UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO
PARÂMETROS PSICOMÉTRICOS DO TESTE DE
ARRUMAÇÃO DO ARMÁRIO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
YURI EDUARDO GOMES DE SANTANA
SALVADOR-BA
2019
YURI EDUARDO GOMES DE SANTANA
PARÂMETROS PSICOMÉTRICOS DO TESTE DE ARRUMAÇÃO DO
ARMÁRIO
Dissertação apresentada à Universidade
Federal da Bahia, como parte das
exigências do Programa de Pós-
Graduação em Psicologia, área de
concentração Psicologia do
desenvolvimento, para obtenção do título
de Mestre.
Prof. Dr. José Neander Silva Abreu
Orientador
Salvador-BA
2019
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Universitário de Bibliotecas (SIBI/UFBA),
com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
Santana, Yuri Eduardo Gomes de
Parâmetros psicométricos do Teste de Arrumação do
Armário / Yuri Eduardo Gomes de Santana. -- Salvador,
2019.
92 f. : il
Orientador: Neander Abreu.
Dissertação (Mestrado - Psicologia do
Desenvolvimento) -- Universidade Federal da Bahia,
Instituto de Psicologia, 2019.
1. Psicologia. 2. Neuropsicologia. 3. Psicometria.
4. Teste psicológico. 5. Memória operarional. I. Abreu, Neander. II. Título.
Nome: Santana, Y. E. G.
Título: Parâmetros Psicométricos do Teste de Arrumação do Armário
Dissertação apresentada à Universidade
Federal da Bahia, como parte das
exigências do Programa de Pós-
Graduação em Psicologia, área de
concentração Psicologia do
desenvolvimento, para obtenção do título
de Mestre.
Aprovado em:
Comissão Examinadora:
Prof. Dr. José Neander Silva Abreu
Instituição: Universidade Federal da Bahia
Assinatura: __________________________________________
Prof. Dr. João Carlos Alchieri
Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Assinatura: __________________________________________
Profa. Dra. Marina Martorelli Pinho
Instituição: Centro Universitário Celso Lisboa
Assinatura: __________________________________________
Membro Suplente
Profa. Dra. Thatiana Helena de Lima
Instituição: Universidade Federal da Bahia
Assinatura: __________________________________________
AGRADECIMENTOS
O trabalho apresentado é fruto de uma série de colaborações e contribuições que
foram fundamentais para a sua construção. Agradeço, primeiramente, a Deus por ter me
sustentado e me permitido realizar todas as ações que faço. Sem Ele e sua força não
conseguiria fazer nada na minha vida, minha fé às vezes é abalada, mas Ele me revigora
e me sustenta. Sem o amor de Deus, esse trabalho não seria possível, tudo o que foi
realizado foi graças ao seu querer e compaixão.
Agradeço aos meus pais, Tânia e Elysio pelos ensinamentos, pelo apoio,
motivação e compreensão. Por sacrificarem muito dos seus tempos e pelo suor na
construção da pessoa que sou hoje. Ao meu irmão, Felipe, pelo carinho, apoio e
admiração mútua. Por ser o meu melhor amigo, pelos momentos engraçados e
descontraídos.
À Raimiria que me motiva a cada dia, pela paciência e amor que me incentivou
nessa jornada. Por me ensinar que vale a pena sacrificar algumas coisas por nossos
sonhos. Que possamos estar sempre juntos, obrigado, meu amor.
Aos meus amigos e colegas do Laboratório de Pesquisa em Neuropsicologia
Clínica e Cognitiva (Neuroclic), pelas trocas, pelo apoio, pelo crescimento profissional e
pessoal. Agradeço ao meu orientador, Neander Abreu, pela confiança, apoio, conselhos e
ensinamentos, que além de ser o boss se tornou um amigo. Ao meu amigo, Jonatas Bessa,
o Tico da dupla Tico e Teco, pela colaboração desde o primeiro semestre da graduação,
pelo apoio, momentos de descontração e por todo o suporte, é um amigo que Deus
colocou no caminho para que pudéssemos crescer juntos. Ao grupo de bolsistas e
voluntários que participaram diretamente no projeto, meu reconhecimento ao esforço e
dedicação de vocês: Camilla, Talia, Ramile, Milena, Ismael, Rosângela, Clara, Bia,
Marian, Roberto e Jamine, esse trabalho é nosso. Aos meus tutores durante a minha
graduação, Chrissie Carvalho, Carla Carvalho e Andréa Matos, obrigado por todos os
ensinamentos. Agradeço à professora Kelly Atalaia-Silva e equipe pela colaboração e
apoio.
Agradeço aos amigos e parceiros que conheci ao longo dessa jornada, pelo apoio,
riso e compartilhamento de conhecimento. Em especial, Gustavo Caribé, Susy Ribeiro,
Avani Sandes, Cíntia Andrade e Margaret Souza.
Por fim, agradeço aos participantes deste estudo, por disponibilizarem seu tempo
e informações para contribuir com o conhecimento científico.
Toda empolgação inicial, as dificuldades, o aprendizado, a ansiedade e
insegurança, todo o alívio. Tudo valeu a pena e me ajudou a crescer. Obrigado por tudo.
“Não permita que sua felicidade dependa de algo que você possa perder”.
(C.S. Lewis)
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Ilustração das etapas do teste de arrumação do armário....................................33
Figura 2. Representação do Teste de Arrumação do Armário após alocação automática
dos itens pelo instrumento................................................................................................54
Figura 3. Representação do modelo unidimensional do TAA, com a carga fatorial de
cada item..........................................................................................................................60
Figura 4. Análise sequencial da correlação entre o TAA e a ordem inversa da tarefa de
Cubos de Corsi.................................................................................................................77
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Características de expertise acadêmica dos juízes............................................31
Tabela 2. Índice de Validade de Conteúdo do questionário 1..........................................37
Tabela 3. Coeficiente de Kappa do questionário 2...........................................................38
Tabela 4. Dados das propriedades psicométricas dos itens do efeito binding no TAA..56
Tabela 5. Propriedades dos itens do efeito binding no TAA em análise
posterior...........................................................................................................................58
Tabela 6. Índices de ajuste para o modelo testado do TAA..............................................59
Tabela 7. Características da amostra...............................................................................72
Tabela 8. Características de sociodemográficas da amostra............................................72
Tabela 9. Estatísticas descritivas dos instrumentos utilizados.........................................75
Tabela 10. Correlação Bayesiana de Pearson (r) entre os instrumentos utilizados...........76
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ASRS Adult Self-Report Scale
BF Fator de Bayes
CCL Comprometimento Cognitivo Leve
CFI Índice de ajuste comparativo
DA Doença de Alzheimer
FDT Teste dos Cinco Dígitos
FE Função Executiva
FIFA Full-Information Factor Analysis
GFI Índice de qualidade do ajuste
H0 Hipótese Nula
H1 Hipótese Alternativa
IC Intervalo de Credibilidade
IVC Índice de Validade de Conteúdo
JASP Jeffrey's Amazing Statistics Program
MO Memória Operacional
NFI Índice de relativa não-centralidade
RMSEA Raiz do erro quadrático médio
TAA Teste de Arrumação do Armário
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
WLSMV Weighted Least Squares Mean and Variance-Adjusted
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .........................................................................................................................14
OBJETIVOS ..................................................................................................................................24
ARTIGO I .....................................................................................................................................26
Método ......................................................................................................................................31
Participantes ..........................................................................................................................31
Instrumentos ..........................................................................................................................32
Procedimentos .......................................................................................................................34
Análise de dados ....................................................................................................................35
Resultados ..................................................................................................................................37
Discussão ....................................................................................................................................39
Considerações Finais ..................................................................................................................41
Referências.................................................................................................................................43
ARTIGO II ....................................................................................................................................47
Método ......................................................................................................................................52
Participantes ..........................................................................................................................52
Instrumento ...........................................................................................................................53
Procedimentos .......................................................................................................................55
Análise de Dados ....................................................................................................................55
Resultados e Discussão ..............................................................................................................56
Considerações finais ...................................................................................................................61
Referências.................................................................................................................................63
ARTIGO III ...................................................................................................................................67
Metodologia ...............................................................................................................................71
Participantes ..........................................................................................................................71
Instrumentos ..........................................................................................................................72
Procedimentos .......................................................................................................................73
Análises de dados ...................................................................................................................74
Resultados ..................................................................................................................................74
Discussão ....................................................................................................................................77
Considerações finais ...................................................................................................................79
Referências.................................................................................................................................80
Conclusões .................................................................................................................................84
Referências.................................................................................................................................87
RESUMO
Yuri Eduardo Gomes de Santana. Parâmetros psicométricos do Teste de Arrumação do
Armário.
A memória operacional (MO) é uma função cognitiva importante e prejuízo nesta função
é uma característica em diversos quadros pré-clinínicos e clínicos. Um adequado processo
de validade é essencial para adequação e interpretação de um instrumento. O objetivo é
verificar as propriedades psicométricas do Teste de Arrumação do Armário (TAA), um
teste para avaliação de memória operacional visuoespacial. São apresentadas evidências
de validade para o TAA: validade de conteúdo, com análise de juízes, utilizando o índice
de validade de conteúdo (IVC) e o Coeficiente de Cohen Kappa. Foi realizada uma análise
fatorial exploratória para verificar a qualidade e a correlação item-fator, e uma análise
fatorial confirmatória para verificar o ajuste do modelo. Foi realizada uma correlação
bayesiana de Pearson para verificar a validade convergente do TAA com a tarefa de
Cubos de Corsi e a validade discriminante com o Teste dos Cinco Dígitos (FDT). O IVC
apresentou um resultado de 0,98 e o Coeficiente de Cohen Kappa foi de 1,00, indicando
nível de concordância acima do ponto de corte dos critérios utilizados. A análise fatorial
exploratória agrupou os itens em um fator, com valor de discriminação acima de 1,00
para todos os itens. A correlação item-total apresentou valores acima de 0,30, indicando
correlação considerada boa entre os fatores. A análise fatorial confirmatória apresentou
índices de ajuste adequados (GFI=0,96; CFI=0,99; NFI= 0,95; RMSEA= 0,04) para o
modelo com 1 fator. Para a validade discriminante, a correlação do TAA com o FDT
apresentou valores de correlação considerados insignificantes a negativos baixos (r
mínimo de -0,253 e máximo de -0,366), o que indica pouca correlação entre os
instrumentos. Para a validade convergente, a correlação entre o TAA e a ordem inversa
de Cubos de Corsi foi considerada positiva moderada (r= 0,502), indicando correlação
entre os instrumentos. Estas correlações apresentaram fator de bayes considerado
decisivo (log(BF10)>2). Estes resultados indicam que o TAA apresenta propriedades
psicométricas adequadas, tornando o TAA uma alternativa para a avaliação de binding
visuoespacial da MO em uma perspectiva com características ecológicas.
Palavras-chave: teste neuropsicológico; binding visuoespacial; validade.
ABSTRACT
Yuri Eduardo Gomes de Santana. Psychometric parameters of the Wardrobe Arragement
Test.
Working memory (WM) is an importante cognitive function and a deficit in this function
is a characteristic for many clinical and preclinical conditions. An appropriate validation
process is essential for the adequacy and interpretation of an instrument. The objective is
to verify as psychometric properties of the Wardrobe Arrangement Test (TAA), a test for
evaluating visuospatial working memory. Evidence of validity for TAA was presented.
Content validity, with analysis of judges, using content validity index (CVI) and Cohen
Kappa coefficient. An exploratory factor analysis was performed to verify the quality and
item-factor correlation, and a confirmatory factor analysis to verify the adjust of the
model. A Pearson Bayesian correlation was performed to verify the convergent validity
of the TAA with the Corsi Block Tapping Test and the discriminant validity with the Five
Digit Test (FDT). The CVI presented a result of 0.98 and the Cohen Kappa coefficient
was 1.00, indicating an agreement level above the cutoff used. An exploratory factor
analysis grouped the items into one factor, with a discrimination value above 1.00 for all
items. A total correlation item shows values above 0.30, indicating a good correlation
between the factors. A confirmatory factor analysis shows adequate fit indexes (GFI =
0.96; CFI = 0.99; NFI = 0.95; RMSEA = 0.04) for the 1-factor model. For discriminant
validity, a correlation between TAA and FDT has correlation values that may be
insignificant to low negatives (minimum of -0.253 and maximum of -0.366), indicating a
low correlation between the instruments. For convergent validity, a correlation between
TAA and an inverse order of Corsi Block Tapping Test was considered moderate positive
(r = 0.502), indicating a fair correlation between the instruments. These correlations were
considered decisive by their bayes factor (log (BF10)> 2). These results shows that the
TAA has appropriates psychometric properties, indicating that TAA is an alternative for
evaluating the visuospatial binding of the WM from an ecological characteristics
perspective.
Keywords: neuropsychological test; visuospatial binding; validity.
14
APRESENTAÇÃO
As funções executivas (FE) são um conjunto de habilidades cognitivas, que
possibilitam o indivíduo a solucionar problemas, de curto, de médio e de longo prazo. As
FE permitem que o sujeito trace e execute comportamentos orientados por metas,
avaliando a eficiência desses comportamentos, e desprezando estratégias ineficazes em
prol das mais eficientes (Malloy-Diniz, De Paula, Sedó & Leite, 2014). Para que uma
tarefa seja realizada eficientemente, o indivíduo deve identificar seu objetivo e estipular
metas dentro de uma organização que facilite a execução, avaliando as etapas e corrigindo
aquelas de pouca eficiência. Este processo é fundamental para a saúde física e mental;
sucesso escolar e na carreira; e para o desenvolvimento cognitivo, social e psicológico
(Diamond, 2013).
Existem diversos modelos de FE, que podem ser agrupados em modelos de
processos únicos e de múltiplos processos. Os modelos de construto único propõem um
construto baseado ao funcionamento do lobo frontal, organizando as FE em um sistema
único. Enquanto os autores dos modelos de múltiplos processos compreendem que as FE
são resultados de funções ligadas ao córtex pré-frontal e diversos fatores interligados
(Kluwe-Schiavon, Viola & Grassi-Oliveira, 2012).
Alguns exemplos destes modelos são: a teoria de Zelazo & Müller (2002); a
perspectiva de Stuss & Alexander (2000); e o modelo de Miyake e colaboradores (2000,
revisado por Diamond, 2013; Friedman & Miyake, 2017). Pela perspectiva de Zelazo e
Cunningham (2007), as FE são apresentadas em quentes ou frias, em um sistema com
subdivisões que busca a resolução de problemas. Neste modelo as FE não são
representadas apenas nas regiões pré-frontais, mas sim necessitando de todo o córtex para
15
ativação. Zelazo & Carlson (2012) classificam as FE quentes como processos botton-up
que são realizadas em situações motivacionais e emocionais, enquanto as FE frias são
processos top-down que são operadas em situações neutras. Um exemplo cotidiano de FE
quente é uma tomada de decisão em uma situação de risco, como uma aposta ou um
investimento de renda variável, enquanto um exemplo de FE fria é compreender as regras
de um determinado jogo ou esporte, observando-o ao longo do tempo.
