POIESIS
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JONAS MATHEUS SOUSA DA SILVA
Poiesis
1ª edição
Belém / PA
2018
Jonas Matheus Sousa da Silva
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Copyring© Jonas Matheus Sousa da Silva, 2018
®Todos os direitos reservados
*Correção gramatical e estilística:
.: Maria Conceição de Lima.Maria Conceição de Lima.
*Diagramação: Jonas M. S. Silva.
*Capa: Lençóis Maranhenses
*Contracapa: Fonte do Mosteiro de S. Bento (RJ)
*Marca d’água: https://pt.dreamstime.com/fotos-de-stock-frames-
preto-e-branco-image11626703
Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha Catalográfica feita pelo autor
PRÓLOGO:
S586p Silva, Jonas Matheus Sousa da, 1989 –
Poiesis / Jonas Matheus Sousa da Silva. – Belém:
Edição do autor, 2018.
80p.
ISBN: 978-85-5697-709-0 1.Literatura 2.Poesia.
1.Título.
CDD: B869.1
CDU: 82-1
POIESIS
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SACERDOTE E POETA, CRIADOR E
SERVIDOR DA PALAVRA
O sacerdote que quer ser fiel a si mesmo, deve
cultivar a sua missão de poeta. As preocupações de
um poeta, por mais pessoais que pareçam, expressam
as inquietudes comuns da vida humana.
Karl Rahner afirma que as supremas
possibilidades não passam ou não deixam de ser
promessas, pois, do contrário, já haveria acontecido a
plenitude que aguardamos ansiosamente. Entre essas
supremas possibilidades, conta-se a de que um
homem seja, ao mesmo tempo, sacerdote e poeta, que
essas duas vocações se identifiquem em uma. Ao
poeta foi confiada a palavra, que é mais do que uma
simples exteriorização sonora de um pensamento, é a
corporeidade em que primariamente existe,
esculpindo-se aquilo que agora pensamos e
experimentamos, ou melhor, é o pensamento
corpóreo. Palavras vivas que sobem do coração e se
entrelaçam em frases, que ressoam em hinos, que
decidem eternidades, que abrem portas à autêntica
possibilidade. O poeta é um homem grávido de
palavras originais, não é apenas um versificador. Seu
falar faz com que as palavras alcancem beleza, pois a
autêntica beleza é manifestação da realidade e esta
acontece, sobretudo, na palavra. A palavra introduz o
amor de Deus no âmbito existencial do homem, como
um amor que busca correspondência. O que constitui
o sacerdote é a Palavra a ele confiada, o próprio
Verbo do Pai.
O sacerdote é mais que poeta, chamá-lo de
poeta da divina palavra é dizer pouco, sabendo-se que
seu nome não é derivável e nem substituível. Segue
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sendo sacerdote, mesmo quando não vive a
mensagem transmitida, quando a tem nos seus lábios
sem ter passado pelo coração, quando o seu ser não
alcança o que sua palavra afirma. A palavra de Deus
na boca de um sacerdote, mesmo sem fé e sem
caridade, é um juízo mais espantoso do que qualquer
versificação ou verbosidade na boca de poetas que
carecem de palavras do coração. Não somos
donatistas, porém não devemos nos esquecer de que
são os santos que sustentam a Igreja.
E para que poetas em tempo de penúria? O
poeta canta, vê o imperceptível, segue rastros, intui e
aponta caminhos. O pensar poético supera o pensar
técnico, coisificador e manipulador do mundo. Só o
pensar poético permite a chegada do divino e a
instauração de uma criação mais humana. O mundo
da técnica fica superado pela força avassaladora de
um pensar não calculista. O poeta, no tempo de
penúria, recorda o valor do invisível, do sagrado e do
milagre. Não manipula a criação, mas a deixa se
revelar em seu ocultamento, pois somente no poeta o
falar é um dizer. Ali onde o filósofo viu um poeta, o
homem religioso viu um sacerdote. Quando o
sacerdote preside o culto divino, deixa descoberta a
sua dimensão poética de forma singular, suas palavras
destacam realidades que transcendem as presentes,
assumindo-as em sua dimensão mais essencial. Fala
de lugares que a técnica tenta ofuscar: céu, paraíso,
terra prometida; propõe valores que não existem na
linguagem técnica: misericórdia, amor caridade. Não
aprisiona Deus nas coisas, mas, através delas, vê o
invisível. O cultivar o divino-humano revela o
sacerdote como poeta. Existem momentos em que o
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poeta cristão só consegue escrever como se rezasse,
ou seja, como se o poema se convertesse em um ato
de fé, isso porque a poesia se faz oração e a oração,
poesia. Quando a linguagem consegue unificar o que
a fé só pode expressar por meio do poema e o poema
através da fé. O poeta que crê não deve, portanto,
perder de vista a distância irremediável que se dá
entre o que lhe diz sua fé e o que a poesia lhe diz
dela. Não se deve pedir a esta que seja mais do que
possa ser e dê mais do que possa dar e nem que a fé
se manifeste por completo no poema. O poema
manifesta o sagrado, o real permanente, de uma
maneira mais adequada que a teologia e consegue
associar ao máximo a fé e a poesia em um projeto
então comum a ambas: que o que eu vivo - o sagrado,
seja o meu falar.
O sacerdote deve ser um homem com o coração
transpassado, o único que lhe pode proporcionar a
força necessária para a sua missão. Com o coração
transpassado por uma existência sem Deus, pela falta
de êxito, pela experiência da própria miséria e de sua
radical incerteza, porém convencido de que,
unicamente, tal coração pode lhe proporcionar a
energia para cumprir a missão que será vivida,
algumas vezes, na diáspora da incredulidade, da
insignificância da Igreja na ordem social e na falta de
compreensão para com Deus, no mundo. O sacerdote
encontrará a si mesmo quando tiver seu olhar fixo no
coração que foi traspassado, no coração do Senhor,
ele que tomou sobre si as trevas do mundo e suas
culpas, que entregou nas mãos do Pai o sentimento do
abandono e que não quis outro poder que o do amor
indulgente. Esse coração é o centro no qual Deus e o
mundo, a eternidade e o tempo, a vida e a morte, a
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Palavra de Deus e a resposta do homem se tornaram
unos. É nesse coração que o sacerdote deve tropeçar
todos os dias. É com esse coração transpassado que
deve continuar amando a Igreja através do serviço
prestado à Ordem, a qual pertence. Ele deve pensar e
devemos nos perguntar se nos sacrificamos e rezamos
pela Igreja, se confiamos nela, e se vivemos com ela
e, quando tivermos a vontade de criticá-la,
comecemos por nós mesmos, pois cada um de nós, a
seu modo, compromete a Igreja diante do mundo. O
verdadeiro defensor da instituição é aquele que faz
quase supérflua a apologética da mesma, graças à
santidade de seu serviço desinteressado para com os
homens no exercício de sua função, é aquele que não
vê no seu ministério nada mais do que um chamado
de Deus à sua pessoa.
O sacerdote é o administrador por excelência
da palavra operante de Deus, ou seja, o Verbo de
Deus. É uma graça, uma graça que anuncia que as
protopalavras do homem, destacadas pelo Espírito
divino, podem chegar a ser palavras de Deus, porque
o poeta se fez sacerdote.
Frei José Ribamar Gomes, OFMcap
Mestre em Filologia e Sagrada Escritura
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*Fotógrafo: Frei Davi Cardoso
Jonas Matheus Sousa da Silva
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BRISA E MARULHO
À beira da praia do Atalaia
Sob um céu nubiloso,
Entre a brisa e o marulho
As ondas quebram na praia...
Sob o guarda-sol, à mesa,
Vestígios de luz beleza
Nas formas mais guarnecidas:
Sabor das ondas renhidas
Divino toque há aqui!
Nessas areias marfim,
E na morena a sorrir...
Há gaivotas sobrevoando
As ondas que vão se formando...
E o salitre nos salgando
RODA, PRAIA E DUNAS
Roda de amigos na praia
Tocando MPB, Cantando,
A própria vida mirando
Na brisa, no sol do Atalaia.
Refresco e caipirinha,
Tira-gosto, camarões,
Piadas e diversões...
