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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes

Departamento de Letras Estrangeiras Modernas Graduação em Letras-Inglês

Bacharelado em estudos linguísticos

O Letramento Visual em Livros Didáticos de Inglês: estudo do

Guia de Livros Didáticos PNLD2011 de línguas estrangeiras e do

livro Keep in Mind

Rodrigo Calatrone Paiva

Orientadora: Clarissa Menezes Jordão

Curitiba, 2011

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes

Departamento de Letras Estrangeiras Modernas Graduação em Letras-Inglês

Bacharelado em estudos linguísticos

O Letramento Visual em Livros Didáticos de Inglês: estudo do

Guia de Livros Didáticos PNLD2011 de línguas estrangeiras e do

livro Keep in Mind

Rodrigo Calatrone Paiva Monografia apresentada à Graduação de Letras-Inglês | Bacharelado em estudos linguísticos da Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em estudos linguísticos. Orientadora: Clarissa Menezes Jordão.

Curitiba, 2011

RESUMO

Esta monografia tem como tema o letramento visual em livros didáticos de ensino de inglês. O trabalho

apresenta definições do conceito de letramento e tentativas de definição de letramento visual além de uma

investigação realizada no Guia de Livros Didáticos PNLD2011 de línguas estrangeiras e no livro didático

Keep in Mind de ensino de língua inglesa com o intuito de verificar como o letramento visual é

contemplado nestas obras. Verificou-se ao final do estudo que o Guia e o livro didático deixam a desejar

no que se refere à promoção do letramento visual em virtude da falta de exigência específica do Guia

para o trabalho com a linguagem visual nos livros didáticos e a falta de atividades que explorem tal

linguagem no livro didático analisado.

Palavras-chave: Letramento Visual, Multiletramentos, Novos Letramentos, Ensino de Inglês, Livro Didático.

ABSTRACT

The theme of this monograph is the visual literacy in English language teaching books. This work presents

definitions for the concept of literacy and definition attempts of visual literacy. Furthermore a study was carried

out in the foreign languages Teaching Books Guide PNLD2011 and in the book Keep in Mind with the purpose

of verifying how visual literacy is considered in these works. As a conclusion it could be seen that the Guide and

the teaching book lack aspects which promote visual literacy because there are no specific requirements in the

Guide related to the work with visual language in teaching books and the analyzed teaching book lacks activities

which explore such kind of language.

Keywords: Visual Literacy, Multiliteracies, New Literacies, English Teaching, Teaching Books.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................... 6

Questão de pesquisa ..........................................................................................................................................6

Objetivo...............................................................................................................................................................6

Delimitação da pesquisa....................................................................................................................................6

Justificativa ..........................................................................................................................................................7

Estrutura da monografia ...................................................................................................................................9

1 LETRAMENTO..................................................................................................... 10

1.1 Definições de letramento .........................................................................................................................10

1.2 Novos e Multiletramentos ........................................................................................................................15

2 LETRAMENTO VISUAL...................................................................................... 18

2.1 Definições de letramento visual...............................................................................................................18

2.2 Discussão.....................................................................................................................................................26

3 LETRAMENTO VISUAL NO PNLD-2011 DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS E EM LIVROS SELECIONADOS PELO GUIA DE LIVROS DIDÁTICOS ................. 29

3.1 O Guia de Livros Didáticos PNLD-2011 de línguas estrangeiras ........................................................29

3.2 Keep in Mind...............................................................................................................................................32

3.2.1 Descrição do livro ...................................................................................................................................32

3.2.2 Análise da “Assessoria Pedagógica” ....................................................................................................33

3.3 Discussão.....................................................................................................................................................41

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 43

4.1 Contribuições do trabalho........................................................................................................................44

4.2 Limitações do trabalho .............................................................................................................................44

4.3 Desdobramentos futuros ..........................................................................................................................44

REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 46

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INTRODUÇÃO

O presente estudo visa investigar e refletir sobre o Letramento Visual no Guia de Livros

Didáticos PNLD2011 (doravante Plano Nacional do Livro Didático 2011) de línguas

estrangeiras (BRASIL, 2011) e em um dos livros didáticos de ensino de língua inglesa

selecionados por este guia.

Questão de pesquisa

A questão norteadora deste trabalho é: como o letramento visual é contemplado no Guia

de Livros Didáticos PNLD2011 e no livro didático de ensino de inglês Keep in Mind

selecionado pelo Guia?

Objetivo

Em vista da questão de pesquisa, tem-se aqui por objetivo verificar no Guia de Livros

Didáticos PNLD2011 de línguas estrangeiras e em um livro de uma coleção selecionada pelo

Guia, aspectos que promoveriam ou não o letramento visual dos estudantes e de que forma se

daria isto.

Delimitação da pesquisa

A pesquisa foi realizada no Guia de Livros Didáticos PNLD2011 de línguas estrangeiras e

em um livro de uma coleção selecionada e apresentada no Guia. O guia apresenta duas

coleções que atenderam os critérios estabelecidos no processo de seleção e neste trabalho se

optou pela coleção Keep in Mind (CHIN e ZAOROB, 2010b). A escolha se deveu a um

levantamento informal realizado por Storck (2011) em algumas escolas onde se verificou que a

coleção Keep in Mind foi escolhida pela maioria das escolas examinadas. Além disso, o livro

analisado será o manual do professor do 9º ano do ensino fundamental.

Para a realização deste estudo existem algumas justificativas que serão descritas a seguir.

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Justificativa

Nas últimas décadas observaram-se mudanças no mundo devido à globalização e às novas

tecnologias especialmente em relação aos meios de comunicação e à circulação de

informação. Tais mudanças demandam novos procedimentos e consequentemente novos tipos

de letramento para que as pessoas possam se informar adequadamente de acordo com as

novas formas de produção e recepção de informação que vão além da linguagem escrita e

falada, incluindo aí a linguagem visual (THE_NEW_LONDON_GROUP, 1996; KRESS e VAN

LEEUWEN, 2006; JORDÃO, 2007; STREET, 2008; MONTE MÓR, 2009; ROJO, 2009; KRESS,

2010; MONTE MÓR, 2010).

Já no ano de 1973, Dondis ([1973] 2007) chamava a atenção para o advento das novas

tecnologias e a linguagem visual relacionada a elas:

Se a invenção do tipo móvel criou o imperativo de um alfabetismo verbal

universal, sem dúvida a invenção da câmera e de todas as suas formas paralelas, que

não cessam de se desenvolver, criou, por sua vez, o imperativo do alfabetismo visual

universal, uma necessidade que há muito tempo se faz sentir. O cinema, a televisão e

os computadores visuais são expressões modernas de um desenhar e de um fazer

que têm sido, historicamente, uma capacidade natural de todo ser humano, e que

agora parece ter-se apartado da experiência do homem (p.1).

Apesar da necessidade surgida de se compreender a linguagem visual em consequência das

novas tecnologias, a autora aponta que nosso conhecimento é ainda limitado a este respeito,

já que segundo ela “(...) a expressão visual (...) é produto de uma inteligência humana de

enorme complexidade, da qual temos, infelizmente, uma compreensão muito rudimentar”

(DONDIS, [1973] 2007:2).

A este respeito, Kress e van Leeuwen (2006) acreditam que conhecer este tipo de

linguagem está se tornando cada vez mais necessário e se tornará até mesmo uma questão de

sobrevivência para todos e não somente especialistas no assunto:

Nós acreditamos que a comunicação visual está se tornando cada vez menos o

domínio de especialistas e cada vez mais crucial nos domínios da comunicação pública.

(...) Não ser “visualmente letrado” começará a atrair sanções sociais. O “letramento

visual” começará a ser uma questão de sobrevivência, especialmente no local de

trabalho1 (p.3, tradução livre do autor como todas as outras neste trabalho).

1 “We believe that visual communication is coming to be less and less the domain of specialists, and more and more crucial in the domains of public communication. (…) Not being ‘visually literate’ will begin to attract social sanctions. ‘Visual literacy’ will begin to be a matter of survival, especially in the workplace.”

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Além disso, Rose (2007) argumenta que precisamos aprender a interpretar imagens visuais

porque elas são um importante meio através do qual a vida social acontece. É só pensar em

imagens da TV, em jornais e revistas, obras de arte, em web sites etc. e também na

importância contínua de imagens cotidianas como fotos de família, outdoors, histórias em

quadrinhos, cartões de aniversário e fotos tiradas de celulares com câmera.

Em virtude da nova realidade, especialmente da sociedade digital, novas maneiras de

construção de sentido foram introduzidas em consequência das novas linguagens e

tecnologias. Com a presença destas novas linguagens na realidade atual, a linguagem verbal

deixa de ser o principal ou mesmo único meio de construção de sentidos válidos

(THE_NEW_LONDON_GROUP, 1996; KRESS e VAN LEEUWEN, 2006; JORDÃO, 2007;

STREET, 2008; MONTE MÓR, 2009; KRESS, 2010; MONTE MÓR, 2010).

A este respeito, Jordão (2007) comenta:

“(...) no mundo virtual da internet, por exemplo, temos acesso simultâneo a

várias comunidades interpretativas, a inúmeras leituras, a infindáveis lentes que

interagem com nossas maneiras particulares de ver o mundo, e que o fazem a partir

de procedimentos interpretativos diferenciados. A linguagem verbal, especialmente a

escrita, já não é mais o único nem o principal meio disponível para construirmos

sentidos válidos: podemos lançar mão de múltiplos recursos, que incluem a linguagem

escrita, mas não se limitam a ela – a linguagem visual e auditiva, por exemplo, assim

como a interatividade do hipertexto e a multimodalidade de websites abrem uma

gama imensa de procedimentos interpretativos que influenciam nossas maneiras de

construir sentidos (p.25).

Conforme o relatado até aqui, segundo Monte Mór (2009), a sociedade tem transformado

as linguagens, as modalidades de comunicação, os meios de comunicação, de interação, de

construção de conhecimento ao mesmo tempo em que é transformada por estas novas

linguagens, novas modalidades de comunicação, maneiras de comunicar, de interação e de

construção de conhecimento. Em vista disto, a autora propõe que o ensino deveria ser

submetido à reflexão ou revisão para que possa possibilitar o desenvolvimento de pessoas que

interajam nesta nova realidade social de forma a terem mais capacidade de escolhas e tomadas

de decisão no que se refere também às novas linguagens, o que o modelo de ensino atual

parece não dar conta.

Outra autora que defende que a maneira de ensinar e aprender hoje já não pode mais

ser vista como antigamente é Rojo (2009), especialmente no que diz respeito à leitura:

“(...) trabalhar com leitura e escrita hoje é muito mais que trabalhar com a

alfabetização ou os alfabetismos: é trabalhar com os letramentos múltiplos, com as

leituras múltiplas – a leitura na vida e a leitura na escola (...) é enfocar os usos e

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práticas de linguagens (múltiplas semioses), para produzir, compreender e responder

a efeitos de sentido, em diferentes contextos e mídias. Trata-se, então, de garantir

que o ensino desenvolva as diferentes formas de uso das linguagens (verbal,

corporal, plástica, musical, gráfica etc.) (,,,) Para participar de tais práticas com

proficiência e consciência cidadã, é preciso também que o aluno desenvolva certas

competências básicas para o trato com as línguas, as linguagens, as mídias e

as múltiplas práticas letradas, de maneira crítica, ética, democrática e

protagonista (p.118-119, grifos do original).

