Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
MODERNIZAÇÃO DO ESPAÇO AGRÁRIO: impactos sobre a ocupação e o êxodo rural no município de Maria Helena-Paraná
Professor PDE: Maurílio Vilas Boas 1
Professora Orientadora: Gisele Ramos Onofre2
Resumo: Esse artigo é parte dos requisitos do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, tendo como objetivo elaborar estudos teóricos e práticos sobre o desenvolvimento histórico do espaço rural, bem como dos impactos econômicos e sociais ocorridos no espaço agrário do Município de Maria Helena – Paraná. O estudo foi realizado com os alunos do 9º Ano do Colégio Estadual Leonídia Pacheco da cidade de Maria Helena – Paraná, nas várias possibilidades de exploração do conteúdo proposto, por meio de explicação teórica, debates, apresentações e discussões de vídeos e imagens, atividades orais e escritas, trabalhos em grupo, pesquisas na internet, entrevistas e passeio no campo. O trabalho desenvolvido permitiu elencar uma série de elementos que influenciaram as transformações do espaço geográfico no município, sobretudo, a partir da crise do café, com a modernização da agricultura a partir da década de 1970. Com o desenvolvimento das atividades, consideramos que as ações implementadas nos auxiliaram a repensar os impactos sociais gerados pela modernização da agricultura no município de Maria Helena – Paraná auxiliando os alunos participantes da proposta pedagógica a reconhecerem o espaço geográfico, contextualizando seus conhecimentos em conformidade com a realidade cultura e econômica vivenciada por eles, suscitando a necessidade de buscarem novas informações. Palavras-chave: Modernização, agricultura, êxodo rural.
1. Introdução
O desafio que se apresenta na contemporaneidade é a revisão de práticas
pedagógicas contextualizadas de modo a possibilitar um ensino de Geografia como
exercício de cidadania, contemplando significados que fazem parte do cotidiano dos
alunos. Assim, a preocupação com a contextualização e conscientização dos
espaços geográficos é presenciada no desenvolvimento das atividades
desenvolvidas no Programa de Desenvolvimento Educacional, da Secretaria de
Estado da Educação do Paraná-PDE/PR, junto aos alunos do 9º ano do Ensino
Fundamental.
Pressupõe-se “[...] que é a partir do contato com o conhecimento científico
construído sobre sua realidade que o aluno adquire a capacidade de conhecê-la e
compreendê-la criticamente” (VIEIRA, 2004, p. 30).
Neste sentido, é preciso propiciar o conhecimento científico aos alunos,
colocando-os em contato com a realidade. Por um lado, aos docentes cabe
compreender que o conteúdo descontextualizado da maioria das atividades
1 Professor PDE da Escola Pública do Estado do Paraná.
2
escolares é uma das causas do desinteresse demonstrado pelos alunos. Por outro
lado, essa distância entre o ensino e a realidade é interiorizada de tal maneira pelos
alunos, que estes deixam de fazer as poucas ligações possíveis entre a escola e a
vida.
Observa-se que grande parte dos alunos do Colégio Estadual Leonídia
Pacheco da cidade de Maria Helena – Paraná apresenta vínculos significativos com
o espaço agrário. Portanto, o tema em estudo é pertinente na referida instituição,
justificando-se, sobretudo, pela necessidade de envolver os alunos em uma
pesquisa relacionada às características agrárias do município, sendo um tema que
faz parte de sua realidade.
Nessas perspectivas, a proposta de implementação encontra respaldo no
quadro dos conteúdos estruturantes das DCEs – Paraná (2008) de Geografia.A
intenção do estudo é contribuir com a evolução conceitual dos alunos, permitindo-
lhes uma reflexão sobre as questões relativas às causas e consequências do êxodo
rural no município, compreendendo o seu papel na transformação da sociedade.
Ao refletir sobre o espaço agrário no cotidiano dos alunos, sobretudo, frente
ao processo da modernização da agricultura, pressupomos que os mesmos possam
ser levados a repensar o seu papel na sociedade. Segundo Moreira (1994) é preciso
pensar na constituição do espaço agrário, no estabelecimento das relações com as
contradições que o coloca em constante movimento, auxiliando os alunos a
transitarem do espaço agrário ao urbano com uma melhor compreensão.
Contudo, acredita-se que a proposta é relevante, já que é imprescindível
pensar os conteúdos de geografia. Nesse sentido, faz-se importante abordar as
principais transformações que perpassam o espaço agrário do Município de Maria
Helena, especialmente, frente à modernização tecnológica da agricultura.
2 Considerações sobre a Modernização da Agricultura
O espaço agrário brasileiro passou por grandes conflitos e merece ser
submetido a uma análise comprometida com a transformação mundial. Diferentes
autores versam sobre as mudanças que marcaram o decorrer do tempo histórico, e
que são responsabilizadas pela configuração vivenciada no momento atual,
sobretudo, frente ao processo de modernização da agricultura. A partir da segunda
metade do século XX, a agricultura brasileira passou a apresentar características
inovadoras e especializações técnicas, científicas e organizacionais que articuladas
contribuíram para a criação de novos usos do tempo (ROCHA, 2009).
Tais configurações contribuíram para a transformação do espaço agrário
brasileiro que passou a apresentar modificações visíveis na sua estrutura territorial.
Tais mudanças, segundo Rocha (2009, p. 76) “são frutos de políticas implementadas
desde a década de 1930 pelo Estado Novo, com vistas a um novo dinamismo
territorial no Brasil”.
Ferreira (2005) retrata que, a partir do início dos anos 1930, a decadência do
café favoreceu a diversificação das atividades agrícolas e dinamização do processo
de industrialização com a abertura de novas possibilidades em substituição às
importações. Ao mesmo tempo, deu-se início ao desenvolvimento das indústrias
têxtil. Nesse sentido, segundo o autor:
O aumento da produção interna ocorreu utilizando-se a capacidade instalada em ritmo superior ao do período 1933-39. Neste intervalo, se constatou um expressivo crescimento da produção têxtil. Paralelamente ao aumento das exportações, verificaram-se acúmulos de grandes saldos na balança comercial, inclusive, devido às dificuldades para importar. Esses saldos, por sua vez, tendiam a pressionar, para baixo, a taxa de câmbio, provocando valorização da moeda nacional, podendo comprometer as exportações. Diante disso, o governo fixou a taxa de câmbio, no sentido de proteger o setor cafeeiro, objetivando manter a sua renda em moeda nacional (FERREIRA, 2005, p. 60).