Stuss & Alexander (2000) propõem uma teoria baseada na maturação do lobo
frontal e categorias de controle atencional. Para estes autores, as FE apresentam fatores
relacionados ao monitoramento, escolha de tarefa, autorregulação emocional e
comportamental, e processos metacognitivos, como o controle inibitório. O modelo de
Miyake et al (2000; revisado por Diamond, 2013; Friedman & Miyake, 2017) apresentam
uma revisão dos conceitos envolvidos nas FE e propõem que as funções são processos
relativamente independentes, em um sistema integrado considerando três conceitos
nucleares (controle inibitório, memória operacional e flexibilidade cognitiva) que se
relacionam e habilitam as FE de nível superior (planejamento, tomada de decisão,
resolução de problema e raciocínio lógico).
Para este estudo foi adotado o modelo proposto por Miyake et al (2000; revisado
por Diamond, 2013; Friedman & Miyake, 2017) por ser um modelo mais adaptado aos
fins psicométricos e aceito nos diversos âmbitos de prática e pesquisa. Por este modelo
entende-se FE são essenciais para a saúde mental e física, qualidade de vida, sucesso
escolar e ocupacional, bom convívio matrimonial e segurança pública (Diamond, 2013).
Utilizamos FE no nosso dia a dia. Um exemplo desta utilização é ao realizar operações
matemáticas mentais para calcular o troco de uma compra.
No modelo de Miyake, a memória operacional (MO) é uma das funções
executivas primárias (Diamond, 2013). Assim como as FE, existem diversos modelos
16
teóricos da memória operacional, como o de Miller et al (1960), Daneman & Carpenter
(1980; revisado por Engle et al., 1995), Cowan (1999), Baddeley (1974; 2002). Miller et
al (1960) apresentam um modelo de como as atividades são planejadas. É preciso manter
as metas em vários níveis, metas finais, submetas e submetas inferiores. Neste modelo
uma meta é mantida na MO para que o comportamento fosse direcionado de maneira
apropriada.
Para Daneman & Carpenter (1980) a MO é uma combinação de armazenamento
e processamento, possuindo um armazenamento temporário com uma capacidade
limitada, resultando em uma manipulação de informações. Engle e colaboradores (1995)
revisaram este modelo apresentando a perspectiva do uso da atenção para preservar
informações sobre metas e submetas, a partir do processamento e inibição de distratores.
Cowan (1999) apresenta a MO em uma teoria que se baseia no foco atencional de
capacidade limitada que pode acessar em áreas de memória longo prazo. Para este autor
a memória de curto prazo é um componente da MO. Estudos empíricos recentes desta
teoria estão focados na busca de evidências para especificação da capacidade da MO
(Cowan, 2001; 2005; 2012; 2013),
Para o presente estudo será utilizado o modelo multicomponente de MO de
Baddeley (1974; 2002), devido a sua estrutura que permite maior capacidade de utilização
na pesquisa, com a separação da atenção e dos componentes de armazenamento,
sugerindo maior possibilidade de análise dos componentes. Segundo Baddeley (2012), a
MO permite o armazenamento limitado e processamento de informações, inibição de
informações irrelevantes e a operacionalização de passos, para o alcance de metas. Para
que uma tarefa seja realizada eficientemente, o indivíduo deve identificar seu objetivo e
estipular metas dentro de uma organização que facilite a execução, avaliando as etapas e
corrigindo aquelas de pouca eficiência. No cotidiano, pode-se observar a sua
17
funcionalidade em diversas atividades, como recordar o nome de alguém que
encontramos na rua.
Segundo modelo multicomponente de memória operacional de Baddeley (2012),
a MO seria o processo cognitivo responsável pela aquisição, armazenamento,
modificação e evocação de informações por um período de tempo limitado. O modelo
divide a MO em quatro subsistemas: a) o executivo central, que é responsável pelo
controle atencional da MO, permitindo a supressão de distratores e distribuição da atenção
para os outros subsistemas, de acordo com a necessidade de informação apresentada; b)
a alça fonológica é a responsável pelo armazenamento, codificação e manipulação das
informações fonológicas apresentadas; c) o esboço visuoespacial é o subsistema que tem
como função armazenar, codificar e manipular informações visuais e espaciais
apresentadas; por fim - e recentemente adicionado na MO (Baddeley, 2000); d) o retentor
episódico é responsável por integrar diferentes informações multimodais, bem como
oferece uma comunicação entre as novas informações com a memória de longa duração.
O retentor episódico desempenha seu papel por meio de dois processos cognitivos
principais: o chunking e o binding (Baddeley, 2012). O binding, como efeito do retentor
episódico, é o recurso cognitivo responsável pela sustentação temporária de uma conexão
entre informações de natureza semelhante ou diferente, o que acontece, por exemplo, no
cotidiano quando precisamos recordar em que local um objeto foi guardado ou recordar
o nome de alguém ao reconhecer seu rosto ou ao ouvir sua voz (Corder, Vasques, Garcia,
& Galera, 2012). Segundo Cowan (2001), o limite máximo de bindings realizados por
uma pessoa com funcionamento típico é de quatro itens associados. Já o chunking é
descrito como processo através do qual os estímulos são agrupados em unidades maiores
de informação, como na sucessão de palavras para produção de frases, ou na sequência
de dígitos para formar números com várias casas decimais (Canário & Nunes, 2012).
18
A avaliação do efeito binding é relevante em transtornos que afetam a memória e
funções executivas, como: a Doença de Alzheimer e comprometimento cognitivo leve
(Souza & Teixeira, 2014; Kirova, Bays & Lagalwar, 2015); doença de Parkinson (Fallon,
Hampshire, Barker & Owen, 2017); transtorno específico de aprendizagem (Borella et
al., 2010; Duncan et al., 2007; Gathercole et al., 2004; Haase & Dos Santos, 2014);
transtorno de conduta (Fairchild et al., 2009); esquizofrenia (Van Snellenberg et al.,
2016); transtorno do estresse pós-traumático (Scott et al., 2015); transtorno do déficit de
atenção e hiperatividade (Casella, Leite, Figueiredo & Mattos, 2018; Diamond 2005; Lui
& Tannock 2007); alguns casos de esclerose múltipla (Weber, Goverover & DeLuca,
2019); transtorno depressivo maior (Austin, Mitchell & Goowin, 2001; Motter et al,.
2016); transtorno do espectro autista (Wang et al., 2017); bem como síndromes genéticas,
por exemplo a síndrome de Prader-Willi (Chevalère et al., 2015).
Atualmente, podemos encontrar na literatura diversos estudos sobre bindings
verbais ou visuoespaciais (Allen, 2015). Estudos de: cor-forma (Ecker, Maybery &
Zimmer, 2012); representação parcial de objetos (Cowan, Blume & Saults, 2013);
bindings, capacidade da MO, raciocínio e inteligência fluída (Oberauer, Süβ, Wilhelm &
Wittmann, 2008); recursos atencionais para a realização de uma lista de palavras
(Jefferies, Ralph & Baddeley, 2004; Baddeley, Hitch & Allen, 2009); característica-
localização (Read, Rogers & Wilson, 2015); nome-localização (Sapkota, van der Linde
& Pardhan, 2018); objeto-localização (Pertzov, Heider, Liang & Hussain, 2015; Sapkota,
van der Linde & Pardhan, 2018; Muffalo et al., 2019). Entretanto, estes estudos buscam
analisar a questão do binding, utilizando tarefas cognitivas, sem uma adaptação ao
cotidiano. Até o presente e o conhecimento deste autor, não foram encontrados estudos
sobre a utilização de um teste com características ecológicas, consistente em medidas
19
psicométricas, que mensure o desempenho de bindings visuoespacias com um paradigma
objeto-localização.
Baseado nos conceitos apresentados e na necessidade de um teste
neuropsicológico que avalie os bindings visuoespaciais dentro da perspectiva do modelo
multicomponente da MO, surgiu a proposta do Teste de Arrumação do Armário (TAA),
que foi desenvolvido por Neander Abreu do Laboratório de Pesquisa em Neuropsicologia
Clínica e Cognitiva (Neuroclic-UFBA, ver Abreu et al, 2018b) em colaboração com o
Grupo de Pesquisa e Desenvolvimento de Jogos (Indigente-UFBA). O TAA é um teste
computadorizado e com especificidade ecológica que avalia o efeito binding entre os
componentes visual (objetos) e espacial (localização) no esboço visuoespacial da
memória operacional (Abreu et al., 2018a).
O instrumento simula uma situação cotidiana, uma cozinha com 16 portas de
armário ao fundo, com quatro portas em cada uma das quatro extremidades da tela. No
decorrer do teste aparecem objetos que fazem referência a alimentos e utensílios de
cozinha. Os objetos são apresentados sequencialmente no centro da tela, por 2000
milissegundos (ms) e posteriormente são alocados em uma das portas do armário, ficando
expostos por mais 2000 ms, até que a porta é fechada para a apresentação do objeto
seguinte. Após o período de apresentação dos objetos e suas respectivas localizações, há
um intervalo de 1 segundo, com uma tela em branco, posteriormente reaparecendo o
cenário de uma cozinha com o dobro de objetos apresentados anteriormente, todos no
centro da tela, sendo metade destes distratores.
O teste é composto pela apresentação de nove sequências, sendo três sequências
de 3 objetos-localização, seguida de mais três sequências de 4 objetos-localização,
terminando com outras três sequências de 5 objetos-localização. As exibições
acompanham ordenamento fixo a todo examinando. As sequências não são repetidas, mas
20
o mesmo objeto pode aparecer em diferentes apresentações, não envolvendo efeito de
aprendizagem. A quantidade de objetos-localização por sequência foi elaborada com base
em estudos anteriores sobre capacidade limitada da memória operacional (Parra et al.,
2009; Cowan, 2016) e baseado em estudos de desempenho na teoria de resposta ao item,
caso o participante erre três sequências de um mesmo número de objetos-localização, o
teste é automaticamente interrompido.
Neste período o participante deve selecionar os objetos apresentados durante a
etapa anterior e realocá-los na localização correspondente. Não é estabelecido um limite
de tempo no decurso da evocação. Ao fim da realização do teste as respostas proferidas
pelo participante permanecem registradas em uma planilha (.xls) para posterior análise.
Os escores produzidos formam um total de acertos no reconhecimento de objetos ligados
a sua localização (binding) por tentativas. Com isso o escore mínimo pode ser 0 e o
máximo de 36 bindings objeto-localização. São também armazenados no banco de dados
a quantidade de objetos e de localização (portas) que foram recordados separadamente,
como dados complementares sobre a capacidade de armazenamento e recuperação do
esboço visuoespacial.
Os objetos são nomeáveis, validados para o contexto brasileiro e estão
semanticamente associados à cozinha, somando um total de 40 possibilidades. Os objetos
são representados por: bolo, luva, jarra, pêssego, faca, copo, limão, cenoura, rolo de
massa, abóbora, pera, aipo, xícara, alface, garrafa, abacaxi, chaleira, garfo, pimentão,
colher, amendoim, panela, frigideira, banana, cereja, tigela de cerâmica, alcachofra, uva,
maçã, pão de forma, laranja, sanduíche, cebola, tomate, melancia, saleiro, taça, batata,
milho e morango.
O teste possui duas versões e o mesmo pode ser aplicado de modo coletivo ou
individual. a) o TAA Infantil (TAAI), é proposto para o grupo-alvo de crianças de ambos
21
os sexos, com idade entre 6 a 12 anos, esta versão apresenta estudos já realizados por
Siquara (2014); e b) o TAA Adulto (TAA), que é destinado para indivíduos adultos acima
de 18 anos e de ambos os sexos.
No âmbito brasileiro, Tourinho (2014) efetuou análises comparativas do
desempenho do TAA entre os grupos de idosos com envelhecimento saudável, grupo de
idosos com comprometimento cognitivo leve (CCL) amnéstico e grupo de idosos com
doença de Alzheimer (DA), objetivando ver a capacidade de evocação
de bindings visuoespaciais dos três grupos. Foi evidenciado no referido estudo que idosos
com DA possuem um comprometimento na MO para evocação
de bindings visuoespaciais de forma mais intensa quando comparados a idosos com CCL,
em que nestes, em contrapartida, foi observado maior comprometimento quando
comparados a idosos com envelhecimento saudável. Embora já existam alguns estudos
sobre o TAA, é necessário que o instrumento apresente evidências de validade para uso
dos profissionais que buscam avaliar binding visuoespacial.
A busca por evidências de validade de instrumentos pode ser definida como o grau
em que as evidências e teoria dão suporte as inferências e interpretações dos resultados
dos testes para a medida proposta pelo instrumento (AERA, APA, & NCME, 2014;
Cohen, Swerdlik & Sturman, 2014). O processo de busca por evidências de validade
envolve a acumulação de evidências relevantes para fornecer uma base sólida aos itens e
interpretações de pontuação. Alguns autores indicam algumas categorias para a realização
das evidências de validade de instrumentos, são elas: a validade de conteúdo, validade de
critério e validade de construto (Cohen et al., 2014).
A validade de conteúdo está relacionada ao procedimento de adequação dos itens
e do instrumento. Neste procedimento é determinado se os itens elaborados estão de
acordo com os critérios adotados para a sua elaboração. Para este processo pode-se
22
realizar uma análise de juízes e/ou uma análise semântica. A análise de juízes é uma
consulta realizada a especialistas na área de investigação do construto avaliado que
analisam o instrumento e os itens em relação à literatura. A análise semântica corresponde
a aplicação da versão inicial do instrumento em alguns indivíduos, que são público alvo
do teste, e busca-se verificar se os itens estão bem compreendidos e adequados para os
participantes (AERA et al., 2014; Cohen et al., 2014).
Quanto a validade de critério, este processo está associado a qualidade da escala
de funcionar como um preditor presente ou futuro de uma variável. Está relacionado com
a predição de um desempenho/comportamento de um sujeito a partir do resultado do teste.
Para este processo, é possível realizar uma validade concorrente e/ou preditiva. Na
validade concorrente é possível obter uma determinação da situação atual do indivíduo
em relação a alguma classificação, como nível de desempenho e categoria diagnóstica. A
validade preditiva envolve a predição de um comportamento ou desempenho futuro
(AERA et al., 2014; Cohen et al., 2014).
A validade de construto está relacionada à capacidade de o teste medir o construto
proposto. Neste processo, pode-se realizar uma validade convergente e/ou validade
discriminante. A validade convergente está relacionada com a obtenção de uma
correlação positiva forte entre o instrumento analisado e um outro instrumento que avalia
o mesmo construto. A validade discriminante diz respeito a obtenção de correlações
baixas ou negativas entre itens de um determinado fator ou instrumentos que não estão
correlacionados teoricamente (AERA et al., 2014; Cohen, 2014).