O trabalho aqui proposto é uma maneira de refletir sobre o ensino no que diz

respeito a um aspecto relacionado a esta nova realidade social relatada aqui. Para tanto, serão

cumpridos alguns passos nesta pesquisa, que serão descritos a seguir.

Estrutura da monografia

A presente monografia apresenta a seguinte estrutura:

O capítulo 1 trata de definições de letramento, para então, no segundo capítulo, se

passar a discutir o que será considerado letramento visual para o presente trabalho a partir de

tentativas de definição do fenômeno relacionando-as com as definições de letramento

discutidas no primeiro capítulo.

No capítulo 3 é apresentada uma investigação realizada no Guia de Livros Didáticos

PNLD2011 de línguas estrangeiras e no livro didático de ensino de língua inglesa Keep in Mind

para verificar como o letramento visual é contemplado nestas obras.

O último capítulo, o quarto, trata das considerações finais e possíveis desdobramentos

da pesquisa.

A seguir, como exposto, o conceito de letramento é discutido.

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1 LETRAMENTO

O presente trabalho trata do letramento visual em livros didáticos de ensino de língua inglesa,

portanto se faz necessário apresentar definições sobre letramento para então, no próximo

capítulo, discutir definições sobre o tipo específico de letramento que se quer focar aqui. A

seguir serão apresentadas definições, versões e perspectivas a respeito do fenômeno do

letramento e ao final do capítulo será comentado o que se chama de multiletramentos ou

letramentos múltiplos.

1.1 Definições de letramento

De acordo com Soares (2004), o termo Letramento é novo nas Ciências Linguísticas e

representa uma versão literal do termo em língua inglesa literacy que significa “o resultado da

ação de ensinar ou aprender a ler e escrever ou a condição que adquire um grupo social ou

um indivíduo como consequência de ter se apropriado da escrita” (Soares, 2004:18). Ainda

segundo a autora, o conceito traz de forma implícita que o estado que o grupo social ou o

indivíduo passam a ter a partir do letramento é um novo estado consequente da aquisição e

uso da leitura e da escrita e do envolvimento em práticas sociais em que se utiliza a leitura e a

escrita, ocorrendo transformações sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas e

linguísticas, alterando assim a condição ou estado dos indivíduos. Desta forma, a pessoa letrada

passaria a ter um modo de viver na sociedade diferente do modo anterior ao processo de

letramento, ou seja, sua relação com as outras pessoas, com seu ambiente e contexto e

também com os bens culturais passaria a ser diferente.

A razão apontada para a utilização deste novo termo é a de que segundo a autora os

brasileiros passaram a enfrentar uma nova realidade em que não mais é suficiente somente

saber ler e escrever, isto é, possuir a “tecnologia” do ler e escrever. A partir de então se faz

necessário saber fazer uso do ler e do escrever, ser capaz de responder às exigências que a

sociedade tem continuamente em relação à leitura e à escrita.

Uma distinção importante a se fazer é entre letramento e alfabetização, termos ainda

frequentemente confundidos. Alfabetização se distingue de letramento pelo fato de o primeiro

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termo referir-se a ensinar e aprender a ler e escrever, ou seja, ensinar e aprender a codificar e

a decodificar a língua escrita, e o último se referir ao estado ou condição que um grupo social

ou um indivíduo adquire ao se apropriar da leitura e da escrita além de envolver-se ou fazer

uso de práticas sociais de leitura e escrita. Desta forma, uma pessoa que possui a capacidade

de ler e escrever (e.g. seu nome) pode ser considerada alfabetizada. Já no caso de uma pessoa

que utilize a leitura e a escrita em práticas sociais, e.g. na leitura e preenchimento de

formulários, leitura e interpretação de editoriais, reportagens e até mesmo na extração de

informações de mapas e tabelas, tal pessoa pode ser considerada letrada (SOARES, 2004).

A distinção entre alfabetização e letramento pode ser observada de forma resumida na

tabela 1 a seguir.

� Alfabetização � Letramento

Ensinar e aprender a ler e escrever, i.e., ensinar e

aprender a codificar e a decodificar a língua escrita.

Estado ou condição que um grupo social ou um

indivíduo adquire ao se apropriar da leitura e da escrita

além de envolver-se ou fazer uso de práticas sociais de

leitura e escrita.

Tabela 1 Distinção entre alfabetização e letramento segundo Soares (2004).

No que se refere em específico ao termo letramento, um sinônimo existente para este

seria “alfabetismo”, porém o primeiro teria se tornado de uso corrente em detrimento do

último na área dos estudos da leitura e da escrita (SOARES, 2004). No entanto, Rojo (2009)

critica esta sinonímia entre os termos e insiste em sua distinção:

(...) o termo alfabetismo tem um foco individual, bastante ditado pelas

capacidades e competências (cognitivas e linguísticas) escolares e valorizadas de

leitura e escrita (letramentos escolares e acadêmicos), numa perspectiva

psicológica, enquanto o termo letramento busca recobrir os usos e práticas sociais

da linguagem que envolvem a escrita de uma ou outra maneira, sejam eles

valorizados ou não valorizados, locais ou globais, recobrindo contextos sociais

diversos (família, igreja, trabalho, mídias, escola etc.), numa perspectiva sociológica,

antropológica e sociocultural (ROJO, 2009:98).

Assim, para a autora a distinção está no fato de por um lado o alfabetismo se referir a um

conjunto de competências e habilidades individuais para os atos de ler e escrever associados a

práticas valorizadas, em especial práticas escolares, enquanto de outro lado o letramento se

referiria a práticas tanto valorizadas quanto não valorizadas (e.g. o “internetês”), não

apresentando um foco individual, mas sim social.

A tabela 2 a seguir apresenta de forma sintetizada a distinção feita por Rojo (2009) entre

alfabetismo e letramento.

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� Alfabetismo (Rojo, 2009) � Letramento (Rojo, 2009)

• Foco individual

• Competências escolares e valorizadas de

leitura e escrita

• Perspectiva psicológica

• Usos e práticas sociais da linguagem que

envolvem a escrita (valorizados ou não

valorizados, locais ou globais)

• Perspectiva sociológica, antropológica e

sociocultural

Tabela 2 Distinção entre alfabetismo e letramento de acordo com Rojo (2009).

Uma distinção similar à distinção apresentada por Rojo (2009) entre alfabetismo e

letramento é a distinção apresentada por Soares (2004) para o foco que se dá às definições de

letramento encontradas em trabalhos da área: foco na dimensão individual e foco na dimensão

social do letramento.

A dimensão individual do letramento refere-se unicamente à posse individual de

tecnologias mentais para os atos de ler e de escrever. No caso da dimensão social, o

letramento se apresenta como um fenômeno cultural, ligado consequentemente a práticas

sociais de leitura e escrita e das exigências sociais de seu uso.

Colocando de outra forma, o fenômeno do letramento visto de maneira individual é um

conjunto de habilidades pessoais para a leitura e a escrita e o letramento visto na perspectiva

social é o que as pessoas fazem efetivamente com tais habilidades em contextos específicos e

como tais habilidades se relacionam com suas necessidades, valores e práticas sociais, ou seja,

“é um conjunto de práticas sociais ligadas à leitura e à escrita em que os indivíduos se

envolvem em seu contexto social” (SOARES, 2004:72).

Na tabela 3 pode-se observar a diferenciação entre as dimensões individual e social do

letramento.

� Dimensões do letramento

� Individual � Social

Conjunto de habilidades pessoais para a leitura e a

escrita

“É um conjunto de práticas sociais ligadas à leitura e à

escrita em que os indivíduos se envolvem em seu

contexto social” (Soares, 2004, p. 72)

Tabela 3 Distinção apresentada por Soares (2004) entre as dimensões individual e social do letramento.

Ainda no âmbito da perspectiva social do letramento, há autores que defendem uma

versão denominada de “fraca” (SCRIBNER, 1984; KIRSCH e JUNGEBLUT, 1990) e outros que

defendem uma versão “forte” (STREET, 1984) do letramento. A versão fraca enfatiza a função

pragmática do letramento, isto é, o letramento serve aos indivíduos para funcionarem

adequadamente na sociedade atendendo a suas necessidades sociais. Já no caso da versão dita

forte, o letramento é visto como tendo um potencial revolucionário, ou seja, teria a

capacidade de transformar as relações sociais injustas, habilitando os indivíduos a perceberem

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tais relações e criar identidades fortes, combatendo as posições dominantes. Esta última

versão é bastante pautada nos escritos de Paulo Freire da década de 1970, o qual vê o uso da

leitura e da escrita como um meio de tomar consciência da realidade social e transformá-la

(SOARES, 2004).

Desta forma, a versão “fraca” do letramento é vista como liberal e progressista e os

indivíduos que fazem uso da leitura e da escrita vistos nesta perspectiva o fazem para seu

sucesso pessoal seja na esfera econômica, social (classe), profissional ou mesmo da cidadania.

Por outro lado, em sua versão “forte”, uma versão considerada radical e revolucionária, o

letramento não pode ser considerado um “instrumento” neutro a ser utilizado quando as

demandas sociais se apresentam, ele é um conjunto de práticas socialmente construídas e

utilizadas para “reforçar ou questionar valores, tradições e formas de distribuição de poder

presentes nos contextos sociais” (SOARES, 2004:75).

A seguir a tabela 4 apresenta uma síntese da distinção entre as versões “fraca” e “forte” de

letramento.

� Versões

� “Fraca” � “Forte”

O letramento serve aos indivíduos para funcionarem

adequadamente na sociedade atendendo a suas

necessidades sociais.

Revolucionário. Capacidade de transformar as relações

sociais injustas, habilitando os indivíduos a perceberem

tais relações e criar identidades fortes, combatendo as

posições dominantes

Tabela 4 Distinção entre as versões “forte” e “fraca” de letramento (2004).

Mais uma distinção feita a respeito do fenômeno do letramento ligada às versões fraca e

forte é a distinção feita entre os chamados modelos autônomo e ideológico de letramento. No

modelo autônomo a linguagem escrita é vista como um produto completo em si mesmo, não

dependendo de seu contexto de produção para se poder interpretá-la e suas consequências

para a sociedade e cognição surgiriam de sua própria natureza, advindo daí o nome

“autônomo”. Além disso, tal modelo pressupõe apenas uma maneira de letramento e este é

considerado fator causador de progresso, civilização e mobilidade social (KLEIMAN, 1995;

ROJO, 2009). Em oposição a este modelo está o modelo denominado ideológico de letramento,

o qual defende que os significados dependem do contexto em que são produzidos além de

serem culturalmente determinados, isto é, os significados variam de cultura para cultura. Neste

modelo, ao contrário do anterior, não se pressupõe que o fenômeno do letramento possua

relação causal com o progresso além disso, este modelo aponta para variadas práticas distintas

de leitura e escrita que se diferenciariam entre diferentes culturas (KLEIMAN, 1995; ROJO,

2009).

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Os modelos autônomo e ideológico de letramento podem ser observados em seus aspectos

diferentes na tabela 5 a seguir.

� Modelos

� Autônomo � Ideológico

A linguagem escrita é vista como um produto completo

em si mesmo, não dependendo de seu contexto de

produção para se poder interpretá-la.

Os significados dependem do contexto em que são

produzidos além de serem culturalmente determinados.

