27
FACULDADE 7 DE SETEMBRO FA7 CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ ANA CAROLINA DE ARAÚJO FERREIRA FORTALEZA 2010

PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

FACULDADE 7 DE SETEMBRO – FA7

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO:

UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ

ANA CAROLINA DE ARAÚJO FERREIRA

FORTALEZA – 2010

Page 2: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

1

ANA CAROLINA DE ARAÚJO FERREIRA

PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO:

UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ

Artigo Científico apresentado à Faculdade 7 de Setembro como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Administração.

Orientador: Prof. Maíso Dias Alves Júnior, Ms.

FORTALEZA - 2010

Page 3: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

2

PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ

Artigo Científico apresentado à Faculdade 7 de Setembro como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Administração.

Ana Carolina de Araújo Ferreira

Artigo aprovado em: / /

Prof. Maíso Dias Alves Júnior, Ms. (FA7)

1º Examinador: Profa. Mariana Aguiar Alcântara de Brito, Ms. (FA7)

2º Examinador: Prof. Maíso Dias Alves Júnior, Ms. (FA7)

Prof. Francisco Hercílio de Brito Filho, Ms. (FA7) Coordenador do Curso

Page 4: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

3

PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ

Ana Carolina de Araújo Ferreira 1

Prof. Maíso Dias Alves Júnior, Ms. 2

RESUMO

O objetivo deste estudo é analisar as práticas de marketing utilizadas pelas bandas de forró

do estado do Ceará. De forma a alcançar tal objetivo, foram utilizados como referencial teórico os

conceitos de marketing, marketing de entretenimento e feita uma retrospectiva sobre a evolução

histórica do forró. Como metodologia foi realizada pesquisa bibliográfica e um estudo multicasos

com aplicação de 21 questionários. Foram identificadas as principais práticas de marketing de

entretenimento, bem como os principais canais de comunicação/mix de marketing utilizados e o

total de investimentos aplicados em marketing pelas bandas. A análise dos resultados e as

considerações finais encerram este artigo.

PALAVRAS-CHAVE: Forró. Marketing. Marketing de Entretenimento.

ABSTRACT

The main objective of this study is to examine the marketing practices applicated by forró

bands in the state of Ceará. To achieve this goal, entertainment marketing and a retrospective on the

historical evolution of forró were used as theoretical concepts of marketing. The methodology was a

multicases study and a research with 21 questionnaires. We identified the main practices of

entertainment marketing, such as the main channels of communication / marketing mix used and the

total investments made in marketing bands. The critical annalysis and final remarks conclude this

article.

KEYWORDS: Forró. Marketing. Entertainment Marketing.

1 Graduanda em Administração de Empresas. Estudante da Faculdade 7 de Setembro. email: carolina-

[email protected] 2 Mestre em Administração de Empresas. Professor e orientador da disciplina Empreendedorismo da Faculdade

7 de Setembro. [email protected]

Page 5: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

4

1 INTRODUÇÃO

O forró é um “gênero” típico da música brasileira popular, oriundo e predominante

principalmente na região Nordeste; movimenta, anualmente, somente em Fortaleza, capital do

estado do Ceará, uma receita estimada de R$ 16,5 milhões - segundo dados da pesquisa “Arranjo

Produtivo do Forró em Fortaleza, Ceará”, coordenada pelo professor Jair do Amaral Filho do projeto

REDESIST da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com o SEBRAE. Esta pesquisa

foi utilizada como maior e mais completa fonte de dados sobre a indústria “forrozeira” para este

trabalho, devido à dificuldade encontrada em localizar material e informações sobre este assunto.

Independente do estilo (tradicional, universitário ou eletrônico), a “indústria forrozeira”

tem conquistado mercados de forma crescente e constante – sobretudo nos últimos anos. Símbolo

do povo e da cultura nordestina, o forró se desloca com essa população aonde quer que vá,

tornando-se assim um elo social de agregação e de encontro destes. Segundo Amaral Filho, o forró

“deixou de ser um simples símbolo cultural para ser uma mercadoria, *...+, passou de uma

manifestação cultural restrita para a condição de indústria musical, mobilizando milhares de

empregos e milhões de reais anuais, só no Ceará” (AMARAL FILHO, 2008, p. 1).

Inicialmente fruto de festas populares, o forró tradicional teve seu ápice na década de 40

com Luiz Gonzaga, e nessa época era conhecido popularmente como baião. Após essa fase, o forró

entrou em decadência e voltou ao seu auge somente no ínicio dos anos 90 por iniciativa do

empresário Emanuel Gurgel, que modificou a estrutura do mercado existente e criou uma nova

vertente do forró, conhecida hoje como forró eletrônico, devido à introdução de equipamentos

eletrônicos, conferindo uma “nova roupagem” ao gênero musical. Atualmente, de acordo com

Amaral Filho (2008, p. 2), “o forró tem larga difusão no Brasil, como gênero musical, meio de

entretenimento e relação social, estes apoiados nos bailes e nas danças”.

Parte integrante do mercado cultural regional brasileiro, o forró é hoje um importante

componente do entretenimento e da economia local. Na visão de estudo deste trabalho, a do

marketing de entretenimento, as bandas de forró são empresas que têm como produto principal de

venda, os seus espetáculos (shows) de forró. Seus principais parceiros são as rádios, as casas de

shows, os patrocinadores e os clientes que interagem de forma direta com as bandas no momento

da entrega do produto ou prestação de serviço, no caso, os shows ao vivo.

Para a professora Elizara Carolina Marin, doutora em Ciências da Comunicação, “o

entretenimento tornou-se uma mercadoria com valor em alta, pois responde a uma necessidade

humana, [...], a de diversão; no entanto responde também aos interesses das instituições e do

próprio sistema capitalista” (MARIN, 2009, p. 228).

Page 6: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

5

Apesar do crescimento, do sucesso das bandas e dos números elevados do faturamento, a

“indústria do forró”, em sua maioria, continua na informalidade, foi poucas vezes objeto de estudos

acadêmicos ou seus números e estratégias de mercado analisados com algum critério científico.

Amaral Filho (2008, p. 21) diz que a indústria forrozeira é caracterizada pela “*...+ ausência de marcos

regulatórios e agências reguladoras, a [falta de] participação de organizações de ensino, pesquisa ou

treinamento e a ausência do Estado e do poder público no que se refere ao processo de construção e

produção da indústria do forró”.

Nesse sentido, este trabalho pretende realizar um estudo mais aprofundado sobre as ações

mercadológicas desse fenômeno do entretenimento musical brasileiro e analisar as estratégias de

marketing desenvolvidas pelas bandas de forró cearenses. Para entender como as bandas de forró

estruturam suas ações marketing, elaborou-se a seguinte questão de pesquisa: Quais as práticas de

marketing utilizadas pelas principais bandas de forró do Ceará?

Para responder a questão de pesquisa, definiu-se o seguinte objetivo geral: Analisar as

práticas de marketing utilizadas pelas bandas de forró no Ceará.