Com base nestas informações, propõe-se a busca de evidências de validade do
instrumento, na intenção de que o TAA seja disponibilizado a profissionais e
pesquisadores que apresentem interesse em avaliar binding visuoespacial de com
características ecológicas, como também contribuir para a elaboração de estratégias de
23
reabilitação cognitiva. A partir dos procedimentos psicométricos a serem realizados com
o TAA, é possível ampliar suas contribuições para o campo do conhecimento sobre o
sistema de memória operacional, bem como a avaliação do efeito binding dentro de
transtornos que afetam a memória e funções executivas.
24
OBJETIVOS
Geral
O presente estudo tem por objetivo verificar as propriedades psicométricas de um
teste com características ecológicas que mensure a associação de informações visuais e
espaciais em uma amostra de adultos acima de 18 anos.
Específicos
a) Estimar a validade de conteúdo do Teste de Arrumação do Armário.
b) Averiguar as evidências de validade de construto do Teste de Arrumação
do Armário.
HIPÓTESES
Hipótese Nula
Não é verificada propriedades psicométricas adequadas para TAA.
Hipótese Alternativa 1
O TAA possui propriedades de validade de conteúdo consideradas adequadas.
Hipótese Alternativa 2
É verificado que o TAA apresenta propriedades psicométricas relacionadas aos
itens consideradas satisfatórias.
Hipótese Alternativa 3
O TAA apresenta medidas de validade de construto apropriadas.
25
ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO
Para melhor entendimento do leitor, será apresentado a seguir como o presente
estudo está organizado. Foi adotado a elaboração de três artigos, cada um apresentando
diferentes evidências de validade, além de uma introdução e os objetivos expostos no
início deste estudo. Objetiva-se a publicação dos estudos. Os três artigos foram
elaborados seguindo normas para publicação de periódicos científicos.
No primeiro artigo são apresentadas evidências de validade de conteúdo do TAA.
O segundo mostra as evidências de validade mensurando a qualidade e fidedignidade e a
consistência interna dos itens do TAA. No terceiro artigo, expõe-se evidências de
validade convergente e discriminante para o TAA. Cada um dos artigos possui seções
(introdução, método, resultados, discussão e considerações finais), com algumas
alterações. Ao final dos artigos são apresentadas considerações finais gerais para uma
verificação geral dos objetivos do estudo.
26
ARTIGO I
Evidências de Validade de Conteúdo do Teste de Arrumação do Armário para Adultos
Resumo
O Teste de Arrumação do Armário (TAA) é um teste computadorizado e foi baseado no
modelo multicomponente da memória operacional, visando avaliar a capacidade de
binding visuoespacial. O objetivo deste estudo foi apresentar evidências de validade de
conteúdo do TAA, utilizando a análise de juízes. Participaram nove juízes, escolhidos
pelo critério de conveniência, com expertise de no mínimo de cinco anos na área de
Neuropsicologia. Duas etapas foram realizadas: na primeira, participaram sete juízes e foi
calculado o Índice de Validade de Conteúdo total, que foi igual a 0,98. Na segunda, dois
juízes foram selecionados para o processo de de evidências de validade de conteúdo
através do Coeficiente de Cohen Kappa total, tendo como resultado 1,00. Os achados
indicaram o nível concordância acima do ponto de corte dos critérios utilizados. Portanto,
os resultados sugerem que o TAA está adequado ao construto teórico proposto.
Palavras-chave: memória operacional; teste neuropsicológico; validação; validade de
conteúdo.
Abstract
The Wardrobe Arrangement Test (Portuguese: TAA) is a computerized test and it is based
on the working memory multicomponent model, aiming to evaluate the visuospatial
binding skill. The purpose of this study was to investigate validity evidences of content
of the TAA, by referee validity. Nine referees, chosen by convenience sampling criteria,
27
with expertise in Neuropsycholgy and at least with five years of experience, checked TAA
content. Two steps were carried. On the first one, seven referees participated and a total
Content Validity Index was calculated. The Coeficient found was 0,98. On the second
step, two referees were selected to check the content validity. To do that, we calculated
Kappa total Coeficient. Kappa’s value was 1,00. These data suggests an agreement
between referees above the cutoff values. Therefore, according these results, TAA fits on
the theorical construct purposed.
Keywords: working memory; neuropsychological test; validation; content validity.
Resumen
El Test de Almacenamiento del Armario (TAA) es un tes computarizada y se ha basado
en el modelo multicomponente de la memoria operativa, con el objetivo de evaluar la
capacidad de binding visuoespacial. El objetivo de este estudio fue de realizar la
validación de contenido del TAA, por intermedio del análisis de jueces. Participaron
nueve jueces, elegidos por el criterio de conveniencia, con una experiencia de al menos
cinco años en el área de Neuropsicología. En la primera, participaron siete jueces y se
calculó el Índice de Validez de Contenido total, habiendo encontrado el valor de 0,98. En
la segunda, dos jueces fueron seleccionados para validación de contenido a través del
Coeficiente de Cohen Kappa total, teniendo como resultado 1,00. Los hallazgos indicaron
concordancia arriba del punto de corte de los indices entre los jueces. Por lo tanto, el
TAA, de acuerdo con estos resultados, está adecuado al constructo teórico propuesto.
Palabras-clave: memória del trabajo; teste neuropsicologíco; validación, validad del
contenido.
28
Diversas taxonomias da memória propõem diversas subcategorias e divisões dos
sistemas de memória (Abreu et al., 2018a). De acordo com a abordagem neuropsicológica
desse campo de estudo, uma dessas categorias, a Memória Operacional é uma função
cognitiva responsável pela retenção, armazenamento e manipulação de estímulos por um
curto período de tempo (Baddeley, 2012). A Memória Operacional parece responder por
uma extensa lista de tarefas cognitivas, tais como reter de forma temporária uma
sequência de números de telefone por intermédio das vias auditivas para registro posterior
em papel (Abreu, Lima, Siquara, Wyzykowski, & Fonseca, 2018a), realizar um cálculo
mental (Baddeley, Eysenck, & Anderson, 2015) e realizar manipulação ativa da
representação da memória de longa duração. Além disso ela parece ser o espaço de
armazenamento temporário da informação para o desempenho em tarefas cognitivas com
maiores graus de complexidade (Abreu et al., 2018a).
Baddeley (2000), em uma revisão de seu modelo original (Baddeley, Eysenck, &
Anderson, 2015; Baddeley & Hitch, 1974), inseriu um componente, o Retentor Episódico,
capaz de estabelecer a comunicação da Memória Operacional com a Memória de Longo
Prazo, bem como explicar o registro de informações agrupadas. (Baddeley, 2000; Canário
& Nunes, 2012). Isto porque o modelo anterior não explicava alguns fenômenos
neuropsicológicos, como por exemplo, os que ocorrem na recuperação de palavras. Em
testes de aprendizagem verbal, com palavras não relacionadas entre si, as pessoas
lembram em torno de seis itens (palavras). Quanto estão articuladas em frases, a
capacidade de recordação aumenta para cerca de 16 palavras (Baddeley et al., 2015;
Canário & Nunes, 2012). Esses achados contribuíram para que o modelo fosse revisado
para explicar estes fenômenos associados à Memória Operacional (Baddeley et al., 2015).
O Retentor Episódico funciona a partir de dois processos cognitivos: o chunking
e o binding, que explicam a lacuna teórica do modelo anterior (Baddeley et al., 2015). O
29
chunking é descrito como processo por meio do qual somos capazes de formar
aglomerados de estímulos em unidades maiores de informação (Baddeley, 2012; Abreu
et al., 2018b). Por exemplo, na aglomeração de palavras para produção de frases, ou na
união de sequências de dígitos formando números com várias casas decimais tornando a
codificação mais econômica em termos de recursos atencionais e executivos (Canário &
Nunes, 2012). O chunking seria o mecanismo que explicaria o fato da amplitude (span),
seja verbal ou visual, aumentar à medida que os estímulos estão interligados, dependentes
uns dos outros para formação de spans maiores, com significado próprio (Abreu et al.,
2018b).
O binding é o responsável por representar diferentes unidades de informação em
conteúdos unificados (Baddeley, 2012; Abreu et al., 2018b). Esses conteúdos podem ser
objetos ou eventos, podendo envolver vinculações de uma cor, forma ou, por exemplo,
um nome associado a um rosto ou um estímulo (objeto) a um determinado local
(Langerock, Vergauwe, & Barrouillet, 2014). O efeito binding pode ser definido como
recurso cognitivo responsável pela conexão temporária entre informações de natureza
semelhante ou diferente. Isso acontece, por exemplo, quando precisamos recordar um
objeto e em que local está guardado, como recordar onde foram guardados os óculos
(Corder, Vasques, Garcia, & Galera, 2012; Langerock, Vergauwe, & Barrouillet, 2014).
O binding pode acontecer em diferentes níveis cognitivos, desde o nível
perceptual até níveis mais complexos na memória (Treisman & Gelade, 1980; Parra,
Abrahams, Fabi, Logie, Luzzi & Della Sala, 2009). Os processos de binding envolvem
recursos atencionais que seriam automáticos, e neste caso demandariam o menos recursos
cognitivos (Allen, Baddeley & Hitch, 2014). Vale a pena destacar que a avaliação do
efeito binding é relevante em transtornos que afetam a memória e funções executivas,
como a Doença de Alzheimer (Souza & Teixeira, 2014), transtorno específico de
30
aprendizagem (Haase & Dos Santos, 2014) e o transtorno do déficit de atenção e
hiperatividade (Casella, Leite, Figueiredo & Mattos, 2018), bem como síndromes
genéticas, como a síndrome de Prader-Willi (Chevalère et al., 2015).
O binding pode ser verificado em conexões de informações armazenadas na Alça
Fonológica e/ou no Esboço Visuoespacial ligando-se à Memória de Longo Prazo
(Langerock, Vergauwe, & Barrouillet, 2014). Essa vinculação entre informações
temporárias dos subcomponentes com a Memória de Longo Prazo é o que caracteriza o
efeito binding (Baddeley et al., 2015). O esboço visuoespacial está envolvido no
processamento do binding com o retentor episódico para informações conjuntas como as
provenientes das ligações entre cor, forma, objeto e sua localização. Outro exemplo é a
ligação entre fonemas e letras na Alça Fonológica, ou ainda para nomes com faces, que
decorre da integração de informações armazenadas nos dois subcomponentes
simultaneamente (Baddeley et al., 2015). Avaliar a Memória Operacional e seus
processos é de suma importância para entender como se adquire informações e como ela
se consolida. Para isso são necessárias medidas psicométricas válidas, que tragam
evidências do seu ajustamento para o construto que se pretende avaliar.
Para o contexto brasileiro, até o conhecimento deste autor, ainda não há
instrumentos validados para avaliação do efeito binding na Memória Operacional
Visuoespacial, e por isso são necessários estudos de validade psicométrica e normatização
para instrumentos que avaliem esta função (satepsi.cfp.org.br). Diante dessa lacuna, o
Teste de Arrumação do Armário – TAA (Abreu et al. 2018) foi desenvolvido. O TAA é
um teste computadorizado e tem a proposta de avaliar o efeito binding visuoespacial com
informações do componente visual (objetos) e do espacial (localização).
Um dos processos psicométricos é a busca de evidências baseada no conteúdo
(validade de conteúdo), que caracteriza-se pela verificação se o conteúdo utilizado em um
31
instrumento psicológico representa adequadamente o construto que se deseja avaliar
(Seabra & Carvalho, 2014). A avaliação de conteúdo é um passo essencial no
desenvolvimento de novas medidas porque representa o início de mecanismos para
associar conceitos abstratos com indicadores observáveis e mensuráveis (Pasquali, 2017).
A validade de conteúdo avalia o grau em que cada elemento de um instrumento de medida
é relevante e representativo de um construto. Este é um dos primeiros procedimentos de
evidências de validade, considerado fundamental no processo de desenvolvimento e
adaptação de instrumentos de medidas (Pasquali, 2017). Portanto, o presente estudo teve
por objetivo apresentar evidências de validade de conteúdo do Teste de Arrumação do
Armário (TAA), por intermédio da análise de juízes.
Método
Participantes
Para a validade de conteúdo foram convidados por conveniência nove juízes
brasileiros com expertise na área de neuropsicologia clínica e cognitiva, com o mínimo
de cinco anos de atuação. Todos os juízes aceitaram o convite. Este procedimento de
escolha está em conformidade com a literatura (Alexandre & Coluci 2011; Medeiros et
at., 2015). A amostra dos juízes compôs-se de dois doutores, quatro mestres e três
especialistas em Neuropsicologia ou Neurociências (Tabela 1).
Tabela 1. Características de expertise acadêmica dos juízes
Grau de Expertise
Acadêmica
Quantidade de juízes para o cálculo do IVC
Doutorado 2
Mestrado 2
Especialização 3
Grau de Expertise
Acadêmica
Quantidade de juízes para o cálculo de Cohen Kappa
32
Doutorado 0
Mestrado 2
Especialização 0
Instrumentos
Teste de Arrumação do Armário para Adultos
O TAA é um teste computadorizado e foi desenvolvido para ser autoaplicável,
simulando um contexto ambiental. Nele, há uma imagem que aparece na tela do
computador (15”) de uma cozinha na qual há 16 portas de armário, com quatro portas em
cada uma das extremidades da tela. O respondente deve iniciar o teste selecionando o
botão "começar” com o mouse ou touchpad, após ler as instruções iniciais: "Alguns
objetos serão guardados nos armários da cozinha. Tente lembrar quais foram os objetos e
em que porta eles foram guardados!". A cada tela do teste, são apresentados gradualmente
objetos que podem ser encontrados frequentemente em uma cozinha, como gêneros
alimentícios e utensílios domésticos, reproduzindo uma situação cotidiana que ocorre na
vida dos testandos.
Na apresentação dos objetos, cada figura é apresentada com duração de 2000
milissegundos (ms) no centro da tela. Após esse tempo, a figura do objeto é alocada dentro
de uma das portas do armário, onde permanece visível por mais 2000 ms. As próximas
imagens dos objetos são apresentadas utilizando esse mesmo procedimento (Figura 1).
Assim que uma porta se fecha com o objeto dentro, outro objeto aparece no centro da tela
e é guardado em outra porta. Os objetos aparecem em sequências, somando um total de
três tentativas diferentes. O número de objetos a serem guardados aumenta
progressivamente ao longo do teste, começando com três tentativas com 3 objetos e
aumentando posteriormente para séries de quatro e cinco objetos. Após a exposição da
33
sequência de uma tentativa (e.g. 3 imagens de objetos), é dado um intervalo de um
segundo com a tela em branco (Figura 1). Então, uma nova tela aparece com os objetos
anteriormente apresentados, além de distratores (Figura 1). A tarefa consiste no
reconhecimento preciso dos objetos que haviam sido apresentados na tela anterior e de
sua localização no armário, avaliando assim, o efeito binding para objeto-localização. O
participante deve clicar sobre o objeto, selecionando-o, e direcioná-lo até a porta em que
foi armazenado.
