IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL
Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5
3486
OPERCURSOHISTRICODASONGSNOBRASIL:PERSPECTIVASEDESAFIOSNOCAMPODAEDUCAOPOPULAR
AlineMariaBatistaMachadoalinemelo23@yahoo.com.brAgnciaFinanciadora:CNPq
(UFPB)Resumo
O presente artigo parte de nossa tese de doutorado, defendida em 2009 no Programa de PsGraduao emEducao da Universidade Federal da Paraba UFPB. A partir de uma perspectiva terica marxista, tem comoobjetivocentralapresentara trajetriahistricadasOrganizaesNoGovernamentaisONGsbrasileiras,dandonfaseaquelasqueseguemumaperspectivaprogressistaesoidentificadascomoCidads,especificamente,asqueatuamnombitodaeducaopopular,nosentidoapontaralgunsdesafiosacercadoqueelasvmdenominandodeparticipaocidad.Paratanto,levamosemcontaoscontextoshistricosemqueessasorganizaesemergemnaAmricaLatina, sedesenvolveme seexpandemnoBrasil,bemcomo suascontradies, limitesepossibilidadesnointeriordosistemacapitalista.Palavraschave:ONGS.EducaoPopular.Participaocidad.
Introduo
DiantedasdiferenciadasorganizaesquesereconhecemenquantoONGsnoBrasileno
mundo,tornousedifcilparaosautoresdareaestabelecerumconceitoamploosuficientepara
englobar essas diversas organizaes. No h um consenso acerca de uma definio. No
obstante, no que diz respeito ao aspecto jurdico, as organizaes nogovernamentais so
identificadascomoassociaesoufundaes,queregemseporestatutosregistradosemcartrio
deregistrocivildepessoajurdica.
NoBrasil,aAssociaoBrasileiradeOrganizaesNoGovernamentaisABONG,fundada
em1991,apresentanoart.2doseuestatutoaseguintedefinioparaasONGs:
[...] so consideradasOrganizaesNoGovernamentais ONGs, as entidadesque,juridicamenteconstitudassobaformadefundao,associaoesociedadecivil, todas sem fins lucrativos, notadamente autnomas e pluralistas, tenhamcompromisso com a construodeuma sociedadedemocrtica, participativa ecomofortalecimentodosmovimentossociaisdecarterdemocrtico,condiesestas, atestadas pelas suas trajetrias institucionais e pelos termos dos seusestatutos(cf..Acessoem16/11/2008).
IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL
Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5
3487
Alm desse e de outros conceitos que surgem para definir as organizaes no
governamentais,destacamosoquefoiformuladopelaComissoSobreGovernanaGlobal(1996),
porserumpoucomaisabrangente.
AsONGsconstituemumgrupodiversoemultifacetado.Suasperspectivasesuasreasdeatuaopodemser locais, regionaisouglobais.Algumassededicamadeterminadasquestesou tarefas;outras somovidaspela ideologia.Algumasvisamaointeressepblicoemgeral;outrastmumaperspectivamaisestreitaeparticular.Tantopodem serpequenasentidades comunitrias cujas verbas soescassas,comoorganizaesdegrandeporte,bemdotadasderecursoshumanose financeiros. Algumas atuam individualmente; outras formaram redes paratrocarinformaesedividirtarefas,bemcomoampliarseuimpacto.(COMISSOSOBREGOVERNANAGLOBAL,1996,p.192).
Aabrangnciadoconceitoacimacitadosedpordoismotivoscentrais,primeiroporque
reconhece a heterogeneidade das ONGs outro grande desafio na hora de analislas e,
segundo, porque no as generaliza como sendo no lucrativas, no governamentais e no
assistencialistas.
AheterogeneidadedasONGslevouGohn(2000)aidentificarquatrotiposdeorganizaes
nogovernamentaisatuandonoBrasil:ascaritativas,asdesenvolvimentistas,asambientalistase
as cidads, interpretadas pela autora como amodernidade da participao social na Amrica
Latina. Entretanto, ela destaca que essas ONGs no trabalham na linha da militncia e da
politizaodasociedadecivil,comoosmovimentossociais.ApenasumaparceladasONGscidads
evocamomundodapoltica,daparticipao,aocontrriodas[...]assistencialistas(GOHN,2000,
p.59).
Da chamarmos ateno para as chamadas ONGs cidads, que, conforme a autora,
nascemecrescemreferidasaocampodasassociaesedosmovimentossociais,oquedemarca
seupapel como agentededemocratizao, caractersticapeculiarnoBrasileemalgunsoutros
pasesdaAmricaLatina.Voltadasparareivindicaodosdireitosdecidadania,atuamnoespao
urbanoconstruindoredesdesolidariedade,promovendoouparticipandodeprogramaseservios
sociaisbsicoseemergenciais,atuandojuntoaminoriasdiscriminadas.EssasONGs,emparticular,
tm uma grande atuao junto aos canais de comunicao e reivindicam polticas pblicas,
fornecendosubsdiosparasuaelaborao,fiscalizandoasoufazendodennciasquandoocorrem
violaesouomisses.
IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL
Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5
3488
Contudo,aocontrriodessasONGsquenascem juntoaosmovimentossociais,Montao
(2002) chama a ateno para as chamadas associaes livres, incentivadas ou criadas pelo
conservadorismo liberal, ou seja, determinadas instituies livremente construdas por grupos
formais, que so mais do que uma forma de ampliar os poderes populares dos oprimidos e
explorados,pois souma formade conter as insatisfaesdestesepulverizar aparticipaoe
lutassociais, retirando,com isso,ocarter revolucionrioeclassistadestase transformandoas
ematividadesporinteressesespecficosdepequenosgrupos.Assim,seporumladoexistemONGs
voltadasaoconservadorismoemanutenodostatusquo,quese integramaosprocessosde
regulaosocialprestandoserviosassistencialistas,poroutro,tambmhONGsquevalorizamas
lutaspopulareseosmecanismosdeparticipaopolticadepopulaeslocais.
Oobjetivo centraldeste artigo apresentar a trajetriahistricadasOrganizaesNo
Governamentais ONGs brasileiras, dando nfase aquelas que seguem uma perspectiva
progressistaesoidentificadascomoCidadsemaisespecificamenteasqueatuamnombitoda
educaopopular,nosentidodeapontaralgunsdesafiosacercadoqueelasvmdenominandode
participao cidad. Para tanto, levamos em conta os contextos histricos em que essas
organizaesemergemnaAmricaLatina,sedesenvolvemeseexpandemnoBrasil,bemcomo
suascontradies,limitesepossibilidadesnointeriordosistemacapitalista.
TrajetriahistricadasONGsnoBrasil
A expresso ONG (Organizao NoGovernamental), segundo Landim (1993) e Gohn
(2000),foicriadapelaOrganizaodasNaesUnidasONU,nadcadade1940,paradesignar
entidadesnooficiaisquerecebiamajudafinanceiradergospblicosparaexecutarprojetosde
interesse social, dentro de uma filosofia de trabalho denominada desenvolvimento de
comunidade.EssaperspectivadedesenvolvimentodecomunidadesurgenaAmricaLatinacomo
partedeumaestratgiamaisampladosistemacapitalista,quebuscavaasuperaodapobreza,
do atraso e subdesenvolvimento do chamado Terceiro Mundo. Tratase do Nacional
Desenvolvimentismo (19301964), cujas polticas desenvolvimentistas eram propugnadas por
IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL
Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5
3489
organismos internacionais como: ONU, OEA, CEPAL, BID, FMI, visando o progresso e a
modernizaodasociedade,sobretudopelaviadocrescimentoeconmico.
SegundoWanderley (1998),naperspectivadesenvolvimentistadesenvolversesignificava
atingiromodelodassociedadesdesenvolvidasousociedadesmodernasecrescimentoeconmico
estava fundamentalmente relacionado acelerao da industrializao que, por sua vez,
eliminariaoatrasoeapobreza.Apontavaseparaapossibilidadedemudanasestruturaisepor
issoumadasmetaseramobilizarvriosgruposdasociedadeparaseorganizaramemdefesadas
reformas de base, agrria, urbana, tributria, entre outras. Mas essa estratgia de
desenvolvimentotambmsedeviaaotemordocomunismo,pois,comofimdaSegundaGuerra
Mundial(19391945),ocenriointernacionalviviaoqueficouconhecidocomoGuerraFria,uma
fasedahistriaemque se contrapunhamdoisblocosdepases,os capitalistas, lideradospelos
EstadosUnidos,eossocialistas,lideradospelaUnioSovitica.
Em vista disso, para o sistema capitalista era imprescindvel que os pases mais
desenvolvidoscontribussemcomoavanodosdenominadospasessubdesenvolvidos.Nombito
social, uma das estratgias era financiar aes comunitrias e incentivar movimentos de
promoosocialnospasesdochamadoTerceiroMundo.Paratanto,asagnciasdecooperao
internacional,originriasdepasesdosEstadosUnidosedepartedaEuropa,
[...]necessitavamdeparceiros locaisque fossem capazesde formularprojetos,acompanharasuaexecuoeprestarcontas.Necessitavamdecontrapartescompersonalidadejurdica,ummnimodeestruturaadministrativaeumaafinidadedepropsitos. No tinham como chegar direta e regularmente aos movimentossociais, pois estes, justamente, careciam de estabilidade institucional. E assimsurgiram as ONGs latinoamericanas, num jogo de reforos mtuos, comoparceiras de cooperao internacional no apoio s aes comunitrias e aosmovimentosdepromoosocial(FERNANDES,1994,p.80).
O termoONG foi,assim, importadodasagnciasde financiamento (ONGsde1mundo)
que, inicialmente, as denominava de ONGDs (Organizaes NoGovernamentais de
Desenvolvimento); mas, para os latinoamericanos tornaramse conhecidas como Centros
Populares e s posteriormente que ouniverso dessas organizaes se ampliou na Amrica
Latina,adotandoseaexpressoONG.
IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL
Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5
3490
Ocorre que, ao revisitar essa conjuntura, Fernandes (1987) explica que o Nacional
Desenvolvimentismo foi uma forma de desenvolvimento capitalista dependente e
subdesenvolvidoparaaAmricaLatinaque,emboratenhaelevadoaeconomiaefeitoavanara
industrializaoeaurbanizao,levandoospaseslatinoamericanosasaltaremdaperiferiapara
semiperiferiado capitalismomundial, fez comqueoprocessodemodernizaodessespases
permanecesse na condio de dependncia externa, sobretudo por no ter promovido um
processo de industrializao orgnico, uma autonomizao do Estado nacional em relao ao
poder dos pases mais desenvolvidos e uma independncia da sociedade civil. Alis, as
contradies advindas dessa conjuntura geraram aumento da inflao, arrocho salarial,
movimentos reivindicatriosda classeoperriapormelhores condiesde trabalhoe salrios
(Wanderley,1998,p.23),entreoutrascoisas.
