Para uma Licenciatura em Estudos Gerais
José Eduardo Reis/DLAC/ECHS-UTAD
1. Um diagnóstico objectivo e devidamente enquadrado da actual crise económica e social,
nacional e internacional, não pode limitar a extensão da sua análise a causas financeiras e a
lógicas de mercado nem confinar o seu campo de compreensão a estritas razões de natureza
social como se estas estivessem dissociadas de uma crise mais complexa, de incidência
ideológica, com imprevisíveis efeitos no processo civilizacional. De entre a complexidade e
multiplicidade de factores que devem ser convocados para um entendimento mais esclarecido
da actual conjuntura de crise das sociedades “hipermodernas”, a educação, no sentido lato,
enquanto sistema de reprodução e criação de conhecimento e de transmissão crítica de
valores para a cidadania, ocupa um lugar de destaque.
2. Do ponto de vista histórico e cultural, a universidade é a instituição que no sistema
educativo e no conjunto das organizações associadas à produção regulada do conhecimento
(científico, filosófico-humanístico, artístico) melhor evidencia e reflecte, pelas piores e
melhores razões, a complexidade das situações de crise. Pelas piores razões, quando se mostra
ancilosada na perpetuação de modelos auto-legitimadores dos seus processos de ensino sem
valor acrescentado para a evolução do conhecimento, ou, em sentido contrário desta
evolução, quando procura adequar-se às conjunturas sócio-económicas e às dominantes
ideológicas mediante insustentáveis opções de oferta de ensino sem credibilidade científica,
apenas indutoras de ilusórias expectativas de emprego entre os seus potenciais
frequentadores. Mas também pelas melhores razões, quando potencia e desenvolve as suas
áreas consolidadas de conhecimento, e quando, coerentemente, procura responder ou
mesmo antecipar situações de crise a partir dos seus recursos endógenos e da activação de
uma metodologia prospectiva.
3. Essa metodologia prospectiva, atendendo às funções pedagógicas, científicas e culturais da
universidade, deverá ser activada na base de autorizadas propostas de reflexão, em fiáveis
dados de informação, em exemplos de boas práticas e, na medida do possível, em antevisões
de tendências futuras que decorram quer da evolução e transformação do conhecimento
académico, quer das mudanças económicas, sociais e culturais em curso.
4. É neste sentido que se justifica convocar – em jeito de preâmbulo à fundamentação de uma
licenciatura em Estudos Gerais proposta pelo DLAC da ESHC da UTAD – os contributos de
reflexão, de entre outros possíveis autores reconhecidos pela sua notoriedade intelectual,
percurso académico e relevância científica, do historiador Vitorino Magalhães Godinho, do
filósofo Gilles Lipovetsky e do estudioso de literatura Jean Serroy. Em contextos de reflexão
diferenciados sobre o sistema de educação e o papel da universidade, estes autores partilham
a ideia de que um sólido ensino universitário deve ser pensado numa perspectiva geral e
interdisciplinar
4.1 Magalhães Godinho, incidindo na concepção de conhecimento subjacente à organização
por áreas de conhecimento, escreve: “Não somos partidários da organização das faculdades e
escolas superiores em departamentos, mas sim em grandes áreas interdisciplinares. A
investigação de qualquer problema exige a convergência de perspectivas diversas e uma
utensilagem mental comum a vários ramos de saber”(in Magalhães Godinho, Vitorino, Os
Problemas de Portugal. Os Problemas da Europa, Lisboa, Colibri, 2010, p.63).
4.2 Lipovetsky e Serroy, por seu turno, socorrendo-se de um ensaio de Alain Renault, e
analisando numa perspectiva sociológica as tendências dominantes culturais da sociedade
contemporânea, escrevem: “Na sociedade hipermoderna, caracterizada pela rapidez e pela
mudança, cada vez se revela mais inútil pretender centrar as formações superiores apenas na
aquisição duma competência profissional, quando a abertura do mercado, a flexibilidade da
produção e as transformações do trabalho tornam praticamente impossível «definir qual será
o estado das profissões, na maior parte dos ramos de actividade, num prazo de cinco anos»”(in
Lipovetsky, Gilles; Serroy, Jean , A Cultura-Mundo. Resposta A Uma Sociedade Desorientada,
trad. Victor Silva, Lisboa, Edições 70, 2010[2008])
5. A questão premente da função, da importância e da utilidade do ensino das Humanidades
no contexto da sociedade contemporânea de informação e/ou de conhecimento dominada
por um regime de cultura que Lipovetsky e Serroy designam por “cultura-mundo” ou
“hipercultura” – “uma constelação planetária onde se cruzam a cultura tecnocientífica, a
cultura de mercado, a cultura do indivíduo, a cultura mediática, a cultura das redes e a cultura
ecológica” (idem, p.20) – articula-se com a necessidade de promover ou inventar o que os
mesmos autores designam por “cultura da criatividade”. Esta não consiste numa “cultura de
submissão a uma lei mercantil e financeira desprovida de alma, mas [deve ser orientada] por
uma política que faculte a todos a oportunidade de expressar o que melhor sabem fazer e
contribuir a seu modo para humanizar a cultura colectiva” (idem, p.209).
