Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Dança Criativa: possibilidades de intervenção por meio da pedagogia histórico-crítica no oitavo ano do ensino fundamental
Lisa Marie Czelusniak1
Debora Gomes2 Resumo:
O presente trabalho visou contribuir para o ensino da dança no contexto escolar, por meio da
elaboração e implementação de proposta descrita em um Caderno Pedagógico com possibilidades
teórico metodológicas para o ensino da Dança Criativa. Foram desenvolvidas dezesseis aulas no
oitavo ano do Ensino Fundamental, pautadas nos cinco passos da Pedagogia Histórico-Crítica
(Prática Social Inicial, Problematização, Instrumentalização, Catarse e Prática Social Final). A
fundamentação teórica esteve sustentada principalmente a partir de Barreto (2008), Gasparin (2007),
Paraná (2008), Saviani (1999;2011), Marques (2012), Artaxo; Monteiro (2008) e Verderi (2000). A
proposta foi desenvolvida em dois anos, distribuída em quatro momentos: elaboração do projeto;
elaboração do caderno pedagógico; implementação da proposta descrita no caderno realizada
simultaneamente com a formação de Grupos de Trabalho em Rede (GTR); e relato por meio da
produção deste artigo. Destaca-se que é salutar todos os professores de Educação Física assumirem
a proposta contida nas Diretrizes Curriculares, tornando as aulas resultantes de ações pedagógicas
relacionadas com o conteúdo de esporte, mas também com lutas, ginástica, jogos e a Dança. A
proposta implementada, possibilitou o estabelecimento de conceitos, o desenvolvimento da
expressão corporal, a superação de dificuldades, da timidez e a integração entre os educandos,
demonstrando que a Dança pode ser realizada por todos independente das diferenças culturais e
corporais e que a Pedagogia Histórico-Crítica constitui-se numa proposta viável que traz o educando
para o centro da ação pedagógica, possibilitando por meio de uma formação crítica, tornar-se um
sujeito ativo na sociedade.
Palavras-Chave: Dança Criativa. Escola. Metodologia.
1. Introdução
Este artigo é resultado da ação desenvolvida no Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE), o qual teve início no ano de 2013, por meio de
um Projeto de Intervenção Pedagógica elaborado com o conteúdo da disciplina de
Educação Física, “Dança Criativa”, para o Ensino Fundamental.
O referido conteúdo está inserido na disciplina de Educação Física e esta por
sua vez, conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação n.º 9.394/96, é
componente curricular obrigatório da Educação Básica.
Mesmo estando presente como conteúdo da Educação Física, o trabalho
sistematizado da Dança na escola ainda é pouco evidenciado, isto ocorre dentre
1 Professora da Rede Estadual de Ensino do Paraná, graduada em Educação Física (UNICENTRO) e
especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional (FACINTER), [email protected]. 2 Professora do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual do Centro-Oeste,
graduada em Educação Física (UEM) e mestre em Educação (UEM), [email protected].
diversos fatores relatados no dia a dia dos professores de Educação Física: pela
formação acadêmica muitas vezes não oferecer subsídios necessários para o
desenvolvimento deste conteúdo nas aulas de Educação Física; pelo professor
sentir-se inseguro em realizar o trabalho pela falta de conhecimentos teóricos
metodológicos e vivências práticas; pela escassez de material didático; pelo pouco
espaço físico e também pela resistência na realização das atividades por parte dos
educandos devido à timidez ou pré-conceitos com relação às questões de gênero:
“dança é coisa de menina”, “menino tem de jogar futebol”. Para Brasileiro (2008, p.
523),
hoje é cada dia mais evidente a presença da dança nas escolas, porém ainda marcadamente nos espaços festivos. Apesar de ser caracterizada, nos documentos curriculares, como um conteúdo da arte e da educação física, ou seja, conhecimento a ser ensinado no espaço de formação de crianças e adolescentes, a mesma aparece e desaparece em programas escolares.
Destaca-se ainda que a Dança quando presente na escola é trabalhada de
maneira limitada, configurando-se na maioria das vezes como uma mera repetição
de movimentos criados pelo professor e/ou reprodução de movimentos pelos
educandos influenciados pela mídia, ou seja, o trabalho não é sistematizado de
maneira que permita o educando refletir de forma crítica sobre esta atividade
enquanto manifestação da cultura corporal e ainda, possibilitando um processo de
transmissão-assimilação do conteúdo.
Conforme as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Educação Física
é importante que o professor reconheça que a dança se constitui como elemento significativo da disciplina de Educação Física no espaço escolar, pois contribui para desenvolver a criatividade, a sensibilidade, a expressão corporal, a cooperação, entre outros aspectos. Além disso, ela é de fundamental importância para refletirmos criticamente sobre a realidade que nos cerca, contrapondo-se ao senso comum (PARANÁ, 2008, p. 72).
A partir da concepção expressa acima, foi construído um Caderno
Pedagógico com possibilidades teórico metodológicas para o ensino da Dança,
propondo uma organização deste saber escolar de forma que se possa socializar o
conhecimento sistematizado, contribuindo para o desenvolvimento e aprendizagem
do educando como processo de constituição do mesmo. Além de valorizar o diálogo
com a cultura da Dança acumulada historicamente, o caderno pedagógico também
tornou-se um subsídio teórico-metodológico, possibilitando aos professores de
Educação Física, utilizá-lo como material didático em suas aulas.
A proposta contida no caderno pedagógico foi implementada no Colégio
Estadual Antônio Xavier da Silveira do município de Irati-PR, no período de fevereiro
a abril do ano de 2014, tendo como público alvo alunos do oitavo ano do Ensino
Fundamental.
A escolha do grupo se deu pelo fato de que os educandos neste ano
apresentam de maneira geral um grande entusiasmo pela prática de atividades que
compõe o escopo da Educação Física (esporte, Dança, ginástica, lutas, jogos e
brincadeiras), demonstrando maior aceitabilidade do trabalho com o conteúdo
proposto.
2. Fundamentação Teórica
2.1 Pedagogia Histórico-Crítica
Na década de 1980 a educação brasileira era considerada por alguns
especialistas da área um cenário que atendia interesses da burguesia e da classe
dominante, sem considerar a formação integral do educando; uma educação que
alimentava as desigualdades e não contribuía para a transformação social. Assim,
surge a concepção Histórico-Crítica da educação com a intenção de superar as
tendências existentes e de formar o educando crítico, autônomo e ativo na
sociedade.
É nesse contexto que emerge a pedagogia histórico-crítica como uma teoria que procura compreender os limites da educação vigente e, ao mesmo tempo, superá-los por meio da formulação dos princípios, métodos e procedimentos práticos ligados tanto à organização do sistema de ensino quanto ao desenvolvimento dos processos pedagógicos que põem em movimento a relação professor-alunos no interior das escolas (SAVIANI, 2011, p.101).