Tabela 5 Distinção entre os modelos autônomo e ideológico de letramento segundo Kleiman (1995).

Como relatado anteriormente, a versão de letramento chamada de “forte” se relaciona

com os escritos de Paulo Freire da década de 1970, escritos estes que norteiam o que Souza

(2011) aponta como “pedagogia crítica”. A pedagogia crítica vem de uma tradição marxista e

defende que há uma “verdade” no texto que o leitor deve buscar, se desfazendo das ilusões

que o autor do texto procuraria criar. Nesta vertente, a verdade é fruto de uma leitura

considerada crítica, resultando em uma interpretação melhor do que outras pois despojada de

ilusões e para se chegar a tal se faz necessário focar no contexto de produção do texto, saber

quem o escreveu, em que condições, com que intenções, como o autor tenta convencer o

leitor, o que o autor deixa de fora ou não revela ao leitor e assim por diante, num esforço

para se chegar a uma leitura verdadeira, ou melhor, à leitura verdadeira. Isto é o que é

chamado de “consciência crítica” nesta perspectiva. Desta forma, na pedagogia crítica o leitor

se exime da responsabilidade pela interpretação e tem seu foco na maneira como o autor

construiu a significação.

Entretanto, nos textos de Freire dos anos 80 há uma redefinição do que seria “consciência

crítica”, colocando a responsabilidade da interpretação no leitor e não mais “culpando” o

autor do texto. Isto é o que se passa a chamar de letramento crítico. No letramento crítico o

significado de um texto está na interrelação entre a leitura e a escrita, assim se faz necessário

que o leitor se conscientize sobre a maneira como interpreta o texto, isto é, pensar além do

senso comum, refletir sobre o que se considera natural e verdadeiro e perceber que aquilo

que se pensa ser individual se origina na coletividade, tem história em sua comunidade e

ponderar também que aquilo que parece verdadeiro para si pode não ser para outro que vive

em um contexto diferente (SOUZA, 2011).

Sobre o processo de se perceber na interpretação, Souza (2011) descreve:

Letramento crítico consiste em não apenas ler, mas ler se lendo, ou seja, ficar

consciente o tempo inteiro de como eu estou lendo, como eu estou construindo o

significado... e não achar que leitura é um processo transparente, o que eu leio é

aquilo que está escrito... Pensar sempre: por que entendi assim? Por que acho isso?

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De onde vieram as minhas idéias, as minhas interpretações? (p.296, grifos do

original)

A questão do poder também é focada de forma diferenciada na criticidade de origem

marxista e no letramento crítico. A primeira vê o poder como algo fundamentalmente nocivo

em que uma maioria é oprimida por uma minoria e os oprimidos deveriam tomar consciência

desta opressão, resistir a ela e lutar para chegar à igualdade. Já o letramento crítico se

beneficia da noção foucaultiana produtiva de poder em que o poder não é mais visto como

dividido entre dominantes e oprimidos, mas distribuído de forma desigual entre todos e as

resistências causadas pelas relações de poder são potencialmente positivas e produtoras de

conhecimento (JORDÃO, 2007; SOUZA, 2011).

Um aspecto importante a observar sobre o letramento crítico é que a leitura e a escrita

nesta perspectiva são vistas além da linguagem verbal escrita, considerando também outros

meios de construção de sentido, Podendo-se citar como exemplos a interatividade do

hipertexto, a linguagem auditiva e, especialmente importante para o presente trabalho, a

linguagem visual (JORDÃO, 2007; SOUZA, 2011).

Os aspectos que diferenciam a pedagogia crítica e o letramento crítico podem ser observados

na tabela 6 a seguir.

� Pedagogia crítica � Letramento crítico

• Uma interpretação melhor do que as outras

• Foco no contexto de produção

• Significado de um texto está na interrelação

entre a leitura e a escrita

• Conscientização de como se interpreta o

texto

• Mais do que linguagem verbal escrita

Tabela 6 Distinção entre pedagogia crítica e letramento crítico de acordo com Souza (2011).

A expansão dos meios de construção de sentido para além das fronteiras do texto verbal

escrito além de outras questões tem sido defendida pelo estudo dos chamados multiletramentos

que será comentado a seguir.

1.2 Novos e Multiletramentos

De maneira semelhante a Soares (2004) que apontou para uma nova realidade vivenciada

pelos brasileiros e a consequente utilização do termo letramento como relatado no início

deste capítulo, o grupo chamado The New London Group (1996) observou mudanças no

ambiente social enfrentadas por professores e alunos e propuseram o conceito de

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multiletramentos (multiliteracies no original) que é como o grupo decidiu denominar uma nova

abordagem para a pedagogia do letramento.

Segundo o grupo, a pedagogia para o letramento tem significado tradicionalmente ensinar e

aprender a ler páginas sem se refletir a respeito de relações exteriores ao texto escrito na

página, além de aprender e ensinar a ler e a escrever formas padronizadas da língua nacional.

Assim, a pedagogia do letramento tem sido um projeto cautelosamente restrito – restrito a

formas de linguagem formalizadas, monolíngues, monoculturais e governadas por regras.

O grupo pretende alargar esse entendimento de letramento e ensino e aprendizagem de

letramento a fim de incluir a negociação de uma multiplicidade de discursos. A intenção é

trazer à tona dois aspectos principais desta multiplicidade.

Primeiro, querem expandir a ideia e o escopo da pedagogia do letramento para dar conta

do contexto de nossas sociedades diversas cultural e linguisticamente, além de crescentemente

globalizadas; dar conta também das culturas multifacetadas que se interrelacionam e da

pluralidade dos textos que circulam.

Em segundo lugar, argumentam que a pedagogia do letramento precisa agora dar conta da

crescente variedade de formas de texto associadas com as tecnologias de informação de

multimídia. Isto inclui a compreensão e o controle competente de formas de representação

que estão se tornando cada vez mais significativas nos ambientes comunicativos, como é o

caso das imagens visuais e sua relação com a palavra escrita (e.g. interface verbo-visual em

multimídia), além da integração de outros modos significantes de construção de sentido, onde

o textual é relacionado também ao áudio, ao espacial, ao comportamental e assim por diante.

Este segundo ponto está estreitamente ligado ao primeiro, i.e. a proliferação dos canais de

comunicação e mídia apoia e estende a diversidade cultural. Apesar disto, o segundo aspecto é

o mais importante para o presente trabalho que tem por objetivo refletir sobre imagens visuais

como será relatado mais detalhadamente no próximo capítulo.

Tratando de forma similar aos multiletramentos propostos pelo New London Group, Rojo

(2009) aponta o que ela chama de multiletramentos ou letramentos múltiplos e letramentos

multissemióticos. O primeiro se relaciona aos letramentos das culturas locais, não valorizados

colocados em contato com aqueles considerados valorizados, o que lembra o primeiro

aspecto que a abordagem para o letramento sugerido pelo New London Group para se dar

conta da diversidade cultural e multiplicidade dos textos que circulam. Já os letramentos

multissemióticos tem muito a ver com o segundo aspecto da pedagogia de multiletramentos

do grupo, pois diz respeito à “noção de letramentos para o campo da imagem, da música, das

outras semioses que não somente a escrita (Rojo, 2009:107)”, já que, segundo a autora, a

noção de tais semioses é cada vez mais necessária para dar conta dos letramentos

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indispensáveis para agir na vida contemporânea por conta dos avanços tecnológicos

observados na tela do computador e materiais impressos, tornando assim o letramento

“tradicional” (focado na escrita), um letramento insuficiente no mundo contemporâneo.

Os letramentos multissemióticos apontados por Rojo (2009) e o segundo aspecto

defendido pelo New London Group (1996) relacionam-se com o conceito de multimodalidade

que tem sido bastante discutido nos estudos de novos letramentos (KALANTZIS, 2006; KRESS

e VAN LEEUWEN, 2006; JORDÃO, 2007; STREET, 2008; MONTE MÓR, 2009; KRESS, 2010;

MONTE MÓR, 2010).

Dentro da abordagem de multiletramentos proposta pelo New London Group (1996),

multimodalidade é definida como a junção de vários modos de construir sentido, a saber:

linguístico, visual, auditivo, gestual e espacial. O grupo se refere a estes modos (e também à

multimodalidade) como “elementos de design” no processo de construção de sentidos e

defendem que somos herdeiros de padrões e convenções de sentido e, ao mesmo tempo,

somos criadores (designers) de sentido em um processo que utiliza tais elementos.

Modos, segundo Kress (2010) em sua perspectiva semiótica social, são recursos para a

construção de sentido moldados socialmente e dados culturalmente. Como exemplos de

modos o autor aponta a imagem, a escrita, o layout, música, gesto, fala, imagem em movimento,

trilha sonora e objetos tridimensionais.

Em vista do relatado, a partir do início da utilização do termo letramento e de seus

posteriores desdobramentos em várias perspectivas pelas necessidades e mudanças observadas

na sociedade (e.g. globalização, tecnologias da informação) e consequentemente nas práticas

sociais de leitura e escrita e, indo além, de construção de sentido, aponta-se para a

necessidade de que o letramento leve em conta outros modos de construção de sentido que

não só o texto escrito. Este trabalho discutirá um destes outros modos, o visual que é tema

do próximo capítulo.

18

2 LETRAMENTO VISUAL

Neste capítulo serão apresentadas algumas das tentativas de definição do conceito de

letramento visual tanto na área de Design quanto nas Letras, e ao final será feita uma discussão

destas definições e sua relação com os conceitos apresentados no capítulo anterior para

determinar o letramento visual que será buscado no PNLD-2011 de línguas estrangeiras e em

um livro didático de ensino de língua inglesa selecionado pelo Guia de livros didáticos do

Ministério da Educação para serem utilizados em escolas públicas, o que será assunto do

próximo capítulo.

2.1 Definições de letramento visual

Como relatado no capítulo anterior, o termo letramento tem sido usado como uma versão

do termo em língua inglesa literacy e um possível sinônimo para ele seria alfabetismo (SOARES,

2004), apesar da crítica a esta sinonímia e a possível distinção entre ambos (ROJO, 2009). O

fato é que no âmbito dos estudos do design gráfico, artes visuais, comunicação visual e afins, o

termo composto visual literacy tem sido traduzido e utilizado como alfabetismo visual

(FASCIONI e VIEIRA, 2001; SPINILLO et al., 2006; DONDIS, 2007; BRISOLARA, 2009). Este

fato pode ser atestado logo no início de Sintaxe da Linguagem Visual (DONDIS, [1973] 2007)

em que o tradutor apresenta sua defesa para a versão do termo literacy e por extensão visual

literacy no decorrer do livro:

Literacy quer dizer “capacidade de ler e escrever”. Por extensão, significa também

“educado”, “conhecimento”, “instrução”, etc., termos, porém, que não traduzem o

verdadeiro sentido do vocábulo como ele é aqui empregado. Para evitar a

introdução de um neologismo de sentido obscuro, como, por exemplo,

“alfabetidade”, optou-se aqui por “alfabetismo”, definido no dicionário Aurélio

como “estado ou qualidade de alfabetizado” (p.1, grifos do original)

A primeira edição do livro na versão em português data do ano de 1991 e provavelmente,

por ser uma obra amplamente difundida nas áreas acima mencionadas, deve-se a ela o uso do

termo alfabetismo visual. Além disso, segundo Soares (2004) uma das primeiras ocorrências do

19

termo letramento se deu em 1986, pouco antes da tradução do livro e em 2004 a autora ainda

coloca o termo como novo nas Ciências Linguísticas. Em vista disso, é possível dizer que cada

área passou a utilizar termos distintos para a tradução de literacy. Aqui será utilizado letramento

visual para a versão do termo visual literacy de obras em língua inglesa, já que o presente

trabalho é realizado no campo das Ciências Linguísticas. Contudo, aos leitores das áreas

relacionadas ao design gráfico fica a informação de que o termo seria provavelmente traduzido

em tais domínios por alfabetismo visual.

