I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
Recentes avanços no manejo nutricional de bovinos de corte
confinados.
Danilo Grandini1
1 Zootecnista
1. Introdução
O desenvolvimento de dietas para desempenho máximo em
confinamento de bovinos de corte deverá levar em conta: o (s) requerimento
(os) a que se destina o animal confinado (mercado) e a inter-relação do
manejo e dieta, pois distribuir o alimento não é o mesmo que alimentar.
Alimentar compreende a dieta formulada mais as operações de processamento
dos grãos, mistura dos ingredientes e tipo de oferta. Sendo assim o presente
trabalho tem por objetivo definir e estabelecer as inter-relações entre dietas,
ingredientes, tipo animal, manejo alimentar e produto final (carcaça).
2. Confinando o animal
Uma vez determinado o objetivo para terminação dos animais, ou seja
peso final e nível de acabamento desejados. O passo seguinte é a estratégia
para consegui-lo de forma segura e sem interrupções de fornecimento. A
equação abaixo nos dá uma idéia de como os trabalhos devem ser seguidos:
Ingestão x densidade energética = Energia de Manutenção + Energia de
Ganho
Ingestão, teremos que nos preocupar com sua efetiva realização e todos os
temas relativos a sua interferência serão discutidos no próximo capítulo, pois
sem ingestão não existe ganho!
Densidade energética, cabe decidir sobre o tipo de dieta a ser utilizado alto
grão ou alto volumoso, ou melhor dizendo alta densidade energética ou baixa
densidade energética.
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Energia de Manutenção + Energia de Ganho, são os requerimentos
propriamente ditos que devem ser satisfeitos pelo consumo (ingestão) e
densidade nutricional da dieta.
2.1 Consumo
Os fatores que determinam a ingestão em geral estão ligados a
demanda de nutrientes para manutenção, potencial produtivo e capacidade
gastrointestinal. Para animais criados a pasto a maior limitação para ótimos
ganhos estará ligado a capacidade física de ingestão, sendo um peso maior a
esta característica quanto pior o pasto ofertado. Para animais confinados, em
especial a fase final de engorda, a demanda fisiológica para ganho, fatores
ambientais e dietéticos exercerão um grande papel no controle do consumo.
2.1.1 Fatores fisiológicos
Peso corporal e demanda produtiva
A relação entre tamanho e consumo é tema de muito debate,
capacidade gastrointestinal é relatada com exponencial 1 enquanto ingestão
energética 0,75 em relação ao peso vivo, ou seja animais mais leves teriam
renovação ou capacidade de ingestão diária maior do que animais mais
pesados. Preston (1972) concluiu que a ingestão de bovinos de corte pode ser
definida pela equação 95g x (Peso Vivo) 0,75 . Entretanto no momento em que
aumentamos a densidade energética das dietas, principalmente na fase final
de engorda, em algum momento fatores metabólicos passam a controlar o
consumo (figura 1), o uso da concentração energética da dieta representa
assim o efeito de taxa de passagem e fatores metabólicos no controle do
apetite. Avaliações de Owens e Gill (1982), Fox e Black (1984), e Plegge et al.
(1984) indicam que o consumo por unidade de peso metabólico passa a ter
queda a partir de 350 kg de peso vivo (na mesma equivalência de estrutura
corporal), estes trabalhos sugerem uma alteração na relação de tecido
magro/tecido gorduroso, ou mesmo uma redução na taxa de ganho a partir
deste ponto (figura 2). Desta forma o consumo pode estar ligado a dois fatores:
(1) fatores que acarretam variações de consumo independentemente da
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composição corporal, (2) fatores sensíveis ao acumulo de tecido gorduroso (
insulina, ou mesmo competição por espaço gastrointestinal)
Figura 1. Ralação entre concentração energética e consumo de MS de bovinos
em crescimento (adaptado de Predicting Feed Intake of Food-Producing
Animals – NRC 1987)
Figura 2. Relação entre estágio de crescimento, peso de novilhos e consumo
quando alimentados com dieta de alta concentração energética (adaptado de
Predicting Feed Intake of Food-Producing Animals – NRC 1987)
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Estrutura corporal e categoria animal
Animais de diferente estrutura corporal e sexo, terão pesos distintos
para o mesmo grau de acabamento, portanto é de se esperar que a ingestão
de alimentos sofra também alterações relacionadas a estes pesos (tabela 3).
Desta forma é importante usar tabela de ajustes para estrutura corporal e sexo,
considerando o animal padrão como novilho angus, afim de determinar o
momento correto para troca de dieta ou ajustes de consumo (tabela 1 e 2).
Estudos de Harpster (1978) com novilhas encontram consumo 3%
superior em relação a diversmos novilhos, quando comparados no mesmo
estágio de crescimento. Novilhas alimentadas para o mesmo grau de
acabamento (composição de tecido gorduroso) apresentaram consumo 5% a
maior quando comparados a novilhos, segundo estudo de Klosterman e Parker
(1976).
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Tabela 1. Estrutura corporal, raças e graus de musculosidade
Tabela 2. Ajustes de consumo para composição de gordura corporal (adaptado
de Predicting Feed Intake of Food-Producing Animals – NRC 1987)
Tabela 3. Ajustes de peso para estrutura corporal equivalente (adaptado de
Predicting Feed Intake of Food-Producing Animals – NRC 1987)
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Tratamento anterior
O NRC de 1984 conclui que animais jovens que iniciaram em dieta total
após permanecer um período a pasto consumiram aproximadamente 10%
mais alimentos durante o período de ganho compensatório, do que aqueles
que iniciaram em confinamento logo após o desmame. Abdala (1986) avaliou
que o tamanho do rumem aumenta rapidamente após período de restrição
alimentar, e que o período compensatório é precedido por um aumento na
demanda de nutrientes, influindo no aumento de apetite, bem como melhor
utilização dos nutrientes. Desta forma o conhecimento do tratamento anterior é
especialmente importante para o padrão de consumo esperado. Avaliou
também que animais saídos de pastagens de boa qualidade tiveram consumo
maior do que aqueles que passaram por uma restrição severa (seca). Gill et
al., comparando performance de animais confinados com tratamento posterior
de 84 dias ou 153 dias em pastagem deverão, não encontrou diferenças para
ganho de peso, eficiência alimentar ou qualidade de carcaça, da mesma forma
Brethour (1985) não notou diferença na performance carcaça de novilhos
recriados a taxas de 1,37, 1,75 ou 2,13 animais/há, no mesmo tipo de
pastagem.
