Cá estamos novamente para contar a segunda parte da história do Jardim I, a
Turma da Aranha.
Pois bem, éramos uma turma de quinze alunos, agora, somos uma turma de dezoito
crianças e duas professoras!
Os alunos novos foram recebidos por nós com afeto e acolhida.
O mês de agosto foi marcado pela iniciação dos novos integrantes da turma junto ao
restante do grupo e também pela adaptação de todas as crianças, novamente, à rotina
da escola. Por isto, o primeiro objetivo foi: brincar, brincar e brincar.
Utilizamos consideravelmente o espaço externo da escola bem como a nossa sala de
aula.
Relatório de grupo – 2º semestre/2017
Turma: Jardim I
Professora: Eliana Pereira Rollo
Professora auxiliar: Elis Regina G. A. Ormeleze
Coordenadora: Lucy Ramos Torres
“Tomar a criança como ponto de partida para pensar as práticas de educação infantil
nas instituições, exigiria compreender que, para ela, conhecer o mundo envolve o
afeto, o prazer e o desprazer, a fantasia, o brincar e o movimento, a poesia, as
ciências, as artes plásticas e dramáticas, a linguagem, a música e a matemática. Que
para ela, a brincadeira é uma forma de linguagem, assim como a linguagem é uma
forma de brincadeira.”
Moysés Kuhlmann Jr.
Ao observarmos as relações entre as crianças nos momentos de brincadeiras e ao
apurarmos os ouvidos para suas escutas, íamos tentando achar o fio condutor para
prosseguirmos o nosso caminho durante o semestre.
O assunto aranha continuava rondando os olhares e as observações das crianças no
decorrer dos dias.
Na primeira semana de aula, elas foram correndo até a jabuticabeira para verificarem
se a aranha Nephila tinha voltado. Desconsoladas vieram até nós e afirmaram que a
aranha não estava lá. Assim, os dias foram correndo e fomos conduzindo os alunos
para outros trilhos, distantes das teias das aranhas.
Pensando um pouco no tema da Escola deste ano: TransformAção: Movimento
contínuo e permanente, resolvemos contar a história chamada: Azul de Geert De
Kochere e Lieve Baeten.
O livro conta a história de uma menina chamada Ana que adora a cor azul escuro. Ela
encontra o Rei Amarelo Ouro e se apaixona por ele. Assim, ela que gosta tanto do azul
passa a treinar gostar do amarelo. A história se desenrola e no final acontece um
casamento e a mistura das cores.
Desta maneira, propusemos ao grupo muitas atividades relacionadas com as cores,
suas misturas e transformações. A composição destas atividades resultou num Livro
das Cores que reconta coletivamente a história da Ana pelo grupo e também
apresenta um pouquinho do que foi trabalhado com as cores e suas misturas.
Fizemos inclusive um bolo Arco-Íris para deleite das crianças! Hum! Ficou delicioso!
A professora Andrea, de Educação Física, nas suas primeiras aulas, compôs com o
grupo uma mandala da natureza. Estivemos presentes na aula e achamos todo o
processo bem interessante. As crianças motivadas iam pegando folhas, gravetos,
pétalas de rosa, penas e num trabalho coletivo iam construindo a mandala.
Assim, a aula acabava as crianças voltavam conosco e a mandala ficava lá, no chão.
Passava algum tempo, vinha uma criança e dizia que a mandala havia desmanchado.
Parte do grupo corria até o lugar para confirmar o fato: “a mandala foi embora com o
vento”, diziam os pequenos.
Mais aulas de Educação Física e mais mandalas, as crianças curiosas com o processo
continuavam a criá-las, porém, o que mais nos chamou a atenção foi o envolvimento
do grupo, a serenidade em que elas se encontravam, a beleza e a harmonia da criação!
Assim sendo, achamos que este poderia ser um trajeto interessante para trabalharmos
o coletivo do grupo, a serenidade que tanto almejávamos com estas crianças e ainda,
poderíamos continuar o tema das cores e das transformações.
Começamos uma pesquisa sobre o conceito de mandala e na roda íamos
compartilhando com o grupo.
O inverno estava acabando e muitas folhas caiam das árvores. As crianças estavam
encantadas com o bailado da natureza e começaram a colher estas folhas do chão.
Então, fizemos a nossa primeira mandala coletiva.
Outras ideias foram surgindo e mais mandalas foram aparecendo...