Assim, os objetivos específicos foram definidos da seguinte maneira:

Identificar os canais de comunicação utilizados pelas bandas de forró;

Identificar o percentual de investimento em marketing das bandas;

Analisar as práticas de marketing de entretenimento utilizadas pelas bandas de forró.

A metodologia baseou-se nas seguintes etapas: pesquisa bibliográfica com revisão da

literatura em livros, artigos e periódicos produzidos sobre forró (história e evolução), marketing e

marketing de entretenimento; e estudo de multicasos com a aplicação de 21 questionários às bandas

de forró mais fortemente atuantes de cenário musical cearense.

Page 7: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

6

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 MARKETING

“Marketing é uma função organizacional e um conjunto de processos que envolvem a

criação, a comunicação e a entrega de valor para os clientes, bem como a administração do

relacionamento com eles, de modo que beneficie a organização e seu público interessado”

(American Marketing Association, 2007). Ainda segundo a AMA, marketing está relacionado com “o

processo de planejamento e execução da concepção, da definição de preço, promoção e da

distribuição de idéias, produtos, serviços, organizações e eventos para criar trocas que irão satisfazer

os objetivos das pessoas e das empresas”.

Reis (2003, p. 4) afirma que “marketing é a defesa de um melhor relacionamento entre

quem oferece uma proposta e quem a recebe, através do profundo entendimento das necessidades,

aspirações e valores de um consumidor e do que a empresa, em seu mercado, com suas

potencialidades e limitações, pode fazer para suprir essas necessidades e aspirações”.

O professor da University of Wisconsin-Madison, Peter R. Dickson (2001), afirma que o

conceito de marketing está ligado a três princípios fundamentais: a organização existe para

identificar e satisfazer as necessidades de seus clientes; a saciação das necessidades dos clientes é

alcançada através de um esforço integrado de toda a organização e o enfoque organizacional deveria

ser tanto sobre o sucesso a longo prazo como a curto prazo.

De maneira prática e simples, podemos dizer que marketing é aquilo que supre as

necessidades de forma lucrativa, satisfazendo as necessidades humanas e sociais (KOTLER; KELLER,

2006). Segundo Dantas (2005), o marketing está intimamente ligado ao conceito de prazer: prazer

em satisfazer uma necessidade, em perceber que o que se está adquirindo tem um valor para quem

adquire.

Marketing então pode ser entendido como toda e qualquer ação voltada para a entrega de

valor, buscando retorno financeiro satisfatório e que se traduz em exultação dos aspectos sociais e

psicológicos humanos. Em resumo podemos dizer que marketing trata-se da venda de uma idéia ou

ideal. No entanto, não se resume a isso, a venda é apenas a parte “visível” do marketing. Peter

Drucker (1973 apud KOTLER; KELLER, 2004, p. 30) afirma:

Pode-se presumir que sempre haverá a necessidade de algum esforço de vendas, mas o objetivo do marketing é tornar a venda supérflua. A meta é conhecer e compreender tão bem o cliente que o produto ou o serviço se adapte a ele e se venda por si só. O ideal é que o marketing deixe o cliente pronto para comprar. A partir daí, basta tornar o produto ou o serviço disponível.

Page 8: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

7

Quanto aos tipos/aplicações de marketing, ouvimos constantemente menções ao

marketing de serviços, marketing esportivo, marketing cultural, marketing de entretenimento, e-

marketing, marketing de varejo ou atacado e assim por diante. Na verdade, o correto seria dizer

marketing voltado para: serviços, esportes, cultura, entretenimento, e-commerce, varejo ou atacado,

etc., quando o objetivo for analisar as estratégias e as ferramentas do marketing que a empresas

utilizam para alcançar seu público-alvo. Sendo assim, não existem “tipos de marketing”, e sim

aplicações do marketing.

2.1.1 Canais de comunicação/Mix de marketing

Canais de comunicação de marketing são os meios que a empresa utiliza para falar com

seus clientes. Representam a “voz” da empresa e o meio pelo qual ela constrói relacionamento com

os consumidores (KOTLER; KELLER, 2006).

A comunicação de marketing permite às empresas conectar suas marcas a outras pessoas, lugares, eventos, marcas, experiências, sensações e objetos. Posicionando a marca na memória e criando uma imagem de marca, a comunicação pode contribuir para a formação do brand equity (KOTLER; KELLER, 2006, p.532-533).

Segundo Kotler e Keller (2006), os canais de marketing ou mix de marketing são compostos

por:

Propaganda: forma paga de apresentação e promoção de idéias;

Promoção de vendas: incentivos de curto prazo para estimular a experimentação ou

compra de um produto;

Eventos e experiências: atividades e programas patrocinados pela empresa, projetados

para criar interações relacionadas à marca;

Relações públicas e assessoria de imprensa: programas elaborados para proteger a

imagem de uma empresa e de seus produtos;

Marketing direto: utilização de telefone, e-mail ou internet para comunicação direta

com clientes específicos e potenciais;

Vendas pessoais: interação pessoal (cara a cara) com compradores potenciais com vista

a apresentar produtos ou serviços.

O desenvolvimento de uma comunicação eficaz deve se basear nas oito etapas descritas no

Quadro 1 (KOTLER, KELLER, 2006, p. 539):

Page 9: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

8

Quadro 1: Etapas no desenvolvimento de uma comunicação eficaz

Identificação do público-alvo

Determinação dos objetivos

Elaboração da comunicação

Seleção dos canais de comunicação

Estabelecimento do orçamento

Decisão sobre o mix de comunicação

Mensuração dos resultados da comunicação

Gerenciamento da comunicação integrada de marketing

Fonte: KOTLER, Philip; KELLER, Kevin. Administração de Marketing, 2006, p. 539.

As decisões relativas ao montante de investimento em ações de marketing devem estar de

acordo com os objetivos estabelecidos no plano de comunicação adotado pela empresa. A empresa

deve investir, proporcionalmente, aquilo que deseja receber em retorno dos seus clientes.

Segundo relatório do International Event Group (IEG), órgão americano responsável pela

análise do mercado de patrocínios e correlatos, o patrocínio de espetáculos/shows ocupa lugar de

destaque entre todas as atividades de comunicação (ALMEIDA, 2008 apud COBRA, 2008). Ainda de

acordo com Almeida (2008, apud COBRA, 2008, p. 145) “de todos os investimentos realizados no

mercado norte-americano, [...] o segmento relacionado diretamente à música (turnês, shows,

musicais, etc) ocupa a segunda colocação, perdendo somente para as atividades relacionadas ao

marketing esportivo *...+”.

2.2 MARKETING DE ENTRETENIMENTO

Para fins de esclarecimento, inicialmente será definido o significado de entretenimento.

Entretenimento vem do inglês entertainment, que significa ação de fornecer diversão ou lazer; é um

evento, performance ou atividade designada para entreter outros (OXFORD, 2010). A tradução

latina, segundo Marin (2009, p. 228), explica: “a etimologia latina da palavra, [...], vem de inter

(entre) e tenere (ter), ou seja, ter entre”. Pode-se entender então que se entreter significa desfrutar

do tempo livre entre os momentos de trabalho e repouso.

