FACULDADE 7 DE SETEMBRO – FA7
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO:
UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ
ANA CAROLINA DE ARAÚJO FERREIRA
FORTALEZA – 2010
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ANA CAROLINA DE ARAÚJO FERREIRA
PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO:
UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ
Artigo Científico apresentado à Faculdade 7 de Setembro como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Administração.
Orientador: Prof. Maíso Dias Alves Júnior, Ms.
FORTALEZA - 2010
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PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ
Artigo Científico apresentado à Faculdade 7 de Setembro como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Administração.
Ana Carolina de Araújo Ferreira
Artigo aprovado em: / /
Prof. Maíso Dias Alves Júnior, Ms. (FA7)
1º Examinador: Profa. Mariana Aguiar Alcântara de Brito, Ms. (FA7)
2º Examinador: Prof. Maíso Dias Alves Júnior, Ms. (FA7)
Prof. Francisco Hercílio de Brito Filho, Ms. (FA7) Coordenador do Curso
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PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ
Ana Carolina de Araújo Ferreira 1
Prof. Maíso Dias Alves Júnior, Ms. 2
RESUMO
O objetivo deste estudo é analisar as práticas de marketing utilizadas pelas bandas de forró
do estado do Ceará. De forma a alcançar tal objetivo, foram utilizados como referencial teórico os
conceitos de marketing, marketing de entretenimento e feita uma retrospectiva sobre a evolução
histórica do forró. Como metodologia foi realizada pesquisa bibliográfica e um estudo multicasos
com aplicação de 21 questionários. Foram identificadas as principais práticas de marketing de
entretenimento, bem como os principais canais de comunicação/mix de marketing utilizados e o
total de investimentos aplicados em marketing pelas bandas. A análise dos resultados e as
considerações finais encerram este artigo.
PALAVRAS-CHAVE: Forró. Marketing. Marketing de Entretenimento.
ABSTRACT
The main objective of this study is to examine the marketing practices applicated by forró
bands in the state of Ceará. To achieve this goal, entertainment marketing and a retrospective on the
historical evolution of forró were used as theoretical concepts of marketing. The methodology was a
multicases study and a research with 21 questionnaires. We identified the main practices of
entertainment marketing, such as the main channels of communication / marketing mix used and the
total investments made in marketing bands. The critical annalysis and final remarks conclude this
article.
KEYWORDS: Forró. Marketing. Entertainment Marketing.
1 Graduanda em Administração de Empresas. Estudante da Faculdade 7 de Setembro. email: carolina-
[email protected] 2 Mestre em Administração de Empresas. Professor e orientador da disciplina Empreendedorismo da Faculdade
7 de Setembro. [email protected]
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1 INTRODUÇÃO
O forró é um “gênero” típico da música brasileira popular, oriundo e predominante
principalmente na região Nordeste; movimenta, anualmente, somente em Fortaleza, capital do
estado do Ceará, uma receita estimada de R$ 16,5 milhões - segundo dados da pesquisa “Arranjo
Produtivo do Forró em Fortaleza, Ceará”, coordenada pelo professor Jair do Amaral Filho do projeto
REDESIST da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com o SEBRAE. Esta pesquisa
foi utilizada como maior e mais completa fonte de dados sobre a indústria “forrozeira” para este
trabalho, devido à dificuldade encontrada em localizar material e informações sobre este assunto.
Independente do estilo (tradicional, universitário ou eletrônico), a “indústria forrozeira”
tem conquistado mercados de forma crescente e constante – sobretudo nos últimos anos. Símbolo
do povo e da cultura nordestina, o forró se desloca com essa população aonde quer que vá,
tornando-se assim um elo social de agregação e de encontro destes. Segundo Amaral Filho, o forró
“deixou de ser um simples símbolo cultural para ser uma mercadoria, *...+, passou de uma
manifestação cultural restrita para a condição de indústria musical, mobilizando milhares de
empregos e milhões de reais anuais, só no Ceará” (AMARAL FILHO, 2008, p. 1).
Inicialmente fruto de festas populares, o forró tradicional teve seu ápice na década de 40
com Luiz Gonzaga, e nessa época era conhecido popularmente como baião. Após essa fase, o forró
entrou em decadência e voltou ao seu auge somente no ínicio dos anos 90 por iniciativa do
empresário Emanuel Gurgel, que modificou a estrutura do mercado existente e criou uma nova
vertente do forró, conhecida hoje como forró eletrônico, devido à introdução de equipamentos
eletrônicos, conferindo uma “nova roupagem” ao gênero musical. Atualmente, de acordo com
Amaral Filho (2008, p. 2), “o forró tem larga difusão no Brasil, como gênero musical, meio de
entretenimento e relação social, estes apoiados nos bailes e nas danças”.
Parte integrante do mercado cultural regional brasileiro, o forró é hoje um importante
componente do entretenimento e da economia local. Na visão de estudo deste trabalho, a do
marketing de entretenimento, as bandas de forró são empresas que têm como produto principal de
venda, os seus espetáculos (shows) de forró. Seus principais parceiros são as rádios, as casas de
shows, os patrocinadores e os clientes que interagem de forma direta com as bandas no momento
da entrega do produto ou prestação de serviço, no caso, os shows ao vivo.
Para a professora Elizara Carolina Marin, doutora em Ciências da Comunicação, “o
entretenimento tornou-se uma mercadoria com valor em alta, pois responde a uma necessidade
humana, [...], a de diversão; no entanto responde também aos interesses das instituições e do
próprio sistema capitalista” (MARIN, 2009, p. 228).
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Apesar do crescimento, do sucesso das bandas e dos números elevados do faturamento, a
“indústria do forró”, em sua maioria, continua na informalidade, foi poucas vezes objeto de estudos
acadêmicos ou seus números e estratégias de mercado analisados com algum critério científico.
Amaral Filho (2008, p. 21) diz que a indústria forrozeira é caracterizada pela “*...+ ausência de marcos
regulatórios e agências reguladoras, a [falta de] participação de organizações de ensino, pesquisa ou
treinamento e a ausência do Estado e do poder público no que se refere ao processo de construção e
produção da indústria do forró”.
Nesse sentido, este trabalho pretende realizar um estudo mais aprofundado sobre as ações
mercadológicas desse fenômeno do entretenimento musical brasileiro e analisar as estratégias de
marketing desenvolvidas pelas bandas de forró cearenses. Para entender como as bandas de forró
estruturam suas ações marketing, elaborou-se a seguinte questão de pesquisa: Quais as práticas de
marketing utilizadas pelas principais bandas de forró do Ceará?