Sua principal característica é de que o trabalho pedagógico parta das
experiências e conhecimentos trazidos pelos educandos, o saber empírico,
confrontando-os com o saber sistematizado, sendo o professor mediador neste
processo. É utilizado o método de ensino dialético de construção de conhecimento:
Prática-Teoria-Prática (Práxis), onde o educando após adquirir novo conceito do
conteúdo, tenha novas atitudes na “Prática Social”, contribuindo para a
transformação da sociedade.
Nesta concepção, o educador deve ter o domínio do conhecimento científico
dos conteúdos, o que é denominado por Saviani, de competência técnica, que
permitirá a realização de um trabalho sistematizado, com métodos adequados para
que o educando incorpore este conhecimento; e compromisso político que atenda as
necessidades e aos interesses destes educandos.
[...] pela mediação da competência técnica que se chega ao compromisso político efetivo, concreto, prático, real. Na verdade, se a técnica, em termos simples, significa a maneira considerada correta de se executar uma tarefa, a competência técnica significa o conhecimento, o domínio das formas adequadas de agir: é, pois, o saber-fazer (SAVIANI, 2011, p.32).
O educando apresenta um conhecimento de senso comum, que resolve as
situações-problemas do seu cotidiano, e é na escola que ele vai confrontar este
conhecimento com o saber elaborado, por meio do professor que tem o domínio do
conhecimento sistematizado. Assim, o educando vai adquirir um novo conhecimento,
que poderá ser aplicado para transformar a sua realidade.
[...] A escola diz respeito ao conhecimento elaborado e não ao conhecimento espontâneo; ao saber sistematizado e não ao saber fragmentado; a cultura erudita e não a cultura popular [...]. Nesse sentido, ao nos defrontarmos com as camadas trabalhadoras nas escolas, não parece razoável supor que seria possível assumirmos o compromisso político que temos para com elas, sem sermos competentes na nossa prática educativa. O compromisso político assumido apenas no nível do discurso pode dispensar a competência técnica. Se se trata, porém, de assumí-lo na prática, então não é possível prescindir dela (SAVIANI, 2011, p.14 e 32).
Para entendermos como se dá esta corrente pedagógica, buscamos saber a
sua origem, da qual a base filosófica é centrada no materialismo histórico-dialético
de Karl Marx, ou seja, quanto à base teórica da pedagogia histórico-crítica, afirma
Saviani (2011, p. 120), que
[...] trata-se de uma dialética histórica expressa no materialismo histórico, que é justamente a concepção que procura compreender e explicar o todo desse processo, abrangendo desde a forma como são produzidas as relações sociais e suas condições de existência até a inserção da educação nesse processo.
Nesta concepção que busca compreender como se dá todo o processo
histórico das relações sociais e como transformá-la por meio da educação, é
imprescindível o trabalho com a práxis, que é a articulação entre a teoria e a prática,
pois não há teoria sem a prática e nem o contrário, a prática se alimenta da teoria e
esta mostrará a direção, o encaminhamento para a prática.
Tendo em vista a Pedagogia Histórico-Crítica, Gasparin (2007) propôs a
“Didática para a Pedagogia Histórico-Crítica”, na qual apresenta didaticamente os
cinco passos que orientam o trabalho do professor em sala de aula.
Prática Social Inicial (passo um): é a preparação do trabalho pedagógico.
Deve-se levar em consideração para a formulação dos objetivos duas questões: o
que aprender? Para que aprender? Ou seja, evidenciar o conhecimento científico a
ser apropriado e o seu uso fora da escola (GASPARIN, 2007).
Na prática social inicial devem acontecer dois momentos: anúncio dos
conteúdos, no qual o professor os apresenta com seus objetivos; e a vivência do
cotidiano dos conteúdos, onde o professor irá investigar todo o conhecimento que os
educando possuem e dar a eles a oportunidade de expressarem suas curiosidades,
dúvidas, enfim, o que gostariam de saber mais sobre o conteúdo.
As necessidades técnico-científicas-sociais é que definem os conteúdos que
devem ser ensinados e aprendidos, “[...] os alunos não aprendem somente o que
desejam, mas devem apropriar-se do que é socialmente necessário para os
cidadãos de hoje” (GASPARIN, 2007, p. 32).
Problematização (passo dois): deve “detectar que questões precisam ser
resolvidas no âmbito da prática social e, em consequência, que conhecimento é
necessário dominar” (SAVIANI, 1999, p.80).
A problematização é o questionamento do conteúdo escolar em face aos
problemas sociais que precisam ser resolvidos no cotidiano dos educandos e das
demais pessoas. Neste momento serão apresentadas e debatidas as razões pelas
quais o conteúdo propriamente dito deve ser apreendido e sua importância para as
reais necessidades sociais.
Os conteúdos escolhidos, em consequência, não partem das necessidades imediatas e locais de cada aluno ou de cada grupo de alunos. As necessidades do aluno, enquanto indivíduo, de um grupo de estudantes ou mesmo de uma escola toda não são critérios definidores do que deva ser ensinado nessa escola para esses educandos (GASPARIN, 2007, p. 39).
A questão é mais ampla e deve-se levar em consideração a realidade da
sociedade em que o educando está inserido para que o conteúdo tenha importância
na prática social.
O professor além de ter o domínio científico do conteúdo, também deve
atualizá-lo quanto as mais variadas dimensões: sociais, culturais, econômicos,
religiosos, históricos, políticos, etc., que estão presentes na sociedade atual.
Instrumentalização (passo três): refere-se à construção do conhecimento
científico do educando mediado pelo professor. Após a etapa da Prática Social
Inicial e a Problematização, o professor irá utilizar instrumentos e métodos
adequados para que o educando possa adquirir o conhecimento científico referente
ao conteúdo proposto.
O professor tem o papel de mediador, pois quando houver o confronto do
conhecimento empírico com o conhecimento científico, ele vai ajudar o educando a
se apropriar de um novo conceito, por meio de análise, questionamentos, críticas, e
desta forma trazendo o conteúdo para perto da realidade do educando e como este
poderá ser utilizado no seu dia a dia.
Ele atua como mediador, resumindo, valorizando, interpretando a informação a transmitir. Sua ação desenrola-se na zona de desenvolvimento imediato, através da explicitação do conteúdo científico, de perguntas sugestivas, de indicações sobre como o aluno deve iniciar e desenvolver a tarefa, do diálogo, de experiências vividas juntos, da colaboração. É sempre uma atividade orientada, cuja finalidade é forçar o surgimento de funções ainda não totalmente desenvolvidas (GASPARIN, 2007, p.108).
Observa-se que os conceitos espontâneos trazidos pelos educandos à sala
de aula serão aprimorados, aperfeiçoados e transformados em conceitos científicos
por meio da relação dialógica entre educando e professor.
Catarse (passo quatro): é a síntese, o resumo de todo o conteúdo que o
educando aprendeu e não apenas decorou; é a nova versão do conteúdo aplicado
ao seu cotidiano. O conteúdo deixa de ser conceito espontâneo, empírico, e o
educando consegue entender que o mesmo sofreu transformações histórico-
culturais em favor de interesses do homem e da sociedade, assim ele poderá utilizá-
lo também em favor de seu crescimento pessoal e profissional.
