacutevel no

registro competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de

transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou divisatildeo da aacuterea

sect3ordm - As aacutereas de reserva legal e preservaccedilatildeo permanente poderatildeo ser computadas

conjuntamente desde que somadas passem de 50 (cinquumlenta por cento) da

extensatildeo total da propriedade e sejam de extensatildeo contiacutenua

sect4ordm - No imoacutevel rural que natildeo houver vegetaccedilatildeo nativa suficiente para compor o

miacutenimo da reserva legal o proprietaacuterio ou possuidor deveraacute recuperar e recompor

com a vegetaccedilatildeo nativa ateacute atingir a porcentagem determinada

sect5ordm - A recomposiccedilatildeo mencionada no paraacutegrafo anterior deveraacute ser realizada na

proporccedilatildeo de no miacutenimo 110 (um deacutecimo) da aacuterea da propriedade ou posse a cada

ano dando prioridade agraves aacutereas de preservaccedilatildeo permanente

sect6ordm - A Reserva Legal deve ser preferencialmente contiacutegua a das propriedades

vizinhas agraves unidades de conservaccedilatildeo ou aacutereas florestadas formando um corredor de

vegetaccedilatildeo

sect7ordm - A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser

utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel (IRAUCcedilUBA 2007 p 26)

No artigo 57 haacute o reconhecimento do direito de propriedade agrave luz da funccedilatildeo

social dada pela reserva legal e a devida importacircncia agrave proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental Jaacute o

58 prevecirc os 20 da aacuterea a tiacutetulo de reserva reproduzindo o que a lei federal ou seja o

Coacutedigo Florestal dispotildee No entanto o sect1ordm do mesmo dispositivo acaba restringindo ainda

mais o que a norma geral prescreve isto eacute proiacutebe qualquer registro junto ao cartoacuterio de

imoacuteveis sem a devida averbaccedilatildeo na matriacutecula da propriedade muito embora isso jaacute possa ser

diferente pela instituiccedilatildeo do Cadastro Ambiental Rural Dos paraacutegrafos 2ordm ao 5ordm houve a

69

revogaccedilatildeo expressa pela Lei 126512012 (BRASIL 2012) ou novo Coacutedigo Florestal O 6ordm e o

7ordm continuaram vigentes em sua essecircncia sofrendo apenas pequenas alteraccedilotildees jaacute que devem

estar em consonacircncia com a lei federal natildeo podendo ser menos restritivos

Por fim aleacutem do que fora comentado a lei ambiental de Irauccediluba traz muito em

sua natureza procedimentos e mandamentos semelhantes agrave de uma lei de uso e ocupaccedilatildeo do

solo Prevecirc portanto paracircmetros sobre publicidade emissotildees sonoras construccedilatildeo civil

poluiccedilatildeo obras dentre outros

70

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS

31 Reserva Legal em Irauccediluba

Um dos objetivos da presente pesquisa eacute o levantamento do nuacutemero de imoacuteveis

rurais no municiacutepio de Irauccediluba para em seguida verificar o grau de obediecircncia ao instituto

da reserva legal nessas propriedades Para tanto buscou-se os respectivos dados no cartoacuterio de

registro de imoacuteveis do municiacutepio no Instituto de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e

no Instituto de Desenvolvimento Agraacuterio do Cearaacute (IDACE)

No cartoacuterio de imoacuteveis onde o acesso eacute possiacutevel pela liberdade que qualquer

interessado tem para solicitar informaccedilotildees registrais achou-se o nuacutemero de 215 imoacuteveis

registrados Jaacute no INCRA o total de propriedades ali cadastradas eacute de 415 e no IDACE 713

imoacuteveis devidamente medidos e georreferenciados

Primeiramente cabe discorrer um pouco sobre esse desencontro na quantidade

dos imoacuteveis O fato de o cartoacuterio municipal possuir 215 imoacuteveis rurais registrados natildeo

significa que soacute tenha esse nuacutemero de propriedades laacute pois existem inuacutemeras terras habitadas

e utilizadas sem qualquer registro formal e neste caso o que os ldquodonosrdquo desses lugares

deteacutem chama-se posse o que os torna posseiros e natildeo proprietaacuterios O INCRA ter em seu

banco de dados o cadastro de 415 propriedades rurais tambeacutem natildeo quer dizer que soacute haja as

415 uma vez que a procura por este oacutergatildeo eacute voluntaacuteria quando se trata de cadastramento do

imoacutevel Soacute seraacute diferente se surgir a necessidade de desmembrar arrendar hipotecar vender

ou prometer em venda o bem rural Ou ainda em caso de partilha17

Esses satildeo os casos que

impelem o proprietaacuterio a cadastrar seu imoacutevel conforme definidos pela lei 494766

(BRASIL 1966) Do contraacuterio natildeo eacute obrigatoacuterio motivo pelo qual se explica nuacutemeros tatildeo

distintos uns dos outros Justificando um pouco esta discrepacircncia o II Plano Nacional de

Reforma Agraacuteria aponta que os dados do Cadastro do INCRA indicam que ldquosomente 5086

da aacuterea total do territoacuterio brasileiro estaacute na condiccedilatildeo de cadastradardquo (II PNRA 2003 p 22)

E por fim o nuacutemero apontado pelo IDACE acredita-se ser o mais proacuteximo da

realidade uma vez que pelo Programa de Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria com iniacutecio em 2007 as

propriedades rurais no municiacutepio de Irauccediluba foram no ano de 2012 medidas e

georreferenciadas uma a uma para dar fim aos problemas decorrentes da ausecircncia de tiacutetulos

imobiliaacuterios e o tamanho das aacutereas Eacute o que segue estabelecido pelo II PNRA (2003)

17

Partilha eacute a via pela qual se daacute a divisatildeo dos bens de uma heranccedila

A importacircncia de um recadastramento de todos os imoacuteveis rurais e da revisatildeo das

normas que regem o processo de registro das propriedades eacute ainda maior quando se

observa que as possibilidades de obtenccedilatildeo de terras para Reforma Agraacuteria estatildeo

condicionadas por dois indicadores que dependem das informaccedilotildees contidas no

Cadastro do INCRA o moacutedulo fiscal e os iacutendices de produtividade [] Por meio de

uma integraccedilatildeo do INCRA com os oacutergatildeos estaduais seraacute executado um amplo

processo de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria visando regularizar as pequenas posses de boa feacute

e a arrecadaccedilatildeo e incorporaccedilatildeo de terras devolutas ao patrimocircnio puacuteblico seguida de

sua destinaccedilatildeo para o assentamento de trabalhadores rurais e tambeacutem promover

accedilotildees anulatoacuterias sobre ocupaccedilotildees de terras com registros irregulares (II PNRA

2003 p 23)

Contudo o nuacutemero desencontrado de imoacuteveis natildeo eacute soacute o que assusta ou angustia

mas sim a quantidade iacutenfima de reserva legal existente naquele municiacutepio que jaacute sofre com

um processo criacutetico de degradaccedilatildeo

Apoacutes verificar junto ao cartoacuterio a quantidade de imoacuteveis rurais registrados

averiguou-se que somente trecircs dos 215 estatildeo com suas respectivas aacutereas de reserva legal

devidamente averbadas junto ao registro do bem Essa aguda diferenccedila tambeacutem natildeo muda

quando se analisa as informaccedilotildees presentes nos cadastros feitos junto ao INCRA Muitos satildeo

os cadastramentos onde tem descritas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente mas de reserva legal

somente cinco das 415 propriedades cadastradas No IDACE natildeo foi possiacutevel fazer esse

levantamento porque o objetivo deste oacutergatildeo em adentrar as aacutereas era medi-las em sua

totalidade sem discriminar a presenccedila de qualquer constataccedilatildeo em seu interior

Pela leitura da tabela 5 eacute possiacutevel concluir duas realidades A primeira eacute a

existecircncia de propriedade cujo registro apresenta averbaccedilatildeo da reserva legal mas sem

cadastro junto ao INCRA como eacute o caso do imoacutevel Poccedilo da PedraAacuteguas Mortas No

segundo caso ocorre o contraacuterio isto eacute natildeo haacute averbaccedilatildeo da reserva legal no cartoacuterio de

registro mas existe o cadastro da propriedade perante o INCRA constando a reserva legal

devidamente apontada conforme relatoacuterios cedidos por aquele oacutergatildeo

72

Tabela 5 - Levantamento de Imoacuteveis com reserva legal (Cartoacuterio de registro de imoacuteveisINCRA)

311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental - Projeto de Assentamento Agraacuterio em

foco

Todo projeto de assentamento de reforma agraacuteria soacute deve ser implantado apoacutes o

licenciamento ambiental junto ao oacutergatildeo competente que pela relevacircncia social do

empreendimento possui um procedimento diferenciado Eacute um processo trifaacutesico ou seja

consiste na licenccedila preacutevia (LP) licenccedila de instalaccedilatildeo (LI) e licenccedila de operaccedilatildeo (LO) mas no

caso dos projetos de assentamento satildeo soacute duas a LP e a LIO que nada mais eacute que a licenccedila de

18

Trata-se de um imoacutevel que foi destinado a Projeto de Assentamento no acircmbito estadual No entanto o registro

no cartoacuterio aponta que a propriedade possui Reserva Legal averbada mas no cadastro do INCRA natildeo haacute

qualquer menccedilatildeo a essa aacuterea 19

PA ndash Projeto de Assentamento da Reforma Agraacuteria Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria conjunto

de accedilotildees planejadas e desenvolvidas em aacuterea destinada agrave reforma agraacuteria para um puacuteblico beneficiaacuterio

orientadas para utilizaccedilatildeo racional dos espaccedilos fiacutesicos e dos recursos naturais existentes objetivando a

implementaccedilatildeo dos sistemas de vivecircncia e produccedilatildeo sustentaacuteveis na perspectiva do cumprimento da funccedilatildeo

social da terra e da promoccedilatildeo econocircmica social e cultural do trabalhador rural e de seus familiares (BRASIL

2006b) 20

O imoacutevel Poccedilo da Pedra e Aacuteguas Mortas eacute um soacute Embora natildeo conste no registro do cartoacuterio a aacuterea total da

propriedade e a destinada agrave reserva legal o Termo de Responsabilidade de Averbaccedilatildeo da Aacuterea de Reserva Legal

cedido pelo INCRA descreve as aacutereas apontadas na tabela 2

RESERVA LEGAL DOCUMENTALMENTE EXISTENTE

Imoacutevel Fonte dos Dados Aacuterea do Imoacutevel

(ha)

Aacuterea (ha) Domiacutenio Data da

Averbaccedilatildeo (AV)

Cadastro (C)

Miramar Cartoacuterio de Imoacuteveis

INCRA

1144 2305 Particular AV 06042005

C 05092005

Saco do

Vento18

Cartoacuterio de Imoacuteveis

INCRA

33060 661 PA19

estadual

AV 03102012

C 27122011

Poccedilo da Pedra

(Aacuteguas

Mortas)20

Cartoacuterio de Imoacuteveis 239778 47955 INCRA AV 02012003

Boa Vista INCRA 348 6960 Particular C 30121992

Escondido e

Vale do

Agreste

INCRA 15775 3155 Particular C 30121992

Lagoa Cercada INCRA 55180 50 Particular C13101992

73

instalaccedilatildeo e de operaccedilatildeo em um mesmo pedido conforme prevecirc a Resoluccedilatildeo CONAMA

3872006 (BRASIL 2006b)

Art 3ordm O oacutergatildeo ambiental competente concederaacute a Licenccedila Preacutevia - LP e a Licenccedila

de

Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo - LIO para os Projetos de Assentamentos de Reforma Agraacuteria

[]

sect 2o A LP constitui-se documento obrigatoacuterio e que antecede o ato de criaccedilatildeo de um

Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria tendo prazo para a sua expediccedilatildeo

apoacutes seu requerimento de ateacute noventa dias

sect 3o A LIO deveraacute ser requerida durante a validade da LP e cumpridos os requisitos

da mesma [] (BRASIL 2006 p2)

Por se tratar de um empreendimento rural e ambientalmente licenciaacutevel eacute muito

mais faacutecil e oportuno acontecer o cumprimento da reserva legal jaacute que o oacutergatildeo competente

foi provocado e por sua vez deve exigir a observacircncia daquele instituto Desta forma natildeo se

pode admitir que um licenciamento em zona rural seja concedido sem o devido respeito agrave aacuterea

de reserva legal

Especificamente os projetos de assentamento federais isto eacute os realizados pelo

INCRA devem obedecer agrave ordem que segue Ao dar iniacutecio ao processo de desapropriaccedilatildeo de

alguma terra o INCRA jaacute deve solicitar a Licenccedila Preacutevia devendo constar naquele processo o

protocolo do pedido A criaccedilatildeo do assentamento soacute eacute possiacutevel mediante uma portaria

resoluccedilatildeo ou decreto desde que jaacute possua a Licenccedila Preacutevia expedida Criado o assentamento

a Licenccedila de Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo deve ser solicitada de imediato ateacute porque se o contraacuterio

ocorrer os assentados ficam impossibilitados de receber recursos do governo como o creacutedito

de apoio inicial o creacutedito fomento o creacutedito para a construccedilatildeo de casa dentre outros

Essa sequencia e esses mandamentos estatildeo previstos no artigo 3ordm da Resoluccedilatildeo

CONAMA 3872006 (BRASIL 2006b) citada acima e no Acoacuterdatildeo nordm 2633-5107 (BRASIL

2007) do Tribunal de Contas da Uniatildeo conforme prevecirc o item 3 do sumaacuterio daquele

julgamento (3) A Licenccedila Preacutevia constitui-se em documento obrigatoacuterio e que antecede o ato

de criaccedilatildeo de um projeto de assentamento de reforma agraacuteria devendo ser expedida

anteriormente agrave obtenccedilatildeo da terra Trata-se de uma decisatildeo que teve origem em uma auditoria

realizada por este oacutergatildeo em assentamentos no Amazonas Paraacute e Acre quanto aos estudos de

viabilidade ambiental reserva legal e licenciamento ambiental em projetos criados pelo

INCRA Essa auditoria objetivou portanto avaliar o impacto nas aacutereas de reserva legal dos

projetos de assentamento bem como o cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental aplicaacutevel a esses

projetos conforme item 2 do Relatoacuterio do referido Acoacuterdatildeo Para tanto buscou-se saber se os

limites da reserva legal estavam sendo devidamente demarcados e preservados nos projetos de

74

assentamento rural e se o INCRA estava promovendo a aplicaccedilatildeo de teacutecnicas viaacuteveis para a

exploraccedilatildeo sustentaacutevel da Reserva Legal

Constatou-se pela amostragem realizada e demonstrada na Conclusatildeo e no Voto

do Acoacuterdatildeo 26332007 (BRASIL 2007) que

Conclusatildeo

[]

Item 65 o INCRA tem a necessidade premente de adotar medidas com vistas a

normalizar os procedimentos de criaccedilatildeo de projetos de assentamento desde o iniacutecio

do processo no que se refere ao cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental

Item 66 Eacute notoacuterio que a morosidade do oacutergatildeo no processo de regularizaccedilatildeo das

exigecircncias determinadas pela legislaccedilatildeo ambiental contribuiraacute para degradaccedilatildeo do

meio ambiente patrimocircnio sob proteccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal Brasileira Ao

disponibilizar terra aos assentados sem indicar a forma de uso do terreno por meio

do Plano de Uso e sem delimitar as aacutereas de preservaccedilatildeo mediante a demarcaccedilatildeo

das reservas legais o INCRA estaraacute dando tutela a esses usuaacuterios para disporem dos

lotes da forma que melhor lhes convier sem importar se essa exploraccedilatildeo implicaraacute

em degradaccedilatildeo ambiental (BRASIL 2007 p 9)

[]

Voto

[] Item 3 ndash subitem 12 A equipe de auditoria constatou nos assentamentos uma

grande degradaccedilatildeo das aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APP) e da reserva legal (RL)

Ainda verificou por meio de questionaacuterios aplicados aos trabalhadores assentados

que o INCRA natildeo promove accedilotildees efetivas relacionadas agrave orientaccedilatildeo e

conscientizaccedilatildeo ambiental dessas comunidades que natildeo sabem sequer o que

significa APP e RL

[]

Item 5 Outrossim eacute importante frisar que o INCRA eacute co-responsaacutevel pelas

irregularidades ambientais constatadas em seus projetos de assentamento []

(BRASIL 2007 p 11)

E por fim o dito Acoacuterdatildeo determina em niacutevel nacional embora a motivaccedilatildeo da

decisatildeo tenha por base a auditoria realizada somente em trecircs estados que

O INCRA se abstenha de criar projetos de assentamento sem a observacircncia ao

disposto no art 2ordm inciso III cc 3ordm sect 2ordm da Resoluccedilatildeo Conama 3872006 que

condiciona a criaccedilatildeo de projetos de assentamentos de reforma agraacuteria agrave existecircncia da

licenccedila preacutevia e ao disposto no art 2ordm inciso IV da mesma Resoluccedilatildeo que exige a

licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo como condiccedilatildeo para a implantaccedilatildeo e operaccedilatildeo

destes projetos Que em decorrecircncia do disposto no art 2ordm inciso VII da

ResoluccedilatildeoConama 3872006 atente a necessidade de que a reserva legal esteja

perfeitamente delimitada e caracterizada por ocasiatildeo do Plano de

Desenvolvimento do Assentamento e que o referido Plano seja elaborado em prazo

razoaacutevel (BRASIL 2007 p 16)

Para enriquecer a pesquisa nesse sentido procurou-se junto ao oacutergatildeo ambiental

estadual a SEMACE ndash Superintendecircncia Estadual do Meio Ambiente e ao proacuteprio INCRA as

licenccedilas emitidas e ainda em tramitaccedilatildeo referentes aos projetos de assentamento federais

Encontrou-se assim 3 processos de licenciamento na SEMACE numa busca compreendida

75

entre 01012010 a 06052013 sendo 2 de licenccedilas preacutevias e 1 de licenccedila de instalaccedilatildeo e

operaccedilatildeo No INCRA localizou-se 5 processos como se pode observar pela tabela 6 sendo 2

de licenccedilas preacutevias e 3 de licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo num periacuteodo de 09122008 a

08112010

Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais

Fonte SEMACE e INCRA

Conclui-se portanto a existecircncia de trecircs processos de LIO jaacute emitidas mas sem a

averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio de duas das trecircs propriedades conforme se pode

confirmar pela pesquisa feita no registro de imoacuteveis de Irauccediluba A exceccedilatildeo eacute a fazenda

Aacuteguas MortasPoccedilo da Pedra que possui averbaccedilatildeo da reserva legal desde 02012003

Aleacutem disto verificou-se tambeacutem todos os empreendimentos e atividades

localizadas no municiacutepio de Irauccediluba que possuem solicitaccedilatildeo ou recebimento de licenccedila

ambiental tanto em zona urbana como rural No total satildeo 15 tramitando e 40 emitidas

ressaltando que licenciamentos em zona rural o cumprimento da reserva legal deve ser

exigido

Quanto aos assentamentos agraacuterios no municiacutepio de Irauccediluba a tabela 7 aponta a

pesquisa realizada junto ao INCRA e ao IDACE onde se constatou que o primeiro oacutergatildeo

implantou 8 projetos e o segundo 6 Em todos eles existe a demarcaccedilatildeo da aacuterea de reserva

legal nas plantas georreferenciadas cedidas pelas duas instituiccedilotildees acima citadas

PROCESSO TIPO PA FONTE DO

DADO

PROTOCOLO EXPEDICcedilAtildeO VALIDADE STATUS

11386605-4 LP Arraia INCRASEMA

CE

08112010 01072011 Natildeo

informada

Emitida

11118313-8 LP Alegre e

anexos

INCRASEMA

CE

10112010 29032011 Natildeo

informada

Tramitando

09557603-7 LIO Aacuteguas

Mortas

Poccedilo da

Pedra

INCRASEMA

CE

30102009 24032010 24032013 Emitida

08653283-9 LIO Satildeo

Marinho

Rodeador

INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida

08653281-2 LIO Olho

d‟aacutegua da

esperanccedila

INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida

76

Tabela 7 - Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba

PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO - IRAUCcedilUBA

Nome do

Assentamento

Instituiccedilatildeo

Responsaacutevel

Aacuterea do

Imoacutevel (ha)

Aacuterea de Reserva

Legal (ha)

Data de criaccedilatildeo Nordm de Famiacutelias

Assentadas

Saco do Vento IDACE 33060 661 Em andamento 10

Aroeira IDACE 50508 10101 Em andamento 10

Boqueiratildeo IDACE 38474 7694 Em andamento -

Mudubim IDACE 6512 1302 Em andamento 5

Consulta IDACE 39593 7918 23072001 13

Cachoeira IDACE 14929 2985 05102006 10

Saco Verde INCRA 6464 129280 2691997 100

Cajazeiras II INCRA 96487 19297 2691997 30

Aacuteguas Mortas

Poccedilo da Pedra

INCRA 239778 47955 22121997 52

RiachueloAlto

Alegre

INCRA 3378 67560 09112005 16

Olho drsquoAacutegua da

Esperanccedila

INCRA 1940 388 06122007 23

Satildeo Marinho

Rodeador

INCRA 50757 10151 04122006 10

Arraia INCRA 156797 31359 13102011 34

Almas INCRA 1297 25940 17111998 22

Eacute importante salientar que em 2005 e em 2006 o INCRA baixou 3 normas

referentes a criteacuterios e procedimentos para a implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e

Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria A

primeira eacute a NE 432005 (BRASIL 2005a) a segunda NE 442005 (BRASIL 2005b) que

estabeleceu o valor unitaacuterio por famiacutelia para a implantaccedilatildeo destes projetos e a terceira NE

512006 (BRASIL 2006a) aprovou o manual para a elaboraccedilatildeo dos projetos de recuperaccedilatildeo

A NE 432005 (BRASIL 2005a) considera a premente necessidade de

recuperaccedilatildeo natildeo soacute de Reserva Legal mas de aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente em grande

parte dos Projetos de Assentamento em todo o territoacuterio nacional mas infelizmente soacute

abrange os que satildeo implantados pelo Governo Federal (Art 2ordm inciso I) ficando de fora os

que satildeo de competecircncia dos Estados O criteacuterio para implantaccedilatildeo desses projetos eacute a aacuterea ser

reconhecida com problemas ambientais principalmente em termos de degradaccedilatildeo (Art 2ordm

inciso II) Para ser possiacutevel financeiramente a execuccedilatildeo de um projeto deste cuja norma

regulamentadora ainda se encontra vigente o INCRA disponibiliza ateacute R$ 100000 por

famiacutelia (Art 1ordm NE 442005 (BRASIL 2005b)) no entanto caso seja tecnicamente

comprovado que a recuperaccedilatildeo de aacutereas de reserva legal preservaccedilatildeo permanente e de solo

exija um maior investimento o valor poderaacute ser superior ao estabelecido Neste caso a

importacircncia repassada seraacute definida em funccedilatildeo do custo calculado para a recuperaccedilatildeo do dano

ambiental (Art 1ordm Paraacutegrafo Uacutenico)

77

O manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e

conservaccedilatildeo de recursos naturais em assentamentos da reforma agraacuteria aprovado pela NE

512006 (BRASIL 2006a) deixa claro que seus objetivos natildeo satildeo soacute reabilitar e resguardar a

aacuterea ambiental do assentamento Haacute mais e maiores propoacutesitos nisto como por exemplo

cumprir as exigecircncias estabelecidas pelo oacutergatildeo de meio ambiente estadual durante o processo

de licenciamento21

bem como a mobilizaccedilatildeo da comunidade em torno de atividades visando agrave

recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo dos recursos naturais por meio de programas de educaccedilatildeo

ambiental fiscalizaccedilatildeo e manutenccedilatildeo envolvendo os assentados Para que isto ocorra eacute

extremamente importante a participaccedilatildeo destes na elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do projeto22

Por fim os Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais seratildeo

destinados agraves seguintes praacuteticas23

1 Cercamento de aacutereas de Reserva Legal e aacutereas de preservaccedilatildeo permanente

visando a regeneraccedilatildeo eou a proteccedilatildeo das aacutereas

2 Construccedilatildeo de viveiros para produccedilatildeo de mudas que seratildeo utilizadas no processo

de recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas

3 Demarcaccedilatildeo topograacutefica da Reserva Legal

4 []

5 Reflorestamento em aacutereas de Reserva Legal com espeacutecies nativas que

possibilitem o manejo florestal sustentaacutevel madeireiro ou natildeo madeireiro baseado

em princiacutepios e em criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos definidos e devidamente

aprovados pelo oacutergatildeo ambiental competente

6 Plantio de aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais composto por espeacutecies

exoacuteticas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas para

compensaccedilatildeo ou manutenccedilatildeo da aacuterea de reserva legal a criteacuterio do oacutergatildeo ambiental

competente

7 Atividades alternativas de produccedilatildeo (criaccedilatildeo de abelhas artesanato entre outras)

associadas agrave recuperaccedilatildeo ambiental e como instrumento de valorizaccedilatildeo das aacutereas a

serem conservadas ou recuperadas e de combate agraves praacuteticas indevidas de uso do

fogo

8 [] (BRASIL 2006ordf p 1112)

32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo

321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba

O municiacutepio de Irauccediluba possui uma aacuterea de 1461253 Km2 o que corresponde a

098 do territoacuterio estadual e estaacute situado no sertatildeo Centro-Norte conforme figura 12

inserido na microrregiatildeo geograacutefica de Sobral Dista cerca de 150 Km da capital Fortaleza e

21

p 7 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos naturais 22

p 11e 13 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos

naturais 23

p 11e 12 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos

naturais

78

localiza-se entre as coordenadas geograacuteficas Latitude 3˚44‟46rdquo S (Sul) e Longitude 39˚47‟00rdquo

WGr (oeste) Faz fronteira ao norte com os municiacutepios de Miraiacutema e Itapipoca ao sul com

Santa Quiteacuteria e Canindeacute a leste com Itapajeacute e Tejuccediluoca e a oeste com Sobral e possui trecircs

distritos Missi Juaacute e Boa Vista segundo ilustra a figura 13

Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba

Fonte Lustosa (2004) Fonte Lustosa (2004)

Segundo o censo de 2010 do IBGE a populaccedilatildeo do municiacutepio era de 22324

pessoas sendo curiosamente a maioria homens (5083) Jaacute sua densidade demograacutefica

correspondia a 1539 habKm2 A ocupaccedilatildeo municipal predomina na zona urbana

correspondendo a 6425 dos indiviacuteduos Em 2012 a populaccedilatildeo aumentou para 22742

pessoas

3211 Das propriedades estudadas

Por Irauccediluba possuir aproximadamente 713 imoacuteveis rurais tomando por base a

mediccedilatildeo feita pelo IDACE em 2012 natildeo seria possiacutevel o estudo de todas elas Partiu-se

entatildeo para uma amostragem com base nos imoacuteveis que possuiacuteam a reserva legal seja por

registro em cartoacuterio eou porque a aacuterea eacute puacuteblica e foi destinada a projetos de assentamentos

agraacuterios (PA‟s) estaduais e federais que por sua vez deveriam respeitar tal obrigatoriedade

79

Pela tabela 8 vecirc-se que dos 14 assentamentos em Irauccediluba 6 satildeo estaduais e 8

federais No entanto os criteacuterios utilizados para examinaacute-los foi o tempo de criaccedilatildeo de cada

um e a existecircncia de reserva legal delimitada na planta da propriedade Aleacutem disto foi

escolhido um imoacutevel particular por apresentar a averbaccedilatildeo da reserva legal como demonstra a

tabela 9

Tabela 8 - Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de anaacutelise

PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO

Nome do

Assentamento

Instituiccedilatildeo

Responsaacutevel Data de Criaccedilatildeo Status para anaacutelise

Saco do Vento IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Aroeira IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Boqueiratildeo IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Mudubim IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Consulta IDACE 23072001 Planta natildeo disponibilizada

Cachoeira IDACE 05102006 Planta natildeo disponibilizada

Saco Verde INCRA 2691997 Incluiacutedo

Cajazeiras II INCRA 2691997 Incluiacutedo

Aacuteguas Mortas

Poccedilo da Pedra INCRA 22121997 Incluiacutedo

RiachueloAlto

Alegre INCRA 09112005 Incluiacutedo

Almas INCRA 17111998 Incluiacutedo

Olho d‟Aacutegua da

Esperanccedila INCRA 06122007

Muito recente ndash Fora de abrangecircncia

das imagens de sateacutelite

Satildeo Marinho

Rodeador INCRA 04122006

Reserva legal natildeo delimitada na planta

do imoacutevel

Arraia INCRA 13102011 Muito recente ndash Fora de abrangecircncia

das imagens de sateacutelite

Tabela 9 - Dados da propriedade particular estudada PROPRIEDADE PARTICULAR ANALISADA

Nome Proprietaacuterio Data da averbaccedilatildeo

da RL Status para anaacutelise

Miramar MIRASA ndash Miramar

Agropecuaacuteria SA 06042005 Incluiacutedo

Diante dos paracircmetros de seleccedilatildeo apontados acima restaram 5 assentamentos e 1

aacuterea particular totalizando 6 aacutereas para estudo Assim sendo as propriedades analisadas

foram RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas Almas Saco Verde Cazajeiras II e Miramar

sendo esta a de domiacutenio privado Com exceccedilatildeo desta uacuteltima as demais satildeo assentamentos

agraacuterios federais ficando de fora os estaduais por serem em sua maioria recentes isto eacute a

partir de 2010 e por isso natildeo abrangidos pelas imagens de sateacutelite utilizadas (anos 1993 e

2007) As duas estaduais mais antigas Consulta e Cachoeira natildeo tiveram suas plantas

80

disponibilizadas pelo oacutergatildeo competente e as federais que ficaram excluiacutedas tambeacutem eram

muito recentes aleacutem do que natildeo possuiacuteam reserva legal delimitada

A figura 14 a seguir mostra a localizaccedilatildeo das propriedades estudadas e suas

respectivas reservas legais delimitadas que podem ser lidas pela legenda de cores ao lado

Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo

A tabela 10 traz as aacutereas de cada imoacutevel e sua reserva legal onde eacute possiacutevel

constatar um nuacutemero pequeno de propriedades que apresentam o tal instituto criado e exigido

por lei Aleacutem disso a soma de suas aacutereas tambeacutem eacute pouco expressiva ao comparar com a do

municiacutepio No total satildeo 1628865 hectares sendo 328832 hectares pertinentes agrave reserva

legal

Tabela 10 - Propriedades estudadas

PROPRIEDADES ESTUDADAS

IMOacuteVEL DOMIacuteNIO AacuteREA DO IMOVEL (HA) AacuteREA DA RESERVA LEGAL (HA)

Saco Verde INCRA 6464 129280

Cajazeiras II INCRA 96487 19297

Aacuteguas Mortas Poccedilo da Pedra INCRA 239778 47955

Riachuelo Alto Alegre INCRA 3378 67560

Olho drsquoAacutegua da Esperanccedila INCRA 1940 388

81

Miramar PARTICULAR 1144 25940

3212 Aspectos histoacutericos da ocupaccedilatildeo do municiacutepio

Haacute quem diga que Irauccediluba significa tanto amizade como grande abelha amarela

A primeira acepccedilatildeo se deve ao povo hospitaleiro de bons sentimentos e amigos da paz Jaacute a

segunda faz referecircncia a um vocaacutebulo indiacutegena cuja expressatildeo representa a junccedilatildeo de trecircs

palavras ira que quer dizer mel ou abelha ussu grande e yuba amarelo (FOLHES e

VIANA 2001)

Segundo o IBGE o surgimento de Irauccediluba se deve a um povoado denominado

Cacimba do Meio que despontou no iniacutecio do seacuteculo XIX O nome do municiacutepio como

atualmente eacute conhecido soacute foi alterado em 1899 pelo desembargador Aacutelvaro de Alencar

Irauccediluba foi distrito de Itapajeacute de 1905 ateacute 1957 quando foi elevada agrave condiccedilatildeo de municiacutepio

Quanto a sua ocupaccedilatildeo Arauacutejo Filho e Silva (2013) remontam a memoacuteria dos

mais antigos que registra o fenocircmeno da transumacircncia na regiatildeo jaacute no seacuteculo XIX Aleacutem

disto os autores ainda mencionam que

O primeiro relato da presenccedila do homem branco na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba

refere-se agrave passagem no ano de 1606-1607 dos jesuiacutetas Francisco Pinto e Luiacutes

Figueira Na eacutepoca a regiatildeo era habitada por iacutendios das etnias Tupi e Tapuia

citando-se os Anaceacute Apuiareacute e Kariri (GIRAtildeO1967) Consta entatildeo que os

indiacutegenas viviam da caccedila e que na eacutepoca seca ateavam fogo na erva para afugentar

as cobras e facilitar a caccedila (ARAUacuteJO e SILVA 2013 p 4)

E soacute para constar o potencial do municiacutepio acerca da boa qualidade das pastagens

de forma a compensar a praacutetica da transumacircncia em tempos antigos vale referenciar um

texto de Dias (1998) que Folhes e Viana (2001) fazem menccedilatildeo

ldquo() no espaccedilo onde Irauccediluba estaacute inserida atualmente visto como um ambiente

inoacutespito em processo de desertificaccedilatildeo no seacuteculo XVII ao se transitar pela flora

primitiva na eacutepoca das chuvas era difiacutecil saber se era noite ou dia face ao

adensamento da vegetaccedilatildeordquo Esse adensamento foi registrado pelos jesuiacutetas

Francisco Pinto e Luiacutes Figueira em 1607 quando partiram de Pernambuco numa

missatildeo de catequese em direccedilatildeo ao Maranhatildeo (DIAS 1998 p 62 apud FOLHES e

VIANA 2001 p 9)

322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas

Arauacutejo Filho e Silva (2013) fazem um apanhado sucinto e ao mesmo tempo geral

de duas atividades econocircmicas desenvolvidas no municiacutepio de Irauccediluba

82

Historicamente a Regiatildeo tem na pecuaacuteria a mais importante atividade dentro de um

sistema de transumacircncia servindo de estaccedilatildeo na eacutepoca das chuvas para os rebanhos

criados na regiatildeo litoracircnea Isto porque apresenta extensas aacutereas recobertas por

planossolos sob uma caatinga do tipo savana com cobertura herbaacutecea de excelente

potencial forrageiro Considerando a ocupaccedilatildeo da aacuterea municipal 124 satildeo usados

para a produccedilatildeo agriacutecola a pecuaacuteria ocupa 671 e os restantes 205 satildeo

recobertos de matas Confrontando os dados da distribuiccedilatildeo dos solos e de sua

ocupaccedilatildeo vecirc-se que a pecuaacuteria eacute praticada em toda a extensatildeo dos planossolos e dos

luvissolos a agricultura ocupa pequena parcela do luvissolo e dos solos litoacutelicos e a

extraccedilatildeo de madeira parte dos litoacutelicos e dos luvissolos (IBGE 2010) (ARAUacuteJO

FILHO e SILVA 2013 p 1)

Para os autores a pecuaacuteria em sistemas de produccedilatildeo de regiotildees semiaacuteridas

constitui uma atividade tampatildeo dos efeitos da seca facilita a dispersatildeo dos riscos de perdas

tem boa liquidez econocircmica e eacute um fator muito importante de fixaccedilatildeo do homem agrave terra

Em se tratando de nuacutemeros o PAE (CEARAacute 2010b) apresentou em seus

levantamentos percentuais a situaccedilatildeo de alguns aspectos socioeconocircmicos que ora se julga

interessantes expor neste trabalho Por exemplo o analfabetismo estaacute decrescendo eacute o que a

taxa de escolaridade no ensino fundamental de 932 em 2007 demonstra mas altas taxas

de repetecircncia evasatildeo escolar qualificaccedilatildeo dos professores baixo aproveitamento dos alunos

e divergecircncia entre a faixa etaacuteria e a seacuterie cursada tambeacutem satildeo problemas que afetam a

educaccedilatildeo no municiacutepio Folhes e Viana (2001) Quanto ao saneamento baacutesico natildeo existia rede

de esgotamento no municiacutepio nem aacutegua tratada para a maioria da populaccedilatildeo conforme

pesquisa realizada em 2007 contudo em 2010 a CAGECE24

informou que havia 6173

ligaccedilotildees entre reais e ativas para o abastecimento de aacutegua enquanto que a cobertura de

esgoto continuava sem nenhuma ligaccedilatildeo mas curiosamente apresentava uma taxa de

cobertura de 1937

O PAE (CEARAacute 2010) diz que em Irauccediluba o salaacuterio meacutedio mensal da

populaccedilatildeo correspondia a um salaacuterio miacutenimo e meio mas o IBGE (2010) traz outro nuacutemero

Em 2010 quando o salaacuterio miacutenimo era de R$ 51000 a renda domiciliar per capita entre frac14 a

mais de 3 correspondia a 5158 trabalhadores sendo que a maioria deles recebia por mecircs R$

12750 ou menos Agregada a essa realidade econocircmica existe a populaccedilatildeo extremamente

pobre com renda domiciliar per capita de ateacute R$ 7000 Nesse patamar concentram-se 8008

pessoas

Eacute nesse contexto que estatildeo cerca de 13500 pessoas classificadas como

economicamente ativas no municiacutepio Infelizmente o nuacutemero de irauccedilubenses inseridos na

condiccedilatildeo de pobreza eacute bem expressivo correspondendo a 3587 da populaccedilatildeo em 2010

24

In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p14)

83

Eacute faacutecil perceber que se trata de uma cidade pouco desenvolvida pobre sem muita

educaccedilatildeo e condiccedilotildees baacutesicas de sauacutede Isso reflete tanto na economia como na qualidade de

vida sem falar no cenaacuterio ambiental pois a situaccedilatildeo como estaacute posta favorece muito mais a

degradaccedilatildeo dos recursos naturais

Falando em questotildees ambientais dentro do contexto da dinacircmica populacional de

Irauccediluba eacute interessante citar a retraccedilatildeo no nuacutemero de indiviacuteduos residentes na aacuterea rural

desde a deacutecada de 70 e consequentemente aumento na urbana Considerando que os riscos de

desertificaccedilatildeo satildeo mais acentuados nas regiotildees densamente povoadas porque haacute maior

pressatildeo sobre os bens naturais e que a densidade demograacutefica do municiacutepio em 2010 estava

em 1539 habkm Folhes e Viana (2001) pontuam

A densidade demograacutefica de Irauccediluba representa pouco mais da metade do que

Ferreira et al (1994) estabeleceram como ldquofator de pressatildeordquo no estudo que se

tornou conhecido por ser o primeiro a confeccionar o mapa de susceptibilidade agrave

desertificaccedilatildeo do Nordeste brasileiro dada(s) as condiccedilotildees de semi-aridez as

condiccedilotildees dos solos a disponibilidade de aacutegua da regiatildeo e a capacidade de suporte

da mesma adotou-se como fator de pressatildeo sobre o meio ambiente a densidade

igual ou superior a 20habkm2 (p19-20)rdquo Veem-se a dificuldade e imprecisatildeo dos

estudos quanto agrave determinaccedilatildeo de algum ponto criacutetico onde a relaccedilatildeo densidade

demograacutefica versus processos de desertificaccedilatildeo passa de causa para efeito

(FOLHES e VIANA 2001 p 13)

Os autores ainda reforccedilam que o municiacutepio se enquadra no grupo com fraca

densidade demograacutefica que eacute de 10 a 20habkm2 de acordo com a classificaccedilatildeo estabelecida

pelo diagnoacutestico agro-soacutecio-econocircmico

Segundo Folhes e Viana (2001) um dos iacutendices mais sensiacuteveis para se medir o

niacutevel de desenvolvimento de um municiacutepio eacute a taxa de mortalidade infantil pois ela revela a

estreita ligaccedilatildeo entre o estado de sauacutede da populaccedilatildeo o acesso aos serviccedilos meacutedicos

condicionados pela situaccedilatildeo soacutecioeconocircmica da populaccedilatildeo Em Irauccediluba essa taxa eacute de 1592

mortos a cada 1000 nascidos vivos maior ainda que a do estado 133225

A economia de Irauccediluba gira em torno de atividades como agricultura e pecuaacuteria

Aquela engloba culturas praticadas em lavouras permanentes e temporaacuterias e esta envolve a

criaccedilatildeo de gado de vaacuterias espeacutecies e aves como galos e galinhas Em termos comparativos

traccedilou-se um paralelo do sistema produtivo econocircmico nos anos de 2001 e 2011 para que se

pudesse avaliar alguma retraccedilatildeo ou evoluccedilatildeo no quadro agropecuaacuterio e industrial do

municiacutepio

A figura 15 abaixo eacute autoexplicativa de modo que prontamente se percebe a

banana e a manga como as culturas mais significativas ficando logo atraacutes o cocircco da baiacutea

25

SESA (2011) In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p 9)

84

Nota-se tambeacutem natildeo haver muita diferenccedila de produccedilatildeo dos trecircs cultivos agriacutecolas nesses

dois anos o que leva a concluir que os produtores do municiacutepio mantiveram os investimentos

e colheitas semelhantes O mesmo natildeo ocorreu com o algodatildeo arboacutereo pois seu resultado caiu

drasticamente no periacuteodo analisado Ressalte-se poreacutem que o ano de 2001 foi mais produtivo

que o de 2011 com exceccedilatildeo da castanha de caju

Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Permanentes

Fonte IBGE (2001 e 2011)

Com relaccedilatildeo agraves lavouras temporaacuterias o destaque eacute da mandioca e da mamona

muito embora esta uacuteltima soacute apresente resultados no ano de 2011 Outras culturas temporaacuterias

satildeo o milho e o feijatildeo mas natildeo constam na figura 16 porque a disparidade entre os dois anos

e a alta produtividade em 2011 dificultariam a visualizaccedilatildeo

Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Temporaacuterias

Fonte IBGE (2001 e 2011)

85

De qualquer maneira a safra de milho e feijatildeo em 2001 natildeo foi tatildeo expressiva

ou seja correspondeu a 14 e 7 toneladas respectivamente Jaacute em 2011 esse nuacutemero foi agraves

alturas chegando agraves 4433 toneladas de milho e 2088 toneladas de feijatildeo

Jaacute os produtos de origem florestal comuns em Irauccediluba satildeo a cera o poacute e a fibra

da carnauacuteba o carvatildeo vegetal a lenha e a madeira em tora poreacutem os mais relevantes satildeo o

carvatildeo vegetal e a lenha conforme se vecirc nas figuras 17 e 18

Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em tonano

Fonte IBGE (2001 e 2011)

Como a lenha e a madeira em tora tecircm unidade de medida diferente dos demais

produtos construiu-se a figura 18 para natildeo deixaacute-las de fora da anaacutelise

0100020003000400050006000700080009000

1000011000

Lenha Madeira em tora

Produtos de origem vegetal (m3ano)

2001

2011

Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em m3ano

Fonte IBGE (2001 e 2011)

86

Quanto aos produtos de origem animal o leite foi o mais vultoso sobressaindo-se

nos anos de 2001 e 2011 Na tabela 11 abaixo tambeacutem foram relacionados os outros mas

com participaccedilatildeo bem pequena na produtividade do municiacutepio

Tabela 11 - Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem animal Produtos de origem animal

Leite Mel de abelha Ovos de galinha Ovos de codorna

Produccedilatildeo (mil l) Produccedilatildeo (kg) Produccedilatildeo (mil dz) Produccedilatildeo (mil dz)

2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011

5228 6031 0 507 80 143 0 1

Fonte IBGE (2001 e 2011)

Em termos industriais julgou-se interessante fazer uma comparaccedilatildeo um tanto

mais abrangente citando tambeacutem os nuacutemeros do ano de 2010 Observa-se que os grupos de

induacutestrias existentes em Irauccediluba reuacutenem as de extraccedilatildeo mineral construccedilatildeo civil e

principalmente as de transformaccedilatildeo conforme figura 19

Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011)

Fonte IBGE (2001 2010 e 2011)

Eacute possiacutevel observar pela figura acima que as empresas de extraccedilatildeo mineral e de

construccedilatildeo civil pouco se desenvolveram durante o periacuteodo analisado o mesmo natildeo ocorreu

com as induacutestrias de transformaccedilatildeo que inclusive chamam bastante atenccedilatildeo Estas se

desdobram em vaacuterias espeacutecies como por exemplo produccedilatildeo de minerais natildeo metaacutelicos

metaluacutergica mecacircnica produccedilatildeo de material eleacutetrico eletrocircnico e comunicaccedilatildeo produccedilatildeo de

material para transporte madeireira mobiliaacuteria produccedilatildeo de papel papelatildeo e borracha

beneficiamento de couros peles e similares quiacutemica produccedilatildeo de produtos farmacecircuticos e

veterinaacuterios de material plaacutestico tecircxtil vestuaacuterio calccedilados artefatos de tecido couros e

peles produtos alimentares bebidas fumo dentre outras

87

De 2001 para 2010 a quantidade de induacutestrias de transformaccedilatildeo pouco aumentou

passando de 13 para 17 mas de 2010 a 2011 esse rol duplicou indo de 17 para 34 empresas

como se pode observar pelas figuras 20 21 e 22

Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001

Fonte IBGE (2001)

Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010

Fonte IBGE (2010)

TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 13

TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 17

88

Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011

Fonte IBGE (2011)

A induacutestria tecircxtil oscilou em nuacutemeros visto que em 2001 contava com 5

empresas em 2010 com 4 expandido para 9 de forma que essa quantidade representou 26

do total de induacutestrias em Irauccediluba no ano de 2011 Outra atividade expressiva no municiacutepio eacute

a de produtos alimentares Muito embora natildeo exista em 2010 nos anos de 2001 e 2011 ela

totalizava 5 e 9 unidades respectivamente representando 23 e 26 cada uma no universo de

empresas Em terceiro plano encontra-se a produccedilatildeo de minerais natildeo-metaacutelicos que em 2001

contou com 1 induacutestria em 2010 com 2 e em 2011 com 3 Aleacutem disto apareceram a partir de

2010 atividades como mobiliaacuterio couros e peles vestuaacuterio e uma categoria natildeo definida pelo

IBGE classificada como diversas Em contrapartida desapareceram da contagem as

induacutestrias madeireira e metaluacutergica

Na pecuaacuteria existe a criaccedilatildeo de gado e aves O realce no primeiro grupo eacute dado

pelos bovinos seguido pelos ovinos e caprinos tanto no ano de 2010 como 2011 sendo neste

os nuacutemeros maiores Quanto agraves aves a ocorrecircncia eacute de galos frangos frangas e pintos aleacutem

de galinhas Entre estes dois grupos o primeiro eacute mais representativo como bem se examina

pela figura 23

TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 34

89

Figura 23 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos

Fonte IBGE (2011 e 2011)

Sem esquecer outros rebanhos mesmo que de menor grandeza existem no

municiacutepio bubalinos muares coelhos e codornas segundo os nuacutemeros apresentados na

tabela 12

Tabela 12 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores Rebanhos Bubalinos Muares Coelhos Codornas

Ano 2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011

Nordm de indiviacuteduos 98 48 380 436 22 67 89 193

Fonte IBGE (2011 e 2011)

Por fim conclui-se que em Irauccediluba eacute praticado aleacutem das atividades industriais o

tripeacute econocircmico baseado na produccedilatildeo agriacutecola pecuaacuteria e madeireira esta a partir da

exploraccedilatildeo de lenha e carvatildeo vegetal Desta maneira seria mais interessante para o municiacutepio

considerando suas caracteriacutesticas ambientais o uso de sistemas de produccedilatildeo

agrossilvopastoris Nesse sentido Arauacutejo Filho e Silva (2013) ilustram

Os sistemas de produccedilatildeo agrossilvipastoris satildeo formas de uso e manejo da terra nas

quais aacutervores e arbustos satildeo utilizados em associaccedilatildeo com cultivos agriacutecolas e

animais numa mesma aacuterea de maneira simultacircnea ou numa sequecircncia temporal

Cada componente do sistema de produccedilatildeo deve ter pelo menos uma funccedilatildeo proacutepria e

sua integraccedilatildeo garante sua funcionalidade Assim as aacutervores devem ser em nuacutemero

suficiente para um aporte significativo de serrapilheira fonte de mateacuteria orgacircnica

para o solo Os animais satildeo os redistribuidores de nutrientes entre os componentes

do sistema via urina e esterco E as culturas garantem a produccedilatildeo de alimentos para

a famiacutelia e seus animais e contribuem para a circulaccedilatildeo de nutrientes dentro do

sistema Os SAF‟s podem tambeacutem ser usados para a reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e

econocircmica de aacutereas degradadas sobre luvissolos e argissolos (ARAUacuteJO FILHO e

SILVA 2013 p 1819)

90

323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba

A caracterizaccedilatildeo ambiental realizada no municiacutepio das aacutereas de estudo engloba a

altimetria as classes de relevo demonstrando a declividade do terreno que varia de plano a

forte ondulado os tipos de solos e suas associaccedilotildees de classes entre si o clima envolvendo

dados sobre a pluviometria anual o iacutendice de umidade o nuacutemero de meses sem chuva a

temperatura e a evapotranspiraccedilatildeo total anual do municiacutepio Comenta-se ainda a vegetaccedilatildeo e

suas formas aleacutem dos rios e accediludes existentes em Irauccediluba reunindo seus recursos hiacutedricos

3231 Altimetria e Classe de relevo

A altimetria do municiacutepio estaacute exibida na figura 24 conforme seus niacuteveis de

altitude que variam de 80 a 840 metros acima do mar

Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba

91

Jaacute o relevo oscila de plano a forte ondulado conforme figura 25 Arauacutejo Filho e Silva

(2013 p 1) definem que ldquonos planossolos o relevo varia de plano a suave-ondulado (de 1 a 8)

nos argisssolos e nos luvissolos apresentam-se em relevo de suave-ondulado a ondulado (de 8 a

20) e os litoacutelicos estatildeo em relevo forte-ondulado (de 20 a 45)rdquo

Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba

3232 Solos

A regiatildeo semiaacuterida nordestina ldquo[] recebe anualmente calor e luz em excesso o

que resulta em raacutepida mineraccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica Seus solos satildeo geralmente pouco

profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica mas relativamente ricos

em bases trocaacuteveisrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 7)

O PAN (BRASIL 2004) assegura que as classes de associaccedilatildeo de solos presentes

no semiaacuterido do Nordeste satildeo o bruno natildeo caacutelcico litoacutelicos podzoacutelico eutroacutefico terra roxa

estruturada cambissolo ondulado e forte ondulado e planossolos Apresentam tambeacutem tipos

de relevo e susceptibilidade agrave erosatildeo diferenciados como mostra a tabela 13

92

Tabela 13 - Relaccedilatildeo de solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo

CLASSES DE SOLO RELEVO SUSCEPTIBILIDA Agrave

EROSAtildeO

Bruno natildeo caacutelcico (Luvissolos) Suave ondulado e ondulado Forte

Litoacutelicos Ondulado forte ondulado e

montanhoso Muito forte

Podzoacutelico eutroacutefico terra roxa

estruturada cambissolo ondulado e

forte ondulado

Ondulado e forte ondulado Moderado

Planossolos Plano e suave ondulado Moderado

Fonte PAN Brasil (2004)

ldquoTrecircs classes de solos se destacam no municiacutepio de Irauccediluba luvissolos com

432 de cobertura planossolos com 187 e litoacutelicos com 332 Juntos eles perfazem

951 da aacuterea do municiacutepiordquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2)

Os luvissolos constituem os solos mais utilizados pela agricultura migratoacuteria do

semiaacuterido nordestino Por causa do desmatamento e uso do fogo haacute indicaccedilotildees de que pelo

menos 65 da aacuterea de cobertura deste importante solo se encontrem em erosatildeo de grave a

muito grave Em Irauccediluba natildeo eacute diferente pois a agricultura eacute praticada nas aacutereas recobertas

por luvissolos e solos litoacutelicos enquanto a pecuaacuteria eacute desenvolvida tanto no planossolo com

presenccedila tambeacutem nas aacutereas de luvissolo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013)

Em se tratando de associaccedilatildeo de solos a tabela 14 indica a nomenclatura utilizada

por Jacomine (1973) e pela EMBRAPA (2006) para definir os tipos de associaccedilatildeo

encontrados em Irauccediluba apontando ainda a porcentagem de cada um dentro da respectiva

associaccedilatildeo E a figura 26 apresenta a distribuiccedilatildeo dessas associaccedilotildees no municiacutepio de forma

que eacute possiacutevel notar o predomiacutenio da associaccedilatildeo NC15 seguida da Re25 e Re26

Tabela 14 - Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEMBRAPA

ASSOCIACcedilAtildeO

DE SOLO EM

JACOMINE

(1973)

NOMENCLATURA DOS SOLOS NAS ASSOCIACcedilOtildeES DO SOLO

NA

ASSOCIACcedilAtildeO JACOMINE (1973) EMBRAPA (2006)

PE6

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO moderado

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 40

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO chemozecircnico

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 30

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 15

AFLORAMENTOS DE ROCHA - 15

PE42

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 70

REGOSOL EUTROacuteFICO NEOSSOLOS

REGOLIacuteTICOS 30

NC7 BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO LUVISSOLO 40

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 35

93

BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO veacutertico LUVISSOLO 25

NC15

BRUNOS NAtildeO CAacuteLCICOS

INDISCRIMINADOS LUVISSOLO 40

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 25

PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 20

SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 15

PL6

PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 45

SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 35

SOLOS OTOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 20

Re6

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 65

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 35

Re25 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel

estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -

Re26 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel

estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -

Fonte Jacomine et al (1973) e EMBRAPA (2006)

Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba

94

Por fim a figura 27 apresenta os quatro grandes grupos de solo encontrados em

Irauccediluba e sua distribuiccedilatildeo no municiacutepio sendo eles Podzoacutelico vermelho amarelo

equivalente eutroacutefico (PE) Bruno natildeo caacutelcico (NC) Planossolo (PL) e Solos litoacutelicos (Re)

Figura 27 Grupos de solos que formam associaccedilotildees pedoloacutegicas em Irauccediluba

3233 Clima

ldquoO clima na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba eacute conforme classificaccedilatildeo de Koumlppen

(MILLER 1971) do tipo Bshw semiaacuterido megateacutermico com curta estaccedilatildeo chuvosa no

veratildeo-outono e com concentraccedilatildeo das precipitaccedilotildees pluviais nos meses de marccedilo e abrilrdquo

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2) Anualmente o municiacutepio apresenta pluviometria

meacutedia abaixo dos 700 mm mas existe maior incidecircncia de chuva em outras regiotildees de

Irauccediluba Eacute o que demonstra a figura 28

Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba

Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba

95

Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba

ldquoA regiatildeo apresenta um dos mais baixos iacutendices pluviomeacutetricos do Estado do Cearaacute

com meacutedia histoacuterica de 540 mm Isto porque a aacuterea encontra-se a sotavento da serra

de Uruburetama constituindo-se em uma ldquosombra de chuvardquo causada pela

interceptaccedilatildeo pela serra dos ventos uacutemidos oriundos do oceanordquo (ARAUacuteJO FILHO

e SILVA 2013 p 2)

O municiacutepio passa a maior parte do ano sem chuva aproximadamente dez meses

e apesar da pouca pluviosidade a evapotranspiraccedilatildeo eacute maior que a precipitaccedilatildeo Sem poder

ser diferente as temperaturas variam de 25 a 28 graus sendo que na maior parte da aacuterea

incidem temperaturas de 26 a 27 graus centiacutegrados e a umidade aponta a incidecircncia do clima

semiaacuterido em Irauccediluba As figuras 06 29 30 31 e 32 ilustram as informaccedilotildees declaradas

96

Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba

Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual

97

Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba

Figura 32 Iacutendice Efetivo de umidade em Irauccediluba

Fonte NOLEcircTO (2005)

98

3234 Vegetaccedilatildeo

A caatinga eacute um dos maiores biomas brasileiros e significa mata branca Por ser

uma vegetaccedilatildeo xeroacutefila eacute capaz de suportar vaacuterios anos de estiagem recuperando com

rapidez suas atividades logo nas primeiras chuvas apoacutes a seca A adaptaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo ao

clima semiaacuterido eacute impressionante como por exemplo as cascas claras ou reluzentes servem

para diminuir o aquecimento do tecido vivo da planta Por causa da falta de aacutegua satildeo

caducifoacutelias isto eacute as folhas caem durante a estaccedilatildeo seca para evitar excesso de perda d‟aacutegua

pela evapotranspiraccedilatildeo aleacutem disto os caules satildeo projetados para armazenar aacutegua (MAIA

2012)

ldquoA caatinga se assemelha a arbustos tropicais ou bosques de espinhos Eles

contecircm pequenas aacutervores de madeira dura grotescamente retorcidas e com espinhos as folhas

satildeo pequenas e caem durante a estaccedilatildeo secardquo Odum e Barret (2008 p 453)

Fisionomicamente eacute possiacutevel diferenciar os tipos de vegetaccedilatildeo o arboacutereo que estaacute nas

superfiacutecies mais conservadas sendo o pau branco o angico o pereiro dentre outras suas

espeacutecies mais representativas o arbustivo que eacute sinal de aacutereas jaacute degradadas pelo

desmatamento uso agriacutecola e pecuaacuteria e o herbaacuteceo figurado por gramiacuteneas presentes

somente durante o periacuteodo chuvoso e explorado pela pecuaacuteria extensiva (DANTAS et al

2007)

ldquoO Bioma Caatinga estaacute inserido no quadro dos Ecossistemas da Regiatildeo das

Caatingas e Florestas Deciduais do Nordeste Abrange as especificidades do Domiacutenio

Morfoclimaacutetico das Caatingas sejam elas arbustivas ou arboacutereasrdquo (BRASIL 2004 p 68) Os

frutos amadurecem ao fim da eacutepoca das chuvas quase que generalizadamente na maioria das

espeacutecies arboacutereas e herbaacuteceas permanecendo pendentes dos ramos durante algum tempo Ao

se desprenderem e caiacuterem no solo natildeo germinam de imediato pois a resistecircncia da casca e

outros artifiacutecios da natureza impedem a germinaccedilatildeo pronta Se germinassem morreriam quase

em seguida natildeo resistindo agrave longa estaccedilatildeo seca e quente da estiagem com interrupccedilatildeo brusca

e total das chuvas A germinaccedilatildeo poreacutem processa-se rapidamente logo ao caiacuterem as

primeiras chuvas pois os indumentos foram intensamente desgastados pelo intemperismordquo

As queimadas realizadas para a preparaccedilatildeo de novos terrenos de cultivo desempenham papel

de grande poder destruidor do ambiente ldquoCompreende-se pois que a restauraccedilatildeo da

cobertura vegetal depende da preservaccedilatildeo desses estoques de sementesrdquo26

26

Conferir SOBRINHO Vasconcelos (1983) In PAN Brasil 2004

99

ldquoA vegetaccedilatildeo da aacuterea do nuacutecleo de desertificaccedilatildeo de Irauccediluba espelha os efeitos dos

fatores fiacutesicos mormente os de natureza hiacutedrica e edaacutefica e da accedilatildeo antroacutepica

Assim as aacutereas dos solos argissolos litoacutelicos e luvissolos apresentam uma cobertura

arbustiva-arboacuterea formando um verdadeiro mosaico de diferentes estaacutedios

sucessionais em virtude das praacuteticas agriacutecola ambientalmente agressivasrdquo [] ldquoAs

aacutereas sobre os planossolos estatildeo recobertas por uma caatinga assavanada e

esporadicamente com afloramentos rochosos e com cobertura arbustiva arboacuterea

meacutedia abaixo de 20 e densidade de cerca 200plantasha A camada herbaacutecea de

biodiversidade inferior ao das aacutereas de luvissolos ou argissolos eacute rica no entanto

em espeacutecies forrageiras destacando-se a erva de ovelha (Stylosanthes humilis)

vassourinha (Stylosanthes angustifolia) urinana (Zornia bracteata) e capim accedilu

(Paspalum milegrana) O capim panasco no entanto predomina nas aacutereas

sobrepastejadasrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 34)

A figura 33 espelha a composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba Segue claro que a Caatinga

Arboacuterea Sem Palmeira (Cas) predomina seguida da Caatinga Arboacuterea Com Palmeira (Cap) e

da Caatinga Parque Sem Palmeira (Cps) A Floresta Ombroacutefila Aberta (Acc1) e as Aacutereas De

Formaccedilatildeo Pioneira (Acc2) representam uma aacuterea menor do municiacutepio

Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba

3235 Recursos Hiacutedricos

O nuacutecleo de Irauccediluba estaacute situado na bacia hidrograacutefica do rio Curu contando com

o aporte dos rios Aracatiaccedilu e Caxitoreacute aleacutem de vaacuterios riachos destacando-se o Aroeira o

Fonte NOLEcircTO (2005)

Fonte NOLEcircTO (2005)

100

Gabriel e o Cachoeira A ausecircncia de barragens de porte representativo faz com que a

pequena accediludagem assuma um papel relevante Destacam-se dentre essas os Accediludes Satildeo

Gabriel do Mocoacute (IRAUCcedilUBA 2009)

Por conta da irregularidade das chuvas que contribui para favorecer o escoamento

de superfiacutecie junto agraves condiccedilotildees geoloacutegicas predominantemente cristalinas favorecem o

escoamento raacutepido das aacuteguas pluviais inviabilizando o acuacutemulo de aacuteguas subterracircneas em

quantidades razoaacuteveis (IRAUCcedilUBA 2009) existem no municiacutepio cerca de 28 pequenos

accediludes nomeando-se o Nogueira Ramos o Cairu Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu e o Jerimum

que abastece a cidade de Irauccediluba ldquoUma estrutura muito comum no municiacutepio eacute o barreiro da

salvaccedilatildeo constituindo-se em um sistema temporaacuterio de armazenamento de aacutegua para atender

agrave demanda dos rebanhos durante boa parte da estaccedilatildeo secardquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA

2013 p 3)

324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo

A partir da abordagem feita no item 323 passa-se a analisar a realidade de cada

propriedade estudada Visando apontar os aspectos geoambientais dos imoacuteveis construiu-se

um quadro siacutentese conforme tabela 15 abaixo

Tabela 15 ndash Anaacutelise Geral das propriedades estudadas

Anaacutelise

Imoacuteveis com Reserva Legal

Riachuelo

Alto Alegre

Aacuteguas

Mortas

Almas

Cajazeiras

II

Saco

Verde

Miramar

Classe

no

Tipo

Niacuteveis da Classe

no Tipo

Aacuterea (km2)

336 238 127 124 671 86

no Niacutevel da Classe no Tipo

Precipitaccedilatildeo

Total

Meacutedia Anual

lt 600 - - - - 103 -

600 a 700 100 100 100 755 100

700 a 800 - - - 976 112 -

800 a 900 - - - 24 - -

Temperatura

Meacutedia Anual

(oC)

25-26 - - - - 71 -

26-27 100 100 100 100 929 100

27-28 - - - - - -

ETP

lt 1450 - - - - 100 100

1450-1500 - - - - - -

1500-1550 - - - - - -

1550-1600 100 100 100 - - -

1600-1650 - - - 141 - -

1650-1700 - - - 859 - -

101

Nugravemero

de

Meses secos

85 a 95 100 100 564 100 330 -

95 a 105 - - 454 - 670 100

gt105 - - - - - -

Im

gt - 333 - - - - - -

- 344 a - 499 100 100 100 100 388 15

lt - 499 - - - - 612 985

Igravendice de Aridez

do UNEP 020 a 050 100 100 100 100 780 100

050 a 065 - - - - 220 -

Classes

de

Relevo

Plano 23 46 56 112 55 135

Suave Ondulado 162 316 378 373 227 485

Ondulado 194 338 427 64 124 130

Muito Ondulado 127 111 72 38 72 70

Forte Ondulado 463 185 66 264 400 179

Montanhoso 31 04 - 105 120 03

Escarpado - - - 44 02 -

Classes

de

Altitude

80-120 - - -- 560 - -

120-160 - - - 113 - -

160-200 - - - 60 321 -

200-240 54 171 723

240-280 01 41 460 40 85 202

280-320 139 614 521 36 68 49

320-360 349 211 10 41 56 24

360-400 178 65 01 38 70 02

400-440 90 24 - 28 53 -

440-480 63 21 - 19 55 -

480-520 45 16 - 10 45 -

520-560 33 05 - 02 32 -

560-600 29 02 - - 15 -

600-640 25 01 - - 10 -

640-680 17 - - - 08 -

680-720 13 - - - 07 -

720-760 07 - - - 03 -

760-800 05 - - - 02

800-840 03 - - - - -

840-880 02 - - - - -

880-920 01 - - - - -

Associaccedilotildees

de

Solos

PE 6 - - - - 207 -

PE 42 - - - 913 - -

NC 7 - - - - - -

NC 15 940 755 516 - - 441

PL 6 - - - - 348 -

Re 6 - - - - - -

Re 25 - - - 87 445 -

Re 26 60 245 424 - - 559

Grupos

de

solos

PE - - - 913 207 -

NC 940 762 516 - - 441

PL - - - - 348 -

Re 60 238 484 87 445 559

Cobertura

Vegetal

Cas 515 934 100 - 265 100

Cap - - - 649 - -

Cps - - - - 168 -

Acc1 485 66 - - - -

Acc2 351 567 -

Quanto agrave graduaccedilatildeo altimeacutetrica em que se encontra cada propriedade em estudo eacute

possiacutevel observar que a RiachueloAlto Alegre tem niacuteveis de altimetria crescentes a partir de

102

240 ateacute 920 metros destacando-se como o imoacutevel de maior altitude seguido de Saco Verde e

Aacuteguas Mortas As outras natildeo passam dos 560 metros de altitude

Em se tratando da classe de relevo a que se apresenta mais plana eacute Miramar com

135 de sua aacuterea seguida de Cajazeiras II com 112 Em relevo montanhoso destacam-se

Saco Verde com 12 de terreno e Cajazeiras II com 105 No entanto a predominacircncia eacute de

imoacuteveis inseridos na faixa entre o suave ondulado e o forte ondulado

Os imoacuteveis em anaacutelise situam-se em diferentes grupos de solos como ilustra a

tabela 15 Por exemplo RiachueloAlto Alegre e Aacuteguas Mortas estatildeo 94 e 762

respectivamente em luvissolos ou seja em solos Bruno natildeo caacutelcicos e Podzoacutelico vermelho

amarelo equivalente eutroacutefico Almas e Miramar estatildeo divididas aproximadamente agrave metade

em solo litoacutelico e em Bruno natildeo caacutelcico Em Cazajeiras II predomina o solo Podzoacutelico

vermelho amarelo equivalente eutroacutefico mas apresenta um pequeno percentual em solo

litoacutelico E por fim Saco Verde possui uma distribuiccedilatildeo variada de solos Podzoacutelico vermelho

amarelo equivalente eutroacutefico (207) Planossolos (348) e litoacutelicos (445) sendo o

uacutenico imoacutevel com planossolos

Nas associaccedilotildees de solos prevalece a subclasse 15 dos solos Bruno natildeo caacutelcicos

(NC) nas propriedades RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas e Almas Cajazeiras II estaacute

quase totalmente na subclasse 42 do Podzoacutelico vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) e

Miramar mesmo quase ao meio entre NC e Re possui a maior parte de sua aacuterea na subclasse

26 de solos litoacutelicos (Re) Saco Verde embora um tanto quanto bem distribuiacuteda tem 207

de aacuterea na subclasse 6 dos Podzoacutelicos vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) 348

em planossolos subclasse 6 inclusive eacute o uacutenico imoacutevel nessa classificaccedilatildeo e 445 em Re6

A realidade das aacutereas em estudo descrita na tabela 15 revela que mais da metade

delas estaacute inserida na faixa de pluviosidade abaixo dos 700 mm contudo Cajazeiras II foge agrave

regra apresentando pluviometria entre 700 a 900 mm Em Saco Verde ocorre distribuiccedilatildeo

irregular de chuvas e aleacutem de estar na meacutedia tem precipitaccedilatildeo tanto abaixo dos 600 como

acima de 700 mm

E por fim a cobertura vegetal de Almas Miramar quase toda de Aacuteguas Mortas e

a metade RiachueloAlto Alegre eacute de caatinga arboacuterea sem palmeira (Cas) enquanto que mais

de 50 da Cajazeiras II estaacute em caatinga arboacuterea com palmeira (Cap) Saco Verde tem mais

da metade da aacuterea em formaccedilatildeo pioneira (Acc2)

103

33 Metodologia

A metodologia utilizada no levantamento acerca da existecircncia de reserva legal no

municiacutepio de Irauccediluba envolveu algumas fases de anaacutelise como pesquisa bibliograacutefica

documental caracterizaccedilatildeo da aacuterea sob os aspectos sociais econocircmicos e ambientais o uso de

imagens orbitais e a aplicaccedilatildeo do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada (NDVI -

Normalized Difference Vegetation Index) nas propriedades em estudo

A abordagem envolveu o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo uma vez que para avaliar a

aplicabilidade da reserva legal como forma de combater o processo de degradaccedilatildeo ambiental

em Irauccediluba partiu-se da hipoacutetese de que se cada detentor de propriedade rural cumprisse a

obrigaccedilatildeo de implantaacute-la o processo de degradaccedilatildeo quiccedilaacute o de desertificaccedilatildeo seria estancado

no municiacutepio Aleacutem disso seria um instrumento proporcionador da recuperaccedilatildeo ambiental em

virtude de seus benefiacutecios A investigaccedilatildeo se deu por procedimentos de vieacutes histoacuterico e

comparativo tendo sido realizada uma retrospectiva de como foi o tratamento dado agrave reserva

legal no contexto juriacutedico econocircmico social e ambiental Aleacutem disto estudou-se as

propriedades que apresentaram o instituto mesmo que soacute documentalmente de maneira a

confrontar a situaccedilatildeo existente nos anos de 1993 e 2007 e sua modificaccedilatildeo

Para alcanccedilar os propoacutesitos deste trabalho ocorreu a coleta de dados pela pesquisa

documental e bibliograacutefica aleacutem da observaccedilatildeo direta intensiva que foi possiacutevel pelo exame

de dados obtidos por imagens do sateacutelite LANDSAT 5 referente aos anos de 1993 e 2007

bem como a avaliaccedilatildeo das aacutereas estudadas atraveacutes do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila

Normalizada (NDVI)

As informaccedilotildees geograacuteficas das propriedades em estudo foram disponibilizadas

basicamente pelo INCRA e pelo cartoacuterio de imoacuteveis de Irauccediluba Ambos cederam as plantas

georreferenciadas que foram vetorizadas em UTM 24s atraveacutes do programa CARTALINX 12

para em seguida serem exportadas para o IDRISI 322 e entatildeo convertidas para latitude e

longitude DATUM GS 84

331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite

O NDVI eacute um iacutendice de vegetaccedilatildeo derivado de imagens de sateacutelites e muito

utilizado na avaliaccedilatildeo da cobertura vegetal indicando o tipo a condiccedilatildeo e a densidade da

vegetaccedilatildeo atraveacutes do uso de bandas No caso as bandas do vermelho na faixa do visiacutevel e do

infravermelho proacutexima (PINHEIRO 2011) Agrave medida que aumenta a quantidade de

104

vegetaccedilatildeo verde aumenta a reflexatildeo na banda do infravermelho proacuteximo e diminui a reflexatildeo

na banda do vermelho fazendo com que o aumento da razatildeo seja potencializado realccedilando

assim a vegetaccedilatildeo27

Na banda do vermelho a clorofila absorve a energia solar resultando em uma

baixa reflectacircncia e no infravermelho proacuteximo tanto a morfologia interna das folhas quanto a

estrutura da vegetaccedilatildeo apresentam uma alta reflectacircncia da energia solar incidente A

combinaccedilatildeo dessas bandas realccedila a aacuterea de vegetaccedilatildeo nas imagens e quanto maior o contraste

maior o vigor da vegetaccedilatildeo da aacuterea imageada (LOURENCcedilO LANDIM 2004)28

Portanto o NDVI pode ser utilizado como uma teacutecnica para mapeamento

contiacutenuo da cobertura vegetal de uma regiatildeo possibilitando analisar e monitorar a

variabilidade desta em periacuteodos distintos (PINHEIRO 2011) Ressaltam ainda as diferenccedilas

entre aacutereas vegetadas e de solo exposto (VERONA 2002)29

O caacutelculo para se chegar ao NDVI deriva da razatildeo entre os valores das bandas do

vermelho e infravermelho proacuteximo ou seja a diferenccedila da resposta espectral do pixel dessas

bandas pela sua soma (SILVA et al 2007)30

resulta nos valores do NDVI que variam de ndash1 a

+1 A equaccedilatildeo para o caacutelculo do NDVI foi proposta por (JENSEN 1996)31

in Ewerton Torres

Melo 2008) conforme segue abaixo

NDVI = (NIR - R) (NIR + R)

Em que

NDVI eacute o iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada NIR eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Infra-Vermelho Proacuteximo

(076 a 090 μm)

R eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Vermelho (063 a 069μm)

Assim a vegetaccedilatildeo eacute caracterizada por uma intensa absorccedilatildeo devido agrave clorofila na

regiatildeo do vermelho (063 ndash 069 μm) e por uma intensa energia refletida na regiatildeo do

infravermelho proacuteximo (076 ndash 090 μm) causada pela estrutura celular das folhas Portanto

muitos dos modelos de iacutendice de vegetaccedilatildeo utilizam somente as bandas de imagem vermelha

ou proacutexima ao infravermelho (MELO 2008)

27

Novo (1989) In MELO Ewerton Torres (2008) 28

In PINHEIRO 2011 29

Idem 30

Ibidem 31

In MELO 2008

105

Conforme (BRAGA et al sd) estudos de variabilidade temporal e espacial sobre

a regiatildeo Nordeste do Brasil indicam que as aacutereas vegetadas variam de 01 a 08 sendo que

esses valores dependem da estrutura densidade e umidade da vegetaccedilatildeo As rochas e os solos

apresentam valores proacuteximos de zero e a aacutegua aparece com valores negativos Coberturas

vegetais muitos densas se expressam pelos maiores valores obtidos (PINHEIRO 2011)

106

4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES

41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba

O foco principal da pesquisa foi levantar e analisar as propriedades que de alguma

forma apresentem a reserva legal seja oficial ou extraoficialmente Com o exame das imagens

de sateacutelite dos anos de 1993 e 2007 utilizando o NDVI constatou-se que os iacutendices da

cobertura vegetal satildeo muito parecidos tanto dentro como fora da aacuterea de reserva ao serem

comparados pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Isto leva a crer que o instituto legal pode natildeo

ter promovido qualquer diferenccedila em termos de cobertura vegetal sem falar na hipoacutetese de

nem mesmo ter sido cumprido

Analisando os iacutendices de NDVI comprova-se que na grande maioria dos

imoacuteveis a cobertura vegetal tanto dentro como fora da aacuterea de reserva legal diminuiu entre

os anos de 1993 e 2007 Embora nas propriedades a vegetaccedilatildeo se apresente em niacuteveis

diferenciados de existecircncia representados pelas faixas 2 a 9 da tabela 16 vecirc-se que quase

todos em 1993 apresentavam aacutereas significativas de vegetaccedilatildeo na faixa 6 e 7 Se averiguar as

mesmas colunas em 2007 eacute notoacuteria a retraccedilatildeo nos iacutendices salvo na faixa 5 referente aos

imoacuteveis Aacuteguas Mortas Almas e Saco Verde

Tabela 16 - NDVI dos imoacuteveis estudados

IMOacuteVEL SEGMENTO ANO

Aacuterea no niacutevel de NDVI como uma porcentagem da aacuterea total do segmento

Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 4 Faixa 5 Faixa 6 Faixa 7 Faixa 8 Faixa 9

0 a 01 01 a 02 02 a 03 03 a 04 04 a 05 05 a 06 06 a 07 07 a 08 08 a 09

Riachuelo

Alto

Alegre

Fora 1993 0558 0458 0978 2418 9904 68884 16798 0022 0019

2007 1369 1351 2366 9734 56243 28713 0205 0019 -

Reserva 1993 0532 0319 0473 1006 3224 57424 36868 0074 -

2007 1818 1611 1951 7524 53112 33777 0207 - -

Aacuteguas

Mortas

Fora 1993 1588 1833 2701 6525 18029 41168 28024 0141 -

2007 4979 3485 4979 12220 34523 39105 0616 0097 -

Reserva 1993 - - 0084 1246 10452 56862 31356 - -

2007 2092 1902 6677 6127 52292 34545 0275 0085 -

Almas Fora 1993 1954 1336 1650 3339 9359 48925 33222 0216 -

2007 0845 1463 2583 13464 44731 36659 0216 - 0039

Reserva 1993 13455 3058 2299 3858 12198 40686 23344 0156 0156

2007 1052 1208 1052 7947 53759 34827 0156 - -

Miramar Fora 1993 - - 1075 6023 36519 50699 5684 - -

2007 0810 1001 1870 6818 66765 22545 0132 0059 -

Reserva 1993 1540 0285 0799 7758 39646 48431 1540 - -

2007 - 0513 2339 33143 63206 0799 - - -

Saco

Verde

Fora 1993 6867 5558 9959 20131 37338 19016 0097 1097 1097

2007 6469 8972 19278 30986 32219 2026 0050 - -

Reserva 1993 6927 9383 17136 26903 29900 9113 0609 0030 -

2007 8767 10375 17166 29254 332881 1157 - - -

Cajazeiras

II

Fora 1993 0040 0606 8206 39766 45877 5412 0092 - -

2007 2003 9562 25154 44710 17723 0647 - - -

Reserva 1993 2885 2885 12402 48057 29936 2360 0674 - -

2007 3895 8165 21610 39476 26704 0150 - -

Os iacutendices de NDVI da tabela 16 serviram de base para o caacutelculo da anaacutelise de

semelhanccedila pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Assim a constataccedilatildeo acima eacute confirmada pela

tabela 17 que por sua vez atesta o grau de similaridade entre a aacuterea interna e externa agrave

reserva legal nos anos analisados Eacute surpreendente o niacutevel de semelhanccedila encontrado O

percentual mais baixo em 1993 eacute de 798 chegando no mesmo ano a 933 Jaacute em 2007 a

percentagem de semelhanccedila diminui nos imoacuteveis Aacuteguas Mortas e Miramar de 81 para 75 e

de 933 para 731 respectivamente Isto natildeo quer dizer que o niacutevel de cobertura vegetal

melhorou ou piorou mas que a diferenccedila na semelhanccedila entre dentro e fora da aacuterea de reserva

legal nessas propriedades reduziu sugerindo que o respeito agravequele instituto pode ter

promovido a alteraccedilatildeo Em contrapartida nos outros imoacuteveis essa semelhanccedila aumentou

aproximando-se dos 94

Assim eacute provaacutevel que pelos meacutetodos utilizados a funccedilatildeo proposta pelo instituto

da reserva legal natildeo esteja sendo alcanccedilada visto que o grau de semelhanccedila entre a aacuterea de

dentro e fora da reserva legal estaacute muito aproximado pois sequer apresentou-se abaixo dos

70 de diferenccedila

Tabela 17 - Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal pelo meacutetodo de Sorensen (1948)

ANAacuteLISE DE SEMELHANCcedilA DE SORENSEN () ENTRE

FORA E DENTRO DA AacuteREA DE RESERVA LEGAL

IMOacuteVEL

Reserva

ANO 1993 2007

108

Riachuelo Alto Alegre Fora 1993 798 -

2007 - 941

Aacuteguas Mortas Fora 1993 810 -

2007 - 750

Almas Fora 1993 821 -

2007 - 908

Saco Verde Fora 1993 799 -

2007 - 891

Cajazeiras II Fora 1993 813 -

2007 - 952

Miramar Fora 1993 933 -

2007 - 731

109

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A abordagem dos assuntos aqui tratados e os resultados alcanccedilados permitem a

conclusatildeo de que a reserva legal eacute uma criaccedilatildeo da lei com intenccedilotildees conservacionistas

avanccediladas Como espaccedilo especialmente protegido requer um tratamento diferenciado natildeo soacute

como previsto em normas mas sob a oacutetica da sociedade Observou-se que foi um assunto

amplamente tratado e debatido nas esferas do poder legislativo e judiciaacuterio do paiacutes e que

tambeacutem eacute alvo de poliacuteticas puacuteblicas e atuaccedilatildeo das autoridades competentes embora um tanto

falhas

Contatou-se que o emprego da reserva legal no municiacutepio de Irauccediluba eacute pouco expressivo

diante da quantidade de propriedades ali existentes por isso os benefiacutecios trazidos pela

conservaccedilatildeo desses espaccedilos mal podem ser sentidos no municiacutepio que sofre com a degradaccedilatildeo

ambiental contiacutenua inclusive com a presenccedila do processo de desertificaccedilatildeo Aleacutem disto a

falta de cumprimento do formal procedimento acerca da implantaccedilatildeo da reserva legal em

aacutereas puacuteblicas eacute intrigante Isto porque se pressupotildee accedilotildees de estrita legalidade envolvendo o

ente estatal Nesse sentindo partindo do entendimento que os projetos de assentamento satildeo

resultado de poliacuteticas puacuteblicas para reforma agraacuteria pressupunha-se que nestes espaccedilos a

reserva legal estaria estabelecida mas as anaacutelises mostraram que natildeo haacute diferenccedila quando

comparadas a aacuterea de dentro e de fora da reserva nas propriedades A situaccedilatildeo eacute anaacuteloga no

imoacutevel particular apreciado

A respeito da degradaccedilatildeo viu-se que Irauccediluba por ser rota de passagem do gado

desde o seacuteculo XIX aporta animais em transumacircncia de outras regiotildees Os relatos de jesuiacutetas

que cruzaram o municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XVII registram o lugar com vegetaccedilatildeo fechada

e densa Diante disso eacute possiacutevel afirmar que nem sempre Irauccediluba teve um ambiente inoacutespito

e com caracteriacutesticas severamente adversas O quadro atual se deve agraves intervenccedilotildees antroacutepicas

sem teacutecnicas apropriadas para o desenvolvimento de atividades econocircmicas em conjunto com

as caracteriacutesticas de um meio semiaacuterido Essas atividades geralmente abrangem culturas de

subsistecircncia praticadas recorrentemente no mesmo lugar sem o pousio necessaacuterio do solo que

por sua vez natildeo eacute tatildeo rico em nutrientes em decorrecircncia dos desmatamentos e queimadas

Pela caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo pocircde se verificar que seus atributos

envolvem solos pouco profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica

O clima eacute o semiaacuterido onde haacute baixa pluviometria e temperaturas em torno dos 28ordmC e a

vegetaccedilatildeo eacute caatinga nos tipos arbustivos e herbaacuteceos excepcionalmente o arboacutereo por causa

da degradaccedilatildeo

Os resultados mostraram que os iacutendices de NDVI nas propriedades analisadas

apontam um grau de semelhanccedila de ateacute 94 entre dentro e fora da aacuterea da reserva legal pelo

que se pode inferir 2 suposiccedilotildees

1) A reserva legal existe somente em niacutevel documental e natildeo no local apontado

dentro do imoacutevel

ou

2) A reserva legal existe mas estaacute com a cobertura vegetal bem semelhante agrave de fora

da sua aacuterea de maneira que pode estar tatildeo degradada quanto ou tatildeo conservada

quanto

Partindo para a segunda suposiccedilatildeo os iacutendices de NDVI constatam sim que a

cobertura vegetal apresenta um grau elevado de semelhanccedila entre os dois espaccedilos e que em 4

dos 6 imoacuteveis ambos diminuiacuteram de 1993 a 2007 Desta forma natildeo haacute como afirmar que a

reserva legal no estado em que se encontra nas propriedades analisadas eacute um meio de

combater a degradaccedilatildeo ambiental Contudo nos casos em que real e verdadeiramente for

aplicada por certo traraacute ganhos ambientais mas isto deve ser alvo de mais e maiores estudos

acerca do assunto

Eacute curioso que mesmo Irauccediluba sendo um nuacutecleo de desertificaccedilatildeo e por isso alvo

de estudos pesquisas projetos e poliacuteticas puacuteblicas envolvendo degradaccedilatildeo recuperaccedilatildeo e

conservaccedilatildeo ambiental a situaccedilatildeo aparentemente natildeo progride em termos de melhorias Ao

contraacuterio disto constata-se cada vez mais a deterioraccedilatildeo do meio ambiente a ocupaccedilatildeo e a

utilizaccedilatildeo indevida dos recursos naturais

Encerrando a abordagem do assunto tratado assevera-se que a reserva legal jaacute eacute

um instituto consolidado em lei natildeo justificando quaisquer argumentos quanto ao seu

descumprimento Inclusive a natildeo observacircncia do bendito mandamento eacute considerada crime e

nesse sentido natildeo haacute uma atuaccedilatildeo maciccedila do Estado em termos de fiscalizaccedilatildeo pois se assim

existisse natildeo se estaria diante de uma constataccedilatildeo tatildeo seacuteria acerca do pequeno nuacutemero de

imoacuteveis que apresentaram a reserva legal mesmo que documentalmente Essa estatiacutestica

diminuiu ainda mais quando se analisou a diferenccedila na vegetaccedilatildeo sendo possiacutevel concluir que

o caraacuteter conservacionista da reserva legal e ela proacutepria natildeo estatildeo alcanccedilando o fim para que

foi criada

Por fim acredita-se que a reserva legal se cumprida eacute um instrumento

conservacionista capaz de auxiliar na recuperaccedilatildeo ambiental e arrefecer os processos de

111

degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo criticamente manifestos no municiacutepio de Irauccediluba Indo mais

aleacutem vecirc-se que pela oacutetica do referido instituto o desenvolvimento sustentaacutevel eacute possiacutevel

pois mesmo de encontro a interesses particulares ele consegue reunir e harmonizar o vieacutes

econocircmico o social e o ambiental

112

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Page 5: O EMPREGO DA RESERVA LEGAL NO MUNICÍPIO DE IRAUÇUBA/CE€¦ · Figura 1 Objetivos da reserva legal no Código Florestal de 1965 27 Figura 2 Objetivos da reserva legal na Lei 12.651/2012

Dedico a Deus minha forccedila Autor da minha

vida meu tudo e ao meu marido Pedro

eterno companheiro e ajudador

AGRADECIMENTOS

A Deus que eacute Quem me permitiu ser aprovada estar e concluir esse curso tatildeo importante Ele

que em mim gerou todas as forccedilas necessaacuterias para continuar e natildeo desistir dando-me a

condiccedilatildeo de chegar ateacute o fim com louvor

Ao Professor Dr Joseacute Gerardo Beserra de Oliveira pela orientaccedilatildeo pela paciecircncia pelo

carinho e apoio desprendidos para a realizaccedilatildeo deste trabalho Por seus conhecimentos na

aacuterea pois sem eles natildeo poderia ter me levado a enriquecer tanto este trabalho

Agrave CAPES que me ajudou financeiramente

Agrave minha famiacutelia em especial minha matildee que sempre procurou saber como estava a minha

pesquisa dando-me aquele apoio nato de matildee

A Pedro Saraiva meu amor grande amor que sempre me apoiou e acreditou no meu talento

na minha competecircncia e vitoacuteria

Aos servidores do INCRA muito soliacutecitos e atenciosos com a minha pesquisa dentre eles sr

Raimundo Martins da Divisatildeo de Ordenamento da Estrutura Fundiaacuteria Joseacute Jaime D‟Alencar

Juacutenior do Serviccedilo de Cartografia Odilo Neto Luna Coelho e Joseacute Salmito de Almeida Juacutenior

ambos da Divisatildeo de Obtenccedilatildeo de Terras ndash setor de Serviccedilo ao Meio Ambiente

Agrave Dra Claacuteudia Regina Nogueira titular do Cartoacuterio de Registro de Imoacuteveis de Irauccediluba por

sua disponibilidade e por permitir o acesso aos livros cartoraacuterios onde encontrei dados tatildeo

importantes para o trabalho

Ao IDACE atraveacutes dos servidores Dr Paulo Henrique Lobo diretor teacutecnico de operaccedilotildees

Dr Ricardo Durval superintendente do oacutergatildeo Linardy Barreto de Holanda Priscila Azevedo

de Aguiar ambos do Nuacutecleo de Geoprocessamento (NUGEO) Nadir Loiola Dias e Florence

Mary Cavalcante Mouratildeo Lobo ambas da Diretoria Teacutecnica e de Operaccedilotildees (DTO) Todos

eles me ajudaram de forma a tornar possiacutevel parte desta pesquisa pelo que sou imensamente

grata

Perguntei-me inuacutemeras vezes se deveria prosseguir A resposta me era

dada quando olhava para traacutes e via meu passado cheio de grandes

vitoacuterias e conquistas pela matildeo de Deus e pelo meu esforccedilo Entatildeo

decidi que natildeo seria agora que natildeo chegaria ateacute o fim mesmo que o

que me impulsionou para esse desafio jaacute natildeo tem mais a mesma

intensidade Aqui estou eu fazendo desse momento mais uma

imensuraacutevel vitoacuteria por Aquele que um dia me deu essa oportunidade

A Ele toda honra e toda gloacuteria

A autora

RESUMO

A degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio de Irauccediluba eacute alvo de vaacuterias pesquisas pois eacute um

problema onde as causas estatildeo presentes natildeo soacute ali mas em grande parte do semiaacuterido

nordestino no entanto ao se tratar deste assunto logo vem agrave tona outra questatildeo mais seacuteria o

processo de desertificaccedilatildeo O presente trabalho faz uma raacutepida abordagem do semiaacuterido

dando especial evidecircncia agravequele municiacutepio englobando a origem da degradaccedilatildeo a atual

situaccedilatildeo local e possiacuteveis formas para minimizar ou ateacute mesmo estagnar aquele problema

ambiental O objetivo geral foi levantar o nuacutemero de propriedades rurais no municiacutepio

elegendo em sua maioria os projetos de assentamento rural e verificar se possuiacuteam ou natildeo

uma aacuterea especialmente protegida denominada reserva legal A escolha desse instituto como

indicador se deu por ser ele um instrumento criado por lei e que por sua vez impele todo e

qualquer proprietaacuterio ou possuidor rural a manter uma parcela miacutenima de 20 do seu imoacutevel

preservado como aacuterea de Reserva Legal Sua efetividade como instrumento de preservaccedilatildeo

foi analisada em 6 propriedades a partir de imagens do sateacutelite LANDSAT 5 com base nos

anos de 1993 e 2007 e atraveacutes da anaacutelise do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada

(NDVI) foi realizado um estudo comparativo para verificar se houve evoluccedilatildeo ou natildeo do

quadro vegetativo dentro e fora das aacutereas de reserva legal Na identificaccedilatildeo dos imoacuteveis

estudados soacute foram encontrados seis com reserva legal oficialmente implantada ateacute o ano de

2007 data mais recente da imagem de sateacutelite empregada A anaacutelise comparativa realizada

com esses imoacuteveis que tecircm algum tipo de registro no Cartoacuterio de Imoacuteveis eou no INCRA

dentre os 713 medidos e georreferenciados pelo IDACE e que por sua vez foi conduzida com

uso do NDVI natildeo indicou diferenccedila significativa entre os iacutendices encontrados para a

cobertura vegetal dentro e fora das aacutereas de Reserva Legal

Palavras-chave Degradaccedilatildeo Ambiental Coacutedigo Florestal Reserva Legal IrauccedilubaCE

ABSTRACT

The environmental degradation in the municipality of Irauccediluba is the target of several studies

because it is an issue where the causes are present in much of the northeastern semiarid

However when dealing with this subject soon comes to attention another issue which is more

serious and that arises from the ongoing degradation the process of desertification The

present paper analyzes briefly the cearense semiarid giving special emphasis to that

municipality so that the origin of the degradation the current local situation and even

possible ways to minimize or even stagnate that environmental problem were all the target of

this research The overall goal was to enumerate the number of farms among them those that

either have a specially protected area called legal reserve or those that does not The choice

of this statistic as an indicator was due to the fact that it is a legal instrument which in turns

compels all and any owner of land or rural possessor to maintain 20 of their property

preserved as a Legal Reserve area Its effectiveness as a tool for preservation was analyzed in

6 properties with the help of satellite images from LANDSAT 5 taken between the years

1993 and 2007 and by examining the Normalized Difference Vegetation Index (NDVI) a

comparative study was conducted to determine whether there was a growth or not of the

vegetative area inside and outside the legal reserves During the identification of the

properties to be studied only six were found to have a legal reserve officially implemented by

the year 2007 the most recent date of the satellite images used A comparative analysis with

those lands that have some kind of record in the Registry of Property andor INCRA among

the 713 measured and georeferenced by IDACE and that in turn used the NDVI as a

guideline indicated no significant difference on the index either inside or outside the Legal

Reserves areas

Key-Words Environmental degradation Forest code Legal reserve IrauccedilubaCE

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 27

Figura 2 Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 (Novo Coacutedigo

Florestal)

27

Figura 3 Sistema de degradaccedilatildeo do meio ambiente 47

Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro 53

Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute 54

Figura 6 Iacutendice de aridez (UNEP) 56

Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo no Cearaacute 57

Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo 57

Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no ISSD 59

Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no IESD 60

Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios 61

Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute 79

Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba 79

Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo 81

Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras permanentes 85

Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras temporaacuterias 85

Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem

vegetal (tonano)

86

Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem

vegetal (m3ano)

86

Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011) 87

Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001 88

Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010 88

Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011 89

Figura 23 Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos 90

Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba 91

Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba 92

Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba 94

Figura 27 Grupo de solos que formam as associaccedilotildees pedoloacutegicas em

Irauccediluba

95

Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba 96

Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba 97

Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual 97

Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba 98

Figura 32 Iacutendice de umidade em Irauccediluba 98

Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba 100

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Medidas Provisoacuterias 21

Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras 48

Tabela 3 Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez (UNEP) 52

Tabela 4 Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo 55

Tabela 5 Levantamento de imoacuteveis com reserva legal (cartoacuterio de

registro de imoacuteveis)

73

Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais 76

Tabela 7 Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba 77

Tabela 8 Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de

anaacutelise

80

Tabela 9 Dados da propriedade particular estudada 80

Tabela 10 Propriedades estudadas 81

Tabela 11 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem

animal

87

Tabela 12 Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores 90

Tabela 13 Relaccedilatildeo entre solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo 93

Tabela 14 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEmbrapa 93

Tabela 15 Anaacutelise geral das propriedades estudadas 101

Tabela 16 NDVI dos imoacuteveis estudados 107

Tabela 17 Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal entre dentro e fora da aacuterea

de reserva legal pelo meacutetodo Sorensen

108

SUMAacuteRIO

Lista de Figuras vii

Lista de Tabelas ix

Resumo v

Abstract vi

INTRODUCcedilAtildeO 12

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 14

11 O Instituto da Reserva Legal 14

111 Conceito 15

112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica 17

113 Importacircncia da Reserva Legal 30

1131 Juriacutedica 31

1132 Social 32

1133 Ambiental 33

1134 Econocircmica 35

114 Direito de Propriedade X Reserva Legal 36

1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa 41

1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal 42

2 PROCESSO DE DEGRADACcedilAtildeO 45

21 Conceito 45

22 Degradaccedilatildeo ambiental 48

221 Erosatildeo 49

222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica 49

223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica 50

23 A degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 51

231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia 52

24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental 62

25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira 65

251 Lei ambiental de Irauccediluba 69

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 71

31 Reserva Legal em Irauccediluba 71

311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental ndash Projeto de

Assentamento Agraacuterio em foco

73

32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo 78

321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba 78

3211 Das propriedades estudadas 79

3212 Aspectos histoacutericos de ocupaccedilatildeo 82

322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas 82

323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba 91

3231 Altimetria e Classes de relevo 91

3232 Solos 92

3233 Clima 95

3234 Vegetaccedilatildeo 99

3235 Recursos Hiacutedricos 100

324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo 101

33 Metodologia 104

331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite 104

4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES 107

41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 107

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 110

REFEREcircNCIAS 113

INTRODUCcedilAtildeO

A degradaccedilatildeo como um problema ambiental jaacute foi alvo de inuacutemeras pesquisas

principalmente quando se trata do semiaacuterido brasileiro Estudos nesse sentido datam da

deacutecada de 70 eacutepoca em que o professor Vasconcelos Sobrinho passou a pesquisar o processo

de desertificaccedilatildeo no nordeste do Brasil (SALES 2002) Nas investigaccedilotildees ele identificou um

nuacutecleo no Cearaacute que se localiza em Irauccediluba Em assim sendo buscou-se desenvolver um

trabalho naquele municiacutepio tomando por base um mecanismo criado por lei cujo caraacuteter eacute a

conservaccedilatildeo do meio ambiente Trata-se da reserva legal Como nessa aacuterea natildeo haacute pesquisa

envolvendo a aplicabilidade do tal instituto viu-se a oportunidade de estudaacute-la produzindo-se

o presente trabalho

A proposta principal da pesquisa eacute fazer um levantamento dos imoacuteveis existentes

no municiacutepio de Irauccediluba pontuando de forma preponderante os de propriedade federal e

estadual destinados aos assentamentos rurais e assim identificar nessas aacutereas a existecircncia ou

natildeo do instituto da reserva legal e sua devida implantaccedilatildeo Nesse sentido encontrou-se 6

propriedades que possuiacuteam a reserva legal sendo 5 puacuteblicas e 1 privada Empoacutes o segundo

intuito envolve a diferenciaccedilatildeo entre a cobertura vegetal da reserva e do restante da

propriedade a partir da utilizaccedilatildeo de imagens de sateacutelite e o uso do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por

Diferenccedila Normalizada (NDVI)

Para isso foi necessaacuterio fazer um apanhado de como esse instrumento de

conservaccedilatildeo foi e eacute abordado no Coacutedigo Florestal que eacute a lei onde haacute previsatildeo da reserva

legal bem como traccedilar um histoacuterico de como se deu sua evoluccedilatildeo dentro do quadro

legislativo no paiacutes foi igualmente essencial Da mesma maneira buscou-se contextualizar a

importacircncia da reserva legal nos aspectos econocircmico juriacutedico social e ambiental de forma

que ficou ilustrado o valor que esse mecanismo tem para a sociedade As discussotildees de cunho

juriacutedico e praacutetico sobre o assunto foram levantadas pois o proprietaacuterio do imoacutevel vecirc a reserva

legal como ocircnus e natildeo como um instrumento de conservaccedilatildeo que traraacute imensuraacuteveis

benefiacutecios ambientais dentro de sua proacutepria aacuterea Encerrando o primeiro capiacutetulo tecircm-se as

formas de cumprir o mandamento legal que envolvem a reserva muito embora isto tenha

sofrido algumas alteraccedilotildees como se veraacute a seguir

Quanto agrave reserva legal em Irauccediluba as constataccedilotildees natildeo satildeo animadoras

Infelizmente haacute um desencontro de informaccedilotildees a comeccedilar pelo controle do nuacutemero de

imoacuteveis existentes no municiacutepio Em seguida soacute foram encontrados trecircs imoacuteveis com a

obrigaccedilatildeo devidamente formalizada em cartoacuterio Isso diante de um universo de mais de 700

propriedades eacute frustrante e desencorajador Outra abordagem feita neste toacutepico aponta o

licenciamento ambiental como mais um instrumento possibilitador da instalaccedilatildeo da reserva

legal pois o oacutergatildeo ambiental tem dever de exigir o tal instituto para licenciar atividades e

empreendimentos localizados em zona rural

Igualmente desalentadora eacute a degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio Por se tratar de

uma aacuterea com caracteriacutesticas naturalmente adversas e limitantes sua ingerecircncia deveria ser

profundamente fiscalizada e regulamentada pelas autoridades competentes em todos os niacuteveis

de governo Mas isso natildeo ocorre pelo contraacuterio em Irauccediluba satildeo exercidas atividades com

meacutetodos bem rudimentares e sem qualquer preocupaccedilatildeo com a recuperaccedilatildeo dos danos e com a

capacidade de suporte do meio Assim acontece a degradaccedilatildeo das aacutereas com a praacutetica do

desmatamento das queimadas do sobrepastoreio e outros tipos de intervenccedilatildeo

ambientalmente prejudiciais Diante desse quadro o homem do campo tende a abandonar

estas e ocupar outras terras estimulando ainda mais o processo de desertificaccedilatildeo ali presente

Outro toacutepico em que se chama atenccedilatildeo no trabalho eacute a quantidade de leis

envolvendo o tema Natildeo faltam regulamentaccedilotildees muito pelo contraacuterio sobram O que se

percebe eacute a existecircncia de leis para vaacuterios assuntos em vez de uma que englobe a maioria

deles Com lei ou sem lei a situaccedilatildeo parece natildeo progredir positivamente em termos de

recuperaccedilatildeo ambiental embora haja uma estrutura poliacutetica econocircmica e juriacutedica dirigida para

tais fins Aleacutem disto existem poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o municiacutepio especificamente e

outras que natildeo mas podem ser implementadas ali Eacute o caso dos benefiacutecios dos inuacutemeros

programas de governo direcionados para a reforma agraacuteria por exemplo Outro caso satildeo os

fundos de combate agrave degradaccedilatildeo e agrave desertificaccedilatildeo Nesta orientaccedilatildeo percebe-se que natildeo

faltam leis poliacuteticas puacuteblicas ou recursos Felizmente existe todo um aparato no sentido de

melhorar as condiccedilotildees ambientais e minimizar danos mas infelizmente na praacutetica essa

estrutura natildeo voga como deveria

Todo esse cenaacuterio estaacute enquadrado na caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo

devidamente abordada no terceiro capiacutetulo Laacute satildeo mencionados os aspectos socioeconocircmicos

do municiacutepio perpassando pelos acontecimentos histoacutericos de sua ocupaccedilatildeo As

caracteriacutesticas fisiograacuteficas de Irauccediluba tambeacutem se fazem presentes de maneira que foram

abordados aspectos pedoloacutegicos climaacuteticos vegetativos e hiacutedricos Aleacutem disto a metodologia

utilizada permitiu as constataccedilotildees discorridas nos resultados e discussotildees inseridas no

capiacutetulo 4 de forma que os objetivos da pesquisa foram alcanccedilados

13

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

11 O Instituto da Reserva Legal

A reserva legal eacute um instituto cuja importacircncia perfaz o esteio do

desenvolvimento sustentaacutevel no sentido de que harmoniza a viabilidade econocircmica com a

justiccedila social e o equiliacutebrio ecoloacutegico Eacute um notaacutevel exemplo de que eacute possiacutevel coexistirem

interesses particulares e coletivos pois a reserva legal nada mais eacute que a conservaccedilatildeo

ambiental de uma determinada porcentagem da propriedade ou posse rural passiacutevel de

intervenccedilatildeo pelo homem do campo

O presente estudo indica a reserva legal como uma forma de conservaccedilatildeo do

meio em face da extraccedilatildeo vegetal promovida pelo proprietaacuterio agriacutecola Foca ainda os

aspectos social econocircmico e ambiental dessa imposiccedilatildeo que tem seu nascedouro na legislaccedilatildeo

vigente Corrobora Silva (2001 p 59) ao afirmar que ldquoa cobertura vegetal nativa sobretudo

as florestais exerce papel de fundamental importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de

ecossistemas naturais bem como de ecossistemas criados pelo homemrdquo No mesmo sentido

Miranda (2008 p 31) diz que ldquoa reserva legal contribui para a mitigaccedilatildeo do aquecimento

global salvaguarda a biodiversidade e garante agraves presentes e futuras geraccedilotildees o direito a um

meio ambiente ecologicamente equilibradordquo

Traz-se agrave tona os aspectos que fundamentam a reserva legal como um instituto

que fora criado por lei especiacutefica para a conservaccedilatildeo do meio pois erroneamente os

proprietaacuterios rurais a veem como limitaccedilatildeo ao direito de propriedade e entendem que destinar

uma porcentagem de seus imoacuteveis para uma aacuterea que natildeo corresponde agrave afericcedilatildeo de lucro eacute

tatildeo somente um ocircnus eou uma perda e natildeo um investimento Nesse sentido explicam

Galdino e Candido (2008 p 251) que ldquoa instituiccedilatildeo da reserva legal natildeo enfraquece ou destroacutei

o direito de propriedade Ao reveacutes possibilita a existecircncia de um meio ambiente

ecologicamente equilibrado condicionando a propriedade a uma funccedilatildeo socioambientalrdquo

Conforme Bacha (2005 p 24) ldquodeve-se pensar em novas formas de estiacutemulo

econocircmico ao produtor para que ele recomponha a reserva legal pois a legislaccedilatildeo atual

apenas lhe coloca custos em contrapartida de benefiacutecios a toda sociedaderdquo Cabe ainda

mencionar a possibilidade prevista no Coacutedigo Florestal ou seja na Lei 4771 (BRASIL

1965) quanto agrave intervenccedilatildeo na aacuterea destinada agrave reserva legal de forma sustentaacutevel sem

suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo

econocircmica dessas aacutereas

Existem estudos justificando biologicamente a existecircncia da reserva legal Eacute sobre

o que discorre Metzger (2002 p 48) quando afirma que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de

propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa satildeo

fundamentais para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada

regiatildeordquo Complementa ainda Silva (2001 p 59) quando afirma sobre ldquoa importacircncia da

cobertura vegetal em reserva legal que permite uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da

aacutegua no solo e no subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos aleacutem de

promover a manutenccedilatildeo da diversidade geneacuteticardquo

Ademais o exerciacutecio de atividades econocircmicas que tem por principal insumo os

recursos naturais modifica sensivelmente a cobertura vegetal e o solo contribuindo para um

processo de degradaccedilatildeo Para tanto o respeito agrave legislaccedilatildeo ambiental vigente como o Coacutedigo

Florestal por exemplo eacute de extrema relevacircncia uma vez que eacute norma conducente agrave

conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo das formas de vegetaccedilatildeo e suas respectivas ingerecircncias Tal lei

prevecirc a reserva legal como espaccedilo especialmente protegido

Balizando tal atividade econocircmica frente agrave observacircncia da reserva legal surge a

proposiccedilatildeo elencada por Bacha (2005 p 24) que ldquopara o produtor rural honrar tal instituto

tendo-o como lucrativo eacute necessaacuterio que sua composiccedilatildeo floriacutestica seja feita em parte com

espeacutecies comerciaisrdquo Eacute o que Miranda (2008 p 45) sob o aspecto socioeconocircmico bem

pontua quando evidencia que esta legislaccedilatildeo carece de aderecircncia social pois natildeo condiz com

a realidade e que enfatiza ainda

Para que haja aderecircncia social ela deveria prever uma reestruturaccedilatildeo completa no

modelo de desenvolvimento Sem isso tanto os pequenos como os grandes

proprietaacuterios natildeo possuiratildeo condiccedilotildees para cumprir a lei e uma vez na ilegalidade

cometem outros crimes ambientais E por entenderem que a lei natildeo eacute factiacutevel natildeo a

cumprem [] Aleacutem disso as linhas de creacutedito inclusive dos bancos oficiais natildeo

financiam atividades sustentaacuteveis mas a pecuaacuteria o plantio de soja entre outras por

acreditarem possuir nelas uma seguranccedila maior para o investimento (MIRANDA

2008 p 45)

111 Conceito

A reserva legal eacute um mecanismo criado para a conservaccedilatildeo dos recursos naturais

cuja origem eacute a lei Sua essecircncia sempre esteve presente em normas de caraacuteter protecionista

que dispunham sobre florestas e demais formas de vegetaccedilatildeo muito embora tenham ocorrido

inuacutemeras alteraccedilotildees ao longo do tempo Eacute o que se pode observar pela evoluccedilatildeo legislativa

que a seguir seraacute apontada

15

A expressatildeo reserva legal pode ser simploriamente entendida como uma aacuterea a ser

conservada por um detentor de imoacutevel rural e que por sua vez varia com a localidade do

bioma em que a aacuterea estaacute inserida A lei que versa sobre esse tema eacute conhecida como Coacutedigo