Figura 1 – Ilustração das etapas do teste de arrumação do armário
Os resultados (escores) são registrados na forma de tentativas corretas de ligação
objeto-localização (binding). Não há regra de interrupção, sendo necessário que o
participante responda o teste até o final para que os dados de resposta sejam salvos. São
considerados acertos a ligação objeto-localização.
Escala do Índice de Validade de Conteúdo
Para a análise de juízes, foi desenvolvido e aplicado um questionário de validade
de conteúdo para o cálculo de Índice de Validade de Conteúdo (IVC). Esta escala possuía
cinco afirmativas objetivas para as quais as respostas obedeceram a uma escala Likert de
quatro pontos, sendo: 1 - Não concordo, 2 - Indiferente, 3 - Concordo Parcialmente e 4 -
Concordo Fortemente. As cinco afirmações objetivas foram: a) o teste do TAA avalia a
Memória visuoespacial; b) o teste avalia a Memória operacional visuoespacial; c)
baseado no Modelo multicomponente de Memória Operacional do Baddeley e Hitch
34
(1974) e sua revisão em (2000) o teste avalia o componente do esboço visuoespacial; d)
baseado no Modelo multicomponente de Memória Operacional do Baddeley (2000) o
teste avalia o binding na memória visuoespacial; e) o teste apresenta itens (figuras) de
fácil identificação visual para adultos e idosos. Abaixo de cada afirmativa havia um
espaço para o registro de sugestões e observações sobre o teste ou sobre possíveis
dificuldades de resolução.
Escala para Validade do TAA – Coeficiente de Cohen Kappa
Um outro grupo de juízes foi separado para a realização de Coeficiente de Cohen
Kappa. Para tanto, foi desenvolvido e entregue uma outra escala para a cálculo da análise
de conteúdo por índice de Cohen Kappa. A escala tinha sete afirmativas objetivas as quais
as respostas obedeceram a uma escala Likert de três pontos, sendo: 1 - Discordo, 2 -
Concordo Parcialmente e 3 - Concordo Fortemente. As sete afirmações objetivas foram:
a) o TAA avalia a integração de Objetos e Localizações; b) o TAA é um teste que está de
acordo com o modelo da memória multicomponente de Baddeley; c) o TAA avalia o
efeito binding de informações ocorrido no retentor episódico; d) o TAA avalia a memória
visuoespacial; e) o TAA apresenta uma fácil compreensão dos comandos; f) as figuras do
TAA são de fácil compreensão para adultos; g) as figuras do TAA são de fácil
compreensão para idosos. Um espaço facultativo para comentários do instrumento foi
concedido, possibilitando ao juiz descrever sugestões referentes à análise.
Procedimentos
35
O processo de validade foi realizado em duas etapas. Em um primeiro momento,
sete juízes foram escolhidos e contatados por mensagem eletrônica com o convite para
participarem do processo de evidências de validade de conteúdo do TAA. Após o aceite,
o TAA foi enviado eletronicamente. Ressalta-se que os juízes não haviam tido acesso
prévio ao teste, e juntamente com este, foi enviado o questionário de validade de conteúdo
para o cálculo do IVC. Este questionário teve como objetivo avaliar a adequação do teste
ao modelo teórico e o formato/desenho do teste.
Para a segunda etapa, participaram do processo de evidências de validade de
conteúdo, dois juízes, com mestrado, escolhidos por critérios de conveniência,
experiência na área de neuropsicologia clínica e cognitiva de no mínimo cinco anos. Nesta
parte, diferentemente da anterior, o teste não foi enviado por correio eletrônico para que
fosse realizado na casa dos peritos. Ambos os juízes foram alocados em salas separadas,
sem distratores e com condições de temperatura amenas (25ºC). A aplicação foi realizada
com cada juiz por intermédio de um notebook de 15 polegadas, os juízes foram instruídos
pelas orientações do próprio teste, não havendo apoio externo e consequentes diferenças
nas instruções. Após a execução do instrumento, o questionário de validade de conteúdo
desenvolvido para o cálculo do Coeficiente de Cohen Kappa foi entregue para ser
respondido sobre a adequação do teste ao modelo teórico e o formato/desenho do teste.
Análise de dados
Para a análise dos dados da primeira parte do processo de validade de conteúdo
foi calculado o IVC. Esse método é muito utilizado na área da Saúde e é realizado quando
o levantamento é feito quantitativamente (Alexandre & Coluci, 2011; Hyrkäs,
36
Appelqvist-Schmidlechner & Oksa, 2003). A literatura aponta que o IVC mede a
concordância de juízes quanto aos itens em relação ao conteúdo estudado (Tibúrcio et al.,
2014). De acordo com Alexandre & Coluci (2011), com o IVC, é possível analisar cada
item individualmente e depois o instrumento como um todo. O valor total de concordância
pode variar de 0 à 1. O parâmetro adotado para validade de conteúdo do TAA foi de
concordância mínima entre os juízes de 0,80, conforme sugerido pela literatura
(Alexandre & Coluci, 2011). Para obter o IVC por itens do TAA, foi dividido a soma dos
valores marcados pelos juízes que avaliaram o item específico como “3” (concordo
parcialmente) e “4” (concordo fortemente), sobre o valor máximo possível do item. Já
para a obtenção do IVC total foi realizado a soma de todos os IVC dos itens calculados
separadamente, dividido pelo número de itens do questionário. Ambas as fórmulas podem
ser visualizadas abaixo (Alexandre & Coluci, 2011, Medeiros et al., 2015, Tibúrcio et al.,
2014).
Soma das respostas “3” ou “4”
IVC por item = _____________________________
Número total de respostas
Soma dos IVC por itens
IVC total = ________________________________
Número total IVC por item
Para a segunda parte do processo de evidências de validade de conteúdo, foi
calculado o Coeficiente de Cohen Kappa com os dois juízes convidados para a realização
do segundo questionário. O Coeficiente de Cohen Kappa é frequentemente utilizado para
o cálculo de concordância entre os peritos (Alexandre & Coluci, 2011). Os valores deste
índice podem variar de <0 a 1, sendo que o coeficiente maior que 0,60 apresenta um nível
de concordância bom (Tibúrcio et al., 2014). Entretanto, o critério adotado por este
trabalho para o Coeficiente de Cohen Kappa foi o de concordância quase perfeito, isto é,
37
valores entre 0,81 a 1 (Landis & Koch, 1977). O Coeficiente de Cohen Kappa permite
avaliar tanto o viés, quanto a precisão entre as avaliações dos juízes, se diferindo
conceitualmente de correlações (Wan, Jun, Zhang, Wu & Hua, 2015).
Resultados
Para o primeiro processo de de evidências de validade de conteúdo foi realizado
o cálculo do Índice de Validade de Conteúdo. Foi avaliada a análise da concordância
sobre as afirmativas de cada item do questionário 1. Os itens de “a” a “d” do questionário
se referem à adequação do teste ao construto proposto e às medidas de avaliação,
enquanto o item “e” diz respeito a compreensão das imagens por adultos e idosos. Todos
os itens de “a” a “d” apresentaram concordância de 1, ou seja, 100%, logo, todos os juízes
marcaram que “concordam fortemente” (4) na adequação dos itens ao modelo proposto
(itens “a”, “b”, “c”, “d”). Entretanto, salienta-se que no item “e” que avalia se os estímulos
(figuras) são de fácil identificação visual para adultos e idosos, cinco juízes marcaram
que “concordam fortemente” (4) e dois juízes marcaram que “concordam parcialmente”
(3), obtendo assim o valor de IVC para o item “e” de 0,93. A partir dos dados obtidos
pelo IVC por itens, foi realizado o IVC total, obtendo um valor de 0,98, o que pode ser
verificado na tabela 2. É válido ressaltar que, mesmo sendo facultado, no questionário 1,
um espaço para sugestões e possíveis correções para o TAA, os juízes não apresentaram
nenhuma consideração escrita, não sendo necessária assim, uma análise qualitativa.
Tabela 2. Índice de Validade de Conteúdo do questionário 1.
Questionário 1 IVC Item IVC
Total
a) o teste do TAA avalia a Memória visuoespacial
1
b) o teste avalia a Memória operacional visuoespacial 1
38
0,98
c) baseado no Modelo multicomponente de Memória Operacional do
Baddeley e Hitch (1974) e sua revisão em (2000) o teste avalia o
componente do esboço visuoespacial
1
d) baseado no Modelo multicomponente de Memória Operacional do
Baddeley (2000) o teste avalia o binding na memória visuoespacial;
1
e) o teste apresenta itens (figuras) de fácil identificação visual para adultos
e idosos.
0,93
Para a segunda etapa, foi calculado o Coeficiente de Cohen Kappa para os itens
do questionário 2, que diz respeito a adequação do TAA ao construto utilizado (“a”, “b”,
“c”, “d”) e a compreensão dos comandos e elementos visuais do teste para adultos e
idosos (“e”, “f”, “g”). O Coeficiente de Cohen Kappa calculado para cada item específico
do questionário 2 atingiu a concordância máxima. Sendo assim, o coeficiente total de
Kappa foi igual a 1, ou seja, atingiu 100% de concordância entre os juízes selecionados,
como pode ser visto na tabela 3. Semelhantemente, ao que ocorreu no questionário 1, os
juízes não apresentaram nenhuma consideração escrita, no espaço facultado para escrita
sugestões e possíveis correções para o teste, não sendo necessária assim, a realização de
uma análise qualitativa.
Tabela 3. Coeficiente de Kappa do questionário 2.
Questionário 2 Coeficiente de
Cohen Kappa
por Item
Coeficiente de
Cohen Kappa
Total
a) o TAA avalia a integração de Objetos e Localizações
1
1
b) o TAA é um teste que está de acordo com o modelo
da memória multicomponente de Baddeley;
1
c) o TAA avalia o efeito binding de informações
ocorrido no retentor episódico;
1
d) o TAA avalia a memória visuoespacial;
1
e) o TAA apresenta uma fácil compreensão dos
comandos;
1
f) as figuras do TAA são de fácil compreensão para
adultos;
1
39
g) as figuras do TAA são de fácil compreensão para
idosos.
1
Discussão
Os procedimentos de evidências de validade visam avaliar a adequação do teste a
partir do construto e do modelo teórico em que está baseado (Tibúrcio et al., 2014). Ou
seja, identificar se a proposta do TAA de avaliar o efeito binding do Retentor Episódico
está sendo cumprida. Conforme referido, o processo de evidências de validade de
conteúdo deste trabalho foi dividida em duas partes. Isto ocorreu por duas razões, a
primeira, para ter duas medidas psicométricas que se corroborassem e, a segunda, buscar
sanar a falta de análises qualitativas, visto que os peritos não apresentaram considerações
sobre o TAA nos espaços abertos facultados.
Para o Índice de Validade de Conteúdo, foi adotada o critério de concordância
mínima acima de 0,80, sugerido pelo trabalho de Alexandre e Coluci (2011). A partir
disso, foi possível observar que o Índice de Validade de Conteúdo para cada item do
questionário 1 foi de concordância total (1) para os itens de “a” a “d”, isso sugere que
existe uma concordância entre os juízes sobre a adequação do TAA ao modelo teórico
proposto. Já o item “e”, que aborda a capacidade de compreensão visual das figuras para
adultos e idosos, apresentou uma concordância de 0,93, indicando um nível dentro do
recomendado. Para o Índice de Validade de Conteúdo total, o valor obtido foi de 0,98,
apresentando um grau de concordância acima do sugerido (Alexandre & Coluci, 2011).
Apesar de não terem sido realizadas considerações qualitativas sobre a
discordância do item “e”, pode-se inferir algumas razões. Conforme referido neste estudo,
o TAA apresenta itens de graus ecológicos, ou seja, denotam cenas do cotidiano, por isso,
a seleção da atenção e o reconhecimento do estímulo-item (figura) podem apresentar
40
influências emocionais, motivacionais, de relevância e/ou experiência pessoal (Brennan,
Bruderer & Liu-Ambrose, 2017). O desenvolvimento de testes com características
ecológicas é um desafio, por conta da possibilidade de ruídos, ou seja, variáveis as quais
não se tem controle. Algumas pessoas podem apresentar maior dificuldade de
reconhecimento de certas figuras. Entretanto, quanto mais ecológico, mais próximo da
realidade pode estar o desempenho na competência avaliada (Brennan et al., 2017).
Uma outra hipótese para a falta de concordância apresentada no item “e”, que
corresponde a facilidade de compreensão das figuras para adultos e idosos, pode ser por
conta do acúmulo gradual de erro resultante de ruídos na memória decorrente de breves
sequências de exposições a múltiplos estímulos, implicando na dificuldade de
reconhecimento de algumas figuras ao longo da execução do teste (Ma, Husain, & Bays,
2014). A medida que o teste avança, é possível que o juiz tenha encontrando dificuldades
provenientes da exposição prolongada a diferentes estímulos complexos, gerando uma
menor precisão de reconhecimento (Ma et al., 2014).
Mediante a limitação da falta de considerações qualitativas sobre a discordância
do item “e”, foi desenvolvido o questionário 2, no qual desmembrou o item “e” do
questionário 1 em três itens no segundo questionário (“e”, “f”, “g”), tendo como
finalidade verificar possíveis dificuldades na compreensão do teste, sejam das imagens
ou dos comandos.
Para o cálculo do Coeficiente de Cohen Kappa, foi adotado o critério de força de
concordância do estudo clássico de Landis e Koch (1977), no qual índices menores que 0
significam nível de concordância pobre; valores entre 0 e 0,20 são considerados fracos;
valores entre 0,21 e 0,40 são considerados bons; índices entre 0,41 e 0,60 são
considerados moderados; entre 0,61 e 0,80 são substanciais e; entre 0,81 e 1 são
considerados quase perfeitos. Em conformidade com estes valores, estudos sugerem que
41
o nível mínimo de concordância aceitável para um instrumento deve ter valor acima de
0,80 (Wan et al., 2015).
De acordo com os valores obtidos nos cálculos, tanto para itens, quanto para o
valor total de Kappa do questionário 2, foram encontrados valores de concordância quase
perfeitos, ou seja, 1. Os dados do resultado da análise de juízes com o Coeficiente de
Cohen Kappa total, sugerem que os níveis de concordância, tanto para os itens
(afirmativas) estão acima do ponto de corte adequado para a validade de conteúdo,
respondendo o TAA de forma adequada à testagem de evidências de conteúdo.