Mas a maré se avizinha
No sombreiro da Pampulha,
Jonas Matheus Sousa da Silva
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Defronte ao morro arenoso
De agiruzal mais viçoso
Escalam jovens casais
Sobem e descem as dunas
Para onde o amor se arruma
SOL
O sol visto através da janela
No seu surgir, no horizonte;
Do corredor, parece-me grande
E sua dourada luz, revela.
O sol vem! Vence as trevas,
Toca os caixilhos da janela.
_Que maravilha é aquela,
Senão a vida que a luz anela?!
Raia o sol no corredor
Através da janela lança os seus raios
Na mansidão de seus abraços
Que acalentam a dor e o amor
E o sol doira as vãs paredes
Que de penumbra passam a luz
A qual reduz a espessa treva
Logo caindo em suas redes.
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ANONIMATO
Cantam, os galos,
Anunciam a aurora...
Acordado, não vi passarem as horas
Do sono que foi pelo lapso...
Malévola insônia!
Preocupação!
Que turba a mente em agitação
Da vida atônita...
CHUVA
Rumor de chuva.
Aproxima-se.
Ouça! Em cima.
Da minha cozinha
Fecho as janelas.
Tampo a panela,
Apago o fogo,
Armo a redinha
Na barraquinha...
O vento me embala...
Chega a nuvem turva...Chuva...
COROLA
A rosa desabrocha.
Na aurora, alvorecer,
Toma da luz, o renascer,
Na alvura da sua corola
Jonas Matheus Sousa da Silva
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A rosa cor da aurora,
Esparge seu cheiro agora...
JARDIM
A luz abrilhanta o jardim
Que reflete o lume solar;
É um sereno lugar para amar
Sob o perfume do jasmim.
A brisa vem, vespertina,
Vem mansa, de surdina,
Quando meu dorso se reclina
Sob as frondes de delícias
No sereno jardim da vida
Que à eterna paz me convida
Pois Minh‘alma de a tista
Na beleza se recria
Amando a verdade divina...
PEQUENAS FLORES
Pequenas flores, nas janelas
Violetas afloram lilases,
Dão singeleza aos lares
E a quem olha a rua, em espera.
Singelas flores transcendentes,
Em natural beleza, ascendentes...
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O GATO
O gato mia, do telhado,
Ao reluzir em seus olhos, a lua...
Queria correr pela rua
Mas, a grande lua o deixou fascinado...
Mia, o gato, para o lume
Que a luz diurna envolverá...
ASTROS
Brilham as estrelas no céu
A descerrar o seu véu.
Soprando suas nuvens ao léu,
Mostrando o seu rebrilho
Nos astros que admiro...
AROMA
A flor que nasce
Em meio à noite,
Parece açoite
Na folha em haste
Vidas renascem
Na meia-noite
Esparzem o doce
Aroma: amarem-se.
Jonas Matheus Sousa da Silva
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ALVOROÇO
Chega a tarde chuvosa!
Estrondeante em toró;
Como arrasta-pé de forró
É a natureza alvoroçada.
ANHINGAS
O anhingal, no fundo do quintal,
Ladeia do igarapé, o braço;
Da várzea toma o espaço
Cheia de pujança vital...
Bravas anhingas despontam,
Em selváticas terras da Amazônia...
SOLO BOM
As folhas que caem das árvores
Pálidas, indicam a morte:
Dos seres vivos a sorte.
Neutralização das vivas cores
As folhas sobre o chão marrom,
Transmutam-se, para o solo, em dom
Que de tão fértil, é solo bom.
ROSEIRAIS
Brotam dos roseirais as flores
Em multiforme alegres-cores
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E, com perfumes de amores,
Alentam, da vida, as dores.
Pelas tardinhas, no jardim dos roseirais,
Dá-se a sinergia da beleza,
No perfumado vento, em leveza...
PARDAL
O pardal, na trave do gol,
Repousa tranquilo na manhã;
Empluma-se como uma lã
Vendo, ao Leste, a doira cor
O pardal vê novo dia.
É um símbolo, a sua vida:
Da luz em-canto e conquista.
URUBUS
Os urubus no céu azul
Voam espiralados,
Vão desenhando um tornado
Também grasnando: craw-craw
De lá enxergam
A carniça no lixo:
Alimento-detrito
Jonas Matheus Sousa da Silva
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LAÇO DE LUZ
A luz que perpassa a fresta
Do bárreo chapéu da casa,
Mostra a pluma da vida alada
Que sobre o teto arrulha em festa.
A luz solar que é réstia,
Traz da inspiração, a pujança,
Vindo a rotina tão branda
E, a beleza de ser, manifesta.
Corda de luz na penumbra
Atravessando o sombrio quarto,
Em singeleza que deslumbra.
Na tarde de quinze de março,
Quando a luz solar abunda
E prende a sombra em seu laço.
A COPA LARGA DA MANGUEIRA
A copa larga da mangueira
Deposta sobre tronco hercúleo,
Embalada por vento muito,
No ar estende-se, esgueira-se.
A copa que acopla verdes
Nuances de folhas em vários tons,
Sombreiam os frutos, seus dons,
Contrastam com o azul celeste.
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E as folhas secas se ajuntam
À sombra da grande mangueira,
Fertilizando a terra úmida.
Penetrando, as raízes, no chão,
E rumo ao igarapé que a margeia,
Buscam a doçura para a elaborada
[seiva.
UMA FLOR
Uma flor se mostra na Aurora.
De pétalas em formas coradas,
Seu perfume, essência alada,
Pássaros e abelhas, convoca.
A flor se destaca na mata
Verdejante e viçosa,
Bela como um poema lindo,
Louvores à Vida, canta.
Abre a flor sua corola
À sombra de bacabeira, da copa...
Tomar a luz é o que lhe importa.
Na evolução vital se desdobra,
Passa-se o dia em suas horas,
Ao Criador louva e adora...
VERGÉIS
Despontam as flores no campo,
Ao fulgor da Luz da Aurora,
Jonas Matheus Sousa da Silva
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Que as brancas pétalas doura.
Sobre o verde-tapete-amplo.
Vicejam de vida as corolas
Sobre a verde relva, qual manto
Disposto qual ondas do canto
Que as formas da terra modela.
As verdes colinas salpicadas
Por uniformes flores alvas
É pouso das vidas aladas.
Mas, do vau forte se arvora
Os doces vergéis em aromas
Onde as azuladas araras moram.
RITUAL
Na calma matutina do rio
Descendo, em sua correnteza,
A natureza dá a certeza
Da vida seguindo seu ciclo
E os peraltas garotos, brincam
De subir a árvore à margem
E do galho saltar com alarde
Ao seio das águas que brilham
Nadam de novo à margem
É da viva evolução, a imagem.
No Cosmos de emergente
[espiritualidade
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Tomam rumo. A fronde, a escalar.
Para o útero líquido retornar
E ao ciclo evolutivo brindar!
EL NIÑO
O calor assola a terra
Chega o sol, forte a queimar.
O frio vento, raro está.
el “El niñ ” que se desvela...
De Barra do Corda a Belém
Há sol árido e sedento.
Salvos estamos pelos veios do subsolo
Da Amazônia, existindo para o bem...
Flora, fauna e os pobres,
Suspiram por climas melhores
Que se atenue o fogo que os cobre!
Mas ao final do dia corre a brisa
Na ausência da face solar, tão fria,
Quando dos corpos, o vigor, ela recria.
CHUVA NO ESTIO
Após dura estiagem,
De raro vento e calor,
Retorna a chuva e a fria aragem,
Brota o verde com vigor.
No calor insuportável
Sob o sol que aquece os corpos
Há raras fontes potáveis,
Jonas Matheus Sousa da Silva
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Emagrece o gado em dor.
Mas chega a desforra com a chuva,
Assentando toda a poeira,
Resfriando a temporada.
A terra logo verdeja...
É solo forte, terra boa.
Sementes resguardadas da seca
Vigoram vivas, se a chuva troa,
De verde vida ao chão atapeta.
POEIRA
Poeira! Poeira!
O que assoma na seca.
Mas vem com os ventos
Que ao menos resfriam
Os ares do clima.
Em áridos tempos,
Das casas, nas telhas:
Pluma, palha e poeira...
Porém, há vei s d’água
No ventre da terra,
Pois há vida, há verde
Nas copas das árvores
Ao sol de ardores.
Mas há algum vento
Que os pássaros levam
Às sombras e às águas.