Florestal e com esse nome existiu em trecircs momentos diferentes da histoacuteria do legislativo

brasileiro O primeiro foi no ano de 1934 o segundo em 1965 e por uacuteltimo em 2012 estando

presente em todos eles uma seacuterie de modificaccedilotildees que levaram ao aperfeiccediloamento do

conteuacutedo e dos objetivos da reserva legal bem como flexibilizaccedilotildees e restriccedilotildees a depender

do momento econocircmico em que o paiacutes vivia eou dos interesses da maioria de parlamentares agrave

eacutepoca

Atualmente a Lei 12651 de 25052012 ou como eacute conhecida por Novo Coacutedigo

Florestal atraveacutes de seu artigo 3ordm inciso III prevecirc o conceito de reserva legal da seguinte

forma

III ndash Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural

delimitada nos termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de

modo sustentaacutevel dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a

reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade

bem como o abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012

p 3) (BRASIL 2012)

Jaacute a previsatildeo elencada nos Coacutedigos anteriores de 1934 e 1965 dispotildee

Coacutedigo Florestal de 1934 - Decreto 23793

Art 23 - Nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas poderaacute abater mais de trecircs

quartas partes da vegetaccedilatildeo existente []

sect 1ordm O dispositivo do artigo natildeo se applica a juizo das autoridades florestaes

competentes agraves pequenas propriedades isoladas que estejam proximas de florestas

ou situadas em zona urbana

sect 2ordm Antes de iniciar a derrubada com a antecedencia minima de 30 dias o

proprietario daraacute sciencia de sua intenccedilatildeo aacute autoridade competente afim de que esta

determine a parte das mattas que seraacute conservada (BRASIL 1935 p 5)

Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771

Art 1ordm sect 2ordm inciso III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma

propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao

uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos

ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora

nativas (BRASIL 1965 p 2)

Percebe-se que na lei de 1934 se quer haacute menccedilatildeo ao termo reserva legal mas se

vecirc claramente a intenccedilatildeo conservacionista do legislador e se ressalte que eacute uma visatildeo bem

mais proacute-ambiente uma vez que proiacutebe o desmatamento acima de frac34 da propriedade

protegendo assim 25 de sua aacuterea Embora o Coacutedigo Florestal de 1934 natildeo preveja

16

explicitamente a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo em determinada aacuterea com o nome de reserva legal o

artigo 23 do diploma citado acima estaacute notoriamente revestido de um caraacuteter conservacionista

e quem natildeo o cumprisse estaria enquadrado no paraacutegrafo 4ordm do artigo 86 do Capitulo V ndash

Infracccedilotildees florestaes

Art 86 As contravenccedilotildees previstas nos arts 9ordm sect 1ordm 21 22 e sect 1ordm 23 e paragrapho

unico 24 a 30 31 a 34 37 43 a 45 49 e paragrapho unico 51 54 e paragrapho

unico 55 e 64 deste codigo quando natildeo se caracterizarem especialmente algumas

figuras delictuosas definidas no art 83 ou no art 87 sujeitas seus autores aacutes penas

seguintes

[]

sect 4ordm pelas das letras g h do art 22 e arts 23 e 44 - detenccedilatildeo ateacute 60 dias e multa ateacute

10000$000 (BRASIL 1935 p 14)

Em contrapartida um pouco mais aperfeiccediloado embora um tanto quanto tarde o

instituto da reserva legal aparece bem definido somente em 2001 quando a Medida Provisoacuteria

nordm 2166-6 (BRASIL 2001) acrescentou ao texto da Lei 4771 (BRASIL 1965) o seu conceito

da forma como eacute mais conhecido ultimamente apesar de natildeo se limitar soacute a esta modificaccedilatildeo

Como tantas outras leis o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) sofreu diversas

alteraccedilotildees ao longo de sua vigecircncia que durou ateacute 25 de maio de 2012 data em que a Lei

12651 (BRASIL 2012) entra em vigor revoga a anterior e estabelece o novo Coacutedigo

Florestal

Como a temaacutetica deste trabalho eacute discorrer sobre a existecircncia da reserva legal a

partir de um levantamento nas propriedades rurais seratildeo tratadas tatildeo somente as

modificaccedilotildees que dizem respeito a este instituto

112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica

O protecionismo florestal como ligeiramente mencionado anteriormente foi

delineado em um preceito normativo datado da deacutecada de 30 quando surgiu o primeiro

diploma legal a prever a conservaccedilatildeo relativa agrave manutenccedilatildeo das matas Eacute atraveacutes do Decreto

ndeg 23793 de 23 de janeiro de 1934 (BRASIL 1935) que a vegetaccedilatildeo recebe amparo e passa a

ser resguardada da supressatildeo indiscriminada Surge entatildeo o primeiro Coacutedigo Florestal

Brasileiro que em seu artigo 23 descreve que nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas

poderaacute abater mais de trecircs quartas partes da vegetaccedilatildeo existente

17

Eacute interessante observar que a delimitaccedilatildeo imposta pela norma corresponde a vinte

e cinco por cento da propriedade ou seja um grande desafio para a sociedade da eacutepoca que

era tradicionalmente agriacutecola e despontava para a industrializaccedilatildeo

Para melhor apreciar as preocupaccedilotildees que justificaram a ediccedilatildeo do Coacutedigo Florestal

de 1934 haacute que se entender a realidade soacutecio-econocircmica e poliacutetica da sociedade

brasileira no iniacutecio do seacuteculo XX A populaccedilatildeo estava concentrada proacuteximo agrave

Capital da Repuacuteblica cidade do Rio de Janeiro Estado da Guanabara A cafeicultura

avanccedilava pelos morros que constituem a topografia do Vale do Paraiacuteba substituindo

toda a vegetaccedilatildeo nativa A criaccedilatildeo de gado outra forma de utilizaccedilatildeo das terras

fazia-se de modo extensivo e com miacutenima teacutecnica Na silvicultura que jaacute se iniciara

tiacutemida nos primeiros anos do seacuteculo XX verificava-se o trabalho valioso e pioneiro

de Edmundo Navarro de Andrade com a introduccedilatildeo de espeacutecies de Eucalyptus mas

restrito agraves atividades da Cia Paulista de Estradas de Ferro no Estado de Satildeo Paulo

No resto do Paiacutes assim como antes no Estado de Satildeo Paulo a atividade florestal era

fundamentada no mais puro extrativismo Nos Estados do Paranaacute e Santa Catarina

os estoques de Araucaria angustifolia eram rapidamente exauridos Foi nesse cenaacuterio

que o Poder Puacuteblico decidiu interceder estabelecendo limites ao que parecia ser um

saque ou pilhagem dos recursos florestais (muito embora ateacute entatildeo tais praacuteticas

fossem liacutecitas) A mencionada ldquointervenccedilatildeordquo necessaacuteria materializou-se por meio

da ediccedilatildeo de um (primeiro) Coacutedigo Florestal o de 1934 (AHRENS 2001 p 6)

Diferentemente do Decreto de 1934 (BRASIL 1935) ao ser publicada em 15 de

setembro a Lei 4771 (BRASIL 1965) ou seja o Coacutedigo Florestal de 1965 trouxe em seu

artigo 16 a ideia do que seria a reserva legal Criou-se entatildeo um limite miacutenimo a ser

respeitado dentro de cada propriedade muito embora soacute mencione uma porcentagem definida

para aacutereas localizadas no Leste Sul e Centro-Oeste do paiacutes deixando de fora as demais

regiotildees

Art 16 As florestas de domiacutenio privado natildeo sujeitas ao regime de utilizaccedilatildeo

limitada e ressalvadas as de preservaccedilatildeo permanente previstas nos artigos 2deg e 3deg

desta lei satildeo suscetiacuteveis de exploraccedilatildeo obedecidas as seguintes restriccedilotildees

a) nas regiotildees Leste Meridional Sul e Centro-Oeste esta na parte sul as derrubadas

de florestas nativas primitivas ou regeneradas soacute seratildeo permitidas desde que seja

em qualquer caso respeitado o limite miacutenimo de 20 da aacuterea de cada

propriedade com cobertura arboacuterea localizada a criteacuterio da autoridade competente

b) nas regiotildees citadas na letra anterior nas aacutereas jaacute desbravadas e previamente

delimitadas pela autoridade competente ficam proibidas as derrubadas de florestas

primitivas quando feitas para ocupaccedilatildeo do solo com cultura e pastagens

permitindo-se nesses casos apenas a extraccedilatildeo de aacutervores para produccedilatildeo de madeira

Nas aacutereas ainda incultas sujeitas a formas de desbravamento as derrubadas de

florestas primitivas nos trabalhos de instalaccedilatildeo de novas propriedades agriacutecolas soacute

seratildeo toleradas ateacute o maacuteximo de 30 da aacuterea da propriedade

c) na regiatildeo Sul as aacutereas atualmente revestidas de formaccedilotildees florestais em que

ocorre o pinheiro brasileiro Araucaria angustifolia (Bert - O Ktze) natildeo poderatildeo

ser desflorestadas de forma a provocar a eliminaccedilatildeo permanente das florestas

tolerando-se somente a exploraccedilatildeo racional destas observadas as prescriccedilotildees

ditadas pela teacutecnica com a garantia de permanecircncia dos maciccedilos em boas condiccedilotildees

de desenvolvimento e produccedilatildeo

18

d) nas regiotildees Nordeste e Leste Setentrional inclusive nos Estados do Maranhatildeo e

Piauiacute o corte de aacutervores e a exploraccedilatildeo de florestas soacute seraacute permitida com

observacircncia de normas teacutecnicas a serem estabelecidas por ato do Poder Puacuteblico na

forma do art 15 sect 1ordm Nas propriedades rurais compreendidas na aliacutenea a deste artigo com aacuterea entre

vinte (20) a cinquumlenta (50) hectares computar-se-atildeo para efeito de fixaccedilatildeo do limite

percentual aleacutem da cobertura florestal de qualquer natureza os maciccedilos de porte

arboacutereo sejam frutiacutecolas ornamentais ou industriais (BRASIL 1965 p 6-7)

Honestamente natildeo se sabe o motivo pelo qual o legislador neste momento inicial

da lei natildeo se deteve agraves minuacutecias quanto agraves regiotildees Nordeste Oeste e Sudeste como o fez para

as outras ou porque sequer definiu percentuais de vegetaccedilatildeo a ser preservadas nelas Aleacutem

disto simplesmente deixar a cargo de ato do Poder Puacuteblico a exploraccedilatildeo de florestas e o corte

de aacutervores no Nordeste eacute no miacutenimo curioso principalmente porque nessa regiatildeo encontra-se

o bioma Caatinga que eacute iacutempar e inexiste em qualquer outra parte do mundo Corrobora com

isto o Monitoramento do Desmatamento nos Biomas Brasileiros por Sateacutelite MMA e IBAMA

ao expor que mesmo sendo a uacutenica grande regiatildeo natural brasileira cujos limites estatildeo

inteiramente restritos ao territoacuterio nacional pouca atenccedilatildeo tem sido dada agrave conservaccedilatildeo da

heterogecircnea paisagem da Caatinga (BRASIL 2010)

Aleacutem disto as colocaccedilotildees do artigo 44 surpreendem quando especializam o tipo

de corte permitido e enquadram 50 da propriedade como reserva legal para o Norte do paiacutes

e o norte da regiatildeo Centro-Oeste como se pode observar

Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste enquanto natildeo for

estabelecido o decreto de que trata o artigo 15 a exploraccedilatildeo a corte razo soacute eacute

permissiacutevel desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea pelo menos 50 da aacuterea

de cada propriedade (BRASIL 1965 p 15)

Em 1989 surge a Lei 7803 (BRASIL 1989b) que acrescenta os paraacutegrafos 2ordm e

3ordm ao artigo 16 inaugurando a expressatildeo reserva legal e ratificando o percentual miacutenimo do

que deveria ser conservado a tiacutetulo de reserva legal Ao artigo 44 foi acrescentado o

paraacutegrafo uacutenico onde os 50 da propriedade anteriormente indicados para permanecer com a

cobertura vegetal agora passam a ser reconhecidos como reserva legal Em ambos os

dispositivos estaacute presente o procedimento formal a ser adotado com fins de resguardar a

aplicaccedilatildeo daquele instituto e seus efeitos isto eacute a averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio

Art 16 []

sect 2ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) de

cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso deveraacute ser averbada agrave margem

19

da inscriccedilatildeo de matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo

vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou

de desmembramento da aacuterea

sect 3ordm Aplica-se agraves aacutereas de cerrado a reserva legal de 20 (vinte por cento) para

todos os efeitos legais (BRASIL 1989b p 1)

Art 44 [] Paraacutegrafo uacutenico A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 50

(cinquumlenta por cento) de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso

deveraacute ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de

imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de

transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de desmembramento da aacuterea (BRASIL 1989b p

2)

Nota-se que os dispositivos trazem novidades como a vedaccedilatildeo a um tipo de corte

o meacutetodo garantidor para a implantaccedilatildeo da reserva legal e a proibiccedilatildeo de mudanccedila na aacuterea

destinada a receber o benefiacutecio Ademais o bioma cerrado eacute especialmente citado afirmando

assim a instituiccedilatildeo da reserva legal nele e seu respectivo percentual

Vale destacar ainda a entidade puacuteblica que recebeu por forccedila legal a

incumbecircncia de promover os atos formais e documentais para a implantaccedilatildeo da reserva legal

Trata-se do registro ou cartoacuterio de imoacuteveis que por sua vez reuacutene em seus livros oficiais

todas as informaccedilotildees sobre as propriedades imobiliaacuterias de sua circunscriccedilatildeo ou regiatildeo

geograacutefica Enfim o registro de imoacuteveis eacute o oacutergatildeo constitutivo da propriedade e o que guarda

este direito aleacutem de vigiar se a funccedilatildeo social e ambiental do imoacutevel estaacute sendo cumprida

Por conseguinte houve a ediccedilatildeo da Medida Provisoacuteria1 1511 em 25 de julho de

1996 (BRASIL 1996) com o objetivo de dar nova redaccedilatildeo ao artigo 44 do Coacutedigo Florestal

ou seja amplia o percentual da reserva legal de 50 para 80 em casos especiacuteficos e esmiuacuteccedila o

Norte do Brasil e o norte da regiatildeo Centro-Oeste

Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste a exploraccedilatildeo a

corte raso soacute eacute permitida desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea de no

miacutenimo cinquumlenta por cento de cada propriedade

sect 1ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo cinquumlenta por cento

de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso seraacute averbada agrave margem da

inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a

alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de

desmembramento da aacuterea

1 Medidas Provisoacuterias satildeo instrumentos juriacutedico-poliacuteticos traduzidos na forma de atos normativos com forccedila de

lei praticados pelo Chefe do Executivo Federal em situaccedilotildees de urgecircncia e relevacircncia e que devem ser

submetidas de imediato agrave deliberaccedilatildeo do Congresso Nacional (FILHO 2005) A Constituiccedilatildeo Federal em seu

Art 62 prevecirc que em caso de relevacircncia e urgecircncia o Presidente da Repuacuteblica poderaacute adotar medidas

provisoacuterias com forccedila de lei devendo submetecirc-las de imediato ao Congresso Nacional

20

sect 2ordm Nas propriedades onde a cobertura arboacuterea se constitui de fitofisionomias

florestais natildeo seraacute admitido o corte raso em pelo menos oitenta por cento dessas

tipologias florestais

sect 3ordm Para efeito do disposto no caput entende-se por regiatildeo Norte e parte Norte da

regiatildeo Centro-Oeste os Estados do Acre Paraacute Amazonas Roraima Rondocircnia

Amapaacute e Mato Grosso aleacutem das regiotildees situadas ao norte do paralelo 13degS nos

Estados de Tocantins e Goiaacutes e a oeste do meridiano de 44degW no Estado do

Maranhatildeo (BRASIL 1996 p 1)

Fazendo uma retrospectiva ldquoesse ato do Poder Executivo pretendeu conter o

desmatamento na Amazocircnia num momento em que era divulgado o aumento da taxa meacutedia

anual de desflorestamento no biecircnio 1993-1994rdquo (MIRANDA 2008 p 38) Entretanto essa

natildeo foi a uacutenica iniciativa do chefe do executivo para alterar os percentuais citados acima

Inclusive eacute perturbador o levantamento do nuacutemero de medidas provisoacuterias com o fim de

modificar o Coacutedigo Florestal em especial os criteacuterios e aspectos que envolvem a reserva

legal que ora satildeo mais flexibilizados ora mais restritivos Eacute o que se pode observar pela

leitura da Tabela 1 onde se verifica a existecircncia de 68 propostas de mudanccedila em um espaccedilo de

tempo pouco maior que 5 anos

Tabela 1 Medidas Provisoacuterias (MP)Ano

MEDIDAS PROVISOacuteRIAS (MP) Nordm DE MPPERIacuteODO PERIacuteODOS

Nordm 1511 a 1511-17 18 1ordm) 25071996 a 20111997

Nordm 1605-18 a 1605-30 13 2ordm) 11121997 a 19111998

Nordm 1736-31 a 1736-37 7 3ordm) 14121998 a 02061999

Nordm 1885-38 a 1885-43 6 4ordm) 29061999 a 02111999

Nordm 1956-44 a 1956-57 14 5ordm) 09121999 a 14122000

Nordm 2080-58 a 2080-64 7 6ordm) 27122000 a 13062001

Nordm 2166-65 a 2166-67 3 7ordm) 28062001 a 24082001

A uacuteltima Medida Provisoacuteria a promover consideraacuteveis alteraccedilotildees que dizem

respeito agrave reserva legal foi a de nordm 2166-67 de 24 de agosto de 2001 (BRASIL 2001) Ela

acrescentou o inciso III ao paraacutegrafo 2ordm do artigo 1ordm do Coacutedigo Florestal estabelecendo o

conceito de reserva legal ateacute entatildeo natildeo definido no texto da lei muito embora sua acepccedilatildeo jaacute

existisse

21

Art 1ordm []

sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por

[]

III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural

excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos

recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave

conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas

(BRASIL 2001 p 1)

Vale destacar que a reserva legal soacute deveraacute existir em propriedade ou posse rural

natildeo sendo obrigatoacuteria na aacuterea urbana aleacutem do que natildeo eacute soacute o proprietaacuterio ou seja aquele que

deteacutem o domiacutenio do imoacutevel eacute quem deve implantaacute-la mas o possuidor tambeacutem estaacute sujeito a

tal imposiccedilatildeo legal Isso acontece porque o instituto estaacute vinculado ao imoacutevel e natildeo ao dono

ou quem faz as suas vezes por isso eacute considerada uma obrigaccedilatildeo propter rem isto eacute proacutepria

da coisa

Aleacutem da inclusatildeo do conceito de reserva legal ao Coacutedigo Florestal (BRASIL

1965) ocorreu a fixaccedilatildeo de outros percentuais bem como a adiccedilatildeo de mais oito paraacutegrafos

que delinearam aspectos outrora natildeo mencionados Eacute o que se lecirc pela nova redaccedilatildeo do artigo

16

Art 16 As florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo nativa ressalvadas as situadas em

aacuterea de preservaccedilatildeo permanente assim como aquelas natildeo sujeitas ao regime de

utilizaccedilatildeo limitada ou objeto de legislaccedilatildeo especiacutefica satildeo suscetiacuteveis de supressatildeo

desde que sejam mantidas a tiacutetulo de reserva legal no miacutenimo

I - oitenta por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta localizada na

Amazocircnia Legal

II - trinta e cinco por cento na propriedade rural situada em aacuterea de cerrado

localizada na Amazocircnia Legal sendo no miacutenimo vinte por cento na propriedade e

quinze por cento na forma de compensaccedilatildeo em outra aacuterea desde que esteja

localizada na mesma microbacia e seja averbada nos termos do sect 7ordm deste artigo

III - vinte por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta ou outras

formas de vegetaccedilatildeo nativa localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e

IV - vinte por cento na propriedade rural em aacuterea de campos gerais localizada em

qualquer regiatildeo do Paiacutes

sect 1o O percentual de reserva legal na propriedade situada em aacuterea de floresta e

cerrado seraacute definido considerando separadamente os iacutendices contidos nos incisos I

e II deste artigo

sect 2ordm A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser

utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel de acordo com princiacutepios e

criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos estabelecidos no regulamento ressalvadas as

hipoacuteteses previstas no sect 3o deste artigo sem prejuiacutezo das demais legislaccedilotildees

especiacuteficas

sect 3ordm Para cumprimento da manutenccedilatildeo ou compensaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal em

pequena propriedade ou posse rural familiar podem ser computados os plantios de

aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais compostos por espeacutecies exoacuteticas

cultivadas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas

sect 4ordm A localizaccedilatildeo da reserva legal deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental estadual

competente ou mediante convecircnio pelo oacutergatildeo ambiental municipal ou outra

instituiccedilatildeo devidamente habilitada devendo ser considerados no processo de

aprovaccedilatildeo a funccedilatildeo social da propriedade e os seguintes criteacuterios e instrumentos

quando houver

22

I - o plano de bacia hidrograacutefica

II - o plano diretor municipal

III - o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico

IV - outras categorias de zoneamento ambiental e

V - a proximidade com outra Reserva Legal Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente

unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida

sect 5ordm O Poder Executivo se for indicado pelo Zoneamento Ecoloacutegico Econocircmico -

ZEE e pelo Zoneamento Agriacutecola ouvidos o CONAMA o Ministeacuterio do Meio

Ambiente e o Ministeacuterio da Agricultura e do Abastecimento poderaacute

I - reduzir para fins de recomposiccedilatildeo a reserva legal na Amazocircnia Legal para ateacute

cinquumlenta por cento da propriedade excluiacutedas em qualquer caso as Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente os ecoacutetonos os siacutetios e ecossistemas especialmente

protegidos os locais de expressiva biodiversidade e os corredores ecoloacutegicos e

II - ampliar as aacutereas de reserva legal em ateacute cinquumlenta por cento dos iacutendices

previstos neste Coacutedigo em todo o territoacuterio nacional

sect 6ordm Seraacute admitido pelo oacutergatildeo ambiental competente o cocircmputo das aacutereas relativas

agrave vegetaccedilatildeo nativa existente em aacuterea de preservaccedilatildeo permanente no caacutelculo do

percentual de reserva legal desde que natildeo implique em conversatildeo de novas aacutereas

para o uso alternativo do solo e quando a soma da vegetaccedilatildeo nativa em aacuterea de

preservaccedilatildeo permanente e reserva legal exceder a

I - oitenta por cento da propriedade rural localizada na Amazocircnia Legal

II - cinquumlenta por cento da propriedade rural localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e

III - vinte e cinco por cento da pequena propriedade definida pelas aliacuteneas b e c

do inciso I do sect 2ordm do art 1ordm

sect 7o O regime de uso da aacuterea de preservaccedilatildeo permanente natildeo se altera na hipoacutetese

prevista no sect 6o

sect 8ordm A aacuterea de reserva legal deve ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo de matriacutecula

do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua

destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou de

retificaccedilatildeo da aacuterea com as exceccedilotildees previstas neste Coacutedigo

sect 9ordm A averbaccedilatildeo da reserva legal da pequena propriedade ou posse rural familiar eacute

gratuita devendo o Poder Puacuteblico prestar apoio teacutecnico e juriacutedico quando

necessaacuterio

sect 10 Na posse a reserva legal eacute assegurada por Termo de Ajustamento de Conduta

firmado pelo possuidor com o oacutergatildeo ambiental estadual ou federal competente com

forccedila de tiacutetulo executivo e contendo no miacutenimo a localizaccedilatildeo da reserva legal as

suas caracteriacutesticas ecoloacutegicas baacutesicas e a proibiccedilatildeo de supressatildeo de sua vegetaccedilatildeo

aplicando-se no que couber as mesmas disposiccedilotildees previstas neste Coacutedigo para a

propriedade rural

sect 11 Poderaacute ser instituiacuteda reserva legal em regime de condomiacutenio entre mais de

uma propriedade respeitado o percentual legal em relaccedilatildeo a cada imoacutevel mediante a

aprovaccedilatildeo do oacutergatildeo ambiental estadual competente e as devidas averbaccedilotildees

referentes a todos os imoacuteveis envolvidos (BRASIL 2001 p 34)

Caso seja traccedilado um paralelo entre o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)

com as alteraccedilotildees aplicadas e agrave uacuteltima Medida Provisoacuteria percebe-se que o primeiro texto em

seu artigo 16 soacute mencionava as florestas particulares enquanto que em 2001 o reformulado

pela Medida Provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) generaliza a possibilidade de supressatildeo

vegetal para florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo incluindo-as no texto da lei Isto significa

que as florestas puacuteblicas embora sejam de domiacutenio coletivo tambeacutem devem respeitar a

reserva legal de acordo com o estabelecido

E ainda de 1989 ateacute 2001 o percentual para reserva legal era de 20 da

propriedade rural para todas as regiotildees com exceccedilatildeo dos imoacuteveis no norte do paiacutes e no norte

23

do centro-oeste onde deveriam ser protegidos 50 da cobertura arboacuterea Poreacutem com o

advento da Medida provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) aumentou-se essa porcentagem para

80 na Amazocircnia Legal2 para 35 no bioma cerrado localizado na Amazocircnia Legal e a

permanecircncia dos 20 para as demais regiotildees do Brasil

Enfim eacute possiacutevel concluir claramente que tal Medida Provisoacuteria ao modificar o

artigo 16 definiu o conceito de reserva legal foi mais especiacutefica quanto aos seus percentuais

alargou os tipos de florestas suscetiacuteveis ao desmatamento estabeleceu que a vegetaccedilatildeo da

reserva legal soacute poderia ser utilizada atraveacutes de um manejo florestal sustentaacutevel (sect2ordm)

determinou que sua localizaccedilatildeo deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental competente

obedecendo os 5 criteacuterios ambientais estabelecidos (sect4ordm) permitiu a sobreposiccedilatildeo de aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente agrave de reserva legal em alguns casos (sect6ordm) reafirmou o procedimento

documental garantidor do instituto (sect8ordm) criou a possibilidade de constituir a reserva legal

em condomiacutenio (sect11ordm) dentre outros

Encerrando as mudanccedilas trazidas pela Medida Provisoacuteria 2166-672001

(BRASIL 2001) tem-se o artigo 44 que foi completamente reformulado em conteuacutedo em

nuacutemero de incisos e paraacutegrafos O teor deste dispositivo agora versa sobre a recomposiccedilatildeo a

regeneraccedilatildeo e a compensaccedilatildeo da reserva legal Tais accedilotildees devem estar em consonacircncia com o

disposto no artigo 16

Art 44 O proprietaacuterio ou possuidor de imoacutevel rural com aacuterea de floresta nativa

natural primitiva ou regenerada ou outra forma de vegetaccedilatildeo nativa em extensatildeo

inferior ao estabelecido nos incisos I II III e IV do art 16 ressalvado o disposto

nos seus sectsect 5o e 6o deve adotar as seguintes alternativas isoladas ou

conjuntamente

I - recompor a reserva legal de sua propriedade mediante o plantio a cada trecircs anos

de no miacutenimo 110 da aacuterea total necessaacuteria agrave sua complementaccedilatildeo com espeacutecies

nativas de acordo com criteacuterios estabelecidos pelo oacutergatildeo ambiental estadual

competente

II - conduzir a regeneraccedilatildeo natural da reserva legal e

III - compensar a reserva legal por outra aacuterea equivalente em importacircncia ecoloacutegica

e extensatildeo desde que pertenccedila ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma

microbacia conforme criteacuterios estabelecidos em regulamento

sect 1o Na recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I o oacutergatildeo ambiental estadual

competente deve apoiar tecnicamente a pequena propriedade ou posse rural familiar

sect 2o A recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I pode ser realizada mediante o plantio

temporaacuterio de espeacutecies exoacuteticas como pioneiras visando a restauraccedilatildeo do

ecossistema original de acordo com criteacuterios teacutecnicos gerais estabelecidos pelo

CONAMA

2 Amazocircnia Legal - eacute uma aacuterea que engloba a totalidade de oito estados o Acre o Amapaacute o Amazonas o Mato

Grosso o Paraacute Rondocircnia Roraima e Tocantins e parte do Estado do Maranhatildeo (a oeste do meridiano de 44ordmW)

O conceito da Amazocircnia Legal foi criado pela lei 1806 de 06 de janeiro de 1953 (BRASIL 2011) Disponiacutevel

em lthttpwwwipeagovbrdesafiosindexphpoption=com_contentampid=2154catid=28ampItemid=23gt

24

sect 3o A regeneraccedilatildeo de que trata o inciso II seraacute autorizada pelo oacutergatildeo ambiental

estadual competente quando sua viabilidade for comprovada por laudo teacutecnico

podendo ser exigido o isolamento da aacuterea

sect 4o Na impossibilidade de compensaccedilatildeo da reserva legal dentro da mesma micro-

bacia hidrograacutefica deve o oacutergatildeo ambiental estadual competente aplicar o criteacuterio de

maior proximidade possiacutevel entre a propriedade desprovida de reserva legal e a aacuterea

escolhida para compensaccedilatildeo desde que na mesma bacia hidrograacutefica e no mesmo

Estado atendido quando houver o respectivo Plano de Bacia Hidrograacutefica e

respeitadas as demais condicionantes estabelecidas no inciso III

sect 5o A compensaccedilatildeo de que trata o inciso III deste artigo deveraacute ser submetida agrave

aprovaccedilatildeo pelo oacutergatildeo ambiental estadual competente e pode ser implementada

mediante o arrendamento de aacuterea sob regime de servidatildeo florestal ou reserva legal

ou aquisiccedilatildeo de cotas de que trata o art 44-B

sect 6o O proprietaacuterio rural poderaacute ser desonerado pelo periacuteodo de trinta anos das

obrigaccedilotildees previstas neste artigo mediante a doaccedilatildeo ao oacutergatildeo ambiental

competente de aacuterea localizada no interior de Parque Nacional ou Estadual Floresta

Nacional Reserva Extrativista Reserva Bioloacutegica ou Estaccedilatildeo Ecoloacutegica pendente de

regularizaccedilatildeo fundiaacuteria respeitados os criteacuterios previstos no inciso III deste

artigo (NR) (BRASIL 2001 p 45)

Quanto agrave sanccedilatildeo curiosamente neste Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965) natildeo haacute

nenhuma previsatildeo com relaccedilatildeo ao descumprimento da reserva legal diferentemente do

diploma de 1934 (BRASIL 1935) como se pocircde ler anteriormente Nesse sentido existir

uma lei sem a ela estar vinculada uma sanccedilatildeo quando descumprida eacute o mesmo que um fogo

que natildeo queima uma luz que natildeo alumia (MONTEIRO 1992)

Assim finaliza-se a anaacutelise do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) e se

inicia a apreciaccedilatildeo do Novo Coacutedigo Florestal isto eacute a Lei 12651 de 25 de maio de 2012

(BRASIL 2012) que jaacute possui algumas modificaccedilotildees mesmo sendo uma norma bastante

recente Trata-se de uma lei que em seu artigo 1ordm de pronto menciona o instituto da reserva

legal elevando-a a um patamar antes natildeo reconhecido quanto agrave especialidade que lhe eacute

inerente

Art 1ordm-A Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente e as aacutereas de Reserva Legal a exploraccedilatildeo florestal o

suprimento de mateacuteria-prima florestal o controle da origem dos produtos florestais e

o controle e prevenccedilatildeo dos incecircndios florestais e prevecirc instrumentos econocircmicos e

financeiros para o alcance de seus objetivos (BRASIL 2012 p 1)

Quanto a sua definiccedilatildeo embora citada anteriormente vecirc-se a necessidade de se

enfatizar as diferenccedilas entre o novo dispositivo e o anterior ora revogado ateacute porque o

recente eacute bem mais minucioso e atual em se tratando de tendecircncias e realidades do presente

Art 3ordm []

25

III - Aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural delimitada nos

termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de modo sustentaacutevel

dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a reabilitaccedilatildeo dos

processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade bem como o

abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012 p 3)

Art 1ordm []

sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por

[]

III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural

excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos

recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave

conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas

(BRASIL 1965 p 1)

Pela leitura observa-se que a aacuterea de reserva legal desde o iniacutecio estaacute restrita ao

imoacutevel rural excluindo assim o urbano Seu objetivo tambeacutem sempre foi o mesmo

sustentabilidade Isto eacute visto quando se examina o texto do Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965)

ao citar as expressotildees conservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo biodiversidade e proteccedilatildeo colocando nesse

iacutenterim recursos naturais processos ecoloacutegicos fauna e flora nativas O foco da reserva legal

eacute claro quanto agrave conservaccedilatildeo de uma forma sistecircmica pois inclui aspectos de solo vegetaccedilatildeo

vida animal e seus respectivos ciclos Eacute o que coloca SOUZA (2002 p 2829 apud Miranda

2008 p 53)

[] justifica a existecircncia de um mecanismo juriacutedico que garanta ao homem a

manutenccedilatildeo da biodiversidade para o seu proacuteprio bem Deste ponto de vista no

Brasil a Reserva Legal ainda eacute o mecanismo existente se natildeo o uacutenico que garante

essa manutenccedilatildeo tamanha a dependecircncia dos seres humanos de energia advinda de

plantas e animais

Jaacute a lei de 2012 (BRASIL 2012) inova ao incluir e modificar algumas acepccedilotildees

O uso econocircmico eacute uma delas Antes era mencionado somente um uso sustentaacutevel dos

recursos naturais mas agora eacute um uso com base na teoria de produccedilatildeo e consumo sob o vieacutes

da sustentabilidade Aleacutem disto a nova redaccedilatildeo faz uma pequena diferenciaccedilatildeo quanto ao

auxiacutelio que a reserva legal daacute agrave conservaccedilatildeo e agrave reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos

enquanto que a anterior ditava que o tal instituto era necessaacuterio para alcanccedilar os citados

objetivos Inclui tambeacutem a promoccedilatildeo que a reserva legal faz agrave biodiversidade e por fim a

uacuteltima norma agrega a proteccedilatildeo agrave fauna silvestre3 o que outrora era soacute agrave nativa

3 ldquoEacute preciso que a fauna tenha a sua vida ou parte dela ocorrendo naturalmente dentro dos limites do territoacuterio

brasileiro e suas aacuteguas jurisdicionaisrdquo (AMADO 2012 p329) silvestre ndash satildeo animais pertencentes agraves espeacutecies

nativas migratoacuterias e quaisquer outras aquaacuteticas ou terrestres

26

Percebe-se que com o passar dos anos as leis que versam sobre florestas estatildeo

cada vez mais aperfeiccediloadas com particularidades e especificidades como se pode concluir

pela leitura da evoluccedilatildeo histoacuterica dessas normas e suas modificaccedilotildees Visualiza-se melhor

tambeacutem ao se comparar os objetivos da reserva legal nas figuras 1 e 2

Figura 1 - Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771 (BRASIL 1965)

Figura 2 - Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 - Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)

RESERVA

LEGAL

ASSEGURA AUXILIA PROMOVE

27

E em se tratando das penalidades quem natildeo respeitar a reserva legal estaraacute

enquadrado no Decreto Federal 6514 de 22 de julho de 2008 (BRASIL 2008) que dispotildee

sobre as infraccedilotildees e sanccedilotildees administrativas ao meio ambiente e prevecirc aplicaccedilatildeo de multas

como descrito nos artigos abaixo

Art 48 Impedir ou dificultar a regeneraccedilatildeo natural de florestas ou demais formas

de vegetaccedilatildeo nativa em unidades de conservaccedilatildeo ou outras aacutereas especialmente

protegidas quando couber aacuterea de preservaccedilatildeo permanente reserva legal ou

demais locais cuja regeneraccedilatildeo tenha sido indicada pela autoridade ambiental

competente

Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo

[]

Art 51 Destruir desmatar danificar ou explorar floresta ou qualquer tipo de

vegetaccedilatildeo nativa ou de espeacutecies nativas plantadas em aacuterea de reserva legal ou

servidatildeo florestal de domiacutenio puacuteblico ou privado sem autorizaccedilatildeo preacutevia do oacutergatildeo

ambiental competente ou em desacordo com a concedida

Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo

[]

Art 55 Deixar de averbar a reserva legal Multa de R$ 50000 (quinhentos reais) a R$ 10000000 (cem mil reais) (BRASIL

2008 p 12)

Ao ler o dispositivo da lei eacute possiacutevel averiguar que tanto accedilotildees como omissotildees

possiacuteveis de cometimento quanto agrave reserva legal estatildeo previstas naquele Decreto (BRASIL

2008) o que daacute poder agraves autoridades constituiacutedas de exercerem seu papel fiscalizatoacuterio e

sancionatoacuterio em desfavor daquele que descumprir tal obrigaccedilatildeo

Nesse novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012) a reserva legal estaacute muito mais

discorrida e consequentemente resguardada A lei trouxe um capiacutetulo especiacutefico com duas

seccedilotildees organizadas dispondo sobre a delimitaccedilatildeo e o regime de proteccedilatildeo do instituto aleacutem de

outra seccedilatildeo que prevecirc a transformaccedilatildeo das reservas legais em aacutereas verdes nas expansotildees

urbanas

Para comeccedilar a analisar as novidades trazidas pelo Coacutedigo Florestal (BRASIL

2012) vale mencionar a mais importante quanto ao controle e fiscalizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da

reserva legal que se daraacute pelo Cadastro Ambiental Rural ndash CAR Eacute um registro puacuteblico

eletrocircnico de acircmbito nacional obrigatoacuterio para todos os imoacuteveis rurais com a finalidade de

integrar as informaccedilotildees ambientais das propriedades e posses rurais compondo base de dados

para controle monitoramento planejamento ambiental e econocircmico e combate ao

desmatamento conforme artigo 29 daquele diploma legal Para se cadastrar no CAR o

proprietaacuterio ou possuidor rural deveraacute identificar-se comprovar a propriedade ou posse e

identificar o imoacutevel atraveacutes de planta georreferenciada e memorial descritivo informando os

28

remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente dentre outras

segundo o inciso III do paraacutegrafo primeiro do mesmo dispositivo acima

Com a criaccedilatildeo desse sistema a supressatildeo de novas aacutereas de floresta ou outras

formas de vegetaccedilatildeo nativa soacute poderaacute ser autorizada apoacutes a inserccedilatildeo do imoacutevel onde ocorreraacute

o desmatamento no Cadastro Ambiental Rural A exceccedilatildeo a essa regra eacute o imoacutevel que jaacute

possua a reserva legal averbada na sua matriacutecula com a respectiva identificaccedilatildeo e localizaccedilatildeo

Isso dispensa a inclusatildeo no CAR Eacute o que rezam o paraacutegrafo terceiro do artigo 12 e o artigo

30 do Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)

A nova lei prevecirc que a inscriccedilatildeo no CAR eacute obrigatoacuteria para todas as propriedades

e posses rurais e deve ser requerida no prazo de um ano a partir da sua implantaccedilatildeo (sect3ordm do

artigo 29) No caso do Cearaacute o Cadastro Ambiental Rural ainda natildeo foi estabelecido embora

a lei jaacute tenha completado um ano Aleacutem disto agravequele que protocolar toda documentaccedilatildeo para

anaacutelise da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal no oacutergatildeo ambiental competente natildeo poderaacute ser

imputada sanccedilatildeo administrativa nem restriccedilatildeo a direitos por qualquer oacutergatildeo ambiental

competente (sect2ordm do artigo 14) desde que a sanccedilatildeo diga respeito a natildeo formalizaccedilatildeo da aacuterea de

reserva legal

Outra novidade eacute a dispensa de reserva legal em alguns casos como nos

empreendimentos de abastecimento puacuteblico de aacutegua e tratamento de esgoto nas aacutereas

adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessatildeo permissatildeo ou autorizaccedilatildeo para

exploraccedilatildeo de potencial de energia hidraacuteulica nas quais funcionem empreendimentos de

geraccedilatildeo de energia eleacutetrica subestaccedilotildees ou seja instaladas linhas de transmissatildeo e de

distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica e nas aacutereas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de

implantaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo de capacidade de rodovias e ferrovias (sect6 ordm sect7 ordm e sect8ordm do artigo 12)

Ao passo que na Lei 477165 (BRASIL 1965) o uacutenico caso dispensaacutevel de cumprir a reserva

legal era a doaccedilatildeo pelo proprietaacuterio rural de aacuterea localizada no interior de unidade de

conservaccedilatildeo de domiacutenio puacuteblico pendente de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria ao oacutergatildeo ambiental

competente (sect6ordm do art 44)

Quanto aos percentuais de reserva legal sobre a propriedade ou posse rural nada

mudou ou seja permaneceram os mesmos embora organizados de forma diferente conforme

se segue

Art 12 Todo imoacutevel rural deve manter aacuterea com cobertura de vegetaccedilatildeo nativa a

tiacutetulo de Reserva Legal sem prejuiacutezo da aplicaccedilatildeo das normas sobre as Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente observados os seguintes percentuais miacutenimos em relaccedilatildeo agrave

aacuterea do imoacutevel excetuados os casos previstos no art 68 desta Lei

I - localizado na Amazocircnia Legal

29

a) 80 (oitenta por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de florestas

b) 35 (trinta e cinco por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de cerrado

c) 20 (vinte por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de campos gerais

II - localizado nas demais regiotildees do Paiacutes 20 (vinte por cento) (BRASIL 2012 p

15)

Acerca da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal alguns criteacuterios a serem

observados permaneceram inalterados tais como o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento

ecoloacutegico-econocircmico4 e a proximidade com outra reserva legal aacuterea de preservaccedilatildeo

permanente unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida Por outro lado

foram acrescentados dois aspectos a serem considerados tambeacutem satildeo eles as aacutereas de maior

importacircncia para a conservaccedilatildeo da biodiversidade e as aacutereas de maior fragilidade ambiental

(Incisos IV e V do artigo 14)

Por fim haacute que se falar que a nova lei permitiu a sobreposiccedilatildeo das aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente agrave aacuterea de reserva legal ou seja ao se calcular o percentual desta

poderatildeo ser computadas as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente existentes no imoacutevel rural desde

que atenda alguns requisitos Eacute o que prescreve o artigo 15

Art 15 Seraacute admitido o cocircmputo das Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente no caacutelculo

do percentual da Reserva Legal do imoacutevel desde que

I - o benefiacutecio previsto neste artigo natildeo implique a conversatildeo de novas aacutereas para o

uso alternativo do solo

II - a aacuterea a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperaccedilatildeo

conforme comprovaccedilatildeo do proprietaacuterio ao oacutergatildeo estadual integrante do Sisnama e

III - o proprietaacuterio ou possuidor tenha requerido inclusatildeo do imoacutevel no Cadastro

Ambiental Rural - CAR nos termos desta Lei BRASIL 2012 p 1617)

Basicamente essas foram as inovaccedilotildees mais pertinentes agrave reserva legal trazidas

pelo Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)

113 Importacircncia da reserva legal

Vaacuterios aspectos perfazem o instituto da reserva legal Satildeo fundamentos de

cunho teacutecnico e cientiacutefico que revelam sua importacircncia atraveacutes da abordagem juriacutedica social

ambiental e econocircmica A reserva legal natildeo foi simplesmente uma imposiccedilatildeo prevista em lei

4 Zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ndash eacute um zoneamento ambiental Esse instrumento estaacute previsto na Poliacutetica

Nacional do Meio Ambiente que foi instituiacuteda pela Lei 693881 Trata-se de uma modalidade de intervenccedilatildeo

estatal sobre o territoacuterio a fim de reparti-lo em zonas consoante o melhor interesse na preservaccedilatildeo ambiental e

no uso sustentaacutevel dos recursos naturais Conferir AMADO Frederico Direito Ambiental Esquematizado

2012 p111

30

mas uma mobilizaccedilatildeo da sociedade para resguardar os bens ambientais impedindo a

degradaccedilatildeo sem precedentes

ldquoA reserva legal busca a preservaccedilatildeo ambiental como um todo natildeo soacute do imoacutevel

que nesta se situardquo (AMADO 2009 p 105) Ainda salienta Moraes (2002 p 30) que ldquoa

reserva legal natildeo possui funccedilatildeo vinculada ao imoacutevel especificamente sendo limitaccedilatildeo de

niacutevel macro ou seja mais preocupada com a melhoria regional da biodiversidade do que

propriamente com o ecossistema interno da propriedaderdquo E muito bem acrescenta Milareacute

(2009 p 166)

Aleacutem de preservar belezas cecircnicas e bucoacutelicos ambientes histoacutericos para as geraccedilotildees

futuras as aacutereas protegidas assumiram objetivos como a proteccedilatildeo de recursos

hiacutedricos manejo de recursos naturais desenvolvimento de pesquisas cientiacuteficas

manutenccedilatildeo do equiliacutebrio climaacutetico e ecoloacutegico preservaccedilatildeo de recursos geneacuteticos

e atualmente constituem o eixo de estruturaccedilatildeo da preservaccedilatildeo in situ da

biodiversidade como um todo

1131 Juriacutedica

A reserva legal foi criada pela forccedila do universo juriacutedico brasileiro que lhe

pressupotildee efetividade Como jaacute fora mencionado o instituto teve sua definiccedilatildeo atraveacutes da

Medida Provisoacuteria 2166-672001 (BRASIL 2001) que por sua vez alterou o Coacutedigo

Florestal (BRASIL 1965) vigente agrave eacutepoca Embora houvesse previsatildeo legal para aacutereas

especialmente protegidas estas ateacute entatildeo natildeo haviam sido nominadas como reserva legal

A lei ndeg 477165 (BRASIL 1965) segundo Trennepohl (2009) trazia uma maior

preocupaccedilatildeo com a erosatildeo de terras e o consequente prejuiacutezo para as atividades produtivas

Denotando predominante inclinaccedilatildeo para a sustentabilidade econocircmica da mateacuteria-prima

aquele diploma tratava a utilizaccedilatildeo dos recursos florestais de forma racional com finalidade

de garantir as atividades econocircmicas para as quais servem de insumo

Jaacute no entendimento de Schaffer e Medeiros (2009) a figura da reserva legal no

Coacutedigo Florestal revela-se como uma norma de importacircncia e observacircncia necessaacuterias

essencialmente estrateacutegicas para a garantia de um desenvolvimento equilibrado e sustentaacutevel

para a naccedilatildeo brasileira Tambeacutem observam os mesmos autores que a tatildeo discutida lei florestal

estabeleceu percentuais diferenciados de Reserva Legal em funccedilatildeo da localizaccedilatildeo do tipo de

vegetaccedilatildeo e das caracteriacutesticas ambientais das diferentes regiotildees do paiacutes

A eficaacutecia para o cumprimento do instituto se baseia na imposiccedilatildeo da lei quanto agrave

obrigaccedilatildeo dos proprietaacuterios ou posseiros rurais se dirigirem ao cartoacuterio de registro do seu

31

imoacutevel com a aacuterea da reserva jaacute delimitada e procederem agrave averbaccedilatildeo agrave margem da sua

matriacutecula No entanto essa obrigatoriedade foi substituiacuteda pelo Cadastro Ambiental Rural

que deveraacute ser feito no oacutergatildeo ambiental competente conforme visto anteriormente Esse

procedimento se daacute pelos paracircmetros devidamente previstos em normas teacutecnicas que dispotildeem

como o dono da aacuterea deve conduzir tal processo Essa averbaccedilatildeo eacute irretrataacutevel ou seja jamais

pode ser desfeita e eacute isso que daacute eficiecircncia ao instituto se cumprido Tal imposiccedilatildeo garante

que o proprietaacuterio natildeo desmembre seu imoacutevel na intenccedilatildeo de burlar a lei

Quanto ao procedimento de averbaccedilatildeo da reserva legal na matriacutecula do imoacutevel

ressalta Trennepohl (2009 p11-12)

A exigecircncia da averbaccedilatildeo da reserva legal vem desde 1965 vale dizer haacute mais de

quarenta anos existe esta obrigatoriedade E muitos proprietaacuterios rurais cumpriram agrave

risca esta exigecircncia averbando e mantendo preservado o percentual estipulado pela

lei

[]

A necessidade dessa averbaccedilatildeo dispensa maiores comentaacuterios e pode ser facilmente

entendida como a uacutenica garantia eficaz para que a transferecircncia ou a partilha natildeo

afastem essa obrigaccedilatildeo propter rem [proacutepria da coisa] que vincula a propriedade

natildeo o proprietaacuterio

Para alguns proprietaacuterios de terras rurais se houver o atendimento do instituto da

reserva legal caberia uma indenizaccedilatildeo pela perda daquela porcentagem em suas propriedades

mas como bem ilustra Magnanini (2010 p 5) ldquoa funccedilatildeo protetora da floresta natildeo eacute restriccedilatildeo

indenizaacutevel mas decorrecircncia da proacutepria natureza que preparou terras mais uacuteteis e outras

menosrdquo

1132 Social

Segundo o renomado filoacutesofo Mondin (2004 p 117) ldquoo homem eacute um ser

sociaacutevel portanto incapaz de sozinho alcanccedilar seus objetivos anseios e realizaccedilotildees

consequentemente viverrdquo A partir dessa constataccedilatildeo soacute resta ao ser humano subsistir numa

sociedade inserida no mundo natural

Como indiviacuteduo pratica accedilotildees que lhe afetam direta e indiretamente promovendo

reflexos no espaccedilo em que habita Por isso o aspecto social estaacute intimamente vinculado agrave

qualidade ambiental uma vez que o ser humano gera impactos positivos e negativos em seu

entorno Como natildeo se pode separar a atuaccedilatildeo dele do meio em que foi introduzido necessaacuterio

eacute fazer o balizamento de suas atitudes Uma das formas de limitar seu comportamento eacute a

confecccedilatildeo de normas como por exemplo a lei que nada mais eacute do que a expressatildeo de uma

32

demanda social por medidas coercitivas em virtude do desrespeito a um aspecto que a

sociedade defende ou repudia

Quanto agraves accedilotildees humanas e seus reflexos a teoria de ldquometapopulaccedilotildeesrdquo define

que a raccedila humana causa imenso impacto na Terra provocando a deterioraccedilatildeo dos sistemas

ecoloacutegicos e a extinccedilatildeo de muitas espeacutecies as quais tem seu ritmo acelerado agrave medida que a

populaccedilatildeo cresce e aumentando com isso o consumo de energia e de recursos naturais

SOUZA (2002 apud Miranda 2008)

O aspecto social que envolve a reserva legal confronta-se com praacuteticas seculares

do homem campestre como bem ilustra Magnanini (2010 p 3) engenheiro agrocircnomo e um

dos autores do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)

A agricultura itinerante continua se desenvolvendo segundo os meacutetodos primitivos

dos primeiros anos do descobrimento Chega o agricultor derruba e queima as

matas sem indagar se elas satildeo necessaacuterias agrave conservaccedilatildeo da feracidade do solo ou

do regime das aacuteguas Depois de alguns anos de exploraccedilatildeo renovando anualmente a

queimada como meio de extinguir a vegetaccedilatildeo invasora o terreno esgotado eacute

entregue ao abandono e o agricultor seguindo as pegadas do madeireiro que adiante

derrubou as aacutervores para extrair as toras inicia novo ciclo devastador idecircntico ao

precedente Como efeito disto a agricultura cada vez se interioriza mais e cada vez

se distancia mais dos centros consumidores requerendo transportes sempre mais

caros [] Inundaccedilotildees cada vez mais destruidoras pela remoccedilatildeo desordenada de

florestas colocam em sobressalto as populaccedilotildees de centenas de cidades ribeirinhas

Vale mencionar outra caracteriacutestica que expressa o valor que a reserva legal

quando estaacute sendo cumprida imprime na aacuterea rural ndash eacute a funccedilatildeo social da propriedade

considerada como princiacutepio basilar para o uso da mesma Designaccedilatildeo bastante enunciada

pelas normas que estabelecem aquele instituto permeia o direito de propriedade da terra que

natildeo eacute visto unilateralmente e sim em sua universalidade uma vez que o imoacutevel natildeo estaacute para

servir soacute a seu dono mas tem que atender sua funccedilatildeo social Nesse sentido Miranda (2008)

pontua que a reserva legal eacute uma forma de assegurar a funccedilatildeo social da propriedade fazendo

com que esta contribua com a preservaccedilatildeo do meio ambiente ecologicamente equilibrado para

atuais e futuras geraccedilotildees Eacute como tambeacutem entende Trennepohl (2009 p 11) ao afirmar que

A preservaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa num percentual das propriedades rurais diminui o

lucro do proprietaacuterio mas de forma muito menos significativa que o ganho para a

coletividade com a qualidade ambiental decorrente pelo que entendemos

inquestionaacutevel que o interesse coletivo se sobrepotildee ao individual

1133 Ambiental

Considerado como um dos principais fatores que embasam a instituiccedilatildeo da reserva

legal na propriedade ou posse rural o aspecto ambiental se funda na biologia que perpassa

33

essencialmente esse vieacutes sem admitir qualquer desassociaccedilatildeo entre as unidades ambientais

como aacutegua solo vegetaccedilatildeo e ar Pode-se afirmar que o alicerce do estudo do meio eacute a ciecircncia

bioloacutegica que por sua vez analisa as reaccedilotildees as funccedilotildees fiacutesico-quiacutemicas a qualidade do

ambiente testando seus limites ou melhor sua capacidade de suporte Do mesmo modo

Miranda (2008 p 51) discorre sobre a importacircncia ecoloacutegica do instituto da reserva legal

quando afirma que ldquosua funccedilatildeo preciacutepua eacute assegurar mostras significativas de ecossistemas

conservando a biodiversidade e servindo de abrigo e proteccedilatildeo agrave fauna e agrave florardquo

Sobre isso Metzger (2002 p 48) tambeacutem atesta que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de

propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa eacute

fundamental para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada

regiatildeordquo Complementa Silva (2001 p 59) quando afirma

A cobertura vegetal nativa sobretudo as florestais exerce papel de fundamental

importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de ecossistemas naturais bem como de

ecossistemas criados pelo homem como eacute o caso dos ecossistemas agriacutecolas Aleacutem

de permitirem uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da aacutegua no solo e no

subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos regular a vazatildeo

dos rios reduzindo as intensidades dos extremos de estiagens e enchentes manterem

a diversidade geneacutetica

Logo todos os benefiacutecios apontados pelos autores acima podem ser verificados

em uma menor escala quando haacute a observacircncia da reserva legal dentro de cada propriedade

rural em determinada regiatildeo garantindo sua viabilidade ambiental posto que assume um

papel niacutetido de conservaccedilatildeo Para exemplificar a assertiva retro menciona-se o microclima

favoraacutevel mantido quando haacute vegetaccedilatildeo na aacuterea em apreccedilo que por sua vez amortiza a

incidecircncia solar sobre aquela regiatildeo Por outro lado a cobertura vegetal tambeacutem eacute favoraacutevel agrave

manutenccedilatildeo dos solos uma vez que dificulta a accedilatildeo erosiva das chuvas

Infere-se portanto que a existecircncia da reserva legal na propriedade rural soacute traz

vantagens ao meio ambiente por mais que a tradiccedilatildeo campestre natildeo as compreenda Eacute o que

demonstram Schaffer e Medeiros (2009 p 2) ensinando que

A Reserva Legal (RL) por sua vez natildeo tem apenas a funccedilatildeo de prover o uso

sustentaacutevel dos recursos naturais na propriedade ou posse rural Tem tambeacutem a

funccedilatildeo de conservar e reabilitar os processos ecoloacutegicos conservar a biodiversidade

e servir de abrigo e proteccedilatildeo da fauna e flora nativas Desta forma a norma geral de

caraacuteter nacional [Coacutedigo Florestal] concilia o necessaacuterio uso sustentaacutevel de recursos

naturais para a propriedade ou posse rural com as funccedilotildees ambientais e o

provimento de serviccedilos ambientais de retenccedilatildeo de aacutegua conservaccedilatildeo do solo

manutenccedilatildeo de grupos de polinizadores e fixaccedilatildeo de biomassa entre outros os quais

satildeo importantes e necessaacuterios ao cumprimento da funccedilatildeo socioambiental dos

imoacuteveis ou propriedades rurais

34

No mesmo sentido Mercadante (1999 p 240 apud MIRANDA 2008 p 5354)

numa interpretaccedilatildeo mais ampla sobre a importacircncia ecoloacutegica da reserva legal diz

A Reserva Legal natildeo tem por objetivo apenas a conservaccedilatildeo da natureza da flora e

da fauna pelo valor intriacutenseco dos recursos bioloacutegicos ou pela contribuiccedilatildeo dessas

aacutereas para a qualidade do ambiente em geral A Reserva Legal eacute fundamental para a

estabilidade ecoloacutegica e consequentemente a exploraccedilatildeo em bases sustentaacuteveis do

proacuteprio imoacutevel rural A Reserva Legal contribui para a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo

do solo o controle da erosatildeo o controle do assoreamento dos cursos d‟aacutegua a

conservaccedilatildeo dos corpos d‟aacutegua e dos mananciais serve de abrigo para os predadores

das pragas agriacutecolas fornece madeira e outros recursos florestais para uso na

propriedade dentre outros benefiacutecios

E por fim eacute cabiacutevel mencionar ainda que o Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL

2012) fixou criteacuterios bem mais especiacuteficos e pertinentes ao estabelecimento da reserva legal

como proceder ao cumprimento desse instituto observando se sua localizaccedilatildeo eacute condizente

com o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ou outras categorias

de zoneamento ambiental a proximidade com outras aacutereas legalmente protegidas dentre

outros

1134 Econocircmica

A reserva legal sob o aspecto econocircmico eacute muito controversa uma vez que eacute vista

pelo proprietaacuterio ou posseiro rural como um encargo Mesmo porque como exprime

Trennepohl (2009) ateacute a deacutecada de 80 quando se tinha diferentes normas com dispositivos

protecionistas mas com enfoque preponderantemente economicista os recursos naturais eram

tratados muito mais como insumos de produccedilatildeo ou bens de uso imediato da sociedade do que

como elementos integrantes de um intrincado e fraacutegil equiliacutebrio ambiental Isto condicionou

fatalmente a sociedade brasileira contemporacircnea a natildeo observar a deferecircncia aos bens

ambientais quiccedilaacute respeitar certa porcentagem de uma aacuterea que fora adquirida por um

particular com seus recursos proacuteprios e a tem como totalmente privada

Ainda eacute possiacutevel pelo Coacutedigo Florestal - Lei 126512012 (BRASIL 2012)

intervir na aacuterea destinada agrave reserva de forma sustentaacutevel sem suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo

uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo econocircmica dessas aacutereas Aleacutem do

que ldquoa recuperaccedilatildeo de aacutereas de RL pode ainda gerar produtos e subprodutos madeireiros jaacute

escassos em algumas regiotildees garantindo assim uma renda adicional ao produtor rural e

mateacuteria-prima para a induacutestriardquo conforme defendem Schaffer e Medeiros (2009 p 12)

Para Magnanini (2010) a situaccedilatildeo eacute graviacutessima quando sugere ficar a criteacuterio

do proprietaacuterio rural a iniciativa de proceder ou natildeo agrave reserva legal jaacute que a Administraccedilatildeo

35

Puacuteblica natildeo tem como combater eficientemente o descumprimento desse instituto Eacute o que

propotildee no momento em que coloca

O dilema eacute este ou impotildee-se a todos os donos de terras defenderem agrave sua custa a

produtividade do solo contra a erosatildeo terriacutevel e crescente ou cruzam-se os braccedilos

ante a incapacidade pela pobreza do Poder Puacuteblico na maioria dos Estados do

Brasil para deter a transformaccedilatildeo do Paiacutes num deserto em que as estaccedilotildees se

alternem entre inundaccedilotildees e secas devoradoras de todo o esforccedilo humano

(MAGNANINI 2010 p 5)

Ademais define-se outra vertente do aspecto econocircmico tatildeo bem colocada pela

acepccedilatildeo que tem Bacha (2005 p 9) ao afirmar que

A reserva legal eacute um mecanismo de poliacutetica de rendas pelo qual se procura

estabelecer um zoneamento do uso da terra dentro da propriedade rural A poliacutetica

de rendas constitui-se numa seacuterie de regulamentaccedilotildees que restringem a produccedilatildeo e a

comercializaccedilatildeo de produtos bem como o uso dos fatores de produccedilatildeo eou

determinam valores miacutenimos ou maacuteximos para o pagamento pelo uso desses fatores

ou por produtos elaborados numa economia

Eacute possiacutevel portanto depreender o entendimento do autor de modo que a reserva

legal vem restringir o uso indiscriminado dos recursos florestais gerando com isso a

manutenccedilatildeo do bem ambiental que seraacute resguardado por aquele instituto Isto influiraacute

diretamente na cadeia produtiva nas oscilaccedilotildees de demanda e procura do mercado de mateacuteria-

prima de origem vegetal Ou seja pode-se entender que a meacutedio eou longo prazo a reserva

legal seraacute um ponto de equiliacutebrio no fluxo da produccedilatildeo de bens e serviccedilos que careccedilam desse

recurso natural

114 Direito de Propriedade x Reserva Legal

A propriedade privada eacute uma espeacutecie baacutesica que se decompotildee em propriedade

rural ou urbana segundo se refira a moradias do campo ou moradias derivadas das

construccedilotildees ou edificaccedilotildees idocircneas para sua habitualidade ou aproveitamento diferente do

que eacute a exploraccedilatildeo agraacuteria de qualquer moradia rural (CRIADO 2010)

A propriedade no direito brasileiro foi constituiacuteda em forma e conteuacutedo a partir de

normas muito antigas e de outras naccedilotildees ou seja foi reproduzida com base no direito romano

ldquoDesde aqueles tempos o direito de propriedade era tido como absoluto isto eacute o proprietaacuterio

tinha o direito de usar ou natildeo usar gozar ou natildeo gozar e dispor ou natildeo dispor da propriedade

imobiliaacuteriardquo (MELO 2010 p22) Em contrapartida ldquoos direitos de propriedade

constitucional certamente satildeo direitos de liberdade seja a liberdade individual seja a

liberdade comunitaacuteria que satildeo complementares e indissociaacuteveis haja vista que uma natildeo

36

existe sem a outra como nos demonstram as experiecircncias totalitaacuterias do seacuteculo XXrdquo

(ANTUNES 2011 p37)

A garantia do direito de propriedade estaacute prevista constitucionalmente ou seja na

maior Lei do paiacutes uma vez que ela se sobrepotildee a todas as outras leis e normas juriacutedicas Eacute a

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil que foi promulgada em 05 de outubro de

1988 Conhecida como Carta Magna a Constituiccedilatildeo de 1988 (BRASIL 1988) em seu Tiacutetulo

II estabelece os direitos e as garantias fundamentais do e para o povo brasileiro Logo no

primeiro capiacutetulo deste tiacutetulo estatildeo dispostos os direitos e deveres individuais e coletivos que

o Estado brasileiro deve assegurar aos seus cidadatildeos Eacute no artigo 5ordm que estatildeo previstas tais

premissas inclusive o direito de propriedade (inciso XXII) e o respeito agrave sua funccedilatildeo social

(XXIII)

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade

do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos

seguintes

[]

XXII - eacute garantido o direito de propriedade

XXIII - a propriedade atenderaacute a sua funccedilatildeo social

Quanto agrave funccedilatildeo social da propriedade ldquosomente nos seacuteculos XIX e XX surgiu a

ideia em que o imoacutevel natildeo teria mais o caraacuteter absoluto e intangiacutevel de forma que o

proprietaacuterio por possuir recursos deveria cumprir a tal funccedilatildeordquo (MELO 2010 p23) Ainda

ldquodiscorrer sobre a funccedilatildeo social da propriedade significa abandonar a ideia absolutista e

inflexiacutevel desse instituto para admitir a revitalizaccedilatildeo e o condicionamento do exerciacutecio a

interesses maiores que os do proprietaacuterio individualrdquo (PETERS 2003 p 125 apud

MIRANDA 2008 p 56) Foi nesse sentido que as Constituiccedilotildees Federais brasileiras de 1934

(BRASIL 1934b) 1946 (BRASIL 1946) 1967 (BRASIL 1967c) e a de 1988 (BRASIL

1988) restringiram o direito de propriedade

Constituiccedilatildeo de 1934

Art 113 - A Constituiccedilatildeo assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade dos direitos concernentes agrave liberdade agrave subsistecircncia agrave seguranccedila

individual e agrave propriedade nos termos seguintes

[]

17) Eacute garantido o direito de propriedade que natildeo poderaacute ser exercido contra o

interesse social ou coletivo na forma que a lei determinar A desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica far-se-aacute nos termos da lei mediante preacutevia e justa

indenizaccedilatildeo [] (BRASIL 1934b p 33)

Constituiccedilatildeo de 1946

Art 141 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

Paiacutes a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade a seguranccedila

individual e agrave propriedade nos termos seguintes

37

[]

sect 16 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa

indenizaccedilatildeo em dinheiro (BRASIL 1946 p 31)

Constituiccedilatildeo de 1967

Art 150 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

Pais a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

[]

sect 22 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa

indenizaccedilatildeo em dinheiro ressalvado o disposto no art 157 sect 1ordm []

[]

Art 157 - A ordem econocircmica tem por fim realizar a justiccedila social com base nos

seguintes princiacutepios

[]

III - funccedilatildeo social da propriedade

[]

sect 1ordm - Para os fins previstos neste artigo a Uniatildeo poderaacute promover a desapropriaccedilatildeo

da propriedade territorial rural mediante pagamento de justa indenizaccedilatildeo fixada

segundo os criteacuterios que a lei estabelecer em tiacutetulos especiais da diacutevida puacuteblica []

(BRASIL 1967c p 4951)

Embora os textos se assemelhem eacute faacutecil observar que em 1934 o direito de

propriedade natildeo poderia ir contra o interesse social ou coletivo enquanto que na Constituiccedilatildeo

de 1946 (BRASIL 1946) jaacute se comeccedila a falar em desapropriaccedilatildeo caso aquele interesse natildeo

seja observado Em 1967 existe uma combinaccedilatildeo entre o direito de propriedade e a justiccedila

social estando esta prevista como objetivo da ordem econocircmica que por sua vez cita

claramente a funccedilatildeo social da propriedade como um de seus princiacutepios Mais uma vez a

desapropriaccedilatildeo vem agrave tona agora com um toque mais robusto e imbuiacutedo de maior evidecircncia

jaacute que aquela Carta (BRASIL 1967c) faz menccedilatildeo no paraacutegrafo 1ordm do artigo 157 que a Uniatildeo

poderaacute desapropriar a propriedade territorial rural se natildeo atender dentre outros aspectos a

funccedilatildeo social da propriedade

Retroagindo aproximadamente trecircs anos a desapropriaccedilatildeo jaacute estava em pauta

atraveacutes da Lei 450464 (BRASIL 1964) conhecida como o Estatuto da Terra Com o

objetivo de regular os direitos e obrigaccedilotildees concernentes aos bens imoacuteveis rurais a citada lei

menciona a desapropriaccedilatildeo como uma das medidas de execuccedilatildeo da Reforma Agraacuteria e

promoccedilatildeo da Poliacutetica Agriacutecola (Art 1deg) Aleacutem disto o artigo segundo assegura a todos a

oportunidade de acesso agrave propriedade da terra condicionada pela sua funccedilatildeo social desde que

cumpra as seguintes condiccedilotildees

Art 2deg

sect 1deg A propriedade da terra desempenha integralmente a sua funccedilatildeo social quando

simultaneamente

a) favorece o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores que nela labutam

assim como de suas famiacutelias

38

b) manteacutem niacuteveis satisfatoacuterios de produtividade

c) assegura a conservaccedilatildeo dos recursos naturais

d) observa as disposiccedilotildees legais que regulam as justas relaccedilotildees de trabalho entre os

que a possuem e a cultivem (BRASIL 1964 p 1)

Encerrando o rol de Constituiccedilotildees brasileiras quanto ao direito de propriedade e

sua funccedilatildeo social a de 1988 consagra este princiacutepio no artigo 186

Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende

simultaneamente segundo criteacuterios e graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos

seguintes requisitos

I - aproveitamento racional e adequado

II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio

ambiente

[] (BRASIL 1988 p 144)

Chama atenccedilatildeo o inciso II quando dispotildee sobre a utilizaccedilatildeo adequada dos

recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio ambiente Eacute nesse iacutenterim que a reserva

legal eacute reconhecida por dar ao imoacutevel uma funccedilatildeo social ldquouma vez que atribui agrave propriedade

a exigecircncia da observacircncia de funccedilotildees econocircmica e social bem como de preservaccedilatildeo do meio

ambienterdquo (MELO 2010 p 24) Tambeacutem sobre isso bem coloca Trennepohl (2009 p 12)

A limitaccedilatildeo administrativa do exerciacutecio do direito de propriedade encontra respaldo

no art 186 da Constituiccedilatildeo Federal pois a propriedade rural somente cumpre sua

funccedilatildeo social quando obedecido o aproveitamento racional e utilizados

adequadamente os recursos naturais disponiacuteveis com vistas agrave preservaccedilatildeo do meio

ambiente

ldquoNatildeo haacute direito de propriedade para quem natildeo faz a terra cumprir sua funccedilatildeo

socialrdquo Eacute como entende o professor de direito agraacuterio Carlos Mareacutes (2003 p 134 apud

MELO 2010 p 25) Cavedon (2003 p 122 apud MIRANDA 2008 p 5859) tambeacutem

observa que

Os requisitos estipulados pelo artigo 186 devem ser atendidos simultaneamente sob

pena da propriedade natildeo atender sua funccedilatildeo social e por isso perder sua proteccedilatildeo

constitucional Como consequecircncia esta fica sujeita agrave desapropriaccedilatildeo por interesse

social para fins de reforma agraacuteria conforme o caput do artigo 184 da CF88 Eacute o que

Lenza denomina de desapropriaccedilatildeo-sanccedilatildeo Isto porque a Constituiccedilatildeo de 1988 em

seu artigo 5ordm inciso XXIV garante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiro mediante a

desapropriaccedilatildeo por necessidade utilidade puacuteblica ou interesse social A sanccedilatildeo estaacute

justamente na forma de pagamento da indenizaccedilatildeo quando a propriedade rural natildeo

atende a sua funccedilatildeo social o pagamento natildeo eacute efetuado em dinheiro mas em tiacutetulos

da diacutevida agraacuteria5 Assim o meio ambiente ganha relevacircncia como elemento

5 Tiacutetulos da diacutevida agraacuteria (TDA) - Meio de pagamento de indenizaccedilotildees devidas aos que sofreram accedilatildeo

expropriatoacuteria da Uniatildeo Federal Criado pelo Governo Federal eacute vinculado agrave desapropriaccedilatildeo de imoacuteveis rurais

por interesse social para efeito de reforma agraacuteria ou aquisiccedilotildees por compra e venda de imoacuteveis rurais destinados

agrave implantaccedilatildeo de projetos integrantes do Programa Nacional de Reforma Agraacuteria Disponiacutevel em

lthttpwwwcetipcombrtitulos-publicostdagt Acesso em 27062013

39

integrante da funccedilatildeo social da propriedade em funccedilatildeo do artigo 186 II que prevecirc a

utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio

ambiente e no artigo 170 que coloca a propriedade privada a funccedilatildeo social da

propriedade e a defesa do meio ambiente lado a lado como princiacutepios da ordem

econocircmica Com base nestes dispositivos legais Cavedon entende que a propriedade

deve atender tambeacutem a sua funccedilatildeo ambiental apesar desta natildeo constar de forma

expliacutecita no texto constitucional

Desta forma por estar limitado o proprietaacuterio rural natildeo pode dispor livremente de

seu imoacutevel pois haacute de cumprir sua funccedilatildeo social que resulta na observacircncia de requisitos que

visam vantagens para a coletividade em detrimento de restriccedilotildees individuais Assim sendo

muitos particulares entendem que a obrigaccedilatildeo de destinarem determinada porcentagem de

suas propriedades rurais para a reserva legal eacute uma espeacutecie de desapropriaccedilatildeo indireta imposta

pelo poder puacuteblico e por isso deveriam ser indenizados Da mesma forma outros segundo

Miranda (2008) concluem que eacute uma restriccedilatildeo da propriedade uma vez que inviabiliza a

utilizaccedilatildeo econocircmica do bem e por isso caberia uma recomposiccedilatildeo patrimonial Ao contraacuterio

desse entendimento Trennepohl (2009 p 11) explica

A averbaccedilatildeo da reserva legal natildeo representa uma desapropriaccedilatildeo indireta como

muita gente pensa pois sua vegetaccedilatildeo pode ser explorada na forma de manejo

florestal sustentaacutevel e a aacuterea pode ser utilizada para outras atividades rentaacuteveis

Tanto eacute assim que inuacutemeras accedilotildees judiciais propostas pleiteando indenizaccedilatildeo pela

restriccedilatildeo de uso dessas aacutereas foram fulminadas nas diferentes esferas do Poder

Judiciaacuterio

Ademais a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 (BRASIL 1988) em seu artigo 225

tambeacutem estabelece que

Art 225 Todos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de

uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder

Puacuteblico e agrave coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e

futuras geraccedilotildees

sect 1ordm - Para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Poder Puacuteblico

I - preservar e restaurar os processos ecoloacutegicos essenciais e prover o manejo

ecoloacutegico das espeacutecies e ecossistemas []

III - definir em todas as unidades da Federaccedilatildeo espaccedilos territoriais e seus

componentes a serem especialmente protegidos sendo a alteraccedilatildeo e a supressatildeo

permitidas somente atraveacutes de lei vedada qualquer utilizaccedilatildeo que comprometa a

integridade dos atributos que justifiquem sua proteccedilatildeo (BRASIL 1988 p 225226)

Ressalta-se que ldquoa Carta Magna de 1988 eacute a primeira Constituiccedilatildeo brasileira em

que a expressatildeo meio ambiente eacute mencionadardquo (MELO 2010 p 20) Ademais inovou ao

adotar a terminologia ldquoespaccedilo territorial especialmente protegidordquo para designar uma aacuterea sob

regime especial de administraccedilatildeo com o objetivo de proteger os atributos ambientais

justificadores do seu reconhecimento e individualizaccedilatildeo pelo Poder Puacuteblico (MILAREacute 2009)

40

Desta forma pela simples leitura do texto constitucional observa-se que eacute uma

prerrogativa do Poder Puacuteblico promover a preservaccedilatildeo do meio ambiente bem como

estabelecer unidades especialmente protegidas para garantir a manutenccedilatildeo dos recursos

naturais A forma com que o Estado cumpriraacute este dever eacute atraveacutes da ediccedilatildeo de leis que

obriguem seus administrados a satisfazerem tais imposiccedilotildees Para tanto tem-se o Coacutedigo

Florestal (BRASIL 1965 2012) que prevecirc a reserva legal como um dos meios de viabilizar

essa proteccedilatildeo Eacute sobre o que discorre Trennepohl (2009 p 12)

A reserva legal eacute um dos instrumentos que permitem o cumprimento do art 225 da

Constituiccedilatildeo Federal o qual impotildee ao Poder Puacuteblico o dever de defender e preservar

o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras geraccedilotildees

(caput) atraveacutes de definiccedilatildeo de espaccedilos territoriais e seus componentes a serem

especialmente protegidos (sect1deg III) bem como de proteger a flora e a fauna (sect1deg

VII)

Conclui-se portanto que a reserva legal introduzida pelo Coacutedigo de 65 (BRASIL

1965) modificou os contornos do direito de propriedade restringindo seu uso e que a funccedilatildeo

social do bem imoacutevel teve como origem forte conflito entre necessidades coletivas ou assim

interpretadas e o regime particular da propriedade individual (ANTUNES 2011)

1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa

As formas de limitaccedilotildees que recaem sobre a propriedade tornam-se um problema

importante em mateacuteria ambiental pois na grande maioria das vezes a natureza juriacutedica dos

espaccedilos territoriais especialmente protegidos se confunde com a limitaccedilatildeo administrativa

(MELO 2010) Assim questiona-se se realmente estamos diante de servidotildees limites

limitaccedilotildees ou delimitaccedilotildees A questatildeo natildeo eacute paciacutefica (CRIADO 2010)

A limitaccedilatildeo administrativa segundo Meireles (2004 p 568) eacute ldquotoda imposiccedilatildeo

geral gratuita unilateral e de ordem puacuteblica condicionadora do exerciacutecio de direitos ou de

atividades particulares agraves exigecircncias do bem-estar socialrdquo Satildeo implementadas de forma

imperativa obrigando o proprietaacuterio a fazer ou natildeo fazer algo na sua propriedade mas sem

retirar a utilizaccedilatildeo econocircmica deste bem ldquoJaacute a restriccedilatildeo ocorre quando a administraccedilatildeo impotildee

ao proprietaacuterio dever que o obrigue ou o impeccedila de fazer algo em sua propriedade retirando a

utilizaccedilatildeo econocircmica desta Havendo neste caso a necessidade de recomposiccedilatildeo patrimonialrdquo

(MIRANDA 2008 p 61)

41

Aleacutem do que hibridamente haacute os que entendem que a reserva legal eacute uma

desapropriaccedilatildeo indireta6 disfarccedilada de limitaccedilatildeo da propriedade que por sua vez inviabiliza a

utilizaccedilatildeo econocircmica do bem provocando uma busca por indenizaccedilatildeo Eacute nesse sentido que se

pronunciam os superiores tribunais do paiacutes como por exemplo se pronunciou o ministro Luiz

Pereira do Tribunal de Justiccedila do Estado de Satildeo Paulo ao decidir pela indenizabilidade da

aacuterea compreendida na reserva legal E ainda o proacuteprio Supremo Tribunal Federal tem se

manifestado de forma enfaacutetica ldquoimpedindo que a bdquolimitaccedilatildeo administrativa‟ esvazie o

conteuacutedo econocircmico do direito de propriedade determinando que em tais hipoacuteteses o Estado

indenize os prejuiacutezos de ordem patrimonial sofridos pelo particularrdquo (ANTUNES 2011

p163164)

Mesmo sendo um instrumento de conservaccedilatildeo ambiental com a possibilidade de

exploraccedilatildeo racional atraveacutes de manejo florestal sustentaacutevel eacute visivelmente perceptiacutevel o

conflito entre interesses particulares e a salvaguarda da vegetaccedilatildeo proposta por norma

juriacutedica Posto isto observa-se de um lado intenccedilotildees puramente econocircmicas que por sua vez

levam os proprietaacuterios a ignorarem a lei derrubando e queimando as matas que deveriam ser

preservadas a tiacutetulo de Reserva Legal ou ainda se eximindo de suas responsabilidades soacutecio-

ambientais Opotildeem-se portanto aos fortes instrumentos juriacutedicos de proteccedilatildeo das matas

brasileiras (MIRANDA 2008)

1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal

Na vigecircncia da lei anterior ou seja do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)

a forma de garantir documentalmente o cumprimento da reserva legal era averbaacute-la junto agrave

matriacutecula da propriedade constante em um Registro de Imoacuteveis Vale aqui esmiuccedilar o que eacute e

como era esse procedimento

ldquoO Registro de Imoacuteveis eacute uma instituiccedilatildeo nascida no seacuteculo XIX para dar

seguranccedila agrave contrataccedilatildeo imobiliaacuteria e na qual se inscreviam os direitos nascidos das relaccedilotildees

privadas ou civisrdquo (CRIADO 2010 p126) ldquoE que surgiu como necessidade do Estado de

controlar o direito de propriedade e como instrumento de seguranccedila juriacutedica para o traacutefego

imobiliaacuteriordquo (MELO 2010 p18) Regido pela Lei 601573 (BRASIL 1973) que cria a

figura da matriacutecula e que por sua vez representa a individualidade do imoacutevel sua situaccedilatildeo

6 Desapropriaccedilatildeo indireta ndash ldquotoda intervenccedilatildeo do Estado na propriedade que venha a impossibilitar o uso e gozo

desse bem retirando-lhe o conteuacutedo econocircmicordquo (TAVARES 1998 p 2 apud MIRANDA 2008 p 62)

42

geograacutefica e perfeita descriccedilatildeo sofrendo alteraccedilotildees objetivas e subjetivas por meio da

averbaccedilatildeo sempre com um mesmo nuacutemero de ordem facilitando incrivelmente as pesquisas e

expediccedilatildeo de certidotildees (MELO 2010)

Desta forma cada imoacutevel possui um registro onde pode ser descrito tudo o que

acontece com ele e nele por exemplo quem comprou vendeu se o dono hipotecou o bem a

um banco por causa de empreacutestimo etc Cada novidade que acontece no imoacutevel eacute inscrita sob

a forma e nome de averbaccedilatildeo no seu registro que por sua vez tem um nuacutemero de matriacutecula

para o identificar da mesma forma que um cidadatildeo tem um nuacutemero de Registro Geral (RG)

com seu nome completo data de nascimento e filiaccedilatildeo

No caso a averbaccedilatildeo da reserva legal era feita da seguinte forma o dono do

imoacutevel ldquointeressadordquo em cumprir sua obrigaccedilatildeo deveria submeter a localizaccedilatildeo da reserva

legal ao oacutergatildeo ambiental estadual que por sua vez aprovaria ou natildeo o local onde o proprietaacuterio

iria destinar agrave reserva legal Essa delimitaccedilatildeo deveria ser feita a partir de um

georreferenciamento que utiliza coordenadas geograacuteficas fixadas com o auxiacutelio de sateacutelites

conforme o Sistema Geodeacutesico Brasileiro (SGB) ao qual o Registro de imoacuteveis estaacute

vinculado (MELO 2010)

ldquoA representaccedilatildeo graacutefica da propriedade e sua atualizaccedilatildeo permitem um

conhecimento da evoluccedilatildeo do territoacuterio suas modificaccedilotildees e o impacto meio ambiental que

nele tenha ocasionado atuaccedilatildeo do acircmbito imobiliaacuterio com transcendecircncia nesta mateacuteriardquo

(LIBERAL 2007 p 121 apud MELO 2010 p3233)

Assim com a propriedade e sua respectiva aacuterea de reserva legal

georreferenciadas o proacuteximo passo seria a elaboraccedilatildeo de uma planta a partir dos dados

coletados e juntamente com o documento comprobatoacuterio de que o imoacutevel possuiacutea registro

submeter a localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva ao oacutergatildeo ambiental competente Se aprovada o

oacutergatildeo expediria um Termo de Averbaccedilatildeo da Reserva Legal que juntamente com a mesma

planta apresentada anteriormente deveria ser levado ao cartoacuterio de imoacuteveis para posterior

averbaccedilatildeo no registro do bem Nesta averbaccedilatildeo estariam descritas todas as informaccedilotildees da

reserva legal e sua localizaccedilatildeo geograacutefica

ldquoEsse procedimento documental tinha fundamento no princiacutepio da publicidade

que eacute a alma dos registros puacuteblicos porque eacute a oportunidade dada ao povo de conhecer tudo

que lhe interessa a respeito de determinados atosrdquo (BALBINO FILHO 1999 p 9 apud

MELO 2010 p34) Ateacute porque qualquer pessoa pode solicitar informaccedilotildees sobre os registros

junto ao cartoacuterio de imoacuteveis ldquoE natildeo poderia ser diferente pois o Registro de Imoacuteveis atua no

43

direito ambiental como ator coadjuvante reforccedilando a publicidade legal bem como

cooperando com o cumprimento e garantia das obrigaccedilotildees ambientaisrdquo (MELO 2010 p79)

Natildeo obstante malgrado existia a obrigaccedilatildeo legal de todo proprietaacuterio averbar a

aacuterea de RLF no Registro de Imoacuteveis o fato eacute que pequena porcentagem dos proprietaacuterios

procedeu agrave sua especializaccedilatildeo ldquoA razatildeo eacute simples trata-se de norma incompleta foi criada a

obrigaccedilatildeo mas propositalmente a sanccedilatildeo foi esquecidardquo (MELO 2010 p56)

Com a lei 126512012 (BRASIL 2012) ou Novo Coacutedigo Florestal esse

procedimento mudou Logo natildeo se deve mais averbar a reserva legal no registro do imoacutevel

Agora a obrigaccedilatildeo passou a ser o cadastramento da propriedade rural no Cadastro Ambiental

Rural (CAR) O atual meacutetodo consiste na inscriccedilatildeo do imoacutevel a partir da identificaccedilatildeo do

proprietaacuterio ou possuidor rural apresentaccedilatildeo de documento que comprove a propriedade ou a

posse e a identificaccedilatildeo do imoacutevel por meio de planta e memorial descritivo contendo a

indicaccedilatildeo das coordenadas geograacuteficas com pelo menos um ponto de amarraccedilatildeo do periacutemetro

do imoacutevel informando a localizaccedilatildeo dos remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa das Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente das Aacutereas de Uso Restrito das aacutereas consolidadas e caso existente

tambeacutem da localizaccedilatildeo da Reserva Legal

No entanto o CAR ainda natildeo estaacute implantado no Cearaacute o que eacute realidade em

vaacuterios outros estados tambeacutem A obrigatoriedade de inscriccedilatildeo neste Cadastro eacute de ateacute dois

anos apoacutes sua implementaccedilatildeo que ateacute o momento natildeo aconteceu Todavia o secretaacuterio de

Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentaacutevel Sr Paulo Guilherme Cabral afirmou em

21052013 que o lanccedilamento em acircmbito nacional do Cadastro Ambiental Rural (CAR) deve

ocorrer ateacute o iniacutecio de junho e para agilizar a inscriccedilatildeo de mais de 5 milhotildees de propriedades

o Ministeacuterio do Meio Ambiente tem buscado ajuda de sindicatos cooperativas e associaccedilotildees

do setor agriacutecola aleacutem de outros oacutergatildeos puacuteblicos7 Infelizmente nada aconteceu ateacute e apoacutes

aquela previsatildeo

Contraditoriamente natildeo existe um prazo para o governo implantar o CAR mas

para o proprietaacuterio ou posseiro sim quando o cadastro dos imoacuteveis estiver disponiacutevel O

impasse eacute o que fazer o dono da terra aguarda o novo procedimento vigorar ou adota o

meacutetodo anterior

7 Conferir notiacutecia publicada em 22052013 no site lthttpsouagrocombrlancamento-nacional-do-car-deve-

sair-ate-junhogt

44

2 Processo de Degradaccedilatildeo

21 Conceito

A degradaccedilatildeo de uma forma geral eacute ldquoa ocorrecircncia de modificaccedilotildees fiacutesicas

metaboacutelicas ou quiacutemicas para uma forma menos complexa E a degradaccedilatildeo ambiental eacute a

alteraccedilatildeo das caracteriacutesticas do meio ambienterdquo (GUERRA et al 2009 p108) Jaacute o inciso II

do artigo 3ordm da Lei 693881 (BRASIL 1981) descreve a degradaccedilatildeo da qualidade ambiental

como alteraccedilatildeo adversa das caracteriacutesticas do meio ambiente

Para Arauacutejo et al (2008 p 19) ldquoa degradaccedilatildeo das terras envolve a reduccedilatildeo dos

potenciais recursos renovaacuteveis por uma combinaccedilatildeo de processos agindo sobre a terrardquo Os

autores ainda atestam que

Tal reduccedilatildeo levando ao abandono ou ldquodesertificaccedilatildeordquo da terra [] pode ser por

processos naturais como por exemplo o ressecamento do clima atmosfeacuterico

processos naturais de erosatildeo alguns outros de formaccedilatildeo do solo ou uma invasatildeo

natural de plantas ou animais nocivos Pode tambeacutem ocorrer por accedilotildees antroacutepicas

diretamente sobre o terreno ou indiretamente em razatildeo das mudanccedilas climaacuteticas

adversas induzidas pelo homem (ARAUacuteJO et al 2008 p 19)

Para a Food and Agriculture Organizations of the United Nations - FAO

(Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e Agricultura) o conceito de degradaccedilatildeo

de terras se refere ldquoagrave deterioraccedilatildeo ou perda total da capacidade dos solos para uso presente e

futurordquo (FAO 1980 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 23)

Observa-se portanto que a degradaccedilatildeo ambiental se natildeo combatida pressupotildee

um processo criacutetico e muito seacuterio o da desertificaccedilatildeo Eacute como considera Sales (2002) e ainda

afirma que o potencial natural das terras quanto agrave degradaccedilatildeo e a accedilatildeo antroacutepica

desencadeiam a desertificaccedilatildeo

O processo de degradaccedilatildeo ambiental pode ocorrer a partir de um ambiente que jaacute

possui caracteriacutesticas naturais limitantes eou extremas onde nele eacute inserido o fator antroacutepico

seja pela simples ocupaccedilatildeo de uma populaccedilatildeo naquela aacuterea seja pelo manejo inadequado dos

recursos naturais ali presentes De outra forma a degradaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel em ambientes

sem fragilidades naturalmente aparentes

A degradaccedilatildeo ambiental advinda da intervenccedilatildeo humana num cenaacuterio mundial

traduz-se em 15 das terras jaacute comprometidas pelas atividades humanas sendo que na

Ameacuterica do Sul dentro daquele percentual encontrou-se 1 de terras devastadas 11 de

terras leve ou moderadamente degradadas e 1 de terra forte ou extremamente degradada8

As estimativas apontam uma expansatildeo anual de 5 a 12 milhotildees de hectares de solo de um

total de 48 bilhotildees de hectares de aacutereas cultivaacuteveis e pastos ainda existentes e segundo a

ISRICUNEP (1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 28) isso resulta na seguinte constataccedilatildeo

A degradaccedilatildeo ambiental causa a perda de aproximadamente 14 milhotildees de

toneladas de gratildeos anualmente isto eacute metade da quantidade necessaacuteria para cobrir

as necessidades da populaccedilatildeo global adicional para o mesmo periacuteodo E no aspecto

financeiro para Blaikie e Brookfiel (1987) a produtividade do trabalho eacute atingida

desfavoravelmente pois a degradaccedilatildeo ambiental consome diretamente o produto do

trabalho e tambeacutem o aporte de capital na produccedilatildeo A qualidade de vida diminui

porque satildeo necessaacuterios mais tempo e um trabalho mais duro para se obter o mesmo

produto isso sem mencionar as medidas conservacionistas no campo fertilizaccedilatildeo

mais intensa ou a abertura de aacutereas para lavouras ou pastos cada vez mais distantes

[] Em ocasiotildees mais raras mas tambeacutem tatildeo dramaacuteticas a degradaccedilatildeo ambiental

forccedila o deslocamento da populaccedilatildeo Centenas de milhares de hectares tecircm de ser

abandonados a cada ano por estarem degradados demais para o cultivo ou ateacute

mesmo para pastagens (ARAUacuteJO et al 2008 p 31)

Em se tratando de semiaacuterido os recursos ambientais satildeo fraacutegeis e associados a

este quadro haacute uma populaccedilatildeo que por sua vez lanccedila matildeo dos bens naturais produzindo uma

deterioraccedilatildeo ambiental ldquoO Cearaacute por conseguinte apresenta extensas aacutereas com problemas

relativos agrave degradaccedilatildeo ambiental principalmente a desertificaccedilatildeordquo (IRAUCcedilUBA 2009 p 7)

Eacute o caso de Irauccediluba por causa da degradaccedilatildeo advinda do desmatamento e das

queimadas que exaurem os nutrientes do solo a agricultura de subsistecircncia colhe em gratildeos

menos de 500 kgha enquanto que a produccedilatildeo potencial seria cerca de 2000 kgha

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Isso explica a baixa participaccedilatildeo da agricultura na

produccedilatildeo agropecuaacuteria do municiacutepio E ldquoessa produccedilatildeo sequer paga os custos da lavoura de

forma que os pequenos produtores estatildeo pagando para plantar na maioria dos casosrdquo

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 18) As consequecircncias sociais disto satildeo ldquoum ciclo de

pobreza e miseacuteria tornando a regiatildeo cada vez mais vulneraacutevelrdquo (SALES 2002 p116)

Em niacutevel mais criacutetico segundo as Naccedilotildees Unidas a desertificaccedilatildeo degrada 60 mil

km2 de terras feacuterteis por ano em todo o mundo provocando perdas de 4 bilhotildees de doacutelares na

economia mundial No Brasil estima-se que essas perdas atinjam 100 milhotildees de doacutelares9

Por fim ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013) entendem que a degradaccedilatildeo em terras

brasileiras remonta o tempo dos colonizadores pois estes aplicavam diretamente meacutetodos e

praacuteticas proacuteprios para solos de clima temperado Assim as matas foram derrubadas queimou-

se a vegetaccedilatildeo em larga escala e lavouras nocircmades foram estabelecidas aproveitou-se o humo

8 Conferir ISRICUNEP 1991 In Arauacutejo et al 2008 p 27

9 Conferir RODRIGUES (2006) in CEARAacute 2010

46

onde este jaacute existia expuseram-se os solos agrave erosatildeo enfim saquearam-se os recursos naturais

renovaacuteveis ldquoNo caso do Cearaacute documenta-se que em 1861 a Comissatildeo Cientiacutefica enviada

para estudar o Nordeste registrava a destruiccedilatildeo acelerada da vegetaccedilatildeo principalmente nos

contrafortes das serras em virtude dos desmatamentos e queimadas para plantio de

mandiocardquo ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013 p 8)

Para uma melhor compreensatildeo quanto agrave intervenccedilatildeo humana negativa no

ambiente aponta-se o esquema proposto na figura 3 a seguir resumindo o processo de

degradaccedilatildeo ambiental apresentado pelo PAE10

(CEARAacute 2010b)

Figura 3 Sistema de Degradaccedilatildeo do Meio Ambiente Adaptado de Tricart (apud Souza 2000)

Fonte PAE (CEARAacute 2010b p 30)

10

PAECE ndash Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca

(CEARAacute 2010)

47

22 Degradaccedilatildeo Ambiental

A degradaccedilatildeo tem vaacuterias causas dentre elas a erosatildeo e o manejo inadequado do

solo Em se tratando deste uacuteltimo pode-se destacar as atividades agropecuaacuterias e suas

praacuteticas como por exemplo o desmatamento desmedido e irracional a irrigaccedilatildeo de forma

errada salinizando ou encharcando o solo o sobrepastoreio que compacta o solo e o uso de

defensivos agriacutecolas que provocam a contaminaccedilatildeo do solo e eliminam os microorganismos

ali presentes Deduz-se portanto que isso eacute um reflexo derivado de uma estrutura fundiaacuteria

extremamente riacutegida onde satildeo desenvolvidas aquelas atividades com baixo niacutevel tecnoloacutegico

levando a praacuteticas agriacutecolas predatoacuterias (SALES 2002 p116)

Com as causas naturais e as provocadas pelo homem quanto agrave degradaccedilatildeo do solo

expostas na tabela 2 a compreensatildeo fica mais clara

Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras

FATORES ACcedilOtildeES ANTROacutePICAS CONDICcedilOtildeES NATURAIS

Facilitadores

Desmatamento

Permissatildeo do superpastoreio

Uso excessivo da vegetaccedilatildeo

Taludes de corte

Remoccedilatildeo da cobertura vegetal para o cultivo

Topografia

Textura do solo

Composiccedilatildeo do solo

Cobertura vegetal

Regimes hidrograacuteficos

Diretos

Uso de maacutequinas

Conduccedilatildeo do gado

Encurtamento do pousio

Entrada excessiva de aacutegua drenagem insuficiente

Excesso de fertilizaccedilatildeo aacutecida

Uso excessivo de produtos quiacutemicos estrume

Disposiccedilatildeo de resiacuteduos domeacutesticos industriais

Chuvas fortes

Alagamentos

Ventos fortes

Fonte FAO (1980 apud Arauacutejo et al 2008 p 33)

Entendem Arauacutejo et al (2008 p 29) que as consequecircncias disto no meio rural satildeo

Um decliacutenio na produtividade ou uma necessidade crescente do aporte de nutrientes

para manter as mesmas produtividades uma vez que os ldquosubsolos geralmente

contem menos nutrientes do que as camadas superioresrdquo sendo necessaacuterio mais

fertilizante para manter a produtividade das culturas Isso por sua vez aumenta os

custos da produccedilatildeo

Partindo dessas constataccedilotildees conclui-se que satildeo seacuterias as consequecircncias

ambientais sociais e econocircmicas a esse respeito por isso satildeo necessaacuterias medidas mitigadoras

que visem minimizar esses impactos bem como meios de recuperar os danos jaacute existentes

A questatildeo torna-se ainda mais preocupante quando o olhar recai sobre os

processos de formaccedilatildeo do solo que segundo Kendall e Pimentel (1994 apud ARAUacuteJO et al

48

2008 p 21) ldquosatildeo lentos e necessitam de duzentos a mil anos para formar 25cm de solos e

isso sob condiccedilotildees agriacutecolas normaisrdquo Dessa forma a degradaccedilatildeo do solo eacute muito mais

criacutetica uma vez que eacute quase irreversiacutevel quando se trata do lapso temporal para se regenerar

ldquoA irreversibilidade tambeacutem ocorre quando o clima e as atividades humanas se combinam

tornando um solo anteriormente sadio em aacuterea devastadardquo (ARAUacuteJO et al 2008 p 2021)

221 Erosatildeo

Eacute o processo natural de decomposiccedilatildeo e transporte de sedimentos que altera as

formas de relevo Causada por agentes como vento chuvas aacuteguas correntes pode ser

acelerada por intervenccedilotildees humanas como por exemplo o desmatamento (TRIGUEIRO

2005 apud GUERRA 2009 p 129)

Arauacutejo et al (2008 p 34) afirmam que ldquoembora a erosatildeo possa ocorrer sem a

intervenccedilatildeo humana na praacutetica ela geralmente eacute iniciada eou acelerada por atividades

antroacutepicas que causam o desaparecimento da cobertura protetora da vegetaccedilatildeo natural ou

danificam a estrutura do solordquo

No PAN (BRASIL 2004 p 42) consta que ldquoa resultante do antropismo eacute

principalmente a erosatildeo particularmente a laminarrdquo que se inicia com a destruiccedilatildeo da

cobertura vegetal

A erosatildeo pode ser pela accedilatildeo da aacutegua eou do vento Em ambos os casos a camada

superficial do solo eacute retirada Para Arauacutejo et al (2008 p 24) ldquoa erosatildeo eoacutelica eacute mais comum

em climas aacuterido e semiaacuterido e eacute considerada uma forma de degradaccedilatildeo bem como a da aacutegua

que pode ateacute deformar o terreno formando ravinas e voccedilorocasrdquo Uma consequecircncia grave

disto segundo os mesmos autores eacute a reduccedilatildeo da fertilidade pelos motivos a seguir Menor

penetraccedilatildeo de raiacutezes em decorrecircncia de um solo menos denso e mais fino Reduccedilatildeo na

capacidade de retenccedilatildeo de aacutegua Varredura dos nutrientes utilizados pelas plantas

Para a FAO segundo Arauacutejo et al (2008 p 30) ldquoaproximadamente 25 bilhotildees de

toneladas de solo satildeo erodidos a cada ano sendo 17 toneladas por hectare cultivadordquo

222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica

Dentro do que jaacute foi citado anteriormente a (1) irrigaccedilatildeo inadequada que saliniza

ou encharca o solo e o (2) uso de defensivos agriacutecolas contaminando e eliminando os

49

microorganismos satildeo soacute algumas causas deste tipo de degradaccedilatildeo Aleacutem destas tem-se a (3)

acidificaccedilatildeo e o (4) esgotamento do solo causando a perda de nutrientes Para Arauacutejo et al

(2008 p 25) ldquoa salinizaccedilatildeo pode ser resultado de manejo mal realizado da irrigaccedilatildeo da alta

concentraccedilatildeo de sais na aacutegua ou atenccedilatildeo indevida agrave drenagem Esta acarreta a salinizaccedilatildeo dos

solos especialmente em regiotildees aacuteridas por que as altas taxas de evaporaccedilatildeo estimulam o

processordquo E ainda por atividades humanas que elevam a evaporaccedilatildeo em solos com material

salino ou com lenccedilol freaacutetico salino (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25)

Segundo o PAN (BRASIL 2004 p 64) ldquoa irrigaccedilatildeo produz impactos

indesejaacuteveis em qualquer aacuterea semiaacuteridardquo se realizada de forma inadequada e sem o recurso

da drenagem Complementa ainda o documento ao dizer que

Um solo submetido agrave irrigaccedilatildeo estaacute salinizado quando a concentraccedilatildeo de sais nesse

terreno se eleva a ponto de prejudicar o rendimento econocircmico das culturas A

salinizaccedilatildeo do solo afeta a germinaccedilatildeo e a densidade das culturas bem como seu

desenvolvimento vegetativo reduzindo a produtividade das lavouras Nos casos

limites a salinizaccedilatildeo pode levar agrave morte generalizada das plantas inviabilizando o

cultivo das terras afetadas (BRASIL 2004 p 64)

Aleacutem disso o uso excessivo de agrotoacutexicos eacute tido como poluiccedilatildeo e pode levar agrave

reduccedilatildeo do potencial agriacutecola da terra Resiacuteduos industriais e urbanos tambeacutem podem poluir

terras agricultaacuteveis O esgotamento do solo pelo plantio excessivo de culturas sem promover

um pousio miacutenimo do terreno exaure os nutrientes daquela aacuterea Isso eacute comum onde a

agricultura eacute praticada em solos pobres ou moderadamente feacuterteis sem a aplicaccedilatildeo suficiente

de esterco ou fertilizante (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25) E por fim

a acidez pode ser provocada quando se utiliza muitos fertilizantes aacutecidos ou em decorrecircncia

da maacute drenagem em alguns tipos de solo

223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica

Conhecidos pela compactaccedilatildeo do solo elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico e pelo

rebaixamento da superfiacutecie da terra (subsidecircncia) a esses tipos de degradaccedilatildeo natildeo se pode

deixar de somar uma causa precursora que eacute o desmatamento desmedido e irracional

deixando o solo nu e exposto agraves intempeacuteries do tempo Da mesma forma entende Cruz (1994

p 135-147 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 35) ao afirmar que ldquoa remoccedilatildeo da cobertura vegetal

inicia ou acelera a erosatildeo do solo sob a accedilatildeo da chuva e do vento de igual modo a queimada

visando o controle de ervas estimula a lixiviaccedilatildeo e a perda do solordquo

50

A compactaccedilatildeo do solo como o resultado do uso de maacutequinas pesadas em solos

instaacuteveis bem como o pisoteio do gado que via de regra eacute agravado por um

sobrepastoreio da aacuterea O impacto das gotas de chuva provoca tambeacutem o selamento

e encrostamento do solo A elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico eacute ocasionada pelo

encharcamento da terra que por sua vez natildeo tem na mesma proporccedilatildeo a capacidade

de drenagem (ARAUacuteJO et al 2008 p 25)

23 A degradaccedilatildeo em Irauccediluba

Em Irauccediluba as praacuteticas agriacutecolas e a pecuaacuteria satildeo muito ofensivas aos recursos

naturais Isso se deve agrave capacidade de suporte do ambiente que natildeo eacute respeitada gerando

impactos e danos ambientais seacuterios e de caraacuteter praticamente irreversiacuteveis O sobrepastejo de

bovinos ovinos e caprinos o desmatamento e as queimadas deixam a regiatildeo com um niacutevel de

degradaccedilatildeo altiacutessimo ateacute porque suas condiccedilotildees naturais jaacute satildeo adversas E ainda haacute outro

fator agravante - o tempo de recuperaccedilatildeo natural tambeacutem natildeo eacute observado nem cumprido

fragilizando por demais o ambiente

Para Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 7) ldquoA introduccedilatildeo da pecuaacuteria no nuacutecleo de

Irauccediluba trouxe a tiracolo a agricultura e a extraccedilatildeo de madeira A primeira baseava-se no

desmatamento indiscriminado e na queimada geral E a segunda na coleta da lenha sem

reposiccedilatildeo florestalrdquo Desta forma a degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba estaacute desenhada por

1 Superpastejo que causa prejuiacutezos sensiacuteveis agrave vegetaccedilatildeo pelo consumo das

cascas dos troncos de aacutervores e arbustos e pela remoccedilatildeo das placircntulas das espeacutecies

arboacutereas e arbustivas Nessas condiccedilotildees mudanccedilas na composiccedilatildeo floriacutestica da

vegetaccedilatildeo podem resultar em virtude do desaparecimento das espeacutecies lenhosas

forrageiras o que em aacutereas de vegetaccedilatildeo degradada acelera o processo de

desertificaccedilatildeo Em aacutereas de caatinga o pastejo por ovinos induz mudanccedilas

significativas na composiccedilatildeo botacircnica do estrato herbaacuteceo com a reduccedilatildeo da

participaccedilatildeo das gramiacuteneas mesmo em condiccedilotildees de pastoreio moderado Nesse

contexto o sobrepastejo por ovinos pode resultar no desaparecimento das gramiacuteneas

e ao final de toda cobertura herbaacutecea da vegetaccedilatildeo expondo o solo aos efeitos da

erosatildeo (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 78)

2 Agricultura rudimentar que pratica o desmatamento e faz uso do fogo O

impacto deste sobre o ecossistema eacute onipresente e caracteriza-se pela queda da

produccedilatildeo agriacutecola pela degradaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa pela erosatildeo dos solos pela

perda da biodiversidade da flora e da fauna e pelo assoreamento e salinizaccedilatildeo dos

mananciais pela perda da resiliecircncia aumentando sua fragilidade diante das

variaccedilotildees climaacuteticas tiacutepicas das regiotildees semiaacuteridas Aleacutem disto os desmatamentos e

queimadas seguidos por um curto periacuteodo de pousio terminam por levar a vegetaccedilatildeo

a um disclimax dominado por arbustos uma vez que o banco de sementes das

arboacutereas praticamente desapareceu (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 918)

3 Manejo inadequado do solo associado ao relevo da regiatildeo Satildeo trecircs tipos de

solo que se destacam em Irauccediluba litoacutelicos planossolos e luvissolos Por conta da

declividade de 8 a 45 os agricultores optam pelas terras nas encostas para

implantar os roccedilados pois haacute um menor risco de perder a safra em funccedilatildeo do

alagamento comum nas terras planas do municiacutepio durante a eacutepoca das chuvas

Nestas condiccedilotildees as perdas de solo por erosatildeo satildeo assombrosas Aleacutem disto haacute a

erosatildeo nos planossolos provocada pelo sobrepastejo com perdas de solo superiores a

51

17 tha em uma uacutenica estaccedilatildeo das chuvas o que enfatiza a importacircncia da cobertura

vegetal na proteccedilatildeo contra a erosatildeo (apud SALES 2003) Como consequecircncia do

sobrepastejo continuado ao longo provavelmente de centenas de anos a erosatildeo

laminar jaacute removeu porccedilatildeo significativa do horizonte A expondo em alguns casos o

horizonte B textural Aleacutem disso houve uma exaustatildeo dos nutrientes do solo

principalmente do foacutesforo Outro fator que tambeacutem intensifica a degradaccedilatildeo eacute o

curtiacutessimo periacuteodo de repouso Estima-se em 50 anos o tempo necessaacuterio para que a

vegetaccedilatildeo da caatinga em um luvissolo que foi destruiacuteda pela queimada do roccedilado

volte pela sucessatildeo secundaacuteria ao cliacutemax original Ora na regiatildeo este periacuteodo estaacute

reduzido a cerca de oito anos Com isto natildeo haacute a recuperaccedilatildeo da fertilidade do solo e

a recomposiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo Isto porque a velocidade de crescimento das arboacutereas

da caatinga eacute muito variaacutevel (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 810)

Concluem portanto os autores Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 17) que ldquoas praacuteticas

rotineiramente adotadas do desmatamento e do fogo a exposiccedilatildeo do solo e a diminuiccedilatildeo do

periacuteodo de pousio tecircm induzido processos de degradaccedilatildeo mormente os de erosatildeordquo