Diante desse contexto, as Organizaes NoGovernamentais continuaram a surgir na
Amrica Latinabuscando contribuir comodesenvolvimentodo sistema capitalistapormeiodo
abrandamentodasquestessociaisadvindasdestemesmosistema.Comisso,apaziguavamseos
conflitos sociaiseevitavamse asmanifestaesepossveis avanosno sentidodeummodelo
alternativodesociedade,osocialismo.
Deumtotalde4.327ONGslatinasanalisadasporFernandes(1994),32%emergemnessa
conjunturadesenvolvimentista(dessepercentual17%temrazesentreasdcadasde1950e1960
e15%distribuemsedemaneira regularpelasdcadasanteriores)eos restantes68%aparecem
depoisde1975.
NoBrasil,asONGssoum fenmenomais recente,nascemcalcadasnomodelonorte
americano e dentro de circuitos de cooperao global (NAVES, 2005, p. 570). Embora as
entidades assistenciais ou filantrpicas presentes entre os anos de 1960 e 1970 no se
autodenominassemONGs, Landim (1993) afirmaquemuitasdelas foram se autodenominando
organizao nogovernamental a partir da dcada seguinte. Conforme a autora, ainda que o
termoONGtenhasepopularizadoentreasprpriasorganizaesnosanosde1980,muitasONGs
brasileiras j existiamnasdcadas de 1960 e 1970. Elas apenasno tinham um nome que as
reconhecesse conjuntamente, oque faz com que autores como Gohn (2000) afirmem que as
IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL
Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5
3491
ONGsbrasileirassnascemnosanosde1980.Quando,de fato,oqueocorrenesseperodoa
adoodotermoquelhesconferemumaidentidade.
AsONGspioneirasdestepassurgem,ento,nocontextodaditaduramilitar,perodoem
que j vigorava uma nova estratgia de desenvolvimento latinoamericana, a Autoritria
Modernizante (19641978), a qual dava continuidade ao crescimento econmico advindo do
NacionalDesenvolvimentismo,masgeravaumaprofunda repressopolticaecultural,excluindo
asclassespopulareseatmesmoastradicionaisautoridadesreligiosas,comoasdaIgrejaCatlica,
foradoscrculosmais ntimosdopoder (FERNANDES,1994,p.36).Noporacaso,vriasdas
ONGsqueemergemapsosanosde1970possuam,nosfinanciamentosinternacionais,mas
tambm, o apoio de alas progressistas da Igreja Catlica, que reviu suas posies quanto
organizao da populao para participar de movimentos e mobilizaes conscientizadoras
(GOHN,2000,p.12).Esseapoioocorre,sobretudo,apartirdomovimentoinspiradopelaTeologia
daLibertao1edacriaodasComunidadesEclesiaisdeBaseCEBs.
A finalidade da represso imposta pelos militares com o golpe que instalou o regime
ditatorialnoBrasil, apartirde1964,era,nos termosdeNetto (2002,p.16),deuma contra
revoluopreventiva.Ouseja,adequarospadresdedesenvolvimentonacionaisedegrupos
de pases ao novo quadro [...] de internacionalizao do capital; golpear e imobilizar os
protagonistas habilitados a resistir a esta reinsero mais subalterna no sistema capitalista
(Ibidem) e frear osmais variadosmovimentos sociais que se posicionavam em defesa de um
modeloalternativodesociedade.
No perodo ditatorial os movimentos sociais foram violentamente reprimidos, pois
expressavamumnovomodelodeaosocialpautadona lutapelamudanado regimepoltico
brasileiro e no desejo de construiruma sociedademaisdemocrtica e justa, isto , commais
liberdadepolticae igualdadesocial.Sobopesodaspresses,prises, torturasehomicdios,as
reivindicaesdos sujeitospolticosdosmovimentos sociais voltados hegemoniados setores
1ATeologiada Libertaonasceunadcadade1970e, segundoMondin (1980,p.25), significaummovimentoteolgicoquequermostraraoscristosqueafdeveservividanumaprxis libertadoraequeelapodecontribuirparatornarestaprxismaisautenticamentelibertadora.Alibertaoaquesereferealibertaodosoprimidoseporissoacorrentemarxistafoitomadacomoinstrumentalpredominante.Noobstante,afemDeuspermaneceuosentidoltimodateologia.
IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL
Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5
3492
populares representavamumaameaaaosistemacapitalista.Por isso taismovimentos tiveram
umpapelsignificativonessecenriode turbulncias,assimcomoasONGsqueosapoiavamou
assessoravam.
Noquediz respeito aessasONGsque atuavam com servios, assessoriasou apoio aos
movimentos populares, Landim (1993) afirma que elas eram mais conhecidas como Centros
Populares. A existncia dessas organizaes revela que nem todas as ONGs nascem com a
inteno de contribuir com o desenvolvimento comunitrio, a fim de fazer avanar os pases
subdesenvolvidosdosistemacapitalista,massimcomointuitodeoporemseasinjustiassociais
decorrentesdaquelaconjuntura.
QuantosONGsmaiscomprometidascomaorientaocristouapromoosocialdentro
de um vis de modernizao da sociedade capitalista, ao contrrio daquelas articuladas aos
movimentossociais, tinhamsima intenodecontribuircomodesenvolvimentocomunitrio,a
fim de fazer avanar os pases subdesenvolvidos do sistema capitalista, seja amenizando os
problemassociaisapartirdeumaperspectivaassistencialistaealtrusta,sejaprestandoservios
deutilidadepblica.