Para responder a questão de pesquisa, definiu-se o seguinte objetivo geral: Analisar as
práticas de marketing utilizadas pelas bandas de forró no Ceará.
Assim, os objetivos específicos foram definidos da seguinte maneira:
Identificar os canais de comunicação utilizados pelas bandas de forró;
Identificar o percentual de investimento em marketing das bandas;
Analisar as práticas de marketing de entretenimento utilizadas pelas bandas de forró.
A metodologia baseou-se nas seguintes etapas: pesquisa bibliográfica com revisão da
literatura em livros, artigos e periódicos produzidos sobre forró (história e evolução), marketing e
marketing de entretenimento; e estudo de multicasos com a aplicação de 21 questionários às bandas
de forró mais fortemente atuantes de cenário musical cearense.
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2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 MARKETING
“Marketing é uma função organizacional e um conjunto de processos que envolvem a
criação, a comunicação e a entrega de valor para os clientes, bem como a administração do
relacionamento com eles, de modo que beneficie a organização e seu público interessado”
(American Marketing Association, 2007). Ainda segundo a AMA, marketing está relacionado com “o
processo de planejamento e execução da concepção, da definição de preço, promoção e da
distribuição de idéias, produtos, serviços, organizações e eventos para criar trocas que irão satisfazer
os objetivos das pessoas e das empresas”.
Reis (2003, p. 4) afirma que “marketing é a defesa de um melhor relacionamento entre
quem oferece uma proposta e quem a recebe, através do profundo entendimento das necessidades,
aspirações e valores de um consumidor e do que a empresa, em seu mercado, com suas
potencialidades e limitações, pode fazer para suprir essas necessidades e aspirações”.
O professor da University of Wisconsin-Madison, Peter R. Dickson (2001), afirma que o
conceito de marketing está ligado a três princípios fundamentais: a organização existe para
identificar e satisfazer as necessidades de seus clientes; a saciação das necessidades dos clientes é
alcançada através de um esforço integrado de toda a organização e o enfoque organizacional deveria
ser tanto sobre o sucesso a longo prazo como a curto prazo.
De maneira prática e simples, podemos dizer que marketing é aquilo que supre as
necessidades de forma lucrativa, satisfazendo as necessidades humanas e sociais (KOTLER; KELLER,
2006). Segundo Dantas (2005), o marketing está intimamente ligado ao conceito de prazer: prazer
em satisfazer uma necessidade, em perceber que o que se está adquirindo tem um valor para quem
adquire.
Marketing então pode ser entendido como toda e qualquer ação voltada para a entrega de
valor, buscando retorno financeiro satisfatório e que se traduz em exultação dos aspectos sociais e
psicológicos humanos. Em resumo podemos dizer que marketing trata-se da venda de uma idéia ou
ideal. No entanto, não se resume a isso, a venda é apenas a parte “visível” do marketing. Peter
Drucker (1973 apud KOTLER; KELLER, 2004, p. 30) afirma:
Pode-se presumir que sempre haverá a necessidade de algum esforço de vendas, mas o objetivo do marketing é tornar a venda supérflua. A meta é conhecer e compreender tão bem o cliente que o produto ou o serviço se adapte a ele e se venda por si só. O ideal é que o marketing deixe o cliente pronto para comprar. A partir daí, basta tornar o produto ou o serviço disponível.
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Quanto aos tipos/aplicações de marketing, ouvimos constantemente menções ao
marketing de serviços, marketing esportivo, marketing cultural, marketing de entretenimento, e-
marketing, marketing de varejo ou atacado e assim por diante. Na verdade, o correto seria dizer
marketing voltado para: serviços, esportes, cultura, entretenimento, e-commerce, varejo ou atacado,
etc., quando o objetivo for analisar as estratégias e as ferramentas do marketing que a empresas
utilizam para alcançar seu público-alvo. Sendo assim, não existem “tipos de marketing”, e sim
aplicações do marketing.
2.1.1 Canais de comunicação/Mix de marketing
Canais de comunicação de marketing são os meios que a empresa utiliza para falar com
seus clientes. Representam a “voz” da empresa e o meio pelo qual ela constrói relacionamento com
os consumidores (KOTLER; KELLER, 2006).
A comunicação de marketing permite às empresas conectar suas marcas a outras pessoas, lugares, eventos, marcas, experiências, sensações e objetos. Posicionando a marca na memória e criando uma imagem de marca, a comunicação pode contribuir para a formação do brand equity (KOTLER; KELLER, 2006, p.532-533).
Segundo Kotler e Keller (2006), os canais de marketing ou mix de marketing são compostos
por:
Propaganda: forma paga de apresentação e promoção de idéias;
Promoção de vendas: incentivos de curto prazo para estimular a experimentação ou
compra de um produto;
Eventos e experiências: atividades e programas patrocinados pela empresa, projetados
para criar interações relacionadas à marca;
Relações públicas e assessoria de imprensa: programas elaborados para proteger a
imagem de uma empresa e de seus produtos;
Marketing direto: utilização de telefone, e-mail ou internet para comunicação direta
com clientes específicos e potenciais;
Vendas pessoais: interação pessoal (cara a cara) com compradores potenciais com vista
a apresentar produtos ou serviços.
O desenvolvimento de uma comunicação eficaz deve se basear nas oito etapas descritas no
Quadro 1 (KOTLER, KELLER, 2006, p. 539):
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Quadro 1: Etapas no desenvolvimento de uma comunicação eficaz
Identificação do público-alvo
Determinação dos objetivos
Elaboração da comunicação
Seleção dos canais de comunicação
Estabelecimento do orçamento
Decisão sobre o mix de comunicação
Mensuração dos resultados da comunicação
Gerenciamento da comunicação integrada de marketing
Fonte: KOTLER, Philip; KELLER, Kevin. Administração de Marketing, 2006, p. 539.
As decisões relativas ao montante de investimento em ações de marketing devem estar de
acordo com os objetivos estabelecidos no plano de comunicação adotado pela empresa. A empresa
deve investir, proporcionalmente, aquilo que deseja receber em retorno dos seus clientes.
