DANIEL PETRIN BERTINI
PROJETO DE REVESTIMENTO EXTERNO EM EDIFÍCIOS DE MÚLTIPLOS PAVIMENTOS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Serviço Social da Universidade Estadual de Londrina. Orientadora: Profª. Drª. Ercília Hitomi Hirota
Londrina 2010
DANIEL PETRIN BERTINI
PROJETO DE REVESTIMENTO EXTERNO EM EDIFÍCIOS DE MÚLTIPLOS PAVIMENTOS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Serviço Social da Universidade Estadual de Londrina.
COMISSÃO EXAMINADORA
____________________________________ Profª. Drª. Ercília Hitomi Hirota
Universidade Estadual de Londrina
____________________________________ Prof. Dra. Fernanda Aranha Saffaro Universidade Estadual de Londrina
____________________________________ Prof. Gerson Guariente Jr.
Universidade Estadual de Londrina
Londrina,____de___________de _____.
Dedico este referente trabalho de
conclusão de curso aos meus pais
José Carlos e Rossana, ao meu
irmão Douglas e minha irmã
Laíse que sempre me apoiaram em
meus estudos e em minha vida.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por primeiramente me permitir estar
aqui concluindo meu curso, por ter me direcionado ao curso de Engenharia Civil, e
principalmente pela sabedoria e paciência concebida à mim, um dos principais
motivos dessa conclusão de curso.
Agradeço a minha família pelo apoio e motivação em todos os
momentos de dificuldade.
Agradeço a minha orientadora pela paciência e principalmente pelo
direcionamento dado não só para este estudo como também para a vida
profissional.
A todos os professores que fizeram parte da minha formação
acadêmica.
E para todos aqueles que não foram citados, mas que fizeram parte
do meu trajéto estudantil, deixo aqui o meu muito obrigado.
BERTINI, Daniel Petrin. Projeto de revestimento externo em edifícios de múltiplos pavimentos. 2010. 57p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenhara Civil) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2010.
RESUMO
O objetivo deste trabalho é discutir a inserção do Projeto de Revestimento Externo em edifícios de multiplos pavimentos, suas condicionantes, finalidades, dificuldades e etapas de elaboração de forma a proporcionar melhorias no desempenho dos revestimentos externos e seus processos construtivos, bem como a redução dos desperdícios e custos. Para isso, o estudo foi direcionado a uma discussão acerca do controle da qualidade na Construção Civil, relacionados ao controle dos processos e de projeto, além de um estudo sobre a nova norma de desempenho – NBR 15.575. O método utilizado para alcançar o objetivo foi o levantamento, por meio de entrevistas com coordenadores de obra de quatro importantes construtoras e incorporadoras da cidade de Londrina. Por fim, o estudo demonstrou que mesmo as construtoras não utilizando o projeto de revestimento externo, é possível alcançar os resultados esperados para os tipos de revestimentos utilizados pelas mesmas, isto devido a experiencia dos colaboradores e das empresas. Porém mesmo assim ficando o consenso de que para novos revestimentos e tecnologias, a utilização do projeto de revestimento é necessária.
Palavras-chave: Revestimento externo. Projeto. Qualidade. Fachada.
BERTINI, Daniel Petrin. Outer coating project in multiple floors buildings. 2010. 57p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenhara Civil) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2010.
RESUMO
The objective of this paper is to discuss the inclusion of the outer coating project on multiple floors of buildings, their constraints, purpose, difficulties and stages of development in order to provide improvements in the performance of external coatings and their building processes, as well as reducing waste and costs. For this, the study was directed toward a discussion of quality control in civil construction, relating to the control process and project, and a study about the new performance standard - NBR 15575. The method used to achieve the objective was to survey, through interviews with coordinators of the work of four important builders and developers of the city of Londrina. Finally, the study demonstrated that even the builders did not use the project of the outer coating, it is possible to achieve the expected results for the types of coatings used by them, this is due to experience of employees and businesses. But even then getting to a consensus that new coatings and technologies, the use of coating design is required.
Key words: Outer coating. Project. Quality. Facade.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 2.1 – Fases do processo de projeto e atividades de compatibilização e
análise crítica de projetos ......................................................................................... 24
Figura 2.2 – O Processo construtivo ....................................................................... 25
Figura 3.1 – Desenvolvimento do projeto dos revestimentos de argamassa de
fachadas ................................................................................................................... 32
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 – Componentes da qualidade do projeto ............................................... 22
Tabela 2.2 – Diferenças entre Controle de Produção (CP) e Controle de Recepção
(CR) .......................................................................................................................... 27
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
NBR - Norma Brasileira
10
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 12
1.1 QUESTÕES DE PESQUISA .......................................................................................... 16
1.2 OBJETIVOS ................................................................................................................. 16
1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO ....................................................................................... 16
2 CONTROLE DA QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL ............................................... 18
2.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 18
2.2 PROCESSO DE PROJETO ALIADO A QUALIDADE DA CONSTRUÇÃO ...................... 20
2.2.1 Diretrizes Para Melhoria Da Qualidade Do Processo de Projeto ................................. 21
2.2.2 Tipos de Controle e Garantia da Qualidade de Projetos ............................................. 23
2.2.2.1 Controle de produção ............................................................................................... 25
2.2.2.1 Controle de recebimento .......................................................................................... 27
3 PROJETO DE FACHADAS .............................................................................................. 29
3.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 29
3.2 DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DE REVESTIMENTO DE FACHADA .................. 30
3.3 CONDICIONANTES PARA O PROJETO ....................................................................... 33
3.4 CONTEÚDO DO PROJETO ........................................................................................... 35
4 NOVA NORMA DE DESEMPENHO ................................................................................. 38
4.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 38
4.2 REQUISITOS DE DESEMPENHOS ............................................................................... 39
4.2.1 Segurança no Uso e Operação ................................................................................... 39
4.2.2 Estanqueidade ............................................................................................................ 40
4.2.3 Desempenho Térmico ................................................................................................. 40
4.2.4 Desempenho Acúsico ................................................................................................. 42
4.2.5 Durabilidade e Manutenabilidade ................................................................................ 42
5 MÉTODO .......................................................................................................................... 43
6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ...................................................... 44
6.1 EMPRESA A...... ............................................................................................................ 44
6.2 EMPRESA B...... ............................................................................................................ 45
6.3 EMPRESA C...... ............................................................................................................ 46
6.4 EMPRESA D...... ............................................................................................................ 48
11
7 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 50
7.1 PROBLEMAS E/OU PATOLOGIAS EM FACHADAS...................................................... 50
7.2 FATORES PARA DEFINIÇÃO DOS REVESTIMENTOS...... ......................................... 50
7.3 MÃO-DE-OBRA E TREINAMENTO DAS EQUIPES...... ................................................ 51
7.4 PLANO DE EXECUÇÃO...... .......................................................................................... 51
7.5 A INSERÇÃO DO PROJETO DE REVESTIMENTO EXTERNO...... .............................. 52
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 53
ANEXO ................................................................................................................................ 55
ANEXO A – Roteiro de entrevistas ...................................................................................... 56
12
1. INTRODUÇÃO
A palavra “Fachada” vem do latim Face, e no contexto da construção
civil, especificamente na arquitetura, a fachada e o seu revestimento criam uma
atmosfera correspondente ao seu estilo: é o principal componente do visual do
edifício. No entanto, além da estética, a principal função da fachada é proteger a
edificação das intempéries, contribuindo significativamente para que a edificação
atenda aos desempenhos térmicos e acústicos, resistência ao fogo, choques e
atritos, resistência à penetração de água e durabilidade (GRIPP, 2008). Sendo
assim, como as fachadas encontram-se em condições desfavoráveis, sempre em
exposição, necessitam de maiores cuidados. Geralmente os critérios observados na
seleção e especificação dos revestimentos estão relacionados aos aspectos
estéticos e econômicos, ou então considerando a qualidade do material da camada
mais externa, juntamente com as facilidades de composição arquitetônica, custo e
disponibilidade de materiais e mão-de-obra no mercado. Muito raramente a escolha
é feita por critérios técnicos confiáveis e planejados (GRIPP, 2008).
Porém, outros critérios deveriam ser levados em consideração no
processo de especificação, tais como: qualificação de mão-de-obra local,
características do meio ambiente, utilização de recursos da região, produtividade e
principalmente a proteção da vedação vertical externa, sendo que a correta
especificação provavelmente levará a um aumento da vida útil dos revestimentos,
proporcionando menores incidências de patologias (GRIPP, 2008).