Nessa direção, os interesses dos fazendeiros e dos industriais ligados ao
mercado interno foram interligados. Fato esse relacionado as restrições de
importações que impossibilitavam a manutenção da renda do setor cafeeiro,
manteve-se a procura dos produtos internos, transparecendo, assim, os interesses
convergentes da oligarquia cafeeira (FERREIRA, 2005).
À medida que os processos de desenvolvimento locais foram acontecendo,
houve uma tendência gradativa das relações tradicionais. Desse modo, constata-se
o advento das importações dos meios de produção mais modernizados, isso na
década de 1950 (FERREIRA, 2005).
De acordo com Serra (1983), o espaço agrário brasileiro passou por
modificações, sobretudo, em razão do processo de modernização da agricultura. A
utilização de técnicas, máquinas e equipamentos modernizados3, deu ao país,
paisagens rurais agrárias distintas.
Para Almeida e Rigolin (2005), as transformações do espaço geográfico
brasileiro estão relacionadas ao movimento de migração de pessoas. Logo, os
movimentos migratórios, ocorrem pela mobilização de uma área para outra,
especialmente, frente ao processo de mecanização das lavouras que, ao incorporar
novos padrões tecnológicos no espaço agrário, provocou o êxodo rural.
Teixeira (2005) ressalta que, na década de 1960, o processo de
modernização da agricultura foi consolidado com a implantação de um campo
industrial no Brasil, voltado para a produção de equipamentos e insumos para a
agricultura. A produção agrícola aderiu às inovações com a entrada dos processos
industriais ao campo, sobretudo, por meio do pacote tecnológico da Revolução
Verde.
O pacote tecnológico da Revolução Verde contribuiu para a implementação
da produção agrícola em todo o mundo. No caso Brasileiro, observa-se a utilização
de diferenciadas técnicas agrícolas modernas como fertilizantes, agrotóxicos e
irrigação, com a intenção de aumentar a produção e a produtividade. Entre outras
produções, a cana-de-açúcar, a laranja, o café, a batata, as frutas cítricas e, mais
especificamente, a soja (FERREIRA, 2014). Nessas perspectivas, Hespanhol (2008)
considera que:
Apesar do aparente sucesso da modernização da agricultura, o passivo ambiental dela decorrente é muito grande. A expansão de monoculturas e o uso indiscriminado de máquinas, implementos, fertilizantes químicos e de biocidas comprometeram a qualidade ambiental de vastas áreas dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos (HESPANHOL, 2008, p. 327).
O processo de modernização da agricultura garantiu um relativo sucesso
econômico no tocante à ampliação e complexidade do campo industrial no Brasil.
Contudo, ao longo da sua trajetória não conseguiu garantir a efetivação de níveis
aceitáveis de justiça sócio-econômica e ambiental.
De acordo com Mesquita (2009, p. 05), o processo de modernização da
3 Por modernização do espaço agrário entendem-se as transformações na forma de produção
agrícola por meio de substituição das técnicas agrícolas tradicionais por técnicas modernas. Por exemplo, a enxada pelo arado, o animal pelo trator, o esterco orgânico ou estrume por adubo químico, etc (SILVA, 1998).
agricultura transitou por três momentos decisivos:
[...] a constituição dos CAIs (Complexos Agroindustriais), a industrialização da agricultura’ e, recentemente, a integração de capitais intersetoriais sob o comando do capital financeiro. A constituição dos CAIs se dá na década de 1970, com a integração técnica intersetorial entre as indústrias que produzem para agricultura, a própria agricultura e as agroindústrias processadoras. Essa integração tornou-se possível a partir da internalização da produção de máquinas e insumos para a agricultura (DI). Sua consolidação foi viabilizada pelo capital financeiro, basicamente através do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) e das políticas de agroindustrialização, especificamente, instituídas, a partir dos chamados fundos de financiamento (MESQUITA, 2009, p. 05).
Com a modernização da agricultura, segundo Teixeira (2005), as indústrias
de equipamentos e insumos passaram a pressionar, direta ou indiretamente o setor
agrícola, almejando vendas cada vez maiores.
Hespanhol (2008) entende que o grande impulso na transformação da base
técnica da produção agrícola, aconteceu com o incentivo governamental, por meio
do crédito rural ofertado aos produtores, especialmente, a partir de meados da
década de 1960. Para o mesmo autor,
O crédito rural oficial, principal instrumento utilizado para promover a modernização da agricultura foi altamente seletivo, pois a sua oferta se restringiu aos médios e grandes produtores rurais. Os pequenos arrendatários, parceiros e meeiros com reduzido ou nenhum patrimônio não tiveram acesso ao crédito oficial em razão de não disporem das garantias exigidas pelo sistema financeiro. No início dos anos 1980 o padrão de financiamento público da agricultura brasileira se esgotou em decorrência do aprofundamento da crise fiscal do Estado. A partir de 1984 as taxas de juros que incidem sobre o crédito rural oficial se tornaram positivas. O período que se estende de 1980 até o início dos anos 1990, foi marcado pela instabilidade macroeconômica. O Estado se voltou para a gestão da crise, não sendo estabelecidas políticas públicas com horizontes de médio e longo prazo (HESPANHOL, 2008, p. 382).
Com base no exposto acima, os produtores possuidores de terras
receberam empréstimos do sistema financeiro, garantindo crédito rural farto e fácil.
Nesse período, o crédito rural para investimento e custeio. Segundo Fleischfresser
(1998, p. 53) foi colocado “[...] à disposição dos produtores rurais, independente da
região, desde que tivessem terras próprias e de determinada dimensão, ou um
contrato formal de arrendamento”, contribuindo, assim, para a redução do diferencial
de acumulação entre os produtores de diferentes regiões.
Entretanto, o volume de crédito do Estado não foi distribuído de forma
igualitária entre as diferentes regiões e categorias de produtores. Por conseguinte, o
avanço contínuo da industrialização e urbanização exerceu forte influência no
espaço agrário brasileiro que passou a produzir diferentes alimentos e produtos
para:
[...] exportação para controlar a balança comercial do país. No entanto, o referido desenvolvimento se dá principalmente via capital internacional, com uma crescente participação das empresas multinacionais, com interesses em manter o setor rural cada vez mais subordinado aos recursos por elas produzidos. Argumentavam que o arcaico setor rural seria um entrave para o desenvolvimento econômico, não conseguindo responder à demanda do setor urbano – industrial (TEIXEIRA, 2005, p. 25-26).