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ESPERA
Balouça, o vento, as árvores
Que o forte sol castiga
Tornando em o pó a terra
Minguando a queda da água,
E a cantiga dos pássaros,
Protegidos no seio das frondes.
A água, nutriz, esconde-se
Em veios no subterrâneo
Do litorâneo solo do Salgado
Onde a vida se faz verde-icônico,
Em “O Quinze” c ntemp âne
Que as externas águas consome.
Melhor ainda que o sertão,
Pois há verde e o vento resfria,
Mas a ânsia pela chuvada fria
Que guiou o bravo nordestino,
Também aqui, se quer mais que só
[brisas:
Deseja-se ver a fartura do verde torrão.
CAJUEIROS
Os doces frutos dos cajueiros
Sejam amarelos ou vermelhos
São as joias do sertão,
Com suas fortes castanhas,
Assadas e piladas, tantas
Dão, de paçoca, boa porção...
Cajueiros são (os) espelhos
Da vida, que os sertões são herdeiros.
Jonas Matheus Sousa da Silva
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Erguem-se firmes, os cajueiros
Estendem as copas sem receio
De suculentos frutos são viveiros;
Ao sertanejo, força e esteio.
Prosseguem bravos o seu ciclo,
Belos alimentos, sempre vivos...
BONS VENTOS
Bons ventos e nuvens plúmbeas
Trazem aragens frias,
Ao solo, à pastagem,
Anunciando a vinda das chuvas.
Há quatro meses padecia,
Forte verão, nosso torrão,
Com sol, calor e poeirão,
Que, aos vergéis, empalidecia.
Mas nessas terras amazônicas,
O solo seco ocultou vida,
Pois no profundo há vias líquidas.
Bebendo, as águas, por suas raízes,
As grandes árvores, verdes, resistem.
Amenas sombras e frutos persistem.
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CHUVA! CHUVA!
Chuva! Chuva!
As frondes balouçam,
Alegres, dançam
Pois o vento traz a chuva.
Uiva! uiva o vento,
Em suas voltas,
Fazendo suas loas...
Passando, ele uiva...
Buscam! Buscam,
Os pássaros, aos telhados.
Canoros emplumados
Buscam coberturas ...
Rumam! Rumam, as nuvens,
Gélidas, plúmbeas,
Seguem deixando, a vida, úmida.
Para o Poente, seguem, rumam...
FORTE
Ao embalo do forte vento,
Defronte ao Forte do Presépio,
Repouso à sombra das árvores.
Do Ver-o-Peso, vejo o mercado de
[ferro,
Sentir a natureza nessa baia é belo.
Pelas muralhas que vencem os tempos.
Cruzo os caminhos de pedras
Por onde turistas prosseguem
Jonas Matheus Sousa da Silva
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Rumo aos valentes canhões,
Ou rumam aos negros portões...
Também grupos de jovens recebem
Bom aconchego para suas prosas...
E o poeta com pena e papel,
Em posto no marmóreo banco...
Contempla, vê-se inspirado,
Tem o espírito tocado,
Quando, poetando o seu enlevo,
Redige os descritivos versos .
PERFUME
A flor do jardim
Brotou matutina.
Assim, de surdina,
Próximo ao jasmim.
Expande o perfume
Exótico, raro,
Que segue, alado,
Na a agem d’aqui...
Na senda rural
O nobre perfume
De flor natural
Expande-se, assim.
Penetra nas almas,
Alenta e acalma
A todo mortal
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Que o possa sentir.
ÁRVORE
A á v e d’uma interiorana estrada
Ergue-se num campo à margem,
Reveste-se de singular encanto
Com fronde plena e alargada.
Ergue-se altiva e robusta,
Crescendo rechonchuda,
Desvelando suas magias
Em imponência que assusta.
Os transeuntes se assombram com ela
Quando o vento fricciona seus galhos
E ressoam como intermitentes malhos
Mas sua copa de abundantes folhas,
Como uma nuvem verde-escura,
Guarda memórias de vilegiaturas...
NA RESERVA
Na reserva do Utinga, caminho
À sombra das árvores, com os amigos,
E na trilha dos macacos, vejo os bichos
Peraltas na manhã de domingo...
Nesse ambiente natural e familiar
Crianças seguem trilhas com seus pais,
Atletas correm e se exercitam mais,
Jonas Matheus Sousa da Silva
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Também idosos vêm e vão caminhar...
Em meio à diversa flora,
Na sombra da densa mata,
Misteriosa ave chora...
E grandes borboletas azuladas,
Em linhas espiraladas, voando,
São, no lago Bolonha, encontradas.
A CHUVA
A chuva nos molha.
A minha memória
Reaviva, saudosa,
A nossa história.
A chuva que alenta
A chama que esquenta:
O que o coração tenta,
No amor que aumenta...
A chuva paterna
À terra materna,
Traz vida tão terna.
A chuva tão densa,
De potência intensa,
Desperta a latência.
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ALANA
Doce e meiga Alana,
Teu sorriso nos encanta,
Menina cândida, a ti ele canta
Com uma beleza tamanha.
O teu olhar nos amansa
Em cintilo nos alcança
Como estrelas em sua dança
No Amor que sempre te chama.
Recebe, singular filha de Eva,
O louvor às tuas pueris tramas,
À tua singularidade santa...
Pequena e alegre criança,
Teu olhar é uma ciranda
De poemas e de esperanças...
CANTORES MATINAIS
Pela manhã, cantam, passarinhos
Sobre o alpendre. Sentem o alvorecer
À luz dourada: Sol que se vê...
Cantam, as aves, animados hinos.
A doira luz que afugenta as trevas
Estende cores de vida sobre o mundo,
Na natureza a brotar do profundo,
Do grande amor que em si sustenta
[tudo.
Jonas Matheus Sousa da Silva
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A luz solar aquece e extasia,
Revela as cores
Da natureza viva.
Juntam-se aos galos, os passarinhos,
Seus cantares me despertam
Como também aos vizinhos...
PARDAIS DA TARDE
No alto da torre bate o sino,
Treze toques. Décima terceira hora.
Bem no alto a nuvem chora
E corre um vento mansinho...
Alvoroçado, segue, o passaredo,
Para as copas das árvores mais
[frondosas
Que os abriguem da tempestade ruidosa...
Inquietos, cantam e agitam o penedo,
Mas cada ave logo se acomoda.
Por entre os galhos curte a chuva em
[seus modos,
Emplumando-se, enquanto o frio
[a incomoda,
Na torre se abrigam os pardais.
Pois ali, constroem ninhos, os tais,
Donde chuva e frio lhes são banais.
POIESIS
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QUINTAL
No quintal há uma piscina,
Velha e tripartida,
Que, defronte a um igarapé, dá corrida.
Mas, inicia-se em nascente que a aviva.
Serpenteia o igarapé, à sombra
Das copas de frutuoso açaizal.
Sobre a úmida várzea do quintal,
Sob velhos paus, que sempre tombam.
Vida, as sementes, tomam,
E, também, verdeja, a grama,
Em meio às poças de lama.
Luz, sombra, água, terra, vida:
A natureza desabrocha, em sua sina,
No útero que plasma a sua lida.
BEM-TE-VIS
Os bem-te-vis na piscina
Divertem-se a tomar água...
Monotonia me acua
E, das aves, vejo a sina.
Um casal de bem-te-vis,
Da água, voa, à palmeira,
E volta para, da piscina, à beira.
Admirado eu o vi.
Nisso foi obnubilado o sol,
Jonas Matheus Sousa da Silva
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E a chuva da tarde caiu,
Quando o canto das aves se ouviu...
Ao vento frio, as árvores se
[embalavam.
Ao tempo em que ouvia os pássaros,
Vinham-me a memória, marcos do
[passado...
ALENTO
Grandes árvores balouçam
Ao silvo dos ventos.
Revivo os momentos
De paz tão louçã.
Os pássaros cantam
Enquanto revoam,
E os ventos ecoam,
Nas sendas das matas.
No mais, só silêncio.
Repouso para a mente.
E o clima ameno.
Intui-se o Vivente.
Na criação há alento
De Deus tão presente.
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GALINHEIRO
Empoleiram-se as galinhas
Ou se deitam a chocar,
Quando o sol se coloca
No horizonte, em sua linha.
E os galos a cantar
Nos interiores, nos alvores dos dias,
Quando o astro, em alegria,
Está a se levantar.
Assim, galos e galinhas,
Marcam a noite, marcam o dia...