Considerações Finais
Ao nosso conhecimento, o TAA é a primeira medida brasileira com a proposta de
avaliar a capacidade de binding visuoespacial em adultos e idosos com um instrumento
computadorizado e com características ecológicas. É possível que o pouco tempo entre
a inclusão do construto teórico Retentor Episódico no modelo multicomponente de
memória operacional não tenha ainda permitido o desenvolvimento de outros
instrumentos. Outra contribuição do TAA está relacionada às características ecológicas,
buscando mimetizar atividades reais. Espera-se que essa similaridade contribua para a
avaliação da Memória Operacional de maneira mais próxima de situações reais, como
sugerido por Brennan e colaboradores (2017).
De acordo com os índices avaliados, o TAA apresentou conformidade com o
construto que se propõe a avaliar, seguindo os critérios adotados neste estudo, isto é,
apresentando um IVC acima de 0,80 e, Coeficiente de Cohen Kappa acima de 0,81
(Alexandre & Coluci, 2011; Landis & Koch, 1977). A presente evidência de validade de
42
conteúdo é o primeiro passo do processo de evidências de validade do TAA, que mostrou-
se adequado segundo a análise dos especialistas. Será necessário seguir os outros
processos, como as evidências de validade de construto e de critério, para que se confirme
a sua adequação psicométrica ao construto e aplicação do instrumento. (Pasquali, 2017).
Um dos efeitos esperados a partir dos procedimentos psicométricos com o TAA,
é o de ampliar a contribuição para o campo do conhecimento sobre o sistema de memória
operacional. Vale a pena destacar que a avaliação do efeito binding é relevante em
diversos transtornos que afetam a memória e funções executivas, como citado neste
estudo. Assim, a busca de evidências de validade para o TAA pode contribuir de maneira
significativa para a identificação de alterações neurocognitivas na memória operacional
em transtornos neuropsicológicos.
Apesar dos valores de concordância de juízes estarem acima do considerado
mínimo aceitável, cabe aqui ressaltar algumas limitações do estudo. Tanto o questionário
um quanto o questionário dois apresentaram assertivas objetivas, visando assim o cálculo
dos índices. Entretanto, mesmo providenciando após a resposta à escala a possibilidade
de registro de sugestões em ambos os questionários, não foram apresentadas quaisquer
recomendações ou revisões. Em resumo, o presente trabalho avaliou a adequação do TAA
com o Modelo Multicomponente de Memória Operacional, sugerindo uma concordância
aceitável entre juízes sobre a capacidade de avaliação do efeito binding pelo teste.
43
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47
ARTIGO II
Evidências de validade de um teste de avaliação de memória operacional visuoespacial:
Teste de Arrumação do Armário
Resumo
O Teste de Arrumação do Armário (TAA) foi desenvolvido para a mensuração do efeito
binding, a integração entre diferentes informações visuais, espaciais, fonológicas,
semântica. Evidências vêm sugerindo que a atuação da memória de longa duração em
conformidade com o retentor episódico tem uma influência significativa para este
trabalho de integração de informações. Este estudo teve como proposta apresentar
evidências de validade do TAA, verificando os itens do instrumento. O estudo foi
realizado com uma amostra não probabilística formada inicialmente por 91 e
posteriormente por 740 pessoas residentes do estado da Bahia, Brasil. Os participantes
apresentaram uma variação de idade entre 18 a 95 anos. Foi realizada uma análise fatorial
para analisar a unidimensionalidade do construto e índices de ajuste, obtendo por
resultado uma variância explicada adequada de 45% para um fator. O Modelo de
Respostas Graduadas foi utilizado para estimação dos parâmetros psicométricos,
verificou-se que os valores de discriminação encontram-se acima de 1.00 para todos os
itens que mensuram o efeito binding, implicando em um poder de discriminação de itens
satisfatório. A correlação de item-total evidenciou resultados com valores acima de 0,30
confirmando uma correlação considerada boa entre os itens de efeito binding com a
pontuação geral da avaliação do TAA; e para o de consistência interna foi calculado o
Alfa de Cronbach, obtendo o resultado de 0,83 mostrando uma consistência satisfatória.
Posteriormente, foi realizada uma análise fatorial confirmatória, indicando os índices de
ajuste e comparando dois modelos. Os índices de ajuste encontrados foram considerados
satisfatórios para os dois modelos e foi selecionado o modelo unidimensional. A partir
desses dados, conclui-se que o Teste de Arrumação do Armário possui propriedades
psicométricas adequadas.
48
Palavras-chave: memória operacional, teste neuropsicológico, retentor episódico,
binding, validade
Abstract
This study have the proposal to provide evidences of validity of the Wardrobe
Arrangement Test. The test was developed to measure the binding effect, ie, the
integration of different information visual, spatial, phonological, semantic. Current
evidence have suggested that the performance of the long-term memory in accordance
with episodic buffer has a significant influence for this information integration work The
study was performed in a non-probabilistic sample consisting initially of 91 and
posteriorly of 740 people residents of state of Bahia, Brazil. Participants had an age range
from 18 to 95 years. A Full-Information Item Factor Analysis was performed (FIFA) to
analyze the one- dimensionality of the construct, obtaining the result in an adequate
explained variance of 45% to a factor. The Graduated Response Model was used to
estimate the psychometric parameters, it was found that the discrimination values are
above 1.00 for all items that measure the binding effect, resulting in a satisfactory items
discrimination power. The item-total correlation showed results with values above 0.30
confirming a good correlation between the items of binding effect with the overall score
of the assessment of the Wardrobe Arrangement Test; and the internal consistency was
calculated Cronbach’s alpha, obtaining the result of 0.85 showing an acceptable
consistency. Subsequently, a confirmatory factor analysis was performed, indicating the
fit indices and comparing two models. The fit indices found were considered satisfactory
for both models and the one-dimensional model was selected. Therefore, it follows that
the Wardrobe Arrangement Test has adequate psychometric properties.
Keywords: working memory, neuropsychological test, episodic buffer, binding, validity
49
A memória tem sido estudada por diversas áreas com o objetivo de aprofundar o
conhecimento acerca dessa função cognitiva que desempenha funções salutares na vida
dos indivíduos. De acordo com a abordagem neuropsicológica desse campo de estudo, a
memória é a habilidade de adquirir, reter e utilizar informações e conhecimentos
(Baddeley, Eysenck & Anderson, 2009). É adquirida através de experiências e sua
aquisição denomina-se aprendizado. Como a variedade e quantidade de possíveis
experiências podem ser enormes, a variedade de memórias possíveis também é grande
(Izquierdo, 1989). Com isso, dizemos que existem "memórias", cada uma com sua
especificidade (McGaugh, 1988).
Esta habilidade pode ser dividida em diferentes tipos, como memória de longo
prazo, memória operacional, memória de curto prazo, dentre outras. A memória
operacional (MO) é uma das funções executivas (FE) nucleares, ou seja, uma das FE que
são fundamentais para a construção de outras funções, como o raciocínio lógico
(Diamond, 2013). No cotidiano, como por exemplo, pode-se observar a sua
funcionalidade em diversas atividades, como recordar o nome de alguém que
encontramos na rua. Segundo o estudo de Hornung, Brunner, Reuter e Martin (2011), a
MO permite o armazenamento limitado e processamento de informações, inibição de
informações irrelevantes e a operacionalização de “steps” para o alcance de metas. As
funções executivas são amplamente estudadas, porém, estudos indicam que é necessário
desmembrá-las em componentes para que cada elemento seja avaliado (Capovilla, 2006).
Para Baddeley (2012), a MO é o sistema responsável pelo armazenamento,
processamento e manipulação de informações, em quantidade e por tempo limitado. Este
sistema é dividido em quatro subsistemas: o central executivo, responsável pelo controle
atencional; a alça fonológica, responsável por manipular informações verbais; o esboço
visuoespacial, incumbido pela manipulação de informações visuais; e, o componente
50
adicionado à última revisão do modelo, o retentor episódico. O retentor episódico é um
subsistema que realiza a comunicação entre a memória operacional e os sistemas de
memória de longa duração (Baddeley, 2012).
O retentor episódico desempenha seu papel por meio de dois processos cognitivos
principais: o chunking e o binding (Baddeley, 2012). O binding como efeito do retentor
episódico é o recurso cognitivo responsável pela sustentação temporária de uma conexão
entre informações de natureza semelhante ou diferente, o que acontece, por exemplo, no
cotidiano quando precisamos recordar em que local um objeto foi guardado ou recordar
o nome de alguém ao reconhecer seu rosto ou ao ouvir sua voz (Corder, Vasques, Garcia,
& Galera, 2012). Segundo Cowan (2001) o limite máximo de bindings realizados por
uma pessoa normal é de quatro itens associados. Já o chunking é descrito como processo
através do qual os estímulos são agrupados em unidades maiores de informação, como na
sucessão de palavras para produção de frases, ou na sequência de dígitos para formar
números com várias casas decimais (Baddeley, 2000; Canário & Nunes, 2012).
Esses conceitos muitas vezes não são compreendidos à primeira vista, eles são
específicos e complexos. Com a finalidade de esclarecer melhor esses dois processos, é
possível a utilização de uma ilustração prática de como funcionam estes dois processos é
o de um trabalho de garçom. Um garçom em sua rotina de trabalho necessita fazer vários
bindings (associações) de informações, como por exemplo, armazenar e manipular as
informações dos pedidos de cada pessoa (pedido - pessoa). Nessa tarefa, cada pedido tem
de se associar com cada pessoa, que tem de se associar com cada mesa. Entretanto, o
limite máximo de bindings que uma pessoa pode fazer em um momento é de quatro itens.
Então, para que ele consiga associar corretamente as informações cumprindo sua função,
o processo chunking é realizado. O garçom cria “categorias” oriundas dos bindings
realizados, fazendo a informação ficar mais “econômica” e fácil de recordar. Um possível
51
exemplo poderia ser, o garçom categorizar o seu ambiente por mesas, pedidos ou público,
criando infinitas possibilidades. Por exemplo, uma possibilidade seria organizar a
informação do seguinte modo: mesa dos mistos, três pessoas querem saladas e duas
pessoas querem filé, das pessoas da salada, duas querem salada de maionese e uma quer
caesar, das pessoas do filé as duas querem mignon bem passado.
Na literatura, podemos encontrar a importância de relação da memória
operacional com outros processos cognitivos ou tarefas complexas como, por exemplo:
aprendizagem, compreensão da linguagem, raciocínio e produção da própria consciência
(Alloway, Gathercole, Willis & Adams, 2004); inteligência fluida (Colom, Abad,
Quiroga, Shih & Flores-Mendonza, 2008); aprendizado de vocabulário (Gathercole &
Pickering, 2000); leitura e compreensão (Swanson & Ashbaker, 2000); solução e
resolução de problemas (Swanson, Jerman & Zeng, 2008). Existem, também, estudos que
sugerem que déficits na memória operacional trazem dificuldades para atividades do
cotidiano, como: problemas acadêmicos (Siegel & Ryan, 1989); dificuldades em
matemática (Corso, 2012); déficits de aprendizado (Squire & Kandel, 2003).
Nos estudos de Mitchell (2000), Johnson (1996) são realizados experimentos que
avaliam binding utilizando o paradigma objeto-localização, com a apresentação de um
quadrado dividido em nove partes e um objeto em um desses quadrados, posteriormente
o participante deveria recordar o objeto e sua correspondente localização. No estudo de
Gao e colaboradores (2016) são realizados experimentos que avaliam binding através de
letras e localização (verbal-espacial), sons e forma (visual-auditivo) e cor e forma (visual-
visual). Porém esses estudos sobre binding não foram realizados em grupos clínicos e não
representam uma situação cotidiana.
Com base nos conceitos apresentados e na necessidade de um teste
neuropsicológico que avalie binding no cotidiano, surgiu a proposta do Teste de
52
Arrumação do Armário (TAA). O TAA (Abreu et al., 2018b) é um teste com
características ecológicas e computadorizado, que avalia o binding entre o objeto (visual)
e sua localização (espacial). É importante ressaltar que o teste com aspectos ecológicos,
simulando uma situação cotidiana, contribui para uma melhor análise de uma avaliação e
reabilitação (Chaytor & Schmitter-Edgecombe, 2003).
A busca pela criação e o processo de evidências de validade de um teste que
mensure o efeito binding tem um caráter agregador para o campo da Neuropsicologia,
tanto na área de pesquisa, quanto para questões clínicas. Deve-se ressaltar também que a
carência de testes que busquem avaliar o que o TAA se propõe, torna-o pioneiro na
avaliação da integração de informações visuais e espaciais. Outro aspecto a ser estudado
são as possíveis relações de proporcionalidade que o binding visuoespacial pode ter com
outros processos decorrentes da memória operacional. Isto ajudaria a enriquecer o modelo
da memória operacional, bem como a criação de novas intervenções e reabilitações
neuropsicológicas mais eficientes.
Baseado nestas prerrogativas, o presente estudo teve a intenção de analisar
evidências de validade de um teste com características ecológicas que mensure esta
associação de informações visuais e espaciais em uma pequena amostra. Para tanto, este
estudo teve por objetivo geral verificar as propriedades psicométricas do Teste de
Arrumação do Armário (TAA), no que tange aos itens do instrumento.
Método
Participantes
Para a realização da análise fatorial exploratória, foi utilizada uma amostra não
probabilística formada por 91 pessoas residentes do estado da Bahia, na qual 60
53
participantes eram do sexo feminino (65,9%) e 31 do sexo masculino. Os participantes
foram selecionados em instituições de ensino, igrejas e centros comunitários. A amostra
apresentou uma variação de idade entre 19 à 81 anos, com média de idade de 42,16 anos
(DP = 21,79). Para a realização da análise fatorial confirmatória, foi utilizada uma
amostra não probabilística de 740 pessoas residentes da Bahia, sendo 472 do sexo
feminino (63,8%) e 268 do sexo masculino. Os participantes apresentaram média de idade
de 43,04 (dp=20,56), com idade mínima de 18 anos e máxima de 95. O critério de inclusão
da amostra foi possuir idade mínima de 18 anos.
Instrumento
O instrumento utilizado para o presente trabalho foi o Teste de Arrumação do
Armário (TAA). O TAA é um teste computadorizado e de características ecológicas -
com uma cena cotidiana de uma cozinha - que possibilita a mensuração dos bindings
visuoespaciais que ocorrem no retentor episódico. O teste consiste na representação de
uma cozinha com quatro armários em cada canto da tela (cada armário com quatro portas,
totalizando 16 portas). É apresentada uma instrução que solicita que o participante preste
atenção e memorize o objeto e a porta onde ele será guardado. No início do teste, são
apresentados, em sequência, objetos relacionados ao ambiente (alimentos e utensílios
culinários) no centro da tela, e estes são, posteriormente, guardados em uma das portas
dos armários, de forma automática. Os objetos e suas respectivas localizações devem ser
memorizadas e, posteriormente, evocadas pelos participantes (Figura 1). Após um
intervalo de um segundo com uma tela em branco, a cozinha é novamente apresentada
com alguns objetos no centro da tela, o participante deve selecionar os objetos
54
anteriormente apresentados e alocá-los na localização previamente estabelecida - não há
limite de tempo para essa evocação.