Outro fator importante para se atentar com os revestimentos da
fachada é a nova norma de desempenho (NBR 15.575), pois a partir dela os
consumidores de imóveis têm uma ferramenta legal para exigir das construtoras que
atendam obrigatoriamente aos requisitos mínimos de desempenho ao longo da vida
útil. Estes desempenhos envolvem estanqueidade, desempenho térmico, acústico, e
lumínico, durabilidade e manutenabilidade.
Na composição do orçamento de um edifício de múltiplos
pavimentos, os componentes da fachada podem ser decompostos em chapisco,
emboço, tratamento, pastilha, peitoril e pintura. Mascaró (2006, pg.41) avaliou a
13
participação percentual de serviços nos custos de construção de edifícios
residenciais de 7 a 9 pavimentos, sobre pilotis e sem sub-solo, e identificou que os
revestimentos argamassados externos correspondem a 6,36% do custo total.
Além disso, estudos mostram que a exposição da fachada às
intempéries ocasiona uma série de patologias, as quais têm como consequência
altos custos de manutenção (GRIPP, 2008).
Souza (2001), apud Silva (2003, p. 1), salienta que a produtividade
da mão-de-obra, na execução de revestimento de fachada, pode variar
significativamente de uma obra para outra, com valores entre 1,23 a 5,13 Hh/m2, o
que representa uma diferença de 317% entre o maior e o menor valor.
No que concerne ao consumo de materiais, Souza et al. (1999),
apud Silva (2003, p. 1), apresenta valores de consumo de cimento no revestimento
de argamassa de fachada, que variam de 3,4 a 13,9 kg/m2, o que significa uma
diferença de 309%.
Segundo a bibliografia discutida por Isatto et al (2000), dentre as
principais causas das perdas pelo excesso do revestimento encontram-se: excesso
de manuseio da argamassa, argamassa derramada no chão nas frentes de trabalho,
enchimento devido à necessidade de alinhar alvenarias e vigas, falta de prumo das
alvenarias, esquadro, deformações da estrutura, queda de argamassa no piso do
andaime e no momento do sarrafeamento.
Embora a literatura apresente avanços tecnológicos para a
resolução de falhas na execução de fachadas, existem ainda poucos estudos que
abordem o problema de forma mais sistêmica, envolvendo os aspectos gerenciais,
apontados por Isatto et al (2000), como causas freqüentes de ineficiências
observadas na construção civil.
Ao longo dos anos, a indústria da construção civil tem passado por
varias mudanças. As transformações recentes no panorama político, econômico,
social e cultural proporcionaram uma maior competitividade entre as empresas,
principalmente no setor da Construção Civil. Cardoso (1999), apud Maciel; Melhado
(1997, p. 1), afirma que as transformações ocorridas no mercado levaram a uma
reavaliação da postura empresarial das construtoras. Fatores como a exigência dos
14
clientes e necessidade de melhoria das condições de trabalho integram esta nova
fase da Construção.
Estudos realizados no Brasil mostram que, embora tenha havido
avanços na qualidade e produtividade da Indústria da Construção Civil, ainda se
observa, nas empresas construtoras, muitas ineficiências e não-conformidades,
normalmente originadas em falhas no gerenciamento (ISATTO et al – 2000). Souza
(1996), apud Maciel; Melhado (1997, p. 1), afirma que as empresas precisaram
buscar novas técnicas de gerenciamento, processos construtivos e conhecimentos
tecnológicos e assim integrá-los à atividade de projeto, de forma a desenvolver
soluções racionalizadas para a orientação da etapa de execução do edifício. Nesse
contexto, o projeto passou a ser uma importante ferramenta para obtenção desses
resultados.
A valorização da atividade de projeto é uma forma das construtoras
buscarem soluções para as não conformidades e perdas existentes em todo o
processo de produção do edifício. Segundo Leusin (1993), os serviços incompletos e
que nem sempre são apresentados da melhor forma possível são originados,
principalmente, pela pouca importância dada à etapa de projeto, o que torna rotineiro
as constantes alterações de projetos durante as execuções.
O mesmo autor afirma que a adoção de uma metodologia de projeto,
integrada desde a concepção inicial e também todas as áreas técnicas, pode reduzir
os desperdícios da construção de forma significativa.
É importante ressaltar que a qualidade no desenvolvimento do
projeto é fundamental para a qualidade do produto. Picchi (1995), apud Maciel;
Melhado (1997, p. 1) relata varias formas de desperdícios originados na etapa de
projeto, que são derivados principalmente “da falta de compatibilização dos projetos,
detalhes incorretos ou inexistentes, falta de projeto, da falta de atualização de
projeto, da falta de otimização e racionalização das soluções propostas e das
soluções improvisadas conduzidas por pessoas não capacitadas e não embasadas
tecnologicamente”.
Novaes (1997) observa que o aumento da participação das
empresas no mercado faz com que a qualidade dos produtos finais e a eficiência
15
dos processos executivos tenham maiores participações nas estratégias
empresariais. No entanto, estes só poderão ser alcançados a partir de uma visão
ampla, além dos canteiros de obra, envolvendo a concepção de projeto aliada ao
aumento da produtividade e redução de desperdícios.
Segundo Novaes (2001) o projeto assume duas posições:
tecnológica, quanto às soluções prescritas nos detalhamentos dos diversos projetos,
e gerencial, composto por diversas fases, no qual intervém um conjunto de
participantes com diferentes responsabilidades, além de decisões técnicas,
econômicas e cumprimento de prazos.
Portanto, é evidente que, para um avanço das empresas, a
elaboração correta e bem disposta dos projetos é essencial.
Além dos diversos projetos necessários à produção de uma
edificação, que contribuem para a definição do produto, como por exemplo, projeto
de estruturas, de fundação, arquitetônico e de instalações, algumas empresas tem
utilizado também projetos de componentes da edificação, como o projeto de
fachada. Este tem a finalidade de atingir níveis de racionalização elevados, com
melhores resultados para os desempenhos dos revestimentos.
Assim como os outros projetos do produto, o projeto de fachadas
deve ser desenvolvido de forma integrada com os outros projetos, fazendo uso de
informações, não só do produto, mas também do processo de produção.
No entanto, a eficácia da utilização de um projeto de fachada está
totalmente ligada à capacidade gerencial da empresa (MACIEL, 1997). Desta forma,
se a empresa não desenvolve planejamento e controle da produção, não se apóia
em um programa de treinamento da mão-de-obra, e não dispõe de padronização de
processos, os resultados almejados pelo projeto de fachada dificilmente serão
alcançados.
É nesse contexto que se justifica o desenvolvimento deste trabalho
de conclusão de curso. O foco deste trabalho é a análise da inserção de um projeto
de fachadas em edifícios de múltiplos pavimentos, no conjunto de documentos
técnicos para a execução de empreendimentos imobiliários, de forma a garantir um
melhor desempenho, diminuir os custos, evitar a ocorrência de falhas no produto e
16
nos processos construtivos, e racionalizar as atividades de execução, salientando
suas finalidades, características, condicionantes, entre outros fatores.
1.1. QUESTÃO DE PESQUISA
Qual a percepção de gerentes de obra e coordenadores de
produção, de empresas da cidade de Londrina, sobre a necessidade do Projeto de
Fachada?
1.2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é discutir a inserção do Projeto de Fachada
como documento técnico necessário à racionalização e melhoria da qualidade de
edificações e analisar a percepção de gerentes de obra e coordenadores de
produção, de empresas da cidade de Londrina, sobre a necessidade do mesmo.
1.3. ESTRUTURA DO TRABALHO
Este trabalho está estruturado em sete capítulos, sendo que no
primeiro faz-se uma introdução ao trabalho, demonstrando o contexto do estudo,
problema de pesquisa e seu objetivo.
No segundo capitulo será apresentada uma discussão acerca do
controle da qualidade na Construção Civil, onde diversos autores relacionam o
controle dos processos e de projeto como a referência para obtenção da qualidade
do produto final.
O terceiro capitulo trata-se especificadamente do Projeto de
Revestimento Externo, que é o ponto principal deste estudo. São abordados neste
17
capítulo aspectos como sua finalidade, dificuldades de implementação,
condicionantes para o desenvolvimento do mesmo e as etapas de elaboração de um
Projeto de Revestimento Externo.
No quarto e ultimo capítulo da fundamentação teórica é discutida a
introdução da nova NBR 15-575 para apoiar a avaliação e atendimento aos
requisitos de desempenho da edificação. Discute-se a aplicação desta nova norma
para o desenvolvimento dos projetos e analisa-se como ela repercutirá na
construção civil.
O método de pesquisa é descrito no quinto capítulo, o qual é
seguido pelo capitulo de apresentação dos dados coletados. O capítulo 7 apresenta
as conclusões obtidas com a pesquisa.