Segundo relatório do International Event Group (IEG), órgão americano responsável pela
análise do mercado de patrocínios e correlatos, o patrocínio de espetáculos/shows ocupa lugar de
destaque entre todas as atividades de comunicação (ALMEIDA, 2008 apud COBRA, 2008). Ainda de
acordo com Almeida (2008, apud COBRA, 2008, p. 145) “de todos os investimentos realizados no
mercado norte-americano, [...] o segmento relacionado diretamente à música (turnês, shows,
musicais, etc) ocupa a segunda colocação, perdendo somente para as atividades relacionadas ao
marketing esportivo *...+”.
2.2 MARKETING DE ENTRETENIMENTO
Para fins de esclarecimento, inicialmente será definido o significado de entretenimento.
Entretenimento vem do inglês entertainment, que significa ação de fornecer diversão ou lazer; é um
evento, performance ou atividade designada para entreter outros (OXFORD, 2010). A tradução
latina, segundo Marin (2009, p. 228), explica: “a etimologia latina da palavra, [...], vem de inter
(entre) e tenere (ter), ou seja, ter entre”. Pode-se entender então que se entreter significa desfrutar
do tempo livre entre os momentos de trabalho e repouso.
O tempo livre é definido pelo sociólogo francês Joffre Dumazedier como o período em que “o indivíduo tem autonomia para escolher como ocupá-lo, ou seja, decidir o que fazer ou não fazer durante as horas que não tem obrigações a cumprir”. *...+ Em geral, as pessoas ocupam seu tempo livre com atividades voltadas ao prazer físico e sensorial (ouvir música, saborear um vinho, comer em restaurantes), ao desenvolvimento pessoal (estudar, ler), ao descanso (dormir, assistir à tevê), ao
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esporte (nadar, jogar tênis, jogar futebol), à socialização (visitar amigos), à religião ou espiritualidade (ir à missa ou culto religioso; fazer meditação ou retiro espiritual) ou, ainda, à diversão (dançar, brincar, jogar cartas), entre outras ocupações. Mas também é possível que as pessoas prefiram o ócio, ou seja, não fazer nada (LIMEIRA, 2008, p. 31).
De acordo com presidente da Blue Tree Hotels e membro da Academia Brasileira de
Marketing, Chieko Aoki (2008, p. 9), “o entretenimento é um conjunto de atividades capazes de
transformar a sociedade, à medida que se democratizam e atingem mais e mais segmentos da
população”. O entretenimento está associado ao perfeito equilíbrio entre razão, emoção e
sensibilidade. Não é algo “palpável”, e sim algo que transforma situações comuns e/ou cotidianas em
momentos marcantes e positivos. “Entretenimento é agente transformador, capaz de despertar os
sentidos e tocar o ser humano nos sentimentos. Entreter pode ser percebido [...] como alternativa
que provoca sensações, estimula descobertas, faz bem para a alma e para o coração” (AOKI, 2008, p.
9).
Sempre houve, ao longo da história, atividades divertidas e programadas como brincadeiras de rua, jogos, festas, circos, teatros, shows, feiras, campeonatos, romarias, procissões e quermesses. No século passado, surgiu o cinema, o rádio e a televisão (hoje com DVDs, cabo e videogames) e finalmente os computadores, grandes responsáveis pela transformação do entretenimento em tecnologia de ponta e destinado à massa. Havia também, acadêmica e empresarialmente, os conceitos de lazer, ócio, de descanso, férias etc., porém o conceito de entretenimento surgiu de forma mais específica ao longo dos séculos XIX e XX, fruto da estruturação do capitalismo em sua fase pós-industrial. [...] Nos Estados Unidos, o setor de entretenimento cresceu mais que a indústria automobilística, siderúrgica ou o setor financeiro. Os Estados Unidos possuem o mais desenvolvido setor de mídia e de entretenimento do mundo, gerando boa parte dos US$ 500 bilhões anuais de receitas. (TRIGO, 2003, p. 25).
O entretenimento envolve cinema, teatro, música e outras expressões artísticas, porém se
distancia da arte por ser uma atividade passiva e descomprometida, pelo simples prazer do consumo,
não requerendo racionalização ou intelectualização no momento de consumo.
Vivemos um momento de demanda crescente por entretenimento. O estudo Global
Entertainment and Media Outlook 2006-2010, realizado pela Price Waterhouse Coopers, prevê que o
setor cultural deve crescer mais do que a economia mundial, passando de US$ 1,3 tri em 2005 para
US$ 1,8 em 2010, crescendo 6,6% ao ano, bem acima da média da economia mundial (5%). Na
América Latina, espera-se crescimento anual médio de 8,5%, com o mercado passando de US$ 40 bi
em 2005 para US$ 60 bi em 2010. (LEITÃO, 2007 apud CULTURAEMERCADO, 2007).
Diante dessa demanda, o marketing passa a ser essencial para os atores do
entretenimento. É utilizando as ferramentas de comunicação: pesquisa de mercado, assessoria de
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imprensa, publicidade, promoção de vendas, distribuição etc., que se aproximam mais do público-
alvo e despertam o sentimento de “pertencer”, de “fazer parte”, reforçando assim, a cultura e a
identificação.
Segundo Bernbach (2003, apud MURAKAMI, 2008), o marketing de entretenimento deve se
basear nos fundamentos seguintes:
Público-alvo identificável: análise do mercado consumidor e do comportamento de
consumo;
Posicionamento preciso: sensações e sentimentos que se deseja despertar no
consumidor;
Bons canais de distribuição;
Estratégia de lançamento dinâmica: estruturar todas as formas de comunicação para
atingir o maior número de pessoas possível;
Domínio da categoria e forte penetração de mercado: desenvolvimento de
competências para criar diferenciação no produto que garanta forte penetração de
mercado;
Poder de sustentação: garantir a curiosidade pelo produto, motivando o consumidor a
buscá-lo, desejá-lo;
Entrega de uma promessa: equilibrar expectativas e experiência fazendo que a
comunicação não crie expectativas erradas.
Al Lieberman (2002, apud MURAKAMI, 2008) define que a indústria do entretenimento é
formada por quatro “Cs”:
Conteúdo: o real produto, desde a idéia inicial até o consumidor final;
Conduto: meio pelo qual o consumidor tem acesso ao produto;
Consumo: a forma como o consumidor usa o produto
Convergência: como as várias mídias e tecnologias vão se compor para comunicar.