231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia

A desertificaccedilatildeo eacute um problema ambiental que assola vaacuterias partes do mundo e

vem sendo discutido desde 1977 quando em Nairoacutebi no Quecircnia aconteceu a Conferecircncia

sobre Desertificaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas ldquoA observaccedilatildeo desse processo se atribui ao cientista

Aubreville que em 1949 constatou o prolongamento da degradaccedilatildeo para o norte das zonas

mais aacuteridas do Saara e para as regiotildees semiaacuteridas e subuacutemidas do norte da Aacutefricardquo (ARAUacuteJO

et al 2008 p 26) Em 1992 na ECO 92 foi definido o conceito de desertificaccedilatildeo cuja

ocorrecircncia se daacute em aacutereas aacuteridas semiaacuteridas e subuacutemidas secas O grau de aridez eacute

estabelecido pela relaccedilatildeo PEtp que eacute a razatildeo entre a meacutedia da precipitaccedilatildeo total anual e a

evapotranspiraccedilatildeo potencial do mesmo periacuteodo metodologia esta desenvolvida por

Thornthwaite (1955) Desta forma definiu-se uma correspondecircncia entre o clima e o

resultado da relaccedilatildeo acima conforme mostra a tabela 3

Tabela 3 ndash Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez

CLIMA P ETP

Hiper-aacuterido lt 005

Aacuterido De 005 a 020

Semiaacuterido gt 020 a 050

Subuacutemido Seco gt 050 a 065

Subuacutemido Uacutemido gt 065

Fonte United Nations Environment Programme ndash UNEP (Programa

Ambiental das Naccedilotildees Unidas) 1992

52

Eacute interessante mencionar que o semiaacuterido brasileiro delimitado pela uacuteltima vez

em 1995 foi novamente demarcado a partir da iniciativa do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo

Nacional (MIN) que instituiu um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) envolvendo

departamentos empresas institutos agecircncias e ateacute bancos puacuteblicos para a readequaccedilatildeo dos

criteacuterios propostos pela Lei 782789 (BRASIL 1989c) Somente a inserccedilatildeo do municiacutepio na

aacuterea de abrangecircncia da extinta Superintendecircncia de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)

e a precipitaccedilatildeo meacutedia anual de ateacute 800 mm eram condiccedilotildees para enquadrar ou natildeo

determinado municiacutepio no semiaacuterido brasileiro (SUDENE 1990) Os novos paracircmetros satildeo

mais abrangentes pois aleacutem de considerar a precipitaccedilatildeo pluviomeacutetrica meacutedia anual inferior a

800 mm avaliam se o iacutendice de aridez do municiacutepio eacute de ateacute 05 ou se o risco de seca eacute maior

que 6011

Com a nova delimitaccedilatildeo em 2005 foram incorporados mais 102 municiacutepios aos

1031 jaacute classificados de forma que a aacuterea oficialmente semiaacuterida brasileira aumentou de

8923094 km2 para 9695894 km

2 ou seja um acreacutescimo de 866

12

A figura 4 ilustra o novo formato do semiaacuterido no Brasil E no Cearaacute foram

incorporados mais 16 totalizando 150 de um universo com 184 municiacutepios Isto significa

815 do estado e 132 de toda a regiatildeo semiaacuterida do paiacutes13

O quadro atual do semiaacuterido

cearense estaacute delineado na figura 5 a seguir

Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro

Fonte MIN (BRASIL 2005c)

11

Conferir Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro MI (BRASIL 2005c) 12

Idem 13

Ibidem

53

Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute

Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)

Com relaccedilatildeo ao processo de desertificaccedilatildeo no Brasil uma aacuterea de 900000 Kmsup2 eacute

atingida afetando direta ou indiretamente mais de 15 milhotildees de brasileiros natildeo existindo no

territoacuterio nacional outro problema ambiental que atinja tamanha aacuterea e tantas pessoas

(SUDENE 2000 apud IRAUCcedilUBA 2009) A regiatildeo nordeste por sua vez concentra as

Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) incluindo os espaccedilos semiaacuteridos e subuacutemidos

secos ambos de maior abrangecircncia fiacutesico-territorial vis-agrave-vis os outros espaccedilos naturais que

conformam e estruturam o Nordeste brasileiro (BRASIL 2004)

Pesquisadores apontam como principais causas de desertificaccedilatildeo no semiaacuterido

cearense a ocupaccedilatildeo desordenada do solo o desmatamento praacuteticas de queimadas (CEARAacute

2010b) Dentro desse raciociacutenio

Os estabelecimentos agropecuaacuterios ocupam o solo principalmente com lavouras

temporaacuterias e a criaccedilatildeo de animais Estas atividades muitas vezes satildeo executadas

sem preocupaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos e contribuem para

agravar o quadro de degradaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2010b p 103)

No mesmo sentido e no tocante agraves Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) o

PAN (BRASIL 2004) destaca que as condiccedilotildees ambientais dessas aacutereas (principalmente as de

54

clima solo aacutegua e vegetaccedilatildeo) associadas agrave pressatildeo exercida sobre os recursos naturais pela

accedilatildeo antroacutepica (pressatildeo populacional formas inadequadas de uso e ocupaccedilatildeo do solo entre

outros) vecircm contribuindo para a deflagraccedilatildeo de processos de desertificaccedilatildeo em algumas de

suas sub-regiotildees Um dos motivos para isso eacute a combinaccedilatildeo entre pobreza e desigualdade de

forma que

Uma imensa massa de pequenos agricultores descapitalizados confinados em

pequenas parcelas de terras de tais aacutereas (via de regra de meacutedia ou baixa fertilidade

natural) dependentes de seu trabalho para a produccedilatildeo de alimentos para

autoconsumo de forragens para seus animais mas necessitando produzir excedentes

comercializaacuteveis tenderaacute naturalmente a sobreutilizar os recursos naturais

contribuindo dessa forma para agravar os processos de degradaccedilatildeo Nas ASD este

ciacuterculo vicioso eacute agravado pela ocorrecircncia de secas perioacutedicas que levam agrave perdas

significativas e recorrentes de produccedilatildeo e de renda Neste sentido as secas

potencializam o grau de degradaccedilatildeo levando a vulnerabilidade ambiental a niacuteveis

mais elevados Os efeitos das secas sobre a sauacutede e a inseguranccedila alimentar e

nutricional tambeacutem satildeo conhecidos e consideraacuteveis (BRASIL 2004 p 106)

Classificando a susceptibilidade dessas aacutereas Matallo Jr (1999) construiu uma

relaccedilatildeo entre a aptidatildeo agrave desertificaccedilatildeo em funccedilatildeo do iacutendice de aridez conforme se vecirc pela

tabela 4

Tabela 4 - Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo

IacuteNDICE DE ARIDEZ SUSCEPTIBILIDADE Agrave

DESERTIFICACcedilAtildeO

005 a 020 Muito Alta

021 a 050 Alta

051 a 065 Moderada Fonte MATALLO JR (1999)

Nesse iacutenterim o municiacutepio de estudo do corrente trabalho tem iacutendice de aridez

conforme adotado pela UNEP de acordo com o que ilustra na figura 6

55

Figura 6 Iacutendice de Aridez (UNEP) do municiacutepio de Irauccediluba

O Cearaacute por sua vez eacute ldquoo Estado com a maior aacuterea relativa sob niacuteveis altos de

desertificaccedilatildeordquo (LEMOS 1995 apud FOLHES e VIANA 2001 p 5) Seu processo de

ocupaccedilatildeo e uso de terras via de regra foi marcado pela apropriaccedilatildeo dos recursos naturais de

forma a degradaacute-los Esta foi uma das causas para a concepccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Estadual

de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (PAE) cujo objetivo eacute

Contribuir para a convivecircncia equilibrada com o semiaacuterido por meio da

sustentabilidade ambiental do bioma caatinga a partir de poliacuteticas ambientais

sociais e econocircmicas focadas na reduccedilatildeo da pobreza A gestatildeo do Programa

pressupotildee a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo

democraacutetico e a participaccedilatildeo da sociedade (CEARAacute 2010b p 20)

No Estado existem trecircs nuacutecleos em processo de desertificaccedilatildeo Localizam-se no

Sertatildeo dos Inhamuns Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte e Sertatildeo de Jaguaribe abrangendo

respectivamente os municiacutepios de Arneiroz Independecircncia e Tauaacute Canindeacute Irauccediluba

Miraiacutema e Santa Quiteacuteria Jaguaretama Jaguaribara Jaguaribe Alto Santo e Morada Nova

(CEARAacute 2010b) Totalizam portanto 12 cidades com os maiores iacutendices de degradaccedilatildeo

ambiental do estado portanto susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo num grau muito grave como se

pode ver pelas figuras 7 e 8

No entanto o presente trabalho se ateraacute tatildeo somente ao municiacutepio de Irauccediluba

abrangido pelo nuacutecleo Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte

Fonte NOLEcircTO (2005)

56

Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave

desertificaccedilatildeo no Cearaacute desertificaccedilatildeo

Fonte IPECE (CEARAacute 2010a) Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)

O PAE (CEARAacute 2010b) utilizou para a formulaccedilatildeo do iacutendice de susceptibilidade

agrave desertificaccedilatildeo indicadores sociais que apontam a forma de ocupaccedilatildeo e tudo que dela

decorre e indicadores econocircmicos que representam as atividades humanas exercidas no

municiacutepio Vale ressaltar que as caracteriacutesticas do meio ambiente da regiatildeo natildeo foram

ignoradas muito pelo contraacuterio elas definiram as aacutereas classificadas como susceptiacuteveis agrave

desertificaccedilatildeo A lista abaixo demonstra os criteacuterios mensurados e os aspectos ambientais

observados

Indicadores sociais

1 Proporccedilatildeo da aacuterea das grandes propriedades na aacuterea total dos imoacuteveis rurais em

2005

2 Razatildeo entre alfabetizados e natildeo-alfabetizados de 5 ou mais anos de idade em

2000

3 Taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais de idade em 2000

(percentagem)

4 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino fundamental da populaccedilatildeo de 7 a 14

anos de idade em 2005

5 Taxa de evasatildeo no ensino fundamental em 2005

57

6 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino meacutedio da populaccedilatildeo de 15 a 17 anos de

idade em 2005

7 Taxa de evasatildeo escolar no ensino meacutedio em 2005

8 Densidade demograacutefica em 2006 (habitanteskm2)

Indicadores econocircmicos

1 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de carvatildeo vegetal pela aacuterea do municiacutepio em 2006

(tonha)

2 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de lenha pela aacuterea do municiacutepio em 2006 (m3ha)

3 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)

4 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)

5 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como pequena

propriedade em 2005 (haimoacutevel)

6 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como minifuacutendio em

2005 (haimoacutevel)

7 Razatildeo do consumo de energia eleacutetrica rural por consumidores de energia eleacutetrica

rural em 2005

8 Proporccedilatildeo de induacutestrias de transformaccedilatildeo no total de empresas industriais ativas

em 2005

9 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de feijatildeo em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

10 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com arroz em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

11 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com milho em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

12 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de mandioca em 2006 na aacuterea total dos

estabelecimentos agropecuaacuterios em 1996

13 Razatildeo do efetivo de bovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

14 Razatildeo do efetivo de ovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

15 Razatildeo do efetivo de caprinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

16 Razatildeo do efetivo de suiacutenos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

17 Produto Interno Bruto per capita a preccedilos de mercado em 2004

Caracteriacutesticas ambientais

1 Degradaccedilatildeo da cobertura vegetal

2 Assoreamento dos rios

3 Pastoreio excessivo

4 Perda da biodiversidade

5 Perda da capacidade produtiva do solo

6 Baixa relaccedilatildeo entre capacidade produtiva dos recursos naturais e sua capacidade

de recuperaccedilatildeo

A anaacutelise dos 25 paracircmetros entremeados com as condiccedilotildees ambientais estaacute

devidamente compilada no Quadro 2 ndash Caracterizaccedilatildeo das ASDs nos Sertotildees de Irauccediluba e

Centro-Norte do PAE (CEARAacute 2010b) As constataccedilotildees ensejam problemas no meio

ambiente a partir dos inuacutemeros gargalos sociais e econocircmicos como por exemplo a produccedilatildeo

agriacutecola em lavouras temporaacuterias na maior proporccedilatildeo dos estabelecimentos rurais o grande

iacutendice de pobres da regiatildeo o consumo de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo cada vez maior

58

Natildeo se pode deixar de mencionar os problemas ambientais que deixam a aacuterea em

questatildeo muito mais vulneraacutevel aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas e da desertificaccedilatildeo Satildeo

eles degradaccedilatildeo dos solos e da cobertura vegetal primaacuteria o sobrepastoreio o

desencadeamento e expansatildeo de processos erosivos acelerados com ocorrecircncia muito

frequente de afloramentos rochosos e chatildeos pedregosos perda de solos e biodiversidade

empobrecida baixa frequecircncia de espeacutecies lenhosas da caatinga e processos erosivos muito

ativos em funccedilatildeo do aumento da torrencialidade do escoamento superficial

Assim conclui-se que natildeo haacute como dissociar o quadro social e econocircmico das

nuances ambientais de um municiacutepio ou regiatildeo

Em se tratando da ASD nos Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte faz-se necessaacuterio

expor os nuacutemeros encontrados e as respectivas conclusotildees a partir dos levantamentos feitos

pelo PAE (CEARAacute 2010b) O Iacutendice Econocircmico e Social de Susceptibilidade agrave

Desertificaccedilatildeo (IESSD) ilustrado pelas figuras 9 e 10 por exemplo aponta as possiacuteveis causas

e os principais agentes causadores do processo de desertificaccedilatildeo sem quantificar ou mensurar

seu niacutevel

Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no Iacutendice Social de Susceptibilidade agrave

Desertificaccedilatildeo (ISSD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)

Fonte PAE (CEARAacute 2010b)

0

5

10

15

20

25

30

Contribuiccedilatildeo no ISSD ()

59

Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no Iacutendice Econocircmico de Susceptibilidade agrave

Desertificaccedilatildeo (IESD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)

Fonte PAE (CEARAacute 2010b)

Assim analisando os dois graacuteficos acima eacute possiacutevel perceber que sob o aspecto

social a concentraccedilatildeo de terras e a educaccedilatildeo datildeo a maior contribuiccedilatildeo ao iacutendice de

susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo enquanto que no vieacutes econocircmico destacam-se as aacutereas

destinadas a imoacuteveis rurais e o PIB ldquoper capitardquo Eacute um cenaacuterio deveras preocupante visto que

aquela regiatildeo jaacute eacute dotada de condiccedilotildees naturais adversas Uma populaccedilatildeo sem educaccedilatildeo

inserida num niacutevel de pobreza e ocupante de grande parte da zona rural que eacute onde as

atividades potencialmente degradadoras satildeo praticadas traduz uma combinaccedilatildeo

extremamente alarmante pois fazem uso de praacuteticas predatoacuterias e potencializam a

susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo

Segundo o PAE (CEARAacute 2010b p 123) nessa regiatildeo satildeo observadas ldquomarcas

configuradas de desertificaccedilatildeo como o elevado estaacutegio de degradaccedilatildeo do solo comprometendo

os processos naturais de sucessatildeo processos erosivos acelerados perda de solo e

biodiversidade espeacutecies lenhosas rarefeitasrdquo

05

1015202530354045

Contribuiccedilatildeo no IESD ()

60

Sob um olhar mais aprofundado voltado agrave Irauccediluba haacute maior destaque para as

atividades de agricultura e pecuaacuteria Lavouras temporaacuterias como feijatildeo milho e mandioca satildeo

as mais praticadas pelo pequeno agricultor A figura 11 aponta o percentual de

estabelecimentos ocupados com atividades agropecuaacuterias no municiacutepio

Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios Adaptado

Fonte PAE (CEARAacute 2010b)

Com relaccedilatildeo agrave extraccedilatildeo legalizada de madeira no municiacutepio de Irauccediluba o IBGE

informa que tanto a produccedilatildeo de carvatildeo como o corte de lenha entre 2004 a 2011 foi estaacutevel

Aquela girou em torno de 71 toneladas com um custo variaacutevel de R$ 1100000 a 2300000

ao ano enquanto que este ficou na casa dos 10000 m3 resultando num rendimento que

oscilou de R$ 4200000 a R$ 5700000 anuais14

Por fim Irauccediluba embora representando um dos quatro nuacutecleos de desertificaccedilatildeo

do Nordeste natildeo apresenta a pior condiccedilatildeo socioeconocircmica considerando a maioria dos

indicadores analisados (CEARAacute 2010b) Desta forma conclui-se que estes aspectos natildeo

determinam a desertificaccedilatildeo mas influenciam principalmente se as condiccedilotildees ambientais satildeo

limitantes Assim uma economia e uma sociedade deficientes inseridas num ambiente fraacutegil

natildeo tecircm como deixar de gerar degradaccedilatildeo

14

Conferir em lthttpwwwibgegovbrcidadesatxtrasperfilphpcodmun=230610ampsearch=ceara|iraucubagt

0

10

20

30

40

50

60

Irauccediluba

61

24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo do processo de degradaccedilatildeo

Embora o quadro de degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba seja por demais

preocupante ainda haacute condiccedilotildees para sua reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica a partir de

teacutecnicas e praacuteticas correspondentes ao tipo de solo ao estaacutegio de degradaccedilatildeo da aacuterea e ao

histoacuterico do uso da terra (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Continuam os autores

Assim considerando as extensotildees sob o planossolo que ocupam uma aacuterea total de

27321 ha duas recomendaccedilotildees podem ser propostas a regeneraccedilatildeo natural e a

adubaccedilatildeo organo-mineral A regeneraccedilatildeo natural eacute um processo muito lento e no

caso do planossolo de Irauccediluba dificilmente proporcionaraacute condiccedilotildees para retorno agrave

produtividade esperada [](ARAUacuteJO FILHO 1992) Entatildeo estaacute claro que a

recuperaccedilatildeo natural via pousio eacute muito lenta mas constitui uma opccedilatildeo em muitos

casos A aplicaccedilatildeo de adubo orgacircnico (estercos) eacute outra alternativa de recuperaccedilatildeo

pastoril que poderia ser utilizada no nuacutecleo de Irauccediluba Assim a fertilizaccedilatildeo com

foacutesforo constitui uma boa opccedilatildeo para a recuperaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica das

pastagens degradadas nos planossolos do nuacutecleo de Irauccediluba (ARAUacuteJO FILHO e

SILVA 2013 p 1013)

Outros fatores que envolvem o processo de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo

em Irauccediluba segundo Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 15) eacute ldquoa fixaccedilatildeo da agricultura no

terreno a sustaccedilatildeo do desmatamento e do uso do fogo visando agrave mitigaccedilatildeo dos impactos

antroacutepicos negativos a recuperaccedilatildeo dos agroecossistemas o aumento da produtividade

agriacutecola e da renda familiarrdquo Para tanto os mesmos autores sugerem que

A agrossilvicultura eacute com certeza o modelo de exploraccedilatildeo da terra mais apropriado

Dentre os modelos de sistemas agroflorestais o silvopastoril e o agrossilvipastoril

seriam os mais indicados para as condiccedilotildees de Irauccediluba O primeiro associa o

manejo florestal com a exploraccedilatildeo pastoril e o segundo associa o manejo florestal a

exploraccedilatildeo pastoril e a agricultura formando o sistema lavoura-pecuaacuteria-floresta O

modelo silvopastoril pode ser estabelecido seja para ter a madeira como o principal

produto seja para ter na exploraccedilatildeo animal a principal atividade (ARAUacuteJO FILHO

e SILVA 2013 p 15)

[]

A opccedilatildeo pela agrossilvicultura como a alternativa mais apropriada para a

reabilitaccedilatildeo dos solos de potencial agriacutecola mais elevado fundamenta-se na garantia

que este sistema de uso da terra traz a seguranccedila ambiental e a seguranccedila alimentar

No primeiro caso o solo eacute protegido contra a erosatildeo pelo acuacutemulo de serrapilheira

tem sua fertilidade reposta e sua biologia ativada pela deposiccedilatildeo da mateacuteria

orgacircnica Os recursos hiacutedricos satildeo beneficiados pela manutenccedilatildeo da mata ciliar

evitando o assoreamento das nascentes e reservatoacuterios e pela reduccedilatildeo das perdas de

aacutegua pelo solo A flora com a sustaccedilatildeo das queimadas e dos desmatamentos tem sua

biodiversidade incrementada e integraccedilatildeo das aacutervores no sistema produtivo

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2021)

Assim sendo o principal objetivo da recuperaccedilatildeo de uma aacuterea degradada deve ser

a recomposiccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica do solo Isto porque para que se restabeleccedila a

62

funcionalidade do ecossistema eacute fundamental a revitalizaccedilatildeo da biologia do solo principal

responsaacutevel pela circulaccedilatildeo de nutrientes15

Aleacutem disso continuam os mesmos autores

O aumento da mateacuteria orgacircnica e a formaccedilatildeo de uma cobertura morta sobre o solo o

protegeratildeo contra a erosatildeo laminar e melhoraratildeo sua capacidade de retenccedilatildeo de

aacutegua [] Os nutrientes de ecossistemas florestais de clima tropical se concentram

na biomassa e natildeo no solo como nos de clima temperado por isso os meacutetodos de

exploraccedilatildeo dos solos deveriam estar fundamentados no menor distuacuterbio possiacutevel do

meio bioloacutegico e no reforccedilo do aporte de mateacuteria orgacircnica (ARAUacuteJO FILHO e

SILVA 2013 p 710)

Nesse sentido para ambientes tropicais os sistemas de produccedilatildeo agroflorestais

(SAF) estatildeo sendo avaliados e propostos como alternativas ecologicamente sustentaacuteveis de

exploraccedilatildeo O uso de espeacutecies arboacutereas constitui a garantia de manter ativa a circulaccedilatildeo de

nutrientes e o aporte significativo de mateacuteria orgacircnica condiccedilatildeo essencial para se cultivar de

maneira continuada os solos tropicais16

No caso do bioma caatinga e de ambiente semiaacuterido segundo Arauacutejo Filho e silva

(2013) trecircs recomendaccedilotildees fundamentais garantem quando seguidas a sustentabilidade das

tecnologias de manipulaccedilatildeo

Preservaccedilatildeo de ateacute 400 aacutervores por hectare ou o equivalente a 40 de cobertura

utilizaccedilatildeo maacutexima de 60 da forragem disponiacutevel e preservaccedilatildeo da mata ciliar em

toda a malha de drenagem da pastagem Esta tecnologia jaacute vem sendo utilizada pelos

produtores na regiatildeo de Irauccediluba desde o iniacutecio da deacutecada de 1980 envolvendo

uma aacuterea de cerca de 3000 ha (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 1617)

Outras maneiras de controle e combate do processo de degradaccedilatildeo cuja iniciativa

vem do governo em suas diferentes formas e esferas satildeo os programas e as poliacuteticas puacuteblicas

a criaccedilatildeo de leis e normas sobre o tema a disponibilidade de recursos a fiscalizaccedilatildeo dos

oacutergatildeos competentes dentre outros

Ilustrando o primeiro exemplo em abril de 2011 a Superintendecircncia Estadual do

Meio Ambiente (SEMACE) e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) celebraram um convecircnio

de assistecircncia teacutecnica e financeira para a realizaccedilatildeo da pesquisa ldquoRevitalizaccedilatildeo da cobertura

vegetal nativa atraveacutes da recomposiccedilatildeo das matas ciliares e enriquecimento das aacutereas

destinadas a compor reserva legal dos imoacuteveis rurais do municiacutepio de Irauccedilubardquo Para a

consecuccedilatildeo dos objetivos propostos foi concedido um montante de R$ 4920000 (quarenta e

nove mil e duzentos reais) com fins de recuperar a qualidade do meio biofiacutesico atraveacutes do

plantio de essecircncias florestais nativas e plantas adaptadas agraves condiccedilotildees edafoclimaacuteticas da

aacuterea de abrangecircncia do projeto para

15

Como recomenda Lima (2009) In Arauacutejo Filho e Silva (2013) 16

Idem

63

1 Minimizar os impactos ambientais adversos causados pelos sistemas tradicionais

de exploraccedilatildeo econocircmica

2 Implantar um viveiro florestal permanente destinado agrave produccedilatildeo de mudas

nativas e adaptadas agraves condiccedilotildees locais associando-lhe atividades educativas e

de natureza formativa para o puacuteblico interessado

3 Incentivar o cultivo de essecircncias florestais nativas arboacutereas e frutiacuteferas que

contribuiratildeo para gerar alternativas de diversificaccedilatildeo de renda e por conseguinte

a melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo do municiacutepio

4 Fomentar a produccedilatildeo e o plantio de essecircncias florestais nativas ameaccediladas de

extinccedilatildeo

5 Viabilizar a recomposiccedilatildeo de matas ciliares dentro dos limites de abrangecircncia da

aacuterea das bacias hidrograacuteficas dos recursos hiacutedricos naturais denominados de

Riacho Aracatiaccedilu e Riacho Curu e do principal reservatoacuterio denominado de

Accedilude Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu seja em aacutereas de domiacutenio puacuteblico seja em

aacutereas de domiacutenio privado

6 Estabelecer a recuperaccedilatildeo da cobertura vegetal nativa de aacutereas de reserva legal

das propriedades rurais

O prazo do convecircnio era de doze meses ou seja ateacute abril de 2012 todavia foi

renovado por aditivo ateacute abril de 2013 Seu lanccedilamento soacute se deu em dezembro de 2011 e ateacute

agosto de 2012 o viveiro florestal ainda natildeo havia sido construiacutedo mas palestras com os

temas Desmatamento e Reserva Legal Fogo Desmatamento e Preservaccedilatildeo dos Accediludes

Resiacuteduos Soacutelidos Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal Aacuterea de

Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal foram ministradas pela SEMACE

Infelizmente nada mais foi feito pois dificuldades como a burocracia com o banco

financiador e a seca que assola o municiacutepio inviabilizando a produccedilatildeo e o plantio das mudas

levaram agrave extinccedilatildeo do convecircnio uma vez que seu prazo natildeo foi renovado numa segunda

oportunidade O recurso investido foi devolvido ao BNB e natildeo haacute qualquer previsatildeo de

retomada do projeto

Natildeo se pode deixar de registrar a indignaccedilatildeo que esse desfecho causa naqueles

que estudam e buscam uma saiacuteda Muitas vezes se natildeo todas as vezes ela existe mas eacute

deveras negligenciada ou pouco valorizada O que eacute que isso O Brasil eacute um paiacutes rico natildeo

falta recurso o que muito falta eacute vontade coragem e preferecircncia por aquilo que se deve

fazer Isto eacute um ultraje ao homem do campo que humilde e inocentemente espera confiante

em alguma providecircncia de seus representantes ou por quem faz as suas vezes

De modo diverso as normas 43 e 44 de 2005 (BRASIL 2005 a b) e a 512006

(BRASIL 2006a) que seratildeo explanadas no item 331 criadas pelo INCRA satildeo outras

medidas parecidas com o convecircnio citado acima pois tambeacutem foram elaboradas com o intuito

de recuperar e conservar os recursos naturais em aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e de

64

reserva legal mesmo sendo especiacuteficas para projetos de assentamento agraacuterio federal Atraveacutes

delas um determinado valor pode ser cedido por aquele oacutergatildeo e destinado agraves famiacutelias

assentadas para promoverem agrave implantaccedilatildeo de um projeto de recuperaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo

Como Poliacuteticas Puacuteblicas em niacutevel local e estadual que englobam o problema da

degradaccedilatildeo ambiental amplamente aqui discutido inclusive o mais seacuterio deles que eacute a

desertificaccedilatildeo destaca-se o Plano de Accedilatildeo Municipal de Combate agrave Desertificaccedilatildeo de

Irauccediluba (IRAUCcedilUBA 2009) e o Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e

Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (CEARAacute 2010b) O primeiro levou nove anos para se tornar

poliacutetica puacuteblica e contou com recursos do fundo de apoio a iniciativas locais de combate agrave

desertificaccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Nacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos

Efeitos da Seca (BRASIL 2004) Sua funccedilatildeo eacute orientar e desenvolver accedilotildees no sentido de

controlar e prevenir o avanccedilo da desertificaccedilatildeo e quando possiacutevel recuperar aacutereas degradadas

para o uso produtivo ou seja alcanccedilar o desenvolvimento sustentaacutevel nas aacutereas sujeitas agrave seca

e a desertificaccedilatildeo do Municiacutepio Como objetivos baacutesicos estatildeo as contribuiccedilotildees para

1 A formulaccedilatildeo do planejamento de uso sustentaacutevel dos recursos naturais do

Municiacutepio

2 A melhoria da produtividade e produccedilatildeo agriacutecola nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e

desertificaccedilatildeo

3 A reduccedilatildeo da vulnerabilidade e melhoria da qualidade de vida das populaccedilotildees

residentes nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e agrave desertificaccedilatildeo

4 A articulaccedilatildeo de accedilotildees setoriais do governo (em niacutevel federal estadual e

municipal) com vista agrave sinergia dos processos de planejamento

5 A melhoria da capacidade de enfrentamento dos problemas de desertificaccedilatildeo e

seca por parte das populaccedilotildees locais (IRAUCcedilUBA 2009 p 24)

O PAE (CEARAacute 2010b) em seu objetivo global e em termos gerais natildeo eacute muito

diferente do PAM (IRAUCcedilUBA 2009) pois visa contribuir para a convivecircncia com o

semiaacuterido e sustentabilidade ambiental do bioma caatinga Busca promover poliacuteticas

ambientais sociais e econocircmicas para a reduccedilatildeo da pobreza procurando em sua

administraccedilatildeo a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo democraacutetico

e a participaccedilatildeo da sociedade E recorre agrave negociaccedilatildeo transparente e responsaacutevel de conflitos

como forma privilegiada de superar as diferenccedilas de uso dos recursos naturais

25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira

A lei 6938 (BRASIL 1981) promulgada em 1981 foi a primeira norma juriacutedica

tratando da temaacutetica ambiental no Brasil Como bem diz Milareacute (2009) ela tem um caraacuteter

65

inovador pois sua implementaccedilatildeo seus resultados assim como a estabilidade e a efetividade

que denota constituem um salto de qualidade na vida puacuteblica brasileira

Com nascedouro um tanto quanto isolado a lei 693881 (BRASIL 1981)

instituiu a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente para a preservaccedilatildeo melhoria e recuperaccedilatildeo da

qualidade ambiental propiacutecia agrave vida visando assegurar no Paiacutes condiccedilotildees ao

desenvolvimento soacutecioeconocircmico aos interesses da seguranccedila nacional e agrave proteccedilatildeo da

dignidade da vida (artigo 2ordm) Tais objetivos estatildeo baseados em princiacutepios norteadores dos

quais se destacam para a presente pesquisa a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas (inciso VIII) e a

proteccedilatildeo de aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX)

Instrumentalizando a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente quanto agrave degradaccedilatildeo

ambiental existem as penalidades disciplinares ou compensatoacuterias ao natildeo cumprimento das

medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo ou correccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental conforme o artigo

9ordm inciso IX da Lei 693881 (BRASIL 1981) Em termos de sanccedilatildeo o artigo 14 disciplina

que os danos causados pela degradaccedilatildeo da qualidade ambiental sujeitaratildeo os transgressores agrave

multa simples ou diaacuteria agrave perda ou restriccedilatildeo de incentivos e benefiacutecios fiscais concedidos

pelo Poder Puacuteblico agrave perda ou suspensatildeo de participaccedilatildeo em linhas de financiamento em

estabelecimentos oficiais de creacutedito e agrave suspensatildeo de sua atividade

Para evitar a sanccedilatildeo pratica-se a prevenccedilatildeo e uma forma de prevenir a degradaccedilatildeo

eacute o licenciamento ambiental conforme preconiza o artigo 10 daquela mesma lei O natildeo

cumprimento disto enseja o enquadramento do representante da atividade ou do

estabelecimento no artigo 60 da Lei 960598 (BRASIL 1998) que versa sobre crimes

ambientais

Art 10 A construccedilatildeo instalaccedilatildeo ampliaccedilatildeo e funcionamento de estabelecimentos e

atividades utilizadores de recursos ambientais efetiva ou potencialmente poluidores

ou capazes sob qualquer forma de causar degradaccedilatildeo ambiental dependeratildeo de

preacutevio licenciamento ambiental (BRASIL 1981 p 7)

Art 60 Construir reformar ampliar instalar ou fazer funcionar em qualquer parte

do territoacuterio nacional estabelecimentos obras ou serviccedilos potencialmente

poluidores sem licenccedila ou autorizaccedilatildeo dos oacutergatildeos ambientais competentes ou

contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes Pena - detenccedilatildeo de um a seis meses ou multa ou ambas as penas cumulativamente

(BRASIL 1998 p 12)

Outra previsatildeo salutar na Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente eacute o dever que

entidades e oacutergatildeos de financiamento e incentivos governamentais tecircm de condicionar a

aprovaccedilatildeo de projetos financiaacuteveis ao licenciamento ambiental Aleacutem disto devem constar em

tais projetos a realizaccedilatildeo de obras e aquisiccedilatildeo de equipamentos destinados ao controle de

degradaccedilatildeo ambiental e a melhoria da qualidade do meio ambiente (artigo 12 paraacutegrafo

66

uacutenico) Isto tudo porque a instituiccedilatildeo que financia atividades eou empreendimentos que por

ventura causem algum dano tambeacutem se tornam corresponsaacuteveis pelo passivo ambiental

respondendo perante os oacutergatildeos competentes e os guardiatildees da lei

Por fim eacute pertinente mencionar que toda accedilatildeo ou omissatildeo prevista na legislaccedilatildeo

ambiental brasileira seja nas leis que criam diretrizes como nas que preveem sanccedilotildees visa o

combate o controle a reparaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo da degradaccedilatildeo aos bens naturais como um

todo O impasse eacute existir inuacutemeras normas distintas que dispotildeem sobre vaacuterios recursos

ambientais e que satildeo criadas em eacutepocas diferentes como por exemplo o Coacutedigo Florestal

(BRASIL 2012) o Coacutedigo de Caccedila (BRASIL 1967a) o Coacutedigo Mineraacuterio (BRASIL

1967b) o Coacutedigo de Pesca (BRASIL 2009) o Coacutedigo de Aacuteguas (BRASIL 1934a) a Poliacutetica

Nacional de Recursos Hiacutedricos (BRASIL 1997) o Programa Nacional de controle da

qualidade do ar (BRASIL 1989a) dentre outras O ideal eacute que houvesse a reuniatildeo de todos os

dispositivos em uma legislaccedilatildeo soacute como o fez a lei de crimes ambientais que versa sobre

infraccedilotildees cometidas aos bens naturais apontados pelas diversas normas citadas

Em niacutevel estadual o Cearaacute dispotildee de um arcabouccedilo legal que reflete um

pouco o que jaacute estaacute disposto nas leis federais no entanto cabe aqui citar algumas normas

pertinentes ao assunto estudado

A Resoluccedilatildeo nordm 092003 (CEARAacute 2003) do Conselho Estadual do Meio

Ambiente (COEMA) estabeleceu a compensaccedilatildeo ambiental como forma de prevenir eou

obrigar o poluidorusuaacuterio pagador ou degradador a indenizar os danos causados em

decorrecircncia da utilizaccedilatildeo de recursos naturais para fins econocircmicos Trata-se de medida

arrecadatoacuteria anterior ao processo de licenciamento ambiental e condicionada ao firmamento

de um Termo de Compromisso A supracitada norma definiu percentual de 05 a ser recolhido

com base no valor do empreendimento a ser implantado A destinaccedilatildeo dos valores recolhidos

seria via de regra a Unidades de Conservaccedilatildeo

A Lei Complementar nordm 482004 (CEARAacute 2004) criou o Fundo e o Conselho

Estadual Gestor do Meio Ambiente (FEMA) onde uma de suas finalidades eacute o ressarcimento

da coletividade por danos causados ao meio ambiente Reza o artigo 10 que qualquer cidadatildeo

pode propor projetos relativos agrave reconstituiccedilatildeo reparaccedilatildeo preservaccedilatildeo e prevenccedilatildeo do meio

ambiente A dita lei foi regulamentada pelo Decreto Estadual nordm 277192005 (CEARAacute 2005)

que por sua vez dispocircs accedilotildees programas planos e projetos para a melhoria e recuperaccedilatildeo da

qualidade ambiental no Estado do Cearaacute Agrave pertinecircncia da presente pesquisa cabe destacar

uma diretriz do FEMA prevista no inciso VIII do artigo 3ordm daquele Decreto

67

Artigo 3ordm

[]

VIII - Promover a proteccedilatildeo da biodiversidade e dos ecossistemas associados e aacutereas

ameaccediladas de degradaccedilatildeo atraveacutes da preservaccedilatildeo conservaccedilatildeo e administraccedilatildeo de

biomas representativos bem assim da recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas

possibilitando melhor controle de atividades potencialmente poluidoras nos termos

da legislaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2005 p 2)

Eacute essencial citar a Lei 1248895 (CEARAacute 1995) que dispotildee sobre a Poliacutetica

Florestal do Estado do Cearaacute Um de seus objetivos guarda relaccedilatildeo direta com este trabalho

qual seja promover a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas e em processos de degradaccedilatildeo

especialmente nas aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e reserva legal bem como proteger as

aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX do artigo 3ordm) Para tanto um dos instrumentos

previsto e deveras necessaacuterio para a consecuccedilatildeo de tais fins eacute a fiscalizaccedilatildeo a aplicaccedilatildeo de

penalidades accedilotildees disciplinares e compensatoacuterias das medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo dos

recursos naturais ou a correccedilatildeo da degradaccedilatildeo do meio ambiente (inciso XI do artigo 4ordm)

E por fim eacute cabiacutevel mencionar a Lei 141982008 (CEARAacute 2008) pois institui a

Poliacutetica Estadual de Combate e Prevenccedilatildeo agrave Desertificaccedilatildeo e tem por base a Convenccedilatildeo

Internacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo nos Paiacuteses afetados por Seca Grave eou

Desertificaccedilatildeo Como jaacute mencionado no Cearaacute existem trecircs nuacutecleos com aacutereas susceptiacuteveis agrave

desertificaccedilatildeo e nada mais apropriado que o Estado dispor de uma legislaccedilatildeo proacutepria sobre o

tema Diante disto destacam-se os seguintes dispositivos

Art 1ordm Institui a Poliacutetica Estadual de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Desertificaccedilatildeo a qual

tem por objetivos

[]

III - instituir mecanismos de proteccedilatildeo conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da flora fauna e

de solos degradados nas aacutereas de risco ou impactadas pela desertificaccedilatildeo

[]

Art 3ordm Cumpre ao Poder Puacuteblico

I - diagnosticar o avanccedilo do processo de degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo ambiental nas

aacutereas afetadas

II - definir um plano de contingecircncia para mitigaccedilatildeo dos efeitos da degradaccedilatildeo

ambiental

[]

XI - estimular o desenvolvimento de agroinduacutestrias baseadas em alimentos

ambientalmente e culturalmente adaptados ao meio ambiente

[]

XIV - estimular a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente

e de Reserva Legal []

[]

Art 5ordm No tocante agrave agricultura irrigada o Poder Puacuteblico deveraacute

[]

II - diagnosticar as aacutereas cujos solos sejam susceptiacuteveis agrave salinizaccedilatildeo e acuacutemulo de

compostos de soacutedio e fomentar a recuperaccedilatildeo de solos afetados por salinizaccedilatildeo e

acuacutemulo de compostos de soacutedio

Art 6ordm No tocante agrave agricultura sequeiro o Poder Puacuteblico deveraacute

[]

68

II - incentivar o manejo sustentaacutevel dos recursos naturais apoiando o

desenvolvimento de sistemas agroflorestais e agrosilvopastoris diversificados e

integrados como forma de conciliar a recuperaccedilatildeo florestal e as atividades agriacutecolas

(CEARAacute 2008 p 1 - 3)

251 Lei ambiental de Irauccediluba

O municiacutepio de Irauccediluba criou sua proacutepria Poliacutetica Ambiental a partir da Lei

5652007 (IRAUCcedilUBA 2007) Nela estatildeo dispostos princiacutepios e instrumentos de accedilatildeo que

visam agrave qualidade ambiental em seus diferentes aspectos Felizmente a norma natildeo deixou de

fora as aacutereas de reserva legal pelo contraacuterio tratou do tema em uma seccedilatildeo especiacutefica

composta pelos artigos 57 e 58

Art 57 - A reserva legal eacute requisito essencial ao exerciacutecio legiacutetimo do direito de

propriedade na aacuterea rural e fundamental para a proteccedilatildeo do meio ambiente

ecologicamente equilibrado e da biodiversidade cumprindo funccedilotildees do interesse

coletivo e individual do proprietaacuterio

Art 58 - A reserva legal eacute a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) localizada no

interior de uma propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente

necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos

processos ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de

fauna e flora nativas sendo imutaacutevel sua localizaccedilatildeo apoacutes definida

sect1ordm - Fica proibido qualquer registro imobiliaacuterio relativo a propriedade rural sem

preacutevio registro da reserva legal sob pena de nulidade do ato

sect2ordm- A reserva legal deveraacute ser averbada agrave margem da matriacutecula do imoacutevel no

registro competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de

transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou divisatildeo da aacuterea

sect3ordm - As aacutereas de reserva legal e preservaccedilatildeo permanente poderatildeo ser computadas

conjuntamente desde que somadas passem de 50 (cinquumlenta por cento) da

extensatildeo total da propriedade e sejam de extensatildeo contiacutenua

sect4ordm - No imoacutevel rural que natildeo houver vegetaccedilatildeo nativa suficiente para compor o

miacutenimo da reserva legal o proprietaacuterio ou possuidor deveraacute recuperar e recompor

com a vegetaccedilatildeo nativa ateacute atingir a porcentagem determinada

sect5ordm - A recomposiccedilatildeo mencionada no paraacutegrafo anterior deveraacute ser realizada na

proporccedilatildeo de no miacutenimo 110 (um deacutecimo) da aacuterea da propriedade ou posse a cada

ano dando prioridade agraves aacutereas de preservaccedilatildeo permanente

sect6ordm - A Reserva Legal deve ser preferencialmente contiacutegua a das propriedades

vizinhas agraves unidades de conservaccedilatildeo ou aacutereas florestadas formando um corredor de

vegetaccedilatildeo

sect7ordm - A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser

utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel (IRAUCcedilUBA 2007 p 26)

No artigo 57 haacute o reconhecimento do direito de propriedade agrave luz da funccedilatildeo

social dada pela reserva legal e a devida importacircncia agrave proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental Jaacute o

58 prevecirc os 20 da aacuterea a tiacutetulo de reserva reproduzindo o que a lei federal ou seja o

Coacutedigo Florestal dispotildee No entanto o sect1ordm do mesmo dispositivo acaba restringindo ainda

mais o que a norma geral prescreve isto eacute proiacutebe qualquer registro junto ao cartoacuterio de

imoacuteveis sem a devida averbaccedilatildeo na matriacutecula da propriedade muito embora isso jaacute possa ser

diferente pela instituiccedilatildeo do Cadastro Ambiental Rural Dos paraacutegrafos 2ordm ao 5ordm houve a

69

revogaccedilatildeo expressa pela Lei 126512012 (BRASIL 2012) ou novo Coacutedigo Florestal O 6ordm e o

7ordm continuaram vigentes em sua essecircncia sofrendo apenas pequenas alteraccedilotildees jaacute que devem

estar em consonacircncia com a lei federal natildeo podendo ser menos restritivos

Por fim aleacutem do que fora comentado a lei ambiental de Irauccediluba traz muito em

sua natureza procedimentos e mandamentos semelhantes agrave de uma lei de uso e ocupaccedilatildeo do

solo Prevecirc portanto paracircmetros sobre publicidade emissotildees sonoras construccedilatildeo civil

poluiccedilatildeo obras dentre outros

70

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS

31 Reserva Legal em Irauccediluba

Um dos objetivos da presente pesquisa eacute o levantamento do nuacutemero de imoacuteveis

rurais no municiacutepio de Irauccediluba para em seguida verificar o grau de obediecircncia ao instituto

da reserva legal nessas propriedades Para tanto buscou-se os respectivos dados no cartoacuterio de

registro de imoacuteveis do municiacutepio no Instituto de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e

no Instituto de Desenvolvimento Agraacuterio do Cearaacute (IDACE)

No cartoacuterio de imoacuteveis onde o acesso eacute possiacutevel pela liberdade que qualquer

interessado tem para solicitar informaccedilotildees registrais achou-se o nuacutemero de 215 imoacuteveis

registrados Jaacute no INCRA o total de propriedades ali cadastradas eacute de 415 e no IDACE 713

imoacuteveis devidamente medidos e georreferenciados

Primeiramente cabe discorrer um pouco sobre esse desencontro na quantidade

dos imoacuteveis O fato de o cartoacuterio municipal possuir 215 imoacuteveis rurais registrados natildeo

significa que soacute tenha esse nuacutemero de propriedades laacute pois existem inuacutemeras terras habitadas

e utilizadas sem qualquer registro formal e neste caso o que os ldquodonosrdquo desses lugares

deteacutem chama-se posse o que os torna posseiros e natildeo proprietaacuterios O INCRA ter em seu

banco de dados o cadastro de 415 propriedades rurais tambeacutem natildeo quer dizer que soacute haja as

415 uma vez que a procura por este oacutergatildeo eacute voluntaacuteria quando se trata de cadastramento do

imoacutevel Soacute seraacute diferente se surgir a necessidade de desmembrar arrendar hipotecar vender

ou prometer em venda o bem rural Ou ainda em caso de partilha17

Esses satildeo os casos que

impelem o proprietaacuterio a cadastrar seu imoacutevel conforme definidos pela lei 494766

(BRASIL 1966) Do contraacuterio natildeo eacute obrigatoacuterio motivo pelo qual se explica nuacutemeros tatildeo

distintos uns dos outros Justificando um pouco esta discrepacircncia o II Plano Nacional de

Reforma Agraacuteria aponta que os dados do Cadastro do INCRA indicam que ldquosomente 5086

da aacuterea total do territoacuterio brasileiro estaacute na condiccedilatildeo de cadastradardquo (II PNRA 2003 p 22)

E por fim o nuacutemero apontado pelo IDACE acredita-se ser o mais proacuteximo da

realidade uma vez que pelo Programa de Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria com iniacutecio em 2007 as

propriedades rurais no municiacutepio de Irauccediluba foram no ano de 2012 medidas e

georreferenciadas uma a uma para dar fim aos problemas decorrentes da ausecircncia de tiacutetulos

imobiliaacuterios e o tamanho das aacutereas Eacute o que segue estabelecido pelo II PNRA (2003)

17

Partilha eacute a via pela qual se daacute a divisatildeo dos bens de uma heranccedila

A importacircncia de um recadastramento de todos os imoacuteveis rurais e da revisatildeo das

normas que regem o processo de registro das propriedades eacute ainda maior quando se

observa que as possibilidades de obtenccedilatildeo de terras para Reforma Agraacuteria estatildeo

condicionadas por dois indicadores que dependem das informaccedilotildees contidas no

Cadastro do INCRA o moacutedulo fiscal e os iacutendices de produtividade [] Por meio de

uma integraccedilatildeo do INCRA com os oacutergatildeos estaduais seraacute executado um amplo

processo de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria visando regularizar as pequenas posses de boa feacute

e a arrecadaccedilatildeo e incorporaccedilatildeo de terras devolutas ao patrimocircnio puacuteblico seguida de

sua destinaccedilatildeo para o assentamento de trabalhadores rurais e tambeacutem promover

accedilotildees anulatoacuterias sobre ocupaccedilotildees de terras com registros irregulares (II PNRA

2003 p 23)

Contudo o nuacutemero desencontrado de imoacuteveis natildeo eacute soacute o que assusta ou angustia

mas sim a quantidade iacutenfima de reserva legal existente naquele municiacutepio que jaacute sofre com

um processo criacutetico de degradaccedilatildeo

Apoacutes verificar junto ao cartoacuterio a quantidade de imoacuteveis rurais registrados

averiguou-se que somente trecircs dos 215 estatildeo com suas respectivas aacutereas de reserva legal

devidamente averbadas junto ao registro do bem Essa aguda diferenccedila tambeacutem natildeo muda

quando se analisa as informaccedilotildees presentes nos cadastros feitos junto ao INCRA Muitos satildeo

os cadastramentos onde tem descritas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente mas de reserva legal

somente cinco das 415 propriedades cadastradas No IDACE natildeo foi possiacutevel fazer esse

levantamento porque o objetivo deste oacutergatildeo em adentrar as aacutereas era medi-las em sua

totalidade sem discriminar a presenccedila de qualquer constataccedilatildeo em seu interior

Pela leitura da tabela 5 eacute possiacutevel concluir duas realidades A primeira eacute a

existecircncia de propriedade cujo registro apresenta averbaccedilatildeo da reserva legal mas sem

cadastro junto ao INCRA como eacute o caso do imoacutevel Poccedilo da PedraAacuteguas Mortas No

segundo caso ocorre o contraacuterio isto eacute natildeo haacute averbaccedilatildeo da reserva legal no cartoacuterio de

registro mas existe o cadastro da propriedade perante o INCRA constando a reserva legal

devidamente apontada conforme relatoacuterios cedidos por aquele oacutergatildeo

72

Tabela 5 - Levantamento de Imoacuteveis com reserva legal (Cartoacuterio de registro de imoacuteveisINCRA)

311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental - Projeto de Assentamento Agraacuterio em

foco

Todo projeto de assentamento de reforma agraacuteria soacute deve ser implantado apoacutes o

licenciamento ambiental junto ao oacutergatildeo competente que pela relevacircncia social do

empreendimento possui um procedimento diferenciado Eacute um processo trifaacutesico ou seja

consiste na licenccedila preacutevia (LP) licenccedila de instalaccedilatildeo (LI) e licenccedila de operaccedilatildeo (LO) mas no

caso dos projetos de assentamento satildeo soacute duas a LP e a LIO que nada mais eacute que a licenccedila de

18

Trata-se de um imoacutevel que foi destinado a Projeto de Assentamento no acircmbito estadual No entanto o registro

no cartoacuterio aponta que a propriedade possui Reserva Legal averbada mas no cadastro do INCRA natildeo haacute

qualquer menccedilatildeo a essa aacuterea 19

PA ndash Projeto de Assentamento da Reforma Agraacuteria Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria conjunto

de accedilotildees planejadas e desenvolvidas em aacuterea destinada agrave reforma agraacuteria para um puacuteblico beneficiaacuterio

orientadas para utilizaccedilatildeo racional dos espaccedilos fiacutesicos e dos recursos naturais existentes objetivando a

implementaccedilatildeo dos sistemas de vivecircncia e produccedilatildeo sustentaacuteveis na perspectiva do cumprimento da funccedilatildeo

social da terra e da promoccedilatildeo econocircmica social e cultural do trabalhador rural e de seus familiares (BRASIL

2006b) 20

O imoacutevel Poccedilo da Pedra e Aacuteguas Mortas eacute um soacute Embora natildeo conste no registro do cartoacuterio a aacuterea total da

propriedade e a destinada agrave reserva legal o Termo de Responsabilidade de Averbaccedilatildeo da Aacuterea de Reserva Legal

cedido pelo INCRA descreve as aacutereas apontadas na tabela 2

RESERVA LEGAL DOCUMENTALMENTE EXISTENTE

Imoacutevel Fonte dos Dados Aacuterea do Imoacutevel

(ha)

Aacuterea (ha) Domiacutenio Data da

Averbaccedilatildeo (AV)

Cadastro (C)

Miramar Cartoacuterio de Imoacuteveis

INCRA

1144 2305 Particular AV 06042005

C 05092005

Saco do

Vento18

Cartoacuterio de Imoacuteveis

INCRA

33060 661 PA19

estadual

AV 03102012

C 27122011

Poccedilo da Pedra

(Aacuteguas

Mortas)20

Cartoacuterio de Imoacuteveis 239778 47955 INCRA AV 02012003

Boa Vista INCRA 348 6960 Particular C 30121992

Escondido e

Vale do

Agreste

INCRA 15775 3155 Particular C 30121992

Lagoa Cercada INCRA 55180 50 Particular C13101992

73

instalaccedilatildeo e de operaccedilatildeo em um mesmo pedido conforme prevecirc a Resoluccedilatildeo CONAMA

3872006 (BRASIL 2006b)

Art 3ordm O oacutergatildeo ambiental competente concederaacute a Licenccedila Preacutevia - LP e a Licenccedila

de

Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo - LIO para os Projetos de Assentamentos de Reforma Agraacuteria

[]

sect 2o A LP constitui-se documento obrigatoacuterio e que antecede o ato de criaccedilatildeo de um

Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria tendo prazo para a sua expediccedilatildeo

apoacutes seu requerimento de ateacute noventa dias

sect 3o A LIO deveraacute ser requerida durante a validade da LP e cumpridos os requisitos

da mesma [] (BRASIL 2006 p2)

Por se tratar de um empreendimento rural e ambientalmente licenciaacutevel eacute muito

mais faacutecil e oportuno acontecer o cumprimento da reserva legal jaacute que o oacutergatildeo competente

foi provocado e por sua vez deve exigir a observacircncia daquele instituto Desta forma natildeo se

pode admitir que um licenciamento em zona rural seja concedido sem o devido respeito agrave aacuterea

de reserva legal

Especificamente os projetos de assentamento federais isto eacute os realizados pelo

INCRA devem obedecer agrave ordem que segue Ao dar iniacutecio ao processo de desapropriaccedilatildeo de

alguma terra o INCRA jaacute deve solicitar a Licenccedila Preacutevia devendo constar naquele processo o

protocolo do pedido A criaccedilatildeo do assentamento soacute eacute possiacutevel mediante uma portaria

resoluccedilatildeo ou decreto desde que jaacute possua a Licenccedila Preacutevia expedida Criado o assentamento

a Licenccedila de Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo deve ser solicitada de imediato ateacute porque se o contraacuterio

ocorrer os assentados ficam impossibilitados de receber recursos do governo como o creacutedito

de apoio inicial o creacutedito fomento o creacutedito para a construccedilatildeo de casa dentre outros

Essa sequencia e esses mandamentos estatildeo previstos no artigo 3ordm da Resoluccedilatildeo

CONAMA 3872006 (BRASIL 2006b) citada acima e no Acoacuterdatildeo nordm 2633-5107 (BRASIL

2007) do Tribunal de Contas da Uniatildeo conforme prevecirc o item 3 do sumaacuterio daquele

julgamento (3) A Licenccedila Preacutevia constitui-se em documento obrigatoacuterio e que antecede o ato

de criaccedilatildeo de um projeto de assentamento de reforma agraacuteria devendo ser expedida

anteriormente agrave obtenccedilatildeo da terra Trata-se de uma decisatildeo que teve origem em uma auditoria

realizada por este oacutergatildeo em assentamentos no Amazonas Paraacute e Acre quanto aos estudos de

viabilidade ambiental reserva legal e licenciamento ambiental em projetos criados pelo

INCRA Essa auditoria objetivou portanto avaliar o impacto nas aacutereas de reserva legal dos

projetos de assentamento bem como o cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental aplicaacutevel a esses

projetos conforme item 2 do Relatoacuterio do referido Acoacuterdatildeo Para tanto buscou-se saber se os

limites da reserva legal estavam sendo devidamente demarcados e preservados nos projetos de

74

assentamento rural e se o INCRA estava promovendo a aplicaccedilatildeo de teacutecnicas viaacuteveis para a

exploraccedilatildeo sustentaacutevel da Reserva Legal

Constatou-se pela amostragem realizada e demonstrada na Conclusatildeo e no Voto

do Acoacuterdatildeo 26332007 (BRASIL 2007) que

Conclusatildeo

[]

Item 65 o INCRA tem a necessidade premente de adotar medidas com vistas a

normalizar os procedimentos de criaccedilatildeo de projetos de assentamento desde o iniacutecio

do processo no que se refere ao cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental

Item 66 Eacute notoacuterio que a morosidade do oacutergatildeo no processo de regularizaccedilatildeo das

exigecircncias determinadas pela legislaccedilatildeo ambiental contribuiraacute para degradaccedilatildeo do

meio ambiente patrimocircnio sob proteccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal Brasileira Ao

disponibilizar terra aos assentados sem indicar a forma de uso do terreno por meio

do Plano de Uso e sem delimitar as aacutereas de preservaccedilatildeo mediante a demarcaccedilatildeo

das reservas legais o INCRA estaraacute dando tutela a esses usuaacuterios para disporem dos

lotes da forma que melhor lhes convier sem importar se essa exploraccedilatildeo implicaraacute

em degradaccedilatildeo ambiental (BRASIL 2007 p 9)

[]

Voto

[] Item 3 ndash subitem 12 A equipe de auditoria constatou nos assentamentos uma

grande degradaccedilatildeo das aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APP) e da reserva legal (RL)

Ainda verificou por meio de questionaacuterios aplicados aos trabalhadores assentados

que o INCRA natildeo promove accedilotildees efetivas relacionadas agrave orientaccedilatildeo e

conscientizaccedilatildeo ambiental dessas comunidades que natildeo sabem sequer o que

significa APP e RL

[]

Item 5 Outrossim eacute importante frisar que o INCRA eacute co-responsaacutevel pelas

irregularidades ambientais constatadas em seus projetos de assentamento []

(BRASIL 2007 p 11)

E por fim o dito Acoacuterdatildeo determina em niacutevel nacional embora a motivaccedilatildeo da

decisatildeo tenha por base a auditoria realizada somente em trecircs estados que

O INCRA se abstenha de criar projetos de assentamento sem a observacircncia ao

disposto no art 2ordm inciso III cc 3ordm sect 2ordm da Resoluccedilatildeo Conama 3872006 que

condiciona a criaccedilatildeo de projetos de assentamentos de reforma agraacuteria agrave existecircncia da

licenccedila preacutevia e ao disposto no art 2ordm inciso IV da mesma Resoluccedilatildeo que exige a

licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo como condiccedilatildeo para a implantaccedilatildeo e operaccedilatildeo

destes projetos Que em decorrecircncia do disposto no art 2ordm inciso VII da

ResoluccedilatildeoConama 3872006 atente a necessidade de que a reserva legal esteja

perfeitamente delimitada e caracterizada por ocasiatildeo do Plano de

Desenvolvimento do Assentamento e que o referido Plano seja elaborado em prazo

razoaacutevel (BRASIL 2007 p 16)

Para enriquecer a pesquisa nesse sentido procurou-se junto ao oacutergatildeo ambiental

estadual a SEMACE ndash Superintendecircncia Estadual do Meio Ambiente e ao proacuteprio INCRA as

licenccedilas emitidas e ainda em tramitaccedilatildeo referentes aos projetos de assentamento federais

Encontrou-se assim 3 processos de licenciamento na SEMACE numa busca compreendida

75

entre 01012010 a 06052013 sendo 2 de licenccedilas preacutevias e 1 de licenccedila de instalaccedilatildeo e

operaccedilatildeo No INCRA localizou-se 5 processos como se pode observar pela tabela 6 sendo 2

de licenccedilas preacutevias e 3 de licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo num periacuteodo de 09122008 a

08112010

Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais

Fonte SEMACE e INCRA

Conclui-se portanto a existecircncia de trecircs processos de LIO jaacute emitidas mas sem a

averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio de duas das trecircs propriedades conforme se pode

confirmar pela pesquisa feita no registro de imoacuteveis de Irauccediluba A exceccedilatildeo eacute a fazenda

Aacuteguas MortasPoccedilo da Pedra que possui averbaccedilatildeo da reserva legal desde 02012003

Aleacutem disto verificou-se tambeacutem todos os empreendimentos e atividades

localizadas no municiacutepio de Irauccediluba que possuem solicitaccedilatildeo ou recebimento de licenccedila

ambiental tanto em zona urbana como rural No total satildeo 15 tramitando e 40 emitidas

ressaltando que licenciamentos em zona rural o cumprimento da reserva legal deve ser

exigido

Quanto aos assentamentos agraacuterios no municiacutepio de Irauccediluba a tabela 7 aponta a

pesquisa realizada junto ao INCRA e ao IDACE onde se constatou que o primeiro oacutergatildeo

implantou 8 projetos e o segundo 6 Em todos eles existe a demarcaccedilatildeo da aacuterea de reserva

legal nas plantas georreferenciadas cedidas pelas duas instituiccedilotildees acima citadas

PROCESSO TIPO PA FONTE DO

DADO

PROTOCOLO EXPEDICcedilAtildeO VALIDADE STATUS

11386605-4 LP Arraia INCRASEMA

CE

08112010 01072011 Natildeo

informada

Emitida

11118313-8 LP Alegre e

anexos

INCRASEMA

CE

10112010 29032011 Natildeo

informada

Tramitando

09557603-7 LIO Aacuteguas

Mortas

Poccedilo da

Pedra

INCRASEMA

CE

30102009 24032010 24032013 Emitida

08653283-9 LIO Satildeo

Marinho

Rodeador

INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida

08653281-2 LIO Olho

d‟aacutegua da

esperanccedila

INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida

76

Tabela 7 - Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba

PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO - IRAUCcedilUBA

Nome do

Assentamento

Instituiccedilatildeo

Responsaacutevel

Aacuterea do

Imoacutevel (ha)

Aacuterea de Reserva

Legal (ha)

Data de criaccedilatildeo Nordm de Famiacutelias

Assentadas

Saco do Vento IDACE 33060 661 Em andamento 10

Aroeira IDACE 50508 10101 Em andamento 10

Boqueiratildeo IDACE 38474 7694 Em andamento -

Mudubim IDACE 6512 1302 Em andamento 5

Consulta IDACE 39593 7918 23072001 13

Cachoeira IDACE 14929 2985 05102006 10

Saco Verde INCRA 6464 129280 2691997 100

Cajazeiras II INCRA 96487 19297 2691997 30

Aacuteguas Mortas

Poccedilo da Pedra

INCRA 239778 47955 22121997 52

RiachueloAlto

Alegre

INCRA 3378 67560 09112005 16

Olho drsquoAacutegua da

Esperanccedila

INCRA 1940 388 06122007 23

Satildeo Marinho

Rodeador

INCRA 50757 10151 04122006 10

Arraia INCRA 156797 31359 13102011 34

Almas INCRA 1297 25940 17111998 22

Eacute importante salientar que em 2005 e em 2006 o INCRA baixou 3 normas

referentes a criteacuterios e procedimentos para a implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e

Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria A

primeira eacute a NE 432005 (BRASIL 2005a) a segunda NE 442005 (BRASIL 2005b) que

estabeleceu o valor unitaacuterio por famiacutelia para a implantaccedilatildeo destes projetos e a terceira NE

512006 (BRASIL 2006a) aprovou o manual para a elaboraccedilatildeo dos projetos de recuperaccedilatildeo

A NE 432005 (BRASIL 2005a) considera a premente necessidade de

recuperaccedilatildeo natildeo soacute de Reserva Legal mas de aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente em grande

parte dos Projetos de Assentamento em todo o territoacuterio nacional mas infelizmente soacute

abrange os que satildeo implantados pelo Governo Federal (Art 2ordm inciso I) ficando de fora os

que satildeo de competecircncia dos Estados O criteacuterio para implantaccedilatildeo desses projetos eacute a aacuterea ser

reconhecida com problemas ambientais principalmente em termos de degradaccedilatildeo (Art 2ordm

inciso II) Para ser possiacutevel financeiramente a execuccedilatildeo de um projeto deste cuja norma

regulamentadora ainda se encontra vigente o INCRA disponibiliza ateacute R$ 100000 por

famiacutelia (Art 1ordm NE 442005 (BRASIL 2005b)) no entanto caso seja tecnicamente

comprovado que a recuperaccedilatildeo de aacutereas de reserva legal preservaccedilatildeo permanente e de solo

exija um maior investimento o valor poderaacute ser superior ao estabelecido Neste caso a

importacircncia repassada seraacute definida em funccedilatildeo do custo calculado para a recuperaccedilatildeo do dano

ambiental (Art 1ordm Paraacutegrafo Uacutenico)

77

O manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e

conservaccedilatildeo de recursos naturais em assentamentos da reforma agraacuteria aprovado pela NE

512006 (BRASIL 2006a) deixa claro que seus objetivos natildeo satildeo soacute reabilitar e resguardar a

aacuterea ambiental do assentamento Haacute mais e maiores propoacutesitos nisto como por exemplo

cumprir as exigecircncias estabelecidas pelo oacutergatildeo de meio ambiente estadual durante o processo

de licenciamento21

bem como a mobilizaccedilatildeo da comunidade em torno de atividades visando agrave

recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo dos recursos naturais por meio de programas de educaccedilatildeo

ambiental fiscalizaccedilatildeo e manutenccedilatildeo envolvendo os assentados Para que isto ocorra eacute

extremamente importante a participaccedilatildeo destes na elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do projeto22

Por fim os Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais seratildeo

destinados agraves seguintes praacuteticas23

1 Cercamento de aacutereas de Reserva Legal e aacutereas de preservaccedilatildeo permanente

visando a regeneraccedilatildeo eou a proteccedilatildeo das aacutereas

2 Construccedilatildeo de viveiros para produccedilatildeo de mudas que seratildeo utilizadas no processo

de recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas

3 Demarcaccedilatildeo topograacutefica da Reserva Legal

4 []

5 Reflorestamento em aacutereas de Reserva Legal com espeacutecies nativas que

possibilitem o manejo florestal sustentaacutevel madeireiro ou natildeo madeireiro baseado

em princiacutepios e em criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos definidos e devidamente

aprovados pelo oacutergatildeo ambiental competente

6 Plantio de aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais composto por espeacutecies

exoacuteticas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas para

compensaccedilatildeo ou manutenccedilatildeo da aacuterea de reserva legal a criteacuterio do oacutergatildeo ambiental

competente

7 Atividades alternativas de produccedilatildeo (criaccedilatildeo de abelhas artesanato entre outras)

associadas agrave recuperaccedilatildeo ambiental e como instrumento de valorizaccedilatildeo das aacutereas a

serem conservadas ou recuperadas e de combate agraves praacuteticas indevidas de uso do

fogo

8 [] (BRASIL 2006ordf p 1112)

32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo

321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba

O municiacutepio de Irauccediluba possui uma aacuterea de 1461253 Km2 o que corresponde a

098 do territoacuterio estadual e estaacute situado no sertatildeo Centro-Norte conforme figura 12

inserido na microrregiatildeo geograacutefica de Sobral Dista cerca de 150 Km da capital Fortaleza e

21

p 7 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos naturais 22

p 11e 13 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos

naturais 23

p 11e 12 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos

naturais

78

localiza-se entre as coordenadas geograacuteficas Latitude 3˚44‟46rdquo S (Sul) e Longitude 39˚47‟00rdquo

WGr (oeste) Faz fronteira ao norte com os municiacutepios de Miraiacutema e Itapipoca ao sul com

Santa Quiteacuteria e Canindeacute a leste com Itapajeacute e Tejuccediluoca e a oeste com Sobral e possui trecircs

distritos Missi Juaacute e Boa Vista segundo ilustra a figura 13

Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba

Fonte Lustosa (2004) Fonte Lustosa (2004)

Segundo o censo de 2010 do IBGE a populaccedilatildeo do municiacutepio era de 22324

pessoas sendo curiosamente a maioria homens (5083) Jaacute sua densidade demograacutefica

correspondia a 1539 habKm2 A ocupaccedilatildeo municipal predomina na zona urbana

correspondendo a 6425 dos indiviacuteduos Em 2012 a populaccedilatildeo aumentou para 22742

pessoas

3211 Das propriedades estudadas

Por Irauccediluba possuir aproximadamente 713 imoacuteveis rurais tomando por base a

mediccedilatildeo feita pelo IDACE em 2012 natildeo seria possiacutevel o estudo de todas elas Partiu-se

entatildeo para uma amostragem com base nos imoacuteveis que possuiacuteam a reserva legal seja por

registro em cartoacuterio eou porque a aacuterea eacute puacuteblica e foi destinada a projetos de assentamentos

agraacuterios (PA‟s) estaduais e federais que por sua vez deveriam respeitar tal obrigatoriedade

79

Pela tabela 8 vecirc-se que dos 14 assentamentos em Irauccediluba 6 satildeo estaduais e 8

federais No entanto os criteacuterios utilizados para examinaacute-los foi o tempo de criaccedilatildeo de cada

um e a existecircncia de reserva legal delimitada na planta da propriedade Aleacutem disto foi

escolhido um imoacutevel particular por apresentar a averbaccedilatildeo da reserva legal como demonstra a

tabela 9

Tabela 8 - Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de anaacutelise

PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO

Nome do

Assentamento

Instituiccedilatildeo

Responsaacutevel Data de Criaccedilatildeo Status para anaacutelise

Saco do Vento IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Aroeira IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Boqueiratildeo IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Mudubim IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Consulta IDACE 23072001 Planta natildeo disponibilizada

Cachoeira IDACE 05102006 Planta natildeo disponibilizada

Saco Verde INCRA 2691997 Incluiacutedo

Cajazeiras II INCRA 2691997 Incluiacutedo

Aacuteguas Mortas

Poccedilo da Pedra INCRA 22121997 Incluiacutedo

RiachueloAlto

Alegre INCRA 09112005 Incluiacutedo

Almas INCRA 17111998 Incluiacutedo

Olho d‟Aacutegua da

Esperanccedila INCRA 06122007

Muito recente ndash Fora de abrangecircncia

das imagens de sateacutelite

Satildeo Marinho

Rodeador INCRA 04122006

Reserva legal natildeo delimitada na planta

do imoacutevel

Arraia INCRA 13102011 Muito recente ndash Fora de abrangecircncia

das imagens de sateacutelite

Tabela 9 - Dados da propriedade particular estudada PROPRIEDADE PARTICULAR ANALISADA

Nome Proprietaacuterio Data da averbaccedilatildeo

da RL Status para anaacutelise

Miramar MIRASA ndash Miramar

Agropecuaacuteria SA 06042005 Incluiacutedo

Diante dos paracircmetros de seleccedilatildeo apontados acima restaram 5 assentamentos e 1

aacuterea particular totalizando 6 aacutereas para estudo Assim sendo as propriedades analisadas

foram RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas Almas Saco Verde Cazajeiras II e Miramar

sendo esta a de domiacutenio privado Com exceccedilatildeo desta uacuteltima as demais satildeo assentamentos

agraacuterios federais ficando de fora os estaduais por serem em sua maioria recentes isto eacute a

partir de 2010 e por isso natildeo abrangidos pelas imagens de sateacutelite utilizadas (anos 1993 e

2007) As duas estaduais mais antigas Consulta e Cachoeira natildeo tiveram suas plantas

80

disponibilizadas pelo oacutergatildeo competente e as federais que ficaram excluiacutedas tambeacutem eram

muito recentes aleacutem do que natildeo possuiacuteam reserva legal delimitada

A figura 14 a seguir mostra a localizaccedilatildeo das propriedades estudadas e suas

respectivas reservas legais delimitadas que podem ser lidas pela legenda de cores ao lado

Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo

A tabela 10 traz as aacutereas de cada imoacutevel e sua reserva legal onde eacute possiacutevel

constatar um nuacutemero pequeno de propriedades que apresentam o tal instituto criado e exigido

por lei Aleacutem disso a soma de suas aacutereas tambeacutem eacute pouco expressiva ao comparar com a do

municiacutepio No total satildeo 1628865 hectares sendo 328832 hectares pertinentes agrave reserva

legal

Tabela 10 - Propriedades estudadas

PROPRIEDADES ESTUDADAS

IMOacuteVEL DOMIacuteNIO AacuteREA DO IMOVEL (HA) AacuteREA DA RESERVA LEGAL (HA)

Saco Verde INCRA 6464 129280

Cajazeiras II INCRA 96487 19297

Aacuteguas Mortas Poccedilo da Pedra INCRA 239778 47955

Riachuelo Alto Alegre INCRA 3378 67560

Olho drsquoAacutegua da Esperanccedila INCRA 1940 388

81

Miramar PARTICULAR 1144 25940

3212 Aspectos histoacutericos da ocupaccedilatildeo do municiacutepio

Haacute quem diga que Irauccediluba significa tanto amizade como grande abelha amarela

A primeira acepccedilatildeo se deve ao povo hospitaleiro de bons sentimentos e amigos da paz Jaacute a

segunda faz referecircncia a um vocaacutebulo indiacutegena cuja expressatildeo representa a junccedilatildeo de trecircs

palavras ira que quer dizer mel ou abelha ussu grande e yuba amarelo (FOLHES e

VIANA 2001)

Segundo o IBGE o surgimento de Irauccediluba se deve a um povoado denominado

Cacimba do Meio que despontou no iniacutecio do seacuteculo XIX O nome do municiacutepio como

atualmente eacute conhecido soacute foi alterado em 1899 pelo desembargador Aacutelvaro de Alencar

Irauccediluba foi distrito de Itapajeacute de 1905 ateacute 1957 quando foi elevada agrave condiccedilatildeo de municiacutepio

Quanto a sua ocupaccedilatildeo Arauacutejo Filho e Silva (2013) remontam a memoacuteria dos

mais antigos que registra o fenocircmeno da transumacircncia na regiatildeo jaacute no seacuteculo XIX Aleacutem

disto os autores ainda mencionam que

O primeiro relato da presenccedila do homem branco na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba

refere-se agrave passagem no ano de 1606-1607 dos jesuiacutetas Francisco Pinto e Luiacutes

Figueira Na eacutepoca a regiatildeo era habitada por iacutendios das etnias Tupi e Tapuia

citando-se os Anaceacute Apuiareacute e Kariri (GIRAtildeO1967) Consta entatildeo que os

indiacutegenas viviam da caccedila e que na eacutepoca seca ateavam fogo na erva para afugentar

as cobras e facilitar a caccedila (ARAUacuteJO e SILVA 2013 p 4)

E soacute para constar o potencial do municiacutepio acerca da boa qualidade das pastagens

de forma a compensar a praacutetica da transumacircncia em tempos antigos vale referenciar um

texto de Dias (1998) que Folhes e Viana (2001) fazem menccedilatildeo

ldquo() no espaccedilo onde Irauccediluba estaacute inserida atualmente visto como um ambiente

inoacutespito em processo de desertificaccedilatildeo no seacuteculo XVII ao se transitar pela flora

primitiva na eacutepoca das chuvas era difiacutecil saber se era noite ou dia face ao

adensamento da vegetaccedilatildeordquo Esse adensamento foi registrado pelos jesuiacutetas

Francisco Pinto e Luiacutes Figueira em 1607 quando partiram de Pernambuco numa

missatildeo de catequese em direccedilatildeo ao Maranhatildeo (DIAS 1998 p 62 apud FOLHES e

VIANA 2001 p 9)

322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas

Arauacutejo Filho e Silva (2013) fazem um apanhado sucinto e ao mesmo tempo geral

de duas atividades econocircmicas desenvolvidas no municiacutepio de Irauccediluba

82

Historicamente a Regiatildeo tem na pecuaacuteria a mais importante atividade dentro de um

sistema de transumacircncia servindo de estaccedilatildeo na eacutepoca das chuvas para os rebanhos

criados na regiatildeo litoracircnea Isto porque apresenta extensas aacutereas recobertas por

planossolos sob uma caatinga do tipo savana com cobertura herbaacutecea de excelente

potencial forrageiro Considerando a ocupaccedilatildeo da aacuterea municipal 124 satildeo usados

para a produccedilatildeo agriacutecola a pecuaacuteria ocupa 671 e os restantes 205 satildeo

recobertos de matas Confrontando os dados da distribuiccedilatildeo dos solos e de sua

ocupaccedilatildeo vecirc-se que a pecuaacuteria eacute praticada em toda a extensatildeo dos planossolos e dos

luvissolos a agricultura ocupa pequena parcela do luvissolo e dos solos litoacutelicos e a

extraccedilatildeo de madeira parte dos litoacutelicos e dos luvissolos (IBGE 2010) (ARAUacuteJO

FILHO e SILVA 2013 p 1)

Para os autores a pecuaacuteria em sistemas de produccedilatildeo de regiotildees semiaacuteridas

constitui uma atividade tampatildeo dos efeitos da seca facilita a dispersatildeo dos riscos de perdas

tem boa liquidez econocircmica e eacute um fator muito importante de fixaccedilatildeo do homem agrave terra

Em se tratando de nuacutemeros o PAE (CEARAacute 2010b) apresentou em seus

levantamentos percentuais a situaccedilatildeo de alguns aspectos socioeconocircmicos que ora se julga

interessantes expor neste trabalho Por exemplo o analfabetismo estaacute decrescendo eacute o que a

taxa de escolaridade no ensino fundamental de 932 em 2007 demonstra mas altas taxas

de repetecircncia evasatildeo escolar qualificaccedilatildeo dos professores baixo aproveitamento dos alunos

e divergecircncia entre a faixa etaacuteria e a seacuterie cursada tambeacutem satildeo problemas que afetam a

educaccedilatildeo no municiacutepio Folhes e Viana (2001) Quanto ao saneamento baacutesico natildeo existia rede

de esgotamento no municiacutepio nem aacutegua tratada para a maioria da populaccedilatildeo conforme

pesquisa realizada em 2007 contudo em 2010 a CAGECE24

informou que havia 6173

ligaccedilotildees entre reais e ativas para o abastecimento de aacutegua enquanto que a cobertura de

esgoto continuava sem nenhuma ligaccedilatildeo mas curiosamente apresentava uma taxa de

cobertura de 1937

O PAE (CEARAacute 2010) diz que em Irauccediluba o salaacuterio meacutedio mensal da

populaccedilatildeo correspondia a um salaacuterio miacutenimo e meio mas o IBGE (2010) traz outro nuacutemero

Em 2010 quando o salaacuterio miacutenimo era de R$ 51000 a renda domiciliar per capita entre frac14 a

mais de 3 correspondia a 5158 trabalhadores sendo que a maioria deles recebia por mecircs R$

12750 ou menos Agregada a essa realidade econocircmica existe a populaccedilatildeo extremamente

pobre com renda domiciliar per capita de ateacute R$ 7000 Nesse patamar concentram-se 8008

pessoas

Eacute nesse contexto que estatildeo cerca de 13500 pessoas classificadas como

economicamente ativas no municiacutepio Infelizmente o nuacutemero de irauccedilubenses inseridos na

condiccedilatildeo de pobreza eacute bem expressivo correspondendo a 3587 da populaccedilatildeo em 2010

24

In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p14)

83

Eacute faacutecil perceber que se trata de uma cidade pouco desenvolvida pobre sem muita

educaccedilatildeo e condiccedilotildees baacutesicas de sauacutede Isso reflete tanto na economia como na qualidade de

vida sem falar no cenaacuterio ambiental pois a situaccedilatildeo como estaacute posta favorece muito mais a

degradaccedilatildeo dos recursos naturais

Falando em questotildees ambientais dentro do contexto da dinacircmica populacional de

Irauccediluba eacute interessante citar a retraccedilatildeo no nuacutemero de indiviacuteduos residentes na aacuterea rural

desde a deacutecada de 70 e consequentemente aumento na urbana Considerando que os riscos de

desertificaccedilatildeo satildeo mais acentuados nas regiotildees densamente povoadas porque haacute maior

pressatildeo sobre os bens naturais e que a densidade demograacutefica do municiacutepio em 2010 estava

em 1539 habkm Folhes e Viana (2001) pontuam

A densidade demograacutefica de Irauccediluba representa pouco mais da metade do que

Ferreira et al (1994) estabeleceram como ldquofator de pressatildeordquo no estudo que se

tornou conhecido por ser o primeiro a confeccionar o mapa de susceptibilidade agrave

desertificaccedilatildeo do Nordeste brasileiro dada(s) as condiccedilotildees de semi-aridez as

condiccedilotildees dos solos a disponibilidade de aacutegua da regiatildeo e a capacidade de suporte

da mesma adotou-se como fator de pressatildeo sobre o meio ambiente a densidade

igual ou superior a 20habkm2 (p19-20)rdquo Veem-se a dificuldade e imprecisatildeo dos

estudos quanto agrave determinaccedilatildeo de algum ponto criacutetico onde a relaccedilatildeo densidade

demograacutefica versus processos de desertificaccedilatildeo passa de causa para efeito

(FOLHES e VIANA 2001 p 13)

Os autores ainda reforccedilam que o municiacutepio se enquadra no grupo com fraca

densidade demograacutefica que eacute de 10 a 20habkm2 de acordo com a classificaccedilatildeo estabelecida

pelo diagnoacutestico agro-soacutecio-econocircmico

Segundo Folhes e Viana (2001) um dos iacutendices mais sensiacuteveis para se medir o

niacutevel de desenvolvimento de um municiacutepio eacute a taxa de mortalidade infantil pois ela revela a

estreita ligaccedilatildeo entre o estado de sauacutede da populaccedilatildeo o acesso aos serviccedilos meacutedicos

condicionados pela situaccedilatildeo soacutecioeconocircmica da populaccedilatildeo Em Irauccediluba essa taxa eacute de 1592

mortos a cada 1000 nascidos vivos maior ainda que a do estado 133225

A economia de Irauccediluba gira em torno de atividades como agricultura e pecuaacuteria

Aquela engloba culturas praticadas em lavouras permanentes e temporaacuterias e esta envolve a

criaccedilatildeo de gado de vaacuterias espeacutecies e aves como galos e galinhas Em termos comparativos

traccedilou-se um paralelo do sistema produtivo econocircmico nos anos de 2001 e 2011 para que se

pudesse avaliar alguma retraccedilatildeo ou evoluccedilatildeo no quadro agropecuaacuterio e industrial do

municiacutepio

A figura 15 abaixo eacute autoexplicativa de modo que prontamente se percebe a

banana e a manga como as culturas mais significativas ficando logo atraacutes o cocircco da baiacutea

25

SESA (2011) In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p 9)

84

Nota-se tambeacutem natildeo haver muita diferenccedila de produccedilatildeo dos trecircs cultivos agriacutecolas nesses

dois anos o que leva a concluir que os produtores do municiacutepio mantiveram os investimentos

e colheitas semelhantes O mesmo natildeo ocorreu com o algodatildeo arboacutereo pois seu resultado caiu

drasticamente no periacuteodo analisado Ressalte-se poreacutem que o ano de 2001 foi mais produtivo

que o de 2011 com exceccedilatildeo da castanha de caju

Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Permanentes

Fonte IBGE (2001 e 2011)

Com relaccedilatildeo agraves lavouras temporaacuterias o destaque eacute da mandioca e da mamona

muito embora esta uacuteltima soacute apresente resultados no ano de 2011 Outras culturas temporaacuterias

satildeo o milho e o feijatildeo mas natildeo constam na figura 16 porque a disparidade entre os dois anos

e a alta produtividade em 2011 dificultariam a visualizaccedilatildeo

Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Temporaacuterias

Fonte IBGE (2001 e 2011)

85

De qualquer maneira a safra de milho e feijatildeo em 2001 natildeo foi tatildeo expressiva

ou seja correspondeu a 14 e 7 toneladas respectivamente Jaacute em 2011 esse nuacutemero foi agraves

alturas chegando agraves 4433 toneladas de milho e 2088 toneladas de feijatildeo

Jaacute os produtos de origem florestal comuns em Irauccediluba satildeo a cera o poacute e a fibra

da carnauacuteba o carvatildeo vegetal a lenha e a madeira em tora poreacutem os mais relevantes satildeo o

carvatildeo vegetal e a lenha conforme se vecirc nas figuras 17 e 18

Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em tonano

Fonte IBGE (2001 e 2011)

Como a lenha e a madeira em tora tecircm unidade de medida diferente dos demais

produtos construiu-se a figura 18 para natildeo deixaacute-las de fora da anaacutelise

0100020003000400050006000700080009000

1000011000

Lenha Madeira em tora

Produtos de origem vegetal (m3ano)

2001

2011

Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em m3ano

Fonte IBGE (2001 e 2011)

86

Quanto aos produtos de origem animal o leite foi o mais vultoso sobressaindo-se

nos anos de 2001 e 2011 Na tabela 11 abaixo tambeacutem foram relacionados os outros mas

com participaccedilatildeo bem pequena na produtividade do municiacutepio

Tabela 11 - Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem animal Produtos de origem animal

Leite Mel de abelha Ovos de galinha Ovos de codorna

Produccedilatildeo (mil l) Produccedilatildeo (kg) Produccedilatildeo (mil dz) Produccedilatildeo (mil dz)

2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011

5228 6031 0 507 80 143 0 1

Fonte IBGE (2001 e 2011)

Em termos industriais julgou-se interessante fazer uma comparaccedilatildeo um tanto

mais abrangente citando tambeacutem os nuacutemeros do ano de 2010 Observa-se que os grupos de

induacutestrias existentes em Irauccediluba reuacutenem as de extraccedilatildeo mineral construccedilatildeo civil e

principalmente as de transformaccedilatildeo conforme figura 19

Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011)

Fonte IBGE (2001 2010 e 2011)

Eacute possiacutevel observar pela figura acima que as empresas de extraccedilatildeo mineral e de

construccedilatildeo civil pouco se desenvolveram durante o periacuteodo analisado o mesmo natildeo ocorreu

com as induacutestrias de transformaccedilatildeo que inclusive chamam bastante atenccedilatildeo Estas se

desdobram em vaacuterias espeacutecies como por exemplo produccedilatildeo de minerais natildeo metaacutelicos

metaluacutergica mecacircnica produccedilatildeo de material eleacutetrico eletrocircnico e comunicaccedilatildeo produccedilatildeo de

material para transporte madeireira mobiliaacuteria produccedilatildeo de papel papelatildeo e borracha

beneficiamento de couros peles e similares quiacutemica produccedilatildeo de produtos farmacecircuticos e

veterinaacuterios de material plaacutestico tecircxtil vestuaacuterio calccedilados artefatos de tecido couros e

peles produtos alimentares bebidas fumo dentre outras

87

De 2001 para 2010 a quantidade de induacutestrias de transformaccedilatildeo pouco aumentou

passando de 13 para 17 mas de 2010 a 2011 esse rol duplicou indo de 17 para 34 empresas

como se pode observar pelas figuras 20 21 e 22

Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001

Fonte IBGE (2001)

Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010

Fonte IBGE (2010)

TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 13

TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 17

88

Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011

Fonte IBGE (2011)

A induacutestria tecircxtil oscilou em nuacutemeros visto que em 2001 contava com 5

empresas em 2010 com 4 expandido para 9 de forma que essa quantidade representou 26

do total de induacutestrias em Irauccediluba no ano de 2011 Outra atividade expressiva no municiacutepio eacute

a de produtos alimentares Muito embora natildeo exista em 2010 nos anos de 2001 e 2011 ela

totalizava 5 e 9 unidades respectivamente representando 23 e 26 cada uma no universo de

empresas Em terceiro plano encontra-se a produccedilatildeo de minerais natildeo-metaacutelicos que em 2001

contou com 1 induacutestria em 2010 com 2 e em 2011 com 3 Aleacutem disto apareceram a partir de

2010 atividades como mobiliaacuterio couros e peles vestuaacuterio e uma categoria natildeo definida pelo

IBGE classificada como diversas Em contrapartida desapareceram da contagem as

induacutestrias madeireira e metaluacutergica

Na pecuaacuteria existe a criaccedilatildeo de gado e aves O realce no primeiro grupo eacute dado

pelos bovinos seguido pelos ovinos e caprinos tanto no ano de 2010 como 2011 sendo neste

os nuacutemeros maiores Quanto agraves aves a ocorrecircncia eacute de galos frangos frangas e pintos aleacutem

de galinhas Entre estes dois grupos o primeiro eacute mais representativo como bem se examina

pela figura 23

TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 34

89

Figura 23 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos

Fonte IBGE (2011 e 2011)

Sem esquecer outros rebanhos mesmo que de menor grandeza existem no

municiacutepio bubalinos muares coelhos e codornas segundo os nuacutemeros apresentados na

tabela 12

Tabela 12 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores Rebanhos Bubalinos Muares Coelhos Codornas

Ano 2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011

Nordm de indiviacuteduos 98 48 380 436 22 67 89 193

Fonte IBGE (2011 e 2011)

Por fim conclui-se que em Irauccediluba eacute praticado aleacutem das atividades industriais o

tripeacute econocircmico baseado na produccedilatildeo agriacutecola pecuaacuteria e madeireira esta a partir da

exploraccedilatildeo de lenha e carvatildeo vegetal Desta maneira seria mais interessante para o municiacutepio

considerando suas caracteriacutesticas ambientais o uso de sistemas de produccedilatildeo

agrossilvopastoris Nesse sentido Arauacutejo Filho e Silva (2013) ilustram

Os sistemas de produccedilatildeo agrossilvipastoris satildeo formas de uso e manejo da terra nas

quais aacutervores e arbustos satildeo utilizados em associaccedilatildeo com cultivos agriacutecolas e

animais numa mesma aacuterea de maneira simultacircnea ou numa sequecircncia temporal

Cada componente do sistema de produccedilatildeo deve ter pelo menos uma funccedilatildeo proacutepria e

sua integraccedilatildeo garante sua funcionalidade Assim as aacutervores devem ser em nuacutemero

suficiente para um aporte significativo de serrapilheira fonte de mateacuteria orgacircnica

para o solo Os animais satildeo os redistribuidores de nutrientes entre os componentes

do sistema via urina e esterco E as culturas garantem a produccedilatildeo de alimentos para

a famiacutelia e seus animais e contribuem para a circulaccedilatildeo de nutrientes dentro do

sistema Os SAF‟s podem tambeacutem ser usados para a reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e

econocircmica de aacutereas degradadas sobre luvissolos e argissolos (ARAUacuteJO FILHO e

SILVA 2013 p 1819)

90

323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba

A caracterizaccedilatildeo ambiental realizada no municiacutepio das aacutereas de estudo engloba a

altimetria as classes de relevo demonstrando a declividade do terreno que varia de plano a

forte ondulado os tipos de solos e suas associaccedilotildees de classes entre si o clima envolvendo

dados sobre a pluviometria anual o iacutendice de umidade o nuacutemero de meses sem chuva a

temperatura e a evapotranspiraccedilatildeo total anual do municiacutepio Comenta-se ainda a vegetaccedilatildeo e

suas formas aleacutem dos rios e accediludes existentes em Irauccediluba reunindo seus recursos hiacutedricos

3231 Altimetria e Classe de relevo

A altimetria do municiacutepio estaacute exibida na figura 24 conforme seus niacuteveis de

altitude que variam de 80 a 840 metros acima do mar

Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba

91

Jaacute o relevo oscila de plano a forte ondulado conforme figura 25 Arauacutejo Filho e Silva

(2013 p 1) definem que ldquonos planossolos o relevo varia de plano a suave-ondulado (de 1 a 8)

nos argisssolos e nos luvissolos apresentam-se em relevo de suave-ondulado a ondulado (de 8 a

20) e os litoacutelicos estatildeo em relevo forte-ondulado (de 20 a 45)rdquo

Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba

3232 Solos

A regiatildeo semiaacuterida nordestina ldquo[] recebe anualmente calor e luz em excesso o

que resulta em raacutepida mineraccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica Seus solos satildeo geralmente pouco

profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica mas relativamente ricos

em bases trocaacuteveisrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 7)

O PAN (BRASIL 2004) assegura que as classes de associaccedilatildeo de solos presentes

no semiaacuterido do Nordeste satildeo o bruno natildeo caacutelcico litoacutelicos podzoacutelico eutroacutefico terra roxa

estruturada cambissolo ondulado e forte ondulado e planossolos Apresentam tambeacutem tipos

de relevo e susceptibilidade agrave erosatildeo diferenciados como mostra a tabela 13

92

Tabela 13 - Relaccedilatildeo de solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo

CLASSES DE SOLO RELEVO SUSCEPTIBILIDA Agrave

EROSAtildeO

Bruno natildeo caacutelcico (Luvissolos) Suave ondulado e ondulado Forte

Litoacutelicos Ondulado forte ondulado e

montanhoso Muito forte

Podzoacutelico eutroacutefico terra roxa

estruturada cambissolo ondulado e

forte ondulado

Ondulado e forte ondulado Moderado

Planossolos Plano e suave ondulado Moderado

Fonte PAN Brasil (2004)

ldquoTrecircs classes de solos se destacam no municiacutepio de Irauccediluba luvissolos com

432 de cobertura planossolos com 187 e litoacutelicos com 332 Juntos eles perfazem

951 da aacuterea do municiacutepiordquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2)

Os luvissolos constituem os solos mais utilizados pela agricultura migratoacuteria do

semiaacuterido nordestino Por causa do desmatamento e uso do fogo haacute indicaccedilotildees de que pelo

menos 65 da aacuterea de cobertura deste importante solo se encontrem em erosatildeo de grave a

muito grave Em Irauccediluba natildeo eacute diferente pois a agricultura eacute praticada nas aacutereas recobertas

por luvissolos e solos litoacutelicos enquanto a pecuaacuteria eacute desenvolvida tanto no planossolo com

presenccedila tambeacutem nas aacutereas de luvissolo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013)

Em se tratando de associaccedilatildeo de solos a tabela 14 indica a nomenclatura utilizada

por Jacomine (1973) e pela EMBRAPA (2006) para definir os tipos de associaccedilatildeo

encontrados em Irauccediluba apontando ainda a porcentagem de cada um dentro da respectiva

associaccedilatildeo E a figura 26 apresenta a distribuiccedilatildeo dessas associaccedilotildees no municiacutepio de forma

que eacute possiacutevel notar o predomiacutenio da associaccedilatildeo NC15 seguida da Re25 e Re26

Tabela 14 - Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEMBRAPA

ASSOCIACcedilAtildeO

DE SOLO EM

JACOMINE

(1973)

NOMENCLATURA DOS SOLOS NAS ASSOCIACcedilOtildeES DO SOLO

NA

ASSOCIACcedilAtildeO JACOMINE (1973) EMBRAPA (2006)

PE6

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO moderado

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 40

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO chemozecircnico

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 30

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 15

AFLORAMENTOS DE ROCHA - 15

PE42

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 70

REGOSOL EUTROacuteFICO NEOSSOLOS

REGOLIacuteTICOS 30

NC7 BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO LUVISSOLO 40

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 35

93

BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO veacutertico LUVISSOLO 25

NC15

BRUNOS NAtildeO CAacuteLCICOS

INDISCRIMINADOS LUVISSOLO 40

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 25

PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 20

SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 15

PL6

PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 45

SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 35

SOLOS OTOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 20

Re6

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 65

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 35

Re25 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel

estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -

Re26 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel

estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -

Fonte Jacomine et al (1973) e EMBRAPA (2006)

Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba

94

Por fim a figura 27 apresenta os quatro grandes grupos de solo encontrados em

Irauccediluba e sua distribuiccedilatildeo no municiacutepio sendo eles Podzoacutelico vermelho amarelo

equivalente eutroacutefico (PE) Bruno natildeo caacutelcico (NC) Planossolo (PL) e Solos litoacutelicos (Re)

Figura 27 Grupos de solos que formam associaccedilotildees pedoloacutegicas em Irauccediluba

3233 Clima

ldquoO clima na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba eacute conforme classificaccedilatildeo de Koumlppen

(MILLER 1971) do tipo Bshw semiaacuterido megateacutermico com curta estaccedilatildeo chuvosa no

veratildeo-outono e com concentraccedilatildeo das precipitaccedilotildees pluviais nos meses de marccedilo e abrilrdquo

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2) Anualmente o municiacutepio apresenta pluviometria

meacutedia abaixo dos 700 mm mas existe maior incidecircncia de chuva em outras regiotildees de

Irauccediluba Eacute o que demonstra a figura 28

Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba

Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba

95

Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba

ldquoA regiatildeo apresenta um dos mais baixos iacutendices pluviomeacutetricos do Estado do Cearaacute

com meacutedia histoacuterica de 540 mm Isto porque a aacuterea encontra-se a sotavento da serra

de Uruburetama constituindo-se em uma ldquosombra de chuvardquo causada pela

interceptaccedilatildeo pela serra dos ventos uacutemidos oriundos do oceanordquo (ARAUacuteJO FILHO

e SILVA 2013 p 2)

O municiacutepio passa a maior parte do ano sem chuva aproximadamente dez meses

e apesar da pouca pluviosidade a evapotranspiraccedilatildeo eacute maior que a precipitaccedilatildeo Sem poder

ser diferente as temperaturas variam de 25 a 28 graus sendo que na maior parte da aacuterea

incidem temperaturas de 26 a 27 graus centiacutegrados e a umidade aponta a incidecircncia do clima

semiaacuterido em Irauccediluba As figuras 06 29 30 31 e 32 ilustram as informaccedilotildees declaradas

96

Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba

Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual

97

Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba

Figura 32 Iacutendice Efetivo de umidade em Irauccediluba

Fonte NOLEcircTO (2005)

98

3234 Vegetaccedilatildeo

A caatinga eacute um dos maiores biomas brasileiros e significa mata branca Por ser

uma vegetaccedilatildeo xeroacutefila eacute capaz de suportar vaacuterios anos de estiagem recuperando com

rapidez suas atividades logo nas primeiras chuvas apoacutes a seca A adaptaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo ao

clima semiaacuterido eacute impressionante como por exemplo as cascas claras ou reluzentes servem

para diminuir o aquecimento do tecido vivo da planta Por causa da falta de aacutegua satildeo

caducifoacutelias isto eacute as folhas caem durante a estaccedilatildeo seca para evitar excesso de perda d‟aacutegua

pela evapotranspiraccedilatildeo aleacutem disto os caules satildeo projetados para armazenar aacutegua (MAIA

2012)

ldquoA caatinga se assemelha a arbustos tropicais ou bosques de espinhos Eles

contecircm pequenas aacutervores de madeira dura grotescamente retorcidas e com espinhos as folhas

satildeo pequenas e caem durante a estaccedilatildeo secardquo Odum e Barret (2008 p 453)

Fisionomicamente eacute possiacutevel diferenciar os tipos de vegetaccedilatildeo o arboacutereo que estaacute nas

superfiacutecies mais conservadas sendo o pau branco o angico o pereiro dentre outras suas

espeacutecies mais representativas o arbustivo que eacute sinal de aacutereas jaacute degradadas pelo

desmatamento uso agriacutecola e pecuaacuteria e o herbaacuteceo figurado por gramiacuteneas presentes

somente durante o periacuteodo chuvoso e explorado pela pecuaacuteria extensiva (DANTAS et al

2007)

ldquoO Bioma Caatinga estaacute inserido no quadro dos Ecossistemas da Regiatildeo das

Caatingas e Florestas Deciduais do Nordeste Abrange as especificidades do Domiacutenio

Morfoclimaacutetico das Caatingas sejam elas arbustivas ou arboacutereasrdquo (BRASIL 2004 p 68) Os

frutos amadurecem ao fim da eacutepoca das chuvas quase que generalizadamente na maioria das

espeacutecies arboacutereas e herbaacuteceas permanecendo pendentes dos ramos durante algum tempo Ao

se desprenderem e caiacuterem no solo natildeo germinam de imediato pois a resistecircncia da casca e

outros artifiacutecios da natureza impedem a germinaccedilatildeo pronta Se germinassem morreriam quase

em seguida natildeo resistindo agrave longa estaccedilatildeo seca e quente da estiagem com interrupccedilatildeo brusca

e total das chuvas A germinaccedilatildeo poreacutem processa-se rapidamente logo ao caiacuterem as

primeiras chuvas pois os indumentos foram intensamente desgastados pelo intemperismordquo

As queimadas realizadas para a preparaccedilatildeo de novos terrenos de cultivo desempenham papel

de grande poder destruidor do ambiente ldquoCompreende-se pois que a restauraccedilatildeo da

cobertura vegetal depende da preservaccedilatildeo desses estoques de sementesrdquo26

26

Conferir SOBRINHO Vasconcelos (1983) In PAN Brasil 2004

99

ldquoA vegetaccedilatildeo da aacuterea do nuacutecleo de desertificaccedilatildeo de Irauccediluba espelha os efeitos dos

fatores fiacutesicos mormente os de natureza hiacutedrica e edaacutefica e da accedilatildeo antroacutepica

Assim as aacutereas dos solos argissolos litoacutelicos e luvissolos apresentam uma cobertura

arbustiva-arboacuterea formando um verdadeiro mosaico de diferentes estaacutedios

sucessionais em virtude das praacuteticas agriacutecola ambientalmente agressivasrdquo [] ldquoAs

aacutereas sobre os planossolos estatildeo recobertas por uma caatinga assavanada e

esporadicamente com afloramentos rochosos e com cobertura arbustiva arboacuterea

meacutedia abaixo de 20 e densidade de cerca 200plantasha A camada herbaacutecea de

biodiversidade inferior ao das aacutereas de luvissolos ou argissolos eacute rica no entanto

em espeacutecies forrageiras destacando-se a erva de ovelha (Stylosanthes humilis)

vassourinha (Stylosanthes angustifolia) urinana (Zornia bracteata) e capim accedilu

(Paspalum milegrana) O capim panasco no entanto predomina nas aacutereas

sobrepastejadasrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 34)

A figura 33 espelha a composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba Segue claro que a Caatinga

Arboacuterea Sem Palmeira (Cas) predomina seguida da Caatinga Arboacuterea Com Palmeira (Cap) e

da Caatinga Parque Sem Palmeira (Cps) A Floresta Ombroacutefila Aberta (Acc1) e as Aacutereas De

Formaccedilatildeo Pioneira (Acc2) representam uma aacuterea menor do municiacutepio

Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba

3235 Recursos Hiacutedricos

O nuacutecleo de Irauccediluba estaacute situado na bacia hidrograacutefica do rio Curu contando com

o aporte dos rios Aracatiaccedilu e Caxitoreacute aleacutem de vaacuterios riachos destacando-se o Aroeira o

Fonte NOLEcircTO (2005)

Fonte NOLEcircTO (2005)

100

Gabriel e o Cachoeira A ausecircncia de barragens de porte representativo faz com que a

pequena accediludagem assuma um papel relevante Destacam-se dentre essas os Accediludes Satildeo

Gabriel do Mocoacute (IRAUCcedilUBA 2009)

Por conta da irregularidade das chuvas que contribui para favorecer o escoamento

de superfiacutecie junto agraves condiccedilotildees geoloacutegicas predominantemente cristalinas favorecem o

escoamento raacutepido das aacuteguas pluviais inviabilizando o acuacutemulo de aacuteguas subterracircneas em

quantidades razoaacuteveis (IRAUCcedilUBA 2009) existem no municiacutepio cerca de 28 pequenos

accediludes nomeando-se o Nogueira Ramos o Cairu Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu e o Jerimum

que abastece a cidade de Irauccediluba ldquoUma estrutura muito comum no municiacutepio eacute o barreiro da

salvaccedilatildeo constituindo-se em um sistema temporaacuterio de armazenamento de aacutegua para atender

agrave demanda dos rebanhos durante boa parte da estaccedilatildeo secardquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA

2013 p 3)

324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo

A partir da abordagem feita no item 323 passa-se a analisar a realidade de cada

propriedade estudada Visando apontar os aspectos geoambientais dos imoacuteveis construiu-se

um quadro siacutentese conforme tabela 15 abaixo

Tabela 15 ndash Anaacutelise Geral das propriedades estudadas

Anaacutelise

Imoacuteveis com Reserva Legal

Riachuelo

Alto Alegre

Aacuteguas

Mortas

Almas

Cajazeiras

II

Saco

Verde

Miramar

Classe

no

Tipo

Niacuteveis da Classe

no Tipo

Aacuterea (km2)

336 238 127 124 671 86

no Niacutevel da Classe no Tipo

Precipitaccedilatildeo

Total

Meacutedia Anual

lt 600 - - - - 103 -

600 a 700 100 100 100 755 100

700 a 800 - - - 976 112 -

800 a 900 - - - 24 - -

Temperatura

Meacutedia Anual

(oC)

25-26 - - - - 71 -

26-27 100 100 100 100 929 100

27-28 - - - - - -

ETP

lt 1450 - - - - 100 100

1450-1500 - - - - - -

1500-1550 - - - - - -

1550-1600 100 100 100 - - -

1600-1650 - - - 141 - -

1650-1700 - - - 859 - -

101

Nugravemero

de

Meses secos

85 a 95 100 100 564 100 330 -

95 a 105 - - 454 - 670 100

gt105 - - - - - -

Im

gt - 333 - - - - - -

- 344 a - 499 100 100 100 100 388 15

lt - 499 - - - - 612 985

Igravendice de Aridez

do UNEP 020 a 050 100 100 100 100 780 100

050 a 065 - - - - 220 -

Classes

de

Relevo

Plano 23 46 56 112 55 135

Suave Ondulado 162 316 378 373 227 485

Ondulado 194 338 427 64 124 130

Muito Ondulado 127 111 72 38 72 70

Forte Ondulado 463 185 66 264 400 179

Montanhoso 31 04 - 105 120 03

Escarpado - - - 44 02 -

Classes

de

Altitude

80-120 - - -- 560 - -

120-160 - - - 113 - -

160-200 - - - 60 321 -

200-240 54 171 723

240-280 01 41 460 40 85 202

280-320 139 614 521 36 68 49

320-360 349 211 10 41 56 24

360-400 178 65 01 38 70 02

400-440 90 24 - 28 53 -

440-480 63 21 - 19 55 -

480-520 45 16 - 10 45 -

520-560 33 05 - 02 32 -

560-600 29 02 - - 15 -

600-640 25 01 - - 10 -

640-680 17 - - - 08 -

680-720 13 - - - 07 -

720-760 07 - - - 03 -

760-800 05 - - - 02

800-840 03 - - - - -

840-880 02 - - - - -

880-920 01 - - - - -

Associaccedilotildees

de

Solos

PE 6 - - - - 207 -

PE 42 - - - 913 - -

NC 7 - - - - - -

NC 15 940 755 516 - - 441

PL 6 - - - - 348 -

Re 6 - - - - - -

Re 25 - - - 87 445 -

Re 26 60 245 424 - - 559

Grupos

de

solos

PE - - - 913 207 -

NC 940 762 516 - - 441

PL - - - - 348 -

Re 60 238 484 87 445 559

Cobertura

Vegetal

Cas 515 934 100 - 265 100

Cap - - - 649 - -

Cps - - - - 168 -

Acc1 485 66 - - - -

Acc2 351 567 -

Quanto agrave graduaccedilatildeo altimeacutetrica em que se encontra cada propriedade em estudo eacute

possiacutevel observar que a RiachueloAlto Alegre tem niacuteveis de altimetria crescentes a partir de

102

240 ateacute 920 metros destacando-se como o imoacutevel de maior altitude seguido de Saco Verde e

Aacuteguas Mortas As outras natildeo passam dos 560 metros de altitude

Em se tratando da classe de relevo a que se apresenta mais plana eacute Miramar com

135 de sua aacuterea seguida de Cajazeiras II com 112 Em relevo montanhoso destacam-se

Saco Verde com 12 de terreno e Cajazeiras II com 105 No entanto a predominacircncia eacute de

imoacuteveis inseridos na faixa entre o suave ondulado e o forte ondulado

Os imoacuteveis em anaacutelise situam-se em diferentes grupos de solos como ilustra a

tabela 15 Por exemplo RiachueloAlto Alegre e Aacuteguas Mortas estatildeo 94 e 762

respectivamente em luvissolos ou seja em solos Bruno natildeo caacutelcicos e Podzoacutelico vermelho

amarelo equivalente eutroacutefico Almas e Miramar estatildeo divididas aproximadamente agrave metade

em solo litoacutelico e em Bruno natildeo caacutelcico Em Cazajeiras II predomina o solo Podzoacutelico

vermelho amarelo equivalente eutroacutefico mas apresenta um pequeno percentual em solo

litoacutelico E por fim Saco Verde possui uma distribuiccedilatildeo variada de solos Podzoacutelico vermelho

amarelo equivalente eutroacutefico (207) Planossolos (348) e litoacutelicos (445) sendo o

uacutenico imoacutevel com planossolos

Nas associaccedilotildees de solos prevalece a subclasse 15 dos solos Bruno natildeo caacutelcicos