18
2. CONTROLE DA QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL
2.1. INTRODUÇÃO
Há muitos anos foi desenvolvido e implantado na indústria os
Programas da Qualidade. No entanto, na indústria da construção civil, observou-se
uma série de barreiras e dificuldades para a disseminação da cultura da qualidade
(MESEGUER, 1991).. Uma das justificativas apresentadas pelas empresas e
profissionais do setor era de que a construção civil possui características
significativamente diferentes das outras indústrias, e que a partir disto não poderiam
ser aplicados os mesmos métodos e ferramentas (MESEGUER, 1991). Isso significa
que a indústria da construção civil “requer uma adaptação especifica de tais teorias,
devido a complexidade do processo, no qual intervêm muitos fatores” (MESEGUER,
p.12 1991). O mesmo autor afirma que a implantação deste sistema de controle de
qualidade em outros países “tem mostrado boa eficiência, melhorando em muito a
durabilidade, desempenho e até mesmo reduzindo o custo do produto final, dando
necessária satisfação ao usuário”.
Nas etapas de desenvolvimento dos projetos e idealização dos
produtos finais predominava a preocupação quanto à quantidade. Atualmente a
situação é diferente, caracterizada pelo aumento da concorrência entra as
empresas, a preocupação com a qualidade tem recebido mais atenção nas
indústrias (MESEGUER, 1991).
Segundo Meseguer (1991), a construção civil possui algumas
peculiaridades, como por exemplo:
a) Caráter nômade, dificultando aquisição de matérias-primas e
procedimentos padronizados;
b) Impossibilidade de execução de uma produção em cadeia,
permitindo somente uma produção centralizada, onde os
operários são moveis e trabalham em torno de um produto fixo,
dificultando a organização e o controle dos trabalhos;
19
c) Menor precisão utilizada na construção para orçamentos,
prazos, resistências mecânicas, ente outros, comparado as
outras indústrias, e o fato do sistema ser mais flexível na
construção civil, e confiável nesta flexibilidade; entre outros.
Alem disso, na Construção Civil, há participação de muitos agentes,
diferentemente das outras indústrias, nas quais participam em sua maioria somente
os fabricantes, fornecedores e clientes. Segue abaixo uma lista dos principais
intervenientes no processo construtivo, segundo Meseguer (1991):
a) Projetista: realiza o projeto e participa no planejamento;
b) Fabricante: fabrica os materiais, componentes e os
equipamentos;
c) Construtor: contrata e executa as obras;
d) Empreiteiro: por encargo do construtor, executa parte da obra ou
obra completa;
e) Proprietário: é o dono da construção e é quem responde pela
sua manutenção;
f) Usuário: é quem desfruta da construção e responde por sua
manutenção;
g) Laboratórios: realizam ensaios nos materiais e equipamentos, e
analisam os resultados obtidos;
h) Norma: é a base técnica de referência para definir e comprovar a
qualidade;
i) Ensino e Formação: suporte profissional com finalidade de
obtenção da qualidade final; outros.
20
2.2. PROCESSO DE PROJETO ALIADO A QUALIDADE DA CONSTRUÇÃO
Como citado acima, a atividade da construção civil envolve muitos
agentes, que se influenciam nos momentos de decisões. Por outro lado, os
processos construtivos desenvolvem-se de acordo com etapas, os quais apresentam
resultados específicos, compondo-se por fases ou rotinas próprias.
Hammarlund & Josephson (1991), apud Novaes (1997, pg. 3)
afirmam que as maiores possibilidades de interferência, seja em relação aos custos
da produção ou definição das características finais dos produtos, ocorrem durante as
etapas de planejamento e projeto.
Segundo pesquisas realizadas em alguns países da Europa sobre a
origem das falhas em serviços de edifícios, Meseguer (1991, p.27) obteve os
seguintes resultados: 40% a 45% das falhas são originadas nas etapas de projeto,
25% a 30% originam-se na execução, 15% a 20% nos materiais e 10% devido ao
uso. Esses dados salientam a necessidade de se dedicar uma maior atenção à
qualidade dos projetos, quando se tem o objetivo de aumentar a eficiência dos
processos de produção de edificações.
Na prática de elaboração dos projetos, observa-se que as principais
falhas são de coordenação e comunicação entre os seus autores (NOVAES, 1997).
No seu desenvolvimento não são consideradas as particularidades das edificações,
deixando a desejar quanto à melhoria da eficiência nas atividades.
Novaes (1997) afirma que em decorrência de omissões,
incompatibilizações, concepções e detalhamentos incompletos, são tomadas
decisões indevidas durante a obra, causando prejuízo a qualidade do projeto e
eficiência do processo.
Ciria (1988), apud Maciel; Melhado (1997) aponta algumas
consequências dos erros causados na etapa de projeto, elaboração e especificação
inadequada e imprecisa:
a) Interpretação incorreta das necessidades dos clientes;
21
b) Utilização incorreta ou desatualizada dos projetos;
c) Interpretações incoerentes das normas de projeto;
d) Falta de comunicação entre os diversos profissionais de projeto.
2.2.1. Diretrizes Para Melhoria Da Qualidade Do Processo de Projeto
Silva (1995), apud Novaes (1997) relata que procedimentos como a
metodologia de levantamento das necessidades dos clientes internos e externos,
assim como procedimentos gerenciais adotados durante a elaboração do projeto
(controle de arquivos, copias, atualizações, etc.), devem constituir o sistema de
gestão de qualidade dos projetos.
Em relação ao processo de elaboração do projeto, a mesma autora
destaca a necessidade de:
a) Estabelecimento do fluxo de atividades;
b) Estabelecimento do fluxo geral do processo do projeto, com a
definição dos momentos de decisão;
c) Devido aos vários agentes intervenientes, elaborar
procedimentos gerenciais;
d) Procedimento de controle dos projetos;
e) Controle de recebimento dos projetos; outros.
Silva (1995), apud Novaes (1997), considerada ainda alguns
aspectos quanto à qualidade da apresentação dos projetos:
a) Padronização de apresentação gráfica;
b) Padronização de integração de recursos computacionais;
c) Padronização de apresentação do estudo preliminar de cada
projeto;
22
d) Padronização de apresentação de detalhes construtivos;
e) Padronização de especificações técnicas;
f) Padronização de apresentações de memoriais técnicos e
memoriais de vendas.
Picchi (1993, p.304) demonstra na tabela 2.1 os componentes da
qualidade do projeto que devem ser levados em conta para melhoria da qualidade
do processo de projeto.
TABELA 2.1 – Componentes da qualidade do projeto
Componentes da qualidade do projeto
Sub-componentes Principais aspectos relacionados
Qualidade do programa
pesquisas de mercado
necessidades dos clientes
antecipação de tendencias
Qualidade da solução
atendimento ao programa
atendimento a exigencias psico-sociais
funcionalidade
estética
proteção
status
atendimento a exigências de desempenho
segurança
habitabilidade
desempenho no tempo
economia na utilização
atendimento a exigências de otmização da execução
racionalidade
padronização
construtibilidade
integração de projetos
custo da obra
Qualidade da apresentação
clareza de informações
detalhamento suficiente
informações completas
facilidade de consulta
Qualidade do processo de elaboração de projetos
prazo
custo de elaboração de projetos
comunicação e envolvimento dos profissionais
Fonte: Picchi (1993, p.304)
23
Para considerar o projeto completo é necessária a interligação entre
as exigências e fatores multidisciplinares e de profissionais com formações técnicas
e vasta experiência, com visão diferenciada no desenvolvimento do processo. A
partir desta idéia devem ser observadas algumas diretrizes durante o processo de
projeto.
2.2.2. Tipos de Controle e Garantia da Qualidade de Projetos
Segundo Meseguer (1991), no âmbito do processo de projetos de
edifícios, o controle dos projetos, durante o processo de elaboração, deve ser feito
inicialmente pelo próprio profissional, considerando as peculiaridades da própria
disciplina de seu projeto e os dados contidos nas informações transmitidas pelos
demais participantes de processo de projeto. Este controle deve ser exercido
também no âmbito da coordenação de projetos, para o cumprimento de suas
atribuições.
Picchi (1993), citado em Novaes (2001) considera importante alguns
instrumentos da garantia e controle da qualidade de projetos de edifício:
a) Qualificação de profissionais de projeto e de novos projetos;
b) Coordenação e analise critica de projetos;
c) Elaboração de projetos para produção;
d) Controle da qualidade de projetos;
e) Controle de modificações durante a produção;
f) Elaboração de projetos com emprego de recursos
computacionais;
g) Parâmetros de projeto relacionados com o tempo.