Ainda segundo Lieberman (2002, apud MURAKAMI, 2008, p. 28), para obter sucesso, o
entretenimento depende de patrocinadores e consumidores (ver Figura 1). “Ao desenvolver o
produto e desenhar o perfil da audiência, o produtor de entretenimento deve ter em vista a
viabilização dos recursos necessários”.
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Figura 1: Fluxo do entretenimento
Fonte: MURAKAMI, Luiz C. Conceitos básicos de marketing de entretenimento. In: COBRA, Marcos (org.).
Marketing do entretenimento, 2008, p. 28.
2.3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO FORRÓ
De acordo com o historiador Luís Câmara Cascudo, autor do Dicionário do Folclore
Brasileiro (1972), a palavra forró significa o mesmo que arrasta-pé e era utilizada por aqueles que
queriam se referir a uma festa tipicamente popular de alguns estados do Nordeste no início do
século XX.
Quanto à origem como festa, Lima (2005), citando o pesquisador Leandro Expedito da Silva,
autor do livro “Forró no Asfalto” (2003), afirma que existem duas hipóteses: a primeira, explica que
forró vem da expressão inglesa for all (tradução: para todos) e que se refere às festas promovidas
pelos ingleses para os operários que trabalhavam na construção das estradas de ferro nordestinas, às
quais todos podiam participar; a segunda, esclarece que forró seria apenas a redução da palavra
forrobodó, festa caipira, sem etiqueta, e que com o tempo, a palavra foi sendo abreviada, para ser
mais fácil de pronunciar.
O forró só se popularizou nacionalmente na década de 40 com Luiz Gonzaga e o seu baião.
Nascido em Pernambuco e filho de pai sanfoneiro, Luiz Gonzaga cresceu em meio aos bailes de forró.
Mais tarde, influenciado pelo contexto político e pela áurea de valorização da cultura regional,
Gonzaga decidiu explorar em suas canções o sofrimento e a causa nordestina, junto com seu grande
parceiro, Humberto Teixeira. O pesquisador José Farias dos Santos, em seu livro “Luiz Gonzaga, a
música como expressão do Nordeste” (2004, p. 43), afirma que “perceber a formação dessa cadeia
cultural foi a grande virtude de Luiz Gonzaga. Essa aguçada percepção do contexto sociocultural [...]
o impulsionou a procurar um parceiro que tivesse uma sensibilidade nordestina e que fosse capaz de
manifestar, ao migrante, toda beleza cultural de sua região”. Essa tática de Gonzaga, em cantar o
sertão para os migrantes nordestinos alocados no Sudeste, colocou o forró dentro de uma posição
estratégica no mercado da música brasileira nos anos 40.
O processo de lançamento do baião no mercado fonográfico obedeceu uma
estratégia até então jamais planejada por nenhum outro gênero musical no Brasil.
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Essa estratégia contemplava uma análise perspicaz do contexto sociopolítico e
musical brasileiro, com a identificação do baião com a região Nordeste, utilizando-
se, inclusive, de indumentária que associava Luiz Gonzaga ao vaqueiro e ao
movimento do cangaço (SANTOS, 2004, p. 41).
O forró-baião de Luiz Gonzaga teve sua época áurea do final dos anos 40 até meados dos
anos 50, onde, de acordo com Lima (2005), teve seu declínio provocado pelo rádio, que retirou seu
apoio ao ritmo. Ressurgiu nos 60, ainda ligado à imagem e música de Luiz Gonzaga, mas já não era
tão forte como antes. Após a morte de Luiz Gonzaga e de outros ícones do forró como Jackson do
Pandeiro e Lindu, o forró foi então retirado da cena musical e voltou a ser um símbolo distante das
festas e da cultura nordestina.
Segundo o professor Jair do Amaral Filho, coordenador da pesquisa “Arranjo Produtivo do
Forró em Fortaleza, Ceará” (2008, p. 4), no início dos anos 90 o forró era “um gênero de música que
se restringia às classes populares urbanas, ao interior do Nordeste, a determinadas casas de danças
das periferias dos grandes centros urbanos e à época das festas juninas”. Conforme consta na
pesquisa de Amaral Filho, o cenário começou a mudar quando o empresário e dono de banda
Emanuel Gurgel, ao freqüentar as casas de dança da cidade de Fortaleza, percebeu que quando a sua
banda “Black Banda” tocava forró, havia uma reação imediata e positiva do público, que enchia a
pista de dança. Essa percepção fez Gurgel intuir que havia um potencial comercial no forró. Emanuel
Gurgel começou então a insistir para que os músicos de sua banda tocassem mais forró, porém eles
se recusavam pois achavam que a música era brega e que poderia marcar negativamente a imagem
da banda. Gurgel então montou a segunda banda “Aquarius”, mas o músicos continuavam com a
mesma resistência. A saída para Emanuel Gurgel foi a criação de uma terceira banda, a “Mastruz com
Leite”, banda composta por músicos desconhecidos e “humildes” que não tinham vergonha de tocar
forró.
A banda “estourou”, como se diz no jargão musical, e deu a Gurgel um retorno bem maior
do que ele esperava. Amaral Filho relata que a “Mastruz com Leite” foi o pontapé inicial de uma rede
imensa de negócios chamada “SomZoom”, de Emanuel Gurgel, composta, no período áureo, por:
onze bandas de forró, estúdio próprio de gravação, vários ônibus, vinte casas de shows, editora,
várias rádios no Nordeste e setenta e um espaços em rádios de outros estados, entre outros. Essa
mesma banda foi introdutora do estilo chamado hoje ‘forró elétrico’, conforme Amaral Filho relata:
*A+ “Mastruz com Leite” foi o início de um processo que deu origem ao complexo
“SomZoom” e que resultou na indústria musical e nos seu arranjo produtivo
existentes hoje em Fortaleza e Ceará, e que se propagou para o Nordeste e outros
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estados da federação, por meio da multiplicação das bandas de forró. [...]
Insatisfeito com as restrições das condições locais para gravação, principalmente
por conta do seu estilo comercial, [...] Emanuel decidiu montar seu próprio estúdio,
onde investiu US$ 150 mil. [...] Junto com a montagem do estúdio vieram
equipamentos de iluminação e som e um ônibus que transportaria a banda
“Mastruz com Leite”, resultando em pequenas bifurcações que começavam a dar
forma a um complexo industrial que se estruturaria mais tarde. No centro dessas
bifurcações estava a banda “Mastruz com Leite”, que evoluiu inovando. Dentre as
inovações iniciais estiveram a abolição dos intervalos durante as apresentações e a
introdução de novos instrumentos musicais, considerados até então como heresias
entre os forrozeiros pé de serra. Guitarra, contrabaixo e saxofone fizeram parte
dessas inovações, que já vinham sendo ensaiadas por bandas “das antigas” como a
do Paulo Ney. (AMARAL FILHO, 2008, p. 5).