E se passa o nosso tempo...
Nascem os pintos, é bom momento.
NOVO DIA
Nasce glorioso, o novo dia.
A luz doura o oriente.
Desponta, o astro refulgente,
Que transmite ternura à vida.
As trevas fogem. São expulsas
Pelos valentes raios da luz;
Pois, o brilho e o calor os conduz
Ao vivo Planeta que pulsa.
E o passaredo desperta nas frondes
Das árvores, das matas ou dos quintais.
Ao lume, entoam os seus cantos
Jonas Matheus Sousa da Silva
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[matinais
E as suas asas batem em revoada,
Seja em busca de alimento ou de outras
[frondes
Para preparar o ninho ou beber água
[nas fontes.
FLORES-BORBOLETAS
A flor desabrocha
Às dezoito horas.
Branca “borboleta”:
Cheirosa beleza.
Abrem-se as borboletas
Sobre o solo da várzea
O néctar permeia,
Da poesia, as letras.
É doce seu aroma
Que se evola nas tardinhas,
Mesmo sobre o chão de lama.
Emana da flor tão pura:
Perfume, doçura e beleza,
Na noite, com a alvura das estrelas.
RAIZ
Da realidade emerge a raiz.
POIESIS
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Sobressai nodosa
Da terra argilosa,
Com vegetação vivaz.
Raiz que emergiu na fonte,
E toma, para a árvore, da água,
A qual espalha sua fronde tão alta
E encobre a linha do horizonte.
Coando a luz do poente,
A copa da sumaúma
Peneira a dourada beleza,
Espreguiçando-se imponente.
A sumaúma em sua soberba,
Vige tão densa e real,
Pois bebe vida perenal:
Do Criador, sustenta-se na firmeza.
LATÊNCIA
O vento soprando a flor
Que exala seu doce perfume,
É, da natureza, costume:
Singela mensagem do Amor.
Fragrância que atrai as abelhas
Portando os pólens fecundos,
Aos cálices das flores jucundas
Que dispõem as pétalas como estrelas.
Despetalando-se, dá seus frutos.
Encarnando-se as sementes
Jonas Matheus Sousa da Silva
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Pulsantes de vida latente,
Sob a carne de sabor augusto.
Maduros frutos, doces alentos,
Para nós, beleza e sabor.
Na natureza, vida e labor.
Para as aves, farto alimento.
AÇAÍ
O açaizeiro balouça viçoso
Enfatizado nos raios solares.
Ergue-se firme nos amazônicos
[pomares:
Luz, húmus e água o tornam frutuoso.
Enverga-se tal palmeira e aponta ao
[céu,
Flexível ao movimento dos ares.
Suas folhas sibilam em cantares...
Rebrilha a vida, vibrando ao léu.
Os eriçados cachos dos açaís
Com esféricos frutos,
Dão a fama a tais palmeiras:
Nutrem sempre nossa gente,
Com seu vinho bom e frequente.
ÁGUAS DO CORDA
A trilha de pedra
Corta o quintal,
POIESIS
35
Solo conventual,
À sombra das mangueiras.
Percorro em silêncio
Escutando os pássaros
Lembrando o passado
De ternura e alento...
Desço a pétrea escadinha
À margem direita do rio:
Águas do Corda em seu frio.
Em sua forte correnteza
Seguem, as águas, sua marcha.
No meu corpo, lava-me a água.
FÓSSEIS
Aqui já foi mar! Aqui já foi mar!
Não mente o teu subsolo,
Ó Capanema do Pará
Teu solo arenoso, tão alvo e poroso,
De entranhas calcárias,
Com fósseis, colossos.
Sepultas um velho mar, que estais a
[guardar.
Em profundas camadas,
Resquícios há desse mar.
Jonas Matheus Sousa da Silva
36
TRAVESSIA
Atravessando a baía:
Águas do Guajará,
Seguindo em maresia
No barco forte a singrar...
De Belém, distancia-se.
O Ver-o-Peso e o Carmo
Vão ficando em miniatura,
Das ilhas chegando à altura.
E o sol alaranjado,
Ao poente se achegando,
A essas águas vai dourando.
Nisso as morenas bonitas,
Veem-se surpreendidas
Com o crepúsculo a lhes mirar.
QUANDO NA MENINICE
Eram aqueles tempos idos
Quando na meninice
Ia com o meu pai aos domingos
Na casa da vó Alice.
Via aquele quadro antigo
Do Cristo erguendo o cálice
E a efígie da Santa face.
As bênçãos aos tios pedindo
POIESIS
37
_ Vovó ir ao quintal, permite-me?
_ Vai, mas logo te sigo.
Ou que teu pai vá contigo
Ande! Deixe de tolices!
Naquele quintal tão rico,
Se os jabutis eu não visse,
E aos periquitos não ouvisse,
Mas só o verde, era como ali não ter
[ido.
NÓS, A CHUVA ESPERAMOS
O avô Otávio pescando
E o açaizal balouçando
Ao jugo dos ares dançando...
Vovô segue sua tarrafa jogando.
Imenso açude se rareando,
Na longa aridez secando.
Os pescados borbulhando,
Na rede se chacoalhando.
Nós, as chuvas, esperando.
Vó Osmarina, as plantas, aguando.
A areia e o calcário, ansiando,
Pelas águas do céu, vigiando.
A mata, ainda verdejando,
Segue os veios de água sugando,
Mas a roça pára, aguardando,
As chuvas de um inverno longo.
Jonas Matheus Sousa da Silva
38
CAA-PANEMA
Vim do cepo sou do toco
Cepo seco mato tosco
Eu sou panema com gosto,
Do chão calcário, renovo.
Desse mundo que é um ovo,
De jazidas, solo oco,
Rico em fósseis, solo morto.
Qual Nazir, sou pau no horto.
Azarado mato mouco.
Ó não próprio torrão louco,
Concupiscível, voluptuoso,
Buraco gargantuloso.
Teus quatis fugiram todos,
Os teus rios levaram rodo,
Tuas finas flores à fora se foram.
Valha-te o Perpétuo Socorro!
CAMINHANDO SOB O SOL
Caminhando sob o sol
Nas vias da Altamira,
Seguimos a nossa sina
Da aurora ao arrebol.
Falamos de santa Vida,
Visitando casa a casa,
Anunciando com fé a Palavra.
Que Ela seja ouvida!
POIESIS
39
Capuchinhos, missionários.
Do Pai temos o salário:
Ser, por Ele, tão amados.
Reunindo o povo cristão
Para a missa e louvação,
No Espírito guardados.
HOJE TEM SANTAS MISSÕES
Hoje tem Santas Missões
Em meio a nossa terra!
E, para aqueles que erram,
Vêm as evangelizações.
Missionários capuchinhos,
Junto aos barra-cordenses,
Visitam sãos e doentes,
Mostrando, de Cristo, os caminhos.
Com o Verbo pelas casas,
Ou, ainda, nas capelas...
As comunidades, unidas, belas,
Reavivam as suas brasas.
Escutando as pregações,
Devotos da Mãe de Jesus,
Querem seguir na Sua Luz,
Da fé, vivendo as lições.
Acorrendo às confissões,
Pedem os santos sacramentos,
Jonas Matheus Sousa da Silva
40
Da santa Igreja nutrimentos,
Ensejando a comunhão.
Faz-se a procissão das velas,
A mãe Maria, seguindo;
E, sob esse céu mais lindo,
O Deus que salva se revela.
OLHANDO DA ALTAMIRA
Olhando da Altamira
Defronte à capela do Calvário,
Vejo um panorama louvável
Sob os fulgores do dia.
Sobre os vales e serras,
Onde se encontram o Corda e o
[Mearim,
No inverno, verdejante, quando floram
[os jasmineiros,
As casas parecem mais se erguerem nas
[avenidas e ruelas...
O arco do Calvário marca, da Via-
[-crucis, o princípio.
Daqui se vê como serpenteiam os seus
[rios,
E se ouve, desde a primeira Matriz,
[dobrarem-se os sinos.
Na Trizidela, o relevo ergue o solo,
E a névoa envolve os morros extremos,
POIESIS
41
Com a fria aragem a soprar por seus
[meios.
OS BURROS NA ESTRADA
Nas vias do Sertão
Por cidades e por serras,
Vê-se o despontar das ervas,
Se choveu sobre o torrão.