J.S. Drouillard et al. ao trabalhar com ovinos em restrição protéica
(RP) e energética (RE) por um período de 5 a 6 semanas e posterior
confinamento observou no período restritivo para RP uma perda de peso
corporal seguida de diminuição do trato gastrointestinal e fígado, para RE não
houve perda acentuada de peso corporal mas também diminuição dos orgãos
digestivos esta menor do que a restrição protéica, sendo que ambos
tratamentos mobilizaram tecidos gordurosos durante o período de restrição.
Nestes tratamentos não houve ganho compensatório no retorno a alimentação,
fato explicado pela baixa capacidade de consumo observado, principalmente
nas duas semanas subsequentes ao ingresso em confinamento. (tabelas 4 e 5)
Conclui-se que a maximização do uso do ganho compensatório exige
condições mínimas do ambiente e ruminal e capacidade de ingestão, sem a
qual a adaptação ao novo patamar dietético levará a um retardamento no
consumo desejado e a perda de uma importante ferramenta nutricional, pois o
ganho compensatório se dá a troca crescente do nível alimentar (múltiplos da
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exigência de manutenção), aproveitando-se do menor requerimento de
mantença.
Tabela 4. Peso absoluto do fígado e sistemas gastrointestinal de ovinos.
Tratamento 1 (adaptado de: Growht, body composition and visceral organ mass
and metabolism in lambs during and after metabolizable protein or net energy
restrictions)
Tabela 5. Consumo, eficiência alimentar e protéica. Experimento 2 (adaptado
de: Growht, body composition and visceral organ mass and metabolism in
lambs during and after metabolizable protein or net energy restrictions)
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Raça
As diferenças de consumo entre raças de bovinos de corte estarão em
grande parte contempladas nos ajustes para peso maduro. As variações
decorrentes serão praticamente em virtude das diferentes taxas de ganho
imprimidas ou estágio de crescimento.
A grande exceção cabe aos Holteins, por não se enquadrarem como
bovinos para produção de carne. Vários autores sugerem o consumo 8%
superior em peso metabólico (PV 0,75) quando comparados a bovinos de corte
em mesmo estágio de crescimento, porém trabalhos de Thonney et al. (1981),
Fox e Black (1984) indica que este efeito é perdido quando os animais atingem
cerca de 450 kg de PV onde o consumo relativo destes animais decresce em
taxa mais elevada a medida que deposita tecido gorduroso, comparados a
novilhos produtores de carne.
2.1.2 Fatores ambientais
Temperatura
A interferência no consumo voluntário deverá ocorrer nas temperaturas
fora dos limites entre 15 e 250 C (figura 3), e pela exposição a ventos,
tormentas e lama. As correções do consumo são realizados geralmente com
duração mensal e não pontuais (tabela 6). A característica racial terá uma peso
muito grande nas respostas ambientais dos animais, variando segundo idade,
massa muscular, espessura do pelo, gordura de cobertura e densidade
energética da dieta. A presença de lama no piquete acima entre 10cm também
o poderá ocasionar redução de consumo, sendo importante observar o
comportamento dos animais no curral principalmente nos processos de
ruminação, a permanência de muitos animais em pé entre 11:00h e 14:00h é
um indicador de estresse e fatores de ajuste de (-) 15 a 30% sobre o consumo
deve ser avaliado.
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Figura 3. Influencia da temperatura sobre o consumo voluntário de MS
(adaptado de Predicting Feed Intake of Food-Producing Animals – NRC 1987)
Tabela 6. Ajustes de consumo por fatores ambientais MS (adaptado de
Predicting Feed Intake of Food-Producing Animals – NRC 1987)
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Fotoperíodo
Aparentemente existe uma relações ótima de luz e escuro durante as 24
horas do dia, ovinos e novilhas tiveram consumo 13% superior quando tratadas
em um relação 16 horas luz e 8 horas escuro. Novilhas tratadas sob regime de
8 horas luz e 16 horas escuro, iniciaram o consumo de alimentos uma a duas
horas antes do raiar do sol, e aquelas submetidas ao regime 16 horas sol e 8
horas escuro, somente iniciaram atividade de consumo em plena luz. O
fotoperíodo parece Ter um importante efeito independente de afetar o padrão
de consumo, dias curtos estimulam a formação de tecido gorduroso e dias
longos de tecido magro.
2.1.3 Fatores dietéticos
Água
Bovinos não lactantes consumirão ao menos 3 litros de água para cada
1 kg de MS á temperatura ambiental de 4,40 C e a partir deste ponto o
consumo de água terá incremento a medida do aumento da temperatura
ambiental. O rumem contém aproximadamente 85% de água, a água em
excesso adicionada ao rumem terá pequeno efeito sobre o consumo uma vez
que é rapidamente absorvida e excretada, entretanto sua falta trará graves
conseqüências no consumo.
Preservação de alimentos ensilados
Silagens com teor de MS abaixo de 30% e PH superior a 4,4 pode ser
indicativo fermentação proteolítica, formando aminas e exccesso de ácido
butírico, o que pode levar a redução no consumo.
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Proteína dietética e FDN
A falta de nitrogênio disponível no rumem para crescimento bacteriano
levará a uma queda de digestibilidade e consequente redução da taxa de
passagem, afetando desta forma o consumo. O requerimento de nitrogênio
para máximo crescimento bacteriano é definido a primeiramente pala matéria
organica digestível. Poppi e Maclennan (1995) apontam o valor de 210 gramas
de PB/KG matéria orgânica fermentável no rumem.
A digestibilidade dos alimentos que os ruminantes consomem esta
associada a cinética da sua digestão e sua passagem pelo rumem, havendo
estreita associação principalmente com a digestão de fibras, uma vez que esta
dificulta a taxa de desaparecimento de material do trato digestivo. O tempo de
retenção no aparelho digestivo é influenciado pelo nível de consumo,
características físicas da dieta e tempo de ruminação. O modelo sugere que o
consumo máximo de matéria seca digestível é afetado mais pela porção de
fibra indigestível e taxa de passagem que pelataxa de digestão de fibra. Para
vacas emlactação, o aumento de uma unidade na digestão do FDN da
forragem representou aumento de 0,17 kg na ingestão de MS e de 0,25 kg de
produção de leite.