A primeira banda concorrente do complexo musical formado por Emanuel Gurgel foi a
“Forró Maior”, do empresário Porsidônio. Outras foram surgindo no mercado, conforme este crescia,
de origens cearense e de outros estados. Em 2008, segundo Amaral Filho, foram identificadas 45
bandas (de todo o Brasil) consideradas profissionais, ou seja, que possuíam CDs e/ou DVDs gravados,
ocupavam espaços na mídia e outdoors, possuíam sites informando sua história, componentes,
agendas de shows e contatos telefônicos e que eram representadas por empresários. Segue quadro
das bandas abaixo:
Quadro 2: Principais Bandas de Forró que se aoresentam em Fortaleza (2008)
BANDAS LOCAL PROPRIETÁRIOS CACHÊ MERCADO CD DVDS
Aviões do Forró Fortaleza A3 R$ 80.000,00 BR 5 1
Caviar com Rapadura Fortaleza A3 R$ 3.000,00 NE 12 1
Forró do Muído Fortaleza A3 R$ 12.000,00 N/NE 2 -
Forró dos Plays Fortaleza A3 R$ 4.000,00 N/NE 1 -
Solteirões do Forró Fortaleza A3 R$ 6.000,00 N/NE 3 -
Mastruz com Leite Fortaleza Emanuel Gurgel R$ 10.000,00 BR 43 2
Cavalo de Pau Fortaleza Emanuel Gurgel R$ 3.000,00 NE 15 2
Catuaba com Amendoim
Fortaleza Emanuel Gurgel R$ 4.000,00 NE 12 -
Mel com Terra Fortaleza Emanuel Gurgel R$ 3.000,00 NE 12 -
Forró Real Fortaleza Chico Bill R$ 6.000,00 NE 10 2
Pau de Balançar Fortaleza Chico Bill R$ 3.000,00 CE 2 -
Amor Cearense Fortaleza Chico Bill R$ 3.000,00 CE - -
Mala 100 Alça Araripina/PE Neto R$ 4.000,00 N/NE/SE 3 2
Moleca 100 Vergonha Araripina/PE Neto R$ 6.000,00 N/NE/SE 8 2
Forró Saborear São Paulo Ronald R$ 5.000,00 BR 6 -
Forró Balancear São Paulo Ronald R$ 6.000,00 BR 3 1
Canários do Reino Fortaleza Karlúcio R$ 4.000,00 NE 11 -
Forró Divera Fortaleza Karlúcio R$ 1.000,00 CE - -
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BANDAS LOCAL PROPRIETÁRIOS CACHÊ MERCADO CD DVDS
Swing do Forró Fortaleza Marcos R$ 5.000,00 NE 2 1
Xote de Elite Fortaleza Marcos R$ 500,00 CE - -
Banda Líbanos Iguatu/CE Marineide/Márcio R$ 7.000,00 NE 13 2
Forró Tropicália Iguatu/CE Marineide/Márcio R$ 3.000,00 NE 11 2
Forró na Veia Fortaleza Rodrigo R$ 2.000,00 NE 2 2
Forró Diferenciar Fortaleza Rodrigo R$ 1.500,00 NE 1 -
Felipão Fortaleza Felipe R$ 20.000,00 BR 3 2
Forró Moral Fortaleza Marcelo/Carlos R$ 5.000,00 N/NE 2 1
Garota Safada Fortaleza Dona Biu R$ 6.000,00 N/NE/SE 5 -
Forró Sacode Fortaleza Tony Guerra R$ 10.000,00 BR 3 1
Desejo de Menina Pernambuco Antônio/Ivan R$ 7.000,00 N/NE 4 2
Waldonys Fortaleza Waldonys R$ 4.000,00 BR 9 1
Kbra da Peste Fortaleza Jonathan/Thiago
Matheus/Roberto R$ 1.500,00 N/NE 1 1
Chico Pessoa Fortaleza Chico Pessoa R$ 5.000,00 BR 6 -
Dorgival Dantas Natal/RN Dorgival Dantas R$ 4.000,00 BR 3 1
Dedim Gouveia Fortaleza Dedim Gouveia R$ 3.000,00 BR 9 -
Furacão do Forró Fortaleza Tuta R$ 6.000,00 N/NE 2 1
Forró Poesia Fortaleza Rita de Cássia R$ 5.000,00 NE - -
Gatinha Manhosa Pernambuco Edson Lima R$ 5.000,00 N/NE 5 -
Lagosta Bronzeada Fortaleza Lano R$ 2.500,00 N/NE 3 -
Limão com Mel Salgueiro/PE Ailton R$ 10.000,00 BR 22 4
Magníficos Monteiro/PA Jotinha R$ 10.000,00 BR 15 1
Cavaleiros do Forró Natal/RN Alex R$ 15.000,00 BR 6 4
Banda Skema Iguatu/CE Roberto/Zenir R$ 3.000,00 NE 3 1
Barbaridade Fortaleza Jocélio R$ 700,00 NE - -
Calcinha Preta Aracaju/SE Gilton Andrade R$ 15.000,00 BR 17 2
Saia Rodada Caraúbas/RN Eugênio R$ 18.000,00 BR 6 3
Fonte: AMARAL FILHO, Jair. Arranjo Produtivo do Forró em Fortaleza, Ceará. 2008, p. 11.
De acordo com o doutor em Comunicação Felipe Trotta (2009), enquanto as grandes
gravadoras tem como objetivo a venda de discos (principal produto), as bandas de forró tem como
produto básico as vendas de shows. A divulgação comercial está voltada para a experiencial musical
ao vivo, como principal objeto de comercialização.