(NC) nas propriedades RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas e Almas Cajazeiras II estaacute

quase totalmente na subclasse 42 do Podzoacutelico vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) e

Miramar mesmo quase ao meio entre NC e Re possui a maior parte de sua aacuterea na subclasse

26 de solos litoacutelicos (Re) Saco Verde embora um tanto quanto bem distribuiacuteda tem 207

de aacuterea na subclasse 6 dos Podzoacutelicos vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) 348

em planossolos subclasse 6 inclusive eacute o uacutenico imoacutevel nessa classificaccedilatildeo e 445 em Re6

A realidade das aacutereas em estudo descrita na tabela 15 revela que mais da metade

delas estaacute inserida na faixa de pluviosidade abaixo dos 700 mm contudo Cajazeiras II foge agrave

regra apresentando pluviometria entre 700 a 900 mm Em Saco Verde ocorre distribuiccedilatildeo

irregular de chuvas e aleacutem de estar na meacutedia tem precipitaccedilatildeo tanto abaixo dos 600 como

acima de 700 mm

E por fim a cobertura vegetal de Almas Miramar quase toda de Aacuteguas Mortas e

a metade RiachueloAlto Alegre eacute de caatinga arboacuterea sem palmeira (Cas) enquanto que mais

de 50 da Cajazeiras II estaacute em caatinga arboacuterea com palmeira (Cap) Saco Verde tem mais

da metade da aacuterea em formaccedilatildeo pioneira (Acc2)

103

33 Metodologia

A metodologia utilizada no levantamento acerca da existecircncia de reserva legal no

municiacutepio de Irauccediluba envolveu algumas fases de anaacutelise como pesquisa bibliograacutefica

documental caracterizaccedilatildeo da aacuterea sob os aspectos sociais econocircmicos e ambientais o uso de

imagens orbitais e a aplicaccedilatildeo do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada (NDVI -

Normalized Difference Vegetation Index) nas propriedades em estudo

A abordagem envolveu o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo uma vez que para avaliar a

aplicabilidade da reserva legal como forma de combater o processo de degradaccedilatildeo ambiental

em Irauccediluba partiu-se da hipoacutetese de que se cada detentor de propriedade rural cumprisse a

obrigaccedilatildeo de implantaacute-la o processo de degradaccedilatildeo quiccedilaacute o de desertificaccedilatildeo seria estancado

no municiacutepio Aleacutem disso seria um instrumento proporcionador da recuperaccedilatildeo ambiental em

virtude de seus benefiacutecios A investigaccedilatildeo se deu por procedimentos de vieacutes histoacuterico e

comparativo tendo sido realizada uma retrospectiva de como foi o tratamento dado agrave reserva

legal no contexto juriacutedico econocircmico social e ambiental Aleacutem disto estudou-se as

propriedades que apresentaram o instituto mesmo que soacute documentalmente de maneira a

confrontar a situaccedilatildeo existente nos anos de 1993 e 2007 e sua modificaccedilatildeo

Para alcanccedilar os propoacutesitos deste trabalho ocorreu a coleta de dados pela pesquisa

documental e bibliograacutefica aleacutem da observaccedilatildeo direta intensiva que foi possiacutevel pelo exame

de dados obtidos por imagens do sateacutelite LANDSAT 5 referente aos anos de 1993 e 2007

bem como a avaliaccedilatildeo das aacutereas estudadas atraveacutes do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila

Normalizada (NDVI)

As informaccedilotildees geograacuteficas das propriedades em estudo foram disponibilizadas

basicamente pelo INCRA e pelo cartoacuterio de imoacuteveis de Irauccediluba Ambos cederam as plantas

georreferenciadas que foram vetorizadas em UTM 24s atraveacutes do programa CARTALINX 12

para em seguida serem exportadas para o IDRISI 322 e entatildeo convertidas para latitude e

longitude DATUM GS 84

331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite

O NDVI eacute um iacutendice de vegetaccedilatildeo derivado de imagens de sateacutelites e muito

utilizado na avaliaccedilatildeo da cobertura vegetal indicando o tipo a condiccedilatildeo e a densidade da

vegetaccedilatildeo atraveacutes do uso de bandas No caso as bandas do vermelho na faixa do visiacutevel e do

infravermelho proacutexima (PINHEIRO 2011) Agrave medida que aumenta a quantidade de

104

vegetaccedilatildeo verde aumenta a reflexatildeo na banda do infravermelho proacuteximo e diminui a reflexatildeo

na banda do vermelho fazendo com que o aumento da razatildeo seja potencializado realccedilando

assim a vegetaccedilatildeo27

Na banda do vermelho a clorofila absorve a energia solar resultando em uma

baixa reflectacircncia e no infravermelho proacuteximo tanto a morfologia interna das folhas quanto a

estrutura da vegetaccedilatildeo apresentam uma alta reflectacircncia da energia solar incidente A

combinaccedilatildeo dessas bandas realccedila a aacuterea de vegetaccedilatildeo nas imagens e quanto maior o contraste

maior o vigor da vegetaccedilatildeo da aacuterea imageada (LOURENCcedilO LANDIM 2004)28

Portanto o NDVI pode ser utilizado como uma teacutecnica para mapeamento

contiacutenuo da cobertura vegetal de uma regiatildeo possibilitando analisar e monitorar a

variabilidade desta em periacuteodos distintos (PINHEIRO 2011) Ressaltam ainda as diferenccedilas

entre aacutereas vegetadas e de solo exposto (VERONA 2002)29

O caacutelculo para se chegar ao NDVI deriva da razatildeo entre os valores das bandas do

vermelho e infravermelho proacuteximo ou seja a diferenccedila da resposta espectral do pixel dessas

bandas pela sua soma (SILVA et al 2007)30

resulta nos valores do NDVI que variam de ndash1 a

+1 A equaccedilatildeo para o caacutelculo do NDVI foi proposta por (JENSEN 1996)31

in Ewerton Torres

Melo 2008) conforme segue abaixo

NDVI = (NIR - R) (NIR + R)

Em que

NDVI eacute o iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada NIR eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Infra-Vermelho Proacuteximo

(076 a 090 μm)

R eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Vermelho (063 a 069μm)

Assim a vegetaccedilatildeo eacute caracterizada por uma intensa absorccedilatildeo devido agrave clorofila na

regiatildeo do vermelho (063 ndash 069 μm) e por uma intensa energia refletida na regiatildeo do

infravermelho proacuteximo (076 ndash 090 μm) causada pela estrutura celular das folhas Portanto

muitos dos modelos de iacutendice de vegetaccedilatildeo utilizam somente as bandas de imagem vermelha

ou proacutexima ao infravermelho (MELO 2008)

27

Novo (1989) In MELO Ewerton Torres (2008) 28

In PINHEIRO 2011 29

Idem 30

Ibidem 31

In MELO 2008

105

Conforme (BRAGA et al sd) estudos de variabilidade temporal e espacial sobre

a regiatildeo Nordeste do Brasil indicam que as aacutereas vegetadas variam de 01 a 08 sendo que

esses valores dependem da estrutura densidade e umidade da vegetaccedilatildeo As rochas e os solos

apresentam valores proacuteximos de zero e a aacutegua aparece com valores negativos Coberturas

vegetais muitos densas se expressam pelos maiores valores obtidos (PINHEIRO 2011)

106

4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES

41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba

O foco principal da pesquisa foi levantar e analisar as propriedades que de alguma

forma apresentem a reserva legal seja oficial ou extraoficialmente Com o exame das imagens

de sateacutelite dos anos de 1993 e 2007 utilizando o NDVI constatou-se que os iacutendices da

cobertura vegetal satildeo muito parecidos tanto dentro como fora da aacuterea de reserva ao serem

comparados pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Isto leva a crer que o instituto legal pode natildeo

ter promovido qualquer diferenccedila em termos de cobertura vegetal sem falar na hipoacutetese de

nem mesmo ter sido cumprido

Analisando os iacutendices de NDVI comprova-se que na grande maioria dos

imoacuteveis a cobertura vegetal tanto dentro como fora da aacuterea de reserva legal diminuiu entre

os anos de 1993 e 2007 Embora nas propriedades a vegetaccedilatildeo se apresente em niacuteveis

diferenciados de existecircncia representados pelas faixas 2 a 9 da tabela 16 vecirc-se que quase

todos em 1993 apresentavam aacutereas significativas de vegetaccedilatildeo na faixa 6 e 7 Se averiguar as

mesmas colunas em 2007 eacute notoacuteria a retraccedilatildeo nos iacutendices salvo na faixa 5 referente aos

imoacuteveis Aacuteguas Mortas Almas e Saco Verde

Tabela 16 - NDVI dos imoacuteveis estudados

IMOacuteVEL SEGMENTO ANO

Aacuterea no niacutevel de NDVI como uma porcentagem da aacuterea total do segmento

Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 4 Faixa 5 Faixa 6 Faixa 7 Faixa 8 Faixa 9

0 a 01 01 a 02 02 a 03 03 a 04 04 a 05 05 a 06 06 a 07 07 a 08 08 a 09

Riachuelo

Alto

Alegre

Fora 1993 0558 0458 0978 2418 9904 68884 16798 0022 0019

2007 1369 1351 2366 9734 56243 28713 0205 0019 -

Reserva 1993 0532 0319 0473 1006 3224 57424 36868 0074 -

2007 1818 1611 1951 7524 53112 33777 0207 - -

Aacuteguas

Mortas

Fora 1993 1588 1833 2701 6525 18029 41168 28024 0141 -

2007 4979 3485 4979 12220 34523 39105 0616 0097 -

Reserva 1993 - - 0084 1246 10452 56862 31356 - -

2007 2092 1902 6677 6127 52292 34545 0275 0085 -

Almas Fora 1993 1954 1336 1650 3339 9359 48925 33222 0216 -

2007 0845 1463 2583 13464 44731 36659 0216 - 0039

Reserva 1993 13455 3058 2299 3858 12198 40686 23344 0156 0156

2007 1052 1208 1052 7947 53759 34827 0156 - -

Miramar Fora 1993 - - 1075 6023 36519 50699 5684 - -

2007 0810 1001 1870 6818 66765 22545 0132 0059 -

Reserva 1993 1540 0285 0799 7758 39646 48431 1540 - -

2007 - 0513 2339 33143 63206 0799 - - -

Saco

Verde

Fora 1993 6867 5558 9959 20131 37338 19016 0097 1097 1097

2007 6469 8972 19278 30986 32219 2026 0050 - -

Reserva 1993 6927 9383 17136 26903 29900 9113 0609 0030 -

2007 8767 10375 17166 29254 332881 1157 - - -

Cajazeiras

II

Fora 1993 0040 0606 8206 39766 45877 5412 0092 - -

2007 2003 9562 25154 44710 17723 0647 - - -

Reserva 1993 2885 2885 12402 48057 29936 2360 0674 - -

2007 3895 8165 21610 39476 26704 0150 - -

Os iacutendices de NDVI da tabela 16 serviram de base para o caacutelculo da anaacutelise de

semelhanccedila pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Assim a constataccedilatildeo acima eacute confirmada pela

tabela 17 que por sua vez atesta o grau de similaridade entre a aacuterea interna e externa agrave

reserva legal nos anos analisados Eacute surpreendente o niacutevel de semelhanccedila encontrado O

percentual mais baixo em 1993 eacute de 798 chegando no mesmo ano a 933 Jaacute em 2007 a

percentagem de semelhanccedila diminui nos imoacuteveis Aacuteguas Mortas e Miramar de 81 para 75 e

de 933 para 731 respectivamente Isto natildeo quer dizer que o niacutevel de cobertura vegetal

melhorou ou piorou mas que a diferenccedila na semelhanccedila entre dentro e fora da aacuterea de reserva

legal nessas propriedades reduziu sugerindo que o respeito agravequele instituto pode ter

promovido a alteraccedilatildeo Em contrapartida nos outros imoacuteveis essa semelhanccedila aumentou

aproximando-se dos 94

Assim eacute provaacutevel que pelos meacutetodos utilizados a funccedilatildeo proposta pelo instituto

da reserva legal natildeo esteja sendo alcanccedilada visto que o grau de semelhanccedila entre a aacuterea de

dentro e fora da reserva legal estaacute muito aproximado pois sequer apresentou-se abaixo dos

70 de diferenccedila

Tabela 17 - Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal pelo meacutetodo de Sorensen (1948)

ANAacuteLISE DE SEMELHANCcedilA DE SORENSEN () ENTRE

FORA E DENTRO DA AacuteREA DE RESERVA LEGAL

IMOacuteVEL

Reserva

ANO 1993 2007

108

Riachuelo Alto Alegre Fora 1993 798 -

2007 - 941

Aacuteguas Mortas Fora 1993 810 -

2007 - 750

Almas Fora 1993 821 -

2007 - 908

Saco Verde Fora 1993 799 -

2007 - 891

Cajazeiras II Fora 1993 813 -

2007 - 952

Miramar Fora 1993 933 -

2007 - 731

109

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A abordagem dos assuntos aqui tratados e os resultados alcanccedilados permitem a

conclusatildeo de que a reserva legal eacute uma criaccedilatildeo da lei com intenccedilotildees conservacionistas

avanccediladas Como espaccedilo especialmente protegido requer um tratamento diferenciado natildeo soacute

como previsto em normas mas sob a oacutetica da sociedade Observou-se que foi um assunto

amplamente tratado e debatido nas esferas do poder legislativo e judiciaacuterio do paiacutes e que

tambeacutem eacute alvo de poliacuteticas puacuteblicas e atuaccedilatildeo das autoridades competentes embora um tanto

falhas

Contatou-se que o emprego da reserva legal no municiacutepio de Irauccediluba eacute pouco expressivo

diante da quantidade de propriedades ali existentes por isso os benefiacutecios trazidos pela

conservaccedilatildeo desses espaccedilos mal podem ser sentidos no municiacutepio que sofre com a degradaccedilatildeo

ambiental contiacutenua inclusive com a presenccedila do processo de desertificaccedilatildeo Aleacutem disto a

falta de cumprimento do formal procedimento acerca da implantaccedilatildeo da reserva legal em

aacutereas puacuteblicas eacute intrigante Isto porque se pressupotildee accedilotildees de estrita legalidade envolvendo o

ente estatal Nesse sentindo partindo do entendimento que os projetos de assentamento satildeo

resultado de poliacuteticas puacuteblicas para reforma agraacuteria pressupunha-se que nestes espaccedilos a

reserva legal estaria estabelecida mas as anaacutelises mostraram que natildeo haacute diferenccedila quando

comparadas a aacuterea de dentro e de fora da reserva nas propriedades A situaccedilatildeo eacute anaacuteloga no

imoacutevel particular apreciado

A respeito da degradaccedilatildeo viu-se que Irauccediluba por ser rota de passagem do gado

desde o seacuteculo XIX aporta animais em transumacircncia de outras regiotildees Os relatos de jesuiacutetas

que cruzaram o municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XVII registram o lugar com vegetaccedilatildeo fechada

e densa Diante disso eacute possiacutevel afirmar que nem sempre Irauccediluba teve um ambiente inoacutespito

e com caracteriacutesticas severamente adversas O quadro atual se deve agraves intervenccedilotildees antroacutepicas

sem teacutecnicas apropriadas para o desenvolvimento de atividades econocircmicas em conjunto com

as caracteriacutesticas de um meio semiaacuterido Essas atividades geralmente abrangem culturas de

subsistecircncia praticadas recorrentemente no mesmo lugar sem o pousio necessaacuterio do solo que

por sua vez natildeo eacute tatildeo rico em nutrientes em decorrecircncia dos desmatamentos e queimadas

Pela caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo pocircde se verificar que seus atributos

envolvem solos pouco profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica

O clima eacute o semiaacuterido onde haacute baixa pluviometria e temperaturas em torno dos 28ordmC e a

vegetaccedilatildeo eacute caatinga nos tipos arbustivos e herbaacuteceos excepcionalmente o arboacutereo por causa

da degradaccedilatildeo

Os resultados mostraram que os iacutendices de NDVI nas propriedades analisadas

apontam um grau de semelhanccedila de ateacute 94 entre dentro e fora da aacuterea da reserva legal pelo

que se pode inferir 2 suposiccedilotildees

1) A reserva legal existe somente em niacutevel documental e natildeo no local apontado

dentro do imoacutevel

ou

2) A reserva legal existe mas estaacute com a cobertura vegetal bem semelhante agrave de fora

da sua aacuterea de maneira que pode estar tatildeo degradada quanto ou tatildeo conservada

quanto

Partindo para a segunda suposiccedilatildeo os iacutendices de NDVI constatam sim que a

cobertura vegetal apresenta um grau elevado de semelhanccedila entre os dois espaccedilos e que em 4

dos 6 imoacuteveis ambos diminuiacuteram de 1993 a 2007 Desta forma natildeo haacute como afirmar que a

reserva legal no estado em que se encontra nas propriedades analisadas eacute um meio de

combater a degradaccedilatildeo ambiental Contudo nos casos em que real e verdadeiramente for

aplicada por certo traraacute ganhos ambientais mas isto deve ser alvo de mais e maiores estudos

acerca do assunto

Eacute curioso que mesmo Irauccediluba sendo um nuacutecleo de desertificaccedilatildeo e por isso alvo

de estudos pesquisas projetos e poliacuteticas puacuteblicas envolvendo degradaccedilatildeo recuperaccedilatildeo e

conservaccedilatildeo ambiental a situaccedilatildeo aparentemente natildeo progride em termos de melhorias Ao

contraacuterio disto constata-se cada vez mais a deterioraccedilatildeo do meio ambiente a ocupaccedilatildeo e a

utilizaccedilatildeo indevida dos recursos naturais

Encerrando a abordagem do assunto tratado assevera-se que a reserva legal jaacute eacute

um instituto consolidado em lei natildeo justificando quaisquer argumentos quanto ao seu

descumprimento Inclusive a natildeo observacircncia do bendito mandamento eacute considerada crime e

nesse sentido natildeo haacute uma atuaccedilatildeo maciccedila do Estado em termos de fiscalizaccedilatildeo pois se assim

existisse natildeo se estaria diante de uma constataccedilatildeo tatildeo seacuteria acerca do pequeno nuacutemero de

imoacuteveis que apresentaram a reserva legal mesmo que documentalmente Essa estatiacutestica

diminuiu ainda mais quando se analisou a diferenccedila na vegetaccedilatildeo sendo possiacutevel concluir que

o caraacuteter conservacionista da reserva legal e ela proacutepria natildeo estatildeo alcanccedilando o fim para que

foi criada

Por fim acredita-se que a reserva legal se cumprida eacute um instrumento

conservacionista capaz de auxiliar na recuperaccedilatildeo ambiental e arrefecer os processos de

111

degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo criticamente manifestos no municiacutepio de Irauccediluba Indo mais

aleacutem vecirc-se que pela oacutetica do referido instituto o desenvolvimento sustentaacutevel eacute possiacutevel

pois mesmo de encontro a interesses particulares ele consegue reunir e harmonizar o vieacutes

econocircmico o social e o ambiental

112

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119

Page 6: O EMPREGO DA RESERVA LEGAL NO MUNICÍPIO DE IRAUÇUBA/CE€¦ · Figura 1 Objetivos da reserva legal no Código Florestal de 1965 27 Figura 2 Objetivos da reserva legal na Lei 12.651/2012

AGRADECIMENTOS

A Deus que eacute Quem me permitiu ser aprovada estar e concluir esse curso tatildeo importante Ele

que em mim gerou todas as forccedilas necessaacuterias para continuar e natildeo desistir dando-me a

condiccedilatildeo de chegar ateacute o fim com louvor

Ao Professor Dr Joseacute Gerardo Beserra de Oliveira pela orientaccedilatildeo pela paciecircncia pelo

carinho e apoio desprendidos para a realizaccedilatildeo deste trabalho Por seus conhecimentos na

aacuterea pois sem eles natildeo poderia ter me levado a enriquecer tanto este trabalho

Agrave CAPES que me ajudou financeiramente

Agrave minha famiacutelia em especial minha matildee que sempre procurou saber como estava a minha

pesquisa dando-me aquele apoio nato de matildee

A Pedro Saraiva meu amor grande amor que sempre me apoiou e acreditou no meu talento

na minha competecircncia e vitoacuteria

Aos servidores do INCRA muito soliacutecitos e atenciosos com a minha pesquisa dentre eles sr

Raimundo Martins da Divisatildeo de Ordenamento da Estrutura Fundiaacuteria Joseacute Jaime D‟Alencar

Juacutenior do Serviccedilo de Cartografia Odilo Neto Luna Coelho e Joseacute Salmito de Almeida Juacutenior

ambos da Divisatildeo de Obtenccedilatildeo de Terras ndash setor de Serviccedilo ao Meio Ambiente

Agrave Dra Claacuteudia Regina Nogueira titular do Cartoacuterio de Registro de Imoacuteveis de Irauccediluba por

sua disponibilidade e por permitir o acesso aos livros cartoraacuterios onde encontrei dados tatildeo

importantes para o trabalho

Ao IDACE atraveacutes dos servidores Dr Paulo Henrique Lobo diretor teacutecnico de operaccedilotildees

Dr Ricardo Durval superintendente do oacutergatildeo Linardy Barreto de Holanda Priscila Azevedo

de Aguiar ambos do Nuacutecleo de Geoprocessamento (NUGEO) Nadir Loiola Dias e Florence

Mary Cavalcante Mouratildeo Lobo ambas da Diretoria Teacutecnica e de Operaccedilotildees (DTO) Todos

eles me ajudaram de forma a tornar possiacutevel parte desta pesquisa pelo que sou imensamente

grata

Perguntei-me inuacutemeras vezes se deveria prosseguir A resposta me era

dada quando olhava para traacutes e via meu passado cheio de grandes

vitoacuterias e conquistas pela matildeo de Deus e pelo meu esforccedilo Entatildeo

decidi que natildeo seria agora que natildeo chegaria ateacute o fim mesmo que o

que me impulsionou para esse desafio jaacute natildeo tem mais a mesma

intensidade Aqui estou eu fazendo desse momento mais uma

imensuraacutevel vitoacuteria por Aquele que um dia me deu essa oportunidade

A Ele toda honra e toda gloacuteria

A autora

RESUMO

A degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio de Irauccediluba eacute alvo de vaacuterias pesquisas pois eacute um

problema onde as causas estatildeo presentes natildeo soacute ali mas em grande parte do semiaacuterido

nordestino no entanto ao se tratar deste assunto logo vem agrave tona outra questatildeo mais seacuteria o

processo de desertificaccedilatildeo O presente trabalho faz uma raacutepida abordagem do semiaacuterido

dando especial evidecircncia agravequele municiacutepio englobando a origem da degradaccedilatildeo a atual

situaccedilatildeo local e possiacuteveis formas para minimizar ou ateacute mesmo estagnar aquele problema

ambiental O objetivo geral foi levantar o nuacutemero de propriedades rurais no municiacutepio

elegendo em sua maioria os projetos de assentamento rural e verificar se possuiacuteam ou natildeo

uma aacuterea especialmente protegida denominada reserva legal A escolha desse instituto como

indicador se deu por ser ele um instrumento criado por lei e que por sua vez impele todo e

qualquer proprietaacuterio ou possuidor rural a manter uma parcela miacutenima de 20 do seu imoacutevel

preservado como aacuterea de Reserva Legal Sua efetividade como instrumento de preservaccedilatildeo

foi analisada em 6 propriedades a partir de imagens do sateacutelite LANDSAT 5 com base nos

anos de 1993 e 2007 e atraveacutes da anaacutelise do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada

(NDVI) foi realizado um estudo comparativo para verificar se houve evoluccedilatildeo ou natildeo do

quadro vegetativo dentro e fora das aacutereas de reserva legal Na identificaccedilatildeo dos imoacuteveis

estudados soacute foram encontrados seis com reserva legal oficialmente implantada ateacute o ano de

2007 data mais recente da imagem de sateacutelite empregada A anaacutelise comparativa realizada

com esses imoacuteveis que tecircm algum tipo de registro no Cartoacuterio de Imoacuteveis eou no INCRA

dentre os 713 medidos e georreferenciados pelo IDACE e que por sua vez foi conduzida com

uso do NDVI natildeo indicou diferenccedila significativa entre os iacutendices encontrados para a

cobertura vegetal dentro e fora das aacutereas de Reserva Legal

Palavras-chave Degradaccedilatildeo Ambiental Coacutedigo Florestal Reserva Legal IrauccedilubaCE

ABSTRACT

The environmental degradation in the municipality of Irauccediluba is the target of several studies

because it is an issue where the causes are present in much of the northeastern semiarid

However when dealing with this subject soon comes to attention another issue which is more

serious and that arises from the ongoing degradation the process of desertification The

present paper analyzes briefly the cearense semiarid giving special emphasis to that

municipality so that the origin of the degradation the current local situation and even

possible ways to minimize or even stagnate that environmental problem were all the target of

this research The overall goal was to enumerate the number of farms among them those that

either have a specially protected area called legal reserve or those that does not The choice

of this statistic as an indicator was due to the fact that it is a legal instrument which in turns

compels all and any owner of land or rural possessor to maintain 20 of their property

preserved as a Legal Reserve area Its effectiveness as a tool for preservation was analyzed in

6 properties with the help of satellite images from LANDSAT 5 taken between the years

1993 and 2007 and by examining the Normalized Difference Vegetation Index (NDVI) a

comparative study was conducted to determine whether there was a growth or not of the

vegetative area inside and outside the legal reserves During the identification of the

properties to be studied only six were found to have a legal reserve officially implemented by

the year 2007 the most recent date of the satellite images used A comparative analysis with

those lands that have some kind of record in the Registry of Property andor INCRA among

the 713 measured and georeferenced by IDACE and that in turn used the NDVI as a

guideline indicated no significant difference on the index either inside or outside the Legal

Reserves areas

Key-Words Environmental degradation Forest code Legal reserve IrauccedilubaCE

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 27

Figura 2 Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 (Novo Coacutedigo

Florestal)

27

Figura 3 Sistema de degradaccedilatildeo do meio ambiente 47

Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro 53

Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute 54

Figura 6 Iacutendice de aridez (UNEP) 56

Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo no Cearaacute 57

Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo 57

Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no ISSD 59

Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no IESD 60

Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios 61

Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute 79

Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba 79

Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo 81

Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras permanentes 85

Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras temporaacuterias 85

Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem

vegetal (tonano)

86

Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem

vegetal (m3ano)

86

Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011) 87

Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001 88

Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010 88

Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011 89

Figura 23 Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos 90

Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba 91

Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba 92

Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba 94

Figura 27 Grupo de solos que formam as associaccedilotildees pedoloacutegicas em

Irauccediluba

95

Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba 96

Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba 97

Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual 97

Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba 98

Figura 32 Iacutendice de umidade em Irauccediluba 98

Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba 100

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Medidas Provisoacuterias 21

Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras 48

Tabela 3 Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez (UNEP) 52

Tabela 4 Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo 55

Tabela 5 Levantamento de imoacuteveis com reserva legal (cartoacuterio de

registro de imoacuteveis)

73

Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais 76

Tabela 7 Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba 77

Tabela 8 Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de

anaacutelise

80

Tabela 9 Dados da propriedade particular estudada 80

Tabela 10 Propriedades estudadas 81

Tabela 11 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem

animal

87

Tabela 12 Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores 90

Tabela 13 Relaccedilatildeo entre solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo 93

Tabela 14 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEmbrapa 93

Tabela 15 Anaacutelise geral das propriedades estudadas 101

Tabela 16 NDVI dos imoacuteveis estudados 107

Tabela 17 Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal entre dentro e fora da aacuterea

de reserva legal pelo meacutetodo Sorensen

108

SUMAacuteRIO

Lista de Figuras vii

Lista de Tabelas ix

Resumo v

Abstract vi

INTRODUCcedilAtildeO 12

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 14

11 O Instituto da Reserva Legal 14

111 Conceito 15

112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica 17

113 Importacircncia da Reserva Legal 30

1131 Juriacutedica 31

1132 Social 32

1133 Ambiental 33

1134 Econocircmica 35

114 Direito de Propriedade X Reserva Legal 36

1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa 41

1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal 42

2 PROCESSO DE DEGRADACcedilAtildeO 45

21 Conceito 45

22 Degradaccedilatildeo ambiental 48

221 Erosatildeo 49

222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica 49

223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica 50

23 A degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 51

231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia 52

24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental 62

25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira 65

251 Lei ambiental de Irauccediluba 69

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 71

31 Reserva Legal em Irauccediluba 71

311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental ndash Projeto de

Assentamento Agraacuterio em foco

73

32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo 78

321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba 78

3211 Das propriedades estudadas 79

3212 Aspectos histoacutericos de ocupaccedilatildeo 82

322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas 82

323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba 91

3231 Altimetria e Classes de relevo 91

3232 Solos 92

3233 Clima 95

3234 Vegetaccedilatildeo 99

3235 Recursos Hiacutedricos 100

324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo 101

33 Metodologia 104

331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite 104

4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES 107

41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 107

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 110

REFEREcircNCIAS 113

INTRODUCcedilAtildeO

A degradaccedilatildeo como um problema ambiental jaacute foi alvo de inuacutemeras pesquisas

principalmente quando se trata do semiaacuterido brasileiro Estudos nesse sentido datam da

deacutecada de 70 eacutepoca em que o professor Vasconcelos Sobrinho passou a pesquisar o processo

de desertificaccedilatildeo no nordeste do Brasil (SALES 2002) Nas investigaccedilotildees ele identificou um

nuacutecleo no Cearaacute que se localiza em Irauccediluba Em assim sendo buscou-se desenvolver um

trabalho naquele municiacutepio tomando por base um mecanismo criado por lei cujo caraacuteter eacute a

conservaccedilatildeo do meio ambiente Trata-se da reserva legal Como nessa aacuterea natildeo haacute pesquisa

envolvendo a aplicabilidade do tal instituto viu-se a oportunidade de estudaacute-la produzindo-se

o presente trabalho

A proposta principal da pesquisa eacute fazer um levantamento dos imoacuteveis existentes

no municiacutepio de Irauccediluba pontuando de forma preponderante os de propriedade federal e

estadual destinados aos assentamentos rurais e assim identificar nessas aacutereas a existecircncia ou

natildeo do instituto da reserva legal e sua devida implantaccedilatildeo Nesse sentido encontrou-se 6

propriedades que possuiacuteam a reserva legal sendo 5 puacuteblicas e 1 privada Empoacutes o segundo

intuito envolve a diferenciaccedilatildeo entre a cobertura vegetal da reserva e do restante da

propriedade a partir da utilizaccedilatildeo de imagens de sateacutelite e o uso do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por

Diferenccedila Normalizada (NDVI)

Para isso foi necessaacuterio fazer um apanhado de como esse instrumento de

conservaccedilatildeo foi e eacute abordado no Coacutedigo Florestal que eacute a lei onde haacute previsatildeo da reserva

legal bem como traccedilar um histoacuterico de como se deu sua evoluccedilatildeo dentro do quadro

legislativo no paiacutes foi igualmente essencial Da mesma maneira buscou-se contextualizar a

importacircncia da reserva legal nos aspectos econocircmico juriacutedico social e ambiental de forma

que ficou ilustrado o valor que esse mecanismo tem para a sociedade As discussotildees de cunho

juriacutedico e praacutetico sobre o assunto foram levantadas pois o proprietaacuterio do imoacutevel vecirc a reserva

legal como ocircnus e natildeo como um instrumento de conservaccedilatildeo que traraacute imensuraacuteveis

benefiacutecios ambientais dentro de sua proacutepria aacuterea Encerrando o primeiro capiacutetulo tecircm-se as

formas de cumprir o mandamento legal que envolvem a reserva muito embora isto tenha

sofrido algumas alteraccedilotildees como se veraacute a seguir

Quanto agrave reserva legal em Irauccediluba as constataccedilotildees natildeo satildeo animadoras

Infelizmente haacute um desencontro de informaccedilotildees a comeccedilar pelo controle do nuacutemero de

imoacuteveis existentes no municiacutepio Em seguida soacute foram encontrados trecircs imoacuteveis com a

obrigaccedilatildeo devidamente formalizada em cartoacuterio Isso diante de um universo de mais de 700

propriedades eacute frustrante e desencorajador Outra abordagem feita neste toacutepico aponta o

licenciamento ambiental como mais um instrumento possibilitador da instalaccedilatildeo da reserva

legal pois o oacutergatildeo ambiental tem dever de exigir o tal instituto para licenciar atividades e

empreendimentos localizados em zona rural

Igualmente desalentadora eacute a degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio Por se tratar de

uma aacuterea com caracteriacutesticas naturalmente adversas e limitantes sua ingerecircncia deveria ser

profundamente fiscalizada e regulamentada pelas autoridades competentes em todos os niacuteveis

de governo Mas isso natildeo ocorre pelo contraacuterio em Irauccediluba satildeo exercidas atividades com

meacutetodos bem rudimentares e sem qualquer preocupaccedilatildeo com a recuperaccedilatildeo dos danos e com a

capacidade de suporte do meio Assim acontece a degradaccedilatildeo das aacutereas com a praacutetica do

desmatamento das queimadas do sobrepastoreio e outros tipos de intervenccedilatildeo

ambientalmente prejudiciais Diante desse quadro o homem do campo tende a abandonar

estas e ocupar outras terras estimulando ainda mais o processo de desertificaccedilatildeo ali presente

Outro toacutepico em que se chama atenccedilatildeo no trabalho eacute a quantidade de leis

envolvendo o tema Natildeo faltam regulamentaccedilotildees muito pelo contraacuterio sobram O que se

percebe eacute a existecircncia de leis para vaacuterios assuntos em vez de uma que englobe a maioria

deles Com lei ou sem lei a situaccedilatildeo parece natildeo progredir positivamente em termos de

recuperaccedilatildeo ambiental embora haja uma estrutura poliacutetica econocircmica e juriacutedica dirigida para

tais fins Aleacutem disto existem poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o municiacutepio especificamente e

outras que natildeo mas podem ser implementadas ali Eacute o caso dos benefiacutecios dos inuacutemeros

programas de governo direcionados para a reforma agraacuteria por exemplo Outro caso satildeo os

fundos de combate agrave degradaccedilatildeo e agrave desertificaccedilatildeo Nesta orientaccedilatildeo percebe-se que natildeo

faltam leis poliacuteticas puacuteblicas ou recursos Felizmente existe todo um aparato no sentido de

melhorar as condiccedilotildees ambientais e minimizar danos mas infelizmente na praacutetica essa

estrutura natildeo voga como deveria

Todo esse cenaacuterio estaacute enquadrado na caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo

devidamente abordada no terceiro capiacutetulo Laacute satildeo mencionados os aspectos socioeconocircmicos

do municiacutepio perpassando pelos acontecimentos histoacutericos de sua ocupaccedilatildeo As

caracteriacutesticas fisiograacuteficas de Irauccediluba tambeacutem se fazem presentes de maneira que foram

abordados aspectos pedoloacutegicos climaacuteticos vegetativos e hiacutedricos Aleacutem disto a metodologia

utilizada permitiu as constataccedilotildees discorridas nos resultados e discussotildees inseridas no

capiacutetulo 4 de forma que os objetivos da pesquisa foram alcanccedilados

13

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

11 O Instituto da Reserva Legal

A reserva legal eacute um instituto cuja importacircncia perfaz o esteio do

desenvolvimento sustentaacutevel no sentido de que harmoniza a viabilidade econocircmica com a

justiccedila social e o equiliacutebrio ecoloacutegico Eacute um notaacutevel exemplo de que eacute possiacutevel coexistirem

interesses particulares e coletivos pois a reserva legal nada mais eacute que a conservaccedilatildeo

ambiental de uma determinada porcentagem da propriedade ou posse rural passiacutevel de

intervenccedilatildeo pelo homem do campo

O presente estudo indica a reserva legal como uma forma de conservaccedilatildeo do

meio em face da extraccedilatildeo vegetal promovida pelo proprietaacuterio agriacutecola Foca ainda os

aspectos social econocircmico e ambiental dessa imposiccedilatildeo que tem seu nascedouro na legislaccedilatildeo

vigente Corrobora Silva (2001 p 59) ao afirmar que ldquoa cobertura vegetal nativa sobretudo

as florestais exerce papel de fundamental importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de

ecossistemas naturais bem como de ecossistemas criados pelo homemrdquo No mesmo sentido

Miranda (2008 p 31) diz que ldquoa reserva legal contribui para a mitigaccedilatildeo do aquecimento

global salvaguarda a biodiversidade e garante agraves presentes e futuras geraccedilotildees o direito a um

meio ambiente ecologicamente equilibradordquo

Traz-se agrave tona os aspectos que fundamentam a reserva legal como um instituto

que fora criado por lei especiacutefica para a conservaccedilatildeo do meio pois erroneamente os

proprietaacuterios rurais a veem como limitaccedilatildeo ao direito de propriedade e entendem que destinar

uma porcentagem de seus imoacuteveis para uma aacuterea que natildeo corresponde agrave afericcedilatildeo de lucro eacute

tatildeo somente um ocircnus eou uma perda e natildeo um investimento Nesse sentido explicam

Galdino e Candido (2008 p 251) que ldquoa instituiccedilatildeo da reserva legal natildeo enfraquece ou destroacutei

o direito de propriedade Ao reveacutes possibilita a existecircncia de um meio ambiente

ecologicamente equilibrado condicionando a propriedade a uma funccedilatildeo socioambientalrdquo

Conforme Bacha (2005 p 24) ldquodeve-se pensar em novas formas de estiacutemulo

econocircmico ao produtor para que ele recomponha a reserva legal pois a legislaccedilatildeo atual

apenas lhe coloca custos em contrapartida de benefiacutecios a toda sociedaderdquo Cabe ainda

mencionar a possibilidade prevista no Coacutedigo Florestal ou seja na Lei 4771 (BRASIL

1965) quanto agrave intervenccedilatildeo na aacuterea destinada agrave reserva legal de forma sustentaacutevel sem

suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo

econocircmica dessas aacutereas

Existem estudos justificando biologicamente a existecircncia da reserva legal Eacute sobre

o que discorre Metzger (2002 p 48) quando afirma que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de

propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa satildeo

fundamentais para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada

regiatildeordquo Complementa ainda Silva (2001 p 59) quando afirma sobre ldquoa importacircncia da

cobertura vegetal em reserva legal que permite uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da

aacutegua no solo e no subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos aleacutem de

promover a manutenccedilatildeo da diversidade geneacuteticardquo

Ademais o exerciacutecio de atividades econocircmicas que tem por principal insumo os

recursos naturais modifica sensivelmente a cobertura vegetal e o solo contribuindo para um

processo de degradaccedilatildeo Para tanto o respeito agrave legislaccedilatildeo ambiental vigente como o Coacutedigo

Florestal por exemplo eacute de extrema relevacircncia uma vez que eacute norma conducente agrave

conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo das formas de vegetaccedilatildeo e suas respectivas ingerecircncias Tal lei

prevecirc a reserva legal como espaccedilo especialmente protegido

Balizando tal atividade econocircmica frente agrave observacircncia da reserva legal surge a

proposiccedilatildeo elencada por Bacha (2005 p 24) que ldquopara o produtor rural honrar tal instituto

tendo-o como lucrativo eacute necessaacuterio que sua composiccedilatildeo floriacutestica seja feita em parte com

espeacutecies comerciaisrdquo Eacute o que Miranda (2008 p 45) sob o aspecto socioeconocircmico bem

pontua quando evidencia que esta legislaccedilatildeo carece de aderecircncia social pois natildeo condiz com

a realidade e que enfatiza ainda

Para que haja aderecircncia social ela deveria prever uma reestruturaccedilatildeo completa no

modelo de desenvolvimento Sem isso tanto os pequenos como os grandes

proprietaacuterios natildeo possuiratildeo condiccedilotildees para cumprir a lei e uma vez na ilegalidade

cometem outros crimes ambientais E por entenderem que a lei natildeo eacute factiacutevel natildeo a

cumprem [] Aleacutem disso as linhas de creacutedito inclusive dos bancos oficiais natildeo

financiam atividades sustentaacuteveis mas a pecuaacuteria o plantio de soja entre outras por

acreditarem possuir nelas uma seguranccedila maior para o investimento (MIRANDA

2008 p 45)

111 Conceito

A reserva legal eacute um mecanismo criado para a conservaccedilatildeo dos recursos naturais

cuja origem eacute a lei Sua essecircncia sempre esteve presente em normas de caraacuteter protecionista

que dispunham sobre florestas e demais formas de vegetaccedilatildeo muito embora tenham ocorrido

inuacutemeras alteraccedilotildees ao longo do tempo Eacute o que se pode observar pela evoluccedilatildeo legislativa

que a seguir seraacute apontada

15

A expressatildeo reserva legal pode ser simploriamente entendida como uma aacuterea a ser

conservada por um detentor de imoacutevel rural e que por sua vez varia com a localidade do

bioma em que a aacuterea estaacute inserida A lei que versa sobre esse tema eacute conhecida como Coacutedigo

Florestal e com esse nome existiu em trecircs momentos diferentes da histoacuteria do legislativo

brasileiro O primeiro foi no ano de 1934 o segundo em 1965 e por uacuteltimo em 2012 estando

presente em todos eles uma seacuterie de modificaccedilotildees que levaram ao aperfeiccediloamento do

conteuacutedo e dos objetivos da reserva legal bem como flexibilizaccedilotildees e restriccedilotildees a depender

do momento econocircmico em que o paiacutes vivia eou dos interesses da maioria de parlamentares agrave

eacutepoca

Atualmente a Lei 12651 de 25052012 ou como eacute conhecida por Novo Coacutedigo

Florestal atraveacutes de seu artigo 3ordm inciso III prevecirc o conceito de reserva legal da seguinte

forma

III ndash Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural

delimitada nos termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de

modo sustentaacutevel dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a

reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade

bem como o abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012

p 3) (BRASIL 2012)

Jaacute a previsatildeo elencada nos Coacutedigos anteriores de 1934 e 1965 dispotildee

Coacutedigo Florestal de 1934 - Decreto 23793

Art 23 - Nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas poderaacute abater mais de trecircs

quartas partes da vegetaccedilatildeo existente []

sect 1ordm O dispositivo do artigo natildeo se applica a juizo das autoridades florestaes

competentes agraves pequenas propriedades isoladas que estejam proximas de florestas

ou situadas em zona urbana

sect 2ordm Antes de iniciar a derrubada com a antecedencia minima de 30 dias o

proprietario daraacute sciencia de sua intenccedilatildeo aacute autoridade competente afim de que esta

determine a parte das mattas que seraacute conservada (BRASIL 1935 p 5)

Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771

Art 1ordm sect 2ordm inciso III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma

propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao

uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos

ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora

nativas (BRASIL 1965 p 2)

Percebe-se que na lei de 1934 se quer haacute menccedilatildeo ao termo reserva legal mas se

vecirc claramente a intenccedilatildeo conservacionista do legislador e se ressalte que eacute uma visatildeo bem

mais proacute-ambiente uma vez que proiacutebe o desmatamento acima de frac34 da propriedade

protegendo assim 25 de sua aacuterea Embora o Coacutedigo Florestal de 1934 natildeo preveja

16

explicitamente a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo em determinada aacuterea com o nome de reserva legal o

artigo 23 do diploma citado acima estaacute notoriamente revestido de um caraacuteter conservacionista

e quem natildeo o cumprisse estaria enquadrado no paraacutegrafo 4ordm do artigo 86 do Capitulo V ndash

Infracccedilotildees florestaes

Art 86 As contravenccedilotildees previstas nos arts 9ordm sect 1ordm 21 22 e sect 1ordm 23 e paragrapho

unico 24 a 30 31 a 34 37 43 a 45 49 e paragrapho unico 51 54 e paragrapho

unico 55 e 64 deste codigo quando natildeo se caracterizarem especialmente algumas

figuras delictuosas definidas no art 83 ou no art 87 sujeitas seus autores aacutes penas

seguintes

[]

sect 4ordm pelas das letras g h do art 22 e arts 23 e 44 - detenccedilatildeo ateacute 60 dias e multa ateacute

10000$000 (BRASIL 1935 p 14)

Em contrapartida um pouco mais aperfeiccediloado embora um tanto quanto tarde o

instituto da reserva legal aparece bem definido somente em 2001 quando a Medida Provisoacuteria

nordm 2166-6 (BRASIL 2001) acrescentou ao texto da Lei 4771 (BRASIL 1965) o seu conceito

da forma como eacute mais conhecido ultimamente apesar de natildeo se limitar soacute a esta modificaccedilatildeo

Como tantas outras leis o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) sofreu diversas

alteraccedilotildees ao longo de sua vigecircncia que durou ateacute 25 de maio de 2012 data em que a Lei

12651 (BRASIL 2012) entra em vigor revoga a anterior e estabelece o novo Coacutedigo

Florestal

Como a temaacutetica deste trabalho eacute discorrer sobre a existecircncia da reserva legal a

partir de um levantamento nas propriedades rurais seratildeo tratadas tatildeo somente as

modificaccedilotildees que dizem respeito a este instituto

112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica

O protecionismo florestal como ligeiramente mencionado anteriormente foi

delineado em um preceito normativo datado da deacutecada de 30 quando surgiu o primeiro

diploma legal a prever a conservaccedilatildeo relativa agrave manutenccedilatildeo das matas Eacute atraveacutes do Decreto

ndeg 23793 de 23 de janeiro de 1934 (BRASIL 1935) que a vegetaccedilatildeo recebe amparo e passa a

ser resguardada da supressatildeo indiscriminada Surge entatildeo o primeiro Coacutedigo Florestal

Brasileiro que em seu artigo 23 descreve que nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas

poderaacute abater mais de trecircs quartas partes da vegetaccedilatildeo existente

17

Eacute interessante observar que a delimitaccedilatildeo imposta pela norma corresponde a vinte

e cinco por cento da propriedade ou seja um grande desafio para a sociedade da eacutepoca que

era tradicionalmente agriacutecola e despontava para a industrializaccedilatildeo

Para melhor apreciar as preocupaccedilotildees que justificaram a ediccedilatildeo do Coacutedigo Florestal

de 1934 haacute que se entender a realidade soacutecio-econocircmica e poliacutetica da sociedade

brasileira no iniacutecio do seacuteculo XX A populaccedilatildeo estava concentrada proacuteximo agrave

Capital da Repuacuteblica cidade do Rio de Janeiro Estado da Guanabara A cafeicultura

avanccedilava pelos morros que constituem a topografia do Vale do Paraiacuteba substituindo

toda a vegetaccedilatildeo nativa A criaccedilatildeo de gado outra forma de utilizaccedilatildeo das terras

fazia-se de modo extensivo e com miacutenima teacutecnica Na silvicultura que jaacute se iniciara

tiacutemida nos primeiros anos do seacuteculo XX verificava-se o trabalho valioso e pioneiro

de Edmundo Navarro de Andrade com a introduccedilatildeo de espeacutecies de Eucalyptus mas

restrito agraves atividades da Cia Paulista de Estradas de Ferro no Estado de Satildeo Paulo

No resto do Paiacutes assim como antes no Estado de Satildeo Paulo a atividade florestal era

fundamentada no mais puro extrativismo Nos Estados do Paranaacute e Santa Catarina

os estoques de Araucaria angustifolia eram rapidamente exauridos Foi nesse cenaacuterio

que o Poder Puacuteblico decidiu interceder estabelecendo limites ao que parecia ser um

saque ou pilhagem dos recursos florestais (muito embora ateacute entatildeo tais praacuteticas

fossem liacutecitas) A mencionada ldquointervenccedilatildeordquo necessaacuteria materializou-se por meio

da ediccedilatildeo de um (primeiro) Coacutedigo Florestal o de 1934 (AHRENS 2001 p 6)

Diferentemente do Decreto de 1934 (BRASIL 1935) ao ser publicada em 15 de

setembro a Lei 4771 (BRASIL 1965) ou seja o Coacutedigo Florestal de 1965 trouxe em seu

artigo 16 a ideia do que seria a reserva legal Criou-se entatildeo um limite miacutenimo a ser

respeitado dentro de cada propriedade muito embora soacute mencione uma porcentagem definida

para aacutereas localizadas no Leste Sul e Centro-Oeste do paiacutes deixando de fora as demais

regiotildees

Art 16 As florestas de domiacutenio privado natildeo sujeitas ao regime de utilizaccedilatildeo

limitada e ressalvadas as de preservaccedilatildeo permanente previstas nos artigos 2deg e 3deg

desta lei satildeo suscetiacuteveis de exploraccedilatildeo obedecidas as seguintes restriccedilotildees

a) nas regiotildees Leste Meridional Sul e Centro-Oeste esta na parte sul as derrubadas

de florestas nativas primitivas ou regeneradas soacute seratildeo permitidas desde que seja

em qualquer caso respeitado o limite miacutenimo de 20 da aacuterea de cada

propriedade com cobertura arboacuterea localizada a criteacuterio da autoridade competente

b) nas regiotildees citadas na letra anterior nas aacutereas jaacute desbravadas e previamente

delimitadas pela autoridade competente ficam proibidas as derrubadas de florestas

primitivas quando feitas para ocupaccedilatildeo do solo com cultura e pastagens

permitindo-se nesses casos apenas a extraccedilatildeo de aacutervores para produccedilatildeo de madeira

Nas aacutereas ainda incultas sujeitas a formas de desbravamento as derrubadas de

florestas primitivas nos trabalhos de instalaccedilatildeo de novas propriedades agriacutecolas soacute

seratildeo toleradas ateacute o maacuteximo de 30 da aacuterea da propriedade

c) na regiatildeo Sul as aacutereas atualmente revestidas de formaccedilotildees florestais em que

ocorre o pinheiro brasileiro Araucaria angustifolia (Bert - O Ktze) natildeo poderatildeo

ser desflorestadas de forma a provocar a eliminaccedilatildeo permanente das florestas

tolerando-se somente a exploraccedilatildeo racional destas observadas as prescriccedilotildees

ditadas pela teacutecnica com a garantia de permanecircncia dos maciccedilos em boas condiccedilotildees

de desenvolvimento e produccedilatildeo

18

d) nas regiotildees Nordeste e Leste Setentrional inclusive nos Estados do Maranhatildeo e

Piauiacute o corte de aacutervores e a exploraccedilatildeo de florestas soacute seraacute permitida com

observacircncia de normas teacutecnicas a serem estabelecidas por ato do Poder Puacuteblico na

forma do art 15 sect 1ordm Nas propriedades rurais compreendidas na aliacutenea a deste artigo com aacuterea entre

vinte (20) a cinquumlenta (50) hectares computar-se-atildeo para efeito de fixaccedilatildeo do limite

percentual aleacutem da cobertura florestal de qualquer natureza os maciccedilos de porte

arboacutereo sejam frutiacutecolas ornamentais ou industriais (BRASIL 1965 p 6-7)

Honestamente natildeo se sabe o motivo pelo qual o legislador neste momento inicial

da lei natildeo se deteve agraves minuacutecias quanto agraves regiotildees Nordeste Oeste e Sudeste como o fez para

as outras ou porque sequer definiu percentuais de vegetaccedilatildeo a ser preservadas nelas Aleacutem

disto simplesmente deixar a cargo de ato do Poder Puacuteblico a exploraccedilatildeo de florestas e o corte

de aacutervores no Nordeste eacute no miacutenimo curioso principalmente porque nessa regiatildeo encontra-se

o bioma Caatinga que eacute iacutempar e inexiste em qualquer outra parte do mundo Corrobora com

isto o Monitoramento do Desmatamento nos Biomas Brasileiros por Sateacutelite MMA e IBAMA

ao expor que mesmo sendo a uacutenica grande regiatildeo natural brasileira cujos limites estatildeo

inteiramente restritos ao territoacuterio nacional pouca atenccedilatildeo tem sido dada agrave conservaccedilatildeo da

heterogecircnea paisagem da Caatinga (BRASIL 2010)

Aleacutem disto as colocaccedilotildees do artigo 44 surpreendem quando especializam o tipo

de corte permitido e enquadram 50 da propriedade como reserva legal para o Norte do paiacutes

e o norte da regiatildeo Centro-Oeste como se pode observar

Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste enquanto natildeo for

estabelecido o decreto de que trata o artigo 15 a exploraccedilatildeo a corte razo soacute eacute

permissiacutevel desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea pelo menos 50 da aacuterea

de cada propriedade (BRASIL 1965 p 15)

Em 1989 surge a Lei 7803 (BRASIL 1989b) que acrescenta os paraacutegrafos 2ordm e

3ordm ao artigo 16 inaugurando a expressatildeo reserva legal e ratificando o percentual miacutenimo do

que deveria ser conservado a tiacutetulo de reserva legal Ao artigo 44 foi acrescentado o

paraacutegrafo uacutenico onde os 50 da propriedade anteriormente indicados para permanecer com a

cobertura vegetal agora passam a ser reconhecidos como reserva legal Em ambos os

dispositivos estaacute presente o procedimento formal a ser adotado com fins de resguardar a

aplicaccedilatildeo daquele instituto e seus efeitos isto eacute a averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio

Art 16 []

sect 2ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) de

cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso deveraacute ser averbada agrave margem

19

da inscriccedilatildeo de matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo

vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou

de desmembramento da aacuterea

sect 3ordm Aplica-se agraves aacutereas de cerrado a reserva legal de 20 (vinte por cento) para

todos os efeitos legais (BRASIL 1989b p 1)

Art 44 [] Paraacutegrafo uacutenico A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 50

(cinquumlenta por cento) de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso

deveraacute ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de

imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de

transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de desmembramento da aacuterea (BRASIL 1989b p

2)

Nota-se que os dispositivos trazem novidades como a vedaccedilatildeo a um tipo de corte

o meacutetodo garantidor para a implantaccedilatildeo da reserva legal e a proibiccedilatildeo de mudanccedila na aacuterea

destinada a receber o benefiacutecio Ademais o bioma cerrado eacute especialmente citado afirmando

assim a instituiccedilatildeo da reserva legal nele e seu respectivo percentual

Vale destacar ainda a entidade puacuteblica que recebeu por forccedila legal a

incumbecircncia de promover os atos formais e documentais para a implantaccedilatildeo da reserva legal

Trata-se do registro ou cartoacuterio de imoacuteveis que por sua vez reuacutene em seus livros oficiais

todas as informaccedilotildees sobre as propriedades imobiliaacuterias de sua circunscriccedilatildeo ou regiatildeo

geograacutefica Enfim o registro de imoacuteveis eacute o oacutergatildeo constitutivo da propriedade e o que guarda

este direito aleacutem de vigiar se a funccedilatildeo social e ambiental do imoacutevel estaacute sendo cumprida

Por conseguinte houve a ediccedilatildeo da Medida Provisoacuteria1 1511 em 25 de julho de

1996 (BRASIL 1996) com o objetivo de dar nova redaccedilatildeo ao artigo 44 do Coacutedigo Florestal

ou seja amplia o percentual da reserva legal de 50 para 80 em casos especiacuteficos e esmiuacuteccedila o

Norte do Brasil e o norte da regiatildeo Centro-Oeste

Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste a exploraccedilatildeo a

corte raso soacute eacute permitida desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea de no

miacutenimo cinquumlenta por cento de cada propriedade

sect 1ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo cinquumlenta por cento

de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso seraacute averbada agrave margem da

inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a

alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de

desmembramento da aacuterea

1 Medidas Provisoacuterias satildeo instrumentos juriacutedico-poliacuteticos traduzidos na forma de atos normativos com forccedila de

lei praticados pelo Chefe do Executivo Federal em situaccedilotildees de urgecircncia e relevacircncia e que devem ser

submetidas de imediato agrave deliberaccedilatildeo do Congresso Nacional (FILHO 2005) A Constituiccedilatildeo Federal em seu

Art 62 prevecirc que em caso de relevacircncia e urgecircncia o Presidente da Repuacuteblica poderaacute adotar medidas

provisoacuterias com forccedila de lei devendo submetecirc-las de imediato ao Congresso Nacional

20

sect 2ordm Nas propriedades onde a cobertura arboacuterea se constitui de fitofisionomias

florestais natildeo seraacute admitido o corte raso em pelo menos oitenta por cento dessas

tipologias florestais

sect 3ordm Para efeito do disposto no caput entende-se por regiatildeo Norte e parte Norte da

regiatildeo Centro-Oeste os Estados do Acre Paraacute Amazonas Roraima Rondocircnia

Amapaacute e Mato Grosso aleacutem das regiotildees situadas ao norte do paralelo 13degS nos

Estados de Tocantins e Goiaacutes e a oeste do meridiano de 44degW no Estado do

Maranhatildeo (BRASIL 1996 p 1)

Fazendo uma retrospectiva ldquoesse ato do Poder Executivo pretendeu conter o

desmatamento na Amazocircnia num momento em que era divulgado o aumento da taxa meacutedia

anual de desflorestamento no biecircnio 1993-1994rdquo (MIRANDA 2008 p 38) Entretanto essa

natildeo foi a uacutenica iniciativa do chefe do executivo para alterar os percentuais citados acima

Inclusive eacute perturbador o levantamento do nuacutemero de medidas provisoacuterias com o fim de

modificar o Coacutedigo Florestal em especial os criteacuterios e aspectos que envolvem a reserva

legal que ora satildeo mais flexibilizados ora mais restritivos Eacute o que se pode observar pela

leitura da Tabela 1 onde se verifica a existecircncia de 68 propostas de mudanccedila em um espaccedilo de

tempo pouco maior que 5 anos

Tabela 1 Medidas Provisoacuterias (MP)Ano

MEDIDAS PROVISOacuteRIAS (MP) Nordm DE MPPERIacuteODO PERIacuteODOS

Nordm 1511 a 1511-17 18 1ordm) 25071996 a 20111997

Nordm 1605-18 a 1605-30 13 2ordm) 11121997 a 19111998

Nordm 1736-31 a 1736-37 7 3ordm) 14121998 a 02061999

Nordm 1885-38 a 1885-43 6 4ordm) 29061999 a 02111999

Nordm 1956-44 a 1956-57 14 5ordm) 09121999 a 14122000

Nordm 2080-58 a 2080-64 7 6ordm) 27122000 a 13062001

Nordm 2166-65 a 2166-67 3 7ordm) 28062001 a 24082001

A uacuteltima Medida Provisoacuteria a promover consideraacuteveis alteraccedilotildees que dizem

respeito agrave reserva legal foi a de nordm 2166-67 de 24 de agosto de 2001 (BRASIL 2001) Ela

acrescentou o inciso III ao paraacutegrafo 2ordm do artigo 1ordm do Coacutedigo Florestal estabelecendo o

conceito de reserva legal ateacute entatildeo natildeo definido no texto da lei muito embora sua acepccedilatildeo jaacute

existisse

21

Art 1ordm []

sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por

[]

III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural

excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos

recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave

conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas

(BRASIL 2001 p 1)

Vale destacar que a reserva legal soacute deveraacute existir em propriedade ou posse rural

natildeo sendo obrigatoacuteria na aacuterea urbana aleacutem do que natildeo eacute soacute o proprietaacuterio ou seja aquele que

deteacutem o domiacutenio do imoacutevel eacute quem deve implantaacute-la mas o possuidor tambeacutem estaacute sujeito a

tal imposiccedilatildeo legal Isso acontece porque o instituto estaacute vinculado ao imoacutevel e natildeo ao dono

ou quem faz as suas vezes por isso eacute considerada uma obrigaccedilatildeo propter rem isto eacute proacutepria

da coisa

Aleacutem da inclusatildeo do conceito de reserva legal ao Coacutedigo Florestal (BRASIL

1965) ocorreu a fixaccedilatildeo de outros percentuais bem como a adiccedilatildeo de mais oito paraacutegrafos

que delinearam aspectos outrora natildeo mencionados Eacute o que se lecirc pela nova redaccedilatildeo do artigo

16

Art 16 As florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo nativa ressalvadas as situadas em

aacuterea de preservaccedilatildeo permanente assim como aquelas natildeo sujeitas ao regime de

utilizaccedilatildeo limitada ou objeto de legislaccedilatildeo especiacutefica satildeo suscetiacuteveis de supressatildeo

desde que sejam mantidas a tiacutetulo de reserva legal no miacutenimo

I - oitenta por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta localizada na

Amazocircnia Legal

II - trinta e cinco por cento na propriedade rural situada em aacuterea de cerrado

localizada na Amazocircnia Legal sendo no miacutenimo vinte por cento na propriedade e

quinze por cento na forma de compensaccedilatildeo em outra aacuterea desde que esteja

localizada na mesma microbacia e seja averbada nos termos do sect 7ordm deste artigo

III - vinte por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta ou outras

formas de vegetaccedilatildeo nativa localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e

IV - vinte por cento na propriedade rural em aacuterea de campos gerais localizada em

qualquer regiatildeo do Paiacutes

sect 1o O percentual de reserva legal na propriedade situada em aacuterea de floresta e

cerrado seraacute definido considerando separadamente os iacutendices contidos nos incisos I

e II deste artigo

sect 2ordm A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser

utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel de acordo com princiacutepios e

criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos estabelecidos no regulamento ressalvadas as

hipoacuteteses previstas no sect 3o deste artigo sem prejuiacutezo das demais legislaccedilotildees

especiacuteficas

sect 3ordm Para cumprimento da manutenccedilatildeo ou compensaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal em

pequena propriedade ou posse rural familiar podem ser computados os plantios de

aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais compostos por espeacutecies exoacuteticas

cultivadas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas

sect 4ordm A localizaccedilatildeo da reserva legal deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental estadual

competente ou mediante convecircnio pelo oacutergatildeo ambiental municipal ou outra

instituiccedilatildeo devidamente habilitada devendo ser considerados no processo de

aprovaccedilatildeo a funccedilatildeo social da propriedade e os seguintes criteacuterios e instrumentos

quando houver

22

I - o plano de bacia hidrograacutefica

II - o plano diretor municipal

III - o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico

IV - outras categorias de zoneamento ambiental e

V - a proximidade com outra Reserva Legal Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente

unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida

sect 5ordm O Poder Executivo se for indicado pelo Zoneamento Ecoloacutegico Econocircmico -

ZEE e pelo Zoneamento Agriacutecola ouvidos o CONAMA o Ministeacuterio do Meio

Ambiente e o Ministeacuterio da Agricultura e do Abastecimento poderaacute

I - reduzir para fins de recomposiccedilatildeo a reserva legal na Amazocircnia Legal para ateacute

cinquumlenta por cento da propriedade excluiacutedas em qualquer caso as Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente os ecoacutetonos os siacutetios e ecossistemas especialmente

protegidos os locais de expressiva biodiversidade e os corredores ecoloacutegicos e

II - ampliar as aacutereas de reserva legal em ateacute cinquumlenta por cento dos iacutendices

previstos neste Coacutedigo em todo o territoacuterio nacional

sect 6ordm Seraacute admitido pelo oacutergatildeo ambiental competente o cocircmputo das aacutereas relativas

agrave vegetaccedilatildeo nativa existente em aacuterea de preservaccedilatildeo permanente no caacutelculo do

percentual de reserva legal desde que natildeo implique em conversatildeo de novas aacutereas

para o uso alternativo do solo e quando a soma da vegetaccedilatildeo nativa em aacuterea de

preservaccedilatildeo permanente e reserva legal exceder a

I - oitenta por cento da propriedade rural localizada na Amazocircnia Legal

II - cinquumlenta por cento da propriedade rural localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e

III - vinte e cinco por cento da pequena propriedade definida pelas aliacuteneas b e c

do inciso I do sect 2ordm do art 1ordm

sect 7o O regime de uso da aacuterea de preservaccedilatildeo permanente natildeo se altera na hipoacutetese

prevista no sect 6o

sect 8ordm A aacuterea de reserva legal deve ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo de matriacutecula

do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua

destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou de

retificaccedilatildeo da aacuterea com as exceccedilotildees previstas neste Coacutedigo

sect 9ordm A averbaccedilatildeo da reserva legal da pequena propriedade ou posse rural familiar eacute

gratuita devendo o Poder Puacuteblico prestar apoio teacutecnico e juriacutedico quando

necessaacuterio

sect 10 Na posse a reserva legal eacute assegurada por Termo de Ajustamento de Conduta

firmado pelo possuidor com o oacutergatildeo ambiental estadual ou federal competente com

forccedila de tiacutetulo executivo e contendo no miacutenimo a localizaccedilatildeo da reserva legal as

suas caracteriacutesticas ecoloacutegicas baacutesicas e a proibiccedilatildeo de supressatildeo de sua vegetaccedilatildeo

aplicando-se no que couber as mesmas disposiccedilotildees previstas neste Coacutedigo para a

propriedade rural

sect 11 Poderaacute ser instituiacuteda reserva legal em regime de condomiacutenio entre mais de

uma propriedade respeitado o percentual legal em relaccedilatildeo a cada imoacutevel mediante a

aprovaccedilatildeo do oacutergatildeo ambiental estadual competente e as devidas averbaccedilotildees

referentes a todos os imoacuteveis envolvidos (BRASIL 2001 p 34)

Caso seja traccedilado um paralelo entre o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)

com as alteraccedilotildees aplicadas e agrave uacuteltima Medida Provisoacuteria percebe-se que o primeiro texto em

seu artigo 16 soacute mencionava as florestas particulares enquanto que em 2001 o reformulado

pela Medida Provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) generaliza a possibilidade de supressatildeo

vegetal para florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo incluindo-as no texto da lei Isto significa

que as florestas puacuteblicas embora sejam de domiacutenio coletivo tambeacutem devem respeitar a

reserva legal de acordo com o estabelecido

E ainda de 1989 ateacute 2001 o percentual para reserva legal era de 20 da

propriedade rural para todas as regiotildees com exceccedilatildeo dos imoacuteveis no norte do paiacutes e no norte

23

do centro-oeste onde deveriam ser protegidos 50 da cobertura arboacuterea Poreacutem com o

advento da Medida provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) aumentou-se essa porcentagem para

80 na Amazocircnia Legal2 para 35 no bioma cerrado localizado na Amazocircnia Legal e a

permanecircncia dos 20 para as demais regiotildees do Brasil

Enfim eacute possiacutevel concluir claramente que tal Medida Provisoacuteria ao modificar o

artigo 16 definiu o conceito de reserva legal foi mais especiacutefica quanto aos seus percentuais

alargou os tipos de florestas suscetiacuteveis ao desmatamento estabeleceu que a vegetaccedilatildeo da

reserva legal soacute poderia ser utilizada atraveacutes de um manejo florestal sustentaacutevel (sect2ordm)

determinou que sua localizaccedilatildeo deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental competente

obedecendo os 5 criteacuterios ambientais estabelecidos (sect4ordm) permitiu a sobreposiccedilatildeo de aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente agrave de reserva legal em alguns casos (sect6ordm) reafirmou o procedimento

documental garantidor do instituto (sect8ordm) criou a possibilidade de constituir a reserva legal

em condomiacutenio (sect11ordm) dentre outros

Encerrando as mudanccedilas trazidas pela Medida Provisoacuteria 2166-672001

(BRASIL 2001) tem-se o artigo 44 que foi completamente reformulado em conteuacutedo em

nuacutemero de incisos e paraacutegrafos O teor deste dispositivo agora versa sobre a recomposiccedilatildeo a

regeneraccedilatildeo e a compensaccedilatildeo da reserva legal Tais accedilotildees devem estar em consonacircncia com o

disposto no artigo 16

Art 44 O proprietaacuterio ou possuidor de imoacutevel rural com aacuterea de floresta nativa

natural primitiva ou regenerada ou outra forma de vegetaccedilatildeo nativa em extensatildeo

inferior ao estabelecido nos incisos I II III e IV do art 16 ressalvado o disposto

nos seus sectsect 5o e 6o deve adotar as seguintes alternativas isoladas ou

conjuntamente

I - recompor a reserva legal de sua propriedade mediante o plantio a cada trecircs anos

de no miacutenimo 110 da aacuterea total necessaacuteria agrave sua complementaccedilatildeo com espeacutecies

nativas de acordo com criteacuterios estabelecidos pelo oacutergatildeo ambiental estadual

competente

II - conduzir a regeneraccedilatildeo natural da reserva legal e

III - compensar a reserva legal por outra aacuterea equivalente em importacircncia ecoloacutegica

e extensatildeo desde que pertenccedila ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma

microbacia conforme criteacuterios estabelecidos em regulamento

sect 1o Na recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I o oacutergatildeo ambiental estadual

competente deve apoiar tecnicamente a pequena propriedade ou posse rural familiar

sect 2o A recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I pode ser realizada mediante o plantio

temporaacuterio de espeacutecies exoacuteticas como pioneiras visando a restauraccedilatildeo do

ecossistema original de acordo com criteacuterios teacutecnicos gerais estabelecidos pelo

CONAMA

2 Amazocircnia Legal - eacute uma aacuterea que engloba a totalidade de oito estados o Acre o Amapaacute o Amazonas o Mato

Grosso o Paraacute Rondocircnia Roraima e Tocantins e parte do Estado do Maranhatildeo (a oeste do meridiano de 44ordmW)

O conceito da Amazocircnia Legal foi criado pela lei 1806 de 06 de janeiro de 1953 (BRASIL 2011) Disponiacutevel

em lthttpwwwipeagovbrdesafiosindexphpoption=com_contentampid=2154catid=28ampItemid=23gt

24

sect 3o A regeneraccedilatildeo de que trata o inciso II seraacute autorizada pelo oacutergatildeo ambiental

estadual competente quando sua viabilidade for comprovada por laudo teacutecnico

podendo ser exigido o isolamento da aacuterea

sect 4o Na impossibilidade de compensaccedilatildeo da reserva legal dentro da mesma micro-

bacia hidrograacutefica deve o oacutergatildeo ambiental estadual competente aplicar o criteacuterio de

maior proximidade possiacutevel entre a propriedade desprovida de reserva legal e a aacuterea

escolhida para compensaccedilatildeo desde que na mesma bacia hidrograacutefica e no mesmo

Estado atendido quando houver o respectivo Plano de Bacia Hidrograacutefica e

respeitadas as demais condicionantes estabelecidas no inciso III

sect 5o A compensaccedilatildeo de que trata o inciso III deste artigo deveraacute ser submetida agrave

aprovaccedilatildeo pelo oacutergatildeo ambiental estadual competente e pode ser implementada

mediante o arrendamento de aacuterea sob regime de servidatildeo florestal ou reserva legal

ou aquisiccedilatildeo de cotas de que trata o art 44-B

sect 6o O proprietaacuterio rural poderaacute ser desonerado pelo periacuteodo de trinta anos das

obrigaccedilotildees previstas neste artigo mediante a doaccedilatildeo ao oacutergatildeo ambiental

competente de aacuterea localizada no interior de Parque Nacional ou Estadual Floresta

Nacional Reserva Extrativista Reserva Bioloacutegica ou Estaccedilatildeo Ecoloacutegica pendente de

regularizaccedilatildeo fundiaacuteria respeitados os criteacuterios previstos no inciso III deste

artigo (NR) (BRASIL 2001 p 45)

Quanto agrave sanccedilatildeo curiosamente neste Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965) natildeo haacute

nenhuma previsatildeo com relaccedilatildeo ao descumprimento da reserva legal diferentemente do

diploma de 1934 (BRASIL 1935) como se pocircde ler anteriormente Nesse sentido existir

uma lei sem a ela estar vinculada uma sanccedilatildeo quando descumprida eacute o mesmo que um fogo

que natildeo queima uma luz que natildeo alumia (MONTEIRO 1992)

Assim finaliza-se a anaacutelise do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) e se

inicia a apreciaccedilatildeo do Novo Coacutedigo Florestal isto eacute a Lei 12651 de 25 de maio de 2012

(BRASIL 2012) que jaacute possui algumas modificaccedilotildees mesmo sendo uma norma bastante

recente Trata-se de uma lei que em seu artigo 1ordm de pronto menciona o instituto da reserva

legal elevando-a a um patamar antes natildeo reconhecido quanto agrave especialidade que lhe eacute

inerente

Art 1ordm-A Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente e as aacutereas de Reserva Legal a exploraccedilatildeo florestal o

suprimento de mateacuteria-prima florestal o controle da origem dos produtos florestais e

o controle e prevenccedilatildeo dos incecircndios florestais e prevecirc instrumentos econocircmicos e

financeiros para o alcance de seus objetivos (BRASIL 2012 p 1)

Quanto a sua definiccedilatildeo embora citada anteriormente vecirc-se a necessidade de se

enfatizar as diferenccedilas entre o novo dispositivo e o anterior ora revogado ateacute porque o

recente eacute bem mais minucioso e atual em se tratando de tendecircncias e realidades do presente

Art 3ordm []

25

III - Aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural delimitada nos

termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de modo sustentaacutevel

dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a reabilitaccedilatildeo dos

processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade bem como o

abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012 p 3)

Art 1ordm []

sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por

[]

III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural

excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos

recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave

conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas

(BRASIL 1965 p 1)

Pela leitura observa-se que a aacuterea de reserva legal desde o iniacutecio estaacute restrita ao

imoacutevel rural excluindo assim o urbano Seu objetivo tambeacutem sempre foi o mesmo

sustentabilidade Isto eacute visto quando se examina o texto do Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965)

ao citar as expressotildees conservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo biodiversidade e proteccedilatildeo colocando nesse

iacutenterim recursos naturais processos ecoloacutegicos fauna e flora nativas O foco da reserva legal

eacute claro quanto agrave conservaccedilatildeo de uma forma sistecircmica pois inclui aspectos de solo vegetaccedilatildeo

vida animal e seus respectivos ciclos Eacute o que coloca SOUZA (2002 p 2829 apud Miranda

2008 p 53)

[] justifica a existecircncia de um mecanismo juriacutedico que garanta ao homem a

manutenccedilatildeo da biodiversidade para o seu proacuteprio bem Deste ponto de vista no

Brasil a Reserva Legal ainda eacute o mecanismo existente se natildeo o uacutenico que garante

essa manutenccedilatildeo tamanha a dependecircncia dos seres humanos de energia advinda de

plantas e animais

Jaacute a lei de 2012 (BRASIL 2012) inova ao incluir e modificar algumas acepccedilotildees

O uso econocircmico eacute uma delas Antes era mencionado somente um uso sustentaacutevel dos

recursos naturais mas agora eacute um uso com base na teoria de produccedilatildeo e consumo sob o vieacutes

da sustentabilidade Aleacutem disto a nova redaccedilatildeo faz uma pequena diferenciaccedilatildeo quanto ao

auxiacutelio que a reserva legal daacute agrave conservaccedilatildeo e agrave reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos

enquanto que a anterior ditava que o tal instituto era necessaacuterio para alcanccedilar os citados

objetivos Inclui tambeacutem a promoccedilatildeo que a reserva legal faz agrave biodiversidade e por fim a

uacuteltima norma agrega a proteccedilatildeo agrave fauna silvestre3 o que outrora era soacute agrave nativa

3 ldquoEacute preciso que a fauna tenha a sua vida ou parte dela ocorrendo naturalmente dentro dos limites do territoacuterio

brasileiro e suas aacuteguas jurisdicionaisrdquo (AMADO 2012 p329) silvestre ndash satildeo animais pertencentes agraves espeacutecies

nativas migratoacuterias e quaisquer outras aquaacuteticas ou terrestres

26

Percebe-se que com o passar dos anos as leis que versam sobre florestas estatildeo

cada vez mais aperfeiccediloadas com particularidades e especificidades como se pode concluir

pela leitura da evoluccedilatildeo histoacuterica dessas normas e suas modificaccedilotildees Visualiza-se melhor

tambeacutem ao se comparar os objetivos da reserva legal nas figuras 1 e 2

Figura 1 - Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771 (BRASIL 1965)

Figura 2 - Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 - Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)

RESERVA

LEGAL

ASSEGURA AUXILIA PROMOVE

27

E em se tratando das penalidades quem natildeo respeitar a reserva legal estaraacute

enquadrado no Decreto Federal 6514 de 22 de julho de 2008 (BRASIL 2008) que dispotildee

sobre as infraccedilotildees e sanccedilotildees administrativas ao meio ambiente e prevecirc aplicaccedilatildeo de multas

como descrito nos artigos abaixo

Art 48 Impedir ou dificultar a regeneraccedilatildeo natural de florestas ou demais formas

de vegetaccedilatildeo nativa em unidades de conservaccedilatildeo ou outras aacutereas especialmente

protegidas quando couber aacuterea de preservaccedilatildeo permanente reserva legal ou

demais locais cuja regeneraccedilatildeo tenha sido indicada pela autoridade ambiental

competente

Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo

[]

Art 51 Destruir desmatar danificar ou explorar floresta ou qualquer tipo de

vegetaccedilatildeo nativa ou de espeacutecies nativas plantadas em aacuterea de reserva legal ou

servidatildeo florestal de domiacutenio puacuteblico ou privado sem autorizaccedilatildeo preacutevia do oacutergatildeo

ambiental competente ou em desacordo com a concedida

Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo

[]

Art 55 Deixar de averbar a reserva legal Multa de R$ 50000 (quinhentos reais) a R$ 10000000 (cem mil reais) (BRASIL

2008 p 12)

Ao ler o dispositivo da lei eacute possiacutevel averiguar que tanto accedilotildees como omissotildees

possiacuteveis de cometimento quanto agrave reserva legal estatildeo previstas naquele Decreto (BRASIL

2008) o que daacute poder agraves autoridades constituiacutedas de exercerem seu papel fiscalizatoacuterio e

sancionatoacuterio em desfavor daquele que descumprir tal obrigaccedilatildeo

Nesse novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012) a reserva legal estaacute muito mais

discorrida e consequentemente resguardada A lei trouxe um capiacutetulo especiacutefico com duas

seccedilotildees organizadas dispondo sobre a delimitaccedilatildeo e o regime de proteccedilatildeo do instituto aleacutem de

outra seccedilatildeo que prevecirc a transformaccedilatildeo das reservas legais em aacutereas verdes nas expansotildees

urbanas

Para comeccedilar a analisar as novidades trazidas pelo Coacutedigo Florestal (BRASIL

2012) vale mencionar a mais importante quanto ao controle e fiscalizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da

reserva legal que se daraacute pelo Cadastro Ambiental Rural ndash CAR Eacute um registro puacuteblico

eletrocircnico de acircmbito nacional obrigatoacuterio para todos os imoacuteveis rurais com a finalidade de

integrar as informaccedilotildees ambientais das propriedades e posses rurais compondo base de dados

para controle monitoramento planejamento ambiental e econocircmico e combate ao

desmatamento conforme artigo 29 daquele diploma legal Para se cadastrar no CAR o

proprietaacuterio ou possuidor rural deveraacute identificar-se comprovar a propriedade ou posse e

identificar o imoacutevel atraveacutes de planta georreferenciada e memorial descritivo informando os

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remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente dentre outras

segundo o inciso III do paraacutegrafo primeiro do mesmo dispositivo acima

Com a criaccedilatildeo desse sistema a supressatildeo de novas aacutereas de floresta ou outras

formas de vegetaccedilatildeo nativa soacute poderaacute ser autorizada apoacutes a inserccedilatildeo do imoacutevel onde ocorreraacute

o desmatamento no Cadastro Ambiental Rural A exceccedilatildeo a essa regra eacute o imoacutevel que jaacute

possua a reserva legal averbada na sua matriacutecula com a respectiva identificaccedilatildeo e localizaccedilatildeo

Isso dispensa a inclusatildeo no CAR Eacute o que rezam o paraacutegrafo terceiro do artigo 12 e o artigo

30 do Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)

A nova lei prevecirc que a inscriccedilatildeo no CAR eacute obrigatoacuteria para todas as propriedades

e posses rurais e deve ser requerida no prazo de um ano a partir da sua implantaccedilatildeo (sect3ordm do

artigo 29) No caso do Cearaacute o Cadastro Ambiental Rural ainda natildeo foi estabelecido embora

a lei jaacute tenha completado um ano Aleacutem disto agravequele que protocolar toda documentaccedilatildeo para

anaacutelise da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal no oacutergatildeo ambiental competente natildeo poderaacute ser

imputada sanccedilatildeo administrativa nem restriccedilatildeo a direitos por qualquer oacutergatildeo ambiental

competente (sect2ordm do artigo 14) desde que a sanccedilatildeo diga respeito a natildeo formalizaccedilatildeo da aacuterea de

reserva legal

Outra novidade eacute a dispensa de reserva legal em alguns casos como nos

empreendimentos de abastecimento puacuteblico de aacutegua e tratamento de esgoto nas aacutereas

adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessatildeo permissatildeo ou autorizaccedilatildeo para

exploraccedilatildeo de potencial de energia hidraacuteulica nas quais funcionem empreendimentos de

geraccedilatildeo de energia eleacutetrica subestaccedilotildees ou seja instaladas linhas de transmissatildeo e de

distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica e nas aacutereas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de

implantaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo de capacidade de rodovias e ferrovias (sect6 ordm sect7 ordm e sect8ordm do artigo 12)

Ao passo que na Lei 477165 (BRASIL 1965) o uacutenico caso dispensaacutevel de cumprir a reserva

legal era a doaccedilatildeo pelo proprietaacuterio rural de aacuterea localizada no interior de unidade de

conservaccedilatildeo de domiacutenio puacuteblico pendente de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria ao oacutergatildeo ambiental

competente (sect6ordm do art 44)

Quanto aos percentuais de reserva legal sobre a propriedade ou posse rural nada

mudou ou seja permaneceram os mesmos embora organizados de forma diferente conforme

se segue

Art 12 Todo imoacutevel rural deve manter aacuterea com cobertura de vegetaccedilatildeo nativa a

tiacutetulo de Reserva Legal sem prejuiacutezo da aplicaccedilatildeo das normas sobre as Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente observados os seguintes percentuais miacutenimos em relaccedilatildeo agrave

aacuterea do imoacutevel excetuados os casos previstos no art 68 desta Lei

I - localizado na Amazocircnia Legal

29

a) 80 (oitenta por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de florestas

b) 35 (trinta e cinco por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de cerrado

c) 20 (vinte por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de campos gerais

II - localizado nas demais regiotildees do Paiacutes 20 (vinte por cento) (BRASIL 2012 p

15)

Acerca da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal alguns criteacuterios a serem

observados permaneceram inalterados tais como o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento

ecoloacutegico-econocircmico4 e a proximidade com outra reserva legal aacuterea de preservaccedilatildeo

permanente unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida Por outro lado

foram acrescentados dois aspectos a serem considerados tambeacutem satildeo eles as aacutereas de maior

importacircncia para a conservaccedilatildeo da biodiversidade e as aacutereas de maior fragilidade ambiental

(Incisos IV e V do artigo 14)

Por fim haacute que se falar que a nova lei permitiu a sobreposiccedilatildeo das aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente agrave aacuterea de reserva legal ou seja ao se calcular o percentual desta

poderatildeo ser computadas as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente existentes no imoacutevel rural desde

que atenda alguns requisitos Eacute o que prescreve o artigo 15

Art 15 Seraacute admitido o cocircmputo das Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente no caacutelculo

do percentual da Reserva Legal do imoacutevel desde que

I - o benefiacutecio previsto neste artigo natildeo implique a conversatildeo de novas aacutereas para o

uso alternativo do solo

II - a aacuterea a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperaccedilatildeo

conforme comprovaccedilatildeo do proprietaacuterio ao oacutergatildeo estadual integrante do Sisnama e

III - o proprietaacuterio ou possuidor tenha requerido inclusatildeo do imoacutevel no Cadastro

Ambiental Rural - CAR nos termos desta Lei BRASIL 2012 p 1617)

Basicamente essas foram as inovaccedilotildees mais pertinentes agrave reserva legal trazidas

pelo Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)

113 Importacircncia da reserva legal

Vaacuterios aspectos perfazem o instituto da reserva legal Satildeo fundamentos de

cunho teacutecnico e cientiacutefico que revelam sua importacircncia atraveacutes da abordagem juriacutedica social

ambiental e econocircmica A reserva legal natildeo foi simplesmente uma imposiccedilatildeo prevista em lei

4 Zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ndash eacute um zoneamento ambiental Esse instrumento estaacute previsto na Poliacutetica

Nacional do Meio Ambiente que foi instituiacuteda pela Lei 693881 Trata-se de uma modalidade de intervenccedilatildeo

estatal sobre o territoacuterio a fim de reparti-lo em zonas consoante o melhor interesse na preservaccedilatildeo ambiental e

no uso sustentaacutevel dos recursos naturais Conferir AMADO Frederico Direito Ambiental Esquematizado

2012 p111

30

mas uma mobilizaccedilatildeo da sociedade para resguardar os bens ambientais impedindo a

degradaccedilatildeo sem precedentes

ldquoA reserva legal busca a preservaccedilatildeo ambiental como um todo natildeo soacute do imoacutevel

que nesta se situardquo (AMADO 2009 p 105) Ainda salienta Moraes (2002 p 30) que ldquoa

reserva legal natildeo possui funccedilatildeo vinculada ao imoacutevel especificamente sendo limitaccedilatildeo de

niacutevel macro ou seja mais preocupada com a melhoria regional da biodiversidade do que

propriamente com o ecossistema interno da propriedaderdquo E muito bem acrescenta Milareacute

(2009 p 166)

Aleacutem de preservar belezas cecircnicas e bucoacutelicos ambientes histoacutericos para as geraccedilotildees

futuras as aacutereas protegidas assumiram objetivos como a proteccedilatildeo de recursos

hiacutedricos manejo de recursos naturais desenvolvimento de pesquisas cientiacuteficas

manutenccedilatildeo do equiliacutebrio climaacutetico e ecoloacutegico preservaccedilatildeo de recursos geneacuteticos

e atualmente constituem o eixo de estruturaccedilatildeo da preservaccedilatildeo in situ da

biodiversidade como um todo

1131 Juriacutedica

A reserva legal foi criada pela forccedila do universo juriacutedico brasileiro que lhe

pressupotildee efetividade Como jaacute fora mencionado o instituto teve sua definiccedilatildeo atraveacutes da

Medida Provisoacuteria 2166-672001 (BRASIL 2001) que por sua vez alterou o Coacutedigo

Florestal (BRASIL 1965) vigente agrave eacutepoca Embora houvesse previsatildeo legal para aacutereas

especialmente protegidas estas ateacute entatildeo natildeo haviam sido nominadas como reserva legal

A lei ndeg 477165 (BRASIL 1965) segundo Trennepohl (2009) trazia uma maior

preocupaccedilatildeo com a erosatildeo de terras e o consequente prejuiacutezo para as atividades produtivas

Denotando predominante inclinaccedilatildeo para a sustentabilidade econocircmica da mateacuteria-prima

aquele diploma tratava a utilizaccedilatildeo dos recursos florestais de forma racional com finalidade

de garantir as atividades econocircmicas para as quais servem de insumo

Jaacute no entendimento de Schaffer e Medeiros (2009) a figura da reserva legal no

Coacutedigo Florestal revela-se como uma norma de importacircncia e observacircncia necessaacuterias

essencialmente estrateacutegicas para a garantia de um desenvolvimento equilibrado e sustentaacutevel

para a naccedilatildeo brasileira Tambeacutem observam os mesmos autores que a tatildeo discutida lei florestal

estabeleceu percentuais diferenciados de Reserva Legal em funccedilatildeo da localizaccedilatildeo do tipo de

vegetaccedilatildeo e das caracteriacutesticas ambientais das diferentes regiotildees do paiacutes

A eficaacutecia para o cumprimento do instituto se baseia na imposiccedilatildeo da lei quanto agrave

obrigaccedilatildeo dos proprietaacuterios ou posseiros rurais se dirigirem ao cartoacuterio de registro do seu

31

imoacutevel com a aacuterea da reserva jaacute delimitada e procederem agrave averbaccedilatildeo agrave margem da sua

matriacutecula No entanto essa obrigatoriedade foi substituiacuteda pelo Cadastro Ambiental Rural

que deveraacute ser feito no oacutergatildeo ambiental competente conforme visto anteriormente Esse

procedimento se daacute pelos paracircmetros devidamente previstos em normas teacutecnicas que dispotildeem

como o dono da aacuterea deve conduzir tal processo Essa averbaccedilatildeo eacute irretrataacutevel ou seja jamais

pode ser desfeita e eacute isso que daacute eficiecircncia ao instituto se cumprido Tal imposiccedilatildeo garante

que o proprietaacuterio natildeo desmembre seu imoacutevel na intenccedilatildeo de burlar a lei

Quanto ao procedimento de averbaccedilatildeo da reserva legal na matriacutecula do imoacutevel

ressalta Trennepohl (2009 p11-12)

A exigecircncia da averbaccedilatildeo da reserva legal vem desde 1965 vale dizer haacute mais de

quarenta anos existe esta obrigatoriedade E muitos proprietaacuterios rurais cumpriram agrave

risca esta exigecircncia averbando e mantendo preservado o percentual estipulado pela

lei

[]

A necessidade dessa averbaccedilatildeo dispensa maiores comentaacuterios e pode ser facilmente

entendida como a uacutenica garantia eficaz para que a transferecircncia ou a partilha natildeo

afastem essa obrigaccedilatildeo propter rem [proacutepria da coisa] que vincula a propriedade

natildeo o proprietaacuterio

Para alguns proprietaacuterios de terras rurais se houver o atendimento do instituto da

reserva legal caberia uma indenizaccedilatildeo pela perda daquela porcentagem em suas propriedades

mas como bem ilustra Magnanini (2010 p 5) ldquoa funccedilatildeo protetora da floresta natildeo eacute restriccedilatildeo

indenizaacutevel mas decorrecircncia da proacutepria natureza que preparou terras mais uacuteteis e outras

menosrdquo

1132 Social

Segundo o renomado filoacutesofo Mondin (2004 p 117) ldquoo homem eacute um ser

sociaacutevel portanto incapaz de sozinho alcanccedilar seus objetivos anseios e realizaccedilotildees

consequentemente viverrdquo A partir dessa constataccedilatildeo soacute resta ao ser humano subsistir numa

sociedade inserida no mundo natural

Como indiviacuteduo pratica accedilotildees que lhe afetam direta e indiretamente promovendo

reflexos no espaccedilo em que habita Por isso o aspecto social estaacute intimamente vinculado agrave

qualidade ambiental uma vez que o ser humano gera impactos positivos e negativos em seu

entorno Como natildeo se pode separar a atuaccedilatildeo dele do meio em que foi introduzido necessaacuterio

eacute fazer o balizamento de suas atitudes Uma das formas de limitar seu comportamento eacute a

confecccedilatildeo de normas como por exemplo a lei que nada mais eacute do que a expressatildeo de uma

32

demanda social por medidas coercitivas em virtude do desrespeito a um aspecto que a

sociedade defende ou repudia

Quanto agraves accedilotildees humanas e seus reflexos a teoria de ldquometapopulaccedilotildeesrdquo define

que a raccedila humana causa imenso impacto na Terra provocando a deterioraccedilatildeo dos sistemas

ecoloacutegicos e a extinccedilatildeo de muitas espeacutecies as quais tem seu ritmo acelerado agrave medida que a

populaccedilatildeo cresce e aumentando com isso o consumo de energia e de recursos naturais

SOUZA (2002 apud Miranda 2008)

O aspecto social que envolve a reserva legal confronta-se com praacuteticas seculares

do homem campestre como bem ilustra Magnanini (2010 p 3) engenheiro agrocircnomo e um

dos autores do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)

A agricultura itinerante continua se desenvolvendo segundo os meacutetodos primitivos

dos primeiros anos do descobrimento Chega o agricultor derruba e queima as

matas sem indagar se elas satildeo necessaacuterias agrave conservaccedilatildeo da feracidade do solo ou

do regime das aacuteguas Depois de alguns anos de exploraccedilatildeo renovando anualmente a

queimada como meio de extinguir a vegetaccedilatildeo invasora o terreno esgotado eacute

entregue ao abandono e o agricultor seguindo as pegadas do madeireiro que adiante

derrubou as aacutervores para extrair as toras inicia novo ciclo devastador idecircntico ao

precedente Como efeito disto a agricultura cada vez se interioriza mais e cada vez

se distancia mais dos centros consumidores requerendo transportes sempre mais

caros [] Inundaccedilotildees cada vez mais destruidoras pela remoccedilatildeo desordenada de

florestas colocam em sobressalto as populaccedilotildees de centenas de cidades ribeirinhas

Vale mencionar outra caracteriacutestica que expressa o valor que a reserva legal

quando estaacute sendo cumprida imprime na aacuterea rural ndash eacute a funccedilatildeo social da propriedade

considerada como princiacutepio basilar para o uso da mesma Designaccedilatildeo bastante enunciada

pelas normas que estabelecem aquele instituto permeia o direito de propriedade da terra que

natildeo eacute visto unilateralmente e sim em sua universalidade uma vez que o imoacutevel natildeo estaacute para

servir soacute a seu dono mas tem que atender sua funccedilatildeo social Nesse sentido Miranda (2008)

pontua que a reserva legal eacute uma forma de assegurar a funccedilatildeo social da propriedade fazendo

com que esta contribua com a preservaccedilatildeo do meio ambiente ecologicamente equilibrado para

atuais e futuras geraccedilotildees Eacute como tambeacutem entende Trennepohl (2009 p 11) ao afirmar que

A preservaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa num percentual das propriedades rurais diminui o

lucro do proprietaacuterio mas de forma muito menos significativa que o ganho para a

coletividade com a qualidade ambiental decorrente pelo que entendemos

inquestionaacutevel que o interesse coletivo se sobrepotildee ao individual

1133 Ambiental

Considerado como um dos principais fatores que embasam a instituiccedilatildeo da reserva

legal na propriedade ou posse rural o aspecto ambiental se funda na biologia que perpassa

33

essencialmente esse vieacutes sem admitir qualquer desassociaccedilatildeo entre as unidades ambientais

como aacutegua solo vegetaccedilatildeo e ar Pode-se afirmar que o alicerce do estudo do meio eacute a ciecircncia

bioloacutegica que por sua vez analisa as reaccedilotildees as funccedilotildees fiacutesico-quiacutemicas a qualidade do

ambiente testando seus limites ou melhor sua capacidade de suporte Do mesmo modo

Miranda (2008 p 51) discorre sobre a importacircncia ecoloacutegica do instituto da reserva legal

quando afirma que ldquosua funccedilatildeo preciacutepua eacute assegurar mostras significativas de ecossistemas

conservando a biodiversidade e servindo de abrigo e proteccedilatildeo agrave fauna e agrave florardquo

Sobre isso Metzger (2002 p 48) tambeacutem atesta que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de

propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa eacute

fundamental para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada

regiatildeordquo Complementa Silva (2001 p 59) quando afirma

A cobertura vegetal nativa sobretudo as florestais exerce papel de fundamental

importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de ecossistemas naturais bem como de

ecossistemas criados pelo homem como eacute o caso dos ecossistemas agriacutecolas Aleacutem

de permitirem uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da aacutegua no solo e no

subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos regular a vazatildeo

dos rios reduzindo as intensidades dos extremos de estiagens e enchentes manterem

a diversidade geneacutetica

Logo todos os benefiacutecios apontados pelos autores acima podem ser verificados

em uma menor escala quando haacute a observacircncia da reserva legal dentro de cada propriedade

rural em determinada regiatildeo garantindo sua viabilidade ambiental posto que assume um

papel niacutetido de conservaccedilatildeo Para exemplificar a assertiva retro menciona-se o microclima

favoraacutevel mantido quando haacute vegetaccedilatildeo na aacuterea em apreccedilo que por sua vez amortiza a

incidecircncia solar sobre aquela regiatildeo Por outro lado a cobertura vegetal tambeacutem eacute favoraacutevel agrave

manutenccedilatildeo dos solos uma vez que dificulta a accedilatildeo erosiva das chuvas

Infere-se portanto que a existecircncia da reserva legal na propriedade rural soacute traz

vantagens ao meio ambiente por mais que a tradiccedilatildeo campestre natildeo as compreenda Eacute o que

demonstram Schaffer e Medeiros (2009 p 2) ensinando que

A Reserva Legal (RL) por sua vez natildeo tem apenas a funccedilatildeo de prover o uso

sustentaacutevel dos recursos naturais na propriedade ou posse rural Tem tambeacutem a

funccedilatildeo de conservar e reabilitar os processos ecoloacutegicos conservar a biodiversidade

e servir de abrigo e proteccedilatildeo da fauna e flora nativas Desta forma a norma geral de

caraacuteter nacional [Coacutedigo Florestal] concilia o necessaacuterio uso sustentaacutevel de recursos

naturais para a propriedade ou posse rural com as funccedilotildees ambientais e o

provimento de serviccedilos ambientais de retenccedilatildeo de aacutegua conservaccedilatildeo do solo

manutenccedilatildeo de grupos de polinizadores e fixaccedilatildeo de biomassa entre outros os quais

satildeo importantes e necessaacuterios ao cumprimento da funccedilatildeo socioambiental dos

imoacuteveis ou propriedades rurais

34

No mesmo sentido Mercadante (1999 p 240 apud MIRANDA 2008 p 5354)

numa interpretaccedilatildeo mais ampla sobre a importacircncia ecoloacutegica da reserva legal diz

A Reserva Legal natildeo tem por objetivo apenas a conservaccedilatildeo da natureza da flora e

da fauna pelo valor intriacutenseco dos recursos bioloacutegicos ou pela contribuiccedilatildeo dessas

aacutereas para a qualidade do ambiente em geral A Reserva Legal eacute fundamental para a

estabilidade ecoloacutegica e consequentemente a exploraccedilatildeo em bases sustentaacuteveis do

proacuteprio imoacutevel rural A Reserva Legal contribui para a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo

do solo o controle da erosatildeo o controle do assoreamento dos cursos d‟aacutegua a

conservaccedilatildeo dos corpos d‟aacutegua e dos mananciais serve de abrigo para os predadores

das pragas agriacutecolas fornece madeira e outros recursos florestais para uso na

propriedade dentre outros benefiacutecios

E por fim eacute cabiacutevel mencionar ainda que o Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL

2012) fixou criteacuterios bem mais especiacuteficos e pertinentes ao estabelecimento da reserva legal

como proceder ao cumprimento desse instituto observando se sua localizaccedilatildeo eacute condizente

com o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ou outras categorias

de zoneamento ambiental a proximidade com outras aacutereas legalmente protegidas dentre

outros

1134 Econocircmica

A reserva legal sob o aspecto econocircmico eacute muito controversa uma vez que eacute vista

pelo proprietaacuterio ou posseiro rural como um encargo Mesmo porque como exprime

Trennepohl (2009) ateacute a deacutecada de 80 quando se tinha diferentes normas com dispositivos

protecionistas mas com enfoque preponderantemente economicista os recursos naturais eram

tratados muito mais como insumos de produccedilatildeo ou bens de uso imediato da sociedade do que

como elementos integrantes de um intrincado e fraacutegil equiliacutebrio ambiental Isto condicionou

fatalmente a sociedade brasileira contemporacircnea a natildeo observar a deferecircncia aos bens

ambientais quiccedilaacute respeitar certa porcentagem de uma aacuterea que fora adquirida por um

particular com seus recursos proacuteprios e a tem como totalmente privada

Ainda eacute possiacutevel pelo Coacutedigo Florestal - Lei 126512012 (BRASIL 2012)

intervir na aacuterea destinada agrave reserva de forma sustentaacutevel sem suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo

uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo econocircmica dessas aacutereas Aleacutem do

que ldquoa recuperaccedilatildeo de aacutereas de RL pode ainda gerar produtos e subprodutos madeireiros jaacute

escassos em algumas regiotildees garantindo assim uma renda adicional ao produtor rural e

mateacuteria-prima para a induacutestriardquo conforme defendem Schaffer e Medeiros (2009 p 12)

Para Magnanini (2010) a situaccedilatildeo eacute graviacutessima quando sugere ficar a criteacuterio

do proprietaacuterio rural a iniciativa de proceder ou natildeo agrave reserva legal jaacute que a Administraccedilatildeo

35

Puacuteblica natildeo tem como combater eficientemente o descumprimento desse instituto Eacute o que

propotildee no momento em que coloca

O dilema eacute este ou impotildee-se a todos os donos de terras defenderem agrave sua custa a

produtividade do solo contra a erosatildeo terriacutevel e crescente ou cruzam-se os braccedilos

ante a incapacidade pela pobreza do Poder Puacuteblico na maioria dos Estados do

Brasil para deter a transformaccedilatildeo do Paiacutes num deserto em que as estaccedilotildees se

alternem entre inundaccedilotildees e secas devoradoras de todo o esforccedilo humano

(MAGNANINI 2010 p 5)

Ademais define-se outra vertente do aspecto econocircmico tatildeo bem colocada pela

acepccedilatildeo que tem Bacha (2005 p 9) ao afirmar que

A reserva legal eacute um mecanismo de poliacutetica de rendas pelo qual se procura

estabelecer um zoneamento do uso da terra dentro da propriedade rural A poliacutetica

de rendas constitui-se numa seacuterie de regulamentaccedilotildees que restringem a produccedilatildeo e a

comercializaccedilatildeo de produtos bem como o uso dos fatores de produccedilatildeo eou

determinam valores miacutenimos ou maacuteximos para o pagamento pelo uso desses fatores

ou por produtos elaborados numa economia

Eacute possiacutevel portanto depreender o entendimento do autor de modo que a reserva

legal vem restringir o uso indiscriminado dos recursos florestais gerando com isso a

manutenccedilatildeo do bem ambiental que seraacute resguardado por aquele instituto Isto influiraacute

diretamente na cadeia produtiva nas oscilaccedilotildees de demanda e procura do mercado de mateacuteria-

prima de origem vegetal Ou seja pode-se entender que a meacutedio eou longo prazo a reserva

legal seraacute um ponto de equiliacutebrio no fluxo da produccedilatildeo de bens e serviccedilos que careccedilam desse

recurso natural

114 Direito de Propriedade x Reserva Legal

A propriedade privada eacute uma espeacutecie baacutesica que se decompotildee em propriedade

rural ou urbana segundo se refira a moradias do campo ou moradias derivadas das

construccedilotildees ou edificaccedilotildees idocircneas para sua habitualidade ou aproveitamento diferente do

que eacute a exploraccedilatildeo agraacuteria de qualquer moradia rural (CRIADO 2010)

A propriedade no direito brasileiro foi constituiacuteda em forma e conteuacutedo a partir de

normas muito antigas e de outras naccedilotildees ou seja foi reproduzida com base no direito romano

ldquoDesde aqueles tempos o direito de propriedade era tido como absoluto isto eacute o proprietaacuterio

tinha o direito de usar ou natildeo usar gozar ou natildeo gozar e dispor ou natildeo dispor da propriedade

imobiliaacuteriardquo (MELO 2010 p22) Em contrapartida ldquoos direitos de propriedade

constitucional certamente satildeo direitos de liberdade seja a liberdade individual seja a

liberdade comunitaacuteria que satildeo complementares e indissociaacuteveis haja vista que uma natildeo

36

existe sem a outra como nos demonstram as experiecircncias totalitaacuterias do seacuteculo XXrdquo

(ANTUNES 2011 p37)

A garantia do direito de propriedade estaacute prevista constitucionalmente ou seja na

maior Lei do paiacutes uma vez que ela se sobrepotildee a todas as outras leis e normas juriacutedicas Eacute a

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil que foi promulgada em 05 de outubro de

1988 Conhecida como Carta Magna a Constituiccedilatildeo de 1988 (BRASIL 1988) em seu Tiacutetulo

II estabelece os direitos e as garantias fundamentais do e para o povo brasileiro Logo no

primeiro capiacutetulo deste tiacutetulo estatildeo dispostos os direitos e deveres individuais e coletivos que

o Estado brasileiro deve assegurar aos seus cidadatildeos Eacute no artigo 5ordm que estatildeo previstas tais

premissas inclusive o direito de propriedade (inciso XXII) e o respeito agrave sua funccedilatildeo social

(XXIII)

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade

do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos

seguintes

[]

XXII - eacute garantido o direito de propriedade

XXIII - a propriedade atenderaacute a sua funccedilatildeo social

Quanto agrave funccedilatildeo social da propriedade ldquosomente nos seacuteculos XIX e XX surgiu a

ideia em que o imoacutevel natildeo teria mais o caraacuteter absoluto e intangiacutevel de forma que o

proprietaacuterio por possuir recursos deveria cumprir a tal funccedilatildeordquo (MELO 2010 p23) Ainda

ldquodiscorrer sobre a funccedilatildeo social da propriedade significa abandonar a ideia absolutista e

inflexiacutevel desse instituto para admitir a revitalizaccedilatildeo e o condicionamento do exerciacutecio a

interesses maiores que os do proprietaacuterio individualrdquo (PETERS 2003 p 125 apud

MIRANDA 2008 p 56) Foi nesse sentido que as Constituiccedilotildees Federais brasileiras de 1934

(BRASIL 1934b) 1946 (BRASIL 1946) 1967 (BRASIL 1967c) e a de 1988 (BRASIL

1988) restringiram o direito de propriedade

Constituiccedilatildeo de 1934

Art 113 - A Constituiccedilatildeo assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade dos direitos concernentes agrave liberdade agrave subsistecircncia agrave seguranccedila

individual e agrave propriedade nos termos seguintes

[]

17) Eacute garantido o direito de propriedade que natildeo poderaacute ser exercido contra o

interesse social ou coletivo na forma que a lei determinar A desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica far-se-aacute nos termos da lei mediante preacutevia e justa

indenizaccedilatildeo [] (BRASIL 1934b p 33)

Constituiccedilatildeo de 1946

Art 141 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

Paiacutes a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade a seguranccedila

individual e agrave propriedade nos termos seguintes

37

[]

sect 16 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa

indenizaccedilatildeo em dinheiro (BRASIL 1946 p 31)

Constituiccedilatildeo de 1967

Art 150 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

Pais a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

[]

sect 22 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa

indenizaccedilatildeo em dinheiro ressalvado o disposto no art 157 sect 1ordm []

[]

Art 157 - A ordem econocircmica tem por fim realizar a justiccedila social com base nos

seguintes princiacutepios

[]

III - funccedilatildeo social da propriedade

[]

sect 1ordm - Para os fins previstos neste artigo a Uniatildeo poderaacute promover a desapropriaccedilatildeo

da propriedade territorial rural mediante pagamento de justa indenizaccedilatildeo fixada

segundo os criteacuterios que a lei estabelecer em tiacutetulos especiais da diacutevida puacuteblica []

(BRASIL 1967c p 4951)

Embora os textos se assemelhem eacute faacutecil observar que em 1934 o direito de

propriedade natildeo poderia ir contra o interesse social ou coletivo enquanto que na Constituiccedilatildeo

de 1946 (BRASIL 1946) jaacute se comeccedila a falar em desapropriaccedilatildeo caso aquele interesse natildeo

seja observado Em 1967 existe uma combinaccedilatildeo entre o direito de propriedade e a justiccedila

social estando esta prevista como objetivo da ordem econocircmica que por sua vez cita

claramente a funccedilatildeo social da propriedade como um de seus princiacutepios Mais uma vez a

desapropriaccedilatildeo vem agrave tona agora com um toque mais robusto e imbuiacutedo de maior evidecircncia

jaacute que aquela Carta (BRASIL 1967c) faz menccedilatildeo no paraacutegrafo 1ordm do artigo 157 que a Uniatildeo

poderaacute desapropriar a propriedade territorial rural se natildeo atender dentre outros aspectos a

funccedilatildeo social da propriedade

Retroagindo aproximadamente trecircs anos a desapropriaccedilatildeo jaacute estava em pauta

atraveacutes da Lei 450464 (BRASIL 1964) conhecida como o Estatuto da Terra Com o

objetivo de regular os direitos e obrigaccedilotildees concernentes aos bens imoacuteveis rurais a citada lei

menciona a desapropriaccedilatildeo como uma das medidas de execuccedilatildeo da Reforma Agraacuteria e

promoccedilatildeo da Poliacutetica Agriacutecola (Art 1deg) Aleacutem disto o artigo segundo assegura a todos a

oportunidade de acesso agrave propriedade da terra condicionada pela sua funccedilatildeo social desde que

cumpra as seguintes condiccedilotildees

Art 2deg

sect 1deg A propriedade da terra desempenha integralmente a sua funccedilatildeo social quando

simultaneamente

a) favorece o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores que nela labutam

assim como de suas famiacutelias

38

b) manteacutem niacuteveis satisfatoacuterios de produtividade

c) assegura a conservaccedilatildeo dos recursos naturais

d) observa as disposiccedilotildees legais que regulam as justas relaccedilotildees de trabalho entre os

que a possuem e a cultivem (BRASIL 1964 p 1)