O mesmo autor (PICCHI, 2003) destaca, dentre os instrumentos
utilizados na coordenação de projetos de edifícios, o planejamento de projetos,
24
controle de interfaces, compatibilização de projetos, controle de dados de entrada,
controle de revisões e controle de pendências.
A Figura 2.1 apresenta um fluxograma das etapas do processo de
produção de edificações habitacionais, proposto por Novaes (2001, p. 3) focado em
atividades do processo de projeto, enfatizando a sistematização de informações e
indicadores, que viabilizam a elaboração de projetos do produto e da produção,
contribuindo para o controle e garantia da qualidade de projetos.
Figura 2.1 – Fases do processo de projeto e atividades de compatibilização e análise crítica de projetos - Fonte: Novaes (2001, p. 3).
É possível organizar o controle da qualidade de todo o processo
através de um mecanismo duplo, articulado entre si e constituído por dois tipos: o
controle de produção e o controle de recepção.
25
Como indicado na Figura 2.2, dentre os processos, o controle de
produção (CP) é aplicado tangencialmente à linha de execução da atividade: trata-se
de um controle interno. Já o controle de recebimento (CR) é exercido nos vértices,
ou seja, na mudança de uma atividade para outra. É nesta posição que ocorre a
transferência de responsabilidades, tratando-se de um controle externo.
O controle geral fica por conta da Administração, localizada no
centro do processo construtivo.
Figura 2.2 – O Processo construtivo - Fonte: Meseguer (1991, p. 17).
2.2.2.1. Controle de produção
Segundo Meseguer (1991, p.18) “o controle de produção consiste
em dois tipos de controle: um autocontrole exercido pelas pessoas ao longo da sua
26
atividade produtiva e um controle interno independente, exercido, dentro da empresa
produtora, por pessoas da própria empresa que, não participando do processo de
produção, se dedicam exclusivamente à atividade de controlar”.
Não é simples determinar a qual dos dois controles deve-se dar mais
ênfase. No Japão, predomina o autocontrole, segundo uma filosofia conhecida de
que “mais que controlar a qualidade, o que deve ser feito é produzi-la” (MESEGUER
1991, p 18).
Para exigir que um operador aplique o autocontrole é necessário que
ocorram três condições previamente:
a) Saber o que tem que fazer;
b) Saber o que está fazendo;
c) Atuar em sentido correto quando não ocorrer as situações a e b,
simultaneamente.
Segundo Meseguer (1991), pode-se afirmar que se as três
condições acima forem cumpridas e mesmo assim ocorrerem defeitos, estes serão
considerados “defeitos controláveis pelo operador” sendo de responsabilidade
exclusiva a ele. Por outro lado, se uma das condições não for cumprida e ocorrer
defeitos, estes serão denominados “defeitos da empresa”, sendo de
responsabilidade da empresa.
Meseguer (1991) relata que apenas 20% dos defeitos são
decorrentes de falhas do operador, ou seja, 80% correspondem as falhas da
empresa.
No entanto, independente de qual método for utilizado, o importante
é que nenhum produto deve passar ao destino do cliente sem ter sido controlado.
27
2.2.2.2. Controle de recebimento
O controle de recebimento é uma forma de controle totalmente
independente do controle de produção, pois ele é efetuado em cada etapa do
processo construtivo, por aquele que recebe o produto da etapa anterior
(MESEGUER, 1991).
É importante ressaltar que no controle de produção o objetivo é
manter o processo sob controle, interessando as variáveis cuja medição seja
cômoda, ágil e de baixo custo (MESEGUER, 1991). Já no controle de recebimento a
ênfase é dada ao produto acabado, com prioridade à qualidade, independentemente
do prazo de resposta.
Outra diferença entre o CP (controle de produção) e o CR (controle
de recebimento) é que no CP, o produtor procura atender ao receptor com a
qualidade que foi estabelecida, mediante custos mínimos de produção. Em
contrapartida o receptor busca, através do CR, a comprovação de que a qualidade
estabelecida é a mesma da recebida, com a menor margem possível (MESEGUER,
1991). Portanto, se os objetivos são diferentes, é evidente que os meios utilizados
para tal controle também são. No controle de produção, utilizam-se basicamente
gráficos e registros, o controle de recebimento baseia-se em planos de amostragens
e critérios de aceitação/rejeição.
A Tabela 2.2 apresenta as diferenças entre o controle de produção e
de recepção, descrito por Meseguer (1991).
TABELA 2.2 – Diferenças entre Controle de Produção (CP) e Controle de Recepção (CR)
Controle de Produção (CP) Controle de Recebimento (CR)
QUEM o faz O produtor O receptor
O QUE se procura Oferecer a qualidade combinada ao menor custo
Comprovar a qualidade combinada com o menor risco de erro possível
ATUA sobre O processo O produto
VARIÁVEIS do controle As mais cômodas (correlações) As mais representativas
TÉCNICAS empregadas - gráficos de controle - tabelas de amostragem
- registros contínuos - critérios de A/R
Fonte: Meseguer (1991, p. 22).
28
Apesar do CP e do CR serem independentes, os dois não podem
trabalhar separados: eles se complementam.
29
3. PROJETO DE FACHADAS
3.1. INTRODUÇÃO
Na análise dos problemas que afetam a qualidade na execução de
revestimento de fachadas, Ceotto et al. (2005) identifica alguns relacionados à falta
de informações e de preparação das empresas:
a) Deficiências técnicas importantes sobre o comportamento dos
revestimentos;
b) Insensibilidade com a necessidade do desenvolvimento do
projeto;
c) Insensibilidade com a necessidade de se utilizar projetos
específicos neste serviço;
d) A fachada é considerada somente um produto decorativo, e não
de engenharia;
e) Planejamento e controle da qualidade incompatível com a
complexidade do problema;
f) Pouca preocupação com a capacitação das equipes de obra no
assunto de revestimentos;
g) Argamassas preparadas na própria obra com poucos critérios
técnicos, definidos pelos operários.
Ceotto et al. (2005) cita também as deficiências por parte dos
projetistas, consultores e pesquisadores:
a) Deficiência de pesquisa, poucas verbas para financiamento
sobre esse tema, o qual é considerado pelas agências
financiadoras como “pouco moderno”;
30
b) Pesquisa concentrada no comportamento das argamassas, e
não do revestimento;
c) Laboratórios pouco equipados;
d) Pouco consenso do que deve ser um “projeto de revestimento”;
e) Inexistência de consenso nas soluções básicas e nos detalhes
mais elementares.
O mesmo autor aponta que a finalidade do projeto de revestimento
externo ou de fachada consiste na determinação dos materiais, geometrias, juntas,
reforços, pré-moldados, acabamentos, procedimento de execução e controle, bem
como diretrizes para manutenção, específicos para uma determinada obra, de forma
a se obter um desempenho satisfatório do revestimento ao longo do tempo.
Segundo Sabbatini (1990, p. 22) “o projeto de revestimentos
correspondente à definição clara e precisa de todos os aspectos relativos aos
materiais e técnicas e detalhes construtivos a serem empregados e aos padrões e
técnicas de controle de qualidade a serem observados. Obtém-se, assim, um projeto
construtivo adequado, que permita a execução de planejamento, programação e
controle detalhados e coerentes e uma gerência eficiente e eficaz do que se vai
executar”.
Maciel; Melhado (1997) e Ceotto et al. (2005), afirmam que o projeto
de revestimento externo busca atingir um nível de racionalização mais elevado,
obtendo-se melhores resultados para o desempenho do revestimento e do edifício
como um todo, alem da redução dos desperdícios e dos custos gerais de produção.
3.2. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DE REVESTIMENTO DE FACHADA
Maciel; Melhado (1997) consideram que o projeto de revestimento
externo argamassado deve ser desenvolvido juntamente com os outros projetos e
fundamentado nos subsídios tecnológicos, e assim obter um conjunto de
informações referentes ao produto e à sua produção.
31
Para Baía; Sabbatini (2000), apud Diogo (2007, p. 9), existem três
momentos em que se pode elaborar um projeto de revestimento externo:
a) Antes do início da obra, juntamente com a elaboração dos outros
projetos: a adoção neste momento permite a integração do
projeto com a concepção da obra;
b) No início da obra, após a conclusão dos projetos da edificação:
neste caso o projeto de revestimento de fachada complementa
os demais projetos e define o processo construtivo, limitado pelo
orçamento da obra;
c) Durante a obra, após a conclusão da estrutura e da execução da
alvenaria: com esta escolha o projeto de revestimento adapta-se
ao processo construtivo definido e pode interferir apenas no
preparo e aplicação do revestimento.