Pode-se dizer que, até meados da década de 1960, a exportação não
contribuía para o aumento da agricultura que não produzia alimentos e matérias-
primas suficientes para a demanda urbana/industrial, e os preços dos produtos
agrícolas eram ajustados continuamente (TEIXEIRA, 2005). Complementa o autor,
que a crise no setor petroleiro ocorrida na década de 1970 atribuiu novos desafios
ao espaço agrário brasileiro, já que além da produção de alimentos e divisas foi
trabalhada a produção de alternativas energéticas ao petróleo, dando surgimento ao
Programa Nacional de Álcool (PROÁLCOOL)4.
Nessa direção, na época, a monocultura da cana-de-açúcar passou a exigir
espaços cada vez maiores para produção, provocando no ano de 1975, a
substituição dos espaços agrários destinados à produção de alimentos, por uma
produção maior de cana-açúcar, bem como de outros produtos para o exterior.
As transformações relacionadas à concentração da propriedade e uso da
terra, e as relações de trabalho e produção, exerceram forte influência no êxodo
rural. Em decorrência disso, houve as primeiras manifestações de crise com a
entrada da atividade cafeeira, entre a década de 1960 e 1970, desarticulando a
economia agrícola (ABRAMOVAY, 1992).
Nesse particular, comenta Fleischfresser (1998) que, nos anos 1970, houve
motivos para alterações expressivas na base produtiva da agricultura, mudando
radicalmente o movimento que marcou a trajetória da população rural nas três
4 O Programa Nacional do Álcool ou Proálcool foi criado em 14 de novembro de 1975 pelo decreto n° 76.593,
com o objetivo de estimular a produção do álcool, visando o atendimento das necessidades do mercado interno e externo e da política de combustíveis automotivos. De acordo com o decreto, a produção do álcool oriundo da cana-de-açúcar, da mandioca ou de qualquer outro insumo deveria ser incentivada por meio da expansão da oferta de matérias-primas, com especial ênfase no aumento da produção agrícola, da modernização e ampliação das destilarias existentes e da instalação de novas unidades produtoras, anexas a usinas ou autônomas, e de unidades armazenadoras.
décadas anteriores. Para a mesma autora,
[...] a população rural cresceu a altas taxas, apresentando um saldo migratório positivo de aproximadamente 2.800 mil habitantes. Em apenas uma década, 1970-1980, o saldo migratório foi negativo em cerca de 2.600 mil pessoas. A população excedente dos cafezais localizados no Norte do Paraná se deslocava em direção as ainda existentes fronteiras agrícolas no Estado. Entretanto, nos anos 70, quando gradativamente se esgota a fronteira agrícola, concomitante ao processo de intensificação no uso da moderna tecnologia e a substituição de culturas, agora não mais somente o café, mas também alimentares como a soja e pecuária, verifica-se uma notável evasão da população residente no meio rural (FLEISCHFRESSER, 1998, p. 21).
O movimento de redução da população rural no Paraná surpreendeu,
sobretudo, em razão da redução do espaço de tempo em que se verificaram tais
mudanças. As alterações na base técnica produtiva, de relações de produções, força
de trabalho e estrutura fundiária paranaense foram intensificadas, já que conforme
relata Fleischfresser (1998) que:
[...] um significativo uso de força mecânica entre os estabelecimentos rurais no Estado paranaense, que passa de 3% em 1970 para 44% em 1980, atingindo participação próxima à dos estabelecimentos com força animal (56%) no final da década. Esse grande incremento na adoção de máquinas, verificado entre 1970 e 1975, pode ser creditado às políticas agrícolas, que nesse período, o do “milagre”, foram sensivelmente estimulante ao setor, situação que se modera após essa fase, com o agravamento da crise econômica nacional (FLEISCHFRESSER, 1998, p.27-28).
A intensificação da modernização da agricultura contribuiu para mudanças
nas relações sociais de produção, com a ocorrência da expropriação de pequenos
proprietários ou parceiros, intensificação do uso de serviços de trabalhadores
autônomos (bóias-frias) e/ou trabalho assalariado. Isso revelou novas configurações
na organização e modernização da produção agrícola. O crédito subsidiado teve
importantes efeitos na tecnificação agrícola (FLEISCHFRESSER, 1998).
Conforme Serra (1983), após as geadas de 1975, com a erradicação dos
cafeeiros, os espaços agrários paranaense foram liberados para novos cultivos
antes que outros estados brasileiros. Segundo o autor, alguns fatores contribuíram
para isso, já que:
[...] O Paraná modernizou sua agricultura na esteira do processo já em fase adiantada em outros estados, dentro de seu espaço agrário interno algumas regiões também vão inovar na esteira de outras. Ou seja: o mesmo tempo e
com a mesma velocidade todas as regiões agrícolas. As desigualdades tecnológicas vão estar diretamente ligadas, em primeiro lugar às condições naturais, caso do clima e do relevo, e ao processo histórico em que se deu a ocupação pioneira e, em segundo lugar, à dinâmica política e econômica e à estrutura fundiária que vão caracterizar os compartimentos regionais, tornando-os mais ou menos suscetíveis às inovações (SERRA, 1983, p. 51).
A modernização trouxe um aumento considerável na produção agrícola,
acentuando a exportação e contribuindo para o crescimento da economia nacional,
acabando por beneficiar apenas parte da produção destinada às exportações, em
atendimento à elite rural (TEIXEIRA, 2005). Para o mesmo autor, que tal fato causou
impactos ambientais significativos no espaço agrário brasileiro, em razão da
utilização de produtos tóxicos sem os cuidados necessários em seu manuseio. Além
disso, viabilizou o desemprego no campo e o consequente êxodo rural.
Nesse sentido, Serra (1983) ressalta que a categoria mais penalizada
juntamente com o pequeno produtor rural familiar independente, foi o produtor rural
que pagou o preço mais alto, em razão das transformações processadas na
estrutura agrária paranaense. O autor comenta, ainda, que o processo de
modernização agrícola foi seguido pela substituição intensa de culturas
diferenciadas, que contribuíram para alterações demográficas.
O processo de modernização, na perspectiva da consolidação do
capitalismo no espaço agrário brasileiro, conforme Serra (1983, p. 53) contribuiu
para resultados positivos, “tanto no Paraná como nas demais regiões brasileiras
onde foi implantado. Sob a ótica dos impactos sociais que gerou, no entanto, os
resultados foram adversos”. Para este autor, o trabalhador rural foi quem mais sofreu
o impacto negativo em virtude das transformações acionadas pela estrutura agrária
paranaense, ao lado do pequeno produtor rural familiar independente.