Encerrando o rol de Constituiccedilotildees brasileiras quanto ao direito de propriedade e

sua funccedilatildeo social a de 1988 consagra este princiacutepio no artigo 186

Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende

simultaneamente segundo criteacuterios e graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos

seguintes requisitos

I - aproveitamento racional e adequado

II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio

ambiente

[] (BRASIL 1988 p 144)

Chama atenccedilatildeo o inciso II quando dispotildee sobre a utilizaccedilatildeo adequada dos

recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio ambiente Eacute nesse iacutenterim que a reserva

legal eacute reconhecida por dar ao imoacutevel uma funccedilatildeo social ldquouma vez que atribui agrave propriedade

a exigecircncia da observacircncia de funccedilotildees econocircmica e social bem como de preservaccedilatildeo do meio

ambienterdquo (MELO 2010 p 24) Tambeacutem sobre isso bem coloca Trennepohl (2009 p 12)

A limitaccedilatildeo administrativa do exerciacutecio do direito de propriedade encontra respaldo

no art 186 da Constituiccedilatildeo Federal pois a propriedade rural somente cumpre sua

funccedilatildeo social quando obedecido o aproveitamento racional e utilizados

adequadamente os recursos naturais disponiacuteveis com vistas agrave preservaccedilatildeo do meio

ambiente

ldquoNatildeo haacute direito de propriedade para quem natildeo faz a terra cumprir sua funccedilatildeo

socialrdquo Eacute como entende o professor de direito agraacuterio Carlos Mareacutes (2003 p 134 apud

MELO 2010 p 25) Cavedon (2003 p 122 apud MIRANDA 2008 p 5859) tambeacutem

observa que

Os requisitos estipulados pelo artigo 186 devem ser atendidos simultaneamente sob

pena da propriedade natildeo atender sua funccedilatildeo social e por isso perder sua proteccedilatildeo

constitucional Como consequecircncia esta fica sujeita agrave desapropriaccedilatildeo por interesse

social para fins de reforma agraacuteria conforme o caput do artigo 184 da CF88 Eacute o que

Lenza denomina de desapropriaccedilatildeo-sanccedilatildeo Isto porque a Constituiccedilatildeo de 1988 em

seu artigo 5ordm inciso XXIV garante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiro mediante a

desapropriaccedilatildeo por necessidade utilidade puacuteblica ou interesse social A sanccedilatildeo estaacute

justamente na forma de pagamento da indenizaccedilatildeo quando a propriedade rural natildeo

atende a sua funccedilatildeo social o pagamento natildeo eacute efetuado em dinheiro mas em tiacutetulos

da diacutevida agraacuteria5 Assim o meio ambiente ganha relevacircncia como elemento

5 Tiacutetulos da diacutevida agraacuteria (TDA) - Meio de pagamento de indenizaccedilotildees devidas aos que sofreram accedilatildeo

expropriatoacuteria da Uniatildeo Federal Criado pelo Governo Federal eacute vinculado agrave desapropriaccedilatildeo de imoacuteveis rurais

por interesse social para efeito de reforma agraacuteria ou aquisiccedilotildees por compra e venda de imoacuteveis rurais destinados

agrave implantaccedilatildeo de projetos integrantes do Programa Nacional de Reforma Agraacuteria Disponiacutevel em

lthttpwwwcetipcombrtitulos-publicostdagt Acesso em 27062013

39

integrante da funccedilatildeo social da propriedade em funccedilatildeo do artigo 186 II que prevecirc a

utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio

ambiente e no artigo 170 que coloca a propriedade privada a funccedilatildeo social da

propriedade e a defesa do meio ambiente lado a lado como princiacutepios da ordem

econocircmica Com base nestes dispositivos legais Cavedon entende que a propriedade

deve atender tambeacutem a sua funccedilatildeo ambiental apesar desta natildeo constar de forma

expliacutecita no texto constitucional

Desta forma por estar limitado o proprietaacuterio rural natildeo pode dispor livremente de

seu imoacutevel pois haacute de cumprir sua funccedilatildeo social que resulta na observacircncia de requisitos que

visam vantagens para a coletividade em detrimento de restriccedilotildees individuais Assim sendo

muitos particulares entendem que a obrigaccedilatildeo de destinarem determinada porcentagem de

suas propriedades rurais para a reserva legal eacute uma espeacutecie de desapropriaccedilatildeo indireta imposta

pelo poder puacuteblico e por isso deveriam ser indenizados Da mesma forma outros segundo

Miranda (2008) concluem que eacute uma restriccedilatildeo da propriedade uma vez que inviabiliza a

utilizaccedilatildeo econocircmica do bem e por isso caberia uma recomposiccedilatildeo patrimonial Ao contraacuterio

desse entendimento Trennepohl (2009 p 11) explica

A averbaccedilatildeo da reserva legal natildeo representa uma desapropriaccedilatildeo indireta como

muita gente pensa pois sua vegetaccedilatildeo pode ser explorada na forma de manejo

florestal sustentaacutevel e a aacuterea pode ser utilizada para outras atividades rentaacuteveis

Tanto eacute assim que inuacutemeras accedilotildees judiciais propostas pleiteando indenizaccedilatildeo pela

restriccedilatildeo de uso dessas aacutereas foram fulminadas nas diferentes esferas do Poder

Judiciaacuterio

Ademais a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 (BRASIL 1988) em seu artigo 225

tambeacutem estabelece que

Art 225 Todos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de

uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder

Puacuteblico e agrave coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e

futuras geraccedilotildees

sect 1ordm - Para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Poder Puacuteblico

I - preservar e restaurar os processos ecoloacutegicos essenciais e prover o manejo

ecoloacutegico das espeacutecies e ecossistemas []

III - definir em todas as unidades da Federaccedilatildeo espaccedilos territoriais e seus

componentes a serem especialmente protegidos sendo a alteraccedilatildeo e a supressatildeo

permitidas somente atraveacutes de lei vedada qualquer utilizaccedilatildeo que comprometa a

integridade dos atributos que justifiquem sua proteccedilatildeo (BRASIL 1988 p 225226)

Ressalta-se que ldquoa Carta Magna de 1988 eacute a primeira Constituiccedilatildeo brasileira em

que a expressatildeo meio ambiente eacute mencionadardquo (MELO 2010 p 20) Ademais inovou ao

adotar a terminologia ldquoespaccedilo territorial especialmente protegidordquo para designar uma aacuterea sob

regime especial de administraccedilatildeo com o objetivo de proteger os atributos ambientais

justificadores do seu reconhecimento e individualizaccedilatildeo pelo Poder Puacuteblico (MILAREacute 2009)

40

Desta forma pela simples leitura do texto constitucional observa-se que eacute uma

prerrogativa do Poder Puacuteblico promover a preservaccedilatildeo do meio ambiente bem como

estabelecer unidades especialmente protegidas para garantir a manutenccedilatildeo dos recursos

naturais A forma com que o Estado cumpriraacute este dever eacute atraveacutes da ediccedilatildeo de leis que

obriguem seus administrados a satisfazerem tais imposiccedilotildees Para tanto tem-se o Coacutedigo

Florestal (BRASIL 1965 2012) que prevecirc a reserva legal como um dos meios de viabilizar

essa proteccedilatildeo Eacute sobre o que discorre Trennepohl (2009 p 12)

A reserva legal eacute um dos instrumentos que permitem o cumprimento do art 225 da

Constituiccedilatildeo Federal o qual impotildee ao Poder Puacuteblico o dever de defender e preservar

o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras geraccedilotildees

(caput) atraveacutes de definiccedilatildeo de espaccedilos territoriais e seus componentes a serem

especialmente protegidos (sect1deg III) bem como de proteger a flora e a fauna (sect1deg

VII)

Conclui-se portanto que a reserva legal introduzida pelo Coacutedigo de 65 (BRASIL

1965) modificou os contornos do direito de propriedade restringindo seu uso e que a funccedilatildeo

social do bem imoacutevel teve como origem forte conflito entre necessidades coletivas ou assim

interpretadas e o regime particular da propriedade individual (ANTUNES 2011)

1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa

As formas de limitaccedilotildees que recaem sobre a propriedade tornam-se um problema

importante em mateacuteria ambiental pois na grande maioria das vezes a natureza juriacutedica dos

espaccedilos territoriais especialmente protegidos se confunde com a limitaccedilatildeo administrativa

(MELO 2010) Assim questiona-se se realmente estamos diante de servidotildees limites

limitaccedilotildees ou delimitaccedilotildees A questatildeo natildeo eacute paciacutefica (CRIADO 2010)

A limitaccedilatildeo administrativa segundo Meireles (2004 p 568) eacute ldquotoda imposiccedilatildeo

geral gratuita unilateral e de ordem puacuteblica condicionadora do exerciacutecio de direitos ou de

atividades particulares agraves exigecircncias do bem-estar socialrdquo Satildeo implementadas de forma

imperativa obrigando o proprietaacuterio a fazer ou natildeo fazer algo na sua propriedade mas sem

retirar a utilizaccedilatildeo econocircmica deste bem ldquoJaacute a restriccedilatildeo ocorre quando a administraccedilatildeo impotildee

ao proprietaacuterio dever que o obrigue ou o impeccedila de fazer algo em sua propriedade retirando a

utilizaccedilatildeo econocircmica desta Havendo neste caso a necessidade de recomposiccedilatildeo patrimonialrdquo

(MIRANDA 2008 p 61)

41

Aleacutem do que hibridamente haacute os que entendem que a reserva legal eacute uma

desapropriaccedilatildeo indireta6 disfarccedilada de limitaccedilatildeo da propriedade que por sua vez inviabiliza a

utilizaccedilatildeo econocircmica do bem provocando uma busca por indenizaccedilatildeo Eacute nesse sentido que se

pronunciam os superiores tribunais do paiacutes como por exemplo se pronunciou o ministro Luiz

Pereira do Tribunal de Justiccedila do Estado de Satildeo Paulo ao decidir pela indenizabilidade da

aacuterea compreendida na reserva legal E ainda o proacuteprio Supremo Tribunal Federal tem se

manifestado de forma enfaacutetica ldquoimpedindo que a bdquolimitaccedilatildeo administrativa‟ esvazie o

conteuacutedo econocircmico do direito de propriedade determinando que em tais hipoacuteteses o Estado

indenize os prejuiacutezos de ordem patrimonial sofridos pelo particularrdquo (ANTUNES 2011

p163164)

Mesmo sendo um instrumento de conservaccedilatildeo ambiental com a possibilidade de

exploraccedilatildeo racional atraveacutes de manejo florestal sustentaacutevel eacute visivelmente perceptiacutevel o

conflito entre interesses particulares e a salvaguarda da vegetaccedilatildeo proposta por norma

juriacutedica Posto isto observa-se de um lado intenccedilotildees puramente econocircmicas que por sua vez

levam os proprietaacuterios a ignorarem a lei derrubando e queimando as matas que deveriam ser

preservadas a tiacutetulo de Reserva Legal ou ainda se eximindo de suas responsabilidades soacutecio-

ambientais Opotildeem-se portanto aos fortes instrumentos juriacutedicos de proteccedilatildeo das matas

brasileiras (MIRANDA 2008)

1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal

Na vigecircncia da lei anterior ou seja do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)

a forma de garantir documentalmente o cumprimento da reserva legal era averbaacute-la junto agrave

matriacutecula da propriedade constante em um Registro de Imoacuteveis Vale aqui esmiuccedilar o que eacute e

como era esse procedimento

ldquoO Registro de Imoacuteveis eacute uma instituiccedilatildeo nascida no seacuteculo XIX para dar

seguranccedila agrave contrataccedilatildeo imobiliaacuteria e na qual se inscreviam os direitos nascidos das relaccedilotildees

privadas ou civisrdquo (CRIADO 2010 p126) ldquoE que surgiu como necessidade do Estado de

controlar o direito de propriedade e como instrumento de seguranccedila juriacutedica para o traacutefego

imobiliaacuteriordquo (MELO 2010 p18) Regido pela Lei 601573 (BRASIL 1973) que cria a

figura da matriacutecula e que por sua vez representa a individualidade do imoacutevel sua situaccedilatildeo

6 Desapropriaccedilatildeo indireta ndash ldquotoda intervenccedilatildeo do Estado na propriedade que venha a impossibilitar o uso e gozo

desse bem retirando-lhe o conteuacutedo econocircmicordquo (TAVARES 1998 p 2 apud MIRANDA 2008 p 62)

42

geograacutefica e perfeita descriccedilatildeo sofrendo alteraccedilotildees objetivas e subjetivas por meio da

averbaccedilatildeo sempre com um mesmo nuacutemero de ordem facilitando incrivelmente as pesquisas e

expediccedilatildeo de certidotildees (MELO 2010)

Desta forma cada imoacutevel possui um registro onde pode ser descrito tudo o que

acontece com ele e nele por exemplo quem comprou vendeu se o dono hipotecou o bem a

um banco por causa de empreacutestimo etc Cada novidade que acontece no imoacutevel eacute inscrita sob

a forma e nome de averbaccedilatildeo no seu registro que por sua vez tem um nuacutemero de matriacutecula

para o identificar da mesma forma que um cidadatildeo tem um nuacutemero de Registro Geral (RG)

com seu nome completo data de nascimento e filiaccedilatildeo

No caso a averbaccedilatildeo da reserva legal era feita da seguinte forma o dono do

imoacutevel ldquointeressadordquo em cumprir sua obrigaccedilatildeo deveria submeter a localizaccedilatildeo da reserva

legal ao oacutergatildeo ambiental estadual que por sua vez aprovaria ou natildeo o local onde o proprietaacuterio

iria destinar agrave reserva legal Essa delimitaccedilatildeo deveria ser feita a partir de um

georreferenciamento que utiliza coordenadas geograacuteficas fixadas com o auxiacutelio de sateacutelites

conforme o Sistema Geodeacutesico Brasileiro (SGB) ao qual o Registro de imoacuteveis estaacute

vinculado (MELO 2010)

ldquoA representaccedilatildeo graacutefica da propriedade e sua atualizaccedilatildeo permitem um

conhecimento da evoluccedilatildeo do territoacuterio suas modificaccedilotildees e o impacto meio ambiental que

nele tenha ocasionado atuaccedilatildeo do acircmbito imobiliaacuterio com transcendecircncia nesta mateacuteriardquo

(LIBERAL 2007 p 121 apud MELO 2010 p3233)

Assim com a propriedade e sua respectiva aacuterea de reserva legal

georreferenciadas o proacuteximo passo seria a elaboraccedilatildeo de uma planta a partir dos dados

coletados e juntamente com o documento comprobatoacuterio de que o imoacutevel possuiacutea registro

submeter a localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva ao oacutergatildeo ambiental competente Se aprovada o

oacutergatildeo expediria um Termo de Averbaccedilatildeo da Reserva Legal que juntamente com a mesma

planta apresentada anteriormente deveria ser levado ao cartoacuterio de imoacuteveis para posterior

averbaccedilatildeo no registro do bem Nesta averbaccedilatildeo estariam descritas todas as informaccedilotildees da

reserva legal e sua localizaccedilatildeo geograacutefica

ldquoEsse procedimento documental tinha fundamento no princiacutepio da publicidade

que eacute a alma dos registros puacuteblicos porque eacute a oportunidade dada ao povo de conhecer tudo

que lhe interessa a respeito de determinados atosrdquo (BALBINO FILHO 1999 p 9 apud

MELO 2010 p34) Ateacute porque qualquer pessoa pode solicitar informaccedilotildees sobre os registros

junto ao cartoacuterio de imoacuteveis ldquoE natildeo poderia ser diferente pois o Registro de Imoacuteveis atua no

43

direito ambiental como ator coadjuvante reforccedilando a publicidade legal bem como

cooperando com o cumprimento e garantia das obrigaccedilotildees ambientaisrdquo (MELO 2010 p79)

Natildeo obstante malgrado existia a obrigaccedilatildeo legal de todo proprietaacuterio averbar a

aacuterea de RLF no Registro de Imoacuteveis o fato eacute que pequena porcentagem dos proprietaacuterios

procedeu agrave sua especializaccedilatildeo ldquoA razatildeo eacute simples trata-se de norma incompleta foi criada a

obrigaccedilatildeo mas propositalmente a sanccedilatildeo foi esquecidardquo (MELO 2010 p56)

Com a lei 126512012 (BRASIL 2012) ou Novo Coacutedigo Florestal esse

procedimento mudou Logo natildeo se deve mais averbar a reserva legal no registro do imoacutevel

Agora a obrigaccedilatildeo passou a ser o cadastramento da propriedade rural no Cadastro Ambiental

Rural (CAR) O atual meacutetodo consiste na inscriccedilatildeo do imoacutevel a partir da identificaccedilatildeo do

proprietaacuterio ou possuidor rural apresentaccedilatildeo de documento que comprove a propriedade ou a

posse e a identificaccedilatildeo do imoacutevel por meio de planta e memorial descritivo contendo a

indicaccedilatildeo das coordenadas geograacuteficas com pelo menos um ponto de amarraccedilatildeo do periacutemetro

do imoacutevel informando a localizaccedilatildeo dos remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa das Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente das Aacutereas de Uso Restrito das aacutereas consolidadas e caso existente

tambeacutem da localizaccedilatildeo da Reserva Legal

No entanto o CAR ainda natildeo estaacute implantado no Cearaacute o que eacute realidade em

vaacuterios outros estados tambeacutem A obrigatoriedade de inscriccedilatildeo neste Cadastro eacute de ateacute dois

anos apoacutes sua implementaccedilatildeo que ateacute o momento natildeo aconteceu Todavia o secretaacuterio de

Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentaacutevel Sr Paulo Guilherme Cabral afirmou em

21052013 que o lanccedilamento em acircmbito nacional do Cadastro Ambiental Rural (CAR) deve

ocorrer ateacute o iniacutecio de junho e para agilizar a inscriccedilatildeo de mais de 5 milhotildees de propriedades

o Ministeacuterio do Meio Ambiente tem buscado ajuda de sindicatos cooperativas e associaccedilotildees

do setor agriacutecola aleacutem de outros oacutergatildeos puacuteblicos7 Infelizmente nada aconteceu ateacute e apoacutes

aquela previsatildeo

Contraditoriamente natildeo existe um prazo para o governo implantar o CAR mas

para o proprietaacuterio ou posseiro sim quando o cadastro dos imoacuteveis estiver disponiacutevel O

impasse eacute o que fazer o dono da terra aguarda o novo procedimento vigorar ou adota o

meacutetodo anterior

7 Conferir notiacutecia publicada em 22052013 no site lthttpsouagrocombrlancamento-nacional-do-car-deve-

sair-ate-junhogt

44

2 Processo de Degradaccedilatildeo

21 Conceito

A degradaccedilatildeo de uma forma geral eacute ldquoa ocorrecircncia de modificaccedilotildees fiacutesicas

metaboacutelicas ou quiacutemicas para uma forma menos complexa E a degradaccedilatildeo ambiental eacute a

alteraccedilatildeo das caracteriacutesticas do meio ambienterdquo (GUERRA et al 2009 p108) Jaacute o inciso II

do artigo 3ordm da Lei 693881 (BRASIL 1981) descreve a degradaccedilatildeo da qualidade ambiental

como alteraccedilatildeo adversa das caracteriacutesticas do meio ambiente

Para Arauacutejo et al (2008 p 19) ldquoa degradaccedilatildeo das terras envolve a reduccedilatildeo dos

potenciais recursos renovaacuteveis por uma combinaccedilatildeo de processos agindo sobre a terrardquo Os

autores ainda atestam que

Tal reduccedilatildeo levando ao abandono ou ldquodesertificaccedilatildeordquo da terra [] pode ser por

processos naturais como por exemplo o ressecamento do clima atmosfeacuterico

processos naturais de erosatildeo alguns outros de formaccedilatildeo do solo ou uma invasatildeo

natural de plantas ou animais nocivos Pode tambeacutem ocorrer por accedilotildees antroacutepicas

diretamente sobre o terreno ou indiretamente em razatildeo das mudanccedilas climaacuteticas

adversas induzidas pelo homem (ARAUacuteJO et al 2008 p 19)

Para a Food and Agriculture Organizations of the United Nations - FAO

(Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e Agricultura) o conceito de degradaccedilatildeo

de terras se refere ldquoagrave deterioraccedilatildeo ou perda total da capacidade dos solos para uso presente e

futurordquo (FAO 1980 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 23)

Observa-se portanto que a degradaccedilatildeo ambiental se natildeo combatida pressupotildee

um processo criacutetico e muito seacuterio o da desertificaccedilatildeo Eacute como considera Sales (2002) e ainda

afirma que o potencial natural das terras quanto agrave degradaccedilatildeo e a accedilatildeo antroacutepica

desencadeiam a desertificaccedilatildeo

O processo de degradaccedilatildeo ambiental pode ocorrer a partir de um ambiente que jaacute

possui caracteriacutesticas naturais limitantes eou extremas onde nele eacute inserido o fator antroacutepico

seja pela simples ocupaccedilatildeo de uma populaccedilatildeo naquela aacuterea seja pelo manejo inadequado dos

recursos naturais ali presentes De outra forma a degradaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel em ambientes

sem fragilidades naturalmente aparentes

A degradaccedilatildeo ambiental advinda da intervenccedilatildeo humana num cenaacuterio mundial

traduz-se em 15 das terras jaacute comprometidas pelas atividades humanas sendo que na

Ameacuterica do Sul dentro daquele percentual encontrou-se 1 de terras devastadas 11 de

terras leve ou moderadamente degradadas e 1 de terra forte ou extremamente degradada8

As estimativas apontam uma expansatildeo anual de 5 a 12 milhotildees de hectares de solo de um

total de 48 bilhotildees de hectares de aacutereas cultivaacuteveis e pastos ainda existentes e segundo a

ISRICUNEP (1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 28) isso resulta na seguinte constataccedilatildeo

A degradaccedilatildeo ambiental causa a perda de aproximadamente 14 milhotildees de

toneladas de gratildeos anualmente isto eacute metade da quantidade necessaacuteria para cobrir

as necessidades da populaccedilatildeo global adicional para o mesmo periacuteodo E no aspecto

financeiro para Blaikie e Brookfiel (1987) a produtividade do trabalho eacute atingida

desfavoravelmente pois a degradaccedilatildeo ambiental consome diretamente o produto do

trabalho e tambeacutem o aporte de capital na produccedilatildeo A qualidade de vida diminui

porque satildeo necessaacuterios mais tempo e um trabalho mais duro para se obter o mesmo

produto isso sem mencionar as medidas conservacionistas no campo fertilizaccedilatildeo

mais intensa ou a abertura de aacutereas para lavouras ou pastos cada vez mais distantes

[] Em ocasiotildees mais raras mas tambeacutem tatildeo dramaacuteticas a degradaccedilatildeo ambiental

forccedila o deslocamento da populaccedilatildeo Centenas de milhares de hectares tecircm de ser

abandonados a cada ano por estarem degradados demais para o cultivo ou ateacute

mesmo para pastagens (ARAUacuteJO et al 2008 p 31)

Em se tratando de semiaacuterido os recursos ambientais satildeo fraacutegeis e associados a

este quadro haacute uma populaccedilatildeo que por sua vez lanccedila matildeo dos bens naturais produzindo uma

deterioraccedilatildeo ambiental ldquoO Cearaacute por conseguinte apresenta extensas aacutereas com problemas

relativos agrave degradaccedilatildeo ambiental principalmente a desertificaccedilatildeordquo (IRAUCcedilUBA 2009 p 7)

Eacute o caso de Irauccediluba por causa da degradaccedilatildeo advinda do desmatamento e das

queimadas que exaurem os nutrientes do solo a agricultura de subsistecircncia colhe em gratildeos

menos de 500 kgha enquanto que a produccedilatildeo potencial seria cerca de 2000 kgha

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Isso explica a baixa participaccedilatildeo da agricultura na

produccedilatildeo agropecuaacuteria do municiacutepio E ldquoessa produccedilatildeo sequer paga os custos da lavoura de

forma que os pequenos produtores estatildeo pagando para plantar na maioria dos casosrdquo

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 18) As consequecircncias sociais disto satildeo ldquoum ciclo de

pobreza e miseacuteria tornando a regiatildeo cada vez mais vulneraacutevelrdquo (SALES 2002 p116)

Em niacutevel mais criacutetico segundo as Naccedilotildees Unidas a desertificaccedilatildeo degrada 60 mil

km2 de terras feacuterteis por ano em todo o mundo provocando perdas de 4 bilhotildees de doacutelares na

economia mundial No Brasil estima-se que essas perdas atinjam 100 milhotildees de doacutelares9

Por fim ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013) entendem que a degradaccedilatildeo em terras

brasileiras remonta o tempo dos colonizadores pois estes aplicavam diretamente meacutetodos e

praacuteticas proacuteprios para solos de clima temperado Assim as matas foram derrubadas queimou-

se a vegetaccedilatildeo em larga escala e lavouras nocircmades foram estabelecidas aproveitou-se o humo

8 Conferir ISRICUNEP 1991 In Arauacutejo et al 2008 p 27

9 Conferir RODRIGUES (2006) in CEARAacute 2010

46

onde este jaacute existia expuseram-se os solos agrave erosatildeo enfim saquearam-se os recursos naturais

renovaacuteveis ldquoNo caso do Cearaacute documenta-se que em 1861 a Comissatildeo Cientiacutefica enviada

para estudar o Nordeste registrava a destruiccedilatildeo acelerada da vegetaccedilatildeo principalmente nos

contrafortes das serras em virtude dos desmatamentos e queimadas para plantio de

mandiocardquo ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013 p 8)

Para uma melhor compreensatildeo quanto agrave intervenccedilatildeo humana negativa no

ambiente aponta-se o esquema proposto na figura 3 a seguir resumindo o processo de

degradaccedilatildeo ambiental apresentado pelo PAE10

(CEARAacute 2010b)

Figura 3 Sistema de Degradaccedilatildeo do Meio Ambiente Adaptado de Tricart (apud Souza 2000)

Fonte PAE (CEARAacute 2010b p 30)

10

PAECE ndash Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca

(CEARAacute 2010)

47

22 Degradaccedilatildeo Ambiental

A degradaccedilatildeo tem vaacuterias causas dentre elas a erosatildeo e o manejo inadequado do

solo Em se tratando deste uacuteltimo pode-se destacar as atividades agropecuaacuterias e suas

praacuteticas como por exemplo o desmatamento desmedido e irracional a irrigaccedilatildeo de forma

errada salinizando ou encharcando o solo o sobrepastoreio que compacta o solo e o uso de

defensivos agriacutecolas que provocam a contaminaccedilatildeo do solo e eliminam os microorganismos

ali presentes Deduz-se portanto que isso eacute um reflexo derivado de uma estrutura fundiaacuteria

extremamente riacutegida onde satildeo desenvolvidas aquelas atividades com baixo niacutevel tecnoloacutegico

levando a praacuteticas agriacutecolas predatoacuterias (SALES 2002 p116)

Com as causas naturais e as provocadas pelo homem quanto agrave degradaccedilatildeo do solo

expostas na tabela 2 a compreensatildeo fica mais clara

Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras

FATORES ACcedilOtildeES ANTROacutePICAS CONDICcedilOtildeES NATURAIS

Facilitadores

Desmatamento

Permissatildeo do superpastoreio

Uso excessivo da vegetaccedilatildeo

Taludes de corte

Remoccedilatildeo da cobertura vegetal para o cultivo

Topografia

Textura do solo

Composiccedilatildeo do solo

Cobertura vegetal

Regimes hidrograacuteficos

Diretos

Uso de maacutequinas

Conduccedilatildeo do gado

Encurtamento do pousio

Entrada excessiva de aacutegua drenagem insuficiente

Excesso de fertilizaccedilatildeo aacutecida

Uso excessivo de produtos quiacutemicos estrume

Disposiccedilatildeo de resiacuteduos domeacutesticos industriais

Chuvas fortes

Alagamentos

Ventos fortes

Fonte FAO (1980 apud Arauacutejo et al 2008 p 33)

Entendem Arauacutejo et al (2008 p 29) que as consequecircncias disto no meio rural satildeo

Um decliacutenio na produtividade ou uma necessidade crescente do aporte de nutrientes

para manter as mesmas produtividades uma vez que os ldquosubsolos geralmente

contem menos nutrientes do que as camadas superioresrdquo sendo necessaacuterio mais

fertilizante para manter a produtividade das culturas Isso por sua vez aumenta os

custos da produccedilatildeo

Partindo dessas constataccedilotildees conclui-se que satildeo seacuterias as consequecircncias

ambientais sociais e econocircmicas a esse respeito por isso satildeo necessaacuterias medidas mitigadoras

que visem minimizar esses impactos bem como meios de recuperar os danos jaacute existentes

A questatildeo torna-se ainda mais preocupante quando o olhar recai sobre os

processos de formaccedilatildeo do solo que segundo Kendall e Pimentel (1994 apud ARAUacuteJO et al

48

2008 p 21) ldquosatildeo lentos e necessitam de duzentos a mil anos para formar 25cm de solos e

isso sob condiccedilotildees agriacutecolas normaisrdquo Dessa forma a degradaccedilatildeo do solo eacute muito mais

criacutetica uma vez que eacute quase irreversiacutevel quando se trata do lapso temporal para se regenerar

ldquoA irreversibilidade tambeacutem ocorre quando o clima e as atividades humanas se combinam

tornando um solo anteriormente sadio em aacuterea devastadardquo (ARAUacuteJO et al 2008 p 2021)

221 Erosatildeo

Eacute o processo natural de decomposiccedilatildeo e transporte de sedimentos que altera as

formas de relevo Causada por agentes como vento chuvas aacuteguas correntes pode ser

acelerada por intervenccedilotildees humanas como por exemplo o desmatamento (TRIGUEIRO

2005 apud GUERRA 2009 p 129)

Arauacutejo et al (2008 p 34) afirmam que ldquoembora a erosatildeo possa ocorrer sem a

intervenccedilatildeo humana na praacutetica ela geralmente eacute iniciada eou acelerada por atividades

antroacutepicas que causam o desaparecimento da cobertura protetora da vegetaccedilatildeo natural ou

danificam a estrutura do solordquo

No PAN (BRASIL 2004 p 42) consta que ldquoa resultante do antropismo eacute

principalmente a erosatildeo particularmente a laminarrdquo que se inicia com a destruiccedilatildeo da

cobertura vegetal

A erosatildeo pode ser pela accedilatildeo da aacutegua eou do vento Em ambos os casos a camada

superficial do solo eacute retirada Para Arauacutejo et al (2008 p 24) ldquoa erosatildeo eoacutelica eacute mais comum

em climas aacuterido e semiaacuterido e eacute considerada uma forma de degradaccedilatildeo bem como a da aacutegua

que pode ateacute deformar o terreno formando ravinas e voccedilorocasrdquo Uma consequecircncia grave

disto segundo os mesmos autores eacute a reduccedilatildeo da fertilidade pelos motivos a seguir Menor

penetraccedilatildeo de raiacutezes em decorrecircncia de um solo menos denso e mais fino Reduccedilatildeo na

capacidade de retenccedilatildeo de aacutegua Varredura dos nutrientes utilizados pelas plantas

Para a FAO segundo Arauacutejo et al (2008 p 30) ldquoaproximadamente 25 bilhotildees de

toneladas de solo satildeo erodidos a cada ano sendo 17 toneladas por hectare cultivadordquo

222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica

Dentro do que jaacute foi citado anteriormente a (1) irrigaccedilatildeo inadequada que saliniza

ou encharca o solo e o (2) uso de defensivos agriacutecolas contaminando e eliminando os

49

microorganismos satildeo soacute algumas causas deste tipo de degradaccedilatildeo Aleacutem destas tem-se a (3)

acidificaccedilatildeo e o (4) esgotamento do solo causando a perda de nutrientes Para Arauacutejo et al

(2008 p 25) ldquoa salinizaccedilatildeo pode ser resultado de manejo mal realizado da irrigaccedilatildeo da alta

concentraccedilatildeo de sais na aacutegua ou atenccedilatildeo indevida agrave drenagem Esta acarreta a salinizaccedilatildeo dos

solos especialmente em regiotildees aacuteridas por que as altas taxas de evaporaccedilatildeo estimulam o

processordquo E ainda por atividades humanas que elevam a evaporaccedilatildeo em solos com material

salino ou com lenccedilol freaacutetico salino (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25)

Segundo o PAN (BRASIL 2004 p 64) ldquoa irrigaccedilatildeo produz impactos

indesejaacuteveis em qualquer aacuterea semiaacuteridardquo se realizada de forma inadequada e sem o recurso

da drenagem Complementa ainda o documento ao dizer que

Um solo submetido agrave irrigaccedilatildeo estaacute salinizado quando a concentraccedilatildeo de sais nesse

terreno se eleva a ponto de prejudicar o rendimento econocircmico das culturas A

salinizaccedilatildeo do solo afeta a germinaccedilatildeo e a densidade das culturas bem como seu

desenvolvimento vegetativo reduzindo a produtividade das lavouras Nos casos

limites a salinizaccedilatildeo pode levar agrave morte generalizada das plantas inviabilizando o

cultivo das terras afetadas (BRASIL 2004 p 64)

Aleacutem disso o uso excessivo de agrotoacutexicos eacute tido como poluiccedilatildeo e pode levar agrave

reduccedilatildeo do potencial agriacutecola da terra Resiacuteduos industriais e urbanos tambeacutem podem poluir

terras agricultaacuteveis O esgotamento do solo pelo plantio excessivo de culturas sem promover

um pousio miacutenimo do terreno exaure os nutrientes daquela aacuterea Isso eacute comum onde a

agricultura eacute praticada em solos pobres ou moderadamente feacuterteis sem a aplicaccedilatildeo suficiente

de esterco ou fertilizante (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25) E por fim

a acidez pode ser provocada quando se utiliza muitos fertilizantes aacutecidos ou em decorrecircncia

da maacute drenagem em alguns tipos de solo

223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica

Conhecidos pela compactaccedilatildeo do solo elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico e pelo

rebaixamento da superfiacutecie da terra (subsidecircncia) a esses tipos de degradaccedilatildeo natildeo se pode

deixar de somar uma causa precursora que eacute o desmatamento desmedido e irracional

deixando o solo nu e exposto agraves intempeacuteries do tempo Da mesma forma entende Cruz (1994

p 135-147 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 35) ao afirmar que ldquoa remoccedilatildeo da cobertura vegetal

inicia ou acelera a erosatildeo do solo sob a accedilatildeo da chuva e do vento de igual modo a queimada

visando o controle de ervas estimula a lixiviaccedilatildeo e a perda do solordquo

50

A compactaccedilatildeo do solo como o resultado do uso de maacutequinas pesadas em solos

instaacuteveis bem como o pisoteio do gado que via de regra eacute agravado por um

sobrepastoreio da aacuterea O impacto das gotas de chuva provoca tambeacutem o selamento

e encrostamento do solo A elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico eacute ocasionada pelo

encharcamento da terra que por sua vez natildeo tem na mesma proporccedilatildeo a capacidade

de drenagem (ARAUacuteJO et al 2008 p 25)

23 A degradaccedilatildeo em Irauccediluba

Em Irauccediluba as praacuteticas agriacutecolas e a pecuaacuteria satildeo muito ofensivas aos recursos

naturais Isso se deve agrave capacidade de suporte do ambiente que natildeo eacute respeitada gerando

impactos e danos ambientais seacuterios e de caraacuteter praticamente irreversiacuteveis O sobrepastejo de

bovinos ovinos e caprinos o desmatamento e as queimadas deixam a regiatildeo com um niacutevel de

degradaccedilatildeo altiacutessimo ateacute porque suas condiccedilotildees naturais jaacute satildeo adversas E ainda haacute outro

fator agravante - o tempo de recuperaccedilatildeo natural tambeacutem natildeo eacute observado nem cumprido

fragilizando por demais o ambiente

Para Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 7) ldquoA introduccedilatildeo da pecuaacuteria no nuacutecleo de

Irauccediluba trouxe a tiracolo a agricultura e a extraccedilatildeo de madeira A primeira baseava-se no

desmatamento indiscriminado e na queimada geral E a segunda na coleta da lenha sem

reposiccedilatildeo florestalrdquo Desta forma a degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba estaacute desenhada por

1 Superpastejo que causa prejuiacutezos sensiacuteveis agrave vegetaccedilatildeo pelo consumo das

cascas dos troncos de aacutervores e arbustos e pela remoccedilatildeo das placircntulas das espeacutecies

arboacutereas e arbustivas Nessas condiccedilotildees mudanccedilas na composiccedilatildeo floriacutestica da

vegetaccedilatildeo podem resultar em virtude do desaparecimento das espeacutecies lenhosas

forrageiras o que em aacutereas de vegetaccedilatildeo degradada acelera o processo de

desertificaccedilatildeo Em aacutereas de caatinga o pastejo por ovinos induz mudanccedilas

significativas na composiccedilatildeo botacircnica do estrato herbaacuteceo com a reduccedilatildeo da

participaccedilatildeo das gramiacuteneas mesmo em condiccedilotildees de pastoreio moderado Nesse

contexto o sobrepastejo por ovinos pode resultar no desaparecimento das gramiacuteneas

e ao final de toda cobertura herbaacutecea da vegetaccedilatildeo expondo o solo aos efeitos da

erosatildeo (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 78)

2 Agricultura rudimentar que pratica o desmatamento e faz uso do fogo O

impacto deste sobre o ecossistema eacute onipresente e caracteriza-se pela queda da

produccedilatildeo agriacutecola pela degradaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa pela erosatildeo dos solos pela

perda da biodiversidade da flora e da fauna e pelo assoreamento e salinizaccedilatildeo dos

mananciais pela perda da resiliecircncia aumentando sua fragilidade diante das

variaccedilotildees climaacuteticas tiacutepicas das regiotildees semiaacuteridas Aleacutem disto os desmatamentos e

queimadas seguidos por um curto periacuteodo de pousio terminam por levar a vegetaccedilatildeo

a um disclimax dominado por arbustos uma vez que o banco de sementes das

arboacutereas praticamente desapareceu (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 918)

3 Manejo inadequado do solo associado ao relevo da regiatildeo Satildeo trecircs tipos de

solo que se destacam em Irauccediluba litoacutelicos planossolos e luvissolos Por conta da

declividade de 8 a 45 os agricultores optam pelas terras nas encostas para

implantar os roccedilados pois haacute um menor risco de perder a safra em funccedilatildeo do

alagamento comum nas terras planas do municiacutepio durante a eacutepoca das chuvas

Nestas condiccedilotildees as perdas de solo por erosatildeo satildeo assombrosas Aleacutem disto haacute a

erosatildeo nos planossolos provocada pelo sobrepastejo com perdas de solo superiores a

51

17 tha em uma uacutenica estaccedilatildeo das chuvas o que enfatiza a importacircncia da cobertura

vegetal na proteccedilatildeo contra a erosatildeo (apud SALES 2003) Como consequecircncia do

sobrepastejo continuado ao longo provavelmente de centenas de anos a erosatildeo

laminar jaacute removeu porccedilatildeo significativa do horizonte A expondo em alguns casos o

horizonte B textural Aleacutem disso houve uma exaustatildeo dos nutrientes do solo

principalmente do foacutesforo Outro fator que tambeacutem intensifica a degradaccedilatildeo eacute o

curtiacutessimo periacuteodo de repouso Estima-se em 50 anos o tempo necessaacuterio para que a

vegetaccedilatildeo da caatinga em um luvissolo que foi destruiacuteda pela queimada do roccedilado

volte pela sucessatildeo secundaacuteria ao cliacutemax original Ora na regiatildeo este periacuteodo estaacute

reduzido a cerca de oito anos Com isto natildeo haacute a recuperaccedilatildeo da fertilidade do solo e

a recomposiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo Isto porque a velocidade de crescimento das arboacutereas

da caatinga eacute muito variaacutevel (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 810)

Concluem portanto os autores Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 17) que ldquoas praacuteticas

rotineiramente adotadas do desmatamento e do fogo a exposiccedilatildeo do solo e a diminuiccedilatildeo do

periacuteodo de pousio tecircm induzido processos de degradaccedilatildeo mormente os de erosatildeordquo

231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia

A desertificaccedilatildeo eacute um problema ambiental que assola vaacuterias partes do mundo e

vem sendo discutido desde 1977 quando em Nairoacutebi no Quecircnia aconteceu a Conferecircncia

sobre Desertificaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas ldquoA observaccedilatildeo desse processo se atribui ao cientista

Aubreville que em 1949 constatou o prolongamento da degradaccedilatildeo para o norte das zonas

mais aacuteridas do Saara e para as regiotildees semiaacuteridas e subuacutemidas do norte da Aacutefricardquo (ARAUacuteJO

et al 2008 p 26) Em 1992 na ECO 92 foi definido o conceito de desertificaccedilatildeo cuja

ocorrecircncia se daacute em aacutereas aacuteridas semiaacuteridas e subuacutemidas secas O grau de aridez eacute

estabelecido pela relaccedilatildeo PEtp que eacute a razatildeo entre a meacutedia da precipitaccedilatildeo total anual e a

evapotranspiraccedilatildeo potencial do mesmo periacuteodo metodologia esta desenvolvida por

Thornthwaite (1955) Desta forma definiu-se uma correspondecircncia entre o clima e o

resultado da relaccedilatildeo acima conforme mostra a tabela 3

Tabela 3 ndash Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez

CLIMA P ETP

Hiper-aacuterido lt 005

Aacuterido De 005 a 020

Semiaacuterido gt 020 a 050

Subuacutemido Seco gt 050 a 065

Subuacutemido Uacutemido gt 065

Fonte United Nations Environment Programme ndash UNEP (Programa

Ambiental das Naccedilotildees Unidas) 1992

52

Eacute interessante mencionar que o semiaacuterido brasileiro delimitado pela uacuteltima vez

em 1995 foi novamente demarcado a partir da iniciativa do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo

Nacional (MIN) que instituiu um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) envolvendo

departamentos empresas institutos agecircncias e ateacute bancos puacuteblicos para a readequaccedilatildeo dos

criteacuterios propostos pela Lei 782789 (BRASIL 1989c) Somente a inserccedilatildeo do municiacutepio na

aacuterea de abrangecircncia da extinta Superintendecircncia de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)

e a precipitaccedilatildeo meacutedia anual de ateacute 800 mm eram condiccedilotildees para enquadrar ou natildeo

determinado municiacutepio no semiaacuterido brasileiro (SUDENE 1990) Os novos paracircmetros satildeo

mais abrangentes pois aleacutem de considerar a precipitaccedilatildeo pluviomeacutetrica meacutedia anual inferior a

800 mm avaliam se o iacutendice de aridez do municiacutepio eacute de ateacute 05 ou se o risco de seca eacute maior

que 6011

Com a nova delimitaccedilatildeo em 2005 foram incorporados mais 102 municiacutepios aos

1031 jaacute classificados de forma que a aacuterea oficialmente semiaacuterida brasileira aumentou de

8923094 km2 para 9695894 km

2 ou seja um acreacutescimo de 866

12

A figura 4 ilustra o novo formato do semiaacuterido no Brasil E no Cearaacute foram

incorporados mais 16 totalizando 150 de um universo com 184 municiacutepios Isto significa

815 do estado e 132 de toda a regiatildeo semiaacuterida do paiacutes13

O quadro atual do semiaacuterido

cearense estaacute delineado na figura 5 a seguir

Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro

Fonte MIN (BRASIL 2005c)

11

Conferir Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro MI (BRASIL 2005c) 12

Idem 13

Ibidem

53

Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute

Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)

Com relaccedilatildeo ao processo de desertificaccedilatildeo no Brasil uma aacuterea de 900000 Kmsup2 eacute

atingida afetando direta ou indiretamente mais de 15 milhotildees de brasileiros natildeo existindo no

territoacuterio nacional outro problema ambiental que atinja tamanha aacuterea e tantas pessoas

(SUDENE 2000 apud IRAUCcedilUBA 2009) A regiatildeo nordeste por sua vez concentra as

Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) incluindo os espaccedilos semiaacuteridos e subuacutemidos

secos ambos de maior abrangecircncia fiacutesico-territorial vis-agrave-vis os outros espaccedilos naturais que

conformam e estruturam o Nordeste brasileiro (BRASIL 2004)

Pesquisadores apontam como principais causas de desertificaccedilatildeo no semiaacuterido

cearense a ocupaccedilatildeo desordenada do solo o desmatamento praacuteticas de queimadas (CEARAacute

2010b) Dentro desse raciociacutenio

Os estabelecimentos agropecuaacuterios ocupam o solo principalmente com lavouras

temporaacuterias e a criaccedilatildeo de animais Estas atividades muitas vezes satildeo executadas

sem preocupaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos e contribuem para

agravar o quadro de degradaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2010b p 103)

No mesmo sentido e no tocante agraves Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) o

PAN (BRASIL 2004) destaca que as condiccedilotildees ambientais dessas aacutereas (principalmente as de

54

clima solo aacutegua e vegetaccedilatildeo) associadas agrave pressatildeo exercida sobre os recursos naturais pela

accedilatildeo antroacutepica (pressatildeo populacional formas inadequadas de uso e ocupaccedilatildeo do solo entre

outros) vecircm contribuindo para a deflagraccedilatildeo de processos de desertificaccedilatildeo em algumas de

suas sub-regiotildees Um dos motivos para isso eacute a combinaccedilatildeo entre pobreza e desigualdade de

forma que

Uma imensa massa de pequenos agricultores descapitalizados confinados em

pequenas parcelas de terras de tais aacutereas (via de regra de meacutedia ou baixa fertilidade

natural) dependentes de seu trabalho para a produccedilatildeo de alimentos para

autoconsumo de forragens para seus animais mas necessitando produzir excedentes

comercializaacuteveis tenderaacute naturalmente a sobreutilizar os recursos naturais

contribuindo dessa forma para agravar os processos de degradaccedilatildeo Nas ASD este

ciacuterculo vicioso eacute agravado pela ocorrecircncia de secas perioacutedicas que levam agrave perdas

significativas e recorrentes de produccedilatildeo e de renda Neste sentido as secas

potencializam o grau de degradaccedilatildeo levando a vulnerabilidade ambiental a niacuteveis

mais elevados Os efeitos das secas sobre a sauacutede e a inseguranccedila alimentar e

nutricional tambeacutem satildeo conhecidos e consideraacuteveis (BRASIL 2004 p 106)

Classificando a susceptibilidade dessas aacutereas Matallo Jr (1999) construiu uma

relaccedilatildeo entre a aptidatildeo agrave desertificaccedilatildeo em funccedilatildeo do iacutendice de aridez conforme se vecirc pela

tabela 4

Tabela 4 - Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo

IacuteNDICE DE ARIDEZ SUSCEPTIBILIDADE Agrave

DESERTIFICACcedilAtildeO

005 a 020 Muito Alta

021 a 050 Alta

051 a 065 Moderada Fonte MATALLO JR (1999)

Nesse iacutenterim o municiacutepio de estudo do corrente trabalho tem iacutendice de aridez

conforme adotado pela UNEP de acordo com o que ilustra na figura 6

55

Figura 6 Iacutendice de Aridez (UNEP) do municiacutepio de Irauccediluba

O Cearaacute por sua vez eacute ldquoo Estado com a maior aacuterea relativa sob niacuteveis altos de

desertificaccedilatildeordquo (LEMOS 1995 apud FOLHES e VIANA 2001 p 5) Seu processo de

ocupaccedilatildeo e uso de terras via de regra foi marcado pela apropriaccedilatildeo dos recursos naturais de

forma a degradaacute-los Esta foi uma das causas para a concepccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Estadual

de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (PAE) cujo objetivo eacute

Contribuir para a convivecircncia equilibrada com o semiaacuterido por meio da

sustentabilidade ambiental do bioma caatinga a partir de poliacuteticas ambientais

sociais e econocircmicas focadas na reduccedilatildeo da pobreza A gestatildeo do Programa

pressupotildee a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo

democraacutetico e a participaccedilatildeo da sociedade (CEARAacute 2010b p 20)

No Estado existem trecircs nuacutecleos em processo de desertificaccedilatildeo Localizam-se no

Sertatildeo dos Inhamuns Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte e Sertatildeo de Jaguaribe abrangendo

respectivamente os municiacutepios de Arneiroz Independecircncia e Tauaacute Canindeacute Irauccediluba

Miraiacutema e Santa Quiteacuteria Jaguaretama Jaguaribara Jaguaribe Alto Santo e Morada Nova

(CEARAacute 2010b) Totalizam portanto 12 cidades com os maiores iacutendices de degradaccedilatildeo

ambiental do estado portanto susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo num grau muito grave como se

pode ver pelas figuras 7 e 8

No entanto o presente trabalho se ateraacute tatildeo somente ao municiacutepio de Irauccediluba

abrangido pelo nuacutecleo Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte

Fonte NOLEcircTO (2005)

56

Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave

desertificaccedilatildeo no Cearaacute desertificaccedilatildeo

Fonte IPECE (CEARAacute 2010a) Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)

O PAE (CEARAacute 2010b) utilizou para a formulaccedilatildeo do iacutendice de susceptibilidade

agrave desertificaccedilatildeo indicadores sociais que apontam a forma de ocupaccedilatildeo e tudo que dela

decorre e indicadores econocircmicos que representam as atividades humanas exercidas no

municiacutepio Vale ressaltar que as caracteriacutesticas do meio ambiente da regiatildeo natildeo foram

ignoradas muito pelo contraacuterio elas definiram as aacutereas classificadas como susceptiacuteveis agrave

desertificaccedilatildeo A lista abaixo demonstra os criteacuterios mensurados e os aspectos ambientais

observados

Indicadores sociais

1 Proporccedilatildeo da aacuterea das grandes propriedades na aacuterea total dos imoacuteveis rurais em

2005

2 Razatildeo entre alfabetizados e natildeo-alfabetizados de 5 ou mais anos de idade em

2000

3 Taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais de idade em 2000

(percentagem)

4 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino fundamental da populaccedilatildeo de 7 a 14

anos de idade em 2005

5 Taxa de evasatildeo no ensino fundamental em 2005

57

6 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino meacutedio da populaccedilatildeo de 15 a 17 anos de

idade em 2005

7 Taxa de evasatildeo escolar no ensino meacutedio em 2005

8 Densidade demograacutefica em 2006 (habitanteskm2)

Indicadores econocircmicos

1 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de carvatildeo vegetal pela aacuterea do municiacutepio em 2006

(tonha)

2 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de lenha pela aacuterea do municiacutepio em 2006 (m3ha)

3 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)

4 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)

5 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como pequena

propriedade em 2005 (haimoacutevel)

6 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como minifuacutendio em

2005 (haimoacutevel)

7 Razatildeo do consumo de energia eleacutetrica rural por consumidores de energia eleacutetrica

rural em 2005

8 Proporccedilatildeo de induacutestrias de transformaccedilatildeo no total de empresas industriais ativas

em 2005

9 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de feijatildeo em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

10 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com arroz em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

11 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com milho em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

12 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de mandioca em 2006 na aacuterea total dos

estabelecimentos agropecuaacuterios em 1996

13 Razatildeo do efetivo de bovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

14 Razatildeo do efetivo de ovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

15 Razatildeo do efetivo de caprinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

16 Razatildeo do efetivo de suiacutenos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

17 Produto Interno Bruto per capita a preccedilos de mercado em 2004

Caracteriacutesticas ambientais

1 Degradaccedilatildeo da cobertura vegetal

2 Assoreamento dos rios

3 Pastoreio excessivo

4 Perda da biodiversidade

5 Perda da capacidade produtiva do solo

6 Baixa relaccedilatildeo entre capacidade produtiva dos recursos naturais e sua capacidade

de recuperaccedilatildeo

A anaacutelise dos 25 paracircmetros entremeados com as condiccedilotildees ambientais estaacute

devidamente compilada no Quadro 2 ndash Caracterizaccedilatildeo das ASDs nos Sertotildees de Irauccediluba e

Centro-Norte do PAE (CEARAacute 2010b) As constataccedilotildees ensejam problemas no meio

ambiente a partir dos inuacutemeros gargalos sociais e econocircmicos como por exemplo a produccedilatildeo

agriacutecola em lavouras temporaacuterias na maior proporccedilatildeo dos estabelecimentos rurais o grande

iacutendice de pobres da regiatildeo o consumo de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo cada vez maior

58

Natildeo se pode deixar de mencionar os problemas ambientais que deixam a aacuterea em

questatildeo muito mais vulneraacutevel aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas e da desertificaccedilatildeo Satildeo

eles degradaccedilatildeo dos solos e da cobertura vegetal primaacuteria o sobrepastoreio o

desencadeamento e expansatildeo de processos erosivos acelerados com ocorrecircncia muito

frequente de afloramentos rochosos e chatildeos pedregosos perda de solos e biodiversidade

empobrecida baixa frequecircncia de espeacutecies lenhosas da caatinga e processos erosivos muito

ativos em funccedilatildeo do aumento da torrencialidade do escoamento superficial

Assim conclui-se que natildeo haacute como dissociar o quadro social e econocircmico das

nuances ambientais de um municiacutepio ou regiatildeo

Em se tratando da ASD nos Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte faz-se necessaacuterio

expor os nuacutemeros encontrados e as respectivas conclusotildees a partir dos levantamentos feitos

pelo PAE (CEARAacute 2010b) O Iacutendice Econocircmico e Social de Susceptibilidade agrave

Desertificaccedilatildeo (IESSD) ilustrado pelas figuras 9 e 10 por exemplo aponta as possiacuteveis causas

e os principais agentes causadores do processo de desertificaccedilatildeo sem quantificar ou mensurar

seu niacutevel

Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no Iacutendice Social de Susceptibilidade agrave

Desertificaccedilatildeo (ISSD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)

Fonte PAE (CEARAacute 2010b)

0

5

10

15

20

25

30

Contribuiccedilatildeo no ISSD ()

59

Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no Iacutendice Econocircmico de Susceptibilidade agrave

Desertificaccedilatildeo (IESD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)

Fonte PAE (CEARAacute 2010b)

Assim analisando os dois graacuteficos acima eacute possiacutevel perceber que sob o aspecto

social a concentraccedilatildeo de terras e a educaccedilatildeo datildeo a maior contribuiccedilatildeo ao iacutendice de

susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo enquanto que no vieacutes econocircmico destacam-se as aacutereas

destinadas a imoacuteveis rurais e o PIB ldquoper capitardquo Eacute um cenaacuterio deveras preocupante visto que

aquela regiatildeo jaacute eacute dotada de condiccedilotildees naturais adversas Uma populaccedilatildeo sem educaccedilatildeo

inserida num niacutevel de pobreza e ocupante de grande parte da zona rural que eacute onde as

atividades potencialmente degradadoras satildeo praticadas traduz uma combinaccedilatildeo

extremamente alarmante pois fazem uso de praacuteticas predatoacuterias e potencializam a

susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo

Segundo o PAE (CEARAacute 2010b p 123) nessa regiatildeo satildeo observadas ldquomarcas

configuradas de desertificaccedilatildeo como o elevado estaacutegio de degradaccedilatildeo do solo comprometendo

os processos naturais de sucessatildeo processos erosivos acelerados perda de solo e

biodiversidade espeacutecies lenhosas rarefeitasrdquo

05

1015202530354045

Contribuiccedilatildeo no IESD ()

60

Sob um olhar mais aprofundado voltado agrave Irauccediluba haacute maior destaque para as

atividades de agricultura e pecuaacuteria Lavouras temporaacuterias como feijatildeo milho e mandioca satildeo

as mais praticadas pelo pequeno agricultor A figura 11 aponta o percentual de

estabelecimentos ocupados com atividades agropecuaacuterias no municiacutepio

Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios Adaptado

Fonte PAE (CEARAacute 2010b)

Com relaccedilatildeo agrave extraccedilatildeo legalizada de madeira no municiacutepio de Irauccediluba o IBGE

informa que tanto a produccedilatildeo de carvatildeo como o corte de lenha entre 2004 a 2011 foi estaacutevel

Aquela girou em torno de 71 toneladas com um custo variaacutevel de R$ 1100000 a 2300000

ao ano enquanto que este ficou na casa dos 10000 m3 resultando num rendimento que

oscilou de R$ 4200000 a R$ 5700000 anuais14

Por fim Irauccediluba embora representando um dos quatro nuacutecleos de desertificaccedilatildeo

do Nordeste natildeo apresenta a pior condiccedilatildeo socioeconocircmica considerando a maioria dos

indicadores analisados (CEARAacute 2010b) Desta forma conclui-se que estes aspectos natildeo

determinam a desertificaccedilatildeo mas influenciam principalmente se as condiccedilotildees ambientais satildeo

limitantes Assim uma economia e uma sociedade deficientes inseridas num ambiente fraacutegil

natildeo tecircm como deixar de gerar degradaccedilatildeo

14

Conferir em lthttpwwwibgegovbrcidadesatxtrasperfilphpcodmun=230610ampsearch=ceara|iraucubagt

0

10

20

30

40

50

60

Irauccediluba

61

24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo do processo de degradaccedilatildeo

Embora o quadro de degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba seja por demais

preocupante ainda haacute condiccedilotildees para sua reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica a partir de

teacutecnicas e praacuteticas correspondentes ao tipo de solo ao estaacutegio de degradaccedilatildeo da aacuterea e ao

histoacuterico do uso da terra (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Continuam os autores

Assim considerando as extensotildees sob o planossolo que ocupam uma aacuterea total de

27321 ha duas recomendaccedilotildees podem ser propostas a regeneraccedilatildeo natural e a

adubaccedilatildeo organo-mineral A regeneraccedilatildeo natural eacute um processo muito lento e no

caso do planossolo de Irauccediluba dificilmente proporcionaraacute condiccedilotildees para retorno agrave

produtividade esperada [](ARAUacuteJO FILHO 1992) Entatildeo estaacute claro que a

recuperaccedilatildeo natural via pousio eacute muito lenta mas constitui uma opccedilatildeo em muitos

casos A aplicaccedilatildeo de adubo orgacircnico (estercos) eacute outra alternativa de recuperaccedilatildeo

pastoril que poderia ser utilizada no nuacutecleo de Irauccediluba Assim a fertilizaccedilatildeo com

foacutesforo constitui uma boa opccedilatildeo para a recuperaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica das

pastagens degradadas nos planossolos do nuacutecleo de Irauccediluba (ARAUacuteJO FILHO e

SILVA 2013 p 1013)

Outros fatores que envolvem o processo de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo

em Irauccediluba segundo Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 15) eacute ldquoa fixaccedilatildeo da agricultura no

terreno a sustaccedilatildeo do desmatamento e do uso do fogo visando agrave mitigaccedilatildeo dos impactos

antroacutepicos negativos a recuperaccedilatildeo dos agroecossistemas o aumento da produtividade

agriacutecola e da renda familiarrdquo Para tanto os mesmos autores sugerem que

A agrossilvicultura eacute com certeza o modelo de exploraccedilatildeo da terra mais apropriado

Dentre os modelos de sistemas agroflorestais o silvopastoril e o agrossilvipastoril

seriam os mais indicados para as condiccedilotildees de Irauccediluba O primeiro associa o

manejo florestal com a exploraccedilatildeo pastoril e o segundo associa o manejo florestal a

exploraccedilatildeo pastoril e a agricultura formando o sistema lavoura-pecuaacuteria-floresta O

modelo silvopastoril pode ser estabelecido seja para ter a madeira como o principal

produto seja para ter na exploraccedilatildeo animal a principal atividade (ARAUacuteJO FILHO

e SILVA 2013 p 15)

[]

A opccedilatildeo pela agrossilvicultura como a alternativa mais apropriada para a

reabilitaccedilatildeo dos solos de potencial agriacutecola mais elevado fundamenta-se na garantia

que este sistema de uso da terra traz a seguranccedila ambiental e a seguranccedila alimentar

No primeiro caso o solo eacute protegido contra a erosatildeo pelo acuacutemulo de serrapilheira

tem sua fertilidade reposta e sua biologia ativada pela deposiccedilatildeo da mateacuteria

orgacircnica Os recursos hiacutedricos satildeo beneficiados pela manutenccedilatildeo da mata ciliar

evitando o assoreamento das nascentes e reservatoacuterios e pela reduccedilatildeo das perdas de

aacutegua pelo solo A flora com a sustaccedilatildeo das queimadas e dos desmatamentos tem sua

biodiversidade incrementada e integraccedilatildeo das aacutervores no sistema produtivo

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2021)

Assim sendo o principal objetivo da recuperaccedilatildeo de uma aacuterea degradada deve ser

a recomposiccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica do solo Isto porque para que se restabeleccedila a

62

funcionalidade do ecossistema eacute fundamental a revitalizaccedilatildeo da biologia do solo principal

responsaacutevel pela circulaccedilatildeo de nutrientes15

Aleacutem disso continuam os mesmos autores

O aumento da mateacuteria orgacircnica e a formaccedilatildeo de uma cobertura morta sobre o solo o

protegeratildeo contra a erosatildeo laminar e melhoraratildeo sua capacidade de retenccedilatildeo de

aacutegua [] Os nutrientes de ecossistemas florestais de clima tropical se concentram

na biomassa e natildeo no solo como nos de clima temperado por isso os meacutetodos de

exploraccedilatildeo dos solos deveriam estar fundamentados no menor distuacuterbio possiacutevel do

meio bioloacutegico e no reforccedilo do aporte de mateacuteria orgacircnica (ARAUacuteJO FILHO e

SILVA 2013 p 710)

Nesse sentido para ambientes tropicais os sistemas de produccedilatildeo agroflorestais

(SAF) estatildeo sendo avaliados e propostos como alternativas ecologicamente sustentaacuteveis de

exploraccedilatildeo O uso de espeacutecies arboacutereas constitui a garantia de manter ativa a circulaccedilatildeo de

nutrientes e o aporte significativo de mateacuteria orgacircnica condiccedilatildeo essencial para se cultivar de

maneira continuada os solos tropicais16

No caso do bioma caatinga e de ambiente semiaacuterido segundo Arauacutejo Filho e silva

(2013) trecircs recomendaccedilotildees fundamentais garantem quando seguidas a sustentabilidade das

tecnologias de manipulaccedilatildeo

Preservaccedilatildeo de ateacute 400 aacutervores por hectare ou o equivalente a 40 de cobertura

utilizaccedilatildeo maacutexima de 60 da forragem disponiacutevel e preservaccedilatildeo da mata ciliar em

toda a malha de drenagem da pastagem Esta tecnologia jaacute vem sendo utilizada pelos

produtores na regiatildeo de Irauccediluba desde o iniacutecio da deacutecada de 1980 envolvendo

uma aacuterea de cerca de 3000 ha (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 1617)

Outras maneiras de controle e combate do processo de degradaccedilatildeo cuja iniciativa

vem do governo em suas diferentes formas e esferas satildeo os programas e as poliacuteticas puacuteblicas

a criaccedilatildeo de leis e normas sobre o tema a disponibilidade de recursos a fiscalizaccedilatildeo dos

oacutergatildeos competentes dentre outros

Ilustrando o primeiro exemplo em abril de 2011 a Superintendecircncia Estadual do

Meio Ambiente (SEMACE) e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) celebraram um convecircnio

de assistecircncia teacutecnica e financeira para a realizaccedilatildeo da pesquisa ldquoRevitalizaccedilatildeo da cobertura

vegetal nativa atraveacutes da recomposiccedilatildeo das matas ciliares e enriquecimento das aacutereas

destinadas a compor reserva legal dos imoacuteveis rurais do municiacutepio de Irauccedilubardquo Para a

consecuccedilatildeo dos objetivos propostos foi concedido um montante de R$ 4920000 (quarenta e

nove mil e duzentos reais) com fins de recuperar a qualidade do meio biofiacutesico atraveacutes do

plantio de essecircncias florestais nativas e plantas adaptadas agraves condiccedilotildees edafoclimaacuteticas da

aacuterea de abrangecircncia do projeto para

15

Como recomenda Lima (2009) In Arauacutejo Filho e Silva (2013) 16

Idem

63

1 Minimizar os impactos ambientais adversos causados pelos sistemas tradicionais

de exploraccedilatildeo econocircmica

2 Implantar um viveiro florestal permanente destinado agrave produccedilatildeo de mudas

nativas e adaptadas agraves condiccedilotildees locais associando-lhe atividades educativas e

de natureza formativa para o puacuteblico interessado

3 Incentivar o cultivo de essecircncias florestais nativas arboacutereas e frutiacuteferas que

contribuiratildeo para gerar alternativas de diversificaccedilatildeo de renda e por conseguinte

a melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo do municiacutepio

4 Fomentar a produccedilatildeo e o plantio de essecircncias florestais nativas ameaccediladas de

extinccedilatildeo

5 Viabilizar a recomposiccedilatildeo de matas ciliares dentro dos limites de abrangecircncia da

aacuterea das bacias hidrograacuteficas dos recursos hiacutedricos naturais denominados de

Riacho Aracatiaccedilu e Riacho Curu e do principal reservatoacuterio denominado de

Accedilude Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu seja em aacutereas de domiacutenio puacuteblico seja em

aacutereas de domiacutenio privado

6 Estabelecer a recuperaccedilatildeo da cobertura vegetal nativa de aacutereas de reserva legal

das propriedades rurais

O prazo do convecircnio era de doze meses ou seja ateacute abril de 2012 todavia foi

renovado por aditivo ateacute abril de 2013 Seu lanccedilamento soacute se deu em dezembro de 2011 e ateacute

agosto de 2012 o viveiro florestal ainda natildeo havia sido construiacutedo mas palestras com os

temas Desmatamento e Reserva Legal Fogo Desmatamento e Preservaccedilatildeo dos Accediludes

Resiacuteduos Soacutelidos Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal Aacuterea de

Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal foram ministradas pela SEMACE

Infelizmente nada mais foi feito pois dificuldades como a burocracia com o banco

financiador e a seca que assola o municiacutepio inviabilizando a produccedilatildeo e o plantio das mudas

levaram agrave extinccedilatildeo do convecircnio uma vez que seu prazo natildeo foi renovado numa segunda

oportunidade O recurso investido foi devolvido ao BNB e natildeo haacute qualquer previsatildeo de

retomada do projeto

Natildeo se pode deixar de registrar a indignaccedilatildeo que esse desfecho causa naqueles

que estudam e buscam uma saiacuteda Muitas vezes se natildeo todas as vezes ela existe mas eacute

deveras negligenciada ou pouco valorizada O que eacute que isso O Brasil eacute um paiacutes rico natildeo

falta recurso o que muito falta eacute vontade coragem e preferecircncia por aquilo que se deve

fazer Isto eacute um ultraje ao homem do campo que humilde e inocentemente espera confiante

em alguma providecircncia de seus representantes ou por quem faz as suas vezes

De modo diverso as normas 43 e 44 de 2005 (BRASIL 2005 a b) e a 512006

(BRASIL 2006a) que seratildeo explanadas no item 331 criadas pelo INCRA satildeo outras

medidas parecidas com o convecircnio citado acima pois tambeacutem foram elaboradas com o intuito

de recuperar e conservar os recursos naturais em aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e de

64

reserva legal mesmo sendo especiacuteficas para projetos de assentamento agraacuterio federal Atraveacutes

delas um determinado valor pode ser cedido por aquele oacutergatildeo e destinado agraves famiacutelias

assentadas para promoverem agrave implantaccedilatildeo de um projeto de recuperaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo

Como Poliacuteticas Puacuteblicas em niacutevel local e estadual que englobam o problema da

degradaccedilatildeo ambiental amplamente aqui discutido inclusive o mais seacuterio deles que eacute a

desertificaccedilatildeo destaca-se o Plano de Accedilatildeo Municipal de Combate agrave Desertificaccedilatildeo de

Irauccediluba (IRAUCcedilUBA 2009) e o Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e

Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (CEARAacute 2010b) O primeiro levou nove anos para se tornar

poliacutetica puacuteblica e contou com recursos do fundo de apoio a iniciativas locais de combate agrave

desertificaccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Nacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos

Efeitos da Seca (BRASIL 2004) Sua funccedilatildeo eacute orientar e desenvolver accedilotildees no sentido de

controlar e prevenir o avanccedilo da desertificaccedilatildeo e quando possiacutevel recuperar aacutereas degradadas

para o uso produtivo ou seja alcanccedilar o desenvolvimento sustentaacutevel nas aacutereas sujeitas agrave seca

e a desertificaccedilatildeo do Municiacutepio Como objetivos baacutesicos estatildeo as contribuiccedilotildees para

1 A formulaccedilatildeo do planejamento de uso sustentaacutevel dos recursos naturais do

Municiacutepio

2 A melhoria da produtividade e produccedilatildeo agriacutecola nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e

desertificaccedilatildeo

3 A reduccedilatildeo da vulnerabilidade e melhoria da qualidade de vida das populaccedilotildees

residentes nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e agrave desertificaccedilatildeo

4 A articulaccedilatildeo de accedilotildees setoriais do governo (em niacutevel federal estadual e

municipal) com vista agrave sinergia dos processos de planejamento

5 A melhoria da capacidade de enfrentamento dos problemas de desertificaccedilatildeo e

seca por parte das populaccedilotildees locais (IRAUCcedilUBA 2009 p 24)

O PAE (CEARAacute 2010b) em seu objetivo global e em termos gerais natildeo eacute muito

diferente do PAM (IRAUCcedilUBA 2009) pois visa contribuir para a convivecircncia com o

semiaacuterido e sustentabilidade ambiental do bioma caatinga Busca promover poliacuteticas

ambientais sociais e econocircmicas para a reduccedilatildeo da pobreza procurando em sua

administraccedilatildeo a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo democraacutetico

e a participaccedilatildeo da sociedade E recorre agrave negociaccedilatildeo transparente e responsaacutevel de conflitos

como forma privilegiada de superar as diferenccedilas de uso dos recursos naturais

25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira

A lei 6938 (BRASIL 1981) promulgada em 1981 foi a primeira norma juriacutedica

tratando da temaacutetica ambiental no Brasil Como bem diz Milareacute (2009) ela tem um caraacuteter

65

inovador pois sua implementaccedilatildeo seus resultados assim como a estabilidade e a efetividade

que denota constituem um salto de qualidade na vida puacuteblica brasileira

Com nascedouro um tanto quanto isolado a lei 693881 (BRASIL 1981)

instituiu a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente para a preservaccedilatildeo melhoria e recuperaccedilatildeo da

qualidade ambiental propiacutecia agrave vida visando assegurar no Paiacutes condiccedilotildees ao

desenvolvimento soacutecioeconocircmico aos interesses da seguranccedila nacional e agrave proteccedilatildeo da

dignidade da vida (artigo 2ordm) Tais objetivos estatildeo baseados em princiacutepios norteadores dos

quais se destacam para a presente pesquisa a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas (inciso VIII) e a

proteccedilatildeo de aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX)

Instrumentalizando a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente quanto agrave degradaccedilatildeo

ambiental existem as penalidades disciplinares ou compensatoacuterias ao natildeo cumprimento das

medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo ou correccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental conforme o artigo

9ordm inciso IX da Lei 693881 (BRASIL 1981) Em termos de sanccedilatildeo o artigo 14 disciplina

que os danos causados pela degradaccedilatildeo da qualidade ambiental sujeitaratildeo os transgressores agrave

multa simples ou diaacuteria agrave perda ou restriccedilatildeo de incentivos e benefiacutecios fiscais concedidos

pelo Poder Puacuteblico agrave perda ou suspensatildeo de participaccedilatildeo em linhas de financiamento em

estabelecimentos oficiais de creacutedito e agrave suspensatildeo de sua atividade

Para evitar a sanccedilatildeo pratica-se a prevenccedilatildeo e uma forma de prevenir a degradaccedilatildeo

eacute o licenciamento ambiental conforme preconiza o artigo 10 daquela mesma lei O natildeo

cumprimento disto enseja o enquadramento do representante da atividade ou do

estabelecimento no artigo 60 da Lei 960598 (BRASIL 1998) que versa sobre crimes

ambientais

Art 10 A construccedilatildeo instalaccedilatildeo ampliaccedilatildeo e funcionamento de estabelecimentos e

atividades utilizadores de recursos ambientais efetiva ou potencialmente poluidores

ou capazes sob qualquer forma de causar degradaccedilatildeo ambiental dependeratildeo de

preacutevio licenciamento ambiental (BRASIL 1981 p 7)

Art 60 Construir reformar ampliar instalar ou fazer funcionar em qualquer parte

do territoacuterio nacional estabelecimentos obras ou serviccedilos potencialmente

poluidores sem licenccedila ou autorizaccedilatildeo dos oacutergatildeos ambientais competentes ou

contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes Pena - detenccedilatildeo de um a seis meses ou multa ou ambas as penas cumulativamente

(BRASIL 1998 p 12)

Outra previsatildeo salutar na Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente eacute o dever que

entidades e oacutergatildeos de financiamento e incentivos governamentais tecircm de condicionar a

aprovaccedilatildeo de projetos financiaacuteveis ao licenciamento ambiental Aleacutem disto devem constar em

tais projetos a realizaccedilatildeo de obras e aquisiccedilatildeo de equipamentos destinados ao controle de

degradaccedilatildeo ambiental e a melhoria da qualidade do meio ambiente (artigo 12 paraacutegrafo

66

uacutenico) Isto tudo porque a instituiccedilatildeo que financia atividades eou empreendimentos que por

ventura causem algum dano tambeacutem se tornam corresponsaacuteveis pelo passivo ambiental

respondendo perante os oacutergatildeos competentes e os guardiatildees da lei

Por fim eacute pertinente mencionar que toda accedilatildeo ou omissatildeo prevista na legislaccedilatildeo

ambiental brasileira seja nas leis que criam diretrizes como nas que preveem sanccedilotildees visa o

combate o controle a reparaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo da degradaccedilatildeo aos bens naturais como um

todo O impasse eacute existir inuacutemeras normas distintas que dispotildeem sobre vaacuterios recursos

ambientais e que satildeo criadas em eacutepocas diferentes como por exemplo o Coacutedigo Florestal

(BRASIL 2012) o Coacutedigo de Caccedila (BRASIL 1967a) o Coacutedigo Mineraacuterio (BRASIL

1967b) o Coacutedigo de Pesca (BRASIL 2009) o Coacutedigo de Aacuteguas (BRASIL 1934a) a Poliacutetica

Nacional de Recursos Hiacutedricos (BRASIL 1997) o Programa Nacional de controle da

qualidade do ar (BRASIL 1989a) dentre outras O ideal eacute que houvesse a reuniatildeo de todos os

dispositivos em uma legislaccedilatildeo soacute como o fez a lei de crimes ambientais que versa sobre

infraccedilotildees cometidas aos bens naturais apontados pelas diversas normas citadas

Em niacutevel estadual o Cearaacute dispotildee de um arcabouccedilo legal que reflete um

pouco o que jaacute estaacute disposto nas leis federais no entanto cabe aqui citar algumas normas

pertinentes ao assunto estudado

A Resoluccedilatildeo nordm 092003 (CEARAacute 2003) do Conselho Estadual do Meio

Ambiente (COEMA) estabeleceu a compensaccedilatildeo ambiental como forma de prevenir eou

obrigar o poluidorusuaacuterio pagador ou degradador a indenizar os danos causados em

decorrecircncia da utilizaccedilatildeo de recursos naturais para fins econocircmicos Trata-se de medida

arrecadatoacuteria anterior ao processo de licenciamento ambiental e condicionada ao firmamento

de um Termo de Compromisso A supracitada norma definiu percentual de 05 a ser recolhido

com base no valor do empreendimento a ser implantado A destinaccedilatildeo dos valores recolhidos

seria via de regra a Unidades de Conservaccedilatildeo

A Lei Complementar nordm 482004 (CEARAacute 2004) criou o Fundo e o Conselho

Estadual Gestor do Meio Ambiente (FEMA) onde uma de suas finalidades eacute o ressarcimento

da coletividade por danos causados ao meio ambiente Reza o artigo 10 que qualquer cidadatildeo

pode propor projetos relativos agrave reconstituiccedilatildeo reparaccedilatildeo preservaccedilatildeo e prevenccedilatildeo do meio

ambiente A dita lei foi regulamentada pelo Decreto Estadual nordm 277192005 (CEARAacute 2005)

que por sua vez dispocircs accedilotildees programas planos e projetos para a melhoria e recuperaccedilatildeo da

qualidade ambiental no Estado do Cearaacute Agrave pertinecircncia da presente pesquisa cabe destacar

uma diretriz do FEMA prevista no inciso VIII do artigo 3ordm daquele Decreto

67

Artigo 3ordm

[]

VIII - Promover a proteccedilatildeo da biodiversidade e dos ecossistemas associados e aacutereas

ameaccediladas de degradaccedilatildeo atraveacutes da preservaccedilatildeo conservaccedilatildeo e administraccedilatildeo de

biomas representativos bem assim da recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas

possibilitando melhor controle de atividades potencialmente poluidoras nos termos

da legislaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2005 p 2)

Eacute essencial citar a Lei 1248895 (CEARAacute 1995) que dispotildee sobre a Poliacutetica

Florestal do Estado do Cearaacute Um de seus objetivos guarda relaccedilatildeo direta com este trabalho

qual seja promover a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas e em processos de degradaccedilatildeo

especialmente nas aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e reserva legal bem como proteger as

aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX do artigo 3ordm) Para tanto um dos instrumentos

previsto e deveras necessaacuterio para a consecuccedilatildeo de tais fins eacute a fiscalizaccedilatildeo a aplicaccedilatildeo de

penalidades accedilotildees disciplinares e compensatoacuterias das medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo dos

recursos naturais ou a correccedilatildeo da degradaccedilatildeo do meio ambiente (inciso XI do artigo 4ordm)

E por fim eacute cabiacutevel mencionar a Lei 141982008 (CEARAacute 2008) pois institui a

Poliacutetica Estadual de Combate e Prevenccedilatildeo agrave Desertificaccedilatildeo e tem por base a Convenccedilatildeo

Internacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo nos Paiacuteses afetados por Seca Grave eou

Desertificaccedilatildeo Como jaacute mencionado no Cearaacute existem trecircs nuacutecleos com aacutereas susceptiacuteveis agrave

desertificaccedilatildeo e nada mais apropriado que o Estado dispor de uma legislaccedilatildeo proacutepria sobre o

tema Diante disto destacam-se os seguintes dispositivos

Art 1ordm Institui a Poliacutetica Estadual de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Desertificaccedilatildeo a qual

tem por objetivos

[]

III - instituir mecanismos de proteccedilatildeo conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da flora fauna e

de solos degradados nas aacutereas de risco ou impactadas pela desertificaccedilatildeo

[]

Art 3ordm Cumpre ao Poder Puacuteblico

I - diagnosticar o avanccedilo do processo de degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo ambiental nas

aacutereas afetadas

II - definir um plano de contingecircncia para mitigaccedilatildeo dos efeitos da degradaccedilatildeo

ambiental

[]

XI - estimular o desenvolvimento de agroinduacutestrias baseadas em alimentos

ambientalmente e culturalmente adaptados ao meio ambiente

[]

XIV - estimular a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente

e de Reserva Legal []

[]

Art 5ordm No tocante agrave agricultura irrigada o Poder Puacuteblico deveraacute

[]

II - diagnosticar as aacutereas cujos solos sejam susceptiacuteveis agrave salinizaccedilatildeo e acuacutemulo de

compostos de soacutedio e fomentar a recuperaccedilatildeo de solos afetados por salinizaccedilatildeo e

acuacutemulo de compostos de soacutedio

Art 6ordm No tocante agrave agricultura sequeiro o Poder Puacuteblico deveraacute

[]

68

II - incentivar o manejo sustentaacutevel dos recursos naturais apoiando o

desenvolvimento de sistemas agroflorestais e agrosilvopastoris diversificados e

integrados como forma de conciliar a recuperaccedilatildeo florestal e as atividades agriacutecolas

(CEARAacute 2008 p 1 - 3)

251 Lei ambiental de Irauccediluba

O municiacutepio de Irauccediluba criou sua proacutepria Poliacutetica Ambiental a partir da Lei

5652007 (IRAUCcedilUBA 2007) Nela estatildeo dispostos princiacutepios e instrumentos de accedilatildeo que

visam agrave qualidade ambiental em seus diferentes aspectos Felizmente a norma natildeo deixou de

fora as aacutereas de reserva legal pelo contraacuterio tratou do tema em uma seccedilatildeo especiacutefica

composta pelos artigos 57 e 58

Art 57 - A reserva legal eacute requisito essencial ao exerciacutecio legiacutetimo do direito de

propriedade na aacuterea rural e fundamental para a proteccedilatildeo do meio ambiente

ecologicamente equilibrado e da biodiversidade cumprindo funccedilotildees do interesse

coletivo e individual do proprietaacuterio

Art 58 - A reserva legal eacute a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) localizada no

interior de uma propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente

necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos

processos ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de

fauna e flora nativas sendo imutaacutevel sua localizaccedilatildeo apoacutes definida

sect1ordm - Fica proibido qualquer registro imobiliaacuterio relativo a propriedade rural sem

preacutevio registro da reserva legal sob pena de nulidade do ato

sect2ordm- A reserva legal deveraacute ser averbada agrave margem da matriacutecula do imoacutevel no

registro competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de

transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou divisatildeo da aacuterea

sect3ordm - As aacutereas de reserva legal e preservaccedilatildeo permanente poderatildeo ser computadas

conjuntamente desde que somadas passem de 50 (cinquumlenta por cento) da

extensatildeo total da propriedade e sejam de extensatildeo contiacutenua

sect4ordm - No imoacutevel rural que natildeo houver vegetaccedilatildeo nativa suficiente para compor o

miacutenimo da reserva legal o proprietaacuterio ou possuidor deveraacute recuperar e recompor

com a vegetaccedilatildeo nativa ateacute atingir a porcentagem determinada

sect5ordm - A recomposiccedilatildeo mencionada no paraacutegrafo anterior deveraacute ser realizada na

proporccedilatildeo de no miacutenimo 110 (um deacutecimo) da aacuterea da propriedade ou posse a cada

ano dando prioridade agraves aacutereas de preservaccedilatildeo permanente

sect6ordm - A Reserva Legal deve ser preferencialmente contiacutegua a das propriedades

vizinhas agraves unidades de conservaccedilatildeo ou aacutereas florestadas formando um corredor de

vegetaccedilatildeo

sect7ordm - A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser

utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel (IRAUCcedilUBA 2007 p 26)

No artigo 57 haacute o reconhecimento do direito de propriedade agrave luz da funccedilatildeo

social dada pela reserva legal e a devida importacircncia agrave proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental Jaacute o

58 prevecirc os 20 da aacuterea a tiacutetulo de reserva reproduzindo o que a lei federal ou seja o

Coacutedigo Florestal dispotildee No entanto o sect1ordm do mesmo dispositivo acaba restringindo ainda

mais o que a norma geral prescreve isto eacute proiacutebe qualquer registro junto ao cartoacuterio de

imoacuteveis sem a devida averbaccedilatildeo na matriacutecula da propriedade muito embora isso jaacute possa ser

diferente pela instituiccedilatildeo do Cadastro Ambiental Rural Dos paraacutegrafos 2ordm ao 5ordm houve a

69

revogaccedilatildeo expressa pela Lei 126512012 (BRASIL 2012) ou novo Coacutedigo Florestal O 6ordm e o

7ordm continuaram vigentes em sua essecircncia sofrendo apenas pequenas alteraccedilotildees jaacute que devem

estar em consonacircncia com a lei federal natildeo podendo ser menos restritivos

Por fim aleacutem do que fora comentado a lei ambiental de Irauccediluba traz muito em

sua natureza procedimentos e mandamentos semelhantes agrave de uma lei de uso e ocupaccedilatildeo do

solo Prevecirc portanto paracircmetros sobre publicidade emissotildees sonoras construccedilatildeo civil

poluiccedilatildeo obras dentre outros

70

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS

31 Reserva Legal em Irauccediluba

Um dos objetivos da presente pesquisa eacute o levantamento do nuacutemero de imoacuteveis

rurais no municiacutepio de Irauccediluba para em seguida verificar o grau de obediecircncia ao instituto

da reserva legal nessas propriedades Para tanto buscou-se os respectivos dados no cartoacuterio de

registro de imoacuteveis do municiacutepio no Instituto de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e

no Instituto de Desenvolvimento Agraacuterio do Cearaacute (IDACE)

No cartoacuterio de imoacuteveis onde o acesso eacute possiacutevel pela liberdade que qualquer

interessado tem para solicitar informaccedilotildees registrais achou-se o nuacutemero de 215 imoacuteveis

registrados Jaacute no INCRA o total de propriedades ali cadastradas eacute de 415 e no IDACE 713

imoacuteveis devidamente medidos e georreferenciados

Primeiramente cabe discorrer um pouco sobre esse desencontro na quantidade

dos imoacuteveis O fato de o cartoacuterio municipal possuir 215 imoacuteveis rurais registrados natildeo

significa que soacute tenha esse nuacutemero de propriedades laacute pois existem inuacutemeras terras habitadas

e utilizadas sem qualquer registro formal e neste caso o que os ldquodonosrdquo desses lugares

deteacutem chama-se posse o que os torna posseiros e natildeo proprietaacuterios O INCRA ter em seu

banco de dados o cadastro de 415 propriedades rurais tambeacutem natildeo quer dizer que soacute haja as

415 uma vez que a procura por este oacutergatildeo eacute voluntaacuteria quando se trata de cadastramento do

imoacutevel Soacute seraacute diferente se surgir a necessidade de desmembrar arrendar hipotecar vender

ou prometer em venda o bem rural Ou ainda em caso de partilha17

Esses satildeo os casos que

impelem o proprietaacuterio a cadastrar seu imoacutevel conforme definidos pela lei 494766

(BRASIL 1966) Do contraacuterio natildeo eacute obrigatoacuterio motivo pelo qual se explica nuacutemeros tatildeo

distintos uns dos outros Justificando um pouco esta discrepacircncia o II Plano Nacional de

Reforma Agraacuteria aponta que os dados do Cadastro do INCRA indicam que ldquosomente 5086

da aacuterea total do territoacuterio brasileiro estaacute na condiccedilatildeo de cadastradardquo (II PNRA 2003 p 22)

E por fim o nuacutemero apontado pelo IDACE acredita-se ser o mais proacuteximo da

realidade uma vez que pelo Programa de Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria com iniacutecio em 2007 as

propriedades rurais no municiacutepio de Irauccediluba foram no ano de 2012 medidas e

georreferenciadas uma a uma para dar fim aos problemas decorrentes da ausecircncia de tiacutetulos

imobiliaacuterios e o tamanho das aacutereas Eacute o que segue estabelecido pelo II PNRA (2003)

17

Partilha eacute a via pela qual se daacute a divisatildeo dos bens de uma heranccedila

A importacircncia de um recadastramento de todos os imoacuteveis rurais e da revisatildeo das

normas que regem o processo de registro das propriedades eacute ainda maior quando se

observa que as possibilidades de obtenccedilatildeo de terras para Reforma Agraacuteria estatildeo

condicionadas por dois indicadores que dependem das informaccedilotildees contidas no

Cadastro do INCRA o moacutedulo fiscal e os iacutendices de produtividade [] Por meio de

uma integraccedilatildeo do INCRA com os oacutergatildeos estaduais seraacute executado um amplo

processo de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria visando regularizar as pequenas posses de boa feacute

e a arrecadaccedilatildeo e incorporaccedilatildeo de terras devolutas ao patrimocircnio puacuteblico seguida de

sua destinaccedilatildeo para o assentamento de trabalhadores rurais e tambeacutem promover

accedilotildees anulatoacuterias sobre ocupaccedilotildees de terras com registros irregulares (II PNRA

2003 p 23)

Contudo o nuacutemero desencontrado de imoacuteveis natildeo eacute soacute o que assusta ou angustia

mas sim a quantidade iacutenfima de reserva legal existente naquele municiacutepio que jaacute sofre com

um processo criacutetico de degradaccedilatildeo

Apoacutes verificar junto ao cartoacuterio a quantidade de imoacuteveis rurais registrados

averiguou-se que somente trecircs dos 215 estatildeo com suas respectivas aacutereas de reserva legal

devidamente averbadas junto ao registro do bem Essa aguda diferenccedila tambeacutem natildeo muda

quando se analisa as informaccedilotildees presentes nos cadastros feitos junto ao INCRA Muitos satildeo

os cadastramentos onde tem descritas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente mas de reserva legal

somente cinco das 415 propriedades cadastradas No IDACE natildeo foi possiacutevel fazer esse

levantamento porque o objetivo deste oacutergatildeo em adentrar as aacutereas era medi-las em sua

totalidade sem discriminar a presenccedila de qualquer constataccedilatildeo em seu interior

Pela leitura da tabela 5 eacute possiacutevel concluir duas realidades A primeira eacute a

existecircncia de propriedade cujo registro apresenta averbaccedilatildeo da reserva legal mas sem

cadastro junto ao INCRA como eacute o caso do imoacutevel Poccedilo da PedraAacuteguas Mortas No

segundo caso ocorre o contraacuterio isto eacute natildeo haacute averbaccedilatildeo da reserva legal no cartoacuterio de

registro mas existe o cadastro da propriedade perante o INCRA constando a reserva legal

devidamente apontada conforme relatoacuterios cedidos por aquele oacutergatildeo

72

Tabela 5 - Levantamento de Imoacuteveis com reserva legal (Cartoacuterio de registro de imoacuteveisINCRA)

311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental - Projeto de Assentamento Agraacuterio em

foco

Todo projeto de assentamento de reforma agraacuteria soacute deve ser implantado apoacutes o

licenciamento ambiental junto ao oacutergatildeo competente que pela relevacircncia social do

empreendimento possui um procedimento diferenciado Eacute um processo trifaacutesico ou seja

consiste na licenccedila preacutevia (LP) licenccedila de instalaccedilatildeo (LI) e licenccedila de operaccedilatildeo (LO) mas no

caso dos projetos de assentamento satildeo soacute duas a LP e a LIO que nada mais eacute que a licenccedila de

18

Trata-se de um imoacutevel que foi destinado a Projeto de Assentamento no acircmbito estadual No entanto o registro

no cartoacuterio aponta que a propriedade possui Reserva Legal averbada mas no cadastro do INCRA natildeo haacute

qualquer menccedilatildeo a essa aacuterea 19

PA ndash Projeto de Assentamento da Reforma Agraacuteria Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria conjunto

de accedilotildees planejadas e desenvolvidas em aacuterea destinada agrave reforma agraacuteria para um puacuteblico beneficiaacuterio

orientadas para utilizaccedilatildeo racional dos espaccedilos fiacutesicos e dos recursos naturais existentes objetivando a

implementaccedilatildeo dos sistemas de vivecircncia e produccedilatildeo sustentaacuteveis na perspectiva do cumprimento da funccedilatildeo

social da terra e da promoccedilatildeo econocircmica social e cultural do trabalhador rural e de seus familiares (BRASIL

2006b) 20

O imoacutevel Poccedilo da Pedra e Aacuteguas Mortas eacute um soacute Embora natildeo conste no registro do cartoacuterio a aacuterea total da

propriedade e a destinada agrave reserva legal o Termo de Responsabilidade de Averbaccedilatildeo da Aacuterea de Reserva Legal

cedido pelo INCRA descreve as aacutereas apontadas na tabela 2

RESERVA LEGAL DOCUMENTALMENTE EXISTENTE

Imoacutevel Fonte dos Dados Aacuterea do Imoacutevel

(ha)

Aacuterea (ha) Domiacutenio Data da

Averbaccedilatildeo (AV)

Cadastro (C)

Miramar Cartoacuterio de Imoacuteveis

INCRA

1144 2305 Particular AV 06042005

C 05092005

Saco do

Vento18

Cartoacuterio de Imoacuteveis

INCRA

33060 661 PA19

estadual

AV 03102012

C 27122011

Poccedilo da Pedra

(Aacuteguas

Mortas)20

Cartoacuterio de Imoacuteveis 239778 47955 INCRA AV 02012003

Boa Vista INCRA 348 6960 Particular C 30121992

Escondido e

Vale do

Agreste

INCRA 15775 3155 Particular C 30121992

Lagoa Cercada INCRA 55180 50 Particular C13101992

73

instalaccedilatildeo e de operaccedilatildeo em um mesmo pedido conforme prevecirc a Resoluccedilatildeo CONAMA

3872006 (BRASIL 2006b)

Art 3ordm O oacutergatildeo ambiental competente concederaacute a Licenccedila Preacutevia - LP e a Licenccedila

de

Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo - LIO para os Projetos de Assentamentos de Reforma Agraacuteria

[]

sect 2o A LP constitui-se documento obrigatoacuterio e que antecede o ato de criaccedilatildeo de um

Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria tendo prazo para a sua expediccedilatildeo

apoacutes seu requerimento de ateacute noventa dias

sect 3o A LIO deveraacute ser requerida durante a validade da LP e cumpridos os requisitos

da mesma [] (BRASIL 2006 p2)

Por se tratar de um empreendimento rural e ambientalmente licenciaacutevel eacute muito

mais faacutecil e oportuno acontecer o cumprimento da reserva legal jaacute que o oacutergatildeo competente

foi provocado e por sua vez deve exigir a observacircncia daquele instituto Desta forma natildeo se

pode admitir que um licenciamento em zona rural seja concedido sem o devido respeito agrave aacuterea

de reserva legal

Especificamente os projetos de assentamento federais isto eacute os realizados pelo

INCRA devem obedecer agrave ordem que segue Ao dar iniacutecio ao processo de desapropriaccedilatildeo de

alguma terra o INCRA jaacute deve solicitar a Licenccedila Preacutevia devendo constar naquele processo o

protocolo do pedido A criaccedilatildeo do assentamento soacute eacute possiacutevel mediante uma portaria

resoluccedilatildeo ou decreto desde que jaacute possua a Licenccedila Preacutevia expedida Criado o assentamento

a Licenccedila de Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo deve ser solicitada de imediato ateacute porque se o contraacuterio

ocorrer os assentados ficam impossibilitados de receber recursos do governo como o creacutedito

de apoio inicial o creacutedito fomento o creacutedito para a construccedilatildeo de casa dentre outros

Essa sequencia e esses mandamentos estatildeo previstos no artigo 3ordm da Resoluccedilatildeo

CONAMA 3872006 (BRASIL 2006b) citada acima e no Acoacuterdatildeo nordm 2633-5107 (BRASIL

2007) do Tribunal de Contas da Uniatildeo conforme prevecirc o item 3 do sumaacuterio daquele

julgamento (3) A Licenccedila Preacutevia constitui-se em documento obrigatoacuterio e que antecede o ato

de criaccedilatildeo de um projeto de assentamento de reforma agraacuteria devendo ser expedida

anteriormente agrave obtenccedilatildeo da terra Trata-se de uma decisatildeo que teve origem em uma auditoria

realizada por este oacutergatildeo em assentamentos no Amazonas Paraacute e Acre quanto aos estudos de

viabilidade ambiental reserva legal e licenciamento ambiental em projetos criados pelo

INCRA Essa auditoria objetivou portanto avaliar o impacto nas aacutereas de reserva legal dos

projetos de assentamento bem como o cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental aplicaacutevel a esses

projetos conforme item 2 do Relatoacuterio do referido Acoacuterdatildeo Para tanto buscou-se saber se os

limites da reserva legal estavam sendo devidamente demarcados e preservados nos projetos de

74

assentamento rural e se o INCRA estava promovendo a aplicaccedilatildeo de teacutecnicas viaacuteveis para a

exploraccedilatildeo sustentaacutevel da Reserva Legal

Constatou-se pela amostragem realizada e demonstrada na Conclusatildeo e no Voto

do Acoacuterdatildeo 26332007 (BRASIL 2007) que

Conclusatildeo

[]

Item 65 o INCRA tem a necessidade premente de adotar medidas com vistas a

normalizar os procedimentos de criaccedilatildeo de projetos de assentamento desde o iniacutecio

do processo no que se refere ao cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental

Item 66 Eacute notoacuterio que a morosidade do oacutergatildeo no processo de regularizaccedilatildeo das

exigecircncias determinadas pela legislaccedilatildeo ambiental contribuiraacute para degradaccedilatildeo do

meio ambiente patrimocircnio sob proteccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal Brasileira Ao

disponibilizar terra aos assentados sem indicar a forma de uso do terreno por meio

do Plano de Uso e sem delimitar as aacutereas de preservaccedilatildeo mediante a demarcaccedilatildeo

das reservas legais o INCRA estaraacute dando tutela a esses usuaacuterios para disporem dos

lotes da forma que melhor lhes convier sem importar se essa exploraccedilatildeo implicaraacute

em degradaccedilatildeo ambiental (BRASIL 2007 p 9)

[]

Voto

[] Item 3 ndash subitem 12 A equipe de auditoria constatou nos assentamentos uma

grande degradaccedilatildeo das aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APP) e da reserva legal (RL)

Ainda verificou por meio de questionaacuterios aplicados aos trabalhadores assentados

que o INCRA natildeo promove accedilotildees efetivas relacionadas agrave orientaccedilatildeo e

conscientizaccedilatildeo ambiental dessas comunidades que natildeo sabem sequer o que

significa APP e RL

[]

Item 5 Outrossim eacute importante frisar que o INCRA eacute co-responsaacutevel pelas

irregularidades ambientais constatadas em seus projetos de assentamento []

(BRASIL 2007 p 11)

E por fim o dito Acoacuterdatildeo determina em niacutevel nacional embora a motivaccedilatildeo da

decisatildeo tenha por base a auditoria realizada somente em trecircs estados que

O INCRA se abstenha de criar projetos de assentamento sem a observacircncia ao

disposto no art 2ordm inciso III cc 3ordm sect 2ordm da Resoluccedilatildeo Conama 3872006 que

condiciona a criaccedilatildeo de projetos de assentamentos de reforma agraacuteria agrave existecircncia da

licenccedila preacutevia e ao disposto no art 2ordm inciso IV da mesma Resoluccedilatildeo que exige a

licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo como condiccedilatildeo para a implantaccedilatildeo e operaccedilatildeo

destes projetos Que em decorrecircncia do disposto no art 2ordm inciso VII da

ResoluccedilatildeoConama 3872006 atente a necessidade de que a reserva legal esteja

perfeitamente delimitada e caracterizada por ocasiatildeo do Plano de

Desenvolvimento do Assentamento e que o referido Plano seja elaborado em prazo

razoaacutevel (BRASIL 2007 p 16)

Para enriquecer a pesquisa nesse sentido procurou-se junto ao oacutergatildeo ambiental

estadual a SEMACE ndash Superintendecircncia Estadual do Meio Ambiente e ao proacuteprio INCRA as

licenccedilas emitidas e ainda em tramitaccedilatildeo referentes aos projetos de assentamento federais

Encontrou-se assim 3 processos de licenciamento na SEMACE numa busca compreendida

75

entre 01012010 a 06052013 sendo 2 de licenccedilas preacutevias e 1 de licenccedila de instalaccedilatildeo e

operaccedilatildeo No INCRA localizou-se 5 processos como se pode observar pela tabela 6 sendo 2

de licenccedilas preacutevias e 3 de licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo num periacuteodo de 09122008 a

08112010

Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais

Fonte SEMACE e INCRA

Conclui-se portanto a existecircncia de trecircs processos de LIO jaacute emitidas mas sem a

averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio de duas das trecircs propriedades conforme se pode

confirmar pela pesquisa feita no registro de imoacuteveis de Irauccediluba A exceccedilatildeo eacute a fazenda

Aacuteguas MortasPoccedilo da Pedra que possui averbaccedilatildeo da reserva legal desde 02012003

Aleacutem disto verificou-se tambeacutem todos os empreendimentos e atividades

localizadas no municiacutepio de Irauccediluba que possuem solicitaccedilatildeo ou recebimento de licenccedila

ambiental tanto em zona urbana como rural No total satildeo 15 tramitando e 40 emitidas

ressaltando que licenciamentos em zona rural o cumprimento da reserva legal deve ser

exigido

Quanto aos assentamentos agraacuterios no municiacutepio de Irauccediluba a tabela 7 aponta a

pesquisa realizada junto ao INCRA e ao IDACE onde se constatou que o primeiro oacutergatildeo

implantou 8 projetos e o segundo 6 Em todos eles existe a demarcaccedilatildeo da aacuterea de reserva

legal nas plantas georreferenciadas cedidas pelas duas instituiccedilotildees acima citadas

PROCESSO TIPO PA FONTE DO

DADO

PROTOCOLO EXPEDICcedilAtildeO VALIDADE STATUS

11386605-4 LP Arraia INCRASEMA

CE

08112010 01072011 Natildeo

informada

Emitida

11118313-8 LP Alegre e

anexos

INCRASEMA

CE

10112010 29032011 Natildeo

informada

Tramitando

09557603-7 LIO Aacuteguas

Mortas

Poccedilo da

Pedra

INCRASEMA

CE

30102009 24032010 24032013 Emitida

08653283-9 LIO Satildeo

Marinho

Rodeador

INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida

08653281-2 LIO Olho

d‟aacutegua da

esperanccedila

INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida

76

Tabela 7 - Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba

PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO - IRAUCcedilUBA

Nome do

Assentamento

Instituiccedilatildeo

Responsaacutevel

Aacuterea do

Imoacutevel (ha)

Aacuterea de Reserva

Legal (ha)

Data de criaccedilatildeo Nordm de Famiacutelias

Assentadas

Saco do Vento IDACE 33060 661 Em andamento 10

Aroeira IDACE 50508 10101 Em andamento 10

Boqueiratildeo IDACE 38474 7694 Em andamento -

Mudubim IDACE 6512 1302 Em andamento 5

Consulta IDACE 39593 7918 23072001 13

Cachoeira IDACE 14929 2985 05102006 10

Saco Verde INCRA 6464 129280 2691997 100

Cajazeiras II INCRA 96487 19297 2691997 30

Aacuteguas Mortas

Poccedilo da Pedra

INCRA 239778 47955 22121997 52

RiachueloAlto

Alegre

INCRA 3378 67560 09112005 16

Olho drsquoAacutegua da

Esperanccedila

INCRA 1940 388 06122007 23

Satildeo Marinho

Rodeador

INCRA 50757 10151 04122006 10

Arraia INCRA 156797 31359 13102011 34

Almas INCRA 1297 25940 17111998 22

Eacute importante salientar que em 2005 e em 2006 o INCRA baixou 3 normas

referentes a criteacuterios e procedimentos para a implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e

Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria A

primeira eacute a NE 432005 (BRASIL 2005a) a segunda NE 442005 (BRASIL 2005b) que

estabeleceu o valor unitaacuterio por famiacutelia para a implantaccedilatildeo destes projetos e a terceira NE

512006 (BRASIL 2006a) aprovou o manual para a elaboraccedilatildeo dos projetos de recuperaccedilatildeo

A NE 432005 (BRASIL 2005a) considera a premente necessidade de

recuperaccedilatildeo natildeo soacute de Reserva Legal mas de aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente em grande

parte dos Projetos de Assentamento em todo o territoacuterio nacional mas infelizmente soacute

abrange os que satildeo implantados pelo Governo Federal (Art 2ordm inciso I) ficando de fora os

que satildeo de competecircncia dos Estados O criteacuterio para implantaccedilatildeo desses projetos eacute a aacuterea ser

reconhecida com problemas ambientais principalmente em termos de degradaccedilatildeo (Art 2ordm

inciso II) Para ser possiacutevel financeiramente a execuccedilatildeo de um projeto deste cuja norma

regulamentadora ainda se encontra vigente o INCRA disponibiliza ateacute R$ 100000 por

famiacutelia (Art 1ordm NE 442005 (BRASIL 2005b)) no entanto caso seja tecnicamente

comprovado que a recuperaccedilatildeo de aacutereas de reserva legal preservaccedilatildeo permanente e de solo

exija um maior investimento o valor poderaacute ser superior ao estabelecido Neste caso a

importacircncia repassada seraacute definida em funccedilatildeo do custo calculado para a recuperaccedilatildeo do dano

ambiental (Art 1ordm Paraacutegrafo Uacutenico)

77

O manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e

conservaccedilatildeo de recursos naturais em assentamentos da reforma agraacuteria aprovado pela NE

512006 (BRASIL 2006a) deixa claro que seus objetivos natildeo satildeo soacute reabilitar e resguardar a

aacuterea ambiental do assentamento Haacute mais e maiores propoacutesitos nisto como por exemplo

cumprir as exigecircncias estabelecidas pelo oacutergatildeo de meio ambiente estadual durante o processo

de licenciamento21

bem como a mobilizaccedilatildeo da comunidade em torno de atividades visando agrave

recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo dos recursos naturais por meio de programas de educaccedilatildeo

ambiental fiscalizaccedilatildeo e manutenccedilatildeo envolvendo os assentados Para que isto ocorra eacute

extremamente importante a participaccedilatildeo destes na elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do projeto22

Por fim os Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais seratildeo

destinados agraves seguintes praacuteticas23

1 Cercamento de aacutereas de Reserva Legal e aacutereas de preservaccedilatildeo permanente

visando a regeneraccedilatildeo eou a proteccedilatildeo das aacutereas

2 Construccedilatildeo de viveiros para produccedilatildeo de mudas que seratildeo utilizadas no processo

de recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas

3 Demarcaccedilatildeo topograacutefica da Reserva Legal

4 []

5 Reflorestamento em aacutereas de Reserva Legal com espeacutecies nativas que

possibilitem o manejo florestal sustentaacutevel madeireiro ou natildeo madeireiro baseado

em princiacutepios e em criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos definidos e devidamente

aprovados pelo oacutergatildeo ambiental competente

6 Plantio de aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais composto por espeacutecies

exoacuteticas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas para

compensaccedilatildeo ou manutenccedilatildeo da aacuterea de reserva legal a criteacuterio do oacutergatildeo ambiental

competente

7 Atividades alternativas de produccedilatildeo (criaccedilatildeo de abelhas artesanato entre outras)

associadas agrave recuperaccedilatildeo ambiental e como instrumento de valorizaccedilatildeo das aacutereas a

serem conservadas ou recuperadas e de combate agraves praacuteticas indevidas de uso do

fogo

8 [] (BRASIL 2006ordf p 1112)

32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo

321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba

O municiacutepio de Irauccediluba possui uma aacuterea de 1461253 Km2 o que corresponde a

098 do territoacuterio estadual e estaacute situado no sertatildeo Centro-Norte conforme figura 12

inserido na microrregiatildeo geograacutefica de Sobral Dista cerca de 150 Km da capital Fortaleza e

21

p 7 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos naturais 22

p 11e 13 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos

naturais 23

p 11e 12 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos

naturais

78

localiza-se entre as coordenadas geograacuteficas Latitude 3˚44‟46rdquo S (Sul) e Longitude 39˚47‟00rdquo

WGr (oeste) Faz fronteira ao norte com os municiacutepios de Miraiacutema e Itapipoca ao sul com

Santa Quiteacuteria e Canindeacute a leste com Itapajeacute e Tejuccediluoca e a oeste com Sobral e possui trecircs

distritos Missi Juaacute e Boa Vista segundo ilustra a figura 13

Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba

Fonte Lustosa (2004) Fonte Lustosa (2004)