Segundo Ceotto et al. (2005) a elaboração do projeto de
revestimento deve ser iniciada logo após a entrega dos projetos preliminares da
arquitetura, estrutura e vedação. É nesta etapa que o projetista de revestimento tem
condições de interagir e compatibilizar com os demais projetistas.
O mesmo autor afirma que quando o projeto é iniciado com a obra já
em andamento, a interação do projetista de revestimento com os demais projetistas
é praticamente inexistente, fazendo com que todas as decisões tomadas nos
projetos anteriores sejam aceitas como condicionantes, aumentando então o risco
de um desempenho insatisfatório do revestimento externo argamassado.
A Figura 3.1 apresenta uma proposta para o desenvolvimento do projeto.
32
Figura 3.1 – Desenvolvimento do projeto dos revestimentos de argamassa de
fachada - Fonte: Maciel; Melhado (1997, p. 23).
Observa-se na figura que as especificações preliminares do
revestimento são definidas na fase inicial, com o propósito de buscar a
compatibilização das interfaces e atender aos requisitos pré-estabelecidos. As
especificações preliminares não são permanentes, servem apenas para o inicio da
realização do Anteprojeto do Revestimento.
Ceotto et al. (2005) descreve em uma visão geral a sequência do
desenvolvimento do projeto de revestimento:
33
a) Projeto inicial – Finalizado antes do inicio da execução da
alvenaria: o projetista apresenta o partido do projeto, assim
como as especificações básicas de desempenho dos materiais;
b) Verificação de parâmetros – iniciada após o inicio da alvenaria:
deverão ser testados e ensaiados os parâmetros definidos no
projeto inicial nas condições de obra, para definição dos
produtos e sistemas com as suas respectivas marcas a serem
utilizados. Deve se atentar que esta é a etapa mais demorada do
processo, demandando no mínimo 60 a 90 dias para a
conclusão;
c) Verificação de desvios geométricos da estrutura, definição da
mão-de-obra e equipamentos – executada logo após a
conclusão da estrutura; e
d) Projeto final – concluído antes do inicio dos trabalhos de
revestimento de fachada.
3.3. CONDICIONANTES PARA O PROJETO
Para a realização de um bom projeto, a qualidade e disponibilidade
dos dados para incorporar as decisões do projetista são essenciais. Ceotto et al.
(2005) afirma que para o projeto de revestimento é necessário levar em conta, entre
outros, os seguintes fatores:
a) Condições ambientais: informações de insolação, regime de
chuvas, umidade relativa do ar, temperatura, ventos
predominantes e outros. Essas variáveis são importantes para a
formulação das argamassas (retenção de água,
permeabilidade), condições e períodos de aplicação, juntas, etc.;
b) Arquitetura: projeto arquitetônico, cores, detalhes de frisos e
elementos decorativos. Estas variáveis são importantes para
34
paginação da fachada, elaboração dos reforços e juntas,
definição dos pré-moldados, etc.;
c) Estrutura: geometria, rigidez e deformações previstas. Estas
variáveis são importantes para definição de juntas, detalhes
construtivos das ligações das alvenarias com pilares, vigas ou
lajes, preparação da base, definição da ponte de aderência,
entre outros. Estes detalhes condicionam a viabilidade do uso do
revestimento de argamassa;
d) Instalações: interferência nas fachadas, como rasgos e
aberturas. Estas variáveis são importantes para a definição dos
enchimentos e reforços;
e) Vedação: detalhes deste projeto, materiais utilizados e suas
interferências nos revestimentos de fachada. Variáveis
importantes para a definição de juntas e reforços no
revestimento de fachada, bem como da definição da ponte de
aderência (chapisco) e preparação da base;
f) Processos construtivos: estrutura (sistema de forma, velocidade
de desforma, resistência do concreto, tipologia protensão),
alvenaria (tipo e dimensão dos componentes de vedação),
equipamentos (“andaime fachadeiro”, balancim, elétrico ou não)
e mão-de-obra (nível de qualificação) previstos inicial e
preferencialmente serão empregados. Estas variáveis são
importantes para definições geométricas do projeto,
especificações dos materiais da fachada e definição do processo
de aplicação da argamassa; e
g) Prazos: o cronograma das atividades é importante para a
elaboração do planejamento e para a definição de toda a
logística de produção.
35
3.4. CONTEÚDO DO PROJETO
O conteúdo básico necessário de um Projeto de Revestimento
Externo, segundo Ceotto et al. (2005) compreende:
A. Relação dos projetos consultados e analisados
Devem ser informados os documentos (desenhos, especificações
técnicas, memorial descritivo, especificação dos materiais) dos projetos envolvidos
na obra que interferem no revestimento externo (estrutural, arquitetônico,
instalações, caixilhos, alvenaria e outros).
B. Detalhamento construtivo
Deve conter todas as definições geométricas e posicionamento dos
seguintes detalhes construtivos:
a) frisos e juntas;
b) elementos decorativos;
c) pingadeiras;
d) soleiras;
e) guarda-corpos; e
f) peitoris.
C. Memorial de especificação dos materiais
a) Propriedades das argamassas de chapisco, emboço e de
acabamento;
b) Especificações dos materiais das juntas de movimentação; e
36
c) Especificações das telas, ou outro material, indicando as
dimensões dos reforços.
D. Memorial executivo
Este é muito importante, pois é através deste que o trabalho é
padronizado nas diversas etapas, desde a escolha dos fornecedores de argamassa
até o recebimento final do revestimento aplicado:
a) instruções e dimensões mínimas para execução dos painéis
protótipos, das amostras para seleção das argamassas;
b) descrição das inspeções e ensaios laboratoriais a serem
executados nas argamassas aplicadas nos painéis protótipos e
descrição de controle durante a execução do revestimento;
c) instruções para o rastreamento dos lotes de aplicação das
argamassas nas fachadas;
d) controle no recebimento dos materiais;
e) critérios para a definição de lotes de materiais recebidos e
aplicados;
f) preparo e aplicação das argamassas;
g) definição de rotinas de inspeções dos lotes das fachadas;
h) definição de um controle de qualidade para o recebimento dos
serviços;
i) posicionamento e dimensionamento dos balancins e andaimes
fachadeiros;
j) definição das etapas de execução e seus intervalos;
k) critérios de mapeamento e taliscamento; e
l) procedimento de execução, aplicação, controle e aceitação:
37
I. limpeza e preparo da base;
II. chapisco;
III. colocação dos reforços;
IV. argamassa de emboço;
V. frisos, juntas, calafetação e fixação de elementos
pré=moldados; e
VI. revestimento final (camada decorativa, revestimento
cerâmico, etc.).
E. Definição de rotina de manutenção e inspeção
Dados para elaboração do manual de manutenção.
Com a chegada da nova NBR-15575 que estabelece requisitos e
critérios para que os sistemas alcancem desempenhos buscando atender às
exigências dos usuários, um dos quesitos em questão é a vida útil dos materiais.
Esta deve ser definida no projeto do edifício e de suas partes. Sendo assim a
definição precisa dos revestimentos e seus processos executivos tornam-se muito
importantes para alcançar a vida útil indicada.
38
4. NOVA NORMA DE DESEMPENHO
4.1. INTRODUÇÃO
A partir de dezembro de 2010 todas as obras de construção de
edifícios habitacionais de até cinco pavimentos deverão atender aos padrões
estabelecidos pela ABNT NBR 15.575 – Edifícios habitacionais de até cinco
pavimentos. A norma define os requisitos e critérios de desempenho considerando
as exigências dos usuários, independentemente dos materiais e do sistema
construtivo utilizado. Assim, o empreendimento deve ser projetado buscando atender
às necessidades básicas do morador no que se refere à segurança, habitalidade e
sustentabilidade.
É importante ressaltar que a nova norma não aumenta os custos da
construção para as empresas que já cumprem as normas técnicas (NBR- 15.575/1,
2008)
Outro fator importante é que as edificações deverão ser classificadas
quanto a sua vida útil em relação a três níveis de desempenho: mínimo (M),
intermediário (I) ou superior (S).
Além disso, deverão ser descritos, através de manuais de operação,
uso e manutenção, os prazos de garantia para as partes, sistemas, elementos,
componentes e/ou instalações que compõem a edificação.
Portanto, as empresas construtoras necessitarão de muita atenção
quanto ao cumprimento detalhado dos projetos executivos, aquisição de materiais
de construção compatíveis com o comportamento e vida útil indicada, alem de
empregar técnicas e métodos construtivos de qualidade.