Processamento dos alimentos
A redução das partículas e ruptura das estruturas celulares pela
moagem fina e peletização dos ingredientes fibrosos, reduz o tempo de
ruminação e aumenta a taxa de passagem e consequentemente consumo em
50%. Entretanto a digestibilidade é deprimida em 3 a 8% por cada múltipo de
mantença (referença de energia), mesmo assim a diegstibilidade da energia é
aumentada em função do aumento da formação de proprionato em detrimento
da redução de acetato.
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3. Densidade energética
As dietas de confinamento podem ser classificadas segundo a utilização
quantitativa de concentrados e volumosos, embora os critérios desta
classificação sejam muito discutidos, as dietas tipo alto concentrado (AC)
geralmente irão conter na base seca uma participação de concentrados
superior a 60% , ou oferta superior a 1,5% de concentrado sobre o peso vivo,
visto que níveis de NDT (energia) superiores a 68% passa a alterar a
composição da flora microbiana encontrada no rumem e também que a
obtenção do maior consumo relativo estaria em uma relação 60 concentrado:
40 volumoso.
A opção pela tecnologia a ser utilizada é afetada por vários fatores tais
como: conhecimento técnico, correta comparação entre preços e ingredientes,
metas de ganho de peso, grau de terminação e fundamentalmente produção e
disponibilidade de grão na região onde se confina.
Abaixo faremos a comparação entre as distintas tecnologias discorrendo os
pontos mais importantes de cada uma.
3.1.1Dieta convencional
As dietas convencionais ou de alto volumoso (AV) terão uma participação
expressiva de forragens (forrageira (alimento que possui em sua composição
FDN superior a 35%), o que do ponto de vista econômico passa a merecer
muita atenção visto sua contribuição energética na dieta. Na tabela 01
podemos verificar a participação relativa de energia fornecida pelo volumoso
em simulação com a máxima participação deste ingrediente.
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Tabela 1. Contribuição energética da forragem em simulação considerando
dieta para bovinos de corte com peso de entrada de 360 kg, saída de 480 kg,
ganho médio diário de 1,4 kg e IMS de 10 kg
Silagem de
capim
Cana-de-
açúcar
Silagem de
Sorgo
Silagem de
milho
Inclusão
(base mat.
seca)
40% 45% 48% 58%
Contribuição
de energia na
dieta ingerida
30% 38% 41% 53%
Dados: fórmulas pessoais
Conscientes da importância da forragem neste tipo de dieta, a busca
da qualidade em qualquer espécie de sua escolha é de extrema relevância,
pois é o ingrediente produzido localmente que sofre interferência direta da
experiência e qualificação do produtor. Uma vez que a digestão dos
componentes do conteúdo celular (carbohidratos não estruturais, proteína e
gordura) das plantas é relativamente alto, por volta de 85%, e o NDF (parede
celular) situa-se entre 40 a 70%, percebe-se a importância em se trabalhar com
materiais genéticos que sejam economicamente vantajosos e principalmente
operações agrícolas que permitam corte no tempo certo afim de colher o
material escolhido na fase fisiológica de maior interesse sob o ponto de vista de
digestibilidade e consequentemente valorização energética da forragem. O
tempo de retenção da fibra no rumem ou o período em que as fibras são
expostas aos processos fibrolíticos também é influenciado pelo tamanho da
partícula de ingresso, capacidade de redução da partícula (mastigação),
densidade da partícula e taxa de digestão (R.A. Zinn, L. Corona and R. A.
Ware).
Tabela 2. Classificação da qualidade da forragem (adaptado de: Forage quality
tests and interpretations)
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Classe valor
relativo (1)
FDA (2) FDN (3) Digestib. MS
(4)
Consu
mo
(% PV)
(5)
% of DM
Prime >151 <31 <40 >65 >3.0
1 151-125 31-35 40-46 62-65 3.0-2.6
2 124-103 36-40 47-53 58-61 2.5-2.3
3 102-87 41-42 54-60 56-57 2.2-2.0
4 86-75 43-45 61-65 53-55 1.9-1.8
5 <75 >45 >65 <53 <1.8
(1) valor relativo, calculado de (digest. MS/consumo voluntário)/ 1,29.
Referência 100= FDA = 41% e FDN = 53%
(2) FDA = fibra detergente ácido, e (3) FDN = fibra detergente neutro
(4) digestib. MS (%) = 88.9 - (.779 X FDA%)
(5) Consumo (% PV) = 120 / FDN foragem NDF (% of MS)
Do ponto de vista de consumo voluntário as dietas tipo AV deverão ter
uma preocupação maior quanto ao fornecimento, pois a densidade energética
da dieta é relativamente baixa e a limitação do consumo voluntário poderá
exercer uma restrição sobre ganho de peso. Neste tipo de dieta a preocupação
com maior número de tratos é importante, procurando-se estimular o consumo
através de sua várias vezes ao dia (em média 05 tratos diários são
recomendados) evitando-se também a perda da dieta pelo acúmulo não
consumido e passível de fermentação no cocho.
Ao ingressar no rumem as partículas poderão sair pela associação de
dois fatores: digestão da matéria orgânica (61 a 85%) e redução de partículas
ao tamanho de 1,18 mm. Sendo assim a associação de alimentos terá grande
influência na digestibilidade, consumo e perfil final de ácidos graxos voláteis.
Tomando como base o nível de fibra da dieta e sua influencia na taxa
de passagem (%/h), a tabela 3 abaixo propõe a relação entre participação de
concentrado e taxa de passagem das fração líquida, concentrado e volumoso,
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sugerindo que a inclusão de concentrado estaria mais adequada para as
faixas que variam de 20 a 80 % de concentrado. _
Tabela 3. Proporção de concentrado na dieta e sua relação com taxa de
passagem (%/h)
_______taxa de passagem, %/hr______
% [ ] / MS dieta Volume, l Líquida Concentrado Foragem
< 20 51.9 8.4 5.0 3.1
20 – 50 50.9 8.0 6.9 3.7
50 – 80 54.7 6.7 3.4 3.5
> 80 39.2 5.2 3.1 2.9
Trabalhando com novilhos mestiços castrados Simental/Nelore
suplementados com níveis de concentrados de 25, 37,5,50,62,5 e 75% ,
Valadares S.C. et al. (2000) encontrou taxas de passagem de 5.2, 5.2, 5.5, 5.5
e 4.2 %/hora respectivamente, concluindo que máxima eficiência microbiana
ocorreu por volta de 52 a 60% de concentrado/ kgMS. (tabela 4)
Tabela 4.