A catarse é a demonstração teórica do ponto de chegada, do nível superior que o aluno atingiu. Expressa a conclusão do processo pedagógico conduzido de forma coletiva para a apropriação individual e subjetiva do conhecimento. É o momento de encontro e da integração mais clara e consciente da teoria com a prática na nova totalidade. Os conteúdos tornam-se verdadeiramente significativos porque passam a fazer parte integrante e consciente do sistema científico, cultural e social de conhecimentos (GASPARIN, 2007, p. 133).
O professor deverá avaliar se o educando adquiriu um novo conceito sobre o
conteúdo trabalhado na instrumentalização e se o mesmo o utiliza como meio de
transformação social com criticidade e autonomia, se consegue responder as
questões levantadas na problematização. Tradicionalmente, é o momento em que
acontece a avaliação, mas não sob o ponto de vista de atribuição de notas, mas sim
como o momento de verificar o que o educando aprendeu e quais os pontos ainda
necessitam ser retomados pelo professor.
Prática Social Final (passo cinco): é a última etapa do processo
pedagógico, é o retorno à Prática Social Inicial, agora com o conhecimento mais
elaborado, adquirido por meio do trabalho de mediação do professor. O educando
terá novas atitudes e se manifestará de forma crítica e autônoma diante da prática
social.
No entanto, se após todo o trabalho pedagógico na perspectiva histórico-
crítica o educando ao sair da escola reproduzir o que a sociedade e a camada
dominante estabelecem, não agindo de forma a mudar esta realidade social,
histórica, cultural e econômica, faz isto de maneira consciente e não alienado por
não compreender a sociedade. Conforme Saviani (1999, p. 85), essa pedagogia,
portanto, “não é outra coisa senão aquela pedagogia empenhada decididamente em
colocar a educação a serviço da referida transformação das relações de produção”.
Espera-se que os educandos assumam o compromisso social pela
transformação com novas atitudes, ou seja, após adquirir o conhecimento concreto
de determinado conteúdo, utilizá-lo de forma a resolver ou melhorar os problemas
levantados e os que surgirem em seu cotidiano, portanto, a prática social final,
configura-se em ações para além dos muros da escola, sendo este passo da
pedagogia histórico-crítica, na maioria das vezes, não visualizado na dinâmica
escolar.
Esta seção trouxe à tona a compreensão da metodologia adotada pela Rede
Estadual do Paraná (Pedagogia Histórico-Crítica), portanto, ao propormos uma
intervenção pedagógica em torno da Dança, como conteúdo da Educação Física,
faremos de maneira que consigamos organizar o trabalho respeitando os cinco
passos expressos acima.
2.2 Dança Criativa como conteúdo da Educação Física
A Dança caracteriza-se como uma forma de expressão por meio de
movimentos que manifestam história, sentimentos e emoções. É utilizada em
momentos diversos da cultura humana, como celebrações religiosas,
comemorações, festivais, festas, dentre outros. Pode ser realizada com ou sem a
utilização de instrumentos e de música, assim como praticada por qualquer pessoa.
Segundo Nanni (2003, p. 7),
As danças, em todas as épocas da história e/ou espaço geográfico, para todos os povos é representação de suas manifestações, de seus “estados de espírito", permeios de emoções, de expressão e comunicação do ser e de suas características culturais. É ela que traduz por meio de gestos e movimentos a mais íntima das emoções acompanhada ou não de música e do canto ou de ritmos peculiares.
Nesse sentido, a Dança é uma das artes mais antigas, surgindo como
intervalos nos espetáculos de teatro e música, mas configurando-se numa arte
independente, realizada para além dos palcos teatrais no cotidiano de todos os
povos.
Segundo Barreto (2008, p. 1), dançar é
[...] um dos maiores prazeres que o ser humano pode desfrutar. Uma ação que traz uma sensação de alegria, de poder, de euforia interna e, principalmente, de superação dos limites dos seus movimentos. Algumas pessoas não se importam com o passo correto ou errado e fazem do ato de dançar uma explosão de emoção e ritmo que comove quem assiste.
Hoje existem vários tipos de Dança e cada região a apresenta com
características específicas. No Brasil, há uma diversidade enorme de ritmos e estilos
de Dança: folclóricas, de salão, de rua, samba, funk, rock, jazz, balé, e muitas
outras, que podem ser inseridas no contexto pedagógico da escola.
De acordo com Nanni (2003, p. 132),
A Dança/Educação deverá objetivar como essência a síntese dos objetivos ensino-aprendizagem. Resgatar valores culturais do nosso povo, desenvolver e aprimorar o senso estético, servir de lazer pela atividade lúdica e prazerosa, e trazer benefícios físicos, emocionais e intelectuais, que além de contribuir para a formação da identidade do educando, permita uma leitura mais crítica do mundo.
A importância desta atividade fica demonstrada na própria história da
educação no Brasil, onde em 1871, no Colégio Abílio, no Rio de Janeiro, a Dança já
era colocada como disciplina do 1º ao 3º ano da instrução primária e do 1º ao 7º da
instrução secundária (SAVIANI, 2007).
Atualmente, a Dança é um conteúdo integrante da disciplina de Educação
Física e esta, por sua vez, conforme a LDB n° 9.394/96 é componente obrigatório do
currículo da Educação Básica. No estado do Paraná, a Dança é tratada como um
dos conteúdos estruturantes das Diretrizes Curriculares de Educação Física, onde
dentre os diversos conteúdos básicos, aparece a Dança Criativa, um tipo de Dança
que não requer técnicas rígidas e pode ser realizada por qualquer pessoa, sendo ele
próprio o criador dos movimentos.
Este termo “Dança Criativa” foi utilizado por Rudolf Laban no início do século
XX, para se contrapor ao Balé Clássico da época que possuía técnicas rígidas e
mecânicas. Isto não significa que a aula seja livre e sem planejamento, pois em uma
de suas obras ele aborda dezesseis temas de movimento que devem ser
trabalhados de forma sistematizada com os educandos. Para ele o educando
deveria se expressar de forma subjetiva por meio da Dança. Desta forma, as aulas
de Dança possibilitam aos educandos experimentar, explorar os gestos, os
movimentos, criando suas Danças por meio de seus corpos e emoções (MARQUES
apud MARQUES, 1997).
A Dança Criativa na escola deve proporcionar a participação de todos os
educandos, enfatizando a criação de movimentos sem preocupação com a técnica,
ou seja, trabalha com a criatividade em torno de movimentos que são transportados
de ações automáticas do dia a dia, para uma ação pensada e com expressão de
sentimentos e emoções.
Neste sentido, Ferreira (2005, p. 19) afirma que, “a Dança Escolar deve
priorizar os movimentos naturais, os aspectos lúdicos do movimento e a expressão
criadora do movimento como fatores de comunicação e de domínio do esquema
corporal”.