Segundo o censo de 2010 do IBGE a populaccedilatildeo do municiacutepio era de 22324

pessoas sendo curiosamente a maioria homens (5083) Jaacute sua densidade demograacutefica

correspondia a 1539 habKm2 A ocupaccedilatildeo municipal predomina na zona urbana

correspondendo a 6425 dos indiviacuteduos Em 2012 a populaccedilatildeo aumentou para 22742

pessoas

3211 Das propriedades estudadas

Por Irauccediluba possuir aproximadamente 713 imoacuteveis rurais tomando por base a

mediccedilatildeo feita pelo IDACE em 2012 natildeo seria possiacutevel o estudo de todas elas Partiu-se

entatildeo para uma amostragem com base nos imoacuteveis que possuiacuteam a reserva legal seja por

registro em cartoacuterio eou porque a aacuterea eacute puacuteblica e foi destinada a projetos de assentamentos

agraacuterios (PA‟s) estaduais e federais que por sua vez deveriam respeitar tal obrigatoriedade

79

Pela tabela 8 vecirc-se que dos 14 assentamentos em Irauccediluba 6 satildeo estaduais e 8

federais No entanto os criteacuterios utilizados para examinaacute-los foi o tempo de criaccedilatildeo de cada

um e a existecircncia de reserva legal delimitada na planta da propriedade Aleacutem disto foi

escolhido um imoacutevel particular por apresentar a averbaccedilatildeo da reserva legal como demonstra a

tabela 9

Tabela 8 - Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de anaacutelise

PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO

Nome do

Assentamento

Instituiccedilatildeo

Responsaacutevel Data de Criaccedilatildeo Status para anaacutelise

Saco do Vento IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Aroeira IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Boqueiratildeo IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Mudubim IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Consulta IDACE 23072001 Planta natildeo disponibilizada

Cachoeira IDACE 05102006 Planta natildeo disponibilizada

Saco Verde INCRA 2691997 Incluiacutedo

Cajazeiras II INCRA 2691997 Incluiacutedo

Aacuteguas Mortas

Poccedilo da Pedra INCRA 22121997 Incluiacutedo

RiachueloAlto

Alegre INCRA 09112005 Incluiacutedo

Almas INCRA 17111998 Incluiacutedo

Olho d‟Aacutegua da

Esperanccedila INCRA 06122007

Muito recente ndash Fora de abrangecircncia

das imagens de sateacutelite

Satildeo Marinho

Rodeador INCRA 04122006

Reserva legal natildeo delimitada na planta

do imoacutevel

Arraia INCRA 13102011 Muito recente ndash Fora de abrangecircncia

das imagens de sateacutelite

Tabela 9 - Dados da propriedade particular estudada PROPRIEDADE PARTICULAR ANALISADA

Nome Proprietaacuterio Data da averbaccedilatildeo

da RL Status para anaacutelise

Miramar MIRASA ndash Miramar

Agropecuaacuteria SA 06042005 Incluiacutedo

Diante dos paracircmetros de seleccedilatildeo apontados acima restaram 5 assentamentos e 1

aacuterea particular totalizando 6 aacutereas para estudo Assim sendo as propriedades analisadas

foram RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas Almas Saco Verde Cazajeiras II e Miramar

sendo esta a de domiacutenio privado Com exceccedilatildeo desta uacuteltima as demais satildeo assentamentos

agraacuterios federais ficando de fora os estaduais por serem em sua maioria recentes isto eacute a

partir de 2010 e por isso natildeo abrangidos pelas imagens de sateacutelite utilizadas (anos 1993 e

2007) As duas estaduais mais antigas Consulta e Cachoeira natildeo tiveram suas plantas

80

disponibilizadas pelo oacutergatildeo competente e as federais que ficaram excluiacutedas tambeacutem eram

muito recentes aleacutem do que natildeo possuiacuteam reserva legal delimitada

A figura 14 a seguir mostra a localizaccedilatildeo das propriedades estudadas e suas

respectivas reservas legais delimitadas que podem ser lidas pela legenda de cores ao lado

Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo

A tabela 10 traz as aacutereas de cada imoacutevel e sua reserva legal onde eacute possiacutevel

constatar um nuacutemero pequeno de propriedades que apresentam o tal instituto criado e exigido

por lei Aleacutem disso a soma de suas aacutereas tambeacutem eacute pouco expressiva ao comparar com a do

municiacutepio No total satildeo 1628865 hectares sendo 328832 hectares pertinentes agrave reserva

legal

Tabela 10 - Propriedades estudadas

PROPRIEDADES ESTUDADAS

IMOacuteVEL DOMIacuteNIO AacuteREA DO IMOVEL (HA) AacuteREA DA RESERVA LEGAL (HA)

Saco Verde INCRA 6464 129280

Cajazeiras II INCRA 96487 19297

Aacuteguas Mortas Poccedilo da Pedra INCRA 239778 47955

Riachuelo Alto Alegre INCRA 3378 67560

Olho drsquoAacutegua da Esperanccedila INCRA 1940 388

81

Miramar PARTICULAR 1144 25940

3212 Aspectos histoacutericos da ocupaccedilatildeo do municiacutepio

Haacute quem diga que Irauccediluba significa tanto amizade como grande abelha amarela

A primeira acepccedilatildeo se deve ao povo hospitaleiro de bons sentimentos e amigos da paz Jaacute a

segunda faz referecircncia a um vocaacutebulo indiacutegena cuja expressatildeo representa a junccedilatildeo de trecircs

palavras ira que quer dizer mel ou abelha ussu grande e yuba amarelo (FOLHES e

VIANA 2001)

Segundo o IBGE o surgimento de Irauccediluba se deve a um povoado denominado

Cacimba do Meio que despontou no iniacutecio do seacuteculo XIX O nome do municiacutepio como

atualmente eacute conhecido soacute foi alterado em 1899 pelo desembargador Aacutelvaro de Alencar

Irauccediluba foi distrito de Itapajeacute de 1905 ateacute 1957 quando foi elevada agrave condiccedilatildeo de municiacutepio

Quanto a sua ocupaccedilatildeo Arauacutejo Filho e Silva (2013) remontam a memoacuteria dos

mais antigos que registra o fenocircmeno da transumacircncia na regiatildeo jaacute no seacuteculo XIX Aleacutem

disto os autores ainda mencionam que

O primeiro relato da presenccedila do homem branco na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba

refere-se agrave passagem no ano de 1606-1607 dos jesuiacutetas Francisco Pinto e Luiacutes

Figueira Na eacutepoca a regiatildeo era habitada por iacutendios das etnias Tupi e Tapuia

citando-se os Anaceacute Apuiareacute e Kariri (GIRAtildeO1967) Consta entatildeo que os

indiacutegenas viviam da caccedila e que na eacutepoca seca ateavam fogo na erva para afugentar

as cobras e facilitar a caccedila (ARAUacuteJO e SILVA 2013 p 4)

E soacute para constar o potencial do municiacutepio acerca da boa qualidade das pastagens

de forma a compensar a praacutetica da transumacircncia em tempos antigos vale referenciar um

texto de Dias (1998) que Folhes e Viana (2001) fazem menccedilatildeo

ldquo() no espaccedilo onde Irauccediluba estaacute inserida atualmente visto como um ambiente

inoacutespito em processo de desertificaccedilatildeo no seacuteculo XVII ao se transitar pela flora

primitiva na eacutepoca das chuvas era difiacutecil saber se era noite ou dia face ao

adensamento da vegetaccedilatildeordquo Esse adensamento foi registrado pelos jesuiacutetas

Francisco Pinto e Luiacutes Figueira em 1607 quando partiram de Pernambuco numa

missatildeo de catequese em direccedilatildeo ao Maranhatildeo (DIAS 1998 p 62 apud FOLHES e

VIANA 2001 p 9)

322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas

Arauacutejo Filho e Silva (2013) fazem um apanhado sucinto e ao mesmo tempo geral

de duas atividades econocircmicas desenvolvidas no municiacutepio de Irauccediluba

82

Historicamente a Regiatildeo tem na pecuaacuteria a mais importante atividade dentro de um

sistema de transumacircncia servindo de estaccedilatildeo na eacutepoca das chuvas para os rebanhos

criados na regiatildeo litoracircnea Isto porque apresenta extensas aacutereas recobertas por

planossolos sob uma caatinga do tipo savana com cobertura herbaacutecea de excelente

potencial forrageiro Considerando a ocupaccedilatildeo da aacuterea municipal 124 satildeo usados

para a produccedilatildeo agriacutecola a pecuaacuteria ocupa 671 e os restantes 205 satildeo

recobertos de matas Confrontando os dados da distribuiccedilatildeo dos solos e de sua

ocupaccedilatildeo vecirc-se que a pecuaacuteria eacute praticada em toda a extensatildeo dos planossolos e dos

luvissolos a agricultura ocupa pequena parcela do luvissolo e dos solos litoacutelicos e a

extraccedilatildeo de madeira parte dos litoacutelicos e dos luvissolos (IBGE 2010) (ARAUacuteJO

FILHO e SILVA 2013 p 1)

Para os autores a pecuaacuteria em sistemas de produccedilatildeo de regiotildees semiaacuteridas

constitui uma atividade tampatildeo dos efeitos da seca facilita a dispersatildeo dos riscos de perdas

tem boa liquidez econocircmica e eacute um fator muito importante de fixaccedilatildeo do homem agrave terra

Em se tratando de nuacutemeros o PAE (CEARAacute 2010b) apresentou em seus

levantamentos percentuais a situaccedilatildeo de alguns aspectos socioeconocircmicos que ora se julga

interessantes expor neste trabalho Por exemplo o analfabetismo estaacute decrescendo eacute o que a

taxa de escolaridade no ensino fundamental de 932 em 2007 demonstra mas altas taxas

de repetecircncia evasatildeo escolar qualificaccedilatildeo dos professores baixo aproveitamento dos alunos

e divergecircncia entre a faixa etaacuteria e a seacuterie cursada tambeacutem satildeo problemas que afetam a

educaccedilatildeo no municiacutepio Folhes e Viana (2001) Quanto ao saneamento baacutesico natildeo existia rede

de esgotamento no municiacutepio nem aacutegua tratada para a maioria da populaccedilatildeo conforme

pesquisa realizada em 2007 contudo em 2010 a CAGECE24

informou que havia 6173

ligaccedilotildees entre reais e ativas para o abastecimento de aacutegua enquanto que a cobertura de

esgoto continuava sem nenhuma ligaccedilatildeo mas curiosamente apresentava uma taxa de

cobertura de 1937

O PAE (CEARAacute 2010) diz que em Irauccediluba o salaacuterio meacutedio mensal da

populaccedilatildeo correspondia a um salaacuterio miacutenimo e meio mas o IBGE (2010) traz outro nuacutemero

Em 2010 quando o salaacuterio miacutenimo era de R$ 51000 a renda domiciliar per capita entre frac14 a

mais de 3 correspondia a 5158 trabalhadores sendo que a maioria deles recebia por mecircs R$

12750 ou menos Agregada a essa realidade econocircmica existe a populaccedilatildeo extremamente

pobre com renda domiciliar per capita de ateacute R$ 7000 Nesse patamar concentram-se 8008

pessoas

Eacute nesse contexto que estatildeo cerca de 13500 pessoas classificadas como

economicamente ativas no municiacutepio Infelizmente o nuacutemero de irauccedilubenses inseridos na

condiccedilatildeo de pobreza eacute bem expressivo correspondendo a 3587 da populaccedilatildeo em 2010

24

In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p14)

83

Eacute faacutecil perceber que se trata de uma cidade pouco desenvolvida pobre sem muita

educaccedilatildeo e condiccedilotildees baacutesicas de sauacutede Isso reflete tanto na economia como na qualidade de

vida sem falar no cenaacuterio ambiental pois a situaccedilatildeo como estaacute posta favorece muito mais a

degradaccedilatildeo dos recursos naturais

Falando em questotildees ambientais dentro do contexto da dinacircmica populacional de

Irauccediluba eacute interessante citar a retraccedilatildeo no nuacutemero de indiviacuteduos residentes na aacuterea rural

desde a deacutecada de 70 e consequentemente aumento na urbana Considerando que os riscos de

desertificaccedilatildeo satildeo mais acentuados nas regiotildees densamente povoadas porque haacute maior

pressatildeo sobre os bens naturais e que a densidade demograacutefica do municiacutepio em 2010 estava

em 1539 habkm Folhes e Viana (2001) pontuam

A densidade demograacutefica de Irauccediluba representa pouco mais da metade do que

Ferreira et al (1994) estabeleceram como ldquofator de pressatildeordquo no estudo que se

tornou conhecido por ser o primeiro a confeccionar o mapa de susceptibilidade agrave

desertificaccedilatildeo do Nordeste brasileiro dada(s) as condiccedilotildees de semi-aridez as

condiccedilotildees dos solos a disponibilidade de aacutegua da regiatildeo e a capacidade de suporte

da mesma adotou-se como fator de pressatildeo sobre o meio ambiente a densidade

igual ou superior a 20habkm2 (p19-20)rdquo Veem-se a dificuldade e imprecisatildeo dos

estudos quanto agrave determinaccedilatildeo de algum ponto criacutetico onde a relaccedilatildeo densidade

demograacutefica versus processos de desertificaccedilatildeo passa de causa para efeito

(FOLHES e VIANA 2001 p 13)

Os autores ainda reforccedilam que o municiacutepio se enquadra no grupo com fraca

densidade demograacutefica que eacute de 10 a 20habkm2 de acordo com a classificaccedilatildeo estabelecida

pelo diagnoacutestico agro-soacutecio-econocircmico

Segundo Folhes e Viana (2001) um dos iacutendices mais sensiacuteveis para se medir o

niacutevel de desenvolvimento de um municiacutepio eacute a taxa de mortalidade infantil pois ela revela a

estreita ligaccedilatildeo entre o estado de sauacutede da populaccedilatildeo o acesso aos serviccedilos meacutedicos

condicionados pela situaccedilatildeo soacutecioeconocircmica da populaccedilatildeo Em Irauccediluba essa taxa eacute de 1592

mortos a cada 1000 nascidos vivos maior ainda que a do estado 133225

A economia de Irauccediluba gira em torno de atividades como agricultura e pecuaacuteria

Aquela engloba culturas praticadas em lavouras permanentes e temporaacuterias e esta envolve a

criaccedilatildeo de gado de vaacuterias espeacutecies e aves como galos e galinhas Em termos comparativos

traccedilou-se um paralelo do sistema produtivo econocircmico nos anos de 2001 e 2011 para que se

pudesse avaliar alguma retraccedilatildeo ou evoluccedilatildeo no quadro agropecuaacuterio e industrial do

municiacutepio

A figura 15 abaixo eacute autoexplicativa de modo que prontamente se percebe a

banana e a manga como as culturas mais significativas ficando logo atraacutes o cocircco da baiacutea

25

SESA (2011) In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p 9)

84

Nota-se tambeacutem natildeo haver muita diferenccedila de produccedilatildeo dos trecircs cultivos agriacutecolas nesses

dois anos o que leva a concluir que os produtores do municiacutepio mantiveram os investimentos

e colheitas semelhantes O mesmo natildeo ocorreu com o algodatildeo arboacutereo pois seu resultado caiu

drasticamente no periacuteodo analisado Ressalte-se poreacutem que o ano de 2001 foi mais produtivo

que o de 2011 com exceccedilatildeo da castanha de caju

Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Permanentes

Fonte IBGE (2001 e 2011)

Com relaccedilatildeo agraves lavouras temporaacuterias o destaque eacute da mandioca e da mamona

muito embora esta uacuteltima soacute apresente resultados no ano de 2011 Outras culturas temporaacuterias

satildeo o milho e o feijatildeo mas natildeo constam na figura 16 porque a disparidade entre os dois anos

e a alta produtividade em 2011 dificultariam a visualizaccedilatildeo

Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Temporaacuterias

Fonte IBGE (2001 e 2011)

85

De qualquer maneira a safra de milho e feijatildeo em 2001 natildeo foi tatildeo expressiva

ou seja correspondeu a 14 e 7 toneladas respectivamente Jaacute em 2011 esse nuacutemero foi agraves

alturas chegando agraves 4433 toneladas de milho e 2088 toneladas de feijatildeo

Jaacute os produtos de origem florestal comuns em Irauccediluba satildeo a cera o poacute e a fibra

da carnauacuteba o carvatildeo vegetal a lenha e a madeira em tora poreacutem os mais relevantes satildeo o

carvatildeo vegetal e a lenha conforme se vecirc nas figuras 17 e 18

Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em tonano

Fonte IBGE (2001 e 2011)

Como a lenha e a madeira em tora tecircm unidade de medida diferente dos demais

produtos construiu-se a figura 18 para natildeo deixaacute-las de fora da anaacutelise

0100020003000400050006000700080009000

1000011000

Lenha Madeira em tora

Produtos de origem vegetal (m3ano)

2001

2011

Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em m3ano

Fonte IBGE (2001 e 2011)

86

Quanto aos produtos de origem animal o leite foi o mais vultoso sobressaindo-se

nos anos de 2001 e 2011 Na tabela 11 abaixo tambeacutem foram relacionados os outros mas

com participaccedilatildeo bem pequena na produtividade do municiacutepio

Tabela 11 - Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem animal Produtos de origem animal

Leite Mel de abelha Ovos de galinha Ovos de codorna

Produccedilatildeo (mil l) Produccedilatildeo (kg) Produccedilatildeo (mil dz) Produccedilatildeo (mil dz)

2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011

5228 6031 0 507 80 143 0 1

Fonte IBGE (2001 e 2011)

Em termos industriais julgou-se interessante fazer uma comparaccedilatildeo um tanto

mais abrangente citando tambeacutem os nuacutemeros do ano de 2010 Observa-se que os grupos de

induacutestrias existentes em Irauccediluba reuacutenem as de extraccedilatildeo mineral construccedilatildeo civil e

principalmente as de transformaccedilatildeo conforme figura 19

Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011)

Fonte IBGE (2001 2010 e 2011)

Eacute possiacutevel observar pela figura acima que as empresas de extraccedilatildeo mineral e de

construccedilatildeo civil pouco se desenvolveram durante o periacuteodo analisado o mesmo natildeo ocorreu

com as induacutestrias de transformaccedilatildeo que inclusive chamam bastante atenccedilatildeo Estas se

desdobram em vaacuterias espeacutecies como por exemplo produccedilatildeo de minerais natildeo metaacutelicos

metaluacutergica mecacircnica produccedilatildeo de material eleacutetrico eletrocircnico e comunicaccedilatildeo produccedilatildeo de

material para transporte madeireira mobiliaacuteria produccedilatildeo de papel papelatildeo e borracha

beneficiamento de couros peles e similares quiacutemica produccedilatildeo de produtos farmacecircuticos e

veterinaacuterios de material plaacutestico tecircxtil vestuaacuterio calccedilados artefatos de tecido couros e

peles produtos alimentares bebidas fumo dentre outras

87

De 2001 para 2010 a quantidade de induacutestrias de transformaccedilatildeo pouco aumentou

passando de 13 para 17 mas de 2010 a 2011 esse rol duplicou indo de 17 para 34 empresas

como se pode observar pelas figuras 20 21 e 22

Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001

Fonte IBGE (2001)

Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010

Fonte IBGE (2010)

TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 13

TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 17

88

Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011

Fonte IBGE (2011)

A induacutestria tecircxtil oscilou em nuacutemeros visto que em 2001 contava com 5

empresas em 2010 com 4 expandido para 9 de forma que essa quantidade representou 26

do total de induacutestrias em Irauccediluba no ano de 2011 Outra atividade expressiva no municiacutepio eacute

a de produtos alimentares Muito embora natildeo exista em 2010 nos anos de 2001 e 2011 ela

totalizava 5 e 9 unidades respectivamente representando 23 e 26 cada uma no universo de

empresas Em terceiro plano encontra-se a produccedilatildeo de minerais natildeo-metaacutelicos que em 2001

contou com 1 induacutestria em 2010 com 2 e em 2011 com 3 Aleacutem disto apareceram a partir de

2010 atividades como mobiliaacuterio couros e peles vestuaacuterio e uma categoria natildeo definida pelo

IBGE classificada como diversas Em contrapartida desapareceram da contagem as

induacutestrias madeireira e metaluacutergica

Na pecuaacuteria existe a criaccedilatildeo de gado e aves O realce no primeiro grupo eacute dado

pelos bovinos seguido pelos ovinos e caprinos tanto no ano de 2010 como 2011 sendo neste

os nuacutemeros maiores Quanto agraves aves a ocorrecircncia eacute de galos frangos frangas e pintos aleacutem

de galinhas Entre estes dois grupos o primeiro eacute mais representativo como bem se examina

pela figura 23

TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 34

89

Figura 23 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos

Fonte IBGE (2011 e 2011)

Sem esquecer outros rebanhos mesmo que de menor grandeza existem no

municiacutepio bubalinos muares coelhos e codornas segundo os nuacutemeros apresentados na

tabela 12

Tabela 12 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores Rebanhos Bubalinos Muares Coelhos Codornas

Ano 2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011

Nordm de indiviacuteduos 98 48 380 436 22 67 89 193

Fonte IBGE (2011 e 2011)

Por fim conclui-se que em Irauccediluba eacute praticado aleacutem das atividades industriais o

tripeacute econocircmico baseado na produccedilatildeo agriacutecola pecuaacuteria e madeireira esta a partir da

exploraccedilatildeo de lenha e carvatildeo vegetal Desta maneira seria mais interessante para o municiacutepio

considerando suas caracteriacutesticas ambientais o uso de sistemas de produccedilatildeo

agrossilvopastoris Nesse sentido Arauacutejo Filho e Silva (2013) ilustram

Os sistemas de produccedilatildeo agrossilvipastoris satildeo formas de uso e manejo da terra nas

quais aacutervores e arbustos satildeo utilizados em associaccedilatildeo com cultivos agriacutecolas e

animais numa mesma aacuterea de maneira simultacircnea ou numa sequecircncia temporal

Cada componente do sistema de produccedilatildeo deve ter pelo menos uma funccedilatildeo proacutepria e

sua integraccedilatildeo garante sua funcionalidade Assim as aacutervores devem ser em nuacutemero

suficiente para um aporte significativo de serrapilheira fonte de mateacuteria orgacircnica

para o solo Os animais satildeo os redistribuidores de nutrientes entre os componentes

do sistema via urina e esterco E as culturas garantem a produccedilatildeo de alimentos para

a famiacutelia e seus animais e contribuem para a circulaccedilatildeo de nutrientes dentro do

sistema Os SAF‟s podem tambeacutem ser usados para a reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e

econocircmica de aacutereas degradadas sobre luvissolos e argissolos (ARAUacuteJO FILHO e

SILVA 2013 p 1819)

90

323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba

A caracterizaccedilatildeo ambiental realizada no municiacutepio das aacutereas de estudo engloba a

altimetria as classes de relevo demonstrando a declividade do terreno que varia de plano a

forte ondulado os tipos de solos e suas associaccedilotildees de classes entre si o clima envolvendo

dados sobre a pluviometria anual o iacutendice de umidade o nuacutemero de meses sem chuva a

temperatura e a evapotranspiraccedilatildeo total anual do municiacutepio Comenta-se ainda a vegetaccedilatildeo e

suas formas aleacutem dos rios e accediludes existentes em Irauccediluba reunindo seus recursos hiacutedricos

3231 Altimetria e Classe de relevo

A altimetria do municiacutepio estaacute exibida na figura 24 conforme seus niacuteveis de

altitude que variam de 80 a 840 metros acima do mar

Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba

91

Jaacute o relevo oscila de plano a forte ondulado conforme figura 25 Arauacutejo Filho e Silva

(2013 p 1) definem que ldquonos planossolos o relevo varia de plano a suave-ondulado (de 1 a 8)

nos argisssolos e nos luvissolos apresentam-se em relevo de suave-ondulado a ondulado (de 8 a

20) e os litoacutelicos estatildeo em relevo forte-ondulado (de 20 a 45)rdquo

Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba

3232 Solos

A regiatildeo semiaacuterida nordestina ldquo[] recebe anualmente calor e luz em excesso o

que resulta em raacutepida mineraccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica Seus solos satildeo geralmente pouco

profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica mas relativamente ricos

em bases trocaacuteveisrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 7)

O PAN (BRASIL 2004) assegura que as classes de associaccedilatildeo de solos presentes

no semiaacuterido do Nordeste satildeo o bruno natildeo caacutelcico litoacutelicos podzoacutelico eutroacutefico terra roxa

estruturada cambissolo ondulado e forte ondulado e planossolos Apresentam tambeacutem tipos

de relevo e susceptibilidade agrave erosatildeo diferenciados como mostra a tabela 13

92

Tabela 13 - Relaccedilatildeo de solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo

CLASSES DE SOLO RELEVO SUSCEPTIBILIDA Agrave

EROSAtildeO

Bruno natildeo caacutelcico (Luvissolos) Suave ondulado e ondulado Forte

Litoacutelicos Ondulado forte ondulado e

montanhoso Muito forte

Podzoacutelico eutroacutefico terra roxa

estruturada cambissolo ondulado e

forte ondulado

Ondulado e forte ondulado Moderado

Planossolos Plano e suave ondulado Moderado

Fonte PAN Brasil (2004)

ldquoTrecircs classes de solos se destacam no municiacutepio de Irauccediluba luvissolos com

432 de cobertura planossolos com 187 e litoacutelicos com 332 Juntos eles perfazem

951 da aacuterea do municiacutepiordquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2)

Os luvissolos constituem os solos mais utilizados pela agricultura migratoacuteria do

semiaacuterido nordestino Por causa do desmatamento e uso do fogo haacute indicaccedilotildees de que pelo

menos 65 da aacuterea de cobertura deste importante solo se encontrem em erosatildeo de grave a

muito grave Em Irauccediluba natildeo eacute diferente pois a agricultura eacute praticada nas aacutereas recobertas

por luvissolos e solos litoacutelicos enquanto a pecuaacuteria eacute desenvolvida tanto no planossolo com

presenccedila tambeacutem nas aacutereas de luvissolo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013)

Em se tratando de associaccedilatildeo de solos a tabela 14 indica a nomenclatura utilizada

por Jacomine (1973) e pela EMBRAPA (2006) para definir os tipos de associaccedilatildeo

encontrados em Irauccediluba apontando ainda a porcentagem de cada um dentro da respectiva

associaccedilatildeo E a figura 26 apresenta a distribuiccedilatildeo dessas associaccedilotildees no municiacutepio de forma

que eacute possiacutevel notar o predomiacutenio da associaccedilatildeo NC15 seguida da Re25 e Re26

Tabela 14 - Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEMBRAPA

ASSOCIACcedilAtildeO

DE SOLO EM

JACOMINE

(1973)

NOMENCLATURA DOS SOLOS NAS ASSOCIACcedilOtildeES DO SOLO

NA

ASSOCIACcedilAtildeO JACOMINE (1973) EMBRAPA (2006)

PE6

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO moderado

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 40

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO chemozecircnico

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 30

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 15

AFLORAMENTOS DE ROCHA - 15

PE42

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 70

REGOSOL EUTROacuteFICO NEOSSOLOS

REGOLIacuteTICOS 30

NC7 BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO LUVISSOLO 40

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 35

93

BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO veacutertico LUVISSOLO 25

NC15

BRUNOS NAtildeO CAacuteLCICOS

INDISCRIMINADOS LUVISSOLO 40

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 25

PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 20

SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 15

PL6

PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 45

SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 35

SOLOS OTOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 20

Re6

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 65

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 35

Re25 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel

estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -

Re26 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel

estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -

Fonte Jacomine et al (1973) e EMBRAPA (2006)

Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba

94

Por fim a figura 27 apresenta os quatro grandes grupos de solo encontrados em

Irauccediluba e sua distribuiccedilatildeo no municiacutepio sendo eles Podzoacutelico vermelho amarelo

equivalente eutroacutefico (PE) Bruno natildeo caacutelcico (NC) Planossolo (PL) e Solos litoacutelicos (Re)

Figura 27 Grupos de solos que formam associaccedilotildees pedoloacutegicas em Irauccediluba

3233 Clima

ldquoO clima na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba eacute conforme classificaccedilatildeo de Koumlppen

(MILLER 1971) do tipo Bshw semiaacuterido megateacutermico com curta estaccedilatildeo chuvosa no

veratildeo-outono e com concentraccedilatildeo das precipitaccedilotildees pluviais nos meses de marccedilo e abrilrdquo

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2) Anualmente o municiacutepio apresenta pluviometria

meacutedia abaixo dos 700 mm mas existe maior incidecircncia de chuva em outras regiotildees de

Irauccediluba Eacute o que demonstra a figura 28

Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba

Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba

95

Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba

ldquoA regiatildeo apresenta um dos mais baixos iacutendices pluviomeacutetricos do Estado do Cearaacute

com meacutedia histoacuterica de 540 mm Isto porque a aacuterea encontra-se a sotavento da serra

de Uruburetama constituindo-se em uma ldquosombra de chuvardquo causada pela

interceptaccedilatildeo pela serra dos ventos uacutemidos oriundos do oceanordquo (ARAUacuteJO FILHO

e SILVA 2013 p 2)

O municiacutepio passa a maior parte do ano sem chuva aproximadamente dez meses

e apesar da pouca pluviosidade a evapotranspiraccedilatildeo eacute maior que a precipitaccedilatildeo Sem poder

ser diferente as temperaturas variam de 25 a 28 graus sendo que na maior parte da aacuterea

incidem temperaturas de 26 a 27 graus centiacutegrados e a umidade aponta a incidecircncia do clima

semiaacuterido em Irauccediluba As figuras 06 29 30 31 e 32 ilustram as informaccedilotildees declaradas

96

Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba

Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual

97

Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba

Figura 32 Iacutendice Efetivo de umidade em Irauccediluba

Fonte NOLEcircTO (2005)

98

3234 Vegetaccedilatildeo

A caatinga eacute um dos maiores biomas brasileiros e significa mata branca Por ser

uma vegetaccedilatildeo xeroacutefila eacute capaz de suportar vaacuterios anos de estiagem recuperando com

rapidez suas atividades logo nas primeiras chuvas apoacutes a seca A adaptaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo ao

clima semiaacuterido eacute impressionante como por exemplo as cascas claras ou reluzentes servem

para diminuir o aquecimento do tecido vivo da planta Por causa da falta de aacutegua satildeo

caducifoacutelias isto eacute as folhas caem durante a estaccedilatildeo seca para evitar excesso de perda d‟aacutegua

pela evapotranspiraccedilatildeo aleacutem disto os caules satildeo projetados para armazenar aacutegua (MAIA

2012)

ldquoA caatinga se assemelha a arbustos tropicais ou bosques de espinhos Eles

contecircm pequenas aacutervores de madeira dura grotescamente retorcidas e com espinhos as folhas

satildeo pequenas e caem durante a estaccedilatildeo secardquo Odum e Barret (2008 p 453)

Fisionomicamente eacute possiacutevel diferenciar os tipos de vegetaccedilatildeo o arboacutereo que estaacute nas

superfiacutecies mais conservadas sendo o pau branco o angico o pereiro dentre outras suas

espeacutecies mais representativas o arbustivo que eacute sinal de aacutereas jaacute degradadas pelo

desmatamento uso agriacutecola e pecuaacuteria e o herbaacuteceo figurado por gramiacuteneas presentes

somente durante o periacuteodo chuvoso e explorado pela pecuaacuteria extensiva (DANTAS et al

2007)

ldquoO Bioma Caatinga estaacute inserido no quadro dos Ecossistemas da Regiatildeo das

Caatingas e Florestas Deciduais do Nordeste Abrange as especificidades do Domiacutenio

Morfoclimaacutetico das Caatingas sejam elas arbustivas ou arboacutereasrdquo (BRASIL 2004 p 68) Os

frutos amadurecem ao fim da eacutepoca das chuvas quase que generalizadamente na maioria das

espeacutecies arboacutereas e herbaacuteceas permanecendo pendentes dos ramos durante algum tempo Ao

se desprenderem e caiacuterem no solo natildeo germinam de imediato pois a resistecircncia da casca e

outros artifiacutecios da natureza impedem a germinaccedilatildeo pronta Se germinassem morreriam quase

em seguida natildeo resistindo agrave longa estaccedilatildeo seca e quente da estiagem com interrupccedilatildeo brusca

e total das chuvas A germinaccedilatildeo poreacutem processa-se rapidamente logo ao caiacuterem as

primeiras chuvas pois os indumentos foram intensamente desgastados pelo intemperismordquo

As queimadas realizadas para a preparaccedilatildeo de novos terrenos de cultivo desempenham papel

de grande poder destruidor do ambiente ldquoCompreende-se pois que a restauraccedilatildeo da

cobertura vegetal depende da preservaccedilatildeo desses estoques de sementesrdquo26

26

Conferir SOBRINHO Vasconcelos (1983) In PAN Brasil 2004

99

ldquoA vegetaccedilatildeo da aacuterea do nuacutecleo de desertificaccedilatildeo de Irauccediluba espelha os efeitos dos

fatores fiacutesicos mormente os de natureza hiacutedrica e edaacutefica e da accedilatildeo antroacutepica

Assim as aacutereas dos solos argissolos litoacutelicos e luvissolos apresentam uma cobertura

arbustiva-arboacuterea formando um verdadeiro mosaico de diferentes estaacutedios

sucessionais em virtude das praacuteticas agriacutecola ambientalmente agressivasrdquo [] ldquoAs

aacutereas sobre os planossolos estatildeo recobertas por uma caatinga assavanada e

esporadicamente com afloramentos rochosos e com cobertura arbustiva arboacuterea

meacutedia abaixo de 20 e densidade de cerca 200plantasha A camada herbaacutecea de

biodiversidade inferior ao das aacutereas de luvissolos ou argissolos eacute rica no entanto

em espeacutecies forrageiras destacando-se a erva de ovelha (Stylosanthes humilis)

vassourinha (Stylosanthes angustifolia) urinana (Zornia bracteata) e capim accedilu

(Paspalum milegrana) O capim panasco no entanto predomina nas aacutereas

sobrepastejadasrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 34)

A figura 33 espelha a composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba Segue claro que a Caatinga

Arboacuterea Sem Palmeira (Cas) predomina seguida da Caatinga Arboacuterea Com Palmeira (Cap) e

da Caatinga Parque Sem Palmeira (Cps) A Floresta Ombroacutefila Aberta (Acc1) e as Aacutereas De

Formaccedilatildeo Pioneira (Acc2) representam uma aacuterea menor do municiacutepio

Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba

3235 Recursos Hiacutedricos

O nuacutecleo de Irauccediluba estaacute situado na bacia hidrograacutefica do rio Curu contando com

o aporte dos rios Aracatiaccedilu e Caxitoreacute aleacutem de vaacuterios riachos destacando-se o Aroeira o

Fonte NOLEcircTO (2005)

Fonte NOLEcircTO (2005)

100

Gabriel e o Cachoeira A ausecircncia de barragens de porte representativo faz com que a

pequena accediludagem assuma um papel relevante Destacam-se dentre essas os Accediludes Satildeo

Gabriel do Mocoacute (IRAUCcedilUBA 2009)

Por conta da irregularidade das chuvas que contribui para favorecer o escoamento

de superfiacutecie junto agraves condiccedilotildees geoloacutegicas predominantemente cristalinas favorecem o

escoamento raacutepido das aacuteguas pluviais inviabilizando o acuacutemulo de aacuteguas subterracircneas em

quantidades razoaacuteveis (IRAUCcedilUBA 2009) existem no municiacutepio cerca de 28 pequenos

accediludes nomeando-se o Nogueira Ramos o Cairu Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu e o Jerimum

que abastece a cidade de Irauccediluba ldquoUma estrutura muito comum no municiacutepio eacute o barreiro da

salvaccedilatildeo constituindo-se em um sistema temporaacuterio de armazenamento de aacutegua para atender

agrave demanda dos rebanhos durante boa parte da estaccedilatildeo secardquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA

2013 p 3)

324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo

A partir da abordagem feita no item 323 passa-se a analisar a realidade de cada

propriedade estudada Visando apontar os aspectos geoambientais dos imoacuteveis construiu-se

um quadro siacutentese conforme tabela 15 abaixo

Tabela 15 ndash Anaacutelise Geral das propriedades estudadas

Anaacutelise

Imoacuteveis com Reserva Legal

Riachuelo

Alto Alegre

Aacuteguas

Mortas

Almas

Cajazeiras

II

Saco

Verde

Miramar

Classe

no

Tipo

Niacuteveis da Classe

no Tipo

Aacuterea (km2)

336 238 127 124 671 86

no Niacutevel da Classe no Tipo

Precipitaccedilatildeo

Total

Meacutedia Anual

lt 600 - - - - 103 -

600 a 700 100 100 100 755 100

700 a 800 - - - 976 112 -

800 a 900 - - - 24 - -

Temperatura

Meacutedia Anual

(oC)

25-26 - - - - 71 -

26-27 100 100 100 100 929 100

27-28 - - - - - -

ETP

lt 1450 - - - - 100 100

1450-1500 - - - - - -

1500-1550 - - - - - -

1550-1600 100 100 100 - - -

1600-1650 - - - 141 - -

1650-1700 - - - 859 - -

101

Nugravemero

de

Meses secos

85 a 95 100 100 564 100 330 -

95 a 105 - - 454 - 670 100

gt105 - - - - - -

Im

gt - 333 - - - - - -

- 344 a - 499 100 100 100 100 388 15

lt - 499 - - - - 612 985

Igravendice de Aridez

do UNEP 020 a 050 100 100 100 100 780 100

050 a 065 - - - - 220 -

Classes

de

Relevo

Plano 23 46 56 112 55 135

Suave Ondulado 162 316 378 373 227 485

Ondulado 194 338 427 64 124 130

Muito Ondulado 127 111 72 38 72 70

Forte Ondulado 463 185 66 264 400 179

Montanhoso 31 04 - 105 120 03

Escarpado - - - 44 02 -

Classes

de

Altitude

80-120 - - -- 560 - -

120-160 - - - 113 - -

160-200 - - - 60 321 -

200-240 54 171 723

240-280 01 41 460 40 85 202

280-320 139 614 521 36 68 49

320-360 349 211 10 41 56 24

360-400 178 65 01 38 70 02

400-440 90 24 - 28 53 -

440-480 63 21 - 19 55 -

480-520 45 16 - 10 45 -

520-560 33 05 - 02 32 -

560-600 29 02 - - 15 -

600-640 25 01 - - 10 -

640-680 17 - - - 08 -

680-720 13 - - - 07 -

720-760 07 - - - 03 -

760-800 05 - - - 02

800-840 03 - - - - -

840-880 02 - - - - -

880-920 01 - - - - -

Associaccedilotildees

de

Solos

PE 6 - - - - 207 -

PE 42 - - - 913 - -

NC 7 - - - - - -

NC 15 940 755 516 - - 441

PL 6 - - - - 348 -

Re 6 - - - - - -

Re 25 - - - 87 445 -

Re 26 60 245 424 - - 559

Grupos

de

solos

PE - - - 913 207 -

NC 940 762 516 - - 441

PL - - - - 348 -

Re 60 238 484 87 445 559

Cobertura

Vegetal

Cas 515 934 100 - 265 100

Cap - - - 649 - -

Cps - - - - 168 -

Acc1 485 66 - - - -

Acc2 351 567 -

Quanto agrave graduaccedilatildeo altimeacutetrica em que se encontra cada propriedade em estudo eacute

possiacutevel observar que a RiachueloAlto Alegre tem niacuteveis de altimetria crescentes a partir de

102

240 ateacute 920 metros destacando-se como o imoacutevel de maior altitude seguido de Saco Verde e

Aacuteguas Mortas As outras natildeo passam dos 560 metros de altitude

Em se tratando da classe de relevo a que se apresenta mais plana eacute Miramar com

135 de sua aacuterea seguida de Cajazeiras II com 112 Em relevo montanhoso destacam-se

Saco Verde com 12 de terreno e Cajazeiras II com 105 No entanto a predominacircncia eacute de

imoacuteveis inseridos na faixa entre o suave ondulado e o forte ondulado

Os imoacuteveis em anaacutelise situam-se em diferentes grupos de solos como ilustra a

tabela 15 Por exemplo RiachueloAlto Alegre e Aacuteguas Mortas estatildeo 94 e 762

respectivamente em luvissolos ou seja em solos Bruno natildeo caacutelcicos e Podzoacutelico vermelho

amarelo equivalente eutroacutefico Almas e Miramar estatildeo divididas aproximadamente agrave metade

em solo litoacutelico e em Bruno natildeo caacutelcico Em Cazajeiras II predomina o solo Podzoacutelico

vermelho amarelo equivalente eutroacutefico mas apresenta um pequeno percentual em solo

litoacutelico E por fim Saco Verde possui uma distribuiccedilatildeo variada de solos Podzoacutelico vermelho

amarelo equivalente eutroacutefico (207) Planossolos (348) e litoacutelicos (445) sendo o

uacutenico imoacutevel com planossolos

Nas associaccedilotildees de solos prevalece a subclasse 15 dos solos Bruno natildeo caacutelcicos

(NC) nas propriedades RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas e Almas Cajazeiras II estaacute

quase totalmente na subclasse 42 do Podzoacutelico vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) e

Miramar mesmo quase ao meio entre NC e Re possui a maior parte de sua aacuterea na subclasse

26 de solos litoacutelicos (Re) Saco Verde embora um tanto quanto bem distribuiacuteda tem 207

de aacuterea na subclasse 6 dos Podzoacutelicos vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) 348

em planossolos subclasse 6 inclusive eacute o uacutenico imoacutevel nessa classificaccedilatildeo e 445 em Re6

A realidade das aacutereas em estudo descrita na tabela 15 revela que mais da metade

delas estaacute inserida na faixa de pluviosidade abaixo dos 700 mm contudo Cajazeiras II foge agrave

regra apresentando pluviometria entre 700 a 900 mm Em Saco Verde ocorre distribuiccedilatildeo

irregular de chuvas e aleacutem de estar na meacutedia tem precipitaccedilatildeo tanto abaixo dos 600 como

acima de 700 mm

E por fim a cobertura vegetal de Almas Miramar quase toda de Aacuteguas Mortas e

a metade RiachueloAlto Alegre eacute de caatinga arboacuterea sem palmeira (Cas) enquanto que mais

de 50 da Cajazeiras II estaacute em caatinga arboacuterea com palmeira (Cap) Saco Verde tem mais

da metade da aacuterea em formaccedilatildeo pioneira (Acc2)

103

33 Metodologia

A metodologia utilizada no levantamento acerca da existecircncia de reserva legal no

municiacutepio de Irauccediluba envolveu algumas fases de anaacutelise como pesquisa bibliograacutefica

documental caracterizaccedilatildeo da aacuterea sob os aspectos sociais econocircmicos e ambientais o uso de

imagens orbitais e a aplicaccedilatildeo do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada (NDVI -

Normalized Difference Vegetation Index) nas propriedades em estudo

A abordagem envolveu o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo uma vez que para avaliar a

aplicabilidade da reserva legal como forma de combater o processo de degradaccedilatildeo ambiental

em Irauccediluba partiu-se da hipoacutetese de que se cada detentor de propriedade rural cumprisse a

obrigaccedilatildeo de implantaacute-la o processo de degradaccedilatildeo quiccedilaacute o de desertificaccedilatildeo seria estancado

no municiacutepio Aleacutem disso seria um instrumento proporcionador da recuperaccedilatildeo ambiental em

virtude de seus benefiacutecios A investigaccedilatildeo se deu por procedimentos de vieacutes histoacuterico e

comparativo tendo sido realizada uma retrospectiva de como foi o tratamento dado agrave reserva

legal no contexto juriacutedico econocircmico social e ambiental Aleacutem disto estudou-se as

propriedades que apresentaram o instituto mesmo que soacute documentalmente de maneira a

confrontar a situaccedilatildeo existente nos anos de 1993 e 2007 e sua modificaccedilatildeo

Para alcanccedilar os propoacutesitos deste trabalho ocorreu a coleta de dados pela pesquisa

documental e bibliograacutefica aleacutem da observaccedilatildeo direta intensiva que foi possiacutevel pelo exame

de dados obtidos por imagens do sateacutelite LANDSAT 5 referente aos anos de 1993 e 2007

bem como a avaliaccedilatildeo das aacutereas estudadas atraveacutes do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila

Normalizada (NDVI)

As informaccedilotildees geograacuteficas das propriedades em estudo foram disponibilizadas

basicamente pelo INCRA e pelo cartoacuterio de imoacuteveis de Irauccediluba Ambos cederam as plantas

georreferenciadas que foram vetorizadas em UTM 24s atraveacutes do programa CARTALINX 12

para em seguida serem exportadas para o IDRISI 322 e entatildeo convertidas para latitude e

longitude DATUM GS 84

331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite

O NDVI eacute um iacutendice de vegetaccedilatildeo derivado de imagens de sateacutelites e muito

utilizado na avaliaccedilatildeo da cobertura vegetal indicando o tipo a condiccedilatildeo e a densidade da

vegetaccedilatildeo atraveacutes do uso de bandas No caso as bandas do vermelho na faixa do visiacutevel e do

infravermelho proacutexima (PINHEIRO 2011) Agrave medida que aumenta a quantidade de

104

vegetaccedilatildeo verde aumenta a reflexatildeo na banda do infravermelho proacuteximo e diminui a reflexatildeo

na banda do vermelho fazendo com que o aumento da razatildeo seja potencializado realccedilando

assim a vegetaccedilatildeo27

Na banda do vermelho a clorofila absorve a energia solar resultando em uma

baixa reflectacircncia e no infravermelho proacuteximo tanto a morfologia interna das folhas quanto a

estrutura da vegetaccedilatildeo apresentam uma alta reflectacircncia da energia solar incidente A

combinaccedilatildeo dessas bandas realccedila a aacuterea de vegetaccedilatildeo nas imagens e quanto maior o contraste

maior o vigor da vegetaccedilatildeo da aacuterea imageada (LOURENCcedilO LANDIM 2004)28

Portanto o NDVI pode ser utilizado como uma teacutecnica para mapeamento

contiacutenuo da cobertura vegetal de uma regiatildeo possibilitando analisar e monitorar a

variabilidade desta em periacuteodos distintos (PINHEIRO 2011) Ressaltam ainda as diferenccedilas

entre aacutereas vegetadas e de solo exposto (VERONA 2002)29

O caacutelculo para se chegar ao NDVI deriva da razatildeo entre os valores das bandas do

vermelho e infravermelho proacuteximo ou seja a diferenccedila da resposta espectral do pixel dessas

bandas pela sua soma (SILVA et al 2007)30

resulta nos valores do NDVI que variam de ndash1 a

+1 A equaccedilatildeo para o caacutelculo do NDVI foi proposta por (JENSEN 1996)31

in Ewerton Torres

Melo 2008) conforme segue abaixo

NDVI = (NIR - R) (NIR + R)

Em que

NDVI eacute o iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada NIR eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Infra-Vermelho Proacuteximo

(076 a 090 μm)

R eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Vermelho (063 a 069μm)

Assim a vegetaccedilatildeo eacute caracterizada por uma intensa absorccedilatildeo devido agrave clorofila na

regiatildeo do vermelho (063 ndash 069 μm) e por uma intensa energia refletida na regiatildeo do

infravermelho proacuteximo (076 ndash 090 μm) causada pela estrutura celular das folhas Portanto

muitos dos modelos de iacutendice de vegetaccedilatildeo utilizam somente as bandas de imagem vermelha

ou proacutexima ao infravermelho (MELO 2008)

27

Novo (1989) In MELO Ewerton Torres (2008) 28

In PINHEIRO 2011 29

Idem 30

Ibidem 31

In MELO 2008

105

Conforme (BRAGA et al sd) estudos de variabilidade temporal e espacial sobre

a regiatildeo Nordeste do Brasil indicam que as aacutereas vegetadas variam de 01 a 08 sendo que

esses valores dependem da estrutura densidade e umidade da vegetaccedilatildeo As rochas e os solos

apresentam valores proacuteximos de zero e a aacutegua aparece com valores negativos Coberturas

vegetais muitos densas se expressam pelos maiores valores obtidos (PINHEIRO 2011)

106

4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES

41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba

O foco principal da pesquisa foi levantar e analisar as propriedades que de alguma

forma apresentem a reserva legal seja oficial ou extraoficialmente Com o exame das imagens

de sateacutelite dos anos de 1993 e 2007 utilizando o NDVI constatou-se que os iacutendices da

cobertura vegetal satildeo muito parecidos tanto dentro como fora da aacuterea de reserva ao serem

comparados pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Isto leva a crer que o instituto legal pode natildeo

ter promovido qualquer diferenccedila em termos de cobertura vegetal sem falar na hipoacutetese de

nem mesmo ter sido cumprido

Analisando os iacutendices de NDVI comprova-se que na grande maioria dos

imoacuteveis a cobertura vegetal tanto dentro como fora da aacuterea de reserva legal diminuiu entre

os anos de 1993 e 2007 Embora nas propriedades a vegetaccedilatildeo se apresente em niacuteveis

diferenciados de existecircncia representados pelas faixas 2 a 9 da tabela 16 vecirc-se que quase

todos em 1993 apresentavam aacutereas significativas de vegetaccedilatildeo na faixa 6 e 7 Se averiguar as

mesmas colunas em 2007 eacute notoacuteria a retraccedilatildeo nos iacutendices salvo na faixa 5 referente aos

imoacuteveis Aacuteguas Mortas Almas e Saco Verde

Tabela 16 - NDVI dos imoacuteveis estudados

IMOacuteVEL SEGMENTO ANO

Aacuterea no niacutevel de NDVI como uma porcentagem da aacuterea total do segmento

Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 4 Faixa 5 Faixa 6 Faixa 7 Faixa 8 Faixa 9

0 a 01 01 a 02 02 a 03 03 a 04 04 a 05 05 a 06 06 a 07 07 a 08 08 a 09

Riachuelo

Alto

Alegre

Fora 1993 0558 0458 0978 2418 9904 68884 16798 0022 0019

2007 1369 1351 2366 9734 56243 28713 0205 0019 -

Reserva 1993 0532 0319 0473 1006 3224 57424 36868 0074 -

2007 1818 1611 1951 7524 53112 33777 0207 - -

Aacuteguas

Mortas

Fora 1993 1588 1833 2701 6525 18029 41168 28024 0141 -

2007 4979 3485 4979 12220 34523 39105 0616 0097 -

Reserva 1993 - - 0084 1246 10452 56862 31356 - -

2007 2092 1902 6677 6127 52292 34545 0275 0085 -

Almas Fora 1993 1954 1336 1650 3339 9359 48925 33222 0216 -

2007 0845 1463 2583 13464 44731 36659 0216 - 0039

Reserva 1993 13455 3058 2299 3858 12198 40686 23344 0156 0156

2007 1052 1208 1052 7947 53759 34827 0156 - -

Miramar Fora 1993 - - 1075 6023 36519 50699 5684 - -

2007 0810 1001 1870 6818 66765 22545 0132 0059 -

Reserva 1993 1540 0285 0799 7758 39646 48431 1540 - -

2007 - 0513 2339 33143 63206 0799 - - -

Saco

Verde

Fora 1993 6867 5558 9959 20131 37338 19016 0097 1097 1097

2007 6469 8972 19278 30986 32219 2026 0050 - -

Reserva 1993 6927 9383 17136 26903 29900 9113 0609 0030 -

2007 8767 10375 17166 29254 332881 1157 - - -

Cajazeiras

II

Fora 1993 0040 0606 8206 39766 45877 5412 0092 - -

2007 2003 9562 25154 44710 17723 0647 - - -

Reserva 1993 2885 2885 12402 48057 29936 2360 0674 - -

2007 3895 8165 21610 39476 26704 0150 - -

Os iacutendices de NDVI da tabela 16 serviram de base para o caacutelculo da anaacutelise de

semelhanccedila pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Assim a constataccedilatildeo acima eacute confirmada pela

tabela 17 que por sua vez atesta o grau de similaridade entre a aacuterea interna e externa agrave

reserva legal nos anos analisados Eacute surpreendente o niacutevel de semelhanccedila encontrado O

percentual mais baixo em 1993 eacute de 798 chegando no mesmo ano a 933 Jaacute em 2007 a

percentagem de semelhanccedila diminui nos imoacuteveis Aacuteguas Mortas e Miramar de 81 para 75 e

de 933 para 731 respectivamente Isto natildeo quer dizer que o niacutevel de cobertura vegetal

melhorou ou piorou mas que a diferenccedila na semelhanccedila entre dentro e fora da aacuterea de reserva

legal nessas propriedades reduziu sugerindo que o respeito agravequele instituto pode ter

promovido a alteraccedilatildeo Em contrapartida nos outros imoacuteveis essa semelhanccedila aumentou

aproximando-se dos 94

Assim eacute provaacutevel que pelos meacutetodos utilizados a funccedilatildeo proposta pelo instituto

da reserva legal natildeo esteja sendo alcanccedilada visto que o grau de semelhanccedila entre a aacuterea de

dentro e fora da reserva legal estaacute muito aproximado pois sequer apresentou-se abaixo dos

70 de diferenccedila

Tabela 17 - Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal pelo meacutetodo de Sorensen (1948)

ANAacuteLISE DE SEMELHANCcedilA DE SORENSEN () ENTRE

FORA E DENTRO DA AacuteREA DE RESERVA LEGAL

IMOacuteVEL

Reserva

ANO 1993 2007

108

Riachuelo Alto Alegre Fora 1993 798 -

2007 - 941

Aacuteguas Mortas Fora 1993 810 -

2007 - 750

Almas Fora 1993 821 -

2007 - 908

Saco Verde Fora 1993 799 -

2007 - 891

Cajazeiras II Fora 1993 813 -

2007 - 952

Miramar Fora 1993 933 -

2007 - 731

109

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A abordagem dos assuntos aqui tratados e os resultados alcanccedilados permitem a

conclusatildeo de que a reserva legal eacute uma criaccedilatildeo da lei com intenccedilotildees conservacionistas

avanccediladas Como espaccedilo especialmente protegido requer um tratamento diferenciado natildeo soacute

como previsto em normas mas sob a oacutetica da sociedade Observou-se que foi um assunto

amplamente tratado e debatido nas esferas do poder legislativo e judiciaacuterio do paiacutes e que

tambeacutem eacute alvo de poliacuteticas puacuteblicas e atuaccedilatildeo das autoridades competentes embora um tanto

falhas

Contatou-se que o emprego da reserva legal no municiacutepio de Irauccediluba eacute pouco expressivo

diante da quantidade de propriedades ali existentes por isso os benefiacutecios trazidos pela

conservaccedilatildeo desses espaccedilos mal podem ser sentidos no municiacutepio que sofre com a degradaccedilatildeo

ambiental contiacutenua inclusive com a presenccedila do processo de desertificaccedilatildeo Aleacutem disto a

falta de cumprimento do formal procedimento acerca da implantaccedilatildeo da reserva legal em

aacutereas puacuteblicas eacute intrigante Isto porque se pressupotildee accedilotildees de estrita legalidade envolvendo o

ente estatal Nesse sentindo partindo do entendimento que os projetos de assentamento satildeo

resultado de poliacuteticas puacuteblicas para reforma agraacuteria pressupunha-se que nestes espaccedilos a

reserva legal estaria estabelecida mas as anaacutelises mostraram que natildeo haacute diferenccedila quando

comparadas a aacuterea de dentro e de fora da reserva nas propriedades A situaccedilatildeo eacute anaacuteloga no

imoacutevel particular apreciado

A respeito da degradaccedilatildeo viu-se que Irauccediluba por ser rota de passagem do gado

desde o seacuteculo XIX aporta animais em transumacircncia de outras regiotildees Os relatos de jesuiacutetas

que cruzaram o municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XVII registram o lugar com vegetaccedilatildeo fechada

e densa Diante disso eacute possiacutevel afirmar que nem sempre Irauccediluba teve um ambiente inoacutespito

e com caracteriacutesticas severamente adversas O quadro atual se deve agraves intervenccedilotildees antroacutepicas

sem teacutecnicas apropriadas para o desenvolvimento de atividades econocircmicas em conjunto com

as caracteriacutesticas de um meio semiaacuterido Essas atividades geralmente abrangem culturas de

subsistecircncia praticadas recorrentemente no mesmo lugar sem o pousio necessaacuterio do solo que

por sua vez natildeo eacute tatildeo rico em nutrientes em decorrecircncia dos desmatamentos e queimadas

Pela caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo pocircde se verificar que seus atributos

envolvem solos pouco profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica

O clima eacute o semiaacuterido onde haacute baixa pluviometria e temperaturas em torno dos 28ordmC e a

vegetaccedilatildeo eacute caatinga nos tipos arbustivos e herbaacuteceos excepcionalmente o arboacutereo por causa

da degradaccedilatildeo

Os resultados mostraram que os iacutendices de NDVI nas propriedades analisadas

apontam um grau de semelhanccedila de ateacute 94 entre dentro e fora da aacuterea da reserva legal pelo

que se pode inferir 2 suposiccedilotildees

1) A reserva legal existe somente em niacutevel documental e natildeo no local apontado

dentro do imoacutevel

ou

2) A reserva legal existe mas estaacute com a cobertura vegetal bem semelhante agrave de fora

da sua aacuterea de maneira que pode estar tatildeo degradada quanto ou tatildeo conservada

quanto

Partindo para a segunda suposiccedilatildeo os iacutendices de NDVI constatam sim que a

cobertura vegetal apresenta um grau elevado de semelhanccedila entre os dois espaccedilos e que em 4

dos 6 imoacuteveis ambos diminuiacuteram de 1993 a 2007 Desta forma natildeo haacute como afirmar que a

reserva legal no estado em que se encontra nas propriedades analisadas eacute um meio de

combater a degradaccedilatildeo ambiental Contudo nos casos em que real e verdadeiramente for

aplicada por certo traraacute ganhos ambientais mas isto deve ser alvo de mais e maiores estudos

acerca do assunto

Eacute curioso que mesmo Irauccediluba sendo um nuacutecleo de desertificaccedilatildeo e por isso alvo

de estudos pesquisas projetos e poliacuteticas puacuteblicas envolvendo degradaccedilatildeo recuperaccedilatildeo e

conservaccedilatildeo ambiental a situaccedilatildeo aparentemente natildeo progride em termos de melhorias Ao

contraacuterio disto constata-se cada vez mais a deterioraccedilatildeo do meio ambiente a ocupaccedilatildeo e a

utilizaccedilatildeo indevida dos recursos naturais

Encerrando a abordagem do assunto tratado assevera-se que a reserva legal jaacute eacute

um instituto consolidado em lei natildeo justificando quaisquer argumentos quanto ao seu

descumprimento Inclusive a natildeo observacircncia do bendito mandamento eacute considerada crime e

nesse sentido natildeo haacute uma atuaccedilatildeo maciccedila do Estado em termos de fiscalizaccedilatildeo pois se assim

existisse natildeo se estaria diante de uma constataccedilatildeo tatildeo seacuteria acerca do pequeno nuacutemero de

imoacuteveis que apresentaram a reserva legal mesmo que documentalmente Essa estatiacutestica

diminuiu ainda mais quando se analisou a diferenccedila na vegetaccedilatildeo sendo possiacutevel concluir que

o caraacuteter conservacionista da reserva legal e ela proacutepria natildeo estatildeo alcanccedilando o fim para que

foi criada

Por fim acredita-se que a reserva legal se cumprida eacute um instrumento

conservacionista capaz de auxiliar na recuperaccedilatildeo ambiental e arrefecer os processos de

111

degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo criticamente manifestos no municiacutepio de Irauccediluba Indo mais

aleacutem vecirc-se que pela oacutetica do referido instituto o desenvolvimento sustentaacutevel eacute possiacutevel

pois mesmo de encontro a interesses particulares ele consegue reunir e harmonizar o vieacutes

econocircmico o social e o ambiental

112

REFEREcircNCIAS

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Page 7: O EMPREGO DA RESERVA LEGAL NO MUNICÍPIO DE IRAUÇUBA/CE€¦ · Figura 1 Objetivos da reserva legal no Código Florestal de 1965 27 Figura 2 Objetivos da reserva legal na Lei 12.651/2012

Perguntei-me inuacutemeras vezes se deveria prosseguir A resposta me era

dada quando olhava para traacutes e via meu passado cheio de grandes

vitoacuterias e conquistas pela matildeo de Deus e pelo meu esforccedilo Entatildeo

decidi que natildeo seria agora que natildeo chegaria ateacute o fim mesmo que o

que me impulsionou para esse desafio jaacute natildeo tem mais a mesma

intensidade Aqui estou eu fazendo desse momento mais uma

imensuraacutevel vitoacuteria por Aquele que um dia me deu essa oportunidade

A Ele toda honra e toda gloacuteria

A autora

RESUMO

A degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio de Irauccediluba eacute alvo de vaacuterias pesquisas pois eacute um

problema onde as causas estatildeo presentes natildeo soacute ali mas em grande parte do semiaacuterido

nordestino no entanto ao se tratar deste assunto logo vem agrave tona outra questatildeo mais seacuteria o

processo de desertificaccedilatildeo O presente trabalho faz uma raacutepida abordagem do semiaacuterido

dando especial evidecircncia agravequele municiacutepio englobando a origem da degradaccedilatildeo a atual

situaccedilatildeo local e possiacuteveis formas para minimizar ou ateacute mesmo estagnar aquele problema

ambiental O objetivo geral foi levantar o nuacutemero de propriedades rurais no municiacutepio

elegendo em sua maioria os projetos de assentamento rural e verificar se possuiacuteam ou natildeo

uma aacuterea especialmente protegida denominada reserva legal A escolha desse instituto como

indicador se deu por ser ele um instrumento criado por lei e que por sua vez impele todo e

qualquer proprietaacuterio ou possuidor rural a manter uma parcela miacutenima de 20 do seu imoacutevel

preservado como aacuterea de Reserva Legal Sua efetividade como instrumento de preservaccedilatildeo

foi analisada em 6 propriedades a partir de imagens do sateacutelite LANDSAT 5 com base nos

anos de 1993 e 2007 e atraveacutes da anaacutelise do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada

(NDVI) foi realizado um estudo comparativo para verificar se houve evoluccedilatildeo ou natildeo do

quadro vegetativo dentro e fora das aacutereas de reserva legal Na identificaccedilatildeo dos imoacuteveis

estudados soacute foram encontrados seis com reserva legal oficialmente implantada ateacute o ano de

2007 data mais recente da imagem de sateacutelite empregada A anaacutelise comparativa realizada

com esses imoacuteveis que tecircm algum tipo de registro no Cartoacuterio de Imoacuteveis eou no INCRA

dentre os 713 medidos e georreferenciados pelo IDACE e que por sua vez foi conduzida com

uso do NDVI natildeo indicou diferenccedila significativa entre os iacutendices encontrados para a

cobertura vegetal dentro e fora das aacutereas de Reserva Legal

Palavras-chave Degradaccedilatildeo Ambiental Coacutedigo Florestal Reserva Legal IrauccedilubaCE

ABSTRACT

The environmental degradation in the municipality of Irauccediluba is the target of several studies

because it is an issue where the causes are present in much of the northeastern semiarid

However when dealing with this subject soon comes to attention another issue which is more

serious and that arises from the ongoing degradation the process of desertification The

present paper analyzes briefly the cearense semiarid giving special emphasis to that

municipality so that the origin of the degradation the current local situation and even

possible ways to minimize or even stagnate that environmental problem were all the target of

this research The overall goal was to enumerate the number of farms among them those that

either have a specially protected area called legal reserve or those that does not The choice

of this statistic as an indicator was due to the fact that it is a legal instrument which in turns

compels all and any owner of land or rural possessor to maintain 20 of their property

preserved as a Legal Reserve area Its effectiveness as a tool for preservation was analyzed in

6 properties with the help of satellite images from LANDSAT 5 taken between the years

1993 and 2007 and by examining the Normalized Difference Vegetation Index (NDVI) a

comparative study was conducted to determine whether there was a growth or not of the

vegetative area inside and outside the legal reserves During the identification of the

properties to be studied only six were found to have a legal reserve officially implemented by

the year 2007 the most recent date of the satellite images used A comparative analysis with

those lands that have some kind of record in the Registry of Property andor INCRA among

the 713 measured and georeferenced by IDACE and that in turn used the NDVI as a

guideline indicated no significant difference on the index either inside or outside the Legal

Reserves areas

Key-Words Environmental degradation Forest code Legal reserve IrauccedilubaCE

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 27

Figura 2 Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 (Novo Coacutedigo

Florestal)

27

Figura 3 Sistema de degradaccedilatildeo do meio ambiente 47

Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro 53

Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute 54

Figura 6 Iacutendice de aridez (UNEP) 56

Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo no Cearaacute 57

Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo 57

Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no ISSD 59

Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no IESD 60

Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios 61

Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute 79

Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba 79

Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo 81

Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras permanentes 85

Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das lavouras temporaacuterias 85

Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem

vegetal (tonano)

86

Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem

vegetal (m3ano)

86

Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011) 87

Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001 88

Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010 88

Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011 89

Figura 23 Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos 90

Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba 91

Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba 92

Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba 94

Figura 27 Grupo de solos que formam as associaccedilotildees pedoloacutegicas em

Irauccediluba

95

Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba 96

Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba 97

Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual 97

Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba 98

Figura 32 Iacutendice de umidade em Irauccediluba 98

Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba 100

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Medidas Provisoacuterias 21

Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras 48

Tabela 3 Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez (UNEP) 52

Tabela 4 Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo 55

Tabela 5 Levantamento de imoacuteveis com reserva legal (cartoacuterio de

registro de imoacuteveis)

73

Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais 76

Tabela 7 Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba 77

Tabela 8 Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de

anaacutelise

80

Tabela 9 Dados da propriedade particular estudada 80

Tabela 10 Propriedades estudadas 81

Tabela 11 Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem

animal

87

Tabela 12 Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores 90

Tabela 13 Relaccedilatildeo entre solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo 93

Tabela 14 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEmbrapa 93

Tabela 15 Anaacutelise geral das propriedades estudadas 101

Tabela 16 NDVI dos imoacuteveis estudados 107

Tabela 17 Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal entre dentro e fora da aacuterea

de reserva legal pelo meacutetodo Sorensen

108

SUMAacuteRIO

Lista de Figuras vii

Lista de Tabelas ix

Resumo v

Abstract vi

INTRODUCcedilAtildeO 12

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 14

11 O Instituto da Reserva Legal 14

111 Conceito 15

112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica 17

113 Importacircncia da Reserva Legal 30

1131 Juriacutedica 31

1132 Social 32

1133 Ambiental 33

1134 Econocircmica 35

114 Direito de Propriedade X Reserva Legal 36

1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa 41

1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal 42

2 PROCESSO DE DEGRADACcedilAtildeO 45

21 Conceito 45

22 Degradaccedilatildeo ambiental 48

221 Erosatildeo 49

222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica 49

223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica 50

23 A degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 51

231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia 52

24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental 62

25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira 65

251 Lei ambiental de Irauccediluba 69

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 71

31 Reserva Legal em Irauccediluba 71

311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental ndash Projeto de

Assentamento Agraacuterio em foco

73

32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo 78

321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba 78

3211 Das propriedades estudadas 79

3212 Aspectos histoacutericos de ocupaccedilatildeo 82

322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas 82

323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba 91

3231 Altimetria e Classes de relevo 91

3232 Solos 92

3233 Clima 95

3234 Vegetaccedilatildeo 99

3235 Recursos Hiacutedricos 100

324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo 101

33 Metodologia 104

331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite 104

4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES 107

41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba 107

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 110

REFEREcircNCIAS 113

INTRODUCcedilAtildeO

A degradaccedilatildeo como um problema ambiental jaacute foi alvo de inuacutemeras pesquisas

principalmente quando se trata do semiaacuterido brasileiro Estudos nesse sentido datam da

deacutecada de 70 eacutepoca em que o professor Vasconcelos Sobrinho passou a pesquisar o processo

de desertificaccedilatildeo no nordeste do Brasil (SALES 2002) Nas investigaccedilotildees ele identificou um

nuacutecleo no Cearaacute que se localiza em Irauccediluba Em assim sendo buscou-se desenvolver um

trabalho naquele municiacutepio tomando por base um mecanismo criado por lei cujo caraacuteter eacute a

conservaccedilatildeo do meio ambiente Trata-se da reserva legal Como nessa aacuterea natildeo haacute pesquisa

envolvendo a aplicabilidade do tal instituto viu-se a oportunidade de estudaacute-la produzindo-se

o presente trabalho

A proposta principal da pesquisa eacute fazer um levantamento dos imoacuteveis existentes

no municiacutepio de Irauccediluba pontuando de forma preponderante os de propriedade federal e

estadual destinados aos assentamentos rurais e assim identificar nessas aacutereas a existecircncia ou

natildeo do instituto da reserva legal e sua devida implantaccedilatildeo Nesse sentido encontrou-se 6

propriedades que possuiacuteam a reserva legal sendo 5 puacuteblicas e 1 privada Empoacutes o segundo

intuito envolve a diferenciaccedilatildeo entre a cobertura vegetal da reserva e do restante da

propriedade a partir da utilizaccedilatildeo de imagens de sateacutelite e o uso do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por

Diferenccedila Normalizada (NDVI)

Para isso foi necessaacuterio fazer um apanhado de como esse instrumento de

conservaccedilatildeo foi e eacute abordado no Coacutedigo Florestal que eacute a lei onde haacute previsatildeo da reserva

legal bem como traccedilar um histoacuterico de como se deu sua evoluccedilatildeo dentro do quadro

legislativo no paiacutes foi igualmente essencial Da mesma maneira buscou-se contextualizar a

importacircncia da reserva legal nos aspectos econocircmico juriacutedico social e ambiental de forma

que ficou ilustrado o valor que esse mecanismo tem para a sociedade As discussotildees de cunho

juriacutedico e praacutetico sobre o assunto foram levantadas pois o proprietaacuterio do imoacutevel vecirc a reserva

legal como ocircnus e natildeo como um instrumento de conservaccedilatildeo que traraacute imensuraacuteveis

benefiacutecios ambientais dentro de sua proacutepria aacuterea Encerrando o primeiro capiacutetulo tecircm-se as

formas de cumprir o mandamento legal que envolvem a reserva muito embora isto tenha

sofrido algumas alteraccedilotildees como se veraacute a seguir

Quanto agrave reserva legal em Irauccediluba as constataccedilotildees natildeo satildeo animadoras

Infelizmente haacute um desencontro de informaccedilotildees a comeccedilar pelo controle do nuacutemero de

imoacuteveis existentes no municiacutepio Em seguida soacute foram encontrados trecircs imoacuteveis com a

obrigaccedilatildeo devidamente formalizada em cartoacuterio Isso diante de um universo de mais de 700

propriedades eacute frustrante e desencorajador Outra abordagem feita neste toacutepico aponta o

licenciamento ambiental como mais um instrumento possibilitador da instalaccedilatildeo da reserva

legal pois o oacutergatildeo ambiental tem dever de exigir o tal instituto para licenciar atividades e

empreendimentos localizados em zona rural

Igualmente desalentadora eacute a degradaccedilatildeo ambiental no municiacutepio Por se tratar de

uma aacuterea com caracteriacutesticas naturalmente adversas e limitantes sua ingerecircncia deveria ser

profundamente fiscalizada e regulamentada pelas autoridades competentes em todos os niacuteveis

de governo Mas isso natildeo ocorre pelo contraacuterio em Irauccediluba satildeo exercidas atividades com

meacutetodos bem rudimentares e sem qualquer preocupaccedilatildeo com a recuperaccedilatildeo dos danos e com a

capacidade de suporte do meio Assim acontece a degradaccedilatildeo das aacutereas com a praacutetica do

desmatamento das queimadas do sobrepastoreio e outros tipos de intervenccedilatildeo

ambientalmente prejudiciais Diante desse quadro o homem do campo tende a abandonar

estas e ocupar outras terras estimulando ainda mais o processo de desertificaccedilatildeo ali presente

Outro toacutepico em que se chama atenccedilatildeo no trabalho eacute a quantidade de leis

envolvendo o tema Natildeo faltam regulamentaccedilotildees muito pelo contraacuterio sobram O que se

percebe eacute a existecircncia de leis para vaacuterios assuntos em vez de uma que englobe a maioria

deles Com lei ou sem lei a situaccedilatildeo parece natildeo progredir positivamente em termos de

recuperaccedilatildeo ambiental embora haja uma estrutura poliacutetica econocircmica e juriacutedica dirigida para

tais fins Aleacutem disto existem poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o municiacutepio especificamente e

outras que natildeo mas podem ser implementadas ali Eacute o caso dos benefiacutecios dos inuacutemeros

programas de governo direcionados para a reforma agraacuteria por exemplo Outro caso satildeo os

fundos de combate agrave degradaccedilatildeo e agrave desertificaccedilatildeo Nesta orientaccedilatildeo percebe-se que natildeo

faltam leis poliacuteticas puacuteblicas ou recursos Felizmente existe todo um aparato no sentido de

melhorar as condiccedilotildees ambientais e minimizar danos mas infelizmente na praacutetica essa

estrutura natildeo voga como deveria

Todo esse cenaacuterio estaacute enquadrado na caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo

devidamente abordada no terceiro capiacutetulo Laacute satildeo mencionados os aspectos socioeconocircmicos

do municiacutepio perpassando pelos acontecimentos histoacutericos de sua ocupaccedilatildeo As

caracteriacutesticas fisiograacuteficas de Irauccediluba tambeacutem se fazem presentes de maneira que foram

abordados aspectos pedoloacutegicos climaacuteticos vegetativos e hiacutedricos Aleacutem disto a metodologia

utilizada permitiu as constataccedilotildees discorridas nos resultados e discussotildees inseridas no

capiacutetulo 4 de forma que os objetivos da pesquisa foram alcanccedilados

13

1 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

11 O Instituto da Reserva Legal

A reserva legal eacute um instituto cuja importacircncia perfaz o esteio do

desenvolvimento sustentaacutevel no sentido de que harmoniza a viabilidade econocircmica com a

justiccedila social e o equiliacutebrio ecoloacutegico Eacute um notaacutevel exemplo de que eacute possiacutevel coexistirem

interesses particulares e coletivos pois a reserva legal nada mais eacute que a conservaccedilatildeo

ambiental de uma determinada porcentagem da propriedade ou posse rural passiacutevel de

intervenccedilatildeo pelo homem do campo

O presente estudo indica a reserva legal como uma forma de conservaccedilatildeo do

meio em face da extraccedilatildeo vegetal promovida pelo proprietaacuterio agriacutecola Foca ainda os

aspectos social econocircmico e ambiental dessa imposiccedilatildeo que tem seu nascedouro na legislaccedilatildeo

vigente Corrobora Silva (2001 p 59) ao afirmar que ldquoa cobertura vegetal nativa sobretudo

as florestais exerce papel de fundamental importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de

ecossistemas naturais bem como de ecossistemas criados pelo homemrdquo No mesmo sentido

Miranda (2008 p 31) diz que ldquoa reserva legal contribui para a mitigaccedilatildeo do aquecimento

global salvaguarda a biodiversidade e garante agraves presentes e futuras geraccedilotildees o direito a um

meio ambiente ecologicamente equilibradordquo

Traz-se agrave tona os aspectos que fundamentam a reserva legal como um instituto

que fora criado por lei especiacutefica para a conservaccedilatildeo do meio pois erroneamente os

proprietaacuterios rurais a veem como limitaccedilatildeo ao direito de propriedade e entendem que destinar

uma porcentagem de seus imoacuteveis para uma aacuterea que natildeo corresponde agrave afericcedilatildeo de lucro eacute

tatildeo somente um ocircnus eou uma perda e natildeo um investimento Nesse sentido explicam

Galdino e Candido (2008 p 251) que ldquoa instituiccedilatildeo da reserva legal natildeo enfraquece ou destroacutei

o direito de propriedade Ao reveacutes possibilita a existecircncia de um meio ambiente

ecologicamente equilibrado condicionando a propriedade a uma funccedilatildeo socioambientalrdquo

Conforme Bacha (2005 p 24) ldquodeve-se pensar em novas formas de estiacutemulo

econocircmico ao produtor para que ele recomponha a reserva legal pois a legislaccedilatildeo atual

apenas lhe coloca custos em contrapartida de benefiacutecios a toda sociedaderdquo Cabe ainda

mencionar a possibilidade prevista no Coacutedigo Florestal ou seja na Lei 4771 (BRASIL

1965) quanto agrave intervenccedilatildeo na aacuterea destinada agrave reserva legal de forma sustentaacutevel sem

suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo

econocircmica dessas aacutereas

Existem estudos justificando biologicamente a existecircncia da reserva legal Eacute sobre

o que discorre Metzger (2002 p 48) quando afirma que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de

propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa satildeo

fundamentais para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada

regiatildeordquo Complementa ainda Silva (2001 p 59) quando afirma sobre ldquoa importacircncia da

cobertura vegetal em reserva legal que permite uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da

aacutegua no solo e no subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos aleacutem de

promover a manutenccedilatildeo da diversidade geneacuteticardquo

Ademais o exerciacutecio de atividades econocircmicas que tem por principal insumo os

recursos naturais modifica sensivelmente a cobertura vegetal e o solo contribuindo para um

processo de degradaccedilatildeo Para tanto o respeito agrave legislaccedilatildeo ambiental vigente como o Coacutedigo

Florestal por exemplo eacute de extrema relevacircncia uma vez que eacute norma conducente agrave

conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo das formas de vegetaccedilatildeo e suas respectivas ingerecircncias Tal lei

prevecirc a reserva legal como espaccedilo especialmente protegido

Balizando tal atividade econocircmica frente agrave observacircncia da reserva legal surge a

proposiccedilatildeo elencada por Bacha (2005 p 24) que ldquopara o produtor rural honrar tal instituto

tendo-o como lucrativo eacute necessaacuterio que sua composiccedilatildeo floriacutestica seja feita em parte com

espeacutecies comerciaisrdquo Eacute o que Miranda (2008 p 45) sob o aspecto socioeconocircmico bem

pontua quando evidencia que esta legislaccedilatildeo carece de aderecircncia social pois natildeo condiz com

a realidade e que enfatiza ainda

Para que haja aderecircncia social ela deveria prever uma reestruturaccedilatildeo completa no

modelo de desenvolvimento Sem isso tanto os pequenos como os grandes

proprietaacuterios natildeo possuiratildeo condiccedilotildees para cumprir a lei e uma vez na ilegalidade

cometem outros crimes ambientais E por entenderem que a lei natildeo eacute factiacutevel natildeo a

cumprem [] Aleacutem disso as linhas de creacutedito inclusive dos bancos oficiais natildeo

financiam atividades sustentaacuteveis mas a pecuaacuteria o plantio de soja entre outras por

acreditarem possuir nelas uma seguranccedila maior para o investimento (MIRANDA

2008 p 45)

111 Conceito

A reserva legal eacute um mecanismo criado para a conservaccedilatildeo dos recursos naturais

cuja origem eacute a lei Sua essecircncia sempre esteve presente em normas de caraacuteter protecionista

que dispunham sobre florestas e demais formas de vegetaccedilatildeo muito embora tenham ocorrido

inuacutemeras alteraccedilotildees ao longo do tempo Eacute o que se pode observar pela evoluccedilatildeo legislativa

que a seguir seraacute apontada

15

A expressatildeo reserva legal pode ser simploriamente entendida como uma aacuterea a ser

conservada por um detentor de imoacutevel rural e que por sua vez varia com a localidade do

bioma em que a aacuterea estaacute inserida A lei que versa sobre esse tema eacute conhecida como Coacutedigo

Florestal e com esse nome existiu em trecircs momentos diferentes da histoacuteria do legislativo

brasileiro O primeiro foi no ano de 1934 o segundo em 1965 e por uacuteltimo em 2012 estando

presente em todos eles uma seacuterie de modificaccedilotildees que levaram ao aperfeiccediloamento do

conteuacutedo e dos objetivos da reserva legal bem como flexibilizaccedilotildees e restriccedilotildees a depender

do momento econocircmico em que o paiacutes vivia eou dos interesses da maioria de parlamentares agrave

eacutepoca

Atualmente a Lei 12651 de 25052012 ou como eacute conhecida por Novo Coacutedigo

Florestal atraveacutes de seu artigo 3ordm inciso III prevecirc o conceito de reserva legal da seguinte

forma

III ndash Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural

delimitada nos termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de

modo sustentaacutevel dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a

reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade

bem como o abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012

p 3) (BRASIL 2012)

Jaacute a previsatildeo elencada nos Coacutedigos anteriores de 1934 e 1965 dispotildee

Coacutedigo Florestal de 1934 - Decreto 23793

Art 23 - Nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas poderaacute abater mais de trecircs

quartas partes da vegetaccedilatildeo existente []

sect 1ordm O dispositivo do artigo natildeo se applica a juizo das autoridades florestaes

competentes agraves pequenas propriedades isoladas que estejam proximas de florestas

ou situadas em zona urbana

sect 2ordm Antes de iniciar a derrubada com a antecedencia minima de 30 dias o

proprietario daraacute sciencia de sua intenccedilatildeo aacute autoridade competente afim de que esta

determine a parte das mattas que seraacute conservada (BRASIL 1935 p 5)

Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771

Art 1ordm sect 2ordm inciso III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma

propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao

uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos

ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora

nativas (BRASIL 1965 p 2)

Percebe-se que na lei de 1934 se quer haacute menccedilatildeo ao termo reserva legal mas se

vecirc claramente a intenccedilatildeo conservacionista do legislador e se ressalte que eacute uma visatildeo bem

mais proacute-ambiente uma vez que proiacutebe o desmatamento acima de frac34 da propriedade

protegendo assim 25 de sua aacuterea Embora o Coacutedigo Florestal de 1934 natildeo preveja

16

explicitamente a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo em determinada aacuterea com o nome de reserva legal o

artigo 23 do diploma citado acima estaacute notoriamente revestido de um caraacuteter conservacionista

e quem natildeo o cumprisse estaria enquadrado no paraacutegrafo 4ordm do artigo 86 do Capitulo V ndash

Infracccedilotildees florestaes

Art 86 As contravenccedilotildees previstas nos arts 9ordm sect 1ordm 21 22 e sect 1ordm 23 e paragrapho

unico 24 a 30 31 a 34 37 43 a 45 49 e paragrapho unico 51 54 e paragrapho

unico 55 e 64 deste codigo quando natildeo se caracterizarem especialmente algumas

figuras delictuosas definidas no art 83 ou no art 87 sujeitas seus autores aacutes penas

seguintes

[]

sect 4ordm pelas das letras g h do art 22 e arts 23 e 44 - detenccedilatildeo ateacute 60 dias e multa ateacute

10000$000 (BRASIL 1935 p 14)

Em contrapartida um pouco mais aperfeiccediloado embora um tanto quanto tarde o

instituto da reserva legal aparece bem definido somente em 2001 quando a Medida Provisoacuteria

nordm 2166-6 (BRASIL 2001) acrescentou ao texto da Lei 4771 (BRASIL 1965) o seu conceito

da forma como eacute mais conhecido ultimamente apesar de natildeo se limitar soacute a esta modificaccedilatildeo

Como tantas outras leis o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) sofreu diversas

alteraccedilotildees ao longo de sua vigecircncia que durou ateacute 25 de maio de 2012 data em que a Lei

12651 (BRASIL 2012) entra em vigor revoga a anterior e estabelece o novo Coacutedigo

Florestal

Como a temaacutetica deste trabalho eacute discorrer sobre a existecircncia da reserva legal a

partir de um levantamento nas propriedades rurais seratildeo tratadas tatildeo somente as

modificaccedilotildees que dizem respeito a este instituto

112 Evoluccedilatildeo Histoacuterica

O protecionismo florestal como ligeiramente mencionado anteriormente foi

delineado em um preceito normativo datado da deacutecada de 30 quando surgiu o primeiro

diploma legal a prever a conservaccedilatildeo relativa agrave manutenccedilatildeo das matas Eacute atraveacutes do Decreto

ndeg 23793 de 23 de janeiro de 1934 (BRASIL 1935) que a vegetaccedilatildeo recebe amparo e passa a

ser resguardada da supressatildeo indiscriminada Surge entatildeo o primeiro Coacutedigo Florestal

Brasileiro que em seu artigo 23 descreve que nenhum proprietaacuterio de terras cobertas de matas

poderaacute abater mais de trecircs quartas partes da vegetaccedilatildeo existente

17

Eacute interessante observar que a delimitaccedilatildeo imposta pela norma corresponde a vinte

e cinco por cento da propriedade ou seja um grande desafio para a sociedade da eacutepoca que

era tradicionalmente agriacutecola e despontava para a industrializaccedilatildeo

Para melhor apreciar as preocupaccedilotildees que justificaram a ediccedilatildeo do Coacutedigo Florestal

de 1934 haacute que se entender a realidade soacutecio-econocircmica e poliacutetica da sociedade

brasileira no iniacutecio do seacuteculo XX A populaccedilatildeo estava concentrada proacuteximo agrave

Capital da Repuacuteblica cidade do Rio de Janeiro Estado da Guanabara A cafeicultura

avanccedilava pelos morros que constituem a topografia do Vale do Paraiacuteba substituindo

toda a vegetaccedilatildeo nativa A criaccedilatildeo de gado outra forma de utilizaccedilatildeo das terras

fazia-se de modo extensivo e com miacutenima teacutecnica Na silvicultura que jaacute se iniciara

tiacutemida nos primeiros anos do seacuteculo XX verificava-se o trabalho valioso e pioneiro

de Edmundo Navarro de Andrade com a introduccedilatildeo de espeacutecies de Eucalyptus mas

restrito agraves atividades da Cia Paulista de Estradas de Ferro no Estado de Satildeo Paulo

No resto do Paiacutes assim como antes no Estado de Satildeo Paulo a atividade florestal era

fundamentada no mais puro extrativismo Nos Estados do Paranaacute e Santa Catarina

os estoques de Araucaria angustifolia eram rapidamente exauridos Foi nesse cenaacuterio

que o Poder Puacuteblico decidiu interceder estabelecendo limites ao que parecia ser um

saque ou pilhagem dos recursos florestais (muito embora ateacute entatildeo tais praacuteticas

fossem liacutecitas) A mencionada ldquointervenccedilatildeordquo necessaacuteria materializou-se por meio

da ediccedilatildeo de um (primeiro) Coacutedigo Florestal o de 1934 (AHRENS 2001 p 6)

Diferentemente do Decreto de 1934 (BRASIL 1935) ao ser publicada em 15 de

setembro a Lei 4771 (BRASIL 1965) ou seja o Coacutedigo Florestal de 1965 trouxe em seu

artigo 16 a ideia do que seria a reserva legal Criou-se entatildeo um limite miacutenimo a ser

respeitado dentro de cada propriedade muito embora soacute mencione uma porcentagem definida

para aacutereas localizadas no Leste Sul e Centro-Oeste do paiacutes deixando de fora as demais

regiotildees

Art 16 As florestas de domiacutenio privado natildeo sujeitas ao regime de utilizaccedilatildeo

limitada e ressalvadas as de preservaccedilatildeo permanente previstas nos artigos 2deg e 3deg

desta lei satildeo suscetiacuteveis de exploraccedilatildeo obedecidas as seguintes restriccedilotildees

a) nas regiotildees Leste Meridional Sul e Centro-Oeste esta na parte sul as derrubadas

de florestas nativas primitivas ou regeneradas soacute seratildeo permitidas desde que seja

em qualquer caso respeitado o limite miacutenimo de 20 da aacuterea de cada

propriedade com cobertura arboacuterea localizada a criteacuterio da autoridade competente

b) nas regiotildees citadas na letra anterior nas aacutereas jaacute desbravadas e previamente

delimitadas pela autoridade competente ficam proibidas as derrubadas de florestas

primitivas quando feitas para ocupaccedilatildeo do solo com cultura e pastagens

permitindo-se nesses casos apenas a extraccedilatildeo de aacutervores para produccedilatildeo de madeira

Nas aacutereas ainda incultas sujeitas a formas de desbravamento as derrubadas de

florestas primitivas nos trabalhos de instalaccedilatildeo de novas propriedades agriacutecolas soacute

seratildeo toleradas ateacute o maacuteximo de 30 da aacuterea da propriedade

c) na regiatildeo Sul as aacutereas atualmente revestidas de formaccedilotildees florestais em que

ocorre o pinheiro brasileiro Araucaria angustifolia (Bert - O Ktze) natildeo poderatildeo

ser desflorestadas de forma a provocar a eliminaccedilatildeo permanente das florestas

tolerando-se somente a exploraccedilatildeo racional destas observadas as prescriccedilotildees

ditadas pela teacutecnica com a garantia de permanecircncia dos maciccedilos em boas condiccedilotildees

de desenvolvimento e produccedilatildeo

18

d) nas regiotildees Nordeste e Leste Setentrional inclusive nos Estados do Maranhatildeo e

Piauiacute o corte de aacutervores e a exploraccedilatildeo de florestas soacute seraacute permitida com

observacircncia de normas teacutecnicas a serem estabelecidas por ato do Poder Puacuteblico na

forma do art 15 sect 1ordm Nas propriedades rurais compreendidas na aliacutenea a deste artigo com aacuterea entre

vinte (20) a cinquumlenta (50) hectares computar-se-atildeo para efeito de fixaccedilatildeo do limite

percentual aleacutem da cobertura florestal de qualquer natureza os maciccedilos de porte

arboacutereo sejam frutiacutecolas ornamentais ou industriais (BRASIL 1965 p 6-7)

Honestamente natildeo se sabe o motivo pelo qual o legislador neste momento inicial

da lei natildeo se deteve agraves minuacutecias quanto agraves regiotildees Nordeste Oeste e Sudeste como o fez para

as outras ou porque sequer definiu percentuais de vegetaccedilatildeo a ser preservadas nelas Aleacutem

disto simplesmente deixar a cargo de ato do Poder Puacuteblico a exploraccedilatildeo de florestas e o corte

de aacutervores no Nordeste eacute no miacutenimo curioso principalmente porque nessa regiatildeo encontra-se

o bioma Caatinga que eacute iacutempar e inexiste em qualquer outra parte do mundo Corrobora com

isto o Monitoramento do Desmatamento nos Biomas Brasileiros por Sateacutelite MMA e IBAMA

ao expor que mesmo sendo a uacutenica grande regiatildeo natural brasileira cujos limites estatildeo

inteiramente restritos ao territoacuterio nacional pouca atenccedilatildeo tem sido dada agrave conservaccedilatildeo da

heterogecircnea paisagem da Caatinga (BRASIL 2010)

Aleacutem disto as colocaccedilotildees do artigo 44 surpreendem quando especializam o tipo

de corte permitido e enquadram 50 da propriedade como reserva legal para o Norte do paiacutes

e o norte da regiatildeo Centro-Oeste como se pode observar

Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste enquanto natildeo for

estabelecido o decreto de que trata o artigo 15 a exploraccedilatildeo a corte razo soacute eacute

permissiacutevel desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea pelo menos 50 da aacuterea

de cada propriedade (BRASIL 1965 p 15)

Em 1989 surge a Lei 7803 (BRASIL 1989b) que acrescenta os paraacutegrafos 2ordm e

3ordm ao artigo 16 inaugurando a expressatildeo reserva legal e ratificando o percentual miacutenimo do

que deveria ser conservado a tiacutetulo de reserva legal Ao artigo 44 foi acrescentado o

paraacutegrafo uacutenico onde os 50 da propriedade anteriormente indicados para permanecer com a

cobertura vegetal agora passam a ser reconhecidos como reserva legal Em ambos os

dispositivos estaacute presente o procedimento formal a ser adotado com fins de resguardar a

aplicaccedilatildeo daquele instituto e seus efeitos isto eacute a averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio

Art 16 []

sect 2ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) de

cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso deveraacute ser averbada agrave margem

19

da inscriccedilatildeo de matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo

vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou

de desmembramento da aacuterea

sect 3ordm Aplica-se agraves aacutereas de cerrado a reserva legal de 20 (vinte por cento) para

todos os efeitos legais (BRASIL 1989b p 1)

Art 44 [] Paraacutegrafo uacutenico A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo 50

(cinquumlenta por cento) de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso

deveraacute ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de

imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de

transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de desmembramento da aacuterea (BRASIL 1989b p

2)

Nota-se que os dispositivos trazem novidades como a vedaccedilatildeo a um tipo de corte

o meacutetodo garantidor para a implantaccedilatildeo da reserva legal e a proibiccedilatildeo de mudanccedila na aacuterea

destinada a receber o benefiacutecio Ademais o bioma cerrado eacute especialmente citado afirmando

assim a instituiccedilatildeo da reserva legal nele e seu respectivo percentual

Vale destacar ainda a entidade puacuteblica que recebeu por forccedila legal a

incumbecircncia de promover os atos formais e documentais para a implantaccedilatildeo da reserva legal

Trata-se do registro ou cartoacuterio de imoacuteveis que por sua vez reuacutene em seus livros oficiais

todas as informaccedilotildees sobre as propriedades imobiliaacuterias de sua circunscriccedilatildeo ou regiatildeo

geograacutefica Enfim o registro de imoacuteveis eacute o oacutergatildeo constitutivo da propriedade e o que guarda

este direito aleacutem de vigiar se a funccedilatildeo social e ambiental do imoacutevel estaacute sendo cumprida

Por conseguinte houve a ediccedilatildeo da Medida Provisoacuteria1 1511 em 25 de julho de

1996 (BRASIL 1996) com o objetivo de dar nova redaccedilatildeo ao artigo 44 do Coacutedigo Florestal

ou seja amplia o percentual da reserva legal de 50 para 80 em casos especiacuteficos e esmiuacuteccedila o

Norte do Brasil e o norte da regiatildeo Centro-Oeste

Art 44 Na regiatildeo Norte e na parte Norte da regiatildeo Centro-Oeste a exploraccedilatildeo a

corte raso soacute eacute permitida desde que permaneccedila com cobertura arboacuterea de no

miacutenimo cinquumlenta por cento de cada propriedade

sect 1ordm A reserva legal assim entendida a aacuterea de no miacutenimo cinquumlenta por cento

de cada propriedade onde natildeo eacute permitido o corte raso seraacute averbada agrave margem da

inscriccedilatildeo da matriacutecula do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a

alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo ou de

desmembramento da aacuterea

1 Medidas Provisoacuterias satildeo instrumentos juriacutedico-poliacuteticos traduzidos na forma de atos normativos com forccedila de

lei praticados pelo Chefe do Executivo Federal em situaccedilotildees de urgecircncia e relevacircncia e que devem ser

submetidas de imediato agrave deliberaccedilatildeo do Congresso Nacional (FILHO 2005) A Constituiccedilatildeo Federal em seu

Art 62 prevecirc que em caso de relevacircncia e urgecircncia o Presidente da Repuacuteblica poderaacute adotar medidas

provisoacuterias com forccedila de lei devendo submetecirc-las de imediato ao Congresso Nacional

20

sect 2ordm Nas propriedades onde a cobertura arboacuterea se constitui de fitofisionomias

florestais natildeo seraacute admitido o corte raso em pelo menos oitenta por cento dessas

tipologias florestais

sect 3ordm Para efeito do disposto no caput entende-se por regiatildeo Norte e parte Norte da

regiatildeo Centro-Oeste os Estados do Acre Paraacute Amazonas Roraima Rondocircnia

Amapaacute e Mato Grosso aleacutem das regiotildees situadas ao norte do paralelo 13degS nos

Estados de Tocantins e Goiaacutes e a oeste do meridiano de 44degW no Estado do

Maranhatildeo (BRASIL 1996 p 1)

Fazendo uma retrospectiva ldquoesse ato do Poder Executivo pretendeu conter o

desmatamento na Amazocircnia num momento em que era divulgado o aumento da taxa meacutedia

anual de desflorestamento no biecircnio 1993-1994rdquo (MIRANDA 2008 p 38) Entretanto essa

natildeo foi a uacutenica iniciativa do chefe do executivo para alterar os percentuais citados acima

Inclusive eacute perturbador o levantamento do nuacutemero de medidas provisoacuterias com o fim de

modificar o Coacutedigo Florestal em especial os criteacuterios e aspectos que envolvem a reserva

legal que ora satildeo mais flexibilizados ora mais restritivos Eacute o que se pode observar pela

leitura da Tabela 1 onde se verifica a existecircncia de 68 propostas de mudanccedila em um espaccedilo de

tempo pouco maior que 5 anos

Tabela 1 Medidas Provisoacuterias (MP)Ano

MEDIDAS PROVISOacuteRIAS (MP) Nordm DE MPPERIacuteODO PERIacuteODOS

Nordm 1511 a 1511-17 18 1ordm) 25071996 a 20111997

Nordm 1605-18 a 1605-30 13 2ordm) 11121997 a 19111998

Nordm 1736-31 a 1736-37 7 3ordm) 14121998 a 02061999

Nordm 1885-38 a 1885-43 6 4ordm) 29061999 a 02111999

Nordm 1956-44 a 1956-57 14 5ordm) 09121999 a 14122000

Nordm 2080-58 a 2080-64 7 6ordm) 27122000 a 13062001

Nordm 2166-65 a 2166-67 3 7ordm) 28062001 a 24082001

A uacuteltima Medida Provisoacuteria a promover consideraacuteveis alteraccedilotildees que dizem

respeito agrave reserva legal foi a de nordm 2166-67 de 24 de agosto de 2001 (BRASIL 2001) Ela

acrescentou o inciso III ao paraacutegrafo 2ordm do artigo 1ordm do Coacutedigo Florestal estabelecendo o

conceito de reserva legal ateacute entatildeo natildeo definido no texto da lei muito embora sua acepccedilatildeo jaacute

existisse

21

Art 1ordm []

sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por

[]

III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural

excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos

recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave

conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas

(BRASIL 2001 p 1)

Vale destacar que a reserva legal soacute deveraacute existir em propriedade ou posse rural

natildeo sendo obrigatoacuteria na aacuterea urbana aleacutem do que natildeo eacute soacute o proprietaacuterio ou seja aquele que

deteacutem o domiacutenio do imoacutevel eacute quem deve implantaacute-la mas o possuidor tambeacutem estaacute sujeito a

tal imposiccedilatildeo legal Isso acontece porque o instituto estaacute vinculado ao imoacutevel e natildeo ao dono

ou quem faz as suas vezes por isso eacute considerada uma obrigaccedilatildeo propter rem isto eacute proacutepria

da coisa

Aleacutem da inclusatildeo do conceito de reserva legal ao Coacutedigo Florestal (BRASIL

1965) ocorreu a fixaccedilatildeo de outros percentuais bem como a adiccedilatildeo de mais oito paraacutegrafos

que delinearam aspectos outrora natildeo mencionados Eacute o que se lecirc pela nova redaccedilatildeo do artigo

16

Art 16 As florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo nativa ressalvadas as situadas em

aacuterea de preservaccedilatildeo permanente assim como aquelas natildeo sujeitas ao regime de

utilizaccedilatildeo limitada ou objeto de legislaccedilatildeo especiacutefica satildeo suscetiacuteveis de supressatildeo

desde que sejam mantidas a tiacutetulo de reserva legal no miacutenimo

I - oitenta por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta localizada na

Amazocircnia Legal

II - trinta e cinco por cento na propriedade rural situada em aacuterea de cerrado

localizada na Amazocircnia Legal sendo no miacutenimo vinte por cento na propriedade e

quinze por cento na forma de compensaccedilatildeo em outra aacuterea desde que esteja

localizada na mesma microbacia e seja averbada nos termos do sect 7ordm deste artigo

III - vinte por cento na propriedade rural situada em aacuterea de floresta ou outras

formas de vegetaccedilatildeo nativa localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e

IV - vinte por cento na propriedade rural em aacuterea de campos gerais localizada em

qualquer regiatildeo do Paiacutes

sect 1o O percentual de reserva legal na propriedade situada em aacuterea de floresta e

cerrado seraacute definido considerando separadamente os iacutendices contidos nos incisos I

e II deste artigo

sect 2ordm A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser

utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel de acordo com princiacutepios e

criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos estabelecidos no regulamento ressalvadas as

hipoacuteteses previstas no sect 3o deste artigo sem prejuiacutezo das demais legislaccedilotildees

especiacuteficas

sect 3ordm Para cumprimento da manutenccedilatildeo ou compensaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal em

pequena propriedade ou posse rural familiar podem ser computados os plantios de

aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais compostos por espeacutecies exoacuteticas

cultivadas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas

sect 4ordm A localizaccedilatildeo da reserva legal deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental estadual

competente ou mediante convecircnio pelo oacutergatildeo ambiental municipal ou outra

instituiccedilatildeo devidamente habilitada devendo ser considerados no processo de

aprovaccedilatildeo a funccedilatildeo social da propriedade e os seguintes criteacuterios e instrumentos

quando houver

22

I - o plano de bacia hidrograacutefica

II - o plano diretor municipal

III - o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico

IV - outras categorias de zoneamento ambiental e

V - a proximidade com outra Reserva Legal Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente

unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida

sect 5ordm O Poder Executivo se for indicado pelo Zoneamento Ecoloacutegico Econocircmico -

ZEE e pelo Zoneamento Agriacutecola ouvidos o CONAMA o Ministeacuterio do Meio

Ambiente e o Ministeacuterio da Agricultura e do Abastecimento poderaacute

I - reduzir para fins de recomposiccedilatildeo a reserva legal na Amazocircnia Legal para ateacute

cinquumlenta por cento da propriedade excluiacutedas em qualquer caso as Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente os ecoacutetonos os siacutetios e ecossistemas especialmente

protegidos os locais de expressiva biodiversidade e os corredores ecoloacutegicos e

II - ampliar as aacutereas de reserva legal em ateacute cinquumlenta por cento dos iacutendices

previstos neste Coacutedigo em todo o territoacuterio nacional

sect 6ordm Seraacute admitido pelo oacutergatildeo ambiental competente o cocircmputo das aacutereas relativas

agrave vegetaccedilatildeo nativa existente em aacuterea de preservaccedilatildeo permanente no caacutelculo do

percentual de reserva legal desde que natildeo implique em conversatildeo de novas aacutereas

para o uso alternativo do solo e quando a soma da vegetaccedilatildeo nativa em aacuterea de

preservaccedilatildeo permanente e reserva legal exceder a

I - oitenta por cento da propriedade rural localizada na Amazocircnia Legal

II - cinquumlenta por cento da propriedade rural localizada nas demais regiotildees do Paiacutes e

III - vinte e cinco por cento da pequena propriedade definida pelas aliacuteneas b e c

do inciso I do sect 2ordm do art 1ordm

sect 7o O regime de uso da aacuterea de preservaccedilatildeo permanente natildeo se altera na hipoacutetese

prevista no sect 6o

sect 8ordm A aacuterea de reserva legal deve ser averbada agrave margem da inscriccedilatildeo de matriacutecula

do imoacutevel no registro de imoacuteveis competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua

destinaccedilatildeo nos casos de transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou de

retificaccedilatildeo da aacuterea com as exceccedilotildees previstas neste Coacutedigo

sect 9ordm A averbaccedilatildeo da reserva legal da pequena propriedade ou posse rural familiar eacute

gratuita devendo o Poder Puacuteblico prestar apoio teacutecnico e juriacutedico quando

necessaacuterio

sect 10 Na posse a reserva legal eacute assegurada por Termo de Ajustamento de Conduta

firmado pelo possuidor com o oacutergatildeo ambiental estadual ou federal competente com

forccedila de tiacutetulo executivo e contendo no miacutenimo a localizaccedilatildeo da reserva legal as

suas caracteriacutesticas ecoloacutegicas baacutesicas e a proibiccedilatildeo de supressatildeo de sua vegetaccedilatildeo

aplicando-se no que couber as mesmas disposiccedilotildees previstas neste Coacutedigo para a

propriedade rural

sect 11 Poderaacute ser instituiacuteda reserva legal em regime de condomiacutenio entre mais de

uma propriedade respeitado o percentual legal em relaccedilatildeo a cada imoacutevel mediante a

aprovaccedilatildeo do oacutergatildeo ambiental estadual competente e as devidas averbaccedilotildees

referentes a todos os imoacuteveis envolvidos (BRASIL 2001 p 34)

Caso seja traccedilado um paralelo entre o Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)

com as alteraccedilotildees aplicadas e agrave uacuteltima Medida Provisoacuteria percebe-se que o primeiro texto em

seu artigo 16 soacute mencionava as florestas particulares enquanto que em 2001 o reformulado

pela Medida Provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) generaliza a possibilidade de supressatildeo

vegetal para florestas e outras formas de vegetaccedilatildeo incluindo-as no texto da lei Isto significa

que as florestas puacuteblicas embora sejam de domiacutenio coletivo tambeacutem devem respeitar a

reserva legal de acordo com o estabelecido

E ainda de 1989 ateacute 2001 o percentual para reserva legal era de 20 da

propriedade rural para todas as regiotildees com exceccedilatildeo dos imoacuteveis no norte do paiacutes e no norte

23

do centro-oeste onde deveriam ser protegidos 50 da cobertura arboacuterea Poreacutem com o

advento da Medida provisoacuteria 2166-67 (BRASIL 2001) aumentou-se essa porcentagem para

80 na Amazocircnia Legal2 para 35 no bioma cerrado localizado na Amazocircnia Legal e a

permanecircncia dos 20 para as demais regiotildees do Brasil

Enfim eacute possiacutevel concluir claramente que tal Medida Provisoacuteria ao modificar o

artigo 16 definiu o conceito de reserva legal foi mais especiacutefica quanto aos seus percentuais

alargou os tipos de florestas suscetiacuteveis ao desmatamento estabeleceu que a vegetaccedilatildeo da

reserva legal soacute poderia ser utilizada atraveacutes de um manejo florestal sustentaacutevel (sect2ordm)

determinou que sua localizaccedilatildeo deve ser aprovada pelo oacutergatildeo ambiental competente

obedecendo os 5 criteacuterios ambientais estabelecidos (sect4ordm) permitiu a sobreposiccedilatildeo de aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente agrave de reserva legal em alguns casos (sect6ordm) reafirmou o procedimento

documental garantidor do instituto (sect8ordm) criou a possibilidade de constituir a reserva legal

em condomiacutenio (sect11ordm) dentre outros

Encerrando as mudanccedilas trazidas pela Medida Provisoacuteria 2166-672001

(BRASIL 2001) tem-se o artigo 44 que foi completamente reformulado em conteuacutedo em

nuacutemero de incisos e paraacutegrafos O teor deste dispositivo agora versa sobre a recomposiccedilatildeo a

regeneraccedilatildeo e a compensaccedilatildeo da reserva legal Tais accedilotildees devem estar em consonacircncia com o

disposto no artigo 16

Art 44 O proprietaacuterio ou possuidor de imoacutevel rural com aacuterea de floresta nativa

natural primitiva ou regenerada ou outra forma de vegetaccedilatildeo nativa em extensatildeo

inferior ao estabelecido nos incisos I II III e IV do art 16 ressalvado o disposto

nos seus sectsect 5o e 6o deve adotar as seguintes alternativas isoladas ou

conjuntamente

I - recompor a reserva legal de sua propriedade mediante o plantio a cada trecircs anos

de no miacutenimo 110 da aacuterea total necessaacuteria agrave sua complementaccedilatildeo com espeacutecies

nativas de acordo com criteacuterios estabelecidos pelo oacutergatildeo ambiental estadual

competente

II - conduzir a regeneraccedilatildeo natural da reserva legal e

III - compensar a reserva legal por outra aacuterea equivalente em importacircncia ecoloacutegica

e extensatildeo desde que pertenccedila ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma

microbacia conforme criteacuterios estabelecidos em regulamento

sect 1o Na recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I o oacutergatildeo ambiental estadual

competente deve apoiar tecnicamente a pequena propriedade ou posse rural familiar

sect 2o A recomposiccedilatildeo de que trata o inciso I pode ser realizada mediante o plantio

temporaacuterio de espeacutecies exoacuteticas como pioneiras visando a restauraccedilatildeo do

ecossistema original de acordo com criteacuterios teacutecnicos gerais estabelecidos pelo