O conceito de letramento visual é difícil de determinar pois falta uma definição amplamente

aceita para o termo segundo atestam Braden (1996), Avgerinou e Ericson (1997), Pettersson

(1998) e Brill et al. (2007). Apesar disto, diversas definições podem ser encontradas a respeito

do conceito e também tentativas de se construir uma definição consensual.

Uma das primeiras definições para o termo foi a de Dondis ([1973] 2007) citada

anteriormente. Em 1973, a autora defendeu que o alfabetismo visual deve ser algo que vá além

do simples enxergar, já que, com exceção dos cegos, todos enxergam. Além disso, o conceito

deve ser “algo além da simples criação de mensagens visuais” (p.227), implicando compreender

os meios de ver e compartilhar significados com algum grau de universalidade previsível,

buscando assim definir o termo para além das capacidades inatas do organismo humano, além

das aptidões intuitivas programadas em nós para tomar decisões visuais em uma base mais ou

menos comum e ultrapassar a preferência pessoal e o gosto individual.

Em vista disto, para Dondis o alfabetismo visual proporcionaria a compreensão culta de

informações e experiências compartilhadas, fazendo um paralelo ao letramento verbal, conceito

no qual segundo Dondis (2007) uma pessoa letrada seria capaz de saber ler e escrever,

podendo-se ampliar este conceito para significar uma pessoa instruída.

A universalidade previsível no compartilhamento e compreensão de significados defendida

pela autora em sua definição parece algo simplesmente impossível de atingir, sendo, talvez, um

pouco mais aceito caso se leve em consideração a explicação de Pettersson (1998) que afirma

que tal universalidade se refere ao insight, uma compreensão intuitiva que seria atingida pela

experiência e prática dos princípios expostos por Dondis (2007) em sua obra. Ainda assim,

seria necessário pensar neste compartilhamento de significados dentro de uma mesma

comunidade, sendo portanto sempre específica e perdendo a universalidade que Dondis

parecia desejar para o conceito.

Antes da definição de Dondis ([1973] 2007), de acordo com Avgerinou e Ericson (1997), o

termo visual literacy foi cunhado por John Debes em 1969. Na obra Visual Literacy: a way to learn

– a way to teach de Fransecky e Debes (1972) também pode-se encontrar a informação, nos

20

dados biográficos de Debes, que foi ele que cunhou o termo. Além disso, a definição de 1969

para visual literacy é reapresentada:

Letramento visual se refere a um grupo de competências da visão que um ser

humano pode desenvolver pelo ato de ver e ao mesmo tempo ter e integrar outras

experiências sensoriais. O desenvolvimento destas competências é fundamental ao

aprendizado humano normal. Quando desenvolvidas, elas possibilitam uma pessoa

visualmente letrada discriminar e interpretar as ações visíveis, objetos, símbolos,

naturais ou feitos pelo homem, que encontra em seu ambiente. Através do uso

criativo destas competências, ele é capaz de se comunicar com os outros. Através

do uso apreciativo destas competências, ele é capaz de compreender e desfrutar as

obras-primas da comunicação visual (p.9).2

Tal definição como primeira também está no site da associação IVLA (International Visual

Literacy Association) com a ressalva de que existem muitas outras definições para o termo e

que, até mesmo, cada estudioso do assunto tenha produzido a sua própria. A razão apontada

para tantas definições é a de que há numerosas disciplinas distintas que baseiam o conceito de

visual literacy e que assim, tal fato contribui para a causa e a ênfase de sua natureza eclética,

tornando, porém uma definição consensual para o termo algo difícil de atingir (AVGERINOU,

[199-?]).

Apesar de Fransecky e Debes (1972) mencionarem que a primeira definição para Visual

Literacy tenha sido construída consensualmente na National Conference on Visual Literacy,

Avgerinou e Ericson (1997) argumentam que Debes considerava tal definição prematura e

provisória. Tal definição seria uma comparação altamente imaginativa por parte de seu autor,

onde é feito um paralelo entre visual literacy e uma ameba com seus pseudópodes alcançando

várias direções, significando um assunto multifacetado com vários parâmetros não explorados.

A definição é criticada pelo fato de dizer o que uma pessoa visualmente letrada pode fazer,

mas não dizer o que visual literacy é, além de ser uma definição muito abrangente e até mesmo

induzir ao erro, já que destaca os sentidos sensoriais pelos quais os estímulos são recebidos

sem mencionar sobre sua forma simbólica (AVGERINOU e ERICSON, 1997).

Ainda neste sentido, Levie (1978) argumenta que o problema da definição inicial não reside

na inclusão de estímulos em demasia ou inapropriados, mas no fato de definir os estímulos de

interesse em termos de modalidade sensorial ao invés de modalidade simbólica. Para o autor,

o tipo de estímulo que concerne centralmente ao letramento visual são as imagens como

2 “Visual Literacy refers to a group of vision-competencies a human being can develop by seeing and at the same time having and integrating other sensory experiences. The development of these competencies is fundamental to normal human learning. When developed, they enable a visually literate person to discriminate and interpret the visible actions, objects, symbols, natural or man-made, that he encounters in his environment. Through the creative use of these competencies, he is able to communicate with others. Through the appreciative use of these competencies, he is able to comprehend and enjoy the masterworks of visual communication”.

21

representações visuais, e.g. desenhos, fotos, pinturas. Não porque as imagens podem ser vistas

pelos órgãos de sentido, pois as palavras escritas também podem ser vistas, mas porque as

imagens são símbolos que para o pesquisador são processados de forma diferente na mente do

que a forma como são processadas as palavras. Desta forma, o autor afirma que é o

comportamento simbólico e não o sensorial que é de maior interesse ao letramento visual.

O criticismo de Levie (1978) chama atenção para o fato de se procurar separar claramente

os interesses do letramento verbal e do visual pela razão de supostamente haver processos

internos (mentais) diferentes envolvidos nos fenômenos. A este respeito, Avgerinou e Ericson

(1997) acrescentam que os símbolos visuais englobam tanto aqueles não arbitrários e icônicos

(e.g. uma fotografia de uma pessoa), quanto aqueles que, similarmente aos símbolos verbais,

são arbitrários (e.g. um círculo vermelho com uma faixa diagonal no centro significando

proibição). Em vista disto, segundo os autores, uma distinção entre os tipos de símbolos

deveria ser feita para determinar qual deles faz parte do escopo do letramento verbal e qual do

visual.

Outras definições para visual literacy de estudiosos da área são apresentadas por Avgerinou

e Ericson (1997), algumas se baseiam na noção de comunicação intencional, já que segundo

eles, símbolos são destinados a serem usados como meios de comunicação intencional. Uma

definição para visual literacy segundo tal noção é a de um grupo de habilidades que possibilitam

um indivíduo compreender e utilizar imagens visuais para se comunicar intencionalmente com

outros.

Mais uma definição apresentada para o termo incorpora a noção de pensamento visual e

determina ser a habilidade de compreender e usar imagens para pensar e aprender em termos

de imagens. Avgerinou e Ericson (1997) consideram esta última definição a mais completa em

termos de forma e conteúdo ao incorporar os fatores da linguagem visual, pensamento visual e

aprendizado visual. Contudo, argumentam que a definição não leva em conta as questões de

criação (design), criatividade e estética, não tendo assim ampla aceitação.

Outra tentativa de definição, esta considerada longa demais por Avgerinou e Ericson

(1997), tornando-se assim uma descrição, é a de Curtiss (1987), citada pelos autores acima,

que leva em conta fatores como a habilidade de compreender a comunicação de uma

declaração visual em qualquer mídia e a habilidade de se expressar com pelo menos uma

disciplina visual, mas não fica claro o que seria “disciplina visual”. A definição segue, afirmando

que o letramento visual envolve a habilidade para compreender o assunto e o significado dentro

do contexto da cultura que produziu a obra, analisar a sintaxe (princípios composicionais e

estilísticos), avaliar os méritos disciplinares e estéticos da obra, além de compreender

22

intuitivamente a forma (Gestalt), a qualidade interativa e sinérgica da obra (CURTISS, 1987

apud AVGERINOU e ERICSON, 1997).

Ainda outra definição é a de que letramento visual seria a reconstrução ativa de experiências

passadas com a entrada de informações visuais para obter significado (AVGERINOU e

ERICSON, 1997).

Após apresentarem diversas tentativas de definição para o conceito de letramento visual,

Avgerinou e Ericson (1997) alegam ser esta uma tarefa difícil, pela razão apontada

anteriormente da multiplicidade de bases teóricas utilizadas para tal fim. Os autores apontam

que o construto é derivado da confluência de inúmeras disciplinas como estética/arte, filosofia,

linguística/psicolinguística, gestalt/psicologia cognitiva, percepção visual e desenvolvimento

perceptivo, anatomia do olho, imagens mentais, neurofisiologia, pesquisas sobre processos dos

hemisférios cerebrais, sociologia, antropologia cultural, tecnologia educacional, design

instrucional, teoria da comunicação e semiótica e que provavelmente cada estudioso de cada

área distinta queira definir o conceito refletindo – e até mesmo lisonjeando – sua própria

maneira de pensar, dificultando assim um consenso para a definição de letramento visual.

Brill et al. (2007) concordam com o fato de que não há consenso sobre uma definição para

visual literacy, apesar de considerarem o conceito de pensamento visual maduro. Em vista disto,

os autores realizaram uma pesquisa com especialistas da área a fim de obterem uma definição

consensual para o conceito.

De início, Brill et al. (2007) apresentam basicamente as mesmas definições pesquisadas por

Avgerinou e Ericson (1997) e mais uma que para eles merece destaque. Nesta definição criada

por Robinson (1984) e citada em Brill et al. (2007), letramento visual é considerado a habilidade

de processar os elementos de mensagens visuais e também interpretá-las, a habilidade de

compreender e apreciar o conteúdo e propósito de qualquer imagem, como também sua

composição estrutural e estética. Além disso, o conceito envolve a interpretação de imagens,

movimento, design, cor e padrões em mensagens de mídia de vários tipos. A partir desta

definição, uma pessoa visualmente letrada pode perceber, compreender e interpretar

mensagens visuais e pode analisar ativamente e avaliar as comunicações visuais que ela observa

(ROBINSON, 1984 apud BRILL et al., 2007). Nesta definição há um problema similar à

definição de Dondis (2007) em relação à universalidade, algo que parece impraticável, como

também aqui em que o autor espera que o letramento visual gere a compreensão de qualquer

imagem.

Esta definição e outras apresentadas para o conceito de letramento visual sofrem de pelo

menos uma de duas críticas comuns segundo Brill et al. (2007), sendo a primeira similar ao que

alegam Avgerinou e Ericson (1997) ao defenderem que as definições são construídas de

23

acordo com as próprias formações de origem e preocupações de seus criadores. A segunda

crítica se refere à tentativa de se fazer um paralelo ao letramento verbal , o que é considerado

restritivo pelos autores.