6. Neste sentido, há que atender a exemplos sustentados em boas práticas que demonstrem a
relevância do estudo das Humanidades, tais como o projecto pedagógico prosseguido há
décadas no St John’s College (EUA) http://www.youtube.com/stjohnscollege/ ;
http://learnmore.stjohnscollege.edu/index.html , ou os modelos curriculares de muitas
universidades norte americanas, ou ainda projectos mais recentes que, apesar de
prosseguirem finalidades de estudo diferenciadas, encaram as Humanidades como a
plataforma estruturante das suas respectivas práticas de ensino e de fomento de
conhecimento interdisciplinar, como o Institute for Advanced study in Humanities
http://www.kulturwissenschaften.de/en/home/index.html, sediado na Alemanha, ou o
Amsterdam University College (www.auc.nl), este último inspirador da filosofia curricular da
recém-criada licenciatura em Estudos Gerais da Universidade Clássica de Lisboa. No essencial,
estes exemplos demonstram que uma consistente aquisição de competências de leitura, de
interpretação, e reflexão, mediadas por via de disciplinas das Humanidades, nomeadamente
pelo estudo da literatura, da filosofia e da história, são uma condição para o desenvolvimento
de um pensamento crítico, informado e articulado. Mas também demonstram que, enquanto
“utensilagem intelectual”, para utilizar a expressão de Magalhães Godinho, podem, pelo seu
vasto campo de aplicações, ser potenciadas e orientadas para a investigação de novas
problemáticas sociais e culturais, para o estudo das ciências da natureza e das ciências exactas,
bem como para o desenvolvimento de uma compreensão mais alargada e culturalmente
informada do conhecimento do mundo e dos seus diferentes modos de apreensão.
7. Embora os métodos de trabalho e os objectos de estudo das chamadas “Duas Culturas” (cf.
C P Snow, The Two Cultures, Cambridge University Press, 2000 [1959], a humanística e a
científica, sejam discretos e não intermutáveis, a sua relativa autonomia disciplinar e
académica não é estanque nem refractária entre si. Para dar alguns exemplos: não deve ser
um impedimento para um estudante orientado preferencialmente para o estudo das ciências
agrárias poder ler as Geórgicas e as Bucólicas de Virgílio ou se inteirar sobre a teoria literária
adstrita aos estudos de paisagem para melhor compreender a representação estética e
cultural da história da agricultura ou o ideal de vida pastoril a ela associada; assim como não
deve ser impossível um aluno que adquire competências na análise literária da linguagem
estética de um soneto de Shakespeare ou de Camões poder avaliar do rigor da estrutura
química de uma planta mediante a decomposição dos seus elementos por métodos
apreendidos no âmbito prático da química orgânica; a compreensão historicamente informada
de qualquer disciplina científica sairá certamente reforçada com o contributo da filosofia da
ciência e da leitura de textos teóricos fundamentais que reflictam sobre o problema da
natureza e dos limites do conhecimento, sobre questões centrais relativas à estrutura física do
mundo e do universo que, remontando à filosofia grega, são reequacionadas pelos pensadores
do Renascimento, discutidos pelos principais cientistas e filósofos da Modernidade e da
Contemporaneidade; a neurobiologia contemporânea, como o demonstra António Damásio,
sai certamente enriquecida na sua explicação científica sobre a actividade cerebral e os
mecanismo psicossensorais individuais, que estão na base das chamadas emoções sociais, se
for perspectivada à luz da teoria do conhecimento do filósofo setecentista Spinoza; o
entendimento da actual crise financeira portuguesa, explicada por uma disciplina técnica de
finanças públicas, será certamente melhor compreendida por via da comparação histórica de
outras crises financeiras ocorridas em conjunturas políticas nacionais nos séculos XIX e XX; o
estudo das ocorrências de determinados fenómenos linguísticos poderá ser mais facilmente
quantificado por recurso à lógica binária computacional; a compreensão de grandes conflitos