O tempo livre é definido pelo sociólogo francês Joffre Dumazedier como o período em que “o indivíduo tem autonomia para escolher como ocupá-lo, ou seja, decidir o que fazer ou não fazer durante as horas que não tem obrigações a cumprir”. *...+ Em geral, as pessoas ocupam seu tempo livre com atividades voltadas ao prazer físico e sensorial (ouvir música, saborear um vinho, comer em restaurantes), ao desenvolvimento pessoal (estudar, ler), ao descanso (dormir, assistir à tevê), ao

Page 10: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

9

esporte (nadar, jogar tênis, jogar futebol), à socialização (visitar amigos), à religião ou espiritualidade (ir à missa ou culto religioso; fazer meditação ou retiro espiritual) ou, ainda, à diversão (dançar, brincar, jogar cartas), entre outras ocupações. Mas também é possível que as pessoas prefiram o ócio, ou seja, não fazer nada (LIMEIRA, 2008, p. 31).

De acordo com presidente da Blue Tree Hotels e membro da Academia Brasileira de

Marketing, Chieko Aoki (2008, p. 9), “o entretenimento é um conjunto de atividades capazes de

transformar a sociedade, à medida que se democratizam e atingem mais e mais segmentos da

população”. O entretenimento está associado ao perfeito equilíbrio entre razão, emoção e

sensibilidade. Não é algo “palpável”, e sim algo que transforma situações comuns e/ou cotidianas em

momentos marcantes e positivos. “Entretenimento é agente transformador, capaz de despertar os

sentidos e tocar o ser humano nos sentimentos. Entreter pode ser percebido [...] como alternativa

que provoca sensações, estimula descobertas, faz bem para a alma e para o coração” (AOKI, 2008, p.

9).

Sempre houve, ao longo da história, atividades divertidas e programadas como brincadeiras de rua, jogos, festas, circos, teatros, shows, feiras, campeonatos, romarias, procissões e quermesses. No século passado, surgiu o cinema, o rádio e a televisão (hoje com DVDs, cabo e videogames) e finalmente os computadores, grandes responsáveis pela transformação do entretenimento em tecnologia de ponta e destinado à massa. Havia também, acadêmica e empresarialmente, os conceitos de lazer, ócio, de descanso, férias etc., porém o conceito de entretenimento surgiu de forma mais específica ao longo dos séculos XIX e XX, fruto da estruturação do capitalismo em sua fase pós-industrial. [...] Nos Estados Unidos, o setor de entretenimento cresceu mais que a indústria automobilística, siderúrgica ou o setor financeiro. Os Estados Unidos possuem o mais desenvolvido setor de mídia e de entretenimento do mundo, gerando boa parte dos US$ 500 bilhões anuais de receitas. (TRIGO, 2003, p. 25).

O entretenimento envolve cinema, teatro, música e outras expressões artísticas, porém se

distancia da arte por ser uma atividade passiva e descomprometida, pelo simples prazer do consumo,

não requerendo racionalização ou intelectualização no momento de consumo.

Vivemos um momento de demanda crescente por entretenimento. O estudo Global

Entertainment and Media Outlook 2006-2010, realizado pela Price Waterhouse Coopers, prevê que o

setor cultural deve crescer mais do que a economia mundial, passando de US$ 1,3 tri em 2005 para

US$ 1,8 em 2010, crescendo 6,6% ao ano, bem acima da média da economia mundial (5%). Na

América Latina, espera-se crescimento anual médio de 8,5%, com o mercado passando de US$ 40 bi

em 2005 para US$ 60 bi em 2010. (LEITÃO, 2007 apud CULTURAEMERCADO, 2007).

Diante dessa demanda, o marketing passa a ser essencial para os atores do

entretenimento. É utilizando as ferramentas de comunicação: pesquisa de mercado, assessoria de

Page 11: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

10

imprensa, publicidade, promoção de vendas, distribuição etc., que se aproximam mais do público-

alvo e despertam o sentimento de “pertencer”, de “fazer parte”, reforçando assim, a cultura e a

identificação.

Segundo Bernbach (2003, apud MURAKAMI, 2008), o marketing de entretenimento deve se

basear nos fundamentos seguintes:

Público-alvo identificável: análise do mercado consumidor e do comportamento de

consumo;

Posicionamento preciso: sensações e sentimentos que se deseja despertar no

consumidor;

Bons canais de distribuição;

Estratégia de lançamento dinâmica: estruturar todas as formas de comunicação para

atingir o maior número de pessoas possível;

Domínio da categoria e forte penetração de mercado: desenvolvimento de

competências para criar diferenciação no produto que garanta forte penetração de

mercado;

Poder de sustentação: garantir a curiosidade pelo produto, motivando o consumidor a

buscá-lo, desejá-lo;

Entrega de uma promessa: equilibrar expectativas e experiência fazendo que a

comunicação não crie expectativas erradas.

Al Lieberman (2002, apud MURAKAMI, 2008) define que a indústria do entretenimento é

formada por quatro “Cs”:

Conteúdo: o real produto, desde a idéia inicial até o consumidor final;

Conduto: meio pelo qual o consumidor tem acesso ao produto;

Consumo: a forma como o consumidor usa o produto

Convergência: como as várias mídias e tecnologias vão se compor para comunicar.

Ainda segundo Lieberman (2002, apud MURAKAMI, 2008, p. 28), para obter sucesso, o

entretenimento depende de patrocinadores e consumidores (ver Figura 1). “Ao desenvolver o

produto e desenhar o perfil da audiência, o produtor de entretenimento deve ter em vista a

viabilização dos recursos necessários”.

Page 12: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

11

Figura 1: Fluxo do entretenimento

Fonte: MURAKAMI, Luiz C. Conceitos básicos de marketing de entretenimento. In: COBRA, Marcos (org.).

Marketing do entretenimento, 2008, p. 28.

2.3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO FORRÓ

De acordo com o historiador Luís Câmara Cascudo, autor do Dicionário do Folclore

Brasileiro (1972), a palavra forró significa o mesmo que arrasta-pé e era utilizada por aqueles que

queriam se referir a uma festa tipicamente popular de alguns estados do Nordeste no início do

século XX.

Quanto à origem como festa, Lima (2005), citando o pesquisador Leandro Expedito da Silva,

autor do livro “Forró no Asfalto” (2003), afirma que existem duas hipóteses: a primeira, explica que

forró vem da expressão inglesa for all (tradução: para todos) e que se refere às festas promovidas

pelos ingleses para os operários que trabalhavam na construção das estradas de ferro nordestinas, às

quais todos podiam participar; a segunda, esclarece que forró seria apenas a redução da palavra

forrobodó, festa caipira, sem etiqueta, e que com o tempo, a palavra foi sendo abreviada, para ser

mais fácil de pronunciar.

O forró só se popularizou nacionalmente na década de 40 com Luiz Gonzaga e o seu baião.