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Neste tipo de dieta as formulações geralmente estão limitadas a 1,4 kg
animal/dia, levando a um período maior de permanência no cocho e muitas
vezes limitando o chamado giro de animais, ou capacidade de utilização da
estrutura de confinamento por uma quantidade maior de animais no período
estival do ano (seca).
3.1.2Dieta alto concentrado
As dietas tipo AC passaram a ter uma maior aceitação no país após 2001
pelo aumento da produção agrícola (figura 1) e conseqüente oferta de
resíduos ou mesmo disponibilidade constante de ingredientes mais nobres.
Figura 1. Produção brasileira de milho e soja (IBGE)
Este tipo de dieta terá uma participação expressiva de grãos e/ou seus
subprodutos, exigindo do produtor uma melhor compreensão do
comportamento de preços, fluxo da exportação e política cambial, que
resultarão em compra, acordos comerciais e estoques estratégicos (figura 2).
0
10.000.000
20.000.000
30.000.000
40.000.000
50.000.000
60.000.000
ton.
19
90
19
91
19
92
19
93
19
94
19
95
19
96
19
97
19
98
19
99
20
00
20
01
20
02
20
03
20
04
20
05
20
06
milho
soja
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Figura 2. Valor da saca de milho (R$/60 kg) da região da Alta Mogiana –
SP entre 2002 e 2007, nos meses de janeiro a dezembro. (fonte: Intituto de
Econonia Agrícola)
A qualidade do volumoso é de menor relevância devido a baixa
contribuição energética que confere a dieta, isto devido a pouca quantidade
que normalmente é utilizado. Na tabela 05 podemos verificar a participação
relativa de energia fornecida pelo volumoso na simulação de inclusão deste
ingrediente.
0
5
10
15
20
25
30
2002 2003 2004 2005 2006 2007
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
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Tabela 5. Contribuição energética da forragem em simulação considerando
dieta para bovinos de corte com peso de entrada de 360 kg, saída de 480 kg,
ganho médio diário de 1,6 kg e IMS de 9,5kg
Silagem de
capim
Cana-de-açúcar Silagem de
Sorgo
Silagem
de milho
Inclusão
(base mat.
seca)
15% 17% 18%
33%
Contribuição
de energia
na dieta
ingerida
11% 13% 14% 28%
Dados: fórmulas pessoais
Nas dietas tipo AG, o que importa é a conversão alimentar ou seja a
quantidade de alimentos ingerido para se gerar carcassa ou ganho de peso
vivo. Uma vez que a densidade energética é determinada pela proporção direta
do uso de grãos, o plano nutricional recai na determinação do ponto econômico
ótimo entre consumo/energia da dieta e preço dos ingredientes. Na figura 03
podemos observar o efeito da quantidade de alimentos definidos para o mesmo
ganho de peso, e compreender ,melhor o conceito de eficiência alimentar, em
um plano nutricional.
Figura 03. Definição de diferentes dietas para o mesmo ganho de peso
1 2 3
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A quantidade de alimento dos planos nutricionais, neste caso são, 20 kg,
15 kg e 10 kg, respectivamente para as fotos 1, 2 e 3. Uma clara visão do
efeito da densidade energértica, consumo e conversão A opção de uso das
fórmulas acima será baseado no resultado econômico final e não custos por kg
de dieta isolados do consumo total.
Trabalho de George W. Jesse,G.B. Thompson, J.L.Clark, H.B Hedrick e
K.G. Weimer observando a formação dos tecidos corporais (proteína, gordura,
água e cinzas) sob. diferentes planos de alimentação para novilhos da raça
Hereford, e utilizando dietas tradicionais ou de alto concentrado (+
energéticas), na proporção de volumoso (silagem de milho):concentrado na
relação 70:30, 50:50, 30:70, 20:80, para bovinos com ingresso no confinamento
aos 277 kg e abates com 341, 454 e 545 kg peso vivo, não encontrou
diferenças quanto a composição corporal para abate nas mesmas faixas de.
Encontrando sim diferenças marcantes de nível de acabamento com % de
gordura na carcaça de 21.21, 31.74 e 38.11, para abates com 341, 454 e 545
kg de peso vivo respectivamente (tabela 6). No entanto R.L.Walderman,
W.J.Tyler e V.H.Brungardt ao comparar o efeito da oferta de dieta de alta
energia (H) e a mesma dieta com restrição de 60 a 70 % da oferta (M), com
bezerros da raça Holstein com inicio do tratamento ao desmame e abate aos
91, 277, 341, 455 e 590 kg de peso vivo, chegou a resultados diferentes
quanto aos mesmos tecidos analisados, sendo que para % gordura achou
discrepância de 10,2 (H) e 4,8 (M) aos 91 kg de peso vivo, 16 (H) e 13,3 (M)
aos 277 kg de peso vivo, 27,8(H) e 21,5 (M) aos 341 kg de peso vivo, 35,6 (H)
e 28,6 (M) para 455 kg de peso vivo e 40,2 (H) e 32,2 (M) para 590 kg de peso
vivo (tabela 7). A diferença medida em dias para que os pesos vivos (kg) dos
tratamentos (H) e (M) se equiparassem foram de 3.23, 30.57, 90.60, 166,87 e
117,13 dias, para 91, 277, 341, 455 e 590 kg de peso vivo respectivamente.
A composição dos tecidos no momento do abate terá uma relevância
muito grande quanto ao rendimento de carcaça, que por si é um dos atributos
econômicos de maior peso visto sua correlação com peso de abate e
qualidade da mesma. Revisão de 552 trabalhos científicos realizados F.H.
Owens e B. A. Gardner (figura 4), sobre os diversos fatores que interferem na
qualidade e composição da carcaça, mostraram que os fatores que mais
interferiram positivamente no rendimento foram: maior peso a entrada (292 vs.