Entre um lanche e outro, brincadeiras no parque e idas à biblioteca, as crianças
continuavam a nos mostrar teias e ovinhos de aranha.
Confessamos que a aranha continuava viva e presente na turma.
Entretanto, chegou a Semana Cultural e assim decidimos que mandalas e cores fariam
parte das nossas atividades.
A Semana Cultural acontece normalmente uma vez por ano na escola e seu objetivo é
trabalharmos todos junto com o tema do ano. Na Educação Infantil, o Jardim I se junta
ao Jardim II para realizar as atividades.
No primeiro dia, tivemos uma manhã muito especial com Lívia, mãe de um aluno do
terceiro ano; como nos disse uma criança: “ela nos acalmou.” Vivenciamos um
momento de relaxamento e apreciação de um documentário sobre mandalas.
Depois, junto com Lívia, criamos as mandalas de frutas.
No segundo dia da semana, pintamos e transformamos as cores!
No quarto, tranformamos cds e bolinhas de gude em piões!
E no último dia... transformamos o nosso espaço de brincadeiras em instalações com
fios e entrelaços.
A inteireza, a certeza, a densidade do momento de criação estão presentes no adulto
que cria e na criança que brinca. É visível a concentração, o corpo inteiro presente no
ato de brincar de uma criança. É a sensação de estar inteiro no que está realizando o
que une o artista à criança. A criança brinca porque não poderia viver de outra forma.
Por isto desenha, por isto cria: porque brinca.”
Ana Angélica Albano Moreira
Passada a Semana Cultural, retomamos nossa rotina e então numa conversa de roda,
as crianças nos questionaram o que a turma estava “estudando”.
Assim, fizemos um apanhado do início de agosto falando sobre as cores e as mandalas.
Então, vira uma criança e nos diz: “Ah, Eliana, eu já sei porque a gente está fazendo
mandalas é porque ela parece uma teia de aranha.”
Pronto, esta era a frase que estávamos precisando ouvir para entender e aceitar que a
aranha não tinha ido embora da turma, não era à toa que nos intitulávamos de: A
Turma da Aranha.
Isto posto, não tínhamos mais como fugir... no entanto, como continuar com um tema
que já tinha sido consideravelmente trabalhado no primeiro semestre? Como
encaminhar as atividades para que não fossem repetidas? Como apontar uma nova luz
sobre o assunto da aranha?
Dessa maneira, nos veio a ideia de falarmos sobre os diferentes tipos de teias e
também trabalharmos com fios de linhas e de lãs.
Paralelo a tudo isto que estávamos vivendo, o grupo também estava passando por
algumas questões de gênero, identidade, individualidade e liderança.
Desta maneira, lançamos mão de alguns livros e estratégias que trabalhassem um
pouco estas questões. As diferenças entre as teias e as aranhas vieram elucidar
poeticamente um pouco daquilo que gostaríamos de provocar e dialogar com as
crianças e suas famílias.
A leitura do Livro Pássaro Amarelo nos levou a escrever cartas e colocá-las na Caixa de
Correio da escola.
Começamos a fazer a cada quinze dias o Dia do Brinquedo Temático. Queríamos
socializar outros tipos de brincadeiras entre as crianças que não só heróis e princesas.
Também, pretendíamos apontar outras parcerias e rearranjos entre elas.
Como toda mudança, ocorreu certo desconforto para algumas famílias, entretanto,
para surpresa de todas as crianças reagiram muito bem à nova proposta, até porque,
ela tinha sido uma decisão tomada coletivamente junto com elas, é claro, que a ideia,
havia partido da gente, porém, as crianças foram consultadas e opinaram sobre quais
temas poderíamos escolher para fazer o sorteio.
Assim sendo, o primeiro tema foi: brinquedos de encaixe.
Depois: bolas e cordas
Infelizmente não conseguimos fazer mais temas devido alguns compromissos que
aconteceram com a turma e nos levaram a outras direções. Contudo,
Voltando ao trabalho com as teias e linhas, tivemos a ideia de trabalharmos o bordado
na talagarça. Antes de iniciarmos este trabalho, oferecemos às crianças o manuseio de
alinhavos de figuras.
Enquanto algumas crianças estavam alinhavando, outras estavam jogando quebra-
cabeça, brincando com os blocos lógicos, desenhando, recortando e colando papéis.
Ao oferecer as atividades em rodízio nos cantos, favorecíamos o trabalho de várias
habilidades ao mesmo tempo.