Os objetos são apresentados em três sequências de 3,4,5. Os objetos apresentados
no centro da tela são sempre o dobro do número de objetos alocados. Na primeira
sequência são apresentados três objetos e, após suas alocações, são exibidos seis objetos
para o participante (Figura 2). Nas demais sequências são apresentados quatro objetos
alocados e exibidos oito no centro da tela, e, posteriormente, cinco objetos são alocados
e 10 exibidos na pós-alocação. Com isso a pontuação total é de 36 objeto-localizações
corretos.
O instrumento pode ser autoaplicável ou pode ser orientada pelo pesquisador, pois
todas as instruções são apresentadas no teste. Neste estudo, a orientação pelo pesquisador
foi realizada em todas as situações, para padronização da coleta de dados. O auxílio do
examinador ocorreu através da manipulação do mouse, enquanto o participante realizava
as indicações. Ao final do teste é gerado uma tabela no formato Excel (.xls) com escores
dicotômicos para objeto, localização e objeto-localização de cada sequência.
Figura 2. Representação do Teste de Arrumação do Armário após alocação automática dos itens pelo
instrumento.
55
Procedimentos
Com a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE:
89544618.7.0000.5686), os participantes foram convidados, por conveniência, a
participar da pesquisa voluntariamente, assinando o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE), que explica os procedimentos e os objetivos da pesquisa. Após esta
etapa, foi realizada a aplicação do TAA. A realização da aplicação foi feita de forma
coletiva e individual, em laboratórios de informática, das instituições que participaram do
estudo, ou no notebook dos aplicadores, em locais que não disponibilizaram
computadores. A duração total da aplicação é de 15 minutos em média. Esta coleta de
dados ocorreu durante o período de 2013 a 2019, tendo sido analisada para o atual estudo.
Análise de Dados
Para a realização das análises foi utilizado os softwares de análise estatística JASP
(Jeffrey’s Amazing Statistics Program), na versão 0.11.0, e R-programming, pacote mirt
(Multidimensional Item Response Theory). Para investigar as propriedades psicométricas
do TAA, foi realizado uma análise fatorial exploratória com a amostra inicial a fim de
verificar a qualidade dos itens e a saturação item-fator. Foi utilizado o modelo de
respostas graduadas para a discriminação dos itens. Foi realizado uma análise fatorial
confirmatória com a amostra final a fim de confirmar o modelo de fatores e verificar a
adequação dos itens ao modelo. E para mensurar a fidedignidade e a consistência interna
dos itens foi realizado o alpha de Cronbach. Para a análise das equações estruturais, este
estudo utilizou o padrão de Hair e colaboradores (2009), que sugerem um mínimo de
cinco participantes para cada item.
56
Resultados e Discussão
A partir da análise estatística foi possibilitado à investigação das propriedades
psicométricas do Teste de Arrumação do Armário (TAA) dentro da amostra. Para a
observação da unidimensionalidade do construto foi realizado uma análise fatorial, que
teve por resultado uma variância explicada adequada de 45% para um fator. Sendo
utilizado Modelo de Respostas Graduadas para estimação dos parâmetros psicométricos,
verificou-se que os valores de discriminação encontram-se acima de 1.00 para todos os
itens que mensuram o efeito binding, implicando um poder de discriminação de itens
satisfatório (Tabela 4). De acordo com o estudo de Hambleton, Swaminathan e Roger
(1991), os valores usuais de discriminação se encontram dentro do intervalo de 0 a 2.
Sendo assim, altos valores indicam itens com maior capacidade para separar indivíduos
com níveis semelhantes de habilidade.
Ainda de acordo com os dados expressos na Tabela 4, também se constata que as
cargas fatoriais exibem um valor de coeficiente acima de 0,40 possuindo assim um índice
aceitável. Segundo Figueiredo e Silva (2010), o valor de 0,40 é visto como limite aceitável
da variável na criação do fator, evitando o problema da indeterminação da relação entre
variáveis e fatores. Em relação à correlação item-total, resultados mostram um valor
acima de 0,30 confirmando uma boa correlação entre os itens de efeito binding com a
pontuação geral da avaliação do TAA (Tabela 4). Esses dados demonstram os quão
correlacionados estão os itens com o fator, visto que itens com correlações inferiores a
este valor devem ser excluídos do teste.
Tabela 4. Dados das propriedades psicométricas dos itens do efeito binding no TAA.
Item
Carga Fatorial
Discriminação
Correlação item-total
Alpha caso item seja excluído
BL1_3_OL 0,56 1,15 0,48 0,84
57
BL2_3_OL
BL3_3_OL
0,52
0,64
1,04
1,43
0,42
0,53
0,85
0,84
BL1_4_OL
BL2_4_OL
0,71
0,67
1,71
1,56
0,62
0,58
0,83
0,83
BL3_4_OL
BL1_5_OL
0,76
0,67
2,02
1,57
0,65
0,58
0,82
0,83
BL2_5_OL
BL3_5_OL
0,81
0,63
2,35
1,40
0,68
0,56
0,82
0,83
Nota. BL1: Bloco 1; BL2: Bloco 2; BL3: Bloco 3; OL: Binding objeto/localização. Ex: BL1_3_OL: Binding no bloco
1 com 3 estímulos de objeto/localização. Para todos os resultados, p < 0,05.
O Alfa de Crombach (α) foi calculado com a finalidade de mensurar a
fidedignidade e consistência interna dos itens objeto-localização, para os nove itens que
apresentam o efeito binding o coeficiente atingiu um valor igual a 0,85. Partindo desse
pressuposto, é possível afirmar que o valor de precisão da medida é satisfatório, estando
dentro do parâmetro ideal que está entre 0,70 e 0,90 (George & Mallery, 2003). De acordo
com a Tabela 4, caso algum item do efeito binding seja excluído, o alfa de Crombach não
sofrerá mudanças expressivas em seu valor, mostrando assim uma satisfatória
consistência interna dos itens.
Posteriormente, com uma amostra de 740 participantes, foi realizada uma outra
análise fatorial exploratória. Nesta análise foi realizada uma análise paralela, com rotação
oblimin. Foi verificada a distribuição dos itens em dois fatores, como pode-se ser
observado na Tabela 5. Nesta nova análise alguns itens, nos dois fatores, ficaram com
valores de carga fatorial próximos ao limite aceitável de 0,40 (Figueiredo & Silva, 2010).
Estes dados mostraram que os itens estão correlacionados com os fatores, mas não
corrobora com a análise anterior. Para verificar os índices de ajuste de cada um dos
58
modelos foi realizada uma análise fatorial confirmatória, comparando os índices de cada
um dos modelos.
Tabela 5. Propriedades dos itens do efeito binding no TAA em análise posterior. Item Carga Fatorial Alpha caso item seja excluído
Fator 1 Fator 2
BL1_3_OL 0,53 0,82
BL2_3_OL 0,52 0,81
BL3_3_OL 0,76 0,81
BL1_4_OL 0,42 0,81
BL2_4_OL 0,57 0,80
BL3_4_OL 0,41 0,80
BL1_5_OL 0,42 0,81
BL2_5_OL 0,69 0,81
BL3_5_OL 0,61 0,81
Nota. BL1: Bloco 1; BL2: Bloco 2; BL3: Bloco 3; OL: Binding objeto/localização. Ex: BL1_3_OL: Binding no bloco
1 com 3 estímulos de objeto/localização. Para todos os resultados, p < 0,05.
Para a análise fatorial confirmatória, o modelo foi testado utilizando o estimador
Weighted Least Squares Mean and Variance-Adjusted (WLSMV). Para os índices de
ajuste foram adotados os critérios padrão. Sobre a RMSEA, que estima a diferença média
entre a covariância observada e a do modelo. Browne e Cudeck (1993) sugerem que
valores de RMSEA < 0,05 sejam considerados modelos de bom ajuste, e valores de
RMSEA < 0,08 sejam considerados modelos de ajuste de dados razoáveis. Quanto ao GFI
e NFI, que correspondem à proporção de covariância observada que é explicada pela
covariância do modelo, Bentler e Bonett (1980) sugerem que valores de GFI e NFI > 0,90
indicam um ajuste considerado aceitável. Acerca da CFI, que reflete ao melhor ajuste do
modelo aos dados, Hu & Bentler (1999) sugerem que valores de CFI > 0,95 são
considerados aceitáveis, com menos chances de erros tipo II e com chances aceitáveis de
erro tipo I. É importante ressaltar que o erro tipo I ocorre quando se rejeita uma hipótese,
sendo ela verdadeira, já o erro tipo II é verificado em uma situação que se aceita uma
hipótese, sendo esta falsa.
59
Nenhum item apresentou carga fatorial baixa (< 0,40) para precisar ser excluído.
Sendo assim o modelo unidimensional ficou composto por nove itens, agrupados em um
fator. Como pode-se observar na Tabela 6, índices de adequação encontrados foram:
χ2=65,58; GFI=0,96; CFI=0,99; NFI=0,95; RMSEA=0,04. Para o modelo com dois
fatores, os índices de adequação foram: χ2=40,09; GFI=0,98; CFI=0,97; NFI=0,92;
RMSEA=0,03, com uma correlação alta entre os fatores (r=0,85; IC=0,80 a 0,91). Os
índices de ajuste foram considerados excelentes para os dois modelos e não foi necessário
excluir nenhum item com saturação inferior a 0,40.
Tabela 6. Índices de ajuste para o modelo testado do TAA. GFI CFI NFI RMSEA
Modelo com 1 fator 0,96 0,99 0,95 0,04
Modelo com 2 fatores 0,98 0,97 0,92 0,03
Nota. GFI = índice de qualidade do ajuste; CFI = índice de ajuste comparativo; NFI = índice de relativa não-
centralidade; RMSEA = raiz do erro quadrático médio; ECVI = índice de validação cruzada esperada.
O GFI e o NFI apresentam o índice de qualidade do teste e o índice de relativa
não-centralidade, mas eles não são os índices indicados para comparação entre modelos,
não acomodando os efeitos de complexidade. A literatura sugere que deve-se observar o
modelo com maior valor de CFI e menor de RMSEA, indicando melhor ajuste (Cheung
& Rensvold, 2002). Como pode-se observar na Tabela 6, os dois modelos apresentam
excelentes índices de ajuste, com um modelo apresentando maior CFI e outro com menor
RMSEA, o que dificulta a análise.
Quando observado a carga fatorial dos itens, não há uma grande diferença nos
valores, não havendo necessidade de exclusão de itens. Com os mesmos critérios
utilizados anteriormente e selecionando manualmente uma distribuição com um fator, o
modelo unidimensional apresenta valor com mínimo de 0,48 e máximo de 0,66, enquanto
no modelo de 2 fatores, o valor mínimo é de 0,41 e máximo de 0,76. Além disso, no
60
segundo modelo, a correlação entre os dois fatores é forte (r=0,85; IC=0,80 a 0,91), o que
indica aspectos similares entre os fatores ou até mesmo sobreposição. Com base nessas
informações, optou-se pelo modelo unidimensional, representado graficamente na Figura
3.
Figura 3. Representação do modelo unidimensional do TAA, com a carga fatorial de cada item.
Para uma análise geral, o Alfa de Cronbach (α) apresentou valor de 0,83 (IC=0,80
a 0,84), com pouca diferença caso algum item seja excluído (de 0,80 a 0,82). Com base
nesta informação, pode-se verificar que o valor da precisão da medida corrobora com a
análise anterior, permanecendo dentro do parâmetro considerado ideal (0,70 a 0,90) e
pouca variação caso algum item seja excluído.
No contexto brasileiro, não há um teste até o presente que mensure a capacidade
binding objeto-localização em uma perspectiva com características ecológicas, que
contribui para melhor análise de uma avaliação e reabilitação (Chaytor & Schmitter-
Edgecombe, 2003). Portanto a o processo de evidências de validade do TAA está
diretamente relacionado ao preenchimento de uma lacuna de instrumentos que buscam
61
avaliar com características ecológica o efeito binding da memória operacional
visuoespacial.
O TAA, no futuro, poderá servir como forma de confirmação da efetividade de
intervenções na memória operacional com sujeitos em reabilitação neuropsicológica. Em
contexto da avaliação neuropsicológica clínica, poderá ser possibilitado mais um recurso
de diagnóstico em memória operacional, realizando desta forma uma avaliação de forma
mais precisa, bem como uma intervenção cada vez mais focada nas necessidades do
sujeito, podendo ser integrado a outras baterias. Com a possibilidade de descobrir
dificuldades em MO o mais precocemente possível, aumenta-se a chance de reabilitação
mais precisa e efetiva.
Considerações finais
Este estudo teve por objetivo verificar as propriedades psicométricas do Teste de
Arrumação do Armário (TAA) em duas amostras, uma com 91 e outra com 740 pessoas,
residentes do estado da Bahia, que buscou-se verificar o instrumento possui propriedades
psicométricas, relacionadas aos itens, apropriadas para mensurar bindings visuoespacias
do modelo multicomponente de memória operacional.
Este estudo analisou a adequação do modelo fatorial do TAA por meio de uma
análise fatorial exploratória e confirmatória. Os resultados mostraram que o Teste de
Arrumação do Armário possui propriedades psicométricas adequadas. Trata-se de um
instrumento eficaz para a avaliação do efeito binding em informações visuoespaciais da
memória operacional.
Algumas limitações foram apresentadas neste estudo. As únicas variáveis dos
participantes foram sexo e idade. Dados socioeconômicos, escolaridade e estado civil são
62
importantes e a literatura indica que fatores socioeconômicos exercem influência positiva
no desempenho em medidas de funções executivas (Sbicigo, Abaid, Dell’Aglio & Salles,
2013). É importante salientar a necessidade da continuação de pesquisas deste
instrumento, como a ampliação da amostra para outros estados do Brasil com a finalidade
de reanalisar algumas questões psicométricas dos itens do teste. Após a realização destas
etapas, será possível a investigação por intermédio das pesquisas científicas com grupos
clínicos e o possível efeito dos diagnósticos neuropsiquiátricos e neurológicos no
desempenho do processo binding visuoespacial.
63
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67
ARTIGO III
Evidências de validade convergente e discriminante do TAA para avaliação da memória
operacional visuoespacial
Resumo
Neste estudo de análise de evidências de validade do Teste de Arrumação do Armário
(TAA), instrumento utilizado na avaliação de bindings visuoespaciais da memória
operacional (MO), investigamos a comparação entre construtos semelhantes e diferentes,
a fim de oferecer uma interpretação conveniente para o uso potencial da tarefa. Avaliou-
se a validade convergente do TAA com a tarefa de Cubos de Corsi e a validade
discriminante entre o TAA e o Teste dos Cinco Dígitos (FDT). Atualmente, existe um
déficit de estudos de evidências de validade e normatização de testes que avaliam a MO
no Brasil, havendo, assim, uma necessidade de ampliação de estudos relacionados.