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359 kg peso vivo), maior tempo de confinamento (112 vs. 171 dias) e dietas
mais protéicas (11,3 vs. 13,4% proteína bruta na MS). Avaliando nível
energético, as dietas próximas a 90% de concentrado foram mais benéficas
(81,2 vs. 90,9 % de [ ] na MS), sendo que os teores de extrato etéreo ao redor
de 4,4% também estão relacionados a melhoria do rendimento. O rendimento
geralmente é atribuído a gordura de cobertura presente na carcaça, entretanto
sua correlação com área de contrafilé é ainda maior (tabela 8), desta forma
tanto massa muscular quanto adiposa são importantes para a característica do
rendimento.
Podemos concluir que na fase final de engorda dietas de alto teor de
concentrado são extremamente benéficas na velocidade de terminação,
entretanto o aumento do número de dias confinados sob dietas tradicionais
provavelmente produzirá o mesmo efeito no nível de acabamento, respeitado o
peso ótimo de abate. O uso de dietas de alto concentrado na garantia da
obtenção da carcaça de melhor acabamento se dará ao trabalhar-se com
animais jovens. Importante lembrar que a gordura de acabamento é um dos
atributos da carcaça, não representando por si só a qualidade da carcaça, a
esta característica deverá ser somada gordura intramuscular e tipo de colágeno
(decorrente da taxa de ganho), altamente favorecidas pelas deitas tipo alto
concentrado.
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Tabela 6. Efeito da energia e ponto de abate na composição da carcaça de
bovinos (adaptado de : Effetcs of ration energy and slaughter wheight on
composition of empty body and carcass gain of beef cattle)
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Tabela 7. Efeito do regime alimentar sobre composição de carcaça de
bovinos (adaptado de: Change in the carcass composition of holstein steer
associated with ration energy levels and growth)
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Figura 4. Respostas do rendimento de carcaça (%) sob vários sistemas de
manejo e fatores dietéticos. (adaptado de: A review of the impact of feedlot
management and nutrition on carcass measurements of feelot cattle)
Do ponto de vista de consumo voluntário, as dietas tipo AG não trarão
desafios quanto a capacidade do animal em ingerir a quantidade de alimento
da dieta formulada, facilitando a obtenção dos resultados pretendidos. Sua
oferta normalmente é feita em dois a três tratos diários e o risco recai no
controle da oferta de alimentos, principalmente se a dieta AG for de alto
potencial de fermentação ruminal (grande quantidade de milho/sorgo e baixo
em casca de soja/polpa cítrica). O uso de balanças no caminhão distribuidor é
de excelente valia.
Neste tipo de dieta as formulações são para 1,6 kg animal/dia, levando a
um período menor de permanência no cocho, facilitando o giro de animais, ou
capacidade de utilização da estrutura de confinamento por uma quantidade
maior de animais.
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3.1.3 Dieta alta energia
A maior eficiência no uso de dietas de alta energia, pode ser explica
principalmente por dois fatores:
(1) a energia de ganho e manutenção tem em suas equações o coeficiente
de metabolizabilidade como indicativo de eficiência no uso (aproveitamento) da
energia ingerida, e este em especial é vinculado a concentração energética,
sendo assim quanto maior a concentração energética da dieta mais eficiente
ela é, e por conseguinte menor a ingestão necessária para o mesmo ganho
(figura 5), podendo ser observado eficiência no uso da energia de
aproximadamente 10% quando comparado dieta de 10,5 MJ EM/kg MS com a
de 12,3 MJ EM/kg MS.
Figura 5. Efeito da densidade energética e eficiência alimentar da MS em
simulação para bovinos com PV inicial e final de 360 e 510 kg respectivamente
e GMD de 1,5 kg (simulação do autor)
9,5
10
10,5
11
11,5
12
12,5
EM MJ
8,5 9
9,5 10
10,5 11
KG MS
[ ] EM MJ
98
100102104
106108110
112114116
118
EM MJ
8,5 9 9,5 10 10,5 11
KG MS
Total EMingerido
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(2) a inversão na proporção acetato : propionato, que em dietas tradicionais
situa-se na relação 3:1 e em dietas de alta energia na relação 1:1.
Experimentos conduzido por T.S. Rumsay, P.ª Putnam,J. Bond e R.R.Oltjen,
avaliando a influência do nível de oferta e tipo de dieta (volumoso versus alta
energia) sobre os parâmetros de PH e acidos graxos voláteis, verificaram que
a alteração do nível de oferta (IMS) de dietas de alta energia influenciam
sobremaneira a relação dos ácidos c2 (acético) e c3 (propiônico), e em muito
menor importância aqueles sob efeito de dieta de volumoso (tabela 8). Esta
observação é de suma importância considerando que a rotina de fornecimento
deve ser muito bem observada em dietas tipo alta energia.
A gliconeogenese para bovinos de corte é cada vez mais revisada e
conclui-se que tem praticamente a mesma escala de importância que para
monogástricos. A maior parte (40 a 70%) do carbono precursor da
gliconeogenese dos ruminates é derivado do ácido propiônico e aminoácidos
glicogênicos, menos da 10% da glicose total necessária é absorvida vita trato
intestinal, sendo assim os produtos finais da fermentação ruminal são de
extrema relevância.
Tabela 8. Efeito da dieta e nível de oferta (% MS PV) sobre o PH e acidos
graxos voláteis. (adaptado de: Influence of level and type of diet on ruminal PH
and VFA, respiratory rate and EKG patterns of steers)
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Na busca do limite máximo do uso da energia em dietas de final de
engorda, ou seja, melhor densidade energética para ganho de peso e eficiência
alimentar, C.R. Krehbiel et. al., avaliando resultados de 49 experimentos,
chegaram ao valor de 3.16 (aproximadamente 80% NDT) e 3,45 Mcal EM/kg
MS (aproximadamente 88% NDT), para ganho de peso e conversão
(ganho/ingestão) respectivamente (figuras 6, 7 e 8). Sendo que para obtenção
da máxima eficiência de conversão os níveis energéticos somente serão
atendidos via tratamento a vapor dos grãos para maior aproveitamento de seus
nutrientes ou do uso de silagem de grão úmido. Avaliaram ainda que o ponto
de máxima conversão provou ser o mesmo da melhor composição de tecidos,
rendimento industrial e cortes de valores desejados comercialmente.