bélicos da história europeia do século XX pode ser explicado com o contributo da estética
modernista; a aparência aleatória dos fenómenos subatómicos, enunciada pela mecânica
quântica, projectando sobre o mundo físico visível o princípio da incerteza, como se este fosse
inerente às leis da natureza e, por extensão, ao destino da nossa espécie, pode ser cultural,
literária e metafisicamente ilustrada pela leitura bíblica do livro de Job; a compreensão de
lógicas políticas relativas ao exercício e à conquista do poder podem ser exemplificadas pelas
leituras dramatúrgicas do Júlio César ou do Macbeth de Shakespeare; o conceito físico de
entropia, formulado no século XIX por Clausius, pode ser complementado com a leitura do
poema do escritor americano do século XX John Updike “ode to entropy”; as formas históricas
de socialização e aculturação podem ser discutidas à luz das éticas filosóficas de Aristóteles,
Kant, e do utilitarismo de Peter Singer; a reflexão do astrofísico Carl Sagan sobre a estrutura do
universo pode ser cotejada com o poema do romântico William Blake “To see the World in a
grain of sand”; uma disciplina de planeamento urbano poderá fazer apelo ao simbolismo
conceptual dos projectos dos arquitectos italianos do Renascimento e dos seus planos de
edificação de cidades ideais; o estudo de textos teóricos do utopismo ou a leitura de textos
literários de ficção científica poderão ser úteis para a elucidação de tendências doutrinais, com
repercussões nos planos políticos e sociais, e para antevisões ficcionais de possibilidades
tecnocientíficas. Numa palavra, não é descabido, pelo contrário, torna-se urgente repensar o
ensino universitário a partir da equação pessoana “O binómio de Newton é tão belo como a
Vénus de Milo”.
8. Assim, na actual conjuntura de desorientação e incerteza quanto aos desenvolvimentos do
processo civilizacional, caracterizada por um acelerado processo de degradação do meio
ambiente, de homogeneização e empobrecimento da diversidade cultural, por uma tendente e
generalizada rendição à ideologia unidimensional e tecnocrata, por um imprevisível
desenvolvimento das estruturas sociais e económicas, afigura-se tão culturalmente necessário
como curricularmente razoável e sustentável, optar-se pela criação de um projecto de
formação superior que ofereça a possibilidade a um estudante do primeiro ciclo do ensino
universitário poder frequentar uma licenciatura que, tendo como esteio a área das
Humanidades possa: (i) ser modelada a partir da articulação de diferentes domínios
disciplinares; (ii) promover a aquisição de conhecimentos essenciais sobre questões perenes;
(iii) desenvolver, a partir da sua apreensão integrada, capacidades de leitura e análise crítica,
composição textual e pensamento quantitativo, abstracto, criativo.
9. Neste sentido, antecipando tendências de desenvolvimento económico, social e cultural
dissuasoras de expectativas cada vez mais raras de situações de imobilidade profissional e de
hiper-especialização precoce do conhecimento, e seguindo exemplos promissores de projectos
educativos interdisciplinares prosseguidos por outras universidades europeias, como as já
referidas Amsterdam University College, e nacionais, como a Universidade de Lisboa, o
Departamento de Letras, Artes e Comunicação, dada a sua predominante vocação de ensino e
investigação no âmbito das Humanidades, é uma das unidades orgânicas da UTAD cuja
natureza e funcionalidade lhe autoriza propor a criação de uma licenciatura em Estudos Gerais
susceptível de congregar saberes de diferentes domínios disciplinares oferecidos pelas
diferentes Escolas da UTAD.
10. Como o seu próprio nome indica, este curso ofereceria uma formação geral de base que,
combinando áreas teóricas das duas culturas universitárias clássicas (humanas e sociais /
naturais e exactas) com práticas instrumentais de incidência tecnológica, permitiria aos alunos
adquirirem uma compreensão alargada, informada e multidisciplinar de aspectos e temáticas
fundamentais com óbvia relevância para o entendimento do complexo funcionamento das
sociedades contemporâneas democráticas.