Assim, chegamos ao trabalho com a talagarça e também na produção dos filtros dos
sonhos. Ao pesquisarmos sobre os filtros, descobrimos que ele, também tinha relação
com a aranha. Segundo uma lenda dos índios norte-americanos, um velho xamã subiu
no cume de uma montanha para encontrar sabedoria. Lá, encontrou Iktomi, um
espírito mágico com a forma de uma aranha que teria tecido uma teia com pelos de
cavalo em volta de um aro feito de cipó, ao mesmo tempo em que ensinava ao xamã
importantes conhecimentos sobre o nascimento, a morte e as energias boas e más que
existem espalhadas pelo ar. Iktomi ensinou o índio a usar as boas energias e sonhos
recebidos através deste amuleto para ajudar o seu povo a conquistar os seus objetivos,
ouvindo e prestando atenção nas visões, sonhos e ideias que transmitiam.
O filtro dos sonhos pode servir como uma mandala para inspirar a criatividade,
imaginação e ajudar a transformar todos os sonhos e objetivos em realidade.
Outros acreditam que o filtro dos sonhos pode ser usado como uma mandala de
proteção.
Entre crenças e descrenças, procuramos contar um pouco sobre a história deste objeto
que é apreciado por algumas pessoas e que também veio acrescentar o nosso trabalho
com a Turma da Aranha.
Também, pesquisamos outras histórias sobre aranhas. Encontramos uma lenda
africana de uma aranha chamada Ananse que queria comprar as histórias do Deus do
Céu para alegrar a sua aldeia que era muito triste, assim, esta figura que era metade
homem e metade aranha constrói uma teia e vai até o céu. Chegando lá diz a sua ideia
para o Deus que propõe a ela três desafios para obter as histórias. Sendo assim, ela
desce na terra e consegue vencer os desafios, conquistando o Baú de Histórias. Ananse
leva o baú para sua aldeia e começa a contar as histórias que se espalham pelo mundo.
Existem muitas versões sobre esta lenda, algumas, dizem que o Deus guardava as
histórias em uma cabaça e que Ananse ao descer pela teia deixa cair a cabaça
espalhando assim as histórias pelo mundo. Enfim...
As crianças adoraram a história!
Também para materializar melhor a lenda, assistimos a um pequeno vídeo no youtube
que ilustrava com clareza a história da lenda africana.
Criamos uma aranha Ananse feita com uma sombrinha que, infelizmente, por ser
muito delicada não foi possível enviá-la para a casa das crianças. Este era o objetivo,
porém, suas patinhas quebraram e ela teve que ficar quietinha dentro da nossa sala.
Ainda tivemos sorte, pois, os pais de dois alunos tiveram a boa vontade e a gentileza
em nos ajudar a consertar as patinhas da nossa nova mascote. As crianças esperaram
ansiosas a sua volta.
E num belo dia, ela voltou...
As semanas se passaram e para surpresa da turma, surge na biblioteca da escola, um
baú com uma carta, anéis de aranha e um livro dentro dele.
A carta propunha um desafio para a Turma da Aranha: cada criança deveria trazer de
casa, uma história que gostasse para compartilhar com seus colegas na hora da roda. A
grande provocação na verdade seriam as crianças do grupo ficarem em silêncio para
escutar as histórias que seriam contadas por elas no momento da roda.
Ao longo de todo ano o grande desafio para nós, foi fazer com que este grupo se
concentrasse no momento da roda. Tentamos de tudo: músicas, saco surpresa,
microfone, chocalho indígena, enfim... Algumas coisas funcionavam em determinados
dias, em outros não resolvia nada. Por mais difícil que fosse para nós, era preciso
aceitar que os momentos de roda eram assim: tumultuados e barulhentos.
Então, intuitivamente nos veio à ideia de propor este desafio dando destaque e voz
para cada criança da turma.
O resultado foi positivo, o baú encheu de livros e, agora, neste finalzinho de semestre,
elas estão adorando compartilhar e ouvir as histórias trazidas por todos da turma.
O momento da roda está sendo uma verdadeira festa! E o silêncio tão raro...
Vem acontecendo...
Tivemos dois encontros especiais: o primeiro, na Chácara do nosso vizinho, Mário.
As crianças queriam levar os amigos novos para conhecer o Mário e os bichos que tem
na sua chácara. Foi um dia de alegria inesquecível! “Eliana, a gente quer voltar no
Mário de novo.”