Figura 6. Relação entre densidade energética (Mcal EM/kg MS) e ganho de
peso (kg), sendo a energia calculada por uso da tabela de ingredientes do NRC
1996. (adaptado de: An upper limit for caloric density of finishing diets)
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Figura 6. Relação entre densidade energética (Mcal EM/kg MS) e conversão
(kg peso ganho/kg MS ingerido), sendo a energia tomada por valores de tabela
citados em literatura (Owens e Zinn). (adaptado de: An upper limit for caloric
density of finishing diets)
4. Estratégias para taxas de crescimento
Rotineiramente para a fase final de terminação, animais com peso vivo
superior a 350 kg (fazer as condições para estrutura corporal, raças e sexo), é
feira uma única dieta ou se necessário duas ou mais cuja única função é a de
adaptação a dieta final, entretanto duas dietas podem ocorrer por uma questão
de busca de ganhos iniciais menores e subsequente dieta mais energética a
fim de obter um peso de abate a uma data pré determinada, geralmente mais
longa. De qualquer forma quando o período de confinamento ultrapassa a 100
- 120 dias ou mesmo a idade de ingresso for menor do que 350 kg, a
programação de diferentes taxas de ganho (ou seja dietas) pode se fazer
necessário. F.S. Loerch e F.L. Fluharty (1982), trabalhando com diferentes
taxas de ganho para novilhos cruzados (Continental x Britânico) com peso de
ingresso aos 300 kg e abate programado para 540 kg, procuraram a avaliar
performance e características de carcaça sob o efeito de taxas fixas e máximas
de ganho (ad libitum) e diferentes programas nutricionais que podem ser
visualizados na tabela 1 abaixo.
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Tabela 1. Taxas de ganho e fases do experimento
Sistema de terminação
Ganho
crescente
Ganho
decrescente
Ganho
constante
Ganho
máximo
Período Ganho previsto (kg/dia)
1
(300 – 397 kg
peso vivo)
1,13 Máximo 1,36 Máximo
2
(397 – 488 kg
peso vivo)
1,36 1,36 1,36 Máximo
3
(488 – 540 kg
peso vivo)
Máximo 1,13 1,36 Máximo
A conclusão a que chegaram os autores foi de que restrição inicial (70
dias) precedida de maiores taxas de ganho nos últimos 100 dias não interferiu
na performance dos animais (tabela 2 e 3) quando comparados com os
tratamentos para ganhos máximos desde o início e que programa de
alimentação com taxas de ganho escalonadas e crescentes melhoraram a
conversão, originando uma economia de 109 kg de MS/animal no período
quando comparado aos animais alimentados a vontade. Desta forma conclui-
se que aproveitar o efeito do ganho compensatório entre fases de crescimento
ou mesmo dentro de uma mesma fase de crescimento ou terminação é uma
importante ferramenta nutricional, desde que exista tempo de permanência
para exercita-la. Ao contrário, confinamentos de curta duração, permanência
abaixo de 80 - 100 dias, devem tentar imprimir maiores taxas de ganho e
buscar maximizar consumo de MS.
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Tabela 2. Efeito da taxa de ganho crescente e decrescente na performance de
bovinos confinados. Experimento 2 (adaptado de: Effects of programming
intake on performance and carcass characteristics of feedlot cattle)
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Tabela 3. Efeito da taxa de ganho crescente e decrescente na carcaça de
bovinos confinados. Experimento 2 (adaptado de: Effects of programming
intake on performance and carcass characteristics of feedlot cattle)
5. Programação da oferta de alimentos (leitura de cocho)
Pela literatura norte americana até a década de 70 as discussões sobre
manejo de cocho eram principalmente quanto a freqüência de oferta, na
década de 80 a restrição da quantidade a ser ofertada passou a ser melhor
estudada e na década de 90, a variabilidade do consumo individual foi
adicionado a discussão. Naquele país, no decorrer destas discussões mais e
mais dados passaram a ser computados e constantemente avaliados e ações
tomadas, pois “não se melhora o que não se mede” , e talvez esta seja a
melhor contribuição para evolução da tecnologia de confinamento de bovinos
de corte entre os países produtores.
É geralmente reconhecido que a oferta errática de alimentos são
indesejáveis, especialmente em dietas tipo alto concentrado e alta energia,
entretanto seus limites ainda são questionados. Galeyan et. al. (1972),
encontrou queda de 7% na eficiência de ganho quando as variações de
consumo foram ao redor de 20% /dia, mas não observou diferenças quando as
variações foram realizadas semanalmente. Zin (1994) não encontrou
diferenças quando nas mesmas variações diárias do trabalho citado
anteriormente, entretanto ambos trabalhos trabalhavam com restrição de
oferta, de forma que Galeyan ao nível de GMD de 1,45 kg e Zinn 1,09 kg, desta
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forma os animais submetidos a um maior ganho recebiam uma quantidade de
alimento capaz que trazer maior desordem metabólica e consequentemente
prejuízo em ganho. Outro ponto é que as variações provocadas foram
sistemáticas, ou seja programadas para ocorrerem na mesma hora e
seqüência, desta forma existe uma pré disposição dos animais para adaptação
a este manejo. De qualquer forma o importante é ter claro a importância do
controle da variação de consumo dentro do mesmo lote, Hicks et. al (1989)
notou que 7 a 18% dos indivíduos do mesmo lote não visitam o cocho em um
período de 24 horas, provavelmente por uma sobrecarga alimentar. Restrição
alimentar, oferta programada e consistente dia a dia podem ser mecanismos
para redução de problemas potencias.