CONAMA

2 Amazocircnia Legal - eacute uma aacuterea que engloba a totalidade de oito estados o Acre o Amapaacute o Amazonas o Mato

Grosso o Paraacute Rondocircnia Roraima e Tocantins e parte do Estado do Maranhatildeo (a oeste do meridiano de 44ordmW)

O conceito da Amazocircnia Legal foi criado pela lei 1806 de 06 de janeiro de 1953 (BRASIL 2011) Disponiacutevel

em lthttpwwwipeagovbrdesafiosindexphpoption=com_contentampid=2154catid=28ampItemid=23gt

24

sect 3o A regeneraccedilatildeo de que trata o inciso II seraacute autorizada pelo oacutergatildeo ambiental

estadual competente quando sua viabilidade for comprovada por laudo teacutecnico

podendo ser exigido o isolamento da aacuterea

sect 4o Na impossibilidade de compensaccedilatildeo da reserva legal dentro da mesma micro-

bacia hidrograacutefica deve o oacutergatildeo ambiental estadual competente aplicar o criteacuterio de

maior proximidade possiacutevel entre a propriedade desprovida de reserva legal e a aacuterea

escolhida para compensaccedilatildeo desde que na mesma bacia hidrograacutefica e no mesmo

Estado atendido quando houver o respectivo Plano de Bacia Hidrograacutefica e

respeitadas as demais condicionantes estabelecidas no inciso III

sect 5o A compensaccedilatildeo de que trata o inciso III deste artigo deveraacute ser submetida agrave

aprovaccedilatildeo pelo oacutergatildeo ambiental estadual competente e pode ser implementada

mediante o arrendamento de aacuterea sob regime de servidatildeo florestal ou reserva legal

ou aquisiccedilatildeo de cotas de que trata o art 44-B

sect 6o O proprietaacuterio rural poderaacute ser desonerado pelo periacuteodo de trinta anos das

obrigaccedilotildees previstas neste artigo mediante a doaccedilatildeo ao oacutergatildeo ambiental

competente de aacuterea localizada no interior de Parque Nacional ou Estadual Floresta

Nacional Reserva Extrativista Reserva Bioloacutegica ou Estaccedilatildeo Ecoloacutegica pendente de

regularizaccedilatildeo fundiaacuteria respeitados os criteacuterios previstos no inciso III deste

artigo (NR) (BRASIL 2001 p 45)

Quanto agrave sanccedilatildeo curiosamente neste Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965) natildeo haacute

nenhuma previsatildeo com relaccedilatildeo ao descumprimento da reserva legal diferentemente do

diploma de 1934 (BRASIL 1935) como se pocircde ler anteriormente Nesse sentido existir

uma lei sem a ela estar vinculada uma sanccedilatildeo quando descumprida eacute o mesmo que um fogo

que natildeo queima uma luz que natildeo alumia (MONTEIRO 1992)

Assim finaliza-se a anaacutelise do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965) e se

inicia a apreciaccedilatildeo do Novo Coacutedigo Florestal isto eacute a Lei 12651 de 25 de maio de 2012

(BRASIL 2012) que jaacute possui algumas modificaccedilotildees mesmo sendo uma norma bastante

recente Trata-se de uma lei que em seu artigo 1ordm de pronto menciona o instituto da reserva

legal elevando-a a um patamar antes natildeo reconhecido quanto agrave especialidade que lhe eacute

inerente

Art 1ordm-A Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente e as aacutereas de Reserva Legal a exploraccedilatildeo florestal o

suprimento de mateacuteria-prima florestal o controle da origem dos produtos florestais e

o controle e prevenccedilatildeo dos incecircndios florestais e prevecirc instrumentos econocircmicos e

financeiros para o alcance de seus objetivos (BRASIL 2012 p 1)

Quanto a sua definiccedilatildeo embora citada anteriormente vecirc-se a necessidade de se

enfatizar as diferenccedilas entre o novo dispositivo e o anterior ora revogado ateacute porque o

recente eacute bem mais minucioso e atual em se tratando de tendecircncias e realidades do presente

Art 3ordm []

25

III - Aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural delimitada nos

termos do art 12 com a funccedilatildeo de assegurar o uso econocircmico de modo sustentaacutevel

dos recursos naturais do imoacutevel rural auxiliar a conservaccedilatildeo e a reabilitaccedilatildeo dos

processos ecoloacutegicos e promover a conservaccedilatildeo da biodiversidade bem como o

abrigo e a proteccedilatildeo de fauna silvestre e da flora nativa (BRASIL 2012 p 3)

Art 1ordm []

sect2ordm Para os efeitos deste Coacutedigo entende-se por

[]

III - Reserva Legal aacuterea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural

excetuada a de preservaccedilatildeo permanente necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos

recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos agrave

conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de fauna e flora nativas

(BRASIL 1965 p 1)

Pela leitura observa-se que a aacuterea de reserva legal desde o iniacutecio estaacute restrita ao

imoacutevel rural excluindo assim o urbano Seu objetivo tambeacutem sempre foi o mesmo

sustentabilidade Isto eacute visto quando se examina o texto do Coacutedigo de 1965 (BRASIL 1965)

ao citar as expressotildees conservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo biodiversidade e proteccedilatildeo colocando nesse

iacutenterim recursos naturais processos ecoloacutegicos fauna e flora nativas O foco da reserva legal

eacute claro quanto agrave conservaccedilatildeo de uma forma sistecircmica pois inclui aspectos de solo vegetaccedilatildeo

vida animal e seus respectivos ciclos Eacute o que coloca SOUZA (2002 p 2829 apud Miranda

2008 p 53)

[] justifica a existecircncia de um mecanismo juriacutedico que garanta ao homem a

manutenccedilatildeo da biodiversidade para o seu proacuteprio bem Deste ponto de vista no

Brasil a Reserva Legal ainda eacute o mecanismo existente se natildeo o uacutenico que garante

essa manutenccedilatildeo tamanha a dependecircncia dos seres humanos de energia advinda de

plantas e animais

Jaacute a lei de 2012 (BRASIL 2012) inova ao incluir e modificar algumas acepccedilotildees

O uso econocircmico eacute uma delas Antes era mencionado somente um uso sustentaacutevel dos

recursos naturais mas agora eacute um uso com base na teoria de produccedilatildeo e consumo sob o vieacutes

da sustentabilidade Aleacutem disto a nova redaccedilatildeo faz uma pequena diferenciaccedilatildeo quanto ao

auxiacutelio que a reserva legal daacute agrave conservaccedilatildeo e agrave reabilitaccedilatildeo dos processos ecoloacutegicos

enquanto que a anterior ditava que o tal instituto era necessaacuterio para alcanccedilar os citados

objetivos Inclui tambeacutem a promoccedilatildeo que a reserva legal faz agrave biodiversidade e por fim a

uacuteltima norma agrega a proteccedilatildeo agrave fauna silvestre3 o que outrora era soacute agrave nativa

3 ldquoEacute preciso que a fauna tenha a sua vida ou parte dela ocorrendo naturalmente dentro dos limites do territoacuterio

brasileiro e suas aacuteguas jurisdicionaisrdquo (AMADO 2012 p329) silvestre ndash satildeo animais pertencentes agraves espeacutecies

nativas migratoacuterias e quaisquer outras aquaacuteticas ou terrestres

26

Percebe-se que com o passar dos anos as leis que versam sobre florestas estatildeo

cada vez mais aperfeiccediloadas com particularidades e especificidades como se pode concluir

pela leitura da evoluccedilatildeo histoacuterica dessas normas e suas modificaccedilotildees Visualiza-se melhor

tambeacutem ao se comparar os objetivos da reserva legal nas figuras 1 e 2

Figura 1 - Objetivos da reserva legal no Coacutedigo Florestal de 1965 - Lei 4771 (BRASIL 1965)

Figura 2 - Objetivos da reserva legal na Lei 126512012 - Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)

RESERVA

LEGAL

ASSEGURA AUXILIA PROMOVE

27

E em se tratando das penalidades quem natildeo respeitar a reserva legal estaraacute

enquadrado no Decreto Federal 6514 de 22 de julho de 2008 (BRASIL 2008) que dispotildee

sobre as infraccedilotildees e sanccedilotildees administrativas ao meio ambiente e prevecirc aplicaccedilatildeo de multas

como descrito nos artigos abaixo

Art 48 Impedir ou dificultar a regeneraccedilatildeo natural de florestas ou demais formas

de vegetaccedilatildeo nativa em unidades de conservaccedilatildeo ou outras aacutereas especialmente

protegidas quando couber aacuterea de preservaccedilatildeo permanente reserva legal ou

demais locais cuja regeneraccedilatildeo tenha sido indicada pela autoridade ambiental

competente

Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo

[]

Art 51 Destruir desmatar danificar ou explorar floresta ou qualquer tipo de

vegetaccedilatildeo nativa ou de espeacutecies nativas plantadas em aacuterea de reserva legal ou

servidatildeo florestal de domiacutenio puacuteblico ou privado sem autorizaccedilatildeo preacutevia do oacutergatildeo

ambiental competente ou em desacordo com a concedida

Multa de R$ 500000 (cinco mil reais) por hectare ou fraccedilatildeo

[]

Art 55 Deixar de averbar a reserva legal Multa de R$ 50000 (quinhentos reais) a R$ 10000000 (cem mil reais) (BRASIL

2008 p 12)

Ao ler o dispositivo da lei eacute possiacutevel averiguar que tanto accedilotildees como omissotildees

possiacuteveis de cometimento quanto agrave reserva legal estatildeo previstas naquele Decreto (BRASIL

2008) o que daacute poder agraves autoridades constituiacutedas de exercerem seu papel fiscalizatoacuterio e

sancionatoacuterio em desfavor daquele que descumprir tal obrigaccedilatildeo

Nesse novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012) a reserva legal estaacute muito mais

discorrida e consequentemente resguardada A lei trouxe um capiacutetulo especiacutefico com duas

seccedilotildees organizadas dispondo sobre a delimitaccedilatildeo e o regime de proteccedilatildeo do instituto aleacutem de

outra seccedilatildeo que prevecirc a transformaccedilatildeo das reservas legais em aacutereas verdes nas expansotildees

urbanas

Para comeccedilar a analisar as novidades trazidas pelo Coacutedigo Florestal (BRASIL

2012) vale mencionar a mais importante quanto ao controle e fiscalizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da

reserva legal que se daraacute pelo Cadastro Ambiental Rural ndash CAR Eacute um registro puacuteblico

eletrocircnico de acircmbito nacional obrigatoacuterio para todos os imoacuteveis rurais com a finalidade de

integrar as informaccedilotildees ambientais das propriedades e posses rurais compondo base de dados

para controle monitoramento planejamento ambiental e econocircmico e combate ao

desmatamento conforme artigo 29 daquele diploma legal Para se cadastrar no CAR o

proprietaacuterio ou possuidor rural deveraacute identificar-se comprovar a propriedade ou posse e

identificar o imoacutevel atraveacutes de planta georreferenciada e memorial descritivo informando os

28

remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente dentre outras

segundo o inciso III do paraacutegrafo primeiro do mesmo dispositivo acima

Com a criaccedilatildeo desse sistema a supressatildeo de novas aacutereas de floresta ou outras

formas de vegetaccedilatildeo nativa soacute poderaacute ser autorizada apoacutes a inserccedilatildeo do imoacutevel onde ocorreraacute

o desmatamento no Cadastro Ambiental Rural A exceccedilatildeo a essa regra eacute o imoacutevel que jaacute

possua a reserva legal averbada na sua matriacutecula com a respectiva identificaccedilatildeo e localizaccedilatildeo

Isso dispensa a inclusatildeo no CAR Eacute o que rezam o paraacutegrafo terceiro do artigo 12 e o artigo

30 do Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)

A nova lei prevecirc que a inscriccedilatildeo no CAR eacute obrigatoacuteria para todas as propriedades

e posses rurais e deve ser requerida no prazo de um ano a partir da sua implantaccedilatildeo (sect3ordm do

artigo 29) No caso do Cearaacute o Cadastro Ambiental Rural ainda natildeo foi estabelecido embora

a lei jaacute tenha completado um ano Aleacutem disto agravequele que protocolar toda documentaccedilatildeo para

anaacutelise da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal no oacutergatildeo ambiental competente natildeo poderaacute ser

imputada sanccedilatildeo administrativa nem restriccedilatildeo a direitos por qualquer oacutergatildeo ambiental

competente (sect2ordm do artigo 14) desde que a sanccedilatildeo diga respeito a natildeo formalizaccedilatildeo da aacuterea de

reserva legal

Outra novidade eacute a dispensa de reserva legal em alguns casos como nos

empreendimentos de abastecimento puacuteblico de aacutegua e tratamento de esgoto nas aacutereas

adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessatildeo permissatildeo ou autorizaccedilatildeo para

exploraccedilatildeo de potencial de energia hidraacuteulica nas quais funcionem empreendimentos de

geraccedilatildeo de energia eleacutetrica subestaccedilotildees ou seja instaladas linhas de transmissatildeo e de

distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica e nas aacutereas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de

implantaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo de capacidade de rodovias e ferrovias (sect6 ordm sect7 ordm e sect8ordm do artigo 12)

Ao passo que na Lei 477165 (BRASIL 1965) o uacutenico caso dispensaacutevel de cumprir a reserva

legal era a doaccedilatildeo pelo proprietaacuterio rural de aacuterea localizada no interior de unidade de

conservaccedilatildeo de domiacutenio puacuteblico pendente de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria ao oacutergatildeo ambiental

competente (sect6ordm do art 44)

Quanto aos percentuais de reserva legal sobre a propriedade ou posse rural nada

mudou ou seja permaneceram os mesmos embora organizados de forma diferente conforme

se segue

Art 12 Todo imoacutevel rural deve manter aacuterea com cobertura de vegetaccedilatildeo nativa a

tiacutetulo de Reserva Legal sem prejuiacutezo da aplicaccedilatildeo das normas sobre as Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente observados os seguintes percentuais miacutenimos em relaccedilatildeo agrave

aacuterea do imoacutevel excetuados os casos previstos no art 68 desta Lei

I - localizado na Amazocircnia Legal

29

a) 80 (oitenta por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de florestas

b) 35 (trinta e cinco por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de cerrado

c) 20 (vinte por cento) no imoacutevel situado em aacuterea de campos gerais

II - localizado nas demais regiotildees do Paiacutes 20 (vinte por cento) (BRASIL 2012 p

15)

Acerca da localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva legal alguns criteacuterios a serem

observados permaneceram inalterados tais como o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento

ecoloacutegico-econocircmico4 e a proximidade com outra reserva legal aacuterea de preservaccedilatildeo

permanente unidade de conservaccedilatildeo ou outra aacuterea legalmente protegida Por outro lado

foram acrescentados dois aspectos a serem considerados tambeacutem satildeo eles as aacutereas de maior

importacircncia para a conservaccedilatildeo da biodiversidade e as aacutereas de maior fragilidade ambiental

(Incisos IV e V do artigo 14)

Por fim haacute que se falar que a nova lei permitiu a sobreposiccedilatildeo das aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente agrave aacuterea de reserva legal ou seja ao se calcular o percentual desta

poderatildeo ser computadas as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente existentes no imoacutevel rural desde

que atenda alguns requisitos Eacute o que prescreve o artigo 15

Art 15 Seraacute admitido o cocircmputo das Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente no caacutelculo

do percentual da Reserva Legal do imoacutevel desde que

I - o benefiacutecio previsto neste artigo natildeo implique a conversatildeo de novas aacutereas para o

uso alternativo do solo

II - a aacuterea a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperaccedilatildeo

conforme comprovaccedilatildeo do proprietaacuterio ao oacutergatildeo estadual integrante do Sisnama e

III - o proprietaacuterio ou possuidor tenha requerido inclusatildeo do imoacutevel no Cadastro

Ambiental Rural - CAR nos termos desta Lei BRASIL 2012 p 1617)

Basicamente essas foram as inovaccedilotildees mais pertinentes agrave reserva legal trazidas

pelo Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL 2012)

113 Importacircncia da reserva legal

Vaacuterios aspectos perfazem o instituto da reserva legal Satildeo fundamentos de

cunho teacutecnico e cientiacutefico que revelam sua importacircncia atraveacutes da abordagem juriacutedica social

ambiental e econocircmica A reserva legal natildeo foi simplesmente uma imposiccedilatildeo prevista em lei

4 Zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ndash eacute um zoneamento ambiental Esse instrumento estaacute previsto na Poliacutetica

Nacional do Meio Ambiente que foi instituiacuteda pela Lei 693881 Trata-se de uma modalidade de intervenccedilatildeo

estatal sobre o territoacuterio a fim de reparti-lo em zonas consoante o melhor interesse na preservaccedilatildeo ambiental e

no uso sustentaacutevel dos recursos naturais Conferir AMADO Frederico Direito Ambiental Esquematizado

2012 p111

30

mas uma mobilizaccedilatildeo da sociedade para resguardar os bens ambientais impedindo a

degradaccedilatildeo sem precedentes

ldquoA reserva legal busca a preservaccedilatildeo ambiental como um todo natildeo soacute do imoacutevel

que nesta se situardquo (AMADO 2009 p 105) Ainda salienta Moraes (2002 p 30) que ldquoa

reserva legal natildeo possui funccedilatildeo vinculada ao imoacutevel especificamente sendo limitaccedilatildeo de

niacutevel macro ou seja mais preocupada com a melhoria regional da biodiversidade do que

propriamente com o ecossistema interno da propriedaderdquo E muito bem acrescenta Milareacute

(2009 p 166)

Aleacutem de preservar belezas cecircnicas e bucoacutelicos ambientes histoacutericos para as geraccedilotildees

futuras as aacutereas protegidas assumiram objetivos como a proteccedilatildeo de recursos

hiacutedricos manejo de recursos naturais desenvolvimento de pesquisas cientiacuteficas

manutenccedilatildeo do equiliacutebrio climaacutetico e ecoloacutegico preservaccedilatildeo de recursos geneacuteticos

e atualmente constituem o eixo de estruturaccedilatildeo da preservaccedilatildeo in situ da

biodiversidade como um todo

1131 Juriacutedica

A reserva legal foi criada pela forccedila do universo juriacutedico brasileiro que lhe

pressupotildee efetividade Como jaacute fora mencionado o instituto teve sua definiccedilatildeo atraveacutes da

Medida Provisoacuteria 2166-672001 (BRASIL 2001) que por sua vez alterou o Coacutedigo

Florestal (BRASIL 1965) vigente agrave eacutepoca Embora houvesse previsatildeo legal para aacutereas

especialmente protegidas estas ateacute entatildeo natildeo haviam sido nominadas como reserva legal

A lei ndeg 477165 (BRASIL 1965) segundo Trennepohl (2009) trazia uma maior

preocupaccedilatildeo com a erosatildeo de terras e o consequente prejuiacutezo para as atividades produtivas

Denotando predominante inclinaccedilatildeo para a sustentabilidade econocircmica da mateacuteria-prima

aquele diploma tratava a utilizaccedilatildeo dos recursos florestais de forma racional com finalidade

de garantir as atividades econocircmicas para as quais servem de insumo

Jaacute no entendimento de Schaffer e Medeiros (2009) a figura da reserva legal no

Coacutedigo Florestal revela-se como uma norma de importacircncia e observacircncia necessaacuterias

essencialmente estrateacutegicas para a garantia de um desenvolvimento equilibrado e sustentaacutevel

para a naccedilatildeo brasileira Tambeacutem observam os mesmos autores que a tatildeo discutida lei florestal

estabeleceu percentuais diferenciados de Reserva Legal em funccedilatildeo da localizaccedilatildeo do tipo de

vegetaccedilatildeo e das caracteriacutesticas ambientais das diferentes regiotildees do paiacutes

A eficaacutecia para o cumprimento do instituto se baseia na imposiccedilatildeo da lei quanto agrave

obrigaccedilatildeo dos proprietaacuterios ou posseiros rurais se dirigirem ao cartoacuterio de registro do seu

31

imoacutevel com a aacuterea da reserva jaacute delimitada e procederem agrave averbaccedilatildeo agrave margem da sua

matriacutecula No entanto essa obrigatoriedade foi substituiacuteda pelo Cadastro Ambiental Rural

que deveraacute ser feito no oacutergatildeo ambiental competente conforme visto anteriormente Esse

procedimento se daacute pelos paracircmetros devidamente previstos em normas teacutecnicas que dispotildeem

como o dono da aacuterea deve conduzir tal processo Essa averbaccedilatildeo eacute irretrataacutevel ou seja jamais

pode ser desfeita e eacute isso que daacute eficiecircncia ao instituto se cumprido Tal imposiccedilatildeo garante

que o proprietaacuterio natildeo desmembre seu imoacutevel na intenccedilatildeo de burlar a lei

Quanto ao procedimento de averbaccedilatildeo da reserva legal na matriacutecula do imoacutevel

ressalta Trennepohl (2009 p11-12)

A exigecircncia da averbaccedilatildeo da reserva legal vem desde 1965 vale dizer haacute mais de

quarenta anos existe esta obrigatoriedade E muitos proprietaacuterios rurais cumpriram agrave

risca esta exigecircncia averbando e mantendo preservado o percentual estipulado pela

lei

[]

A necessidade dessa averbaccedilatildeo dispensa maiores comentaacuterios e pode ser facilmente

entendida como a uacutenica garantia eficaz para que a transferecircncia ou a partilha natildeo

afastem essa obrigaccedilatildeo propter rem [proacutepria da coisa] que vincula a propriedade

natildeo o proprietaacuterio

Para alguns proprietaacuterios de terras rurais se houver o atendimento do instituto da

reserva legal caberia uma indenizaccedilatildeo pela perda daquela porcentagem em suas propriedades

mas como bem ilustra Magnanini (2010 p 5) ldquoa funccedilatildeo protetora da floresta natildeo eacute restriccedilatildeo

indenizaacutevel mas decorrecircncia da proacutepria natureza que preparou terras mais uacuteteis e outras

menosrdquo

1132 Social

Segundo o renomado filoacutesofo Mondin (2004 p 117) ldquoo homem eacute um ser

sociaacutevel portanto incapaz de sozinho alcanccedilar seus objetivos anseios e realizaccedilotildees

consequentemente viverrdquo A partir dessa constataccedilatildeo soacute resta ao ser humano subsistir numa

sociedade inserida no mundo natural

Como indiviacuteduo pratica accedilotildees que lhe afetam direta e indiretamente promovendo

reflexos no espaccedilo em que habita Por isso o aspecto social estaacute intimamente vinculado agrave

qualidade ambiental uma vez que o ser humano gera impactos positivos e negativos em seu

entorno Como natildeo se pode separar a atuaccedilatildeo dele do meio em que foi introduzido necessaacuterio

eacute fazer o balizamento de suas atitudes Uma das formas de limitar seu comportamento eacute a

confecccedilatildeo de normas como por exemplo a lei que nada mais eacute do que a expressatildeo de uma

32

demanda social por medidas coercitivas em virtude do desrespeito a um aspecto que a

sociedade defende ou repudia

Quanto agraves accedilotildees humanas e seus reflexos a teoria de ldquometapopulaccedilotildeesrdquo define

que a raccedila humana causa imenso impacto na Terra provocando a deterioraccedilatildeo dos sistemas

ecoloacutegicos e a extinccedilatildeo de muitas espeacutecies as quais tem seu ritmo acelerado agrave medida que a

populaccedilatildeo cresce e aumentando com isso o consumo de energia e de recursos naturais

SOUZA (2002 apud Miranda 2008)

O aspecto social que envolve a reserva legal confronta-se com praacuteticas seculares

do homem campestre como bem ilustra Magnanini (2010 p 3) engenheiro agrocircnomo e um

dos autores do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)

A agricultura itinerante continua se desenvolvendo segundo os meacutetodos primitivos

dos primeiros anos do descobrimento Chega o agricultor derruba e queima as

matas sem indagar se elas satildeo necessaacuterias agrave conservaccedilatildeo da feracidade do solo ou

do regime das aacuteguas Depois de alguns anos de exploraccedilatildeo renovando anualmente a

queimada como meio de extinguir a vegetaccedilatildeo invasora o terreno esgotado eacute

entregue ao abandono e o agricultor seguindo as pegadas do madeireiro que adiante

derrubou as aacutervores para extrair as toras inicia novo ciclo devastador idecircntico ao

precedente Como efeito disto a agricultura cada vez se interioriza mais e cada vez

se distancia mais dos centros consumidores requerendo transportes sempre mais

caros [] Inundaccedilotildees cada vez mais destruidoras pela remoccedilatildeo desordenada de

florestas colocam em sobressalto as populaccedilotildees de centenas de cidades ribeirinhas

Vale mencionar outra caracteriacutestica que expressa o valor que a reserva legal

quando estaacute sendo cumprida imprime na aacuterea rural ndash eacute a funccedilatildeo social da propriedade

considerada como princiacutepio basilar para o uso da mesma Designaccedilatildeo bastante enunciada

pelas normas que estabelecem aquele instituto permeia o direito de propriedade da terra que

natildeo eacute visto unilateralmente e sim em sua universalidade uma vez que o imoacutevel natildeo estaacute para

servir soacute a seu dono mas tem que atender sua funccedilatildeo social Nesse sentido Miranda (2008)

pontua que a reserva legal eacute uma forma de assegurar a funccedilatildeo social da propriedade fazendo

com que esta contribua com a preservaccedilatildeo do meio ambiente ecologicamente equilibrado para

atuais e futuras geraccedilotildees Eacute como tambeacutem entende Trennepohl (2009 p 11) ao afirmar que

A preservaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa num percentual das propriedades rurais diminui o

lucro do proprietaacuterio mas de forma muito menos significativa que o ganho para a

coletividade com a qualidade ambiental decorrente pelo que entendemos

inquestionaacutevel que o interesse coletivo se sobrepotildee ao individual

1133 Ambiental

Considerado como um dos principais fatores que embasam a instituiccedilatildeo da reserva

legal na propriedade ou posse rural o aspecto ambiental se funda na biologia que perpassa

33

essencialmente esse vieacutes sem admitir qualquer desassociaccedilatildeo entre as unidades ambientais

como aacutegua solo vegetaccedilatildeo e ar Pode-se afirmar que o alicerce do estudo do meio eacute a ciecircncia

bioloacutegica que por sua vez analisa as reaccedilotildees as funccedilotildees fiacutesico-quiacutemicas a qualidade do

ambiente testando seus limites ou melhor sua capacidade de suporte Do mesmo modo

Miranda (2008 p 51) discorre sobre a importacircncia ecoloacutegica do instituto da reserva legal

quando afirma que ldquosua funccedilatildeo preciacutepua eacute assegurar mostras significativas de ecossistemas

conservando a biodiversidade e servindo de abrigo e proteccedilatildeo agrave fauna e agrave florardquo

Sobre isso Metzger (2002 p 48) tambeacutem atesta que ldquoa conservaccedilatildeo em aacutereas de

propriedade privada de fragmentos florestais e outros tipos de vegetaccedilatildeo nativa eacute

fundamental para proteger ainda que minimamente a fauna e a flora originais de cada

regiatildeordquo Complementa Silva (2001 p 59) quando afirma

A cobertura vegetal nativa sobretudo as florestais exerce papel de fundamental

importacircncia na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio de ecossistemas naturais bem como de

ecossistemas criados pelo homem como eacute o caso dos ecossistemas agriacutecolas Aleacutem

de permitirem uma elevada infiltraccedilatildeo e armazenamento da aacutegua no solo e no

subsolo controlando desta forma a erosatildeo e conservando os solos regular a vazatildeo

dos rios reduzindo as intensidades dos extremos de estiagens e enchentes manterem

a diversidade geneacutetica

Logo todos os benefiacutecios apontados pelos autores acima podem ser verificados

em uma menor escala quando haacute a observacircncia da reserva legal dentro de cada propriedade

rural em determinada regiatildeo garantindo sua viabilidade ambiental posto que assume um

papel niacutetido de conservaccedilatildeo Para exemplificar a assertiva retro menciona-se o microclima

favoraacutevel mantido quando haacute vegetaccedilatildeo na aacuterea em apreccedilo que por sua vez amortiza a

incidecircncia solar sobre aquela regiatildeo Por outro lado a cobertura vegetal tambeacutem eacute favoraacutevel agrave

manutenccedilatildeo dos solos uma vez que dificulta a accedilatildeo erosiva das chuvas

Infere-se portanto que a existecircncia da reserva legal na propriedade rural soacute traz

vantagens ao meio ambiente por mais que a tradiccedilatildeo campestre natildeo as compreenda Eacute o que

demonstram Schaffer e Medeiros (2009 p 2) ensinando que

A Reserva Legal (RL) por sua vez natildeo tem apenas a funccedilatildeo de prover o uso

sustentaacutevel dos recursos naturais na propriedade ou posse rural Tem tambeacutem a

funccedilatildeo de conservar e reabilitar os processos ecoloacutegicos conservar a biodiversidade

e servir de abrigo e proteccedilatildeo da fauna e flora nativas Desta forma a norma geral de

caraacuteter nacional [Coacutedigo Florestal] concilia o necessaacuterio uso sustentaacutevel de recursos

naturais para a propriedade ou posse rural com as funccedilotildees ambientais e o

provimento de serviccedilos ambientais de retenccedilatildeo de aacutegua conservaccedilatildeo do solo

manutenccedilatildeo de grupos de polinizadores e fixaccedilatildeo de biomassa entre outros os quais

satildeo importantes e necessaacuterios ao cumprimento da funccedilatildeo socioambiental dos

imoacuteveis ou propriedades rurais

34

No mesmo sentido Mercadante (1999 p 240 apud MIRANDA 2008 p 5354)

numa interpretaccedilatildeo mais ampla sobre a importacircncia ecoloacutegica da reserva legal diz

A Reserva Legal natildeo tem por objetivo apenas a conservaccedilatildeo da natureza da flora e

da fauna pelo valor intriacutenseco dos recursos bioloacutegicos ou pela contribuiccedilatildeo dessas

aacutereas para a qualidade do ambiente em geral A Reserva Legal eacute fundamental para a

estabilidade ecoloacutegica e consequentemente a exploraccedilatildeo em bases sustentaacuteveis do

proacuteprio imoacutevel rural A Reserva Legal contribui para a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo

do solo o controle da erosatildeo o controle do assoreamento dos cursos d‟aacutegua a

conservaccedilatildeo dos corpos d‟aacutegua e dos mananciais serve de abrigo para os predadores

das pragas agriacutecolas fornece madeira e outros recursos florestais para uso na

propriedade dentre outros benefiacutecios

E por fim eacute cabiacutevel mencionar ainda que o Novo Coacutedigo Florestal (BRASIL

2012) fixou criteacuterios bem mais especiacuteficos e pertinentes ao estabelecimento da reserva legal

como proceder ao cumprimento desse instituto observando se sua localizaccedilatildeo eacute condizente

com o plano de bacia hidrograacutefica o zoneamento ecoloacutegico-econocircmico ou outras categorias

de zoneamento ambiental a proximidade com outras aacutereas legalmente protegidas dentre

outros

1134 Econocircmica

A reserva legal sob o aspecto econocircmico eacute muito controversa uma vez que eacute vista

pelo proprietaacuterio ou posseiro rural como um encargo Mesmo porque como exprime

Trennepohl (2009) ateacute a deacutecada de 80 quando se tinha diferentes normas com dispositivos

protecionistas mas com enfoque preponderantemente economicista os recursos naturais eram

tratados muito mais como insumos de produccedilatildeo ou bens de uso imediato da sociedade do que

como elementos integrantes de um intrincado e fraacutegil equiliacutebrio ambiental Isto condicionou

fatalmente a sociedade brasileira contemporacircnea a natildeo observar a deferecircncia aos bens

ambientais quiccedilaacute respeitar certa porcentagem de uma aacuterea que fora adquirida por um

particular com seus recursos proacuteprios e a tem como totalmente privada

Ainda eacute possiacutevel pelo Coacutedigo Florestal - Lei 126512012 (BRASIL 2012)

intervir na aacuterea destinada agrave reserva de forma sustentaacutevel sem suprimir a vegetaccedilatildeo fazendo

uso de teacutecnicas apropriadas que viabilizem a exploraccedilatildeo econocircmica dessas aacutereas Aleacutem do

que ldquoa recuperaccedilatildeo de aacutereas de RL pode ainda gerar produtos e subprodutos madeireiros jaacute

escassos em algumas regiotildees garantindo assim uma renda adicional ao produtor rural e

mateacuteria-prima para a induacutestriardquo conforme defendem Schaffer e Medeiros (2009 p 12)

Para Magnanini (2010) a situaccedilatildeo eacute graviacutessima quando sugere ficar a criteacuterio

do proprietaacuterio rural a iniciativa de proceder ou natildeo agrave reserva legal jaacute que a Administraccedilatildeo

35

Puacuteblica natildeo tem como combater eficientemente o descumprimento desse instituto Eacute o que

propotildee no momento em que coloca

O dilema eacute este ou impotildee-se a todos os donos de terras defenderem agrave sua custa a

produtividade do solo contra a erosatildeo terriacutevel e crescente ou cruzam-se os braccedilos

ante a incapacidade pela pobreza do Poder Puacuteblico na maioria dos Estados do

Brasil para deter a transformaccedilatildeo do Paiacutes num deserto em que as estaccedilotildees se

alternem entre inundaccedilotildees e secas devoradoras de todo o esforccedilo humano

(MAGNANINI 2010 p 5)

Ademais define-se outra vertente do aspecto econocircmico tatildeo bem colocada pela

acepccedilatildeo que tem Bacha (2005 p 9) ao afirmar que

A reserva legal eacute um mecanismo de poliacutetica de rendas pelo qual se procura

estabelecer um zoneamento do uso da terra dentro da propriedade rural A poliacutetica

de rendas constitui-se numa seacuterie de regulamentaccedilotildees que restringem a produccedilatildeo e a

comercializaccedilatildeo de produtos bem como o uso dos fatores de produccedilatildeo eou

determinam valores miacutenimos ou maacuteximos para o pagamento pelo uso desses fatores

ou por produtos elaborados numa economia

Eacute possiacutevel portanto depreender o entendimento do autor de modo que a reserva

legal vem restringir o uso indiscriminado dos recursos florestais gerando com isso a

manutenccedilatildeo do bem ambiental que seraacute resguardado por aquele instituto Isto influiraacute

diretamente na cadeia produtiva nas oscilaccedilotildees de demanda e procura do mercado de mateacuteria-

prima de origem vegetal Ou seja pode-se entender que a meacutedio eou longo prazo a reserva

legal seraacute um ponto de equiliacutebrio no fluxo da produccedilatildeo de bens e serviccedilos que careccedilam desse

recurso natural

114 Direito de Propriedade x Reserva Legal

A propriedade privada eacute uma espeacutecie baacutesica que se decompotildee em propriedade

rural ou urbana segundo se refira a moradias do campo ou moradias derivadas das

construccedilotildees ou edificaccedilotildees idocircneas para sua habitualidade ou aproveitamento diferente do

que eacute a exploraccedilatildeo agraacuteria de qualquer moradia rural (CRIADO 2010)

A propriedade no direito brasileiro foi constituiacuteda em forma e conteuacutedo a partir de

normas muito antigas e de outras naccedilotildees ou seja foi reproduzida com base no direito romano

ldquoDesde aqueles tempos o direito de propriedade era tido como absoluto isto eacute o proprietaacuterio

tinha o direito de usar ou natildeo usar gozar ou natildeo gozar e dispor ou natildeo dispor da propriedade

imobiliaacuteriardquo (MELO 2010 p22) Em contrapartida ldquoos direitos de propriedade

constitucional certamente satildeo direitos de liberdade seja a liberdade individual seja a

liberdade comunitaacuteria que satildeo complementares e indissociaacuteveis haja vista que uma natildeo

36

existe sem a outra como nos demonstram as experiecircncias totalitaacuterias do seacuteculo XXrdquo

(ANTUNES 2011 p37)

A garantia do direito de propriedade estaacute prevista constitucionalmente ou seja na

maior Lei do paiacutes uma vez que ela se sobrepotildee a todas as outras leis e normas juriacutedicas Eacute a

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil que foi promulgada em 05 de outubro de

1988 Conhecida como Carta Magna a Constituiccedilatildeo de 1988 (BRASIL 1988) em seu Tiacutetulo

II estabelece os direitos e as garantias fundamentais do e para o povo brasileiro Logo no

primeiro capiacutetulo deste tiacutetulo estatildeo dispostos os direitos e deveres individuais e coletivos que

o Estado brasileiro deve assegurar aos seus cidadatildeos Eacute no artigo 5ordm que estatildeo previstas tais

premissas inclusive o direito de propriedade (inciso XXII) e o respeito agrave sua funccedilatildeo social

(XXIII)

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade

do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos

seguintes

[]

XXII - eacute garantido o direito de propriedade

XXIII - a propriedade atenderaacute a sua funccedilatildeo social

Quanto agrave funccedilatildeo social da propriedade ldquosomente nos seacuteculos XIX e XX surgiu a

ideia em que o imoacutevel natildeo teria mais o caraacuteter absoluto e intangiacutevel de forma que o

proprietaacuterio por possuir recursos deveria cumprir a tal funccedilatildeordquo (MELO 2010 p23) Ainda

ldquodiscorrer sobre a funccedilatildeo social da propriedade significa abandonar a ideia absolutista e

inflexiacutevel desse instituto para admitir a revitalizaccedilatildeo e o condicionamento do exerciacutecio a

interesses maiores que os do proprietaacuterio individualrdquo (PETERS 2003 p 125 apud

MIRANDA 2008 p 56) Foi nesse sentido que as Constituiccedilotildees Federais brasileiras de 1934

(BRASIL 1934b) 1946 (BRASIL 1946) 1967 (BRASIL 1967c) e a de 1988 (BRASIL

1988) restringiram o direito de propriedade

Constituiccedilatildeo de 1934

Art 113 - A Constituiccedilatildeo assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade dos direitos concernentes agrave liberdade agrave subsistecircncia agrave seguranccedila

individual e agrave propriedade nos termos seguintes

[]

17) Eacute garantido o direito de propriedade que natildeo poderaacute ser exercido contra o

interesse social ou coletivo na forma que a lei determinar A desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica far-se-aacute nos termos da lei mediante preacutevia e justa

indenizaccedilatildeo [] (BRASIL 1934b p 33)

Constituiccedilatildeo de 1946

Art 141 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

Paiacutes a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade a seguranccedila

individual e agrave propriedade nos termos seguintes

37

[]

sect 16 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa

indenizaccedilatildeo em dinheiro (BRASIL 1946 p 31)

Constituiccedilatildeo de 1967

Art 150 - A Constituiccedilatildeo assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

Pais a inviolabilidade dos direitos concernentes agrave vida agrave liberdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

[]

sect 22 - Eacute garantido o direito de propriedade salvo o caso de desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante preacutevia e justa

indenizaccedilatildeo em dinheiro ressalvado o disposto no art 157 sect 1ordm []

[]

Art 157 - A ordem econocircmica tem por fim realizar a justiccedila social com base nos

seguintes princiacutepios

[]

III - funccedilatildeo social da propriedade

[]

sect 1ordm - Para os fins previstos neste artigo a Uniatildeo poderaacute promover a desapropriaccedilatildeo

da propriedade territorial rural mediante pagamento de justa indenizaccedilatildeo fixada

segundo os criteacuterios que a lei estabelecer em tiacutetulos especiais da diacutevida puacuteblica []

(BRASIL 1967c p 4951)

Embora os textos se assemelhem eacute faacutecil observar que em 1934 o direito de

propriedade natildeo poderia ir contra o interesse social ou coletivo enquanto que na Constituiccedilatildeo

de 1946 (BRASIL 1946) jaacute se comeccedila a falar em desapropriaccedilatildeo caso aquele interesse natildeo

seja observado Em 1967 existe uma combinaccedilatildeo entre o direito de propriedade e a justiccedila

social estando esta prevista como objetivo da ordem econocircmica que por sua vez cita

claramente a funccedilatildeo social da propriedade como um de seus princiacutepios Mais uma vez a

desapropriaccedilatildeo vem agrave tona agora com um toque mais robusto e imbuiacutedo de maior evidecircncia

jaacute que aquela Carta (BRASIL 1967c) faz menccedilatildeo no paraacutegrafo 1ordm do artigo 157 que a Uniatildeo

poderaacute desapropriar a propriedade territorial rural se natildeo atender dentre outros aspectos a

funccedilatildeo social da propriedade

Retroagindo aproximadamente trecircs anos a desapropriaccedilatildeo jaacute estava em pauta

atraveacutes da Lei 450464 (BRASIL 1964) conhecida como o Estatuto da Terra Com o

objetivo de regular os direitos e obrigaccedilotildees concernentes aos bens imoacuteveis rurais a citada lei

menciona a desapropriaccedilatildeo como uma das medidas de execuccedilatildeo da Reforma Agraacuteria e

promoccedilatildeo da Poliacutetica Agriacutecola (Art 1deg) Aleacutem disto o artigo segundo assegura a todos a

oportunidade de acesso agrave propriedade da terra condicionada pela sua funccedilatildeo social desde que

cumpra as seguintes condiccedilotildees

Art 2deg

sect 1deg A propriedade da terra desempenha integralmente a sua funccedilatildeo social quando

simultaneamente

a) favorece o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores que nela labutam

assim como de suas famiacutelias

38

b) manteacutem niacuteveis satisfatoacuterios de produtividade

c) assegura a conservaccedilatildeo dos recursos naturais

d) observa as disposiccedilotildees legais que regulam as justas relaccedilotildees de trabalho entre os

que a possuem e a cultivem (BRASIL 1964 p 1)

Encerrando o rol de Constituiccedilotildees brasileiras quanto ao direito de propriedade e

sua funccedilatildeo social a de 1988 consagra este princiacutepio no artigo 186

Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende

simultaneamente segundo criteacuterios e graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos

seguintes requisitos

I - aproveitamento racional e adequado

II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio

ambiente

[] (BRASIL 1988 p 144)

Chama atenccedilatildeo o inciso II quando dispotildee sobre a utilizaccedilatildeo adequada dos

recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio ambiente Eacute nesse iacutenterim que a reserva

legal eacute reconhecida por dar ao imoacutevel uma funccedilatildeo social ldquouma vez que atribui agrave propriedade

a exigecircncia da observacircncia de funccedilotildees econocircmica e social bem como de preservaccedilatildeo do meio

ambienterdquo (MELO 2010 p 24) Tambeacutem sobre isso bem coloca Trennepohl (2009 p 12)

A limitaccedilatildeo administrativa do exerciacutecio do direito de propriedade encontra respaldo

no art 186 da Constituiccedilatildeo Federal pois a propriedade rural somente cumpre sua

funccedilatildeo social quando obedecido o aproveitamento racional e utilizados

adequadamente os recursos naturais disponiacuteveis com vistas agrave preservaccedilatildeo do meio

ambiente

ldquoNatildeo haacute direito de propriedade para quem natildeo faz a terra cumprir sua funccedilatildeo

socialrdquo Eacute como entende o professor de direito agraacuterio Carlos Mareacutes (2003 p 134 apud

MELO 2010 p 25) Cavedon (2003 p 122 apud MIRANDA 2008 p 5859) tambeacutem

observa que

Os requisitos estipulados pelo artigo 186 devem ser atendidos simultaneamente sob

pena da propriedade natildeo atender sua funccedilatildeo social e por isso perder sua proteccedilatildeo

constitucional Como consequecircncia esta fica sujeita agrave desapropriaccedilatildeo por interesse

social para fins de reforma agraacuteria conforme o caput do artigo 184 da CF88 Eacute o que

Lenza denomina de desapropriaccedilatildeo-sanccedilatildeo Isto porque a Constituiccedilatildeo de 1988 em

seu artigo 5ordm inciso XXIV garante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiro mediante a

desapropriaccedilatildeo por necessidade utilidade puacuteblica ou interesse social A sanccedilatildeo estaacute

justamente na forma de pagamento da indenizaccedilatildeo quando a propriedade rural natildeo

atende a sua funccedilatildeo social o pagamento natildeo eacute efetuado em dinheiro mas em tiacutetulos

da diacutevida agraacuteria5 Assim o meio ambiente ganha relevacircncia como elemento

5 Tiacutetulos da diacutevida agraacuteria (TDA) - Meio de pagamento de indenizaccedilotildees devidas aos que sofreram accedilatildeo

expropriatoacuteria da Uniatildeo Federal Criado pelo Governo Federal eacute vinculado agrave desapropriaccedilatildeo de imoacuteveis rurais

por interesse social para efeito de reforma agraacuteria ou aquisiccedilotildees por compra e venda de imoacuteveis rurais destinados

agrave implantaccedilatildeo de projetos integrantes do Programa Nacional de Reforma Agraacuteria Disponiacutevel em

lthttpwwwcetipcombrtitulos-publicostdagt Acesso em 27062013

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integrante da funccedilatildeo social da propriedade em funccedilatildeo do artigo 186 II que prevecirc a

utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e a preservaccedilatildeo do meio

ambiente e no artigo 170 que coloca a propriedade privada a funccedilatildeo social da

propriedade e a defesa do meio ambiente lado a lado como princiacutepios da ordem

econocircmica Com base nestes dispositivos legais Cavedon entende que a propriedade

deve atender tambeacutem a sua funccedilatildeo ambiental apesar desta natildeo constar de forma

expliacutecita no texto constitucional

Desta forma por estar limitado o proprietaacuterio rural natildeo pode dispor livremente de

seu imoacutevel pois haacute de cumprir sua funccedilatildeo social que resulta na observacircncia de requisitos que

visam vantagens para a coletividade em detrimento de restriccedilotildees individuais Assim sendo

muitos particulares entendem que a obrigaccedilatildeo de destinarem determinada porcentagem de

suas propriedades rurais para a reserva legal eacute uma espeacutecie de desapropriaccedilatildeo indireta imposta

pelo poder puacuteblico e por isso deveriam ser indenizados Da mesma forma outros segundo

Miranda (2008) concluem que eacute uma restriccedilatildeo da propriedade uma vez que inviabiliza a

utilizaccedilatildeo econocircmica do bem e por isso caberia uma recomposiccedilatildeo patrimonial Ao contraacuterio

desse entendimento Trennepohl (2009 p 11) explica

A averbaccedilatildeo da reserva legal natildeo representa uma desapropriaccedilatildeo indireta como

muita gente pensa pois sua vegetaccedilatildeo pode ser explorada na forma de manejo

florestal sustentaacutevel e a aacuterea pode ser utilizada para outras atividades rentaacuteveis

Tanto eacute assim que inuacutemeras accedilotildees judiciais propostas pleiteando indenizaccedilatildeo pela

restriccedilatildeo de uso dessas aacutereas foram fulminadas nas diferentes esferas do Poder

Judiciaacuterio

Ademais a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 (BRASIL 1988) em seu artigo 225

tambeacutem estabelece que

Art 225 Todos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de

uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder

Puacuteblico e agrave coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e

futuras geraccedilotildees

sect 1ordm - Para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Poder Puacuteblico

I - preservar e restaurar os processos ecoloacutegicos essenciais e prover o manejo

ecoloacutegico das espeacutecies e ecossistemas []

III - definir em todas as unidades da Federaccedilatildeo espaccedilos territoriais e seus

componentes a serem especialmente protegidos sendo a alteraccedilatildeo e a supressatildeo

permitidas somente atraveacutes de lei vedada qualquer utilizaccedilatildeo que comprometa a

integridade dos atributos que justifiquem sua proteccedilatildeo (BRASIL 1988 p 225226)

Ressalta-se que ldquoa Carta Magna de 1988 eacute a primeira Constituiccedilatildeo brasileira em

que a expressatildeo meio ambiente eacute mencionadardquo (MELO 2010 p 20) Ademais inovou ao

adotar a terminologia ldquoespaccedilo territorial especialmente protegidordquo para designar uma aacuterea sob

regime especial de administraccedilatildeo com o objetivo de proteger os atributos ambientais

justificadores do seu reconhecimento e individualizaccedilatildeo pelo Poder Puacuteblico (MILAREacute 2009)

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Desta forma pela simples leitura do texto constitucional observa-se que eacute uma

prerrogativa do Poder Puacuteblico promover a preservaccedilatildeo do meio ambiente bem como

estabelecer unidades especialmente protegidas para garantir a manutenccedilatildeo dos recursos

naturais A forma com que o Estado cumpriraacute este dever eacute atraveacutes da ediccedilatildeo de leis que

obriguem seus administrados a satisfazerem tais imposiccedilotildees Para tanto tem-se o Coacutedigo

Florestal (BRASIL 1965 2012) que prevecirc a reserva legal como um dos meios de viabilizar

essa proteccedilatildeo Eacute sobre o que discorre Trennepohl (2009 p 12)

A reserva legal eacute um dos instrumentos que permitem o cumprimento do art 225 da

Constituiccedilatildeo Federal o qual impotildee ao Poder Puacuteblico o dever de defender e preservar

o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras geraccedilotildees

(caput) atraveacutes de definiccedilatildeo de espaccedilos territoriais e seus componentes a serem

especialmente protegidos (sect1deg III) bem como de proteger a flora e a fauna (sect1deg

VII)

Conclui-se portanto que a reserva legal introduzida pelo Coacutedigo de 65 (BRASIL

1965) modificou os contornos do direito de propriedade restringindo seu uso e que a funccedilatildeo

social do bem imoacutevel teve como origem forte conflito entre necessidades coletivas ou assim

interpretadas e o regime particular da propriedade individual (ANTUNES 2011)

1141 Restriccedilatildeo ou Limitaccedilatildeo Administrativa

As formas de limitaccedilotildees que recaem sobre a propriedade tornam-se um problema

importante em mateacuteria ambiental pois na grande maioria das vezes a natureza juriacutedica dos

espaccedilos territoriais especialmente protegidos se confunde com a limitaccedilatildeo administrativa

(MELO 2010) Assim questiona-se se realmente estamos diante de servidotildees limites

limitaccedilotildees ou delimitaccedilotildees A questatildeo natildeo eacute paciacutefica (CRIADO 2010)

A limitaccedilatildeo administrativa segundo Meireles (2004 p 568) eacute ldquotoda imposiccedilatildeo

geral gratuita unilateral e de ordem puacuteblica condicionadora do exerciacutecio de direitos ou de

atividades particulares agraves exigecircncias do bem-estar socialrdquo Satildeo implementadas de forma

imperativa obrigando o proprietaacuterio a fazer ou natildeo fazer algo na sua propriedade mas sem

retirar a utilizaccedilatildeo econocircmica deste bem ldquoJaacute a restriccedilatildeo ocorre quando a administraccedilatildeo impotildee

ao proprietaacuterio dever que o obrigue ou o impeccedila de fazer algo em sua propriedade retirando a

utilizaccedilatildeo econocircmica desta Havendo neste caso a necessidade de recomposiccedilatildeo patrimonialrdquo

(MIRANDA 2008 p 61)

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Aleacutem do que hibridamente haacute os que entendem que a reserva legal eacute uma

desapropriaccedilatildeo indireta6 disfarccedilada de limitaccedilatildeo da propriedade que por sua vez inviabiliza a

utilizaccedilatildeo econocircmica do bem provocando uma busca por indenizaccedilatildeo Eacute nesse sentido que se

pronunciam os superiores tribunais do paiacutes como por exemplo se pronunciou o ministro Luiz

Pereira do Tribunal de Justiccedila do Estado de Satildeo Paulo ao decidir pela indenizabilidade da

aacuterea compreendida na reserva legal E ainda o proacuteprio Supremo Tribunal Federal tem se

manifestado de forma enfaacutetica ldquoimpedindo que a bdquolimitaccedilatildeo administrativa‟ esvazie o

conteuacutedo econocircmico do direito de propriedade determinando que em tais hipoacuteteses o Estado

indenize os prejuiacutezos de ordem patrimonial sofridos pelo particularrdquo (ANTUNES 2011

p163164)

Mesmo sendo um instrumento de conservaccedilatildeo ambiental com a possibilidade de

exploraccedilatildeo racional atraveacutes de manejo florestal sustentaacutevel eacute visivelmente perceptiacutevel o

conflito entre interesses particulares e a salvaguarda da vegetaccedilatildeo proposta por norma

juriacutedica Posto isto observa-se de um lado intenccedilotildees puramente econocircmicas que por sua vez

levam os proprietaacuterios a ignorarem a lei derrubando e queimando as matas que deveriam ser

preservadas a tiacutetulo de Reserva Legal ou ainda se eximindo de suas responsabilidades soacutecio-

ambientais Opotildeem-se portanto aos fortes instrumentos juriacutedicos de proteccedilatildeo das matas

brasileiras (MIRANDA 2008)

1142 Procedimentos para cumprimento da Reserva Legal

Na vigecircncia da lei anterior ou seja do Coacutedigo Florestal de 1965 (BRASIL 1965)

a forma de garantir documentalmente o cumprimento da reserva legal era averbaacute-la junto agrave

matriacutecula da propriedade constante em um Registro de Imoacuteveis Vale aqui esmiuccedilar o que eacute e

como era esse procedimento

ldquoO Registro de Imoacuteveis eacute uma instituiccedilatildeo nascida no seacuteculo XIX para dar

seguranccedila agrave contrataccedilatildeo imobiliaacuteria e na qual se inscreviam os direitos nascidos das relaccedilotildees

privadas ou civisrdquo (CRIADO 2010 p126) ldquoE que surgiu como necessidade do Estado de

controlar o direito de propriedade e como instrumento de seguranccedila juriacutedica para o traacutefego

imobiliaacuteriordquo (MELO 2010 p18) Regido pela Lei 601573 (BRASIL 1973) que cria a

figura da matriacutecula e que por sua vez representa a individualidade do imoacutevel sua situaccedilatildeo

6 Desapropriaccedilatildeo indireta ndash ldquotoda intervenccedilatildeo do Estado na propriedade que venha a impossibilitar o uso e gozo

desse bem retirando-lhe o conteuacutedo econocircmicordquo (TAVARES 1998 p 2 apud MIRANDA 2008 p 62)

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geograacutefica e perfeita descriccedilatildeo sofrendo alteraccedilotildees objetivas e subjetivas por meio da

averbaccedilatildeo sempre com um mesmo nuacutemero de ordem facilitando incrivelmente as pesquisas e

expediccedilatildeo de certidotildees (MELO 2010)

Desta forma cada imoacutevel possui um registro onde pode ser descrito tudo o que

acontece com ele e nele por exemplo quem comprou vendeu se o dono hipotecou o bem a

um banco por causa de empreacutestimo etc Cada novidade que acontece no imoacutevel eacute inscrita sob

a forma e nome de averbaccedilatildeo no seu registro que por sua vez tem um nuacutemero de matriacutecula

para o identificar da mesma forma que um cidadatildeo tem um nuacutemero de Registro Geral (RG)

com seu nome completo data de nascimento e filiaccedilatildeo

No caso a averbaccedilatildeo da reserva legal era feita da seguinte forma o dono do

imoacutevel ldquointeressadordquo em cumprir sua obrigaccedilatildeo deveria submeter a localizaccedilatildeo da reserva

legal ao oacutergatildeo ambiental estadual que por sua vez aprovaria ou natildeo o local onde o proprietaacuterio

iria destinar agrave reserva legal Essa delimitaccedilatildeo deveria ser feita a partir de um

georreferenciamento que utiliza coordenadas geograacuteficas fixadas com o auxiacutelio de sateacutelites

conforme o Sistema Geodeacutesico Brasileiro (SGB) ao qual o Registro de imoacuteveis estaacute

vinculado (MELO 2010)

ldquoA representaccedilatildeo graacutefica da propriedade e sua atualizaccedilatildeo permitem um

conhecimento da evoluccedilatildeo do territoacuterio suas modificaccedilotildees e o impacto meio ambiental que

nele tenha ocasionado atuaccedilatildeo do acircmbito imobiliaacuterio com transcendecircncia nesta mateacuteriardquo

(LIBERAL 2007 p 121 apud MELO 2010 p3233)

Assim com a propriedade e sua respectiva aacuterea de reserva legal

georreferenciadas o proacuteximo passo seria a elaboraccedilatildeo de uma planta a partir dos dados

coletados e juntamente com o documento comprobatoacuterio de que o imoacutevel possuiacutea registro

submeter a localizaccedilatildeo da aacuterea de reserva ao oacutergatildeo ambiental competente Se aprovada o

oacutergatildeo expediria um Termo de Averbaccedilatildeo da Reserva Legal que juntamente com a mesma

planta apresentada anteriormente deveria ser levado ao cartoacuterio de imoacuteveis para posterior

averbaccedilatildeo no registro do bem Nesta averbaccedilatildeo estariam descritas todas as informaccedilotildees da

reserva legal e sua localizaccedilatildeo geograacutefica

ldquoEsse procedimento documental tinha fundamento no princiacutepio da publicidade

que eacute a alma dos registros puacuteblicos porque eacute a oportunidade dada ao povo de conhecer tudo

que lhe interessa a respeito de determinados atosrdquo (BALBINO FILHO 1999 p 9 apud

MELO 2010 p34) Ateacute porque qualquer pessoa pode solicitar informaccedilotildees sobre os registros

junto ao cartoacuterio de imoacuteveis ldquoE natildeo poderia ser diferente pois o Registro de Imoacuteveis atua no

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direito ambiental como ator coadjuvante reforccedilando a publicidade legal bem como

cooperando com o cumprimento e garantia das obrigaccedilotildees ambientaisrdquo (MELO 2010 p79)

Natildeo obstante malgrado existia a obrigaccedilatildeo legal de todo proprietaacuterio averbar a

aacuterea de RLF no Registro de Imoacuteveis o fato eacute que pequena porcentagem dos proprietaacuterios

procedeu agrave sua especializaccedilatildeo ldquoA razatildeo eacute simples trata-se de norma incompleta foi criada a

obrigaccedilatildeo mas propositalmente a sanccedilatildeo foi esquecidardquo (MELO 2010 p56)

Com a lei 126512012 (BRASIL 2012) ou Novo Coacutedigo Florestal esse

procedimento mudou Logo natildeo se deve mais averbar a reserva legal no registro do imoacutevel

Agora a obrigaccedilatildeo passou a ser o cadastramento da propriedade rural no Cadastro Ambiental

Rural (CAR) O atual meacutetodo consiste na inscriccedilatildeo do imoacutevel a partir da identificaccedilatildeo do

proprietaacuterio ou possuidor rural apresentaccedilatildeo de documento que comprove a propriedade ou a

posse e a identificaccedilatildeo do imoacutevel por meio de planta e memorial descritivo contendo a

indicaccedilatildeo das coordenadas geograacuteficas com pelo menos um ponto de amarraccedilatildeo do periacutemetro

do imoacutevel informando a localizaccedilatildeo dos remanescentes de vegetaccedilatildeo nativa das Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente das Aacutereas de Uso Restrito das aacutereas consolidadas e caso existente

tambeacutem da localizaccedilatildeo da Reserva Legal

No entanto o CAR ainda natildeo estaacute implantado no Cearaacute o que eacute realidade em

vaacuterios outros estados tambeacutem A obrigatoriedade de inscriccedilatildeo neste Cadastro eacute de ateacute dois

anos apoacutes sua implementaccedilatildeo que ateacute o momento natildeo aconteceu Todavia o secretaacuterio de

Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentaacutevel Sr Paulo Guilherme Cabral afirmou em

21052013 que o lanccedilamento em acircmbito nacional do Cadastro Ambiental Rural (CAR) deve

ocorrer ateacute o iniacutecio de junho e para agilizar a inscriccedilatildeo de mais de 5 milhotildees de propriedades

o Ministeacuterio do Meio Ambiente tem buscado ajuda de sindicatos cooperativas e associaccedilotildees

do setor agriacutecola aleacutem de outros oacutergatildeos puacuteblicos7 Infelizmente nada aconteceu ateacute e apoacutes

aquela previsatildeo

Contraditoriamente natildeo existe um prazo para o governo implantar o CAR mas

para o proprietaacuterio ou posseiro sim quando o cadastro dos imoacuteveis estiver disponiacutevel O

impasse eacute o que fazer o dono da terra aguarda o novo procedimento vigorar ou adota o

meacutetodo anterior

7 Conferir notiacutecia publicada em 22052013 no site lthttpsouagrocombrlancamento-nacional-do-car-deve-

sair-ate-junhogt

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2 Processo de Degradaccedilatildeo

21 Conceito

A degradaccedilatildeo de uma forma geral eacute ldquoa ocorrecircncia de modificaccedilotildees fiacutesicas

metaboacutelicas ou quiacutemicas para uma forma menos complexa E a degradaccedilatildeo ambiental eacute a

alteraccedilatildeo das caracteriacutesticas do meio ambienterdquo (GUERRA et al 2009 p108) Jaacute o inciso II

do artigo 3ordm da Lei 693881 (BRASIL 1981) descreve a degradaccedilatildeo da qualidade ambiental

como alteraccedilatildeo adversa das caracteriacutesticas do meio ambiente

Para Arauacutejo et al (2008 p 19) ldquoa degradaccedilatildeo das terras envolve a reduccedilatildeo dos

potenciais recursos renovaacuteveis por uma combinaccedilatildeo de processos agindo sobre a terrardquo Os

autores ainda atestam que

Tal reduccedilatildeo levando ao abandono ou ldquodesertificaccedilatildeordquo da terra [] pode ser por

processos naturais como por exemplo o ressecamento do clima atmosfeacuterico

processos naturais de erosatildeo alguns outros de formaccedilatildeo do solo ou uma invasatildeo

natural de plantas ou animais nocivos Pode tambeacutem ocorrer por accedilotildees antroacutepicas

diretamente sobre o terreno ou indiretamente em razatildeo das mudanccedilas climaacuteticas

adversas induzidas pelo homem (ARAUacuteJO et al 2008 p 19)

Para a Food and Agriculture Organizations of the United Nations - FAO

(Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e Agricultura) o conceito de degradaccedilatildeo

de terras se refere ldquoagrave deterioraccedilatildeo ou perda total da capacidade dos solos para uso presente e

futurordquo (FAO 1980 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 23)

Observa-se portanto que a degradaccedilatildeo ambiental se natildeo combatida pressupotildee

um processo criacutetico e muito seacuterio o da desertificaccedilatildeo Eacute como considera Sales (2002) e ainda

afirma que o potencial natural das terras quanto agrave degradaccedilatildeo e a accedilatildeo antroacutepica

desencadeiam a desertificaccedilatildeo

O processo de degradaccedilatildeo ambiental pode ocorrer a partir de um ambiente que jaacute

possui caracteriacutesticas naturais limitantes eou extremas onde nele eacute inserido o fator antroacutepico

seja pela simples ocupaccedilatildeo de uma populaccedilatildeo naquela aacuterea seja pelo manejo inadequado dos

recursos naturais ali presentes De outra forma a degradaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel em ambientes

sem fragilidades naturalmente aparentes

A degradaccedilatildeo ambiental advinda da intervenccedilatildeo humana num cenaacuterio mundial

traduz-se em 15 das terras jaacute comprometidas pelas atividades humanas sendo que na

Ameacuterica do Sul dentro daquele percentual encontrou-se 1 de terras devastadas 11 de

terras leve ou moderadamente degradadas e 1 de terra forte ou extremamente degradada8

As estimativas apontam uma expansatildeo anual de 5 a 12 milhotildees de hectares de solo de um

total de 48 bilhotildees de hectares de aacutereas cultivaacuteveis e pastos ainda existentes e segundo a

ISRICUNEP (1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 28) isso resulta na seguinte constataccedilatildeo

A degradaccedilatildeo ambiental causa a perda de aproximadamente 14 milhotildees de

toneladas de gratildeos anualmente isto eacute metade da quantidade necessaacuteria para cobrir

as necessidades da populaccedilatildeo global adicional para o mesmo periacuteodo E no aspecto

financeiro para Blaikie e Brookfiel (1987) a produtividade do trabalho eacute atingida

desfavoravelmente pois a degradaccedilatildeo ambiental consome diretamente o produto do

trabalho e tambeacutem o aporte de capital na produccedilatildeo A qualidade de vida diminui

porque satildeo necessaacuterios mais tempo e um trabalho mais duro para se obter o mesmo

produto isso sem mencionar as medidas conservacionistas no campo fertilizaccedilatildeo

mais intensa ou a abertura de aacutereas para lavouras ou pastos cada vez mais distantes

[] Em ocasiotildees mais raras mas tambeacutem tatildeo dramaacuteticas a degradaccedilatildeo ambiental

forccedila o deslocamento da populaccedilatildeo Centenas de milhares de hectares tecircm de ser

abandonados a cada ano por estarem degradados demais para o cultivo ou ateacute

mesmo para pastagens (ARAUacuteJO et al 2008 p 31)

Em se tratando de semiaacuterido os recursos ambientais satildeo fraacutegeis e associados a

este quadro haacute uma populaccedilatildeo que por sua vez lanccedila matildeo dos bens naturais produzindo uma

deterioraccedilatildeo ambiental ldquoO Cearaacute por conseguinte apresenta extensas aacutereas com problemas

relativos agrave degradaccedilatildeo ambiental principalmente a desertificaccedilatildeordquo (IRAUCcedilUBA 2009 p 7)

Eacute o caso de Irauccediluba por causa da degradaccedilatildeo advinda do desmatamento e das

queimadas que exaurem os nutrientes do solo a agricultura de subsistecircncia colhe em gratildeos

menos de 500 kgha enquanto que a produccedilatildeo potencial seria cerca de 2000 kgha

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Isso explica a baixa participaccedilatildeo da agricultura na

produccedilatildeo agropecuaacuteria do municiacutepio E ldquoessa produccedilatildeo sequer paga os custos da lavoura de

forma que os pequenos produtores estatildeo pagando para plantar na maioria dos casosrdquo

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 18) As consequecircncias sociais disto satildeo ldquoum ciclo de

pobreza e miseacuteria tornando a regiatildeo cada vez mais vulneraacutevelrdquo (SALES 2002 p116)

Em niacutevel mais criacutetico segundo as Naccedilotildees Unidas a desertificaccedilatildeo degrada 60 mil

km2 de terras feacuterteis por ano em todo o mundo provocando perdas de 4 bilhotildees de doacutelares na

economia mundial No Brasil estima-se que essas perdas atinjam 100 milhotildees de doacutelares9

Por fim ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013) entendem que a degradaccedilatildeo em terras

brasileiras remonta o tempo dos colonizadores pois estes aplicavam diretamente meacutetodos e

praacuteticas proacuteprios para solos de clima temperado Assim as matas foram derrubadas queimou-

se a vegetaccedilatildeo em larga escala e lavouras nocircmades foram estabelecidas aproveitou-se o humo

8 Conferir ISRICUNEP 1991 In Arauacutejo et al 2008 p 27

9 Conferir RODRIGUES (2006) in CEARAacute 2010

46

onde este jaacute existia expuseram-se os solos agrave erosatildeo enfim saquearam-se os recursos naturais

renovaacuteveis ldquoNo caso do Cearaacute documenta-se que em 1861 a Comissatildeo Cientiacutefica enviada

para estudar o Nordeste registrava a destruiccedilatildeo acelerada da vegetaccedilatildeo principalmente nos

contrafortes das serras em virtude dos desmatamentos e queimadas para plantio de

mandiocardquo ARAUacuteJO FILHO e SILVA (2013 p 8)

Para uma melhor compreensatildeo quanto agrave intervenccedilatildeo humana negativa no

ambiente aponta-se o esquema proposto na figura 3 a seguir resumindo o processo de

degradaccedilatildeo ambiental apresentado pelo PAE10

(CEARAacute 2010b)

Figura 3 Sistema de Degradaccedilatildeo do Meio Ambiente Adaptado de Tricart (apud Souza 2000)

Fonte PAE (CEARAacute 2010b p 30)

10

PAECE ndash Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca

(CEARAacute 2010)

47

22 Degradaccedilatildeo Ambiental

A degradaccedilatildeo tem vaacuterias causas dentre elas a erosatildeo e o manejo inadequado do

solo Em se tratando deste uacuteltimo pode-se destacar as atividades agropecuaacuterias e suas

praacuteticas como por exemplo o desmatamento desmedido e irracional a irrigaccedilatildeo de forma

errada salinizando ou encharcando o solo o sobrepastoreio que compacta o solo e o uso de

defensivos agriacutecolas que provocam a contaminaccedilatildeo do solo e eliminam os microorganismos

ali presentes Deduz-se portanto que isso eacute um reflexo derivado de uma estrutura fundiaacuteria

extremamente riacutegida onde satildeo desenvolvidas aquelas atividades com baixo niacutevel tecnoloacutegico

levando a praacuteticas agriacutecolas predatoacuterias (SALES 2002 p116)

Com as causas naturais e as provocadas pelo homem quanto agrave degradaccedilatildeo do solo

expostas na tabela 2 a compreensatildeo fica mais clara

Tabela 2 Classificaccedilatildeo dos fatores de degradaccedilatildeo das terras

FATORES ACcedilOtildeES ANTROacutePICAS CONDICcedilOtildeES NATURAIS

Facilitadores

Desmatamento

Permissatildeo do superpastoreio

Uso excessivo da vegetaccedilatildeo

Taludes de corte

Remoccedilatildeo da cobertura vegetal para o cultivo

Topografia

Textura do solo

Composiccedilatildeo do solo

Cobertura vegetal

Regimes hidrograacuteficos

Diretos

Uso de maacutequinas

Conduccedilatildeo do gado

Encurtamento do pousio

Entrada excessiva de aacutegua drenagem insuficiente

Excesso de fertilizaccedilatildeo aacutecida

Uso excessivo de produtos quiacutemicos estrume

Disposiccedilatildeo de resiacuteduos domeacutesticos industriais

Chuvas fortes

Alagamentos

Ventos fortes

Fonte FAO (1980 apud Arauacutejo et al 2008 p 33)

Entendem Arauacutejo et al (2008 p 29) que as consequecircncias disto no meio rural satildeo

Um decliacutenio na produtividade ou uma necessidade crescente do aporte de nutrientes

para manter as mesmas produtividades uma vez que os ldquosubsolos geralmente

contem menos nutrientes do que as camadas superioresrdquo sendo necessaacuterio mais

fertilizante para manter a produtividade das culturas Isso por sua vez aumenta os

custos da produccedilatildeo

Partindo dessas constataccedilotildees conclui-se que satildeo seacuterias as consequecircncias

ambientais sociais e econocircmicas a esse respeito por isso satildeo necessaacuterias medidas mitigadoras

que visem minimizar esses impactos bem como meios de recuperar os danos jaacute existentes

A questatildeo torna-se ainda mais preocupante quando o olhar recai sobre os

processos de formaccedilatildeo do solo que segundo Kendall e Pimentel (1994 apud ARAUacuteJO et al

48

2008 p 21) ldquosatildeo lentos e necessitam de duzentos a mil anos para formar 25cm de solos e

isso sob condiccedilotildees agriacutecolas normaisrdquo Dessa forma a degradaccedilatildeo do solo eacute muito mais

criacutetica uma vez que eacute quase irreversiacutevel quando se trata do lapso temporal para se regenerar

ldquoA irreversibilidade tambeacutem ocorre quando o clima e as atividades humanas se combinam

tornando um solo anteriormente sadio em aacuterea devastadardquo (ARAUacuteJO et al 2008 p 2021)

221 Erosatildeo

Eacute o processo natural de decomposiccedilatildeo e transporte de sedimentos que altera as

formas de relevo Causada por agentes como vento chuvas aacuteguas correntes pode ser

acelerada por intervenccedilotildees humanas como por exemplo o desmatamento (TRIGUEIRO

2005 apud GUERRA 2009 p 129)

Arauacutejo et al (2008 p 34) afirmam que ldquoembora a erosatildeo possa ocorrer sem a

intervenccedilatildeo humana na praacutetica ela geralmente eacute iniciada eou acelerada por atividades

antroacutepicas que causam o desaparecimento da cobertura protetora da vegetaccedilatildeo natural ou

danificam a estrutura do solordquo

No PAN (BRASIL 2004 p 42) consta que ldquoa resultante do antropismo eacute

principalmente a erosatildeo particularmente a laminarrdquo que se inicia com a destruiccedilatildeo da

cobertura vegetal

A erosatildeo pode ser pela accedilatildeo da aacutegua eou do vento Em ambos os casos a camada

superficial do solo eacute retirada Para Arauacutejo et al (2008 p 24) ldquoa erosatildeo eoacutelica eacute mais comum

em climas aacuterido e semiaacuterido e eacute considerada uma forma de degradaccedilatildeo bem como a da aacutegua

que pode ateacute deformar o terreno formando ravinas e voccedilorocasrdquo Uma consequecircncia grave

disto segundo os mesmos autores eacute a reduccedilatildeo da fertilidade pelos motivos a seguir Menor

penetraccedilatildeo de raiacutezes em decorrecircncia de um solo menos denso e mais fino Reduccedilatildeo na

capacidade de retenccedilatildeo de aacutegua Varredura dos nutrientes utilizados pelas plantas

Para a FAO segundo Arauacutejo et al (2008 p 30) ldquoaproximadamente 25 bilhotildees de

toneladas de solo satildeo erodidos a cada ano sendo 17 toneladas por hectare cultivadordquo

222 Deterioraccedilatildeo Quiacutemica

Dentro do que jaacute foi citado anteriormente a (1) irrigaccedilatildeo inadequada que saliniza

ou encharca o solo e o (2) uso de defensivos agriacutecolas contaminando e eliminando os

49

microorganismos satildeo soacute algumas causas deste tipo de degradaccedilatildeo Aleacutem destas tem-se a (3)

acidificaccedilatildeo e o (4) esgotamento do solo causando a perda de nutrientes Para Arauacutejo et al

(2008 p 25) ldquoa salinizaccedilatildeo pode ser resultado de manejo mal realizado da irrigaccedilatildeo da alta

concentraccedilatildeo de sais na aacutegua ou atenccedilatildeo indevida agrave drenagem Esta acarreta a salinizaccedilatildeo dos

solos especialmente em regiotildees aacuteridas por que as altas taxas de evaporaccedilatildeo estimulam o

processordquo E ainda por atividades humanas que elevam a evaporaccedilatildeo em solos com material

salino ou com lenccedilol freaacutetico salino (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25)

Segundo o PAN (BRASIL 2004 p 64) ldquoa irrigaccedilatildeo produz impactos

indesejaacuteveis em qualquer aacuterea semiaacuteridardquo se realizada de forma inadequada e sem o recurso

da drenagem Complementa ainda o documento ao dizer que

Um solo submetido agrave irrigaccedilatildeo estaacute salinizado quando a concentraccedilatildeo de sais nesse

terreno se eleva a ponto de prejudicar o rendimento econocircmico das culturas A

salinizaccedilatildeo do solo afeta a germinaccedilatildeo e a densidade das culturas bem como seu

desenvolvimento vegetativo reduzindo a produtividade das lavouras Nos casos

limites a salinizaccedilatildeo pode levar agrave morte generalizada das plantas inviabilizando o

cultivo das terras afetadas (BRASIL 2004 p 64)

Aleacutem disso o uso excessivo de agrotoacutexicos eacute tido como poluiccedilatildeo e pode levar agrave

reduccedilatildeo do potencial agriacutecola da terra Resiacuteduos industriais e urbanos tambeacutem podem poluir

terras agricultaacuteveis O esgotamento do solo pelo plantio excessivo de culturas sem promover

um pousio miacutenimo do terreno exaure os nutrientes daquela aacuterea Isso eacute comum onde a

agricultura eacute praticada em solos pobres ou moderadamente feacuterteis sem a aplicaccedilatildeo suficiente

de esterco ou fertilizante (ISRICUNEP 1991 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 25) E por fim

a acidez pode ser provocada quando se utiliza muitos fertilizantes aacutecidos ou em decorrecircncia

da maacute drenagem em alguns tipos de solo

223 Deterioraccedilatildeo Fiacutesica

Conhecidos pela compactaccedilatildeo do solo elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico e pelo

rebaixamento da superfiacutecie da terra (subsidecircncia) a esses tipos de degradaccedilatildeo natildeo se pode

deixar de somar uma causa precursora que eacute o desmatamento desmedido e irracional

deixando o solo nu e exposto agraves intempeacuteries do tempo Da mesma forma entende Cruz (1994

p 135-147 apud ARAUacuteJO et al 2008 p 35) ao afirmar que ldquoa remoccedilatildeo da cobertura vegetal

inicia ou acelera a erosatildeo do solo sob a accedilatildeo da chuva e do vento de igual modo a queimada

visando o controle de ervas estimula a lixiviaccedilatildeo e a perda do solordquo

50

A compactaccedilatildeo do solo como o resultado do uso de maacutequinas pesadas em solos

instaacuteveis bem como o pisoteio do gado que via de regra eacute agravado por um

sobrepastoreio da aacuterea O impacto das gotas de chuva provoca tambeacutem o selamento

e encrostamento do solo A elevaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico eacute ocasionada pelo

encharcamento da terra que por sua vez natildeo tem na mesma proporccedilatildeo a capacidade

de drenagem (ARAUacuteJO et al 2008 p 25)

23 A degradaccedilatildeo em Irauccediluba

Em Irauccediluba as praacuteticas agriacutecolas e a pecuaacuteria satildeo muito ofensivas aos recursos

naturais Isso se deve agrave capacidade de suporte do ambiente que natildeo eacute respeitada gerando

impactos e danos ambientais seacuterios e de caraacuteter praticamente irreversiacuteveis O sobrepastejo de

bovinos ovinos e caprinos o desmatamento e as queimadas deixam a regiatildeo com um niacutevel de

degradaccedilatildeo altiacutessimo ateacute porque suas condiccedilotildees naturais jaacute satildeo adversas E ainda haacute outro

fator agravante - o tempo de recuperaccedilatildeo natural tambeacutem natildeo eacute observado nem cumprido

fragilizando por demais o ambiente

Para Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 7) ldquoA introduccedilatildeo da pecuaacuteria no nuacutecleo de

Irauccediluba trouxe a tiracolo a agricultura e a extraccedilatildeo de madeira A primeira baseava-se no

desmatamento indiscriminado e na queimada geral E a segunda na coleta da lenha sem

reposiccedilatildeo florestalrdquo Desta forma a degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba estaacute desenhada por

1 Superpastejo que causa prejuiacutezos sensiacuteveis agrave vegetaccedilatildeo pelo consumo das

cascas dos troncos de aacutervores e arbustos e pela remoccedilatildeo das placircntulas das espeacutecies

arboacutereas e arbustivas Nessas condiccedilotildees mudanccedilas na composiccedilatildeo floriacutestica da

vegetaccedilatildeo podem resultar em virtude do desaparecimento das espeacutecies lenhosas

forrageiras o que em aacutereas de vegetaccedilatildeo degradada acelera o processo de

desertificaccedilatildeo Em aacutereas de caatinga o pastejo por ovinos induz mudanccedilas

significativas na composiccedilatildeo botacircnica do estrato herbaacuteceo com a reduccedilatildeo da

participaccedilatildeo das gramiacuteneas mesmo em condiccedilotildees de pastoreio moderado Nesse

contexto o sobrepastejo por ovinos pode resultar no desaparecimento das gramiacuteneas

e ao final de toda cobertura herbaacutecea da vegetaccedilatildeo expondo o solo aos efeitos da

erosatildeo (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 78)

2 Agricultura rudimentar que pratica o desmatamento e faz uso do fogo O

impacto deste sobre o ecossistema eacute onipresente e caracteriza-se pela queda da

produccedilatildeo agriacutecola pela degradaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa pela erosatildeo dos solos pela

perda da biodiversidade da flora e da fauna e pelo assoreamento e salinizaccedilatildeo dos

mananciais pela perda da resiliecircncia aumentando sua fragilidade diante das

variaccedilotildees climaacuteticas tiacutepicas das regiotildees semiaacuteridas Aleacutem disto os desmatamentos e

queimadas seguidos por um curto periacuteodo de pousio terminam por levar a vegetaccedilatildeo

a um disclimax dominado por arbustos uma vez que o banco de sementes das

arboacutereas praticamente desapareceu (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 918)

3 Manejo inadequado do solo associado ao relevo da regiatildeo Satildeo trecircs tipos de

solo que se destacam em Irauccediluba litoacutelicos planossolos e luvissolos Por conta da

declividade de 8 a 45 os agricultores optam pelas terras nas encostas para

implantar os roccedilados pois haacute um menor risco de perder a safra em funccedilatildeo do

alagamento comum nas terras planas do municiacutepio durante a eacutepoca das chuvas

Nestas condiccedilotildees as perdas de solo por erosatildeo satildeo assombrosas Aleacutem disto haacute a

erosatildeo nos planossolos provocada pelo sobrepastejo com perdas de solo superiores a

51

17 tha em uma uacutenica estaccedilatildeo das chuvas o que enfatiza a importacircncia da cobertura

vegetal na proteccedilatildeo contra a erosatildeo (apud SALES 2003) Como consequecircncia do

sobrepastejo continuado ao longo provavelmente de centenas de anos a erosatildeo

laminar jaacute removeu porccedilatildeo significativa do horizonte A expondo em alguns casos o

horizonte B textural Aleacutem disso houve uma exaustatildeo dos nutrientes do solo

principalmente do foacutesforo Outro fator que tambeacutem intensifica a degradaccedilatildeo eacute o

curtiacutessimo periacuteodo de repouso Estima-se em 50 anos o tempo necessaacuterio para que a

vegetaccedilatildeo da caatinga em um luvissolo que foi destruiacuteda pela queimada do roccedilado

volte pela sucessatildeo secundaacuteria ao cliacutemax original Ora na regiatildeo este periacuteodo estaacute

reduzido a cerca de oito anos Com isto natildeo haacute a recuperaccedilatildeo da fertilidade do solo e

a recomposiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo Isto porque a velocidade de crescimento das arboacutereas

da caatinga eacute muito variaacutevel (ARAUacuteJO FILHO E SILVA 2013 p 810)

Concluem portanto os autores Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 17) que ldquoas praacuteticas

rotineiramente adotadas do desmatamento e do fogo a exposiccedilatildeo do solo e a diminuiccedilatildeo do

periacuteodo de pousio tecircm induzido processos de degradaccedilatildeo mormente os de erosatildeordquo

231 O processo de desertificaccedilatildeo ndash Irauccediluba em evidecircncia

A desertificaccedilatildeo eacute um problema ambiental que assola vaacuterias partes do mundo e

vem sendo discutido desde 1977 quando em Nairoacutebi no Quecircnia aconteceu a Conferecircncia

sobre Desertificaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas ldquoA observaccedilatildeo desse processo se atribui ao cientista

Aubreville que em 1949 constatou o prolongamento da degradaccedilatildeo para o norte das zonas

mais aacuteridas do Saara e para as regiotildees semiaacuteridas e subuacutemidas do norte da Aacutefricardquo (ARAUacuteJO

et al 2008 p 26) Em 1992 na ECO 92 foi definido o conceito de desertificaccedilatildeo cuja

ocorrecircncia se daacute em aacutereas aacuteridas semiaacuteridas e subuacutemidas secas O grau de aridez eacute

estabelecido pela relaccedilatildeo PEtp que eacute a razatildeo entre a meacutedia da precipitaccedilatildeo total anual e a

evapotranspiraccedilatildeo potencial do mesmo periacuteodo metodologia esta desenvolvida por

Thornthwaite (1955) Desta forma definiu-se uma correspondecircncia entre o clima e o

resultado da relaccedilatildeo acima conforme mostra a tabela 3

Tabela 3 ndash Relaccedilatildeo de climas e iacutendices de aridez

CLIMA P ETP

Hiper-aacuterido lt 005

Aacuterido De 005 a 020

Semiaacuterido gt 020 a 050

Subuacutemido Seco gt 050 a 065

Subuacutemido Uacutemido gt 065

Fonte United Nations Environment Programme ndash UNEP (Programa

Ambiental das Naccedilotildees Unidas) 1992

52

Eacute interessante mencionar que o semiaacuterido brasileiro delimitado pela uacuteltima vez

em 1995 foi novamente demarcado a partir da iniciativa do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo

Nacional (MIN) que instituiu um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) envolvendo

departamentos empresas institutos agecircncias e ateacute bancos puacuteblicos para a readequaccedilatildeo dos

criteacuterios propostos pela Lei 782789 (BRASIL 1989c) Somente a inserccedilatildeo do municiacutepio na

aacuterea de abrangecircncia da extinta Superintendecircncia de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)

e a precipitaccedilatildeo meacutedia anual de ateacute 800 mm eram condiccedilotildees para enquadrar ou natildeo

determinado municiacutepio no semiaacuterido brasileiro (SUDENE 1990) Os novos paracircmetros satildeo

mais abrangentes pois aleacutem de considerar a precipitaccedilatildeo pluviomeacutetrica meacutedia anual inferior a

800 mm avaliam se o iacutendice de aridez do municiacutepio eacute de ateacute 05 ou se o risco de seca eacute maior

que 6011

Com a nova delimitaccedilatildeo em 2005 foram incorporados mais 102 municiacutepios aos

1031 jaacute classificados de forma que a aacuterea oficialmente semiaacuterida brasileira aumentou de

8923094 km2 para 9695894 km

2 ou seja um acreacutescimo de 866

12

A figura 4 ilustra o novo formato do semiaacuterido no Brasil E no Cearaacute foram

incorporados mais 16 totalizando 150 de um universo com 184 municiacutepios Isto significa

815 do estado e 132 de toda a regiatildeo semiaacuterida do paiacutes13

O quadro atual do semiaacuterido

cearense estaacute delineado na figura 5 a seguir

Figura 4 Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro

Fonte MIN (BRASIL 2005c)

11

Conferir Nova delimitaccedilatildeo do semiaacuterido brasileiro MI (BRASIL 2005c) 12

Idem 13

Ibidem

53

Figura 5 Regiatildeo semiaacuterida do Cearaacute

Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)

Com relaccedilatildeo ao processo de desertificaccedilatildeo no Brasil uma aacuterea de 900000 Kmsup2 eacute

atingida afetando direta ou indiretamente mais de 15 milhotildees de brasileiros natildeo existindo no

territoacuterio nacional outro problema ambiental que atinja tamanha aacuterea e tantas pessoas

(SUDENE 2000 apud IRAUCcedilUBA 2009) A regiatildeo nordeste por sua vez concentra as

Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) incluindo os espaccedilos semiaacuteridos e subuacutemidos

secos ambos de maior abrangecircncia fiacutesico-territorial vis-agrave-vis os outros espaccedilos naturais que

conformam e estruturam o Nordeste brasileiro (BRASIL 2004)

Pesquisadores apontam como principais causas de desertificaccedilatildeo no semiaacuterido

cearense a ocupaccedilatildeo desordenada do solo o desmatamento praacuteticas de queimadas (CEARAacute

2010b) Dentro desse raciociacutenio

Os estabelecimentos agropecuaacuterios ocupam o solo principalmente com lavouras

temporaacuterias e a criaccedilatildeo de animais Estas atividades muitas vezes satildeo executadas

sem preocupaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos e contribuem para

agravar o quadro de degradaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2010b p 103)

No mesmo sentido e no tocante agraves Aacutereas Susceptiacuteveis agrave Desertificaccedilatildeo (ASD) o

PAN (BRASIL 2004) destaca que as condiccedilotildees ambientais dessas aacutereas (principalmente as de

54

clima solo aacutegua e vegetaccedilatildeo) associadas agrave pressatildeo exercida sobre os recursos naturais pela

accedilatildeo antroacutepica (pressatildeo populacional formas inadequadas de uso e ocupaccedilatildeo do solo entre

outros) vecircm contribuindo para a deflagraccedilatildeo de processos de desertificaccedilatildeo em algumas de

suas sub-regiotildees Um dos motivos para isso eacute a combinaccedilatildeo entre pobreza e desigualdade de

forma que

Uma imensa massa de pequenos agricultores descapitalizados confinados em

pequenas parcelas de terras de tais aacutereas (via de regra de meacutedia ou baixa fertilidade

natural) dependentes de seu trabalho para a produccedilatildeo de alimentos para

autoconsumo de forragens para seus animais mas necessitando produzir excedentes

comercializaacuteveis tenderaacute naturalmente a sobreutilizar os recursos naturais

contribuindo dessa forma para agravar os processos de degradaccedilatildeo Nas ASD este

ciacuterculo vicioso eacute agravado pela ocorrecircncia de secas perioacutedicas que levam agrave perdas

significativas e recorrentes de produccedilatildeo e de renda Neste sentido as secas

potencializam o grau de degradaccedilatildeo levando a vulnerabilidade ambiental a niacuteveis

mais elevados Os efeitos das secas sobre a sauacutede e a inseguranccedila alimentar e

nutricional tambeacutem satildeo conhecidos e consideraacuteveis (BRASIL 2004 p 106)

Classificando a susceptibilidade dessas aacutereas Matallo Jr (1999) construiu uma

relaccedilatildeo entre a aptidatildeo agrave desertificaccedilatildeo em funccedilatildeo do iacutendice de aridez conforme se vecirc pela

tabela 4

Tabela 4 - Relaccedilatildeo de aridez e susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo

IacuteNDICE DE ARIDEZ SUSCEPTIBILIDADE Agrave

DESERTIFICACcedilAtildeO

005 a 020 Muito Alta

021 a 050 Alta

051 a 065 Moderada Fonte MATALLO JR (1999)

Nesse iacutenterim o municiacutepio de estudo do corrente trabalho tem iacutendice de aridez

conforme adotado pela UNEP de acordo com o que ilustra na figura 6

55

Figura 6 Iacutendice de Aridez (UNEP) do municiacutepio de Irauccediluba

O Cearaacute por sua vez eacute ldquoo Estado com a maior aacuterea relativa sob niacuteveis altos de

desertificaccedilatildeordquo (LEMOS 1995 apud FOLHES e VIANA 2001 p 5) Seu processo de

ocupaccedilatildeo e uso de terras via de regra foi marcado pela apropriaccedilatildeo dos recursos naturais de

forma a degradaacute-los Esta foi uma das causas para a concepccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Estadual

de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (PAE) cujo objetivo eacute

Contribuir para a convivecircncia equilibrada com o semiaacuterido por meio da

sustentabilidade ambiental do bioma caatinga a partir de poliacuteticas ambientais

sociais e econocircmicas focadas na reduccedilatildeo da pobreza A gestatildeo do Programa

pressupotildee a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo

democraacutetico e a participaccedilatildeo da sociedade (CEARAacute 2010b p 20)

No Estado existem trecircs nuacutecleos em processo de desertificaccedilatildeo Localizam-se no

Sertatildeo dos Inhamuns Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte e Sertatildeo de Jaguaribe abrangendo

respectivamente os municiacutepios de Arneiroz Independecircncia e Tauaacute Canindeacute Irauccediluba

Miraiacutema e Santa Quiteacuteria Jaguaretama Jaguaribara Jaguaribe Alto Santo e Morada Nova

(CEARAacute 2010b) Totalizam portanto 12 cidades com os maiores iacutendices de degradaccedilatildeo

ambiental do estado portanto susceptiacuteveis agrave desertificaccedilatildeo num grau muito grave como se

pode ver pelas figuras 7 e 8

No entanto o presente trabalho se ateraacute tatildeo somente ao municiacutepio de Irauccediluba

abrangido pelo nuacutecleo Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte

Fonte NOLEcircTO (2005)

56

Figura 7 Aacutereas degradadas susceptiacuteveis agrave Figura 8 Municiacutepios cearenses susceptiacuteveis agrave

desertificaccedilatildeo no Cearaacute desertificaccedilatildeo

Fonte IPECE (CEARAacute 2010a) Fonte IPECE (CEARAacute 2010a)

O PAE (CEARAacute 2010b) utilizou para a formulaccedilatildeo do iacutendice de susceptibilidade

agrave desertificaccedilatildeo indicadores sociais que apontam a forma de ocupaccedilatildeo e tudo que dela

decorre e indicadores econocircmicos que representam as atividades humanas exercidas no

municiacutepio Vale ressaltar que as caracteriacutesticas do meio ambiente da regiatildeo natildeo foram

ignoradas muito pelo contraacuterio elas definiram as aacutereas classificadas como susceptiacuteveis agrave

desertificaccedilatildeo A lista abaixo demonstra os criteacuterios mensurados e os aspectos ambientais

observados

Indicadores sociais

1 Proporccedilatildeo da aacuterea das grandes propriedades na aacuterea total dos imoacuteveis rurais em

2005

2 Razatildeo entre alfabetizados e natildeo-alfabetizados de 5 ou mais anos de idade em

2000

3 Taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais de idade em 2000

(percentagem)

4 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino fundamental da populaccedilatildeo de 7 a 14

anos de idade em 2005

5 Taxa de evasatildeo no ensino fundamental em 2005

57

6 Taxa de escolarizaccedilatildeo liacutequida no ensino meacutedio da populaccedilatildeo de 15 a 17 anos de

idade em 2005

7 Taxa de evasatildeo escolar no ensino meacutedio em 2005

8 Densidade demograacutefica em 2006 (habitanteskm2)

Indicadores econocircmicos

1 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de carvatildeo vegetal pela aacuterea do municiacutepio em 2006

(tonha)

2 Razatildeo da quantidade extraiacuteda de lenha pela aacuterea do municiacutepio em 2006 (m3ha)

3 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)

4 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais totais em 2005 (haimoacutevel)

5 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como pequena

propriedade em 2005 (haimoacutevel)

6 Aacuterea meacutedia em hectares dos imoacuteveis rurais classificados como minifuacutendio em

2005 (haimoacutevel)

7 Razatildeo do consumo de energia eleacutetrica rural por consumidores de energia eleacutetrica

rural em 2005

8 Proporccedilatildeo de induacutestrias de transformaccedilatildeo no total de empresas industriais ativas

em 2005

9 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de feijatildeo em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

10 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com arroz em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

11 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida com milho em 2006 na aacuterea total dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

12 Proporccedilatildeo da aacuterea colhida de mandioca em 2006 na aacuterea total dos

estabelecimentos agropecuaacuterios em 1996

13 Razatildeo do efetivo de bovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

14 Razatildeo do efetivo de ovinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

15 Razatildeo do efetivo de caprinos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

16 Razatildeo do efetivo de suiacutenos em 2006 pela aacuterea dos estabelecimentos

agropecuaacuterios em 1996

17 Produto Interno Bruto per capita a preccedilos de mercado em 2004

Caracteriacutesticas ambientais

1 Degradaccedilatildeo da cobertura vegetal

2 Assoreamento dos rios

3 Pastoreio excessivo

4 Perda da biodiversidade

5 Perda da capacidade produtiva do solo

6 Baixa relaccedilatildeo entre capacidade produtiva dos recursos naturais e sua capacidade

de recuperaccedilatildeo

A anaacutelise dos 25 paracircmetros entremeados com as condiccedilotildees ambientais estaacute

devidamente compilada no Quadro 2 ndash Caracterizaccedilatildeo das ASDs nos Sertotildees de Irauccediluba e

Centro-Norte do PAE (CEARAacute 2010b) As constataccedilotildees ensejam problemas no meio

ambiente a partir dos inuacutemeros gargalos sociais e econocircmicos como por exemplo a produccedilatildeo

agriacutecola em lavouras temporaacuterias na maior proporccedilatildeo dos estabelecimentos rurais o grande

iacutendice de pobres da regiatildeo o consumo de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo cada vez maior

58

Natildeo se pode deixar de mencionar os problemas ambientais que deixam a aacuterea em

questatildeo muito mais vulneraacutevel aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas e da desertificaccedilatildeo Satildeo

eles degradaccedilatildeo dos solos e da cobertura vegetal primaacuteria o sobrepastoreio o

desencadeamento e expansatildeo de processos erosivos acelerados com ocorrecircncia muito

frequente de afloramentos rochosos e chatildeos pedregosos perda de solos e biodiversidade

empobrecida baixa frequecircncia de espeacutecies lenhosas da caatinga e processos erosivos muito

ativos em funccedilatildeo do aumento da torrencialidade do escoamento superficial

Assim conclui-se que natildeo haacute como dissociar o quadro social e econocircmico das

nuances ambientais de um municiacutepio ou regiatildeo

Em se tratando da ASD nos Sertotildees de Irauccediluba e Centro-Norte faz-se necessaacuterio

expor os nuacutemeros encontrados e as respectivas conclusotildees a partir dos levantamentos feitos

pelo PAE (CEARAacute 2010b) O Iacutendice Econocircmico e Social de Susceptibilidade agrave

Desertificaccedilatildeo (IESSD) ilustrado pelas figuras 9 e 10 por exemplo aponta as possiacuteveis causas

e os principais agentes causadores do processo de desertificaccedilatildeo sem quantificar ou mensurar

seu niacutevel

Figura 9 Contribuiccedilatildeo dos indicadores sociais no Iacutendice Social de Susceptibilidade agrave

Desertificaccedilatildeo (ISSD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)

Fonte PAE (CEARAacute 2010b)

0

5

10

15

20

25

30

Contribuiccedilatildeo no ISSD ()

59

Figura 10 Contribuiccedilatildeo dos indicadores econocircmicos no Iacutendice Econocircmico de Susceptibilidade agrave

Desertificaccedilatildeo (IESD) na ASD Irauccediluba e Centro-Norte (Adaptado)

Fonte PAE (CEARAacute 2010b)

Assim analisando os dois graacuteficos acima eacute possiacutevel perceber que sob o aspecto

social a concentraccedilatildeo de terras e a educaccedilatildeo datildeo a maior contribuiccedilatildeo ao iacutendice de

susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo enquanto que no vieacutes econocircmico destacam-se as aacutereas

destinadas a imoacuteveis rurais e o PIB ldquoper capitardquo Eacute um cenaacuterio deveras preocupante visto que

aquela regiatildeo jaacute eacute dotada de condiccedilotildees naturais adversas Uma populaccedilatildeo sem educaccedilatildeo

inserida num niacutevel de pobreza e ocupante de grande parte da zona rural que eacute onde as

atividades potencialmente degradadoras satildeo praticadas traduz uma combinaccedilatildeo

extremamente alarmante pois fazem uso de praacuteticas predatoacuterias e potencializam a

susceptibilidade agrave desertificaccedilatildeo

Segundo o PAE (CEARAacute 2010b p 123) nessa regiatildeo satildeo observadas ldquomarcas

configuradas de desertificaccedilatildeo como o elevado estaacutegio de degradaccedilatildeo do solo comprometendo

os processos naturais de sucessatildeo processos erosivos acelerados perda de solo e

biodiversidade espeacutecies lenhosas rarefeitasrdquo

05

1015202530354045

Contribuiccedilatildeo no IESD ()

60

Sob um olhar mais aprofundado voltado agrave Irauccediluba haacute maior destaque para as

atividades de agricultura e pecuaacuteria Lavouras temporaacuterias como feijatildeo milho e mandioca satildeo

as mais praticadas pelo pequeno agricultor A figura 11 aponta o percentual de

estabelecimentos ocupados com atividades agropecuaacuterias no municiacutepio

Figura 11 Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios Adaptado

Fonte PAE (CEARAacute 2010b)

Com relaccedilatildeo agrave extraccedilatildeo legalizada de madeira no municiacutepio de Irauccediluba o IBGE

informa que tanto a produccedilatildeo de carvatildeo como o corte de lenha entre 2004 a 2011 foi estaacutevel

Aquela girou em torno de 71 toneladas com um custo variaacutevel de R$ 1100000 a 2300000

ao ano enquanto que este ficou na casa dos 10000 m3 resultando num rendimento que

oscilou de R$ 4200000 a R$ 5700000 anuais14

Por fim Irauccediluba embora representando um dos quatro nuacutecleos de desertificaccedilatildeo

do Nordeste natildeo apresenta a pior condiccedilatildeo socioeconocircmica considerando a maioria dos

indicadores analisados (CEARAacute 2010b) Desta forma conclui-se que estes aspectos natildeo

determinam a desertificaccedilatildeo mas influenciam principalmente se as condiccedilotildees ambientais satildeo

limitantes Assim uma economia e uma sociedade deficientes inseridas num ambiente fraacutegil

natildeo tecircm como deixar de gerar degradaccedilatildeo

14

Conferir em lthttpwwwibgegovbrcidadesatxtrasperfilphpcodmun=230610ampsearch=ceara|iraucubagt

0

10

20

30

40

50

60

Irauccediluba

61

24 Formas de controle e recuperaccedilatildeo do processo de degradaccedilatildeo

Embora o quadro de degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba seja por demais

preocupante ainda haacute condiccedilotildees para sua reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica a partir de

teacutecnicas e praacuteticas correspondentes ao tipo de solo ao estaacutegio de degradaccedilatildeo da aacuterea e ao

histoacuterico do uso da terra (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013) Continuam os autores

Assim considerando as extensotildees sob o planossolo que ocupam uma aacuterea total de

27321 ha duas recomendaccedilotildees podem ser propostas a regeneraccedilatildeo natural e a

adubaccedilatildeo organo-mineral A regeneraccedilatildeo natural eacute um processo muito lento e no

caso do planossolo de Irauccediluba dificilmente proporcionaraacute condiccedilotildees para retorno agrave

produtividade esperada [](ARAUacuteJO FILHO 1992) Entatildeo estaacute claro que a

recuperaccedilatildeo natural via pousio eacute muito lenta mas constitui uma opccedilatildeo em muitos

casos A aplicaccedilatildeo de adubo orgacircnico (estercos) eacute outra alternativa de recuperaccedilatildeo

pastoril que poderia ser utilizada no nuacutecleo de Irauccediluba Assim a fertilizaccedilatildeo com

foacutesforo constitui uma boa opccedilatildeo para a recuperaccedilatildeo ecoloacutegica e econocircmica das

pastagens degradadas nos planossolos do nuacutecleo de Irauccediluba (ARAUacuteJO FILHO e

SILVA 2013 p 1013)

Outros fatores que envolvem o processo de controle e recuperaccedilatildeo da degradaccedilatildeo

em Irauccediluba segundo Arauacutejo Filho e Silva (2013 p 15) eacute ldquoa fixaccedilatildeo da agricultura no

terreno a sustaccedilatildeo do desmatamento e do uso do fogo visando agrave mitigaccedilatildeo dos impactos

antroacutepicos negativos a recuperaccedilatildeo dos agroecossistemas o aumento da produtividade

agriacutecola e da renda familiarrdquo Para tanto os mesmos autores sugerem que

A agrossilvicultura eacute com certeza o modelo de exploraccedilatildeo da terra mais apropriado

Dentre os modelos de sistemas agroflorestais o silvopastoril e o agrossilvipastoril

seriam os mais indicados para as condiccedilotildees de Irauccediluba O primeiro associa o

manejo florestal com a exploraccedilatildeo pastoril e o segundo associa o manejo florestal a

exploraccedilatildeo pastoril e a agricultura formando o sistema lavoura-pecuaacuteria-floresta O

modelo silvopastoril pode ser estabelecido seja para ter a madeira como o principal

produto seja para ter na exploraccedilatildeo animal a principal atividade (ARAUacuteJO FILHO

e SILVA 2013 p 15)

[]

A opccedilatildeo pela agrossilvicultura como a alternativa mais apropriada para a

reabilitaccedilatildeo dos solos de potencial agriacutecola mais elevado fundamenta-se na garantia

que este sistema de uso da terra traz a seguranccedila ambiental e a seguranccedila alimentar

No primeiro caso o solo eacute protegido contra a erosatildeo pelo acuacutemulo de serrapilheira

tem sua fertilidade reposta e sua biologia ativada pela deposiccedilatildeo da mateacuteria

orgacircnica Os recursos hiacutedricos satildeo beneficiados pela manutenccedilatildeo da mata ciliar

evitando o assoreamento das nascentes e reservatoacuterios e pela reduccedilatildeo das perdas de

aacutegua pelo solo A flora com a sustaccedilatildeo das queimadas e dos desmatamentos tem sua

biodiversidade incrementada e integraccedilatildeo das aacutervores no sistema produtivo

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2021)

Assim sendo o principal objetivo da recuperaccedilatildeo de uma aacuterea degradada deve ser

a recomposiccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica do solo Isto porque para que se restabeleccedila a

62

funcionalidade do ecossistema eacute fundamental a revitalizaccedilatildeo da biologia do solo principal

responsaacutevel pela circulaccedilatildeo de nutrientes15

Aleacutem disso continuam os mesmos autores

O aumento da mateacuteria orgacircnica e a formaccedilatildeo de uma cobertura morta sobre o solo o

protegeratildeo contra a erosatildeo laminar e melhoraratildeo sua capacidade de retenccedilatildeo de

aacutegua [] Os nutrientes de ecossistemas florestais de clima tropical se concentram

na biomassa e natildeo no solo como nos de clima temperado por isso os meacutetodos de

exploraccedilatildeo dos solos deveriam estar fundamentados no menor distuacuterbio possiacutevel do

meio bioloacutegico e no reforccedilo do aporte de mateacuteria orgacircnica (ARAUacuteJO FILHO e

SILVA 2013 p 710)

Nesse sentido para ambientes tropicais os sistemas de produccedilatildeo agroflorestais

(SAF) estatildeo sendo avaliados e propostos como alternativas ecologicamente sustentaacuteveis de

exploraccedilatildeo O uso de espeacutecies arboacutereas constitui a garantia de manter ativa a circulaccedilatildeo de

nutrientes e o aporte significativo de mateacuteria orgacircnica condiccedilatildeo essencial para se cultivar de

maneira continuada os solos tropicais16

No caso do bioma caatinga e de ambiente semiaacuterido segundo Arauacutejo Filho e silva

(2013) trecircs recomendaccedilotildees fundamentais garantem quando seguidas a sustentabilidade das

tecnologias de manipulaccedilatildeo

Preservaccedilatildeo de ateacute 400 aacutervores por hectare ou o equivalente a 40 de cobertura

utilizaccedilatildeo maacutexima de 60 da forragem disponiacutevel e preservaccedilatildeo da mata ciliar em

toda a malha de drenagem da pastagem Esta tecnologia jaacute vem sendo utilizada pelos

produtores na regiatildeo de Irauccediluba desde o iniacutecio da deacutecada de 1980 envolvendo

uma aacuterea de cerca de 3000 ha (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 1617)

Outras maneiras de controle e combate do processo de degradaccedilatildeo cuja iniciativa

vem do governo em suas diferentes formas e esferas satildeo os programas e as poliacuteticas puacuteblicas

a criaccedilatildeo de leis e normas sobre o tema a disponibilidade de recursos a fiscalizaccedilatildeo dos

oacutergatildeos competentes dentre outros

Ilustrando o primeiro exemplo em abril de 2011 a Superintendecircncia Estadual do

Meio Ambiente (SEMACE) e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) celebraram um convecircnio

de assistecircncia teacutecnica e financeira para a realizaccedilatildeo da pesquisa ldquoRevitalizaccedilatildeo da cobertura

vegetal nativa atraveacutes da recomposiccedilatildeo das matas ciliares e enriquecimento das aacutereas

destinadas a compor reserva legal dos imoacuteveis rurais do municiacutepio de Irauccedilubardquo Para a

consecuccedilatildeo dos objetivos propostos foi concedido um montante de R$ 4920000 (quarenta e

nove mil e duzentos reais) com fins de recuperar a qualidade do meio biofiacutesico atraveacutes do

plantio de essecircncias florestais nativas e plantas adaptadas agraves condiccedilotildees edafoclimaacuteticas da

aacuterea de abrangecircncia do projeto para

15

Como recomenda Lima (2009) In Arauacutejo Filho e Silva (2013) 16

Idem

63

1 Minimizar os impactos ambientais adversos causados pelos sistemas tradicionais

de exploraccedilatildeo econocircmica

2 Implantar um viveiro florestal permanente destinado agrave produccedilatildeo de mudas

nativas e adaptadas agraves condiccedilotildees locais associando-lhe atividades educativas e

de natureza formativa para o puacuteblico interessado

3 Incentivar o cultivo de essecircncias florestais nativas arboacutereas e frutiacuteferas que

contribuiratildeo para gerar alternativas de diversificaccedilatildeo de renda e por conseguinte

a melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo do municiacutepio

4 Fomentar a produccedilatildeo e o plantio de essecircncias florestais nativas ameaccediladas de

extinccedilatildeo

5 Viabilizar a recomposiccedilatildeo de matas ciliares dentro dos limites de abrangecircncia da

aacuterea das bacias hidrograacuteficas dos recursos hiacutedricos naturais denominados de