As bases do processo de modernização do espaço agrário brasileiro,
segundo Serra (1983) estão assentadas numa construção dialética constante, já que
a estrutura espacial evidencia as contradições intrínsecas ao processo que
contribuíram fortemente para o êxodo rural, a partir da década de 1930. Em razão
das transformações do espaço agrário surgiram movimentos contrários em
consequência da crise que transitou neste espaço, apontando novas perspectivas de
reprodução social.
No Brasil, as profundas transformações políticas da década de 1990, com a
implementação do processo democrático de participação social, definição de co-
responsabilidades na área da educação, aumento do nível de exigência de uma
sociedade cada vez mais organizada e consciente dos seus direitos, tornaram o
reexame de muitos valores indispensáveis para a prática educativa transformadora,
especialmente, para aqueles que sustentam a elaboração de um projeto de escola
compatível com uma nova realidade (MACEDO, 2000).
Essa visão transformadora, conforme Macedo (2000) sinalizou um ensino de
qualidade, no sentido de formar cidadãos capazes de interferir criticamente na
realidade para transformá-la. Assim, entende-se a necessidade de contemplar um
ensino de geografia na escola que possibilitem adaptações às complexas condições
e alternativas de trabalho que levem os alunos a aprenderem a lidar com efetividade
na produção e circulação de novos conhecimentos e informações, que têm sido
avassaladores e crescentes.
Todavia, para manter certa coerência com o plano de reconstruir sociedades
novas e democráticas, os educadores devem contribuir para uma prática educativa
que:
[...] alicerçada em nova práxis educativa, expresse conceitos diferentes de educação em consonância com o plano para a sociedade como um todo. Para que isso se dê, o primeiro passo é identificar os objetivos da educação dominante herdada. A seguir, é necessário analisar como funcionam os métodos utilizados pelas escolas dominantes, como legitimam os valores e significados dominantes e como, ao mesmo tempo, rejeitam a história, a cultura e as práticas lingüísticas da maioria dos alunos subalternos. Essa nova escola, afirma-se, deve também ser formada por uma Pedagogia radical, que torne concretos valores tais como solidariedade, responsabilidade social, criatividade, disciplina a serviço do bem comum, vigilância e espírito crítico (MACEDO, 2000, p. 96).
Nessa direção, à escola cabe realizar uma formação crítica, por meio de um
processo de ensino e de aprendizagem de conhecimentos, habilidades, valores,
atitudes, formas de pensar e de atuar na sociedade que considere o resgate das
características específicas dos alunos como sujeitos histórico-sociais. Nesse sentido,
a contribuição de Saviani (1989) tem sido determinante para esta compreensão da
tarefa escolar, ao evidenciar que:
Para esta compreensão pedagógica cabe à escola dosar e sequenciar o saber sistematizado, o conhecimento científico, tendo em vista o processo de sua transmissão-assimilação. A tarefa que se impõe é organizar o saber escolar, ou seja, tomar como elemento norteador das atividades da escola a socialização do conhecimento sistematizado. O currículo deve ser entendido, a partir dessa leitura, como o conjunto das atividades nucleares da escola (SAVIANI, 1989, p. 11).
A mediação da escola consiste na superação do saber difuso, parcial,
desarticulado que os alunos apresentam no início do processo de escolarização para
o saber sistematizado. No saber científico, o conhecimento é mais organicamente
articulado ao final da sua escolarização, favorecendo, assim, a compreensão das
relações sociais nas quais os mesmos estão inseridos (SAVIANI, 1989).
Neste particular, ao trabalhar as questões relativas aos impactos sociais
gerados pela modernização da agricultura no espaço agrário, acredita-se na
necessidade de ampliar as relações dos alunos com o conteúdo, englobando a
pluralidade e a diversidade como meio de potencializar a prática educativa.
Para Freire (1981), o processo educativo implica na formação crítica dos
alunos, possibilitando uma leitura da realidade além do discurso ideológico proposto
pela estrutura capitalista. O autor abre reflexões profundas no processo educacional,
em que o processo de ensino e de aprendizagem, não se restringe apenas à
compreensão do código, mas a uma tomada de consciência da realidade e de
libertação do estado de passividade e alienação, para um estado de participação e
transformação da sociedade.
Para Oliveira (1996, p. 63), “[...] a relação do homem com sua realidade
social não é imediata, mas mediatizada pela apropriação do conhecimento
científico”. Logo, entende-se que a importância de aprofundar estudos de geografia
agrária, identificando as diferentes formas de ocupação e uso do espaço agrário,
proporcionando a compreensão da organização e dinâmica da produção familiar e
sua importância para o desenvolvimento socioeconômico brasileiro, transformando,
assim, o processo educativo numa reflexão crítica da realidade.
Nesse mesmo sentido, o processo de transformação social, segundo Vieira
(2004) pode acontecer de forma indireta e imediata. Esse, também pode atuar junto
à consciência das pessoas que agem na prática social, levando-as a encontrarem,
nas contradições presentes de sua realidade social vivenciada, dessa maneira,
expressando possibilidades histórico-concretas existentes para a superação de tais
contradições. Portanto, entende-se que a transformação social da qual participará a
educação é possível pela transformação dos indivíduos. Nesse sentido, a autora
considera que:
A ciência geográfica, como um dos componentes curriculares do ensino básico, devido a sua natureza teórico-metodológica, mostra-se como um importante instrumento de conscientização do indivíduo acerca de sua
realidade espacial e de seu papel social dentro dessa realidade. Fato este que poderá contribuir para possíveis modificações e aprimoramento da nossa sociedade. Para tanto, é preciso que esta disciplina coloque o indivíduo-educando em contato com um conhecimento geográfico que o leve a compreender a sua realidade como uma totalidade e a detectar as
contradições existentes nela (VIEIRA, 2004, p. 31).
Diante disso, necessita-se de uma educação articulada a uma proposta
pedagógica que tenha como foco a transformação da sociedade e não a sua
conservação e perpetuação. Para isso, é preciso contar com uma prática educativa
transformadora que propicie uma relação efetiva dos alunos com a realidade,
ultrapassando “[...] o processo de compreensão-adaptação desta realidade,
conseguindo assim adaptar a realidade a si, isto é, transformá-la e, assim, “produzir
a sua própria existência” (SAVIANI, 1991, p.19).