O ensino da Dança na escola pode contribuir para que os educandos:
valorizem manifestações culturais; melhorem a sua aprendizagem, uma vez que a
Dança trabalha com a percepção do próprio corpo adquirindo habilidades de leitura
e escrita; ampliem sua capacidade de interação social, conhecendo e respeitando a
diversidade (FERREIRA, 2005).
Ainda, segundo Ferreira (2005), traz muitos outros benefícios: melhora a
autoestima, diminui o estresse, ajuda na circulação sanguínea de todo o corpo e do
cérebro (contribuindo para a aprendizagem), melhora o condicionamento físico, evita
o sedentarismo, aumenta a flexibilidade, fortalece ossos e músculos, enfim, contribui
para a saúde física, mental, emocional e social do educando.
Precisamos educar nossos educandos para que tenham conhecimento e
domínio de seu corpo, entendendo que o mesmo é importante para as ações de seu
dia a dia e para transformar uma realidade. O educador deve adotar uma
metodologia que possa contribuir para a formação do educando crítico e autônomo,
[...] possibilitar autoconhecimento, compreensão de si mesmo e do mundo, prazer, contato com o lúdico e desenvolvimento de consciência crítica, incentivando-o a manifestar suas ideias por meio de um agir pedagógico coerente, para que, a partir daí, ele expresse sua corporeidade e capacidade de adaptação, favorecendo acoplamentos estruturais nessa relação bio-psico-energética (VERDERI, 2009, p.46).
Para que isso ocorra é necessário abandonar métodos tradicionais com
técnicas de movimentos pré-estabelecidos que não contribuem para a exploração de
movimentos naturais e não possibilitam novas descobertas. A partir da
sistematização de conteúdos salutares ao trabalho com a Dança, o professor
possibilita ao educando participar ativamente da construção do conhecimento,
desenvolvendo suas potencialidades, por meio de suas emoções.
O trabalho com coreografias ou repertórios prontos de Dança empobrece o
trabalho nas aulas de Educação Física escolar, assim o educador não deve
preocupar-se com técnicas e quantidades de atividades, mas sim com a qualidade
de suas aulas, onde os educandos possam desenvolver suas potencialidades e
superar seus limites, com espontaneidade e criatividade. A partir de aulas nesta
perspectiva, são inúmeras as contribuições da Dança na escola.
Historicamente a Dança trouxe estereótipos como tipo de corpos ideais para
se dançar e locais apropriados para se apresentar cada estilo de Dança. Assim,
houve uma exclusão de pessoas para a prática da Dança, uma vez que não se
enquadravam nos critérios pré-estabelecidos. Segundo Marques (2012), este
conceito de corpo para se dançar foi superado na década de 1960, pelo grupo de
coreógrafos Judson Dance Theater de Nova York, que além de transformar o
conceito de movimento da Dança, trouxeram para a Dança cênica corpos cotidianos
sem treinamento ou biotipo específico. “Laban afirmava que todos os corpos são
dançantes, pois todos os seres humanos se movimentam no tempo e no espaço.
Cada pessoa, dizia, tem o potencial de expressar aquilo que escolhe e que seu
movimento permite” (MARQUES, 2012, p. 38).
De acordo com Marques (2012, p. 65), Rudolf Laban e Margaret H’Doubier
acreditavam e defendiam a liberdade, a ingenuidade, a espontaneidade e a
naturalidade contida nas Danças das crianças (expressão tão natural quanto
respirar). Assim o ensino da Dança sugerido por estes autores, é “propor práticas
pedagógicas que não ‘invadissem’ a criança, ou que possibilitassem o
desenvolvimento ‘natural’ deste ‘artista que está dentro de cada um’”.
Isto não quer dizer que sejam aulas livres sem orientação, mas sim com
presença de atividades que não exijam técnicas “apuradas” e modelos rígidos pré-
estabelecidos, respeitando e incentivando a participação efetiva de todos os
educandos.
Ao ser desenvolvido o conteúdo Dança na escola, deve-se levar em
consideração algumas questões: O que ensinar? De que maneira? Quando? Que
materiais e procedimentos serão utilizados? O que o educando deve aprender?
Esta organização possibilita superar alguns acontecimentos frequentes nas aulas de
Educação Física, relacionados principalmente à falta de conhecimento e
planejamento, o que leva o professor ao trabalhar com o conteúdo da Dança, deixar
os educandos ‘livres’ para dançar a música que quiser – geralmente as que estão na
mídia –, e depois apresentam uma coreografia de reprodução de movimentos.
Segundo Marques (2012), as Danças existentes formam um grande
repertório, sendo importantes fontes de conhecimento, pois traz um recorte de um
contexto histórico, espaço geográfico, tradições, uma forma de ver e entender o
mundo. No entanto, é necessário que as escolhas deste repertório tenham critérios
que sejam ensinados com amplitude, profundidade e clareza. Ou seja,
problematizar, questionar, criticar, transformar seus componentes, gerar
conhecimento, compreender conceitual e historicamente determinados repertórios e
contextualizá-los nos dias atuais. Faz-se necessário ainda que o educando vivencie
a Dança, conheça os elementos da linguagem que a compõem, para que possam
ser criadores e não apenas reproduzir mecanicamente seus movimentos.
A Dança trabalhada apenas como reprodução de movimentos de um
repertório, torna-se algo insignificante do ponto de vista da formação crítica do
educando, é necessário entender a Dança como linguagem, ler corporalmente os
movimentos contidos nela, e assim agir transformando estes movimentos, o que irá
permitir diferentes leituras de mundo (MARQUES, 2012).
A Dança não é apenas um repertório, ela é uma forma de linguagem, de
expressar sentimentos, de dizer algo, de fazer com que o educando atue
socialmente de forma crítica, sendo protagonista de sua própria história.
A exploração da criatividade no processo educacional da Dança é muito
importante para formar educandos, que escolham dançar, o que dançar, como
dançar e por que dançar. Assim o educando estará experienciando no corpo a
potência da transformação e desta forma interferindo nas dinâmicas das relações
sociais (MARQUES, 2012).
Diante das contribuições que a Dança pode trazer e da escassez do trabalho
com este conteúdo na escola, optou-se em desenvolver este projeto de intervenção
pedagógica com o conteúdo Dança Criativa, buscando embasamento teórico
metodológico do conteúdo e atividades possíveis de serem trabalhadas nas aulas de
Educação Física.
4. Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica
4.1 Relato da Implementação
As atividades do Caderno Pedagógico foram desenvolvidas com duas turmas
de oitavo anos: 8ºC e 8ºD. Como não havia conhecimento e contato prévio com as
turmas, alguns educandos questionavam se era verdade que seria trabalhado com o
conteúdo de Dança, queriam saber que tipo de Dança seria ensinado, demonstrando
gostarem da ideia de ter um conteúdo “diferente”.
O primeiro plano de aula foi desenvolvido da seguinte forma: apresentação do
plano de unidade, explicando as atividades a serem desenvolvidas durante
dezesseis aulas e esclarecendo que estas faziam parte de um estudo. Foi
apresentada a disciplina de Educação Física, sua importância como disciplina
curricular, seus conteúdos estruturantes e o conteúdo Dança Criativa
especificamente.