Nascido em Pernambuco e filho de pai sanfoneiro, Luiz Gonzaga cresceu em meio aos bailes de forró.

Mais tarde, influenciado pelo contexto político e pela áurea de valorização da cultura regional,

Gonzaga decidiu explorar em suas canções o sofrimento e a causa nordestina, junto com seu grande

parceiro, Humberto Teixeira. O pesquisador José Farias dos Santos, em seu livro “Luiz Gonzaga, a

música como expressão do Nordeste” (2004, p. 43), afirma que “perceber a formação dessa cadeia

cultural foi a grande virtude de Luiz Gonzaga. Essa aguçada percepção do contexto sociocultural [...]

o impulsionou a procurar um parceiro que tivesse uma sensibilidade nordestina e que fosse capaz de

manifestar, ao migrante, toda beleza cultural de sua região”. Essa tática de Gonzaga, em cantar o

sertão para os migrantes nordestinos alocados no Sudeste, colocou o forró dentro de uma posição

estratégica no mercado da música brasileira nos anos 40.

O processo de lançamento do baião no mercado fonográfico obedeceu uma

estratégia até então jamais planejada por nenhum outro gênero musical no Brasil.

Page 13: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

12

Essa estratégia contemplava uma análise perspicaz do contexto sociopolítico e

musical brasileiro, com a identificação do baião com a região Nordeste, utilizando-

se, inclusive, de indumentária que associava Luiz Gonzaga ao vaqueiro e ao

movimento do cangaço (SANTOS, 2004, p. 41).

O forró-baião de Luiz Gonzaga teve sua época áurea do final dos anos 40 até meados dos

anos 50, onde, de acordo com Lima (2005), teve seu declínio provocado pelo rádio, que retirou seu

apoio ao ritmo. Ressurgiu nos 60, ainda ligado à imagem e música de Luiz Gonzaga, mas já não era

tão forte como antes. Após a morte de Luiz Gonzaga e de outros ícones do forró como Jackson do

Pandeiro e Lindu, o forró foi então retirado da cena musical e voltou a ser um símbolo distante das

festas e da cultura nordestina.

Segundo o professor Jair do Amaral Filho, coordenador da pesquisa “Arranjo Produtivo do

Forró em Fortaleza, Ceará” (2008, p. 4), no início dos anos 90 o forró era “um gênero de música que

se restringia às classes populares urbanas, ao interior do Nordeste, a determinadas casas de danças

das periferias dos grandes centros urbanos e à época das festas juninas”. Conforme consta na

pesquisa de Amaral Filho, o cenário começou a mudar quando o empresário e dono de banda

Emanuel Gurgel, ao freqüentar as casas de dança da cidade de Fortaleza, percebeu que quando a sua

banda “Black Banda” tocava forró, havia uma reação imediata e positiva do público, que enchia a

pista de dança. Essa percepção fez Gurgel intuir que havia um potencial comercial no forró. Emanuel

Gurgel começou então a insistir para que os músicos de sua banda tocassem mais forró, porém eles

se recusavam pois achavam que a música era brega e que poderia marcar negativamente a imagem

da banda. Gurgel então montou a segunda banda “Aquarius”, mas o músicos continuavam com a

mesma resistência. A saída para Emanuel Gurgel foi a criação de uma terceira banda, a “Mastruz com

Leite”, banda composta por músicos desconhecidos e “humildes” que não tinham vergonha de tocar

forró.

A banda “estourou”, como se diz no jargão musical, e deu a Gurgel um retorno bem maior

do que ele esperava. Amaral Filho relata que a “Mastruz com Leite” foi o pontapé inicial de uma rede

imensa de negócios chamada “SomZoom”, de Emanuel Gurgel, composta, no período áureo, por:

onze bandas de forró, estúdio próprio de gravação, vários ônibus, vinte casas de shows, editora,

várias rádios no Nordeste e setenta e um espaços em rádios de outros estados, entre outros. Essa

mesma banda foi introdutora do estilo chamado hoje ‘forró elétrico’, conforme Amaral Filho relata:

*A+ “Mastruz com Leite” foi o início de um processo que deu origem ao complexo

“SomZoom” e que resultou na indústria musical e nos seu arranjo produtivo

existentes hoje em Fortaleza e Ceará, e que se propagou para o Nordeste e outros

Page 14: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

13

estados da federação, por meio da multiplicação das bandas de forró. [...]

Insatisfeito com as restrições das condições locais para gravação, principalmente

por conta do seu estilo comercial, [...] Emanuel decidiu montar seu próprio estúdio,

onde investiu US$ 150 mil. [...] Junto com a montagem do estúdio vieram

equipamentos de iluminação e som e um ônibus que transportaria a banda

“Mastruz com Leite”, resultando em pequenas bifurcações que começavam a dar

forma a um complexo industrial que se estruturaria mais tarde. No centro dessas

bifurcações estava a banda “Mastruz com Leite”, que evoluiu inovando. Dentre as

inovações iniciais estiveram a abolição dos intervalos durante as apresentações e a

introdução de novos instrumentos musicais, considerados até então como heresias

entre os forrozeiros pé de serra. Guitarra, contrabaixo e saxofone fizeram parte

dessas inovações, que já vinham sendo ensaiadas por bandas “das antigas” como a

do Paulo Ney. (AMARAL FILHO, 2008, p. 5).

A primeira banda concorrente do complexo musical formado por Emanuel Gurgel foi a

“Forró Maior”, do empresário Porsidônio. Outras foram surgindo no mercado, conforme este crescia,

de origens cearense e de outros estados. Em 2008, segundo Amaral Filho, foram identificadas 45

bandas (de todo o Brasil) consideradas profissionais, ou seja, que possuíam CDs e/ou DVDs gravados,

ocupavam espaços na mídia e outdoors, possuíam sites informando sua história, componentes,

agendas de shows e contatos telefônicos e que eram representadas por empresários. Segue quadro

das bandas abaixo:

Quadro 2: Principais Bandas de Forró que se aoresentam em Fortaleza (2008)