Ao tratar da disposição dos conteúdos sobre o processo de modernização,
os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs – Brasil (1998) estabeleceu algumas
críticas, orientando o professor a refletir com os alunos que,
[...] as tecnologias e seus benefícios se voltaram para os grandes empreendedores do campo que, por sua vez, passaram a ter seus interesses atrelados às empresas multinacionais em sua grande maioria voltadas para produtos de exportação, inclusive, para beneficiar os avanços tecnológicos nos setores secundários e terciários das grandes cidades. (BRASIL, 1998, p.69).
Portanto, seguindo as considerações propostas nos PCNs–Brasil (1998), o
ensino de Geografia na escola precisa estar compromissado com conteúdos
articulados à realidade dos alunos, e que possam contribuir efetivamente para a
formação da sua criticidade em relação ao tipo de realidade vivenciada, com
respeito às singularidades de cada grupo de aluno. Isso leva a pensar na ideia de
uma proposta de ensino de Geografia destinada a proporcionar uma efetiva
compreensão do espaço agrário brasileiro que tenha como pressuposto um
processo de formação do indivíduo consciente.
O fato de a geografia colocar alunos e professores em contato direto com o
mundo, a partir de suas próprias experiências cotidianas, leva-nos a refletir sobre
uma experiência particular. Segundo Moreira (1994, p. 58), a geografia se põe em
contato direto com o mundo exterior, “com o seu todo e com cada um de seus
elementos, a um só tempo. Se nisso reside sua peculiaridade, da qual deriva sua
natural popularidade, reside nisto igualmente seu amplo significado político”.
Prontamente, ao tratar dos conteúdos relativos ao impacto da modernização
da agricultura, contribui-se para o processo de conscientização dos alunos a respeito
da temática. Assim sendo, auxiliando-os a construírem uma percepção crítica da
realidade que os cerca, contrapondo-se ao discurso ideológico neoliberal, pautado
no capitalismo, já que:
[...] apesar das diferenças sócio-espaciais, tanto filhos de camponeses como filhos de trabalhadores da indústria das grandes cidades, têm algo em comum: a marginalização provocada pelo capitalismo. Todos são filhos de trabalhadores, pobres, oprimidos e não dos detentores do capital. Por isso, há necessidade da compreensão da essência dessas realidades, por parte dos professores e dos alunos (CAMACHO, 2008, p. 32).
Nessa direção, percebe-se que o ensino de geografia não se faz de maneira
neutra, mas como prática social, capaz de contribuir para romper ou mesmo reforçar
o modelo de reprodução capitalista. Assim sendo, é importante atuar de forma a
contribuir para uma educação real, em que a questão agrária dentro da sala de aula
possa estar presente de forma articulada e compromissada com a vivência dos
alunos oriundos das áreas rurais, assim como daqueles que mesmo distante da área
rural vivenciam esta mesma realidade de diferentes formas.
Pressupo-se que a construção, desconstrução e reconstrução do
conhecimento na disciplina de Geografia implicam na impossibilidade de sua
reprodução e de sua transmissão. O condicionamento, a reprodução, as relações
impositivas e prepotentes que se apresentam nas práticas conservadoras, segundo
Demo (1994), não podem ser consideradas como sendo aprendizagem, já que
educação não é neutra, portanto, não é possível submeter o aluno ao ambiente e
reproduzir o seu destino histórico.
Segundo Moraes (2004), na realidade, cada aluno pode descobrir o caminho
ao caminhar, ao mesmo tempo em que influencia e determina a escolha do seu
percurso continuamente. O autor entende que:
Esta compreensão certamente reafirma o nosso compromisso com a abertura ao diálogo como atitude de vida, como convicção importante, o que sabemos que não é nada fácil, pois implica um ato de desapego em relação aos próprios conceitos e categorias conhecidas. O diálogo pressupõe não apenas abertura da mão, mas principalmente abertura da mente, dos olhos e do coração para que possamos sentir e pensar corretamente e aprender algo novo. É fundamental, para que possamos saber ver, saber conversar, saber esperar, saber amar e saber abraçar (MORAES, 2004, p. 171).
Isso leva a pensar em novos rumos para o ensino, em que sejam priorizados
os conteúdos que façam sentido para o momento de vida presente dos alunos, e que
ao mesmo tempo favoreçam o aprendizado contínuo. Demo (1994) aponta a
necessidade da utilização de metodologias diferenciadas que priorizem uma
construção de argumentação capaz de favorecer a criatividade, a compreensão dos
limites e alcances lógicos das explicações, já que:
A construção do conhecimento supõe acesso ao conhecimento disponível. A transmissão do conhecimento é necessidade crucial, instrumental de qualquer proposta construtiva. Em termos de metodologia científica, as versões ligadas, sobretudo, à hermenêutica insistem em que conhecemos, partindo do já conhecido. Não existe cabeça vazia, digamos analfabeta, porque todos temos contexto cultural e histórico, e relações já estabelecidas em termos de saber. Pode não ser ciência, mas será sabedoria, bom senso, experiência acumulada (DEMO, 1994, p. 45).
Na perspectiva enunciada acima, cabe ao professor facilitar os processos de
elaboração daquele que aprende e acompanhar o curso do seu desenvolvimento,
ouvindo suas elaborações e situando-as em termos das possibilidades lógicas da
representação. Os conceitos não são ensinados, tudo o que se pode fazer é criar
situações para que sejam formulados pelos alunos.
De acordo com Demo (1994), isso exige que no espaço escolar sejam
criadas situações que possibilitem aos aprendizes atuarem diretamente sobre os
objetos de conhecimento, e através de sua própria ação cognitiva, possam ser
capazes de estabelecerem as relações de análise e de generalização possíveis.
Em suma, acredita-se na necessidade de pensar em um ensino de geografia
agrária vinculado com a realidade local do Município de Maria Helena – Paraná.
Fato que possibilitou a construção de valores de identidade e pertencimento por
parte dos alunos com a cidade.
3 O Caminho Metodológico
O presente trabalho trata-se de um relato de experiência de caráter
descritivo. O estudo foi realizado com os alunos os alunos do 9º Ano do Colégio
Estadual Leonídia Pacheco da cidade de Maria Helena – Paraná nas várias
possibilidades de exploração do conteúdo proposto, envolvendo um total de 30
(trinta) alunos, perfazendo um total de 08 (oito) encontros, totalizando 32 (trinta e
duas) horas de implementação pedagógica.