Aps as fases turbulentas de represso s oposies, da reorganizao econmicaque
culminaramcomoAtoInstitucionalnmero5AI5,dedezembrode1968edoaparecimentodas
primeiras ONGs brasileiras, o regime parecia estabilizado como sistema poltico. Conforme
Kucinski(2001),aps1974opaseradirigidoporumanovaclassedetecnocratascivisemilitares,
que comandavam no apenas o aparelho do Estado, mas tambm as gigantescas empresas
estatais. A ditadura se sustentava numa aliana de trs grupos de interesses bem definidos,
chamadosdetripeconmico:osempresriosnacionais,osempresriosestrangeiroseoEstado,
osquaispromoveramocrescimentoacelerado,caractersticodomilagreeconmico.
Noentanto,emboraaditaduramilitarparecesseestabilizada,apartirde1978osmilitares
sevempressionadosapromoverumaaberturademocrticaeem1985aditaduraencontraseu
fim,oqual,segundoKucinski (2001),marcadopelasorigensdapropostadeaberturapoltica,
pelo colapso do milagre econmico (sobretudo devido crise do preo do petrleo), crise
institucional e militar, luta em defesa da democracia, campanha de anistia, greves do ABC,
surgimentodonovosindicalismoeomovimentopelaseleiesdiretasparapresidente.
IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL
Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5
3493
AredemocratizaodoBrasilvemacompanhadadaexpansodeumanovaestratgiade
desenvolvimentodocapitalismoparaAmricaLatina,oNeoliberalismo.
Duranteasdcadasde1980e1990,ochamadodiscursonicopropsofimdautopia socialistae,assim,dosembates ideolgicos (o fimdahistria), comahegemonia absoluta do mercado, entendido como entidade quasemetafsica.Tratase de uma retomada da concepo inaugurada por Adam Smith, naInglaterra, no sc. XIII. Nessa viso, o mercado das trocas financeiras ecomerciais visto comoharmonizadorou catalisador automticode todososinteresses dos indivduos, o lcus principal da conciliao do conjunto deinteressesindividuais.PorqueAdamSmithpreconizavaanoregulamentaodomercado, foi chamado de liberal. Da a retomada de seus princpios serconhecidacomoneoliberalismo(NAVES,2005,p.565).
Petras (1999,p.44) assinalaqueopontodepartidaparaodesenvolvimentodasONGs
ocorrequando os setoresmaisperceptveisdas classesdirigentesneoliberaisperceberamque
suas polticas estavam polarizando a sociedadee provocandoum descontentamento social de
grandes propores. Em decorrncia, assevera que no incio da dcada de 1980 os polticos
neoliberais comearam a financiar e promover uma estratgia paralela nos Estados Unidos,
EuropaeAmrica Latina, apartirdeorganizaes comunitriasdebase (grass roots), com
umaideologiaantiestatalparaintervirnasclassespotencialmenteconflitantes.
Oautorenfatizaqueaslimitaesdessasorganizaesjeramevidentesnaquelapoca,
tendo em vista que ao mesmo tempo em que atacavam as violaes dos direitos humanos,
praticadas pelas ditaduras locais, raramente denunciavam os seus patrocinadores norte
americanoseeuropeusqueasfinanciavameaconselhavam.Nohaviaesforosrioparaligaras
polticas econmicas neoliberais s violaes dos direitos humanos, pois os patrocinadores
limitavamaesferadacrticaedasaesdasONGsemproldosdireitoshumanos.
Conforme Gohn (2000), ao longo dos anos de 1980, com a transio democrtica, os
movimentosforammudandoasposturascombativasepassaramaserinterlocutoresprivilegiados
comoEstado.
Fatoresexternos,comoaquedadomurodeBerlim,em1989,que representouo fimdo
chamadoSocialismoReal,agravaramacrisedosmovimentossociaiseissoimplicoumudanas
nosrumosdedeterminadosmovimentoseONGs,que,demodogeral,redefiniramadireodos
seusprojetosticospolticospordeixaremdeacreditarnummodelodesociedadealternativoao
IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL
Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5
3494
capitalismo.Nosanosde1990osmovimentoseasONGsprogressistasquesobreviveramsua
crise interna comearamaquererparticipardaspolticaspblicas, criandoumanova formade
participao,apblicanoestatal.
Diante desse contexto, Petras (1999), Gohn (2000) e Montao (2002), afirmam que a
diminuiodosmovimentossociaisfoiproporcionalaocrescimentoderedesdeorganizaesno
governamentais voltadas para o trabalho em parceria com as populaes pobres ou fora do
mercado formal de trabalho. De tal modo que, no incio dos anos de 1980, muitas ONGs
disputavam diretamente com osmovimentos sociopolticos o engajamento e a fidelidade dos
ldereslocaisedascomunidadesmilitantes.Noslocaisemquehaviamovimentosorganizados,o
novoparadigmadeao social gerou redesdepoder social local, compostaspelos lderesdos
antigosmovimentos, quepassaram a atuar como assalariados num campo de trabalho pouco
preocupado com as questes ideolgicas ou polticas partidrias e mais preocupado com a
eficinciadasaes,comoxitodosprojetos,poisdissodependiaasuacontinuidadee,portanto,
osempregosdoslderescomunitrios.