Levando isto em conta e num esforço para alcançar uma definição consensual e

operacional, Brill et al. (2007) co-construíram uma definição para visual literacy em conjunto

com experts da área participantes de sua pesquisa. Segue a definição:

[Letramento visual é] um grupo de competências adquiridas para interpretar e

compor mensagens visuais. Uma pessoa visualmente letrada é capaz de: (a)

discriminar e fazer sentido de objetos visíveis como uma parte de uma acuidade

visual, (b) criar objetos visíveis estáticos e dinâmicos em um espaço definido, (c)

compreender e apreciar os testemunhos visuais de outros e (d) invocar objetos na

imaginação3 (p.55).

Os autores da pesquisa fazem a ressalva que os participantes da pesquisa foram em

número limitado, sendo somente selecionados quinze pesquisadores entre autores de

trabalhos do Journal of Visual Literacy, das Annual conferences of the Visual Literacy Association,

além de autores de livros e capítulos de livros relacionados ao assunto e comunicadores de

encontros profissionais dedicados ao letramento visual, restringindo desta forma a participação

de outros estudiosos na construção do conceito.

Uma definição similar a esta construída por Brill et al. (2007), de maneira mais sucinta e

sem mencionar do que uma pessoa visualmente letrada é capaz, é a que traz Stokes (2002):

“[letramento visual é] definido como a habilidade de interpretar imagens como também gerar

imagens para comunicar ideias e conceitos”4 (p.10).

Outro autor que busca definições para letramento visual é Pettersson (1998). Um problema

apontado pelo autor para tal é o fato de ser difícil descrever verbalmente um conceito que é

primariamente não-verbal. Apesar disto, o estudioso aponta uma definição que considera

muito boa, de Heinich et al. (1982) citada por ele:

Letramento visual é a habilidade aprendida de interpretar mensagens visuais de

maneira precisa e de criar tais mensagens. Assim, interpretação e criação em

3 “[Visual literacy is] A group of acquired competencies for interpreting and composing visible messages. A visual literate person is able to: (a) discriminate, and make sense of visible objects as a part of a visual acuity, (b) create static and dynamic visible objects effectively in a defined space, (c) comprehend and appreciate the visual testaments of others, and (d) conjure objects in the mind’s eye”. 4 “[Visual literacy is] defined as the ability to interpret images as well as to generate images for communicating ideas and concepts.”

24

letramento visual podem ser equiparadas à leitura e à escrita no letramento de

impressos5 (HEINICH et al., 1982 apud PETTERSSON, 1998:5-6, grifos do original).

Aqui temos uma dificuldade com a questão da interpretação precisa ou exata que o autor

coloca, como se uma imagem ou qualquer outra unidade de sentido pudesse ser interpretada

com precisão, apresentando um único significado possível. Ainda assim, para Pettersson (1998)

esta é uma boa definição pois reflete a perspectiva que o letramento visual é um conceito no

qual habilidades particulares, conhecimento e atitudes podem ser ensinadas e aprendidas, o

que melhora nossas habilidades de comunicar em uma variedade de formas visuais.

No Brasil podem-se encontrar trabalhos que se propõem a tratar do tema do alfabetismo

visual nas áreas do design (FASCIONI e VIEIRA, 2001) e das artes visuais (SARDERLICH, 2006)

baseados na obra de Dondis (2007). Contudo, tais trabalhos não definem o conceito do qual

tratam e até mesmo utilizam por vezes os termos alfabetização visual e alfabetismo visual de

maneira intercambiável, como é o caso de Fascioni e Vieira (2001), apesar de defenderem o

fato de existirem níveis de excelência na alfabetização visual como haveria também no caso da

alfabetização verbal onde para eles “existem diferenças profundas entre alguém que apenas sabe

ler e escrever e outra culta” (p.1).

Mais um autor que trata do tema apoiado em Dondis (2007) é Piris (2008) que prefere o

termo letramento visual “em razão de ser um termo consagrado na bibliografia brasileira”

(p.19). Este trabalho é desenvolvido na área da literatura infanto-juvenil e seu autor não expõe

uma definição explícita do que para ele seria o letramento visual, contudo observa que este

fenômeno não pode se restringir, agregando também outros tipos de letramento: “o

alfabetismo ou letramento visual (bem como o verbal, o digital, o televisivo etc.) não pode se

restringir ao (re)conhecimento dos elementos básicos e das técnicas de linguagem empregadas

na construção de um objeto simbólico, que é também um objeto cultural e de comunicação, o

que faz pressupor a interação entre sujeitos”(p.29).

Nas Ciências Linguísticas no país, Costa (2007) traz o letramento visual no título de seu

trabalho e afirma que “o letramento visual é um processo árduo, que exige prática e sólidas

bases teóricas” (p.7). Apesar disto, não se encontra definição do conceito tratado,

apresentando por outro lado a nota em que ressalta que “letramento (...) não significa apenas

o reconhecimento das letras do alfabeto, ou saber escrever e ler, mas a habilidade em usar a

língua com eficácia, nas funções que ela exerce na sociedade” (p.2). A autora busca tratar

também do assunto em outro trabalho (COSTA, 2008), apontando mais uma vez a

5 “Visual literacy is the learned ability to interpret visual messages accurately and to create such messages. Thus interpretation and creation in visual literacy can be said to parallel reading and writing in print literacy”.

25

importância do letramento visual agora com ênfase na perspectiva dos multiletramentos porém

não definindo o conceito.

Outro trabalho que parece tratar do tema tem por subtítulo “uma discussão sobre

letramento visual, ensino e práticas sociais” de Pereira (2007), todavia o termo letramento visual

não é encontrado no corpo do texto e nem mesmo o conceito de letramento, não sendo

encontrada assim a discussão apresentada pelo autor conforme pode ser esperada pelo leitor a

partir da expectativa formada pelo título do trabalho.

Diferentemente dos autores anteriormente citados no âmbito nacional, Oliveira (2006;

2007) se preocupa em definir o conceito de letramento visual. No seu texto de 2006, a autora

apresenta uma definição proveniente de uma fonte online que não pode mais ser acessada e

não é encontrada em outras fontes pesquisadas aqui sobre o assunto. O autor original citado

por ela é Pennings (SD) e segue sua definição traduzida por Oliveira (2006):

O letramento visual é a área de estudo que lida com o que pode ser visto e

como se pode interpretar o que é visto. É abordado a partir de várias disciplinas

que buscam: estudar os processos físicos envolvidos na percepção visual; usar a

tecnologia para representar a imagem visual; desenvolver estratégias para

interpretar e entender o que é visto. (PENNINGS, SD apud OLIVEIRA, 2006, p.20)

Tal definição é compartilhada por Lebedeff (2010) em seu trabalho de letramento visual com

professores surdos. É interessante notar o fato que nesta definição, diferente das outras

encontradas, o letramento visual é considerado uma área de estudos.

Em trabalho posterior, Oliveira (2007) abandona tal definição e busca em Callow (2005) e

Stokes (2002) bases para o conceito de letramento visual que no caso se trataria da “habilidade

de ‘ler’, interpretar e entender a informação apresentada em imagens pictóricas ou gráficas”

(Oliveira, 2007:186) ou “a habilidade de interpretar imagens, como também produzi-las, para

comunicar idéias e conceitos (...) o que incluiria pensar, aprender e expressar-se em termos de

imagens” (Ibid.). A partir desta definição, uma pessoa visualmente letrada seria capaz de

“interpretar, entender e apreciar o significado de mensagens visuais; comunicar-se mais

eficazmente aplicando os princípios e conceitos básicos do design visual; produzir mensagens

visuais usando computadores e outras tecnologias e; usar o pensamento visual para criar

soluções para problemas” (Ibid.).

Os últimos trabalhos nacionais citados (OLIVEIRA, 2006; COSTA, 2007; OLIVEIRA, 2007;

PEREIRA, 2007; COSTA, 2008; LEBEDEFF, 2010) estão baseados na obra de Kress e Van

Leeuwen (2006) que defendem a importância do letramento visual e criam uma gramática do

design visual para se trabalhar com leitura de imagens, porém não trazem uma definição

explícita para o conceito tratado aqui.

26

Considerando as diversas tentativas de definição do fenômeno do letramento visual

apresentadas aqui, também as definições, versões e perspectivas de letramento discutidas no

capítulo anterior e o objetivo deste trabalho em encontrar o letramento visual no PNLD-2011

de línguas estrangeiras e nos dois livros didáticos selecionados, é preciso determinar o que se

busca, ou seja, o que será considerado letramento visual no presente trabalho, conceito

discutido a seguir.

2.2 Discussão

Boa parte das definições apresentadas neste capítulo afirmam que o letramento visual trata

de uma habilidade ou conjunto de habilidades ou competências relacionadas à visão

(FRANSECKY e DEBES, 1972; ROBINSON, 1984 apud BRILL et al., 2007), com alguns autores

acrescentando que tais habilidades seriam adquiridas ou aprendidas (HEINICH et al., 1982 apud

PETTERSSON, 1998; PETTERSSON, 1998; BRILL et al., 2007).

Um aspecto que concerne à totalidade das definições do conceito discutido aqui é o de

interpretação, leitura ou compreensão de imagens ou mensagens visuais (FRANSECKY e

DEBES, 1972; AVGERINOU e ERICSON, 1997; STOKES, 2002; OLIVEIRA, 2006; BRILL et al.,

2007; OLIVEIRA, 2007; LEBEDEFF, 2010; PENNINGS, SD apud OLIVEIRA, 2006), com a

ressalva de Dondis (2007) de que esta compreensão seria culta, isto é, algo além da simples

capacidade inata de enxergar e também a definição já criticada aqui de Heinich (1982 apud

PETTERSSON, 1998) que traz tal interpretação como necessariamente precisa ou exata. Além

disso, Avgerinou e Ericson (1997) descrevem uma definição de interpretação como

reconstrução ativa de experiências passadas com a entrada de informação visual para se obter

significado.

Por outro lado, nem todos que defendem a compreensão de mensagens visuais em suas

definições de letramento visual, defendem também o aspecto da criação de tais mensagens.

Autores que levam este aspecto em consideração são Heinich et al. (1982 apud Pettersson,

1998), Avgerinou e Ericson (1997), Stokes (2002), Brill et al. (2007) e Oliveira (2007). Dondis

(2007) acrescenta o conceito de culta à criação assim como faz para a compreensão, pois o

letramento visual não incluiria a simples criação de mensagens visuais, mas sim uma criação

elaborada a partir do aprendizado, prática e experiência.

Relacionado à compreensão e criação de mensagens visuais está o conceito de

comunicação por meio de imagens visuais conforme apontam Fransecky e Debes (1972),

Pettersson (1998), Stokes (2002) e Oliveira (2007) e também Avgerinou e Ericson (1997) que

incluem o fator da intencionalidade nesta comunicação.

27

Mais um aspecto, o de pensamento visual, pode ser encontrado nas definições pesquisadas

(AVGERINOU e ERICSON, 1997; BRILL et al., 2007; OLIVEIRA, 2007), o que consiste em

imaginar ou pensar por imagens e resolver problemas por meio de imagens. Atrelado a este

conceito está o de aprendizado visual, ou seja, aprender em termos de imagens que consta em

Avgerinou e Ericson (1997).

