Equilíbrio Econômico-Financeiro:
Aspectos Compensatórios
Mauricio Portugal Ribeiro
II Simpósio Nacional de Auditorias de Parcerias Público-Privadas
Sumário
Introdução1. Lugar do equilíbrio econômico-financeiro no contrato de concessão ou PPP
2. As dimensões do equilíbrio econômico-financeiro de contratos de concessão
3. Pretensão de objetividade e desconfiança da relação público-privada
4. Prática do reequilíbrio e teoria jurídica
Aspectos Compensatórios do Equilíbrio Econômico-Financeiro5. A função compensatória da atividade de recomposição do equilíbrio econômico-financeiro dos contratos
6. Verificação da distribuição contratual de riscos
7. Função da compensação
8. O plano de negócios da concessão como parâmetro representativo do contrato em estado de equilíbrio
9. Metodologia para cálculo do valor da compensação
9.1. Reembolso a vista pelo Poder Concedente
9.2. E se reembolsar a prazo
9.3. Para tratamento do valor do dinheiro no tempo deve ser utilizada a taxa de retorno do projeto (desalavancada) ou a do
acionista (alavancada)?
9.4. A escolha da forma de compensar a concessionária
Introdução ao Equilíbrio
Econômico-Financeiro
Cerne do
Contrato
Indicadores de serviço +
Sistema de Pagamentos
Matriz de Riscos
Eventos que afetam a execuçãodas obrigações principais do contrato
Sistemas Compensatórios e SistemasRegulatórios
Regramento das compensações para cumprimento da matriz de riscos e adequação do contrato a novas
circunstancias econômicas
Lugar do reequilíbrio em contratos de concessão e PPP
Dimensões do Equilíbrio Econômico-
Financeiro
• Equilíbrio entre as partes
• Compensações por riscos de uma parte que atingem a outra
• Descumprimentos do contrato
• Alteração do contrato
• Equilíbrio com o seu ambiente econômico
• Mecanismos regulatórios para adequar preço e outras características do
contrato à alterações no seu ambiente econômico
Pretensão de objetividade: desconfiança
na relação público-privado
• Pretensão de tratamento objetivo (sem necessidade de julgamento
subjetivo), automatizado
• Em outros países várias ocorrências são tratadas como renegociação
• Desconfiança dos agentes públicos e da relação público/privado leva as partes
a não assumir que em muitos casos é renegociação
• Reconhecer em alguns casos que se trata de renegociação daria
maior flexibilidade
• Alterações relevantes de distribuição de riscos, inclusive para reequilibrar o
contrato
• Alterações em premissas técnicas ou econômico-financeiras do contrato
• Cria desafio hercúleo, com pretensão somente existente no Brasil
• Desenvolver regras absolutamente objetivas e automáticas de compensação
para alterações do contrato, descumprimentos e manifestação de riscos a
ocorrerem em 20, 30 anos de contrato
O mínimo que os contratos deveriam
prever
• Em relação às compensações:• Distribuição clara de riscos
• Definir o parâmetro do que é o contrato em estado de equilíbrio inclusive as premissas que devem ser
mantidas constantes para efeito de recomposição do equilíbrio (TIR de projeto e alavancagem, por
exemplo)
• Definir onde essas premissas devem ser buscadas
• Em plano de negócios anexo à proposta
• No contrato
• Não faz sentido estipulá-las a posteriori (como tem sido comum nos contratos Federais), salvo no caso de novos
investimentos
• Definir a metodologia para cálculo da compensação que seja adequada para o tipo de compensação a ser
realizado
• Reequilíbrio por fluxo de caixa marginal para qualquer evento que não seja novo investimento, por exemplo,
não faz sentido
• Em relação ao aspecto regulatório• Difícil fazer regra geral
• A necessidade de estabilidade institucional para haver regulação discricionária
• A necessidade de definir previamente as metodologias regulatórias (o erro do fator X indeterminado)
• Se não há regras contratuais sobre revisão, não há direito de realizar a revisão, salvo se por acordo
entre as partes
Aspectos Compensatórios do
Equilíbrio Econômico-Financeiro
Prática do Reequilíbrio e Teoria Jurídica
• Prática de reequilíbrio se distanciou da teoria jurídica
• Prática se baseia em lógica econômico-financeira
• Teoria jurídica tem se mostrado incapaz de acompanhar a prática, talvez por falta de formação
econômica e financeira dos operadores do direito
O a atividade de recomposição do equilíbrio é uma
atividade compensatória
• Riscos que a lei ou contrato atribui a uma das partes, mas cujo evento
gravoso impacta a outra parte
• Descumprimento do contrato por uma parte, que impacta econômica e
financeiramente a outra parte
• Alterações no contrato
Motor de arranque da atividade de reequilíbrio é a
verificação da responsabilidade pelo risco
• Partes do contrato precificam riscos no momento da sua celebração
• Se uma parte obter benefício do reequilíbrio por evento gravoso cujo risco
é dela, a outra parte estará pagando pelo menos 2 vezes pelo mesmo risco
Função da compensação de parte a
parte
• Trazer a parte atingida, por evento cujo risco é de
outra parte, à condição anterior à ocorrência do evento
gravoso
• De uma perspectiva econômica e financeira
Qual o parâmetro representativo
do contrato em estado de
equilíbrio?