Para conhecer o histórico do Município de Maria Helena - Paraná, os alunos
fizeram pesquisas na internet e livros sob a orientação contínua do professor
pesquisador, que mediou todas as ações explicitando os conteúdos quando
necessário. Para ilustrar a temática foram apresentados os alunos entraram em
contato com a cartografia que foi um recurso valioso para compreender a localização
do Brasil, Estado do Paraná e do Município no mapa, servindo de instrumentos para
interpretar e problematizar as questões levantadas.
Para aprofundar os conhecimentos sobre o contexto histórico do município,
foi realizada uma roda de conversa (entrevistas), com um pioneiro da cidade
(trabalhador rural). Nesse momento, os alunos fizeram questionamentos, e
debateram as suas dúvidas, com uma preparação prévia das questões pelo
professor.
A aula de campo levou os alunos para visitas ao espaço rural para
contemplar as interrelações presentes entre os elementos do ambiente e da
produção social. As estratégias foram utilizadas na medida em que a intervenção foi
acontecendo, buscando averiguar as necessidades em termos de conteúdos para a
incorporação de novas estratégias e encaminhamentos.
No decorrer dos encontros foram utilizados diferentes recursos audiovisuais:
vídeos, fotografias, slides, desenhos, ilustrações. Foram realizadas atividades em
grupos para promover a interação entre os pares, viabilizando o diálogo, debates,
trocas de ideias e problematização do conteúdo proposto.
A ideia foi romper com o ensino baseado na exposição de conteúdo pelo
professor. Portanto, as estratégias serviram de instrumentos para a organização da
unidade didática, como recurso norteador para o desenvolvimento da prática de
intervenção e da construção deste artigo.
4 Resultados e Discussões da Implementação Pedagógica na Escola
No primeiro encontro foi realizado um estudo para verificar os
conhecimentos prévios dos alunos sobre aspectos relativos à história do Município
de Maria Helena – Paraná. Para avaliação do conhecimento os alunos foram
questionados a respeito do que sabiam sobre a colonização e período de fundação,
sobre as primeiras famílias que ocuparem a cidade, conhecimento de algum pioneiro
e/ou principais eventos da cidade.
Após as considerações iniciais sobre a importância de conhecer a geo-
história do município, sugere-se um roteiro de atividades desenvolvido para estudar
a história local. Primeiramente, os alunos realizaram a leitura do texto “Ocupação do
Município de Maria Helena-Paraná” para a compreensão do percurso histórico do
Município.
Dentre outros aspectos, foi comentado que Município de Maria Helena,
assim como a maioria das cidades do noroeste do Paraná surgiu do movimento
colonizador em busca de terras para o plantio do café. A partir do início do século
XX, a ampliação da área cafeeira proporcionou a criação de muitas cidades, numa
onda que se deslocava de leste para oeste, desbravando todo o norte do estado.
Este era o tempo da “euforia” do café, provocada pelos altos preços pós-guerra, no
mercado internacional (SERRA, 1983).
Discutimos que em 1947 o Sr. Moacir Loures Pacheco proprietário da
colonizadora do Paraná Ltda. conseguiu oficializar junto ao governo, como de sua
propriedade as terras que hoje constituem o município de Maria Helena. Outro
aspecto importante mostrou que a fundação da sede foi em 1953. Na ocasião
ergueu-se um cruzeiro, local atual da igreja Matriz de Maria Helena.
Antes disso, várias famílias, algumas da região nordeste do país já haviam
se instalado, atraídas pelos baixos custos e longos prazos para pagamento das
terras. Também vieram algumas famílias de origem nipônicas provenientes de
Marialva e Mandaguari, cidades vizinhas a Maringá. Estes migrantes encontraram
na região cerca de 400 famílias Xetás, nação indígena que habitava o noroeste do
estado e hoje já considerada extinta.
Maria Helena foi elevada à categoria de distrito pertencente ao município de
Peabiru, pela Lei n.º 12 de 25 de abril de 1955. Contudo, mais tarde com a criação
do município de Cruzeiro do Oeste, pelo advento da lei n.º 253 de 28 de novembro
de 1954, privilegiou toda a área do Norte Novíssimo como era chamada esta região.
Cruzeiro do Oeste sendo elevada a município, Maria Helena passou a condição de
distrito e teve como interventor o Sr. José Wanderley Buscarons.
Após a leitura e discussões, em duplas, os alunos responderam algumas
questões relacionadas à localização do Município de Maria Helena, destacando a
origem da história da cidade. Os alunos interagiram sempre com o olhar atento do
professor que esclareceu as possíveis dúvidas.
No segundo encontro, o professor apresentou os mapas do Estado Paraná e
do Brasil para discutir a localização do Município de Maria Helena. Na oportunidade,
o professor explicou que o crescimento urbano do município sofreu transformações
durante os anos, sobretudo, em razão dos problemas enfrentados pelos agricultores
na zona rural, tais como: as geadas frequentes, a desvalorização do preço do café e,
sobretudo, em razão das novas culturas (soja, milho) com a mecanização da
agricultura (SERRA, 1983).
Dando sequencia ao estudo, no laboratório de informática da escola, em
grupos de quatro alunos, realizaram uma pesquisa a partir de um roteiro de questões
sobre a unidade federativa do município, região a qual pertence, municípios
limítrofes, distância do município até a capital, bem como características relativas ao
solo, clima, vegetação e relevo. Os alunos organizaram suas ideias para debaterem
com os outros grupos.
O trabalho de pesquisa foi especialmente enriquecedor. Na oportunidade os
alunos foram estimulados a debater, comparar os seus pontos de vista e chegar a
uma conclusão. Após as discussões, os dados da pesquisa foram registrados em
papel manilha, com a criatividade de cada grupo para exposição no mural da escola.
A compreensão acerca do contexto histórico do município constitui-se num fator
relevante para a contextualização do município no contexto das transformações
advindas do processo de modernização da agricultura.
O terceiro encontro foi marcado pelas entrevistas com o pioneiro convidado
antecipadamente pelos alunos, para comparecer à escola em data e hora marcada,
para uma “roda de conversa”. Na oportunidade, os alunos foram divididos em grupos
de cinco, para facilitar o desenvolvimento das atividades e possibilitar o
envolvimento com a conversa. A entrevista foi realizada com o Sr. José Carlos
Fernandes, agricultor, no dia 28 de abril de 2014, no pátio da escola.
Para a entrevista, cada grupo ficou responsabilizado por uma tarefa que foi
esboçada pelos alunos com a mediação do professor. Ficou registrado que cada
grupo teria uma função específica, ou seja, um grupo foi encarregado de apresentar
os grupos para o entrevistado; outro grupo conduziu entrevista; dois grupos
registraram os dados; outro grupo agradeceu o pioneiro em relação à sua presença,
entre outros dados importantes.