BANDAS LOCAL PROPRIETÁRIOS CACHÊ MERCADO CD DVDS

Aviões do Forró Fortaleza A3 R$ 80.000,00 BR 5 1

Caviar com Rapadura Fortaleza A3 R$ 3.000,00 NE 12 1

Forró do Muído Fortaleza A3 R$ 12.000,00 N/NE 2 -

Forró dos Plays Fortaleza A3 R$ 4.000,00 N/NE 1 -

Solteirões do Forró Fortaleza A3 R$ 6.000,00 N/NE 3 -

Mastruz com Leite Fortaleza Emanuel Gurgel R$ 10.000,00 BR 43 2

Cavalo de Pau Fortaleza Emanuel Gurgel R$ 3.000,00 NE 15 2

Catuaba com Amendoim

Fortaleza Emanuel Gurgel R$ 4.000,00 NE 12 -

Mel com Terra Fortaleza Emanuel Gurgel R$ 3.000,00 NE 12 -

Forró Real Fortaleza Chico Bill R$ 6.000,00 NE 10 2

Pau de Balançar Fortaleza Chico Bill R$ 3.000,00 CE 2 -

Amor Cearense Fortaleza Chico Bill R$ 3.000,00 CE - -

Mala 100 Alça Araripina/PE Neto R$ 4.000,00 N/NE/SE 3 2

Moleca 100 Vergonha Araripina/PE Neto R$ 6.000,00 N/NE/SE 8 2

Forró Saborear São Paulo Ronald R$ 5.000,00 BR 6 -

Forró Balancear São Paulo Ronald R$ 6.000,00 BR 3 1

Canários do Reino Fortaleza Karlúcio R$ 4.000,00 NE 11 -

Forró Divera Fortaleza Karlúcio R$ 1.000,00 CE - -

Page 15: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

14

BANDAS LOCAL PROPRIETÁRIOS CACHÊ MERCADO CD DVDS

Swing do Forró Fortaleza Marcos R$ 5.000,00 NE 2 1

Xote de Elite Fortaleza Marcos R$ 500,00 CE - -

Banda Líbanos Iguatu/CE Marineide/Márcio R$ 7.000,00 NE 13 2

Forró Tropicália Iguatu/CE Marineide/Márcio R$ 3.000,00 NE 11 2

Forró na Veia Fortaleza Rodrigo R$ 2.000,00 NE 2 2

Forró Diferenciar Fortaleza Rodrigo R$ 1.500,00 NE 1 -

Felipão Fortaleza Felipe R$ 20.000,00 BR 3 2

Forró Moral Fortaleza Marcelo/Carlos R$ 5.000,00 N/NE 2 1

Garota Safada Fortaleza Dona Biu R$ 6.000,00 N/NE/SE 5 -

Forró Sacode Fortaleza Tony Guerra R$ 10.000,00 BR 3 1

Desejo de Menina Pernambuco Antônio/Ivan R$ 7.000,00 N/NE 4 2

Waldonys Fortaleza Waldonys R$ 4.000,00 BR 9 1

Kbra da Peste Fortaleza Jonathan/Thiago

Matheus/Roberto R$ 1.500,00 N/NE 1 1

Chico Pessoa Fortaleza Chico Pessoa R$ 5.000,00 BR 6 -

Dorgival Dantas Natal/RN Dorgival Dantas R$ 4.000,00 BR 3 1

Dedim Gouveia Fortaleza Dedim Gouveia R$ 3.000,00 BR 9 -

Furacão do Forró Fortaleza Tuta R$ 6.000,00 N/NE 2 1

Forró Poesia Fortaleza Rita de Cássia R$ 5.000,00 NE - -

Gatinha Manhosa Pernambuco Edson Lima R$ 5.000,00 N/NE 5 -

Lagosta Bronzeada Fortaleza Lano R$ 2.500,00 N/NE 3 -

Limão com Mel Salgueiro/PE Ailton R$ 10.000,00 BR 22 4

Magníficos Monteiro/PA Jotinha R$ 10.000,00 BR 15 1

Cavaleiros do Forró Natal/RN Alex R$ 15.000,00 BR 6 4

Banda Skema Iguatu/CE Roberto/Zenir R$ 3.000,00 NE 3 1

Barbaridade Fortaleza Jocélio R$ 700,00 NE - -

Calcinha Preta Aracaju/SE Gilton Andrade R$ 15.000,00 BR 17 2

Saia Rodada Caraúbas/RN Eugênio R$ 18.000,00 BR 6 3

Fonte: AMARAL FILHO, Jair. Arranjo Produtivo do Forró em Fortaleza, Ceará. 2008, p. 11.

De acordo com o doutor em Comunicação Felipe Trotta (2009), enquanto as grandes

gravadoras tem como objetivo a venda de discos (principal produto), as bandas de forró tem como

produto básico as vendas de shows. A divulgação comercial está voltada para a experiencial musical

ao vivo, como principal objeto de comercialização.

Amaral Filho afirma que, quanto à mobilização de ativos, as 45 bandas mobilizam cerca de

R$ 1.575.000,00. Do ponto de vista da renda, os cachês variam entre R$ 500,00 e o máximo de R$

80.000,00. Devido aos riscos inerentes aos espetáculos ao vivo, a modalidade que domina o mercado

é a da “festa bancada” onde os donos de bandas dividem com os donos das casas de shows as

receitas dos eventos, em percentuais acertados antecipadamente. Em um cálculo conservador,

Amaral Filho analisou que, caso cada uma das 45 bandas realizassem quatro apresentações mensais,

o mobilizado seria R$ 1.350.800,00, uma cifra bem abaixo do real. Quanto à cadeia produtiva, as

bandas de forró são o coração da cadeia e seu principal elo são as casas de forró, não só como fonte

de renda, mas por serem locais da realização do encontro das bandas com seus consumidores, locais

onde as “experiências” acontecem por meio dos espetáculos ao vivo.

Page 16: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

15

Os produtores envolvidos com este mercado investem no que vem sendo chamado

de “economia de experiência”, ou seja, um sistema comercial no qual o consumidor

paga não para adquirir um produto ou serviço, mas “para passar algum tempo

participando de uma série de eventos memoráveis” (PINE e GILMORE, 1999 apud

TROTTA, 2009, p. 104).

Os shows de forró deixaram de ser eventos sazonais ou eventuais para serem eventos

regulares. Os mercados atingidos pelas bandas cearenses ultrapassam os limites das fronteiras

estaduais. A “Aviões do Forró” – maior sucesso do gênero – já atua no mercado norte-americano. As

bandas “Calcinha Preta”(SE), “Desejo de Menina”(PE), “Forró do Muído”(CE), “Saia Rodada”(RN),

“Cavaleiros do Forró”(RN), “Limão com Mel”(PE), “Magníficos”(RN), “Banda Líbanos”(CE) e “Forró

Balancear”(SP), estão entre as maiores bandas nacionais.

3 METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste trabalho foi: quanto ao tipo, pesquisa bibliográfica com

revisão da literatura em livros, artigos e periódicos produzidos sobre forró (história e evolução),

marketing e marketing de entretenimento; quanto ao método, um estudo de multicasos; e quanto à

técnica, aplicação de 21 questionários estruturados. O objeto de estudo deste artigo foram as bandas

de forró mais fortemente atuantes de cenário musical cearense.

Segundo Gil (2002, p. 44), “a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já

elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Sendo assim, a primeira etapa,

a revisão da literatura, foi bastante exaustiva devido a grande dificuldade de encontrar livros que

tratassem especificamente do tema “forró” e do assunto “marketing de entretenimento”. Dois

autores foram fundamentais nesta etapa, Marcos Cobra (organizador da coletânea “Marketing do

Entretenimento”) e Leandro Expedito Silva (autor do livro “Forró no asfalto: mercado e identidade

sociocultural”). Quanto às demais fontes, a solução encontrada foi buscar artigos e periódicos em

bibliotecas universitárias e virtuais.