Amaral Filho afirma que, quanto à mobilização de ativos, as 45 bandas mobilizam cerca de
R$ 1.575.000,00. Do ponto de vista da renda, os cachês variam entre R$ 500,00 e o máximo de R$
80.000,00. Devido aos riscos inerentes aos espetáculos ao vivo, a modalidade que domina o mercado
é a da “festa bancada” onde os donos de bandas dividem com os donos das casas de shows as
receitas dos eventos, em percentuais acertados antecipadamente. Em um cálculo conservador,
Amaral Filho analisou que, caso cada uma das 45 bandas realizassem quatro apresentações mensais,
o mobilizado seria R$ 1.350.800,00, uma cifra bem abaixo do real. Quanto à cadeia produtiva, as
bandas de forró são o coração da cadeia e seu principal elo são as casas de forró, não só como fonte
de renda, mas por serem locais da realização do encontro das bandas com seus consumidores, locais
onde as “experiências” acontecem por meio dos espetáculos ao vivo.
15
Os produtores envolvidos com este mercado investem no que vem sendo chamado
de “economia de experiência”, ou seja, um sistema comercial no qual o consumidor
paga não para adquirir um produto ou serviço, mas “para passar algum tempo
participando de uma série de eventos memoráveis” (PINE e GILMORE, 1999 apud
TROTTA, 2009, p. 104).
Os shows de forró deixaram de ser eventos sazonais ou eventuais para serem eventos
regulares. Os mercados atingidos pelas bandas cearenses ultrapassam os limites das fronteiras
estaduais. A “Aviões do Forró” – maior sucesso do gênero – já atua no mercado norte-americano. As
bandas “Calcinha Preta”(SE), “Desejo de Menina”(PE), “Forró do Muído”(CE), “Saia Rodada”(RN),
“Cavaleiros do Forró”(RN), “Limão com Mel”(PE), “Magníficos”(RN), “Banda Líbanos”(CE) e “Forró
Balancear”(SP), estão entre as maiores bandas nacionais.
3 METODOLOGIA
A metodologia utilizada neste trabalho foi: quanto ao tipo, pesquisa bibliográfica com
revisão da literatura em livros, artigos e periódicos produzidos sobre forró (história e evolução),
marketing e marketing de entretenimento; quanto ao método, um estudo de multicasos; e quanto à
técnica, aplicação de 21 questionários estruturados. O objeto de estudo deste artigo foram as bandas
de forró mais fortemente atuantes de cenário musical cearense.
Segundo Gil (2002, p. 44), “a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já
elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Sendo assim, a primeira etapa,
a revisão da literatura, foi bastante exaustiva devido a grande dificuldade de encontrar livros que
tratassem especificamente do tema “forró” e do assunto “marketing de entretenimento”. Dois
autores foram fundamentais nesta etapa, Marcos Cobra (organizador da coletânea “Marketing do
Entretenimento”) e Leandro Expedito Silva (autor do livro “Forró no asfalto: mercado e identidade
sociocultural”). Quanto às demais fontes, a solução encontrada foi buscar artigos e periódicos em
bibliotecas universitárias e virtuais.
A busca por artigos e periódicos foi facilitada graças à internet. José Carlos Köche em seu
livro Fundamentos da Metodologia Científica (2003, p. 128), afirma que “a consulta às principais
bibliotecas e institutos de pesquisa nacionais e internacionais se torna facilitado hoje pela existência
das redes mundiais de informatização. O uso da internet [...] coloca rapidamente o pesquisador junto
às fontes que deseja”.
O estudo de caso, segundo Gil (2002, p. 54) “é o delineamento mais adequado para a
investigação de um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real, onde os limites entre o
16
fenômeno e o contexto não são claramente percebidos”. Dessa forma, para responder à questão
desta pesquisa, elaborou-se um estudo multicasos, para analisar as práticas de marketing utilizadas
pelas bandas de forró.
Quanto às unidades-casos ou população-alvo (objeto de estudo), estas foram escolhidas
com base no Quadro 1, retirado do trabalho do professor Jair do Amaral Filho (autor da pesquisa
Arranjo Produtivo do Forró em Fortaleza, Ceará), mencionado anteriormente. Nesse quadro, são
listadas as 45 bandas com maior destaque e as mais estruturadas profissionalmente no cenário
musical brasileiro. Como o universo da pesquisa se restringe ao Ceará, apenas 33 bandas estariam
aptas como unidades-casos. Porém, como a pesquisa de Jair foi realizada em 2008 e o mercado de
forró é muito dinâmico, com bandas saindo e entrando no mercado frequentemente, esta lista
acabou por estar desatualizada. Ao entrar em contato com os responsáveis pelas bandas,
atualizamos a lista das bandas que estariam aptas a participar do processo. Destas, apenas 21
aceitaram participar da pesquisa e estão em destaque no Quadro 2. Como as bandas estão em
constantes viagens, devido aos shows, os questionários foram aplicados por email e por telefone,
tornando assim, a pesquisa viável de ser aplicada em tempo hábil para a execução deste trabalho.
Quadro 2: Bandas de Forró do Ceará em 2010
BANDAS LOCAL PROPRIETÁRIO
Aviões do Forró Fortaleza A3
Forró do Bom Fortaleza A3
Forró do Muído Fortaleza A3
Forró dos Plays Fortaleza A3
Solteirões do Forró Fortaleza A3
Forró Balancear Fortaleza Roberto
Forró Stilo Fortaleza Roberto
Mastruz com Leite Fortaleza Emanuel Gurgel
Cavalo de Pau Fortaleza Emanuel Gurgel
Kalango Aceso Fortaleza Emanuel Gurgel
Catuaba com Amendoim
Fortaleza Emanuel Gurgel
Mel com Terra Fortaleza Emanuel Gurgel
Forró Real Fortaleza Chico Bill
Pau de Balançar Fortaleza Chico Bill
Amor Cearense Fortaleza Chico Bill
Canários do Reino Fortaleza Augusto/Sid Brasil
Swing do Forró Fortaleza Jeferson
Banda Líbanos Iguatu/CE Marineide/Márcio
Forró Tropicália Iguatu/CE Marineide/Márcio
Forró na Veia Fortaleza Karlúcio
Moleca 100 vergonha Fortaleza Karlúcio
Lairton dos teclados Fortaleza Karlúcio
Mala 100 Alça Fortaleza Karlúcio
Garota Safada Fortaleza Dona Biu
Forró Sacode Fortaleza Tony Guerra
Waldonys Fortaleza Waldonys
17
BANDAS LOCAL PROPRIETÁRIO
Kbra da Peste Fortaleza Jonathan/Thiago
Matheus/Roberto
Chico Pessoa Fortaleza Chico Pessoa
Dedim Gouveia Fortaleza Dedim Gouveia
Furacão do Forró Fortaleza Tuta
Lagosta Bronzeada Fortaleza Lano
Banda Skema Iguatu/CE Roberto/Zenir
Barbaridade Fortaleza Jocélio
Fonte: Elaborado pela autora, 2010.