11. A aquisição destas competências gerais e multidisciplinares permitiria aos licenciados em
Estudos Gerais da UTAD poderem ingressar no mercado de trabalho com uma formação
cultural competente e com um razoável treino de capacidades intelectuais, necessárias quer à
sua potencial integração em qualquer ramo profissional, quer, em alternativa, ao
prosseguimento dos seus estudos em domínios definidos e especializados dos segundos e
terceiros ciclos do ensino universitário.
12. As vantagens de uma licenciatura em Estudos Gerais na UTAD, recuperando a importância
histórica, cultural, pedagógica da área das Humanidades e operacionalizando-a em dialéctica
relação com outras áreas do conhecimento académico, seriam de vária ordem: (1) do ponto de
vista institucional, por (1.1) aproveitar as competências de um corpo docente qualificado e
(1.2) por potenciar as facilidades de circulação dos alunos entre as diversas Escolas que
compõem e integram o campus universitário da UTAD; (2) do ponto de vista da organização
dos seus planos de estudos, por (2.1) se estruturar a partir da vasta gama de unidades
curriculares oferecidas pelas diferentes Escolas da UTAD, sem, portanto, requerer a criação de
novas unidades, e por (2.2) oferecer a possibilidade de, seguindo parâmetros elementares e
flexíveis de organização de discretos mas inter-relacionáveis domínios disciplinares, se adaptar
a várias possíveis modulações curriculares, feitas segundo os interesses dos alunos, e de
acordo com regimes de estruturação com maior (major) ou menor (minor) incidência temática
(major e minor) (vide anexo ao Despacho 10543/2005 da DGES).
13. A estrutura geral do curso adoptaria, no essencial, o modelo proposto pela Universidade
de Lisboa, mediante o qual se torna possível obter uma variedade de tipologias de graduação
(um ou dois majors, um a quatro minors, e sem majors ou minors).
Total de créditos 180 Créditos num tronco comum 60 Créditos necessários a um major 60 Créditos necessários a um minor 30 Créditos em opções 60 14. Os planos de estudo do curso de Estudos Gerais seriam, portanto, constituídos pelo
curriculum de um tronco comum e pelos curricula dos majors e minors que pudessem vir a ser
oferecidos pelas diferentes Escolas da UTAD. As ucs optativas poderiam ser feitas em qualquer
Escola da UTAD, obedecendo porém a dois condicionalismos: (1º) o de se considerar um limite
máximo de 18 ECTS de frequência de unidades curriculares de nível introdutório, e (2º) o de se
atender ao regime de precedências de matrícula em ucs. A aplicação de um mesmo regime de
precedências de matrículas seria válida para os curricula dos majors e minors.
15. O tronco comum dividir-se-ia em quatro secções, cada qual integrando um conjunto listado
de ucs: 1 Secção – Língua Estrangeira (Inglês, Francês, Alemão, Espanhol, Mandarim), a que
correspondem 12 a 18 ECTS; 2ª Secção – Grandes Questões em Humanidades Artes e Ciências
a que correspondem 18 ECTS; 3ª Secção – Textos Fundamentais (18 ECTS); 4ª Secção –
Recursos Instrumentais (6 a 12 EECTS).
16. O currículo de um major poderia ser modelado pelo aluno a partir de uma lista de ucs
totalizando 120 ECTS, dos quais 42 ECTS corresponderiam ao limite máximo de ucs de nível
introdutório. Para obter um major, os alunos deveriam perfazer pelo menos 60 ECTS,
enquanto para um minor se requereria um mínimo de 30 ECTS.