Quanto às exigências dos usuários, a nova norma define três itens,
sendo que se atendidos os requisitos e critérios, consideram-se satisfeitos:
39
- Segurança:
- estrutural;
- fogo;
- uso e operação;
- Habitalidade:
- estanqueidade;
- desempenho térmico;
- desempenho acústico;
- desempenho lumínico; etc.
- Sustentabilidade:
- durabilidade;
- manutenabilidade;
- impacto ambiental.
Para a avaliação dos desempenhos a Norma determina que seja
“realizada uma investigação sistemática baseada em métodos consistentes, capazes
de produzir uma interpretação objetiva sobre o comportamento esperado do sistema
nas condições de uso definidas” (NBR- 15.575/1, 2008 pg.9).
A lista dos requisitos de desempenho a serem avaliados foi limitada
pela norma, pois, se derivada de todas as exigências dos usuários, poderia resultar
em uma lista muito extensa. Para este estudo, serão descritos apenas os tópicos
relacionados a fachada e revestimentos externos.
4.2. REQUISITOS DE DESEMPENHOS
4.2.1. Segurança no Uso e Operação
40
Este deve ser considerado em projeto, principalmente no que diz
respeito a agentes agressivos, devendo garantir a segurança aos usuários do
edifício habitacional.
Neste item um dos critérios analisados é de que os sistemas não
devem apresentar rupturas ou quedas que possam colocar em risco a integridade
física dos ocupantes ou de quem estiver passando próximo ao imóvel.
4.2.2. Estanqueidade
A umidade acelera os mecanismos de deterioração, causando a
perda das condições de habitabilidade à edificação. Sendo assim, deve-se garantir
estanqueidade em relação às fontes de umidades externas ao sistema (infiltração da
água de chuva).
Como critério, a norma cita que deve ser atendido os requisitos
especificados nas ABNT NBR 15575-2 a ABNT NBR 15575-5.
4.2.3. Desempenho Térmico
Considerando que o desempenho térmico do edifício depende do
comportamento interativo entre fachada, cobertura e piso, este item especifica que a
edificação deverá garantir o desempenho térmico, considerando-se a região de
implantação da obra e as respectivas características bioclimáticas definidas na
ABNT NBR 15220-3.
Nesta Norma foram estabelecidos três procedimentos para avaliar a
adequação das edificações quanto ao desempenho térmico:
a) PROCEDIMENTO 1 (normativo):
41
Verifica o atendimento aos requisitos e critérios para fachadas e
coberturas para os sistemas de vedação e sistemas de cobertura.
b) PROCEDIMENTO 2 (informativo):
Verifica o atendimento aos requisitos e critérios através de
simulação computacional do desempenho térmico do edifício, detalhados em dois
aspectos:
- Desempenho no verão:
As condições térmicas no interior da edificação, na sombra e para o
dia típico de verão, devem, no mínimo, ser iguais à do ambiente externo.
CRITÉRIO: O máximo valor diário da temperatura do ar interior nos
recintos de permanência prolongada deve ser menor ou igual ao valor máximo diário
da temperatura do ar no ambiente exterior, sem a presença de fontes internas de
calor.
- Desempenho no inverno:
No dia típico de inverno, o ambiente interior da edificação deve
apresentar condições térmicas melhores que do ambiente externo.
CRITÉRIO: O valor mínimo diário da temperatura do ar interior de
recintos de permanência prolongada, deve ser maior ou igual à temperatura mínima
externa acrescida de 3 ºC.
O método de avaliação para ambos deve ser de acordo com o
software Energy-Plus, seguindo com os procedimentos indicados pela ABNT NBR
15.575/1 (2008 p. 33).
42
c) PROCEDIMENTO 3 (informativo):
Verifica o atendimento aos requisitos e critérios através de medições
em edificações ou protótipos construídos:
Os critérios para avaliação do desempenho térmico, via medições in
loco, estão descritos entre os itens A.6.3 e A.6.7. da ABNT NBR 15.575/1 (2008).
4.2.4. Desempenho Acústico
O edifício habitacional deve apresentar isolamento acústico das
vedações externas, a fim de garantir conforto acústico interno a seus ocupantes. Os
níveis de ruído interno devem ser inferiores aos especificados na ABNT NBR 10.151.
4.2.5. Durabilidade e Manutenabilidade
A durabilidade de um produto é reconhecida quando o mesmo deixa
de cumprir as funções que deveria. O intervalo compreendido entre o início da
utilização do produto e o momento que o mesmo deixa de atender as funções
cabíveis a ele é denominado vida útil.
A NBR 15.575 estabelece prazos mínimos de garantia para as vidas
úteis dos produtos, por parte dos incorporadores e construtores, de forma a alcançar
o desempenho esperado do produto. No caso das vedações verticais externas, a
vida útil mínima é estabelecida em 40 anos, e para ser classificada no nível máximo,
a vida útil deve ser maior do que 60 anos.
Portanto, os processos construtivos e sistemas são concebidos em
função da sua vida útil e os elementos e componentes especificados devem ter
durabilidade compatível.
43
5. MÉTODO
A partir de uma revisão bibliográfica, o autor apresenta conceito,
conteúdo, condicionantes e benefícios do Projeto de Fachadas, para fundamentar a
elaboração de um roteiro de entrevistas para a coleta de dados.
Foram entrevistados coordenadores de obra de 4 construtoras da
cidade de Londrina. Estas empresas atuam no segmento de incorporação e
construção de edifícios residenciais. Para manter o sigilo das empresas, os nomes
foram renomeados como A, B, C e D.
O roteiro das entrevistas foi elaborado com dezesseis questões,
buscando detectar a prática das empresas no que se refere à execução da fachada.
A entrevista foi registrada por meio de um gravador de som, com a
intenção de facilitar a coleta e analise dos dados.
A última etapa do trabalho consistiu na análise detalhada dos dados
coletados, baseada na revisão bibliográfica.
44
6. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
6.1. EMPRESA A
As obras executadas pela empresa “A” são em sua maioria
executadas com revestimentos argamassados e pintados. De acordo com o
engenheiro entrevistado, “há certo tempo, cerca de dois anos, houve queda de
pastilha e de emboço de um edifício”. Os profissionais da empresa avaliaram que
tenha sido causada por variação térmica, pois o fato ocorreu na fachada oeste
(maior incidência solar) e nos últimos três pavimentos, onde a variação térmica é
maior. Após este incidente a empresa optou por não utilizar mais revestimentos
cerâmicos.
O mesmo engenheiro cita que a empresa não tem dificuldades de
execução do serviço de revestimento externo: a única dificuldade encontrada é em
relação à mão-de-obra.
Os revestimentos e detalhes das fachadas são especificados por
arquitetos terceirizados, e são definidos de acordo com o padrão da obra, viabilidade
financeira e estética da fachada. Estes revestimentos e detalhes são determinados
antes do início das obras, de forma que se encaixe no cronograma.
Já em relação à execução dos revestimentos externos, 95% são
executados por empreitas, porem a definição do método de execução como a
quantidade de balancins e catracas, divisão dos panos e camadas de revestimento
argamassado são determinadas pelo engenheiro responsável pela obra e na obra.
Outro fator importante é que a empresa optou em não desenvolver
treinamento para os funcionários terceirizados, devido à experiência das
empreiteiras, as quais atuam há bastante tempo no mercado. No entanto, já ocorreu
do engenheiro coordenador das obras ir para São Paulo aprender sobre um
revestimento novo adotado pela primeira vez pela construtora. No retorno, um
pedreiro foi designado para desenvolver a técnica, e o mesmo passou a difundir o
conhecimento para os demais.
No que se refere à documentação, o único documento no qual
constam informações, registros e especificações dos materiais é o projeto
45
arquitetônico. Não há memorial executivo, há somente memorial descritivo onde é
informado que o empreendimento vai ser pintado ou com a utilização de
revestimento cerâmico. O entrevistado relatou que “não entra em detalhes
executivos, pois pode ser alterado durante a execução”.
Em relação à utilização do Projeto de Fachadas, o engenheiro
afirmou que a empresa não utiliza este tipo de projeto, pois a pratica da construtora
é de revestimentos argamassados, cujos processos já são dominados. Porem
acredita que para a utilização de revestimentos diferenciados a pratica da utilização
do Projeto de Fachadas é valida.
6.2. EMPRESA B
Para o engenheiro entrevistado, as patologias em fachadas são
comuns e a empresa tenta sempre minimizar os problemas. As variações térmicas,
variações das características dos materiais e a forma de manuseá-los, têm impacto
direto na execução e qualidade do serviço. Esta tentativa de minimizar os problemas
é feita por meio de procedimentos e controles de execução.