5.1 Maior o consumo maior o ganho?
Considerando correto o conceito que uma quantidade de energia
constante é necessária para a exigência básica de manutenção do animal,
tudo que estiver sendo ingerido acima disto, deverá ser depositado como
massa corporal e gordura. Baseado neste princípio, a lógica nos leva a crer
que quanto maior o consumo maior, maior ganho. De fato, o “princípio da
ingestão máxima” é verdadeiro, mas segue a lei dos rendimentos
decrescentes, ou seja menos que proporcional ao alimento ingerido. Após certo
patamar dito ótimo, o maior consumo traduz maior ganho, entretanto
relativamente menor do que o consumido, isto devido a própria limitação
biológica do animal em aproveitar o excesso de alimento disponível. Trabalhos
avaliando efeito da restrição alimentar de 10 a 20% sobre o GPD e eficiência
alimentar realizados no OARCD Beef Center (Ohio State University), para
bovinos com previsão de abates de 517 kg com dietas altamente energéticas
(>85% de concentrado na IMS), encontraram diferença de GPD de 90 gramas
para os animais alimentados a vontade frente a cada restrição de 10% de
consumo, entretanto economia de 50 a 125 kg de MS para os animais
restritos, ou seja o consumo ótimo nos leva a ganhos maiores mas a restrição
nos levou a eficiência máxima. Isto deve ser levado em consideração
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principalmente quando o custo dos alimentos estão em alta e alternativas são
solicitadas.
A opção do princípio da restrição alimentar ou do máximo consumo deve
levar em consideração o tipo de dieta formulada: alta energia vrs. baixa
energia.
Dietas com alta energia levam a limitação de consumo por mecanismo
químico, ou seja uma satisfação energética das exigências requeridas. Uma
vez que a obtenção de consumos ótimos não é problema para este tipo de
dieta, a restrição alimentar poder ser uma ferramenta poderosa para
maximização da resposta biológica, Fred Owens (1994) sugere que em uma
dieta altamente energéticas talvez fosse interessante realizar um menor
número de tratos (ou 1 só), a fim de não incentivarmos a máxima ingestão. Por
sua vez dietas de baixa energia (proporção de volumosos acima de 55%),
atinge a limitação de consumo por mecanismos físicos, através da distensão
ruminal (preenchimento). Desta forma dietas desta natureza dificultam a
obtenção de consumos ótimos e um programa de restrição pode comprometer
totalmente o GPD pretendido, afetando desta forma a eficiência alimentar.
Interessante que para seleção de animais, no caso de dietas ricas em
concentrados, podemos selecionar os animais com o critério de alta taxa de
ganho e eficiência, mas no caso das dietas com menor concentração
energética (dietas com volumosos em boa quantidade), devemos selecionar os
animais com base na maior ingestão possível. Isto é mais verdade quanto pior
forem os volumosos utilizados no segundo caso.
Algumas das razões para que a eficiência alimentar seja aumentada em
um esquema de ingestão limitada, de dietas alta energia, são:
aumento geral da digestibilidade: com menor ingestão, a taxa de passagem
é menor e a digestibilidade usualmente aumenta. Em altas ingestões de
alimentos, particularmente com poucos grãos processados (ex: milho
laminado), há grandes excreções de grão no esterco;
diminuição da seleção dos alimentos misturados (dieta total): com isto a
tendência é que todos os bocados tenham a mesma característica nutricional e
podem ser mastigados minuciosamente antes da ingestão, fatores que
aumentariam a eficiência ruminal;
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diminuição dos requerimentos de mantença devido a diminuição do tamanho
de órgãos que demandam muita energia , como fígado e trato digestivo
De forma geral, os princípios devem ser adequados para a realidade de
cada planejamento nutricional, levando-se em conta tipo de dieta formulada e
consumo dos nutrientes formulados, e expectativa de lucro esperado, dados as
variáveis de mercado (preço de venda e insumos).
5.2 Número de tratos diários?
A princípio, para esta resposta duas perguntas devem ser respondidas:
- Tipo e quantidade de equipamentos?
- tipo de dieta, alto volumoso ou alto concentrado?
Na prática, a logística e estabilidade do alimento são os fatores que
realmente ditam quantos tratos devemos fornecer
Dietas tipo alto concentrado, traduzem uma quantidade reduzida de
alimentos para consumo, geralmente não superior a 3% (MO) do PV, e via de
regra de baixa fermentação por possuir pouca umidade, facilitando as
operações para sua distribuição. Neste caso a distribuição do alimento poderia
ser feito até uma vez ao dia, entretanto observa-se, por questões logísticas que
duas a três vezes ao dia são as consideradas mais adequadas.
Dietas tipo alto volumoso representam uma quantidade de alimento
muito alta a ser fornecida, geralmente 5% (MO) do PV, por este fato tendem a
ter maior umidade e consequentemente maior facilidade de fermentação, o uso
de silagens com teores de matéria seca menores do que 30% é um atenuante
pois o potencial de instabilidade no cocho é aumentado assim como de uma
fermentação tipo butírica, recomendando-se um maior número de tratos por
dia. Na literatura indica-se ao menos dois tratos diários entretanto encontra-se
facilmente cinco tratos diários, muitos decorrentes das limitações operacionais.
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Animais confinados com acesso irrestrito ao cocho vão tender a ter os
picos de ingestão próximos ao inicio do dia e perto do por do sol, horários estes
muito próximos ao encontrado no ambiente natural quando a pasto.
Apesar de existir a tendência de os animais irem ao cocho por um
estímulo externo (caminhão de trato, limpeza de cocho...), os animais
geralmente ficam condicionados a ingerir alimentos em determinadas horas do
dia. Isto significa que o trato deve ser sempre passado nos mesmos horários e
esta regularidade de fornecimento é fator imperativo para altas performances
de GPD. Algumas regras definem como o tempo de 1:30h com o máximo entre
o início e o término de um determinado horário de trato, estabelecendo assim
um critério para evitar queda de consumo para os últimos lotes tratados
evitando uma maior ansiedade e fornecimento da dieta em horários
indesejados. Tratos irregulares ,tendem a promover um consumo muito rápido
do alimento ocasionando acidose sub-clínica e variações de GPD dentro do
próprio lote (maior número de refugos). Tratos entre 11:00h e 13:00h, que
corresponde ao horário mais quente do dia, também são desaconselhados pois
a estas horas o animal procura evitar o consumo que trará conquência no
aumento da temperatura corporal pelos processos de fermentação da ingesta.
75.3 Evitando distúrbios metabólicos
A ferramenta de leitura de cocho e fornecimento ajustado de alimentos
vem de encontro a esta necessidade, e basicamente é ferramenta obrigatória
para dietas tipo alta energia. Ao se alterar uma dieta com 20 a 30% de
volumoso para outra de menos de 10% de volumoso, tiramos do animal a
habilidade natural para controle do PH ruminal e de certa forma assumimos
esta responsabilidade.