Como os educandos não tinham vivenciado este conteúdo anteriormente, ao
levantar questões relacionadas ao conteúdo (o que é Dança, onde vocês já
dançaram e o que gostariam de aprender sobre Dança?), apenas metade da turma
respondeu. “Dança é conjunto de movimentos, se mexer, se expressar, dança em
grupo, vários estilos, cultura, figurino, axé, samba, funk, música, instrumento, etc”. Já
haviam dançado em “festas, casamentos, CTG’s, apresentações na escola e na
igreja”. Queriam saber “dançar os passos de diferentes danças, saber o significado
de cada uma, oficinas de dança, música e arte”. Alguns falaram que “não gostavam
de dançar e não queriam saber nada”.
Em seguida foi solicitado que registrassem as respostas em uma folha para
recolher posteriormente. Ficaram preocupados, disseram não saber as respostas e o
tempo todo perguntavam o que responder. Foi explicado que era apenas para saber
o que eles conheciam sobre o conteúdo, que não valeria nota a atividade e que
escrevessem o que sabiam.
Em todas as aulas seguintes foram explicadas as atividades que seriam
realizadas, assim como os seus objetivos. As duas turmas eram muito agitadas, foi
necessário intervir durante as atividades em vários momentos nas aulas.
As atividades escolhidas para vivência prática tiveram como objetivo trabalhar
com os elementos da dança para que os educandos pudessem conhecer, vivenciar
e explorar seus limites e possibilidades em relação à expressão corporal, esquema
corporal, ritmo, coordenação motora, lateralidade, orientação espaço-temporal e
flexibilidade.
No segundo plano de aula, onde foram vivenciadas atividades com foco nos
elementos da Dança, a maioria dos educandos participou de todas as atividades,
porém, por medo e timidez alguns não participavam, outros não conseguiam se
concentrar, prestar atenção e conversavam muito, o que dificultou a compreensão, o
desenvolvimento e o aprofundamento de algumas ações propostas.
Com a implementação do terceiro plano de aula que teve como proposta
central a Dança Circular, evidenciou-se o fato de que os educandos sentem
desconforto para ficarem próximos ou pegar na mão do colega. A timidez e as
dificuldades continuaram interferindo no desenvolvimento das ações propostas, o
que levaram a mudança de estratégias a fim de que em grupos menores houvesse a
participação de todos. Outra dificuldade evidenciada foi a dos educandos
expressarem sensações (amor, ódio, frio, calor, alegria, tristeza...) e neste momento
solicitaram que houvesse uma demonstração para que imitassem.
No final da aula duas educandas (uma delas fez dois anos de ballet) falaram
“que as atividades eram chatas” e solicitaram músicas “animadas” e os “passos
prontos” para ensinar à turma, pois assim “a aula ficaria melhor”. Foi explicado que a
proposta do conteúdo de Dança Criativa não tem o objetivo de utilizar apenas
passos prontos para serem reproduzidos.
Na quarta aula foi realizada uma explanação teórica sobre conceito e história
da Dança. Os educandos reclamaram dizendo que aula de Educação Física tem de
ser na quadra, queriam fazer aula prática e foi preciso intervir várias vezes falando
da importância da fundamentação teórica dos conteúdos na Educação Física. Os
educandos tiveram dificuldade de atenção, de concentração e para registrar o que
foi explanado. Foi possível observar nesta aula que há o preconceito com relação ao
homem que dança, mesmo relatando que a Dança antes era praticada somente
pelos homens e que foi até utilizada como preparação física.
Na quinta e sexta aula foi apresentada a “Técnica Stomp”, que consiste na
realização de movimentos com o corpo e objetos utilizados de maneira não
tradicional. Os educandos gostaram dos vídeos e logo foram experimentando
possibilidades de movimentos e sons com os objetos disponíveis (calotas, garrafas,
latas de tinta, ripas e bolas de basquete). Foi solicitado que se organizassem em
pequenos grupos para criar uma sequência de movimentos e sons que pudessem
apresentar à turma na próxima aula. Houve dificuldade com relação à organização
dos grupos devido as “panelinhas” e também diziam não saber montar a sequência.
Foram demonstrados alguns exemplos, mas ainda demoraram muito para
desenvolver a atividade, realizando a apresentação dos grupos no final da segunda
aula.
Nos planos de aula sete e oito foi desenvolvida a “Técnica Barbatuques” –
música utilizando apenas ritmos e sons produzidos no próprio corpo, como palmas,
assobios, dedos estalando, etc. Foi utilizado um vídeo do grupo brasileiro que
domina esta técnica com apresentações e demonstração de como fazer os sons
com o corpo.
Antes de terminar o vídeo os educandos já queriam fazer os sons, porém
como muitos não conseguiam foi necessário a demonstração novamente. As
principais dificuldades percebidas nestas aulas foram em relação à organização dos
educandos, atenção, concentração, memorização das sequências e ritmo.
A nona aula foi desenvolvida por meio da técnica cup song – produção de
som por meio de batidas em um copo. Foram agrupados quatro educandos ao redor
de uma mesa para executar a técnica inicial, com o vídeo ABC dos copos, sendo
realizada sem dificuldade. Depois foi apresentada uma sequência mais complexa da
técnica, trabalhada passo a passo. Alguns educandos tiveram mais dificuldades para
realizar e foi solicitado aos colegas que já conheciam a técnica para que auxiliassem
os demais. Quando todos dominaram a técnica, foi proposta a realização da mesma
combinando com uma música, no entanto não conseguiram acompanhar o ritmo.
Nesta aula houve maior demonstração de interesse e motivação dos educandos em
realizar as atividades.
Para as aulas de número dez e onze foi proposta a criação de uma paródia
utilizando as técnicas “Stomp e Barbatuques”. Os educandos tiveram dificuldade em
entender esta atividade, sendo necessário explicar várias vezes o que era uma
paródia, exemplificando. As principais dificuldades foram trabalhar em grupo,
escrever a paródia e timidez para apresentar diante da turma, mas todos
conseguiram concluir a atividade.
A aula doze foi sobre gêneros musicais, onde os educandos mostraram
conhecer os mais populares e presentes no seu dia a dia como: axé, funk, sertanejo
universitário, forró, gaúcha, eletrônica. Outras músicas eles já ouviram, mas não
sabiam definir o gênero: gospel, indiana e clássica. Também teve gêneros musicais
que não conheciam como o blues, MPB e o fado. Não houve tempo suficiente para
explicar todos os gêneros e foi solicitada no final da aula uma pesquisa sobre os
mesmos. Houve interesse por parte da maioria da turma, quando eles não sabiam
identificar o gênero queriam saber a resposta e tentavam copiar do colega, vibrando
quando acertavam.