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Conforme mencionado na metodologia, foram aplicados 21 questionários, dos 34
propostos pela pesquisadora, junto às principais bandas atuantes no cenário musical cearense, no
período de 01/01/2010 a 30/10/2010, para efeito de atender aos objetivos deste artigo.
4.1 IDENTIFICAÇÃO DO PÚBLICO-ALVO
Segundo a pesquisa, as bandas de forró demonstram ter conhecimento relativo do perfil de
seu público consumidor. Para a maioria delas (48%), o público é constituído por adultos abaixo dos
35 anos e por jovens, sendo pertencentes em maior parte à classe B, seguido pelas classes A e C,
igualmente. Pôde-se observar que este não parece ser um conhecimento oriundo de pesquisas, mas
sim de observação cotidiana, visto que, conforme o Gráfico 1, das 21 bandas, oito (38%) afirmam que
atingem todas as faixas etárias de público. Tal informação demonstra que, ou as bandas não
possuem um direcionamento específico no momento de definir o seu posicionamento, ou que não
fazem idéia de quem é o consumidor que ela está atingindo. Para confirmar essa hipótese, pode-se
observar o Gráfico 2, onde cinco bandas (24%) não possuem conhecimento de qual faixa social, o seu
público pertence.
Gráfico 1: Conhecimento sobre o público-alvo definido Fonte: Elaborado pela autora, 2010.
2
4
6
1 1
8
2
0
2
4
6
8
10 Adultos acima de 35 anos Adultos abaixo de 35 anos Jovens
Adolescentes
Crianças
Todos
Não temos
18
Gráfico 2: Perfil do público que frequenta as apresentações da banda
Fonte: Elaborado pela autora, 2010.
4.2 OBJETIVOS
Quanto ao posicionamento, quando questionadas como gostariam de ser conhecidas pelo
público, 57% afirma que gostariam de ser conhecidas como a melhor banda do Brasil, 38% como
melhor banda do Nordeste e apenas uma banda desejaria ser vista como a melhor banda do Ceará.
Para atingir esse objetivo de posicionamento, os meios mais utilizados são: shows ao vivo (81%),
gravação de CDs ou jingles próprios (71%), participação de programas de TV/rádio de alcance
nacional (52%) e internet (48%).
4.3 ELABORAÇÃO DA COMUNICAÇÃO
Relativo ao estilo musical, as bandas se definem por: forró universitário (52%), forró
elétrico (24%) e forró pé-de-serra (24%). Complementando o estilo e reforçando a identidade da
banda perante o público, 57% das bandas afirma que determinam a escolha do figurino de seus
integrantes de acordo com estilo próprio. Por outro lado, 38% possui seus figurinos patrocinados por
empresas terceiras.
Como estratégias de diferenciação afirmam:
71% possui o cantor/cantora mais carismático;
67% possui os melhores preços;
48% participa dos principais eventos de forró;
43% detêm as melhores músicas de composições;
43% são as bandas mais conhecidas;
38% possui parcerias com as melhores casas de shows.
Classe A
Classe B
Classe C
Classe D
Classe E
Não temos idéia
8
13
8
3
0
5
19
Esses dados mostram que, ao invés de uma estratégia de diferenciação, as bandas praticam
ações comuns que não as diferenciam perante o público, visto que a maioria realiza as mesmas
práticas.
4.4 SELEÇÃO DOS CANAIS DE COMUNICAÇÃO
Os canais de comunicação mais utilizados são, em ordem: CD, rádio, shows ao vivo, TV, site
próprio, pôster, YouTube, DVD, Orkut, revistas de forró, jornal, outdoor, blog, Twitter, faixas de rua,
sites de terceiros, Facebook e MySpace.
Nota-se a predominância das mídias tradicionais, como CD, DVD, TV e rádio; porém
podemos ver que as redes de relacionamento virtuais (YouTube, Orkut, blogs, Twitter, Facebook e
MySpace) são bastante importantes na comunicação e no relacionamento outshow das bandas com
o público-alvo.
Gráfico 3: Meios de comunicação com o público-alvo Fonte: Elaborado pela autora, 2010.
4.5 ORÇAMENTO
Dentre as bandas que aceitaram informar dados do faturamento, duas contabilizam acima
de R$ 100 mil/mês, seis arrecadam entre R$ 30 mil e R$ 100 mil mensais e uma arrecada entre R$ 10
mil e R$ 30 mil/mês. Doze bandas se recusaram a prestar informações sobre o faturamento, todas
0
5
10
15
20
25
CD
DV
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13
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14
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14
6
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4
8 7
12
2 1
14
CD
DVD
Shows
Rádio
Revistas
Jornal
TV
Outdoors
Pôsteres
Faixas de rua
Site próprio
Site de terceiros
Blogs
Orkut
MySpace
YouTube
20
elas consideradas “gigantes” do mercado local, figurando entre as bandas de maior sucesso e com
maior número de público, e consequentemente, com maior faturamento. Fazendo uma projeção
dentro do universo das 21 bandas pesquisadas, e considerando uma média de R$ 80 mil mensais,
significa que todas as bandas faturam, em média, R$ 1,68 milhão/mês e que, por ano, essa soma
seria de R$ 20,16 milhões, estimativa um pouco superior à do professor Amaral Filho (16,21
milhões/ano). Vale ressaltar que, no momento da aplicação da pesquisa, muitas bandas informaram
que estão enfrentando um momento de estagnação do mercado, e por isso, não conseguem atingir
os patamares monetários que atingiam há dois ou três anos.
Além de ser um importante movimentador da economia local e regional, os números do
forró não são significantes apenas no faturamento. Quando questionadas quanto ao investimento
em ações de marketing, 38% relata que gastam, mensalmente, entre R$ 5 mil e R$ 10 mil reais e 24%
gasta acima de R$ 10 mil/mês. Novamente, fazendo uma projeção hipotética, isso significa dizer que
adotando uma média de R$ 8 mil, as 21 bandas gastam em torno de R$ 168 mil/mês. Isso significa
que são no mínimo R$ 2,016 milhões por ano de investimento em marketing. Se esse investimento é
bem direcionado, não se pode afirmar neste trabalho, porém os números são importantes para
avaliar o potencial do forró como mercado.