A leitura de cocho possui um sistema de notas, onde a premissa básica
é limitar o incremento diário de ingestão diária de alimentos a no máximos
10%, evitando assim flutuações no consumo decorrentes da super oferta de
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alimentos com alto poder de fermentação no rúmen e consequentemente
reduções bruscas no PH.
As notas atribuídas ao cocho geralmente são:
- Zero, sem alimentos remanescentes, ou restos que não representam
a dieta (figura 1)
- ½, presença esparsa de comida no cocho e fundo do mesmo bem
visível (figua 2)
- 1, camada fina de alimentos praticamente em toda linha de cocho
(figura 3)
- 2, 25 a 50% do alimento remanescente (figura 4)
- 3, superfície do alimento tocada, entretanto com mais de 50%
remanescente
- 4, alimento virtualmente intocado
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Figura 1. Cocho nota Zero (referencia: dados do autor)
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Figura 2. Cocho nota 1/2 (referencia: dados do autor)
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Figura 3. Cocho nota 1 (referencia: dados do autor)
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Figura 4. Cocho nota 2 (referencia: dados do autor)
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Existem grandes variações quanto a quantidade de alimento a ser
aumentada ou diminuída a cada nota, bem como a prevalência de notas iguais
durante mais de um dia para tomada de decisão e também o número de
observações durante o dia. Não existindo certo ou errado e sim a interpretação
pessoal do responsável pelo manejo, observadas a premissa básica do não
incremento de mais de 5 a 10% no fornecimento de alimentos, quando os
animais procurarem por um maior consumo.
Este sistema, mesmo desenhado para dietas de alta energia tem se
mostrado altamente interessante para dietas de alto concentrado e ou alto
volumoso utilizados no Brasil. A razão simples é o controle da oferta reduzindo
desperdícios e predição de ganhos. Na figura 05, encontra-se trabalho de
implantação deste sistema avaliando a flutuação de consumo observada em
nos dois sistemas.
Figura 5. Implantação do sistema de fornecimento de dieta via leitura de cocho
vrs. a vontade sem leitura de cocho, em confinamento comercial de SP, em
dieta tipo 70% grão:30% concentrado.
Referência: dados do autor
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
curral 40
-100
-80
-60
-40
-20
0
20
40
60
80
100
variação %
dias amostrados
OFERTA ad libitum sem controle de oferta19 de fevereiro a 12 de março curral 24
curral 40
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
curral 41
-100
-80
-60
-40
-20
0
20
40
60
80
100
variação %
dias amostrados
OFERTA ad libitum com controle da oferta06 de fevereiro a 05 de março
curral 17
curral 41
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5.4 Como ter certeza do correto manejo da oferta de alimentos?
Medindo! Não existe maneira mais segura do que a mensuração do
consumo e comparação com o planejamento nutriconal desenhado. A
utilização de programas específicos ou mesmo planilhas eletrônicas são
insubstituíveis.
Sendo a alimentação responsável por 80 a 90% do custo de produção
de animais confinados, torna-se imperativo o melhor controle desta informação.
A ausência de dados para adoção de melhorias ou mesmo para conferir seus
progressos, nada mais é do que um palpite. A adoção de ferramentas que
permite avaliar eficiência deixa de ser opcional e torna-se parte integral do
sistema de produção.
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8. Literatura Consultada
Anualpec 2006, FNP
B.W. McBride and J.M. Kelly, Energy cost of absortion and metabolism in the ruminant gastrointestinal tract and liver: a review
C.R. Krehbiel et. al., An upper limit for caloric density of finishing diets
Digestion kinetics in ruminants
F.H. Owens e B. A. Gardner, A review of the impact of feedlot management and nutrition on carcass measurements of feelot cattle.
F.N.Owens, P. Dubeskiand C.F.Hanson, Growth and development of ruminants – California Animal Nutrition Conference 1993
Felício, P.E., Perspectivas para tipificação de carcaça no Brasil – I Simpósio internacional sobre tendências e perspectivas da cadeia produtiva de carne bovina (SIMPOCARNE 1999)
George W. Jesse,G.B. Thompson, J.L.Clark, H.B Hedrick e K.G. Weimer, Effetcs of ration energy and slaughter wheight on composition of empty body and carcass gain of beef cattle
Indicadores IBGE – Estatísticas da produção pecuária (dez – 2007)
J.G. Linn and N.P. Martin . Forage quality tests and interpretations (1999)
J.S. Drouillard and G.L.Gill, Effects of previous grazing nutrition and management on feedlot performance cattle
J.S. Drouillard et al., Growht, body composition and visceral organ mass and metabolism in lambs during and after metabolizable protein or net energy restrictions
Nutrição de Ruminantes, FUNEP 2006
Pineda N.R., Influencia do Zebu na produção de carne no Brasil, III Simpósio nacional de melhoramento animal
por T.S. Rumsay, P.ª Putnam,J. Bond e R.R.Oltjen, Influence of level and type of diet on ruminal PH and VFA, respiratory rate and EKG patterns of steers
Predicting feed intake of food-producing animals, NRC - 1987
R.A. Zinn, L. Corona and R. A. Ware, Forrage quality: impacts on cattle performance and economics
NRC 1996
R.L.Walderman, W.J.Tyler e V.H.Brungardt, Influence of level and type of diet on ruminal PH and VFA, respiratory rate and EKG patterns of steers
Valadares S.C. et al. (2000), Níveis de concentrado em dietas de novilhos mestiços F1 Smental x Nelore. Balanço nitrogenado, eficiência microbiana e parâmentros ruminais.
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J.A. Freitas et. al. Composição corporal e exigência de energia de manutença em bovinos Nelores, puros mestiços, em confinamento (2006)
G.L. Minish and D.G Fox, Beef cattle production and management (1982)
F.S. Loerch e F.L. Fluharty (1982), Effects of programming intake on performance and carcass characteristics of feedlot cattle
Robbi H. Pritchard, Bunk Management – Observation from research
Feedlot Management Primer, Ohio State University
Predicting Feed Intake of Food-Producing Animals, NRC
Feedbunk Management, Dan Loy Extension - Beef Specialist, Iowa State University
Acidosis And Feedbunk Management Of Feedlots Cattle, Robbi H. Prichard, South Dakota State University
Manejo de Cocho é Verdadeira Arte, DBO junho 2006