Emalusoaos locaisemquenohaviamovimentosorganizados,Gohn (2000)esclarece
queosnovosprogramassociaisdeparceriaseimplantamnocomodireitos,mascomoprestao
de servios, ocorrendo, muitas vezes, uma despolitizao do contedo poltico da questo;
portanto, retrocedendo problemtica da cidadania de seus termos coletivos para antigos
patamaresdacidadaniaindividual (GOHN,2000,p.37).Emoutraspalavras,acontestaodo
discursohegemnicocomeouasedarnombitodosdireitoshumanosuniversais,alutasocial
perdeuoenfoquecapitaltrabalho(NAVES,2005,p.570).
Segundo Lyra (2005), asmudanas conjunturais fizeram com que as organizaes no
governamentais redefinissemseusdiscursosapartirdeumacertaconversodevalores,uma
vezquepassamdaideiaderevoluodosanosde1960paraaideiadedemocracianosanosde
1980.Muitas,aexemplodasqueelapesquisounaregiometropolitanadacidadedoRecifePE,
[...]possuememcomumaelaboraodeumacrenanaautonomiadoindivduoparatransformaosocial.Assim,avisodeempowerment (empoderamento)compartilhada: levantarse puxando os cordes dos prprios sapatos e/oucadaseremsipossuiodomdesercapazeser feliz(...)A ideiadeautonomia,deempowermentdo indivduopodesercompreendidanessecontexto,emque
IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL
Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5
3495
so produzidas fantasias mobilizadoras que permitem o funcionamento dasinstituies,oirtocandoemfrente.(LYRA,2005,p.142e144).
DiantedevriasmatrizesdepensamentoedaaodessasONGs,aautoraapresentauma
visocrticaacercadosdiscursosdasorganizaesqueproduzemoqueeladefinede fantasias
mobilizadoras,ondeho fortalecimentodo indivduo. Oque significaquebrar com a tradio
marxista do coletivo (classe, partido). O ator coletivo importante, mas h um resgate da
individualidade.(Idem,p.117).
Assim,asONGsseafirmamesepopularizamdemaneiramaisdensaapartirdadcadade
1980 e ganham importnciamundial no decnio seguinte, sobretudo aps a Eco92 (MATOS,
2005,p.23).DeacordocomWendhausen(2003),essefoiummegaeventoqueocorreunoRiode
Janeironoanode1992econtoucoma realizaodoFrumBrasileirodeONGseMovimentos
Sociais,ocupandoexpressivosespaosnamdia,oque revelouacomplexidadeediversidadedo
universodasONGs.Coincidnciaouno,essemegaeventoocorrenomesmoperodoemquea
polticaneoliberalcomeaaganharterrenononossopas.
AsONGseaeducaopopular
ComacrisedoWelfareState(EstadodeBemEstarSocial)europeuenorteamericanoea
derrocadadochamadoSocialismoReal,apropostaneoliberaldeumEstadomnimoavanou
mundialmente comoum processode construohegemnica, isto, comoumaestratgiade
poder(GENTILI,1996p.09)atualdocapitalismo.
Ao analisar a atuao conjunta entre Estado e sociedade civil, seus projetos polticos
compartilhados,complementaridadeseparcerias,Dagnino (2002)vaidestacaras relaesentre
EstadoeONGscomoexemplaresdoquechamadeconflunciaperversa,postoque,apesarde
possuremprojetospolticosdistintos,essasorganizaesapresentamumacomplementaridade
instrumentalaoEstado,quebuscanessasrelaesaimplementaodoajusteneoliberal,oqual
exigeoencolhimentodassuas responsabilidadessociais.Tratasedeumaconflunciaperversa
entreoprojetoparticipatrio,construdoaoredordaextensodacidadaniaedoaprofundamento
da democracia, e o projeto de Estado mnimo que isenta progressivamente seu papel de
IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL
Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5
3496
garantidordedireitos(DAGNINO,2002,p.153).Paraaautora,aperversidaderesidenofatode
que, apontando para direes opostas e at antagnicas, ambos os projetos requerem uma
sociedadecivilativaepropositiva.
UmaoutrapreocupaodestacadaporDagnino(2002)ocrescenteabandono,porparte
dasONGs,devnculosorgnicoscomosmovimentossociaisqueascaracterizavamemperodos
anteriores, pois essa autonomizao poltica as revela mais submissas aos seus rgos
financiadoras,entreosquais seencontraoprprio Estado, tornandoasmerasprestadorasde
servios.
Porm,nem todasasONGsestodesarticuladasdosmovimentossociais,algumas,ainda
quenoseposicionemmaiscontraosistemacapitalista,semantmnalutacontrasuaestratgia
dedesenvolvimentoneoliberal.Essasorganizaes,emparticular,nobuscamsubstituirasaes
estataisnombitosocial,massimcobrardoEstadoaconcretizaodepolticaspblicas.Porisso
nosedevegeneralizarasvisesacercadasONGs,comosetodasrepresentassemsimplesmente
afacedacomunidadedoneoliberalismo,comoapontaPetras(1999,p.45).
Nosepodehomogenizarasaesde taisorganizaes,comosenoexistissenenhuma
querealizasseprticascompatveiscomumperfilprogressista,aexemplodedeterminadasONGs
que desde a sua origem seguem prestando assessoria aos movimentos sociais por meio da
educaopopular,poisessas,emespecial,aindaque apresentemuma certa funcionalidadeao
sistema capitalista (j que, como todas as organizaes nogovernamentais, assumem
determinadas responsabilidades sociais do Estado), tambm promovem aes crticas e at
mesmoopostasaoneoliberalismo.Daocartercontraditrio.Elasnososimplesmenteissoou
aquilo,isto,nosomotoresdetransformaoouafacedoneoliberalismo:soaunidade
dosopostos.