4.6 MIX DE COMUNICAÇÃO
As principais ferramentas de promoção utilizadas pelas bandas são:
Entrega de CDs promocionais gratuitos: 76%
Divulgação de músicas no YouTube: 67%
Parcerias com radialistas e apresentadores de programas de forró (TV e rádio): 62%
Apresentação em programas de TV: 52%
Execução de músicas em programas de rádio: 24%
Gravação de clipes/vídeos de música: 10%
Novamente, percebe-se a importância das mídias tradicionais na “indústria do forró” e o
avanços das novas mídias como o YouTube. Para a esclarecer a diferença entre uma música divulgada
no YouTube e a gravação de clipe, o último é uma gravação profissional, com contratação de equipe
especializada para produção e elenco que geralmente difere dos integrantes normais das bandas.
Quanto à freqüência de novos lançamentos, 62% afirma que lançam novidades a cada 3
meses, 10% a cada 6 meses, 24% a cada um ano e 5% a cada dois anos. A maioria das bandas (62%)
21
divulga seus lançamentos antecipadamente, 43% o fazem esporadicamente e 24% não divulgam
nenhum lançamento antecipadamente.
4.7 MENSURAÇÃO DOS RESULTADOS
De acordo com todas as bandas de forró pesquisadas (100%), suas músicas são bastante
conhecidas e amplamente divulgadas. Dentre as pesquisadas, 71% considera que possuem estrutura
melhor do que a que tinham no ano anterior; 62% afirma o número de shows e de fãs aumenta a
cada ano; 57% está sempre renovando os instrumentos; 52% acredita que o padrão de vida de seus
músicos está bem melhor; 33% cobra cachês mais altos que o ano anterior e possuem várias
empresas querendo patrocinar os shows; 43% recebe royalties pelas gravações de suas músicas por
outros artistas e 5% aumenta constantemente o número de integrantes da banda.
4.8 GERENCIAMENTO DA COMUNICAÇÃO DE MARKETING
Quase todas as bandas (90%), tem como responsável pelo marketing, o dono ou
empresário da banda. Apenas uma banda (5%), possui um diretor de marketing e outra (5%) possui
contrato com uma agência de publicidade.
Quando questionadas se já haviam feito algum planejamento de marketing, 62% das
bandas assevera que possuem uma agência ou profissional de marketing à frente de suas estratégias
de mercado. Em contrapartida, 28% afirma que desenvolvem as atividades por conta própria e 10%
aplica o que foram aprendendo com a prática.
De acordo as informações obtidas com a pesquisa, pode-se entender que no contexto das
bandas de forró cearenses, embora o responsável direto pelo marketing seja o dono ou empresário -
pessoa que teoricamente não possui o conhecimento/habilidades necessário para desenvolver um
planejamento de comunicação estratégico -, em algum momento elas buscaram apoio especializado
com agências de publicidade ou profissionais autônomos do mercado. Percebe-se então que, talvez
essa ausência de profissionais especializados em marketing cuidando da orientação mercadológica
das bandas de forró, apesar dos significantes valores que esse mercado movimenta, seja um
indicativo que esse potencial segmento de mercado é desconhecido ou desprezado pelo mercado
publicitário local e/ou regional.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como pôde-se observar, a “indústria do forró” ainda é um segmento bastante imaturo da
música cultural brasileira. Embora esteja na cena musical há algumas décadas e movimente valores
22
consideráveis, sua estrutura ainda é precária e baseada nas experiências cotidianas e na visão de
mercado de seus donos e empresários. O forró é visto ainda como festa popular, e não como um
mercado potencial, como importante agente agregador da economia.
Seja levados pela “nova onda” das redes de relacionamento, seja pelas mídias tradicionais,
percebe-se que não há um planejamento específico quanto às ações de marketing. A visão que
prevalece é a que “quanto mais estiver em evidência, melhor”. Dessa forma, apreende-se que as
bandas agem não de acordo com um plano estratégico de comunicação estruturado, e sim com a
meta de divulgar aonde for possível, com objetivo de alcançar maior público.
Quanto ao objetivo de analisar as práticas de marketing utilizadas pelas bandas de forró do
Ceará, pode-se dizer que as respostas obtidas foram satisfatórias. Não há um planejamento nem
ações estruturadas nesse aspecto, porém, por conta própria e baseados nas experiências já vividas,
as ações de marketing acontecem, e, embora não se possa mensurar o resultado de cada ação
específica, elas ocorrem e movimentam uma grande soma de valores para o mercado.
Não existe uma preocupação com estilo ou frequência de exposição. Sendo assim, os canais
de comunicação são quase todos utilizados de forma maciça, tendo prioridade os que possuem
maior audiência, como entrega de CDs promocionais, divulgação em rádio, shows ao vivo, sites
próprios, YouTube, Orkut, entre outros.
Para garantir espaços nesses veículos, o investimento das bandas gira em torno de 5 a 10%
de seu faturamento bruto, ou seja, por volta de R$ 120 mil/ano, sendo R$ 2,52 milhões/ano no total
das 21 bandas pesquisadas.
Quanto às práticas de marketing de entretenimento, pode-se afirmar que as melhores
aplicações se referem a: seleção dos canais de distribuição/comunicação utilizados de acordo com a
proposta de marketing de cada banda; um forte domínio da categoria e excelente penetração de
mercado; bem como elaboração de estratégias de lançamento dinâmicas, posto que as novidades
surgem, em média, a cada 3 meses e são amplamente divulgadas.
As limitações desse trabalho se devem principalmente à ausência de referencial teórico
sobre o assunto estudado, bem como à falta de disponibilidade e tempo das bandas em
responderem o questionário, sendo necessária a aplicação por email e telefone. Percebeu-se
também o receio dos responsáveis em prestar informações sobre os números de faturamento, sendo
assim, para deixá-los mais confortáveis, foram estabelecidas faixas de valores para que os
pesquisados pudessem se sentir mais à vontade em revelar tais dados.
Esse artigo procura trazer contribuição inicial sobre as práticas de marketing utilizadas
pelas bandas de forró do Ceará. Estudos futuros e análise detalhada sobre as práticas de marketing,
os investimentos e seus desdobramentos serão importantes para melhor compreensão deste
fenômeno musical brasileiro.
23
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APÊNDICE
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