Na intervenção a partir do plano de aula treze, foi reforçado que iríamos
trabalhar com os elementos da Dança em todas as atividades. Houve dificuldade no
momento de explicar as atividades, pois não ficavam em silêncio, sendo necessárias
intervenções a todo o momento. Todos os educandos realizaram as atividades e até
aqueles mais tímidos conseguiram identificar os gêneros musicais utilizados.
Relataram ter gostado das atividades apesar das dificuldades citadas acima.
Na aula quatorze foi difícil organizar as atividades, pois a turma estava muito
agitada necessitando a intervenção várias vezes. Nesta aula eles cantavam junto
com as músicas e tentavam definir os gêneros musicais. Na atividade “Siga o
Mestre” eles faziam círculos e dançavam cada um de uma forma, ninguém queria
ser o mestre. Nesta aula teve alguns educandos que comentaram: “quando vai
acabar estas aulas? Quero sair pra fora, jogar futsal! Não vai ter outra coisa?”
Apesar de algumas reclamações todos participaram e disseram ter gostado das
atividades.
Não foi possível desenvolver todas as atividades previstas para a aula quinze,
pois as turmas estavam agitadas e perdeu-se muito tempo para a organização.
Diante disto, foi feita a opção de que as atividades realizadas em uma turma não
fossem realizadas na outra e vice-versa. De maneira geral, houve dificuldade em
lembrar os movimentos criados pelos colegas, porém as mesmas estavam
relacionadas à atenção e concentração e não à percepção rítmica. Ao final os
educandos criaram uma sequência coreográfica, de forma lúdica, demonstrando
interesse e motivação na atividade.
Para a última aula foi sistematizado o processo de Catarse, onde os
educandos apresentaram de maneira oral e escrita, uma síntese elaborada por meio
de questões que versavam sobre o conteúdo vivenciado.
O que chamou a atenção foi o fato de que os educandos reclamaram que não
havia sido passado “conteúdo escrito para eles estudarem” e neste momento foi
explicado que as questões estavam relacionadas aos conteúdos desenvolvidos em
todas as aulas práticas e teóricas, e que tentassem resgatar o que haviam se
apropriado. Tal fato demonstra como os educando estão acostumados a “estudar
para a prova”, ou ainda, elaborar respostas baseado somente em textos já prontos e
quando são colocados diante da situação de expressarem suas opiniões e
interpretações sentem dificuldade.
No momento do debate os educandos participaram, porém foi necessário uma
retomada do conteúdo com relação às questões que não sabiam responder,
explicando e contextualizando com as práticas desenvolvidas.
4.2 Contribuições dos Professores Participantes do Grupo de Trabalho em Rede
(GTR)
Quando apresentado o Projeto de Intervenção Pedagógico aos cursistas3 do
Grupo de Trabalho em Rede (GTR), os mesmos concordaram com algumas
situações dentre elas, falta de conhecimento teórico-metodológico do professor,
devido a formação acadêmica muitas vezes não dar o embasamento suficiente; falta
de interesse em ir atrás, pesquisar sobre o conteúdo, participar de formações;
grande resistência por parte dos educandos em participar das atividades, devido a
timidez, questões religiosas, de gênero, por pensarem que a Dança é aprender
passos de um determinado estilo e que é difícil de realizar, pelo conceito que têm de
que Educação Física é "jogar bola", "ir para a quadra", entre outros; dificuldade de
adotar a proposta das Diretrizes Curriculares da Educação do Estado do Paraná,
que está embasada na Pedagogia Histórico-Crítica, sobre a qual os professores
sentem que é difícil realizar um trabalho sistematizado e orientado que siga os
3 Professores de Educação Física da Rede Estadual de Ensino do Paraná.
passos da didática proposta, pois exige do professor mais estudos e mais
planejamento.
Em outro momento foi solicitado a opinião dos cursistas com relação ao
Caderno Pedagógico e a sua aplicabilidade na escola, transcritas abaixo:
“É um começo para aqueles que tem dificuldades e também para quem já vem trabalhando a dança, por que sempre aprendemos com novas leituras e novas experiências; Engloba os elementos e conteúdos da dança, está pautado em atividades que são positivas na prática do processo pedagógico da dança na escola, podem auxiliar tanto professores que querem iniciar a dança na escola, quanto dar ideias novas àqueles que já a desenvolvem; A construção do conhecimento tem que ter lógica e continuidade, algumas vezes sentimos dificuldades em trabalhar algum conteúdo por causa de colegas que não dão sequência ao que já foi desenvolvido nas turmas, talvez por não gostarem ou não conhecer direito o que estão trabalhando, ocorrendo assim uma resistência dos alunos ao novo quando apresentado; Com a sequência do trabalho, vivenciando a dança no seu cotidiano, os alunos vão acostumando com a ideia e aceitando mais facilmente, e o nosso trabalho fica mais bem feito. Cada turma é uma turma, nem sempre conseguimos sucesso com a mesma atividade em todas as turmas, ou melhor, raramente. Ainda bem que podemos adaptar e mudar, pois nossos alunos mudam muito de um ano para outro; Importante é o planejar, e o replanejar durante as aulas, por isso temos que nos organizar, diante de uma clientela de alunos que a cada ano se renova; A metodologia apresentada é atrativa na medida que considera a cultura primeira do aluno, como prática social inicial, ou seja, permite ao aluno reconhecer-se como sujeito histórico nas diferentes práticas pedagógicas; A Pedagogia Histórico-Crítica, envolve os alunos no trabalho realizado, fazendo que participem das aulas dando suas opiniões e ajuda na construção do conhecimento cientifico; A contextualização histórica permite ao aluno reconhecer-se como sujeito histórico, em uma sociedade em movimento, realizando uma leitura crítica de mundo levando em conta os aspectos sociais, políticos e econômicos; A forma como é abordada, a dança criativa é construída através da ludicidade, dos movimentos naturais, expressividade e não apenas a repetição de passos previamente coreografados, os quais, em alguns casos, podem até excluir um aluno devido à complexidade e falta de habilidade; Não podemos deixar de trabalhar o conteúdo e também não podemos forçar ou obrigar o aluno a fazer algo que não se sinta bem (criar um bloqueio), mas sim tentar despertar o gosto pela dança; Nesse contexto o caderno pedagógico é muito importante e traz uma proposta inovadora e diversificada que fornece e subsidia material didático pedagógico para aumentar o conhecimento científico do aluno, possibilitando assim, a construção da autonomia e a valorização do aluno perante o conteúdo dança, onde iremos desenvolver atitudes de cidadãos críticos e participativos na sociedade atual”.
Diante dos relatos, observa-se que os professores analisam o Caderno
Pedagógico como um material salutar que sistematiza, organiza e facilita o trabalho
cotidiano, além de oferecer de maneira explícita, um caminho que pode ser trilhado
na ação pedagógica.
Na última etapa do GTR, foi relatado os resultados da implementação
pedagógica, socializando os avanços e desafios, onde os cursistas refletiram e
opinaram com relação à metodologia utilizada e às atividades aplicadas. Foram
muito ricas as contribuições, pois houve relato de atividades propostas no caderno e
aplicadas por eles, com algumas adaptações e sugestões, ampliando estas
atividades; sugestões de atividades/planos de aulas com relato de experiências e
resultados obtidos.