Corre a estrada entre morros,
Espreguiça-se na planície,
Em curvas sempre a seguir,
Como via aberta a todos.
Vi palmeiras vicejantes,
Dando vez a açudes, avante,
Onde dormem asnos urrantes.
Os carros disputam a estrada,
Com carroças em burros de carga,
E pedestres, do sóbrio aos da cachaça.
A CHUVA E O DESLUMBRE
A chuva caindo
Nessa manhã belenense
E você arrumando as coisas
Como todas as donas de casa
Na cotidiana alvorada paraense,
E o tempo seguindo.
Jonas Matheus Sousa da Silva
42
Aí você se apronta. Embeleza-se
Emoldurando a natural lindeza:
Mãe cuidando da sua filha.
Dispõe a mesa à sua querida,
Seguindo ao coletivo em ligeireza
Para ao trabalho, por amor, abraçar-se.
Afadiga-se na rotina,
Mas tem tônico no amor.
Amizades tem, cativadas
No apreço pelas vidas,
Tem na fé, fogo e ardor
Donde tem glórias, na sina.
Mais brilha Loira seu lume,
Em modéstia: sã beleza.
Mulher que os adjetivos cantam,
Inscrevendo em seu ser: "Tatiana",
Denotando, da vontade, a grandeza,
Tornando sua lembrança um
[deslumbre.
DONA ANTÔNIA, MAMÃE
Mãe, singular dom divino,
Fruto do Amor bem vivido,
Vives teu mistério nisso,
Pois em ti o Amor é crível.
Dona Antônia, em teu caminho,
Gestaste-me; tens-me filho.
Embalaste-me, nos hinos,
POIESIS
43
E nos conselhos transmitidos...
Mãe “D Ca m ” louvo os teus
[ensinos,
Na senda viva, crescidos,
Nos teus exemplos enaltecidos.
E de Evangelho preenchidos.
A ti, mamãe, dou este mimo:
Dos cantares o mais merecido,
Do meu coração, bem-nascido,
E, aos teus louvores, acrescido.
Ó terna mãe, do meu íntimo
Brota o poema em teu ritmo!
SOPHIA, SOBRINHA
Corre pela casa a Sophia,
Dos três aninhos, na euforia.
Repara-a sua mãe Cecília,
A esta querida sobrinha.
Chega o seu pai Ricardo,
E toma a mocinha nos braços,
E ela conversa sem embaraço...
BIA, MENINA
Bia, menina,
Não sei se sabias
Que assoviar sabia
Jonas Matheus Sousa da Silva
44
O sabiá da vizinha,
Mulher tão sabida,
Mas até desentendida
D'esta ave criar,
Pois o deixou escapar
E se foi ele a voar,
E em tua janela cantar,
Na manhã te despertar,
Quando o sol vem despontar,
E o teu rosto iluminar.
DISTINTA CAMILA
Camila você é distinta,
Peça rara na amizade,
Que até me dá saudades
Dos versos da tua presença.
Espontânea alegria,
Provinda do teu caráter:
Alteridade, não em parte,
Brota da tua companhia.
Abertura em carisma,
À vivência como arte:
Beleza que integra as partes
E te faz mulher benquista.
Irradiante, és, de vida,
O teu ser nos faz amar-te...
Nos colóquios sempre a dar-se
No fulgor da simpatia.
POIESIS
45
À JULIANA, UM POEMA
Nasceu uma flor em Pedreiras:
Moça, da beleza, herdeira.
Sua voz: em-canto, harmonia
[verdadeira, brilho.
Que direi de seus valores?! Cheirosos
[frutos da videira!
Ó Juliana Maria, jovem cheia de vida,
Inteligente e bem-vinda
Ao jardim das flores lindas
Que aos colibris cativam.
Cintilando em elegância,
Ornada por fino traje...
Sorriso e brilho, aguarde,
Dessa rosa, de pura fragrância.
POETISA
Simples e nobre poetisa,
Na luta pela justiça,
Transmitindo, da alegria, a vida.
De bom carisma, és bela.
Rebrilhando de intuição em imagens
Em franciscana ação,
Que corre em tuas veias,
Tens forte presença em canção
Sammara, que saras a dor de
[n ss’almas
Jonas Matheus Sousa da Silva
46
E, amiga, acalmas a sina paráclita,
Altiva, cativando o senso da vida:
Justiça que atina e intui a beleza...
Na imagem-poesia, corpo e natureza.
Pureza, que seja uma perene chama,
Inflamando a espera da estrela eterna
Que, terna, rebrilha em tua presença.
MÃE DA VIDA
Você é um mistério
Que tem brilho eterno,
Calor no inverno,
Meu lume dos versos.
Você só, menina,
Será mãe da vida.
O SOPRO
O sopro divino pairava
Sobre as águas, no princípio.
E, o próprio Amor, tão amigo,
O homem no jardim, colocara.
E fez em dom a mulher,
Para que a amasse até,
Toda a sua vida ela ter,
Todo amor receber...
POIESIS
47
LAÇOS
Estais tão longe,
Naquela serra.
E estou distante
Bem nesta terra.
Mas tão presentes,
Nas mútuas memórias.
Em nossas mentes,
Vai nossa história...
No teu amor, estou em ti,
No meu amor, estais em mim.
Vives aqui, vivo em ti.
Não mais em tempo,
Ou mesmo em espaço,
Mas só nos laços do eterno alento.
PROFESSORA
Recebe a luz divina,
A professora moreninha,
No seu ritual, à noitinha,
Ao compor suas poesias.
Sob a lua e as estrelas,
Quer as memórias, revivê-las:
Das luzes belas, recebê-las,
Para, em versos, descrevê-las.
Na instituição da letra,
Jonas Matheus Sousa da Silva
48
Ao lume da divina alteza,
Expressar o ser, almeja.
Enraizada na realidade,
Poetando em liberdade,
No amor- maternidade.
AMÉLIA
Bela mulher. Determinada.
Todas as manhãs, na calçada,
Eu te encontro a passar.
Segues tão plena e arrumada
Como a mais bela alvorada,
Que aos bons olhos aviva.
Ó Amélia, tão cantada,
A tua presença é aliada
Ao que de mais belo há,
Na tua face consagrada
De mulher-mãe agraciada,
Reluz o lume que a poesia dá.
UMA VIDA EM CANÇÃO
A meiga menina
Que na capela se assenta
E a graça experimenta
Em juventude florescida
POIESIS
49
Adora a Eucaristia,
Escuta a Palavra viva.
Ela é de Deus tão querida:
O Amor lhe modela a vida.
Tem sentido, os seus dias:
Belos, singulares, modestos,
Irradiam-se em muitas vidas.
Guardam a paz no coração:
A presença em ação
De uma vida em canção.
GÊNESE DA PALAVRA
Brota a palavra da língua,
Ou, antes, do coração?!
E a fineza da canção,
Com base em qual força vige?!
Qual a comunicação
Que não diz o ser do emissor?
E quem é perscrutador,
De toda humana ação?
Quem lê a grafia somática,
Não só a escrita-palavra,
Mas a que há no espírito e na lavra?!
Quem é tal que, fundamente,
Possui razão e o poder da presença,
E a palavra gere amena?
Jonas Matheus Sousa da Silva
50
CRER E CRESCER
Mulher e homem labutam,
Plasmam o seio da cultura
No vasto mundo, estruturam-se
Cosendo a viva urdidura.
Só cresce quem acredita,
Celebrando o dom da vida,
Na cultura, Paixão viva!
A vida motora da esperança
No mundo, com suas texturas,
Derrama as fecundas chuvas:
Crescente de fé e bonança.
Crescer quer o ente humano:
Evoluir-se em tantas buscas
Às pretensões de fé tamanha,
Que lhe impulsiona o crescer.
Só cresce quem acredita
Ousando em razão destemida
Com amor, abraçando a lida
Numa história ascendida...
LOGOS E NATUREZA
Sorri para mim, a natureza,
Evoluindo-se em sua urgência
De vida, harmonia e excelência,
Na multiforme beleza.
POIESIS
51
Presteza de ser em ânimo,
Medrando o espírito na matéria
Imbricada em ordem de alerta
Que tem no homem seu arrimo.
Sentido gradual da razão
Desembocando na ação
E em todo o canto e narração.
À mão, dá-se a certeza.
De que o Amor é dor e leveza,
Da eterna razão, largueza.