A busca por artigos e periódicos foi facilitada graças à internet. José Carlos Köche em seu

livro Fundamentos da Metodologia Científica (2003, p. 128), afirma que “a consulta às principais

bibliotecas e institutos de pesquisa nacionais e internacionais se torna facilitado hoje pela existência

das redes mundiais de informatização. O uso da internet [...] coloca rapidamente o pesquisador junto

às fontes que deseja”.

O estudo de caso, segundo Gil (2002, p. 54) “é o delineamento mais adequado para a

investigação de um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real, onde os limites entre o

Page 17: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

16

fenômeno e o contexto não são claramente percebidos”. Dessa forma, para responder à questão

desta pesquisa, elaborou-se um estudo multicasos, para analisar as práticas de marketing utilizadas

pelas bandas de forró.

Quanto às unidades-casos ou população-alvo (objeto de estudo), estas foram escolhidas

com base no Quadro 1, retirado do trabalho do professor Jair do Amaral Filho (autor da pesquisa

Arranjo Produtivo do Forró em Fortaleza, Ceará), mencionado anteriormente. Nesse quadro, são

listadas as 45 bandas com maior destaque e as mais estruturadas profissionalmente no cenário

musical brasileiro. Como o universo da pesquisa se restringe ao Ceará, apenas 33 bandas estariam

aptas como unidades-casos. Porém, como a pesquisa de Jair foi realizada em 2008 e o mercado de

forró é muito dinâmico, com bandas saindo e entrando no mercado frequentemente, esta lista

acabou por estar desatualizada. Ao entrar em contato com os responsáveis pelas bandas,

atualizamos a lista das bandas que estariam aptas a participar do processo. Destas, apenas 21

aceitaram participar da pesquisa e estão em destaque no Quadro 2. Como as bandas estão em

constantes viagens, devido aos shows, os questionários foram aplicados por email e por telefone,

tornando assim, a pesquisa viável de ser aplicada em tempo hábil para a execução deste trabalho.

Quadro 2: Bandas de Forró do Ceará em 2010

BANDAS LOCAL PROPRIETÁRIO

Aviões do Forró Fortaleza A3

Forró do Bom Fortaleza A3

Forró do Muído Fortaleza A3

Forró dos Plays Fortaleza A3

Solteirões do Forró Fortaleza A3

Forró Balancear Fortaleza Roberto

Forró Stilo Fortaleza Roberto

Mastruz com Leite Fortaleza Emanuel Gurgel

Cavalo de Pau Fortaleza Emanuel Gurgel

Kalango Aceso Fortaleza Emanuel Gurgel

Catuaba com Amendoim

Fortaleza Emanuel Gurgel

Mel com Terra Fortaleza Emanuel Gurgel

Forró Real Fortaleza Chico Bill

Pau de Balançar Fortaleza Chico Bill

Amor Cearense Fortaleza Chico Bill

Canários do Reino Fortaleza Augusto/Sid Brasil

Swing do Forró Fortaleza Jeferson

Banda Líbanos Iguatu/CE Marineide/Márcio

Forró Tropicália Iguatu/CE Marineide/Márcio

Forró na Veia Fortaleza Karlúcio

Moleca 100 vergonha Fortaleza Karlúcio

Lairton dos teclados Fortaleza Karlúcio

Mala 100 Alça Fortaleza Karlúcio

Garota Safada Fortaleza Dona Biu

Forró Sacode Fortaleza Tony Guerra

Waldonys Fortaleza Waldonys

Page 18: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

17

BANDAS LOCAL PROPRIETÁRIO

Kbra da Peste Fortaleza Jonathan/Thiago

Matheus/Roberto

Chico Pessoa Fortaleza Chico Pessoa

Dedim Gouveia Fortaleza Dedim Gouveia

Furacão do Forró Fortaleza Tuta

Lagosta Bronzeada Fortaleza Lano

Banda Skema Iguatu/CE Roberto/Zenir

Barbaridade Fortaleza Jocélio

Fonte: Elaborado pela autora, 2010.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Conforme mencionado na metodologia, foram aplicados 21 questionários, dos 34

propostos pela pesquisadora, junto às principais bandas atuantes no cenário musical cearense, no

período de 01/01/2010 a 30/10/2010, para efeito de atender aos objetivos deste artigo.

4.1 IDENTIFICAÇÃO DO PÚBLICO-ALVO

Segundo a pesquisa, as bandas de forró demonstram ter conhecimento relativo do perfil de

seu público consumidor. Para a maioria delas (48%), o público é constituído por adultos abaixo dos

35 anos e por jovens, sendo pertencentes em maior parte à classe B, seguido pelas classes A e C,

igualmente. Pôde-se observar que este não parece ser um conhecimento oriundo de pesquisas, mas

sim de observação cotidiana, visto que, conforme o Gráfico 1, das 21 bandas, oito (38%) afirmam que

atingem todas as faixas etárias de público. Tal informação demonstra que, ou as bandas não

possuem um direcionamento específico no momento de definir o seu posicionamento, ou que não

fazem idéia de quem é o consumidor que ela está atingindo. Para confirmar essa hipótese, pode-se

observar o Gráfico 2, onde cinco bandas (24%) não possuem conhecimento de qual faixa social, o seu

público pertence.

Gráfico 1: Conhecimento sobre o público-alvo definido Fonte: Elaborado pela autora, 2010.

2

4

6

1 1

8

2

0

2

4

6

8

10 Adultos acima de 35 anos Adultos abaixo de 35 anos Jovens

Adolescentes

Crianças

Todos

Não temos

Page 19: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

18

Gráfico 2: Perfil do público que frequenta as apresentações da banda

Fonte: Elaborado pela autora, 2010.

4.2 OBJETIVOS

Quanto ao posicionamento, quando questionadas como gostariam de ser conhecidas pelo

público, 57% afirma que gostariam de ser conhecidas como a melhor banda do Brasil, 38% como

melhor banda do Nordeste e apenas uma banda desejaria ser vista como a melhor banda do Ceará.

Para atingir esse objetivo de posicionamento, os meios mais utilizados são: shows ao vivo (81%),

gravação de CDs ou jingles próprios (71%), participação de programas de TV/rádio de alcance

nacional (52%) e internet (48%).

4.3 ELABORAÇÃO DA COMUNICAÇÃO

Relativo ao estilo musical, as bandas se definem por: forró universitário (52%), forró

elétrico (24%) e forró pé-de-serra (24%). Complementando o estilo e reforçando a identidade da

banda perante o público, 57% das bandas afirma que determinam a escolha do figurino de seus

integrantes de acordo com estilo próprio. Por outro lado, 38% possui seus figurinos patrocinados por

empresas terceiras.

Como estratégias de diferenciação afirmam:

71% possui o cantor/cantora mais carismático;

67% possui os melhores preços;

48% participa dos principais eventos de forró;

43% detêm as melhores músicas de composições;

43% são as bandas mais conhecidas;

38% possui parcerias com as melhores casas de shows.