Todas as discussões, sugestões e relatos contribuíram para enriquecer o
conhecimento e o trabalho pedagógico de todos.
Destaca-se alguns comentários realizados pelos professores:
“Quando passamos a responsabilidade a eles, tudo é mais difícil, começa as brigas desentendimentos, desistência e mudanças de grupos. Acredito, eu que o tempo também influencia nesta ação. Por que quando trabalho a dança, fico em média um trimestre ou mais pois realizo o festival sempre no meio do ano, e você esta realizando em um bimestre. Tudo vai de escola para escola e também de uma turma para a outra. Cada ano é uma nova experiência, e desafios, quando buscamos a criatividade através da dança. Enfim professora, a sua escola é uma realidade e a minha e do grupo parte deste mesmo princípio, o importante é a organização, e tenha certeza que se você aplicar este projeto novamente para diferentes turmas você terá diferentes resultados; O Caderno Pedagógico é como um todo excelente, muito completo, criativo e didático, porém nossos alunos ainda têm dificuldade e uma certa resistência em aceitar o novo, aceitar que a Educação Física é uma disciplina e que não é somente futsal ou quadra, que pode-se aprender novos conteúdos de forma diferente; Acredito que em um primeiro momento, ao ser apresentado esse formato novo, e ainda por cima o conteúdo dança, o objetivo esperado não tenha sido completamente atingido, como foi descrito no resultado final, mas acredito sim que com o passar do tempo e com a nossa perseverança as aulas irão se tornar mais interessantes e significativas para o ponto de vista deles; Em algumas partes do relato identifiquei situações muito comuns do meu cotidiano em sala, quando o tema da aula não é o esporte, e principalmente o futebol. Alguns alunos se negam a realizar as atividades, uns criticam, outros ficam ‘perguntando quando será a aula de jogar bola’, etc. E por outro lado, tem aqueles que gostam, fazem, se divertem, criam, produzem, enfim... já ouvi frases como ‘obrigada professora, por trazer isso para a gente’; ‘isso é muito legal, quando vamos fazer de novo’; ‘me apaixonei por essas maças’ (um menino falando sobre as maças da GR); ‘podemos vir na escola fora do horário de aula pra fazer isso?’... Outro ponto que gostaria de comentar, está relacionado ao ritmo (ou a falta dele). Os nossos alunos vem tendo cada vez menos experiências motoras fora da escola, é fato que enquanto a geração passada passava a maior parte do tempo se movimentando, brincando na rua e quintais, esta geração passa grande parte do seu tempo em frente ao computador e vídeo game (sem cotar o celular que até mesmo durante a aula eles não largam). Todos sabemos que esta falta de atividades ligadas ao movimento faz com que os alunos sintam dificuldades em realizar muitas atividades, e entre elas, àquelas ligadas ao ritmo, que exigem bastante coordenação motora;
Na questão de turma às vezes nos surpreende muito pois nunca temos turmas iguais ou uniformes, há aquelas que nos dão um pouco mais de trabalho. Na apresentação de vídeo auxilia e muito pois percebo que nossos alunos aprendem melhor visualizando que somente ouvindo e também no geral estão com déficit de criatividade e a coordenação motora comprometida com a falta de atividade física. A leitura corporal é bem interessante, pois a maioria não sabe passar para o papel os movimentos que realizam, falta criatividade estão acostumados a copiar e quando o professor esta explicando muitos são desatentos, principalmente se o assunto em questão é dança; Assim como outros colegas, penso que o tempo destinado ao desenvolvimento do projeto foi muito curto, esse foi o maior de seus problemas, pois você não teve tempo para aprofundar e resolver situações que surgiram durante o processo. Se analisarmos que com duas aulas semanais, ao final do bimestre, se não houver nenhum imprevisto, cada turma teria 18 aulas, seu cronograma de 16 aulas não deixou espaço para lidar com imprevistos. Acredito que essa proposta poderia ser desenvolvida aos poucos começando pelo 6º ano e dando sequência nas demais séries, isso seria possível se o mesmo professor acompanhasse a turma ou houvesse um diálogo na hora de planejar com o colega da mesma área; Um ponto de partida seria conhecer os alunos saber quais são seus interesses e preferências, suas formas de aprender, suas facilidades e dificuldades, necessidades e potencialidades, como é seu grupo familiar e social, sua vida dentro e fora da escola. Isso implica em uma organização pedagógica flexível, aberta ao imprevisível. Cada aluno traz consigo as marcas das experiências e estabelecem diferentes relações em um tempo e espaço específico. A Prática Social Inicial faz com que a sistematização do conhecimento, em seguida, leva em consideração todos os pontos citados acima. Os alunos na escola, geralmente, não vivenciam o conteúdo específico da Dança Criativa. A prática da Educação Física está bastante impregnada por uma lógica Instrumental, sustentados pela Aptidão Física e Esportiva, pouco comprometida com a formação humana, reduz o fazer pedagógico em uma atividade eminentemente prática, destituída de saberes e possibilidades de reflexão”.
Observa-se nos relatos que pontos comuns são evidenciados na ação
cotidiana dos professores: turmas heterogêneas que reagem de maneiras diferentes
à proposta; resistência às aulas que não sejam de futsal; número de aulas que
atualmente foram diminuídas para duas semanais; dificuldades dos educandos
diante de atividades motoras que não estão acostumados a vivenciar..., no entanto,
nenhum professor relatou que não é possível a sistematização do trabalho com o
conteúdo Dança Criativa, ficando demonstrado que dificuldades acontecem, mas
que é possível a inserção deste conteúdo nas aulas de Educação Física.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de todo o processo realizado no PDE, podemos destacar como
principais dificuldades:
Até o início da implementação, os educandos não haviam tido aulas de
forma sistematizada e na perspectiva Histórico-Crítica seguindo os
cinco passos do Gasparin, ou seja, de maneira geral não estavam
habituados a serem tratados como sujeitos ativos do processo de
ensino e aprendizagem. Reclamavam e não tinham paciência na hora
de responder às questões no início e final do conteúdo, e também nos
momentos de explicar os objetivos para que serviam as atividades,
assim como nos momentos de Catarse. Os próprios professores da
escola também comentavam sobre esta forma de trabalho, como se eu
estivesse perdida na aula, pelo fato de permitir que os educandos
expressassem suas ideias e opiniões;
O conteúdo Dança Criativa também nunca foi desenvolvido, ficando
apenas nas coreografias e apresentações que os educandos faziam
sozinhos ou algumas atividades com os elementos da dança, porém de
forma solta sem uma sequência ou com objetivos;
Os educandos queriam apenas esportes ou que ensinasse passos de
alguma dança, as aulas teóricas eram difíceis, tinham dificuldade de
atenção e de resolver as atividades propostas, sendo necessário
auxiliar o tempo todo;
Os educandos não estão acostumados com este tipo de trabalho, as
duas turmas eram muito agitadas, sendo necessário chamar atenção a
todo o momento, quando era utilizada música ficavam mais eufóricos,
não tinham paciência para esperar concluir as explicações e já
começavam a fazer as atividades ou dançar, sem saber o que estavam
fazendo ou deveriam fazer;
O conteúdo tomou muito tempo, praticamente o bimestre todo, isso
deixou os educandos impacientes, pois queriam jogar bola, ir para a
quadra, etc;
Muitas atividades para cada plano de aula, algumas aulas precisariam
de mais tempo para ser desenvolvidas, pois os educandos demoravam
muito tempo para se organizarem em grupos e assimilar o conteúdo;
Os educandos apresentam uma série de dificuldades com relação ao
desenvolvimento motor, qualquer atividade por mais simples,
envolvendo habilidades básicas como coordenação motora, orientação
espaço temporal, lateralidade, flexibilidade e outras, não teve o
resultado esperado. Quando tentamos trabalhar de forma a
desenvolver estas habilidades, os educandos reclamam, acham a
atividade infantil ou boba e não se dão conta de sua real situação;
Os educandos testavam o tempo todo tentando fazer com que
deixasse de trabalhar com o conteúdo de Dança;
As aulas eram nas quintas e sextas-feiras, nos últimos horários de
aula.