Oliveira (2006) e Lebedeff (2010), apoiadas em Pennings (SD apud OLIVEIRA, 2006),

apresentam o letramento visual como uma área de estudos, o que não encontra respaldo nas

outras definições pesquisadas.

Agora, comparadas com as definições de letramento apresentadas no capítulo anterior, tais

definições de letramento visual deixam de incluir vários aspectos importantes. Por exemplo,

nenhuma o considera como o resultado de um aprender ou ensinar, ou o estado ou qualidade

de indivíduos ou grupos que tenham se apropriado de uma forma de linguagem, no caso do

capítulo anterior geralmente a linguagem escrita, aqui neste capítulo a visual.

Quanto à questão de o letramento ser mais do que possuir uma tecnologia, ler e escrever

como aponta Soares (2004), aqui encontramos a menção similar em Dondis (2007) que

defende o letramento visual como sendo mais do que simplesmente enxergar ou criar

mensagens visuais, o que é um aspecto não mencionado em outras definições pesquisadas.

Outro aspecto não considerado nas definições aqui discutidas é o que se refere ao uso da

linguagem como uma prática social, aspecto central do conceito de letramento apresentado no

capítulo anterior.

Em vista das definições de letramento visual apontadas aqui como conjuntos de habilidades,

parece haver um foco em uma dimensão individual, não se encontrando perspectivas que

apontem para uma dimensão social deste tipo de letramento, seja em versão fraca, funcional ou

forte, dita revolucionária.

Além disso, as definições de letramento visual não apresentam preocupação com o contexto

de produção das mensagens visuais, com exceção de Curtiss (1987 apud AVGERINOU e

ERICSON, 1997) que considera a habilidade para compreender o assunto e o significado

dentro do contexto da cultura que produziu a obra. Tal falta de consideração a respeito do

contexto de produção da linguagem para se interpretá-la aponta para uma visão de acordo

com o modelo autônomo de letramento, já que no modelo chamado ideológico os significados

dependem do contexto em que são produzidos além de serem culturalmente determinados, o

que não se encontra nas interpretações de letramento visual pesquisadas neste capítulo, com

exceção do autor referido.

Outro aspecto não levantado pelas definições pesquisadas é o de “consciência crítica”, seja

ela referente à pedagogia crítica ou ao chamado letramento crítico explanados no capítulo 1.

28

Cabe, contudo, lembrar que o letramento crítico já prevê outros modos de construção de

sentido que não só o escrito em sua concepção, incluindo também o visual. Todavia, aqui se

faz um recorte dando-se ênfase ao modo visual de construção de sentido, uma abstração feita

somente para efeito de estudo.

Com vistas à realização de análise do Guia de Livros Didáticos PNLD2011 de Línguas

Estrangeiras e de um livro didático de ensino de inglês, a partir das definições de letramento

visual apresentadas neste capítulo e levando em conta também os aspectos do letramento

apresentados no capítulo anterior e não considerados nas definições deste capítulo, para o

presente trabalho o letramento visual será concebido da seguinte maneira: o estado ou

qualidade de um indivíduo ou grupo social que tenha se apropriado da linguagem visual e que

façam uso de práticas sociais desta linguagem. Além disso, vai se considerar tal estado como

resultado de um ensinar e aprender a ler mensagens visuais e a criar tais mensagens atentando-

se para as condições desta leitura, considerando-a como uma interrelação entre a criação da

mensagem visual e sua leitura e questionando-se como se interpreta os textos visuais.

É importante definir aqui também para a definição de letramento visual o que se entende

por linguagem visual. Aqui a linguagem visual será considerada a partir da definição de Horn

(1998) que a define como o uso de palavras e imagens, ou palavras e formas, para criar uma

unidade de comunicação acrescida da concepção de Twyman (1979) de que tais imagens,

formas e palavras são marcas produzidas a mão e/ou por máquinas com o intuito de comunicar

uma mensagem. Desta forma, a linguagem visual engloba elementos de comunicação como

jornais, revistas, obras de arte, web sites, cartazes, placas de trânsito, imagens da TV, símbolos

e logotipos corporativos, entre muitos outros.

Em vista disso, será realizada no próximo capítulo uma investigação no PNLD-2011 de

línguas estrangeiras e em um livro didático selecionado no Guia para se tentar encontrar

condições que promovam o letramento visual.

29

3 LETRAMENTO VISUAL NO PNLD-2011 DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS E EM LIVROS SELECIONADOS PELO GUIA DE LIVROS DIDÁTICOS

Neste capítulo será realizada uma investigação sobre o letramento visual no Guia de Livros

Didáticos – PNLD2011 de línguas estrangeiras e no manual do professor do livro Keep in Mind

9º ano de ensino de inglês levando em conta os conceitos de letramento visual apresentados no

capítulo anterior. O livro escolhido para a análise pertence a uma das duas coleções de ensino

de língua inglesa selecionadas e resenhadas no guia referido e foi escolhido pela razão apontada

na introdução deste trabalho, isto é, em um a um levantamento informal realizada por Storck

(2011) em algumas escolas se verificou que a coleção Keep in Mind foi escolhida pela maioria

das escolas examinadas.

De início o Guia de livros didáticos é apresentado e uma análise sobre o letramento visual é

realizada. Na sequência é feita uma análise do manual do professor de Keep in Mind em sua

seção denominada “Assessoria Pedagógica” (CHIN e ZAOROB, 2010a) relacionando-a com

exemplos de atividades do livro a serem realizadas em aula pelas(os) professoras(es). Assim, na

análise do Guia e da “Assessoria Pedagógica” se procura encontrar menções a elementos de

linguagem visual (conforme definida no capítulo anterior) e recomendações de como se

trabalhar com eles, relacionando tais elementos e recomendações com as atividades

constantes do livro utilizado em sala de aula e refletindo sobre a promoção do letramento

visual.

3.1 O Guia de Livros Didáticos PNLD-2011 de línguas estrangeiras

O Guia de Livros Didáticos PNLD-2011 de línguas estrangeiras (BRASIL, 2011) traz

resenhas que descrevem coleções de livros didáticos do 6º ao 9 º anos do ensino fundamental

selecionados mediante um processo de avaliação coordenado pelo Ministério da Educação por

meio do Programa Nacional do Livro Didático - PNLD.

O guia traz a informação de que houve a preocupação de selecionar livros que

apresentassem manuais com sugestões de como explorar as atividades que constam dos livros,

além de possibilidades de ampliação de trabalho dos temas propostos. Além disso, as resenhas

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dos livros apresentadas no guia pretendem apresentar cada coleção, além de descrevê-las

brevemente e analisar seu conteúdo indicando as qualidades das coleções.

Na seção de apresentação do guia, seus autores afirmam que se considera importante para

a formação e a inclusão social do indivíduo, a aprendizagem das habilidades de ler, falar, ouvir e

escrever em outras línguas. Ali é explicado que, por esta razão, “os critérios adotados no

Edital PNLD 2011 para a seleção das coleções buscaram garantir que, na escola pública, o

aluno consiga aprender a língua estrangeira para compreender e produzir, oralmente e por

escrito, diversos tipos de textos” (BRASIL, 2011:11). Neste início do guia, pode-se observar

uma preocupação com a diversidade de tipos de textos, porém não especificando se entre eles

deveriam constar textos multimodais, apresentando imagens em conjunto com o texto escrito.

Mais a frente no guia, na apresentação dos critérios específicos de seleção das obras, há

argumento similar sobre a diversidade de textos. Como critério específico as coleções

deveriam “apresentar linguagem contextualizada e inserida em práticas discursivas variadas e

autênticas, a fim de que o aluno tenha oportunidades: de aprender a ler e escrever textos

coerentes (...) além de (...) compreender essas línguas quando utilizadas por distintos falantes,

em diversos contextos e em situações da vida real” (p. 12).

Adiante, o guia apresenta perguntas que constaram de fichas de avaliação para a seleção

das coleções de livros didáticos refletindo os critérios adotados para a escolha. Estas

perguntas, em especial na seção “VIII. Coletânea de textos orais e escritos”, expõem

preocupações semelhantes às anteriormente apontadas, sendo elas referentes à existência nas

coleções de textos de diferentes tipos e gêneros, diversidade de suportes originais,

exemplificando-os como revistas, almanaques, jornais, sítios da internet, periódicos científicos

etc. e existência de textos autênticos, ou seja, “que circulam socialmente na cultura oral e

escrita” (BRASIL, 2011:16). Outra pergunta a este respeito é feita na seção “V. Observância

das características e finalidades específicas do manual do professor e adequação da coleção à

linha pedagógica nele apresentada”, onde se indaga se a coleção traz atividades extras com

materiais autênticos de diferentes suportes midiáticos.

De maneira explícita, o guia apresenta em suas perguntas da ficha de avaliação

preocupações relativas ao uso de imagens ou ilustrações. Isto acontece no item “IV. Correção

e atualização de conceitos, informações e procedimentos”, por exemplo, que busca verificar a

pertinência das ilustrações e imagens do livro em relação a questões contemporâneas e sua

“correção e atualização” quanto aos conceitos, informações e metodologia de trabalho

sugeridos para uso em sala de aula.

No item “VI. Adequação da estrutura editorial e do projeto gráfico aos objetivos didático-

pedagógicos da coleção” encontram-se indagações sobre se “as imagens são adequadas às

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finalidades para as quais foram utilizadas” (BRASIL, 2011:15) e se elas são “informativas e

coerentes com as atividades” (Ibid.). No caso do item “VII. Estrutura e organização” também

aparece um questionamento sobre a existência de diferentes tipos de imagens no livro didático

analisado.

No que se refere aos textos orais e escritos presentes nas coleções, o guia apresenta a

preocupação no item “VIII. Coletânea de textos orais e escritos” o questionamento se “são

apresentados textos não verbais e textos que integram as modalidades verbal e não-verbal”

(BRASIL, 2011:16).

E a preocupação que parece mais importante para o presente trabalho está presente na

seção “XIII. Conhecimentos linguístico-discursivos: gramática e vocabulário” que indaga:

“Existem oportunidades para que o aluno aprenda a utilizar a língua adequadamente em

relação às novas formas de comunicação, incluindo hipertextos, imagens e sons?” (p.18). Este é

um ponto bastante importante no que se refere ao assunto tratado aqui, contudo, o que seria

“utilizar a língua adequadamente” fica em aberto.

Após os critérios e as perguntas das fichas de avaliação, o guia apresenta as resenhas das

coleções selecionadas. Para o inglês foram escolhidas as coleções Keep in mind e Links que

terão seus manuais do professor do 9º ano (CHIN e ZAOROB, 2010b; SANTOS e

MARQUES, 2010) analisados nas próximas seções.

Na análise da coleção Keep in Mind, na seção sobre compreensão escrita consta que

“diferentes linguagens, gêneros e tipos textuais são efetivamente trabalhados em atividades que

incluem pré e pós-leitura e o desenvolvimento de várias estratégias” (BRASIL, 2011:40). A

resenha não menciona apesar disto, a questão das chamadas novas formas de comunicação ou

a integração dos modos verbais e não verbais nos textos. Na descrição do livro do 9º ano há

elementos que a princípio se referem a tais aspectos, levando-se em conta a presença de

anúncio turístico, texto publicitário, gráficos, cartum, catálogo online, cartaz e panfleto.

Contudo, é necessário analisar o livro para averiguar como estes textos são apresentados e

trabalhados.