Nesse sentido, ao tomarmos a atuao das ONGs como contraditria, buscamos uma
anlisemaisdialtica.Paratanto,nosancoramosemMontao(2002)aodestacaraimportncia
da articulao entre asONGs eosmovimentos sociais, a fimde que se revitalizem as lutas e
reivindicaessociaisenoadependnciaouparceriacomosgovernosneoliberais.Avisodo
autor imprime um diferencial significativo, uma vez que, ao apontar o restabelecimento da
articulaoentre asONGseosmovimentos sociais,nospermitedestacar aquelasquenascem
IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL
Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5
3497
apoiandoouassessorandoosmovimentossociaispormeiodaEducaoPopularnaperspectiva
freireana,vistoquepassamainterferirdiretamentenasopiniesevisesdemundodossujeitos
sociais que recebem seus servios, reproduzindouma educao crtica, problematizadora,que
seguenaperspectivaemancipatria.
a partir dosmovimentos educativos voltados hegemonia dos setores populares do
inciodosanosde1960quenasce,nopas,aeducaopopularsistematizadaporPauloFreire,o
qualadefinecomoaque,
[...]postaemprtica,emtermosamplos,profundoseradicais,numasociedadedeclasse,seconstituicomoumnadarcontraacorrenteza.exatamenteaque,substantivamente democrtica, jamais separa do ensino dos contedos odesvelamentoda realidade.aqueestimulaapresenaorganizadadas classessociaispopularesna lutaem favorda transformaodemocrticadasociedade,nosentidodasuperaodasinjustiassociais.aquerespeitaoseducandos,noimportaqualsejasuaposioeclassee,aomesmotempo,levaemconsiderao,seriamente, o seu saber de experincia feito, a partir do qual trabalha oconhecimentocomrigordeaproximaoaosobjetos. [...]aquenoconsiderasuficientemudar apenasas relaes entre educadora e educandos,amaciandoessas relaes,mas, ao criticar e tentar ir alm das tradies autoritrias [...]criticatambmanaturezaautoritriaeexploradoradocapitalismo(FREIRE,2007,p.103105).
Diante disso, preciso que se esclarea que as ONGs identificadas como cidads ou
progressistas no mbito da educao popular tem contribudo bastante com o estmulo a
mobilizao popular e participao cidad e, inclusive, alcanado conquistas no mbito de
polticaspblicaslocais.Mas,anossover,essaparticipaoapresentaalgunslimitesquepodeme
devemserultrapassados,queexatamentealutapormudanaspontuaisenoestruturais,no
se busca lutar contra as razes dos problemas sociais, o sistema capitalista, e sim, contra a
estratgiaatualdessesistema,oneoliberalismo,oqueascolocanumaposioreformistaeno
transformadora.
Lutarporpolticaspblicas locaismuito importanteparaaclasse trabalhadora,porm,
issono atinge asbasesdo sistemaqueproduz adesigualdade social.Atporque aspolticas
sociais,embora tenhamsurgidoapartirdaspressesdos trabalhadores,elasnascemdentrodo
sistemacapitalistacomoestratgiadaclassedominanteparaconteraslutasdeclasses.
IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL
Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5
3498
Demodo geral, como no cabe asONGs agirde forma universalista frente s variadas
expressesdaquestosocialesimaoEstado,elascriaramumaestratgiadeaoespecfica,do
respostaslocaisapressesglobais.Mas,deacordocomOliveira(2004),essaformadeagirafeta
muitopoucoopoderdasempresas,dasinstituiessupranacionaisedasinstituiesestatais.No
obstante, so contribuies importantes, posto que preciso contestar sempre, criar novos
camposdecontestaoeinventarnovasorganizaes.
AoanalisarmosduasONGsidentificadascomocidadsnoestadodaParaba(oServiode
EducaoPopularSEDUPeaAssociaoSantosDias),constatamosquedefatoobjetivamseguir
numa perspectivaprogressista, suas prticas educativas buscam, pormeio dametodologiada
educaopopular,conciliaraformaoeducativaeacapacitaotcnicaparageraoderenda
ao processo de conscientizao poltica. Com isso, essas organizaes tm contribudo com a
formao de uma cultura popular cidad, isto , uma formao direcionada a organizao
comunitria,aparticipaopopular,aodesenvolvimentosustentvellocal,aocontrolesocialeat
mesmoaconscinciacrticadeseususurios,vistoqueestes tantopassarama refletirsobreos
problemassociaislocaiscomoaexigirdopoderpblicoagarantiadedireitossociais.Entretanto,
talcobranaserestringeaopoderpblicolocalenoaorganizaodavidasocialcomoumtodo.
Apesardas trajetriashistricas compatveis comumperfilprogressistaedo intuitode
trabalharnaperspectivadalibertao,oprocessodeconscientizaodasprticasdeeducao
populardesenvolvidasnessasorganizaesnodesvelaa razodeserda realidadeestruturale
sim da local. Em vista disso, suas prticas educativas contribuem com o desenvolvimento da
conscinciada prxis (forma crtica de abordagem domundo que leva a autoconscinciada
prtica transformadora). Porm, esta limitase a conscincia comunitria (o descobrirse
enquantocomunidade)enoaconscinciadeclasse(odescobrirseenquantosujeitosocialde
uma classe subalterna, que vive em condies de explorao e dominao na sociedade
capitalista).DemodoqueasperspectivaseprticasdessasONGs,assimcomo suasconquistas,
emboraimportantes,restringemseasmudanasdascondieslocais,pontuais,noseestendem
aosprocessosdetransformaosocialdasociedadecapitalista.