ESPERANÇA
Os povos se batem em guerras.
Alto, afirmam-se as apostas,
Nos vis poderes que se antolham
Em egoísmo, em vis veredas.
A Violência não faz paz,
Mas medo e insegurança,
Feliz sentido não alcança,
Na humana história que se perfaz.
Só do Espírito brota a esperança
Com o Sumo Bem em aliança,
Que aos corações deseja e acalanta.
O espírito faz a cultura
Expulsando a loucura,
Na beleza que a tudo cura.
Jonas Matheus Sousa da Silva
52
NOVO DIA
Em cada nova aurora
Chega o lume da esperança
Que porta o bem como herança:
A luz que o torpor não nos rouba!
E vivos como existência,
Projetamo-nos em liberdade...
Detenha-se toda a maldade!
Venha à beneficência!
Mais um dia em cultura:
De trabalho, amor, procura
Do sentido em sua urdidura.
Cose-se a humana vida,
Em sociedade amadurecida
Na trama da alteridade.
FOGO E VIDA
Manifesta-se a força do Amor
Qual energia evolutiva,
Em formas distributivas
Perpassando toda a dor.
Recebe-se, do céu, a vida,
Por seus lumes de calor.
É a mesma força vital em ardor
Onde a matéria se anima.
Assim como, na bigorna, a colisão
POIESIS
53
Do martelo em ação, no ferro,
Abrasando, do operário, as mãos...
Inteligência que dá forma à matéria
Na explosão da pura ideia: Ferro,
E fogo a correrem em humanas
[artérias...
AMBIGUIDADE
Tiago, o biólogo, observa
A nervura da folha.
Aparece-lhe tão real,
Recaindo com estorvo
No chão virginal...
Realidade.
Ambiguidade!
Estofo do ser...
Dinâmica...
C’est la vie!
ESCATHON
Quando será o pôr-do-sol definitivo
Que, do mundo, assinalará o destino?
Para qual desejo caminha o planeta?
Quiçá para a intuição do esteta,
Se for esta a esfera à qual apela.
Mas a estética nos indica a beleza
Jonas Matheus Sousa da Silva
54
Que está junto à bondade verdadeira.
LIBERDADE
Toda liberdade é autêntica
Se não se priva do outro
Não escondendo seu rosto
Mas se dando em convivência...
Liberdade que é vivência,
Com o outro é consciência.
SENTIDO
A palavra do sentido
Brota no interior humano,
E na sua existência de anos
Busca ao divino ter ouvido...
-Qual é da vida o sentido?
-É o pleno amor ter vivido
Na plenitude do Espírito.
METAFÍSICA
Golpeio minha cabeça,
Colido-a contra o livro.
Passo a minha mente no crivo
Da Metafísica em si mesma...
POIESIS
55
Entro na Filosofia viva
Que ao princípio atina,
Donde vem a ordem viva.
TEU SENTIDO
Chamo o teu nome
Que é teu sentido
Em meu peito escrito
Com o amor, em lume.
Tu és a presença
Que me dá existência,
De ser, consciência.
ESCUTA
Escuto a música
Brotando da alma
Dos homens que amam
E fazem a cultura...
Escuto a mulher-poema
Evocativa ao ser
Matriz do viver,
Na história-existência.
Escuto o gemido
Da alma, o fremido,
Que busca sentido...
Escuto a linguagem
Jonas Matheus Sousa da Silva
56
Que molda a imagem
No ser que é viagem.
INSPIRAÇÕES, AUSPÍCIOS
Um poema, uma prosa,
Sensitiva ostentação.
Cinco estrofes, um refrão.
Uma troça venenosa...
Tal poema, tal poeta!
Quem caçoe da estética
E se arranque das vilezas,
Tenha a sina de esteta!
Uma musa ao poeta!
Que seja u’a mulher bela,
De inteligência repleta,
E poema seja ela: Mulher.
Que o poetar seja fogo
A pirografar a canção
No cerne do coração,
Ressuscitando-o de novo.
E o Verbo como a Fênix
Divinize o seu Eros,
Eleve-o até o Belo.
Junto à divina lareira ígnea.
POIESIS
57
AOS PROFESSORES
Viemos hoje agradecer
A tais figuras singulares,
Pois a base que nos dão
Civilizam o nosso ser.
Mestres, mestras, professoras...
Outrora segundos pais
Que o saber nos legam mais,
Conforme suas vozes ressoam...
Obrigado professores!
Parabéns por vosso dia,
Pelo dom de vossa lida!
Somos gratos a vós, mestres,
Pelo pão do nosso ensino
Que nos nutre o social caminho.
DESUMANIDADE
Que depressão!
Desilusão.
Da morte, pulsão,
Do des-mundo
Mundo-cão...
Inanição.
Falta Amor.
Há desamor...
Ideologias!
Quantas chacinas
Jonas Matheus Sousa da Silva
58
Na roda-viva
Que clama e grita!
Vidas mal-ditas
Na correria
Da urbanidade
Capitalista / Materialista
Desumanidade!
Passividade!
INAUTENTICIDADE
Sorri o dia
Em luz matutina
Alumiando
A humana vida,
Sobre as calçadas
Das vias paulistas...
São os mendigos
Tão vitimados
Pelo mal fixo,
Desfigurado,
Da falsidade:
Inautenticidade!
PÃO
O pão partilhado
Por mãos, confeccionado.
No labor, agapado, amassado...
POIESIS
59
No calor do forno assado.
O pão, dom da terra e do engenho,
Que do céu e da alma herda vida
Alimentando as humanas esferas...
LABOR
Agapamos no labor
Doando o tempo, a vida,
Para compartilhar os dons,
Nas fagulhas do ardor.
A vida se compartilha
No suor e na alegria
Bonificando a própria vida...
FESTA ESCOLAR
Brincam as crianças
Em danças festivas, da quadra junina.
No pátio da escolinha
Em seus trajes de quadrilha.
Animam-se dançando,
Após muitos ensaios.
Apresentam-se contentes aos parentes,
Naqueles domingos vivazes...
Jonas Matheus Sousa da Silva
60
AQUELE QUE PEDE
Pobres desabrigados,
Na grande cidade, em toda a parte.
Às vezes com muito alarde,
Apresentam-se para que sejam
[notados...
Defronte a comércios e templos,
A nós suas mãos estendem,
E não poucos os ofendem,
Para a compaixão, tão lentos!
O excluído estende a mão,
Pede auxílio em sua ação,
Contando com quem lhe é irmão...
O ser humano oprimido,
Da sociedade, excluído,
Necessita de ser visto e ouvido.
COLETIVO
Passa o ônibus pelo túnel
Onde se criva a luz. Penumbra.
O ligeiro veículo corta a sombra,
Na rodovia que sustenta os viadutos...
Corre na BR, o coletivo,
De Belém segue à Ananindeua...
Dentro, há colorido de pessoas com o
[pensamento voando além...
POIESIS
61
Da espremida e suja realidade, fogem,
[em alívio.
E corre o coletivo ladeado por outros
[veículos
Sobre a pista com poças, lama ou
[poeira...
Buzinas e motores, ansiedade
[verdadeira...
Nas paredes e muros pichados, há
[fealdade
Denunciando qual sintoma, a desordem,
[ a maldade,
E o materialismo da ideologia.
VOZ
Você canta tão bem!
Nunca ouvi voz mais suave
Onde o poema é bela ave
E ruma eterno ao além...
Philo-te em ouvir tua voz
A tua ausência me dói em solidão
Se às pressas vais veloz no silêncio...
LEITURA
Os livros tombam na estante
Está o vácuo a reclamar
Por outros livros a alarmar,
Jonas Matheus Sousa da Silva
62
Para a leitura em bons instantes.
Andei comprando alguns romances
Da produção universal,
E algum livreto artesanal
De nordestinos repentes...
Philo a leitura em bom ócio...
Literatura dos clássicos, mitos,
[caminhos
Da humanidade e seu destino...
Esses compêndios de cultura,
Retira a mente da zona escura,
Alçando-a em digna altura.
SORRISO, VIVO ELO
Que sorriso belo,
Cheio de espírito!
Na dinâmica existindo,
Presente no vivo elo.
O sorriso que ilumina,
Em jovialidade, a face,
Às palavras dá realce
E a alteridade, conquistas.
Sorriso de vida cristalina
Que é pouso e acolhida,
Como cheirosas rosas colhidas.