• Geralmente o Plano de Negócios apresentado em conjunto com a
proposta na licitação
• Plano de negócios explicita como foram feitos os cálculos que
resultaram na proposta do participante da licitação• Custo de investimentos
• Custos operacionais
• Custo de capital próprio e de terceiros
• Demanda
• Preço do serviço
• Receitas acessórias
• Pagamento Público
• Rentabilidade
Qual o parâmetro representativo
do contrato em estado de
equilíbrio?
• Geralmente o Plano de Negócios apresentado em conjunto com a
proposta na licitação
• Plano de negócios explicita como foram feitos os cálculos que
resultaram na proposta do participante da licitação• Custo de investimentos
• Custos operacionais
• Custo de capital próprio e de terceiros
• Demanda
• Preço do serviço
• Receitas acessórias
• Pagamento Público
• Rentabilidade
Exemplo hipotético
• Contrato de concessão comum de rodovia, com prazo de 25 anos
• Manifestação pública gera atos de vandalismo que destroem
parcialmente praça de pedágio
• Dois efeitos: (a) custos adicionais para o concessionário para
consertar a praça de pedágio; (b) supressão temporária da cobrança
de pedágio
• Para fins didáticos, vamos focar apenas no reequilíbrio pelos custos
adicionais para consertar a praça de pedágio
• Análise do contrato mostra que o risco de manifestações é do Poder
Concedente
Se o Poder Concedente quiser
pagar à vista
• Precisa apenas entrar em acordo com o concessionário a respeito do
critério para precificação do custo para consertar a praça de pedágio
• Muitas vezes não faz sentido usar os parâmetros do plano de
negócios, porque ele foi feito na origem do contrato e o evento
gravoso pode ocorrer vários anos depois
• Muitas vezes não é viável prever no contrato a metodologia para
precificação, senão de forma genérica
• O mais comum é as partes buscarem referências em preços de
mercado ou de custos públicos para precificar a ocorrência gravosa
Mas o Poder Concedente nunca
quer pagar à vista
• Por decisão política
• O processo orçamentário-financeiro dificulta o pagamento a
vista
• Mas não há nenhum impedimento legal em pagar a vista,
mesmo que não haja previsão expressa no contrato
• Compensação pela ocorrência de risco de uma parte que afeta a
outra é como qualquer outra obrigação ou pagamento
contratual, que deve ser cumprida/realizado pela Administração
Pública
E se Poder Concedente resolver
pagar a prazo?
• É preciso escolher a forma de compensar a concessionária, dentre outras:
(a) Pagamento direto de uma parte à outra;
(b) Variação do valor da tarifa;
(c) Variação do valor da contraprestação ou aporte público (ou pagamento pela
outorga, se for uma concessão comum); e,
(d) Variação do valor dos investimentos a serem realizados pelas partes;
(e) Variação do prazo do contrato.
• Enumerações contratuais de formas de compensação devem ser sempre
entendidas como exemplificativas (e não taxativas)
• Comprovado o evento gravoso, o dever de compensação é uma dívida
contratual
Tratamento do valor da
compensação no tempo
• Ao deslocar pagamento no tempo Poder Concedente está
tomando empréstimo compulsório do concessionário
• Deve ser remunerada pela taxa interna de retorno, prevista
no Plano de Negócios
• Cuidado com o problema da mudança da alavancagem em
projetos reequilibrados por TIR de projeto
Como se faz isso na prática?
• Desinflaciona-se o custo adicional até o ano de referência do Plano
de Negócios
• Insere-se na Planilha do Excel no ano respectivo o valor do custo
adicional
• Usa-se a função atingir meta, variando a forma escolhida para
compensação, mantendo-se a taxa de retorno do acionista da
concessionária
• Como o Plano de Negócios geralmente é feito a preços constantes,
com referência no ano anterior à assinatura do contrato, será
necessário inflacionar os valores (usando o índice de reajuste
contratual, por exemplo, o IPCA), para aplica-los à realidade
Obrigado!!