Apesar das dificuldades, houve pontos relevantes e que podem estimular
professores de Educação Física a assumirem o desafio de sistematizar o trabalho
com o conteúdo de dança:
Um educando questionou se era certo que eu iria trabalhar com Dança
e ficou satisfeito quando afirmei, dizendo “que bom que vai ter alguma
coisa diferente nas aulas de Educação Física”;
Educandos tímidos e que no início não queriam fazer nada, nas últimas
aulas estavam participando das atividades e se soltando;
Mesmo resistentes, reclamando o tempo todo e tendo que intervir
sempre, os educandos mostravam entusiasmo e alegria durante a
realização das atividades e diziam ter gostado quando questionados;
Apesar da resistência, no decorrer do processo houve a participação
de todos os educandos, não havendo exclusão;
O pai de um educando foi até a escola e solicitou à pedagoga para
observar a aula, pois o filho lhe havia falado que teria de participar da
aula, dançar e tinha muita vergonha de se expor. O pai se surpreendeu
ao ver o filho realizando as atividades com música juntamente com os
colegas, disse ainda que não imaginava o filho interagindo daquela
forma, tendo em vista que era um educando tímido e com dificuldades
de se expor na turma;
As paródias criadas pelos educandos foram muito interessantes,
utilizando os temas da Copa do Mundo, Capoeira e demais conteúdos
da disciplina;
Quando havia as apresentações de trabalhos, sequência de sons e
movimentos, eles se surpreendiam, aplaudindo e vibrando com o
resultado;
A pedagoga que acompanhou o trabalho gostou muito e disse que teve
bons resultados com relação à socialização dos educandos mais
tímidos;
Algumas atividades os educandos gostaram mais e pediram para
realizar outras vezes, queriam também trazer as músicas;
A técnica Cup Song foi a que os educandos mais gostaram, sendo
utilizada por outros professores nas outras turmas e no curso de
Formação de Docentes, além de apresentação na escola.
Tendo como parâmetro os relatos citados sobre a implementação e os
comentários dos professores participantes do GTR, apresentamos algumas
sugestões para melhor utilizar o material pedagógico produzido:
Conhecer as características de cada etapa em que os educando se
encontram, saber quais são seus interesses e preferências, suas
formas de aprender, suas facilidades e dificuldades, necessidades e
potencialidades, como é seu grupo familiar e social, sua vida dentro e
fora da escola é muito importante e um facilitador do processo de
interação entre professor e educando. Este conhecimento deveria
estar presente desde a elaboração do Plano de Trabalho Docente até
o momento da aula;
É necessário o professor selecionar atividades adequadas para cada
turma/ano que for trabalhar, desenvolvendo-as e adaptando-as
quando necessário;
Aproveitar as atividades em que os educandos se envolvem e
incorporar os conceitos que ficaram sem compreensão nestas, pois
nestes momentos eles estão participando da atividade e é mais fácil o
acesso aos mesmos;
Realizar este trabalho a partir do 6º ano, dando sequência nos demais
anos, pois os professores de Educação Física devem abordar todos
os conteúdos da Cultura Corporal na Educação Básica, de forma
contínua e aumentando o grau de complexidade;
Quanto antes desenvolvermos o trabalho com este conteúdo e também
houver a adoção deste ou outros materiais pedagógicos pelos demais
colegas, os nossos educandos e a escola terão outra visão sobre a
Dança e haverá maior interesse e participação dos mesmos;
É importante sempre apresentar os objetivos de cada atividade,
questionar os educandos quais foram as dificuldades, o que foi fácil
realizar, fazendo-os refletir e perceber seus limites e suas
possibilidades de movimentos;
A resistência e a falta de entendimento por parte dos educandos em
relação a criação e recriação de movimentos específicos da Dança,
pode estar ligada ao fato destes serem tratados sempre como
passivos, onde apenas reproduzem/copiam o que o professor propõe
nas aulas;
Com relação aos conteúdos de Educação Física, é importante
"apresentarmos" a disciplina para a turma, destacando a sua
importância no Currículo, os benefícios para a vida do educando
assim como reforçar quais são os conteúdos contemplados e que
devem ser trabalhados/desenvolvidos;
O professor de Educação Física deve ser um pesquisador, realizar
estudos e formação constantemente, planejar as suas ações
envolvendo todos os conteúdos contemplados nas Diretrizes
Curriculares, visando a formação integral do educando, assim como
as mudanças nas suas ações fora da escola. Este embasamento
teórico é o que vai dar suporte para o professor durante todo o
trabalho e auxiliá-lo diante dos problemas encontrados;
Muito se fala da Pedagogia Histórico-Crítica, no entanto, o que
encontramos na maioria das escolas são educandos acostumados a
receber informações/conhecimentos prontos do professor, sem refletir
criticamente sobre os conteúdos, apenas os aceitam ou rejeitam, sem
um aprofundamento.
Por fim, implementação pedagógica foi um pontapé inicial para trabalhar com
o conteúdo Dança Criativa na escola, antes de realizar este estudo e planejamento
houve receios, dúvidas e insegurança, no entanto, durante a aplicação deste
trabalho observou-se pontos difíceis e relevantes, o que nos levou a ser sábios,
pacientes e persistentes diante de todas as situações.
É necessário que todos os professores de Educação Física assumam a
proposta contida nas Diretrizes Curriculares, tornando as aulas resultantes de ações
pedagógicas relacionadas com o conteúdo de esporte, mas também com lutas,
ginástica, jogos e a Dança, pois a proposta implementada, possibilitou o
estabelecimento de conceitos, o desenvolvimento da expressão corporal, a
superação de dificuldades, da timidez e a integração entre os educandos,
demonstrando que a Dança pode ser realizada por todos independente das
diferenças culturais e corporais.
REFERÊNCIAS
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