Essa estratégia permitiu que cada aluno assumisse diferentes papeis. Os
alunos realizaram a entrevista com o pioneiro a partir de algumas questões que
nortearam o trabalho: Quando chegaram à cidade de Maria Helena? Por que
vieram? Como era a cidade quando chegaram? Que produtos cultivaram na
agricultura? Que meios de transporte utilizavam? Como era o comércio? Como era a
infraestrutura da cidade? Quais os instrumentos utilizados para trabalhar na terra? O
que mudou nesses anos quanto ao cultivo agrícola? Quais as dificuldades
encontradas com o processo de mecanização da agricultura?
Com base no depoimento do pioneiro, os alunos fizeram uma síntese da
entrevista. Os registros resultaram num texto coletivo que foi exposto no mural da
escola, em qual estava registrado que:
Os pioneiros chegaram a Maria Helena a partir das décadas de 50 e 60. Vieram em busca do crescimento devido as terras férteis e alta produtividade agrícola da época. A cidade nestas décadas de 50 e 60 era pequena, começaram a surgir pequenos comércios, principalmente os do ramo de cereais, supermercados e quitandas. Os instrumentos da lavoura era o arado de terra tocado por animais, quando com muitas dificuldades era conseguido um trator para servir as propriedades rurais mais próximas. (vizinhos). A falta de tecnologia que nem se pensava na época, a agricultura era de forma rudimentar mesmo, ou seja, era o sacrifício das pessoas que trabalhavam de sol a sol e sacrificando também alguns animais (TEXTO COLETIVO, 2014).
Como é possível observar na análise do texto elaborado pelos alunos com
os pioneiros, constata-se que na região, a modernização agrícola foi seguida pela
substituição intensa de culturas diferenciadas. Esse novo modelo, contribuiu para
alterações demográficas significativas, verificando-se, assim, a diminuição do efetivo
total da população, alterando a vida rural-urbana das cidades do norte do Paraná.
No quarto encontro explora-se o conteúdo sobre as mudanças no cenário do
setor agrícola no Município. O conteúdo foi ministrado inicialmente como aula teórica
e debates, com a utilização de slides desenvolvidos no Power Point ou BR OFFICE.
Para a preparação dos slides, o professor utilizou o conteúdo apresentado na
fundamentação teórica proposto na Unidade Didática.
Constata-se que no município de Maria helena, a pecuária é predominante de
corte, com um rebanho de 48.000 cabeças de gado de corte, o que denota uma
produção do tipo extensiva, somando 4.200 cabeças de gado misto (leite e corte).
Embora menos significativas, a produção de suínos com 500 cabeças e um
incremento substancial de aves para corte de 420.000 cabeças (verificar quadro)
fazer parte desta atividade produtiva. A estrutura fundiária rural é de propriedade de
médio porte. A maioria das fazendas tem entre 11 a 50 há. Apenas 100 propriedades
giram em torno de 101 a 1000 ha.
Os proprietários de terras com mais de 101 ha, segundo fontes da prefeitura,
não moram em Maria Helena, residem nos grandes centros e aplicam todo o capital
oriundo da produção agropecuária fora do município. As áreas improdutivas giram
em torno de 2.200 ha correspondendo 4,47% da área total do município. Nas terras
arrendadas (2.330 ha) a predominância é o plantio de soja, mandioca e milho.
No quinto encontro discutiu-se a respeito dos impactos sociais gerados pela
modernização tecnológica da agricultura no espaço rural do município de Maria
Helena. Inicialmente, o professor apresentou aos alunos o vídeo intitulado “Brasil:
um planeta faminto e a agricultura brasileira”. Também debatemos sobre a
problemática apresentada em dois outros vídeos que tratam da “Mecanização
Agrícola” e o “Impacto da Mecanização da Agricultura”.
Após a apresentação dos vídeos, professor e alunos refletiram sobre a
problemática apresentada, a partir de algumas questões norteadoras que tratou dos
principais aspectos da mecanização da agricultura. Foram destacadas as principais
dificuldades e facilidades advindas do uso do processo mecânico na agricultura,
bem como os principais impactos sociais advindos do processo.
As discussões sobre os conteúdos apresentados nos vídeos abriram caminho
para o trabalho do sexto encontro. As atividades tiveram início com a leitura e
discussões de um texto que tratou sobre os impactos da agricultura. Na
oportunidade, repensou-se os principais fatores que contribuíram para impulsionar a
mudança na configuração do espaço de Maria Helena, dando destaque à política de
crédito agrícola destinado à compra de máquinas, insumos e sementes
selecionadas. Entende-se que tais fatores impactaram fortemente o rendimento das
lavouras, assentando a agricultura nos moldes do capitalismo.
Na tentativa de mediar às reflexões, recorreu-se à leitura e discussões do livro
“Modernização Tecnológica da Agricultura: contrastes regionais e diferenciação
social no Paraná da década de 1970”, proposto por Fleischfresser (1998). A
preocupação com a temática incluiu aspectos relacionados às principais alterações
nas bases do modo de produção agrícola na década de 1970.
O professor lembrou aos alunos a necessidade de buscar o crescimento e o
desenvolvimento econômico tão importante para a sociedade. Isto é tão necessário
quanto preservar os seus recursos naturais.
Afinal, os maiores índices de degradação ambiental para as atividades
econômicas, inicialmente, podem até se mostrar satisfatórios, mas, a longo prazo
apresentam efeitos decrescentes, podendo contribuir para a redução da renda per
capita da população (FLEISCHFRESSER, 1998).
As leituras e discussões revelaram que, com a crise do café, juntamente
com a modernização da agricultura na década de 1970, o sistema econômico do
Município também entrou em crise, afetando o cultivo do café, trazendo expressivas
implicações socioespaciais que culminaram com a saída do homem do campo. Foi
explicado que o processo de migração levou um grande contingente de pessoas a
buscarem oportunidades em outros locais, até mesmo fora do Estado do Paraná
(FLEISCHFRESSER, 1998).
Explica-se que nos últimos anos, o cultivo da cana-de-açúcar tem se
mostrado favorável nessa área. O setor agroindustrial canavieiro se expandiu no
município com a intensificação da modernização da agricultura. A modernização
agrícola e a crise cafeeira, juntamente com o Programa Nacional do Álcool,
marcaram uma nova fase que inclui a formação e a expansão desse setor
agroindustrial (FERREIRA, 2014).