E o segundo, foi com a Marina, professora de Biologia. As crianças estavam muito
curiosas com os animais que tem no laboratório da escola, queriam ver seus
esqueletos, os bichos empalhados e também os bichinhos mortos que estavam dentro
dos vidros. Além de, desejarem saber sobre outros animais, por exemplo: as crianças
achavam que piolho de cobra era o mesmo que minhoca.
Sendo assim, achamos uma minhoca, porque, o piolho de cobra já tínhamos guardado
e fomos conversar com a Marina, lá no laboratório.
Para encerrarmos nosso ano letivo, fizemos um Estudo do Meio para o Zooparque de
Itatiba. A ideia central do passeio foi conhecermos os bichos que moram lá,
apreciarmos a Natureza e aprendermos a preservá-la, além, é claro, de se divertir
passeando de ônibus junto com os amigos e as professoras! Foi uma verdadeira festa!
As crianças estavam radiantes de tanta alegria! Nosso passeio foi muito agradável e
especial.
Tivemos a oportunidade durante o estudo de observarmos uma aranha caranguejeira
de verdade: a Natasha. Também, as crianças ao longo da caminhada iam nos
mostrando algumas aranhas que estavam soltadas na natureza.
Bem, desta maneira, vamos finalizando a nossa história no tempo do relógio, ano de
2017: A história da Turma da Aranha.
Entretanto, no tempo do coração e da vida, acreditamos que nossa história continuará
tecida em nossas lembranças e no girar das rodas...
Roda que rola
Rosa e amarelo
Mãos no marron
Misture pra ver o tom
Junte o vermelho, o verde e o azul
E vá colorir
Roda que rola
Roda que rola aia
Gira o arco íris em prosa e verso
E os matizes do seu universo
Juntando cores na poesia
Pintando a noite na tarde de um dia
Vem desenhando a canção
Aquarela de um coco e um baião
Uma ciranda encarnada
Vai girando no meu coração
Rodam cantigas cor de canela
Mas amarela é que eu gosto mais
Rodam as tardes, são multicores
Mas eu prefiro a manhã que é lilás
Rodam menina, o dia, as flores
Roda no tempo, tá sempre a girar
São tantas rodas, de tantas cores
Que eu fico tonto de tanto rodar...
Gilvan de Oliveira e Lido Loschi – Ponto de Partida e Meninos de Araçuaí
Referência Bibliográfica
MOREIRA, Ana Angélica Albano. O espaço do desenho: a educação do
educador. São Paulo: Edições Loyola, 7º edição, 1997.
Educação Infantil pós-LDB: rumos e desafios/ Ana Lúcia Goulart de Faria e
Marina Silveira Palhares (orgs. Campinas, SP: Autores Associados – FE/UNICAMP; São
Carlos, SP: Editora da UFSCar; Florianópolis, SC: Editora da UFSC, 2003. – (Coleção
Polêmicas do nosso tempo; 62).
http://www.significados.com.br/filtro-dos-sonhos/
Livros Lidos:
Au-Au! Adam Stower – Tradução Gilda de Aquino
A volta ao mundo em 80 bichos- José Santos
Azul – Geert de Kockere
Bruxa, bruxa venha à minha festa - Arden Druce e Pat Ludlon
Comilança – Fernando Vilela
De olho nas penas – Ana Maria Machado
Domínio das Cores- Roberto Caldas
Filhotes de bolso saem de férias – Margaret Wild – Stephen Michael King
Historinhas de Contar – Natha Caputo e Sara Cone Bryant – Tradução de José
Amaro
Jardins – Roseana Murray
Meu amigo faz iiiiii – Andréa Werner
Roda de Letrinhas – Nye Ribeiro
Tato, o Gato – Rob Scotton
Todo mundo tem família – Ana Claudia e Raquel Ramos
Um dia ganso – Claudio Galperin
Varal de Poesia – Henriqueta Lisboa – José Paulo Paes – Mario Quintana –
Fernando Paixão
Histórias do Baú
João e o Pé de Feijão
Miau no Zoológico
Cachinhos Dourados e os três ursos
A Pequena Sereia
É o lobo?
Dinossauros do Barulho
Criaturas Incríveis
O Caracol e a Baleia
O Palhaço e a Bailarina
Dorme, menino, dorme
Bichinhos Solidários
Macaco Danado
Dez folhas soltas ao vento
A Joaninha Lili
Não fale com a boca cheia
Maya e Selou