17 Tronco Comum (Exemplos a partir da lista de ucs disponibilizada pela Universidade de Lisboa
para o seu curso de Estudos Gerais) 1ª Secção – Língua Estrangeira: 12-18 ECTS de uma língua estrangeira Variável, podendo haver requisitos especiais para certos majors 2ª Secção – Grandes Questões: 18 ECTS Pelo menos 6 ECTS em: Estudos de Humanidades Cultura Clássica Cultura Visual O Estudo das Culturas O Estudo da Filosofia O Estudo da História O Estudo da Linguagem Humana Ciência e Arte O Estudo da Literatura Pelo menos 6 ECTS em: Ciências da Natureza e Ciências Exactas De Kepler aos fractais Evolução do pensamento matemático Evolução das ideias em Física Sustentabilidade energética Haverá Limites na Ciência? Astronomia e astrofísica Ciência ou ficção? 3ª Secção – Textos Fundamentais das Humanidades: 18 ECTS em : Textos Fundamentais: Antiguidade e Idade Média Textos Fundamentais: Renascença e Iluminismo Textos Fundamentais: do Romantismo ao presente 4ª Secção – Recursos Instrumentais: 6-12 ECTS: Lógica Prática de redacção e argumentação Linguagem e Comunicação
Edição de Textos Geometria Descritiva Desenho Introdução às Probabilidades e Estatística Cálculo I Introdução à Programação
18. MAJORS E MINORS: À data, são os seguintes majors e minors oferecidos pela Universidade de Lisboa MAJORS Artes do Espectáculo Artes e Culturas Comparadas Ciências da Terra e do Clima Ciências Matemáticas Ciências da Vida Comunicação e Cultura Comunicação em Língua Portuguesa Estudos Literários Estudos Alemães Estudos Clássicos Estudos Espanhóis Estudos Anglo-Americanos Estudos Literários Estudos Portugueses Estudos Românicos Filosofia Estudos Linguísticos Literaturas e Culturas Africanas MINORS Biologia Bioquímica Culturas Africanas e Diálogos Interculturais Estatística e Investigação Operacional Estudos Brasileiros Estudos Franceses Física Geologia História de África História e Filosofia das Ciências Informática Matemática Tradução Português Língua Estrangeira/Língua Segunda Processamento de Língua Natural Química Tecnologias de Informação Geográfica
19. Os alunos do curso de licenciatura em Estudos Gerais da UTAD seriam admitidos num
único contingente. O curso seria coordenado por uma equipa de direcção presidida por um
director e vice-director gerais. Cada major e minor teria os seus directores específicos, assim
como o tronco comum, que seria coadjuvado por quatro coordenadores para cada uma das
suas quatro secções. (Língua Estrangeira, Grandes Questões, Textos Fundamentais das
Humanidade, Recursos Instrumentais). Dado o largo espectro de oferta curricular do curso de
Estudos Gerais, estaria prevista a introdução de um regime de orientação dos estudantes com
base no aconselhamento tutorial.
20. A boa implementação de uma licenciatura desta natureza implicaria certamente
ajustamentos na administração inter-escolas da UTAD, nomeadamente: (1) a adopção de um
calendário escolar comum e idêntico para toda a Universidade; (2) a adopção de um sistema
comum de identificação codificada das unidades curriculares; (3) a utilização de processos de
monitorização que assegurassem a detecção e melhoria dos seus pontos fracos e a constante
melhoria do seu funcionamento global.
21. Cientes de que uma proposta de criação de uma licenciatura com estas características só
poderia ser bem sucedida mediante um processo de intenso diálogo com as coordenações dos
Departamentos e Presidências das diferentes Escolas da UTAD que se mostrassem
interessados em participar na sua elaboração, a Comissão proponente desta licenciatura teria
de manifestar a sua inteira disponibilidade e abertura ao diálogo inter-departamental e inter-
escolas para melhor adequar o modelo acima apresentado às reais possibilidades de oferta
curricular da UTAD.
22. Finalmente, e para além das razões de fundo apresentadas na parte preambular desta
proposta, consideramos que um projecto de criação de uma licenciatura em Estudos Gerais,
congregando o potencial pedagógico e científico instalado da UTAD, corresponderia aos sinais
presentes, e de incidência futura, da condução política do país – firmemente condicionada por
compromissos internacionais de estabilização estrutural das suas finanças públicas e de
relançamento da sua economia – que, no essencial, apontam para a necessidade de se criarem
sinergias em todos os planos da administração pública do país. É, portanto, atendendo
também a factores de conjuntura externos à UTAD, mas indissociáveis do seu funcionamento
orgânico, que consideramos ser da maior oportunidade para a estratégica de consolidação do
projecto educativo desta instituição do ensino superior português – substancialmente
financiado pelo orçamento geral do estado – atender à criação de uma nova licenciatura cuja
implementação estaria em linha com a orientação política nacional de curto e médio prazo –
mobilizadora, aliás, de um largo consenso partidário – de promover a reestruturação funcional
do aparelho administrativo, de diminuir a sua despesa inútil, de avaliar o desempenho das suas
organizações e de racionalizar a oferta dos seus serviços.