Discute-se que o cenário econômico predominante nestas cidades são os
pequenos comerciantes, vendas, armazéns, entre ouros, sendo que esses pequenos
comércios dependem em grande parte da renda gerada pelos trabalhadores rurais.
Debate-se que com o avanço do setor sucroalcooleiro houve uma crescente inclusão
de áreas no processo de produção que comprometem outros cultivos, gerando
conflitos entre os capitalistas do agronegócio da região (FERREIRA, 2014).
Além disso, juntamente com essa economia observam-se as disputas em
relação à condição e instabilidade do segmento sucroalcooleiro, para com os
trabalhadores, sobretudo, em razão da concentração desta atividade em alguns
municípios, que contribuem para aumentar a ligação da população das pequenas
cidades com este setor. Dentre outras preocupações, o setor canavieiro impacta
negativamente o meio ambiente com as queimadas, emissões de efluentes,
desertificação dos solos entre outros fatores.
A agricultura não se fez pelas culturas de grãos (soja, trigo, milho)
altamente dependentes de capital, mas abriu espaço para outras culturas como a
cana-de-açúcar e a mandioca e, posteriormente, para a afirmação do pasto
(CAVALCANTI, 2005).
Na sequência, debatemos sobre os pontos favoráveis e desfavoráveis do
processo de mecanização da agricultura no município de Maria Helena. Foi
solicitado que os alunos avaliassem a situação atual, por meio de um debate sobre
os pontos positivos e negativos elencados por eles, conforme relatos:
A mecanização da agricultura fez com que muita gente da nossa cidade fosse embora do campo (Grupo 1). Antigamente morava muito mais gente no campo. A mecanização da agricultura tira o trabalho de muita gente e só quem pode é que tem condições de investir nos maquinários (Grupo 2). Antigamente meu pai usava equipamentos manuais para trabalhar na roça, mas hoje é preciso modernizar com máquinas e equipamentos e é tudo muito caro, tem muita gente que está plantando cana em vez de produzir alimentos (Grupo 3).
Dos relatos é possível observar que o processo de modernização não
beneficiou a todos os produtores e propriedades rurais do município de Maria
Helena. Em muitos casos, para a exclusão dos pequenos produtores (menos
favorecidos), favorecendo, geralmente, os grandes proprietários e determinados
segmentos da produção, ou seja, aqueles que eram de interesse da indústria e
aqueles voltados para exportação.
No sexto encontro os alunos foram convidados a visitar uma área rural do
Município de Maria Helena, após agendamento e consentimento prévio do
proprietário, o Sr. Oswaldo Benetati, agricultor e proprietário da Chácara Estância
Maria Helena, localizada na estrada Carboneira, no dia 28 de abril de 2014. Na
oportunidade, partiu-se de uma realidade local delimitada (visita à propriedade
familiar), para investigar a sua constituição histórica e realizar comparações com
outros lugares próximos ou distantes.
Na oportunidade, fotografou o local, após fez-se uma “roda de conversa”
com o proprietário da localidade. No desenvolvimento da entrevista, a partir de um
roteiro de entrevista que elencou aspectos relativos à vida no campo, como é a vida
do pequeno agricultor, número de pessoas que vivem do cultivo do campo, principais
dificuldades dos pequenos agricultores, fatores favoráveis da vida no campo, se
trabalham com a agricultura orgânica ou convencional e o acham da incorporação
das novas tecnologias.
A aula de campo propiciou um trabalho diversificado, pois os alunos
puderam contemplar as interrelações presentes entre os elementos do ambiente e
da produção social, enriquecendo a visão de mundo.
O sétimo e oitavo encontro foi marcado pela elaboração de painéis, em que
todas as produções dos alunos (textos, cartazes, desenhos, mapas, pesquisas na
internet, fotos, vídeos utilizados pelo docente para ilustrar as aulas) entre outros
materiais foram apresentados à comunidade escolar. Os alunos participaram
ativamente das atividades. Os resultados dos trabalhos encontram-se ilustrados na
foto 1, a seguir:
Foto (1) – As fotos demonstram em sequencia as apresentações de banners. Fonte: BOAS, (2014).
Considera-se que as ações implementadas contribuíram para repensar os
impactos sociais gerados pela modernização da agricultura no município de Maria
Helena – Paraná. Deste modo, foi possível reconhecer o espaço geográfico,
contextualizando os conhecimentos em conformidade com a realidade cultural e
econômica vivenciada por alunos e professor pesquisador, suscitando a necessidade
de buscar novas informações.
Considerações Finais
A compreensão sobre os impactos sociais gerados pela modernização da
agricultura demonstrou aos alunos as transformações ocorridas na região que foram
sentidas de forma direta no município de Maria Helena. Essas foram sendo
impulsionadas pelo avanço de máquinas, equipamentos, sementes selecionadas,
crédito abundante, entre outros, sobretudo, no que tange à produção de soja e trigo,
alterando, assim, a economia agrícola da cidade.
As transformações contribuíram para a ocorrência de novas formas de
estruturação de produção e comercialização, refletindo na pauta dos produtos, na
agroindústria, comércio, emprego, entre outros. Foi possível refletir acerca de
diferentes elementos que influenciaram as transformações do espaço geográfico da
região, especialmente, em relação ao surgimento da crise do café, com a
modernização da agricultura na década de 1970.
Os alunos compreenderam que com a modernização da agricultura,
especialmente, frente ao impacto causado pela incorporação de novos padrões
tecnológicos no espaço rural, muitas famílias foram prejudicadas. Com a ajuda do
professor, os alunos puderam fotografar os espaços, conversar com pessoas
experientes na agricultura, tecendo comparações entre o espaço rural e o urbano do
passado e do presente.
A partir de então, o sistema econômico do Município de Maria Helena –
Paraná passou a enfrentar dificuldades decorrentes do processo de concentração
fundiária e da modernização da agricultura, ensejando a saída do homem do campo.
O estudo realizado comprovou que a saída do homem do campo levou um grande
contingente populacional de pessoas a buscarem por oportunidades de trabalho em
outras regiões, tendo em vista o enfrentamento dos desafios decorrentes dos
problemas ambientais e de alterações na conjuntura rural e urbana. Enfim, afirma-se
que a modernização agrícola com a crise do café e a expansão do Programa
Nacional do Álcool marcaram uma nova fase na agricultura a partir da década de
1970, com incidências na formação e expansão desse setor agroindustrial.
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