As dificuldades encontradas começam com a mão-de-obra, no ato
de produzir o material a ser utilizado no revestimento. É necessário muito controle
em termos de traços, quantidade e qualidade dos materiais. Outro fator é o
transporte dos materiais. A pouca disponibilidade de mão-de-obra com qualidade
leva a construtora a desenvolver treinamentos, principalmente com aqueles que
estão entrando em contato com o revestimento pela primeira vez. A empresa utiliza
mão-de-obra própria em sua maioria e a prática do treinamento é preponderante,
cada vez mais aprimorado.
A definição dos revestimentos e detalhes arquitetônicos é realizada
pela incorporadora. Antes de iniciar o serviço, o revestimento é estudado e há vários
fatores que determinam sua escolha, como: viabilidade econômica, qualidade e
disponibilidade do material e o padrão que a empresa deseja atingir.
Assim que o revestimento é definido, então é direcionado para
determinando plano de execução. Para cada tipo de revestimento há um
46
procedimento, onde variam as pontes de aderência, camadas, espessuras e
materiais.
Todos estes fatores, como definição dos revestimentos, detalhes
arquitetônicos e planos de execução, são determinados antes do inicio da obra, e
compatibilizados com o projeto estrutural, de forma a não ocorrer incoerências no
momento da execução.
A empresa possui certificado PBQP-H (Programa Brasileiro de
Qualidade e Produtividade do Habitat), por isso há procedimentos de controle de
produção, planejamentos e processos padronizados. Isto se justifica que para atingir
certo nível de certificado, os itens citados acima necessitam ser implantados pela
empresa.
Em situações da utilização de novos revestimentos, a empresa
procura por históricos confiáveis, alem da necessidade de estar enquadrado nas
normas (exigência do PBQP-H e da empresa).
Os documentos como memorial descritivo, executivo e
documentação de registros, estão determinados pelo programa de qualidade na
empresa. A empresa possui documentação de serviço e ficha de verificação de
serviço. Neste constam os processos padronizados, especificação dos materiais e
suas propriedades. Além disso, a empresa possui procedimentos para manutenção
e equipes treinadas para execução de manutenção.
Em relação ao Projeto de Fachadas, o engenheiro da empresa tem
conhecimento, no entanto nunca foi necessário à empresa. Por outro lado,
reconhece que em determinado momento, onde, devido à variação dos novos
materiais e apresentação de novas soluções que não são de domínio da empresa,
será necessário a inclusão deste tipo de projeto.
6.3. EMPRESA C
O engenheiro da construtora C afirma que os problemas em
fachadas ocorrem em decorrência da utilização de cerâmicas. As obras da empresa
são revestidas com argamassa e textura, com uso de pastilhas cerâmicas somente
em pequenas faixas de 1,5m de altura. Recentemente, em uma das obras que está
47
em fase de acabamento, foram encontradas algumas pastilhas se soltando da
argamassa. Foram feitos alguns ensaios de arrancamento e constatou-se uma
espessura muito elevada de reboco externo. A solução adotada pela empresa foi a
remoção das pastilhas e utilização de um aditivo para aumentar a fixação das
pastilhas na argamassa.
Em relação às dificuldades encontradas pela empresa, segundo o
engenheiro, pode-se afirmar que depende do projeto arquitetônico, do nível de
detalhes existentes nas fachadas. Citou o exemplo de um empreendimento recém
lançado, cuja fachada compreendia em diversos detalhes como bordas nas
esquadrias, fachadas curvas, uma série de características que dificultavam a
execução do revestimento. Porem é uma estratégia adotada pela empresa para se
diferenciar no mercado.
O responsável pela definição do revestimento é uma empresa de
arquitetura terceirizada. No entanto a empresa construtora acompanha as
definições, levando em conta fatores como proteção, condições térmicas, execução
e principalmente custo e estética. Esta definição é feita antes do início da obra,
assim como os detalhes de frisos e dilatações.
As especificações do tipo de chapisco, quantidade de camadas de
revestimento argamassado, divisão dos panos e balancins, são definidos no
planejamento da obra, adaptadas às características de cada obra.
A empresa sempre utilizou mão-de-obra terceirizada para execução
dos revestimentos externos argamassados, mas o engenheiro observou que essa
mão de obra é cada vez mais escassa, devido ao crescimento do mercado. Em
função disto, a construtora treinou seus melhores aplicadores de argamassa para
fixarem uma equipe de execução de revestimento argamassado externo. Em relação
à utilização de novos revestimentos, o engenheiro afirmou que mesmo a mão-de-
obra por empreita passa por treinamentos.
Tratando-se de documentos de registro, memorial descritivo e
executivo, a empresa utiliza todos estes em obra, de forma a melhorar os
procedimentos e padronizá-los, aumentando também o controle de produção e
qualidade do serviço.
O engenheiro entrevistado sabe da existência do Projeto de
Fachadas e afirma que já houve a necessidade de utilização do mesmo para obras
de terceiros. No entanto, para as edificações de múltiplos pavimentos ainda não se
48
fez necessário, pois os revestimentos são sempre os mesmos, revestimento
argamassado, seguido de texturas e possíveis faixas de pastilhas cerâmicas. Então
a empresa já possui total controle dos processos executivos. Porém, o engenheiro
afirma que, com a chegada de materiais novos, a utilização do projeto de fachadas
poderá se tornar rotineiro nas obras.
6.4. EMPRESA D
Segundo o engenheiro, as ocorrências de patologias nas fachadas
dos edifícios são baixas. No entanto, há dois anos houve a incidência de patologia
em uma fachada, e foi necessária a remoção de uma faixa de cerâmica devido ao
descolamento da mesma. A empresa fez uma analise a fim de identificar as causas,
e constatou-se que a aderência da placa na argamassa estava adequada, mas o
problema foi de qualidade na estrutura: devido à falta de qualidade geométrica das
peças estruturais, o reboco externo alcançou espessuras de seis centímetros e, por
a obra estar atrasada, não foram adotadas as técnicas adequadas para a execução
do revestimento.
Ao falar em dificuldade, a mão-de-obra é a primeira a ser citada. Em
segundo vem a questão da instalação dos equipamentos. Segundo o engenheiro, a
maioria das empresas utiliza catracas antigas, ou seja, muito pesadas, o que exige
grande esforço por parte do profissional. Por outro lado algumas construtoras estão
utilizando catracas mais novas, facilitando o trabalho e tornando-o mais veloz.
Na definição dos revestimentos externos, cujo são definidos por
arquitetos terceirizados, o que prevalece como fator decisivo é o custo e a estética.
Estes são definidos com pelo menos um ano de antecedência do inicio da obra.
Para o planejamento a empresa utiliza o software Microsoft Project,
através de uma seqüência de atividades pré-planejadas pela empresa, e a execução
de revestimento externo entra em determinado momento. Em relação a definição do
plano de execução, como a seqüência do trabalho, quantidade de balancins, numero
de catracas e definição dos panos, é feita pelo engenheiro responsável pela obra,
com antecedência mínima de sessenta dias da execução do serviço, de forma a se
encaixarem ao cronograma da obra.
49
Um fator muito importante é o treinamento dado pela empresa,
direcionado até para a mão-de-obra terceirizada. Segundo o engenheiro
coordenador das obras “mesmo a equipe que já trabalhou em outra obra passa
novamente pelos processos de treinamento e capacitação”.
Em relação aos documentos e memoriais, a empresa possui tudo
incluso nos procedimentos de qualidade.
O engenheiro afirmou já ter conhecimento sobre o Projeto de
Fachadas, porém não vê necessidade de uso, pelos procedimentos de execução
que a empresa tem desenvolvido e por serem fachadas “padrões”, sendo todos os
processos repetitivos. No entanto “o resultado de projeto a nível de qualidade e
custo final, sem duvida, é muito interessante quando você se depara com algo
diferente”, afirma o entrevistado.
50
7. CONCLUSÃO
7.1. PROBLEMAS E/OU PATOLOGIAS EM FACHADAS
De acordo com os engenheiros entrevistados, a incidência destes
eventos não vem ocorrendo com muita freqüência. Em alguns casos, quando da
utilização de revestimentos cerâmicos, detectaram-se alguns descolamentos, parte
causadas pela incidência solar, parte causadas pela falta de um cuidado maior com
a espessura elevada, devido à falta de qualidade geométrica das estruturas.
Uma das soluções adotadas por uma das empresas entrevistadas foi
ao invés de utilizar fachadas contínuas com revestimentos cerâmicos, propícios a
maiores patologias, eles adotaram algumas faixas com o revestimento cerâmico.
Esta é uma maneira de proporcionar uma dilatação ao revestimento, evitando o
estufamento e o descolamento pela dilatação.