POIESIS
63
Esse sorriso que une
Em um olhar cheio de lume,
Uma genuína relação, urde
SOLIDÃO
A solidão que sinto
Amarga como absinto
Só vindo de ti, permito.
Se és dela, arrimo e solução.
LIVRO VIVO
Escrevi-te no meu livro
Mas ficaste tão velada
Pois me veio um embaraço
Ao te pensar com gosto vivo...
E, mesmo assim, conservei-te.
No livro e no vivo coração
Que canta e intui tuas canções
Porque de ti não me esqueço...
Em ti cresci,
Por ti venci,
A ti senti...
Ardor, sabor:
Valor do amor
Em teu candor!
Jonas Matheus Sousa da Silva
64
FITILHO
Dei-te um fitilho róseo
Para ornares teu cabelo
Com um laço e amor-perfeito,
Quando voltares ao teu endereço...
SESTA
Tomei o livro de estudo
Na tarde de um feriado
Pensando: "agora, lerei..."
Peguei o livro e abri.
Porém, cansado, dormi,
Na chuva da tarde que ouvi...
SANTO ANTÔNIO
Sobre o altar de Santo Antônio
Nas ceras se acende os lumes,
Das flores se extrai o rouge,
Da arte em papel crepom.
E o rosto das moças corados
Enfáticos aos seus amados,
Após a prece terem elevado,
Ao Santo dos namorados.
C stumes d’um B asil se tanej ,
Eternizado por Monteiro,
POIESIS
65
Para com o Santo casamenteiro.
Cultura das senhorinhas,
Num Brasil colonial,
Traçando suas sendas vitais...
LIVROS
Meus livros ali nas estantes
Sorriem pra mim,
Quando estou sozinho, assim,
Amigos (eles) me são, por instantes...
ESTA CIDADE
Esta cidade quente-úmida,
É uma selva de pedras
Que mais suscita querelas
E os nossos cérebros cozinha...
De povo sentimental,
Com um trânsito infernal
E violência sem igual...
MUNDO-CÃO
Procuro adquirir a excelência,
Meio-termo da virtude,
Buscando, da felicidade, a altitude,
Sobre este mundo-cão, na vivência.
Jonas Matheus Sousa da Silva
66
Que droga de mundo doente!
A morte lhe é presente!
REPOUSO
Ai! Que cansaço deste mundo!
Vem-me um sono profundo:
Saudade do princípio de tudo...
Que desejo tão supremo
De me deitar sobre a campestre relva
Colado ao manso chão sob a fronde...
Uma vontade de imergir
Na doce paz do não-agir,
Quando o bom sono surgir.
VIDA
A vida que freme
Escrita no seio
Da mãe que avista
A história tão prenhe...
A vida que geme
No sentido humano
Está no encontro
Ao qual se assente.
A vida antecipa
O ser que recria:
POIESIS
67
A história tão hirta.
A vida transcrita
Em memória recebida
E chora, e clama e grita..
CAFÉ
O café, na tarde,
Dá-nos sua bondade.
Respiro sua fragrância,
Invade-me o espírito.
Natureza e cultura
Em síntese tão pura.
Em estudo ou trabalho,
Para muitos, necessário.
O seu cheiro inebria
E seu bom sabor vicia:
Café preto com pupunhas
E a chuva da tarde em Belém.
BANDEIRA NACIONAL
Todo país tem sua bandeira,
O meu país não foge à regra.
Apresenta-se em quatro cores,
A bandeira brasileira.
Cores verde e azul,
Alva e amarela.
Jonas Matheus Sousa da Silva
68
E, ao centro do estrelado globo,
Grita-se “O dem e p g ess ”.
Este símbolo deve ser
Respeitado em seu encanto
Desta “pátria mãe gentil”,
País-continente, “B asil”.
DINÂMICA
A vida se presentifica
Na realidade da história,
Enchendo-se de vitalidade,
Em consciência, espiritualiza-se
Nasce o mundo e a cultura
Sob os altares da fé
Que revelam que Deus é,
Para os males humanos, a cura.
E a razão humana crescerá
Se curvar-se à ciência divina,
Mas, ao tornar-se sovina,
Decrescerá à barbárie.
VERSOS
Escrevo os bons versos
Radicados na presença:
Encontros da existência,
Encômio aos dias belos.
POIESIS
69
Eles brotam como rosas
Em linguagem esplendorosa,
No jardim do ser no mundo.
ESCREVE!
Escreve em tua vida
O genuíno amor: ágape,
O qual se doa em ardor
E à autenticidade convida!
Inscreve em sua presença
A ausência do egoísmo
E, do diálogo, a ciência!
AVÔ OTÁVIO
O octogenário Otávio,
Homem da lavra e do trabalho,
Quando disposto faz roçado,
Açude e campo plantado...
Casado com a dona Osmarina,
Mulher de força na lida,
Cuidaram dos filhos e filhas,
Dos netos também; de toda a família!
FORNO
Arde o fogo no forno de barro
Jonas Matheus Sousa da Silva
70
Da casinha interiorana,
À qual se chega pela senda,
Em brasa se cora a lenha...
O fogo que ferve a sopa,
Mas também feijão e arroz,
Rabada e baião-de-dois
O VELHO SÁBIO
Converso com o velho sábio
Quando vou a Fortaleza,
Sob a estátua de Iracema,
Onde as águas se viram em reverso...
Quebram-se as ondas na praia
De inclinadas areias
Que soterram as palmeiras,
Quando a luz solar se vai.
E o velho, vendo o horizonte,
Dá lições de sua vida,
De como vive sua sina.
O sábio sorri para o tempo
Que lhe trouxe bom alento,
Dando o seu ensinamento.
AVICULTOR
O velho, no galinheiro,
POIESIS
71
Leva a ração para as aves
Que assomam tão suaves
Ao dono que está em seu meio.
Reconhecem o bom homem,
Que delas colhe os ovos,
Enquanto suas rações comem.
DOMINGO EM BENEVIDES
Na feira de Benevides
Fui comprar o açaí.
A tempos não ía ali,
Na “Tenda d Alcebíades”...
Três litros da regional bebida
Fa inha d’ água ou tapioca,
Para parar, da fome, a broca,
Com o jabá ou peixe frito
Nesse domingo, ainda cedo,
Fui à missa do Padre José,
O Cura de refinada prédica.
Voltando da igreja do Carmo
Apreciei um livro fantástico,
E ainda rezei meu rosário.
VER-O-PESO
Ver-o-peso no domingo,
Ao meio dia se aprecia
Jonas Matheus Sousa da Silva
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Jabá frito com açaí,
Pirarucu também há ali...
Revive-se o sabor das ilhas
No almoço, com os amigos.
Também já comprei umas ervas,
Temperos regionais, tacacá...
Levo o leite de amapá,
Jambu, camarões e castanha-do-Pará...
E sinto o peso do povo,
Na cultura, no bom gosto...
A CHUVA IMPÁVIDA
A chuva cai, impávida,
Sobre as ruas de Belém...
À tarde, três horas, já marcam,
Segue-se o compasso da lida...
Os transeuntes andam espremidos
Em baixo dos guarda-chuvas
E, nas estradas tão turvas,
Enfileiram-se lentos os veículos...
Pedestres sob toldos e puxadas,
Do banho vespertino se protegem,
Encolhem-se, mas o calor permanece...
POIESIS
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CHUVA VESPERTINA
A chuva vespertina rega Belém
Molhando as copas de mangueiras e
[açaizeiros,
Em cada palha corre a água
Até as suas pontas, para gotejar
[cristalina .
A luz cintila nas gotas
Que caem das folhas ao chão,
Aí não caem em vão,
Pois dessedentam outros vergéis.
A chuva que cai nas tardes
Perpassando as palhas do açaizeiro,
Prepara a terra e a afofa...
E o chão do quintal em simplicidade,
Pelas gotas de chuva, umedecido,
Que da fronde do açaí caem rotas...
FRONDEJANTE
No calor guajarino,
Estou...
Sob a fronde da acácia
Quanta saudade se sente!
Tarde ensolarada...
Setembro.
E o contraste dos cachos floridos
Jonas Matheus Sousa da Silva
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Harmonizando com o céu azul...
Setembro.
Lembro-me,
Nesse espaço frondejante,
Do teu rosto (di)amante...