Conforme Gadotti (2004), para a classe trabalhadora a conscincia de classe tem um
sentidometodolgico,cujoobjetivoaconquistadeumasociedadeemquehajaodomniodos
IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL
Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5
3499
interessesdostrabalhadoressobreocapital,isto,atransformaodosistemasocial.Comoessa
transformaonosedarespontaneamente,aclassetrabalhadoraesobretudoascamadasmais
oprimidasdapopulaonecessitamadquirirumgraucadavezmaiselaboradodeconscinciada
opresso(GADOTTI,2004,p.188).
Ofatoque,emborareconheamosqueaconscinciacomunitriadecorradaconscincia
crtica,precisolembrarqueaconscinciacrticanoaindaaconscinciadeclasse(Ibidem).
Sendo assim, entendemosque aprtica educativa voltada conscincia comunitria contribui
paraoavanoda cidadanianuma sociedadede classes,mas insuficienteparapromoveruma
direo cultural e ideolgica que contribua de forma efetiva com a hegemonia das classes
subalternas.
Conforme Gadotti (2004), para assumir a direo e hegemonia da sociedade, a classe
trabalhadoraprecisamunirsedematuridadepara superarosefeitosdevastadoresdo sistema
capitalistasobresuaconscinciadeclasse.Enissoaeducaopodedarumagrandecontribuio.
Atporque,comungamoscomGramsci (2004,p.15)aoafirmarquetodogruposocial [...]cria
para si, aomesmo tempo, organicamente, uma oumais camadas de intelectuais que lhe do
homogeneidadeeconscinciadaprpriafuno,noapenasnocampoeconmico,mastambm
nosocialepoltico.
No que se refere aos desafios das ONGs, instabilidade financeira, imediatismo e
descontinuidadedas aes,necessidadede reconhecimento socialde suas aesno campoda
educaopopular, adesodenovos seguidorese atendimentodasdemandasdopblico alvo,
consideramosqueomaiordeles resideem realizarumaeducaopopularefetivamentecrtica,
visto que, enquanto para alguns dos educadores ela deve ser repensada e ajustada a atual
conjunturaoutrosnemmesmosabemoqueelasignifica.
CaberessaltarqueacurtadurabilidadedosprojetossociaisdasONGsesuainstabilidade
financeiraexpenosoimediatismocomoadescontinuidadedasaesdessasentidades,duas
grandesfragilidadesnahoradecolaborarcomahegemoniadasclassessubalternaspormeioda
educaopopular, jqueoprocessode conscientizaonaperspectiva freireanano sedde
formainstantneaedescontnua.
IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL
Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5
3500
Diantedesses resultados, analisados luzdeum referencial terico crtico, chegamosa
concluso de que apesar das aes das ONGs estudadas serem importantes para mudanas
pontuaise,emalgunsmomentos,fundamentaisparaaorganizaoclassista,nososuficientes
paradesencadearmudanasdedimensonacional,menosaindaatransformaosocialdequese
trataaqui.Oquenos levaaafirmarque,aindaqueasONGsapresentemaspectoshistricose
tericometodolgicos compatveis comumperfilprogressistanombitodaeducaopopular,
suas prticas so insuficientes para contribuir com a hegemonia das classes subalternas. Isto
porqueumaeducaopopularcrticaeemancipatria,quebuscacontribuircomoprocessode
conscientizaovoltadolibertaodaopresso,noapenasaquebuscadesvelararealidade
local objetivando mudanas focalizadas, mas a que, alm disso, tambm procura desvelar a
realidade estrutural para contribuir com a transformao social, ou seja, a transformao do
prpriosistemacapitalista,vistoquenelenopossvelahegemoniadasclassessubalternas.
ConsideraesFinais
Demodo geral,hduasperspectivasde anlise sobre asONGs: aprimeira aque as
consideramotores de transformao social e, por isso, delega aessas organizaes parte das
responsabilidade pelas solues das variadas expresses da questo social, como uma nova
formadecontribuircomatransformaodarealidadesocial,asegundaaqueastomacomoa
face do neoliberalismo, delegando a elas uma identidade homognea, como se todas, sem
exceo,buscassemapenasassumiroucomplementarasresponsabilidadesdoEstadonombito
social,comopartedeumaestratgiamaisampladocapitalfrentequestosocial.
Na realidade, as duas perspectivas de anlise: a que toma asONGs comomotores de
transformao social e a que as consideram a face do neoliberalismo, desconsideram a
heterogeneidadedas organizaes nogovernamentais. Ambas perdemde vistaomovimento
contraditriodasorganizaes,sobretudodaquelasquenascememmeioaosmovimentossociais
e, ainda hoje, continuam apoiando ou assessorando tais movimentos, pois essas ONGs, em
particular,aindaqueapresentemumacertafuncionalidadeaocapitalismo(jque,comotodasas
organizaesnogovernamentais, tambmassumemdeterminadas responsabilidadessociaisdo
IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL
Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5
3501
Estado), contraditoriamente, tambm promovem aes crticas e at mesmo opostas ao
neoliberalismo.