Em visto do exposto até aqui, o Guia de Livros Didáticos apresenta, nos critérios adotados

para seleção e nas perguntas da ficha de avaliação, maior preocupação com a existência de

diferentes tipos de imagens nas coleções, se elas são atualizadas e corretas, se são informativas

e estão de acordo com o propósito estipulado pelos autores dos livros. Além disso, no guia

constam os questionamentos se há textos não verbais e outros que integrem o modo verbal

com o não verbal, além da indagação se existe oportunidade para o aluno aprender a utilizar a

língua “adequadamente” em relação às novas formas de comunicação.

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Tais aspectos em que poderia haver a possibilidade de trabalhar o letramento visual são

considerados nos critérios adotados para a seleção dos livros, porém não são encontrados nas

resenhas das coleções selecionadas. Para se verificar tais aspectos nas coleções escolhidas é

necessário investigar os livros, o que será feito a seguir com o livro Keep in Mind.

3.2 Keep in Mind

Figura 1 Capa do livro didático Keep in Mind.

Será analisado nesta seção, o livro Keep in Mind de ensino de

língua inglesa para o 9º ano do ensino fundamental (CHIN e

ZAOROB, 2010b) no que diz respeito ao letramento visual.

Primeiramente será feita uma descrição do livro e depois,

com o intuito de encontrar na descrição das autoras aspectos

que promovam o letramento visual, será feita uma busca na parte

do manual do professor denominada “Assessoria Pedagógica”

(CHIN e ZAOROB, 2010a) onde as autoras apresentam suas

premissas para a elaboração da obra e a obra em si, suas

atividades, conteúdos etc. Intercalando com a análise da seção

“Assessoria Pedagógica”, serão analisados exemplos dentro do

livro trabalhado em sala de aula pelas(os) professoras(es).

3.2.1 Descrição do livro

O livro didático Keep in Mind, no volume que corresponde ao 9º ano do ensino

fundamental, apresenta quatro tipos de unidades: Welcome, Unit, Review e Thematic Unit. A

unidade Welcome inicia o livro dando boas vindas aos estudantes e é dividida em seções

numeradas denominadas de Act, apresentando resumo e recapitulação dos conteúdos

linguísticos do volume precedente.

As principais unidades de trabalho do livro são as intituladas Units e incluem Grammar,

Vocabulary, Listening, Speaking, Reading e Writing. As seções das Units são organizadas da

seguinte maneira: uma seção introdutória chamada Get in the mood, uma conversação de

abertura (Act 1), duas seções de vocabulário (Act 2 e Act 3), duas seções de gramática (Act 4 e

Act 5) e uma seção para cada uma das quatro habilidades comunicativas (Act 6 a Act 9),

denominadas Let’s listen (compreensão oral), Let’s talk (produção oral), Let’s read (compreensão

escrita) e Let’s write (produção escrita). Além disso, outros conteúdos e/ou atividades são

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apresentadas em boxes intitulados Food for thought, Language corner, Cool! e Project. No final de

cada Unit, há um Project com diferentes propostas de atividades extra-classe, além de uma

página de Extra activities opcionais para serem realizadas dentro ou fora da sala de aula. Ao final

de duas unidades encontra-se uma seção denominada Review, que corresponde a uma aula,

tendo por objetivo de integrar e recapitular o conteúdo das duas Units anteriores.

Na parte do livro Appendix há quatro unidades temáticas intituladas Thematic Units, quem

têm o fim de desenvolver assuntos relevantes e de interesse dos estudantes. Além disso, o

Appendix apresenta Workbook com exercícios referentes a cada uma das unidades, Word list

que tem a função de glossário, Language summary com quadros-resumo dos conteúdos

gramaticais, List of irregular verbs e um CD track list que apresenta a relação do conteúdo do CD

de áudio.

O livro contém também um manual do professor chamado de Assessoria Pedagógica que

apresenta as premissas de língua e aprendizagem em que as autoras se basearam e comentários

sobre os tipos de atividades e os papéis dos estudantes e professores. O manual expõe uma

visão geral do conteúdo e organização dos volumes, sugestões para planejamento, descrição

das unidades, seções e atividades além de orientações pedagógicas por tipo de atividade que

complementam as instruções constantes no livro texto do professor.

A seguir será feita a análise da “Assessoria Pedagógica” no que diz respeito ao letramento

visual.

3.2.2 Análise da “Assessoria Pedagógica”

Na “Assessoria Pedagógica”, as autoras, ao descreverem o enfoque sociodiscursivo da

linguagem verbal que apresentam na obra, parecem considerar em maior parte da obra a

presença das ilustrações com função de contextualização do texto verbal. Além disso,

aconselham os professores a utilizarem este contexto para melhor entenderem o que irão ler

e ouvir:

(...) todos os diálogos de abertura – cujo objetivo é apresentar aos alunos a

língua que eles irão aprender ao longo da Unit para, no final, poderem engajar seus

pares na produção oral de enunciados visando à realização de determinados

objetivos de comunicação com a língua (funções) – vêm acompanhados de

ilustrações que mostram os participantes do discurso (quem está falando com

quem), seu objeto (sobre o quê) e em que circunstâncias espaço-temporais (onde

e/ou quando) se dá. No texto para o professor há sempre uma orientação para que

ele explore as imagens com os alunos, ensinando-lhes a usar as informações

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presentes no contexto situacional para melhor entender o discurso que irão ler e

ouvir. (CHIN e ZAOROB, 2010a:9, grifo do original)

As autoras acrescentam que tal enfoque sociodiscursivo realizado desta maneira também

se encontra nas atividades de compreensão oral (listening) e desenvolvimento de compreensão

escrita (reading). Quanto a este último tipo de atividade, as escritoras apresentam como

exemplo um texto da página 126 do livro do estudante (figura 2). A atividade apresenta um

cartaz sobre a influência que amizades podem ter na vida das pessoas. Neste exemplo, pode-se

observar o enfoque dado pelas autoras conforme relatado por elas. Quanto às ilustrações,

podemos ver que elas servem, no máximo, como contexto para o trabalho com o texto verbal

escrito. A importância maior dada à linguagem escrita é evidente na maneira como o cartaz é

apresentado em formato menor no canto da página, o que inclusive dificulta a visão das

ilustrações, e o texto escrito é reproduzido em tamanho que ocupa a maior parte da página.

O fato é que o suporte, o cartaz no caso, não é trabalhado, mas sim o texto verbal escrito

deslocado de sua origem. Além disso, na atividade, a única menção às figuras é no que se

refere à questão de serem adequadas ou não a crianças e adolescentes, sem questionamento

sobre a razão pela qual as figuras seriam ou não adequadas neste sentido.

Figura 2 Atividade let’s read do livro Keep in Mind (CHIN e ZAOROB, 2010b:126).

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Nesta atividade, na recomendação às(aos) professoras(es), há a sugestão de que se

“pergunte se eles [os alunos] acham as imagens adequadas a cada parte do texto, se as

complementam ou acrescentam informações”( CHIN e ZAOROB, 2010b:126). Neste caso há

uma preocupação com a construção de sentido a partir do texto visual, inclusive apontando

para especificidades da relação do verbal com o visual, contudo, a apresentação do cartaz

como relatado anteriormente põe tal especificidade da linguagem em um plano secundário na

construção do sentido.

Um exemplo similar no livro em que o texto verbal escrito é retirado de seu suporte para

se trabalhar com ele está na página 114. A proposta desta atividade também de compreensão

escrita é a de leitura de um catálogo online de loja (figura 3). Na atividade, o catálogo é

apresentado em miniaturas mais uma vez no canto da página e o texto escrito ocupa a maior

parte da página. Neste caso há mais elementos que remetem ao suporte original, como o

texto apresentado em tabela e botões característicos de webpages, entretanto, toda a riqueza

da página de internet, seus elementos visuais, suas características próprias de organização de

informações não são trabalhados, ficando apenas com o papel de contextualização.

Figura 3 Atividade let’s read do livro Keep in Mind (CHIN e ZAOROB, 2010b:114).

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De volta à “Assessoria Pedagógica”, as autoras comentam sobre o “eixo textual” do livro

didático:

O terceiro eixo de conteúdo que sustenta a obra tem por objetivo ampliar o

conhecimento dos alunos quanto aos gêneros textuais utilizados na comunicação

oral e escrita, aos tipos textuais e suas respectivas funções comunicativas e ao

modo como as informações estão organizadas dentro dos textos. (...) Se o processo

de aprender língua se faz pela co-construção de discursos e se estes consistem de

textos, no sentido amplo do termo, então é preciso criar condições para que os

aprendizes expandam e aprofundem seus conhecimentos ao longo dessa dimensão

(CHIN e ZAOROB, 2010a:24-25).

A partir das análises dos dois exemplos anteriormente relatados (cartaz e catálogo online),

pode-se questionar se o livro didático amplia o conhecimento dos alunos quanto aos gêneros

textuais. Nos exemplos citados, poderia-se dizer que seus gêneros textuais foram

descaracterizados, não sendo mais catálogo online ou cartaz devido à maneira como são

apresentados e trabalhados, não tendo sua função comunicativa e organização de informação

levadas em conta, ao contrário do que atestam as autoras. Isto parece se dever à menor

importância dada ao modo visual de construção de sentido, presente e importante nestes

gêneros. Tal fato leva também ao questionamento de que caso se leve em conta o texto no

sentido amplo do termo como defendem as autoras, este será considerado como unidade de

sentido independente do modo, seja verbal escrito ou visual ou outro, o que parece não

acontecer nos exemplos citados, pois o visual parece ser relegado a um plano inferior e por

vezes até não sendo considerado parte do texto ou mesmo um texto. Em vista disto, para

estes textos, não parece haver uma intenção de construir a oportunidade aos aprendizes de

expandirem e aprofundarem seus conhecimentos ao longo da dimensão apontada pelas

escritoras.

Um outro exemplo em que falta tal criação de oportunidade para se expandir e aprofundar

o conhecimento de gênero que apresenta o modo visual como fundamental na construção de

sentido pode ser observado na página 28 do livro do aluno. Ali a atividade traz um cartaz

publicitário de divulgação de um livro da série Harry Potter (figura 4). No cartaz há a foto de

uma coruja com um olho vermelho e várias penas no ar ao redor dela, além do que parece ser

uma mochila ao seu lado. Embaixo da foto há o texto em inglês “agarre sua cópia antes que

outro agarre”. A instrução da atividade se resume a olhar a propaganda e dizer o que o aluno

pensa sobre ela. Não há nenhum trabalho a respeito da organização da informação neste

gênero, levando em conta tanto o texto verbal quanto o visual e sua articulação. Ainda a este

respeito, não são levadas em conta as construções de sentido que podem ser feitas na relação

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entre o texto visual e o verbal escrito, e que não podem ser feitas isoladamente a partir de

uma só modalidade.

Enfim, tais aspectos tão característicos deste gênero e que poderiam ser trabalhados aí

para efetivamente se expandir e aprofundar o conhecimento dos alunos, não são considerados.

Figura 4 Atividade Cool do livro Keep in Mind (CHIN e

ZAOROB, 2010b:28).