A luz metafísica do rosto
Imanente na existência,
Na sombra da tua acácia
Visita minha consciência.
Releio a poesia viva, escrita
Em teus olhos brilhantes.
No teu sorriso, teu rosto,
Estais em mim, cintilante...
A PORTA
O carpinteiro talha a porta
Vai montá-la no caixilho,
Na viseira lhe põe vidro,
Reforça a montagem com cola...
Fere a tábua, com os cravos,
Madeira dura e talhada,
Bem polida e malhada,
Duradoura, forte e amarga...
Parafusa-lhe as dobradiças,
E também a fechadura
Que parece uma armadura...
POIESIS
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Enverniza toda a peça,
Fruto do seu labor,
Das mãos, técnica e vigor.
MEU NORTE, MINHA SORTE
Meu Norte,
Belém:
Minha sorte,
Meu bem!
- “Que -te
Feliz! ”,
O mensageiro
Te diz.
Minha cidade!
Das mangueiras:
Vitalidade!
Bem-amada!
D’Amazônia,
És entrada-felicidade!.
RIO E FRONDES EM
BARREIRINHAS
Rio de águas morenas,
Caminho da aragem
Dentre as frondes dos buritis.
Sonoridades serenas
Jonas Matheus Sousa da Silva
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Na paisagem natural
Com os seus afins...
De Barreirinhas às dunas,
Para além dos Lençóis, ao mar...
Próprio do divino encanto:
Enlevo da sua gente a rumar
Nas vias do universal canto
Pairando na terra e no ar...
"Preguiças" é fonte de vida
Espelhando a luz da aurora
Encantando a todos que gostam
Das águas que refrescam a lida.
É amor do Eterno expresso
Nas letras mistéricas do livro
Da natureza: Espelho Vivo e aconchego...
POIESIS
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O AUTOR
Jonas Matheus Sousa da Silva é paraense, de Capanema, nascido em 1989. Filho de Jovencio Oliveira da Silva e Antônia do Carmo Sousa da Silva, irmão de Jorbia Cecília e Jones Tiago. Franciscano-capuchinho e padre da Igreja Católica Romana. É licenciado em Filosofia e cursou Teologia na Arquidiocese de Belém. É formado em Coaching Integral Sistêmico, pela Febracis. Já publicou seis de seus livros filosóficos e poéticos. Dispõe sua obra literária nas plataformas virtuais: Recanto das Letras e Clube de Autores. Colaborou com diversos artigos para os jornais impressos: O Liberal e O Estado do Maranhão.
Jonas Matheus Sousa da Silva
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ÍNDICE PRÓLOGO............................................................................................p.3 BRISA E MARULHO..........................................................................p.9 RODA, PRAIA E DUNAS.................................................................p.9 SOL........................................................................................................p.10 ANONIMATO...................................................................................p.11 CHUVA................................................................................................p.11 COROLA.............................................................................................p.11 JARDIM................................................................................................p.12 PEQUENAS FLORES......................................................................p.12 O GATO..............................................................................................p.13 ASTROS...............................................................................................p.13 AROMA................................................................................................p.13 ALVOROÇO.......................................................................................p.14 ANHINGAS........................................................................................p.14 SOLO BOM.........................................................................................p.14 ROSEIRAIS.........................................................................................p.14 PARDAL..............................................................................................p.15 URUBUS..............................................................................................p.15 LAÇO DE LUZ..................................................................................p.16 A COPA LARGA DA MANGUEIRA...........................................p.16 UMA FLOR.........................................................................................p.17 VERGÉIS.............................................................................................p.17 RITUAL................................................................................................p.18 EL NIÑO.............................................................................................p.19 CHUVA NO ESTIO..........................................................................p.19 POEIRA...............................................................................................p.20 ESPERA...............................................................................................p.21 CAJUEIROS........................................................................................p.21 BONS VENTOS.................................................................................p.22 CHUVA! CHUVA..............................................................................p.23 FORTE.................................................................................................p.23 PERFUME...........................................................................................p.24 ÁRVORE.............................................................................................p.25 NA RESERVA....................................................................................p.25 A CHUVA............................................................................................p.26 ALANA.................................................................................................p.27 CANTORES MATINAIS.................................................................p.27 PARDAIS DA TARDE.....................................................................p.28 QUINTAL............................................................................................p.29 BEM-TE-VIS.......................................................................................p.29
POIESIS
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ALENTO.............................................................................................p.30 GALINHEIRO...................................................................................p.31 NOVO DIA.........................................................................................p.31 FLORES-BORBOLETAS................................................................p.32 RAIZ.....................................................................................................p.32 LATÊNCIA.........................................................................................p.33 AÇAÍ.....................................................................................................p.34 ÁGUAS DO CORDA.......................................................................p.34 FÓSSEIS...............................................................................................p.35 TRAVESSIA........................................................................................p.36 QUANDO NA MENINICE............................................................p.36 NÓS, A CHUVA ESPERAMOS.....................................................p.37 CAA-PANEMA..................................................................................p.38 CAMINHANDO SOB O SOL........................................................p.38 HOJE TEM SANTAS MISSÕES....................................................p.39 OLHANDO DA ALTAMIRA.........................................................p.40 OS BURROS NA ESTRADA..........................................................p.41 A CHUVA E O DESLUMBRE.......................................................p.41 DONA ANTÔNIA, MAMÃE.........................................................p.42 SOPHIA, SOBRINHA......................................................................p.43 BIA, MENINA....................................................................................p.43 DISTINTA CAMILA........................................................................p.44 À JULIANA, UM POEMA...............................................................p.45 POETISA.............................................................................................p.45 MÃE DA VIDA..................................................................................p.46 O SOPRO............................................................................................p.46 LAÇOS..................................................................................................p.47 PROFESSORA...................................................................................p.47 AMÉLIA...............................................................................................p.48 UMA VIDA EM CANÇÃO.............................................................p.48 GÊNESE DA PALAVRA................................................................p.49 CRER E CRESCER...........................................................................p.50 LOGOS E NATUREZA...................................................................p.50 ESPERANÇA......................................................................................p.51 NOVO DIA.........................................................................................p.52 FOGO E VIDA..................................................................................p.52 AMBIGUIDADE...............................................................................p.53 ESCATHON.......................................................................................p.53 LIBERDADE......................................................................................p.54 SENTIDO............................................................................................p.54 METAFÍSICA.....................................................................................p.54 TEU SENTIDO..................................................................................p.55
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ESCUTA...............................................................................................p.55 INSPIRAÇÕES, AUSPÍCIOS..........................................................p.56 AOS PROFESSORES.......................................................................p.57 DESUMANIDADE...........................................................................p.57 INAUTENTICIDADE.....................................................................p.58 PÃO.......................................................................................................p.58 LABOR.................................................................................................p.59 FESTA ESCOLAR.............................................................................p.59 AQUELE QUE PEDE.....................................................................p.60 COLETIVO.........................................................................................p.60 VOZ......................................................................................................p.61 LEITURA.............................................................................................p.61 SORRISO, VIVO ELO.....................................................................p.62 SOLIDÃO............................................................................................p.63 LIVRO VIVO......................................................................................p.63 FITILHO..............................................................................................p.64 SESTA...................................................................................................p.64 SANTO ANTÔNIO..........................................................................p.64 LIVROS................................................................................................p.65 ESTA CIDADE..................................................................................p.65 MUNDO-CÃO...................................................................................p.65 REPOUSO...........................................................................................p.66 VIDA.....................................................................................................p.66 CAFÉ....................................................................................................p.67 BANDEIRA NACIONAL...............................................................p.67 DINÂMICA.........................................................................................p.68 VERSOS...............................................................................................p.68 ESCREVE! ..........................................................................................p.69 AVÔ OTÁVIO...................................................................................p.69 FORNO................................................................................................p.69 O VELHO SÁBIO.............................................................................p.70 AVICULTOR......................................................................................p.70 DOMINGO EM BENEVIDES......................................................p.71 VER-O-PESO.....................................................................................p.71 A CHUVA IMPÁVIDA....................................................................p.72 CHUVA VESPERTINA...................................................................p.73 FRONDEJANTE...............................................................................p.73 A PORTA.............................................................................................p.74 MEU NORTE, MINHA SORTE....................................................p.75 RIO E FRONDES EM BARREIRINHAS...................................p.75 O AUTOR...........................................................................................P.77