Nesse sentido, ao tomarmos a atuaodasONGs como contraditria, apontamos uma
possibilidade de anlise mais dialtica, que consegue perceber as diferenciaes entre essas
organizaes(asprogressistaseasconservadoras),ascontribuieseoslimitesdeambas.Eentre
aquelasqueatuamde formaprogressistapormeiodaeducaopopularpercebemososlimites
(instabilidade financeira, aes pontuais, imediatismo e descontinuidade das aes) e as
possibilidades (estmulo a mobilizao popular/ participao cidad e conquistas sociais). E
dentrodessaspossibilidades,osdesafiosqueexistem(conscientizaocomunitriaparticipao
localmudanapontual),masquepodemedevem serultrapassados (conscinciade classe
participaopolticatransformaosocial).Enfim,cabeans,educadores(as),apoiarasONGs
Cidads ou Progressistas, mas, contribuir criticamente no sentido de esclarecer que para um
efetivodesvelamentodarealidadelocalprecisoconsiderarqueestaestinseridonocontextoda
totalidadesocial.Emvistadisso,considerar, tambm,queasmudanaslocaisconquistadaspela
participao cidad so importantes sim, mas, para essa participao de fato conquistar a
cidadania,os sujeitoshistricosdessemovimentoprecisam compreenderqueosprocessosde
transformaosocialpassamnosomentepelamudana local,mas,sobretudo,pelaestrutural,
poisoquebuscamosumProjetoSocietrioefetivamenteemancipatrio.
Referncias
COMISSOSOBREGOVERNANAGLOBAL.Nossacomunidadeglobal.RiodeJaneiro:FundaoGetlioVargas,1996.DAGNINO,Evelina.Democracia,teoriaeprtica:aparticipaodasociedadecivil.In:PERISSINOTTO,R.eFUKS,M.(orgs.).Democracia:teoriaeprtica.RiodeJaneiro:RelumeDumar,2002.FERNANDES,Florestan.RevoluoburguesanoBrasil.3ed.RiodeJaneiro:Guanabara,1987.FERNANDES, Rubem Csar. Privado porm pblico: o terceiro setor na Amrica Latina. Rio de Janeiro: RelumeDumar,1994.FREIRE,Paulo.Pedagogiadaautonomia:saberesnecessriosprticaeducativa.31ed.SoPaulo:PazeTerra,2005._____.Polticaeeducao.8ed.SoPaulo:VilladasLetras,2007.GENTILI,Pablo.Neoliberalismoeeducao:manualdousurio.In:GENTILI,PabloeSILVA,TomazT.(orgs.).EscolaS.A:quemganhaequemperdeomercadoeducacionaldoneoliberalismo.Braslia:CNTE,1996.
IX SEMINRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS HISTRIA, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL
Universidade Federal da Paraba Joo Pessoa 31/07 a 03/08/2012 Anais Eletrnicos ISBN 978-85-7745-551-5
3502
GADOTTI,Moacir.Perspectivasatuaisdaeducao.PortoAlegre:ArtesMdicasSul,2000._____.Pedagogiadaprxis.4ed.SoPaulo:Cortez/InstitutoPauloFreire,2004.GOHN,MariadaG.Ossemterra,ONGsecidadania.2ed.SoPaulo:Cortez,2000.GRAMSCI,Antonio.Cadernosdocrcere.vol.2,3ed.TraduodeCarlosNelsonCoutinho.RiodeJaneiro:CivilizaoBrasileira,2004.LANDIM,Leilah.A invenodasONGs:doservioinvisvelprofissoimpossvel.Tesededoutorado.UniversidadeFederaldoRiodeJaneiro.ProgramadePsgraduaoemAntropologiaSocial.RiodeJaneiro,1993.KUCINSKI,Bernardo.Ofimdaditaduramilitar.(Repensandoahistria).SoPaulo:Contexto,2001.LYRA, Carla. Ao poltica e autonomia: a cooperao nogovernamental para o desenvolvimento. So Paulo:Annablume,2005.MATOS, Maria Izilda S. de. Terceiro setor e gnero: trajetrias e perspectivas. So Paulo: Cultura Acadmica:InstitutoPresbiterianoMackenzie,2005.MONDIN,B.Ostelogosdalibertao.SoPaulo:Paulinas,1980.MONTAO,Carlos.Terceiro setorequesto social:crticaaopadroemergentede interveno social.SoPaulo:Cortez,2002.NAVES, Rubens.Novas possibilidades para o exerccio da cidadania. In: PINSKY, Jaime e PINSKY, Carla B. (orgs.).Histriadacidadania.3ed.SoPaulo:Contexto,2005.NETTO,JosPaulo.Ditaduraeserviosocial:umaanlisedoserviosocialnoBrasilps64.6ed.SoPaulo:Cortez,2002.OLIVEIRA,Franciscode.Porqupoltica?In:FrumdaSociedadeCivilnaUnctad(Agendapsneoliberal:fazendopossvel um outro mundo). So Paulo, 2004. Disponvel em:http://www.ibase.br/modules.php?name=conteudoepid=1079[26/10/2007].PETRAS,J.Neoliberalismo:AmricaLatina,EstadosUnidoseEuropa.Coleosociedadeeambienten3.TraduodeAnaMariaR.Naumann[etal.].Blumenau:FURB,1999.WANDERLEY,MaringelaBelfiore.Metamorfosesdodesenvolvimentodecomunidade.2ed.SoPaulo:Cortez,1998.WENDHAUSEN,Henrique.ComunicaoemediaodasONGs:uma leituraapartirdocanalcomunitriodePortoAlegre.(ColeoComunicao26)PortoAlegre:EDIPUCRS,2003.
Recommended