Classe A

Classe B

Classe C

Classe D

Classe E

Não temos idéia

8

13

8

3

0

5

Page 20: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

19

Esses dados mostram que, ao invés de uma estratégia de diferenciação, as bandas praticam

ações comuns que não as diferenciam perante o público, visto que a maioria realiza as mesmas

práticas.

4.4 SELEÇÃO DOS CANAIS DE COMUNICAÇÃO

Os canais de comunicação mais utilizados são, em ordem: CD, rádio, shows ao vivo, TV, site

próprio, pôster, YouTube, DVD, Orkut, revistas de forró, jornal, outdoor, blog, Twitter, faixas de rua,

sites de terceiros, Facebook e MySpace.

Nota-se a predominância das mídias tradicionais, como CD, DVD, TV e rádio; porém

podemos ver que as redes de relacionamento virtuais (YouTube, Orkut, blogs, Twitter, Facebook e

MySpace) são bastante importantes na comunicação e no relacionamento outshow das bandas com

o público-alvo.

Gráfico 3: Meios de comunicação com o público-alvo Fonte: Elaborado pela autora, 2010.

4.5 ORÇAMENTO

Dentre as bandas que aceitaram informar dados do faturamento, duas contabilizam acima

de R$ 100 mil/mês, seis arrecadam entre R$ 30 mil e R$ 100 mil mensais e uma arrecada entre R$ 10

mil e R$ 30 mil/mês. Doze bandas se recusaram a prestar informações sobre o faturamento, todas

0

5

10

15

20

25

CD

DV

D

Sho

ws

Rád

io

Rev

ista

s

Jorn

al

TV

Ou

tdo

ors

ster

es

Faix

as d

e ru

a

Site

pró

pri

o

Site

de

terc

eiro

s

Blo

gs

Twit

ter

Ork

ut

Face

bo

ok

MyS

pac

e

You

Tub

e

21

13

17

21

10

8

14

8

14

6

14

4

8 7

12

2 1

14

CD

DVD

Shows

Rádio

Revistas

Jornal

TV

Outdoors

Pôsteres

Faixas de rua

Site próprio

Site de terceiros

Blogs

Twitter

Orkut

Facebook

MySpace

YouTube

Page 21: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

20

elas consideradas “gigantes” do mercado local, figurando entre as bandas de maior sucesso e com

maior número de público, e consequentemente, com maior faturamento. Fazendo uma projeção

dentro do universo das 21 bandas pesquisadas, e considerando uma média de R$ 80 mil mensais,

significa que todas as bandas faturam, em média, R$ 1,68 milhão/mês e que, por ano, essa soma

seria de R$ 20,16 milhões, estimativa um pouco superior à do professor Amaral Filho (16,21

milhões/ano). Vale ressaltar que, no momento da aplicação da pesquisa, muitas bandas informaram

que estão enfrentando um momento de estagnação do mercado, e por isso, não conseguem atingir

os patamares monetários que atingiam há dois ou três anos.

Além de ser um importante movimentador da economia local e regional, os números do

forró não são significantes apenas no faturamento. Quando questionadas quanto ao investimento

em ações de marketing, 38% relata que gastam, mensalmente, entre R$ 5 mil e R$ 10 mil reais e 24%

gasta acima de R$ 10 mil/mês. Novamente, fazendo uma projeção hipotética, isso significa dizer que

adotando uma média de R$ 8 mil, as 21 bandas gastam em torno de R$ 168 mil/mês. Isso significa

que são no mínimo R$ 2,016 milhões por ano de investimento em marketing. Se esse investimento é

bem direcionado, não se pode afirmar neste trabalho, porém os números são importantes para

avaliar o potencial do forró como mercado.

4.6 MIX DE COMUNICAÇÃO

As principais ferramentas de promoção utilizadas pelas bandas são:

Entrega de CDs promocionais gratuitos: 76%

Divulgação de músicas no YouTube: 67%

Parcerias com radialistas e apresentadores de programas de forró (TV e rádio): 62%

Apresentação em programas de TV: 52%

Execução de músicas em programas de rádio: 24%

Gravação de clipes/vídeos de música: 10%

Novamente, percebe-se a importância das mídias tradicionais na “indústria do forró” e o

avanços das novas mídias como o YouTube. Para a esclarecer a diferença entre uma música divulgada

no YouTube e a gravação de clipe, o último é uma gravação profissional, com contratação de equipe

especializada para produção e elenco que geralmente difere dos integrantes normais das bandas.

Quanto à freqüência de novos lançamentos, 62% afirma que lançam novidades a cada 3

meses, 10% a cada 6 meses, 24% a cada um ano e 5% a cada dois anos. A maioria das bandas (62%)

Page 22: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

21

divulga seus lançamentos antecipadamente, 43% o fazem esporadicamente e 24% não divulgam

nenhum lançamento antecipadamente.

4.7 MENSURAÇÃO DOS RESULTADOS

De acordo com todas as bandas de forró pesquisadas (100%), suas músicas são bastante

conhecidas e amplamente divulgadas. Dentre as pesquisadas, 71% considera que possuem estrutura

melhor do que a que tinham no ano anterior; 62% afirma o número de shows e de fãs aumenta a

cada ano; 57% está sempre renovando os instrumentos; 52% acredita que o padrão de vida de seus

músicos está bem melhor; 33% cobra cachês mais altos que o ano anterior e possuem várias

empresas querendo patrocinar os shows; 43% recebe royalties pelas gravações de suas músicas por

outros artistas e 5% aumenta constantemente o número de integrantes da banda.

4.8 GERENCIAMENTO DA COMUNICAÇÃO DE MARKETING

Quase todas as bandas (90%), tem como responsável pelo marketing, o dono ou

empresário da banda. Apenas uma banda (5%), possui um diretor de marketing e outra (5%) possui

contrato com uma agência de publicidade.

Quando questionadas se já haviam feito algum planejamento de marketing, 62% das

bandas assevera que possuem uma agência ou profissional de marketing à frente de suas estratégias

de mercado. Em contrapartida, 28% afirma que desenvolvem as atividades por conta própria e 10%

aplica o que foram aprendendo com a prática.

De acordo as informações obtidas com a pesquisa, pode-se entender que no contexto das

bandas de forró cearenses, embora o responsável direto pelo marketing seja o dono ou empresário -

pessoa que teoricamente não possui o conhecimento/habilidades necessário para desenvolver um

planejamento de comunicação estratégico -, em algum momento elas buscaram apoio especializado

com agências de publicidade ou profissionais autônomos do mercado. Percebe-se então que, talvez

essa ausência de profissionais especializados em marketing cuidando da orientação mercadológica

das bandas de forró, apesar dos significantes valores que esse mercado movimenta, seja um

indicativo que esse potencial segmento de mercado é desconhecido ou desprezado pelo mercado

publicitário local e/ou regional.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como pôde-se observar, a “indústria do forró” ainda é um segmento bastante imaturo da

música cultural brasileira. Embora esteja na cena musical há algumas décadas e movimente valores

Page 23: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

22

consideráveis, sua estrutura ainda é precária e baseada nas experiências cotidianas e na visão de

mercado de seus donos e empresários. O forró é visto ainda como festa popular, e não como um

mercado potencial, como importante agente agregador da economia.