Segundo a bibliografia, uma das condicionantes para o projeto de
revestimentos externos é a questão da condição ambiental. São necessárias
informações sobre condições de insolação, regime de chuvas, umidade relativa do
ar, temperatura, ventos predominantes, entre outros, de forma que estas variáveis
tornam-se importantes para a formulação das argamassas, métodos e períodos de
aplicação e definição dos possíveis revestimentos que poderão causar qualquer
problema.
7.2. FATORES PARA DEFINIÇÃO DOS REVESTIMENTOS
Os principais critérios levados em conta para determinação dos
revestimentos cerâmicos a serem utilizados nas fachadas foram: estética e custo. É
importante ressaltar que a principal função da fachada é proteger a edificação das
intempéries, de forma que contribua significativamente para que a edificação atenda
aos desempenhos térmicos e acústicos, resistência ao fogo, choques e atritos,
resistência à penetração de água e durabilidade. Sendo assim, critérios como
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proteção, condições ambientais, e ainda disponibilidade de recursos e/ou mão-de-
obra especializada deveriam ser cruciais.
7.3. MÃO-DE-OBRA E TREINAMENTO DAS EQUIPES
A qualificação da mão-de-obra foi a maior dificuldade em relação ao
que está envolvido a execução dos revestimentos externos. A maioria das empresas
terceirizam este serviço, porém com a falta da mão-de-obra, causada pelo
aquecimento do mercado, as empresas tem direcionado treinamento para seus
melhores aplicadores de argamassa, de forma a fixarem equipes para execução dos
revestimentos externos. A boa capacitação das equipes, mesmo aquelas
executadas por empreitas, pode trazer diversos benefícios como o aumento da
produtividade e qualidade do serviço. Para isto é muito importante que os
trabalhadores tenham acesso aos memoriais executivos e descritivos, de forma a
padronizar os serviços e materiais utilizados, como traços de argamassas.
7.4. PLANO DE EXECUÇÃO
O plano de execução contempla a definição dos panos, quantidades
de balancins e catracas, tipos de chapisco e argamassa, entre outros. Nas
construtoras entrevistadas, a pratica destas definições é diversificada. Para as
empresas “B” e “C” são determinados antes do início da obra, de forma a haver
compatibilização com as características e planejamento da obra. Por outro lado, a
empresa “A”, permite que sejam definidos no decorrer da obra. Em função disto,
pode haver conflitos com outros projetos, resultando em atrasos ao cronograma e
aumento dos custos. Outro fator que ocorre é que a falta da interação com os
demais projetos, fazendo com que todas as decisões tomadas anteriormente
tornem-se condicionantes, podendo ser um risco para um desempenho insatisfatório
do revestimento externo.
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Além do plano de execução, a bibliografia sugere que os detalhes
construtivos da fachada sejam definidos antes do início da obra, permitindo a
integração do projeto com a concepção da obra.
Quando estes são definidos no início da obra, tornam-se limitados
pelo orçamento.
7.5. A INSERÇÃO DO PROJETO DE REVESTIMENTO EXTERNO
A utilização de um projeto de revestimento externo em uma obra
pode trazer diversos benefícios quanto a prazo, orçamento, produtividade e
qualidade.
A partir das entrevistas desenvolvidas com as empresas, foi
verificado que há de certa forma uma falta de especificações em relação aos
revestimentos externos, cujo deveriam ser citados previamente. Estas informações
são fornecidas pelo projeto de revestimento externo. Porém, mesmo diante da
inexistência de projeto de fachada formalizado nas empresas entrevistadas,
observou-se que as fachadas eram executadas de forma correta, devido à
experiência dos departamentos de engenharia até dos próprios colaboradores.
Portanto, a não utilização do projeto, não significa que as decisões
mais importantes para a elaboração e posterior execução tenham sido determinadas
sem embasamento tecnológico, mesmo que estas tenham sido definidas momentos
antes da execução.
Pode-se observar também que as quatro empresas entrevistadas
utilizam em suas edificações revestimentos externos argamassados, e em algumas
situações aliadas a revestimentos cerâmicos. Sendo assim, as empresas já
desenvolveram processos e métodos rotineiros, de forma a não ser necessário a
utilização de um projeto específico para a execução dos revestimentos externos.
Mas é importante ressaltar que os quatro engenheiros entrevistados
têm conhecimento de que com a chegada de novos materiais e novas tecnologias
que não são dominadas pelas empresas a utilização de um projeto de revestimento
externo deverá estar incluso na rotina das obras.
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REFERÊNCIAS
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15.220-3: Desempenho térmico de edificações Parte 3: Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social. Rio de Janeiro. 2008.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.151: Acústica - Avaliação do ruído em áreas habitadas, visando o conforto da comunidade - Procedimento. Rio de Janeiro. 2003.
CEOTTO, Luiz H.; BANDUK, Ragueb C.; NAKAKURA, Elza H. Revestimentos de Argamassas: Boas Práticas em Projeto, Execução e Avaliação. Recomendações Técnicas Habitare, v.1. Porto Alegre: ANTAC, 2005. 96p.
DIOGO, Gabriela Mello Quina. Análise e proposta de melhorias no processo de produção dos revestimentos de argamassa de fachadas de edifícios / G.M.Q. Diogo. -- ed. rev. -- São Paulo, 2007. 178p.
GRIPP, Ronaldo Assis. A importância do projeto de revestimento de fachada, para redução de patologias. Minas Gerais, 2008. 80p.
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LEUSIN, Sérgio. O gerenciamento de projetos de edifícios: fator de eficiência para a construção civil leve no Brasil. Rio de Janeiro, 1993. 7p.
MACIEL, L. L; MELHADO, S. B. A inserção do projeto dos revestimentos de argamassa de fachada no processo de produção do edifício. São Paulo: EPUSP, 1997. 28p.
MASCARÓ, Juan Luis. O custo das decisões arquitetônicas. 4ed. Porto Alegre: Masquatro Editora, 2006. 192p
MESEGUER, A. G. Controle e garantia da qualidade na construção. São Paulo, Sinduscon-SP/Projeto/PW, 1991. 179.
NOVAES, C. C; FRANCO, L. S. Diretrizes para garantia da qualidade do projeto na produção de edifícios habitacionais. São Paulo: EPUSP, 1997. 18p
NOVAES, C. C. Ações para controle e garantia da qualidade de projetos na construção de edifícios. In: Workshop Nacional de Gestão do Processo de Projeto na Produção de Edifícios. Anais: USP-São Carlos, São Carlos, 2001.
54
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SABBATINI, F. H. Tecnologia de execução de revestimentos de argamassas. In: SIMPATCON - SIMPÓSIO DE APLICAÇÃO DA TECNOLOGIA DO CONCRETO, 13., 1990, Campinas. Anais... Cambinas, 1990.
SILVA, L. L. R. Métodos de intervenção para a melhoria da eficiência na execução de revestimentos de argamassa de fachada. São Paulo: EPUSP, 2003. 17p.
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ANEXO
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ANEXO A
Roteiro de entrevistas
1. Tem ocorrido problemas/patologias nas fachadas? Quais? Como é resolvido?
2. Quais as dificuldades encontradas em relação à execução dos revestimentos
externos?
3. Quais fatores são levados em conta ao definir o revestimento da fachada?
4. Quem define o plano de execução? (Tipo de chapisco, camadas de
revestimento, divisão de panos, numero de catracas nos balancins)
5. Em qual etapa da obra são definidos os detalhes de fachada, como
revestimentos, frisos, processos executivos, entre outros?
6. A eficácia da utilização de um projeto está totalmente ligada à capacidade da
gerencial da empresa, ou seja, planejamento, controle de produção e
processos padronizados. A empresa aplica estes conceitos?
7. Preocupa-se com a capacitação/treinamento das equipes na área de
revestimento externo?
8. Quando a empresa adota um tipo de revestimento novo, pela primeira vez,
como é feito para instruir os operários?
9. A empresa possui algum documento onde são registrados os desenhos,
especificações, técnicas, memorial descritivo, especificação dos materiais dos
projetos envolvidos na obra que interferem no revestimento externo?
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10. A empresa possui detalhamento das definições geométricas e
posicionamento dos detalhes construtivos?
11. Possui memorial descritivo da especificação dos materiais, como as
propriedades das argamassas de chapisco, emboço e acabamento
12. Possui memorial executivo?
13. Executa controle de recebimento dos materiais?
14. Possui manual de manutenção?
15. Já tinha ouvido falar em projeto de revestimento externo? Se sim, sabe qual a
função/aplicabilidade?
16. Se já ouviu a respeito do projeto de revestimento externo, qual a sua opinião
sobre o mesmo, em relação a sua necessidade?