Participaram 260 indivíduos voluntários, com idade entre 18 e 75 anos. Os resultados
confirmaram a correlação entre as validades convergentes e discriminantes propostas, o
que sugere a eficiência da tarefa no uso apresentado. Esse teste é o primeiro no Brasil a
utilizar uma perspectiva ecológica visando expor um desempenho na capacidade avaliada
mais próximo do cotidiano prático, podendo, desse modo, realizar suas contribuições em
áreas como a pesquisa, reabilitação e avaliação.
Palavras-chave: teste neuropsicológico; validade; correlação bayesiana; binding;
memória operacional
Abstract
In this study of evidence of validity of the Cabinet Storage Test (CST), an instrument
used in the evaluation of visuospatial bindings of working memory (WM), we
investigated the comparison between similar and different constructs in order to provide
a convenient interpretation for the potential use of the task. The convergent validity of
the CST with the Corsi Cubes task and the discriminant validity between the CST and the
Five Digit Test (FDT) were evaluated. Currently, there is a deficit of validation studies
and standardization of tests that evaluate WM in Brazil. Thus, there is a need to expand
related studies. Participants were 260 volunteers, aged between 18 and 75 years. The
68
results confirmed the correlation between the proposed convergent and discriminant
validity, which suggests the efficiency of the task in the presented use. This test is the
first in Brazil to use an ecological perspective to expose a performance in the capacity
assessed closer to practical daily life, thus, it can offer contributions in areas such as
research, rehabilitation and evaluation.
Keywords: neuropsychological test; validity; bayesian correlation; binding; working
memory
69
As funções executivas (FE) são um grupo de habilidades cognitivas que
direcionam o indivíduo para metas, dando a possibilidade de resolução de problemas,
manipulação de informações e inibição de distratores e comportamentos. As FE são
fundamentais para a saúde física e mental, sucesso escolar e ocupacional, e para o
desenvolvimento social, cognitivo e psicológico. As FE são processos relativamente
independentes e podem ser integrados em três funções nucleares: o controle inibitório,
responsável pela inibição cognitiva, comportamental e atencional; a flexibilidade
cognitiva, relacionado com a mudança de perspectivas e alternância entre estímulos e
tarefas; e a memória operacional, associada à capacidade de manipular informações
mentalmente por um período limitado (Miyake et al., 2000; Diamond, 2013; Friedman &
Miyake, 2017).
A Memória Operacional (MO) é um sistema mnemônico multicomponente que
envolve simultaneamente o armazenamento e a manipulação de estímulos na realização
de atividades cognitivas complexas (Baddeley, 2012; Chai, Abd Hamid & Abdullah,
2018). A MO está associada à comportamentos direcionados a objetivos, nos quais a
retenção e a manipulação da informação se revelam críticos para a sua execução (Chai,
Abd Hamid & Abdullah, 2018). Assim, este sistema possui papel fundamental em tarefas
cotidianas como realizar cálculos mentais, reorganizar itens mentalmente, atualizar
informações no pensamento, considerar alternativas e relacionar itens ou ideias
(Diamond, 2013).
O modelo mais recente proposto por Baddeley (2000) sugere uma perspectiva em
que a MO é composta por subsistemas, tais quais: o central executivo, responsável pelo
controle atencional; a alça fonológica, encarregada pelo armazenamento temporário e
pela manipulação de informações verbais; o esboço visuoespacial, responsável por
armazenar temporariamente e por manipular informações visuais e espaciais; e o retentor
episódico, incubido de integrar informações multimodais e de conectar temporariamente
informações presentes da memória imediata com as memórias de longa duração
(Baddeley, 2012).
O retentor episódico realiza dois processos na MO, o chunking e o binding
(Baddeley, 2012). O chunking é o processo no qual é possível agrupar diversos estímulos
em unidades, como o registro de um número telefônico, que no Brasil possui geralmente
nove dígitos, mas podem ser agrupados para melhor recordação, formando chunkings de
dois ou três dígitos por vez, por exemplo. Já o binding é o processo responsável pela
sustentação temporária de uma ligação entre informações semelhantes ou diferentes,
70
como recordar o nome de alguém ao visualizar uma pessoa ou recordar o local onde
determinado objeto foi guardado (Baddeley, 2012).
Investigar a MO possui valor clínico e educacional, visto que essa auxilia no
diagnóstico diferencial em neuropsicologia, na identificação de fenótipos cognitivos e nas
relações de aprendizagem (Abreu, Lima, Siquara, Wyzykowski & Fonseca, 2018). A
avaliação do efeito binding é pertinente em diversos quadros clínicos que afetam a MO,
alguns exemplos são: a doença de Alzheimer e comprometimento cognitivo leve (Kirova,
Bays & Lagalwar, 2015); transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (Nigg et al.,
2018); transtorno do espectro autista (De Vries, Prins, Schmand & Geurts, 2014);
transtornos específicos de aprendizagem (Maehler & Schuchardt, 2016); transtorno
depressivo maior (Le, Borghi, Kujawa, Klein & Leung, 2017); e esquizofrenia (Silver,
Feldman, Bilker & Gur, 2003; Senkowski & Gallinat, 2015).
As tarefas mais utilizadas para a avaliação da MO são as de Span de Dígitos em
ordem inversa, os Cubos de Corsi e a tarefa de amplitude de dígitos (digit span) das
Escalas de Wechsler (WISC-IV e WAIS-III) (Abreu et al., 2018a). Todavia, no Brasil,
foi observada, mediante revisão sistemática, uma escassez de estudos de evidências de
validade e normatização das tarefas que avaliam a MO para o contexto nacional, a
exceção da tarefa de amplitude de dígitos (digit span) das Escalas de Wechsler (Siquara,
2014). Assim, devido ao seu valor simulando uma situação cotidiana, nota-se a
necessidade de estudos que disponham de dados psicométricos dessas tarefas para o
contexto brasileiro, a fim de que se possa desenvolver mais pesquisas que investiguem a
relação da MO com fatores educacionais e da saúde (Siquara, 2014).
A construção de um instrumento requer empenho do pesquisador para certificar a
qualidade dos resultados. A análise do desempenho dos resultados é realizada através de
propriedades de medidas instrumentais, das quais destaca-se a validade como a
consideração mais imprescindível ao desenvolver e avaliar testes (AERA, APA, &
NCME, 2014; Souza, Alexandre & Guirardello, 2017).
A validade concerne ao grau em que as teorias e evidências fundamentam os
resultados do teste para o seu uso proposto, ou seja, a validade refere-se à medição exata
do que o instrumento se dispõe a avaliar (AERA et al., 2014; Souza, Alexandre &
Guirardello, 2017). O processo de evidências de validade compreende a concentração de
indicadores científicos significativos para definir o construto, conceito o qual o teste
pretende medir, juntamente com a justificativa da relevância do teste apresentado (AERA
et al., 2014).
71
Com o objetivo de proporcionar outra expressiva fonte de validade de evidência,
é recorrente na pesquisa, a comparação do construto apresentado com outras variáveis.
Isso ocorre a partir da análise dos resultados do teste proposto junto com as variáveis
externas, as quais são capazes de averiguar se outros testes sugerem constructos diferentes
ou semelhantes (AERA et al., 2014).
Ao avaliar construtos semelhantes, as evidências fornecidas são de conteúdo
convergente, enquanto que a associação entre os resultados do teste e medidas de
construtos diferentes, suportam evidências divergentes ou discriminantes. As menores
correlações entre resultados de testes, podem ser observadas com análises de medidas de
habilidade diferente a que o pesquisador propõe-se a medir. Esse processo, denominado
de validação divergente, é extremamente relevante para aperfeiçoar e formular a
interpretação e conteúdo dos resultados. A validade convergente corresponde à relação
significativa, com base em diferentes métodos e instrumentos de avaliação, de construtos
teoricamente semelhantes, obtendo-se, desse modo, maiores correlações e
consequentemente, maior qualidade das evidências de validade (Pasquali, 2003; AERA
et al., 2014).
Considerando que a apresentação de evidências de validade de construto é
relevante no que tange à validade de um novel instrumento, o objetivo deste estudo é
verificar evidências de validade de construto do Teste de Arrumação do Armário (TAA),
um instrumento computadorizado e com características ecológicas que busca avaliar
bindings visuoespaciais da MO, que está em processo de busca de evidências de validade
(Abreu et al., 2018b).
Metodologia
Participantes
Os participantes foram selecionados de maneira voluntária, por conveniência, no
estado da Bahia, Brasil. Este estudo apresenta uma amostra de 260 indivíduos, com idades
entre 18 e 75 anos. O critério de inclusão deste estudo foi possuir idade igual ou acima de
18 anos e o critério de exclusão foi possuir um diagnóstico neuropsiquiátrico. A média
geral de idade foi de 33,89 anos (dp=13,49). Em relação a diferença entre homens e
72
mulheres, a amostra foi composta de 61,2% de mulheres, equivalente a 159 pessoas, como
pode-se observar na tabela 7. Sobre a escolaridade da amostra, 130 participantes
apresentaram nível médio de escolaridade completa, correspondendo a 50% da amostra.
Quanto ao nível socioeconômico, 78 participantes apresentaram nível C1, dentro dos
critérios da ABEP (2016), correspondendo a 30% da amostra total, evidenciado na tabela
8.
Tabela 7. Características da amostra.
Faixa etária N Média de idade (dp) Porcentagem (%) Min-Máx
Homens 101 34,55 (13,82) 38,8 18-68
Mulheres 159 33,47 (13,30) 61,2 18-75
Total 260 33,89 (13,49) 100 18-75
Tabela 8. Características de sociodemográficas da amostra.
Escolaridade N Porcentagem (%) Nível socioeconômico N Porcentagem (%)
Analfabeto 11 4,23 D/E 24 9,23
Fundamental I 10 3,85 C2 74 28,46
Fundamental II 19 7,30 C1 78 30
Médio 130 50 B2 67 25,77
Superior 75 28,85 B1 15 5,77
Pós-Graduação 15 5,77 A 2 0,77
Total 260 100 Total 260 100
Instrumentos
73
Para este estudo foram utilizados 3 instrumentos, o Teste de Arrumação do
Armário (TAA), os Cubos de Corsi e o Five Digit Test (FDT). O TAA é um instrumento
neuropsicológico computadorizado que avalia a extensão da memória operacional para
bindings objeto-localização. O teste, elaborado por Abreu e colaboradores (2018b) simula
uma situação cotidiana, com a imagem uma cozinha com 16 portas de armário ao fundo,
com quatro portas em cada uma das quatro extremidades da tela. Objetos são apresentados
sequencialmente no centro da tela e posteriormente são guardados em uma das portas do
armário. Após o período de apresentação dos objetos e suas respectivas localizações, é
apresentado o cenário da cozinha novamente, desta feita com o dobro de objetos
apresentados anteriormente, todos no centro da tela, sendo metade destes distratores.
Neste período o participante deve selecionar os objetos apresentados durante a etapa
anterior e realocá-los na localização correspondente. O teste é composto pela
apresentação de nove sequências, sendo três sequências de 3, 4 e 5 objetos-localização.
O FDT é um teste psicológico que avalia funções executivas, a velocidade de
processamento e o processamento atencional. É um teste de aplicação individual,
composto por quatro subtestes, que são identificados como leitura, contagem, escolha e
alternância. As duas primeiras avaliam a atenção automática, velocidade de
processamento e as duas últimas, a atenção controlada e atenção executiva. A partir da
pontuação destes subtestes, é possível realizar o escore composto de inibição e
flexibilidade (Campos, da Silva, Florêncio & de Paula, 2016).
A tarefa de Cubos de Corsi é um instrumento, composto por duas tarefas, que
avalia a memória visuoespacial de curto prazo, na sua ordem direta, e a memória
visuoespacial operacional, na ordem inversa. O instrumento é formado por 9 cubos fixos
em uma base retangular. O experimentador faz uma sequência em que toca em cubos, em
sequências de 2 a 9 cubos, os quais o participante deve repetir a sequência em ordem
direta e, em outro momento, em ordem inversa. Para este estudo foi utilizado a sequência
normativa de Kessels e colaboradores (2000).
Procedimentos
O estudo foi inicialmente submetido ao comitê de ética em pesquisa (CAAE:
89544618.7.0000.5686), e após a sua aprovação, um grupo de pesquisadores foi treinado
para auxiliar na coleta de dados. Os participantes do estudo foram convidados a participar
voluntariamente. Os indivíduos que aceitaram o convite de participação preencheram um
74
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O estudo foi realizado em domicílios,
instituições de ensino e centros religiosos, em todos os ambientes houve controle de
estímulos visuais, sonoros e de temperatura.
Os instrumentos foram aplicados na seguinte ordem: tarefa de Cubos de Corsi,
FDT e TAA. A avaliação foi realizada de maneira individual e o tempo médio foi de 30
minutos, com variações a depender do desempenho do participante. O TAA é um teste
autoaplicável, mas para garantir padronização do protocolo, as instruções do TAA foram
lidas para todos os participantes e explicadas. Em casos de alguns participantes idosos,
indivíduos com tremores e pessoas com pouca familiaridade com notebooks e
computadores, o pesquisador conduziu o cursor do mouse/touchpad pelo participante, que
indicava os objetos e locais verbalmente.
Análises de dados
Para a realização da análise de dados, foi utilizado o software estatístico JASP
(Jeffrey’s Amazing Statistics Program) versão 0.10.2. Foram realizadas estatísticas
descritivas dos instrumentos analisados, utilizando a média e desvio padrão.
Foi verificada a distribuição paramétrica da amostra pelo teste de Shapiro-Wilk
(> 0.001) das variáveis dos instrumentos. Com base nesta informação, foi optado realizar
o teste paramétrico Coeficiente de Correlação de Pearson, para realização das análises de
validade convergente e discriminante dos escores dos instrumentos utilizados. Para a
análise da Correlação de Pearson optou-se em utilizar o método bayesiano.
Resultados
Em uma amostra composta por 260 indivíduos adultos do estado da Bahia, foi
verificado as estatísticas descritivas dos instrumentos utilizados, apresentados na tabela
8. Foi utilizado como escore para o FDT o tempo de realização em cada um dos quatro
subtestes do instrumento, além do escore composto de inibição e flexibilidade, que são
realizados a partir do tempo dos subtestes. Para a tarefa de Cubos de Corsi foi utilizado
como critério o número de acertos das sequências, na ordem direta e inversa. No TAA foi
utilizado o número total de bindings objeto-localização em todo o teste.
75
Tabela 9. Estatísticas descritivas dos instrumentos utilizados.