Riacho Aracatiaccedilu e Riacho Curu e do principal reservatoacuterio denominado de

Accedilude Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu seja em aacutereas de domiacutenio puacuteblico seja em

aacutereas de domiacutenio privado

6 Estabelecer a recuperaccedilatildeo da cobertura vegetal nativa de aacutereas de reserva legal

das propriedades rurais

O prazo do convecircnio era de doze meses ou seja ateacute abril de 2012 todavia foi

renovado por aditivo ateacute abril de 2013 Seu lanccedilamento soacute se deu em dezembro de 2011 e ateacute

agosto de 2012 o viveiro florestal ainda natildeo havia sido construiacutedo mas palestras com os

temas Desmatamento e Reserva Legal Fogo Desmatamento e Preservaccedilatildeo dos Accediludes

Resiacuteduos Soacutelidos Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal Aacuterea de

Preservaccedilatildeo Permanente (APP) e Reserva Legal foram ministradas pela SEMACE

Infelizmente nada mais foi feito pois dificuldades como a burocracia com o banco

financiador e a seca que assola o municiacutepio inviabilizando a produccedilatildeo e o plantio das mudas

levaram agrave extinccedilatildeo do convecircnio uma vez que seu prazo natildeo foi renovado numa segunda

oportunidade O recurso investido foi devolvido ao BNB e natildeo haacute qualquer previsatildeo de

retomada do projeto

Natildeo se pode deixar de registrar a indignaccedilatildeo que esse desfecho causa naqueles

que estudam e buscam uma saiacuteda Muitas vezes se natildeo todas as vezes ela existe mas eacute

deveras negligenciada ou pouco valorizada O que eacute que isso O Brasil eacute um paiacutes rico natildeo

falta recurso o que muito falta eacute vontade coragem e preferecircncia por aquilo que se deve

fazer Isto eacute um ultraje ao homem do campo que humilde e inocentemente espera confiante

em alguma providecircncia de seus representantes ou por quem faz as suas vezes

De modo diverso as normas 43 e 44 de 2005 (BRASIL 2005 a b) e a 512006

(BRASIL 2006a) que seratildeo explanadas no item 331 criadas pelo INCRA satildeo outras

medidas parecidas com o convecircnio citado acima pois tambeacutem foram elaboradas com o intuito

de recuperar e conservar os recursos naturais em aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e de

64

reserva legal mesmo sendo especiacuteficas para projetos de assentamento agraacuterio federal Atraveacutes

delas um determinado valor pode ser cedido por aquele oacutergatildeo e destinado agraves famiacutelias

assentadas para promoverem agrave implantaccedilatildeo de um projeto de recuperaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo

Como Poliacuteticas Puacuteblicas em niacutevel local e estadual que englobam o problema da

degradaccedilatildeo ambiental amplamente aqui discutido inclusive o mais seacuterio deles que eacute a

desertificaccedilatildeo destaca-se o Plano de Accedilatildeo Municipal de Combate agrave Desertificaccedilatildeo de

Irauccediluba (IRAUCcedilUBA 2009) e o Programa de Accedilatildeo Estadual de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e

Mitigaccedilatildeo dos Efeitos da Seca (CEARAacute 2010b) O primeiro levou nove anos para se tornar

poliacutetica puacuteblica e contou com recursos do fundo de apoio a iniciativas locais de combate agrave

desertificaccedilatildeo do Programa de Accedilatildeo Nacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo e Mitigaccedilatildeo dos

Efeitos da Seca (BRASIL 2004) Sua funccedilatildeo eacute orientar e desenvolver accedilotildees no sentido de

controlar e prevenir o avanccedilo da desertificaccedilatildeo e quando possiacutevel recuperar aacutereas degradadas

para o uso produtivo ou seja alcanccedilar o desenvolvimento sustentaacutevel nas aacutereas sujeitas agrave seca

e a desertificaccedilatildeo do Municiacutepio Como objetivos baacutesicos estatildeo as contribuiccedilotildees para

1 A formulaccedilatildeo do planejamento de uso sustentaacutevel dos recursos naturais do

Municiacutepio

2 A melhoria da produtividade e produccedilatildeo agriacutecola nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e

desertificaccedilatildeo

3 A reduccedilatildeo da vulnerabilidade e melhoria da qualidade de vida das populaccedilotildees

residentes nas aacutereas susceptiacuteveis agrave seca e agrave desertificaccedilatildeo

4 A articulaccedilatildeo de accedilotildees setoriais do governo (em niacutevel federal estadual e

municipal) com vista agrave sinergia dos processos de planejamento

5 A melhoria da capacidade de enfrentamento dos problemas de desertificaccedilatildeo e

seca por parte das populaccedilotildees locais (IRAUCcedilUBA 2009 p 24)

O PAE (CEARAacute 2010b) em seu objetivo global e em termos gerais natildeo eacute muito

diferente do PAM (IRAUCcedilUBA 2009) pois visa contribuir para a convivecircncia com o

semiaacuterido e sustentabilidade ambiental do bioma caatinga Busca promover poliacuteticas

ambientais sociais e econocircmicas para a reduccedilatildeo da pobreza procurando em sua

administraccedilatildeo a integraccedilatildeo institucional a descentralizaccedilatildeo gerencial o diaacutelogo democraacutetico

e a participaccedilatildeo da sociedade E recorre agrave negociaccedilatildeo transparente e responsaacutevel de conflitos

como forma privilegiada de superar as diferenccedilas de uso dos recursos naturais

25 Degradaccedilatildeo ambiental na legislaccedilatildeo brasileira

A lei 6938 (BRASIL 1981) promulgada em 1981 foi a primeira norma juriacutedica

tratando da temaacutetica ambiental no Brasil Como bem diz Milareacute (2009) ela tem um caraacuteter

65

inovador pois sua implementaccedilatildeo seus resultados assim como a estabilidade e a efetividade

que denota constituem um salto de qualidade na vida puacuteblica brasileira

Com nascedouro um tanto quanto isolado a lei 693881 (BRASIL 1981)

instituiu a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente para a preservaccedilatildeo melhoria e recuperaccedilatildeo da

qualidade ambiental propiacutecia agrave vida visando assegurar no Paiacutes condiccedilotildees ao

desenvolvimento soacutecioeconocircmico aos interesses da seguranccedila nacional e agrave proteccedilatildeo da

dignidade da vida (artigo 2ordm) Tais objetivos estatildeo baseados em princiacutepios norteadores dos

quais se destacam para a presente pesquisa a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas (inciso VIII) e a

proteccedilatildeo de aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX)

Instrumentalizando a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente quanto agrave degradaccedilatildeo

ambiental existem as penalidades disciplinares ou compensatoacuterias ao natildeo cumprimento das

medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo ou correccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental conforme o artigo

9ordm inciso IX da Lei 693881 (BRASIL 1981) Em termos de sanccedilatildeo o artigo 14 disciplina

que os danos causados pela degradaccedilatildeo da qualidade ambiental sujeitaratildeo os transgressores agrave

multa simples ou diaacuteria agrave perda ou restriccedilatildeo de incentivos e benefiacutecios fiscais concedidos

pelo Poder Puacuteblico agrave perda ou suspensatildeo de participaccedilatildeo em linhas de financiamento em

estabelecimentos oficiais de creacutedito e agrave suspensatildeo de sua atividade

Para evitar a sanccedilatildeo pratica-se a prevenccedilatildeo e uma forma de prevenir a degradaccedilatildeo

eacute o licenciamento ambiental conforme preconiza o artigo 10 daquela mesma lei O natildeo

cumprimento disto enseja o enquadramento do representante da atividade ou do

estabelecimento no artigo 60 da Lei 960598 (BRASIL 1998) que versa sobre crimes

ambientais

Art 10 A construccedilatildeo instalaccedilatildeo ampliaccedilatildeo e funcionamento de estabelecimentos e

atividades utilizadores de recursos ambientais efetiva ou potencialmente poluidores

ou capazes sob qualquer forma de causar degradaccedilatildeo ambiental dependeratildeo de

preacutevio licenciamento ambiental (BRASIL 1981 p 7)

Art 60 Construir reformar ampliar instalar ou fazer funcionar em qualquer parte

do territoacuterio nacional estabelecimentos obras ou serviccedilos potencialmente

poluidores sem licenccedila ou autorizaccedilatildeo dos oacutergatildeos ambientais competentes ou

contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes Pena - detenccedilatildeo de um a seis meses ou multa ou ambas as penas cumulativamente

(BRASIL 1998 p 12)

Outra previsatildeo salutar na Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente eacute o dever que

entidades e oacutergatildeos de financiamento e incentivos governamentais tecircm de condicionar a

aprovaccedilatildeo de projetos financiaacuteveis ao licenciamento ambiental Aleacutem disto devem constar em

tais projetos a realizaccedilatildeo de obras e aquisiccedilatildeo de equipamentos destinados ao controle de

degradaccedilatildeo ambiental e a melhoria da qualidade do meio ambiente (artigo 12 paraacutegrafo

66

uacutenico) Isto tudo porque a instituiccedilatildeo que financia atividades eou empreendimentos que por

ventura causem algum dano tambeacutem se tornam corresponsaacuteveis pelo passivo ambiental

respondendo perante os oacutergatildeos competentes e os guardiatildees da lei

Por fim eacute pertinente mencionar que toda accedilatildeo ou omissatildeo prevista na legislaccedilatildeo

ambiental brasileira seja nas leis que criam diretrizes como nas que preveem sanccedilotildees visa o

combate o controle a reparaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo da degradaccedilatildeo aos bens naturais como um

todo O impasse eacute existir inuacutemeras normas distintas que dispotildeem sobre vaacuterios recursos

ambientais e que satildeo criadas em eacutepocas diferentes como por exemplo o Coacutedigo Florestal

(BRASIL 2012) o Coacutedigo de Caccedila (BRASIL 1967a) o Coacutedigo Mineraacuterio (BRASIL

1967b) o Coacutedigo de Pesca (BRASIL 2009) o Coacutedigo de Aacuteguas (BRASIL 1934a) a Poliacutetica

Nacional de Recursos Hiacutedricos (BRASIL 1997) o Programa Nacional de controle da

qualidade do ar (BRASIL 1989a) dentre outras O ideal eacute que houvesse a reuniatildeo de todos os

dispositivos em uma legislaccedilatildeo soacute como o fez a lei de crimes ambientais que versa sobre

infraccedilotildees cometidas aos bens naturais apontados pelas diversas normas citadas

Em niacutevel estadual o Cearaacute dispotildee de um arcabouccedilo legal que reflete um

pouco o que jaacute estaacute disposto nas leis federais no entanto cabe aqui citar algumas normas

pertinentes ao assunto estudado

A Resoluccedilatildeo nordm 092003 (CEARAacute 2003) do Conselho Estadual do Meio

Ambiente (COEMA) estabeleceu a compensaccedilatildeo ambiental como forma de prevenir eou

obrigar o poluidorusuaacuterio pagador ou degradador a indenizar os danos causados em

decorrecircncia da utilizaccedilatildeo de recursos naturais para fins econocircmicos Trata-se de medida

arrecadatoacuteria anterior ao processo de licenciamento ambiental e condicionada ao firmamento

de um Termo de Compromisso A supracitada norma definiu percentual de 05 a ser recolhido

com base no valor do empreendimento a ser implantado A destinaccedilatildeo dos valores recolhidos

seria via de regra a Unidades de Conservaccedilatildeo

A Lei Complementar nordm 482004 (CEARAacute 2004) criou o Fundo e o Conselho

Estadual Gestor do Meio Ambiente (FEMA) onde uma de suas finalidades eacute o ressarcimento

da coletividade por danos causados ao meio ambiente Reza o artigo 10 que qualquer cidadatildeo

pode propor projetos relativos agrave reconstituiccedilatildeo reparaccedilatildeo preservaccedilatildeo e prevenccedilatildeo do meio

ambiente A dita lei foi regulamentada pelo Decreto Estadual nordm 277192005 (CEARAacute 2005)

que por sua vez dispocircs accedilotildees programas planos e projetos para a melhoria e recuperaccedilatildeo da

qualidade ambiental no Estado do Cearaacute Agrave pertinecircncia da presente pesquisa cabe destacar

uma diretriz do FEMA prevista no inciso VIII do artigo 3ordm daquele Decreto

67

Artigo 3ordm

[]

VIII - Promover a proteccedilatildeo da biodiversidade e dos ecossistemas associados e aacutereas

ameaccediladas de degradaccedilatildeo atraveacutes da preservaccedilatildeo conservaccedilatildeo e administraccedilatildeo de

biomas representativos bem assim da recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas

possibilitando melhor controle de atividades potencialmente poluidoras nos termos

da legislaccedilatildeo ambiental (CEARAacute 2005 p 2)

Eacute essencial citar a Lei 1248895 (CEARAacute 1995) que dispotildee sobre a Poliacutetica

Florestal do Estado do Cearaacute Um de seus objetivos guarda relaccedilatildeo direta com este trabalho

qual seja promover a recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas e em processos de degradaccedilatildeo

especialmente nas aacutereas de preservaccedilatildeo permanente e reserva legal bem como proteger as

aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo (inciso IX do artigo 3ordm) Para tanto um dos instrumentos

previsto e deveras necessaacuterio para a consecuccedilatildeo de tais fins eacute a fiscalizaccedilatildeo a aplicaccedilatildeo de

penalidades accedilotildees disciplinares e compensatoacuterias das medidas necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo dos

recursos naturais ou a correccedilatildeo da degradaccedilatildeo do meio ambiente (inciso XI do artigo 4ordm)

E por fim eacute cabiacutevel mencionar a Lei 141982008 (CEARAacute 2008) pois institui a

Poliacutetica Estadual de Combate e Prevenccedilatildeo agrave Desertificaccedilatildeo e tem por base a Convenccedilatildeo

Internacional de Combate agrave Desertificaccedilatildeo nos Paiacuteses afetados por Seca Grave eou

Desertificaccedilatildeo Como jaacute mencionado no Cearaacute existem trecircs nuacutecleos com aacutereas susceptiacuteveis agrave

desertificaccedilatildeo e nada mais apropriado que o Estado dispor de uma legislaccedilatildeo proacutepria sobre o

tema Diante disto destacam-se os seguintes dispositivos

Art 1ordm Institui a Poliacutetica Estadual de Prevenccedilatildeo e Combate agrave Desertificaccedilatildeo a qual

tem por objetivos

[]

III - instituir mecanismos de proteccedilatildeo conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da flora fauna e

de solos degradados nas aacutereas de risco ou impactadas pela desertificaccedilatildeo

[]

Art 3ordm Cumpre ao Poder Puacuteblico

I - diagnosticar o avanccedilo do processo de degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo ambiental nas

aacutereas afetadas

II - definir um plano de contingecircncia para mitigaccedilatildeo dos efeitos da degradaccedilatildeo

ambiental

[]

XI - estimular o desenvolvimento de agroinduacutestrias baseadas em alimentos

ambientalmente e culturalmente adaptados ao meio ambiente

[]

XIV - estimular a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente

e de Reserva Legal []

[]

Art 5ordm No tocante agrave agricultura irrigada o Poder Puacuteblico deveraacute

[]

II - diagnosticar as aacutereas cujos solos sejam susceptiacuteveis agrave salinizaccedilatildeo e acuacutemulo de

compostos de soacutedio e fomentar a recuperaccedilatildeo de solos afetados por salinizaccedilatildeo e

acuacutemulo de compostos de soacutedio

Art 6ordm No tocante agrave agricultura sequeiro o Poder Puacuteblico deveraacute

[]

68

II - incentivar o manejo sustentaacutevel dos recursos naturais apoiando o

desenvolvimento de sistemas agroflorestais e agrosilvopastoris diversificados e

integrados como forma de conciliar a recuperaccedilatildeo florestal e as atividades agriacutecolas

(CEARAacute 2008 p 1 - 3)

251 Lei ambiental de Irauccediluba

O municiacutepio de Irauccediluba criou sua proacutepria Poliacutetica Ambiental a partir da Lei

5652007 (IRAUCcedilUBA 2007) Nela estatildeo dispostos princiacutepios e instrumentos de accedilatildeo que

visam agrave qualidade ambiental em seus diferentes aspectos Felizmente a norma natildeo deixou de

fora as aacutereas de reserva legal pelo contraacuterio tratou do tema em uma seccedilatildeo especiacutefica

composta pelos artigos 57 e 58

Art 57 - A reserva legal eacute requisito essencial ao exerciacutecio legiacutetimo do direito de

propriedade na aacuterea rural e fundamental para a proteccedilatildeo do meio ambiente

ecologicamente equilibrado e da biodiversidade cumprindo funccedilotildees do interesse

coletivo e individual do proprietaacuterio

Art 58 - A reserva legal eacute a aacuterea de no miacutenimo 20 (vinte por cento) localizada no

interior de uma propriedade ou posse rural excetuada a de preservaccedilatildeo permanente

necessaacuteria ao uso sustentaacutevel dos recursos naturais agrave conservaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo dos

processos ecoloacutegicos agrave conservaccedilatildeo da biodiversidade e ao abrigo e proteccedilatildeo de

fauna e flora nativas sendo imutaacutevel sua localizaccedilatildeo apoacutes definida

sect1ordm - Fica proibido qualquer registro imobiliaacuterio relativo a propriedade rural sem

preacutevio registro da reserva legal sob pena de nulidade do ato

sect2ordm- A reserva legal deveraacute ser averbada agrave margem da matriacutecula do imoacutevel no

registro competente sendo vedada a alteraccedilatildeo de sua destinaccedilatildeo nos casos de

transmissatildeo a qualquer tiacutetulo de desmembramento ou divisatildeo da aacuterea

sect3ordm - As aacutereas de reserva legal e preservaccedilatildeo permanente poderatildeo ser computadas

conjuntamente desde que somadas passem de 50 (cinquumlenta por cento) da

extensatildeo total da propriedade e sejam de extensatildeo contiacutenua

sect4ordm - No imoacutevel rural que natildeo houver vegetaccedilatildeo nativa suficiente para compor o

miacutenimo da reserva legal o proprietaacuterio ou possuidor deveraacute recuperar e recompor

com a vegetaccedilatildeo nativa ateacute atingir a porcentagem determinada

sect5ordm - A recomposiccedilatildeo mencionada no paraacutegrafo anterior deveraacute ser realizada na

proporccedilatildeo de no miacutenimo 110 (um deacutecimo) da aacuterea da propriedade ou posse a cada

ano dando prioridade agraves aacutereas de preservaccedilatildeo permanente

sect6ordm - A Reserva Legal deve ser preferencialmente contiacutegua a das propriedades

vizinhas agraves unidades de conservaccedilatildeo ou aacutereas florestadas formando um corredor de

vegetaccedilatildeo

sect7ordm - A vegetaccedilatildeo da reserva legal natildeo pode ser suprimida podendo apenas ser

utilizada sob regime de manejo florestal sustentaacutevel (IRAUCcedilUBA 2007 p 26)

No artigo 57 haacute o reconhecimento do direito de propriedade agrave luz da funccedilatildeo

social dada pela reserva legal e a devida importacircncia agrave proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental Jaacute o

58 prevecirc os 20 da aacuterea a tiacutetulo de reserva reproduzindo o que a lei federal ou seja o

Coacutedigo Florestal dispotildee No entanto o sect1ordm do mesmo dispositivo acaba restringindo ainda

mais o que a norma geral prescreve isto eacute proiacutebe qualquer registro junto ao cartoacuterio de

imoacuteveis sem a devida averbaccedilatildeo na matriacutecula da propriedade muito embora isso jaacute possa ser

diferente pela instituiccedilatildeo do Cadastro Ambiental Rural Dos paraacutegrafos 2ordm ao 5ordm houve a

69

revogaccedilatildeo expressa pela Lei 126512012 (BRASIL 2012) ou novo Coacutedigo Florestal O 6ordm e o

7ordm continuaram vigentes em sua essecircncia sofrendo apenas pequenas alteraccedilotildees jaacute que devem

estar em consonacircncia com a lei federal natildeo podendo ser menos restritivos

Por fim aleacutem do que fora comentado a lei ambiental de Irauccediluba traz muito em

sua natureza procedimentos e mandamentos semelhantes agrave de uma lei de uso e ocupaccedilatildeo do

solo Prevecirc portanto paracircmetros sobre publicidade emissotildees sonoras construccedilatildeo civil

poluiccedilatildeo obras dentre outros

70

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS

31 Reserva Legal em Irauccediluba

Um dos objetivos da presente pesquisa eacute o levantamento do nuacutemero de imoacuteveis

rurais no municiacutepio de Irauccediluba para em seguida verificar o grau de obediecircncia ao instituto

da reserva legal nessas propriedades Para tanto buscou-se os respectivos dados no cartoacuterio de

registro de imoacuteveis do municiacutepio no Instituto de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e

no Instituto de Desenvolvimento Agraacuterio do Cearaacute (IDACE)

No cartoacuterio de imoacuteveis onde o acesso eacute possiacutevel pela liberdade que qualquer

interessado tem para solicitar informaccedilotildees registrais achou-se o nuacutemero de 215 imoacuteveis

registrados Jaacute no INCRA o total de propriedades ali cadastradas eacute de 415 e no IDACE 713

imoacuteveis devidamente medidos e georreferenciados

Primeiramente cabe discorrer um pouco sobre esse desencontro na quantidade

dos imoacuteveis O fato de o cartoacuterio municipal possuir 215 imoacuteveis rurais registrados natildeo

significa que soacute tenha esse nuacutemero de propriedades laacute pois existem inuacutemeras terras habitadas

e utilizadas sem qualquer registro formal e neste caso o que os ldquodonosrdquo desses lugares

deteacutem chama-se posse o que os torna posseiros e natildeo proprietaacuterios O INCRA ter em seu

banco de dados o cadastro de 415 propriedades rurais tambeacutem natildeo quer dizer que soacute haja as

415 uma vez que a procura por este oacutergatildeo eacute voluntaacuteria quando se trata de cadastramento do

imoacutevel Soacute seraacute diferente se surgir a necessidade de desmembrar arrendar hipotecar vender

ou prometer em venda o bem rural Ou ainda em caso de partilha17

Esses satildeo os casos que

impelem o proprietaacuterio a cadastrar seu imoacutevel conforme definidos pela lei 494766

(BRASIL 1966) Do contraacuterio natildeo eacute obrigatoacuterio motivo pelo qual se explica nuacutemeros tatildeo

distintos uns dos outros Justificando um pouco esta discrepacircncia o II Plano Nacional de

Reforma Agraacuteria aponta que os dados do Cadastro do INCRA indicam que ldquosomente 5086

da aacuterea total do territoacuterio brasileiro estaacute na condiccedilatildeo de cadastradardquo (II PNRA 2003 p 22)

E por fim o nuacutemero apontado pelo IDACE acredita-se ser o mais proacuteximo da

realidade uma vez que pelo Programa de Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria com iniacutecio em 2007 as

propriedades rurais no municiacutepio de Irauccediluba foram no ano de 2012 medidas e

georreferenciadas uma a uma para dar fim aos problemas decorrentes da ausecircncia de tiacutetulos

imobiliaacuterios e o tamanho das aacutereas Eacute o que segue estabelecido pelo II PNRA (2003)

17

Partilha eacute a via pela qual se daacute a divisatildeo dos bens de uma heranccedila

A importacircncia de um recadastramento de todos os imoacuteveis rurais e da revisatildeo das

normas que regem o processo de registro das propriedades eacute ainda maior quando se

observa que as possibilidades de obtenccedilatildeo de terras para Reforma Agraacuteria estatildeo

condicionadas por dois indicadores que dependem das informaccedilotildees contidas no

Cadastro do INCRA o moacutedulo fiscal e os iacutendices de produtividade [] Por meio de

uma integraccedilatildeo do INCRA com os oacutergatildeos estaduais seraacute executado um amplo

processo de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria visando regularizar as pequenas posses de boa feacute

e a arrecadaccedilatildeo e incorporaccedilatildeo de terras devolutas ao patrimocircnio puacuteblico seguida de

sua destinaccedilatildeo para o assentamento de trabalhadores rurais e tambeacutem promover

accedilotildees anulatoacuterias sobre ocupaccedilotildees de terras com registros irregulares (II PNRA

2003 p 23)

Contudo o nuacutemero desencontrado de imoacuteveis natildeo eacute soacute o que assusta ou angustia

mas sim a quantidade iacutenfima de reserva legal existente naquele municiacutepio que jaacute sofre com

um processo criacutetico de degradaccedilatildeo

Apoacutes verificar junto ao cartoacuterio a quantidade de imoacuteveis rurais registrados

averiguou-se que somente trecircs dos 215 estatildeo com suas respectivas aacutereas de reserva legal

devidamente averbadas junto ao registro do bem Essa aguda diferenccedila tambeacutem natildeo muda

quando se analisa as informaccedilotildees presentes nos cadastros feitos junto ao INCRA Muitos satildeo

os cadastramentos onde tem descritas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente mas de reserva legal

somente cinco das 415 propriedades cadastradas No IDACE natildeo foi possiacutevel fazer esse

levantamento porque o objetivo deste oacutergatildeo em adentrar as aacutereas era medi-las em sua

totalidade sem discriminar a presenccedila de qualquer constataccedilatildeo em seu interior

Pela leitura da tabela 5 eacute possiacutevel concluir duas realidades A primeira eacute a

existecircncia de propriedade cujo registro apresenta averbaccedilatildeo da reserva legal mas sem

cadastro junto ao INCRA como eacute o caso do imoacutevel Poccedilo da PedraAacuteguas Mortas No

segundo caso ocorre o contraacuterio isto eacute natildeo haacute averbaccedilatildeo da reserva legal no cartoacuterio de

registro mas existe o cadastro da propriedade perante o INCRA constando a reserva legal

devidamente apontada conforme relatoacuterios cedidos por aquele oacutergatildeo

72

Tabela 5 - Levantamento de Imoacuteveis com reserva legal (Cartoacuterio de registro de imoacuteveisINCRA)

311 Reserva Legal e Licenciamento Ambiental - Projeto de Assentamento Agraacuterio em

foco

Todo projeto de assentamento de reforma agraacuteria soacute deve ser implantado apoacutes o

licenciamento ambiental junto ao oacutergatildeo competente que pela relevacircncia social do

empreendimento possui um procedimento diferenciado Eacute um processo trifaacutesico ou seja

consiste na licenccedila preacutevia (LP) licenccedila de instalaccedilatildeo (LI) e licenccedila de operaccedilatildeo (LO) mas no

caso dos projetos de assentamento satildeo soacute duas a LP e a LIO que nada mais eacute que a licenccedila de

18

Trata-se de um imoacutevel que foi destinado a Projeto de Assentamento no acircmbito estadual No entanto o registro

no cartoacuterio aponta que a propriedade possui Reserva Legal averbada mas no cadastro do INCRA natildeo haacute

qualquer menccedilatildeo a essa aacuterea 19

PA ndash Projeto de Assentamento da Reforma Agraacuteria Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria conjunto

de accedilotildees planejadas e desenvolvidas em aacuterea destinada agrave reforma agraacuteria para um puacuteblico beneficiaacuterio

orientadas para utilizaccedilatildeo racional dos espaccedilos fiacutesicos e dos recursos naturais existentes objetivando a

implementaccedilatildeo dos sistemas de vivecircncia e produccedilatildeo sustentaacuteveis na perspectiva do cumprimento da funccedilatildeo

social da terra e da promoccedilatildeo econocircmica social e cultural do trabalhador rural e de seus familiares (BRASIL

2006b) 20

O imoacutevel Poccedilo da Pedra e Aacuteguas Mortas eacute um soacute Embora natildeo conste no registro do cartoacuterio a aacuterea total da

propriedade e a destinada agrave reserva legal o Termo de Responsabilidade de Averbaccedilatildeo da Aacuterea de Reserva Legal

cedido pelo INCRA descreve as aacutereas apontadas na tabela 2

RESERVA LEGAL DOCUMENTALMENTE EXISTENTE

Imoacutevel Fonte dos Dados Aacuterea do Imoacutevel

(ha)

Aacuterea (ha) Domiacutenio Data da

Averbaccedilatildeo (AV)

Cadastro (C)

Miramar Cartoacuterio de Imoacuteveis

INCRA

1144 2305 Particular AV 06042005

C 05092005

Saco do

Vento18

Cartoacuterio de Imoacuteveis

INCRA

33060 661 PA19

estadual

AV 03102012

C 27122011

Poccedilo da Pedra

(Aacuteguas

Mortas)20

Cartoacuterio de Imoacuteveis 239778 47955 INCRA AV 02012003

Boa Vista INCRA 348 6960 Particular C 30121992

Escondido e

Vale do

Agreste

INCRA 15775 3155 Particular C 30121992

Lagoa Cercada INCRA 55180 50 Particular C13101992

73

instalaccedilatildeo e de operaccedilatildeo em um mesmo pedido conforme prevecirc a Resoluccedilatildeo CONAMA

3872006 (BRASIL 2006b)

Art 3ordm O oacutergatildeo ambiental competente concederaacute a Licenccedila Preacutevia - LP e a Licenccedila

de

Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo - LIO para os Projetos de Assentamentos de Reforma Agraacuteria

[]

sect 2o A LP constitui-se documento obrigatoacuterio e que antecede o ato de criaccedilatildeo de um

Projeto de Assentamentos de Reforma Agraacuteria tendo prazo para a sua expediccedilatildeo

apoacutes seu requerimento de ateacute noventa dias

sect 3o A LIO deveraacute ser requerida durante a validade da LP e cumpridos os requisitos

da mesma [] (BRASIL 2006 p2)

Por se tratar de um empreendimento rural e ambientalmente licenciaacutevel eacute muito

mais faacutecil e oportuno acontecer o cumprimento da reserva legal jaacute que o oacutergatildeo competente

foi provocado e por sua vez deve exigir a observacircncia daquele instituto Desta forma natildeo se

pode admitir que um licenciamento em zona rural seja concedido sem o devido respeito agrave aacuterea

de reserva legal

Especificamente os projetos de assentamento federais isto eacute os realizados pelo

INCRA devem obedecer agrave ordem que segue Ao dar iniacutecio ao processo de desapropriaccedilatildeo de

alguma terra o INCRA jaacute deve solicitar a Licenccedila Preacutevia devendo constar naquele processo o

protocolo do pedido A criaccedilatildeo do assentamento soacute eacute possiacutevel mediante uma portaria

resoluccedilatildeo ou decreto desde que jaacute possua a Licenccedila Preacutevia expedida Criado o assentamento

a Licenccedila de Instalaccedilatildeo e Operaccedilatildeo deve ser solicitada de imediato ateacute porque se o contraacuterio

ocorrer os assentados ficam impossibilitados de receber recursos do governo como o creacutedito

de apoio inicial o creacutedito fomento o creacutedito para a construccedilatildeo de casa dentre outros

Essa sequencia e esses mandamentos estatildeo previstos no artigo 3ordm da Resoluccedilatildeo

CONAMA 3872006 (BRASIL 2006b) citada acima e no Acoacuterdatildeo nordm 2633-5107 (BRASIL

2007) do Tribunal de Contas da Uniatildeo conforme prevecirc o item 3 do sumaacuterio daquele

julgamento (3) A Licenccedila Preacutevia constitui-se em documento obrigatoacuterio e que antecede o ato

de criaccedilatildeo de um projeto de assentamento de reforma agraacuteria devendo ser expedida

anteriormente agrave obtenccedilatildeo da terra Trata-se de uma decisatildeo que teve origem em uma auditoria

realizada por este oacutergatildeo em assentamentos no Amazonas Paraacute e Acre quanto aos estudos de

viabilidade ambiental reserva legal e licenciamento ambiental em projetos criados pelo

INCRA Essa auditoria objetivou portanto avaliar o impacto nas aacutereas de reserva legal dos

projetos de assentamento bem como o cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental aplicaacutevel a esses

projetos conforme item 2 do Relatoacuterio do referido Acoacuterdatildeo Para tanto buscou-se saber se os

limites da reserva legal estavam sendo devidamente demarcados e preservados nos projetos de

74

assentamento rural e se o INCRA estava promovendo a aplicaccedilatildeo de teacutecnicas viaacuteveis para a

exploraccedilatildeo sustentaacutevel da Reserva Legal

Constatou-se pela amostragem realizada e demonstrada na Conclusatildeo e no Voto

do Acoacuterdatildeo 26332007 (BRASIL 2007) que

Conclusatildeo

[]

Item 65 o INCRA tem a necessidade premente de adotar medidas com vistas a

normalizar os procedimentos de criaccedilatildeo de projetos de assentamento desde o iniacutecio

do processo no que se refere ao cumprimento da legislaccedilatildeo ambiental

Item 66 Eacute notoacuterio que a morosidade do oacutergatildeo no processo de regularizaccedilatildeo das

exigecircncias determinadas pela legislaccedilatildeo ambiental contribuiraacute para degradaccedilatildeo do

meio ambiente patrimocircnio sob proteccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal Brasileira Ao

disponibilizar terra aos assentados sem indicar a forma de uso do terreno por meio

do Plano de Uso e sem delimitar as aacutereas de preservaccedilatildeo mediante a demarcaccedilatildeo

das reservas legais o INCRA estaraacute dando tutela a esses usuaacuterios para disporem dos

lotes da forma que melhor lhes convier sem importar se essa exploraccedilatildeo implicaraacute

em degradaccedilatildeo ambiental (BRASIL 2007 p 9)

[]

Voto

[] Item 3 ndash subitem 12 A equipe de auditoria constatou nos assentamentos uma

grande degradaccedilatildeo das aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APP) e da reserva legal (RL)

Ainda verificou por meio de questionaacuterios aplicados aos trabalhadores assentados

que o INCRA natildeo promove accedilotildees efetivas relacionadas agrave orientaccedilatildeo e

conscientizaccedilatildeo ambiental dessas comunidades que natildeo sabem sequer o que

significa APP e RL

[]

Item 5 Outrossim eacute importante frisar que o INCRA eacute co-responsaacutevel pelas

irregularidades ambientais constatadas em seus projetos de assentamento []

(BRASIL 2007 p 11)

E por fim o dito Acoacuterdatildeo determina em niacutevel nacional embora a motivaccedilatildeo da

decisatildeo tenha por base a auditoria realizada somente em trecircs estados que

O INCRA se abstenha de criar projetos de assentamento sem a observacircncia ao

disposto no art 2ordm inciso III cc 3ordm sect 2ordm da Resoluccedilatildeo Conama 3872006 que

condiciona a criaccedilatildeo de projetos de assentamentos de reforma agraacuteria agrave existecircncia da

licenccedila preacutevia e ao disposto no art 2ordm inciso IV da mesma Resoluccedilatildeo que exige a

licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo como condiccedilatildeo para a implantaccedilatildeo e operaccedilatildeo

destes projetos Que em decorrecircncia do disposto no art 2ordm inciso VII da

ResoluccedilatildeoConama 3872006 atente a necessidade de que a reserva legal esteja

perfeitamente delimitada e caracterizada por ocasiatildeo do Plano de

Desenvolvimento do Assentamento e que o referido Plano seja elaborado em prazo

razoaacutevel (BRASIL 2007 p 16)

Para enriquecer a pesquisa nesse sentido procurou-se junto ao oacutergatildeo ambiental

estadual a SEMACE ndash Superintendecircncia Estadual do Meio Ambiente e ao proacuteprio INCRA as

licenccedilas emitidas e ainda em tramitaccedilatildeo referentes aos projetos de assentamento federais

Encontrou-se assim 3 processos de licenciamento na SEMACE numa busca compreendida

75

entre 01012010 a 06052013 sendo 2 de licenccedilas preacutevias e 1 de licenccedila de instalaccedilatildeo e

operaccedilatildeo No INCRA localizou-se 5 processos como se pode observar pela tabela 6 sendo 2

de licenccedilas preacutevias e 3 de licenccedila de instalaccedilatildeo e operaccedilatildeo num periacuteodo de 09122008 a

08112010

Tabela 6 Relaccedilatildeo de licenccedilas ambientais

Fonte SEMACE e INCRA

Conclui-se portanto a existecircncia de trecircs processos de LIO jaacute emitidas mas sem a

averbaccedilatildeo da reserva legal em cartoacuterio de duas das trecircs propriedades conforme se pode

confirmar pela pesquisa feita no registro de imoacuteveis de Irauccediluba A exceccedilatildeo eacute a fazenda

Aacuteguas MortasPoccedilo da Pedra que possui averbaccedilatildeo da reserva legal desde 02012003

Aleacutem disto verificou-se tambeacutem todos os empreendimentos e atividades

localizadas no municiacutepio de Irauccediluba que possuem solicitaccedilatildeo ou recebimento de licenccedila

ambiental tanto em zona urbana como rural No total satildeo 15 tramitando e 40 emitidas

ressaltando que licenciamentos em zona rural o cumprimento da reserva legal deve ser

exigido

Quanto aos assentamentos agraacuterios no municiacutepio de Irauccediluba a tabela 7 aponta a

pesquisa realizada junto ao INCRA e ao IDACE onde se constatou que o primeiro oacutergatildeo

implantou 8 projetos e o segundo 6 Em todos eles existe a demarcaccedilatildeo da aacuterea de reserva

legal nas plantas georreferenciadas cedidas pelas duas instituiccedilotildees acima citadas

PROCESSO TIPO PA FONTE DO

DADO

PROTOCOLO EXPEDICcedilAtildeO VALIDADE STATUS

11386605-4 LP Arraia INCRASEMA

CE

08112010 01072011 Natildeo

informada

Emitida

11118313-8 LP Alegre e

anexos

INCRASEMA

CE

10112010 29032011 Natildeo

informada

Tramitando

09557603-7 LIO Aacuteguas

Mortas

Poccedilo da

Pedra

INCRASEMA

CE

30102009 24032010 24032013 Emitida

08653283-9 LIO Satildeo

Marinho

Rodeador

INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida

08653281-2 LIO Olho

d‟aacutegua da

esperanccedila

INCRA 29122008 18112009 18112010 Emitida

76

Tabela 7 - Relaccedilatildeo de assentamentos estaduais e federais em Irauccediluba

PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO - IRAUCcedilUBA

Nome do

Assentamento

Instituiccedilatildeo

Responsaacutevel

Aacuterea do

Imoacutevel (ha)

Aacuterea de Reserva

Legal (ha)

Data de criaccedilatildeo Nordm de Famiacutelias

Assentadas

Saco do Vento IDACE 33060 661 Em andamento 10

Aroeira IDACE 50508 10101 Em andamento 10

Boqueiratildeo IDACE 38474 7694 Em andamento -

Mudubim IDACE 6512 1302 Em andamento 5

Consulta IDACE 39593 7918 23072001 13

Cachoeira IDACE 14929 2985 05102006 10

Saco Verde INCRA 6464 129280 2691997 100

Cajazeiras II INCRA 96487 19297 2691997 30

Aacuteguas Mortas

Poccedilo da Pedra

INCRA 239778 47955 22121997 52

RiachueloAlto

Alegre

INCRA 3378 67560 09112005 16

Olho drsquoAacutegua da

Esperanccedila

INCRA 1940 388 06122007 23

Satildeo Marinho

Rodeador

INCRA 50757 10151 04122006 10

Arraia INCRA 156797 31359 13102011 34

Almas INCRA 1297 25940 17111998 22

Eacute importante salientar que em 2005 e em 2006 o INCRA baixou 3 normas

referentes a criteacuterios e procedimentos para a implantaccedilatildeo de Projetos de Recuperaccedilatildeo e

Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais em aacutereas de assentamentos da Reforma Agraacuteria A

primeira eacute a NE 432005 (BRASIL 2005a) a segunda NE 442005 (BRASIL 2005b) que

estabeleceu o valor unitaacuterio por famiacutelia para a implantaccedilatildeo destes projetos e a terceira NE

512006 (BRASIL 2006a) aprovou o manual para a elaboraccedilatildeo dos projetos de recuperaccedilatildeo

A NE 432005 (BRASIL 2005a) considera a premente necessidade de

recuperaccedilatildeo natildeo soacute de Reserva Legal mas de aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente em grande

parte dos Projetos de Assentamento em todo o territoacuterio nacional mas infelizmente soacute

abrange os que satildeo implantados pelo Governo Federal (Art 2ordm inciso I) ficando de fora os

que satildeo de competecircncia dos Estados O criteacuterio para implantaccedilatildeo desses projetos eacute a aacuterea ser

reconhecida com problemas ambientais principalmente em termos de degradaccedilatildeo (Art 2ordm

inciso II) Para ser possiacutevel financeiramente a execuccedilatildeo de um projeto deste cuja norma

regulamentadora ainda se encontra vigente o INCRA disponibiliza ateacute R$ 100000 por

famiacutelia (Art 1ordm NE 442005 (BRASIL 2005b)) no entanto caso seja tecnicamente

comprovado que a recuperaccedilatildeo de aacutereas de reserva legal preservaccedilatildeo permanente e de solo

exija um maior investimento o valor poderaacute ser superior ao estabelecido Neste caso a

importacircncia repassada seraacute definida em funccedilatildeo do custo calculado para a recuperaccedilatildeo do dano

ambiental (Art 1ordm Paraacutegrafo Uacutenico)

77

O manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e

conservaccedilatildeo de recursos naturais em assentamentos da reforma agraacuteria aprovado pela NE

512006 (BRASIL 2006a) deixa claro que seus objetivos natildeo satildeo soacute reabilitar e resguardar a

aacuterea ambiental do assentamento Haacute mais e maiores propoacutesitos nisto como por exemplo

cumprir as exigecircncias estabelecidas pelo oacutergatildeo de meio ambiente estadual durante o processo

de licenciamento21

bem como a mobilizaccedilatildeo da comunidade em torno de atividades visando agrave

recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo dos recursos naturais por meio de programas de educaccedilatildeo

ambiental fiscalizaccedilatildeo e manutenccedilatildeo envolvendo os assentados Para que isto ocorra eacute

extremamente importante a participaccedilatildeo destes na elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do projeto22

Por fim os Projetos de Recuperaccedilatildeo e Conservaccedilatildeo de Recursos Naturais seratildeo

destinados agraves seguintes praacuteticas23

1 Cercamento de aacutereas de Reserva Legal e aacutereas de preservaccedilatildeo permanente

visando a regeneraccedilatildeo eou a proteccedilatildeo das aacutereas

2 Construccedilatildeo de viveiros para produccedilatildeo de mudas que seratildeo utilizadas no processo

de recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas

3 Demarcaccedilatildeo topograacutefica da Reserva Legal

4 []

5 Reflorestamento em aacutereas de Reserva Legal com espeacutecies nativas que

possibilitem o manejo florestal sustentaacutevel madeireiro ou natildeo madeireiro baseado

em princiacutepios e em criteacuterios teacutecnicos e cientiacuteficos definidos e devidamente

aprovados pelo oacutergatildeo ambiental competente

6 Plantio de aacutervores frutiacuteferas ornamentais ou industriais composto por espeacutecies

exoacuteticas em sistema intercalar ou em consoacutercio com espeacutecies nativas para

compensaccedilatildeo ou manutenccedilatildeo da aacuterea de reserva legal a criteacuterio do oacutergatildeo ambiental

competente

7 Atividades alternativas de produccedilatildeo (criaccedilatildeo de abelhas artesanato entre outras)

associadas agrave recuperaccedilatildeo ambiental e como instrumento de valorizaccedilatildeo das aacutereas a

serem conservadas ou recuperadas e de combate agraves praacuteticas indevidas de uso do

fogo

8 [] (BRASIL 2006ordf p 1112)

32 Caracterizaccedilatildeo da Aacuterea de Estudo

321 Localizaccedilatildeo e dados gerais de Irauccediluba

O municiacutepio de Irauccediluba possui uma aacuterea de 1461253 Km2 o que corresponde a

098 do territoacuterio estadual e estaacute situado no sertatildeo Centro-Norte conforme figura 12

inserido na microrregiatildeo geograacutefica de Sobral Dista cerca de 150 Km da capital Fortaleza e

21

p 7 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos naturais 22

p 11e 13 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos

naturais 23

p 11e 12 do manual para elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo de projetos de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de recursos

naturais

78

localiza-se entre as coordenadas geograacuteficas Latitude 3˚44‟46rdquo S (Sul) e Longitude 39˚47‟00rdquo

WGr (oeste) Faz fronteira ao norte com os municiacutepios de Miraiacutema e Itapipoca ao sul com

Santa Quiteacuteria e Canindeacute a leste com Itapajeacute e Tejuccediluoca e a oeste com Sobral e possui trecircs

distritos Missi Juaacute e Boa Vista segundo ilustra a figura 13

Figura 12 Localizaccedilatildeo do Estado do Cearaacute Figura 13 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Irauccediluba

Fonte Lustosa (2004) Fonte Lustosa (2004)

Segundo o censo de 2010 do IBGE a populaccedilatildeo do municiacutepio era de 22324

pessoas sendo curiosamente a maioria homens (5083) Jaacute sua densidade demograacutefica

correspondia a 1539 habKm2 A ocupaccedilatildeo municipal predomina na zona urbana

correspondendo a 6425 dos indiviacuteduos Em 2012 a populaccedilatildeo aumentou para 22742

pessoas

3211 Das propriedades estudadas

Por Irauccediluba possuir aproximadamente 713 imoacuteveis rurais tomando por base a

mediccedilatildeo feita pelo IDACE em 2012 natildeo seria possiacutevel o estudo de todas elas Partiu-se

entatildeo para uma amostragem com base nos imoacuteveis que possuiacuteam a reserva legal seja por

registro em cartoacuterio eou porque a aacuterea eacute puacuteblica e foi destinada a projetos de assentamentos

agraacuterios (PA‟s) estaduais e federais que por sua vez deveriam respeitar tal obrigatoriedade

79

Pela tabela 8 vecirc-se que dos 14 assentamentos em Irauccediluba 6 satildeo estaduais e 8

federais No entanto os criteacuterios utilizados para examinaacute-los foi o tempo de criaccedilatildeo de cada

um e a existecircncia de reserva legal delimitada na planta da propriedade Aleacutem disto foi

escolhido um imoacutevel particular por apresentar a averbaccedilatildeo da reserva legal como demonstra a

tabela 9

Tabela 8 - Relaccedilatildeo dos projetos de assentamento agraacuterio possiacuteveis de anaacutelise

PROJETOS DE ASSENTAMENTO AGRAacuteRIO

Nome do

Assentamento

Instituiccedilatildeo

Responsaacutevel Data de Criaccedilatildeo Status para anaacutelise

Saco do Vento IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Aroeira IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Boqueiratildeo IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Mudubim IDACE Em andamento Projeto de assentamento ainda em

formaccedilatildeo

Consulta IDACE 23072001 Planta natildeo disponibilizada

Cachoeira IDACE 05102006 Planta natildeo disponibilizada

Saco Verde INCRA 2691997 Incluiacutedo

Cajazeiras II INCRA 2691997 Incluiacutedo

Aacuteguas Mortas

Poccedilo da Pedra INCRA 22121997 Incluiacutedo

RiachueloAlto

Alegre INCRA 09112005 Incluiacutedo

Almas INCRA 17111998 Incluiacutedo

Olho d‟Aacutegua da

Esperanccedila INCRA 06122007

Muito recente ndash Fora de abrangecircncia

das imagens de sateacutelite

Satildeo Marinho

Rodeador INCRA 04122006

Reserva legal natildeo delimitada na planta

do imoacutevel

Arraia INCRA 13102011 Muito recente ndash Fora de abrangecircncia

das imagens de sateacutelite

Tabela 9 - Dados da propriedade particular estudada PROPRIEDADE PARTICULAR ANALISADA

Nome Proprietaacuterio Data da averbaccedilatildeo

da RL Status para anaacutelise

Miramar MIRASA ndash Miramar

Agropecuaacuteria SA 06042005 Incluiacutedo

Diante dos paracircmetros de seleccedilatildeo apontados acima restaram 5 assentamentos e 1

aacuterea particular totalizando 6 aacutereas para estudo Assim sendo as propriedades analisadas

foram RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas Almas Saco Verde Cazajeiras II e Miramar

sendo esta a de domiacutenio privado Com exceccedilatildeo desta uacuteltima as demais satildeo assentamentos

agraacuterios federais ficando de fora os estaduais por serem em sua maioria recentes isto eacute a

partir de 2010 e por isso natildeo abrangidos pelas imagens de sateacutelite utilizadas (anos 1993 e

2007) As duas estaduais mais antigas Consulta e Cachoeira natildeo tiveram suas plantas

80

disponibilizadas pelo oacutergatildeo competente e as federais que ficaram excluiacutedas tambeacutem eram

muito recentes aleacutem do que natildeo possuiacuteam reserva legal delimitada

A figura 14 a seguir mostra a localizaccedilatildeo das propriedades estudadas e suas

respectivas reservas legais delimitadas que podem ser lidas pela legenda de cores ao lado

Figura 14 Imoacuteveis com reserva legal ndash Aacuterea de estudo

A tabela 10 traz as aacutereas de cada imoacutevel e sua reserva legal onde eacute possiacutevel

constatar um nuacutemero pequeno de propriedades que apresentam o tal instituto criado e exigido

por lei Aleacutem disso a soma de suas aacutereas tambeacutem eacute pouco expressiva ao comparar com a do

municiacutepio No total satildeo 1628865 hectares sendo 328832 hectares pertinentes agrave reserva

legal

Tabela 10 - Propriedades estudadas

PROPRIEDADES ESTUDADAS

IMOacuteVEL DOMIacuteNIO AacuteREA DO IMOVEL (HA) AacuteREA DA RESERVA LEGAL (HA)

Saco Verde INCRA 6464 129280

Cajazeiras II INCRA 96487 19297

Aacuteguas Mortas Poccedilo da Pedra INCRA 239778 47955

Riachuelo Alto Alegre INCRA 3378 67560

Olho drsquoAacutegua da Esperanccedila INCRA 1940 388

81

Miramar PARTICULAR 1144 25940

3212 Aspectos histoacutericos da ocupaccedilatildeo do municiacutepio

Haacute quem diga que Irauccediluba significa tanto amizade como grande abelha amarela

A primeira acepccedilatildeo se deve ao povo hospitaleiro de bons sentimentos e amigos da paz Jaacute a

segunda faz referecircncia a um vocaacutebulo indiacutegena cuja expressatildeo representa a junccedilatildeo de trecircs

palavras ira que quer dizer mel ou abelha ussu grande e yuba amarelo (FOLHES e

VIANA 2001)

Segundo o IBGE o surgimento de Irauccediluba se deve a um povoado denominado

Cacimba do Meio que despontou no iniacutecio do seacuteculo XIX O nome do municiacutepio como

atualmente eacute conhecido soacute foi alterado em 1899 pelo desembargador Aacutelvaro de Alencar

Irauccediluba foi distrito de Itapajeacute de 1905 ateacute 1957 quando foi elevada agrave condiccedilatildeo de municiacutepio

Quanto a sua ocupaccedilatildeo Arauacutejo Filho e Silva (2013) remontam a memoacuteria dos

mais antigos que registra o fenocircmeno da transumacircncia na regiatildeo jaacute no seacuteculo XIX Aleacutem

disto os autores ainda mencionam que

O primeiro relato da presenccedila do homem branco na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba

refere-se agrave passagem no ano de 1606-1607 dos jesuiacutetas Francisco Pinto e Luiacutes

Figueira Na eacutepoca a regiatildeo era habitada por iacutendios das etnias Tupi e Tapuia

citando-se os Anaceacute Apuiareacute e Kariri (GIRAtildeO1967) Consta entatildeo que os

indiacutegenas viviam da caccedila e que na eacutepoca seca ateavam fogo na erva para afugentar

as cobras e facilitar a caccedila (ARAUacuteJO e SILVA 2013 p 4)

E soacute para constar o potencial do municiacutepio acerca da boa qualidade das pastagens

de forma a compensar a praacutetica da transumacircncia em tempos antigos vale referenciar um

texto de Dias (1998) que Folhes e Viana (2001) fazem menccedilatildeo

ldquo() no espaccedilo onde Irauccediluba estaacute inserida atualmente visto como um ambiente

inoacutespito em processo de desertificaccedilatildeo no seacuteculo XVII ao se transitar pela flora

primitiva na eacutepoca das chuvas era difiacutecil saber se era noite ou dia face ao

adensamento da vegetaccedilatildeordquo Esse adensamento foi registrado pelos jesuiacutetas

Francisco Pinto e Luiacutes Figueira em 1607 quando partiram de Pernambuco numa

missatildeo de catequese em direccedilatildeo ao Maranhatildeo (DIAS 1998 p 62 apud FOLHES e

VIANA 2001 p 9)

322 Caracteriacutesticas socioeconocircmicas

Arauacutejo Filho e Silva (2013) fazem um apanhado sucinto e ao mesmo tempo geral

de duas atividades econocircmicas desenvolvidas no municiacutepio de Irauccediluba

82

Historicamente a Regiatildeo tem na pecuaacuteria a mais importante atividade dentro de um

sistema de transumacircncia servindo de estaccedilatildeo na eacutepoca das chuvas para os rebanhos

criados na regiatildeo litoracircnea Isto porque apresenta extensas aacutereas recobertas por

planossolos sob uma caatinga do tipo savana com cobertura herbaacutecea de excelente

potencial forrageiro Considerando a ocupaccedilatildeo da aacuterea municipal 124 satildeo usados

para a produccedilatildeo agriacutecola a pecuaacuteria ocupa 671 e os restantes 205 satildeo

recobertos de matas Confrontando os dados da distribuiccedilatildeo dos solos e de sua

ocupaccedilatildeo vecirc-se que a pecuaacuteria eacute praticada em toda a extensatildeo dos planossolos e dos

luvissolos a agricultura ocupa pequena parcela do luvissolo e dos solos litoacutelicos e a

extraccedilatildeo de madeira parte dos litoacutelicos e dos luvissolos (IBGE 2010) (ARAUacuteJO

FILHO e SILVA 2013 p 1)

Para os autores a pecuaacuteria em sistemas de produccedilatildeo de regiotildees semiaacuteridas

constitui uma atividade tampatildeo dos efeitos da seca facilita a dispersatildeo dos riscos de perdas

tem boa liquidez econocircmica e eacute um fator muito importante de fixaccedilatildeo do homem agrave terra

Em se tratando de nuacutemeros o PAE (CEARAacute 2010b) apresentou em seus

levantamentos percentuais a situaccedilatildeo de alguns aspectos socioeconocircmicos que ora se julga

interessantes expor neste trabalho Por exemplo o analfabetismo estaacute decrescendo eacute o que a

taxa de escolaridade no ensino fundamental de 932 em 2007 demonstra mas altas taxas

de repetecircncia evasatildeo escolar qualificaccedilatildeo dos professores baixo aproveitamento dos alunos

e divergecircncia entre a faixa etaacuteria e a seacuterie cursada tambeacutem satildeo problemas que afetam a

educaccedilatildeo no municiacutepio Folhes e Viana (2001) Quanto ao saneamento baacutesico natildeo existia rede

de esgotamento no municiacutepio nem aacutegua tratada para a maioria da populaccedilatildeo conforme

pesquisa realizada em 2007 contudo em 2010 a CAGECE24

informou que havia 6173

ligaccedilotildees entre reais e ativas para o abastecimento de aacutegua enquanto que a cobertura de

esgoto continuava sem nenhuma ligaccedilatildeo mas curiosamente apresentava uma taxa de

cobertura de 1937

O PAE (CEARAacute 2010) diz que em Irauccediluba o salaacuterio meacutedio mensal da

populaccedilatildeo correspondia a um salaacuterio miacutenimo e meio mas o IBGE (2010) traz outro nuacutemero

Em 2010 quando o salaacuterio miacutenimo era de R$ 51000 a renda domiciliar per capita entre frac14 a

mais de 3 correspondia a 5158 trabalhadores sendo que a maioria deles recebia por mecircs R$

12750 ou menos Agregada a essa realidade econocircmica existe a populaccedilatildeo extremamente

pobre com renda domiciliar per capita de ateacute R$ 7000 Nesse patamar concentram-se 8008

pessoas

Eacute nesse contexto que estatildeo cerca de 13500 pessoas classificadas como

economicamente ativas no municiacutepio Infelizmente o nuacutemero de irauccedilubenses inseridos na

condiccedilatildeo de pobreza eacute bem expressivo correspondendo a 3587 da populaccedilatildeo em 2010

24

In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p14)

83

Eacute faacutecil perceber que se trata de uma cidade pouco desenvolvida pobre sem muita

educaccedilatildeo e condiccedilotildees baacutesicas de sauacutede Isso reflete tanto na economia como na qualidade de

vida sem falar no cenaacuterio ambiental pois a situaccedilatildeo como estaacute posta favorece muito mais a

degradaccedilatildeo dos recursos naturais

Falando em questotildees ambientais dentro do contexto da dinacircmica populacional de

Irauccediluba eacute interessante citar a retraccedilatildeo no nuacutemero de indiviacuteduos residentes na aacuterea rural

desde a deacutecada de 70 e consequentemente aumento na urbana Considerando que os riscos de

desertificaccedilatildeo satildeo mais acentuados nas regiotildees densamente povoadas porque haacute maior

pressatildeo sobre os bens naturais e que a densidade demograacutefica do municiacutepio em 2010 estava

em 1539 habkm Folhes e Viana (2001) pontuam

A densidade demograacutefica de Irauccediluba representa pouco mais da metade do que

Ferreira et al (1994) estabeleceram como ldquofator de pressatildeordquo no estudo que se

tornou conhecido por ser o primeiro a confeccionar o mapa de susceptibilidade agrave

desertificaccedilatildeo do Nordeste brasileiro dada(s) as condiccedilotildees de semi-aridez as

condiccedilotildees dos solos a disponibilidade de aacutegua da regiatildeo e a capacidade de suporte

da mesma adotou-se como fator de pressatildeo sobre o meio ambiente a densidade

igual ou superior a 20habkm2 (p19-20)rdquo Veem-se a dificuldade e imprecisatildeo dos

estudos quanto agrave determinaccedilatildeo de algum ponto criacutetico onde a relaccedilatildeo densidade

demograacutefica versus processos de desertificaccedilatildeo passa de causa para efeito

(FOLHES e VIANA 2001 p 13)

Os autores ainda reforccedilam que o municiacutepio se enquadra no grupo com fraca

densidade demograacutefica que eacute de 10 a 20habkm2 de acordo com a classificaccedilatildeo estabelecida

pelo diagnoacutestico agro-soacutecio-econocircmico

Segundo Folhes e Viana (2001) um dos iacutendices mais sensiacuteveis para se medir o

niacutevel de desenvolvimento de um municiacutepio eacute a taxa de mortalidade infantil pois ela revela a

estreita ligaccedilatildeo entre o estado de sauacutede da populaccedilatildeo o acesso aos serviccedilos meacutedicos

condicionados pela situaccedilatildeo soacutecioeconocircmica da populaccedilatildeo Em Irauccediluba essa taxa eacute de 1592

mortos a cada 1000 nascidos vivos maior ainda que a do estado 133225

A economia de Irauccediluba gira em torno de atividades como agricultura e pecuaacuteria

Aquela engloba culturas praticadas em lavouras permanentes e temporaacuterias e esta envolve a

criaccedilatildeo de gado de vaacuterias espeacutecies e aves como galos e galinhas Em termos comparativos

traccedilou-se um paralelo do sistema produtivo econocircmico nos anos de 2001 e 2011 para que se

pudesse avaliar alguma retraccedilatildeo ou evoluccedilatildeo no quadro agropecuaacuterio e industrial do

municiacutepio

A figura 15 abaixo eacute autoexplicativa de modo que prontamente se percebe a

banana e a manga como as culturas mais significativas ficando logo atraacutes o cocircco da baiacutea

25

SESA (2011) In Perfil Baacutesico Municipal de Irauccediluba (CEARAacute 2012 p 9)

84

Nota-se tambeacutem natildeo haver muita diferenccedila de produccedilatildeo dos trecircs cultivos agriacutecolas nesses

dois anos o que leva a concluir que os produtores do municiacutepio mantiveram os investimentos

e colheitas semelhantes O mesmo natildeo ocorreu com o algodatildeo arboacutereo pois seu resultado caiu

drasticamente no periacuteodo analisado Ressalte-se poreacutem que o ano de 2001 foi mais produtivo

que o de 2011 com exceccedilatildeo da castanha de caju

Figura 15 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Permanentes

Fonte IBGE (2001 e 2011)

Com relaccedilatildeo agraves lavouras temporaacuterias o destaque eacute da mandioca e da mamona

muito embora esta uacuteltima soacute apresente resultados no ano de 2011 Outras culturas temporaacuterias

satildeo o milho e o feijatildeo mas natildeo constam na figura 16 porque a disparidade entre os dois anos

e a alta produtividade em 2011 dificultariam a visualizaccedilatildeo

Figura 16 Comparativo entre 2001 e 2011 das Lavouras Temporaacuterias

Fonte IBGE (2001 e 2011)

85

De qualquer maneira a safra de milho e feijatildeo em 2001 natildeo foi tatildeo expressiva

ou seja correspondeu a 14 e 7 toneladas respectivamente Jaacute em 2011 esse nuacutemero foi agraves

alturas chegando agraves 4433 toneladas de milho e 2088 toneladas de feijatildeo

Jaacute os produtos de origem florestal comuns em Irauccediluba satildeo a cera o poacute e a fibra

da carnauacuteba o carvatildeo vegetal a lenha e a madeira em tora poreacutem os mais relevantes satildeo o

carvatildeo vegetal e a lenha conforme se vecirc nas figuras 17 e 18

Figura 17 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em tonano

Fonte IBGE (2001 e 2011)

Como a lenha e a madeira em tora tecircm unidade de medida diferente dos demais

produtos construiu-se a figura 18 para natildeo deixaacute-las de fora da anaacutelise

0100020003000400050006000700080009000

1000011000

Lenha Madeira em tora

Produtos de origem vegetal (m3ano)

2001

2011

Figura 18 Comparativo entre 2001 e 2011 dos Produtos de origem vegetal em m3ano

Fonte IBGE (2001 e 2011)

86

Quanto aos produtos de origem animal o leite foi o mais vultoso sobressaindo-se

nos anos de 2001 e 2011 Na tabela 11 abaixo tambeacutem foram relacionados os outros mas

com participaccedilatildeo bem pequena na produtividade do municiacutepio

Tabela 11 - Comparativo entre 2001 e 2011 dos produtos de origem animal Produtos de origem animal

Leite Mel de abelha Ovos de galinha Ovos de codorna

Produccedilatildeo (mil l) Produccedilatildeo (kg) Produccedilatildeo (mil dz) Produccedilatildeo (mil dz)

2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011

5228 6031 0 507 80 143 0 1

Fonte IBGE (2001 e 2011)

Em termos industriais julgou-se interessante fazer uma comparaccedilatildeo um tanto

mais abrangente citando tambeacutem os nuacutemeros do ano de 2010 Observa-se que os grupos de

induacutestrias existentes em Irauccediluba reuacutenem as de extraccedilatildeo mineral construccedilatildeo civil e

principalmente as de transformaccedilatildeo conforme figura 19

Figura 19 Empresas industriais de Irauccediluba (200120102011)

Fonte IBGE (2001 2010 e 2011)

Eacute possiacutevel observar pela figura acima que as empresas de extraccedilatildeo mineral e de

construccedilatildeo civil pouco se desenvolveram durante o periacuteodo analisado o mesmo natildeo ocorreu

com as induacutestrias de transformaccedilatildeo que inclusive chamam bastante atenccedilatildeo Estas se

desdobram em vaacuterias espeacutecies como por exemplo produccedilatildeo de minerais natildeo metaacutelicos

metaluacutergica mecacircnica produccedilatildeo de material eleacutetrico eletrocircnico e comunicaccedilatildeo produccedilatildeo de

material para transporte madeireira mobiliaacuteria produccedilatildeo de papel papelatildeo e borracha

beneficiamento de couros peles e similares quiacutemica produccedilatildeo de produtos farmacecircuticos e

veterinaacuterios de material plaacutestico tecircxtil vestuaacuterio calccedilados artefatos de tecido couros e

peles produtos alimentares bebidas fumo dentre outras

87

De 2001 para 2010 a quantidade de induacutestrias de transformaccedilatildeo pouco aumentou

passando de 13 para 17 mas de 2010 a 2011 esse rol duplicou indo de 17 para 34 empresas

como se pode observar pelas figuras 20 21 e 22

Figura 20 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2001

Fonte IBGE (2001)

Figura 21 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2010

Fonte IBGE (2010)

TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 13

TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 17

88

Figura 22 Induacutestrias de transformaccedilatildeo em 2011

Fonte IBGE (2011)

A induacutestria tecircxtil oscilou em nuacutemeros visto que em 2001 contava com 5

empresas em 2010 com 4 expandido para 9 de forma que essa quantidade representou 26

do total de induacutestrias em Irauccediluba no ano de 2011 Outra atividade expressiva no municiacutepio eacute

a de produtos alimentares Muito embora natildeo exista em 2010 nos anos de 2001 e 2011 ela

totalizava 5 e 9 unidades respectivamente representando 23 e 26 cada uma no universo de

empresas Em terceiro plano encontra-se a produccedilatildeo de minerais natildeo-metaacutelicos que em 2001

contou com 1 induacutestria em 2010 com 2 e em 2011 com 3 Aleacutem disto apareceram a partir de

2010 atividades como mobiliaacuterio couros e peles vestuaacuterio e uma categoria natildeo definida pelo

IBGE classificada como diversas Em contrapartida desapareceram da contagem as

induacutestrias madeireira e metaluacutergica

Na pecuaacuteria existe a criaccedilatildeo de gado e aves O realce no primeiro grupo eacute dado

pelos bovinos seguido pelos ovinos e caprinos tanto no ano de 2010 como 2011 sendo neste

os nuacutemeros maiores Quanto agraves aves a ocorrecircncia eacute de galos frangos frangas e pintos aleacutem

de galinhas Entre estes dois grupos o primeiro eacute mais representativo como bem se examina

pela figura 23

TOTAL DE INDUacuteSTRIAS 34

89

Figura 23 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 do efetivo de rebanhos

Fonte IBGE (2011 e 2011)

Sem esquecer outros rebanhos mesmo que de menor grandeza existem no

municiacutepio bubalinos muares coelhos e codornas segundo os nuacutemeros apresentados na

tabela 12

Tabela 12 ndash Comparativo entre 2001 e 2011 de rebanhos menores Rebanhos Bubalinos Muares Coelhos Codornas

Ano 2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011

Nordm de indiviacuteduos 98 48 380 436 22 67 89 193

Fonte IBGE (2011 e 2011)

Por fim conclui-se que em Irauccediluba eacute praticado aleacutem das atividades industriais o

tripeacute econocircmico baseado na produccedilatildeo agriacutecola pecuaacuteria e madeireira esta a partir da

exploraccedilatildeo de lenha e carvatildeo vegetal Desta maneira seria mais interessante para o municiacutepio

considerando suas caracteriacutesticas ambientais o uso de sistemas de produccedilatildeo

agrossilvopastoris Nesse sentido Arauacutejo Filho e Silva (2013) ilustram

Os sistemas de produccedilatildeo agrossilvipastoris satildeo formas de uso e manejo da terra nas

quais aacutervores e arbustos satildeo utilizados em associaccedilatildeo com cultivos agriacutecolas e

animais numa mesma aacuterea de maneira simultacircnea ou numa sequecircncia temporal

Cada componente do sistema de produccedilatildeo deve ter pelo menos uma funccedilatildeo proacutepria e

sua integraccedilatildeo garante sua funcionalidade Assim as aacutervores devem ser em nuacutemero

suficiente para um aporte significativo de serrapilheira fonte de mateacuteria orgacircnica

para o solo Os animais satildeo os redistribuidores de nutrientes entre os componentes

do sistema via urina e esterco E as culturas garantem a produccedilatildeo de alimentos para

a famiacutelia e seus animais e contribuem para a circulaccedilatildeo de nutrientes dentro do

sistema Os SAF‟s podem tambeacutem ser usados para a reabilitaccedilatildeo ecoloacutegica e

econocircmica de aacutereas degradadas sobre luvissolos e argissolos (ARAUacuteJO FILHO e

SILVA 2013 p 1819)

90

323 Caracteriacutesticas geoambientais de Irauccediluba

A caracterizaccedilatildeo ambiental realizada no municiacutepio das aacutereas de estudo engloba a

altimetria as classes de relevo demonstrando a declividade do terreno que varia de plano a

forte ondulado os tipos de solos e suas associaccedilotildees de classes entre si o clima envolvendo

dados sobre a pluviometria anual o iacutendice de umidade o nuacutemero de meses sem chuva a

temperatura e a evapotranspiraccedilatildeo total anual do municiacutepio Comenta-se ainda a vegetaccedilatildeo e

suas formas aleacutem dos rios e accediludes existentes em Irauccediluba reunindo seus recursos hiacutedricos

3231 Altimetria e Classe de relevo

A altimetria do municiacutepio estaacute exibida na figura 24 conforme seus niacuteveis de

altitude que variam de 80 a 840 metros acima do mar

Figura 24 Classes de altitude do municiacutepio de Irauccediluba

91

Jaacute o relevo oscila de plano a forte ondulado conforme figura 25 Arauacutejo Filho e Silva

(2013 p 1) definem que ldquonos planossolos o relevo varia de plano a suave-ondulado (de 1 a 8)

nos argisssolos e nos luvissolos apresentam-se em relevo de suave-ondulado a ondulado (de 8 a

20) e os litoacutelicos estatildeo em relevo forte-ondulado (de 20 a 45)rdquo

Figura 25 Classes de relevo do municiacutepio de Irauccediluba

3232 Solos

A regiatildeo semiaacuterida nordestina ldquo[] recebe anualmente calor e luz em excesso o

que resulta em raacutepida mineraccedilatildeo da mateacuteria orgacircnica Seus solos satildeo geralmente pouco

profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica mas relativamente ricos

em bases trocaacuteveisrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 7)

O PAN (BRASIL 2004) assegura que as classes de associaccedilatildeo de solos presentes

no semiaacuterido do Nordeste satildeo o bruno natildeo caacutelcico litoacutelicos podzoacutelico eutroacutefico terra roxa

estruturada cambissolo ondulado e forte ondulado e planossolos Apresentam tambeacutem tipos

de relevo e susceptibilidade agrave erosatildeo diferenciados como mostra a tabela 13

92

Tabela 13 - Relaccedilatildeo de solosrelevosusceptibilidade agrave erosatildeo

CLASSES DE SOLO RELEVO SUSCEPTIBILIDA Agrave

EROSAtildeO

Bruno natildeo caacutelcico (Luvissolos) Suave ondulado e ondulado Forte

Litoacutelicos Ondulado forte ondulado e

montanhoso Muito forte

Podzoacutelico eutroacutefico terra roxa

estruturada cambissolo ondulado e

forte ondulado

Ondulado e forte ondulado Moderado

Planossolos Plano e suave ondulado Moderado

Fonte PAN Brasil (2004)

ldquoTrecircs classes de solos se destacam no municiacutepio de Irauccediluba luvissolos com

432 de cobertura planossolos com 187 e litoacutelicos com 332 Juntos eles perfazem

951 da aacuterea do municiacutepiordquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2)

Os luvissolos constituem os solos mais utilizados pela agricultura migratoacuteria do

semiaacuterido nordestino Por causa do desmatamento e uso do fogo haacute indicaccedilotildees de que pelo

menos 65 da aacuterea de cobertura deste importante solo se encontrem em erosatildeo de grave a

muito grave Em Irauccediluba natildeo eacute diferente pois a agricultura eacute praticada nas aacutereas recobertas

por luvissolos e solos litoacutelicos enquanto a pecuaacuteria eacute desenvolvida tanto no planossolo com

presenccedila tambeacutem nas aacutereas de luvissolo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013)

Em se tratando de associaccedilatildeo de solos a tabela 14 indica a nomenclatura utilizada

por Jacomine (1973) e pela EMBRAPA (2006) para definir os tipos de associaccedilatildeo

encontrados em Irauccediluba apontando ainda a porcentagem de cada um dentro da respectiva

associaccedilatildeo E a figura 26 apresenta a distribuiccedilatildeo dessas associaccedilotildees no municiacutepio de forma

que eacute possiacutevel notar o predomiacutenio da associaccedilatildeo NC15 seguida da Re25 e Re26

Tabela 14 - Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba ndash JacomineEMBRAPA

ASSOCIACcedilAtildeO

DE SOLO EM

JACOMINE

(1973)

NOMENCLATURA DOS SOLOS NAS ASSOCIACcedilOtildeES DO SOLO

NA

ASSOCIACcedilAtildeO JACOMINE (1973) EMBRAPA (2006)

PE6

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO moderado

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 40

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO chemozecircnico

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 30

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 15

AFLORAMENTOS DE ROCHA - 15

PE42

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 70

REGOSOL EUTROacuteFICO NEOSSOLOS

REGOLIacuteTICOS 30

NC7 BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO LUVISSOLO 40

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 35

93

BRUNO NAtildeO CAacuteLCICO veacutertico LUVISSOLO 25

NC15

BRUNOS NAtildeO CAacuteLCICOS

INDISCRIMINADOS LUVISSOLO 40

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 25

PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 20

SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 15

PL6

PLANOSOL SOLOacuteDICO PLANOSSOLO 45

SOLONETZ SOLODIZADO PLANOSSOLO 35

SOLOS OTOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 20

Re6

SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO 65

PODZOacuteLICO VERMELHO AMARELO

EQUIVALENTE EUTROacuteFICO

ARGISSOLO VERMELHO

AMARELO EUTROacuteFICO 35

Re25 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel

estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -

Re26 SOLOS LITOacuteLICOS EUTROacuteFICOS NEOSSOLO LITOacuteLICO Natildeo foi possiacutevel

estimar AFLORAMENTOS DE ROCHA -

Fonte Jacomine et al (1973) e EMBRAPA (2006)

Figura 26 Associaccedilatildeo de solos em Irauccediluba

94

Por fim a figura 27 apresenta os quatro grandes grupos de solo encontrados em

Irauccediluba e sua distribuiccedilatildeo no municiacutepio sendo eles Podzoacutelico vermelho amarelo

equivalente eutroacutefico (PE) Bruno natildeo caacutelcico (NC) Planossolo (PL) e Solos litoacutelicos (Re)

Figura 27 Grupos de solos que formam associaccedilotildees pedoloacutegicas em Irauccediluba

3233 Clima

ldquoO clima na aacuterea do nuacutecleo de Irauccediluba eacute conforme classificaccedilatildeo de Koumlppen

(MILLER 1971) do tipo Bshw semiaacuterido megateacutermico com curta estaccedilatildeo chuvosa no

veratildeo-outono e com concentraccedilatildeo das precipitaccedilotildees pluviais nos meses de marccedilo e abrilrdquo

(ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 2) Anualmente o municiacutepio apresenta pluviometria

meacutedia abaixo dos 700 mm mas existe maior incidecircncia de chuva em outras regiotildees de

Irauccediluba Eacute o que demonstra a figura 28

Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba

Grupos de solos no municiacutepio de Irauccediluba

95

Figura 28 Precipitaccedilatildeo meacutedia anual de Irauccediluba

ldquoA regiatildeo apresenta um dos mais baixos iacutendices pluviomeacutetricos do Estado do Cearaacute

com meacutedia histoacuterica de 540 mm Isto porque a aacuterea encontra-se a sotavento da serra

de Uruburetama constituindo-se em uma ldquosombra de chuvardquo causada pela

interceptaccedilatildeo pela serra dos ventos uacutemidos oriundos do oceanordquo (ARAUacuteJO FILHO

e SILVA 2013 p 2)

O municiacutepio passa a maior parte do ano sem chuva aproximadamente dez meses

e apesar da pouca pluviosidade a evapotranspiraccedilatildeo eacute maior que a precipitaccedilatildeo Sem poder

ser diferente as temperaturas variam de 25 a 28 graus sendo que na maior parte da aacuterea

incidem temperaturas de 26 a 27 graus centiacutegrados e a umidade aponta a incidecircncia do clima

semiaacuterido em Irauccediluba As figuras 06 29 30 31 e 32 ilustram as informaccedilotildees declaradas

96

Figura 29 Distribuiccedilatildeo de meses secos em Irauccediluba

Figura 30 Evapotranspiraccedilatildeo potencial total anual

97

Figura 31 Temperatura meacutedia anual de Irauccediluba

Figura 32 Iacutendice Efetivo de umidade em Irauccediluba

Fonte NOLEcircTO (2005)

98

3234 Vegetaccedilatildeo

A caatinga eacute um dos maiores biomas brasileiros e significa mata branca Por ser

uma vegetaccedilatildeo xeroacutefila eacute capaz de suportar vaacuterios anos de estiagem recuperando com

rapidez suas atividades logo nas primeiras chuvas apoacutes a seca A adaptaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo ao

clima semiaacuterido eacute impressionante como por exemplo as cascas claras ou reluzentes servem

para diminuir o aquecimento do tecido vivo da planta Por causa da falta de aacutegua satildeo

caducifoacutelias isto eacute as folhas caem durante a estaccedilatildeo seca para evitar excesso de perda d‟aacutegua

pela evapotranspiraccedilatildeo aleacutem disto os caules satildeo projetados para armazenar aacutegua (MAIA

2012)

ldquoA caatinga se assemelha a arbustos tropicais ou bosques de espinhos Eles

contecircm pequenas aacutervores de madeira dura grotescamente retorcidas e com espinhos as folhas

satildeo pequenas e caem durante a estaccedilatildeo secardquo Odum e Barret (2008 p 453)

Fisionomicamente eacute possiacutevel diferenciar os tipos de vegetaccedilatildeo o arboacutereo que estaacute nas

superfiacutecies mais conservadas sendo o pau branco o angico o pereiro dentre outras suas

espeacutecies mais representativas o arbustivo que eacute sinal de aacutereas jaacute degradadas pelo

desmatamento uso agriacutecola e pecuaacuteria e o herbaacuteceo figurado por gramiacuteneas presentes

somente durante o periacuteodo chuvoso e explorado pela pecuaacuteria extensiva (DANTAS et al

2007)

ldquoO Bioma Caatinga estaacute inserido no quadro dos Ecossistemas da Regiatildeo das

Caatingas e Florestas Deciduais do Nordeste Abrange as especificidades do Domiacutenio

Morfoclimaacutetico das Caatingas sejam elas arbustivas ou arboacutereasrdquo (BRASIL 2004 p 68) Os

frutos amadurecem ao fim da eacutepoca das chuvas quase que generalizadamente na maioria das

espeacutecies arboacutereas e herbaacuteceas permanecendo pendentes dos ramos durante algum tempo Ao

se desprenderem e caiacuterem no solo natildeo germinam de imediato pois a resistecircncia da casca e

outros artifiacutecios da natureza impedem a germinaccedilatildeo pronta Se germinassem morreriam quase

em seguida natildeo resistindo agrave longa estaccedilatildeo seca e quente da estiagem com interrupccedilatildeo brusca

e total das chuvas A germinaccedilatildeo poreacutem processa-se rapidamente logo ao caiacuterem as

primeiras chuvas pois os indumentos foram intensamente desgastados pelo intemperismordquo

As queimadas realizadas para a preparaccedilatildeo de novos terrenos de cultivo desempenham papel

de grande poder destruidor do ambiente ldquoCompreende-se pois que a restauraccedilatildeo da

cobertura vegetal depende da preservaccedilatildeo desses estoques de sementesrdquo26

26

Conferir SOBRINHO Vasconcelos (1983) In PAN Brasil 2004

99

ldquoA vegetaccedilatildeo da aacuterea do nuacutecleo de desertificaccedilatildeo de Irauccediluba espelha os efeitos dos

fatores fiacutesicos mormente os de natureza hiacutedrica e edaacutefica e da accedilatildeo antroacutepica

Assim as aacutereas dos solos argissolos litoacutelicos e luvissolos apresentam uma cobertura

arbustiva-arboacuterea formando um verdadeiro mosaico de diferentes estaacutedios

sucessionais em virtude das praacuteticas agriacutecola ambientalmente agressivasrdquo [] ldquoAs

aacutereas sobre os planossolos estatildeo recobertas por uma caatinga assavanada e

esporadicamente com afloramentos rochosos e com cobertura arbustiva arboacuterea

meacutedia abaixo de 20 e densidade de cerca 200plantasha A camada herbaacutecea de

biodiversidade inferior ao das aacutereas de luvissolos ou argissolos eacute rica no entanto

em espeacutecies forrageiras destacando-se a erva de ovelha (Stylosanthes humilis)

vassourinha (Stylosanthes angustifolia) urinana (Zornia bracteata) e capim accedilu

(Paspalum milegrana) O capim panasco no entanto predomina nas aacutereas

sobrepastejadasrdquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA 2013 p 34)

A figura 33 espelha a composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba Segue claro que a Caatinga

Arboacuterea Sem Palmeira (Cas) predomina seguida da Caatinga Arboacuterea Com Palmeira (Cap) e

da Caatinga Parque Sem Palmeira (Cps) A Floresta Ombroacutefila Aberta (Acc1) e as Aacutereas De

Formaccedilatildeo Pioneira (Acc2) representam uma aacuterea menor do municiacutepio

Figura 33 Composiccedilatildeo vegetal de Irauccediluba

3235 Recursos Hiacutedricos

O nuacutecleo de Irauccediluba estaacute situado na bacia hidrograacutefica do rio Curu contando com

o aporte dos rios Aracatiaccedilu e Caxitoreacute aleacutem de vaacuterios riachos destacando-se o Aroeira o

Fonte NOLEcircTO (2005)

Fonte NOLEcircTO (2005)

100

Gabriel e o Cachoeira A ausecircncia de barragens de porte representativo faz com que a

pequena accediludagem assuma um papel relevante Destacam-se dentre essas os Accediludes Satildeo

Gabriel do Mocoacute (IRAUCcedilUBA 2009)

Por conta da irregularidade das chuvas que contribui para favorecer o escoamento

de superfiacutecie junto agraves condiccedilotildees geoloacutegicas predominantemente cristalinas favorecem o

escoamento raacutepido das aacuteguas pluviais inviabilizando o acuacutemulo de aacuteguas subterracircneas em

quantidades razoaacuteveis (IRAUCcedilUBA 2009) existem no municiacutepio cerca de 28 pequenos

accediludes nomeando-se o Nogueira Ramos o Cairu Santo Antocircnio do Aracatiaccedilu e o Jerimum

que abastece a cidade de Irauccediluba ldquoUma estrutura muito comum no municiacutepio eacute o barreiro da

salvaccedilatildeo constituindo-se em um sistema temporaacuterio de armazenamento de aacutegua para atender

agrave demanda dos rebanhos durante boa parte da estaccedilatildeo secardquo (ARAUacuteJO FILHO e SILVA

2013 p 3)

324 Caracteriacutesticas geoambientais das propriedades em estudo

A partir da abordagem feita no item 323 passa-se a analisar a realidade de cada

propriedade estudada Visando apontar os aspectos geoambientais dos imoacuteveis construiu-se

um quadro siacutentese conforme tabela 15 abaixo

Tabela 15 ndash Anaacutelise Geral das propriedades estudadas

Anaacutelise

Imoacuteveis com Reserva Legal

Riachuelo

Alto Alegre

Aacuteguas

Mortas

Almas

Cajazeiras

II

Saco

Verde

Miramar

Classe

no

Tipo

Niacuteveis da Classe

no Tipo

Aacuterea (km2)

336 238 127 124 671 86

no Niacutevel da Classe no Tipo

Precipitaccedilatildeo

Total

Meacutedia Anual

lt 600 - - - - 103 -

600 a 700 100 100 100 755 100

700 a 800 - - - 976 112 -

800 a 900 - - - 24 - -

Temperatura

Meacutedia Anual

(oC)

25-26 - - - - 71 -

26-27 100 100 100 100 929 100

27-28 - - - - - -

ETP

lt 1450 - - - - 100 100

1450-1500 - - - - - -

1500-1550 - - - - - -

1550-1600 100 100 100 - - -

1600-1650 - - - 141 - -

1650-1700 - - - 859 - -

101

Nugravemero

de

Meses secos

85 a 95 100 100 564 100 330 -

95 a 105 - - 454 - 670 100

gt105 - - - - - -

Im

gt - 333 - - - - - -

- 344 a - 499 100 100 100 100 388 15

lt - 499 - - - - 612 985

Igravendice de Aridez

do UNEP 020 a 050 100 100 100 100 780 100

050 a 065 - - - - 220 -

Classes

de

Relevo

Plano 23 46 56 112 55 135

Suave Ondulado 162 316 378 373 227 485

Ondulado 194 338 427 64 124 130

Muito Ondulado 127 111 72 38 72 70

Forte Ondulado 463 185 66 264 400 179

Montanhoso 31 04 - 105 120 03

Escarpado - - - 44 02 -

Classes

de

Altitude

80-120 - - -- 560 - -

120-160 - - - 113 - -

160-200 - - - 60 321 -

200-240 54 171 723

240-280 01 41 460 40 85 202

280-320 139 614 521 36 68 49

320-360 349 211 10 41 56 24

360-400 178 65 01 38 70 02

400-440 90 24 - 28 53 -

440-480 63 21 - 19 55 -

480-520 45 16 - 10 45 -

520-560 33 05 - 02 32 -

560-600 29 02 - - 15 -

600-640 25 01 - - 10 -

640-680 17 - - - 08 -

680-720 13 - - - 07 -

720-760 07 - - - 03 -

760-800 05 - - - 02

800-840 03 - - - - -

840-880 02 - - - - -

880-920 01 - - - - -

Associaccedilotildees

de

Solos

PE 6 - - - - 207 -

PE 42 - - - 913 - -

NC 7 - - - - - -

NC 15 940 755 516 - - 441

PL 6 - - - - 348 -

Re 6 - - - - - -

Re 25 - - - 87 445 -

Re 26 60 245 424 - - 559

Grupos

de

solos

PE - - - 913 207 -

NC 940 762 516 - - 441

PL - - - - 348 -

Re 60 238 484 87 445 559

Cobertura

Vegetal

Cas 515 934 100 - 265 100

Cap - - - 649 - -

Cps - - - - 168 -

Acc1 485 66 - - - -

Acc2 351 567 -

Quanto agrave graduaccedilatildeo altimeacutetrica em que se encontra cada propriedade em estudo eacute

possiacutevel observar que a RiachueloAlto Alegre tem niacuteveis de altimetria crescentes a partir de

102

240 ateacute 920 metros destacando-se como o imoacutevel de maior altitude seguido de Saco Verde e

Aacuteguas Mortas As outras natildeo passam dos 560 metros de altitude

Em se tratando da classe de relevo a que se apresenta mais plana eacute Miramar com

135 de sua aacuterea seguida de Cajazeiras II com 112 Em relevo montanhoso destacam-se

Saco Verde com 12 de terreno e Cajazeiras II com 105 No entanto a predominacircncia eacute de

imoacuteveis inseridos na faixa entre o suave ondulado e o forte ondulado

Os imoacuteveis em anaacutelise situam-se em diferentes grupos de solos como ilustra a

tabela 15 Por exemplo RiachueloAlto Alegre e Aacuteguas Mortas estatildeo 94 e 762

respectivamente em luvissolos ou seja em solos Bruno natildeo caacutelcicos e Podzoacutelico vermelho

amarelo equivalente eutroacutefico Almas e Miramar estatildeo divididas aproximadamente agrave metade

em solo litoacutelico e em Bruno natildeo caacutelcico Em Cazajeiras II predomina o solo Podzoacutelico

vermelho amarelo equivalente eutroacutefico mas apresenta um pequeno percentual em solo

litoacutelico E por fim Saco Verde possui uma distribuiccedilatildeo variada de solos Podzoacutelico vermelho

amarelo equivalente eutroacutefico (207) Planossolos (348) e litoacutelicos (445) sendo o

uacutenico imoacutevel com planossolos

Nas associaccedilotildees de solos prevalece a subclasse 15 dos solos Bruno natildeo caacutelcicos

(NC) nas propriedades RiachueloAlto Alegre Aacuteguas Mortas e Almas Cajazeiras II estaacute

quase totalmente na subclasse 42 do Podzoacutelico vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) e

Miramar mesmo quase ao meio entre NC e Re possui a maior parte de sua aacuterea na subclasse

26 de solos litoacutelicos (Re) Saco Verde embora um tanto quanto bem distribuiacuteda tem 207

de aacuterea na subclasse 6 dos Podzoacutelicos vermelho amarelo equivalente eutroacutefico (PE) 348

em planossolos subclasse 6 inclusive eacute o uacutenico imoacutevel nessa classificaccedilatildeo e 445 em Re6

A realidade das aacutereas em estudo descrita na tabela 15 revela que mais da metade

delas estaacute inserida na faixa de pluviosidade abaixo dos 700 mm contudo Cajazeiras II foge agrave

regra apresentando pluviometria entre 700 a 900 mm Em Saco Verde ocorre distribuiccedilatildeo

irregular de chuvas e aleacutem de estar na meacutedia tem precipitaccedilatildeo tanto abaixo dos 600 como

acima de 700 mm

E por fim a cobertura vegetal de Almas Miramar quase toda de Aacuteguas Mortas e

a metade RiachueloAlto Alegre eacute de caatinga arboacuterea sem palmeira (Cas) enquanto que mais

de 50 da Cajazeiras II estaacute em caatinga arboacuterea com palmeira (Cap) Saco Verde tem mais

da metade da aacuterea em formaccedilatildeo pioneira (Acc2)

103

33 Metodologia

A metodologia utilizada no levantamento acerca da existecircncia de reserva legal no

municiacutepio de Irauccediluba envolveu algumas fases de anaacutelise como pesquisa bibliograacutefica

documental caracterizaccedilatildeo da aacuterea sob os aspectos sociais econocircmicos e ambientais o uso de

imagens orbitais e a aplicaccedilatildeo do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada (NDVI -

Normalized Difference Vegetation Index) nas propriedades em estudo

A abordagem envolveu o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo uma vez que para avaliar a

aplicabilidade da reserva legal como forma de combater o processo de degradaccedilatildeo ambiental

em Irauccediluba partiu-se da hipoacutetese de que se cada detentor de propriedade rural cumprisse a

obrigaccedilatildeo de implantaacute-la o processo de degradaccedilatildeo quiccedilaacute o de desertificaccedilatildeo seria estancado

no municiacutepio Aleacutem disso seria um instrumento proporcionador da recuperaccedilatildeo ambiental em

virtude de seus benefiacutecios A investigaccedilatildeo se deu por procedimentos de vieacutes histoacuterico e

comparativo tendo sido realizada uma retrospectiva de como foi o tratamento dado agrave reserva

legal no contexto juriacutedico econocircmico social e ambiental Aleacutem disto estudou-se as

propriedades que apresentaram o instituto mesmo que soacute documentalmente de maneira a

confrontar a situaccedilatildeo existente nos anos de 1993 e 2007 e sua modificaccedilatildeo

Para alcanccedilar os propoacutesitos deste trabalho ocorreu a coleta de dados pela pesquisa

documental e bibliograacutefica aleacutem da observaccedilatildeo direta intensiva que foi possiacutevel pelo exame

de dados obtidos por imagens do sateacutelite LANDSAT 5 referente aos anos de 1993 e 2007

bem como a avaliaccedilatildeo das aacutereas estudadas atraveacutes do Iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila

Normalizada (NDVI)

As informaccedilotildees geograacuteficas das propriedades em estudo foram disponibilizadas

basicamente pelo INCRA e pelo cartoacuterio de imoacuteveis de Irauccediluba Ambos cederam as plantas

georreferenciadas que foram vetorizadas em UTM 24s atraveacutes do programa CARTALINX 12

para em seguida serem exportadas para o IDRISI 322 e entatildeo convertidas para latitude e

longitude DATUM GS 84

331 Aplicaccedilatildeo do NDVI para comparaccedilatildeo entre imagens de sateacutelite

O NDVI eacute um iacutendice de vegetaccedilatildeo derivado de imagens de sateacutelites e muito

utilizado na avaliaccedilatildeo da cobertura vegetal indicando o tipo a condiccedilatildeo e a densidade da

vegetaccedilatildeo atraveacutes do uso de bandas No caso as bandas do vermelho na faixa do visiacutevel e do

infravermelho proacutexima (PINHEIRO 2011) Agrave medida que aumenta a quantidade de

104

vegetaccedilatildeo verde aumenta a reflexatildeo na banda do infravermelho proacuteximo e diminui a reflexatildeo

na banda do vermelho fazendo com que o aumento da razatildeo seja potencializado realccedilando

assim a vegetaccedilatildeo27

Na banda do vermelho a clorofila absorve a energia solar resultando em uma

baixa reflectacircncia e no infravermelho proacuteximo tanto a morfologia interna das folhas quanto a

estrutura da vegetaccedilatildeo apresentam uma alta reflectacircncia da energia solar incidente A

combinaccedilatildeo dessas bandas realccedila a aacuterea de vegetaccedilatildeo nas imagens e quanto maior o contraste

maior o vigor da vegetaccedilatildeo da aacuterea imageada (LOURENCcedilO LANDIM 2004)28

Portanto o NDVI pode ser utilizado como uma teacutecnica para mapeamento

contiacutenuo da cobertura vegetal de uma regiatildeo possibilitando analisar e monitorar a

variabilidade desta em periacuteodos distintos (PINHEIRO 2011) Ressaltam ainda as diferenccedilas

entre aacutereas vegetadas e de solo exposto (VERONA 2002)29

O caacutelculo para se chegar ao NDVI deriva da razatildeo entre os valores das bandas do

vermelho e infravermelho proacuteximo ou seja a diferenccedila da resposta espectral do pixel dessas

bandas pela sua soma (SILVA et al 2007)30

resulta nos valores do NDVI que variam de ndash1 a

+1 A equaccedilatildeo para o caacutelculo do NDVI foi proposta por (JENSEN 1996)31

in Ewerton Torres

Melo 2008) conforme segue abaixo

NDVI = (NIR - R) (NIR + R)

Em que

NDVI eacute o iacutendice de Vegetaccedilatildeo por Diferenccedila Normalizada NIR eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Infra-Vermelho Proacuteximo

(076 a 090 μm)

R eacute a refletacircncia no comprimento de onda correspondente ao Vermelho (063 a 069μm)

Assim a vegetaccedilatildeo eacute caracterizada por uma intensa absorccedilatildeo devido agrave clorofila na

regiatildeo do vermelho (063 ndash 069 μm) e por uma intensa energia refletida na regiatildeo do

infravermelho proacuteximo (076 ndash 090 μm) causada pela estrutura celular das folhas Portanto

muitos dos modelos de iacutendice de vegetaccedilatildeo utilizam somente as bandas de imagem vermelha

ou proacutexima ao infravermelho (MELO 2008)

27

Novo (1989) In MELO Ewerton Torres (2008) 28

In PINHEIRO 2011 29

Idem 30

Ibidem 31

In MELO 2008

105

Conforme (BRAGA et al sd) estudos de variabilidade temporal e espacial sobre

a regiatildeo Nordeste do Brasil indicam que as aacutereas vegetadas variam de 01 a 08 sendo que

esses valores dependem da estrutura densidade e umidade da vegetaccedilatildeo As rochas e os solos

apresentam valores proacuteximos de zero e a aacutegua aparece com valores negativos Coberturas

vegetais muitos densas se expressam pelos maiores valores obtidos (PINHEIRO 2011)

106

4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES

41 Reserva legal e degradaccedilatildeo ambiental em Irauccediluba

O foco principal da pesquisa foi levantar e analisar as propriedades que de alguma

forma apresentem a reserva legal seja oficial ou extraoficialmente Com o exame das imagens

de sateacutelite dos anos de 1993 e 2007 utilizando o NDVI constatou-se que os iacutendices da

cobertura vegetal satildeo muito parecidos tanto dentro como fora da aacuterea de reserva ao serem

comparados pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Isto leva a crer que o instituto legal pode natildeo

ter promovido qualquer diferenccedila em termos de cobertura vegetal sem falar na hipoacutetese de

nem mesmo ter sido cumprido

Analisando os iacutendices de NDVI comprova-se que na grande maioria dos

imoacuteveis a cobertura vegetal tanto dentro como fora da aacuterea de reserva legal diminuiu entre

os anos de 1993 e 2007 Embora nas propriedades a vegetaccedilatildeo se apresente em niacuteveis

diferenciados de existecircncia representados pelas faixas 2 a 9 da tabela 16 vecirc-se que quase

todos em 1993 apresentavam aacutereas significativas de vegetaccedilatildeo na faixa 6 e 7 Se averiguar as

mesmas colunas em 2007 eacute notoacuteria a retraccedilatildeo nos iacutendices salvo na faixa 5 referente aos

imoacuteveis Aacuteguas Mortas Almas e Saco Verde

Tabela 16 - NDVI dos imoacuteveis estudados

IMOacuteVEL SEGMENTO ANO

Aacuterea no niacutevel de NDVI como uma porcentagem da aacuterea total do segmento

Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Faixa 4 Faixa 5 Faixa 6 Faixa 7 Faixa 8 Faixa 9

0 a 01 01 a 02 02 a 03 03 a 04 04 a 05 05 a 06 06 a 07 07 a 08 08 a 09

Riachuelo

Alto

Alegre

Fora 1993 0558 0458 0978 2418 9904 68884 16798 0022 0019

2007 1369 1351 2366 9734 56243 28713 0205 0019 -

Reserva 1993 0532 0319 0473 1006 3224 57424 36868 0074 -

2007 1818 1611 1951 7524 53112 33777 0207 - -

Aacuteguas

Mortas

Fora 1993 1588 1833 2701 6525 18029 41168 28024 0141 -

2007 4979 3485 4979 12220 34523 39105 0616 0097 -

Reserva 1993 - - 0084 1246 10452 56862 31356 - -

2007 2092 1902 6677 6127 52292 34545 0275 0085 -

Almas Fora 1993 1954 1336 1650 3339 9359 48925 33222 0216 -

2007 0845 1463 2583 13464 44731 36659 0216 - 0039

Reserva 1993 13455 3058 2299 3858 12198 40686 23344 0156 0156

2007 1052 1208 1052 7947 53759 34827 0156 - -

Miramar Fora 1993 - - 1075 6023 36519 50699 5684 - -

2007 0810 1001 1870 6818 66765 22545 0132 0059 -

Reserva 1993 1540 0285 0799 7758 39646 48431 1540 - -

2007 - 0513 2339 33143 63206 0799 - - -

Saco

Verde

Fora 1993 6867 5558 9959 20131 37338 19016 0097 1097 1097

2007 6469 8972 19278 30986 32219 2026 0050 - -

Reserva 1993 6927 9383 17136 26903 29900 9113 0609 0030 -

2007 8767 10375 17166 29254 332881 1157 - - -

Cajazeiras

II

Fora 1993 0040 0606 8206 39766 45877 5412 0092 - -

2007 2003 9562 25154 44710 17723 0647 - - -

Reserva 1993 2885 2885 12402 48057 29936 2360 0674 - -

2007 3895 8165 21610 39476 26704 0150 - -

Os iacutendices de NDVI da tabela 16 serviram de base para o caacutelculo da anaacutelise de

semelhanccedila pelo meacutetodo de Sorensen (1948) Assim a constataccedilatildeo acima eacute confirmada pela

tabela 17 que por sua vez atesta o grau de similaridade entre a aacuterea interna e externa agrave

reserva legal nos anos analisados Eacute surpreendente o niacutevel de semelhanccedila encontrado O

percentual mais baixo em 1993 eacute de 798 chegando no mesmo ano a 933 Jaacute em 2007 a

percentagem de semelhanccedila diminui nos imoacuteveis Aacuteguas Mortas e Miramar de 81 para 75 e

de 933 para 731 respectivamente Isto natildeo quer dizer que o niacutevel de cobertura vegetal

melhorou ou piorou mas que a diferenccedila na semelhanccedila entre dentro e fora da aacuterea de reserva

legal nessas propriedades reduziu sugerindo que o respeito agravequele instituto pode ter

promovido a alteraccedilatildeo Em contrapartida nos outros imoacuteveis essa semelhanccedila aumentou

aproximando-se dos 94

Assim eacute provaacutevel que pelos meacutetodos utilizados a funccedilatildeo proposta pelo instituto

da reserva legal natildeo esteja sendo alcanccedilada visto que o grau de semelhanccedila entre a aacuterea de

dentro e fora da reserva legal estaacute muito aproximado pois sequer apresentou-se abaixo dos

70 de diferenccedila

Tabela 17 - Comparaccedilatildeo da cobertura vegetal pelo meacutetodo de Sorensen (1948)

ANAacuteLISE DE SEMELHANCcedilA DE SORENSEN () ENTRE

FORA E DENTRO DA AacuteREA DE RESERVA LEGAL

IMOacuteVEL

Reserva

ANO 1993 2007

108

Riachuelo Alto Alegre Fora 1993 798 -

2007 - 941

Aacuteguas Mortas Fora 1993 810 -

2007 - 750

Almas Fora 1993 821 -

2007 - 908

Saco Verde Fora 1993 799 -

2007 - 891

Cajazeiras II Fora 1993 813 -

2007 - 952

Miramar Fora 1993 933 -

2007 - 731

109

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A abordagem dos assuntos aqui tratados e os resultados alcanccedilados permitem a

conclusatildeo de que a reserva legal eacute uma criaccedilatildeo da lei com intenccedilotildees conservacionistas

avanccediladas Como espaccedilo especialmente protegido requer um tratamento diferenciado natildeo soacute

como previsto em normas mas sob a oacutetica da sociedade Observou-se que foi um assunto

amplamente tratado e debatido nas esferas do poder legislativo e judiciaacuterio do paiacutes e que

tambeacutem eacute alvo de poliacuteticas puacuteblicas e atuaccedilatildeo das autoridades competentes embora um tanto

falhas

Contatou-se que o emprego da reserva legal no municiacutepio de Irauccediluba eacute pouco expressivo

diante da quantidade de propriedades ali existentes por isso os benefiacutecios trazidos pela

conservaccedilatildeo desses espaccedilos mal podem ser sentidos no municiacutepio que sofre com a degradaccedilatildeo

ambiental contiacutenua inclusive com a presenccedila do processo de desertificaccedilatildeo Aleacutem disto a

falta de cumprimento do formal procedimento acerca da implantaccedilatildeo da reserva legal em

aacutereas puacuteblicas eacute intrigante Isto porque se pressupotildee accedilotildees de estrita legalidade envolvendo o

ente estatal Nesse sentindo partindo do entendimento que os projetos de assentamento satildeo

resultado de poliacuteticas puacuteblicas para reforma agraacuteria pressupunha-se que nestes espaccedilos a

reserva legal estaria estabelecida mas as anaacutelises mostraram que natildeo haacute diferenccedila quando

comparadas a aacuterea de dentro e de fora da reserva nas propriedades A situaccedilatildeo eacute anaacuteloga no

imoacutevel particular apreciado

A respeito da degradaccedilatildeo viu-se que Irauccediluba por ser rota de passagem do gado

desde o seacuteculo XIX aporta animais em transumacircncia de outras regiotildees Os relatos de jesuiacutetas

que cruzaram o municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XVII registram o lugar com vegetaccedilatildeo fechada

e densa Diante disso eacute possiacutevel afirmar que nem sempre Irauccediluba teve um ambiente inoacutespito

e com caracteriacutesticas severamente adversas O quadro atual se deve agraves intervenccedilotildees antroacutepicas

sem teacutecnicas apropriadas para o desenvolvimento de atividades econocircmicas em conjunto com

as caracteriacutesticas de um meio semiaacuterido Essas atividades geralmente abrangem culturas de

subsistecircncia praticadas recorrentemente no mesmo lugar sem o pousio necessaacuterio do solo que

por sua vez natildeo eacute tatildeo rico em nutrientes em decorrecircncia dos desmatamentos e queimadas

Pela caracterizaccedilatildeo da aacuterea de estudo pocircde se verificar que seus atributos

envolvem solos pouco profundos de baixa permeabilidade e baixo teor de mateacuteria orgacircnica

O clima eacute o semiaacuterido onde haacute baixa pluviometria e temperaturas em torno dos 28ordmC e a

vegetaccedilatildeo eacute caatinga nos tipos arbustivos e herbaacuteceos excepcionalmente o arboacutereo por causa

da degradaccedilatildeo

Os resultados mostraram que os iacutendices de NDVI nas propriedades analisadas

apontam um grau de semelhanccedila de ateacute 94 entre dentro e fora da aacuterea da reserva legal pelo

que se pode inferir 2 suposiccedilotildees

1) A reserva legal existe somente em niacutevel documental e natildeo no local apontado

dentro do imoacutevel

ou

2) A reserva legal existe mas estaacute com a cobertura vegetal bem semelhante agrave de fora

da sua aacuterea de maneira que pode estar tatildeo degradada quanto ou tatildeo conservada

quanto

Partindo para a segunda suposiccedilatildeo os iacutendices de NDVI constatam sim que a

cobertura vegetal apresenta um grau elevado de semelhanccedila entre os dois espaccedilos e que em 4

dos 6 imoacuteveis ambos diminuiacuteram de 1993 a 2007 Desta forma natildeo haacute como afirmar que a

reserva legal no estado em que se encontra nas propriedades analisadas eacute um meio de

combater a degradaccedilatildeo ambiental Contudo nos casos em que real e verdadeiramente for

aplicada por certo traraacute ganhos ambientais mas isto deve ser alvo de mais e maiores estudos

acerca do assunto

Eacute curioso que mesmo Irauccediluba sendo um nuacutecleo de desertificaccedilatildeo e por isso alvo

de estudos pesquisas projetos e poliacuteticas puacuteblicas envolvendo degradaccedilatildeo recuperaccedilatildeo e

conservaccedilatildeo ambiental a situaccedilatildeo aparentemente natildeo progride em termos de melhorias Ao

contraacuterio disto constata-se cada vez mais a deterioraccedilatildeo do meio ambiente a ocupaccedilatildeo e a

utilizaccedilatildeo indevida dos recursos naturais

Encerrando a abordagem do assunto tratado assevera-se que a reserva legal jaacute eacute

um instituto consolidado em lei natildeo justificando quaisquer argumentos quanto ao seu

descumprimento Inclusive a natildeo observacircncia do bendito mandamento eacute considerada crime e

nesse sentido natildeo haacute uma atuaccedilatildeo maciccedila do Estado em termos de fiscalizaccedilatildeo pois se assim

existisse natildeo se estaria diante de uma constataccedilatildeo tatildeo seacuteria acerca do pequeno nuacutemero de

imoacuteveis que apresentaram a reserva legal mesmo que documentalmente Essa estatiacutestica

diminuiu ainda mais quando se analisou a diferenccedila na vegetaccedilatildeo sendo possiacutevel concluir que

o caraacuteter conservacionista da reserva legal e ela proacutepria natildeo estatildeo alcanccedilando o fim para que

foi criada

Por fim acredita-se que a reserva legal se cumprida eacute um instrumento

conservacionista capaz de auxiliar na recuperaccedilatildeo ambiental e arrefecer os processos de

111

degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo criticamente manifestos no municiacutepio de Irauccediluba Indo mais

aleacutem vecirc-se que pela oacutetica do referido instituto o desenvolvimento sustentaacutevel eacute possiacutevel

pois mesmo de encontro a interesses particulares ele consegue reunir e harmonizar o vieacutes

econocircmico o social e o ambiental

112

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