Seja levados pela “nova onda” das redes de relacionamento, seja pelas mídias tradicionais,

percebe-se que não há um planejamento específico quanto às ações de marketing. A visão que

prevalece é a que “quanto mais estiver em evidência, melhor”. Dessa forma, apreende-se que as

bandas agem não de acordo com um plano estratégico de comunicação estruturado, e sim com a

meta de divulgar aonde for possível, com objetivo de alcançar maior público.

Quanto ao objetivo de analisar as práticas de marketing utilizadas pelas bandas de forró do

Ceará, pode-se dizer que as respostas obtidas foram satisfatórias. Não há um planejamento nem

ações estruturadas nesse aspecto, porém, por conta própria e baseados nas experiências já vividas,

as ações de marketing acontecem, e, embora não se possa mensurar o resultado de cada ação

específica, elas ocorrem e movimentam uma grande soma de valores para o mercado.

Não existe uma preocupação com estilo ou frequência de exposição. Sendo assim, os canais

de comunicação são quase todos utilizados de forma maciça, tendo prioridade os que possuem

maior audiência, como entrega de CDs promocionais, divulgação em rádio, shows ao vivo, sites

próprios, YouTube, Orkut, entre outros.

Para garantir espaços nesses veículos, o investimento das bandas gira em torno de 5 a 10%

de seu faturamento bruto, ou seja, por volta de R$ 120 mil/ano, sendo R$ 2,52 milhões/ano no total

das 21 bandas pesquisadas.

Quanto às práticas de marketing de entretenimento, pode-se afirmar que as melhores

aplicações se referem a: seleção dos canais de distribuição/comunicação utilizados de acordo com a

proposta de marketing de cada banda; um forte domínio da categoria e excelente penetração de

mercado; bem como elaboração de estratégias de lançamento dinâmicas, posto que as novidades

surgem, em média, a cada 3 meses e são amplamente divulgadas.

As limitações desse trabalho se devem principalmente à ausência de referencial teórico

sobre o assunto estudado, bem como à falta de disponibilidade e tempo das bandas em

responderem o questionário, sendo necessária a aplicação por email e telefone. Percebeu-se

também o receio dos responsáveis em prestar informações sobre os números de faturamento, sendo

assim, para deixá-los mais confortáveis, foram estabelecidas faixas de valores para que os

pesquisados pudessem se sentir mais à vontade em revelar tais dados.

Esse artigo procura trazer contribuição inicial sobre as práticas de marketing utilizadas

pelas bandas de forró do Ceará. Estudos futuros e análise detalhada sobre as práticas de marketing,

os investimentos e seus desdobramentos serão importantes para melhor compreensão deste

fenômeno musical brasileiro.

Page 24: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

23

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Paulo Octavio Pereira de. O marketing de entretenimento ao vivo (shows e espetáculos). In: COBRA, Marcos (org.). Marketing do entretenimento. São Paulo: Senac, 2008. AMARAL FILHO, Jair do. Arranjos produtivos e inovativos locais em áreas intensivas em cultura e mobilizadoras de desenvolvimento social. Rio de Janeiro: Redesist, 2008. AMERICAN MARKETING ASSOCIATION. Disponível em: <www.ama.org>. Acesso em: 08 nov. 2010.

AOKI, Chieko. Prefácio. In: COBRA, Marcos (org.). Marketing do entretenimento. São Paulo: Senac, 2008.

CASCUDO, Luis da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1959.

COBRA, Marcos. Marketing do entretenimento. São Paulo: Senac, 2008. DANTAS, Edmundo Brandão. Marketing descomplicado. Brasília: Senac, 2005. DICKSON, Peter R. Introdução ao Marketing. In: CZINKOTA, Michael R. [et al]. Marketing: as melhores práticas. Porto Alegre: Bookman, 2001. ENTREVISTA Sérgio Sá Leitão: Deve-se tratar a economia da cultura no Brasil pensando sobretudo no seu potencial não realizado. CULTURA E MERCADO, maio 2007. Seção Notícias. Disponível em : <http://www.culturaemercado.com.br/noticias/entrevista-sergio-sa-leitao-deve-se-tratar-a-economia-da-cultura-no-brasil-pensando-sobretudo-no-seu-potencial-nao-realizado/>. Acesso em: 15 out. 2010. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.

KÖCHE, José Carlos. Fundamentos de Metodologia Científica: teoria da ciência e iniciação à pesquisa. Rio de Janeiro: Vozes, 1997.

KOTLER, Philip. Administração de marketing: a edição do novo milênio. 8ª ed. São Paulo: Prentice Hall, 2004. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin. Administração de Marketing. 12ª ed. São Paulo: Prentice Hall, 2006.

LIMA, Maria Érica de Oliveira. For all, folkmídia e a indústria cultural regional. Trabalho publicado na revista eletrônica Razón y Palabra, número 60. Disponível em: <http://www.razonypalabra.org.mx/anteriores/n60/oliveiralima.htm>. Acesso em: 1 out. 2010. LIMEIRA, Tania M. Vidigal. Tempo livre, lazer e entretenimento. In: COBRA, Marcos (org.). Marketing do entretenimento. São Paulo: Senac, 2008. MARIN, Elizara Carolina. Entretenimento: uma mercadoria com valor em alta. Movimento, Porto Alegre, v. 15, n. 2, p. 211-231, abr-jun. 2009.

Page 25: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

24

MURAKAMI, Luiz C. Conceitos básicos de marketing de entretenimento. In: COBRA, Marcos (org.). Marketing do entretenimento. São Paulo: Senac, 2008. REIS, Ana Carla Fonseca. Marketing cultural e financiamento da cultura. São Paulo: Pioneira

Thomson Learning, 2003.

SANTOS, José Farias dos. Luiz Gonzaga, a música como expressão do Nordeste. São Paulo: Ibrasa, 2004.

SILVA, Leandro Expedito. Forró no asfalto: mercado e identidade sociocultural. São Paulo: Annablume, 2003.

OXFORD Dictionaries. Entertainment. Disponível em: <http://oxforddictionaries.com/view/entry/m_en_gb0267970#m_en_gb0267970>. Acesso em: 15 out. 2010. TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi. Entretenimento: uma crítica aberta. São Paulo: Senac, 2003. THOMPSON, John B. Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. Petrópolis: Vozes, 2002.

TROTTA, Felipe. O forró eletrônico no Nordeste: um estudo de caso. Intexto, Porto Alegre, v. 1, n. 20, p. 102-116, jan-jun 2009.

Page 26: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

25

APÊNDICE

Page 27: PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING DE ENTRETENIMENTO: UM ESTUDO DAS BANDAS DE FORRÓ DO CEARÁ PRÁTICAS DE MARKETING

26