FDT-
Leitura FDT-
Contagem FDT-
Escolha FDT-
Alternância FDT-
Inibição FDT-
Flexibilidade Corsi-
Direta Corsi-
Inversa TAA-
Total
M
(dp) 29,37
(17,38) 31,56
(15,45) 45,37
(20,03) 57,73
(25,80) 22,95
(19,04) 35,47
(23,30) 8,10
(2,05) 7,82 (2,49)
16,81 (6,92)
Min 11 14 20 28 -7 1 2 2 0
Máx 143 131 198 201 158 147 15 14 34
Os escores dos indivíduos da amostra estão apresentados em média (M), desvio
padrão (dp), valor mínimo e máximo. No FDT, em Leitura, os participantes obtiveram
uma média de 29,37 (dp=17,38); em Contagem, os indivíduos possuíram escore médio
de 31,56 (dp=15,45); na tarefa de Escolha, tiveram média de 45,37 (dp=20,03); em
Alternância, obtiveram escore médio de 57,73 (dp=25,80); no fator composto de Inibição,
os participantes tiveram uma média de 22,95 (dp=19,04); e, em Flexibilidade, obtiveram
escore médio de 35,47 (dp=23,30). Na tarefa de Cubos de Corsi, os participantes
apresentaram escore médio de 8,10 (dp=2,05) na ordem direta e média de 7,82 (dp=2,49)
na ordem inversa. Os participantes do estudo apresentaram escore total médio de 16,81
(dp=6,92) no TAA.
Foi conduzida uma Correlação Bayesiana de Spearman, com o objetivo de
verificar associações para validade convergente entre o desempenho em binding objeto-
localização da memória operacional visuoespacial do TAA com a performance da
memória visuoespacial operacional do Cubos de Corsi. Assim como verificar as
correlações para a validade discriminante entre o desempenho no TAA e com os fatores
do FDT que avaliam atenção, velocidade de processamento, flexibilidade cognitiva e
controle inibitório.
Na tabela 10 podemos verificar as correlações entre os instrumentos utilizados.
Neste estudo interpreta-se r pelo padrão ouro (Hinkle, Wiersma & Jurs, 2003), se 0,00 <
r < 0,30, a correlação é insignificante ou muito baixa; se 0,30 < r < 0,50, a correlação é
fraca; e, se 0,50 < r < 0,70, a correlação é moderada; se 0,70 < r < 0,90, a correlação é
alta; e, se 0,90 < r < 1, a correlação é muito alta. Foi optado pela utilização da Correlação
Bayesiana de Pearson, em detrimento da clássica, devido ao a possibilidade de se testar
76
as hipóteses nula (H0) e alternativa (H1) (Wagenmakers et al., 2018). Para a interpretação
do fator de Bayes (BF), foi utilizado o critério clássico de Jeffreys (1961), se 0,00 <
log(BF10) < 0,5, a evidência a favor de H1 é insignificante; se 0,5 < log(BF10) < 1, a
evidência que corrobora para H1 é significativa; se 1 < lob(BF10) < 2, a evidência para a
H1 é forte; se log(BF10) > 2, a evidência a favor de H1 é decisiva; e, valores negativos,
em mesma escala anteriormente expostos, são evidências a favor de H0.
Tabela 10. Correlação Bayesiana de Pearson (r) entre os instrumentos utilizados.
TAA- Total
FDT- Leitura r IC (95%) log(BF10)
-0,253* -0,361/-0,134
5,85
FDT- Contagem r IC (95%) log(BF10)
-0,320* -0,423/-0,205
11,22
FDT- Escolha r IC (95%) log(BF10)
-0,310* -0,414/-0,194
10,34
FDT- Alternância r IC (95%) log(BF10)
-0,366* -0,465/-0,254
15,81
FDT- Inibição r IC (95%) log(BF10)
-0,273* -0,381/-0,156
7,35
FDT- Flexibilidade r IC (95%) log(BF10)
-0,365* -0,464/-0,253
15,65
Corsi- Direta r IC (95%) log(BF10)
0,409* 0,300/0,503
20,73
Corsi- Inversa r IC (95%) log(BF10)
0,502* 0,402/0,586
34,44
Nota: IC - Intervalo de credibilidade, BF - Fator de Bayes, *log(BF10) > log(100)
Pode-se observar correlações consideradas insignificantes a negativas baixas na
comparação do TAA com o FDT (r mínimo de -0,253 e máximo de -0,366). Em relação
à tarefa de Cubos de Corsi, foi verificada correlação com o TAA considerada positiva
baixa para a ordem direta (0,409) e positiva moderada (0,502) para a ordem inversa. O
fator de Bayes em todas as correlações analisadas foi considerada decisivo.
77
Para a verificação da validade convergente do TAA, foi utilizado a tarefa de
Cubos de Corsi, sobretudo na sua ordem inversa, que avalia a memória operacional
visuoespacial. A correlação do TAA com as duas ordens da tarefa de Cubos de Corsi foi
positiva, embora com correlação baixa para a ordem direta e moderada para a ordem
inversa. O fator de Bayes foi considerado decisivo para as duas correlações. É importante
ressaltar que o fator de Bayes da comparação do TAA com a ordem inversa foi o maior
entre as correlações, dando mais suporte para aceitar a hipótese alternativa, como pode-
se verificar na Figura 4.
Figura 4. Análise sequencial da correlação entre o TAA e a ordem inversa da tarefa de Cubos de Corsi.
Discussão
O presente estudo teve por objetivo analisar as evidências de validade de
construto, através da validade discriminante e convergente do TAA. Quanto a verificação
da validade discriminante do TAA, foi utilizado o Teste dos Cinco Dígitos, que avalia
atenção, flexibilidade cognitiva e controle inibitório. O uso do FDT como instrumento de
avaliação da validade discriminante permitiu que se pudesse, em conjunto abrangente,
verificar várias funções cognitivas distintas. A correlação do TAA com o FDT foi
negativa, com correlações consideradas insignificantes nos itens de Leitura e Inibição, e
baixa nos demais itens.
78
Os índices negativos no FDT devem-se ao sistema de pontuação do teste, que é
registrada em segundos, portanto, quanto maior a pontuação, pior o desempenho do
participante. Dito isto, com base nos estudos de análise da unidade e diversidade das FE
é esperado correlação entre as FE (Miyake et al., 2000; Friedman & Miyake, 2017). A
correlação significativa do TAA com o FDT foi esperada por serem instrumentos que
avaliam FE (controle inibitório, flexibilidade cognitiva e memória operacional). É
importante analisar que esta correlação foi insignificante a muito baixa (r mínimo de -
0,253 e máximo de -0,366) e o fator de Bayes, embora decisivo, foi muito menor que a
ordem inversa da tarefa de Cubos de Corsi, que avalia MO visuoespacial.
Para a observação da validade convergente foi observada a correlação do TAA
com a ordem inversa da tarefa de Cubos de Corsi. É importante destacar que mesmo
avaliando o mesmo construto, os instrumentos apresentam paradigmas diferentes. O TAA
busca avaliar o binding binding visuoespacial por objeto-localização e a tarefa de Cubos
de Corsi mensura a memória visuoespacial. A correlação entre os instrumentos foi
considerada moderada (r=0,502), indicando correlação satisfatória entre os instrumentos.
O valor logarítmico fator de Bayes foi considerada decisivo para todas as comparações,
porém foi muito maior na correlação do TAA com a tarefa de Cubos de Corsi (34,44).
Este dado indica que embora todas as correlações suportem a hipótese alternativa de
forma decisiva, a probabilidade de aceitar a hipótese alternativa é ainda maior na
correlação entre a ordem inversa da tarefa de Cubos de Corsi, como pode-se observar na
Figura 4.
Com base nestas análises, foi possível verificar informações que apoiam a
validade convergente do TAA com a tarefa de Cubos de Corsi, assim como a validade
discriminante entre o TAA e o FDT. Os dados estão em consonância teórica com os
estudos de Miyake e colaboradores (2000) e Friedman & Miyake (2017), que apresentam
relações entre os componentes nucleares das FE. É importante destacar que não há, no
contexto brasileiro até o presente, um instrumento que mensure bindings objeto-
localização da memória operacional, utilizando uma perspectiva com características
ecológicas que busca apresentar um desempenho na capacidade avaliada mais próximo
da realidade, contribuindo para a análise de uma avaliação e reabilitação (Chaytor &
Schmitter-Edgecombe, 2003; Weber, Goverover & DeLuca, 2019).
Em suma, é possível afirmar que o TAA é um instrumento útil para a avaliação
de bindings visuoespaciais da MO. Um exemplo prático desta utilidade é que avaliação
da MO pode identificar estágios de declínio cognitivo e dar suporte a reabilitação durante
79
estágios pré-clínicos da Doença de Alzheimer, quando possivelmente as intervenções
obtenham maior efeito no funcionamento cognitivo (Tourinho, 2014; Kirova, Bays &
Lagalwar, 2015). Além disso, uma avaliação com características ecológicas dá suporte a
análises de avaliação e reabilitação mais adequadas para possíveis prejuízos cotidianos
do indivíduo (Chaytor & Schmitter-Edgecombe, 2003)
Considerações finais
A partir desse estudo, portanto, pode-se afirmar que o TAA é eficaz na avaliação
da memória operacional, sendo compatível com outra forma de avaliação da mesma, os
Cubos de Corsi, e não ultrapassando os conteúdos do construto que avalia, através da
análise divergente com o FDT.
A avaliação neuropsicológica é fundamental para dar suporte a um possível
diagnóstico ou planejar uma reabilitação, um instrumento com características ecológicas
tem o potencial de contribuir para análises mais condizentes com a realidade do indivíduo.
Desta forma, considerando que a avaliação da MO pode contribuir para a avaliação
e reabilitação de diversos quadros clínicos e pré-clínicos, espera-se que este instrumento
contribua para o campo da avaliação neuropsicológica do Brasil.
Este estudo apresentou algumas limitações. Destaca-se que o estudo não
apresentou uma amostra heterogênea com outras regiões do Brasil. Além disso,
informações como faixa etária poderiam contribuir para análises mais detalhadas. Apesar
da pouca representatividade da amostra, os resultados indicam consistência com estudos
anteriores.
80
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84
Conclusões
Os resultados apresentados nos três artigos foram convergentes para demonstrar
propriedades psicométricas adequadas para alguns aspectos da validade do instrumento.
Nos estudos, os resultados dos processos de análise fatorial, validade de conteúdo e de
construto apresentaram critérios considerados adequados. A avaliação neuropsicológica
é importante no auxílio de um diagnóstico ou reabilitação, o TAA, como instrumento com
características ecológicas, é uma possível alternativa para a avaliação de binding
visuoespacial da MO em uma perspectiva mais condizente com a vida do indivíduo.
No artigo 1 foram apresentadas evidências de validade conteúdo do TAA,
utilizando a análise de juízes. Foram realizadas duas análises com diferentes juízes, com
nove participantes no total. Na primeira etapa, foi realizado um índice de validade de
conteúdo, com valor total de 0,98. Na segunda parte, foi calculado o coeficiente de Cohen
Kappa, apresentando resultado total de 1,00. Os dados indicaram um nível de
concordância considerado satisfatório, com valores acima dos pontos de corte
estabelecidos, sugerindo que o TAA apresenta construto teórico considerado adequado
pelos participantes.
No artigo 2 foi verificado os itens do instrumento e o modelo fatorial proposto,
utilizando análise fatorial exploratória e confirmatória. Este estudo apresentou uma
amostra com inicialmente 91 participantes para a análise fatorial exploratória e 740
indivíduos para a análise fatorial confirmatória. Na análise fatorial exploratória verificou-
se um agrupamento dos itens em um fator, não sendo necessária a exclusão de nenhum
item e apresentando variância explicada de 45% para um fator. Observou-se que os
valores de discriminação encontram-se acima de 1,00 para todos os itens, implicando em
um poder de discriminação de itens satisfatório. A correlação de item-total evidenciou
85
resultados com valores acima de 0,30, confirmando uma boa correlação entre os itens.
Para a análise de consistência interna foi calculado o Alfa de Cronbach, obtendo o
resultado de 0,83 mostrando uma consistência satisfatória, sem grande mudança caso
algum item seja excluído. Em uma análise posterior, observou-se distribuição dos itens
em dois fatores. Então, foi realizada uma análise fatorial para verificação dos índices de
ajuste e para comparação dos modelos. Os dois modelos apresentaram índices de ajuste
(CFI, NFI, GFI e RMSEA) considerados satisfatórios e com resultados muito próximos.
Com isso, ao analisar a carga fatorial de cada modelo e a correlação entre os fatores no
modelo de dois fatores, observou-se que não houve grande diferença entre as cargas
fatoriais, não havendo necessidade de exclusão de itens e a correlação alta (r=0,85;
IC=0,80 a 0,91), o que indica aspectos similares entre os fatores ou até mesmo
sobreposição. Com base nessas informações, optou-se pelo modelo unidimensional. A
partir desses dados, conclui-se que o TAA é um instrumento que possui propriedades
psicométricas adequadas.
No estudo 3 foram apresentadas evidências de validade de construto do TAA,
utilizando uma validade convergente e discriminante. Avaliou-se a validade convergente
com a ordem inversa da tarefa de Cubos de Corsi, enquanto a validade discriminante foi
realizada comparando os fatores do FDT. Foi realizada uma correlação bayesiana de
Pearson entre os instrumentos, indicando correlação moderada com a ordem inversa da
tarefa de Cubos de Corsi (r=0,502; log(BF10)=34,44) e correlações consideradas
insignificantes a negativas baixas na comparação do TAA com o FDT (r mínimo de -
0,253 e máximo de -0,366). Os resultados confirmam correlação entre as evidências de
validades convergente e discriminante, sugerindo adequação do TAA ao construto
proposto.
86
Com base nessas informações, podemos verificar que os estudos apresentados
confirmaram os objetivos e rejeitaram as hipóteses nulas. Para a análise de validade de
conteúdo, os dados rejeitaram a hipótese nula, mostrando que o instrumento encontrou
parâmetros aceitáveis baseados na análise de juízes por IVC e Coeficiente de Cohen
Kappa. Para a análise dos itens, os resultados rejeitaram a hipótese nula, indicando que o
instrumento apresenta itens e índices de ajuste para o modelo considerados adequados,
com base na análise fatorial exploratória e confirmatória. Quanto ao objetivo de avaliação
das evidências de validade de construto, foi possível verificar a rejeição da hipótese nula
e o aceite da hipótese alternativa, baseados na correlação bayesiana de Pearson, o que
indica que o TAA apresenta propriedades adequadas relacionadas ao construto utilizado.
Algumas etapas do processo de ampliação de evidências de validade do
instrumento ainda precisam ser realizadas, como as evidências de validade baseadas em
critério, que está em processo de desenvolvimento. Para verificação da validade de
critério, espera-se realizar uma comparação do desempenho dos participantes com e sem
critérios para Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, que serão analisados a
partir do instrumento Adult Self-Report Scale (ASRS).
87
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