Mais a frente na “Assessoria Pedagógica” as autoras retomam a defesa de que há

preocupação com a organização textual e também acrescentam o fator de eficácia de

comunicação:

E quanto ao conhecimento da organização textual? A coleção inclui atividades

que chamam a atenção dos alunos para o modo como as informações se organizam

nos textos em função do gênero, por um lado, e do tipo, por outro. Há ainda

tarefas que lhes pedem para observar como a organização textual pode refletir a

visão dos interlocutores para o tema em questão, além de consideração sobre a

eficácia da comunicação (CHIN e ZAOROB, 2010a:26).

Como visto pelos exemplos aqui analisados, não há esta atenção à organização textual no

que se refere ao modo visual. No que diz respeito à eficácia da comunicação também não se

discute tal aspecto na obra, ou seja, não se questiona se um texto visual é eficaz ou de que

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forma um texto verbal acrescido de um visual em determinado contexto teria sua eficácia

comunicacional modificada, por exemplo.

Na mesma linha, as autoras indicam quando falam de estratégias de leitura uma atenção às

relações entre imagens e texto que não se vê nas atividades propostas no livro: “as estratégias

de leitura trabalhadas na coleção incluem as seguintes, entre outras: atentar para as relações

entre imagens e artes gráficas e o conteúdo ou propósito do texto” (CHIN e ZAOROB,

2010a:36).

As autoras da coleção alegam a existência de uma ampla diversidade de gêneros textuais

em seus livros didáticos para a compreensão oral e produção escrita incluindo textos não

verbais:

Quanto aos gêneros utilizados para o desenvolvimento da compreensão e

produção escrita, a variedade é maior ainda, especialmente no que se refere à

leitura. A gama inclui: textos em linguagem não verbal como fotos, ilustrações e

pinturas, assim como textos que conjugam linguagem verbal e não verbal, a exemplo

de charges e tiras humorísticas, cartazes, mapas, plantas, placas, gráficos, tabelas e

diagramas; pequenos textos como cartões comemorativos, convites, recados, e-

mails, piadas, rimas e provérbios; instruções de jogos, receitas e regras (estatutos);

além de webpages institucionais, descrições de produtos, propagandas etc. (CHIN e

ZAOROB, 2010a:25).

Como relatado anteriormente, os gêneros textuais que apresentam linguagem não verbal

visual por vezes aparecem no livro como mera contextualização, tendo o texto verbal retirado

à parte. Desta forma, tais textos não verbais nestes casos não existem de fato no livro didático

para serem efetivamente trabalhados. Quanto à produção escrita, não se encontra no livro

produção de textos não verbais como as autoras podem dar a entender.

Quanto às ilustrações presentes no livro se propõe em sua maioria que sejam exploradas

com os alunos, mas sem muitas especificações de como fazê-lo, como no caso das atividades

denominadas Presentation (e.g. figura 5) em que as autoras aconselham que se “explore as

ilustrações a fim de ajudar os alunos a entenderem o contexto do diálogo” (CHIN e

ZAOROB, 2010a:53). De maneira similar é sugerido o uso das ilustrações nas seções Let’s

listen e Let’s read, onde as escritoras indicam respectivamente: “estabeleça o contexto e peça-

lhes para explorarem as imagens, se houver” (Ibid.:54) e “explore com os alunos as imagens,

ilustrações e artes gráficas, se houver, e oriente-os a considerá-las como parte do texto e a

usá-las para entender melhor o que vão ler” (Ibid.:55). Aqui parece haver uma contradição

quanto ao papel das imagens no texto: a princípio as autoras aconselham as(os) professoras(es)

a levar os alunos a considerarem-nas parte do texto, o que faz pensar que elas têm seu

próprio papel na construção de sentido, contudo, logo após as autoras recomendam que se

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utilize as imagens para ajudar a entender melhor o que vão ler, como se as imagens não

fizessem parte da leitura, mas fossem como apoio para o entendimento do texto verbal.

Figura 5 Atividade Presentation do livro Keep in Mind (CHIN e ZAOROB, 2010b:12).

No livro didático há alguns exemplos em que há uma tentativa de relacionar o texto verbal

com o visual, como no caso da atividade Let’s read da página 60 (figura 6). A atividade de leitura

sugere que se encontre na imagem representativa do processo de aquecimento global, termos

realçados no texto escrito. E isto é o papel da imagem na atividade, o que é pouco

considerando a complexidade da imagem esquemática que não tem suas setas, desenhos e

cores trabalhados no que diz respeito a como quais sentidos se poderia construir a partir

deles.

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Figura 6 Atividade Let’s read do livro Keep in Mind (CHIN e ZAOROB, 2010b:60).

Um raro exemplo em que se trabalha a interpretação de imagens consta da página 77 do

livro do aluno. Na atividade há placas de aviso (figura 7) e se aconselha à(ao) professor(a) que

indiquem aos alunos que olhem as placas e as interpretem para depois escolherem em que

local cada placa poderia estar afixada (e.g. entrada, auditório, jardim etc.). Este é um trabalho

mais elaborado com textos visuais do que os exemplos citados anteriormente, já que neste

caso as imagens não ficam “ancoradas” ao texto verbal. Contudo, um trabalho mais produtivo

no que diz respeito ao letramento visual seria também discutir a própria linguagem das placas,

sua organização de informação, que sentidos são possíveis de construir com os símbolos

apresentados, como por exemplo o círculo vermelho com a faixa inclinada no meio, a palma da

mão, o dedo em frente aos lábios e assim por diante.

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Figura 7 Atividade Get in the mood do livro Keep in Mind (CHIN e ZAOROB, 2010b:77).

A partir do relatado até aqui neste capítulo sobre as análises do Guia de Livros Didáticos e

do livro didático Keep in Mind será feita uma discussão a seguir no que diz respeito ao

letramento visual.

3.3 Discussão

Como visto no início deste capítulo, o Guia de Livros Didáticos apresenta nos critérios

utilizados para a seleção das coleções preocupação com a existência de diversos tipos de

imagens e textos que apresentem relações de linguagem verbal e não verbal. Todavia, no que

diz respeito a como trabalhar tais aspectos o guia apresenta somente a exigência de que as

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coleções tragam oportunidades aos alunos para que possam trabalhar a língua

“adequadamente” em relação a tais tipos de textos.

Quanto ao livro didático Keep in Mind, na análise realizada aqui pôde-se encontrar a

presença de textos visuais, mas que por vezes são descaracterizados em seu gênero, pois

parece haver pouca importância dada a tais textos no que diz respeito ao seu papel na

construção de sentidos.

Além disso, as ilustrações são em sua maioria consideradas como apoio ao entendimento

do texto escrito, não sendo consideradas como fonte a ser também interpretada tendo suas

próprias características.

No que diz respeito à produção de texto não há menção à produção de textos visuais ou

que integrem os modos verbal e visual.

Em vista disto, o Guia e o livro didático analisado deixam a desejar no que diz respeito à

promoção do letramento visual, pois pouco exige, no caso do guia, e pouco trabalha ou trabalha

de forma limitada textos existentes nas práticas sociais dos alunos, sejam eles

predominantemente visuais ou multimodais integrando os modos verbal e visual. Além disso, a

face da produção de textos deste tipo também não é contemplado pelo guia ou pelo livro

didático. Tal situação parece não contribuir de maneira suficiente para que os estudantes

venham a alcançar um estado de quem adquiriu a tecnologia do “ler” e “escrever” textos de

tais tipos e usá-los efetivamente na sua vida social.

Ainda a este respeito, a seguir serão feitas as considerações finais deste trabalho no

próximo capítulo.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A questão norteadora deste trabalho como exposto na introdução é a seguinte: como o

letramento visual é contemplado no Guia de Livros Didáticos PNLD2011 e no livro didático de

ensino de inglês Keep in Mind selecionado pelo Guia?

Além disso, o estudo teve por objetivo verificar no Guia e no livro didático, aspectos que

promoveriam ou não o letramento visual dos estudantes e de que forma se daria isto.

O objetivo foi cumprido na análise realizada no capítulo anterior e a partir dela pode-se

responder à questão norteadora. A este respeito, pode-se dizer a partir da análise realizada

que o letramento visual é contemplado de maneira muito limitada no Guia e no livro didático

Keep in Mind. A razão para esta afirmação é o fato de o Guia apresentar preocupação com a

existência de diversos tipos de imagens e textos que integrem os modos verbal e não verbal

em seus critérios de seleção das coleções didáticas. A presença de tais imagens e textos é um

ponto positivo para promover o letramento visual, contudo é só um primeiro passo. Seria

necessário também trabalhar com as linguagens específicas das imagens e textos multimodais

mencionados, aspecto do qual o Guia apenas exige que se possibilite trabalhar a língua

“adequadamente” em relação a tais textos. Entretanto, o que seria trabalhar adequadamente

neste sentido? “Explorar as imagens com os alunos” como traz o manual do professor do livro

Keep in Mind seria trabalhar adequadamente neste sentido? Parece que não, pois a

linguagem visual tem suas características próprias que precisariam ser trabalhadas para

que os estudantes possam se tornar letrados visualmente. Este tipo de “trabalho” com

a linguagem visual mostra que os autores a relegam a um plano secundário, assim

como o caso da extração do texto escrito de gêneros multimodais relatados no

capítulo anterior. Fazendo uma comparação com o trabalho que se faz com os textos

escritos, não se vê entre as recomendações do manual do professor para as atividades

de leitura algo como “explore o texto com os alunos”. Pelo contrário, procura-se

trabalhar o gênero textual, suas características peculiares, organização de informação,

extensão e assim por diante.

Além disso, no que diz respeito à expressão por meio da linguagem visual, isto é, à

criação de mensagens visuais, não há menção no Guia ou no livro didático, algo que se

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considera aqui como indispensável para se promover o letramento visual e desenvolver

pessoas visualmente letradas.

4.1 Contribuições do trabalho

Como contribuições do presente trabalho pode-se considerar a união das áreas das

Letras e do Design, além da definição proposta do conceito de letramento visual que

pode ser utilizada para pesquisas similares.

Apesar dos pontos relatados na seção anterior e as contribuições apresentadas

aqui, é importante ressaltar que o presente trabalho foi um estudo curto apresentando

limitações que são descritas a seguir.

4.2 Limitações do trabalho

Uma limitação do estudo aqui apresentado é sua natureza de trabalho de conclusão de

curso de graduação devido ao pouco tempo despendido para sua realização.

Uma segunda limitação, que está relacionada à primeira mencionada, é a do pesquisador

que ainda está dando os primeiros passos nos estudos no âmbito do letramento. Esta limitação

é provavelmente maior do que a do letramento visual contemplado nas obras pesquisadas,

devido à incipiente compreensão do pesquisador sobre o assunto.

Ainda assim, este trabalho é o início de possíveis pesquisas futuras sobre o tema.

4.3 Desdobramentos futuros

Além dos pontos observados na análise realizada neste estudo, o presente trabalho leva a

outras questões como:

• Os professores são letrados visualmente? Se não, como trabalhariam neste sentido

com seus alunos?

• Que aspectos da linguagem visual deveriam ser abordados, em que disciplinas e em

que níveis?

• Que critérios relativos ao letramento visual o PNLD deveria adotar?

• E no que diz respeito a leis, diretrizes e propostas curriculares?

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Como relatado na introdução deste trabalho, as novas linguagens que incluem o modo

visual de construção de sentido estão por toda parte e se faz cada vez mais necessário

aprender a lidar com elas e, pelo que foi refletido aqui, há um longo caminho de pesquisas pela

frente.

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REFERÊNCIAS

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